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dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
Aluna: Milena Szafir [[email protected]] | Orientação: Esther I. Hamburger [ECA-USP]
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES
MILENA SZAFIR
RETÓRICAS AUDIOVISUAIS
(O FILME TROPA DE ELITE NA CULTURA EM REDE)
SÃO PAULO
2010
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dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
Aluna: Milena Szafir [[email protected]] | Orientação: Esther I. Hamburger [ECA-USP]
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Nome: SZAFIR, Milena
Título: Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)
Dissertação apresentada à
Escola de Comunicação e Artes
da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Comunicação
Área de Concentração:
Estudo dos Meios e
da Produção Midiática
Orientadora: Profª. Drª.
Esther Império Hamburger
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. _______________________________Instituição: ______________
Julgamento: _____________________ Assinatura: ______________________
Prof. Dr. _______________________________Instituição: ______________
Julgamento: _____________________ Assinatura: ______________________
Prof. Dr. _______________________________Instituição: ______________
Julgamento: _____________________ Assinatura: ______________________
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RESUMO
Esta dissertação analisa o filme Tropa de Elite como fio condutor de uma discussão sobre sua
repercussão reverberação – em algumas mídias tradicionais e, principalmente, em rede online. O
objetivo principal desta pesquisa é demonstrar escrita e audiovisualmente uma análise além-fílmica
proposta, como base de um possível sistema metodológico metalinguístico, onde os códigos
culturais ao serem pesquisados, decupados e então reapropriados formam uma representação
interpretativa em que notações e registros, bases dos valores significativos, são reorganizados a
partir das relações de elementos internos e externos à obra percebendo-os, portanto, como
elementos em rede. Percebemos desta maneira que a prática da pesquisa acadêmica, de uma forma
muito sintetizada, pode ser conceitualizada a partir de uma prática comum ao audiovisual: o remix.
Pesquisamos autores, periódicos, imagens, dados offline e online, os analisamos remixando-os e
atribuindo-lhes um “novo” valor, tese. E assim, nos interrogamos se as Retóricas Audiovisuais em
rede implicam a um consumo entre o espetáculo e a vigilância ou ao discurso de verdade implícito
numa estética de realidade? A partir de uma perspectiva crítica, percebe-se claramente um
enfrentamento com “o banco de dados” em rede, onde o anseio por uma possível metodologia de
criação organizativa desta prática de remix audiovisual online para fins acadêmicos, apresenta-se
uma ferramenta-projeto – “YouToRemix-YouTubeMix” (Apêndice I/IV) que foi sendo desenhada
conjuntamente a esta pesquisa de mestrado para futuro desenvolvimento.
Para tanto, é aqui entregue no final deste texto de dissertação um anexo e quatro apêndices,
pertinente material complementar à pesquisa aqui apresentada.
Palavras-chave: 1. Tropa de Elite | 2. Remix | 3. Rede | 4. YouTube | 5. Foucault
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ABSTRACT
This research analyzes the movie Elite Squad as a lead discussion about its reverberation in some
traditional media and mainly the Internet. Our main goal is to demonstrate a beyond movie
analysis, by an audiovisual and written form as a new metalanguage methodological system where
cultural codes researched, broken down for consideration of constituent parts and then
reappropriate creating an interpretative representation in which records and notes are as the
bottommost layer of significant value are reorganized from relations between external and inner
elements of this movie, therefore we can realize them as networked components. Hence, we
understand the academic research practice as an audiovisual common practice: the remix (or mash
up). We research authors, journals, images and we analyze this on line and off line data to remix
them generating a new value, the thesis. Thus, we ask ourselves: does the networked Audiovisual
Rhetoric implicate a consumption between surveillance and spectacle or it is necessarily
circumstance to the implied true discourse (Foucault's "Discourse on Language", 1970) in an
aesthetic reality? From a critical and creative perspective we’ve cleared noticed the struggle with
the network database, where the anxiety for a possible organized creation methodology of this
online audiovisual remix practice for academic means, presents a tool-project “YouToRemix-
YouTubeMix” (Appendix I/IV) which has been designed together with this research for masters
degree for future development.
Consequently we deliver with this dissertation four appendixes and one attachment regarding the
complimentary material to the research here presented.
Keywords: 1. Online Audiovisual | 2. Mash up | 3. Network | 4. Database | 5. Surveillance
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Dedico mais este trabalho aos meus pais, Raquel e Rubin,
com amor, admiração e gratidão pela sempre enorme
compreensão, carinho, presença e incansável apoio ao longo
do período de elaboração de mais esta fase de minha vida.
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AGRADECIMENTOS
À Mariana Kadlec, que em todos estes anos de convivência e amor, muito tem me
ensinado, contribuindo para meu crescimento científico, intelectual e como ser humano;
ao meu irmão, Silvio, pelos incontáveis conselhos a uma vida acadêmica recheada de
experiências e por me apoiar, acompanhar e ensinar continuamente;
à Profª. Drª. Esther Hamburger, pela infinita força, atenção e sempre apoio durante todo o
processo de definição e orientação;
a todos aqueles, professores e funcionários, da Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo, pela oportunidade de realização do curso de mestrado neste
ambiente e por colocar à minha disposição a área experimental também de docência;
à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –, pela
concessão da bolsa de mestrado e pelo apoio financeiro para que eu pudesse me focar
100% na realização desta pesquisa junto a academia;
e, por fim, a todos aqueles que, de alguma maneira direta ou indireta em espaços físicos-
presenciais ou virtuais, contribuíram enormemente para o enriquecimento deste trabalho.
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SUMÁRIO
1. Resumo …........................................................................................... 03
2. Listagem Apêndices e Anexos ............................................................ 08
3. Introdução …....................................................................................... 09
4. Da lógica da vigilância à biopolítica ….............................................. 39
5. Modus Operandi I:
Tropa de Elite em rede (reverberação) ….....................................................56
6. Modus Operandi II:
Foucault em Tropa de Elite (afunilamento) …..............................................79
7. Modus Operandi III:
As Retóricas Audiovisuais ….........................................................................98
7.1. Artesanato digital: método de trabalho ….................................100
7.2. O ato de aprender, de escrever e o ato de citar …......................102
7.3. A(s) escrita(s) audiovisual(is) …...............................................104
7.4. Dos vídeos online …..................................................................112
7.5. Da escolha do YouTube como biblioteca audiovisual online …113
8. Breve explicação sobre o Sistema de Buscas Online …......................118
9. Por um sistema de registro e remix online …......................................123
10. Conclusão …........................................................................................127
11. Referências bibliográficas e webgráficas …........................................134
12. APÊNDICES
13. ANEXOS
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Lista de Apêndices e Anexo:
I/IV >> “YouToRemix: the online audiovisual quotting live remix application project
II/IV >> Decupagem do filme “Tropa de Elite”
III/IV >> Transcrição do debate no CEU Casablanca (outubro de 2008)
IV/IV >> “Witness#2: Surveillance Wireless Vj'ing Performance (versão#01)”
Anexo >> Trechos dos textos (materiais) encontrados nas buscas online
“What does it mean that our attention is being guided by database systems? Is
searching really more important than finding? Why has searchability become
such an essential organising principle? Why is our personal relationship to the
relational database being pushed? Who will show us around and tell us which
keywords will find us something interesting? And are we really in dialogue with
the Machine? Cultural awareness of how the algorithms work is still a long way
off. Are the answers to our questions really democratically determined by users,
as is often suggested, or are there editors in the background recommending the
‘most popular videos’?”, The art of Watching databases
1
A maioria dos links aqui apresentados, no decorrer da
dissertação, foram (re)visitados em maio e junho de 2010.
1 LOVINK (2008)
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3. Introdução
Acho que a maioria dos brasileiros entende esse filme. A população
brasileira gostou e ele agora ganhou um prêmio de um júri presidido
pelo [cineasta grego Constantin] Costa-Gavras. Eu não poderia estar
mais feliz. Costa-Gavras é considerado no universo do cinema como
um mestre no gênero do thriller político. ”
2
O projeto dessa pesquisa visa uma retórica audiovisual sobre o filme Tropa de Elite. Mas uma
escrita que dialogue e/ou se baseie em “fatos reais”, tal qual a proposta desta ficção-
cinematográfica se espalhou dentre o público, desde brasileiro quanto internacional. “Fatos reais”
em seu significado além cinematográfico implícito, mas também no que concerne uma experiência
online de buscas e vivência. Atento para o fato de que tento manter o foco no que foi publicado no
Brasil, ou melhor dizendo, somente em português. Por dois motivos:
1. a partir do funcionamento da atual principal ferramenta de buscas como a Google
3
[em
parceiria com demais empresas e sites como Yahoo!, Amazon.com, Answers.com, Creative
Commons, Delicious, eBay, Wikipedia que transparecem no brownser da Mozilla, Firefox]
versus o recente Bing [sistema de buscas online da Microsoft];
2. Concentrando-me em questões de linguagem, Cool & Hot (como apontadas por McLuhan
em 1969
4
), no papel de existentes “discursos de verdade” (Foucault) assim como numa
identificação sobre os aparelhos (pais ou filhos do sistema?), conforme apontado pelo
tcheco-brasileiro Flusser, para uma compreensão básica do diálogo hoje estabelecido em
rede: tanto no meio intelectual quanto nas derivações cotidianas das plataformas de
2 Padilha em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo de 17.fevereiro.2008. Acesso para assinantes UOL ou FSP.
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1702200837.htm)
3 Ver capítulo referente nesta dissertação
4 Ver bibliografia no final desta dissertação; em especial a introdução dada à terceira versão em inglês (tradução de
Décio Pignatari).
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relacionamento que também se reapropriam da própria música-linguagem funk (oriunda dos
morros cariocas) com a qual Tropa de Elite é iniciado.
Com estas premissas, chegamos a um modelo de arquivamento da história (memória da
humanidade) que está em curso: como funcionaria funciona esta estrutura sócio-econômica-
cultural? Mas sem tempo hábil para esta questão numa pesquisa de mestrado, não me adentrarei a
ela, que poderia ser então um terceiro motivo.
Um aprofundamento em Foucault se faz necessário para compreensão do jogo diegético que se
durante todo o filme e que se apresenta como ponto de intersecção entre uma rede em discussão
pré-filme, pela qual foi posteriormente criticado. Interessa-me, portanto, compreender a partir dos
estudos de Foucault
5
o atual contexto desta realidade brasileira representada em imagens e a
utilização de um discurso foucaultiano (normatização-leis, disciplina-instituições, controle-
circulação) neste filme. Em “Vigiar e Punir”
6
, Foucault estabelece quatro regras de estudo-análise,
uma “genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder de punir se apóia”:
1. Recolocação dos mecanismos punitivos numa função social complexa;
2. Apresentação do métodos punitivos como técnicas, tática política;
3. História da “Tecnologia do Poder”;
4. “Relações de Poder” e o “Saber Científico”.
“Ora, o estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma
propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma
'apropriação', mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele
antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que
5 Ver também o artigo “Witness#2: Surveillance Wireless Vj'ing Performance” (Apêndice IV/V).
6 Publicado pela primeira vez em 1975, Editions Gallimard
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lhe seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou a conquista que
se apodera de um domínio. Temos em suma que admitir que esse poder se exerce mais que se possui, que
não é o "privilégio" adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas
posições estratégicas - efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados. Esse
poder, por outro lado, o se aplica pura e simplesmente como uma obrigação ou uma proibição, aos que
"não têm"; ele os investe, passa por eles e através deles; apóia-se neles, do mesmo modo que eles, em sua
luta contra esse poder, apóiam-se por sua vez nos pontos em que ele os alcança. O que significa que essas
relações aprofundam-se dentro da sociedade, que não se localizam nas relações do Estado com os cidadãos
ou na fronteira das classes e que não se contentam em reproduzir ao nível dos indivíduos, dos corpos, dos
gestos e dos comportamentos, a forma geral da lei ou do governo; que secontinuidade (realmente elas se
articulam bem, nessa forma, de acordo com toda uma série de complexas engrenagens), não analogia
nem homologia, mas especificidade do mecanismo e de modalidade. Finalmente, não são unívocas; definem
inúmeros pontos de luta, focos de instabilidade comportando cada um seus riscos de conflito, de lutas e de
inversão pelo menos transitória da relação de forças. A derrubada desses "micropoderes" o obedece
portanto à lei do tudo ou nada; ele não é adquirido de uma vez por todas por um novo controle dos
aparelhos nem por um novo funcionamento ou uma destruição das instituições; em compensação nenhum de
seus episódios localizados pode ser inscrito na história senão pêlos efeitos por ele induzidos em toda a rede
em que se encontra.”
7
“Fatos reais” tornam-se, no caso de Tropa de Elite, uma nomenclatura que se estende à realidade
encontrada online e aqui muitas vezes transcrita para além de uma singular percepção analítica de
obras cinematográficas e audiovisuais. Ou seja, uma espécie de plot point projetual daquilo que se
configurava como meu projeto original
8
, onde as premissas 'homem-máquina' (embasado por F.
Guatari e E.T.A. Hoffman, entre outros) e sistemas de identificação relacionavam-se a uma segunda
7 Foucault. Vigiar e Punir (vide bibliografia)
8 Com o qual ingressei ao curso de mestrado (tendo como objetos de análise, e de reverberação junto à “realidade”
sócio-tecnológica e cultural, obras cinematográficas baseadas na literatura de Phillip K. Dick).
Para mais detalhes, um trecho do projeto encontra-se ainda hoje (maio/2010) online:
http://netart.iv.org.br/portal/Members/szafir/trecho_do_projSZAFIR_mestrado_publicacao_online.pdf
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hipótese com respeito aos psicotrópicos como tecnologias de disciplina (conceito gerado-
estabelecido, a partir de Bentham e Foucault). As drogas legalizadas (remédios psiquiátricos) com
um forte poder civilizatório e de controle a partir de premissas ideológicas sobre um ser humano
biopolítico, onde as tecnologias de comunicação estão cada vez mais atreladas a ditames não
somente psicológicos mas também bio-neurológicos de percepção e atuação na realidade cotidiana.
Estas drogas de controle sócio-neurológico podem ser então percebidas como a tecnologia de ponta
à manutenção do homem-máquina ao longo do século XX e início do XXI, em constante fluxo
rizomático cada vez mais presentes em representações audiovisuais (obras cinematográficas,
filmes), como por exemplo na obra-cinematográfica A Scanner Darkly, de Richard Linklater em
2006 (baseada em livro homônimo de K. Dick, de 1977)
9
. Ao voltar-me para a produção nacional
(brasileira), qual a relação de fluxo deste material em obras que se multidialogam em um chamado
“cinema de retomada”
10
no Brasil?
“a droga, como objeto claro e definido, nunca existiu, constituindo-se, isto sim, como conceito moral. ... uma
perspectiva que vê a droga como dispositivo (FOUCAULT, 2001), ou seja, como uma máquina invisível que se
mostra no encontro com o poder, no que este diz ou faz dizer e calar e nos seus efeitos, articulando saber e
poder. ... Em “Tropa de Elite”, somos apresentados a discursos policiais que apontam as pessoas que usam
drogas como responsáveis pela guerra entre policiais honestos e seus inimigos, estejam estes no tráfico ou
dentro da própria polícia. ... Com as condições de emergência amadurecidas, o ciclo se fecha e o extermínio
torna-se autorizado, numa profecia que se auto-realiza e que não impressiona mais ninguém. ... morremos cada
vez mais de bala, e cada vez menos de vício.”, Denis Petuco (artigo sobre saúde mental e estatutos de
verdade)
11
9 Um dos objetos de estudo para análise em meu projeto original para ingresso no mestrado.
10 Por “cinema de retomada” compreende-se o período de 1995 até os dias atuais (mudanças em leis de incentivo e
apoio ao audiovisual atreladas às políticas governamentais no Brasil deste período de virada de século)
11 http://www.denispetuco.com.br/09.pdf
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Assim, ao falar de “Tropa de Elite”, primeiro longa ficcional do diretor José Padilha (2007)
12
,
iremos fugir do Modernismo, para quem a “novidade” era tão importante. Aqui não se trata de
originalidade, todos os caminhos propostos para debate na diegese fílmica foram ditos e
compartilhados na internet, nem sempre havendo comunicação – LINKentre eles, e muitas vezes
suas existências estarem asseguradas online pelo Google (sistema de buscas e mesma empresa que
gere e disponibliza o YouTube). Assim que não adentrarei a uma “Análise do Discurso”, a um jogo
de imagens no filme, embora algumas linhas caracterizem-se por pensar a diegese fílmica e é desta
maneira que se deu a escolha de “Foucault” (como uma possível TAG) junto às buscas online.
Foucault, portanto, configurou-se como uma peneira no mar de Google. Tomemos a rede online
como um arquivo voluntário imagético e textual, em particular a plataforma de relacionamento
videográfico YouTube e a ferramenta de busca Google como expoentes
13
de uma memória
audiovisual em curso online e em crescente popularização passível de utilização-citação aos
moldes deste projeto de pesquisa.
Os trechos aqui apresentados (e outros mais no Anexo ao final do presente volume) de maneira
alguma refletem uma posição de concordância nestas escritas por parte desta pesquisadora que vos
fala, mas tentam – de forma geral – explicitar e apresentar os diferentes posicionamentos e
contextos abarcados por uma gama enorme de mídias formais (jornais, por exemplo), mídias
voluntárias (blogueiros usuários não-comerciais assim como comentários acrescidos, por exemplo)
e artigos acadêmicos online (conectados a importantes congressos e demais revistas intelectuais) a
partir de uma perspectiva crítica.
12 o filme estreou no Rio de Janeiro e São Paulo no dia 05 de outubro de 2007 (e no dia 12 nos demais estados)
13 De acordo com a comScore “Cada usuário assiste em média 81 vídeos por mês na Internet, onde pouco mais de 100
milhões acessaram o Youtube em janeiro de 2009”. em agosto de 2006, a plataforma se apresentava como um
femeno online: “diariamente 65 mil vídeos eram postados e 100 milhões exibidos somente no Youtube, o que
representava 42,2% dos vídeos assistidos na internet”
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Assim, este projeto de pesquisa pretende-se representar pela relação de pensamento que se estende
da escrita à realização audiovisual-multimidiática a partir de uma metodologia de análise fílmica
comparativa e em rede, onde o resultado final da presente análise é produzido tanto no formato de
escrita-verbal quanto audiovisual (este último é um trabalho que acompanha essa dissertação), p ois,
de acordo com Merleau-Ponty, “o filósofo e o cineasta compartem uma certa maneira de ser, uma
certa visão de mundo própria de uma geração”
14
e Stam conclui: “Antecipando Deleuze, Merleau-
Ponty via cinema e filosofia como formas cognatas de trabalho intelectual ... [a] experiência
cinematográfica como uma experiência mediada de ser-no-mundo” (grifos meus). Talvez a
denominação 'cineasta' possa ser traduzida atualmente para 'realizador audiovisual' e
'cinematográfica' complementada por 'multimidiática'. Além do mais, tal processo de remix será
aqui estendido do audiovisual, partindo da web, para esta escrita que segue, recheada também de
colagens
15
. Importante notar que nem sempre me detive a nomes, a maioria das citações aqui
derivam-se de blogs, fóruns, chats ou mesmo textos acadêmicos encontrados disponíveis na internet
a partir das TAGs “tropa de elite” e “foucault” junto ao sistema de buscas da Google; o que lhes
será atribuído na maior parte das vezes, portanto, serão respectivos links (urls) de onde foram
retiradas. Deixo claro, ainda, que alguns autores serão nominados, muitas vezes por estarem ligados
à mídia tradicional, revistas e jornais, além de congressos, reconhecidos por uma “classe média
intelectual”, enquanto outros serão determinados como “anônimos” (especificando somente a data
e/ou o título do material online), embora sempre aqui estejam passíveis de serem (re)encontrados
em seu formato original via urls fornecidas junto às notas de rodapé (footnotes). Pelo extenso
material aqui inserido, nem todos serão novamente listados em “referências webgráficas”.
Para continuarmos, indica-se assistir primeiro à “Retóricas Audiovisuais#01 parte05”
16
antes de
14 Apud STAM (1981, grifos meus).
15 “copy&paste”
16 http://www.youtube.com/watch?v=fpepx3Aw4U4 e http://www.youtube.com/watch?v=Pfl1nW3AC5g (também
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ler os parágrafos seguintes. Neste material vídeo-montagem dos trechos em que aparecem as
discussões entre a “classe média acadêmica” e Matias na discussão sobre Foucault tal edição é
mesclada com a entrevista de um soldado do Bope em Notícias
17
–, para quem a culpa é da
“classe média” (sic). Apresenta-se assim uma análise crítica da representação dada no filme Tropa
de Elite à “classe média acadêmica” (chamada de “Bonde do Foucault” posteriormente em matéria
de capa da Veja). A cena, muito comentada também online, é a da discussão sobre “Vigiar e Punir”
em sala de aula. Um jogo de planos e contraplanos que desenha o debate sobre uma particular
instituição disciplinar, a polícia. Neste jogo de representação, o professor fala de “Relações de
Poder” por instância de que a aluna protagonista feminina afirma sobre os “micropoderes”.
Analisemos, neste ínterim, três cenas complementares. Para tanto, o filme será retomado a partir da
decupagem aqui anexa
18
, atentando para os itens 13 (primeiros diálogos, aparição dos estudos de
Foucault), 15 e 18:
13. cena
19
: A Universidade
Na lousa encontram-se uma lista de títulos de livros e seus autores, entre os quais: S. Freud,
Gilberto Freire, Adam Smith, Levi-Strauss, Michel Foucault, Deleuze... A câmera ensaia
girar e então abrir o ângulo, mas antes desta abertura em conjunto com a função/ papel-
atuação do professor – a câmera sobe e nos apresenta, então, a lousa do dia:
entregue em mídia DVD à banca anteriormente à qualificação)
17 Vale ressaltar que outro integrante do BOPE (hoje ex), Rodrigo Pimentel foi co-roteirista de Tropa de Elite, co-autor
do livro Elite da Tropa e co-produtor de Ônibus 174 (documentário de José Padilha), também aparece em entrevista
no documentário Notícias de Uma Guerra Particular (1997), de Kátia Lund e João Moreira Salles.
18 Apêndice II/V
19 00:15:30 a 00:16:46
Toda minutagem do filme foi estabelecida a partir da versão em .mp4 distribuída nos dvds para locação
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O Capitão Nascimento
20
voz em off inicia sua fala: “ele queria ser advogado e decidiu
entrar na melhor faculdade de direito do RJ...”; na primeira parte do livro Elite da Tropa
(este é dividido em duas partes), denominada “Diário de Guerra”, encontramos no capítulo
“Mil e Uma Noites” o seguinte trecho: “Talvez você até se espante quando souber que
estudo na PUC, falo inglês e li Foucault [21]”, alguns diálogos entre os alunos, que no
decorer do filme veremos serem os protagonistas da alegoria de “vilão” (como veremos
mais adiante), e nesta cena dá-se o encontro destes com um dos policiais (uma das
personagens principais), Matias, anteriormente pré-apresentado ao espectador (esta cena
continuidade a tal apresentação). A câmera retorna à lousa, mostrando o restante da
bibliografia – referência acadêmica – na Universidade e corta para a próxima cena [14].
15. cena
21
: ONG, o 1º Beck
Matias está lendo “Vigiar e Punir” em voz alta junto ao seu grupo de estudos da faculdade,
enquanto um baseado rola entre a galera:
Para Foucault, o direito penal é uma manifestação das relações de poder e que, na
verdade, nao nenhum contrato social nenhum. ... Entendeu? E que o estado sempre
20 Interpretado pelo ator Wagner Moura (à época ator da “novela das oito” na rede Globo)
21 00:20:43 a 00:21:55
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administra as instituições... Palavra difícil, né? Instituições, pra vigiar e punir os
criminosos. Entendeu? Como o Panóptico de Bentham, que era aquela prisão da época...
e que a gente já tinha estudado. Pra Foucault, a análise histórica dessas instituições revela
como o estado exerce poder sobre a sociedade...”
Lhe oferecem um “pega” (ou um “tapa”) no que ele responde: Não obrigado, não gosto
não, obrigado”. A voz over (Capitão Nascimento, nosso personagem-narrador onipresente)
inicia sua fala novamente: O Matias não devia estar ali, mas que tava tinha que dar o
flagrante e atuar os maconheiros no artigo 12 da lei 6368
22
... O cara tinha acabado de
entrar pra faculdade e já tava aliviando os colegas
18. cena
23
: Universidade, apresentação do trabalho em grupo sobre “Vigiar e Punir”
(esta cena, em particular, será retomada em diversos textos encontrados na web)
[Maria, uma das protagonistas na representação do “vilão” na diegese fílmica] “Bem,
professor, nós concluímos portanto que no Brasil a legislação penal, ela funciona como
uma rede, que articula diversas instituições repressivas do Estado. E que, infelizmente, em
nosso país, hoje a resultante dessas micro-relações de poder que Foucault tanto fala
acabou criando um Estado que protege os ricos e pune, quase que exclusivamente, os
pobres.”
[professor] “Muito bem. Terminou? ... Maria e todo o grupo falaram com clareza como
as relações de poder, e nao apenas o Estado, moldam instituições perversas. Agora, pra
concluir... poderíamos fazer uma análise de caso. Quer dizer, um exemplo de uma
instituição desse tipo. [a aluna, Maria, diz: “A polícia?”] ... A polícia. Muito bem. Mas... por
22 Lei datada de 21 de outubro de 1976 e revogada pela lei número 11.343, de 2006.
Para maior detalhamento da mudança de paradigma e realidade punitiva – destas leis relativas às “drogas ilícitas”
ver: “A nova lei de tóxicos e a retroatividade benigna da lei penal ... O crime de consumo consensual compartilhado
surge para mitigar possível excesso do art. 12 da lei antiga” (http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2102797/a-nova-
lei-de-toxicos-e-a-retroatividade-benigna-da-lei-penal)
23 00:31:04 a 00:34:56
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que a polícia?” (grifos meus)
A cena continua, gerando uma pseudo-discussão que é fechada com Matias em fala rígida
(em defesa da instituição policial: honestidade versus corrupção) e acusatória (culpabilidade
à “classe média” como veremos mais adiante): “...vocês estão muito mal informados, muito
mal influenciados por jornalzinho e televisão.” Faz-se um silêncio e a cena termina.
Um filme sobre policiais não me faz a cabeça, raramente assisto a este tipo de produção
audiovisual. Tropa de Elite chegou a mim em um pen drive: um amigo havia baixado da internet e
me perguntou “Você já viu este novo filme brasileiro?”...
“Não demora muito para baixar Tropa de Elite, filme ainda por estrear dirigido por José
Padilha, pela rede Bit Torrent de trocas. Coisa de duas horas. São raros os filmes que
descem assim tão rápido. Quer dizer uma coisa simples: tem muita gente baixando e a
oferta é vasta. Jamais havia acontecido algo do tipo, no Brasil: um filme que cai na rede
antes de ser lançado. De imediato, desconfiou-se que o diretor o pôs propositalmente para
provocar o disse-me-disse. É uma desconfiança legítima. ... Foi com surpresa que, ao
passar o último fim de semana no Rio revendo amigos e família, ouvi de todos algo sobre
o filme. Do taxista, do cunhado, do primo. Todo mundo viu Tropa de Elite numa cópia
pirata e gostou. Nenhum filme nas salas de exibição causa o mesmo impacto. ... Tropa de
Elite é o primeiro caso de filme que vazou para a internet no Brasil.”, Pedro Doria em
“Você viu Tropa de Elite?”
24
...Copiei o filme para meu laptop e ali ficou talvez durante umas duas semanas, um mês (ou até
mais). Numa noite sem ter o que fazer e afim de assistir a um filme, lembrei do dito cujo no laptop,
resolvi assistí-lo, até para poder então liberar espaço na HD (ele ocupava cerca de 700MB, tamanha
24 http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/tropa_elite.pdf (.pdf que traz um conjunto de textos sobre Tropa de Elite)
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a “boa qualidade” de sua resolução encodada no formato .avi, codec da Microsoft para a
digitalização de vídeos
25
). Foi como um soco no estômago não somente pela diegese fílmica, mas
talvez também por haver assistido a um filme nacional de uma forma tão “corrupta” (tela de doze
polegadas, caixinhas de som etc), pensei mesmo em reassistí-lo no cinema (o que não vingou, eu
não queria contribuir para um filme no estilo “Mein Kampf”). De primeiro momento o filme me
lembrou os jovens de preto (os “camisas negras”) que viviam de “assaltos” na Europa fascista (e
posteriormente nazista), também não havia como deixar de compará-lo a outro thriller, Clube da
Luta (filme que sempre tive como base de instrumentação para as aulas sobre nazismo e
movimentos contraculturais aos jovens de ensino médio), fiquei então assustada com um filme
nacional deste porte temático, não falei mais no assunto. Mas, de alguma maneira, eu estava in em
qualquer rabo de orelha pela cidade: todos comentavam o filme, citavam, repetiam jargões,
cantarolavam as músicas. Até o segundo semestre de 2008 eu nada havia lido a respeito do filme, os
25 Diversos são os codecs utilizados para o fechamento (e/ou publicação online) de um vídeo digital. Uma busca
rápida e muito resumida sobre o tema de compressão da qualidade de imagem e som para seu arquivamento
digital pode ser encontrado no wikipedia em dois links relacionados: “Um 'codec de vídeo' é um programa que
permite comprimir e descomprimir vídeo digital. Normalmente os algoritmos de compressão usados resultam em
uma perda de informação, porém existem alguns codecs que comprimem o arquivo sem que haja perda ... O
problema que os codecs pretendem resolver é que a informação de vídeo é muito grande em relação ao que um
computador é capaz de suportar. Esta é a forma como alguns segundos de vídeo em uma resolução aceitável pode
ocupar um lugar respeitável em um meio de armazenamento típico e seu manuseamento (cópia, edição,
visualização) ... Existe um complexo equilíbrio entre a qualidade do vídeo, a quantidade de dados necessários para
representá-lo (também conhecida como taxa de bits ...), a complexidade dos algoritmos de codificação e
decodificação, a robustez contra perda de dados e erros, a facilidade de edição e outros fatores.”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Codec_de_v%C3%ADdeo )
“Os codecs sem perdas são codecs que codificam som ou imagem para comprimir o arquivo sem alterar o som ou
imagem originais. ... Esse tipo de codec normalmente gera arquivos codificados que são entre 2 a 3 vezes menores
que os arquivos originais. São muito utilizados em rádios e emissoras de televisão para manter a qualidade do som
ou imagem. ... Os codecs com perdas são codecs que codificam som ou imagem, gerando uma certa perda de
qualidade com a finalidade de alcançar maiores taxas de compressão. Essa perda de qualidade é balanceada com a
taxa de compressão para que não sejam criados artefatos perceptíveis. ... Os codecs com perdas foram criados para
comprimir os arquivos de som ou imagem a taxas de compressão muito altas. [Alguns chegam a gerar um arquivo
de] 10 a 12 vezes [menor que] o tamanho original. ... A taxa de bits ou bitrate, em inglês, é uma das medidas da
qualidade de um arquivo comprimido. A taxa de bits representa o tamanho final desejado para o arquivo e,
normalmente, é apresentada como Kbit/s. 1 Kbit/s significa que a cada segundo, o codec tem 1000 bits do arquivo
final para utilizar, ou seja, [por exemplo] se um arquivo de som tem 8 segundos e é comprimido a uma taxa de 1
Kbit/s, o arquivo final terá 8 Kbits ou 1 Kbyte. Conclui-se, então, que quanto maior for a taxa de bits, melhor será a
qualidade do arquivo final, que o codec terá mais espaço para poder comprimir o arquivo original, necessitando
descartar menos informações do arquivo. Com a popularização do MP3, a taxa de bits de 128 Kbits/s (128000 bits/s
= 16 Kbytes/s) foi muito utilizada, que, no início, essa era a menor taxa de bits que o MP3 poderia utilizar para
gerar um arquivo final com boa qualidade. Hoje em dia, com os codecs mais avançados, pode-se gerar arquivos com
64 Kbits/s de qualidade semelhante aos primeiros MP3.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Codec )
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debates em torno do mesmo (que haviam retornado porquanto do recebimento do prêmio na
Alemanha) não me motivavam e ainda mesmo saber que ele havia vencido o Festival de Berlim
servira para reafirmar – e compactuar com o debate que estava se dando na mídia de que o filme
era mesmo fascista, “filme para alemão ver”.
Foi em outubro de 2008, portanto mais de um ano depois que havia assistido ao filme, que passei a
juntar os pedacinhos (camelôs, games, realidade, Foucault, repercussão, jovens etc): acompanhava
mais um dia de debates pós-filme do projeto Rede de Telas, de minha orientadora, na periferia de
São Paulo e fiquei impressionada com a fala de um jovem em idade de ensino médio. O rapaz
analisava Tropa de Elite de uma maneira muito “engajada”, empolgado, e havia, portanto, um
interessante e sui generis caminho a ser analisado neste recente cinema nacional (que mesclava
vozes produtoras inerentes a espaços geográficos específicos, diferentes classes sociais e suas
relações com o tráfico e consumo de drogas consideradas juridicamente ilícitas). Voltei-me assim a
Padilha. Elaborei as primeiras “retóricas audiovisuais” (em nível mestrado) a partir das gravações
em vídeo do debate em torno de Notícias de uma guerra particular naquele CEU cerca de Capão
Redondo (Zona Sul de São Paulo), alguns trechos deste mesmo documentário justapostos a trechos
do filme Tropa de Elite mais alguns poucos materiais encontrados na internet (YouTube
principalmente... e como havia material!), e assim apresentei a nova hipótese de pesquisa.
Para desâmino de meus amigos mais íntimos – avessos a retóricas sensacionalistas – os assuntos em
mesas de bares sempre, a um certo momento, chegavam a Tropa de Elite; era como um percorrer de
minha pesquisa para além da internet, jornais, revistas e Washington no CEU (meu representante da
periferia de São Paulo). Como uma prova de que o filme sensibilizou os mais diversos círculos
sociais, constituindo um fenômeno de mídia interessante, pude averiguar que todos discutiam e
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todos sem exceção, até mesmo daqueles que não haviam nem mesmo assistido ao filme – tinham
algo a dizer a respeito, a tratar sobre a “obra ficcional baseada em fatos reais” de José Padilha.
“O que vem realmente chocando nas primeiras exibições públicas de "Tropa de elite" é o comportamento da
platéia. ... é muito diferente do que João Moreira Salles fez, ao dar voz ao capitão Rodrigo Pimentel, no
documentário "Notícias de uma guerra particular". A diferença aqui é a reação do público.”
26
O ponto de vista de Washington rapaz de aproximadamente 16/ 17 anos de idade, residente no
Jardim Maracanã, periferia à Zona Sul da cidade de São Paulo –, presente, em outubro de 2008, à
projeção do filme “Notícias de Uma Guerra Particular”, esta seguida de discussão que inseriu o
filme “Tropa de Elite” no CEU Casablanca
27
. Aluno da série do ensino fundamental, expôs
determinada reflexão. O rapaz destacou-se em virtude, primeiro, por sua faixa etária: era o único
jovem-adolescente presente na sala pós-projeção (durante o debate-discussão); e, em segundo lugar,
porque Washington apresentou um 'testemunho-depoimento' provocativo. O adolescente definiu o
filme de Padilha como uma obra “mais real” (sic) que representaria melhor a realidade do que “um
simples documentário” (sic)
28
. O depoimento de Washington diferiu dos demais participantes na
discussão, que em geral repudiaram o filme por sua violência representada, ao expressar
sinceramente seu fascínio pela “realidade” de Tropa de Elite e assim, o jovem ofereceu uma entrada
a um universo estranho e extenso a ser pesquisado: o das repercussões do filme na internet. A
princípio seria uma breve busca, por algumas pontuais imagens e informações complementares para
as Retóricas Audiovisuais sobre o filme (fevereiro de 2009), que acabaram por se configurar como
um vasto material encontrado em rede. Ou seja, inicialmente as Retóricas Audiovisuais referiam-se
26 http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/tropa_elite.pdf
27 Atividade pertencente ao projeto “Rede de Telas” (com presença de alunos do curso de educação de adultos).
Projeto de pesquisa da Profa. Dra. Esther Hamburger [CTR-ECAUSP], sob financiamento da FAPESP.
28 O testemunho de Washington pode ser verificado nas Retóricas Audiovisuais elaboradas em fevereiro de 2009,
(parte do material complementar entregue ao relatório de qualificação) assim como no Apêndice III/V
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a atestar uma hipótese implícita sobre o filme acrescida da visão de Washington, mas no percurso
mostraram-se como discursos em diálogos constantes oriundos da rede digital online.
Tal qual no cinema, o digital insere-se em uma análise de complexas estruturas que 'sustentam' toda
uma estética e modos de produção. Assim, lidar atualmente com o digital implica não somente em
diferentes estruturas físicas (hardware: câmeras, lentes, computadores, iluminação etc), mas insere-
se também ao domínio de estruturas ditas numérico-virtuais (softwares: sistemas de operabilidade,
e suas diferentes naturezas 'open source'/ GNU e 'copyrighted' e em suas variáveis tanto de
utilidade propriamente dita processadores de texto, de vídeo, de números, de imagens estáticas
(“fotográficas”) –, quanto de usabilidade adentramos então em questões de interface/ design/
interatividade e funções estéticas processuais que diferenciam, portanto também, os produtos
junto a seus consumidores.
Um dos caminhos possíveis para se apresentar estas “retóricas audiovisuais” em nossa atual
“cultura digital”, seria testar os diferentes softwares de edição (e seus correlatos de visualização,
decupagem, conversão, finalização etc), cada qual pertencente a uma linha de produção político-
ideológica e econômica. Descarto também em meu mestrado mais este caminho, por acreditá-lo
inapropriado ao tempo de pesquisa proposto: tecnicamente posso simplesmente, caso se faça
necessário aqui, listar alguns dos diferentes e principais sistemas e softwares em utilização nestes
primeiros anos do século XXI, para além disto, torna-se extremamente despendioso e extenso
conceitualmente a um nível estrutural se pensarmos em processos de criação, sobrevivência,
sustentabilidade e participação sócio-videográfica e online.
O que nos interessa aqui é investigar quais fatores estão “atualmente” publicados em rede em
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diálogo com o filme Tropa de Elite a partir de uma leitura focadamente foucaultiana que se
apresenta desafiadora nas entrelinhas desta diegese. A partir da hipótese de que Tropa de Elite pode
ser considerado um novo marco na história do cinema brasileiro não tanto explicitamente por sua
narrativa, decupagem e/ou montagem, mas talvez por sua reverberação no espaço sócio-cultural
nacional –, encontrando-se tanto em um diálogo desde o documentário Notícias de Uma Guerra
Particular quanto também, ou principalmente, com os diversos espaços multimidiáticos online, que
vêm apontando dados públicos (e voluntários) de exponenciação da importância desta produção
cinematográfica.
A primeira etapa aqui visa demonstrar como a repercussão de Tropa de Elite foi se configurando e
analisar como funcionam estes mecanismos midiáticos de poder (ou seria mecanismos de poder
midiáticos?). Esta análise, diria Foucault, “não é de forma alguma uma teoria geral do que é o
poder”, seria um início de compreensão de algo maior, muito maior, redes, relações, seres humanos
(urbanos)... O poder foucaultiano “é um conjunto de mecanismos e procedimentos que têm como
papel ou função e tema manter – mesmo que não o consigam – justamente o poder. … O poder não
se funda em si mesmo e não se a partir de si mesmo. Os mecanismos de poder são parte
intrínsica de todas essas relações [de produção, de família, de sexo etc], são circularmente o efeito e
a causa delas”; assim, são os “efeitos encadeados que permitem percorrer de uma maneira ao
mesmo tempo lógica, coerente e válida o conjunto de mecanismos de poder e apreendê-los no que
podem ter de específico num momento dado, durante um período dado, num campo dado.”
Retomemos portanto a, aqui apresentar, este conjunto de mecanismos de poder a que denomino
“repercussão”: Tropa de Elite foi mais assistido (e “pirateado”) porque apareceu nas principais
mídias do país ou somente aparece nos tradicionais meios de comunicação de massa brasileiros
porque foi muito assistido (em dvd, na web ou no cinema)? O número de comentários longos ou
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curtos, emocionais ou precisos que é encontrado na internet é impressionante. O que havia de
específico neste material (voluntário?) naquele segundo semestre de 2007? E, portanto, o que teria
mudado nesta repercussão ao longo do ano de 2008 (e 2009), após Costa Gravas premiar com o
urso alemão o diretor que tão bem conhece a mídia (brasileira) – vide Ônibus 174 – como Padilha?
Acusado por alguns colunistas – e/ou jornalistas – na mídia brasileira, e estrangeira, de ser um filme
fascista ou de indução a uma glamourização da estética da violência, tornou-se um produto
audiovisual largamente difundido na rede digital online, além de suas pós-estréias no cinema
mundial. O filme foi assistido por pessoas de diferentes classes sociais, cada qual com suas
diferentes realidades, mas gerou uma gama de produções voluntárias on e off line e entrou na pauta
de diferentes meios de comunicação: televisão, jornais, games, YouTube e até mesmo nos carrinhos
de camelô. Transformou-se em objeto referente de uma subjetividade latente com respeito à forma
governamental e às políticas de segurança pública (assim como todos os jogos de julgamento a
estas atreladas) aqui no Brasil.
Tropa de Elite pode ser compreendido também como uma interlocução em um mutiálogo, onde
uma série de filmes inseridos neste período de Retomada do cinema nacional se configuram,
conforme analisa Esther Hamburger
29
, em uma categoria de ficção baseado em fatos reais (como os
filmes Cidade de Deus de 2002, com 3,6 milhões de espectadores no cinema –, Carandiru de
2003, com 4,6 milhões e Meu Nome Não É Johnny de 2008, com cerca de dois milhões; entre
outros. Categoria esta que ainda se difere de uma pré-cinematografia por aqui existente por haver,
segundo Ismail Xavier
30
, a presença representada de uma “autoridade somática”, ou seja, o narrador
é o duplo de alguém que “realmente” viveu aquela dada situação.
29 “Violência e pobreza no cinema brasileiro recente: reflexões sobre a idéia de espetáculoNovos estud. - CEBRAP,
Jul 2007 (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002007000200011)
30 Julho de 2006 (ver “referências bibliográficas e webgráficas”)
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“A sessão de abertura do Festival do Rio [setembro de 2007] teve por resposta uma enxurrada de artigos na
maioria dos jornais cariocas: colunistas mostraram-se chocados com a ideologia que creditavam ao filme de
Padilha, corroborada, segundo seu ponto de vista, pela reação da platéia. ... O segmento do filme que se
localiza na PUC, universidade freqüentada por jovens de alta classe dia do Rio de Janeiro, mostra alunos
e ONGs envolvidos com traficantes; em uma das cenas, o aspirante [policial] Matias questiona os
participantes de uma aula sobre Michel Foucault. A apresentação caricatural do pensamento de um filósofo
tradicionalmente relacionado aos movimentos de esquerda não escapou aos jornalistas. Como sugere
Arnaldo Bloch, na sala de aula de Padilha “só há viciados alienados, com exceção do policial Matias, que
conhece a realidade” [Arnaldo Bloch, “Tropa de Elite é fascista?” em O Globo, 17/9/2007]”
31
FASCISMO É OUTRA HISTÓRIA, por Marcelo Coelho >> “FASCISTA? NÃO achei nem um pouco. ...
Classificar um filme de fascista, atualmente, significa dizer que promove a glorificação da violência, o
desprezo à lei e aos direitos humanos. Para o fascista, se não houvesse as ONGs para atrapalhar, a segurança
pública estaria garantida. ... ritos sinistros no meio da mata, treinamento brutal e obsessivo, tudo aquilo
que, da SS nazista aos filmes de direita americanos, todo mundo conhece bem. ... Ao longo de "Tropa de
Elite", inexiste aquele aprendizado do ódio ao vilão que Hollywood costuma impor à platéia. [o vilão
construído pela voz em off do Capitão Nascimento é a elite universitária e ongueira do Brasil] ... "Tropa de
Elite" não mostra soluções, problemas. E estes, com certeza, são bem fascistas.”, sem data via link
referenciado
32
Assim, sobre a escolha do filme como elemento central – fio condutor – das Retóricas Audiovisuais
aqui propostas, Tropa de Elite constitui-se, neste período chamado de Retomada, um caso sui
generis na história da cinematografia brasileira faz-se uma importante observação antes aqui que
pouco será adentrado, pelo nível e tempo de pesquisa (mestrado), este aprofundamento das
hipóteses como “pirataria” e/ou “marketing viral”, mas sim na reverberação em si deste filme a
31 Revista Viso (ver “referências bibliográficas e web”)
32 http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/tropa_elite.pdf
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partir dos itens abaixo listados:
pré-lançado na rede para download gratuito
pré-lançado (à venda) junto aos camelôs (sistema informal de comércio ilegal)
tornou-se complemento 'voluntário' na famosa série, game, GTA do console PS2-SONY
“Assisti o filme hoje nos cinemas. Impressionante a qualidade da produção. Após chegar em casa, fiz o que
sempre faço quando um filme me marca: consultei o Internet Movie Database e a Wikipedia para saber mais
detalhes da produção. Só que também fiz outra consulta que trouxe resultados bem interessantes: “BOPE” no
Google Trends. Pelo que se observa lá, o BOPE está subindo no Google tão rápido quanto sobe a favela.
Nunca se quis saber tanto sobre a tropa de elite do Rio de Janeiro. Mas ainda encontrei outro resultado ainda
mais interessante: o BOPE ultrapassou a SWAT em volume de buscas, sendo agora a mais pesquisada polícia
do mundo. Claro que pirataria é crime e tem que ser combatido (enquanto as leis não mudarem), mas não
como negar que o cinema nacional nunca esteve tão em voga no Brasil e no mundo inteiro hoje. E isso graças
a pirataria.”, 13 de outubro de 2007: “Tropa de Elite não sobe só favela”
33
“Depois dos protestos contra a pirataria do diretor de “Tropa de Elite”, José adivinhem, o punchline muda,
mas a cornitude implícita é a mesma. É bizarro - o cara me faz um filme que denuncia entre outras coisas a
corrupção na polícia (na PM, o Bope é sagrado) e fica revoltado com a inoperância da corporação para coibir
a circulação de cópias ilegais. Devia estar contando com a ajuda do Homem-Aranha. Vi “Tropa”, algum
maluco dividiu em 12 partes e botou no Youtube. | comentário: “Vi esse filme, piratão caseiro mesmo,
pintou aqui em casa nem sei donde veio. Aqueles maconheiros universitários, nada haver mesmo, mas é legal
pela fala do negão pra mina: “o trafica tem consciência social” bem mandado!, 29 de agosto de 2007: “Me
processa, Padilha”
34
“"Tropa de Elite" tornou-se na sexta-feira o filme brasileiro mais visto nos cinemas neste ano ... A estréia do
filme estava originalmente prevista para este mês [novembro de 2007]. Foi antecipada para setembro passado,
33 http://meiobit.com/12302/tropa_de_elite_n_o_sobe_s_favela/
34 http://www.oesquema.com.br/mauhumor/2007/08/29/me-processa-padilha.htm
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depois que uma versão preliminar do título foi desviada para o mercado pirata de DVDs, onde se tornou febre
de consumo. ... O cineasta Fernando Meirelles depreende do alcance popular de "Tropa de Elite" outro bom
sinal: "Há uma tendência a achar que o cinema brasileiro teve um espasmo de aceitação de público uns
anos [em 2003, 21% do total de público no país foi para filmes nacionais], mas que seu lugar seria voltar a
ocupar uns 10% do mercado. Esse filme provou que não é assim". O diretor de "Cidade de Deus" avalia
"Tropa de Elite" como o maior fenômeno recente "em termos de comunicação e diálogo com o país”.
Meirelles diz que, "nem a Globo, com sua média de 35% de audiência diária conseguiu, em toda a sua
história, tal participação na vida nacional".”, jornal Folha de São Paulo em 12 de novembro de 2007
(grifos meus)
35
E ainda assim, merece destaque o número de ingressos vendidos no período em que esteve em
cartaz nas salas de cinema no Brasil (cerca de 2,4 milhões) tanto quanto os artigos e comentários a
respeito deste filme tanto na mídia tradicional como em diferentes publicações pela internet:
“Aproximadamente 10.700 resultados (0,35 segundos)”, dado apontado pelo robô de busca da
Google quando apresentadas as palavras combinadas “foucault” e “tropa de elite” (penúltima
informação captada em maio de 2010). Vale ressaltar que somente “tropa de elite” equivale a
“Aproximadamente 696.000 resultados (0,24 segundos)”
36
Interessa-me, portanto, uma análise que parte da diegese de Tropa de Elite tornando-se mote de sua
reverberação no espaço sócio-cultural nacional. Desta maneira, guardadas as devidas proporções
históricas e geográficas assim como de especificidade cinematográfica quanto à natureza técnica/
tecnológica, estilística e temática retomo o que Kracauer analisava sobre o cinema alemão pré-
Hitler:
“como um cinema ... enormemente artificial realmente refletia 'tendências psicológicas profundas' ... Os
35 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1211200727.htm (acesso somente para assinantes UOL e FSP)
36 Averiguação em 29 de julho de 2010 (importante ressaltar que em fevereiro de 2010 a produção de “Tropa de Elite
2” inicia uma série de publicações online blog próprio e assessorias de imprensa sobre o novo filme, o que
implica em uma indicação de que a reverberação poderá continuar exponencialmente)
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filmes conseguiam refletir a psique nacional porque [1.] não são produções individuais, mas coletivas e [2.]
têm como alvo e mobilizam uma audiência de massa”
37
Cinema este, onde espécies de mimese social formas figurativas sociais apresentam-se como
representação de uma realidade brasileira, induzindo a jogos valorativos a partir de desejos
inconscientes e implícitos do espectador ao criar personagens – e situações – como exemplos 'reais'
de problemas e questões nacionais.
Frame das Retóricas Audiovisuais#01 (fevereiro/2009)
Vou explicitar o que vinha buscando neste ínterim com alguns copy&paste do material
(re)encontrado online (20 de maio de 2010), onde os primeiros links encontrados via Google
relacionam-se à revista Veja (edição 2030, datada de 17 de outubro de 2007) enquanto os demais
nos levam a blogs, às seguintes datas do mesmo ano e posterior. Duas observações se fazem aqui
antes necessárias: a tiragem desta edição foi de 1 milhão 211 mil e 185 exemplares; a capa desta
edição 2030 de uma tradicional revista brasileira semanal de variedades da Editora Abril traz o
assunto em voga como podemos ver nas imagens a seguir:
37 APUD XAVIER (2005)
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>> Capa da revista Veja, edição 2030 (17 de outubro de 2007):
“O filme Tropa de Elite é o maior sucesso do cinema brasileiro porque trata
bandido como bandido e mostra usuários de drogas como sócios dos
traficantes”
páginas internas da matéria “especial” desta edição da revista Veja
38
38 Biblioteca ECA-USP, “coleção especial (obras raras)”: arquivo físico
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“Aproximadamente 691.000 resultados (0,38 segundos)” … Mesmo neste novo layout do Google, segue acima à direita o email
(@Gmail) de onde se está conectado e, portanto, de onde se acessa este sistema de busca (julho/2010)
“Aproximadamente 4.070 resultados (0,40 segundos)” … e eis a revista Veja (segundo link, captura de imagem em julho/2010)
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Por exemplo, encontramos nesta busca o vestibular da UNICURITIBA (verão 2008)
39
reproduzido adiante –, este evoca o artigo “Bonde do Foucault” da revista Veja para que os
concorrentes retrabalhem as questão em redação na prova. Assim, dá-se o acontecimento como o
fetiche, um feito/fato:
“O fetiche age, se assim podemos dizer, à maneira de um retroprojetor. A imagem é produzida mas ela
“parece” jorrar da tela em direção ao auditório, como se nem o professor [que a produziu], nem o retroprojetor
tivessem nada a ver com isso. Os espectadores, fascinados, 'atribuem à imagem uma autonomia' que ela o
possui. o efeito do fetiche tem eficácia se seu fabricante ignorar a origem do mesmo, ele deve ser capaz
de disssimular totalmente sua própria fabricação. Graças ao fetiche, com um golpe de condão, seu
fabricante pode se metamorfasear de manipulador cínico em enganador de boa fé. o pensador crítico não
sabe jamais a quem restituir a força, atribuída, por erro, aos fetiches. [Quando nos tornamos modernos,] o
novo repertório nos obriga a escolher entre dois sentidos da palavra fato: ele é construído? Ele é real? [a
exemplo do experimento de fermento de Pasteur, 1857 e 1863] Paradoxalmente, as 'science studies', longe
de politizar a ciência, permitiram ver a que ponto todas as teorias do conhecimento, desde os gregos até nossos
dias [1984], estão sob o jugo de uma definição política que obriga à separação dos fatos e dos fetiches. … A
crença toma um outro sentido então: é o que permite manter à distância a forma de vida prática onde se faz
fazer e as formas de vida teóricas onde se deve escolher entre fatos e fetiches. … A palavra 'fetiche' e a
palavra 'fato' possuem a mesma etimologia ambígua – ambígua para os portugueses como para os filósofos das
ciências. a palavra 'fato' parece remeter à realidade exterior, a palavra 'fetiche' às crenças absurdas do
sujeito. Todas as duas dissimulam, na profundeza de suas raízes latinas, o trabalho intenso de construção que
permite a verdade dos fatos como a dos espíritos. É esta verdade que precisamos distinguir, sem acreditar, nem
nas elocubrações de um sujeito psicológico saturado de devaneios, nem na existência exterior de objetos frios
e a-históricos que caíram nos laboratórios como do céu. [factish: fact + fetisch] Se antes podíamos nos
alternar violentamente entre os dois extremos do repertório moderno podemos, agora, escolher entre dois
repertórios: aquele onde somos intimados a escolher entre construção e verdade, e aquele onde construção e
39 http://www.unicuritiba.com.br/vestibular2009/provas/dir2008.pdf
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realidade tornam-se sinônimos.”
40
Revisitemos este trecho discursivo da prova, vestibular citado anteriormente:
Proposta de Redação
Considere a relação entre sociedade (os contribuintes), Estado (Poder Judiciário, polícia) e crime (tráfico,
consumo de tóxicos, assassinatos). Desenvolva um texto dissertativo (25 a 40 linhas), argumentando seu
posicionamento sobre a seguinte questão:
– Qual deve ser o papel do Estado no combate ao crime e na proteção à sociedade? O Estado não deve
vigiar e punir? Deve agir apenas na orientação preventiva? Qual deve ser a ão do Estado com
relação à “convivência entre as diferenças” e à “conivência com o crime de uma franja da sociedade
que pretende, a um só tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do Estado de Direito e de todas as
transgressões da delinqüência”? [grifos meus]
Não esqueça de atribuir um título a seu texto.
Questões Discursivas
Nas questões discursivas serão considerados não o grau de conhecimento e de interpretação crítica do
conteúdo, mas também a capacidade de síntese, a correção e a clareza no uso da língua. Não serão
consideradas respostas em forma de "esquemas" de itens, típicos de apostilas. A resposta deveser
dada em linguagem cursiva, dentro da norma culta. [grifos meus]
Procure responder a todas as questões de todas as disciplinas, pois elas são igualmente importantes. Se você
deixar todas as questões em branco, de uma mesma disciplina, lhe será atribuída nota ”zero” e isso implicará
eliminação do Concurso.
Há espaços próprios, no final da prova, para o rascunho das respostas. Utilize-os, se necessário.
40 LATOUR (2002)
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A seguir, imagem da prova para ingresso nesta universidade. Outro vestibular – também encontrado
online da mesma maneira faz uso da temática inscrita no filme (“realidade brasileira”) e da
repercussão do mesmo (“Capitão Nascimento”), mas desta vez partindo de dois textos publicados
na Folha de São Paulo (ver no “Anexo”: texto-resposta de Ferrez ao caso Luciano Huck, em que
este, ao escrever sobre a experiência de haver sido assaltado, faz referência ao filme com a frase
“chama o capitão Nascimento”
41
)
41 Este material pode ser encontrado no “Anexo”: “intervenção de Ferrez no affair do roubo do Rolex do Luciano
Huck, escrevendo um texto na “Folha de S. Paulo” no qual se coloca no lugar dos assaltantes.” (28/10/2007) e
online na íntegra http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/907-2.pdf
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“Os trechos a seguir, retirados e adaptados do artigo 'O bonde de Foucault', de Reinaldo
Azevedo”, que foi publicado na revista Veja citada, “devem servir como uma referência para sua
reflexão”:
“I - Nunca antes neste país um produto cultural foi objeto de cerco tão covarde como “Tropa de Elite”. Os
donos dos morros dos cadernos de cultura dos jornais, investidos do papel de aiatolás das utopias permitidas,
resolveram incinerá-lo antes que fosse lançado e emitiram a sua sentença: “Ele é reacionário e precisa ser
destruído”. Num programa de TV, um careca, com barba e óculos engajados de “inteliquitual”, sotaque
inequívoco de amigo do povo, advertia: “A mensagem é perigosa”.
II - Por que tanta fúria? A resposta é simples: “Tropa de Elite” comete a ousadia de propor um dilema
moral e de oferecer uma resposta. Em tempos de analfabetismo moral, isso é ofensa grave. Qual dilema?
Podemos indagar ao consumidor de droga: “Se todos, na sociedade, seguirem o seu exemplo, o Brasil será
um bom lugar para viver?”. O que o pensamento politicamente correto não suporta no Capitão Nascimento, o
anti-herói com muito caráter, não é a sua truculência, mas a sua clareza; não é o seu defeito, mas a sua
qualidade. Ele não padece da psicose dialética que faz o bem brotar do mal, e o mal, do bem. [...]
III - “Bonde”, talvez vocês saibam, é como se chama, no Rio de Janeiro, a ação de bandidos que decidem
agir em conjunto para aterrorizar os cidadãos. Faço alusão também a uma passagem em que universitários
alguns deles militantes de uma ONG e, de fato, aliados do tráfico – participam de uma aula-seminário sobre o
filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Falam sobre o livro Vigiar e Punir, em que o autor discorre
sobre a evolução da legislação penal ao longo da história e caracteriza, de modo muito crítico, os todos
coercitivos e punitivos do estado. [...]
IV - No Brasil, os traficantes de idéias mortas são quase tão perigosos quanto os donos dos morros, como
evidenciam nossos livros didáticos. No filme, aluna e professor fazem um pastiche do pensamento de
Foucault, e isso serve de pretexto para um severo ataque à polícia, abominada pelos bacanas como força de
repressão a serviço do estado e suas injustiças. Sim, isso pode ser Foucault, mas Foucault era pior do que
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isso. Em Vigiar e Punir, ele fica a um passo de sugerir que o castigo físico é preferível às formas que entende
veladas de repressão postas em prática pelo estado moderno. No caso Brasil valem algumas perguntas. Quem
comanda o Estado atualmente? As universidades do bonde ideológico não são o Estado? o vigiam, não
discriminam, não punem o aluno que discorda delas e não aceita goela abaixo o discurso oficial? As redes do
tráfico não são um “estado”? Se não deve vigiar e punir, para que serve o Estado?
V - A seqüência em que essas duas éticas se confrontam desmoraliza o discurso progressista sobre as
drogas e revela não a convivência entre as diferenças, mas a conivência com o crime de uma franja da
sociedade que pretende, a um só tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do estado de direito e de todas
as transgressões da delinqüência. Por isso o “Bonde do Foucault” da imprensa tentou fazer um arrastão
ideológico contra Tropa de Elite. Quem consome droga ilícita põe uma arma na mão de uma criança. É
simples. É fato. É objetivo. Cheirar ou não cheirar é uma questão individual, moral, mas é também uma
questão ética, voltada para o coletivo: em qual sociedade o consumidor de drogas escolheu viver?”
Voltemos à pergunta da prova (pontos – questão – para redação), referente a este texto de Reinaldo
Azevedo, publicado na revista Veja de 17 de outubro de 2007 e gerador de inúmeras colocações na
internet:
“Considere a relação entre sociedade (os contribuintes), Estado (Poder Judiciário, polícia) e crime (tráfico,
consumo de tóxicos, assassinatos). Desenvolva um texto dissertativo (25 a 40 linhas), argumentando seu
posicionamento sobre a seguinte questão:
– Qual deve ser o papel do Estado no combate ao crime e na proteção à sociedade? O Estado não deve
vigiar e punir? Deve agir apenas na orientação preventiva? Qual deve ser a ação do Estado com relação
à “convivência entre as diferenças” e à “conivência com o crime de uma franja da sociedade que
pretende, a um tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do Estado de Direito e de todas as
transgressões da delinqüência”?
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Não esqueça de atribuir um título a seu texto.” (grifos meus)
A ação do Estado é de normalização e que, em uma biopolítica contemporânea, significaria assumir
a posição de controle da circulação. Sim, circulação. Foucault e Deleuze concordam que a
sociedade de controle é um upgrade do cercamento tão próprio de vigiar e punir. No entanto,
diversos textos (como veremos a seguir) insistem em compactuar com Tropa de Elite sobre quem é
o vilão. O bode expiatório comum a todo o material encontrado online seria esta “franja da
sociedade que pretende, a um tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do Estado de Direito
e de todas as transgressões da delinqüência” em que a revista Veja se apoiara na edição citada
acima, em defesa da “realidade, a realidade” contra a “mitologia da bandidagem”. Revista esta
que tem um lugar privilegiado na sociedade brasileira porquanto se dá seu “discurso de verdade”:
“Talvez seja arriscado considerar a oposição do verdadeiro e do falso como um terceiro sistema de exclusão,
ao lado daqueles de que acabo de falar. Como se poderia razoavelmente comparar a força da verdade com as
separações como aquelas separações que, de saída, são arbitrárias, ou que, ao menos, se organizam em tomo
de contingências históricas; que não são apenas modificáveis, mas estão em perpétuo deslocamento; que são
sustentadas por todo um sistema de instituições que as impõem e reconduzem; enfim, que não se exercem
sem pressão, nem sem ao menos uma parte de violência. Certamente, se nos situamos no nível de uma
proposição, no interior de um discurso, a separação entre o verdadeiro e o falso o é nem arbitrária, nem
modificável, nem institucional, nem violenta. Mas se nos situamos em outra escala, se levantamos a questão
de saber qual foi, qual é constantemente, através de nossos discursos, essa vontade de verdade que atravessou
tantos séculos de nossa história, ou qual é, em sua forma muito geral, o tipo de separação que rege nossa
vontade de saber, então é talvez algo como um sistema de exclusão (sistema histórico, institucionalmente
constrangedor) que vemos desenhar-se. ... Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de
exclusão, apóia-se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por todo um
compacto conjunto de práticas como a pedagogia, é claro, como o sistema dos livros, da edição, das
bibliotecas, como as sociedades de sábios de outrora, os laboratórios hoje. Mas ela é também reconduzida,
mais profundamente sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado,
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distribuído, repartido e de certo modo atribuído. ... Enfim, creio que essa vontade de verdade assim apoiada
sobre um suporte e uma distribuição institucional tende a exercer sobre os outros discursos - estou sempre
falando de nossa sociedade - uma espécie de pressão e como que um poder de coerção. ... Dos três grandes
sistemas de exclusão que atingem o discurso, a palavra proibida, a segregação da e a vontade de verdade, foi
do terceiro que falei mais longamente. É que, séculos, os primeiros não cessaram de orientar-se em sua
direção; é que cada vez mais, o terceiro procura retomá-los, por sua própria conta, para, ao mesmo tempo,
modificá-los e fundamentá-los; e que se os dois primeiros não cessam de se tornar mais frágeis, mais incertos
na medida em que são agora atravessados pela vontade de verdade, esta, em contrapartida, o cessa de se
reforçar, de se tornar mais profunda e mais incontornável. ... a verdade assume a tarefa de justificar a
interdição e definir a loucura [ou a criminalidade, o certo do errado]
42
“A 'voz social' que autoriza filmes como Tropa de Elite pode contribuir para conhecermos o brasileiro hoje,
não de forma definitiva, mas de maneira tal que possamos entender por onde a nossa identidade passa para
adentrar ao cenário social. ... Por considerar que Tropa de Elite pode ser índice de representação do
pensamento social, pretende-se, tomando como objeto de análise a reportagem “Pegou Geral”, publicada pela
Revista Veja, edição 2030, de 17 de outubro de 2007, na qual ao apresentar subtítulos como “A realidade,
a realidade”, “Abaixo a mitologia da bandidagem”, e “Máquina letal contra o crime”, além do artigo
“Capitão Nascimento bate no Bonde do Foucault”, cria um conjunto de estratégias lingüístico-discursivo para
atribuir conceitos de veracidade à obra cinematográfica, ao mesmo tempo em que difunde uma visão política
sobre o problema da violência no Brasil. ... Estar atento a estas condições de produção é um dos passos
importantes para analisar textos jornalísticos do porte da revista Veja, pois de acordo com o próprio Bourdieu
(2000, p.27) “não existem mais palavras inocentes. Cada palavra, cada locução ameaça assumir dois sentidos
antagônicos conforme a maneira que o emissor e o receptor tiverem de interpretá-la.” Da mesma forma
Foucault (1990) parece que coloca pontos definitivos nesta discussão sobre analises de imagens. Segundo ele,
Por mais que se diga o que se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz, e por mais que de siga o que
se vê, o que se está dizendo por imagens, metáforas, comparações, o lugar onde estas resplandecem não é
aquele que os olhos descortinam, mas aquele que as sucessões da sintaxe definem. (As Palavras e as Coisas,
42 FOUCAULT (2008b)
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p.25)” sem data, “Reportagem e Retórica: uma análise discursiva sobre o filme Tropa de Elite
43
A repercussão do filme pode ser percebida também a partir de seus “diálogos diretos, com uso de
linguagem vulgar, que se tornaram jargões e foram incorporados nas falas dos jovens, como as
expressões 'pede pra sair', 'você é moleque' e 'o senhor é um fanfarrão',”
44
, assim como na trilha
sonora de Tropa de Elite, que é composta basicamente por duas músicas: uma homônima, de 2000,
do grupo de rock-pop nacional Tihuana e “Rap das Armas”, de 1992, dos Mcs Junior e Leonardo
(de estilo funk carioca); uma terceira música aparece intrínsica (e citada) à diegese fílmica:
“Polícia” (1986), do grupo de rock-pop Titãs (álbum “Cabeça Dinossauro”).
30.janeiro.2008Filme de Padilha é usado para motivar vendedores por autor de best-seller” >> “"Rap
das Armas", música de 1992 incluída no filme, voltou a ser sucesso nos bailes de funk do país, além de
canção do Tihuana ... Trabalhando bem está MC Leonardo, 32, co-autor (com o MC Junior) do "Rap das
Armas", faixa composta em 1992 e que ganhou novo impulso após ser incluída no filme (a música foi tocada
duas vezes pelo DJ britânico Fatboy Slim em sua apresentação na Pacha, em São Paulo, no último dia 23). ...
O "Rap das Armas" foi lançado em disco em 1995 e foi hit dos bailes cariocas nos anos 1990. “Tropa de Elite
mostra a realidade que o funk vive há anos.", diz o DJ Marlboro. "Não surpreende o pessoal dos bailes,
porque eles convivem com aquilo. Quem fica deslumbrado é o pessoal da classe média, que não conhece esse
cotidiano." ... No Rio, as fantasias carnavalescas que fazem referência ao longa são hit nas lojas (há
camisetas, saias, coletes...). o Cordão Carnavalesco Confraria do Pasmado desfilou no último final de
semana pela Vila Madalena (região oeste de São Paulo) com um samba-enredo inspirado no filme.”
45
43 http://cac-php.unioeste.br/eventos/seminariolhm/anais/Arquivos/Artigos/Seminario/seminario_imagem_13.pdf
44 http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2009/relatorio/ctch/let/marcia.pdf
45 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3001200809.htm (somente para assinantes UOL ou FSP)
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4. Da lógica da vigilância à biopolítica:
“Foucault would have been doubly astonished by Giogio Agamben’s
interpretation of biopolitics. First because his theory of power is presented as a
metaphysics and second because he situates his genealogy within the Roman
political tradition. This is categorically rejected by Foucault.”
46
Usamos as linguagens vencedoras, aquelas que chegam até às pessoas. Não
é por acaso que Hollywood vence. Esta é a sociedade da comunicação. Não
podemos ignorar os códigos Luca Casarini (militante dos Centros Socais do
Nordeste italiano)”
47
Do tipo longa metragem (com duração de uma hora e 53 minutos), Tropa de Elite do diretor José
Padilha pode ser classificado no gênero Thriller com pitadas do documentário, como veremos
adiante. O filme estreou nas salas de cinema do Rio de Janeiro e de São Paulo no dia 05 de outubro
de 2007 (no dia 12 nos demais estados), entrando em cartaz comercial (para que pudesse ser
selecionado a concorrer ao Oscar) no dia 24 de setembro de 2007 na cidade de Jundiaí (SP).
Segundo texto no jornal “Folha de São Paulo” de 29 de dezembro de 2006, Tropa de Elite era
originalmente um projeto de documentário, que seria uma derivação de "Ônibus 174"
48
, tendo o
Bope como fio condutor do trabalho. A obra cinematográfica se converteu em uma trama ficcional
quando o diretor se deu conta de que o "filme que queria fazer não era exeqüível como
documentário"
49
.
“O filme Tropa de Elite ficou conhecido na mídia como a primeira ficção do diretor José Padilha, famoso
autor do documentário Ônibus 174 (Padilha, 2002), que discutiu de forma crítica uma ação sucedida do
BOPE. Mas a ficção Tropa de Elite apresenta o BOPE, como uma polícia competente, repleta de homens
46 LAZZARATO (http://www.skor.nl/article-4811-en.html)
47 APUD BARBALHO (2008)
48 Documentário de José Padilha (2002)
49 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u67237.shtml (somente para assinantes UOL ou FSP)
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dedicados e incorruptíveis. O mesmo imaginário é divulgado pelo livro Elite da Tropa, que também traz
'casos de policiais do BOPE'. Uma das novidades do filme é ter como roteiristas dois ex-militares do BOPE:
André Batista e Rodrigo Pimentel. André Batista é major da PM do Estado do Rio de Janeiro. Como André
Matias, um dos personagens do filme, formou-se em Direito pela PUC-RJ. Rodrigo Pimentel, integrou a
PM de 1990 a 2001. Foi capitão do BOPE de 1995 a 2000. É pós-graduado em Sociologia Urbana pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Foi articulista do Jornal do Brasil e co-produtor de 'Ônibus
174'.”, Tropa de Elite: tramas do espetáculo na Cibercultura
50
O mito
51
“Tropa de Elite” surgiu do casamento entre as mídias de informação. Portanto, a assessoria
de imprensa de Padilha é sensacional de impressionante. Aí opera toda uma lógica de mecanismos
de poder e seus afetos na construção do discurso. Spinoza, ao procurar desmistificar “a causa da
impotência e da inconstância humana”, segue a compreensão do discurso frente a este jogo de
poder nestas afecções (e nestes desejos): “aquele que mais eloquentemente ou mais sutilmente
souber censurar a impotência da alma humana é tido por divino”. Neste jogo de afecções
(relacionar-se com o outro, afim de alienar-se em nossas próprias subjetividades) temos, portanto,
que “a essência da alma é constituída por ideias adequadas e inadequadas as ações da alma
nascem apenas das ideias adequadas; as paixões dependem apenas das ideias inadequadas. A
primeira coisa que constitui a essência da alma não é senão a ideia de um corpo existente em ato …
Vemos assim, que as paixões se não referem a alma senão enquanto ela tem qualquer coisa que
envolve negação Nenhuma coisa pode ser destruída a não ser por uma causa exterior”
52
. Se
inserirmos este “mito” em uma lógica da biopolítica foucaultiana, poderíamos atestar que o efeito
cinematográfico de uma ficção baseada em fatos reais é compactuado a uma estética de verdade,
que vem sendo estudada sobre os moldes de reality show, onde teremos que é a intimidade de um
policial e, portanto, suas relações com a realidade cotidiana de uma vida pública (o policial como
50 REZENDE; OLIVEIRA (2009)
51 Mesmo quem não assistiu ao filme, ouviu falar ou até mesmo já tem opiniões formadas a respeito de Tropa de Elite
52 SPINOZA (2008)
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agente de segurança do Estado, governo público) que está sendo mostrado como a “exposição de
si” (e dos fatos) nesta diegese.
“Quanto à dinâmica narrativa, as trajetórias pessoais são sempre alicerçadas em uma jornada tanto de auto-
superação quanto de superação das adversidades exteriores. Como em uma via-crúcis do corpo, trajeto
atravessado por sacrifícios físicos e emocionais, a “redenção” do herói será alcançada não apenas por meio da
conquista do prêmio em jogo, como também pela conquista de uma auto-estima e de uma visibilidade próprias
aos vencedores. A “redenção” será, ao conquistar a imagem, apesar de todos os embaraços, constrangimentos
e, mesmo, humilhações, ser redimido por ela. ... um gênero [melodrama], historicamente, de “correção” social,
a partir da criação de oposições morais e estereotipias, ficam evidentes, ... os estratagemas moralizadores,
agenciados tanto pela edição quanto pelos critérios de punição e eleição, agenciados pela audiência ...
potencialização de uma verdade que emerge na relação com os outros ... [visa] reproduzir e codificar
“performances comuns a um amplo leque de relações sociais contemporâneas” ... função social-técnica:
espécie de serviço “público” ou programação e regulação pedagógica das condutas “privadas”.”
53
Mas como falarmos de condutas “privadas” quando a relação entre “público” e “privado” esteja tão
vigiada atualmente via redes sociais online, estas atreladas cotidianamente a questões éticas e
morais em uma sociedade? A sociedade brasileira, neste ínterim, vive um aumento de câmeras de
vigilância governamentais no espaço público (ruas) e do controle governamental em marcos
políticas públicas de inclusão social e digital, assim como os dispositivos de vigilância cada vez
mais são utilizados na mídia junto ao espetáculo (caso de “imagens reais” captadas por câmeras de
vigilância e/ou aparelhos celulares como material utilizado em programas televisivos e
jornalísticos). Faz-se desta maneira, portanto, necessário compreendermos que toda citação de
material reapropriado durante o matreial aqui utilizado, assim como nas Retóricas Audiovisuais
estabelece-se em uma estrutura online de afetos, onde “reputação” é o termo utilizado na atual
53 FELDMAN (2008)
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“cultura digital” para a compreensão desta cotidiana tecnologia em rede e seus participantes. Gisele
Beiguelman aponta criticamente a relação de imagens, vigilância e dados online a partir de uma
análise da chamada “web 2.0” e das atuais plataformas de relacionamento sociais online:
“Para além do fetiche das mercadorias, essa modalidade de uso das redes sociais indica um esvaziamento da
esfera blica e uma fragilização da política como arena de negociação coletiva que me parece importante
interrogar, relacionando alguns fatos recentes às transformações tecnológicas das quais temos sido testemunhos
e atores. ... jogo da “vigilância neopanótica”, como conceituou Timothy Druckrey, 'que resulta em um desejo
quase compulsivo –que se poderia chamar de fetichista– de fazer com que virtualmente tudo seja acessível na
forma de uma imagem' (2000, p. 94). ... Não se trata de discutir aqui a espetacularização da violência e associá-
la a um suposto atavismo tecnológico que relaciona o “excesso de informação” agenciado pela internet a
desvios de comportamento. Primeiramente, porque essa relação é falsa. O casamento crime e mídia não é
novidade, nem exclusividade da web. No Brasil, assistimos pela TV a horas de agonia durante o seqüestro
do ônibus 174 no Rio, em 12 de junho de 2000 ... Em segundo lugar, porque a hipótese de que exista um estado
de excesso de informação apenas calibra uma aspiração conservadora que pressupõe ser necessária uma
hierarquia de poder intelectual, que seria responsável por filtrar e entregar o conteúdo aos receptores
responsáveis. O problema, portanto, não é descobrir como limitar a quantidade de informações, mas sim como
ampliar, cada vez mais, o volume qualitativo do conteúdo midiático e cultural que circula na Internet e fora
dela. Isso passa por pensar parâmetros críticos que nos ponham em confronto com a irrealidade cotidiana. ... A
reação da indústria cinematográfica, televisiva e de games após os ataques terroristas de 11 de Setembro, que
levou a diversas alterações e reedições de produtos que evocavam o desastre de forma não intencional é
indicativa da fragilidade dos limites entre realidade e ficção na contemporaneidade ... É bom lembrar aqui que
esse “2.0” não remete à emergência de um novo protocolo de internet, mas a novos padrões de organização dos
dados e de arquitetura de linkagem, que modifica a internet por viabilizar outros usos. Ao invés de ser apenas
um gigantesco arquivo de páginas, ou seja de conteúdo disponível para consumo, ela passa a funcionar como
plataforma para desenvolvimento de aplicativos e conteúdos. Nessa perspectiva, os padrões de organização da
web 2.0 seriam os marcos fundadores da era do DIY (“Do It Yourself”, faça você mesmo) e da época do CGC
(“Consumer Generated Content”, conteúdo gerado pelo consumidor). É lembrar da “Wikipedia” que esse
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termos se auto-esclarecem. muito marketing nisso tudo, mas é inegável que a arquitetura de linkagem da
web 2.0 pode indicar que a internet, enfim, sofrerá a passagem da cultura da página à cultura dos dados, ou de
um ambiente baseado na taxonomia para um baseado em “'ompanheironomias'. ... Prevalece aqui [a partir de
TAGS e suas “nuvens”] o conceito de inteligência distribuída que revigora o poder das “nanoaudiências”, mas
também do funil de informações que associa maior quantidade com melhor qualidade (identidade não
necessariamente verdadeira...).”
54
A classe média intelectualizada ou seja, aqueles que sempre tiveram mais acesso aos melhores
serviços de educação no Brasil – é ridicularizada em Tropa de Elite. Foquemos em uma cena, muito
comentada em blogs pela web, em que na sala de aula discute-se Foucault. A cena, apresentada sob
uma estética de realidade (falaremos sobre isto mais adiante), não evolui no pensamento e assim,
entrecortada e pré-disposta, é como uma cena estática. Esta estática na cena é como o ruído da falta
de comunicação em uma sociedade do espetáculo, onde “o espetáculo não é um conjunto de
imagens, mas uma relação social mediada por imagens”
55
e sons (tal qual ocorre atualmente na
“web 2.0”). Vigiar e Punir: história da violência nas prisões
56
livro colocado em discussão nesta
cena e no restante do filme – é uma obra base da escrita foucaultiana sobre a genealogia dos micro-
poderes disciplinares (anos 70). Desde a última década do século passado, diversos pesquisadores
(na França, Itália e Brasil, entre outros países) têm se debruçado sobre os conceitos de biopolítica e
biopoder construídos por Foucault nesta sua empreitada. Tais “novos” conceitos, com os quais
Foucault relia e complementava Vigiar e Punir, gerem-se atualmente, 30 anos após seus
surgimentos, como um formato de resistência crítica neste século XXI e, portanto, faltantes na
discussão foucaultiana colocada em pauta pelo Capitão Nascimento.
54 “O ovo da serpente 2.0” (texto oriundo de apresentação, seguida de discussão, no evento “Que situação, hein
Debord?”, CCBB 2006). Pode ser encontrado online na revista Trópico (uol):
http://webcache.googleusercontent.com/search?
q=cache:unwbTqgluHoJ:pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2979,1.shl+beiguelman+%22redes+sociais%22+tr
%C3%B3pico&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a
55 DEBORD (1997)
56 Título e subtítulo em português
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
Aluna: Milena Szafir [[email protected]] | Orientação: Esther I. Hamburger [ECA-USP]
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“A intelectualidade de esquerda, chorosa pelos bandidos, detestou o filme. Achou-o 'fascista'. Vejam a
palhaçada: os filhotes de Stálin e Fidel Castro acham o BOPE fascista. É piada? Raro é o cinema brasileiro
chamar a atenção do público. Porém, qual o segredo da popularidade de Tropa de Elite? ... o mais interessante:
a visão de um policial honesto, embora truculento, do BOPE, consegue ser a mais autêntica expressão da
realidade, se comparada à legião de sociólogos, filósofos e acadêmicos que produzem toneladas de papel inútil
para falar do que não entendem e nunca conviveram. ... A aula de Michel Foucault, em que uma classe
universitária delinqüente e maconheira encontra razões para criminalizar a ação correta da policia de combater
o crime, é uma paródia da cumplicidade que tal setor possui para com a bandidagem. Que as universidades
sejam umas fábricas de delinqüência, isso está provado historicamente. ... Na prática, contudo, a pior
indiferença das elites acadêmicas é crer piamente que o pobre e honesto homem da favela seja um admirador
de bandidos. É uma alienação total da realidade, uma negação completa do cotidiano de concluir que o
próprio acadêmico defensor dessas idéias também é um marginal, um delinqüente. Ora é um drogado, ora é
alguém que se sente rejeitado pelo próprio grupo social ao qual pertence. ... Outra cena elucida este alto grau
de alienação de uma parte da sociedade dita 'letrada'. Depois da morte do casal de ativistas, os alunos da
universidade fazem uma passeata pedindo a 'paz'. O paradoxo desta ão é bem clara: os mesmos que pedem
paz financiam a violência, usando drogas. E o honesto e severo policia Matias, sinônimo do preto no branco,
do certo e errado, algo que carece a seus amigos universitários, espanca um dos manifestantes, que é traficante
de drogas. Surra-o, pois foi o mesmo quem denunciou o seu amigo policial ao traficante que matou o casal de
ativistas. ... Os próprios atores, pressionados pela esquerda, entre os quais, o protagonista da história que
interpretou o capitão Nascimento, repetiram esse mantra politicamente correto. Tamanho policiamento
ideológico ... O problema é que os movimentos sociais são que nem a personagem Maria, a ativista maconheira
do filme: a polícia é uma força perversa de repressão social. No entanto, quando precisam dela, faltam
implorar por sua segurança. E pedem paz nas ruas, com muita droga e merda na cabeça! Os segredos da
popularidade do filme? Preciso falar mais?” (16.janeiro.2008 Já distante do "boom"...ele entendeu o filme: 'Os
Segredos de Tropa de Elite')
57
57 http://my.opera.com/Notary/blog/2008/01/16/ja-distante-do-boom-ele-entendeu-o-filme
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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O vilão de Padilha remixado com o material de Kátia Lund e João Moreira Salles
58
apresenta
um índice importante, que não pode deixar de ser, portanto, averiguado, de como uma sociedade
com fortes desníveis sociais enxerga seus intelectuais. Ou seja, a própria instituição acadêmica é
posta em xeque num Brasil onde um governo federal (em que Padilha e toda sua produção
cinematográfica, como nós mesmos, estão inseridos) instaura Pontos de Cultura ao longo de seu
território. Um governo que aposta dia-a-dia no extremo desenvolvimento social ao mesmo tempo
em que a ideia e prática da participação (atrelada ao espetáculo-vigilância e cadastramento)
encontram-se como motores do atual capitalismo (em que a forma governamental se desenvolve).
Portanto, em que ponto Tropa de Elite pode ser tomado como um índice deste processo não
somente participativo, mas também de uma sociedade de controle abaixo do Equador? Seria o filme
Tropa de Elite e sua repercussão uma amostra representativa de constatação do dispositivo
biopolítico brasileiro?
Em certo texto, entitulado TROPA DE ELITE E ELITE DA TROPA, Luiz Eduardo Soares reclama
que os críticos não avaliaram “a(s) obra(s)” em si (filme e livro), mas principalmente as reações
advindas da(s) mesma(s). A meu ver, tal dado tenha se dado inconscientemente, ou seja, o filme
(não adentrarei a qualquer “mérito” do livro) não traz qualquer originalidade estética o que faria
com que os críticos (e, talvez, até eu mesma neste estudo) viessem a caracterizar e analisar tais
processos e produtos discursivos como uma obra de arte em um sentido estético (talvez o filme
como obra de arte deva ser analisado tal qual o foi Las Meninas, de Velasquez, por Foucault no
livro As palavras e as coisas, de 1966). Márcio Selligman, em texto de acesso aberto e online
(datado de março de 2008), aponta para estas questões de estética:
“Lembremos da formulação lapidar de Benjamin: O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos
58 Novamente “Retóricas Audiovisuais#01 parte05” >> http://www.youtube.com/watch?v=fpepx3Aw4U4 e
http://www.youtube.com/watch?v=Pfl1nW3AC5g
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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existentes mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo. Ele corresponde a metamorfoses
profundas no aparelho perceptivo”. (Benjamin, 1985: 192; Benjamin, 1989: 380 n.16) Para este teórico
existiria uma relação clara entre as cenas estética e política, que se cruzariam na sala de cinema: esta
funcionaria então como uma explosão terapêutica do inconsciente”.[o que a crítica brasileira chama de
“estética do choque” ou “choque do real” (Jaguaribe)] (Benjamin, 1985: 190; Benjamin, 1989: 377) ... Ele [o
filme] seria um trauma que nos ensinaria a lidar melhor com os traumas que enfrentamos ao sair da sala de
cinema. Deste autor também falar, no seu ensaio de 1936 sobre a obra de arte, do nosso inconsciente ótico
como sendo revelado pelo cinema. ... a seção de cinema teria paralelos com uma seção de terapia. Mas o
tanto de uma terapia segundo a concepção de Freud, mas antes segundo o seu modelo grego, ou seja, o da
Poética aristotélica, com a sua teoria da catarse. Para Aristóteles, como é bem conhecido, a tragédia é
“imitação [mímesis] [...] que, suscitando o terror [phobos] e a piedade [éléos], tem por efeito a purificação
[kátharsis] dessas emoções.” (Poética 1449b) Deixo aqui apenas este núcleo da teoria aristotélica daquilo que
me interessa neste momento e que gostaria de chamar de dispositivo trágico. ... Neste dispositivo, na medida
em que ocorre a catarse, dá-se também um traçamento de fronteiras identitárias: os bons são separados dos
maus, os honestos dos falsos, as boas nações das más nações, e assim por diante. ... Qual o diferencial do
cinema brasileiro contemporâneo neste panorama? ... O debate em torno da recente produção cinematográfica
brasileira é limitado, antes de mais nada, por esta falta de uma visão mais ampla. Desde o início de nosso
século e sobretudo a partir de 2002 e 2003, fala-se na tendência do cinema brasileiro para um tipo cru de
realismo. ... A tendência para uma estética menos retórica (ou com outro tipo de discurso), mais despojada e
que visa o seu “convencimento estético” através do uso de técnicas aprimoradas no discurso considerado mais
“sério” do jornalismo e do documentário, pode ser observada em várias obras do cinema internacional. ...
Com o romantismo a arte se institui como crise e impossibilidade de estabelecer seus limites. Portanto, desde
o final do século XVIII não apenas não sabemos mais dizer onde acaba a arte e onde inicia a “vida”, como
esta fronteira deslizante passou a ser um tema central das artes. ... Novamente a produção cinematográfica
brasileira deve ser vista também levando-se em conta este fato, caso contrario estaremos projetando nela
características tomadas como próprias, que na verdade o são tão singulares assim. ... Nestas duas obras de
Padilha [o documentário Ônibus 174 (2002) com uma montagem que dramatiza os fatos e o ficcional
Tropa de Elte (2007)] podemos ver uma estética que busca o “real”, sem espaço para o cômico ou para a auto-
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ironia (como em certos filmes “violentos” de Tarantino). ... O cinema de autocomiseração representa um filão
da produção nacional e internacional, que, com sua revolta politicamente correta, não deixa de ser
contraditório na medida em que se encaixa tão confortavelmente na indústria cultural e no sistema de um
modo mais amplo. A falta de distanciamento e a busca da empatia fácil são as marcas destas produções. ...
interessante que em Ônibus 174 toda trama se passa em torno de outro Nascimento, Sandro, o raptor do
ônibus que teve sua ação interrompida pelo BOPE e terminou assassinado – acidentalmente, segundo a versão
oficialpela polícia.) ... a câmara [em Tropa de Elite] cola em Nascimento e passamos a raciocinar com suas
palavras. ... Como em certos filmes de western, Nascimento é um baluarte da “moral” que se opõe tanto aos
corruptos decadentes da tropa convencional de polícia, como também aos malandros do morro. Ele é o
educador, ortopedista da sociedade, que vai endireitá-la, mesmo que isto lhe custe o casamento – ou a vida. ...
O BOPE é apresentado assim como um local totalmente externo ao “sistema”, sem nenhum tipo de corrupção:
o que dificilmente corresponde à realidade. Outros personagens centrais do filme são membros da classe
média: ... Edu (Paulo Vilela) ... típico garotão de classe média, que trafica droga entre os estudantes. Em uma
cena na sala de aula na PUC assistimos a uma discussão onde os alunos e o professor (claros representantes da
classe média) o postos em xeque, com suas leituras de Foucault ... O discurso politicamente correto de
crítica das instituições totais de poder é desnudado como um aperitivo para aliviar a consciência de
intelectuais e é apresentado como sendo totalmente insuficiente e até absurdo diante da força bruta da
violência. Este ponto também serviu para provocar muita crítica: a classe média intelectual não gostou de se
ver, talvez pela primeira vez, espelhada deste modo caricato. Ao incluir a classe média, Padilha escapou da
crítica feita ao filme Cidade de Deus de Meirelles, que mostrava a favela como um espaço fechado em si
mesmo, sem ser parte de um sistema mais complexo. ... Na última cena do filme, estamos tão identificados
positivamente com Matias, provável substituto de Nascimento, que temos a descarga final de uma catarse
(gozo) prazerosa quando ele faz explodir a cara do traficante Baiano (Fábio Lago), que se debatia a seus pés
(cena, aliás, que lembra a famosa cena final do filme de Clint Eastwood de 1992, Unforgiven um western
sobre o fim deste gênero –, quando o protagonista estoura a cara do “malvado” Little Bill Daggett). Esta cena
é paradigmática no filme de Padilha. Baiano (e seu nome já o coloca pars pro toto como representante de uma
situação social) ... Desfigurando-o, Matias mata-o duas vezes. Apagar a face é também uma alegoria da
destruição do outro e da outridade: a face, nosso ponto mais visível, vulnerável e frágil, torna-se apenas um
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alvo. A “outridade” de Baiano com relação a Matias é, no entanto, frágil. Ambos têm a mesma origem social.
Talvez para acentuar esta frágil diferença, as cores de pele dos atores revertem a situação tradicional no
Brasil: é o negro (Matias) que está por cima do branco e que o mata para se “livrar do mal”. ... O diretor se
defende [das acusações de ser um filme fascista] dizendo que mostrou a realidade. A questão, no entanto, é
que não se mostra realidade alguma, mas apenas se constrói a realidade. ... O filme tem qualidades estéticas,
de resto, que não podem ser ofuscadas por este debate. São justamente estas qualidades, sua capacidade de
contaminar o ficcional com o documental, que fazem com que este filme seja discutido mais como um
retrato de uma situação social, e menos como uma construção artística. ... É importante, porém, que do
ponto de vista da recepção, o filme encontrou um amplo público que viu nele a reafirmação de um tipo de
pensamento que, este sim, é fascista, [Capitão Nascimento, protagonista e voz em off do filme] é uma
espécie de justiceiro ... Ver o que um filme pode fazer a partir de uma montagem que elegeu um membro do
BOPE para que nos identifiquemos com ele não é pouca coisa ... Este modelo utiliza do dispositivo trágico a
idéia de uma justiça sistêmica, ou seja, quem fez o mal tem que pagar. O sistema corretivo é baseado no
modelo pré-institucional da justiça de sangue: o olho por olho. Se na tragédia clássica, como Walter Benjamin
apontou, existe a representação da passagem deste modelo antigo de justiça, para o modelo do tribunal ... A
diferença é que, se na tragédia o homem é apresentado como a-histórico, aqui em Tropa de Elite o histórico é
insistentemente apresentado. O teor documental da obra é evidente, apesar de toda sua artificialidade,
enquanto produto da indústria cinematográfica. ... A questão no caso brasileiro é como representar a catarse
em meio a um descrédito geral nas leis e em seus representantes. ... O inimigo interno [no caso, a classe
média] ... é apresentado como o bode expiatório, matéria sacrificial, para o rito de catarse e manutenção do
estado. O cinema entra nesta cena biopolítica com um papel a cumprir, quer isto esteja consciente ou o aos
seus produtores. Concluindo, vimos que numa sociedade marcada pela forte divisão de classes ... o cinema
tem um papel simbólico-político importante a cumprir. Mas isto não implica que possamos reduzir a produção
do cinema brasileiro a um denominador comum, como uma nova “estética da fome”, a uma “cosmética da
fome” [referência ao artigo “Da Estética à Cosmética da Fome”, de Ivana Bentes
59
no Jornal do Brasil, julho
de 2001 sobre o filme Cidade de Deus], ao neo-neo-realismo, etc. O que me parece mais interessante é
confrontar uma análise detalhada da produção recente brasileira ... com o que vem acontecendo na cena
59 http://revistadecinema.uol.com.br/pagina_conteudo_dossiev.asp?id_pagina=102&func=1&id=15
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internacional no cinema e nas demais artes. Parece-me que o que se extrairá deste panorama mais amplo
poderá nos ensinar muito sobre o que se passa hoje com o dispositivo mimético-trágico. Este parece estar
sendo muito bem utilizado não apenas por políticos belicistas (do primeiro e terceiro mundos), como também
pelos pacifistas e “verdes”. A questão é se podemos ainda agir de modo minimante razoável em meio a tanto
terror e compaixão.
60
(grifos meus)
Tropa de Elite, com exibições internacionais
61
após receber o Urso de Ouro no Festival de Berlim
em fevereiro de 2008, aponta o livro “Vigiar e Punir”
62
uma famosa escrita Foucaultiana sobre o
nascimento de nossa sociedade disciplinar (da vigilância, do controle e dos corpos dóceis) como
referência de uma intelectualidade brasileira em nível acadêmico, caracterizada como de “classe
média”, para a compreensão dos acontecimentos brasileiros, gerando portanto, a meu ver, uma
complexa e importante discussão social, política e cultural sobre a construção de uma visibilidade
contemporânea de uma realidade, assim como suas atreladas representações de diferentes
identidades nacionais brasileiras. Ou seja, o discurso de verdade implícito numa estética de
realidade. Parece, desta maneira, que de 1997 a 2009 têm sido um período em que a culpa pertence
à “classe média”, uma especificamente: a universitária e “ongueira” que arrota Foucault. O bode
expiatório de Padilha (ou seria “tão somente” do Capitão Nascimento?) é construído em o que
Foucault chamaria de “poder pastoral” (melhor estabelecido pelo cristianismo), que produz
continuamente a culpa dentro dos seres humanos, esta, como Contardo Calligaris apontou, nossa
organizadora de uma “visão de mundo”
63
.
“They force them to work on themselves. In applying these techniques, the state and its institutions cross the
boundaries between public space and private space, between public life and private life on a daily basis The
60 SELIGMANN (2008)
61 Dado relevante talvez seja a sua divulgação em alguns outdoores londrinos (linhas de trem, largamente utilizadas
pela população britânica) ainda em julho de 2008 (aproximadamente um ano após sua reverberação no Brasil).
62 Foucault, 1975
63 http://contardocalligaris.blogspot.com/2007/10/tropa-de-elite.html
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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state and its institutions invade the private life of individuals, act on subjectivity, mobilize the most ‘intimate’
forces, direct behaviour and use interventions (controls) that overstep the limits of the home to enter into
private space and initiate ‘trials’. And K. [KAFKA, O Processo The Trial], the land surveyor in The
Castle, experiences a power relation that could be qualified, on the basis of Foucault’s terms, as biopolitical, in
the sense that it implicates life as a whole, beyond the separation of ‘public life’ and ‘private life’ ... Whether
you’re guilty or innocent, ‘We’re opening a file on you, Joseph K.!’” (LAZZARATO, 2010
64
)
“Eterno jogo de espelhos entre a liberdade que impõe aprisionamento e o aprisionamento como condição de
liberdade. Ou se trataria de uma estranha condição contemporânea - que nos evoca imagens kafkianas - em
que sujeitos demandam assujeitamento para que deixem de ser sujeitados? “A porta diante da lei”. Em ambos
os casos, trata-se da espera - e da voluntariedade - diante da arbitrariedade do poder. Um poder que, ao
encerrar quem está dentro, aprisiona os que vivem fora Presos do lado de fora, estaríamos, assim como o
personagem K., de O Processo, em constante observação, pois nossa vida privada é permanentemente
rastreada e digitalizada por cada vez mais difusas e renovadas estratégias de controle e vigilância, baseadas
agora não apenas em regimes escópicos centrados na função primordial da observação, mas na própria
dimensão infinitesimal da informação digital.”
65
algo de profundo nesta acusação à “classe média intelectualizada” para tamanha repercussão e
categorização a partir de tal filósofo? uma certa ingenuidade nesta “classe média”? Walter
Benjamin, ao conferir palestra no Instituto para o Estudo do Fascismo (27 de abril de 1934) sob o
título de “O autor como produtor” disse:
“os movimentos politicos culturais mais importantes surgidos na Alemanha da década de 20 [século XX]
partiram desta fração que podemos designar como inteligência burguesa de esquerda ... [o autor apresenta
primeiramente o “ativismo”] a palavra de ordem que resume as exigências do "Ativismo" é logocracia, ou
reinado da inteligência. A expressão pode ser facilmente traduzida para Geistige (reinado dos intelectuais) ... se
do ponto de vista político o que conta não é o pensamento individual, mas a arte de pensar na cabeça dos
64 LAZZARATO (2010)
65 FELDMAN (2008)
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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outros, como disse Brecht? O ativismo tentou substituir a dialética materialista pela categoria, indeterminável
em termos de classe, de senso comum. ... [diz Brecht:] 'a publicação deste texto ocorre em um momento
[décadas de 20 e 30, Alemanha] em que certos trabalhos não devem mais corresponder a experiências
individuais, com o caráter de obras, e sim visar a utilização (reestruturação) de certos institutos e instituições'.
O que se propõe são inovações técnicas, e não uma renovação espiritual como proclamam os fascistas. ...
Limito-me aqui a aludir à diferença essencial que existe entre abastecer um aparelho produtivo e
modificá-lo. E gostaria, ao iniciar minhas reflexões sobre a 'Nova Objetividade', de afirmar que abastecer um
aparelho produtivo sem ao mesmo tempo modificá-lo, na medida do possível, seria um procedimento
altamente questionável mesmo que os materiais fornecidos tivessem uma aparência revolucionária. ...
[caracteriza-se, portanto, pela] metamorfose da luta política, de vontade de decidir em objeto de prazer
contemplativo, de meio de produção em artigo de consumo.”
66
Estratégias culturais da utilização de “autoridade somática”, esta que faz uso da indistinção da “vida
pública” e “vida privada”, indistinção esta na qual cada vez mais os seres humanos estão sendo
midiática, e perpetuamente, mantidos. A este tipo de controle (para Deleuze), Foucault chama de
biopoder (ou biopolítica). Um assédio da intimidade é lançado no ar pseudomicamente como
“transparência” e assim confundem-se os libidos de vigilância com os do voyer e os das redes
sociais online com os do compartilhamento.
“Desdobrar o conceito de Foucault em torno do biopoder e da biopolítica para o ambiente contemporâneo das
imagens é possível se assumirmos que o poder agora também se coloca pelas formas imagéticas que
consumimos e que circulam incansavelmente. Entre a vigilância desenfreada, a total padronização e a
excessiva exposição, as imagens circulam agora em torno de um sistema que atesta seu poder ao engendrar-se
na vida. Passamos a conhecer o mundo pelas imagens que circulam através dos conglomerados das grandes
redes transnacionais de comunicação. Esse circuito traz todos os jogos de interesse, principalmente em torno
de uma imagem-modelo que se mostra equivocadamente com a pretensão ser o todo. Não há nada “fora” dessa
imagem, parece que nada pode lhe escapar. ... Gostaria, ainda, de destacar as situações em torno do
66 BENJAMIN (1996), grifos meus
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audiovisual on line e a questão da memória. Ao contrário de sempre dar a ver o que de mais novo no
sistema audiovisual contemporâneo, o ambiente audiovisual on line pode se tornar um terreno fértil para os
exercícios da memória, para as buscas descompromissadas por temas, artistas, sicas ou imagens que nos
dizem respeito por nos lembrarem de alguma coisa.”, Eduardo Jesus, 2007
67
A importância de se estudar como a lógica da vigilância (e do controle) insere-se em “estéticas
biopolíticas” nos dias atuais, tenta apontar um caminho crítico na utilização das “novas mídias”,
que o espetáculo co-existe à sociedade disciplinar e de controle, ambos continuamente a se
retroalimentar. O que aqui, neste texto, especifíco de “novas mídias” refere-se à internet (com suas
plataformas videográficas e redes sociais) e aos aparelhos (e suas tecnologias) telemáticas (locative
media).
“Compreendemos controle como fiscalização de atividades, como ões normalmente associadas a governo e
ao domínio de pessoas, ações, processos. Monitoramento pode ser entendido como forma de observação para
acumular informações visando projeções ou construção de cenários e históricos, ou seja, como uma ão de
acompanhamento e de avaliação de dados. vigilância pode ser definida como um ato com vistas a evitar
algo, como uma observação com fins de prevenção, como um comportamento atencioso, cauteloso ou zeloso.
(...) Vamos definir vigilância (...) de acordo com Gow. Para o autor, vigilância implies something quite
specific as the intentional observation of someone’s actions or the intentional gathering of personal
information in order to observe actions taken in the past or future (GOW, 2005, p. 8).”
68
Foucault aponta que no final do século XVIII começa a aparecer uma arte de governar a que
denomina “biopolítica”, o que significa, em termos breves, que os mecanismos de poder da
sociedade disciplinar visavam perceber elementos e modificá-los. Ou seja, “a disciplina estabelece
as coordenações ótimas” de como encadear, dividir, distribuir em hierarquias e classificações, um
controle permanente dos gestos, dos atos, um adestramento contínuo, uma detalhada separação
67 http://www.revistacinetica.com.br/cep/eduardo_jesus.htm
68 LEMOS (2009)
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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entre os “aptos” e os “inaptos”. Técnicas, portanto, de normalização disciplinar, onde um sistema de
leis visa codificar uma norma. Assim, se as técnicas disciplinares “treinam e punem o homem-corpo
uma anátomo-política do corpo humano”, as novas tecnlogias de poder que conjulgam a
biopolítica completam-nas. A partir de agora, o poder não age somente no individual, mas na
população como um todo, tornando o homem uma espécie faz-se “uma biopolítica da espécie
humana”. Agora o discurso que se monta é através da vida, o cuidado da vida em si, o que vive e o
que morre. Uma sociedade normalizadora é organizada sob a disciplina (corpo-homem) e o
biopoder (homem-espécie-população). São nos primeiros anos de formação que o ser humano é
disciplinado como uma característica Benthaminiana, e então durante todo seu percurso de vida o
homem é dominado pela biopolítica, o que significa controle intermitente, onde o “tempo real” se
faz presente, onde o controle sobre o fluxo informacional é infinito. Passa-se assim de um modelo
que servia a moldar para um upgrade: molda-se ainda, mas insere-se a medida de modular este
homem, transformando-o em amostras populacionais. Enquanto o “primeiro sistema” define-se
como uma demarcação no espaço-tempo, onde necessita-se tratar (cura) e anular (isolamento) o
doente, o dispositivo seguinte visa a população como um todo (conjunto). Não estamos mais
falando somente de instituições disciplinares e cercamentos, mas de circulação:
“Não mais a segurança do príncipe e do seu território, mas a segurança da população e, por conseguinte, dos
que a governam o se trata mais de obediência (ao soberano), mas ao contrário [trata-se] de fazer os
elementos de realidade
69
funcionarem uns em relação aos outros.”
70
(grifo meu)
Enfim, a biopolítica define também quem e o quê podem circular, opera sobre todo deslocamento,
troca, contato, formas de dispersão e de distribuição. Quando percebemos que também a estética
segue os paradigmas da biopolítica de Foucault, voltamo-nos à Deleuze (1992): “O serviço de
69 “o mecanismo de segurança ... se conecta aos processos que os fisiocratas diziam físicos, que poderíamos dizer
naturais” Foucault (idem)
70 FOUCAULT (2008a)
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vendas tornou-se o centro ou a 'alma' da empresa. As empresas têm uma alma ... O marketing é
agora o instrumento de controle social, e forma a raça impudente de nossos senhores.”
71
e assim o
que deve ser organizado e governado são as subjetividades. O trabalho vivo não existe somente na
produção, mas em sua reprodução e consumo. Enquanto para Foucault o conceito de Biopolítica
insere-se a partir de uma necessidade de controle da população, para Deleuze e Negri
(BARBALHO
72
) há uma dimensão positiva-produtiva (relacionada à “potência de agir” descrita por
Spinoza) que redefine o trabalho imaterial (decorrente da criatividade e do afeto) como uma
possibilidade de “poder expansivo” nas medidas do real trabalhadas no espaço virtual (o que não
significa de modo algum “irreal”). Esta potência de agir a partir de afecções significa que Ora,
como a alma, pelas ideias das afecções do corpo, tem necessariamente consciência de si mesma,
tem consciência do seu esforço. Esse esforço, enquanto se refere apenas a alma, chama-se vontade;
mas, quando se refere ao mesmo tempo a alma e ao corpo, chama-se apetite. O apetite não é senão a
própria essência do homem, da natureza da qual se segue a sua conservação; e o homem é assim:
determinado a fazer coisas. Além disso, entre o apetite e o desejo não há qualquer diferença, a
não ser que o desejo se aplica geralmente aos homens quando tem consciência do seu apetite e, por
conseguinte, pode ser assim definido: o desejo é o apetite de que se tem consciência. E, portanto,
evidente, não apetecemos nem desejamos qualquer coisa porque a consideramos boa; mas, ao
contrio, julgamos que uma coisa é boa porque tendemos para ela, porque a queremos, a
apetecemos e desejamos.
73
Ou seja, qual o papel exercido a partir do espaço virtual que dialoga
com proposições a um “poder constituinte” no espaço de uma realidade política?
Vivemos, assim, como pode ser visto nas citações que seguem, um paradoxo na sociedade de
controle e do espetáculo. A primeira, sob a arte da biopolítica, visa a transformar toda uma
71 DELEUZE (2007a)
72 Alexandre Barbalho (artigo na revista Cinética).
73 SPINOZA (2008)
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população em senhas, cifras, medidas para “melhor governá-la”, enquanto a segunda (ambas
retroalimentam-se) é formada por ferramentas de individualização, onde se crê não somente mais
ser um espectador (nos termos midiáticos de Debord à década de 60), mas pertencer a uma rede que
é alimentada constantemente por participações voluntárias da exposição de si. A pesquisa, neste
ínterim, trouxe um enriquecimento empírico sobre como vigilância, controle e espetáculo se
encontram e convivem cada vez em melhor – e mais abrangente – harmonia.
A pesquisa, ao tomar como elemento central de análise a repercussão a partir da diegese fílmica
dirigida por Padilha, caracteriza-se além do mais por um viés demonstrativo do próprio audiovisual
como linguagem discursiva [de retórica] ao se re-apropriar também dos diferentes dados
encontrados nas atuais redes sociais online auferindo-lhes valor como bases/ conteúdos de
conhecimento
74
para uma construção argumentativa e interpretativa (a partir de uma estética
criativa), em vista do panorama sócio-cultural e videográfico referente.
74 Ver “Breve explicação sobre o Sistema de Buscas Online” nesta dissertação
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5. Modus Operandi I: Tropa de Elite em rede
“Os autores da matéria chamam atenção para a membrana tênue que
separa a realidade da ficção cinematográfica, quando esta focaliza e
documenta a violência praticada nos morros cariocas. Passei a ler a
coluna das cartas e e-mails do público que viu o filme, ... Artur Xexéo
havia comentado o filme, lançando o foco sobre a reação do
público.”
75
É impressionante como uma busca pela repercussão do filme amplia horizontes, traz sempre, a cada
dia mais, “novas” informações. Para este tipo de repercussão de uma cinematografia nacional que
provocou e inseriu tantos debates, para além do herói/anti-herói, apontarei brevemente o que
denomino de três frentes (embora elas se entrelacem continuamente para além desta diegese
fílmica) do material encontrado em rede: 1. Pirataria; 2. Segurança Pública; 3. Fascismo.
A primeira frente criou um debate público (compactuando com diferentes linhas ideológicas e/ou
acadêmicas) sobre a “propriedade intelectual” (o que me levaria ao retorno da estética do remix no
audiovisual); a segunda adentra ao tema foucaultiano para além de “Vigiar e Punir”, mas para seu
curso posterior e complementar à publicação do mesmo, “Segurança, Território e População”
(1o semestre de 1978); a terceira frente aqui explicitada é de onde deriva, talvez, o desconforto
(por minha parte e talvez também de minha banca de qualificação) em falar sobre esta produção,
obra cinematográfica, nacional. Mas a tamanha repercussão deste filme é o mote de minha pesquisa
em si.
Como pode ser visto nos print screens de Google apresentados na “introdução”, uma infinidade de
75 FREITAG, Barbara. (http://www.casadasmusas.org.br/freitag.htm)
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documentos vieram à tona, mais mesmo do que o esperado. De simples comentários de blogs a
artigos inteiros em revistas acadêmicas (além das comerciais esperadas). O que eu menos espero
será discutir sobre “segurança pública”, me interessa sim a questão de rede e relações de poder em
termos genealógicos e discursivos de Foucault, como fora apresentada durante a diegese fílmica de
Padilha. Nestes termos finais, talvez as frentes um e três inserem-se melhor no que foi encontrado
nestas buscas online. Por exemplo, encontrei uma revista acadêmica, chamada “Viso”
76
, que
continha um “especial” sobre o filme (a partir de um “Dossiê Tropa de Elite” publicado em
Comunicação & Política, v. 25, n. 3) com uma lista de artigos (jornalísticos) em debate à época de
“lançamento” do filme, assim como todo um .pdf
77
com vários textos sobre o mesmo; se antes eu
conhecesse este material, meu trabalho de escrita teria se dado de uma maneira muito mais fácil,
assim como foi encontrar três outros artigos acadêmicos: um que ilustrava o filme em um panorama
intrinsicamente cinematogfico (de Tatiana Hora Alves de Lima
78
) e, em particular, na
cinematografia brasileira, enquanto outro (Liliane Samarão
79
) examinava o filme à luz do capítulo
um da segunda parte do livro “Vigiar e Punir”: Os Corpos Dóceis, ou ainda um terceiro intitulado
“'Tropa de Elite': tramas do espetáculo na Cibercultura (de Magali Simone de Oliveira e
Guilherme Jorge de Rezende
80
), que visa “Discutir a partir do episódio do 'vazamento do filme
Tropa de Elite' se existe hoje, no Brasil atual, interação entre a Cibercultura (LÉVY, 1999) e a
Sociedade do Espetáculo (DÉBORD, 1997). A idéia é refletir até que ponto o 'vazamento' do filme
poderia ser entendido como uma contaminação da Cibercultura por outras mídias e se esse mundo
ciber já teria dado fim à Sociedade do Espetáculo, como previsto por LÉVY.”
“Nenhum outro filme pode reivindicar o impacto social que Tropa de elite exerceu sobre o debate estético
76 Viso – Cadernos de estética aplicada N° 4, jan-jun/2008 (ver bibliografia no final da dissertação)
77 Documento encodado como Adobe Acrobat Reader
78 Apresentação no INTERCOM em setembro de 2009
79 Revista Contemporânea (Edição 09 - Vol.5 - Nº2 - Jul/Dez 2007)
80 Também em apresentação no INTERCOM em setembro de 2009
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brasileiro no ano de 2007. Não se trata propriamente de sucesso de público, do qual tivemos recentemente
exemplos ainda mais notáveis, mas antes de sua capacidade para mobilizar problemas e despertar reações, da
admiração incondicional ao ódio contumaz a qual tem poucos precedentes na cinematografia nacional. A
comercialização de cópias ilegais que precedeu o lançamento ocupava intensamente os formadores de
opinião do país mesmo antes que outras questões, estas de ordem ideológica, dominassem o debate a respeito
do segundo trabalho para o cinema de José Padilha.”
81
Tropa de Elite (2007), de José Padilha, como é conhecido por todos, foi um tremendo sucesso nacional, com
milhões de cópias piratas e ainda elevados números de bilheteria. ... Este artigo se dedica a realizar um estudo
sobre o filme Tropa de Elite, considerando suas características híbridas de thriller e documentário, com foco
no personagem Capitão Nascimento e a representação da polícia apresentada no filme, num diálogo com o
conceito de disciplina proposto em Vigiar e punir, de Michel Foucault.
82
“Parece que temos de comemorar os meros: Tropa foi o filme brasileiro mais visto em 2007. Não sei
mencionar números certos e não é esse mesmo meu objetivo mas alguns milhões foram perdidos para a
indústria da pia. Os milhões ganhos nos cinemas, segundo fontes dos jornais, ainda não pagaram o custo
final do filme. O que acontece, no certo, é que a sociedade acaba ficando envolta por opiniões de especialistas,
de curiosos, de oportunistas e assim vai.
83
“A matriz teórica utilizada para compor o roteiro do filme, foi a matriz ESTRUTURALISTA, bem diferente
da matriz positivista. ... Na escola filosófica do Estruturalismo estudam-se “as relações recíprocas entre um
conjunto de fatos e não de fatos particulares examinados isoladamente.' ... Comumente, o
ESTRUTURALISMO, como Método de Pesquisa, promove o chamado ESTUDO DE CASO. Isola uma
situação num determinado local e tenta focar sua análise no processo de formação de uma compreensão sobre
essa situação. Não importa, repito, a conclusão do caso em si e, sim, de que maneira essa conclusão foi
concebida, quais os caminhos percorridos pelo intelecto para se chegar a ela. ... Com esse outro olhar sobre a
81 Vladimir Vieira – revista Viso, edição citada
82 LIMA (2009)
83 SAMARÃO (2007)
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metodologia de se contar uma história de maneira cinematográfica, tem-se que o capitão Nascimento não é a
personagem principal do filme. É somente o seu narrador. A “personagem” principal é um conjunto de
situações que se deram durante o PROCESSO ... O filme, na verdade, a partir da escola
ESTRUTURALISTA de análise da realidade” (sem data)
84
Desta maneira, ao ver que em nenhuma originalidade de afunilamento (a última opção de caminho
a percorrer: relações de Tropa de Elite e Foucault) se dava minha busca (ainda mais depois de quase
dois anos do “lançamento” do filme), cada vez mais me convenci e também fui apoiada neste
ponto pela minha orientadora – de que era a repercussão em si deste filme nacional que me
impulsionava a seguir uma trilha online de publicações a seu respeito. Assim, no Anexo desta
dissertação (final do volume) encontram-se alguns trechos dos materiais pesquisados online (assim
como no decorrer de toda a escrita encontram-se print screens de blogs e imagens advindas da rede-
internet), há que se perceber aqui que nem todo material encontrado teve seus trechos copiados para
aqui estarem e/ou foram utilizados (“infinitos” são estes materiais, ainda mais a partir de janeiro de
2010 com o lançamento do blog do Tropa de Elite 2, blog oficial lançado à época do início das
filmagens da continuação do filme pelo mesmo diretor). Outro ponto interessante nesta busca diz
respeito aos games (aos quais não darei qualquer aspecto analítico, mas somente de amostragem);
aqui aponto também uma “experiência vivida”: em dezembro de 2007 estive na cidade do Rio de
Janeiro e me impressionou que os camelôs estivessem vendendo não somente o filme (como
havia sido divulgado pela mídia desde agosto do mesmo ano) mas o famoso (popular) game “Grand
Theft Auto”
85
(para console Playstation 2 – Sony) com personagens do filme
86
.
84 http://yon.pro.br/texto_tropa_de_elite.pdf
85 http://www.rockstargames.com/sanandreas/
86 http://forum.outerspace.terra.com.br/showthread.php?t=126932 | http://www.zineacesso.com/2008/02/22/gta-tropa-
de-elite/ | http://www.geomatrix360.com.br/loja/product_info.php?products_id=2563 |
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Na busca online para apresentar esta inserção não oficial do
filme em um game de tamanha repercussão internacional,
acabei encontrando também outro índice de popularidade do
Tropa de Elite em outro game de extrema popularidade na rede
entre jogadores, o “Counter Strike” (CS)
87
; em 12 de outubro
de 2007 há um primeiro post de um blog
88
para CS específico a
Tropa de Elite
89
(“O Counter-Strike foi um dos responsáveis
pela massificação dos jogos por rede no início do século, sendo
considerado o grande responsável pela popularização das LAN
houses no mundo. O jogo é considerado um "desporto
electrónico". Muitas pessoas levam-no a sério e recebem ordenados fixos, existem mesmo clãs
profissionais, e que são patrocinados por grandes empresas como a Intel e a NVIDIA.”
90
)
Outro exemplo é o jogo “Tropa de Elite Multiplayer Beta” (.exe) disponibilizado em 03/12/2008 no
espaço de downloads da UOL para ser adquirido gratuitamente:
“Game baseado no filme Tropa de Elite. O cenário é a favela do Rio, como não poderia ser diferente. E
ainda com características fortemente ligadas aos líderes do gênero FPS (Counter-Strike, Battlefield e Doom
3). Como insinua o próprio nome, Tropa de Elite Multiplayer foi especialmente desenvolvido para se jogar
online. Enfrente esse desafio ou então PEDE PRA SAIR, PEDE PRA SAIR!!!!”
91
87 Valve Corporation :: http://store.steampowered.com/app/240/
88 Criado por Diego Hernandes Soares Alves
89 http://bopecs.blogspot.com/2007/10/instalao-do-tropa-de-elite-para-cs.html
90 http://pt.wikipedia.org/wiki/Counter-Strike
91 http://tudodownloads.uol.com.br/download/1539/Tropa_de_Elite_Game_Multiplayer_Beta.html
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Dos pontos de vista de “marketing viral” e/ou pirataria como vitimização não entrarei neste ínterim.
Tomei como base da utilização de bens imateriais assumi o livro Remix Making art and
Commerce thrive in the Hybrid Economy de Lawrence Lessig
92
mesmo sabendo da oposição entre o
time norte-americano ao qual ele pertence (Common Creative
93
) e outros como o do, também
jurista, indiano Lawrence Liang
94
.
92 Ver “referências bibliográficas e webgráficas”
93 http://www.creativecommons.org.br/
94 “Sobre a ética da pirataria (ou a falta dela)”, por Miguel Caetano em 22 de Junho de 2007
(http://remixtures.com/2007/06/sobre-a-etica-da-pirataria-ou-a-falta-dela/)
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“A primeira polêmica em torno do filme se deu antes mesmo de ele estrear nos cinemas. Como ator de Tropa
de Elite, lembro-me da primeira vez que alguém me abordou na rua falando do meu personagem, o Soldado
Paulo. Um “flanelinha” da rua do Catete, sorrindo, disse-me a frase que ouviria muitas e muitas vezes depois:
“e então, tem ou não tem carburador?” Estupefato, indaguei ao homem onde ele tinha visto o filme. E ele,
surpreso com a minha ignorância, disse que tinha pegado o filme emprestado de um amigo, e que todo
mundo na vizinhança dele havia visto também. Inclusive, acrescentou, “VAI PASSAR NA TV A CABO
DA FAVELA!” ... Nas semanas que se seguiram, me acostumei a ser reconhecido pelas pessoas,
principalmente as de classes sociais mais baixas. Flanelinhas, porteiros, jornaleiros, camelôs, caixas de
supermercados, entregadores de pizza, seguranças e, claro, policiais. Aproximadamente um s depois, O
Globo [agosto, 2007] noticiava o fenômeno que estava acontecendo com um filme que nem havia sido
lançado e era um dos mais comentados do cinema nacional. A partir daí, amigos começaram a me contar
que haviam visto o filme, vizinhos meus também me cumprimentavam e parentes ligavam para me felicitar.”,
Paulo Hamilton
95
O próprio diretor em entrevista durante o programa Roda Viva (TV Cultura, 08 de outubro de
2007) – afirma que interessava-lhe gerar um grande debate em torno do filme e que este viesse a se
tornar objeto de teses acadêmicas:
“Existia antigamente a noção de que, para fazer um filme sobre a sociedade, você tinha que fazer um filme
que gerasse um distanciamento crítico, que não engajasse o espectador pela emoção. Os filósofos pensavam
isso também, mas rapidamente descobriram que não. Como Deleuze ou Foucault, por exemplo, que
descobriram que você pensa para dar conta das suas emoções. ... O Fernando [Meirelles] fez isso no Cidade
de Deus. Ele pensou: não preciso ter uma seqüência lenta, que tire o espectador à la Brecht: "agora você
pensa". Não preciso fazer isso. Preciso engajar o espectador ao longo do filme inteiro e vou gerar um debate
muito maior ao final do filme. Por isso o Cidade de Deus gerou mais de 50 teses universitárias. Tropa de Elite
gerou 30 no Brasil e no exterior. Não estou dizendo que você não possa fazer um filme que tenha um ritmo
95 Revista Viso (ver “referências bibliográficas e webgráficas”)
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lento. Só digo que a emoção e o engajamento do filme com o espectador não alienam a razão. Pelo contrário, a
emoção puxa a razão para dentro do filme muito mais do que o filme que é criticamente distanciado. Tanto
que você falou que as pessoas ou amam ou odeiam e debatem o filme ferozmente. É isso que a gente quer.”
96
Desta maneira você irá pensar “Milena caiu também na armadilha de Padilha”, mas desde o início
talvez eu tivesse como estratégia
97
utilizar-me desta enorme repercussão do filme para colocar
minha própria pesquisa (e titulação) acadêmica na “trilha do sucesso”: muito fácil, portanto, fazer
um trabalho sobre um filme tão comentado e debatido, lugar comum. Ou ao contrário a meu ver
–, mais difícil: a dificuldade se exatamente na questão de uma profunda garimpagem nesta
ampla gama de debates e produtos derivados do filme que podem ser encontrados na web. Assim, o
que parece ser fácil, tornou-se despendioso e trabalhoso (separar o joio do trigo), mas
profundamente desafiador e enriquecedor: talvez tenha sido sim a tamanha repercussão de um filme
nacional que me chamou a atenção. A repercussão vinha de 2007, mas tornou-se impressionante
como o filme gerou tantas produções voluntárias na rede ainda durante os dois anos seguintes ao
seu “lançamento”. A seguir, em uma ordem cronológica, alguns trechos destas escritas encontradas
em blogs
98
:
09.setembro.2007 retrato da elite da tropa >> “Meninos, eu vi! O filme
foi copiado para a rede. Tropa de Elite é show! ... Depois que a pia caiu
na rede, o povo passou a "baixar" o filme e o mercado paralelo virou festa.
No Centros das grandes cidades, os camelôs gritam a plenos pulmões: -
Olha o DVD do filme Tropa de Elite! .. e o faturamento da produção de seis
milhões de reais escoa para o ralo da informalidade de nossa economia. Mas
o assunto está tão forte no boca-a-boca, que a copiagem generalizada pode
96 Padilha em entrevista, 14.fevereiro.2008 Deutsche Welle. "Ame ou odeie 'Tropa de Elite', o que importa é o debate"
(http://www.deutsche-welle.de/dw/article/9798/0,,3115068_page_3,00.html)
97 Mídia tática
98 Mais em “Anexo”
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se transformar em fenômeno de marketing favorável. ”
99
outubro.2007, por Contardo Calligaris/ jornal FSP >> “Se voquiser passar uma hora e meia com o
coração na mão e se quiser pensar e viver a realidade nacional um pouco além dos limites impostos pela
consciência culpada, não perca "Tropa de Elite".
100
outubro.2007 O herói torturador: Tropa de Elite vira fenômeno cultural e faz pensar sobre as razões
que levam o público a aplaudir o policial violento em nossa sociedade, por Ana Paula Sousa (revista
Carta Capital Edição 465) >> Estima-se que 1 milhão de DVDs piratas tenham sido vendidos. As pias
das cópias são incalculáveis. No Rio, é difícil cruzar com alguém que não tenha visto o filme. Seja no bar
Belmonte, no Flamengo, seja em Cidade de Deus, onde a cópia foi exibida na feira, na barbearia, nas casas
todas, o filme acirra os ânimos. Em São Paulo, no Aeroporto de Congonhas, um taxista viu, nas mãos da
repórter, a capa do pirateado Tropa de Elite 3, um documentário superviolento e primário, feito pela própria
polícia. Não resistiu. Vome empresta pra eu gravar? Prometo devolver. Te deixo meu telefone, meu RG,
tudo.” No Nordeste, também há Tropa de Elite para todo lado. No alto sertão paraibano, na cidade de Sousa,
há três semanas, um morador se espantou: “Nossa, você é jornalista e não viu o filme? Tem de ver”. ... Que
sociedade é esta que viu no capitão Nascimento um herói salvador?
101
, o link encontrado online com este
texto na íntegra é referente a uma prova de vestibular de 12 de dezembro de 2007
Tropa de Elite 1, 2, 3 e 4 >> “Na tentativa de buscar alguma referência cinematográfica que satisfazesse essa
minha insanidade em consumir sangue, lembrei do noticiário; o filme de José Padilha, Tropa de Elite, foi o
mais pirateado na história do cinema: logicamente o encontrarei para comprar nas barraquinhas de camelô
que ilustram meu pobre bairro. "Cara, você tem o filme do BOPE - Tropa de Elite", abordei o vendedor.
"Vixe, esse tem de sobra. Tenho o 1, o 2, o 3 e até o 4". "Nossa, já tem quatro seqüências? Mas não são todos
a mesma coisa não, ?". O vendedor advertiu: "Que nada! Garanto pra vocÊ que o". Não resisti. Por
apenas R$12, levei 4 filmes e rapidamente dirigi-me até o DVD da minha sala. Para conferir se o fui
99 http://polemikos.com/cinema/cin20070909.html
100http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/tropa_elite.pdf
101http://www.vestgradual.com.br/image/img/1Ano-ProvaObjetiva-2008.pdf
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sacaneado, coloquei os filmes para ver se funcionavam, até que tive uma surpresa que me inquietou bastante:
todos, realmente, eram diferentes. Totalmente diferentes. O primeiro filme era o Tropa de Elite mesmo, o
polêmico, violento e ao mesmo tempo realista obra de José Padilha. A surpresa se iniciou quando coloquei "o
2" no aparelho: na verdade, era uma obra que nada tinha a ver com o filme de Padilha. Era Notícias de Uma
Guerra Particular, documentário sobre traficantes e policiais de João Moreira Salles lançado em 1999. O
terceiro e quarto DVD´s eram, respectivamente, Dia a Dia de um Policial e Ônibus 174. Abstraí. O comércio
pirata, além de conseguir ter acesso ao Tropa de Elite original e conseguir ter um alto números de vendas de
maneira alardeante, nomeia obras de outros profissionais como seqüências ... Tropa de Elite está nas telonas.
Espera-se que grande parte do público aas bilheterias e pague para (re)vê-lo. Boa parte do público o
tem em sua casa e já deve ter revisto pelo menos umas três vezes, pois em todo boteco que se vá, não há uma
roda de amigos que não discuta sobre o filme. Li a crítica do filme nos jornais e está com uma boa
avaliação. ... infelizmente, prefiro sustentar a pirataria, do que pagar R$10 para ir ao cinema, ou por volta
R$40 (preço que irá custar o DVD original de Tropa de Elite)
102
, sem data
08.outubro.2007 >> Clássico batidão carioca marca entrada dos créditos de “Tropa de Elite” ... Mesmo
antes de estrear no cinema, Tropa de Elite é um filme que esquentava debates em mesas de bar, filas de
supermercados, em conversas pueris no trânsito. Isso porque boa parte da população assistiu ao filme em
casa e promoveu sessões privates ao lado de familiares e amigos. A pesquisa DataFolha, por exemplo,
registrou que, em São Paulo, mais de 1,5 milhão de pessoas assistiram ao longa antes de ele entrar
cartaz. Tanta volúpia por um filme nacional tem um motivo muito bem definido: nas telonas, vemos,
consternados, a narrativa de um estado falido e da segurança do cidadão em xeque a cada instante.”
103
11.outubro.2007 Votando no Capitão >> “Agora, José Padilha é crucificado pela esquerda porque em
“Tropa de Elite”, pela primeira vez, o cinema nacional mostra a violência carioca pelo ponto de vista da
polícia, que é o dos cidadãos comuns, e não pelo dos bandidos, que é o da classe artística, dos “formadores
de opinião” e do beautiful people esquerdista em geral. Padilha não fez isso porque queria, mas porque, tendo
optado por uma narrativa realista, teve de ceder à coerência interna entre os rios elementos factuais em
102http://www.gostodeler.com.br/materia/2827/Tropa_de_Elite_.html
103http://www.revistaogrito.com/page/2007/10/tropa-de-elite/
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jogo, mostrando as coisas como elas aparecem aos olhos de qualquer pessoa que esteja boa da cabeça e não
tenha se intoxicado nem de cocaína nem de Michel Foucault, como o fazem aqueles três grupos de criaturas
maravilhosas.”
104
12.outubro.2007 >> “Cinema é a arte de manipular uma platéia por toda a duração do filme. Pegá-la pelo
estômago e conduzi-la através das cenas, para que se sintam transportadas a outra realidade. O filme Tropa de
Elite faz isso como nenhum outro do cinema nacional, nem mesmo Cidade de Deus (que chegou bem perto).
Tropa de Elite é o nosso Pulp Fiction, um fenômeno não só cultural, mas social. Sim, social, porque esse lado
do filme foi ignorado por meses, enquanto as cópias piratas proliferavam nos camelôs, e foi uma grata
surpresa quando vi no cinema um roteiro com profundidade que margem a HORAS de conversa sobre
Foucault, psicologia, direito, sociologia, tráfico, violência, papel da polícia, papel do Estado, corrupção,
enfim... ”
105
No post acima seria interessante retornarmos aqui ao famoso texto de Benjamin, “A Obra de Arte
na sua reprodutibilidade técnica”, que trata para além da fotografia, especificamente da presença do
cinema à década de 20 na Europa (Berlim e Paris). A cinematografia tratada como o papel de
manipulação da platéia a partir da mimese do real que torna invisível ao público toda uma vasta e
complexa produção técnica, número de profissionais na equipe e preparação de atores para as
câmeras no fazer fílmico, fazer cinema.
19.outubro.2007 O Hype do Tropa de Elite >> “Estava lendo a Veja com a capa sobre o Tropa de Elite. Os
blogs, a cada 5, 8 falam do filme. Eu ainda não vi ... E ver Tropa de Elite se tornou Dever Cívico. Eu ODEIO
quando não me o opção, e no Brasil hoje ninguém tem opção de NÃO ver Tropa de Elite, seja no piratão,
seja no cinema. Normalmente não perguntam nem se eu “vi”, perguntam “já viu? como se fosse algo
inevitável.”
106
104http://www.olavodecarvalho.org/semana/071011jb.html
105http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/10/tropa_de_elite.html
106http://www.carloscardoso.com/2007/10/19/o-hype-do-tropa-de-elite/
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30.outubro.2007 >> “A crítica brasileira vem adotando posições das mais contrárias. Uns dizem que o filme
é fascista e que faz apologia à tortura, alguns dizem que é um dos melhores filmes brasileiros. Outros, ainda,
dizem que o filme não é bom porque é muito hollywoodiano. ... [Capitão Nascimento] Trata-se do
personagem brasileiro mais mothafucker de todos os tempos. Tanto que começaram a pipocar na internet
os Nascimento Facts, nos mesmos moldes dos Chuck Norris Facts. Wagner Moura subiu no nosso conceito.
Conseguiu criar um mito. Ele é o nosso Jack Bauer, nosso Jhon McLane, nosso John Locke. ”
107
11.fevereiro.2008 (revista Variety) >> “Brazil’s powerful military police are elevated to Rambo-style heroes
in “The Elite Squad,” a one-note celebration of violence-for-good that plays like a recruitment film for fascist
thugs. Weinstein coin was injected on the basis of the script only, but after editing was over, tyro features
helmer Jose Padilha decided a rewrite was in order, tacking on an omnipresent narration that’s meant to
strengthen identification but instead will alienate intelligent viewers. …On the one hand, “Elite Squad” is an
honest picture of violence in the favelas, or slums, of Rio de Janeiro, and the rampant official corruption that
sustains it. But pic presents its case by celebrating police psychopaths and ridiculing any attempts at social
activism, or even emotion. Charges of fascism by pic’s critics aren’t merely knee-jerk liberal reactions, but an
unimpeachable statement of fact.”
108
18.fevereiro.2008 A renúncia ao debate, por Alberto Dines >> “Os jornais de domingo (17/2) vibraram
com a premiação de Tropa de Elite no Festival de Berlim. Mas preferiram esquecer a má vontade dos críticos
e jornalistas quando o filme foi apresentado em setembro passado. "Filme fascista", declarou na ocasião um
cronista carioca; "elogio da tortura", pontificou em seguida um comentarista paulista. Bobagem, patrulha
ideológica clássica. O grande cineasta Costa-Gavras que presidiu o júri, expoente de um cinema político e
humanista, jamais poderia premiar um filme fascista ou mesmo autoritário. A grande verdade é que a mídia
brasileira não sabe discutir nem debater, prefere condenar ou exaltar. Tropa de Elite é principalmente uma
denúncia contra a corrupção policial, a mesma corrupção que está nas páginas dos jornais, tanto no Rio como
em São Paulo. Pode-se discordar de enfoques ou passagens, mas é impossível negar sua validade como
107http://jovemnerd.ig.com.br/colunas/casting-nerd/casting-nerd-tropa-de-elite/
108http://www.variety.com/review/VE1117936168.html?categoryid=31&cs=1
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denúncia. Denuncia cabal, contra todos, inclusive contra os intelectuais e estudantes da classe média pesados
consumidores de drogas.”
109
18.fevereiro.2008 >> “Sobre Tropa de Elite (vejam bem: não sou cinéfilo, nem tenho a pretensão de ser algo
minimamente parecido nem mesmo com um crítico de cinema amador ... Foi interessante notar que Tropa de
Elite foi um dos filmes brasileiros mais odiados pela inteligentsia cinematográfica” local. Toda hora que
alguém falava sobre o filme, citavam-se tendências fascistas, supostas apologias à violência, o diabo à quatro.
Pois eu digo: o grande trunfo do Tropa de Elite esteve justamente naquilo que o pessoal “cult” olhou com cara
de nojo: ele não reza nem pela cartilha estética e nem pela cartilha ideológica da maioria da classe intelectual
atual, que décadas (desde o cinema-novo, acho) sempre pendeu para o “brasilianismo”, para a escola
européia de diretores, para o esquerdismo, para o politicamente correto e, por que não, até mesmo para o anti-
americanismo estético e político. ... Nunca na minha vida até hoje tinha visto com tanta frequência
camelôs vendendo na rua um filme brasileiro que não fosse pornográfico. ... E não adianta querer criar
reservas de mercado, quotas de tela, o escambau: se o cinema brasileiro quer evoluir, ele tem que parar, nem
que seja um poquinho, de olhar para o Cahiers du Cinema e o Ministério da Cultura e olhar para os cinemas,
para as pessoas comuns, para o público. E fazer uma linguagem cinematográfica nova, sem rodeios, sem
pregações obrigatórias socialistas, que vai direto ao assunto. E é justamente nisso que eu achei Tropa de Elite
revolucionário. Se o cinema nacional começasse a ter mais filmes assim, com certeza o panorama cultural das
telas por aqui mudaria… e os filmes seriam comentados além das rodinhas de cade centros culturais e
colunas obscuras nos cadernos de cultura.
110
, grifos meus.
27.fevereiro.2008 >> ““Tropa de Elite” (Brasil, 2007) é o maior fenômeno de 2007. O famoso episódio da
pirataria, que fez o filme chegar às ruas três meses antes da estréia oficial, ... Virou fenômeno cultural.”
111
março.2008 O que o Bope representa para a brasilidade
112
>> “Nas últimas semanas, um fenômeno da
109http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=472IMQ006
110http://magiozal.mondo-exotica.net/
111http://www.cinereporter.com.br/dvd/tropa-de-elite/
112“um dos principais dilemas brasileiros: uma realidade de conflito cotidiano permanentemente negada pelo mito
pacificador da brasilidade. ... o mito brasileiro precisou ser constituído em torno de um ideal de harmonia e paz,
através da idéia de síntese de opostos, exaustivamente sistematizada por Gilberto Freyre, desde seu clássico Casa
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indústria cultural de gigantescas proporções tomou ruas e casas de todo o Brasil, principalmente da cidade do
Rio de Janeiro. Trata-se da disseminação do comércio pirata do filme “Tropa de Elite”, do diretor José
Padilha, inspirado (mas não fielmente) no livro “Elite da Tropa”, de Luiz Eduardo Soares, et al (Objetiva,
2006). A intensa procura pelo filme, bem expressa na fala dos ambulantes que o vendiam (“todo mundo está
vendo”), é sintomática de que seu conteúdo é facilmente aceito e que toca em pontos delicados do sentimento
da população carioca como um todo, o que exprime bem o sentimento do brasileiro comum. Como era de
se prever, o lançamento oficial foi um sucesso, colocando-o imediatamente no centro do debate nacional. ...
O significado dessa matança, justificada pela brasilidade como uma guerra do bem contra o mal, deriva de
um sistema impessoal de naturalização da desigualdade que deixa bem claro quem deve ser preservado e
quem pode morrer na guerra. Trata-se de uma guerra impessoal entre classes que, como diria Foucault (Em
defesa da sociedade, 2005), tem como objetivo “fazer viver” e “deixar morrer”.”
113
31.maio.2008 >> “"[Tropa de Elite] Virou uma referência, o que é ótimo. Compreendo
perfeitamente essa idéia de o longa tentar ser neutro, de não se aliar ao protagonista, o Capitão
Nascimento, mas também de não o condenar. É o anti- Glauber Rocha. O Glauber era um cara
que opinava em cada diálogo, em cada plano. E Tropa de Elite é o oposto. Essa estratégia tem
muito mais impacto na sociedade do que qualquer filme que o Glauber fez." (Fernando
Meirelles, diretor de Cidade de Deus, em entrevista à Bravo!, onde ainda acrescentou a respeito
de si e de José Padilha, diretor do Tropa de Elite, que "O que fazemos é totalmente anti-
Hollywood").”
114
30.maio.2009 >> “No Brasil as crianças nos surpreenderam amando Tropa de Elite. Pudera! São mais de
trinta anos – desde Nacional Kid, passando por Gil Gomes no programa Aqui Agora – de investimento nessa
formação político-militar-policial baseada em heróis que salvarão o mundo do mal. A mesma história, desde
a instauração do Tribunal Eterno pela Igreja Católica. O amor dessas crianças pelos policiais do BOPE é o
Grande & Senzala. ... mito pacificador,
113http://www.espacoacademico.com.br/082/82maciel_fabricio.htm
114http://www.culturaebarbarie.org/blog/2008/05/
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mesmo votado aos heróis assassinos dos desenhos animados, colonizadores do(s) período(s) em que o
estão imobilizadas na carteira escolar. O mesmo amor nutrido por seus pais e avós ante qualquer salvador do
mundo.”, Guilherme Corrêa
115
23.julho.2009 O legado de Capitão Nascimento >> “cujo pano de fundo, sobrepujante em Tropa de Elite, é
a moralização do espectador que não suscita dúvidas quanto à maneira adequada de confrontar os problemas
sociais expostos na tela. Pessoalmente, tenho um pouco de enfado quando se trata de discutir o filme de
Padilha algo que foi feito exaustivamente, na época de seu estrondoso lançamento. As apropriações do
filme a um discurso tacanho da pior direita possível estão inteiramente representados em um artigo de
Reinaldo Azevedo [VEJA], cujas falácias foram rebatidas, ponto a ponto, em um post brilhante no Catatau
[BLOG]. Os limites de Tropa de Elite, como cinema, prejudicam todas as tentativas de considerar relevante o
seu discurso sobre a violência urbana, a vida nas favelas ou as condições da polícia nesse contexto. O próprio
filme vazão àqueles que o interpretam a partir de infinitos interesses, mas sempre ignorando o valor da
apreciação estética e da reflexão sobre a arte e suas maneiras de significar a experiência. ... um arauto da
redenção social brasileira, anunciada muito pelos nossos teleapresentadores sensacionalistas de Carlos
Massa a José Luiz Datena – sob a fachada do “jornalismo cidadão”. Tropa de Elite não se distingue,
fundamentalmente, do tipo de entretenimento camuflado de crítica social praticado nesse meio. Se há algo
que explica o quanto o filme foi bem sucedido, pelo viés ideológico, é a delongada acomodação dos
espectadores a esta maneira de perceber o mundo que recusa as nuances, o pensamento, o aprofundamento
trata-se aqui da pequenez de um homem que, infelizmente, não vai além da sua funcionalidade produtiva ...
Desse modo, a empreitada de obras congêneres, ambientadas agora em São Paulo, encontra em Tropa de
Elite o apenas uma referência estética, mas uma visada mercadológica acertada, que supre uma demanda
de filmes de ação de caráter muito próximo em termos de experiência sensorial daquilo que o cinema
hollywoodiano oferece há muito tempo. ... as soluções ideologicamente “limpas” para que nada do que nos
incomoda seja realmente modificado em seus alicerces, mas tão somente na positividade do que foi proposto
como objetivo do “todo social”: a aparência de que tudo está bem, quando tudo o que é o espectro das
vidas particulares, que ora podem ser afirmadas como modelos heróicos (a dimensão da honestidade de
115http://www.trezentos.blog.br/?p=1567
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Capitão Nascimento e do Bope) ora podem ser descartadas como elementos podres da totalidade (os que
levam os tiros, os que consomem as drogas). ... Quando Ivana Bentes lançou a polêmica hipótese da
cosmética da fome um artefato dos anos 1990 para “encaixar” a pobreza, antes tematizada pelo cinema
novo, no contexto do neoliberalismo e da suposta retração das ideologias o estaria ela se referindo a um
movimento muito mais amplo, que extrapola a abordagem imagética do sertão e da favela construídos
naqueles filmes? A luta por reconhecimento do cinema brasileiro recente, e sua suposta diversidade, não seria
toda ela um conjunto de esforços que, salvo exceções, mantém sua unidade apenas pelo interesse em
atualizar um velho sentido de cinema, este realmente rechaçado pela arte mais criativa dos anos 1960?
Cidade de Deus e Tropa de Elite não seriam os pontos máximos desse esforço, que melhor alcançaram o
modelo de viabilidade – comercial e estética, para nós que não temos os “efeitos especiais” – em face de um
público ainda dominado pelo que se pode chamar, em linhas muito tortas, de um “gosto” pelo espetáculo”
cujas raízes estão na pior faixa do cinema hollywoodiano?”
116
O debate na mídia (jornalismo brasileiro tanto impresso quanto audiovisual) gerou uma enorme
quantidade de posicionamentos voluntários e respostas aos debates “pagos”:
“Tudo no filme que não é o discurso do Capitão Nascimento soa ridículo, risível, até porque os demais
personagens o extratos estereotipados numa narrativa que se quer naturalista, mas crivada de cortes que de
abrangentes nada têm. ... Curioso que, num filme tão up to date, tão distribuído por tantas majors (aliás,
quando apareceu "Universal Pictures" na tela, teve gente quase esvaindo de gozo), as várias discussões
sociológicas que se travam sobre a questão da violência policial (no âmbito da universidade onde estuda a
bandidagem burguesa, no caso, a PUC) não há uma sílaba sequer referente a teses modernas, como a liberação
do consumo de drogas, hoje altamente aceitas, ao menos como tema de debate, em qualquer foro, mas não na
sala de aula retratada por Padilha, onde só há viciados alienados, com exceção do policial Matias, que conhece
a realidade.”, Arnaldo Bloch em “Tropa de elite é fascista?”, 17 de setembro de 2007
117
116http://vistoseescritos.opsblog.org/2009/07/23/o-legado-de-capitao-nascimento/
117http://www.growroom.net/board/index.php?showtopic=25755 [observação: o link é de um blog – 26/09/2007 – que
fez o favor de publicar online os textos de Arnaldo Bloch e a resposta a este de Wagner Moura, já que o jornal O
Globo – onde o texto foi originalmente publicado – só é accessível para assinantes]
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Impressionante como um filme nacional ganhou tamanha repercussão nos moldes de um
blockbuster (quantos filmes nacionais são comercializados pelos camelôs brasileiros?
118
) e gerou
diferentes debates (e opiniões) na sociedade brasileira. “Que sociedade é esta?”, perguntava o
então chefe da polícia do RJ, Hélio Luz, no documentário produzido para a televisão, Notícias de
Uma Guerra Particular, numa produção exatamente dez anos antes; chega a ser irônico – ou talvez
certeiro que a diegese (do tempo e espaço) de Tropa de Elite se passe também no Rio de Janeiro
de 1997.
Por exemplo, no YouTube (plataforma videográfica pertencente à empresa Google) encontrei uma
gama enorme de vídeos que separo como quatro grandes blocos derivativos sobre Tropa de Elite: 1.
musical; 2. entrevistas; 3.reportagens jornalísticas e 4. demais filmes brasileiros relacionados (como
é o caso, novamente, de Notícias de uma Guerra Particular, em que a participação de Rodrigo
Pimentel à época capitão do BOPE aparece intitulado como “o verdadeiro capitão
Nascimento”
119
, trecho este que eu mesma havia utilizado nas primeiras “retóricas audiovisuais”
sobre o tema, entregues em fevereiro de 2009). O maior número de material encontrado no
YouTube sobre o filme são “videoclipes” das duas principais músicas da trilha sonora: Rap das
Armas (escrita por Mcs Junior e Leonardo, por vezes distribuída nas vozes de MC Cidinho e MC
Doca) e Tropa de Elite (do grupo Tihuana).
“As cenas iniciais exibem o tom de guerra que percorrerá o filme, a começar pela opção de dois hinos,
cada qual representando sua facção no combate. Primeiramente, um baile funk com jovens fortemente
armados, ao som de Rap das Armas ... Logo em seguida, o BOPE irrompe em cena e, junto com o batalhão,
aflui outra música da trilha sonora, Tropa de Elite [da banda, de pop-rock brasileiro, Tihuana], como se
118Além de o próprio comércio informal “lançar” o Tropa de Elite #2, #3, #4..., conforme demonstrado em citação
anterior.
119http://www.youtube.com/watch?v=h9Jngj99NlI
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rivalizasse com Rap das Armas”, Roberto Aparecido Teixeira
120
Videoclipes em sua maioria produzidos (edição de imagens) e publicados por fãs, sejam do filme ou
das músicas, ou de ambos (na maioria dos casos encontrados). O funk-carioca Rap das Armas pode
ser encontrado online em duas versões (diferentes letras, mas mesma base de percussão e de mesmo
refrão). A letra utilizada em Tropa de Elite é a primeira aqui apresentada, a segunda versão é
cantarolada em Notícias de Uma Guerra Particular
121
. Em comum, ambas apresentam as armas
utilizadas nos morros cariocas, enquanto a batida funk causa tremenda empatia junto ao público
tanto brasileiro como estrangeiro
122
:
“Parapapapapapapapapa
Parapapapapapapapapa
Paparapapaparapa kla ki bum
Parapapappapapapa” (refrão)
Letra#1 (MC Júnior e MC Leonardo):
“O meu Brasil é um país tropical/ A terra do funk é a terra do carnaval/ O meu Rio de Janeiro é um cartão
postal/ Mas eu vou falar de um problema nacional / [refrão x2] / Metralhadora AR-15 e muito oitão/ A
Intratek com disposição/ Vem a super 12 de repetição/ 45 que um pistolão/ FMK3, m-16/ A pisto UZI, eu vou
dizer para vocês/ Que tem 765, 762/ e o fuzil da de 2 em 2 / [refrão] / Nesse país todo mundo sabe falar/ Que
favela é perigosa, lugar ruím de se morar/ é muito criticada por toda a sociedade/ Mas existe violência em
todo canto da cidade/ Por falta de ensino, falta de informação/ pessoas compram armas, cartuchos de
munição/ se metendo em qualquer briga ou em qualquer confusão/ se sentindo protegidas com a arma na
mão / [refrão] / vem pistola glock, a HK/ vem a intratek, Granada pra detonar/ vem a caça-andróide e a
famosa escopeta/ vem a pistola magnum, a Uru e a Beretta/ colt 45, um tiro só arrebenta/ e um fuzil
120TEIXEIRA (2010)
121No documentário de Lund e Salles (1997), um menino interno da “febem” é o intérprete para a câmera
122Além de encontrar online este material traduzido para o inglês ou mesmo remixado por djs estrangeiros, a
experiência vivencial em festivais de música – que têm marcado o início de todos os últimos verões em Londres, na
Inglaterra – demonstra o apreço à batida funk-carioca pelo público no exterior.
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automático com um pente de 90/ estamos com um problema que é a realidade/ e é por isso que eu peço paz,
justiça e liberdade / [refrão] / Eu sou o MC Júnior, eu sou MC Leonardo/ Voltaremos com certeza pra deixar
outro recado/ Para todas as galeras que acabaram de escutar/ Diga não a violência e deixe a paz reinar /
[refrão x2]”
123
Letra#02 (MC Cidinho e MC Doca):
“[refrão] / Morro do Dendê é ruim de invadir/ Nós com os alemão vamos se divertir (é)/ Porque no Dendê eu
vou dizer como é que é/ Aqui não tem mole nem pra DRE/ Pra subir aqui no morro até a BOPE treme/ Não
tem mole pro exército, Civil nem pra PM/ Eu dou o maior conceito para os amigos meus/ Mas morro do
Dendê, também é terra de Deus/ Tem um de AR15 e o outro de 12 na mão/ Tem mais um de pistola e outro
com dois oitão/ Um vai de Uru na frente, escoltando o camburão/ Tem mais 2 na retaguarda, mas tão de crock
na mão/ Amigos que eu não esqueço, nem deixo pra depois/ Lá vem dois irmãozinhos de 762/ Dando tiro pro
alto pra fazer teste/ De INA, INBRA, Tek, pisto Uzi ou de Winchester/ É que eles são bandido ruim e
ninguém trabalha/ De AK47 e na outra mão a metralha/ Esse rap é maneiro eu digo pra vocês/ Quem é
aqueles caras de M16?/ A vizinhança dessa massa diz que não agüenta/ Na entrada da favela tem ponto
50/ E se tu tomar um 'pá', será q você grita?/ Seja de ponto 50 ou então de ponto 30/ Mas se for alemão eu não
deixo pra amanhã/ Acabo com o safado, dou-lhe um tiro de fazan/ Porque esses alemão são tudo safado/ Vem
de garrucha velha da dois tiro e sai voado/ E se não for de revolver, eu quebro na porrada/ E finalizo o rap
detonando de granada! / [refrão]”
124
Letra “Tropa de Elite” (Tihuana)
125
:
[refrão: “tropa de elite, osso duro de roer/ Pega um pega geral/ também vai pegar você”]
“Agora o bicho vai pegar! / Tô chegando de bicho, tô chegando e é de bicho / Pode parar com essa história de
se fazer de difícil / Que eu tô chegando, tô chegando e é de bicho / Pode parar com essa marra, pode parando /
tudo isso / Num bobeira não/ na minha mão/ segunda - feira é história pra Contar/ Não vem com
123http://letras.terra.com.br/mc-junior-leonardo/1110441/
124Postagem em blog com tradução da música para o inglês. http://jahsonic.wordpress.com/2009/03/23/rap-das-armas-
or-parapapapapapapapapapa/
125Música inserida no álbum de estréia da banda, “Ilegalidade” (2000)
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idéia não/ Não quero confusão/ Mas vamo junto que hoje o bicho vai pegar.../ Chegou [refrão x4] / Chega pra
lá, chega pra lá/ chegando e vou passar/ Cheguei de repente, vai ser diferente/ Sai da minha frente/ Sai da
minha frente meu irmão,/ não/ Não vem com isso não/ chegando é de ladrão/ Porque quando eu pego eu
levo na o/ Não mando recado vou na contramão/ naum da bobera naum/ na minha mão,/ segunda -
feira é só história pra Contar/ Não vem cum idéia não/ Não quero confusão/ Mas vamo junto que hoje o bicho
vai pegar/ Tem dia que a criança chora,/mas a mãe não escuta/ E você nada pra fora/ mas a vala te puxa/ Hoje
pode ser meu dia/ pode até ser o seu/ A diferença é que eu vou embora/ mas eu levo o que é Meu/ [refrão 4x] /
Muro de concreto, bom de derrubar/ É Tihuana, pau vai quebrar/ [refrão 4x] / Tá de bobera...”
126
O segundo bloco, em menor número, são algumas entrevistas com o diretor ou com Rodrigo
Pimentel (ex-capitão do BOPE, co-autor do livro Elite da Tropa, co-roteirista e co-produtor de
Tropa de Elite), e mais entrevistas com policiais do BOPE, retiradas de programas televisivos e
publicadas “sem permissão” das emissoras no YouTube e vídeo-matéria online da TV UOL. O
terceiro bloco também co-existe em grande número no YouTube, as inúmeras reportagens
jornalísticas de diferentes emissoras (tanto brasileiras quanto internacionais, como os vídeos da
televisão portuguesa em matéria especial sobre o BOPE) são armazenadas por voluntários na
plataforma.
O “Anexo”, presente ao final do volume desta dissertação, traz mais trechos do extenso material
pesquisado
127
. Como diria o editor de uma revista ou jornal: “Os artigos assinados e publicados aqui
não necessariamente refletem a opinião” da mestranda que aqui vos escreve, vai além: visa refletir
– em suas tão díspares ou similares palavras – o enorme leque de opiniões que se abriu em torno do
filme e sua repercussão. Embora este “Anexo” apresente diferentes caminhos de análise sobre
Tropa de Elite, procurei copiar trechos conforme apresentados nas páginas anteriores (“o artigo
126http://www.lyricstime.com/tropa-de-elite-tropa-de-elite-tihuana-lyrics.html
127Cerca de 110 páginas (Times New Roman, 12, espaçamento 1,5)
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não representa necessariamente a forma de pensar da diretoria deste site, sendo de responsabilidade
apenas de seu autor”) que colocassem em debate principalmente as cenas que explicitamente
discutem Foucault.
“com foco no personagem Capitão Nascimento e a representação da polícia apresentada no filme, num
diálogo com o conceito de disciplina proposto em Vigiar e punir, de Michel Foucault. ... Na ânsia de
documentar a realidade dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) do Rio de Janeiro, o diretor
José Padilha elaborou o filme de ficção Tropa de Elite, que seria a princípio um documentário. O filme
apresenta características que revelam um parentesco com a não-ficção e também se estrutura, ao acompanhar
o corpo-a-corpo da guerra contra o tráfico, enquanto pertencente ao gênero thriller. Faz-se necessário
apresentar quais elementos presentes na diegese e na estética de Tropa de Elite o aproximam do documentário
e o inserem no thriller. ... Escolhemos o termo thriller que ele designa todo e qualquer filme caracterizado
pela relação com os crimes, o exercício da violência, e uma sociedade marcada pela corrupção e pela crise de
valores. A relação do personagem com o meio no cinema noir, um dos pioneiros do thriller, é caracterizada
pela decadência desse universo, que discute a realidade social a partir de suas patologias, construindo
ambientes onde a moeda de troca é a corrupção, as leis não fazem sentido e qualquer aliança pode ser
revertida (DELEUZE, 1990). Tais elementos integram a diegese de Tropa de Elite. ... Entre as características
d o thriller encontradas em Tropa de Elite estão: a visão pessimista da sociedade (HEREDERO e
SANTAMARINA, 1996 p.30), posto que o filme não apresente um horizonte de soluções possíveis;
abordagem de um país em crise e a denúncia ética (HEREDERO e SANTAMARINA, 1996 p.29), que em
Tropa de Elite ocorre num tratamento a respeito da corrupção do Estado e de setores da Polícia, tendo em
foco a guerra em que se encontra a cidade do Rio de Janeiro com altos índices de violência urbana; e ainda a
ambigüidade (HEREDERO e SANTAMARINA, 1996 p.26) que permeia o sentido do filme através de um
narrador-personagem que pode despertar as interpretações mais diversas a respeito da obra. No que se refere
ao parentesco entre Tropa de Elite e o documentário, podemos citar algumas convenções da não-ficção que
são frequentemente adotadas por filmes de ficção de acordo com Bill Nichols (2005, p.17), como filmagens
externas, câmeras portáteis, improvisação e imagens de arquivo. ... o filme ainda conta com imagens de
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arquivo da Rede Bandeirantes na cobertura sobre a visita do Papa João Paulo II ao Brasil ... Ainda segundo
Bill Nichols (2005, p.56-57), o documentário apresenta um “conjunto unido menos por uma narrativa
organizada em torno de um personagem central do que por uma retórica organizada em torno de uma lógica
ou argumento que lhe dará direção”. Apesar de Tropa de Elite seguir a estrutura da narrativa clássica da
ficção, temos a elaboração de uma estratégia retórica que traz uma argumentação a respeito das condições do
que o personagem Capitão Nascimento chama de “o sistema” ... Carlos Augusto Calil (2005, p.170) identifica
no cinema brasileiro contemporâneo uma tendência para a utilização de métodos próprios ao documentário
com o objetivo de intensificar o realismo do que é mostrado na tela, tendo como princípios a pesquisa de
campo ou o roteiro baseado em livros de autores [que viveram determinada situação] ... A busca incessante
pelo realismo na ficção cinematográfica contemporânea brasileira tem a ver com o que a pesquisadora Beatriz
Jaguaribe (2007) chama de “choque do real” ... as descrições realistas da violência ou de fortes emoções são
facilmente decodificadas pelos leitores ou espectadores. A ambigüidade do “choquedecorre da própria
relativização de valores e da perplexidade quanto ao significado da experiência. Evidentemente, não é
possível medir o próprio impacto do “choque do real” porque a recepção varia segundo os contextos
históricos e subjetivos e ela se modifica de acordo com a bagagem cultural e social de cada
leitor/espectador. Da perspectiva do criador artístico, entretanto, o uso do “choque do real” tem como
finalidade provocar o espanto, atiçar a denúncia social, ou aguçar o sentimento crítico. Em qualquer dessas
modalidades, o “choque do real” quer desestabilizar a neutralidade do espectador/leitor sem que isto
acarrete, necessariamente, um agenciamento político. (JAGUARIBE, 2007 p.100-101). ... A estética de
Tropa de Elite é produtora do “choque do real”: ... o choque como escolha estética ao invés da arte do
engajamento ... Os bandidos geralmente são os heróis dos thrillers nacionais, mas temos também o herói
policial, Mariel, em Eu matei Lúcio Flávio (1979), de Antônio Calmon, citado no histórico do cinema policial
no Brasil formulado por Marco Antônio de Almeida (2007, p.5). ... Eu matei Lúcio Flávio termina sendo a
resposta fascista a Lúcio Flávio, o passageiro da agonia ... “são filmes que trabalham a crise de valores
contemporânea dentro de um projeto que visa conciliar a inquietação do autor com o cinema de gênero, a
reflexão com o entretenimento” (XAVIER, 2006 p.2-3). ... a obra trilha um caminho de um filme que
permanece entre o entretenimento e a crítica social. ... Segundo Eduardo Valente, embora a voz em off tente
justificar ou dar lógica à cada ação vista na tela, as imagens e sons que as mostram (estas sim, a voz do
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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filme) nos apresentam tão somente uma realidade dantesca, uma dinâmica do justiçamento, da tortura, da
desumanização generalizada das relações”
128
... Ao mesclar a estética e o método do documentário com a
estética do thriller, Tropa de Elite se constitui enquanto uma ficção com objetivos documentais ao mesmo
tempo em que segue a linha do cinema de nero. A influência do documentário pode constituir tanto uma
forma de espetáculo sobre o choque da violência urbana, quanto uma forma de crítica social, e ainda o
parentesco com o thriller torna o filme ambíguo e repleto de denúncia ética, ao passo em que oferece a
agilidade do cinema de ação. ... Na linha de fogo entre aqueles que consideram o filme fascista ou não, o
filme convida o espectador à identificação com um personagem que pode parecer problemático ou super-
homem, truculento ou justiceiro. A identificação com um personagem questionável eticamente ao invés de um
protagonista exemplar, assim como a recusa a uma narrativa objetiva transforma o filme numa espécie de
'tapa na cara'.”
129
(grifos meus)
128Relação com o vídeo01_2010 (sons, musicas e imagens...)
129LIMA (2009)
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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6. Modus Operandi II: Foucault em Tropa de Elite
“...também é verdade que a imagem nunca deixou de ser uma certa
modalidade de escritura, isto é, um discurso construído a partir de um
processo de codificação de conceitos ... A arte, tantas vezes
simplificada por seus detratores e acusada, de maneira equivocada, de
mimetizar o real, sempre foi uma forma de 'escrever' o mundo.”
130
Afunilei minha busca por esta repercussão no sentido de uma análise foucaultiana do discurso do
poder (visando permear a questão apresentada por Foucault em suas escritas dos estudos sobre a
“genealogia do poder”), afunilamento este como pede um trabalho em nível mestrado. A partir do
afunilamento do objeto de pesquisa, passei a buscar no robô online da Google
131
(além da pesquisa
ter se iniciado anteriormente via experiência pela rua camelôs e no Rede de Telas com
Washington) as seguintes palavras-chave “foucault” e “tropa de elite” (juntas, sendo o nome do
filme colocado sempre entre aspas).
24.setembro.2007 >> “elemento onde os personagens "jogam" é muito interessante: uma palestra sobre
Michel Foucault. ... Segundo Foucault, o "poder" não é uma espécie de mecanismo centralizado no Estado,
cujas máquinas ideológicas repressivas serviriam para a boa conduta das pessoas. A aposta é maior: durante
os séculos XVIII e XIX apareceram toda uma série de "disciplinas" alheias ao poder "soberano"; tais
disciplinas fazem circular "dispositivos" de saber e de poder; ainda, o "poder" é produtivo e positivo, não
impede que a subjetividade seja "livre", mas produz sujeitos (em linhas gerais, tanto "livres" quanto
"assujeitados"). ... Ainda, mantendo-nos no que se segue à palestra, o "sistema" tem outros efeitos, diante das
questões do "saber" e do "poder". Visíveis pelo descaso dos policiais com os relatórios, padrões estatísticos, e
normas regulamentares. Praticamente tudo é negociado
132
130MACHADO (2001)
131Adiante há um breve capítulo sobre seu funcionamento atual
132http://catatau.blogsome.com/2007/09/24/tropa-de-elite-osso-duro-de-roer/
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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04.outubro.2007 >> “uma citação no filme me chamou a atenção: a menção que fizeram a Michel Foucault.
Como eu havia lido algumas obras de Foucault, não resisti e resolvi fazer uma releitura da obra dele logo
depois de assistir ao filme. ... Para ele, o poder o é considerado como algo que o indivíduo cede a um
soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o
poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada
independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e
saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades.Para analisar o poder, Foucault estuda o poder
disciplinar e o biopoder, e os dispositivos da loucura, ou seja, o poder deve ser algo instituído
psicologicamente.Uma das obras mais famosas de Foucault é "Vigiar e Punir", a qual o filme faz
referência.Nesta obra por exemplo, para se ter disciplina seria necessário a vigilância constante e é neste
ponto que a obra de Foucault se encontra com o perfil da Tropa de Elite.A Tropa de Elite impressiona pela
sua autoridade baseada na vigilância, na investigação, na punição,exatamente como Foucault sugeriu que
seria instituído o poder.Em outras palavras talvez Foucault tenha sido a grande inspiração e o primeiro
idealizador da Tropa de Elite ”
133
17.outubro.2007 >> “Só mais um comentário: a explicação correta do Foucault é a que o Matias dá na
reunião do trabalho de grupo (enquanto a playboyzada fuma maconha): com a modernidade, o poder se
desloca da repressão mais brutal e direta (o poder de tirar a vida) para o poder de administrar o criminoso,
prendê-lo, reeducá-lo, estudá-lo, enfim, discipliná-lo (no sentido de impor-lhe uma disciplina e no sentido de
fundar disciplinas que estudem sua melhor administração). ... Portanto, quem quiser formar opinião sobre
Foucault, esqueça o seminário da PUC e preste atenção no que diz o Matias. Bom, no fundo o filme já deixa
claro isso (vejam os diferentes graus de dedicação na preparação do seminário), mas como a turma de
sempre está aproveitando para falar mal do careca, vale esclarecer.”
134
Neste mesmo post, o autor apresenta mais outros quatro links sobre o assunto:
1.http://segurancapublica.net/?p=582;
2.http://201.7.176.18/cultura/mat/2007/09/19/297794270.asp;
3. http://201.7.176.18/rio/mat/2007/09/19/297790506.asp;
4. http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/09/24/297856410.asp; )
133http://escrevemosjuntos.spaces.live.com/blog/cns!47488AA000C97FA9!1080.entry
134http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=1363
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16.novembro.2007 >> “Jo padilha recorre ao debate acadêmico, dialogando com um dos maiores
sociólogos conteporâneos, Michel Foucault, que é citado no filme. É talvez na aula de direito de matias, onde
se encontra o ponto chave para entender um pouco a alma da pelicula, pois, Padilha não quer mostrar a
polícia, os bandidos e os civis como fazendo parte de uma socieade mergulhada num caos incontrolável; ele
quer também, mostrar-nos de como cada um faz parte do "sistema", e que cada um contribui corruptivamente
para o meio em que vive. ... curta o novo icone brasileiro, Cap. Nascimento, nesse filme que
cinematograficamente falando fica muito bom, mas que no debate social, fica melhor ainda. ”
135
21.outubro.2007 >> “Incomoda até mesmo pelo fato de trazer à tela, de forma um tanto quanto desarranjada,
o debate sobre as idéias expressas por FOUCAULT em um livro que é clássico no ambiente universitário
brasileiro: VIGIAR E PUNIR, em que o autor alinhava a evolução do poder e da forma de punir do Estado,
desde os suplícios da Idade Média aos sistemas modernos. Não creio que o filme se preste à tantas análises,
mas não tiro a razão do diretor, quando indagado, pela milésima vez, sobre o assunto, saiu-se com uma
resposta padrão e que serve para sair das saias-justas deste tipo de situação: pelo menos provocou o
debate.”
136
Dezembro.2007 Diário de uma Guerra Suja >> “Sou culpado, confesso. Estou dentre os milhares, ou
milhões, de brasileiros que assistiram a uma das famigeradas pias “caseiras” do filme Tropa de Elite,
disponibilizadas pela internet. De acordo com os rígidos critérios do capitão Nascimento, protagonista e
narrador do filme, sou um dos responsáveis pelo fomento da indústria da pirataria brasileira ... (Foucault é
personagem da mais fina ironia do filme). ... Considero a melhor parte do filme a cena em que se discute
Foucault em uma universidade. Estranhamente essa é, talvez, a seqüência mais desleixada. Foi filmada
como se fosse teatro amador, com os atores quase constrangidos. Ou seja, captou o tom exato do formalismo
depressivo dos seminários acadêmicos. Ficou ótima, ultra-realista. Justamente nesta cena fica explícito que
ninguém sabe do que está falando, que a realidade é muito mais complexa do que podemos supor, que é
muito fácil defendermos equívocos ... O que leva-nos de volta à cena do debate foucaultiano na sala de aula
135http://www.cineplayers.com/comentario.php?id=6943
136http://www.augustonsampaioangelim.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=704153
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da universidade. Impossível opinar com pleno conhecimento de causa. De lado a lado. Por isso, Tropa de
Elite não faz perguntas nem apresenta respostas. É um espetáculo cinematográfico que impressiona os
sentidos e nocauteia o cérebro [ver entrevista com o diretor – programa Roda Viva, TV Cultura – sobre o tipo
de linguagem, edição, que foi estipulada para o filme]. Como o primeiro Rambo. Mas quem disse que Rambo
não foi um filme sério?”
137
, grifos meus.
24.fevereiro.2008 >> “É interessante visualizar bem quem são os inimigos que o BOPE levadestruição,
violência e desrespeito. Na verdade são os nossos irmãos excluídos e postos à margem da noção do regime de
BIOPODER, considerado por Foucault como um poder positivo que simboliza preocupação com a
otimização da vida, garantindo-a plenamente. Na figura do Capitão Nascimento e no seu modo de fazer
justiça nos morros cariocas identificamos uma característica do panoptismo foucaultiano. VIGIAR e PUNIR
é uma realidade em suas incursões ao morro.”
138
28.abril.2008 >> “E uma sequência do filme, amplamente citada, ilustra o ponto de forma crucial: acontece
quando os estudantes universitários discutem "Vigiar e Punir", a obra de Foucault sobre a história do sistema
prisional como mecanismo de repressão e poder. Os meninos na sala de aula, com o beneplácito de um
professor tão infantil quanto eles, usam a teses de Foucault para denunciar a brutalidade da polícia como
origem de todos os males, inclusive dos males da criminalidade. ”
139
28.julho.2008 Foucault e a minha avó avó, desculpa) >> “canais institucionais, isto é, a lei, a
constituição, instituições: coisas visíveis e exteriores às pessoas. É este poder institucional que considero o
“poder legítimo”, enquanto que os foucauldianos consideradam esse poder institucional como algo de
opressivo. (os meninos da faculdade do "Tropa de Elite" rezam essa charada; e o filme goza bem com
isso).”
140
137http://www.verbo21.com.br/2007/122007/ensaio122007_01.html
138http://pt.shvoong.com/social-sciences/1771507-correla%C3%A7ao-entre-filme-tropa-eelite/
139http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/joaopereiracoutinho/ult2707u396370.shtml (somente para assinantes da
UOL e FSP)
140http://atlantico.blogs.sapo.pt/1762735.html
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30.dezembro.2006 a 15.setembro.2007 Novas informações sobre o filme BOPE Tropa de Elite >>
“[comentário] ignorantes, incapazes de ler obras que são referência básica à este filme como Vigiar e Punir do
Foucault. Gostaria de saber onde está o heroismo dos policiais no filme? o que vi, sem linkar a obra de
Foucault, foi abuso de poder. ”
141
22.julho.2008 >> “Aliás, esse clássico de Foucault [Vigiar e Punir] foi usado, inclusive, no filme Tropa de
Elite, em especial naquela parte em que o Aspirante Ramiro está apresentando um trabalho na faculdade. O
“Vigiar e Punir”, juntamente com a “Microfísica do Poder”, forma a “genealogia do poder” em Foucault,
constatando-se que “o poder” se exerce nas sociedades não através do Estado ou das autoridades
legitimadas, mas das maneiras mais diversas possíveis, em múltiplos sentidos e níveis dos mais variados. ”
142
“Nas passagens em que estudantes universitários buscam pensar as correlações de força que comparecem e se
fazem na “rede de poderes” que atravessa o tecido social, soa excessivamente ligeiro e superficial o
tratamento dado às teses do filósofo e historiador Michel Foucault sobre a constituição dos mecanismos
disciplinares que caracterizam o que este pensador denomina bio-poder. Mas isto talvez seja também mais
uma das provocações que o filme traz. Ao final fica a impressão de que as teses comentadas na sala de aula
(suscitando um curioso debate entre os alunos com um que também é policial) são uma referência para o
próprio diretor, posto que são esses estudos (e nenhum outro) que aparecem para uma discussão teórica.”, sem
data
143
22.fevereiro.2008 Foucault no jardim de infância >> “Achei um diagnóstico preciso do que acontece nas
faculdades de direito, com o oba-oba que se faz em cima do Foucault, e as drogas rolando entre os alunos ...
Tanto a interpretação ensandecida do Reinaldo, quanto o povo que saiu reclamando que Foucault tava mal
retratado (inclusive este que voz fala), falou sem saber (principalmente eu).”
144
141http://www.diariodeumpm.net/2006/12/30/novas-informacoes-sobre-o-filme-bope-tropa-de-elite/comment-page-1/
142http://gramadosite.com.br/economiaenegocios/artigos/guilhermedrago/id:16220/imprimir:1
143http://www.nossadica.com/tropa_de_elite.php
144http://fabriciopontin.wordpress.com/2008/02/22/foucault-no-jardim-de-infancia/
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“O discurso até criminoso decorrente do filme recorda o livro de Foucault. Michel Foucault, em Vigiar e
Punir, nos mostrou como a pena atroz foi largamente utilizada, sendo que a execução tinha caráter
teatral....
145
”, sem data. Sidio Rosa de Mesquita Júnior, Professor (ex-policial)
146
“espaço do miliciano” >> “Há um outro aspecto do filme que é a sátira dos movimentos sociais e ong´s que
divinizam o bandido. A aula de Michel Foucault, em que uma classe universitária delinqüente e maconheira
encontra razões para criminalizar a ação correta da policia de combater o crime, é uma paródia da
cumplicidade que tal setor possui para com a bandidagem. Que as universidades sejam umas fábricas de
delinqüência, isso está provado historicamente. As ideologias mais assassinas do século XX surgiram desses
redutos.”
147
. Sem data
28.outubro.2007 Entrevista com Elizabeth Jaguaribe (Agência Estado) >> “É fundamental tecer a
conexão entre o consumidor e a violência social provocada pelo consumo das drogas, mas por que não se
questionou, em momento algum, a legalização das drogas? Por que no debate de sala de aula onde lêem
Foucault e reclamam do assédio da polícia este tema não veio à tona? Não existem filmes que sejam “um
retrato sem retoques da realidade tratada”. Existem opções estéticas e escolhas.”
148
Também imaginei que a leitura do livro, a partir do qual havia sido feito o filme, seria interessante
como metodologia de pesquisa, pois no meu projeto anterior eu partia dos livros de Phillip K. Dick
para analisar os dispositivos de vigilância e uma determinada “sociedade de controle”
(Deleuze/Foucault) retratada nos filmes norte-americanos baseados nos livros deste autor. Elite da
Tropa
149
apontou, assim, à análise de muitos sentidos aplicados no filme. Este livro, de onde é
145O trecho segue copiado, mais completo, deste comentário que largamente cita a escrita própria de Foucault no
“Anexo” no final deste volume. Interessante ver sobre Foucault a partir deste ex-policial.
146http://www.sidio.pro.br/TropaElite.doc
147http://amai.org.br/descompressao/?p=83
148http://www.an.com.br/anexo/2007/out/28/0ide.jsp
149Autores: 1. Luiz Eduardo Soares “foi secretário nacional de Segurança Pública. Antropólogo e cientista político,
com pós-doutorado em filosofia política, foi coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania no Estado do Rio de
Janeiro. É professor da ESPM e da UERJ ... é secretário municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência
de Nova Iguaçu [RJ]”; 2. André Batista “é major da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e secretário adjunto
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baseado o filme, é dividido em duas partes. Na primeira (“Diário de guerra”), as histórias –
separadas e escritas em formato de “crônicas” são contadas por três narradores, três autores, que
se mesclam “anonimamente”; no entanto há, logo de início no livro um narrador que fala de si
mesmo “(um policial do BOPE negro que ganhou uma bolsa de estudos para freqüentar o curso de
direito na PUC), ele se assemelha mais no filme com o personagem André Matias. O narrador não
se pretende onisciente e faz um relato pessoal. Podemos ler frases que poderiam ser ouvidas na voz
do personagem de Wagner Moura [Capitão Nascimento]: “O Batalhão de Operações Especiais,
BOPE para os íntimos, chega à praça de guerra. Estamos com gana de invadir favela, um puta
tesão. Desculpa falar assim, mas é para contar a verdade ou não é?” ... a segunda parte do livro
aparece em formato de reportagem dos eventos que giraram em torno ao cerco imposto pelo tráfico
à cidade do Rio de Janeiro no dia 30 de setembro de 2002. Nesta parte, o narrador da primeira passa
a ser personagem de uma narrativa mais objetiva, que o descreve da seguinte maneir a: 'O oficial do
BOPE, estudante de Direito da PUC, não se reconhece no espelho do ‘Diário de Guerra’, que
escreveu dois anos'...”
150
. Embora pareça questionável o interesse em analisar o livro, alguns
pontos são de extrema relevância para melhor compreensão e análise do filme e sua repercussão: 1.
os narradores que se mesclam no livro, separam-se no filme como personagens e um único
narrador
151
; 2. a exposição biográfica dos autores – entre eles, dois policiais – que alimentam o livro
e o filme
152
. Voltei-me então convencida a Foucault, por impressionante que o poder de provocação
da Secretaria Municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência de Nova Iguaçu [RJ]. Foi membro do
BOPE entre 1996 e 2001 ... Formou-se em Direito pela PUC-RJ”; 3. Rodrigo Pimentel “foi membro da Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro de 1990 a 2001. Como capitão, atuou no BOPE de 1995 a 2000. É pós-
graduado em sociologia urbana pela UERJ. Foi articulista do Jornal do Brasil, co-produtor do documentário Ônibus
174 [dirigido por José Padilha] e co-roteirista do filme Tropa de Elite. É consultor de segurança.” Todos estes breve
releases sobre os autores é encontrado na última orelha do livro seguido de seus emails ou sites pessoais.
150Revista Viso (ver “referências bibliográficas e webgráficas”)
151consta que por sugestão do distribuidor estrangeiro, Miramax, a personagem “Capitão Nascimento” seria mais forte
como narrador
152o major que se formou em direito na PUC, é co-autor do livro e o narrador mais forte de Ônibus 174; e, assim como
Pimentel, inspiram Tropa de Elite
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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numa cena convencional em que se faz uma caricatura de uma sala de aula na PUC–RJ, onde um
estudante negro é apresentado versus a classe média universitária que se quer solidária com a
periferia pobre, mas que aos olhos do policial acaba por ingenuamente reforçar a discriminação ao
compactuar com o tráfico que este oprime – pôde gerar:
18.fevereiro.2008 >> “Matias, who is black, has been attending college where his fellow white students sit
around discussing Foucault and condemning police brutality. Could the cliches get any more banal?”
153
27.fevereiro.2008 >> “Em certo momento da projeção, universitários apresentam um trabalho sobre Michel
Foucault. A escolha do autor francês não foi coincidência. O roteiro de “Tropa de Elite” adapta a visão de
mundo do sociólogo à realidade brasileira. ... combate à podridão do “sistema”, expressão adaptada do
citado Foucault. ”
154
26.mao.2008 >> “Michel Foucault é um nome muito conhecido nos cursos superiores de Direito e
Sociologia. Foi recentemente citado no filme Tropa de Elite em uma cena de debate acadêmico ”
155
10.abril.2008 >> “No inicio do filme Tropa de Elite o aspirante Matias (AndRamiro) está na faculdade de
direito e acidentalmente é colocado no grupo de estudos sobre a obra Vigiar e Punir de Michel Foucault.
Interessante é ver como a obra do filósofo francês relaciona-se com o que iremos ver na tela. Foucault
examina os modos de exercício do poder e os elementos mediadores (instituições sociais e legislações) de
manutenção da ordem.”
156
08.outubro.2007 BBC Brasil >> “Foucault foi mencionado, única hora em que senti um frio na boca do
estômago.”
157
24.abril.2008 [comentário em blog em post de 16.fevereiro.2008 sobre o prêmio no Festival de Berlim]
153http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2008/feb/18/fascismonfilm
154http://www.cinereporter.com.br/dvd/tropa-de-elite/
155http://66.228.120.252/resenhasdelivros/917107
156http://filosofiacinema.blog.terra.com.br/2008/04/
157http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/10/071008_ivanlessa_tp.shtml
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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>> “uma seqüência é a "chave" para entender a obra: quando os universitários discutem, com aprovação do
professor, "Vigiar e Punir", o estudo de Foucault sobre o sistema prisional como instrumento de submissão e
poder. Toda a gente aplaude Foucault, transplantando as suas teses para o Rio dos nossos dias: a polícia é a
face da repressão, os criminosos são vítimas e etc. No meio dessa orgia de irracionalismo, é Matias, o policial-
estudante que fala com experiência, quem coloca as coisas na sua devida proporção: os bandidos são
bandidos; alguns policiais são corruptos; mas a fonte do mal está em meninos de classe dia ou alta que
"romantizam" a marginalidade e, ao mesmo tempo, alimentam o tráfico. Silêncio na turma.”
158
17.julho.2008 >> “o tempo que eu demorei para perceber verdadeiramente o “Vigiar e Punir”, do Foucault. O
clic se deu ontem, depois do filme, falando do Comando da Capital. uma espécie de Camorra ou Al-
Quaeda mas à brasileira, e os líderes conseguem controlar todas as operações mesmo estando presos. Até
pararam São Paulo inteira uma vez!'. Mas o próprio 'Comando' está dentro de uma estrutura sistémica muito
mais envolvente... Recapitulando: microrganismos, teias de células, redes organizadas, sistemas complexos,
instituições perigosas da modernidade e da s (se é que consenso sobre a era em que estamos). Então:
sistemas em rede panóptico Foucault “Surveiller et Punir” (sim, era mesmo necessária a arrogância do
título original) – que brilharete que eu teria feito em Teoria da Comunicação e Cultura Contemporânea se este
filme tivesse saído 4 anos atrás! ... Pensava que ia ver um filme violento sobre a corrupção da polícia
brasileira. Afinal o filme é sobre Foucault e um livro que eu li no primeiro ano da faculdade. ”
159
22.10.2007 (unisinos) >> “Talvez pretendenda ser uma tese de sociologia as discussões sobre Vigiar e
punir, de Foucault , indicam uma necessidade de estabelecer uma discussão acadêmica do objeto artístico a
posteriori”
160
“A rigor, nem todos os tiros são tão certeiros. Nas passagens em que estudantes universitários buscam pensar
as correlações de força que comparecem e se fazem na rede de poderes” que atravessa o tecido social, soa
excessivamente ligeiro e superficial o tratamento dado às teses do filósofo e historiador Michel Foucault
158http://www.joio.com.br/content/2008/02/tropa-de-elite-conquista-o-urso-de-ouro-do-festival-de-berlim
159http://l-d-v.blogspot.com/2008/07/tropa-de-elite-baseada-em-foucault.html
160http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?
option=com_destaques_semana&Itemid=24&task=detalhes&idnot=759&idedit=2#
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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pág.88/138
sobre a constituição dos mecanismos disciplinares que caracterizam o que este pensador denomina bio-poder.
Mas isto talvez seja também mais uma das provocações que o filme traz. Ao final fica a impressão de que as
teses comentadas na sala de aula (suscitando um curioso debate entre os alunos com um que também é
policial) são uma referência para o próprio diretor, posto que são esses estudos (e nenhum outro) que
aparecem para uma discussão teórica. ”
161
, sem data
03.outubro.2007 (blog Thiago Freitas) >> “Está ali, maravilhosamente exposto, como uma caricatura sem
sê-la, o arcabouço supostamente intelectual que serve de alucinógeno "literário" a quem deseja viver
mergulhado nessa podridão sem carregar culpa. E ainda por cima vomitando Foucault. Está tudo ali, em
fatos. Irrespondível. Fatos são irrespondíveis.”
162
25.abril.2009 comentário em blog sobre Forças Terrestres (post “O poder nas relações internacionais-
parte 1”) >> “Foucault, esse é do filme Tropa de Elite, tenho certeza matemática.”
163
“[Matias e os outros estudantes, sem saber] concordavam moralmente com a necessidade da disciplina na
determinação de suas identidades. Antecipavam, portanto, boa parte do debate superficial que se seguiria ao
filme e que sustenta seu sucesso. ... Na passeata, Matias catarticamente agride os burgueses, como que
teleguiado pela lúcida denúncia de hipocrisia que o soberano [no caso o Capitão Nascimento] dirige à classe
média.”
164
, sem data
01.março.2009 >> “No filme Tropa de Elite é citado Michel Focault no Trabalho do curso de Direito, mas
entendo que o autor fez propositalmente para localizar o filme Filosoficamente. O Estado e suas relações de
Micro poderes, certo? Alguém pode comentar o meu comentário? ”
165
161http://www.nossadica.com/filmes_tropa_de_elite.php
162http://blog.thiagofreitas.com/index.php/?option=com
163http://www.forte.jor.br/2009/04/23/o-poder-nas-relacoes-internacionais-parte-1/
164SOARES (2008)
165http://www.livrodevisitas.com.br/ler.cfm?id=83366&begin=41&count=10
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
Aluna: Milena Szafir [[email protected]] | Orientação: Esther I. Hamburger [ECA-USP]
pág.89/138
>> diferentemente do que é demonstrado acima, buscas posteriores para esta administração de dados, no mês de maio
de 2010, resultaram em um aumento considerável (cerca de 4.000 novos links a mais) da pesquisa em andamento:
Aproximadamente 10.700 resultados (0,35 segundos)” (sic)
O filósofo foi assim, nesta pesquisa, um afunilamento neste desafio de análise de um filme do
recente cinema nacional que se mostrou, na rede, como um trajeto além-explicativo da diegese
fílmica (no qual ele é citado). Como descrito anteriormente, voltei-me sempre a diversas pesquisas
pelo Google e YouTube em busca de uma luz no fim do túnel e percebi que a luz não estava no
final, mas as luzes se faziam no percorrer deste caminho: um link que levava a outro e que levava a
outro e que ampliava o leque de participações em torno de um debate de maiores proporções sobre
o caminho temático, e também audiovisual, em que se encontra a sociedade brasileira (com exceção
de algumas buscas em inglês a respeito do filme, me posicionei em perfis da casa). As citações
tentam estabelecer uma relação entre os links e aquilo que se buscava pesquisar para além de uma
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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constatação em favor ou contra o filme, ou seja, nesta dissertação não uma separação entre
opiniões contrastantes, tal organização de dados não foi estabelecida. Assim, os dados (textos e
imagens) serão apresentados como diálogos e análises em si mesmas (nem sempre sendo necessário
comentá-las uma a uma).
Estratégias da Imagem >> “dentro de uma estética do real. Se as imagens de um certo cinema
contemporâneo vide, por exemplo, o filme-sensação Tropa de Elite ou mesmo o boom dos documentários
adquire sua força no seu “choque de real”, em uma renovada estratégia do biopoder nas imagens com novo
código realista, ... Nos diferentes modos de olhar que o filme consegue demandar, surge, a partir da
imbricação entre imagem e narrativa, uma zona de indistinção que joga a percepção no limiar entre a
experimentação estética, o choque sensorial e a saída para a auto-reflexividade. Dessa indistinção oscilante
emerge o efeito político da desautorização dos potenciais “efeitos de verdade” das imagens e suas
codificações e usos [Cf. FOUCAULT, Poder e Saber, 2006. Efeito de verdade” é o termo utilizado por
Foucault para designar os resultados das codificações do poder: Entendo por verdade o conjunto de
procedimentos que permitem a cada instante e a cada um pronunciar enunciados que serão considerados
verdadeiros. Não absolutamente instância suprema. regiões onde esses efeitos de verdade são
perfeitamente codificados, onde o procedimento pelos quais se pode chegar a enunciar as verdade são
conhecidos previamente, regulados” (Ibid., p.232-233. Grifo meu).]
166
, sem data.
10.outubro.2007 Tropa de Elite, de José Padilha >> “Tropa de Elite é o tema da vez. ... onde o professor e
os alunos (todos eles brancos, exceção a um mulato claro ao fundo) fazem uma inacreditável aula em que se
sonha que Foucault alguma vez falou de poder em termos de aparatos repressivos de estado. Mas não
cobremos exatidões francesas de filme de ficção feito num país onde um colunista da maior revista semanal
afirma que, para Foucault, a loucura era uma construção discursiva (leu isso onde, Reinaldinho?). [um dos
comentários
167
no em postagem-blog : 'Quanto ao Foucault, achei muito bom o aparecimento dele por : o
166http://www.uff.br/ciberlegenda/ojs/index.php/revista/article/viewFile/7/8
167Interessante ver a participação via comentários a vários dos posts aqui nesta dissertação apresentados (e mais no
“Anexo” no final do presente volume)
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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filme todo é uma verdadeira hipocrisia escancarada, e para coroar faz-se hipocrisia com os pensadores "da
moda". É tudo um chute no balde. Engraçado agora ver o que o Tio Rei [Reinaldo Azevedo, revista Veja
citada] disse do Foucault. A considerar os textos dele, é básico ver que ele não leu, heheh'
168
“O Capitão sabe das causas, mas na exata medida em que lhe serve para agir: sabe da engrenagem das
polícias (comum e especial), sabe da dinâmica da favela, da relação com a vida civil e suas complicações. O
capitão não questiona; ele age. Ele conhece a corrupção, mas isso o é um impedidor da ação; mas um
chamado a novas estratégias. Entrar no sistema, usar dele, para que ele sirva. Perfeito, o? Aliás,
aparentemente sintônico com a idéia de estratégia de Michel Foucault, que inclusive é citado no filme, numa
aula de faculdade, dentro do mundo daqueles que não agem, ou melhor, que nada mudam: a juventude de
classe média, que figura no longa de Padilha como confortável consumidora das drogas que criminalizam as
populações das favelas.”, Jardel Sander Revista Mal Estar e Subjetividade v.9 n.2 Fortaleza, junho de
2009
169
“A discussão em aula do clássico texto “Vigiar e Punir”, de Michael Foucault, imediatamente foi induzido
para a “nossa realidade” e isso não daria conta de explicar o que se passa com a polícia, até porque o
referencial de Foucault é do século XVIII quando as instituições eram verdadeiramente “fechadas”. Hoje,
com os meios de comunicação modernos inclusive mostrados no filme com telefonias atualizadas não
caberia supor uma cultura institucional sem críticas. Além disso, a premissa equivocada do pretexto
foucaultiano levou a exageros dos quais a consagração heróica de um soldado violento, torturador, é
justificada pela sua 'boa intenção'.”, José Carlos Sebe
170
, sem data.
“Há mesmo uma cena numa sala de faculdade de Direito em que o careca submisso (refiro-me, é claro, a
Foucault) não sai da boca das aluninhas (o livro citado é “Vigiar e Punir”, quelle surprise). E, aliás, cosa mui
linda, o filme dá uma caneladinha em certa atmosfera que quem já fez faculdade pública (não me refiro à área
168http://www.idelberavelar.com/archives/2007/10/tropa_de_elite_de_jose_padilha.php
169http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:hiGHFVPWkI8J:pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
%3Fscript%3Dsci_arttext%26pid%3DS1518-61482009000200014%26lng%3Dpt%26nrm%3D.pf+foucault+
%22tropa+de+elite%22&cd=63&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a
170http://www.jornalcontato.com.br/337/cultura/index.htm
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de Exatas, claro) reconhecerá de cara. O papagear narcotizado, pré-mastigando a papinha ideológica de um
menu com validade vencida de décadas, as respostas esperadas, senhas para o equivalente da estrelinha
dourada na testa dos tempos de jardim de infância ... | comentário 07.setembro.2007: a questão da elite-
zona-sul-que-alimenta-o-tráfico-com-sua-maconha-para-relaxar-antes-de-dormir me causa um incomodo sem
dimensão.”
171
Punctum
172
(sem data) >> “Em seu livro Vigiar e Punir citação bastante desgastada pela menção direta no
filme Tropa de Elite, mas que não deve ser tomada como ingênua aqui – o filósofo francês compara o regime
da normalidade ao sistema de saneamento humano empregado para isolar os casos de lepra nos séculos
passados. No caso dos leprosos, todos eles deveriam ser excluídos do convívio social, a fim de que não
contaminassem outras pessoas. Desta forma, os governos instituiriam agentes reguladores que identificassem
todos os indícios da doença nos cidadãos, tomando, então, as medidas necessárias para extinguir o foco
contaminador. Para Foucault, o olhar punitivo da normalidade ocidental orientado por sistemas
psiquiátricos, regras comportamentais, concepções éticas etc. procura, da mesma forma, aquilo que de
alguma forma foge aos padrões de comportamento aceitos pela sociedade, excluindo e isolando todos os
párias “anormais”.”
173
26.agosto.2007 Tropa de Elite, o filme sobre o BOPE blog segurança pública >>
comentário#27.setembro.2007: se meu caro amigo se assistiu realmente ao filme, viu o policial Matias
lendo o livro “vigiar e Punir”, de Michel Foucault, se leres o livro entenderás o que defendo. Não defendo o
crime, nem o criminoso, e muito menos o patrocino ou financio. Acredite, sou um assalariado, ganho pouco, e
pago um real por meia hora, nas casas de internet, para emitir minha opinião. Agora me responda uma
pergunta: Você alguma vez já viu a polícia prender os verdadeiros financiadores do trafico, já viu alguma vez
ela entrar nos luxuosos apartamentos do Neblon ou Copacabana derrubando as portas, dando tapas em filho
de grã-fino? Quero deixar bem claro que sei que muita gente rica humana, honesta e trabalhora. Mas o
grande problema caro Sergio, é que a polícia como diz o trecho lido no filme pela namorada de um dos
171http://rio.metblogs.com/2007/09/06/tropa-de-elite/
172projeto de extensão do Curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina
173http://www.punctum.ufsc.br/?p=60
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policiais, “A legislação penal é uma rede que articula instituições repressivas do estado; protege os ricos e
pune quase sempre que exclusivamente os pobres.” (Michel Foucault), ou seja, a polícia está única e
exclusivamente a serviço do estado, da classe dominante, que, diga-se de passagem, não dão a mínima para
ela. | comentário#28.setembro.2007: Desapontou-me muito que as idéias de Foucault tenham sido citadas,
porém não aprofundadas. O paradigma trazido pelo filme é totalmente distorcido (não obviamente da
realidade mostrada, já que a ignorância e a corrupção são a marca maior do sistema policial brasileiro) mas da
idéia de que violência deve ser combatida com violência. | comentário#29.setembro.2007: Preciso comentar
o comentário da Fernanda. Antes de mais nada meus melhores cumprimentos ao mantenedor deste site, e pela
excelente experiência de poder discutir de forma cabal as mazelas que de uma experiência terminal em
segurança pública chamada exercer policiamento em favela do Rio. Sou o instrutor que ralou aluno para
caralho, antes de mais nada. Fernanda, não sei se vc é policial, guarda municipal ou da area operacional de
segurança. ... Não tem elocubração academico-intelectual que gere isso. É algo nitchniano: o que não te mata
te torna mais forte. Sobre Foucault, por acaso estudei esse livro esse ano: Vigiar e Punir, a verdade é que o
autor tem uma grande massa crítica para levar a discussão para frente, mas essa discussão NÃO nos interessa,
sabe porque, não somos sociológos, não fazemos politicas públicas, não nos importamos com isso, o pq
somos alienados ou manipuláveis, mas sim pq, quando vc esta sob fogo inimigo, vc pode se concentrar
em : 1- Atirar e recarregar, 2- Se movimentar e pedir apoio, 3-Atirar de novo e recarregar e pedir apoio de
novo. Se você não fizer isso de forma intuitiva, vc vai sentir tipo uma agulhada forte, que não é uma
agulhada, vc levou um tiro | comentário#30.setembro.2007: Impressionante o efeito que esse filme faz,
politicamente eh realmente muito maior que qq cidade de deus, q como direçao/cinema pode ser ateh
melhor…. Práticamente não tem como entrar por um ouvido e sair por outro, ele istimula a lutarmos contra a
corrupçao, não usar drogas pelo simples fato de estar financiando armas/violencia, deixa a legalizaçao das
drogas como quase que uma única saída para o caos, mesmo que não seja 100% soluçao(violencia anda junto
com desiguladade social)… Eu fiquei realmente revoltado e com uma visão diferente de tudo, e mesmo que
eu tenha certeza de ver no cinema, confeço que fiquei chateado até com a minha atitude de comprar o pirata |
comentário#07.outubro.2007: Mas algo que eu queria chamar a atenção para a discussão é o papel da
universidade no filme. Apresentada como uma das melhores de direito, assumindo um intelectual como
Foucault que discute exatamente a institucionalização da repressão em manicômios, prisões e escolas, e a
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discussão estéril e sem sentido dos próprios estudantes nos convida a refletir sobre a acusação do Matias de
que estamos muito mal informados”. que se informar sobre o que acontece no Brasil e se o recurso for
BOPEs espalhados por todas as capitais do país… que seja!”
174
15.junho.2008 comentário em blog >> “O Matias bebe o milkshake com o canudo enfiado no Foucault dos
estudantes quando diz que são eles que sustentam o tráfico etc. que passam a mão na cabeça de bandido. Na
verdade é justamente isso que eu achei bobo, infantil e medonho no filme (até comentei em outro tópico):
enquanto os estudantes têm uma postura de "a sociedade é que faz isso com os meliantes", o Matias, tentando
demonstrar justamente o oposto, inverte o diálogo dizendo A MESMA COISA. A diferença é que ele destaca
uma só parte da sociedade: a classe média. E o filme afinal é todo construído nessa bosta de premissa. ”
175
06.novembro.2007 (Bernardo Carvalho) >> Um mundo sem arte (no qual a arte, aceitando a pecha de
ilusão e perfumaria, cede ao consenso da realidade e passa a funcionar como jornalismo e sociologia)
também. É nesse mundo desiludido que a representação de jovens tolos e inconseqüentes, repetindo Foucault
da boca para fora, para acabar quebrando a cara na prática contraditória do trato direto com a realidade nua e
crua, passa a ter um efeito catártico junto a platéias em busca de um bode expiatório.”
176
Talvez minha busca no Google das palavras estejam além do encontro de tags, mas na relação
chamada de “web semântica”. Um filme “fora de moda” ou uma dissertação acadêmica sem
qualquer cunho de originalidade? Quanto mais se busca sobre o filme “Tropa de Elite” na rede,
mais e mais escritos (além imagens estáticas e em movimento) são encontrados. Para qualquer
direção que se tome, seja o do herói/anti-herói, da violência, da pirataria (no qual o filme se
popularizou), de Foucault ou da música “Rap das Armas” (com o qual o filme é iniciado), sempre a
algo “novo” a ser encontrado, uma enorme gama de material sobre o filme foram escritos,
videoclipados, descritos, discutidos e explicitados em rede (isto para citar a web, sem falar de
174http://segurancapublica.net/?p=582
175http://www.joio.com.br/content/2008/06/%C3%BAltima-parada-174-o-que-que-%C3%A9-isso-minha-gente
176http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0611200719.htm (acesso para assinantes UOL ou FSP)
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televisão, jornais e revistas brasileiras, além dos demais países ao redor do mundo), e que pode ser
ampliado com o lançamento do segundo homônimo filme neste segundo semestre de 2010
177
.
Assim, talvez minha pesquisa vise além de um [im]possível mapeamento destas contribuições
voluntárias sobre o filme, mas que procure subverter regras a partir de uma [re]utilização analítica
deste material, no sentido de vislumbrar, e até mesmo contestar, posições unânimes ao “discurso de
verdade” impulsionado pela revista Veja à época do lançamento oficial do filme (táticas de
marketing?). Nesta reverberação, é impressionante a quantidade de material voluntário que pode ser
encontrado na internet com relação a Tropa de Elite. Parece mesmo que todos sem exceção
tornaram-se críticos atentos de cinema (e nacional!) junto ao filme em voga, para além mesmo das
discussões sociológicas (éticas e morais) que o filme e todo seu espetáculo midiático colocou
em pauta:
29.outubro.2007 >> “intelectuais de esquerda têm uma dificuldade grande para formular idéias razoáveis na
área de segurança pública. Em geral tratam a questão a partir do que escreveu o filósofo Michel Foucault,
autor de Vigiar e Punir e mesmo isto está presente no filme, em uma passagem que se revela bastante
irônica com Foucault. Portanto, para a maior parte da militância de esquerda, segurança é sinônimo de
"aparelho repressor do Estado"”
178
31.março.2008 >> “Você se lembra daquela cena de Tropa de Elite em que os alunos na faculdade de Direito
debatem Vigiar e Punir, do filósofo Michel Foucault? ... Foucault, por sua vez, discute as ticas políticas de
dominação empregadas pelas instituições sociais (presídios, escolas, clínicas psiquiátricas). De acordo com
177Interessante notar que a operadora Claro, por exemplo, distribuiu SMSs entre alguns de seus clientes (observação
em São Paulo) como promoção do filme Tropa de Elite que estava em fase de filmagens (fevereiro-março de 2010).
Os participantes vencedores de tal promoção seriam levados ao Rio de Janeiro para acompanhar um dia no set de
filmagens. Clientes “pré-pagos” não receberam tal comunicado: O que você escreveria em um torpedo para o
Capitão Nascimento? Os autores das 5 melhores respostas ganharão a ida ao set de filmagem do filme Tropa de
Elite” (http://promocoestodentro.blogspot.com/2010/03/promocao-claro-voce-no-set-de-filmagem.html)
Site do filme: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:g4j0O2a-
m9MJ:www.tropa2.com.br/2010/04/15/claro-tropa-de-elite-2/+%22tropa+de+elite%22+claro+promo
%C3%A7%C3%A3o&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a (acesso em julho/2010)
178http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=852
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ele, todos os discursos e posicionamentos adotados pelo homem buscam o somente perpetuar relações de
poder. ” (A Tropa de Elite do pensamento)
179
13.outubro.2007 “Tropa de Elite” é ilustração de “Vigiar e Punir” >> “Não é de graça que o personagem
Matias estuda a obra Vigiar e Punir” no curso de terceiro grau que faz junto a coleguinhas branquinhos e
portadorezinhos de um cinismo tão atroz quanto infinito. Aliás, o cinismo parece ser uma tatuagem de
nascença dos brancos e privilegiados brasucas. ... O longa-metragem ficcional (ou seria documentário?)
Tropa de Elite é uma metalinguagem ilustrativa e hiper-realista do clássico foucaultiano “Vigiar e Punir”.
Está tudo , roteirizado, decupado e gravado: a docilidade dos corpos, a fisionomia do soldado, o corpo
como objeto e alvo do poder, o controle minucioso das operações do corpo, a disciplina que aumenta as
forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de
obediência), a microfísica do poder, a minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçante das inspeções, o
controle das mínimas parcelas da vida e do corpo ... quando mostrado em linguagem artística e ancorado nas
categorias de Foucault, a coisa fica mesmo como um soco no baixo ventre de qualquer um. ... Também está
lá no Foucault (leia aqui [link para o capítulo “Os Corpos Dóceis”
180
] o primeiro capítulo de Vigiar e
Punir”, esse trecho é praticamente o roteiro conceitual do filme de Padilha) ”
181
Ora delicioso ora assustador, as leituras da repercussão de Tropa de Elite na rede talvez sirvam para
compreendermos ou simplesmente visualizarmos o “colorido” da sociedade brasileira que tem
(ou teve àquela época, 2007-2009) acesso à internet. Suas contribuições, tanto na escrita
(testemunhos de certa maneira) quanto audiovisuais (poderiam estes serem modelos estéticos de
participação voluntária no YouTube?
182
) desenham uma enorme participação que sugere que o filme
esteve e segue em discussão na rede de diferentes, mas sempre engajadas, maneiras tal qual o
179http://www.gazetadopovo.com.br/vestibular2009/conteudo.phtml?id=751980
180http://docs.google.com/View?docid=dd7x8sqw_34fpsptj
181http://praticaradical.blogspot.com/2007/10/tropa-de-elite-ilustrao-de-vigiar-e.html
182Ver pesquisa etnográfica sobre YouTube e vídeos de Michael Wesch. Digital Ethnography:
http://www.youtube.com/user/mwesch
Interessantes também são as vídeos-arte de Nathalie Bookchin, que trabalha com o próprio banco de dados do
YouTube no que concerne a “representações de si”: http://www.youtube.com/user/nunuhola
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testemunho de Washington.
Aposto ainda em uma possível análise (sem tempo hábil para aqui ser descrita) do que chamei de
“Geração Pós-Blade Runner” após haver trabalhado em encontros com jovens da rede pública
estadual de São Paulo no projeto de pesquisa da Escola do Futuro (USP) junto ao Acessa Escola
(governo estadual-SP). Nota-se nas entrevistas que os jovens (entre 14 e 18 anos de idade, cursando
o ensino médio) não se importam em serem vigiados em rede, mas pelo contrário, muitos
afirmavam que esta é uma relação intrínsica ao online “cultura digital”) e que não nada a ser
feito, não havendo necessidade de combate a este possível controle estabelecido pelas redes de
relacionamento sociais. A “Geração Pós-Blade Runner” não teme a vigilância e o controle, mas sim
a percebem como natural e possivelmente necessárias (em um país como o Brasil onde inclusão
digital destes jovens – e adultos – os insere também socialmente, como cidadãos).
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7. Modus Operandi III: As Retóricas Audiovisuais
“Power definitely exists but remains invisible and unnameable. Google
permits everything, from porn to politically incorrect jokes; no one notices
anyway (or so it seems). ... The power that controls us is just as anonymous
as we believe we are. As long as we have not yet internalised the Network as
authority, there’s no problem. So it’s important to extend the naïve phase as
long as possible and avoid spoiling the collective fun. This is the dilemma of
radical YouTube criticism: why spoil the fun of millions of people who have
long known how intimately they are being watched?”
183
As retóricas audiovisuais apresentam um contexto humano de pensamento daquilo ao qual
estamos vivendo no momento de sua feição. Como determinar se a pesquisa deve se dar
“unicamente” a um tempo passado [e portanto baseado em infinetesimais possibilidades de histórias
publicadas online] ou a um tempo presente? Explico: se as retóricas audiovisuais são feitas em um
determinado presente que cita, é porque a pesquisa co-existe com demais outros pensamentos
audiovisuais youtubeanos e/ou acadêmicos e/ou cinematográficos; três diferentes estruturas de
produção, distribuição e armazenamento do audiovisual.
Faz-se necessário, portanto, apresentar umas poucas linhas sobre a metodologia demonstrativa
“Retóricas Audiovisuais”. Num ditame metalinguístico frente à realidade neo-midiática da
contemporaneidade, que vem apontando uma forte vertente de construção audiovisual, tomo como
referências primordiais separadas entre si por aproximadamente quatro décadas de história e
tecnologias duas entidades que se tornaram pontos fundamentais nesta defesa sobre a prática de
re-apropriação, consciente, de materiais culturais para realizações audiovisuais. O primeiro
183LOVINK (2008)
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expoente desta vertente é o teórico-cineasta, de cunho revolucionário [vanguarda] à década de 60,
Guy Debord.
Imporante salientar aqui que, no atual estado de minha pesquisa, não adentrarei o histórico do que
comumente chamamos de “remix” na cultura digital, mas que se faz necessário compreender que
tal exercício, crítico e de produção junto aos meios de comunicação, promulgado à década de 60
pelos situacionistas na França, pela pop-arte nos Estados Unidos e pelo Tropicalismo no Brasil
remetem todos às práticas de vanguarda artística realizadas no início do século XX.
Assim, Debord – ingenuamente, talvez – insere-se em um discussão já presente à época nas
discussões acerca da Teoria Cinematográfica, em que a questão da ficção e realidade (frente à
percepção visual e, mais precisamente à espectatorialidade promovida pelo cinema) é
constantemente analisada. Robert Stam faz um apanhado também desta questão em seu livro
Introdução à Teoria do Cinema; para uma breve exemplificação, me atenho aqui aos artistas
surrealistas, parte da vanguarda no início do século XX: “...o cinema era o locus antecipatório ... da
'intoxicação', um espaço-tempo mágico no qual a distinção entre sonho e realidade podia ser
abolida. ...Breton escreveu ... 'desde o instante em que toma seu lugar até o momento em que
mergulha em uma ficção se desenvolvendo ante seus olhos, [o espectador] atravessa um ponto
crítico tão imperceptível e cativante quanto o que une o sono e a vigília.'” (pág. 74, op. citada;
grifos meus), com os quais precisamente Debord, assim como os demais jovens realizadores de sua
época estariam dialogando: “O espetáculo tem banido a vida real para trás da tela.” esta re-citação –
grifo meu visa demonstrar esta dicotomia presente na história cultural entre o “real” e o cinema,
que se aplica à “realidade” produzida em e por Tropa de Elite.
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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Esta forma de écriture conceito primordial da linguagem cinematográfica, em constante análise
por diversos teóricos ao longo da história não somente do cinema, como também princípio
semiótico confere às imagens um papel além-ilustrativo, apresentado por Dagognet
184
: “O erro
maior seria tomá-las por meros auxiliares didáticos ou ilustrações cômodas, pois, ao contrário, elas
constituem um instrumento heurístico privilegiado: não um embelezamento, uma simplificação
ou ainda um recurso pedagógico de difusão facilitada, mas uma verdadeira reescritura”, grifos
meus. Retornarei a esta questão da imagem – ou do audiovisual – como reescritura ou texto fílmico/
écriture mais adiante.
7.1. Artesanato digital: método de trabalho
“oferecem aos seus usuários a possibilidade de colocar tags em seu conteúdo online. A
colocação de tags pode ser definida como o enriquecimento de conteúdos digitais com
informação semanticamente significativa na forma de legendas, ou tags, livremente
escolhidas (Cattuto et al, 2006). A liberdade implícita nesta atividade vem do fato de
que a colocação das tags o se prende a um vocabulário controlado ou uma estrutura
taxonômica predefinida, mas é antes um ato essencialmente individual de classificação
(Golder e Huberman). A colocação de tags está fundamentalmente relacionada a fazer
sentido e pode ser vista como um filtro definido pelo usuário (Marlow et al, 2006). ...
Ainda que a colocação de tags possa ser considerada principalmente como uma
atividade individual, a combinação de tags produzidas por uma comunidade online
evolui e se torna um vocabulário comum conhecido como "folksonomy"
("companheironomia", em tradução livre). ... tags, no contexto da web, funcionam mais
como futuros auxílios para a navegação em grandes fontes de informação, do que como
marcadores referenciais para descrever e discriminar objetos. A colocação de tags, em
184Apud MACHADO (2001)
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geral, pode ser descrita como uma atividade altamente subjetiva de denominação.”
185
Atualmente meu trabalho se dá de uma maneira artesanal, na medida em que necessito – a partir de
softwares gratuitos encontrados online – aplicar um download de todo e qualquer vídeo encontrado
no YouTube, armazenando-os assim de uma maneira offline para que possam ser retrabalhados e
posteriormente possivelmente retornados à rede. A manutenção destes arquivos digitais é
trabalhosa, na medida em que os vídeos captados via YouTube possuem o codec
186
.flv (vídeo em
Flash) e os softwares de edição não-linear aceitam codecs diversificados como .mov, .avi, .3gp
ou .mp4 (entre outros, com exceção do .flv). Assim sendo, todos os vídeos precisam ser convertidos
– também via softwares gratuitos cada vez mais de fácil acesso online. Uma observação aqui
precisa ser apresentada no quesito “cada vez mais de fácil acesso online”: entre agosto de 2006 a
março de 2007 eram raros os softwares gratuitos encontrados na rede para codificação tanto de .flv
para outros formatos e também o revés (o YouTube desde o início apresentou dentro de sua
plataforma de armazenamento online um auto-aplicativo de conversão de diferentes formatos para a
sua estrutura em Flash); demarco este período, de aproximadamente sete meses, por um viés
experimental e profissional pessoal: a primeira data refere-se a um trabalho à época de produção
visual jockey (de remix audiovisual em tempo real) a partir – utilizando-me – de vídeos do
YouTube, e a segunda data faz referência ao lançamento público na rede do aplicativo “Manifeste-
se Online”
187
(braço digital para webcams do trabalho “Manifeste-se [todo mundo artista] Mobile
WebTV Live Broadcast”).
185“Rebelião na internet”, por Eugenio Tisselli (http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/3062,2.shl)
186Codec é a abreviação de Codificador/Decodificador (ou Compressor/Descompressor)
“Para descobrir o algortimo de compressão do arquivo, recomendamos o programa Gspot, que pode ser baixado em
http://www.headbands.com/gspot/download.html. ... uma lista completa com os principais codecs existentes e onde
baixá-los em http://codecs.necromancers.ru/.” <http://www.clubedohardware.com.br/artigos/941>
187 www.manifesto21.com.br/manifestese2007
(o aplicativo – e a plataforma independente – foi desabilitado de suas funções interativas e de auto-armazenamento,
no segundo semestre de 2008, por questões de corte nos custos junto ao Flash Communication Server).
dissertação de mestrado: “Retóricas Audiovisuais (o filme Tropa de Elite na cultura em rede)”
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7.2. O ato de aprender, de escrever e o ato de citar
“Only the most careful reader could construct from the text he read another text that explained it.
188
O jurista e professor de Stanford Lawrence Lessig apresenta maravilhosos argumentos para
tentarmos compreender a contravenção das regras do copyright audiovisual na atual “cultura
digital”: no processo de aprendizagem da escrita, somos incentivados a ler diversos autores,
compreendermos seus estilos, citá-los e assim, criarmos nossa própria escrita. Ou seja, nosso
talento neste meio deriva-se de apresentarmos citações pertinentes a um novo conceito
estabelecido, uma construção a partir da compreensão de materiais pré-existentes consumidos
durante a pesquisa a uma escrita. Os argumentos são, assim, construídos a partir da discussão sobre
citações e o círculo intelectual, para o qual esta escrita pretende ser apresentada, mede o valor de
um estudo por seus caminhos percorridos e analisados. A importância destas citações se dá também
na medida em que o sucesso de uma escrita se dá na mescla destas com um estilo em construção, ou
seja, a seleção demonstra o conhecimento realizado junto ao texto de origem.
No universo das artes visuais dos anos 20, na Europa, e da década de 60 nos Estados Unidos
chamava-se de collage e de pop art, respectivamente, a reapropriação e inserção de outros trabalhos
e materiais pré-existentes na sociedade. Manovich clarifica a pertinente diferença entre “collage” e
“remix”:
“To use the terms of Roland Barthes, we can say that if modernist collage always involved a 'clash' of element,
electronic and software collage also allows for 'blend.'
189
190
188LESSIG (2008)
189Roland Barthes, Image, Music, Text, translated by Stephen Heath (New York: Hill and Wang, 1977), 146. apud
MANOVICH (2007)
190MANOVICH (2007)
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Adentremos a algumas linhas de Lessig sobre remix na área do audiovisual partindo da lógica de
citação:
“So here’s the question I want you to focus on as we begin this chapter: Why is it “weirdto think that you
need permission to quote? ... Why is an author annoyed (rather than honored) when a high school student calls
to ask for permission to quote? ... what happens when writing with film (or music, or images, or every other
form of 'professional speech' from the twentieth century) becomes as democratic as writing with text? As
Negativlands Don Joyce described to me, what happens when technology 'democratiz[es] the technique and
the attitude and the method [of creating] in a way that we havent known before. . . . [I]n terms of collage,
[what happens when] anybody can now be an artist'? ... should the norms of “quote freely, with attribution”
spread from text to music and film? ... we should think more carefully about why this right to quoteor as I
will call it, to remix— is a critical expression of creative freedom that in a broad range of contexts, no free
society should restrict. ... there are important reasons why we should limit the regulation of copyright in the
contexts in which RW creativity is likely to ourish most. These reasons reflect more than the prot of one,
albeit important, industry; instead, they reflect upon a capacity for a generation to speak.”
191
Lessig, um dos fundadores do Common Creative, é um nome expoente de uma politizada “cultura
digital”. Esta nova cultura, oriunda das chamadas tecnologias e mídias digitais é investida pela
prática da reapropriação de materiais culturais como uma realidade não somente criativa, mas
também como de expansão da informação e desenvolvimento do conhecimento. Lessig surge,
então, como o advogado de uma realidade que não mais condiz com as leis sob as quais a cultura
está sendo regida na Sociedade em Rede Digital, realidade esta que diariamente gera uma gama de
novos pensadores multimidiáticos (realizadores) a partir do compartilhamento e da reapropriação
de bens imateriais-culturais.
Embora complexa no âmbito legislativo e judiciário em que a cultura, e a sociedade como um todo,
191LESSIG (2008)
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está inserida (em vista das leis que regiam e regem ainda a Sociedade do Espetáculo e da
Indústria do Entretenimento e da Cultura), a aposta de Lessig é simples a milhares de jovens
realizadores que vivem uma prática cada vez mais corriqueira como o ato de escrever ou falar, o ato
de expressar-se também com o audiovisual.
7.3. A(s) escrita(s) audiovisual(is)
“Actually, I think your description of what YouTube does shows that it's more of a library
than an archive. I understand the difference to be that an archive ('archos' - 'first') is
charged with the permanent preservation of original documents, whereas a library simply
exists to make copies available for access."[7] But this proposition, too, is rejected by
another AMIA member, Andrea Leigh, because of yet another important aspect that lacks
on YouTube, namely the rules and regulations, that is the ethics, with regard to the
material aspects of a document that govern the work of archivists and librarians alike:
"Libraries are oriented around a code of ethics (see ALA Code of Ethics […])and a core
set of values (see ALA Core Values of Librarianship […]) to provide communities with
comprehensive access to both information and entertainment resources, not entertainment
resources only that lack selection criteria, principled organizational methods based on
over 100 years of practice and tradition, and a high service orientation. So not only is
YouTube not an archive, it is not a library, either." [8]”
192
Lawrence Lessig ao advogar por uma nova forma de legislação destas usabilidades reapropriativas
do audiovisual, retorna à lógica de écriture cinematográfica anteriromente presente na Teoria do
Cinema:
Se os mecanismos cinematográficos como linguagem não eram amplamente disponíveis a todos,
192KESSLER, Frank; SCHÄFER, Mirko Tobias (2009)
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conforme afirmava Metz na cada de 60: “Todos os falantes de inglês a partir de uma certa idade
aprenderam a dominar o código do inglês são capazes, portanto, de produzir orações – mas a capacidade de
produzir enunciados fílmicos depende de ... formação e acesso.” Talvez o mesmo estivesse vislumbrando uma
cultura digital em rede quando afirmava que “pode-se cogitar de uma sociedade futura na qual todos os
cidadãos terão acesso ao código da produção cinematográfica”
193
, onde possamos, novamente compreender o
'cinematográfica' como 'audiovisual' das atuais novas mídias.
194
A lógica da escrita verbal – assim como da pesquisa acadêmica – tem como premissa uma
alfabetização social e referencial promovida de citações, releituras e reescrituras, por que então o
audiovisual segue uma lógica simplesmente de mercado? Lessig adentra o século XXI, quase 40
anos após a produção-Detournement de Debord, em favor das re-utilizações dos materiais
audiovisuais, opondo-se ao modelo secular de Copyright e em defesa nas mudanças destes
mecanismos legislativos que não condizem mais a uma cultura já transformada e largamente
difundida, na internet principalmente, das novas práticas comportamentais ao redor do mundo.
Imaginemos, portanto, uma realidade sócio-cultural onde todos estejam aptos a produzir seus
discursos (retóricas) não somente escritos verbalmente mas também audiovisual e
multimidiaticamente.
Assim, Guy Debord é nesta pesquisa retomado por sua atuação filmográfica de utilização
consciente de materiais cinematográficos pré-existentes, conforme o próprio alega (se explica) a
respeito – posteriormente à distribuição-exibição de “A Sociedade do Espetáculo, o filme” (1973)
em um curto texto entitulado A Utilização de Filmes Roubados:
“Estou falando aqui primeiramente sobre os filmes que com seus diálogos próprios quebram a continuidade e
pontuam o texto 'explanatório-interpretativo' em voz over que é derivado do livro ... No [texto] Um Guia de
193Apud STAM (1981)
194SZAFIR, Milena. Relatório de Qualificação ECA-USP (maio de 2009)
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Usuário ao Détournement
195
(Lèvres Nues#8) nós haviámos mencionado que 'Este é o caminho necessário
de concepção de um estágio, tanto sério-profundo quanto de paródia, em que elementos detourned são
combinados ... em processo de criação de um verdadeiro estilo nobre e notável.' ... tournement não é um
inimigo da arte. ... Desta maneira, no filme A Sociedade do Espetáculo os filmes (ficcionais) detourned por
mim não são utilizados como ilustrações críticas de uma arte da sociedade espetacular (em contraste aos
documentários e arquivos de noticiários, por exemplo). Pelo contrário, estes filmes de ficção roubados,
inseridos em meu filme, são utilizados para representar a retificação da 'inversão artística da vida', sem
qualquer menção aos seus significados originais. O espetáculo tem banido a vida real para trás da tela. Eu
venho tentando 'expropriar os expropriadores' [Debord, em poucas palavras, explica o que cada filme
reapropriado representa-significa-evoca dentro de sua obra cinematográfica] ... A sequência de Rio Grande
[por exemplo] pretende-se a recriar virtualmente tanto uma ação histórica como uma reflexão em geral. Mr.
Arkadin [de Orson Welles] é primeiramente inserido em vista de evocar a Polônia, mas então alude à vida
autêntica, a vida como ela deveria ser. Os filmes russos buscam o sentido de revolução. Os filmes norte-
americanos sobre a Guerra Civil e Custer são pretendidos a evocar todas as lutas de classe do século XIX;
assim como seu futuro potencial.”
196
Quarenta anos após Debord e outros artistas audiovisuais
197
apostarem na apropriação
detournement de materiais fílmicos para a criação de uma nova cultura, esta questão de
apropriação torna-se então mais forte; atualmente tal prática vem sendo ainda mantida sob o
vocábulo de “roubo” – ou “pirataria” numa simbologia de urgência necessária pelos jovens
produtores/ realizadores numa cultura digital.
195tournement [detourned], palavra originária do francês, pode ser compreendida [traduzida ao português] não
somente como desvio, mas também como roubo. Os situacionistas grupo ao qual Guy Debord era um de seus
expoentes – utilizavam bastante, e cheios de orgulho, esta dicotomia de significações desta mesma palavra,
tornando-a uma espécie de palavra-chave (para ações práticas) a estes jovens revolucionários.
196livre tradução da versão em inglês. Ver http://www.bopsecrets.org/SI/debord.films/stolen-films.htm
197Em um período correlato Carlos Adriano, realizador audiovisual que defendeu tese de doutorado na ECAUSP em
2008, aponta demais artistas relacionados às práticas do Found Footage, assim como seus principais usos:
elegiático, materiológico, analítico, estrutral e crítico (este onde podemos inserir taxionomicamente Debord e
Godard). Para um aprofundamento desta particular taxionomia, de re-apropriações fílmicas experimentais, ver
Brenez e Chodorov (2002). Para um aprofundamento nas práticas do found footage da primeira metade do século
XX, ver Jay Leyda (Films Beget Films, 1964).
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“it is very possible that the remix culture, which right now appears to be so firmly in place that it can’t be
challenged by any other cultural logic, will morph into something else sooner than we think.”
198
Arlindo Machado (2001) advoga tal prática de realização audiovisual conferindo-lhe valor de
conhecimento: “Não por acaso, o cientista, tal qual o artista ..., sempre foi uma espécie de afásico:
ele fala e escreve pouco, usa uma linguagem extremamente condensada, mas se expressa de forma
extremamente eloquente através de diagramas estruturais”. Assim, se dissertações e teses
acadêmicas são escritas apresentadas em um contexto de citações (referências bibliográficas),
este projeto parte da premissa de que outras possíveis formas cognatas de cientificidade em
nossos atuais tempos de Youtube; ou seja, esta proposta visa uma metalinguagem audiovisual como
um sistema metodológico para a notação, registros e remix dos códigos culturais, principalmente
audiovisuais, disponíveis na rede. Afinal, nestes ambientes virtuais da cultura digital, o método é
tão importante quanto a mídia escolhida.
Dada a importância deste material audiovisual digitalizado, a partir de uma decupagem analítica, no
intuito da criação de uma biblioteca de excertos audiovisuais para construção de uma retórica em
uma linguagem além-verbal, verificamos a importância do YouTube [plataforma videográfica
online] como uma biblioteca audiovisual em rede nos dias atuais e desta maneira, insere-se à
pesquisa em foco a questão também sobre redes sociais online e televisão, como plataformas de
compartilhamento audiovisual-cultural. Ou seja, quando falamos em “cultura digital”, estamos (tal
qual como nos anteriores meios de comunicação audiovisuais, cinema e televisão) adentrando-nos a
uma análise de complexas estruturas que 'sustentam' toda uma gama estética e modos de produção.
Embora Flusser (1985/2002) tenha se debruçado sobre a fotografia para diagnosticar o “aparelho”,
o retomo aqui na compreensão da disposição deste sobre a forma de programação e estruturas
198MANOVICH (2007)
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hierárquicas das quais o ser humano torna-se um jogador. No complexo “aparelho-operador” são
criadas as “imagens técnicas”:
“as imagens técnicas, longe de serem janelas, são imagens, superfícies que transcodificam processos em cenas.
Como toda imagem, é também mágica e seu observador tende a projetar essa magia sobre o mundo. O fascínio
mágico que emana das imagens técnicas é palpável a todo instante em nosso entorno. Vivemos, cada vez mais
obviamente, em função de tal magia imaginística: vivenciamos, conhecemos, valorizamos e agimos cada vez
mais em função de tais imagens. Urge analisar que tipo de magia é essa. A magia pré-histórica ritualiza
determinados modelos, mitos. A magia atual ritualiza outro tipo de modelo: programas. Mito não é elaborado
no interior da transmissão, já que é elaborado por um “deus”. Programa é modelo elaborado no interior mesmo
da transmissão As imagens técnicas são produzidas por aparelhos. Como primeira delas foi inventada a
fotografia. O aparelho fotográfico pode servir de modelo para todos os aparelhos característicos da atualidade e
do futuro imediato. Analisá-lo é método eficaz para captar o essencial de todos os aparelhos, desde os
gigantescos (como os administrativos) até os minúsculos (como os chips), que se instalam por toda parte.
Pode-se perfeitamente supor que todos os traços aparelhísticos estão prefigurados no aparelho fotográfico,
aparentemente tão inócuo e “primitivo”. [aparelhos] trata-se de objetos produzidos, isto é, objetos trazidos
da natureza para o homem. O conjunto de objetos produzidos perfaz a cultura. Aparelhos fazem parte de
determinadas culturas, conferindo a estas certas características. Grosso modo, dois tipos de objetos
culturais: os que são bons para serem consumidos (bens de consumo) e os que são bons para produzirem bens
de consumo. (instrumentos). … aparelhos informam, simulam órgãos, recorrem a teorias, são manipulados por
homens, e servem a interesses ocultos. Mas não é isto que os caracteriza. que, atualmente a maioria dos
homens está empenhada em aparelhos, não tem sentido falar-se em proletariado. Devemos repensar nossas
categorias, se quisermos analisar nossa cultura. Embora fotógrafos não trabalhem, agem. Este tipo de atividade
sempre existiu. O fotógrafo produz símbolos, manipula-os e os armazena. Estas pessoas o são
trabalhadores, mas informadores. Pois atualmente a atividade de produzir, manipular e armazenar símbolos
(atividade que não é trabalho no sentido tradicional) vai sendo exercida por aparelhos. E tal atividade vai
dominando, programando e controlando todo trabalho no sentido tradicional do termo. A maioria da sociedade
está empenhada nos aparelhos dominadores, programadores e controladores. Outrora, antes que aparelhos,
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fossem inventados, a atividade deste tipo se chamava “terciária”, que não dominava. Atualmente, ocupa o
centro da cena. Querer definir aparelhos é querer elaborar categorias apropriadas à cultura pós-industrial que
está surgindo. … Aparelho é brinquedo e não instrumento no sentido tradicional. E o homem que o manipula
não é trabalhador, mas jogador: não mais homo faber, mas homo ludens. E tal homem o brinca com seu
brinquedo, mas contra ele. Procura esgotar-lhe o programa. Por assim dizer: penetra o aparelho a fim de
descobrir-lhe as manhas. … Para funcionar, o aparelho precisa de programa “rico”. Se fosse “pobre”, o
funcionário o esgotaria, e isto seria o fim do jogo. As potencialidades contidas no programa devem exceder à
capacidade do funcionário para esgotá-las. A competência do aparelho deve ser superior à competência do
funcionário.”
199
Flusser (2002) apresenta então este aparelho (a câmera fotográfica) como uma “caixa-preta” (pré-
programada, fechada em seus processos), passível somente de input e output pelo jogador
(“funcionário”), o que em uma relação com o código (e função) de Google e YouTube estabelece-se
numa relação parcial. Tomemos, portanto, o aparelho de Flusser como uma metáfora para o que
aqui estabeleço como caixa pr@ta, que reluz (e seduz), mas que também possue brechas a serem
manipuladas por programadores. Estabelecida esta nova realidade de “objetos”, sigamos com
Flusser ainda neste ínterim:
“O aspecto instrumental do aparelho passa a ser desprezível, e o que interessa é apenas o seu aspecto
brinquedo. Quem quiser captar a essência do aparelho, deve procurar distinguir o aspecto instrumental do seu
aspecto brinquedo, coisa nem sempre fácil, porque implica o problema da hierarquia de programas,
problema central para a captação do funcionamento. Isto implica o seguinte: os programadores de
determinado programa são funcionários de um metaprograma, e não programam em função de uma decisão
sua, mas em função do metaprograma. De maneira que os aparelhos não podem ter proprietários que os
utilizem em função de seus próprios interesses, como no caso das máquinas. O aparelho fotográfico funciona
em função dos interesses da fábrica, e esta, em função dos interesses do parque industrial. E assim ad
infinitum. Perdeu-se o sentido da pergunta: quem é o proprietário dos aparelhos. O decisivo em relação aos
199FLUSSER (2002)
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aparelhos não é quem os possui, mas quem esgota o seu programa. … É o aspecto mole [software],
impalpável e simbólico o verdadeiro portador de valor no mundo pós-industrial dos aparelhos.
Transvalorização de valores; não é o objeto, mas o símbolo que vale. O jogo com símbolos passa a ser
jogo do poder. Trata-se, porém, de jogo hierárquicamente estruturado. Tais considerações permitem
ensaiar definição do termo aparelho. Trata-se de brinquedo complexo; o complexo que não poderá jamais
ser inteiramente esclarecido. Seu jogo consiste na permutação de símbolos contidos em seu programa. Tal
programa se deve a meta-aparelhos. O resultado do jogo são outros programas. O jogo do aparelho implica
agentes humanos, “funcionários”, salvo em casos de automação total de aparelhos. Portanto, a análise do
gesto de fotografar, este movimento do complexo “aparelho-fotógrafo”, pode ser exercido para a análise da
existência humana em situação pós-industrial, aparelhizada. … o aparelho funciona em função da intenção do
fotógrafo. Mas sua “escolha” é limitada pelo número de categorias inscritas no aparelho: escolha programada.
O fotógrafo o pode inventar novas categorias, a o ser que deixe de fotografar e passe a funcionar na
fábrica que programa aparelhos. Neste sentido, a própria escolha do fotógrafo funciona em função do
programa do aparelho. … As novas situações se tornarão reais quando aparecerem na fotografia. Antes, não
passam de virtualidades. O fotógrafo-e-o-aparelho é que as realiza. Inversão do vetor da significação: o o
significado, mas o significante é a realidade. Não o que se passa lá fora, nem o que está inscrito no aparelho; a
fotografia é a realidade. Tal inversão do vetor da significação caracteriza o mundo pós-industrial, todo
funcionamento. … Duas coisas devem ser, portanto, retidas: 1. a práxis fotográfica é contrária a toda
ideologia; ideologia é agarrar-se a um único ponto de vista, tido por referencial, recusando todos o demais; o
fotógrafo age pós ideologicamente; 2. A práxis fotográfica é programada; o fotógrafo somente pode agir
dentro das categorias programadas no aparelho. Esta ação pós-ideológica e programada, que se funda sobre
dúvida fenomelógica despreconceituada, caracteriza a existência de todo funcionário e tecnocrata.”
A caixa pr@ta online estabelece uma realidade de banco de dados, memória que pode ser
constantemente e aleatoriamente acessada. Vou seguir ainda com este Flusser para refletirmos
juntos um pouco, com este filósofo tcheco radicado no Brasil, sobre armazenamento e distribuição
de informações pós-fotografia mecânica, mas numa realidade de dados digitais em rede (afinal, é a
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partir disto que se trata esta dissertação):
“O homem é capaz de produzir informações, transmiti-las e guardá-las. Tal capacidade humana é antinatural,
que a natureza como um todo é sistema que tende, conforme o segundo princípio da termodinâmica, a se
desinformar. fenômenos, por certo, na natureza (sobretudo os organismos vivos) que são igualmente
capazes de produzir informações e de transmiti-las e guardá-las. O homem não é o único epiciclo
negativamente entrópico, na linha geral da natureza, rumo à entropia. Mas o homem parece ser o único
fenômeno capaz de produzir informações com o propósito deliberado de se opor à entropia. Capaz de
transmitir e guardar informações o apenas herdadas, mas adquiridas. Podemos chamar tal capacidade
especificamente humana: espírito e seu resultado, cultura. O processo dessa manipulação de informações é a
comunicação que consiste de duas fases: na primeira, informações são produzidas; O método da segunda
fase é o discurso [que analisamos junto a Foucault anteriormente em nosso texto, que se pretende a um breve
mapeamento reapropriativo de qual(is) discurso(s) é (e/ou foram) produzido(s) e armazenado(s) no Google
entre os anos de 2007 e 2009.], pelo qual informações adquiridas no diálogo são transmitidas a outras
memórias, a fim de serem armazenadas.”
200
Fica-nos uma questão: qual o custo deste armazenamento audiovisual, organização de banco de
dados e perfeito funcionamento técnico público? Ou melhor, sabendo-se que o custo de uma
hospedagem dedicada FCS
201
básica (de baixa taxa de transmissão e pequena área de
armazenamento) é de cerca de R$ 1.000,00 ao ano
202
(não incluso os demais valores de
desenvolvimento, manutenção, hospedagem, domínio etc), quanto custa manter uma plataforma
como o YouTube ao ano? Questões econômicas e políticas, muito interessantes neste ínterim, não
serão aqui tratadas.
De toda maneira, o projeto se propõe a realizar um conjunto de “retóricas audiovisuais” como uma
metodologia analítica a partir da atual rede digital [online], baseada em um sistema textual
200Idem.
201Flash Communication Server (2007). Após ser comprada pela Adobe, torna-se Flash Media Server (FMS)
202Valor pago durante o projeto-ferramenta “Manifeste-se [todo mundo artista] Online” (2007/2008)
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videográfico metalinguístico –, em que o texto fílmico em foco [tema eleito] torna-se
reapropriado em um método de citação audiovisual, dando ênfase à criação de um sistema
científico-multimidiático
203
para a notação e registros dos códigos então em órbita.
7.4. Dos vídeos online:
“Eu tenho vídeos no YouTube, eu gosto de fazer vídeos [a partir da pergunta: O que você
faz na internet?] eu trabalho no Movie Maker [Windows-Microsoft], gosto de baixar
novos efeitos, de fazer coisas diferentes. Faço pros meus amigos, meus amigos gostam
[E como é que você capta as imagens?] Capto do Orkut às vezes eu baixo vídeos do
YouTube para fazer abertura dos meus vídeos etc [Mas não é proibido usar os vídeos
dos outros pra fazer os seus vídeos?] Eu sei que é por direitos autorais, mas se eu precisar
de um papel pra cada pessoa que eu pegar foto eu estou perdido [rindo]” Lucas Peres
Godine
204
, testemunho a partir de entrevista em vídeo (28 de março de 2009) no evento
de capacitação de monitores do programa “Acessa Escola”
205
Os blogs foram uma revolução na internet, pois de um momento para outro qualquer um poderia se
expressar mundialmente e com total critério de liberdade inicialmente por palavras e logo mais
por fotos seguidos de vídeos embeded –, o wordpress trouxe então uma estrutura de código aberto
onde qualquer internauta poderia minimamente construir a estética de seu site (assim como toda sua
usabilidade também).
Ainda engatinhando em termos de uma construção online audiovisual (mesmo quatro anos após o
203Ver: “YouToRemix: the online audiovisual quotting live remix application project” (janeiro-abril/2010) – “Apêndice
I/IV” – e o vídeo-interativo “YouToRemix_Bike C-Mapping_YouTubeMix (teste02)” (http://bit.ly/atHFUP ou
http://blog.manifesto21.com.br/2010/07/23/youtubemixt2/ – julho/2010)
204Username no YouTube: lucperes (http://www.youtube.com/user/lucperes)
205Via Escola do Futuro (USP) em parceiria com o governo estadual de São Paulo
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boom do YouTube), as plataformas videográficas representam excelência no armazenamento e
visualização de vídeos. Poderíamos mesmo dizer que os jovens cada vez mais assistem menos
televisão e cinema e mais “bancos de dados”. Neste ponto temos que o vídeo online ainda
representa mais um valor de troca (sharing) e espectatorialidade do que de participação em seus
intrínsicos discursos. Diferentemente do cinema, a recepção de um vídeo online acontece em
possíveis momentos dispersivos, tão característico da utilização da internet (podemos estar com
quantas janelas outras possíveis abertas, ora respondendo a um emails ora trocando ideias em um
instant messenger etc).
Como estamos, portanto, vivenciando atualmente esta experiência com imagens técnicas em
movimento? Talvez a principal diferença seja que não estamos somente analisando e trabalhando
com imagens técnicas, mas em programas (e seus aparelhos) com enormes bancos de dados. Assim,
ao falarmos sobre o YouTube, permeamos um incrível banco de dados com uma estrutura
tecnológica que permite aos usuários minimamente colocar vídeos, procurar e reavê-los.
7.5. Da escolha do YouTube como biblioteca audiovisual online
“The cinéma-vérité generation’s wish for the camera to become a ‘stilo’ has come true:
the billions are scratching away with abandon. ... it’s about the millions of films watched
every day, which provide Google (YouTube’s owner) with a treasure trove of user data.
What is your ‘association’ economy worth? Am I really aware of why I’m clicking from
one clip to the next? If not, we can always reread our own history on YouTube. We can
find out everything but mainly about ourselves: what the most popular channel is,
which friend has watched this video. ... Online video has incorporated this discovery into
its architecture. As a clip plays on the left, ‘related videos’ by the same uploader appear
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on the right. The computer interface is geared toward more of the same. ... Online video
interfaces aren’t about increasing the information overview. The many open programmes
signify intensive engagement; they’re not signs of a misspent life. Today, rather than an
unintended side effect, multitasking is the essence of the media experience. ... We must
take database-watching seriously, not dismiss it as ‘consuming video clips’. Watching
videos online is something people occupy themselves with for hours longer than the
average feature film’s 90 minutes. It is inherent in the interface that we keep going and
going and the clip chain continues forever. Allowing oneself to be led by an endlessly
branching database is the cultural constant of the early 21st century.”
206
O YouTube criado em fevereiro de 2005 por dois ex-funcionários do eBay (site norte americano
de vendas online como o brasileiro MercadoLivre, no qual é acionista desde 2001) alcança,
supreendentemente, em julho de 2006 a marca de 100 milhões de vídeos assistidos por dia (42,2%
de representatividade na internet à época)
207
, onde os usuários alimentam em torno de 65 mil novos
vídeos digitais diariamente. Alguns meses depois, a revista norte-americana Times classificou o
YouTube como a “invenção do ano”
208
. Finalmente, no mesmo ano, o YouTube é comprado pela
Google por 1,6 bilhões de dólares
209
.
“O que de revolucionário no YouTube é que ele representa, nos termos de [Pierre] Levy, 'uma apropriação
normal, calma e embasada do discurso', um site em que a mídia de massa é citada e recombinada, em que a
mídia caseira ganha acesso público e várias subculturas produzem e compartilham mídia. ... A retórica da
revolução digital deduzia que a nova mídia iria destronar a antiga, mas o YouTube exemplifica uma cultura da
convergência (Jenkins, 2006) com suas interações complexas e colaborações entre a mídia corporativa e o
público. ... o modelo de negócio do YouTube cria valor por meio da circulação. ... Embora muito da cultura do
206LOVINK (2008)
207 M a n i f e s t e - s e [ t o d o m u n d o a r t i s t a ] M o b i l e w e b T V L i v e B r o a d c a s t
<http://www.manifesto21.com.br/manifestese2006/projeto.htm>
208 http://news.cnet.com/8301-10784_3-6133076-7.html
209 http://techcrunch.com/2006/10/09/google-has-acquired-youtube/
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remix seja apresentado em forma de paródia, esse gênero intensifica a experiência emocional do material
original, nos aprofundando ainda mais nos pensamentos e emoções dos personagens principais. ... A situação
atual do YouTube o transforma em uma alternativa inevitável como a plataforma para circulação de conteúdo
gerado por usuários. ... 'YouTube ou não, eis a questão'.”
210
Assim, esta plataforma videográfica de fluxo dinâmico do “tempo real” pode ser compreendido
como um arquivo público de memória audiovisual a partir do que Jean-Paul Fargier, seguindo
Godard, escreve no texto Video Gratias, de 2007:
“a televisão, na sua origem, é uma máquina de produzir ao infinito o presente representado e uma memória
capaz de estocar o tornar-se arquivo sem limite. ... a que se pode recorrer novamente, não somente como
testemunho do passado, mas também em lugar de uma imagem ao vivo impossível ... é assim um banco de
todas as imagens, inclusive as do cinema.”
O YouTube torna-se referência mundial do audiovisual on demand, e é desta maneira que esta
plataforma online é aqui tomada como exemplo referencial-principal para citação, criação e
possibilidade estética do audiovisual em rede; abstenho-me, portanto, de falar da importância do
YouTube nos seus diferentes âmbitos também relativos à “cultura digital” como participativo, de
memória, político, perceptivo, econômico etc.
“quando a largura de banda finalmente foi expandida o suficiente para permitir que a internet passasse de
somente texto e sica para vídeo, surgiu o YouTube 'adequado', com seu slogan direto Broadcast yourself,
sua usabilidade simples (Flash) e sua ambição de crescimento vertical no menor tempo possível, de 'eu' ... a
'global' ... [sendo assim,] Como o YouTube poderia ser explorado para fins científicos, jornalísticos e criativos
para expressão pessoal, comunicação e compartilhamento de arquivos? ... O YouTube permite que todos
realizem suas próprias 'funções bárdicas'.”
211
210JENKINS (2009)
211HARTLEY (2009)
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A princípio, a plataforma baseada na linguagem do aplicativo proprietário Flash (antes
Macromedia, hoje Adobe) apresentava somente uma maneira gratuita e simples de se armazenar
vídeos (de até 10 minutos de duração), comentá-los em formato textual e da possibilidade de embed
os mesmos em diversos outros sites, com uma única regra: não utilizar materiais dos quais o
usuário o possua os direitos autorais. No entanto, esta regra o tem impedido o
compartilhamento de diversificadas produções audiovisuais tanto autorais quanto extraídas do
cinema, da televisão, de dvds comerciais recentes ou antigos – e, assim como o pioneiro Napster, os
usuários sentem-se livres de estarem conectados em rede numa ampla troca de arquivos em vídeo
digital.
Consequentemente, é baseada na quebra diária desta regra por milhares de usuários que coloco o
YouTube como a principal biblioteca audiovisual online da atualidade, pois é onde busco material
videográfico além dos meus captados por câmeras para a construção do que tenho chamado de
Retóricas Audiovisuais.
“O YouTube parece fornecer um suprimento inesgotável de conteúdo gerado por usuários. Mas essa mesma
fartura (McCracken, 1998) pode nos desencorajar a questionar quais materiais não o encontrados ali.
Historicamente, o movimento DIY esperava poder colocar equipamentos de produção nas mãos de grupos que
eram representados de maneira frágil no mercado comercial, fazendo com que pudessem contar suas histórias
e que suas vozes pudessem ser ouvidas. Se definirmos que o YouTube opera sem uma história prévia, então
estaremos apagando as políticas por trás dessas batalhas e podemos acabar aceitando muito menos do que
aquilo por que lutávamos.”
212
212JENKINS (2009)
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layout YouTube (busca por “Tropa de Elite”
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8. Breve explicação sobre o Sistema de Buscas Online
“Also we look at the problem of how to effectively deal with uncontrolled
hypertext collections where anyone can publish anything they want.”,
Larry Page e Sergey Brin
213
O que começou como um projeto acadêmico, por Larry Page e Sergey Brin (então estudantes do
programa de doutorado da Universidade Stanford, nos Estados Unidos), é hoje uma das companhias
mais influentes na World Wide Web: Google. A idéia inicial o objetivo dos estudantes era
construir um eficiente sistema de buscas que possibilitasse aos usuários da internet links relevantes
em resposta a suas buscas-questões na rede.
O Google funciona a partir de uma metodologia numérico-contextual (websemântica) e via
“PageRank”, ou seja, a ordem dos resultados de busca dos dados estão intimamente ligadas à
reputação do link [citação, popularidade de acesso].
Uma síntese sobre o funcionamento do Google, o sistema de busca online robô de busca deve
ser aqui minimamente apresentada por ser o mais popular, mais utilizado na intenet atualmente (“In
2007, the company surpassed Microsoft as the most visited site on the Web [source: Kopytoff].”
214
).
Seria no mínimo interessante tentarmos visualizar como funciona este index e banco de dados
online, ou “a rede invisível”
215
, a partir deste sistema em questão.
Muitos de nós imaginamos que o Google funciona como uma pequena aranha que percorre todas as
213The Anatomy of a Large-Scale Hypertextual Web Search Engine, by Sergey Brin and Lawrence Page
http://infolab.stanford.edu/~backrub/google.html
214http://computer.howstuffworks.com/internet/basics/google.htm
215Material encontrado na web, escrito a partir da descrição How Search Engines Work no livro The Invisible Web
(CyberAge Books, 2001), de Chris Sherman and Gary Price
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teias do ciberespaço, mas parece que não. Em busca por este funcionamento do sistema de buscas
do Google, encontrei alguns textos (tanto em inglês quanto em português) a respeito e são neles que
me baseio para este breve capíulo: a primeira de três partes ocorre como um “web crawler” que,
com muito tato, acha e coleta páginas pela internet. Chamado de Glooglebot, este funciona como
um brownser “by sending a request to a web server for a web page, downloading the entire page,
then handing it off to Google’s indexer”
216
, ou seja, de duas maneiras onde a segunda é o usuário se
auto-cadastrar no sistema de buscas da Google [www.google.com/addurl.html]. Você lembra
quando fez este cadastramento há cerca de sete anos? Bem, quando o Googlebot coleta uma página,
todos os links contidos nesta página são também selecionados para uma futura coleta e assim
rapidamente é construída uma lista de links. Com a amplitude da rede, muitas coletas detalhadas
(mais aprofundadas) em diversas páginas conseguem ser feitas uma vez ao mês. Embora o texto
apresente a questão de não haver repetições “Duplicates in the queue must be eliminated to prevent
Googlebot from fetching the same page again”
217
, a experiência demonstra que os dados são
contabilizados exponencialmente.
A segunda parte é chamada de “Google’s Indexer”, um indexador de palavras que cria um imenso
banco de dados. Cada uma destas entradas carrega consigo uma lista onde se encontram em
determinados textos e todo tipo de documentos, desta maneira torna-se facilitada a busca, que
apresenta-se onde o termo aparece e sua exata localização: This data structure allows rapid access
to documents that contain user query terms.”
A úlima parte funciona como um jogo. Um jogo que começa tanto fora como interno ao sistema,
pois o ranking depende de quantos “seguidores” você tem, sua relevância é medida de acordo com
216http://www.googleguide.com/google_works.html
217idem
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o número de “citações” que você teve ao longo de cada mês (tempo hipotético). O processador
destas questões (query processor) possui diversas partes que compreendem-se desde a interface
(search box) até a coqueluche privatizada
218
de Google, o PageRank
219
.
“It has become one of the most famous elements of Google's technology because he published a paper on it
[veja nota de rodapé de númeo 61], including the mathematical formula. Stanford holds the patent, but
through 2011 Google has an exclusive license to PageRank.”
220
“Google looks at links to a Web page as a vote, it's not easy to cheat the system. ... Google initiated an
experiment with its search engine in 2008. For the first time, Google is allowing a group of beta testers to
change the ranking order of search results. In this experiment, beta testers can promote or demote search
results and tailor their search experience so that it's more personally relevant.”
221
Por enquanto a ordenação ainda é feita pelo sistema automático sem que os usuários possam
personalizar estas buscas –, vejamos este terceiro funcionamento: primeiro o processador compara
a busca-questão do usuário em seu Index e recomenda o documento que considera-se mais
relevante e então o PageRank entra em ação. Uma página na web com alto ranking – realizado pelo
PageRank é considerada mais importante e, portanto, mais adequada a estar listada acima das
demais do que outra página que contenha as mesmas palavras mas tenha um ranking menor:
“Google considers over a hundred factors in computing a PageRank and determining which documents are
most relevant to a query, including the popularity of the page, the position and size of the search terms within
the page, and the proximity of the search terms to one another on the page. ... Visit SEOmoz.org’s report for
an interpretation of the concepts and the practical applications contained in Googles patent application.”
222
218Sob copyright (“a trademarked algorithm”).Ver também: http://www.seomoz.org/article/google-historical-data-
patent “”
219http://www.google.com/technology/
220http://www.baselinemag.com/c/a/Infrastructure/How-Google-Works-1/
221http://computer.howstuffworks.com/internet/basics/google.htm
222idem
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Com tantos dados em mãos e tão bem indexados, Google aproveita para aplicar técnicas de
“machine-learning”, ou seja, para aprimorar automaticamente sua performance de buscas o
aplicativo aprende através das relações e associações entre os dados arquivados. E assim, o “Page
Rank” do Google é “um conceito que faz parte da tecnologia de buscas de Google que se dedica
a valorizar as páginas para ponderar os resultados da busca.
223
“Os links, para PageRank, significam votos: se uma página linka com outra, considera que está dando um
voto a essa página que vincula. Segundo o número de votos (ou de links) recebidos por uma página sua
posição variará. Logicamente, quanto maior o número de votos, melhor será a posição entre os resultados. ...
Além de PageRank, Google combina em suas buscas diversas técnicas que rastream coincidência das palavras
buscadas entre as ginas de sua base de dados. As buscas de coincidência de textos, como saberemos,
abarcam grande quantidade de lugares, como o título, etiquetas META, corpo da página e ademais, valorizam
cada aparecimento segundo onde se produza e em que condições. As buscas de coincidências também se
estendem às páginas que linkam com a página que Google pretende posicionar, ou seja, também busca
coincidências nas ginas que linkam com outra para valorizar se esse voto outorgado tem mais ou menos
importância.”
224
223http://www.criarweb.com/artigos/63.php
224idem
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“As principais informações armazenadas são: 1. Título da página; 2. Descrição (meta description) da página;
3. Principais palavras do texto da página (palavras chave); 4. Como outros sites na internet indicam este site.
Qual o objetivo destas informações? Esta é a resposta para o sucesso do Google. Através destas quatro
principais informações o robô de busca avalia qual página será mais relevante para um usuário no momento
em que ele efetuar uma busca. Então ele mostra nos primeiros lugares as ginas mais relevantes de acordo
com a palavra digitada. ... [PangeRank] Para o Google isso quer dizer se mais sites falando do site um,
logo ele deve ser mais importante que o site dois.
225
“A Web page's PageRank depends on a few factors: 1.The frequency and location of keywords within the Web
page: If the keyword only appears once within the body of a page, it will receive a low score for that keyword.
2.How long the Web page has existed: People create new Web pages every day, and not all of them stick around for
long. Google places more value on pages with an established history. 3.The number of other Web pages that link to
the page in question: Google looks at how many Web pages link to a particular site to determine its relevance.”
226
225http://www.esinet.com.br/blog/funcionamento-do-google-%E2%80%93-o-que-o-robo-de-busca-avalia-em-um-site
226http://computer.howstuffworks.com/internet/basics/google.htm
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9. Por um Sistema de registro e remix online:
(breve apresentação sobre o projeto de aplicativo online para citação, organização e remix ao vivo
de material audiovisual via banco de dados: YouTubteca, YouTubeMix, YouToRemix,
RemixPress)
227
A cada dia milhares de informações são postadas na web, mas como organizá-las? Diversos
aplicativos têm cuidado destes caminhos crescentes, que se encontram ou se afastam e cada vez
mais conectados uns aos outros. Como facilitar a citação de um link audiovisual que está em meio a
um processo de remixagem? A palavra não deveria ser “facilitar”, mas mais apropriadamente
“organizar”, atribuir um caminho do que tem sido percorrido durante pesquisa, análise e criação.
Como estimular as pessoas a produzir informação a partir de tão diversos caminhos audiovisuais
percorridos dentro de um espaço próprio, onde haja a possibilidade de remix deste material e fazê-
lo acessível a outros usuários?
Inserido na chamada “cultura digital”, o aplicativo proposto braço tecno-metodológico utópico
228
de minha pesquisa de mestrado apresenta um conceito da prática audiovisual online como um
estudo que pretende mostrar que para além de uma inovação tecnológica, a produção videográfica,
a partir do vídeo online, pode ser utilizada como um importante recurso de retórica e
expressividade, tanto em termos de conteúdo quanto estéticos, também nos espaços de
aprendizagem. A utilização desta ferramenta online visa estimular a pesquisa, incentivar não
somente a participação em rede e o compartilhamento de experiências como desenvolver
competências digitais e culturais. Assim, parto de um princípio onde o YouTube, e demais
227“YouToRemix: the online audiovisual quotting live remix application project”
Texto completo no “Apêndice I/IV”
228Por questão do curto tempo do mestrado ao mesmo tempo pelos altos custos de mercado
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plataformas audiovisuais online existentes atualmente, estejam além de um simples repositório de
vídeos, e sim um espectro de amplas possibilidades artísticas e educativas. Afinal, o segredo de
fazer com que um aluno ou espectador/ usuário torne-se parte deste processo ativamente é
transformá-lo em co-autor, fazendo-o presente também na criação.
“These paths [which facilitate movement of information between people] stimulate people
to draw information from all kinds of sources into their own space, remix and make it
available to others, as well as to collaborate or at least play on a common information
platform. Barb Dybwad introduces a nice term 'collaborative remixability’ to talk about this
process: 'I think the most interesting aspects of Web 2.0 are new tools that explore the
continuum between the personal and the social, and tools that are endowed with a certain
flexibility and modularity which enables collaborative remixability a
transformative process in which the information and media we’ve organized and
shared can be recombined and built on to create new forms, concepts, ideas, mashups
and services.'
229
230
(grifos meus)
Seguindo com Manovich, “helping cultural bits move around more easily”, o aplicativo aqui
proposto, inicialmente para facilitar a produção das Retóricas Audiovisuais assim como a notação
de suas fontes 'primárias', insere-se em uma nomenclatura de dados atrelados à web 2.0:
“The Web of documents has morphed into a Web of data. We are no longer just looking to the
same old sources for information. Now we’re looking to a new set of tools to aggregate and
remix microcontent in new and useful ways.
231
(grifos meus)
A usabilidade do aplicativo proposto baseia-se em três distintas ferramentas propostas
229“Approaching a definition of Web 2.0,” The Social Software Weblog <socialsoftware.weblogsinc.com>, accessed
October 28, 2005.
230MANOVICH (2005)
231“Web 2.0 Design: Bootstrapping the Social Web,” Digital Web Magazine
< http://www.digital-web.com/types/web_2_design/>, apud MANOVICH (2005)
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audiovisuais online. Enquanto duas delas utilizam-se de metadados, ou seja, existem a partir de
vídeos do YouTube (via url), a terceira visa uma produção audiovisual em tempo real comandada
pelo usuário com a possibilidade de mixagem online de vídeos e sons e da sua própria imagem
captada via uma webcam. As referências – listadas aqui a seguir – apresentam o caminho de criação
do aplicativo aqui proposto:
YouCube >> http://www.universaloscillation.com/youcube/
YoooooouTube > > http://www.yooouuutuuube.com/v/?rows=24&cols=16&id=nxqt1rpj-
bU&mode=shuffle&startZoom=1
Lycos
232
Cinema >> “an online video and social networking site. (This service closed on
April 29, 2009.)”
233
Vjiar: Web-Vj'ing-Cam >> http://www.manifesto21.com.br/game/ui/
234
>> Print screen da interação – vídeos mixados em tempo real – no aplicativo online
“Vjiar: Web-Vj'ing-Cam”
(teste – imagem – realizado em janeiro de 2010)
Assim, o aplicativo visa uma organização de dados percurso ao mesmo tempo em que se torna
232Lycos began as a search engine research project by Dr. Michael Loren Mauldin of Carnegie Mellon University in
1994. Bob Davis joined the company as its CEO and first employee in 1995. Lycos then enjoyed several years of
growth and, in 1999, became the most visited online destination in the world, with a global presence in more than
40 countries. Lycos was sold to Terra Networks of Spain in May 2000 for $13 billion, forming a new company,
Terra Lycos, and maintaining a position as one of the world's largest Internet companies. Shortly after the merger,
Davis left the company to become a venture capitalist with Highland Capital Partners in Boston. In October 2004,
Lycos was sold by Terra's parent company Telefonica to Daum Communications Corporation, the second largest
Internet portal in Korea, becoming once again Lycos Inc.
233http://en.wikipedia.org/wiki/Lycos
234versão demo selecionado no Festival Transmediale de 2006 (utiliza o teclado para aplicar efeitos e remixagens)
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um switcher (mesa de edição não-linear) online para a criação das Retóricas Audiovisuais. Ou seja,
pretende-se estabelecer junto ao aplicativo um método de escrita audiovisual online utilizando-se
dos dados (vídeos digitais) contidos no YouTube. Metodologia de elaboração das retóricas online
como citações rápidas audiovisuais, a exemplo de posts em um blog. Um blog audiovisual onde a
escrita se dá através da remixagem de vídeos linkados no YouTube.
Print screen de uma possível nova interface do YouTube, em teste:
representação de relações e percursos na plataforma videográfica online
235
print screens
236
: à esquerda do YouCube
e abaixo do yooouuutuuube
235http://blog.manifesto21.com.br/2009/11/10/youtube-in-a-rhizome-interface/
236http://blog.manifesto21.com.br/2009/09/06/web-networking-online-youtubed-videos/
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10. Conclusão
Tropa de Elite é um exemplo inédito do cinema nacional. Foco de uma pirataria sem
precedentes, o longa-metagem de José Padilha caiu na boca do povo. Muito se falou. ...
José Padilha e seus distribuidores também ouviram. Foram acusados de, eles próprios,
terem desviado as primeiras cópias, o que se transformaria num bem bolado esquema de
marketing viral. Estão apurando e parece que algum funcionário da pós-produção vai
pagar o pato. Sem querer entrar nos méritos judiciais, o fato é que Tropa de Elite é um
sucesso retumbante. Não tenho notícias de como está a apreciação dos DVDs em outras
praças do País. Mas no Rio de Janeiro, a aceitação é estrondosa. ... O sucesso de Tropa
de Elite também se baseia na exploração de sentimentos primitivos. ... Tropa de Elite
fez a opção deliberada de explorar um nicho de mercado baseado no ódio. É no ódio de
um pelo o outro em que o filme se baseia.”
237
A s Retóricas Audiovisuais propostas pretendem-se como discursos que visam subverter os
dispositivos panópticos (e sinópticos) ao trabalharem em processo crítico e criativo a partir de
reapropriações do extenso material encontrado online em específicas plataformas e ferramentas
(YouTube e Google), estas inerentes a um processo designado como “cultura da vigilância”
238
.
Tropa de Elite trouxe à tona ao país em diversas e diferentes classes sociais uma discussão
sobre o contexto social brasileiro “onde todos desempenham o seu papel (e nada mais do que isso),
onde a lei, a ordem econômica e os agentes sociais” são apresentados constantemente em uma
desviante (e odiosa) harmonia. A repercussão de uma discussão sobre o famoso texto de Foucault
colocado em representação diegética de Tropa de Elite, exige do espectador um engajamento sobre
o que seriam boas condutas éticas e morais. Todos, sem exceção, são levados a visitar a torre
central do Panóptico de Bentham na mesma medida em que todos, sem exceção, tornam-se
237http://www.revistamoviola.com/2007/10/01/tropa-de-elite/
238MACHADO (1991)
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prisioneiros categorizados em seus cubículos iluminados e vigiados. Estamos todos sob acusação
de um olhar onipresente e midiático no meio de poderes descentralizados. A mídia aqui é quem
estabelece uma visibilidade dos possíveis percursos de um Estado Nação, o Brasil.
As vitrines na web blogs e redes de relacionamento social e audiovisual demonstram posições
ora conflitantes ora de aceitação de um discurso de verdade imposto (sem saída) e que define a
classe intelectual brasileira (a universidade) como bode expiatório para justificativas do jogo de
forças (relações de poder) implícito ao sistema sócio-político e econômico vigente. Assim, as
citações na sua maioria foram aqui apresentadas sem interferências legitimam o papel do remix
(e da colagem) como elemento discursivo por excelência. A notação destes registros existentes na
órbita da rede online vem caracterizar um processo de realidade no espaço virtual, onde o debate
está sendo publicamente travado. A internet representa, portanto, para além das demais mídias, um
espaço público de mentes coletivas.
A repercussão de Tropa de Elite deixou de lado a questão da vigilância, tão trabalhada por Foucault
em “Vigiar e Punir” a partir de Bentham, mas trouxe uma perspectiva da disciplina velada através
de um processo de engajamento. Washington, em seu testemunho, chega a afirmar mesmo a
importância do respeito às leis impostas para uma convivência harmoniosa na sociedade, o
seguimento destas disciplinas e normas como premissa de uma vida “saudável”. E, ao mesmo
tempo, esta postura exposta por um jovem morador da periferia de São Paulo, também encontrada
em tantos links, apresenta um retorno conceitual ao que Arlindo Machado (1991) chamou de
“cultura da vigilância”, onde o modelo do Panóptico – compactuado pelo do Sinóptico (BAUMAN)
designa-se a “reformar a moral dos homens, difundir a instrução, incrementar a produtividade
industrial [em nosso caso, imaterial], aumentar a eficiência de todos os ambientes de trabalho,
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inibindo, em contrapartida, a desobediência às leis, a improdutividade e a subversão da ordem.”
239
Me interessava também aqui nesta dissertação inserir um pouco sobre o mote de minha passagem
pelo mestrado. Estudar a proposição “espetáculo+vigilância=consumo” na academia me parecia
plausível esta análise e discussão pelo quanto representava um manifesto (The Everydayness
Manifesto ou Manifesto Cotidiano) colocado como princícpio produtor e criativo nos moldes
situacionistas. Como um apontamento dos discursos mais insipientes na cultura “globalizada”,
percebe-se um Brasil que se encaixa perfeitamente em discursos franceses e norte-americanos,
entre outros, pois é exatamente na esteira de Debord e dos situacionistas que jovens coletivos de
arte e multimídia vêm atuando desde o início do século XXI: “Da postura muitas vezes politizada,
mas dificilmente partidária, os coletivos têm repensado o fazer artístico, agora imbuído da
ideologia e da vitalidade que haviam se perdido desde os primeiros happenings e intervenções,
ainda na passagem desiludida da época pós-moderna para a contemporaneidade. ... Os coletivos de
arte tendem a se aglutinarem em prática política-estética”
240
e assim, merecem destaque trabalhos
contemporâneos de jovens coletivos brasileiros, apontados pelo autor, como os proponentes ao
festival 4Hype, de cultura eletrônica (São Paulo, 2005), como o mm não é confete (proponente do
Manifesto Panóptico, impresso-publicado em 2004 e largamente distribuído
241
). O espetáculo é
conceitualizado ao longo do livro “A Sociedade do Espetáculo”
242
, que traduzia toda uma “ânsia
juvenil” por transformações da realidade, como se o cotidiano se esvairecesse em um grande
(importante) acontecimento não somente pela subjetividade (experiência), mas também ou talvez
principalmente por ter sido globalizado pelos meios de comunicação de massa (as “novas mídias
em rede” daquela década, ou seja, a televisão), como um Maio de todos nós. Vigilância era um
239idem
240ZIBEL (2010, p.184-186)
241Ver “Apêndice IV/IV”
242DEBORD (1997)
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pouco tentar compreender como (quando, onde e porquê) desenvolveu-se e aconteceu a
“Performances Panopticadas Surveillance Wireless Vj'ing Performance”(2004)
243
, representante
desta estética jovem e politizada a partir de toda uma capacidade potência de fazer arte e, ao
mesmo tempo, ativar no mercado do entretenimento cultural, sócio, político e econômico uma
questão que apontávamos como importante a todos nós: “sociedade de controle, sociedade
panopticada”; esta então como princípio desencadeador de uma série de discussões agora em
âmbito nacional. Compreendia-se, assim, por dispositivo estético uma retórica extra-audiovisual,
também performática, onde este “performática” sugere a relação cotidiana entre pessoas.
J á Tropa de Elite não adentra a uma linha de trabalhos artísticos relacionados à vigilância
(surveillance), mapeados (ao que parece pela primeira vez) em 1987 por conta da exposição
intitulada Surveillance, a cargo das curadoras Branda Miller and Deborah Irmas, que havia sido
realizada em Los Angeles (EUA) naquele ano: “A ideia é usar como recurso de expressão artística
todas as tecnologias das mais simples às mais sofisticadas utilizadas pelo poder institucional
para controle e disciplina dos cidadãos ... Nessa perspectiva, alguns artistas executam performances
improvisadas para os sistemas de vigilância dos grandes magazines ou das fronteiras entre
países”
244
. Pouco mais de vinte anos depois, vivemos em novas tecnologias que, ao se alimentarem
de nossos mais profundos desejos, além de os vigiar também os coleta, arquiva e utiliza, portanto,
um cotidiano e invisível processo informacional onde são criados enormes bancos de dados
pessoais que se intercruzam digitalmente em contínua circulação (mobilidade), nada mais acertado
do que uma biopolítica foucaultiana que vem complementar uma análise sobre esta construção de
um ser autômato. E assim, o engajamento via Tropa de Elite é travado a partir de estereótipos,
categorizações, e festejado por seu papel de entretenimento politizado. Somente cerca de um ano
243Ver “Apêndice IV/IV”
244MACHADO (1991)
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depois de seu oficial lançamento é que este filme impregnou-se em minha atenção, como havia
ocorrido a milhares de outros brasileiros (sem falar na mídia tradicional e sua derivação nas
“novas mídias” e também na estrangeira). Muitos o assistiram no cinema tradicional (a
R$18,00
245
) ou nos computadores, nos televisores de casa e até mesmo nas projeções públicas e
coletivas em comunidades. E muitos falavam sobre ele. Opa! “falavam sobre ele”!?! Em diferentes
classes sociais falava-se sobre este filme nacional da recente safra, “retomada”, de um cinema
brasileiro, um cinema que pode ser separado por gêneros. O consumo deste filme pode ser
caracterizado tão somente como um imediatismo das novas mídias ou, nas palavras de Fargier
(2007), “mídias do imediatismo”?
Os dados encontrados no Google trazem uma certa identidade brasileira latente, ou seja, um cinema
nacional que mescla estética thriller, documentário e política chegou às bocas e ouvidos de uma
enorme parcela da população que não se conteve em apenas “assistir”, mas a “engajar-se”. É este
engajamento público e voluntário que torna a repercussão e reverberação de Tropa de Elite tão
interessante, pois é novidade em se tratando de um filme brasileiro. Naquele segundo semestre de
2007, Tropa de Elite era o tom da vez na cidade do Rio de Janeiro e em reportagens e artigos na
mídia ao sudeste brasileiro, que se transmitia por outros cantos do país e verificava-se (verifica-se)
online em diálogos travados em blogs (recheados de comentários). Tropa de Elite era então um
mod para GTA, vendido em camelôs ou gratuito nos Bit Torrents da rede, e inseriu-se depois em
famosos games online. Quantos filmes brasileiros passaram por tamanha “aprovação” de sua
população em diferentes classes sociais!? Premiado, retornou à cena midiática e expandiu-se para
além de seu território. Padilha, e seus produtores, que tão bem conhecem a mídia brasileira e seus
mecanismos de poder em discursos de verdade... A diegese fílmica e seu “marketing viral” nos
mercados informais engajaram milhões de pessoas, das cenas de treinamento militar de elite (em
245Valor atualizado para maio/2010 (fim-de-semana), referente às salas de cinema ao redor da Av. Paulista (São Paulo)
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que o Capitão Nascimento afirma em voz off que “Nem o exército de Israel tem os soldados como
a gente”
246
... enquanto seus “soldados” entoam em cantoria o refrão “No BOPE tem guerreiros que
acreditam no Brasil!”
247
) às cenas provocativas em que se entoava Foucault a partir de jogos
cinematográficos de representação e consequente valorização (ou, no caso da sala de aula da PUC-
RJ, desvalorização), entre outras amplamente comentadas no território nacional e internacional.
Se Padilha fez um “clipping” detalhado destes voluntários feedbacks de sua primeira obra de
ficção, tem em seu poder discussões-mote para continuar nesta estratégia de sucesso midiático
(além-cinematográfico). Quem sabe poderemos discutir uma “estética da vigilância” (BRUNO) ou
uma “estética da biopolítica” (FELDMAN) na cinematografia brasileira
248
, porquanto o novo filme
de Padilha criou todo um sistema de CCTV para a continuação numa diegese fílmica:
imagens das gravações de “Tropa de Elite 2”
249
Por fim, o material audiovisual complementar a esta escrita mescla linguagens, tecnologias e
técnicas. Por um lado “cinematográficas” e por outro “youtubeanas” que se conjugam, para entrega
246E como pode ser lido no livro: “E não é para me gabar não, mas nós somos a melhor tropa de guerra urbana do
mundo, a mais técnica, a mais bem preparada, a mais forte. Não sou eu quem está dizendo; os israelenses vêm aqui,
aprender com a gente; os americanos também.”; ver “Apêndice II/IV”.
247Ver “Apêndice II/IV”.
248Sem querer desmerecer o filme “O prisioneiro da grade de ferro” (2003)
249Gentilmente cedidas por Paola Barreto, via email, em junho/2010
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complementar, como um vídeo-digital em DVD. Vejamos, não há – ao menos pela nossa atualidade
de banda larga em computadores pessoais
250
que se firmar em um produto "cinematográfico" ao
se pensar em YouTube!... Uma linguagem cinematográfica, em termos de vídeos para “http://”,
deveria pensar também na mídia de distribuição e recepção tal qual o pensa (e realiza) visando as
grandes telas de projeção em salas escuras
251
e posterior lançamento em mídia DVD para venda e
locação. Desta maneira, o vídeo em “http://” que apresento a partir do que chamo de linguagem
“youtubeana” tenta pensar a mídia (ao que o "http" minimamente implicaria), na contramão de
simplesmente rechear o YouTube (Google) gratuitamente, mas analisar seu material reutilizando-o
numa perspectiva crítica e criativa.
Nossa cultura em rede acontece em uma mescla do desenvolvimento tecnológico codificado, ou
seja, ferramentas-utilitárias propícias às atuações multimidiáticas que se relacionam com a questão
do público versus privado, realidade diária também nas urbes contemporâneas. Atualmente
assistimos a uma crescente dos sistemas de controle e vigilância nos moldes de Phillip K. Dick,
descentralizando-se o Big Brother de Orwell. Para além das plataformas videográficas e de
relacionamento social online, o homem pós-moderno do século 21 assiste e vivencia o acesso a
estes sistemas (GPSs
252
, GPRSs
253
, RFIDs
254
, entre outros, inicialmente criados como dispositivos
militares), como cada vez mais cotidianos e comemorados: a comunicação móvel é a tecnologia de
maior amplitude-acessibilidade sócio-econômica na atualidade, seguida de sua função multimídia
audiovisual e de geoinformação (tecnologias de processamento de dados geográficos cada vez mais
aliados a mapas na rede etc). Mas a despeito desta temática da vigilância, do espetáculo e do
250Insere-se aqui que muitos lares utilizam seus televisores de LCD ou Plasma como visualizadores de uma conexão
com a internet, além do que a experiência de um cinema 4K já ser possível como apresentado no FILE2009.
251No caso do filme Tropa de Elite, esta recepção se deu em diferentes meios, tanto físicos quanto virtuais.
252Satélites: sistema de posição global
253Taxa básica de transferência de dados (General Packet Radio Service) com uma velocidade de 115kbits. Ou seja,
Telefonia Móvel. Atualmente no Brasil já temos uma expansão – e consequente “popularização” – da taxa 3G (cerca
de 2,5 mbits)
254Identidade por rádio frequência
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consumo, espero que os dados apontados ao longo desta pesquisa – encontrados nas mídias
tradicionais (imprensa escrita, como revista Veja e jornal Folha de São Paulo), na Internet (blogs,
YouTube, revistas e artigos acadêmicos), nos Games (GTA e Counter Strike), na TV (programa
Roda Viva da TV Cultura e com Jô Soares na Rede Globo de Televisão) – demonstrem um reforço à
minha hipótese seguinte: Tropa de Elite repercutiu como um audiovisual (longa-metragem)
brasileiro raramente repercute. Os dados estão lançados.
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