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risco[...] Podes escolhê-las de acordo com a tua preferência – magras,
gordas, baixas, jovens, de meia-idade, velhas – podes tê-las sem ter de
recorrer a uma escada ou de entrar furtivamente[...] Todos podem
desfrutá-las facilmente, sem receios e de todas as maneiras, dia e noite.
(ATENEUS, XIII, 529d)
A partir das reformas realizadas por Sólon no início do século VI, a prostituição
em Atenas se tornara legal, contanto que não fosse praticada por atenienses. As
prostitutas eram, em relação à sua origem, escravas ou ex-escravas que haviam sido
libertas, métoikoi
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, ou meninas que haviam sido expostas por seus pais
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(MOSSÉ,
1990, p.67-8). Cidadãos atenienses, esposas e filhos legítimos não podiam ser
prostituídos, “[...] ninguém pode vender suas filhas ou irmãs, a não ser se ficar patente
que elas perderam a virgindade antes de casar
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” (PLUTARCO. Vida de Sólon, XXIII,
v.1).
O período de prostituição inconseqüente e descontrolada chegava ao fim. Aos
poucos a quantidade de prostíbulos foi se multiplicando. Em nenhuma das póleis havia
tantas prostitutas quanto em Atenas, exceto Corinto, onde era exercida a Hierá
Porneía
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(VRISSIMTZIS, 2002, p.84-8).
A palavra prostituta, em grego, é porné, que deriva do verbo pérnemi (vender,
ou ser vendido), portanto, aquela que está à venda ou aquela que vende sexo.
(DAVIDSON, 1998, p.117; VRISSIMTZIS, 2002, p.85-6). A palavra traz consigo a
idéia de comércio: dar a alguém os direitos sobre um corpo em troca de dinheiro, como
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Métoikos (meteco): homens ou mulheres livres, de origem estrangeira, que, por tal motivo, não
possuíam direitos civis e políticos (VRISSIMTZIS, 2002, p.124).
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Neste caso, mesmo tendo nascido filhas de cidadãos, quando recolhidas por alguém, normalmente,
acabavam sendo transformadas em escravas (VRISSIMTZIS, 2002, p.86).
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Induzir uma mulher ateniense a se prostituir era completamente proibido e poderia ser rigorosamente
punido com multas em dinheiro e outras penas (SALLES, 1982, p.57-8; VRISSIMTZIS, 2002, p.86).
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Prostituição Sagrada, instituição antiga na qual as escravas sagradas (hieródouloi) tinham relações
sexuais, com quem as solicitasse, mediante pagamento. De tal modo, o ato sexual seria praticado em
honra à deusa (Afrodite Pandêmica, cultuada, sobretudo, em Corinto, Abido e Éfeso), de acordo com os
simbolismos e as associações de caráter mágico-simpatético, e proporcionaria fertilidade a todas as
mulheres, fertilidade da terra e, por conseguinte, a prosperidade da pólis (VRISSIMTZIS, 2002, p.85 e
123).