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“positivos” da república. A carta, que possui como mote a participação da mulher na
formação da república, reforça o binarismo dos papéis do gênero.
Ao comentar a matéria, Resende (op. Cit.) esclarece: “a questão feminina
posta em discussão na carta evidencia a necessidade de que as mulheres
passassem a ter voz e lugar no processo republicano” (p.111). Considerando-se o
fato de que o “Folhetim” era tido como um espaço literário voltado para o público
feminino, Sebastião Sette, ao publicar discussões a respeito de política nessa seção,
convidava as mulheres a aderirem ao imaginário republicano. Mediante enunciados
como cartas, as mulheres poderiam se reconhecer em personagens comuns:
mulheres que bordavam, criavam seus filhos e também discutiam política
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.
Apesar de não inserido na seção “Folhetim”, o texto “Confidencias Electricas”,
de Elisa Lemos, consistia em um conjunto de cartas trocadas entre as personagens
Flora e Evangelista e possuía a mesma função pedagógica das cartas de Sebastião
Sette. Assim como estas dialogavam com os vários editoriais d’A Patria Mineira e
expressavam um ideal de cidadão republicano, aquelas interagiam com outros textos
do periódico, focalizando um ideal de mulher e de educação feminina. No mesmo
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Apesar desse empenho dos jornais republicanos em inserir as mulheres letradas na discussão a
respeito da república, os jornais feministas mostravam-se, ainda, bastante vinculados às idéias do
imperador. O periódico A Familia, por exemplo, trazia no número 154, de 20 de janeiro de 1893, a foto
de D. Pedro II seguida de um texto em sua homenagem, o qual o enaltecia como o verdadeiro
republicano. Essa aproximação de algumas feministas com o imperador pode ser explicada por ter sido
durante o Império que as mulheres alcançaram grandes conquistas. Segundo o primeiro
recenseamento realizado no Brasil, em 1872, as mulheres representavam 45,5% da força de trabalho
efetiva da nação; já em 1920 houve uma redução de 15,3% da participação de mulheres nas atividades
econômicas. De acordo com os dados do Ministério do Trabalho, somente a partir de 1950 a
participação feminina começa novamente a crescer (BRASIL, 1976). No início da república parece
acontecer um “retrocesso conservador” e as mulheres são confinadas de volta ao lar para educarem os
filhos da pátria. É certo que Josephina Álvares de Azevedo, bastante engajada em suas convicções, já
tivesse percebido, em 1893, que a tão sonhada república não proporcionaria as conquistas almejadas
pelas mulheres. Na mesma vertente das idéias de Josephina, Francisca Senhorinha da Mota Diniz,
editora do periódico feminista O Sexo Feminino, Semanario Dedicado aos Interesses da Mulher (1873-
1889), já em 1873 mostrava-se descrente com as mudanças que diferentes formas de governo
poderiam trazer para as mulheres. Assim como Azevedo, Diniz também chegou a publicar em sua
folha um poema em homenagem ao imperador. Sendo criticada por um jornal republicano por este ato,
a redatora recorreu como defesa à sua posição profissional: na qualidade de professora da Escola
Normal não poderia deixar de saudar o imperador “que é tido e havido como protector das letras, e seu
mais acérrimo propagador (...)” (DINIZ, 1873).