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Universidade Federal do Amapá/UNIFAP
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/EMBRAPA-AP
Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá/IEPA
Conservação Internacional - CI
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical - PPGBio
David Figueiredo de Almeida
“MAUS-TRATOS CONTRA ANIMAIS? VIRO O BICHO!”:
Antropocentrismo, Ecocentrismo e Educação Ambiental em Serra do Navio
(Amapá)
MACAPÁ-AP
2010
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David Figueiredo de Almeida
“MAUS-TRATOS CONTRA ANIMAIS? VIRO O BICHO!”:
Antropocentrismo, Ecocentrismo e Educação Ambiental em Serra do Navio
(Amapá)
Orientadora: Profa. Dra. Dominique Tilkin Gallois.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biodiver-
sidade Tropical da Universidade Federal do Amapá como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em Biodiversidade Tropi-
cal.
Linha de Pesquisa: Gestão e Conservação da Biodiversidade.
MACAPÁ-AP
2010
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
Almeida,David Figueiredo
Maus-tratos contra animais? viro o bicho!:antropocentrismo, ecocentrismo e
educação ambiental em Serra do Navio (Amapá) / David Figueiredo de Almeida;
orientador Dominique Tilkin Gallois. - Macapá, 2010.
126 f.
Dissertação (Mestrado) Fundação Universidade Federal do Amapá.
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical.
1.Ética ambiental. 2.Educação ambiental. 3.Fauna Amapaense.
I.Gallois,Dominique Tilkin. orient. II. Fundação Universidade Federal do Amapá.
III. Título.
CDD 20.ed.: 574.5098116
David Figueiredo de Almeida
“MAUS-TRATOS CONTRA ANIMAIS? VIRO O BICHO!”:
Antropocentrismo, Ecocentrismo e Educação Ambiental em Serra do Navio
(Amapá)
Banca examinadora
Titulares
____________________________________________
Profa. Dra. Dominique Tilkin Gallois (Orientadora)
Universidade de São Paulo
____________________________________________
Prof. Dr. Arley José Silveira da Costa
Universidade Federal do Amapá (PPGBio)
____________________________________________
Profa. Dra. Helenilza Ferreira Albuquerque Cunha
Universidade Federal do Amapá (PPGBio)
____________________________________________
Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto
Universidade Estadual de Feira de Santana
Aprovado em 18 de outubro de 2010
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Ronan R. de Almeida e Solange F. de Almeida, e à minha sobrinha, Beatriz
Martins Figueiredo, pelo apoio em todas as etapas deste trabalho.
À minha orientadora, Profa. Dra. Dominique T. Gallois, qualquer coisa que eu escreva será,
para mim, insuficiente para expressar meus sinceros agradecimentos pela orientação, corre-
ções, sugestões, “puxões de orelha”, incentivos, tolerância, que possibilitaram a realização
deste trabalho.
Ao Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical da Universidade Federal do
Amapá (PPGBio/UNIFAP), pela oportunidade de crescimento intelectual, profissional e pes-
soal.
Aos professores que participaram da minha banca de qualificação, pelas correções: Dra. Eu-
gênia L. Foster, Dr. Fabiano Cesarino e Dra. Helenilza F. A. Cunha. Também agradeço ao
Prof. Dr. Arley José S. da Costa que, mesmo não participando da banca, recebeu-me gentil-
mente em seu laboratório para discutir o trabalho.
Aos professores que se disponibilizaram a estar na banca da defesa final: Dr. Arley José S. da
Costa, Dr. Eraldo M. Costa Neto e Dra. Helenilza F. A. Cunha.
À colega Lorena dos Santos Maniva, pela companhia e ajuda durante minhas viagens iniciais
à Serra do Navio.
À carismática Rejane Peixoto, secretária do PPGBio, pela competência e agilidade que, segu-
ramente, tiveram sua parcela de contribuição neste trabalho.
À Profa. Maria Silvanda M. Duarte (SEED/AP), pelo apoio.
Ao Sr. Paulo Guedes (In memorian), pela ajuda prestada durante minhas viagens iniciais à
Serra do Navio.
Ao Analista Ambiental Paulo Roberto Russo, por seu tremendo e inspirador profissionalismo,
ao viabilizar minhas estadias no alojamento do PNMT. Meus respeitos.
À Analista Ambiental Marcela Marins, pelas informações pacientemente fornecidas.
Aos diretores, supervisores e professores de todas as escolas visitadas, pela recepção e aten-
ção estimulantes.
Agradeço especialmente a todos os alunos que participaram deste trabalho, pela paciência,
interesse, conhecimentos compartilhados e pela alegria com que receberam a proposta.
OBRIGADO!
RESUMO
Em tempos de crise ambiental, duas correntes principais de valorização da biodiversidade
coexistem como direcionadoras das relações do homem com os demais seres vivos. Para o
Antropocentrismo, a proteção da biodiversidade apenas se justifica se tal medida trouxer be-
nefícios diretos ao homem, já que nesta visão a biodiversidade possui apenas valor instrumen-
tal. O Ecocentrismo, por sua vez, considera que a biodiversidade é dotada de um valor intrín-
seco ou de existência, razão suficiente para que seja protegida, independente de interesses
humanos. Certamente, a maneira como a biodiversidade é valorizada pelo homem traz impli-
cações conservacionistas diversas, razão pela qual estudos com esta temática são não somente
importantes, como urgentes. Assim, o objetivo deste trabalho foi estudar atitudes antropocên-
tricas e ecocêntricas de alunos do ensino médio em relação à fauna de Serra do Navio (Ama-
pá), no entorno do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Questionários foram apli-
cados em três escolas de ensino médio da região, totalizando 200 alunos participantes. Na
primeira etapa do trabalho, os níveis de atitudes ecocêntricas, antropocêntricas e de Apatia
Ambiental (Neutralidade), numa escala de 1 a 5 foram, respectivamente: 4,0 (Alpha de Cron-
bach= 0,776), 3,3 (Alpha de Cronbach= 0,790) e 2,2 (Alpha de Cronbach= 0,786). Na segun-
da etapa, porém, foram citados 123 animais, com predominância de valorização antropocên-
trica. No geral, apenas a valorização negativista de alguns animais (cobras, ratos, sapos, ara-
nhas, mosquitos, baratas, formigas, morcegos, quatis) condicionou atitudes antiprotecionistas
nos alunos, por razões antropocêntricas. Os dados levantados apontam para a necessidade de
intervenções educativas no sentido de reduzir a visão antropocêntrica dos alunos, levando-os a
justificar a proteção da biodiversidade cada vez mais com base em argumentos pró-
ambientais, sobretudo nos casos em que os animais são valorizados negativamente.
Palavras-chave: Ética Ambiental. Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Ensino Mé-
dio.
ABSTRACT
Anthropocentrism and Ecocentrism are ways of thought that justify the environmental protec-
tion by different means. The first is focused on human needs, attributing to nature an instru-
mental value only, justifying the environment conservation only if it brings direct benefits to
man. Ecocentrism, on the other hand, considers nature as the owner of an intrinsic or existen-
tial value. In this case, the environment conservation is justified even if it does not bring di-
rect benefits to man. Aiming to assess anthropocentric and ecocentric attitudes around biodi-
versity on high school, close questionnaires were applied to all students (N=200) from three
schools in Serra do Navio, a city located in around the Tumucumaque National Park (Amapá,
Brazil). In the first stage of work, the ecocentric, anthropocentric and of environmental apathy
attitude levels were, respectively (on a scale from 1 to 5): 4.0 (Cronbach’s alpha=0.776), 3.3
(Cronbach’s alpha = 0.790) and 2.2 (Cronbach’s alpha = 0.786). In the second stage, however,
123 animals were cited, most valued by anthropocentric reasons. In general, only the negativ-
istic values of some animals (snakes, rats, frogs, spiders, mosquitoes, cockroaches, ants, bats,
coatis) conditioned anti-protectionist attitudes in the students. This results indicate the need
for educational interventions to increase the ecocentric view of the students and to reduce the
anthropocentrical arguments, making them justify the protection of the biodiversity based
more frequently in pro-environmental arguments.
Keywords: Environmental Ethic. Tumucumaque National Park. High School.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1:
Conseqüências do atual modelo de desenvolvimento ..........................................
15
Figura 2:
Mapa de localização do Município de Serra do Navio em relação ao Parque
Nacional Montanhas do Tumucumaque...............................................................
38
Figura 3:
Relação entre os valores antropocêntricos dos animais e atitudes de proteção...
90
Figura 4:
Relação entre os valores ecocêntricos dos animais e atitudes de proteção.........
95
Figura 5:
Diagrama de Valorização Prioritária Ideal (DVPI) dos animais para Serra do
Navio....................................................................................................................
97
Figura 6:
Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) das araras e sentidos da
Educação Ambiental............................................................................................
99
Figura 7:
Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) dos macacos e sentidos da
Educação Ambiental............................................................................................
100
Figura 8:
Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) dos peixes e sentidos da
Educação Ambiental............................................................................................
101
Figura 9:
Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) da onça-pintada e sentidos
da Educação Ambiental........................................................................................
102
Figura 10:
Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) das cobras e sentidos da
Educação Ambiental............................................................................................
103
LISTA DE QUADROS
Quadro 1:
Comunidades rurais de Serra do Navio............................................................ 39
Quadro 2:
Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Apatia Ambiental.........
50
Quadro 3:
Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Antropocentrismo........
58
Quadro 4:
Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Ecocentrismo...............
68
Quadro 5:
Freqüência absoluta (nº de citações) dos valores atribuídos aos 123 animais
citados pelos alunos de ensino médio de Serra do Navio (N= 200), segundo
categorias de Kellert (1996), e das atitudes dos alunos quando questionados
se os animais citados deveriam ser protegidos ou não.
77
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
...................................................................................................
12
1.1 Apresentação
……….................................................................................... 12
1.2 Ambientali
s
mos
............................................................................................
13
1.2.1 O Antropocentrismo..............................................................................
14
1.2.2. O Ecocentrismo………………………...………………………….....
17
1.2.3 Estudos de Atitudes Antropocêntricas e Ecocêntricas..........................
20
1.3
Mecanismos Para a Pr
oteção da Fa
u
na
…......…………………………...
23
1.3.1 Legislação Ambiental.………………………………………………...
24
1.3.2 Criação de Áreas Protegidas.................................................................
28
1.3.3 Educação Ambiental.............................................................................
32
1.4
Objetivos e Hipót
e
ses
...................................................................................
36
1.4.1 Objetivo Geral...................................................................................... 36
1.4.2 Objetivos Específicos............................................................................
36
2.
MATERIAL E MÉTODOS
...............................................................................
38
2.1
Caracterização da Área de Est
u
do
.............................................................
38
2.1.1 Localização........................................................................................... 38
2.1.2 Aspectos Geográficos............................................................................
39
2.1.3 Aspectos Biológicos..............................................................................
40
2.1.3.1 Flora............................................................................................
40
2.1.3.2 Fauna...........................................................................................
40
2.1.4 Aspectos Socioeconômicos....................................................................
41
2.2
Caracterização dos Procedimentos Metodológ
i
cos
...................................
42
2.2.1 Tipo de Pesquisa................................................................................... 42
2.2.2 População..............................................................................................
43
2.2.3 Aspectos Éticos.....................................................................................
45
2.2.4 Técnica de Coleta de Dados............................................................................
45
2.2.5 Análise de Dados.............................................................................................
47
3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
.......................................................................
49
3.1
Atitudes dos Alunos Diante de Questões Relacionadas à Fa
u
na
.............
49
3.1.1 Aspectos Gerais dos Dados...................................................................
49
3.1.2 Apatia Ambiental..................................................................................
49
3.1.3 Antropocentrismo..................................................................................
57
3.1.4 Ecocentrismo.........................................................................................
67
3.2
Valores e Proteção da Fauna de Serra do N
a
vio
......................................
75
3.2.1 Aspectos Gerais dos Dados...................................................................
75
3.2.2 Valores Antropocêntricos......................................................................
81
3.2.2.1 Categoria utilitarista......................................................................
81
3.2.2.2 Categoria negativista.....................................................................
85
3.2.2.3 Categoria dominadora................................................,..................
89
3.2.3 Valores Ecocêntricos.............................................................................
90
3.2.3.1 Categoria ecologista......................................................................
90
3.2.3.2 Categoria moralista.......................................................................
92
3.2.3.3 Categoria naturalista......................................................................
94
3.2.4 Sentidos da Educação Ambiental...........................................................
95
4.
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
...................................................................
105
REFERÊNCIAS
..............................................................................................
107
APÊNDICES
...................................................................................................
118
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
Esta dissertação segue uma linha de discussão que considera as implicações conserva-
cionistas das principais correntes de valorização da natureza e as possibilidades de construção
de novos valores, que conduzam a ações que evitem novas perdas de biodiversidade. Englo-
bando os conceitos de Antropocentrismo, Ecocentrismo e Educação Ambiental (EA), buscou-
se estudar atitudes de alunos de ensino médio, no entorno da maior área protegida em floresta
tropical do mundo, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), alertando a
situações relevantes que requerem intervenções educativas, o que pode trazer contribuições
consideráveis à proteção da biodiversidade local, especialmente os animais, principais focos
de discussão do trabalho.
Mas, o que é Antropocentrismo? O que é Ecocentrismo? O que a Educação Ambiental
tem a ver com tudo isso? Sem a pretensão de, neste momento, aprofundar os pressupostos
teóricos que direcionaram o trabalho, este texto inicial traz alguns esclarecimentos gerais que
conduzirão o leitor à melhor compreensão da proposta apresentada.
Para introduzir estes conceitos, seguem-se dois exemplos. No primeiro, tendo como
cenário o desflorestamento dos trópicos, o Antropocentrismo e Ecocentrismo avaliariam a
situação com argumentos diferentes. Para o Antropocentrismo, tal prática seria considerada
imprópria porque as florestas tropicais são potenciais para a cura de enfermidades humanas. O
Ecocentrismo, por seu turno, consideraria um equívoco a redução destas florestas, já que isto
poderia causar a extinção de milhares de espécies de animais e plantas (Kortencamp e Moore,
2001). Em outra situação, imagina-se um indivíduo andando na praia, escalando montanhas,
mergulhando em um recife de corais, maravilhando-se com a majestade das montanhas ou
cachoeiras, apreciando o colorido da primavera em algum lugar da floresta, etc. O hipotético
indivíduo poderia fazer tudo isso por razões estéticas ou recreativas. Estas seriam justificati-
vas cruciais, antropocêntricas, para a proteção da vida selvagem (Ott, 2003).
Nos dois exemplos, o Antropocentrismo apenas apóia a proteção ambiental porque tal
medida satisfaz necessidades humanas. O Ecocentrismo, no entanto, considera que os valores
da natureza estão além dos interesses humanos. Em outras palavras, o ponto de partida antro-
pocêntrico está nos interesses e necessidades humanas (Hoffman e Sandelands, 2005), en-
quanto que o ecocêntrico está nos interesses dos ecossistemas (Barbosa e Drummond, 1994).
Alguns estudos, pautados posteriormente, têm demonstrado que valores antropocêntri-
cos tendem a desencadear atitudes negativas em relação a grupos animais diversos, ao passo
13
que valores ecocêntricos tendem a desencadear atitudes positivas. Grandes carnívoros, prima-
tas, roedores, aves de rapina, por exemplo, constantemente entram em conflito com as pessoas
quando representam ameaça à sua propriedade, segurança ou saúde (Sillero-Zubiri et al.,
2007). Em outras ocasiões, os animais são capazes de provocar aversão extrema nas pessoas,
como os insetos (Costa-Neto e Pacheco, 2004). Valores ecocêntricos, ao contrário, correlacio-
nam-se a atitudes pró-ambientais, isto é, que previnem a degradação ambiental. Amérigo e
Gonzalez (1999), por exemplo, encontraram correlações positivas entre valores ecocêntricos e
tendências à participação em programas ambientais, tendência oposta verificada em pessoas
que expressaram valores antropocêntricos. Em outro exemplo, Bjerke e Kaltenborn (1999)
verificaram que atitudes ecocêntricas estão correlacionadas à oposição contra maus-tratos
envolvendo animais.
Em meio a este complexo relacional onde a valorização da biodiversidade pode lhe dar
destinos diferentes, surge a Educação, instrumento de direcionamento social, capaz de pro-
mover a liberdade ou a opressão, não sendo possível pensar e exercitar a mudança social (e
ecológica, diga-se de passagem), sem integrar a dimensão educacional. Assim, a Educação
Ambiental, uma das mais poderosas estratégias para a resolução da atual crise ecológica
(Camponogara et al., 2007), centra-se principalmente nas mudanças de atitudes em relação ao
meio (Jacobi, 2004), mas isto exige que, antes estas atitudes sejam conhecidas, estudadas. Ou
seja, estudos de atitudes humanas em relação ao meio são não apenas necessários como ur-
gentes, principalmente quando desenvolvidos no entorno de áreas protegidas, pelo próprio
contexto conservacionista que estas representam.
1.2 Ambientalismos
As ações sociais ou individuais com respeito ao meio ambiente são denominadas, por
vezes, de “ambientalismos” ou paradigmas ambientais (Luckett, 2004). Estas diferentes for-
mas de relacionamento do homem com a natureza são ditadas por diferentes cosmovisões ou
modos de enxergar o mundo que o cerca (Milaré e Coimbra, 2004), afinal, as posturas ambi-
entais humanas variam conforme os grupos socioeconômicos considerados (Bjerke e Kalten-
born, 1999). Antropocentrismo e Ecocentrismo coexistem como atitudes humanas frente ao
crescimento econômico, ao paradigma ocidental de progresso sem precedentes e ao contexto
de degradação ambiental (Hoffman e Sandelands, 2005).
14
1.2.1 O Antropocentrismo
Antropocentrismo é um vocábulo híbrido de composição greco-latina, surgido na lín-
gua francesa em 1907, do grego: anthropos, o “homem”, e do latim: centrum ou centricum,
que quer dizer “centro” ou “centrado” (Milaré e Coimbra, 2004). Conforme Kortenkamp e
Moore (2001), porém, o termo surgiu em 1860 em meio à polêmica da Teoria da Evolução de
Darwin, a qual retirou o homem do pedestal em que se encontrava e o transformou num lon-
gínquo primo dos macacos (Milaré e Coimbra, 2004).
Seja qual for a origem etimológica do Antropocentrismo, no livro do Gênesis, da
Bíblia Sagrada, há a descrição literal de um homem fixado acima de todos os animais, numa
relação de dominação, através de sua criação à imagem e semelhança divina (Ashley, 2006).
Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, o qual presida aos
peixes do mar, sobre as aves dos céus, as bestas e a todos os répteis,
que se movem sobre a terra, e domine sobre toda a terra” (Bíblia,
2006, grifo nosso).
Numa passagem posterior, algumas determinações são feitas ao homem:
Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra, e sujeitai-a [...]. Eis que vos
dei todas as ervas, que dão as suas sementes sobre a terra; e todas as
árvores, que têm em si mesmas a semente do seu gênero, para vos ser-
virem de sustento a vos [...]. E a todos os animais da terra, a todas as
aves do céu, e a tudo que tem movimento sobre a terra, e em que
alma vivente, para que tenham que comer (Bíblia, 2006, grifo nosso).
Nas transcrições acima, observa-se a existência de verbos imperativos oriundos de
“presidir”, “dominar” e “sujeitar”, que dão ao homem direitos sobre todo o mundo natural,
especialmente aos animais. Para Campos (2001), por ler as escrituras sagradas literalmente,
adaptando-as aos seus interesses imediatos, é que o homem passou a destruir aquilo que deve-
ria proteger. Algumas interpretações atuais da Bíblia têm tentado minimizar seu teor antropo-
cêntrico, como é apresentado por Morais (2008).
Assim, embora o sentimento humano de se pôr acima das demais espécies seja tão ou
mais antigo quanto às próprias escrituras sagradas, apenas recentemente cunhou-se o termo
“Antropocentrismo”, para expressar a idéia de que o homem é a espécie mais importante den-
tre os seres vivos, e as demais formas de vida apenas são importantes na medida em que inter-
firam nos interesses humanos, positiva ou negativamente (Kortencamp e Moore, 2001).
15
Para o Antropocentrismo, se X é humano, então X tem um valor moral ou intrínseco.
Logo, se X não é humano, X não têm valor moral ou intrínseco, uma vez que, não sendo hu-
mano, X não é dotado de razão (Lucket, 2004). Assim, o pensamento antropocêntrico dissocia
o homem dos demais elementos naturais e lhe atribui poderes excepcionais para dominar a
natureza e usá-la para seus próprios fins (Cunha, 2004), que, não sendo dotada de razão, a
natureza possui apenas os valores instrumentalistas, concedidos pelo homem (Larrère e Lar-
rère, 2008).
Oliveira Júnior e Sato (2006) acreditam que este afastamento do homem em relação à
natureza levou-o a aderir aos modelos consumistas, que dão valor à acumulação de bens, à
competição excessiva e ao individualismo, numa relação hierárquica com o mundo natural,
causando sua destruição (Araújo, 2004) (Figura 1).
Figura 1: Conseqüências do atual modelo de desenvolvimento (Rede Ambiente apud De Fio-
ri, 2002).
A análise temporal das relações entre este modelo de desenvolvimento, capitalista,
evidencia que, desde a Revolução Industrial, quando o modelo agrícola-artesão foi substituído
pelo modelo urbano-industrial, as atividades interventoras do homem na natureza vêm se tor-
nando cada vez mais destrutivas (Campos, 2000).
16
Com os grandes descobrimentos e, por ocasião deles, a formação do mercado mundial,
teve início o maior processo de globalização da história recente. Neste cenário, o que era de
todos ou estava à disposição de todos (água, florestas, praias, ambientes naturais, etc.) passou
a ter dono. Enquanto a água gerava energia e ambas eram comercializadas, as florestas e os
cerrados davam lugar à monocultura da soja e à pecuária (Campos, 2001), e com esta ativida-
de, espécies tiveram seus habitats devastados.
Ao longo deste século, centenas de fábricas poluíam o ar das cidades industriais, espe-
cialmente na Grã-Bretanha. Porém, isso não era visto como um problema ambiental. Nem
mesmo a extinção de animais como ursos e lobos era problema, mas um objetivo a ser atingi-
do, que estes animais sempre representaram rios riscos aos interesses econômicos huma-
nos (Cabral et al., 2004).
No século XX, a situação se agravou. Surgiram novos implementos, máquinas, inseti-
cidas, fungicidas, usados como defensivos agrícolas. Grandes empresas mundiais surgiram
para “modernizar” a agricultura. O extrativismo passou a ser retratado como sinônimo de
atraso econômico e cultural. Com o desenvolvimento do cultivo veio a degradação e o homem
passou a destruir o que julgava desnecessário, esquecendo que a natureza funciona ciclica-
mente, isto é, nada se perde, e qualquer agressão pode gerar um desequilíbrio (Dallazen e
Santos, 2007).
Antes de metade da década de 80, os problemas ambientais eram nacionais, regionais
ou locais e se relacionavam à contaminação de rios, ao desmatamento e à poluição ambiental
urbana, à depredação de espécies animais e vegetais, aos efeitos dos produtos químicos sobre
a saúde, etc. A partir de meados dos anos 80, a mudança climática passou a ser foco principal
da problemática ambiental, visto que o clima incide sobre a biodiversidade, tem impactos so-
bre as florestas, afeta a produtividade humana e ajuda na propagação de doenças (Foladori e
Taks, 2004).
Segundo Hoffman e Sandelands (2005), como resultado de todo este processo predató-
rio sobre a natureza, fundamentado por argumentos antropocêntricos, tem-se que mais de 11
mil espécies de animais e plantas estão ameaçados atualmente, 25% dos ecossistemas mari-
nhos empobrecidos e 44% vulneráveis à depleção. Questões como a extinção das espécies,
poluição industrial, desmatamento, sobrepesca, esgotamento das reservas de água doce são
problemas que fazem parte do mundo contemporâneo.
Na Amazônia, a perda da biodiversidade é a principal conseqüência do desfloresta-
mento e, é, ao mesmo tempo, completamente irreversível, visto que é possível evitar a erosão
do solo e recuperar corpos d’água e ciclagem de nutrientes, mas é impossível trazer de volta
17
espécies extintas. Trata-se de uma grande ameaça a milhares de espécies, algumas das quais já
listadas como ameaçadas de extinção pelo governo federal, como aves e primatas (Vieira et
al., 2005).
Por todas estas situações, o Antropocentrismo tem sido alvo de crítica dos ambientalis-
tas desde meados do século XX, quando eclodiu o movimento ecocêntrico. No entanto, desde
então, defensores do pensamento antropocêntrico têm negado incumbência moral diante de
problemas ambientais e transferido-os para o campo da técnica, assegurando que a única con-
sideração moral pertinente é o bem-estar do homem e a garantia de seus direitos (Frías, 2006).
Segundo Frías (2006), um dos primeiros a defender este enfoque foi o filósofo australiano
John Passmore (1914-2004). Passmore acreditava que os danos causados ao meio impactavam
inevitavelmente o bem-estar humano no presente e futuro, o que tornava, para ele, outras con-
cepções éticas desnecessárias. Frías (2006) contesta, exemplificando que, certamente, fenô-
menos como a destruição da camada de ozônio afetam a todos, mas outras interferências natu-
rais não afetam o bem-estar humano, como a hipotética extinção de uma espécie rara da natu-
reza que logo é substituída por outra. Daí a necessidade de se ampliar a noção de recursos
para além dos benefícios que a natureza proporciona ao homem (Larrère e Larrère, 2008).
1.2.2 O Ecocentrismo
Ecocentrismo, do grego Oikos, que quer dizer “casa” e Kentron, que remete a “centro”
(Milaré e Coimbra, 2004; Araújo, 2004), é um paradigma que defende valores não utilitaristas
dos ecossistemas e da própria biosfera e, diante das condições biológicas e ecológicas do ho-
mem, considera-o parte da natureza, “ao contrário da dual típica do Antropocentrismo” (Al-
meida, 2008).
Para o Ecocentrismo, se X é um organismo vivo, uma comunidade ou um ecossistema,
então X tem um valor moral ou de existência (Luckett, 2008). Esta linha de raciocínio de
Luckett também confere valores de existência ao homem, já que este também é um organismo
vivo. No entanto, se homens e bactérias, por exemplo, são organismos vivos, ambos detêm
valores de existência, devendo os primeiros viver nas mesmas limitações que os demais orga-
nismos vivos (Primack e Rodrigues, 2001).
Reconhecer que os outros seres vivos também possuem direitos de existência é uma
idéia que se baseia num sistema representacional de linhagem nitidamente identificável, pre-
cursor do Ecocentrismo (Barbosa e Drummond, 1994): o Liberalismo. Originalmente, direitos
eram atribuídos a grupos limitados de seres humanos (como homens proprietários de bens e
18
riquezas), enquanto que grupos minoritários (negros, indígenas, mulheres, jovens, etc.) eram
sumariamente excluídos. Em 1863, decidiu-se, no mundo anglo-saxão, que seres humanos
não poderiam mais ser propriedades de outros seres humanos, e verificou-se a abolição da
escravatura. No início do século XX, as fronteiras sexuais são abaladas, com o movimento das
sufragistas e, na cada de 1970, das feministas. Movimentos de afirmação de direitos civis
de índios e negros, ainda correntes, representam outras etapas deste processo liberalista (Bar-
bosa e Drummond, 1994).
Por fim, passou-se a defender que a vida não-humana (inicialmente os animais) possu-
ía status moral que também a tornava elegível dos mesmos direitos de qualquer grupo huma-
no, o que Tavolaro (2000) chama de Liberação Animal. Assim, no século XVIII, surgiram na
Inglaterra regulamentos e leis que procuravam defender animais de abusos e crueldades hu-
manas, sendo a origem, possivelmente, das primeiras Sociedades Protetoras dos Animais,
porém, domésticos, a princípio, o que afasta um pouco essas leis do real Ecocentrismo, que
advoga valores intrínsecos aos animais selvagens e, principalmente, os considerados feios,
inúteis ou nojentos (Primack e Rodrigues, 2001).
Perlo (2007) menciona que o movimento vegetarianista, surgido possivelmente na
Inglaterra do culo XIX, é um dos resultados da Liberação Animal, que defende a absti-
nência do consumo da carne como medida para reduzir o sofrimento dos animais, aos quais
são atribuídos valores intrínsecos. Embora tenha contrariado o consumo de animais como
alimento, o movimento vegetarianista trazia implícita a noção de superioridade humana, de-
fendendo a proteção animal e apoiando a devoração dos vegetais, para os quais o Ecocentris-
mo também confere valores intrínsecos. Além disso, a opção pela alimentação vegetariana
poderia provocar o aumento dos campos cultiváveis e diminuição dos ambientes naturais, o
que também traria prejuízo aos animais (Taylor, 1989). O nivelamento dos valores intrínsecos
do homem exigiria, neste sentido, ações igualitárias do homem em relação a todos os orga-
nismos, respeitando as necessidades biológicas e ecológicas de todas as partes (homem, ani-
mais não-humanos, vegetais, etc.).
Em meados do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade passou a per-
ceber que a degradação dos recursos traria sérias conseqüências à saúde e sobrevivência hu-
manas. Foi quando os movimentos ecocêntricos se impulsionaram no mundo todo (Frias,
2006) e foram assinados vários acordos internacionais, abordados posteriormente. Neste mo-
mento, cabe enfatizar que as raízes do movimento ecocentrista são antropocêntricas, pois ini-
cialmente se passou a reconhecer valores intrínsecos de outros grupos humanos, mas que pos-
19
teriormente foram ampliados para animais domésticos, em seguida selvagens e assim por di-
ante.
Neste período pós-guerra, os direitos de existência dos seres não-humanos foram for-
temente defendidos por Aldo Leopold (1887-1948), no ensaio “A Sand County Almanac”, em
1949. Leopold, graduado em Ciências Florestais em 1907, converteu-se em administrador de
parques nacionais em 1909, e professor de Manejo da Vida Silvestre a partir de 1933 na Uni-
versidade de Wisconsin, beneficiando-se dos avanços da ecologia como ciência, principal-
mente da noção de ecossistema, criada por Arthur George Tansley (1871-1955), em 1935 (Di-
egues, 2005).
Em seu ensaio, Leopold concluiu que se o ser humano abriu mão da escravatura, deve,
agora, dar um passo além, levando a natureza a sério e dotando-lhe de um valor intrínseco,
como sujeito de direito (Campos, 2001). A questão central que se instalou no debate levanta-
do por Leopold pode ser resumida da seguinte maneira, segundo Campos (2001):
Trata-se, apenas de cuidar dos nossos lugares de vida porque sua dete-
rioração [da natureza] ameaçaria nos atingir ou, pelo contrário, de pro-
teger a natureza como tal, porque descobrimos que ela não é uma sim-
ples matéria bruta, mas sim um sistema harmonioso e frágil, mais ad-
mirável em si mesmo do que essa parcela ínfima, em suma, que nela
constitui a vida humana?
Leopold dizia que a maior descoberta do século XX não havia sido nem o rádio, nem a
televisão, mas a complexidade e correlações encontradas nos organismos da Terra (Notario,
2005). A partir da publicação de “A Sand County Almanac”, o movimento ecocentrista ga-
nhou força principalmente nos Estados Unidos. A principal idéia de Leopold que inspirou este
movimento foi a “Ética da Terra” ou Land Ethic”, segundo a qual algo é correto quando
tende a preservar a integridade, estabilidade e beleza da comunidade biótica. É incorreto
quando tende ao contrário” (Frías, 2006).
Segundo esta linha de pensamento de Leopold, por exemplo, poder-se-ia pensar a po-
pulação humana, superior aos seis bilhões de habitantes, como uma ameaça à integridade,
estabilidade e beleza da comunidade biótica. Neste caso, porque não se procede frente a esta
explosão populacional da mesma forma quando uma população de veados cresce além do
habitual? Estes são imediatamente controlados, mediante estabilização populacional (Frías,
2006). Aliás, o próprio Leopold, acompanhado de uma espingarda e cachorros, explorava suas
propriedades (bosques) em busca de caça e pesca, com o intuito de controlar populações de
20
animais e, deste modo, segundo acreditava, prestar um benefício àqueles ecossistemas (Larré-
re e Larrére, 2008).
Em sua obra, Leopold estendeu os valores intrínsecos, inicialmente reconhecidos ape-
nas em alguns elementos naturais, para todos os componentes dos ecossistemas: microorga-
nismos, ar, água, solo, pedras (Amemiya e Macer, 1999; Rowe, 2003). Esta visão holística do
mundo natural, onde tudo está interligado, também serviu de inspiração para que James Love-
lock (1919) elaborasse a chamada Hipótese de Gaia. Nesta hipótese, proposta inicialmente em
1960, Lovelock compara a Terra com um superoganismo, um sistema adaptativo controlado,
capaz de manter suas características físico-químicas em homeostase (Nunes Neto e El-Hani,
2006). Desta forma, todo o planeta passa a ser elegível de direito, que também possuiria
valor intrínseco.
Desta forma, o Ecocentrismo surgiu com a intenção de substituir o conceito de indiví-
duos autônomos pelo de indivíduos ecológicos, substituindo também a noção consumista e
desenfreada de desenvolvimento pela noção de sustentabilidade, onde tomadas de decisão
exigem que se façam perguntas do tipo, é bom para a Terra?”, o que facilitaria a solução de
dilemas ambientais, como as taxas de crescimento populacional (Rowe, 2003). Estudos têm
demonstrado que visões de mundo mais ecocêntricas tendem a levar a atitudes menos destru-
tivas em relação ao meio. Alguns destes estudos serão comentados a seguir.
1.2.3 Estudos de atitudes antropocêntricas e ecocêntricas
Pesquisas que enfocam atitudes antropocêntricas e ecocêntricas no que tange ao meio
natural, incluindo-se a fauna, são escassas (Kortenkamp e Moore, 2001). Assim, é parado-
xal o confronto desta escassez de estudos com a importância da temática para medidas con-
servacionistas, em tempos de crise ambiental. Entretanto, é possível que tal situação seja ex-
plicada pela recente emergência de discussões acerca dos paradigmas em questão (Antropo-
centrismo e Ecocentrismo).
Thompson e Barton (1994) desenvolveram uma metodologia para avaliar atitudes an-
tropocêntricas e ecocêntricas rumo ao ambiente que tem inspirado muitos trabalhos com este
enfoque, alguns dos quais serão comentados ao longo do texto. Como a técnica desenvolvida
por Thompson e Barton (1994) também foi empregada nos estudos desta dissertação, haverá
uma maior explicação sobre isso no momento oportuno (Material e Métodos). Numa escala de
1 a 5, Thompson e Barton (1994) registraram, em cidadãos norte-americanos, médias de 2,8
para atitudes antropocêntricas, 4,0 para atitudes ecocêntricas e 1,9 para atitudes que demons-
21
trassem Apatia Ambiental, esta última representando indiferenças frente aos problemas ambi-
entais. Os autores encontraram que os indivíduos mais antropocêntricos expressaram menos
pensamentos de proteção ambiental, ao passo que aqueles mais ecocêntricos se demonstraram
mais preocupados com esta questão.
Kellert (1993, 1996) também tem estudado atitudes da sociedade norte-americana, em
relação à vida selvagem. Destes estudos, resultou uma tipologia de valores, que posteriormen-
te se mostraram correlacionados aos paradigmas antropocêntrico e ecocêntrico:
Utilitarista: prioriza os valores de uso das espécies, cuja subordinação objetiva benefícios
diretos ao homem. Ex.: valorização de animais principalmente porque a pele pode ser usada
para fabricação de casaco de pele (Bjerke et al., 1998); exploração de ovinos, caprinos, suí-
nos, etc. (Echegaray, 2004); o uso de jardins zoológicos e parques afins (Almeida, 2008); va-
lorização de aves por seus aspectos alimentares, medicinais ou simbólicos (Oliveira Júnior e
Sato, 2006), etc.
Negativista: expressão de medo ou indiferença em relação às espécies. Ex.: aversão aos
insetos (Kellert, 1996; Costa-Neto, 2004; Modro et al., 2009), aos anfíbios (Ceríaco, 2010;
Barros, 2005), às serpentes (Almeida et al., 2010) e grandes carnívoros (Kaltenborn e
Strumse, 1998; Bjerke e Kaltenborn, 1999; Skogen, 2001; Cunha e Almeida, 2002; Rowe,
2006).
Dominadora (ou Dominação): abrange situações onde predominam o interesse na busca
de desafios físicos e mentais na natureza, afiando competências que permitam ao sujeito sub-
jugar e controlar a natureza. Ex.: atividades esportivas envolvendo animais (Bjerke et al.,
1998).
Ecologista: nesta categoria, o maior valor das espécies é o ecológico, suas relações com o
meio ambiente, propondo uma abordagem integrada da natureza (Kellert, 1996).
Moralista: implica discussões acerca de aspectos éticos de proteção da biodiversidade,
sentimentos de altruísmo, solidariedade, oposição a maus-tratos e crueldades contra os seres
vivos (Kellert, 1996; Bjerke e Kaltenborn, 1999; Schwarz et al., 2008).
22
Naturalista: a categoria naturalista se caracteriza pela satisfação das pessoas em experiên-
cias diretas com a vida selvagem (Ceríaco, 2010), ao ar livre (Bjerke et al., 1998). Assim, a
partir deste conceito, percebe-se que, para que a vida selvagem seja dotada de valor naturalis-
ta, sua maior importância deve ser sua presença em seus habitats naturais, estando em segun-
do plano aspectos estéticos, utilitaristas.
Bjerke e Kaltenborn (1999), em pesquisa realizada na Noruega, verificaram que as ca-
tegorias utilitarista, dominadora e negativista estiveram relacionadas a atitudes anti-
ambientais (atitudes que tendem a desrespeitar o equilíbrio dos ecossistemas) e ao paradigma
antropocêntrico, enquanto que as categorias ecologista, moralista e naturalista se mostraram
relacionadas ao paradigma ecocêntrico e, sendo assim, com maiores tendências para atitudes
pró-ambientais (ou seja, atitudes ecologicamente responsáveis em relação ao ambiente). Neste
estudo, cujo eixo de discussão foi o conflito entre grupos de interesse em virtude de ataques a
ovelhas (Ovis aries) por lobos (Canis lupus lupus), os ovinocultores se mostraram mais antro-
pocêntricos e com maiores tendências a atitudes negativas em relação aos lobos, ao passo que
biólogos e gestores ambientais endossaram mais argumentos ecocêntricos, expressando atitu-
des pró-ambientais. Ainda tendo como foco principal o mesmo conflito, Virtteso et al. (1998)
encontraram as mesmas correlações.
Bjerke et al. (1998) fizeram uma avaliação com 562 crianças e adolescentes noruegue-
ses, porém, enfocando especificamente os animais. Neste estudo, as declarações dos investi-
gados foram classificadas nas categorias definidas por Kellert (1996). Os dados do trabalho
indicam que crianças com atitudes mais utilitaristas e negativistas gostam menos de animais,
ao passo que crianças com atitudes mais ecologistas e naturalistas demonstraram gostar mais
de animais.
Em outro estudo, atitudes antropocêntricas estiveram correlacionadas com preferên-
cias por ambientes modificados, como áreas agrícolas, e atitudes mais ecocêntricas se correla-
cionaram com preferências por áreas naturais, silvestres (Bjerke e Kaltenborn, 2001). Para os
autores, este tipo de preferência deve ser levado adiante em projetos desenvolvimentistas que
tenham como resultado a transformação de paisagens naturais, que as pessoas que vivem
nestas áreas se demonstraram mais sensíveis frente aos argumentos ecocêntricos e mais favo-
ráveis à proteção ambiental. Considerações acerca das preferências por paisagens e gestão
foram feitas por Karjalainen (2006), mas sem abordar especificamente os conceitos de Antro-
pocentrismo e Ecocentrismo.
Vários outros estudos, como Amérigo e González (1999), Amérigo et al. (2005), Amé-
rigo (2006) e Pinheiro e Pinheiro (2007), também demonstram correlações positivas entre o
23
paradigma ecocêntrico e atitudes pró-ambientais e correlações negativas entre a aceitação
antropocêntrica e atitudes pró-ambientais.
No campo educacional, Almeida e Costa (2010) adaptaram a técnica desenvolvida por
Thompson e Barton (1994) e trouxeram-na para uma escola de Macapá, na Amazônia brasi-
leira. Neste trabalho, que envolveu profissionais de ensino fundamental, professores de ciên-
cias se demonstraram mais ambientalmente apáticos e os gestores escolares foram os que me-
nos manifestaram atitudes ecocêntricas. Por outro lado, professores polivalentes (1ª a sé-
ries) se mostraram mais ecocêntricos.
Embora não tenham discutido especificamente os conceitos de Antropocentrismo e
Ecocentrismo, Schwarz et al. (2008) classificaram os valores atribuídos à Mata Atlântica por
alunos de Joinville (Santa Catarina), nas categorias de Kellert (1996). Em algumas ocasiões,
quando os alunos eram mais velhos, este bioma foi mais valorizado por razões estéticas. Nu-
ma publicação posterior, Schwarz (2010) verificou que as plantas, sobretudo ornamentais,
apresentaram grande significado para os alunos, por razões estéticas. Animais também foram
muito valorizados, principalmente os domésticos, como o cachorro (Canis lupus familiaris).
Todos estes valores são, aparentemente, antropocêntricos, pois se sabe que, ao contrário do
Antropocentrismo, o Ecocentrismo valoriza os ambientes não por sua beleza física, mas por
critérios ecológicos.
1.3 Mecanismos Para a Proteção da Fauna
Desde tempos antigos, os animais têm estado sujeitos a práticas humanas de uso e ma-
nejo que determinam seu estado de conservação, em razão dos valores a eles atribuídos (San-
tos-Fita et al., 2009). Dentre os mecanismos mais defendidos para garantir a proteção, não
da fauna, mas da natureza como um todo, garantindo um desenvolvimento humano funda-
mentado na sustentabilidade, serão comentados aqui: Legislação Ambiental, Unidades de
Conservação e Educação Ambiental (Primack e Rodrigues, 2001; Gil-Perez, 2003). No âmbi-
to dos propósitos deste trabalho, a Educação Ambiental é tida como uma poderosa ferramenta
que contribui para a proteção dos animais, de forma complementar às demais estratégias pro-
tecionistas.
24
1.3.1 Legislação Ambiental
As legislações ambientais do Brasil raramente são voltadas para grupos particulares de
seres vivos, enfocando-se mais nos ecossistemas (Primack e Rodrigues, 2001), mas tendo
como ponto de partida, muitas vezes, a qualidade de vida e interesses humanos, como bem
exemplifica a expressão “patrimônio da humanidade”, consagrado no direito ambiental (Mila-
ré e Coimbra, 2004).
A Constituição Federal de 1988 (Brasil, 2004), em seu artigo 5, dispõe o direito de
qualquer cidadão a propor ação popular para anular atos lesivos ao meio ambiente. O artigo
23, por sua vez, determina como competência da União, dos Estados e dos Municípios a pro-
teção do meio ambiente e o combate às formas de poluição, além da preservação de florestas,
fauna e flora. O artigo 170 advoga acerca da ordem econômica, cujo objetivo é assegurar a
existência digna, nos moldes da justiça social, com a ressalva de que sejam observados os
princípios de “defesa do meio ambiente”. A mesma condição é determinada no artigo 174, o
qual trata especificamente de garimpos. Contudo, o primeiro “ar de superioridade” antropo-
cêntrica surge no artigo 216, que determina como patrimônios brasileiros os bens materiais e
imateriais dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira. Dentre estes bens, encon-
tram-se os conjuntos de valor paleontológico e ecológico. O artigo 225, embora posterior-
mente ressalve a importância de manutenção de processos ecológicos, de práticas sustentáveis
e ações que não sejam cruéis contra animais e plantas, defende um meio ambiente cuja maior
importância é utilitarista:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
do-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 2004, grifos
nossos).
A disposição acima se refere ao conceito de Equidade Intergeracional, onde a exi-
gência da satisfação das necessidades humanas atuais sem comprometer a capacidade de satis-
fação de gerações futuras. Este conceito é consagrado no Desenvolvimento Sustentável e,
embora concilie desenvolvimentos humano e ecológico, o ponto de partida são as necessida-
des humanas atuais e futuras. Para Bishop e Donnelly (2007), o Antropocentrismo na legisla-
ção é algo justificável, que lei é uma instituição social, para o melhor desenvolvimento hu-
mano.
25
O Código Florestal (Lei 4775/1965) foi promulgado em 1965 com o objetivo de
combater o desmatamento, o que logicamente, trouxe implicações à proteção dos animais.
no artigo 1, declara-se: “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de
vegetação, reconhecidas de utilidades às terras que revestem, são bens de interesse comum a
todos os habitantes do país [...](Brasil, 1965). Recentemente, a possibilidade de mudanças
no Código Florestal do Brasil tem gerado discussões no mundo todo. Dentre as mudanças,
objetos de votação no Congresso Nacional, uma das principais é a redução dos limites de flo-
restas de proteção permanentes de cursos d’água de 30 para 15 metros, no mínimo. Segundo
Michalski et al. (2010), caso isso ocorra, problemas ambientais como fragmentação, efeito de
borda e erosão dos solos poderão levar à perda irreversível da biodiversidade. Complemen-
tando Michalski et al. (2010), para quem as mudanças no Código Florestal atendem a interes-
ses de poderosos grupos econômicos, fazendeiros e políticos influentes, é evidente que esta
tomada de decisão tem como plataforma argumentos antropocêntricos, onde os aspectos
econômicos das alterações estão acima de quaisquer valores intrínsecos que à biodiversidade
poderiam ser atribuídos.
A Lei de Proteção à Fauna (Lei Nº 5197/1967), em seu artigo 1, estabelece:
Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvol-
vimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a
fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais
são propriedades do Estado, sendo proibida sua utilização, persegui-
ção, caça ou apanha [...]. Se peculiaridades regionais comportarem o
exercício da caça, a permissão será concedida em ato regulamentador
do Poder Público Federal (Brasil, 1967, grifo nosso).
A partir da determinação da fauna silvestre como propriedade do Estado, a lei proíbe:
o exercício da caça profissional (artigo 2); o comércio de exemplares da fauna silvestre, exce-
to quando provenientes de criadouros legalizados (artigo 3); o abate de animais silvestres
através de métodos que maltratem a caça (artigo 10); a pesca em período de piracema (artigo
27). Outros destaques da lei incluem a inafiançabilidade dos crimes previstos (artigo 34) e
a inclusão de textos sobre proteção da fauna em livros e escolares e pelo menos duas aulas
anuais sobre o tema nos ensinos fundamental e médio (artigo 35).
A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Nº 6838/1981) tem como objetivo:
26
a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida [...], visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade à vida humana (Brasil, 1981, grifo nosso).
Seguindo esta linha, a lei conceitua “poluição”, em seu artigo 3, como a degradação
do meio ambiente através de atividades que:
a- prejudiquem a saúde, o bem-estar e a segurança da população; b-
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c- afe-
tem desfavoravelmente a biota; d- afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente; e- lancem matéria ou energia em desa-
cordo com os padrões ambientais estabelecidos (Brasil, 1981, grifos
nossos).
Dos três requisitos que fundamentam poluição, para a lei, três são argumentações que
se aproximam do pensamento antropocêntrico, que apenas um dos requisitos (c) leva em
conta os interesses da biota, enquanto o requisito “e” não deixa muito claro o tipo de interesse
ao qual se centraliza.
O artigo 2, inciso X, reconhece a importância da Educação Ambiental “em todos os
níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a partici-
pação ativa na defesa do meio ambiente” (Brasil, 1981). A Educação Ambiental será objeto
de discussão do próximo tópico.
A lei define ainda o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), estruturado
pelos órgãos superior (Conselho do Governo), consultivo e deliberativo (Conselho Nacional
do Meio Ambiente), central (Secretaria do Meio Ambiente), executor (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA), locais (órgãos municipais),
etc. (artigo 6).
A Lei dos Crimes Ambientais, ou Lei da Natureza (Lei 9605/1998) surgiu com a
intenção de ser um instrumento à sociedade e aos órgãos ambientais para agilizar e tornar efi-
caz a punição de infratores do meio ambiente. Alguns dos destaques da lei (Brasil, 1998a):
atenuação da pena do infrator que, espontaneamente, fizer a reparação do dano causado (arti-
go 14), mediante laudo que comprove a reparação (artigo 17); agravamento das penas quando
são empregados métodos cruéis para captura e abate de animais (artigo 15); detenção de até
um ano para quem praticar abuso, maus-tratos, ferimentos e mutilação de animais silvestres,
27
domésticos, etc., mesmo que para fins científicos ou didáticos, quando existirem outras alter-
nativas (artigo 32); matar animais continua sendo crime, exceto quando para saciar a fome do
agente e sua família, em estado de necessidade, para proteger lavouras, ou pela nocividade do
animal (o artigo não deixa claro qual deve ser o alvo da nocividade do animal, se os interesses
humanos ou ecossistêmicos, ou ambos), desde que assim caracterizado pelo órgão competente
(artigo 37); criminaliza o comércio, aprisionamento e transporte de animais silvestre e nativos
em rota migratória (artigo 29); dispõe acerca da destruição de florestas em áreas de preserva-
ção permanente (artigos 38 e 39) e incêndios (artigo 41); detenção para quem causar quais-
quer danos contra plantas ornamentais (apenas) em logradouros públicos ou privados (artigo
48).
Além destas leis, diversos acordos internacionais têm contribuído grandemente para a
proteção da fauna, direta ou indiretamente, como a Convenção da Diversidade Biológica
(CDB), a Agenda 21 e o Protocolo de Kyoto, dos quais o Brasil é signatário.
A CDB, ratificada por 188 países, é um dos mais importantes resultados da Conferên-
cias das Nações Unidas Para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92). Trata-se do
principal fórum mundial na definição do marco político e legal para a biodiversidade. Dentre
estes marcos, destacam-se: regras ao acesso de recursos vegetais e repartição dos benefícios;
combate à biopirataria; incentivo ao turismo sustentável; prevenção, controle e erradicação de
espécies exóticas e invasoras; iniciativas a programas em áreas protegidas; conservação das
plantas; conservação e uso sustentável de polinizadores; proteção aos conhecimentos tradicio-
nais sobre a biodiversidade; incentivo à educação e sensibilização pública, etc. (CDB, 2010).
A Agenda 21, também elaborada durante a Rio-92, “constitui um plano de ação desti-
nado a garantir a sustentabilidade ambiental do planeta” (Barbieri, 1996, p. 25). As ações da
Agenda 21 aumentaram “a consciência sobre os perigos que o atual modelo de desenvolvi-
mento socioeconômico e as transformações do meio ambiente, ignorados durante décadas,
entrando no discurso da maioria dos governos do mundo todo” (Barbieri, 1996, p. 25). A
Agenda 21 destaca a idéia de desenvolvimento sustentável como forma de garantir o equilí-
brio ambiental (Campos, 2000). O capítulo 36 ressalta a importância da Educação Ambiental
para a construção de sociedades sustentáveis.
O Protocolo de Kyoto também trouxe oportunidades de se proteger a vida na Terra,
que partiu da premissa de que o aquecimento global, provocado por gases bloqueadores de
radiação de ondas longas, poderia ser controlado mediante o compromisso internacional em
reduzir estes gases, protegendo desta forma a natureza (Conti, 2005). O Protocolo de Kyoto
foi assinado em 1997 por 189 países e, diante da recusa dos Estados Unidos, representou um
28
duro golpe aos proponentes do Desenvolvimento Sustentável, segundo Aledo (2004). Para
este autor, não apenas este protocolo, mas a maioria dos acordos internacionais firmados na
Rio-92 tiveram um baixíssimo nível de aplicação ou simplesmente têm sido esquecidos.
1.3.2 Criação de Áreas Protegidas
A criação de Áreas Protegidas é uma estratégia chave para proteger a biodiversidade
(Budhathoki, 2001) e tem crescido explosivamente nas últimas décadas (Rylands e Brandon,
2005).
O Romantismo do século XIX teve forte influência na criação das primeiras Áreas
Protegidas, vislumbradas como ilhas de grande beleza, valor estético, que conduziam o ho-
mem à meditação sobre as maravilhas da natureza intocada (Diegues, 2005). Esta visão, pu-
ramente antropocêntrica, beneficiava as populações urbanas e valorizava motivações estéticas,
religiosas e culturais, o que demonstra que a vida selvagem não foi levada em conta por seus
valores próprios (Rodman apud Diegues, 2005). Com estes argumentos se criou o primeiro
parque nacional do mundo, o Parque Nacional de Yellowstone, Estados Unidos, em meados
do século XIX. O modelo de parque de Yellowstone, com ênfase em valores estéticos e na
exclusão de povos tradicionais, considerados destruidores, foi exportado para o mundo todo,
gerando conflitos principalmente no Terceiro Mundo, onde grande parte das florestas é habi-
tada por populações tradicionais (Diegues, 2005). Neste modelo de parque, os homens eram
aceitos apenas como “visitantes” (Melo, 2007).
No início do século XX, indagações acerca de como valorizar a natureza vieram a pú-
blico graças à polêmica em torno da criação da barragem Hetch-Hecthy, nos penhascos do
mais belo parque nacional daqueles tempos, o Yosemite, evidenciando a oposição entre An-
tropocentrismo e Ecocentrismo (Hoffman, 2002). A construção da barragem foi fortemente
criticada por ambientalistas da época, como John Muir (1838-1914), um dos responsáveis
pela criação do parque. Ainda que defendendo os valores estéticos do parque, uma visão limi-
tada da importância do mesmo (se considerado o referencial atual), Muir não pôde evitar que,
em 1913, O Congresso Americano aprovasse a construção da barragem. Hoje, os vales de
Yosemite estão submersos, mas o lado positivo disso é que este evento teve repercussões nos
valores morais para a proteção ambiental da época (Hoffman e Sandelands, 2005).
No Brasil, a primeira Área Protegida foi o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Ja-
neiro, criado em 1937, graças aos esforços do engenheiro e político André Rebouças (1838-
1898). Dois anos mais tarde, criou-se o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná e o Parque Na-
29
cional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro (Obara e Silva, 2001). Em 1944, o decreto-lei
16.667, incube ao Serviço Florestal as funções de orientar, coordenar, fiscalizar e elaborar
programas estratégicos aos parques nacionais. O mesmo decreto estabelece os objetivos dos
parques: educativos, estéticos e recreativos (Esteves, 2006). Até meados da década de 1970, a
criação de parques nacionais se dava quase que exclusivamente a partir de critérios estéticos
(Obara e Silva, 2001).
Em 2000, estabeleceu-se, no Brasil, legal e formalmente, um sistema unificado para as
áreas protegidas federais, estaduais e municipais: o Sistema Nacional de Unidades de Conser-
vação (SNUC). A função do SNUC é definir e regulamentar as categorias de Unidades de
Conservação nas instâncias municipal, estadual e federal, separando-as em dois grupos: de
proteção integral e de uso sustentável. Apenas o segundo tipo permite várias formas de utili-
zação dos recursos naturais. Em 2005, havia 478 unidades de proteção integral e 436 de uso
sustentável (Rylands e Brandon, 2005).
No total, o SNUC reconhece 12 categorias de Unidades de Conservação, cada uma das
quais com objetivos e restrições específicos (Brasil, 2000): Estação Ecológica, Reserva Bio-
lógica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre, como unidades de
proteção integral; Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Flo-
resta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Susten-
tável, Reserva Particular do Patrimônio Natural, como unidades de desenvolvimento sustentá-
vel.
Para os Parques Nacionais, categoria de maior interesse no âmbito desta dissertação, o
SNUC estabelece como objetivo:
a preservação de ecossistemas naturais e de grande relevância ecoló-
gica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científi-
cas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, na recreação em contato com a natureza e de turismo eco-
lógico (Brasil, 2000, grifos nossos).
Embora o objetivo de parques nacionais englobe aspectos ecológicos “e” estéticos, não
parece claro qual critério prevalece na hora de se decidir pela criação de um parque, ou se
ambos os critérios são igualmente relevantes, excluindo-se assim ambientes que, embora te-
nham grande “relevância ecológica”, como pântanos, são de pouca “beleza cênica”, conside-
rando o ponto de vista ocidental de valores estéticos (Rodman apud Diegues, 2005).
30
Sem dúvida, esta valorização estética da natureza traz grandes contribuições para a
proteção de ecossistemas inteiros. Algumas espécies, como a baleia, o mico-leão-dourado, o
logo-guará e vários pássaros, causam empatia nas pessoas e por isso são chamados de fauna
carismática” (Primack e Rodrigues, 2001). Em muitas situações, por exemplo, com o objetivo
de proteger ecossistemas, as autoridades apóiam-se em argumentos antropocêntricos, ou seja,
usam a chamada “fauna carismática” para levantar fundos para proteger também outras espé-
cies menos carismáticas, mas não menos importantes. Como dito antes, o problema deste pen-
samento é excluir outros ambientes onde, hipoteticamente, não ocorrem as espécies carismáti-
cas.
O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque
O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), criado em 23 de agosto de
2002, após estudos do Projeto Radar da Amazônia, na década de 1970 (Gallois, 2008), é a
maior área protegida em floresta tropical do mundo, abrangendo seis municípios: Calçoene,
Laranjal do Jarí, Oiapoque, Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio, no Estado Amapá, e
Almeirim, no Pará, totalizando 3.867.000 hectares, o que representa, no Amapá, 27% de sua
área total e 0,49% de toda a área do Brasil (Figueiredo, 2006).
Embora algumas campanhas publicitárias valorizem exacerbadamente os aspectos
estéticos do parque, que possui algumas regiões de notável beleza cênica, estudos indicam sua
elevada riqueza de fauna e flora. No total foram identificadas 207 espécies de peixes, 70
espécies de anfíbios, 86 de répteis, 366 de aves e 105 de mamíferos, sendo 57 de mamíferos
não-voadores, além de pelo menos 147 famílias e 643 gêneros de plantas (Bernard, 2008).
O PNMT, sendo uma unidade de conservação de proteção integral, incorpora a con-
cepção preservacionista, mantendo-se extremamente restritivo em relação à presença de popu-
lações humanas em seu interior, que este modelo de parque segue o pressuposto de que
populações humanas são potenciais destruidores de ambientes naturais (Melo, 2007). Sem
estradas e isolado de grandes centros urbanos, o parque está praticamente intocado, a não ser
pelo núcleo populacional de Vila Brasil (Irving, 2007). Moradores das regiões centrais do
Amapá, como Pedra Branca e Serra do Navio, sentiram a limitação das possibilidades de ca-
çar e pescar no interior do parque, que desde então se tornou uma “terra proibida”, mesmo
que na prática a maior parte da população nunca tenha se aventurado até seu interior (Sch-
midt, 2009).
31
Ainda assim, a preservação do PNMT tem sido ameaçada por atividades como garim-
po, turismo informal, pesca, caça e extração ilegal de madeira (ICMBio, 2008). Bernard
(2008) menciona que, em regiões próximas à Serra do Navio, a caça e a pesca representam
sérias ameaças ao PNMT, embora a dimensão da problemática ainda seja desconhecida. Silva
(2007), discorrendo acerca da mesma temática, afirmam que as formas de controle das autori-
dades ainda são escassas.
Visando minimizar os prováveis impactos, as Unidades de Conservação contam com
uma Zona de Amortecimento (entendida como uma faixa de proteção, no entorno do parque,
onde a interferência humana tem algumas restrições). No caso do PNMT, também não inclui
nenhuma área ou assentamento urbano (ICMBio, 2008).
Embora os impactos antrópicos ao PNMT se resumam, possivelmente, a focos isola-
dos, como o garimpo (Irving, 2004; Melo, 2007), é previsível que as restrições impostas ao
uso dos recursos em seu interior levem à depredação do seu entorno (Budhathoki, 2001). Em
outras palavras, a proteção legal da biodiversidade do parque e sua zona de amortecimento
não significa dizer que isto justifique o descaso para com a proteção dos recursos de outras
regiões próximas. A situação parece preocupante quando se verifica que, mesmo no interior
do parque os impactos se evidenciam, conforme a bibliografia já citada.
Deste modo, o estudo de atitudes e valores atribuídos à natureza, no contexto do en-
torno de uma Área Protegida, se justifica mediante as possibilidades de traçar estratégias que
visem à minimização dos prováveis impactos exercidos pela população à biodiversidade do
interior da unidade, da zona de amortecimento e de outras regiões próximas, já que estas últi-
mas estão menos protegidas legalmente.
Após esta breve descrição da legislação e da criação de Áreas Protegidas, como meca-
nismos de proteção da fauna, reafirma-se o defendido no início desta discussão, valendo-se
agora de Guadiano (2002) e Eschenhagen (2005): nos dias atuais, ainda se acredita que restri-
ções jurídicas ou econômicas sejam suficientes para assegurar a conservação da biodiversida-
de. Muitos setores e grupos implicados em estratégias para a biodiversidade ainda não com-
preenderam o importante papel que a Educação pode desempenhar na mudança social. Assim,
a seguir, o tema central da discussão será a Educação Ambiental, a qual o representa neces-
sariamente a salvação do mundo, mas uma ferramenta complementar a todas as demais estra-
tégias para a conservação da fauna, estratégias estas que ficam debilitadas frente à dimensão
educacional da biodiversidade.
32
1.3.3 Educação Ambiental
A Educação Ambiental (EA) surgiu nos anos 1970 (Garcia, 2005) em resposta à crise
ambiental, assim como os movimentos ecocêntricos e o aumento significativo de áreas prote-
gidas, discutidos anteriormente. Surgiu, portanto, como uma das formas de desencadear ações
e estratégias para a resolução da atual crise ecológica (Camponogara et al., 2007), sendo uma
de suas finalidades, a proteção da biodiversidade (Primack et al., 2001).
Em 1977, realizou-se a Conferência Intergorvenamental de Tbilisi (na antiga União
Soviética), um dos marcos da EA no mundo. Neste evento, definiram-se seus conceitos e ob-
jetivos (Segundo Telles e Braga, 2004):
Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e
clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento de habilida-
des e modificando as atitudes em relação ao meio, para aprender e
apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus
meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada
com a prática de tomada de decisões e a ética que conduzem a melho-
ria da qualidade de vida.
Ainda durante a conferência de Tbilisi (1977), estabeleceu-se que a Educação Ambi-
ental para a biodiversidade deve, segundo Guadiano (2002, grifos nossos):
propiciar a compreensão da natureza complexa da biodiversidade, re-
sultante da interação de seus aspectos biológicos, físicos, sociais e cul-
turais; promover uma utilização reflexiva e prudente da biodiversidade
para a satisfação das necessidades humanas; favorecer em todos os ní-
veis uma participação responsável e eficaz da população na concepção
e aplicação das decisões que põem em jogo a conservação da biodi-
versidade em suas relações com a qualidade do meio natural, social e
cultural; difundir informações acerca das modalidades de desenvolvi-
mento que não repercutam negativamente na biodiversidade; facilitar
ao indivíduo e às coletividades os meios de interpretar a interdepen-
dência dos diversos elementos econômicos, sociais, culturais, biológi-
cos, físicos, no espaço e no tempo.
Assim, a Educação Ambiental aponta para propostas centradas na conscientização,
mudanças de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e
participação dos educandos, tendo uma função cada vez mais transformadora, onde o educa-
dor funciona como um mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-
33
los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito de
natureza (Jacobi, 2004).
Neste sentido, o papel da EA para a conservação tem sido muito importante no que
tange à gestão ambiental, sobretudo para fomentar mudanças de atitudes humanas relaciona-
das ao ambiente (Morales, 2006). Para Zent (1998), a mudança dos atuais quadros ambientais
exige a rejeição da perspectiva antropocêntrica e sua substituição pela ecocêntrica, criando
novas atitudes e comportamentos individuais e coletivos (Jacobi, 2003). Para Reigota (1994),
a solução está em acabar com o Antropocentrismo. Uma solução menos drástica seria a pro-
posta por Larrère e Larrère (2008), comentada anteriormente, que consistiria em ampliar a
concepção popular de recurso para além dos serviços diretos prestados pela natureza, o que é
um dos papéis da EA, conforme Morales (2006).
Porém, como responder aos problemas ambientais, incluindo-se a tal mudança de
atitudes, frente à extinção das espécies, por exemplo, depende da percepção que se tem da
relação do homem com a natureza (Kortenkamp e Moore, 2001). Antes de mudar atitudes, é
necessário investigar conhecimentos, crenças e cosmovisões, que são as plataformas instru-
mentais que justificam e legitimam as ações humanas frente ao meio (Eschenhagen, 2005).
Antunes (2007) considera que a verdadeira aprendizagem é um processo que exige o
confronto entre a realidade objetiva e os diferentes significados que cada pessoa constrói
acerca desta realidade, considerando as experiências individuais e coletivas. O autor define
ainda os conceitos de “informação” e conhecimento”. Informação compõe-se de um ou mais
fatos, pré-organizados, produzidos fora do espaço escolar, completos e acabados. Conheci-
mento, por sua vez, surge a partir da interação entre o indivíduo (aluno), a informação que lhe
é exterior e que chega trazida pelo professor ou outras fontes, e o significado que este indiví-
duo lhe atribui. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais Para o Ensino Médio (Brasil,
2006), se a realidade dos alunos, seus conhecimentos e vivências prévias forem considerados
como ponto de partida, o ensino terá sentido para o aluno e a compreensão de processos e
fenômenos será mais efetiva. Tudo isso concorda com a concepção de Paulo Freire de Educar:
“é transformar pela teoria em confronto com a prática e vice-versa (práxis), com consciência
adquirida na relação entre o eu e o outro, nós (sociedade) e o mundo” (Loureira, 2004).
Desta forma, direcionando para a EA, a significativa aprendizagem ou mudança com-
portamental em relação ao ambiente requer levantamentos prévios acerca de atitudes dos alu-
nos para, a partir do confronto entre as informações trazidas pelo “educador ambiental” e a
realidade dos alunos, construir-se o conhecimento que podelevar às mudanças de atitudes,
por exemplo, antropocêntricas para atitudes mais ecocêntricas.
34
Embora documentos oficias da Educação Básica (Brasil, 1998; Brasil, 2006) reconhe-
çam a importância da EA em todos os níveis de ensino, no ensino médio, última etapa da
Educação Básica, é possível que os alunos tenham atingido dado desenvolvimento cogniti-
vo, que determinadas atitudes, formadas em etapas anteriores (em idades menos avançadas),
tendem a ser permanentes (Bjerke et al., 1998), na ausência de intervenções que visem formar
novas atitudes. Segundo Sato (1997), a partir de uma abordagem cognitivista da Educação,
conhecimentos (entenda-se por conhecimento como algo abrangido por atitudes, segundo
Braghirolli, 2007) procedem de construções sucessivas com elaborações constantes de novas
estruturas ao aluno, segundo a teoria piagetiana. Em etapas anteriores (operações concretas), o
indivíduo está preso à sua própria natureza e, apenas na etapa de operações formais é capaz de
se preocupar com questões mais abstratas (Biaggio et al., 1999), o que segundo a teoria piage-
tiana ocorre a partir dos 11 anos de idade, até a fase adulta. Desta forma, é possível que o es-
tágio de desenvolvimento cognitivo de alunos do ensino médio esteja mais bem definido. Lo-
go, estudos de atitudes de alunos do ensino médio, em relação a problemas ambientais, tam-
bém podem trazer indicativos acerca de processos educacionais anteriores que, em seu con-
junto, configuram a complexidade de atitudes deste público, que está saindo do ensino básico.
Entretanto, cabe ressaltar que, seja qual for o nível de ensino considerado, levantamen-
tos de dados prévios podem ser usados como importantes ferramentas à análise da compreen-
são do sistema ambiental e posterior elaboração de materiais técnico-pedagógicos à sensibili-
zação de grupos sociais acerca dos problemas ambientais, sendo úteis a Programas de Educa-
ção Ambiental (Santos et al., 2000).
Em Unidades de Conservação, a EA se justifica a partir da observação das pressões
humanas por comunidades do entorno, que se expressam em ações como desmatamentos,
extração de produtos naturais, caça e pesca predatórias, atividades agrícolas, comprometendo
a conservação dos recursos culturais e naturais das próprias comunidades (Milano apud Maro-
ti, 2002), o que também parece acontecer no entorno do PNMT, como já pautado.
O SNUC estabelece, como um dos objetivos das Unidades de Conservação (Brasil,
2000):
a condução de atividades de educação ambiental – formal, não formal,
turística ou de informação à comunidade com o objetivo de desen-
volver uma consciência pública voltada para a conservação do meio
ambiente e dos recursos naturais.
35
Trabalhos de EA, desenvolvidos em Unidades de Conservação ou em seu entorno,
podem ter diferentes concepções metodológicas que serão influenciadas pelas concepções
paradigmáticas que se tem de meio ambiente. Sauvé (1996) desenvolveu uma tipologia que
correlaciona o paradigma de ambiente e os objetivos da Educação Ambiental:
a- O ambiente como natureza que devemos apreciar e respeitar: implica a idéia de pre-
servação, partindo do problema da dissociação do homem com a natureza; a EA tem
como objetivo a renovação dos laços com a natureza, tornando-nos parte dela.
b- O ambiente como recursos que devemos gerir: refere-se à concepção de ambiente
como recurso; a EA visa à tomada de decisões corretas para assegurar os recursos para
atuais e futuras gerações.
c- O ambiente como problemas que devemos solucionar: o uso irracional dos recursos
ameaça a vida por meio de queimadas, poluição e outros danos; neste caso, a EA tam-
bém objetiva o desenvolvimento de competências que levem à tomada de decisões
responsáveis.
d- O ambiente como lugar para viver: este é o dia-a-dia do meio ambiente, na escola,
em casa, no bairro, no trabalho, no lazer; é o nosso ambiente, que devemos aprender a
apreciar para que desenvolvamos o sentimento de pertença. Ex.: projetos de jardina-
gem.
e- O ambiente como biosfera: parte do problema de que os seres humanos são habitantes
do ambiente, mas sem o sentimento de pertencimento; a Terra é vista como uma espa-
çonave, “Gaia”, valorizando-se a interdependência entre os seres vivos e inanimados;
a EA visa desenvolver, desta forma, uma visão global da natureza.
f- O ambiente como projeto comunitário: valoriza a solidariedade, a democracia e o en-
volvimento pessoal e coletivo; critica o individualismo e a natureza com foco na
análise crítica, na participação política da comunidade; a EA objetiva desenvolver o
espírito crítico, o exercício da democracia e trabalho coletivo.
36
Desta maneira, o tipo de EA a ser desenvolvida depende das concepções prévias do
público-alvo para que, a partir daí, suas estratégias teórico-metodológicas sejam definidas.
Logicamente, em um trabalho desenvolvido com animais, por exemplo, onde cada grupo des-
perta significados e valores diferentes, distintas abordagens em EA são necessárias, de forma
complementar. Ademais, mudanças nas concepções de ambiente levariam, inevitavelmente, às
mudanças das concepções de EA, ou seja, a existência de uma alternativa educativa para con-
ciliar a visão utilitarista da natureza não quer dizer que esta deva ser reforçada e muito menos
perpetuada, mas é uma forma de minimizar os impactos negativos na biodiversidade decor-
rentes desta concepção, que um dos objetivos da Educação é a sustentabilidade do uso dos
recursos (Gadotti, 2008).
1.4 Objetivos e Hipóteses
1.4.1 Objetivo Geral
A partir dos pressupostos teóricos desenvolvidos, este trabalho teve como objetivo
geral: estudar atitudes antropocêntricas e ecocêntricas de estudantes de ensino médio do mu-
nicípio de Serra do Navio (Amapá, Brasil), em relação à fauna, contribuindo assim com da-
dos prévios para intervenções em Educação Ambiental, haja vista que a área estudada se situa
num contexto que levanta intensas discussões conservacionistas, já que a maior parte do mu-
nicípio pertence a um parque nacional.
1.4.2 Objetivos Específicos
Verificar os níveis de concordância dos alunos diante de itens formulados previamen-
te, com argumentos antropocêntricos, ecocêntricos e neutros (apatia ambiental). Integrando
um contexto sóciodemográfico marcado pelo modelo de desenvolvimento ocidentalmente
dominante, a primeira hipótese levantada foi a de que os alunos apresentariam níveis mais
elevados de concordância nos itens de argumentos antropocêntricos.
Classificar, segundo as categorias de Kellert (1996), os valores atribuídos aos ani-
mais citados pelos alunos. A segunda hipótese levantada foi de que os alunos atribuiriam
mais valores antropocêntricos (utilitarista, negativista e dominadora) aos animais. Esta hipóte-
se foi levantada pelas mesmas razões da hipótese anterior.
Verificar relações entre os valores de categorias antropocêntricas (utilitarista, nega-
tivista e dominadora) e ecocêntricas (ecologista, moralista e naturalista) com atitudes prote-
37
cionistas. Considerando que a literatura tem demonstrado que a valorização antropocêntrica
dos seres condiciona as atitudes negativas, o contrário ocorrendo com a valorização ecocêntri-
ca, a terceira hipótese considerada foi a de que as categorias antropocêntricas levariam os
alunos a atitudes antiprotecionistas em relação aos animais, e as categorias ecocêntricas leva-
riam a atitudes protecionistas.
38
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Caracterização da Área de Estudo
2.1.1 Localização
O município de Serra do Navio (0° 53′ 0″ N, 52° 0′ 0″ W) está localizado na região
central do Estado do Amapá (Figura 2), com acesso via terrestre, pela Rodovia Perimetral
Norte (BR210), distando cerca de 200 Km da capital, Macapá, um trajeto que compreende até
cinco horas de viagem. Seus limites são: a sul, Município de Pedra Branca do Amapari; a nor-
te: Município de Oiapoque; a leste, Municípios de Calçoene, Pracuúba e Ferreira Gomes; a
oeste, Município de Pedra Branca do Amapari. A distância mínima entre a sede de Serra do
Navio e os limites do PNMT é de 52 km (Melo, 2007).
Figura 2: Mapa de localização do Município de Serra do Navio em Relação ao Parque Naci-
onal Montanhas do Tumucumaque. Adaptado de WWF (2009).
39
2.1.2 Aspectos Geográficos
A área territorial de Serra do Navio é 7.757 km² (IBGE cidades, 2010) dos quais 72%
foram cedidos ao parque (Silva, 2007). Em 2007, a população do município era de 3.982 habi-
tantes (IBGE Cidades, 2010), o que resulta numa densidade demográfica de 0,51hab./km².
Além da sede, Vila de Serra do Navio, doze comunidades rurais, das quais cinco
são ribeirinhas, com acesso fluvial (Quadro 1). Em um levantamento histórico-cultural dos
municípios do entorno do PNMT, entretanto, Gallois (2008) registrou a possibilidade de exis-
tência de um número superior (15) de comunidades rurais vinculadas à Serra do Navio.
Quadro 1: Comunidades rurais de Serra do Navio. Fonte: RURAP (In: Silva, 2007).
Todas estas regiões pertencem a uma zona climática tropical chuvosa, com duas esta-
ções bem delimitadas ao longo do ano: a primeira (de julho a dezembro) é de estiagem; a se-
gunda (de janeiro a junho) é de chuva. Durante o dia, as temperaturas ultrapassam os 30°C e,
durante a noite, caem consideravelmente para 18°C, em média. No inverno o município fica
coberto de neblina que, em alguns momentos, fica tão densa que a visualização num raio de
seis metros é praticamente impossível (Silva, 2007).
O município de Serra do Navio possui uma fisiografia de conjuntura geomorfológica
caracterizada por relevos colinos, e tem a contribuição integral da Bacia Hidrográfica do Rio
Araguari. A esse respeito, o município possui quatro rios: Anacuí (77,5 km de extensão), Mu-
Comunidade Famílias
Distância da sede
Água Branca 600
9 km
Araguari 04
28 km
Cachaço 110
8 km
Escondido 26
18 km
PA Serra do Navio 94
13 km
Perpétuo Socorro 16
14 km
São Jo 22
22 km
Pedra Preta 15
5 km; 1h (motor)
Estefânio 04
3h30min (motor)
Capivara 11
2h (motor)
Anta 05
4h (motor)
Sucuriju 08 4h (motor)
40
ruré (102,5 km), Amapari (202,5 km) e Araguari (210 km). Há o predomínio de floresta densa
de terra firme (Silva, 2007).
2.1.3 Aspectos Biológicos
Existe uma ausência de informações científicas para a região do PARNA Montanhas
do Tumucumaque, incluindo-se a Serra do Navio, que a maior parte do município é o
próprio parque. Tal escassez de conhecimento se deve, possivelmente, à localização remota da
área que foi recentemente transformada em parque, em relação aos centros urbanos maiores
(Bernard, 2008). Porém, sabe-se que seu interior e entorno se caracterizam pela elevada ri-
queza de fauna e flora (Irving, 2004).
2.1.3.1 Flora
Em expedição realizada na confluência entre os rios Amapari e Anacuí, em Serra do
Navio, já foram identificadas 32 famílias e 46 espécies vegetais, sendo maiores os números de
espécies para: Leguminosae (8), Lecythidaceae (6), Lauraceae (5), Apocynaceae (5), Annona-
ceae (4) e Arecaceae (4). Para as espécies de árvores, as mais abundantes são: Teobroma su-
bincanum (cupuaçuzeiro), Protium paraense (breu), Pouteria sp. (maçaranduba) e Euterpe
oleraceae (açaizeiro). As famílias de arbusto com maior representatividade foram Araliaceae,
Piperaceae, Polypodiaceae e Poaceae. Neste último caso, com predominância de Lasiacis li-
gulata (Bernard, 2008), conhecida vernaculamente como taquari.
2.1.3.2 Fauna
A região de Serra do Navio, inserida dentro do contexto do Brasil megadiverso, conta
com uma ampla variedade de espécies de animais. Durante visitas preliminares ao município,
um antigo caçador da região chegou a afirmar que ali só não existiam leões e girafas, o que
dá uma idéia da riqueza faunística do local.
No grupo dos peixes, 83 espécies de 19 famílias foram registradas na confluência
Amapari/Anacuí, sendo as mais apreciadas pela população, conforme Bernard (2008): Lepo-
rinus melanosticus (araçú), Ageneiosus inermis (mandubé) Hoplias malabaricus (traíra), Cal-
lichthys callichthys (tamuatá) e Mylleus sp. (curupeté). Encontra-se aí também a espécie Elec-
trophorus electricus (poraquê).
41
Nesta mesma região, são conhecidas 14 famílias e 25 espécies de anfíbios, como Rhi-
nela marina (sapo-cururu) e Rhinatrema bivittatum (cobra-cega). Para répteis, são 19 famí-
lias e 40 espécies, com destaque para Iguana iguana (iguana), Tupinambis teguixin (jacuraru),
Boa constrictor (jibóia), Corallus caninus (cobra-papagaio), Eunectes murinus (sucuri), Geo-
chelone denticulata (jabuti) e Paleosuchus palpebrosus (jacaré-anão) (Bernard, 2008).
Ainda na confluência, Bernard (2008) expõe a ocorrência de 133 espécies de aves de
41 famílias, sendo as mais especiosas: Thamnophilidae (20), Tyrannidae (10), Psittacidae (9)
e Trochilidade (9). Desta última família, destaca-se a espécie Topaza pella (beija-flor-brilho-
de-fogo), considerada símbolo de Serra do Navio.
Por fim, a região conta com 44 espécies de mamíferos não-voadores registradas, das
quais podem ser exemplificadas: Bradypus tridactylus (preguiça), Tamandua tetradactyla
(tamanduá), Panthera onca (onça), Leopardus pardalis (jaguatirica) , Tapirus terrestris (an-
ta), Lontra longicaudis (lontra), Alouatta maconnelli (guariba), etc.. Além disso, são 4 famí-
lias de morcegos, com 29 espécies, sendo a mais abundante Artibeus planirostris (falso vam-
piro) (Bernard, 2008).
2.1.4 Aspectos Sócio-econômicos
O município de Serra do Navio surgiu na década de 1960, para abrigar os funcionários
da ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios S.A.), o que não resultou na construção de um
perfil social homogêneo na região, já que chegavam pessoas de diferentes regiões do Ama-
pá e do Brasil (Monteiro, 2003; Gallois, 2008).
Segundo Monteiro (2003), indícios corroboram que a descoberta de manganês em Ser-
ra do Navio se deu na década de 1940, em razão das demandas por ferro após a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). Em 4 de dezembro de 1947, o presidente do Brasil, Eurico
Gaspar Dutra (1883-1974), assinou um decreto autorizando o governo territorial do Amapá a
consolidar contrato de prospecção com a ICOMI. Para abrigar os trabalhadores da minerado-
ra, foram construídas 334 residências, de diferentes modelos, para contemplar os diferentes
segmentos da hierarquia da empresa (Monteiro, 2003). Concomitantemente, foram surgindo
no entorno algumas vilas de pequenos agricultores, que abasteciam estes moradores da sede
(Gallois, 2008). Embora o fluxo maior de imigrantes tenha ocorrido neste período, a região foi
desbravada muito antes, na década de 1930, por crioulos em busca de ouro, que percorriam os
rios Amapari e Araguari.
42
Frente à exaustão das jazidas de manganês, a ICOMI encerrou suas atividades em Ser-
ra do Navio no dia 1 de janeiro de 1997 (Silva, 2007). Como conseqüência, o município en-
frentou sérios problemas, incluindo um processo de “favelização” (Gallois, 2008), além da
degradação ambiental provocada pelas atividades desta empresa, não na Serra do Navio,
mas em suas outras áreas de atuação, como o Elesbão (Santana-AP), onde se detectou a polui-
ção dos lençóis freáticos por arsênio e a bioacumulação de ferro em peixes (Monteiro, 2003).
Atualmente, a economia de Serra do Navio gira em torno da agricultura (mandioca,
cana-de-açúcar, arroz, melancia, abacaxi, banana, etc.), pecuária (aves, bovinos, suínos, buba-
linos, etc.), comércio (feiras, farmácias, eletrodomésticos, móveis, etc.), extrativismo (madei-
ra em tora, lenha, açaí, mineração) e trabalhos formais (Silva, 2007). Como muitas destas ati-
vidades não atendem as necessidades e expectativas dos moradores, a prática da caça também
é muito comum em toda a Serra do Navio, sendo para muitas famílias a principal fonte de
proteínas (Gallois, 2008), especialmente nas zonas rurais, onde, segundo Brito (2006), a gran-
de maioria dos trabalhadores está enquadrada como “Responsáveis e Membros da Família
Não Remunerados” (66%). A pesca também é uma atividade de subsistência, praticada prin-
cipalmente no Rio Amapari, com maior abundância de peixes (Silva, 2007). Conforme assina-
lam as autoras, após a criação do Parque, estas atividades se tornaram mais restritas.
A maior parte das festas corresponde a datas comemorativas nacionais, ou religiosas,
em que se homenageiam santos católicos, além do anual Festçu (Festa do Cupuaçu) que , des-
de 1996, sempre no mês de junho, atrai visitantes de várias partes da região e da capital. Outra
comemoração, a Festa da Mina, ocorre várias décadas, por iniciativa da ICOMI (Gallois,
2008).
2.2 Caracterização dos Procedimentos Metodológicos
2.2.1 Tipo de Pesquisa
Quanto aos objetivos, esta pesquisa é classificada como sendo descritiva, que visa
primordialmente a descrição de certas características de fenômenos ou população, usando, por
exemplo, questionários, afim de estudar opiniões, atitudes e crenças da população (Gil, 2002).
No que tange à técnica, trata-se de um levantamento, incluindo a interrogação direta de pesso-
as cujo comportamento se objetiva conhecer (Gil, 2002).
O método usado foi o hipotético-dedutivo, que se inicia com um problema ao qual se
buscam soluções, por meio de tentativas (conjecturas ou hipóteses), sujeitas a falseamento,
isto é, tentativas de refutação (Marconi e Lakatos, 2003).
43
Quanto à abordagem, o estudo é quali-quantitativo, uma vez que contém variáveis
quantitativas, mas também engloba dados qualitativos, onde o universo de motivos, significa-
dos, aspirações e crenças correspondem a um espaço mais profundo de relações, dos fenôme-
nos e processos que não devem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (Mynaio,
2002). Em outras palavras, valoriza-se também a diversidade de olhares e vozes que caracteri-
zam grupos sociais relevantes para o estudo de determinadas representações (Nascimento-
Schulze e Camargo, 2000), afinal, dados quantitativos e qualitativos não se opõem, mas se
complementam, excluindo-se as dicotomias (Minayo, 2002).
2.2.2 População
A população deste estudo compreende alunos do ensino médio de três escolas públicas
de Serra do Navio, as únicas com oferta deste vel de ensino no município, as quais serão
chamadas, a partir deste momento, de Escola 1 (Escola Estadual Hermelino Herbster Gus-
mão), Escola 2 (Escola Estadual Sete de Setembro) e Escola 3 (Escola Estadual Colônia de
Água Branca). A Escola 1 está localizada na sede do município, enquanto que as Escolas 2 e 3
estão situadas nas comunidades de Cachaço e Colônia de Água Branca, respectivamente.
No início, a intenção era incluir também os professores, mas, em decorrência de pro-
blemas relacionados à carência de professores na região, estes não puderam ser incluídos no
trabalho. No início de 2010, numa tentativa de solucionar o problema, a Secretaria de Estado
da Educação (SEED/AP) realizou um processo seletivo para a contratação temporária de pro-
fessores para todo o Estado, quando uma segunda oportunidade de incluir os professores no
trabalho foi vislumbrada. No entanto, sob acusações de fraudes no processo seletivo realizado,
o Ministério Público (AP) determinou a suspensão temporária do contrato de alguns professo-
res, que estavam em sala de aula. Após isso, tendo em vista o prazo para a realização desta
dissertação, decidiu-se não incluir os professores no trabalho. Até setembro de 2010, o pro-
blema da carência de professores de ensino médio em Serra do Navio (AP) já havia sido mi-
nimizado, segundo informações obtidas nas próprias escolas.
No ano letivo de 2010, conforme as secretarias das próprias escolas, havia nestas 349
alunos matriculados no ensino médio (Escola 1 = 149; Escola 2 = 77; Escola 3 = 123). Obvi-
amente, por razões como a evasão escolar e a ausência de alunos nos momentos de coleta de
dados, foi impossível incluir no trabalho, literalmente, toda a população. Assim, ao final da
coleta de dados, contabilizaram-se as participações de 200 alunos: 74 alunos da Escola 1, 32
da Escola 2 e 94 da Escola 3.
44
Quanto às características que configuram o perfil destes 200 alunos, estes, em sua
maioria:
Série: Pertencem à série do ensino médio (Escola 1= 55%, Escola 2= 50%, Escola 3=
41,5%); a menor parcela de alunos vem da 3ª série (Escola 1= 41,5%, Escola 2= 39,3%, Esco-
la 3= 19,1%), o que talvez seja reflexo da evasão escolar.
Idade: Pertencem à faixa etária entre 14 e 16 anos (Escola 1= 37,8%, Escola 2= 40,6%, Esco-
la 3= 37%); na Escola 3 a freqüência de alunos com idade superior a 24 anos é maior (14%).
Gênero: Na maioria dos casos, as proporções entre indivíduos dos gêneros masculino e femi-
nino são equivalentes, exceto na Escola 3, com predominância do gênero feminino (55,4%).
Comunidade: São provenientes principalmente da sede do município (88,1%), na Escola 1
(que também recebe alunos da comunidade de Pedra Preta, mais especificamente 8%); da Vila
do Cachaço, na Escola 2 (93,6%); da Colônia de Água Branca (71,5%), no caso da Escola 3, a
qual recebe, dentre as três escolas, maior contingente de alunos das comunidades rurais, como
Perpétuo Socorro (11,7%), Assentamento Silvestre (9,4%) e Capivara (7,4%).
Naturalidade: São originários do próprio Estado do Amapá, principalmente de Serra do Na-
vio (Escola 1= 33,7%, Escola 2= 56,2%, Escola 3= 42,5%), Macapá (Escola 1= 20,3%, Esco-
la 2= 21,8%, Escola 3= 21,4%) e Santana (Escola 1= 9,4%, Escola 2= 9,3%, Escola 3=
14,5%); os demais alunos vieram principalmente de cidades do Pará (Escola 1= 19%, Escola
2= 12,5%, Escola 3= 12,6%) e do Nordeste (Escola 1= 3,9%, Escola 3= 4%).
Tempo de moradia na região: Moram mais de 5 anos em Serra do Navio (Escola 1=
59,6%, Escola 2= 81,1%, Escola 3= 75,7%); a minoria está no município menos de 1 ano
(Escola 1= 12,1%, Escola 2= 3,2%, Escola 3= 4,2%).
Religião: Declararam-se católicos (Escola 1= 58,2%, Escola 2= 56,2%, Escola 3= 38,2%) e
protestantes (Escola 1= 36,5%, Escola 2= 15,6%, Escola 3= 51,3%).
Fonte de renda familiar: Informaram que sua fonte de renda familiar vem de trabalhos rela-
cionados ao serviço público (Escola 1= 43,4%, Escola 2= 12,5%, Escola 3= 14,9%) e outros
45
trabalhos formais, diversos (Escola 1= 18,9%, Escola 2= 25%, Escola 3= 6,4%); nas Escolas
2 e 3 os alunos com fonte de renda baseada em trabalhos informais são maioria (Escola 2=
28,2%, Escola 3= 43,5%); Na Escola 3 há maior quantidade de alunos que sobrevivem princi-
palmente da agricultura (30,8%), em relação às Escolas 1 (6,7%) e 2 (6,2%), talvez em razão
de que aí existem mais alunos de comunidades rurais afastadas da sede.
2.2.3 Aspectos Éticos
A princípio, o projeto que resultou neste trabalho foi apresentado aos gestores das três
escolas onde se desenvolveu o processo investigativo. Após esta autorização prévia, foi apre-
sentado aos alunos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido(TCLE) (Apêndice 3),
com informações referentes à identificação do projeto e do autor, objetivos do trabalho, escla-
recimentos acerca da voluntariedade de participação dos alunos e garantia de certificação, etc.
O “Termo de Consentimento Livre e Esclarecidofoi assinado por pelo menos um dos
pais ou responsáveis quando os participantes tinham menos de 16 anos. Alunos com idade
entre 16 e 18 anos assinaram o termo com a assistência de um dos pais ou responsáveis. Por
fim, os participantes com idade superior aos 18 anos foram responsáveis pela assinatura do
termo de consentimento (Resolução CNS, nº 196/96).
Nesta etapa da pesquisa, alguns alunos ficaram receosos em participar por acreditarem
que havia alguma ligação direta entre o trabalho e autoridades ambientais da região, princi-
palmente porque era necessária a identificação dos mesmos em todos os instrumentos de pes-
quisa, para fins de certificação. Após os devidos esclarecimentos e a garantia de sigilo das
informações, prevista no TCLE, os alunos optaram por participar.
2.2.4 Técnicas de Coleta de Dados
A coleta de dados ocorreu mediante a aplicação de dois questionários, no período de
janeiro a março de 2010.
O primeiro questionário (Apêndice 1) foi baseado em Thompson e Barton (1994), mas
com as devidas adaptações, visto que esses autores avaliaram atitudes antropocêntricas e eco-
cêntricas em relação à natureza como um todo, em outros contextos sóciogeográficos. Assim,
foram elaborados previamente 21 itens com argumentos correspondentes às escalas de Apatia
Ambiental (7 itens), Antropocentrismo (7 itens) e Ecocentrismo (7 itens). Para cada um destes
itens, os alunos tiveram cinco opções de resposta: concordo totalmente/CT (peso 5), concor-
46
do/C (peso 4), não sei/NS (peso 3), discordo/D (peso 2) e discordo totalmente/DT (peso 1).
Assim, quanto mais os alunos concordaram com os itens propostos, maiores foram as suas
pontuações em cada um dos itens, considerados isoladamente ou no conjunto de itens referen-
tes a cada escala estudada (Apatia Ambiental, Antropocentrismo e Ecocentrismo). Por exem-
plo: diante do item “Às vezes, os animais são como seres humanos para mim”, obtiveram
pontuação igual a 5 os alunos que selecionaram como resposta a alternativa de peso 5 (con-
cordo totalmente). A pontuação média dos alunos, neste item, correspondeu à média aritméti-
ca da soma das pontuações de todos os alunos. Da mesma forma, a pontuação média dos alu-
nos, na escala ecocêntrica, por exemplo, é a média aritmética da soma de todas as pontuações
obtidas em todos os 7 itens ecocêntricos, sendo adotado o mesmo procedimento para as esca-
las de Antropocentrismo e de Apatia Ambiental.
Itens de Apatia Ambiental, aliás, foram incluídos para abranger também aqueles que
têm pouco interesse na questão ambiental e cujas atitudes não se enquadram em nenhum dos
dois domínios principais (Antropocentrismo e Ecocentrismo), além do que atitudes antropo-
cêntricas e ecocêntricas puderam ser avaliadas mesmo no âmbito desta escala, nas justificati-
vas dos alunos quando favoráveis ou contrários aos itens.
Neste primeiro instrumento, a opção por questões fechadas se deu pela ponderação
entre suas vantagens e desvantagens, para os propósitos deste trabalho. Dentre as desvanta-
gens, podem ser citadas, conforme Almeida (2008): incluem perspectivas às quais os questio-
nados podem nunca ter pensado; dificultam a identificação de idéias susceptíveis de serem
enquadradas em contextos teóricos mais específicos de determinada perspectiva ambientalis-
ta; excluem outros argumentos antropocêntricos e ecocêntricos que os entrevistados poderiam
privilegiar. As vantagens, por outro lado, são: possibilitam aos inquiridos a opinarem acerca
de diferentes perspectivas ambientalistas sem ambigüidade; permitem a expressão de uma
opinião (escolha dirigida) sobre assuntos acerca dos quais podem não ter refletido e que, por-
tanto, teriam dificuldade de se posicionar se sujeitos a perguntas abertas; impedem a dispersão
discursiva e pouca focalização nos temas propostos; tornam evidente a consistência das res-
postas dos participantes; facilitam o tratamento das respostas na investigação. Afim de mini-
mizar as desvantagens, ao final de cada questão, os estudantes tiveram um espaço para justifi-
car as alternativas escolhidas. Conforme Almeida (2008), tal procedimento é válido na medi-
da em que possibilita a verificação da consistência da seleção das respostas e a evocação das
razões de escolhas de respostas com as quais não identificação completa, mas que, mesmo
assim, são selecionadas.
47
No segundo questionário, alunos receberam uma tabela (Apêndice 2), onde preenche-
ram com nomes de animais existentes na região em que moram e assinalaram se estes deveri-
am ser protegidos ou não, justificando tal escolha em espaço apropriado. Neste caso, o objeti-
vo foi registrar, de forma aberta, motivações antropocêntricas e ecocêntricas de proteção de
animais existentes na região, de maneira a comparar o apoio à proteção de espécies indepen-
dentemente de sua utilidade direta ao homem.
2.2.5 Análise dos dados
O teste Alpha de Cronbachfoi usado para medir a confiabilidade do questionário
baseado em Thompson e Barton (1994). Segundo Ibañez et al. (2002), este é o método mais
usado de consistência interna de questionários pelos pesquisadores. Trata-se de um índice
cujos valores podem ir do infinito negativo a 1 (apenas valores positivos fazem sentido) para
comprovar se o instrumento de pesquisa possui formulações errôneas e portanto poderiam
levar a conclusões equivocadas. Sua interpretação é que, quanto mais próximo de 1, maior a
confiabilidade, sendo respeitável uma fiabilidade acima de 0,8. Itens cujos valores sejam infe-
riores a 0,35 devem ser descartados ou reformulados. A aplicação do teste Alpha de Cron-
bach” ocorreu separadamente em cada um dos três grupos de itens propostos (Apatia ambien-
tal, Antropocentrismo e Ecocentrismo).
Ainda para os dados do primeiro instrumento de pesquisa, o teste Kruskal-Wallis foi
aplicado com o intuito de averiguar as diferenças entre os grupos estudados (escolas, gêneros,
séries de estudo). De forma complementar, aplicou-se ainda o teste Student-Newman-Keuls,
que o anterior indica apenas a existência de diferenças entre os grupos, omitindo informa-
ções acerca de quais grupos diferem entre si (Cf. Callegari-Jacques, 2003). A opção por estes
testes se deu em razão do comportamento dos dados frente ao teste Kolmogorov-Smirnov (p >
0,05). Toda esta análise estatística foi realizada nos programas estatísticos SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences, Versão 15) e BioStat (Versão 5).
A análise dos dados do segundo instrumento de pesquisa ocorreu a partir da categori-
zação dos valores atribuídos pelos alunos aos animais em cada uma das categorias de Kellert
(1996), já definidas na Introdução: utilitarista, negativista e dominadora, no âmbito do Antro-
pocentrismo, e ecologista, moralista e naturalista, no âmbito ecocentrista. Em relação à tipo-
logia original de Kellert, adaptou-se a escala utilitarista, que passou a considerar também o
uso indireto de recursos naturais, para a inclusão de aspectos estético-recreacionais (Young,
1992; Perman et al., 1998) da fauna.
48
Em decorrência da impossibilidade de classificação taxonômica de todos os animais
citados, usou-se a técnica da pista taxonômica (Martins, 2008), onde a partir de comparações
entre as descrições fornecidas pelos alunos com informações presentes na literatura, são for-
necidos indicativos acerca da classificação dos grupos estudados. Neste caso, a bibliografia
básica foi Bernard (2008), uma vez que o Plano de Manejo do PNMT, com a lista de espécies
que ocorrem na região e que complementaria esta análise, ainda não estava disponível até o
fechamento desta dissertação.
A análise qualitativa destes dados requer algumas considerações acerca de sua repre-
sentatividade. Na maioria dos casos, a análise se refere a indivíduos ou grupos de indivíduos
para os quais determinados animais possuem algum significado. Desta forma, os dados não
são generalizados ante o conjunto de dados que compõem a população (Cf. Martins, 2004),
mas estes casos, considerados isoladamente, são relevantes no que tange à sua contribuição
para a discussão acerca de aspectos culturais e conservacionistas envolvendo os animais con-
siderados. Os dados absolutos referentes a este segundo instrumento de pesquisa estão dispo-
níveis no Quadro 5.
Ao longo da dissertação, as transcrições de textos elaborados pelos alunos, por ocasião
dos dois instrumentos de pesquisa usados, serão acompanhadas da seguinte simbologia: X
a
-b-c
ou
Y
a
-b-c,
onde “X” e “Y” são os indivíduos dos gêneros feminino e masculino, respectiva-
mente, “a” é a idade do aluno, “b” representa sua escola de origem e “c” é uma informação
complementar, referente ao conteúdo da citação do aluno. Desta forma, num exemplo hipoté-
tico, “X
25-1-sobre as araras
”, o dado é referente a uma aluna, de 25 anos de idade, que provem
da Escola Estadual Hermelino Gusmão (Escola 1) e que se refere às araras.
49
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Atitudes dos Alunos Diante de Questões Relacionadas à Fauna
3.1.1 Aspectos gerais dos dados
A consistência interna do primeiro instrumento é considerada satisfatória, segundo
Maroco e Garicia-Marques (2006), tendo atingido os seguintes valores de Alpha de Cronbach:
0,786 para a escala de Apatia Ambiental, 0,790 para a antropocêntrica e 0,776 para a escala
ecocêntrica.
Em toda a população estudada, as pontuações médias dos alunos nas escalas foram:
2,2 (Apatia Ambiental), 3,3 (Antropocentrismo) e 4,0 (Ecocentrismo). Em outros trabalhos,
com sujeitos de pesquisa diversos e suas atitudes em relação a diferentes aspectos da natureza,
como Thompson e Barton (1994), Bjerke e Kaltenborn (1999), Gonzalez e Amérigo (1999) e
Moreno et al. (2005), as escalas ecocêntricas foram bastante endossadas, por muitos grupos de
interesse. Isto talvez seja resultado da valorização mundial da preocupação ambiental, difun-
dida entre comunidades de diferentes regiões e aspectos socioculturais.
O item 1 (“Problemas ambientais, como a extinção dos animais, têm sido exagerados
por ambientalistas”) foi excluído da análise porque os alunos entenderam que a afirmativa se
referia à intensificação de problemas ambientais pela ação das pessoas. Os comentários dos
alunos, justificando as opções selecionadas, demonstraram o equívoco. Então, ao invés de 21
itens, serão apresentados os resultados referentes a 20 itens: 6 de Apatia Ambiental, 7 de An-
tropocentrismo e 7 de Ecocentrismo. Igualmente, os dados relativos ao Alpha de Cronbach e
às pontuações médias, apresentados anteriormente, referem-se aos 20 itens válidos.
3.1.2.Apatia Ambiental
Os seis itens de Apatia Ambiental obtiveram pontuações baixas entre todos os grupos
de alunos estudados (Quadro 2), o que equivale a dizer que, no geral, os alunos discordaram
de argumentos que expressam pouco caso (ou indiferença) para com questões ambientais,
direta ou indiretamente relacionadas aos animais. O item 2 (“Os ambientalistas são pessimis-
tas”) registrou maior pontuação, ao passo que o item 7 (“As pessoas podem sobreviver sem
precisar da natureza”) registrou a menor pontuação média, sendo, portanto, o mais rejeitado
pelos alunos.
50
Quadro 2: Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Apatia Ambiental
* Em todos os casos onde o teste Kruskall-Wallis (H) apontou diferenças significativas (p < 0,05), o valor de “p” para o teste Student-Newman-
Keuls foi inferior a 0,05.
APATIA AMBIENTAL (MÉDIA GERAL= 2,2) ESCOLAS GÊNEROS SÉRIES
E1 E2 E3 MAS
FEM
2
:
Os ambientalistas são pessimistas (Média= 2,9)
3,1 2,7 3,0 3,1 2,9 3,1 2,9 2,9
H= 0,1790 p= 0,4109
H= 1,6382 p= 0,2006
H= 09318 p= 0,6276
3
:
Não me interesso por questões ambientais (Média= 2,7)
2,7 2,7 2,9 2,7 2,8 2,9 3,0 2,3
H= 1,1713 p= 0,5568
H= 0,4953 p= 0,4816
H= 7,2549 p= 0,0266*
4
:
Não vejo necessidade para a criação do Parque Montanhas do Tumucumaque.
(Média= 1,7)
1,4 2,1 1,8 1,7 1,7 1,8 1,7 1,6
H= 18,8002 p= 0,0000*
H= 0,6625 p= 0,4157
H= 1,1067 p= 0,5750
5
:
Importância exagerada tem sido dada à proteção dos animais
(Média= 2,6)
2,2 2,8 2,8 2,7 2,4 2,6 2,7 2,3
H= 8,6014 p= 0,0136*
H= 3,9819 p= 0,0460*
H= 2,3707 p= 0,3056
6
:
O problema da extinção dos animais será resolvido sozinho, com o tempo.
(Média= 1,8)
1,7 1,9 1,9 1,9 1,7 1,8 1,9 1,6
H= 2,6053 p= 0,2718
H= 2,0891 p= 0,1484
H= 4,3536 p= 0,1134
7: As pessoas podem sobreviver sem precisar da natureza (Média= 1,4) 1,4 1,6 1,3 1,4 1,3 1,4 1,4 1,3
H= 8,6107 p= 0,0135*
H= 0,1124 p= 0,7374
H= 0,0698 p= 0,0967
51
ITEM 2 (“Os ambientalistas são pessimistas”): Os dados referentes às atitudes dos
alunos diante do argumento do item 2 demonstraram que, em termos quantitativos, não ocor-
reu uma tendência significativa quanto à opinião dos alunos, uma vez que as freqüências de
alunos que assinalaram cada uma das cinco opções de resposta foram muito próximas (CT=
15,5%; C= 20%; NS= 29,5%; D= 20%, DT= 15%). Por esta razão, a pontuação média dos
alunos neste item se aproximou de 3, não havendo diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos estudados, segundo o teste Kruskal-Wallis (Quadro 2).
Talvez, estes resultados decorram de um provável pouco contato dos alunos com am-
bientalistas, o que também foi apontado por Schmitd (2009): Nem vejo isso (ambientalis-
tas) por aqui, só quando têm palestras eles aparecem, ou seja, na semana ambiental” (X
15-1
);
Não sei, porque tem o Paulo do IBAMA(Y
16-1
); Porque a maioria dos ambientalistas
não fiscalizam(X
16-2
); Pra mim responder essa pergunta eu teria que conhecer um ambi-
entalista” (X
23-2
); “Eles não fiscalizam diretamente” (Y
19-3
).
O Plano de Manejo do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, até o final do
primeiro semestre de 2010, ainda não havia sido finalizado. Um dos objetivos deste tipo de
documento é definir as restrições à ocupação e uso dos recursos na Zona de Amortecimento, o
que também implica no alcance das fiscalizações dos funcionários do parque que, até certo
tempo atrás, eram insuficientes diante da dimensão desta unidade de conservação (Melo,
2007). Outra situação se refere à concentração de trabalhos em Educação Ambiental nos cen-
tros urbanos maiores, como a capital, Macapá, em detrimento de regiões consideradas mais
distantes e que, por questões logísticas, raramente são contempladas com projetos voltados
para Educação Ambiental.
Durante as visitas realizadas nas escolas, verificou-se a existência de um projeto intitu-
lado “Curso Pedagogia de Projetos em Temas Ambientais (CCPTA)”, uma parceria entre a
Universidade Federal do Amapá e o Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade
(ICMBio). Este projeto tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento de professores
em trabalhos interdisciplinares, voltados à Educação Ambiental (CCPTA-
TUMUCUMAQUE, 2010). Com período de execução entre março e dezembro de 2010, o
curso contou com a participação de professores das três escolas trabalhadas nesta dissertação,
principalmente da Escola 1, que sediou os encontros, segundo um dos professores que partici-
param do projeto. No geral, estes projetos tratam de assuntos relacionados a viveiros e arbori-
zação das escolas como forma de sensibilização ambiental (CCPTA-TUMUCUMAQUE,
2010). A partir deste objetivo geral, parece evidente a necessidade de cuidados para que não
sejam reforçadas as argumentações utilitaristas para a proteção de “alguns” espaços naturais,
52
tendo em vista que, normalmente, trabalhos de arborização de espaços blicos valorizam de
forma exacerbada, espécies ornamentais, por seus atributos estéticos. Assim, esta linha de
raciocínio pode levar à pouca valorização de paisagens desprovidas de atributos estéticos, mas
que sustentam processos ecológicos igualmente importantes.
ITEM 3 (“Não me interesso por questões ambientais”): Frente ao item 3, a maioria
demonstrou interesse por questões ambientais, embora uma parcela significativa tenha de-
monstrado falta de interesse pela temática (CT= 12%; C= 32%; NS= 6%; D= 22,5%, DT=
27,5%), o que contribuiu para que o item 3 fosse um dos que obtiveram maior pontuação, no
âmbito da Apatia Ambiental (Quadro 2). As diferenças foram significativas apenas entre as
séries (H= 7, 2549, p= 0,0266). Os alunos que cursam a série do Ensino Médio recusaram
mais o argumento do item, aparentando maior interesse por questões ambientais, em relação
aos alunos de demais séries, segundo o Kruskal-Wallis.
A demonstração de maior interesse em questões ambientais por alunos da série do
ensino médio talvez seja explicada pelo fato de que, neste momento, os alunos já desfrutam de
uma visão biológica do mundo vivo (Brasil, 2006). Certamente, a complexidade das questões
ambientais extrapola os limites da mera visão biológica do ambiente, exigindo também expli-
cações advindas das mais diversas áreas do saber. Contudo, admitindo-se o disposto por Bra-
sil (2006) como válido também para outras disciplinas, que não a biologia, é razoável inferir
que os alunos da última etapa do ensino médio também poderão desfrutar de uma visão mais
abrangente do meio, em relação às séries iniciais, que inclua pressupostos de outras discipli-
nas, como a geografia, filosofia, sociologia, história, psicologia, etc. Isso parece ser aplicável
também às demais situações onde alunos da série demonstraram atitudes mais ecologica-
mente corretas (Itens 10 e 20).
Outra situação observada é a provável carência de atividades que ponham em discus-
são a questão ambiental (como também apontado no Item 2), o que explica, em alguns casos,
a falta de interesse dos alunos pela temática: “Onde eu moro isso não é muito discutido” (Y
17-
3
); O município não promove nenhum movimento para a preservação do meio ambiente
(Y
19-3
); Não me interesso por não ter palestras por parte do IBAMA(Y
35-3
); Pelo fato de
não estar muito atualizada em questões ambientais, não sou tão interessada o suficiente
(X
19-1
).
Em outras situações, ainda que haja a demonstração de interesse por temas relaciona-
dos ao ambiente, argumentações antropocêntricas foram usadas como justificativa: Me inte-
resso sim, pois estou pensando no meu futuro(Y
18-1
); Sou preocupada com o meu futuro e
com o futuro dos meus filhos e netos(X
16-1
); Porque penso no melhor para as pessoas que
53
precisam desses meios de alimentação(X
19-2
); Eu me interesso muito pois sou agricultor
(Y
17-3
); “Eu me preocupo muito, pois qual será o futuro da minha filha?” (
Y19-3
).
Os argumentos acima se aproximam do conceito de Desenvolvimento Sustentável, on-
de existe a necessidade de assegurar o desenvolvimento das gerações atuais sem comprometer
o desenvolvimento das futuras. As implicações deste tipo de argumentação serão melhor ana-
lisadas por ocasião dos resultados do item 14, que traz especificamente conteúdo correspon-
dente ao conceito de Equidade Intergeracional, princípio básico do Desenvolvimento Susten-
tável. De antemão, percebe-se que a própria preocupação dos alunos para com a continuidade
dos recursos às gerações futuras indica tendências para práticas sustentáveis, em relação à
fauna.
ITEM 4 (“Não vejo necessidade para a criação do Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque”): O item 4 foi um dos que obtiveram menor pontuação, que a maior parte
dos alunos parece ser favorável à existência do PNMT (CT= 4%; C= 4%; NS= 10,5%; D=
24,5%, DT= 57%). Neste caso, ocorreram diferenças entre as escolas (H= 18,8002, p=
0,0000). Embora nas três escolas os alunos tenham, no geral, reconhecido a necessidade da
existência do PNMT, a Escola 2 tendeu a concordar mais com a idéia de desnecessidade do
parque, enquanto que na Escola 3 os alunos estiveram mais indecisos (Quadro 2).
No geral, os alunos reconheceram a importância do parque para a proteção dos ani-
mais, sem menção a benefícios diretos ao homem: Com o parque os animais em extinção
ficam mais protegidos (Y
19-1
); O parque é muito importante para os animais (Y
17-1
);
São os parques ambientais que garantem a proteção de muitos animais em extinção(Y
18-
1
); Se não houver uma reserva o verde e os animais acabarão(Y
24-3
); O parque ele tem
uma capacidade enorme de proteger o ambiente” (Y
15-3
).
Dentre tantos depoimentos, destacou-se também o de uma aluna que acredita na des-
necessidade de existência do PNMT, mas por uma razão ambientalmente correta (considera-
se aqui, a definição de Aldo Leopold, onde algo era considerado correto quando contribuía
para a integridade das comunidades bióticas): Realmente não necessidade. Todos tinham
que cuidar do nosso patrimônio(X
17-3
). Esta citação evidencia a importância de medidas
educativas que possibilitem a minimização dos danos causados ao meio, pelo homem. Diver-
sos povos, em medidas coercitivas de conservação, muitas vezes têm seus direitos não respei-
tados em um cenário marcado pela pobreza e conflitos crescentes em zonas contíguas aos
parques nacionais (Pimbert e Pretty, 1995). A criação de categorias de Unidades de Conserva-
ção que, pela própria exclusão de comunidades locais de seus limites, torna a degradação am-
54
biental mais provável. Por estas razões, o cuidado ao patrimônio exige medidas educativas
urgentes.
A importância do PNMT também foi vislumbrada desde a perspectiva antropocêntrica,
dado o potencial turístico do parque para a região: Se o parque não existisse o movimento
turístico seria pouco(Y
15-1
); Ele é uma atração para os turistas do mundo(Y
16-1
); Pre-
cisamos dele para garantir nosso futuro(X
15-1
); Ele é a única beleza do nosso município
(X18-3); “È o maior foco turístico de todo o Amapá” (Y
19-3
).
O chamado turismo ecológico é um dos objetivos dos Parques Nacionais (Brasil,
2000) e, portanto, alternativa econômica para a região de Serra do Navio, porta de entrada ao
PNMT. Esta é uma das apostas da prefeitura (Gallois, 2008) e de vários alunos investigados.
Ainda que se trate de uma visão antropocêntrica, esta também é uma alternativa ambiental-
mente correta, pois este tipo de turismo dificilmente daria certo em áreas degradadas.
ITEM 5 (“Importância exagerada tem sido dada à proteção dos animais”): O item 5
traz a idéia de que muita importância tem sido destinada para a proteção dos animais, como se
as medidas no sentido de garantir a proteção da fauna não fossem merecedoras de maior im-
portância. Para a maior parte dos alunos, a proteção dos animais não é um exagero (CT=
11,5%; C= 16,5%; NS= 15,5%; D= 34%, DT= 22,5%). Em relação às demais escolas, a Esco-
la 1 pontuou menos neste item (H= 8,6014, p= 0,0136) (Quadro 2), ou seja, embora também
tenham obtido médias baixas, os alunos das demais escolas tendem a acreditar mais que a
proteção aos animais seja exagerada, talvez porque nestas a proporção de alunos provenientes
de comunidades agrícolas e ribeirinhas que dependem mais da caça seja maior. Bjerke e Kal-
tenborn (1999), usando um instrumento de pesquisa com um item semelhante, encontraram
resultados parecidos. Neste caso, um grupo de trabalhadores rurais (criadores de ovelhas) ten-
deu a acreditar mais que questões conservacionistas são exageradamente enfatizadas, quando
comparados a outros grupos, que aparentemente sofrem menos as conseqüências do discurso
ambientalista que condena a matança de lobos, predadores de ovelhas, na Noruega.
No presente trabalho, embora a maioria dos alunos pense que nunca é demais proteger
os animais, a crença de que a proteção dos animais não é exagerada porque simplesmente
estes não estão sendo nem protegidos: “Se dermos uma importância exagerada, com certeza a
proteção dos animais seria maior(Y
16-1
); É o pouco que se pode fazer em meio a tanta
desgraça (X
16-2
); Muitas das vezes caças são retiradas dos pobres e consumidas pelos
próprios policiais(X
17-2
); muitos animais sendo mortos todos os dias e ninguém faz
nada” (Y
19-3
); “É difícil ver o IBAMA agir nessas ocasiões” (Y
17-3
).
55
A questão apontada pela aluna X
17-2
também havia sido comentada por um funcio-
nário do PNMT, durante uma das visitas prévias à região. Segundo este funcionário, a situa-
ção parte de autoridades locais, sem vínculo direto com o PNMT, mas que por vezes dão su-
porte aos funcionários do parque, razão pela qual estes últimos acabam sendo associados à
problemática mencionada pela aluna. Certamente, esta dissertação não teve o propósito de
investigar a atuação de autoridades político-ambientais na região de Serra Navio, mas é pro-
vável que a existência de corrupção em abordagens destas junto às comunidades locais parta
apenas de alguns membros das corporações em questão, motivo pelo qual cautelas devem ser
observadas para se evitar inferências generalistas. Por outro lado, apenas a ocorrência do pro-
blema pode trazer como conseqüência a idéia de que, se nem mesmo as autoridades dão a
devida importância à proteção da fauna local, o que se pode esperar do coletivo? Moreno et
al. (2005) afirmam que são comuns as crenças de que ações individuais são ineficazes para a
resolução de problemas ambientais, que o coletivo não participa, o que seguramente repre-
senta um entrave para qualquer intenção conservacionista.
ITEM 6 (“O problema da extinção dos animais se resolverá sozinho, com o tempo”):
Qual é a participação do homem na resolução de problemas ambientais, como a extinção de
animais? O item 6 argumenta que a extinção dos animais é um problema que se resolverá por
si só, ao longo do tempo e, sendo assim, exime o homem desta responsabilidade. De modo
geral, os alunos contra-argumentaram a proposta do item 6 (CT= 3,5%; C= 4,5%; NS=
15,5%; D= 24,5%, DT= 52%), sem diferenças significativas entre os grupos estudados (Qua-
dro 2).
Os alunos reconhecem a importância das ações humanas para evitar novas perdas de
fauna: Se não nos mobilizarmos o Brasil terá flora e não fauna(Y
15-1
); Se as pessoas
não colaborarem, os ambientalistas nunca resolviam(Y
17-1
); Os homens causam extinção
então eles que resolvam(Y
16-2
); Não é o IBAMA que tem que proteger. Nós também
(X
16-3
); Se os seres humanos não ajudarem, tchau e benção para algumas espécies(Y
17-
3
).
Um dos propósitos da Educação Ambiental é desenvolver a consciência ambiental, pa-
ra compreender a responsabilidade humana e seu papel no meio ambiente e levar à participa-
ção dos alunos na conservação ambiental (Amemiya e Macer 1999). Ainda segundo estes
autores, em Educação Ambiental, as pessoas aprendem que os problemas ambientais ao redor
delas estão ligados aos problemas ambientais globais. As pessoas pensam globalmente, mas
agem localmente para resolver estes problemas. Então, reconhecer a importância das ações
humanas para a proteção dos animais é fundamental para a tomada de decisões em seu favor,
56
o que parece ser de reconhecimento da maioria dos alunos, tendo em vista a baixa pontuação
destes no item 6.
ITEM 7 (“As pessoas podem sobreviver sem precisar da natureza”): Este foi o item de
menor pontuação, mesmo se comparado a todos os itens deste primeiro instrumento de pes-
quisa. No geral, 93% dos alunos não estão de acordo com a idéia de que as pessoas podem
sobreviver sem a natureza (CT= 2,5%; C= 2%; NS= 2,5%; D= 18%, DT= 75%). As diferen-
ças foram estatisticamente significativas no âmbito das escolas, que a Escola 3 rejeitou
mais o item (Quadro 2). Os alunos desta escola, em outro momento, se mostraram mais utili-
taristas em relação à importância das florestas (item 8). Para efeito de compreensão destas
diferenças entre escolas, é preciso enfatizar que na Escola 3 um maior contingente de alu-
nos provenientes de comunidades ribeirinhas e agrícolas, que dependem diretamente das flo-
restas locais. Logo, é esperado que estes mesmos alunos discordem da proposta do item 7.
Estes resultados talvez forneçam também uma pista para a baixa pontuação dos alunos
em relação aos itens de Apatia Ambiental, o que também tem ocorrido, diga-se de passagem,
em outros trabalhos, como Thompson e Barton (1994) e Bjerke e Kaltenborn (1999): para a
maior parte dos alunos, é impossível a sobrevivência humana sem a natureza, de tal modo
que, de uma forma ou de outra, são atribuídos significados a ela, ainda que, em alguns casos,
negativistas, pois estes valores também concorrem, de certa forma, para a sobrevivência do
homem, como será explanado mais adiante.
Dentre os exemplos mencionados para sustentar o argumento de que o homem não
pode viver sem a natureza é a ideia de que pessoas desempregadas dependem da natureza:
Tem pessoas que não tem emprego, e o meio mais fácil de arrumar alimento é na natureza
(Y
17-3
); As pessoas que não têm emprego sim, elas precisam da natureza(X
16-3
); Muitas
pessoas sobrevivem da natureza (X
15-3
); Nós precisamos de frutos, legumes e ar puro
(Y
17-1
); É da natureza que são extraídos muitos tipos de matéria-prima essencial para a
fabricação de móveis” (Y
15-1
).
Em outros casos, a natureza é definida como algo que não proporciona apenas benefí-
cios materiais, mas também serviços indiretos: o podemos nem respirar sem ela(X
15-1
);
O ar vem da natureza. Sem ela não sobreviveríamos(X
15-1
); A sobrevivência dos seres
vivos depende totalmente dela(X
16-2
); Sem a natureza, nenhum ser vivo vai sobreviver. As
árvores produzem fotossíntese e é através disso que é liberado o oxigênio(Y
20-3
); Ela faz
parte da vida de todos os seres vivos” (X
17-3
).
Rowe (2003) acredita que, a interpretação humana do mundo que desconsidera suas
relações ecológicas leva, muitas vezes, as pessoas a separarem o orgânico do inorgânico, des-
57
conectar os peixes das águas, as raízes das plantas dos solos, os seres humanos do ar. Ainda
que, no geral, os alunos tenham exemplificado a dependência do homem em relação à nature-
za referindo-se ao ar, isto sugere certas conexões entre o mundo orgânico e o inorgânico e,
principalmente, o reconhecimento de outros valores, indiretos, dos elementos naturais, e não
apenas caças, frutas, minérios, etc., embora estas conexões tenham como ponto de partida, na
maioria dos casos, as necessidades humanas. Este é um passo essencial para que o meio ambi-
ente seja compreendido de forma holística, sistêmica e integrada (Carvalho, 2001).
3.1.3.Antropocentrismo
Dos itens antropocêntricos, foram registradas maiores pontuações para os itens 8 (“A
derrubada descontrolada da floresta é ruim principalmente porque diminui a quantidade de
madeira, caça, alimentos e remédios ao homem”) e 10 (“Rios e igarapés limpos são importan-
tes principalmente por que as pessoas precisam de um bom lugar pra tomarem banho, se di-
vertirem”). Em contrapartida, as pontuações foram menores no item 13 (“O homem não tem
culpa se, hoje em dia, os animais estão desaparecendo cada vez mais. Isso é natural”), con-
forme o Quadro 3. Os significados destes resultados são discutidos a seguir.
58
Quadro 3: Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Antropocentrismo
* Em todos os casos onde o teste Kruskall-Wallis (H) apontou diferenças significativas (p < 0,05), o valor de “p” para o teste Student-Newman-
Keuls foi inferior a 0,05.
ANTROPOCENTRISMO (MÉDIA GERAL= 3,3) ESCOLAS GÊNEROS SÉRIES
E1 E2 E3 MAS
FEM
8
:
A derrubada descontrolada da floresta é ruim principalmente porque diminui a
quantidade de madeira, caça, alimentos e remédios ao homem (Média: 4,0)
3,9 3,8 4,0 3,1 2,9 4,1 3,8 3,8
H= 3,6296 p= 0,1629
H= 0,6196 p= 0,4312
H= 1,7893 p= 0,4088
9
:
Se for para a sua sobrevivência, não importa que o homem cace, mesmo que a
quantidade de animais diminua (Média: 3,0)
2,8 3,1 3,0 3,2 2,7 2,9 3,0 3,1
H= 3,9142 p= 0,1413
H= 6,4822 p= 0,0109*
H= 0,6654 p= 0,7170
10
:
Rios e igarapés limpos são importantes principalmente por que as pessoas pre-
cisam de um bom lugar pra tomar banho, se divertir (Média: 4,0)
3,8 4,1 3,9 4,0 3,8 4,1 3,7 3,6
H= 1,5344 p= 0,4643
H= 0,3509 p= 0,5533
H= 7,8950 p= 0,0193 *
11
:
Os animais devem ser protegidos principalmente porque são importantes para a
sobrevivência do homem (Média: 3,5)
3,3 3,6 3,7 3,7 3,2 3,5 3,6 3,4
H= 2,3890 p= 0,3029
H= 6,3318 p= 0,0119*
H= 0,4420 p= 0,8017
12
:
Deus criou a natureza para servir o homem e lhe deu o direito de usar e dominar
os animais (Média: 2,8)
2,4 3,0 3,1 3,0 2,6 2,8 2,9 2,6
H= 9,0239 p= 0,0110*
H= 4,7915 p= 0,0286*
H= 0,8114 p= 0,6665
13
:
O homem não tem culpa se, hoje em dia, os animais estão desaparecendo cada
vez mais. Isso é natural (Média: 1,8)
1,6 2,6 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,7
H= 20,0149 p= 0,0000*
H= 0,0440 p= 0,8338
H= 0,7397 p= 0,6909
14:
É uma grande preocupação o fato de que, com o desaparecimento dos animais
de caça as gerações futuras não terão mais esse recurso (Média: 3,7)
3,6 3,7 3,9 3,8 3,7 3,8 3,5 3,9
H= 4,1496 p= 0,1256
H= 0,2378 p= 0,6258
H= 2,8024 p= 0,2463
59
ITEM 8 (“A derrubada descontrolada da floresta é ruim principalmente porque dimi-
nui a quantidade de madeira, caça, alimentos e remédios ao homem”): A maioria dos alunos
concordou com o texto do item 8 (CT= 45,5%; C= 31%; NS= 6%; D= 10,5%, DT= 7%), mos-
trando-se compatível com a visão instrumentalista das florestas, razão pela qual este foi um
dos itens de maior pontuação, sem diferenças por escola, gênero e série (Quadro 3).
Dentre tantas afirmações dos alunos, as mais representativas desta linha de pensamen-
to são exemplificadas a seguir: Destruindo a natureza o homem não poderá sobreviver
(Y
15-1
); Sem a floresta o homem vai retirar matéria-prima de onde?(Y
18-1
); A floresta é
alimento, cura, etc. (Y
15-2
); Esses produtos são bens concedidos a nós seres humanos
(Y
20-3
); “É dessa floresta que precisamos, em caso de urgência” (X
16-3
).
Embora tenham sido minoria, alguns alunos discordaram deste item por acreditarem
que a importância das florestas está além dos benefícios diretos que estas proporcionam ao
homem: Em cada árvore tem pelo menos uma espécie (Y
15-1
); Temos que pensar nos
animais que vivem nela(X
16-2
); A floresta não serve pra isso e sim para o hábitat dos
animais(X
16-2
); O que seria dos pássaros sem as árvores?(X
18-3
); Alguns homens não
pensam nas vidas que tiram derrubando ilegalmente as árvores, porque os animais e as plan-
tas são iguais a um homem” (X
16-3
).
Ao longo do texto, demonstrar-se-à que, na maioria dos casos, embora os alunos se
orientem por valores antropocêntricos, não são favoráveis à destruição ambiental. Ao contrá-
rio, são favoráveis à proteção daquilo que lhes serve de recursos diretos. Entretanto, cabe uma
ressalva, a partir de Veil (2001): a visão essencialmente instrumentalista das florestas pode
levar ao desejo de domínio e benefício econômico, enquanto que as opiniões mais ecocêntri-
cas tendem a respeitar a integridade dos ecossistemas e de todos os sistemas intrinsecamente
vinculados a eles.
ITEM 9 (“Se for para a sua sobrevivência, não importa que o homem cace, mesmo
que a quantidade de animais diminua”): A idéia de redução populacional de animais, justifi-
cada a partir da necessidade de sobrevivência humana, não demonstrou tendências quantitati-
vas para posições favoráveis ou contrárias a este item (CT= 17,5%; C= 28%; NS= 10,5%; D=
24,5%, DT= 19,5%). Por isso, a pontuação média dos alunos neste item se aproximou de 3
(Quadro 3). Entre os gêneros, houve diferenças (H= 6,4822, p= 0,0109), que os meninos
obtiveram pontuações maiores. Isto supõe que, no geral, os meninos se preocupam menos
com a diminuição dos animais em decorrência da caça, em relação às meninas. Talvez, isto
decorra da tendência de maior exploração da natureza no gênero masculino (Schwarz, 2010).
Gallois (2008), abordando os aspectos relativos aos saberes locais associados à biodiversidade
60
no entorno do PNMT, considera que o conhecimento dos modos de vida dos animais caçados
é fundamental para o “estatuto masculino”, não apenas, mas principalmente entre os povos
indígenas. Em outras palavras, considera-se a caça uma atividade masculina por excelência
(Cunha e Almeida, 2002).
Embora tenha sido predominante a concordância dos alunos com a prática da caça à
sobrevivência humana, mesmo que verificada a redução populacional dos animais, em linhas
gerais acreditam que o homem deve caçar apenas para a sua alimentação (nos moldes do 37º
artigo da Lei de Crimes Ambientais, 9605/1998): O homem caça para se alimentar, mas
tem que matar só o necessário para sua comida” (Y
19-1
); “Para a sua sobrevivência sim, mas
para a esportiva não (Y
16-1
); pessoas que matam os animais simplesmente para sua
sobrevivência, mas em alguns casos matam não para comer mas também para vender e a
venda de animais eu discordo” (X
19-1
); “Às vezes não temos comida, não temos de onde tirar.
A única solução é a caça. Tem pessoas que sobrevivem da caça, mas tem que ter moderação
(X
19-2
); “Tem famílias que não têm nada pra comer a não ser a caça” (X
18-3
).
Os alunos contrários ao item geralmente justificaram que existem outros meios para
sobreviver, além da caça: O homem não tem que sobreviver de caça, se não os animais
vão sumir(X
15-1
); Eu acho que o homem deve caçar para a sua sobrevivência, mas sem
exagero, porque eu já vi muito exagero sem necessidade” (X
15-1
); “O ser humano não vive
da carne. Existem as frutas que são ricas em vitaminas” (Y
15-1
); “Não quero depender só dos
animais. Quero estudar e ter uma boa profissão(X
19-2
); O homem tem várias formas de
produzir seu alimento: criar animais para seu consumo, cultivar verduras e legumes, etc.
(Y
20-3
).
De fato, os animais, especialmente vertebrados, representam a única fonte de proteína
para muitas populações das florestas tropicais (Jerozolimski e Peres, 2003). Entretanto, con-
forme estes autores, práticas de caça não sustentáveis acabam levando os animais visados à
extinção. Muitos animais já estão se tornando raros na região de Serra do Navio, como relata-
do pelos alunos, mais adiante. Talvez, por esta razão, o discurso dos alunos tenha focalizado
tanto a questão do uso responsável dos animais, apenas para subsistência, tendo em vista os
possíveis danos causados pelo uso não sustentável. Quanto à alternativa dada pelos alunos
contrários ao item 9, levando em conta que, tal qual mencionado anteriormente, na maioria
das vezes a agricultura não atende às necessidades dos agricultores de Serra do Navio, o ideal
seriam medidas de autoridades políticas no sentido de diminuir a insegurança econômica des-
tas pessoas, o que poderia contribuir para a minimização dos impactos causados na biodiver-
sidade da Zona de Amortecimento do PNMT.
61
ITEM 10: (“Rios e igarapés limpos são importantes principalmente porque as pessoas
precisam de um bom lugar para tomar banho, se divertir”): No que tange aos ambientes aquá-
ticos, especificamente rios e igarapés, os dados do item 10 mostraram que a maior parte dos
alunos (CT= 50,5%; C= 25,5%; NS= 1%; D= 14%, DT= 9%) reconhece, principalmente, va-
lores antropocêntricos nestes ambientes. Os alunos da série do ensino médio pontuaram
mais, enquanto que os alunos da série pontuaram menos, ou seja, rejeitaram mais a visão
principalmente utilitarista no item 10 (H= 7,8950, p= 0,0193), o que talvez seja, mais uma
vez, reflexo da visão mais abrangente da ecologia nos alunos concluintes do ensino médio.
Contudo, no geral, ressalta-se que todos os grupos estudados concordaram mais com o argu-
mento antropocêntrico de rios e igarapés.
Além da relevância destes ambientes naturais como fontes de lazer, houve a ressalva
de que são também importantes como fonte de água para consumo humano: Concordo. Mas
tem muitos garimpos e a água fica muito poluída(Y
16-3
); A melhor coisa é se divertir com
a família(Y
18-1
); É importante não para se divertir mais para tomar água limpa(Y
17-
2
); “É legal você chegar no rio para o seu momento de lazer e encontrar tudo limpo(Y
17-3
);
Já pensou nós tomarmos banho num rio cheio de plástico e papel?” (X
29-3
).
Estes textos, sobretudo o do aluno Y
16-3
, exemplificam uma das situações mais contro-
versas dentro do paradigma Antropocêntrico. Em 1968, o biólogo americano Garrett Hardin
pôs em discussão um problema que ele chamou de “A Tragédia dos Comuns” (“The Tragedy
of the Commons”), onde ações individuais, que contribuem para a destruição dos ecossiste-
mas, trazem impactos coletivos (Hoffman, 2002). Usando como exemplo, as respostas anteri-
ores dos alunos ao item 10, sabe-se que os benefícios diretos do garimpo dizem respeito a
grupos específicos de interesse, ligados a este atividade. Porém, a poluição de rios e igarapés
por metais pesados, em decorrência da atividade, põe em risco a coletividade, os ribeirinhos,
que precisam destes ambientes para satisfazer necessidades básicas, uma vez que as únicas
fontes de água para consumo doméstico são, talvez, os rios e igarapés da região. O risco, to-
davia, estende-se também a toda a comunidade biótica destes ambientes, dos quais também
depende. Outras situações, aparentemente mais simples, como atirar artefatos humanos nos
ambientes, como papéis e plásticos, trazem igualmente à tona reflexões éticas, já que este tipo
de atitude representa, na visão de Hoffman (2002), um exemplo de arrogância, egoísmo e au-
to-centrismo.
Para uma parcela menor dos alunos (23%), contudo, rios e igarapés não são importan-
tes apenas para os homens, mas também para os animais que vivem e dependem deles: São
importantes principalmente para a sobrevivência de animais (peixes, jacarés, etc.)(X
15-1
);
62
Sua principal importância é de caráter ecológico(X
18-1
); Não para isso mas também
para os peixes e todos os animais que ali sobrevivem(X
23-3
); São importantes principal-
mente para a vida adequada de peixes e outros animais marinhos(X
15-3
); Não é somente
as pessoas que irão se servir desse lugar e sim os animais” (X
18-3
).
As atribuições basicamente antropocêntricas aos rios e igarapés, como nas primeiras
afirmações dos alunos, podem beneficiar a fauna na medida em que, sendo contrários à polui-
ção destes ambientes em decorrência de sua importância no lazer e no consumo, há tendências
para ações pró-ambientes que levem à manutenção da integridade dos mesmos. Entretanto, o
risco deste pensamento mais utilitarista pode levar, hipoteticamente, a atitudes anti-ambientais
em relação às espécies que, ocorrendo nestes ambientes, oferecem algum tipo de risco a esses
interesses, sobretudo aqueles voltados ao lazer. Quanto aos alunos que valorizaram a impor-
tância ecológica de rios e igarapés, existe um maior reconhecimento de que estes ambientes
também são de direito de animais, o que pode reduzir o espectro de atitudes anti-ambientais.
ITEM 11 (“Os animais devem ser protegidos principalmente porque são importantes
para a sobrevivência do homem”): O argumento do item 11 atribui à sobrevivência humana a
justificativa principal para a proteção dos animais, e a maior parte dos alunos esteve de acordo
com esta idéia (CT= 34%; C= 28%; NS= 6,5%; D= 19,5%, DT= 12%). Novamente, foram
registradas diferenças apenas entre os gêneros, que os meninos pontuaram mais neste item,
em relação às meninas (H= 6,3318, p= 0,0119) (Quadro 3), diferença também verificada no
trabalho de Bjerke et al., (1998). Estes autores, por exemplo, registraram que os meninos são
mais favoráveis à inexistência de lobos quando estes representam ameaças às ovelhas, cuja
proteção é justificada pela importância destas à sobrevivência de comunidades locais (ou seja,
a visão antropocêntrica dos meninos em relação aos animais leva-os a sentimentos favoráveis
à proteção das ovelhas e contrários à proteção de lobos).
No caso dos alunos de Serra do Navio, estes justificaram a importância dos animais
principalmente como fonte de alimento. Na transcrição da aluna X
16-3
(a seguir), no entanto,
os animais são vistos holisticamente, como partes integrantes de um ecossistema do qual o
homem também faz parte e, está sujeito às conseqüências de sua deterioração. Observa-se
que, ainda que esta seja uma visão mais abrangente da importância dos animais, o objetivo
final da proteção continua sendo a existência do homem: Temos que preservar aquilo que
nos fortalece (Y
16-1
); Sim, porque é um prato preferido meu, que é a carne vermelha
(Y
17-1
); Alguns povos vivem da caça, como os índios(X
16-2
); Sem eles não comida, e
sem comida fome(X
17-3
); Os animais fazem parte do nosso ecossistema, e se destruir-
mos as coisas que existem nele, estaremos dando fim a nós mesmos” (X
16-3
).
63
Para a maior parte dos alunos contrários ao item, os animais devem ser protegidos pelo
seu valor de existência, conceituado por Primack e Rodrigues (2001): Eles não são só para a
sobrevivência do homem, mas do planeta. Eles equilibram os ecossistemas (X
17-1
); Eles
são seres vivos e agora mais do que nunca precisam de ajuda(X
16-1
); O homem não é tu-
do. Afinal, os animais também querem viver(X
17-1
); Assim como queremos viver eles tam-
bém querem. De certa forma eles protegem a natureza(X
19-2
); São seres vivos assim como
nós. Devem viver em paz” (Y
16-2
).
Auguste Comte (1798-1857), filósofo francês do século XIX, previu a existência de
um mundo inteiramente composto por animais e plantas úteis ao homem, chegando inclusive
a sugerir a eliminação metódica de espécies inúteis ou prejudiciais (Larrère e Larrère, 2008).
A sugestão de Comte representa o principal argumento contra a supervalorização dos animais
por interesses humanos, como defende o item 11, que abre precedentes para o descaso com
a proteção de espécies consideradas inúteis, ou prejudiciais, como as “pragas” (Larrère e Lar-
rère, 2008). Mesmo esta visão instrumentalista dos seres vivos, se ampliada de forma a consi-
derar os valores futuros das espécies, pode contribuir para a proteção de uma fatia muito mai-
or da biodiversidade. Por outro lado, o reconhecimento do valor de existência das espécies
pode trazer como conseqüência a proteção tanto de animais com benefícios atuais e futuros
quanto aqueles considerados inofensivos a estes interesses.
ITEM 12 (“Deus criou a natureza para servir o homem e lhe deu o direito de usar e
dominar os animais”): A maioria dos alunos (CT= 19,5%; C= 19%; NS= 13,5%; D= 23%,
DT= 25%) não acredita no direito divinamente atribuído do homem de usar e dominar os
animais. Entretanto, os que estiveram de acordo com a idéia do item compõem parcela consi-
derável da população estudada. Ainda assim, este item não alcançou uma pontuação conside-
rável dentre as escalas antropocêntricas (Quadro 3). O Teste Kruskal-Wallis apontou diferen-
ças significativas entre as escolas (H= 9,0239, p= 0,0110), especificamente na Escola 1,
que nesta os alunos rejeitaram mais o item. As meninas também tenderam a discordar mais,
em relação aos meninos (F= 4.7915, p= 0,0286).
Os dados obtidos foram inconclusivos acerca destas diferenças. É possível, porém, que
elas decorram de uma tentativa dos alunos em concordar com o item 12 como forma de justi-
ficar divinamente o comportamento antropocêntrico em relação aos animais, que os alunos
do gênero masculino e as Escolas 2 e 3, em diversos momentos da pesquisa, demonstraram
atitudes mais antropocêntricas.
Embora discorde da presença do Antropocentrismo na Bíblia, defendendo a figura di-
vina como centro do universo (Teocentrismo), Ashley (2006) reconhece a possibilidade de
64
interpretações do Gênesis que levem à crença de que o domínio e exploração da natureza são
práticas humanas com a licença divina, além do que, a visão cristã de Deus como um “pai
coruja” atento às necessidades humanas é certamente um atrativo à visão Antropocêntrica da
Bíblia, defendida por White (1994). Com este exemplo, Ashley (2006), mesmo tendo a inten-
ção de refutar a presença antropocêntrica na Bíblia, acaba por se contradizer ao reconhecer a
criação do homem à “imagem e semelhança” do próprio Deus, e das atenções deste em rela-
ção às necessidades humanas, o que coloca o homem inevitavelmente acima de todas as cria-
turas vivas, no âmbito do mundo natural, claro. O argumento do item 12, segue a proposta
defendida por White (1996).
As respostas dos alunos, diante desta proposição, se dividem em dois grupos princi-
pais: no primeiro, os alunos concordam com a proposta do item 12, mas enfocam a questão do
uso racional dos recursos, rejeição às práticas de destruição da natureza e aos maus-tratos con-
tra animais; no segundo caso, os alunos acreditam que a função prioritária do homem é prote-
ger os animais, não usá-los e dominá-los.
Alguns trechos de alunos que se enquadram no primeiro caso: Usar sim, mas com
sabedoria. Dominá-los, mas não para fins lucrativos(Y
17-1
); Sim, ele criou a natureza pa-
ra nos servir, não para a gente destruir(X
19-2
); Se deus deu a natureza ao homem, o ho-
mem deve usar com moderação(Y
19-3
); Com certeza ele deu os animais para o homem
dominar, mas não maltratar(X
18-3
); Concordo porque é isto que está escrito na Bíblia
(X
15-3
). E no segundo caso: O que deus fez o homem não pode destruir(Y
15-1
); No prin-
cípio deus criou Adão e Eva para cuidarem da natureza (Y
16-1
); Deus criou a natureza
para ser preservada (Y
17-2
); Deus criou a natureza para o homem e para os animais
(X
16-3
); “Ele criou para o homem protegê-la” (Y
19-3-sobre a natureza
).
Seguindo mais ou menos a mesma linha de raciocínio dos alunos que discordaram do
item, Morais (2008) propõe o uso da Bíblia como ferramenta à Educação Ambiental, já que
aquela pode ser uma importante difusora de valores ecocêntricos, conforme acredita (contrari-
ando White, 1994 e Ashley, 2006, que atribuem à Bíblia caráter antropocêntrico e teocêntrico,
respectivamente). Na interpretação de Morais, no livro de Deuteronômio, capítulo 20, ver-
sículos 19 e 20, proíbe-se o desmatamento indiscriminado e ressaltam-se as conseqüências de
guerras para a natureza, embora haja a recomendação de que sejam destruídas as plantas cujos
frutos não são comestíveis, o que pode ser caracterizado como um incentivo mais antropocên-
trico do que ecocêntrico à conservação, já que apenas árvores com frutos comestíveis seriam
protegidas. Em Êxodo, capítulo 23, versículos 10 e 11, considera-se que os animais são porta-
dores do direito ao descanso e alimentos, divinamente constituído (Morais, 2008). Embora o
65
autor considere estes documentos como importantes à Educação Ambiental, é importante en-
fatizar a laicidade da Educação, isto é, a separação entre Igreja e Estado. Sendo assim, estas
intervenções seriam executadas a partir do ponto de vista antropológico, socializando também
outras visões de mundo, como a do xintoísmo, que se fundamenta no respeito pela natureza, a
qual é considerada inseparável do homem (Cf. Almeida, 2010).
ITEM 13 (“O homem não tem culpa se, hoje em dia, os animais estão desaparecendo.
Isso é natural”): A baixa pontuação dos alunos em relação ao item 13 demonstra que estes
reconhecem as responsabilidades humanas diante dos atuais quadros de degradação ambiental
(CT= 5,5%; C= 4%; NS= 10%; D= 31%, DT= 49,5%). As diferenças foram significativas
apenas entre as escolas (H= 20,0149, p= 0,0000), sendo que a Escola 2 pontuou mais neste
item.
Alguns exemplos que os alunos que discordaram da proposta do item 13: Em alguns
casos, por seleção natural, é impossível que os animais vivam, por culpa dos ambientes modi-
ficados(Y
17-1
); O homem quer saber de dinheiro. Ele tanto caça os animais para ven-
der os couros e enricar quanto por diversão, em alguns casos(X
16-1
); Tem culpa sim. A
caça ilegal, as queimadas, tudo isso é o homem que faz(X
19-2
); Se os animais estão desa-
parecendo é porque estão caçando muito” (X
18-3
); “O homem tem culpa por matar e traficar
os animais” (Y
16-3
).
Algumas opiniões, de alunos que acreditam na inocência humana ante o desapareci-
mento dos animais apontam a justificativas religiosas e ecológicas:“Tudo o que está aconte-
cendo é da vontade de Deus” (X
16-2
); “É natural. Muitos morrem de doença” (Y
16-2
).
Embora a extinção seja um fenômeno que acompanha a vida desde os tempos de sua
própria origem, é inegável que as atuais taxas de extinção se intensificaram frente ao acelera-
do desenvolvimento das sociedades humanas. A negação das causas antrópicas do desapare-
cimento dos animais representa um obstáculo para a tomada de decisões que favoreçam a
conservação da biodiversidade. Em outras palavras, assumir a responsabilidade é primordial
para desenvolver o sentimento de obrigação diante dos problemas ambientais (Moreno et al.,
2005).
ITEM 14 (“É uma grande preocupação o fato de que, com o desaparecimento dos
animais de caça as gerações futuras não terão mais esse recurso”): Este foi o terceiro item da
escala antropocêntrica com maior pontuação, tendo recebido a concordância da maioria dos
alunos (CT= 28,1%; C= 36,7%; NS= 24,6%; D= 5,5%, DT= 6%). Por outro lado, foi o item
que mais deixou os alunos indecisos (NS), geralmente com o argumento de que não se pode
66
prever o futuro. Nenhum dos grupos de alunos considerados exibiu diferenças significativas
entre si (Quadro 3).
O item 14 traz, basicamente, o conceito da Equidade Intergeracional, presente no arti-
go 225 na Constituição Federal do Brasil. Direcionado para os alunos de Serra do Navio, estes
em sua maioria, concordaram que o desaparecimento de animais é preocupante principalmen-
te porque estes representam recursos para gerações futuras: Se continuarem matando sem
controle com certeza é isso que vai acontecer(X
16-1
); As gerações não irão viver bem
(Y
15-1
); “Nós estamos numa vida boa ainda, mas e os nossos filhos?(X
19-2
); “Se os animais
desaparecerem as pessoas vão caçar o quê?” (X
23-3
); As pessoas mais novas não terão co-
mo admirar as coisas belas da natureza” (Y
17-3
).
Hunter e Brehm (2004) encontraram resultados parecidos, onde há dada preocupação
para com a extinção de animais tendo como justificativa o fato de que as gerações futuras
poderão não mais ter estes recursos para usar ou admirar. Este tipo de Antropocentrismo, pre-
sente no conceito de Equidade Intergeracional, é chave para o Desenvolvimento Sustentável.
Desenvolvimento Sustentável é um conjunto de estratégias que levam em conta tanto a viabi-
lidade econômica quanto a ecológica (Jacobi, 2003). Desta forma, argumentações antropocên-
tricas, por si só, não asseguram o desenvolvimento sustentável, uma vez que desenvolvimento
socioeconômico e degradação ambiental são incompatíveis, dentre deste contexto. Embora
este tipo de pensamento seja cheio de boas intenções (Larrère e Larrère, 2008), o fato de ape-
lar para as gerações futuras nada mais é do que mais um pretexto para não se renunciar ao
Antropocentrismo (Frías, 2006).
O risco deste pensamento pode levar à crença de que, se encontrados mecanismos que
atendam às necessidades humanas presentes e futuras, então a proteção da biodiversidade em
seu hábitat natural perde importância, como na citação a seguir: “Não é preocupante nada.
Temos animais criados em cativeiro(Y
24-3
). Nos dados apresentados por Hunter e Brehm
(2004) também há relação entre a visão utilitarista de recursos e certa apatia ante os proble-
mas ambientais.
Assim como no item 11, os alunos se referiram também ao valor de existência das es-
pécies para argumentar que o desaparecimento dos animais não deve ser visto como desfavo-
rável apenas a partir do ponto de vista utilitarista: Não é só pelas gerações futuras e sim para
as espécies não desaparecerem(X
16-1
); Devemos nos preocupar com todos os animais, de
caça ou não(Y
19-1
); A maioria dos animais estão quase desaparecendo e até terão
sumido” (Y
19-2
); “Os animais desaparecerão e não terão a vida para vivê-la” (X
15-3
).
67
3.1.4 Ecocentrismo
Os itens ecocêntricos com maiores pontuações foram o 16 (“Estar em contato com as
florestas, rios, enfim, com a natureza, me deixa mais feliz”) e o 18 (“Eu prefiro os animais
protegidos soltos na floresta do que protegidos em gaiolas e jaulas”). Em contrapartida, os
itens 15 (“O aumento da população humana pode trazer riscos aos animais da região”) e 21
(“Eu faço ou fiz alguma coisa para a proteção dos animais, mesmo que isso não trouxesse
benefício direto para mim”) registraram pontuações menores. Ainda assim, a concordância
destes itens tendeu a ser superior em relação à maioria dos itens de Apatia Ambiental e de
Antropocentrismo.
68
Quadro 4: Pontuações médias e Kruskal-Wallis para os itens de Ecocentrismo
* Em todos os casos onde o teste Kruskall-Wallis (H) apontou diferenças significativas (p < 0,05), o valor de “p” para o teste Student-Newman-
Keuls foi inferior a 0,05.
ECOCENTRISMO (MÉDIA GERAL= 4,0) ESCOLAS GÊNEROS SÉRIES
E1 E2 E3 MAS
FEM
15:
O aumento da população humana pode trazer riscos aos animais da região
(Média: 3,6)
3,6 3,5 3,6 3,8 3,4 3,6 3,6 3,6
H= 0,.4264 p= 0,8080
H= 7,7880 p= 0,0053*
H= 0,0416 p= 0,9794
16
:
Estar em contato com as florestas, rios, enfim, com a natureza, me deixa mais
feliz (Média: 4,6)
4,6 4,7 4,5 4,6 4,6 4,5 4.4 4,7
H= 1,4578 p= 0,4824
H= 0,0372 p= 0,8471
H= 1,3256 p= 0,5154
17
:
Eu me incomodo ao perceber que os animais, como a onça-pintada, estão desa-
parecendo, aos poucos (Média: 3,9)
4,2 4,0 3,6 4,0 3,8 3,9 3,6 4,0
H= 9,0847 p= 0,0106*
H= 1,3071 p= 0,2529
H= 3,2370 p= 0,1982
18
:
Eu prefiro os animais protegidos soltos na floresta do que em gaiolas e jaulas
(Média: 4,5)
4,6 4,4 4,4 4,4 4,5 4,4 4,1 4,6
H= 4,6501 p= 0,0978
H= 0,7865 p= 0,3752
H= 3,0668 p= 0,2158
19
:
Os animais são como seres humanos para mim (Média: 3,9)
3,9 4,0 4,1 4,0 3,9 3,9 3,9 3,9
H= 0,1475 p= 0,9289
H= 0,5245 p= 0,4689
H= 0,5922 p= 0,7437
20
:
O homem faz parte da natureza assim como os animais (aranhas, formigas, co-
bras, embuás, etc.) e as plantas (como o carrapicho, a urtiga, etc.) (Média: 3,8)
3,7 4,0 3,8 3,8 3,7 3,7 3,4 4,0
H= 0,8743 p= 0,6459
H= 1,4391 p= 0,2303
H= 6,9629 p= 0,0308*
21:
Eu faço ou já fiz alguma coisa para a proteção de animais, mesmo que isso não
trouxesse benefício direto pra mim (Média: 3,6)
3,8 3,3 3,6 3,5 3,7 3,6 3,5 3,4
H= 5,1835 p= 0,0749
H= 0,5553 p= 0,4562
H= 1.0745 p= 0.5844
69
ITEM 15 (“O aumento da população humana pode trazer riscos aos animais da regi-
ão”): A pontuação média do item 15 foi influenciada principalmente pelos alunos que, em
menor ou maior grau, concordaram com este item (CT= 26,5%; C= 36,5%; NS= 15,5%; D=
14,5%, DT= 7%). As diferenças foram significativas apenas entre os gêneros (H= 7,7880, p=
0,0053), sendo que os meninos pontuaram mais no item em relação às meninas (Quadro 4).
Este item apresentou resultados semelhantes aos de Thompson e Barton (1994), em
cujo trabalho o reconhecimento dos riscos trazidos com o crescimento populacional. Bjer-
ke e Kaltenborn (1999), usaram um item com este mesmo argumento. Neste estudo, agriculto-
res concordaram mais com o item em relação a outros grupos, o que não foi verificado neste
trabalho. Em nenhum dos dois trabalhos (Thompson e Barton, 1994; Bjerke e Kaltenborn,
1999) houve correlações com os gêneros feminino e masculino, como no presente trabalho.
No entanto, uma evidência para explicar a diferença entre os gêneros vem a partir da observa-
ção de que os animais (itens 9, 11, 12) são vistos mais de forma utilitarista por meninos do
que por meninas. Sendo assim, reconhecendo esta importância dos animais, parece previsível
que também haja maior reconhecimento dos impactos sobre a fauna decorrentes do cresci-
mento populacional humano, oriundos da maior exploração dos animais na região.
Abaixo, estão transcritos os argumentos de alunos que concordaram com os riscos do
crescimento populacional humano em relação aos animais: As cidades vão crescendo e com
isso a natureza é desmatada(Y
18-1
); Quanto mais pessoas, mais comida, e mais animais
mortos(Y
17-1
); O homem vai modificando o espaço geográfico e com isso os animais vão
se afastando (Y
16-3
); Aumenta o número de consumidor e comprador de caça (Y
17-3
);
Sem emprego as pessoas passarão a caçar” (X
19-3
).
Para outros alunos, no entanto, a relação proposta no item 15 parece não existir: A
comunidade aumentou e ainda não trouxe riscos(Y
17-3
); Isso não afeta em nada(Y
16-1
);
Os animais vivem no mato(Y
19-3
); Se nós aprendermos a preservar, as novas gerações
podem trazer bem a esses animais” (X
17-3
).
Vargas (1998) acredita que as discussões em torno do binômio população-ambiente
sempre estiveram voltadas para as questões do crescimento populacional e a proteção do
mundo selvagem. A autora ressalta que a problemática em torno da Teoria de Thomas Mal-
thus (segundo a qual as populações humanas crescem mais do que a disponibilidade de ali-
mentos), deixou de ser apenas quantitativa para ser muito mais qualitativa, ou seja, ética,
que considera como problema não apenas a quantidade de seres humanos como fator deter-
minante para a degradação ambiental, mas o padrão atual de vida baseado em valores con-
sumistas, característicos de um estilo de desenvolvimento (capitalista) que se mostrou preda-
70
tório ecologicamente, onde uma pequena parcela da população é responsável pela maior fatia
dos recursos consumidos. Tudo isto concorda, em alguns pontos, com o discurso do último
aluno (acima). Entretanto, considerando a atual vigência deste modelo de desenvolvimento e
dos padrões consumistas, que talvez esteja longe de serem revertidos, medidas de controle do
crescimento das populações humanas são necessários. Os alunos, reconhecendo estas interfe-
rências humanas, talvez tenham maior tendência em participar de programas de controle de
natalidade, contribuindo grandemente para a conservação da fauna.
ITEM 16 (“Estar em contato com as florestas, rios, enfim, com a natureza, me deixa
mais feliz”): Ambientes naturais, como florestas e rios, fazem parte do cotidiano da maior
parte dos moradores de Serra do Navio, por suas evidentes características de cidade do interi-
or, de pequeno tamanho e localizada a poucos quilômetros dos limites de um parque nacional.
Para quase totalidade dos alunos (CT= 68,5%; C= 27%; NS= 2%; D= 1%, DT= 1,5%), a esta-
dia nestes espaços naturais parece não provocar incômodo, mas ao contrário, traz algum tipo
de satisfação, felicidade, como sugere o item. Escolas, gêneros e séries não diferem entre si
quanto a este argumento (Quadro 4).
A preferência dos alunos pelos ambientes naturais, no entanto, para que seja conside-
rada conciliável com o pensamento ecocêntrico, não deve se fundamentar apenas em seus
aspectos estéticos, mas pela admiração pelos ambientes em seu estado natural, ou seja, sem
tantas interferências humanas: Eu adoro a natureza(X
17-1
); Sim, nada melhor do que a
selva(Y
16-1
); A natureza é tudo!!!(X
16-2
); Prefiro estar aqui num lugar distante da ci-
dade do que (X
15-3
); O cheiro da mata e ar puro é tudo o que a gente precisa para ser
feliz” (X
23-3
).
Outros alunos, no entanto, pensam diferente: Eu prefiro estar na cidade, mas para
passar um final de semana eu não vejo problema(Y
15-1
); Não gosto de ambientes primiti-
vos(Y
17-1
); Estou apenas de passagem por aqui(Y
19-3
); Depende da beleza que a flo-
resta nos mostrar” (X
16-3
).
O Município de Serra do Navio, como pautado em momentos anteriores, recebe anu-
almente muitas famílias que vêm em busca de melhores condições de vida, sendo atraídas
pelas ofertas de mineradoras, o que vem acontecendo desde os anos de 1960, com a ICOMI
(Gallois, 2008). Estas famílias, às vezes, provêm de centros urbanos maiores, industrializados,
onde o processo de formação pessoal se afastado dos ambientes naturais, como apontado
por Amemiya e Macer (1999). Muitas destas famílias, entretanto, acabam abandonando estas
localidades menores quando o vínculo econômico que as atraiu não é suficiente para manter a
expectativa de viver na região. Assim, a passagem destas famílias pela região é, muitas vezes,
71
rápida e os lugares acabam não sendo sentidos, para que haja com eles também vínculos sen-
timentais, afinal, lugar não é apenas um espaço para a realização de atividades cotidianas, mas
também onde ocorrem as transformações e a reprodução das relações sociais ao longo do
tempo (Albagli, 1998). Isto talvez explique as opiniões tanto dos alunos que concordaram
com o item quanto daqueles que discordaram. No primeiro caso, admite-se a possibilidade de
construção de laços afetivos com a região estudada, ao passo que, no segundo, a estadia pas-
sageira dos alunos pela região, como demonstram suas citações, talvez não permita o estabe-
lecimento deste tipo de vinculo.
ITEM 17 (“Eu me incomodo ao perceber que os animais, como a onça-pintada, estão
desaparecendo, aos poucos”): Para muitos grupos de interesse, os grandes carnívoros são con-
siderados animais perigosos (Bjerke e Kaltenborn, 1999). No item 17, as onças-pintadas
(Panthera onca) foram escolhidas como exemplo justamente por pertencerem a este grupo de
animais, como demonstra o estudo de Pedroso Júnior (2002), cuja maior parte dos sujeitos de
pesquisa reconhece o perigo que esta espécie representa na região estudada.
No entanto, no presente trabalho, os alunos geralmente se mostraram de acordo com o
item 17 (CT= 38%; C= 34%; NS= 13,5%; D= 11,5%, DT= 3%). Os alunos da Escola 3 apa-
rentemente se preocupam um pouco menos com a extinção das onças, em relação às demais
(H= 9,0847, p= 0,0106). Novamente, a forte presença de alunos agricultores e ribeirinhos, de
comunidades mais distantes, talvez explique esta diferença.
No geral, os alunos que concordaram com este item argumentaram a importância da
onça e de outros animais para a natureza, os maus-tratos contra este e outros animais e, em
algumas citações, aspectos estéticos, mesmo reconhecendo que são animais perigosos. Em
contrapartida, o perigo que as onças representam para algumas pessoas foi o suficiente para
que discordassem do item. As razões mencionadas pelos alunos quando favoráveis ou desfa-
voráveis à proteção da onça-pintada e outras espécies serão explanadas posteriormente, quan-
do forem apresentados os dados do segundo instrumento de pesquisa.
ITEM 18 (“Eu prefiro os animais protegidos soltos na floresta do que em jaulas e gai-
olas”): Esta foi uma das questões que obtiveram maior pontuação, que 91,5% dos alunos
preferem “os animais protegidos soltos na floresta do que em gaiolas e jaulas” (CT= 64,5%;
C= 27%; NS= 3%; D= 4%, DT= 1,5%). Não foram registradas diferenças entre escolas, gêne-
ros e séries de estudo (Quadro 4).
Para a maior parte dos alunos, o lugar dos animais é na natureza, contrariando a possi-
bilidade de manutenção de animais em cativeiros: Se o homem quer ser livre porque os ani-
mais também não?” (Y
15-1
); “Nas florestas eles têm liberdade e em gaiolas eles não são pro-
72
tegidos, mas escravizados” (Y
15-1
); “Tenho certeza que eles não são felizes enjaulados” (Y
15-
1
); Eu me sinto como ele deveria estar se sentindo, preso, sem espaço para caminhar ou vo-
ar, como o passarinho(X
16-1
); Na floresta eles se sentem bem, e eles têm mais valor
(Y
15-3
).
No discurso dos poucos alunos que opinaram a favor de animais em gaiolas e jaulas,
vieram algumas situações esperadas, como alunos que são adeptos da domesticação de
animais silvestres. No entanto, duas outras situações chamam a atenção pelo contexto em que
se fundamentam. Na primeira delas, alguns alunos acreditam que, presos, os animais ficam a
salvo de caçadores. Na segunda, alguns animais, considerados perigosos, deveriam ser prote-
gidos em cativeiros, para que a população não corresse riscos: Nas jaulas sabemos que às
vezes estão protegidos(Y
16-1
); Nem sempre estão protegidos na natureza(Y
18-1
); De-
pendendo do animal, se for perigoso, prefiro que fique preso na jaula(X
15-1
); Eles soltos
será mais fácil os caçadores pegá-los(Y
16-2
); “Soltos eles irão morrer nas mãos de caçado-
res” (X
16-3
); “Crio aves engaioladas e gosto muito” (Y
20-3
).
Neste primeiro momento, os alunos não especificaram os animais que deveriam ser
presos em jaulas e gaiolas, mas apenas no segundo momento da pesquisa, onde foram citados
alguns animais considerados perigosos na região de Serra do Navio (Ver adiante).
Reconhecer a importância dos animais para a natureza e, até mesmo, o incômodo que
estes animais possam sentir, quando em cativeiro, são atitudes determinantes para desencade-
ar posicionamentos contrários em relação aos maus-tratos contra os animais, o que parece ser
o caso da maioria dos alunos pesquisados. Animais, como as aves, podem ser apreciados em
seus ambientes naturais, sem a necessidade de mantê-los em gaiolas, levando o observador a
refletir acerca dos princípios éticos da manutenção das espécies livres, em seus habitats (Beni-
tes e Mamede, 2008). A questão, no entanto, extrapola os limites de soluções antropocêntri-
cas. Pássaros, principalmente, têm uma contribuição indiscutível para a dispersão de sementes
e, sendo assim, para o aumento da abundância/diversidade vegetal e, conseqüentemente, ani-
mal. Daí o fato de possuírem maiores valores na natureza do que em gaiolas. Nos casos dos
demais alunos que discordaram deste item, cabe dizer que a resolução do conflito entre ani-
mais considerados perigosos ao homem e homens considerados perigosos aos animais, deve
envolver adaptações consideráveis nos interesses de todos os grupos humanos envolvidos
(Kaltenborn et al., 1998), assim como medidas de autoridades políticas e ambientais que vi-
sem ao manejo adequado de espécies consideradas problemáticas, de forma a minimizar os
conflitos com os grupos humanos e conseqüentemente medidas retaliativas destes em relação
aos animais.
73
ITEM 19 (“Às vezes, os animais são como seres humanos para mim”): Os dados refe-
rentes às atitudes dos alunos ante a este item indicam que, em sua maioria (CT= 35,5%; C=
43,5%; NS= 8,5%; D= 9%, DT= 3,5%), eles não se opõem à comparação entre seres humanos
e (outros) animais, sem diferenças consideráveis aos níveis de escola, gênero e séries (Quadro
4).
Alguns destes alunos argumentaram que: Os animais têm os mesmos direitos que
nós(Y
20-1
); A diferença é que os animais não desmatam a sua casa(Y
17-1
); Eles tem
sentimentos como os nossos e precisam de cuidados e carinhos como as pessoas (X
16-1
);
Os animais também nascem, crescem, se reproduzem e morrem(X
16-2
); Os animais tam-
bém sentem fome, dor e medo” (Y
24-3
); “Às vezes percebemos nos olhares deles que eles tam-
bém têm sentimentos” (X
15-3
).
Outros, todavia, preferiram não aceitar comparações: “Não! Pessoa é pessoa, animal é
animal. Não misturo essas raças(X
15-1
) Não misturo as coisas(X
16-2
); Eles agem por
instinto(Y
15-2-sobre os animais
); Os animais são mais agressivos(X
14-3
); Nada a ver!!!
(Y
19-3
).
A proposta do item 19 estende aos demais animais valores humanistas, ao contrário
das acusações de opositores do movimento ecocêntrico, que o acusam de anti-humanismo
(Barbosa e Drummond, 1994). Estudos têm mostrado que atribuições humanistas podem con-
dicionar atitudes de oposição à crueldade e maus-tratos em relação aos animais (Bjerke et al.,
1998). Esta projeção humanista também pode atingir plantas e todos os demais seres, desen-
cadeando nas pessoas reações que conduzam ao maior respeito em relação a estes organismos,
o que pode ser uma interessante intervenção em Educação Ambiental. Os resultados do item
19 indicam esta tendência na maioria dos alunos pesquisados.
ITEM 20 (“O homem faz parte da natureza assim como os animais -aranhas, formi-
gas, cobras, embuás, etc.- e as plantas - como o carrapicho, a urtiga, etc.”): Este item está, de
certa forma, relacionado ao anterior, que inclui o nivelamento do homem a outras espécies,
normalmente consideradas feias, inúteis, perigosas e incômodas. Tal como no item anterior,
os alunos, em sua maioria, não contrariaram a idéia que o homem é componente da natureza
tanto quanto os demais seres vivos (CT= 32,5%; C= 37,5%; NS= 16%; D= 6,5%, DT= 7,5%).
Desta vez, os alunos da série do ensino médio pontuaram mais no item, indicando maior
aceitação da idéia de nivelamento entre seres humanos e outros organismos, enquanto compo-
nentes naturais.
Alguns exemplos de citações dos alunos que concordaram com o item 20: O homem é
um animal como os outros. A diferença é que ele raciocina” (X
22-1
); “Tudo faz parte da natu-
74
reza. Tudo merece viver (X
18-1
); Apesar de ter bastante medo destes animais reconheço
que eles são importantes para a natureza (X
17-1
); Cada ser animal ou vegetal têm seus
valores para a natureza mesmo que esses valores não sejam reconhecidos pelo homem(
Da-
dos não informados
); “Somos todos uma família (homem, animais e vegetais)” (Y
17-3
).
Para os alunos que não concordaram com o item, os seguintes argumentos foram lan-
çados: Não é assim também!(Y
16-1
); Esses o animais e plantas que trazem prejuízo ao
homem(X
17-1
); Eu o provoco coceira em ninguém(Y
17-2
); O homem não é tão peri-
goso(X
18-3
); Discordo porque essas são pragas que destroem a vida natural do homem
(Y
17-3
).
Tal como mencionado no item 19, acredita-se que aceitar que homens e outros animais
e plantas detêm características semelhantes pode reduzir algumas situações de maus-tratos
contra estes seres vivos. Estes, sendo uma bactéria, um inseto, uma planta, ou qualquer outra
forma de vida, têm um “fim em si mesmo”, principalmente porque os recursos do seu entorno
também possuem valores instrumentais, em seus “pontos de vista” (Larrère e Larrère, 2008), e
tudo isto é importante para a sobrevivência e reprodução destes organismos. Uma relação de
superioridade do homem diante destes e de outros organismos leva-o à razão utilitarista, tendo
como conseqüência o livre domínio e supremacia sobre a natureza (Camponogara et al.,
2007), além de sentimentos negativistas.
ITEM 21 (“Eu faço ou fiz alguma coisa para a proteção dos animais, mesmo que
isso não trouxesse benefício direto pra mim”): Atitudes visando à proteção de elementos natu-
rais, como os animais, justificadas mediante interesses humanos, são limitadas, que não
incluem possibilidades de intervenções do tipo quando esses interesses não são contemplados.
A maior parte dos alunos (CT= 29,5%; C= 31,5%; NS= 18%; D= 14,5%, DT= 6,5%) concor-
dou com o item 21, indicando que já agiram em favor dos animais, sem que esperassem bene-
fícios diretos. Não foram detectadas diferenças nas pontuações médias entre escolas, gêneros
e séries (Quadro 4).
Alguns exemplos mencionados por alunos que afirmaram terem agido em favor dos
animais, sem esperar benefício direto em troca: Várias vezes impedi que meus amigos mal-
tratassem vários animais(Y
16-1
); “Eu deixei de cortar uma árvore porque sujava muito meu
quintal(Y
18-1
); Uma vez soltei cinco pássaros de gaiolas porque senti pena e eles voaram
livres. Isso me deu uma ótima sensação. Quando descobriram que havia sido eu levei muita
bronca dos donos(X
16-1
); me machuquei querendo proteger uma paca(Y
19-2
); Reti-
rei uma rede de pesca perdida no rio (Y
17-2
); Eu deixei de matar uma cobra (Y
17-3
);
75
Criei um quati que estava ferido e depois que se curou soltei na natureza(X
18-3
); Maus-
tratos contra animais? Viro o bicho!” (X
15-3
).
Os alunos que informaram não terem praticado ações em favor da proteção dos ani-
mais, sem interesses antropocêntricos, se dividem em duas categorias principais: primeiro,
aqueles que afirmam que nunca fizeram bem, mas também não fizeram mal (o que seria,
diga-se de passagem, uma atitude a favor da fauna), e aqueles que se justificam na falta de
oportunidade em participar de atividades mais formais com a finalidade de proteger a fauna:
Eu não maltrato os animais, mas não tenho como proteger ainda(X
17-1
); É um assunto
que vem me atraindo. Talvez se eu tiver a oportunidade certa eu vou contribuir muito para a
proteção dos animais(X
18-1
); É difícil haver alguma programação de proteção aos ani-
mais onde eu moro(X
17-1
); Eu nunca fiz algo para a proteção dos animais, talvez eu fizes-
se se aparecesse alguma oportunidade(Y
21-3
); Não fiz, mas tenho vontade de fazer, não
por mim, mas pelos animais que não têm culpa do ser humano ser tão cruel” (X
20-3
).
Atitudes protecionistas em relação aos animais não dependem apenas de situações
formais, como a participação em programas governamentais em Educação Ambiental. A vida
diária das pessoas é uma constante tomada de decisões e coisas aparentemente simples podem
ter conseqüências altamente insustentáveis (Frías, 2006). Assim, atitudes pró-ambientais po-
dem iniciar dentro de casa, envolvendo situações simples e práticas que contribuem para a
integridade de ecossistemas, guiadas pelo respeito às mais diversas formas de vida, como as
situações mencionadas pelos alunos que concordaram com o item 21.
3.2 Valores e Proteção da Fauna de Serra do Navio
3.2.1 Aspectos Gerais dos Dados
Neste momento da pesquisa, os alunos citaram e atribuíram valores a 123 animais,
alguns dos quais não fazem parte da fauna de Serra do Navio, por questões lógicas de biogeo-
grafia, como camelos, cangurus, elefantes, focas, girafas, leões, lobos, tigres, zebras e outros.
Provavelmente, estes alunos não atentaram à solicitação de serem citados apenas animais
existentes na região. Ainda assim, estes casos foram considerados ao longo da tabulação. Os
animais citados, em sua maioria, parecem ser representativos da fauna de Serra do Navio
(Quadro 5).
Os animais listados no Quadro 5 tiveram preferência pelos alunos ao serem menciona-
dos neste segundo instrumento de pesquisa. Em linhas gerais, o que determina estas preferên-
cias? Para Karjalainen (2006), preferências estão relacionadas a ligações significativas entre o
76
indivíduo com a comunidade, com seu entorno, podendo ser genéticas (herdadas) e culturais
(aprendidas). No primeiro caso, a autora afirma que muitas das preferências humanas, princi-
palmente relacionadas à sobrevivência, foram determinadas nas primeiras etapas da evolu-
ção humana. A hipótese da Biofilia, de Edward Wilson, afirma que esta íntima interação do
homem com a natureza lhe incutiu a necessidade de contato com outras formas de vida, ou
seja, uma necessidade de se relacionar com outras espécies (Marin, 2003). As preferências
determinadas culturalmente, por seu turno, são mais variáveis, ainda dentro de uma mesma
cultura, como as noções de “belo” (Karjalainen, 2006).
O Quadro 5 contém também os dados referentes aos valores atribuídos a cada um dos
animais citados, bem como das atitudes dos alunos quando questionados se estes animais de-
veriam ser protegidos ou não. A mera visualização deste Quadro demonstra maiores ten-
dências protecionistas do que antiprotecionistas, já que, de um total de 1604 citações dos alu-
nos, 1273 (79,3%) foram favoráveis à proteção dos animais, contra 331 (20,7%) que foram
contrárias.
No geral, apenas razões negativistas justificaram posições contrárias à proteção dos
animais, o que equivale a dizer que, mesmo a atribuição de valores antropocêntricos (utilita-
ristas, dominadores) revelou tendências protecionistas. Quanto às categorias inspiradas em
Kellert (1996), sobressaíram-se as citações classificadas como utilitarista (614 citações ou
38,2%) e ecologistas (488 citações ou 30,4%).
No primeiro instrumento de pesquisa, quando foram direcionadas aos alunos questões
mais abrangentes no que tange à fauna, observou-se maior tendência dos mesmos pontuarem
nos itens ecocêntricos, embora os itens antropocêntricos também tenham obtido pontuações
consideráveis. No entanto, neste segundo momento do trabalho, as atribuições antropocêntri-
cas se sobressaíram em relação às demais, quando estiveram em foco animais em específico.
Isto talvez seja explicado pelo resultado do instrumento anterior, em que a maioria dos alunos
(62%) concordou com o item 11 (“Os animais devem ser protegidos principalmente porque
são importantes para a sobrevivência do homem”). Esta situação sugere a importância da
visão holística em relação à natureza, no sentido de promover atitudes pró-ambientes, capaci-
tando os alunos ao estabelecimento de ligações entre animais em específico e os demais ele-
mentos naturais, para a partir disto, compreender sua importância dentro dos ecossistemas,
abandonando a visão mais reducionista do mundo natural (Malafaia e Rodrigues, 2009).
77
Quadro 5: Freqüência absoluta (nº de citações) dos valores atribuídos aos 123 animais citados pelos alunos de ensino médio de Serra do Navio
(N= 200), segundo categorias de Kellert (1996) (UT: Utilitarista; NE: Negativista; DO: dominadora; EC: Ecologista; MO: Moralista; NA: Natu-
ralista) e das atitudes dos alunos quando questionados se os animais citados deveriam ser protegidos ou não; os animais estão dispostos em or-
dem de freqüência de citação.
ELEMENTOS FAUNÍSTICOS VALORES
ANTROPOCÊNTRICOS
VALORES
ECOCÊNTRICOS
DEVE SER
PROTEGIDO?
Nº DE CITAÇÕES
Nome local Pista taxonômica UT NE DO EC MO NA Sim Não
Onça-pintada Panthera onca 25 22 63 12 100 22 122 (61,0%)
Cobra Serpentes 14 62 19 3 35 63 98 (49,0%)
Arara Psittacidae 34 2 32 10 1 77 2 79 (39,5%)
Cachorro Canis lupus familiaris 66 2 4 2 72 2 74 (37,0%)
Paca Cuniculus paca 32 19 13 60 4 64 (32,0%)
Gato Felis catus 43 11 4 3 50 11 61(30,5%)
Macaco Cebidae 30 1 16 10 4 60 1 61 (30,5%)
Tatu Dasypodidae 23 1 22 9 1 52 4 56 (28,0%)
Peixes Pisces 37 12 5 1 49 6 55 (27,5%)
Veado Mazama spp. 6 1 29 12 4 52 52 (26,0%)
Cutia Dasyprocta leporina 18 23 9 48 2 50 (25,0%)
Jacaré Alligatoridae 5 9 26 8 2 45 5 50 (25,0%)
Papagaio Psittacidae 19 1 15 9 2 45 1 46 (23,0%)
Anta Tapirus terrestris 13 1 20 2 34 3 37 (18,5%)
Rato Muridae 3 31 2 4 32 36 (18,0%)
Passarinhos Passeriforme 14 12 7 3 36 36 (18,0%)
Sapo Anura 1 22 5 1 7 22 29 (14,5%)
Porco Sus domesticus 19 4 4 1 20 8 28 (14,0%)
Capivara
Hydrochoerus hydro
caheris
8 2 13 2 2 26 1 27 (13,5%)
Aranha Araneae 2 22 2 3 23 26 (13,0%)
Beija-flor Trochilidae 12 11 3 26 26 (13,0%)
Mosquito Nematocera 25 25 25 (12,5%)
Boi Bus taurus 21 1 17 5 22 (11,0%)
Galinha Gallus gallus 19 1 19 2 21 (10,5%)
Tucano Raphastidae 7 11 1 19 19 (9,5%)
Coelho Leporidae 16 1 2 19 19 (9,5%)
Barata Blattaria 1 15 1 1 3 15 18 (9,0%)
Formiga Formicidae 1 12 3 3 13 16 (8,0%)
Tartaruga Podocnemis spp. 4 1 6 4 1 16 16 (8,0%)
Pato Anatidae 11 2 11 2 13 (6,5%)
78
ELEMENTOS FAUNÍSTICOS VALORES
ANTROPOCÊNTRICOS
VALORES
ECOCÊNTRICOS
DEVE SER
PROTEGIDO?
Nº DE CITAÇÕES
Nome local Pista taxonômica UT NE DO EC MO NA Sim Não
-
Periquito Psittacidae 4 2 5 1 12 12 (6,0%)
Queixada Tayassu pecari 3 1 4 3 8 3 11 (5,5%)
Curió Oryzoborus angolensis 5 2 4 11 11 (5,5%)
Jabuti Geochelone spp. 3 5 3 11 11 (5,5%)
Tamanduá Myrmecophagidae 5 6 11 11 (5,5%)
Cavalo Equus Caballus 6 1 3 10 10 (5,0%)
Camaleão Iguana iguana 4 1 3 2 9 1 10 (5,0%)
Urubu Cathartidae 6 3 1 7 3 10 (5,0%)
Catitu Tayassu tajacu 2 4 2 1 9 9 (4,5%)
Leão Panthera leo 4 3 2 5 4 9 (4,5%)
Morcego Chiroptera 7 1 1 7 8 (4,0%)
Mutum Crax alector 2 6 8 8 (4,0%)
Borboleta Lepidoptera 5 2 7 7 (3,5%)
Gavião Falconidae 1 4 2 3 4 7 (3,5%)
Guariba Alouatta macconnelli 1 2 2 1 1 5 2 7 (3,5%)
Quati Nasua sp. 1 4 2 3 4 7 (3,5%)
Raposa Cerdocyon thous 2 2 3 5 2 7 (3,5%)
Traíra Hoplias spp. 4 2 6 6 (3,0%)
Pirarucu Arapaima gigas 3 1 2 6 6 (3,0%)
Abelha Apoidea 4 1 5 5 (2,5%)
Baleia Mysticeti 4 1 5 5 (2,5%)
Bem-te-vi Pitangus sulphuratus 1 2 1 1 5 5 (2,5%)
Ovelha Ovis aries 5 5 5 (2,5%)
Escorpião Scorpiones 1 3 1 2 3 5 (2,5%)
Gavião real Harpia harpyja 2 3 5 5 (2,5%)
Sucuri Eunectes murinus 3 2 5 5 (2,5%)
Brilho-de-fogo Topaza pella 2 2 4 4 (2,0%)
Bode Capra aegragus 3 1 4 4 (2,0%)
Golfinho Delphinidae 1 1 2 4 4 (2,0%)
Inhambu Tinamus major 1 3 4 4 (2,0%)
Mico-leão-dourado Leontopithecus rosalia 3 1 4 4 (2,0%)
Osga Gekkonidae 3 1 1 3 4 (2,0%)
Quandu Coendou prehensilis 3 1 4 4 (2,0%)
Urso polar Ursus maritimus 4 4 4 (2,0%)
Arara-azul Anodorhynchus sp. 3 3 3 (1,5%)
Canção Daptrius sp. 2 1 3 3 (1,5%)
79
ELEMENTOS FAUNÍSTICOS VALORES
ANTROPOCÊNTRICOS
VALORES
ECOCÊNTRICOS
DEVE SER
PROTEGIDO?
Nº DE CITAÇÕES
Nome local Pista taxonômica UT NE DO EC MO NA Sim Não
-
Elefante Elephantidae 2 1 3 3 (1,5%)
Jaguatirica Leopardus pardalis 1 2 3 3 (1,5%)
Jibóia Boa constrictor 1 1 1 2 1 3 (1,5%)
Mosca Muscidae 2 1 1 2 3 (1,5%)
Mucura Didelphis marsupialis 2 1 1 2 3 (1,5%)
Sabiá Turdus spp. 3 3 3 (1,5%)
Borboleta azul Lepidoptera 1 1 2 2 (1,0%)
Carrapato Ordem Ixodida 2 2 2 (1,0%)
Cupim Isoptera 2 2 2 (1,0%)
Curupeté Myleus sp. 2 2 2 (1,0%)
Foca Phocidae 1 1 2 2 (1,0%)
Gafanhoto Caelifera 1 1 1 1 2 (1,0%)
Girafa Giraffa camelopardalis 1 1 2 2 (1,0%)
Jacu Penelope sp. 1 1 2 2 (1,0%)
Jacuraru
Tupinambis teguxin
1 1 1 1
2 (1,0%)
Lagartos Sauria 2 2 2 (1,0%)
Peru Meleagris gallopavo 2 2 2 (1,0%)
Pica-pau Picidae 2 2 2 (1,0%)
Poraquê Electrophorus electrus
1 1 1 1 2 (1,0%)
Piranha Pygocentrus piraya 2 2 2 (1,0%)
Preguiça Folivora 1 1 2 2 (1,0%)
Andorinha Hirundinidae 1 1 1 (0,5%)
Aracuã Ortalis motmot 1 1 1 (0,5%)
Ariranha Pteronura brasiliensis 1 1 1 (0,5%)
Avestruz Struthio camelus 1 1 1 (0,5%)
Boto Inia geoffrensis 1 1 1 (0,5%)
Camarão Decapoda 1 1 1 (0,5%)
Camelo Camelus sp. 1 1 1 (0,5%)
Canguru Macropus sp. 1 1 1 (0,5%)
Cigarra Cicadídae 1 1 1 (0,5%)
Coruja Strigiformes 1 1 1 (0,5%)
Curica Amazona amazonica 1 1\ 1 (0,5%)
Gaivota Sterna paradisea 1 1 1 (0,5%)
Garça Ardeidae 1 1 1 (0,5%)
Gato do mato Leopardus sp. 1 1 1 (0,5%)
Grilo Gryllidae 1 1 1 (0,5%)
80
ELEMENTOS FAUNÍSTICOS VALORES
ANTROPOCÊNTRICOS
VALORES
ECOCÊNTRICOS
DEVE SER
PROTEGIDO?
Nº DE CITAÇÕES
Nome local Pista taxonômica UT NE DO EC MO NA Sim Não
-
Jacaré-açu Melanosuchus niger 1 1 1 (0,5%)
Jararaca Bothrops sp. 1 1 1 (0,5%)
Leão-marinho Otaria flavescens 1 1 1 (0,5%)
Leopardo Panthera pardus 1 1 1 (0,5%)
Lesma Stylommatophora 1 1 1 (0,5%)
Lobo Canis lupus lupus 1 1 1 (0,5%)
Macaco-prego Cebus apella 1 1 1 (0,5%)
Minhoca Oligochaeta 1 1 1 (0,5%)
Patativa Euphonia spp. 1 1 1 (0,5%)
Pavão Phasianidae 1 1 1 (0,5%)
Perereca Hylidae 1 1 1 (0,5%)
Pombo Columbidae 1 1 1 (0,5%)
Ranidae 1 1 1 (0,5%)
Rouxinol Luscinia megarhynchus 1 1 1 (0,5%)
Soia Oryzomys spp. 1 1 1 (0,5%)
Sussuarana Puma concolor 1 1 1 (0,5%)
Tamaquaré Plica plica 1 1 1 (0,5%)
Tigre Panthera tigris 1 1 1 (0,5%)
Tubarão Selachimorpha 1 1 1 (0,5%)
Urso panda
Ailuropoda melanoleuca
1 1 1 (0,5%)
Zebra Equus spp. 1 1 1 (0,5%)
TOTAL
614 (38,2%)
300 (18,7%)
1 (0,06%)
488 (30,4%)
171 (10
,6%)
30 (1,9%)
1273 (79,3%)
331 (20,7%)
1604
81
3.2.2 Valores Antropocêntricos
3.2.2.1 Categoria utilitarista
Neste grupo, estão incluídas as atribuições que enfatizaram os valores de uso dos ani-
mais. Envolvem situações de uso direto e indireto. Fala-se em uso direto quando coleta e
consumo dos recursos, comercial ou não (Langanke, 2010), como nos casos em que os ani-
mais foram considerados fonte de alimento ou remédio. O uso indireto, por seu turno, é aque-
le que não envolve coleta e consumo (Langanke, 2010), como nas situações onde houve prio-
ridade a valorização estética ou recreacional dos animais, além de outras formas de uso indire-
to, menos evidentes.
Nas três escolas estudadas, os peixes receberam maiores atribuições utilitaristas, como
fonte de alimento. Dos animais de caça, receberam destaque: pacas, tatus, cutias, antas, capi-
varas, veados. Outros, menos citados, incluem jacarés, tartarugas, camaleões, queixadas, mu-
tuns e guaribas. No caso de tartarugas e camaleões, são cobiçados principalmente os ovos.
Obviamente, animais domésticos como bois, porcos, galinhas e patos foram bastante citados
nesta categoria: Eu gosto de comer peixe(Y
18-1
); Os peixes em geral dão vida à comuni-
dade(Y
17-2
); Muitas pessoas sobrevivem da pesca(Y
22-3
); A anta tem uma carne muito
boa” (Y
15-1
); A paca tem uma carne muito gostosa(Y
19-2
); O veado também é um animal
muito gostoso(Y
17-2
); Final de semana é legal comer tatu(X
18-3
); As tartarugas botam
ovos, que servem de alimento(Y
16-3
); “É muito brava, mas podemos comer queixada” (X
18-
3
); “É do boi que comemos” (Y
22-1
); “A galinha faz parte da nossa mesa(X
16-3
).
Em geral, os alunos que conferiram importância alimentar aos animais foram favorá-
veis à sua proteção, tendo em vista a continuidade das espécies, um tipo de conservacionismo
utilitarista (Diegues, 2005). Entretanto, em certos casos, a idéia de proteção de determinadas
espécies parece ser associada à proibição de seu consumo. Este pensamento foi mais freqüen-
te na Escola 3, onde 11% acreditam que pacas, tatus, peixes, cutias, antas, porcos e outros
animais não devem ser protegidos porque servem de alimento. Em outras situações, alguns
animais não foram assinalados para proteção simplesmente porque não são considerados bons
para o consumo: Não é alimento, o rato” (Y
17-1
); “Ninguém consome as cobras(Y
18-2
); “A
carne do macaco não é consumível(Y
19-2
); Não proteger o poraquê porque ele não é con-
sumível” (Y
20-1
); “Não comemos o leão” (X
16-3
).
Poder-se-ia pensar que animais como estes, não assinalados como fonte de alimento,
estão livres das pressões humanas da caça. No entanto, a exaustão de populações de mamífe-
ros de grande porte, como antas, queixadas, etc., por exemplo, pode levar as pessoas a adota-
82
rem na alimentação animais menores, como macacos (Jerozolimski e Peres, 2002), que ante-
riormente tinham pouca preferência da população. O processo de depleção destes animais,
segundo Jerozolimski e Peres (2002), é maior quando as populações humanas são grandes
(ver página 68), o que também é verificado em Cunha e Almeida (2002), num estudo com
seringueiros. Desta forma, embora a maior parte dos alunos, cujo significado dos animais ci-
tados é mais utilitarista, tenha tendências protecionistas, não foram coletados dados de seus
conhecimentos acerca de práticas sustentáveis. Mesmo que elas existam, o fator “tamanho
populacional humano (e não-humano, diga-se de passagem)” da região não deve ser despre-
zado.
Quanto ao uso medicinal, as cobras foram as mais citadas, sobretudo na Escola 1. Sua
importância para a fabricação de soros antiofídicos foi reconhecida. Uma ocorrência parecida
com escorpiões foi registrada. As abelhas, embora tenham sido pouco citadas, tiveram no mel
a principal razão para serem protegidas: “O veneno da cobra ajuda na medicina(X
15-1
); “As
cobras têm serventia para a medicina(Y
15-1
); O veneno do escorpião serve p/ curar doen-
ças perigosas (Y
26-3
); A abelha produz mel onde é feito remédios(J
20-3
); O mel da abe-
lha serve de remédio e outros” (
Dados não informados
).
Em muitos casos, partes ou produtos animais (penas, fezes, mel) são usados na medi-
cina popular, sem a necessidade de que o animal esteja morto, embora na maioria dos casos a
morte do animal é necessária para a extração de remédios, como a banha (Costa-Neto et al.,
2009). No entanto, este tipo de valor parece não ter prioridade para os alunos respondentes, e
o tipo de uso medicinal dos animais aparentemente engloba o primeiro caso descrito em Cos-
ta-Neto et al., (2009), onde não há a necessidade de morte do animal, o que certamente traz
implicações conservacionistas.
Os alunos também foram favoráveis à proteção dos animais por razões estéticas e re-
creacionais. Todas as citações sobre as onças-pintadas classificadas como utilitaristas (com a
exceção de um aluno da Escola 3, que as considerou como fonte de alimento) ressaltaram suas
qualidades estéticas. Em situação semelhante se encontram as araras, lembradas fortemente
pelo colorido de suas penas. Um aluno da Escola 1, inclusive, mencionou o uso destes ani-
mais para exibição em pousadas, no município. Outras aves também foram lembradas por seu
valor estético-recreacional, como beija-flores, papagaios, tucanos, mutuns e passarinhos. Es-
tes últimos lembrados especialmente pelo canto, com destaque para o curió. Ainda do ponto
de vista utilitarista, os macacos foram considerados importantes como recreação, principal-
mente por suas características peculiares (inteligentes, divertidos, dóceis, brincalhões, habili-
dosos, amigos, etc.): A onça deve ser protegida por causa da sua linda pele que tem muitas
83
utilidades” (Y
17-1
); “As cores da onça são perfeitas” (X
15-1
); “A onça-pintada enfeita a natu-
reza(X
42-3
); A onça é um símbolo nacional (Y
19-3
); Bela forma de exibição” (Y
17-1-
sobre as araras
); “Elas servem para exibição em pousadas(Y
16-1-sobre as araras
); “As araras são
aves que deixam a natureza linda(X
15-2
); As cores das penas das araras são lindas(Y
14-
3
); Os passarinhos tem um canto bonito para se ouvir(X
16-3
); Os cantigos dos pássaros
são muito bonitos (Y
22-3
); É entretenimento” (Y
17-3-sobre os papagaios
); O macaco é um
bicho divertido” (X
14-1
); “Eles são uns animais engraçados” (X
15-3-sobre os macacos
).
Segundo Schopenhauer (apud Marin, 2003), a contemplação estética apazigua por um
momento à infelicidade do homem ao desvinculá-lo do drama da vontade. Embora Marin
(2006) defenda fortemente a chamada Educação Estética Ambiental, a passagem de Schope-
nhauer remete à seguinte questão: Se a contemplação estética está, de certa forma, relacionada
à noção de “felicidade”, o contrário (algo que o se encaixa dentro de perfis conceituais de
“belo”) tende a maximizar momentos de infelicidade? A partir das citações dos alunos, acima,
a contemplação estética de alguns animais sempre os levou a atitudes protecionistas, talvez
porque a visualização destes animais represente maior agradabilidade visual. Porém, como
comentado posteriormente, a falta de valorização estética de alguns animais tendeu a atitudes
antiprotecionistas.
Os alunos anteriores, embora enfatizem as qualidades estéticas e recreacionais dos
animais, não os mencionam como domésticos. A este respeito, cachorros e gatos foram os
mais mencionados. Embora razões estético-recreacionais tenham sido evocadas, outras formas
de uso foram registradas: O cachorro é o melhor amigo do homem(Y
18-1
); O cachorro é
uma animal de utilidades(Y
17-1
); O cão ajuda na prevenção de ladrões(J
17-2
); O ca-
chorro faz parte da vida do homem(X
17-3
); Ele é útil para vigiar nossa casa(Y
16-3-sobre
os cachorros
); Os gatos são muito fofos(J
17-1
); O gato ajuda a comer ratos da casa(Y
16-
3
); “Nos ajudam a caçar ratos” (X
19-3-sobre os gatos
).
Além de cachorros e gatos, alguns animais silvestres também foram considerados do-
mésticos, com destaque para macacos, cutias, jabutis, antas, araras, papagaios, preguiças, tatus
e jibóias, principalmente na Escola 3. Nesta, após a aplicação dos questionários, duas alunas
comentaram que a criação de animais, como estes, é comum na região, com menção a outros
animais não citados como domésticos nos questionários, principalmente quatis. Alguns exem-
plos destas citações: A jibóia pode ser criada em casa(Y
17-1
); O tatu ele é de estimação
(X
17-1
); “Pode se criar a cutia desde bebê(X
15-3
); “O macaco pode ser doméstico(X
18-3
);
Algumas antas são legais de criar” (Y
19-3
); “As araras são bichos de estimação” (Y
17-3
).
84
O desejo de tornar um animal silvestre num bicho de estimação talvez decorra de sua
apreciação estética e recreacional, mas qualidades humanistas também podem estar implica-
das, correlação feita por Bjerke et al. (1998). Características humanistas podem ser primordi-
ais para o desenvolvimento da perspectiva antropocêntrica, desde a infância, o que pode ser
exemplificado a partir da construção de personagens de fábulas com características humanas
(Herrmann, 2010), por exemplo. Schwarz (2009) acredita que, como a preferência humana
por animais domésticos pode não mudar, é importante aproveitar esse apego incutindo à apre-
ciação aos animais nativos. Talvez esta seja uma alternativa, desde que não traga como con-
seqüência a criação irregular de animais silvestres.
Stephen Jay Gould (1941-2002), um dos maiores biólogos evolucionistas do século
XX, acreditava que, vencer a batalha para a conservação de ambientes naturais e espécies é
uma tarefa difícil quando não se tem vínculos emocionais com a natureza, pois dificilmente
alguém protegeria aquilo que não ama (Orr, 1993). Por mais que o desejo de se criar animais
silvestres resulte, provavelmente, de certo vínculo emotivo entre os alunos e estes animais
(em muitos casos, entretanto, é provável que a posse de alguns animais, considerados belos,
traga algum tipo de “status” ao proprietário), reconhecer os direitos dos animais silvestres
significa deixá-los livres, para que vivam suas próprias vidas, sem interferências diretas, como
no caso da domesticação, ou indiretas, com o desenvolvimento comercial que destrói seus
habitats (Frías, 2006). Mesmo situações onde os animais são originários de criadouros autori-
zados (IBAMA, 2010) pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) levantam questões éticas em torno da real necessidade de domesticação
destes animais.
Outras razões utilitaristas usadas para justificar atitudes protecionistas foram registra-
das, em menores proporções. Neste grupo, sobressaíram-se os urubus, considerados importan-
tes como limpadores dos ambientes urbanos. Costa e Almeida (2010) expõem que, freqüen-
temente, alunos da Educação Básica relacionam estes animais com a morte, pelo fato de se-
rem pretos e de se alimentarem de organismos em decomposição. No caso dos alunos de Serra
do Navio, o comportamento destas aves como “comedoras de carniça” foi usado como argu-
mento protecionista. Cobras e ratos também tiveram valores utilitaristas reconhecidos, quando
para uma parcela muito maior de alunos são animais que não deveriam ser protegidos: O
urubu é importante para a decomposição do lixo(Y
16-1
); O urubu limpa os lugares onde
moramos” (X1
5-1
); “O tamanduá tem que ser protegido porque ele se alimenta de cupins des-
truidores(X
19-2
); As cobras comem insetos que podem nos prejudicar(X
27-1
); Para as
85
plantações, as cobras são como guardiães(Y
19-3
); O rato é um animal para experiência e
não p/ matar” (Y
26-3
).
Estas citações, embora forneçam dados sobre a ecologia de cada animal, não podem
ser classificadas na categoria ecologista de Kellert (1996), que trazem embutida a idéia de
que estas características ecológicas são apenas um meio para se atingir um fim, utilitarista,
embora aparentemente não haja a exploração prática destes animais.
Ott (2003) distingue obrigações diretas (“para com X”) e obrigações indiretas (“em re-
lação a X”). Obrigações diretas ocorrem quando os seres são considerados “fins em si mes-
mos”, tal qual pressupõe o paradigma ecocêntrico. O homem tem obrigações diretas, por
exemplo, para com os membros de sua própria comunidade, o que não é o caso de membros
de outras comunidades (animais não-humanos), que não são considerados “fins em si mes-
mos”, levando o homem a ter apenas obrigações indiretas em relação e estes. Embora isso se
aplique às situações utilitaristas aqui discutidas, a citação da aluna X
19-2
é um bom exemplo,
onde os tamanduás, são considerados apenas “meios”, não “fins”, se assim avaliado a partir da
discussão traçada por Ott (2003).
3.2.2.2 Categoria Negativista
Na valorização negativista, a principal motivação das pessoas é o desaparecimento ou
erradicação de alguns animais (Hunter e Brehm, 2004). As citações dos alunos, enquadradas
nesta categoria, se dividem em duas situações principais: na primeira, animais são vistos co-
mo perigosos, por oferecem riscos econômicos ou de morte; na segunda, os alunos são contrá-
rios à proteção de animais considerados feios ou nojentos.
Dentre os animais considerados perigosos, foram citadas as cobras e as aranhas. A
principal justificativa dos alunos foi o fato de estes serem animais peçonhentos. Raras vezes
foram mencionados grupos mais específicos de aranhas e cobras. Isto pode sugerir uma gene-
ralização em relação à característica de algumas espécies peçonhentas, motivo pelo qual os
grupos como um todo (“aranhas”, “cobras”) não são bem vistos por estes alunos, principal-
mente na Escola 3: “Cobra diz o nome, não me vem como um animal p/ ser protegido
(X
19-1
); “Não suporto cobra” (Y
15-1
); “É muito venenosa” (X
17-3-sobre as cobras
); “Uma cobra
matou meu tio(Y
17-3
); A cobra é um animal agressivo em todos os sentidos(Y
15-3
); Po-
de deixar deficiente(Y
16-3-sobre as cobras
); Cobras são más e muito venenosas(X
16-3
); As
aranhas são muito picantes(X
17-1
); A aranha pode causar a morte(Y16-3); Elas são
bichos horríveis e venenosos” (X
16-3-sobre as aranhas
).
86
A visão negativa das pessoas em relação às aranhas e cobras também é demonstrada
por Souza (2007) e Ceríaco (2010), respectivamente. A aversão às cobras é tão antiga que, já
nos relatos simbólicos protagonizados por Adão e Eva, uma serpente aparece como a respon-
sável por levar a humanidade à perdição (Gênesis apud Ceríaco, 2010), algumas vezes sendo
associada ao que o Cristianismo chama de “diabo”.
Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre
os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra
todos os dias da tua vida. Farei reinar a inimizada entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la
no calcanhar.
Animais como mosquitos, ratos, morcegos, quatis e porcos domésticos também foram
considerados perigosos por serem vetores de doenças. No caso de porcos, estes foram por
vezes relacionados à gripe H1N1. No entanto, o maior destaque foi para os mosquitos, os úni-
cos animais com atribuições apenas negativistas, dentre os animais mais citados: Eles têm
que morrer(Y
17-2
); Mosquitos transmitem doenças (malária, dengue e outras) (Y
26-3
);
O mosquito causa a morte(Y
15-3
); Ele causa muita doença(Y
30-3
); Mesmos sendo pe-
quenos, eles são cruéis (X
15-3
); “Suga muito sangue” (Y
16-3
).
Este resultado, na verdade, já era esperado, visto que uma vasta literatura tem demons-
trado que, para a maioria das pessoas, os insetos despertam fortemente sentimentos negativos
(Costa-Neto e Pacheco, 2004; Almeida et al., 2008; Modro et al., 2009;). Os mosquitos, diga-
se de passagem, são responsáveis por milhões de mortes de seres humanos em todo o mundo
subtropical, contribuindo, de certa forma, para o controle populacional humano. Esta questão,
o limite entre os direitos dos homens e dos animais não-humanos, é uma das mais polêmicas
da Ética Ambiental.
Perlo (2007) defende que valores extrínsecos marginalizam os direitos dos animais, e
prossegue (p. 9), afirmando que “to hurt or kill animals is wrong, regardless of any other con-
siderations” (“ferir ou matar animais é um mal, independente de qualquer outra considera-
ção”). Em réplica, Sztybel (2008) considera rígido o discurso de Perlo a respeito da Liberação
Animal e se questiona: “Should a mosquito’s life be saved equally as a human’s?” (“A vida
de um mosquito deve ser salva do mesmo jeito que a vida de um ser humano?”). Parece pouco
provável que, a partir do ponto de vista de interesses individuais, alguém sacrifique sua vida
ou a vida de um ente querido em prol da vida de mosquitos.
87
Embora o texto de Perlo se aproxime mais da linha ecocêntrica e o de Sztybel conte-
nha argumentos no fundo, antropocêntricos, o critério (vetores de doenças) usado pelos alunos
de Serra do Navio, em seus argumentos contra a proteção dos mosquitos, também foi aplicado
a outros animais, como morcegos e quatis, cujo cenário conservacionista não é tão favorável
quanto de mosquitos, de ampla distribuição geográfica. Aparentemente por um tipo de racio-
cínio indutivo (Hermann et al., 2010), grupos de diferentes status conservacionistas são tam-
bém associados a doenças diversas e as atitudes antiprotecionistas são igualmente fortes, em-
bora as conseqüências para cada grupo de animal sejam diferentes.
As onças-pintadas também parecem ser temidas, principalmente na Escola 3, talvez
porque nesta a proporção de alunos residentes em comunidades rurais menores, ribeirinhas,
seja maior. Em relação aos alunos que conferiram valores ecocêntricos às onças, entretanto,
os que justificaram atitudes antiprotecionistas, a partir de valores negativistas, são minoria: “A
onça é um animal muito mal e cruel(X
16-1
); É muito feroz a onça(X
17-2
); Onças são
carnívoras e comem gente(Y
16-3
); Para a nossa sobrevivência, a onça não deve ser prote-
gida” (X
16-3
); “Às vezes traz perigo às pessoas” (Y
14-3
); “Elas matam os homens” (X
27-3
).
Atitudes negativas em relação a grandes carnívoros, como as onças, talvez decorram
da apreciação das diversas conseqüências de tê-los pelas redondezas, ou seja, o medo pelo
carnívoro em questão e a preocupação em relação às famílias podem ser importantes razões
que colaboram para este tipo de atitude (Roskaft et al., 2007). Kleiven et al. (2004) registra-
ram maior tolerância em relação a grandes carnívoros em indivíduos que vivem longe destes.
Em outras palavras, em determinadas situações, parece complexo acreditar que as pessoas
serão a favor da proteção de um animal carnívoro, de grande porte, quando este ronda suas
casas. Mesmo assim, a maioria dos gestores ambientais não reconhece a importância do medo
que muitos habitantes de áreas como esta têm dos grandes carnívoros (Rowe, 2006). Para Kal-
tenborn et al. (2006), a gestão de animais perigosos deve ocorrer de forma a ajudar as pessoas
que precisam viver nesses lugares. Entretanto, complementa-se que este manejo deve condizer
com os aspectos éticos que também respeitem a presença das espécies em seus ambientes na-
turais.
Não tão citadas quanto às onças, mas também temidas, as formigas foram lembradas
quase sempre por seus aspectos negativos, por sua agressividade. Todas estes casos vieram da
Escola 3, onde possivelmente existe maior interação com as formigas, em virtude de ativida-
des agrícolas: Elas ferram e dão lastimanha(Y
19-3-sobre a consequência da ferroada de formigas
);
Elas devem morrer todas(X
15-3
); Elas fazem mal para os seres humanos(X32-3); Nos
88
agridem sem fazermos nada(X
16-3
); Ela é traiçoeira(X
18-3
); Ela é um pouco furiosa
(X
17-3
).
Costa-Neto e Rodrigues (2005) descrevem registros parecidos, mas incluem situações
onde formigas são valorizadas como fonte de alimento e remédio, o que não ocorreu no pre-
sente estudo. Segundo estes autores, a atribuição de características qualitativas às formigas,
muitas das quais antropomórficas, dizem respeito aos efeitos nocivos relacionados à mordida,
ferroada e liberação de substâncias cáusticas na epiderme humana. Isto pode ser observado
nas citações das alunas X
16-3
(referindo-se à formiga como traiçoeira”) e X
17-3
(“referindo-
se à formiga como “furiosa”), anteriormente.
Outras espécies despertaram atitudes antiprotecionistas, em alguns casos, por repre-
sentarem riscos de perda material, o que igualmente pode gerar valores negativos (Kleiven et
al. 2004): Os gaviões matam os filhos de outros pássaros(Y
19-1
); O gavião serve para
levar galinhas(Y
15-3
); Gaviões destroem outros bichos(Y
17-3
); Animal predador(X
14-
3-sobre os gaviões
); O jacuraru come muitas galinhas(Y
18-1
); As raposas, porque elas co-
mem muita fruta do terreno” (Y
15-3
).
Bjerke e Kaltenborn (1999) afirmam que os danos causados por certas espécies, como
lobos, contra criações humanas, ativam um forte processo psicológico que desencadeia atitu-
des negativas em direção a estes animais. É possível que este seja o caso de alunos que men-
cionaram os gaviões, por exemplo, uma vez que estes não são bem vistos pelos alunos por
serem predadores também de passarinhos, animais queridos na região, pelas razões expostas
anteriormente. Em outras palavras, é possível que, além da perda material em si, uma possível
ligação emocional entre os proprietários e aves domésticas predadas explique essas aversões
aos gaviões.
Dos animais considerados sem atributos estéticos, os sapos lideram, embora também
tenham sido lembrados pelo caráter venenoso de algumas espécies. Guaribas, mais reconheci-
das por seus valores ecológicos, também receberam atribuições negativistas: Sapos são mui-
to feios e nojentos(X
16-1
); Esse nós temos que mata todos(X
15-3-sobre os sapos
); O sapo
representa o mal(Y
19-1
); Bicho muito feio e nojento(X
14-3-sobre os sapos
); É um animal
feio” (Y
15-1-sobre as guaribas
); “Guariba é muito barulhenta” (Y
22-1
).
Em comparação com as guaribas, os sapos têm, aparentemente, significado negativo
para uma proporção bem maior de alunos. Aliás, não apenas os sapos, mas os anfíbios, como
um todo, estão entre os animais mais negativamente valorizados pelo homem, por argumentos
estéticos, por exemplo, (Ceríaco, 2010). São considerados feios, perigosos e quase sempre
representados com um papel negativo na cultura humana, como demonstra Barros (2005).
89
Segundo este autor, estes valores são perpetuados, muitas vezes, com a ajuda da própria esco-
la.
Assim, a categoria negativista foi a que mais esteve correlacionada a atitudes antipro-
tecionistas, como prevê Ceríaco (2010), segundo o qual os valores negativistas podem mani-
festar nas pessoas o desejo de erradicar algumas espécies. De fato, outros trabalhos demons-
traram que, ignorando os aspectos ecológicos e até mesmo utilitaristas de algumas espécies, as
pessoas não apenas tendem a ser contrárias à sua proteção, como também exterminam pesso-
almente exemplares destes animais. Isso foi verificado em trabalhos envolvendo as moréias
(Lepidosiren paradoxa), nas baixadas de Macapá (Almeida et al., 2009), osgas (Hemidactylus
mabouia), na Educação de Jovens e Adultos de uma escola macapaense (Almeida et al.,
2010), serpentes, exterminadas por capinadores em Itaubal do Piririm-AP (Almeida e Palme-
rim, 2010) e embuás (Arthropoda: Diplopoda), na Educação de Jovens e Adultos (Almeida e
Barros, 2010).
3.2.2.3 Categoria Dominadora
Esta categoria se refere às situações onde um nítido interesse no domínio das espé-
cies, sobretudo em situações esportivas. Neste momento da pesquisa, apenas um aluno confe-
riu este valor a um animal, sendo favorável à sua proteção: Sempre quis montar um cavalo
(Y
16-1
). Como observado em outros momentos da pesquisa, sempre que os alunos menciona-
vam atividades esportivas, como a caça esportiva, posicionarem-se contra. O mesmo ocorreu
na aplicação do segundo instrumento de pesquisa: alunos se posicionaram contra a existência
de caçadores esportivos, atitude característica da categoria moralista, definida pela oposição
aos maus-tratos contra os animais, independente de serem conferidas características utilitaris-
tas (por exemplo, estéticas).
A Figura 3 mostra a relação entre a valorização antropocêntrica dos animais e as atitu-
des de proteção dos alunos, quando são priorizados certos valores. A valorização dos animais
como fonte de alimento, por exemplo, leva os alunos a serem a favor da proteção dos animais
(atitude protecionista) e contra a proteção dos animais (atitude antiprotecionista). Por outro
lado, valores de categoria negativista apenas condicionaram atitudes antiprotecionistas.
90
Figura 3: Relação entre valores antropocêntricos dos animais e atitudes de proteção. 1- Cate-
goria utilitarista (A- os animais como fonte de alimento e remédio, B- os animais do ponto de
vista estético-recreacional, C- usos diversos); 2- Categoria negativista (A- os animais como
risco de perda material, B- os animais como risco à segurança pessoal, C- sentimentos de nojo
e aversão aos animais); 3- Categoria dominadora (A- valorização dos animais em atividades
esportivas); + atitude protecionista; - atitude antiprotecionista.
3.2.3 Valores Ecocêntricos
3.2.3.1 Categoria Ecologista
Os dados do Quadro 5 indicam que a onça-pintada é o animal com maior significado
ecológico para os alunos. Embora outrora alguns alunos tenham se referido principalmente à
beleza ou nocividade das onças, a maior parte dos que as citaram reconheceram seu valor eco-
lógico, expressando uma notável preocupação para com o risco de extinção destes animais,
principalmente na Escola 1, embora também tenha sido o animal mais citado como em risco
de extinção em todas as escolas estudadas. Trata-se de um animal raramente visto, segundo os
alunos: A onça-pintada é muito importante para o equilíbrio florestal(Y
17-1
); Ela está
quase em extinção aqui (X
17-1
); É um ser vivo e precisa de sua sobrevivência como nós
(X
19-2
); “É muito raro se ver uma onça” (X
34-2
); “Nunca mais ouvi falar nelas” (X
15-3
).
Outros animais, lembrados pela importância ecológica e que estão se tornando raros na
região, incluem antas, veados, jacarés, preguiças, tatus, jaguatiricas, macacos, pacas, araras,
papagaios, tamanduás e catitus: No nosso município tem muito pouco tatu(Y18-1); O vea-
do é muito importante para a natureza” (Y
16-1
); “A jaguatirica já está quase extinta em nossa
91
região(Y
20-1
); O jacatem sua função para a natureza(Y
17-3
); O tamanduá era uma
espécie aqui(Y
16-3
); poucas antas na região(Y
16-3
); A anta deve ser protegida por-
que é a comida da onça” (Y
16-3
).
Frías (2006) afirma que a proteção de espécies em risco de extinção fomenta uma
mentalidade onde os danos aos animais que não estejam em risco são aceitáveis, como por
exemplo, favorecer a proteção de baleias em risco de extinção e apoiar situações de maus-
tratos na caça de patos selvagens (exemplos de Frías). São dois pontos de vista que possuem
algumas diferenças. A questão dos maus-tratos com animais é eixo central da valorização
moralista, apresentada posteriormente. Argumentar a favor de espécies em risco de extinção
tem uma explicação ecologicamente aceitável, razão pela qual estes alunos apresentaram cita-
ções classificadas como ecologistas. Contudo, uma coisa não exclui a outra. Nos exemplos de
Frías (2006), existem dois argumentos diferentes para proteger baleias e patos (ecologista e
moralista, respectivamente), e ambos condicionam atitudes favoráveis à proteção dos animais.
Mas, a respeito do argumento ecológico, em Biologia da Conservação, as espécies-
chave são aquelas consideradas importantes para determinar a continuidade de várias espé-
cies, na comunidade (Primack e Rodrigues, 2001). Predadores do topo da cadeia alimentar,
como onças-pintadas e jacarés, são exemplos de espécies-chave. Assim, se de fato estas espé-
cies mencionadas estão se tornando raras na região de Serra do Navio (AP), os efeitos não
somente para aqueles ambientes naturais, mas também para as populações ribeirinhas que
dependem diretamente destes animais, podem ser desastrosos, se não forem consideradas situ-
ações de uso sustentável desta biodiversidade.
Kholer (2005) considera que o interesse e a preocupação em relação às espécies selva-
gens se expressam em esforços para a conservação, participação em clubes e associações con-
servacionistas, práticas e habilidades conservacionistas e respeito a programas de proteção à
natureza (no primeiro instrumento de pesquisa, demonstrou-se que, segundo os alunos, estes
realizaram ações em favor dos animais, pág. 73). Animais como cobras, ratos, sapos, ara-
nhas, formigas, etc., que anteriormente foram fortemente rejeitados, também receberam atri-
buições protecionistas quando seus valores ecológicos foram reconhecidos, e podem ser bene-
ficiadas se os alunos, de fato, demonstrarem maiores tendências a esforços para a conservação
destes e outros animais citados.
Outros registros demonstraram alguns conhecimentos dos alunos sobre o comporta-
mento dos animais: As preguiças são muito patetas(Y
17-3
); É um animal lento que não
consegue se proteger (Y
17-1-sobre as preguiças
); Raposas são animais guardiões da noite
(X
22-1
); É o único mamífero voador(Y
16-1-sobre os morcegos
); É o único pássaro que voa
92
para trás(Y
16-1-sobre os beija-flores
); As aves, em geral, fazem a distribuição de sementes na
mata(Y
20-3)
; O macaco semeia sementes afora(Y
18-3
); São defensores de rios e lagos
(Y
24-3-sobre os jacarés
).
Conhecimentos sobre o comportamento dos animais também fundamentaram atitudes
protecionistas e antiprotecionistas, dos pontos de vista utilitarista e negativista, respectiva-
mente, já que estes saberes também são considerados importantes para a sobrevivência huma-
na. Um exemplo, extraído de Cunha e Almeida (2002, p. 312), ilustra como o simples conhe-
cimento acerca do comportamento de uma espécie está associado à sua visão utilitarista:
Um bom caçador precisa conhecer os animais: seus sons característicos, ras-
tros, hábitos alimentares e, em particular, as árvores que freqüentam para ob-
ter comida, os chamados ‘pés de comida’ ou simplesmente ‘as comidas’, os
locais onde preferem dormir, os hábitos de atividade e inatividade, seus chei-
ros e modos de reprodução. Deve estar atento aos sons emitidos pelos pássa-
ros dentro da floresta, que muitas vezes indicam a direção para onde se des-
locam os animais que procura, e a outros indícios. Precisa conhecer as estra-
tégias usadas pelos animais para escapar à perseguição e estar familiarizado
com a floresta em que transitam: os tipos de vegetação, a topografia, os me-
nores cursos d’água e da hidrografia.
Nos casos ora apresentados, no entanto, não menção a nenhum benefício ou prejuí-
zo direto ao homem, a partir do conhecimento de características comportamentais dos animais
(no âmbito dos valores ecocêntricos). Os alunos favoráveis à proteção de aves e macacos, por
serem estes dispersores de sementes, poderiam sê-lo por razões utilitaristas, uma vez que o
processo de dispersão de sementes também beneficia espécies importantes economicamente
na região, o que não foi mencionado. Em alguns casos, animais como raposas, mesmo sendo
dispersores de sementes, não foram assinalados para a proteção justamente por também se
alimentarem de frutos, sendo potenciais competidores do homem no uso destes recursos.
3.2.3.2 Categoria Moralista
Os alunos demonstraram tendências moralistas para a proteção dos animais quando
mencionaram situações como o abate desnecessário, o cativeiro e o tráfico de animais. Entre
os animais abatidos desnecessariamente na região, foram citadas cutias, jaguatiricas e veados.
93
É provável que a caça insustentável decorra, sobretudo, da comercialização de carne silvestre
em Serra do Navio: “Muitas pessoas caçam as cutias sem ter precisão” (X
32-3
); “Matam mui-
to, quase todo dia as cutias(X
19-2
); A jaguatirica é inofensiva. Muitos matam por nada
(Y
16-1
); “Às vezes atiram nos veados só para diversão” (Y
16-1
).
Quanto ao tráfico de animais e seus produtos, houve destaque para as aves da família
Psittacidae, a qual inclui araras, papagaios e periquitos, tidos como principais alvos de trafi-
cantes. Em todas as três escolas, houve menção ao tráfico destes e outros animais, indicando a
gravidade da situação e a necessidade de intervenções que objetivem deter tal atividade. Men-
ções à venda de ovos e peles de animais silvestres também foram registradas: Tem gente que
pega pra vender os papagaios(X
16-2
); Papagaios estão incluídos no tráfico de animais
(X
19-2
); Existe muito tráfico de macacos para outros países(X
16-1
); Os caçadores matam
muita anta para vender(X
22-1
); Não deixam nascer os filhotes da anta(Y
18-3
); Os ovos
de tartaruga são vendidos, dificultando a reprodução(X
18-1
); Muitos roubam o couro do
jacuraru pra vender(Y
16-1
); O homem mata a onça para tirar o couro(X
30-3
); Matam
para vender os couros da onça-pintada(Y
18-2
); O homem está enriquecendo com o couro
do jacaré” (X
20-1
).
A caça predatória e comercial no Amapá atingiu seu auge nos anos 1960, com os cha-
mados gateiros(Schmidt, 2009). Estes, em geral nordestinos e paraenses, instalaram-se na
Bacia do Jarí e se difundiram especialmente na região da Perimetral Norte, onde foram consi-
derados nativospelos recém-chegados maranhenses (Gallois, 2008). Os gateirosvendi-
am, por exemplo, pele de felinos. A proibição da atividade se deu, possivelmente, com a
aprovação da Lei de Proteção à Fauna, em 1967. Ao que tudo indica, mais de 40 anos após a
referida proibição, as atividades prosseguem, segundo os dados fornecidos pelos alunos
Além do tráfico, a privação dos animais de seus habitats naturais, para fins de domes-
ticação, também pode trazer perdas consideráveis para a biodiversidade local, o que foi repro-
vado pelos alunos cujos discursos se enquadraram nesta categoria. Neste caso, tiveram desta-
que papagaios, araras, periquitos, rouxinóis, curiós e beija-flores. Os únicos animais fora do
grupo das aves que foram citados nesta categoria foram os macacos. Todos estes casos vieram
da Escola 3: Araras, papagaios, são animais que não merecem estar em gaiolas(X
29-3
);
Muitos garotos pegam periquitos para pôr em gaiolas(X
15-3
); É muito grande o número
de curiós presos em gaiolas(Y
20-3
); “O beija-flor é muito bonito, por esse motivo é enjaula-
do(X
19-3
); Os animais são muito especiais para a nossa fauna. Eles não podem acabar
assim, em vendas e em cativeiros. Sem eles a natureza não é nada” (Y
17-3
).
94
Kholer (2005) demonstrou que o moralismo está correlacionado negativamente ao uti-
litarismo, na Alemanha. Isto significa dizer que, quanto maior a visão utilitarista das pessoas
em relação aos animais, menor será sua oposição a ações de maus-tratos. As citações dos alu-
nos, algumas vezes, demonstram isso, que o discurso destes é direcionado a pessoas explo-
ram os animais, seja por meio do tráfico ou por meio da domesticação.
Ao contrário da caça praticada por índios, a caça praticada por “brancos” pertence a
um sistema econômico voltado ao lucro monetário, onde muitas vezes desaparece a solidarie-
dade familiar tradicional (Diegues, 2005), o que leva à depredação dos recursos naturais, co-
mo ilustram os casos relatados pelos alunos, que enfocam a caça predatória, esportiva, tráfico
e, algumas vezes conseqüência desta última, a manutenção de animais em cativeiros. Ressal-
ta-se que, todas estas situações, reprovadas pelos alunos, são também proibidas pela Lei de
Proteção à Fauna (Lei 5197/1967) e Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/1998), como
explanado na Introdução.
3.2.3.3 Categoria Naturalista
Esta categoria está relacionada ao interesse pelas espécies em seus ambientes naturais.
Os animais são considerados seres livres, na natureza, o que está também correlacionado, em
certos aspectos, aos valores moralistas. Macacos e passarinhos foram os que receberam mais
valores naturalistas. No geral, as justificativas dos alunos foram semelhantes, considerando os
animais associados aos ambientes naturais, mas sem menção à importância ecológica das es-
pécies, característica da valorização ecologista dos animais: O papagaio ele é parte do meio
ambiente(Y
28-2
); É necessário proteger o jacaporque ele vive na natureza(X
15-1
); O
passarinho é uma parte da natureza(Y
17-3
); O macaco tem que ser protegido porque é da
natureza” (X
18-2
); “A zebra é bem alegre no seu lar” (X
16-3
).
Para Schwarz (2010), os valores naturalistas indicam que os jovens têm interesse na
biodiversidade existente em seu espaço, o que pode ser aproveitado em tarefas de gestão, on-
de é possível valorizar a contribuição de crianças e adolescentes em atividades de monitora-
mento destas regiões. Ao contrário de parte dos alunos favoráveis à proteção de onças-
pintadas e araras, por razões principalmente estéticas, os valores naturalistas, usados como
importantes critérios para a proteção dos animais, abre precedentes para que outros animais
também sejam protegidos, uma vez que atendem a este critério, desde que aspectos estéticos
não sejam mais enfatizados. É preciso ressaltar que, neste cenário, o homem também deve ser
considerado integrante da natureza.
95
A Figura 4 sintetiza as relações entre a valorização ecocêntrica dos animais e as atitu-
des de proteção dos alunos. Neste caso, observa-se que todas as vezes que os alunos expressa-
ram valores compatíveis com as categorias ecocêntricas, também expressaram atitudes a favor
da proteção das espécies (atitudes protecionistas). Ressalta-se que a demonstração de conhe-
cimentos sobre a ecologia e o comportamento dos animais, não é fundamentada por razões
antropocêntricas, neste caso, não havendo demonstração de benefícios diretos ou indiretos em
decorrência destes conhecimentos.
Figura 4: Relação entre valores ecocêntricos de animais e atitudes de proteção. 1- Categoria
ecologista (A- preocupação para com o risco de extinção dos animais, B- conhecimentos so-
bre a ecologia dos animais, C- conhecimentos sobre o comportamento dos animais); 2- Cate-
goria moralista (A- oposição ao abate desnecessário de animais, B- oposição ao tráfico de
animais, C- oposição à manutenção de animais em cativeiros); 3- Categoria naturalista (A-
valorização dos animais em seus ambientes naturais); + atitude protecionista; - atitude anti-
protecionista.
3.2.4 Sentidos da Educação Ambiental
A partir dos valores atribuídos aos animais pelos alunos de Serra do Navio, foi pos-
sível elaborar uma ferramenta que pode auxiliar em intervenções para Educação Ambiental.
Esta ferramenta, chamada aqui de “Diagrama de Valorização Prioritária (DVP)”, pode ser de
dois tipos principais: Ideal (DVPI) e Real (DVPR). O primeiro caso nada mais é do que a va-
lorização recomendada. O segundo caso, por seu turno, refere-se a valorização que existe, no
contexto estudado. O confronto DVPI x DVPR permite saber qual o sentido que a Educação
96
Ambiental deve assumir para reconfigurar o sistema de valorização dos animais na população
estudada.
No que se refere à valorização recomendada, o DVPI formulado tem a seguinte confi-
guração (Figura 5):
a) Valores negativistas são representados externamente ao diagrama, o que significa di-
zer que o ideal é que sejam minimizados ou abolidos, pois sempre foram de encontro à
proteção das espécies;
b) Embora os valores da categoria dominadora possam ser importantes ferramentas à
conservação das espécies, este tipo de valor não parece ser muito significativo para os
alunos e, ao que tudo indica, possui valor conservacionista inferior a todos os demais
valores (depois dos valores negativistas);
c) Valores utilitaristas aparecem como prioritários em relação aos anteriores, mas como
menos prioritários em relação aos demais (moralista, naturalista, ecologista), que
condicionam a proteção de uma ampla variedade de animais considerados úteis ao
homem, mas podem excluir os casos onde os animais não possuem utilidade aparente;
d) Valores moralistas e naturalistas são prioritários em relação aos utilitaristas, que
também incluem a possibilidade de esforços para a proteção de espécies sem valores
utilitaristas. A categoria naturalista parece ser mais abrangente que a moralista, pela
sua própria visão mais holista da natureza. No entanto, valores naturalistas, por vezes,
podem ser mesclados com valores estéticos, aproximando-se da filosofia antropocên-
trica. A presença de uma cachoeira num ambiente natural, por exemplo, pode torná-lo
mais valorizado (Schwarz et al., 2008), sendo inclusive priorizado em relação a outros
ambientes, em medidas protecionistas;
e) Por fim, a categoria ecologista é a que mais se correlaciona a atitudes de proteção dos
animais, já que valoriza as funções ecológicas de cada espécie e, sabendo que todas as
espécies participam de um complexo ecológico do qual são peças importantes, a
abrangência protecionista desta categoria tende a se estender a todos os seres vivos.
No DVPI, os valores ecologistas aparecem como prioritários em relação a todos os
demais valores;
97
Figura 5: Diagrama de Valorização Prioritária Ideal (DVPI) dos animais para Serra do Navio
(AP): EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria moralista); UT
(categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
98
No âmbito da valorização real, alguns dos dados mais representativos serviram de
base para a elaboração do DVPR. Nestas mesmas representações (Figuras 6, 7, 8, 9 e 10),
usadas como exemplos, incluem-se os sentidos da Educação Ambiental, na ampliação de va-
lores, de forma a atingir uma configuração mais próxima do idealizado no DVPI, apresentado
na Figura 5. Em linhas gerais, as principais indicações destes diagramas quanto ao sentido da
Educação Ambiental são:
a) Minimizar a valorização utilitarista das araras e ampliar a valorização naturalista e
ecologista (Figura 6);
b) Minimizar a valorização utilitarista de macacos e ampliar a valorização ecologista e
moralista. A valorização negativista, como tende a gerar atitudes antiprotecionistas, é
direcionada para fora do sistema de valorização (Figura 7);
c) Minimizar a valorização utilitarista dos peixes e ampliar a valorização naturalista e
ecologista. Valores negativistas e dominadores, não mencionados neste caso, perma-
necem nesta situação (Figura 8):
d) Minimizar a valorização utilitarista da onça-pintada e ampliar a valorização moralista.
Direcionar para fora deste sistema os valores negativistas e incorporar a valorização
naturalista, não considerada pelos alunos (Figura 9);
e) No caso das cobras, grupo com maiores atribuições negativistas, medidas de proteção
requerem que este tipo de valor seja minimizado e, por fim, eliminado, enquanto são
ampliadas as valorização ecologista e moralista e incorporada a valorização naturalista
(Figura 10);
99
Figura 6: Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) das araras e sentidos da Educa-
ção Ambiental: EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria moralis-
ta); UT (categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
100
Figura 7: Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) dos macacos e sentidos da Edu-
cação Ambienta: EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria mora-
lista); UT (categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
101
Figura 8: Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) dos peixes e sentidos da Educa-
ção Ambiental: EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria moralis-
ta); UT (categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
102
Figura 9: Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) da onça-pintada e sentidos da
Educação Ambiental: EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria
moralista); UT (categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
103
Figura 10: Diagrama de Valorização Prioritária Real (DVPR) das cobras e sentidos da Edu-
cação Ambiental : EC (categoria ecologista); NA (categoria naturalista); MO (categoria mora-
lista); UT (categoria utilitarista); DO (categoria dominadora); NE (categoria negativista).
104
Intervenções como estas podem ser pertinentes também nas primeiras etapas da
Educação Básica, que a notável valorização antropocêntrica dos animais, no Ensino Médio
de Serra do Navio, permite inferir a carência de esforços que visem à formação de valores
ecocêntricos em etapas anteriores da Educação Básica e que poderiam trazer grandes contri-
buições à proteção da fauna local, sobretudo no contexto de uma Área Protegida. Embora se
saiba que a solução para muitos problemas ambientais não sejam apenas técnicas, mas éticas,
como já alardeava Garett Hardin, na década de 1960 (Frías, 2006), é preciso reconhecer que a
Ética, por si só, não tem a pretensão de solucionar todos os problemas atrelados à atual crise
ecológica, mas surge como uma ferramenta que, dada sua dimensão dialógica, cria pontos de
reflexão em torno de valores vigentes e a possibilidade de construção de novos valores, que
contenham a crescente e irreparável perda de biodiversidade.
105
4. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Esta dissertação foi elaborada tendo como intenção a verificação das hipóteses previ-
amente levantadas. Portanto, tendo em vista estas hipóteses e os principais achados apresenta-
dos anteriormente, conclui-se que:
Apresentados aos alunos itens formulados a partir de argumentos antropocêntricos, eco-
cêntricos e de Apatia Ambiental, estes tenderam a concordar mais com os itens ecocêntricos,
havendo esporádicas diferenças por escola (itens 4, 5, 12, 13 e 17,), gênero (itens 8, 9, 11, 12,
15) e séries de estudo dos alunos (itens 3, 18, 20). Sendo assim, a hipótese de que os alunos
concordariam mais com os itens antropocêntricos foi rejeitada.
Os alunos citaram 123 animais, cujos valores prioritários foram predominantemente
antropocêntricos. Valores utilitaristas (antropocêntricos) e ecologistas (ecocêntricos) se so-
bressaíram em relação aos demais. Assim, mais indicativos que apontam para a corrobora-
ção da hipótese de que os animais possuem mais significado antropocêntrico para os alunos,
que como a maioria destes não conseguiu estabelecer conexões ecossistêmicas com os ani-
mais citados em isolado, concedendo-lhes valores instrumentalistas. Este momento da pesqui-
sa esteve centrado na relação entre os valores e as opiniões dos alunos em relação à proteção
dos animais. No primeiro instrumento de pesquisa (item 11), verificou-se que a maioria esteve
de acordo com a idéia de que os animais deveriam ser protegidos principalmente para a so-
brevivência humana, daí a discrepância entre a predominância do pensamento ecocêntrico no
primeiro instrumento de pesquisa e do pensamento antropocêntrico no segundo. Além disso,
observou-se que os alunos endossam tanto argumentos antropocêntricos quanto ecocêntricos,
simultaneamente.
Dentre as categorias de Kellert (1996), apenas a negativista esteve fortemente relaciona-
da a atitudes antiprotecionistas, visto que todos que atribuíram valores negativos aos animais
foram contrários à sua proteção, o que não ocorreu nas demais categorias de valores. Portanto,
no âmbito do público estudado, a hipótese de que o reconhecimento de valores antropocêntri-
cos dos animais condiciona atitudes antiprotecionistas em relação a estas espécies não é váli-
da, salvaguardada esta exceção.
106
Estudos futuros poderão contribuir grandemente ao melhor entendimento dos sistemas
de valorização dos animais na região estudada. As observações feitas ao longo desta pesquisa
permitiram as seguintes indicações de estudos:
Sugere-se que os próximos trabalhos com esta temática aprofundem as atitudes antropo-
cêntricas e ecocêntricas em relação a grupos específicos de animais de Serra do Navio, espe-
cialmente aqueles com maior significado negativo para parcela destas populações, como as
onças, cobras, sapos e outros anfíbios, aracnídeos, insetos, morcegos, gaviões, jacurarus e
outros. Os estudos podem enfocar também os valores atribuídos a níveis cada vez mais abran-
gentes da natureza. Por exemplo, poder-se-ia comparar a valorização dos ovos de camaleões e
direcionar os estudos a níveis cada vez mais abrangentes (ovos de camaleões, camaleões, rép-
teis, animais, seres vivos, ecossistemas, biomas, etc.), afim de checar se a valorização antro-
pocêntrica é realmente mais forte nos níveis menores.
É relevante também que outros grupos de interesse sejam estudados, dentro e fora do
contexto educacional, incluindo também ribeirinhos, caçadores e outros grupos locais, em
cada uma das muitas comunidades rurais de Serra do Navio, as quais representam um amplo
campo de estudo a ser explorado.
Além das populações locais, profissionais ligados ao PNMT também podem ser con-
templados, quem sabe comparando atitudes antropocêntricas e ecocêntricas entre estes e os
membros de conselhos gestores. Aprofundar a questão da percepção dos moradores do entor-
no em relação ao parque e seus funcionários também pode ser sugerido.
Atitudes em relação à flora também devem ser consideradas em estudos posteriores,
visto que a forma como as pessoas percebem e agem em relação às matas também traz interfe-
rências à fauna e vice-versa.
Por fim, são necessários trabalhos aplicados, em Educação Ambiental, com propostas
que objetivem a mudança de racionalidade, no sentido de sensibilizarem as pessoas quanto à
possibilidade de que, toda e qualquer espécie, mesmo a mais “insignificante” das gramíneas,
representa potenciais utilidades ao homem (Mill, 1882) e que, de preferência, permitam-nas
descobrir na fauna local valores que extrapolem os limites do pensamento utilitarista.
107
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118
APÊNDICES
119
APÊNDICE 1: Modelo de questionário de pesquisa adaptado de Thompson e Barton (1994)
DADOS PESSOAIS
Escola: Série: Turma:
Nome: Idade: Gênero: ( ) M ( ) F
Comunidade onde mora:
Naturalidade (onde nasceu?): Ocupação:
Tempo que mora na região:
( )Menos de 1 ano ( )Entre 1 e 5 anos ( )Entre 5 e 10 anos ( )Mais de 10 anos
Religião: É praticante?: ( ) Sim ( ) Não
Fonte de renda familiar (considerar o responsável pela família):
1 – Problemas ambientais, como a extinção dos animais, têm sido exagerados por ambienta-
listas.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 – Os ambientalistas são pessimistas.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 – Não me interesso por questões ambientais.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
120
4– Não vejo necessidade para a criação do Parque Montanhas do Tumucumaque.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 – Importância exagerada tem sido dada à proteção dos animais.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6- O problema da extinção dos animais será resolvido sozinho, com o tempo.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7- As pessoas podem sobreviver sem precisar da natureza.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8 - A derrubada descontrolada da floresta é ruim principalmente porque diminui a quantidade
de madeira, caça, alimentos e remédios ao homem.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
121
9– Se for para a sua sobrevivência, não importa que o homem cace, mesmo que a quantidade
de animais diminua.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10 – Rios e igarapés limpos são importantes principalmente por que as pessoas precisam de
um bom lugar pra tomar banho, se divertir.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
11- Os animais devem ser protegidos principalmente porque são importantes para a sobrevi-
vência do homem.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
12- Deus criou a natureza para servir o homem e lhe deu o direito de usar e dominar os ani-
mais.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
13- O homem não tem culpa se, hoje em dia, os animais estão desaparecendo cada vez mais.
Isso é natural.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
122
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
14- É uma grande preocupação o fato de que, com o desaparecimento dos animais de caça as
gerações futuras não terão mais esse recurso.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
15– O aumento da população humana pode trazer riscos aos animais da região.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
16– Estar em contato com as florestas, rios, enfim, com a natureza, me deixa mais feliz.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
17- Eu me incomodo ao perceber que os animais, como a onça-pintada, estão desaparecendo,
aos poucos.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
18- Eu prefiro os animais protegidos soltos na floresta do em gaiolas e jaulas.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
123
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
19 - Às vezes, os animais são como seres humanos para mim.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
20– O homem faz parte da natureza assim como os animais (aranhas, formigas, cobras, embu-
ás, etc.) e as plantas (como o carrapicho, a urtiga, etc.).
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21- Eu faço ou já fiz alguma coisa para a proteção de animais, mesmo que isso não trouxesse
benefício direto pra mim.
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo
( ) Não sei
( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
124
APÊNDICE 2: Questionário da segunda etapa da pesquisa
Animal
Este animal deve ser protegi-
do?
Por quê?
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
Sim ( ) Não ( )
125
APÊNDICE 3: Modelo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto: Paradigmas Antropocêntrico e Ecocêntrico de Proteção da Fauna no Ensino
Médio de Serra do Navio (AP)
Pesquisador: David Figueiredo de Almeida (RG: XXXXXX
1
; CPF: XXXXXXXXX-XX¹).
Instituição: Universidade Federal do Amapá (Programa de Pós-graduação em Biodiversidade
Tropical/PPGBio).
Telefones para contato: (96) XXXXXXXX¹ (96) XXXXXXXX¹ (96) 33121757 (PPG-
Bio).
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO VOLUNTÁRIO
Nome do voluntário: ...................................................................................................................
Idade: ......................................................... R.G.: .........................................................
Responsável legal (quando for o caso): ...............................................................................
R.G. Responsável legal: .........................................................
O Sr. (ª) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima identifica-
do, de responsabilidade do pesquisador de David Figueiredo de Almeida.
O objetivo deste projeto é conhecer atitudes antropocêntricas e ecocêntricas em rela-
ção à fauna entre alunos de ensino médio de Serra do Navio (AP). Com os dados gerados por
esta pesquisa, pretendo contribuir a programas de Educação Ambiental nestas escolas, direci-
onados à proteção da fauna regional, além de fornecer dados que poderão ser usados em pro-
gramas de capacitação discente e docente no ensino médio, programas estes a serem previstos
pelo Plano de Manejo do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, em fase de conclu-
são. Os benefícios trazidos à comunidade escolar estarão atrelados à maior facilidade de con-
textualização do ensino secundário à biota regional, minimizando alguns conflitos entre ho-
mem-fauna, a partir da socialização dos valores ecológicos dos mais diversos animais, além
de representar uma contribuição relevante no cenário científico local, com o conhecimento
destas visões paradigmáticas. Sua participação neste trabalho é voluntária, ocorrendo através
do preenchimento de questionários, sendo assegurada sua confidencialidade e privacidade,
mediante a não divulgação dos nomes dos participantes. deste modo, possibilidade de in-
denização por parte do pesquisador caso esses direitos sejam violados. Haverá ainda certifica-
ção de participação na pesquisa.
1
Dados pessoais omitidos, mas originalmente presentes no TCLE
126
Eu................................................................................................................,RG............................
............. declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de
pesquisa acima descrito.
Ou
Eu,........................................................................................................,RG...................................
responsável legal por ............................................................................................................, RG
.......................................................... declaro ter sido informado e concordo com a sua partici-
pação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito.
Serra do Navio, ...............de ...............de ...............
....................................................................................................................
Assinatura do voluntário ou seu responsável legal
.
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Nome e assinatura do responsável por obter o consentimento
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Testemunha 1
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Testemunha 2
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