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MIRIAM BARROS TEIXEIRA
SANITÁRIO SECO: UMA ALTERNATIVA DE SANEAMENTO SUSTENTÁVEL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de Concentração: Tecnologia
da Construção.
Orientador: Prof
a
. ANA LÚCIA TORRES SEROA DA MOTTA (Ph.D.)
Co-orientador: Prof.ELSON ANTONIO DO NASCIMENTO (D.Sc.)
Niterói
2009
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T266 Teixeira, Miriam Barros.
Sanitário seco: uma alternativa de saneamento sustentável /
Miriam Barros Teixeira. - Niterói: [s.n.], 2009.
131, f.: il., 30cm.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil Tecnologia da
Construção) – Universidade Federal Fluminense, 2009.
1. Sanitário seco. 2. Saneamento. 3. Sustentabilidade. I.
Título
CDD ____
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MIRIAM BARROS TEIXEIRA
SANITÁRIO SECO: UMA ALTERNATIVA DE SANEAMENTO SUSTENTÁVEL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de Concentração: Tecnologia
da construção.
Aprovada em 7 de agosto de 2009:
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof
a
. Ana Lúcia Torres Seroa da Motta (Ph.D.) - Orientadora
Universidade Federal Fluminense
_______________________________________________________________
Prof. Elson Antonio do Nascimento (D.Sc.) - Co-orientador
Universidade Federal Fluminense
_______________________________________________________________
Prof. Julio Cesar de Faria Alvim Wasserman (Ph.D.)
Universidade Federal Fluminense
_______________________________________________________________
Prof
a
. Simone Cynamon Cohen (D.Sc)
Fiocruz
Niterói
2009
Ao meu querido pai (in memoriam), a minha querida mãe e aos meus filhos Renato e
Fernanda, que sempre me incentivaram e me deram muito amor e carinho.
Amo vocês.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por permitir cada passo em minha vida.
Aos meus orientadores, que acreditaram na minha pesquisa e me forneceram todo
apoio para que eu pudesse realizá-la.
À professora Mara Telles Salles pelo inestimável auxílio.
Aos demais professores e colegas que enriqueceram minha trajetória até aqui.
Às minhas amigas Maria Luiza, Silvia, e Karin por todo suporte, apoio e incentivo
durante esta jornada.
Por fim, gostaria de agradecer à CAPES, que me apoiou com bolsa de estudo
durante praticamente todo o processo.
EPÍGRAFE
“O objeto que representa a civilização e o progresso não é o livro, o telefone, a
Internet ou a bomba atômica. É a privada.”
Mário Vargas Llosa - O Cheiro da Pobreza - Revista Piauí, fevereiro de 2007
SUMÁRIO
SUMÁRIO ...................................................................................................................6
RESUMO...................................................................................................................14
ABSTRACT...............................................................................................................15
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................16
1.1 JUSTIFICATIVA...............................................................................................................19
1.2 QUESTÕES DA PESQUISA.............................................................................................21
1.3 OBJETIVOS.......................................................................................................................21
1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................21
1.3.2 Objetivo específico.........................................................................................21
1.4 METODOLOGIA...............................................................................................................22
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................25
2.1 UM POUCO DE HISTÓRIA .............................................................................................25
2.2 DEFINIÇÃO DE SANEAMENTO....................................................................................32
2.3 SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE.............................................................34
2.4 PROCESSO CONVENCIONAL DE TRATAMENTO DA ÁGUA.................................38
2.5 PROCESSO CONVENCIONAL DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO.......41
2.6 O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL E AS METAS DO MILÊNIO ......................51
2.7 SANEAMENTO ECOLÓGICO ........................................................................................58
2.7.1 Saneamento ecológico e águas cinzas ........................................................67
2.7.2 O processamento dos resíduos orgânicos no eco-san..............................68
2.7.3 História do sanitário seco..............................................................................72
2.7.4 Tipos de sanitário seco..................................................................................77
2.7.5 Modelos de sanitários....................................................................................78
2.7.6 Exemplos de implantação de sistemas ecológicos de saneamento .........84
3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL .....................................90
4 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO..................................................................................97
4.1 ESTUDO DE CAMPO.......................................................................................................97
4.2 PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA UFF............................................................................99
4.3 PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ..............102
4.4 ANÁLISE GERAL...........................................................................................................104
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................107
5.1 CONCLUSÃO..................................................................................................................107
5.2 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................110
ANEXOS .................................................................................................................121
1 COMPONENTES PARA MONTAR O SANITARIO SECO MULTRUM ......................122
2 DIMENSÕES MODELO ELÉTRICO DA SUN-MAR “COMPACT”..............................123
3 ESPECIFICAÇÕES DO MODELO SUN-MAR “CENTREX 3000 AF AC/DC”.............124
APÊNDICE..............................................................................................................125
1 MODELO QUESTIONÁRIO Nº 1 .....................................................................................126
2 MODELO QUESTIONÁRIO Nº 2 .....................................................................................127
GLOSSÁRIO...........................................................................................................128
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Sistema de saneamento básico convencional ..........................................38
Figura 2 -Tratamento convencional da água39
Figura 3 - Esquema de sistema de esgoto sanitário .................................................42
Figura 4 - Fase líquida do tratamento de esgoto.......................................................48
Figura 5 - Fase sólida do tratamento de esgoto........................................................49
Figura 6 - Secador térmico ETE São Miguel Paulista ...............................................50
Figura 7 - Secador – pelletizador ..............................................................................50
Figuras 8 - Pellets .....................................................................................................50
Figura 9 - Proporção da população com acesso a esgotamento sanitário em 2000 e
2015 ..........................................................................................................................57
Figura 10 - Proporção da população com acesso a abastecimento de água em 2000
e 2015 .......................................................................................................................57
Figura 11 - Ciclo natural de reaproveitamento dos nutrientes humanos ...................60
Figura 12 - Ciclo quebrado de nutrientes humanos...................................................60
Figuras 13 - Mictório e vaso sanitário instalados no prédio da GTZ..........................62
Figuras 14 - Armazenamento e aplicação de urina...................................................64
Figuras 15 - Diagrama de um típico processo do sanitário compostável ..................71
Figura 16- Closet de terra..........................................................................................74
Figura 17 - Sanitário Multrum....................................................................................75
Figuras 18- Modelo de sanitário manufaturado independente ..................................78
Figuras 19 - Modelo de sanitário manufaturado remoto............................................79
Figura 20 - Modelo de sanitário manufaturado remoto – Sun-Mar............................80
Figuras 21 - Desenho de um sistema Multrum..........................................................81
Figuras 22 - Processador para compostagem...........................................................81
Figura 23 - Sanitário Bason.......................................................................................82
Figura 24 - Visão externa da câmara de compostagem............................................82
Figura 25 - Sanitário seco compostável ....................................................................82
Figura 26- Sanitário compostável Arborloo ...............................................................83
Figura 27 - Sanitário compostável Dupla Fossa........................................................83
Figura 28 - Sanitário com separador de urina ...........................................................84
Figuras 29 - Prédio de apartamentos - Erdos............................................................85
Figura 30 - Esquema dos sanitários com separador de urina ...................................86
Figura 31 - Sistema de ventilação do sistema de coleta de dejetos..........................86
Figura 32 - Erdos Eco-Town Project .........................................................................87
Figuras 33 - Instalações sanitárias com equipamentos Clivus Multrum....................89
Figura 34 - Sanitário seco do IPEC...........................................................................98
Figura 35 - Sanitário seco com minhocário IPEC......................................................99
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quem não tem acesso aos serviços de saneamento básico - área urbana
(%) 1990-2000...........................................................................................................52
Tabela 2 - Quem não tem acesso aos serviços de saneamento básico área rural
(%) 1990-2000...........................................................................................................53
Tabela 3 - Quem obteve acesso aos serviços de saneamento básico urbano -
período 1990/2000(%)...............................................................................................53
Tabela 4 - Quem obteve acesso aos serviços de saneamento básico rural - período
1990/2000(%)............................................................................................................53
Tabela 5- Probabilidade do domicílio urbano ter acesso aos serviços de saneamento
básico........................................................................................................................54
Tabela 6 - Probababilidade do domicílio rural ter acesso aos serviços de saneamento
básico........................................................................................................................54
Tabela 7 - Proporção de acesso das pessoas ao abastecimento de água e
esgotamento sanitário - 1990 a 2004........................................................................56
Tabela 8 - A situação em que estamos e o que falta para atingir o ODM .................56
Tabela 9- Probabilidade do Brasil cumprir os objetivos de desenvolvimento do
milênio.......................................................................................................................58
Tabela 10 - Recomendação do Guia Sueco..............................................................63
Tabela 11 - Temperatura X Tempo necessários para matar os patógenos na
compostagem............................................................................................................69
Tabela 12 - Tabulação do questionário 1................................................................100
Tabela 13 - Tabulação do questionário 2................................................................103
Tabela 14 - Consolidação dos resultados dos alunos e profissionais .....................105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Histórico do saneamento no Brasil, 1857-1945.......................................30
Quadro 2 - Histórico do saneamento no Brasil, 1948 -1988......................................31
Quadro 3 - Histórico do saneamento no Brasil, 1990-2009.......................................32
Quadro 4 - Classificação ambiental das infecções relacionadas com os excretas....37
Quadro 5 - Etapas do processo de tratamento de esgoto.........................................45
Quadro 6 - Composição do esgoto doméstico ..........................................................47
Quadro 7 - Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d’água..47
Quadro 8 - Fatores que afetam a sobrevivência de microorganismos no meio
ambiente....................................................................................................................67
Quadro 9 - Lista de Conferência ASC.......................................................................95
LISTA DE SIGLAS
ABC
ABES
ABNT
AIDIS
ASC
CAESB
CEDAE
CETESB
COMASP
CONAMA
CNUMAD
COPASA
DAEE
DBO
DRSAI
ECOSANRES
EIA
ERA
ETA
ETE
FAO
FESB
FUNASA
FURB
GEN
Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
Associação Brasileira de Normas Técnicas
Associação lnteramericana de Engenharia Sanitária
Avaliação da Sustentabilidade Comunitária
Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
Companhia Estadual de Águas e Esgotos (RJ)
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (SP)
Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo
Conselho Nacional do Meio Ambiente
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
Companhia de Saneamento de Minas Gerais
Departamento de Águas e Energia Elétrica
Demanda bioquímica por oxigênio
Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado
Ecological Sanitation Research
Estudo de Impacto Ambiental
Repartição de Águas e Esgotos
Estação de tratamento de Água
Estação de Tratamento de Esgoto
Food and Agriculture Organization
Fundo Estadual de Saneamento Básico (SP)
Fundação Nacional de Saúde
Universidade Regional de Blumenau
Rede Global de Ecovilas
12
GEO
GTZ
IBAMA
Global Environment Outlook
Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Sociedade de
Cooperação Técnica)
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE
IDS
INPE
IPEA
IPEC
IPEMA
MMA
MPO
NBR
ODM
OMS
ONU
Ph
PLANASA
PMSS
PNAD
PNSB
PNUD
PNUMA
RIMA
RMSP
SABESP
SANEGRAN
SANEPAR
SIDA
SNIS
SNSA
SUS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Indicadores de desenvolvimento sustentável
Instituto Nacional de Pesquisa Espacial
Instituto de Pesquisa Economica Aplicada
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado
Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica
Ministério do Meio Ambiente
Ministério do Planejamento e Orçamento
Norma Brasileira
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
Organização Mundial da Saúde
Organização das Nações Unidas
potencial de hidrogenação
Plano Nacional de Saneamento Básico
Programa de Modernização do Setor de Saneamento
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente
Relatório de Impacto Ambiental
Região Metropolitana de São Paulo
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Sistema de Esgotos da Grande São Paulo
Companhia de Saneamento do Paraná
Swedish International Development Cooperation Agency
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
Secretaria Nacional de Saneamento
Sistema Único de Saúde
13
TIBA
UFF
UNICEF
WHO
Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura
Universidade Federal Fluminense
Fundo das Nações Unidas para a Infância
World Health Orgnaization (Organização Mundial da Saúde)
RESUMO
O crescimento urbano desordenado, pobreza, carência de educação sanitária
e a deficiência dos serviços de saneamento básico são alguns dos itens apontados
como causa dos problemas hidrossanitários que afligem os países em
desenvolvimento e que têm como conseqüência óbitos e internações causadas por
doenças veiculadas pela água, como também a poluição dos recursos hídricos.
Como tecnologia alternativa a ser utilizada no saneamento básico, o sanitário seco
compostável está sendo utilizado em países como a China, Suécia, África do Sul,
Canadá, Estados Unidos e outros. Um dos principais benefícios da utilização dessa
tecnologia é a solução de problemas como a contaminação e desperdício de água.
Essa tecnologia contribui ainda com a transformação dos dejetos em adubo orgânico
e húmus, fazendo com que o ciclo natural de retorno dos nutrientes ao solo não seja
interrompido. Um dos objetivos da dissertação é investigar o nível de conhecimento
a respeito do sanitário seco e o grau de interesse na sua utilização pelos alunos do
curso de arquitetura e engenharia da Universidade Federal Fluminense e pelos
profissionais que atuam no mercado da construção civil na cidade do Rio de Janeiro.
Procura-se também analisar a viabilidade técnica econômica e, principalmente,
social para se implantar o sanitário seco nos edifícios residenciais uni e
multifamiliares na cidade do Rio de Janeiro e a possibilidade de sua utilização como
indicador de sustentabilidade ambiental. O impacto do uso de compensação
tributária também foi avaliado. Os resultados apresentados demonstram que 40%
dos entrevistados ouviram falar da tecnologia, 97% gostariam de receber mais
informações e 77% acreditam que a mesma poderia ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental e poderia ser implementada nas novas construções.
Palavras-chave: Sanitário seco. Saneamento ecológico. Sustentabilidade. Esgoto.
ABSTRACT
Chaotic urban growth, poverty, lack of sanitary education, and deficiency of basic
sanitation, are items pointed out as causes for health problems that affect developing
countries, resulting in deaths, hospitalizations due to water carried diseases, and the
pollution of hydric resources. As an alternative technology to be utilized in basic
sanitation, the dry composting toilet is being utilized in countries like China, Sweden,
South Africa, Canada, United States of America and others. One of the main benefits
in the use of this technology is the solution of problems such as contamination and
waste of water. It also contributes to the transformation of human excreta in organic
fertilizer and humus, not disrupting the natural cicle of nutrients returning to the soil.
The objetive of this work is to investigate the level of knowledge about the dry toilet
and the interest in its utilization by architecture and engineering students at the
Universidade Federal Fluminense, and also by professionals of the civil construction
in the city of Rio de Janeiro. It also seeks to analyse the technical, economical, and
social viability of implementing the dry toilet in residential buildings at the city of Rio
de Janeiro, as the possibility of its use as an environmetal sustentability indicator.
The impact of taxes compensation was also evaluated. The results show that 40% of
the interview have heard about the technology, and 97% would like to recieve more
information 77% believe that the technology could be used as an environmental
sustentability indicator, and that it could be implemented in new buildings.
Keywords: Dry toilet. Ecological sanitation. Ambiental sustentability. Sewage.
1 INTRODUÇÃO
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 2008 como o Ano
Internacional do Saneamento. A campanha pelo saneamento básico tem por
finalidade ajudar a alcançar um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM), que é reduzir pela metade, ao ano de 2015, a proporção de pessoas que
não têm acesso ao saneamento básico nem à água potável.
O esgotamento sanitário é um dos maiores desafios às políticas públicas
governamentais, tendo em vista suas implicações sobre a população e o meio
ambiente. Por falta de um tratamento e destinação adequada, o esgoto acaba
poluindo o solo, contaminando as águas superficiais e subterrâneas e,
freqüentemente, passa a escoar em céu aberto, constituindo-se em perigosos focos
de disseminação de doenças como cólera, diarréia, disenteria, febre tifóide,
esquistossomose, dentre outras enfermidades relacionadas à àgua e à falta de
tratamento das excretas.
Segundo dados da ONU (2008), 40% da população mundial continua sem
saneamento básico, aproximadamente 1,5 milhão de crianças morrem ao ano no
mundo em conseqüência da carência de água potável, saneamento ambiental
adequado e condições higiênicas saudáveis. Estima-se que, aproximadamente, 42
mil pessoas morram semanalmente devido a doenças relacionadas com a qualidade
ruim da água que consomem e por falta de saneamento ambiental adequado.
O saneamento básico é um dos principais indicadores de desenvolvimento,
devido à sua relação com a saúde pública. A falta de saneamento implica em
aumento das taxas de mortalidade infantil, por exemplo, devido a inúmeras doenças
veiculadas pela água. Segundo dados do GEO-Brasil 2002, do total de internações
por doenças infecciosas e parasitárias, 63,6% foram devidas a doenças relacionadas
ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI).
17
Os Indicadores de desenvolvimento sustentável – Brasil 2008 (IDS 2008)
mostram que, entre as doenças de transmissão feco-oral, as diarréias ocupam o
primeiro lugar, sendo responsáveis por mais de 87% do total de internações por
DRSAI em cada período 1993-2005. Nos períodos de 1998 e 1999, alcançaram o
valor de 93% e, em 2005, alcançaram 90%.
As internações hospitalares por DRSAI por 100.000 habitantes, no período de
1993, foram equivalentes a 732,8 e, nos períodos 2000 e 2005, alcançaram o valor
de 330,2 e 327,3 respectivamente.
No que se refere ao esgotamento sanitário, os dados do GEO-Brasil 2002
demonstram que 52,5% dos domicílios urbanos utilizam rede geral de esgotamento;
23,1% fossas sépticas; 12,1% fossas rudimentares; e 6,1% utilizam-se de valas ou
direcionam os efluentes diretamente para os rios, lagos, mares etc.
O IDS 2008 relativo ao esgotamento sanitário demostra o percentual de
moradores em domicílios particulares permanentes atendidos por sistema de
esgotamento sanitário em relação à população total, por tipo de esgotamento. No
período de 1992, os moradores atendidos alcançavam 45,5% na área urbana e 3,0%
na rural. No período de 2006, na área urbana o atendimento alcançou 54,5% e na
rural 4,2%.
Partindo da hipótese de que o saneamento básico é fundamental à promoção
e proteção da saúde, o presente trabalho apresenta uma alternativa ecológica e
economicamente sustentável ao problema da falta de acesso ao saneamento básico
vivido por grande parte da população brasileira e mundial: o sanitário seco.
O sanitário seco compostável é uma tecnologia sustentável e de abrangência
quase ilimitada, podendo sua utilização atingir desde áreas isoladas a centros
urbanos.
O saneamento ecológico é uma nova abordagem baseada em uma visão
integrada dos ciclos naturais, em que águas residuais, ou efluentes, e excreções não
são consideradas como resíduos, mas como recursos valiosos. O sanitário seco
pode ser considerado como uma alternativa ambientalmente correta para promover
o saneamento básico, principalmente em áreas de poucos recursos econômicos.
(MORGAN, 2007; WINBLAD, 2004; ESREY, 2000)
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano (CNUMAD), conhecida como ECO-92, foi aprovado um
plano de ação para promover o desenvolvimento sustentável do planeta, a Agenda
18
21 Global. O termo “Agenda 21 foi usado no sentido de intenções e desejo de
mudança para um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI. Essa
agenda estabeleceu a importância da cooperação internacional para acelerar o
desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento e o item saneamento
está, principalmente, inserido em cinco capítulos: capítulo 6 Proteção e Promoção
das Condições da Saúde Humana; capítulo 7 – Promoção do Desenvolvimento
Sustentável dos Assentamentos Humanos; capítulo 14 Promoção do
Desenvolvimento Rural e Agrícola Sustentável; capítulo 18 Proteção da Qualidade
e do Abastecimento dos Recursos Hídricos: Aplicação de Critérios Integrados no
Desenvolvimento, Manejo e Uso dos Recursos Hídricos; capítulo 21 Manejo
Ambientalmente Saudável dos Resíduos Sólidos e Questões Relacionadas com os
Esgotos. Todos esses itens demonstram como o saneamento influencia a qualidade
de vida do homem e seu impacto sobre o meio ambiente.
O presente trabalho é composto de uma Introdução, onde se apresentam as
justificativas, as questões da pesquisa, os objetivos geral e específico e a
metodologia empregada no trabalho. O capítulo 1, Revisão da Literatura, apresenta
um breve histórico do saneamento convencional e as diferentes definições de
saneamento. Apresenta também a relação entre saneamento, meio ambiente e
saúde, bem como o processo convencional do tratamento de esgoto e água. Aborda
ainda a situação dos serviços de saneamento básico no Brasil a partir das metas
milênio. Também faz parte do capítulo 1 o conceito de saneamento ecológico, um
breve histórico sobre o sanitário seco, a descrição de seu funcionamento e alguns
exemplos de modelos de sanitários disponíveis. Para finalizar, capítulo 1 são
apresentados dois grandes projetos de implantação do sanitário seco em unidades
multifamiliares e em prédio de escritório. No capítulo 2 é feita uma abordagem sobre
a necessidade de indicadores relativos a saneamento e são apresentadas algumas
justificativas sobre a possibilidade da utilização do sanitário seco como indicador de
sustentabilidade ambiental. O terceiro e último capítulo apresenta o resultado da
pesquisa realizada para medir a percepção de um grupo de alunos universitários e
profissionais que atuam no mercado da construção civil da cidade do Rio de Janeiro
sobre o sanitário seco, como base para se identificar o nível de conhecimento e o
grau de aceitação dessa tecnologia. Na conclusão do trabalho são apresentadas as
respostas aos questionamentos relativos à viabilidade da utilização do sanitário seco
onde se conclui ser viável. Após a conclusão, são feitas algumas considerações e
19
recomendações para que o sanitário seco seja inserido nos programas de
saneamento no Brasil.
1.1 JUSTIFICATIVA
Na área de saneamento existem vários motivos para se desenvolverem
tecnologias alternativas e sustentáveis; esse serviço é fundamental para a
prevenção de doenças infecciosas, degradação ambiental e a preservação da água
potável.
Segundo dados do GEO-Brasil 2002, no que se refere ao esgotamento
sanitário, apenas 31% da população brasileira está atendida, e apenas 8% do
esgoto produzido tem tratamento adequado. Durante muitos anos, o setor de
saneamento básico no Brasil não obteve os recursos necessários para seu pleno
desenvolvimento.
A Agenda 21 Brasileira, formulada de acordo com os princípios da Agenda 21
Global, privilegia em seus objetivos a adoção de alternativas tecnologicamente mais
sustentáveis para evitar impactos ambientais negativos. Preservar recursos, atuar
de forma holística com a natureza ajuda a diminuir os impactos da atividade humana
na degradação do ambiente.
Uma alternativa tecnológica que fecha um ciclo natural, o sanitário seco
compostável, diferentemente dos sanitários convencionais, não utiliza água para seu
funcionamento e não se liga à rede de esgoto. Um dos principais benefícios dessa
tecnologia é a solução de problemas dos sistemas hidrossanitários, como a
contaminação e desperdício de água. Ele contribui ainda com a transformação dos
dejetos em adubo orgânico e húmus que podem ser usados nas agro-florestas.
(LEGAN, 2007; JENKINS, 2005; WINBLAD, 2004; DEL PORTO, 2000; ESREY,
2000; RYN, 1978)
O sanitário seco compostável é uma adaptação moderna da antiga prática de
gestão de dejetos, sem a utilização de água e, portanto, sem esgotos. Os principais
objetivos na utilização do sistema do sanitário seco são: (i) a compostagem, que
permite destruir os microorganismos que causam doenças humanas (patógenos),
reduzindo assim o risco de infecção humana para níveis aceitáveis sem contaminar
o ambiente; (ii) a reciclagem dos nutrientes existentes nos dejetos; (iii) a eliminação
da necessidade de utilização de água potável para diluição e transporte dos dejetos
20
e (iv) a solução, dentro dos padrões de sustentabilidade, para os problemas em
áreas que não possuem sistemas de tratamento de esgoto implantados.
Segundo dados do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), seriam
necessários investimentos de aproximadamente US$ 42 bilhões para alcançar a
meta de universalizão dos serviços de água e esgotos para toda a população
brasileira.
A Agenda 21 Brasileira: resultado da consulta nacional (2004) identifica as
“Estratégias e Ações Propostas para os seis temas da Agenda 21” e, dentro do tema
recursos hídricos, a poluição por esgotos domésticos é identificada como um dos
problemas mais graves de poluição dos sistemas hídricos no país.
Os dados da série histórica do Sistema Nacional de Informações Sobre
Saneamento (SNIS, 2008) mostraram que a maior parte dos recursos são aplicados
na região Sudeste, que respondeu por cerca de 52,9% dos valores aplicados. As
demais regiões tiveram a seguinte participação na aplicação dos recursos em 2006:
região Norte, 2,9%; Nordeste, 14,5%; Sul, 18,6%; e Centro-Oeste, 11,2%. Os
maiores valores são aplicados pelas companhias estaduais, dentre as quais se
destacam: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP)
(R$ 907,7 milhões); Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) (R$
742,6 milhões); Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) (R$ 529,9
milhões); Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) (238,8
milhões); e Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE)
(R$ 180,7 milhões).
Cerca da metade da população mundial não tem acesso a nenhuma forma de
saneamento, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 2000, e o resto da humanidade
depende de sistemas convencionais de saneamento, que se limitam a duas
categorias: os sistemas baseados em redes de esgoto transportado com a utilização
de muita água ou os sistemas de fossa séptica. Para Esrey (2000), esses sistemas
foram concebidos a partir da premissa de que os nutrientes eliminados através dos
dejetos humanos não têm valor significativo e devem ser descartados.
Conseqüentemente, o meio ambiente é poluído, os nutrientes não são utilizados e
uma grande quantidade de problemas de saúde é criada.
Partindo da hipótese de que o sanitário seco pode ser uma alternativa viável
para atender às metas impostas pela agenda 21 com relação ao saneamento
21
ambiental, o presente trabalho estuda o sanitário seco compostável para identificar o
tipo de objeção e grau de aceitação na utilização dessa tecnologia e, assim, gerar
subsídio para os órgãos responsáveis analisarem a possibilidade de incluir o
sanitário seco nas políticas de saneamento, podendo aincluí-lo como indicador de
sustentabilidade ambiental.
1.2 QUESTÕES DA PESQUISA
Devido à dificuldade que o país vem enfrentando para solucionar os
problemas hidrossanitários, seria uma alternativa viável a inclusão do sanitário seco
compostável nas políticas de saneamento? É possível a implementação dessa
tecnologia na construção dos novos imóveis residenciais? Existe alguma barreira
tecnológica para sua aplicação em larga escala nos centros urbanos? Existe a
possibilidade de sua inclusão como indicador de sustentabilidade na Agenda 21
Brasileira? Qual seria a viabilidade cnica, econômica e, principalmente, social para
se implantar o sanitário seco nos edifícios residenciais uni e multifamiliares na
cidade do Rio de Janeiro?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral da pesquisa é apresentar os benefícios da utilização do
sanitário seco, a possibilidade de sua utilização para solucionar problemas
hidrossanitários, identificar o nível de conhecimento a respeito do sanitário seco e o
grau de interesse na sua utilização para viabilizar a introdução dessa tecnologia em
nossa cultura.
1.3.2 Objetivo específico
Identificar os princípios sicos do funcionamento do sanitário seco
compostável, através de revisão bibliográfica e estudo de campo;
22
Identificar algumas opções de sanitário seco e as vantagens e
desvantagens na sua utilização, através de revisão bibliográfica e estudo de
campo;
Avaliar a viabilidade da implementação dessa tecnologia na construção dos
novos imóveis residenciais uni e multifamiliares na cidade do Rio de Janeiro,
através de revisão bibliográfica;
Verificar a possibilidade de utilizar o sanitário seco compostável como
indicador de sustentabilidade ambiental, fazendo levantamento dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relativos a saneamento;
Identificar o grau de conhecimento e qual a percepção relativa à utilização
do sanitário seco compostável por alunos de graduação e profissionais da
área da construção civil no Rio de Janeiro, através da aplicação de
questionário.
1.4 METODOLOGIA
Para desenvolver este trabalho, o método utilizado englobou pesquisa
bibliográfica, pesquisa documental, estudo de campo e levantamento de dados por
amostragem, através de aplicação de questionário.
O presente trabalho, quanto à sua natureza, pode ser classificado como
pesquisa aplicada, pois tem como finalidade gerar conhecimentos para aplicação, na
prática, de solução para problemas específicos.
Com relação aos seus objetivos, pode ser classificado como pesquisa
exploratória, pois, segundo Gil (1999), tem como principal finalidade desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas
específicos ou hipóteses pesquisáveis para gerar conhecimentos para a aplicação
prática, dirigidos à solução de problemas específicos. A pesquisa exploratória visa
proporcionar visão geral do problema, envolvendo para isso levantamento
bibliográfico e documental, entrevistas padronizadas e estudos de caso. Este tipo de
pesquisa é utilizado quando o tema escolhido é pouco explorado, ou seja, com
pouco conhecimento acumulado e sistematizado (VERGARA, 1998). Pode ainda ser
entendido como a primeira etapa de uma investigação mais ampla, com finalidade
de levantar informações para estudos futuros.
23
Quanto aos meios técnicos, a pesquisa pode ser classificada como pesquisa
bibliográfica, pois é desenvolvida a partir de publicações sobre o assunto.
“A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que
pesquisar diretamente.” (GIL, 1999)
A pesquisa documental pode ser semelhante à pesquisa bibliográfica e
também pode ser utilizada como procedimento técnico, pois, segundo Gil, é
elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico e, nesse
caso, se justifica pela escassez de documentos publicados sobre o assunto em
geral.
Esta pesquisa tem como objetivo de estudo o sanitário seco.
Devido ao problema do défict de saneamento básico no Brasil e aos
problemas hidrossanitários existentes, a proposta do trabalho consiste em identificar
a possibilidade de utilizar essa tecnologia nas construções uni e multifamiliares. Visa
também identificar as alternativas disponíveis no mercado, tanto manufaturadas
como construídas, e o grau de sua aceitação. A possibilidade de utilizar o sanitário
seco como possível indicador de sustentabilidade, bem como a viabilidade cnica,
econômica e social também foram avaliadas.
Os dados foram coletados de acordo com as características da pesquisa e
com os objetivos a que se propunha o estudo. A estratégia para a coleta de dados
incluiu as seguintes etapas:
pesquisa bibliográfica: conforme a lista das referências bibliográficas, foram
utilizados livros, revistas especializadas, artigos, teses e sites da Internet. Os
documentos disponíveis possibilitaram observar diferentes perspectivas sobre o
tema do trabalho;
pesquisa documental: primeiramente foi elaborado um questionário para o
levantamento dos dados de relevância para a pesquisa, da percepção relativa ao
sanitário seco. Os dados coletados através dos alunos de graduação dos cursos de
arquitetura e engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e dos
profissionais de arquitetura e engenharia que atuam no mercado da Cidade do Rio
de Janeiro contribuíram para a verificação de como as pessoas envolvidas com a
construção civil percebiam essa tecnologia.
24
Foram feitas também observações in loco, para as quais foi elaborado um
relato das observações, cuja finalidade foi identificar aspectos específicos do
sanitário seco construído, bem como a reação das pessoas ao utilizá-lo.
As etapas da pesquisa foram divididas em: (i) elaboração da estratégia da
pesquisa, que contemplou a identificação do problema a ser pesquisado e a
idealização das questões a serem respondidas; (ii) pesquisa de campo no Instituto
de Permacultura do Cerrado, IPEC; (iii) elaboração da estratégia da pesquisa, que
se baseou na pesquisa bibliográfica que fundamentou a parte teórica empírica; (iv)
elaboração e aplicação do questionário utilizado para identificar dados referentes à
percepção relativa ao sanitário seco; (v) tabulação e análise dos dados do
questionário; e (vi) fechamento das conclusões, redação e apresentação da
dissertação.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Através da revisão bibliográfica será apresentada a evolução histórica do
saneamento, identificando-se algumas técnicas e sistemas que, ao longo dos
tempos, evoluíram até chegar ao entendimento que se tem nos dias de hoje, em que
o saneamento faz uma correlação bem clara entre saúde, meio ambiente e
sustentabilidade. Os serviços de saneamento básico, atualmente, incluem o
abastecimento de água, a coleta e tratamento de esgoto, lixo e a drenagem. A partir
desse conceito, este capítulo apresenta, prioritariamente, o processo convencional
de tratamento de água, por ser a condutora dos dejetos, e do esgoto sanitário
doméstico. Após a apresentação do sistema convencional do esgotamento sanitário,
é introduzido o conceito de saneamento ecológico, cujo princípio básico é possibilitar
a continuidade do ciclo natural, onde as excretas são consideradas recurso e não
resíduo. A partir daí é apresentada a tecnologia alternativa conhecida como
sanitário seco, que faz parte do saneamento ecológico.
2.1 UM POUCO DE HISTÓRIA
Já nos tempos mais remotos, desde que os homens começaram a se
assentar em cidades, a coleta das águas servidas, que hoje chamamos de
esgoto sanitário, passava a ser uma preocupação daquelas civilizações.
(NUVOLARI et al, 2003)
A água sempre foi um recurso essencial para a vida neste planeta. Enquanto
os animais e plantas a utilizam para o sustento biológico da vida, a raça humana
evoluiu o seu uso para os mais diversos e variados meios. Criou-se o sistema de
irrigação de colheitas, aplicou-se a água na indústria e passou-se a utilizar a água
como forma de esgoto.
26
Conforme Azevedo Neto (1984), existe registro indicando que a primeira
galeria de esgotos foi construída na Índia e na Babilônia, por volta de 3.750 a.C. e
que, em 3.100 a.C., já eram utilizadas as manilhas cerâmicas.
No Império Romano, cada casa possuía ligação direta até os canais. É
importante destacar que essa era uma iniciativa individual e nem todas as casas
apresentavam esse sistema. A Idade Média o registra grandes avanços no
saneamento e manuseio do esgoto. (NUVOLARI et al, 2003).
Entre os séculos XIII e XIX, ocorreu o crescimento caótico de algumas
cidades, numa conjuntura responsável pelas maiores epidemias na história da
Europa. A história das epidemias na Europa relaciona-se diretamente com a falta de
saneamento e de uma rede de esgoto adequada, aliada ao crescimento
desordenado das cidades. O exemplo mais conhecido de pandemia nesse período
foi a peste bubônica, responsável pela morte de 10% da população mundial.
Segundo Del Porto (2000), em meados de 1700 foi feita a conexão entre
doença e fezes, nascendo então o conceito de saneamento. Após essa revelação,
inventores, engenheiros e empresários se mobilizaram para oferecer ao público todo
tipo de dispositivo para lucrar com essa nova indústria. Em grande parte da Europa,
os dias de crise sanitária pertencem ao passado, mas, para diversas populações
pobres, localizadas em sua maioria na África e América Latina, o risco de epidemias
pela crise sanitária ainda existe.
Até meados do século XVIII, as pessoas urinavam e defecavam nas ruas.
Segundo menciona Bueno, as pessoas deviam se comportar da seguinte maneira:
“Ao passar por uma pessoa que está se aliviando na rua, seja de urina ou de outras
sujeiras, você deve se comportar como se o a visse, de forma que, naquele
momento, é indelicado cumprimentá-la”. (BUENO, 2007, p. 62).
Segundo Bueno, o vaso sanitário foi inventado em 1597 por John Harringston
“que com alguma dificuldade, convenceu a rainha Elizabeth I, herdeira do trono
britânico, a instalá-lo em seu castelo”. (REZENDE et al, 2008). Em 1775, o sanitário
foi aprimorado por Alexander Cummings, mas foi em 1884 que George Jennings
criou o vaso pedestal, com descarga conectada ao encanamento. O vaso sanitário
se popularizou e a descarga passou a levar os dejetos mais rapidamente para os
mananciais. No Brasil, a partir de 1565, a população começou a se desenvolver na
cidade do Rio de Janeiro e seus moradores tinham o costume de lançar na rua todos
os despejos e detritos domésticos, transformando-a em uma imensa cloaca, com um
27
mau cheiro insuportável e ondas de insetos. Os esgotos das casas eram
acondicionados em barricas de madeira e transportados por escravos, apelidados
pelo povo de “Tigres”. Esses dejetos eram lançados no lugar mais próximo, sem
nenhuma espécie de tratamento ou cuidados.
Em 1857, o Imperador D.Pedro II assinou o decreto 1929, que estabelecia
um contrato sico de esgotamento sanitário na cidade do Rio de Janeiro. O Rio de
Janeiro foi a terceira cidade do mundo a ser dotada de rede de esgotos sanitários,
precedida por Londres (1815) e Hamburgo (1842). Somente em 1863 as obras são
iniciadas e, em 1871, é detectado o funcionamento precário da rede, em função da
extrema falta d’água, segundo relatório da Companhia City empresa contratada
para construir a rede de esgoto. Em 1947, termina o contrato com a companhia,
cujos serviços mostravam-se deficientes e não se modernizavam, porque a
empresa, em face da sua situação financeira, via-se obrigada a sacrificar as
condições técnicas. Em conseqüência, a Inspetoria de Águas e Esgotos do
Ministério da Educação e Saúde não mais autorizou novas concessões e passou a
contratar diretamente as obras de expansão da rede. (CEDAE, 2008).
Durante a segunda gerra mundial o governo federal criou o Serviço Especial
de Saúde Pública (SESP), como conseqüência do convênio firmado entre os
governos brasileiro e norte-americano durante a Terceira Reunião de Consulta aos
Ministérios das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, realizada no Rio de
Janeiro em 1942. Sob a estrutura do então Ministério da Educação e Saúde (MES)
do Brasil, o SESP realizava suas políticas em parceria com o Instituto de Assuntos
Interamericanos (IAIA) e era financiado por recursos internacionais e também
nacionais, possuindo completa autonomia jurídica, administrativa e financeira no
âmbito do MES.
Segundo Campos (2007), o acordo que originoi o SESP tinha, para os norte-
americanos, um objetivo muito específico e imediato: criar condições sanitárias
adequadas nos vales do Amazonas e do Rio Doce que garantissem o provimento de
matérias-primas cruciais aos esforços militares dos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundia, tendo em vista os altos índices de malária e febre amarela que
atingiam os trabalhadores desta região.
O SESP também se ocupou da formação de profissionais da saúde,
implantando e desenvolvendo escolas de enfermagem no Rio de Janeiro, Bahia, Rio
Grande do Sul, Goiás e Amazonas e implementou várias atividades sanitárias
28
básicas - assistência médica, educação sanitária, saneamento e controle de
doenças transmissíveis -, desenvolveu pesquisas em medicina tropical por
intermédio do Instituto Evandro Chagas e passou a priorizar as áreas rurais devido à
sua carência e pobreza crônicas. Em 1954 realizou acordo com o governo do Ceará,
onde se previa a criação do Serviço Especial de Engenharia Sanitária, visando a
implantação de um programa de abastecimento de água.
Através da lei nº 3.750, de 1960, o Sesp foi transformado em Fundação
vinculada ao Ministério da Saúde, Fundação Serviço de Saúde Pública, adquirindo
caráter permanente. Passou a atuar em todas as unidades da Federação, bem como
em nível municipal, através de contratos de construção de sistemas de
abastecimento de água e de tratamento de esgotos.
Com a lei 5.318, de 26 de setembro de 1967, ocorreu a transferência das
atividades de saneamento sico para o Ministério do Interior. Coube à Fundação
Sesp, junto com o Departamento Nacional de Obras e Saneamento e o
Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENER), a execução da política de
saneamento elaborada pelo governo. Em 1973, através de um acordo entre os
ministérios do Interior e da Saúde, a Fundação Sesp passa a atuar basicamente
fornecendo assistência cnica e realizando pesquisas. Segundo o acordo, a
administração dos sistemas de abastecimento de água e esgoto para os municípios
foi transferida para as empresas estaduais de saneamento. Com o abandono
gradativo de suas responsabilidades executoras, a Fundação se limitava às tarefas
de assessoramento.
A partir de 1990, com a reforma administrativa empreendida pelo governo
Collor, a Fundação Sesp foi extinta, passando a integrar junto com a
Superintendência Nacional de Campanhas (Sucam) um novo órgão denominado
Fundação Nacional de Saúde, com sede em Brasília.
Os quadros 1, 2 e 3, a seguir, demonstram, cronologicamente, ocorrências
significativas na evolução do saneamento no Brasil.
O quadro 1 abrange o período do fim do século XIX, com a implantação da primeira
rede de esgotos do país até o final da Segunda Guerra Mundial, quando o brasileiro
Geraldo H. Paula Souza propôs a criação da OMS.
No início do século XX, teve início uma intensa movimentação em torno da
questão sanitária, a partir das pesquisas de Oswaldo Cruz. No mesmo período,
Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, engenheiro sanitarista brasileiro, realiza
29
alguns dos mais importantes estudos de saneamento básico e urbanismo em várias
cidades do país, sendo considerado o pioneiro da engenharia sanitária e ambiental
no Brasil.
Ano Ocorrência
1857 Implantada a primeira rede de esgotos do país, na cidade do Rio de Janeiro, num contrato firmado
entre o Imperador D. Pedro II e a City (Cia. Inglesa).
1876 Projetada e construída por ingleses a primeira rede de esgotos na cidade de São Paulo.
1887 Constituída a Cia. Cantareira de Água e Esgotos de São Paulo
1893 Criada a Repartição de Água e Esgotos de São Paulo (houve rescisão com a Cia. Cantareira).
1897 Inaugurada a cidade de Belo Horizonte (já projetada com redes de água e esgoto).
1898 Projeto de aproveitamento das águas do Rio Cotia, para abastecimento da cidade de São Paulo.
1898 Realizado exame bacteriológico das águas do Rio Tietê.
1903 Realizados estudos para aproveitamento das águas do Rio Claro, para abastecimento da cidade de
São Paulo e Oswaldo Cruz é nomeado Diretor do Serviço Sanitário do Rio de Janeiro.
1905 Saturnino de Brito é contratado pelo governo do Estado de São Paulo para estudos sobre o sistema
de drenagem e de esgotos da cidade de Santos – SP.
1907 Saturnino de Brito inicia as obras de saneamento em Santos – SP.
1910 Implantação do sistema de esgotamento sanitário da Ilha de Paquetá - RJ
1911 Brado de alerta sobre a crescente poluição do Rio Tietê, a jusante de São Paulo, pelo fiscal de rios
da capital. Sr. José J. Freitas.
1912 Introdução do sistema separador absoluto na cidade de São Paulo.
1913 Adotado o Sistema Separador Absoluto na cidade do Rio de Janeiro.
1913 Proposto o aproveitamento das águas do Rio Tietê para abastecer São Paulo (Roberto Hottinger,
Geraldo H. Paula Souza e Robert Mange)
1913 Primeiro estudo sobre a poluição do Rio Tietê a jusante de São Paulo tese de Geraldo H. Paula
Souza.
1913 Realizado o 1.º Congresso Brasileiro de Higiene.
1928 Proposto o plano da ERA para os esgotos da cidade de São Paulo. previa a construção da ETE
de Vila Leopoldina, tendo sido construído o antigo emissário do Tietê (entre a Elevatória de Ponte
Pequena e Vila Leopoldina).
1933 Realizado levantamento sanitário do Rio Tietê a jusante de São Paulo.
1934 Início, na cidade do Rio de Janeiro, do serviço mecanizado de limpeza dos tanques das estações de
tratamento, instalando-se bombas para recalcar o lodo para os locais de lançamento. Até essa data
o serviço era feito manualmente.
1934 Elaboração do Código das Águas
1936 Criada a Revista DAE. Hoje DAE/SABESP.
1938 Inaugurada a ETE IPIRANGA São Paulo, a 1.ª da cidade. Hoje funciona como ETE-escola para os
funcionários da SABESP.
1940 Decreto 10.890 de 10/01/40, cria a Comissão de Investigação da Poluição das Águas em São
Paulo (1.ª legislação específica no Brasil).
30
Ano Ocorrência
1942
Criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), mediante convênio entre os
Governos do Brasil e dos Estados Unidos, para proteger a saúde da população
envolvida na obtenção de material estratégico para esforço de guerra na Região
Amazônica e no Vale do Rio Doce (borracha e mica).
1945 Proposta da criação da O.M.S. Organização Mundial de Saúde, por iniciativa do brasileiro Geraldo
H. Paula Souza.
Quadro 1 - Histórico do saneamento no Brasil, 1857-1945
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados disponibilizados em tabela elaborada por Nuvolari,
2003 e Kligerman, 1995.
O quadro 2, a seguir, abrange o final da década de 40, com a criação da Associação
Interamericana de Engenharia Sanitária (AIDIS), até o final da década de 80. Este
período é marcado pela criação de algumas Companhias Estaduais de Saneamento
e a criação do primeiro Plano de Saneamento Básico, PLANASA.
Ano Ocorrência
1947 Término do contrato da “City”, seus serviços e pessoal passaram para o Departamento de Águas e
Esgotos da antiga PDF (Prefeitura do Distrito Federal)
1948 Fundada a AIDIS - Associação lnteramericana de Engenharia Sanitária.
1950 A partir da década de 50, o Sesp intensificou seus trabalhos, passando a realizar, além daquilo que
era visto como atividades sanitárias básicas - assistência médica, educação sanitária, saneamento e
controle de doenças transmissíveis
1953 Criado o Conselho Estadual de Controle de Poluição das Águas - Lei Estadual Paulista n.º 2.182 de
23/07/53.
1954 Criado o Departamento de Águas e Esgotos da cidade de São Paulo -DAE-SP.
1955 Inaugurada a ETA Guandu no Rio de Janeiro.
1957 Criada no Rio de Janeiro a Superintenderia de Urbanização e Saneamento SURSAN a
administração dos sistemas de esgotos sanitários passou para o Departamento de Esgotos
Sanitários DES daquela Superintendência, transformando depois em Departamento de
Saneamento.
1958 Criada a comissão de Planejamento dos Esgotos Sanitários COPES, através de um convênio
entre a SURSAN e o Serviço Especial de Saúde Pública SESP do Ministério da saúde. A
COPES funcionou de 1958 a 1969, nas dependências do DES, na Glória, Rio de Janeiro.
1958 Estabelecidos os padrões de potabilidade das águas (ABNT).
1959 Início de operação da ETE Leopoldina – São Paulo (tratamento primário).
1960 Através da lei 3.750, de 1960, o Sesp foi transformado em Fundação vinculada ao Ministério da
Saúde, Fundação Serviço de Saúde Pública, adquirindo caráter permanente
1963 Estabelecidos os padrões internacionais para água potável (da OMS).
1966 Fundação da ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária.
1967 Propostos os planos HIBRACE e Hazen-Sawyer para os esgotos da RMSP.
31
Ano Ocorrência
1967 Lei nº 5.318, de 26 de setembro de 1967, transferência das atividades de saneamento básico para o
Ministério do Interior. Coube à Fundação Sesp, junto com o Departamento Nacional de Obras e
Saneamento e o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENERu), a execução da política de
saneamento elaborada pelo governo.
1968 Estabelecido o Plano Nacional de Saneamento. sendo criadas a COMASP - Companhia
Metropolitana de Águas de São Paulo e a FESB - atual CETESB.
1970 Criada a SANESP – Cia Metropolitana de Saneamento de São Paulo.
1971 Criado no Brasil o primeiro Plano Nacional de Saneamento de Saneamento Básico, PLANASA
1972 Início de operação da ETE Pinheiros, em São Paulo (tratamento em nível primário). Hoje
desativada.
1972 Criada a Empresa de Saneamento da Guanabara ESAG que tinha encargo de dirigir e
administrar os serviços de esgotos sanitários e dar combate aos mosquitos em toda a área do
Estado da Guanabara. Coube a ESAG elaborar o Plano Estadual de Esgotamento Sanitário,
considerando três grandes sistemas de esgotamento: sistema Guanabara, Jacarepaguá e Sepetiba.
Logo a seguir, reformulou o programa de obras do Emissário Submarino de Ipanema e deu início a
sua construção, concluídas em 1975 pela CEDAE com recursos próprios e do BNH.
1973 Criadas as Companhias Estaduais de Saneamento. Em São Paulo a SABESP. No Paraná - a
SANEPAR .... e assim por diante. .
1973 Proposto o plano “Solução Integrada para os esgotos da RMSP”.
1974 Recuperação/ampliação da ETE - Leopoldina - São Paulo (tratamento em nível primário). Hoje
desativada.
1980 Proposto o plano SANEGRAN para os esgotos da RMSP.
1981 Inaugurada a ETE - SUZANO - São Paulo (tratamento secundário).
1983 Implantação do Sistema Não Convencional de Esgoto a Custo Reduzido em Brotas, município de
Itapipoca, Ceará. Este sistema foi idealizado pelo engenheiro Szachna Eliasz Cynamon
1
1986 Resolução CONAMA n.º 001/86 - estabelece diretrizes para elaboração de EIA-RIMA no Brasil.
1988 Inaugurada a ETE - Barueri - São Paulo (tratamento secundário).
1990 A partir de 1990, com a reforma administrativa empreendida pelo governo Collor, a Fundação Sesp
foi extinta, passando a integrar junto com a Superintendência Nacional de Campanhas (Sucam) um
novo órgão denominado Fundação Nacional de Saúde, com sede em Brasília.
Quadro 2 - Histórico do saneamento no Brasil, 1948 -1988
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados disponibilizados em tabela elaborada por Nuvolari,
2003. p.6
O quadro 3 abrange o final do século XX, quando o conceito de
desenvolvimento sustentável, conservação e preservação do meio ambiente, com
ênfase nos recursos hídricos, vai influenciar diretamente no planejamento das ações
de saneamento, como o Programa de Modernização do Setor de Saneamento
(PMSS).
1
Cynamon se destacou, como funcionário do SESP, devido à luta em prol da tecnologia apropriada
para melhorar as condições do saneamento básico nas comunidades menores e economicamente
carentes.
32
O início do século XXI é marcado pela criação de diretrizes nacionais para o
saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Em 2009, tem
início a operação da ETE Alegria, no Rio de Janeiro, que conta com o maior
equipamento de secagem térmica da América Latina.
Ano Ocorrência
1990 Revisados os padrões de potabilidade das águas de abastecimento - Portaria n.º 36 do Ministério da
Saúde.
1991 Lançado o Programa de Despoluição do Rio Tietê - SP, na RMSP, com previsão de
implantação/ampliação de 5 ETEs: Suzano e Barueri (já estavam em operação); ABC, São Miguel e
Parque Novo Mundo.
1992 Dos 583 municípios paulistas (até então existentes) apenas 302 eram conveniados com a SABESP.
Os demais (28I) possuíam serviços autônomos de água e esgoto.
1993 Criação do Programa de Modernização do Setor de Saneamento - PMSS, um dos principais
programas da SNSA/Ministério das Cidades, tem suas ações voltadas à criação das condições
propícias a um ambiente de mudanças e de desenvolvimento do setor saneamento no país.
1994 Lei 11.720: Dispõe sobre a política estadual de saneamento básico.
1998 Inauguradas as Estações de Tratamento de Esgotos: ABC, São Miguel Paulista e Parque Novo
Mundo, todas com tratamento em nível secundário e integrantes do Programa de Despoluição do
Rio Tietê, na cidade de São Paulo.
2000 Revisados os padrões de potabilidade das águas de abastecimento - Portaria n.º 1469 do Ministério
da Saúde, editada em 29 de dezembro de 2000.
2005 Lei 11.107 e decreto 6017/2007. Regulamentam os consórcios públicos e convênios de cooperação
que autorizam a gestão associada de serviços públicos.
2005 Decreto 5.440 de 4/5/2005. Estabelece definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da
água de sistemas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para divulgação de
informação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano.
2005 Resolução CONAMA 357 de 17/3/2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.
2007 Lei 11.445, 5 de janeiro de 2007. Art. - Esta Lei estabelece as diretrizes nacionais para o
saneamento básico e para a política federal de saneamento básico
2009 Início de operação da ETE Alegria no Rio de Janeiro, pré-operação do seu tratamento secundário. Ela
conta com o maior equipamento de secagem térmica da América Latina.
Quadro 3 - Histórico do saneamento no Brasil, 1990-2009
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados disponibilizados em tabela elaborada por Nuvolari,
2003. p.6
2.2 DEFINIÇÃO DE SANEAMENTO
A OMS define saneamento como sendo “o controle de todos os fatores do
meio físico do homem que exercem efeito deletério sobre seu bem-estar físico,
mental ou social”.
33
Saneamento ambiental, segundo Carvalho (1981), é a aplicação dos
princípios da engenharia, da medicina, da biologia e da física no controle do
ambiente, com aquelas modificações originárias da proteção e das medidas
porventura desejáveis ou necessárias para instituir as condições ótimas de saúde e
bem-estar.
Segundo a Lei nº 7.750, saneamento ou saneamento ambiental é definido
como: o conjunto de ações, serviços e obras que têm por objetivo alcançar níveis
crescentes de salubridade ambiental, por meio do abastecimento de água potável,
coleta e disposição sanitária de resíduos líquidos, sólidos e gasosos, promoção da
disciplina sanitária do uso e ocupação do solo, drenagem urbana, controle de
vetores de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializados.
Essa mesma lei define o saneamento básico como as ações, serviços e obras
considerados prioritários em programas de saúde pública, notadamente o
abastecimento público de água e a coleta e tratamento de esgotos.
A salubridade ambiental é definida como a qualidade ambiental capaz de
prevenir a ocorrência de doenças veiculadas pelo meio ambiente e de promover o
aperfeiçoamento das condições mesológicas favoráveis à saúde da população
urbana e rural (São Paulo, 1999).
É possível dizer que saneamento é o conjunto de medidas adotadas em
relação ao meio, cuja finalidade é estabelecer condições favoráveis à conservação
do meio ambiente e à saúde do homem.
O destino que se aos dejetos humanos, fezes e urina pode ser
considerado um dos maiores problemas do saneamento. Nos dejetos podem-se
encontrar grandes quantidades de agentes patógenos eliminados por pessoas
doentes, que se instalam no solo e/ou na água e, conseqüentemente, poderão ser
transmitidos a outras pessoas. (RYN, 1978). Dessa maneira, os sistemas de
abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto passam a ter uma
importância fundamental para as populações. A melhoria e a implantação de novos
sistemas terão uma relação direta com a diminuição de doenças relacionadas aos
sistemas hidrossanitários, diminuindo a mortalidade, principalmente infantil, e,
conseqüentemente, possibilitando o aumento do tempo médio de vida da população
beneficiada.
34
2.3 SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE
... 4 em cada 10 pessoas no mundo não têm acesso nem a uma simples
latrina de fossa não-asséptica, e são obrigadas a defecar a céu aberto.
Aproximadamente 2 em cada 10 pessoas mais de 1 bilhão de pessoas
não têm nenhuma fonte de água potável segura. Como conseqüência,
3.900 crianças morrem diariamente em razão desta crise humanitária,
totalmente evitável porém silenciosa.
... o conhecimento, as ferramentas e os recursos financeiros estão
disponíveis para realizar o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de
reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água e
saneamento ao longo das próximas décadas. Além disso, os países
precisam melhorar a gestão da água, para proteger o meio ambiente e usar
seus recursos hídricos de forma eficaz. (PROJETO DO MILÊNIO, 2005).
Quando entram em desequilíbrio o poder do homem em poluir e degradar e o
da natureza em restaurar é que começam a existir os problemas de
desbalanceamento no meio ambiente. A partir do momento em que o homem fez
essa associação, surgiu o entendimento da importância da preservação do meio
ambiente, embora este entendimento não tenha sido o suficiente para a solução dos
problemas existentes.
Fatores culturais, socioeconômicos, religiosos e políticos, agravados pela
corrupção, vêm retardando a solução para os problemas causadores da poluição
das águas e, conseqüentemente, os de saneamento básico.
As bacias hidrográficas são unidades de fundamental importância para a
conservação do meio ambiente, para as populações e para as indústrias que se
utilizam delas. Com as atividades do homem, elas têm sofrido a perda da sua
biodiversidade, a partir do desmatamento desenfreado, da exploração dos recursos
naturais, das práticas ilegais de mineração, do manejo inadequado do solo nas
áreas rurais, da utilização inadequada de agroquímicos e da deficiência na
infraestrutura dos serviços de saneamento básico urbano e industrial. Além de
causar problemas ao meio ambiente, essas atividades atingem também as
comunidades que se utilizam do recurso.
No sistema de abastecimento de água, os mananciais são também muito
importantes, pois influenciam diretamente na qualidade e quantidade da água nas
fases de captação, processamento e distribuição. Eles têm relação direta com a
saúde humana e, de um modo geral, com o meio ambiente, sendo uma das
principais fontes de onde vem a água que alimenta o sistema.
35
A água é fundamental à vida, é um recurso renovável e, após determinados
usos, pode, ainda, ser reutilizada para outros fins, como jardinagem, manejo florestal
etc. A liberação para consumo humano vai depender da sua cor, turbidez, sabor,
cheiro e composição química. (Lei nº 9433, 1997).
O saneamento básico constitui um dos mais importantes meios de prevenção
de doenças: seu objetivo maior é a promoção da saúde do homem, pois muitas
doenças podem proliferar devido à carência de medidas de saneamento.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB, 2000), em
grande parte dos 8.656 distritos com rede distribuidora de água, utilização de
mais de uma fonte para suprir o sistema de abastecimento. Também são utilizadas a
água captada e/ou processada em outros distritos, alimentando estações de
tratamento, no caso de água bruta, ou, quando tratada, encaminhada diretamente
para o sistema de distribuição. Mesmo cercadas dos cuidados com a qualidade do
manancial, as captações projetadas e construídas para a tomada de água de
superfície destinada ao sistema de abastecimento estão sujeitas a lançamento de
esgoto sanitário, vazadouro de lixo, despejos de resíduos industriais, presença de
resíduos agrotóxicos e atividade mineradora.
A falta de esgoto sanitário e de educação sanitária é um dos principais
problemas encontrados nas comunidades carentes onde o lançamento de dejetos se
faz diretamente nos recursos hídricos e no solo, podendo causar doenças
relacionadas a um saneamento ambiental inadequado
(DRSAI). Os dejetos
contaminam e poluem o local, favorecendo a proliferação de moscas, que
representam sérios riscos à saúde do homem, ao contaminar os alimentos. Animais
domésticos como cães, porcos, galinhas, entre outros também são passíveis de
contaminação.
Segundo Ryn, muitas doenças são transmitidas através da água, que pode
servir de meio de transporte de agentes patogênicos eliminados pelo homem nos
dejetos, ou de poluentes químicos e radioativos, presentes nos esgotos industriais.
Os agentes poluentes podem alcançar o homem através: (i) da ingestão direta da
água; (ii) do contato da água com a pele e mucosas ou, (iii) do seu uso em irrigação
ou preparação de alimentos.
As principais doenças causadas por contato da água com a pele e mucosas
são a esquistossomose, infecções nos olhos, ouvidos, nariz e garganta e doenças
36
de pele, sendo que algumas delas podem ser causadas por produtos químicos
existentes na água. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os dados selecionados, segundo as unidades da federação, sobre os casos
mais notificados pelo sistema de vigilância epidemiológica em relação às condições
gerais de saúde pública são:
Dengue, malária, febre amarela - doenças transmitidas por mosquitos,
relacionadas com a água, principalmente com o abastecimento, reservação
e drenagem, além de aspectos da relação do homem com o meio ambiente.
O sistema de drenagem é um item fundamental nas obras de saneamento,
por prevenir inundações e alagamentos em áreas mais baixas, tornando
possível o escoamento rápido das águas durante o período das chuvas,
visando à segurança e, principalmente, à saúde da população, além de
possibilitar a ampliação do sistema viário.
Hepatite A, febre tifóide e a maioria das diarréias são doenças de
transmissão hídrica, que se dá através do consumo de água contaminada
por dejetos. Estão relacionadas com o esgotamento sanitário, a distribuição
e o tratamento da água de abastecimento.
A diarréia, devido à importância da relação com o saneamento (qualidade
da água e destino dos dejetos), tem um número mais expressivo de casos.
A proporção de óbitos é maior nas faixas etárias de menores de 5 anos e de
maiores de 80 anos de idade.
A leptospirose, doença transmitida principalmente através do contato com a
água contaminada pela urina de ratos, está relacionada com o esgotamento
sanitário, enchentes e o sistema de coleta e destino do lixo.
37
Quadro 4 - Classificação ambiental das infecções relacionadas com os excretas
Fonte: FEACHEM et al. (1983) apud HELLER, 1997, p. 35.
O quadro 4 identifica as seis categorias que compõem a classificação
ambiental das infecções relacionadas às excretas. Observa-se que o item
saneamento aparece em todas as categorias citadas como uma das principais
medidas de controle.
Os serviços de saneamento são essenciais à vida e ao bem-estar do homem.
Os sistemas adequados do saneamento básico possibilitam uma rápida e expressiva
melhoria da saúde e das condições de vida de uma comunidade, principalmente
pelo controle e prevenção de doenças. Estudos produzidos pela OMS indicam que
cada dólar investido em saneamento implica na redução de aproximadamente 4 a 5
dólares em despesas médicas.
38
Figura 1 - Sistema de saneamento básico convencional
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
Na figura 1, pode-se observar as principais etapas do ciclo do saneamento
convencional relacionadas à água (captação, floculação, decantação, filtração,
reservação e distribuição) e ao esgoto (rede de esgotos, grades e decantadores).
2.4 PROCESSO CONVENCIONAL DE TRATAMENTO DA ÁGUA
O processo de tratamento da água tem por finalidade retirar qualquer tipo de
contaminação, para evitar a transmissão de doenças. Os processos físicos e
químicos fazem parte do tratamento aplicado para garantir as condições ideais de
consumo.
A construção de um sistema coletivo público convencional de abastecimento
de água requer a definição da população a ser abastecida, a taxa de crescimento da
cidade e suas necessidades industriais. A seleção da fonte abastecedora de água é
fundamental na construção do sistema. O manancial precisa ter vazão capaz de
proporcionar um perfeito abastecimento à comunidade, com a quantidade
necessária de água tratada.
O consumo de água depende de alguns fatores como hábito; poder aquisitivo
e nível de educação sanitária da comunidade; características climáticas; tipo de
39
cidade; características do sistema de abastecimento (disponibilidade de água,
existência de medidores de consumo etc.). (ROUQUAYROL, 1988; FURB).
As principais etapas de um sistema convencional de abastecimento de água
são: captação, adução, estação de tratamento, reservação, redes de distribuição e
ligações domiciliares.
A captação da água é feita em mananciais de superfície (rios, represas,
lagoas, lagos) ou subterrâneos (fontes naturais e poços), dependendo da localização
da cidade, da quantidade e qualidade da água. A adução compreende o transporte,
através de uma tubulação adutora, de água entre o manancial e o restante do
sistema. A adução pode ser feita por gravidade ou por recalque, dependendo da
topografia do terreno. O tratamento da água tem por objetivo reduzir ao mínimo
desejável as impurezas presentes na água, tornando-a potável. Em uma Estação de
Tratamento de Água (ETA) convencional, o tratamento é feito por intermédio de
vários processos, conforme demonstrado na figura 2 abaixo, que vão depender da
qualidade do manancial. A reservação tem como objetivo acumular água para
atender às variações de consumo ou às situações de emergência e dos
reservatórios é feita a distribuição da água à população.
O processo relativo ao tratamento convencional de água, descrito na figura 2
abaixo, engloba desde a captação de água até o transporte para a cidade.
Figura 2 -Tratamento convencional da água
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
40
Legenda
1. Represa
2. Captação e Bombeamento
3. Pré cloração
Inicialmente é feita adição de cloro, assim que a água chega à estação. O objetivo é facilitar a retirada
de matéria orgânica e metais do líquido.
Pré-alcalinização
Depois do cloro, a água recebe adição de cal hidratada ou carbonato de sódio, que servem para
ajustar o pH* aos valores exigidos nas fases seguintes do tratamento e preservar a rede de
encanamentos de distribuição.
*Fator pH - O pH refere-se à água ser um ácido, uma base, ou nenhum deles (neutra). Um pH de 7
diz-se neutro, um pH abaixo de 7 é "ácido" e um pH acima de 7 é "básico" ou "alcalino". Tal como a
escala de Richter, usada para medir terremotos, a escala do pH é logarítmica. Um pH de 5,5 é 10
vezes mais ácido do que água com um pH de 6,5. Para o consumo humano recomenda-se um pH na
faixa de 6,0 a 9,5, na rede de distribuição.
Coagulação
Quando a água, na sua forma natural (bruta), entra na ETA, recebe, nos tanques, uma determinada
quantidade de sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro coagulante seguido de uma agitação
violenta da água, para provocar a desestabilização elétrica das partículas de sujeira, facilitando sua
agregação.
4. Floculação
É o processo onde a água recebe uma substância química chamada de sulfato de alumínio; em
tanques de concreto com a água em movimento, as partículas sólidas se aglutinam em flocos maiores
para facilitar sua remoção.
5. Decantação
Em outros tanques, por ação da gravidade, os flocos com as impurezas e partículas ficam
depositados no fundo, separando-se da água.
6. Filtração
A água passa por filtros formados por carvão, areia e pedras de diversos tamanhos. Nessa etapa, as
impurezas de tamanho pequeno ficam retidas no filtro.
Essas três etapas flocação, decantação e filtração recebem o nome de clarificação. Nessa fase,
todas as partículas de impurezas são removidas, ficando a água límpida, mas não pronta, ainda,
para ser usada. Para garantir a qualidade da água, após a clarificação, é feita a desinfecção.
7. Cloração
A cloração consiste na adição de cloro, produto usado para destruição de microorganismos presentes
na água.
Fluoretação
A fluoretação é uma etapa adicional: é aplicado flúor na água para prevenir a formação de cárie
dentária em crianças.
8- Reservatório
Após o tratamento, a água é armazenada inicialmente em reservatórios de distribuição e , depois, em
reservatórios de bairros, espalhados em regiões estratégicas das cidades.
9- Distribuição
Desses reservatórios, a água vai para as tubulações maiores (denominadas adutoras) e, depois, para
as redes de distribuição, até chegar aos domicílios.
10- Redes de distribuição
41
Depois das redes de distribuição, a água, geralmente, é armazenada em caixas d`água. A
responsabilidade das concessionárias é entregar água até a entrada da residência, onde estão o
cavalete e o hidrômetro. A partir daí, o cliente deve cuidar das instalações internas e da limpeza e
conservação do reservatório.
11. Cidade
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
2.5 PROCESSO CONVENCIONAL DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO
O esgoto sanitário é o despejo líquido constituído de esgotos doméstico e
industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária. (ABNT, 1986).
O esgoto doméstico é gerado a partir da água de abastecimento e é medido
pela água consumida. Segundo hábitos e costumes da população de uma
determinada localidade, é usual a taxa de 200 l/hab.d, podendo chegar a ser de três
a quatro vezes maior, nas grandes cidades. (ARAUJO, 2003).
As partes integrantes de um sistema de esgoto sanitário são (i) sistema de
coleta, (ii) transporte e (iii) tratamento. A ligação predial, início da rede coletora, é o
trecho final do coletor predial de propriedade particular, que o interliga ao coletor
público e situa-se entre este e o alinhamento do terreno. A rede coletora é o
conjunto de tubulações, constituído por ligações prediais, coletores de esgoto e
coletor-tronco. Dos coletores-tronco os esgotos vão para os interceptores, que são
tubulações maiores, e daí são destinados à estação de tratamento, que tem a
missão de devolver a água, em boas condições, ao meio ambiente ou destiná-la ao
reuso para finalidades o potáveis. O esquema de coleta, transporte, tratamento e
disposição final do esgoto sanitário está demonstrado na figura 3, a seguir.
42
Figura 3 - Esquema de sistema de esgoto sanitário
Fonte: Nuvolari et al, 2003 p.40.
Após a utilização da água, seja no banho, na limpeza de roupas, de louças ou
na descarga do vaso sanitário, é que se inicia a formação de esgoto. Dependendo
do uso, existem distintas denominações. Os resíduos provenientes das residências
formam os esgotos domésticos, os resultantes das águas da chuva são
denominados esgotos pluviais e aqueles formados no processo de fábricas recebem
o nome de esgotos industriais.
Geralmente, o esgoto não tratado contém numerosos agentes patogênicos,
microorganismos, resíduos tóxicos e nutrientes que provocam o crescimento de
outros tipos de bactérias, vírus ou fungos presentes em menor número.
Segundo Nuvolari et al, o lançamento de esgoto sanitário num determinado
corpo d´água sem o devido tratamento pode causar a deterioração da qualidade da
água, podendo se tornar uma ameaça à saúde das populações. Entretanto,
dependendo da relação entre a carga poluente lançada e a vazão desse corpo
d´água, a variação da qualidade da água pode ser insignificante. Tudo vai depender
da análise das condições locais, para se determinar o tipo de tratamento mais
adequado.
As Regiões Metropolitanas e grandes cidades concentram grandes volumes
de esgoto coletado, que, na sua maioria, é despejado sem tratamento nos rios e
mares, que servem de corpos receptores. Em conseqüência, a poluição das águas
43
que cercam as maiores áreas urbanas é bastante elevada, dificultando e
encarecendo, cada vez mais, a própria captação de água para o abastecimento.
(BORSOI et al, 1997).
O objetivo, ao se implementar uma estação de tratamento de esgotos, é a
remoção dos principais poluentes presentes nas águas residuárias (esgoto),
retornando-as ao corpo d’água sem alteração de sua qualidade.
Os esgotos sanitários e industriais compõem as águas residuárias de uma
cidade, sendo que os industriais, em caso de geração de efluentes muito xicos,
devem ser tratados em unidades das próprias indústrias. Enquanto o esgoto
sanitário causa poluição orgânica e bacteriológica, o industrial, geralmente, produz a
poluição química. O parâmetro mais utilizado para definir um esgoto sanitário ou
industrial é a demanda bioquímica por oxigênio - DBO
2
. Quanto maior a DBO maior
a poluição orgânica.
A escolha do sistema de tratamento é feita em função das condições
estabelecidas para a qualidade da água dos corpos receptores. O projeto de sistema
deve estar baseado no conhecimento de diversas variáveis do esgoto a ser tratado,
tais como a vazão, o pH, a temperatura, o DBO etc.
Na elaboração do projeto de um sistema, é fundamental o estudo das
características do esgoto a ser tratado e da qualidade do efluente que se deseja
lançar no corpo receptor. A escolha do tratamento depende das condições mínimas
estabelecidas para a qualidade da água dos mananciais receptores em função de
sua utilização, quer seja para abastecimento doméstico, irrigação, recreação,
dessedentação de animais, navegação, abastecimento industrial, preservação de
peixes etc. (BORSOI et al, 1997; NUVOLARI et al, 2003).
Os sistemas de esgotos urbanos podem ser de três tipos: sistema unitário,
sistema separador parcial e sistema separador absoluto. No sistema unitário, as
águas residuárias, as águas de infiltração e as águas pluviais veiculam por um único
sistema; no sistema separador absoluto, as águas residuárias e as águas de
infiltração veiculam em sistema separado das águas pluviais; e no sistema
separador parcial, as águas pluviais provenientes de telhados e pátios são
encaminhadas juntamente com as águas residuárias e águas de infiltração para um
único sistema de coleta e transporte de esgotos.
2
A DBO é a quantidade de oxigênio usada por uma população mista de microorganismos durante a
oxidação aeróbia, à temperatura de 20ºC. (BORSOI et al, 1997).
44
Segundo Tsutiya (2004), o Brasil adota o sistema separador absoluto, de
modo que as águas pluviais não cheguem aos coletores de esgoto, mas, na
realidade, sempre chegam, não somente devido a defeitos das instalações, mas
também devido às ligações clandestinas. Tem sido observado, na grande maioria
dos sistemas de esgotos, que parcela significativa de águas pluviais aflui ao sistema,
de modo que, na prática, os nossos sistemas funcionam como separador parcial.
Na implantação de um sistema de esgotamento sanitário, compreendendo
também a rede coletora, a estação de tratamento representa cerca de 20% do custo
total. (BORSOI et al, 1997).
Nas estações de tratamento de esgoto (ETE’s) são utilizados processos
físicos químicos e biológicos para a remoção dos poluentes. Existem inúmeras
opções para se fazer o tratamento do esgoto, dentre elas, nos casos mais simples,
as fossas pticas; nos mais sofisticados, os sistemas de lodos ativados e, para
cada um deles, existem variações. (SABESP).
O método por lodos ativados foi desenvolvido na Inglaterra, em 1914. Ele é
amplamente utilizado para tratamento de esgotos domésticos e industriais nas
grandes cidades. (SABESP).
O processo de tratamento do esgoto pode adotar diferentes tecnologias, mas,
de modo geral, segue um fluxo que compreende cinco etapas: (i) preliminar, que
remove os grandes sólidos; (ii) primária, remoção dos sólidos não grosseiros; (iii)
secundária, é
a etapa de remoção biológica dos poluentes; (iv) terciária, remoção de
poluentes tóxicos ou não biodegradáveis e (v) desinfecção, dos microorganismos
patogênicos. Vide quadro 5 abaixo.
45
Etapa Processo
Preliminar Consiste na remoção de grandes sólidos e areia para proteger as demais
unidades de tratamento, os dispositivos de transporte (bombas e tubulações) e
os corpos receptores. A remoção da areia previne, ainda, a ocorrência de
abrasão nos equipamentos e tubulações e facilita o transporte dos líquidos. É
feita com o uso de grades que impedem a passagem de trapos, papéis,
pedaços de madeira, etc.; caixas de areia, para retenção deste material; e
tanques de flutuação para retirada de óleos e graxas em casos de esgoto
industrial com alto teor destas substâncias.
Primária Os esgotos ainda contém sólidos em suspensão não grosseiros cuja remoção
pode ser feita em unidades de sedimentação, reduzindo a matéria orgânica
contida no efluente. Os sólidos sedimentáveis e flutuantes são retirados
através de mecanismos físicos, via decantadores. Os esgotos fluem
vagarosamente pelos decantadores, permitindo que os sólidos em suspensão
de maior densidade sedimentem gradualmente no fundo, formando o lodo
primário bruto. Os materiais flutuantes como graxas e óleos, de menor
densidade, são removidos na superfície. A eliminação média do DBO é de
30%.
A fossa séptica é um tipo de tratamento primário muito usado no meio rural e
urbano. Os sólidos sedimentáveis se acumulam no fundo, onde permanecem
tempo suficiente para sua estabilização, porém mantém os elementos
patogênicos. Como a eficiência na remoção da matéria orgânica é baixa,
freqüentemente utiliza-se forma complementar de tratamento, como filtros
anaeróbios ou sistemas de infiltração no solo (sumidouros, valas de infiltração
e valas de filtração).
Secundária Processa, principalmente, a remoção de sólidos e de matéria orgânica não
sedimentável e, eventualmente, nutrientes como nitrogênio e fósforo. Após as
fases primária e secundária a eliminação de DBO deve alcançar 90%. É a
etapa de remoção biológica dos poluentes e sua eficiência permite produzir um
efluente em conformidade com o padrão de lançamento previsto na legislação
ambiental. Basicamente, são reproduzidos os fenômenos naturais de
estabilização da matéria orgânica que ocorrem no corpo receptor, sendo que a
diferença está na maior velocidade do processo, na necessidade de utilização
de uma área menor e na evolução do tratamento em condições controladas.
Terciária Remoção de poluentes tóxicos ou não biodegradáveis ou eliminação adicional
de poluentes não degradados na fase secundária.
Desinfecção Grande parte dos microorganismos patogênicos foi eliminada nas etapas
anteriores, mas não a sua totalidade. A desinfecção total pode ser feita pelo
processo natural - lagoa de maturação, por exemplo - ou artificial - via
cloração, ozonização ou radiação ultravioleta. A lagoa de maturação demanda
grandes áreas pois necessita pouca profundidade para permitir a penetração
da radiação solar ultravioleta. Entre os processos artificiais, a cloração é o de
menor custo mas pode gerar subprodutos tóxicos, como organoclorados. A
ozonição é muito dispendiosa e a radiação ultravioleta não se aplica a qualquer
situação.
Quadro 5 - Etapas do processo de tratamento de esgoto
Fonte: BORSOI, Zilda et al, Informe Infra-estrutura, Área de projetos de infra-estrutura, nov./97 N° 16
O desenvolvimento tecnológico no tratamento de esgotos está concentrado
na etapa secundária e posteriores. Uma das tendências verificadas é o aumento na
46
dependência de equipamentos, em detrimento do uso de produtos químicos para o
tratamento. Os fabricantes de equipamentos para saneamento, por sua vez, vêm
desenvolvendo novas tecnologias para o tratamento biológico, com ênfase no
processo aeróbio. (BORSOI et al, 1997).
A composição do esgoto doméstico, exemplificado no quadro 6, a seguir,
identifica algumas das substâncias que são colocadas indevidamente no esgoto
sanitário e que, para efeito de tratamento, são consideradas como impurezas da
água, que devem ser retiradas para purificá-la.
Tipos de substâncias Origem Observações
Sabões Lavagem de louças e roupas -
Detergentes (podem ser ou
não biodegradáveis)
Lavagem de louças e roupas A maioria dos detergentes contém o
nutriente fósforo na forma de
polifosfato.
Cloreto de sódio Cozinhas e na urina humana Cada ser humano elimina pela urina de
7 a 1,5 gramas/dia
Fosfatos Detergentes e urina humana Cada ser humano elimina, em média,
pela urina, 1,5 gramas/dia.
Sulfatos Urina humana -
Carbonatos Urina humana -
Uréia, amoníaco, e ácido
úrico
Urina humana Cada ser humano elimina de 14 a 42
gramas de uréia por dia
Gorduras Cozinhas e fezes humanas -
Substâncias córneas,
ligamentos da carne e fibras
vegetais não digeridas
Fezes humanas Vão se constituir na porção de matéria
orgânica em decomposição,
encontrada nos esgotos.
Porções de amido
(glicogênico, glicose) e de
protéicos (aminoácidos,
proteínas, albumina)
Fezes humanas Idem
Urobilina, pigmentos
hepáticos, etc
Urina humana Idem
Mucos, células de
descamação epitelial
Fezes humanas Idem
Vermes, bactérias, vírus,
leveduras, etc.
Fezes humanas Idem
Outros materiais e
substâncias: areia, plásticos,
cabelos, sementes, fetos,
madeira, absorventes
femininos, etc.
Areia: infiltrações nas redes
de coleta, banhos em cidades
litorâneas, parcela de águas
pluviais, etc.
Demais substancias são
indevidamente lançadas nos
vasos sanitários.
Areias: produções nas ETEs: (S.Paulo)
Pinheiros: de 0,013 a 0,073 L/m³
(média: 0,041 L/m³
Leopoldina: 0,012 L/m³
(média: 0,012 L/m³
Fonte: Jordão e Pessoa (1995)
Água - 99,9%
47
Em termos elementares, o esgoto sanitário doméstico contém:
C H O N P S etc.
Carbono Hidrogênio Oxigênio Nitrogênio Fósforo Enxofre Outros micro-elementos
Quadro 6 - Composição do esgoto doméstico
Fonte: NUVOLARI et al, 2003. p.172
O quadro 7, abaixo, demonstra os problemas causados pelo lançamento in
natura de esgoto nos corpos d’água, inclusive por nutrientes como o nitrogênio e o
fósforo. O homem e o meio ambiente o afetados diretamente por problemas como
o de toxidade (a partir da concentração de elementos químicos), que podem ser
transmitidos na cadeia alimentar, prejudicando tanto as plantas quanto os animais e
o homem. O esgoto, no tratamento convencional, passa por várias etapas, conforme
descritas nas figuras 4 e 5 a seguir.
Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d’água
Matéria orgânica
solúvel
Provoca a depleção (diminuição ou mesmo extinção) do oxigênio dissolvido,
contido na água dos rios e estuários. Mesmo tratado, o despejo deve estar na
proporção da capacidade de assimilação do curso d’água. Algumas dessas
substâncias podem ainda causar gosto e odor às fontes de abastecimento de
água. Ex.: fenóis
Elementos
potencialmente
tóxicos
Ex.: cianetos, arsênico, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, molibdênio,
níquel, selênio, zinco, etc. Apresentam problemas de toxidade (a partir de
determinadas concentrações), tanto às plantas quanto aos animais e ao homem,
podendo ser tranmitidos através da cadeia alimentar.
Cor e turbidez Indesejáveis do ponto de vista estético. Exigem maiores quantidades de produtos
químicos para o tratamento dessa água. Interferem na fotossíntese das algas nos
lagos (impedindo a entrada de luz em profundidade).
Nutrientes Principalmene nitrogênio e fósforo, aumentam a eutrofização dos lagos e dos
pântanos. Inaceitáveis nas áreas de lazer e recreação.
Materiais refratários Aos tratamentos: Ex.: ABS (alquil-benzeno-sulfurado). Formam espumas nos rios,
não são removidos nos tratamentos convencionais.
Óleos e graxas Os regulamentos exigem geralmente sua completa eliminação. São indesejáveis
esteticamente e interferem com a decomposição biológica (os microorganismos,
responsáveis pelo tratamento, geralmente morrem se a concentração de óleos e
graxas for superior a 20 mg/L).
Ácidos e Alcalis A neutralização é exigida pela maioria dos regulamentos; dependendo dos valores
de pH do líquido interferência com a decomposição biológica e com a vida
aquática.
Materiais em
suspensão
Formam bancos de lama nos rios e nas canalizações de esgoto. Normalmente
provocam decomposição anaeróbica de matéria orgânica, com liberação de gás
sulfídrico (cheiro de ovo podre) e outros gases malcheirosos.
Temperatura elevada Poluição térmica que conduz ao esgotamento do oxigênio dissolvido no corpo
d’água (por abaixamento do valor de saturação).
Quadro 7 - Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d’água
Fonte: NUVOLARI et al, 2003. p. 173
48
A figura 4 identifica as etapas da fase líquida do tratamento de esgoto que
passa pela rede de esgoto, grades, caixa de areia, decantador primário, tanques de
aeração e decantador secundário, até ser lançado num corpo d’ água.
Figura 4 - Fase líquida do tratamento de esgoto
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
Legenda
1-Cidade
Após a distribuição nas residências, a água utilizada para higiene pessoal, alimentação e limpeza vira
esgoto. Ao deixar as casas, ele vai para as redes coletoras, passa pelos coletores-tronco e
interceptores até chegar às Estações de Tratamento de Esgotos.
2-Rede de esgotos
3-Grades
Antes de ser tratado, o esgoto passa por grades, para retirar a sujeira (papel, plástico, tampinha etc).
4-Caixa de areia
Depois de passar pelas grades, o esgoto é transportado para uma caixa, que vai retirar a areia
contida nele.
5-Decantador primário
Após a caixa de areia, o esgoto é enviado aos decantadores primários, onde ocorre a sedimentação
de partículas mais pesadas.
6-Tanques de aeração
O esgoto é composto por matéria orgânica e microorganismos. Nos tanques de aeração, o ar
fornecido faz com que os microorganismos ali presentes multipliquem-se e alimentem-se de material
orgânico, formando o lodo e diminuindo, assim, a carga poluidora do esgoto.
7-Decantador secundário
Nos decantadores secundários, o sólido restante vai para o fundo e a parte líquida está sem 90%
das impurezas. Essa água não pode ser bebida. Ela é lançada nos rios ou reaproveitada para limpar
ruas, praças e regar jardins.
8-Rio
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
49
A figura 5 apresenta as etapas da fase sólida do tratamento de esgoto, que
passa pelo tratamento do lodo primário até os filtros-prensa, para a produção das
tortas para o aterro sanitário.
Figura 5 - Fase sólida do tratamento de esgoto
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
Legenda
1-Cidade
2-Entrada do lodo primário
Separa a água do sólido, através da sedimentação das partículas mais pesadas, semelhante aos
decantadores.
3-Entrada do lodo secundário
O lodo do decantador secundário será tratado pelo processo de adensamento por flotação nos
flotadores.
4-Adensadores
Nos adensadores acontece o processo de adensamento, que faz com que o lodo se torne mais
concentrado, através da separação de uma parte da água presente.
5-Flotadores
Nos flotadores acontece o processo de flotação, que consiste na separação da água do sólido, que
ocorre através da introdução de água com microbolhas de ar.
6-Digestadores
Recebem o lodo proveniente do sistema de adensamento. Neles, microorganismos anaeróbicos
que degradam a matéria orgânica presente no lodo, formando, assim, gás metano e água,
promovendo a estabilização do lodo, ou seja, não haverá odores desagradáveis.
7-Filtros-prensa
É um equipamento mecânico para desidratação do lodo proveniente do condicionamento químico,
dotado de várias placas com telas filtrantes que serão preenchidas por lodo, através de
bombeamento. O lodo passa a ter 40% de sólidos.
8-Esteira
9-Tortas para aterro sanitário
Aqui o lodo é armazenado e desidratado para ser disposto em aterro sanitário. .
Fonte: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2009)
50
A secagem térmica do lodo é um processo complementar ao tratamento
convencional dos resíduos sólidos gerados no tratamento de esgoto. É utilizado um
secador térmico (figura 6), cujo objetivo é a secagem térmica como tratamento do
lodo, visando à sua estabilidade biológica, redução de volume e desinfecção
adequada para utilização. Esse processo exige uma demanda de energia para
eliminar os patógenos do lodo. Ele é realizado através da passagem de óleo térmico
a 240ºC, obtido através de um aquecedor a óleo (vide figura 7). Ao final do processo,
o lodo adquire a forma de pellets”, com diâmetro médio entre 2 e 5 mm, conforme
mostrado nas figuras 7 e 8.
Figura 6 - Secador térmico ETE São Miguel Paulista
Fonte: SABESP (2007)
Figura 7 - Secador – pelletizador
Fonte: SABESP (2007)
Figuras 8 - Pellets
Fonte: SABESP (2007)
51
2.6 O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL E AS METAS DO MILÊNIO
O Programa de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS), que atua
como área técnica de suporte às ações da Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental do Ministério das Cidades, concluiu o estudo relativo à qualificação do
deficit em saneamento sico e às metas do milênio. O estudo teve como objetivo
principal identificar: (i) Quem não tem acesso aos serviços de saneamento básico no
Brasil; (ii) Quem obteve acesso aos serviços de saneamento básico no período
1991/2000; (iii) O perfil da população que não possui instalações sanitárias no Brasil;
(iv) A probabilidade de o domicílio ter acesso aos serviços de água, esgotos e de
resíduos sólidos, segundo características sociais, econômicas, de localização e dos
próprios serviços fornecidos e (v) A probabilidade de o Brasil cumprir o ODM em
relação aos serviços de saneamento básico. Para a realização e construção das
definições desse estudo, foram utilizadas as informações dos censos de 1991 e
2000 realizados pelo IBGE (questionário amostra aplicado aos domicílios de todos
os municípios), por apresentarem condições de avaliação ao nível domiciliar e com
representatividade municipal, tendo em vista o objetivo de ser possível o cálculo da
probabilidade de cada domicílio ter acesso aos serviços de saneamento básico.
(SNIS, 2008).
O estudo definiu que saneamento seria o correspondente ao conjunto de
serviços colocados à disposição de um domicílio, visando torná-lo habitável. O
abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a coleta de resíduos sólidos
foram considerados itens do saneamento básico. O trabalho em questão define o
acesso ao abastecimento de água como: (i) rural (abastecimento de água ligado à
rede, com ou sem canalização interna, ou acesso a poço ou nascente com
canalização interna) e (ii) urbano (abastecimento de água ligado à rede geral e
canalizado em pelo menos um cômodo). O esgotamento sanitário e a coleta de
resíduos sólidos também foram divididos em duas categorias, rural e urbano. Quanto
ao esgotamento sanitário rural, foi considerada a existência de instalações sanitárias
(sanitário) com escoadouro ligado à rede geral de esgoto ou pluvial, fossa séptica,
fossa rudimentar ou vala. Para o urbano, foi considerada a existência de instalações
sanitárias (sanitário) com escoadouro ligado à rede geral de esgoto ou pluvial.
Quanto ao acesso à coleta de resíduo sólido para a área rural foram considerados
os resíduos sólidos coletados diretamente, indiretamente (colocados em caçamba de
52
serviço de limpeza) ou enterrados. Como resíduos sólidos urbanos, foram
considerados os coletados diretamente por serviço de limpeza. (SNIS, 2008).
Para avaliar o acesso ao saneamento básico, tanto rural quanto urbano,
foram estudadas várias características, entre elas, o tipo de domicílio e a condição
do domicílio, iluminação elétrica, existência de iluminação pública, tipologia de
relações domiciliares, faixa de renda do responsável em salário mínimo etc. Para o
presente trabalho só foram considerados tipo e condição do domicílio.
Para a coleta de dados do IBGE, cômodo é toda e qualquer dependência
domiciliar (quarto, sala, banheiro, cozinha, área de serviço e garagem), e seu
relatório não propicia a identificação dos tipos de cômodos, nem sua função no
domicílio.
As tabelas 1 e 2, a seguir, demonstram em percentual quem o tem acesso
aos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de resíduos
sólidos nas áreas urbana e rural. Os resultados demonstram que o esgotamento
sanitário é o que apresenta o maior percentual de falta de acesso tanto na área rural
(86,6%) quanto urbana (43,5%). Na área urbana e na rural o tipo de domicílio com
menor acesso aos serviços é o cômodo. O domicílio cedido, em relação ao
esgotamento sanitário, é o que apresenta o maior percentual (50%) sem acesso na
área urbana; e na área rural é o domicílio próprio, com 87% sem acesso.
Tabela 1 - Quem não tem acesso aos serviços de saneamento básico - área urbana (%) 1990-2000
Sem acesso
Características
Abastecimento
de água
Esgotamento
sanitário
Coleta de
resíduos sólidos
Urbano
15,1
43,5
13,1
Tipo de domicílio
Casa 16,1 47,1 13,9
Apartamento 3,9 14,2 6,5
Cômodo 42,9 53,9 20,6
Condição do domicílio
Próprio 15,2 44,9 13,7
Alugado 10,2 33,5 7,7
Cedido 23,2 50 18,1
Fonte: SNIS, 2008
53
Tabela 2 - Quem não tem acesso aos serviços de saneamento básico – área rural (%) 1990-2000
Sem acesso
Características
Abastecimento
de água
Esgotamento
sanitário
Coleta de
resíduos sólidos
Urbano
46,9
86,6
81,2
Tipo de domicílio
Casa 47,1 87 81,7
Apartamento 2,9 9,7 6,1
Cômodo 57,1 86,2 71,8
Condição do domicílio
Próprio 50 87 81,3
Alugado 18,7 66,2 45,8
Cedido 39,9 86,8 83,3
Fonte: SNIS, 2008.
Nas tabelas 3 e 4, abaixo, são demonstrados os tipos de domicílio que
obtiveram acesso aos serviços de saneamento, no período de 1991/2000, na área
urbana e rural. Pode-se observar um crescimento maior no acesso ao esgotamento
sanitário no tipo de domicílio cômodo: o acesso triplicou tanto na área urbana quanto
na rural. Na área urbana, no período de 1991, o acesso era de 13,5%, passando
para 46,1% no período de 2000. Na área rural, no período de 1991, o acesso era de
4,6%, passando para 13,8% no período de 2000.
Tabela 3 - Quem obteve acesso aos serviços
de saneamento básico urbano - período 1990/2000(%)
Acesso Urbano
Abastecimento
de água
Esgotamento
Sanitário
Coleta de
Resíduos
Sólidos
Variáveis
1991 2000 1991 2000 1991 2000
Tipo de domicílio
Casa 79,2 83,9 39,1 52,9 72,5 86,1
Apartamento 98,8 96,1 80,5 85,8 93,5 93,5
Cômodo 50,5 57,2 13,5 46,1 78,8 79,4
Fonte: SNIS, 2008.
Tabela 4 - Quem obteve acesso aos serviços
de saneamento básico rural - período 1990/2000(%)
Acesso Rural
Abastecimento
de água
Esgotamento
Sanitário
Coleta de
Resíduos
Sólidos
Variáveis
1991 2000 1991 2000 1991 2000
Tipo de domicílio
Casa 34,1 52,9 9,4 13 9,8 18,3
Apartamento 90,7 97,1 84,5 90,3 87,4 93,9
Cômodo 28,5 42,9 4,6 13,8 20,9 28,2
Fonte: SNIS, 2008.
54
As tabelas 5 e 6 demonstram o percentual da probabilidade de o domicílio ter
acesso aos serviços de saneamento básico nas áreas urbana e rural,
respectivamente. Os domicílios estão agrupados por região, onde: A (composta
pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal); B (composta pelos
estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais,
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina); C (composta pelos estados da Região
Nordeste); e D (composta por todos os estados da Região Norte).
Tabela 5- Probabilidade do domicílio urbano ter acesso aos serviços de saneamento básico
Situação Probabilidade de Acesso
Grupo %
A 99,00
B 98,83
C 93,86
Abastecimento de água
D 85,34
A 98,60
B 97,65
C 61,98
Esgotamento sanitário
D 16,57
A 99,12
B 99,10
C 94,91
Urbano
Coleta de resíduos sólidos
D 94,05
Fonte: SNIS, 2009.
Tabela 6 - Probababilidade do domicílio rural ter acesso aos serviços de saneamento básico
Situação Probabilidade de Acesso Grupo %
A 99,33
B 97,95
C 68,44
Abastecimento de água
D 78,73
A 82,90
B 40,30
C 9,71
Esgotamento sanitário
D 20,17
A 95,56
B 65,15
C 29,95
Rural
Coleta de resíduos sólidos
D 35,42
Fonte: SNIS, 2009.
55
Nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, em relação aos serviços de
saneamento - ODM7, Garantir a Sustentabilidade Ambiental tem como ALVO 10
Reduzir pela metade, até o ano de 2.015, a proporção da população de 1990 sem
acesso permanente à água potável segura (ao abastecimento de água) e ao esgoto
sanitário. Para se estimar os percentuais e a quantidade de pessoas que terão
acesso ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, foram utilizados os
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, 1990.
A pesquisa demonstrou que, em 1990, o acesso das pessoas ao
abastecimento de água era de 69,76% e que as pessoas sem abastecimento eram
30,24%. O cálculo da meta foi feito a partir da soma do total das pessoas com
acesso ao abastecimento de água com os cinqüenta por cento do total das pessoas
sem abastecimento de água (69,76 + 50% X (30,24) = 84,88%). A conclusão é que
84,88% da população de 2015 deve ter acesso ao abastecimento de água
(171.474.634 pessoas), segundo o estudo realizado.
Com relação ao esgotamento sanitário, a pesquisa demonstrou que, em 1990,
o acesso das pessoas era de 39,43% e que as pessoas sem acesso ao
esgotamento sanitário somavam 60,57%. O cálculo da meta foi feito a partir do total
das pessoas com acesso ao esgotamento sanitário somado aos cinqüenta por cento
do total das pessoas sem acesso ao esgotamento sanitário (39,43% + 50% X
60,57% = 69,71%). A conclusão é que 69,71% das pessoas de 2015 devem ter
acesso ao esgotamento sanitário (140.829.011 pessoas), segundo o estudo
realizado.
A meta do milênio consiste em reduzir pela metade, em 2015, a proporção de
pessoas sem acesso sustentável à água potável e ao esgotamento sanitário.
Embora o censo não apresente informações sobre água potável, foram
consideradas as informações sobre a interligação à rede geral com canalização
interna.
A tabela 7 demonstra quantas pessoas tiveram acesso, ano a ano, de 1990
até 2004, aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Do ano
de 1990 (69,76%) até 2001 (82,19%), pode-se observar um grande crescimento na
proporção de acesso das pessoas ao abastecimento de água. Entretanto, do ano de
2001 (82,19%) até 2004 (84,23%), o crescimento foi bem menor. Em relação ao
esgotamento sanitário, no período de 1990 até 2004, a evolução do acesso das
56
pessoas se mostrou mais constante, mas bem menor que o acesso ao
abastecimento de água.
Tabela 7 - Proporção de acesso das pessoas ao abastecimento de água e esgotamento sanitário -
1990 a 2004
Abastecimento de Água Esgotamento Sanitário
Ano
Proporção Nº de pessoas Proporção Nº de pessoas
1990 (Pnad )
69,76% 98.764.622 39,43% 55.822.050
Censo 1991
67,54% 99.143.991 32,89% 48.286.776
Censo 2000
76,60% 130.122.282 46,08% 78.269.259
2001 (Pnad )
82,19% 140.395.328 44,86% 76.626.159
2002 (Pnad )
83,41% 144.620.005 45,93% 79.641.406
2003 (Pnad )
84,21% 148.207.651 47,69% 83.927.671
2004 (Pnad )
84,23% 153.353.782 47,95% 87.304.606
Fonte: SNIS, 2008.
O estudo do PMSS atualizou os dados com a PNAD de 2004, para identificar quanto
falta para se alcançar a meta ODM estabelecida para 2015. O resultado está
demonstrado na tabela 8 abaixo. É possível observar que a meta estabelecida para
o abastecimento de água apresenta um percentual de apenas 0,65% para ser
alcançada, mas que, em números absolutos, quer dizer que 18 milhões de pessoas
precisarão ter acesso ao abastecimento de água, até 2015, para que a meta seja
alcançada. O esgotamento sanitário, em relação ao abastecimento de água,
apresenta um percentual muito elevado (21,76%) de quanto falta para que a meta
seja alcançada. Até o ano de 2015, 53 milhões de pessoas precisarão ter acesso ao
esgotamento sanitário para que o Brasil cumpra sua meta.
Tabela 8 - A situação em que estamos e o que falta para atingir o ODM
Abastecimento de água Esgotamento sanitário
Ano
Proporção Nº de pessoas Proporção Nº de pessoas
2004 (PNAD) 84,23% 153.353.782 47,95% 87.304.606
Meta (2015) 84,88% 171.475.634 69,71% 140.829.011
Quanto falta 0,65% 18.12.852 21.76% 53.524.405
Fonte: SNIS, 2009.
A proporção da população com acesso a esgotamento sanitário no ano de
2000 está representada abaixo, na figura 9, onde se pode comparar com o mapa da
proporção da população, por município, que deverá ter acesso a esgotamento
sanitário em 2015, de acordo com a meta ODM, segundo o trabalho realizado pelo
PMSS.
57
Figura 9 - Proporção da população com acesso a esgotamento sanitário em 2000 e 2015
Fonte: SNIS, 2009.
Figura 10 - Proporção da população com acesso a abastecimento de água em 2000 e 2015
Fonte: SNIS, 2009.
58
Acima, na figura 10, é possível observar a proporção da população com
acesso à água no ano de 2000 e pode-se comparar com o mapa da proporção da
população que deverá ter acesso à água em 2015, de acordo com a meta ODM.
Tabela 9- Probabilidade do Brasil cumprir os objetivos de desenvolvimento do milênio
Acesso
%
Abastecimento de água
71,39
Esgotamento sanitário
29,81
Fonte: SNIS, 2008.
De acordo com o estudo promovido pelo PMSS e conforme observado na
tabela 9, acima, a probabilidade de o Brasil alcançar a meta ODM relativa ao
abastecimento de água é de 71,39 %, enquanto que, para o esgotamento sanitário,
é de somente 29,81%. Embora não se alcancem os cem por cento planejados, os
dados demonstram que resolver os problemas de abastecimento de água pode ser
mais fácil que solucionar os problemas com o esgotamento sanitário.
2.7 SANEAMENTO ECOLÓGICO
Este item mostra um panorama sobre o que torna o sanitário seco uma
alternativa de saneamento sustentável a ser considerada pelo governo, como uma
opção que poderá ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Também mostra exemplos de sanitários com separação de urina e projetos de
saneamento ecológico implantados em outros países.
Conforme Esrey (2009), Winblad, Jenkins, o saneamento ecológico, eco-san
(ecological sanitation), se apresenta como uma alternativa ao sistema convencional
de saneamento, na tentativa de solucionar alguns problemas relativos à poluição dos
recursos hídricos, à transmissão de doenças e à degradação do meio ambiente. Ele
difere da abordagem clássica na forma como as pessoas pensam e agem em
relação aos dejetos humanos. A urina e as fezes são consideradas recursos
valiosos, com distintas qualidades, necessários para restaurar a fertilidade do solo e
aumentar a produção de alimentos.
O saneamento ecológico é mais viável financeira e ecologicamente do que
os métodos convencionais, não apenas por reduzir os investimentos no
59
sistema mas também por gerar recursos por meio das atividades produtivas
que enseja. Dele resultam sistemas descentralizados que fortalecem as
comunidades ao promover as fontes locais de suprimento e o trabalho em
conjunto. Também pode ser mais seguro do que os métodos convencionais,
e menos poluidor, reduzindo os gastos municipais com cuidados de saúde e
com a despoluição ambiental, gerando receitas diversas, que incluem até a
dinamização do turismo.
(ESREY, 2009)
O eco-san tem por base a idéia de que a urina, as fezes e a água são
recursos ecológicos em um ciclo contínuo. Ele copia a natureza, ao devolver ao solo
os nutrientes existentes nos dejetos humanos. Ao invés de poluir o meio ambiente,
as fezes e urina humanas são utilizadas para melhorar a estrutura do solo e o
fornecimento de nutrientes.
É uma abordagem que visa proteger a saúde pública, trabalhando na origem
do problema, ou seja, prevenindo a poluição do solo e das águas e, ao mesmo
tempo, retornando valioso húmus e nutrientes para o solo, eliminando assim a
necessidade de se utilizar fertilizantes químicos e pesticidas e promovendo a
solução de problemas como a erosão e o envenenamento do solo. A reciclagem de
nutrientes contribui para garantir a segurança alimentar. Segundo a FAO/OMS
(2008), segurança alimentar consiste em: garantir o acesso continuado para todas
as pessoas a quantidades suficientes de alimentos seguros que lhes garantam uma
dieta adequada; atingir e manter o bem-estar de saúde e nutricional de todas as
pessoas; promover um processo de desenvolvimento social e e ambientalmente
sustentável, que contribua para a melhoria na nutrição e na saúde, eliminando as
epidemias e as mortes pela fome.
As principais características do eco-san são: (i) prevenção da poluição e das
doenças causadas por excrementos humanos; (ii) gestão da urina e das fezes como
recursos e o como resíduos e (iii) recuperação e reciclagem de nutrientes. Dessa
forma, se fecha o ciclo natural conforme observado na figura 11.
O saneamento ecológico possibilita a continuidade do ciclo natural dos
nutrientes. Para manter o ciclo intacto, os alimentos consumidos pelos seres
humanos devem crescer em solo que seja rico pela adição de materiais orgânicos
reciclados pelo homem. Ao respeitar o ciclo da natureza, a humanidade pode manter
a fertilidade de seus solos agrícolas indefinidamente, ou seja, de maneira
sustentável.
No sistema de saneamento ecológico, as águas provenientes da cozinha,
banho e tanques não se misturam aos dejetos: elas são tratadas separadamente.
60
O saneamento convencional, conforme descrito no item 2.6.3, quebra o ciclo,
desloca e elimina os nutrientes. O ciclo se transforma em um fluxo linear, conforme
observado na figura 12, a seguir.
Figura 11 - Ciclo natural de reaproveitamento dos nutrientes humanos
Fonte: JENKINS, 2005 p.10, 11
Figura 12 - Ciclo quebrado de nutrientes humanos
Fonte: JENKINS, Joseph, The Humanare Handbook, 2005 p.10 e11
61
O saneamento ecológico pode oferecer opções de saneamento acessíveis
para todos, através de diferentes técnicas e tecnologias, que podem ser de baixo e
alto custo .
Os equipamentos modernos distinguem-se dos utilizados no passado, porque
os dejetos o vão diretamente para o solo; vão para uma câmara, ou um local
apropriado, onde a matéria orgânica se decompõe e o produto final pode ser
utilizado como adubo.
Existem vários modelos, tamanhos e marcas comerciais internacionais, que
poderão ser utilizados em áreas internas e externas. O modelo de alvenaria pode ser
indicado para áreas rurais e periferias urbanas, tornando-se uma opção de baixo
custo para lidar com os problemas de saneamento. A cada vez que se utiliza o
sanitário, é necessário adicionar material orgânico seco rico em carbono, como
serragem, apara de grama, folha seca, casca de arroz, papel higiênico etc.
As instalações de alvenaria ou madeira são mais adequadas em casas com
dois pisos ou com uma declividade natural do terreno próximo à casa. Esse sanitário
também pode ser construído colado na casa, possibilitando um acesso interno.
De um modo geral, não existe uma legislação nem normas relativas à
utilização do sanitário seco, de maneira a regulamentar e padronizar sua construção
e sua forma de gerenciamento. Em alguns países, dependendo da região, o que
existe é a menção a sistemas experimentais e alternativos que poderão ser
permitidos na aplicação individual.
O conceito de saneamento ecológico é relativamente novo e o primeiro
exemplo de construção em larga escala, que servirá de modelo para futuras
pesquisas e ajustes de futuros projetos, foi implementado em 2006 em Erdos, na
China.
Um dos maiores objetivos do saneamento ecológico é a captura dos
nutrientes presentes na excreta humana e a reciclagem dos mesmos de volta à
agricultura. Assim, um conceito fundamental do saneamento ecológico é a
destruição da maioria ou totalidade dos microorganismos produtores de doenças,
antes da reutilização dos produtos da excreta.
Resultados de estudos científicos sobre a destruição de patógenos no
saneamento ecológico nos fornecem, em linhas gerais, o tratamento da urina e fezes
antes de serem reutilizados.
62
Nos projetos de saneamento ecológico, a separação da urina é fundamental
no reaproveitamento do esgoto doméstico. Isso pode ser feito através da utilização
de mictórios, de uso masculino, e vasos sanitários com separador de urina (vide
figuras13), que contêm um separador interno, de modo que as fezes saiam pelo
compartimento de trás e a urina escoe pelo compartimento da frente, indo cada um
para seus reservatórios de armazenagem primária.
Figuras 13 - Mictório e vaso sanitário instalados no prédio da GTZ
Fonte: Fotos Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ)
Segundo Winblad, a urina contém poucos organismos produtores de doença,
enquanto as fezes podem conter diversos. Guardar urina não diluída por um mês
resulta em urina própria para uso na agricultura. Urina não diluída provê um
ambiente hostil para microorganismos, aumenta a taxa de morte de patógenos e
evita a reprodução de mosquitos. Em um imóvel residencial onde plantações foram
planejadas para subsistência, a urina pode ser utilizada continuamente. É
recomendado, entretanto, que haja um intervalo de um mês entre a aplicação da
urina e a colheita. Quando a urina é coletada de muitas casas urbanas e
transportada para reutilização na agricultura, o tempo recomendável de
armazenamento a temperaturas de 4-20ºC varia de um a seis meses, dependendo
do tipo de plantação a ser fertilizada, conforme descrito na tabela 10 abaixo.
63
Tabela 10 - Recomendação do Guia Sueco
Recomendação do Guia Sueco para o armazenamento da mistura(a) de urina baseado na
estimativa do conteúdo(b) patogênico e recomendação para sistemas mais amplos(c) de plantações.
Temperatura de
armazenamento
Tempo de
armazenamento
Possíveis patógenos na
mistura da urina após o
armazenamento
cultivos recomendadoas
4º C 1 mês
Vírus e protozoários Cultivos alimentos e cultivos
de forragem que serão
processadas
4º C 6 meses Vírus Cultivos alimentícios que
serão processados, cultivos
de forragem
20º C 1 mês Vírus Cultivos alimentícios que
serão processados, cultivos
de forragem (d)
20º C 6 meses Provavelmente nenhum Todas os cultivos(e)
a. Urina ou urina e água. Quando diluída assume-se que a mistura de urina tem pelo menos, pH
8.8 e uma concentração de nitrogênio
3
de pelo menos 1g/l.
b. As bactérias Gram-positivas
4
e as bactérias formadoras de esporo
5
não estão incluídas na
lista de riscos subjacentes, mas não são reconhecidos comumente como causadores de
infecções.
c. Um sistema de maior escala, nesse caso, é um sistema onde a mistura de urina é usada para
fertilizar plantações que serão consumidas por indivíduos que não são os membros da casa
onde a urina foi coletada.
d. Não vale para pastos para a produção de forragem.
e. Para as cultivos alimentícios que serão consumidoas crus, é recomendado que a urina seja
aplicada pelo menos um mês antes da colheita e que esta seja incorporada na terra, se as
partes comestíveis crescem acima da superfície do solo.
Fonte: SCHÖNNING et al, 2004, tradução do autor.
Para Bazzarella et al (2005), o cálculo da quantidade de urina excretada pelo
corpo humano é importante para que se possa estimar o tamanho dos reservatórios
para sua estocagem. O volume de urina produzido pelo corpo humano varia de
pessoa para pessoa e de um dia para o outro. Essa variação ocorre de acordo com
a quantidade de líquido ingerido e as perdas por transpiração. O volume médio de
urina diário por pessoa adulta é aproximadamente 1,5 litro, com uma faixa de
variação entre 1,0 e 2,5 litros. Com resultados bem parecidos, Fittschen, 1998,
3
O nitrogênio é um nutriente para as plantas, um dos principais componentes das proteínas e da
matéria viva.
4
Exemplos de bactérias Gram-positivas, várias espécies de: estreptococos, estafilococos e
enterococos.
5
As bactérias formadoras de esporos estão associadas à deterioração de leite cru e pasteurizado, e
de produtos lácteos esterilizados, concentrados e enlatados.
64
encontrou como volume médio 1,57 litro e valores mínimos e máximos 0,69 e 2,5
litros, respectivamente.
Bazzarella comprovou, através dos resultados de sua experiência, que a urina
tem grande contribuição na carga de nutrientes no esgoto doméstico,
correspondendo a aproximadamente 90% da carga de nitrogênio e 40% da carga de
fósforo. Concluiu, também, que a urina coletada com o intuito de ser utilizada como
fertilizante agrícola deve ser estocada de forma a prevenir maus odores e perdas de
nitrogênio para a atmosfera. A melhor opção para se estocar a urina, conforme
figuras 14 abaixo, é em reservatórios fechados, uma vez que, além de preservar o
conteúdo de nutrientes na urina, ainda evita entrada de insetos ou outros animais,
que podem contaminar a urina estocada.
Tanque de armazenamento de urina
Espalhador de urina, em terras agrícolas
Figuras 14 - Armazenamento e aplicação de urina
Fonte: Eco San Res
65
Segundo Ryn, a urina humana é rica em nitrogênio (15 -10%), o que significa
que, em média, cada ser humano urina cerca de 5 quilos de puro nitrogênio por ano.
Ele concluiu que os nutrientes de todo efluente do sistema de tratamento de esgoto
de Los Angeles vindos dos vasos sanitários convencionais, se convertidos em
adubo, seriam o equivalente a 200 toneladas de adubo 7-14-12 (7% de nitrogênio,
14% de fósforo, 12% de potássio). Cada tonelada de fertilizante, quando aplicada ao
solo, forneceria os nutrientes para crescer 25 mil toneladas de produtos hortícolas.
Ryn concluiu que os resíduos de Los Angeles forneciam, por dia, os nutrientes para
crescer 5 mil toneladas de produtos hortícolas, o suficiente para abastecer todos os
moradores com aproximadamente 1,5 quilo de produtos frescos diariamente.
Atualmente, o reúso da urina na Suécia é desenvolvido tanto em pequena
escala, em casas e jardins, como na agricultura, onde é utilizada com equipamentos
agrícolas usados para aplicação de esterco líquido. A urina é coletada no inverso e
utilizada na fase de plantio. Entre 1996 e 2000, um projeto foi desenvolvido para
investigar o uso da urina como fertilizante na agricultura e os resultados mostraram
que a urina pode substituir os fertilizantes de nitrogênio mineral na produção de
cereais. Do ponto de vista jurídico, não problema no uso da urina em jardins
residenciais, entretanto, a autoridade ambiental pode colocar condições, a fim de
garantir que seu uso não coloque em risco os princípios preventivos no Código
Ambiental. O uso da urina em áreas cultivadas é uma melhoria ambiental
significante, comparada aos sumidouros ou outro sistema de infiltração. A urina é
considerada um ótimo fertilizante para cultivos que demandam nitrogênio, mas a
maioria dos cultivos em jardins responde favoravelmente à urina como fertilizante. A
urina também tem sido utilizada com bons resultados em gramados, rosas, arbustos
de frutos pequenos, legumes, assim como em flores anuais e perenes. Recomenda-
se um mês de espera entre a última aplicação da urina e a colheita de cultivos
consumidos crus, por questões de segurança. (ECOSANRES).
Segundo Winblad, a principal preocupação a respeito da segurança da
excreta são as fezes. Os mais importantes caminhos para a transmissão de doenças
a partir das fezes são as mãos, moscas, água, solo e os alimentos contaminados por
um deles.
Os dejetos de um adulto saudável variam de 100 a 200 gramas e têm de
comprimento de 10 a 20 cm e diâmetro entre dois e três cm. A consistência, o odor,
bem como tamanho e peso variam consideravelmente, dependendo do tipo da dieta.
66
A dieta vegetariana costuma produzir dejetos maiores, mais suaves e com menor
odor.
Os resíduos alimentares representam apenas uma parte da massa total das
fezes, sendo o restante composto de bactérias e células mortas. A composição das
fezes é de 65% de água, 10 a 20% de cinzas, 10 a 20 % de substâncias solúveis e 5
a 10% de nitrogênio. (KIRA, 1976).
Cerca de 20% da massa é um sólido agregado de bactérias vivas; o trato
intestinal é colonizado por um grande número de espécies bacterianas,
concentradas nos dois extremos do tubo digestivo, da boca e do intestino grosso.
Existem mais de 100 diferentes espécies de bactérias anaeróbicas em fezes
saudáveis.
O saneamento ecológico usa o método de compostagem e desidratação para
matar os agentes patógenos existentes nas fezes. Vários fatores físico-químicos e
bioquímicos afetam a sobrevivência de microorganismos no meio ambiente como: (i)
ausência de umidade, (ii) tempo de armazenamento, (iii) temperatura, (iv) fator pH,
(v) radiação ultra-violeta e (vi) a competição natural entre organismos. Esses fatores
são conhecidos por eliminarem os agentes patogênicos.
As bactérias possuem vida própria e preferem ambientes úmidos e alimentos
ricos em proteínas. A umidade favorece a sobrevivência de microorganismos, por
isso, a desidratação das fezes ajuda a diminuir o número de agentes patogênicos. A
temperatura é um fator importante na eliminação dos patógenos. Nas temperaturas
de 55-65ºC, a maioria dos agentes patogênicos morre, exceto as bactérias
esporogênicas, e a maioria dos microorganismos sobrevive a temperaturas abaixo
de 5ºC. A própria competição entre os diferentes tipos de microorganismos, que
agem como predadores uns com os outros, reduz o seu tempo de sobrevivência nos
dejetos. Um ambiente de alta alcalinidade, pH 12, como também a adição de
amônia, afetam os microorganismos, tornando-os inativos.
Vide quadro 8, a seguir, os fatores que afetam a sobrevivência dos
microorganismos no meio ambiente.
67
Fatores que afetam a sobrevivência dos microorganismos
Temperatura A maioria dos microorganismos sobrevive bem a baixas temperaturas
(abaixo de 5ºC) e morrem rapidamente em temperaturas elevadas (acima
de 40 º). Este é o caso da água, do solo, águas residuais e nas plantações.
Nas temperaturas de 55-65ºC todos os tipos de agentes patogénicos
(exceto esporos bacterianos bactérias esporogênicas) morrem dentro de
horas.
pH Condições altamente alcalinas deixam os microorganismos inativos. A
inatividade é rápida com pH 12, mas leva mais tempo com pH 9.
Amônia Os patógenos na excreta ficam inativos com adição de amônia.
Ausência de
umidade
A umidade favorece a sobrevivência de microorganismos. A desidratação
das fezes no sanitário seco diminui o número de agentes patogênicos.
Radiação solar O tempo de sobrevivência dos patógenos no solo e nas plantações será
reduzido pelos raios UV.
Presença de outros
organismos
O tempo de sobrevivência dos microorganismos poderá ser encurtado pela
presença de outros organismos. Diferentes tipos de organismos afetam uns
aos outros como predadores, liberando substâncias antagonistas ou
competindo por nutrientes.
Nutrientes As bactérias que vivem adaptadas no intestino nem sempre são capazes de
competir com outros organismos no ambiente onde escassez de
nutrientes. Isso pode limitar a capacidade de bactérias fecais se
reproduzirem e sobreviverem no meio ambiente.
Oxigênio As bactérias entéricas, que se adaptam ao intestino dos animais, são
anaeróbias e, portanto, são suscetíveis a outros organismos em um
ambiente aeróbio.
Quadro 8 - Fatores que afetam a sobrevivência de microorganismos no meio ambiente.
Fonte: WINBLAD, Uno et al, Ecological Sanitatition, 2004, p.12
As fezes podem ser utilizadas como adubo orgânico a partir de processos
sustentáveis como a compostagem. Este tópico será tratado no item 2.7.3
2.7.1 Saneamento ecológico e águas cinzas
As águas cinzas são aquelas que saem das pias, do banho e da lavagem de
roupas. Elas podem ser recicladas e reutilizadas, dependendo da tecnologia
adotada. Um bom gerenciamento das águas cinzas envolve um desenho apropriado
do sistema, levando em consideração o tamanho, o destino que se deseja dar à
água e os componentes das diferentes técnicas existentes.
Segundo Jenkins, o objetivo de se reciclar as águas cinzas é retornar para as
plantas os nutrientes orgânicos disponíveis na água, bem como os
68
microorganismos, de preferência em uma base contínua. E assim, de uma maneira
natural, os organismos irão consumir o material orgânico, reciclando a água.
Outros motivos como escassez e custo da água também são levados em
consideração, quando se pensa em montar um sistema de tratamento de águas
cinzas.
Dependendo da região e do estilo de vida, a água cinza é composta de
sabão, detergentes, fibras, partículas de alimentos, óleos, desinfetantes, cabelo e
outros resíduos.
Existem equipamentos industrializados que fazem o tratamento das águas
cinzas, mas também existem alternativas artesanais, como os filtros biológicos. Os
sistemas de tratamento das águas cinzas também vão funcionar como solução para
as construções que utilizam sanitários secos e que, portanto, não têm ligação com a
rede de esgoto.
2.7.2 O processamento dos resíduos orgânicos no eco-san
O processamento dos resíduos orgânicos no sanitário seco possibilita
resolver o problema das águas negras, pois quase metade da água consumida é
usada para transportar os dejetos dos sanitários. No sistema convencional são
gastos, em média, 13 litros de água a cada descarga, podendo chegar a 30 litros, se
estiver desregulada. O sanitário seco não precisa de água para seu funcionamento e
não se conecta à rede de esgoto
Existem três tipos de sistemas para o processamento dos resíduos orgânicos:
o sistema de compostagem, o sistema de desidratação e o solo compostagem.
No sistema de compostagem, as fezes humanas são depositadas em uma
câmara, em alguns casos, com adição de urina, material orgânico doméstico e de
jardim como palha, folhas, apara de madeira, galhos etc. A temperatura, fluxo de ar,
umidade, tempo e outros fatores promovem as condições ideais da compostagem.
(WINBLAD et al, 2004).
A compostagem é a decomposição de matéria orgânica na presença de
organismos aeróbicos. Esse é o mesmo processo que ocorre sempre que a matéria
orgânica é exposta ao oxigênio e umidade: em florestas, pilhas de compostagem
dos jardins etc. O sistema do sanitário seco compostável permite que os dejetos
69
humanos se transformem num composto estável que tem valor de nutrientes para as
plantas, ou seja, é um fertilizante.
A compostagem completa exige tempo para decompor ecologicamente todos
os subprodutos, até que o material orgânico, finalmente, seja transformado em
húmus estável e seguro. O tempo de compostagem, de um modo geral, é de um
ano, podendo chegar a dois anos, dependendo do local e da temperatura do
ambiente.
Para Del Porto, o primeiro objetivo do sanitário seco compostável é conter,
imobilizar ou destruir os organismos que causam as doenças humanas, reduzindo,
assim, o risco de infecção nas pessoas.
Segundo Legan (2007), a alta temperatura é uma das maneiras de matar os
patógenos humanos; sendo assim, a temperatura dentro da câmara de
compostagem do sanitário deve permanecer acima da temperatura do corpo
humano, 37 graus Celsius.
“Existem várias maneiras de se eliminar os organismos patogênicos que são
encontrados nos excrementos humanos. No sanitário compostável este processo é
feito através da temperatura e do tempo de compostagem”. (LEGAN, 2007, p. 62).
A tabela 11 sintetiza as informações relativas a tempo e temperatura
necessários para que a utilização das fezes como adubo se torne mais segura.
Tabela 11 - Temperatura X Tempo necessários para matar os patógenos na compostagem
Fonte: Adaptado a partir de JENKINS, 2005 E LEGAN, 2007.
Nenhum patógeno consegue sobreviver a uma temperatura de 65ºC por mais
que alguns minutos. (JENKINS, 2005)
Tempertura Tempo
65ºC Alguns minutos
62ºC 1 hora
50ºC 1 dia
46ºC 1 semana
43ºC 1 mês
70
“No processo de compostagem se a temperatura atinge 50ºC, é possível
matar os patógenos em 1 dia; 46ºC em 1 semana e 43ºC em 1 mês” (LEGAN, 2007
p.62).
De acordo com Feachem et al, 1980, o tempo mínimo para produzir um
composto livre de todos os agentes patogênicos é de três meses, exceto alguns
ovos de vermes intestinais. Dependendo do sistema de manutenção adotado e do
tipo de sanitário, esse composto poderá permanecer na câmara do sanitário ou ser
levado para uma outra área de compostagem e permanecer por um ou dois anos,
a fim de destruir eventuais patógenos remanescentes. Muitos sistemas utilizam
minhocários para auxiliar no saneamento do composto ao longo do tempo.
De acordo com o experimento realizado por Corrêa et al (2007) com o lodo de
esgoto de Brasília, para avaliar a possibilidade de se produzir biossólido isento de
patógenos por meio da compostagem e vermicompostagem para uso agrícola, foi
possível observar que o processo se mostrou capaz de produzir biossólidos livres de
helmintos, que são permitidos para o uso agrícola no Brasil. Originalmente, o lodo
apresentava 4,7 ovos viáveis de helmintos por grama de matéria seca e, após o
processo de compostagem, foi possível identificar uma redução na concentração
para valores entre não detectáveis a 0,34 ovos viáveis de helmintos por grama de
material seco, o que representa, segundo Corrêa et al, uma eficiência de
desinfestação entre 93 e 100%, além de não terem sido detectados ovos viáveis de
helmintos após a vermicompostagem.
No sistema de desidratação, a separação da urina, que poderá ser
utilizada como fertilizante, e a adição de cinza e cal após o uso do sanitário, para
ajudar no processo da desidratação. (WINBLAD et al, 2004).
No sistema de solo compostagem haverá a adição de terra e cinzas de
madeira. Os sistemas de compostagem podem ser passivos ou ativos. Os sistemas
passivos são, usualmente, câmaras simples nas quais o excremento, o papel
higiênico e aditivos são coletados e decompostos em ambientes frios, sem um
processo de controle ativo de aquecimento ou mistura.
Os sistemas ativos podem incluir, por exemplo, misturadores automáticos,
tambores rotativos, aquecedores controlados por termostato e ventoinhas (vide
figuras 15).
Os sistemas passivos são desenhados para otimizar o processo por meio do
desenho, não por ação mecânica, permitindo que somente o tempo, a gravidade, a
71
temperatura ambiente e o formato do container controlem o processo (vide figuras
15).
Figuras 15 - Diagrama de um típico processo do sanitário compostável
Fonte: DEL PORTO, 1998
72
2.7.3 História do sanitário seco
No início da era agrícola, o homem, após observar que as plantas cresciam
mais rapidamente onde os excrementos eram depositados, passou a acrescentá-los
ao solo para aumentar a produção do que era plantado. Nas comunidades de
regiões áridas, era comum excretar no solo, esperando melhores resultados na
produção. Tempos depois nasceu o conceito do fertilizante.
A partir do momento em que ficou estabelecido o valor do excremento como
fertilizante, um mercado para essa mercadoria desenvolveu-se em cada sociedade
agrícola organizada. Um sistema de gestão foi desenvolvido e as tecnologias
empregaram vários meios de coleta, manejo e transporte para os fertilizantes
derivados de excrementos.
De acordo com Del Porto, os chineses empilhavam o excremento coletado,
misturavam-no com palha e, nessas pilhas, inseriam estacas de bambu perfuradas
com orifícios para aeração. Esses tubos aeravam as pilhas e promoviam a
compostagem. A compostagem transformava o excremento em um formato seco
portátil, mais facilmente transportável para o campo. Os odores ficavam reduzidos,
transformando todo o processo de coletar e transportar os excrementos numa tarefa
mais eficiente e agradável. Na China, foram construídas elaboradas latrinas na beira
das estradas para atrair viajantes que por ali passavam. O objetivo da estratégia era
coletar os fertilizantes resultantes com o mínimo custo para o fazendeiro.
Informações históricas relativas à compostagem de fertilizante humano na
Ásia afirmam que a compostagem foi introduzida na China de maneira
sistemática na década de 1930 e que, só a partir de 1956, é que o sanitário
compostável foi utilizado em grande escala no Vietnam. (RYBCZYNSKI
6
, 1982 apud
JENKINS, 2005).
Por outro lado, outras informações históricas dizem que a compostagem foi
praticada pelos agricultores e jardineiros em todo o mundo por muitos séculos. E
que, na China, a prática da compostagem com fertilizante humano misturado aos
resíduos de plantações permitiu que o solo suportasse o aumento da densidade
6
RYBCZYNSKI, W. et al, 1982. Appropriate Tecnology for Water Supply and Sanitation Low Cost
Tecnology Options for Sanitation. A State of the Art Review and Annotated Bibliography World Bank
Transportation and Water Department, 1818 Street N.W. Washington D.C. 20433 USA
73
populacional, sem que houvesse perda da fertilidade do solo por mais de 4.000
anos. (FRANCEYS
7
, 1992 apud JENKINS, 2005).
Um antigo sistema de compostagem e secagem foi desenvolvido na Síria
mais de 1.000 anos. A urina era evaporada e as fezes secas e a matéria fecal,
razoavelmente seca, era coletada e vendida. Havia, inclusive, uma moeda baseada
no valor de mercado do excremento.
Para Del Porto, uma das primeiras latrinas de compostagem manufaturadas
foi o “closet de terra”, uma cômoda desenvolvida na Inglaterra, freqüentemente feita
de madeira polida. Esse sistema usava um mecanismo de descarga que liberava
uma quantidade de terra sobre o excremento no depósito, logo após sua utilização.
Quando enchia, o recipiente de coleta era levado para fora e esvaziado. Seu
inventor, Henry Moule, observou que o material coletado, em pouco tempo,
assemelhava-se à terra.
Henry Moule, o vigário de Fordington em Dorset, defendeu o sanitário de terra
no século XIX. Em 1861, produziu um panfleto de 20 páginas intitulado “Saúde e
Riqueza Nacional, em vez de Doença, Aborrecimentos, Gastos e Desperdício
causados por Fossas e Esgotamento de Água”.
Moule descreveu sua descoberta da seguinte maneira: no verão de 1859,
decidiu que sua fossa era intolerável e um aborrecimento para seus vizinhos. Assim,
ele aterrou a fossa e orientou sua família a utilizar tinas. Primeiro, ele enterrou a
água de esgoto em valas no quintal, a 30 cm de profundidade, descobrindo, por
acaso, três a quatro semanas depois, que não havia qualquer traço da matéria.
Passou a misturar o conteúdo das tinas com terra seca todas as manhãs e essa
operação não levava mais do que 15 minutos. Após seu término, não se observava
mau cheiro e nem possuía aparência de dejetos. Depois, descobriu que podia
reciclar a terra e repetir o processo inúmeras vezes e concluiu que a água era
somente um veículo para remover os dejetos para longe da vista, pois não absorvia
nem desodorizava. O grande agente era a terra seca sobre os dejetos, tanto para
absorver como para desodorizar. Disse que não jogava mais nenhum dejeto fora,
com o que obteve um crescimento exuberante de vegetais no jardim. Comprovou
7
FRANCEYS et al, 1992. A Guide of the Development of On-Site Sanitation. W.H.O., Geneve, p.213.
Farm Wastes in the People´s of China. International Development Research Center, Box 8500
Ottawa, Canadá, K1G 3H9 p. 9, 10, 29, 32
.
74
tudo cientificamente, mostrando que batatas nutridas com fertilizante humano
cresciam um terço mais do que aquelas a que se deram apenas superfosfatos.
Por volta de 1850, algumas pessoas na Inglaterra trouxeram o sanitário de
terra para dentro de casa, aparecendo vários sistemas patenteados. Moule criou
uma cômoda com uma tina debaixo do assento e um coletor atrás, contendo terra
fina seca ou cinzas. Terminada a função, puxava-se uma alavanca para liberar uma
determinada porção de terra para dentro da tina, cobrindo o conteúdo (figura 16).
Figura 16- Closet de terra
Fonte: DEL PORTO, 1998, The Composting Toilet System Book (foto: Robert Forsberg) p.6
Em 1865, a Escola de Dorset, com 83 alunos, trocou os sanitários de água
por sanitários de terra, cortando drasticamente os custos anuais de manutenção e
eliminando, ao mesmo tempo, os odores e diarréia.
Segundo Del Porto, Henry Moule não entendeu a especificidade do processo
de compostagem, uma vez que, certamente, esse sistema poderia ter sido
melhorado para possibilitar um processamento mais rápido. Entretanto, foi um
sistema de sucesso que competia, em meados de 1800, com a “casinha(fora de
casa), até que o vaso sanitário com a remoção imediata dos resíduos, com a
utilização de água, ganhasse terreno.
No século XX, o uso de decomposição biológica aeróbica como método de
tratamento dos excrementos humanos foi amplamente praticado. Uma das
aplicações mais antigas de que se tem notícia se fazia na Índia, onde Sir Albert
Howard desenvolveu teorias de compostagem nos anos trinta (1930). Mais tarde,
75
um sistema de decomposição formado por uma câmara dupla, chamado de Gopuri,
foi inventado por Appasheb Patwardhan no noroeste da Índia, nos anos quarenta
(1940). Um outro sistema de câmaras duplas foi denominado de “A privada
melhorada ventilada”
8
. Milhares delas foram, desde então, fabricadas na Ásia,
América Central e México.
Nos anos trinta, o engenheiro sueco Rickard Lindstrom desenvolveu o Clivus
Multrum (figura 17, abaixo), um vaso sanitário de compostagem contendo dois
separadores e dutos de ar. Ele patenteou seu sistema em 1962 e, em 1964, fabricou
sua primeira unidade, em fibra de vidro, para o mercado. Lindstrom teve a idéia
desse sistema na sua juventude, ao limpar os estábulos da fazenda de sua família.
Após um acidente com a carroça da família, ele pôde observar que o esterco que
havia sido derramado sobre uma rocha em amplo ângulo, com o passar do tempo, ia
secando e se movimentando vagarosamente para a base da rocha. Ao final de
aproximadamente dois meses, o esterco parecia ter-se transformado em terra.
Posteriormente, vários sistemas de sanitários de compostagem apareceram no
mercado da Escandinávia, principalmente em regiões onde os sistemas sépticos
eram inexeqüíveis.
Figura 17 - Sanitário Multrum
Fonte: JENKINS, 2005 -The Humanare Handbook, p.114
8
VIP-Ventilated Improved Pit.
76
O Clivus Multrum chegou aos Estados Unidos nos anos 70, logo após a
publicação de um artigo na revista Organic Gardening. Abby Rockefeller, um
membro da conhecida família de banqueiros Rockefeller, campeão de sistemas
ecológicos, licenciou a tecnologia e as patentes de Lindstrom.
No final dos anos 70, os sanitários de compostagem estavam em relativa alta
nos Estados Unidos. A legistação americana referente à qualidade da água potável
(Clean Water Act) fez surgir a consciência das questões de poluição da água e os
sistemas de sanitários de compostagem foram anunciados como a quintessência da
solução para evitar poluir a água. Sua propaganda sugeria não haver praticamente
necessidade de manutenção, nenhum odor, total destruição dos patógenos, sem
líquidos para manejar e remoção pouco freqüente de material seco, semelhante à
terra, que faria florescer as plantas e aumentar enormemente a produtividade das
culturas.
No entanto, como acontece com as novas tecnologias, alguns problemas
foram surgindo, inclusive porque nem todos os sistemas estavam prontos para o
mercado. Os fabricantes, propositalmente ou não, exageraram bastante nas suas
vantagens. Seja por falha nas informações em aspectos sobre a manutenção, por
receio de diminuição das vendas, seja porque o design ainda precisava ser mais
desenvolvido, seja pela falta de qualidade de componentes de metal, que sofriam
rápida corrosão, ou mesmo porque os recipientes não eram sempre à prova d’água.
Ao mesmo tempo, o público não estava ainda preparado para utilizar esses
sistemas. Os sanitários de compostagem representavam uma mudança que exigiria
algum marketing social, assim como apoio das autoridades reguladoras. Por outro
lado, alguns consideravam que ter excrementos em casa era sinônimo de queda no
nível social.
Muitos sanitários foram vendidos através de programas governamentais, mas
sem informação ou apoio, como, por exemplo, no Canadá, para tribos Inuit, que os
usaram como containers muito caros e abandonados quando cheios.
Uma rie de falhas nas instalações foram detectadas, até que, em 1981,
uma pesquisa promovida pelo Departamento de Saúde da Califórnia, E.U.A.,
concluiu que, apesar das excepcionais possibilidades da tecnologia em resolver
desafios de sanitários “in loco”, ainda havia questões de desenho, qualidade,
instalação e informação sobre manutenção a serem resolvidas antes que a
tecnologia estivesse pronta para o mercado.
77
Sanitários de compostagem são de custo razoável, eficientes e contam com
tecnologia cada vez mais aceita, podendo ser assumidos até pelos mais pobres
membros do mundo em desenvolvimento.
Um sanitário de terra é um sanitário seco em que se utiliza terra seca para
cobrir as excreções. Até cem anos atrás, o tradicional lugar de descanso para
pessoas no campo era uma privada com fossa ou uma privada de terra. Como a
privada de terra era rasa, seu processo de decomposição era aeróbico,
possibilitando a ocorrência do processo de compostagem.
Na Grã-Bretanha, a Rainha Vitória usava uma privada de terra no Castelo de
Windsor, ainda que estivessem disponíveis vários tipos de privadas de água. Por
muitos anos, os sistemas de terra e de água foram rivais. Durante décadas, a partir
da segunda metade do século XIX, ambos os sistemas mantiveram grande
competição.
Os ensinamentos de Moule e muitos dos mesmos argumentos o usados
hoje pelos defensores dos sanitários de compostagem. As considerações
ambientais não mudaram: usar sanitários de água é caro e apenas empurra o
problema corrente abaixo.
Henry Moule morreu em 1880 e, até o final de sua vida, tentou persuadir o
governo britânico de que o sanitário de terra era o sistema do futuro e quase o
conseguiu. No entanto, em países ricos, por remover rapidamente o esgoto da casa,
o sanitário de água ganhou a batalha.
2.7.4 Tipos de sanitário seco
Existem dois tipos de sanitário seco compostável: os manufaturados, que
podem ser elétricos ou não, e os de alvenaria, construídos no local. Eles podem ter
uma, duas ou mais câmaras de compostagem, que ficam localizadas sob o vaso
sanitário e, dependendo da localidade e dos sistemas desenhados, algumas
variações poderão ser identificadas, tanto nos sistemas quanto nos sanitários.
Os sistemas multi-câmaras requerem monitoramento da superfície dos
compostores para determinar quando uma mara está cheia e uma nova tem que
ser utilizada no seu lugar.
78
2.7.5 Modelos de sanitários
Existem vários modelos de sanitário seco manufaturado e construído no local
e, nesta seção, estão relacionados alguns exemplos disponíveis no mercado
nacional e internacional, bem como alguns exemplos de alvenaria construídos no
Brasil.
O modelo compacto elétrico manufaturado independente, da marca Sun-Mar,
custa em média USD 1595,00, dólares americanos. O sistema independente, vide
figuras 18, possui o assento e a caixa de compostagem em uma única peça. Esses
modelos são típicos para lugares pequenos e podem ser transportados facilmente.
Esse modelo não está disponível no mercado brasileiro, precisa ser importado.
Figuras 18- Modelo de sanitário manufaturado independente
Fonte: Sun-Mar
São considerados modelos manufaturados centralizados ou remotos, aqueles
cujo vaso sanitário está conectado à caixa de compostagem situada em outro lugar.
O modelo do fabricante ENVIRO LOO, vide figuras 19, custa USD 2200,00
americanos, quando adquirido no Brasil. Nesse preço estão incluídas todas as taxas
de importação e os devidos impostos. Esse modelo está instalado em vários países
como a África do Sul, USA, Grécia e Brasil, vide figuras 19.
79
RSA Limpopo school
USA-TX Boy Scout camp
Instalação Balnéario Camboriú, Santa Catarina,
Praia do Pinho - Brasil
Escola na Africa do Sul
Figuras 19 - Modelo de sanitário manufaturado remoto
Fonte: ENVIRO LOO
O modelo manufaturado remoto da Sun-Mar, CENTREX 3000 AF AC/DC,
vide figura 20, custa em média USD 2300,00, dólares americanos, preço verificado
80
em maio de 2009. O sistema é elétrico e precisa de adição de material rico em
carbono para o processo de compostagem.
Alguns modelos da Sun-Mar permitem a utilização de sanitários com
dispositivo para economia de água na descarga.
Figura 20 - Modelo de sanitário manufaturado remoto – Sun-Mar
Fonte: Sun-Mar
O sistema Clivus Multrum, vide figuras 21 e 22, tem um processador para
compostagem que pode ser acoplado ao sanitário seco e ao sanitário que utiliza a
descarga de espuma. Ele tem um sistema elétrico que ajuda na evaporação do
líquido e possui um compartimento que absorve o chorume produzido durante a
compostagem.
81
Sanitário com descarga de espuma
Figuras 21 - Desenho de um sistema Multrum
Fonte: Clivus Multrum
Figuras 22 - Processador para compostagem
Fonte: Clivus Multrum
82
O sanitário seco compostável pode ser construído com uma ou duas câmaras
que ficam abaixo do vaso, podendo ser construído em alvenaria ou madeira. Ele tem
seu interior oco, de maneira que não se tenha contato visual com os dejetos. As
câmaras de compostagem são cobertas por chapas metálicas pintadas de preto para
promover o aquecimento solar e a ventilação do material, favorecendo, desse modo,
o processo de compostagem (vide figura 24 e 25). A ventilação é garantida por uma
chaminé que torna o sanitário inodoro. A câmara deve ter uma comporta para
facilitar a retirada do composto. O custo para se fazer um sanitário de alvenaria vai
depender do local, material utilizado e do acabamento que se deseja.
Figura 23 - Sanitário Bason
Fonte: LENGEN, Johan, 2004. Manual do Arquiteto
Descalço, pg 653
Figura 24 - Visão externa da câmara de
compostagem
Fonte: TIBÁ
Figura 25 - Sanitário seco compostável
Fonte: SETE LOMBAS, 2008
83
“As vezes um sanitário seco é um buraco profundo no solo. Quando está
cheio, cobre-se com terra e faz-se outro”. (LENGEN, 2004). O Arborloo (vide figura
26 abaixo), com apenas uma fossa, é o mais simples sanitário compostável. O Dupla
Fossa (figura 27) produz composto, separado, a partir dos dejetos humanos e itens
de cozinha e jardim. A construção do Arborloo precisa obedecer alguns critérios para
não contaminar as águas que estejam na área.
O sanitário seco compostável pode utilizar vasos sanitários com separador de
urina, como demonstrado no esquema da figura 28.
Figura 26- Sanitário compostável Arborloo
Fonte: MORGAN, Peter, 2007 p.3
Figura 27 - Sanitário compostável Dupla Fossa
Fonte: MORGAN, Peter, 2007 p.4
84
Vista lateral
Vista de frente
Figura 28 - Sanitário com separador de urina
Fonte: MORGAN, Peter, 2007 p.4,5
2.7.6 Exemplos de implantação de sistemas ecológicos de saneamento
A partir do objetivo que visa avaliar a viabilidade da implementação do
sanitário seco na construção de novos imóveis residenciais uni e multifamiliares e
possíveis barreiras tecnológicas para sua aplicação em larga escala nos centros
urbanos, o projeto piloto residencial implantado em Erdos, na Mongólia, China,
mostra ser possível a implantação do sanitário seco e todo o conceito de
saneamento ecológico. Esse projeto está sendo considerado o primeiro grande
esforço de implementação de unidades residenciais em larga escala, através da
parceria dos governos da China e da Suécia. A Cidade Ecológica foi construída por
uma empresa privada de construção, com a colaboração do EcoSanRes
9
-
Ecological Sanitation Research – Programme, financiado pela Sida
10
– Swedish
International Development Cooperation Agency.
O programa de desenvolvimento da nova cidade incluiu prédios de quatro e
cinco andares, uma creche e um centro comercial. A primeira fase, finalizada em
2006, inclui 825 apartamentos (vide figuras 29 abaixo), uma estação ecológica e um
sistema de tratamento das águas cinzas. Todas as unidades foram vendidas e as
famílias já estão morando.
9
EcoSanRes Programme visa desenvolver e promover o saneamento sustentável no mundo em
desenvolvimento, através da capacitação e gestão do conhecimento como uma contribuição para a
eqüidade, a saúde, a redução da pobreza e melhoria da qualidade ambiental.
10
Sida é uma agência do governo sueco, de âmbito ministerial, e seu objetivo é contribuir para tornar
possível a melhoraria da condição de vida das pessoas pobres.
85
Figuras 29 - Prédio de apartamentos - Erdos
Fonte: EcoSanRes
O saneamento ecológico da cidade inclui banheiros equipados com sanitários
de porcelana, com separador de urina e mictórios. O esquema pode ser visto na
figura 30 abaixo e o projeto do sistema de ventilação, na figura 31. Os equipamentos
(vide figuras 32) foram desenvolvidos e fabricados especialmente para este projeto e
agora estão disponíveis no mercado chinês.
86
Figura 30 - Esquema dos sanitários com separador de urina
Fonte: EcoSanRes
Figura 31 - Sistema de ventilação do sistema de coleta de dejetos
Fonte: EcoSanRes
87
A urina é coletada e armazenada em tanques de concreto subterrâneos e
será utilizada na agricultura local. Os dejetos são armazenados nos contentores
plásticos (vide figuras 32) e, depois, removidos do prédio para a estação ecológica, a
fim de serem compostados e sanitizados juntamente com o material orgânico das
cozinhas dos apartamentos, para reúso no melhoramento do solo.
Tubulação que liga o sanitário aos
contentores
Contentores para depósito das fezes
Lagoa de tratamento para reutilização das
águas cinzas
Vaso de porcelana com separador de urina
Mictório
Figura 32 - Erdos Eco-Town Project
Fonte: EcoSanRes
88
Toda uma estrutura de planejamento, execução e acompanhamento foi
montada e conta com um time especializado em várias áreas como, por exemplo, na
parte operacional, o planejamento da infraestrutura e instalação (ruas, fornecimento
de água, energia, ventilação), o planejamento e construção das residências, a
instalação e manutenção dos sanitários secos, o manuseio dos excrementos, o
processamento das águas cinzas, a compostagem, o reúso dos excrementos na
agricultura, além da parte referente à comunicação e sensibilização da comunidade.
As universidades locais estão engajadas no projeto. Todo um suporte é
oferecido para melhorar o entendimento das tecnologias para os membros dos times
de gerenciamento, para os operadores dos equipamentos, para funcionários do
governo e para as pessoas da comunidade local e das redondezas. Os moradores
dos apartamentos também recebem treinamento para conhecer e entender como se
gerenciam as tecnologias da Cidade Ecológica.
O modelo dessa cidade servirá de objeto de estudo para futuros projetos de
saneamento ecológico do EcoSanRes.
Outro exemplo de implantação do sistema de saneamento ecológico
utilizando o sanitário seco está no Canadá. O C.K. Choi Building, construído em
1995, é um dos poucos prédios de escritórios que utiliza sanitário seco compostável.
O prédio foi desenhado pela Matsuzaki-Wright Architects, está localizado na
Universidade de British Columbia, em Vancouver. No Choi foi implementada a
concepção da sustentabilidade em toda a sua evolução, incluindo a reutilização de
materais de construção no local, a ventilação natural e iluminação, captação da água
da chuva e armazenamento para fins de irrigação.
Os recursos hídricos foram ainda conservados com o sistema clivus de
compostagem para os sanitários e um sistema de tratamento das águas cinzas para
irrigar o paisagismo circundante.
Doze clivus foram distribuídos nos três andares do edifício e cinco unidades
de compostagem (vide figuras 33) foram colocadas no porão, economizando cerca
de 378.500 litros de água por ano. A estimativa de custo do sistema do sanitário
seco foi de USD 35.000. Nos primeiros anos, o sistema foi monitorado, checado e
esvaziado pela empresa Clivus Multrum, que solucionou os problemas iniciais do
sistema e, mais tarde, a operação passou a ser executada pelos funcionários da
manutenção do prédio.
89
placa informativa sanitário seco vista frontal e lateral
Equipamentos Multrum de compostagem para o sanitário seco
Figuras 33 - Instalações sanitárias com equipamentos Clivus Multrum
Fonte: Fotos Karen Jew, 2008
3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Os indicadores são uma importante ferramenta de gestão. A partir do
estabelecimento de objetivos e metas, se faz necessária a identificação dos
indicadores que servirão de parâmetro para reflexão das condições dos sistemas em
análise. Os indicadores podem ser selecionados e considerados isoladamente ou
combinados entre si. A publicação dos Indicadores de desenvolvimento sustentável
IBGE 2008 tem como objetivo disponibilizar um sistema de informações para o
acompanhamento da sustentabilidade do padrão de desenvolvimento do país.
Nessa publicação foi incluída uma matriz de relacionamentos, a ligação existente
entre os diferentes indicadores das dimensões: (i) ambiental; (ii) social; (iii)
econômica e (iv) institucional.
O indicador 23 - Tratamento de esgoto expressa a capacidade de tratar os
esgotos em um determinado território. As variáveis utilizadas nesse indicador são o
volume de esgotos coletados por dia, submetido a tratamento pelo menos
secundário, e o volume total de esgotos coletados por dia, expressos em m³/dia.
Esse indicador é importante tanto para a caracterização básica da qualidade de vida
da população e das atividades usuárias das águas que recebem esgotos, quanto
para o acompanhamento das políticas públicas de saneamento básico e ambiental.
Os indicadores relacionados ao tratamento de esgoto são: (i) 01- Emissões de
origem antrópica de gases de efeito estufa; (ii) 11- Qualidade de águas interiores; (iii)
12- Balneabilidade; (iv) 13- Produção de pescado marítima e continental; (v)
População residente em áreas costeiras; (vi) 21 Acesso a sistema de
abastecimento de água; (vii) 22- Acesso a esgotamento sanitário; (viii) 31-
Esperança de vida ao nascer; (ix) 32- Taxa de mortalidade infantil; (x) 36 Doenças
relacionadas ao saneamento ambiental inadequado e (xi) 42 Produto Interno Bruto
per capita.
91
Para identificar a possibilidade da utilização do sanitário seco como um
possível indicador de sustentabilidade ambiental e sua inclusão nas políticas
públicas, levou-se em consideração os objetivos e mestas estabelecidos a partir da
Agenda 21.
A Agenda 21 é um plano de ação internacional para ser adotado de maneira
global, nacional e local pelos governos e pela sociedade civil nas áreas em que a
ação do homem impacta no meio ambiente. A Agenda 21 enumera os objetivos para
que a sustentabilidade seja atingida, constituindo-se num instrumento de promoção
do desenvolvimento sustentável, de maneira que a dimensão ambiental deva ser
incorporada às políticas setoriais urbanas como a habitação, saneamento,
abastecimento, entre outras.
No item 3 das “Ações Prioritárias da Agenda 21 Brasileira”, são identificados
os objetivos da plataforma das 21 ações prioritárias da Agenda 21 Global e, na
maioria delas, pode -se associar o conceito do sanitário seco com seus benefícios,
ou seja, a eliminação do desperdício de água, a não poluição dos recursos hídricos
e a transformação dos dejetos, com a eliminação dos patógenos, em adubo
orgânico, podendo ser utilizado nas agroflorestas. Alguns objetivos têm relação
direta com os benefícios da utilização do sanitário seco compostável, podendo-se
destacar, entre eles:
O objetivo 1, Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do
desperdício, identifica como uma das necessidades a mudança de cultura para
combater o desperdício. Uma das ações recomendadas para se alcançar esse
objetivo é que seja iniciada uma campanha contra o desperdício de água e energia,
que deve adquirir feição específica e diferenciada para as diferentes regiões
brasileiras, bem como para os diferentes setores produtivos. Embora não seja
tratado o item saneamento nesse objetivo, o sanitário seco se encaixa no quesito da
necessidade de mudança de cultura para se eliminar o desperdício de água.
O Objetivo 3, Retomada do planejamento estratégico, infraestrutura e
integração regional, estabelece o papel da infraestrutura na promoção do
desenvolvimento sustentável para criar as pré-condições ao desenvolvimento
econômico e prover bens e serviços essenciais à melhoria da qualidade de vida da
população. Uma das ações relativas ao objetivo 3 é a implantação de projetos de
infraestrutura, levando em conta as especifidades, potencialidades e fragilidades do
território, para evitar impactos ambientais negativos, mediante adoção de
92
alternativas tecnologicamente mais sustentáveis. Partindo da necessidade de
utilização de tecnologias sustentáveis capazes de melhorar a qualidade de vida da
população, promovendo um saneamento adequado, o sanitário seco pode vir a ser
uma alternativa tecnológica.
O objetivo 7, Promover a saúde e evitar a doença: democratizando o SUS,
está especificamente relacionado com as doenças infecto-parasitárias de fundo
socioambiental, que são a sexta causa de óbito em algumas regiões do país. Para
serem eliminadas essas “doenças da pobreza” são necessários, além de outros
itens, programas sanitários e de saneamento básico especialmente as de
veiculação hídrica. Promover a articulação entre os setores governamentais e a
sociedade, para uma política integrada de redução de risco à saúde e melhoria das
condições de vida da população, é uma das ações que fazem parte do objetivo 7.
Sob esse aspecto o sanitário seco se insere no contexto, pois promove a eliminação
dos agentes patogênicos que tanto impactam na saúde da população.
O objetivo 9, Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e
a saúde, propicia o entendimento de que "universalizar o saneamento" implica
divulgar técnicas e prover recursos para o abastecimento de água e a disposição de
esgoto e lixo, também, nas zonas rurais. As ações precisam ser coordenadas para
que as áreas urbarnas e rurais sejam atendidas. Nas zonas rurais, é importante a
disposição adequada dos dejetos dos animais, que também podem contaminar rios,
riachos e lençóis subterrâneos de água, contribuindo para o surgimento de doenças
de veiculação hídrica. As ações e recomendações para esse objetivo são: (i)
Priorizar os investimentos em infraestrutura urbana, especialmente os destinados à
universalização do saneamento básico, nos próximos dez anos. Estima-se serem
necessários US$ 20 bilhões para abastecimento de água e coleta e tratamento
primário e secundário de esgoto; (ii) Promover a universalização do acesso à água e
ao esgoto, ampliando para 60% o tratamento secundário de esgoto na próxima
década; (iii) Atuar em conjunto com organizações não-governamentais e governos
para divulgação das boas práticas de saneamento ambiental; (iv) Estimular as
comunidades a fiscalizar a correta e completa execução das obras de saneamento
ambiental, abrindo-lhes canais que permitam a apresentação de reclamações e a
formulação de denúncias; (v) Priorizar a proteção dos corpos hídricos poluídos, em
bacias hidrográficas críticas e nas baías e zonas costeiras densamente povoadas,
por exemplo, em trechos das bacias do Paraíba do Sul, do Tietê, do São Francisco e
93
da Baía da Guanabara; (vi) Divulgar técnicas seguras e higiênicas de obtenção e
consumo de água na zona rural, bem como métodos corretos de disposição de
esgotos e de lixo; e (vii) Criar um sistema de saneamento ambiental no país, com
forte controle social. O sistema eco-san, com a utilização do sanitário seco, favorece
diretamente o objetivo 9.
Objetivo 15, Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas
bacias hidrográficas. Nesse objetivo, dentre outras ações recomendadas, se faz
necessária a adoção de um sistema de acompanhamento da Política Nacional de
Gestão dos Recursos Hídricos, por meio de Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável das Bacias e Sub-bacias hidrográficas, bem como a aplicação dos
instrumentos de outorga e cobrança pelo uso da água, especialmente com
finalidades de uso econômico; essa medida irá mostrar à sociedade a necessidade
de racionalização do seu uso. O sanitário seco influencia diretamente esse objetivo.
Quando se analisa a economia de água que ele proporciona e os dados indicam que
40% da água utilizada em uma residência são consumidos pela descarga do vaso
sanitário, o sanitário seco passa a ser uma alternativa que, além de economizar
água, vai possibilitar a redução de pagamento pelo seu consumo.
Aliado aos fatores citados acima, há o fato de que diversos objetivos da
Agenda 21 se encontram inseridos em comunidades intencionais, tais como as
Ecovilas, modelos de assentamento humano sustentável onde o sanitário seco
encontra-se inserido na rotina da comunidade.
As Ecovilas são modelos ecológicos com características adequadas à escala
humana; são estruturadas sobre critérios de convivência que não agridem o meio
ambiente, privilegiando um desenvolvimento sadio que pode permanecer contínuo,
favorecendo gerações futuras, isto é, sustentável e ainda contando com o apoio da
ONU.
Nas Ecovilas, a relação com o meio ambiente se traduz em quatro aspectos
principais:
Estruturas físicas: produção de alimento orgânico, arquitetura de baixo
impacto - bioarquitetura, respeito aos ciclos naturais e proteção e
restauração do solo de maneira permanente.
Infraestrutura: cuidado com a água, uso de energias renováveis, otimização
do transporte e acesso à informação.
94
Estruturas sociais: sistemas participativos de tomada de decisões, economia
sustentável, cuidado com a saúde e eco-alfabetização.
Estrutura cultural: artes e desenvolvimento pessoal, rituais, celebrações e
diversidade cultural, visão mundial holográfica e circular, movimento em
direção à paz.
Baseada em todos esses aspectos, a Rede Global de Ecovilas (GEN)
desenvolveu a “Avaliação da Sustentabilidade Comunitária” (ASC). Essa avaliação é
feita através de um questionário, um check list que pontua positivamente as boas
práticas e negativamente o que se opõe aos princípios da sustentabilidade.
Gerencialmente falando, a ASC é composta de vários possíveis indicadores
de sustentabilidade ambiental que podem ser mensurados e acompanhados ao
longo do tempo. Isso possibilita a elaboração de objetivos e metas e o
acompanhamento para uma melhoria contínua em busca do resultado ideal.
Dentro dos aspectos ecológicos do questionário, são tratados temas como:
rede de água limpa e renovável, uso dos dejetos humanos e as águas residuais em
benefício do ambiente e da comunidade. O questionário é composto por várias listas
de conferências, ou seja, vários tópicos que são classificados por afinidade. A lista
de conferência ecológica 6 versa sobre águas residuais e manejo da
contaminação das águas (vide quadro 9).
Qualquer pessoa pode responder ao questionário para ter uma idéia básica
de quão sustentável é a sua Ecovila. Esta ferramenta de avaliação é aplicável a
qualquer Ecovila ou comunidade. Requer, porém, um bom conhecimento de estilos
de vida, práticas e características do assentamento, podendo ser adaptada a cada
realidade.
95
LISTA DE CONFERÊNCIA ECOLOGIA nº. 6
Águas Residuais e Manejo da Contaminação das Águas
A. O manejo de sistemas de águas residuais utilizados na ecovila inclui: (marcar tantos quantos
se apliquem)
Sanitários secos
todos (7) maioria (5) alguns (3) poucos (1)
Biodigestores, sistemas vivos construídos ou sistemas de terras úmidas
todos (5) maioria (3) alguns (2) poucos (1)
Sistema convencional (fossa, sumidouro)
todos (-5) maioria (-3) alguns (-2) poucos (0)
Outros (1 ponto para cada um) Especifique:
Os sistemas sanitários não são manejados adequadamente (ameaça para a saúde) (-5)
B. Uma estimativa de quantas pessoas na ecovila conhecem a localização e o método de
tratamento das águas utilizadas pela ecovila:
todas com algumas exceções(6) maioria (3) algumas (1) poucas, nenhuma (0)
C. As águas residuais em sua maioria são:
positivas (possui adubo para plantas, piscicultura, etc.) (15)
negativa (possui emissores químicos ou outros contaminantes) (-5)
neutras (5)
D. A qualidade da água que sai da ecovila, comparada com a que entra é:
melhor, mais limpa (10)
igual, não ocorrendo mudanças (0)
pior, sendo menos limpa (-5)
Se piora:
cumpre com as normas locais de emissão de resíduos na água sim (2) não (0)
cumpre os padrões normais de água potável sim (3) não (0)
E. Contaminação da água:
não existe localmente (10)
existe e está sendo tratada para restabelecer a água limpa (8)
existe e não está sendo tratada (-5)
F. Existe um sistema disponível localmente para o descarte apropriado de substâncias tóxicas:
(tintas, gasolina, óleo, pilhas, baterias etc.)
sim (2) não (0)
Os membros da ecovila fazem uso deles:
sim (2) não (0)
Quadro 9 - Lista de Conferência ASC
Fonte: Rede Global de Ecovilas
96
Além das Ecovilas, a política de água e saneamento do Município de Tanum,
localizado na Suécia, é um exemplo de como a Agenda 21 foi executada em
consonância com a Conferência Mundial para o Desenvolvimento Sustentável em
Johannesburg 2002 e com as diretrizes do Parlamento Sueco relacionadas com o
abastecimento de água e o tratamento das águas servidas.
A política de saneamente básico do Município de Tanum estabeleceu que,
sempre que possível, seriam instalados sanitários com separador de urina nas novas
construções. A urina seria armazenada em tanques lacrados e utilizada pelos
agricultores com a intenção de garantir o ciclo natural dos nutrientes. Propriedades
privadas, bem como bibliotecas públicas e escolas, utilizam o sistema com
separador de urina. A política de sanitário seco começou nos anos 90 e o modelo
recomendado pelo município é o multrum ou similar.
Em Tanum, segundo Andreas Roos, chefe do Departamento de Meio
Ambiente, existem 600 moradias somente com separador de urina e 600 somente
com sanitário seco compostável. A população residente, no inverno, é cerca de
12.500 habitantes, podendo chegar a 40.000, no verão.
Com base nas experiências das ecovilas e de vários municípios ao redor do
mundo onde o saneamento ecológico é uma realidade, mesmo sofrendo
adaptações, o sanitário seco poderia ser utilizado como indicador de
sustentabilidade, tornando-se um grande aliado para eliminar os problemas
hidrossanitários que tanto afetam o meio ambiente e a saúde.
4 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO
Um dos objetivos do presente trabalho foi investigar a percepção relativa à
utilização do sanitário seco, utilizando três tipos de público alvo os alunos de
graduação dos cursos de engenharia e arquitetura da Universidade Federal
Fluminense, os profissionais de engenharia e arquitetura que atuam no mercado da
cidade do Rio de Janeiro e um grupo de alunos do curso de bioarquitetura do
Instituto de Permacultura do Cerrado – IPEC –, que utilizaram as instalações durante
dez dias. O presente capítulo apresenta o resultado e a análise da pesquisa.
4.1 ESTUDO DE CAMPO
TEIXEIRA et al, 2008, observou nas instalações do Instituto de Permacultura
do Cerrado IPEC, Pirenópolis, Goiás, durante dez dias, um grupo de 100 pessoas
que utilizaram o sanitário compostável. Foi possível observar, através de relatos
verbais em reuniões matutinas, realizadas diariamente, a reação à utilização dessa
tecnologia. Através da convivência com as pessoas que participavam do curso sobre
Bioconstrução, foi possível observar que, aproximadamente, 50% delas haviam
utilizado instalações com sanitário seco compostável e não mostravam nenhuma
resistência a essa rotina e os 50% restantes se adaptaram à nova tecnologia nos
primeiros três dias.
A utilização do sanitário se mostrou simples e de fácil entendimento. A tábua
do vaso deve permanecer fechada, para evitar a entrada de insetos vetores, e é
aberta para ser usado. Logo após deve-se jogar uma medida de serragem (figuras
34) para ajudar no processo de compostagem. Foi possível verificar que o existe
98
odor dos dejetos. O processo de converter fezes em composto orgânico e húmus
para ser utilizado em agroflorestas, sem utilizar nem desperdiçar água, foi o fator
motivador para o início da pesquisa.
Em um dos sanitários secos compostáveis do IPEC, o HUMUS SAPIENS,
foram desenvolvidos um minhocário para produção de húmus, duas câmaras para
compostagem e, aproveitando o espaço, foram inseridos dois chuveiros com um
sistema de aquecimento solar da água (figura 35).
O tempo de compostagem é um fator importante para que os patógenos
humanos morram. No IPEC, o período de compostagem para cada câmara é de seis
meses. Assim que uma câmara fica cheia, ela é fechada e a outra é posta em uso.
Segundo depoimento de André Soares, diretor do IPEC, este processo é capaz de
produzir um composto de alta qualidade.
a)
b)
Figura 34 - Sanitário seco do IPEC
Fonte: (a) Adição de serragem - foto Miriam Teixeira, IPEC 2007 (b) Recipiente com serragem, IPEC
2007
99
Figura 35 - Sanitário seco com minhocário IPEC
Fonte: Foto Miriam Teixeira – IPEC 2007
4.2 PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA UFF
Para medir a percepção relativa ao sanitário seco compostável (TEIXEIRA et
al, 2008), foi realizada uma pesquisa de natureza exploratória, onde se utilizou a
população dos alunos dos cursos de graduação de engenharia e arquitetura da
Universidade Federal Fluminense - UFF, Rio de Janeiro. Foi selecionada uma
amostragem por acessibilidade, de maneira aleatória, sem levar em consideração a
turma nem o período, de 15 alunos do curso de engenharia e 15 do curso de
arquitetura para preencherem um questionário composto por 6 questões auto-
explicativas, que tinham por objetivo identificar o grau de conhecimento, opiniões e
interesses sobre o assunto sob o título Avaliação da Percepção Relativa à Utilização
de Sanitários Secos.
A tabulação dos resultados do questionário 1 (tabela 12) mostra
separadamente a percepção dos alunos do curso de arquitetura, do curso de
engenharia e o resultado geral da percepção dos 30 alunos.
100
Tabela 12 - Tabulação do questionário 1
RESPOSTAS – Alunos
Arquitetura Engenharia
Geral
PERGUNTAS
Qtde.
% Qtde.
% Qtde.
%
MB - - - - - -
B 3 20% 2 13%
5 17%
R 10 67% 7 47%
17 57%
1.
Identifique seu grau de
conhecimento sobre o sanitário
compostável.
I 2 13% 6 40%
8 26%
SIM
15 100%
14 93%
29 97%
2.
Você gostaria de conhecer melhor
esta tecnologia?
NÃO
- - 1 7% 1 3%
SIM
2 13% 1 7% 3 10%
3.
Você já usou alguma instalação com
sanitário compostável?
NÃO
13 87% 14 93%
27 90%
SIM
15 100%
14 93%
29 97%
4.
Você acredita que esta tecnologia
possa ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental na construção
civil?
NÃO
- - 1 7% 1 3%
SIM
13 87% 7 47%
20 67%
NÃO
- - - - - -
5.
Você acredita que esta tecnologia
possa ser implementada nas novas
construções brasileiras?
PMI
2 13% 8 53%
10 33%
SIM
14 93% 10 67%
24 80%
NÃO
- - - - - -
6.
Se houvesse uma redução de
impostos devido à utilização desta
tecnologia, você acha que seria mais
fácil implementá-la?
PMI
1 7% 5 33%
6 20%
SIM
13 87% 5 33%
18 60%
NÃO
- - 1 7% 1 3%
7.
Você compraria ou construiria um
imóvel com sanitário seco compostável?
PMI
2 13% 9 60%
11 37%
Fonte: TEIXEIRA, et al, 2008.
Legenda:
MB - Muito bom - para quem conhecia as soluções manufaturadas e de alvenaria
existentes.
B - Bom – para quem já havia visto algumas soluções.
R - Regular – para quem já ouvira alguma coisa a respeito.
I - Insuficiente – para quem desconhecia completamente o assunto.
PMI – precisa de mais informação.
O resultado da pesquisa (tabela 12) mostrou que:
101
1. Em relação ao grau de conhecimento sobre o sanitário seco compostável,
67% dos alunos de arquitetura e 47% alunos de engenharia entrevistados
já ouviram alguma coisa a respeito do assunto.
2. Com relação a conhecer melhor a tecnologia, 100% se mostraram
interessados e apenas 10% já haviam utilizado o sanitário seco.
3. A maioria dos alunos da arquitetura, 87%, acredita que esta tecnologia
poderia ser utilizada como indicador de sustentabilidade ambiental na
construção civil e que também poderia ser implementada nas novas
construções. Em relação aos alunos de engenharia, 54% responderam
que precisam conhecer melhor a tecnologia para opinar.
4. Para 94% dos alunos de arquitetura, a implementação desta tecnologia
seria mais fácil com uma compensação tributária e, para os alunos de
engenharia, 67% disseram que precisariam de mais informações para
opinar.
5. Com relação à possibilidade de adquirir ou construir um imóvel com
sanitário seco, 87% dos alunos de arquitetura se mostraram favoráveis e
60% dos alunos de engenharia precisariam de mais informações para
opinar.
Do total de alunos entrevistados, 57% ouviram falar do sanitário seco, 90%
nunca utilizaram e 97% gostariam de receber mais informações sobre esta
tecnologia. 67% acreditam que ela poderia ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental na engenharia civil e que poderia ser implementada nas
novas construções brasileiras. E, com relação à questão sobre a redução de
impostos como facilitador para a implementação da tecnologia, 80% dos
entrevistados responderam que seria mais fácil. Do total dos entrevistados, 60%
comprariam ou construiriam instalações com sanitário seco compostável.
Segundo TEIXEIRA et al, 2008, embora o questionário tenha usado uma
amostragem de 30 alunos, foi possível verificar, de uma maneira geral, a falta de
conhecimento por parte dos alunos em relação ao sanitário seco, seu funcionamento
e os benefícios em sua utilização.
102
4.3 PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
O objetivo da pesquisa, de natureza exploratória, foi identificar a percepção
dos profissionais de engenharia e arquitetura que atuam na cidade do Rio de
Janeiro. A partir da população existente, foi selecionada uma amostragem que
obedeceu ao seguinte critério:
1. Sorteio de cinco letras do alfabeto brasileiro, A B C D E F G H I J L M N O
P Q R S T U V X Z, incluindo as letras K, W e Y.
2. Após o sorteio, foi consultada a Telelista.net, RJ, utilizando a palavra-
chave: construção; para o tipo de serviço, a palavra-chave utilizada foi:
construção civil. As empresas ou profissionais que tinham seus nomes
começando com as respectivas letras sorteadas, por categoria, foram
selecionados e impressos.
3. A terceira etapa consistiu em telefonar para as empresas e/ou
profissionais, seguindo a ordem da lista, a entrevistar quinze
profissionais por categoria.
4. Tabulação dos resultados.
Após a segunda pergunta, os entrevistados, que desconheciam a tecnologia,
receberam uma explicação rápida sobre o sanitário seco compostável com a leitura
do seguinte texto:
O sanitário seco compostável é uma tecnologia utilizada em vários países. Ele
não utiliza ou desperdiça água e se vale de um processo bioquímico que, por meio
da ação de bactérias e microorganismos, converte os dejetos em composto orgânico
isento de patógenos, podendo ser utilizado em jardins e agroflorestas. Não produz
esgoto, portanto, não contamina a água.
A questão 1 do questionário, que mede o grau de conhecimento do
entrevistado, tem cinco alternativas de resposta: (i) MB - Muito bom - para quem
conhecia as soluções manufaturadas e de alvenaria existentes; (ii) B - Bom - para
quem havia visto algumas soluções; (iii) R - Regular - para quem já ouvira alguma
coisa a respeito; (iv) I - Insuficiente - para quem desconhecia completamente o
assunto e (v) PMI – para quem precisa de mais informação.
103
Tabela 13 - Tabulação do questionário 2
RESPOSTAS – Profissionais
ARQUITETO
ENGENHEIRO
GERAL
PERGUNTAS
Qtde
% Qtde
% Qtde
%
MB
B
R 5 33% 2 13% 7 23%
1. Identifique seu grau de conhecimento
sobre o sanitário seco compostável.
I 10 67% 13 87% 23 77%
SIM
15 100%
14 93% 29 97%
2. Você gostaria de conhecer melhor esta
tecnologia
NÃO
1 7% 1 3%
SIM
3. Você já usou alguma instalação com
sanitário seco compostável?
NÃO
15 100%
15 100%
30 100%
SIM
13 87% 4 27% 17 57%
NÃO
4. Você acredita que esta tecnologia possa
ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental na construção
civil?
PMI
2 13% 11 73% 13 43%
SIM
6 40% 1 7% 7 23%
NÃO
5. Você acredita que esta tecnologia possa
ser implementada nas novas
construções brasileiras?
PMI
9 60% 14 93% 23 77%
SIM
11 73% 9 60% 20 67%
NÃO
1 7% 0 0% 1 3%
6. Se houvesse um subsídio financeiro ou
uma redução de impostos devido à
utilização dessa tecnologia, você acha
que seria mais fácil implementá-la?
PMI
3 20% 6 40% 9 30%
SIM
9 60% 2 13% 11 37%
NÃO
1 7% 2 13% 3 10%
7. Você compraria ou construiria um imóvel
com sanitário seco?
PMI
5 33% 11 73% 16 53%
AC 10 67% 2 13% 12 40%
BC 3 20% 1 7% 4 13%
8. Você percebe o sanitário seco como uma
tecnologia de baixo custo ou de custo
elevado?
NTI 2 13% 12 80% 14 47%
Legenda: MB significa muito bom, B-bom, R-regular, I-insuficiente, PMI-precisa de mais informação,
NTI-não tem idéia, BC – baixo custo e AC - alto custo.
A tabulação dos resultados (tabela 13) mostra que 100% dos profissionais
entrevistados desconhecem as soluções manufaturadas e de alvenaria do sanitário
seco compostável. Consultados se gostariam de conhecer melhor a tecnologia, os
arquitetos foram unânimes em querer mais informação e os engenheiros totalizaram
104
93%. No total geral, 90% dos entrevistados têm interesse em conhecer melhor o
sanitário seco.
Com relação à possibilidade dessa tecnologia ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental na construção civil, 57% do total dos entrevistados
responderam que sim e 43% precisam conhecer melhor a tecnologia para opinar.
Dos entrevistados, 77% precisam conhecer melhor a tecnologia para opinar
sobre a implementação nas novas construções, mas, ao responder sobre a
possibilidade de um subsídio financeiro ou redução de impostos, 67% acreditam que
facilitaria sua implementação.
Com relação à percepção do custo do sanitário seco, 40% consideram de alto
custo, 13% de baixo custo e 47% não sabem. O argumento usado para o alto custo
foi em função da experiência de alguns profissionais com o valor das tecnologias
sustentáveis que, pela novidade e pela falta de mercado, costumam custar mais que
as outras.
Os profissionais, incluindo arquitetos e engenheiros, têm em média 25 anos
de atuação no mercado da cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa reflete a falta de
conhecimento da população em relação ao sanitário seco. Mesmo os que já ouviram
falar algo a respeito não sabem como o sanitário seco funciona nem os benefícios
para o meio ambiente.
4.4 ANÁLISE GERAL
Após identificação da percepção do grupo de alunos dos cursos de
engenharia e arquitetura da UFF e dos profissionais de engenharia e arquitetura que
atuam no mercado do Rio de Janeiro, totalizando no geral 60 pessoas, foi possível
elaborar uma tabela com o resultado geral do grupo de entrevistados, conforme
tabela 14.
105
Tabela 14 - Consolidação dos resultados dos alunos e profissionais
RESPOSTAS - ALUNOS E PROFISSIONAIS
ALUNOS PROFISSIONAIS
GERAL
PERGUNTAS
Qtde % Qtde % Qtde %
MB
B 5 17% 5 8%
R 17 57% 7 23% 24 40%
1. Identifique seu grau de conhecimento
sobre o sanitário seco compostável.
I 8 27% 23 77% 31 52%
SIM 29 97% 29 97% 58 97%
2. Você gostaria de conhecer melhor esta
tecnologia?
NÃO 1 3% 1 3% 2 3%
SIM 3 10% 3 5%
3. Você já usou alguma instalação com
sanitário seco compostável?
NÃO 27 90% 30 100% 57 95%
SIM 29 97% 17 57% 46 77%
NÃO 1 3% 1 2%
4. Você acredita que esta tecnologia possa
ser utilizada como indicador de
sustentabilidade ambiental na construção
civil?
PMI 13 43% 13 22%
SIM 20 67% 7 23% 27 45%
NÃO
5. Você acredita que esta tecnologia possa
ser implementada nas novas construções
brasileiras?
PMI 10 33% 23 77% 33 55%
SIM 24 80% 20 67% 44 73%
NÃO 1 3% 1 2%
6. Se houvesse um subsídio financeiro ou
uma redução de impostos devido à utilização
dessa tecnologia, você acha que seria mais
fácil implementá-la?
PMI 6 20% 9 30% 15 25%
SIM 18 60% 11 37% 29 48%
NÃO 1 3% 3 10% 4 7%
7. Você compraria ou construiria um imóvel
com sanitário seco ?
PMI 11 37% 16 53% 27 45%
Legenda: MB significa muito bom, B-bom, R-regular, I-insuficiente, PMI-precisa de mais informação
Quando se comparam as respostas dos alunos e as dos profissionais que
atuam no ramo, é possível identificar que os alunos - 57% - têm conhecimento
regular, contra os 23% dos profissionais. É praticamente unânime - 97% - o desejo
de conhecer melhor a tecnologia e, com relação à utilização do sanitário, 95% nunca
o utilizaram. Para os alunos - 97% - e para os profissionais - 57% - o sanitário seco
poderia ser utilizado como indicador de sustentabilidade.
No item relacionado à possibilidade da utilização do sanitário nas novas
construções, 67% dos alunos acreditam que possa ser implementada e 77% dos
106
profissionais precisam de mais informação sobre a tecnologia. Com relação à
possibilidade de se ter subsídio para facilitar a implementação, 80% dos alunos e
67% dos profissionais acreditam que seria mais fácil para realizar a implementação.
Quando consultados se comprariam ou construiriam um imóvel com o sanitário seco,
60% dos alunos disseram que sim e 53% dos profissionais precisam de mais
informação sobre a tecnologia.
O cenário apresentado é altamente favorável à divulgação da tecnologia,
tendo em vista que, do ponto de vista técnico, os profissionais da área mostram-se
interessados em aprender mais sobre a mesma, sob uma perspectiva acadêmica;
diversos estudantes ouviram falar a respeito e têm interesse em saber mais. Do
ponto de vista do mercado, diversas pessoas das mais distintas áreas de atuação
demonstram interesse em aprender acerca dos benefícios dessa tecnologia,
tomando-se como base a freqüência no curso oferecido pelo IPEC.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 CONCLUSÃO
A seguir o sumarizados os resultados das atividades de pesquisa
desenvolvidas ao longo do estudo.
O objetivo geral do trabalho consistiu em apresentar os benefícios da
utilização do sanitário seco, a possibilidade de sua utilização para solucionar
problemas hidrossanitários, a identificação do nível de conhecimento a respeito do
sanitário seco e o grau de interesse na sua utilização, para viabilizar a introdução
dessa tecnologia em nossa cultura.
Analisando-se a percepção dos entrevistados, item 4.4, acerca do sanitário
seco, é possível identificar que 92% do grupo desconhecem as soluções
manufaturadas e de alvenaria, 97% têm interesse em conhecer melhor a tecnologia,
48% comprariam ou construiriam um imóvel com sanitário seco, enquanto 45%
precisam de mais informações para responder a essa questão.
A viabilidade da aplicação do sanitário seco em larga escala mostrou-se
possível com o exemplo de Erdos, na China, descrito no item 2.7.8, onde a
construção de novas unidades residenciais em larga escala em centros urbanos não
é afetada por barreiras tecnológicas.
A inclusão do sanitário seco em políticas públicas de saneamento é possível
como uma alternativa ao saneamento convencional, pois possibilita a solução dos
problemas hidrossanitários, promovendo o saneamento ecológico, a exemplo da
política de água e saneamento do Município de Tanum, localizado na Suécia. Este é
um exemplo de como a Agenda 21 foi executada em consonância com a
Conferência Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e com as diretrizes do
Parlamento Sueco relacionadas ao abastecimento de água e ao tratamento das
águas servidas. A política de saneamento básico do Município de Tanum
108
estabeleceu que, sempre que possível, seriam instalados sanitários com separador
de urina nas novas construções.
Quando se analisa a possibilidade da utilização do sanitário seco como
indicador de sustentabilidade, tomando-se por base os ODM, as estratégias da
Agenda 21 Global e Brasileira possibilitam que o sanitário seco seja utilizado como
indicador de sustentabilidade ambiental, pois ele é mensurável (quantitativamente e
qualitativamente) e se encaixa plenamente dentro dos quesitos relativos à
sustentabilidade dos objetivos traçados pelas agendas, conforme demonstrado no
capítulo 3.
Com relação à descrição dos princípios básicos do funcionamento do
sanitário seco e alguns modelos disponíveis, os detalhes estão decritos no item 2.7.
Ao se observar as vantagens e desvantagens na utilização dessa tecnologia,
é possível identificar que os pontos positivos o: (i) a não utilização de água para
diluir ou transportar os dejetos; (ii) não contamina o subsolo nem os mananciais; (iii)
é possível ser usado como adubo, possibilitando o retorno dos nutrientes ao solo;
(iv) pode ser construído e adaptado nas áreas rural, urbana e periurbana; (v) existe
viabilidade técnica para ser implementado de imediato; (vi) possibilidade de gerar
renda a partir da produção de adubo.
Com relação aos pontos negativos, pode-se citar: (i) desconhecimento da
população; (ii) necessidade de manutenção direta do usuário com adição de material
para auxiliar a compostagem; (iii) produtos manufaturados com alto custo.
Concluindo, o sanitário seco possui condições de ser uma alternativa para
promover o saneamento ecológico e o momento atual é extremamente frutífero para
uma consideração séria acerca da sua viabilização. Com respaldo técnico, político e
subsídios econômicos, a população poderá utilizar essa tecnologia e servir de
estímulo para que a indústria brasileira invista nessa área, facilitando ainda mais a
disponibilidade de equipamentos manufaturados de baixo custo para a população.
5.2 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Embora seja viável a introdução do sanitário seco em nossa cultura, várias
considerações precisam ser feitas para garantir o sucesso de sua implementação.
A mais básica de todas é a divulgação da existência do sanitário seco, suas
diferentes técnicas, equipamentos e benefícios.
109
Conforme os resultados da pesquisa feita com os profissionais e futuros
profissionais da construção civil, foi possível identificar que essa tecnologia é
desconhecida pela maioria dos entrevistados. A pesquisa também reflete de modo
geral a falta de conhecimento por parte da população e dos governos.
As políticas públicas precisarão inserir o sanitário seco como sendo uma
alternativa a ser usada no saneamento básico, e uma legislação específica precisará
normatizar sua utilização, como vem acontecendo na Suécia.
Os sanitários manufaturados possuem um custo elevado, pois não são
fabricados no Brasil, precisando ser importados e sofrendo sob a incidência de uma
gama de impostos e taxas que aumentam consideravelmente o valor final. É
fundamental a revisão e flexibilização desses impostos por parte do governo, a partir
do momento em que o sanitário seco seja considerado como um bem necessário.
A cultura da utilização do sanitário com água nas grandes cidades e a
facilidade de apertar o botão da descarga são grandes desafios para a
implementação dessa tecnologia. Os benefícios da redução do custo do
fornecimento da água e de seu tratamento podem se transformar em um grande
aliado na mudança de cultura. É fundamental, a exemplo do trabalho realizado no
município de Erdos, o processo de educação e conscientização do uso do sanitário
seco pela população que participará da execução do projeto. Nesse processo, a
identificação do melhor sistema a ser utilizado, o espaço existente, a comunidade
beneficiada, as técnicas de manejo sustentável, o equipamento mais apropriado a
ser utilizado e o processo de comunicação devem envolver a participação da
comunidade que irá usufruir do sistema.
No sistema de saneamento ecológico, o sanitário seco e o tratamento das
águas cinzas poderão parecer para o usuário um sistema mais complexo do que o
sistema tradicional, a partir do momento em que o usuário tem mais
responsabilidade pelo manuseio e funcionamento apropriado. O usuário precisa se
conscientizar da importância do correto manejo e precisa participar de todo o
processo de elaboração do projeto, para evitar fracassos, como aconteceu em El
Salvador, onde milhões de dólares foram gastos e os resultados esperados não
foram alcançados, devido à falta de estratégia de educação e de participação da
comunidade.
Promover planejamento, educação, treinamento e uma boa divulgação é
essencial para se obter sucesso na mudança de
paradigma.
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ANEXOS
1 COMPONENTES PARA MONTAR O SANITARIO SECO MULTRUM
2 DIMENSÕES MODELO ELÉTRICO DA SUN-MAR “COMPACT
3 ESPECIFICAÇÕES DO MODELO SUN-MAR “CENTREX 3000 AF AC/DC”
APÊNDICE
1 MODELO QUESTIONÁRIO Nº 1
1. Estado: Cidade:
2. Estudante:
Período:
3. Sexo:
( ) Fem. ( ) Masc.
Idade:
4. Identifique seu grau de conhecimento sobre o sanitário seco compostável:
( ) Muito bom (conheço as soluções industriais e artesanais)
( ) Bom (já vi algumas soluções)
( ) Regular (já ouvi alguma coisa a respeito)
( ) Insuficiente (desconheço completamente o assunto)
5. Você gostaria de conhecer melhor esta tecnologia?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
Obs.: O sanitário seco compostável é uma tecnologia utilizada em vários países. Ele não utiliza ou desperdiça
água e se vale de um processo bioquímico que, por meio da ação de bactérias e microorganismos, converte os
dejetos em composto orgânico isento de patógenos podendo ser utilizado em jardins e agroflorestas. Não produz
esgoto e, portanto, não contamina a água.
6. Você já usou alguma instalação com sanitário seco?
( ) Não ( ) Sim
Onde?
7. Você acredita que esta tecnologia possa ser utilizada como indicador de sustentabilidade ambiental na
construção civil?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
8. Você acredita que esta tecnologia possa ser implementada nas novas construções brasileiras?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
9. Se houvesse uma redução de impostos devido à utilização dessa tecnologia, você acha que seria mais
fácil implementá-la?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
10. Você compraria ou construiria um imóvel com sanitário seco ?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
2 MODELO QUESTIONÁRIO Nº 2
1. Estado:
Cidade:
2. Profissão: Atua na área há:
3. Identifique seu grau de conhecimento sobre o sanitário seco compostável:
Muito bom (conheço as soluções industriais e artesanais)
Bom (já vi algumas soluções)
Regular (já ouvi alguma coisa a respeito)
Insuficiente (desconheço completamente o assunto)
4. Você gostaria de conhecer melhor esta tecnologia?
Sim
Não
Justifique:
Obs.: O sanitário seco compostável é uma tecnologia utilizada em vários países. Ele não utiliza ou desperdiça
água e se vale de um processo bioquímico que, por meio da ação de bactérias e microorganismos, converte os
dejetos em composto orgânico isento de patógenos podendo ser utilizado em jardins e agroflorestas. Não produz
esgoto e, portanto, não contamina a água.
5. Você já usou alguma instalação com sanitário seco? Não Sim
Onde?
6. Você acredita que esta tecnologia possa ser utilizada como indicador de sustentabilidade ambiental na
construção civil?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
7. Você acredita que esta tecnologia possa ser implementada nas novas construções brasileiras?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
8. Se houvesse um subsídio financeiro ou uma redução de impostos devido à utilização dessa
tecnologia, você acha que seria mais fácil implementá-la?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
9. Você compraria ou construiria um imóvel com sanitário seco ?
( ) Sim
( ) Não
Justifique:
( ) Preciso conhecer melhor a tecnologia para opinar.
10. Você percebe o sanitário seco como uma tecnologia de baixo custo ou de custo elevado.?
( ) Baixo custo ( ) Custo elevado ( ) Não tem idéia
GLOSSÁRIO
Agenda 21 (Ministério do Meio Ambiente) Pode ser definida como um instrumento
de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes
bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e
eficiência econômica.
Agenda 21 Brasileira (Ministério do Meio Ambiente) Instrumento de planejamento
participativo para o desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta
consulta à população brasileira. Foi coordenado pela Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS); construído a partir das diretrizes
da Agenda 21 Global; e entregue à sociedade, por fim, em 2002.
Agenda 21 Local (Ministério do Meio Ambiente) Processo de planejamento
participativo de um determinado território que envolve a implantação, ali, de um
Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o Fórum é
responsável pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável,
que estrutura as prioridades locais por meio de projetos e ações de curto, médio e
longo prazo. No Fórum são também definidos os meios de implementação e as
responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na
implementação, acompanhamento e revisão desses projetos e ações.
Agenda 21 Global (Ministério do Meio Ambiente) Programa de ação baseado num
documento de 40 capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de
promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado
“desenvolvimento sustentável”. O termo “Agenda 21” foi usado no sentido de
intenções, desejo de mudança para esse novo modelo de desenvolvimento para o
século XXI.
água de infiltração É toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema
separador e que penetra nas canalizações.
águas cinzas Águas cinzas são águas residuárias domésticas provenientes de
cozinhas, higiene pessoal e lavanderia.
águas negras Águas residuárias domésticas contendo excreta humana, geralmente
uma definição de resíduos do vaso sanitário, se a água for usada para o transporte
de excreta humana.
129
contribuição pluvial parasitária É a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente
absorvida pela rede de esgoto sanitário.
ECO 92 (Ministério do Meio Ambiente) Um dos nomes pelos quais é a conhecida a
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
realizada no Rio de Janeiro em 1992.
esgotamento sanitário esgotamento sanitário 1. (Censo Demográfico 2000)
Escoadouro do banheiro ou sanitário de uso dos moradores do domicílio particular
permanente, classificado quanto ao tipo em: rede geral de esgoto ou pluvial -
quando a canalização das águas servidas e dos dejetos provenientes do banheiro
ou sanitário está ligada a um sistema de coleta que os conduz a um desaguadouro
geral da área, região ou município, mesmo que o sistema não disponha de estação
de tratamento da matéria esgotada; fossa séptica - quando a canalização do
banheiro ou sanitário está ligada a uma fossa séptica, ou seja, a matéria é esgotada
para uma fossa próxima, onde passa por um processo de tratamento ou decantação,
sendo ou não a parte líquida conduzida, em seguida, para um desaguadouro geral
da área, região ou município; fossa rudimentar – quando o banheiro ou sanitário está
ligado a uma fossa rústica (fossa negra, poço, buraco etc.); vala quando o
banheiro ou sanitário está ligado diretamente a uma vala a u aberto; rio, lago ou
mar - quando o banheiro ou sanitário está ligado diretamente a um rio, lago ou mar;
e outro - qualquer outra situação. 2. (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico)
Conjunto de obras e instalações destinadas à coleta, transporte, afastamento,
tratamento e disposição final das águas residuárias da comunidade, de uma forma
adequada do ponto de vista sanitário. Ver também coleta de esgoto sanitário. 3.
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Escoadouro do banheiro ou sanitário
de uso dos moradores do domicílio particular permanente, classificado quanto ao
tipo em: rede coletora - quando a canalização das águas servidas e dos dejetos está
ligada a um sistema de coleta que os conduz a um desaguadouro geral da área,
região ou município, mesmo que o sistema não disponha de estação de tratamento
da matéria esgotada; fossa séptica quando as águas servidas e os dejetos são
esgotados para uma fossa, onde passam por um tratamento ou decantação, sendo a
parte líquida absorvida no próprio terreno ou canalizada para um desaguadouro
geral da área, região ou município; outro - quando os dejetos são esgotados para
uma fossa rudimentar (fossa negra, poço, buraco etc.), diretamente para uma vala,
rio, lago ou mar, ou outro escoadouro que não se enquadra nos tipos descritos
anteriormente.
esgoto sanitário É o despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial,
água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária.
esgoto doméstico É o despejo quido resultante do uso de água para higiene e
necessidades fisiológicas humanas.
esgoto industrial É despejo líquido resultante dos processos industriais,
respeitados os padrões de lançamento estabelecidos.
eutrofização é um enriquecimento excessivo dos corpos aquáticos com nutrientes,
resultando no crescimento exagerado de algas e plantas e na redução da
concentração de oxigênio por sua decomposição.
130
Geo-Brasil Trata-se de um processo coordenado pelo IBAMA e apoiado pelo
Ministério do Meio Ambiente, Governo Brasileiro e Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), cujo produto principal é um relatório sobre o meio
ambiente brasileiro intitulado “Relatório Perspectivas do Meio Ambiente do Brasil”,
no qual é analisada a situação ambiental do Brasil e cujo propósito corresponde à
função do chamado “Relatório de Qualidade de Meio Ambiente (RQMA)”. As
informações constantes nesse relatório seriam atualizadas sistematicamente em
novas versões do GEO-Brasil com uma freqüência de dois em dois anos. Para a
elaboração do GEO-Brasil o IBAMA adota a mesma metodologia que o PNUMA usa
para produção do GEO Mundial (Global Environment Outlook). A metodologia tem
servido de padrão para a elaboração de relatórios sobre meio ambiente tanto em
níveis regionais como nacionais.
Latrina VIP Latrina de fossa seca com ventilação melhorada.
Lodo Os lodos de esgoto se formam através de diferentes processos nos sistemas
de tratamento de águas residuárias. O lodo primário é formado através da pré-
sedimentação. Na segunda fase, se formam os lodos por processos biológicos e, na
terceira fase, do tratamento por precipitação.
mesológicas São as relações entre os seres humanos e o ambiente onde vivem. A
origem vem de "mesologia", parte da biologia que estuda essas relações.
N Nitrogênio, um dos macro nutrientes vitais para o desenvolvimento dos cultivos.
P Fósforo, um dos macro nutrientes vitais para o desenvolvimento dos cultivos.
Patógenos Microorganismos causadores de doenças.
Projeto do Milênio Plano de ação para que o mundo reverta o quadro de pobreza,
fome e doenças opressivas que afetam bilhões de pessoas.
Vaso sanitário seco com separação de urina A separação de urina em sistemas
secos conta com a coleta separada de urina e fezes. A fração fecal é coletada a
seco, sem descarga com água. O compartimento com urina pode ser enxaguado
com uma pequena quantidade de água, através de um mecanismo automático
(descarga) ou manualmente.
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