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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
EVANGE ELIAS ASSIS
MODELOS DE ANÁLISE INTEGRADA PARA A DEFINIÇÃO DE
ESTRATÉGIAS DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DE PRODUTOS
ELETROELETRÔNICOS POPULARES.
SÃO PAULO
2010
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EVANGE ELIAS ASSIS
MODELOS DE ANÁLISE INTEGRADA PARA A DEFINIÇÃO DE
ESTRATÉGIAS DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DE PRODUTOS
ELETROELETRÔNICOS POPULARES.
Tese apresentada à Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo como requisito
para a obtenção do título de Doutora em Ciências da
Comunicação.
Área de Concentração: Interfaces Sociais da
Comunicação
Orientador: Prof. Dr. Mitsuru Higuchi Yanaze.
SÃO PAULO
2010
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CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
Assis, Evange Elias
Modelos de análise integrada para a definição de estratégias de marketing e
comunicação de produtos eletroeletrônicos populares / Evange Elias Assis. -- São
Paulo : E. E. Assis, 2010.
300 p.
Tese (Doutorado) - Departamento de Relações Públicas, Propaganda e
Turismo/Escola de Comunicações e Artes/Universidade de São Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Mitsuru Higuchi Yanaze.
Bibliografia
1. Marketing 2. Comunicação em marketing 3. Modelos de análise 4. Produtos
eletroeletrônicos populares 5. Baixa renda I. Yanaze, Mitsuru Higuchi II. Título.
CDD 21.ed. – 658.8
EVANGE ELIAS ASSIS
MODELOS DE ANÁLISE INTEGRADA PARA A DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS
DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS
POPULARES.
Tese apresentada à Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo como requisito
para a obtenção do título de Doutora em Ciências da
Comunicação.
Aprovada em : _____ / ____ / ______
Banca Examinadora
Ao meu pai, meu exemplo, com muita saudade.
AGRADECIMENTOS
Ao professor Mitsuru Higuchi Yanaze, pela orientação precisa no desenvolvimento
desta tese, pelo incentivo e amizade, por compartilhar seu vasto conhecimento e por
apresentar ensinamentos relevantes não só ao estudo, mas também à minha vida.
Aos professores Francisco Antonio Serralvo e Leandro Leonardo Batista, pelas
importantes contribuições na qualificação deste trabalho e pelos aconselhamentos
durante todo o andamento da pesquisa.
Ao professor Onésimo de Oliveira Cardoso, pela orientação e apoio dados durante a
minha dissertação de Mestrado, pela grandiosidade de suas aulas.
Aos professores do Programa de Pós-graduação, pela dedicação e pelos preceitos
transmitidos.
Aos executivos, pelas informações cedidas a este estudo, especialmente ao Pedro
Hennel, que me abriu as portas do setor eletroeletrônico.
A toda a minha família e aos meus amigos, pelo incentivo vindo das mais variadas
formas, em todas as etapas desta tese.
À minha mãe, pela sua presença valiosa e fundamental, pelo seu exemplo de
coragem, sou eternamente grata.
A todas as pessoas que me ajudaram a trilhar o caminho e a concluir esta pesquisa.
De forma especial, ao Ya Habibi, por seu apoio desde o início, por me ajudar a obter
informações fundamentais para esta pesquisa, pela compreensão, pelo carinho e
pelo amor presentes nos momentos mais importantes de minha vida, com os quais
espero contar sempre. “Seus olhos, meu clarão/, Me guiam dentro da escuridão./
Seus pés me abrem o caminho./ Eu sigo e nunca me sinto só.”
A Deus, por tudo o que me concede.
RESUMO
Desde o plano real, em 1994, com a estabilização da moeda e maior facilidade ao
crédito, verifica-se o aumento do consumo da população de baixa renda em vários
setores do mercado. Além do preço mais baixo, fator indispensável para atender a
essa camada da população, discute-se quais são e como são planejadas as
estratégias de marketing e comunicação utilizadas pelas empresas que atuam no
mercado popular. Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo geral
desenvolver modelos de análise integrada para a definição de estratégias de
marketing e comunicação de produtos eletroeletrônicos populares. Para alcançar o
objetivo proposto, o estudo utilizou o método exploratório por meio dos seguintes
procedimentos: pesquisa bibliográfica em livros, dissertações, teses, revistas,
jornais, sites e pesquisa empírica, que foi conduzida em duas fases combinando as
abordagens qualitativa (primeira fase) e quantitativa (segunda fase). A população
estudada foi composta por executivos das áreas de marketing e comunicação de
empresas do setor eletroeletrônico associadas à ELETROS (Associação Nacional
dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos). O subsídio teórico da análise da
pesquisa consistiu na definição de produto popular e população de baixa renda; na
análise do consumidor de baixa renda; no estudo das estratégias de marketing e
comunicação; no tema da construção de marca; na abordagem dos modelos de
análise BCG, GE e SWOT; por fim, na análise das diversas configurações de
negócio que poderiam ser adotadas pelas empresas pesquisadas. Os resultados
mostraram que as empresas estudadas utilizam principalmente a análise SWOT e as
pesquisas de mercado para elaborar a sua estratégia de marketing e comunicação.
Porém esse planejamento não é específico para produtos populares. De forma geral,
ele se concentra no produto, e, em segundo lugar, com a mesma relevância, em
preço e análise do mercado. A partir disso, foram elaborados modelos de análise
integrada para a definição de estratégias de marketing e comunicação de produtos
eletroeletrônicos populares.
Palavras-chave: marketing e comunicação, produto popular, população de baixa
renda, eletroeletrônicos, análises BCG, GE e SWOT.
ABSTRACT
Since the Real Plan was introduced in 1994, bringing with it a stable currency and
easier credit, there has been a noted increase in spending among members of the
lower-income population in various market sectors. In addition to lower prices, an
indispensable factor when targeting this section of the population, there is discussion
of marketing and communication strategies used by companies operating in the low-
end market and how they plan such strategies. Within this context, the overall
objective of this study is to develop integrated analysis models for defining marketing
and communication strategies for low-end household appliances and electronics. An
exploratory approach was taken in this study, comprising a study of the literature
(books, dissertations, theses, magazines, newspapers, and websites) and two
phases of empirical research: first qualitative, then quantitative. The study group
comprised marketing and communications executives at companies affiliated with
Eletros (National Association of Appliance and Electronic Product Manufacturers).
The theoretical component of the study involved defining low-end products and the
low-income population, and analysing low-income consumers, marketing and
communication strategies, brand building, the use of BCG, GE and SWOT analyses,
and different business models that could be adopted by the companies studied.
Results showed that companies mostly used SWOT analyses and market surveys
when planning marketing and communication strategies. However, this planning isn’t
specific for low-end products. In general, they concentrate on the product, and in
second place (with the same relevance), on price and market analyses. Based on
these findings, integrated analysis methods were designed for use when planning
marketing and communication strategies for low-end household appliances and
electronics.
Key words: marketing and communication, low-end products, low-income consumers,
household appliances and electronics, BCG, GE and SWOT analyses.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Pirâmide econômica mundial.............................................................. 31
Figura 2 – Potencial de consumo com eletrodomésticos e equipamentos ......... 37
Figura 3 – Processo de compra ......................................................................... 51
Figura 4 – Fluxograma sistêmico de uma empresa ............................................ 67
Figura 5 – O propósito do marketing no planejamento da empresa .................... 68
Figura 6 – Componentes de um plano de marketing .......................................... 70
Figura 7 – Uma típica curva de demanda ........................................................... 80
Figura 8 – Categorias de adotantes .................................................................... 84
Figura 9 – Preço de venda de equilíbrio ............................................................. 85
Figura 10 – Pirâmide da lealdade ....................................................................... 111
Figura 11– Tarefas da construção de marca ...................................................... 117
Figura 12 – Construindo a marca além da propaganda ...................................... 120
Figura 13 – Qualidade percebida e construção de marcas ................................ 122
Figura 14 – Representação do Modelo BCG ...................................................... 128
Figura 15 – Matriz 1º. mês/2º. mês 131
Figura 16 – Localização da empresa em relação à atratividade do seu
mercado e a sua posição no mercado ............................................. 135
Figura 17 – Modelo de análise de inputs e throughputs ................................... 140
Figura 18 – Enfoque estratégico ......................................................................... 149
Figura 19 – As cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade da
indústria ........................................................................................... 151
Figura 20 – A vantagem competitiva sustentável............................................. 153
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico1 – Frequência de financiamentos .......................................................... 44
Gráfico 2 – Canais de varejo alimentar em que as compras são financiadas ... 49
Gráfico 3 – Valorização da família .................................................................... 53
Gráfico 4 – Consumidoras críticas que buscam seus direitos .......................... 53
Gráfico 5 – Os cinco segmentos presentes entre as mulheres de classe C.....
54
Gráfico 6 – Atitude em relação à propaganda .................................................... 59
Gráfico 7 – Investimento publicitário das marcas Brastemp e Consul - 2001 a
2006 ................................................................................................. 99
Gráfico 8 – Divisão da verba total de marketing .................................................
104
Gráfico 9 – Investimento publicitário lavadoras de roupa por marca – 2001 a
2006 ................................................................................................. 119
Gráfico 10 – Faturamento total indústria elétrica e eletrônica (R$ bilhões) ..... 181
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da população brasileira por classes econômicas –
CCEB...........................................................................................
31
Tabela 2 – Rendimento mensal familiar por número de famílias................... 32
Tabela 3 – Posse de itens eletroeletrônicos e eletrodomésticos ................... 43
Tabela 4 – Matriz de direcionamento............................................................. 64
Tabela 5 – Abordagem para os mercados servidos ...................................... 73
Tabela 6 – Algumas metas estratégicas da comunicação de marketing ...... 95
Tabela 7 – Participação das ferramentas nas verbas de marketing - 2003 105
Tabela 8 – B-Brands têm preços menores em quase todos os segmentos 115
Tabela 9 – Comparativo de preços entre marcas B e marcas líderes de
produtos eletroeletrônicos similares ............................................ 115
Tabela 10 – Fatores para construção de uma marca sólida .......................... 123
Tabela 11 – Análise – Mercado (produto x concorrentes) .............................. 130
Tabela 12 – Participação do produto A no mercado ........................................ 131
Tabela 13 – Fatores de avaliação da atratividade dos mercados.................... 133
Tabela 14 – Fatores de avaliação da posição dos produtos no mercado ...... 134
Tabela 15 – Modelo avaliativo dos outputs ..................................................... 138
Tabela 16 – Análise do ambiente mercadológico ............................................ 141
Tabela 17 – Faturamento total da indústria eletro eletrônica por área ............. 181
Tabela 18 – Atratividade do mercado popular ................................................. 196
Tabela 19 – Posição dos produtos populares no mercado .............................. 197
Tabela 20 – Modelo avaliativo dos outputs (respostas E1 e E2) .................... 198
Tabela 21 – Fatores para construção de uma marca sólida............................. 199
Tabela 22 – Segmentos de produtos populares que a empresa fabrica ......... 203
Tabela 23 – Aspectos de concentração do planejamento de marketing para
os produtos populares .................................................................. 204
Tabela 24 – Diferenciação dos produtos populares ......................................... 204
Tabela 25 – Critérios para a fixação do preço de produtos populares ............ 205
Tabela 26 – Canais de distribuição para produtos populares ......................... 205
Tabela 27 – Planejamento de marketing para produtos populares ................. 206
Tabela 28 – Porcentagem de investimento em marketing e comunicação dos
produtos populares ...................................................................... 206
Tabela 29 – Ferramentas de análise utilizadas para embasar o planejamento
de marketing e comunicação dos produtos populares ................ 207
Tabela 30 – Linguagem utilizada na comunicação com o consumidor de
baixa renda .................................................................................. 207
Tabela 31 – Técnicas para a comunicação com o consumidor de baixa
renda ............................................................................................ 208
Tabela 32 – Combinação das técnicas para a comunicação com o
consumidor de baixa renda .......................................................... 209
Tabela 33 – Pesquisa de mercado para conhecer o consumidor de baixa
renda ............................................................................................ 209
Tabela 34 – Critérios relevantes para a escolha de eletroeletrônicos ............. 210
Tabela 35 – Compradores de produtos populares são late adopters?............. 211
Tabela 36 – Venda de produtos populares para o consumidor de baixa
renda nos últimos dez anos ......................................................... 211
Tabela 37 – Participação do consumidor de baixa renda nos negócios da
empresa, nos próximos dez anos ................................................ 212
Tabela 38 – Relevância da marca para os consumidores de baixa renda ...... 212
Tabela 39 – Fidelidade à marca para os consumidores de baixa renda ......... 212
Tabela 40 – Grau de importância que os fatores influenciam na atuação da
empresa no mercado popular ......................................................
213
Tabela 41 – Grau de importância que os fatores influenciam na posição dos
produtos populares no mercado ..................................................
214
Tabela 42 – Utilização de modelo para auto-avaliação dos quatro pês .......... 215
Tabela 43 – Utilização de modelo para avaliação dos quatro pês dos
concorrentes ................................................................................ 216
Tabela 44 – Utilização de processo de gestão de marca dos produtos
populares ..................................................................................... 217
Tabela 45 – Fatores importantes para o processo de construção de marcas
dos produtos populares .............................................................. 218
Tabela 46 – Configuração de negócio adotada para atuar no mercado
popular ........................................................................................ 218
Tabela 47 – Estratégia de negócio para atuar no mercado popular 219
Tabela 48 – P8 x P13....................................................................................... 220
Tabela 49 – P8 x P11....................................................................................... 220
Tabela 50 – P12 x P8 ...................................................................................... 221
Tabela 51 – P18 x P14 .................................................................................... 222
Tabela 52 – P20 x P4 ...................................................................................... 224
Tabela 53 – Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
produto ......................................................................................... 226
Tabela 54 – Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
preço ............................................................................................ 227
Tabela 55 – Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
análise de mercado....................................................................... 228
Tabela 56 – Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
comunicação ................................................................................ 229
Tabela 57 – Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
distribuição ................................................................................... 229
Tabela 58 – Fatores de avaliação da atratividade do mercado popular para o
setor eletroeletrônico.................................................................... 243
Tabela 59 – Fatores de avaliação da posição dos produtos populares no
mercado ....................................................................................... 244
Tabela 60 – Modelo avaliativo dos outputs para produtos populares
das empresas do setor eletroeletrônico ....................................... 249
Tabela 61 – Posse de itens .............................................................................. 295
Tabela 62 – Grau de instrução do chefe da família ......................................... 295
LISTA DE SIGLAS
ABEP – Associação Brasileira da Empresas de Pesquisa
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABEMD – Associação Brasileira de Marketing Direto
ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados
AMA – American Marketing Association
ANEP – Associação Nacional das Empresas de Pesquisa
ANTAD – Asociación Nacional de Tiendas de Autoservicio y Departamentales
BAV – Brand Asset Valuator
BCG – Boston Consulting Group
BTL – Below the line
BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China
CCEB – Critério de Classificação Econômica Brasil
CIM – Comunicação Integrada de Marketing
ELETROS – Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos
FGV – Fundação Getúlio Vargas
GDT – Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica
GE – General Eletric
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial
IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados
LSE – Levantamento Socioeconômico
NPS – Net Promoter Score
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
POF – Pesquisa de Orçamento Familiar
ROI – Return On Investment
SWOT - Strengths, Weakness, Opportunities, Threats
UEN – Unidade Estratégica de Negócios
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................... 15
Objeto da pesquisa 17
Problema da pesquisa 18
Justificativa 19
Objetivos 23
Hipóteses 24
Estrutura do trabalho 27
Capítulo 1 – O mercado popular
29
1.1 Definição de classes populares e produtos populares ....................... 30
1.2 Os consumidores de baixa renda: comportamento, atitudes,
necessidades ..................................................................................... 36
1.2.1 O processo da tomada de decisão de compra ................................ 39
1.2.2 Etapas do processo de compra da população de baixa renda......... 49
1.2.3 Segmentação de mercado: valores comuns e distintos entre as
mulheres de classe C ....................................................................... 52
1.2.4 A relação das classes populares com a comunicação ................... 56
1.2.5 O perfil do consumidor de baixa renda ........................................... 60
Capítulo 2 – Estratégias empresariais .......................................................... 62
2.1 Estratégias mercadológicas ................................................................ 63
2.1.1 Produto ............................................................................................ 75
2.1.2 Preço ............................................................................................... 80
2.1.3 Distribuição ...................................................................................... 86
2.1.4 Comunicação .................................................................................. 91
2.2 Construção da marca ......................................................................... 106
2.2.1 A variável “preço” na construção de marcas populares .................. 112
2.2.2 O uso da comunicação na construção de marcas .......................... 116
Capítulo 3 – Modelos de Análise e Configuração do Negócio .................... 126
3.1 Modelos de análise . ........................................................................... 127
3.1.1 Matriz BCG . .................................................................................... 127
3.1.2 Modelo Multifatorial GE . ........................................................... 132
3.1.3 Análise SWOT . ......................................................................... 136
3.2 Configurações do negócio .................................................................. 142
3.2.1 Concentração em um único negócio .............................................. 142
3.2.2 Joint venture ................................................................................... 143
3.2.3 Retração ........................................................................................ 143
3.2.4 Integração horizontal ..................................................................... 144
3.2.5 Integração vertical ......................................................................... 145
3.2.6 Diversificação ................................................................................ 145
3.2.7 Inovação ........................................................................................ 146
3.2.8 Desinvestimento ............................................................................ 147
3.2.9 Liquidação do negócio ................................................................... 147
3.2.10 Parceria ........................................................................................ 147
3.2.11 Internacionalização ...................................................................... 147
3.3 Vantagem competitiva ........................................................................ 150
Capítulo 4 – Metodologia da Pesquisa .......................................................... 158
4.1 Primeira fase da pesquisa empírica ................................................... 160
4.1.1 Tipo de pesquisa ............................................................................. 160
4.1.2 Método e instrumento de coleta de dados ....................................... 162
4.1.3 Escolha dos entrevistados ............................................................... 164
4.1.4 Coleta de dados ............................................................................... 164
4.1.5 Método de análise .......................................................................... 165
4.2 Segunda fase da pesquisa empírica .................................................. 167
4.2.1 Tipo de pesquisa ............................................................................. 167
4.2.2 Método e instrumento de coleta de dados ....................................... 168
4.2.3 Caracterização da população e utilização do censo ....................... 171
4.2.4 Coleta de dados ............................................................................... 172
4.2.5 Método de análise .......................................................................... 173
Capítulo 5 – Apresentação dos resultados da pesquisa ............................. 177
5.1 O setor eletroeletrônico ...................................................................... 178
5.2 Primeira fase da pesquisa de campo .............................................. 182
5.2.1 O perfil dos entrevistados ................................................................ 182
5.2.2 Planejamento de marketing e comunicação .................................... 183
5.2.3 Conhecimento do consumidor de baixa renda................................. 192
5.2.4 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico.............................. 196
5.2.5 Estratégias de negócios .................................................................. 201
5.3 Segunda fase da pesquisa de campo ............................................. 202
5.3.1 Perfil dos respondentes .................................................................. 202
5.3.2 Planejamento de marketing e comunicação .................................... 203
5.3.3 Conhecimento do consumidor de baixa renda................................. 209
5.3.4 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico.............................. 213
5.3.5 Estratégias de negócios .................................................................. 218
5.4 Análise consolidada dos resultados da 1ª. e da 2ª. fase da
pesquisa de campo........................................................................... 230
5.4.1 Planejamento de marketing e comunicação .................................... 230
5.4.2 Conhecimento do consumidor de baixa renda................................. 232
5.4.3 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico.............................. 234
5.4.4 Estratégias de negócios .................................................................. 237
Conclusão ....................................................................................................... 239
Considerações finais ................................................................................ 240
Contribuições do estudo............................................................................ 254
Limitações do estudo ................................................................................ 256
Sugestões para estudos futuros................................................................ 258
Referências ...................................................................................................... 259
Apêndices ........................................................................................................ 277
Anexos ............................................................................................................. 294
15
INTRODUÇÃO
O tema geral proposto nesta pesquisa refere-se às estratégias de marketing e
comunicação para produtos populares de empresas do setor de eletroeletrônicos
e aos processos de análise de atratividade do mercado e do portfólio de produtos
que embasam essas estratégias.
Para melhor compreendê-lo, será importante traçar o cenário econômico-social
nacional em que surgem as oportunidades de negócio, já que ele possibilitou, por
parte das organizações nacionais e multinacionais, desenvolver novos mercados
de atuação por meio da inclusão da população de baixa renda no mercado de
consumo.
No âmbito global, o contexto é semelhante. As organizações passaram a
enxergar que, nos quatro bilhões de pessoas que constituem a população de
baixa renda -nada menos que dois terços da população mundial-, pode haver uma
forma lucrativa, inovadora e mais justa de fazer negócios no século XXI,
distribuindo produtos e serviços aos mercados emergentes. No Brasil, verifica-se
o aumento de consumo de algumas categorias de produtos, propiciada pela
estabilidade da economia e acesso ao crédito, como será detalhado a seguir.
Em 1989, Fernando Collor foi eleito o presidente do país. Em um ano, de março
de 1989 a março de 1990, a inflação chegou a 4.853%, e, no dia 15 de março de
1990, o Governo lançou um pacote econômico, o Plano Brasil Novo. Esse plano
tinha como objetivo acabar com a crise, ajustar a economia e elevar o país à
condição de desenvolvido. O “cruzado novo” (implantado em 1989, no Plano
Verão, pelo Governo Sarney) foi substituído pelo "cruzeiro"; os saldos das contas-
correntes, cadernetas de poupança e aplicações financeiras foram confiscados
por dezoito meses; os preços e salários, congelados.
As medidas iniciais, que reprimiram a demanda, tinham o objetivo de conter a
inflação. O governo Collor abriu as portas para os competidores internacionais,
16
acirrando a concorrência e proporcionando perdas às indústrias do mercado
nacional.
O processo de globalização forçou as empresas a buscarem maiores ganhos de
produtividade, portanto alguns ajustes como redução de custos de produção,
terceirização de serviços, aumento das importações causaram enorme corte dos
postos de trabalho. O desemprego alcançou níveis exorbitantes, e, sem uma
política industrial consistente, muitas empresas faliram.
Collor foi afastado em setembro de 1992 e, em dezembro, perdeu o mandato
presidencial. Assumiu a presidência o vice Itamar Franco em meio a uma inflação
galopante. A taxa anual do IPC da FIPE mais do que dobrou de 1992 para 1993
(de 1.129,45% para 2.490,00%).
Em julho de 1994, foi criado o Plano Real pela equipe do então ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que implantou medidas que trouxeram o
fim da inflação e a estabilidade da moeda.
A principal medida do plano foi criar uma nova moeda, o real, que passava a valer
um pouco mais do que o dólar americano. Esse recurso teve vários efeitos. O
primeiro é que as importações ficaram muito mais fáceis e, assim, as empresas
puderam reduzir os custos da compra de máquinas e matérias-primas. Além
disso, os produtos importados passaram a chegar ao país bem mais baratos,
provocando a queda dos preços dos similares nacionais. De início, o resultado foi
positivo: a inflação despencou de forma surpreendente. E Fernando Henrique
Cardoso venceu as eleições presidenciais de 1994.
Desse modo, tem início, com a estabilidade da moeda e a possibilidade de
planejamento futuro, quase que uma explosão de consumo, também nas classes
populares, até então, excluídas do mercado. Além da queda da inflação, o acesso
ao crédito por meio do financiamento foi o grande aliado do consumidor de baixa
renda porque viabilizou a satisfação de seus desejos de consumo reprimidos.
17
As organizações empresariais, a partir disso, iniciam um movimento para atender
às expectativas desse novo mercado, o que possibilita elaborar modelos de
análise integrada do portfólio de produtos e de atratividade de mercado (BCG,
GE, e SWOT) e investigar se as empresas do setor eletroeletrônico planejam
estratégias de marketing e comunicação específicas para produtos de marcas
populares. Esse é o objeto da pesquisa, que será aprofundado no próximo item.
OBJETO DA PESQUISA
Atualmente, muito se tem falado sobre a baixa renda no Brasil. Esse tema está
presente em pesquisas acadêmicas e de mercado, em revistas de negócios, e
tem despertado muito interesse nas empresas que vislumbram a oportunidade de
crescimento nessa fatia enorme da população. Afinal, 68% da população pertence
às classes C, D e E (ABEP, 2010)
1
.
Após identificar as atratividades do mercado popular, é preciso planejar e
implementar estratégias de mercado e de comunicação específicas para produtos
populares, focadas no público-alvo e verificar se essas estratégias são
embasadas em modelos de análise como BCG, GE e SWOT, ou em outras
ferramentas, como, por exemplo, as pesquisas de mercado, ou, ainda, se são
elaboradas de forma intuitiva. Esse é o objeto da pesquisa.
Como o tema é bastante recente, o desafio para construir conhecimento sobre o
mercado de baixa renda é grande, pois, até pouco mais de uma década, eram
estudados os segmentos com maior poder aquisitivo. Não se pensava em
concentrar esforços a fim de criar produtos e serviços às camadas mais baixas da
população. Isso se reflete tanto na literatura, quanto nas pesquisas acadêmicas.
Há poucos livros publicados a respeito, mas, com o foco na estratégia para
alcançar a camada mais baixa da população, a referência, quer no mundo
acadêmico, quer no mundo empresarial, é, sem dúvida alguma, o título A riqueza
1
Dados com base no Levantamento Socioeconômico (LSE) 2008 - Ibope
18
na base de pirâmide: como erradicar a pobreza com o lucro, da autoria do
acadêmico e consultor indiano C.K.Prahalad (2005).
Conforme Yanaze (1997, p.47), “existe uma parcela da população em condições
de consumo que precisa ser desvendada: é preciso conhecer suas necessidades,
seus desejos e suas motivações, a fim de permitir a definição de formas eficazes
para conquistá-la com produtos e serviços”. Assim, será possível traçar
estratégias de marketing e comunicação eficientes para atingir a camada da
população de baixa renda.
PROBLEMA DE PESQUISA
Depois de contextualizar o tema, é necessário especificar, de maneira clara,
compreensível e operacional, o problema de pesquisa, ou seja, o que se pretende
resolver na pesquisa, limitar seu campo, contexto e característica, elencar quais
as dificuldades previstas, como afirmam Lakatos e Marconi (1991), e como se
pretende continuar.
Dessa forma, o problema de pesquisa estudado pretende responder aos
seguintes questionamentos: Quais são as estratégias de marketing e
comunicação predominantes para as empresas do setor eletroeletrônico que
fabricam produtos populares? Essas empresas embasam seu planejamento de
marketing e comunicação em modelos de análise do tipo BCG, GE e SWOT ou
em outras ferramentas?
Pode-se prever uma certa dificuldade em encontrar informações e literatura
científica sobre empresas que produzem produtos populares e suas respectivas
estratégias de marketing e comunicação, já que o tema é bastante recente não só
no Brasil, mas no mundo. Isso motiva ainda mais a pesquisa, e, ao final, espera-
se, por meio de uma análise aprofundada da teoria referendada e dos resultados
das pesquisas de campo, inovar, trazendo outras descobertas que contribuam
19
com a academia e com as empresas que produzem ou interagem com produtos e
mercados populares.
JUSTIFICATIVA
Num cenário de estagnação da economia nacional, considerando-se que a taxa
média de crescimento do PIB per capita passa de 6% na década de 70 para 0,5%
na década de 80 e 1% na década de 90 [FGV e IBGE apud Banco Central
(2008)], as empresas necessitam planejar sua estratégia de expansão de
mercado e aumento de vendas, seja agregando valor aos produtos ou serviços
existentes, seja desenvolvendo novos produtos. A maioria delas, contudo, parece
focar ainda o público-alvo de maior poder aquisitivo, no qual se concentra o
mercado de alta rentabilidade e margens de lucro maiores, apesar de se mostrar
saturado e com poucas perspectivas de crescimento.
Como alternativa para o crescimento, algumas empresas detectaram uma
oportunidade para desbravar e desenvolver um novo mercado consumidor com
excelentes perspectivas: o mercado das classes populares.
A imprensa tem publicado casos de sucesso de empresas que identificaram nas
camadas de baixa renda uma fonte de lucro para novos negócios. No âmbito
internacional, pode-se citar algumas experiências: Hindustan Lever Ltd
(subsidiária da Unilever na Índia) e a venda de sabão no mercado indiano; Cemex
(multinacional que manufatura e comercializa cimento) e a venda de soluções na
área de construção (PRAHALAD, 2005). O mercado brasileiro também tem
demonstrado que atender os consumidores das classes mais baixas da
população é um bom negócio. Constituem exemplos disso o sucesso da rede
Casas Bahia, citado por Prahalad (2005); o detergente em pó Ala, da Unilever,
vendido somente no Nordeste; o refrigerante Convenção; a geladeira Consul,
marcas de sucesso junto ao público consumidor de baixa renda.
20
O discreto charme da baixa renda” é o título de uma das matérias publicadas
pela revista Exame que reflete o interesse da imprensa. Ela mostra o
deslocamento das vendas globais de bens de consumo dos ricos e de classe
média para os mercados emergentes, de acordo com Blecher e Teixeira (2003,
p.37)
:
Até o final dos anos 80, cerca de 75% das vendas dos fabricantes
de bens de consumo provinham dos consumidores ricos e da
classe média dos países desenvolvidos. Já na década passada,
com sinais de saturação desses mercados piscando nas matrizes,
a geografia das corporações passou a se deslocar para os
mercados emergentes. Com uma população somada de 2,6
bilhões de pessoas, os cinco principais emergentes (China, Brasil,
Índia, México e Indonésia) subiram ao pódio das vendas de
refrigeradores, televisores e uma série de itens rotineiros.
Pode-se fazer um paralelo entre a citação acima (BLECHER;TEIXEIRA, 2003),
que analisa as vendas dos fabricantes de bens de consumo em termos globais, e
os fabricantes que atuam no Brasil. Nota-se que eles estão muito empenhados
em conhecer e atender aos consumidores brasileiros das classes C, D e E.
Alguns exemplos podem ser citados: a Whirlpool, fabricante das marcas Consul e
Brastemp, lançou, em outubro de 2007, uma linha de fogões feita sob medida
para as classes populares com preços a partir de R$ 329,00. A filial brasileira da
Whirlpool reconhece a importância da receita proveniente desses consumidores
que representa 27% do total do grupo. Há mais de dois anos, são registrados
lucros consecutivos em todos os trimestres. Em 2007, a previsão era que a venda
de geladeiras quebrasse o recorde do Plano Real com 4,8 milhões de unidades,
800 mil a mais que em 1994.
A Procter & Gamble, há seis anos, acompanha a rotina das famílias de baixa
renda entrando em suas casas, por intermédio de seus executivos voluntários.
Desse trabalho surgiram o sabão em pó Ace, as fraldas Pampers Básica e o
absorvente Always Básico (CANÇADO; ARAGÃO, 2007).
21
A Nestlé conta com um especialista no assunto, o diretor de Regionalização e
Base da Pirâmide. Segundo Johnny Wei, na época o diretor da área, “nossos
funcionários têm uma noção muito ‘classe média’ da vida. Não têm percepção do
que é a realidade dessas pessoas”. Isso mostra que a falta de conhecimento
sobre o cotidiano da população de classe baixa pode provocar muitos
desencontros, como a promoção de vendas do leite Ninho que pretendia oferecer
como brinde um jogo americano para mesa de jantar, quando mais da metade
das casas de classe baixa não tem mesa, embora compre Ninho quando pode
(RIBEIRO, 2007). Ainda segundo Wei, para atender à classe baixa, tiveram de
mudar a forma de pensar, o formato dos produtos, as embalagens, o preço e a
maneira de anunciar (COSTA, 2007).
Assim, o interesse pelo tema surgiu ao constatar a autora o aumento de consumo
por parte das classes populares de algumas categorias de produto, a preferência
por certas marcas populares, o interesse das empresas em conhecer mais
profundamente o mercado popular com o intuito de atuar nesse mercado
promissor. Junta-se a isso o fato de a autora deste projeto ter coordenado, na
função de gerente de marketing da Unidade de Negócios Alto Consumo da
Editora Abril, um projeto inédito que pesquisou mulheres de classe C de todo o
país, em parceria com o Ibope Solution. A autora conheceu diferentes abordagens
e desafios que deveriam ser vencidos por profissionais de marketing e
comunicação, sendo o principal deles o desconhecimento do consumidor de baixa
renda e de seu potencial de consumo.
Existe um esforço para reverter essa situação, como pôde ser visto no exemplo
da Nestlé. As agências de publicidade também estão interessadas em aprender a
linguagem adequada para vender para esse novo consumidor: a Neogama propôs
vários exercícios aos publicitários, como fazer compras do mês em mercearias da
periferia de São Paulo com pouco dinheiro ou trabalhar como vendedor
ambulante; a F/Nazca Saatchi&Saatchi convocou seus funcionários para
assistirem a uma palestra do coordenador da ONG Afroreggae, José Junior, já
que ele teve várias iniciativas de empreendedorismo na favela do Vigário Geral,
no Rio de Janeiro, que viraram modelo internacional (RIBEIRO, 2007).
22
Algumas questões, porém, não foram esclarecidas e aprofundadas. Ultrapassada
a discussão sobre vender ou não para a baixa renda, pretende-se pesquisar se as
empresas do setor eletroeletrônico estão explorando essa oportunidade de
mercado, planejando estratégias de marketing e comunicação específicas para
produtos de marcas populares, focadas na população de baixa renda, ou se as
estratégias são direcionadas pelos preços baixos, ao acreditar que esse público
se mobiliza exclusivamente por esse diferencial competitivo. Pretende-se, ainda,
elaborar modelos de análise integrada para embasar as estratégias de marketing
e comunicação.
A escolha do setor eletroeletrônico para pesquisa se deveu a três fatores:
1.
o
- à possibilidade de ampliar o conhecimento sobre o setor, adquirido durante a
realização da dissertação de mestrado na PUC/SP, que tratou do processo de
construção da marca Consul, uma marca forte que se popularizou;
2.
o
- ao fato de serem otimistas as perspectivas de vendas futuras de produtos do
setor eletroeletrônico - após um período de altos e baixos - também para as
classes populares. O mercado interno tende a crescer mesmo que de forma mais
moderada, em 2009. “Estamos otimistas em relação ao consumo doméstico em
2009. Não temos plano B. A instabilidade do momento deve se atenuar”, diz
Jerome Cardier, diretor de marketing da Whirlpool. Segundo o executivo, o
crescimento estimado para 2009, em torno de 3% em relação a 2008, deve
manter-se nas linhas de refrigeradores e fogões da marca Consul, que tem têm
apelo popular. A projeção é que o mercado de eletrodomésticos tenha fechado
2008 com vendas de 17 milhões de unidades, aproximadamente 8% mais que em
2007 (CHIARA; VIALLI, 2009).
23
3.
o
- à necessidade de suprir a lacuna acadêmica existente no que diz respeito a
pesquisas de estratégias de marketing e comunicação e modelos de análise para
produtos populares do setor de eletroeletrônicos no Brasil
2
.
Pretende-se, assim, nesta tese, elaborar modelos de análise integrada adequados
ao segmento de produtos eletroeletrônicos populares para que se possa embasar
as estratégias de marketing e comunicação utilizadas pelas empresas para o
atingimento desse novo mercado, o da baixa renda. Dessa forma, esta pesquisa
poderá dar sua contribuição tanto à academia, quanto à evolução das empresas
que buscam uma alternativa sustentável para seu crescimento.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo é elaborar modelos de análise integrada para a
fundamentação de estratégias de marketing e comunicação para produtos
eletroeletrônicos populares.
Como objetivos específicos, pode-se enunciar:
analisar a evolução do volume de vendas dos produtos do setor no período
pós-Real, se possível, por classe social;
identificar se as empresas utilizam um processo de gestão de marca para
produtos populares;
verificar se as empresas utilizam ferramentas periodicamente, para se
atualizar com relação aos hábitos, atitudes e necessidades do seu público-
alvo, como, por exemplo, a pesquisa de mercado;
verificar se as empresas embasam sua estratégia de marketing e
comunicação em modelos de análise, tais como BCG, GE e SWOT;
2
Em pesquisa realizada no Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBInet), em 20.12.2007,
com as palavras-chave “produto popular”, “classe popular” e “baixa renda” em todas as bases
disponíveis, foram encontradas duas dissertações de mestrado, catorze artigos e um livro. Dentre
eles, onze tratam do tema inovação de produtos populares, e seis abordam temas da área de
marketing.
24
identificar qual a configuração de negócio predominante entre as empresas
do setor que decidiram atuar no mercado popular;
verificar se existem elementos do composto de marketing e comunicação
mais relevantes e pontos comuns no planejamento estratégico de
marketing e comunicação dos produtos populares do setor.
HIPÓTESES
Cardoso (2002) analisa o emprego da hipótese na pesquisa científica e faz uma
crítica a modelos e formalismos, abordando o tema sob a luz de vários teóricos
como Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend. Para o autor (2002, p. 3), a hipótese
pode ser entendida, de forma ampla, como “a explicação provisória das causas de
um fenômeno”, estabelecendo, assim, sua função principal que seria orientar o
pesquisador na direção da causa possível. Cervo e Bervian (2002) ratificam o
exposto acima ao afirmar que a hipótese é a suposição de uma causa ou de uma
lei que tem o objetivo de explicar provisoriamente um fenômeno até que os fatos
venham a contradizê-lo ou afirmá-lo.
Goode e Hatt (1969), apud GIL (2008, p.41), dizem que a hipótese “é uma
proposição que pode ser colocada à prova para determinar sua validade”. São
consideradas provisórias porque poderão ser confirmadas ou rejeitadas durante o
desenvolvimento da pesquisa que estará voltado para a procura de evidências
que comprovem, sustentem ou refutem a afirmativa feita na hipótese (SILVA;
MENEZES, 2001).
Descartes (1997) apud Cardoso (2002, p.14) “ponderou que o mais importante
não era a hipótese ser verdadeira ou falsa, mas, sim, que tudo fosse deduzido da
experiência”. Levando-se isso em conta, nesta tese, as hipóteses referem-se à
frequência de acontecimentos, ou seja, verificam se determinada característica
ocorre com maior ou menor frequência em determinado grupo, sociedade ou
cultura” (GIL, 2002, p. 32).
25
A construção das hipóteses pode surgir de várias fontes. As quatro principais,
segundo o mesmo autor (2002), são: observação, resultados de outras pesquisas,
teorias e intuição. Para elaborar as hipóteses, este estudo valeu-se do uso da
combinação das quatro fontes citadas. Também foram consideradas as onze
características necessárias para validá-las de acordo com Lakatos e Marconi
(1991): consistência lógica, verficabilidade, simplicidade, relevância, base teórica,
especificidade, plausibilidade, clareza, profundidade, fertilidade e originalidade. As
quatro hipóteses deste estudo serão apresentadas a seguir.
De acordo com Dickson(1983), os canais de distribuição estão ganhando força, e,
cada vez mais, os fabricantes dependem deles. As indústrias do setor de
eletroeletrônicos, para vender seus produtos, dependem das lojas de varejo e
supermercados que estão cada vez mais concentrados em grandes redes.
Recentemente, ocorreu a aquisição do Ponto Frio pelo Grupo Pão de Açúcar e a
fusão do mesmo Grupo com as Casas Bahia. Essa concentração dificulta planejar
estratégias de distribuição diferenciadas para produtos populares e não
populares. Identifica-se, ainda, que o investimento publicitário é menor em marcas
populares se comparado ao investimento publicitário realizado em marcas
premium da mesma categoria de produtos. Como exemplo, a marca Consul
lançou com sucesso a primeira lavadora de roupas automática do mundo para a
baixa renda com o menor preço da categoria no mercado; utilizou os mesmos
canais de distribuição que os outros produtos não populares da Whirlpool, sua
fabricante, também detentora da marca Brastemp; e investiu uma verba de
comunicação menor que a utilizada pelos produtos similares da Brastemp (ASSIS,
2007). Assim, elaborou-se a hipótese 1:
1- As empresas do setor eletroeletrônico planejam estratégias de marketing e
comunicação específicas para as classes populares focadas apenas em
produto e preço.
Partindo-se do pressuposto de que os profissionais de marketing e comunicação
de vários setores da indústria estão iniciando o aprendizado acerca dos
consumidores de baixa renda (CANÇADO ; ARAGÃO, 2007), (RIBEIRO,2007) ,
26
(COSTA, 2007) para que possam entender suas necessidades, comportamento,
valores e atitudes, e, verificando-se que a maioria das pesquisas de mercado de
âmbito nacional que investigaram a baixa renda não focou o setor eletroeletrônico
como um todo (ABRAMOVICZ et al., 2002), (Ibope Solution/Editora Abril, 2003),
(Latin Panel 2002-2006), (PARENTE, 2005), (CORADI et al. 2006), é a seguinte a
hipótese 2:
2- As empresas do setor eletroeletrônico não utilizam métodos sistematizados
para conhecer o comportamento do público-alvo de baixa renda.
Considerando-se os doze fatores que contribuem para a construção de uma
marca sólida [emocional, fidelização, longevidade, conhecimento sobre os
clientes, inovação, recursos humanos, aspectos práticos do produto, valor da
marca, identidade da marca, diferenciação, preço e comunicação (Assis, 2007)] e
considerando-se que entender as necessidades dos consumidores é o primeiro
passo no processo de construção de marca forte segundo Gale e Wood (1996),
elaborou-se a hipótese 3:
3- O processo de construção de marcas fortes para produtos populares não
constitui prática comum adotada pelas empresas do setor eletroeletrônico.
Tendo-se em conta que uma das estratégias mais fortes de desenvolvimento de
uma empresa é a diversificação e isso ocorre, entre outras situações, quando a
empresa começa a ter dificuldades em atingir seus objetivos pelas mudanças no
contexto interno e na conjuntura externa à empresa, geralmente por falta de
oportunidades para investir nos segmentos atuais, por saturação de mercados,
por queda da taxa de retorno dos projetos de expansão, ou, ainda, quando a
empresa tem disponibilidade de recursos, depois de já ter investido o suficiente
para manter-se numa posição adequada de mercado (ANSOFF, 1990), pode-se
apresentar a hipótese 4 :
4- A maioria das empresas do setor eletroeletrônico adotou a estratégia de
desenvolvimento focada na diversificação para atuar no mercado popular.
27
O próximo item apresentará a estrutura deste estudo formada por introdução,
cinco capítulos, conclusão, referências, anexos e apêndices.
ESTRUTURA DO TRABALHO
Este estudo está estruturado da seguinte forma: Na Introdução, contextualiza-se o
tema de pesquisa e são apresentados o objeto da pesquisa, o problema, a
justificativa, os objetivos e as hipóteses do estudo, bem como a estrutura do
trabalho. A fundamentação teórica será apresentada nos capítulos 1, 2 e 3.
No capítulo 1, apresenta-se o embasamento teórico sobre o mercado popular.
Serão definidos classes populares e produtos populares, e abordados o
comportamento, as atitudes e necessidades do consumidor de baixa renda,
público-alvo das estratégias de marketing e comunicação aqui pesquisadas.
No capítulo 2, são apresentadas as estratégias mercadológicas, os quatro “pês”
(produto, distribuição, preço e comunicação), além do processo de construção de
marcas fortes para avaliar se são adotados pelas empresas fabricantes de
produtos populares ou se estas focam suas estratégias somente no preço baixo.
No capítulo 3, apresentam-se os modelos de análise do portfólio de produtos e de
atratividade de mercado a fim de que se possa elaborar modelos de análise
integrada para embasar as estratégias de marketing e comunicação dos produtos
eletroeletrônicos populares. Pretende-se, ainda, mostrar neste capítulo as
configurações de negócio e estratégias utilizadas entre as empresas pesquisadas
que atuam no mercado popular.
No capítulo 4, será apresentada a metodologia adotada na pesquisa de campo
deste estudo, que se realizou em duas fases: qualitativa (primeira fase) e
quantitativa (segunda fase). O tipo de pesquisa, o método e o instrumento de
coleta de dados, a coleta de dados, a escolha dos respondentes, o censo e o
método de análise utilizados são abordados em cada fase.
28
No capítulo 5, analisam-se os resultados obtidos na pesquisa de campo com os
fabricantes de produtos populares de consumo do setor eletroeletrônico.
Em seguida, será apresentada a conclusão, incluindo as considerações finais, as
limitações deste estudo e as sugestões para estudos futuros. Finalmente, as
referências bibliográficas utilizadas nesta pesquisa, os apêndices e os anexos.
29
CAPÍTULO 1
O MERCADO POPULAR
30
Neste capítulo, primeiramente, define-se o que se entende por classes populares e
produtos populares neste estudo, já que o tema principal trata de estratégias de
marketing para o mercado popular. Como as estratégias de marketing para produtos
populares têm como público-alvo o consumidor de baixa renda, em seguida,
pretende-se analisar o comportamento do consumidor trazendo algumas pesquisas
de mercado sobre o consumidor de baixa renda, já que há pouca bibliografia que
trate especificamente desse segmento da população. Assim, utilizando a teoria
aliada às pesquisas de mercado, pretende-se traçar um perfil do consumidor de
baixa renda.
1.1 Definição de classes populares e produtos populares
Neste estudo, os conceitos de classes populares, classes C, D e E e população de
baixa renda serão tratados como sinônimos. Não serão analisados do ponto de vista
sociológico ou antropológico, e sim na visão do mercado. O Critério de Classificação
Econômica Brasil associado ao critério de renda familiar bruta mensal do IBGE
serão adotados neste estudo, uma vez que as pesquisas acadêmicas ou de
mercado utilizam um dos dois critérios citados para determinar o universo da baixa
renda que será pesquisado.
É importante traçar uma visão geral de como se divide a população mundial, a fim
de se estabelecer um paralelo com a divisão da população brasileira por classe
econômica. Assim, ficam claros os parâmetros que indicam o tamanho e renda da
população de baixa renda tanto no Brasil como no mundo.
Na base da pirâmide econômica mundial, demonstrada na Figura 1, a seguir, nota-
se que existem mais de quatro bilhões de pessoas de baixa renda, os quais
representam dois terços da população do planeta:
31
Fonte: Relatórios de Desenvolvimento Mundial da ONU (PRAHALAD;HART, 2002, p. 18).
* Baseada em paridade de poder aquisitivo nos Estados Unidos.
Passando agora para o contexto nacional, a fim de dimensionar a importância e os
parâmetros adotados neste estudo, segue, na Tabela 1, o atual Critério de
Classificação Econômica Brasil (CCEB)
3
, para divisão de mercado de classes
econômicas no País e a distribuição da população em porcentagem. Tal critério é
composto por uma soma de pontos baseada no grau de instrução do chefe da
família e em itens de posse no lar (ver anexo 1).
Tabela 1 - Distribuição da população brasileira por classes econômicas – CCEB
CLASSE CRIT
É
RIO 2008 PONTOS RENDA M
É
DIA FAMILIAR (valor bruto em R$)
A
1 0,6% 42 a 46 14.366
A
2 4,4% 35 a 41 8.099
B1 9,1% 29 a 34 4.558
B2 18% 23 a 28 2.327
C1 24,5% 18 a 22 1.391
C2 23,9% 14 a 17 933
D 17,9% 8 a 13 618
E 1,6% 0 a 7 403
Fonte: ABEP (2010) / Dados com base no Levantamento Socioeconômico – 2008 – IBOPE.
3
O Critério de Classificação Econômica Brasil estima o poder de compra das pessoas e famílias
urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de “classes sociais”. A
divisão de mercado definida na tabela é de classes econômicas.
1
2 e 3
4
US$ 1,5 mil - US$ 20 mil
Menos de US$ 1,5 mil
75 a 100
4 mil
Mais de US$20 mil
1
,
5a 1
75 mil
Fi
g
ura 1
Pirâmide econômica mundial
Renda anual
p
er ca
p
ita* Camadas Po
p
ula
ç
ão em milhões
32
De acordo com a Tabela 1, 68% da população brasileira pertence às classes C, D e
E. Isso demonstra o grande potencial de consumo que as classes populares
representam para as organizações que atuam no Brasil: quase 129 milhões de
pessoas (IBGE, 2010a)
4
. Ou seja, a situação brasileira é muito semelhante à
mundial no que tange às diferenças de renda entre as camadas da população e às
perspectivas de retorno para as empresas como afirmam Prahalad e Hart (2002).
Apesar de utilizados pelos institutos de pesquisa nacionais, o CCEB gera muita
polêmica no mercado. Como exemplo, um estudante universitário que mora num flat
alugado na capital, já que a sua família reside em outra cidade, pode enquadrar-se
na classe C, dependendo dos itens que possua (v. Anexo1).
Considerando-se os dados do IBGE, pode-se ter uma outra referência para
classificar a população brasileira em faixas de renda domiciliar mensal, como pode
ser obervado na Tabela 2 . Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de
2003, as classes de famílias variam entre as que não têm nenhum rendimento até as
que ganham mais de R$ 6.000,00 por mês. Limeira (2008) considera que as famílias
que ganham até R$1.600,00 por mês pertencem ao mercado de baixa renda,
totalizando 69% do total de lares brasileiros, ou seja, 33.493.807 famílias.
Tabela 2 – Rendimento mensal familiar por número de famílias
Classes de rendimento
monetário e não
monetário mensal
familiar (R$)
Número de famílias
(unidades)
Número de
famílias (%)
A
té 400 (1) 7.949.351 16,4%
Mais de 400 a 600 6.747.421 13,9%
Mais de 600 a 1.000 10.181.484 21,0%
Mais de 1.000 a 1.200 3.528.908 7,3%
Mais de 1.200 a 1.600 5.086.643 10,5%
Mais de 1.600 a 2.000 3.349.073 6,9%
Mais de 2.000 a 3.000 4.571.410 9,4%
Mais de 3.000 a 4.000 2.416.195 5,0%
Mais de 4.000 a 6.000 2.236.892 4,6%
Mais de 6.000 2.467.262 5,1%
TOTAL 48.534.638
100,0%
Fonte: IBGE (2010b). Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2003.
4
Estima-se que a população brasileira tenha mais de 189,6 milhões de habitantes (IBGE, 2010a).
33
Prado (2008) realizou uma investigação detalhada acerca dos critérios utilizados nos
estudos acadêmicos brasileiros para classificar a população de baixa renda e
constatou que há diferentes classificações, visto que a expressão foi relacionada ao
Critério Brasil, à quantidade de salários-mínimos e à própria compreensão de cada
autor acerca da formação do mercado de baixa renda no Brasil. Essa autora (2008)
optou por caracterizar a população de baixa renda brasileira como composta por
famílias com rendimentos mensais de até cinco salários-mínimos.
Feitas as considerações devidas, será considerada população de baixa renda, neste
estudo, a população formada por pessoas pertencentes às classes C, D e E,
segundo o CCEB, equivalente a uma renda média familiar bruta que varia de
R$403,00 a R$1.391,00 (ABEP, 2010).
As empresas que desenvolverem condições de atender às necessidades dessa
enorme massa de consumidores terão perspectivas de recompensa não somente no
que se refere a crescimento e lucros, mas também no que diz respeito ao
desenvolvimento de novas tecnologias e sustentabilidade, auxiliando mundialmente
bilhões de pessoas que vivem em classes menos favorecidas e evitando a
desintegração social, caso a distância entre países ricos e pobres não pare de
crescer (PRAHALAD ; HART, 2002).
Um dos caminhos para que as empresas atendam às expectativas de consumo da
população das classes C, D e E é produzindo produtos populares. Dessa forma, na
sequência, apresentam-se alguns autores que tratam de conceituar produto popular,
e a definição acatada neste trabalho.
Produtos populares
Segundo Giovinazzo (2003), produtos populares são bens posicionados,
predominantemente, para as classes de renda C, D e E e cujo efeito-renda é
negativo, ou seja, um acréscimo na renda deverá ocasionar uma substituição desse
bem, ou dessa marca popular, por um bem ou marca não popular. Produtos
populares são aqueles posicionados para atender aos mercados,
predominantemente, das classes C, D e E, o que não impede que, eventualmente,
34
sejam adquiridos por consumidores das classes A e B. Um exemplo que se
enquadra neste conceito é o sabão em pó Surf, da Unilever ou os refrigerantes
Convenção, da indústria Convenção. Ambos são considerados populares porque
foram posicionados para atender, com um preço acessível e qualidade, à população
de baixa renda.
Para Zancul (2004), entretanto, produto ou serviço popular são aqueles mais baratos
da sua categoria, que ampliam o acesso para consumidores com menor poder
aquisitivo. Um exemplo desse conceito seria o Uno Mille, o carro compacto
(chamado no passado de popular) mais barato da categoria.
Nascimento e Yu (2003) sugerem que existem dois olhares para conceituar um
produto popular: o mais barato de uma categoria de produto ou serviço, ou aquele
que atende às classes sociais de mais baixa renda, ou seja, as classes C, D e E.
Dessa forma, os autores (2003) consolidam a visão de Giovinazzo (2003) e
Zancul(2004).
Prahalad (2005) elenca doze princípios da inovação para os mercados populares:
1. Foco no desempenho de preço dos produtos e serviços.
2. Inovação com soluções híbridas, isto é, combinação de tecnologia com infra-
estrutura existente.
3. Soluções passíveis de ser exportadas para outros mercados/países com
pequenas adaptações.
4. Foco na conservação de recursos: eliminar, reduzir e reciclar.
5. Desenvolvimento de produtos a partir de um profundo entendimento das
funcionalidades requeridas pelo mercado. “Lavar roupa num riacho a céu
aberto é muito diferente de lavar roupa no ambiente controlado de uma
máquina automática” (PRAHALAD, 2005, p.37).
6. Equivalência de importância entre inovações em processo e inovações em
produto.
7. Adequação do trabalho às aptidões existentes realizada pelo projeto de
produtos e serviços.
35
8. Educação dos clientes como processo chave.
9. Funcionamento de produtos em ambientes hostis.
10. Importância da pesquisa de interfaces em razão da heterogeneidade da
população consumidora.
11. Importância da projeção de métodos como meio de chegar, com custo baixo,
às camadas populares.
12. Foco no desenvolvimento de uma plataforma por parte da equipe de projeto
e, em decorrência, fácil incorporação de novas funcionalidades.
Este trabalho será focado no setor eletroeletrônico, que se caracteriza por ser
inovador. Dessa forma, os doze princípios citados deveriam fazer parte do processo
de desenvolvimento de produtos populares das empresas. A Whirlpool pode ser
citada como exemplo de empresa do setor eletroeletrônico que desenvolveu um
produto popular com a marca Consul, a Ideale, primeira lavadora de roupas
automática direcionada à baixa renda, conforme os princípios citados acima (Assis,
2007).
Fica claro que, para produzir produtos populares com o objetivo de atender às
necessidades da baixa renda, é indispensável pensar de forma inovadora em todos
os processos, desde a elaboração do projeto até a distribuição do produto ou
serviço.
Fundamentados nos três conceitos citados anteriormente, Assis et al. (2005) incluem
na classificação de produto popular a questão da qualidade. Essa classificação será
adotada neste estudo. Os autores entendem que o conceito de produto popular:
deve estar relacionado prioritariamente a atender aos consumidores das
classes de menor renda, porém pode-se identificar situações em que
consumidores mais abastados venham a se interessar em adquirir esse
produto;
não precisa ser necessariamente o mais barato da sua categoria, embora
preço baixo e qualidade sejam requisitos fundamentais para a população de
baixa renda, mas deve oferecer condições (crédito, pontos de venda,
36
atendimento às necessidades do consumidor) que facilitem e viabilizem a sua
aquisição pelo público-alvo.
1.2 Os consumidores de baixa renda: comportamento, atitudes, necessidades
Neste item, será estudado o consumidor de baixa renda, observando-se como
fundamento teórico Solomon (2002), Mowen e Minor (2003) e Sheth; Mittal; Newman
(2001) somado ao resultado de várias pesquisas de mercado (ABRAMOVICZ et al.,
2002), (Ibope Solution/Editora Abril, 2003), (Latin Panel, 2002-2006), (PARENTE,
2005), (CORADI et al., 2006), (Ipsos Marplan, 2007) que tiveram foco nesse público.
Pretende-se, dessa forma, traçar um perfil e apresentar uma análise retrospectiva
desse segmento da população no País.
Considerando-se que “os consumidores de baixa renda não recebem quase nada
das mãos dos profissionais de marketing” [ALWITT; DONLEY, 1996 apud Sheth;
Mittal; Newman (2001), p. 183] e um dos motivos para que isso aconteça talvez seja
que as empresas não confiem em que a população de baixa renda tenha recursos
para pagar pelos bens que desejam comprar e para comprar honestamente. Por
isso, as lojas de varejo direcionadas à baixa renda tendem a manter mercadorias de
baixa qualidade e uma vigilância mais rigorosa . O resultado é que a “satisfação do
cliente” pode nem existir como um objetivo dos profissionais que lidam com
consumidores de baixa renda, que, agrupados, constituem um mercado substancial
(Sheth; Mittal; Newman, 2001).
Para obter sucesso no segmento de baixa renda, as empresas devem desenvolver
estratégias de mercado que reconheçam as aspirações desses consumidores,
segundo Parente e Barki (2005).
Observa-se que grande parte das marcas líderes perdeu share em volume, dando
espaço ao crescimento das marcas B ou marcas econômicas
5
, o que torna ainda
mais importante traçar o perfil do consumidor popular, responsável por esse
movimento no mercado. Um estudo do instituto AC Nielsen.CBPA (BLECHER, 2002)
5
Os conceitos de marca serão aprofundados no item Construção da Marca, no Capítulo 2.
37
contabiliza que, entre 1998 e 2000, as marcas líderes perderam participação, em
volume, em 63% de 157 categorias de produtos pesquisadas. Observa-se que as
perdas foram mais intensas nas categorias de bebidas não alcoólicas, alimentos
doces e limpeza caseira, e que apenas 12% das líderes ganharam participação no
período analisado. Em contrapartida, as marcas de baixo preço avançaram em seis
de cada dez categorias.
Além de as marcas B ganharem participação de mercado, o consumo das mais
variadas categorias de produtos, de eletrodomésticos a medicamentos, cresceu na
classe C, conforme explica Blecher (2003a, p. 93):
Nota-se que o avanço da baixa renda no mercado de consumo não
se restringe aos produtos rotineiros. Segundo o IBGE, o número de
moradias com geladeira e máquina de lavar cresceu 4,4% ao ano,
de 1999 a 2001. Em uma década, as classes C e D passaram a
responder por 57% das vendas de medicamentos, 45% do
vestuário, 48% dos eletrodomésticos e 51% dos celulares. Por isso,
tão importante quanto o fim da miséria é possibilitar que a classe C
(renda familiar de 4 a 10 salários mínimos), tida como a classe
média da baixa renda, continue a progredir.
O Instituto Target mostra que 41% do potencial de consumo de eletrodomésticos no
Brasil advém das classes C, D e E, de acordo com a Figura 2, a seguir:
Figura 2 – Potencial de consumo com eletrodomésticos e equipamentos (R$ milhões)
Fonte: Brasil em Foco, IPC Target, 2009.
16.292
12.631
2.727
183
7%
33%
A
B
C
D
16%
43%
1%
6.164
E
38
Segundo os estudos Brasil em Foco da IPC Target, as despesas das classes C,D e
E com “eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos” saltaram de R$10,1 bilhões,
em 2004, para para R$15,5 bilhões, em 2009, o que representa um aumento de
mais de 53%.
Os dados apresentados revelam por que alguns fabricantes do setor se preocupam
em alcançar as classes populares, projetando produtos que atendam as suas
necessidades.
Porém, não basta somente colocar esses produtos à venda no mercado. É
importante conhecer o comportamento do consumidor para o qual são destinados
esses produtos.
O comportamento do consumidor, segundo Solomon (2002, p. 24), “é o estudo dos
processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou
dispõem de produtos, serviços, idéias ou experiências para satisfazer necessidades
ou desejos”. Já Mowen e Minor (2003, p.3) o definem como “o estudo das unidades
compradoras e dos processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo e na
disposição de mercadorias, serviços, experiências e idéias”. Para estes últimos, o
processo de troca é um elemento fundamental do comportamento do consumidor e
como as compras podem ser feitas tanto por indivíduos como por grupos, eles
utilizam na definição os termos “unidades compradoras” no lugar de “consumidor”.
As unidades domésticas (households) são unidades de consumo de uma ou mais
pessoas identificadas por uma localização comum (SHETH; MITTAL; NEWMAN,
2001) ou, como afirma Solomon (2002), é uma unidade residencial ocupada.
Embora algumas decisões sejam tomadas por indivíduos para o seu consumo
pessoal, as decisões mais relevantes são tomadas por indivíduos conjuntamente
com os outros membros da sua unidade doméstica, para o seu uso conjunto (por
exemplo, um aparelho de DVD ou um computador). Nas unidades domésticas, a
tomada de decisão de compra é mais complexa, uma vez que deve conciliar as
necessidades e desejos de vários membros.
O estudo das decisões das unidades domésticas é importante pois possibilita a
separação dos três papéis do cliente: usuário, pagante e comprador (SHETH;
MITTAL; NEWMAN, 2001). Enquanto nas decisões de compra individuais, esses
39
três papéis são exercidos por uma única pessoa, nas decisões de compra das
unidades domésticas, geralmente são exercidos por pessoas diferentes, o que faz
que a empresa tenha de diferenciar o “apelo de venda” de acordo com o papel
exercido pelo membro da unidade ou família.
De acordo com Sheth apud Sheth; Mittal; Newman (2001, p. 539), pesquisadores do
comportamento do consumidor identificaram o processo de compra familiar como
um processo constituído de cinco passos, como segue:
1. início da decisão de compra;
2. coleta e divulgação de informações;
3. avaliação e decisão;
4. procura e compra do produto;
5. administração de conflitos.
Os quatro primeiros passos têm um significado evidente, mas a sua dinâmica é mais
complexa. Diferentes membros da família podem participar de cada uma das etapas.
Por exemplo, um membro pode iniciar a decisão de compra de uma geladeira
(dúplex ou com dispenser de água na porta), enquanto outro pode coletar e divulgar
as informações, um terceiro pode avaliar e decidir e um quarto pode efetivar a
compra. Um deles pode responsabilizar-se por administrar os conflitos. Uma
possível solução para evitar o conflito é encontrar uma marca que satisfaça as
preferências individuais de todos os membros da família (SHETH; MITTAL;
NEWMAN, 2001). Dessa forma, torna-se importante iniciar um processo de
construção de marcas direcionadas à população de baixa renda.
1.2.1 O Processo da Tomada de Decisão de Compra
O consumidor, ao decidir por uma compra, está solucionando um problema. Assim,
até conseguir solucioná-lo, ele percorre um processo de compra constituído por
cinco etapas: reconhecimento do problema, busca de informações, avaliação de
alternativas, escolha do produto e avaliação pós-compra. Em alguns casos, o
consumidor pode pular alguma etapa do processo, ou ainda pode voltar a uma das
etapas anterirores [(SOLOMON, 2002); (MOWEN; MINOR, 2003); SHETH; MITTAL;
NEWMAN, 2001)].
40
Para Solomon (2002), o reconhecimento do problema, primeira etapa do processo
de compra, ocorre toda vez que o consumidor enxerga uma diferença entre o estado
atual e o estado desejado ou ideal. O reconhecimento da necessidade pode dar-se
de várias formas: ao faltar um produto, ao ficar insatisfeito com uma compra, ou ao
criar novas necessidades, como, quando o consumidor adquire uma nova casa, e
sente que precisa comprar também eletrodomésticos e móveis novos. O
reconhecimento da necessidade geralmente ocorre quando a pessoa é exposta a
produtos diferentes ou de qualidade superior.
Na busca de informação, segunda etapa do processo, o consumidor investiga o
ambiente e procura dados que permitam que ele tome uma decisão de compra
razoável. Com a internet, ele mudou a forma como muitos consumidores passaram a
buscar informações. Solomon (2002, p.213) afirma que “a perspectiva tradicional de
tomada de decisão incorpora a abordagem da economia de informação ao processo
de pesquisa”. Isso indica que os consumidores colherão tantos dados quantos forem
necessários para tomar uma decisão e formar expectativas do valor da informação
adicional que recebem. Eles continuam a procurar dados até julgarem que as
compensações excedem os custos (os economistas chamam isso de ”utilidade”).
Compradores de baixa renda, que têm mais a perder se não fizerem uma boa
compra, de fato, pesquisam menos antes de comprar do que as pessoas mais ricas
(COBB; HOYER,1985 ).
Alguns compradores visitam, em geral, somente uma ou duas lojas e raramente
procuram fontes de informação não tendenciosas antes de decidir pela compra,
principalmente quando há pouco tempo disponível para isso. Esse padrão é
predominante especialmente nas decisões que envolvem mercadorias duráveis,
como aparelhos ou carros, mesmo quando envolvem altos investimentos (KIEL;
LAYTON, 1981). A tendência de evitar a pesquisa externa é menos presente quando
os compradores consideram a compra de bens simbólicos, como as roupas. Mesmo
se os riscos financeiros forem menores, essas decisões auto-expressivas, quando
forem erradas, podem ter consequências sociais desagradáveis (SOLOMON, 2002).
As fontes de informação que os consumidores mais consultam para decidir pela
compra de produtos do setor de eletroeletrônicos são: lojas (93%), folhetos(38%),
41
jornais e revistas(19%), amigos e parentes(5%), TV(2,5%) e internet (2,2%). (AC
NIELSEN, 2004 apud CHEN, 2006, p.100). Nota-se a grande importância do ponto
de venda, ou seja, das lojas como influenciadoras na decisão de compra da
população das classes baixas.
A terceira etapa, avaliação de alternativas, pode demandar muito esforço, já que a
escolha deve ser feita a partir das alternativas disponíveis, e atualmente, elas
existem em grande quantidade. Quando um consumidor está nessa fase, durante o
processo de escolha, ele analisa um conjunto evocado. Segundo Solomon(2002), o
conjunto evocado é composto dos produtos que já estão na memória do consumidor
mais os que predominam no ambiente de vendas. Cabe às áreas de comunicação e
marketing fazer que seus produtos e marcas estejam no conjunto evocado do
público-alvo.
A quarta etapa, escolha do produto, pode ser influenciada pela integração de
informações de fontes como experiência anterior com o produto ou semelhante, com
informações presentes no momento da compra e crenças criadas na propaganda
sobre as marcas (SMITH, 1993).
Na quinta e última etapa, avaliação ou resultados pós-compra, o consumidor avalia
se está ou não satisfeito com o produto adquirido. No caso do setor eletroeletrônico,
a instalação do produto, a assistência técnica, a garantia são fatores que podem
influenciar na satisfação do consumidor com o produto. Os profissionais de
marketing sabem que “a chave para o sucesso não está em vender um produto uma
vez, mas sim moldar um relacionamento com o consumidor de modo que ele
continue a comprar seus produtos no futuro”, segundo Solomon (2002, p.233).
Algumas vezes, o processo de decisão é rápido, com pouco envolvimento do
comprador, e as escolhas são quase automáticas, como na compra de um pacote de
arroz. Esse tipo de decisão é “rotineiro”, segundo Churchill e Peter (2003).
Já, em outros casos, os consumidores consideram várias marcas e lojas e
comparam algumas características dos produtos, envolvendo-se moderadamente
com a compra, como na compra de roupas. Os autores classificam esse tipo de
decisão como limitada. Outras vezes, o processo é mais demorado, pois as decisões
42
são mais importantes e demandam alto envolvimento dos consumidores com a
compra. Eles consultam muitas fontes de informação como vendedores, amigos,
propaganda. Os produtos são mais caros, complexos, pouco conhecidos ou, ainda,
muito significativos para os consumidores, como uma casa ou carro. Churchill e
Peter (2003) classificam esse tipo de decisão como extensiva.
A relação entre o consumo e a classe social
As condições financeiras, de modo geral, afetam a forma como os consumidores
gastam seu dinheiro. Assim, as pessoas que ocupam posições diferentes na
sociedade, também consomem de modo muito diferente. Os produtos e serviços
quando são adquiridos quase sempre têm a função de mostrar às outras pessoas
qual é a posição social do comprador ou como o comprador gostaria de que fosse
essa posição. Esses produtos geralmente são comprados para demonstrar classe
social e são avaliados como símbolos de status, especialmente nas sociedades
modernas em que comportamento e reputação não são mais considerados para
mostrar que posição um indivíduo ocupa em uma comunidade (SOLOMON, 2002).
Mas, a demanda por bens e serviços depende não só da possibilidade de comprar,
mas também da disposição para comprar. Bens necessários podem ter demanda
estável ao longo do tempo, enquanto outras despesas podem ser adiadas ou
eliminadas se os consumidores julgarem que o momento não é adequado para
gastar.
O comportamento de compra dos consumidores de classes mais baixas objetiva
atender às necessidades imediatas, como por exemplo, a compra de uma geladeira,
ao contrário das classes altas que tendem a projetar metas de prazo mais longo. Os
consumidores de classes baixas também dependem muito dos parentes para obter
apoio emocional, são orientados para a família e mais inclinados a ser
conservadores (SOLOMON, 2002).
A) Perfil do consumo de produtos do setor eletroeletrônico e eletrodoméstico
As pessoas pertencentes às classes C, D e E já possuem os produtos básicos,
como televisor e geladeira, como mostra a Tabela 3, mas são as que mais
43
pretendem conquistar diversos bens duráveis: do universo de pessoas com mais de
18 anos que pretendem comprar eletroeletrônicos nos próximos 12 meses, 67%
pertencem às classes C,D ou E. Com relação aos eletrodomésticos, esse
percentual sobe para 69%, índice 8% superior à média da população brasileira,
segundo o Ipsos Marplan (2007).
Se considerarmos a população pesquisada que comprou eletrodomésticos nos
últimos três meses, as classes C, D e E respondem por 51%. Com relação aos
eletroeletrônicos, representam 50%.
Tabela 3 – Posse de itens eletroeletrônicos e eletrodomésticos
Itens Classes C,D,E possuem
(%)
TV em cores 97%
Geladeira comum ou freezer 95%
Fogão à gas 98%
Equipamento de som 68%
Telefone celular 68%
DVD 62%
Lavadora de roupas 36%
Forno micro-ondas 20%
Microcomputador 12%
Fonte: Ipsos Marplan – 9 mercados – 2007
SISEM Suíte – Tabulação
Filtro: Ambos os sexos, classes C,D,E, 18 e + anos
Amostra do filtro: 23.863
Total do Universo (em mil): 38.703
Observa-se na Tabela 3, por exemplo, que 64% não possuem máquina de lavar
roupa, e 78% não possuem microcomputador. Identifica-se, então, um enorme
mercado que pode ser prospectado pelos fabricantes do setor.
Com relação às formas de pagamento, 44% preferem comprar a crédito a esperar
para comprar à vista
6
.
6
Fonte: Ipsos Marplan – 9 mercados – 2007
SISEM Suíte – Tabulação
Filtro: Ambos os sexos, 18 e + anos, classes C,D e E
Amostra do filtro: 23.863
Total do Universo (em mil): 38.703
44
Também no que se refere a bens duráveis, o consumidor aceita endividar-se, porém
utilizando uma pequena parte da sua renda mensal.
No Gráfico 1, a seguir, nota-se que o endividamento é mais presente nas compras
de bens duráveis. Nos itens que necessitariam de um comprometimento de longo
prazo, como TV por assinatura ou acesso à internet, ainda há certo receio por parte
desse consumidor (Pesquisa BCG, 2002).
Grádico 1 – Frequência de financiamentos
A frequência relativamente alta de financiamentos em supermercados (34%) pode
ser explicada devido à compra de produtos duráveis nesses estabelecimentos, como
por exemplo, eletroeletrônicos.
B) Sofisticação do consumo
Um dos destaques da pesquisa Latin Panel (2002-2006)
7
foi a migração de 2,15
milhões de famílias das classes D e E do consumo para a classe C. Assim, de 2005
para 2006, a classe C passou a ter 37% do consumo e as classes D e E, 39%. As
classes A e B mantiveram-se estáveis, com 24%. Além disso, as classes populares
aumentaram e sofisticaram o consumo. A lista de supermercado era composta por
7
As informações foram fornecidas pelo Latin Panel em 25.05.2007 e divulgadas nos seguintes
veículos de comunicação: Jornal Valor Econômico, 23.11.2006; Jornal Gazeta Mercantil,
23.11.2006; Jornal Diário do Comércio, 23.11.2006; Jornal Diário de S. Paulo, 23.11.2006; Jornal O
Estado de S. Paulo, 23.11.2006; Jornal Propaganda e Marketing, 27.11.2006; Revista
Consumidor Moderno, n. 113, 04de 2007. A metodologia desta pesquisa encontra-se no Anexo 4.
Frequência de financiamentos (%)
66%
47%
14%
12%
10%
25%
6%
5%
1%
3%
18%
51%
4%
9%
10%
2%
3%
2%
1%
2%
4%
5%
Supermercado Roupas e
Calçados
Bens Duráveis
Outros
Parcelado com entrada
(cheque)
Parcelado sem entrada
(cheque)
Parcelado com entrada
(crediário)
Parcelado sem entrada
(crediário)
Cartão de Crédito
Cartão de Loja
À vista
Fonte: Pesquisa BCG - 2002
45
21 categorias em 2002. Em 2006, porém, subiu para 29 produtos. Os principais
índices de crescimento concentram-se nos produtos abaixo:
na categoria alimentos: massa instantânea, temperos, molhos e caldos
industrializados, maionese e salgadinhos;
na categoria bebidas: sucos em pó e prontos para beber, bebidas com
base de soja, leite aromatizado, leite longa vida e água mineral;
na categoria limpeza: esponjas sintéticas, limpadores e inseticida;
na categoria higiene pessoal (ressalta-se que de 2005 para 2006, o
consumo desses produtos dobrou, passando de 2,2% para 5,2%): pós-
xampu, tintura, colônia, cremes, loções e desodorantes.
Considerando-se as listas de produtos citadas, as classes C, D e E foram as que
movimentaram a economia de 2003 a 2006. O volume médio de compra foi de mais
8% na classe C e mais 11% nas classes D e E. Uma consequência desse aumento
de poder de compra das classes populares foi a queda de participação de mercado
de 48% das marcas líderes, de 2002 a 2006. Nesse período, a cesta-padrão do
brasileiro nas classes D e E teve aumento de 29% no número de categorias
consumidas. A principal via de acesso a esses itens foram os produtos de preço
médio e de preço baixo. A sofisticação dos produtos consumidos, segundo a
pesquisa Latin Panel (2002-2006), levou os fabricantes a mudarem de atitude e a
investirem em marcas, embalagens, canais de venda e produtos diferenciados.
O gasto médio com bens duráveis cresceu desde 2002, estabilizou-se em 2005 e
caiu 1% em 2006. Uma explicação para isso pode ser o aumento do endividamento
da população. Mesmo assim, as classes D e E os incluíram em seus sonhos de
consumo para 2007:
69% sonham em adquirir imóveis;
33% sonham em comprar eletroeletrônicos.
Se parte desses sonhos se tornar realidade, ao comprarem os imóveis, a tendência
natural é que esses consumidores adquiram também novos móveis e
eletroeletrônicos.
46
C) Critérios de escolha de marcas
De forma geral, os clientes buscam preços baixos para uma qualidade admissível da
mercadoria, não preços baixos em termos absolutos. Em algumas ocasiões, alguns
clientes aceitam qualidade menor, e assim buscam mercadorias de preços muito
baixos; ainda assim, o preço baixo vem em segundo lugar, e a aceitabilidade do
produto em primeiro (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001). De forma que o preço
baixo não é critério suficiente para atender ao consumidor de baixa renda. Ele
discrimina claramente as marcas que oferecem como única vantagem o preço
(ALMAP/BBDO;DATAFOLHA, 1996).
O Instituto Ipsos Marplan (2007)
8
mostra que 35% dos entrevistados das classes C,
D ou E raramente mudam de marca, e que 37% deles afirmam que marcas próprias
não são tão boas quanto as conhecidas; no entanto verifica-se a introdução de
marcas próprias pelos hipermercados, que se tornam concorrentes das marcas
tradicionais. Como exemplo, pode-se citar a Blue Sky e a First Line, marcas próprias
do Carrefour, e a Cyber Vision, do Extra.
Toda vez que alguém precisa escolher entre várias alternativas, há o risco de que a
alternativa selecionada não seja a ideal, ou, pior ainda, que traga consequências
negativas, como uma falha no uso do produto (risco de desempenho) ou uma perda
financeira (risco financeiro), de acordo com Sheth; Mittal; Newman (2001).
Observa-se que é grande a preocupação dos consumidores de classes populares
com o equilíbrio entre qualidade e preço, pois eles não têm recursos para refazer
compras equivocadas e não podem correr o risco, financeiro ou de desempenho:
51% das pessoas que afirmam procurar equilíbrio entre qualidade e preço são das
classes C, D e E (IPSOS Marplan, 2007)
9
.
A combinação de fatores, como restrição de orçamento e busca de qualidade, faz
que esses consumidores não sejam fiéis a uma única marca, mas tenham um leque
8
Fonte: Ipsos Marplan – 9 mercados – 2007
SISEM Suíte – Tabulação
Filtro: Ambos os sexos, 18 e + anos, classes C,D e E
Amostra do filtro: 23.863
Total do Universo (em mil): 38.703
9
V. Nota anterior.
47
de marcas selecionadas, testadas e avalizadas pelo grupo, o que diminui o risco de
erro.
Prado (2008), na sua pesquisa realizada com mães de famílias de baixa renda,
constatou que a marca é o atributo preferencial na compra dos sete produtos
investigados: achocolatado em pó, bebida láctea, biscoito recheado, cereal de milho
açucarado, petit suisse e snacks (batatinha frita ondulada e salgadinho de milho).
Deve-se considerar que, para o consumidor de classe C, qualidade é um conjunto
de atributos que integra reconhecimento da marca, boa embalagem/apresentação
do produto, resistência, durabilidade, bom rendimento, respeito ao prazo de
validade, garantia do fabricante, disponibilidade do serviço de atendimento ao
consumidor e aprovação da marca perante o grupo (PESQUISA BCG, 2002, p. 21).
Um dado interessante para o setor eletroeletrônico é que 41% preferem produtos
que ofereçam a última palavra em tecnologia. (IPSOS Marplan, 2007
10
).
Grande parte desses atributos podem ser aplicados também aos eletroeletrônicos,
objeto deste estudo, como veremos a seguir.
Chen(2006) realizou um estudo com a baixa renda focado em três categorias de
produtos: DVD player, rádio gravador com CD e mini system. Foi identificado que no
momento da compra de DVD players, os atributos mais importantes para 80% dos
entrevistados são a garantia, assistência técnica e o fato de o produto “estar em
promoção”. Pelo menos 60% valorizaram design, presença do MP3, preço à vista,
parcelamento, marca e pesquisa em lojas. Assim, as qualidades intrínsecas do
produto e o pacote de serviços são os principais atributos, seguidos pelo design e
funcionalidade. A marca aparece em segundo plano. Já com relação aos rádio
gravadores com CD, 79% dos entrevistados valoriza a assistência técnica e 60% a
garantia, pesquisa em lojas, preço à vista, design e o fato de o produto “estar em
promoção”. A qualidade do produto é valorizada da mesma forma como na compra
do DVD player. As funcionalidades, neste caso, não se mostraram relevantes para o
consumidor, uma vez que os produtos não variam de uma marca para outra. Para o
mini system, os resultados são similares aos outros produtos estudados.
10
V. Nota 8.
48
Segundo Chen(2006), nota-se que a qualidade do produto é um elemento muito
importante para o consumidor de baixa renda. Em seguida, aparecem os aspectos
relacionados ao poder de compra das classes populares, como preço e opção de
pagamento parcelado. Quanto mais alto o valor do produto, mais importante é a
forma de pagamento. Outro ponto que merece destaque é a comunicação no ponto
de venda, mais relevante que informações na internet ou folhetos do produto.
Alves (2006) pesquisou o mercado de telefonia celular e observou que a baixa renda
mostrou maior interesse por aparelhos com qualidade e maior quantidade de
recursos e/ou com um design diferenciado. O autor concluiu, ainda, que a compra
de um aparelho pré-pago pode traduzir-se em um símbolo de status. Barros e Rocha
(2007) concordam com isso e afirmam que a baixa renda compra celulares com
câmeras e design moderno gerando comparações entre as pessoas e até mesmo o
constrangimento em quem não pode adquirir um aparelho com essas funções.
Em síntese, quando há dúvida na situação de decisão ou quando há pouca
informação sobre marcas concorrentes, os consumidores tendem a optar pela
escolha segura, selecionando marcas conhecidas e mantendo o status quo
(SOLOMON, 2002).
Em situação normal, a marca preferida é selecionada e, em situação de falta de
recursos, a marca mais barata do leque é comprada (BCG, 2002). A maior ou menor
valorização da marca está diretamente relacionada à categoria do produto.
D) Uso do canal
O Gráfico 2, a seguir, aponta para o fato de que os hipermercados e supermercados
são os canais de varejo alimentar em que as consumidoras mais financiam as suas
compras. Observa-se que os hipermercados tendem a substituir as lojas de
departamento nas compras de bazar e eletroeletrônicos, o que explica o maior
volume de financiamento nesses estabelecimentos.
49
Gráfico 2- Canais de varejo alimentar em que as compras são financiadas
Considerando-se o setor eletroeletrônico - os produtos das categorias mini system,
rádio gravador com CD e DVD-, a distribuição sugere ser a mesma, tanto para as
classes de maior poder aquisitivo como para as classes de menor poder de compra,
predominando as Casas Bahia como local de compra (CHEN, 2006). Apesar disso,
esses clientes gostam de visitar várias lojas antes de comprar (IPSOS Marplan,
2007)
11
.
1.2.2 Etapas do processo de compra da população de baixa renda
A pesquisa da Booz Allen & Hamilton (2003)
12
foi realizada no Brasil e em outros
países da América Latina e identificou quatro etapas pelas quais a consumidora
percorre no processo de compra.
Na primeira etapa (planejamento), a dona de casa analisa os custos de transporte e
compara os preços, sendo essa tarefa a mais importante da fase da pré-compra. Ela
geralmente controla o orçamento da casa e efetua a maioria das compras. Entre os
11
V. Nota 8.
12
O conteúdo apresentado neste item foi baseado em palestras realizadas por Fernando Fernandes,
da Consultoria Booz Allen & Hamilton (PARENTE, 2005, p.34-38). A metodologia desta pesquisa
encontra-se no Anexo 5.
44%
19%
21%
5%
8%
1%
0%
13%
40%
27%
0% 20% 40% 60%
Magazine
Loja de Bairro
Farmácia
Mercadinho
ougue
Feira
Padaria
Distribuidores
Hipermercado
Supermercado
Compras financiadas (% de entrevistados)
Fonte: Pesquisa BCG - 2002
50
indivíduos das classes C, D e E, 66% decidem o que comprar antes de ir às lojas, e
65% são muito cuidadosos com o dinheiro (IPSOS Marplan, 2007
13
).
Na segunda etapa (locomoção), o meio de transporte varia de acordo com o tipo de
compra: pode ser a pé, para compras rotineiras, ou de carro, ônibus ou táxi, para
compras maiores.
Na terceira etapa (seleção dentro da loja), nota-se que embalagens menores são
frequentemente escolhidas como forma de controlar os gastos, de poder pagar por
marcas e por pequenos prazeres. As consumidoras sentem aversão a gastar mais
do que podem, sabem qual é o limite dos gastos. As grandes redes servem de
entretenimento. Blecher e Teixeira (2003, p. 38) explicam que:
Especialmente nos produtos ligados ao bem-estar da família, como
alimentação e higiene, as marcas mais caras estão sempre
presentes nos lares de baixa renda. ”A família é um valor
fundamental para a maioria dos consumidores desse segmento”, diz
Francis Liu, da Consultoria Booz Allen.
Na quarta etapa (pagamento e pós-compra), observa-se que as consumidoras
preferem pagar o que compram à vista, mas aproveitam ofertas e crédito
independentemente da necessidade ou da ocasião. Elas preferem economizar na
seleção a tirar itens do carrinho no caixa, para evitar a vergonha e o
constrangimento de não ter como pagar. A Figura 3, a seguir, sintetiza as etapas
apresentadas:
13
Fonte: Ipsos Marplan – 9 mercados – 2007 - SISEM Suíte – Tabulação
Filtro: Ambos os sexos, 18 e + anos / Amostra do filtro: 23.863 / Total do Universo (em mil): 38.703
51
Figura 3 – Processo de compra
Sheth; Mithal; Newman (2001) afirmam que os clientes escolhem as suas lojas
baseados em três critérios de decisão: distância/conveniência de localização, preço
e qualidade/variedade de mercadoria. Se uma loja é escolhida apesar de a distância
ser maior, o comprador está renunciando da sua conveniência em nome de
melhores preços ou de produtos com mais qualidade, ou de ambos.
Fazendo a articulação entre os dois modelos citados, os critérios de escolha das
lojas “distância/conveniência do local e preço” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001)
fazem parte da primeira etapa do processo de compra, a de “planejamento”,
apresentada por Booz Allen&Hamilton (PARENTE, 2005) que nesse processo não
incluem as variáveis qualidade e variedade.
Para os consumidores de baixa renda, o relacionamento pessoal e o crédito
aparecem como fatores-chave para a escolha da loja, segundo a pesquisa da Booz
Allen&Hamilton (PARENTE, 2005). O crédito é visto como uma extensão do
relacionamento entre loja-cliente, mais do que uma transação financeira.
Se a compra com base no relacionamento gerar confiança e comprometimento
mútuos, levará a resultados positivos, pois o cliente pode ter comportamentos de
Planejamento
Planejamento
Locomoção
(de / para)
Locomoção
(de / para)
Seleção
Dentro da Loja
Seleção
Dentro da Loja
Pagamentos &
Pós-compra
Pagamentos &
Pós-compra
• A dona-de-casa geralmente
controla o orçamento e efetua
a maioria das compras
• Comparação de preços é
mais importante que outras
rotinas pré-compra; listas são
normalmente de “memória”
Custos de transporte são
considerados no “custo total
da compra”
Comparação de preços
exaustiva: a maioria dos con-
sumidores possuem vários
“benchmarks”
• Forma de transporte varia
de acordo com o tipo de
compra
- A pé, para compras ro-
tineiras
- Locomoção para “gran-
des” compras pode ocor-
rer de carro, ônibus ou
taxi
• Baixa penetração de
veículos
• Processo de compra serve
de entretenimento - fascina-
ção e entusiasmo com a ex-
periência de comprar em
grandes redes
•Embalagens menores são
freqüentemente seleciona-
das como meio de controlar
despesas, atender necessi-
dades diárias, poder pagar
por marcas e pequenos “pra-
zeres”
•Aversão a gastar mais do
que podem - agirá por impul-
so dependendo de quem es-
tiver presente, mas sabe
qual é o limite
• Preferem pagar à vista, mas
aproveitam oferta e crédito
independentemente da ne-
cessidade/ocasião
• Preferem economizar na
seleção do que tirar itens
do carrinho na boca do caixa
vergonha, constrangimento
Fonte: Booz Allen & Hamilton
Processo de compra fragmentado e caracterizado por
sensibilidade a preço
Fonte: Booz Allen & Hamilton
(
PARENTE, 2005,
p
. 35
)
.
52
pós-compra tais como aumento das compras, lealdade ao estabelecimento e até
mesmo disposição para pagar mais pelas suas ofertas (SHETH; MITTAL; NEWMAN,
2001).
1.2.3 Segmentação de mercado: Valores comuns e distintos entre as mulheres
de Classe C
O processo de segmentação de mercado identifica grupos de consumidores que se
parecem, em um ou mais aspectos, e cria, então, estratégias de marketing com
apelo para um ou mais grupos. Solomon (2002) afirma que há muitas dimensões
que podem ser usadas para segmentar um mercado maior. Entre elas, indica
algumas das principais dimensões demográficas
14
que tornam os consumidores
iguais ou diferentes uns dos outros: idade, gênero, estrutura familiar, classe social e
renda, raça e etnicidade, estilo de vida e geografia (SOLOMON, 2002). Para este
estudo, são relevantes os aspectos de classe social e renda, além do estilo de vida
da população, já que o foco é a população de baixa renda.
Assim, investigando-se as mulheres de classe C, pôde-se observar que elas
possuem alguns valores comuns, segundo a Pesquisa Ibope Solution, Editora Abril
(2003)
15
:
Uma característica marcante entre todas as mulheres de classe C é a intensa
valorização da família, dos filhos e do papel de mãe, conforme apontado no Gráfico
3, a seguir. Elas sonham, projetam-se e realizam-se na felicidade e no sucesso dos
filhos. Quase a totalidade (92%) concorda totalmente que é fundamental ter união
familiar, e 75% compartilham a idéia de que o bem-estar do filhos é mais importante
do que o delas próprias.
14
A demografia envolve estatísticas que medem aspectos que podem ser observados em uma
população, tais como taxa de natalidade, distribuição de idade e renda (SOLOMON, 2002).
15
A metodologia desta pesquisa encontra-se no Anexo 3.
53
Gráfico 3 – Valorização da família
Apesar de satisfeitas com a vida pessoal (família, saúde, sexo), o mesmo não
acontece com o lado profissional, já que estão insatisfeitas com a formação escolar
e com o salário que recebem. Porém elas mostram-se bastante otimistas: para 94%
delas, a vida será melhor no futuro, e para 70%, já está melhor do que era antes.
Segundo Solomon (2002), quando as pessoas estão otimistas quanto ao futuro,
tendem a reduzir a quantia a ser economizada e fazem compras a crédito.
Um ponto importante a ser destacado diz respeito à forma com que essas
consumidoras devem ser tratadas. Elas são críticas, buscam informação sobre os
produtos, sobre a qualidade e sobre o bom atendimento, como se vê no gráfico 4,
abaixo. Ou seja, o tratamento tem de ser igualitário independentemente da classe
social a que pertença o consumidor.
Gráfico 4 – Consumidoras críticas que buscam seus direitos
Os cinco segmentos
75
75
78
84
92
FILHOS SÃO O MAIS IMPORTANTE NA VIDA
O BEM-ESTAR DOS FILHOS
É
MAIS
IMPORTANTE DO QUE O DA GENTE
Concordam totalmente (%)
% Concordam totalmente
É FUNDAMENTAL TER UNIÃO FAMILIAR
QUERO SER UMA BOA MÃE
QUEM TEM FAM
Í
LIA, TEM TUDO
70
68
56
EU GERALMENTE RECLAMO DOS PRODUTOS RUINS
E DO MAU ATENDIMENTO
BRIGO PELOS MEUS DIREITOS DE CONSUMIDORA
SEMPRE LEIO
AS INFORMAÇÕES NOS RÓTULOS DOS PRODUTOS
Fonte: Pes
q
uisa Ibo
p
e Solution/Ed. Abril
(
2003
)
.
Fonte: Pes
q
uisa Ibo
p
e Solution/Ed. Abril
(
2003
)
.
54
Mesmo quando compartilham outras características comuns, como gênero e classe
social, os consumidores também têm estilos de vida muito diferentes (SOLOMON,
2002).
Uma das principais descobertas da Pesquisa Ibope/Editora Abril (2003) refere-se ao
fato de que as mulheres de classe C não constituem um grupo homogêneo em
relação a valores, atitudes e pensamentos. Foram identificados cinco segmentos
diferentes, proporcionalmente divididos e nomeados de acordo com as suas
principais características, explicitadas na sequência (Gráfico 5):
Gráfico 5 – Os cinco segmentos presentes entre as mulheres de classe C
Eu me amo (26%): segmento que assume o desejo de experimentar, de
buscar o novo e de satisfazer a vaidade. Voltadas para si mesmas, as
mulheres buscam o prazer e valorizam o papel de mãe de forma equilibrada.
Gostam de testar marcas e produtos.
Eu acredito (23%): segmento formado, predominantemente, por mulheres
regidas pelo desejo de harmonia, de aceitação social, de preservação e de
estabilidade, já que a família e os filhos são a sua razão de viver. Integradas à
rede de solidariedade, valorizam a vizinhança e as suas casas. Elas são, em
geral, conservadoras, religiosas, vaidosas e curiosas. Na hora de gastar,
agem por impulso e, muitas vezes, perdem o controle.
Eu sobrevivo (21%): segmento formado por mulheres responsáveis pelo
orçamento e, consequentemente, pela sobrevivência da família. Não
compram nada para si mesmas, não valorizam o corpo e não se cuidam, não
26%
Eu me amo
14%
Eu vou conseguir
10%
Eu não aceito
23%
Eu acredito
6%
Não fazem parte de
nenhum grupo
21%
Eu sobrevivo
Fonte: Pes
q
uisa Ibo
p
e Solution/Ed. Abril
(
2003
)
.
55
têm iniciativa, sentem-se deprimidas e projetam sonhos e realizações nos
filhos. O fator preço é fundamental para elas.
Eu vou conseguir (14%): segmento formado por mulheres ativas, voltadas
para a carreira e para o desenvolvimento profissional. Elas buscam a
prosperidade, a integração e a aceitação social e lutam para ter um bom
emprego e um negócio próprio. Estudar é um objetivo, e filhos estão em plano
futuro.
Eu não aceito (10%): segmento formado por mulheres insatisfeitas com o
trabalho, com o casamento e com a família. Desiludidas, elas carecem de
amor-próprio, não esperam nada da vida e são as que menos confiam nas
instituições. Por causa da frustração generalizada, são impulsivas e até
inconsequentes com o dinheiro e com seus relacionamentos.
6% das mulheres não se enquadraram em nenhum grupo.
Observou-se que apesar de serem todas mulheres de classe C, os segmentos
citados apresentam estilos de vida diferentes, ou seja, mostram as diferentes
escolhas de como gastar seu tempo e dinheiro e como seus valores e gostos são
refletidos nas escolhas de consumo.
Os estilos de vida, ao contrário dos valores enraizados, não são imutáveis, já que os
gostos e preferências das pessoas evoluem ao longo do tempo (SOLOMON, 2002).
Por isso, é importante que os profissionais de marketing monitorem continuamente o
panorama social que circunda os consumidores a fim de que planejem estratégias
adequadas aos segmentos que pretender atingir.
Outra grande descoberta da pesquisa diz respeito ao potencial de ascensão social
16
:
29% dessas mulheres têm potencial de ascensão social, o que pode significar
muitas oportunidades às empresas que buscam aumentar o volume de
consumidores a médio e longo prazo.
16
Informações detalhadas e disponibilizadas sobre o Potencial de Ascensão Social estão no Anexo 3.
56
1.2.4 A relação das classes populares com a comunicação
O Instituto GfK Indicator (CORADI et.al., 2006) elaborou um paper sobre a
comunicação para classes populares. Para o GfK, não existe correlação entre
persuasão e classe socioeconômica. Um comercial é mais vendedor quanto maior
for a sua capacidade de comunicar a mensagem e o benefício, devendo este último
ser crível, relevante e único para o consumidor. Entretanto, para atingir esses
objetivos, o consumidor precisa entender a propaganda, e as empresas anunciantes
não devem esperar que ele faça qualquer esforço para compreender o que querem
dizer. Esse cuidado deve ser tomado para qualquer classe socioeconômica e,
principalmente, para as classes baixas.
Para o instituto GfK Indicator (CORADI et.al., 2006), quando se trata de fazer
pesquisas para avaliar a comunicação entre os estratos mais baixos da população,
são consideradas apenas as classes C e D, já que a classe E não tem condições de
participar de pesquisas desse tipo, pois apresenta muita dificuldade de entendimento
e de expressão.
Assim, a comunicação para esse público deve ter foco e, por isso, excessos devem
ser evitados, uma vez que o consumidor tem um limite na quantidade de imagens e
de mensagens que consegue processar. “Além disso, esse público tende a ser mais
conservador. Propostas muito liberais não costumam agradar” (CORADI et.al., 2006,
p.17).
O primeiro passo para a criação de uma mensagem é decidir sobre o seu conteúdo
(MOWEN; MINOR, 2003). Os autores apresentam dez abordagens diferentes para o
desenvolvimento do conteúdo da mensagem, resumidas abaixo:
1. figuras de linguagem: uso de rimas, trocadilhos, metáforas para aumentar o
interesse das mensagens;
2. complexidade da mensagem: decisão sobre quantidade de informação que a
mensagem deve conter ;
3. antecipação de conclusões: declarar diretamente ou não o que se espera que os
consumidores façam depois de receber a mensagem, isto é, “compre este produto”.
4. mensagens comparativas: comparar ou não, direta ou indiretamente, a sua marca
com outra;
57
5. mensagens unilaterais versus mensagens bilaterais: apresentar ou não ao público
os dois lados de uma questão;
6. apelos de medo: desenvolver uma mensagem que estimule uma resposta de
medo nos consumidores;
7. humor: empregar ou não o humor em uma mensagem;
8. Informação concreta versus informação abstrata: a importância de usar
informação concreta e objetiva nas mensagens;
9. apresentações versus dramatizações: a fonte se dirige diretamente ao público
para persuadi-lo ou as personagens conversam entre si e não com o público.
10. questões cotidianas: desenvolver mensagens sobre os objetivos e valores
decisivos que influenciam consumidores em diferentes estágios das suas vidas.
O humor tende a ser mais eficiente quando a marca é claramente identificada e a
graça não desvia a atenção da mensagem (SOLOMON, 2002). A utilização do
humor é pouco indicada para lançamento de marcas/produtos. Para as classes
baixas, ele pode desviar a atenção do consumidor do principal ponto, o
produto/marca, e esvaziar o conteúdo da mensagem. Deve-se tomar cuidado com o
humor “inteligente”, “sutil”, pois as “classes mais baixas tendem a ter menor
familiaridade e compreensão com esse tipo de humor” (CORADI et.al., 2006, p.19).
O consumidor das classes populares precisa sentir-se valorizado na comunicação e
identificar-se com a comunicação, tanto na linguagem visual quanto na falada ou
escrita da campanha. Além disso, mensagens que mostrem oportunidades de
consumo podem ser muito eficientes com esse público (CORADI et.al., 2006).
A fonte da mensagem , definida como a “pessoa ou a personagem que transmite
uma mensagem” (MOWEN; MINOR, 2003, p.167), possui algumas características
tais como credibilidade, atratividade física, simpatia e relevância que influenciam a
eficácia da mensagem. As celebridades representam uma série de papéis durante
sua carreira e podem galgar a fama não somente por meio do show business, mas
também do esporte, da política, dos negócios ou de alguma outra forma que as
coloque em evidência para o público. Com base nesses papéis, os significados se
ligam à celebridade e são compartilhados dentro de uma cultura. Dessa forma,
quando uma celebridade faz um elogio a um produto numa propaganda, são criadas
associações que podem ser transferidas para o produto e, na fase de consumo, o
58
significado pode ser tranferido do produto para o consumidor (MOWEN;MINOR,
2003). O poder das celebridades funciona porque, segundo Solomon (2002), elas
simbolizam categorias como status e classe social, um gênero, como conquistador,
ou idade e até tipos de personalidade. O uso de celebridades para endosso de uma
mensagem é uma estratégia cara, mas comum, e o anunciante precisa decidir quais
significados seu produto deve transmitir para escolher a celebridade que incorpora
um significado semelhante (SOLOMON, 2002). Então, quando o consumidor compra
nas lojas Marabraz, algumas das qualidades da dupla sertaneja formada por Zezé
de Camargo e Luciano, que divulgou a rede de lojas, podem tornar-se
simbolicamente associadas a ele próprio. O estudo de CORADI et al. (2006)
corrobora Solomon (2002) ao mostrar que a chave é combinar a personalidade da
celebridade com a da marca, e a celebridade deve ser muito conhecida, levando-se
em conta que, nas classes baixas:
atletas e cantores são menos conhecidos que atores;
celebridades internacionais são pouco conhecidas.
Como exemplos, citam-se o ator Antônio Fagundes (conhecido por 100% da classe
A e por 99% da classe C), a atriz Malu Mader (conhecida por 100% da classe A e
por 100% da classe C), o atleta Bernardinho (conhecido por 100% da classe A e por
82% da classe C) e a celebridade Nicole Kidman (conhecida por 91% da classe A e
por 51% da classe C).
Para Solomon (2002, p.189), a estratégia do uso de celebridades na comunicação
pode ser um modo eficaz de se diferenciar entre produtos semelhantes, e isso é
especialmente importante quando os consumidores não percebem muitas diferenças
reais entre os concorrentes.
A Propaganda
Segundo Solomon (2002, p.165), “uma atitude é uma avaliação geral e duradoura
de pessoas (incluindo elas próprias), objetos, anúncios e questões” .
59
A atitude em relação à propaganda é definida como uma predisposição para
responder, de maneira favorável ou desfavorável, a um certo estímulo publicitário
durante um determinado período de exposição. Algumas determinantes dessa
atitude podem ser citadas: a atitude em relação ao anunciante, avaliações sobre a
elaboração do anúncio, o estado de espírito despertado pelo anúncio e até onde o
anúncio pode afetar o envolvimento do espectador. Os sentimentos dispertados pelo
anúncio também afetam as atitudes em relação à marca. Foram identificados três
tipos de sentimentos que podem ser gerados por um anúncio: sentimentos otimistas,
sentimentos carinhosos e sentimentos negativos (SOLOMON, 2002).
Considera-se que a atitude das mulheres de classe C em relação à propaganda é
ambivalente. Ao mesmo tempo que a consideram lúdica, informativa e se identificam
com ela, 71% afirmam que ela explora demais o corpo da mulher, e somente 23% a
consideram confiável, como pode ser observado no Gráfico 6.
Gráfico 6 – Atitude em relação à propaganda
Nota-se que as organizações têm muito espaço para desenvolver uma linguagem
para se comunicar de forma mais adequada com o público de baixa renda, o que
poderá garantir o atingimento e,quem sabe, a superação de seus objetivos.
Positivo
58
59
61
82
50
MOSTRAM COMO AS MULHERES
SÃO MAIS INDEPENDENTES
DIVERTEM
APRENDO MUITA COISA
AUXILIAM NAS DECISÕES DE COMPRA
MOSTRAM MULHERES COMO EU
Ne
g
ativo
23
71
SÃO CONFI
Á
VEIS
EXPLORAM DEMAIS
O CORPO DA MULHER
Concordam %
Fonte: Pes
q
uisa Ibo
p
e Solution/Ed. Abril
(
2003
)
.
60
1.2.5 O perfil do consumidor de baixa renda
Tomando-se como base os resultados das pesquisas de mercado e o levantamento
bibliográfico considerado neste estudo, pode-se chegar às seguintes conclusões, no
que se refere ao consumidor de baixa renda:
alguns produtos, antes considerados supérfluos, hoje fazem parte da cesta
básica das consumidoras das classes C, D e E e são, muitas vezes,
considerados essenciais. Outros têm a oportunidade de desenvolver esse
caráter de essencialidade ou de criar mecanismos para que as consumidoras
tenham condições de comprá-los, como fez a indústria de celulares, ao lançar
o modelo pré-pago.
o consumidor de baixa renda tende a preferir lojas que oferecem crédito e
atendimento diferenciado. O pequeno varejo atende a essas necessidades,
pois pode contar com a proximidade física (o que mostra a importância da
distribuição pulverizada), o crédito (formal ou informal) e o relacionamento
pessoal. As idas ao supermercado são muito frequentes (cerca de três vezes
por semana), já que, em muitos casos, esse consumidor não recebe salário
fixo mensal;
a maioria das mulheres de classe C são responsáveis pelo controle do
orçamento e pelas compras da casa; são conservadoras, vaidosas, otimistas
e valorizam muito a família, principalmente os filhos, porém apresentam
estilos de vida diferentes, ou seja, mostram as diferentes escolhas de como
gastar seu tempo e dinheiro e mostram como seus valores e atitudes se
refletem nas escolhas de consumo;
apesar de comparar preços em muitas categorias de produto, a marca é um
fator fundamental para a decisão de compra, uma vez que as classes
populares não podem arriscar levando um produto que não tenha a qualidade
esperada. Mesmo em situações financeiras difíceis, o consumidor acaba
comparando preço entre marcas conhecidas, na busca da melhor relação
entre preço versus qualidade;
61
os principais sonhos desse público são: comprar imóvel e bens duráveis,
como, por exemplo, os do setor eletroeletrônico, o que representa uma
grande oportunidade para as indústrias do setor;
os consumidores são sensíveis aos apelos da comunicação. Para se elaborar
o tom e a linguagem que levarão à construção de marcas de sucesso para as
classes populares, o sonho não pode estar distante da realidade. Deve ser
um sonho possível de ser realizado, inclusive por meio do apelo emocional,
visto que as consumidoras se sentem muito felizes e satisfeitas com a vida
atual. A propaganda auxilia na decisão de compra e informa, contudo as
consumidores precisam sentir-se valorizadas e identificar-se com a
mensagem. As mulheres sentem que a sua imagem é muito explorada na
propaganda.
Em síntese, a intenção deste item foi analisar e desmistificar qualquer conceito pre-
existente sobre quem são, o que pensam e como compram os consumidores das
classes populares. Qualidade, preço e marca são fatores determinantes para a
decisão de compra desse consumidor crítico, que valoriza, acima de tudo, seus
filhos, a sua família e o seu bem-estar. A linguagem da comunicação precisa ser
próxima da sua realidade.
No próximo capítulo, serão estudadas as estratégias empresariais que dizem
respeito ao consumidor de baixa renda.
62
CAPÍTULO 2
ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS
63
Neste capítulo, abordam-se as estratégias mercadológicas que envolvem o
mercado popular, uma vez que a decisão de atuar nesse segmento parte de um
planejamento estratégico mercadológico que busca alinhar as necessidades,
expectativas e capacidade potencial da empresa às necessidades, expectativas e
capacidade potencial do mercado. Inicialmente, analisam-se as estratégias de
marketing aplicadas ao segmento popular, as quais são definidas após percorrer as
etapas de elaboração do planejamento estratégico mercadológico. A seguir, enfoca-
se o tema da construção de marca, em que se destaca a variável preço e o uso da
comunicação, fatores fundamentais para a construção de marcas populares.
2.1 Estratégias mercadológicas
As pressões do mundo empresarial em busca de maior lucratividade forçaram as
empresas a reavaliar as suas estratégias e a procurar novos mercados considerados
promissores, tanto no âmbito global, cujo alvo são os países emergentes como
Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), quanto no âmbito local, que considera os
mercados de enormes proporções dentro desses países, como as classes C, D e E
no Brasil.
Para se reavaliar a estratégia de uma empresa, segundo Porter (2002), será
necessário dividi-la em duas partes: primeiramente, deve-se entender o setor ao
qual a empresa pertence e, depois, a posição que ela ocupa no setor. Dessa forma,
compreende-se como uma empresa compete, e identifica-se a melhor prática
para competir.
Neste capítulo, não será abordada a origem das estratégias, tampouco o histórico do
seu desenvolvimento. A intenção é analisar o conceito de estratégia por diferentes
prismas, trazendo as visões de diferentes autores.
Segundo Chandler (1962, p.13), “estratégia pode ser definida como a determinação
de metas e objetivos a longo prazo de uma empreitada, a adoção de planos de ação
e a alocação de materiais necessários para a realização destas metas”.
64
Com uma definição semelhante, para Andrews (1971, p.15), estratégia pode ser
compreendida como “o padrão de objetivos, propósitos ou metas e as grandes
políticas e planos para atingir essas metas, estabelecidas de um modo que defina
em que tipo de negócio a empresa está atuando ou não deve atuar e que tipo de
companhia ela é ou será”.
Não se deve considerar curto espaço de tempo e ações pontuais para atingir metas
imediatas ao elaborar uma estratégia. Mintzberg (2000) ensina que estratégia é
consistência no comportamento de uma empresa ao longo do tempo. Ela pode ser
vista como a busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a
vantagem competitiva de uma empresa. No entender de Ansoff (1990, p.95)
“estratégia é um dos vários conjuntos de regras de decisão para orientar o
comportamento de uma organização”. Numa visão interna à empresa que não
considera a concorrência, Ansoff (1990) elabora a matriz de direcionamento da
empresa, como mostra a Tabela 4, e afirma que uma organização pode definir o
escopo de seu negócio para:
1. atuar no mercado atual com os produtos atuais penetrando no mercado;
2. atuar no mercado atual com novos produtos realizando uma diferenciação
de produtos;
3. atuar em novos mercados com produtos atuais realizando um
desenvolvimento de mercado;
4. atuar em novos mercados com novos produtos diversificando o negócio.
Tabela 4- Matriz de direcionamento
PRODUTOS ATUAIS NOVOS PRODUTOS
Mercados atuais Penetração de mercado Diferenciação de produtos
Novos mercados Desenvolvimento de mercado Diversificação
Fonte: Ansoff (1990).
A organização pode, então, escolher um direcionamento estratégico que considere
atuar em mercados conhecidos com produtos atuais ou novos produtos, os
populares, por exemplo, ou em novos mercados, como os emergentes, com os
produtos atuais ou com novos produtos. As estratégias de entrada em novo mercado
representam maior risco do que as outras, pois, desenvolver novos produtos ou
adquirir novos produtos para vender em novos mercados são estratégias que
65
demandam alto investimento com incerteza relativa em relação aos resultados
esperados.
Segundo Porter(1986), produtos e serviços planejados estrategicamente
estabelecem condições para a criação de barreiras competitivas duráveis. As
empresas, ao decidirem atuar no mercado de produtos populares, podem ter a
intenção de criar barreiras competitivas, evitando a entrada de concorrentes diretos
ou indiretos no mercado.
Corroborando com a visão de Porter (1986), Yanaze (2007) propõe cinco etapas que
devem ser percorridas para a elaboração do planejamento estratégico
mercadológico.
A primeira delas solicita a definição das características e comportamento do produto,
da concorrência e do mercado. O segundo passo é avaliar as relações da empresa
com os públicos que interagem com ela, os stakeholders, a fim de aprimorá-las. O
terceiro passo é avaliar as variáveis (econômicas, políticas, socioculturais,
ambientais, tecnológicas) que afetam, direta ou indiretamente, as ações da empresa.
O quarto passo é identificar as forças e fraquezas da empresa e de seus
concorrentes, e, finalmente, é preciso estar atento para detectar as oportunidades e
ameaças do mercado. De acordo com Yanaze (2007, p.60), “todas essas etapas
citadas culminam na identificação das oportunidades e ameaças e possibilitam a
empresa definir objetivos e metas viáveis, além de indicar as estratégias mais
adequadas para alcançá-los.”
Para que as etapas citadas acima possam resultar num planejamento estratégico
bem sucedido, a alta gestão das empresas deverá buscar uma forma orquestrada de
interação entre todos os departamentos ou unidades de negócio, aproveitando as
suas plenas capacitações a fim de diminuir problemas, eliminar ruídos na
comunicação interna e externa e maximizar resultados. De acordo com Yanaze
(2007, p.48):
Cada setor defende seus interesses departamentais com o objetivo
de apresentar bons resultados operacionais e financeiros para a alta
direção. Não há nada condenável nisso. No entanto, é preciso
66
destacar que o fluxo dos inputs e throughputs só resultará em
outputs adequados quando todos os setores que o movimentam
trabalharem em sintonia uns com os outros, quando reconhecerem
que fazem parte de um todo e que há uma dependência funcional
recíproca.
A importância da sinergia entre as atividades da empresa também é destacada por
Porter (1999, p.73), que a coloca como fator fundamental para que a empresa tenha
uma estratégia diferenciada e sustentável :
Estratégia é a criação de compatibilidade entre as atividades da
empresa. Seu êxito depende do bom desempenho de muitas
atividades – e não apenas de umas poucas – e da integração entre
elas. Se não houver compatibilidade entre as atividades, não existirá
uma estratégia diferenciada e a sustentabilidade será mínima.
Desse modo, observa-se que o conceito de estratégia inclui alguns fatores
fundamentais, como: orientação da empresa a longo prazo, integração de diferentes
áreas e com envolvimento dos colaboradores, facilitando a comunicação dos
grandes objetivos e metas que serão alcançados, possibilitando a configuração e o
sucesso do negócio. Pode-se afirmar que vários são os fatores que determinarão o
bom êxito ou o fracasso de um negócio. Quatro deles interferem na definição do
negócio e na escolha da estratégia para a empresa como um todo: (1) o que a
empresa pode fazer a respeito das oportunidades do ambiente; (2) o que a empresa
pode fazer considerando as suas habilidades e recursos; (3) o que os executivos
desejam fazer em termos de valores pessoais; (4) o que a empresa deveria fazer
sobre as considerações éticas e societais (ABELL,1980).
Produzir produtos focados nas classes mais baixas da população pode ser
considerado uma oportunidade do ambiente, que aliada às habilidades e aos
recursos da empresa e às responsabilidades éticas e societais da organização (por
exemplo: como facilitar o acesso a todo o tipo de informação necessária para a
decisão de compra do produto) podem constituir uma vantagem em relação à
concorrência. Quanto aos valores pessoais, devem ser coincidentes com a política
67
da empresa, visando a um ambiente de trabalho sadio e cooperativo, que
certamente trará bons resultados à organização.
Apreende-se que a estratégia mercadológica de atuação no segmento de produtos
populares pode ser considerada uma oportunidade dentro do setor eletroeletrônico.
Essa oportunidade, numa perspectiva mais ampla, deve atender às expectativas da
população de baixa renda, de uma forma melhor que os concorrentes, ratificando o
princípio fundamental do marketing. É necessário, ainda, entender se a empresa,
com seus pontos fortes e fracos, avaliando a concorrência, terá condições de adotar
essa estratégia.
Segundo a definição da American Marketing Association (AMA, 2008), marketing é a
atividade, série de normas e processos para a criação, comunicação, entrega e troca
de ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e para a
sociedade como um todo. Essa atividade faz parte de um processo gerencial
sistêmico, denominado 3 puts por Yanaze (2007). O autor propõe um fluxograma
para a empresa que pode ser observado na Figura 4, a seguir:
Figura 4 – Fluxograma sistêmico de uma empresa
Fonte: Yanaze (2007, p.47).
INPUTS
EMPRESA OUTPUTS
THROUGHPUTS
Recursos Financeiros
Investimento e capital
de giro
Recursos humanos
Administrativos
Operacionais
Recursos Materiais
Infraestrutura
Equipamentos
Matéria-prima
Insumos
Embalagens
Veículos
Outros
Informações
Tecnologia
Processos
de Produção
de Compras
Sistemas
Administrativos
Financeiros
Contábeis
Políticas de
Gestão
Vendas
Lucro
Relacionamento com a
comunidade
Cultura Organizacional
Clima Empresarial
Logística
Produto(s)/Serviço(s)
Precificação/Remuneração
Distribuição/Vendas
Comunicação
68
Os inputs dizem respeito aos recursos necessários para o funcionamento da
organização, tais como: financeiros, humanos, materiais, informações e tecnologia.
Os throughputs indicam como os recursos são trabalhados e transformados dentro
da organização, ou seja, são constituídos pelos processos, sistemas, políticas,
cultura e clima organizacional e logística.
Os outputs resultam da interação dos processos anteriores. Yanaze (2007, p.47)
aponta como outputs os produtos (em sentido amplo), a precificação/remuneração, a
distribuição/vendas e a comunicação/promoção, e conclui que “por serem
resultantes dos processos internos de uma organização, torna-se claro que a
atribuição de produzir outputs adequados é de toda a organização”. Ou seja, todos
os elementos que formam a organização têm responsabilidade nas atividades de
marketing.
Segundo Hooley e Saunders (1996), deve-se traçar objetivos de curto e de longo
prazo, pois os objetivos de longo prazo indicam o futuro da empresa como um todo e
as suas metas a longo prazo, e geralmente são alcançados depois de atingidos os
objetivos e metas de curto prazo. A partir disso, são elaboradas as estratégias de
marketing para alcançar os objetivos e metas estipulados.
No entender de Semenik e Bamossy (1996), os objetivos e a política da empresa
são princípios-guia no desenvolvimento do planejamento e estratégia da unidade de
negócios. Estes, por sua vez, irão direcionar o planejamento, estratégia e táticas do
marketing, como mostra a Figura 5.
Figura 5 – O propósito do marketing no planejamento da empresa
Fonte: Semenik e Bamossy (1996:9).
Objetivos e políticas
da empresa
Planejamento e
estratégia da
unidade
estratégica de negócios
Implementação do
planejamento, estratégia
e tática de marketing
69
Além de seguir a orientação da estratégia da unidade de negócios, ao elaborar o
planejamento de marketing é preciso entender o que o cliente deseja e adaptar ou
criar produtos e serviços que atendam às suas necessidades, a fim de trazer lucro
para a empresa.
Para Westwood (1991, p.13), um plano de marketing pode ser usado para “preparar
o argumento para introduzir um novo produto, renovar a abordagem de marketing
dos produtos existentes, ou agrupar um plano de marketing departamental, divisional
ou empresarial que será incluído no plano comercial ou corporativo da companhia”.
O autor indica que há diferentes estruturas de planos para diferentes propósitos, e
sugere que sejam revistos anualmente. O plano completo sugerido por Westwood
(1991, p.28) tem a seguinte estrutura:
- Sumário
- Introdução
- Síntese
- Análise de situação que inclua: Suposições
a) Vendas (histórico e orçamento)
b) Revisão dos mercados estratégicos
c) Revisão dos produtos-chave
d) Revisão das áreas-chave de vendas
- Objetivos de marketing
- Estratégias de marketing
- Prazos, Custos, Responsabilidades
- Promoção de vendas
- Orçamentos
- Demonstrativo de resultados
- Controles
- Processos de Atualização
70
Já Semenik e Bamossy (1996) afirmam que um bom plano de marketing é
composto por seis elementos, ilustrados na Figura 6, a seguir. Esse modelo,
especificamente o item quatro, Estratégias, servirá como base para a análise das
estratégias de marketing de produtos populares.
Figura 6: Componentes de um plano de marketing
Fonte: Semenik e Bamossy (1996, p.62).
A Análise da situação é a primeira fase do plano quando se pode “conhecer o
terreno”. Essa fase fornecerá informações para que seja feita a avaliação do
ambiente externo (fatores demográficos, socioculturais, econômicos, políticos etc.) e
1.
A
N
Á
LISE DA SITUAÇÃO
a. Avaliação do ambiente externo
b. Identificação do mercado-alvo
2. LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES E AMEAÇAS
a. Fatores do mercado
b. Fatores da empresa
3. IDENTIFICAÇ
Â
O DE OBJETIVOS
a. Volumes de vendas em dólares e unidades (de
produto)
b. Implementação do planejamento, estratégia e tática
de marketing
c. Cobertura geográfica do mercado
d. Participação no mercado
e. Projeções de crescimento de receita
4. ESTRAT
É
GIAS
a. Produto: diferenciação, vantagem competitiva
b. Preço: posição no mercado
c. Comunicação: tema, opção de mídia, uso da força
de vendas, promoção de vendas
d. Distribuição: cobertura, canais
5. T
Á
TICAS
a. Atividades para operacionalizar as estratégias
descritas no item 4.a-d
6. AVALIAÇÃO
a. Realização dos objetivos do item 3.a-e
b. Efetividade das estratégias do item 4.a-d
c. Efetividade das táticas do item 5
71
a identificação do mercado-alvo (tamanho do mercado, projeções de crescimento,
conhecimento dos consumidores e do comportamento de compra).
Na segunda fase, Levantamento de oportunidades e ameaças, a empresa vai definir
as oportunidades e ameaças com base nos fatores de mercado, tais como:
tendências de consumo da classe de produto, forças e fraquezas dos concorrentes.
Quanto à avaliação dos fatores internos da empresa, pode ser vista como uma
análise das suas próprias forças e fraquezas.
Na terceira etapa, Identificação de objetivos, exige-se que a empresa faça as
projeções concisas do que deve ser realizado pela empresa nas áreas principais
durante períodos específicos de tempo.
Na quarta etapa, Estratégias, a empresa elabora estratégias em cada área do
marketing mix (produto, preço, comunicação e distribuição), as quais vão permitir
que ela persiga os objetivos de receita, lucro e participação no mercado. Essa etapa
será analisada detalhadamente ao longo deste capítulo, já que se espera identificar
na pesquisa as estratégias de marketing mais comumente utilizadas pelas
organizações que atuam no segmento de bens populares do setor de
eletroeletrônicos.
A quinta etapa, denominada Táticas, descreve as atividades específicas
desenvolvidas para perseguir as estratégias. Como exemplo de tática, pode-se citar
a elaboração dos planos de mídia para a veiculação da campanha publicitária.
Na sexta e última etapa, Avaliação, são analisados os resultados obtidos em
comparação aos objetivos propostos. Se os objetivos não estiverem sendo atingidos,
a empresa deve avaliar as atividades relativas a produto, preço, comunicação e
distribuição para tentar achar a origem dos problemas e corrigi-los.
Hooley e Saunders (1996) e Yanaze (2007) concordam, de forma geral, com o
exposto acima quando afirmam que a definição de uma estratégia de marketing
efetiva começa com uma avaliação pormenorizada e criativa da empresa, mostrando
seus pontos fortes e fracos em relação à concorrência, como as oportunidades e
ameaças do ambiente. Com base nesta análise, será definida a estratégia da
72
empresa, “identificando-se os objetivos de marketing e o enfoque mais amplo para
atingi-los” (Hooley e Saunders,1996, p.35).
Hooley e Saunders (1996), Semenik e Bamossy (1996) e Yanaze (2007) corroboram
Westwood (1991, p.130), que afirma que estratégias de marketing são as formas
utilizadas para atingir os objetivos de marketing. O autor (1991) considera, ainda,
que existem três tipos de estratégias de marketing: as defensivas, as de
desenvolvimento ou as de ataque.
As defensivas são idealizadas para evitar a perda de clientes atuais e consolidar a
posição da organização no mercado. Depois de fazer a análise SWOT
17
, são
identificadas as “fraquezas” da empresa. Para combatê-las, uma série de estratégias
podem ser planejadas.
As de desenvolvimento compõem o segundo tipo de estratégia. Elas oferecem aos
clientes atuais uma variedade maior de produtos ou serviços, a partir da
identificação de oportunidades que serão exploradas no mercado.
No terceiro tipo, enquadram-se as estratégias de ataque, concebidas para
desenvolver o negócio por meio da busca de novos clientes. Cabe aqui descobrir
novos clientes para o produto, seja nos mercados atuais, seja em novos mercados.
Isso pode ser obtido, por exemplo, oferecendo-se melhor qualidade, preços mais
competitivos ou atuando-se em novos segmentos geográficos.
Apenas após selecionar o tamanho e perfil dos segmentos de mercado que serão
atacados é que haverá condições de selecionar estratégias bem-sucedidas
(CHURCHILL; PETER, 2003). A Tabela 5 resume as três formas básicas com que
uma empresa pode servir os mercados:
17
SWOT (sigla de strengths, weakness, opportunities, threats) é traduzido como: forças, fraquezas,
oportunidades, ameaças.
73
Tabela 5 – Abordagem para os mercados servidos
Abordagem Descrição Exemplos
1. Marketin
g
de massa
(indiferenciado)
Um único composto de
marketing para todo o mercado
Serviços telefônicos; Coca-
Cola
2. Marketin
g
por segmentos - Um único composto de
marketing para um segmento
do mercado
- Compostos de marketing
separados para dois ou mais
segmentos de mercado
- Produtos de beleza para
mulheres negras
- McDonald’s (McLanche
Feliz para crianças e Big
Mac para adolescentes e
adultos).
3. Marketin
g
individual Um composto de marketing
personalizado para um
indivíduo ou organização
- Lazer e entretenimento
personalizados para
clientes assíduos dos
hotéis Ritz-Carlton
Fonte: Adaptado de Churchill e Peter (2003, p.205).
Este trabalho analisará especialmente o marketing por segmentos, já que, em se
tratando de marketing para produtos populares, o alvo prioritário é o segmento da
população de baixa renda. Churchill e Peter (2003) destacam que, com frequência,
os clientes exigem produtos adaptados às suas necessidades e desejos específicos
o que obriga as organizações a utilizarem o marketing por segmentos.
Os quatro tipos de utilidade gerados pelo marketing
Os economistas destacam que o objetivo global do marketing é gerar satisfação ao
consumidor. Essa satisfação recebe o nome de utilidade, em termos econômicos.
Segundo Semenik e Bamossy (1996), o sistema de marketing funciona para criar
quatro tipos de utilidade:
1. utilidade de forma: é criada quando matérias-primas são transformadas em
produtos ou serviços utilizáveis proporcionando satisfação ao consumidor;
2. utilidade de tempo: satisfação obtida quando o produto está disponível quando
ele é desejado;
3. utilidade de lugar: satisfação que os clientes sentem quando o produto está
localizado no ponto de venda onde eles o desejam;
74
4. utilidade de posse: relaciona-se à ampla finalidade econômica do marketing
pela qual os consumidores podem ter a satisfação da aquisição do produto o
mais rápido possível, ou seja, ele pode ser comprado com facilidade.
Os conceitos econômicos de utilidade citados acima são fundamentais para o
processo de atendimento dos desejos e necessidades da população. Dessa forma,
as estratégias de marketing são elaboradas para gerar utilidades pensando nos
consumidores-alvo, e o marketing desempenha um papel essencial para a economia
ao ocasionar a troca. Também pode contribuir de forma favorável ao exercer um
papel social, disponibilizando produtos e serviços que satisfaçam à sociedade,
considerando, por exemplo, questões ambientais em todas as fases das atividades
de marketing (SEMENIK e BAMOSSY,1996).
Os quatro pês
Considera-se, portanto, que as estratégias de marketing se relacionam à forma
como se compõe o mix de marketing (ao se conceberem aspectos do produto,
preço, comunicação e distribuição, os “quatro pês”
18
), para atingir os objetivos de
marketing.
Fazendo uma referência aos “quatro pês”, Westwood (1991, p.131) cita algumas
estratégias que podem ser utilizadas com cada um deles:
1) Produtos
- mudar a combinação/portfólio do produto
- retirar, adicionar ou modificar os produtos
- mudar o design, qualidade e desempenho
- consolidar/padronizar
2) Preços
- mudar os preços, prazos ou condições de grupos de produto
particulares em segmentos de mercado particulares
- políticas de atuação em mercados seletivos
18
O termo “quatro pês”, referindo-se a produto, preço, praça e promoção, foi utilizado pela primeira
vez por E. Jerome McCarthy, no início dos anos 60.
75
- políticas de penetração
- políticas de descontos
3) Promoção
- mudar a organização das vendas/equipe de vendas
- mudar a política de Relações Públicas
- aumentar/diminuir a participação em exposições/feiras
4) Distribuição
- mudar os canais
- melhorar o serviço.
No que tange ao terceiro pê, promoção, entende-se que, além das citadas por
Westwood (1991), também há táticas passíveis de mudança tanto no composto de
comunicação (linguagem e “tom” da propaganda, assessoria de imprensa, por
exemplo) como nos veículos de comunicação (cobertura e frequência dos planos de
mídia, por exemplo).
A seguir, serão abordados, individualmente, os elementos formadores do mix de
marketing (produto, preço, distribuição e comunicação), que, em síntese, compõem
a estratégia de marketing das empresas.
2.1.1 Produto
Embora o produto seja um dos componentes do mix de marketing, pode-se afirmar
que é a principal razão da existência de uma empresa. Nenhum negócio será
duradouro se a empresa deixar de considerar a possibilidade de adaptar seu
portfólio de produtos às necessidades de seus consumidores-alvo. Assim, a
pesquisa de marketing junto ao público-alvo e a análise da concorrência assumem
fundamental importância no processo de análise do portfólio de produtos da
empresa. Além disso, é a existência do produto que possibilita a elaboração das
demais estratégias de posicionamento na mente do público-alvo, as quais incluem
seu preço, distribuição e promoção. Neste trabalho, será abordado, como foi citado,
o setor de eletroeletrônicos, especificamente produtos de consumo, classificados
como bens duráveis (usados por longo período de tempo, e que geralmente
76
necessitam de venda pessoal e serviços) de compra comparada (bens cujo preço,
qualidade, modelo o cliente compara) (KOTLER, 2000).
De acordo com Luck (1975), numa indústria há cinco setores envolvidos nas
decisões referentes a produto: pesquisa e desenvolvimento (P&D); produção e
engenharia; financiamento e contabilização; planejamento da empresa e marketing.
Serão apresentadas abaixo somente as decisões do setor de marketing elaboradas
pelo autor (1975) por se tratar do tema deste estudo:
1. identificação de necessidades insatisfeitas, pois dão ao produto uma
oportunidade de entrar no mercado;
2. projeção de vendas em tais mercados;
3. coleta de idéias ou conceitos sobre o produto que poderiam atender às
necessidades;
4. determinação das tarefas e dos custos esperados para o projeto;
5. planejamento e testes de produto e ideias a seu respeito;
6. avaliação das reações do mercado;
7. planejamento de método, tempo e escala de introdução do produto;
8. planejamento das estratégias e escalas de preço;
9. planejamento dos roteiros de produção e distribuição;
10. estabelecimento de padrões para desempenho no mercado e sistemas de
controle.
Apesar de todas as decisões citadas terem sido elaboradas consistentemente pelo
autor, observa-se que é necessário acrescentar de forma clara e independente
(como foram elaboradas as demais decisões) a decisão de “planejamento das
decisões de comunicação”, fundamental tanto para o lançamento de um novo
produto, como para o reforço do posicionamento de um produto já existente no
portfólio da empresa.
Com uma visão complementar, porém tática, Ambrósio (1999) apud Yanaze (2007,
p.266), apresenta uma lista de 14 passos que pode auxiliar no planejamento
estratégico de produtos:
1. histórico (para produtos existentes) ou motivos e justificativas de criação
(produtos inexistentes);
77
2. ciclo de vida e estratégia atual;
3. características e diferenciais;
4. benefícios (ou hierarquia de valor) para os consumidores;
5. marca da empresa, linha e produtos;
6. design dos produtos;
7. embalagens e rótulos;
8. qualidade intrínseca e comparada;
9. serviços e garantias ao consumidor;
10. formas de uso e instruções de cuidado;
11. levantamento de necessidades regionais relativas ao uso;
12. possibilidades de desenvolvimento dos produtos;
13. dados relevantes de pesquisas anteriores, sobre os produtos em questão;
14. checklist de produção e logística
No que se refere a produtos populares, Nascimento e Yu (2003); Prahalad (2005)
destacam alguns princípios de inovação que foram citados no início do capítulo 1, e
que, num contexto mais amplo, enquadram os itens 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12
mencionados acima por Ambrósio (1999) apud Yanaze (2007, p.266).
Do ponto de vista dos consumidores em geral, e mais ainda dos consumidores de
baixa renda, perceber os diferenciais, benefícios e qualidade do produto, confiar na
marca e contar com a garantia oferecida pelo fabricante são formas de minimizar o
risco da compra de produtos populares, já que o valor despendido na aquisição, em
se tratando de bens duráveis, representa uma porcentagem significativa da sua
renda. Ou seja, é uma compra de alto envolvimento, como citado no item 1.2.1 (O
processo da tomada de decisão de compra). Por exemplo, pode-se citar a compra
de um fogão de R$ 330,00 por um consumidor cuja renda familiar mensal é de
R$1.100,00. Mesmo que seja parcelado, o valor despendido nessa compra
representa 30% da renda dessa família. Do ponto de vista da empresa que atua no
mercado de produtos populares, é necessário mostrar de forma bem didática as
formas de usar o produto, - principalmente produtos do setor eletroeletrônico que
apresentam inovações tecnológicas constantes -, levantar necessidades regionais e
estabelecer processos inovadores tanto na produção quanto na logística. Exemplos
disso são citados por Prahalad (2005) quando afirma que lavar roupa num riacho é
78
bem diferente do que no ambiente controlado de uma máquina de lavar, e que os
produtos precisam ser adaptados a ambientes hostis.
É necessário, ainda, entender como acontece a extensão da linha de produtos
19
nas
empresas do setor que produzem produtos populares. Observa-se que os objetivos
da empresa influenciam a decisão sobre extensão de linha. Linhas extensas
geralmente estão presentes em empresas que buscam grande participação de
mercado e rápido crescimento do mercado, já as linhas reduzidas são adotadas por
empresas que buscam alta lucratividade por meio da seleção de produtos
cuidadosamente escolhidos (KOTLER, 2000). Segundo o autor (2000), as empresas
podem estender a sua linha de produtos de duas maneiras: ampliando-a ou
complementando-a.
No primeiro caso, de ampliação, a empresa pode ampliar a sua linha de produtos
mercado abaixo (linha com preços mais baixos), mercado acima (linha com preços e
nível mais altos) ou em ambos os sentidos.
Aproveitando a oportunidade ao ver fortalecidos os consumidores de classes mais
baixas, a Consul passou a oferecer, nas lojas, à população de baixa renda produtos
com tecnologias presentes em produtos para as classes A e B. É o caso da
geladeira com saída para água potável na porta, por menos de R$1.000,00, e uma
lavadora de roupas automática nessa mesma faixa de preço. A diretora de marketing
da empresa, Ana Calderon, afirma que a empresa vende 30 mil lavadoras desse tipo
por mês, a mesma quantidade da versão tradicional que custa o dobro do preço
(WIZIACK, 2008).
A ampliação da linha de produtos mercado abaixo pode ocorrer se a empresa
identificar oportunidades de crescimento de mercado mais abaixo, pois se nota que
grandes varejistas atraem consumidores que procuram bens com preços vantajosos
em relação ao seu valor; se a empresa pretende bloquear a entrada de concorrentes
que atendam ao mercado de preços mais baixos ou se a empresa achar que o
19
Na divisão de eletrodomésticos da General Eletric, existem gerentes de linhas de produtos para
geladeiras, fogões e máquinas de lavar (KOTLER, 2000, p.421). Os gerentes de linha de produto são
responsáveis pela extensão da linha.
79
mercado em que ela atua está estagnando-se ou entrando em declínio. Outra
decisão importante tomada na ampliação de mercado abaixo é a escolha do nome:
a. pode-se adotar o mesmo nome em todos os produtos, como fez a Sony;
b. pode-se lançar o produto com preço mais baixo, utilizando-se uma submarca
como fez a Gillette com o Gillette Good News. Nesse caso, há o risco de que a
marca perca a sua imagem de qualidade e/ou os consumidores atuais do produto
mais caro passem a comprar o produto mais barato;
c. existe a possibilidade de lançar um produto com preço mais barato e um nome
totalmente diferente; aqui, a empresa teria de investir grandes quantias para
construir o novo nome de marca, e, ainda assim, os varejistas poderiam recusar-se a
vendê-la.
A ampliação de mercado acima, pode ser adotada, caso as empresas decidam
entrar na faixa superior do mercado para obter maior crescimento, maiores margens
ou para se posicionarem como fabricantes de linha completa.
A ampliação dupla acorre quando a empresa atua no segmento médio e decide
ampliar a sua linha nos dois sentidos.
No segundo caso, o de complementação, a linha de produtos pode ser ampliada por
meio da inclusão de itens aos já existentes. Isso pode ocorrer por diversas razões,
como afirma Kotler (2000, p.424):
(...) aumentar a lucratividade; tentar satisfazer revendedores que
reclamam de vendas perdidas pela falta de itens na linha; tentar
utilizar o excesso de capacidade; tentar ser a principal empresa do
setor, oferecendo a linha completa, e tentar preencher lacunas que
possam ser oportunidades para a concorrência.
Seja pela ampliação ou pela complementação da linha, é fundamental que a
empresa, ao lançar um produto no mercado, tenha o objetivo maior de atender às
necessidades dos seus consumidores, levando em consideração também as suas
próprias expectativas com relação ao negócio, seu potencial de crescimento no
mercado as suas necessidades com relação à concorrência.
80
2.1.2 Preço
O estabelecimento dos preços dos produtos é fundamental na estratégia de
marketing e pode ser determinante para o sucesso no atingimento dos objetivos
corporativos e de marketing.
Churchill e Peter (2003) afirmam que o preço tem dois papéis fundamentais no
composto de marketing: ele influencia se a compra será efetuada e em caso
positivo, quanto será comprado; e influencia o lucro, pois mesmo pequenas
mudanças no preço de um produto podem ter consequências drásticas nos lucros.
Aplicando-se esse conceito à comercialização de produtos populares, quando o
preço representa uma barreira de compra a seu público-alvo formado pela
população de baixa renda, percebe-se que, para que haja lucratividade no negócio,
o preço deve ser mais baixo, e o volume de vendas, alto. Apesar de o lucro nominal
por unidade vendida ser baixo, o alto volume de vendas garante a rentabilidade do
negócio.
Cada produto, por conseguinte, tem a sua curva própria de demanda, e, em geral, a
inclinação da curva é descendente, ou seja, com preços mais baixos a quantidade
demandada aumenta (CHURCHILL;PETER, 2003). Na Figura 7, a seguir, apresenta-
se uma curva de demanda.
Figura 7 - Uma típica curva de demanda
Fonte: Westwood (1991, p.144).
Curva de demanda
Preço
Q1 Q2 Q3
A
umentar P1
P2
Diminuir P3
Quantidade
81
Observa-se que, se a empresa vender um produto pelo preço P2 numa quantidade
Q2, o valor total das vendas será P2xQ2. Se o preço for aumentado para P1, a
quantidade vendida diminuirá para Q1, e, se o preço diminuir para P3, a quantidade
aumentará para Q3. O objetivo do exercício é aumentar a relação PxQ a um nível
máximo, mas com P em um nível lucrativo. Se o custo de produção dos produtos for
superior a P3, não há como se justificar a longo prazo a redução do preço para P3,
pois, mesmo que se vendessem mais produtos, haveria prejuízo. Do ponto de vista
do marketing, entretanto, pode haver motivos justificáveis para vender um produto
com preço reduzido a curto prazo, a fim de ganhar participação de mercado.
A maior parte das estratégias e táticas para fixação de preços pode ser classificada
como política de obtenção de altos ganhos em mercados seletivos ou política de
penetração, segundo Westwood (1991), como apresentadas abaixo:
1) Altos ganhos em mercados seletivos: considera-se entrar no mercado com um
nível de preço elevado e tirar o máximo do lucro até onde for possível. Com a
entrada da concorrência, se necessário, o preço seria ajustado para baixo. Essa
estratégia só é recomendada a empresas líderes de mercado. A desvantagem é
que, devido aos altos lucros gerados, estimula a entrada da concorrência, que
geralmente desenvolve produtos com tecnologia mais avançada que os
presentes no mercado.
2) Penetração: nessa estratégia, oposta à primeira, se fixa o preço baixo
propositadamente. Tal política estimula a compra por um maior número de
clientes, o que aumenta a penetração de mercado. A empresa poderá
beneficiar-se das economias de escala na produção. Além disso, o preço inicial
baixo pode desestimular a entrada da concorrência se os custos de
desenvolvimento de produtos forem elevados. A estratégia é utilizada na fixação
de preços de produtos populares.
Outros fatores podem influenciar o estabelecimento de preços:
Liderança de mercado: é possível que as empresas fixem seus preços
baseadas no preço da líder de mercado e mudem (para cima ou para baixo)
conforme as alterações que ela fizer.
82
Ciclo de vida do produto: dependendo da posição em que um produto esteja,
na curva do seu ciclo de vida
20
ou no quadrante da matriz BCG
21
, será
determinado o tipo de estratégia para fixar os preços. Por exemplo: se um
produto estiver no primeiro estágio do seu ciclo de vida e for um “ponto de
interrogação”, faz sentido pensar numa política de preço baixo para aumentar
a penetração de mercado. Ou então, uma promoção eficiente pode deslocar a
curva de demanda para a direita, o que significa que uma quantidade maior
do produto será demandada.
Descontos: podem ser usados especialmente se a venda for efetuada por
meio de canais de distribuição, para incentivar compras individuais em maior
quantidade ou quantidade total de negócios realizados em certo período de
tempo, para estimular a compra exclusiva da sua empresa evitando dividir os
negócios com a concorrência.
Além da curva de demanda, Churchill e Peter (2003, p. 320) citam outro conceito
econômico, que pode ajudar a determinar preços apropriados, a análise marginal,
“uma técnica para encontrar os maiores lucros possíveis pela mensuração do efeito
econômico de produzir e vender cada unidade adicional do produto”, já que os
custos totais aumentam de acordo com a quantidade produzida.
Como no Brasil, atualmente, se vive um período de baixa inflação, não há variações
significativas tanto dos custos (matéria-prima, insumos, mão de obra direta) quanto
dos preços de venda fixados. Assim, as margens de rentabilidade de cada produto,
ou seja, as margens que contribuirão para pagar os custos fixos da empresa e
compor o lucro, tendem a se manter estáveis. Sem inflação, não há como repassar
indiscriminadamente os custos para os preços, e a parcela atribuível dos custos
indiretos e fixos a cada unidade do produto colocada no mercado recebe uma
20
As etapas do ciclo de vida do produto ordenadas da primeira à quarta são: introdução, crescimento,
maturidade e declínio.
21
A Boston Consulting Group (BCG), em meados da década de 1960, formulou a matriz BCG com
base em duas variáveis mercadológicas: taxa de crescimento do mercado e participação relativa do
mercado. Os produtos, uma vez localizados na matriz, recebem as seguintes classificações:
“interrogação” (novidades que mostram resultado negativo), “estrela” (faturamento igual ou maior que
o investimento), “vaca leiteira” (resultados positivos), “abacaxi” (possibilidade de apresentar
prejuízo)(YANAZE, 2007).
83
importância maior, principalmente pelos seus atributos tangíveis. Portanto procura-
se reduzir esse efeito, maximizando-se as quantidades de venda, ou, atuando de
forma severa na redução desses custos indiretos e fixos, já que estes se tornaram
um fator vital de competitividade (YANAZE, 2007). No mercado dos produtos
populares, o cuidado com estes dois fatores, aumento de quantidades de venda e
redução dos custos indiretos e fixos, é fundamental, visto que produtos com preços
mais baixos tendem a dar menor contribuição marginal.
Especificamente no setor de eletroeletrônicos, os custos pré-operacionais são altos,
pois envolvem investimentos em pesquisa&desenvolvimento a fim de garantir a
constante inovação, e os produtos, ao seu lançamento, tendem a ter preços
elevados. Esses preços vão caindo à medida que os investimentos são amortizados,
e a incerteza com relação ao potencial de mercado se dissipa, e a concorrência,
cada vez mais rapidamente, oferece alternativas aos consumidores.
Com efeito, quando são lançados, alguns produtos são considerados inovações
pelos clientes. É o caso dos computadores, DVDs, CD players, TVs de plasma,
câmeras digitais. Entre esses clientes, distinguem-se várias categorias de adotantes,
de acordo com a difusão de uma inovação num grupo populacional.
O processo de difusão se relaciona à difusão da aceitação e do uso de uma
inovação em um grupo populacional (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p.307). Na
Figura 8, observa-se que, no decorrer do tempo, a adoção das inovações segue
uma curva de sino. Os inovadores, 2,5% da população que adotam uma inovação,
têm a característica de adotá-la independentemente de outras pessoas, correm
riscos e servirão de referência, assim como os adotantes precoces (13,5%). Desse
modo, será investigado se as classes baixas tendem a ser late adopters ou morosos
quanto à adoção das inovações, pois se entende que podem correr riscos na
compra.
84
Figura 8 – Categorias de adotantes
Fonte: Sheth; Mittal; Newman (2001, p.307).
Voltando à questão da definição dos preços, não serão demonstradas explicações
pormenorizadas com os cálculos analíticos por não ser necessário para este estudo.
Para Churchill e Peter (2003), a análise marginal é a maneira mais adequada para a
definição de preços do ponto de vista econômico, mas, devido aos desafios do uso
dessa análise, na prática, os profissionais de marketing abordam as decisões
relativas a preço de várias outras maneiras. As abordagens básicas são baseadas
no custo, baseadas na concorrência e baseadas no valor para o cliente. Elas não
são excludentes entre si e a prática eficiente do marketing solicita que se
considerem as três. Na primeira (preços baseados no custo), o objetivo é assegurar
que o preço de venda seja maior que o custo do produto a fim de garantir que a
organização obtenha lucro. Uma limitação desta abordagem é que a ela não
considera o efeito do preço sobre a demanda dos clientes e também não leva em
conta os preços da concorrência. Os autores (2003) sugerem que se faça a análise
do “ponto do equilíbrio”, uma técnica comum para identificar preços lucrativos. O
ponto de equilíbrio é obtido quando a receita total de vendas se iguala ao custo total.
Os profissionais de marketing, porém, não querem somente cobrir os custos. O
objetivo é obter lucro. Dessa forma, o lucro desejado pode ser incorporado à
equação do ponto de equilíbrio, como segue:
Ponto de equilíbrio mais lucro = __Custos fixos + Lucro desejado___
Preço de venda – Custos variáveis
Inovadores
2,5%
Adotantes
precoces
13,5%
Maioria
precoce
34%
Maioria
tardia
34%
Morosos
(16%
Tempo de adoção das inovações
85
Na segunda (preços baseados na concorrência), é preciso haver capacidade para
igualar os próprios preços aos dos concorrentes ou ficar abaixo deles. Caso o preço
fique acima, o marketing deve mostrar aos compradores que seus produtos
oferecem maior valor do que a concorrência.
Na terceira (preços baseados no valor para o cliente), independentemente dos
custos da organização e dos preços da concorrência, as decisões de preços devem
levar em conta as percepções dos clientes sobre o valor de uma troca. Nesse caso,
a pesquisa é fundamental para identificar o que o público-alvo valoriza.
Assim, para Churchill e Peter (2003), devem ser considerados três elementos em
conjunto a fim de tomar decisões de preços: os custos e objetivos de lucro, as
estratégias de preços competitivas e o valor para o cliente.
Uma visão mais abrangente a respeito da composição do preço pode ser observada
na teoria de Yanaze e Crepaldi (2007). Os autores consideram a formulação do
preço de venda como sendo a expressão monetária do equilíbrio entre a empresa e
o mercado, como mostra a Figura 9.
Figura 9 – Preço de venda de equilíbrio
Potenciais: Financeiro
De conhecimento
De acesso
De Consumo
Necessidades: Fisiológicas
Segurança
Sociais/Afetivas
Reconhecimento
Autorrealização
Expectativas: Custo/Benefício
Satisfação
Utilidade
Estética
Potenciais: Financeiro
De Produção
De Comercialização
De Distribuição
Tecnológico
Necessidades: Capital de giro
Meios de produção
Colaboradores
Capacitação
Pesquisa
Expectativas: Remuneração do capital
Reinvestimentos
Lucro
EMPRESA
MERCADO
PREÇO DE
EQUILÍBRIO
Fonte: Yanaze e Crepaldi (2007, p.291).
86
O “preço de venda de equilíbrio” se compõe de fatores tangíveis e intangíveis, e
depende do peso relativo atribuído a cada um dos três fatores (potenciais,
necessidades e expectativas), tanto da empresa quanto do mercado desejado.
De forma tangível, pela ótica da empresa, o preço de venda resulta dos seus custos,
da sua expectativa de lucro e das suas necessidades de reinvestimento. Já pela
ótica do mercado, os componentes tangíveis são mensurados por pesquisas de
fatores externos que poderão indicar as faixas de preço passíveis de serem aceitas
pelo mercado. Já os componentes intangíveis do preço, na visão da empresa, se
baseiam na percepção que os consumidores possuem dos valores abstratos tais
como segurança, sociais e afetivos, reconhecimento e autorrealização, agregados
ao produto. Pela ótica do mercado, os componentes intangíveis do preço se referem
àqueles que atendam às necessidades superiores (aspirações e desejos), tanto dos
consumidores como das outras pessoas envolvidas no processo de compra.
Geralmente são identificados por meio de pesquisas qualitativas, segundo Yanaze e
Crepaldi (2007).
A composição do preço é um fator estratégico para que a venda de produtos
populares seja bem-sucedida, pois é um limitador de compra para seu público-alvo,
a população de baixa renda. O preço também é fundamental no processo de
construção de marcas populares e será analisado com esse enfoque no item 2.2,
“construção da marca”. A seguir, será abordado o terceiro elemento do mix de
marketing, a distribuição.
2.1.3 Distribuição
A principal função do canal de distribuição ou logística é levar o produto ao
consumidor final. Essa função inerente à estratégia de marketing, deve agregar
maior valor ao produto para que possa influenciar positivamente a percepção do seu
público consumidor.
Em alguns casos, o canal é formado somente pelo próprio fabricante que
comercializa diretamente ao consumidor. Em outros casos, os canais de distribuição
são formados pelo fabricante e um ou mais revendedores, os revendedores
87
trabalham com algumas funções de distribuição, e também podem ser chamados de
intermediários. A escolha dos canais apropriados influencia o sucesso da estratégia
de marketing, principalmente no que diz respeito ao processo de distribuição de
produtos populares, já que alterar (diminuir ou acrescentar) canais de distribuição
pode custar muito caro. Apesar disso, mudanças nos mercados-alvo, na economia
(uma recessão, por exemplo), mudanças sociais, podem acarretar mudanças na
estratégia de canal. (CHURCHILL; PETER, 2003).
O processo de distribuição ou logística visa a maximizar as utilidades tempo, lugar e
posse, já citadas no item Preço. Dias (1985) fala com propriedade sobre o assunto,
ao afirmar que:
A utilidade tempo: relaciona-se com a frequência de recompra do bem, a sua
sazonalidade ou ciclicidade. Produtos perecíveis como leite, verduras, ou
jornais necessitam de uma estratégia de distribuição diferente, por exemplo, da
de móveis, eletrodomésticos, calçados ou computadores.
A utilidade lugar: relaciona-se com a localização dos clientes (segmentação
geográfica do mercado), com o perfil do consumidor (segmentação do mercado
por classe socioeconômica, escolaridade, poder de compra) e com a
compatibilização entre imagem do produto e imagem do intermediário. É
importante estar atento a essa compatibilização da imagem do produto e do
canal de distribuição, pois ela influencia a construção da marca do produto. Um
produto popular deve, pois, ser distribuído em canais a que seu público-alvo
tenha fácil acesso e que lhe ofereça condições de pagamento adequadas às
suas necessidades.
A utilidade posse: envolve a transferência de propriedade do bem, do
intermediário ao consumidor final e/ou usuário. Inúmeras variáveis influenciam
essa utilidade tais como: preço, garantia, atendimento no ponto de venda,
conhecimento do produto por meio da propaganda, crediário, localização, entre
outras.
O sistema de distribuição deve ser montado tendo em vista um longo prazo de
vigência e a satisfação do consumidor, evitando-se fazer mudanças significativas a
88
fim de garantir a lealdade de seus distribuidores e prestar um bom serviço aos
clientes que saberão onde encontrar o produto; porém “o nível de contato, de
relacionamento, de serviços de cooperação, de lealdade, enfim, pode (e deve)
merecer aperfeiçoamentos constantes, em todos os níveis possíveis da atividade
administrativa das partes envolvidas”( DIAS, 1985, p.18).
Ações diferenciadas, como a busca de novos canais de distribuição localizados
mais próximos do público-alvo, se tornarão uma opção “facilitadora” de compra para
o consumidor. Muitas empresas hoje, adotam a estratégia de ir ao encontro do
consumidor de baixa renda. Cite-se, por exemplo, a Johnson&Johnson que, para
vender para a população de baixa renda, além de baratear o preço de alguns
produtos e criar outros, começou a testar a sua venda em quiosques localizados em
pontos com grande circulação de pessoas; e a Gol que, em 2007, passou a
comercializar as suas passagens aéreas por meio das 600 mil revendedoras da
Avon e Natura, contabilizadas na época.
Para que a relação de longa duração entre o produtor e o intermediário seja bem
sucedida, Dias (1985, p. 27) lista uma série de incumbências para cada um deles:
Ao produtor cabe produzir bem o produto que o consumidor deseja e
obter o melhor resultado de sua venda. Isto pode ser obtido por meio
da seleção correta dos intermediários; planejamento correto e
execução da política de relacionamento com seus intermediários e
investimentos compatíveis na imagem do produto e na integração do
sistema. Ao intermediário cabe investir e manter a operação para que
eleve cada vez mais a imagem do produto envolvido; freqüência
correta de compras, manutenção de níveis corretos de estoque; de
política de preços correta, troca de informações com o produtor e
outros intermediários, treinamento dos vendedores, serviços, layout
de loja e exposição do produto compatíveis com essa imagem.
Outros aspectos relevantes para o desenvolvimento do compromisso produto-
mercado podem acontecer por meio da sugestão de mark-ups (margens) e preço
final; respeito aos prazos de entrega, condições de venda, descontos;
estabelecimento de esquemas de comunicação com o mercado que respeitem a
89
unidade do conceito do produto, seja por propaganda, seja por promoção individual,
ou cooperada; definições sobre o tamanho do pedido, recompra, estoque e
sazonalidade; definições sobre área de atuação, de know how, franquias etc.
Para que uma organização possa estabelecer uma estrutura adequada ao seu
sistema de distribuição, ela precisa passar pelas seguintes etapas:
1) análise qualitativa e quantitativa do mercado consumidor;
2) análise da concorrência;
3) definição dos objetivos para com os consumidores, para consigo mesma e para
com os intermediários.
Sobre a quantidade e natureza dos intermediários, Dias (1985) expõe três opções de
distribuição: intensiva, seletiva e exclusiva.
Intensiva: Em função do tipo de produto, a empresa quer colocá-lo em
todos os intermediários possíveis, pois o grande objetivo é o volume de
vendas. Como o número de intermediários é muito grande, alguns
aspectos como o layout da loja, os serviços oferecidos têm importância
pequena. Essa distribuição é indicada para a venda de bens de
conveniência e de alto giro, em geral.
Seletiva: Nesta opção, o aspecto qualitativo de venda exige maior
cuidado, pois os produtos têm um valor unitário mais alto e alguma
diferenciação (explorada na propaganda). Aqui, o trabalho de
argumentação e qualidade no atendimento é relevante. É indicada para
bens de compra comparada e para alguns bens de baixo valor unitário. Os
eletrodomésticos e eletroeletrônicos se enquadram nessa opção de
distribuição, pois, além de apresentar um valor unitário mais alto que os
bens de conveniência, necessitam, em muitos casos, de vendedores
treinados e qualificados.
Exclusiva: O número de intermediários é limitado e eles são escolhidos em
função da necessidade de manter o prestígio do produto, do status que o
produto representa, da necessidade de um trabalho de vendas mais
especializado, de pós-venda, de layout da loja que seja compatível com o
nível do produto. É recomendada para bens de consumo de especialidade
e para alguns bens industriais de alta tecnologia.
90
Cada vez mais, os grandes varejistas aumentam a sua força entre os membros do
canal e ditam normas aos fabricantes, pois formam o elo mais próximo com o
cliente, compreendendo melhor as suas necessidades e desejos e detêm a
tecnologia que coleta em tempo real dados sobre as vendas dos produtos, o que
significa uma informação valiosa para os fabricantes. Segundo Dickson(1983), os
canais de distribuição estão ganhando força, e, cada vez mais, os fabricantes
dependem deles.
A maior rede varejista do país, as Casas Bahia, investe regularmente em pesquisas
internas e de inteligência de mercado para conhecer os anseios de seus
consumidores, segundo Raphael Klein, então diretor de marketing (DOTOLI, 2008).
Para os varejistas, o lançamento de vários produtos de marca própria acirra a
concorrência e obriga, cada vez mais, os fabricantes a se posicionarem de forma
destacada junto aos consumidores. Segundo Crescitelli e Fujisawa (2007, p.12), “os
produtos Marca Própria aumentam a lealdade dos consumidores, a rentabilidade do
varejo, a oferta de produtos e reduzem a atuação da concorrência (...). Todos esses
fatores adicionam valor à marca do varejista”. Além disso, já que são responsáveis
por grande volume de vendas dos fabricantes, os varejistas podem utilizar seu poder
de negociação para definir as práticas comerciais, como descontos, formas e prazos
de pagamento. Para evitar a dependência das grandes redes varejistas, alguns
fabricantes estão desenvolvendo os próprios canais de distribuição. A venda pela
internet feita diretamente nos sites dos fabricantes é um exemplo. “A distribuição não
é mais uma decisão do negociante. O consumidor decide como, onde e quando
deseja comprar, e o negociante fará melhor se lá estiver”, afirma Schultz (1994,
p.13).
No que se refere aos produtos eletroeletrônicos, de acordo com a pesquisa AC
Nielsen(2004) apud Chen (2006), os principais locais de compra dos consumidores
de baixa renda não demonstram diferenças significativas. As empresas, a princípio,
não precisam devolver novos canais de distribuição para atender a esse segmento.
As Casas Bahia, em todas as classes, são os principais locais de compra dos
produtos do setor. Conclui-se, então, que a distribuição tem peso menor nas
estratégias mercadológicas do setor.
91
2.1.4 Comunicação
A comunicação tem por objetivo principal fornecer informações para que o
consumidor possa adquirir o produto, bem como receber dele uma resposta para
que atenda, de forma eficiente, às suas necessidades. As informações que partem
da empresa devem explicar o que é o produto, onde encontrá-lo, mostrar que ele
proporciona valor ao comprador. Quando comunicam os benefícios especiais de
seus produtos, os profissionais de marketing e comunicação podem fazer que seus
clientes os comprem, e, consequentemente, aumentarão as suas vendas e lucros,
ou alcançarão outras metas estabelecidas no planejamento de marketing e
comunicação, como é o caso da construção de uma marca sólida.
Por outro lado, aproximar-se e comunicar-se com a população de baixa renda tem
sido um grande desafio para as empresas que, por décadas, estiveram longe desse
segmento. “A estrutura mental dos executivos e as suas idéias ainda estão muito
influenciadas por uma cultura de alta renda”, diz Juracy Parente, da FGV. Para
Haroldo Torres, diretor do instituto de pesquisa Data Popular, especilizado em baixa
renda, o trabalho das empresas fica mais difícil porque os que decidem as
estratégias para o mercado popular não têm contato com o universo da baixa renda
(FOLHA DE S.PAULO, 2007).
Além do desafio enfrentado pelos profissionais de comunicação e marketing para se
comunicarem com o público de baixa renda, outra dificuldade, de caráter interno à
empresa, pode precisar ser superada com o auxílio de uma estratégia de
comunicação adequada: o preconceito dos executivos em posicionar produtos em
favor da população de baixa renda.
Barki (2005) identificou que - na sua pesquisa realizada com supermercados de
pequeno, médio e grande porte focados na baixa renda -, na empresa de grande
porte analisada, os dirigentes mostravam preconceito em relação à atuação junto à
baixa renda, mesmo com o sucesso da empresa, já que para eles parece difícil
explicar internamente as estratégias que devem ser adotadas junto ao segmento de
baixa renda, visto, muitas vezes, como comprador de produtos de baixa qualidade e
preço baixo. “Há a necessidade de ’vender o conceito’ para o restante da empresa,
mostrar o potencial do mercado e indicar os caminhos para atender adequadamente
92
a essa população”, afirma Barki(2005, p.133). Nas empresas de menor porte, não
foram identificados restrições ou preconceito em trabalhar com a população de baixa
renda, uma vez que a maior parte dos funcionários e mesmo os donos vieram das
classes mais baixas.
Por outro lado, reconhecida como uma grande conhecedora desse público, as
Casas Bahia, maior rede varejista do Brasil, está sempre avaliando a sua
comunicação por meio de pesquisas que visam, principalmente, a garantir a sua
eficácia e agradabilidade, adequando estratégias de acordo com os aprendizados e
anseios dos consumidores, segundo Raphael Klein, diretor de marketing. Ele afirma
que “isso se reflete na preferência pela loja e na marca presente na mente dos seus
consumidores, a maioria das classes populares: nove entre dez pessoas consideram
as Casas Bahia uma opção para a próxima compra de eletrodomésticos, celulares
ou móveis. Além disso, a rede foi vencedora, em 2007, pela sétima vez consecutiva,
do Prêmio Top of Mind da Folha de S. Paulo, realizado pelo Datafolha, na categoria
de lojas de móveis e eletromésticos (DOTOLI, 2008).
Algumas empresas já se estão mobilizando para entender melhor as necessidades
desse público. A agência Neogama patrocinou um tour por várias regiões de São
Paulo e propôs vários exercícios aos publicitários como: fazer compras do mês em
mercearias da periferia com pouco dinheiro ou trabalhar como vendedor ambulante;
outras agências estão promovendo encontros com integrantes de comunidades de
baixa renda para discutir o comportamento dos consumidores de baixa renda. A
Nestlé criou a diretoria de regionalização e base da pirâmide e enviou equipes
inteiras para visitarem favelas e entenderem melhor esse público (Ribeiro, 2007). A
Nestlé, também, alterou a sua comunicação, que era única para todo o país. A
propaganda do café, por exemplo, que antes retratava o consumo em um clima frio,
mesmo em cidades quentes do Nordeste, hoje reforça, nessa região, o rendimento
do produto (BRITO, 2007).
A Procter & Gamble pesquisa as casas de baixa renda desde 2001, para entender
melhor seu consumidor. Dessa experiência, surgiu o sabão em pó Ace para o
tanque, a fralda Pampers Básica e o absorvente Always Básico (Cançado e Aragão,
2007). A Unilever, por exemplo, abriu a sua fábrica no Nordeste nos anos 90 e lá
93
desenvolveu produtos específicos para a região como o sabão em pó Ala e a versão
compacta do desodorante Rexona.
Nos exemplos citados, nota-se a importância de conhecer bem o público-alvo, aqui
tratado como o consumidor de baixa renda, e de implantar também, estratégias de
comunicação focadas nos funcionários de todos os níveis hierárquicos e nos demais
stakeholders (diversos públicos que se relacionam com a empresa, tais como:
funcionários, colaboradores, consumidores, fornecedores, acionistas, governo,
imprensa, comunidades locais, distribuidores, instituições financeiras), minimizando,
assim, o preconceito em atuar no mercado de baixa renda.
Neste estudo, adota-se, de fato, o conceito mais abrangente de comunicação
integrada de marketing (CIM)
22
, com a intenção de promover o relacionamento por
meio da comunicação constante e de duas vias, entre os stakeholders e a empresa.
Para implementar estratégias e táticas eficientes, convergentes e sinérgicas na área
de comunicação, com vistas ao atingimento dos objetivos da organização, deve-se
refletir que a comunicação organizacional é formada por quatro grandes áreas, de
acordo com Kunsch (2003):
1) Comunicação Administrativa: relaciona-se às estratégias de comunicação que
ocorrem dentro da organização e permitem viabilizar o sistema organizacional,
beneficiando a sua gestão por meio de instrumentos formais (reuniões, intranet,
quadros de aviso) ou informais (café no corredor, happy hour, bilhetes).
2) Comunicação Interna: trata-se da comunicação planejada “para viabilizar toda a
interação possível entre a organização e seus empregados” (Kunsch, 2003: p.154).
22
Comunicações Integradas de Marketing (CIM) é “uma nova maneira de olhar para o todo, lá onde
há algum tempo víamos apenas partes distintas, tais como propaganda, relações públicas,
promoções de venda, compras, comunicações de empregados e assim por diante. É o realinhamento
das comunicações a fim de observá-las do mesmo modo como o cliente as vê – como um fluxo de
informações proveniente de fontes indistinguíveis.” (SCHULTZ, TANNENBAUM e LAUTERBORN
apud YANAZE, 2007, p.332)
94
Ela pode lançar mão da comunicação institucional e da mercadológica
(endomarketing)
23
.
3) Comunicação Mercadológica: refere-se à comunicação com cada um dos
públicos-alvo
24
de quem se espera uma reação positiva em relação à mensagem
divulgada. Como exemplos de ações de comunicação mercadológica, pode-se citar:
anúncios publicitários pagos, participação em eventos e feiras empresariais,
patrocínio de eventos.
4) Comunicação Institucional: é a responsável pela construção da identidade
corporativa forte e positiva da organização, ou seja, “constrói uma personalidade
creditável organizacional e tem como proposta básica a influência político-social na
sociedade em que está inserida” (Kunsch, 2003, p.164).
Ao analisar as quatro áreas acima propostas por Kunsch (2003), concordamos com
a opinião de Yanaze (2007) que excluiu uma delas na sua abordagem - a
“comunicação interna” – pois, entende que o público interno pode também interagir
com a organização por meio das outras áreas de comunicação (administrativa,
mercadológica e institucional).
Nota-se, assim, a relevância de uma estratégia bem fundamentada de Comunicação
Organizacional também para as empresas que atuam no mercado popular.
Após discutir as áreas que compõem a comunicação organizacional, é importante
focar nas metas estratégicas da comunicação mercadológica. De acordo com
Churchill e Peter (2003), a comunicação de marketing possui algumas metas
estratégicas que estão descritas na Tabela 6, a seguir. Essas metas devem ser
perseguidas atentamente pelos profissionais de marketing e comunicação a fim de
possibilitar a constante e sistemática interação entre a organização e seus diversos
públicos.
23
O termo endomarketing, criado por Saul F. Bekin, em 1995, refere-se a “ações de marketing
voltadas para o público interno da empresa, com o fim de promover, entre seus funcionários e
departamentos, valores destinados a servir o cliente.” (BEKIN apud KUNSCH, 1995, p. 154).
24
O público-alvo da comunicação pode constituir-se dos fornecedores, distribuidores e clientes da
organização, ou seja, dos segmentos que representam seu universo de interesse para que possa
atingir o objetivo proposto na comunicação.
95
Tabela 6 - Algumas metas estratégicas da comunicação de marketing
Meta estratégica Descrição
1. Criar consciência Informar o público sobre produtos, marcas, lojas ou
organizações.
2. Formar imagens positivas Criar na mente das pessoas avaliações positivas
sobre produtos, marcas, lojas, organizações.
3. Identificar possíveis clientes Descobrir nomes, endereços e possíveis
necessidades de compradores potenciais.
4. Formar relacionamento no canal
A
umentar a cooperação entre membros do canal.
5. Reter clientes Criar valor para os clientes, satisfazer seus desejos
e necessidades e conquistar sua lealdade.
Fonte: Churchill e Peter ( 2003, p.447)
A comunicação de marketing para criar consciência, ou seja, para informar, é
particularmente importante para novos produtos ou marcas, mas também é
fundamental quando se quer expandir os produtos existentes pelo mercado global
(meta 1).
Quando produtos ou marcas já possuem imagens claras, ajudam os potenciais
compradores a entender o valor que está sendo oferecido. Imagens positivas podem
até criar valor para os clientes acrescentando significado aos produtos. A marca
Consul é um exemplo. Está associada pelos seus consumidores à confiança, ao
bom custo x benefício, à alegria, entre outros atributos (meta 2).
A comunicação de marketing também pode ser direcionada para identificar
consumidores em potencial e criar relacionamento com eles. Aí, pode esclarecer o
que eles desejam e necessitam e como a empresa pode satisfazê-los. A pesquisa
de informações sobre clientes é um precioso instrumento nesse caso (meta 3).
Quando os produtores utilizam a comunicação para estimular a demanda por seus
produtos, por exemplo, também estão ajudando seus revendedores. Eles podem
combinar com os varejistas promoções, distribuição de cupons de descontos,
aumentando o tráfego e as compras na loja. Essa parceria também existe quando os
varejistas apoiam os fabricantes, apresentando as marcas em seus anúncios para
atrair compradores. Assim, a cooperação entre os membros fortalece as relações de
canal (meta 4).
96
Além das citadas anteriormente, a comunicação de marketing pode ter como meta
criar valor para os clientes a fim de torná-los fiéis. Os programas de fidelização, por
exemplo, podem fazer que os clientes consumam mais os bens ou serviços
oferecidos (meta 5).
Apreende-se, então, que, se a população de baixa renda foi incorporada
recentemente ao mercado de consumo, a comunicação de marketing necessita de
estratégias que possibilitem cumprir todas as metas acima citadas, desde informar
sobre o produto até conquistar a sua lealdade, falando uma linguagem que seja
entendida por ela.
Para ampliar o entendimento de Churchill e Peter (2003), somado ao conceito AIDA
(atenção, interesse, desejo e ação) de Strong apud Yanaze (2007, p.328), são
apresentados, a seguir, treze objetivos que compõem o processo de comunicação,
segundo esse autor (2007, p.328):
1. despertar consciência acerca das necessidades relacionadas ao objeto da
comunicação;
2. chamar atenção do receptor da mensagem utilizando elementos relevantes para
ele;
3. suscitar interesse: é importante que os elementos utilizados na etapa anterior com
o fito de chamar a atenção para a mensagem se relacionem ao despertar da
consciência;
4. proporcionar conhecimento: o receptor interessado está apto a receber
informações mais detalhadas, ampliando seu conhecimento sobre o objeto da
comunicação;
5. garantir identificação, empatia: a linguagem utilizada na comunicação deve fazer
parte do repertório do receptor, aumentando assim, as suas possibilidades de
percepção e identificação com o objeto da comunicação;
6. criar desejo: depois de se identificar com as mensagens mostradas, o processo
de comunicação deve valer-se de elementos que despertem o desejo de aquisição e
uso do produto, serviço ou conceito oferecidos;
7. conseguir a preferência: em meio à concorrência, nessa etapa, o importante é
criar argumentos que garantam a escolha do indivíduo;
8. levar à decisão: após garantir a preferência do receptor da mensagem, a
comunicação deverá levá-lo a agir de acordo com seu objetivo;
97
9. efetivar a ação: pode acontecer que surjam mesmo após a decisão ter sido
tomada, alguns fatores que poderão impedir a ação, como falta de dinheiro ou de
tempo para comprar. A comunicação deve identificar esses fatores previamente e
criar circunstâncias que levem seu público-alvo à ação.
10. garantir e manter a satisfação pós-ação: O Serviço de Atendimento ao Cliente
(SAC), treinamentos, assistências técnicas são alguns dos recursos das empresas
para manter uma relação positiva com os consumidores.
11. estabelecer interação: é importante abrir canais adequados para que os
receptores possam manifestar as suas opiniões (reclamações, dúvidas, sugestões,
elogios). Assim, a empresa poderá estabelecer um vínculo com seus públicos,
visando à melhoria de relações com eles.
12. obter fidelidade: manter um cliente é um grande desafio para as empresas,
principalmente as que produzem produtos populares com a vantagem competitiva
baseada exclusivamente em preço. Cabe à empresa, na eventual perda de clientes
para a concorrência, identificar os motivos e tentar revertê-los.
13. gerar disseminação de informações entre os interlocutores: a empresa deverá
formar disseminadores de comunicação positiva, no círculo de convivência do seu
público-alvo, estabelecendo estratégias de comunicação específicas para incentivar
seus consumidores satisfeitos a emitir opiniões favoráveis a pessoas das suas
relações.
A partir das considerações expostas acima, acredita-se que, tendo como alvo os
consumidores de baixa renda, alguns objetivos são particularmente mais difíceis de
ser atingidos no processo de comunicação, tais como o 5 (Identificação) e o 12
(fidelidade), e merecem especial atenção. No primeiro caso, percebe-se que os
profissionais de comunicação necessitam conhecer melhor a linguagem adequada
para mobilizar esse público. No segundo caso, é fundamental iniciar um processo de
construção de marcas populares, minimizando a relevância do preço na decisão de
compra deste target, fato que desfavorece a fidelidade.
Serão analisados a seguir, os elementos do composto de comunicação com a
intenção de aplicar a utilização das suas ferramentas à estratégia de comunicação
dos produtos populares nesta pesquisa. O uso da comunicação para a construção
de marca será abordado no item “construção da marca” ao final deste capítulo, por
se tratar de um fator específico relacionado à marca e que necessita ser mais
aprofundado.
98
Elementos do composto de comunicação
Para selecionar de forma eficiente o composto de comunicação, existe uma etapa
anterior que se refere a identificar e conhecer a fundo o público-alvo, seu tamanho,
localização geográfica. Desse modo, o comunicador pode decidir sobre o quê, como,
quando, onde e para quem enviar a mensagem e pode assegurar-se de que ela
chegará ao consumidor-alvo e de que a chance de obter um feedback aumentará
significativamente.
O composto de comunicação, de acordo com Churchill e Peter (2003) combina
quatro elementos para criar a estratégia geral da comunicação de marketing:
propaganda, promoção de vendas, vendas pessoais e publicidade.
Complementando os elementos citados por Churchill e Peter (2003), na visão de
Kotler e Keller (2006, p. 533), o mix de comunicação de marketing é composto de
seis formas essenciais de comunicação: propaganda, promoção de vendas, relações
públicas e assessoria de imprensa, vendas pessoais, marketing direto e eventos e
experiências. Estas serão acatadas nesta pesquisa e serão analisadas a seguir.
1. Propaganda: são as mensagens persuasivas pagas veiculadas por tempo
determinado nos meios de comunicação de massa por um anunciante
identificado. Os profissionais de marketing e a agência de propaganda (se existir
uma) devem selecionar quando (qual o período de duração da campanha), como
(qual a linguagem e a forma da mensagem) e onde anunciar (qual mídia). Cada
veículo (jornal, revista, televisão, outdoor, rádio, internet, cinema etc.) possui as
suas vantagens e desvantagens e pode trazer melhor resultado de acordo com o
produto, serviço, idéia divulgados. Apesar de ter um custo por pessoa atingida,
ou custo por mil (CPM) mais baixo, a propaganda exige alto investimento total.
Entende-se que, em se tratando de produtos de marcas populares, os custos
variáveis devem ser minimizados, e, portanto, utilizam menos a propaganda
como ferramenta da comunicação. No setor eletroeletrônico, existe a
possibilidade de os investimentos em propaganda serem feitos de forma
cooperada com as lojas de varejo e hipermercados. A rede Casas Bahia, que
99
tem, como alvo, a população de baixa renda, é o maior anunciante do Brasil, e
um dos maiores vendedores de eletroeletrônicos.
Mesmo assim, se compararmos, como exemplo, o investimento em propaganda
da marca Consul em relação à marca premium Brastemp, ambas pertencentes à
Whirlpool S.A. , o primeiro é sempre menor, como pode ser observado no Gráfico
7 :
Gráfico 7 – Investimento publicitário das marcas Brastemp e Consul 2001 a 2006
Quanto à linguagem da propaganda para a baixa renda, de acordo com Silveira
(2004), que entrevistou alguns publicitários
25
, pode-se afirmar que ela precisa ser
objetiva, simples, informativa e verdadeira, facilitando ao público poder fazer a
melhor escolha na hora da compra. A mensagem também deve ser relevante e
coerente com os conjuntos de valores e símbolos das classes populares.
2. Promoção de vendas: é utilizada para obter resultados rápidos no aumento das
vendas, o que ocorre por meio do estímulo da experiência com o produto,
aumento da demanda ou da disponibilidade do produto no ponto de venda. Pode
ser direcionada aos consumidores finais (exemplo: cupons de descontos,
25
Foram entrevistados: Felipe Gall (redator da Bates Brasil), Ken Fjioka (diretor de planejamento da
Loducca), Helena Quadrado (vice-presidente e diretora de planejamento estratégico da McCann-
Erickson Brasil), Renato Meirelles (Popular Comunicação), Rui Branquinho (redator da W/Brasil), Rita
de Cássia Almeida(diretora de planejamento da Almap/BBDO).
5.401
15.122
1.127
15.749
6.169
12.092
8.525
10.605
13.599
30.699
13.173
53.598
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Consul Brastemp
Valores em R$ 000
Fonte: Ibope Monitor
Investimento Publicitário Multibrás
Brastemp e Consul - 2001 a 2006
100
amostras grátis, brindes, concursos, merchandising e degustação no ponto-de-
venda); à equipe de vendas da empresa (premiação, comissão sobre as vendas
etc.); aos intermediários (descontos crescentes proporcionais ao volume de
vendas, premiação pela superação dos objetivos de vendas etc.).
Para Batista (2007, p.354-5), “as promoções de venda podem ser boas
ferramentas para atrair novos usuários, facilitar compras repetidas, estimular
estocagem dos consumidores e aumentar tráfego nas lojas”. Geralmente, ocorre
em conjunto com a propaganda ou a venda pessoal. Com relação à promoção
junto ao consumidor final, deve-se ter cuidado para não usá-la continuamente,
pois, dessa forma, pode ser ignorada pelo público-alvo, ou gerar desconfiança
nele com relação à qualidade do produto.
Pelo fato de a propaganda ter pouco impacto no desempenho de curto prazo
(exceto as campanhas de ofertas das redes de varejo), muitas empresas dos
mais variados segmentos optam por ferramentas como a promoção de vendas,
que afetam as vendas de forma imediata e mensurável, segundo afirma Aaker
(1998, p. 10): “durante a semana de uma promoção, aumentos significativos de
vendas são constatados para muitas classes de produtos: 443% para sucos de
frutas, 194% para refeições congeladas, 122% para detergente de lavar roupas”.
O autor revela que houve um crescimento dramático de promoções de vendas
nas últimas duas décadas, tanto das dirigidas aos consumidores finais (cupons e
descontos, por exemplo), quanto das dirigidas ao varejo (descontos por
embalagem do atacado, entre outras).
Rui Branquinho, redator da W/Brasil, lembra que a comunicação popular
geralmente usa recursos mais diretos, como promoções, liquidações. “Tão
importante quanto os anúncios em mídia impressa, rádio ou TV, é a distribuição
do produto e o material de divulgação no ponto de venda”, continua ele
(SILVEIRA, 2004). Ogden e Crescitelli (2007, p. 83) concordam com ele, ao
afirmarem que “(...) os materiais de ponto de venda são itens que conquistam a
atenção dos consumidores, melhorando a atratividade da mercadoria exposta e
ajudando o varejista a usar o espaço da loja de modo mais eficiente”.
101
Apesar de a ferramenta de promoção de vendas oferecer resultados em curto
prazo, representa um risco para a organização em longo prazo, pois não
trabalha a fidelização pela marca. Para a população de baixa renda o aval da
marca é muito importante, é um sinal de qualidade, uma segurança, e diminui a
ansiedade de comprar algo errado, apesar da sua escolha ser orientada pelo
preço (ALMAP/BBDO;Datafolha, 1996).
Batista (2007) faz uma relação entre o tamanho do incentivo promocional e a
qualidade do produto, no que diz respeito à mudança de comportamento. Para o
autor (2007, p.365), “o foco deve ser aumentar, passo a passo, a recompensa
pela qualidade percebida do produto (racional) em detrimento da oportunidade
gerada pela promoção (reacional)”.
3. Relações Públicas e Assessoria de imprensa: De acordo com Bennett apud
Churchill e Peter (2003, p. 454), publicidade é “uma comunicação, vista como
não paga, de informações sobre a companhia ou produto, geralmente na forma
de alguma mídia”. No Brasil, entretanto, o termo publicidade é muito usado como
sinônimo de propaganda, e por isso a divulgação não paga de informações na
mídia sobre determinada empresa, produto, pessoa é conhecida como relações
públicas e assessoria de imprensa, termos estes utilizados por Kotler (2000,
p.585).
As funções das Relações Públicas segundo este autor vão muito além da
divulgação de produtos, e compreendem: relações com a imprensa; divulgação
gratuita do produto; comunicação corporativa; lobby e aconselhamento à
administração. No que tange à divulgação do produto, o fato de ser feita de
forma gratuita não a torna totalmente favorável pela ótica do emissor da
mensagem, pois não há como controlar o que será divulgado pela mídia, bem
como quem receberá a mensagem. Porém, por seu caráter institucional, faz que
o público esteja mais propenso a acreditar nas informações que recebeu. Para
Kunsch (2003), a prática das Relações Públicas é compreendida atualmente
como uma função estratégica indispensável a fim de que as organizações se
posicionem institucionalmente e administrem de forma eficaz seus
relacionamentos com os stakeholders.
102
As atividades de relações públicas combinadas com outros elementos do
composto podem, então, ser muito eficientes para o atingimento dos objetivos de
marketing das empresas que têm como alvo o público de baixa renda. Para ele,
as marcas com maior presença na mídia e maior notoriedade desempenham
uma função importante, pois aumentam o nível de certeza em relação à compra
(ALMAP/BBDO;DATAFOLHA, 1996).
4. Venda pessoal: é a venda que envolve interação pessoal com o cliente, e pode
ser mais bem aproveitada para aumentar a preferência do consumidor e levá-lo à
ação. Pode ser realizada face a face, por telefone, fax ou internet. Permite a
interação direta e pessoal entre o comprador e vendedor, garantindo, assim, que
o vendedor conheça melhor o seu cliente e obtenha uma resposta imediata para
a área de marketing, que pode realizar os ajustes necessários nos próximos
contatos. Seu custo por contato com cliente é maior do que outros tipos de
comunicação. Mas, em se tratando de produtos eletroeletrônicos, que trazem
inovações tecnológicas constantes, funções diferenciadas, a necessidade de
informação e atenção na hora da compra é muito grande, e são mais
requisitadas principalmente pelo consumidor de baixa renda que está entrando
no mercado de consumo.
Arruda (1981) afirma que “as precárias condições socioeconômicas e culturais
do consumidor de baixa renda o predisporiam a acatar as sugestões do vendedor
com maior facilidade e menor objetividade (lembramos que produtos de consumo
durável geralmente demandam mais venda pessoal do que outros tipos de bens).
O consumidor de classes baixas está mais propenso a depender dos cartazes
das lojas e dos vendedores, pois em geral eles têm menos informações a
respeito do produto (MOWEN;MINOR, 2003). Ele quer ser tratado com
dedicação, respeito e honestidade e se apoia muito na palavra do vendedor
(ALMAP/ BBDO;DATAFOLHA, 1996).
5. Marketing Direto ou Comunicação Direta: Há muitas formas de realizar o
marketing direto, ou utilizando a expressão correta, conforme Yanaze (2007, p.
15) “comunicação direta”. Pode-se citar, por exemplo, a mala direta, televendas,
comunicação pela internet, porém algumas características são comuns a todas
elas, segundo Kotler (2000). O marketing direto ou comunicação direta é privada,
103
personalizada, atualizada e interativa. Seu retorno é facilmente mensurável e
pode apoiar as atividades de relacionamento com o cliente por meio de envio de
brindes, cartões em datas comemorativas e informações relevantes ao cliente.
Do ponto de vista do cliente, existem muitas vantagens pois, comprar em casa é
mais prático e conveniente, economiza seu tempo e ele pode contar com uma
variedade muito maior de produtos. Em contrapartida, não há a possibilidade de
ter contato físico com o produto ou experimentá-lo antes da compra. Do ponto de
vista da empresa, o banco de dados é uma fonte valiosa de informações sobre
clientes atuais, clientes potenciais e ex-clientes. A empresa pode utilizá-lo para
oferecer ofertas específicas direcionadas a um determinado segmento, para
reativar ex-clientes, por exemplo.
Para atingir as classes populares, seja por mala direta, telemarketing ou qualquer
outro canal de comunicação direta, as frases precisam ser curtas e objetivas,
com palavras simples, evitando o uso de inglês ou outras línguas . O fato de
receberem um volume menor de correspondências com ofertas de produtos pode
fazer que a comunicação seja valorizada. Segundo Rui Piranda, vice-presidente
de criação da Datamidia/FCBi, “quando apresentamos uma oferta de produto
com uma comunicação personalizada, esse público se sente extremamente
envaidecido.” (REVISTA DA ABEMD, 2006.)
6. Eventos e experiências: possibilitam ampliar e aprofundar o relacionamento da
empresa com seus consumidores-alvo quando esta se torna parte de um
momento especial das suas vidas, segundo Kotler:Keller(2006). Além disso,
atualmente se atinge uma porcentagem menor do público com a mídia tradicional
do que se atingia na década de 80. Grandes marcas como Coca-Cola, Apple
estão criando experiências entre o seu público e as suas marcas. “Marcas
menores, pela própria necessidade, seguem uma tendência ainda maior de
adotar caminhos menos óbvios e menos caros”, afirmam Kotler;Keller(2006, p.
591).
No Brasil, algumas empresas do setor eletroeletrônico já utilizam os eventos e
experiências para se relacionar com a população de baixa renda, como a Casa-
Caminhão Consul que promove cursos de culinária, gincanas, aulas de
artesanato, rodando por todo o Brasil. Nos mesmos moldes, realiza-se o Festival
104
Dako, outro evento itinerante que utiliza um caminhão totalmente equipado com
uma cozinha experimental.
É importante complementar a análise dos elementos do composto de comunicação,
trazendo a tendência de divisão da verba total de marketing investida pelas maiores
empresas do país, de 1998 a 2000, como mostra o Gráfico 8.
Gráfico 8: Divisão da verba total de marketing
Fonte: Booz Hallen & Hamilton/Curso de Gestão Abril (CGA).
Nota-se que ocorre uma queda da verba de marketing destinada à veiculação na
mídia, passando de 80%, em 1998 para 50% em 2000. Em contraposição, destaca-
se o importante aumento da verba de marketing destinada a ações non-mídia, de
20% em 1998 para 50% em 2000. Por ações non-midia, também chamadas below-
the-line (BTL), entende-se todo o tipo de ação executada pela empresa, que não é
veiculada nos meios de comunicação, tais como: patrocínio de eventos,
merchandising em ponto de venda, promoções de venda.
Como consequência do deslocamento dos investimentos de ações em mídia para
ações non-midia, observa-se a fragmentação do orçamento dos maiores
anunciantes do país entre as diversas ferramentas de marketing como mostra a
Tabela 7.
20%
40%
50%
80%
60%
50%
1998 1999 2000
Mídia
Non-mídia
105
Tabela 7 - Participação das ferramentas nas verbas de marketing - 2003
Fonte: InterScience apud Blecher (2003b, p.46) Revista Exame – 26.11.2003.
A propaganda ainda detém a maior participação do total investido em marketing,
porém promoção, eventos e merchandising, ferramentas non-mídia, concentram
30,3% da verba dos maiores anunciantes. Essa tendência de deslocamento da
verba para ações non-mídia, pode ser explicada tanto pela pressão que as
empresas sofrem para incrementar as vendas a curto prazo, como pela necessidade
de aprofundar o relacionamento, mantendo-se mais próxima de seus públicos-alvo e
utlilizando-se da estratégia de comunicação 360 graus.
26
No que se refere às estratégias de curto prazo que objetivam o crescimento rápido
das vendas, podem ser estratégias perigosas, pois acabam por relevar ao segundo
plano a importância de investir na construção de uma marca forte que trará melhores
resultados a longo prazo.
A estratégia de construção de marca é ainda mais relevante quando o foco é a
atuação no mercado de baixa renda, em que os produtos populares devem
obrigatoriamente ter preços mais baixos e qualidade assegurada, e os consumidores
26
A comunicação 360 graus é uma técnica recente que visa à sinergia perfeita entre todas as
atividades de marketing e comunicação desenvolvidas para a marca. Com relação à mídia, a técnica
prevê que sejam explorados todos os canais de comunicação que fazem parte da vida do consumidor
desde a hora em que acordam, dentro e fora de casa, no trabalho, no trânsito ou no lazer. “A idéia da
comunicação 360 graus é certificar-se do permanente convívio do consumidor com as informações da
marca” (FRANZÃO, 2006).
Propaganda 48,0%
Promoção 16,1%
Eventos 7,5%
Merchandising 6,7%
MKT Direto 6,0%
Pesquisa de Mercado 5,3%
Patrocínio 4,5%
Internet 3,1%
MKT Social 2,3%
Outros 0,5%
Participação das ferramentas nas
verbas de marketing em 2003
106
necessitam ser “educados” sobre qual produto e marca atende melhor a suas
necessidades. O tema “construção da marca” será, portanto, abordado no próximo
item.
2.2 Construção da marca
Neste item, primeiramente, pretende-se mostrar as definições e classificações de
marca e, em seguida, os fatores fundamentais para construir marcas de sucesso,
com a intenção de aplicá-los especificamente à construção de marcas de produtos
populares, já que em algumas categorias de produto, como sabão em pó, geladeira,
televisor, tênis, o consumidor de baixa renda não abre mão de marcas de qualidade,
embora tenha de escolher circunstancialmente pelo preço, dependendo da
disponibilidade financeira do momento (ALMAP/BBDO;DATAFOLHA, 1996).
Duas variáveis apresentam maior importância e serão analisadas com destaque: o
preço, porque influencia diretamente a imagem e o posicionamento da marca, e o
uso da comunicação na construção de marcas com enfoque na propaganda, a
ferramenta mais cara do composto, em valores absolutos. Isso justifica seu uso
restrito na construção de marcas de produtos populares, já que todos os custos são
rigorosamente controlados para que os produtos tenham uma margem de
rentabilidade mínima que justifique, perante os acionistas, a sua permanência no
mercado.
Alguns objetivos da marca, tais como identificação e diferenciação, aparecem no
conceito de marca desenvolvido pela American Marketing Association- AMA (2008):
um nome, termo, design, símbolo, sinal ou qualquer outra característica que
identifique um bem ou serviço de um vendedor como diferentes de outros bens e
serviços de outros vendedores.
Numa visão teórica inovadora, Bedbury (2002, p. 37) afirma que a marca é uma
soma do bom e do ruim e até do que não estava previsto na estratégia:
A marca é o somatório do bom, do ruim, do feio e do que não faz
parte da estratégia. (...) As marcas absorvem conteúdo, imagens
sensações efêmeras. Tornam-se conceitos psicológicos na mente
107
do público, onde podem permanecer para sempre. Como tal, não se
pode controlá-las por completo. No máximo, é possível orientá-las e
influenciá-las.
Do ponto de vista da legislação vigente, apresenta-se o conceito de marca
registrada, que diz respeito a uma marca que tem a proteção legal para uso
exclusivo de seu proprietário, o detentor do registro. No Brasil, o Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (INPI), ligado ao Governo Federal, é o órgão responsável
pelo registro. Kapferer (2004) afirma que, para o jurista, a marca nasce a partir do
momento em que se faz o registro legal. Ele a define como “um sistema vivo
composto de três elementos: um multissinal (nome, identidade gráfica, símbolo),
associado a um (ou mais) produto(s)/serviço(s), ao(s) qual(is) é associada uma
promessa de qualidade, segurança e pertinência a um universo” (KAPFERER, 2004,
p. 14).
Considerando fatores psicológicos, Gobé (2002) criou o termo marca emocional, que
corresponde ao meio pelo qual as pessoas se conectam subliminarmente com as
empresas e com seus produtos de forma emocional. Na mesma linha de
pensamento, Perez (2004, p. 10) constrói uma nova forma de interpretação que
permeia a psicologia: “a marca é uma conexão simbólica e afetiva estabelecida entre
uma organização, a sua oferta material, intangível e aspiracional e as pessoas para
as quais se destina".
Ignácio (2003) cita na sua pesquisa três tipos de marca: marca própria, marca líder e
marca B. Para a autora, os produtos de marca própria são aqueles cujas identidades
são controladas pelos varejistas ou atacadistas. Estes têm como objetivo fortalecer a
imagem das suas cadeias, criando um diferencial sobre a concorrência, além de
aumentar a rentabilidade das suas redes e ampliar o leque de opções do
consumidor. Embora as marcas próprias sejam baseadas em preço, alguns
varejistas começam a enfatizar a qualidade como fator importante, com base em
pesquisas de mercado e estratégias mercadológicas.
Enquanto se verifica o aumento do número de marcas próprias no Brasil, as marcas
dos fabricantes, geralmente chamadas de marcas líderes, sofrem uma efetiva perda
de mercado. O Estudo do Comportamento do Consumidor de 2001, do AC Nielsen
(IGNÁCIO, 2003), apontou para o fato de que, do total de marcas líderes presentes
108
nas 157 categorias auditadas pelo instituto, somente 18% tiveram aumento de
participação de mercado em 2001, se comparado ao ano de 1998; 19% delas
apresentaram estabilidade e 63%, a grande maioria, perderam participação de
mercado no período. Nesse contexto, os fabricantes vêm sendo forçados a reduzir
os preços das suas marcas, pressionados pelo varejo, mas, ainda assim, são
superiores aos preços das marcas próprias do varejo.
Outro conceito essencial, em se tratando de marcas direcionadas à população de
baixa renda, é o de “marcas talibãs”, cunhado por Blecher (2002), as quais, na sua
maioria, pertencem a novos desafiantes no mercado, compostos por pequenas e
médias empresas nacionais. Elas são ágeis, flexíveis e guerrilheiras - uma espécie
de talibãs do mundo corporativo - com operações enxutíssimas e chegam a custar
nas prateleiras bem menos da metade do preço das tradicionais. Nota-se que as
“marcas talibãs”, assim como as marcas próprias e as marcas B, estão roubando
share de mercado de marcas líderes, já consolidadas há muito tempo.
Não se deve confundir, entretanto, marcas talibãs com marcas econômicas ou
marcas B. As marcas talibãs, em certos casos, operam ilegalmente e têm um caráter
efêmero, ou seja, entram no mercado e dele saem, aparentemente sem estratégias
definidas, aproveitando uma oportunidade momentânea. O termo marcas
econômicas é considerado aqui como sinônimo de marcas populares ou B-Brands
(marcas B). No relatório do Boston Consulting Group (BCG), de 2002, o conceito de
B-Brand adotado segue a visão da indústria: marcas mais baratas e de qualidade
inferior quando comparada às marcas líderes tradicionais. Compreende-se, aqui, por
B–Brands ou marca popular, a marca de um produto popular prioritariamente dirigida
ao segmento de baixa renda. Como exemplo, pode-se citar os refrigerantes
Convenção, o sabão em pó Ala e os salgadinhos Torcida.
Além das razões já mencionadas, o crescimento das marcas B pode ser justificado,
segundo Ignácio (2003), por outros motivos:
crescimento do número de lojas pequenas tradicionais das periferias e
dos pequenos supermercados. Nesses pontos de venda, cerca de 80%
dos fornecedores consistem em fabricantes de marcas de baixo preço,
109
permitindo a comparação entre a marca líder e a grande maioria das
marcas B, no momento da compra;
redução pelas muitas marcas líderes de seus investimentos em
veiculação de campanhas publicitárias, ficando menos presentes na
mente dos consumidores e também dos varejistas;
maior acesso à tecnologia para a produção de determinados produtos
por parte das empresas menores, fabricantes de produtos de baixo
preço. Isso se torna relevante se considerarmos a difusão de inovação
entre as classes de baixa renda.
Expressam-se, por meio dos conceitos citados acima, as diferentes visões da
definição de marca, as quais são complementares e não contraditórias. Como se
pode observar, em todas elas, nota-se a necessidade de se estabelecer o vínculo
entre a organização e o público-alvo consumidor. Tomando-se como base a teoria
apresentada, três palavras-chave são obrigatórias quando se define marca:
identificação, diferenciação e símbolo.
A partir da discussão sobre a importância da construção de marca versus preço
baixo na categoria de produtos populares e no segmento da população de baixa
renda, será analisado, mais detalhadamente o tema construção da marca.
Entende-se que o processo de construção de uma marca faz parte de uma
estratégia de marketing de longo prazo, constante, que levará a organização a ser
detentora de uma marca sólida, valiosa e de sucesso. Nesse sentido, o fator
emocional tem destaque na visão de Kapferer (2004). O autor considera que uma
grande marca basicamente é um nome (e seus signos associados), que influencia a
compra, ao qual está associada uma emoção, junto a um número enorme de
compradores potenciais, com os quais se pode traçar um paralelo com a população
de baixa renda no Brasil. Para o autor (2004), não existe uma grande marca sem
relação emocional. Martins (1999, p. 21) corrobora o parecer de Kapferer, ao
enfatizar a importância da emoção na construção de uma marca de sucesso: “o
trunfo das marcas bem-sucedidas é associar à essência do produto a emoção que
existe no imaginário coletivo”.
110
A fidelidade também é citada como um diferencial. Uma marca forte, para Nunes e
Haigh (2003), é aquela que, por um lado, tem a capacidade de reter os
consumidores atuais, aumentando a sua frequência de compra, o que faz que a
empresa tenha menor risco de perdas futuras; por outro lado, a marca forte é capaz
de atrair novos consumidores, com taxas exponenciais e consistentes, assim como
permitir a sua extensão a novas categorias de produtos e serviços, aumentando o
lucro da empresa.
Em síntese, qualidade, diferenciação, relevância e fidelidade do público-alvo, aliadas
à lucratividade e ao alto valor patrimonial, são os principais fatores que constituem
uma marca sólida.
Outra característica que torna sólida a marca é o seu tempo de vida, ou seja, a sua
longevidade, já que não existe marca forte que tenha permanecido pouco tempo no
mercado. Assim, estender a liderança de marca por um longo período é o grande
desafio. Tellis e Golder (apud KELLER, 2003, p. 38) citam os cinco fatores
necessários para uma liderança de marca duradoura:
1. constantemente aprofundar o conhecimento da empresa sobre
as necessidades e desejos dos consumidores;
2. ser persistente e ter compromisso com seus objetivos e com a
alocação de recursos para atingi-los;
3. ter compromisso com a liderança no longo prazo, ou seja, os
dirigentes da empresa não devem focar exclusivamente os
resultados de curto prazo;
4. inovar continuamente;
5. conseguir transferir o aprendizado adquirido pela liderança em
uma determinada categoria de produtos para as demais
categorias nas quais a empresa decida investir.
Fica claro que o conhecimento constante do público-alvo baseado no
relacionamento e os investimentos na marca com o objetivo de elaborar uma
estratégia de longo prazo fazem que uma marca garanta a sua liderança longeva.
Identifica-se outro ponto de vista que adiciona à construção de marca a realidade
interna da empresa. Glover (1993), Tosti e Stotz (2001), Mitchell (2002) estão entre
os autores que defendem a construção da marca iniciando o processo dentro da
organização para depois chegar aos clientes externos. Isso requer criar uma
identidade de marca internamente, alinhar a liderança com os sistemas gerenciais e
com os processos em torno de práticas que gerem valor para o cliente e envolver os
111
funcionários no esforço da marca. Mitchell (2002) cita a importância de realizar
ações de marketing internamente para que os funcionários desenvolvam uma
conexão emocional com a marca (ou marcas) da empresa. O autor deixa claro que
existe uma tendência de construção das marcas com base na emoção, tanto para o
público interno quanto para o externo.
Observa-se, assim, que é nítida a importância do fator emocional na construção da
marca, aliada à avaliação do produto ou serviço entregue, e da sua qualidade ou
desempenho. Deve-se, ainda, verificar como esse desempenho se encaixa nas
necessidades dos clientes. Entendê-las para saber se a marca e o produto/serviço
estão de acordo com as suas expectativas e traçar uma estratégia de marca que
vise à lealdade dos seus consumidores e seja condizente com a estratégia da
empresa são maneiras legítimas para direcionar o desenvolvimento de novos
produtos ou mesmo de expandir a marca.
A pirâmide da lealdade, de Aaker (1998), apresentada na Figura 10, a seguir, aponta
para uma sistematização da análise da lealdade dos consumidores à marca.
Figura 10 –Pirâmide da lealdade
Fonte: Aaker (1998, p. 41).
Nota-se que, na base da pirâmide, aparece o perfil do consumidor indiferente à
marca que decide a compra do produto ou serviço pelo preço e que, nesse nível,
Comprador
comprometido
Gosta da marca,
considera-a amiga
Satisfeito, mas com medo
dos custos de mudança
Satisfeito/compra sempre/
sem razão para mudar
Não leal à marca/sensível a preço/
indiferente à marca
112
não existe lealdade à marca. No quarto nível, encontram-se os consumidores
satisfeitos com a marca; eles tendem a não mudar espontaneamente, mas
consideram a troca de marca, caso um benefício valorizado por eles seja oferecido
pelo concorrente. No terceiro nível, observa-se certa estabilidade em relação às
escolhas das marcas e menor vulnerabilidade às mudanças, pois os consumidores
temem mudar de marca e não aprová-la.
Destaca-se, também, que, no segundo nível da pirâmide, já aparece o vínculo
emocional do consumidor com a marca. Ele a considera uma amiga e isso acontece
devido a um conjunto de experiências satisfatórias que vivenciou ao longo do tempo.
Por sua vez, no topo da pirâmide, os consumidores estão mais do que ligados
emocionalmente à marca, confiam nela, são seus defensores, recomendam-na com
prazer ao seu círculo de convivência.
Os níveis de lealdade não são encontrados necessariamente de forma tão pura e
isolada como mostrado na pirâmide, pois os consumidores podem apresentar uma
mistura de dois níveis de lealdade e comportamento de compra distintos quanto às
marcas e categoria de produtos diferentes. Os padrões de compra, a frequência de
recompra de uma mesma marca ou mesmo o número de marcas compradas numa
mesma categoria de produtos servem de embasamento para determinar o nível de
lealdade do consumidor à marca.
Não existe, por conseguinte, fidelidade a qualquer preço. Os consumidores podem
tornar-se infiéis se julgarem que o preço da marca está acima do que eles previram
pagar pela categoria de produto; mas, se existir espaço para a redução do preço,
isso não deve ocorrer em relação ao produto de preço reduzido, mas em relação aos
produtos da mesma categoria e do mesmo nível (KAPFERER, 2003).
O fator preço, como componente da construção de marcas populares, será
analisado a seguir.
2.2.1 A variável preço na construção de marcas populares
No processo de construção de marcas sólidas populares, o preço é uma variável
fundamental. Como exemplo, cita-se a estratégia de preços dos cereais matinais da
113
marca popular Xereta, que foi determinante para o seu sucesso. Os cereais matinais
da marca premium Kellogg’s, em 1995, detinham 72% de participação e perderam
em sete anos 25% do mercado, numa categoria em que cada ponto vale 1,6 milhão
de reais. Dois fatores explicam o ocorrido: surgiu um novo concorrente, a Nestlé,
que lançou seus matinais na segunda metade dos anos 90 e detém 21% das
vendas, e as marcas populares (incluindo a Xereta) entraram com muita força no
período, garantindo a vice-liderança.
De cada 100 pacotes de cereais consumidos no país, 32 são de nomes pouco
conhecidos. A Xereta, produtora de biscoitos de Marília, no interior paulista, opera
desde 1996, em Itumbiara, Goiás, a segunda maior fábrica de cereais no País.
Numa viagem aos Estados Unidos, o sócio da empresa, Roberval Dias Martins,
notou que os supermercados tinham duas gôndolas de biscoitos e cinco de cereais
matinais e sabia que no Brasil só havia um fabricante que cobrava muito caro.
Enxergando a oportunidade, com a proposta de vender pela metade do preço,
iniciou o negócio com uma marca ancorada na Angélica, apresentadora de TV. A
Xereta, então, tornou-se também uma exportadora de cereais, além de produtora de
marcas para grandes redes de supermercados, como Sonae e Carrefour
(BLECHER, 2002).
Como se sabe, o público-alvo dos produtos populares, com orçamento mensal muito
limitado, precisa escolher como compor a sua cesta básica, priorizando alguns
produtos e marcas e, nessa situação, o preço é um dos fatores determinantes para a
tomada de decisão de compra. Quando isso ocorre, o consumidor ainda busca
alguma referência de qualidade.
Borges (apud LOPES, 2003) cita um exemplo de uma rede de varejo japonesa que,
em 1980, criou um estilo próprio para vender produtos sem marca, que vão desde
roupas e acessórios de uso pessoal até aparelhos eletroeletrônicos. O nome da loja
é Mujirushi Ryohin, que significa produtos de qualidade sem marca, e essa é a
proposta da loja. Apesar de vender produtos sem marca, os consumidores
japoneses reconhecem, entretanto, que, ao entrar numa loja como essa, podem
confiar nos produtos que compram. Ou seja, existe uma marca referencial que
avaliza a compra: a marca da loja.
114
Entende-se que marcas voltadas para consumidores de baixa renda cobram preço
inferior à média de mercado e, ainda assim, podem tornar-se marcas sólidas se
obtiverem a credibilidade do público-alvo.
Serralvo (1999, p. 31) afirma que “a marca em várias situações tem o poder de
elevar substancialmente os preços de produtos aparentemente banais e com pouco
valor ‘real’ agregado”. É o caso das sandálias Havaianas, que, com uma estratégia
de construção de marca bem fundamentada, pôde, ao longo dos anos, atingir níveis
de preço elevados se comparados à concorrência.
Nem todas as marcas, contudo, capitalizam o diferencial de preço: mesmo não
sendo marcas populares, a Coca-Cola e a Swatch tentaram sempre ser o mais
acessível em termos de preço. A Coca-Cola deve estar em toda parte, disponível
para o consumidor, barata e muito viva na sua mente. Já a Swatch optou
deliberadamente por um preço baixo, diante da concorrência japonesa e asiática. O
design, a variedade, a moda e a qualidade suíça foram alguns fatores que
possibilitaram maximizar a relação qualidade/preço a seu favor, obtendo alto valor
de atração junto aos seus consumidores (KAPFERER, 2003).
Para Kotler (2000), as empresas precisam compreender a sensibilidade a preço dos
seus clientes atuais e potenciais, assim como as comparações que as pessoas
estão dispostas a fazer para determinar se compensa pagar certo preço em função
das especificações dos produtos. Essa consideração é válida especialmente quando
o público-alvo dos produtos ou serviços tem a sua renda muito restrita. O consultor
de marketing Kevin Clancy (apud KOTLER, 2000) diz que as empresas que têm
como alvo apenas os consumidores sensíveis a preço estão deixando de ganhar
dinheiro. Quando se fala de marcas populares, o maior objetivo deve ser conquistar
a lealdade do cliente, já que a condição básica para todos os players é ter preço
baixo, atributo pouco relevante para diferenciar.
No que se refere aos preços das marcas B, nota-se que são mais baixos em todos
os segmentos, apesar de haver grande variação entre as categorias, de acordo com
a pesquisa realizada pelo BCG, em 2002, como mostra a Tabela 8.
115
Tabela 8 – B-Brands têm preços menores em quase todos os segmentos
Marca líder 100%
Xampu 10%
Salgadinho 25%
Sabonete 27%
A
maciante 47%
Refrigerante 50%
Sabão em pó 57%
Biscoito 61%
Modificador de leite 62%
Fonte: adaptado do Relatório Pesquisa BCG (2002, p. 8).
No caso de eletroeletrônicos, a situação é semelhante. Há grande variação de
preços entre os produtos similares da mesma categoria, mas as marcas B são mais
baratas de acordo com a Tabela 9, a seguir.
Tabela 9 – Comparativo de preços entre marcas B e marcas líderes de produtos
eletroeletrônicos similares
Categoria de produto Marca B em relação à marca premium
A
parelho de DVD 15% a 70% mais barata
Fogão com 4 bocas, de piso,
com acendimento automático
59% a 92% mais barata
Computador com monitor 44% a 77% mais barata
Fonte: Americanas (2008) e Magazine Luiza (2008).
Prahalad (2005, p. 25) afirma que a experiência das Casas Bahia, o maior varejista
de bens de consumo duráveis, como televisores, lavadora de roupas e rádios,
sugere que os mercados populares são muito conscientes da marca, um fenômeno
universal: “(...) os pobres são muito conscientes de marca. E são também
extremamente conscientes de valor, por necessidade”.
Sonhar com uma melhora na qualidade de vida é uma aspiração universal. Desse
modo, as marcas fazem parte da gama de pretensões dos consumidores de baixa
renda que compram valor. Ou seja, querem alta qualidade e preços que sejam
acessíveis a seus bolsos. Em suma, o preço é um fator vital para a construção de
marcas populares assim como a comunicação, tema que será abordado a seguir.
116
2.2.2 O uso da comunicação na construção de marca
No trabalho específico de construção de marca, as formas mais utilizadas do mix ou
composto de comunicação são a propaganda e as relações públicas.
Porém, Schultz (2002), Ries e Ries(1998) e Doyle (1990) asseveram que as marcas
não são criadas pela propaganda. Schultz (2002) afirma que as marcas precisam de
outros recursos além da propaganda para ser construídas de forma sólida. Ries e
Ries (1998), por sua vez, são categóricos ao dizer que a propaganda não constrói
marcas. Para eles, a propaganda é importante para a manutenção de marcas. Para
serem construídas, no entanto, elas devem ser capazes de gerar mídia espontânea,
conseguida por meio do investimento em relações públicas. Doyle (1990) também
afirma que as marcas raramente são criadas por propaganda, uma vez que a sua
função, dentro do processo de construção de marca, é acelerar o processo de
comunicação, já que isso permite que o público-alvo sinta interesse, conheça a
marca, além de posicionar os valores da marca e aumentar a confiança na sua
escolha.
Doyle (1990) cita que a construção de marcas sólidas inclui qualidade percebida
pelo consumidor, serviço agregado superior, inovação e busca pela diferenciação.
Assim como Ries e Ries (1998), o estudioso defende a importância de chegar
primeiro ao mercado, o que pode ser conseguido por meio de novas tecnologias,
novos posicionamentos, novos canais de distribuição, novos segmentos de mercado
e oportunidades criadas por mudanças no ambiente.
Já Aaker e Joachimsthaler (2000) explicam que a implementação de uma estratégia
de marca geralmente focaliza a criação (ou acréscimo) de visibilidade, as
associações de marca e/ou relacionamentos profundos com os clientes, conforme
demonstrado na Figura 11, a seguir. Esses atributos podem ser fortalecidos
principalmente por meio de relações públicas e propaganda e todas essas tarefas
precisam ser orientadas pela identidade e posição da marca.
117
Figura 11 - Tarefas da construção de marca
Fonte: Aaker e Joachimsthaler (2000, p. 276).
Destaca-se que a força da visibilidade frequentemente é subestimada. Segundo os
autores, grandes marcas como Coca-Cola, Visa e Intel desenvolveram posição
dominante no mercado com base na própria presença, em grande parte. Essa
visibilidade afeta as percepções de atributos, como credibilidade, sucesso,
qualidade, além de estimular a escolha no processo de compra.
Um estudo feito pela agência Young & Rubicam (Y&R) (KHAUAJA, 2005), cujos
resultados foram obtidos pela metodologia Brand Asset Valuator (BAV)
27
, mostra
que a diferenciação é o segredo de uma marca forte, mais ainda do que estima,
relevância e conhecimento, os quatro pilares para o sucesso de uma marca,
segundo a agência. De acordo com o modelo da Y&R, as marcas emergentes
promovem primeiro a diferenciação, e um dos primeiros indicadores de que uma
marca está desaparecendo, normalmente, é a perda de diferenciação. É difícil
desenvolver muita simpatia por uma marca cujas características são iguais às de
várias outras.
27
O BAV é um instrumento da própria Y&R que avalia a imagem de marcas, eventos, personalidades,
entre outros, no Brasil e no mundo e é utilizado desde os anos 80. A pesquisa mencionada foi
baseada num inventário de mais de 13 mil marcas em aproximadamente 36 países.
Construção
de marca
Criar
visibilidade
Estabelecer
associações e
gerar
diferenciação
Desenvolver
relacionamentos profundos
com os clientes
118
Aaker e Joachimsthaler (2000) resumem com propriedade nove lições embasadas
na história de construção de marca da Adidas e da Nike, que reforçaram as opiniões
dos autores citados anteriormente:
1. construção de marca não é só propaganda. Patrocínios, endossos, produtos de
submarcas, lojas carro-chefe, como a Nike Town, e eventos locais são algumas
ferramentas que podem ser utilizadas com sucesso;
2. construção de marca envolve inovação, muitas vezes não só para a empresa,
mas também para o ramo. A organização precisa ser capaz de reconhecer,
avaliar, assimilar e executar novas idéias;
3. excelência na execução da propaganda e de outras ações de comunicação é
muito importante;
4. produtos são uma peça-chave para a marca; eles precisam ser excitantes e
oferecer benefícios funcionais verdadeiros e não truques;
5. a marca é mais do que seus produtos. Uma marca forte tem personalidade,
associações organizacionais, emoção e auto-expressão;
6. a identidade da marca deve ser conhecida, clara e guiar o desenvolvimento e a
execução de programas ao longo do tempo;
7. a equipe da marca deve dirigi-la, orientar a estratégia e estar profundamente
envolvida no desenvolvimento de programas inovadores de construção de marca;
8. o estabelecimento de ligações emocionais com o consumidor, indo além do
lançamento de benefícios funcionais, é fundamental;
9. a utilização de submarcas – marcas dirigidas a outros segmentos de mercado,
mas coerentes com o posicionamento da marca principal - pode ajudar a contar a
história da marca e gerenciar as percepções.
Entende-se que, para atingir e motivar os consumidores de baixa renda, as lições
que se destacam das citadas acima são: 1, 3, 4, 5 e 8, que mostram a importância
de criar ambientes que favoreçam uma ligação emocional com o público, que criem
ações de comunicação e propagandas com excelência, que ofereçam produtos com
benefícios verdadeiros, marcas que tenham personalidade. Helena Quadrado, vice-
presidente e diretora de planejamento estratégico da McCann-Erickson Brasil, afirma
que, para conseguir que uma marca seja adotada por um consumidor,
independentemente de quem seja ele, é preciso entrar em profunda comunhão com
seus valores para ser persuasivo e relevante (SILVEIRA, 2004).
119
Por ser a propaganda, em valores absolutos, a mais cara de todas as formas de
comunicação, algumas marcas populares podem optar por não utilizá-la para atingir
seu público-alvo. Isso pode ser observado no Gráfico 9, que apresenta o
investimento publicitário da categoria lavadoras de roupa por marca.
Gráfico 9 – Investimento publicitário lavadoras de roupa por marca – de 2001 a 2006
No ano de 2006, por exemplo, só as lavadoras das marcas Bratemp, Consul, Arno,
Colormaq e GE investiram em propaganda (IBOPE MONITOR, de 2001 a 2006).
Assim, é necessário relatar outros procedimentos, além da propaganda, que têm o
objetivo de construir marcas.
Com base em vários estudos de caso, tais como os da Swatch, Häagen-Dazs e
Maggi, Aaker e Joachimsthaler (2000) apresentam dez diretrizes demonstradas na
Figura 12 que complementam as nove lições para ajudar aqueles que pretendem ir
além da propaganda de mídia para construir marcas.
36%
40%
22%
6%
26%
63%
25%
31%
31%
33%
45%
78%
5%
28%
22%
3%
4%
11%
38%
5%
2%
30%
1%
1%
1%
1%
2%
1%
1%
1%
4%
2001 2002 2003 2004 2005 2006
GE
Newmaq
Mueller
Fioreta
Vacuo
Plenna
Colormaq
Bosch
Suggar
Electrolux
Arno
Consul
Brastemp
8.361
R$ (000)
6.507 5.557 3.697 32.713 17.287
Investimento Publicitário
Lavadoras de Roupa
(- de 1%)
(- de 1%)
(- de 1%)
Fonte: Ibope Monitor
120
Figura 12 – Construindo a marca além da propaganda
Fonte: Aaker e Joachimsthaler (2000, p. 306).
Compreende-se que as diretrizes 1 e 2 apresentam conceitos fundamentais e
abarcam os principais pontos das demais, como identidade, proposta de valor,
posicionamento da marca e seu relacionamento com o cliente para garantir a
lealdade e comprometimento:
1. Esclarecer a identidade, a proposta de valor e a posição de
sua marca: a identidade da marca, aliada às suas associações, é a
base de qualquer programa eficaz de desenvolvimento de marca,
principalmente quando abordagens múltiplas estão sendo
usadas.(...). Como apoio à identidade das marcas estão a proposta
de valor e a posição da marca. A proposta de valor indica os
benefícios funcionais, emocionais e de auto-expressão que devem
ser criados ou transmitidos; são os objetivos fundamentais que
levarão a um relacionamento com o cliente. A posição da marca
prioriza o movimento necessário para mudar a imagem a fim de
combinar a identidade da marca, que serve como guia.
2. Encontrar os pontos de ressonância: (...) procurar entender
os clientes a fundo e descobrir seus pontos de ressonância, os
elementos centrais de suas vidas e os conceitos pessoais. Encontrar
os pontos de ressonância e descobrir uma maneira de tornar a
marca uma parte deles é o caminho para um relacionamento
profundo e um grupo principal de clientes leais e comprometidos.(...)
(AAKER ; JOACHIMSTHALER, 2000, p. 305).
Diretrizes para
construção de marca
além da propaganda
1. Esclarecer a identidade, a
proposta de valor e a posição
de sua marca
2. Encontrar os pontos
de ressonância
3. Encontrar a ideia
impulsionadora
4. Envolver o
cliente
5. Cercar o cliente
6. Alvo
8. Ligar a
construção de
marca à marca
7. Sair do
congestionamento
10. Ampliar o programa de
construção de marca
9. Procurar a
autenticidade e
substância
121
Apesar de os autores listarem dez diretrizes, algumas delas poderiam ser
consolidadas, pois fazem parte do mesmo objetivo, como 2 e 6; 2, 3 e 9; 4, 5 e 10; 7
e 8. Sintetizando-as, pode-se dizer que a marca deve ter a sua identidade clara,
uma proposta de valor que indique ao cliente-alvo os benefícios funcionais e
emocionais, utilizando os pontos centrais das suas vidas e conceitos pessoais que
farão que ele firme um relacionamento comprometido, longo e leal com a marca.
Para alcançar tais finalidades, é necessário envolver o cliente, proporcionando-lhe a
oportunidade de ter experiência com a marca. Os programas para envolver o cliente
devem ser coordenados, inovadores e embasados numa idéia central,
impulsionadora, inovadora e surpreendente, para que se destaque das concorrentes.
Deve-se ter cuidado para planejar ações que realmente promovam a lembrança da
marca e as associações desejadas.
Schultz e Barnes (2001, p. 40) enfatizam que as marcas são criadas por meio de
várias formas de comunicação integrada (CIM), ou seja, “o processo de
desenvolvimento e de implementação de várias formas de programas de
comunicação persuasiva com clientes existentes e potenciais no decorrer do tempo”.
Portanto a CIM precisa planejar as formas de contato, as experiências entre a marca
e seu público almejado, de forma que influencie as suas atitudes em relação a ela,
apesar de não ter controle sobre todas essas experiências, como colocou Bedbury
(2002, p. 37) anteriormente: “ a marca é o somatório do bom, do ruim, do feio e do
que não faz parte da estratégia (...)”.
A importância da qualidade também é outro ponto que se adiciona à construção de
marcas e vital para as classes populares, que não dispõem de dinheiro para
recomprar produtos caso não estejam de acordo com as expectativas.
Ries e Ries (1998) argumentam que ter um produto ou serviço de melhor qualidade
não garante a construção de uma marca sólida, o importante é que os
consumidores-alvo tenham a percepção de qualidade. Assim, uma marca forte é
criada apenas quando o consumidor percebe a qualidade. E, nesse ponto, a
propaganda exerce um importante papel, ajudando a melhorar a qualidade
percebida pelo público-alvo, reduzindo a necessidade de fazer promoções para
vender mais por menor preço. “A propaganda cria marcas fortes que podem manter
participação frente a promoções de preço”, diz Aaker (1998, p. 10).
122
Na Figura 13, a seguir, apresenta-se um modelo adaptado de [GALE e WOOD
(1996) apud KHAUAJA 2005] para a construção de marcas fortes. O primeiro passo
é entender as necessidades do cliente para que possa se mostrar a qualidade
superior em atributos que lhe interessam, por meio de propaganda e outras formas
de comunicação de marketing. “Há muitos executivos no Brasil que são estrangeiros
em seu próprio País. É preciso saber como eles vivem, o que eles pensam e o que
eles querem consumir realmente”, diz Prahalad (LACERDA, 2007). Esse primeiro
passo já teve início em algumas empresas e agências de propaganda que atuam no
Brasil, como exposto anteriormente. Com base no planejamento de comunicação
integrada de marketing, pode-se influenciar a qualidade percebida pelo mercado e
criar o valor do cliente, construindo uma marca forte e bem posicionada.
Figura 13 – Qualidade percebida e construção de marcas
Fonte: Adaptado de Gale e Wood (apud KHAUAJA, 2005, p. 48).
Numa abordagem também relevante, Keller (2003) sugere quatro passos que têm
enfoque no público-alvo e estão estreitamente ligados ao uso da comunicação para
a construção de marcas: (1) identificação da marca; (2) significação da marca na
mente; (3) verificação das respostas à identidade e ao significado da marca; (4)
fidelização à marca obtida por meio do relacionamento com os clientes-alvo.
Por esse ângulo, os consumidores-alvo precisam ter claro na sua mente o
significado de uma marca, ou seja, seu posicionamento, e responder sobre seus
Entendo as
necessidades
do cliente
Propaganda e outras
comunicações de
marketing
Qualidade superior em
atributos que interessam
aos clientes
Qualidade
percebida pelo
mercado
Posicionamento
eficaz
Valor do
cliente
Marca forte
123
atributos de forma que a organização identifique uma maneira de travar um longo
relacionamento com eles.
Reconhece-se que apenas os atributos funcionais de um produto são, em geral,
insuficientes para diferenciá-lo da concorrência. Aí reside uma das principais
funções da marca, que é diferenciar um produto dos seus concorrentes. Além disso,
uma marca sólida construída com planejamento possui o poder e a habilidade de
influenciar o processo de compra, uma das funções do planejamento estratégico
mercadológico.
Para analisar se as empresas que são objeto desta pesquisa utilizam o processo de
construção de marcas fortes, será adotado o modelo construído com base nos
fatores para a construção da marca sólida, indicados na Tabela 10.
Tabela 10 – Fatores para construção de uma marca sólida
FATORES PARA A CONSTRUÇÃO DE
UMA MARCA SÓLIDA
REFER
Ê
NCIA
TEÓRICA
P
Á
GINAS
1- EMOCIONAL
Uma grande marca de sucesso deve estabelecer
ligações emocionais com o consumidor.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
KAPFERER, 2004
MARTINS, 1999
208
121
21
A construção da marca tende a se basear na
emoção tanto para o público interno quanto para o
externo da organização.
MITCHELL, 2002 29
2- FIDELIZAÇÃO
Não existe fidelidade a qualquer preço. KAPFERER, 2003 68
Envolver, cercar, manter relacionamento com os
clientes-alvo.
AAKER e;
JOACHIMSTHALER, 2000
KELLER, 2003
AAKER, 1998
KAPFERER, 2004
306
55
19
22
3- LONGEVIDADE
Tem compromisso com a liderança a longo prazo. KELLER, 2003 38
Permanece relevante para o consumidor a longo
prazo.
KELLER, 2002 56
4- CONHECIMENTO SOBRE OS CLIENTES
Constantemente aprofundar o conhecimento da
empresa sobre as necessidades e os desejos dos
consumidores.
KELLER, 2003
AAKER e;
JOACHIMSTHALER, 2000
38
276
Entender o que a marca significa para os
stakeholders.
SCHULTZ, 2001b 8
Encontrar os pontos de ressonância. AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
306
É lembrada pelos consumidores potenciais. AAKER, 1998
KELLER, 2003
19
54
5- INOVAÇÂO
A liderança pode ser conseguida por meio de novas
tecnologias, novos posicionamentos, novos canais
de distribuição, novos segmentos de mercado.
DOYLE, 1990 14
A empresa deve ser capaz de reconhecer, avaliar,
assimilar e executar novas ideias.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
207
Empresa faz atualização e renovação contínuas do
produto ou serviço, para que esses fiquem em dia
com a tecnologia disponível.
KELLER, 2003 38, 58
124
FATORES PARA A CONSTRUÇÃO DE
UMA MARCA SÓLIDA
(continuação da Tabela 10)
REFER
Ê
NCIA
TEÓRICA
P
Á
GINAS
6- RECURSOS HUMANOS
O processo de construção da marca deve- se iniciar
com os funcionários da organização para depois
chegar aos clientes.
TOSTIe;STOTZ (apud
KHAUAJA, 2005)
36
Importante realizar ações de marketing internas. MITCHELL, 2002 99
A equipe da marca deve dirigi-la, orientar a
estratégia.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
208
7- ASPECTOS PRÁTICOS DO PRODUTO
Avaliar a qualidade e o desempenho do produto para
que sejam adequados ao público-alvo.
SCHULTZ, 2001b 8
A construção de marcas sólidas inclui a qualidade
percebida pelo consumidor.
DOYLE, 1990 14
Produtos precisam oferecer benefícios funcionais
verdadeiros.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
207
8- VALOR DA MARCA
A proposta de valor indica os benefícios funcionais,
emocionais e de auto-expressão que devem ser
criados ou transmitidos.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
208
Mostrar a qualidade superior em atributos que
interessam ao cliente.
GALE e WOOD (apud
KHAUAJA, 2005)
48
9 - IDENTIDADE DA MARCA
A identidade da marca deve ser conhecida, clara e
guiar o desenvolvimento de programas de
comunicação ao longo do tempo.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
208, 276
Portfólio da marca é condizente com a sua
identidade.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
51
10- DIFERENCIAÇÃO
A diferenciação é o segredo de uma marca forte.
YOUNG & RUBICAM
(
apud
KHAUAJA, 2005)
19
A marca forte possui benefícios fortes e é
considerada diferente das demais pelo público-alvo.
KELLER, 2002
AAKER, 1998
56
17
11- PREÇO
Preços das marcas B são mais baixos. PESQUISA BCG, 2002 8
As empresas precisam compreender a sensibilidade
o preço de seus clientes atuais e potenciais.
KOTLER, 2000 481
Política de preço é condizente com a estratégia
estabelecida para a marca e baseada na percepção
de valor dos consumidores.
KELLER, 2002 56
12 – COMUNICAÇÂO
As marcas precisam de outros recursos além da
propaganda para serem construídas, de várias
formas de comunicação integrada.
Patrocínios, endossos, lojas “carro-chefe”, eventos
locais podem ser utilizadas com sucesso.
SCHULTZ, 2002
SCHULTZ e BARNES,
2001
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
9
40
207
A propaganda é importante para a manutenção das
marcas.
RIES e RIES, 1998 26
As marcas precisam gerar mídia espontânea por
meio de relações públicas.
RIES e RIES, 1998 26
Visibilidade, associações de marca, relacionamentos
com os clientes podem ser fortalecidos com
propaganda e relações públicas.
AAKER e
JOACHIMSTHALER, 2000
276
Fonte: Assis (2007, p.62).
Podem ser observados acima os 12 fatores que contribuem para a construção de
uma marca forte que serão pesquisados, os autores que trataram do tema e as suas
respectivas obras com a indicação das páginas, conforme modelo criado por
Assis (2007). Esses fatores, quando identificados, deverão ser explorados pela
estratégia mercadológica da empresa, a fim de garantir a preferência do
125
consumidor-alvo pela marca, a sua satisfação no processo de compra e,
consequentemente, a construção de uma marca forte.
No próximo capítulo, serão abordados os modelos BCG, GE e SWOT a fim de se
elaborarem modelos de análise integrada do portfólio de produtos e de atratividade
de mercado, com a função de embasar sistematicamente as estratégias de
marketing e comunicação das empresas do setor eletroeletrônico que atuam no
mercado popular.
126
CAPÍTULO 3
MODELOS DE ANÁLISE E
CONFIGURAÇÔES DO NEGÓCIO
127
Neste capítulo, serão abordados os modelos de análise de portfólio de produtos e de
atratividade de mercado (matriz BCG, matriz Multifatorial GE e SWOT) a fim de se
elaborarem modelos de análise integrada para a aplicação em empresas do setor
eletroeletrônico que produzem produtos populares, de forma que embasem as suas
estratégias de marketing e comunicação. Na sequência, apresentam-se as
configurações de negócio que possivelmente foram adotadas pelas empresas que
atuam no mercado popular.
3.1 Modelos de análise
3.1.1 Matriz BCG
A consultoria americana Boston Consulting Group formulou a Matriz Crescimento-
Participação (conhecida como Matriz BCG ou Análise do Portfólio de Produtos) a
partir de duas variáveis mercadológicas que auxiliam a diagnosticar a situação, a
posicionar os produtos, marcas e unidades estratégicas de negócio (UEN) das
empresas: taxa de crescimento do mercado e participação relativa no mercado, de
acordo com Yanaze (2007). Cada quadrante da matriz (ver Figura 14), onde serão
posicionados os produtos, marcas ou UEN, recebe as seguintes qualificações:
Question mark ou “criança prodígio” - apropriada para caracterizar algo novo que
ainda não se autossustenta, mas que tem potencial de crescimento e sucesso.
Star ou “estrela” - representa o produto que tem as duas virtudes desejadas: alta
taxa de crescimento e alta participação de mercado.
Cash cow ou “vaquinha leiteira” - refere-se ao produto que proporciona recursos
aos demais produtos da empresa que ainda não se autossustentam.
Dog ou “abacaxi” - diz respeito ao produto-problema que tem baixa taxa de
crescimento de vendas e baixa participação.
128
Figura 14 – Representação do Modelo BCG
Fonte: Yanaze (2007, p. 81).
Os produtos, marcas ou UEN podem ser classificados como:
1. ”criança prodígio”: necessitam de altos investimentos para conseguir melhor
posicionamento no mercado. Kotler (1998) apud Yanaze (2007, p.81), considera
que esses produtos são oportunidades, pois a “empresa precisa refletir muito
antes de colocar dinheiro em um negócio que pode dar certo ou errado”. Os
produtos “criança-prodígio” são necessários à empresa, pois representam
desafios de renovação e diversificação;
2. ”estrela”: produtos bem-sucedidos que alcançam alta participação de mercado,
mas demandam altos investimentos. São importantes para as organizações por
proporcionar destaque e prestígio, aumentando o valor da marca institucional
(Yanaze, 2007);
3. ”vaquinha leiteira”: são produtos com alta participação em mercados com baixas
taxas de crescimento. Por necessitarem de baixo investimento, já que detêm a
liderança em mercados maduros, esses produtos podem ser utilizados para
financiar outros produtos ou UEN da empresa, e são fundamentais porque
seguramente são geradores de recursos financeiros;
4. “abacaxi”: produtos de baixas vendas e baixa participação no mercado,
geralmente em fase de maturidade tendendo ao declínio. Apesar de nenhuma
A
lta
Participação de mercado
Baixa
PRODUTOS ESTREL
A
Investimento – alto
Faturamento – alto
(faturamento igual ou
maior que o investimento)
PRODUTOS CRIANÇA PROD
Í
GIO
Investimento – alto
Faturamento – baixo
(normalmente são novidades que
apresentam resultado negativo)
PRODUTOS VAQUINHA
LEITEIRA
Investimento – baixo
Faturamento – alto
(geram resultado positivo,
propiciando caixa à empresa).
PRODUTOS ABACAXI
Investimento – alto
Faturamento – baixo
(podem já estar apresentando
prejuízo)
Crescimento das vendas
A
lta
Baixa
129
empresa desejá-los na sua linha de produtos, pois, geralmente, não resultam
lucro significativo ou até mostram prejuízo, a sua presença é inevitável, visto que
podem exercer um papel estratégico, promovendo a venda de outros produtos da
empresa ou representando uma barreira de entrada para os concorrentes.
O objetivo principal da matriz BCG era demonstrar graficamente aos gestores
estratégicos a posição de seus produtos/marcas e UEN, para auxiliar a tomada de
decisões, principalmente, com relação à adição, manutenção e retirada de produtos;
à mobilização de fluxos de recursos para investimento; ao aumento ou diminuição da
capacidade produtiva; à avaliação da sinergia entre produtos/UEN; à definição da
política de preços.
Depois, entretanto, de atingir grande sucesso, na década de 1970, após a aplicação
do modelo por empresas de diferentes setores e portes, foram identificadas algumas
limitações. Kotler (1998); Churchill e Peter (2003); Hooley e Saunders e Piercy
(2001); Nickels e Wood (1999) ; McCarthy e Perreault (1997) apud Yanaze (2007,
p.82) “apontam como principal limitação do modelo a sua dependência em relação a
dois critérios – crescimento do mercado e participação do mercado – os quais são
muito difíceis de se mensurar”. Mesmo com as limitações, esses autores
recomendam a sua aplicação dada a simplicidade da sua utilização e pelo fato de a
sua classificação e seus pressupostos de investimento e retorno já fazerem parte do
repertório do mundo empresarial no mundo todo. Nota-se que a falta de critérios
objetivos de classificações e pesos pode levar a uma colocação manipulada e irreal
na matriz.
Todavia as possibilidades de identificar os produtos da empresa de acordo com as
classificações propostas pelo modelo BCG ainda atraem as empresas. Isto ocorre
porque qualquer organização precisa monitorar e conhecer seu portfólio de
produtos, já que isso permite a ela tomar decisões estratégicas que visem a manter
um portfólio equilibrado e competitivo com produtos “crianças prodígio”, “estrela”,
“vaquinha leiteira” e os eventuais produtos “abacaxi”. Além disso, a participação
relativa e a taxa de crescimento são duas variáveis de análise aplicáveis em
diversos níveis da operação mercadológica de uma empresa. Yanaze (2007) parte
das premissas citadas para propor um modelo mais abrangente e, sobretudo,
130
quantitativo de avaliação, a partir dos pressupostos do BCG, que tende a reduzir a
subjetividade dos conceitos alto e baixo e amplia a análise a três diferentes níveis:
1. análise da posição de cada produto/UEN nos seus respectivos
mercados em relação aos seus concorrentes;
2. análise da posição de cada produto/UEN em relação aos outros
produtos/UEN da empresa em termos de faturamento;
3. análise da posição de cada produto/UEN em relação aos outros
produtos/UEN da empresa em termos de margem de contribuição
(YANAZE, 2007, p.97).
No primeiro nível de análise que considera a posição de cada produto/UEN em
relação ao seu próprio mercado, seguindo o modelo original do BCG, o eixo vertical
representa a taxa de crescimento do mercado de um produto, considerando uma
medida da sua atratividade. Porém, de acordo com Yanaze (2007), o modelo
multifatorial GE é mais efetivo na determinação de atratividade, já que pondera
vários tipos de análise com seus pesos de importância, como será analisado no
próximo item.
Corroborando a observação desse autor, nesta pesquisa será recomendada a
utilização dos conceitos do modelo BCG adaptados para monitorar constantemente
a posição dos produtos em relação ao seus mercados e a sua situação dentro do
portfólio geral das empresas. Utiliza-se o eixo vertical para localizar a posição dos
produtos em relação à taxa de crescimento de vendas, tendo como parâmetros os
percentuais médios do mercado. O eixo horizontal mostrará a participação relativa
dos produtos nos seus mercados, baseada na participação média, que é calculada
dividindo-se o total (100%) pelo número de concorrentes presentes no mercado.
Para melhor compreensão da teoria, será feita uma adaptação do exemplo citado
por Yanaze (2007) de uma empresa fictícia, fabricante de fogões, que atua na região
Sudeste do Brasil (v. Tabela 11).
Tabela 11 – Análise – Mercado (produto x concorrentes)
Período (mês)
V
olume Crescimento
V
olume (*) Crescimento médio
1o. 1.500 20.000
2o. 1.560 4,0% 20.300 1,5%
3o. 1.520 -2,5% 19.900 -2,0%
4o. 1.550 1,9% 20.200 1,5%
5o. 1.550 0,0% 20.000 -1,0%
6o. 1.530 -1,3% 20.000 0,0%
TOTAL 9.210 120.240
Participantes no mercado = 8 marcas
Participação média do mercado = 12,5 % (100% : 8 marcas)
Fonte: Yanaze (2007, p.99).
131
Foi dado que existem oito marcas concorrentes no mercado sudeste brasileiro, o
que resulta em participação média de 12,5%. A análise pode ser realizada
mensalmente, pois o produto não é sazonal. Dessa forma, o cálculo da participação
do produto A em seu mercado pode ser visto na Tabela 12, a seguir.
Tabela 12 – Participação do produto A no mercado
Período
(mês)
Volume
Volume
acumulado(**)
Volume (*)
Volume
acumulado(**)
Participação de A
no mercado
sudeste
1o. 1.500 20.000 7,5%
2o. 1.560 3.060 20.300 40.300 7,6%
3o. 1.520 4.580 19.900 60.200 7,6%
4o. 1.550 6.130 20.200 80.400 7,6%
5o. 1.550 7.680 20.000 100.400 7,6%
6o. 1.530 9.210 20.000 120.400 7,6%
(*) Informações disponibilizadas mensalmente pela Associação de Produtores.
(**) O cálculo de participação pode ser realizado tendo como base os volumes mensais ou
acumulados. Em nosso exemplo, decidimos pelo volume acumulado.
Produto A Mercado Sudeste
Fonte: Yanaze (2007, p.99).
As informações apresentadas possibilitam enquadrar o fogão A no portfólio de
análise do mercado sudeste brasileiro (externa) e a sua evolução nos períodos
considerados. Na Figura 15 mostra-se a localização do fogão A na matriz, nos dois
primeiros meses analisados.
Figura 15 – Matriz 1º. mês/2º. mês
Fonte: Yanaze (2007, p.100)
(A)
7,6%
(A) 4%
Média
1,5%
Média
12
,
5%
Participação
Crescimento de vendas
Produto (A)
132
Com relação ao modelo de análise BCG adaptado por Yanaze(2007), pretende-se
sugerir o modelo de análise do portfólio que considera o mix de produtos ou as UEN
da empresa. Mais precisamente, a intenção é classificar na matriz duas classes de
produtos: os “populares” e os “não populares” de cada empresa pesquisada, ou seja,
os direcionados às classes C, D e E e os direcionados às classes A e B, pelo seu
respectivo faturamento.
Como já citado, deve-se considerar que foram levantados problemas de aplicação
no modelo BCG original, tais como a subjetividade e falta de critérios para
determinar o que seja uma alta ou baixa taxa de crescimento (CHURCHILL e
PETER, 2003), uma vez que para alguns setores a taxa de crescimento de 5% pode
ser favorável, enquanto para outros setores pode ser considerada desprezível.
Diante disso, há mais de 30 anos, a General Electric e a consultoria McKinsey
propuseram um outro modelo de avaliação de portfólio, denominado Matriz de
Portfólio Multifatorial GE (KOTLER apud YANAZE, 2007, p.82).
O Modelo Multifatorial GE também é recomendado pelos autores supracitados, pois
continua sendo uma ferramenta de análise eficaz quando corretamente adaptada à
realidade do mercado e dos produtos das empresas (Yanaze, 2007). Será
apresentado a seguir.
3.1.2 Modelo Multifatorial GE
Entende-se que o modelo Multifatorial GE é mais eficiente na avaliação do grau de
atratividade de mercados e da posição dos produtos/UEN, pois considera fatores de
análise que podem variar de acordo com as características do mercado, do negócio
e de acordo com a relevância para a empresa, compartilhando com a opinião de
Yanaze(2007).
Alguns desses fatores de análise são básicos e foram abordados por diversos
autores, como Kotler (1998), Churchill e Peter (2003), Hooley e Saunders (1996),
Nickels e Wood (1999) e McCarthy e Perreault (1997). Yanaze (2007, p.83-4) fez
uma adaptação de todos eles e listou os fatores de avaliação da atratividade dos
133
mercados e os fatores de avaliação da posição dos produtos/UEN da empresa.
Nesta pesquisa ambos serão avaliados e serão abordados a seguir.
Fatores de avaliação da Atratividade dos Mercados
Para avaliar o potencial de atratividade dos mercados em que seus produtos ou
UEN atuam, a empresa deve analisar os fatores básicos listados na Tabela 13.
Cada empresa precisará formular os fatores de análise mais importantes conforme
seu negócio.
Tabela 13 – Fatores de Avaliação da Atratividade dos Mercados
1. Fatores de Mercado
Tamanho atual ($, volume ou ambos)
Potencial ($, volume ou ambos)
Taxa de crescimento por ano (Ex.: média dos
três últimos anos)
Disponibilidade e qualidade de canais de
distribuição
Vulnerabilidade a fatores externos
Potencial de compra dos segmentos principais
Sensibilidade em relação a preços
Poder de barganha dos fornecedores
Poder de barganha dos clientes
2. Concorrência
Quantidade de concorrentes
Tipos de concorrência
Grau de concentração da distribuição
Concorrência informal e ilegal
3. Fatores Financeiros e Econômicos
Política de preços
Margens de contribuição aplicáveis
Economias de escala e de experiência
Grau de necessidade de investimentos
Taxas de retorno de investimentos
Utilização da capacidade
Dependência de políticas econômicas
4. Fatores Tecnológicos
Grau de complexidade
Grau de volatilidade
Patentes e royalties
Nível de diferenciação
Custo de pesquisa
5. Fatores do Ambiente Mercadológico
Legislação e regulamentação governamentais
Influência de grupos de pressão (privados e/ou
governamentais)
Grau de aceitação pela opinião pública/
comunidade
Grau de compatibilidade com as atitudes,
comportamentos e tendências sociais
Adequação às culturas locais (dos mercados)
Fonte: Yanaze (2007, p.83).
Cada um dos fatores definidos pela empresa receberá um peso de acordo com o
seu grau de importância no contexto geral da análise. A soma desses fatores deve
134
resultar em 1. Cada subfator também deve receber um peso que represente seu
grau de importância dentro do fator correspondente. A avaliação dos subfatores
deve ser elaborada por um comitê intersetorial formado por representantes de todas
as áreas da empresa que avaliarão fontes internas e externas, e em seguida
atribuirão notas para cada subfator, numa escala de 0 a 10 indica Yanaze (2007).
Fatores de Avaliação da Posição dos Produtos da Empresa
Pode-se avaliar a situação dos produtos da empresa em seus mercados por meio
dos fatores listados na Tabela 14, a seguir.
Tabela 14 – Fatores de Avaliação da Posição dos Produtos no Mercado
1. Fatores de Mercado
Participação do produto no mercado
Potencial da empresa para o produto
Taxa de crescimento do produto
Sinergia com os canais de outros produtos
Grau de vulnerabilidade da empresa em relação ao produto
Compatibilidade com os segmentos de mercado de outros
produtos
Influência do preço em relação a outros produtos
Benefício que o negócio aufere em relação à reputação da
marca da empresa
Grau de aproveitamento do produto dentro do composto
promocional geral da empresa
2. Seu Produto e a Concorrência
Participação no mercado competitivo
Característica competitiva da empresa para este produto
Seu nível de concentração
Monitoramento da concorrência
Vulnerabilidade em relação à concorrência
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
Compatibilidade da política de preço do produto em relação à
política global da empresa
Margem de contribuição obtida com o produto
Sua escala e experiência com o produto
Necessidade de investimento para manter o produto
Taxa de retorno do investimento no produto
Taxa de utilização do produto
4. Fatores Tecnológicos
Compatibilidade do produto com a política tecnológica da
empresa
Capacidade de a empresa enfrentar mudanças em função da
volatilidade tecnológica do produto
Grau de proteção e de acesso a patentes e royalties
Contribuição para a política geral de diferenciação
Capacidade de arcar com os custos de pesquisa
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
Capacidade de adaptação e /ou enfrentamento
Habilidade e capacidade de negociação
Grau de aceitação pelos stakeholders e pela comunidade
Compatibilidade com as atitudes e tendências sociais relativas
a outros produtos da empresa
Capacidade de adequação da empresa
Grau de dependência em relação a fornecedores
Grau de sujeição em relação a clientes
Fonte: Yanaze (2007, p.84).
135
Para obter os índices de pontuação, a atribuição dos pesos ocorre da mesma forma
que na tabela anterior. A análise final é realizada em duas escalas: (1) Atratividade
do mercado e (2) Posição do produto no mercado. As notas dadas a cada subfator
são multiplicadas pelos respectivos pesos, podendo ocorrer, no quesito posição no
mercado:
de 0 a 3,3 = baixa (fraca) posição no mercado;
de 3,4 a 6,7 = média posição;
de 6,8 a 10,0 = alta (forte) posição.
Tomando-se o mesmo critério para a atratividade do mercado, têm-se nove
possibilidades de localização da empresa na matriz multifatorial GE, como mostra a
Figura 16.
Figura 16 – Localização da empresa em relação à atratividade do seu mercado e a sua posição
no mercado
A B C
D E F
G H I
Fonte: Yanaze (2007, p.89).
Os resultados da análise da matriz GE impactam diretamente a elaboração das
estratégias de marketing. De acordo com a posição dos produtos ou UEN em cada
quadrante, a análise é feita da seguinte forma, de acordo com Yanaze(2007):
Quadrante A: têm boa participação num mercado altamente atraente, mas
merecem atenção constante para não perder essa posição.
Quadrantes B e C: produtos que demandam investimentos para melhorar a sua
posição em mercados atraentes.
10,0
Forte
Média
Fraca
Alta
Média
Baixa
POSIÇÃO DO NEGÓCIO NO MERCADO
A
TRATIVIDADE
DO
MERCADO
6,7
3,3
0
3,3
6,7
0
136
Quadrantes D, E e F (alta, média e baixa participação em mercado de média
atratividade): dependerão, a médio e longo prazo, da situação de outros produtos
que fazem parte do mix da empresa.
Quadrantes G, H e I (alta, média e baixa participação em mercados de baixa
atratividade): necessitam de atenção redobrada pois podem comprometer os
resultados gerais da empresa já que dispersam recursos por mercados em
declínio.
Ao utilizar os dois modelos de análise propostos (BCG “adaptado” e GE), será
possível avaliar a situação dos produtos populares em relação aos seus respectivos
mercados e à situação dos produtos populares em relação aos demais
produtos/UEN da empresa, e conhecer a posição de cada classe de produto
(populares e não populares) em relação ao crescimento do faturamento e à
participação no total mensurado.
O ideal é que se obtenha um posicionamento similar dos produtos tanto na matriz de
mercado, quanto na matriz de produtos, mas isso nem sempre é viável, e desse
resultado devem ser definidas as estratégias diferenciadas para os produtos “criança
prodígio”, “estrela”, “vaquinha leiteira” e os eventuais “abacaxi” estratégicos, afirma
Yanaze(2007).
3.1.3 Análise SWOT
Outro modelo de análise que complementa os anteriores é conhecido como SWOT.
Ele compreende a identificação das ameaças e oportunidades do ambiente externo
à empresa (economia, política, cultura, concorrência, legislação etc.) e das forças e
fraquezas internas da empresa (mão-de-obra, marca, linha de produtos, localização
etc.). A análise desses quatro elementos deve ser feita de modo combinado,
sobrepondo e confrontando as condições internas com as externas, de modo que as
forças e fraquezas, ameaças e oportunidades sejam compreendidas umas em
relação às outras (Yanaze, 2007).
Quanto aos pontos fracos e fortes em potencial da empresa, devem ser avaliados
em relação às necessidades do cliente e aos pontos fortes do concorrente para
137
atender ao mercado. Hooley e Saunders (1996, p.53) afirmam que os pontos fortes
da empresa num mercado serão maiores se ela:
Detiver uma grande parcela do mercado.
Crescer a uma taxa maior que a do mercado.
Dispuser de produtos ou serviços únicos e valorizados.
Tiver produtos de qualidade superior.
Dispuser de melhores margens.
Dispuser de bens de marketing exploráveis.
Tiver uma produção e um marketing eficientes.
Tiver liderança tecnológica protegida.
É pouco provável que haja um mercado que tenha todos os pontos fortes listados
anteriormente. Dessa forma, Hooley e Saunders (1996) sugerem que a empresa
avalie o grau de importância de cada aspecto da força para poder analisar a sua
capacidade de atender àquele mercado.
Yanaze(2007) propõe um modelo de análise SWOT que se inicia com o
levantamento dos pontos fortes e fracos da empresa no que se refere aos quatro
outputs (produto/serviço, preço/remuneração, distribuição/vendas e comunicação), e
é embasada nos seus principais concorrentes e/ou numa situação ideal identificada
por benchmarking. Esse modelo é utilizado pela maioria dos autores da área de
marketing.
A empresa fará, pois, uma comparação com seus principais concorrentes
(potenciais, similares, substitutos ou novos) que atuam na mesma área geográfica e
segmento demográfico de mercado. Se a empresa estimar que está aquém dos
padrões de mercado, deverá fazer a sua avaliação com base nos modelos de
situação ideal. A Tabela 15 mostra cada item estabelecido e sugere alguns subitens
para cada output.
138
Tabela 15 – Modelo Avaliativo dos Outputs
Outputs
Empresa
X
Concorrente
A
Concorrente
B
Ideal/Novo
possível
entrante
I. Produto
Design
Embalagem
Garantia
Qualidade percebida
Assistência pós-venda
Tradição
Confiança
Status
Facilidade de uso
Eficácia
Outros
II. Preço
Valor
Condições de pagamento
Formas de pagamento
Descontos
Outros
III. Distribuição
Abrangência territorial
Número de vendedores
Qualidade de vendedores
Número de pontos de venda
Qualidade de pontos de venda
Rapidez na reposição
Qualidade da exposição
Adequação da estocagem
Eficácia na entrega
Informatização dos processos
Outros
IV. Comunicação
Publicidade
mídias
frequência
espaço/tempo
Promoção de vendas
interna
revendedores
consumidor final
Merchandising
reposição
decoração dos pdv
Relações Públicas
patrocínios
eventos
assessoria de imprensa
Site
forma
conteúdo
Padrão visual
Folhetarias
Sinalização da empresa
Veículos
Valor da Marca
Reputação da empresa
Outros
Fonte: Adaptado de Yanaze (2007, p.233 e p.238-9).
139
O modelo da tabela anterior prevê a análise dos subitens listados em cada output
comparando-os com os principais concorrentes. A análise é feita de modo
qualitativo, e, portanto, não considera a importância relativa dos outputs e dos seus
respectivos subitens no contexto geral da avaliação. Para minimizar esse problema,
Yanaze (2007) propõe que se complemente a análise qualitativa com uma avaliação
quantitativa do modelo, considerando-se que há situações em que alguns itens são
mais relevantes que outros. Assim, deve-se atribuir pesos e notas aos outputs e
subitens, reduzindo-se a subjetividade da análise. Esses pesos se baseiam na
lógica da decisão de compra do cliente, segundo o autor (2007). Ele aponta algumas
vantagens no uso da avaliação quantitativa: indica a ordem de priorização das
estratégias e ações de marketing que serão implementadas; possibilita o registro do
acompanhamento das mudanças, representa a importância relativa de todos os
outputs e os seus subitens, e levanta numericamente as defasagens positivas e
negativas presentes nos outputs e subitens da empresa em relação aos seus
concorrentes.
No setor de eletroeletrônicos, especificamente de produtos populares, entende-se
que o peso maior é dos outputs preço e produto, já que a distribuição/venda é feita
principalmente por grandes lojas de varejo (Casas Bahia, Ponto Frio, Magazine
Luiza, por exemplo) e hipermercados (Extra, Carrefour, por exemplo), e os
investimentos da indústria em comunicação são mais baixos, pois os custos
variáveis devem ser minimizados para garantir margens de lucro maiores. A Consul
é um bom exemplo de investimento publicitário reduzido em relação à Brastemp,
ambas da Whirpool S.A. (ASSIS, 2007). No caso da Avon, indústria do setor de
higiene pessoal e beleza, os pesos dos outputs distribuição e preço são mais
significativos. Para exemplificar o peso e reconhecimento do output distribuição para
a Avon, a empresa aérea Gol, a partir de 2007, passou a utilizar também a venda
direta da Avon para comercializar as suas passagens.
Yanaze (2007) sugere que, como os outputs resultam dos inputs e throughputs e os
pontos fracos geralmente são decorrentes das suas deficiências, é preciso estender
a análise também para os inputs e throughputs, pois, assim, serão identificados
quais inputs e throughputs estão gerando outputs fracos, a fim de alterá-los para
buscar a melhoria dos subitens dos outputs. A análise pode ser efetuada utilizando-
se dois diferentes modelos: análise comparativa e/ou análise sistêmica.
140
A análise comparativa para os inputs e throughputs de uma empresa se dá de
maneira análoga à análise dos outputs já demonstrada, ou seja, confrontando-os
com os principais concorrentes e com uma situação ideal. O estabelecimento dessa
situação considerada “ideal” deveria ser feito de forma clara e objetiva pelos
gestores, porque eles conheceriam os recursos, processos, sistemas e políticas
ideais que seriam implementados nas suas empresas.
Já na análise sistêmica, a empresa poderia elencar os subitens dos itens e apontar
todos os inputs e throughputs responsáveis por cada um dos subitens analisado.
Dessa forma, como mostra a Figura 17, a seguir, pode-se visualizar os inputs e
throughputs problemáticos que resultam no output inadequado.
Figura 17 – Modelo de Análise de Inputs e Throughputs
Fonte: Yanaze (2007, p.248).
Supondo que uma empresa X tenha um produto com preço de R$ 5,00 e o de seus
concorrentes seja de R$ 4,50, e que o subitem “custos fixos” tenha o maior peso
dentro do output “preço”, essa empresa poderá fazer uma análise de seus inputs e
throughtputs e chegar à conclusão de que seu preço superior pode ser em função do
input “matéria-prima importada” e do throughtput “política da empresa”, que defende
Preço
R$ 5
Custos Fixos
Custos
variáveis
Impostos
Margem de
lucro
Custos Z
Custos Y
Matérias-
p
rimas
Insumos
Embalagem
IPI
ICMS/
Outros
141
a alta margem de lucro. Por isso, a empresa terá condições de decidir se modifica os
inputs e throughtputs causadores desse ponto fraco ou se mantém o preço atual e
modifica a comunicação publicitária, reforçando os diferenciais de qualidade que
provêm da matéria-prima importada.
A partir disso, poderão complementar-se as análises dos inputs e/ou throughtputs
desenvolvendo a análise ambiental do mercado, a fim de apontar as instituições,
variáveis e situações que afetam a empresa, de forma positiva ou negativa, como
mostra a Tabela 16, a seguir.
Tabela 16 – Análise do ambiente mercadológico
Instituições Situação Atual
(alguns exemplos)
Impacto Sobre a Empresa
(alguns exemplos)
Governo
Taxa selic
Imposto Z
Taxas
Prazos de recolhimento
Contribuição
Juros
Regulamento
Outros
Fornecedores
Matéria-prima
Embalagem
....
Distribuidores
Manuseio do produto
Preço estabelecido
Deduções de frete
....
Bancos
Imprensa/Mídia
Associações/Sindicato
ONGs
Comunidade
19%
3%
... %
30 dias
Importada, custo: US$ X / ton
Negativo: inibe investimento
Indiferente
Desfavorável
Favorável
Vulnerável ao câmbio
V
ariáveis
Economia
Nacional
Mundial
Tecnologia
Cultura/sociedade
Política
Clima
Ecologia
Fonte: Adaptado de Yanaze (2007, p.249).
Cruzando-se, pois, as informações obtidas nas análises dos pontos fortes e fracos
dos outputs, inputs e throughtputs com a análise do ambiente interno e externo
proposta na tabela anterior, poderá chegar-se às ameaças e oportunidades que
142
envolvem a empresa, concluindo a análise SWOT como um todo. “O modelo de
avaliação SWOT, quando devidamente implementado, constitui o sistema de
informação mais eficaz para dar suporte ao planejamento”, afirma Yanaze (2007,
p.251).
Finalizando, o item “Modelos de Análise” abordou os três modelos (BCG, GE e
SWOT) que devem embasar as estratégias e ações de marketing das empresas,
tendo como referência o ponto de vista do cliente, aqui determinado pelos
consumidores de baixa renda. Cabe ao executivo de marketing conhecer
profundamente o mercado em que atua, para que possa tomar decisões
estratégicas sobre o negócio fundamentadas em análises técnicas.
3.2 Configurações do Negócio
A utilização de ferramentas de análise, do tipo BCG, GE e SWOT, ou de pesquisas
de mercado setoriais, com os consumidores, concorrentes, entre outras, são muito
importantes para o entendimento da empresa e do seu ambiente, e para a tomada
de decisão por parte dos executivos. Concluídas as análises, certos movimentos
devem ser considerados. Um deles é relacionado à procura de novos mercados e
clientes, enquanto o outro é relacionado à busca de novas tecnologias, diferentes
daquelas que a empresa domina e aplica. A combinação desses dois eixos - o
mercadológico e o tecnológico - permitirá que a alta direção da empresa desenvolva
novos negócios no mercado, como por exemplo, atender à demanda da população
de baixa renda e atuar no mercado popular. Essa decisão pode culminar em uma
(ou na combinação de mais de uma) das configurações de negócio propostas por
Mañas (2006):
3.2.1 Concentração em um único negócio
Ocorre quando a empresa se dedica a um único produto e não tem interesse em
desviar seus recursos a outras atenções. Pode ser restrita a um único produto, ou a
um único mercado, ou a uma única tecnologia. Essa alternativa é ideal para
empresas que possuem marca de renome, grande tradição em determinado
mercado, ou profunda familiaridade com certa tecnologia.
143
3.2.2 Joint venture
É uma alternativa estratégica - indicada para empresas que desejam adquirir
tecnologia ou capital de outras que dispõem desses recursos - muito utilizada
quando se deseja entrar em novo mercado. Os parceiros se associam, um
oferecendo seus mercados e o outro oferecendo tecnologia ou capital, para produzir
um produto ou prestar algum tipo de serviço.
Quando uma empresa decide a sua trajetória por meio de uma aliança estratégica,
esta poderá assumir muitas formas, variando desde um acordo informal até uma
joint venture formal. Um dos grandes problemas relacionados às alianças
estratégicas pode ocorrer quando, ao longo do período, a contribuição relativa dos
parceiros do negócio se torna desequilibrada, não possuindo mais um deles ativos
próprios ou competências para oferecer.
Alianças estratégicas, também chamadas de coalizões, são instrumentos
destacados na realização de estratégias globais. “São acordos a longo prazo entre
empresas, que vão além das transações normais de mercado, mas ficam aquém da
fusão”, segundo Porter (1993, p.78). No presente estudo, a palavra aliança é
utilizada para abranger toda uma variedade de disposições que incluem a
participação acionária, licenças, acordos de fornecimento a longo prazos.
Para Aaker (2001, p.264), as alianças estratégicas podem ser motivadas pelo desejo
de alcançar alguns dos benefícios de uma estratégia global, tais como:
Gerar economia de escala.
Ganhar acesso a mercados estratégicos.
Superar barreiras comerciais.
3.2.3 Retração
É naturalmente a mais antiga das estratégias, utilizada quando as empresas estão
em dificuldades, precisam sobreviver e não querem vender seus negócios. Tem a
finalidade de reduzir os custos sejam eles de pessoal, de produção, de marketing e
comunicação, ou outros, para melhorar a produtividade.
144
Essa estratégia defensiva é geralmente temporária, motivada, por exemplo, por uma
crise no mercado.
3.2.4 Integração horizontal
Consiste na concentração de capital da empresa por meio da compra ou da
associação a empresas similares. As fusões ou aquisições e incorporações de
empresas são exemplos de integração horizontal e envolvem arranjos qualitativos
entre duas ou mais empresas independentes na criação de uma organização
empresarial. Uma empresa adquire os direitos e obrigações da outra em troca de
ações, dinheiro ou ambos. Ocorre também nos casos em que empresas são
dissolvidas, direitos e obrigações são combinados e novas ações são emitidas.
Segundo Guimarães (2005), as aquisições de empresas mostram-se vantajosas
quando:
estiver o preço fixado para venda abaixo do mercado;
tiver o comprador habilidade especial para operar o negócio que vai adquirir;
não houver interrupções nas atividades da empresa, economizando-se tempo;
superarem as barreiras de entrada.
Existe um mercado bem desenvolvido de aquisições que permite às empresas a
verificação da existência de rivais em parceiros potenciais, antes de partir para um
acordo. Havendo muita disputa, as empresas ou uma determinada empresa talvez
não tenha escolha, a não ser comprar o alvo do seu interesse, com o objetivo de
atacar, diminuir ou esvaziar a concorrência. Mesmo assim, evita-se a aquisição
quando o grau de incerteza for muito alto. Uma das alternativas seria a empresa
negociar uma aliança que lhe permita uma participação minoritária no futuro.
Uma das grandes estratégias para uma organização aumentar as suas operações
no exterior, com o objetivo de ganhar novos consumidores, mercados, escalas
produtivas, conhecimento, ganhos financeiros dá-se mediante as aquisições. A
empresa adquirida também pode beneficiar-se nesse processo. Porter (1993, p.684)
destaca, com bastante pertinência, essa estratégia:
As aquisições seletivas no exterior podem servir a duas finalidades.
Uma é conseguir acesso a um mercado estrangeiro ou a
conhecimentos seletivos. Daí o desafio de integrar a aquisição na
145
estratégia global ser significativo, mas suscitar algumas questões
pouco comuns. A outra razão para uma aquisição no exterior é
conseguir ter acesso a um diamante “nacional” muito favorável. Por
vezes, a única maneira de usar as vantagens de outro país é
comprar uma empresa local, porque um estranho tem muita
dificuldade de penetrar nessas vantagens amplas, sistêmicas. O
desafio deste último tipo de aquisição é preservar a capacidade de a
empresa adquirida beneficiar-se de seu ambiente nacional ao mesmo
tempo em que se integra na estratégia global da empresa
compradora.
3.2.5 Integração vertical
Acontece quando a empresa passa a produzir um novo produto ou serviço,
utilizando as mesmas matérias-primas e tendo como alvo os mesmos consumidores
finais dos produtos ou serviços já oferecidos. Na integração vertical a empresa é
cliente dela mesma, podendo seguir o modelo de integração que vai desde a
produção da matéria-prima até o produto acabado. Visa à autossuficiência, à
independência e ao crescimento.
3.2.6 Diversificação
Uma das mais fortes estratégias de desenvolvimento de uma empresa é a
relacionada à diversificação. Seu processo se dá quando uma empresa procura
oportunidades nos ambientes competitivos em que atua. Segundo Ansoff (1990,
p.109), isso ocorre quando:
a empresa começa a ter dificuldades em atingir seus objetivos
pelas alterações no contexto interno e na conjuntura externa à
empresa, geralmente provocadas pela:
- falta de oportunidade para investir nos segmentos atuais;
- saturação de mercados;
- queda da taxa de retorno dos projetos de expansão;
a empresa visualiza uma situação de retorno para os projetos
de diversificação maiores do que para outras estratégias;
a empresa tem disponibilidade de recursos, depois de já ter
investido o suficiente para manter-se numa posição adequada
de mercado;
146
as informações disponíveis não foram suficientemente
confiáveis para permitir comparação concludente entre
expansão e diversificação; e isso acontece porque uma
empresa normalmente possui muito mais informações sobre as
possibilidades de expansão do que sobre o amplo campo
externo para a diversificação.
A diversificação pode ser dividida em duas categorias: concêntrica e conglomeração
(MAÑAS, 2006).
A diversificação concêntrica ocorre com a produção ou comercialização de uma
nova linha de produtos ou serviços, aproveitando a mesma tecnologia, a mesma
força de vendas e oferecendo uma diversidade maior de produtos no mesmo
mercado. Já a conglomeração consiste na diversificação de negócios em que a
empresa não aproveitará a mesma tecnologia ou força de vendas. Nesse caso, para
o grupo de empresas, o risco é menor, pois ele está envolvido em diversos ramos de
atividades diferentes. A estratégia é indicada para empresas capitalizadas, que
estão interessadas em diluir os seus riscos.
Entende-se, a partir da abordagem acima, que seja provável que muitas empresas
do setor de eletroeletrônicos tenham começado a atuar no mercado de baixa renda
utilizando a estratégia de diversificação. No entanto a pesquisa de campo trará
informações consistentes sobre as configurações mais comuns no segmento do
mercado popular.
3.2.7 Inovação
Essa estratégia consiste no desenvolvimento de nova tecnologia ou na procura de
um produto inédito para os consumidores nos mercados em que a empresa atua. É
uma das mais adequadas aos momentos de incerteza e indicada às empresas que
dispõem de muitos recursos e que podem assumir alto risco. Como a empresa
necessita estar à frente dos seus concorrentes procurando desenvolver-se
constantemente e lançar produtos e serviços, deve ter acesso rápido a todas as
informações, principalmente em mercados de rápida evolução tecnológica. O setor
eletroeletrônico é caracterizado por ser inovador, e os consumidores são muito
receptivos a inovações nessa área.
147
3.2.8 Desinvestimento
É comum nos casos de diversificação mal sucedida em que as empresas se
encontram em algum momento diante de linhas de produtos que deixam de
ser interessantes por começarem a comprometer a linha de produtos ou de negócios
originais da organização.
3.2.9 Liquidação do negócio
É uma estratégia adotada em último caso, quando não existe outra saída, a não ser
fechar a empresa. Pode ocorrer quando a empresa se dedica a um único negócio ou
produto, e este, depois do estágio do declínio, não foi substituído ou administrado de
forma eficiente; quando a empresa não enxerga o futuro; quando a empresa vive em
constante retração e, principalmente, quando as estratégias são mal selecionadas
ou mal implementadas.
3.2.10 Parceria
É uma estratégia que se confunde com uma série de outras apresentadas, e surgiu
recentemente, visando a compor novas frentes ao mundo empresarial. As parcerias
têm diversos estágios. Pode-se formar parceiros a partir de uma conveniência
comercial ou de produção comum. Nesse caso, a formalização contratual não é
necessária.
Pode-se, ainda, constituir uma parceria formalizada com diversos estágios, desde a
comercialização dos produtos somente, até a sua produção e comercialização
exclusiva, desde que seguindo todas as regras do franqueador. A esse tipo de
parceria altamente formalizada denomina-se franquia ou franchising.
Outro tipo de parceria é a que, no Brasil, se chama de terceirização. Tende a ser
bem sucedida se for determinada contratualmente e se for composta por pessoas
jurídicas que se comprometam a prestar serviços (quase sempre) especializados ao
seu parceiro contratante.
3.2.11 Internacionalização
É a extensão das atividades de uma empresa fora de seu país de origem. Embora o
processo de internacionalização seja lento e geralmente contenha um grau
significativo de risco, essa estratégia mostra-se muito interessante para as empresas
de grande porte, em decorrência da evolução dos sistemas financeiros, logísticos,
148
mercadológicos, tecnológicos e de comunicação. Porém pode ser adotada, até por
questões de sobrevivência, por empresas de qualquer porte.
A estratégia consiste em eliminar fronteiras e arregimentar capitais financeiros,
transladando idéias e produtos ao redor do mundo, tanto na produção, ou na
comercialização, quanto na sua orientação básica.
Adaptar-se ao que a globalização nos coloca, tirando vantagem empresarial do
desejo do consumidor e acrescentando pontos de diferenciação são formas comuns
de implementá-la. Pode-se adotar a internacionalização, passando a fabricar, ou
projetar, ou comercializar, por exemplo, um produto inteiro, componentes internos ou
até serviços periféricos diversos, para atuação local, bem como investir na expansão
para outras nações.
Muitas variáveis precisam ser levadas em consideração para que as empresas
sejam bem sucedidas no processo de internacionalização, mas não serão
detalhadas neste trabalho, pois não são necessárias ao tema estudado.
Depois de analisar as diferentes alternativas de configuração do negócio
empresarial, entende-se que as estratégias de retração, desinvestimento, liquidação
do negócio não são utilizadas para entrar em novos mercados.
A fim de verificar na pesquisa de campo se há predominância de algumas delas ao
entrar no mercado de produtos populares, é importante apresentar as considerações
de Hooley e Saunders (1996) sobre o enfoque estratégico.
Para os autores (1996), a estratégia que será desenvolvida pela empresa pode
passar por diferentes estágios ao longo do ciclo de vida do produto e, para melhorar
o desempenho dos seus produtos ou serviços, ela pode adotar diferentes métodos,
como mostra a Figura 18.
149
Fonte: Hooley e Saunders (1996, p.49).
De acordo com Hooley e Saunders (1996), a expansão do mercado pode dar-se
atraindo novos usuários para o produto ou serviço, aumentando a frequência de uso
dos usuários atuais, identificando novos usos para o produto ou desenvolvendo
novos produtos para estimular o mercado.
O aumento da participação de mercado geralmente ocorre por meio da atração de
clientes da concorrência, da fusão ou aquisição de concorrentes e pela aliança
estratégica com concorrentes, fornecedores e/ou distribuidores. Nessa estratégia,
cada um dos elementos do mix de marketing (produto, preço, distribuição e
comunicação), deve ser usado para oferecer valor agregado ou algum benefício
extra ao consumidor para que ele se sinta atraído.
O aumento da lucratividade pode ocorrer por meio do aumento de preço, redução
dos custos, ou ambos. Quando a empresa produz vários produtos, pode-se elevar a
lucratividade mediante a junção de linhas de produto, remoção dos produtos que
têm baixo desempenho e concentração dos esforços naqueles que possuem maior
viabilidade financeira. Contudo deve-se ter muito cuidado ao efetuar os cortes, pois
é possível que as linhas de produto que aparentemente dão prejuízo sejam
estrategicamente essenciais para garantir que a empresa continue presente no
Melhorar o
desempenho
Expandir o
mercado
A
umentar a
participação
Melhorar a
lucratividade
Fi
g
ura 18
Enfo
q
ue estraté
g
ico
- Reduzir custos
- Aumentar preços
- Racionalizar o mix de
produtos
-
A
umentar a frequência
- Novos usos
- Novos usuários
- Ganhar participação
- Comprar participação
- Alianças
150
mercado como um todo ou nos nichos escolhidos daquele mercado, como foi falado
no item “modelos de análise”.
O objetivo deste item foi abordar teoricamente as diferentes alternativas de
configuração do negócio que podem ser identificadas nas empresas.
Independentemente de qual seja a configuração adotada, a arena empresarial é
cada vez mais competitiva. As organizações necessitam diferenciar-se e precisam
buscar vantagens competitivas para sobreviver nos setores e segmentos em que
atuam. Este tema será abordado a seguir.
3.3 Vantagem Competitiva
A vantagem competitiva, de acordo com Porter (1992, p.2), “surge do valor que uma
empresa consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de
fabricação pela empresa”. O autor (1992) define “valor” como sendo o que os
compradores estão dispostos a pagar. O “valor superior” provém da oferta de preços
mais baixos do que os da concorrência por benefícios equivalentes ou do
fornecimento de benefícios singulares que compensam um preço mais alto.
Principalmente no mercado de produtos populares, o valor superior deve ser
percebido pelo público-alvo, que não tem renda disponível para extravagâncias no
consumo.
Porter (1992, p.9) menciona que “a base fundamental do desempenho acima da
média a longo prazo é a vantagem competitiva sustentável”. Apesar de uma
empresa ter inúmeros pontos fortes e fracos em relação à sua concorrência, o autor
afirma que existem dois tipos básicos de vantagem competitiva de uma empresa:
baixo custo ou diferenciação. A relevância de qualquer ponto fraco ou forte, em
síntese, é uma função do seu impacto sobre o custo relativo ou a diferenciação.
Para os produtos populares, o baixo custo é fundamental. Se este for aliado à
diferenciação, proporcionará à organização, de fato, uma vantagem competitiva
sustentável. O baixo custo e a diferenciação, originados da estrutura industrial
resultam da habilidade da empresa em lidar com as cinco forças melhor do que os
151
seus rivais. Na Figura 19, a seguir, as cinco forças competitivas que determinam a
rentabilidade da indústria:
Figura 19: As cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade da indústria
Fonte: Porter(1992, p.4).
O poder de negociação dos fornecedores e dos compradores da empresa, bem
como a ameaça de novos entrantes no mercado e de produtos ou serviços
substitutos aliados à concorrência já existente, compõem as cinco forças
competitivas que irão determinar a rentabilidade da indústria (PORTER, 1992).
Para o setor eletroeletrônico, especificamente, para os fabricantes de produtos
populares, acredita-se que a concorrência de preços, o lançamento de produtos com
estratégias de marketing adequadas, o aumento do prazo das garantias pós-venda,
são práticas que acirram a rivalidade entre os concorrentes e apresentam uma
oportunidade para melhorar a posição de algumas empresas no mercado. Porter
(1986, p.34) faz algumas considerações nesse sentido:
A rivalidade entre os concorrentes existentes assume a forma
corriqueira de disputa por posição – com o uso de táticas como
concorrência de preços, batalhas de publicidade, introdução de
produtos e aumento dos serviços ou das garantias ao cliente. A
rivalidade ocorre porque um ou mais concorrentes sentem-se
pressionados ou percebem a oportunidade de melhorar a sua
152
posição. (...) Se os movimentos e contramovimentos crescem em um
processo de escalada, todas as empresas da indústria podem sofrer
as consequências e ficar em situação pior do que a inicial.
Na busca de uma constante melhora e entendimento em relação aos seus clientes e
concorrentes, todas as empresas buscarão desenvolver ferramentas e know-how
que lhes garantam posicionamentos melhores nos mercados em que atuam. A
busca das mais variadas vantagens estratégicas que tornam uma empresa mais
competitiva se dará tanto em nível interno - em operações que envolvam as mais
importantes áreas da organização, com o objetivo de obter melhor integração das
suas operações como um todo - como em nível externo - no seu relacionamento
com os clientes, fornecedores e concorrentes, e, de modo mais amplo, com os
stakeholders.
Dessa forma, a vantagem competitiva de uma empresa é oriunda do somatório de
diversas atividades, tais como fabricar, divulgar, vender, entregar, contribuindo cada
uma delas para a posição relativa de custos da empresa, e criando uma base para a
diferenciação, como afirma Ghemawat (2000, p.64):
A vantagem competitiva não pode ser entendida olhando-se uma
empresa como um todo. Ela provém das muitas atividades distintas
executadas por uma empresa ao projetar, produzir, comercializar,
entregar e prestar assistência ao seu produto. Cada uma dessas
atividades pode contribuir para a posição relativa de custo de uma
empresa e criar uma base para a diferenciação. A cadeia de valor
desagrega uma empresa em suas atividades estrategicamente
relevantes para compreender o comportamento dos custos e as
fontes existentes e potenciais de diferenciação.
As vantagens competitivas podem, no decorrer de um determinado período, ser
desenvolvidas ou alteradas, de acordo com as modificações mercadológicas ou
internas de rumos ou metas de uma companhia.
Para sustentar a sua vantagem competitiva, a empresa deve estar atenta às
necessidades dos consumidores e ao movimento da concorrência, inovar, agir com
rapidez na tomada de decisões e ter quadros humanos competentes, colocando-se
153
continuamente à frente das suas rivais e evitando a armadilha do sucesso, a
acomodação, causada pela posição de liderança e pelas significativas margens de
lucratividade.
Para Porter (1998, p.149), “empresas bem-sucedidas tendem a desenvolver uma
tendência para a previsibilidade; elas trabalham defendendo o que possuem. (...) A
inovação cessa; a empresa torna-se estagnada; é apenas uma questão de tempo
até que concorrentes agressivos a ultrapassem”.
Aaker (2001) reitera a posição de Porter (1992) e afirma que há dois tipos de
políticas para gerar as vantagens competitivas sustentáveis (VCS): diferenciação e
baixo custo. Segundo ele (2001), a maneira como uma empresa compete, a sua
estratégia de produto, posicionamento, produção, distribuição não é a única chave
para a garantia do seu sucesso. Pelo menos três outros fatores são requisitos para a
criação de uma vantagem competitiva sustentável e, por conseguinte, de uma
estratégia que será vencedora ao longo do tempo. São eles: bases de competição,
onde a empresa compete e com quem a empresa compete, conforme ilustra a
Figura 20 a seguir:
Figura 20 - A Vantagem Competitiva Sustentável
O modo como você compete:
Estratégia de produto
Estratégia de posicionamento
Estratégia de fabricação
Estratégia de distribuição etc.
Bases de Competição:
Ativos e competências VCS
Onde você compete:
Seleção de produto-mercado
Com quem você compete
Seleção de concorrente
Fonte: Aaker (2001, p.146).
154
As “bases de competição” indicam que a estratégia deverá ter fundamento no
conjunto de ativos e competências da empresa, pois sem eles será improvável que a
vantagem competitiva sustentável resista. “Onde a empresa compete” diz respeito a
escolha do mercado-alvo do produto, pois uma estratégia bem definida baseada em
ativos e competências pode falhar porque não funciona no mercado propriamente
dito. “Contra quem você compete” é o fator que representa a identificação dos
concorrentes. É possível que um ativo ou uma competência se torne uma vantagem
competitiva sustentável somente em relação a um certo conjunto de concorrentes.
Assim, avaliar se um concorrente ou grupo estratégico é fraco, adequado, ou forte
no que se refere a ativos e competências é essencial. O objetivo é desenvolver uma
estratégia que vá ao encontro da falta de força dos concorrentes em ativos e
competências relevantes.
Neste mercado hipercompetitivo, caberá às empresas decidir de que forma e onde
atuarão. Para tanto, análises e estudos pormenorizados dos clientes, concorrentes,
mercados, ambiente externo, são imprescindíveis para garantir a vantagem
competitiva sustentável.
Os dois tipos de vantagem competitiva - baixo custo e diferenciação - citados
anteriormente por Porter(1992) e Aaker (2001), aliados ao escopo de atividades para
as quais uma empresa procura obtê-los levam a três estratégias genéricas para
alcançar o desempenho acima da média em uma indústria, de acordo com Porter
(1992, p.10): liderança em custo, diferenciação e enfoque em baixo custo ou na
diferenciação.
1. Liderança em custo: organizações precisam ser operacional e estruturalmente
mais enxutas que os concorrentes e estar capitalizadas para suportar longos
períodos de baixa lucratividade. Existem duas maneiras de obter liderança em
custo: executar com mais eficiência cada atividade da empresa (reduzindo
custos) ou inovar (reinventando as atividades). Essa estratégia funciona melhor
quando: a competição é acirrada; o produto é padronizado (commodity) ou
disponível a partir de muitos fornecedores; existem poucas maneiras para
diferenciá-los perante os clientes; a maior parte dos consumidores utiliza os
produtos da mesma maneira; a troca de fornecedores é simples; novos
155
participantes da indústria utilizam-se da tática de baixos preços de introdução
para atrair clientes. A estratégia pode provocar guerra de preços entre
concorrentes e desviar a atenção da empresa quanto ao desejo dos clientes e
quanto às mudanças na utilização dos produtos.
2. Diferenciação: organizações dispõem de bens e serviços com características
superiores ou mais atraentes para que os clientes os percebam como um valor
maior do que as alternativas do mercado. Porém o importante é sustentar essa
vantagem competitiva. Para alcançar resultados positivos, a empresa precisa ser
sólida em uma ou mais das seguintes características: produtos ou serviços
inovadores; superioridade técnica; qualidade e confiabilidade; atendimento amplo
e eficaz ao cliente. A estratégia dará melhores resultados quando: tanto maior for
a quantidade de aspectos diferenciados do produto ou serviço; houver diferença
entre as necessidades e os usos; não existir movimento dos concorrentes na
mesma direção; forem frequentes as mudanças tecnológicas e os novos
produtos.
É necessário que a diferenciação das empresas em relação aos seus concorrentes,
ou no desenvolvimento, aperfeiçoamento e venda de um produto ou serviço, ou
ainda na sua forma de atuação, seja percebida e valorizada pelo consumidor. No
entender de Hooley e Saunders (1996, p.55):
Diferenciação é a criação de algo que pareça ser único no mercado.
Segundo essa estratégia, os pontos fortes e as aptidões da empresa
são usados para diferenciar seus produtos e/ou serviços dos
produtos e/ou serviços de seus concorrentes, segundo alguns
critérios valorizados pelos consumidores.
Corroborando o pensamento de Hooley e Saunders(1996), para Oliveira (1991,
p.283), a diferenciação “corresponde a uma estratégia genérica inerente ao
processo de diferenciar o produto ou serviço oferecido pela empresa, criando algo
reconhecido como único no setor ou indústria”.
Em contrapartida, ao adotar a diferenciação, a empresa deve evitar encarar as
fontes de diferenciação de forma limitada, enxergando-a apenas em práticas de
156
marketing ou do produto físico, e buscando difereciadores valorizados pelos
consumidores-alvo, como coloca Porter (1992, p.111):
Apesar da importância da diferenciação, suas fontes nem sempre
são bem entendidas. As empresas encaram as fontes em potencial
de diferenciação de uma forma muito limitada. Elas vêem a
diferenciação em termos das práticas de marketing ou do produto
físico, ao invés de considerarem que elas originam-se
potencialmente em qualquer parte na cadeia de valores. Em geral, as
empresas também são diferentes, mas não diferenciadas, porque
buscam formas de singularidade que os compradores não valorizam.
Normalmente, os diferenciadores ainda prestam atenção insuficiente
ao custo da diferenciação, ou a sustentabilidade desta, uma vez
alcançada.
3. Enfoque em baixo custo ou enfoque na diferenciação: consiste em concentrar a
atenção da empresa em uma parcela restrita do mercado (nicho) a que ela tenha
condições de atender melhor e/ou com preços mais baixos do que a concorrência.
Esse nicho é atrativo quando: tem dimensão e potencial de lucro e crescimento;
não é fundamental para os líderes do setor; os concorrentes não conseguem
atender às necessidades específicas dos clientes devido ao custo ou pela
dificuldade de atender a outros segmentos; os recursos e as capacitações
existentes podem atender efetivamente ao nicho escolhido; poucos concorrentes
dedicam-se ao nicho. Uma estratégia de enfoque pode ser arriscada se os
concorrentes tiverem as capacitações para atender ao nicho, se as preferências
dos clientes se alinharem com os produtos-padrão ou se o nicho se torna muito
atrativo.
Por fim, com base nos fundamentos teóricos abordados, entende-se que para suprir
as necessidades dos consumidores de produtos populares, recém-inseridos no
mercado de consumo, a empresa que faz parte de um ambiente de concorrência
cada vez mais acirrada deverá adotar estratégias empresariais que vislumbrem
vantagens competitivas sustentáveis. Atentar para o constante desenvolvimento e
inovação dos seus produtos num esforço atrelado à construção e consolidação da
marca, melhorar constantemente o entendimento do seu público-alvo, prestar
157
serviços agregados à compra, analisar o segmento em que atua e as empresas
concorrentes são algumas formas de competir com vantagem.
Para que a empresa obtenha sucesso a longo prazo, é essencial, ainda, que as
configurações do seu negócio sejam embasadas num planejamento estratégico
mercadológico que considere as condições para operação e sobrevivência da
empresa.
Entende-de, que a escolha da configuração do negócio - um dos elementos que
compõem a tomada das decisões estratégicas - quando embasada em análises
técnicas, poderá auxiliar a traçar as diretrizes empresariais, maximizando as
chances de conduzir a organização ao sucesso.
Dando continuidade, no próximo capítulo, será apresentada a metodologia utilizada
neste estudo.
158
Capítulo 4
Metodologia da pesquisa de campo
159
O levantamento dos dados secundários compõe a pesquisa bibliográfica que é
entendida como “um elenco de etapas coerentes utilizadas para levantar o mais
exaustivamente possível a produção intelectual relativa a um certo tema”
(TATSCH; VOLPATO, 2002, p.100). Esta pesquisa foi realizada em sites, livros,
revistas, jornais, artigos, dissertações e teses que abordam a definição de produto
popular e população de baixa renda e os temas comportamento do consumidor,
estratégias de marketing e comunicação, vantagem competitiva, construção de
marca, modelos de análise de portfólio de produtos e atratividade de mercado.
Nesta primeira fase, foi elaborado o embasamento teórico que dará suporte à
pesquisa empírica.
Complementarmente, foi desenvolvida a pesquisa empírica com a intenção de
responder às questões apresentadas no problema da pesquisa e atingir o objetivo
proposto neste estudo.
Neste capítulo, será apresentado o método adotado na pesquisa empírica: tipo de
pesquisa, método de coleta de dados, instrumento de coleta de dados, seleção
dos entrevistados e método de análise utilizados. Antes, porém, vale retomar o
problema e o objetivo geral da pesquisa, a partir dos quais foi definida a
metodologia.
O problema da pesquisa foi determinado pelas seguintes questões: Quais são as
estratégias de marketing e comunicação predominantes nas empresas do setor
eletroeletrônico que fabricam produtos populares? Elas embasam o seu
planejamento de marketing e comunicação em modelos de análise do tipo BCG,
GE e SWOT ou em outras ferramentas?
Quanto ao objetivo geral, consiste em elaborar modelos de análise integrada para
fundamentar as estratégias de marketing e comunicação dos produtos
eletroeletrônicos populares.
A literatura sobre estratégias de marketing e comunicação e modelos de análise
mercadológica é vasta, sobretudo no que se refere a bens de consumo ou
160
serviços. O conhecimento, contudo, é limitado quando se trata da aplicação
desses conceitos à baixa renda brasileira e ao segmento de eletroeletrônicos.
Portanto o desejo de explorar as estratégias de marketing e comunicação focadas
na população de baixa renda e os modelos de análise para produtos
eletroeletrônicos populares confere a esta pesquisa uma característica de
originalidade.
A pesquisa de campo contemplada neste estudo foi conduzida em duas fases,
que combinam a abordagem qualitativa (primeira fase) e a quantitativa (segunda
fase).
4.1 Primeira fase da pesquisa empírica
4.1.1 Tipo de Pesquisa
Na primeira fase da pesquisa de campo, foi utilizada a pesquisa qualitativa de
caráter exploratório que possibilita ao pesquisador estudar eventos selecionados
de forma aprofundada. Definiu-se que este estudo seria realizado com o método
exploratório em razão da carência de pesquisas acerca das estratégias de
marketing e comunicação para produtos populares no setor eletroeletrônico, como
já citado. De acordo com Selltiz et al. (1974, p.62), “no caso de problemas em
que o conhecimento é muito reduzido, geralmente o estudo exploratório é o mais
recomendado”. Além disso, esse tipo de estudo demanda uma metodologia
menos estruturada e não exige amostragem probabilística, sendo suficiente o uso
de pequenas amostras. Selltiz et al. (1974) observam que os objetivos dos
estudos formuladores ou exploratórios são:
1) familiarizar-se com o fenômeno para poder formular um problema mais preciso
de pesquisa ou criar novas hipóteses;
2) mostrar detalhadamente as características de uma circunstância, um grupo ou
um indivíduo específico.
161
Corroborando com Selltiz et al. (1974), Mattar (1996, p.18) afirma que “a pesquisa
exploratória visa a prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o tema ou
problema de pesquisa em perspectiva”.
A pesquisa também pode ser classificada, segundo Collis e Hussey (2003), como
qualitativa em relação ao seu processo. Para Richardson et al. (1999, p. 90), “a
pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma
compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas
de características ou comportamentos”. Esse tipo de pesquisa foi visto por muito
tempo com desconfiança pelos pesquisadores. Por outro lado, a partir da última
década, essa concepção vem-se modificando, uma vez que a pesquisa qualitativa
está adquirindo mais respeitabilidade no meio acadêmico (RICHARDSON et al.,
1999).
Segundo alguns pesquisadores, as respostas subjetivas das pessoas numa
pesquisa qualitativa trazem explicações mais evidentes do que o conhecimento
teórico dos pesquisados. Richardson et al. (1999, p.91) afirmam que, “para muitos
pesquisadores qualitativos, as convicções subjetivas das pessoas têm primazia
explicativa sobre o conhecimento teórico dos investigados”.
Os resultados de estudos qualitativos geralmente são mais ricos e próximos do
fenômeno estudado do que as análises estatísticas. Pode-se, entretanto, coletar
dados quantitativos num estudo qualitativo. Esses dados podem ser relatados e
interpretados juntamente com dados qualitativos em entrevistas e observações
diretas (COZBY, 2003).
Por sua vez, Richardson et al. (1999) acreditam que a aplicação de critérios
quantitativos a dados qualitativos é inadequada, uma vez que o objetivo
fundamental da pesquisa qualitativa não reside na produção de opiniões
representativas e mensuráveis de um grupo. King, Keohane e Verba (1994)
complementam, ainda, que essa pesquisa, apesar de cobrir poucos casos durante
162
o estudo, permite a obtenção de grandes somas de informações, tendo em vista
análises focadas em detalhes dos objetos analisados.
Considerando os benefícios proporcionados pelo estudo exploratório e qualitativo,
a autora entendeu serem esses aspectos metodológicos os mais adequados para
a realização desta primeira fase da pesquisa empírica que se destinará a levantar
tanto os fatores relevantes para o planejamento de estratégias de marketing,
comunicação e construção de marcas para produtos populares do setor
eletroeletrônico, quanto as ferramentas que embasam essas estratégias, o
comportamento do consumidor de baixa renda e as configurações de negócio das
indústrias.
4.1.2 Método e instrumento de coleta de dados
A entrevista é a técnica fundamental da pesquisa qualitativa (ROESCH, 1999;
ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZANAJDER, 1998). Permite abordar temas
complexos em profundidade que dificilmente seriam investigados de forma correta
por meio do uso de questionários. O intuito principal da entrevista é obter as
informações a respeito de um problema ou assunto do entrevistado (MARCONI;
LAKATOS, 2003).
Para Malhotra (2001), a entrevista em profundidade pode levar de meia hora a
mais de uma hora. Constitui uma “entrevista não estruturada, direta, pessoal, em
que um respondente de cada vez é instado por um entrevistador altamente
qualificado a revelar motivações, crenças, atitudes e sentimentos sobre um
determinado tópico” (Malhotra, 2001, p.163). A entrevista em profundidade visa a
obter do entrevistado o que ele julga mais relevante para determinado problema,
em vez de responder a perguntas com diversas alternativas pré-formuladas
(RICHARDSON et al., 1999).
Para Roesch (1999), as perguntas abertas são a forma mais elementar de coleta
de dados qualitativos. Elas evitam a influência do pesquisador sobre as respostas,
e este tem total liberdade para explorar qualquer aspecto que julgue pertinente
(MARCONI; LAKATOS, 2003). Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998)
163
observam que as pesquisas qualitativas são mais flexíveis e não admitem
precisão quanto à sua estruturação.
Apesar de a entrevista ser muito utilizada em pesquisas qualitativas, apresenta
vantagens e desvantagens que serão detalhadas a seguir.
Como vantagens, tem-se que podem ser respondidas por alfabetizados ou
analfabetos, o que fornece uma amostragem melhor da população em geral; há
maior flexibilidade já que o entrevistador pode repetir, esclarecer ou reformular
perguntas de forma diferente, esclarecer algum significado para garantir que está
sendo compreendido; oferece maior oportunidade para avaliar atitudes uma vez
que o entrevistador pode registrar reações e gestos; dá a oportunidade para a
obtenção de dados relevantes que não estão disponíveis em fontes documentais;
oferece a possibilidade de obter informações mais precisas, que podem ser
comprovadas, de imediato; possibilita que os dados sejam quantificados e
submetidos a tratamento estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2003).
Como desvantagens da entrevista, Marconi e Lakatos (2003) citam a dificuldade
de expressão e comunicação de ambas as partes; a incompreensão, por parte do
entrevistado, do significado das perguntas da pesquisa, que pode levar a uma
falsa interpretação; a possibilidade de o entrevistado ser influenciado pelo
entrevistador, consciente ou inconscientemente, pelo seu aspecto físico, idéias ou
opiniões; a disposição do entrevistado em dar as informações necessárias; a
retenção de alguns dados relevantes, receando que sua identidade seja revelada;
o pequeno grau de controle sobre a situação de coleta de dados; o fato de ocupar
muito tempo e ser difícil de ser realizada.
Em vista do exposto, a entrevista em profundidade foi utilizada como método de
pesquisa nesta primeira fase, pois a autora julga que as vantagens desse método
se sobrepõem às limitações.
O instrumento de coleta nesta primeira fase da pesquisa empírica foi o roteiro de
entrevista semi-estruturado. Será apresentado no Apêndice A.
164
4.1.3 Escolha dos entrevistados
O pesquisador escolhe os entrevistados de acordo com as questões de interesse
do estudo e com as condições de acesso, disponibilidade e permanência no
campo (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZANAJDER, 1998).
Embora, na primeira fase da pesquisa de campo, não seja possível indicar ao
certo quantas pessoas serão entrevistadas, uma vez que devem ser pesquisados
tantos indivíduos quantos forem necessários para entender os fatores relevantes
para o estudo, Richardson et al. (1999) recomendam que a utilização da
entrevista em profundidade não ultrapasse mais de vinte pessoas entrevistadas.
Devido ao pequeno número de empresas que compõem o universo pesquisado
neste estudo (25 associadas à ELETROS – Associação Nacional de Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos), foram selecionados dois executivos das áreas de
marketing e comunicação de duas empresas consideradas relevantes para a
pesquisa no que se refere aos produtos que fabricam, ao público que atingem e à
sua participação no setor eletroeletrônico. Também é importante citar que ambos
mostraram disponibilidade para responder as entrevistas em profundidade,
embora o agendamento de uma delas tenha sido adiado várias vezes. Por falta de
tempo de um dos entrevistados, a entrevista foi realizada em dias diferentes.
Ressalta-se que a ELETROS reúne os maiores fabricantes de eletrodomésticos e
eletroeletrônicos de consumo do país. As 25 empresas associadas representam
marcas importantes dos segmentos de linha branca, linha marrom (imagem e
som) e eletroportáteis (ELETROS,2010).
4.1.4 Coleta de dados
As entrevistas em profundidade ocorreram no período de janeiro a junho de 2009,
nas respectivas empresas, no município de São Paulo e tiveram a duração de
cerca de duas horas cada uma. Foram gravadas com a permissão dos
entrevistados e transcritas a fim de ampliar a possibilidade de acesso posterior
165
aos resultados com maior detalhamento (GODOI;MATTOS, 2006). Em razão da
falta de tempo de um dos entrevistados, a entrevista foi dividida em duas partes e
realizada em dias diferentes.
Considerou-se, de acordo com as ponderações de Godoi e Mattos (2006), que a
habilidade do entrevistador está em conduzir a entrevista omitindo-se ao máximo
em dirigir o entrevistado, a fim de evitar expressar as suas próprias opiniões,
independentemente do uso de roteiros. Salienta-se que houve a preocupação de
não influenciar a resposta dos entrevistados, sob pena de ocasionar distorções no
resultado da pesquisa. Além disso, tentou-se estabelecer um clima informal e de
confiança, para que os sujeitos pudessem dar respostas que tivessem caráter
estratégico, pela ótica das empresas.
Um dos critérios utilizados para o encerramento da fase de aplicação das
entrevistas é o da saturação teórica. Esta ocorre quando as entrevistas começam
a apresentar respostas similares e se adquire a confiança de que não se
encontrarão dados adicionais que possam ajudar o desenvolvimento de cada
ponto teórico estudado (GODOI; MATTOS, 2006). Nas entrevistas realizadas,
apesar de as duas empresas produzirem categorias diferentes de produtos, as
respostas foram similares, e não houve a inclusão de novos fatores.
4.1.5 Método de análise
O método de análise utilizado na primeira fase da pesquisa de campo foi a análise
textual interpretativa com base em Flores (1994) e Merriam (1998). Collis e
Hussey (2005) criticam a falta de objetividade dos métodos de análise das
pesquisas qualitativas pelo fato de não haver um conjunto de práticas aceito
quando comparado com os métodos de análise de dados das pesquisas
quantitativas. A análise de dados qualitativos baseia-se, na maioria das vezes, em
intuição e em experiência adquirida pelo pesquisador. Desse modo, não há um
procedimento único para a análise de estudos qualitativos.
166
Neste estudo, utilizou-se um processo de análise em quatro etapas, sugeridas por
Flores (1994), e descritas a seguir:
1.ª etapa: organização dos dados
Iniciou-se o processo de análise dos dados com a transcrição do material
gravado, seguida pela leitura das entrevistas transcritas e a audição do material
gravado várias vezes até se identificarem repetições, pontos comuns e temas
direcionadores para a análise posterior.
2.
a
etapa: geração de categorias
Após a primeira etapa, iniciou-se a categorização de dados. As categorias
representam os principais aspectos relativos ao assunto da tese e podem ser
estabelecidas a priori, de acordo com a teoria, ou ter origem na fala dos
entrevistados (FLORES, 2004; MERRIAM, 1998). As categorias estabelecidas a
priori, baseadas na fundamentação teórica deste estudo, foram: planejamento de
marketing e comunicação, conhecimento do consumidor de baixa renda, fatores
de análise para o setor eletroeletrônico, estratégias de negócios.
3º etapa: codificação dos dados
Os pesquisadores produzem uma lista de códigos, os templates, relacionados
com as categorias estruturadas na etapa imediatamente anterior, para identificar
pontos, na transcrição da entrevista, em que o entrevistado menciona grupos
particulares de assuntos, que envolvem, na maioria das vezes, uma estrutura
hierárquica. Nesta pesquisa, cada código ou template foi numerado,
estabelecendo-se, por esse meio, a codificação numérica inicial das várias
categorias, ou seja, identificaram-se as categorias que dão uma boa visão da
direção da entrevista, e as subcategorias que permitem que se faça uma boa
distinção entre as entrevistas. Além do mais, os principais pontos das entrevistas
que serviram para definir as categorias auxiliam o desenvolvimento das
subcategorias de forma mais detalhada. Com isso, foi possível trabalhar
sistematicamente as transcrições das entrevistas a fim de identificar as questões
relevantes para alocá-las na lista de códigos e também verificar a necessidade de
ajustes no processo de categorização.
167
4º etapa: interpretação e análise dos dados
A análise foi feita utilizando-se as categorias e os códigos definidos e
assinalando-se pontos de concordância e discordância entre os entrevistados.
Com o material agrupado, foi possível comparar os relatos com a fundamentação
teórica e investigar como se apresenta o planejamento de marketing e
comunicação dos produtos populares do setor eletroeletrônico; verificar se as
empresas utilizam ferramentas para conhecer o público de baixa renda; identificar
qual a configuração de negócio predominante entre as empresas do setor que
decidiram atuar no mercado popular, entre outras questões.
Desse modo, a pesquisa qualitativa de caráter exploratório embasou a construção
do instrumento de coleta da segunda fase da pesquisa empírica.
4.2 Segunda fase da pesquisa empírica
4.2.1 Tipo de pesquisa
Nessa segunda fase, utilizou-se a pesquisa quantitativa de caráter descritivo, que
teve como ponto de partida os resultados da primeira fase para a construção do
questionário estruturado de pesquisa e o próprio desenho da pesquisa. A
abordagem descritiva tem como objetivo principal a “descrição de características
de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações
entre variáveis” de acordo com Gil (2002, p.42). As pesquisas descritivas, junto
com as exploratórias, são as mais realizadas por pesquisadores preocupados
com a atuação prática (GIL, 2002).
Corroborando Gil (2002), essa pesquisa é classificada por Collis e Hussey (2003)
quanto ao seu objetivo em um estudo descritivo que busca identificar as
características de um determinado grupo em questão.
O presente estudo visa a descobrir se há fatores comuns e predominantes nas
estratégias de marketing e comunicação das indústrias do setor eletroeletrônico
fabricantes de produtos populares; se essas estratégias são definidas por meio de
ferramentas de análise de mercado e de portfólio de produtos e se levam em
168
consideração o comportamento dos consumidores de baixa renda. Depois de
analisados os resultados, serão apresentados modelos de análise integrada
específicos para o segmento. A pesquisa também pode ser classificada, segundo
Collis e Hussey (2003), como quantitativa em relação ao seu processo.
Para Richardson et al. (1999, p.70), “o método quantitativo, como o próprio nome
indica, caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de
coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas
estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio-padrão, às
mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.”. Por
meio desse tipo de pesquisa, busca-se garantir a precisão dos resultados, evitar
distorções de análise e interpretação, possibilitando uma margem de segurança
quanto às inferências (RICHARDSON et al., 1999).
Na pesquisa quantitativa, os processos de coleta e análise de dados são
separados no tempo, ou seja, a coleta antecede a análise, ao contrário da
qualitativa, em que os dois processos são concomitantes (GODOY, 2007).
4.2.2 Método e instrumento de coleta de dados
Nessa fase, foi utilizado o método de coleta de dados conhecido como survey,
que pode ser definido como um procedimento sistemático de levantamento para
coletar as informações que serão usadas para descrever, comparar ou explicar
fatos, atitudes, crenças e comportamentos, de acordo com Collis e Hussey
(2005).
O questionário é um instrumento muito utilizado na pesquisa de caráter
quantitativo e assume pelos menos duas funções segundo Richardson et al.
(1999): descrever as características e medir variáveis de um grupo social.
Neste estudo, as perguntas do questionário foram baseadas na fundamentação
teórica, no conhecimento adquirido sobre o setor eletroeletrônico durante o estudo
e nos resultados da primeira fase da pesquisa de campo.
169
As questões fechadas possuem vantagem no preenchimento e são de análise
rápida, porém são superficiais quando comparadas às abertas (RICHARDSON et
al., 1999).
O método do levantamento apresenta vantagens tais como: aplicação simples,
dados obtidos confiáveis já que as respostas são limitadas às alternativas citadas.
Além disso, o uso de perguntas com resposta fixa diminui a variação nos
resultados que pode ser causada pelas diferenças entre os entrevistados, e a
codificação, análise e interpretação dos dados são simples. A principal
desvantagem é que os indivíduos podem ser incapazes ou relutantes em dar a
informação desejada, caso seja delicada ou pessoal, complementa Malhotra
(2001).
Deve-se ter em mente que o questionário não é apenas um formulário, ou um
conjunto de questões listadas sem muita reflexão, uma vez que ele é um
instrumento de coleta de dados que busca mensurar alguma situação (ROESCH,
1999). Depois de formuladas, as questões são agrupadas em módulos e devem
ser montadas segundo uma lógica interna de investigação e provável reação dos
respondentes.
A pesquisa empírica nessa segunda fase foi realizada por meio do envio por e-
mail (correio eletrônico) de um questionário estruturado com questões fechadas e
abertas, algumas dicotômicas e outras múltiplas, a fim de evitar a perda de
validade de certos tipos de dados, conforme propõe Malhotra (2001).
Malhotra (2001) afirma, ainda, que o uso de métodos eletrônicos para fazer
questionários de levantamento está crescendo rapidamente. Em razão de os
entrevistados serem executivos de empresas de todo o país, geralmente muito
ocupados, com tempo escasso e, por isso, de difícil acesso, optou-se por utilizar a
entrevista por e-mail como método de contato, com o intuito de facilitar ao
entrevistado o preenchimento e envio da resposta.
170
Algumas limitações podem ser citadas na utilização de métodos eletrônicos como
entrevistas por e-mail. Por causa de limitações técnicas da maioria dos sistemas
de e-mail, os questionários não podem utilizar padrões de salto, verificações
lógicas ou aleatorização. Outro fator limitador é que alguns produtos de software
e-mail limitam a extensão do texto de uma mensagem de e-mail (Malhotra, 2001).
A autora acredita que essas limitações não tiveram impacto na coleta dos dados,
pois o questionário foi elaborado com instruções explícitas e enviado anexado ao
e-mail em arquivo digitado em Word.
O questionário será apresentado no Apêndice B. É composto por sete partes:
A primeira parte teve o objetivo de excluir eventuais empresas que não tivessem
os requisitos para participar da pesquisa, ou seja, identificou se a empresa fabrica
ou não produtos populares e se alcança ou não o público de baixa renda com os
produtos que fabrica. Em caso de não fabricar produtos para a população de
baixa renda, o respondente deveria encerrar sua participação na pesquisa.
A segunda e terceira partes trataram de identificar respectivamente os aspectos
principais do planejamento de marketing e comunicação das empresas do setor
eletroeletrônico que fabricam produtos para a baixa renda.
A quarta parte investigou o conhecimento que as empresas possuem acerca do
consumidor de baixa renda.
A quinta parte tratou de levantar os fatores de análise para as empresas do setor
eletroeletrônico que atuam no mercado popular.
A sexta parte identificou a estratégia de negócios utilizada pelas empresas para
atuar nesse mercado.
Por fim, a sétima e última parte, formulada com perguntas abertas, traçou um
perfil básico do respondente.
171
4.2.3 Caracterização da população e utilização do censo
A população da pesquisa, nesta segunda fase, foi composta por executivos
responsáveis pela diretoria ou gerência das áreas de marketing e comunicação de
empresas nacionais e internacionais do setor eletroeletrônico que atuam no país,
associadas à ELETROS (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos
Eletroeletrônicos). A relação dessas empresas foi obtida na ELETROS. Foram
consideradas somente as fabricantes de bens de consumo que não participaram
da primeira fase da pesquisa, o que totalizou 23 empresas.
Inicialmente, no projeto da pesquisa, a intenção era compor a população por meio
do cruzamento das empresas associadas à ELETROS e das empresas
associadas à ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
Porém, depois de várias conversas com executivos que atuam no setor há
bastante tempo, a pesquisadora entendeu que não seria conveniente pesquisá-
las uma vez que a grande maioria das associadas à ABINEE é formada por
empresas fabricantes de bens eletrônicos industriais. Como já foi citado, a
ELETROS reúne os maiores fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos
de consumo do país (ELETROS, 2010).
As pesquisas quantitativas, na maioria das vezes, utilizam uma amostra para
verificar o que se pretende estudar, uma vez que é muito difícil e custoso
pesquisar o universo com todos os indivíduos que formam o grupo que se deseja
investigar. A amostra é uma parte da população, geralmente aceita como
representativa (KERLINGER, 1979), e pode ser entendida como qualquer
subconjunto do conjunto universal ou da população.
Neste estudo e nessa fase, porém, como o tamanho da população é considerado
pequeno (23 elementos), optou-se pelo uso do censo, que estabelece a
numeração de todos os elementos de uma população, segundo Malhotra (2001).
O autor afirma, ainda, que nos casos onde a população é pequena, o censo não é
somente viável, mas conveniente (MALHOTRA, 2001).
172
4.2.4 Coleta de dados
Primeiramente, foi elaborada a listagem com todos os dados dos executivos
(diretores ou gerentes) responsáveis pelas áreas de marketing e comunicação
das empresas associadas à ELETROS. Em seguida, foi escrita uma carta de
apresentação, em que se explicam os objetivos e caráter acadêmico da pesquisa,
e se informam os contatos da pesquisadora para envio da resposta e/ou
esclarecimentos de eventuais dúvidas. A carta foi enviada no corpo do e-mail e
constituiu também a primeira página do questionário da pesquisa anexado ao e-
mail.
Malhotra (2001) afirma que os pesquisadores devem procurar diminuir as taxas
de recusa, o que se pode obter por meio de notificação antecipada, motivação
dos respondentes, incentivos, bom planejamento e administração do questionário
e contato periódico, inclusive por e-mail, com o entrevistado após o contato inicial.
A personalização também é eficaz para aumentar as taxas de resposta, segundo
o autor. No que se refere a pesquisas pelo correio eletrônico, são indicados e-
mails antecipados para anunciar a pesquisa, e-mails de lembrete aos não
respondentes, alguns dias após o encaminhamento da pesquisa inicial. “O
acompanhamento também pode ser feito por telefone, telegrama, e-mail ou
contatos pessoais” (MALHOTRA, 2001, p.335).
Dessa forma, iniciou-se a coleta dos dados de acordo com as etapas abaixo, a fim
de aumentar as taxas de resposta.
1.º contato telefônico com todos os indivíduos formadores da população
explicando os objetivos deste estudo acadêmico, a importância da participação
de cada um e a garantia de confidencialidade dos dados obtidos, visto que o
setor é altamente competitivo. Como incentivo, foi colocado à disposição da
empresa o relatório final da pesquisa aos que respondessem ao questionário.
Em seguida ao contato telefônico, ocorreu o 1.º envio do questionário por e-
mail a todos os 23 indivíduos formadores da população, solicitando que eles
encaminhassem a resposta , também por e-mail, em até dez dias.
173
2.º contato telefônico lembrando somente os indivíduos que não responderam
ao questionário no prazo estipulado anteriormente de dez dias.
2.º envio do questionário por e-mail para os não respondentes com um novo
prazo de sete dias para o envio da resposta.
3.º contato telefônico lembrando somente os indivíduos que ainda não o
responderam em sete dias.
3.º e último envio do questionário por e-mail para os não respondentes, com
novo prazo de sete dias para a resposta.
A todos os que responderam a pesquisa foi enviado um agradecimento pela
participação.
Os questionários foram enviados e recebidos nos meses de agosto e setembro de
2009.
Ressalta-se, ainda, a importância da realização de um pré-teste antes da
aplicação do questionário definitivo, a um grupo que possua as mesmas
características da população-alvo da pesquisa. Segundo Richardson et al. (1999),
no período de pré-teste, o pesquisador pode analisar aspectos como: o tempo
gasto para responder o questionário; a existência de questões de difícil
compreensão; o tamanho do questionário; e outros comentários que os
respondentes julguem necessários. Neste estudo, porém, devido ao tamanho
pequeno da população, a pesquisadora entendeu que não deveria realizar o pré-
teste com alguns integrantes do universo pesquisado para evitar que o número de
respondentes do questionário final se reduzisse ainda mais. Assim, realizou o pré-
teste com dois profissionais que atuam com pesquisa de mercado e que puderam
tecer considerações a respeito do questionário, algumas das quais foram
incorporadas a ele.
4.2.5 Método de Análise
Na segunda fase da pesquisa de campo, foi utilizada a análise descritiva.
Magalhães e Lima (2002, p.2) definem a análise descritiva como “um conjunto de
técnicas destinadas a descrever e resumir os dados, a fim de que possamos tirar
174
conclusões a respeito de características de interesse". Os autores afirmam, ainda,
que a estatística descritiva é usada para tirar conclusões de modo informal e
direto e depreender dos dados informações a respeito do fenômeno estudado.
Bussab e Morettin (2010, p.1) consideram a análise descritiva uma tentativa de
“obter dos dados a maior quantidade possível de informação, que indique
modelos plausíveis para serem utilizados numa fase posterior”. A análise
descritiva pode, então, ser definida como um conjunto de métodos com que se
pode ter uma visão geral dos dados obtidos.
Quando não é possível ou interessante observar no estudo a totalidade dos
dados da população, trabalha-se com uma amostra de dados. Nesse caso, os
resultados da análise descritiva referem-se à amostra, e posteriormente é
realizada a inferência estatística, que tem o objetivo de estender os resultados da
amostra para a população.
Os principais métodos inferenciais, porém, exigem que a amostra tenha um
tamanho significativo, em geral devido a propriedades específicas desses
métodos. Até mesmo alguns métodos comumente usados em casos de amostra
pequena impõem algumas exigências mínimas do volume de dados. Assim,
amostras tomadas na população deste estudo, que, na fase quantitativa, possui
um total de 23 (vinte e três) empresas, não permitiriam usar satisfatoriamente
inferência estatística; o problema se agravaria se ocorresse recusa de resposta
por parte de alguma das empresas amostradas, pois o tamanho da amostra
ficaria ainda mais prejudicado. Portanto optou-se por não tomar uma amostra,
mas realizar um censo.
Do total de 23 (vinte e três) empresas que compuseram a população na segunda
fase da pesquisa de campo:
11(onze) aceitaram responder ao questionário. Destas, 2(duas) não
fabricam produtos para as classes populares, 1(uma) foi adquirida durante
a pesquisa e solicitou que se considerasse a resposta da empresa
compradora. Por conseguinte, 2 (duas) foram excluídas da análise;
175
3 (três) têm como normas da empresa não responder a pesquisas;
9 (nove) não forneceram justificativa.
Desse modo, o conjunto total de dados, na segunda fase, é constituído por 8(oito)
empresas.
Como a utilização de inferência foi descartada, para estender ao restante da
população os resultados obtidos com os dados do estudo, a fim de elaborar os
modelos de análise integrada que descrevam adequadamente o mercado em
questão, este estudo se valeu do seguinte argumento: embora os resultados da
análise descritiva se apliquem apenas aos dados das empresas estudadas, eles
podem representar o restante das empresas uma vez que as empresas
estudadas possuem características típicas que fazem que elas representem
satisfatoriamente o restante das empresas da população. Como exemplo, pode-
se citar que as respondentes produzem as mesmas categorias de produto que as
não respondentes. Outro ponto é que todas as respondentes produzem bens que
alcançam a baixa renda da população. Mesmo que algumas empresas não
respondentes não fabriquem tais produtos, isso não impacta o resultado, porque
elas não pertencem à população de interesse.
Considera-se, ainda, que as empresas que participaram do estudo representam
de forma significativa a população pesquisada, pois compõem cerca de 50% do
faturamento total desse universo, segundo a ELETROS, e são as mais
representativas do mercado popular de acordo com a pesquisadora. Decidiu-se,
então, que, embora as informações tomadas a partir da análise descritiva retratem
apenas as empresas respondentes, os resultados obtidos seriam valiosos para
melhor compreender a população do estudo como um todo.
Com relação ao objetivo deste estudo, citado anteriormente, de forma alguma ele
é comprometido. Observa-se que, ao se aplicarem os modelos de análise às
empresas do setor, deve-se levar em consideração a cultura, as necessidades e
particularidades de cada empresa no momento da aplicação do modelo, o que
torna necessária a análise de todos os fatores em conjunto com cada empresa
176
individualmente. Tem-se, portanto, com os modelos de análise integrada
elaborados, um ponto de partida, que deverá ser revisto em cada situação.
Realizou-se, pois, uma análise descritiva dos dados coletados. As variáveis do
estudo são as respostas do indivíduo em cada pergunta; elas são categóricas (ou
qualitativas), pois o indivíduo escolhe uma dentre as respostas possíveis para
cada pergunta. Então, foram construídas para cada variável tabelas de
frequência, com as frequências de ocorrência de cada resposta.
Segundo Bussab e Morettin (2010), tais tabelas são adequadas para analisar
variáveis qualitativas. Magalhães e Lima (2002, p.11) complementam que elas
“proporcionam um meio eficaz de estudo do comportamento de características de
interesse".
Além disso, era de interesse da pesquisa estudar algumas variáveis
conjuntamente. Bussab e Morettin (2010) explicam que quando são analisadas
conjuntamente duas ou mais variáveis categóricas, é adequado o uso de tabelas
de contingência, com o objetivo de identificar as eventuais relações ou
associações entre as duas variáveis. Desse modo, optou-se por construir tabelas
de contingência para os seguintes pares de questões:
P8 e P13
P14 e P18
P20 e P4
E foram analisados conjuntamente os seguintes trios de variáveis:
P4, P5 e P14
P8, P11 e P12
Nesses casos, desejava-se avaliar se existe correlação entre as variáveis, isto é,
se a resposta em alguma delas influenciava as demais.
Todas as análises foram realizadas com o software Excel 2007 for Windows XP.
No próximo capítulo, serão analisados os dados da pesquisa, e apresentados os
resultados.
177
Capítulo 5
Apresentação dos resultados
da pesquisa
178
Neste capítulo, serão analisados os dados da pesquisa e apresentados os
resultados. A pesquisa de campo foi realizada em duas fases. Na primeira,
qualitativa, procurou-se compreender com maior detalhe as características
situacionais apresentadas pelos entrevistados no que se refere à maneira como
se planejam as estratégias de marketing e comunicação para os produtos que
alcançam a baixa renda e seu conhecimento sobre o mercado popular. Já na
segunda fase, tentou-se produzir medidas quantitativas das características e
comportamento das empresas do setor eletroeletrônico acerca dos temas acima
expostos.
Antes da exposição dos resultados, julgou-se importante apresentar informações
sobre o setor eletroeletrônico para facilitar e complementar o entendimento das
análises.
5.1 O setor de eletroeletrônicos
Nos últimos anos, as vendas do setor eletroeletrônico, depois de um período de
altos e baixos, têm sido beneficiadas por vários fatores como a queda nas taxas
de juros, a maior estabilidade no emprego, e algumas medidas implementadas
pelo governo, sobretudo as obras do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Segundo números apresentados pela Eletros (Associação Nacional dos
Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, 2007), o setor de eletroeletrônicos de
consumo como um todo formado pelos segmentos de linha branca, imagem e
som, e portáteis teve uma taxa de crescimento de 8,54% em 2006, abaixo da
expectativa inicial de cerca de 14%.
O segmento de linha branca comercializou 13,74% a mais do que em 2005, o
dobro do esperado. Para Paulo Saab, na época, presidente da Eletros, alguns
fatores favoreceram o crescimento da linha branca, tais como a queda nas taxas
de juros, a ampliação dos prazos dos crediários, a maior estabilidade no emprego
179
e a melhoria na massa salarial. Esse acréscimo é muito relevante, pois mostra a
recuperação de um segmento de produtos (linha branca) que vinha crescendo em
patamares modestos nos últimos anos, em função do poder aquisitivo e dos juros
elevados, fatores determinantes nas vendas desses produtos, que têm valor
unitário mais alto que os dos outros dois segmentos. Além disso, essas taxas são
muito superiores às de mercados maduros como Estados Unidos, Europa e
Japão, que giram em torno de 2%, e consomem produtos sofisticados, do
segmento denominado gourmet, pouco expressivo no Brasil.
Ainda de acordo com Paulo Saab, a linha de imagem e som contrariou as
projeções iniciais em função do desempenho bem abaixo do esperado das
vendas de DVDs, fato que pode ser explicado pela maior penetração dos
aparelhos importados no mercado nacional, principalmente os vindos de países
asiáticos, o que diminuiu a participação dos fabricantes locais. Em função disso,
as vendas da linha de imagem e som, cuja estimativa inicial era de um
crescimento de 24,5%, tiveram desempenho 9,59% superior ao de 2005. Já o
desempenho da linha de portáteis ficou próximo ao das previsões do setor: o
crescimento médio foi de 3,12% em relação a 2005, 1% acima do projetado.
A recuperação das vendas do setor é um fato bastante recente. Calcula-se que,
nos anos de 1995 e 1996, 30 milhões de pessoas que estavam fora do mercado
ganharam poder de compra e tornaram-se potenciais clientes das lojas de varejo.
Desde então, o setor passou por altos e baixos. A partir de 2001, registrou-se
retração nas vendas consecutivamente, por várias razões, tais como a crise de
energia elétrica em 2001, que se prolongou até 2004; os juros altos que
inviabilizaram a oferta de crédito no varejo ao consumidor em 2002; a queda na
renda e a alta na taxa de desemprego em 2003.
O vice-presidente da Whirlpool e responsável pela área de linha branca da
Eletros, José Drummond Jr., explica que as perspectivas futuras para as vendas
do setor são melhores devido à forte expansão do mercado imobiliário que criará
também uma grande demanda por eletrodomésticos. Em 2007, ele acreditava que
180
seriam vendidos 16 milhões deles, um volume recorde, pela primeira vez superior
à marca histórica de 13,5 milhões de unidades vendidas no auge do Plano Real,
em 1996 (FACCHINI, 2007). A troca de aparelhos antigos, já que o ciclo de vida
dos eletrônicos varia de oito a dez anos, e a velocidade de introdução de novas
tecnologias também podem colaborar para o aumento de vendas futuras do setor.
Em abril de 2009, o governo anunciou a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos
Industrializados) da linha branca – geladeiras, fogões, lavadoras de roupa e
tanquinhos. O objetivo da medida era incentivar o consumo, manter o ritmo da
produção da indústria mesmo que os reflexos da crise econômica mundial
afetassem o Brasil.
Em 29 de outubro, o Ministério da Fazenda anunciou a prorrogação da medida
até o final de janeiro de 2010 no caso dos eletrodomésticos da linha verde, mas
os modelos de luxo voltaram a ter a taxação normal do IPI em 1º de novembro.
Com o IPI reduzido, as vendas de eletroeletrônicos cresceram 20% em maio de
2009, no mês seguinte à medida, e começou a corrida para reporem os estoques.
Especificamente as vendas de eletrodomésticos da linha branca cresceram no
varejo até 30% em resposta à queda nos preços e, segundo alguns varejistas,
começaram a faltar nas lojas alguns modelos de máquinas de lavar roupas e
geladeiras (CHIARA, PETRY e SILVA, 2009).
Segundo o atual presidente da Eletros, Lourival Kiçula, a previsão no início de
2009 era de que a indústria acumulasse perdas de 20% nas vendas em 2009,
mas a redução do IPI impulsionou o setor. Kiçula comenta que, em dez meses (de
vigência do IPI reduzido da linha branca), as vendas de fogões, com 99% de
penetração nos lares brasileiros, aumentaram 6%; as vendas de refrigeradores,
com 93% de penetração, cresceram 25%; e as de lavadoras, com 46% de
penetração, 25%.
A expectativa da ABINEE (Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica)
em 2009 era que a indústria elétrica e eletrônica, que cresceu 10% em 2008,
voltaria a se expandir de forma acelerada sobretudo em função das obras do
181
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), já que o governo ainda não
havia cumprido sua meta de levar energia a todos os brasileiros (Exame
Melhores e Maiores, 2009), mantendo a curva de crescimento do setor,
conforme o Gráfico 10, a seguir:
Gráfico 10 – Faturamento Total Indústria Elétrica e Eletrônica(R$ bilhões)
Fonte: ABINEE(2010)
De acordo, porém, com a ABINEE (2010), o faturamento da indústria elétrica e
eletrônica em 2009 atingiu R$ 112,2 bilhões, o que representa queda de 9% na
comparação com 2008. Essa retração ocorreu por causa dos reflexos da crise
econômica internacional sobre a economia brasileira e, consequentemente, sobre
o setor eletroeletrônico. Na área de Utilidades Domésticas Eletroeletrônicas, a
queda registrada no faturamento foi de 12%, como mostra a Tabela 17, abaixo:
Tabela 17 – Faturamento Total da Indústria Eletro Eletrônica por área
Faturamento Total por Área
(R$ milhões a preços correntes)
2007 2008 2009 **
2009**x 2008
Automação Industrial 3.097 3.446 2.861 -17%
Componentes Elétricos e Eletrônicos 10.150 9.500 8.645 -9%
Equipamentos Industriais 15.541 18.369 16.165 -12%
GTD * 10.599 11.919 10.489 -12%
Informática 31.441 35.278 35.278 0%
Material Elétrico de Instalação 7.646 8.323 8.406 1%
Telecomunicações 17.465 21.546 17.452 -19%
Utilidades Domésticas Eletroeletrônicas 15.773 14.710 12.945 -12%
Total 111.711 123.092 112.240 -9%
* GTD - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica / ** Projeção
FONTE: ABINEE (2010)
182
Com o fim da redução do IPI, em 31 de janeiro de 2010, a alta nos preços dos
eletrodomésticos deveria chegar às lojas em março, de acordo com Kiçula
(Hakime, 2010). Até o momento, não foram divulgadas estimativas sobre qual
será o impacto desse aumento de preço nas vendas da linha branca, sobretudo
para a população de baixa renda.
5.2 PRIMEIRA FASE DA PESQUISA DE CAMPO
Será apresentado, ao longo deste item, um resumo das informações da primeira
fase da pesquisa de campo, no qual os executivos são identificados pela letra E,
seguida de um número, de acordo com a legenda abaixo:
E (1) = executivo 1
E (2) = executivo 2
5.2.1 O perfil dos entrevistados
E1 é vice-presidente de marketing e vendas, responsável também pela
comunicação. Trabalha na empresa há menos de um ano, embora já tenha
trabalhado nela anteriormente, por dez anos. Sua empresa atua nos segmentos
de entretenimento (como ele denominou) e informática. No setor eletroeletrônico
de produtos de consumo, alguns produtos de “entretenimento” podem ser
classificados como linha marrom. Outros produtos fazem parte da linha de
mobilidade (celulares, televisores portáteis, entre outros).
E2 é diretor de marketing, responsável inclusive pela comunicação das marcas e
trabalha na empresa há quase sete anos, dos quais, três anos na área de vendas
e, há quatro anos, trabalhana área de marketing. Sua empresa atua no segmento
de linha branca e de eletroportáteis.
Ambos são do sexo masculino. Não foi solicitado que respondessem à pergunta
sobre a idade nesta fase.
183
5.2.2 Planejamento de marketing e comunicação
As duas empresas não separam os processos (desde produção a marketing e
comunicação) no que diz respeito a produtos populares e não populares, porém,
com relação ao:
Produto
E1 mencionou que a empresa não tem uma política de desenhar um produto para
classes populares, porque a maioria dos produtos que fabricam já são dirigidos e
atingem as classes populares. Procuram fazer que o produto tenha “menos
sofisticação, menos recursos, para reduzir-lhe o preço”, mas informando que
apresenta “design avançado”.
Com relação aos aspectos de inovação, E1 deixou claro que a empresa não tem
a política de se antecipar ao mercado, pois isso demandaria altos investimentos
em Pesquisa e Desenvolvimento. E citou que lá é o mercado que decide, e eles o
servem.
E2 afirmou que existe um cuidado quando estão desenvolvendo ou pretendendo
lançar um produto popular, mas a própria definição do que seria “popular” é
questionável na empresa. Ao longo do tempo, um produto que eventualmente se
poderia considerar como um produto voltado para a baixa renda pode deixar de
ser um produto de baixa renda por uma questão de rentabilidade ou
posicionamento de preço. Ou, ao contrário, pode-se aprofundar ainda mais num
perfil originalmente pensado para isso e ser moldado na sua essência e estrutura
para atingir um público de baixa renda, já que os projetos demoram entre 18 e 24
meses da sua configuração até a primeira venda ao consumidor. Fatores como a
elevação dos preços de commodities (aço, petróleo) podem mudar o rumo de um
produto pré-concebido para as classes populares.
As embalagens dos produtos populares, por exemplo, são pensadas com o
objetivo de reduzir o custo final, como aconteceu com um modelo de fogão para o
184
consumidor popular, o qual é embalado com os pés dentro do forno, a fim de
melhor aproveitar o papelão. Isso não acontece com os modelos mais
sofisticados. A durabilidade, entretanto, dos produtos populares e não populares é
a mesma.
De toda forma, o processo é um só: o início de um projeto parte das necessidades
do consumidor, e isso é verificado em pesquisas exploratórias com grupos de
consumidores. Também é analisado o mercado, a concorrência. Depois, durante
os próximos 18, 24 meses, a equipe de tecnologia e, em seguida, a equipe de
marketing e de comunicação precisam definir que tipo de produto a empresa
consegue ou não entregar em função dessa necessidade do mercado.
Preço
Conforme E1, a estratégia de elaboração do preço parte do posicionamento do
produto para o consumidor. Em seguida, calcula-se a margem de revendedor,
custo de transporte, custo de montagem e verifica-se se há capacidade de vender
naquele preço designado. O que importa nessa companhia são as vendas. Isso é
que faz o processo. “Se eu não puder produzir um produto naquele preço que
está posicionado na ponta...porque lá está o marketing, lá está a análise que foi
feita, você vai ter um produto caro, fora de mercado, com dificuldade de venda”.
Ele afirmou, ainda, que a eficiência, a tradição, o reconhecimento da marca é que
são importantes para a baixa renda, e a grande massa do povo brasileiro não se
pauta somente por preço, por ser mais difícil ter o discernimento entre os
produtos: “...é mais fácil ir pela marca, ou por aquilo que se consagrou como um
produto de qualidade. Se cabe no bolso, é este que eu vou comprar”.
De acordo, ainda, com E1, as empresas se especializaram em atender o tamanho
do bolso do cliente, o chamado share of pocket. Elas não se preocupam só com
preço de venda, valor final. Nem o cliente: ele se preocupa com o que cabe no
bolso dele. Ou seja, o crediário é um fator muito relevante para a compra de
produtos populares do setor.
185
Já E2 comentou que, para elaborar o preço dos produtos, a empresa faz muitas
pesquisas. Uma delas é chamada de conjoint e é utilizada, na maioria das vezes,
em grandes projetos, já que é relativamente cara. Na conjoint se apresenta um
conjunto de benefícios e consegue-se entender exatamente o que cada um deles
representa. O preço é uma das características do conjunto. Analisa-se como os
benefícios afetam não só consumidor, mas também a propensão à compra e a
preferência por aquela compra. Em projetos menores (produtos de menor volume
ou baixo investimento), são realizadas análises qualitativas para entender que
produtos são oferecidos hoje e onde cada um deles está posicionado, sua base
de custos e onde a empresa conseguiria maximizar o volume de produtos
vendidos e a rentabilidade de cada um deles.
Dependendo de como a concorrência reage, dependendo de como o consumidor
aceita ou não aquele produto, a empresa vai buscar uma modificação que seja
mais adequada.
Distribuição
Nos dois casos, não há diferenciação nos canais de distribuição de produtos
populares e não populares.
Para E1, a empresa não tem nenhuma preocupação em saber em que loja o
produto será vendido. Isso é um fator normalmente determinado pelo varejo.
Algumas lojas de shoppings, cadeias altamente sofisticadas do segmento - como
a Fast Shop que vende produtos mais caros -, têm consumidores da classe C que
encontrarão lá o mesmo produto das Casas Bahia. E, se esse público tiver acesso
a qualquer tipo de crédito, terá condições de comprar.
O público da Fast Shop, naturalmente, é mais selecionado do que o público de
uma loja Casas Bahia localizada em bairro de periferia, por exemplo. Então, a
rede Casas Bahia vai fazer uma adequação de volumes e de linhas, mas
186
raramente ela deixa de comprar uma gama quase completa daquilo que a
empresa produz.
Segundo E2, os canais de distribuição são os mesmos para produtos populares e
não populares. Hoje, não existe distribuição diferente, mesmo na internet. O que
varia é o mix vendido nos diversos canais.
Para que o varejo não carregue o custo de estoque de um produto muito
específico e tenha um estoque pequeno, na hora em que é vendido um produto
na loja, eles comunicam a empresa pelo sistema, de forma que, na mesma noite,
sai da fábrica um caminhão com um conjunto de produtos para repor o estoque.
Investimentos em marketing
Nas duas empresas não há investimentos em marketing específicos de produtos
populares ou não populares.
Conforme E1, não existe uma porcentagem distinta de investimentos em
marketing de produtos populares e não populares.
Ele relatou que se estabelece um percentual de investimento, em torno de 3%,
monitorado ao longo do ano, mês a mês, com acompanhamento das 12
categorias em que se aplicou o orçamento de acordo com o faturamento que está
gerando o recurso. De acordo com os resultados, as ações podem ser reduzidas
ou ampliadas, colocando-se mais recursos à disposição.
Para E2, não existe uma pré-definição de quanto a empresa pretende investir de
acordo com público-alvo daquele produto. O que existe é uma definição um pouco
mais clara de como as marcas atuam para que não haja sobreposição delas.
187
Ferramentas para embasar o planejamento de marketing
Não ficou claro para a pesquisadora se E1 conhece o conceito de BCG, mas ele
acabou respondendo que a empresa se utiliza dele, em alguns casos, no
desenvolvimento de produto. Segundo E1, a pesquisa é muito utilizada pela
empresa, principalmente o acompanhamento de vendas (o que está vendendo,
onde e por quê). É tão importante a análise dos relatórios de vendas quanto a da
equipe de vendas. E, também, são encomendadas pesquisas qualitativas e
quantitativas, sem periodicidade definida, de acordo com a necessidade. A
análise SWOT é muito usada para a comunicação.
E2 acrescentou que a empresa realiza pesquisas exploratórias, pesquisas de
mercado quantitativas e qualitativas.
Comunicação
Nas palavras de E1, como a empresa não fabrica produtos específicos para a
população de baixa renda, e sim acessíveis a ela, não possui comunicação
diferenciada. E1 afirma que o público de baixa renda não gosta de saber se o
produto é para pessoas de classes populares ou se é uma linha de produtos para
pessoas que não podem comprar uma linha melhor. Embora o produto tenha
menos recursos ou sofisticação para que seu preço seja reduzido, na
comunicação é informado que o design é avançado, para mostrar ao consumidor
que e o produto é tão bom quanto qualquer produto mais sofisticado e está ao
alcance do seu bolso.
A empresa utiliza pesquisas de mídia para saber em que meios veicular
mensagens ao público de baixa renda e não diferencia verba para atingir os
diferentes públicos. E1 ressaltou, ainda, a importância do volume de
consumidores pertencentes à Classe C.
188
A empresa faz algumas campanhas que ficam a cargo do varejo, e aí a indústria
não tem poder de decidir onde será aplicada a verba que varia de 1% a 3% do
volume negociado. O varejo costuma usá-la das formas mais variadas: desconto
sobre o produto, forma de pagamento, tabloides internos, comunicação externa
em televisão. Geralmente fornecem artes, fotos para que possam ser utilizadas.
Existe uma orientação sobre o uso da marca que nem sempre é respeitada.
Sobre o orçamento da comunicação, é alocado em algumas ferramentas.
A principal delas, a que certamente recebe o maior percentual, por volta de 30%,
35%, é a propaganda, de várias formas: anúncio em jornais, revistas, televisão.
Depois, a verba é aplicada, em grande volume, em ponto de venda e material de
ponto de venda. A empresa tem ações promocionais e eventos especiais em que
usam, inclusive, o corpo de promotores que fazem demonstrações, ilustração,
algumas ações dirigidas a boates, clubes etc. Utilizam mídias on-line (sites,
blogs), que são produzidas por uma agência digital e estão cada vez mais
importantes (entre 5% e 10% do orçamento).
E1 estimou que,nos próximos três anos, o volume de investimento on-line seja o
mesmo do investimento off-line. E acrescentou que a empresa faz pré-testes no
lançamento das campanhas de propaganda, e que, devido ao longo
relacionamento com a agência (mais de 20 anos), esta já conhece a cultura da
empresa e o histórico das ações que deram resultado.
Em 2008, depois de a agência realizar pesquisas qualitativas e quantitativas, a
empresa implementou uma estratégia de desenvolvimento e construção de marca
(arquitetura de marca da empresa), criando, inclusive, o conceito da identidade
corporativa, que não existia antes. E1 acredita que será importante refazer a
pesquisa para monitorar o desenvolvimento dessa estratégia de marca.
Ele citou, ainda, os levantamentos do Ibope (audiências, tendências,
monitoramento dos investimentos da concorrência, consumo de mídia) que
servem como ferramenta de análise para embasar o plano de comunicação. Para
189
ele, hoje é muito mais fácil e rápido acompanhar os resultados por meio de
relatórios de audiência, de penetração, de tempo de duração.
De acordo com E2, na média, investe-se pouco em comunicação de
eletrodomésticos porque o ciclo de compra é muito demorado e o consumidor é
receptivo a uma mensagem de massa de eletrodoméstico por um período curto
de sua vida que varia de sete a dez anos (quando casa, quando sai de casa,
quando muda de casa e pretende renovar sua cozinha). Assim, é difícil utilizar
métodos tradicionais de comunicação que sejam rentáveis para falar com uma
parcela pequena da população que está interessada em comprar eletrodoméstico
naquele momento.
Então, muitas das empresas, tanto no Brasil quanto no exterior, optam por investir
no ponto de venda para garantir que o consumidor que está na loja, e, portanto,
quer um eletrodoméstico, seja devidamente educado para a compra da sua marca
e não da marca do concorrente. Algumas empresas são exceção, pois têm uma
lembrança de marca muito forte. De acordo com E2, a marca top de linha da sua
empresa investe mais em comunicação que a sua marca B, que recebe
investimentos pontuais. A escolha, contudo, de fazer comunicação de um produto
mais popular ou menos popular depende da situação em que a marca se
encontra, da necessidade do momento.
Com relação à linguagem, não há diferenças em se falar com diferentes públicos.
Quando se escolhe o produto que será divulgado, apela-se para os benefícios do
produto, talvez mais relevantes para um público de baixa renda ou para um
público de mais alta renda. “Eu preciso pegar um anúncio no final do dia, e, se eu
esconder a marca, eu preciso ler o anúncio e dizer que é da marca A ou da marca
B”.
Conforme ele apontou, pela maneira de segmentar as duas marcas, a empresa
conseguiu agrupar um conjunto de consumidores com alguma correlação com a
classe social. Mas não é só isso que define o conjunto. É muito mais a atitude e o
comportamento do consumidor.
190
No que diz respeito às ferramentas mais utilizadas na comunicação, E2 afirmou
que a marca mais popular precisa estar presente no dia a dia do público-alvo.
Então, as ações planejadas para a marca fazem que ela sempre esteja presente
nos momentos característicos daquela família, daquela cidade, daquela região,
bem como nas grandes festas regionais (Farroupilha, São João, Círio de Nazaré
etc.), proporcionando um refresco, um boné, uma camiseta, um passeio ou
simplesmente compartilhando aquele momento com um eventual consumidor.
Citou, também, os cursos itinerantes de culinária, artesanato, ministrados num
caminhão da marca que passa por cidades pequenas e se tornam um evento no
local. A marca mais popular da empresa busca que as pessoas a vejam, a
toquem, a experimentem e, com ela, se sintam em casa.
E2 lembrou que o ponto de venda é fundamental. Lá, “você tem a sua marca e
todas as concorrentes, e o espaço não é seu. Então, para se diferenciar, a marca
busca ganhar mais espaço, seja no caminhão, seja nas festas, pois são espaços
seus”.
E2 também informou que utiliza a pesquisa de mídia para identificar onde está o
público interessado no produto que a empresa quer ofertar, ou seja, qual a melhor
mídia para atingir determinado público. Na empresa, fazem o pré-teste qualitativo
e quantitativo de todas as campanhas que serão veiculadas.
Para E2, o varejo é parte fundamental da comunicação. É mais relevante do que
qualquer coisa que se fizer na mídia. O lançamento de produto ocorre antes entre
os varejistas. A empresa convida todos os varejistas e faz um evento com a
mesma “personalidade” da marca para apresentá-lo. Se não houver o
comprometimento do varejo, declarou E2, o produto não chega ao ponto de
venda. Por isso, constitui ele uma peça fundamental para o sucesso dos
lançamentos.
A comunicação chega, também, a mais de dez mil colaboradores ligados ao
universo das duas marcas da empresa. Elas precisam saber a hora em que se vai
lançar uma campanha, em que o caminhão vai começar a rodar, em que cidade
vai estar, enfim, tem de se garantir que esse público também vai falar sobre as
191
duas marcas. O trabalho de comunicação com os stakeholders é feito para as
duas marcas, sem distinção.
Sobre as ferramentas utilizadas para embasar o plano de comunicação, E2
enfatizou que mudaram nos últimos três anos. Utilizavam mundialmente, uma
medida de lealdade à marca, que era o ponto de partida do plano anual de
comunicação. Tratava-se de uma pesquisa grande feita com um número elevado
de consumidores, todo ano, e indicava em que nível estava a lealdade, e como
cada um dos pontos (pontos de contato, ações, produtos, qualidade, assistência
técnica) condicionava essa lealdade do consumidor. Podia-se verificar o que
estava piorando, o que estava melhorando, qual a posição das marcas versus a
concorrência. Como a lealdade, entretanto, era muito estável e, às vezes,
observavam-se movimentos dificilmente explicáveis pelas ações realizadas nos
últimos 12 meses em cada um dos pontos citados acima, ficava muito difícil saber
o que era preciso corrigir.
Assim, a empresa voltou a utilizar medidas tangíveis de preferência, de imagem
de marca e de participação de mercado. Hoje, consideram-se: cada um dos
atributos de imagem de marca que se precisa trabalhar; como se espera que ela
seja percebida; e como fazer que as ações de comunicação, de produto, de
eventos, ao longo dos próximos 12 meses, respondam ao que aconteceu em
cada um dos movimentos nesses atributos da marca diante da concorrência, nos
últimos meses.
E2, ainda, não se mostra confiante nessa nova medida. Ele acredita que as
dificuldades pelas quais passou o setor nos últimos sete anos, e que levaram a
empresa a fazer cortes radicais de investimentos, restringiram a capacidade de
planejar a longo prazo e fizeram que a empresa tomasse decisões muito pontuais.
O IPI ajudou o setor como um todo, mas ele vê, ainda, uma dificuldade muito
grande em planejar.
192
5.2.3 Conhecimento do consumidor de baixa renda
E1 afirmou que utiliza pesquisas qualitativas e quantitativas quando necessário.
Por exemplo, é preciso ter alguns parâmetros ao lançar produtos da linha marrom,
da linha de informática ou da linha de mobilidade. Porém a empresa em que
trabalha não é líder em inovação, não tem grande foco em pesquisa e
desenvolvimento, e, por isso, não apresenta essa demanda de investimentos em
tendências. A empresa não gosta de tirar produto de linha antes que o mercado o
rejeite. Assim como não gosta de lançar produtos para saber se vai dar certo ou
não. “Nós andamos junto com as tendências. E estamos sempre prontos a reagir,
rapidamente, àquilo que está sendo demandando ou que vai ser demandado em
maior escala”.
E2, por sua vez, citou que a área tem um budget pré-definido para pesquisa, que
gira em torno de R$ 5 a R$ 6 milhões por ano, e, dependendo do ano, isso
equivale a 60, 70 projetos. Cada um desses projetos nasce de uma necessidade
pontual de uma categoria de produto ou marca, que engloba desde tentar
entender as necessidades não atendidas do seu público, um pré-teste de
campanha, um pré-teste de mídia, avaliações pós-lançamentos, até uma
conversa com pessoas que possuem produtos que já estão no mercado. Às
vezes, utilizam resultados de pesquisas feitas nos anos anteriores. E2, porém,
não conseguiu responder se direcionou mais ou menos pesquisas para as classes
C ou D. Lembrou que, na época em que estavam lançando uma lavadora popular,
faziam muita pesquisa voltada para o potencial consumidor dessa lavadora.
Naturalmente, naquela ocasião, segundo E2, era possível pensar: “ – Realmente,
a empresa tem vários projetos buscando entender mais a necessidade do público
de classe D ou E”.
De forma geral, o brasileiro troca pouco o eletrodoméstico. Se a dona de casa tem
um produto antigo e bem conservado, é um sinal de que ela é uma boa dona de
casa. Por outro lado, o produto que ela compra hoje é 50% mais econômico em
consumo de energia do que o de dez anos atrás. O refrigerador, não se deve
esquecer, representa cerca de 30% da conta de luz de uma residência.
193
Critérios para decisão de compra
Para E1, a qualidade é um dos critérios para a tomada de decisão de compra dos
produtos da empresa. Em segundo lugar, o custo x benefício. Em terceiro, a
acessibilidade, isto é, os produtos estão disponíveis em todo o Brasil. Depois, a
assistência técnica, design, adaptabilidade, tendências, novidades, produtos da
moda.
Com relação aos critérios de decisão de compra, E2 afirmou que, por mais que o
produto seja popular, precisa não só satisfazer uma necessidade funcional, mas
encantar de alguma forma o consumidor. As formas de encantar públicos de
classes distintas são diferentes. Por exemplo, ele comentou que, como o
consumidor de classe mais baixa tem o hábito de lavar a cozinha com frequência
jogando água no chão, depois passando rodo, a parte inferior do fogão, em
função disso, fica, normalmente mais corroída; a solução foi colocar pés altos
nesse fogão e “vender” a facilidade de limpeza embaixo dele; tanto que um dos
materiais presentes no ponto de venda desse fogão era uma vassoura, para
ilustrar como passa, facilmente, por entre seus pés altos, sem dano algum ao
produto.
Diferentemente de E1, E2 disse que a qualidade é pouco diferenciadora. Para o
consumidor de baixa renda, é pequeno o diferencial de qualidade entre as marcas
concorrentes. É como se as empresas já tivessem atingido um patamar mínimo
para competir, e, dali para frente, o fato de se ter uma qualidade muito menor ou
igual não é suficiente para comprar o produto. Mas, como critério de decisão de
compra, o preço é fundamental e se traduz pela condição de pagamento. Mais do
que o preço à vista, o que faz a diferença é em quantas vezes o consumidor pode
pagar e qual o tamanho da parcela. Outro fator influenciador é o design do
eletrodoméstico. O consumidor quer alguma coisa bonita, que transmita um certo
status. “Eu diria que isso é até mais diferenciador hoje na classe mais baixa do
que na classe mais alta. Na classe mais alta é mais padrão aquele inox, design
grande, amplo, pesado. Já para o consumidor de mais baixa renda, você precisa
ter soluções mais criativas, mais diferentes, do que simplesmente botar um inox, a
194
sensação de robustez e peso”. A confiança é um item importante na escolha do
consumidor, e principalmente desse novo consumidor que está entrando no
mercado. Ele não quer comprar um produto que daí a um mês vai quebrar, e ele
não vai saber onde vai consertar. A nossa marca tem a melhor rede de
assistência técnica de eletrodoméstico no Brasil, e isso tem peso na decisão.”
Enfim, para E2, os fatores são preço/condição de pagamento, design e
credibilidade na marca.
Consumidores late adopters
E1 não classificou os consumidores de sua empresa como late adopters nem
como earlier adopters. Denominou-os de mainstreamers: o público que
acompanha as novidades, nem inovadores, nem tardios.
E2 também não acredita que os consumidores de baixa renda sejam late
adopters. E justificou que, por mais que se traga a novidade ao patamar de preço
mais alto, na medida em que se ganha volume de produção, consegue-se abaixar
o custo e democratizar aquela novidade.
Intenção de compra nos últimos 10 anos
E1 afirmou que as vendas de televisores e o mercado de som cresceram muito
nos últimos anos. O mercado de informática cresce 50% ao ano. “Tem quase 100
milhões de consumidores que interagem com a nossa marca diariamente”.
E2 declarou que aumentou a intenção de compra e a capacidade de compra. As
duas coisas ocorreram. As políticas de distribuição de renda do governo
propiciaram a entrada no mercado de uma parcela muito grande de consumidores
que não fazia parte da dos consumidores ativos de eletrodomésticos. Quando as
vendas passaram de nove milhões de peças há cinco anos, para 15, 17 milhões
de peças há dois anos, não se tratava do mesmo consumidor trocando de produto
ou comprando mais, e, sim, de um novo consumidor entrando no mercado.
195
Relevância da marca
Para E1, no setor eletrônico, a penetração de marca própria é muito baixa ainda.
Já houve mais marcas fabricadas em nome de Carrefour, Pão de Açúcar. Na
opinião de E2, isso acontece porque o varejo não tem grandes ganhos com a
marca própria. “Ah, eu vou comprar um televisor desta ou daquela marca, que sei
que é boa, porque não vai me dar problema”.
Segundo E1, “muitas vezes, o consumidor compra um produto que a loja
recomenda. Aí, o vendedor que está recebendo uma vantagem desta ou daquela
marca, para vender mais, conta a ele que uma marca X está dando problemas, e
que a marca Y é que está boa; ele abandona tudo e compra aquela marca Y. E1
ratificou que há incapacidade do público brasileiro de fazer julgamentos corretos.
Para E2, a diferença de qualidade percebida entre marcas premium e marcas B é
cada vez menor. É menor do que era há dez anos. Cada vez mais, as marcas
estão tentando oferecer uma gama maior de produtos. Ele citou o exemplo do
consumidor que hesita um pouco em comprar a marca mais cara da empresa, e o
vendedor argumenta que ele pode ficar tranquilo em comprar a mais barata
porque as duas são boas, são produzidas pela mesma fábrica. Cada vez mais as
duas marcas estão olhando para o comportamento e estilo de vida do consumidor
independentemente da sua classe social.
Com a entrada desse consumidor que passou da classe D para a classe C,
podendo ter acesso a eletrodomésticos de uma forma mais ampla, ocorreu um
aumento de vendas da marca mais popular, que é a marca que ele escolhe para
entrar no mercado, a marca em que ele confia, que é até mais antiga do que a
marca mais cara. Ambas têm mais de 50 anos no Brasil, e os consumidores
confiam muito nelas. São duas marcas que estão na cabeça e no coração do
brasileiro pela história, pela personalidade de cada uma das marcas, pelas
campanhas marcantes. Realmente, investe-se mais na marca premium porque
ela depende um pouco mais da comunicação, é um pouco mais paulista na sua
personalidade, enquanto a marca B sempre enfatizou ser uma marca de
196
distribuição nacional, com enorme preferência no Nordeste, no Sul e na região
Sudeste. Ela tem um posicionamento que promete ganhar com esse público que
cresce em capacidade e intenção de compra.
5.2.4 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico
Nesta parte III da entrevista, foram apresentadas aos entrevistados, tabelas (v.
Apêndice A), com os fatores e os subfatores que compõem cada fator de análise
para que não houvesse dúvida sobre o entendimento dos termos. Foi explicado
aos entrevistados que eles deveriam dar um peso para cada fator de forma que
os fatores somassem 1(um). E1 preferiu não dar pesos e numerou os fatores por
ordem de importância considerando 1 o fator mais importante e 4 o menos
importante. E2 deu os pesos como solicitado.
Na Tabela 18 abaixo, segue o peso dado a cada fator pelos entrevistados quanto
a atratividade do mercado popular para a empresa:
Tabela 18 - Atratividade do mercado popular
E1 E2
1. Fatores de Mercado
1 0,50
2. Concorrência
2 0,30
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
4 0,15
4. Fatores Tecnológicos
3 0,00
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
4 0,05
Para E1, o fator principal é identificar qual é o tamanho do mercado, qual é o
potencial, quanto cresce por ano, a vulnerabilidade a fatores externos. Ele citou
que está num mercado que tem uma vulnerabilidade enorme porque compra
componentes importados. Em segundo lugar, E1 colocou a quantidade de
concorrentes, tipo de concorrência, grau de concentração na distribuição,
concorrente informal e legal, grau de concorrência na distribuição, uma vez que o
varejo se tem concentrado nos últimos 20 anos. Em terceiro lugar, os fatores
197
tecnológicos, e classificou como sendo de menor importância, no mesmo nível, os
fatores financeiros e econômicos e os fatores do ambiente mercadológico.
E2 afirmou que a empresa, com sua política tecnológica e capacidade de inventar
mudanças, poderia barrar uma decisão que viria em função do potencial daquele
produto, do tamanho daquele mercado, da disposição de compra, da eventual
sinergia com a operação atual. Ou seja, para E2 grande parte da decisão recairia
sobre os fatores de mercado. Por isso, preferiu não dar peso ao fator tecnológico
que funcionaria mais como uma barreira do que como incentivo. O segundo fator
seria o produto e a concorrência. Porque a concorrência pode trabalhar com
padrões de segurança que atendem às normas brasileiras, mas que não atendem
às normas da matriz. Então, a matriz da empresa em que E2 trabalha não se
propõe produzir alguns produtos, hoje oferecidos por concorrentes no mercado
brasileiro, que fazem sentido pela natureza desse mercado.
O desafio citado por E2 com relação ao mercado popular gira em torno de
solucionar a equação de retorno sobre o investimento: “quanto tenho que investir
nisso com a margem pequena que aquele produto vai me dar porque o preço é
pequeno”. Em síntese, alto volume requer alto investimento. Para E2, os fatores
do ambiente mercadológico são relevantes, mas não determinam uma decisão.
Na Tabela 19 abaixo, segue o peso dado a cada fator pelos entrevistados quanto
à posição dos produtos populares da empresa no mercado.
Tabela 19- Posição dos produtos populares no mercado
E1 E2
1. Fatores de Mercado
1 0,15
2. Seu Produto e a
Concorrência
2 0,20
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
4 0,50
4. Fatores Tecnológicos
3 0,00
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
4 0,15
198
Para E1, a principal preocupação é com o produto no mercado, seguido da
concorrência.
Para E2, a empresa ainda não conseguiu encontrar a melhor maneira de atender
ao mercado popular, uma maneira que seja rentável para a empresa e que
também seja atrativa para o consumidor. A taxa de crescimento por ano é uma
taxa de crescimento alta, mais em função da maior capacidade de compra do
consumidor, do que da capacidade da empresa para atendê-lo.
Conforme E2, a vulnerabilidade não é alta, porque dependem pouco desse
mercado. Ele conferiu um peso maior aos fatores financeiros/econômicos, como a
capacidade de dar a taxa de retorno sobre o investimento, ter a escala adequada
para o tipo de investimento em produtos populares, e afirmou que “esse talvez
seja um dos principais entraves que a gente tenha hoje”. Ressaltou que volta a
não considerar relevantes os fatores tecnológicos, como se verificou na Tabela
19.
A Tabela 20, a seguir, assinala a avaliação dos outputs da empresa:
Tabela 20- Modelo Avaliativo dos outputs
Outputs
E1 E2
I. Produto X X
II. Preço X X
III. Distribuição X X
IV. Comunicação X X
E1 avalia os outputs (produto, preço, distribuição e comunicação) da empresa e
dos concorrentes - em torno de três a cinco empresas - que têm um
comportamento empresarial parecido com a empresa onde ele atua. Sobre os
novos entrantes, afirma que o mercado brasileiro que já era atraente, hoje está
mais atraente do que nunca. É um mercado emergente, mas é estável. Então o
mundo inteiro está olhando para ele. Todos os dias, aparece uma notícia: “Fulano
vem por aí.”
199
E2, também faz a avaliação dos outputs da empresa e dos concorrentes, mas não
avalia um possível entrante. O peso maior na análise é para o output produto,
com destaque para design e quanto este influencia a qualidade percebida, a
robustez e a confiança. Também são avaliados desempenho, garantia, facilidade
de uso, durabilidade, tradição, status. A embalagem não é avaliada nem a
eficácia, esta última porque é difícil de medir.
Com relação ao preço, a empresa costuma sugerir um preço à vista, mas quem
define condição de pagamento, forma de pagamento, desconto, é o varejo. A
competição maior é aqui, no preço. A distribuição é condição do canal e não varia
tanto em produtos de baixo preço ou alto preço. Por isso, o peso relativo da
distribuição entre os quatro outputs é zero. A comunicação, segundo E2, é
analisada, mas não tem um peso maior porque os concorrentes comunicam
pouco. Porém a comunicação no ponto de venda é importante e comparada com
a da concorrência.
Embora não tenha sido solicitado, os entrevistados preferiram enumerar, por
ordem de importância, os fatores para a construção da marca utilizados pelas
respectivas empresas, de acordo com a Tabela 21.
Tabela 21- Fatores para a construção de uma marca sólida
E1 E2
1- EMOCIONAL 2 3
2- FIDELIZAÇÃO 7 2
3- LONGEVIDADE 3 2
4- CONHECIMENTO SOBRE OS CLIENTES 4 1
5- INOVAÇÂO - 5
6- RECURSOS HUMANOS - 9
7- ASPECTOS PRÁTICOS DO PRODUTO 1 6
8- VALOR DA MARCA 5
9- IDENTIDADE DA MARCA 6
10- DIFERENCIAÇÃO 8 7
11- PREÇO - 8
12 – COMUNICAÇÂO 9 4
200
E1 preferiu avaliar sua marca institucional, já que iniciaram recentemente um
trabalho de arquitetura de marcas. Afirmou que sua marca não faz um trabalho de
fidelização dos consumidores, não é uma marca de preço, nem de entry level,
nem de median level, não é notória por recursos humanos, não utiliza um
endomarketing muito forte ainda e não é uma marca inovadora. Portanto preferiu
não enumerar esses fatores. Assim, ele acredita que os aspectos práticos do
produto, o fator emocional, a longevidade da marca e conhecimento sobre os
clientes, nessa ordem, são fundamentais para a construção de uma marca sólida.
E2 acredita que conhecer o consumidor é o principal. Se a empresa não tiver
esse conhecimento, não se faz nada. Com relação à longevidade, E2 acredita que
o consumidor conhece a marca que está ao longo do tempo com ele, passou as
fases da vida com ele, e aí pode existir a fidelização. Então, ter longevidade e
fidelização é fundamental, senão não se consegue construir esse conhecimento
sobre o cliente. Por isso, E2 considerou difícil dizer o que é segundo e o que é
terceiro. Assim, deu a mesma importância a esses dois fatores.
E2 considerou que quer construir um elo emocional e citou que os fatores 4, 3, 2 e
1 estão ligados porque fazem parte de como se constrói esse elo. Se for só
baseada no preço, a competição o produto se torna commoditie, não se constrói
marca. Ele acredita que o preço obviamente é relevante, mas precisa primeiro ter
o engajamento emocional. Não classificou o fator 8 (“valor da marca”) e o 9
(“identidade da marca”), porque para ele isso está “fora da escala”, pois, quando a
empresa constrói uma marca sólida, quer maximizar o valor dessa marca. Depois
dessa conjugação de conhecimento sobre os clientes, longevidade, fidelização e
emocional, aí, conforme acrescentou, vem o mais tradicional: trazer inovação,
trazer aspectos práticos do produto, diferenciação e preço. A comunicação é
muito relevante para se construir uma marca sólida da forma como trabalham na
empresa, mais do que preço e diferenciação. Investir em recursos humanos não
vai ajudar tanto quanto investir nesses outros fatores, por isso ficou por último. Já
fizeram um trabalho melhor no passado, de envolver toda a empresa no que a
marca estava fazendo, os 10 mil funcionários. Hoje ele acredita que a equipe de
201
marketing está muito envolvida, mas não sente o mesmo nem com a equipe de
vendas.
5.2.5 Estratégias de negócios
E1 afirmou que a estratégia básica é a horizontalização no campo e na operação
industrial, que para ele significa que a empresa deve ter capacidade de estar
presente no país inteiro, com muitos clientes e ter a possibilidade de fabricar
produtos dos mais diversos, com economia de escala.
Com relação à manutenção da marca dos produtos de todas as linhas, estavam
realizando, na época da entrevista, um trabalho de identidade corporativa.
E2 não definiu uma estratégia utilizada para entrar no mercado popular, pois disse
que a marca mais popular da empresa já tinha essa vocação desde o início. Basta
dar continuidade ao que está fazendo, lançar mais produtos, “encarar de forma
mais inteligente o desenvolvimento de produtos para as classes populares”.
Para ele, baixo custo é obrigação. Diferenciação é o que vai manter a empresa
viva. Só ter baixo custo não vai garantir a construção da marca, como foi falado
anteriormente.
Sobre a expansão da linha de produtos, E2 afirmou que o jeito sustentável de
expandir, e também o mais difícil de expandir, é com inovação, é desafiando
continuamente a equipe para que a inovação não venha à custa de um produto
mais caro. Citou o exemplo de uma inovação, implementada numa lavadora, que
não teve repasse no custo, e foi rapidamente copiada pelos concorrentes. A
dificuldade, nesse caso, era não possibilitar que isso fosse tão copiado, mas é
difícil.
As linhas de produtos da marca mais popular recebem diferentes nomes de
acordo com diferentes conceitos, por exemplo: existe uma linha de produtos que
são fáceis de usar; então recebem um nome característico desse conceito de
produto.
202
Ao final da entrevista, E2 ressaltou o desejo de construir mais produtos para a
classe popular, contudo não sente que haja infraestrutura e ambiente que
facilitem o desenvolvimento de produtos de mais baixo preço e aliem volume de
fabricação à rentabilidade. “A gente adoraria fazer isso porque isso ia dar mais
escala às fábricas e empregar mais gente; ia permitir mais inovação porque você
ganha mais volume, ia ser um benefício enorme”.
5.3 SEGUNDA FASE DA PESQUISA DE CAMPO
Nesta seção, apresenta-se a análise dos resultados da segunda fase da pesquisa
de campo. Os resultados serão expostos por tema na seguinte ordem:
planejamento de marketing e comunicação, conhecimento do consumidor de
baixa renda, fatores de análise para o setor eletroeletrônico, estratégias de
negócios.
Observa-se bastante concordância entre as respostas, visto a elevada
similaridade com algumas perguntas, chegando a quase 100%, e, também, pela
concordância entre algumas perguntas que puderam validar as perguntas
aplicadas quando comparadas (cruzamentos de ordem 2 e 3). Os segmentos
dessas empresas são especialmente Linha Branca e Portáteis.
5.3.1 Perfil dos respondentes
O perfil das respondentes foi obtido por meio das questões 28, 29, 30, 31 e 32 do
questionário que se encontra no Apêndice B.
No que se refere ao sexo e idade, 87,5% são do sexo masculino e tem, em
média, 43 anos.
Com relação ao cargo que ocupam na empresa, a maioria ocupa o cargo de
gerente (67,5% gerente, 20% diretor, e 12,5% analista). O tempo médio no cargo
é de sete anos, e o tempo médio na empresa é de 11 anos.
203
As empresas participantes fabricam especialmente produtos de linha branca e
portáteis (v.Tabela 22). Assim:
37,5% fabricam, apenas, linha branca
25,0% fabricam, apenas, portáteis
12,5% fabricam, apenas, linha marrom
12,5 % fabricam linha marrom e portáteis
12,5% fabricam linha branca e portáteis
Tabela 22 - Segmentos de produtos populares que a empresa fabrica
P3. Quais segmentos de produtos populares a sua empresa fabrica? (Caso
necessário, aponte mais de um segmento)
Respostas Frequência (%)
Linha branca 50,0%
Portáteis 50,0%
Linha marrom 25,0%
Informática 0,0%
Telefones Celulares 0,0%
Outros 0,0%
5.3.2 Planejamento de marketing e comunicação
O planejamento de marketing das empresas pesquisadas foca prioritariamente o
produto, e, em seguida, os aspectos do preço e da análise de mercado (Tabela
23).
Todos os que responderam que o planejamento de marketing se concentra em
preço, responderam que este planejamento se concentra também no produto.
E todos os que responderam que o planejamento de marketing é focado em
análise de mercado, responderam que também se concentra em produto.
204
Tabela 23 –Aspectos de concentração do planejamento de marketing para
os produtos populares
P4. Em qual destes aspectos se concentra o planejamento de marketing da sua
empresa para os produtos populares? (Caso necessário, aponte mais de um
aspecto)
Respostas Frequência (%)
Produto 87,5%
Preço 62,5%
Análise de mercado 62,5%
Distribuição 50,0%
Comunicação 50,0%
Marca 12,5%
Rentabilidade 12,5%
Design e Inovação foram os atributos mais citados para diferenciar os produtos
populares que fabricam no mercado, de acordo com a Tabela 24, abaixo.
Tabela 24 – Diferenciação dos produtos populares
P5. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha se preocupa em diferenciar os
produtos populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de
um aspecto)
Respostas Frequência (%)
Design
87,5%
Inovação 62,5%
Tecnologia 50,0%
Praticidade 50,0%
Embalagem 37,5%
Assistência técnica 25,0%
Não há diferenciação 12,5%
Os critérios mais citados para a fixação do preço dos produtos populares foram os
preços da concorrência e a percepção de qualidade versus concorrência, como
mostra a Tabela 25.
De todos os que citaram preços da concorrência, 80% apontaram também
margem/rentabilidade, e dos que citaram percepção de qualidade versus
concorrência, 80% apontaram Imagem da marca versus concorrência.
205
Tabela 25 – Critérios para a fixação do preço de produtos populares
P6. Quais são os critérios que a sua empresa utiliza para a fixação do preço de
produtos populares? (Caso necessário, aponte mais de um critério)
Respostas Frequência (%)
Preço da concorrência 62,5%
Percepção de qualidade versus concorrência 62,5%
Margem/rentabilidade 50,0%
Imagem de marca versus concorrência 50,0%
Custo 37,5%
Pesquisa de elasticidade de preço 25,0%
Renda 12,5%
Financiamento 0,0%
Canais diferenciados de distribuição dos produtos populares não são utilizados
pela maior parte das empresas, como se verifica na Tabela 26, a seguir.
Tabela 26 – Canais de distribuição dos produtos populares
P7. E quanto à distribuição de produtos populares? A sua empresa utiliza canais
diferenciados?
Respostas
Frequência
(%)
Não 62,5%
Sim, Catálogo e Atacadistas 12,5%
Sim, Concessionárias de Energia e plano de incentivo do governo
(bolsa Geladeira)
12,5%
Sim, Construtoras, Telemarketing, Loja Virtual Própria 12,5%
Total 100,0%
Também não se elabora planejamento de marketing específico para produtos
populares, na maioria das empresas, como se pode notar da Tabela 27, na
próxima página.
206
Tabela 27 – Planejamento de marketing para produtos populares
P8. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha faz planejamento de marketing
específico para produtos populares?
Respostas Frequência (%)
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100,0%
Deve-se ressaltar a concordância entre as respostas quanto ao planejamento de
marketing específico e a utilização de pesquisa de mercado para conhecer o
comportamento do consumidor de baixa renda (cruzamento P8 e P13).
Apesar de a maioria não fazer planejamento de marketing específico para
produtos populares, metade das empresas pesquisadas estimou em até 2% o
investimento em marketing e comunicação desses produtos com relação ao
faturamento bruto, e 37,5% afirmaram não haver uma reserva de investimento
definida, como mostra a Tabela 28, abaixo..
Tabela 28 – Porcentagem de investimento em marketing e comunicação dos produtos
populares
P9. Qual a porcentagem de investimento da sua empresa em marketing e
comunicação dos produtos populares com relação ao faturamento bruto?
Respostas Frequência (%)
Até 2% 50,0%
De 3% a 5% 12,5%
Não há porcentagem definida 37,5%
Total 100,0%
A maior parte das empresas utiliza a Análise SWOT (75%) e Pesquisas de
Mercado (75%) para embasar o planejamento de marketing e comunicação dos
produtos populares, conforme Tabela 29, na página seguinte.
Das empresas que responderam Análise SWOT, 83,3% utilizam também
Pesquisas de Mercado, e 33,3% a Matriz BCG.
Das empresas que responderam Pesquisa de Mercado, 83,3% afirmaram que
usam Análise SWOT, e 33,3% a matriz BCG.
207
Tabela 29 – Ferramentas de análise utilizadas para embasar o planejamento de
marketing e comunicação dos produtos populares
P10. Que tipos de ferramentas de análise são utilizados na sua empresa para
embasar o planejamento de marketing e comunicação dos produtos populares?
(Caso necessário, aponte mais de uma ferramenta)
Respostas Frequência (%)
Análise SWOT 75,0%
Pesquisas de Mercado 75,0%
Matriz BCG 25,0%
Outros (Briefing de produtos) 12,5%
Multifatorial GE 0,0%
Com relação à linguagem utilizada para a comunicação com a baixa renda, 75%
afirmaram ser direta, e 25% afirmaram que não há linguagem específica, como
apresentado na Tabela 30. Destaca-se que um dos respondentes declarou, na
opção “outros”, utilizar uma linguagem “inspiradora para que as pessoas mudem,
alcancem seus objetivos”. Talvez isso demonstre uma preocupação da empresa
em colaborar com o desenvolvimento pessoal do consumidor de baixa renda.
Foi feita a combinação de dois fatores (respostas), para verificar se havia a
predominância da linguagem direta com algum dos tipos apresentados, mas não
houve consistência nos resultados.
Tabela 30 – L
inguagem utilizada na comunicação com o consumidor de baixa renda
P11. O(a) senhor(a) afirmaria que a linguagem utilizada na comunicação da sua empresa com
o consumidor de baixa renda é: (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
Respostas Frequência (%)
Direta 75,0%
Não há linguagem específica 25,0%
Conservadora 12,5%
Bem-humorada 12,5%
Promocional 12,5%
Com uso de celebridades 12,5%
Testemunhal 12,5%
Outros (Inspiradora para que as pessoas mudem, alcancem o seus
objetivos)
12,5%
208
A propaganda (62,5%) e a comunicação direta (62,5%) são as técnicas mais
citadas para a comunicação das empresas com o consumidor de baixa renda. Em
segundo lugar, foram citadas promoção de vendas (50%) e relações
públicas/assessoria de imprensa (50%), como mostra a Tabela 31, a seguir..
Tabela 31 – Técnicas para a comunicação com o consumidor de baixa renda
P12. Na sua empresa, quais as técnicas utilizadas para se comunicarem com o
consumidor de baixa renda? (Caso necessário, aponte mais de uma técnica)
Respostas Frequência (%)
Propaganda 62,5%
Comunicação direta 62,5%
Promoção de vendas 50,0%
Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa 50,0%
Eventos 25,0%
Não há técnicas específicas 25,0%
Propaganda cooperada com clientes 12,5%
Vendas pessoais 0,0%
Nota-se, na Tabela 32, alta participação da propaganda combinada com a
comunicação direta, promoção de vendas e relações públicas, o que sinaliza que
as empresas tentam atingir os consumidores e interagir com eles, utilizando
técnicas complementares. É importante ressaltar, ainda, que promoção de vendas
sempre aparece combinada com outras técnicas (comunicação direta e relações
públicas), assim como relações públicas com comunicação direta e com
promoção de vendas, em todas as respostas.
209
Tabela 32–Combinação das técnicas para a comunicação com o
consumidor de baixa renda
P12. Na sua empresa, quais as técnicas utilizadas para se comunicarem com o
consumidor de baixa renda? (Caso necessário, aponte mais de uma técnica)
Respostas Frequência (%)
Propaganda 100,0%
Comunicação direta 60,0%
Promoção de vendas 60,0%
Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa 60,0%
Comunicação direta 100,0%
Promoção de vendas 80,0%
Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa 80,0%
Propaganda 60,0%
Promoção de vendas 100,0%
Comunicação direta 100,0%
Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa 100,0%
Propaganda 75,0%
Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa 100,0%
Comunicação direta 100,0%
Promoção de vendas 100,0%
Propaganda 75,0%
5.3.3 Conhecimento do consumidor de baixa renda
Grande parte das empresas (62,5%) não realiza pesquisas de mercado para
conhecer o consumidor de baixa renda, como se verifica na Tabela 33, abaixo.
Porém a maioria opina sobre este consumidor, fato que pode refletir o
conhecimento intuitivo, baseado na experiência dos respondentes, ou mesmo,
uma interpretação equivocada das questões relativas a esse público.
Tabela 33 – Pesquisa de mercado para conhecer o consumidor de baixa renda
P13. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha realiza pesquisa de mercado para
conhecer o comportamento do consumidor de baixa renda?
Respostas Frequência (%)
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100,0%
210
Preço, marca e design são os critérios relevantes para a escolha do público de
baixa renda, no que se refere a eletroeletrônicos, segundo os respondentes. Na
sequência, aparecem os critérios qualidade, facilidade de uso e facilidade de
pagamento, como pode ser observado na Tabela 34.
Vale frisar que há concordância entre as respostas que optaram por marca entre
os demais critérios e as que afirmam ser relevantes ou muito relevantes a marca
para os consumidores de baixa renda (P14 e P18).
Tabela 34 – Critérios relevantes para a escolha de eletroeletrônicos
P14. Quais dos critérios abaixo são relevantes para a escolha de eletroeletrônicos,
segundo o consumidor de baixa renda? (Caso necessário, aponte mais de um
critério)
Respostas Frequência (%)
Preço 87,5%
Marca 75,0%
Design
62,5%
Qualidade 50,0%
Facilidade de uso 50,0%
Facilidade de pagamento 50,0%
Status
37,5%
Inovação 25,0%
Promoção 25,0%
Não sei informar 12,5%
Tecnologia 0,0%
Com relação à combinação de critérios relevantes para a escolha do público de
baixa renda, de todos os respondentes que citaram preço como relevante, 85,7%
também citaram marca,e 71,4%, também, citaram design.
Dos que citaram marca, 100% citaram preço, e 83,3% design.
Essa combinação reforça a importância dos três critérios (preço, marca e design).
A maioria (62,5%) dos respondentes não considera os consumidores de baixa
renda late adopters (Tabela 35). E se justificam da seguinte forma:
211
“Em nosso caso específico, em função de tradição da marca/produto e
também da renda”.
“Pois uma grande gama de consumidores recém ingressou no consumo
de portáteis.”
“Porque eles sabem do que precisam e saem para comprar com a
facilidade do crédito que o varejo instituiu nesses últimos tempos”.
Tabela 35 – Compradores de produtos populares são late adopters?
P15. O(a) senhor(a) diria que os compradores de produtos populares são
consumidores late adopters?
Respostas Frequência (%)
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100,0%
Os entrevistados que consideram os consumidores de baixa renda late adopters
(37,5%) afirmam que:
“As inovações tecnológicas são primeiramente difundidas para produtos
de maior valor agregado,para depois serem implementadas em produtos
populares.”
“Não podem errar na escolha.”
As perspectivas para o setor no que diz respeito à venda para os consumidores
de baixa renda é otimista: a maioria dos entrevistados afirmam que a venda de
produtos populares para a baixa renda aumentou nos últimos dez anos e que nos
próximos dez anos a participação da baixa renda nos negócios da empresa tende
a crescer, de acordo com as Tabelas 36 e 37, respectivamente.
Tabela 36 – Venda de produtos populares para o consumidor de baixa renda nos últimos
dez anos
P16. Para o(a) senhor(a), a venda de produtos populares da sua empresa para o
consumidor de baixa renda, nos últimos dez anos:
Respostas Frequência (%)
Aumentou 75,0%
Diminuiu 25,0%
Total 100,0%
212
Tabela 37 – Participação do consumidor de baixa renda nos negócios da empresa, nos
próximos dez anos
P17. O(a) senhor(a) diria que, nos próximos dez anos, a participação do consumidor
de baixa renda nos negócios da sua empresa:
Respostas Frequência (%)
Aumentará 75,0%
Diminuirá 12,5%
Não sei informar 12,5%
Total 100,0%
Na opinião dos respondentes, a marca para a baixa renda é considerada
relevante. Nenhum deles afirmou que para os consumidores de baixa renda ela é
pouco ou nada relevante, conforme se comprova na Tabela 38..
Tabela 38 – Relevância da marca para os consumidores de baixa renda
P18. Quanto à relevância da marca para os consumidores de baixa renda dos
produtos populares do setor eletroeletrônico, o(a) senhor(a) diria que é:
Respostas Frequência (%)
Extremamente relevante 25,0%
Muito relevante 25,0%
Relevante 50,0%
Pouco relevante 0%
Nada relevante 0%
Não sei informar 0%
Metade considera o consumidor fiel à marca, como aponta a Tabela 39, abaixo.
Tabela 39 – Fidelidade à marca entre os consumidores de baixa renda
P19. Quanto à fidelidade à marca, o(a) senhor(a) diria que o consumidor de baixa
renda é:
Respostas Frequência (%)
Muito fiel 0%
Fiel 50,0%
Pouco fiel 25,0%
Indiferente 12,5%
Nada fiel 12,5%
Total 100,0%
213
5.3.4 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico
Com relação à atuação da empresa no mercado popular, os fatores considerados
muito importantes foram os fatores de mercado. Já os fatores considerados
importantes foram concorrência, os financeiros/econômicos e os do ambiente
mercadológico. Veja-se a Tabela 40.
Os fatores citados parecem estar de acordo com os principais aspectos nos quais
se concentra o planejamento de marketing para os produtos populares (produto,
preço e análise de mercado), apontados na Questão 4.
Tabela 40 – Grau de importância da influência dos fatores na atuação da empresa no
mercado popular
P20. Por favor, assinale o grau de importância da influência de cada fator abaixo na atuação da
sua empresa no mercado popular.
Respostas
Muito
Importante Importante
Pouco
Importante
Nada
Importante Indiferente Total
Fatores de
Mercado
(tamanho,
potencial, etc)
62,5% 37,5% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Concorrência
(quantidade, tipos)
25,0% 75,0% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores
financeiros e
econômicos
(ROI, política de
preços, políticas
econômicas)
25,0% 75,0% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores
tecnológicos
(grau de
complexidades e
diferenciação,
patentes,
pesquisas)
37,5% 50,0% 12,5% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores do
ambiente
mercadológico
(legislação, opinião
pública, tendências
sociais)
12,5% 62,5% 25,0% 0,0% 0,0%
100,00%
214
Da mesma forma que os fatores de mercado foram priorizados na atuação da
empresa no mercado popular, também foram os principais no que diz respeito à
influência que exercem sobre a posição dos produtos populares no mercado,
como se nota na Tabela 41.
Observam-se os mesmos pesos atribuídos com relação a cada um dos fatores.
Esse fato pode refletir que tanto a atuação no mercado popular quanto o
posicionamento dos produtos populares no mercado são baseados nos mesmos
pilares pelas empresas participantes.
Tabela 41 – Grau de importância da influência dos fatores na posição dos produtos
populares no mercado
P21. E quanto à posição dos produtos populares no mercado? Qual o grau de importância que
cada fator abaixo influencia na posição dos produtos populares da sua empresa no mercado?
Respostas
Muito
Importante Importante
Pouco
Importante
Nada
Importante Indiferente Total
Fatores de
Mercado
(participação, taxa
de crescimento,
sinergia com os
canais de outros
produtos)
62,5% 37,5% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Seu produto e a
concorrência
(nível de
concentração,
monitoramento,
vulnerabilidade)
37,5% 62,5% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores
financeiros e
econômicos (ROI,
investimento, taxa
de utilização do
produto)
50,0% 50,0% 0,0% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores
tecnológicos
(grau de proteção
e acesso a
patentes,
diferenciação,
pesquisa)
37,5% 25,0% 37,5% 0,0% 0,0%
100,00%
Fatores do
ambiente
mercadológico
(negociação,
tendências sociais,
relacionamento
com stakeholders)
37,5% 50,0% 12,5% 0,0% 0,0%
100,00%
215
As empresas se preocupam com modelos de autoavaliação referentes a produto,
preço, distribuição e comunicação, tal como se vê na Tabela 42, mais abaixo.
Com relação às formas de autoavaliação de produtos, foram citadas as pesquisas
de mercado (internas e externas).No que se refere à autoavaliação de preço,
foram mencionadas: elasticidade de preço; pesquisa; posicionamento de preço
considerando-se as características, marca e design do produto; e Shopping
Brasil
28
. Para fazer a autoavaliação da distribuição, foram citadas: análise dos
pontos de vendas (números e presença); pesquisa interna; utilização de
consultoria; e uso da ferramenta Net Promoter Score (NPS)/Instituto GFK. Com
relação à autoavaliação da comunicação, os instrumentos citados foram:
pesquisas internas; pré e pós-testes de comunicação; e análise dos investimentos
da concorrência.
Tabela 42 – Utilização de modelo para autoavaliação dos quatro pês
P22. A sua empresa utiliza algum modelo para a autoavaliação de produto, preço,
distribuição e comunicação?
Respostas Frequência (%)
Produto
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100,0%
Preço
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100,0%
Distribuição
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100,0%
Comunicação
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100,0%
28
A Shopping Brasil é uma empresa especializada em inteligência de mercado com foco no
monitoramento do varejo. Seu objetivo é atender à necessidade da indústria e varejo em
informações sobre preços, condições de pagamento e juros praticados pelo mercado.
216
Porém, nota-se na Tabela 43 que a preocupação com a avaliação dos quatro pês
dos concorrentes diminui se comparada com a autoavaliação desses fatores vista
anteriormente.
Tabela 43 – Utilização de modelo para avaliação dos quatro pês dos concorrentes
P23. A sua empresa utiliza algum modelo para a avaliação dos principais
concorrentes no que se refere a produto, preço, distribuição e comunicação?
Respostas
Frequência
(%)
Produto
Sim 50,0%
Não 50,0%
Total 100,0%
Preço
Sim 50,0%
Não 50,0%
Total 100,0%
Distribuição
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100,0%
Comunicação
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100,0%
Embora a maioria das empresas não faça a avaliação dos quatro pês da
concorrência, as empresas que fazem a avaliação citaram algumas ferramentas
que serão apresentadas a seguir.
Para a análise do produto, benchmarking e pesquisas de mercado internas e
externas, como citado na autoavaliação.
No que se refere à avaliação do preço dos concorrentes, foram citadas algumas
das técnicas utilizadas na autoavaliação (elasticidade de preço, pesquisa, e
Shopping Brasil).
No que tange à distribuição, algumas técnicas usadas para avaliar concorrentes
repetiram as da autoavaliação: pesquisa interna e Net Promoter Score
(NPS)/Instituto GFK, além do levantamento da distribuição da concorrência. A
comunicação dos concorrentes é analisada por meio do monitoramento das suas
ações, pesquisa interna e tracking da marca.
217
Nota-se, contudo, que as empresas não utilizam nenhum processo de gestão da
marca dos produtos populares, o que se verifica naTabela 44, nesta página.
Como justificativa, foi apontado que falta estrutura interna e confiabilidade no
report externo ou, ainda, que não há marca específica para produtos populares.
Já as empresas que declararam fazer uso de um processo de gestão da marca
afirmaram que isso ocorre pelas seguintes razões:
“é vital”;
“para o fortalecimento imagem da marca”;
“pela importância da marca popular no nosso negócio”.
Tabela 44 – Utilização de processo de gestão de marca dos produtos populares
P24. A sua empresa utiliza algum processo de gestão de marca dos produtos
populares?
Respostas Frequência (%)
Não 62,5%
Sim 37,5%
Total 100,0%
Com relação ao gerenciamento da marca popular, embora a maioria não utilize
um processo para tal, considera como fatores mais importantes para a construção
de marcas populares a identidade da marca, a diferenciação e o valor da marca,
conforme a Tabela 45.
Nota-se que a comunicação e os recursos humanos da empresa foram os fatores
considerados menos importantes para a construção de marcas populares.
218
Tabela 45 – Fatores importantes para o processo de construção de marcas dos
produtos populares
P25. Por favor, entre os fatores abaixo, qual é o mais importante no processo de
construção de marca dos produtos populares? Classifique-os de acordo com a ordem
de importância, sendo 1 o mais importante, e 12 o menos importante.
Respostas Pontuação média Prioridade
Identidade da marca 3,25 1
Diferenciação 4,75 2
Valor da marca 4,88 3
Preço 5,13 4
Emocional 5,50 5
Inovação 6,25 6
Conhecimento dos consumidores 6,50 7
Fidelização 6,88 8
Aspectos práticos do produto 7,88 9
Longevidade da marca 8,38 10
Comunicação 8,75 11
Recursos humanos 9,88 12
5.3.5 Estratégias de negócios
A configuração do negócio mais utilizada entre as empresas para atuar no
mercado popular foi a inovação, seguida de diversificação e parceria. As
configurações, no entanto, estão bem distribuídas nas diversas opções, conforme
a Tabela 46, abaixo.
Tabela 46 – Configuração de negócio adotada para atuar no mercado popular
P26. Qual a configuração de negócio que a sua empresa adotou para atuar no
mercado popular?
Respostas
Frequência
(%)
Inovação 37,5%
Diversificação 25,0%
Parceria 25,0%
Concentração em um negócio 12,5%
Integração horizontal 12,5%
Integração vertical 12,5%
Internacionalização 12,5%
Joint Venture
0,0%
Outras 0,0%
219
Grande parte das empresas utilizou a diferenciação como estratégia de negócio
para atuar no mercado popular, como pode ser observado na Tabela 47.
Tabela 47 – Estratégia de negócio para atuar no mercado popular
P27. Que tipo de vantagem competitiva a sua empresa procurou adotar como
estratégia de negócio para atuar no mercado popular?
Respostas
Frequência
(%)
Diferenciação 62,5%
Baixo custo 25,0%
Baixo custo e Diferenciação 12,5%
Total 100,0%
Análise Bivariada
Mostra-se, a seguir, a distribuição de frequência percentual da combinação de
duas questões (Análise Bivariada), para avaliar a concordância entre as respostas
apresentadas.
Com relação a fazer planejamento de marketing específico para produtos
populares e realizar pesquisa de mercado com a baixa renda, veja-se aTabela 48,
na página seguinte:
A totalidade dos que responderam que a empresa não planeja
marketing
específico para produtos populares, também, responderam que a empresa não
faz pesquisa de mercado para conhecer o comportamento do consumidor de
baixa renda.
A totalidade dos que responderam que a empresa planeja
marketing específico
para produtos populares, também, responderam que a empresa faz pesquisa
de
mercado para conhecer o comportamento do consumidor de baixa renda.
Como não existe grande participação das empresas que fazem planejamento de
marketing específico, as respostas não são utilizadas para interpretação, e, sim,
para validação das afirmativas.
220
Tabela 48 – P8 x P13
P13. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha realiza
pesquisa de mercado para conhecer o comportamento do
consumidor de baixa renda?
Frequência (%)
Não Sim
Total
geral
P8. A empresa em que o(a)
senhor(a) trabalha faz
planejamento de marketing
específico para produtos
populares?
Não 100% 0% 100%
Sim 0% 100% 100%
Total geral 62% 38% 100%
No que se refere à combinação das respostas sobre linguagem usada na
comunicação com o público de baixa renda e planejamento de marketing
específico, nota-se, pela Tabela 49, que a linguagem direta é utilizada
independentemente de o planejamento de marketing ser específico para produtos
populares ou não. Todos os que declararam que não há linguagem específica
para se comunicar com a baixa renda também afirmaram que não fazem
planejamento específico para produtos populares.
As demais respostas foram combinadas, porém apresentaram baixa
representatividade estatística, e, portanto, não serão apresentadas.
Tabela 49 – P8 x P11
P8. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha faz
planejamento de marketing específico para produtos
populares?
Frequência (%)
Não Sim Total
P11. O(a) senhor(a)
afirmaria que a linguagem
utilizada na comunicação da
sua empresa com o
consumidor de baixa renda
é: (Caso necessário, aponte
mais de um aspecto)
Direta 50% 50% 100%
Não há linguagem
específica
100% 0% 100%
221
Na combinação das afirmativas sobre planejamento de marketing específico para
produtos populares e as técnicas utilizadas para se comunicarem com o
consumidor de baixa renda, observa-se o seguinte resultado, como se pode ver
na Tabela 50.
A maioria dos que utilizam comunicação direta (60%) para se comunicar com a
baixa renda fazem planejamento de marketing específico para produtos
populares. O mesmo ocorre com a maioria dos que utilizam propaganda (60%),
promoção (75%), relações públicas (75%) e com todos os que utilizam eventos
para se comunicar com a baixa renda.
A totalidade dos que declaram que não há técnicas específicas para se comunicar
com a baixa renda, afirmam que não fazem planejamento específico para
produtos populares. Isso valida as respostas das afirmativas.
Tabela 50 – P12 x P8
P8. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha faz planejamento
de marketing específico para produtos populares?
Frequência (%)
Não Sim Total
P12. Na sua empresa,
quais as técnicas
utilizadas para se
comunicarem com o
consumidor de baixa
renda? (Caso
necessário, aponte
mais de uma técnica)
Comunicação direta 40% 60% 100%
Propaganda 40% 60% 100%
Promoção de vendas 25% 75% 100%
Relações Públicas ou
Assessoria de Imprensa
25% 75% 100%
Eventos 0% 100% 100%
Não há técnicas
específicas
100% 0% 100%
Na combinação das afirmativas sobre a relevância da marca e os critérios
relevantes para a escolha de eletroeletrônicos por parte dos consumidores de
baixa renda, segundo os entrevistados, observou-se que, pelaTabela 51, ;
222
A maioria dos que consideram que o preço (57%) e design (60%) são critérios
importantes para a escolha de eletroeletrônicos por parte do consumidor de baixa
renda responderam que a marca é relevante para esses consumidores.
É possível notar que, independentemente da resposta em P14, o entrevistado
afirme que o consumidor sempre dá alguma importância à marca em P18; essa
importância é extrema, com maior frequência, entre quem prioriza inovação,
promoção e forma de pagamento (50%), e, em seguida, design (40%).
Esses também são os critérios em que a opinião sobre marca foi polarizada; nas
demais, houve casos de pessoas que responderam que dão “muita importância”,
mas a categoria que perdeu respondentes nesses casos foi “extrema importância”
(“importância” nunca teve menos que 50% dos respondentes). A única exceção é
a categoria status, que teve 1/3 dos respondentes em cada categoria de
importância para a marca (ou seja, não há um comportamento mais frequente) e
“outros” (em que 100% das pessoas responderam que dão importância
intermediária).
Também é interessante notar que, dentre as pessoas que escolheram marca em
P14, apenas 33% disseram que marca é “extremamente relevante” em P18. Isso
marca uma certa incoerência por parte dos respondentes.
Tabela 51 – P18 x P14
P18. Quanto à relevância da marca para os consumidores de baixa renda dos
produtos populares do setor eletroeletrônico, o(a) senhor(a) diria que é:
Frequência (%)
Extremamente
relevante
Muito
relevante
Relevante
Pouco
relevante
Nada
relevante
Total
geral
P14. Quais dos
critérios abaixo
são relevantes
para escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de
baixa renda?
(Caso
necessário,
aponte mais de
um critério)
Marca 33% 17% 50% 0% 0% 100%
Preco 29% 14% 57% 0% 0% 100%
Qualidade 25% 25% 50% 0% 0% 100%
Design
40% 0% 60% 0% 0% 100%
Inovacao 50% 0% 50% 0% 0% 100%
Tecnologia 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Uso 25% 25% 50% 0% 0% 100%
Promocao 50% 0% 50% 0% 0% 100%
Status
33% 33% 33% 0% 0% 100%
Pagamento 50% 0% 50% 0% 0% 100%
Outros 0% 100% 0% 0% 0% 100%
223
Ao se combinarem as respostas a respeito do grau de importância da influência
de cada fator na atuação da empresa no mercado popular com os aspectos nos
quais se concentra o planejamento de marketing da empresa para produtos
populares, observou-se, como mostra a Tabela 52 que:
71% dos que responderam que o produto é um aspecto em que se concentra
o planejamento de marketing para produtos populares consideram a
concorrência e os aspectos financeiros influências importantes para a atuação
da empresa no mercado popular.
80% dos que afirmaram que o preço é um aspecto em que se concentra o
planejamento de marketing para produtos populares consideram os fatores de
mercado, financeiros e tecnológicos influências muito importantes/importantes
para a atuação da empresa no mercado popular.
75% dos que consideram que a comunicação é um aspecto em que se
concentra o planejamento de marketing para produtos populares acham que a
concorrência, os fatores financeiros e do ambiente são influências importantes
para a atuação da empresa no mercado popular.
224
Tabela 52 – P20 x P4
P20. Por favor, assinale o grau de importância da influência de cada fator
abaixo na atuação da sua empresa no mercado popular.
Frequência (%)
Muito
importante
Importante
Pouco
importante
Nada
Importante
Indifere
nte
Total
geral
P4. Em
qual destes
aspectos se
concentra o
planejamen
to de
marketing
da sua
empresa
para os
produtos
populares?
(Caso
necessário
aponte
mais de um
aspecto)
Produto
Fatores de
Mercado
57% 43% 0% 0% 0%
100%
Concorrência 29% 71% 0% 0% 0%
100%
Financeiros 29% 71% 0% 0% 0%
100%
Tecnológicos 29% 57% 14% 0% 0%
100%
Ambiente 14% 57% 29% 0% 0%
100%
Preço
Fatores de
Mercado
80% 20% 0% 0% 0%
100%
Concorrência 40% 60% 0% 0% 0%
100%
Financeiros 20% 80% 0% 0% 0%
100%
Tecnológicos 0% 80% 20% 0% 0%
100%
Ambiente 0% 60% 40% 0% 0%
100%
Distribuição
Fatores de
Mercado
100% 0% 0% 0% 0%
100%
Concorrência 50% 50% 0% 0% 0% 100%
Financeiros 25% 75% 0% 0% 0% 100%
Tecnológicos 0% 75% 25% 0% 0% 100%
Ambiente 0% 75% 25% 0% 0% 100%
Comunica-
ção
Fatores de
Mercado
75% 25% 0% 0% 0%
100%
Concorrência 25% 75% 0% 0% 0% 100%
Financeiros 25% 75% 0% 0% 0% 100%
Tecnológicos 25% 50% 25% 0% 0% 100%
Ambiente 0% 75% 25% 0% 0% 100%
Análise de
Mercado
Fatores de
Mercado
60% 40% 0% 0% 0%
100%
Concorrência 20% 80% 0% 0% 0% 100%
Financeiros 40% 60% 0% 0% 0% 100%
Tecnológicos 40% 40% 20% 0% 0% 100%
Ambiente 20% 60% 20% 0% 0% 100%
Análise Trivariada
A seguir, apresenta-se a distribuição de frequência percentual da combinação de
três questões (Análise Trivariada) para avaliar a concordância e, também, para
complementar algumas respostas, quando se julgou necessário para o melhor
entendimento do fator em questão.
225
Considerando-se as empresas que disseram que concentram seu planejamento
de marketing em produto (82,5%), as únicas que parecem dar maior importância a
alguma forma de diferenciação dos seus produtos foram as que afirmam que o
consumidor compra visando a: preço, marca e design. Elas diferenciam, focando
design e inovação (as que acham que o consumidor compra pelo design
demonstraram dar maior importância para design). As outras não parecem seguir
nenhum comportamento mais específico, como mostra a Tabela 53:
86% das que citaram preço como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem principalmente quanto a design
71% das que citaram preço como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem principalmente quanto a inovação.
86% das que citaram marca como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem principalmente quanto a design.
71% das que citaram marca como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem principalmente quanto a inovação.
226
Tabela 53- Empresas que concentram seu planejamento de marketing em produto
P5. A empresa em que o(a) sr(a) trabalha preocupa-se em diferenciar os produtos
populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
Assistência
técnica
Design Embalagem Inovão
Não há
diferenciação
Praticidade Tecnologia
P14. Quais dos
critérios abaixo são
relevantes para
escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de
baixa renda? (Caso
necessário, aponte
mais de um critério)
Preço
29% 86% 43% 71% 0% 57% 43%
Promoção 0% 29% 0% 29% 0% 29% 0%
Qualidade 14% 57% 43% 57% 0% 43% 29%
Facilidade de
pagamento
14% 57% 29% 57% 0% 57% 14%
Design 29% 71% 29% 57% 0% 57% 29%
Facilidade de uso 29% 57% 29% 43% 0% 29% 43%
Inovação 14% 29% 29% 29% 0% 29% 14%
Marca 29% 86% 43% 71% 0% 57% 43%
Status 14% 43% 29% 43% 0% 29% 29%
Não sei informar 0% 0% 0% 0% 14% 0% 0%
Considerando-se as empresas que concentram seu planejamento de marketing
em preço (62,5%), como mostra a Tabela 54:
80% das que citaram preço como critério relevante para a escolha da baixa
renda, também responderam que a empresa se preocupa em diferenciar os
produtos populares que desenvolvem principalmente quanto a design.
80% das que citaram design como critério relevante para a escolha da
baixa renda, também responderam que a empresa se preocupa em
diferenciar os produtos populares que desenvolvem quanto a design.
Este
parece ser o caso em que a empresa busca melhor atender os critérios
relevantes para o consumidor de baixa renda.
80% das que citaram marca como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design.
As empresas que acreditam que o consumidor que escolhe a partir de preço,
design e marca são as que mais se preocupam em diferenciar seu produto por
design. Os fatores assistência técnica, embalagem e tecnologia são os menos
priorizados pelas empresas que concentram seu planejamento de marketing
em preço.
227
Tabela 54- Empresas que concentram seu planejamento de marketing em preço
P5. A empresa em que o(a) sr(a) trabalha preocupa-se em diferenciar os produtos
populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
Assistência
técnica
Design Embalagem Inovação
Não há
diferenciação
Praticidade Tecnologia
P14. Quais dos
critérios abaixo são
relevantes para
escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de baixa
renda? (Caso
necessário, aponte
mais de um cririo)
Preço
20% 80% 20% 60% 0% 60% 20%
Promão 0% 40% 0% 40% 0% 40% 0%
Qualidade 0% 40% 20% 40% 0% 40% 0%
Facilidade de
pagamento
0% 60% 20% 60% 0% 60% 0%
Design 20% 80% 20% 60% 0% 60% 20%
Facilidade de uso 20% 40% 0% 20% 0% 20% 20%
Inovação 0% 20% 20% 20% 0% 20% 0%
Marca 20% 80% 20% 60% 0% 60% 20%
Status 0% 20% 0% 20% 0% 20% 0%
Não sei informar 0% 0% 0% 0% 20% 0% 0%
Considerando-se as empresas que disseram que concentram seu planejamento
de marketing em análise de mercado (62,5%), como aponta a Tabela 55:
80% das que citaram preço como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design e inovação.
80% das que citaram marca como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design e inovação.
Parece haver maior consenso entre as que acham que a baixa renda escolhe
produtos baseada em preço, e se preocupa, em maior grau, com design, inovação
e, em menor grau, com praticidade e os demais fatores. Também há uma
preocupação com fatores: assistência técnica, embalagem, praticidade e
tecnologia, mas não tão frequente.
A exceção são empresas que declararam não saber informar a partir do que o
cliente escolhe; elas não se preocuparam com nenhum fator de diferenciação.
228
Tabela 55 - Empresas que concentram seu planejamento de marketing em análise de
mercado
P4. Em qual destes aspectos se concentra o planejamento de marketing da sua empresa para os produtos populares?
(Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
P5. A empresa em que o(a) sr(a) trabalha preocupa-se em diferenciar os produtos
populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um
aspecto)
Assistência
técnica
Design Embalagem Inovação
Não há
diferenciação
Praticidade Tecnologia
P14. Quais dos
critérios abaixo
são relevantes
para escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de
baixa renda?
(Caso
necessário,
aponte mais de
um critério)
Preço
20% 80% 40% 80% 0% 60% 40%
Promoção 0% 40% 0% 40% 0% 40% 0%
Qualidade 20% 60% 40% 60% 0% 40% 40%
Facilidade de
pagamento
20% 60% 20% 60% 0% 60% 20%
Design 20% 60% 20% 60% 0% 60% 20%
Facilidade de
uso
20% 60% 40% 60% 0% 40% 40%
Inovação 20% 20% 20% 20% 0% 20% 20%
Marca 20% 80% 40% 80% 0% 60% 40%
Status 20% 60% 40% 60% 0% 40% 40%
Não sei
informar
0% 0% 0% 0% 20% 0% 0%
Considerando-se as empresas que disseram que concentram seu planejamento
de marketing em comunicação (50%), conforme a Tabela 56:
75% das que citaram preço como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design, inovação e praticidade.
75% das que citaram facilidade de pagamento como critério relevante para
a escolha de eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também
responderam que a empresa se preocupa em diferenciar os produtos
populares que desenvolvem quanto a design, inovação e praticidade.
75% das que citaram design como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design, inovação e praticidade.
75% das que citaram marca como critério relevante para a escolha de
eletroeletrônicos, segundo a baixa renda, também responderam que a
empresa se preocupa em diferenciar os produtos populares que
desenvolvem quanto a design, inovação e praticidade.
229
Tabela 56- Empresas que concentram seu planejamento de marketing em comunicação
P5. A empresa em que o(a) sr(a) trabalha preocupa-se em diferenciar os produtos
populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um
aspecto)
Assistência
técnica
Design Embalagem Inovação
Não há
diferenciação
Praticidade Tecnologia
P14. Quais dos
critérios abaixo
são relevantes
para escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de
baixa renda?
(Caso
necessário,
aponte mais de
um critério)
Preço
25% 75% 25% 75% 0% 75% 25%
Promoção 0% 50% 0% 50% 0% 50% 0%
Qualidade 25% 50% 25% 50% 0% 50% 25%
Facilidade
de
pagamento
25% 75% 25% 75% 0% 75% 25%
Design 25% 75% 25% 75% 0% 75% 25%
Facilidade
de uso
25% 50% 25% 50% 0% 50% 25%
Inovão 25% 25% 25% 25% 0% 25% 25%
Marca 25% 75% 25% 75% 0% 75% 25%
Status 25% 50% 25% 50% 0% 50% 25%
Não sei
informar
0% 0% 0% 0% 25% 0% 0%
Considerando-se as empresas que disseram que concentram seu planejamento
de marketing em distribuição (50%), os resultados foram os mesmos que os
apresentados para as empresas que concentram o planejamento em
comunicação, como mostra a Tabela 57.
Novamente os fatores mais priorizados no momento da diferenciação foram
Design, Inovação e Praticidade. Essa preocupação é maior entre empresas que
acham que o consumidor escolhe a partir de Preço, Facilidade de Pagamento e
Marca.
Tabela 57 - Empresas que concentram seu planejamento de marketing em
distribuição
P5. A empresa em que o(a) sr(a) trabalha preocupa-se em diferenciar os produtos
populares que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um
aspecto)
Assistência
técnica
Design Embalagem Inovação
Não há
diferenciação
Praticidade Tecnologia
P14. Quais dos
critérios abaixo
são relevantes
para escolha de
eletroeletrônicos,
segundo o
consumidor de
baixa renda?
(Caso
necessário,
aponte mais de
um critério)
Preço
0% 75% 25% 75% 0% 75% 0%
Promoção 0% 50% 0% 50% 0% 50% 0%
Qualidade 0% 50% 25% 50% 0% 50% 0%
Facilidade
de
pagamento
0% 75% 25% 75% 0% 75% 0%
Design 0% 75% 25% 75% 0% 75% 0%
Facilidade
de uso
0% 25% 0% 25% 0% 25% 0%
Inovação 0% 25% 25% 25% 0% 25% 0%
Marca 0% 75% 25% 75% 0% 75% 0%
Status 0% 25% 0% 25% 0% 25% 0%
Não sei
informar
0% 0% 0% 0% 25% 0% 0%
230
5.4 ANÁLISE CONSOLIDADA DOS RESULTADOS DA 1ª. E DA 2ª. FASE DA
PESQUISA DE CAMPO
Na primeira fase da pesquisa de campo, como já foi dito, as características
situacionais apresentadas pelos entrevistados foram compreendidas com maior
riqueza de detalhes, inclusive citando-se exemplos, em muitas das questões. Já
na segunda fase, tentou-se produzir medidas quantitativas das características e
comportamento das empresas do setor eletroeletrônico.
Feita a análise dos resultados da primeira fase e da segunda fase da pesquisa de
campo, observa-se bastante concordância entre as respostas das duas fases.
Dessa forma, foi possível fazer uma análise geral e consolidada das duas fases,
como será apresentado a seguir.
5.4.1 Planejamento de marketing e comunicação
O planejamento de marketing e comunicação dos produtos populares do setor
eletroeletrônico é embasado principalmente na Análise SWOT e nas Pesquisas
de Mercado. Esse resultado corrobora a visão de Semenik e Bamossy (1996),
Hooley e Saunders (1996) e Yanaze (2007) que afirmam que a definição de uma
estratégia de marketing começa com a avaliação detalhada da empresa,
mostrando seus pontos fortes e fracos em relação à concorrência, bem como as
ameaças e oportunidades do ambiente.
Não se faz planejamento de marketing e comunicação específico para produtos
populares. Mas esse planejamento se concentra no produto, e, em segundo lugar,
em preço e análise do mercado. Esses resultados ajudam a corroborar, em parte,
a hipótese 1 do presente estudo: “As empresas do setor eletroeletrônico planejam
estratégias de marketing e comunicação específicas para as classes populares
focadas apenas em produto e preço”.
A estimativa de investimento em marketing e comunicação para produtos
populares gira em torno de 2% a 3% do faturamento bruto.
231
Design e inovação foram os atributos mais citados pelas empresas para
diferenciar no mercado os produtos populares que fabricam.
Os critérios mais citados para a fixação do preço dos produtos populares estão
relacionados a preço da concorrência, percepção de qualidade, custo e margem,
em concordância com Churchill e Peter (2003), que afirmam que a prática
eficiente do marketing solicita que se considerem as três abordagens básicas:
custo, concorrência e valor para o cliente.
As empresas pesquisadas não utilizam canais diferenciados de distribuição dos
produtos populares, o que vem ao encontro da pesquisa AC Nielsen (2004) apud
CHEN (2006), que mostra que os principais locais de compra dos consumidores
de baixa renda não apresentam diferenças significativas, predominando as Casas
Bahia como local de compra.
Com relação à linguagem utilizada para a comunicação das empresas com a
baixa renda, caracteriza-se principalmente como direta. Esse resultado ratifica os
estudos realizados por Silveira (2004), Coradi et al. (2006) e Piranda
(ABEMD,2006), que mostram que a comunicação com os estratos mais baixos da
população deve ter foco, precisa ser objetiva, simples, informativa e verdadeira.
As técnicas
mais utilizadas para a comunicação das empresas com o consumidor
de baixa renda são: propaganda, comunicação direta e promoção de vendas
(combinada com outras técnicas), com destaque para a importância do ponto de
venda. Na sequência, aparecem relações públicas/assessoria de imprensa e
eventos.
Esse resultado confirma a análise de Branquinho apud Silveira (2004), segundo
quem, na comunicação popular, a distribuição do produto e o material de
divulgação no ponto de venda são tão importantes quanto os anúncios de mídia
impressa, rádio ou TV.
232
Isso sinaliza que as empresas tentam atingir os consumidores e interagir com
eles, utilizando as Comunicações Integradas de Marketing (Schultz e Barnes,
2001); (SCHULTZ; TANNEMBAUM; LAUTERBORN apud YANAZE, 2007).
Nota-se que a propaganda, embora ainda seja a ferramenta de comunicação mais
utilizada pelas empresas, parece perder investimentos do setor, seguindo a
tendência apontada por Blecher (2003b).
Perante esse resultado, uma surpresa para a pesquisadora foi o fato de não ter
sido relevante para a grande maioria das empresas estudadas o elemento do
composto de comunicação “venda pessoal”, uma vez que a influência da equipe
de vendas parece ser muito alta no momento da compra do consumidor de baixa
renda, como citam Arruda(1981), AlmapBBDO e Datafolha (1996) e Mowen e
Minor (2003).
5.4.2 Conhecimento do consumidor de baixa renda
Embora um executivo na entrevista em profundidade tenha afirmado que, para
desenvolver determinado produto popular, numa situação pontual, solicitou várias
pesquisas de mercado para entender as necessidades do seu público-alvo, nota-
se que, de forma geral, não são realizadas pesquisas para se conhecer a
população das classes populares. Esse fato ratifica as análises de Cançado e
Aragão (2007), Ribeiro (2007), Costa(2007), que afirmam que os profissionais de
marketing e comunicação de vários setores da indústria estão iniciando o
aprendizado sobre os consumidores de baixa renda. A maioria, contudo, dos
respondentes opina sobre este consumidor no que se refere aos critérios
relevantes para a escolha de eletroeletrônicos, ao tempo para adoção dos
produtos do setor, à relevância da marca e à fidelidade à marca. Esse fato pode
refletir o conhecimento intuitivo, baseado na experiência, ou mesmo, uma
interpretação equivocada das questões relativas a esse público, como já foi
mencionado. Diante desse resultado, observa-se concordância com a hipótese 2,
segundo a qual as empresas do setor eletroeletrônico não utilizam métodos
sistematizados para conhecer o comportamento do público-alvo de baixa renda.
233
Os entrevistados acreditam que preço, marca e design são os critérios mais
relevantes quando o consumidor de baixa renda vai escolher o eletroeletrônico.
Além disso, a maioria deles considera que o consumidor é fiel à marca. Isso
mostra uma concordância com as respostas dos entrevistados e também com os
estudos de Alves (2006) e Barros e Rocha (2007), para quem a população de
baixa renda mostra maior interesse por celulares com qualidade, quantidade de
recursos e design diferenciado. Chen (2006) apurou no seu estudo que a
qualidade é muito importante para o consumidor de baixa renda, seguida de preço
e opção de pagamento parcelado, para as categorias DVD player, rádio-gravador
e mini- system. Mas o preço baixo não é critério suficiente para atender ao
consumidor de baixa renda. Ele discrimina claramente as marcas que oferecem
como única vantagem o preço (ALMAP/BBDO;DATAFOLHA, 1996).
Prado (2008), em sua pesquisa realizada com mães de famílias de baixa renda,
constatou que a marca é o atributo preferencial na compra dos sete produtos
investigados do setor alimentício.
Segundo Cobb e Hoyer (1985), os compradores de baixa renda têm mais a perder
se não fizerem uma boa compra, portanto pode-se interpretar que a marca
funciona como um aval da qualidade do produto. O Instituto Ipsos Marplan
(2007)
29
aponta que 35% dos entrevistados das classes C, D ou E raramente
mudam de marca. Esse resultado parece válido também para os produtos do
setor eletroeletrônico.
Com relação às formas de pagamento, 44% preferem comprar a crédito a esperar
para comprar à vista
30
.
29
Fonte: Ipsos Marplan – 9 mercados – 2007 SISEM Suíte Tabulação
Filtro: Ambos os sexos, 18 e + anos, classes C,D, E / Total do Universo (em mil): 38.703
Amostra do filtro: 23.863
30
V. a Nota anterior.
234
A maior parte dos respondentes não considera os consumidores de baixa renda
late adopters, ou seja, mais morosos quanto à adoção de inovações. Esse
resultado ratifica o fato de que 41% da população das classes C, D, E preferem
produtos que ofereçam a última palavra em tecnologia, conforme o Instituto Ipsos
Marplan (2007)
31
.
As perspectivas para o setor, no que diz respeito à venda para os consumidores
de baixa renda, é bastante otimista, segundo os entrevistados. Eles afirmam que
a venda de produtos populares para a baixa renda aumentou nos últimos dez
anos e tende a crescer nos próximos dez anos. Isso reforça a necessidade de
entender mais profundamente esse público para lançar produtos que venham ao
encontro de suas necessidades e desejos.
5.4.3 Fatores de análise para o setor eletroeletrônico
Com relação à atuação da empresa no mercado popular os fatores considerados
muito importantes foram: os fatores de mercado como tamanho, potencial,
vulnerabilidade. Já os fatores considerados importantes foram: a concorrência, os
financeiros e econômicos e os do ambiente mercadológico. Nenhum dos fatores
apresentados na questão foi considerado pouco, nada importante ou indiferente.
Dessa forma, a fim de apresentar um modelo de análise mercadológico para este
estudo, foram atribuídos os seguintes pesos:
Fatores de Mercado: peso 0,40;
Concorrência: peso 0,20;
Fatores financeiros e econômicos: peso 0,15;
Fatores do ambiente mercadológico: peso 0,15;
Fatores tecnológicos: peso 0,10.
31
V. a Nota 29.
235
Os fatores citados parecem estar de acordo com os principais aspectos nos quais
se concentra o planejamento de marketing para os produtos populares (produto,
preço e análise de mercado), citados na Pergunta 4.
Da mesma forma que os fatores de mercado foram priorizados para a atuação da
empresa no mercado popular, também foram os principais no que diz respeito à
influência que exercem sobre a posição dos produtos populares no mercado.
Observam-se os mesmos pesos atribuídos com relação a cada um dos fatores.
Esse fato pode refletir que tanto a atuação no mercado popular quanto o
posicionamento dos produtos populares no mercado são baseados nos mesmos
pilares pelas empresas participantes.
As empresas utilizam modelos de autoavaliação referentes a produto, preço,
distribuição e comunicação, porém a aplicação do modelo diminui quando o intuito
é a comparação desses fatores com os principais concorrentes. Yanaze (2007)
propõe um modelo de análise SWOT que se inicia com o levantamento dos
pontos fortes e fracos da empresa no que se refere aos quatro outputs (os quatro
pês), embasada nos seus principais concorrentes e/ou numa situação ideal
identificada por benchmarking. Como essa análise é qualitativa, Yanaze (2007)
sugere que sejam atribuídos pesos aos quatro outputs, que seriam embasados na
lógica da decisão de compra do cliente.
De acordo com os resultados deste estudo, preço, marca e design são os critérios
mais relevantes para o consumidor de baixa renda na escolha do eletroeletrônico,
segundo os entrevistados. Assim, os pesos sugeridos são:
Produto: peso 0,3;
Preço: peso 0,4;
Comunicação: 0,2
Praça: 0,1
236
Observa-se que os pesos de importância sugeridos acima devem ser revistos e
compostos de acordo com a estratégia adotada por cada empresa.
Com relação às formas de autoavaliação de produtos, foram citadas as
pesquisas de mercado (internas e externas).
No que se refere à autoavaliação de preço, foram mencionadas: elasticidade de
preço; pesquisa; posicionamento de preço, considerando-se as características,
marca e design do produto; e Shopping Brasil
32
.
Para fazer a autoavaliação da distribuição, foram citadas: análise dos pontos de
vendas (números e presença); pesquisa interna; utilização de consultoria e uso da
ferramenta Net Promoter Score (NPS)/Instituto GFK.
Com relação à autoavaliação da comunicação, os instrumentos citados foram:
pesquisas internas; pré e pós-testes de comunicação e análise dos investimentos
da concorrência.
Embora a maioria não utilize um processo para gerenciar a marca popular, na
fase qualitativa da pesquisa de campo, os entrevistados afirmaram que realizam o
gerenciamento de suas marcas. Num dos casos, a gestão ocorre nas duas
marcas de forma diferenciada e no outro, o trabalho de gestão está sendo iniciado
com a marca institucional.
Como justificativa para a não utilização do processo de gerenciamento da marca
popular, foram apontados: a falta de estrutura interna, a falta de confiabilidade no
report externo da equipe e, ainda, o fato de não haver marca específica para
produtos populares.
32
A Shopping Brasil é uma empresa especializada em inteligência de mercado com foco no
monitoramento do varejo. Seu objetivo é atender à necessidade da indústria e varejo em
informações sobre preços, condições de pagamento e juros praticados pelo mercado.
237
Seria muito importante que as empresas do setor iniciassem esse processo de
gestão, pois foi observado que a marca é um dos critérios mais relevantes para o
consumidor de baixa renda na escolha do eletroeletrônico, segundo os próprios
entrevistados.
Na fase qualitativa, os quatro fatores citados como mais importantes para a
construção de marcas populares foram: o conhecimento dos consumidores, a
longevidade da marca, fidelização e o fator emocional.
Já na fase quantitativa, diferentemente, os fatores citados como mais importantes
foram: a identidade da marca, a diferenciação e o valor da marca. O resultado
corrobora a visão de Aaker (1998), Martins (1999), Kapferer (2004), Aaker e
Joachimsthaler (2000), Keller (2003), Keller (2002) apud ASSIS (2007, p.62).
Entende-se que conhecer o consumidor seja prioritário para se gerenciar a marca,
seja de produtos populares ou não. Em contrapartida, o fato de a maioria das
empresas não fazer pesquisas de mercado para conhecer o público de baixa
renda talvez justifique essa resposta.
Nota-se que a comunicação e os recursos humanos foram os fatores classificados
como menos importantes para a construção de marcas populares.
Enfim, entende-se que o resultado acerca do processo de construção de marcas
nas empresas pesquisadas a hipótese 3, elaborada da seguinte forma: O
processo de construção de marcas fortes para produtos populares não constitui
prática comum adotada pelas empresas do setor eletroeletrônico.
5.4.4 Estratégias de negócios
As configurações de negócio mais citadas para atuar no mercado popular foram
inovação, diversificação e parceria. Porém as configurações estão bem
distribuídas nas diversas opções, o que impede tomar uma delas como resultado
predominante. Dessa forma, entende-se não haver concordância com a hipótese
238
4 que afirma que a maioria das empresas do setor eletroeletrônico adotou a
estratégia de desenvolvimento focada na diversificação para atuar no mercado
popular.
Como vantagem competitiva, grande parte dos respondentes afirmou adotar a
diferenciação para atuar no mercado popular, em vez do baixo custo. A empresa
deve buscar diferenciadores valorizados pelo público-alvo [(Porter,1992), (Hooley
e Saunders,1996),Oliveira(1991)].
Na próxima seção, será apresentada a conclusão deste estudo, incluindo as
considerações finais, as contribuições, as limitações e sugestões para estudos
futuros.
239
Conclusão
240
Nesta parte, serão apresentadas as considerações finais do estudo e
recapitulados os objetivos desta pesquisa. Em seguida, serão sumarizadas as
principais contribuições do estudo e indicadas as suas limitações. Por último, são
recomendados caminhos para estudos futuros relacionados aos temas aqui
abordados.
Considerações finais
Dentro de um cenário econômico e social favorável à expansão do mercado do
setor eletroeletrônico devido ao aumento do potencial de consumo das classes
populares, estabeleceu-se o objetivo geral desta tese: elaborar modelos de
análise integrada para a fundamentação de estratégias de marketing e
comunicação de produtos eletroeletrônicos populares.
O conceito de produto popular, nesta pesquisa, está relacionado prioritariamente,
a atender aos consumidores das classes de menor renda. Não precisa ser
necessariamente o mais barato de sua categoria, embora preço baixo e qualidade
sejam requisitos fundamentais para a população de baixa renda, mas deve
oferecer condições tais como crédito e atendimento às necessidades do
consumidor, que facilitem e viabilizem a sua aquisição pelo público-alvo (Assis et
al., 2005).
Classes populares e população de baixa renda são entendidas como sinônimos
neste estudo e englobam a população formada por pessoas pertencentes às
classes C, D e E, segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB),
com renda média familiar bruta que varia de R$403,00 a R$1.391,00 (ABEP,
2010).
Com relação aos objetivos, geral e específico, pode-se concluir que foram
totalmente alcançados.
Identificou-se que as empresas utilizam principalmente a análise SWOT e as
pesquisas de mercado para elaborar sua estratégia de marketing e comunicação.
241
Essas estratégias, contudo, não são específicas para os produtos populares.
Dessa forma, atentando ao objetivo geral, os modelos de análise integrada para a
definição de estratégias de marketing e comunicação de produtos
eletroeletrônicos populares são expostos a seguir.
Modelos de análise integrada para a fundamentação de estratégias de marketing
e comunicação de produtos eletroeletrônicos populares.
Para embasar esta proposta de modelos de análise integrada, foram utilizados os
modelos já consagrados (GE, BCG e SWOT), adaptados e dimensionados à
realidade observada nas empresas pesquisadas do setor eletroeletrônico que
produzem produtos populares.
Sugere-se que sejam utilizados de forma integrada, de modo que minimize suas
limitações individuais, fazendo que a aplicação conjunta traga melhores
resultados à empresa no que se refere ao planejamento de marketing e
comunicação, como indica YANAZE (2007).
A Matriz GE, compartilhando com a opinião de Yanaze (2007), é julgada mais
eficiente na avaliação do grau de atratividade de mercados e da posição dos
produtos/UEN, pois considera vários fatores de análise que podem mudar de
acordo com as características do mercado, do negócio e de acordo com a
relevância para a empresa, com pesos de importância.
Assim, o primeiro modelo recomendado para a elaboração do planejamento de
marketing e comunicação das empresas do setor eletroeletrônico que produzem
produtos populares adapta conceitos da Matriz de Portfólio Multifatorial GE para
monitorar constantemente o grau de atratividade do mercado e a posição dos
produtos em relação aos seus mercados e sua situação dentro do portfólio geral
das empresas. Esses conceitos são sumarizados abaixo.
Para avaliar o potencial de atratividade dos mercados em que seus produtos,
marcas ou UEN atuam, a empresa deve analisar os fatores básicos: mercado,
242
concorrência, financeiros e econômicos, tecnológicos e fatores do ambiente
mercadológico. A soma desses fatores deve resultar em 1. Cada subfator também
deve ser avaliado com um peso que represente seu grau de importância dentro
do fator correspondente. Yanaze (2007) recomenda que essa avaliação seja
elaborada por um comitê intersetorial formado por representantes de todas as
áreas da empresa.
Neste estudo, com relação à atratividade do mercado popular, as empresas
consideraram “muito importante” os fatores de mercado: tamanho, potencial,
vulnerabilidade. Já os fatores considerados “importantes” foram: concorrência, os
financeiros e econômicos e os do ambiente mercadológico. Nenhum dos fatores
apresentados foi considerado “pouco importante”, “nada importante” ou
“indiferente”.
Dessa forma, atribuíram-se os seguintes pesos aos fatores abaixo, como mostra a
Tabela 58:
Fatores de Mercado: peso 0,40;
Concorrência: peso 0,20;
Fatores financeiros e econômicos: peso 0,15;
Fatores do ambiente mercadológico: peso 0,15;
Fatores tecnológicos: peso 0,10.
243
Tabela 58 – Fatores de Avaliação da Atratividade do Mercado Popular para o Setor
Eletroeletrônico
1. Fatores de Mercado
PESO 0,40
Tamanho atual ($, volume ou ambos), Potencial,
Taxa de crescimento por ano, Disponibilidade e
qualidade de canais de distribuição,
Vulnerabilidade a fatores externos etc.
2. Concorrência
PESO 0,20
Quantidade e tipos de concorrentes,
Grau de concentração da distribuição,
Concorrência informal e ilegal
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
PESO
0,15
Política de preços, Margens de contribuição
aplicáveis, Economias de escala e de experiência,
Grau de necessidade de investimentos,Taxas de
retorno de investimentos, Utilização da capacidade,
Dependência de políticas econômicas
4. Fatores Tecnológicos
PESO
0,10
Grau de complexidade e de volatilidade, Patentes e
royalties, Nível de diferenciação, Custo de pesquisa
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
PESO
0,15
Legislação e regulamentação governamentais,
Influência de grupos de pressão, Grau de aceitação
pela opinião pública, Grau de compatibilidade com
as atitudes, comportamentos e tendências sociais,
Adequação às culturas locais (dos mercados)
No que diz respeito à posição dos produtos populares da empresa no mercado,
os fatores de mercado também foram priorizados. Observou-se que foi dada a
mesma importância a cada um dos fatores, e, portanto, foram mantidos os
mesmos pesos, como mostra a Tabela 59. Esse fato pode refletir que tanto a
atuação no mercado popular quanto o posicionamento dos produtos populares no
mercado são baseados nos mesmos pilares pelas empresas participantes da
pesquisa:
Fatores de Mercado: peso 0,40;
Seu Produto e a Concorrência: peso 0,20;
Fatores Financeiros e Econômicos: peso 0,15;
Fatores do Ambiente Mercadológico: 0,15;
Fatores Tecnológicos: peso 0,10.
244
Tabela 59 – Fatores de Avaliação da Posição dos Produtos Populares no Mercado
1. Fatores de Mercado
PESO 0,40
Participação do produto no mercado
Potencial da empresa para o produto
Taxa de crescimento do produto
Sinergia com os canais de outros produtos
Grau de vulnerabilidade da empresa em relação ao produto
Compatibilidade com os segmentos de mercado de outros
produtos
Influência do preço em relação a outros produtos
Benefício que o negócio aufere em relação à reputação da
marca da empresa
Grau de aproveitamento do produto dentro do composto
promocional geral da empresa
2. Seu Produto e a Concorrência
PESO 0,20
Participação no mercado competitivo
Característica competitiva da empresa para esse produto
Seu nível de concentração
Monitoramento da concorrência
Vulnerabilidade em relação à concorrência
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
PESO
0,15
Compatibilidade da política de preço do produto em relação
à política global da empresa
Margem de contribuição obtida com o produto
Sua escala e experiência com o produto
Necessidade de investimento para manter o produto
Taxa de retorno do investimento no produto
Taxa de utilização do produto
4. Fatores Tecnológicos
PESO
0,10
Compatibilidade do produto com a política tecnológica da
empresa
Capacidade de a empresa enfrentar mudanças em função
da volatilidade tecnológica do produto
Grau de proteção e de acesso a patentes e royalties
Contribuição para a política geral de diferenciação
Capacidade de arcar com os custos de pesquisa
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
PESO
0,15
Capacidade de adaptação e /ou enfrentamento
Habilidade e capacidade de negociação
Grau de aceitação pelos stakeholders e pela comunidade
Compatibilidade com as atitudes e tendências sociais
relativas a outros produtos da empresa
Capacidade de adequação da empresa
Grau de dependência em relação a fornecedores
Grau de sujeição em relação a clientes
Para se obterem os índices de pontuação, a atribuição dos pesos ocorre da
mesma forma que na tabela anterior.
A análise final na matriz GE é realizada em duas escalas: (1) Atratividade do
mercado e (2) Posição do produto no mercado. As notas dadas a cada subfator
são multiplicadas pelos respectivos pesos, podendo ocorrer, no quesito posição
no mercado:
245
de 0 a 3,3 = baixa (fraca) posição no mercado;
de 3,4 a 6,7 = média posição; e
de 6,8 a 10,0 = alta (forte) posição.
Tomando-se o mesmo critério para a atratividade do mercado, têm-se nove
possibilidades de localização da empresa na matriz multifatorial GE, como já
mostrado na Figura 16:
Figura 16 – Localização da empresa em relação à atratividade de seu mercado e à sua
posição no mercado
A
B
C
D
E
F
G
H
I
Fonte: Yanaze (2007, p.89)
Os resultados da análise da matriz GE influenciam diretamente a elaboração das
estratégias de marketing e comunicação. De acordo com a posição dos produtos,
marcas ou UEN em cada quadrante, a análise é feita da seguinte forma (Yanaze,
2007):
quadrante A: produtos que merecem atenção constante para não perder essa
posição.
quadrantes B e C: produtos que demandam investimentos para melhorar sua
posição em mercados atraentes.
quadrantes D, E e F: produtos que dependerão, a médio e longo prazo, da
situação de outros produtos que fazem parte do mix da empresa.
quadrantes G, H e I: produtos que podem comprometer os resultados gerais da
empresa já que dispersam recursos para mercados em declínio.
10,0
Forte
Média
Fraca
Alta
Média
Baixa
POSIÇÃO DO NEGÓCIO NO MERCADO
ATRATIVIDADE
DO
MERCADO
6,7
3,3
0
3,3
6,7
0
246
O segundo modelo indicado é a matriz BCG, uma vez que os números da matriz
BCG irão complementar os da matriz GE.
A matriz BCG visa a demonstrar graficamente aos gestores estratégicos a
posição dos seus produtos/marcas para auxiliar a tomada de decisões,
principalmente, com respeito à adição, manutenção e retirada de produtos do
portfólio, à mobilização de fluxos de recursos para investimento, ao aumento ou
diminuição da capacidade produtiva, à avaliação da sinergia entre produtos, à
definição da política de preços. Os produtos/marcas devem ser posicionados em
cada quadrante de acordo com duas variáveis: participação de mercado e
crescimento de vendas, como indica a Figura 14.
Figura 14 – Representação do Modelo BCG
Fonte: Adaptado de Yanaze (2007, p. 81).
Várias limitações foram observadas no modelo BCG, na década de 70, depois de
sua aplicação por empresas de vários setores e portes. A principal delas é a sua
dependência em relação a crescimento e participação do mercado, que são
critérios muito difíceis de mensurar, segundo Kotler (1998); Churchill e Peter
(2003); Hooley e Saunders e Piercy (2001); Nickels e Wood (1999) ; McCarthy e
Perreault (1997) apud Yanaze (2007). Apesar das limitações, esses autores
recomendam sua aplicação dada a simplicidade da sua utilização e pelo fato de a
sua classificação e os seus pressupostos de investimento e retorno já fazerem
Alta
Participação de mercado
Baixa
PRODUTOS ESTRELA
Investimento – alto
Faturamento – alto
PRODUTOS CRIANÇA PRODÍGIO
Investimento – alto
Faturamento – baixo
PRODUTOS VACA LEITEIRA
Investimento – baixo
Faturamento – alto
PRODUTOS ABACAXI
Investimento – alto
Faturamento – baixo
Crescimento das vendas
Alta
Baixa
247
parte do repertório do mundo empresarial no mundo todo. Desta forma, a partir do
exposto, indica-se um modelo mais abrangente e, sobretudo, quantitativo de
avaliação, que tende a reduzir a subjetividade dos conceitos alto e baixo e amplia
a análise a três níveis, de acordo com Yanaze(2007):
1. análise da posição de cada produto/UEN nos seus
respectivos mercados em relação aos seus concorrentes;
2. análise da posição de cada produto/UEN em relação aos
outros produtos/UEN da empresa em termos de faturamento; e
3. análise da posição de cada produto/UEN em relação aos
outros produtos/UEN da empresa em termos de margem de
contribuição (YANAZE, 2007, p.97).
A sugestão é que se inclua na matriz BCG duas classes de produtos/marcas: os
“populares” e os “não populares” de cada empresa, pelo seu respectivo
faturamento. Segundo Kotler (2000), depois de posicionar seus negócios na
matriz BGC, a empresa terá condições de verificar se sua carteira de negócios é
saudável.
Quando se utilizarem os dois modelos adaptados de análise sugeridos (GE e
BCG), será possível avaliar a situação dos produtos populares quanto aos seus
respectivos mercados e à situação dos produtos populares em relação aos
demais produtos/UEN da empresa, e conhecer a posição de cada classe de
produto (populares e não populares) quanto ao crescimento do faturamento e à
participação no total mensurado.
O ideal é que se obtenha um posicionamento similar dos produtos tanto na matriz
de mercado, quanto na matriz de produtos. Mas isso nem sempre é viável, e,
desse resultado, devem ser definidas as estratégias diferenciadas para produtos
crianças prodígio, estrelas, vacas leiteira e eventuais abacaxis estratégicos
(YANAZE,2007).
O terceiro e último modelo de análise recomendado complementa os dois
anteriores e é conhecido como SWOT. Os resultados da pesquisa apontaram que
a análise SWOT e as pesquisas de mercado são as ferramentas mais utilizadas
para embasar as estratégias de marketing e comunicação entre as empresas
pesquisadas. Esse resultado confirma a visão de Semenik e Bamossy (1996),
248
Hooley e Saunders (1996) e Yanaze (2007), que afirmam que a definição de uma
estratégia de marketing começa com a avaliação detalhada da empresa,
mostrando seus pontos fortes e fracos, bem como as ameaças e oportunidades
do ambiente.
Recomenda-se, em concordância com Yanaze (2007), que as empresas iniciem a
análise SWOT levantando seus pontos fortes e fracos no que se refere aos quatro
outputs (produto/serviço, preço/remuneração, distribuição/vendas e
comunicação), e avaliem esses outputs dos seus principais concorrentes e/ou de
uma situação ideal identificada por benchmarking como mostra a Tabela 60.
Caso a organização julgue que também é necessário avaliá-los de forma
quantitativa, poderá dar pesos e notas aos outputs e subitens, que seriam
embasados na lógica da decisão de compra do cliente.
De acordo com os resultados deste estudo, preço, marca e design são os critérios
mais relevantes para o consumidor de baixa renda na escolha do eletroeletrônico,
segundo os entrevistados.
Assim, os pesos sugeridos são:
Produto: peso 0,3;
Preço: peso 0,4;
Praça: 0,1
Comunicação: 0,2
249
Tabela 60– Modelo Avaliativo dos Outputs para Produtos Populares
das Empresas do Setor Eletroeletrônico
Outputs
Empresa
X
Concorrente
A
Concorrente
B
Ideal/
Benchmarking
I. Produto (Peso 0,3)
Design
Embalagem
Garantia
Qualidade percebida
Assistência pós-venda
Confiança
Status
Facilidade de uso
Outros
II. Preço (Peso 0,4)
Valor
Condições de pagamento
Formas de pagamento
Descontos
Outros
III. Distribuição (Peso 0,1)
Abrangência territorial
Número de vendedores
Qualidade de vendedores
Qualidade de pontos de
venda
Qualidade da exposição
Outros
III. Comunicação (Peso
0,2)
Publicidade
Promoção de vendas
Relações Públicas
Eventos
Valor da Marca
Reputação da empresa
Outros
Observa-se que os pesos de importância sugeridos anteriormente devem ser
revistos e compostos de acordo com a estratégia adotada por cada empresa e
embasados na lógica da decisão de compra do cliente.
250
Diante do exposto, entende-se que se cumpriu o objetivo geral deste estudo:
elaborar modelos de análise integrada para a fundamentação de estratégias de
marketing e comunicação de produtos eletroeletrônicos populares.
Com relação aos objetivos específicos, foram atendidos, da mesma forma:
Analisar a evolução do volume de vendas dos produtos do setor no período
pós-real, se possível, por classe social:
Segundo os estudos Brasil em Foco elaborados pelo IPC Target, as despesas
das classes C,D e E com “eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos”
saltaram de R$10,1 bilhões em 2004 para para R$15,5 bilhões em 2009, o
que representa um aumento de mais de 53% em cinco anos. As classes C, D
e E responderam por 41% do consumo de produtos do setor, em 2009.
Vários fatores contribuíram para esse avanço tais como: a estabilidade da
economia, a maior estabilidade no emprego, o acesso ao crédito, o aumento
da renda por parte das classes populares e algumas medidas implementadas
pelo governo.
Identificar se as empresas utilizam um processo de gestão de marca para
produtos populares:
A maioria das empresas pesquisadas não utiliza um processo para gerenciar a
marca dos seus produtos populares, embora considerem que a marca é um
dos critérios mais relevantes na escolha do eletroeletrônico para os
consumidores de baixa renda.
Verificar se as empresas utilizam ferramentas periodicamente, para se
atualizar com relação aos hábitos, atitudes e necessidades do seu público-
alvo, como, por exemplo, a pesquisa de mercado:
251
De forma geral, nas empresas pesquisadas, não são utilizadas ferramentas
para conhecer as classes populares. A maioria dos respondentes opinou,
entretanto, sobre esse consumidor em várias questões. Isso pode refletir: o
conhecimento intuitivo; início do aprendizado sobre esse público; ou mesmo,
interpretação equivocada das questões.
Verificar se as empresas embasam sua estratégia de marketing e
comunicação em modelos de análise, tais como BCG, GE e SWOT:
Nota-se que as empresas utilizam principalmente a análise SWOT e as
pesquisas de mercado para elaborar sua estratégia de marketing e
comunicação. Esse planejamento, contudo, não é elaborado especificamente
para produtos populares.
Identificar qual a configuração de negócio predominante entre as empresas do
setor que decidiram atuar no mercado popular:
As configurações foram bem distribuídas entre as várias opções, o que impede
tomar uma delas como predominante.
Verificar se existem elementos do composto de marketing e comunicação mais
relevantes e pontos comuns no planejamento estratégico de marketing e
comunicação dos produtos populares do setor:
Embora o planejamento não seja específico para os produtos populares, de
forma geral, ele se concentra no produto, e, em segundo lugar, em preço e
análise do mercado, com a mesma relevância. A estimativa de investimento
em marketing e comunicação para produtos populares gira em torno de 2% a
3% do faturamento bruto.
252
O problema de pesquisa estudado pretendeu responder aos seguintes
questionamentos: Quais são as estratégias de marketing e comunicação
predominantes para as empresas do setor eletroeletrônico que fabricam produtos
populares? Essas empresas embasam seu planejamento de marketing e
comunicação em modelos de análise do tipo BCG, GE e SWOT ou em outras
ferramentas?
Para estudar o problema, esta pesquisa buscou evidências que ajudaram a
sustentar ou refutar a afirmativa feita nas hipóteses, de acordo com Silva e
Menezes (2001).
Identificou-se que, em geral, o planejamento de marketing das empresas
pesquisadas se concentra no produto (design e inovação diferenciam os produtos
populares que fabricam no mercado), e, em segundo lugar, em preço e análise do
mercado. Preço da concorrência, percepção de qualidade, custo e margem foram
os critérios mais citados para a elaboração do preço dos produtos populares.
Também não é prática das empresas pesquisadas elaborar planejamento de
marketing e comunicação específico para produtos populares direcionados para a
população de baixa renda.
Esses resultados ajudam a corroborar, em parte, a hipótese 1
que afirma que: “as
empresas do setor eletroeletrônico planejam estratégias de marketing e
comunicação específicas para as classes populares focadas apenas em produto e
preço”.
Não são utilizados canais de distribuição e comunicação específicos para as
classes populares. Porém a linguagem
utilizada para a comunicação das
empresas com a baixa renda caracteriza-se principalmente como direta. Esse
resultado ratifica os estudos realizados por Silveira (2004), Coradi et al. (2006) e
Piranda (ABEMD,2006), que mostram que a comunicação com os estratos mais
baixos da população deve ter foco, precisa ser objetiva, simples, informativa e
verdadeira. Propaganda, comunicação direta, promoção de vendas combinada a
253
outras (com destaque para a importância do ponto de venda) são as técnicas
mais utilizadas para as empresas se comunicarem com o consumidor de baixa
renda. Surpreendeu o fato de não ter sido relevante para a maioria das empresas
estudadas o elemento “venda pessoal”, uma vez que a influência da equipe de
vendas parece ser muito alta no momento da compra do consumidor de baixa
renda, como citam Arruda(1981), AlmapBBDO e Datafolha (1996) e Mowen e
Minor (2003). Uma possível explicação para o ocorrido pode ser o fato de ter
havido um engano no entendimento dos conceitos comunicação direta e vendas
pessoais por parte dos respondentes.
De forma geral, não são realizadas pesquisas para conhecer os consumidores de
baixa renda. Diante desse resultado, nota-se concordância com a hipótese 2 que
diz que as empresas do setor eletroeletrônico não utilizam métodos
sistematizados para conhecer o comportamento do público-alvo de baixa renda.
Os entrevistados acreditam que preço, marca e design são os critérios mais
relevantes quando o consumidor de baixa renda vai escolher o eletroeletrônico.
Além disso, consideram que o consumidor é fiel à marca. Afirmam, contudo, que
não utilizam processo de gestão de marca dos produtos populares. Isso
representa uma grande oportunidade para se iniciar o trabalho de construção de
marca para esse público.
Entende-se, portanto, que as respostas acerca do processo de construção de
marcas populares pelas empresas pesquisadas fortalece a hipótese 3, assim
elaborada: o processo de construção de marcas fortes para produtos populares
não constitui prática comum adotada pelas empresas do setor eletroeletrônico.
As configurações de negócio adotadas pelas empresas para atuar no mercado
popular apareceram bem distribuídas nas diversas opções (concentração, joint
venture, integração horizontal, integração vertical, diversificação, inovação,
parceria, internacionalização), o que impede tomar uma delas como resultado
predominante. Dessa forma, entende-se não haver concordância com a hipótese
4, segundo a qual a maioria das empresas do setor eletroeletrônico adotou a
254
estratégia de desenvolvimento focada na diversificação para atuar no mercado
popular.
Contribuições do estudo
Evidencia-se que o cenário econômico-social brasileiro possibilitou, por parte das
organizações nacionais e multinacionais, desenvolver novos mercados de
atuação por meio da inclusão da população de baixa renda no mercado de
consumo. Muitas organizações empresariais, a partir disso, iniciaram um
movimento para atender às expectativas das classes populares. Algumas
mantiveram a marca, mas desenvolveram embalagens menores com um preço
inferior e mais acessível; outras investiram no lançamento de produtos e marcas
direcionados às classes populares; outras, ainda, contrataram executivos para
alavancarem negócios junto à numerosa população brasileira de baixa renda.
Como o tema é bastante recente, o desafio para construir conhecimento sobre o
mercado de baixa renda é grande, pois, até pouco mais de uma década, eram
estudados os segmentos com maior poder aquisitivo. Não se pensava em
concentrar esforços a fim de criar produtos e serviços para as camadas mais
baixas da população. Isso se reflete tanto na literatura, quanto nas pesquisas
acadêmicas.
Atualmente, as classes C, D e E respondem por 41% do consumo de produtos do
setor eletroeletrônico, o que mostra a sua relevância para as empresas do setor.
A maioria dos participantes da pesquisa identificam as atratividades do mercado
popular. Eles afirmam que a participação do consumidor de baixa renda nos
negócios da empresa aumentará nos próximos dez anos. Observa-se que existe
uma grande oportunidade de crescimento das empresas do setor, que pode ser
potencializada ao se implementarem estratégias de marketing e comunicação
específicas para produtos eletroeletrônicos populares, direcionadas aos
consumidores de baixa renda. Este estudo pode contribuir nesse sentido.
255
Também é importante ressaltar que deveriam ser implementados processos de
gestão de marcas populares, uma vez que, na opinião dos entrevistados, o
consumidor é fiel à marca e, no momento da compra de eletroeletrônicos, os
critérios mais relevantes são preço, marca e design. Estudos anteriores com a
categoria de alimentos (Prado, 2008) também revelaram a importância da marca
para a baixa renda. O esforço de construção de marca deve vislumbrar
estratégias de longo prazo, e, uma vez conquistada a preferência do público das
classes populares, poderá evitar-se que ele migre para outras marcas
concorrentes.
Embora o planejamento de marketing para produtos populares das empresas
estudadas não se concentre em comunicação, identificar quais são os canais
mais eficientes e a linguagem mais adequada para se comunicar com esse
público é outro desafio para as empresas do setor. A maioria dos entrevistados
usa linguagem direta ou afirma que não há linguagem específica. Alguns autores
[(Silveira, 2004), Coradi et al. (2006) e Piranda (ABEMD,2006)] dizem que a
comunicação com os estratos mais baixos da população deve ter foco, precisa ser
objetiva, simples, informativa e verdadeira.
Como contribuição principal, esta pesquisa apresentou modelos de análise
integrada para fundamentar as estratégias de marketing e comunicação dos
produtos eletroeletrônicos populares, colaborando, nesse sentido, com as
empresas do setor. Espera-se, também, ter avançado na pesquisa acadêmica
relativa à área de marketing e comunicação para produtos eletroeletrônicos
populares.
Observa-se que, ao se proporem os modelos de análise integrada às empresas
do setor, deve levar-se em consideração a cultura, as necessidades e
particularidades de cada empresa no momento da aplicação do modelo, o que
torna necessária a análise de todos os fatores em conjunto com cada empresa
individualmente. Tem-se, portanto, com os modelos sugeridos, um ponto de
partida, que deverá ser revisto em cada situação.
256
Para que as estratégias sejam eficientes, considera-se fundamental utilizar
ferramentas, como a pesquisa de mercado, para conhecer o comportamento, as
atitudes, os desejos, os hábitos de consumo da população de baixa renda.
Nota-se, neste estudo, que, de maneira geral, não são realizadas pesquisas para
conhecer as classes populares. Isso dificulta até mesmo o desenvolvimento de
produtos que atendam às suas necessidades particulares.
Limitações do estudo
Este item apresenta de forma sintética as limitações deste estudo para que se
possa compreender melhor os resultados e conclusões apresentados. Tais
resultados não podem ser generalizados, e as considerações aqui realizadas
referem-se exclusivamente ao contexto estudado, em função de seis grandes
limitações.
1- Na primeira fase da pesquisa de campo, os dois executivos mostraram
disponibilidade para participar das entrevistas em profundidade, embora o
agendamento de uma delas tenha sido adiado várias vezes pela sua secretária.
Devido à falta de tempo deste último, a entrevista foi realizada em duas partes,
em dias diferentes, com espaço de mais de um mês entre eles. Isso pode ter
prejudicado o aprofundamento e continuidade dos temas abordados na entrevista.
2- Todas as empresas associadas à ELETROS receberam o questionário, na
segunda fase da pesquisa de campo. As empresas que participaram do estudo
(dez empresas participaram de um total de vinte e cinco associadas) representam
de forma significativa a população pesquisada. Isso porque elas compõem cerca
de 50% do seu faturamento total, segundo a ELETROS, e porque são as mais
representativas do mercado popular de acordo com a pesquisadora. Porém isso
não permite extrapolar os resultados para todas as empresas do setor
eletroeletrônico que produzem produtos populares, embora as empresas
estudadas tenham características típicas que fazem que elas representem
satisfatoriamente o restante da população. Como exemplo, pode-se citar que as
257
respondentes produzem as mesmas categorias de produto que as não
respondentes. Outro ponto é o fato de que todas as respondentes produzem bens
que alcançam a baixa renda da população. Mesmo que algumas empresas não
respondentes não fabriquem tais produtos, isso não impacta o resultado, uma vez
que essas empresas não pertencem à população de interesse.
3- Como o roteiro da entrevista em profundidade e, consequentemente, o
questionário, foram embasados em referências teóricas, deve-se considerar que
os participantes podem ter interpretado equivocadamente os conceitos ou mesmo
desconhecê-los. Um deles chegou a comentar que as opções apresentadas para
a configuração do negócio era matéria vista em aula.
4- Devido ao pequeno número de empresas que compõem o universo
pesquisado neste estudo (25 associadas à ELETROS) , optou-se por não realizar
o pré-teste antes da aplicação do questionário definitivo a fim de não reduzir o
número de respondentes. Isso pode ter gerado alguma dificuldade no
entendimento das questões ou conceitos abordados no questionário.
5- Por indicação de executivos que atuam no setor e por questões metodológicas,
optou-se por pesquisar o universo de empresas associadas à ELETROS,
associação que não abarca os segmentos de informática e telefonia celular, os
quais fazem parte da ABINEE.
6- As limitações devidas ao formato do instrumento de coleta de dados envolveu
a avaliação da percepção dos respondentes quanto à escala adotada no
questionário atribuindo-se uma medida quantitativa quanto ao grau de importância
de determinado fator. Com efeito, trata-se de dados em forma de opinião, que não
retratam necessariamente uma realidade concreta.
Por conseguinte, com esta pesquisa, não se esgotaram as possibilidades de
estudo sobre as estratégias de marketing e comunicação para produtos populares
do setor eletroeletrônico.
258
Sugestões para estudos futuros
Os resultados desta pesquisa poderão auxiliar, e servir de ponto de partida para,
o fomento do conhecimento nas áreas de marketing e comunicação.
Como sugestões para pesquisas futuras, indica-se:
o mesmo estudo dirigido a outros setores do mercado, tais como higiene
pessoal, higiene doméstica, cosméticos, alimentício, financeiro;
o mesmo estudo para as categorias de informática e telefonia celular;
a ampliação da extensão da pesquisa de campo entre empresas do setor
eletroeletrônico que produzem produtos para a população de baixa renda;
o estudo dos consumidores de eletroeletrônicos pertencentes às classes
populares a fim de traçar um comparativo entre as percepções
entrevistados desta pesquisa acerca desse público no que se refere aos
temas aqui abordados;
a elaboração da análise ambiental do mercado, a fim de apontar as
instituições, variáveis e situações que afetam a empresa, de forma positiva
ou negativa.
Finalizando, espera-se que esta pesquisa possa contribuir com o avanço do
conhecimento nas áreas de marketing e comunicação, e que os conceitos,
resultados e recomendações forneçam subsídios a pesquisadores e profissionais
para que tenham condições de compreender mais profundamente essa área do
conhecimento e de evoluir no tema de estratégias de marketing e comunicação
para produtos e mercados populares.
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fatores de redução de preços em bens de consumo duráveis, não-duráveis e
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277
APÊNDICES
Apêndice A – Roteiro da primeira fase da pesquisa de campo
Apêndice B – Questionário da segunda fase da pesquisa de campo
278
APÊNDICE A - Roteiro da entrevista qualitativa
O objetivo deste roteiro de entrevista é entender quais são os fatores relevantes
para o planejamento de marketing e comunicação das indústrias que produzem
produtos populares do setor eletroeletrônico; entender como esse planejamento é
embasado e verificar se há ferramentas para conhecer os consumidores de baixa
renda, seu público-alvo. Além disso, o roteiro pretende verificar qual das
configurações de negócio é preponderante para a entrada no mercado popular. A
seguir, apresenta-se o roteiro da entrevista qualitativa.
Início
Apresentação
Confiabilidade dos dados e justificativa do uso do gravador
Dados do entrevistado e da empresa
Nome:
Cargo:
Tempo na empresa:
Tempo na função:
Data da entrevista:
Local da entrevista:
Parte I – Planejamento de marketing e comunicação
1- Investigação sobre como se apresenta o planejamento de marketing para as
os produtos populares a fim de descobrir a importância dada a cada um dos
elementos do composto:
a. produto (design, inovação, tecnologia, embalagem, aspectos
práticos, serviços como garantia e assistência técnica)
b. preço (critérios para fixação do preço: análise marginal, custo,
concorrência, fatores tangíveis e intangíveis da empresa e mercado,
279
importância do preço versus qualidade, importância do crédito,
facilidade de pagamento)
c. distribuição (utilização de canais de distribuição diferenciados,
relevância da localização do ponto de venda para o setor )
d. porcentagem de investimentos em marketing direcionados a
produtos populares e não-populares
e. comunicação (especificação desse item a seguir)
f. ferramentas de análise que embasam o planejamento de marketing
2- Investigar como se dá o planejamento da comunicação:
a. Linguagem utilizada para se comunicar com o consumidor de baixa
renda (direta, conservadora, bem-humorada, promocional, com uso
de celebridades)
b. ferramentas mais utilizadas (propaganda, promoção de vendas,
relações públicas, vendas pessoais, comunicação direta)
c. porcentagem de investimentos em comunicação direcionados a
produtos populares e não populares
d. campanhas a cargo do varejo
e. mídias diferenciadas para atingir o público-alvo de baixa renda
f. pré-teste antes do lançamento das campanhas de propaganda
g. processo da comunicação com os stakeholders no que diz respeito
aos lançamentos e inovações dos produtos populares
h. ferramentas de análise que embasam o planejamento de
comunicação
Parte II – Conhecimento do público-alvo, o consumidor de baixa renda
1- Pesquisa sobre o comportamento do consumidor
2- Educação específica do cliente de baixa renda
280
3- Critérios para a escolha do produto (marca, agrado à família, facilidade de
uso, design, preço, promoção, status, inserção tecnológica, equilíbrio
qualidade x preço, durabilidade, outros)
4- Consumidores late adopters
5- Aumento, diminuição ou permanência da intenção de compra nos últimos dez
anos
6- Relevância da marca para produtos populares do setor (avaliação da
qualidade percebida das b-brands, das marcas próprias, e das marcas
premium; avaliação da diferença de preços entre a b-brand e a marca
premium; avaliação da lealdade à marca)
Parte III – Fatores de análise para o setor eletroeletrônico
1- Atratividade do mercado popular
1. Fatores de Mercado
Peso (0 a 1)
Tamanho atual ($, volume ou ambos)
Potencial ($, volume ou ambos)
Taxa de crescimento por ano (Ex: média dos três
últimos anos)
Disponibilidade e qualidade de canais de
distribuição
Vulnerabilidade a fatores externos
Potencial de compra dos segmentos principais
Sensibilidade em relação a preços
Poder de barganha dos fornecedores
Poder de barganha dos clientes
2. Concorrência
Peso (0 a 1)
Quantidade de concorrentes
Tipos de concorrência
Grau de concentração da distribuição
Concorrência informal e ilegal
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
Peso (0 a 1)
Política de preços
Margens de contribuição aplicáveis
Economias de escala e de experiência
Grau de necessidade de investimentos
Taxas de retorno de investimentos
Utilização da capacidade
Dependência de políticas econômicas
4. Fatores Tecnológicos
Peso (0 a 1)
Grau de complexidade
Grau de volatilidade
Patentes e royalties
Nível de diferenciação
Custo de pesquisa
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
Legislação e regulamentação governamentais
Influência de grupos de pressão (privados e/ou
governamentais)
281
Peso (0 a 1) Grau de aceitação pela opinião pública/
comunidade
Grau de compatibilidade com as atitudes,
comportamentos e tendências sociais
Adequação às culturas locais (dos mercados)
2- Posição dos produtos populares no mercado
1. Fatores de Mercado
Peso (0 a 1)
Participação do produto no mercado
Potencial da empresa para o produto
Taxa de crescimento do produto
Sinergia com os canais de outros produtos
Grau de vulnerabilidade da empresa em relação ao
produto
Compatibilidade com os segmentos de mercado de
outros produtos
Influência do preço em relação a outros produtos
Benefício que o negócio aufere em relação à
reputação da marca da empresa
Grau de aproveitamento do produto dentro do
composto promocional geral da empresa
2. Seu Produto e a
Concorrência
Peso (0 a 1)
Participação no mercado competitivo
Característica competitiva da empresa para esse
produto
Seu nível de concentração
Monitoramento da concorrência
Vulnerabilidade em relação à concorrência
3. Fatores Financeiros e
Econômicos
Peso (0 a 1)
Compatibilidade da política de preço do produto em
relação à política global da empresa
Margem de contribuição obtida com o produto
Sua escala e experiência com o produto
Necessidade de investimento para manter o
produto
Taxa de retorno do investimento no produto
Taxa de utilização do produto
4. Fatores Tecnológicos
Peso (0 a 1)
Compatibilidade do produto com a política
tecnológica da empresa
Capacidade de a empresa enfrentar mudanças em
função da volatilidade tecnológica do produto
Grau de proteção e de acesso a patentes e
royalties
Contribuição para a política geral de diferenciação
Capacidade de arcar com os custos de pesquisa
5. Fatores do Ambiente
Mercadológico
Peso (0 a 1)
Capacidade de adaptação e /ou enfrentamento
Habilidade e capacidade de negociação
Grau de aceitação pelos stakeholders e pela
comunidade
Compatibilidade com as atitudes e tendências
sociais relativas a outros produtos da empresa
Capacidade de adequação da empresa
Grau de dependência em relação a fornecedores
Grau de sujeição em relação a clientes
282
3- Modelo Avaliativo dos outputs
Outputs Empresa
X
Concorrente
A
Concorrente
B
Ideal/Novo
possível
entrante
I. Produto
Design
Embalagem
Garantia
Qualidade percebida
Assistência pós-venda
Tradição
Confiança
Status
Facilidade de uso
Eficácia
Outros
II. Preço
Valor
Condições de pagamento
Formas de pagamento
Descontos
Outros
III. Distribuição
Abrangência territorial
Número de vendedores
Qualidade de vendedores
Número de pontos de venda
Qualidade de pontos de venda
Rapidez na reposição
Qualidade da exposição
Adequação da estocagem
Eficácia na entrega
Informatização dos processos
Outros
IV. Comunicação
Publicidade
mídias
frequência
espaço/tempo
Promoção de vendas
interna
revendedores
consumidor final
Merchandising
reposição
decoração dos pdv
Relações Públicas
patrocínios
eventos
assessoria de imprensa
Site
forma
conteúdo
Padrão visual
Folhetarias
Sinalização da empresa
283
Veículos
Valor da Marca
Reputação da empresa
Outros
4- Identificação de fatores para a construção de uma marca sólida
FATORES PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA MARCA SÓLIDA
1- EMOCIONAL
Uma grande marca de sucesso deve estabelecer ligações emocionais com o
consumidor.
A construção da marca tende a se basear na emoção tanto para o público
interno quanto para o externo da organização.
2- FIDELIZAÇÃO
Não existe fidelidade a qualquer preço.
Envolver, cercar, manter relacionamento com os clientes-alvo.
3- LONGEVIDADE
Tem compromisso com a liderança a longo prazo.
Permanece relevante para o consumidor a longo prazo.
4- CONHECIMENTO SOBRE OS CLIENTES
Constantemente aprofundar o conhecimento da empresa sobre necessidades e
os desejos dos consumidores.
Entender o que a marca significa para os stakeholders.
Encontrar os pontos de ressonância.
É lembrada pelos consumidores potenciais.
5- INOVAÇÂO
A liderança pode ser conseguida por meio de novas tecnologias, novos
posicionamentos, novos canais de distribuição, novos segmentos de mercado.
A empresa deve ser capaz de reconhecer, avaliar, assimilar e executar novas
idéias.
Empresa faz atualização e renovação contínuas do produto ou serviço, para que
esses fiquem em dia com a tecnologia disponível.
6- RECURSOS HUMANOS
O processo de construção da marca deve-se iniciar com os funcionários da
organização para depois chegar aos clientes.
Importante realizar ações de marketing internas.
A equipe da marca deve dirigi-la, orientar a estratégia.
7- ASPECTOS PRÁTICOS DO PRODUTO
Avaliar a qualidade e o desempenho do produto para que sejam adequados ao
público-alvo.
A construção de marcas sólidas inclui a qualidade percebida pelo consumidor.
Os produtos precisam oferecer benefícios funcionais verdadeiros.
8- VALOR DA MARCA
A proposta de valor indica os benefícios funcionais, emocionais e de auto-
expressão que devem ser criados ou transmitidos.
Mostrar a qualidade superior em atributos que interessam ao cliente.
9 - IDENTIDADE DA MARCA
A identidade da marca deve ser conhecida, clara e guiar o desenvolvimento de
programas de comunicação ao longo do tempo.
O portfólio da marca é condizente com a sua identidade.
10- DIFERENCIAÇÃO
A diferenciação é o segredo de uma marca forte.
A marca forte possui benefícios fortes e é considerada diferente das demais
pelo público-alvo.
11- PREÇO
Os preços das marcas B são mais baixos.
As empresas precisam compreender a sensibilidade o preço de seus clientes
atuais e potenciais.
Política de preço é condizente com a estratégia estabelecida para a marca e
baseada na percepção de valor dos consumidores.
284
12 – COMUNICAÇÂO
As marcas precisam de outros recursos além da propaganda para ser
construídas, de várias formas de comunicação integrada.
Patrocínios, endossos, lojas carro-chefe, eventos locais podem ser utilizados
com sucesso.
A propaganda é importante para a manutenção das marcas.
As marcas precisam gerar mídia espontânea por meio de relações públicas.
Visibilidade, associações de marca, relacionamentos com os clientes podem ser
fortalecidos com propaganda e relações públicas.
Parte IV - Estratégia de negócios
1- Escolha da configuração de negócios para a entrada no mercado popular
(concentração em um negócio, joint venture, retração, integração horizontal,
integração vertical, diversificação, inovação, desinvestimento, liquidação do
negócio, parceria, internacionalização).
2- Vantagem competitiva com baixo custo ou diferenciação
3- Forma de expansão da linha de produtos
4- Manutenção do nome dos produtos em todas as linhas
Final
Agradecimento pela participação
285
APÊNDICE B – Questionário da segunda fase da pesquisa de campo
Pesquisa Estratégias de Comunicação e Marketing para produtos
eletroeletrônicos populares
Conforme contato anterior, esta pesquisa visa a propor às empresas do setor eletroeletrônico um
modelo de análise adequado ao segmento de produtos populares, procurando ajudá-las no
embasamento de suas estratégias de marketing e comunicação para o atendimento de um novo
mercado, o de baixa renda. Está sob a responsabilidade da Professora Doutoranda Evange Elias
Assis (Universidade de São Paulo, Brasil), com a orientação do Professor Livre-Docente Mitsuru
Higuchi Yanaze, da mesma universidade.
Procuraremos identificar quais são as estratégias de marketing e comunicação predominantes
para as empresas do setor eletroeletrônico que fabricam produtos populares e se elas embasam
seu planejamento de marketing e comunicação em modelos de análise do tipo BCG, GE e SWOT
ou em outras ferramentas.
Ficamos à disposição para esclarecimentos de eventuais dúvidas ou fornecimento de informações
adicionais por meio dos emails [email protected]
ou [email protected] e antecipadamente
agradecemos sua participação.
Profa. Evange Elias Assis
Doutoranda em Ciências da Comunicação – ECA/USP
Professora da FEA- PUC/SP
Prof. Dr. Mitsuru Higuchi Yanaze
Professor Doutor da ECA/USP
Orientador da Pesquisa
286
Por favor, responda a TODAS as perguntas, ASSINALANDO A SUA RESPOSTA EM NEGRITO.
Ao finalizar as respostas, salve e envie este documento para o email evange.elias@uol.com.br
,
solicitando a confirmação do recebimento.
P1. A empresa que o(a) senhor(a) representa fabrica produtos populares?
1
Sim
2
Não
P2. Os produtos que a sua empresa fabrica alcançam o público de baixa renda (classes C, D ou
E)?
1
Sim
2
Não Î ENCERRE. Por favor, não preencha as próximas questões.
P3. Quais segmentos de produtos populares a sua empresa fabrica? (Caso necessário, aponte
mais de um segmento)
1
Linha branca
2
Linha marrom
3
Portáteis
4
Informática
5
Telefones Celulares
6
Outros. Quais? _______________________
PLANEJAMENTO DE MARKETING
P4. Em qual destes aspectos se concentra o planejamento de marketing da sua empresa para os
produtos populares? (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
1
Produto
2
Preço
3
Distribuição
4
Comunicação
5
Análise de mercado
6
Outros. Quais? _______________________
P5. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha se preocupa em diferenciar os produtos populares
que desenvolve quanto ao: (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
1
Design
2
Embalagem
3
Inovação
4
Tecnologia
5
Praticidade
6
Assistência técnica
7
Outros. Quais? _______________________________________
8
Não há diferenciação
287
P6. Quais são os critérios que a sua empresa utiliza para a fixação do preço de produtos
populares? (Caso necessário, aponte mais de um critério)
1
Margem/rentabilidade
2
Custo
3
Preço da concorrência
4
Imagem de marca versus concorrência
5
Percepção de qualidade versus concorrência
6
Pesquisa de elasticidade de preço
7
Renda
8
Condições de financiamento
9
Outros. Quais? _______________________________________
P7. E quanto à distribuição de produtos populares? A sua empresa utiliza canais diferenciados?
1
Sim. Quais? _______________________
2
Não
P8. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha faz planejamento de marketing específico para
produtos populares?
1
Sim
2
Não
P9. Qual a porcentagem de investimento da sua empresa em marketing e comunicação dos
produtos populares com relação ao faturamento bruto?
1
Até 2%
2
De 3% a 5%
3
De 6% a 10%
4
De 11% a 20%
5
Mais de 20%
6
Não há porcentagem definida
P10. Que tipos de ferramentas de análise são utilizadas na sua empresa para embasar o
planejamento de marketing e comunicação dos produtos populares? (Caso necessário, aponte
mais de uma ferramenta)
1 Análise SWOT
2 Matriz BCG
3 Multifatorial GE
4 Pesquisas de Mercado
5 Outras. Quais? _______________________
288
PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO
P11. O(a) senhor(a) afirmaria que a linguagem utilizada na comunicação da sua empresa com o
consumidor de baixa renda é: (Caso necessário, aponte mais de um aspecto)
1
Direta
2
Conservadora
3
Bem-humorada
4
Promocional
5
Com uso de celebridades
6
Testemunhal
7
Outras. Quais? _______________________
8
Não há linguagem específica
P12. Na sua empresa, quais as técnicas utilizadas para se comunicar com o consumidor de baixa
renda? (Caso necessário, aponte mais de uma técnica)
1 Propaganda
2 Promoção de vendas
3 Relações Públicas ou Assessoria de Imprensa
4 Eventos
5 Vendas pessoais
6 Comunicação direta
7 Outras. Quais? _______________________
8 Não há técnicas específicas
CONHECIMENTO DO CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA
P13. A empresa em que o(a) senhor(a) trabalha realiza pesquisa de mercado para conhecer o
comportamento do consumidor de baixa renda?
1
Sim
2
Não
P14. Quais dos critérios abaixo são relevantes para a escolha de eletroeletrônicos, segundo o
consumidor de baixa renda? (Caso necessário, aponte mais de um critério)
1
Marca
2
Preço
3
Qualidade
4
Design
5
Inovação
6
Inserção tecnológica
7
Facilidade de uso
8
Promoção
289
9
Status
10
Facilidade de pagamento
11
Outros. Quais? _________________
P15. O(a) senhor(a) diria que os compradores de produtos populares são consumidores late
adopters?
1
Sim Por quê? _______________________
2
Não Por quê? _______________________
P16. Para o(a) senhor(a), a venda de produtos populares da sua empresa para o consumidor de
baixa renda, nos últimos dez anos:
1
Aumentou
2
Diminuiu
3
Permaneceu constante
4
Não sei informar
P17. O(a) sr(a) diria que, nos próximos 10 anos, a participação do consumidor de baixa renda nos
negócios de sua empresa:
1
Aumentará
2
Diminuirá
3
Permanecerá constante
4
Não sei informar
P18. Quanto à relevância da marca para os consumidores de baixa renda dos produtos populares
do setor eletroeletrônico, o(a) senhor(a) diria que é:
1
Extremamente relevante
2
Muito relevante
3
Relevante
4
Pouco relevante
5
Nada relevante
6
Não sei informar
P19. Quanto à fidelidade à marca, o(a) senhor(a) diria que o consumidor de baixa renda é:
1
Muito fiel
2
Fiel
3
Indiferente
4
Pouco fiel
5
Nada fiel
290
FATORES DE ANÁLISE PARA O SETOR ELETROELETRÔNICO
P20. Por favor, assinale o grau de importância que cada fator abaixo influencia na atuação da
sua empresa no mercado popular.
Muito
importante
Importante
Pouco
importante
Nada
importante
Indiferente
Fatores de mercado
(tamanho,
vulnerabilidade)
Concorrência
(quantidade, tipos)
Fatores financeiros e
econômicos (ROI,
política de preços,
dependência de
políticas econômicas)
Fatores tecnológicos
(grau de complexidade
e diferenciação,
patentes, pesquisa)
Fatores do ambiente
mercadológico
(legislação, opinião
pública, tendências
sociais)
P21. E quanto à posição dos produtos populares no mercado? Qual o grau de importância de
cada fator abaixo quanto à posição dos produtos populares da sua empresa no mercado?
Muito
importante
Importante
Pouco
importante
Nada
importante
Indiferente
Fatores de mercado
(participação e, taxa de
crescimento,sinergia com
os canais de outros
produtos)
Seu produto e a
concorrência (nível de
concentração,
monitoramento,
vulnerabilidade)
Fatores financeiros e
econômicos (ROI,
necessidade de
investimento, taxa de
utilização do produto)
Fatores tecnológicos
(grau de proteção e de
291
acesso a patentes e
royalties, diferenciação,
custos de pesquisa)
Fatores do ambiente
mercadológico
(capacidade de
negociação,
compatibilidade com
tendências sociais,
relacionamento com
stakeholders)
P22. A sua empresa utiliza algum modelo para autoavaliação de produto, preço, distribuição e
comunicação?
Sim. Qual?
Não
Produto
________________________________________
Preço
________________________________________
Distribuição
________________________________________
Comunicação
________________________________________
P23. A sua empresa utiliza algum modelo para a avaliação dos principais concorrentes no que se
refere a produto, preço, distribuição e comunicação?
Sim. Qual?
Não
Produto
________________________________________
Preço
________________________________________
Distribuição
________________________________________
Comunicação
________________________________________
P24. A sua empresa utiliza algum processo de gestão de marca dos produtos populares?
1
Sim. Por quê? _______________________
2
Não. Por quê? _______________________
P25. Por favor, entre os fatores abaixo, qual é o mais importante no processo de construção de
marca dos produtos populares? Classifique de acordo com a ordem de importância, sendo: 1,
mais importante, e 12, o menos importante.
Fatores para a construção de uma marca sólida
Classificação
1- Emocional
2- Fidelização
3- Longevidade da marca
4- Conhecimento dos consumidores
5- Inovação
6- Recursos humanos
7- Aspectos práticos do produto
292
8- Valor da marca
9 - Identidade da marca
10- Diferenciação
11- Preço
12 – Comunicação
ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS
P26. Qual a configuração de negócio que a sua empresa adotou para atuar no mercado popular?
1
Concentração em um negócio
2
Joint venture
3
Integração horizontal
4
Integração vertical
5
Diversificação
6
Inovação
7
Parceria
8
Internacionalização
9
Outra. Qual? _________________
P27. Que tipo de vantagem competitiva sua empresa procurou adotar como estratégia de negócio
para atuar no mercado popular?
1
Baixo custo
2
Diferenciação
3
Outra. Qual? _________________
PERFIL DO RESPONDENTE
Gostaríamos de saber um pouco sobre o(a) senhor(a).
P28. Sexo:
1 Masculino
2 Feminino
P29. Qual é a sua idade?
_______ anos
293
P30. Qual é o seu cargo?
____________ cargo
P31. Há quanto tempo está neste cargo?
_______ anos
P32. Há quanto tempo está na empresa?
_______ anos
P33. Qual o nome da empresa que o(a) senhor(a) representa?
___________________________ empresa
AGRADECEMOS A SUA PARTICIPAÇÃO.
FAVOR ENVIAR O QUESTIONÁRIO PREENCHIDO PARA:
Evange Elias Assis
Doutoranda em Ciências da Comunicação – ECA/USP
294
ANEXOS
Anexo A – Critério de Classificação Econômica Brasil..................................
Anexo B – Metodologia da Pesquisa BCG Consulting...................................
Anexo C – Metodologia da pesquisa Ibope Solution/ Editora Abril................
Anexo D – Metodologia da Pesquisa Latin Panel...........................................
Anexo E – Metodologia da Pesquisa Booz Allen Hamilton
295
ANEXO A – Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB)
O sistema de pontos do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB)
vigente é formado pela soma de pontos baseada no grau de instrução do chefe
da família e itens de posse no lar, como segue nas tabelas 61 e 62:
Tabela 61 - Posse de itens
Itens / Quantidade de itens
0 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores 0 1 2 3 4
Rádio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 4 5 6 7
Automóvel 0 4 7 9 9
Empregada mensalista 0 3 4 4 4
Máquina de lavar roupa 0 2 2 2 2
Videocassete/DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 4 4 4 4
Freezer (independente
ou parte da geladeira
dúplex)
0 2 2 2 2
Tabela 62 - Grau de instrução do chefe da família
Analfabeto/até a 3ª. série
fundamental
0
Até a 4ª. Série Fundamental 1
Fundamental Completo 2
Médio Completo 4
Superior Completo 8
Somando-se os pontos acima, enquadra-se cada pessoa numa das classes
econômicas da tabela 1, mostrada novamente abaixo. Como exemplo, pode-se
296
considerar a pessoa “X” que tenha em sua casa 1 TV colorida (1 ponto), 2 rádios
(2 pontos), 1 banheiro (4 pontos), 1 automóvel (4 pontos), 1 máquina de lavar (2
pontos), 1 DVD (2 pontos) e 1 geladeira (2 pontos) e que o chefe dessa família
não tenha terminado ainda o curso superior (4 pontos). O total de pontos da
pessoa “X” é, então, 21. Isso a classifica como pertencente à classe C1, de
acordo com o CCEB vigente.
Tabela 1 - Distribuição da população brasileira por classes econômicas - CCEB
CLASSE CRITÉRIO
2008
PONTOS RENDA MÉDIA FAMILIAR
(valor bruto em
R$)
A1 0,6% 42 a 46 14.366
A2 4,4% 35 a 41 8.099
B1 9,1% 29 a 34 4.558
B2 18% 23 a 28 2.327
C1 24,5% 18 a 22 1.391
C2 23,9% 14 a 17 933
D 17,9% 8 a 13 618
E 1,6% 0 a 7 403
Fonte: ABEP (2010) / Dados com base no Levantamento Socioeconômico – 2008 – IBOPE.
O novo Critério Padrão de Classificação Econômica Brasil – 2008
O novo critério segue a mesma metodologia utilizada para o critério de 1997, e
emprega os dados do Levantamento Socioeconômico 2008, cedidos pelo Ibope
Mídia. Entrou em vigor em janeiro de 2008.
Embora a renda tenha sido usada como um parâmetro de avaliação das
variáveis, e da sua pontuação, não se trata de um critério de renda, segundo a
ABEP. Há pessoas de mesma renda em classes diferentes e há famílias de
mesma classe com rendas diferentes.
297
ANEXO B – Metodologia da Pesquisa BCG Consulting
As pesquisas foram conduzidas em duas etapas:
1) Qualitativa: o questionário aplicado na quantitativa foi validado em seis
sessões qualitativas de discussão, compostas por grupos de donas de casa
entre 25 e 45 anos e grupos de homens entre 25 e 45 anos, em São Paulo e
Recife, todos pertencentes à classe C pelo Critério Brasil.
2) Quantitativa: 1.685 pessoas, dos mercados de Recife, Belo Horizonte, São
Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Santos e Porto Alegre, de idade entre 18 a
65 anos, todos pertencentes à classe C pelo Critério Brasil.
O perfil do mercado foi traçado com base em entrevistas em profundidade com
três empresas globais fabricantes de bens de consumo, seis fabricantes locais
(b-brands) e três varejistas, canais de venda direcionados para a classe C. As
categorias de produtos analisadas foram higiene pessoal, produtos de limpeza
e alimentos.
298
ANEXO C – Metodologia da Pesquisa Ibope Solution/ Editora Abril
As pesquisas foram conduzidas em duas fases:
1) Qualitativa: entrevistas pessoais em profundidade com roteiro pré-definido
utilizando a técnica de laddering (escalada), instrumental que permite
aprofundar os temas de interesse na vida das entrevistadas na medida em que
levanta as recompensas emocionais e os valores envolvidos em sua relação
com os temas. Foram entrevistadas 50 mulheres das cidades de São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.
2) Quantitativa: entrevistas pessoais, individuais e domiciliares, baseadas em
questionário estruturado, composto de perguntas abertas e fechadas. A
amostra foi constituída de 3.000 mulheres, das nove principais regiões
metropolitanas do País: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife,
Fortaleza, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.
Universo: mulheres de 18 a 49 anos, pertencentes à classe C, segundo o
Critério Brasil.
Segmentação: as atitudes e os valores das mulheres de classe C foram
medidos por meio de escalas de concordância de sete pontos (7=concorda
totalmente e 1=discorda totalmente), com relação a 132 frases colhidas e
selecionadas entre mais de 1.000 na fase qualitativa.
Potencial de mobilidade social: de acordo com o Ibope Solution, o índice de
Potencial de Mobilidade Social é um número associado a cada entrevistada,
conforme as atitudes que levam a comportamentos que podem contribuir para
a ascensão social (escolaridade, autoconfiança, crença na capacidade de
mudança, otimismo etc.) ou que revelam uma história recente de mobilidade
positiva (“a vida hoje está melhor do que ontem”). O índice é uma medida
atitudinal e, como tal, não pode prever uma efetiva ascensão social.
299
ANEXO D – Metodologia da Pesquisa Latin Panel
O Instituto Latin Panel (empresa dos grupos Ibope, Taylor Nelson Sofres e
NPD) analisou o consumo no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Foram avaliadas 70 categorias de produtos das cestas de alimentos,
bebidas e higiene pessoal. O foco consistiu nas mudanças ocorridas no padrão
de vida, principalmente da classes D e E.
A pesquisa foi baseada na cesta semanal de compras de 8.200 famílias, nos
anos de 2002 a 2006, e a amostra corresponde a 82% da população domiciliar
do País e a 91% do potencial de consumo do mercado local.
300
ANEXO E – Metodologia da Pesquisa Booz Allen Hamilton
Este estudo foi realizado no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e
México. A avaliação se concentrou nos produtos que respondem pela maior
parte do gasto diário dos consumidores considerados emergentes.
Foram organizados quatro grupos de discussão por país, formados por
mulheres pertencentes a um nível socioeconômico médio-baixo (classes C e
D).
A pesquisa de campo incluiu 217 auditorias em lojas e 190 entrevistas
detalhadas com pequenos varejistas, além de outras com distribuidores e
profissionais do setor tributário. Baseou-se, ainda, em documentos fornecidos
pela A.C. Nielsen e por associações de varejistas como a Associação
Brasileira de Supermercados (ABRAS), no Brasil, e a Asociación Nacional de
Tiendas de Autoservicio y Departamentales (Antad), no México.
O estudo foi encomendado à consultoria Booz Allen Hamilton pelo conselho de
varejistas da Coca-Cola na América Latina.
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