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inflacionário dominante”, que aqui aparece associado à questão da “depreciação da moeda”,
“o grande mal desta fase difícil que se atravessa”, cuja origem estava no “aumento crescente
das despesas orçamentárias sem equilíbrio possível com a receita” e a sua “inevitável
consequência”: a “investida ao recurso das emissões de papel-moeda como único meio de
atender às necessidades do País” (idem). Ou seja, a preocupação essencial é com o processo
inflacionário derivado do déficit público e da consequente emissão fiduciária utilizada para
saldá-lo, questões que irão nortear a análise do jornal durante todo o governo Vargas, que fez
do tema do orçamento equilibrado uma verdadeira campanha, uma bandeira em torno do qual
procurou marcar a sua presença no debate público.
O jornal parece estabelecer uma relação
causal direta entre as emissões monetárias, a inflação e o aumento do custo de vida,
aproximando-se, ao menos nesses momentos, de uma percepção monetarista do fenômeno
inflacionário.
O Correio da Manhã seguiu uma linha semelhante ao JB. Desde o início do governo
Vargas, endossou o discurso de que um dos elementos centrais da crise econômica brasileira
era o problema da inflação e que esta tinha na expansão dos meios de pagamento, tanto da
moeda quanto do crédito imoderado, uma de suas causas essenciais.
Chegou, inclusive, a
combater a “teoria” que defendia ser a inflação uma forma de alavancar o nosso
Para o JB, as contas federais eram mera ficção, porque, além de o Executivo fazer uma projeção irrealista de
gastos, o Congresso ainda incluía despesas extras depois da aprovação do documento final, sem estipular as
receitas necessárias para cobri-las, tornando-o inútil. A consequência inevitável era a emissão de moeda,
verdadeiro mal do qual padecia a nação. Quanto a isso, ver: “O Governo e a Execução orçamentária”, Jornal do
Brasil, 16 de março de 1952, Caderno 1, página 5, “Para que orçamento?”, Jornal do Brasil, 17 de janeiro de
1951, caderno 1, página 5). O mesmo tema aparecerá em: “O déficit orçamentário e o déficit real”, Jornal do
Brasil, 17 de fevereiro de 1951, caderno 1, página 5, “Os compromissos do Tesouro em 1951”, Jornal do Brasil,
21 de março de 1951, caderno 1, página 5, “A ilusão do saldo orçamentário”, Jornal do Brasil, 1 de dezembro de
1951, caderno 1, página 5, “Como são feitos os orçamentos...”, Jornal do Brasil, 3 de abril de 1952, caderno 1,
página 5 e “O Orçamento para 1954”, Jornal do Brasil, 18 de junho de 1953, caderno 1, página 5.
Por exemplo: “Entre esses fatores preponderantes na fixação dos preços se inclui, em primeiro lugar, a
desvalorização da moeda, como consequência das constantes emissões de papel fiduciário. Essa verdade, que nos
legou a economia clássica, continua a dominar o sistema dos mercados, imperando, impondo rumos” (“O
combate à crise econômica”, Jornal do Brasil, 13 de maio de 1951, Caderno 1, página 5). Ver também “A
situação financeira do País”, Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1951.
Como podemos perceber por este trecho no qual comentou relatório do ministro da Fazenda de Lafer sobre a
questão: “Já tem mais de uma dezena de anos a crise econômica e financeira, gerada no processo
inflacionário, que desencadeou as emissões a jato de papel-moeda, o crédito desordenado e tumultuado, o
desprezo à moeda e o delírio das especulações, tudo o que provoca uma ilusão momentânea de
prosperidade e riqueza, mas representa o caminho aberto para o caos. (...) Cresceu, de exercício em
exercício, o déficit orçamentário, e para cobri-lo o governo não encontrava senão nas emissões envenenadoras
um alívio precário e momentâneo” (“Agora as providências”, Correio da Manhã, 8 de março de 1951, Caderno
1, página 4). Ver também: “As razões da crise”, Correio da Manhã, 4 de fevereiro de 1953, Caderno 1, página 4,
“Política Financeira”, Correio da Manhã, 7 de março de 1951, Caderno 1, página 4, “Catarse”, Correio da
Manhã, 9 de agosto de 1951, Caderno 1, página 4, “Emissões”, Correio da Manhã, 6 de junho de 1952, Caderno
1, página 4 e “A moeda e os preços”, Correio da Manhã, 20 de maio de 1952, Caderno 1, página 4.