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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA:
A AUTONOMIA COMO POSSIBILIDADE
Salvador
2010
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NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA:
A AUTONOMIA COMO POSSIBILIDADE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação, Faculdade de Educação,
Universidade Federal da Bahia, como requisito
parcial para obtenção do grau de Doutora em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Nelson De Luca Pretto
Salvador
2010
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UFBA / Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira
R493 Riccio, Nicia Cristina Rocha.
Ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA : a autonomia como
possibilidade / Nicia Cristina Rocha Riccio. – 2010.
363 f : il.
Orientador: Prof. Dr. Nelson De Luca Pretto.
Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Educação, Salvador, 2010.
1. Realidade virtual no ensino superior. 2. Ensino superior – Recursos de
rede de computador. 3. Autonomia. 4. Ensino à distância. 5. Professores –
Formação. I. Pretto, Nelson De Luca. II. Universidade Federal da Bahia.
Faculdade de Educação. III. Título.
CDD 378.002854678 – 22. ed..
iv
NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA:
A AUTONOMIA COMO POSSIBILIDADE
Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Educação,
Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.
Aprovada em 16 de agosto de 2010.
Banca Examinadora
Nelson De Luca Pretto – Orientador ______________________________________________________
Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, Brasil (1994)
Universidade Federal da Bahia
Maria Roseli de Sá ___________________________________________________________________
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Brasil (2004)
Universidade Federal da Bahia
Teresinha Fróes Burnham ______________________________________________________________
Doutora em Filosofia pela University of Southampton, Inglaterra (1983)
Universidade Federal da Bahia
Andréa Brandão Lapa _________________________________________________________________
Doutora em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil (2005)
Universidade Federal de Santa Catarina
Edemilson Jorge Ramos Brandão ________________________________________________________
Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia Salesiana, Itália (1993)
Universidade de Passo Fundo
Lynn Rosalina Alves __________________________________________________________________
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Brasil (2004)
Universidade do Estado da Bahia
Salvador, 16 de agosto de 2010.
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Aos meus queridos anjos,
Victor e Gabriel
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AGRADECIMENTOS
À UFBA, por possibilitar a minha formação em nível de doutorado.
À Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia, pelo apoio a este trabalho através do projeto de
pesquisa “Ambientes Virtuais de Aprendizagem: o desafio da formação on-line na UFBA”
aprovado sob o nº 9066/2007, no Edital 05/2007, coordenado por Teresinha Fróes Burnham.
Ao professor Nelson Pretto, pela oportunidade, leitura crítica e confiança no desenvolvimento
deste trabalho.
A todos da comunidade FACED, docentes, técnicos e alunos, que de alguma forma
contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.
Aos participantes dos casos de estudo, pela sua disponibilidade para contribuir com suas
reflexões para esta pesquisa.
Aos participantes da banca de qualificação, pelas importantes contribuições.
À REDPECT, onde aprendi o que significava um grupo de pesquisa.
A Teresinha, pela sabedoria, respeito e ética característicos de sua atuação como docente e
como gente, e por ter me ajudado a compreender o verdadeiro sentido de ser autônomo.
A Edméa, pelo carinho e pelas importantes contribuições para o fechamento deste trabalho.
Ao GEC, pelos momentos de formação, alegria e colaboração. Em especial a: Socorro, pela
sua alegria e pela amizade e saberes que construímos juntas; minha querida Sule, que aprendi
a respeitar pela sua sincera amizade e responsabilidade; e Bonilla, pela competência e pelo
carinho.
Aos colegas do CPD, parceiros de longas datas, em especial a Aninha e Ilma, queridas
amigas.
Aos parceiros e cúmplices, Gabriela e José Carlos, pelas trocas e desabafos, sorrisos e
gargalhadas durante este maravilhoso e estressante período de formação. E a Lídia, que se
juntou ao nosso trio agregando sagacidade e alegria.
Aos amigos, parentes e agregados que torceram por mim.
A Tânia, pela pessoa especial que é e pelos cuidados com a minha família.
A Silvinha, minha irmã-amiga e a Tatiana, minha amiga-irmã, pelos inúmeros momentos de
apoio emocional e de compartilhamento de alegrias e tristezas.
Aos meus pais, Carmem e Nelson, pelo amor incondicional, pelo apoio constante, cada um ao
seu modo, e por vivenciarem comigo as angústias e as conquistas de todo esse longo processo.
A Adolfo, pela paciência e suporte nos momentos mais críticos, por sempre acreditar na
minha competência e por assumir diversas atividades nas minhas ausências, em especial os
cuidados carinhosos com Gabriel.
A Deus, ao cosmos e aos anjos que me acompanham, Victor e Gabriel, por me amarem e
darem sentido a toda a minha vida.
viii
Como vale a pena agora viver!
Em vez da monótona labuta de procurar peixe junto dos barcos de pesca,
temos uma razão para estar vivos!
Podemos subtrair-nos à ignorância,
podemos encontrar-nos como criaturas excelentes,
inteligentes e hábeis.
Podemos ser livres!
Podemos aprender a voar!
Richard Bach
ix
RICCIO, Nicia Cristina Rocha. Ambientes Virtuais de Aprendizagem na UFBA: a
autonomia como possibilidade. 348f. 2010. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
RESUMO
Esta é uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de casos múltiplos, que visa a compreender a
implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na Universidade Federal da Bahia numa
perspectiva de autonomia. Para tal, inicialmente buscou-se a compreensão das conexões entre
cibercultura cultura que caracteriza a sociedade contemporânea e autonomia; esta última
compreendida como o assumir-se a si próprio como sujeito de sua história, sempre na
dependência do meio social e, portanto, dependente também da autonomia coletiva, que a
ausência desta limitaria a autonomia individual. A relação da autonomia, assim
compreendida, com a cibercultura é estabelecida pelo potencial de autoria e colaboração
fomentado pela presença das tecnologias de informação e comunicação de base telemática,
compreendidas como estruturantes do agir e do pensar na sociedade contemporânea. À
educação, neste contexto, mediada por essas tecnologias, são incorporadas possibilidades de
autoria e de construção colaborativa, e uma proposta pedagógica pautada na dialogicidade é
identificada como uma opção coerente com as características da cibercultura; os ambientes
virtuais de aprendizagem, dispositivos amplamente utilizados na educação mediada pelas
tecnologias de informação e comunicação, em especial na educação a distância, são
compreendidos como espaços multirreferenciais de aprendizagem onde são fomentadas a
interação, a autoria e a colaboração. A partir desta perspectiva teórica, construiu-se um
histórico da educação a distância e da utilização de ambientes virtuais de aprendizagem na
Universidade Federal da Bahia; essa construção revelou que a instituição apresenta uma série
de iniciativas isoladas em educação a distância ou educação mediada pelas tecnologias, e que
não possui políticas institucionais que definam diretrizes para essas ações ou que as apoie ou
fomente. No estudo de casos múltiplos, quatro casos de utilização do ambiente virtual Moodle
foram analisados na busca de identificar elementos que caracterizassem a construção da
autonomia no contexto das práticas educacionais nestes ambientes na instituição. Esta análise
revelou que a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na Universidade Federal da
Bahia numa perspectiva de autonomia tem se dado parcial e pontualmente, e de forma
relacionada a seis aspectos fundamentais que a condicionam: (1) a compreensão da autonomia
de uma maneira ampliada, para além do individualismo e do autodidatismo; (2) uma
concepção de educação como um processo dialógico pautado na construção e não na
reprodução do conhecimento, aliada a um entendimento do potencial comunicacional dos
ambientes virtuais de aprendizagem; (3) a imersão na cibercultura e a apropriação de seus
aspectos fundamentais, tendo os ambientes virtuais como espaços de colaboração e autoria;
(4) uma visão profissional da docência superior que leve à construção de propostas formativas
para a docência superior, atentando para a contribuição da perspectiva da experiência on-line
como formação; (5) a integração dos sujeitos que atuam na pesquisa e na prática sobre/nos
ambientes virtuais de aprendizagem; (6) a definição de políticas institucionais para a
Educação em ambientes virtuais de aprendizagem que sejam concebidas de forma coletiva e
que contemplem os cinco aspectos anteriores.
Palavras-chave: Ambientes virtuais de aprendizagem. Autonomia. Tecnologias de
informação de comunicação. Educação a distância.
x
RICCIO, Nicia Cristina Rocha. Virtual learning environment at UFBA: autonomy as a
possibility. 348p. 2010. Thesis (Doctor Degree in Education) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
ABSTRACT
This is a qualitative study, involving multiple case studies, which aims to understand the
deployment of virtual learning environments at the Federal University of Bahia from the
perspective of autonomy. For such, initially it was sought to understand the connections
between cyberculture culture that characterizes the contemporary society and autonomy;
this last one understood as assuming yourself as subject of your own history, always in
dependence of the social environment and, therefore, also dependent of the collective
autonomy, since the absence of this would limit the individual autonomy. The relationship of
autonomy, so understood, with the cyberculture is established by the potential of authorship
and collaboration fostered by the presence of information and communication technology
based on telematics, understood as structuring forces of acting and thinking in the
contemporary society. In education, in this context, mediated by these technologies,
authorship and collaborative construction possibilities are incorporated, and an educational
project based on the dialogical interaction is identified as an option consistent with the
characteristics of cyberculture; the virtual learning environments, devices widely used in
education mediated by information and communication technologies, especially in distance
education, are understood as multireferential learning spaces where the interaction with the
authorship and collaboration are encouraged. From this theoretical perspective, a history of
distance education and usage of virtual learning environments at the Federal University of
Bahia was built; this work revealed that the institution presents a series of isolated initiatives
in distance education or technology-mediated education and no institutional policies that set
guidelines for these actions, let alone policies to support or promote them. In the study of
multiple cases, four cases of Moodle virtual environment’s use were analyzed in order to
identify elements that characterize the construction of autonomy in the context of educational
practices in these environments at the institution. This analysis revealed that the deployment
of virtual learning environments at the Federal University of Bahia in the perspective of
autonomy has occurred in a partial and ad hoc way, related to six key aspects that condition:
(1) the understanding of autonomy in a way extended beyond the individualism and self-
study; (2) a conception of education as a dialogical process guided by the construction and not
the reproduction of knowledge, combined with an understanding of potential communication
environments virtual learning; (3) immersion in cyberspace, and ownership of it’s key
aspects, having virtual environments as spaces for collaboration and authorship; (4) a
professional vision of teaching that would lead to the development of formative proposals for
teaching higher, paying attention to the contribution of the perspective of the on-line
experience as training; (5) the integration of individuals who research and practice on / in
virtual learning environments; (6) the definition of institutional policies on education in
virtual environments learning which are designed collectively in a way that address the five
issues above.
Keywords: Virtual learning environment. Autonomy. Information and comunication technology.
Distance education.
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABED Associação Brasileira de Educação a Distância
ABRAHUE Associação Brasileira de Hospitais Universitários
ANPEd Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação
ARPA Advanced Research Project Agency
ARPANET Advanced Research Project Agency Network
AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem
BBS Bulletim Board Systems
BV Biblioteca Virtual
BVEAD Biblioteca Virtual de Educação a Distância
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEAD Comissão Institucional de EAD (UFBA)
CEAO Centro de Estudos Afro-Orientais (UFBA)
CECIERJ Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de
Janeiro
CEDERJ Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
CEDIST Curso de Especialização em Saúde e Segurança no Trabalho (UFBA)
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia
CERN Centre Européen poour Recherche Nucleaire
CIAGS Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (UFBA)
CIBERPESQUISA Centro Internacional de Estudos e Pesquisa em Cibercultura (UFBA)
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONDER Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
CONSEPE O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
COSEMS Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia
CPD Centro de Processamento de Dados (UFBA)
CTR Computing-Tabulating-Recording
DEC Digital Equipment Company
DED Diretoria de Educação a Distância (CAPES)
DESG Disciplina Educação Sexualidade e Gênero (UFBA)
DMMDC Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do
Conhecimento (UFBA)
DOU Diário Oficial da União
EAD Educação a Distância
EAU Escola de Administração (UFBA)
EESP Escola Estadual de Saúde Pública do Estado da Bahia
xii
E-MAIL Electronic mail
ENF Escola de Enfermagem (UFBA)
FACED Faculdade de Educação (UFBA)
FACOM Faculdade de Comunicação (UFBA)
FIEB Federação das Indústrias do Estado da Bahia
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
GEC Grupo de Pesquisa em Educação, Comunicação e Tecnologia (UFBA)
GPL General Public License
GRAVI Grupo de Administradores Voluntários da Rede de Informática (UFBA)
GT Grupo de Trabalho
GTEADES Grupo de Trabalho de Educação a Distância para a Educação Superior
HTML HyperText Markup Language
HTTP Hypertext Transfer Propocol
HUPES Complexo Hospital Universitário Professor Edgard Santos (UFBA)
IBICT Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IBM International Busines Machine
ICCTI Instituto de Cooperação Científica e Técnica Internacional
ICDE International Council For Open and Distance Education
ICI Instituto de Ciência da Informação (UFBA)
IFBA Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia
IHAC Instituto de Humanidades, Artes e Ciência (UFBA)
IM Instituto de Matemática (UFBA)
IMPA Instituto de Matemática Pura e Aplicada
INTERNET Interconnected Networks
IP Internet Protocol
ISC Instituto de Saúde Coletiva da UFBA
ISP Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (UFBA)
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LED Laboratório de Educação a Distância do IM (UFBA)
LIBRAS Língua Brasileira de Sinais
LMD Licenciatura em Matemática a Distância (UFBA)
LMS Learning Management System
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia
MEC Ministério da Educação
MILNET Militar Network
MIT Massachusetts Institute of Technology
xiii
MOODLE Modular Object Oriented Learning System
MULTGRAF Laboratório de Multimeios na Expressão Gráfica (UFBA)
NAVE Núcleo de Avaliação Educacional do ISP (UFBA)
NCP Network Control Protocol
NCSA National Center of Supercomputer Application
NEAD Núcleo de EAD (UFBA)
NEPEC Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Currículo, Comunicação e Cultura
(UFBA)
NSF Nacional Science Foundation
NSFNET Nacional Science Foundation Network
PAF-3 Pavilhão de Aulas de Ondina 3
PAR Plano de Ações Articuladas do MEC
PC Personal Computer
POP-BA Ponto de Presença da RNP na Bahia
PPGE Programa de Pós-graduação em Educação da FACED (UFBA)
PRODEP Pró-reitoria de Desenvolvimento de Pessoas
PROEXT Pró-reitoria de Extensão (UFBA)
PROGED Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica (UFBA)
PROGRAD Pró-reitoria de Graduação (UFBA)
PROINFO Programa Nacional de Tecnologia Educacional
PROPLAD Pró-reitoria de Planejamento (UFBA)
PROSSIGA Programa de Informação para Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação
PRPPG Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (UFBA)
REDE Rede Nacional de Formação Continuada de Professores (MEC)
REDPECT Rede Cooperativa de Pesquisa e Intervenção em (In)formação, Currículo e
Trabalho (UFBA)
REMA Projeto da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de Salvador
RNP Rede Nacional de Pesquisa
RUTE Rede Universitária de Telemedicina
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SEB Secretaria de Educação Básica do MEC
SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC
SEED Secretaria de Educação a Distância do MEC
SEIF Secretária de Educação Infantil e Fundamental do MEC
SEPLANTEC Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia
SESAB Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
SESI Serviço Social da Indústria
xiv
SL Software livre
TCP Transmission Control Protocol
TIC Tecnologia de Informação e Comunicação de base telemática
UAB Sistema Universidade Aberta do Brasil
UCSal Universidade Católica do Salvador
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UESC Universidade Estadual de santa Cruz
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
UNEB Universidade do Estado da Bahia
UNED Universidad Nacional de Educación a Distancia (Espanha)
URL Uniform Resource Locator
WWW World Wide Web
xv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Síntese da oferta do Curso de Tutores....................................................................160
Tabela 2: Fóruns e número de mensagens e tópicos no Curso Moodle 2007. .......................192
Tabela 3: Síntese das postagens nos fóruns do Curso Moodle 2008......................................212
xvi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Nomenclatura utilizada para os sujeitos da pesquisa. ...........................................185
Quadro 2: Modelo Conceitual – Elementos essenciais da formação crítica do sujeito (LAPA,
2005, p.142)............................................................................................................................262
xvii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Representação esquemática – Educação e TIC.........................................................87
Figura 2: Número de sites Moodle registrados na comunidade moodle.org..........................117
Figura 3: Opções de designar funções localmente e de sobrepor permissões........................120
Figura 4: Opções de formato na configuração de cursos no Moodle. ....................................121
Figura 5: Acrescentando recursos e atividades no Moodle. ...................................................122
Figura 6: Configurando um fórum no Moodle. ......................................................................124
Figura 7: Acesso a sessões encerradas de chat.......................................................................126
Figura 8: Estrutura semanal e sequencial do Curso Moodle 2007. ........................................190
Figura 9: Exemplo da estrutura dos tópicos no Curso Moodle 2007. ....................................191
Figura 10: Gráfico de acesso dos participantes no Curso Moodle 2007. ...............................193
Figura 11: Pesquisa de Avaliação do Curso Moodle..............................................................194
Figura 12: Sumário das respostas à pesquisa de avaliação do Curso Moodle 2007...............194
Figura 13: Estrutura do Curso Moodle 2008..........................................................................210
Figura 14: Sumário da Pesquisa de avaliação do Curso Moodle 2008. .................................214
Figura 15: Espaço da DESG no início do semestre................................................................223
Figura 16: Espaço da DESG no final do semestre..................................................................223
Figura 17: Disposição principal dos tópicos no espaço da DESG no Moodle.......................225
Figura 18: Exemplo do funcionamento da rede UAB e suas articulações. ............................233
Figura 19: LMD – Espaço principal do curso. .......................................................................240
Figura 20: LMD – Espaço de interação na página principal do curso. ..................................241
Figura 21: LMD – Introdução às Tecnologias de Informação. ..............................................241
Figura 22: LMD – Pré-cálculo: estrutura geral. .....................................................................242
Figura 23: LMD – Geometria: organização semanal. ............................................................243
Figura 24: LMD – Pré-calculo: organização semanal............................................................243
Figura 25: LMD – Matemática Discreta: organização por temas. .........................................244
Figura 26: LMD – Geometria: orientações sobre a aula 1 para os alunos. ............................245
Figura 27: LMD – Matemática Discreta: exemplo de orientações com sugestão de sites.....246
Figura 28: LMD – Geometria: orientações utilizando linguagem matemática. .....................247
Figura 29: LMD – Introdução às Tecnologias de Informação: estrutura da disciplina..........248
xviii
Figura 30: LMD – Exemplo de atividade a distância proposta na disciplina Introdução às
Tecnologias de Informação. ...................................................................................................249
Figura 31: LMD – Exemplo de atividade a distância proposta na disciplina Introdução às
Tecnologias de Informação. ...................................................................................................250
Figura 32: LMD – Seminário Temático Interdisciplinar I. ....................................................251
Figura 33: Organização das categorias trabalhadas na análise...............................................254
xix
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Crescimento da utilização do Moodle UFBA, em número de usuários................170
Gráfico 2: Distribuição das inscrições válidas para o CM2007 por unidade. ........................188
Gráfico 3: Síntese da participação no Curso Moodle 2007....................................................195
Gráfico 4: Distribuição dos aprovados no Curso Moodle 2007 por unidade.........................195
Gráfico 5: Síntese do Curso Moodle 2007 por unidade. ........................................................196
Gráfico 6: Distribuição dos participantes do Curso Moodle 2008 por unidade.....................208
Gráfico 7: Síntese dos participantes no Curso Moodle 2008. ................................................214
xx
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................24
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS .........................................................30
1.2 METODOLOGIA ........................................................................................................31
1.3 A ESTRUTURA DA TESE .........................................................................................42
2 CONEXÕES ENTRE CIBERCULTURA, AUTONOMIA E EDUCAÇÃO................45
2.1 CIBERCULTURA: ORIGENS E DEFINIÇÕES........................................................46
2.1.1 Características da cibercultura.................................................................................... 57
2.1.2 Software livre como fenômeno da cibercultura.......................................................... 65
2.1.3 A riqueza das redes ....................................................................................................... 67
2.2 AUTONOMIA E OUTROS CONCEITOS INTERLIGADOS ...................................70
2.2.1 O que entendemos por autonomia ............................................................................... 70
2.2.2 Alienação e liberdade .................................................................................................... 74
2.2.3 A pedagogia crítica e a abordagem dialógica.............................................................. 77
2.3 EDUCAÇÕES NA CIBERCULTURA........................................................................82
2.3.1 As potencialidades do ciberespaço e a educação......................................................... 83
2.3.2 A educação a distância na cibercultura....................................................................... 89
2.3.2.1 O que pode mudar na educação no contexto da cibercultura............................................. 93
2.3.3 Sobre a formação de professores on-line na perspectiva da autonomia................... 97
2.3.3.1 A docência on-line: como começar..................................................................................... 98
2.3.3.2 A experiência como formação........................................................................................... 100
2.3.3.3 A experiência on-line como formação .............................................................................. 103
xxi
3 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM:
DO QUE ESTAMOS FALANDO? .....................................................................................105
3.1 AMBIENTES VIRTUAIS E OUTROS CONCEITOS..............................................105
3.2 AMBIENTES VIRTUAIS ESTRUTURADOS: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS......110
3.3 O MOODLE: A ESCOLHA DA UFBA ....................................................................115
3.3.1 A estrutura geral ......................................................................................................... 120
3.3.2 As possibilidades do Moodle: alguns recursos disponíveis...................................... 122
4 A UFBA, A EAD E OS AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: UM
HISTÓRICO.........................................................................................................................131
4.1 ANTECEDENTES DA EAD NA UFBA ..................................................................134
4.2 O PROGED: UMA EXPERIÊNCIA À PARTE........................................................155
4.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EAD NA UFBA: O MARCO INICIAL ...........162
4.4 CONTINUANDO A HISTÓRIA: 2006 A 2009........................................................172
5 ASPECTOS DA IMPLANTAÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE
APRENDIZAGEM NA UFBA: OLHARES SOBRE CASOS .........................................184
5.1 O CURSO MOODLE PARA PROFESSORES: A EDUCAÇÃO ON-LINE NA
UFBA, TURMA 2007......................................................................................................185
5.1.1 Os sujeitos da pesquisa neste caso de estudo............................................................. 186
5.1.2 Proposta metodológica e desenvolvimento do curso ................................................ 189
5.1.3 Reflexões sobre o processo.......................................................................................... 196
5.2 O CURSO MOODLE PARA PROFESSORES: A EDUCAÇÃO ON-LINE NA
UFBA, TURMA 2008......................................................................................................205
5.2.1 Os sujeitos da pesquisa neste estudo de caso............................................................. 206
xxii
5.2.2 Proposta metodológica e desenvolvimento do curso ................................................ 209
5.2.3 Reflexões sobre o processo.......................................................................................... 215
5.3 A DISCIPLINA EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E GÊNERO................................220
5.3.1 Os sujeitos da pesquisa neste estudo de caso............................................................. 221
5.3.2 A proposta da disciplina no Moodle e a atuação docente ........................................ 222
5.4 A LICENCIATURA EM MATEMÁTICA A DISTÂNCIA.....................................229
5.4.1 Os sujeitos e os espaços da pesquisa para este estudo de caso................................. 229
5.4.2 A organização acadêmica do curso: aprovação nas diversas instâncias, montagem
da equipe, seleção de tutores e alunos................................................................................. 230
5.4.3 O planejamento da Licenciatura em Matemática a Distância: a atuação dos
professores............................................................................................................................. 235
6 SISTEMATIZAÇÃO DA ANÁLISE: ASPECTOS DA IMPLANTAÇÃO DE
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA ........................................253
6.1 A AUTONOMIA ALÉM DO INDIVIDUALISMO E DO AUTODIDATISMO.....255
6.2 A EDUCAÇÃO COMO UM PROCESSO DIALÓGICO: O PAPEL
COMUNICACIONAL DOS AVA ..................................................................................261
6.3 A IMERSÃO NA CIBERCULTURA: OS AVA COMO ESPAÇOS DE
COLABORAÇÃO E AUTORIA.....................................................................................271
6.4 VISÃO PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA SUPERIOR: A EXPERIÊNCIA ON-LINE
COMO FORMAÇÃO ......................................................................................................281
6.5 PESQUISA E PRÁTICA NOS AVA: A INTEGRAÇÃO DE SEUS SUJEITOS.....286
6.6 POLÍTICAS INSTITUCIONAIS PARA A EDUCAÇÃO EM AVA .......................290
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................297
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................311
xxiii
APÊNDICES.........................................................................................................................326
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista para investigar a implantação de ambientes
virtuais de aprendizagem na UFBA (docentes participantes dos casos de estudo)..........327
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista para investigar a implantação de ambientes virtuais
de aprendizagem na UFBA (professoras tutoras do Curso Moodle 2008).......................329
APÊNDICE C – Modelo de autorização solicitada para os participantes da pesquisa...330
APÊNDICE D – Linha do tempo da EAD na UFBA. ....................................................331
APÊNDICE E – Relação dos sujeitos da pesquisa por caso de estudo...........................344
ANEXOS ...............................................................................................................................354
ANEXO A – Portaria n.422/2004 – Institui o Comitê Gestor de Tecnologia da
Comunicação e Informação..............................................................................................355
ANEXO B – Resolução n.03/2005 – Regulamenta os cursos de graduação a distância da
Universidade Federal da Bahia.........................................................................................356
ANEXO C – Portaria n.187/2006 – Cria a Comissão Institucional de Educação a
Distância da Universidade Federal da Bahia....................................................................359
ANEXO D – Portaria n.239/2006 – Designa servidores para compor a Comissão
Institucional de Educação a Distância da Universidade Federal da Bahia.......................361
ANEXO E – Portaria n.480/2009 – Designa a Comissão Gestora Provisória do Núcleo de
Educação a Distância da Universidade Federal da Bahia ................................................362
ANEXO F – Pesquisa de avaliação disponível no ambiente Moodle utilizada para
avaliação do Curso Moodle para Professores, turmas 2007 e 2008.................................363
24
1 INTRODUÇÃO
Você não sente e nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança, em breve,
Vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem,
Hoje é antigo
E precisamos, todos, rejuvenescer...
No presente, a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais...
Antônio Belchior
Com a evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação de base telemática
(TIC), diversas transformações perpassam o mundo contemporâneo. Essas transformações
permeiam a vida cotidiana em, praticamente, todos os seus vieses, e são a base do surgimento
de uma nova cultura: a cibercultura. As TIC, que fazem uso da linguagem digital, são também
o alicerce do processo de globalização vivido atualmente. A globalização atual reflete muito
mais um modelo para favorecer a gica do capital, que um novo modelo social que vise à
construção de uma sociedade mais justa. A globalização perversa, como a define Milton
Santos (2006), “mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do
cada um por si e [...] reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”
(p.65). Dessa forma, a globalização traz um amplo incentivo à competitividade,
transformando o outro em um obstáculo, e não num parceiro em potencial.
As TIC, enquanto pensadas como mídias de massa, favorecem esse incentivo à
individualidade, que colocam o indivíduo como consumidor de informação, e não como
produtor e crítico; é nesse sentido que Paul Virilio (1999) define o século XX como o século
da “ilusão de óptica”, em que “nada acontece, tudo se passa” (VIRILIO, 1999, p.24). É
também nesse sentido que a atuação como sujeito, crítico e autônomo, é minimizada,
reforçando uma postura de alienação dos indivíduos e da sociedade como um todo. No
entanto, a cibercultura traz outras possibilidades, não alienantes, pois tem na sua base a
autoria, a livre expressão e a liberdade de comunicação e de acesso – ainda que esse acesso se
25
de forma diferenciada para as diversas classes sociais. O ciberespaço, definido por Pierre
Lévy como “[...] não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o
universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam
e alimentam este oceano” (LÉVY, 2000, p.17), pode ser visto como uma alternativa para
combater a alienação, já que é concebido como um espaço social, e é justamente nos espaços
sociais que essa alternativa de transformação se encontra (LAPA, 2005).
Milton Santos (2006) reforça essa concepção não alienante das TIC quando diz que:
A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da
informação, as quais ao contrário das técnicas das máquinas são
constitucionalmente divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os
meios e culturas, ainda que seu uso perverso atual seja subordinado aos
interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua utilização for
democratizada, estas técnicas doces estarão a serviço do homem. (SANTOS,
2006, p.174).
No entanto, pensar e utilizar as TIC de forma apenas instrumental é subutilizá-las, é vê-
las como novos recursos para a execução das mesmas tarefas. Esse tipo de utilização em nada
fomenta a criatividade e a autoria, e não contribui para uma perspectiva desalienante. Em
contrapartida, a apropriação das TIC com foco nos novos sentidos e significados que podem
ser construídos a partir da relação indivíduo-tecnologia leva a uma compreensão destas como
estruturantes de novos processos sociais, em consonância com o entendimento de que a
técnica, para a nossa época, é o elemento articulador, “o estruturante, funcionando como uma
espécie de linguagem base minimamente comum sobre a qual se articulam todas as formas do
agir humano” (MARCONDES FILHO et al., 1997, p.34).
Contribuir com a compreensão das tecnologias como estruturantes e como elementos
que ampliam a possibilidade de emancipação é também papel da educação formal, que não
pode ficar alheia às transformações sociotécnicas vividas na atualidade; a educação pode
favorecer a construção da criticidade – buscando contribuir para a transformação do mundo –,
ou pode, ao contrário, contribuir para a manutenção do status quo, numa perspectiva alienante
e de reprodução do conhecimento. Essa é uma opção que perpassa todos os níveis decisórios:
desde o Estado, com a definição das políticas públicas, passando pelas instituições e chegando
aos indivíduos. Assim, repensar o modelo de educação pautado na transmissão e no consumo
de informação, ainda hegemônico em nossa sociedade, é um possível caminho para uma
formação crítica. Sobre isso, Marco Silva (2002) chama a atenção para um modelo de escola
26
alheia às transformações sociais contemporâneas, ainda baseada em seus rituais de
transmissão, enquanto o modelo comunicacional modifica-se de maneira fundamental.
Concordando com a possibilidade desalienante das tecnologias no contexto da
cibercultura é que buscamos compreender, nesta pesquisa, como a implantação de Ambientes
Virtuais de Aprendizagem (AVA) – dispositivos presentes no ciberespaço e amplamente
utilizados na educação mediada pelas TIC pode se dar no sentido da construção da
autonomia no contexto educacional. A autonomia aqui é entendida como fundamental para a
construção de “novas educações”, no sentido da superação das formas padronizadas de
educação, que não somente sejam potencializadas pelo uso das tecnologias, mas que tenham
como principal desafio a formação de sujeitos críticos e ativos no contexto da cibercultura. A
concepção de “novas educações” que aqui adotamos surge nas reflexões do Grupo de
Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC) da Faculdade de Educação (FACED)
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que, na intenção de problematizar as discussões
acerca das tendências de transformações do sistema educacional brasileiro, com especial
ênfase nos projetos de educação a distância e de apropriação das TIC na educação, propõe a
expressão “Tecnologia e Novas Educações”, que:
[...] representa uma crítica ao alardeado processo de modernização do
sistema educacional pautado no simples uso das chamadas “novas”
tecnologias que buscam elevar o mesmo tipo de educação a um maior grau
de eficácia e eficiência. Ao mesmo tempo essa expressão aponta para um
problema fundamental: diante do contexto atual de mudanças, marcado pela
presença das tecnologias, as formas de educação, normalmente concentradas
no modelo da escola única, precisam ser repensadas, reinventadas,
pluralizadas. Isso significa inclusive superar o modelo de “aula” como única
possibilidade de espaço-tempo de relações entre os sujeitos envolvidos no
processo educativo. Significa transformar o espaço-tempo educativo num
campo de onde emergem atividades curriculares que articulem os conteúdos
às ações, o saber ao viver. (GEC, 2009d).
A construção de novas educações exige dos atores do contexto educacional uma postura
ativa e crítica com relação aos modelos postos, e, em especial, de aprendizes autônomos
que caminhem na busca de percursos educacionais personalizados mas que, ao mesmo tempo,
dialoguem e colaborem com a coletividade e o contexto. Nesse sentido, Felippe Serpa
argumenta que:
A questão essencial do mundo contemporâneo é a vida e os modos de vida.
Apesar de estarmos centrados no conhecimento (a sociedade do
conhecimento), a questão fundamental é apreender a vivenciar múltiplos
contextos e linguagens e a conviver com múltiplas subjetividades humanas,
27
sem pretender reduzir a multiplicidade ao eu, ao hegemônico, e sim,
construir no diálogo novos territórios a partir dos entre-lugares, dos inter-
contextos e dos inter-textos, enriquecendo a configuração de singularidades.
(SERPA, 2010).
A compreensão instrumental das TIC reforça o estado de alienação social presente no
mundo contemporâneo; esse estado, no entanto, é reversível a partir do reconhecimento de
cada sujeito enquanto ser social autônomo, como autor de sua própria história e da história
coletiva. Com relação a isso, Milton Santos chama a atenção para o movimento de alienação
que se estabelece na “globalização perversa”:
Esse sistema da perversidade inclui a morte da Política (com P maiúsculo),
que a condução do processo político passa a ser atributo das grandes
empresas. Junte-se a isso o processo de conformação da opinião pelas
mídias, um dado importante no movimento de alienação trazido com a
substituição do debate civilizatório pelo discurso único do mercado. Daí o
ensinamento e o aprendizado de comportamentos dos quais estão ausentes
objetivos finalísticos e éticos. (SANTOS, M., 2006, p.60).
Já pensando em possíveis soluções para esse processo de alienação, o autor afirma que:
Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de
um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países
subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os
opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas
massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso
único. (idem, ibidem, p.14, grifos nossos).
Andréa Lapa (2005), em sua tese de doutorado, traz uma valiosa reflexão sobre o
processo de alienação, associando-o, dentre outras coisas, à compreensão instrumental das
TIC; sua tese traz contribuições no sentido da identificação de “práticas sociais no campo
educacional que pudessem ser usadas para promover a formação crítica do sujeito em
educação a distância” (LAPA, 2005, p.5). A autora parte da teoria freiriana da ação dialógica
para elaborar um modelo de análise de cursos a distância no que diz respeito à sua capacidade
de formar sujeitos críticos. Para Paulo Freire:
Nenhuma teoria da transformação política-social do mundo me comove
sequer, se não parte de uma compreensão do homem e da mulher enquanto
seres fazedores da história e por ela feitos, seres da decisão, da ruptura, da
opção. (FREIRE, 2006a, p.129).
Compreender os outros como sujeitos, críticos e autônomos, é também o que defende
Cornelius Castoriadis (2000):
28
Chamamos de práxis este fazer no qual o outro ou os outros são visados
como seres autônomos e considerados como o agente essencial do
desenvolvimento de sua própria autonomia. A verdadeira política, a
verdadeira pedagogia, a verdadeira medicina, na medida em que algum dia
existiram, pertencem à práxis. (p.94).
O que até agora chamamos de política foi quase sempre uma mistura na qual
a parte da manipulação, que trata os homens como coisas a partir de suas
propriedades e de suas reações supostamente conhecidas, foi dominante. O
que chamamos política revolucionária é uma práxis que se como objeto a
organização e a orientação da sociedade de modo a permitir a autonomia de
todos, reconhecendo que esta pressupõe uma transformação radical da
sociedade que, por sua vez, só será possível pelo desdobramento da atividade
autônoma dos homens. (p.96-97).
Tendo essas abordagens como ponto de partida e acreditando que uma prática
pedagógica pautada na dialogicidade e na busca da autonomia é uma opção para a formação
crítica, buscamos compreender de forma mais aprofundada as conexões entre cibercultura,
autonomia e educação e investigar sobre como está se configurando a implantação de
ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA, na tentativa de identificar aspectos que se
relacionem com tal busca de autonomia.
A utilização de AVA na educação formal se dá, principalmente, em duas situações: na
educação a distância (EAD) e no apoio à educação presencial. A EAD, em especial, fazendo
uso da Internet (e por isso conhecida como EAD on-line) ressurge como uma oportunidade de
alcançar um público maior e diferenciado. No contexto da cibercultura, a EAD on-line é uma
demanda da sociedade e sua qualidade tem sido associada a uma visão de educação pautada
na interação e na construção do conhecimento de forma colaborativa e autônoma,
privilegiando a comunicação todos-todos e um modelo de construção de conhecimento
baseado na concepção de “rede” – base que fundamenta a cibercultura.
Juntamente com a EAD on-line, surgem as perspectivas de utilização das TIC como
apoio à educação presencial. Nesse caso as tecnologias trazem a possibilidade de um processo
não linear e personalizado, que caminha na contramão da educação massificadora. A
educação mediada pelas tecnologias de informação e comunicação é muitas vezes referida
como educação on-line, e pode ser entendida como um evento da cibercultura (SANTOS, E.,
2005), já que incorpora os principais aspectos da atual sociedade em rede (CASTELLS,
2006). As pesquisas relativas à EAD on-line e à educação on-line caminham muito próximas,
quando não se sobrepõem; em ambos os contextos, é necessário “retomar a discussão sobre o
que se entende como sendo o uso dessas tecnologias e quais as possibilidades para a
29
educação, seja ela presencial ou a distância” (BONILLA; PICANÇO, 2005). Nesta pesquisa,
retomamos essa discussão tendo como pano de fundo a busca da autonomia nos contextos
educacionais de utilização de ambientes virtuais de aprendizagem na cibercultura.
A UFBA, nosso campo de pesquisa, começou a trilhar o caminho dessa educação
mediada pelas TIC, embora a institucionalização dessas ações tenha se iniciado recentemente,
carecendo ainda de um programa institucional que suporte ao desenvolvimento de
atividades de EAD e de uso das TIC na educação. Esse caminho vem sendo trilhado, ainda
que timidamente, inclusive com a inserção da UFBA no campo da educação a distância,
atuando em parceria com o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), além de diversas
outras iniciativas isoladas em suas unidades de ensino. No entanto, a simples utilização de
recursos tecnológicos não garante um avanço qualitativo nas práticas educacionais. Blikstein
e Zuffo (2003) reforçam essa ideia argumentando que o simples uso da tecnologia não garante
a resolução dos antigos problemas que rondam a educação séculos, que a base de todos
eles não é, necessariamente, a ausência de uma determinada tecnologia. Portanto, não basta
introduzir tecnologias; é fundamental pensar em como elas serão incorporadas e
compreendidas nos processos formativos, e como seu uso pode efetivamente desafiar as
estruturas existentes em vez de reforçá-las.
Nesse sentido, é importante que o repensar das práticas educativas em ambientes
virtuais de aprendizagem seja fomentado e ampliado na instituição. E embora a UFBA
tenha ações efetivas nesse caminhar, o hábito da educação on-line ainda não se percebe em
sua comunidade como um todo, e a maior dificuldade hoje na UFBA é que os grupos
responsáveis por essas iniciativas não se articulam entre si. Cada um deles desenvolve seus
projetos individualmente e, provavelmente, enfrentando e vencendo os mesmos desafios
também individualmente. Essas iniciativas isoladas indicam que a UFBA está vivendo o
processo de fazer parte do mundo das TIC; no entanto, é fundamental que uma reflexão crítica
sobre o modo como se esse processo tenha vez na instituição. Além disso, consideramos
também fundamental explicitar e compreender quais as opções que estão sendo tomadas em
nível institucional e em nível individual, no que se refere ao uso dos AVA, com relação às
questões levantadas anteriormente sobre os processos de alienação e autonomização em curso
na sociedade contemporânea. Dessa maneira, buscamos contribuir com as reflexões sobre as
possibilidades da educação na cibercultura, dentro de uma perspectiva de formação de sujeitos
autônomos, capazes de olhar o mundo de forma crítica e de atuar no sentido da sua
transformação.
30
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS
A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem na educação formal é relativamente
recente e pode seguir diversas orientações. Algumas orientações priorizam o conteúdo, de
forma que os ambientes virtuais são compreendidos simplesmente como repositórios de
materiais, como um substituto à “pasta do professor” (ROSA, 2006), em que o conteúdo
selecionado, não mais em formato de cópia impressa, mas sim digitalizado, é disponibilizado
aos alunos, que se comportam apenas como meros consumidores das informações ali
contidas, caracterizando uma perspectiva de instrumentalidade e de reprodução do
conhecimento. No outro extremo, temos a apropriação dos AVA por professores e alunos que
atuam (todos) de forma a assumir a autoria do processo de construção de conhecimento,
fazendo uso de toda a potencialidade das redes informáticas e, além da utilização dos espaços
virtuais para difusão de conteúdos, buscam na interação e na autoria coletiva os elementos que
fundamentam o uso dos AVA. Justamente por essa diversidade de orientações existentes é
que, na maioria das vezes, optamos, nesta pesquisa, pela expressão “utilização” ou uso” de
ambientes virtuais, na intenção de contemplar não somente a interação em AVA, mas,
também, a sua utilização de forma instrumental que ainda está presente em muitas situações
educacionais.
Dentro desse contexto, e considerando que as opções feitas durante os processos de
ensino e aprendizagem que utilizam os AVA são aspectos que podem contribuir para a
construção da autonomia dos participantes, o objetivo geral desta pesquisa é estudar a
implantação de AVA na UFBA na perspectiva da autonomia, na intenção de responder à
seguinte questão: como está se configurando a implantação de ambientes virtuais de
aprendizagem na UFBA e que aspectos essa implantação apresenta no que diz respeito à
construção da autonomia no contexto educacional? Os objetivos específicos podem ser assim
definidos:
compreender as características da cibercultura, relacionando-as com a
implantação de ambientes virtuais de aprendizagem numa perspectiva de
autonomia;
elaborar um diagnóstico da implantação de ambientes virtuais de aprendizagem
na UFBA e das políticas de EAD na instituição;
31
identificar aspectos relacionados à construção da autonomia na implantação de
ambientes virtuais de aprendizagem, a partir da análise de casos de utilização
do ambiente virtual Moodle na UFBA.
1.2 METODOLOGIA
O uso de ambientes virtuais de aprendizagem na educação encontra-se no contexto da
cibercultura, no contexto de uma educação que faz uso das tecnologias de informação e
comunicação. Essa educação, modificada pela complexidade das redes tecnológicas, pode ser
entendida – como dito anteriormente – como um evento da cibercultura (SANTOS, E., 2005).
A cibercultura, por seu lado, trata-se de um complexo de fatores e não pode ser compreendida
a partir de um olhar simplificado. Portanto, a investigação sobre ambientes virtuais de
aprendizagem exige do pesquisador um caminhar também complexo.
Tomando a abordagem de Edgar Morin (2003, 2005) sobre a teoria da complexidade
como ponto de partida, buscamos estruturar uma proposta metodológica que contemplasse a
aleatoriedade e a criatividade na pesquisa. Não uma proposta construída a priori, mas que
surge a partir da atividade pensante e consciente do sujeito no decorrer da pesquisa. Tentando
não cair no perigo da simplificação, não evitamos refletir e relatar sobre as tensões e
contradições que surgiram no decorrer da pesquisa, assim como sobre as influências da
cultura, da história, da política e da ética que, inevitavelmente, estiveram presentes em toda
investigação; como argumenta Edgar Morin:
No sentido da complexidade, tudo se passa de outro modo [diferentemente
do racionalismo fechado]. Reconhece-se que não ciência pura, que em
suspensão – mesmo na ciência que se considera a mais pura – cultura,
história, política, ética, embora não se possa reduzir a ciência a essas noções.
(MORIN, 2005, p.340).
Nossa abordagem é de uma pesquisa qualitativa e buscamos descrever a metodologia da
pesquisa, lançando mão de referências a técnicas e estratégias formalmente definidas por
autores que nos parecem ter uma visão que contempla o caminho que traçamos. Para
explicitar a nossa compreensão sobre a abordagem qualitativa, nos valemos das definições
trazidas por Marli André (2002); segundo a autora, a pesquisa qualitativa tem suas raízes no
final do século XIX quando o método de investigação das ciências físicas e naturais,
fundamentado no positivismo, começa a ser questionado com relação à sua utilidade enquanto
32
modelo para os estudos dos fenômenos humanos e sociais. Esses fenômenos, considerados
pelos pesquisadores da época como complexos e dinâmicos, além de relacionados a um
contexto particular, começam então a ser analisados (também) a partir de uma abordagem que
se preocupasse mais com a interpretação que com a mensuração, com a descoberta em vez da
constatação, que leve em conta todos os elementos de uma situação e suas interações,
inclusive o próprio pesquisador e seus valores e visão de mundo. É com base nesses
princípios que consideramos a pesquisa que agora apresentamos como uma pesquisa
qualitativa.
Antes de qualquer coisa, portanto, é preciso explicitar a implicação desta autora na
pesquisa, que sua postura teórica, valores e visão de mundo estiveram presentes em todo o
contexto investigativo. Neste momento é preciso ressaltar que, embora o tempo verbal
escolhido para relatar a pesquisa tenha sido a primeira pessoal do plural, em diversos
momentos em que a atuação específica desta autora precise ser explicitada (como é o caso
desta implicação com a pesquisa), utilizaremos a primeira pessoa do singular.
A minha atuação profissional é como funcionária do Centro de Processamento de Dados
(CPD) da UFBA, desde 1983; primeiro como Programadora de Computador, e, a partir de
1987, como Analista de Tecnologia da Informação. Durante esse percurso, fui graduada em
Processamento de Dados (1982), fiz mestrado em Informática (1995), e mais recentemente fiz
uma especialização em Inteligência Competitiva (2002). Com relação a este último curso,
embora eu nunca tenha atuado diretamente com o tema, ele foi útil para reavivar minha
afinidade com a área de humanas (adormecida desde que fiz a opção pela graduação na área
de exatas) e a partir de então comecei, senão a materializar, pelo menos a mentalizar (ou
talvez virtualizar) minha caminhada para a área de educação. Compreendi que o caminho
mais correto para promover essa mudança acadêmica e profissional, da área de Computação
para a de Educação, era o doutorado em Educação. Assim, comecei a investir nesse objetivo,
e no semestre letivo de 2003.2 iniciei o meu percurso como aluna especial do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFBA (PPGE-FACED). No
segundo semestre de 2004 tive a oportunidade de fazer parte de um programa de extensão do
Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (ISP), o PROGED Programa de
Formação Continuada para Gestores da Educação Básica. O PROGED visava promover
cursos de formação continuada para gestores educacionais, nas modalidades a distância e
semipresencial. Em função dessa atividade, comecei a estudar de forma individual sobre
educação a distância e a partir daí comecei a delinear a linha de pesquisa que queria seguir. A
33
partir do meu envolvimento com o PROGED
1
, e em função da minha dedicação aos estudos
sobre EAD, passei a ser a responsável por essa área dentro do CPD e a representar o órgão nas
diversas instâncias e espaços onde ele era convidado a se posicionar com relação à EAD ou à
utilização de ambientes virtuais de aprendizagem no apoio à educação presencial. Como as
iniciativas de EAD na UFBA ainda estavam acontecendo de forma isolada, estávamos num
processo de atender à demanda por apoio com relação aos ambientes virtuais de aprendizagem
instalados no CPD (o Moodle e o Teleduc) e no suporte a projetos e a docentes que faziam
uso das TIC para o apoio à educação presencial ou para a EAD. Além disso, parte do meu
tempo de trabalho era dedicado ao estudo do Moodle e de outros ambientes virtuais. De forma
natural, comecei a dedicar meu tempo de trabalho e a direcionar meus estudos para a área de
EAD e de ambientes virtuais de aprendizagem. Com o intuito de reforçar meus
conhecimentos, em agosto de 2005 matriculei-me no curso de Especialização em EAD da
Universidade Católica de Brasília (UCB), na modalidade a distância. Além de estar fazendo
um estudo mais sistemático da área de EAD, vivenciei um curso on-line no papel de aluna
vivência esta que, no meu entender, é fundamental para a compreensão do processo de ensino
e aprendizagem on-line
2
. Além dessa implicação direta a partir da minha atuação no CPD e
em instâncias de discussão da EAD na UFBA (a exemplo da Comissão Institucional de EAD
da UFBA), minha atuação também se dava como consultora de EAD em projetos de algumas
unidades de ensino (a exemplo da Escola de Enfermagem, Instituto de Saúde Coletiva,
Instituto de Matemática) que buscavam, no CPD, profissionais que pudessem apoiar o
desenvolvimento dos projetos no que diz respeito aos ambientes virtuais de aprendizagem e à
EAD. A atuação no campo da pesquisa, portanto, vem acontecendo desde antes da minha
entrada no doutorado, em 2006. Minha participação, desde 2004, em grupos envolvidos com a
EAD da UFBA e com a administração de ambientes virtuais no CPD traz um complexo de
informações sobre as políticas da UFBA nesta área, e é inevitável que as percepções e
conclusões a que chego tragam elementos oriundos dessas experiências.
Dessa forma, a implicação desta autora com o campo e o tema da pesquisa é total,
provocando, inclusive, uma constante tensão entre o agir profissional e o agir investigativo.
Não podemos esquecer, no entanto, que o distanciamento do pesquisador é importante para
permitir que os sujeitos da pesquisa se expressem com toda a sua espontaneidade. E, além
disso, concordamos com Roberto Macedo quando aborda a importância da dialética
1
Esse envolvimento será relatado em mais detalhes no Capítulo 4.
34
aproximações/distanciamento, e quando ressalta que “o distanciamento enquanto um dos
polos do movimento de entrada e saída do objeto é um momento importante para a construção
do conhecimento em ciência. um momento em que certa descontextualização do objeto
faz-se necessária para que o texto científico possa brotar” (MACEDO, 2004, p.160).
Diante dessa implicação, o principal recurso metodológico utilizado na pesquisa foi a
observação participante, especialmente para fazer reagir o conhecimento teórico com a prática
e possibilitar uma construção conjunta entre pesquisador e sujeitos da pesquisa. Segundo
Roberto Macedo (2004), a observação participante
[...] trata-se de um processo mutuamente educativo pela pesquisa, na medida
em que o saber do senso comum e o saber científico se articulam na busca da
pertinência científica e da relevância social do conhecimento produzido [...].
[Além disso,] cultiva algumas pretensões de política científica: cultivar o
desejo originado da urgência de se ter uma ciência antropossocial conectada
e crítica, que seja tanto humilde quanto realista; relacionar a pesquisa da
universidade com o campo da realidade concreta e reduzir as distâncias entre
sujeitos e objeto de estudo. (MACEDO, 2004, p.154-155).
Adler e Adler (1987, apud BARBIER, 2002) propõem a seguinte categorização para
observação participante, segundo o grau de implicação do pesquisador: (1) Observação
participante periférica, em que o pesquisador aceita uma implicação parcial para ser
considerado como membro do grupo pesquisado, mas não atua nas atividades; (2) Observação
participante ativa, em que o pesquisador adquire status de membro do grupo a partir de um
papel a ser desempenhado por ele; e (3) Observação participante completa, em que “o
pesquisador está implicado desde o início, porque já era membro do grupo antes de começar a
pesquisa; ou ele se torna membro do grupo por conversão, porque provém de fora”
(BARBIER, 2002, p.126). Acreditamos que, no caso deste projeto, essa observação
participante se deu de forma completa, em virtude do envolvimento desta autora explicitado.
Incorporamos também ao nosso agir investigativo a noção de escuta sensível trazida por
René Barbier (2002). Segundo o autor, essa noção retrata um escutar/ver que se aproxima de
uma atitude meditativa e apoia-se na empatia; “o pesquisador deve sentir o universo afetivo,
imaginário e cognitivo do outro para compreender do interior as atitudes e os
comportamentos, o sistema de ideias, de valores, de símbolos e de mitos [...]” (BARBIER,
2002, p.94). A escuta sensível assume um patamar de postura metodológica, trazendo a ideia
2
A especialização foi finalizada em dezembro de 2006 com a apresentação da monografia A EAD na
cibercultura: o que pode mudar.
35
de que todos têm o direito de serem ouvidos atentamente e compreendidos, e de que o sujeito
da pesquisa deve ser visto como um indivíduo ativo e criador. Segundo Roberto Macedo:
A escuta sensível, como dispositivo de pesquisa, é uma conquista
catalisadora de vozes recalcadas por uma historia científica silenciadora e
castradora. A necessidade de ouvir sensivelmente, no ato de pesquisar, é, ao
mesmo tempo, um recurso fundamental para os etnopesquisadores,
considerando suas bases filosóficas e epistemológicas, bem como mais um
dispositivo facilitador para a democratização do saber. (MACEDO, 2004,
p.198).
Para descrever com mais detalhes a metodologia, optamos por estruturá-la em três
partes, que não necessariamente foram executadas de forma sequencial, mas que tentam, cada
uma delas, dar conta dos caminhos percorridos para alcançar cada um dos três objetivos
específicos descritos anteriormete.
Objetivo específico 1: Compreender as características da cibercultura,
relacionando-as com a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem numa
perspectiva de autonomia
No primeiro momento da pesquisa de doutoramento, nosso contato foi com as
disciplinas e os grupos de pesquisa. Entendemos como fundamental que esse item seja
compreendido como parte da metodologia, que a partir dessa vivência é que foram se
delineando o escopo, as paixões, as vocações da pesquisa. E avançando no que se foi
delineando, fomos definindo o campo, o método, as afinidades com autores... Nesse
momento, em que se ampliaram as possibilidades, a confusão que se instalou e que nos tirou o
chão firme foi, ao mesmo tempo, elemento crucial para termos certeza, não do caminho, mas
que o caminho estava sendo traçado durante o percurso e que nosso papel nessa definição foi
a de “sujeito”, ativo e autônomo. É nesse sentido que René Barbier (2002) define a noção de
“processo”:
Um processo é uma rede simbólica e dinâmica, apresentando um
comportamento ao mesmo tempo funcional e imaginário, construído pelo
pesquisador a partir de elementos interativos da realidade, aberto à mudança
e necessariamente inscrito no tempo e no espaço. (BARBIER, 2002, p.111).
Trazendo um contraponto entre “processo” e “procedimento”, o autor continua:
36
Um processo apresenta uma polarização de autonomia repleta de incertezas.
Um procedimento, ao contrário, se compreende por uma polarização de
heteronomia garantindo o instituído. Vivo, no conjunto das atividades, um
processo; mas entro, sossegado, num procedimento: posso controlar um
procedimento, mas eu avalio um processo. (idem, ibidem, p.111).
Pesquisar a implantação dos AVA na UFBA exigiu um estudo sistemático sobre temas
que se relacionam com esses ambientes e que trazem significado para o contexto em que estes
são vivenciados e experenciados. A pesquisa bibliográfica constituiu-se o recurso
metodológico mais utilizado nessa etapa, e buscou abranger a bibliografia já tornada pública
sobre o tema da pesquisa. Segundo Marconi e Lakatos (2002), “a pesquisa bibliográfica não é
mera repetição do que foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um
tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (p.71). Esse
recurso consiste na identificação das fontes, assim como na sua localização, compilação e
fichamento. A pesquisa bibliográfica aqui conduzida abordou temas como: cibercultura e suas
relações com a educação; autonomia e alienação; interatividade e interação; educação a
distância; ambientes virtuais de aprendizagem; formação do docente superior on-line. Nesse
momento, nos debruçamos não em estudos teóricos, mas também em relatos de
experiências no uso de ambientes virtuais de aprendizagem, que certamente enriqueceram
nosso entendimento sobre estes. Além dos temas relacionados com cibercultura e educação e
tecnologia, nos dedicamos a leituras que pudessem ajudar a aprofundar o conceito de
autonomia e sua relação com a educação e, em especial, com a educação na cibercultura.
Esta parte da pesquisa não se esgotou num primeiro momento; pelo contrário, teve
continuidade durante todo o percurso do doutoramento, à medida que surgiu a necessidade de
aprofundamento de algum tema.
Objetivo específico 2: Elaborar um diagnóstico da implantação de ambientes
virtuais de aprendizagem na UFBA e das políticas de EAD na instituição
Ainda que nosso foco principal recaia sobre alguns casos de utilização de ambientes
virtuais que foram estudados em mais detalhes, não podemos analisar situações isoladas do
seu meio (MORIN, 2005). Da mesma forma, de acordo com o princípio da irreversibilidade
do tempo, do paradigma da complexidade (MORIN, 2005), é necessário considerar o percurso
histórico que permeia as situações estudadas. Assim, entender o contexto em que cada caso se
situa é fundamental; e esse contexto é a UFBA como um todo. Impossível seria analisar esse
contexto sob todos os seus aspectos (embora, entendendo sua complexidade, acreditamos que
37
todos eles interferem nas situações analisadas); portanto, buscamos definir um escopo de
análise no qual incluímos os elementos considerados mais relevantes para esta pesquisa. Esse
escopo foi sendo delineado com contornos bastante irregulares e móveis, já que a cada passo
na investigação fomos percebendo a maior ou menor importância de um ou outro aspecto.
Optamos, inicialmente, por esquematizar uma linha do tempo da EAD na UFBA (disponível
no Apêndice D), no qual estão presentes fatos, internos e externos à instituição, relacionados,
de alguma forma, ao objeto da nossa pesquisa; a partir da linha do tempo construída (e
reconstruída durante todo o percurso investigativo) elaboramos um relato histórico dos fatos
elencados, buscando, sempre que possível, fazer a relação crítica entre o fato relatado e a
implantação dos AVA na UFBA. Para a construção e o relato dessa linha do tempo da EAD
na UFBA, conduzimos um levantamento de informações utilizando os seguintes recursos
metodológicos: pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, observação participante.
A concepção de pesquisa documental que utilizamos foi inspirada nas definições de
Roberto Macedo (2004, 2006), para quem o documento é “um etnotexto fixador de
experiências, revelador de inspirações, sentidos, normas e conteúdos valorizados”
(MACEDO, 2004, p.172), sendo, portanto, uma indispensável fonte na compreensão da
instituição educacional. Além disso, o autor considera que, quando se deseja estudar o
problema a partir, também, da linguagem dos sujeitos, não somente os documentos formais,
mas qualquer tipo de produção escrita (a exemplo de comunicações informais, planos,
programas etc.) pode ser incluída na pesquisa. Para a nossa investigação, os principais
documentos que tiveram a nossa atenção foram: planos e relatórios de gestão da instituição;
atos legais internos e externos à UFBA; projetos de cursos; sites de cursos, projetos e eventos;
documentos de divulgação de cursos e eventos; registro de reuniões. Todos eles sempre se
relacionados ao nosso tema.
A pesquisa bibliográfica, para atender o segundo objetivo específico da investigação,
teve como foco as publicações que relatam experiências da UFBA na EAD ou na utilização
das TIC como apoio à educação, assim como publicações que abordam algum histórico da
instituição no que se refere ao tema da pesquisa.
A observação participante teve um papel fundamental nests etapa, em razão da grande
implicação desta autora na pesquisa, relatada anteriormente. Nesse processo, a participação
em reuniões de diversos grupos, o envolvimento na organização de eventos, a atuação direta
com o ambiente virtual Moodle da UFBA, o envolvimento como especialista em EAD em
determinados espaços na UFBA, dentre outras ações, passaram a ter um duplo sentido: o
38
profissional e o investigativo. Assim, estando todo o tempo atenta e aberta a uma escuta
sensível, a participação nesses espaços trouxe um rico potencial para a pesquisa,
possibilitando a identificação de fatos importantes para compor o diagnóstico elaborado nesta
etapa e também, e ainda mais importante, reflexões fundamentais para a compreensão do
campo. Em paralelo ao andamento das observações participantes, foram feitos registros das
reflexões em campo de forma minuciosa e num formato que permitiu destacar itens e escrever
notas analíticas sobre as próprias notas, como sugere Roberto Macedo (2004). Essas notas
constituíram-se no diário de campo da pesquisa contendo descrições reflexivas das
experiências em campo, num esforço de tomar consciência dos processos vividos e dos
progressos alcançados. Nesse sentido, René Barbier introduz o termo diário de itinerância e o
define como “um instrumento de investigação sobre si mesmo em relação ao grupo [...], no
qual cada um anota o que sente, o que pensa, o que medita, o que poetiza, o que retém de uma
teoria, de uma conversa, o que constrói para dar sentido a sua vida.” (BARBIER, 2002,
p.133).
A partir dos recursos metodológicos descritos, foi construída a linha do tempo da EAD
na UFBA e os fatos elencados foram classificados nas seguintes categorias: (1) atos legais,
internos ou externos à UFBA, que dizem respeito à EAD ou à utilização de ambientes
virtuais; (2) projetos que abordem temas relacionados às TIC, ou à EAD, ou ainda
especificamente aos AVA; (3) cursos ou disciplinas vivenciados na modalidade a distância
(ainda que não tenham utilizado ambientes virtuais) ou que utilizaram ambientes virtuais
(ainda que não tenham sido na modalidade a distância); (4) eventos acadêmicos em que foram
discutidos aspectos relativos à EAD na UFBA ou à utilização de AVA na instituição; (5)
outros fatos relevantes para a pesquisa.
Objetivo específico 3: Identificar aspectos relacionados à construção da autonomia
na implantação de ambientes virtuais de aprendizagem a partir da análise de casos de
utilização do ambiente virtual Moodle na UFBA
Para alcançar este terceiro objetivo, optamos por fazer um estudo de casos múltiplos
(YIN, 2005), no qual a preocupação foi analisar mais profundamente algumas situações de
implantação de AVA na UFBA na intenção de, replicando a análise, melhor compreender
nosso objeto de estudo. Cada um dos casos estudados foi tratado como único, não existindo a
intenção de um estudo comparativo, mas sim da construção de relações entre eles. Como
defende Roberto Macedo (2004), estávamos preocupados em buscar, a cada passo, novas
39
respostas e novas indagações; em construir uma descrição mais profunda, densa e refinada das
situações, e ao mesmo tempo contextualizada; em compreender, com flexibilidade, os pontos
de vista diversos e, muitas vezes, conflitantes dos diferentes sujeitos envolvidos. Com o
estudo de casos múltiplos denominado por Roberto Macedo (2004) de estudo sobre casos
ou multicaso não buscamos a generalização, buscamos entender cada caso como particular,
considerando seu contexto e sua complexidade; sua importância está no fato de que o
conhecimento em profundidade de um caso pode nos ajudar a compreender outros casos.
O primeiro passo foi definir quantos e quais casos seriam analisados; o critério
fundamental para essa definição foi que o caso de estudo utilizasse o ambiente virtual Moodle
da UFBA, que este, como veremos em capítulo posterior, se constituiu como o principal
ambiente virtual da instituição. Essa escolha que em nenhuma hipótese teve a pretensão de
tornar-se uma escolha representativa da UFBA deu-se, principalmente, a partir da imersão
desta autora em diversos espaços na instituição, o que possibilitou a identificação de situações
que, no nosso entender, apresentavam elementos significativos para a compreensão do nosso
objeto de investigação. O primeiro curso escolhido foi a Licenciatura em Matemática a
Distância (LMD), que foi (e ainda é) a primeira e única graduação a distância oferecida pela
UFBA, e por isso foi escolhido como campo empírico desta pesquisa. A LMD foi analisada
durante o seu planejamento, iniciado no primeiro semestre de 2007, e o foco da análise foi a
atuação dos docentes envolvidos com o planejamento do primeiro semestre do curso, assim
como a proposta pedagógica do mesmo refletida na estrutura construída no ambiente virtual
Moodle. Essa análise foi desenvolvida a partir da observação participante nos espaços de
planejamento do curso (reuniões com os docentes, reuniões de coordenação, reuniões com a
administração central), de observação de aulas presenciais dos docentes envolvidos, de
entrevistas semiestruturadas com estes, e da análise da estrutura proposta para as disciplinas
no ambiente Moodle.
No segundo semestre de 2007, foi planejado e desenvolvido o primeiro curso de
formação de professores da UFBA para atuação como docente on-line no ambiente Moodle: o
“Curso Moodle para Professores: a Educação on-line na UFBA” (Curso Moodle 2007), sob
coordenação desta autora. Esse curso foi o segundo caso escolhido para estudo numa decisão
tomada no decorrer de seu desenvolvimento, quando percebemos a riqueza das reflexões
sobre o processo de formação da comunidade UFBA que estavam sendo travadas. Nesse
espaço empírico o foco da análise foi a proposta pedagógica do curso e sua estrutura no
ambiente Moodle, além das reflexões dos participantes do curso (docentes e técnicos da
40
UFBA) nos diversos espaços de comunicação propostos pelo curso (fóruns, chats, diários)
assim como entrevistas feitas com alguns participantes do curso.
No primeiro semestre de 2008, foi oferecida, no Programa de Pós-Graduação em
Educação da FACED, a disciplina Educação, Sexualidade e Gênero (DESG), que se
configurou como a primeira disciplina oficialmente oferecida na modalidade a distância na
FACED e, por esse motivo, foi também selecionada como campo empírico desta pesquisa.
Para este estudo foi analisada a atuação das docentes responsáveis pela disciplina no decorrer
de seu desenvolvimento, a partir da estrutura proposta para a disciplina no ambiente Moodle,
a atuação das docentes nos espaços de comunicação propostos e também através de
entrevistas semiestruturadas com as docentes.
Embora entendendo que esses três espaços já se constituíam em campo suficiente para a
pesquisa, sabíamos da importância de viver a pesquisa, a cada etapa, e a cada vivência,
replanejá-la, conscientes de que o método emerge durante a própria experiência (MORIN,
2005). Assim, no segundo semestre de 2008 foi desenvolvida a segunda turma do Curso
Moodle, e, estando esta autora, mais uma vez, na coordenação do curso, pudemos perceber
que as reflexões sobre o processo formativo da comunidade UFBA pareciam ainda mais ricas.
Entendendo que a inclusão desse espaço traria uma importante contribuição para a
compreensão do nosso objeto de pesquisa, ele constituiu-se no quarto estudo de caso a ser
analisado. Nesse espaço empírico o foco da análise foi, também, a proposta pedagógica do
curso e sua estrutura no ambiente Moodle, além das reflexões dos participantes do curso
(docentes e técnicos da UFBA) nos diversos espaços de comunicação propostos pelo curso
(fóruns, chats, diários) assim como entrevistas feitas com as docentes do curso.
O objetivo que buscamos alcançar nesse momento da pesquisa foi compreender em
detalhes o modelo proposto em cada curso, analisando sua proposta pedagógica explicitada
através da estrutura implementada no ambiente Moodle. Assim, buscamos relacionar o
modelo proposto e/ou vivenciado em cada caso de estudo com a abordagem teórica já
estudada a fim de responder à nossa questão de pesquisa, qual seja: como está se
configurando a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA e que aspectos
essa implantação apresenta no que diz respeito à construção da autonomia no contexto
educacional.
A observação participante, nesse momento, teve como foco não somente os ambientes
virtuais de cada caso estudado, como também os grupos envolvidos. Durante a observação, a
teoria proposta para embasar esta pesquisa esteve a todo o tempo presente, possibilitando uma
41
reflexão pautada não somente na experiência vivida como também em teorias fundamentadas.
Na observação dos espaços virtuais, estivemos imbuídos na busca de identificar estratégias
para o uso de ambientes virtuais de aprendizagem de forma a favorecer a autonomia.
Com relação às entrevistas realizadas, nossa pretensão foi trabalhar com a entrevista
construída de forma aberta e flexível; entendida como um poderoso recurso para captar
significações, “na entrevista os sentidos construídos pelos sujeitos assumem para o
etnopesquisador o caráter da própria realidade, que do ponto de vista de quem a descreve”
(MACEDO, 2004, p.164). As entrevistas aconteceram em dois formatos principais:
presencialmente ou através de chats. Embora conscientes de que a linguagem utilizada nas
entrevistas presenciais extrapola a verbalização, e que, consequentemente, perderíamos parte
da riqueza de uma entrevista ao executá-la através de um chat, fizemos essa opção a fim de
também vivenciarmos a atuação dos entrevistados num ambiente virtual. Dessa forma,
perdendo por um lado, mas ganhando pelo outro, intercalamos entrevistas presenciais e on-
line, considerando ainda o desejo do entrevistado no momento de optar por uma ou outra.
Embora estejamos falando de entrevistas abertas e flexíveis, a importância de uma preparação
prévia do pesquisador é fundamental. Segundo Roberto Macedo (2004):
[...] necessidade que se entenda que este tipo de recurso metodológico
pode parecer não comportar nenhuma espécie de estruturação, mas, em
realidade, o pesquisador deve elaborar uma estratégia pela qual ele conduz
sua entrevista. Assim, a entrevista não estruturada é flexível, mas também, é
coordenada, dirigida, e, em alguns aspectos, controlada pelo pesquisador,
porquanto trata-se de um instrumento com um objetivo visado, projetado,
relativamente guiado por uma problemática e por questões de alguma forma
já organizadas na estrutura cognitiva do pesquisador. (p.166).
Assim, foram propostos roteiros de entrevista (Apêndices A e B) abordando questões
que nortearam nossa interação com os entrevistados e nos ajudaram a manter o foco nos
nossos objetivos. Para a análise das entrevistas, foi necessária a sua transcrição e das notas
registradas durante as entrevistas. Vale ressaltar a importância da gravação das entrevistas
presenciais, a fim de que o pesquisador pudesse se concentrar em aspectos relativos às outras
linguagens utilizadas pelo entrevistado. Nas entrevistas elaboradas a partir de chats, o registro
é automático pelo meio tecnológico, o que possibilitou um ganho de tempo do pesquisador,
embora se entenda que a transcrição das entrevistas seja um rico momento de impregnação
dos conteúdos para o pesquisador (MACEDO, 2004).
42
Após o levantamento das informações a partir dos dispositivos e estratégias descritos,
procedemos à sua organização e análise, apoiados na abordagem de análise contrastiva
(FRÓES BURNHAM, 2002), buscando uma compreensão da prática vivenciada de forma
reflexiva e imbricada às concepções teóricas dos autores que embasaram a pesquisa. A
organização das informações relativas aos quatro casos estudados se deu a partir da
construção de uma Matriz de Análise organizada por participante, no eixo vertical, e por área
de significação/categoria, no eixo horizontal. Cada célula da matriz foi sendo preenchida
pelas falas dos sujeitos que apresentavam alguma reflexão em relação à respectiva área de
significação, acrescidas, quando necessário, de anotações ou comentários. Inicialmente, foram
definidas algumas categorias básicas relativas ao tema da pesquisa; no decorrer da análise das
falas dos participantes, foram sendo acrescentadas outras categorias surgidas do campo. Em
seguida, no esforço da sistematização e a fim de viabilizar a finalização (embora sempre
inacabada) da análise contrastiva das falas dos sujeitos com o referencial teórico abordado na
pesquisa, optamos por agrupar algumas das categorias elencadas e descartar outras. Este
agrupamento foi concebido sempre em função da importância de cada categoria para a
compreensão do nosso objeto e também em função da ênfase dada pelos sujeitos participantes
da pesquisa a esta ou aquela categoria. A matriz completa, no entanto, segue disponível a fim
de que análises futuras possam ser desdobradas. Os registros referentes a cada uma das
categorias resultantes do agrupamento
3
foram analiticamente contrastados entre si e com a
literatura, num esforço de buscar elementos significativos e que caracterizassem os processos
de utilização de AVA vivenciados na pesquisa. Como resultado final da análise foram
identificadas seis categorias analíticas que representam, ao final, os aspectos mais relevantes
da implantação de AVA na UFBA que se relacionam com a construção da autonomia no
contexto educacional, e que são destacadas como o principal resultado desta pesquisa.
1.3 A ESTRUTURA DA TESE
A tese está estruturada em seis capítulos, além das Considerações finais. No primeiro
capítulo, esta Introdução, apresentamos uma contextualização da pesquisa, seus objetivos, a
metodologia e a estrutura proposta para a tese. O segundo capítulo, Conexões entre
cibercultura, autonomia e educação, traz as reflexões e abordagens teóricas que embasam a
tese. O capítulo está dividido em três blocos principais, cada um deles tratando de um dos
3
O conjunto de categorias identificadas e agrupadas pode ser visto na Figura 33, disponível no Capítulo 5.
43
temas transversais da pesquisa: cibercultura, autonomia e educações na cibercultura. Sobre
cibercultura, abordamos suas origens, suas características principais e a riqueza de
possibilidades que esta cultura das redes traz. Sobre autonomia, buscamos problematizar e
aprofundar este conceito à luz da abordagem de Cornelius Castoriadis e Paulo Freire; outros
temas como alienação, liberdade e pedagogia crítica e dialógica também foram abordados,
buscando entender sua relação com o conceito de autonomia que queremos adotar. No
terceiro bloco, educações na cibercultura, trazemos alguns aspectos sobre a EAD, a educação
on-line e sobre novas (possíveis) educações no contexto das tecnologias de informação e
comunicação, além de buscarmos relacionar a perspectiva da autonomia e da pedagogia
crítica às possibilidades da educação na cibercultura; ao final, abordamos ainda a questão da
formação para a docência on-line um tema que surge no decorrer da pesquisa e que acaba
por se constituir em um fundamental aspecto dentro dos resultados apresentados. O terceiro
capítulo, Ambientes virtuais de aprendizagem: do que estamos falando?, tem como
objetivo explicitar a concepção que adotamos para os ambientes virtuais de aprendizagem;
buscamos problematizar o conceito de ambientes virtuais de aprendizagem, compreendendo-o
a partir de uma abordagem ampla e aberta às diversas possibilidades da cibercultura. Em
seguida, discorremos sobre ambientes virtuais estruturados intencionalmente para a
aprendizagem e abordamos algumas características de um pequeno elenco desse tipo de
ambiente. Ao final, focamos no ambiente virtual Moodle, buscando compreender mais
profundamente suas características e possibilidades no que diz respeito a uma educação
pautada na autonomia. No quarto capítulo, A UFBA, a EAD e os ambientes virtuais de
aprendizagem: um histórico, trazemos um histórico da UFBA com relação à utilização de
ambientes virtuais e à EAD na instituição, buscando alcançar uma visão geral do percurso da
UFBA no que diz respeito a suas experiências relacionadas ao tema. Sempre à luz da
abordagem de autonomia e das concepções sobre a cibercultura que tratamos nos capítulos
anteriores, caminhamos no sentido de delinear o contexto em que se a implantação de
ambientes virtuais na UFBA, trazendo, também, fatos (internos e externos) que permeiam
esse histórico, considerando as políticas (internas e externas à instituição) que delineiam as
propostas educacionais no contexto atual. No quinto capítulo, Aspectos sobre a implantação
de ambientes virtuais na UFBA: olhares sobre casos, descrevemos e analisamos quatro
casos de utilização do ambiente virtual de aprendizagem Moodle na UFBA. No sexto
capítulo, Sistematização da análise: aspectos da implantação de ambientes virtuais na
UFBA, foi feita a sistematização da análise dos casos descritos no capítulo anterior, buscando
compreender a entrada da UFBA nessa nova perspectiva educacional, dando especial atenção
44
aos aspectos relacionados à construção da autonomia no contexto da educação em ambientes
virtuais de aprendizagem. Nas Considerações finais, buscamos concluir o trabalho trazendo
um resumo de todo o processo vivido, focando, especialmente, nas reflexões conclusivas que
surgiram durante o percurso, na tentativa de responder à questão da pesquisa; ao final, a
relação de trabalhos futuros que vislumbramos como possibilidade.
45
2 CONEXÕES ENTRE CIBERCULTURA, AUTONOMIA E
EDUCAÇÃO
Dizei-me porém, irmãos: que poderá a criança fazer que não haja
podido fazer o leão? Para que será preciso que o altivo leão se
mude em criança?
A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um
brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa
afirmação.
Sim; para o jogo da criação, meus irmãos, é necessário uma santa
afirmação: o espírito quer agora a sua vontade, o que perdeu o
mundo quer alcançar o seu mundo.
Friedrich Nietzsche
Com a evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação de base telemática a
sociedade tem vivido diversas transformações que influenciam, direta ou indiretamente, todos
os aspectos da vida humana, a exemplo da economia, da cultura, das relações interpessoais e
até mesmo a subjetividade. A comunicação, em especial, é amplamente transformada,
possibilitando que indivíduos isolados possam expressar-se livremente através dos novos
meios de comunicação em rede.
Essas transformações na sociedade são entendidas por alguns autores, a exemplo de
Manuel Castells (2006) e Pierre Lévy (2000), como transformações sociotécnicas que
promovem o surgimento de uma nova cultura, que é denominada, por Lévy, de cibercultura.
Essa nova cultura, no entanto, o deve ser compreendida simplesmente como consequência
da revolução tecnológica. A esse respeito, Tamara Benakouche (1999) argumenta que não se
pode responsabilizar a técnica pelos seus “impactos” positivos ou negativos na sociedade,
que ela, a técnica, é construída no contexto da sociedade e por atores sociais, a partir de
demandas da própria sociedade. Segundo a autora, a análise deve ser voltada para o processo
de produção e difusão das tecnologias procurando entender as relações mútuas entre
sociedade e objetos técnicos e buscando:
[...] desmistificar a falsa autonomia da técnica, rejeitar a noção de impacto
tecnológico, reconhecer, sobretudo, a trama de relações culturais, sociais,
econômicas, políticas... que envolve sua produção, difusão e uso.
(BENAKOUCHE, 1999).
46
A principal característica da cibercultura é a possibilidade de comunicação em rede, daí
alguns autores, a exemplo de Manuel Castells (2006), trazerem a denominação “Sociedade em
rede” para caracterizar a sociedade contemporânea. A comunicação em rede é viabilizada pela
existência da rede mundial de computadores, conhecida internacionalmente por Internet ou
simplesmente “rede”. Buscando compreender como se o surgimento da Internet, faremos
um breve relato histórico da evolução do computador até o surgimento da rede como a temos
hoje, retratando um pouco do que ficou conhecido como a revolução da tecnologia da
informação.
2.1 CIBERCULTURA: ORIGENS E DEFINIÇÕES
O desenvolvimento dos primeiros computadores está relacionado com as necessidades
do ser humano de fazer cálculos. Desde os tempos mais antigos, o ser humano pensou em
uma série de dispositivos de cálculo, começando pelas próprias mãos (daí a origem do termo
“dígito”, que corresponde a dedo), passando pelo ábaco e por diversas máquinas de calcular,
como a Pascaline de Blaise Pascal, no século XVII, que fazia contas de somar e multiplicar, e
a máquina projetada por Gottfried Leibniz, baseada na Pascaline, que fazia multiplicação e
divisão (VILARIM, 2004). Em 1801, Joseph Marie Jaquard inventou um tear mecânico que
lia automaticamente o padrão abstrato a ser tecido em cartões perfurados; embora essa não
tenha sido uma máquina de calcular, sua importância está no modelo proposto por Jaquard, no
qual pela primeira fez se pensou em “instruções” a serem lidas e em seguida executadas
(GONICK, 1984). Em 1822, na Inglaterra, Charles Babbage, com recursos do governo
britânico, começou a construção de um “calculador diferencial” que seria capaz de calcular
tabelas matemáticas usadas na navegação. Essa máquina não chegou a ser concluída,
principalmente pela ausência da tecnologia necessária à época e também pelo ímpeto de
Babbage em sempre estar agregando inovações adicionais durante a produção. A importância
de Babbage, que ficou conhecido como o “pai do computador”, se deve ao projeto de outra
máquina, que ele chamou de “máquina analítica”, e que teve a influência das ideias de
Jaquard. A máquina analítica nunca chegou a ser construída, mas muitos dos conceitos
utilizados por Babbage inspiraram o esquema de funcionamento lógico dos computadores
atuais (GONICK, 1984; VILARIM, 2004). próximo ao início do século XX, em 1890, o
norte-americano Herman Hollerith, também inspirado no tear de Jaquard, inventou uma
máquina para acumular e classificar dados, que foi utilizada no censo daquele ano com grande
47
sucesso. Essa máquina usava o conceito de circuitos elétricos abertos ou fechados para
processar a informação, e a partir dela é que surge o termo “processamento de dados”.
Hollerith funda a companhia CTR (Computing-Tabulating-Recording), que em 1924 passa a
se chamar International Business Machine, a IBM.
A grande motivação para a busca do desenvolvimento dessas máquinas de calcular era a
dificuldade em solucionar problemas de cálculo matemático; alguns gerados pelo progresso
armamentista, como a trajetória de projéteis, e outros gerados pelo progresso científico, como
o movimento dos planetas. as máquinas de processar dados, como a de Hollerith, surgem
como soluções não para a execução de cálculos complexos, mas para o controle e organização
de dados e informações (GONICK, 1984). Outras, ainda, surgem com o objetivo de
automatizar a produção, como o tear mecânico de Jaquard. Nesse sentido, Robinson Tenório
(2003) argumenta que:
[...] o objetivo sempre perseguido de racionalização e controle do processo
produtivo, no modo de produção capitalista, conduz, a partir do
parcelamento do trabalho em tarefas cada vez mais simples, à introdução da
ferramenta, da máquina-ferramenta, de conjuntos associados de máquinas.
[...]. [É] a necessidade de controlar toda a produção, não só para automatizar
a linha de produção, mas também para as atividades de gestão e controle na
empresa, além do tratamento de dados e informações para o
desenvolvimento da própria ciência, que faz surgir o computador eletrônico
moderno. (TENÓRIO, 2003, p.28-29).
A partir de 1930 os projetos de computadores já utilizavam o conceito de “chave” que
pode abrir ou fechar um circuito elétrico, e a aritmética binária desenvolvida a partir da
Álgebra Booleana, construída por Charles Boole (GONICK, 1984). O primeiro computador,
ainda eletromecânico, e usando relés (originários da indústria telefônica) para implementar a
concepção de circuitos abertos ou fechados, foi o Z1, projetado por Konrad Zuse em 1936, em
Berlim. Em 1944, nos Estados Unidos, a marinha, juntamente com a Universidade de Harvard
e a IBM, desenvolve o MARK I, utilizando milhares de relés e com o objetivo de auxiliar no
cálculo de tabelas de balísticas para canhões navais e artilharia antiaérea. Na Inglaterra,
motivado pelo problema de decifrar códigos secretos alemães, foi desenvolvido o computador
Colossus, entre 1940 e 1944. O ENIAC, que ficou conhecido como o primeiro computador
eletrônico, e que utilizava válvulas em substituição aos relés, foi desenvolvido entre 1943 e
1946, também pelos Estados Unidos e com a mesma motivação do MARK I (SOUZA et al.,
2005; GONICK, 1984). Nesse período, como podemos observar, a necessidade de uso de
computadores está muito relacionada com a nova indústria do século XX: a indústria bélica,
48
que parece determinar o desenvolvimento tecnológico. No entanto, os elementos técnicos,
teóricos, a produção científica e as necessidades da sociedade como um todo encontram-se
completamente imbricados em todo o processo, como bem chama a atenção Robinson
Tenório (2003):
Evidentemente, esse movimento de determinação não é mecânico. Ao
mesmo tempo que as necessidades geradas pela produção material
impulsionam a produção científica, esta cria teorias e técnicas que
transcendem as exigências iniciais de forma a interferir na própria produção
material. (TENÓRIO, 2003, p.29).
Até então, os computadores tinham que ser reprogramados mecanicamente a cada nova
operação. Essa concepção foi modificada a partir da introdução do conceito de “programa
armazenado” proposto por John von Neumann, em 1945, nos Estados Unidos, e que foi
seguido por todas as gerações seguintes de computadores. Na mesma época, em 1947,
Shockley, Bardeen e Brattain, da empresa Bell Laboratories, inventaram o transistor,
provocando uma nova revolução na construção de computadores, possibilitando mais
confiabilidade e velocidade. Além disso, o transistor mostrou-se extremamente versátil para
diminuir de tamanho e de preço, o que veio a se traduzir como um importante aspecto para a
difusão do uso do computador (SOUZA et al., 2005; GONICK, 1984). O primeiro
computador transistorizado foi construído pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT),
em 1957; a Digital Equipment Company (DEC) foi fundada para manufaturar versões
comerciais desse primeiro computador e lançou o PDP-1, o primeiro minicomputador
comercial. Até 1990, outras famílias de computadores da DEC, baseadas nesse modelo,
também foram lançadas. A IBM, até 1958, ainda mantinha sua família de computadores a
válvula; a partir daí lança o modelo 7090 transistorizado (SOUZA et al., 2005; CASTELLS,
2006). Em 1958 surge o circuito integrado, criado por Robert Noyce, que podia conter
dezenas de transistores ocupando um pequeno espaço e com grande robustez; a IBM era
pioneira na utilização desses circuitos quando, em 1964, lança o sistema 360 e passa a
dominar o mercado, atendendo a propósitos científicos e comerciais. O primeiro
minicomputador com circuito integrado foi o PDP-11 da DEC, que foi adotado
principalmente por universidades (SOUZA et al., 2005; CASTELLS, 2006).
Em 1971, com o advento do microprocessador, a microeletrônica causa uma revolução
dentro da revolução: o microprocessador engloba em um único chip (ou pastilha) as unidades
49
básicas de um computador. Surgem o Apple I e o Apple II, desenvolvidos por dois jovens
(Steve Wozniak e Steve Jobs
4
), na garagem da casa de seus pais, no Vale do Silício, após
abandonarem os estudos regulares. O Apple II foi o primeiro microcomputador de sucesso
comercial e seu sucesso de venda anunciou a era da difusão do computador. Em 1981 a IBM
introduz no mercado sua versão do microcomputador e chama pelo nome Computador
Pessoal (PC). A disponibilidade do projeto do PC da IBM, em função de não ter sido
construído com tecnologia de propriedade da empresa, possibilitou a clonagem dos PCs em
grande escala, disseminando um padrão comum, apesar da superioridade das máquinas da
Apple. Os softwares para PC, condição fundamental para a sua difusão, começam a surgir em
meados dos anos de 1970. Em 1978, dois jovens desistentes de Harvard (Bill Gates e Paul
Allen) fundam a Microsoft. O Macintosh, que sucedeu o Apple II, é lançado em 1984, e
introduz a tecnologia baseada em ícones e interfaces amigáveis com o usuário: aspecto
fundamental para disseminação do uso do computador (CASTELLS, 2006; SOUZA et al.,
2005).
Desde então,
[...] o computador iria escapar progressivamente dos serviços de
processamento de dados das grandes empresas e dos programadores
profissionais para tornar-se instrumento de criação, de simulação e de
diversão nas mãos de uma proporção crescente da população dos países
desenvolvidos. (LÉVY, 2000, p.32).
Com a difusão do PC e dos seus softwares (sistemas operacionais, editores de texto e de
imagens etc.), agora sendo pensados em uma perspectiva amigável, não somente os
especialistas em informática têm a possibilidade de utilizar o computador; esse fato é
fundamental para o exponencial crescimento do mercado dos microcomputadores como um
todo, que nesse momento começam a estar presentes em diversos espaços da vida cotidiana.
Até então, o computador era utilizado de forma isolada. O desenvolvimento da
microeletrônica juntamente com os importantes avanços nas telecomunicações e nas
tecnologias de integração de computadores é que possibilitaram o desenvolvimento das redes.
A partir da década de 1980, os microcomputadores não podiam mais ser concebidos
4
Steve Wozniak e Steve Jobs foram fundadores da Apple Computers, em 1976; a empresa tornou-se pública e
milionária em 1980, em função da comercialização do Apple II. Wozniak e Jobs deixaram a Apple em 1985.
Wozniak retomou os estudos e formou-se em Ciência da Computação e Engenharia Elétrica. Jobs comprou a
Pixar Studios, em 1986, empresa que ficou famosa por uma nova linguagem de animação 3D para desenhos
animados e que produziu rios filmes em parceria com a Walt Disney; em 2006, Jobs tornou-se o maior
acionista individual da Disney com a venda da Pixar para a empresa parceira.
50
isoladamente: eles passam a atuar em rede (inicialmente locais e restritas) compartilhando
suas capacidades de armazenamento e processamento.
É claro que essa capacidade de desenvolvimento das redes se tornou
possível graças aos importantes avanços tanto das telecomunicações quanto
das tecnologias de integração de computadores em rede, ocorridos durante os
anos 70. Mas, ao mesmo tempo, tais mudanças somente foram possíveis
após o surgimento de novos dispositivos microeletrônicos e o aumento da
capacidade de computação, em uma impressionante ilustração das relações
sinergéticas da revolução da tecnologia da informação. (CASTELLS, 2006,
p.81).
O desenvolvimento das ideias e técnicas sobre redes e interconexão de computadores
tem início na década de 1960. No entanto, originalmente a conexão em rede não foi pensada
com a finalidade que tem hoje de ampla comunicação interpessoal para fins diversos, como
afirma Janet Abbate (1999):
[...] a intenção era permitir que os cientistas pudessem transpor as
dificuldades de rodar programas em computadores remotos. A atual Internet,
orientada pela comunicação e gerida comercialmente, surgiu somente após
um longo processo de organização técnica e reestruturação política.
(ABBATE, 1999, p.2, tradução livre).
Esse desenvolvimento teve início entre 1960 e 1964 com a concepção de um sistema
baseado na tecnologia denominada “troca de pacotes” (packet switching), que torna a rede de
computadores independente de centros de comandos e controle. A instituição a quem se
atribui esse desenvolvimento é a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do
Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e o faz com o objetivo de criar um sistema de
comunicação invulnerável a ataques nucleares (CASTELLS, 2006; ABBATE, 1999). A
primeira rede sem controle central denominou-se ARPANET, entrando em funcionamento em
dezembro de 1969 com a conexão de quatro instituições: Universidade da Califórnia em Los
Angeles, Stanford Research Institute, Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e
Universidade de Utah. Embora inicialmente criada com fins militares, a ARPANET começou
a ser utilizada também pelos cientistas, para suas próprias comunicações, e acaba por
incorporar seus próprios valores:
[…] o grupo que planejou o funcionamento da ARPA era constituído por
cientistas acadêmicos, que incorporaram seus próprios valores de
universitários, de descentralização de autoridade e de informação aberta para
o sistema. Para destacar essas influências socioculturais no seu
planejamento, eu comparo a Internet com projetos de rede oriundos de
51
outros contextos e outros países, mostrando como a proposta da ARPA era
diferente das filosofias das outras alternativas de rede. A história mais ampla
das redes revela influências recíprocas entre a Internet e outros projetos nos
Estados Unidos e no exterior.
Eu também enfatizo a importância dos usuários da rede em modelar a
tecnologia. No começo da ARPANET, a distinção entre produtores e
usuários nem mesmo existia, considerando que os experts em computadores
da ARPA estavam construindo o sistema para uso próprio. O seu papel duplo
como usuários e produtores levou os construtores da ARPANET a adotar um
novo paradigma para gerenciar a evolução do sistema: ao invés de
centralizar a gerência do projeto em um pequeno grupo, eles
deliberadamente criaram um sistema que permitia a qualquer usuário, com as
habilidades e interesse requeridos, propor uma nova função. (ABBATE,
1999, p.5, tradução livre).
Nos anos seguintes, vários computadores foram rapidamente adicionados à ARPANET,
e em 1970 o primeiro protocolo de comunicação host-to-host foi finalizado, denominado
Network Control Protocol (NCP); a partir daí os usuários da rede podem começar a se dedicar
ao desenvolvimento de aplicações para a rede. Em 1972, surge a importante aplicação do
eletronic mail. A partir de 1970, diversos outros grupos e instituições, governamentais e não
governamentais, acadêmicos e não acadêmicos, começam a mostrar interesse e a desenvolver
suas próprias redes de conexão de computadores, e a ideia de interconexão de redes para
formar a rede das redes começa a tomar força. A Internet começa a ser pensada como uma
rede de arquitetura aberta (open-architecture network), na qual as redes interligadas poderiam
ser desenvolvidas com arquiteturas próprias, existindo apenas uma camada superior de
compatibilidade definida por protocolos de interconexão. O projeto da Internet foi discutido
em um seminário em 1973, na Universidade de Stanford, proposto por Vicent Cerf, da ARPA,
e com a participação de vários grupos de pesquisa e desenvolvimento envolvidos com a
tecnologia das redes; a partir desse seminário foi especificado o TCP (Transmission Control
Protocol), compatível com as solicitações de diversos pesquisadores e das redes existentes.
De acordo com Cerf: “Nós queríamos ter um protocolo comum e um espaço de
endereçamento comum de forma que você não pudesse perceber, a princípio, que estava
falando com todos aqueles tipos diferentes de redes. Esse era o principal objetivo dos
protocolos de Internet” (CERF, 1990, apud ABBATE, 1999, p.128, tradução livre). Para
conectar as redes fisicamente, foram propostos os gateways, que seriam hosts especiais que
conectariam duas ou mais redes e transmitiriam pacotes entre elas. Em 1978, em um novo
seminário, foi proposta a divisão do TCP em duas partes: TCP/IP; o TCP seria o protocolo
52
host-to-host; o IP seria apenas para transmitir pacotes e seria usado nos gateways (ABBATE,
1999).
Em paralelo com o trabalho com foco militar e dos grandes cientistas com a finalidade
de criar a rede das redes, surgem movimentos criativos, protagonizados, em sua maioria, pela
juventude desejosa de participar dessa nova forma de comunicação, e participantes de
instituições que não estavam conectadas à ARPANET. O modem para PC (elemento
fundamental para conexão de computadores) é inventado em 1978 por Ward Christensen e
Randy Suess, dois estudantes de Chicago, com o objetivo de trocarem arquivos entre si. O
protocolo XModem, que permitia a transferência de arquivos, foi disponibilizado
gratuitamente em 1979, com o objetivo de espalhar o máximo possível a capacidade de
comunicação (CASTELLS, 2006, p.87). Ainda em 1979, três estudantes da Duke University e
da Universidade de Carolina do Norte criaram protocolos que possibilitaram a interligação de
computadores via linha telefônica; eles também distribuíram gratuitamente seu software.
Nessa época foram criadas as primeiras comunidades virtuais através da utilização dos
sistemas de bulletim board systems (BBS); os BBS não precisavam de redes sofisticadas,
apenas de PC, modems e linha telefônica, e possibilitaram a formação de fóruns eletrônicos de
todo tipo de interesse e afinidade (CASTELLS, 2006).
Concomitantemente, no final da década de 1970 e início da década de 1980, iniciou-se
uma pressão para que outras instituições acadêmicas fossem conectadas à ARPANET. Em
1983, para manter a segurança militar, a ARPA decide dividir a ARPANET: surge a MILNET
(apenas para fins militares), e a ARPANET passa abrigar a rede das redes, que depois passou
a ser chamada simplesmente INTERNET (redes interligadas), nessa época ainda sustentada
pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (CASTELLS, 2006; ABBATE, 1999). Mas
as pressões continuavam, e “em fins da década de 1980, alguns milhões de usuários de
computador estavam usando as comunicações computadorizadas em redes cooperativas ou
comerciais que não faziam parte da Internet” (CASTELLS, 2006, p.87). A partir da década de
1990 as redes isoladas que não faziam parte da Internet passam a adotar o mesmo protocolo
usado por ela, o TCP/IP, garantindo sua integração com a rede mundial e a sua expansão.
Em 1990, a ARPANET encerra suas atividades e a NSFNET, National Science
Foundation, assumiu o posto de espinha dorsal da Internet. A partir de 1995 a Internet deixa
de ser coordenada pela NSF e inicia sua fase de privatização.
53
Na década de 90 do século XX a Internet emergiu como um meio público de
comunicação, e surgiram inúmeros comentários sobre o seu impacto e
implicações sociais. Para o usuário iniciante, a Internet parecia ser apenas
uma sensação efêmera a mais recente novidade no mundo popular da
computação. A realidade era diferente. Além das duas décadas de trabalho
que haviam sido empregadas no desenvolvimento de redes de troca de
pacotes, uma rie de transformações foram necessárias no curso da década
de 80 e no início dos anos 90, do mesmo culo, para transformar a Internet
em uma forma popular de comunicação. (ABBATE, 1999, p.181, tradução
livre).
Na década de 1980, a Internet cresceu de forma impressionante, tanto em uso como em
infraestrutura. No entanto, suas aplicações ainda deixavam muito a desejar e poucas eram
amigáveis. Dois fatores agravavam a situação: primeiro a limitação de uso de outra linguagem
que não a textual justamente quando as aplicações locais já avançavam bastante nas
perspectivas gráficas; segundo era a dificuldade de localizar e obter informação on-line. A
transferência de arquivos estava disponível, mas o usuário tinha que saber, de antemão, qual o
nome do arquivo desejado e o nome do computador (host) onde estava guardado o arquivo.
No início dos anos de 1990, foi desenvolvido o sistema gopher, pela Universidade de
Minnesota, através do qual os provedores de informação poderiam organizar seus dados por
tópicos, de forma hierárquica, e a pesquisa poderia se dar a partir dos tópicos definidos
previamente (ABBATE, 1999). Sistemas como o gopher representaram um importante passo
na direção da organização da informação por conteúdo e não por localização; mas as
informações ainda não podiam ser relacionadas entre si e havia ainda muita incompatibilidade
entre formatos de armazenamento e de transferência de dados (ABBATE, 1999).
Um grande salto para a difusão da utilização da Internet, no sentido de sanar as
dificuldades de busca de informação e de utilização de outras linguagens diferentes do texto,
foi dado por volta de 1990 por um grupo de pesquisadores do Centre Européen poour
Recherche Nucleaire (CERN), coordenados por Tim Berners Lee. Eles conceberam a
chamada World Wide Web (www), uma aplicação baseada num novo conceito de
organização da informação imaginado por Ted Nelson e batizado de hipertexto
5
. Nessa
perspectiva, os dados que possuem alguma relação semântica são conectados entre si,
internamente, e pode-se ter acesso a um a partir do outro, sem haver necessariamente uma
linearidade ou uma hierarquia entre esses dados. Berners Lee planejou criar um sistema de
hipertexto que conectaria, através de links, arquivos localizados em computadores ao redor do
5
A noção de hipertexto e suas implicações serão tratadas em mais detalhes em seção posterior.
54
mundo formando uma teia mundial de informação: a World Wide Web. A equipe acrescentou
à ideia do hipertexto o uso de multimeios (além de texto, imagens e, mais tarde, áudios e
vídeos). Para alcançar esse objetivo, a equipe teve que solucionar algumas questões técnicas:
primeiro, criaram um formato padrão para os documentos em formato de hipertexto o
HTML (hypertext markup language); em seguida, projetaram um protocolo de transferência
de hipertextos (HTTP hypertext transfer protocol) para guiar a troca de informações entre
os diferentes servidores, e que atuaria acima do TCP/IP; por último, eles criaram um formato
padrão de endereçamento na web (URL Uniform Resource Locator) (ABBATE, 1999;
CASTELLS, 2006).
O CERN começou a distribuir seu software para web gratuitamente pela própria Internet
em 1991. Os primeiros sites da web foram criados por grandes centros de pesquisa, dentre eles
o National Center of Supercomputer Application (NCSA), cuja equipe foi responsável pela
criação do primeiro navegador web com interface gráfica, o MOSAIC, que também foi
disponibilizado gratuitamente na Internet em 1993 (ABBATE, 1999; CASTELLS, 2006).
André Lemos (2004) ressalta esta característica gratuita e livre do surgimento da Internet e
seus aplicativos básicos: o TCP/IP, desenvolvido com recurso público foi, desde sempre,
disponibilizado gratuitamente, assim como diversos outros softwares básicos que permitiam o
acesso à Internet. Essa característica foi fundamental para a disseminação do uso da Internet e
para o seu crescimento, que viabilizou a interconexão de outras redes que surgiram de
forma isolada.
Nesse sentido, podemos situar o surgimento do ciberespaço dentro da perspectiva de
uma contracorrente que se desenvolve em reação a uma corrente dominante, como sugere
Edgar Morin (2004); o autor argumenta que algumas contracorrentes regeneradoras foram
deixadas como herança do século XX, e considera seis delas: (1) a contracorrente ecológica,
em reação às catástrofes naturais; (2) a contracorrente qualitativa, em reação à generalização
do quantitativo e da uniformização; (3) a contracorrente em resistência à vida puramente
utilitária; (4) a contracorrente em resistência à primazia do consumo padronizado; (5) “a
contracorrente, ainda tímida, de emancipação em relação à tirania onipresente do dinheiro,
que se busca contrabalançar por relações humanas e solidárias, fazendo retroceder o reino do
lucro” (p.73); e (6) a contracorrente em reação à violência. O ciberespaço, constituído a partir
de ações coletivas de compartilhamento gratuito de produtos e da possibilidade da
comunicação todos-todos não intermediada pelos grandes detentores dos meios de
comunicação de massa, parece fazer parte da quinta contracorrente considerada por Edgar
55
Morin, onde colaboração e solidariedade se mostram presentes numa reação à ideia, ainda
hegemônica, do lucro como objetivo principal.
O desenvolvimento da microinformática, o surgimento da Internet, da WWW, nada
disso foi deliberadamente planejado, nenhum grande órgão de mídia previu nem anunciou.
Embora cada grupo envolvido em todo esse movimento tenha tido seus objetivos próprios, a
participação de diversos setores da sociedade possibilitou que a Internet se tornasse o que é
hoje: uma grande teia de informação compartilhada e construída coletivamente. Para Pierre
Lévy, a grande protagonista desta história foi a juventude metropolitana escolarizada:
Pode parecer estranho falar de “movimento social” quando se trata de um
fenômeno habitualmente considerado como “técnico”. Eis, portanto, a tese
que vou tentar sustentar: a emergência do ciberespaço é fruto de um
verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude
metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação
de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes.
(LÉVY, 2000, p.123).
O importante papel da juventude escolarizada pode ser percebido na história do
desenvolvimento da microeletrônica e da Internet quando vemos que os principais atores do
processo são estudantes de instituições de ensino renomadas ou estudantes desistentes destas
mesmas instituições que se unem para constituir as primeiras empresas atuantes na área
algumas delas que deram origem às atuais empresas que dominam o mercado internacional de
informática.
Para Janet Abbate, embora os objetivos militares tenham fornecido a estrutura
necessária para o surgimento das diversas soluções inventivas que deram origem à Internet, os
valores dos grupos de cientistas envolvidos nas diversas criações relacionadas à Internet
foram mais importantes para delinear as suas características que a rigidez do modelo militar;
“a história da Internet não é, portanto, uma história de alguns poucos inventores heroicos; é
um conto de colaboração e conflito entre uma variedade considerável de participantes”
(ABBATE, 1999, p.3, tradução livre). Além disso, a autora acredita que o modelo de rede que
temos hoje foi moldado pelos milhares de usuários independentes que fizeram parte de todo o
processo:
Enquanto o acesso à ARPANET e à Internet se espalham para além do grupo
inicial de cientistas da computação, usuários não experts também passaram a
exercer influência, improvisando novas maneiras de usar a rede e decidindo
quais aplicativos se tornariam funções padrão do sistema e quais seriam
descartadas. Eu defendo que muito do sucesso da Internet pode ser atribuído
56
à habilidade dos usuários de adaptar a rede aos seus próprios objetivos.
Correio eletrônico (e-mail) e World Wide Web (WWW) são exemplos
proeminentes de aplicativos criados informalmente que se tornaram popular,
não como uma estratégia de marketing de alguma empresa, mas através das
decisões espontâneas de milhares de usuários independentes. (ABBATE,
1999, p.5-6, tradução livre).
A história da Internet caracteriza-se por relações sociotécnicas, e deve ser compreendida
na perspectiva das relações mútuas existentes entre sociedade e tecnologia, em que uma visão
de imbricação é muito mais pertinente que de causa e efeito. Não são as técnicas que
determinam as mudanças sociais; tão pouco é a sociedade que determina objetivamente o
surgimento das técnicas. É preciso observar as inter-relações entre os sistemas técnicos e os
sistemas sociais, entendendo que os primeiros são a expressão de relações específicas entre a
ciência, a filosofia, a sociologia, a economia, a política (LEMOS, 2004). O ciberespaço,
muitas vezes compreendido como sinônimo da Internet, retrata essa imbricação mútua entre
sociedade e técnica e, mais que estrutura tecnológica, deve ser visto como um complexo de
dispositivos técnicos, comunicação, informação e sujeitos que atuam neste espaço conectado.
Para Pierre Lévy, o ciberespaço é:
[...] o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos
computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da
comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que
ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam este
oceano. (LÉVY, 2000, p.17).
Nem determinismo social, nem puramente estratégias tecnocráticas, a Internet
estrutura técnica é a própria encarnação do ciberespaço, este último definido por Lemos
como “a nova dimensão espaço-temporal de comunicação e informação planetárias”
(LEMOS, 2004, p.127). O termo ciberespaço tem sua origem no romance de William Gibson,
Neuromancer, de 1984; o escritor concebe o ciberespaço como composto por redes de
computadores interligados e através dos quais circulam todas as informações em seus mais
variados formatos (LEMOS, 2004). Embora originalmente o termo tenha sido proposto como
uma caricatura do real, o ciberespaço é compreendido hoje não como desconectado do real,
mas como espaço não físico que possibilita uma navegação instantânea e reversível pelo
universo de informações que o constitui. Caracterizado pela ubiquidade e pelo tempo real, o
ciberespaço é uma construção rizomática, não hierarquizada e plural, e que pode potencializar
a coletivização dos saberes (LEMOS, 2004).
57
2.1.1 Características da cibercultura
A cibercultura surge a partir de uma imbricação entre técnica, sociedade e cultura, em
que as transformações alcançadas não podem ser entendidas numa visão simplista de causa-
efeito. Concordando com essa perspectiva, André Lemos define cibercultura como “a forma
sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas
tecnologias de base micro-eletrônica [...] (LEMOS, 2003, p.12). Dessa forma, embora
originada a partir da evolução da microeletrônica, da microinformática e das
telecomunicações, que possibilitaram a comunicação em rede numa perspectiva global, a
cibercultura é fruto de uma sinergia entre o social e o técnico.
Segundo Pierre Lévy:
A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução
geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma
sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas. E digo condicionada,
não determinada. (...) Dizer que a técnica condiciona significa dizer que
algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não
poderiam ser pensadas a rio sem sua presença. Mas muitas possibilidades
são abertas, e nem todas serão aproveitadas. (LÉVY, 2000, p.25).
Nesse sentido, não podemos pensar na cnica como um artefato que determina
transformações sociais; no entanto, imaginar, por exemplo, a comunicação global como hoje
se dá, sem a presença das TIC, nos parece impossível. As tecnologias são, portanto,
condicionantes de novas formas de agir e pensar, condicionantes de novos processos culturais,
que, sem elas, as possibilidades abertas não existiriam. Porém, a existência das
possibilidades abertas pelas técnicas não determinam as mudanças culturais, pois estas
poderão ou não ser aproveitadas. Dessa forma, Pierre Lévy argumenta que a tecnologia,
embora condicionante, não pode ser vista como um ator autônomo que atua separadamente da
sociedade e da cultura.
As verdadeiras relações, portanto, não são criadas entre a tecnologia (que
seria da ordem da causa) e a cultura (que sofreria os efeitos), mas sim entre
um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e
interpretam de diferentes formas as técnicas. (LÉVY, 2000, p.23).
A cibercultura, condicionada pelas técnicas, abre uma série de possibilidades que
podem ser aproveitadas no sentido da autoria e do compartilhamento, e possibilita, também,
uma nova forma de imersão interativa na e com a informação. Um novo modo de pensar,
novas práticas, é potencializado pela emergência do ciberespaço que oferece, a partir da
58
estruturação em rede, um ambiente propício para o desenvolvimento do que é denominado
por Pierre Lévy (1998) de inteligência coletiva e que, na concepção do autor, “é uma
inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real
que resulta em uma mobilização efetiva das competências” (LÉVY, 1998, p.28), e que tem
como base e objetivo “o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas” (LÉVY,
1998, p.29).
Alguns aspectos da cibercultura a caracterizam de forma muito peculiar. Manuel
Castells (2006) levanta cinco características principais da sociedade em rede, baseado nos
principais aspectos do que ele chama de paradigma da tecnologia da informação: (1) o foco na
informação agindo sobre a própria informação, diferentemente das revoluções tecnológicas
anteriores nas quais a informação era pensada para agir sobre as tecnologias; dessa forma, a
informação é a matéria-prima da revolução, ocupando nela o papel central; (2) a
penetrabilidade dos efeitos, que a informação permeia todos os processos da nossa
existência, de forma que todos, sem exceção, estão participando (ainda que minimamente) da
sociedade informacional e têm sua existência individual e coletiva influenciada mas não
determinada – pelas TIC; (3) a lógica das redes, cuja morfologia “parece estar bem adaptada à
crescente complexidade de interação e aos modelos imprevisíveis do desenvolvimento
derivado do poder criativo dessa interação” (CASTELLS, 2006, p.108) especialmente pela
possibilidade da comunicação muitos-muitos; graças às TIC a topologia das redes pode ser
materializada em qualquer processo ou organização potencializando essa nova lógica de
relacionamentos e o crescimento exponencial natural da estrutura em rede; (4) a flexibilidade
(que pode ser tanto uma força libertadora quanto uma tendência repressiva, a depender de
quem sejam os redefinidores das regras), a partir de sua grande capacidade de reconfiguração,
trazendo o potencial da transformação e adaptação ao contexto; (5) a convergência para um
sistema altamente integrado, o que resulta na sua lógica de compartilhamento, e possibilita
uma atuação multimidiática; dessa forma, novas e antigas linguagens podem ser integradas
em um único sistema de informação possibilitando o fácil acesso e potencializando a
diversidade de escolhas entre múltiplos caminhos que são criados a cada instante.
André Lemos (2003) caracteriza a cibercultura através de três leis fundamentais: (1) a
lei da reconfiguração; (2) a lei da liberação do polo-emissor; e (3) a lei da conectividade
generalizada. A primeira lei refere-se à questão de evitar a lógica da substituição na
cibercultura; tudo deve ser reconfigurado agregando novas técnicas, sem necessariamente
descartar as antigas; isso é possibilitado pela digitalização e pela tendência à convergência e
59
integração de mídias levando a uma crescente utilização multimidiática da rede. A segunda
lei, a liberação do polo-emissor, diz respeito à emergência de vozes antes reprimidas pela
intermediação dos meios de comunicação de massa, que a comunicação de massa supõe a
produção e o controle da informação por um grupo privilegiado, enquanto a grande massa
atua como ouvintes passivos; com a possibilidade da comunicação todos-todos numa lógica
de redes, emissor e receptor se fundem e passam a ser ambos, em potência, cocriadores da
mensagem. A terceira lei fala da conectividade generalizada entre homem-homem, homem-
máquina e máquina-máquina; o tudo em rede, a rede em todos os lugares e em todos os
equipamentos trazendo a ubiquidade do ciberespaço para a vida cotidiana e reforçando a
sensação de simultaneidade temporal e de velocidade das relações e das mudanças (LEMOS,
2003).
Armazenar informações no formato de números (digitalizar) é a base de todas as
transformações do ciberespaço, que todo tipo de informação (textos, imagens, documentos,
áudios, vídeos) pode ser codificado em padrões de zeros e uns e armazenado em
computadores eletrônicos. A partir da digitalização, as informações podem ser copiadas e
transmitidas indefinidamente, sem que sejam consumidas ou desgastadas; além disso, como o
armazenamento é feito através de números, as informações podem ser objeto de cálculos
aritméticos e gicos executados pelos computadores, e esses cálculos podem produzir
transformações na informação original. Assim, a informação digitalizada “pode ser
processada automaticamente, com grau de precisão quase absoluto, muito rapidamente e em
grande escala quantitativa” (LÉVY, 2000, p.52). Essa possibilidade de processamento rápido
e preciso significa que a mensagem, antes rígida e inalterável, pode agora sofrer inúmeras
transformações de acordo com o desejo de cada sujeito que entra em contato com ela,
potencializando a possibilidade de autoria individual e coletiva.
Dessa forma, a digitalização produz na informação uma transformação que a torna mais
fluida, mais volátil e com uma maior possibilidade de reprodução e de geração de novas
informações, diferentes da original, mas geradas a partir dela. A informação digitalizada não é
irreal, nem desmaterializada – já que ocupa um espaço, ainda que mínimo, no meio digital – é
sim virtualizada e, sobretudo, “pode tornar-se visível de acordo com outras modalidades que
não a reprodução em massa” (LÉVY, 2000, p.54). Embora na linguagem corrente o termo
virtual seja relacionado a uma ilusão, no sentido filosófico traz a noção de potência, e pode
ser entendido como um processo de questionamento, de problematização, de deslocamento do
aqui e agora (LÉVY, 1996).
60
Com o desenvolvimento da informática e das comunicações computadorizadas em rede,
popularizaram-se os termos “virtual” e “virtualidade” que aparecem pela primeira vez, nesta
área, nos anos de 1970, com a introdução, pela IBM, do conceito de memória virtual
(LEMOS, 2004). No entanto, o conceito de virtual é muito mais abrangente que a
informatização. Segundo Pierre Lévy (1996), embora a digitalização no ciberespaço
desempenhe um papel importante nas transformações do mundo contemporâneo, existem
outros vetores da virtualização como: a imaginação, a memória, o conhecimento, a religião;
vetores estes que levaram ao abandono da presença muito antes da informatização.
O virtual tem somente uma pequena afinidade com o falso, o ilusório, o
imaginário. Trata-se, ao contrário, de um modo de ser fecundo e poderoso,
que põe em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de sentido
sob a platitude da presença física imediata. (LÉVY, 1996, p.12).
[...] o virtual o se opõe ao real, mas ao atual. Contrariamente ao possível,
estico e constituído, o virtual é como o complexo problemático, o de
tendências ou de forças que acompanham uma situação, um acontecimento, um
objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a
atualizão. Esse complexo problemático pertence à entidade considerada e
constitui inclusive uma de suas dimenes maiores. O problema da semente, por
exemplo, é fazer brotar uma árvore. A semente é esse problema, mesmo que o
seja somente isso. Isto significa que ela conhece exatamente a forma da árvore
que expandirá finalmente sua folhagem acima dela. A partir das coerções que
lhe são próprias, deverá inventá-la, coproduzi-la com as circunstâncias que
encontrar. (LÉVY, 1996, p.16).
André Lemos, Cláudio Cardoso e Marcos Palácios (2005), tomando como base o
exposto por Pierre Lévy em seu livro O que é virtual, argumentam que:
Podemos ver o real como o conjunto de processos de virtualização e
atualização sucessivos, sendo os primeiros dispositivos de questionamento
de um determinado estado de coisas, e os segundos formas de resoluções
desses problemas. Assim sendo, quando escrevemos este artigo,
virtualizamos (pomos em questão) essa temática: educação e novas
tecnologias, atualizando-a quando escolhemos uma abordagem e não outra,
quando finalizamos escrevendo este texto. O processo é infindável, que o
leitor vai de novo virtualizar nosso texto ao lê-lo, ao questioná-lo com suas
referências adquiridas e com uma criação de relações e vínculos próprios.
Grosso modo podemos, para o que nos interessa aqui, dizer que todo
processo de virtualização é um deslocamento do aqui e agora [...]. Assim,
virtual se opõe ao atual, fazendo parte do real. (LEMOS; CARDOSO;
PALÁCIOS, 2005, p.10-11).
O atual, então, é a solução exigida pela problemática, pelo virtual; é o produto da
atualização feita pelo virtual e que alimenta de volta o virtual. Atual e virtual coexistem e se
61
intercambiam a partir de soluções (atualizações) e problematizações (virtualizações) numa
espiral infinita, estando o virtual sempre na posição do questionamento, da possibilidade, da
potência, ampliando os graus de liberdade e potencializando a criação. O real é entendido,
nessa concepção, como o movimento alternado entre virtualizações e atualizações sucessivas.
Com as TIC e com a digitalização da informação, o potencial da virtualização é
ampliado a partir da facilidade de modificação da informação, da comunicação independente
de lugar ou de tempo, da possibilidade de cooperação e compartilhamento de memórias. “A
extensão do ciberespaço acompanha e acelera uma virtualização geral da economia e da
sociedade” (LÉVY, 2000, p.49).
Com a possibilidade de manipulação da informação de forma fácil e em grande escala
através da digitalização, um outro conceito, a hipertextualidade, ganha renovada força com o
computador e as redes. A noção de hipertexto não é exclusiva das TIC, afinal, o próprio
pensamento se de forma hipertextual, que passamos de uma reflexão a outra a partir das
conexões semânticas construídas pela memória, pelos conhecimentos anteriores que
possuímos, pelas múltiplas referências que valorizamos. O termo, como dito anteriormente,
foi proposto por Ted Nelson, em 1965, para definir o conceito de conexão de informações
textuais, de forma que um texto poderia ser ampliado com novas “janelas” de informações
previamente conectadas (LEMOS, 2004). Lévy define hipertexto como um texto não linear
estruturado em rede e “constituído por nós [...] e por links entre esses nós [...] indicando a
passagem de um a outro” (LÉVY, 2000, p.56). Uma enciclopédia (mesmo impressa) é um
documento hipertextual com seus índices e seus termos definidos a partir de referências a
outros termos. No entanto, a hipertextualidade de um texto impresso implica um movimento
de buscar uma referência num índice, numa biblioteca, de forma que a hipertextualidade nem
sempre se de forma direta. Se pensarmos numa enciclopédia digitalizada (a exemplo da
Enciclopédia Britânica Digital) a hipertextualidade é potencializada, já que, com um simples
“clique” pode-se adentrar a conteúdos diversos e, a partir disso, construir um caminho
individualizado a ser percorrido de forma única. Quando passamos a um suporte digital em
rede, como é o caso da Wikipédia
6
, o potencial da hipertextualidade é ampliado ainda mais,
6
A Wikipédia é uma enciclopédia cujo conteúdo é livre e construído de forma colaborativa por qualquer
internauta; seu conteúdo é regido pelos termos da licença conhecida como GFDL (Gnu Free Documentation
License), o que significa que tal conteúdo, em sua plenitude, pode ser livremente copiado, alterado e
redistribuído por terceiros, desde que sejam dados os devidos créditos, segundo as determinações das licenças. O
projeto foi iniciado em janeiro de 2001 e já possui mais de 14 milhões de artigos em centenas de línguas e
dialetos. Mais informações disponíveis em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia>; acesso em 06 abr. 2010.
62
que os links levam a espaços abertos na rede possibilitando um conjunto inumerável de
caminhos possíveis e acesso a informações não previamente previstas e pensadas; a
Wikipédia apresenta ainda um importante potencial a mais, caracterizado pela cocriação,
descentralizando a construção de seu conteúdo e possibilitando a produção colaborativa em
rede e, consequentemente, a modificação da informação o que seria impossível sem a
presença digital da rede.
Marco Silva (2002) traz o hipertexto como o grande divisor de águas entre a
comunicação de massa e a comunicação interativa. Isso fica claro ao observarmos a
modificação da leitura quando esta é hipertextual; o texto perde sua linearidade e a cada
indivíduo é possível definir um caminho único de acesso a conteúdos diversos, e até
contraditórios, possibilitando o contato com uma multivocalidade que é potencializada pelo
digital. Essa multivocalidade pode ser entendida como um dispositivo de comunicação
polifônica a partir de contribuições de vários autores, assumindo a possibilidade da
complementaridade como um princípio norteador, e que viabilizaria um conjunto de
informações mais completo (e complexo) que poderia expor versões complementares de
um tema, deixando ao indivíduo a possibilidade de efetuar suas próprias nteses e
combinações (SIMEÃO; MIRANDA, 2006).
É interessante notar que essa possibilidade de aprofundamento de um tema
que tenha sido apenas superficialmente tratado em um site através de um link
imediato a outro site mais especializado (que pode estar fisicamente situado
em qualquer parte do mundo) é uma das grandes originalidades e uma das
mais impressionantes vantagens da Web. (LÉVY, 2000, p.88).
A possibilidade de escolha individual leva-nos a outro importante conceito, também
diretamente imbricado com a definição de cibercultura: a interatividade. Marco Silva (2002)
traz a interatividade como um mais comunicacional que emerge a partir da sociedade em rede,
trazendo consigo a livre expressão, o diálogo e uma nova importância para a linguagem. O
autor argumenta que:
[...] um produto, uma comunicação, um equipamento, uma obra de arte, são
de fato interativos quando estão imbuídos de uma concepção que contemple
complexidade, multiplicidade, não linearidade, bidirecionalidade,
potencialidade, permutabilidade (combinatória), imprevisibilidade etc.,
permitindo ao usuário-interlocutor-fruidor a liberdade de participação, de
intervenção, de criação. (SILVA, 2002, p.100).
63
É importante perceber a relação da interatividade com a hipertextualidade
potencializada pelas TIC. Transformar a leitura de um hipertexto em um caminho
individualizado pressupõe a interatividade e a autonomia do leitor na construção do seu
caminho. Se um texto, ainda que construído de forma hipertextual, é lido linearmente, sem
interatividade, o potencial do hipertexto está sendo desprezado; mas essa, no entanto, é uma
opção individual do leitor, o que significa que a simples presença de elementos hipertextuais
não garante (não determina) a mudança de uma postura passiva para outra ativa, autônoma e,
consequentemente, interativa. Em contrapartida,
[...] considerar o computador apenas como um instrumento a mais para
produzir textos, sons, imagens sobre suporte fixo (papel, película, fita
magnética) equivale a negar sua fecundidade propriamente cultural, ou seja, o
aparecimento de novos gêneros ligados à interatividade. (LÉVY, 1996, p.41).
Alex Primo (2007) opta por utilizar a expressão “interação mediada por computador” e
alerta para a banalização do termo “interatividade” que vem sendo associado mais a um
argumento de venda que a uma relação dialógica. Nesse sentido, Alex Primo diz que Marco
Silva está correto quando propõe evitar os discursos totalizantes, as separações maniqueístas e
o debate simplificador sobre interatividade, e sugere a valorização da complexidade dialógica
do processo, das possibilidades de livre debate, influência recíproca e cooperação em
ambientes mediados tecnologicamente. Para tanto, o autor assume uma postura sistêmica
que vê o mundo justamente em termos relacionais – e busca compreender a complexidade dos
processos interativos dando ênfase ao que se passa “entre” os participantes. Alex Primo
classifica as interações mediadas por computador em dois grandes tipos, mútua e reativa,
defendendo, no entanto, que cada uma delas pode apresentar diferentes intensidades e que é
possível estabelecer interações que são ao mesmo tempo mútuas e reativas. Segundo o autor:
[...] a interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e
processos de negociação, em que cada interagente participa da construção
inventiva e cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente; a
interação reativa é limitada por relações determinísticas de estímulo e
resposta. (PRIMO, 2007, p.57)
Na visão de Alex Primo, numa interação mútua os participantes, além de atuarem na
definição de suas relações, também são (re)definidos pelo relacionamento, que os afeta
recursivamente. Nesse sentido, a interação mútua não é baseada em uma causalidade linear
característica da interação reativa mas sim é construída no processo e de forma dependente
da história de vida de cada participante e dos contextos social e temporal. Além disso,
64
interações posteriores serão influenciadas pelos traços deixados por outras interações, e não se
pode reproduzir as reações que se dão em cada uma delas (PRIMO, 2007). os sistemas
reativos, segundo o autor, são caracterizados por interações reativas que se dão baseadas em
um equilíbrio estático, em que as trocas acontecem condicionadas a predeterminações, dentro
de limites previstos; na interação reativa, as mesmas reações programadas se repetem, “em
vez de ser negociada, a relação insiste em perseguir os trilhos demarcados” (PRIMO, 2007,
p.154). Alex Primo defende a interação mútua nos ambientes mediados tecnologicamente na
intenção de valorizar as possibilidades de livre debate, influência recíproca e cooperação, de
forma que processos problematizadores sejam estabelecidos nesses ambientes.
Como podemos perceber, uma das maiores – senão a maior
transformações que
observamos na cibercultura está relacionada com a comunicação. Os meios de comunicação
antes da Internet são caracterizados pela comunicação de massa: um polo-emissor, produtor
da informação que é transmitida, sem possibilidade de intervenção dos receptores – a exemplo
da TV, do rádio, do jornal impresso. Concordamos com André Lemos quando diz que:
[...] a Internet não é uma mídia no sentido que entendemos as mídias de
massa. Não fluxo um-todos e as práticas dos utilizadores não são
vinculadas a uma ação específica. Por exemplo, quando falo que estou lendo
um livro, assistindo TV ou ouvindo rádio, todos sabem o que estou fazendo.
Mas quando digo que estou na Internet, posso estar fazendo todas essas
coisas ao mesmo tempo. Além de enviar e-mail, escrever em blogs ou
conversar em um chat. Aqui não vínculo entre o instrumento e a prática.
(LEMOS, 2003, p.17).
Nesse sentido, muito mais que uma mídia de massa, a Internet é um ambiente que
agrega recursos de interação. A conexão generalizada do ciberespaço tem como um de seus
principais fatores a liberação do polo-emissor da informação, antes dominado e controlado
pelos meios de comunicação de massa. Pela primeira vez na história, potencialmente falando,
qualquer indivíduo tem a possibilidade de gerar/receber informação (em qualquer formato)
para/de qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta, o que favorece a criação de grupos em
torno de tendências e objetivos comuns, em práticas de colaboração e coautoria que
repercutem na forma de produção de conhecimento na contemporaneidade.
65
2.1.2 Software livre como fenômeno da cibercultura
Entendendo a cultura contemporânea como estruturante de atitudes mais ativas e mais
críticas, é fundamental que o acesso e a participação na informatização da sociedade sejam
vistos como um direito de todos. Nesse sentido, Maria Helena Bonilla (2002) chama a atenção
para uma concepção não reducionista do que se tem chamado de inclusão digital. Para a
autora, a definição de inclusão digital como a capacidade da população inserir-se no contexto
das tecnologias de informação e comunicação como consumidora de bens, serviços e
informações e para isso seria necessário apenas o acesso às tecnologias e uma capacitação
instrumental suficiente para a aquisição de competências para o seu manuseio não
contempla a complexidade do conceito, que deve ser abordado:
[...] na perspectiva da participação ativa, da produção de cultura e
conhecimento, o que implica vontade e ação política, e um amplo processo
educativo capaz de oportunizar à população a participação na dinâmica
contemporânea como sujeitos críticos, criativos, éticos, autônomos e com
poder de decisão e produção. (BONILLA, 2002).
Contribuindo com esse questionamento, Sérgio Amadeu da Silveira (2008) traz a ideia
da “inclusão digital autônoma” que, segundo o autor, está diretamente vinculada à utilização
de softwares livres para viabilizar a emancipação no cenário digital:
A ideia de emancipação ou de inclusão digital autônoma reforça as
proposições que defendem o vínculo das políticas públicas com o uso de
software livre, cujo código-fonte é aberto, permitindo que o conhecimento
total sobre o programa usado seja incorporado localmente e que todo e
qualquer usuário possa se tornar um desenvolvedor. É exatamente no terreno
do software livre em que é travada a grande batalha da emancipação no
cenário digital, uma vez que os oligopólios que vivem da drenagem de
royalties pelo uso de licenças de propriedade de programas de computador,
querem evitar que o modelo de conhecimento aberto prolifere, minando seu
poder econômico e cultural. Sem dúvida, a ideia de emancipação traz
consigo a exigência de autonomia de uso das redes. Sem autonomia, que
pode existir a partir do conhecimento, não liberdade plena de criação.
(SILVEIRA, 2008, p.63)
O software livre (SL) é um programa computacional sobre o qual se pode usufruir de
quatro liberdades fundamentais: usar, estudar, redistribuir, e modificar. O código de um
software livre é aberto, garantindo uma maior acessibilidade do conhecimento a todos, além
de possibilitar modificações, correções de erros e adaptações do programa por qualquer
pessoa com conhecimento técnico para tal. A maneira usual de distribuição de um software
livre é associar a este uma licença (a mais comumente utilizada é a General Public License
66
GNU) e tornar o código fonte do programa disponível
7
. Em contrapondo ao SL, temos o
software proprietário, que é um programa computacional desenvolvido por um indivíduo ou
empresa que detém os direitos autorais e de propriedade sobre ele e cuja utilização, cópia,
redistribuição ou modificação são, em alguma medida, restritos pelo seu criador ou
distribuidor. Normalmente, sua utilização está associada a algum custo para adquirir uma
licença com as permissões desejadas.
A filosofia do software livre, pautada na construção colaborativa e na autonomia dos
envolvidos, pode ser vista como um fenômeno da cibercultura, possibilitado pelas facilidades
de comunicação todos-todos e pela própria concepção de autoria e cocriação que a permeia. A
utilização de softwares proprietários, ao contrário, é pautada numa aceitação de critérios
definidos por um grupo controlador que gera produtos que são utilizados por “usuários” no
sentido restrito da palavra que não têm a possibilidade de interferir diretamente no
desenvolvimento do software sendo, de certa forma, obrigados a adaptar-se a eles, numa
típica atitude de alienação.
A definição de SL se faz a partir da conceituação de suas 4 liberdades: (1) a liberdade
de executar o programa, para qualquer propósito; (2) a liberdade de estudar como o programa
funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades; (3) a liberdade de redistribuir cópias de modo
que você possa ajudar ao seu próximo; (4) a liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os
seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie. Além disso, o
entendimento da inclusão digital como política pública traz como um de seus pressupostos o
direito à liberdade de expressão e comunicação mediada pelo computador e pelas redes
digitais, de forma que a adoção de SL apresenta, segundo Sergio Amadeu da Silveira (2007b),
uma relação íntima e fundamental com a possibilidade da inclusão digital. Nesse sentido, o
autor argumenta que:
A inclusão digital não pode ser apartada da inclusão autônoma dos grupos
sociais pauperizados, ou seja, da defesa de processos que assegurem a
construção de suas identidades no ciberespaço, da ampliação do
multiculturalismo e da diversidade a partir da criação de conteúdos próprios
na Internet, e, pelo ato de cada vez mais assumir as novas tecnologias da
informação e comunicação para ampliar sua cidadania. (SILVEIRA, 2007b).
7
Mais informações sobre software livre e as licenças associadas a ele no Portal do Software Livre, disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Software_Livre>; acesso em: 06 abr. 2010.
67
O movimento do software livre é um conceito de coletividade no qual se busca a
garantia de que o produto dos esforços coletivos não será apropriado por ninguém, será sim de
domínio não da própria coletividade que o produziu, mas de domínio público. O
movimento de software livre é expressão da imaginação dissidente de uma sociedade que
busca mais do que a sua mercantilização. Trata-se de um movimento baseado no princípio do
compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva
conectada na rede mundial de computadores (SILVEIRA, 2007b). Um movimento baseado
em autonomia e liberdade coletivas.
A construção coletiva e aberta vivida nas comunidades de software livre prima pela
liberdade de criação, pela liberdade como criação. O acesso completo ao código fonte, uma
das liberdades explícitas do SL, implica abrir mão do “poder” da propriedade em nome do
coletivo; ao mesmo tempo provê uma negação à heteronomia, já que possibilita a busca
individual do caminho de cada um na construção/aprimoramento daquilo que está utilizando,
sem necessariamente depender de uma definição externa a si próprio definido pelo Outro
como trazido por Cornelius Castoriadis (2000). Negando a heteronomia e caminhando no
sentido da construção coletiva e compartilhada, caminha-se também na busca da autonomia
coletiva que passa a ser meio e fim do processo.
Entendemos, assim, que o movimento do software livre nasce buscando autonomia e,
é claro, liberdade. E, concordando com Sérgio Amadeu da Silveira (2007b), acreditamos que
esse movimento pode ser visto como uma luta de dimensão planetária na busca de defender
valores sociais. Mais que isso, esse é um movimento que contribui com a construção de uma
economia de externalidades positivas (SILVEIRA, 2007a), no qual pessoas que não pagam
por determinados bens ou serviços são beneficiadas por eles fato que não se com a
utilização de software proprietário. Nessa visão, o movimento do software livre caminha no
sentido da busca da autonomia coletiva, no sentido da busca de uma relação coletiva e não
excludente – com a liberdade.
2.1.3 A riqueza das redes
Abordando a questão da potencialidade das redes e de sua riqueza, Pierre Lévy (2000),
ao mesmo tempo em que responde a críticas frequentes à cibercultura, levanta alguns de seus
aspectos positivos. Traremos, a seguir, alguns deles: (1) entendendo a cibercultura a partir de
68
seu interior, de suas origens, podemos perceber as “novas formas de laços sociais que ela sela
no silêncio ricamente povoado do ciberespaço, longe do clamor monótono das mídias”
(LÉVY, 2000, p.232). A cibercultura, na verdade, traz uma alternativa ao domínio poderoso
das mídias de massa; (2) embora a cibercultura tenha, inegavelmente, um aspecto excludente
(já que o acesso ao ciberespaço exige infraestrutura de comunicação de alto custo), “é preciso
observar a tendência de conexão e não seus meros absolutos” (LÉVY, 2000, p.236). O
número de pessoas com acesso cresce exponencialmente e a cada dia é mais fácil e mais
barato conectar-se; (3) o ciberespaço possibilita a participação em comunidades virtuais, a
comunicação com especialistas e o acesso à informação de forma ampla, independente das
barreiras físicas e geográficas, valorizando a diversidade das fontes (sem a existência de um
centro emissor) e a discussão aberta, transversal e multipolar; (4) a maior riqueza do
ciberespaço são as pessoas que o povoam e o nutrem; a manutenção da diversidade cultural
presente no ciberespaço depende da iniciativa e capacidade criativa de cada um de nós.
Os aspectos levantados por Lévy (2000) sintetizam, de certa forma, o diferencial da
comunicação em rede em relação à comunicação de massa. Esta última pode ser
compreendida como um dos vetores da alienação na contemporaneidade que seu modelo
clássico de comunicação emissor-mensagem-receptor está pautado numa lógica de
transmissão de “verdades” definidas por um centro controlador para uma massa consumidora
e, muitas vezes, não crítica, que, por sua vez, incorpora ao seu imaginário social a mensagem
recebida. O modelo de receptor que não se reconhece também como um potencial emissor
leva a uma desautorização de si próprio e a uma apreensão de conteúdos e crenças construídos
por um outro, de forma que os objetos de conhecimento passam a ser percebidos como
externos ao sujeito, que assume, portanto, a posição de alienado, e não de um sujeito
autônomo.
A riqueza das redes vai de encontro a esse vetor de alienação, tendo como ponto central
a transformação do receptor em um potencial autor e coautor das mensagens circulantes no
ciberespaço. O emissor deixa de ser um ponto central privilegiado que estabelece regras e
conteúdos e passa a poder ser composto por todos aqueles que se autorizem e se coloquem
como cocriadores. A multivocalidade cresce naturalmente num ambiente de cocriação e
abertura e, ao mesmo tempo, fomenta uma postura de criticidade, que as mensagens, agora
geradas por muitos, passam a traduzir visões de mundo diversas e até antagônicas,
favorecendo a reflexão dos que entram em contato com elas.
69
Nesse sentido, a cibercultura nega a conservação de uma realidade instituída (e
alienante), legitimada pelo “bom senso” dos grupos dominantes e pela mídia de massa que
os indivíduos (receptores) como consumidores de informação e não como potenciais
produtores. A lógica do ciberespaço traz um novo modelo comunicacional que Eugênio
Trivinho (2000) denomina de ciberespacial, caracterizado pela presença de um indivíduo
participativo-interventor cuja postura jamais foi verificada de forma plena em uma
comunicação de massa. No ciberespaço o indivíduo é impelido a uma atitude de busca
compulsória na qual precisa:
[...] absorver-se num processo contínuo de intervenção na virtualidade da
inforede, e na hipertextualidade dos cyberspatial products para reativar em e
extrair de ambas aquilo que elas podem oferecer. [...] Os conteúdos dos
infoprodutos [...] não vêm até ele; é ele que, sedentário-made, através do
veículo, a todo momento, vai. (TRIVINHO, 2000, p.173).
Dessa forma, a vivência no ciberespaço fomenta uma atitude mais ativa e, portanto,
menos alienada, de forma que o autonomizar-se diante das possibilidades de abertura da
cibercultura nos parece uma meta mais factível; a autoria torna-se um aspecto fundamental se
desejamos aproveitar todo o potencial da cibercultura. Para tal, é fundamental que as
tecnologias de informação e comunicação não sejam vistas apenas através do seu viés
instrumental, mas também, e principalmente, como reorganizadoras de novos modos de agir,
pensar e viver, constituindo-se em elementos estruturantes das relações sociais (PRETTO,
1996; BONILLA, 2005). Pensar e utilizar as TIC de forma instrumental é subutilizá-las, é vê-
las apenas como novos recursos para a execução das mesmas tarefas; esse tipo de utilização
em nada fomenta a criatividade e a autoria, e não contribui para uma perspectiva desalienante.
A compreensão da autonomia e a busca de sua construção no contexto educacional,
portanto, são fundamentais para a percepção dos vetores de alienação presentes na
contemporaneidade e consequente assunção de si próprio como sujeito capaz de buscar a
compreensão do mundo de forma crítica e contribuir para sua transformação. No contexto da
cibercultura, com sua abertura e potencial para a cocriação, entendemos que a autonomia vem
contribuir com a apropriação das TIC como estruturantes, de tal forma que autoria, liberdade
e criatividade sejam predominantes nesse movimento de apropriação. Inversamente, a
cibercultura com suas possibilidades de abertura favorece o autonomizar-se dos sujeitos com
ela engajados e traz um novo potencial para a formação crítica.
70
2.2 AUTONOMIA E OUTROS CONCEITOS INTERLIGADOS
Como vimos, a cibercultura possibilita uma nova relação dos indivíduos com o saber,
uma relação com mais possibilidade de autoria. Mas uma inquietação que nos aflige é se esses
indivíduos estão conscientes dessa possibilidade e, mais importante ainda, se a educação está
preparada para fazer uso dessa possibilidade e fomentar a autoria no ciberespaço. Nesse
sentido, aprofundar o conceito de autonomia é um passo fundamental para compreendermos
como a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem, no contexto da cibercultura, pode
contribuir para a formação crítica do sujeito. A autonomia não é aqui entendida como uma
especificidade da educação contemporânea ou da educação mediada pelas tecnologias. A
autonomia é reconhecidamente um aspecto fundamental a ser incentivado, construído e
discutido no contexto de propostas educacionais preocupadas com a formação de sujeitos
críticos e que se reconheçam como autores de sua história.
2.2.1 O que entendemos por autonomia
No contexto das mudanças culturais vividas na contemporaneidade, e consequente
ampliação das possibilidades de expressão e de autoria individual e coletiva na chamada
sociedade em rede, o termo “autonomia” é amplamente utilizado, especialmente quando se
discute EAD, como sendo uma característica fundamental para aqueles que pretendem
participar como alunos de cursos a distância. No entanto, o termo, muitas vezes, é banalizado
no sentido de que os sujeitos passam a acreditar que a responsabilidade pelo estado de crise
social (assumida como se fosse uma crise individual) é exclusivamente sua e que a superação
dessa crise depende de atitudes também exclusivamente suas, de modo individualista,
sintetizado simplistamente no senso comum na expressão corriqueira: eu resolvo o meu
problema e você resolve o seu”. Na educação, muitas vezes, o termo autonomia é confundido
com a capacidade dos indivíduos de aprender a partir de uma relação direta entre o sujeito
aprendente e o objeto a ser apreendido; o termo “autodidata” é utilizado para se referir aos
indivíduos que possuem características tais como: independência, pró-atividade, capacidade
de resolução de problemas de forma independente; características que os diferenciam em sua
relação com conteúdos e saberes a serem apreendidos e, portanto, seriam mais autônomos
para a apreensão de conteúdos, independente de um processo social e coletivo de construção
de conhecimento. No mundo do trabalho, os sujeitos são caracterizados como mais
autônomos se conseguem superar as dificuldades que surgem de forma individual e buscando
71
responder às demandas do trabalho – colocadas por outros – com iniciativas próprias.
O sujeito autônomo é entendido, de maneira geral, como aquele que “consegue se virar
sozinho” para atender demandas criadas por outros sujeitos. Ou seja, ele seria autônomo para
resolver um problema, mas não para definir o problema. Na educação, um sujeito seria
autônomo para apreender os conteúdos disponibilizados por outros, mas não para designar
que conteúdos deseja apreender ou que caminhos deseja percorrer para apreendê-los. Esse
conceito de autonomia não nos satisfaz. Mesmo quando aparentemente entendido de forma
menos individualista, o conceito de autonomia é pouco problematizado. Sentimos, portanto,
necessidade de aprofundar esta discussão buscando avançar no conceito de autonomia para
uma perspectiva não individualista, inspirando-nos, especialmente, nas abordagens de
Cornelius Castoriadis e Paulo Freire.
Segundo Nicola Abbagnano, o termo autonomia foi introduzido por Kant “para designar
a independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de desejo e a sua
capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão”
(ABBAGNANO, 2003, p.97). Essa definição pode parecer, a princípio, contraditória com
relação ao que compreendemos por autonomia no sentido coloquial; no entanto, Kant traz
autonomia em contraposição à heteronomia, na qual a vontade é determinada pelos objetos de
desejo e não por uma lei própria. Nessa abordagem, o desejo seria algo externo ao próprio
indivíduo, que não comporia a razão; o desejo seria fruto de um imaginário social. Essa
definição parece levar a uma compreensão individualista de autonomia. Mas se vivemos numa
coletividade, numa pluralidade de compreensões, de seres, de culturas, como entender a
autonomia apenas no sentido individual? Edgar Morin (2003) traz uma abordagem
fundamentada na relação entre autonomia e dependência, na qual a autonomia somente pode
ser concebida a partir da relação com o meio. O autor retrata isso na sua definição do
princípio de autoeco-organização ou autonomia/dependência:
[...] os seres vivos são auto-organizadores que se autoproduzem
incessantemente, e através disso despendem energia para salvaguardar a
própria autonomia. Como têm necessidade de extrair energia, informação e
organização no próprio meio ambiente, a autonomia deles é inseparável
dessa dependência, e torna-se imperativo concebê-Ios como autoeco-
organizadores. O princípio de autoeco-organização vale evidentemente de
maneira específica para os humanos, que desenvolvem a sua autonomia na
dependência da cultura, e para as sociedades que dependem do meio geo-
ecológico. (MORIN, 2003, p.27-28).
72
Cornelius Castoriadis concebe a autonomia numa perspectiva social e coletiva, de forma
que a autonomia do indivíduo não pode se dar sem a autonomia coletiva. A autonomia na
perspectiva individual é definida pelo autor como “a minha lei, oposta à regulação pelo
inconsciente que é uma lei outra, a lei de outro que não eu” (CASTORIADIS, 2000, p.124). O
inconsciente é aqui entendido como o “discurso do Outro”, sendo esse discurso composto de
significações desejos, expectativas que tem o indivíduo como objeto, e não como sujeito.
Dessa forma, autonomizar-se é sair do domínio de um discurso que traz a definição de uma
realidade imaginária que não me pertence; é possibilitar que o meu discurso tome o lugar
do “discurso do Outro”; no qual o meu discurso é:
[...] um discurso que negou o discurso do Outro; não necessariamente em seu
conteúdo, mas enquanto discurso do Outro; em outras palavras que,
explicitando ao mesmo tempo a origem e o sentido desse discurso, negou-o
ou afirmou-o com conhecimento de causa, relacionando seu sentido com o
que se constitui como a verdade própria do sujeito como a minha própria
verdade. (CASTORIADIS, 2000, p.125).
No entanto, a verdade própria do sujeito, embora tome o lugar do discurso do outro, não
pode ser vista como um estado concluído, uma solução; ela é muito mais um estado ativo, que
se reconfigura a cada instante, e sempre impregnada pelo discurso do outro. “A autonomia
não é pois elucidação sem resíduo e eliminação total do discurso do Outro não reconhecido
como tal. Ela é instauração de uma outra relação entre o discurso do Outro e o discurso do
sujeito” (CASTORIADIS, 2000, p.126).
Até então, estamos falando de uma perspectiva individual da autonomia, mas que é
ampliada pelo autor quando diz que a verdade própria do sujeito, que vem à tona quando este
constrói e reconhece seu próprio discurso, está impregnada de elementos que ultrapassam o
próprio sujeito; a verdade própria do sujeito é sempre parte de uma verdade maior, que vai
além do sujeito individual e que “se enraíza finalmente na sociedade e na história, mesmo
quando o sujeito realiza sua autonomia” (CASTORIADIS, 2000, p.129). Dessa forma, a
autonomia não pode ser pensada desvinculada do social (ou do meio, como traz Edgar
Morin); pelo contrário, ela está impregnada do outro; do outro não como obstáculo exterior a
ser eliminado, mas como constitutivo do sujeito; a “existência humana é uma existência de
muitos e que tudo que é dito fora deste pressuposto é sem sentido” (CASTORIADIS, 2000,
p.130).
Para Paulo Freire (2006b) que discute o conceito no contexto educacional a
autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. O autor
73
argumenta que a autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões,
que vão sendo tomadas. Segundo o autor:
[...] é preciso que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência
formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se
convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE,
2006b, p.22).
É clara a posição do autor com relação à necessidade do reconhecimento de cada um
como “sujeito”; sujeito no sentido de assumir a construção de seu caminho e do caminho
coletivo (impossível de se desvincular do primeiro). Além disso, Paulo Freire ressalta a
importância do reconhecimento de si próprio (enquanto professor) e dos alunos como seres
em constante formação, formação esta potencializada quando nos colocamos (ambos) como
sujeitos do processo, uma vez que ao
[...] trabalhar com os alunos, não tenho dúvida nenhuma de que, inacabados
e conscientes do inacabamento, abertos à procura, curiosos, programados,
mas, para aprender, exercitaremos tanto mais e melhor a nossa capacidade de
aprender e de ensinar quanto mais sujeitos e não puros objetos do processo
nos façamos”. (FREIRE, 2006b, p.59).
Paulo Freire também nos alerta para a importância do reconhecimento do “outro”, e não
de sua anulação, em consonância com a ideia trazida por Cornelius Castoriadis da importância
do outro na construção de nossa própria identidade e compreensão da realidade:
Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as
condições em que os educandos em suas relações com os outros e todos com
o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se.
Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante,
transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva, porque
capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se
como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros.
É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de
meu eu. (FREIRE, 2006b, p.41).
A abordagem freiriana da assunção de si próprio e do reconhecimento do outro condiz
com a perspectiva de Castoriadis que entende a autonomia como meio e como fim da prática
pedagógica; meio, pois através dela se a formação e a construção do conhecimento numa
perspectiva de autoria e transformação, e fim, pois a construção da autonomia do outro e de si
próprio é o objetivo final da prática (CASTORIADIS, 2000).
74
Mais especificamente sobre a autonomia no contexto da EAD, Oreste Preti associa o
termo a outros conceitos como autoformação, autoaprendizagem, aprendizagem aberta,
aprender a aprender, autoregulação, autopoiésis etc., que, segundo o autor, embora sejam
conceitos distintos, apresentam em comum a busca por práticas em que o aluno seja
considerado como sujeito, autor e condutor de seu processo de formação (PRETI, 2000). Para
o autor, a autonomia, enquanto ação educativa, pode ser abordada em diversas dimensões, a
exemplo de: (1) dimensão ontológica – que a considera como algo que faz parte do ser, do vir
a ser e, ao mesmo tempo, como algo que não pode ser dado, mas precisa ser conquistado; (2)
dimensão política que a sua construção como processo pautado nos objetivos e projetos
de cada um e do grupo em que esse um está inserido e comprometido (já que sem o
compromisso seriam as decisões de outros que estariam pautando nossas ações, resultando,
portanto, em um processo alienante e não emancipatório); (3) dimensão afetiva – que retoma a
perspectiva do prazer no processo de aprendizagem; (4) dimensão metodológica – que articula
a escolha de um caminho que sentido às práticas pedagógicas a uma visão de mundo; (5)
dimensão técnico-instrumental que diz respeito a procedimentos que apoiem a atuação
autônoma; e (6) dimensão operacional – que trata das ações organizacionais exigidas do
sujeito que pretende construir um processo autônomo de aprendizagem (PRETI, 2000).
Concordando com os autores, a autonomia passa a ser entendida como uma busca
coletiva de assunção de si mesmo como autor, visando também a autoria do outro. Além
disso, entendemos essa busca coletiva como fundamental e inerente mesmo ao ser humano,
que “ela constitui a história, mais do que é constituída por ela (CASTORIADIS, 2000,
p.121).
2.2.2 Alienação e liberdade
A importância de perceber o discurso do outro enquanto discurso de “um Outro que não
eu” é que sem esta percepção, o discurso do outro, que está internalizado em cada um de nós,
nos domina e, assim, acabamos por nos tomar por algo que não somos na realidade, por algo
que é construção de um imaginário. Essa heteronomia, ou alienação, no nível individual, “é o
domínio por um imaginário autonomizado que se arrojou a função de definir para o sujeito
tanto a realidade quanto seu desejo” (CASTORIADIS, 2000, p.124).
Além da alienação individual, é necessário compreender o processo da alienação social,
que Cornelius Castoriadis (2000) denomina de heteronomia instituída, manifesta como
75
“massa de condições de privação e de opressão, como estrutura solidificada global, material e
institucional, de economia, de poder e de ideologia, como indução, mistificação, manipulação
e violência” (p.131), e que neutraliza qualquer autonomia individual; daí a necessidade da
busca coletiva da autonomia. Além disso, o autor ressalta que a alienação, vista como
fenômeno social, surge na relação do indivíduo com o social-histórico, relação esta que,
contudo, não deve ser compreendida como de dependência, mas sim “de inerência, que como
tal não é de liberdade, nem de alienação, mas o terreno no qual liberdade e alienação podem
existir” (CASTORIADIS, 2000, p.135-136).
A alienação assume diversos significados; todos eles relacionam o conceito, de alguma
forma, a uma limitação da liberdade. Andréa Lapa (2005) faz uma preciosa abordagem sobre
alienação, na qual traça a trajetória da noção dentro do pensamento crítico. A autora parte do
conceito marxista-hegeliano de alienação: o alhear-se de si mesmo, e culmina na concepção
de meta-alienação, que seria a ausência da consciência da alienação, de forma que as pessoas
passam a criar e manter sua própria alienação. Andréa Lapa considera a possibilidade da
desalienação a partir do conceito do irredutível, trazido por Henri Lefebvre que seria aquilo
que não se pode dominar nas pessoas:
Acreditar na existência do irredutível significa acreditar na possibilidade
como ingrediente da realidade, ou seja, acreditar que a estrutura não tem
supremacia completa e que há um lugar no mundo onde, apesar de sua força,
a estrutura não predomina. E essa possibilidade existe porque o mundo da
vida cotidiana não está dado, e sim é construído e produzido historicamente.
(LAPA, 2005, p.36).
Ainda segundo Andréa Lapa (2005), reconhecendo a existência da alienação no mundo
contemporâneo, o pensamento crítico adota a educação como uma perspectiva transformadora
da realidade e acredita na formação crítica do sujeito como um projeto de emancipação e de
busca da desalienação – da autonomia – e da liberdade.
O entendimento de liberdade, no senso comum, relaciona-se, na maioria das vezes, à
compreensão que os indiduos têm de seu livre-arbítrio para a tomada de decisões, desde as
mais simples como a locomoção em determinados espaços territoriais, até as mais complexas,
como as decisões cujos efeitos só se manifestarão a médio e longo prazo. No entanto, a tensão
entre liberdade e autoridade está continuamente presente; e seu amadurecimento se no
confronto com a liberdade do outro e na determinação de seu próprio limite (FREIRE,
2006b).
76
Ser livre é ter capacidade para agir com a intervenção da vontade. Para Nicola
Abbagnano (2003), o conceito de liberdade possui, na filosofia, três significados
fundamentais: (1) como autodeterminação ou autocausalidade; (2) como necessidade que se
baseia no significado precedente, mas refere-se à totalidade à qual o homem pertence, seu
mundo enquanto substância; (3) como possibilidade ou escolha segundo a qual a liberdade é
limitada e condicionada. Essas significações remetem às disputas metafísicas morais e
políticas sobre liberdade, que se agrupam em três concepções. A primeira abrange o conceito
de liberdade absoluta sem limitações nem graus ou escalas; é livre aquilo que é causa de si
mesmo. Esse é o sentido aristotélico de liberdade como Causa Sui (causa de si mesmo,
existindo por si e por si sendo concebido); daí derivam, por exemplo, os fundamentos e
princípios do anarquismo. A segunda concepção entende liberdade como necessidade; ligada
ao núcleo comum da primeira concepção, entendendo ser impossível a aplicação do conceito
de liberdade às partes, pois esta só se aplicaria ao todo; tem fundamento na filosofia estoica
para a qual os sábios são livres. A terceira concepção fundamental de liberdade difere das
duas primeiras radicalmente ao conceber liberdade como medida de possibilidade: é livre
quem possui em um determinado grau ou medida a condição ou possibilidade de escolha; essa
concepção deriva do conceito platônico da “justa-medida” e, segundo o autor, é baseada nela
que os problemas do mundo moderno podem ser resolvidos (ABBAGNANO, 2003).
Ainda segundo Abbagnano (2003), para Immanuel Kant, ser livre é ser autônomo, isto
é, dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. A visão kantiana de liberdade é
analisada por Jorge Larrosa (2005) em contraponto à nietzscheana uma visão de liberdade-
criação. Segundo Larrosa, Kant traz a liberdade como emancipação no sentido racional: “É
livre o indivíduo que a si sua própria lei e que se submete obedientemente a ela cada vez
que é capaz de escutar a voz da razão em sua própria interioridade” (LARROSA, 2005, p.87).
A liberdade, portanto, seria sufocada pela razão, já que esta última se converte em dominação
e manipulação. O grande desafio, segundo o autor, é encontrar formas de expressar nossa
vontade diferentemente da concepção moderna de liberdade, em que a razão a controla.
Em seu livro Assim falou Zaratustra, no discurso “Das Três Transformações”,
Nietzsche fala das três metamorfoses do espírito: primeiro em camelo, segundo em leão e por
último em criança. Essas transformações seriam uma busca para a emancipação e para a
liberdade. O camelo busca carregar o fardo que outros lhe dão; tentando demonstrar sua força,
seu poder mas na obediência. Do camelo ao leão o espírito busca conquistar sua liberdade
sendo senhor de seu próprio destino mas obediente, ainda que seja à sua própria razão. Do
77
leão à criança o espírito se encontra com a possibilidade de criação enfim a libertação
(NIETZSCHE, 2001). Enquanto camelo, o espírito é ainda um servo que se satisfaz ao
cumprir o seu dever. A transformação para o leão tem como busca o “fazer-se livre”, mas
numa atitude reativa e de constante luta contra seu amo”. No entanto, assim entendida, a
liberdade do leão é “o instalar em nós o amo, convertê-lo em parte de nós mesmos; [...] a
crítica nos faz livres e escravos ao mesmo tempo: somos livres por interiorização da lei”
(LARROSA, 2005, p.113). Ainda de acordo com Larrosa, na passagem para a criança, o
espírito liberta-se da razão pura e permite-se a experiência da criação, da transgressão, do ir
além de nós mesmos.
Dizei-me, porém, irmãos: que poderá a criança fazer que não haja podido
fazer o leão? Para que será preciso que o altivo leão se mude em criança?
A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um brinquedo,
uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação.
Sim; para o jogo da criação, meus irmãos, é necessário uma santa afirmação:
o espírito quer agora a sua vontade, o que perdeu o mundo quer alcançar o
seu mundo. (NIETZSCHE, 2001, p.36).
Nessa perspectiva, liberdade e autonomia caminham de mãos dadas. A experiência da
criação elaborando a autonomia; a experiência da autonomia, através da transgressão,
possibilitando o novo, o ir além. A liberdade amadurecendo no encontro de outras liberdades
(FREIRE, 2006b); a autonomia coletiva concebendo o começo da minha liberdade no começo
da liberdade do outro (CASTORIADIS, 2000).
2.2.3 A pedagogia crítica e a abordagem dialógica
Assumindo que a alienação tem um limite, presente no próprio sujeito, e que é possível
caminhar no sentido da libertação e do autonomizar-se, a educação o pode esperar, na
neutralidade, que cada indivíduo encontre sozinho seu caminho na autonomia.
[...] as maneiras de adquirir e possuir os significados culturais podem
caracterizar um indivíduo como um ser submetido às formas culturais
dominantes no grupo social em que se integra, ou como sujeito independente
e autônomo, que é possuidor singular dos diferentes traços culturais. Esta é
uma faceta que se pode estimular [...] ou que se pode tentar limitar. [...] E é,
de modo fundamental, uma característica a respeito da qual, inevitavelmente,
a educação sempre toma uma posição. (SACRISTÁN, 2002, p.100).
78
A pedagogia crítica é caracterizada pela opção que faz por uma formação baseada no
compromisso com a transformação social e a emancipação, com ênfase na solidariedade com
grupos marginalizados; uma educação que não esteja comprometida com a reprodução social
e que não se apoie na crença do individualismo como resposta às necessidades dos outros. Ela
“[...] examina as escolas nos seus contextos históricos e também como parte do tecido social e
político existente que caracteriza a sociedade dominante” (MCLAREN, 1997, p.191).
Segundo Moacir Gadotti (2003), diversos teóricos ligados ao movimento pela Escola
Nova abordaram a crítica aos métodos tradicionais de educação, apresentando,
principalmente, o quanto a educação reproduz a sociedade. A maioria desses teóricos, no
entanto, trazia uma visão pessimista da situação de forma que não acreditava na possibilidade
de uma reforma pedagógica, entendendo as escolas como, predominantemente, agências de
reprodução social. Para Moacir Gadotti (2003), Henry Giroux, fazendo uma crítica ao
pensamento crítico, traz, em suas produções, uma visão de esperança e possibilidade quando
analisa a escola como um espaço de dominação e reprodução, mas que, ao mesmo tempo,
oferece a possibilidade de resistência às classes oprimidas. Esta visão de esperança vai de
encontro ao pensamento dos educadores radicais que “concentraram-se de tal forma na
linguagem da dominação que não resta qualquer esperança viável de se desenvolver uma
estratégia política progressista” (GIROUX, 1997, p.27).
Henry Giroux (1997) defende uma visão mais ampla de escolarização, entendendo as
escolas como esferas públicas democráticas, ou seja, espaços democráticos destinados ao
fortalecimento do self e do social. Para tal, é necessário que tanto alunos quanto professores
sejam vistos como intelectuais transformadores, categoria que, segundo o autor, é útil nos
seguintes aspectos: (1) significa uma forma de trabalho na qual pensamento e ação estão
intimamente relacionados, indo de encontro às formas instrumentais de educação; (2) serve
como referencial crítico para que os professores reflitam sobre os interesses que estão
subjacentes às práticas que são experimentadas e reproduzidas nas escolas; (3) representa
“uma demanda adicional por um discurso crítico que analise como as formas culturais
acercam-se das escolas e como tais formas são experimentadas subjetivamente” (GIROUX,
1997, p.136). Giroux ressalta também que a atuação dos professores como intelectuais vem
fortalecer a atuação dos alunos como sujeitos autônomos e críticos, capazes de contribuir com
a transformação da sociedade:
Enquanto intelectuais, combinarão reflexão e ação no interesse de
fortalecerem os estudantes com as habilidades e conhecimento necessários
79
para abordarem as injustiças e de serem atuantes críticos comprometidos
com o desenvolvimento de um mundo livre da opressão e exploração.
Intelectuais deste tipo não estão meramente preocupados com a promoção de
realizações individuais ou progresso dos alunos nas carreiras, e sim com a
autorização dos alunos para que possam interpretar o mundo criticamente e
mudá-lo quando necessário. (GIROUX, 1997, p.29).
Segundo Peter McLaren, os teóricos críticos reconhecem a limitação da liberdade das
pessoas alienação e se apoiam na dialética entre indivíduos e sociedade para buscar a
compreensão dos problemas sociais:
Os teóricos críticos começam com a premissa de que homens e mulheres são
essencialmente não livres e habitam um mundo repleto de contradições e
assimetrias de poder e privilégio. O educador crítico adota teorias que são,
antes de tudo, dialéticas, ou seja, teorias que reconhecem os problemas da
sociedade como mais do que simplesmente eventos isolados de deficiências
individuais na estrutura social. Ao contrário, esses problemas são parte de
um contexto interativo entre indivíduo e sociedade. O indivíduo, um ator
social, cria e é criado pelo universo social do qual faz parte. Nem o
indivíduo nem a sociedade são priorizados na análise; os dois são
inextricavelmente interligados, de maneira que a referência a um deve,
necessariamente, significar referência ao outro. (MCLAREN, 1997, p.191).
Para Michael Apple (2003), a defesa e a construção de uma educação verdadeiramente
crítica e democrática é um projeto coletivo. Para tal, o autor considera fundamental
compreender a aliança entre os movimentos sociais conservadores que têm um profundo
impacto nos debates sobre política e prática educacionais. Em seu livro Educando à direita,
Apple faz uma análise sobre essa aliança conservadora e considera quatro grupos principais
que a compõem: (1) os neoliberais, que se orientam pela visão de um Estado fraco e pela
racionalidade econômica, onde democracia é associada à liberdade de escolha do
“consumidor”, onde aos alunos deve ser oferecida uma qualificação para competir
eficientemente no mercado de trabalho, imperando o individualismo e isentando o mercado
das responsabilidades; (2) os neoconservadores que buscam o retorno à disciplina e ao saber
tradicional, baseando-se, em grande parte, “numa visão romântica do passado, um passado em
que o verdadeiro saber e a moralidade reinavam supremos” (p.57); (3) os populistas
autoritários, onde estão os “fundamentalistas religiosos e evangélicos conservadores que
querem um retorno ao (seu) Deus em todas as nossas instituições” (p.13); e (4) a nova classe
média de profissionais qualificados e gerentes que fornecem o conhecimento técnico
necessário para implementar as políticas de modernização conservadora, e que, não
necessariamente, acreditam nas políticas conservadoras, mas as apoiam enquanto
80
instrumentos “neutros”, assumindo uma tendência ideológica contraditória e que facilmente
pode ser mobilizada pela direita.
Esses movimentos direitistas, segundo Apple (2003), uniram-se de forma criativa,
mesclando suas plataformas, para impor seus aspectos mais fundamentais. Essa união é
baseada na construção de um senso comum hegemônico adequado aos seus ideais e lança mão
de estratégias como o esquecimento proposital, a manipulação e a omissão de informações, de
maneira a fomentar alienação e individualismo. No entanto, embora essa aliança esteja
liderando as políticas educacionais, não quer dizer que não haja contestação a esse guarda-
chuva hegemônico”, ou que este seja sempre vitorioso; pelo contrário, já vêm acontecendo
resistências contra-hegemônicas, normalmente organizadas de baixo para cima e em nível
local ou regional, fato que o autor justifica por considerar estruturalmente difícil sustentar
movimentos nacionais de longo prazo em favor de políticas e práticas mais progressistas.
[...] em face de todos esses dilemas estruturais, financeiros e políticos, o fato
de tantos grupos de pessoas não terem sido integrados sob o guarda-chuva
hegemônico da aliança e de terem criado dezenas de exemplos locais da
possibilidade mesma da diferença mostra, da forma mais eloquente e vívida,
que as políticas e práticas educacionais não tomaram uma única direção
unidimensional. Mais importante ainda: esses muitos exemplos demonstram
que o sucesso das políticas conservadoras nunca é garantido. Isso é crucial
numa época em que é fácil perder de vista o que é necessário para uma
educação digna desse nome. (APPLE, 2003, p.76).
As resistências contra-hegemônicas, quando analisadas individualmente, podem parecer
insignificantes diante das políticas conservadoras dominantes; no entanto, são exemplos do
que Milton Santos (2006) chama de “contrarracionalidades”, que, segundo o autor, surgem em
contraposição à racionalidade hegemônica que busca se impor através das verticalidades
homogeneizantes e que chamam, às contrarracionalidades de “irracionalidades” certamente
no intuito de diminuí-las. No entanto, “é somente a partir de tais irracionalidades que é
possível a ampliação da consciência” (SANTOS, 2006, p.115) e o movimento em busca da
autonomia.
Peter McLaren (1999) considera Paulo Freire como o filósofo inaugural da pedagogia
crítica e um dos primeiros pensadores da educação que atentou para a relação entre educação,
política, imperialismo e libertação; a pedagogia freiriana é antiautoritária e encara o
conhecimento como um ato dialógico – um ato político de conhecer. Além disso, para Freire a
mudança na educação deve ser seguida de perto por mudanças radicais na estrutura social e
81
política, e professores e alunos devem se reconhecer como sujeitos desse processo de
transformação.
O agente freiriano trabalha silenciosa mas resolutamente nas fronteiras da
cultura e nos interstícios dos setores públicos prestes a desmoronar, longe
das arenas poderosas dos espetáculos públicos de acusação e atribuição de
culpa por aquilo que vai mal com as nossas escolas. Educadoras e
educadores freirianos não concebem seu trabalho como um antídoto para os
atuais males socioculturais e para o decrescente nível de ambição no que diz
respeito ao comprometimento da sociedade contemporânea com a
democracia. Pelo contrário, seus esforços dirigem-se pacientemente no
sentido de criar sítios contra-hegemônicos de luta, estruturas epistemológicas
radicalmente alternativas e interpretações e práticas culturais contraditórias,
assim como domínios de sustentação para os grupos excluídos do poder.
É necessário que os educadores contemporâneos revisitem a pedagogia
freiriana, que se apoiem nela, e que a reinventem na especificidade do atual
contexto sociopolítico, no momento em que atravessamos o portal do novo
milênio. (MCLAREN, 1999, p.43).
Paulo Freire argumenta que a raiz da alienação dos homens está na relação entre
opressor e oprimido; daí a defesa do autor de uma pedagogia do oprimido e não para o
oprimido, “aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos,
na luta incessante da recuperação de sua humanidade” (FREIRE, 2006a, p.34). Para o autor, a
busca da libertação deve partir de uma ação reflexiva dos oprimidos e da tomada de
consciência de seu estado de alienação e de opressão, e pelo reconhecimento da necessidade
de lutar pela sua liberdade, superando o próprio medo da liberdade e da consciência crítica:
Os oprimidos, que introjetam a “sombra” dos opressores e seguem suas
pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando a expulsão
desta sombra, exigiria deles que “preenchessem” o “vazio” deixado pela
expulsão com outro “conteúdo” o da autonomia. O de sua
responsabilidade, sem o que não seriam livres. A liberdade, que é uma
conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca
permanente que existe no ato responsável de quem a faz. [...] Não é
também a liberdade um ponto ideal, fora dos homens, ao qual inclusive eles
se alienam. Não é ideia que se faça mito. É condição indispensável ao
movimento de busca em que estão inscritos os homens como seres
inconclusos. (FREIRE, 2006a, p.37).
Entendendo a educação como um ato de comunicar-se, Paulo Freire (2006a) critica a
relação educador-educando baseada no que o autor denomina de concepção bancária da
educação. Segundo essa concepção, o educador é o que sabe, que pensa, que prescreve, que
escolhe o conteúdo, o que narra, é o sujeito do processo; o educando é o que não sabe, o que
82
escuta, o que segue, o que é dirigido, é mero objeto do processo. Assim pensada, a educação
passa a ser uma experiência narrativa, de transmissão, e não um processo, resultando numa
posição de passividade dos educandos que, ao invés de buscarem a transformação do mundo,
adaptam-se a ele.
Na medida em que essa visão ‘bancária’ da educação anula o poder criador
dos educandos ou o minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua
criticidade, satisfaz aos interesses dos opressores: para estes, o fundamental
não é o desnudamento do mundo, a sua transformação. O seu
‘humanitarismo’, e não humanismo, está em preservar a situação de que são
beneficiários [...]. (FREIRE, 2006a, p.69).
Como opção à educação bancária, Freire (2006a) traz a concepção da educação
problematizadora, baseada numa práxis que implica a ão e reflexão dos homens sobre o
mundo para transformá-lo e que afirma a dialogicidade como meio de superar a dicotomia
educador-educando: ambos se tornam sujeitos do processo de construção e reconstrução do
conhecimento, e crescem juntos. Para isso, são fundamentais o respeito aos conhecimentos do
educando e à sua curiosidade ingênua “a curiosidade como inquietação indagadora, como
inclinação ao desvelamento de algo” (FREIRE, 2006b, p.32). Essa curiosidade ingênua, que
caracteriza o senso comum, está diretamente relacionada com o poder criativo e se transforma
em curiosidade epistemológica a partir do momento em que a primeira é criticizada e
estimulada; possibilitar essa criticidade, segundo Freire, é papel do educador que se pretende
problematizador (FREIRE, 2006b).
A abordagem de Paulo Freire, pautada em princípios como a dialogicidade, o respeito
ao educando e seus saberes, a criticidade, a colaboração e a autonomia, está em consonância
com as possibilidades trazidas pela cibercultura e apresentadas anteriormente. Assim,
buscaremos, a seguir, entender as possibilidades da educação na cibercultura, à luz da
discussão sobre autonomia e da educação problematizadora de Paulo Freire.
2.3 EDUCAÇÕES NA CIBERCULTURA
Diante das mudanças culturais relacionadas com as tecnologias de informação e
comunicação que caracterizam a cibercultura, em especial a comunicação no ciberespaço, aos
sujeitos da educação contemporânea cabe refletir sobre sua práxis e sobre os modelos
educacionais que prevalecem na atualidade a partir da compreensão deste novo contexto
sociocultural. Considerando ainda a opção por uma prática educacional problematizadora e
83
pautada na autonomia, como abordamos anteriormente, são muitos os desafios postos à
educação contemporânea; desafios estes que podem ser melhor enfrentados se estivermos em
consonância com as potencialidades da cibercultura.
2.3.1 As potencialidades do ciberespaço e a educação
Importantes transformações acontecem no âmbito da educação com a presença das TIC,
em especial quando consideramos aspectos como a interatividade, a multivocalidade, a
colaboração, que são, como vimos, potencializados na virtualidade do digital. No entanto, a
educação formal está ainda amplamente baseada no “falar-ditar do mestre” e no empenho
individual de cada aluno, repetindo um antigo modelo de racionalidade no qual uma verdade
absoluta é transmitida por um professor que “sabe tudo” a um aluno que “não sabe nada”.
Sobre isso, Maria Helena Bonilla (2005), no âmbito de uma análise sobre a escola na
contemporaneidade e na presença das TIC, argumenta que:
As concepções que temos sobre educação não conseguem fugir da
racionalidade que surgiu com a escrita. Os referenciais da escola atual estão
embasados nessa racionalidade, que tem como base o princípio da formação
científica, a existência de um conhecimento “verdadeiro” que deve ser
transmitido ao aluno, sendo o professor o detentor e controlador dessa
verdade. Nessa perspectiva, o conhecimento se na relação sujeito/objeto,
é linear, [...] e, quanto mais conteúdos o professor transmitir, mais saber será
dominado pelos alunos. A aprendizagem é vista como um processo
individual, dependendo apenas da força de vontade e da persistência de cada
aluno. (BONILLA, 2005, p.13).
As críticas à educação baseada na transmissão não são novas, elas se fazem ouvir desde
muito antes do surgimento da sociedade em rede, a exemplo do trazido por Anísio Teixeira
(1963) e Paulo Freire (2006b). Na atualidade, a situação se agrava, que essa concepção de
educação não consegue dar conta da complexidade do mundo contemporâneo e muito menos
incorporar as novas formas de construção de conhecimento que emergem com a cibercultura.
Reforçando essa compreensão, Marco Silva (2002) argumenta que:
[...] a escola não se encontra em sintonia com a emergência da
interatividade. Encontra-se alheia ao espírito do tempo e mantém-se fechada
em si mesma, em seus rituais de transmissão, quando o seu entorno
modifica-se fundamentalmente em nova dimensão comunicacional. (SILVA,
2002, p.69).
84
Na sociedade em rede, a sala de aula baseada na transmissão é ainda mais inadequada,
já que a difusão de informações através dos meios tecnológicos, em especial a Internet, é cada
dia mais diversificada e mais ampla, de forma que diversas funções cognitivas humanas como
a memória, a imaginação, as formas de acesso à informação e o próprio raciocínio são
modificados (LÉVY, 2000). Em consonância com essa visão, Moacir Gadotti (2000) sugere
que:
Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar
nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de oferecer
informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Deve
oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral. O que
significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as
crianças e jovens, na busca de uma informão que os faça crescer e não
embrutecer. (GADOTTI, 2000).
O autor argumenta ainda sobre a importância de uma pedagogia da práxis apoiada,
dentre outros aspectos, na categoria freiriana da dialogicidade. Nessa perspectiva da
dialogicidade os espaços educacionais formais favorecem uma educação emancipadora e
pautada na criticidade que se afastam do modelo de reprodução do conhecimento
valorizando as construções individuais e coletivas de novos significados. O modelo de
comunicação todos-todos é o que mais se adequa à educação na cibercultura, inclusive
questionando as hierarquias rígidas entre o saber dos especialistas e o saber dos iniciantes, e
valorizando muito mais a produção que o consumo de ideias, significados e culturas
(MARQUES, 2003). Assim, a perspectiva monoculturalista de educação vai de encontro ao
modelo comunicacional da cibercultura, já que este favorece uma pedagogia multicultural que
não pode pretender dizer como é o mundo, ela pode, no máximo “mostrar como o mundo é
constituído nos jogos de poder/saber por aqueles que falam nele, e como se pode criar outras
formas de estar nele” (VEIGA-NETO, 2003, p.13).
É nessa direção que surge a demanda por “novas educações”, onde não cabem as opções
maniqueístas e onde a incompletude e a instabilidade têm mais coerência que a estabilidade e
a repetição. Caminha-se, assim, no sentido da superação das formas padronizadas de educação
e da valorização das individualidades e dos aspectos socioculturais de cada contexto
educativo, além de articular propostas que não estejam apoiadas no modelo único da aula
expositiva, lançando mão do potencial das redes para transformar e potencializar os espaços
formais de aprendizagem. Segundo Nelson Pretto e Cláudio da Costa Pinto (2006):
85
As tecnologias, a relação homem-máquina também impregnada de
dimensões políticas e sociais, fazem com que o elemento característico mais
importante do momento contemporâneo seja a sua não completude. Ser
incompleto é, pois, uma das características peculiares do momento
contemporâneo. A instabilidade como elemento fundante, no lugar da busca
pela estabilidade, pelo equilíbrio. Isso gera, sem dúvida, uma demanda por
novas educações, no plural. (
p.25
).
O poder de expressão presente na cibercultura, tanto em escala individual como
coletiva, e o número crescente de sujeitos que se colocam não como receptores, mas
também como produtores, passam a formar uma “comunidade de aprendizes autônomos,
dedicados a percursos personalizados, mas praticantes sistemáticos da colaboração”
(PRETTO; PINTO, 2006, p.25).
Na não linearidade e na multivocalidade do ciberespaço encontra-se o potencial para a
autoria e a criticidade do sujeito em formação. O contato com as múltiplas vozes, algumas
vezes contraditórias, e a possibilidade e, de certa forma, a necessidade de escolha do seu
próprio caminho no labirinto virtual do ciberespaço favorecem a expressão individual e o
confronto entre os pares (SILVA, 2002).
Tendo em mente uma prática educativa que promova a autonomia e a emancipação dos
sujeitos envolvidos, Paulo Freire traz a dialogicidade como essência da educação
emancipadora, da educação como prática da liberdade.
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco
pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o
mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta
problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.
(FREIRE, 2006b, p.90).
Essa ação dialógica através da palavra deve ser pensada, segundo Paulo Freire, em duas
dimensões: a ação e a reflexão; ou, em outras palavras, a práxis. A autonomia entra como
propulsora do processo de ensino e aprendizagem à medida que professores e alunos se
colocam, ambos, como sujeitos neste processo.
Nessa perspectiva, o respeito à autonomia dos alunos é uma exigência da práxis
pedagógica, “um imperativo ético, e não um favor que podemos ou não conceder uns aos
outros” (FREIRE, 2006b, p.59). Cornelius Castoriadis reforça a importância do
reconhecimento da autonomia para a práxis: “Chamamos de práxis este fazer no qual o outro
ou os outros são visados como seres autônomos e considerados como o agente essencial do
86
desenvolvimento de sua própria autonomia” (CASTORIADIS, 2000, p.94). E, como vimos
anteriormente, o diálogo entre o discurso do Outro e o próprio discurso é que se constitui na
práxis que possibilita o reconhecimento do eu” enquanto ser valorado; a práxis que
possibilita o relacionamento horizontal e o compartilhamento de ideias.
O modelo comunicacional da cibercultura favorece o relacionamento horizontal e,
consequentemente, uma educação que reconhece a fala de cada sujeito envolvido no processo,
que possibilita e motiva essa fala, que percebe o potencial da construção coletiva. É nesse
sentido que a cibercultura potencializa a autonomia na educação; não numa perspectiva
individualista, mas sim colaborativa. O potencial comunicacional do ciberespaço traz a
educação para um patamar de trocas, de interação, de reconhecimento, criando novos espaços
de aprendizagem favoráveis a uma ação dialógica, a uma prática pedagógica emancipadora,
tendo a autonomia como meio e fim do processo educacional, e como empreitada coletiva.
As TIC são entendidas, então, como estruturantes de processos de aprendizagem numa
perspectiva crítica e de autoria, possibilitando um processo não linear e que caminha na
contramão da educação massificadora. A educação mediada pelas tecnologias de informação
e comunicação é muitas vezes referida como educação on-line, e é entendida, por alguns
autores, como um evento da cibercultura (SANTOS, E., 2003) que incorpora os principais
aspectos dessa nova sociedade em rede. A chamada educação on-line pode ser pensada para
qualquer modalidade de ensino (a distância, semipresencial ou presencial), e é definida por
José Manuel Moran (2003) como um “conjunto de ações de ensino-aprendizagem
desenvolvidas por meios telemáticos, como a Internet, a videoconferência e a teleconferência”
(p.39).
A utilização da expressão “educação on-line”, no entanto, pode provocar algumas
interpretações equivocadas. Sabemos que na perspectiva de alguns autores, a exemplo de
Marco Silva (2003) e Edméa Santos (2003, 2005), a expressão está intimamente relacionada
com o potencial da cibercultura no que se refere a seus aspectos mais fundamentais, em
especial, à interatividade. Entretanto, o termo on-line é amplamente utilizado como
sinônimo de “conectado em rede”, como, por exemplo, na definição de Moran citada. Nesse
sentido, diversos modelos educacionais podem ser rotulados como “educação on-line sem
necessariamente estarem coerentes com o potencial comunicacional e de autoria da
cibercultura, mas simplesmente pelo fato de utilizarem a conexão através da Internet para a
transmissão de conteúdos estruturados de forma linear, ou para uma comunicação unicamente
informativa e reativa. Assim, é importante um olhar crítico para cada proposta que se diz uma
87
educação on-line a fim de evitar equívocos tanto com relação à expectativa gerada pela
expressão, quanto a uma compreensão reducionista do potencial da educação na cibercultura.
Na tentativa de explicitar melhor o contexto em que esse e outros termos relacionados à
Educação e às TIC são utilizados, construímos o esquema apresentado na Figura 1.
Figura 1: Representação esquemática – Educação e TIC.
A educação presencial e a EAD são entendidas como duas modalidades distintas de
educação, ainda que na EAD possam existir encontros presenciais e na educação presencial
possam existir atividades a distância. Essa distinção é reforçada pela legislação educacional
que define regras específicas para a modalidade a distância; assim, ainda que exista uma
tendência de convergência e integração entre atividades e estudos sobre as duas modalidades a
dicotomia ainda é inevitável, embora o limite entre uma e outra seja bastante tênue. No
esquema retratado na Figura 1, ambas as modalidades estão representadas na área verde,
separadas por uma linha irregular. A educação mediada pelas TIC (representada na Figura 1
pela elipse azul) é caracterizada pela incorporação dessas tecnologias no seu
desenvolvimento, portanto, pode acontecer tanto na modalidade a distância como na
presencial. A EAD on-line englobaria, então, a EAD mediada pelas TIC (representada na
Figura 1 como a interseção da elipse azul com a parte inferior da área verde). Já a educação
on-line (entendida na concepção dos autores citados) é um subconjunto da educação mediada
pelas TIC (representado na Figura 1 pela elipse vermelha). O foco desta pesquisa está no
subconjunto da educação mediada pelas TIC, em especial a que faz uso dos AVA,
independente da modalidade.
88
Segundo Marco Silva (2002), o mais comunicacional da interatividade, potencializado
pelo ciberespaço, é característica fundamental para a educação on-line, quando entendida
como um evento da cibercultura, e redimensiona o conceito de distância possibilitando a
aprendizagem colaborativa; os sujeitos envolvidos no processo aprendem não só com o
material didático mas também através da atividade dialógica entre eles. No entanto, Edméa
Santos (2005) adverte que:
[...] muitas práticas de educação on-line ainda se fundamentam na
modalidade da comunicação de massa, na qual um polo emissor distribui
mensagens, muitas vezes em formatos lineares, com pouca ou nenhuma
interatividade. Neste caso, as TIC são subutilizadas [...]. (SANTOS, E.,
2005, p.200).
A compreensão das TIC como estruturantes de processos educacionais diferentes
daquele massificador e pautado na transmissão é fundamental para superar a sua
subutilização. Mais do que simples ferramentas a serviço do ensino numa perspectiva de
instrumentalidade, as TIC devem ser entendidas como fundamento, fazendo parte do processo
de ensino e aprendizagem como elementos carregados de conteúdo e que não se instalam em
espaços vazios (PRETTO, 1996). Contribuindo com essa compreensão, Virginia Kastrup
(2000) argumenta que as investigações sobre o fenômeno técnico podem seguir duas lógicas:
a primeira vê a técnica como solução de problemas e, como tal, são instrumentos para ampliar
a capacidade biológica humana, superando seus limites. Nessa gica instrumental, as TIC
atuam como amplificadores da capacidade cognitiva e como potencializadores de sua
velocidade. A segunda lógica de investigar os objetos técnicos, além de reconhecer o seu
aspecto potencializador das capacidades instaladas, os revela como processos de invenção
de problemas de forma a contemplar as questões relativas aos efeitos que a técnica gera sobre
os seus usuários; ou seja, além de amplificar a potência, o instrumento retroage sobre o
organismo produzindo como efeito a criação de necessidades novas. Assim, ao entrar em
contato com a inteligência
[...] esta é colocada num processo de virtualização, acionando processos de
criação e de diferenciação em seu interior. Ao final, o uso dos dispositivos
técnicos responde, nesse sentido, por um processo de transformação da
forma de funcionamento da cognição. Em outras palavras, as formas técnicas
atuais produzem como efeito um movimento de virtualização ou de
problematização da subjetividade muito mais importante do que o domínio
sobre a matéria que garante a solução a um problema imediatamente dado.
(KASTRUP, 2000, p.41-42).
89
Nessa direção, Nelson Pretto e Cláudio da Costa Pinto argumentam que:
[...] não podemos nos contentar com simples apropriações dessas
tecnologias, como se elas fossem, por si sós, capazes de reverter situações. É
por isso que precisamos enxergar que, com essas potencialidades, pululam
elementos que, longe de serem unificadores, constituem-se em
diferenciadores dos seres e das culturas, passando a polos geradores de
novas articulações. (PRETTO; PINTO, 2006, p.23).
Essa compreensão deve estar presente na educação de forma geral, sem que
necessariamente nos limitemos a uma dicotomia entre educação presencial e educação a
distância. Na verdade, a distinção entre educação presencial e educação a distância passa a ter
pouco sentido já que com a presença das TIC em ambas as modalidades, as dimensões
espaço-temporais são modificadas, inclusive na busca de compreender que o modelo de
“aula” deixa de ser a única possibilidade para a construção de relações entre alunos e entre
alunos e professores (BONILLA; PICANÇO, 2005). Entretanto, a ênfase dada, na atualidade,
à modalidade a distância, inclusive pelas políticas públicas educacionais, torna importante
que, neste trabalho, seja feita uma discussão específica sobre a EAD que ganha grande
impulso e, ao mesmo tempo, novos desafios no contexto da cibercultura.
2.3.2 A educação a distância na cibercultura
Originalmente a EAD tinha como princípio o autodidatismo e seus projetos eram
apoiados em abordagens comportamentalistas e instrumentais em que predominava a ausência
de interação entre os participantes do processo, o que justifica o grande preconceito que a
comunidade acadêmica nutria sobre a modalidade (COIÇAUD, 2001). Hoje, embora ainda
exista uma grande quantidade de projetos de EAD pautados nesses princípios, esse
preconceito vem sendo ressignificado a partir das possibilidades da EAD on-line que, além de
se constituir como uma oportunidade de atender um público maior e diferenciado, sua
qualidade vem sendo associada a aspectos como uma forte interação entre os participantes e
pela construção do conhecimento de forma colaborativa, numa perspectiva de rede em que
os centros são móveis possibilitando uma horizontalidade nos processos comunicativos. No
contexto da cibercultura, a EAD on-line é uma demanda da sociedade e é vista por alguns
autores, a exemplo de José Manuel Moran (2004), como um caminho a ser percorrido por
toda instituição de ensino. Nesse novo contexto, a comunicação no processo de ensino e de
90
aprendizagem na EAD tem a possibilidade de sair do patamar unilateral, e de oferecer aos
aprendentes espaços de maior autoria e abertura.
Diversos são os autores que trazem uma conceituação para a educação a distância. Edith
Litwin (2001), por exemplo, caracteriza a educação a distância da seguinte forma:
O traço distintivo da modalidade [a distância] consiste na mediatização das
relações entre docentes e alunos. Isto significa, de modo essencial, substituir
a proposta de assistência regular à aula por uma nova proposta, na qual os
docentes ensinam e os alunos aprendem mediante situações não
convencionais, ou seja, em espaços e tempos que o compartilham.
(LITWIN, 2001, p.13).
O Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta o art. 80 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), diz que:
[...] caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na
qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e
aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação
e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades
educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005).
A EAD “está envolvida em um movimento cada vez mais intenso de transformações e
novas conexões, característico da sociedade em rede na qual convivem diferentes formas de
comunicação e interação” (PICANÇO, 2001, p.47). Consensualmente, a EAD pode ser
entendida como uma modalidade de educação na qual o conceito de “sala de aula” é
ampliado, com relação a uma não convergência de espaço e/ou de tempo dentro do grupo
(professores e aprendentes).
Alguns questionamentos também são feitos com relação ao próprio termo distância,
que (se compreendido de forma relativa) pode ser ainda maior em cursos convencionais
presenciais. Esses questionamentos levam ao conceito de distância transacional, trazido por
Michael Moore (2002), que pode ser definida como o espaço psicológico e comunicacional
que surge a partir do distanciamento espacial e/ou temporal entre dois indivíduos. O autor
aborda a necessidade de transpor esta distância transacional que surge entre aluno/professor e
aluno/aluno nos programas de EAD, e argumenta que essa distância é função de três grupos
de variáveis: o diálogo possibilitado pelos meios de comunicação, pelos fatores ambientais,
pelas personalidades dos professores e dos alunos e pelo conteúdo; a estrutura do programa e
seus elementos, que vão determinar o quão flexível é a proposta do curso; e a autonomia do
aluno.
91
O termo educação aberta e a distância também tem sido usado na tentativa de associar a
modalidade a distância com as necessidades do mundo atual globalizado. Nesse caminho, a
ênfase deve ser dada na maior autonomia do estudante, na flexibilidade e na abertura do
sistema; um olhar mais cuidadoso ao processo de aprendizagem, e não ao processo de
ensino (BELLONI, 2003). No entanto, o termo Educação a Distância ainda é o mais utilizado
no Brasil atualmente, tanto pela comunidade acadêmica e pelas políticas públicas, como pela
população em geral. Mas isso não quer dizer que a EAD esteja sendo pensada de forma
divergente dos aspectos relativos a uma aprendizagem aberta, em especial quando falamos de
uma educação em rede, no contexto da cibercultura. Uma educação que se preocupe não
com o conteúdo, mas também com a construção e adaptação desse conteúdo de acordo com o
contexto, com a atenção à diversidade cultural e regional do grupo, com a formação do
aprendente enquanto ser social e cidadão, com a formação de indivíduos com um perfil mais
adequado ao mundo globalizado atual, um perfil que privilegie a criação, a inovação e a troca
(LIMA, 2003). Segundo Oreste Preti e Marcília Arruda (2004), a EAD deve ser pensada
buscando construir no aprendente posturas críticas e criativas, desenvolvendo uma atitude
investigativa e fundamentada na produção de conhecimento. Para isso, o papel da
comunicação na EAD em rede é de fundamental importância.
A EAD nesse novo contexto tem sofrido muitas transformações; desde a simples “troca”
do suporte midiático em que os conteúdos são armazenados (de uma apostila impressa para
um site na Internet) até propostas inovadoras que valorizam as potencialidades do ciberespaço
e seguem a ideia de uma educação problematizadora. Na verdade, por todo o mundo
globalizado proliferam modelos e estratégias pedagógicas para a educação a distância que dão
forma às instituições que fazem uso deles, e que retratam os objetivos finais dessas
instituições. A escolha do modelo ou da estratégia de ensino e de aprendizagem adotada virá
refletir a opção pedagógica com relação a uma formação crítica para a emancipação ou não. E
um dos riscos da EAD, agora on-line, é reproduzir os problemas da educação convencional,
baseada num paradigma instrucional, para um ambiente tecnológico em rede. Nesse sentido,
Ramal (2003) afirma que:
Educar a distância não pode se limitar a escrever conteúdos que eram
transmitidos em palestras e cadastrá-los numa ferramenta visualmente
interessante. A qualidade de um processo de EAD somente pode ser
confirmada se ele for coerente com os princípios dos mais novos paradigmas
educacionais, superando as limitações das abordagens empiristas e
reprodutivistas, e propondo novos papéis aos estudantes. (p.188).
92
Nesse sentido, a superação da perspectiva instrucional está diretamente relacionada com
uma compreensão diferenciada do papel do aluno, que deve assumir uma postura ativa e
intervencionista de ator e autor no processo de aprendizagem, de forma que a autonomia
individual e coletiva estejam presentes. Alguns modelos de EAD utilizam a rede ainda como
um meio de comunicação de massa, no qual os conteúdos são apenas transmitidos para um
aluno passivo, a quem não é possibilitado o questionamento nem a intervenção na informação
veiculada. Nesta perspectiva, o modelo reprodutivista de educação persiste, ainda que com a
presença de espaços de discussão como fóruns e correios eletrônicos, mas sem uma proposta
que tenha como foco a interação ou a colaboração. Essa proposta normalmente é
acompanhada de textos escritos de forma dialógica, testes on-line, e uma interface bem
elaborada e com elementos gráficos.
Outro modelo de cursos a distância tem o foco na utilização de objetos digitais de
aprendizagem. Nesse caso os conteúdos, além de expostos de forma dialógica, apresentam
certa possibilidade de interatividade e são tratados através de jogos e simulações.
Em alguns casos, são propostas estratégias baseadas na teoria da distância transacional
com foco na autonomia e na flexibilização de aspectos do curso de acordo com o desejo e a
necessidade do aluno. Aspectos como a avaliação, os conteúdos abordados e as atividades
propostas podem ser flexibilizados através de estratégias dialógicas. Em modelos desse tipo a
dificuldade de estruturar uma proposta ao mesmo tempo flexível e adequada é maior, e exige
um trabalho baseado na confiança e na participação responsável e madura do aluno (LEITE,
2006).
Em algumas situações, a EAD no ciberespaço ganha aspectos importantes relativos à
interatividade e a uma comunicação ativa entre os participantes. Nesses casos podem ser
priorizadas a interação, a autoria, a colaboração e a comunicação todos-todos. No entanto,
nem sempre esses aspectos são discutidos e contextualizados na perspectiva da cibercultura e
do seu potencial, sendo entendidos apenas como elementos presentes nos critérios de
avaliação do curso.
Outras situações buscam a perspectiva da autonomia e da autogestão acreditando que
essas características são fundamentais para a construção de conhecimento de forma crítica e
coletiva. Assim, o uso de ambientes virtuais de aprendizagem é feito numa perspectiva
coletiva e de autoria, em que todos os participantes têm uma participação ativa e autoridade
para definir os objetivos do curso, o conteúdo, as formas de avaliação; todas as decisões são
tomadas a partir do consenso do grupo (FRÓES BURNHAM et al., 2006).
93
Em outros casos, o potencial da cibercultura é trazido a partir de uma proposta aberta a
reflexões e que tem como ponto central a criticidade e a autonomia na escolha de soluções. A
coletividade e a autoria são tratadas com grande importância “no sentido de potencializar a
participação dos sujeitos na cultura tecnológica, não como consumidores de informação,
mas, principalmente, como autores e debatedores de ideias” (BONILLA; PICANÇO, 2005).
Essas são algumas estratégias que servem para ilustrar como as tecnologias em rede
podem ser utilizadas na EAD com perspectivas diversas e a serviço de ideais também
diversos. Muitas das propostas de EAD na rede ignoram as potencialidades do ciberespaço no
que diz respeito a uma comunicação horizontalizada e a uma educação aberta. Podemos ver,
no entanto, que cada proposta tem a sua especificidade, tem a sua busca e o seu valor e
também o seu custo não necessariamente financeiro. Se pensarmos numa situação ideal,
vamos unir a autonomia de uma, a autoria de outra, a ludicidade, as possibilidades gráficas, a
interatividade e motivação dos objetos de aprendizagem, a estruturação de outras, o potencial
de alcance de outras ainda. O que sustentamos aqui é que apenas alguns modelos são
coerentes com uma proposta emancipadora de educação e com uma formação adequada ao
contexto da cibercultura e apropriando-se da riqueza em potencial que ela traz.
2.3.2.1 O que pode mudar na educação no contexto da cibercultura
E afinal, o que pode mudar na EAD on-line ou, de forma mais ampla, na educação no
contexto da cibercultura? A educação pode mudar quando pensada de forma a contribuir para
a formação do sujeito crítico e autônomo, como propõem as discussões no Seminário
Internacional Universidade XXI (MEC, 2003). Mas que esta seja uma opção da práxis
pedagógica na EAD, e não apenas do discurso. A educação pode mudar quando pensada na
perspectiva de conteúdos abertos que favoreçam a democratização da educação. Algumas
experiências nesse sentido na perspectiva cultural são os museus virtuais (a exemplo do
Museu Virtual de Arte Brasileira
8
e do Museu Virtual de Artes Plásticas
9
) que começam a
proliferar pela rede. Na perspectiva educacional, é crescente o número de bibliotecas
institucionais que começam a “abrir” seu acervo acadêmico para acesso público (como a
Fundação Biblioteca Nacional
10
, a Biblioteca Digital Mundial
11
, a Biblioteca Complutense de
8
http://www.museuvirtual.com.br/.
9
http://www.artenauniversidade.ufpr.br/muvi/index.html.
10
http://www.bn.br/portal/.
94
Madrid
12
, só para citar alguns exemplos), além das conhecidas bibliotecas virtuais de busca
acadêmica (a exemplo do Scielo
13
e da Biblioteca Virtual em Saúde
14
). Outra possibilidade é a
implementação de conteúdos livres, fazendo a transição entre conteúdos proprietários
(Copyright
15
) para conteúdos compartilhados (Copyleft
16
, Creative Commons
17
); além disso,
também é possível a abertura de conteúdos para o acesso livre; nesse caso, embora o conteúdo
não seja registrado com uma licença do tipo Creative Commons, por exemplo, ele pode estar
aberto ao público em geral; esse é o caso de algumas disciplinas cadastradas no Moodle
UFBA e cujo acesso é aberto a visitantes, sem restrição.
Outra possibilidade para a educação em rede são experiências que visam à construção
colaborativa, de forma que cada indivíduo se sinta na possibilidade de autonomizar-se e de
participar efetivamente da construção de conhecimento, saindo da perspectiva de consumidor
de informações e passando a valorizar seus conhecimentos e experiências de vida. Isso é
educação para a cidadania, é o olhar para o outro como parte de um todo, como um da
rede, tão importante quanto qualquer outro. Algumas experiências nesse sentido são os
congressos e seminários on-line que começam a ser frequentes na web, com inscrições
gratuitas e abertas a qualquer participante e que promovem espaços de debates e
11
A Biblioteca Digital Mundial possibilita descobrir, estudar e desfrutar de tesouros culturais de todo o mundo
em um único lugar, de diversas formas. Esses tesouros culturais incluem – mas não estão limitados a
manuscritos, mapas, livros raros, partituras, gravações, filmes, gravuras, fotografias e desenhos arquitetônicos.
Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/about/>. Acesso em: 29 mar. 2010.
12
http://www.ucm.es/BUCM/servicios/6358.php.
13
http://www.scielo.org/index.php?lang=pt.
14
http://www.bireme.br/php/index.php.
15
O Copyright, representado pelo símbolo ©, é um registro que restringe o direito à pia de um produto
intelectual à entidade ou indivíduo que detém o registro. O Copyright é diferente do conceito de “direito
autoral”, que se refere ao direito dos autores com relação às suas próprias obras intelectuais, enquanto o primeiro
refere-se exclusivamente ao direito de reprodução da obra. Mais informações sobre Copyright disponíveis em:
<http://www.copyright.com>; acesso em: 11 abr.2010.
16
O Copyleft, normalmente representado por um “c” invertido, é um mecanismo de usar a legislação de direitos
autorais com o objetivo de preservar as liberdades de cópia, utilização, difusão e modificação de uma obra
intelectual devido à aplicação clássica das normas de propriedade intelectual, exigindo que as mesmas liberdades
sejam preservadas em versões modificadas da obra. Mais informações em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Copyleft>. Acesso em: 11 abr.2010.
17
Creative Commons (CC) é um projeto global, sem fins lucrativos, que cria um novo modelo de gestão dos
direitos autorais. Dedica-se a licenciar produções intelectuais através de uma licença que permite a cópia, mas
que também pode limitar a utilização da produção com relação a aspectos como: uso não comercial, proibição de
modificações, ou obrigar que obras derivadas sejam licenciadas seguindo o mesmo padrão. Ao licenciar um
produto com a licença Creative Commons garante-se a autoria do trabalho, que deverá ser sempre referenciada,
mas permite-se a cópia, utilização, modificação, dentro das especificidades definidas pelo autor no ato do
licenciamento, facilitando a difusão e o compartilhamento da produção, assim como a produção de outras obras
derivadas daquela. A filosofia das licenças livres, como a Creative Commons, é quebrar as limitações impostas
pela lei de Copyright que veda a cópia parcial ou total da obra. Mais informações sobre Creative Commons
disponível em: <http://creativecommons.org> e <http://www.creativecommons.org.br>; acesso em: 11 abr.2010.
No Brasil, o Projeto Creative Commons é coordenado pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio
de Janeiro.
95
apresentações de trabalhos através da Internet (a exemplo do III Congresso on-line
Observatório para la Cibersociedad
18
, e do Seminário Nacional de Educação a Distância
19
).
Outra possibilidade é a disponibilização de livros no formato eletrônico, não somente como
conteúdo a ser lido, mas também com possibilidade de comentários e contribuições do leitor;
um bom exemplo dessa experiência é o livro The Wealth of Networks
20
, de Yochai Benkler,
disponibilizado em formato wiki na web.
Outro grande desafio que se apresenta à educação diz respeito à atenção à diversidade
sociocultural dos alunos, uma questão consensual na comunidade acadêmica. O aspecto
comunicacional do ciberespaço pode facilitar a identificação de características socioculturais
individuais. No entanto, o verdadeiro desafio está na forma como essas diferentes
características serão consideradas a fim de que cada sujeito sinta que o seu contexto pessoal
faz parte de todo o processo. Certamente, vencer este desafio passa pela busca de um
atendimento cada vez mais individualizado (RICCIO, 2005), também coerente com a
tendência de construção de um caminho individual e não linear na comunicação, trazida por
Pierre Lévy (2000), a partir da ideia de múltiplas opções de escolha. Além disso, é necessário
não perder de vista a complexa relação entre unidade e diversidade trazida por Edgar Morin:
[...] cabe à educação do futuro cuidar para que a ideia de unidade da espécie
humana não apague a ideia de diversidade e que a da diversidade não apague
a da unidade. [...] É a unidade humana que traz em si os princípios de suas
múltiplas diversidades. (MORIN, 2004, p.55).
Nessa linha de atender à diversidade, outra possibilidade para a educação em rede é uma
abordagem curricular inovadora, de forma que o currículo possa ser ajustado, dinamicamente,
às necessidades da comunidade escolar e do seu entorno. Essa abordagem é chamada de
currículo como hipertexto em Arnaud
Lima Júnior e Nelson Pretto (2005). Nessa perspectiva,
[...] o currículo passa a ser organizado de forma a se construir num espaço
multirreferencial de aprendizagem, onde múltiplas abordagens são possíveis
e resultados de diferentes acordos entre os agentes atuando sobre eles
mesmos. Isso faz com que o currículo seja flexível, ágil, dinâmico,
interativo, heterogêneo, simultâneo, pertencendo ao pensamento coletivo,
satisfazendo demandas da comunidade escolar e da sociedade em geral.
(p.209).
18
http://www.cibersociedad.net/congres2006/.
19
http://www.joaomattar.com/7senaed/index.php?title=P%C3%A1gina_principal.
20
http://www.benkler.org/wealth_of_networks/index.php/Main_Page.
96
A multirreferencialidade significa, para os autores, que:
[...] o objeto é aberto a múltiplas abordagens, não apenas por conta dos
múltiplos e possíveis tratamentos que a ele podem ser dados, não apenas por
conta das suas características mas, também, e quem sabe principalmente,
porque é resultado das diferentes formas com que os autores e não atores!
atuem sobre eles. [...] Isto significa que um ponto de vista não é
necessariamente superior aos demais, e, melhor ainda, nenhum ponto de
vista deverá ser reduzido ou eclipsado pelos demais. (p.210).
Essa abordagem de currículo é originada a partir da ideia do currículo como um espaço
multirreferencial de aprendizagem de Teresinha Fróes Burnham (1993); nesse caso, os
envolvidos no processo constroem suas próprias rotas, seguindo a metáfora da rede que
constitui elemento estruturante do processo.
As inovações propostas para a EAD on-line estão pautadas na interação e na construção
coleiva de conhecimento, contribuindo para a crítica à educação como mera transmissão e
com foco no desenvolvimento e sucesso individuais e indo ao encontro da concepção
problematizadora defendida por Paulo Freire (2006a, 2006b). Nesse sentido, Alex Primo
(2008) argumenta que:
As propostas freireana e construtivistas estão na base de uma concepção
alternativa de educação a distância. Mesmo que a tecnologia digital se preste
bem a cursos não presenciais massivos, constituídos por apostilas digitais e
testes de correção automatizada, a perspectiva pós-moderna de educação
o devido destaque à construção progressiva dos conceitos (o que se opõe à
memorização) e aos projetos de aprendizagem, desenvolvidos e debatidos no
grupo. Nestas modalidades de educação (e não mero ensino) a distância, as
ferramentas digitais de comunicação e escrita coletiva o utilizadas como
meios para o fomento da criatividade e atividade crítica diante do mundo.
(p.63).
A educação em rede possibilita interessantes abordagens; entretanto, todas elas
pressupõem uma compreensão crítica da presença das tecnologias na sociedade
contemporânea e nos processos educacionais. Nesse sentido, entendemos que a atuação do
docente nessa educação em rede ou educação on-line, exige uma postura bastante diferenciada
daquela relativa a uma educação pautada na transmissão; no entanto, essa postura
diferenciada, muitas vezes, é desconhecida pelo docente e se apresenta como um grande
desafio à sua atuação. Concordando com Miguel Zabalza (2004), não é possível pensar em
inovações à margem daqueles que tenham de realizá-las e, no caso da docência, os
professores são sempre os agentes básicos das inovações na universidade. Sendo assim, é
97
fundamental uma reflexão sobre a formação desses agentes que, em muitos casos, são os
próprios mentores das mudanças.
2.3.3 Sobre a formação de professores on-line na perspectiva da autonomia
Um fato relevante que se apresenta cada vez mais frequentemente é o envolvimento dos
docentes superiores na chamada docência on-line seja para atuação em cursos a distância,
seja no uso das tecnologias como apoio a cursos presenciais. No caso da EAD, em particular,
essa maior frequência é demonstrada pelo crescimento das vagas ofertadas nessa modalidade,
que cresceu cerca 6.314% no período de 2003 a 2007, de acordo com o Relatório de Evolução
da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP) (BRASIL, 2009). Com esse fato, um dilema docente é exacerbado: a
necessidade da formação continuada para a atuação na docência – agora – on-line.
No caso da educação superior, é importante compreender a sistemática de inserção dos
profissionais dos campos específicos na atividade docente. A seleção para o ingresso dos
professores universitários se dá, prioritariamente, em função da reconhecida competência na
sua área específica de atuação, hoje, cada vez mais, profundamente especializada. Na
Educação, os docentes universitários são profissionais que possuem sua expertise no próprio
campo da educação e são, pelo menos em tese, formados com qualificação para a própria
docência. São esses os profissionais que atuam basicamente nas Faculdades, Centros ou
Departamentos de Educação, responsáveis pelos cursos de Pedagogia, formação de
professores ou pela formação pedagógica dos alunos das demais licenciaturas (matemática,
física, química, história, geografia etc.). No entanto, tanto para os profissionais das
licenciaturas específicas como para as outras áreas do conhecimento, a situação é crítica uma
vez que os docentes são especialistas na sua área de conhecimento específica, sem possuírem
formação mais sólida no campo educacional. Essa formação passa a se dar, então, a partir de
sua própria prática ou de participação em eventos na área específica onde atuam, onde são
abordadas as novidades e inovações técnicas para o ensino das disciplinas da área em questão.
Aqui, pouco ou quase nada se fala sobre as questões relativas às concepções de currículo, das
metodologias de ensino, das abordagens pedagógicas ou formas de aprendizagem adequadas à
cultura contemporânea. Sobre isso, Miguel Zabalza (2004) argumenta que um dos aspectos
mais críticos dos professores (em todos os níveis do sistema de educação) tem sido justamente
o de ter uma identidade profissional indefinida” (p.107). Segundo o autor, o exercício da
98
docência, no ensino superior, não é visto como uma atividade profissional, prevalecendo uma
visão que compreende a docência como uma atividade estritamente prática para a qual não
são necessários conhecimentos específicos, exceto aqueles referentes aos conteúdos
abordados.
A grande oferta de cursos on-line trouxe um agravamento da situação. Mesmo o docente
sentindo-se à vontade com o conteúdo a ser abordado (objeto de estudo e experiência dos seus
longos anos de atividade profissional), na maioria das vezes ele desconhece as peculiaridades
e especificidades da atuação na docência on-line, principalmente se estamos pensando numa
perspectiva que considere a rede como elemento de fortalecimento dos processos de produção
de culturas e de conhecimentos e não como mera distribuidora de informações. Considerando
o preconizado como sendo a rede fomentadora e estruturante (PRETTO, 1996) da produção
tanto intelectual, cultural como material -, podemos pensar sobre uma outra, continuada e
necessária, formação dos docentes universitários. Essa formação, também ela, precisa estar
impregnada com esse aporte teórico e conceitual. A literatura sobre o tema é ampla e o que se
tanto nas pesquisas (MAREK, 2009) como nas demandas de docentes de outras áreas para
as Faculdades de Educação, é a solicitação de suporte (cursos) técnico visando à preparação
para a docência, seja ela presencial ou on-line.
Com o objetivo de refletir sobre essa questão, retomamos a experiência docente que, se
analisada no processo, pode vir a se constituir em importante elemento de sua própria
formação. A experiência do docente como parte do seu processo formativo é, assim como
propõe Jorge Larrosa (2001, 2005), refletir mais sobre a própria docência on-line e as
possibilidades do estabelecimento de redes de comunicação, formação e aprendizagem que
articulem de forma intensa os diversos níveis da educação.
2.3.3.1 A docência on-line: como começar
Com a proliferação de cursos na Internet, os professores universitários terminam sendo
estimulados a participar, seja como aluno, seja como docente, dessas experiências. Os
modelos desses cursos variam desde cursos estritamente expositivos a outros baseados numa
interação mais intensa, buscando uma formação crítica. O docente, muitas vezes novato no
uso das tecnologias, embora se sentindo curioso e desejoso de participar desses novos espaços
de aprendizagem, percebe-se despreparado. Outras vezes, acredita-se preparado para enfrentar
essas novas situações que se apresentam e depara-se com questões até então desconhecidas
99
para ele, como, por exemplo, as relativas à interação on-line, em que os desafios que se
apresentam passam não somente pela importância de motivar a participação on-line dos
alunos como também pela necessidade de o próprio docente atuar de forma ativa nas
discussões.
Nossa experiência tem mostrado que, na maioria dos casos, o docente passa a fazer
parte de equipes de cursos on-line sem ter conhecimento do que é necessário para se apropriar
de forma intensa das possibilidades trazidas pelas redes tecnológicas. Ao mesmo tempo, a
proposta de uma formação prévia para a atuação docente em cursos on-line nem sempre é
bem aceita pelos docentes. Alguns deles acreditam que sua autonomia e experiência docente
são suficientes para atuar também nesses cursos, desde que contemplem conteúdos por eles
dominados; outros rejeitam a participação no acompanhamento dos alunos entendendo que o
ponto crucial do curso é a organização do material didático; outros ainda, assoberbados de
trabalho, adentram pelo mundo dos cursos on-line sem que o tempo lhes permita participar de
uma formação mais específica para essa docência. Aqui vale ressaltar que esse tempo
encurtado, que corresponde ao “trabalho intensificado” dos professores universitários
(SGUISSARDI; SILVA JÚNIOR, 2009) é, a nosso ver, um impeditivo para que a formação
possa se dar, também ela, de acordo com os princípios que estamos preconizando.
Mais uma vez, aqui encontramos duas situações distintas. Quando nos referimos aos
cursos envolvendo docentes do campo da Educação, apesar de perceber-se, em alguns casos,
uma reação ao uso das tecnologias, os conhecimentos didático-pedagógicos estão
incorporados aos seus saberes docentes. Entretanto, quando nos referimos a outras áreas que
não a Educação, a situação é ainda mais crítica, já que, como mencionado, a formação
pedagógica desses docentes é frágil e em geral privilegia-se uma perspectiva conteudista. A
montagem de redes comunicacionais, a partir da docência on-line, demanda um conjunto de
saberes que não estão disponíveis sem um aprofundamento teórico do tema, uma vez que não
nos basta, simplesmente, transpor as estratégias pedagógicas de uma educação pautada na
transmissão prática ainda hegemônica na educação presencial para a docência on-line.
Nesse sentido, Socorro Pereira (2008) mapeou um conjunto de saberes fundamentais para a
atuação on-line do docente: mediação pedagógica, interatividade, colaboração, virtualização e
saberes tecnológicos, destacando ainda que “a construção desses saberes requer a imersão dos
docentes no contexto da cibercultura, aprendendo com o movimento não linear do hipertexto,
saltando de um nó a outro, intervindo, modificando produzindo e colaborando” (p.195). O que
se busca, em verdade, é compreender os novos desafios da educação e da docência on-line
100
justamente inseridas na chamada cibercultura, com o objetivo de estabelecer redes
comunicacionais de formação e aprendizagem que possibilitem uma educação dialógica e
crítica.
O docente, muitas vezes alienado com relação à importância da sua atuação no sentido
da formação do sujeito crítico, agarra-se às competências técnicas específicas de sua área de
conhecimento e ignora a necessidade de abrir-se a uma atividade docente mais dialógica e
mais integral; na verdade, essa é uma questão que perpassa a Educação independente da sua
modalidade ou das tecnologias que utiliza. Assim, consideramos importante buscar mostrar ao
docente universitário possibilidades para a saída da sua inércia nesse campo (ROSEMBERG,
2000), buscando apresentar-lhe outras possibilidades e, o mais importante, o fazer refletir
sobre a sua própria prática pedagógica. Mais uma vez, o cuidado com as perspectivas de
treinamento instrumental são necessários para não se cair no mesmo erro de imaginar a
formação para a docência on-line a partir de conceitos fechados, conteúdos pré-definidos,
abordagens “ideais”, que, seguramente, seria rejeitada pelos docentes. Em função disso,
trazemos a perspectiva da experiência como formação e da formação na experiência como
uma possibilidade para a formação para a docência on-line.
2.3.3.2 A experiência como formação
Compreendemos a formação docente numa perspectiva de formação para a autonomia e
isso demanda pensá-la de forma ampla, na qual se busque a identificação do potencial de cada
um com a valorização e intensificação desse potencial. Jorge Larrosa (2005) discute a
formação na perspectiva trazida por Nietzsche do vir a ser o que se é, e sugere que
[...] talvez a arte da educação não seja outra senão a arte de fazer com que
cada um torne-se em si mesmo, até sua própria altura, até o melhor de suas
possibilidades. Algo, naturalmente. Que não se pode fazer de modo técnico
nem de modo massificado [...]. Algo para o qual não há um método que sirva
para todos, porque o caminho não existe. (p.45).
Ela deve ser, então, a busca do converter-se ao que se é, onde cada indivíduo
encontraria sua própria forma, sua própria identidade, através de processos que lhe
possibilitem refletir sobre os acontecimentos. O sujeito passaria, para tal, por um processo
constante de reflexão sobre os acontecimentos que se sucedem, numa contínua ressignificação
retrospectiva. Este não é um processo linear no tempo, mas, ao contrário, as ressignificações
101
acontecem na medida em que relações espaciais e temporais se estabelecem, mediadas e
intensificadas pelas tecnologias digitas de comunicação. O ponto de partida para esse vir a ser
o que se é, é a inquietação no presente. Por isso, a formação se contra o presente
constituído uma vez que para se “chegar a ser o que se é que combater o que já se é”
(LARROSA, 2005, p.61). Isso nos leva a pensar na perspectiva da destruição e da recriação, o
tempo todo, ao lado de um conceito de liberdade entendida como vontade de criação, de arte,
de invenção (LARROSA, 2005, p.65). Larrosa o se refere aqui à invenção do gênio, mas a
invenção a partir da experiência. “E a experiência é o que nos passa e o modo como nos
colocamos em jogo nós mesmos, no que se passa conosco. A experiência é um passo, uma
passagem” (LARROSA, 2005, p.66-67). Nessa visão, Nietzsche, citado por Larrosa (2005),
traz não uma verdade para apropriar-se, mas uma tensão:
Não lhe vale a generosidade enganosa e interessada daqueles que dizem dar
algo uma fé, uma verdade, um saber -, mas para oprimir com aquilo que
dão, para fabricar discípulos ou crentes. Não faz mais do que enriquecer a
cada um de si mesmo, duvidar o que cada um é e o que tem de melhor,
elevar cada um à sua própria altura, procurar, em suma, que cada um chegue
a ser o que é. (NIETZSCHE, 1972, p.323 apud LARROSA, 2005, p.73).
E para isso, não um caminho traçado a seguir, que se traçar o próprio caminho
sem se deixar seduzir por finalidades demasiado concretas, tem que se perder o tempo,
vagabundear (LARROSA, 2005). Do ponto de vista metodológico, estar aberto às
experiências e poder refletir sobre elas é a possibilidade de pensar, não com uma camisa de
força que formata, mas como um movimento de abertura que considere as múltiplas
possibilidades dos conhecimentos, postas na mesa através dos meios interativos de
comunicação contemporâneos.
Maurice Tardiff e Danielle Raymond (2000), em artigo analisando a relação entre
tempo, trabalho e aprendizagem dos saberes profissionais dos professores do ensino
fundamental, abordam alguns aspectos interessantes sobre a formação do professor durante
o exercício da profissão (ou seja, vivendo a experiência da docência): o choque com a
realidade, tanto burocrática quanto com relação aos próprios alunos; a aprendizagem com os
pares; o conhecimento e a aceitação de seus próprios limites com relação ao tempo; a
delimitação dos territórios de competência do professor. Os autores trazem também uma ideia
de evolução (talvez maturidade) profissional que inicia numa perspectiva mais centrada no
conteúdo e em si próprio (o professor) e segue para uma perspectiva mais centrada no aluno e
na sua aprendizagem. Além disso, Tardif e Raymond (2000) abordam a história de vida do
102
professor (enquanto criança, aluno, vivência na formação profissional) juntamente com sua
própria identidade pessoal como aspectos que influenciam diretamente na construção do seu
ser-professor. Podemos estender as reflexões desses autores para o ensino superior e, assim,
compreender as vicissitudes do trabalho docente contemporâneo presencial ou a distância.
Refletir sobre a experiência requer compreendê-la de forma ampla e, para isso, o trabalho
docente necessita ser desacelerado para permitir uma maior reflexão sobre o próprio ato de
ensinar (e de aprender!). Reflexão essa que pode e deve se dar tanto individual como
coletivamente, tanto presencial como a distância, através das redes estabelecidas.
A noção de experiência como formação trazida por Jorge Larrosa (2001) entende que a
experiência não pode ser vista somente como a prática, mas também como a reflexão sobre a
prática; sem a reflexão a experiência perde o seu sentido, perde o seu “saber”. Além disso, a
experiência deve ser vista como singular, finita, para cada sujeito que a vive. “A experiência é
o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece
ou o que toca” (LARROSA, 2001). Com essa perspectiva, Larrosa argumenta que a
informação, a opinião e a velocidade (do tempo) são inimigas da experiência, atrapalham o
acontecer da experiência, pois são pautadas nos acontecimentos externos a nós mesmos.
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer
um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que
correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar
mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir,
sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender
o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a
atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos
acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro,
calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2001).
O sujeito da experiência, por sua vez, se caracteriza por sua disponibilidade e abertura
ao que “lhe passa”; é um sujeito ex-posto, que ao viver a experiência se forma e se
transforma. E somente o sujeito da experiência tem acesso ao saber que ela proporciona,
somente ele está aberto à sua própria experiência, pois no saber da experiência não se trata
da verdade do que são as coisas, mas do sentido ou do sem-sentido do que nos acontece”
(LARROSA, 2001).
103
2.3.3.3 A experiência on-line como formação
Pensar na experiência da docência on-line como formação condiz com a perspectiva
cibercultural que estamos adotando. A imersão na rede, com a apropriação dos recursos
tecnológicos digitais de comunicação, possibilita, em tese, a construção de caminhos
individuais e também coletivos de formação. A atuação na docência on-line leva o professor a
adentrar nesse mundo virtual, repleto de possibilidades, que lhe permite o contato com outras
vozes, outras reflexões, outras virtualizações e realidades. Além disso, essas virtualizações no
ciberespaço têm sido percebidas como potencializadoras do pensamento crítico e da
autonomia, que não trazem (somente) ideias massificadoras produzidas e controladas por
emissores centrais, mas sim uma diversidade de ideais, pensamentos, falas, olhares e
reflexões. Dessa forma, em potência, docentes e alunos deixam de ser meros consumidores de
informações e passam a contribuir para o mar de vozes que é o ciberespaço, reconhecendo-se
como autores. Articula-se, a partir disso, um movimento de diálogo entre a prática de cada um
e as reflexões teóricas advindas da literatura sobre educação, cibercultura e a docência on-line
propriamente dita. Com isso, a própria prática pedagógica passa a ser objeto de crítica,
traduzindo-se em formação.
Os ambientes virtuais de aprendizagem constituem uma ambiência rica em
possibilidades de diálogo com o conhecimento instituído, de construção de novos
conhecimentos e culturas e de ampliação de visão de mundo de todos os partícipes desses
processos, que o ciberespaço traz consigo essas amplas possibilidades de interação com o
novo, com o outro, com a diferença. Assim, contando com a autonomia de cada um, é que se
concretiza a formação pela experiência na docência on-line. Mas isso, se olharmos para o
caminho e não para o resultado, “[...] posto que não se pode antecipar o resultado, a
experiência não é o caminho até um objeto previsto, até uma meta que se conhece de
antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem pré-
ver, nem pré-dizer” (LARROSA, 2001).
Apostamos na experiência on-line como formação embora conscientes que esta não é
a única fonte se saberes para a docência on-line trazendo a reflexão na experiência com a
intenção de levar o olhar do professor para além da formação conteudista e tecnicista. No
entanto, quando falamos do mundo virtual, estamos falando de possibilidades; quando
falamos em autonomia, estamos falando de possibilidades; portanto, estamos falando de não
linearidade e de caminhos não previamente traçados, repletos de experiências individuais e
coletivas. Caminhos escolhidos por cada um em seu processo individual e que se entrecruzam
104
no processo coletivo também em construção. O fomento à reflexão sobre a prática no sentido
de trazer o docente para fora dessa inércia coletiva que prevalece nos ambientes educacionais
pode ser um caminho, desde que respeite a autonomia individual e do coletivo. Dulcinéa
Rosemberg (2000) faz uma reflexão sobre essas questões, que aborda de forma bastante
pertinente, com relação à formação continuada do professor universitário à luz da abordagem
de Castoriadis sobre a autonomia, e argumenta que:
[...] nas universidades públicas brasileiras, assim como na sociedade, a
criação de um espaço e de um tempo públicos de reflexão somente ocorrerá
na e pela universidade se, como professores, sujeitos livres e autônomos,
tomarmos a autonomia didático-científica de que somos portadores e
instituirmos política e eticamente o nosso projeto de formação continuada,
na perspectiva por nós todos desejada professores e alunos.
(ROSEMBERG, 2000, p.12).
A autonomia, mais uma vez, é colocada como palavra de ordem; e autonomia e
cibercultura, no nosso entender, estão amplamente imbricadas. Imbuídos dessa concepção,
avançaremos na compreensão dos ambientes virtuais de aprendizagem, buscando investigar
como a autonomia e as características de autoria e colaboração potencializadas pela
cibercultura aparecem nas situações educacionais que utilizam ambientes virtuais.
105
3 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM:
DO QUE ESTAMOS FALANDO?
Duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o
futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para
podermos realizar nele o futuro. Estamos divididos,
fragmentados. Sabemo-nos a caminho mas não exatamente
onde estamos na jornada,
Boaventura de Souza Santos
Neste capítulo, abordaremos o conceito de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA),
buscando problematizá-lo à luz das concepções de autores que discutem o tema e explicitar
a abordagem que adotamos para o mesmo no sentido de relacionar o conceito aqui discutido
com a perspectiva da autonomia evidenciada no capítulo anterior. Além disso, abordaremos
os chamados Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem (Learning Management Systems –
LMS), que são AVA que apresentam uma estruturação e uma intencionalidade voltadas para a
aprendizagem, e traremos alguns exemplos de AVA nesta categoria; dentro dessa categoria
encontra-se o ambiente Moodle. Sobre o Moodle, ambiente atualmente utilizado na
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e amplamente difundido no Brasil e no mundo,
faremos um estudo mais aprofundado trazendo suas características e suas potencialidades
pedagógicas, buscando compreender como a escolha pelo Moodle pode facilitar uma
formação crítica em busca da autonomia.
3.1 AMBIENTES VIRTUAIS E OUTROS CONCEITOS
O conceito de ambiente virtual de aprendizagem surge no contexto da educação na
cibercultura e se constitui num recurso muito utilizado e discutido na educação mediada pelas
tecnologias de informação e comunicação (TIC). Em geral, é entendido como um ambiente
em rede utilizado para apoiar o processo de ensino e aprendizagem na educação presencial ou
106
a distância. Na literatura, encontramos algumas definições para ambientes virtuais de
aprendizagem que vão desde um entendimento exclusivamente técnico (quando os AVA são
associados simplesmente ao conceito de um “ambiente computacional” ou de uma
“plataforma de ensino”) a uma concepção ampliada no sentido do potencial da virtualização.
Por exemplo, Fabiane Vavassori e André Raabe definem um ambiente virtual de
aprendizagem como “[...] um sistema que reúne uma série de recursos e ferramentas,
permitindo e potencializando sua utilização em atividades de aprendizagem através da
Internet em um curso a distância” (VAVASSORI; RAABE, 2003, p.312); essa definição
restringe a utilização dos AVA para a educação a distância (EAD) através da Internet,
desconsiderando o seu uso para a educação presencial assim como para um ambiente em rede
local. Para Elizabeth Almeida (2003, p.331), esses “ambientes digitais de aprendizagem são
sistemas computacionais disponíveis na Internet, destinados ao suporte de atividades
mediadas pelas tecnologias da informação e comunicação”; a autora traz também, como
potencial desses ambientes a integração de várias mídias, linguagens e recursos, além de uma
melhor organização das informações e a possibilidade de uma maior interação entre as
pessoas e o objeto de conhecimento. Edméa Santos (2003) conceitua o AVA como um
“espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem,
potencializando assim a construção de conhecimentos, logo a aprendizagem” (SANTOS,
2003, p.223), compreendendo-os no sentido de espaços potencialmente ricos para a
construção de conhecimento. Na concepção de Lynn Alves, Jaqueline Silva e Giulia Fraga
(2004) os AVA se constituem em espaços de novas aprendizagens cognitivas e sociais,
possibilitando diferentes níveis de interação com os elementos tecnológicos e entre os sujeitos
interagentes, ampliando as possibilidades de formação de comunidades virtuais. Eliane
Schlemmer (2005) considera os AVA como softwares desenvolvidos para o gerenciamento de
aprendizagem via rede no quais são sintetizadas as funcionalidades de comunicação
(Comunicação Mediada por Computador CMC) e de distribuição on-line de materiais; a
autora associa os AVA a outros termos (como Sistemas de Gerenciamento de EAD ou
Software de Aprendizagem Colaborativa), que, segundo o seu entendimento, são
denominações distintas para um mesmo conceito. Na concepção da autora, é fundamental
identificar qual o critério didático-pedagógico do ambiente “pois todo e qualquer
desenvolvimento de um produto para educação é permeado por uma concepção
epistemológica, ou seja, por uma crença de como se dá a aquisição do conhecimento, de como
o sujeito aprende” (SCHLEMMER, 2005, p.34-35); a autora ressalta ainda que duas
abordagens básicas podem ser percebidas em ambientes virtuais: a empirista e a
107
interacionista, e defende que a segunda é a mais adequada para a formação de comunidades
virtuais. Carla Valentini e Eliana Sacramento Soares (2005) associam a expressão AVA ao
desenvolvimento de condições, estratégias e intervenções de aprendizagem num espaço
virtual, de forma que seja propiciada a construção de conceitos, por meio da interação entre
alunos, professores e objeto de conhecimento; as autoras destacam que, embora mais
comumente associados à EAD, os AVA são amplamente utilizados como suporte na
aprendizagem presencial. Fernando Ramos e outros (2009) argumentam que os AVA mais
eficazes são aqueles que apresentam um conjunto integrado de recursos de comunicação e de
apoio para os usuários, onde os alunos podem interagir uns com os outros, e que são baseados
numa perspectiva construtivista em que o conhecimento é construído ativamente pelos alunos
e não passivamente transmitidos através do AVA.
Em sua maioria, as definições de ambientes virtuais trazem o elemento “potencial”
como base, sempre fazendo referência à aprendizagem em rede, sendo que cada definição
ênfase a um ou mais aspectos considerados mais relevantes pelos autores. Buscando ampliar e
ressignificar o conceito de AVA, optamos por retomar os conceitos de virtual, atual e real que
se entrelaçam, e que foram discutidos no Capítulo 2. Um ambiente de aprendizagem pode ser
entendido como um espaço onde se constrói conhecimento, como convencionalmente
conhecemos a sala de aula presencial. Um ambiente virtual de aprendizagem, considerando a
vertente do virtual relacionada à informatização, é um ambiente que se estabelece a partir das
tecnologias em rede. Mas compreendendo o virtual também como um estado de
problematização, de potência, os AVA podem ser vistos como espaços de aprendizagem nos
quais se ampliam as possibilidades de construção de conhecimento, pois, em potência, são
ambientes que promovem e fomentam o questionamento e a problematização, contribuindo,
assim, para o processo contínuo de virtualização/atualização inerentes à reflexão. Ademais,
podemos compreendê-los como espaços multirreferenciais de aprendizagem, adotando a
definição defendida por Teresinha Fróes Burnham dos mesmos como:
[...] loci socioculturais onde as interações se processam no sentido da
construção de indivíduos e coletivos sociais que têm na produção material
e imaterial lastros para tecer a autoria de suas produções e têm autonomia
coletiva para compreender o significado de sua participação na constituição
social de si mesmos, do conhecimento e da sociedade. (FRÓES
BURNHAM, 2000, p.302-303).
Na sociedade contemporânea, aliados a espaços considerados como espaços de
formação, como a Igreja, a família, o local de trabalho, a escola, outros espaços de interação
108
social passam a ser percebidos como espaços multirreferenciais de aprendizagem em que
diferentes leituras da realidade são expostas e as pessoas entram em contato com diferentes
formas de construir conhecimento (FRÓES BURNHAM, 2000). Nesse sentido, os AVA
podem ser compreendidos de forma ampliada como espaços multirreferenciais de
aprendizagem constituídos em rede onde diversas possibilidades de construção de
conhecimento estão abertas, e onde são potencializadas as virtualizações em razão da
linguagem digital
21
.
Entendendo os AVA dessa forma, o ciberespaço pode ser visto como o mais amplo dos
ambientes virtuais que apresenta o potencial para a construção de conhecimento de forma
individual e coletiva. Seguindo nessa linha, podemos ver as diversas interfaces existentes no
ciberespaço como sendo, também, ambientes que, em potência, se constituem em espaços
fecundos para a aprendizagem. Tomando por empréstimo a metáfora aristotélica, usada por
Lévy, de que a semente é, em potência, uma árvore, mas se transformará ou não em uma
árvore a depender de uma série de fatores, podemos arguir que o ciberespaço e suas interfaces
se constituirão em espaços de construção de conhecimento a depender das escolhas que se
façam com relação aos processos de mediação, aos recursos, aos fluxos comunicacionais,
dentre outros aspectos, que se utilizam para o intercâmbio e a produção de saberes. Com
relação a isso, Lévy (2000) argumenta que este é um momento de:
[...] transição de uma educação e uma formação estritamente
institucionalizadas (a escola, a universidade) para uma situação de troca
generalizada dos saberes, o ensino da sociedade por ela mesma, de
reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual das competências.
(LÉVY, 2000, p.172).
Assim, qualquer site na web, potencialmente, é um ambiente virtual de aprendizagem no
qual podem ser implementadas situações que favoreçam a aprendizagem de forma individual
e/ou coletiva. Listas de discussão na web, por exemplo, podem ser entendidas como espaços
onde mensagens são socializadas no formato do correio eletrônico; no entanto, mais que
simples espaços para troca de mensagens elas podem ser vistas como:
[...] instrumentos que servem como verdadeiro coletivo inteligente, onde os
assuntos agrupados de forma temática são tratados por especialistas das mais
diversas áreas, discutindo, comentando ou informando. Formam-se assim
fóruns permanentes, proporcionando trocas mais profundas do que as obtidas
21
Para uma reflexão sobre os AVA como espaços multirreferenciais de aprendizagem, ver Teresinha Fróes
Burnham e outros (2010).
109
nos chats, por exemplo. Cria-se uma comunidade informativa extremamente
importante no processo pedagógico. (LEMOS; CARDOSO; PALÁCIOS,
2005, p.14).
Outro exemplo são os grupos virtuais em que, além da possibilidade de troca de
mensagens (constituindo-se uma lista de discussão), são disponibilizados espaços para
repositório de arquivos, fotos, perfis de usuários etc., possibilitando uma maior troca entre os
participantes. Atualmente, o ciberespaço é repleto de espaços criados para esses fins, as
chamadas comunidades virtuais ou redes sociais, a exemplo do Orkut
22
, FaceBook
23
e
MySpace
24
, incluindo os ambientes virtuais 3D, como o Second Life
25
, que também podem
ser interpretadas como AVA, uma vez que, em sua definição mais ampla, as comunidades
virtuais agregam pessoas com interesses comuns no ciberespaço, oferecendo um suporte
afetivo e emocional aos seus membros geograficamente distantes, constituindo-se, portanto,
em espaços socioculturais de interação e construção de conhecimento (MATUZAWA, 2001).
Maria Helena Bonilla (2005) entende a comunidade virtual como uma comunidade que existe
sem estar presa ao tempo e ao espaço; que se organiza (através da rede) a partir de interesses
ou problemas comuns.
Mesmo não presente sem lugar de referência estável, visto que ela se
encontra em todo lugar onde se encontram seus membros, ou nenhum lugar
a comunidade está repleta de paixões e projetos, conflitos e amizades,
fazendo surgir interações sociais, reinventando culturas. (BONILLA, 2005,
p.133).
Retomando o conceito de virtual abordado anteriormente, e entendendo seu aspecto
principal como sendo a potencialidade, percebemos que os AVA trazem uma perspectiva
comunicacional ampla, no modelo todos-todos, no qual a construção de conhecimento pode se
dar de forma coletiva numa perspectiva de rede e de autonomia. Em potência, todos esses
ambientes na web podem ser entendidos como ambientes de aprendizagem, como espaços
multirreferenciais de aprendizagem. Além dessas interfaces, existem ambientes estruturados e
desenvolvidos com o objetivo de apoiar o processo de ensino e aprendizagem via rede; são os
chamados LMS, ou Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem.
22
http://www.orkut.com.br/.
23
http://www.facebook.com/.
24
http://www.myspace.com/.
25
http://secondlife.com/.
110
3.2 AMBIENTES VIRTUAIS ESTRUTURADOS: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS
Os Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem ou Sistemas de Gerenciamento de
Cursos são softwares projetados como salas de aula virtuais, gerando várias possibilidades de
interações entre os seus participantes, além da criação, com relativa facilidade, de cursos on-
line por parte dos educadores. Os LMS, além de agregarem as características dos AVA e
por isso muitas vezes serem identificados simplesmente como tal são estruturados
intencionalmente para o apoio à aprendizagem, e apresentam uma série de funcionalidades
nesse sentido, como, por exemplo: recursos para promover a interação, para a proposição de
atividades, para possibilitar a publicação de conteúdos em diversos formatos, gerenciamento
de integrantes (alunos e professores), relatórios de acesso e de atividades, dentre outros.
No final da década de 1990, quando começaram a surgir os primeiros LMS, a maioria se
constituía em softwares proprietários, e foram adquiridos por instituições de ensino, grande
parte delas da rede privada, para a implantação de seus ambientes virtuais. Um exemplo de
LMS proprietário que ganhou espaço no mercado acadêmico no Brasil é o Blackboard
26
,
desenvolvido pela Blackboard Inc, um provedor de softwares e serviços para educação on-
line. Como exemplos de instituições que utilizaram o Blackboard no Brasil podemos citar: a
Universidade Católica de Brasília (UCB, 2005), as Faculdades COC (ASSIS; VERSUTI,
2005), o Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) (ALMEIDA; GARBULHA;
ATTA, 2005), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) de São Paulo. O
WebCT
27
é outro LMS proprietário que foi originalmente desenvolvido pela University of
British Columbia no Canadá e sua primeira versão ficou pronta em 1996. O WebCT é um
ambiente configurável no sentido de que oferece uma coleção de recursos que serão
selecionados ou não pelo professor ao construir seu curso no ambiente; segundo Adriana
Noronha e Armanda Vieira (2005), a manipulação dos recursos do WebCT é de fácil
assimilação, requerendo quase nenhum conhecimento técnico por parte do professor ou do
aluno. Uma crítica ao ambiente, segundo as autoras, é que não havia a possibilidade de envio
de mensagens diretas para os alunos e, na experiência relatada, foi necessário a utilização de
uma lista de discussões adicionalmente ao uso do WebCT (NORONHA; VIEIRA, 2005). Em
2006, quando o WebCT era utilizado por mais de 10 milhões de estudantes em 80 países, ele
foi adquirido pela Blackboard Inc, sua principal concorrente, e foi descontinuado; atualmente,
26
http://www.blackboard.com/.
27
O site do WebCT foi desativado, mas algumas informações sobre o ambiente podem ser encontradas na
Wikipedia, disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/WebCT>; acesso em: 04 abr. 2010.
111
a empresa atua apenas com o Blackboard como sistema de gerenciamento de aprendizagem.
Muitos são os LMS disponíveis gratuitamente, alguns deles desenvolvidos sob a
filosofia do software livre. No Brasil, diversas instituições desenvolveram seus próprios LMS
e os utilizam e disponibilizam como ambiente de apoio a cursos on-line. Um exemplo é o
ambiente AulaNet
28
, desenvolvido no Laboratório de Engenharia de Software (LED) do
Departamento de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio), em 1997. O AulaNet é um ambiente distribuído gratuitamente e já é utilizado por
diversas instituições no Brasil; no entanto, seu código não é aberto, e, portanto, não é
desenvolvido dentro da filosofia de software livre. A EduWeb, empresa fundada em 1998
através da Incubadora Gênesis, da PUC-Rio, é a distribuidora oficial do AulaNet, e mantém,
até hoje, parceira com o LED, oferecendo, também, suporte gratuito ao uso do ambiente
(AULANET, 2009). Os recursos do AulaNet, que são denominados de “serviços”, são
organizados em três grupos: serviços de coordenação, serviços de comunicação e serviços de
cooperação; durante o desenvolvimento do curso os professores decidem quais serviços
estarão disponíveis para os alunos (LUCENA; LUCENA, 2005). Outro aspecto importante do
AulaNet é que os materiais didáticos para os cursos são construídos externamente ao
ambiente, e os arquivos com os materiais elaborados em diversos formatos (a exemplo de
apresentações, simulações, textos e outros) são armazenados no ambiente; os cursos
mostrados a título de demonstração no site de divulgação do AulaNet
29
, por exemplo, utilizam
arquivos no formato Flash Player, caracterizando uma visão estática dos conteúdos e uma
ausência de autonomia, por parte dos educadores, para a sua modificação.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolveu, no ano 2000, o
ambiente ROODA
30
Rede Cooperativa de Aprendizagem –, com o objetivo de atender à
demanda dos docentes e discentes da universidade. O desenvolvimento foi feito numa
parceria entre o Núcleo de Tecnologia Digital Aplicada à Educação (NUTED
31
) e o
Laboratório de Interação Mediada por Computador (LIMC
32
), sob a filosofia do software
livre. A partir de 2003, o ROODA passou a fazer parte do projeto de EAD da UFRGS como
um dos seus ambientes oficiais. O ROODA foi construído visando respeitar as diferentes
propostas metodológicas, pedagógicas e epistemológicas existentes na instituição; para tal, foi
28
http://aulanet.les.inf.puc-rio.br/aulanet.
29
Arquivo com a coleção dos chamados “cursos de prateleira” no AulaNet, oferecidos pela EduWeb, disponível
em: http://www.eduweb.com.br/downloads/eduweb_curso_prateleira.zip; acesso em: 06 dez. 2009.
30
http://www.ead.ufrgs.br/rooda.
31
http://www.nuted.edu.ufrgs.br/nuted/index.html.
112
conduzida uma pesquisa a fim de levantar as demandas dos professores, e o ambiente foi
pensado de forma a possibilitar a sua personalização no que diz respeito à sua estrutura e
aparência. Uma versão beta (em experimentação) do ROODA havia sido desenvolvida em
1999; após a nova especificação do ambiente, agregando características de customização, a
equipe optou por descontinuar a versão beta e reiniciar o desenvolvimento do ambiente,
com as novas características, utilizando padrões de desenvolvimento que possibilitassem sua
manutenção futura (BEHAR; PRIMO; LEITE, 2005). Na visão do professor, o ROODA
apresenta uma aba de opções (aula, biblioteca, bate-papo, fórum, webfólio, conceito etc.) na
qual o professor pode inserir conteúdos e propostas de atividades e também tem a
possibilidade de configurar seu espaço desabilitando algumas das opções presentes. Com
relação à interface gráfica, o professor pode escolher entre três temas apresentados pelo
ambiente; na inserção de mensagens a edição é apenas textual sem formatação; os conteúdos
são inseridos em formato de arquivos externos ao ambiente ou montados utilizando um editor
interno (ROODA, 2009). O desenvolvimento do ROODA, segundo Patrícia Behar, Alex
Primo e Silvia Leite (2005), é conduzido por uma equipe multidisciplinar das áreas de
computação, design gráfico e educação, e tem como ênfase a construção de um ambiente
caracterizado pela “possibilidade de interação, cooperação, individualização da aprendizagem,
assincronia e sincronia, o linearidade e diferentes caminhos para chegar ao mesmo recurso
e conteúdo” (BEHAR; PRIMO; LEITE, 2005, p.55). Vale ressaltar que a UFRGS utiliza
ainda dois outros ambientes virtuais: o NAVI
33
, desenvolvido pela Escola de Administração, e
o Moodle UFRGS
34
; este último com mais de 5.500 espaços de cursos cadastrados
35
.
O ambiente de aprendizagem TelEduc
36
foi desenvolvido no Instituto de Computação
da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e sua finalidade é a criação, participação
e administração de cursos na web. Ele foi concebido tendo como alvo o processo de formação
de professores para informática educativa e baseado na metodologia de formação
contextualizada desenvolvida por pesquisadores do Núcleo de Informática Aplicada à
Educação (NIED) da UNICAMP (TELEDUC, 2005). O Teleduc é um software livre e foi
disponibilizado como tal em 2001, numa iniciativa, segundo Rosana Miskulin, Joni Amorim e
Mariana Silva (2005), pioneira tanto em nível nacional como internacional e é utilizado por
32
http://www.ufrgs.br/limc.
33
http://www.eavirtual.ea.ufrgs.br/.
34
http://moodleinstitucional.ufrgs.br/.
35
Informação obtida no site do Moodle UFRGS (disponível em http://moodleinstitucional.ufrgs.br/), após
cadastramento de usuário e acesso ao ambiente, em 06 dez. 2009.
36
http://www.teleduc.org.br/.
113
diversas instituições no Brasil
37
. O TelEduc é caracterizado pela facilidade de uso e por
apresentar um conjunto enxuto de funcionalidades o que, apesar de limitar as opções de
escolha do usuário, possibilita a presença de uma interface mais amigável. As funcionalidades
do ambiente são divididas em três grupos: de coordenação (agenda, dinâmica do curso,
leituras, material de apoio, atividades, parada obrigatória, perguntas frequentes e grupos), de
comunicação (correio, fórum, mural, portfólio, diário de bordo e bate-papo) e de
administração (controle de inscrições, início e término do curso, dentre outras) (ROCHA,
2002). Um destaque no TelEduc é a funcionalidade InterMap (Interaction Map), que permite
ao professor visualizar, através de uma interface gráfica interativa em forma de grafo, a
interação dos participantes de um curso utilizando os recursos de comunicação; esse recurso
contribui para um melhor acompanhamento dos alunos por parte do professor que passa a ter
uma visão mais abrangente das interações, podendo identificar, por exemplo, alunos que
nunca interagiram com outros, alunos que interagiram apenas com um pequeno grupo, alunos
que interagiram apenas com os professores, dentre outras situações. O InterMap, na verdade,
provê um modelo de interface gráfica interativa e através de cnicas de Visualização de
Informação representa graficamente dados das ferramentas de comunicação em ambientes de
educação a distância na web, sendo que a primeira versão do InterMap foi desenvolvida para
o TelEduc (ROMANI; ROCHA, 2001).
No âmbito da Secretaria de Educação a Distância do MEC, foi desenvolvido o ambiente
e-ProInfo
38
, que é definido como um Ambiente Colaborativo de Aprendizagem que utiliza as
tecnologias da Internet e corresponde a uma das ferramentas do Programa Nacional de
Tecnologia Educacional (ProInfo). O ProInfo, por sua vez, é um programa educacional criado
com a finalidade de promover o uso pedagógico das TIC na rede pública de ensino
fundamental e médio; o programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos
educacionais e, em contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a
estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso das
tecnologias (PROINFO, 2010). O ambiente e-Proinfo permite a concepção, a administração e
o desenvolvimento de diversos tipos de ações, como cursos a distância, apoio a cursos
presenciais, projetos de pesquisa, projetos colaborativos e diversas outras formas de apoio a
distância e ao processo de ensino e aprendizagem. Até 2005, o ambiente e-Proinfo não tinha
seu código aberto, mas era disponibilizado gratuitamente para as instituições de ensino
37
A relação de instituições que utilizam o TelEduc pode ser vista em http://www.teleduc.org.br/pagina/quem-
usa/.
114
público através de convênios firmados com a Secretaria de Educação a Distância (SEED) do
MEC. A necessidade de um convênio para a utilização do ambiente envolvia uma burocracia
que dificultava a instalação do e-Proinfo para testes e suas possíveis utilizações; na verdade
parece haver um incentivo para a utilização da instalação do ambiente no próprio MEC, ou
seja, uma tendência de centralização da oferta de cursos a distância no e-Proinfo através do
ambiente do MEC na página do ambiente no MEC
39
, pode-se encontrar um grande conjunto
de instituições cadastradas com as respectivas relações de cursos já ofertados ou em
andamento. Hoje o e-Proinfo se diz um software público”, licenciado por meio da GNU-
GPL, Licença Pública Geral; seu código está aberto para a comunidade em geral, e já foi
iniciada a formação de uma comunidade de desenvolvedores para o ambiente (E-PROINFO,
2010). Com relação à sua operacionalidade, a maior crítica ao ambiente é a falta de
flexibilidade para o formador na escolha das funcionalidades e a dificuldade de administração
do ambiente.
Trouxemos até este ponto alguns exemplos de LMS, mostrando uma pequena parte da
diversidade de sistemas desenvolvidos com essa finalidade e que são utilizados por
instituições de ensino. No entanto, nosso objetivo não foi o de fazer uma análise crítica – nem
poderia ser, que nossa experiência se restringe à utilização do ambiente Moodle;
objetivamos, com esses exemplos, trazer alguns poucos aspectos das funcionalidades e do
desenvolvimento desses LMS, apontando para algumas das suas características que
consideramos mais relevantes para esta pesquisa. Na UFBA, o primeiro LMS instalado foi o
Teleduc, em 2003, seguido pelo Moodle, em 2004. Em 2005, iniciou-se o estabelecimento do
convênio com o MEC para a instalação do e-Proinfo; no entanto, em virtude da morosidade
do processo e do crescimento na utilização do Moodle na instituição, o convênio não foi
finalizado. Atualmente, o Moodle é o LMS institucional da UFBA e o seu desenvolvimento e
a sua utilização têm crescido de forma vertiginosa, especialmente no apoio à educação
presencial, como veremos no Capítulo 4. Antes, porém, vamos abordar algumas
características do ambiente que ganhou a preferência da comunidade UFBA e relacioná-las
com as possibilidades de autonomia que vimos discutindo.
38
http://www.eproinfo.mec.gov.br/.
39
Ver relação de instituições em: http://eproinfo.mec.gov.br/fra_eProinfo.php?opcao=7; acesso em: 28 dez.
2009.
115
3.3 O MOODLE: A ESCOLHA DA UFBA
O Moodle
40
é um LMS concebido pelo australiano Martin Dougiamas, como parte do
seu projeto de doutoramento na Curtin University of Technology, Austrália, no National Key
Centre for Science and Mathematics Education, intitulado The use of Open Source software to
support a social constructionist epistemology of teaching and learning within Internet-based
communities of reflective inquiry. Martin Dougiamas iniciou o desenvolvimento do Moodle
em 1999, e sua pesquisa envolvia, em paralelo, o desenvolvimento e a avaliação do ambiente
através da sua utilização em cursos oferecidos on-line. A principal questão que a pesquisa
buscava responder era:
Como o software na Internet pode, de uma forma bem-sucedida, apoiar
epistemologias construcionistas sociais de ensino e aprendizagem? Mais
especificamente, em que as estruturas e interfaces da Web encorajam ou
atrapalham o encontro dos participantes para um diálogo reflexivo numa
comunidade de aprendizes com leituras feitas abertamente, refletindo
criticamente e escrevendo construtivamente de modo a engajar suas
experiências pessoais? (DOUGIAMAS; TAYLOR, 2009, p.16).
As avaliações do ambiente junto aos participantes dos cursos geravam demandas de
modificações do software que era atualizado e novamente avaliado. Desse modo, o Moodle
foi concebido a partir das demandas reais de um grupo de pesquisadores; além disso, os
cursos nos quais o Moodle foi experimentado e avaliado tinham como tema o
“Construtivismo”, e como objetivos de aprendizagem: aprender sobre construtivismo, refletir
criticamente sobre sua própria aprendizagem, e aprender de modo colaborativo engajando-se
com outros refletidamente e com empatia. As demandas do grupo, portanto, eram
permeadas por uma visão de colaboração e de reflexão crítica, baseadas na teoria do
construtivismo social
(DOUGIAMAS; TAYLOR, 2009).
Segundo Teresinha Fróes Burnham e outros (2010), a sigla MOODLE tornou-se um
neologismo (ainda não dicionarizado) na língua inglesa, conforme informa documento do
Newcastle City Learning
41
, programa do Newcastle City Council, Inglaterra:
Aparentemente, os australianos usam a palavra “moodle” como um verbo,
significando realizar coisas à proporção que elas ocorrem para você, assim
40
A comunidade internacional do Moodle, assim como sua documentação e links para download, podem ser
acessados em http://www.moodle.org.
41
http://nclmoodle.org.uk/.
116
encorajando a criatividade. O que resume como o Moodle tem sido
desenvolvido. (apud FRÓES BURNHAM et al., 2010).
A comunidade Moodle confirma essa suposição, quando traz a seguinte informação, no
seu site de documentação, sobre a palavra “moodle”:
É também um verbo que descreve o processo de se aproximar preguiçosa e
sinuosamentemente das coisas, fazendo-as da forma que lhe parece melhor
fazê-las, num prazeroso improviso que frequentemente leva a insights e
criatividade. Também se aplica à maneira como o Moodle foi desenvolvido e
ao modo como um estudante ou um professor pode abordar o estudo ou o
ensino em cursos on-line. (MOODLE, 2010, tradução livre).
O Moodle foi projetado com o objetivo de ser compatível, flexível e de fácil
modificação, e, desde a sua concepção, como um software de código aberto. Foi
implementado usando uma linguagem de programação popular, simples e poderosa (o PHP),
de forma modular, valorizando a facilidade de alteração do código e de instalação em
máquinas desktop (computador de mesa). Inicialmente, essa metodologia foi adotada a fim de
possibilitar a rápida modificação do software durante a pesquisa; no entanto, acabou por
facilitar a capacitação de novos desenvolvedores do Moodle, de modo que este pode ser
facilmente modificado e expandido pelos participantes da comunidade (DOUGIAMAS;
TAYLOR, 2009). Sua metodologia também permite que a interface gráfica do ambiente seja
definida quase que completamente independente da lógica de programação e de
armazenamento. Além desses aspectos, Martin Dougiamas preocupou-se em observar
diversas comunidades de desenvolvimento de softwares livres, visando entender o que levava
ao engajamento de um grande número de colaboradores resultando no seu crescimento e
permanência como verdadeiras comunidades de aprendizagem. O autor buscou, então, trazer
para a comunidade Moodle as características que considerava fundamentais para fomentar seu
crescimento como, por exemplo: um claro e óbvio desenho do site (e endereço da web, como
moodle.org); demonstrações do software que fossem fáceis de entender; documentação
simples e, ao mesmo tempo, ampla, para multiplicadores e usuários; fóruns estruturados, de
uso fácil e listas de endereços para diferentes fins (apoio, sugestões, discussões); um lugar
transparente, central para armazenar de modo seguro todo o código fonte; um rastreador para
manter o registro de problemas e seus status; e uma boa divulgação do projeto
(DOUGIAMAS; TAYLOR, 2009).
Em 2001, o Moodle foi disponibilizado com configuração semelhante ao que existe
hoje, sob a Licença Pública GNU. Na Figura 2 podemos ver o gráfico de crescimento da
117
comunidade mundial do Moodle, a partir de 2003, no que diz respeito ao número de sites
registrados, que já ultrapassa a marca de 45.000, distribuídos por mais de 200 países. Segundo
Lynn Alves, o fenômeno Moodle” no Brasil e no mundo é justificado por diversos fatores,
principalmente pela “interface amigável, a possibilidade de customização, a diversidade de
ferramentas para distintos objetivos pedagógicos, ser software livre, a facilidade de instalação
e a existência de uma comunidade ativa que, diariamente, colabora para discutir e orientar os
usuários nos diferentes aspectos” (ALVES, 2009, p.188).
Figura 2: Número de sites Moodle registrados na comunidade moodle.org.
Fonte: Moodle.org (disponível em: http://moodle.org/stats/; acesso em: 28 dez. 2009).
O Moodle é utilizado no Brasil por diversas instituições, particulares e públicas,
inclusive pelo MEC, que o recomenda como ambiente virtual a ser utilizado pelos cursos
vinculados ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e fomenta o seu uso através da
liberação de recursos financeiros para as universidades federais que fazem parte do Sistema
(UAB, 2010). Na Bahia, o Moodle foi utilizado pela primeira vez no final do ano 2003,
quando foi instalado no Centro Universitário Jorge Amado e na Universidade do Estado da
Bahia (ALVES, 2009). Na UFBA, a utilização do Moodle teve início em 2004, como veremos
em detalhe no próximo capítulo.
O Moodle tem como principal objetivo o apoio à aprendizagem on-line, destacando-se
dos outros ambientes virtuais pelas suas características mais voltadas às necessidades
pedagógicas e pela sua flexibilidade no que diz respeito à variedade de recursos e opções de
customização que oferece, favorecendo a autoria dos professores no ambiente virtual.
Flexibilidade e possibilidade de autoria são elementos que potencializam a autonomia, que
118
definições com relação ao curso podem ser tomadas utilizando um elenco de opções bastante
ampliado, além de trazer o docente para o papel de autor não somente do conteúdo textual,
como também das características gerais da interface do curso. O docente pode trabalhar o
conteúdo e as propostas de interação e de atividades de uma maneira geral sem a
intermediação de um profissional da computação e sem necessariamente conhecer a
linguagem técnica. Além disso, em virtude da variedade de recursos de edição do Moodle, o
docente pode avançar do limitante estágio de edição básica de texto para uma edição
formatada e visualmente mais atraente, além da possibilidade de utilização de recursos
multimidiáticos favorecendo a convergência de diversas linguagens através da utilização de
formatos textual, imagético (imagens e vídeos), áudio, oferecendo ao professor amplos
recursos para sua criatividade.
A interface do Moodle para os alunos é amigável e de fácil compreensão, mesmo para o
usuário pouco habitual na Internet. Sua facilidade de apreensão por parte dos participantes é
perceptível a partir do seu rápido envolvimento com os conteúdos disponibilizados e com as
atividades propostas. Quanto à apropriação dos recursos de edição, o Moodle oferece uma
interface intuitiva que possibilita essa apropriação de forma gradual e rápida, principalmente
para aqueles que têm mais bito e facilidade com recursos digitais. É interessante perceber
que, ainda que inicialmente os participantes se mostrem inibidos a aprender sobre o Moodle,
esse aprendizado vai acontecendo naturalmente para aqueles que se dispõem a arriscar.
O Moodle oferece um número bastante amplo de recursos que podem ser utilizados
dentro do desenho de um curso. Com isso, a flexibilidade para modelar um curso permite
propostas com aspecto visual e características bastante peculiares e inerentes a cada grupo
participante. Isso possibilita uma configuração do ambiente de acordo com as especificidades
que se apresentem: público-alvo, nível do curso, perfil docente, complexidade do conteúdo,
necessidades multimídia, dentre outras.
A organização do Moodle é baseada no acesso único do usuário que pode estar
cadastrado em diversos espaços com perfis diferentes. Assim, para cada instalação do Moodle
(o Moodle UFBA, por exemplo, cuja instalação está disponível no endereço
www.moodle.ufba.br) cada usuário terá um único cadastro (identificado por usuário e senha)
com o qual poderá ter acesso a um número ilimitado de espaços no ambiente. A organização
dos espaços no Moodle (que internamente o denominados de “cursos”) é através de
categorias e subcategorias que podem conter, também, um número ilimitado de espaços. Aos
usuários são atribuídas funções, associando-os a cada espaço/curso dentro do ambiente. Uma
119
função geral associada ao ambiente como um todo é a de administrador do Moodle que tem
permissões específicas relacionadas à configuração do ambiente, da interface principal e ao
gerenciamento dos demais usuários. Dentro de cada espaço/curso no Moodle, podem ser
atribuídas as seguintes funções básicas: administradores de curso que têm permissão para
configurar todo o espaço e para gerenciar os usuários ali cadastrados, inclusive modificando
suas funções nos diversos contextos relativos ao curso; tutor – ou professor que edita, que tem
permissão para inserir e modificar as configurações dos recursos utilizados em um curso, e
também de designar funções dentro do curso; moderador ou professor que não edita, que
não tem permissão para inserir ou modificar recursos dentro de um espaço, mas atua como
professor no sentido de mediar alunos, atribuir notas, visualizar recursos ocultos; estudante
que visualiza os recursos inseridos e configurados pelo tutor, interage através dos recursos
disponibilizados no curso, mas não tem permissão para alterar qualquer configuração ou para
incluir novos recursos. Esse tipo de hierarquia pré-definida no Moodle restringe, de certa
forma, as possibilidades que um estudante tem no ambiente que este não tem permissão
para inserir novos recursos, sendo impossibilitado de, por exemplo, propor um fórum de
discussão ou disponibilizar para os demais participantes uma pasta com uma coleção de
arquivos o que, da perspectiva da autonomia e da colaboração, é uma característica que
precisa ser discutida no âmbito da comunidade Moodle, para que se encontre alternativas de
maior participação desse estudante. Em contrapartida, a diversidade de recursos que o Moodle
provê e as possibilidades de configuração permitem que se modifique a função inicialmente
prevista para um determinado recurso e sejam feitas adaptações para atender à demanda de
cada contexto. Além disso, a partir da versão 1.9 do ambiente, foram propostas as
funcionalidades de “funções designadas localmente” e “sobrepor permissões”, que
possibilitam, respectivamente, que a um estudante, por exemplo, seja designada a função de
tutor em um determinado contexto e que as restrições normais que um estudante tem para, por
exemplo, o acesso a uma pasta de arquivos, sejam modificadas. Essas funcionalidades estão
disponíveis na página de configuração de cada recurso inserido no espaço de um curso no
Moodle (Figura 3) e somente o administrador de curso pode configurá-las. Com essas novas
funcionalidades, mais flexibilidade foi agregada ao modelo hierárquico de atribuições de
funções no Moodle, de forma que mais possibilidades são oferecidas aos docentes no
momento de configuração de seus espaços no ambiente virtual, favorecendo, ainda mais, a sua
autonomia. O desenvolvimento de funcionalidades desse tipo retrata uma tendência da
comunidade mundial do Moodle para a ampliação da flexibilidade do ambiente, buscando
atender, cada vez mais, a uma complexa demanda de sua comunidade de usuários; essa
120
tendência torna-se viável na medida em que se segue um padrão de desenvolvimento baseado
na filosofia de software livre, de forma que não somente desenvolvedores do mundo inteiro
podem contribuir apresentando propostas de ampliação e melhoria, como os usuários podem
colaborar com críticas e sugestões para alcançar essas melhorias.
Figura 3: Opções de designar funções localmente e de sobrepor permissões.
3.3.1 A estrutura geral
O Moodle apresenta uma interface simples, organizada, inicialmente, em três colunas
que podem ser customizadas, sendo a coluna central a principal, onde normalmente são
disponibilizados os conteúdos e as atividades propostas; as colunas laterais da direita e da
esquerda apresentam uma série de boxes padrão (como o box de acesso, de calendário, de
usuários on-line, de últimas notícias, de próximos eventos, de participantes, dentre outros)
além da possibilidade de inclusão de um box no formato HTML que pode abrigar qualquer
conteúdo nesse formato. Cada um dos boxes das colunas laterais pode ser ocultado ou
deslocado lateral ou verticalmente, de forma que a aparência da página pode ser modificada
de acordo com o desejo do usuário. A customização da página principal do ambiente é feita
pelo administrador do Moodle; as páginas de cada espaço/curso dentro do Moodle podem ser
adaptadas às necessidades de cada proposta pelo próprio professor responsável (com o perfil
de tutor). No contexto dos cursos, a coluna central é o espaço onde os conteúdos e atividades
são disponibilizados; essa coluna pode ser configurada em alguns formatos oferecidos pelo
Moodle, como pode ser visto na Figura 4, na página de configuração do curso. O formato
mais flexível e mais comumente utilizado é o formato de tópicos, no qual a coluna central é
121
dividida em blocos que podem ser utilizados para a inserção de conteúdos de forma
sequencial ou organizada em temas ou mesmo para agrupar atividades semelhantes. Um
exemplo desse agrupamento é o proposto por Lynn Alves e Mário Brito (2005), que sugerem:
[...] uma Área de Convivência, para o registro de notícias relacionadas ao
curso, um bate papo livre e um fórum para discussão geral, uma Área de
Conteúdo, para inserir os textos, imagens e apresentações relativos à
temática em foco, uma Área de Atividades, para orientar as atividades a
serem realizadas e/ou entregues ao professor e, finalmente, uma Área de
Interações, para dispor os mecanismos de interações que o professor achar
conveniente para realizar a mediação pedagógica do curso. (ALVES;
BRITO, 2005).
Figura 4: Opções de formato na configuração de cursos no Moodle.
Dentro de cada bloco da coluna central, os recursos podem ser organizados separados
por rótulos, imagens, ou outros recursos multimídia, de forma que cada professor pode dar a
aparência que achar mais conveniente para a interface do curso, não se limitando a uma
aparência genérica e padrão para todos os cursos. Em contrapartida, no caso de cursos
divididos em módulos ou disciplinas e que ocuparão mais de um espaço no Moodle, pode ser
criado um padrão de interface pela equipe (definindo imagens e estruturas semelhantes) de
122
forma que os diversos espaços que compõem o curso apresentem uma similaridade que os
identifique como uma unidade; esse tipo de padrão é conveniente para que os alunos
vivenciem uma única adaptação ao ambiente virtual durante o desenvolvimento do curso.
3.3.2 As possibilidades do Moodle: alguns recursos disponíveis
A quantidade de recursos oferecidos pelo Moodle, dos quais citamos alguns como o
fórum ou a pasta de arquivos, é bastante ampla, possibilitando uma grande flexibilidade aos
docentes no momento de planejar seus espaços no AVA. Para a inserção de recursos, é
necessário ativar a edição do ambiente e escolher dentre as diversas opções nas caixas de
“acrescentar recursos” ou acrescentar atividades” (Figura 5). Não nos cabe, aqui, descrever
cada recurso em detalhe, no entanto abordaremos os que consideramos mais importantes,
assim como aqueles que serão mencionados na descrição do estudo de casos, em capítulo
posterior.
Figura 5: Acrescentando recursos e atividades no Moodle.
Os recursos oferecidos pelo Moodle podem ser classificados em recursos de
comunicação e de conteúdo; os primeiros apresentam o objetivo específico de promover a
troca de mensagens entre os participantes fórum, chat, mensagem, por exemplo e os
últimos tais como o glossário, o wiki, arquivos e páginas web possibilitam
disponibilização, compartilhamento e, em alguns casos, produção de conteúdos digitais. No
entanto, a depender da proposta implementada em um AVA, os objetivos de comunicação e
123
compartilhamento de conteúdos podem se misturar numa imbricação em que a troca de
mensagens produz conteúdos e os conteúdos produzidos geram discussões. Nesse sentido,
alguns recursos do Moodle se prestam a ambos os objetivos, como veremos em alguns
exemplos a seguir.
O fórum, um recurso de comunicação assíncrona, é o mais importante para promover a
interação coletiva entre os participantes de um ambiente virtual, que oferece um canal
continuamente aberto para a expressão e socialização de pontos de vista diversos; além disso,
justamente por ser um recurso assíncrono, é um excelente espaço para a construção de
conceitos, pois possibilita um maior tempo para leitura e reflexão sobre o tema em discussão
(ALVES, 2009). No Moodle, o fórum é organizado através de tópicos de discussão e pode ser
configurado de diversas formas (Figura 6): como fórum geral no qual diversos temas de
discussão podem ser propostos a partir da criação de tópicos pelos participantes; fórum de
uma única discussão simples, no qual não existe a criação de tópicos e todas as mensagens se
concentram em um único espaço; fórum de pergunta e resposta, no qual os participantes são
convidados a responder uma questão e depois poderão ter acesso às postagens dos demais
participantes; e o fórum no qual cada usuário inicia apenas um novo tópico. O fórum geral é o
mais flexível de todos e, numa perspectiva de autonomia, o que mais se presta para uma
discussão que possibilita a abertura e a colaboração, que todos os participantes têm
liberdade para adicionar quantos tópicos considerarem necessários. Entretanto, a necessidade
de mediação num fórum geral é maior e mais complexa que a todo momento novos temas
podem ser levantados. As restrições oferecidas pelos outros tipos de fórum, embora possam
parecer proibitivas no que diz respeito à liberdade de expressão, podem ser úteis para a
implementação de alguma estratégia pedagógica relevante, como, por exemplo, o portfólio:
não existe um recurso específico para a implementação do portfólio no Moodle, mas o fórum
onde cada usuário inicia apenas um tópico adéqua-se a esse objetivo cada participante cria
seu tópico, onde disponibiliza suas produções nos textos das mensagens ou como arquivos
anexados a elas, produções essas que poderiam ser comentadas (através de respostas àquele
tópico) pelos demais participantes. Nesse sentido, a flexibilidade do Moodle tem um destaque
ainda maior com relação aos seus recursos que “o professor, além de poder definir a sua
disposição na interface, poderá utilizar metáforas que imputem a essas ferramentas diferentes
perspectivas, que apesar de utilizarem a mesma funcionalidade, se tornem espaços didáticos
únicos” (ALVES; BRITO, 2005). Como cada recurso pode ser utilizado em diversos
momentos ou posições dentro do espaço do curso no Moodle, a utilização de uma metáfora
124
não implica que aquele recurso seja utilizado sempre com a mesma finalidade, dando ao
professor mais liberdade para associar cada recurso às estratégias pedagógicas que considere
necessárias para o curso ou disciplina em questão, em diversos espaços/momentos do curso.
Figura 6: Configurando um fórum no Moodle.
Outro aspecto sobre os fóruns no Moodle é que suas postagens podem ser enviadas
diretamente para o e-mail dos participantes, o que vem favorecer a sua motivação para
adentrar na discussão em voga, que podem ser despertados para essa participação a partir
de uma mensagem que lhes chame a atenção. Dessa forma, não é preciso que o usuário faça o
acesso ao Moodle para ter conhecimento das discussões em andamento; ele fará o acesso
apenas no momento de responder à mensagem. Esse aspecto, no entanto, pode não ser
interessante quando, por exemplo, um professor participa de diversos espaços no Moodle e
recebe em sua caixa de e-mails uma grande quantidade de mensagens, ou quando o
participante tem alguma dificuldade de gerenciar sua caixa de e-mails e se perde no meio do
volume de mensagens que chegam à sua caixa; para isso, o Moodle oferece a opção de
desativar o e-mail cadastrado no ambiente (isso pode ser feito na gina do perfil pessoal do
usuário) de forma que o usuário terá autonomia para escolher entre a leitura das mensagens
exclusivamente no ambiente, em cada um dos fóruns existentes. Além disso, o Moodle
também oferece algumas opções de filtros de mensagens, de forma que o usuário pode optar
por receber um único e-mail por dia com todas as mensagens completas, ou um único e-mail
por dia apenas com os assuntos das mensagens.
Numa perspectiva de autonomia, os fóruns devem ser entendidos como espaços de
liberdade de expressão; no entanto, para que a construção de conhecimento seja frutífera, é
imprescindível uma mediação eficiente por parte do docente que busque garantir o alcance
dos objetivos previamente definidos. Nos fóruns, pode-se trabalhar discussões de forma mais
aberta, onde um tema amplo é proposto e vai sendo delineado de acordo com as postagens dos
125
participantes, ou pode-se caminhar na construção de um diálogo mais conciso que possibilite
a construção coletiva de conceitos ou o esclarecimento de dúvidas pontuais. É comum
também que o fórum seja proposto a partir de uma questão única; porém, nesse caso, os
alunos podem entender que sua participação se restringe a uma resposta individual e sem
conexão com as demais postagens, o que leva a uma subutilização do recurso. Outro
importante aspecto sobre os fóruns no Moodle é a possibilidade de formatação das
mensagens, sendo possível a inclusão de imagens, links, cores, anexos, de forma que a
criatividade do participante é incentivada e a hipertextualidade e a convergência de mídias
podem ser vivenciadas durante uma discussão no fórum. Além disso, o formato do fórum no
Moodle identifica o autor da mensagem através de sua foto, previamente inserida no perfil
individual de cada usuário, o que minimiza a sensação de estar conversando com uma
máquina (ALVES; BRITO, 2005).
Ao contrário do fórum, o chat, outro recurso de comunicação disponibilizado pelo
Moodle, possibilita uma discussão síncrona dentro do ambiente e que pode ser registrada e
visualizada posteriormente por todos os participantes (Figura 7). A exemplo das inúmeras
interfaces existentes na web que viabilizam os difundidos bate-papos on-line, o chat no
Moodle, da mesma forma que o fórum, também pode ser utilizado com diversas finalidades:
desde espaços de socialização e integração dos participantes a momentos para esclarecimento
de dúvidas específicas sobre o conteúdo do curso ou sobre questões burocráticas ou
administrativas. É importante ressaltar, porém, que, por ser um recurso de comunicação
síncrona, o chat apresenta algumas especificidades que, por sua vez, geram algumas
limitações nas suas possibilidades pedagógicas; por exemplo, as discussões no chat,
normalmente, não conseguem alcançar a profundidade que se alcança numa discussão em
fóruns, que a conversa instantânea tende a ser mais superficial e menos reflexiva. Outro
aspecto importante é que a presença de uma grande quantidade de participantes numa sessão
de chat pode gerar certa confusão com o provável surgimento de conversas paralelas; no
entanto, ainda que possa parecer complexo gerenciar e exista uma possibilidade de evitar esse
paralelismo a partir da criação de regras para a manifestação dos participantes no chat (como
uma ordem nas “falas” e sinais para a finalização da “fala” e/ou para “pedir a fala”), é
interessante perceber que os chats livres, sem regras que restrinjam a participação, podem
levar a uma rica interação entre pequenos grupos que, embora possa não ser completamente
compreendida por todos no momento em que acontece o chat, pode provocar ricas
construções entre seus membros e importantes reflexões posteriores quando da leitura de seus
126
registros no ambiente. Algumas estratégias podem ser utilizadas com o objetivo de minimizar
a sensação de confusão vivenciada por alguns participantes durante sua atuação em chats, a
exemplo de definição prévia de questões norteadoras para as discussões ou a elaboração de
uma breve sistematização ao final de cada sessão de chat (ALVES, 2009).
Figura 7: Acesso a sessões encerradas de chat.
Outro recurso de comunicação no Moodle são as mensagens enviadas através do perfil
de cada participante, que aparecem em janelas pop-up quando o usuário está conectado ao
Moodle ou vão diretamente para o e-mail pessoal. Essas mensagens tanto podem ser enviadas
a membros individuais do grupo/curso, como podem ser coletivas neste caso apenas para
quem tem o perfil de tutor. Nesse último caso, são especialmente úteis quando é necessária a
comunicação com pequenos grupos; o Moodle possibilita que sejam selecionados os
participantes para quem se deseja enviar a mensagem através dos grupos pré-criados em cada
curso, ou através de suas funções no curso (por exemplo, para todos que têm o perfil de tutor
no ambiente), ou mesmo escolhendo os destinatários um a um. Outro recurso de
comunicação, ainda pouco utilizado, mas com grande potencial, é o diálogo, que possibilita a
construção de uma discussão privada entre duas pessoas, mas cujo registro é mantido num
formato semelhante ao de um fórum de discussão, de maneira que o diálogo completo pode
ser visualizado facilmente.
Um recurso normalmente utilizado para o registro do processo de aprendizagem pelos
alunos é o diário: um rico espaço para registro e ressignificação de experiências vividas ao
longo do curso, dando oportunidade aos participantes de exposição de suas aprendizagens,
sentimentos, emoções... “O aprendiz vai compreendendo, elaborando e internalizando suas
127
aprendizagens, que são mutantes e em um processo de metamorfose são transformadas e
ressignificadas” (ALVES, 2009, p.196). Os professores têm acesso aos registros do diário e
podem contribuir com feedbacks, incentivando e contribuindo com as reflexões dos alunos; no
entanto, o diário não pode ser compartilhado entre os diversos alunos de um curso,
constituindo-se em um recurso individual. Como todos os demais recursos, o diário também
pode ser utilizado com uma finalidade diversa, como, por exemplo, um espaço de
autoavaliação ou de avaliação do curso, no qual o acesso é apenas do participante e dos
professores.
Outro recurso que pode ser bastante útil para a construção colaborativa no Moodle é o
glossário: um recurso pensado para a criação de bancos de dados de termos e que pode ser
configurado de forma que todos os participantes, alunos e professores, possam incluir itens
incentivando a elaboração de pesquisas a fim de construírem juntos os significados de termos
e expressões relativos aos temas em discussão. Além da perspectiva mais óbvia de utilização
do glossário, esse recurso tem diversas outras possibilidades por ser um espaço onde se pode
postar, anexar arquivos e comentar as postagens. Uma das possibilidades é utilizá-lo como um
portfólio, onde cada participante pode inserir suas produções como itens do glossário; essas
produções podem ser comentadas pelos demais e identificadas através da própria interface do
recurso que provê uma variedade de opções de busca (por autor, por categoria, por letra
inicial, por data). Outra interessante utilização do glossário é como biblioteca ou midiateca
que pode ser construída coletivamente, de forma que todos os participantes de um curso
podem contribuir com materiais diversos, em diversos formatos, que abordem o tema tratado.
Essa possibilidade está em consonância com a perspectiva de autoria coletiva e
multivocalidade, já que viabiliza o compartilhamento de materiais entre os participantes,
descentralizando o papel de prover conteúdos, que passa a ser exercido por todos
concomitantemente. A possibilidade de comentar os itens inseridos aumenta ainda mais o
potencial dessa utilização do glossário que cria um espaço de discussão sobre os materiais.
Edméa Santos e Maristela Araújo (2009) sugerem também, além das opções citadas, a
utilização do glossário como um espaço onde os participantes de um curso podem
compartilhar itens no formato de links comentados sobre um determinado tema; tais itens
podem também ser enriquecidos pelos comentários dos demais participantes, promovendo
uma cocriação de conteúdos. As autoras entendem o glossário “não como um polo
potencializador de emissão, mas, simultaneamente, como um ambiente de comunicação e
coautoria, que pode, norteado pelos princípios da interatividade, deixar emergir a
128
participação, e assim, engendrar, imprimir novas formas para a mensagem original”
(SANTOS; ARAUJO, 2009, p.252).
O wiki é uma interface assíncrona que possibilita a criação de textos em colaboração
com os componentes de um determinado grupo, permitindo aos seus usuários incluírem,
excluírem ou alterarem documentos; segue a filosofia wiki conhecida através dos recursos
da web 2.0, a exemplo da Wikipédia. Nos wikis, o leitor é instigado a ser um coautor, pois ele
tem a oportunidade de interagir com o texto, com o pensamento do outro, copiando, colando,
cortando, extraindo o que achar mais interessante, movendo para outros espaços, produzindo
um novo texto, construindo novos hipertextos. Embora a escrita colaborativa tenha um grande
potencial para construção coletiva de conhecimento, seu desenvolvimento ainda é um grande
desafio que as dificuldades apresentadas pelos participantes coautores são inúmeras em
razão da falta de cultura para tal. Lynn Alves (2009) aborda essa questão argumentando que:
O Wiki se constitui em uma rica interface para exercitar a possibilidade de
construir coletivamente com autonomia e cooperação. Contudo, os alunos,
de maneira geral, encontram grandes dificuldades em produzir
coletivamente, considerando que não fomos educados para isso. Tal
dificuldade se apresenta na produção do texto que assume muitas vezes a
forma de uma colcha de retalhos, já que os alunos tendem a incluir
parágrafos sem efetivar o elo de ligação entre eles, não se sentem à vontade
para interferir no texto do outro e quando o fazem podem melindrar o colega
que postou a mensagem inicial. (ALVES, 2009, p.199).
Com o objetivo de suprir a necessidade de atividades, normalmente, individuais, que
são propostas para avaliar o conhecimento construído pelo aluno, o Moodle oferece como
opção o recurso tarefa, que pode ser configurada como: atividade off-line, na qual o aluno
executa a atividade independente do ambiente virtual; texto on-line, na qual o aluno elabora o
texto da atividade no próprio ambiente; ou tarefas com envio de arquivos, nas quais a
atividade é elaborada fora do ambiente virtual e é enviada para o professor através do
ambiente. Embora muito comumente utilizado, é importante ressaltar que esse recurso não
tem a possibilidade de compartilhamento; numa perspectiva mais convencional e menos
interativa de educação, ela pode ser bastante útil que se constitui numa proposta de
atividade individual; no entanto, numa proposta mais colaborativa e de construção coletiva de
conhecimento, é preciso estar atento para a impossibilidade do compartilhamento das
produções através da tarefa e uma opção pelo glossário ou mesmo pelo fórum, para a
socialização de atividades, pode ser mais apropriada.
Para disponibilizar conteúdos, pode-se optar pela inserção de arquivos em diversos
129
formatos, elaborados externamente ao ambiente. O Moodle admite a inserção de inúmeros
formatos de arquivos (texto, imagem, som, vídeo, animação, apresentação, planilha etc.), com
extensões também variadas. Os arquivos podem ser agrupados em pastas dentro do ambiente
e disponibilizados nesse agrupamento, ou podem ser inseridos individualmente na página do
curso, ou, ainda, podem ser inseridos no ambiente como arquivos que são referenciados em
qualquer outro recurso, ampliando a possibilidade de uma construção hipertextual; em todos
os casos, os arquivos ficam disponíveis para leitura ou para download pelos participantes.
Outra opção é a criação das chamadas páginas web dentro do próprio Moodle, através do
editor disponível no ambiente (o mesmo utilizado para a edição de mensagens). O conteúdo
das páginas web é armazenado em formato HTML, portanto, qualquer conteúdo que possa ser
construído nesse formato é passível de ser inserido. No entanto, quanto mais complexo o
código inserido, maior será a dificuldade de editá-lo; ou seja, se um código HTML contendo
formatações diversas, imagens, tabelas, animações etc. for copiado para o Moodle, sua
visualização acontecerá sem problemas, mas a sua edição, no caso da necessidade de alguma
alteração, exigirá um conhecimento da linguagem HTML, que, normalmente, é dominada
por técnicos especialistas em edição web. Um exemplo clássico são as animações produzidas
na linguagem FLASH, normalmente desenvolvidas por especialistas, e que apresentam um
apelo visual muito forte, mas que, em caso de necessidade de alteração de qualquer detalhe
(uma vírgula que seja!) o professor depende da atuação do especialista. Assim, é importante
refletir sobre a utilização deste tipo de conteúdo previamente elaborado e “fechado” (no
sentido de que não pode ser facilmente modificado), já que a intervenção do professor (no que
diz respeito a esse tipo de conteúdo) pode ficar limitada durante o desenvolvimento do curso.
O recurso livro, também utilizado para disponibilizar conteúdos, é uma opção oferecida
pelo Moodle na qual ginas web são organizadas, automaticamente, em formato de livro,
com sumário e sequência definidos pelo professor. A vantagem é que se pode agrupar uma
maior quantidade de conteúdos de forma estruturada em “capítulos” e cuja navegação é
facilitada através do sumário em formato de links. As observações feitas com relação às
páginas web são também válidas para o livro, que pode ser entendido, simplesmente, como
uma coleção organizada de páginas web.
Apesar de acreditarmos que o Moodle favorece a autonomia dos participantes de cursos
on-line e apresenta diversas características que possibilitam a construção colaborativa de
conhecimento, é prudente chamarmos a atenção para o caráter do “possível” desse
favorecimento. A “virtualização” é um potencial, apenas um potencial. Autonomizar-se é uma
130
ação autorreflexiva que depende de vontade e ação próprias. Precisamos enfatizar que a
utilização de ambientes flexíveis como este apenas possibilita uma maior autonomia e
colaboração, mas não as garante. Pelo contrário, podemos testemunhar atuações discentes e
docentes em cursos utilizando o ambiente Moodle que repetem no on-line estratégias
baseadas numa perspectiva de transmissão de conhecimentos e que subutilizam o potencial
comunicacional e virtualizante dos AVA. No entanto, utilizar o ambiente Moodle associado a
uma proposta pedagógica que favoreça a abertura e a reflexão crítica é um passo fundamental
para a proposição de cursos que buscam a construção da autonomia coletiva.
No caminhar da UFBA, a utilização do Moodle tem tido um crescimento bastante
significativo, principalmente no que diz respeito à demanda pela abertura de espaços no
ambiente para o apoio à educação presencial. Também no caso da EAD na UFBA, esse tem
sido o AVA mais utilizado. Embora existam na instituição outros sistemas de gerenciamento
de cursos instalados, e também parcerias para cursos a distância em que o ambiente utilizado
não é o Moodle, a grande maioria da comunidade UFBA que faz uso de ambientes virtuais,
como veremos no próximo capítulo, opta pelo Moodle, revelando uma preferência da
comunidade por esse ambiente.
131
4 A UFBA, A EAD E OS AMBIENTES VIRTUAIS DE
APRENDIZAGEM: UM HISTÓRICO
A gestação do novo, na história, dá-se, frequentemente, de
modo quase imperceptível para os contemporâneos, já que
suas sementes começam a se impor quando ainda o velho é
quantitativamente dominante. É exatamente por isso que a
“qualidade” do novo pode passar despercebida. Mas a
história se caracteriza como uma sucessão ininterrupta de
épocas. Essa ideia de movimento e mudança é inerente à
evolução da humanidade. É dessa forma que os períodos
nascem, amadurecem e morrem.
Milton Santos
Ter uma visão geral do percurso da UFBA no que diz respeito a suas experiências
relacionadas à EAD ou à utilização de ambientes virtuais de aprendizagem como apoio à
educação presencial é o nosso objetivo neste capítulo. Nosso primeiro desafio foi a construção
de uma Linha do Tempo da EAD na UFBA com os fatos (internos e externos à instituição)
que fazem parte deste caminhar, desta história, e classificá-los (como dissemos na
Introdução deste trabalho) em cinco categorias: (1) atos legais, internos ou externos à UFBA,
que dizem respeito à EAD ou à utilização de ambientes virtuais; (2) projetos que abordem
temas relacionados às TIC, ou à EAD, ou ainda especificamente aos AVA; (3) cursos ou
disciplinas vivenciados na modalidade a distância (ainda que não utilizem ambientes
virtuais) ou que utilizaram ambientes virtuais (ainda que não tenham sido na modalidade a
distância); (4) eventos acadêmicos nos quais foram discutidos aspectos relativos à EAD na
UFBA ou à utilização de AVA na instituição; (5) outros fatos relevantes para a pesquisa. A
linha do tempo construída está disponível no Apêndice D desta tese; a partir dela, vamos
percorrer essa história buscando compreender como se inicia a cultura on-line na instituição.
Ao longo desse percurso, destacaremos aqueles fatos que considerarmos mais significativos e
neles nos deteremos um pouco mais em sua análise, de forma que, embora a narrativa possa
parecer irregular, essa irregularidade se em virtude de o foco do nosso olhar ser voltado
para aquilo que consideramos mais relevante para a pesquisa. Vale ressaltar que, apesar de
termos buscado cobrir todos os fatos relevantes para a reconstrução dessa história, é claro que
132
podemos ter deixado escapar alguma coisa que não tenha chegado ao nosso conhecimento ou
que, apesar de termos conhecimento, não tenhamos considerado como relevante para nossa
finalidade no momento, ou ainda que, embora fosse do nosso conhecimento, não tenhamos
encontrado informações suficientes para trazer. Destacamos também que diversos outros
pesquisadores da própria UFBA analisaram o percurso da instituição em relação à EAD e à
utilização de ambientes virtuais (JAMBEIRO; RAMOS, 2002; ARAÚJO; FREITAS, 2005;
ARAÚJO; FREITAS, 2007; FREITAS; ARAÚJO; FERNANDES, 2008) e se constituem
importantes marcos referenciais para a compreensão do movimento da Universidade nesse
campo. Em nossa reconstrução, utilizamos como principal fonte de pesquisa as produções dos
próprios responsáveis pelos diversos fatos e os Relatórios Anuais da Gestão da UFBA,
disponíveis no site da Pró-reitoria de Planejamento e Administração (PROPLAD
42
).
Consultamos, também, documentos diversos encontrados na Internet e outros que tivemos
acesso no percurso da pesquisa, além de observações participantes feitas nas diversas
instâncias da UFBA em que temos inserção. Com a finalidade de difundir os fatos aqui
levantados, sempre que possível, faremos referências a sites, projetos, publicações e outros
documentos disponíveis onde os leitores deste trabalho poderão buscar informações mais
detalhadas sobre cada situação.
Os principais espaços de reflexão teórica sobre ambientes virtuais de aprendizagem e
EAD na UFBA são as Faculdades de Educação (FACED) e de Comunicação (FACOM). Na
FACOM, destacamos o Centro Internacional de Estudos e Pesquisa em Cibercultura
(CIBERPESQUISA), grupo de pesquisa criado em 1996 e considerado referência nacional
nos estudos sobre cibercultura, liderado por André Lemos e Marcos Palácios. O grupo tem
por objetivo a análise das formas mediáticas surgidas da convergência da informática e das
telecomunicações e agrega estudos sobre os impactos comunicacionais das tecnologias de
informação e comunicação no mundo contemporâneo (CIBERPESQUISA, 2009a, 2009b). Na
FACED, os primeiros estudos sobre o tema tiveram espaço no Núcleo de Pesquisa, Ensino e
Extensão em Currículo, Comunicação e Cultura (NEPEC), onde eram abordadas as relações
entre currículo, trabalho e conhecimento na busca de uma articulação entre educação, ciência,
tecnologia e sociedade (NEPEC, 2009). Com o desmembramento do NEPEC, originaram-se
diversos grupos de pesquisa na FACED; dentre eles, o Grupo de Pesquisa em Educação,
Comunicação e Tecnologia (GEC), criado em 1996, e a Rede Cooperativa de Pesquisa e
42
http://www.proplad.ufba.br/relatorios-f.html.
133
Intervenção em (In)formação, Currículo e Trabalho (REDPECT), criada em 1997. Esses dois
grupos concentram, hoje, a grande maioria da produção acadêmica da UFBA sobre EAD e
tecnologias de informação e comunicação na educação.
O GEC, embora oficialmente formado em 1996, tem sua origem em 1994 quando
Nelson Pretto, der do grupo, retorna para a UFBA após a finalização do seu doutorado, com
a intenção de implementar uma linha de pesquisa sobre educação e comunicação, em
consonância com a articulação acadêmica nacional em torno dessa temática, caracterizada,
por exemplo, com a criação oficial, em 1992, do GT16 – Educação e Comunicação, da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd), criação esta que
trouxe significativas contribuições para o incremento e disseminação da pesquisa sobre a
temática (PRETTO, 2007). Desde seu surgimento, o GEC foca suas reflexões na tensão entre
a utilização instrumental das TIC e a sua incorporação de forma estruturante nos processos
educacionais. Na busca de problematizar a presença das tecnologias de informação e
comunicação na educação, o GEC tem atuado ao redor das seguintes temáticas: educação a
distância; informática educativa; inclusão digital; educação, corpo e cultura tecnológica;
cibercultura; dinâmica tempo-espacial contemporânea; produção de áudio e vídeos
educativos; formação de professores; políticas públicas; software livre; inclusão digital, entre
outros (GEC, 2009a, 2009b, 2009c).
A REDPECT, grupo criado por Teresinha Fróes Burnham e liderado por ela até maio de
2009
43
, tem um caráter multidisciplinar e multi-institucional, com a participação de
pesquisadores de diferentes unidades da UFBA, da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), da Universidade Católica do Salvador (UCSal) e de instituições
de ensino superior de outros estados. O grupo tem como objeto de estudo a “(in)formação” do
cidadão-trabalhador e as relações de processos informacionais com o mundo do trabalho, na
sociedade do conhecimento, com base nas concepções de multirreferencialidade,
complexidade e buscando uma abordagem transdisciplinar. O termo (in)formação, proposto e
adotado pela REDPECT como base para toda a sua pesquisa e produção, “engloba tanto a
informação quanto a formação e procura significar que a dimensão formativa (normalmente
considerada como potencial) da informação está sendo assumida enquanto processo concreto”
(FRÓES BURNHAM et al., 2002). Os principais temas de estudo do grupo contemplam:
43
A partir de junho de 2009 a REDPECT passa a ser coordenada por Eduardo David de Oliveira.
134
Currículo e Espaços de Aprendizagem; Educação a Distância e Infoeducação; Educação
Tecnológica e Profissional; Educação e Saúde; Ciência da Informação e Desenvolvimento
Regional: Gestão do Conhecimento (REDPECT, 2009a, 2009b). Os dois grupos, GEC e
REDPECT, têm um importante papel na formação dos profissionais da educação na Bahia
com essa nova visão não instrumental das tecnologias; profissionais estes que contribuem
com a disseminação e ampliação dessa discussão.
No cenário nacional, durante a década de 1990, diversas ações governamentais no Brasil
caminham no sentido da regularização da EAD no país: em 1995 é criada a Secretaria de
Educação a Distância do MEC (SEED); em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) traz no seu artigo 80 a primeira referência legal sobre EAD; em fevereiro de
1998, o Decreto 2.494 regulamenta o artigo 80 da LDB; em abril de 1998, a Portaria 301 do
MEC, de 7 de abril de 1998, normatiza os procedimentos de credenciamento de instituições
para a oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica a distância; também
em abril de 1998 o Decreto 2.561 altera os artigos 11 e 12 do Decreto 2.494. Nessa mesma
década, no âmbito da SEED, foi criado o ProInfo, através da Portaria 522/MEC, de 9 de
abril de 1997, programa educacional em cujo âmbito foi desenvolvido o ambiente e-Proinfo,
como vimos em capítulo anterior; em 1999, foi elaborado, pela SEED, o primeiro conjunto de
Indicadores de Qualidade para os projetos de EAD.
Além dessas ações governamentais, foi também na década de 1990, em 21 de junho de
1995, que foi criada a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), sociedade
científica, sem fins lucrativos, voltada para o desenvolvimento da educação aberta, flexível e
a distância. A ABED é membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
e filiada ao International Council For Open and Distance Education (ICDE). Dentre as
atividades da associação estão a organização de congressos, seminários, reuniões científicas e
cursos voltados para a sistematização e difusão do saber em EAD (ABED, 2010).
4.1 ANTECEDENTES DA EAD NA UFBA
A UFBA, criada pelo Decreto-Lei 9.155, de 8 de abril de 1946, inicia na década de
1990 ações pontuais que revelam sua implicação com a temática da EAD e das TIC. É nessa
mesma década, no ano de 1991, que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) cria a Rede
Nacional de Pesquisa (RNP) com o objetivo de conectar universidades e instituições de
pesquisa, a fim de fornecer, ao Brasil, as condições necessárias para usufruir dos benefícios da
135
Internet. A Bahia participa da RNP desde esse momento inicial, com a instalação do Ponto de
Presença da RNP (POP-BA) na UFBA, sob coordenação geral de Claudete Alves, do CPD,
considerada por muitos a “mãe” da Internet na Bahia pelo seu pioneirismo na difusão da
Internet em universidades e empresas, contribuindo de maneira fundamental para a criação de
uma cultura de uso da Internet no estado. Em 1994, numa histórica decisão, quando a Internet
ainda engatinhava em todo o mundo, o Conselho Universitário da UFBA aprovou uma
política de investimento prioritário em Tecnologia da Informação, o que viabilizou a difusão
do uso da Internet na universidade e constituiu-se num importante movimento de liderança na
sua implantação no estado da Bahia. Isso se em paralelo à criação da Rede Bahia a partir
da assinatura de um Protocolo de Cooperação Técnica para fins de pesquisas em educação e
comunicação ligadas à Internet e de prestação de serviços à população, e com a criação do
Comitê Gestor da Rede. Esse protocolo foi assinado em 21 de novembro de 1994 pelo
Governo do Estado da Bahia, Prefeitura Municipal de Salvador, UFBA, Federação das
Indústrias do Estado (FIEB) e a TELEBAHIA, tendo como testemunhas os Reitores das
Universidades Estaduais do estado (UESC, UESB, UEFS e UNEB), os dirigentes da
Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (PRODEB), do Centro de Apoio
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Centro de Desenvolvimento da Administração,
da Escola de Serviço Público e do Instituto Euvaldo Lodi. Portanto, um esforço político
global, de acordo com as novas bases teóricas introduzidas pela própria Internet. Apesar desse
avanço em termos de infraestrtura tecnológica, pouco avanço se percebeu no uso das
chamadas TIC, à época ainda denominadas Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação, nas atividades de ensino da UFBA (PRETTO, 2008; PRETTO; BANDEIRA,
1995; CARDOSO; ARAÚJO; LINO, 2004).
A primeira experiência da UFBA na oferta de cursos a distância que temos registro foi
na FACED, na década de 1990, com um curso de especialização em alfabetização para
professores do interior do estado da Bahia; no entanto, uma experiência ainda distante das
possibilidades da Internet, usando material impresso. Na mesma época, também foi oferecida
uma disciplina optativa sobre educação a distância na FACED (FREITAS, 2005).
Na FACOM, destaca-se o uso da Internet para o oferecimento de cursos on-line pelo
Projeto Sala de Aula, de responsabilidade do grupo CIBERPESQUISA. O projeto durou de
1997 a 2002 e foi uma experiência de extensão universitária, voltada para um público adulto.
Era constituído de uma sala de aula on-line – um ambiente virtual de aprendizagem –,
construída a partir de um site em que eram disponibilizados os conteúdos dos cursos de forma
136
hipertextual; o debate entre os participantes (docentes e alunos) se dava através de uma lista
de discussões na web, restrita aos inscritos. O primeiro curso do projeto foi “Introdução à
cibercultura”, e foi oferecido entre outubro e dezembro de 1997; outros 10 cursos foram
organizados e oferecidos durante o projeto, totalizando 21 turmas, com mais de 300 inscritos.
A experiência é considerada pioneira na UFBA; a importância desse projeto, a nosso ver,
extrapola o pioneirismo; sua relevância está também na compreensão das TIC que os autores
traziam à época, entendendo que o seu uso não pode se dar apenas de forma instrumental,
mas sim como dispositivos que potencializam os processos de virtualização na educação, em
virtude das suas características de hipertextualidade, multivocalidade, não linearidade, dentre
outras (LEMOS; CARDOSO; PALÁCIOS, 2002, 2005). Segundo André Lemos, Cláudio
Cardoso e Marcos Palácios, pesquisadores responsáveis pelo Projeto Sala de Aula, eles
conseguiram estabelecer um ambiente on-line de aprendizagem alinhado com a orientação da
própria FACOM; eles argumentam que:
Entendemos o período de educação universitária como uma excelente –
talvez única oportunidade para o indivíduo passar de uma postura mais
passiva em relação à busca do saber, para uma atitude de autoeducação
permanente, onde a motivação para a busca de conhecimento e produção de
saber reside no próprio indivíduo, questionador, criativo e capaz de optar por
novas abordagens com autonomia. Buscamos assim atingir o máximo de
processo de virtualização. (LEMOS; CARDOSO; PALÁCIOS, 2002, p.276).
O site do Projeto Sala de Aula foi reestruturado em 1999, quando os pesquisadores
decidiram ampliar a oferta de cursos, incorporando novas interfaces para atender às
necessidades de secretaria, biblioteca, chat, espaço de socialização; vale ressaltar que todos os
recursos disponibilizados pelo projeto foram implementados pela própria equipe (num site da
FACOM, usando HTML), que, naquele momento, não havia disponível na web elementos
de comunicação, de gerenciamento de materiais e outros, como os temos hoje. O projeto foi
realizado a partir da motivação pessoal dos pesquisadores responsáveis pelo ele; pela mesma
razão, ou seja, por não ser uma iniciativa institucional, o projeto ofereceu suas últimas turmas
no ano 2002, e, a partir de então, foi descontinuado em função do envolvimento dos
responsáveis com novas funções acadêmicas e administrativas na UFBA (LEMOS;
CARDOSO; PALÁCIOS, 2005).
Também a Escola de Administração possui uma experiência, denominada ADMNET,
que começou com a utilização da Internet, no primeiro semestre de 1997, para apoiar uma
disciplina do Departamento de Ciência da Computação, Introdução ao Processamento de
137
Dados, oferecida aos alunos dos cursos de Matemática e Engenharia da UFBA. A experiência
iniciou com a utilização de homepages para disponibilizar materiais sobre a disciplina e o uso
de correio eletrônico para interação extraclasse. Em 1999, foi adotada a mesma abordagem
para uma disciplina no curso de Administração da UFBA e, na busca de um fórum de debates
mais organizado, foi criada uma lista de discussões hospedada no CPD da UFBA. Segundo
João Dias Queiroz (2002), responsável pelo projeto, em 1999, foi utilizada uma lista no
eGroups
44
, e a partir de 2000, sentindo a necessidade de avançar para a utilização de um
ambiente integrado que oferecesse diversos recursos, o ADMNET experimentou a utilização
do AulaNet
45
e do LearningSpace
46
, e a disciplina Informática Aplicada à Administração foi
oferecida de forma semipresencial, com 30% a 40% da carga horária correspondendo a
atividades presenciais; uma iniciativa sem uma base legal que a respaldasse, que a portaria
do MEC que trata da oferta a distância de parte da carga horária de um curso presencial
seria publicada em outubro de 2001. O ADMNET também oferecia cursos gratuitos em forma
de tutorial (ABC da Internet; HTML para iniciantes; Gerência do Tempo) e espaço on-line
para apoio a disciplinas de graduação e a cursos de pós-graduação da Escola de
Administração da UFBA.
Uma importante atuação da UFBA no sentido da reflexão sobre a EAD foi a
coordenação, entre 1998 e 2002, da Biblioteca Virtual de Educação a Distância (BVEAD),
idealizada pelo Programa de Informação para Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação
(PROSSIGA) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O
PROSSIGA foi implantado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tcnológico (CNPq), em 1995, como uma articulação entre a informação e a comunicação e
com o objetivo de promover a criação e o uso de serviços de informação na Internet voltados
para as áreas prioritárias do Ministério da Ciência e Tecnologia, assim como estimular o uso
de veículos eletrônicos de comunicação pelas comunidades dessas áreas (PROSSIGA, 2009).
A BVEAD fazia parte de um conjunto de bibliotecas virtuais temáticas que tinham por
objetivo “buscar sistematizar um conjunto de informações disponíveis na Internet e, com isso,
dar ao público pesquisadores, professores, estudantes ou simples usuário da rede acesso
mais sistematizado a textos, projetos, legislação, referências técnicas em diversas áreas do
44
O eGroups foi um gerenciador de listas na Internet, hoje incorporado ao Yahoo; mais informações disponíveis
na Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/EGroups; acesso em 21 jun.2009.
45
O AulaNet é um AVA desenvolvido pela PUC-Rio, já abordado no Capítulo 3 deste trabalho.
46
O LearningSpace é um LMS proprietário desenvolvido pela IBM; mais informações sobre o LearningSpace
estão disponíveis em: http://www.ibm.com/developerworks/lotus/library/ls-quickcourse_LVC/index.html.
138
conhecimento” (PRETTO; CARVALHO, 2000). Atualmente, as bibliotecas virtuais temáticas
perdem um pouco o sentido em virtude da proliferação de sites de busca, cada vez mais
eficientes, disponíveis na rede; sites, a exemplo do Google, que trazem filtros de pesquisa
cada vez mais complexos em que, a partir de palavras-chaves e outros parâmetros como data
de acesso, região, idioma, o usuário pode refinar suas buscas e obter links mais relevantes
para a sua pesquisa. Mas, na época, a implementação das bibliotecas temáticas foi uma
importante iniciativa que contribuiu com a formação de opinião sobre a relevância da Internet
e sua importância para a difusão de conhecimento. A BVEAD foi implantada a partir de um
convênio entre o CNPq e a UFBA, através da FACED e depois com o envolvimento do
Instituto de Ciência da Informação (ICI). Desde o início da atuação da UFBA no projeto, a
ideia central era construir não um espaço de pesquisa onde professores, alunos e usuários
em geral pudessem ter acesso a informações relevantes sobre o tema, em língua portuguesa,
mas também, e principalmente, que estimulasse e incentivasse que cada usuário (escola,
professor, criança etc.) pudesse ser efetivamente produtor de conhecimento em vez de simples
consumidor de informações (PRETTO; CARVALHO, 2000). Em função disso, a BVEAD foi
concebida com a presença de interfaces (a exemplo de chats e fóruns) que possibilitassem a
participação efetiva das pessoas que por ela navegassem, inclusive com espaços para críticas e
contribuições para a própria BV. Esse é um aspecto da BVEAD que a diferenciava de outras
BV, e que caracteriza a visão dos pesquisadores da UFBA envolvidos com o projeto: uma
concepção que percebe os interagentes como autores e autônomos dentro das relações que se
estabelecem na rede (PRETTO; CARVALHO, 1999; PRETTO; CARVALHO, 2000). A
BVEAD, no entanto, não alcançou plenamente os objetivos pensados na sua concepção; o
projeto necessitava de implementações técnicas que, com as limitações da época e com uma
equipe que não contava com representantes da Ciência da Computação, dificultaram sua
viabilização; além disso, as divergências entre as concepções da BVEAD e das demais
bibliotecas virtuais refletiam parte das contradições que existiam no PROSSIGA sobre o que
deveriam ou não deveriam ser as bibliotecas temáticas.
Com a EAD retomando seu crescimento no país, a UFBA faz a sua primeira tentativa de
institucionalização da EAD através do Projeto UFBANET, iniciado em 1999, sob a liderança
da administração central da universidade, a partir da ação do então vice-reitor, Othon
Jambeiro, também um pesquisador da área vinculado à FACOM e ao ICI. O objetivo do
UFBANET, à época, foi assim definido:
139
[...] incorporar o uso de tecnologias nos cursos presenciais, que permitam
aos educadores implementar projetos pedagógicos educacionais sustentáveis
de ensino e aprendizagem [...]. Pretende-se também, implantar cursos de
Graduação, Pós-Graduação e extensão a distância [...] que incorporem e
utilizem as tecnologias de informação, tanto para a sua construção como
para a sua execução. (JAMBEIRO, 2002, p.238).
Segundo seu idealizador, o projeto foi pensado com a certeza da importância de uma
ampla divulgação e participação da comunidade acadêmica da UFBA desde a sua concepção;
para isso, foi constituído um grupo de trabalho composto por professores de várias unidades,
com base nas experiências isoladas de docentes e grupos de pesquisa, para a elaboração de um
anteprojeto. Este anteprojeto foi disponibilizado no site da UFBA na intenção de divulgar a
proposta e colher críticas e sugestões que pudessem enriquecê-la (JAMBEIRO, 2002). Como
ação concreta para a implantação do UFBANET, foram feitos estudos sobre as necessidades
com relação à sua localização física e foi definido, na época “um espaço bastante razoável no
novo Pavilhão de Aulas de Ondina (PAF-3), sendo também dimensionada a equipe inicial, a
infraestrutura de informática, softwares, instalações e a montagem de uma sala de vídeo-
conferência, acoplada a um auditório de uso múltiplo” (JAMBEIRO, 2002, p.238). É
interessante ressaltar que a construção do PAF-3 foi concluída quase 10 anos depois, em
2008, e que o espaço destinado ao UFBANET está (até hoje!), inclusive com placas de
sinalização, mas sendo destinado a outras atividades. O UFBANET era composto de diversos
subprojetos, contemplando, inclusive, a implementação de um ambiente virtual que abrigaria
cursos a distância, além de recursos como biblioteca, agenda, espaços para disciplinas, fóruns
etc. Naquela época, foi pensada a estruturação de uma parceria envolvendo diversas
universidades baianas, através de uma ação induzida pelo MEC em articulação com a
Secretaria de Educação do Estado da Bahia, que tinha como objetivo a formação de 80 mil
professores leigos da rede estadual. A participação da UFBA nesse consórcio se daria através
do subprojeto Pró-licenciar do UFBANET, com a oferta do curso de Licenciatura em
Matemática para a graduação de dois mil professores da Rede Pública de Educação Básica do
Estado da Bahia (JAMBEIRO, 2002). O projeto do curso de Licenciatura em Matemática a
distância foi elaborado pelo Laboratório de Educação a Distância (LED), do Instituto de
Matemática. O LED atuou também no desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem (I-
MAT) que atendesse às necessidades de comunicação on-line utilizando a linguagem
matemática; o I-MAT foi experimentado com duas turmas do curso de atualização Projetos
Pedagógicos Interdisciplinares em Matemática Apoiados por Tecnologias de Informação”
uma em Salvador e outra em Barreiras, nos anos de 2001 e 2002 (OLIVER et al., 2002); esse
140
curso de atualização foi ofertado no âmbito do Pró-Ciência, da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), destinado aos professores de
escolas públicas baianas. O I-MAT foi a semente inicial do ambiente virtual que seria
implementado no âmbito do UFBANET, mas que não foi concretizado; ele viria a ser,
também, a base para a implementação do ambiente Abranet, desenvolvido em parceria com o
CPD, sobre o qual falaremos adiante.
No entanto, o projeto UFBANET não alcançou as metas idealizadas e foi descontinuado
com a mudança do reitorado em 2002. Segundo declarou Othon Jambeiro em palestra
proferida no I Seminário de EAD do ISP, em 2005, o sucesso do projeto foi dificultado pela
ausência de recursos, carência de leis que respaldassem a modalidade a distância na época,
além da existência de uma forte cultura presencial na UFBA e consequente resistência ao uso
das TIC pela sua comunidade (BRITO; MENDONÇA; CHAVES JR., 2005). O consórcio no
âmbito da Secretaria de Educação do Estado para a formação de professores da educação
básica também foi descontinuado com a mudança de governo, e seria retomado em 2003
(tema que também será abordado mais adiante).
No contexto da oferta de disciplinas a distância na UFBA, o Laboratório de Multimeios
na Expressão Gráfica (MULTGRAF), da Faculdade de Arquitetura, foi responsável, no ano
2000, por uma disciplina optativa a distância: Superfícies Geométricas. A disciplina era
oferecida aos cursos de Arquitetura e Urbanismo, todas as Engenharias, Matemática,
Química, Artes Plásticas, Licenciatura em Desenho e Desenho Industrial. A motivação para o
oferecimento da disciplina na modalidade a distância foi o fato da ela possuir uma carga
horária grande (102 horas) que muitas vezes inviabilizava a opção dos alunos por ela. Assim,
a disciplina foi desenvolvida em quatro módulos, utilizando um site onde era disponibilizado
o material didático composto de textos teóricos com ilustrações estáticas ou em movimento, e
exercícios de diferentes graus de dificuldade que eram disponibilizados à medida que o aluno
“comprovava” o acerto dos exercícios do nível anterior. Os alunos contavam com o auxílio de
tutores através de e-mail e foi previsto um chat (mas não foi concretizado). Os exercícios
eram enviados por e-mail ou entregues pessoalmente no departamento. O curso foi oferecido
como piloto a um grupo de oito estudantes. Após essa experiência, a coordenadora da
disciplina afastou-se para cursar o doutorado e o oferecimento da disciplina a distância foi
suspenso, com promessa de retomada da experiência no futuro (CARDOSO, 2005;
CARDOSO; COSTA, 2002). Numa avaliação da experiência elaborada por Christina Cardoso
e Ivoneide Costa (2002), as autoras argumentam, dentre outras coisas, que “usar métodos que
141
reproduzem a atividade de sala de aula presencial, onde o aprendiz é, na sua maioria, passivo
no conhecimento, reduz a EAD a mero instrumento de ensino, perdendo-se de vista a
possibilidade de estudo e a riqueza dos conteúdos disponibilizados” (CARDOSO; COSTA,
2002, p.313). Essa afirmação nos chama a atenção, pois mostra uma visão da educação
presencial como uma modalidade que, na sua maioria”, o estudante como passivo, e que
por isso não se deveria reproduzir os mesmos métodos na EAD; no entanto, entendemos que
não somente a EAD precisa ser repensada na direção de uma concepção mais dialógica e que
perceba o aluno como um sujeito ativo, mas, também, a educação presencial precisa de um
olhar reflexivo com relação a essa postura hegemônica pautada na passividade do aluno.
Dentre os projetos de parceria internacional no âmbito da pós-graduação, destacamos o
projeto de caráter binacional que envolveu Portugal e Brasil, apoiado pelo Instituto de
Cooperação Científica e Técnica Internacional (ICCTI) e pela CAPES, representados pela
Universidade de Aveiro e pela UFBA, que teve como objetivo promover a formação e o
aperfeiçoamento de professores e investigadores das universidades participantes, realizar
pesquisas e trocar informações, resultados científicos e documentação especializada sobre e-
learning. Esse projeto teve a duração de quatro anos (2000 a 2004), desenvolvido em duas
fases, e envolveu três programas de Pós-Graduação: Programa de Doutoramento em Ciências
e Tecnologias da Comunicação, da Universidade de Aveiro, o Programa de Pós-Graduação
em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA, na FACOM, e o Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da UFBA. No primeiro biênio, o projeto teve como
coordenador na UFBA Othon Jambeiro; um dos resultados da parceria nesse primeiro biênio
foi a publicação do livro Internet e educação a distância. No segundo biênio, sob a
coordenação na UFBA de Teresinha Fróes Burnham, foi publicada a coletânea Tecnologias
da Informação e Educação a Distância (UFBA, 2006c; JAMBEIRO; RAMOS, 2002; FRÓES
BURNHAM; MATTOS, 2004).
No decorrer do ano 2000, a EAD, no contexto nacional, continua num crescente,
especialmente com a criação de diversos consórcios entre instituições de ensino superior
visando aprimorar e difundir a EAD no país. Um exemplo desse movimento foi o Termo de
Adesão ao Projeto UniRede, assinado em 23 de agosto de 2000 por 62 universidades públicas
brasileiras, criando a Universidade Virtual Pública do Brasil. A UniRede, definida como uma
rede de cooperação técnica, nunca foi responsável pela oferta de cursos, mas sim pela
gerência e articulação de projetos e cursos de EAD de várias instituições. Seu objetivo,
segundo o termo de adesão, é:
142
[...] potencializar o acesso ao ensino público universitário, bem como
contribuir para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem nas
áreas de Educação, Ciência, Tecnologia, Arte e Cultura, em todos os níveis e
modalidades praticadas nessas IPES (Instituições Públicas de Ensino
Superior). (ARAÚJO; VERHINE, 2005, p.135).
Com a participação da UFBA na UniRede, o ISP, que tinha sob sua gerência um Núcleo
de Avaliação Educacional (NAVE) criado em julho de 2000 com a tarefa de desenvolver
atividades de avaliação tanto no âmbito da UFBA quanto no âmbito do Estado da Bahia e dos
municípios, concorr©e, através do NAVE, com um projeto para a implantação na UFBA do
Polo de Avaliação da Universidade Virtual Pública do Brasil. O projeto foi aprovado e
desenvolveu suas atividades no período de 2001 a 2004, tendo como meta a criação de um
sistema institucionalizado de avaliação dos cursos superiores a distância oferecidos pelo
consórcio da UniRede. No âmbito da UniRede, o NAVE desenvolveu diversas experiências
práticas em termos de metodologia de avaliação de cursos de nível superior a distância
(ARAÚJO; VERHINE, 2005, p.134).
Dando continuidade ao investimento em redes digitais no contexto nacional, e a fim de
garantir que o Brasil participasse do projeto Internet 2, dos Estados Unidos, que tinha como
objetivo o desenvolvimento de tecnologias que possibilitassem novas formas de interação
pelas redes que não eram possíveis com a tecnologia disponível na época, o MCT havia
lançado, em 1997, um edital para redes e aplicações de alta velocidade. Em resposta a esse
edital, surge, em 2000, o Projeto da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de Salvador
(REMA), composto por 19 propostas de aplicações e trabalhos de pesquisa em redes de alta
velocidade. Provido de um caráter multi-institucional, o REMA agregou diversos parceiros,
sob a coordenação geral da UFBA, através do CPD: a UCSal, a TELEMAR, a Companhia de
Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), a Secretaria de Planejamento,
Ciência e Tecnologia (SEPLANTEC) e a Prefeitura Municipal de Salvador (CARDOSO;
ARAÚJO; LINO, 2004). Dentre os subprojetos desenvolvidos pelo REMA, destacamos, para
o nosso objetivo neste trabalho, o Ambiente Brasileiro de Aprendizagem (ABRA), que tinha
como objetivo o desenvolvimento de um ambiente virtual de aprendizagem, dentro da
filosofia de software livre, para apoio ao ensino presencial, integrado com o sistema de
informações acadêmicas da UFBA. A proposta metodológica do sistema ABRA era baseada
fortemente em recursos de interatividade ncrona e assíncrona entre professores e alunos
além de espaços para repositório de dados. Como o projeto foi descontinuado por falta de
recursos, o CPD iniciou outra parceria com o projeto UFBANET e participou da
143
especificação de novo ambiente de aprendizagem; essa nova especificação, juntamente com
as definições e implementações do ABRA, dão origem a uma nova aplicação (cuja semente
inicial foi desenvolvida no âmbito do I-MAT, citado anteriormente) da qual foram
concluídas a definição e a modelagem, além da implementação de alguns dos módulos
previstos. De 2002 a 2004, através de novo edital da RNP, o CPD começa a atuar em parceria
com a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Rio Grande do
Norte no Projeto Infravida, da área de telemedicina. O desenvolvimento do ABRA, que nesse
momento passa a ser chamado de Abranet (ABRA e UFBANET) Ambiente Brasileiro de
Aprendizagem via Internet –, é retomado e passa a contemplar requisitos das aplicações de
telemedicina e vídeo, objeto principal do Projeto Infravida. Nesse período, diversos outros
módulos do Abranet foram desenvolvidos e o sistema entra em modo operacional de teste,
sendo utilizado em algumas disciplinas da área de medicina, e estando conceitualmente
integrado com o sistema de informações acadêmicas da UFBA. Embora não finalizado,
alguns módulos do Abranet foram desenvolvidos: Biblioteca Digital, Fórum de Discussão,
Agenda, Quadro de Avisos, Ambiente Acadêmico, Ambiente de Cursos, Ambiente de
Autoria, Glossário. Segundo avaliação da equipe de desenvolvimento do Abranet, especificar,
modelar, implementar e integrar os diversos serviços propostos para o ambiente foi um grande
desafio para a equipe, principalmente diante da insuficiência de recursos, e se constituiu em
um importante momento de formação
47
(ABRANET, 2003).
No contexto nacional, é publicada a Resolução CNE/CES 1, de 3 de abril de 2001,
estabelecendo normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação, stricto sensu e lato
sensu, e abordando a possibilidade da oferta desses cursos na modalidade a distância, apenas
por instituições credenciadas para tal; a resolução especifica também que os cursos stricto
sensu oferecidos a distância, além de atenderem às normas para a modalidade presencial,
deverão apresentar atividades, provas e defesa de dissertação ou tese presenciais; os cursos
lato sensu oferecidos a distância deverão, obrigatoriamente, incluir provas presenciais e
defesa presencial de monografia ou trabalho de conclusão de curso
48
. No mesmo ano, como
incentivo à utilização de tecnologias de educação a distância em cursos superiores presenciais,
foi exarada a Portaria Ministerial 2.253, em 18 de outubro, que regulamentava a oferta, na
47
A história do Abranet ainda se desenrola em outro movimento na UFBA (o PROGED), que descreveremos
mais adiante na tentativa de manter a ordem cronológica dos fatos.
48
Em 2007, foi publicada uma nova resolução, Resolução CNE/CES 1, de 8 de junho de 2007, estabelecendo
normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização, revogando os
arts. 6°, 7°, 8°, 9°, 10, 11 e 12 da Resolução CNE/CES n° 1, de 3 de abril de 2001.
144
organização pedagógica e curricular de cursos superiores já reconhecidos, de disciplinas
integrantes do currículo que utilizassem a modalidade semipresencial, desde que não
ultrapasse 20% da carga horária total do curso. Segundo José Manuel Moran (2005), esse foi
um importante ato legal, à época, porque significou legalizar a utilização isolada de
disciplinas a distância que já vinha sendo desenvolvido por alguns pesquisadores a exemplo
dos casos relatados anteriormente, referentes a disciplinas de cursos presenciais da UFBA e
que poderia ocasionar problemas jurídicos caso houvesse contestação pela sua utilização num
curso credenciado na modalidade presencial.
Entre setembro e dezembro de 2002 foi oferecido, na UFBA, o “Curso Batuta
Educação à Distância para Músicos de Filarmônicas”, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo
Baiano, para os músicos da Sociedade Lítero Musical Minerva Cachoeirana (Filarmônica
Minerva). Esse curso foi parte de um projeto de doutoramento no Programa de Pós-
Graduação em Música, da Escola de Música da UFBA. O foco da tese foi a construção e
aplicação de um modelo de gestão para formação, a distância, dos músicos da referida
filarmônica. O curso foi baseado em material impresso, CD e vídeos, além de alguns
encontros presenciais com oficinas com os participantes. O resultado da pesquisa aponta para
a importância da modalidade a distância na formação do público em questão, inclusive com a
evolução do material utilizado para formatos multimidiáticos e com possibilidade de acesso à
rede; a autora ressalta, no entanto, a necessidade de uma expansão da educação musical
através da política de inclusão tecnológica nas filarmônicas (CAJAZEIRA, 2004). Durante o
projeto, foi solicitada ao NAVE a avaliação do Curso Batuta; a conclusão da avaliação
destaca o sucesso da experiência valorizando sua dimensão pedagógica e impacto social.
Como pontos negativos do curso, a avaliação levanta problemas relacionados com a falta de
recursos disponíveis, tais como livros, material musical, computador e consequente falta de
acesso à Internet. A Comissão de Avaliação destacou, ainda, a importância do Curso Batuta
para a preservação da memória cultural do Estado, recomendando que fosse colocado à
disposição da UniRede como modelo a ser aproveitado para criação de cursos semelhantes
(CAJAZEIRA, 2004). Diante de tal experiência, era esperado que a Escola de Música desse
continuidade ao projeto; no entanto, não temos conhecimento do oferecimento de novas
turmas do Curso Batuta.
Durante o ano de 2003, a UFBA, através da Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD),
continuidade a algumas ações no contexto do convênio com a Secretaria de Educação do
Governo do Estado da Bahia para a formação de professores da educação básica, iniciado à
145
época do UFBANET, que envolvia a participação de cinco universidades baianas. A proposta
previa a implementação de diversas licenciaturas nas modalidades presencial e a distância. No
caso dos cursos presenciais o projeto pedagógico seria de responsabilidade de cada uma das
instituições que ofertariam os cursos; a UFBA deu início ao planejamento de seis cursos de
licenciatura
49
, no âmbito do então criado Programa de Licenciaturas Especiais (PROLE); o
início desses cursos se deu ao longo do ano de 2005. No caso da modalidade a distância, a
proposta do Estado era uma parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
que apresentava uma experiência prévia com EAD e que tinha uma relação com o
governo do estado desde a gestão anterior; como as universidades baianas envolvidas
50
ainda
não eram credenciadas para EAD, era necessária uma parceria com uma instituição
credenciada. O Instituto de Matemática foi convidado a integrar as negociações, que era a
única unidade de ensino que possuía uma proposta de licenciatura a distância, elaborada na
época do UFBANET. No entanto, os representantes do Instituto de Matemática não
aprovaram o projeto proposto pela UFSC e condicionaram seu envolvimento com a
licenciatura a distância a uma parceria com o
Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de
Janeiro
(Consórcio CEDERJ
51
) – instituição com a qual já possuíam uma relação acadêmica e
cuja licenciatura em matemática era coordenada por um renomado pesquisador da área, o que,
para os representantes do Instituto de Matemática, dava credibilidade e consistência ao projeto
do curso. A Secretaria de Educação, em contrapartida, não abriu mão da parceria com a
UFSC; a PROGRAD centralizava seus esforços para o desenvolvimento das licenciaturas
presenciais e deixava nas mãos do Estado as decisões relativas ao curso a distância e,
portanto, não se posicionou com relação às exigências do Estado; assim, criado o impasse, o
convênio com a UFBA não foi concretizado para o curso a distância. Com a participação
nesse convênio, a UFBA ganharia do Estado os equipamentos necessários para montar uma
sala de videoconferência, cujo espaço físico foi estruturado no Pavilhão de Aulas da
Federação (PAF 1); com a quebra do convênio, a UFBA não recebeu os equipamentos. A
49
Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Licenciatura em Geografia, Licenciatura em História,
Licenciatura em Língua Portuguesa, Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Química.
50
As universidades envolvidas e os respectivos cursos pelos quais seriam responsáveis foram: UFBA, com
matemática; UEFS, com física; UNEB, com química e letras; UESC, com biologia; UESB, com geografia;
UCSal, com história; Universidade Salvador, com letras.
51
O Consórcio CEDERJ reúne o Governo do Estado do Rio de Janeiro através da Fundação CECIERJ Centro
de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro e as seis Universidades públicas
sediadas no Estado; a Fundação CECIERJ foi desenhada para atender à demanda operacional dos cursos do
Consórcio CEDERJ mantendo e ampliando as atividades de divulgação científica da antiga autarquia CECIERJ.
Maiores informações no site do CECIERJ, disponível em: http://www.cederj.edu.br/fundacaocecierj/
exibe_artigo.php; acesso em: 27 jun. 2009.
146
Universidade Salvador assumiu a Licenciatura em Matemática a distância inicialmente
prevista para a UFBA (UFBA, 2004)
52
.
Também no ano de 2003, um importante movimento tem início no Instituto de Saúde
Coletiva da UFBA (ISC): um docente do ISC, no intuito de criar uma massa crítica no
instituto com conhecimentos sobre EAD, fez contato com pesquisadores da área de EAD e
tecnologias da UNEB, com o objetivo de montar um curso de formação para EAD para
docentes e pesquisadores do ISC interessados no tema. Desse movimento surgiu o curso de
extensão: Comunidades de Aprendizagem e Ensino on-line, que foi construído de forma
coletiva com as duas equipes (ISC e UNEB); as equipes optaram por desenvolver o curso no
ambiente virtual TelEduc e solicitaram ao CPD a instalação na UFBA. O curso foi planejado
com uma carga horária de 30 horas, previsto para um período de 20 dias e teve como tema as
discussões em torno das comunidades virtuais e do ensino on-line, partindo do princípio “que
a intimidade com as lógicas trazidas pelas tecnologias digitais é fundamental para a formação
do professor on-line, possibilitando-o a pensar caminhos a serem trilhados” (ALVES; NOVA;
LAGO, 2003). Foram feitas 21 inscrições de professores e pesquisadores do ISC e, dentre
estes, 8 não chegaram a realizar nenhuma atividade. Dos 13 que efetivamente participaram do
curso, 25% alcançou os objetivos propostos imergindo na lógica do on-line, 25% evadiu, e o
restante participou das atividades de forma tímida e inconstante (ALVES; NOVA; LAGO,
2003). Esse curso foi um movimento bastante importante na UFBA, primeiro por ter sido a
primeira formação para a docência on-line tendo como público docentes e pesquisadores da
UFBA; segundo, pela percepção do coordenador da equipe no ISC da importância de buscar
uma formação em EAD para a equipe quando percebeu o interesse dos pesquisadores em se
envolverem em projetos de cursos a distância; e, por último, em função da escolha que foi
feita ao convidar pesquisadores da UNEB que defendiam uma compreensão da EAD numa
perspectiva interativa e de construção coletiva de conhecimento. Certamente, esses elementos
contribuíram para que o ISC tenha hoje uma importante atuação na oferta de cursos a
distância na UFBA e, na maioria das vezes, numa perspectiva oposta ao modelo da EAD
massificadora, apostando e investindo em cursos que focam na interação e na colaboração
como aspectos fundamentais para a qualidade na EAD. Em 2004, com a atuação de
pesquisadores que participaram do curso com a UNEB, o ISC ofereceu seu primeiro curso de
extensão “Economia da Saúde”, no ambiente TelEduc da UFBA. O curso teve 30 inscritos, 4
52
Parte dessas informações foram oriundas de entrevista com o coordenador da Licenciatura em Matemática a
Distância da UFBA.
147
deles não apareceram no primeiro encontro presencial e foram desligados, e, dos 26 restantes,
3 abandonaram o curso antes de qualquer acesso ao ambiente. Segundo os responsáveis pelo
curso, apesar dos cuidados da equipe com a seleção de alunos e com a divulgação do curso,
não foi possível evitar uma baixa participação nas atividades nem a evasão de 40% (UFBA,
2005; FERREIRA, 2005).
No Instituto de Matemática, a partir de 2003, acontece anualmente o oferecimento do
Curso de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática, através de teleconferências, via
Internet. Trata-se de um evento do Programa Avanço Global e Integrado da Matemática
Brasileira
53
no âmbito do Instituto do Milênio/CNPq, com a participação do Instituto Nacional
de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), e tem como objetivo aprimorar a formação dos
professores de Matemática do Ensino Médio. Esses cursos são oferecidos duas vezes ao ano e
têm duração de cinco dias; nas manhãs são disponibilizadas teleconferências transmitidas ao
vivo do auditório do IMPA e nas tardes são realizadas sessões de estudo dirigido com enfoque
na resolução de exercícios. Cada curso tem carga horária de 40 horas e aborda tópicos de
Matemática do Ensino Médio (UFBA, 2008).
No período entre 2002 e 2003 foi elaborado, na FACED, o Programa de Formação
Continuada de Professores UFBA/IRECÊ, uma ação conveniada entre a UFBA e a Secretaria
Municipal de Educação de Irecê, que previa a implantação de um curso de licenciatura, para
os professores do município, vinculado a diversos projetos que deveriam articular educação,
cultura, comunicação, saúde, ambiente, arquitetura e urbanismo em torno do sistema de
educação municipal (PROJETO IRECÊ, 2009). O Projeto Irecê, assim conhecido, parte do
princípio que:
O grande avanço tecnológico que possibilitou e foi possibilitado pelas
mudanças nas mais diversas áreas da atuação humana afeta toda a prática
social, facultando a construção de novos “mapas culturais”, novos valores e
referências, configurando múltiplos padrões de sociabilidade e de
subjetividades, trazendo a exigência do desenvolvimento de novas
competências por parte do cidadão-trabalhador, tendo em vista a emergência
constante de novos conhecimentos.
O profissional da área de educação tem sobre si a exigência da construção e
socialização de conhecimentos, habilidades e competências que permitam
sua inserção no cenário complexo do mundo contemporâneo com a tarefa de
53
Mais detalhes sobre o Programa Avanço Global e Integrado da Matemática Brasileira podem ser encontrados
no site <http://milenio.impa.br/>; acesso em: 02 abr. 2010.
148
participar, como docente, pesquisador e gestor do processo de formação de
crianças, jovens e adultos.
Essas múltiplas demandas transferem para o processo de formação de
profissionais em educação, a exigência de ser ele próprio, constituído como
uma ação inter-relacional, que contemple a diversidade de perspectivas de
apreensão do real, a polifonia dos discursos veiculados e a apropriação das
tecnologias que estão a serviço do conhecimento contemporâneo.
(PROJETO IRECÊ, 2003).
O programa envolve os seguintes projetos: Projeto de Formação em Nível Superior dos
Professores de Irecê/Bahia; Projeto Bibliotecas Virtuais; Projeto Ciberparques; Projeto Centro
de Cultura e Comunicação; Projeto de Formação em Gestão Escolar; Projeto de reestruturação
das edificações escolares; Projeto de capacitação de professores da região de Irecê. Dentro do
Projeto de Formação em nível superior, está inserido o Curso de Licenciatura em Pedagogia,
cuja concepção pedagógica define o objeto de estudo dos professores em formação como o
processo educativo, a educação em seu acontecer cotidiano, nos diversos espaços da prática
social em que se processa”
(PROJETO IRECÊ, 2003)
. Além disso, o projeto pedagógico do
curso defende uma formação que, dentre outras coisas, possibilite a autoria dos formandos
diante das possibilidades tecnológicas que se apresentam; para isso, o curso foi concebido na
modalidade semipresencial, com atividades síncronas e assíncronas, com a intenção de que
fosse possível o uso intensivo e convergente das TIC. O Projeto Irecê, na verdade, constitui-se
na gênesis do Programa de Formação de Professores da FACED/UFBA, pensando a ação
formadora baseada em importantes pontos de ancoragem: Atitude Investigativa; Diferença
como Fundante; Compreensão Planetária; Postura Solidária e Processos Cooperativos;
Autonomia com Base na Crítica Reflexiva; Processos Horizontais: Centros Instáveis; Leitura:
uma prática inerente a todas as práticas; Currículo Hipertextual (PROJETO IRECÊ, 2003,
2009). O programa tem buscado atender às demandas de formação de professores
encaminhadas por prefeituras municipais. A primeira turma do projeto, implantada como uma
iniciativa experimental, teve início em janeiro de 2004, finalizando o processo formativo dos
professores em exercício em outubro de 2007. Em Salvador (Projeto Salvador
54
), uma turma
teve início no segundo semestre de 2004, também finalizando o processo em 2007. Em agosto
de 2008, uma nova turma do curso é iniciada em Irecê, e, em março de 2009, outra turma
começa seu processo formativo, agora no município de Tapiramutá. O Projeto Irecê, portanto,
não mais como um experimento, mas como um projeto bem-sucedido, vem contribuindo de
54
http://www.projetosalvador.faced.ufba.br/.
149
maneira crescente para a formação de sujeitos críticos e autores na sociedade contemporânea,
e, a partir do entendimento de currículo como “processo social realizado no espaço concreto
escola” (FRÓES BURNHAM, 1993), vem tornando realidade a exigência que hoje se faz com
relação à renovação periódica dos currículos e à proposição de “percursos alternativos de
formação, para a escolha do estudante, de acordo com seu ritmo e preferência, e que lhe
possibilite aprender a aprender, a reinterpretar o que aprende, desenvolvendo uma visão
crítica e habilidades de gestão, levando em conta que sua atuação futura se dará em campos
que se interpenetram como o profissional e o exercício da cidadania” (PROJETO IRECÊ,
2003).
Analisando os fundamentos do Projeto Irecê, e, portanto, do Programa de Formação de
Professores da FACED, percebemos que os aspectos que defendemos para a construção de
educações pautadas na autonomia, na formação de sujeitos críticos e nas características da
cibercultura, estão ali presentes como fundamento. Além disso, sendo o projeto concebido
numa modalidade semipresencial, algumas especificidades da EAD (como a presença de
propostas de interação via ambientes virtuais e a ênfase na articulação com as TIC, por
exemplo) fazem parte do projeto. Ora, daí a ser proposta uma formação com os mesmos
fundamentos na modalidade a distância parece faltar apenas um passo; ressaltando que a
vinculação do Projeto Irecê (e seus desdobramentos) ao Sistema UAB
55
, por exemplo,
significaria fortalecer o Programa de Formação de Professores defendido pela faculdade
através dos diversos recursos oferecidos pela UAB. Em contrapartida, o envolvimento da
FACED com os cursos da UFBA oferecidos na modalidade a distância, em especial a
Licenciatura em Matemática, praticamente não existe, restringindo-se, no caso da licenciatura,
ao compromisso de oferecer as disciplinas que cabem aos seus departamentos. Diante da
inegável produção acadêmica da FACED no que diz respeito aos temas relacionados com a
EAD e com as TIC, esse envolvimento traria uma importante contribuição teórica para o
desenvolvimento dos cursos a distância e para a incorporação das TIC nas atividades docentes
da UFBA, resultando numa qualificação dessas atividades dentro da instituição.
Dentro das ações implementadas pelo MEC para a difusão e o aprimoramento da EAD
no Brasil, destacamos a criação do Grupo de Trabalho de Educação a Distância para a
Educação Superior (GTEADES) criado pela Secretaria de Educação Superior (SESu)/MEC,
de acordo com a Portaria 37, de 2 de setembro de 2004, com a finalidade de oferecer
150
subsídios para a formulação de ações estratégicas para a EAD, a serem implementadas, nas
universidades, em consonância com as políticas da SEED. O artigo segundo da referida
portaria define a competência do GTEADES da seguinte forma:
Art. 2º. Compete ao Grupo de Trabalho de que trata o artigo anterior realizar
estudos, pesquisas, debates, palestras, seminários regionais ou nacionais com
a participação das IES, sociedades científicas, empresas e outros setores
organizados da sociedade, direta ou indiretamente envolvidos com a
Educação a Distância, com vistas à preparação do Documento “Ações
Estratégicas em Educação Superior a Distância em Âmbito Nacional”.
(GTEADES, 2005).
O GTEADES era composto por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, dentre
eles um representante da UFBA, e reuniu-se durante dois meses, presencialmente e através de
mensagens eletrônicas. O trabalho resultante foi expresso por meio do documento Ações
Estratégicas em Educação Superior a Distância em Âmbito Nacional, que relata as
conclusões a que chegaram a partir da análise das leis maiores, dos documentos oficiais, das
recomendações de especialistas e do debate dos resultados e pressupostos de alguns
experimentos nacionais e internacionais na área. O documento sintetiza as discussões do GT
em recomendações relativas aos temas: (1) Políticas e Legislação; (2) Avaliação em EAD; (3)
Educação Especial; (4) Divulgação e Relação com a Comunidade; (5) Tecnologia da
Informação e Comunicação. Além disso, o grupo destaca algumas das preocupações
resultantes dos debates:
O sentido de uma lei, nesta área educativa, é mais de apontar direções,
alargar a visão e estimular novas ações dentro de diretrizes e princípios de
qualidade e democracia e não o de buscar armadilhas para capturar os
procedimentos discrepantes ou de má fé.
Sendo assim, a lei deve regular a educação, indicando a forma de
acompanhamento e prestação de contas à sociedade de sua qualidade e de
sua capacidade democrática de estimular e viabilizar o acesso às tecnologias
digitais.
A falta de clareza do que significa EAD. Frequentemente, esta é confundida
com uma forma massificante de ensino para aprendizagem individual, ou
como forma de aumentar lucros de empresas ditas educacionais.
55
O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e o envolvimento da UFBA com ele serão abordados mais
adiante.
151
O alheamento das instituições de ensino público (federal, estadual e
municipal) em relação à EAD e à participação em práticas educativas em
pesquisas e atividades docentes com qualidade cultural e pedagógica.
Omissão do Estado no que diz respeito à regulamentação da área que, sendo
educativa e formadora de cultura, é espaço público de concessão e, como tal,
deve ser orientado por políticas e legislação pertinentes de cunho
democrático. (GTEADES, 2005).
A partir de 2004, um conjunto de atos administrativos e normativos começa a dar
suporte ao desenvolvimento da EAD na UFBA, revelando o início de uma preocupação dos
gestores, ainda que tímida, com o desenvolvimento dessa modalidade de educação. O
primeiro deles é a inserção no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) para o período
2004-2008
56
da intenção de ampliação e diversificação das atividades de ensino na UFBA,
em níveis de graduação, de pós-graduação ou de extensão, com a oferta de cursos a distância.
Nesse mesmo documento é dado destaque à necessidade de formalizar o credenciamento da
UFBA para a oferta de cursos a distância e são feitas referências a ações prévias relacionadas
à EAD que vinham sendo desenvolvidas pela UFBA, a exemplo do UFBANET e da oferta de
cursos de extensão e de disciplinas na modalidade a distância. Também em 2004, a
administração central da UFBA institui o Comitê Gestor de Tecnologia da Comunicação e
Informação, através da Portaria 422/04 (veja Anexo A), assinada em 04 de novembro de
2004; uma ação que sinaliza o reconhecimento da importância de uma discussão mais ampla e
da definição de políticas institucionais no que diz respeito às TIC. O Comitê Gestor é criado
com o objetivo de assessorar tecnicamente a universidade na escolha de equipamentos
adequados na área de tecnologia da informação e comunicação, e é composto por
representantes da PROPLAD, Escola de Administração, FACOM, Instituto de Geociências e
CPD (UFBA, 2006c).
Nessa mesma época, o GEC estava envolvido com o planejamento de um curso de
especialização na área de TIC, caracterizado por uma proposta apoiada na concepção de
currículo hipertextual. Em função disso, o curso exigia uma estrutura de apoio para a
organização curricular proposta que não existia nos ambientes virtuais conhecidos pelo grupo.
Assim, o GEC optou pelo desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem contratando
bolsistas da área de computação para essa tarefa. Durante esse processo, um dos integrantes
do GEC sugeriu que o desenvolvimento fosse feito a partir do Moodle que o mesmo era
56
Disponível em: http://www.proplad.ufba.br/docs/PDI2004-20081.PDF; acesso em 20 jun. 2009.
152
um software livre e poderia ser adaptado às necessidades do curso
57
; mas a equipe não acatou
essa sugestão, uma vez que o desenvolvimento do novo ambiente estava em andamento.
Após alguns meses, esse desenvolvimento foi descontinuado em função da falta de recursos e
também da complexidade técnica da tarefa.
É nesse ano também, 2004, que se inicia a utilização do ambiente virtual Moodle na
UFBA. Em setembro de 2004, a coordenação do GEC solicita ao CPD a instalação do
software, e o grupo de pesquisa inicia a experimentação do ambiente com o objetivo de
conhecê-lo, e difundir a sua existência na UFBA para que outros professores também o
experimentassem; foi sugerido, inclusive, que os projetos Irecê e Salvador também passassem
a utilizar o Moodle como um dos ambientes de experimentação dos alunos-professores
sugestão que foi acatada pelas coordenadoras dos projetos. Também por demanda da
Faculdade de Educação, é instalado na universidade o Twiki, em 2004 (já em uso pelo
GRAVI, Grupo de Administradores Voluntários da Rede de Informática, coletivo de
estudantes do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática
58
).
Em setembro de 2004 teve início, no ISC, o Curso de Especialização em Saúde e
Segurança no Trabalho (CEDIST), em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI),
utilizando a plataforma SGA
59
. O curso foi concluído em 2006 e teve uma carga horária de
420 horas, e o eixo que norteava o modelo pedagógico era o da aprendizagem baseada na
experiência, acompanhando o modelo de educação pós-graduada do ISC (UFBA, 2006c).
Também em 2004 foi oferecido o Curso de Especialização para Professores de Língua Alemã,
com carga horária de 360 horas distribuídas em oito unidades de estudo ao longo de 18 meses.
O curso foi planejado no âmbito do convênio firmado de 2002 a 2005, entre a UFBA, a
Universidade de Kassel e o Goethe-Institut Inter-Nationes, para o desenvolvimento do Projeto
do Curso de Especialização e Reciclagem de Professores Brasileiros, na modalidade a
distância, das áreas de Germanística e Língua Alemã como Língua Estrangeira, para a Região
Nordeste; a organização curricular previa a elaboração de monografia no final do curso sob a
orientação do tutor regional, e a proposta pedagógica estava baseada nos oito livros de estudo
57
Informação obtida na lista de discussão do GEC; disponível com acesso restrito em:
http://br.groups.yahoo.com/group/gec_ufba; acesso em: 16 jun. 2009.
58
O GRAVI foi inicialmente formado por estudantes voluntários e tinha como principal objetivo manter e
aprimorar a rede de computadores do Instituto de Matemática e seus serviços; esta rede existia em paralelo e de
forma independente da rede UFBA e utilizava exclusivamente softwares livres; o GRAVI atuou de 2000 a
2005, quando foi criada a Comissão de Reestruturação da Rede do IM. Mais informações sobre o GRAVI em
http://gavri.dcc.ufba.br/; acesso em 06 jan.2010.
153
elaborados pelos parceiros e pelo Deutsche Institut Für Fernstudienforschung (DIFF
Instituto Alemão para a Pesquisa do Estudo a Distância). As unidades apresentavam
atividades teórico-práticas e exercícios; não havia previsão de interação on-line (UFBA,
2006c; UFBA, 2005). Em 2005, a Escola Politécnica ofereceu o Curso de Especialização em
Gerenciamento de Recursos Hídricos, que foi estruturado em sete módulos temáticos,
totalizando 435 horas desenvolvidas em 18 meses, sob coordenação do Departamento de
Engenharia Ambiental. O curso foi desenvolvido usando o ambiente Formare
60
, da Portugal
Telecom Inovação (UFBA, 2006c; UFBA, 2006a). Esses três cursos de especialização o de
gerenciamento de recursos hídricos, o de língua alemã e o de saúde e segurança no trabalho
foram os três primeiros cursos de pós-graduação lato sensu oferecidos a distância na UFBA, e
constituiram-se na primeira motivação para o início do movimento de construção do Plano
Institucional de EAD (que detalharemos mais adiante), que foram avaliados pelo MEC de
forma positiva, mas com a ressalva da necessidade de diretrizes institucionais para EAD na
UFBA (UFBA, 2006c; UFBA, 2007).
No final de 2004, no contexto nacional, é exarada a Portaria Ministerial 4.059, de 10
de dezembro de 2004, que trata da oferta de 20% da carga horária dos cursos superiores na
modalidade semipresencial, revogando a Portaria 2.253 de 18 de outubro de 2001, que
tratava do mesmo tema, acrescentando a definição da modalidade semipresencial como
“quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na
autoaprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes
de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota” (BRASIL, 2004); além
disso, a nova portaria ressalta a necessidade de prever encontros presenciais e da existência de
tutoria exercida por docentes qualificados em nível compatível com o previsto no projeto do
curso. Na mesma época, também é exarada a Portaria Ministerial nº 4.361, de 29 de dezembro
de 2004, que normatiza os procedimentos de credenciamento e recredenciamento de
instituições de educação superior para o oferecimento de cursos a distância, dentre outras
coisas. Aliado a isso, e com o objetivo de incentivar a pesquisa e construção de novos
conhecimentos envolvendo a incorporação das TIC na educação (presencial ou a distância) a
SEED em parceria com a CAPES desenvolveu o Programa de Apoio à Pesquisa em EAD
(PAPED), com duas linhas de atuação: (1) apoio financeiro a estudantes de pós-graduação
59
Informação obtida a partir de notícias sobre a programação do encontro presencial do curso no site do ISC;
disponível em: http://www.isc.ufba.br/noticias/15.asp; acesso em: 14 jun.2009.
60
Informação obtida em notícias sobre o curso no site da Universia; disponível em:
http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_bhgjf.html; acesso em: 14 jun.2009.
154
stricto sensu, pesquisando sobre aplicações tecnológicas para a educação; e (2) premiação de
objetos digitais de aprendizagem destinados à Educação Básica ou Superior, desenvolvidos
por docentes e pesquisadores de cursos de graduação e de pós-graduação stricto sensu.
Na UFBA, a utilização do Moodle pela FACED começou a acontecer de fato em 2005,
com pequenos passos. O GEC no primeiro semestre de 2005 inicia a utilização do ambiente
para testes e como espaço de construção do grupo de pesquisa; nessa época, o Moodle
utilizado pela FACED ainda era conhecido como Moodle FACED. Em meados de 2005, o
CPD, em virtude do seu envolvimento com o PROGED, do ISP (que detalharemos em
seguida), inicia o estudo sobre o ambiente Moodle e começa a construir uma base de
conhecimentos sobre a administração e a criação de cursos no ambiente. Em função disso, e
através da interação com a FACED, o CPD assume a administração do Moodle FACED (cuja
URL era www.moodle.faced.ufba.br), e o mesmo passa a ser chamado de Moodle UFBA
(agora na URL www.mooodle.ufba.br). O Moodle UFBA, nesse momento, começa a agregar
outras categorias de cursos, sendo também utilizado por outras unidades da UFBA. No GEC,
a utilização do Moodle intensifica-se após um minicurso presencial com um pesquisador da
Universidade de Passo Fundo que possuía grande experiência na utilização pedagógica do
Moodle, e esteve entre 2004 e 2005 na UFBA fazendo o pós-doutorado
61
.
Também no segundo semestre de 2005, foi oferecida a disciplina “EDC703
62
Tópicos
especiais em educação: Ensino Virtual”, pelo PPGE-FACED, utilizando o ambiente Moodle,
sob a coordenação de professores do GEC e com a colaboração de um professor da
Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), da Espanha, que esteve na UFBA
como professor visitante nesse período. A disciplina tinha como objetivo analisar as
mudanças que vinham ocorrendo na EAD à época, em função do desenvolvimento da
telemática, e oferecer um espaço para discussão e experimentação das possibilidades de
criação de um curso virtual (MOODLE UFBA, 2009).
De forma semelhante, a REDPECT, no segundo semestre de 2005, também inicia sua
experimentação nos ambientes Teleduc e Moodle, que são utilizados na disciplina
“EDC704
63
TEE: Educação a distância e difusão do conhecimento”, oferecida pelo PPGE,
61
Informação obtida na lista de discussão do GEC; disponível com acesso restrito em:
http://br.groups.yahoo.com/group/gec_ufba; acesso em: 16 jun. 2009.
62
O ambiente da EDC703 está aberto para o acesso a visitantes no site do Moodle UFBA; disponível em:
http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=7; acesso em: 16 jun. 2009.
63
O ambiente da EDC704 está aberto para o acesso a visitantes no site do Moodle UFBA; disponível em:
http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=8; acesso em: 16 jun. 2009.
155
como parte das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa em Infoeducação e
Educação a Distância da REDPECT. A disciplina foi desenvolvida “de modo semipresencial,
através de dois ambientes virtuais, com o propósito de mediar a construção coletiva de
conhecimento numa perspectiva de autonomia e autogestão, no âmbito de um processo
colaborativo de formação de formadores em EAD” (FRÓES BURNHAM et al., 2006, 2009).
Nessa mesma época, houve uma tentativa de instalação do ambiente e-Proinfo na UFBA
encaminhada também pela REDPECT. Foram feitos os contatos com o MEC e foi dado início
à elaboração do convênio com a UFBA para a utilização do ambiente, atendendo às
exigências do MEC. No entanto, em razão da excessiva burocracia solicitada para a instalação
do AVA numa instituição federal, aliado ao fato de não haver uma atividade específica
pensada para o e-Proinfo na UFBA, além da sua própria experimentação pelos pesquisadores
da área, não foi dada prioridade ao firmamento do convênio cujo processo foi descontinuado.
Um ato importante no sentido de dar suporte ao desenvolvimento da EAD na UFBA foi
a regulamentação dos cursos de educação a distância pela Câmara de Ensino de Graduação da
UFBA, que aprovou em julho de 2005 a Resolução 03/05 (Anexo B) estabelecendo os
cursos de educação a distância como modalidade educativa fundamentada na
autoaprendizagem e flexibilização do processo de aquisição de conhecimentos. De acordo
com essa resolução, a EAD na UFBA deve ser ofertada com mediação docente, recursos
didáticos organizados e apresentados através de diferentes meios tecnológicos de informação
e comunicação, utilizados isoladamente ou combinados. Esse documento refere-se ainda aos
objetivos da oferta de cursos de graduação a distância, define as características dos cursos, as
competências dos órgãos colegiados quanto à coordenação e administração dos mesmos, o
regime didático pedagógico, o ingresso de alunos nos cursos, o processo de avaliação, a
diplomação e certificação dos alunos concluintes (UFBA, 2006c).
Em paralelo às experiências de EAD e de utilização de ambiente virtuais relatadas
acima, começa a se desenvolver no ISP o Programa de Formação de Gestores da Educação
Básica (PROGED), e o órgão inicia sua atuação com ambientes virtuais de aprendizagem a
fim de viabilizar o desenvolvimento de cursos a distância.
4.2 O PROGED: UMA EXPERIÊNCIA À PARTE
O PROGED surge a partir de uma ação do MEC que, com o objetivo de melhorar a
qualidade do ensino e a aprendizagem dos alunos, através da atual Secretaria de Educação
156
Básica (SEB), criou uma REDE
64
cuja responsabilidade é direcionada para o desenvolvimento
e a oferta de programas de formação permanente. Essa REDE é constituída por 20 centros,
espalhados pelo Brasil, e seu objetivo é promover a formação continuada de educadores
professores e gestores. Em 2004, o ISP passa a integrar essa REDE, atuando na especialidade
de Gestão e Avaliação da Educação, com o PROGED, elaborado em resposta ao edital
01/2003-SEIF/MEC (atual SEB/MEC). O PROGED, cujo período de atuação foi de quatro
anos (2004 a 2008), desenvolveu-se em torno de quatro ações principais: Ação 1: oferta de
cursos de formação de gestores de sistemas educacionais e de formação de gestores de
unidades escolares; Ação 2: oferta de cursos de formação de tutores em EAD; Ação 3: apoio
técnico e tecnológico a secretarias municipais de educação; Ação 4: articulações institucionais
e parcerias para o desenvolvimento de cursos e apoio técnico (LUZ; RICCIO; SILVA, 2005).
Como os cursos do PROGED, seguindo determinação do edital, seriam oferecidos na
modalidade a distância, era necessário a implantação de um ambiente virtual para atender essa
demanda. Na época, o ISP, sabendo da experiência do CPD com o desenvolvimento de um
ambiente para EAD, convida-o para atuar como parceiro no PROGED. O CPD nesse
convite uma oportunidade de dar continuidade no desenvolvimento do Abranet, e concorda
em integrar a equipe do PROGED. Como dito na introdução desta tese, é nesse momento que
esta autora inicia sua atuação com a EAD, passando a integrar a equipe do PROGED. O
destaque para o PROGED nesse histórico se deve não só a essa questão, mas, também, porque
a partir da parceria ISP-CPD é que começa a se formar o grupo de EAD do CPD.
Para a escolha do ambiente que seria utilizado no programa, foram identificados outros
ambientes virtuais, além do Abranet, que poderiam atender às necessidades do PROGED, a
exemplo do TelEduc e do Moodle. Porém, embora fosse óbvia a superioridade do Moodle, e
do TelEduc, sobre o Abranet, principalmente pelo fato de já estarem num estágio operacional
sendo utilizados por diversas instituições (no mundo, no Brasil e, inclusive, na Bahia), optou-
se pela utilização do Abranet (que ainda estava em fase de implementação) acreditando-se que
haveria tempo hábil para terminar o seu desenvolvimento e que ele atenderia às necessidades
do programa. A decisão foi basicamente política entendendo-se que a opção por um produto
desenvolvido pela UFBA estaria valorizando a produção interna, além de se ter (em tese)
liberdade para definir e implementar os requisitos que fossem percebidos como prioritários.
No entanto, o Abranet mostrou-se estar ainda numa etapa de desenvolvimento muito inicial e
64
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=231&Itemid=86.
157
ainda com diversos problemas de implementação (apresentando uma série de funcionalidades
a serem corrigidas e/ou desenvolvidas), de performance (seu desempenho não atendia aos
requisitos mínimos para um ambiente virtual de aprendizagem) e também de concepção (as
funcionalidades previstas não atendiam às necessidades do projeto).
Sobre esse aspecto do percurso histórico aqui relatado, é importante observarmos como
a implementação e o desenvolvimento de soluções de forma ilhada, sem a presença da
interdisciplinaridade dentro dos grupos, pode causar consequências indesejadas. O
desenvolvimento do Abranet, coordenado pelo CPD, com uma equipe de desenvolvimento
tecnicamente competente, mas sem a presença de pesquisadores da Educação, culmina numa
solução técnica que não atende às necessidades pedagógicas da EAD. Já a tentativa de
desenvolvimento do ambiente de aprendizagem pelo GEC, também concebido de forma
ilhada, que agora na “ilha” da Educação, culmina na descontinuidade da atividade em
virtude de sua complexidade técnica. Se essas duas iniciativas tivessem sido integradas, teria a
UFBA desenvolvido seu próprio ambiente virtual de aprendizagem? E seria esse hipotético
ambiente uma solução que atenderia às necessidades de ambos os grupos e de outros grupos
mais? Claro que não podemos responder essas perguntas; no entanto, temos certeza de que a
riqueza do aprendizado e do conhecimento construído durante o processo teria sido muito
maior. Além da questão da interdisciplinaridade, é importante ressaltar que o
desenvolvimento de um software de grande porte (como é o caso de ambientes virtuais de
aprendizagem) não é, de forma alguma, uma atividade simples e que se possa desempenhar
rapidamente e com segurança; a segurança somente passa a existir após exaustivos testes e
utilizações piloto. Nesse sentido, o desenvolvimento dentro da filosofia de software livre
possibilita a participação de uma comunidade maior de colaboradores e, consequentemente,
os resultados aparecem mais rapidamente; se os esforços do CPD com o Abranet fossem
unidos aos esforços do GEC e se concentrassem no aprimoramento de um sistema como, por
exemplo, o Moodle, que se apresentava em um estágio mais avançado de implementação e
com uma comunidade de usuários e desenvolvedores em formação, possivelmente todos
teriam a ganhar com isso, e a UFBA, embora não estivesse construindo um software “seu”,
estaria dando um belo passo na direção da construção colaborativa em rede. Outro aspecto
relevante nesse processo é que não havia, em nenhuma das iniciativas, um apoio institucional;
apoio este que poderia alavancar o desenvolvimento de um software em qualquer das
perspectivas citadas, inclusive possibilitando e fomentando a interdisciplinaridade no grupo.
158
Das ações do PROGED, a que primeiro se envolve com as temáticas da EAD é a Ação
2, responsável pela organização do Curso de Formação de Tutores, que os conteúdos do
curso em questão eram relativos à própria EAD. Com esse desafio, a coordenadora da ação
convida um grupo de pesquisadores para colaborar com a elaboração do material didático e da
proposta do curso. Além disso, e também por isso, essa ação fica com a responsabilidade de
gerenciar o desenvolvimento do ambiente virtual e é a que mais interage com as atividades do
CPD no PROGED. Com a opção pelo Abranet, e com a posterior constatação da
impossibilidade de utilizá-lo de imediato (o desempenho do software, que foi testado com os
alunos durante o curso, mostrou-se inadequado para as necessidades existentes), a primeira
turma do Curso de Formação de Tutores acontece usando um blog para a postagem do
material didático e como simulação de um fórum. Essa primeira turma, considerada piloto,
formou 40 cursistas, de uma demanda na inscrição de 204; a grande procura pelo curso, à
época, foi entendida, pela equipe, como expressão do interesse e do desejo de educadores de
se aproximarem da EAD (LUZ; RICCIO; SILVA, 2005; RICCIO; SILVA; SOUZA, 2007).
No segundo ano do programa, 2005, a equipe optou pela utilização do Moodle e,
embora já existisse uma instalação do Moodle no CPD para a utilização da FACED (o
Moodle FACED, na época), o ISP sente necessidade de ter outra instalação do ambiente para
os seus cursos e a solicita ao CPD; essa segunda instalação passa a ser conhecida como o
Moodle ISP (na URL: www.moodle.isp.ufba.br). A necessidade dessa nova instalação foi
justificada pela equipe com respeito à maior liberdade de atuação no ambiente e de sua
customização para as necessidades do PROGED, assim como uma insegurança com relação
ao desempenho do ambiente no caso do cadastro de muitos usuários externos ao PROGED.
Nas entrelinhas, porém, podemos perceber um desejo de manter separados os Moodles,
acompanhando um movimento de separação já previamente existente entre ISP e FACED.
Nesse momento, a equipe do CPD que atuava no PROGED era composta por esta
autora, por um estagiário de Ciência da Computação financiado pelo PROGED e por um
estagiário do setor de suporte do CPD, além da coordenadora do setor de Projetos Especiais
que atuava mais politicamente na equipe. Essa pequena equipe, juntamente com mais um
funcionário do ISP, tinha a responsabilidade de administrar o Moodle ISP e de customizá-lo
para atender às necessidades do PROGED e foi impelida a estudar o ambiente iniciando nesse
momento o percurso na construção de uma base de conhecimentos sobre o Moodle na UFBA.
A atuação desta autora na equipe do PROGED acaba por extrapolar a responsabilidade
técnica sobre o Moodle e começa a atuar muito próxima da equipe de gestão do Curso de
159
Tutores, assumindo a posição de coordenadora técnica do curso, e dividindo com a
coordenadora geral as decisões relativas não ao ambiente Moodle, mas também à estrutura
geral do curso e à sua gestão. Refletindo sobre essa mudança no percurso da equipe, é fácil
perceber que isso se deu em virtude do desconhecimento do ambiente virtual por parte do
restante da equipe de gestão do curso, levando a que o papel desta autora crescesse dentro do
grupo. Isso nos leva a confirmar a importância do conhecimento técnico do ambiente ao lado
do conhecimento pedagógico: ambos se complementam.
Então, na segunda turma do Curso de Formação de Tutores, iniciada em outubro de
2005, o curso foi migrado para o ambiente virtual Moodle (no Moodle ISP), com uma
formatação própria para a educação on-line, com propostas de atividades bastante focadas na
interação. Um aspecto importante a ressaltar sobre esse curso é que a perspectiva de tutoria
adotada é, na verdade, de uma docência on-line, entendendo que o papel do tutor
(nomenclatura inclusive questionada no decorrer do curso) é de um professor que agrega
funções técnicas e de interação on-line (SOUZA; RICCIO; SILVA, 2007) – seguindo a
concepção de educação on-line defendida pelos especialistas convidados para a elaboração do
material didático e que atua de forma a promover a interação mútua (PRIMO, 2007). Essa
perspectiva de tutoria contrasta com o modelo mais difundido na EAD, de tutoria funcional,
que acompanha as demandas dos alunos com relação a dúvidas, mas apenas na perspectiva de
uma interação reativa (PRIMO, 2007). Nesse ano do PROGED, já percebíamos a discrepância
entre a postura da UFBA e os outros dois centros de gestão da REDE: a proposta do
PROGED caminhava na busca de implementar uma EAD pautada na interação; mas a equipe
era questionada pelo pequeno resultado quantitativo alcançado. Na verdade, a própria equipe
questionava-se com relação a este paradoxo: os tutores eram formados na perspectiva da
qualidade defendida na EAD, focando na interação, na visão crítica, na formação para a
cidadania, entendendo que formando formadores nessa perspectiva e sendo eles
multiplicadores o programa poderia contribuir com a ponta mais frágil e mais necessitada
desse sistema: o professor da educação básica, e, consequentemente, o aluno; no entanto, a
abrangência do curso era ainda muito pequena. Aliado a esse questionamento, a equipe
deparou-se, dentro do modelo proposto, com algumas dificuldades, já que o acompanhamento
dos alunos se mostrou precário sem a presença de tutores dedicados a essa tarefa a tutoria
era exercida pelo próprio pessoal da equipe que acumulava outras atribuições e não foi
suficiente para promover uma interação adequada com os participantes o que se constituía
em uma grande contradição em relação à perspectiva teórica que a equipe defendia. Nos anos
160
seguintes, certos que a presença do tutor docente on-line dedicado à interação com os
alunos era fundamental, a equipe foi ampliada com a participação de pesquisadores da área
que atuaram dedicados à função de tutoria durante a implementação do curso (RICCIO;
SILVA; SOUZA, 2007).
Em 2006, a instalação do Moodle UFBA já se apresentava numa situação tecnicamente
estável e num crescente com relação ao número de usuários da comunidade UFBA; retomou-
se, portanto, a discussão sobre a necessidade de manter separado o Moodle ISP. Nesse
momento, entende-se não ser mais necessária a manutenção dos dois ambientes, e os cursos
do PROGED são migrados para o Moodle UFBA. Essa decisão foi tomada apoiada na
argumentação de que a administração do Moodle UFBA e do Moodle ISP era executada pela
mesma equipe no CPD e que não havia sentido em criar uma instalação de Moodle para cada
demanda dentro da UFBA; além disso, a administração central da UFBA, nessa época, já
apontava com o reconhecimento da necessidade de apoiar o desenvolvimento do Moodle na
instituição, inclusive sinalizando com a possibilidade de aquisição de servidores com uma
configuração adequada para a expectativa de crescimento do uso do Moodle
65
. Dessa forma,
o risco de problemas na instalação do ambiente ou na sua performance seria minimizado. A
partir da terceira turma do Curso de Tutores, os dois ambientes foram integrados, tendo
sido feita a migração dos espaços do Moodle ISP para o Moodle UFBA, e o primeiro
passando a ser utilizado apenas para testes e desativado algum tempo depois.
Ao todo, o PROGED ofereceu seis turmas do Curso de Formação de Tutores, cuja
síntese em números pode ser vista na Tabela 1, além de uma turma extra para atender a uma
demanda da UAB na UFBA para a formação dos candidatos a tutores do curso de
Licenciatura em Matemática a distância.
Tabela 1: Síntese da oferta do Curso de Tutores.
Ano da Oferta
Vagas
oferecidas
Inscritos para
o processo
seletivo
Vagas
preenchidas
Tutores
certificados
Municípios
beneficiados
2004
45
204
45
42
4
2005
43
152
43
36
15
2006.1
60
550
60
52
2006.2
123
428
123
90
47
2007.1
127
1.152
127
109
2007.2
120
(inscrições a partir
de indicações)
118
71
107
65
Esse período coincide com o momento da elaboração do Plano Institucional de EAD e com a criação da
Comissão Institucional de EAD; ações apoiadas pela administração central e associadas ao reconhecimento da
necessidade de um investimento em equipamentos que suportassem a crescente demanda pela utilização do
ambiente Moodle na instituição. Abordaremos este tema em mais detalhes na próxima seção.
161
118
TOTAL
518
2604
516
400
173
Fonte: Adaptado do Relatório Síntese do PROGED UFBA (PROGED, 2008).
Observando-se os dados da Tabela 1 é importante notarmos, através da quantidade de
inscritos para o processo seletivo, a grande e crescente demanda para o curso de formação de
tutores. A equipe do PROGED atribuiu esse fato a dois aspectos: primeiro à demanda geral
pela formação para a EAD, em especial com certificação de uma instituição federal de ensino,
e segundo a uma avaliação positiva do curso feita pelos próprios participantes, principalmente
pelo seu foco na interação o que se constituía num diferencial, que a maioria dos cursos
análogos mantinha o foco mais fortemente no material didático, que divulgavam entre seus
pares essa avaliação.
Das demais ações do PROGED, a Ação 1 também possui relevância para esta pesquisa
que seu objetivo foi o oferecimento de cursos de gestão a distância. O objetivo inicial do
Curso de Formação de Tutores, inclusive, era formar tutores para atuarem nos cursos de
formação de gestores. No entanto, os cursos de gestores não seguiram a mesma proposta que
o curso de tutores; não se conseguiu a implantação de cursos com o foco na EAD on-line, o
modelo implementado utilizava material impresso e encontros presenciais, sem a existência
de um espaço virtual para os alunos do curso, embora o material do curso tenha sido
inicialmente pensado para o on-line, e estivesse totalmente inserido no ambiente Moodle;
apenas a oferta da última turma do curso de gestores fez uso do ambiente virtual Moodle
como apoio para a interação, mas ainda assim com um material num formato linear, não
hipertextual. A maior dificuldade relatada pelos coordenadores dos cursos de gestores era a
ausência de infraestrutura mínima, nos municípios que demandaram os cursos, para acesso à
Internet e, além disso, a ausência de domínio das tecnologias on-line por parte dos candidatos
ao curso. Com a oferta dos cursos com material impresso, na modalidade semipresencial, a
equipe da Ação 1 fez a opção por um modelo não interativo da EAD, na qual a autonomia do
aluno era compreendida de forma individualista e exercida isoladamente por cada participante
em seus momentos de estudos, realizados sem interação entre alunos e equipe. Nos momentos
presenciais, que aconteciam de 15 em 15 dias, as atividades, elaboradas individualmente pelos
alunos, eram discutidas com o grupo. A carga horária do curso era de 200 horas, sendo 64
presenciais e 136 horas a distância (LUZ; JESUS, 2006). Percebe-se que o modelo de EAD
proposto para esses cursos difere da proposta defendida pelo curso de tutores no qual, nos
momentos a distância, havia a possibilidade de interação através do AVA. Como explicar que
dentro do próprio PROGED, no mesmo programa, uma outra ão não consegue se apropriar
162
das possibilidades da EAD on-line? É interessante observarmos como, mesmo dentro de um
mesmo programa, a dificuldade de integração entre os grupos se dá, ao ponto de o
conhecimento construído em uma equipe, no caso a do Curso de Tutores, Ação 2, não ser
difundido para as demais. Embora a equipe da Ação 1 atribua a responsabilidade por essa
opção de modelo de EAD à ausência de acesso à rede pelos participantes do curso,
entendemos que a ausência de cultura on-line entre os membros da equipe da Ação 1 teve
uma influência fundamental nesta decisão.
Em números, foram oferecidas três turmas do Curso de Formação de Gestores de
Sistemas Educacionais, para um total de 61 cursistas e contemplando 32 municípios; do Curso
de Formação de Gestores de Unidades Escolares, foram oferecidas 16 turmas, num total de
721 cursistas, contemplando 169 municípios.
Outro resultado do PROGED, e que contribuiu para construção de conhecimento na
área de EAD, foi a realização de quatro seminários sobre EAD (dois em 2005, um em 2006 e
outro em 2007), os dois últimos com transmissão ao vivo pela Internet, com a participação de
algumas unidades da UFBA e diversas instituições e representações do Estado da Bahia e dos
demais centros participantes da REDE. Além disso, foram organizadas diversas publicações
durante os quatro anos de desenvolvimento do PROGED, algumas específicas sobre EAD,
incluindo: “Módulos de EAD”, na rie Formação n. 1; “Vídeoaulas de EAD”, na Série
Formação n. 2; Coleção “EAD no contexto brasileiro”, com três volumes impressos, sendo
dois deles produzidos a partir de dois dos seminários de EAD; “Reflexões sobre Educação on-
line”, coletânea com reflexões sobre os quatro anos do Curso de Formação de Tutores
(PROGED, 2008).
O PROGED, mais especificamente o Curso de Formação de Tutores, também foi campo
empírico de pesquisa para diversas produções acadêmicas relacionadas à EAD, a exemplo da
tese de doutorado de Ana Paula Villalobos (2007), a dissertação de mestrado de Socorro
Aparecida Cabral Pereira (2008), e a monografia de final de curso de Mísia Pontes de
Almeida (2006), as três na FACED.
4.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EAD NA UFBA: O MARCO INICIAL
Ao longo do período que vai do ponto inicial deste histórico, na década de 1990, até o
ano de 2006, as experiências relatadas foram implantadas isoladamente, refletindo a iniciativa
individual de professores, embora fosse clara a necessidade de uma ação mais articulada da
163
universidade nesse campo (aspecto constantemente levantado pela FACED nos Conselhos
Superiores da UFBA
66
). No início de 2006, com a EAD cada vez mais presente no cenário
educacional brasileiro, a UFBA é, de certa maneira, levada a construir os primeiros passos,
ainda com movimentos lentos e inseguros, para a institucionalização da EAD e para a sua
participação na UAB.
Em 19 de dezembro de 2005, no cenário nacional, é assinado o Decreto 5.622, que
revoga o Decreto nº 2.494, de 1998, e dá nova regulamentação ao artigo 80 da LDB. Logo em
seguida, o Sistema Universidade Aberta do Brasil foi criado tendo como principal objetivo o
apoio e fomento de cursos de graduação a distância nas instituições federais de ensino, com
foco especial na formação de professores da educação básica em exercício na rede pública.
Seu primeiro edital, que foi publicado no Diário Oficial da União em 20 de dezembro de
2005, apresentava o seguinte objetivo:
O presente Edital tem por objetivo fomentar o “Sistema Universidade Aberta
do Brasil UAB”, que será resultante da articulação e integração
experimental de instituições de ensino superior, Municípios e Estados, nos
termos do artigo 81 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, visando à
democratização, expansão e interiorização da oferta de ensino superior
público e gratuito no País, bem como ao desenvolvimento de projetos de
pesquisa e de metodologias inovadoras de ensino, preferencialmente para a
área de formação inicial e continuada de professores da educação básica.
(UAB, 2005).
Em maio de 2006, é assinado o Decreto nº 5.773 dispondo sobre o exercício das funções
de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior, e especificando as
competências da SEED nesse âmbito. E, embora o edital 1 da UAB tenha sido lançado em
dezembro de 2005, somente em junho de 2006 é assinado o Decreto 5.800, que institui o
Sistema Universidade Aberta do Brasil, o que justifica, em parte, a insegurança de algumas
instituições em participar do edital, já que nem todos os detalhes da possível parceria estavam
devidamente definidos.
O edital 1 da UAB, com prazo para 13 de abril de 2006 para a submissão de propostas
de cursos de graduação a distância, encontra a UFBA ainda completamente desarticulada para
a EAD, em especial para a graduação a distância. O reitor, à época, pressionado pelo MEC em
função de a UFBA ser uma das únicas universidades federais que ainda não havia apresentado
uma proposta de graduação a distância para a UAB, convoca a PROPLAD para assumir a
66
O orientador deste trabalho foi diretor da FACED no período de 2000 a 2008 e, por isso, tinha assento nas
164
tarefa de credenciar a UFBA para a oferta de cursos de graduação e pós-graduação a distância
e incluí-la no Sistema UAB. A pressão do MEC vinha em duas direções: primeiro para a
elaboração de um projeto de curso de graduação a distância para ser submetido para o edital 1
da UAB; segundo, para a criação do Plano Institucional de EAD da UFBA, fundamental para
o credenciamento da UFBA para oferecimento de cursos a distância e, consequentemente,
para a participação da UFBA na UAB. O credenciamento da UFBA era também necessário
para o reconhecimento dos cursos de pós-graduação lato sensu a distância em andamento
na instituição (como mencionado anteriormente), que o modelo de autorização do MEC
para a oferta de cursos a distância havia sido modificado no sentido de um credenciamento da
instituição e não mais de cada curso individualmente.
Vale ressaltar que em setembro de 2005 havia acontecido um movimento,
encabeçado pela Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), para a elaboração do
Plano de EAD para cursos de lato sensu, com a finalidade de viabilizar o reconhecimento dos
cursos a distância em andamento na época (recursos hídricos, alemão e saúde no trabalho)
que foram avaliados positivamente pelos consultores do MEC, mas cujo reconhecimento foi
condicionado à existência de um plano de EAD da UFBA, o que caracterizaria o apoio e
envolvimento institucional na EAD. Nessa época, aconteceram três reuniões na PRPPG com
representantes da pró-reitoria, representantes dos três cursos, além de um representante da
Faculdade de Ciências Contábeis (que estava com planos de organizar um curso de
especialização a distância) e esta autora, como representante do CPD. A elaboração do plano,
nesta época, não teve sucesso.
A PROPLAD, então, em março de 2006, tendo como meta a elaboração do Plano
Institucional de EAD da UFBA, cria uma comissão de trabalho coordenada pelo diretor do
ISP (também professor da FACED) e composta por representantes da PROGRAD, da
PROPLAD, esta autora como representante do CPD, além de dois outros colaboradores do
ISP. A comissão de trabalho criada pela PROPLAD tinha como função elaborar, em
aproximadamente um mês, um documento sintético, coerente com o PDI da UFBA, que
abordasse: o histórico da EAD na UFBA, os cursos e ações de EAD em andamento, a
estrutura tecnológica disponível para EAD, um projeto pedagógico para EAD, e uma proposta
de gestão de EAD na instituição. Em tempo tão curto é compreensível a impossibilidade da
ampla participação da comunidade UFBA na elaboração do documento, compreendendo a
reuniões do Conselho Universitário da UFBA.
165
necessidade urgente da sua construção; no entanto, sentimos que a exclusão de determinados
grupos se dava mais por questões políticas e pela existência de compreensões teóricas
diversas sobre a EAD e a Educação de modo geral. Dessa forma, o plano foi elaborado no
prazo previsto (início de abril), mas sem a participação de representantes dos grupos que
efetivamente pesquisavam sobre a EAD. Além do Plano de EAD, também foi elaborado em
abril de 2006, pela mesma comissão de trabalho e sob a coordenação de Márcia Pontes
(representante da PROGRAD e também docente da FACED), o Projeto Pedagógico
Institucional para Cursos de Educação a Distância, baseado no Projeto Pedagógico
Institucional da UFBA
67
, e tratando de algumas especificidades da EAD como: redução da
centralidade do professor no processo de ensino e aprendizagem e destacando a autonomia do
aprendiz; a necessidade de ressignificar os paradigmas da educação diante do acesso
facilitado à informação, caminhando no sentido de uma nova legibilidade não linear, uma
nova lógica de pensar e situar-se no mundo; o foco num modelo de planejamento sistêmico e
flexível; construção de comunidades de aprendizagem em cursos on-line, com foco na
colaboração; concepção de tutor como professor que agrega conhecimentos técnicos e
gerenciais e não só como um acompanhante funcional; interatividade como aspecto
fundamental para os programas de EAD, saindo do modelo de educação de massa na busca de
maior interação e de uma comunicação bidirecional na educação
68
(UFBA, 2006c).
Como proposta de gestão da EAD na UFBA, a sugestão da comissão de trabalho foi a
criação da Comissão Institucional de EAD (CEAD), que vigoraria até o final do período de
competência do Plano de EAD em construção, ou seja, até 2008. A CEAD seria responsável
pela gestão das atividades de EAD no período de 2006 a 2008 e também por promover as
condições de criação e institucionalização de um Núcleo de Educação a Distância (NEAD),
até o final de 2008. Era necessário, portanto, definir quem seriam os membros dessa nova
comissão, e que atribuições cada um deles teria; optou-se por incluir como membros da
CEAD representantes de instâncias na universidade que, articuladas entre si, apoiariam e
fomentariam as iniciativas de atividades a distância na UFBA.
A CEAD foi oficialmente criada em 11 de abril do mesmo ano, através da Portaria
187/2006 (Anexo C), que determinava que a comissão seria constituída por representantes da
Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, da Pró-
67
Disponível em: http://www.proplad.ufba.br/proj_pedag_institucional.pdf; acesso em 27 jun. 2009.
68
O Projeto Pedagógico Institucional para EAD está disponível, com acesso restrito, em:
http://www.moodle.ufba.br/mod/resource/view.php?id=22786; acesso em 27 jun.2009.
166
Reitoria de Extensão, da Pró-Reitoria de Planejamento e Administração, do Centro de Estudos
Interdisciplinares para o Setor Público, do Centro de Processamento de Dados, da Faculdade
de Educação e do Comitê Gestor de Tecnologias da Informação e Comunicação; para cada
órgão/unidade representado, também foram definidas as suas responsabilidades na CEAD
que, em última instância, estavam relacionadas com as finalidades de cada um deles.
Aqui vale ressaltar que a participação da FACED como uma das instâncias com
representação na CEAD não foi uma decisão naturalmente acatada por toda a comissão de
trabalho. Mais uma vez, as divergências políticas apareciam nas entrelinhas das discussões,
embora as questões levantadas sobre as desvantagens da participação da FACED dissessem
respeito à falta de agilidade na tomada de decisões no contexto de uma unidade de ensino
seja ela em razão da burocracia da estrutura departamental, ou em razão da “pouca
objetividade” de seus membros. A inclusão da FACED na CEAD, no entanto, foi
incontestável quando se considerou a produção acadêmica desta unidade sobre temas
relacionados com a EAD e as TIC produção esta levantada durante a própria elaboração do
Plano de EAD e se constatou a incoerência de criar uma instância para pensar a EAD na
UFBA sem a participação daqueles que efetivamente pesquisam sobre EAD na instituição.
Cada um dos órgãos ou entidades que compunham a CEAD foi consultado a fim de escolher
os seus representantes, que foram designados na Portaria 239, de 18 de maio de 2006
(Anexo D). A comissão foi presidida pelo representante da FACED, escolhido pelos demais
membros.
Como foi mencionado, a pressão do MEC vinha em duas direções; solucionada a
questão do Plano de EAD, era necessário ainda a submissão de um projeto de curso de
graduação a distância para a UAB. A administração central opta por retomar o projeto do
curso de Licenciatura em Matemática a distância, originalmente elaborado no período do
Projeto UFBANET e único projeto de curso de graduação a distância que já havia sido
elaborado na UFBA. O projeto é rapidamente reelaborado pela PROPLAD, sendo convidado
o então diretor do Instituto de Matemática para a coordenação do curso, que foi submetido ao
Edital 1 da UAB. O credenciamento da UFBA para o oferecimento de cursos a distância, pelo
prazo de cinco anos, foi conferido pela Portaria 1.673, de 5 de outubro de 2006 do MEC,
publicada no Diário Oficial da União em 9 de outubro do mesmo ano
69
. Em 31 de outubro de
69
Informação disponível em:
http://uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=151&Itemid=117; acesso em: 24 jun
2009.
167
2006 foi publicado no Diário Oficial da União o resultado do processo seletivo referente ao
Edital 1 da UAB; o Curso de Licenciatura em Matemática foi aprovado para ser oferecido em
10 municípios polos, em diferentes regiões da Bahia
70
.
Essas duas principais ações, a criação da CEAD e a participação na UAB com o curso
de Licenciatura em Matemática, são o marco inicial da institucionalização da EAD na UFBA.
A CEAD inicia suas ações buscando compreender o que seria “gerir as atividades e planos de
EAD”, dentro das possibilidades de uma comissão composta por membros que não tinham
uma dedicação mínima determinada para esta atividade; pelo contrário, o tempo de dedicação
dos membros da CEAD era condicionado às prioridades que cada um definia dentro de suas
outras tantas atividades na universidade. Além disso, vale ressaltar que alguns dos membros
da CEAD nem mesmo tinham aproximação teórica ou operacional com o tema EAD. Assim,
a própria definição do que seria a gestão de atividades e planos de EAD mostrou-se bastante
complexa, e, inicialmente, foram identificadas algumas lacunas que limitavam a possibilidade
dessa gestão, dentre elas, o desconhecimento de todas as iniciativas isoladas de ações de EAD
dentro da UFBA e de seus responsáveis. Outro ponto de reflexão inicial da CEAD foi
relacionado a que formação específica para atuar na modalidade a distância as pessoas
envolvidas com essas ações possuíam ou necessitavam. Além disso, a CEAD também focou
suas reflexões, vislumbrando a segunda atribuição da comissão de acordo com a portaria que
a instituiu, na promoção de condições para a criação e institucionalização de um Núcleo de
EAD (NEAD) (FRÓES BURNHAM, 2007). A partir dessas reflexões iniciais, a CEAD
orientou suas atividades com o objetivo de concretizar as seguintes ações: (1) organização de
seminário interno a fim de socializar as experiências de EAD já existentes e de colher
sugestões para a gestão da EAD na UFBA; (2) criação de espaços de interação da comissão
(no ambiente Moodle) e de divulgação da CEAD para a comunidade (CEAD, 2009a); (3)
planejamento de um curso de formação para a atuação na EAD
71
; (4) construção de uma
proposta de estrutura de NEAD, baseada no estudo de soluções instaladas por outras
instituições de ensino superior. O registro completo da atuação da CEAD foi sistematizado no
Relatório Final da CEAD 2006-2008 (CEAD, 2009b).
70
O planejamento do “Curso de Licenciatura em Matemática a Distância da UFBA”, um dos espaços empíricos
desta tese, será abordado em maiores detalhes no próximo capítulo.
71
Esta ação resultou no desenvolvimento do “Curso Moodle para Professores: a Educação on-line na UFBA”; as
turmas de 2007 e 2008 do Curso Moodle constituem dois dos espaços empíricos desta tese e serão abordadas em
detalhes no próximo capítulo.
168
Além da criação da CEAD, com a aprovação do curso de Licenciatura em Matemática a
distância pela UAB, outra instância de gestão da EAD é instituída na UFBA: em outubro de
2006 foi constituída a Coordenação da UAB na UFBA, com a designação do diretor do ISP e
uma pesquisadora do mesmo órgão como Coordenador e Cordenadora Adjunta da UAB na
UFBA, respectivamente. A partir de então, e com o apoio de alguns funcionários do ISP, a
Coordenação da UAB assume as ações políticas e administrativas específicas da UAB. Dentre
essas ações destacam-se aquelas relativas às providências necessárias para o desenvolvimento
do curso de Licenciatura em Matemática a distância, os contatos com os polos parceiros, e a
interação com as instâncias da UAB a nível nacional. A equipe do Instituto de Matemática
envolvida com o curso inicia suas atividades de planejamento em junho de 2007; a aprovação
do curso na Câmara de Graduação da UFBA somente se daria em abril de 2008, e o início do
curso acontece em abril de 2009.
Durante esse momento inicial da institucionalização da EAD na UFBA aconteceram
algumas alterações relevantes nas pessoas que assumiam posições chaves no processo: no
início de 2007 assumiu uma nova pró-reitora de planejamento na PROPLAD; na mesma
época, um novo diretor assumiu a direção do ISP; e a própria coordenação da UAB foi
substituída, em março de 2007. Isso resultou em uma maior complexidade no andamento
desse processo inicial que gerou uma descontinuidade nas negociações entre a CEAD e
esses dois órgãos. No cenário nacional, é interessante perceber que também ocorreram
relevantes mudanças não somente nas pessoas que assumiam cargos importantes para a gestão
da EAD como também na estrutura de algumas organizações: a Secretaria de Educação a
Distância do MEC passa a ser assumida pelo ex-presidente do
Centro de Ciências e Educação
Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
(Fundação CECIERJ), Carlos Eduardo
Bielschowsky; o Sistema UAB, antes vinculado diretamente à SEED, passa, em julho de
2007, a ser de responsabilidade da Diretoria de Educação a Distância (DED) da CAPES, sob a
direção de Celso José da Costa, ex-vice-presidente do Consórcio CEDERJ. Embora cada um
dos novos responsáveis por assumir esses cargos, tanto os internos como os externos à UFBA,
mostrem um grande compromisso com relação às ações sob sua responsabilidade, as
mudanças provocam uma instabilidade e uma descontinuidade na forma de condução de cada
processo, o que, inevitavelmente, gera novas demandas de negociação e de adaptação entre os
envolvidos.
Esses primeiros passos na institucionalização da EAD na UFBA aconteceram dentro de
espaços e concepções conflituosos e ainda mal definidos. Os conflitos relativos à EAD, ainda
169
permeados de preconceitos com relação à própria modalidade de educação e de inseguranças
com relação à necessidade da UFBA iniciar sua atuação na EAD, ou mesmo da pertinência
dessa atuação, eram visíveis nos diversos espaços onde se davam as negociações da CEAD e
da UAB na UFBA. Aliás, a própria existência dessas duas instâncias de gestão, CEAD e
Coordenação da UAB, com funções não muito bem delimitadas, com sobreposição de papéis
(por exemplo, o Coordenador da UAB a partir de março de 2007 era também um membro da
CEAD), e com enormes carências de estrutura física e de pessoal, contribuiu para uma
atuação pouco objetiva, pouco planejada e com resultados que se limitavam a ações, muitas
vezes, emergenciais e estritamente necessárias (mas que não eram poucas considerando a
estrutura existente). Também era perceptível a resistência das instâncias superiores da UFBA
em aceitar a participação da FACED no processo de institucionalização da EAD, embora
fosse inegável e reconhecido por todos os envolvidos a grande produção de conhecimento que
essa unidade de ensino apresentava sobre os temas Educação a Distância e Educação e
Tecnologias de Informação e Comunicação. A FACED, em contrapartida, exceto pela
importante participação de sua representante na CEAD, não parecia empenhada em ocupar
seu espaço nesse processo. No entanto, sem que os conflitos e inseguranças fossem
claramente sanados, a institucionalização da EAD na UFBA segue seu caminho com
pequenos mas importantes e irreversíveis passos, apoiando e fomentando, dentro do possível,
o desenvolvimento de ações de EAD na instituição.
A partir desse período e com a participação do CPD na CEAD, as ações para o
desenvolvimento e disseminação do uso do ambiente Moodle na UFBA começaram a ser mais
bem sistematizadas e apoiadas pela administração central ações estas que tiveram início
desde a participação do CPD no PROGED, em 2004, como foi relatado anteriormente. Nesse
sentido, foi criado em dezembro de 2006 o Projeto EAD-CPD Moodle UFBA, reconhecendo a
constituição de uma equipe que vinha atuando nesse sentido dois anos, com o objetivo
de gerenciar e manter o ambiente Moodle da UFBA, além de disseminar a sua utilização para
o apoio a cursos (presenciais ou não) na instituição. Sua criação foi viabilizada com a
alocação, pelo CPD, de quatro funcionários do quadro da UFBA para atuação dedicada ao
Projeto EAD, além de recursos da UAB que possibilitaram a contratação de estagiários de
Ciência da Computação e de Pedagogia que atuaram durante dois anos em diversas ações
relacionadas ao ambiente
72
. Dentre as ações executadas pela equipe do Projeto EAD-CPD,
72
Dentro do CPD, não havia um consenso da pertinência da criação do Projeto EAD-CPD; principalmente
quando era levantada a importância de uma equipe multidisciplinar, era questionado se esse papel caberia ao
170
destacamos: manutenção do ambiente Moodle com atualização de versões e correções de
falhas; apoio ao planejamento da Licenciatura em Matemática a Distância; participação em
atividades de formação e capacitação de docentes e técnicos para a utilização do ambiente;
desenvolvimento de uma base de conhecimentos sobre o Moodle; elaboração de manuais e
tutoriais sobre o Moodle
73
; atuação no desenvolvimento de módulos e na tradução do
ambiente em colaboração com a comunidade mundial do Moodle, dentro da filosofia do
software livre; apoio a docentes na utilização do ambiente para cursos ou disciplinas
presenciais na UFBA; apoio às atividades da Coordenação da UAB na UFBA, dentre outras.
Entre 2006 e 2007, também foram instalados novos equipamentos para a utilização do
Projeto EAD-CPD, inclusive servidores de grande potência financiados pela administração
central da UFBA e pela UAB, além de diversas máquinas para uso da equipe. Isso viabilizou
a utilização do Moodle UFBA por um grande número de usuários com um desempenho
satisfatório do ambiente, o que, por sua vez, foi fundamental para a construção de uma
credibilidade por parte da comunidade UFBA no ambiente e nas suas potencialidades. Em
termos de números de usuários cadastrados no ambiente, podemos verificar, no Gráfico 1,
como o período entre 2006 e 2007 apresentou um vertiginoso crescimento, mostrando o
interesse crescente da comunidade UFBA na incorporação do ambiente Moodle em suas
atividades didático-acadêmicas. Ressaltamos, no entanto, que o número de usuários retratado
no gráfico corresponde a todas as pessoas cadastradas no ambiente desde a sua instalação, em
2004, independente de seu vínculo com a UFBA; o que corresponde dizer que dentre os
20.800 usuários existentes em julho de 2009 estão incluídos, por exemplo, usuários
esporádicos que participaram de um curso apenas, pessoas externas à UFBA que se
cadastraram no ambiente por curiosidade ou a procura de cursos abertos a visitantes, usuários
inativos (que não utilizam o Moodle há mais de 2 anos) etc.
CPD. No entanto, com o apoio direto de Claudete Alves, e com o conhecimento de que ninguém mais na UFBA
estava assumindo este papel, o Projeto EAD foi instituído.
73
Os manuais e tutoriais desenvolvidos estão disponíveis no site do Moodle UFBA
(http://www.moodle.ufba.br/).
171
Nessa época, o ambiente Moodle também começou a ser utilizado com instalações
próprias pela Escola de Administração
74
, Faculdade de Medicina
75
, Departamento de
Engenharia Elétrica
76
; pelo Departamento de Engenharia Ambiental
77
. Nesses ambientes, toda
a instalação, atualização e administração do ambiente eram assumidas pelas unidades ou
departamentos responsáveis.
A partir de 2008, quando os recursos da UAB para o pagamento de estagiários do
Projeto EAD-CPD se esgotou, outras bolsas estágio foram viabilizadas através da parceria
com projetos de EAD em unidades da UFBA (a exemplo do ISP e do ISC). Além disso, o
Projeto EAD teve uma grande aprovação entre os alunos de Ciência da Computação e isso
incentivou a participação de estagiários voluntários no projeto. A manutenção do Projeto
EAD CPD tem-se mostrado de grande importância para a ampliação das ações na UFBA
relacionadas com a EAD e as TIC na educação, especialmente no que diz respeito ao
ambiente Moodle; a atuação dessa equipe, juntamente com a Coordenação da UAB, a CEAD
e o ISP contribuíram de maneira fundamental para a operacionalização das ações que se
configuraram como os primeiros passos na institucionalização da EAD na UFBA.
74
Atualmente desativado e incorporado ao Moodle UFBA.
75
http://www.fameb.ufba.br/ead/.
76
Atualmente desativado.
77
http://www.teclim.ufba.br/moodle/.
Gráfico 1: Crescimento da utilização do Moodle UFBA, em número de usuários.
172
4.4 CONTINUANDO A HISTÓRIA: 2006 A 2009
Enquanto se dava a institucionalização da EAD na UFBA, diversos outros fatos,
internos ou externos à instituição, relacionados ou não, direta ou indiretamente, a esse
movimento, continuam a construção da história da EAD na UFBA.
Na Faculdade de Ciências Contábeis, iniciou-se em 2005, em função da mudança do
perfil do corpo docente e da reorientação pedagógica do currículo do curso de graduação, o
desenvolvimento e a implementação de novas linhas de pesquisas. Dentre elas, a de “Ensino a
Distância na Contabilidade”. No ano de 2006, os seguintes cursos de extensão foram
oferecidos na modalidade a distância pela faculdade: Contabilidade de Custos (2 turmas);
Gestão de Custos; Controladoria (convênio Banco Brasil); Gestão de Custos (convênio Banco
do Brasil); Finanças/Banking (convênio Banco do Brasil); além de diversos espaços no
Moodle UFBA que foram criados para apoio a disciplinas e cursos de extensão e
especialização presenciais (UFBA, 2006d; 2007; MOODLE UFBA, 2009).
Na Escola de Enfermagem (ENF), no ano de 2006, iniciou-se um movimento para a
criação do Núcleo de Ensino a Distância da ENF; nesse ano foi constituído um grupo de
estudos em EAD, com a participação de estagiários de Computação apoiando a formação dos
professores da Escola para a utilização do Moodle, numa parceria, ainda que frágil, com o
CPD. Em outubro do mesmo ano, o Núcleo de Ensino a Distância da ENF organizou o
Seminário “Ensino a Distância na área de Saúde: perspectivas e possibilidades”, com o
objetivo de promover uma primeira discussão sobre EAD com os professores da ENF e
disseminar a cultura de utilização do Moodle como apoio a cursos presenciais.
Em 2006 a UFBA participa de projeto de cooperação internacional, AMELAT,
envolvendo diversas universidades da Europa e da América Latina, sob coordenação geral da
Universidad Complutense de Madrid, na Espanha. O objetivo do projeto era criar uma rede de
educação virtual, a nível de pós-graduação, com especialistas sobre a América Latina. A
participação da UFBA é através da Escola de Administração, no projeto de um curso piloto. O
curso teve início em outubro de 2006, com previsão de término em 2009, e com a organização
de duas escolas de verão presenciais (AMELAT, 2009).
Ainda em outubro de 2006 foi lançado o Edital 2 da UAB com uma nova chamada
pública para a seleção de polos municipais de apoio presencial e de cursos superiores de
instituições de ensino superior a distância. O destaque desse segundo edital é que as
instituições estaduais e municipais de ensino superior são também contempladas com a
173
possibilidade de submissão de projetos de cursos para a UAB (UAB, 2006); no Edital 1 da
UAB, apenas as instituições federais de ensino superior puderam participar. No momento do
lançamento do edital, a CEAD e a Coordenação da UAB ainda eram desconhecidas pela
comunidade interna da UFBA; até o momento do encerramento do prazo para esse segundo
edital, nem a CEAD nem a Coordenação da UAB foram contatadas por unidades de ensino e
tão pouco provocaram esse contato com o objetivo de incentivar e apoiar a elaboração e envio
de projetos de cursos a distância para da UAB; esse fato retrata que essas instâncias ainda se
encontravam desarticuladas com as unidades acadêmicas da UFBA e suas ações ainda não
conseguiam atingir o objetivo de fomentar a EAD na instituição. Apesar disso, ações isoladas
com relação a projetos, convênios, cursos de extensão, cursos de especialização na
modalidade a distância na UFBA continuam acontecendo, e num número crescente.
Através do convênio celebrado com a UFSC, a UFBA passou a integrar a Rede de
Instituições Brasileiras para o desenvolvimento do Ensino da Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), com o oferecimento do Curso de Graduação em Letras Licenciatura em
LIBRAS, na modalidade a distância. O curso foi desenvolvido pela UFSC e a UFBA assume
a posição de polo presencial do curso na Bahia. Na UFBA, o curso iniciou com uma
coordenação conjunta entre docentes da FACED e do Instituto de Letras; no entanto, a
coordenação passou a ser de responsabilidade apenas do segundo, no momento em que a
coordenadora vinculada à FACED afastou-se por motivo de transferência, e não foi
substituída por outro docente da faculdade. Esse curso é quadrienal e tem sua carga horária
distribuída em 30% presencial e 70% a distância. Na Bahia, foram abertas 55 vagas, através
de exame de seleção ocorrido em 28 de agosto de 2006, e o curso teve início em 25 de
outubro de 2006. O curso é desenvolvido no ambiente virtual da UFSC, no qual diversos
materiais estão disponíveis
78
, e utiliza a videoconferência como uma importante estratégia;
para isso, foi instalada, com recursos financeiros do convênio, uma sala de videoconferência
no Pavilhão de Aulas da Federação que é gerenciada com o suporte técnico do CPD. Dentre
os materiais disponíveis no ambiente virtual do curso, destacamos a concepção de autonomia
que é trazida num texto de Introdução à Educação a Distância, elaborado por Andréa Brandão
Lapa, que defende a construção da autonomia no processo de formação dos indivíduos, de
uma forma contínua, e a diferencia do conceito de autodidatismo que ela deve ser pensada
78
Disponível em http://www.libras.ufsc.br/hiperlab/avalibras/moodle/prelogin/index.htm; acesso em 03 jul.
2009.
174
no contexto da interação entre todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem.
A autonomia refere-se às múltiplas capacidades do indivíduo em representar-
se, tanto nos espaços públicos como nos espaços privados da vida cotidiana.
Compreende o domínio crítico e referenciado do conhecimento. A sua
capacidade de decidir, de processar e selecionar informações, de lidar com
elas criticamente. Mas, acima de tudo, a criatividade e a iniciativa. Pressupõe
que tais atributos não são inerentes ao indivíduo, o “nascemos
autônomos”. Tais competências são construídas por meio de uma série de
ações e tomadas de decisão frente a novos desafios, problemas e contextos
educativos.
Além disso, optando por afastarmo-nos de uma abordagem individualista da
educação a distância, compreendemos que autonomia não significa que o
estudante deva ser autodidata. Significa, sim, que o estudante é o
responsável por percorrer a trajetória da aprendizagem proposta por seu
professor nas estratégias de ensino, mas construindo conhecimento em
interação e cooperação com todas as outras pessoas envolvidas no processo
de ensino-aprendizagem. (LAPA, 2008).
No ISC foram oferecidos, em 2006, os seguintes cursos de extensão a distância:
Planejamento e Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho, uma turma com 44 alunos
concluintes; Legislação e o Direito à Segurança e à Saúde no Trabalho, uma turma com 40
vagas, 33 aprovados; Odontologia em Saúde do Trabalhador, duas turmas, cada uma com 40
vagas, tendo sido 72 os aprovados; e a Capacitação Continuada a Distância em Saúde e
Segurança no Trabalho, dentro do projeto CEDIST (UFBA, 2007).
Em 30 de novembro de 2006 aconteceu o I Seminário Interno de EAD da UFBA,
organizado pela CEAD e pela Coordenação da UAB na UFBA, com apoio do ISP, do CPD e
das pró-reitorias de Planejamento, Extensão e Pós-Graduação. O seminário teve como
objetivos: Socializar para a comunidade interna as iniciativas de EAD que vêm sendo
desenvolvidas na Universidade; Mapear tais iniciativas, levantando informações para a
criação de uma base de conhecimento sobre EAD na UFBA; Promover o intercâmbio dos
grupos que trabalham em EAD, visando à articulação de uma rede interna de EAD na UFBA;
Levantar subsídios para propostas de programas e projetos de EAD para inclusão no Plano de
Desenvolvimento Institucional (CEAD, 2009a). O público-alvo do seminário foi a
comunidade interna da UFBA e contou com a participação de 129 pessoas (CEAD, 2009b).
Esse seminário teve também o papel de divulgar para a comunidade UFBA a existência da
CEAD e da Coordenação da UAB na UFBA.
175
O Complexo Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), em 2006, passa
a integrar a Rede Universitária de Telemedicina
79
(RUTE). O RUTE é uma iniciativa do
MCT, apoiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pela Associação Brasileira
de Hospitais Universitários (ABRAHUE) sob a coordenação da RNP. A partir de 2007,
iniciaram-se as instalações de infraestrutura de serviços de comunicação com o objetivo de
explorar mecanismos inovadores na colaboração a distância para pré-diagnóstico e na
avaliação remota de dados de atendimento (UFBA, 2007). Além disso, foi instalada uma sala
de videoconferência utilizada para a transmissão de eventos da área, assim como para o
estabelecimento de espaços de debates e de interação entre equipes geograficamente distantes,
a exemplo da transmissão ao vivo de cirurgias com a possibilidade de trocas entre
especialistas e estudantes. Outra ação do projeto RUTE é a utilização do ambiente Moodle
como espaço virtual para a discussão e implementação de projetos, inclusive com a
perspectiva de desenvolvimento de cursos a distância.
Em 2003 havia sido iniciado o Projeto Saúde para Todos na América Latina, um
consórcio entre a Fundação Ângelo Celli, na Itália, e universidades europeias e latino-
americanas, dentre elas a UFBA, através do ISC, com financiamento da União Europeia. O
projeto tinha como objetivo a implantação de um programa de EAD concebido para contribuir
na atualização, disseminação, promoção e adoção de boas práticas entre os profissionais das
equipes de Saúde da Família. Foram elaborados três cursos de extensão destinados aos
profissionais do Programa de Saúde da Família: Educação, Comunicação em Saúde da
Família; Prevenção da Violência Intrafamiliar; Sexualidade e Ciclo de Vida. Os cursos foram
implementados de outubro de 2006 a fevereiro de 2007, em duas áreas piloto de Vitória da
Conquista e de Salvador; cada um dos três cursos teve comomeros de inscritos 33, 35 e 53
alunos, com taxas de evasão de 43,7%, 39% e 17,6%, respectivamente
80
. Os cursos foram
desenvolvidos em um ambiente adaptado da plataforma ILIAS
81
; a adaptação foi feita pela
equipe da Fundação Ângelo Celli e a sua avaliação teve a participação da equipe da UFBA. O
desenvolvimento do projeto foi caracterizado pela preocupação em articular as atividades
79
Mais informações sobre o RUTE disponíveis em: <http://rute.rnp.br/>; acesso em: 02 abr. 2010.
80
Segundo a coordenadora do projeto no ISC, as taxas de evasão inversamente proporcionais ao número de
inscritos estão relacionadas a uma maior procura pelo curso Sexualidade e Ciclo de Vida; como as vagas para
este curso foram esgotadas, os participantes tiveram que optar pelos outros temas sem, no entanto, se sentirem
motivados a finalizar o curso (NORONHA, 2007).
81
O ILIAS (Integriertes Lern Informations und Arbeitskooperations System [Sistema Integrado de
Aprendizagem, Informação e Trabalho Colaborativo]) é um LMS desenvolvido pela University of Cologne,
Alemanha, desde 1997, e disponibilizado como software livre a partir de 2000. Mais informações sobre o ILIAS
disponíveis em:<http://www.ilias.de/>, acesso em 02 abr. 2010.
176
educacionais ao espaço do trabalho em saúde e, para isso, foi assinado um Protocolo de
Intenções pela Fundação Ângelo Celli, gestora do projeto, e as prefeituras envolvidas. Assim,
o processo de elaboração dos cursos teve a participação de técnicos da Secretaria Municipal
de Saúde contribuindo para ajustar os cursos às atividades práticas dos futuros alunos
(NORONHA, 2007). O material didático elaborado foi disponibilizado na plataforma e
recriado em formato hipermidiático em CD ou DVD como uma estratégia de apoio aos
alunos. Segundo a coordenadora do projeto no Brasil, “a produção dos materiais didáticos,
disponibilizados em DVD ou CD multimídia, teve como preocupação maior oferecer aos
alunos várias referências, fontes de informação, em diferentes linguagens, que os incentivasse
à pesquisa, à reflexão, ao questionamento crítico, à busca de respostas e ao desenvolvimento
de autonomia no processo ensino-aprendizagem” (NORONHA, 2007, p.72). Os cursos
produzidos nesse projeto foram, depois, adaptados ao ambiente Moodle da UFBA e outras
turmas foram oferecidas em outras oportunidades, com outras parcerias.
No início de 2007 mais um ato legal sobre EAD, no contexto nacional, é assinado: a
Portaria Normativa 2 de 10 de janeiro de 2007, que dispõe sobre os procedimentos de
regulação e avaliação da educação superior na modalidade a distância.
Em janeiro de 2007, na UFBA, teve início o curso de extensão: Formação para o Ensino
de História e Cultura Afro-brasileiras, sob coordenação do CEAO, com 120 horas de carga
horária, desenvolvido no ambiente Moodle da UFBA, previsto para atender um público de
600 professores das disciplinas Artes, História ou Literatura da rede pública (CEAD, 2009a).
Na Escola de Administração (EAU), o Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e
Gestão Social (CIAGS) desenvolveu, em 2007, diversas ações relacionadas à EAD, inclusive
um curso de especialização a distância em Desenvolvimento Regional Sustentável e a parceria
com o Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) para o desenvolvimento de competências em EAD. No contexto
dessa parceria, a plataforma NAVI
82
(desenvolvida pela escola de Administração da UFRGS)
foi instalada no CIAGS para o possível oferecimento de cursos a distância. Na graduação,
algumas ações no sentido de construir competências na área de EAD são realizadas com
professores, tutores, monitores, coordenadores e secretaria (UFBA, 2008). O Núcleo de Pós-
Graduação da EAU inicia, também em 2007, o planejamento do Curso de Gestão Financeira
na modalidade EAD, em parceria com o Banco do Brasil. Além disso, a EAU vinha
177
participando de outra negociação, desde 2005, quando estava sendo estruturado o curso piloto
de Graduação em Administração a distância do Sistema UAB, numa parceria entre o MEC-
SEED, Banco do Brasil (integrante do Fórum das Estatais pela Educação) e Instituições
Federais e Estaduais de Ensino Superior, com a finalidade de atender à demanda de
qualificação dos servidores das empresas estatais. Na época, a UFBA, representada pela
PROPLAD, PROGRAD e pela EAU, optou por não participar do consórcio que foi firmado
com 27 outras instituições – entendendo que a instituição não estava preparada para assumir a
organização de uma graduação a distância, que não havia uma massa crítica de docentes
interessados, nem possuía experiência (nem interesse?) em tal modalidade. Num segundo
momento, em 2007, iniciou-se uma nova negociação da EAU com o Banco do Brasil para o
desenvolvimento de nova parceria para a graduação em administração a distância, agora não
mais com todas as vantagens oferecidas no projeto piloto, mas, mais uma vez, a parceria não
foi firmada.
Na Faculdade de Educação é implantado, em 2007, o Doutorado Multi-institucional e
Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC), aprovado em julho de 2008 pelo
Conselho Técnico-Científico da CAPES, e que abriga, entre seus 31 docentes, professores de
quatro instituições, além da UFBA: Laboratório Nacional de Computação Científica, UNEB,
UEFS, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) CEFET. A
elaboração e a aprovação do projeto do DMMDC foram de responsabilidade da REDPECT,
dentro do programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento, vinculado à FACED. O
programa está em funcionamento desde o primeiro semestre de 2008, quando foram
selecionados 10 alunos, e se constitui em mais um lócus de reflexão e produção sobre EAD,
além de outros temas (UFBA, 2008). Em 2009, 20 doutorandos aprovados no processo
seletivo do programa de doutorado.
Também como iniciativa da REDPECT, foi iniciado em 2007 um projeto para a
elaboração de um curso a distância sobre Gestão do Conhecimento, cuja construção foi
conduzida de forma coletiva com os alunos inscritos na disciplina “Educação a Distância”,
oferecida pelo PPGE. A cada semestre de oferta da disciplina, os novos alunos, partindo do
que havia sido construído em semestres anteriores e trazendo contribuições baseadas em
seus próprios saberes, experiências, expectativas e pesquisas, davam continuidade no
82
Mais informações sobre o ambiente NAVI disponíveis em: http://www.eavirtual.ea.ufrgs.br/; acesso em 28
jun. 2009.
178
aprimoramento do chamado Projeto Gestão de Conhecimento, resultando numa proposta de
curso sobre o tema, concretizada coletivamente no ambiente Moodle.
Também na FACED, a turma piloto do curso de Especialização em Gestão Escolar, do
Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica, na modalidade a distância, foi
implantado em 10 polos na Bahia, num total de 64 municípios e 400 participantes. O curso foi
elaborado e oferecido pelo MEC, através das Instituições Federais de Ensino Superior,
visando qualificar os gestores da educação básica. Para isso, o curso foi pensado de forma
colaborativa nos estados; assim, a UFBA, neste projeto, trabalha em parceria com a Secretaria
da Educação da Bahia e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(UNDIME). Inicialmente, o curso foi previsto para acontecer no ambiente e-Proinfo, mas a
primeira turma na Bahia foi oferecida no Moodle, em uma instalação do MEC. O curso foi
iniciado em setembro de 2007, indo até dezembro de 2008, destinado a gestores escolares
(diretor e vice-diretor), com carga horária de 400 horas, sob a coordenação da FACED
(UFBA, 2008).
No cenário nacional, a Câmara de Educação Superior do MEC, através da Resolução
1 do Conselho Nacional de Educação, de 8 de junho de 2007, estabelece normas para o
funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em vel de especialização, com
especificidades para os cursos a distância no que diz respeito à exigência de provas e
apresentação individual de monografia ou trabalho de final de curso presenciais. Em seguida,
o Decreto 6.303, de 12 de dezembro de 2007, altera dispositivos dos Decretos n
os
5.622, de
19 de dezembro de 2005, que estabelece as diretrizes e bases da educão nacional, e 5.773,
de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e
avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais
no sistema federal de ensino.
Em novembro de 2007 teve início o curso de Especialização em Saúde da Família com
Ênfase em Gerenciamento de Processo de Trabalho; uma parceria entre a Secretaria de Saúde
do Estado da Bahia (SESAB), através da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), e a
Universidade Federal da Bahia, via Escola de Enfermagem. O curso teve 159 participantes e
24 tutores e utilizou o ambiente Moodle do Instituto Anísio Teixeira, parceiro da SESAB, sob
a coordenação da Escola de Enfermagem
83
.
83
Informações obtidas através de notícias no site da SESAB; disponível em:
http://www.saude.ba.gov.br/noticias/noticia.asp?NOTICIA=3320; acesso em 28 jun. 2009.
179
No segundo semestre de 2007, foi oferecida a primeira turma do “Curso Moodle para
Professores: a educação on-line da UFBA”
84
; teve 100 participantes inscritos (de uma
demanda de 178) e foi coordenado pelo CPD e CEAD com apoio da FACED, através do
GEC, para o acompanhamento do curso. Nos dias 22 e 23 de novembro de 2007, a CEAD e a
Coordenação da UAB organizaram o II Seminário Interno de EAD da UFBA, com os
seguintes objetivos: Socializar as iniciativas de EAD que vêm sendo desenvolvidas na
Universidade; Promover a articulação de uma rede interna de EAD na UFBA; Discutir as
políticas públicas para EAD e suas implicações; Socializar as ações de desenvolvimento e
aperfeiçoamento de tecnologia para oferta de cursos on-line na UFBA. Inscreveram-se no
Seminário 120 pessoas, e este foi transmitido pela Internet, com 108 acessos no primeiro dia e
118 no segundo. Nesse seminário, além da participação de pesquisadores de outras
instituições que trouxeram sua experiência na gestão da EAD, houve espaço para a
apresentação de relatos de experiência dentro da UFBA. Os relatos apresentados foram
incluídos no banco de dados da CEAD e disponibilizados no seu site (CEAD, 2009b).
Outras ações pontuais de relevância para este histórico foram: na Escola Politécnica, foi
oferecido, entre agosto e setembro de 2007, o curso a distância Design, Inovação Social e
Desenvolvimento Sustentável. No primeiro semestre de 2008 foi oferecida, pelo PPGE da
FACED, a disciplina Educação, Sexualidade e Gênero na modalidade a distância. Essa foi a
primeira disciplina oficialmente registrada no programa como disciplina a distância
85
. Em
2008 a UFBA assinou um convênio de cooperação com as demais universidades baianas e
com o IFBA, com o objetivo de possibilitar uma ão coordenada e integrada na oferta de
cursos de EAD no Estado da Bahia. O consórcio estabelecido nesse convênio vem tendo
importante papel na integração de ações que constituem o Plano de ões Articuladas do
MEC (PAR). No entanto, em virtude da demora da adesão da UFBA a esse convênio, por
motivos burocráticos, a integração com as instituições envolvidas ainda tem sido incipiente
(CEAD, 2009b).
A segunda turma do Curso Moodle
86
aconteceu no segundo semestre de 2008, com 100
participantes inscritos (de uma demanda de 223 inscritos); foi coordenado pelo CPD, com
financiamento da Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas (PRODEP) e teve o apoio da
FACED, através da REDPECT, para o acompanhamento do curso.
84
Este curso é um dos casos de estudo que detalharemos no Capítulo 5.
85
O desenvolvimento da disciplina “Educação, Sexualidade e Gênero”, um dos espaços empíricos desta tese,
será abordado em maiores detalhes no próximo capítulo.
180
Em 2008, a UFBA participa do Curso de Licenciatura em Música a distância, oferecido
pela UFRGS, através da atuação de uma professora de violão da Escola de Música da UFBA,
como responsável por uma disciplina de violão a distância. Apesar de essa ser uma ação
pontual de uma docente, não sendo caracterizada como uma parceria da UFBA, a experiência
vivenciada vem provocando reflexões sobre a possibilidade da oferta de cursos a distância na
área de música começando a surgir, na UFBA, um espaço de construção de conhecimentos
sobre o tema na Escola de Música.
Nos dias 21 e 22 de novembro de 2008, foi realizado o III Colóquio Internacional
Saberes, Práticas: Tecnologias e Processos de Difusão de Conhecimento na FACED,
realizado pela REDPECT, com a participação de pesquisadores da Espanha e de Portugal. O
objetivo do colóquio foi promover o intercâmbio de pesquisadores que trabalham com
questões relacionadas à (in)formação no cenário da sociedade do conhecimento; uma das
mesas teve como tema a educação a distância na difusão do conhecimento.
Alguns cursos a distância também são iniciados nesse período no ISC. Em 2007, é
oferecido o Curso de especialização em Economia da Saúde. Em 2008 é iniciada uma segunda
turma do Curso de Especialização a Distância em Segurança e Saúde no Trabalho em parceria
com a FIEB/SESI. Em janeiro de 2009 teve início o Curso de Especialização em Saúde
Coletiva com concentração em Gestão Pública Municipal, em parceria com a EESP e o
Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS), e desenvolvido
no Moodle UFBA.
No contexto da UAB, a UFBA teve os seguintes cursos de extensão aprovados para
2009: Educação de Jovens e Adultos, da FACED; Educação Ambiental, da FACED; Relações
Étnico-Raciais, do CEAO estes três com apoio do Programa de Educação para a
Diversidade da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC
(SECAD) –, e o Curso de Formação Básica de Dança como Tecnologia Educacional.
A terceira turma do Curso Moodle para professores foi oferecida pelo CPD, em abril de
2009, e teve como público os participantes das equipes dos cursos de extensão aprovados no
contexto da UAB e docentes do Instituto de Humanidades, Artes e Ciência (IHAC).
86
A segunda turma do Curso Moodle, um dos casos de estudo desta pesquisa, será detalhada no Capítulo 5.
181
Até esse momento, a UFBA havia recebido apoio da UAB em diversos sentidos:
recursos para bolsas e contratação de pessoal para o desenvolvimento do ambiente Moodle,
recursos para equipamentos diversos, alocação de vagas para docentes no Instituto de
Matemática e na Faculdade de Educação, dentre outros. Em 2009 estava previsto ainda
recursos para construção, reforma, compra de equipamentos e mobiliários, além da alocação
de vagas para cnicos para atuação no NEAD. No entanto, até maio de 2009, o NEAD não
existia na UFBA; a desativação oficial da CEAD aconteceu no final de 2008, como
determinava a Portaria 187/2006 que a criou, mas o NEAD não havia sido instituído até
então. Como todos os recursos recebidos através da UAB devem ser utilizados para reforçar a
atuação dos Núcleos de EAD nas instituições parceiras, o que significa dizer que é necessária
a existência de um NEAD, ou instância semelhante, na UFBA, a administração foi impelida a
dar uma solução para esse impasse. Mas a proposta de criação de um NEAD no formato de
um órgão suplementar, sugerida pela CEAD, foi rejeitada pela reitoria, justificando que a
UFBA tem caminhado no sentido da criação de Sistemas de Gestão, e não mais de órgãos
suplementares isolados. Assim, a proposta da administração central, a médio ou longo prazo,
era um Sistema de Tecnologia de Informação que englobasse o CPD, o NEAD e um Núcleo
de Tecnologia Educacional
87
. Como essa proposta ainda estava em construção, e a
necessidade do NEAD era imediata, o reitor designa uma Comissão Gestora Provisória do
Núcleo de Educação a Distância, através da Portaria nº 480 de 17 de junho de 2009, publicada
no Boletim de Pessoal da UFBA em 19 de junho de 2009 (Anexo E), composta pelo
coordenador da UAB na UFBA, coordenador da Licenciatura em Matemática e dois
representantes do CPD. Além disso, estabelece que todos os equipamentos, móveis e outros
materiais permanentes que sejam adquiridos para contribuir com a gestão da EAD na UFBA
deverão ser tombados no CPD, até que a situação do NEAD seja definitivamente regularizada.
Os movimentos no sentido da institucionalização da EAD na UFBA foram
impulsionados por exigências externas (do MEC e da UAB), e não por decisões da sua
comunidade que, por sinal, era representada por algumas pessoas que se posicionavam
claramente contra a EAD. Tão pouco a institucionalização da EAD na UFBA acompanhou
uma proposta da universidade, como se deu, por exemplo, na Universidade Federal do Mato
87
O novo Estatuto da UFBA, aprovado pelos Conselhos Superiores em 23.11.2009, estabeleceu o Sistema
Universitário de Tecnologia da Informação como um dos órgãos estruturantes da UFBA que, como tal,
compõem sistemas institucionais vinculados à Reitoria, destinados à gestão e execução de ações específicas da
administração acadêmica. O novo Estatuto está disponível em:
<http://www.portal.ufba.br/conheca/legislacao/novo_estatuto_ufba/>; acesso em: 02 abr. 2010.
182
Grosso (UFMT) (PRETI, 2008) cujo objetivo com a implantação da EAD era alcançar todo o
estado com a possibilidade da educação e da formação de seus professores da rede pública; a
EAD, para a UFMT e, mais especificamente, para o Instituto de Educação da UFMT, onde
surge seu NEAD, foi um dos caminhos encontrados pelo grupo para atingir essa meta. Na
UFBA, deu-se o contrário. O primeiro movimento de institucionalização, coordenado pela
administração central (UFBANET), não tem respaldo da sua comunidade e, por resistências à
própria modalidade, não alça voo. Apesar das diversas ações pontuais que aconteceram desde
esse primeiro momento, 1999, até 2006, quando a UFBA foi credenciada para a oferta de
cursos a distância, nenhum outro movimento institucional aconteceu. O credenciamento
acontece a partir de uma pressão do MEC, não somente em função dos cursos de pós-
graduação lato sensu a distância queestavam em andamento, mas também pela presença da
UAB no contexto nacional e pelo fato de que a UFBA seria a única universidade federal a não
submeter um curso de graduação a distância. Naquele momento, cria-se o Plano Institucional
de EAD 2006-2008, cria-se a CEAD (que vigoraria até 2008). E nada mais. Nenhuma
articulação entre as pró-reitorias é feita com o objetivo de fomentar a EAD, nenhuma
articulação entre a FACED e o Instituto de Matemática é concretizada para o
desenvolvimento do curso de Licenciatura em Matemática a distância, e a estrutura para a
criação do NEAD não consegue avançar de uma proposta inicial da CEAD que foi rejeitada
pela reitoria. Em junho de 2009, novamente por pressão do MEC e da UAB, agora para a
criação do NEAD que deveria existir e apoiar as iniciativas de EAD vinculadas à UAB, e
por um movimento vindo a partir da coordenação da UAB na UFBA e da coordenação do
único curso de graduação a distância da UFBA (que havia acabado de ser iniciado, em abril
de 2009), o reitor cria a Comissão Gestora Provisória do NEAD. O NEAD é “criado” de
forma intempestiva, urgente, sem estrutura, sem recursos materiais nem humanos, claramente
a fim de dar uma resposta burocrática à UAB. Que diferença existe entre este NEAD e a
CEAD anterior? Que apoio este NEAD poderia efetivamente dar às iniciativas de EAD da
UFBA?
Como visto, as iniciativas na modalidade a distância na UFBA estão em um movimento
crescente; assim como é também crescente a utilização de ambientes virtuais, em especial o
ambiente Moodle, na educação presencial. Entretanto, não existem, na UFBA, políticas
institucionais para o fomento da EAD e/ou da utilização das TIC na educação presencial,
caracterizando uma ausência de apoio institucional para as iniciativas existentes; as poucas
ações da administração central nesse sentido, porém, apontam para o reconhecimento da
183
crescente importância da EAD no atual contexto social. Mas o NEAD, isolado, certamente
não terá condições nem muito menos poderes para gerir a EAD e orientar a utilização de
AVA na UFBA; seu grande desafio é agregar essas iniciativas em EAD e em utilização de
AVA, ainda isoladas, e seus representantes pessoas que certamente acreditam na EAD e
investem na educação nessa modalidade, e a partir delas iniciar a construção de uma massa
crítica que possa, de forma coletiva, refletir sobre as possibilidades da EAD e da utilização
das TIC na educação, incluído aí o importante papel dos ambientes virtuais de aprendizagem,
e definir diretrizes e estratégias de ação, assim como impulsionar o necessário apoio da
administração central para a EAD na UFBA e para a definição de políticas institucionais
nesse sentido.
184
5 ASPECTOS DA IMPLANTAÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE
APRENDIZAGEM NA UFBA: OLHARES SOBRE CASOS
Um esforço sempre presente à prática da autoridade
coerentemente democrática é o que a torna quase escrava de
um sonho fundamental: o de persuadir ou convencer a
liberdade de que vá construindo consigo mesma, em si
mesma, com materiais que, embora vindos de fora de si,
reelaborados por ela, a sua autonomia.
Paulo Freire
Neste capítulo, trazemos a descrição e análise dos quatro espaços que vivenciamos
como pesquisadores, numa perspectiva de estudo de casos múltiplos (YIN, 2005), buscando
compreender a implantação de AVA na UFBA e identificar aspectos relacionados à
construção de propostas pautadas na autonomia. Os casos estudados foram: (1) o Curso
Moodle para Professores: a educação on-line na UFBA, turma 2007
88
; (2) o Curso Moodle
para Professores: a educação on-line na UFBA, turma 2008
89
; (3) a disciplina a distância
Educação, Sexualidade e Gênero; (4) a Licenciatura em Matemática a distância. Os quatro
casos de estudo apresentam características próprias e distintas que não permitem (nem nunca
foi o nosso objetivo) fazer uma comparação entre eles; exceto as duas turmas do Curso
Moodle, que compartilham os mesmos objetivos, os demais casos têm objetivo, proposta,
público e estrutura completamente distintos. A análise dos casos, apoiada na concepção de
análise contrastiva (FRÓES BURNHAM, 2002), busca uma compreensão da prática de forma
reflexiva e integrada às concepções teóricas dos autores que embasaram a pesquisa a fim de
identificar aspectos relevantes da implantação de AVA na UFBA relacionados à construção
da autonomia no contexto educacional.
Para nomear os sujeitos da pesquisa, na intenção de manter o seu anonimato, criamos
um padrão para cada um dos casos estudados a fim de facilitar a identificação do espaço ao
qual cada sujeito está associado e que papel exercia. O Quadro 1 exemplifica essa nomeação
88
Esta experiência foi relatada por Socorro Pereira e Nicia Cristina Rocha Riccio (2008) e Nelson Pretto, Nicia
Cristina Rocha Riccio e Socorro Pereira (2010); esta última ainda não publicada.
185
e, no Apêndice E, encontra-se a relação dos sujeitos participantes dos casos estudados cujas
“falas” e reflexões nos espaços analisados contribuíram para a compreensão do nosso objeto
de estudo.
Quadro 1: Nomenclatura utilizada para os sujeitos da pesquisa.
Caso de estudo
Papel
Nomenclatura
Participante (aluno) Participante1-CM07
Participante2-CM07
...
Curso Moodle 2007
Docente (professor-tutor;
professor-mediador, coordenador)
Docente1-CM07
Docente2-CM07
...
Licenciatura em Matemática a
distância
Docente (docente responsável
pelo planejamento de disciplina
no curso; coordenador)
Docente1-LM
Docente2-LM
...
Disciplina Educação,
Sexualidade e Gênero
Docente Docente1-DESG
Docente2-DESG
Participante (aluno) Participante1-CM08
Participante2-CM08
...
Curso Moodle 2008
Docente (professor-tutor;
professor-mediador, coordenador)
Docente1-CM08
Docente2-CM08
...
5.1 O CURSO MOODLE PARA PROFESSORES: A EDUCAÇÃO ON-LINE NA UFBA,
TURMA 2007
O Curso Moodle para Professores: a educação on-line na UFBA, como dito
anteriormente, foi uma proposta desta autora, representando o CPD, em parceria com a
CEAD, para atender a uma necessidade de formação da comunidade UFBA para o
oferecimento de cursos e disciplinas utilizando o ambiente virtual Moodle na UFBA uma
das metas da CEAD. O curso foi planejado quase que exclusivamente pela equipe do Projeto
EAD-CPD, sob a coordenação desta autora. A equipe de planejamento do curso foi
multidisciplinar, com a participação de bolsistas de graduação em Ciência da Computação e
em Pedagogia, pedagogos, analistas de TI, webdesigners e pessoal de apoio administrativo. A
preocupação da equipe, durante o planejamento, era a construção de um curso que
contemplasse a concepção das TIC como estruturantes de novos processos de construção de
conhecimento, inspirada nas discussões do GEC já que três dos componentes da equipe
89
Esta experiência foi relatada em Edméa Santos e Nicia Cristina Rocha Riccio (2010), ainda não publicada.
186
eram também membros desse grupo de pesquisa. Nessa perspectiva, buscava-se um curso que
não somente focasse o conhecimento instrumental do Moodle, mas também oferecesse a
oportunidade de ser travada uma discussão teórica sobre os temas que perpassam a EAD e a
educação na cibercultura. No entanto, a maior demanda no sentido da formação dos
professores para a docência on-line tinha um foco instrumental, que dizia respeito apenas ao
manuseio da Moodle enquanto “ferramenta” para a educação. Porém, a equipe compreendia
que a formação exclusivamente instrumental levaria a uma reprodução do ensino presencial
no on-line, com uma perspectiva de autodidatismo e que não possibilitaria uma reflexão do
docente-aprendiz sobre as características de abertura da cibercultura, nem sobre as
possibilidades de autonomia que se abrem nesses espaços, nem muito menos sobre a sua
própria prática docente. Assim, buscou-se construir um curso que, tendo como “chamariz” a
formação instrumental (também necessária) no ambiente Moodle, promovesse discussões e
reflexões sobre as questões teóricas pertinentes à EAD, à educação mediada pelas TIC e,
consequentemente, à Educação de forma geral. O curso foi, então, construído com dois
objetivos principais: (I) contribuir para disseminação do Moodle na educação presencial e a
distância, através da formação de sua comunidade docente e técnica e (II) promover a reflexão
sobre o potencial comunicativo e pedagógico das tecnologias da informação e comunicação
nas práticas docentes, em especial na EAD.
5.1.1 Os sujeitos da pesquisa neste caso de estudo
O Curso Moodle 2007 não nasce como campo de pesquisa, pelo contrário, a decisão
para incluí-lo como espaço empírico para esta pesquisa veio no decorrer do seu
desenvolvimento quando percebemos a riqueza das discussões e reflexões sobre o processo de
formação da comunidade UFBA que estavam sendo travadas. Quando essa decisão foi
tomada, os participantes do curso foram informados, via fórum, dessa intenção e foi solicitado
que caso alguém não concordasse em participar da pesquisa entrasse em contato com a
coordenação do curso; alguns participantes se manifestaram incentivando a pesquisa e
ninguém se manifestou contra.
A primeira turma do Curso Moodle teve 100 participantes inscritos (de uma demanda de
178); foi coordenado pelo CPD e teve o apoio da FACED, através do GEC, para o
acompanhamento do curso. A experiência foi implementada nos meses de outubro a
dezembro de 2007 e o curso foi oferecido para os docentes e técnicos que estavam envolvidos
187
com projetos de EAD e demais interessados no uso do ambiente Moodle. O curso foi
divulgado através de e-mail institucional da UFBA para diversas listas de discussão que a
equipe tinha acesso, inclusive para a todos-l
90
e através do UFBA em pauta
91
. Dos 178
inscritos para a seleção, tivemos 68 docentes, 63 técnicos, 26 sem vínculo efetivo com a
UFBA e 21 inscrições inválidas. Considerando apenas as 157 inscrições válidas, a
distribuição dos participantes da seleção com relação às unidades da UFBA foi bastante
heterogênea, como pode ser visto no Gráfico 2.
Como critérios de seleção foram considerados o vínculo efetivo com a UFBA (técnico
ou docente), a ordem de inscrição e o envolvimento com projetos de EAD ou de utilização do
ambiente Moodle; além disso, foi dado prioridade à participação dos docentes, de forma que
todos os 68 docentes inscritos foram selecionados para participação no curso.
Para efeito da pesquisa, foram analisados os conteúdos dos fóruns de discussão, os chats
e os espaços de avaliação do curso (autoavaliação e pesquisa de avaliação). Além disso, oito
participantes foram selecionados para serem entrevistados; essa seleção se deu, na época, em
função de acreditarmos que o conteúdo dos fóruns não seria suficiente para a análise do
processo e, portanto, selecionamos alguns participantes a partir de critérios como:
participação ativa no curso, atuação em EAD, ou pessoas que se colocaram como voluntárias
para a entrevista. No entanto, diante da riqueza das reflexões nos fóruns, consideramos as
entrevistas como complementares e não sentimos necessidade de ampliar o número de
entrevistados para este caso de estudo. As entrevistas foram concebidas na perspectiva
semiestruturada e realizadas de forma presencial ou on-line (MSN); os participantes
selecionados para a entrevista foram: os 4 mais atuantes nas discussões; 2 que se colocaram
como voluntários para a entrevista; e 2 que atuavam também na Licenciatura em Matemática
a distância. A observação participante se deu durante todo o processo de planejamento e
desenvolvimento do curso quando nosso olhar de pesquisadores é numa perspectiva de
participação completa (BARBIER, 2002) que esta autora atuou como coordenadora geral
do curso.
90
Lista de discussão que tem como participantes todos os usuários do e-mail UFBA (..[email protected]r).
91
Espaço de divulgação institucional coordenado pela Assessoria de Comunicação da UFBA (veja em
www.ufba.br).
188
Gráfico 2: Distribuição das inscrições válidas para o CM2007 por unidade.
189
5.1.2 Proposta metodológica e desenvolvimento do curso
O planejamento e a elaboração dos conteúdos do Curso Moodle 2007
92
aconteceram em
paralelo ao seu desenvolvimento. A equipe desejava implementar o curso ainda em 2007, um
pouco na tentativa de cumprir uma das metas da CEAD; para isso, o curso teria que ser
iniciado no máximo em outubro, para não coincidir com o período de férias docentes.
Portanto, assim que foram definidos a estrutura geral do curso, as atividades, a avaliação, os
conteúdos a serem abordados, e que se finalizou a elaboração dos dois primeiros módulos, foi
iniciado o processo de divulgação e seleção dos participantes, enquanto parte da equipe dava
continuidade à elaboração dos materiais. Vale ressaltar que, em função disso, houve uma
sobrecarga de trabalho na equipe, o que, como veremos adiante, se refletiu no processo de
acompanhamento dos participantes.
O curso foi organizado de forma que os conteúdos teóricos foram trabalhados em
paralelo às discussões e práticas das funcionalidades do ambiente com o objetivo de se
estudar as interfaces do Moodle simultaneamente à discussão teórica de temas relacionados à
educação a distância e à educação on-line. Nesse sentido, a proposta do curso caminhou na
direção da superação de uma visão instrumental das TIC (PRETTO, 1996, 2008), buscando a
vivência de uma cultura tecnológica básica para o manejo das tecnologias ao lado da
necessária articulação com uma reflexão teórica sobre educação e práticas pedagógicas.
A carga horária do curso foi de 60 horas, distribuídas ao longo de oito semanas e em
seis módulos teóricos assim organizados: (1) Fundamentos de educação a distância e da
educação on-line: principais conceitos; histórico da EAD; legislação; educação on-line e
contexto atual da EAD; (2) A educação na cibercultura: cibercultura e suas características; o
papel da comunicação; construção colaborativa; aprendizagem em rede; (3) A elaboração de
materiais didáticos: fundamentos e concepções sobre a comunicação e os recursos
tecnológicos e midiáticos; material impresso, audiovisuais e digitais; objetos de
aprendizagem; (4) Tutoria on-line: os desafios de educar a distância; o tutor na EAD e na
educação on-line; competências e habilidades do tutor; estratégias de mediação; (5) Avaliação
na educação on-line: concepções, critérios e práticas de avaliação de aprendizagem; avaliação
de aprendizagem on-line; o fórum, o portfólio e o diário como dispositivos de avaliação on-
92
O Curso Moodle 2007 está aberto ao acesso de visitantes e disponível em http://www.moodle.ufba.br/course/
view.php?id=1212; acesso em 20 jul. 2009.
190
line; e (6) Planejamento na EAD on-line: as dimensões do planejamento em EAD; a análise e
o design; definição de estratégias pedagógicas; implementação e avaliação.
Os módulos foram organizados de forma sequencial e distribuídos por semanas, como
pode ser visto na Figura 8. Essa organização refletia, é inegável, a concepção de linearidade
que prevalecia na equipe, embora alguns dos componentes questionassem a condução do
curso dessa forma. No entanto, o fato de não se ter todo o material elaborado e pela
heterogeneidade da equipe e das concepções de educação de cada um dos membros, a
estrutura linear na apresentação dos conteúdos prevaleceu. A equipe só se deu conta da
intensidade dessa linearidade quando um dos mediadores do GEC alertou sobre essa questão
em um dos fóruns. Entretanto, a linearidade não prevalecia na maneira como foram propostas
as discussões e atividades, e na forma como foi elaborado o material básico do curso,
gerando, inclusive, certo desconforto em alguns dos participantes desejosos de um “roteiro”
mais claro para a sua atuação, como veremos mais adiante.
Figura 8: Estrutura semanal e sequencial do Curso Moodle 2007.
191
Para cada tema abordado no curso, foi elaborado um material sico, construído de forma
hipertextual e utilizando o recurso livro” do Moodle; nestes livros os links remetiam a artigos,
sites, blogs, vídeos etc., que concretizavam a concepção de o linearidade da cibercultura,
possibilitando a constrão (no processo) de caminhos individualizados percorridos por cada
participante. A cada tema, am do material sico hipertextual e de um ou outro material
multimídia (comodeos ou áudios elaborados pela equipe) foi proposto um fórum para discussão
teórica sobre o tema em questão. A opção pelo rum como o principal espaço de discuso
teórica foi baseada no entendimento de que essa interface é a que mais se adéqua a uma discussão
horizontalizada, que favorece a liberdade de expressão, como vimos no Capítulo 3.
Simultaneamente à discussão teórica, eram trabalhadas funcionalidades do Moodle: os
recursos eram apresentados, exemplificados e experimentados pelos participantes (veja
exemplo da estrutura de cada tópico na Figura 9). Para a experimentação foram criados
“espaços de teste” onde os participantes foram cadastrados com o perfil de tutor
93
.
Figura 9: Exemplo da estrutura dos tópicos no Curso Moodle 2007.
Além dos fóruns de discussão teórica, a estrutura do curso apresentava um fórum de
notícias (Quadro de avisos onde eram publicadas informações gerais sobre o curso), um
fórum aberto (cujo objetivo era um espaço de interação livre onde poderiam ser propostos
temas diversos de discussão pela equipe ou pelos participantes), e um fórum específico para
dicas e dúvidas sobre o Moodle (onde a equipe constantemente postava dicas sobre as
funcionalidades do ambiente, motivando os participantes à experimentação e onde os
93
Perfil que, no ambiente Moodle, permite a edição e criação de recursos e atividades.
192
participantes poderiam postar suas dúvidas). A Tabela 2 mostra a relação de fóruns propostos
no curso e o respectivo número de mensagens postadas e tópicos criados:
Tabela 2: Fóruns e número de mensagens e tópicos no Curso Moodle 2007.
Fórum Número de
mensagens
Número de
tópicos criados
pelos
participantes
Número de
tópicos
criados pela
equipe
Quadro de avisos 43 Não era permitido 13
Fórum aberto 204 40 8
Sobre o Moodle: dicas,
dúvidas e descobertas
113 16 18
O contexto da EAD 23 Não era permitido 1
Discutindo a educação na
cibercultura
21 Não era permitido 4
(
um para cada
grupo
)
Material digital na educação
presencial?
26 3 1
Fórum da 4ª semana 42 1 3
Discutindo docência e
tutoria on-line
36 1 1
Discutindo sobre a
avaliação na EAD
13 0 1
Discutindo sobre o
planejamento em EAD
12 1 1
Fórum de avaliação final do
curso
12 2 1
Total 545 64 52
A primeira atividade com os selecionados foi a realização do próprio cadastro no
Moodle e inscrição no curso, de forma a estimular, desde o início, uma atuação ativa no
processo formativo. Na primeira semana do curso foi proposto um tópico de apresentação no
Fórum aberto, a fim de que os participantes se conhecessem uns aos outros,
experimentando a dinâmica do fórum. A cada semana, os participantes eram incentivados a
ler o material disponibilizado sobre o tema da semana e eram postadas, pelos professores-
tutores, provocações iniciais sobre o tema no respectivo fórum. Na quarta semana do curso foi
oferecida uma oficina presencial em laboratório, com o objetivo de promover uma
experimentação no ambiente, assistida por tutores e monitores, com a realização de atividades
como organização dos boxes na página principal do curso, criação de fóruns, chats, glossários,
configuração do curso, inclusão de tutores e estudantes, criação de escala de notas,
formatações diversas de textos e imagens, entre outros.
Nos “espaços de teste”, criados para a experimentação dos recursos do ambiente pelos
participantes, pudemos constatar que a participação foi bastante rica, tendo possibilitado o
aprofundamento de alguns aspectos técnicos como a inseão de imagens, de vídeos, a
possibilidade de formatão de textos, a construção de links, a configuração dos recursos do
193
Moodle, dentre outros. A atuação nos espaços de teste foi organizada em quatro grupos, cada um
deles acompanhado por um professor-tutor que motivava a experimentação dos participantes
através do esclarecimento de dúvidas e da provocação com dicas e solicitações de experimentação
aos participantes. Embora a quantidade de participantes atuantes nesses “espos de testeo
tenha sido mais que 50% dos participantes, aqueles que atuaram tiveram um significativo avanço
no que diz respeito à apropriação das possibilidades do ambiente.
Com relação à avaliação do curso, sendo os participantes, na sua maioria, pesquisadores
com experiência na docência superior, pretendia-se construir uma proposta de avaliação que
apostasse na autonomia do docente-aprendiz. Assim, a avaliação do curso consistiu
simplesmente na identificação da atuação mínima de cada um dos participantes nas leituras,
discussões teóricas e experimentações no ambiente de testes, que a preocupação era com o
processo formativo dos participantes e o objetivo maior do curso foi exatamente o de
disseminar o uso do ambiente e promover reflexões teóricas sobre a educação, os
fundamentos da cibercultura, a docência on-line, as políticas públicas para a área, entre outros
temas. Das interações via fórum, a grande maioria mostrava interesse nas discussões relativas
às funcionalidades do ambiente Moodle, e apenas 20% participou das discussões teóricas. A
grande maioria dos acessos foi como participante silencioso, sem atuação nos espaços de
interação (Figura 10).
Figura 10: Gráfico de acesso dos participantes no Curso Moodle 2007.
A última semana do curso foi dedicada a uma avaliação do mesmo, quando foi
solicitado o preenchimento de uma autoavaliação reflexiva sobre a participação e atuação no
curso e o preenchimento de uma pesquisa de avaliação. A pesquisa de avaliação (Figura 11)
194
foi baseada em um questionário disponibilizado pelo próprio ambiente Moodle, desenvolvido
para a avaliação de percursos de aprendizagem on-line baseados em teorias construtivistas
94
.
A relação completa das questões presentes na pesquisa de avaliação pode ser encontrada no
Anexo F; um sumário das respostas à pesquisa de avaliação, gerado pelo próprio ambiente
Moodle, pode ser visto na Figura 12.
Figura 11: Pesquisa de Avaliação do Curso Moodle.
Figura 12: Sumário das respostas à pesquisa de avaliação do Curso Moodle 2007.
94
A pesquisa utilizada está disponível no ambiente Moodle, é denominada Constructivist On-Line Learning
Environment Survey (COLLES) e foi desenvolvida por Peter Taylor e Dorit Maor; mais informações sobre a
COLLES estão disponíveis em: http://lsn.curtin.edu.au/tlf/tlf2000/taylor.html, acesso em 28 dez. 2009.
195
Em termos quantitativos, dos 100 selecionados, 23 nunca acessaram o ambiente ou
pediram para cancelar sua inscrição. Dos 77 que efetivamente iniciaram o curso, 50
participantes se inscreveram na oficina, dos quais 36 apenas compareceram ao encontro; 15
participantes preencheram a autoavaliação e 17 preencheram a pesquisa. Ao final, a partir da
observação dos critérios de participação no ambiente, nos fóruns e no espaço de
experimentação, tivemos 33 participantes certificados, distribuídos em 19 docentes e 14
técnicos. No Gráfico 3 temos uma síntese desses números.
Gráfico 3: Síntese da participação no Curso Moodle 2007.
A distribuição por unidade dos 33 aprovados no curso pode ser vista no Gráfico 4:
Gráfico 4: Distribuição dos aprovados no Curso Moodle 2007 por unidade.
196
Uma síntese por unidade, considerando selecionados, que fizeram acesso ao Moodle, e
aprovados, pode ser vista no Gráfico 5.
Gráfico 5: Síntese do Curso Moodle 2007 por unidade.
5.1.3 Reflexões sobre o processo
A proposta do Curso Moodle buscou mostrar as possibilidades de uma educação
dialógica em ambientes virtuais de aprendizagem, com foco no desenvolvimento da
autonomia coletiva. Isso pode ser evidenciado na abordagem teórica em paralelo à
197
aprendizagem instrumental do ambiente, na abertura com relação aos temas discutidos nos
fóruns, onde os participantes tinham a possibilidade de trazer seus questionamentos, na
construção hipertextual dos materiais disponibilizados, na utilização dos espaços de teste de
forma livre, possibilitando que cada participante focasse naquilo que fosse mais do seu
interesse e contemplando, assim, a questão da heterogeneidade do grupo.
Por meio do desenvolvimento do Curso Moodle para Professores, os participantes
tiveram a oportunidade de se apropriarem das interfaces do ambiente virtual de aprendizagem,
ao mesmo tempo em que puderam vivenciar os pressupostos de uma educação mais dialógica,
através da utilização de interfaces síncronas e assíncronas na dinâmica do curso. Entretanto,
apesar de a estrutura do curso, em princípio, contemplar a abertura para o desenvolvimento de
propostas interativas, percebemos nos participantes uma dificuldade de vivenciar processos de
participação-intervenção (SILVA, 2002), que permitissem aos sujeitos alterarem percursos,
através do desafio de se converterem em gestores de sua própria aprendizagem, numa
perspectiva mais autônoma. Isso pode ser percebido em mensagens em que alguns
participantes se mostraram confusos com a proposta, alegando que sentiam falta de
orientações mais diretas sobre as atividades a serem cumpridas, como pode ser visto nos
trechos seguintes:
Estou gostando, mas a sensação de estar perdida é uma constante // nem
tanto isso [porque não tem avaliação], a questão é sempre q vc clica em
qualquer lugar, se perde um pouco no caminho... (Participante14-CM07, no
fórum).
Uma dificuldade que estou sentindo neste curso é que fico sempre em dúvida
sobre onde encontrar as tarefas que tenho a realizar... Penso que atendi a
todos os “comandos” que encontrei: criar um wiki e um fórum no espaço de
testes etc... Mas, fico sempre na dúvida se existe alguma tarefa “perdida”
por aí, em algum lugar que não entrei... Por exemplo: leio as discussões dos
colegas, mas nem sempre entendo que deva me manifestar, entende? Qual é
a expectativa dos tutores? (Participante15-CM07, no fórum).
Concordo com a Participante10-CM07 quando ela sugere o passo a passo
no início do curso para reduzir o tempo para internalizarmos o modo de
trabalho no curso. Confesso que ainda não estou totalmente à vontade com
a plataforma. Tenho ainda dificuldades em colocar arquivos e trabalhar
com todas as possibilidades que o moodle oferece. (Participante5-CM07, no
fórum).
Esses excertos revelam um desconforto dos participantes com a não linearidade e com a
liberdade “excessiva” com relação ao que pode ser feito, sugerindo uma tendência a entender
o “professor” como aquele que indica o caminho a seguir, numa típica visão alienante da
198
educação. Outras manifestações mostram que, apesar de se sentirem “meio perdidos”, alguns
participantes gostam da experiência, percebendo as possibilidades da proposta mais aberta
com relação a uma aprendizagem mais autônoma, algumas vezes associando a sensação de
estarem perdidos com o fato de estarem acostumados com um modelo reprodutivista de
educação:
Na metade da segunda semana comecei a me desestimular por sentir-me
solta. Até pra elaborar a pergunta sobre as dúvidas (eram tantas...) ficava
complicado pra mim. Por outro lado, acho mesmo interessante esse modelo
de “futucar”, isso é muito bom para o aprendizado. Nesse caso nosso, com
o tempo curto, fica meio angustiante especialmente pra quem não domina a
ferramenta e tampouco a sua linguagem. (Participante12-CM07, no fórum).
Me sinto meio perdida ao acessar o ambiente Carvalho sem ter as
informações sistematizadas passo-a-passo // Fomos educados numa
perspectiva cartesiana, rsrssrsr. (Participante20-CM07, no fórum).
Participante4-CM07, compartilho com você a sensação de estar “perdida”,
tem muitos recursos do moodle que ainda não sei utilizar. Pelo que tenho
experimentado aqui, não existe um único caminho para navegar, existem
váaaarias possibilidades, e nós também construímos esses caminhos (ver
conceitos de hipertexto), não é isso pessoal? (Participante28-CM07, no
fórum).
Estou amando os textos, os vídeos, as questões provocativas. Mas ainda fico
um pouco ‘perdida’ no vai-e-vem pelo espaço do Moodle... vou a um
fórum... a outro... ao quadro de avisos... aulas... recorto/colo/leio/analiso...
volto ao espaço e não tenho muita certeza se ‘naveguei’ por onde
precisava... devia... Fato é que estou gostando muito desta experiência.
(Participante4-CM07, no fórum).
Nesse processo de reflexão, percebemos nas discussões dos fóruns do curso um relativo
silêncio da maioria dos professores, como se a participação se resumisse apenas à postagem
de uma mensagem em detrimento de um questionamento principal. Outro aspecto observado
ao longo do curso foi o grande interesse da maioria dos professores no manejo das
tecnologias, em detrimento das discussões teóricas travadas nas diferentes interfaces. Isso
pode ser percebido pela pequena quantidade de mensagens nos runs teóricos, e pelo maior
interesse nas experimentações do ambiente Moodle. Sabemos da importância do domínio do
uso dos dispositivos, porém esse aprendizado precisa estar articulado a uma discussão teórica
que viabilize uma maior reflexão sobre o potencial das TIC no contexto educativo.
Percebemos que a perspectiva instrumental assumida pela maioria dos professores, não os
desafiou a compreender os pressupostos fundamentais da cibercultura e as transformações da
199
sociedade contemporânea, o que reforça o desafio na busca de pensar transformações para a
educação superior que vão além da mera introdução de tecnologias educacionais.
Entretanto, um pequeno grupo de docentes compreendeu as potencialidades abertas pela
proposta do curso, contribuindo com reflexões mais elaboradas, disponibilizando links para
pesquisa, fazendo intervenções nas mensagens e provocando novas discussões, com isso,
ampliando a própria rede. Diversas reflexões, por exemplo, foram explicitadas com relação à
compreensão da EAD, mostrando que o entendimento da EAD antes do Curso Moodle era
preconceituoso em função de a entenderem como uma modalidade na qual a relação
professor-aluno não existia. O curso tornou possível, pelo menos para o pequeno grupo de
professores que expressou suas reflexões sobre isso, o entendimento de que a EAD pode ser
implementada de diversas formas, e que não é a modalidade que define a qualidade da
proposta pedagógica. A fala seguinte exemplifica essas reflexões:
Neste momento de encerramento há alguns pontos que gostaria de destacar.
Primeiro ponto elogiar o trabalho da equipe que coordenou pedagógica e
tecnicamente o curso. Estou realmente impressionado com a qualidade,
competência, possibilidades e simplicidade dos procedimentos. Segundo
ponto, descobrir que ensino a distância é algo muito mais sério do que
imaginava. São tantas as possibilidades, mas como qualquer outra atividade
de ensino é fundamental conseguir motivar os participantes, provocá-los.
(Participante35-CM07, no fórum).
Dentro desse grupo que se destacou, o Participante1-CM07,
em particular, manifestou
sua compreensão sobre a existência de um modelo hegemônico baseado na transmissão do
conhecimento e em como esse modelo está a serviço de uma reprodução do conhecimento e
do status quo vigente, apresentando uma visão política bastante questionadora. O
Participante1-CM07, ao mesmo tempo em que contribuía fortemente para a discussão sobre
aspectos fundamentais de uma proposta pedagógica comprometida com a transformação
social, apresentou, nos fóruns, uma visão bastante crítica sobre a EAD, levantando a
necessidade de uma formação adequada dos professores para tal: algumas mensagens também
apresentavam uma importante visão crítica e política das tecnologias e da educação mediada
pelas TIC, mostrando que a história de vida dos responsáveis por reflexões como essas
caminhava no sentido de uma mudança paradigmática na educação:
Sabe o que me passa pelos miolos, é que tentam colocar a EaD como a
“salvação da pátria” do modelo educacional, quando na verdade, a encaro
(a EaD) como mais uma ferramenta apenas (nada que se iguale ao método
e/ou a técnica) [...] Uma Proposta Comprometida, em lugar da decantada
200
“neutralidade” das Técnicas Didático-pedagógicas. Realmente precisamos
da EaD?????? Ou é mais um artifício socioeconômico deste modelo
globalizado?
É preciso qualificar adequadamente os professores de Ciências, além do
conhecimento profundo dos conteúdos de Ciências a serem trabalhados, se
faz necessário que na formação docente ele possa conhecer a história e a
filosofia das Ciências, aprender a conhecer e respeitar a história de vida
dos estudantes que trazem as suas concepções para dentro da sala de aula e
por último é preciso conscientizar o professor da importância da relação
entre Ciências, Tecnologia e Sociedade.
Apesar de os cursos de Ciências se modificarem para atenderem a
determinadas necessidades. As novas tecnologias e os seus impactos nas
sociedades não são ainda trabalhados a contento nos cursos de formação de
professores, não existindo uma preocupação das Instituições de colocá-los
em contato com essas mudanças que afetam o mundo e, por conseguinte, a
sala-de-aula. (Participante1-CM07, no fórum).
O discurso do Participante1-CM07 era sempre permeado por críticas e reflexões
importantes sobre a sociedade contemporânea e o modelo de educação vigente; no entanto,
suas falas eram demasiadamente impositivas e parecia afastar os demais participantes em vez
de mobilizá-los, como se os assustassem e, às vezes, como se os outros não entendessem suas
colocações.
Um aspecto positivo observado durante o desenvolvimento do curso foi o surgimento de
uma atitude colaborativa entre alguns professores que passaram a orientar seus colegas em
relação às funcionalidades do ambiente, revelando que, para esses participantes, foi possível
perceber a relevância de uma proposta que fomente a colaboração entre os envolvidos.
Alguns participantes mostram preocupação com a ausência do acesso dos alunos de
baixa renda às tecnologias, e levantam a questão da ausência de estrutura em diversas
unidades da UFBA. Um dos participantes do curso, quando questionado se as TIC faziam
parte de sua prática docente, responde:
Não exatamente, [...] a EBA [Escola de Belas Artes] é super-pobre em
termos de mídias e tecnologias para os docentes. Acredite, uso projetor de
slides, [...] retroprojetor. Datashow é tabu, alergia falar, não consigo a
pauta nunca... [...] É gogó, e aulas em sítios históricos [...]. (Participante40-
CM07, na entrevista).
Outros participantes, embora reconheçam e se mostrem preocupados com a falta de
acesso de muitos, demonstram uma crença na mudança com pequenos passos, pequenos
grupos, fazendo a relação com o próprio Curso Moodle:
201
Certamente não é a EAD que vai promover uma “tão sonhada inclusão
social”. Aliás, muitas pessoas que integram os grupos que vc citou [grupos
excluídos socialmente] certamente não têm nem a educação presencial como
prioridade imagine a EAD! Entretanto, tive oportunidade de conhecer
programas direcionados para determinados públicos, e quem se interessou,
participou; atingiu uma pequena parte de um grupo de mulheres, e fez
diferença para aquelas que se dedicaram. O nosso caso, nesse curso, não é
o mesmo? Participa quem se interessa, e que teve, sim, a oportunidade, em
algum momento, de ter seu interesse despertado. Talvez more um dos
motivos pelos quais estou participando desse curso: a possibilidade de
aplicar e propiciar aos alunos o conhecimento de algo diferente, uma outra
forma de aprendizagem, outros caminhos. Quem sabe possamos atingir
algumas pessoas desses grupos. Quem sabe nossos alunos possam vir a ter
alunos desses grupos... (Participante8-CM07, no fórum).
Esses depoimentos levam-nos a refletir sobre a necessidade de investimento, dentro da
própria UFBA, em TIC para as diversas unidades de ensino; embora o acesso às tecnologias
não seja por si só um elemento transformador, esse é um primeiro passo imprescindível no
processo de implantação de ambientes virtuais na instituição. Pensar em EAD numa
instituição em que ainda persistem situações de exclusão anteriores mesmo aos computadores
parece uma heresia. No entanto, a visão preconceituosa, muitas vezes presente não somente
em relação à EAD mas também com relação ao uso das tecnologias na docência, é um entrave
na priorização dessas mudanças na instituição, em especial quando se fala na atividade
docente. A inexistência de cursos de graduação a distância na UFBA mais tempo pode ser
vista como um reflexo desse preconceito, ainda presente num momento em que a EAD ganha
status de política pública com projetos como o Sistema UAB. A transformação de pequenos
grupos, como parece que se deu no processo de desenvolvimento do Curso Moodle 2007
ressaltada pelo Participante8-CM07
na fala citada parece um caminho para avançar desse
patamar de preconceito e de poucas ações.
Pensando assim, o Curso Moodle alcançou seu objetivo possibilitando a formação de
um pequeno grupo de docentes e técnicos da UFBA para a docência no Moodle, numa
perspectiva de colaboração e autonomia. Pudemos perceber que essa ação formativa também
induziu várias iniciativas no uso das TIC tendo crescido o número de solicitações de docentes
para abertura de espaços no Moodle para apoio às suas disciplinas presenciais além de
algumas iniciativas pontuais como a organização de Jornadas On-line de Radiologia
Odontológica
95
, a implementação de uma disciplina a distância na pós-graduação em
95
A I Jornada On-line de Radiologia, organizada pela Participante3-CM07, aconteceu no primeiro semestre de
2008 (disponível em: <http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=10047>); outras duas Jornadas
202
educação
96
e a criação de uma linha de atuação focada no ambiente Moodle no Núcleo de
Tele Saúde do Hospital Universitário
97
(NUTS).
Nos espaços de avaliação do curso (fórum parcial de avaliação na semana, fórum de
avaliação final do curso, autoavaliação, pesquisa de avaliação) os participantes que se
manifestaram ressaltaram a importância do curso para a sua prática docente. A maioria se
manifestou com relação ao pouco tempo disponível para se dedicar ao curso e alguns
sugeriram que o curso fosse oferecido nas férias ou em um período diferente do encerramento
do semestre letivo na UFBA. Uma solicitação quase unânime foi com relação à existência de
mais encontros presenciais; um no início para integração e orientações gerais e mais oficinas
de Moodle a cultura do presencial ainda fortemente presente. Diversas das falas fizeram
referência à importância das discussões teóricas, demonstrando surpresa e, ao mesmo tempo,
satisfação pelo fato de o curso ir além do instrumental no Moodle; alguns ressaltam, além
disso, a importância da integração entre os envolvidos com EAD na UFBA:
Foi muito bom participar deste Curso Moodle para Professores, o qual,
aliás, foi bem além de simples investimento em aprendizado sobre os
recursos que a interface Moodle oferece. O curso nos ofereceu oportunidade
de pensar sobre EaD, de perceber as novas concepções para esta
modalidade de ensino-aprendizagem, de problematizar questões do dia-a-
dia do professor diante da nova realidade e, mais que tudo, significou para
cada um de nós alunos deste curso uma grande oportunidade para
conhecermos iniciativas em andamento em nosso próprio universo UFBA,
permitindo que conheçamos um pouco mais de quem somos nós – os que nos
identificamos e resolvemos investir tempo, esforços e paixão em uma nova
caminhada. Um grande abraço a todos e espero que possamos interagir em
projetos comuns muito brevemente! (Participante2-CM07, na avaliação do
curso).
Com relação ao acompanhamento do curso, a maioria dos participantes que se
manifestaram o considerou importante e bem conduzido. Apenas o Participante1-CM07 fez
importantes ressalvas sobre o curso, das quais destacamos sua expectativa de um maior
aprofundamento nas discussões teóricas, como pode ser visto a seguir:
aconteceram (disponíveis em: <http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=10352> e
<http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=10352>).
96
A disciplina Educação, sexualidade e gênero, outro dos estudos de caso desta pesquisa, e que será discutida
em seção posterior.
97
O site no NUTS está disponível em: <http://www.nuts.hupes.ufba.br/index.php>; o espaço de um dos grupos
de pesquisa no Moodle: <http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=1214>.
203
Não percebi a dinâmica do curso (na verdade senti como uma instrução
programada e volta para ensinar a usar um software). Poderíamos ter
aprofundado sobre o EaD e suas questões epistemológicas.
As atribuições e as responsabilidades de cada sujeito não ficaram claras,
pois não observei uma distribuição equilibrada das atividades (alguns
tutores e alunos não interagiram ou muito pouco).
Ao longo do curso não houve uma avaliação diagnóstica para possíveis
correções de rumo (se é q desejassem fazer).
A orientação não enfatizou a necessidade da organização dos alunos, algo
fundamental nestes cursos.
Acho que tudo isso, implicou na baixa ou pouca interação.
Mesmo assim, espero que esta experiência/proposta seja cultivada e cuidada
para gerar mais sementes e frutos que alimentem aqueles que têm desejo de
modificar as coisas e principalmente a si (me incluo).
Muuuuito, muito obrigado pela oportunidade. (Participante1-CM07, na
avaliação do curso).
Fica claro, através de suas falas, que o Participante1-CM07 era um “ponto fora da
curva” com relação aos demais participantes, pela visão crítica que apresentava durante as
discussões teóricas e pela própria percepção das falhas que o curso apresentou na tentativa de
uma proposta dialógica e não linear; isso demonstra a concepção de educação que ele já traz,
anterior à sua participação no Curso Moodle.
Um olhar sobre a experiência vivenciada, por parte da equipe responsável pelo curso,
identificou alguns aspectos que poderiam ser melhorados no Curso Moodle: (1) a linearidade
traduzida pela apresentação sequencial dos conteúdos precisava ser minimizada, a fim de
possibilitar, efetivamente, uma proposta não linear; (2) o acompanhamento dos professores-
tutores priorizou a discussão sobre as funcionalidades do Moodle em detrimento das
discussões teóricas, negando, de certa forma, a proposta de uma formação não exclusivamente
instrumental; (3) a existência de apenas um encontro presencial não atendia à necessidade,
quase unânime, dos participantes de uma maior valorização da cultura do presencial vigente;
(4) as falhas técnicas do Moodle no que diz respeito à interrupção do serviço (falhas de rede
ou no servidor que hospedava o ambiente) provocaram, em alguns momentos, desmotivação e
descrédito com relação à possibilidade de uma oferta de cursos a distância com a segurança
técnica necessária. Cada um desses quatro aspectos foram avaliados e repensados quando da
oferta do Curso Moodle 2008, como veremos nas próximas seções.
204
Os resultados quantitativos do curso não foram muito positivos, considerando o número
de vagas disponibilizado (100); isso nos faz refletir sobre o porquê da ausência (dos 23 que
nunca acessaram o ambiente) e o porquê da pouca participação (considerando que apenas 33
foram certificados). O primeiro aspecto a considerar é o processo de inscrição que foi bastante
simplificado e sem custos (como deve ser), mas que favorece que “curiosos” façam sua
inscrição apenas com o objetivo de ver o que está acontecendo, mas sem a intenção de
participar efetivamente do curso. Essa interpretação também pode ser estendida para aqueles
que entraram no ambiente do curso por uma ou duas vezes para “dar uma olhada” (e que,
quantitativamente, foram computados entre os 77 que participaram do curso), mas que
também não tinham a intenção de atuar efetivamente. Aqui podemos trazer também a
expectativa falaciosa de que a EAD não precisa de tempo de dedicação por parte do aluno, e
este, ao se dar conta do tempo demandado pelo curso nas leituras, experimentações e
interações no ambiente levando em conta que a maior parte dos selecionados eram docentes
com pouca disponibilidade de tempo –, decidiu que aquele não seria o momento adequado
para dedicar seu parco tempo livre para esse tipo de formação. Entendemos que o tempo
necessário para dedicação ao curso foi o aspecto que mais afastou os participantes; mesmo
aqueles que “resistiram” até o final, nos momentos de avaliação mencionaram que não
dedicaram ao curso o tempo necessário, ou argumentaram que o curso deveria acontecer num
momento menos atribulado para os docentes. O que nos parece, ao final, é que a formação
para a docência neste caso, on-line não é prioridade entre as atividades do docente do
ensino superior da UFBA.
No entanto, o olhar mais focado naqueles que mais estiveram envolvidos e que foram,
de alguma forma, capturados pelas discussões e temas abordados no Curso Moodle nos
possibilitou, qualitativamente, perceber a intensidade da participação com uma reflexão mais
acurada sobre a hipertextualidade, as possibilidades de autoria e de colaboração, a riqueza da
não linearidade e da multivocalidade potencializadas pelo digital, mostrando a importância de
se oferecer propostas formativas para a docência superior na UFBA que possibilitem a
reflexão sobre a prática docente na instituição.
De acordo com Aldo Schlemenson (1993), citado por Silvia Coiçaud (2001),
[...] todo projeto supõe uma atividade destinada a atingir metas: no presente
psicológico, o projeto é vivenciado como a falta de algo que se deseja fazer e
pelo qual se deve trabalhar. Sua elaboração é nutrida de intuições e palpites
que mobilizam experiências prévias e vão consolidando a aprendizagem.
Nesse processo, sempre existe o componente da incerteza, pois, sendo os
205
projetos originais e inéditos, não são conhecidos exatamente os passos
corretos para alcançar seus propósitos. (p.56).
Assim foi a primeira turma do Curso Moodle: um projeto inédito e cheio de incertezas,
elaborado a partir da mobilização de experiências prévias desta autora, como o Curso de
Formação de Tutores mencionado em capítulo anterior, e a vivência nos diversos espaços de
formação em que se constitui um doutoramento, juntamente com as experiências dos demais
componentes da equipe e com o desejo de atingir a meta de oferecer à comunidade UFBA um
espaço de reflexão e formação sobre a docência on-line. Nem todos os passos foram corretos;
alguns deles foram ressignificados no decorrer da experiência, o que resultou, no ano
seguinte, em uma nova experiência com o oferecimento do Curso Moodle 2008.
5.2 O CURSO MOODLE PARA PROFESSORES: A EDUCAÇÃO ON-LINE NA UFBA,
TURMA 2008
A segunda turma do Curso Moodle para Professores
98
foi oferecida entre os meses de
setembro a novembro de 2008, para o mesmo blico do Curso Moodle 2007 técnicos e
docentes da UFBA, ainda no contexto da atuação da CEAD e com o mesmo objetivo principal
de contribuir com a formação da comunidade UFBA para atuação com o ambiente Moodle na
educação presencial e na EAD. O curso teve o apoio da REDPECT durante a sua realização,
quando membros desse grupo de pesquisa atuaram como mediadores das discussões
teóricas
99
.
Entre o período de finalização do Curso Moodle 2007 e o início do Curso Moodle 2008,
a equipe responsável pelo curso – praticamente a mesma da turma anterior discutiu sobre as
avaliações e questionamentos levantados pelos participantes e pela própria equipe e
identificou algumas ações que seriam necessárias para a melhoria do curso. Parte dessas ações
foi viabilizada a partir do apoio financeiro da Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas da
UFBA, o que possibilitou a contratação de pessoal para a atuação no curso de forma mais
intensa e dedicada. A primeira das ações encaminhadas pela equipe foi a revisão do material
didático disponibilizado no ambiente do curso; para isso, foram contratados especialistas na
área de EAD ou de tecnologias na educação que revisaram e ampliaram o material de cada um
98
Disponível para o acesso de visitantes em: http://www.moodle.ufba.br/course/view.php?id=8925.
99
A participação da REDPECT se deu no contexto do projeto de pesquisa “Ambientes Virtuais de
Aprendizagem: o desafio da formação on-line na UFBA” aprovado sob o n. 9066/2007, no Edital 05/2007, da
Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia, coordenado por Teresinha Fróes Burnham.
206
dos seis temas teóricos abordados, em especial os conteúdos disponibilizados de forma
hipertextual através do recurso livro. Com relação à necessidade de que houvesse um foco
maior na discussão teórica, optou-se pela participação de uma pesquisadora da docência on-
line (Docente1-CM08) que atuaria especificamente na mediação teórica, sendo responsável
pela provocação dos participantes no sentido de uma maior reflexão sobre suas práticas
docentes e maior participação nos fóruns de discussão. A atuação das professoras-tutoras
também foi repensada, de forma que essa função passou a ser executada por pessoal
contratado especificamente para tal, com carga horária e atividades pré-definidas, evitando a
sobreposição de outras atividades, de forma que a ação da tutoria deveria ser intensificada
para que se buscasse uma atuação mais ativa dos participantes. A linearidade da
disponibilização dos conteúdos precisava ser quebrada, de forma que a numeração dos temas
foi excluída e todos os conteúdos foram liberados para o acesso dos participantes desde o
início do curso, caracterizando um curso de estrutura não linear. Quanto aos encontros
presenciais, foram planejadas duas oficinas de Moodle, uma no início do curso e outra no
meio, considerando as avaliações dos participantes da turma anterior. Outro aspecto
importante a considerar é que em termos tecnológicos, a instalação do Moodle na UFBA já se
encontrava estabilizada em virtude da aquisição de uma máquina com maior capacidade de
processamento e armazenamento, viabilizada através de recursos providos pela administração
central e pela UAB.
5.2.1 Os sujeitos da pesquisa neste estudo de caso
As inscrições no curso foram feitas a partir de divulgação aberta, interna à UFBA,
utilizando os mesmos meios de divulgação da turma anterior, sendo oferecidas, inicialmente,
100 vagas. Foram feitas 221 inscrições para o curso, sendo os inscritos assim distribuídos:
106 docentes; 68 colaboradores; 47 técnicos. A seleção dos inscritos foi conduzida a partir
dos mesmos critérios da turma anterior, considerando a ordem de inscrição e o envolvimento
dos inscritos com atividades de EAD ou de utilização do Moodle na UFBA, além do
atendimento aos critérios de serem técnicos ou docentes da UFBA. Foram selecionados 103
participantes, dentre eles 82 docentes e 21 cnicos. A distribuição por unidade dentro da
UFBA pode ser observada no Gráfico 6, no qual podem ser vistos também os resultados
relativos aos participantes certificados.
207
Para efeito da pesquisa, foram analisados os conteúdos das interfaces de interação do
curso, incluindo: fóruns, chats, pesquisa de avaliação e autoavaliação. Aqui também a
observação participante se deu durante todo o planejamento e desenvolvimento do curso,
numa perspectiva de participação completa. Nessa turma do curso também foi analisada a
perspectiva de 3 das 4 professoras tutoras que atuaram no curso, utilizando como recurso uma
entrevista semiestruturada.
208
Gráfico 6: Distribuição dos participantes do Curso Moodle 2008 por unidade.
209
5.2.2 Proposta metodológica e desenvolvimento do curso
Quando o Curso Moodle 2008 foi iniciado, diferentemente da turma anterior, toda a
proposta estava preparada e revisada. Assim, foi possível colocar em prática o que estamos
chamando de uma proposta não linear no que se refere à disponibilização imediata de todo o
conteúdo e estratégias pedagógicas planejados pela equipe. Normalmente os cursos são
organizados por períodos e cada etapa é apresentada na sequência cronológica do calendário
do curso; neste curso em questão, desde o primeiro momento, os participantes conheceram
toda estrutura do curso e puderam habitar livremente as situações de aprendizagem propostas.
Além de atuarem no que foi previamente proposto pela equipe, puderam, também, cocriar no
sentido de trazer novas discussões e situações de aprendizagem, que a criação de tópicos
nos fóruns de discussão teórica de todos os temas estava disponível para todos os
participantes, além de ser incentivada pelas professoras tutoras, desde o início do curso. A
vantagem dessa estratégia é que cada participante pode avançar nos estudos e discussões
respeitando seu tempo físico e existencial, podendo navegar por todo o conteúdo e estrutura
do curso e priorizando aquilo que lhe fosse mais importante. Com isso, o ambiente se auto-
organiza a partir das demandas e necessidades formativas do grupo (SANTOS; RICCIO,
2010).
A organização do ambiente virtual sofreu algumas modificações no que diz respeito à
apresentação sequencial dos conteúdos, dos quais foi suprimida a numeração, como pode ser
visto na Figura 13; os seis tópicos temáticos foram mantidos, mais ou menos na mesma
estrutura, mas, agora, sem a numeração que parecia induzir a um sequenciamento da leitura.
Assim, embora houvesse um planejamento, dentro de um cronograma do curso, em que para
cada semana era priorizado um tema de discussão, os materiais e fóruns estavam todos
disponíveis, desde o início do curso, para que os participantes pudessem fazer a opção sobre o
que ler ou discutir prioritariamente, valorizando a necessidade e o desejo de cada um e
fomentando, assim, a autonomia e a não linearidade do grupo.
210
Figura 13: Estrutura do Curso Moodle 2008.
Em paralelo à opção de uma estrutura não linear e, de certa forma, também caminhando
no sentido da busca de uma atuação mais autônoma dos participantes, essa turma do curso foi
oferecida com enfoque na concepção de conteúdo aberto. Nas práticas da cibercultura os
sujeitos interagem em rede criando e compartilhando saberes, informações e conhecimentos.
Na grande maioria dos casos, esses processos geram produtos que se transformam em
matéria-prima para novas articulações, produções e redes; isso é possível por conta da
“abertura” de suas produções (SANTOS; RICCIO, 2010). O que chamamos de conteúdo
aberto é todo processo/produto disponível no ciberespaço que pode ser acessado, reutilizado e
recriado por cada sujeito que se conecta à rede. O Curso Moodle 2008 inspira-se nesse
contexto e se constitui em um ambiente de conteúdo aberto que possibilita a continuidade do
acesso pelos participantes, mesmo após o seu término, quando, então,
[...] o curso ganha novo sentido, o de um espaço aberto de aprendizagem
que continua em potência vivo se auto-organizando a partir dos interesses
dos sujeitos envolvidos. Os demais internautas, não matriculados
oficialmente no curso, podem acessá-lo a qualquer momento, podendo lançar
211
mão de seu desenho didático, acompanhando, caso desejem, as discussões
travadas pelos participantes do projeto. (SANTOS; RICCIO, 2010).
Reforçando essa opção pelo conteúdo aberto, na turma 2008 o Curso Moodle foi
registrado com a licença Creative Commons, possibilitando e incentivando a sua utilização
por outros sujeitos do ciberespaço.
Com a participação da Docente1-CM08 no curso, foi possível também caminharmos
mais proximamente no sentido de uma formação não apenas instrumental com relação ao
Moodle, mas que investisse nos fundamentos teóricos e nas práticas educacionais da
cibercultura como possibilidades de superação das práticas pedagógicas sustentadas por
pedagogias de transmissão. O desafio da equipe era exercitar a possibilidade da construção de
uma proposta educativa em sintonia com a cibercultura e com a autonomia potencializada
pelos meios digitais.
No que diz respeito aos temas abordados assim como aos demais recursos e atividades
disponibilizados para os participantes, não houve modificações com relação à turma anterior.
Foram mantidos os seis temas principais que eram apresentados em paralelo a materiais que
abordavam as funcionalidades do ambiente Moodle. A primeira atividade com os
selecionados foi a realização do próprio cadastro no Moodle e a inscrição no curso, da mesma
forma que na turma anterior, a fim de estimular uma atuação ativa no processo. A diferença
da turma de 2007 é que essa atividade aconteceu na semana de ambientação do curso,
proposta com o objetivo de oferecer um tempo inicial em que os participantes teriam um
primeiro contato com o ambiente, na tentativa de minimizar a confusão inicial relatada pelos
participantes da turma anterior. Nessa primeira semana, não foi proposta nenhuma leitura
teórica e a única atividade prevista, além do cadastro no ambiente, foi a participação de todos
no fórum de apresentação. A partir da segunda semana do curso, a exemplo da turma anterior,
para cada tema apresentado através de recursos do ambiente Moodle, foi proposto um fórum
para a discussão teórica. Simultaneamente à discussão teórica, eram trabalhadas
funcionalidades do Moodle e os recursos eram apresentados, exemplificados e
experimentados pelos participantes nos espaços de testes, onde, mais uma vez, os
participantes foram divididos em quatro grupos cada grupo acompanhado mais de perto por
uma professora-tutora e cadastrados com o perfil de tutor. À semelhança da turma 2007,
além dos fóruns teóricos tínhamos um quadro de avisos, um fórum aberto e um fórum sobre o
Moodle, cujos objetivos foram mantidos. A Tabela 3 mostra a participação nos fóruns através
do número de mensagens postadas e tópicos criados.
212
Tabela 3: Síntese das postagens nos fóruns do Curso Moodle 2008.
Fórum Número de
mensagens
Número de
tópicos criados
pelos
participantes
Número de
tópicos
criados pela
equipe
Quadro de avisos 167 Não era permitido 21
Fórum de apresentação 129 26 2
Fórum aberto 140 10 11
Sobre o Moodle: dicas,
dúvidas e descobertas
357 13 28
O contexto da EAD 86 1 1
Discutindo a educação na
cibercultura
53 1 2
Material digital na educação
presencial?
101 4 0
Discutindo docência e
tutoria on-line
31 4 0
Discutindo sobre a
avaliação na EAD
84 6 1
Discutindo sobre o
planejamento em EAD
44 2 0
Fórum de avaliação final do
curso
36 6 1
Total 1228 73 67
Buscando fomentar a o linearidade, todos os fóruns foram configurados de forma que
permitissem que os participantes criassem novos tópicos a qualquer momento do curso. O
resultado desse fomento pode ser percebido no número de tópicos criados pelos participantes, em
todos osruns temáticos, não necessariamente na semana em que o tema estava planejado dentro
do cronograma do curso, refletindo o que era defendido com relão à priorização dos temas de
interesse para cada participante. É interessante observar também o grande aumento no número de
mensagens nosruns temáticos, indicando que a atuação da Docente1-CM08 no curso conseguiu
atingir o objetivo de ampliação da discussão teórica. Além disso, com a atuação das professoras
tutoras de forma mais dedicada ao curso, percebemos também uma maior participação nas
discuses sobre as funcionalidades do Moodle, o que se reflete na quantidade de postagens no
fórum sobre o Moodle, que também foram permeadas por teorizações articuladas com a prática.
Aqui é importante destacar a mediação pedagógica exercida pela docente pesquisadora e pelas
professoras tutoras que atuaram, em conjunto, como problematizadoras e mediadoras da
aprendizagem, avaando do modelo tutorial com uma perspectiva instrumental e funcional,
muitas vezes praticado na EAD, para uma mediação pautada no questionamento, no incentivo a
uma atitude ativa dos participantes, no fomento da autonomia e na busca de uma construção
coletiva de conhecimento.
Foram propostos dois encontros presenciais durante o curso que aconteceram em
laboratórios com o acompanhamento das professoras tutoras, membros da equipe e monitores
213
participantes do Projeto EAD-CPD. O primeiro encontro, que aconteceu logo no início do
curso, teve o objetivo maior de apresentar a proposta do curso e promover uma primeira
aproximação com o ambiente Moodle, trabalhando a experimentação dos recursos mais
importantes para a atuação no curso como o fórum e a edição do perfil. O segundo encontro
objetivou ampliação do conhecimento sobre o Moodle através da experimentação no
ambiente, assistida por tutores e monitores, com a realização de atividades como organização
dos boxes na página principal do curso, criação de fóruns, chats, glossários, configuração do
curso, inclusão de tutores e estudantes, criação de escala de notas, formatações diversas de
textos e imagens, entre outros. Também foram agendados encontros síncronos em grupos
através do chat do Moodle, ao longo dos estudos dos módulos; esses encontros não foram
considerados como atividades obrigatórias, mas a participação foi bastante incentivada e
foram agendados horários diversos a fim de ampliar a possibilidade de participação.
Dos 103 selecionados, 10 pediram o cancelamento da inscrição no curso e 6 nunca
acessaram o ambiente. Com relação às mensagens postadas nos fóruns (excluindo as da
equipe do curso), tivemos um total de 778 mensagens, correspondendo a uma média de 8,9
mensagens (considerando apenas os 87 participantes que atuaram no curso); no entanto,
desses 87, 51 postaram menos de 3 mensagens, e do total das mensagens postadas, 607 (78%)
foram postadas por apenas 18 participantes; o que significa dizer que, quantitativamente,
pouco mais de 20% dos participantes teve uma atuação mais ativa no que diz respeito à
interação via fóruns, repetindo, de certa forma, o que ocorreu na turma anterior, na qual um
pequeno grupo de participantes atuou de forma mais ativa. Com relação à participação nas
oficinas presenciais, na primeira tivemos 57 participantes e na segunda 26 participantes.
Nessa turma de 2008, o interesse pelas discussões teóricas foi bastante ampliado, e os temas
relativos às funcionalidades do Moodle eram, em sua maioria, mesclados com reflexões sobre
a prática pedagógica no ambiente.
Também nessa turma do Curso Moodle a última semana foi dedicada a uma avaliação
do curso, quando foi solicitado o preenchimento dos mesmos elementos da turma anterior:
uma autoavaliação reflexiva sobre a participação e atuação no curso e o preenchimento de
uma pesquisa de avaliação, além de serem disponibilizados um fórum e um chat de avaliação
do curso. Apenas 19 participantes preencheram a autoavaliação e 22 preencheram a pesquisa,
cuja síntese das respostas pode ser vista na Figura 14.
214
Figura 14: Sumário da Pesquisa de avaliação do Curso Moodle 2008.
Ao final, a partir da observação dos critérios de participação no ambiente, nos fóruns e
no espaço de experimentação (os mesmos considerados na turma anterior), tivemos 30
participantes certificados, o que corresponde a 29% dos selecionados e a 34,5% dos que
efetivamente participaram do curso. A síntese da participação no Curso Moodle 2008 pode ser
vista no Gráfico 7; a distribuição dos aprovados por unidade pode ser vista no Gráfico 6,
apresentado anteriormente.
Gráfico 7: Síntese dos participantes no Curso Moodle 2008.
215
5.2.3 Reflexões sobre o processo
A organização não linear, principalmente no que diz respeito à possibilidade de
navegação por todo o conteúdo previamente disponibilizado desde o início do curso,
provocou bastante estranhamento aos participantes. Nos momentos iniciais, muitos deles se
mostravam perdidos, em busca de uma “orientação” que lhes dissesse por onde começar e por
qual caminho seguir, o que desencadeou uma importante discussão nos fóruns sobre o porquê
dessa opção. Foi interessante observar o percurso de formação de alguns docentes que,
inicialmente, não conseguiam compreender o objetivo da proposta não linear e, com o
decorrer do curso, se mostraram entusiasmados e fascinados pelas possibilidades que se
apresentavam, mais distantes dos modelos de uma educação reprodutivista, e mais próximas
de uma abordagem dialógica e colaborativa.
Desde que comecei o curso vem crescendo um desconforto imenso! Vai dar
para um professor comum, sem passagem por facoms e faceds, oriundo de
uma educação tradicional, dar conta de tudo isso? Moodle/EAD, cotas,
novos cursos, indiferença de professores e alunos, falta de tempo? Eu
mesma respondo. Vai ter que dar! Onde eu me meti? Era pro Moodle cair
em nossas vidas agora? Vai ficar mais fácil colocar as cópias dos “slides”
no Moodle ao invés de entregarmos uma xerox? Vamos nos contentar em
colocar links bacaninhas e fazer chats de vez em quando? Nós, pobres
mortais, que na curiosidade pela novidade e pelo privilégio ao acesso, nos
inscrevemos neste curso, sem dever de casa (tô sentindo uma falta...), sem
testes e prova final, um curso (me perdoem) sem nem cabeça, s temos
um ônus a pagar. E vai nos sair caro! Temos que nos agarrar a essa
pontinha de iceberg e mergulharmos, com fôlego curto inicialmente, nesse
universo que ainda não sabemos quão profundo será. Começamos uma
coisa que vai ficar muito feio parar no começo, daqui a um mês. Eu quero
mais. Agora, não somos mais anônimos na UFBA, deixamos de ser carinhas
amarelas. Teremos que estudar, muito, ler muito, aprender novos termos,
interagir e utilizar os múltiplos recursos! E eu nem entendo o significado
dos títulos de diversos artigos... Vamos precisar de ajuda [...] No momento
estou achando muito difícil e estou entusiasmada. Este é um espaço que não
pra fazer de conta e terminar a aula mais cedo... (Participante3-CM08,
no fórum).
Alguns participantes questionaram que a organização não linear pode confundir o aluno,
deixando-o com a sensação de que não conseguirá acompanhar os estudos, ficando aquém em
relação à participação de outros que se adiantam nas atividades e discussões do curso. Para
quem aprendeu formalmente na lógica “da parte para o todo”, dos “pré-requisitos”, do
conteúdo apresentado sequencialmente, o estranhamento não é novidade. A não linearidade,
no entanto, possibilita que o participante construa seu próprio caminho de aprendizagem
exigindo dele uma postura mais autônoma e, ao mesmo tempo, provendo uma possibilidade
216
mais adequada a cada um que se autorize a construir seu próprio caminho; o desafio da equipe
foi mostrar essa possibilidade aos participantes.
Outra observação sobre a organização não linear é que, no contexto de muitos
participantes para um professor apenas, isso pode provocar sobrecarga de trabalho para o
docente que tem que se desdobrar para mediar muitas discussões. No Curso Moodle, com a
presença de 4 professoras tutoras, além da pesquisadora, atuando de forma colaborativa, foi
possível a mediação das situações de aprendizagem habitadas pelos participantes ao longo do
curso numa proposta de não linearidade. Além disso, os participantes foram incentivados a se
colocarem no papel da mediação, instituindo assim a mediação compartilhada entre a equipe e
os participantes. A não linearidade não abre mão de uma mediação atenta; aqui temos, além
da disposição dos conteúdos e das situações de aprendizagem abertos, uma equipe de
docentes mediadores; “não estamos sozinhos com os objetos técnicos. Estamos em rede! Rede
de pessoas conectadas por objetivos comuns e tecnologias interativas” (SANTOS; RICCIO,
2010). A opção pela não linearidade, no entanto, deve ser cuidadosamente analisada de
acordo com a estrutura proposta para o seu curso e as necessidades de aprendizagem dos seus
alunos.
Observou-se, também nessa turma do curso, o interesse da maioria dos professores no
manejo das tecnologias, em detrimento das discussões teóricas travadas nas diferentes
interfaces. A aprendizagem instrumental do ambiente Moodle durante o curso parece ser
facilmente alcançada, até mesmo por participantes que não foram certificados de acordo com
os critérios definidos pela equipe. Isso pode ser percebido durante os encontros presenciais e
mesmo com o contato posterior com docentes que participaram do curso em uma das duas
turmas aqui analisadas. Essa aprendizagem instrumental é possibilitada tanto pelas oficinas
oferecidas durante o curso como pelos materiais e dicas postadas pelas professoras-tutoras
durante o desenvolvimento do curso. Esse aspecto parece satisfazer um grande percentual,
silencioso, de participantes que procuram o Curso Moodle exclusivamente com esse objetivo,
parecendo desconhecer a (ou discordar da) importância da discussão teórica ali travada. no
que diz respeito aos objetivos propostos pelo curso, mais uma vez foi percebido que apenas
um pequeno grupo de participantes parece ter compreendido a proposta de reflexão teórica e a
sua importância para a docência em ambientes virtuais. Alguns deles, refletindo sobre o
processo que vivenciavam, verbalizaram em postagens nos fóruns o sentimento de descoberta
e pertinência com relação às discussões teóricas, revelando a própria ausência de formação
nesse sentido.
217
A formação para este referencial ampliado é uma questão de absoluta
importância – daí coloco não só o domínio das mídias como um todo, mas a
necessidade de se abrir para a discussão. Este tem sido um grande
problema, nos atuais projetos de reformas curriculares na área da saúde.
Abrir mão do espaço de “poder”, do contdo, tem sido uma barreira
importante, e daí compreendemos que a compreensão da educação
dialógica passa longe da nossa formação... (Participante10-CM08, no
fórum).
Em todos os textos e discussões do fórum fala-se na necessidade de
superação da pedagogia da transmissão na concepção de cursos EAD.
Contudo, mesmo na educação presencial, ainda prevalece o uso da
metodologia tradicional de “educação bancária” (pelo menos na minha
unidade). Assim, estabelecer estratégias colaborativas e de interatividade no
ambiente virtual pode ser extremamente difícil para quem não consegue se
desfazer da pedagogia da transmissão sequer na modalidade presencial. A
universidade não deveria estar mais preocupada na capacitação de docentes
para a nova realidade do ensino? (Participante34-CM08, no fórum).
Em contrapartida, percebeu-se a importância da persistência na opção que foi feita de
avançar para uma formação além do instrumental quando surgem depoimentos, ainda que
poucos, que revelam a percepção de novos conceitos e a ressignificação da própria docência.
Parece-me que é isto que estamos fazendo aqui de mais importante:
colaborar na construção de conhecimento; parece-me um exercício, em
pequena escala, do que Lévy chamou de inteligência coletiva [...]
(Participante2-CM08, no fórum).
Também nessa turma do curso pode-se perceber o surgimento de uma atitude mais
colaborativa entre alguns participantes, que passaram a orientar seus colegas em relação às
funcionalidades do ambiente; inclusive com uma maior intensidade que na turma anterior.
Esse aspecto, que caracteriza uma construção coletiva de conhecimento, revela que, para
alguns participantes, foi possível um movimento de imersão no contexto da cibercultura
trazendo como principal reflexão compartilhada com os participantes do curso a ideia de
que um ambiente virtual de aprendizagem não se resume a um suporte tecnológico, no qual as
informações são armazenadas. O curso favoreceu uma compreensão mais aprofundada sobre
esses ambientes e que os mesmos propiciam a comunicação interativa, podendo também
integrar várias mídias, linguagens e recursos, além de possibilitar uma maior interação entre
as pessoas e os conhecimentos e uma maior abertura ao novo e à criação.
No Curso Moodle 2008, cada módulo do curso contou com fóruns específicos e fóruns
abertos. Os fóruns específicos apresentavam provocações orientadas nos objetivos dos
módulos de estudos, mas também era possível a intervenção de qualquer dos participantes no
218
sentido de ampliar ou focar a discussão em algum aspecto mais relevante para ele. Os fóruns
abertos foram organizados pela demanda da turma e da equipe docente, considerando o
potencial da diversidade de cada grupo. Num dos fóruns teóricos surgiu uma importante
discussão sobre o “professor conteudista” categoria presente na proposta da UAB e que
caracteriza o profissional especialista no conteúdo do curso que elabora o material didático e
as propostas de atividades, avaliação etc. A discussão caminha no sentido de compreender a
equipe de EAD com uma necessidade interdisciplinar e que deve trabalhar de forma
colaborativa, inclusive com a participação dos “tutores” na produção do material e na
avaliação do acompanhamento do curso. Nesse sentido, o grupo de professores mais ativos do
curso começou a pensar em uma atuação conjunta de seus espaços na UFBA para pensar
sobre a EAD na instituição, inclusive levantando questionamentos a cerca da sobrecarga de
trabalho que a utilização de AVA pode significar para o docente e como isso poderia ser
gerenciado pela instituição. Sua atuação conjunta seria no sentido de promover maior reflexão
dentro da UFBA sobre a atuação docente na EAD, incluindo aí: dedicação do docente,
formação do docente, modelos de EAD além da UAB, dentre outros. Esse grupo parece
pertencer ao conjunto de pessoas que se contagiaram pelo tema e que podem ser potenciais
colaboradores para repensar e fomentar a EAD na UFBA.
A intenção da equipe responsável pelo curso era fazer desse um exemplo de educação
dialógica, entendendo que defender uma educação dialógica apenas na teoria não contribui
para a compreensão de sua importância. Nesse sentido, entendemos que o objetivo foi
alcançado, pois podemos constatar em diversas mensagens dos participantes o
reconhecimento da atuação da equipe na mediação dos espaços de comunicação, como nos
exemplos a seguir:
O Apoio dos Tutores foi algo fora do comum! Excepcional! (Participante14-
CM08, na pesquisa de avaliação do curso).
A estrutura do (nosso) Curso do Moodle nos levou a construção da
aprendizagem de forma colaborativa e interativa. Os fóruns possibilitaram a
exposição de nossas opiniões e dúvidas, permitindo que o grupo se
beneficiasse das experiências individuais. Agradeço aos professores pela
dedicação e apoio. E em particular, a Docente1-CM08 que levantou várias
questões (provocações) e expôs os principais aspectos teóricos sobre EAD.
Agradeço também aos colegas que com suas dúvidas e dicas contribuíram
para o meu aprendizado. (Participante5-CM08, no fórum).
Neste momento em que nosso curso chega a um fim, quero expressar meu
louvor, carinho, admiração. Primeiro por esta maravilhosa equipe, como
219
disse alguém, de jovens professoras tutoras, dinâmicas e competentes,
entusiasmadas. [...] Quero também comentar sobre os colegas, sou na
maioria das vezes uma navegadora silenciosa, não tenho tido tempo de
aprofundar as questões e por isso me calo. Mas neste momento quero dizer
o quanto admirei a profundidade, a seriedade, a disposição, o entusiasmo
dos meus companheiros estudantes. Vontade não me faltou de aprofundar e
estar a altura dos debates, me acompanhou uma certa frustração pela falta
de tempo, que contrariava o meu desejo de participar de um momento tão
rico, mas também aprendi que neste curso cada um caminha a seu passo e o
que importa é o compromisso de avançar. Nunca desviei os e-mails da
minha caixa de mensagens, porque era uma maneira de pelo menos
acompanhar o que estava acontecendo, que passava tempo sem que ao
menos pudesse entrar no espaço de teste. Vou sentir falta deste agradável
convívio e quero agradecer. Aprendi muito com todos. E fico muito feliz em
saber que minha querida UFBA está a frente em algo que é o futuro (EAD,
E On-line) e com uma visão sobre educação sobre a qual preciso estudar
mais, mas da qual compartilho, de uma educação participativa, construída
com o estudante. (Participante8-CM08, no fórum).
Esse tipo de manifestação nos leva a pensar, também, o quanto uma educação baseada
na interação mútua é um estranhamento para os participantes, demonstrando que a sua
experiência o se nesse modelo de educação. A integração da equipe durante o decorrer
do curso a fim de discutir e buscar soluções para os dilemas que surgem durante o processo de
formação, mais especificamente os dilemas do docente on-line (PEREIRA, 2008), mostrou-se
de fundamental importância para a construção de uma proposta dialógica e não linear. O
conteúdo disponibilizado no curso contou com textos temáticos hipertextualizados
(disponibilizados na interface livro do Moodle), ou seja, os cursistas contaram com textos
criados pelos professores e consultores especialistas, bem como, conteúdos disponíveis em
fontes de estudo, pesquisa e da mídia em geral. Além do conteúdo base, os cursistas
acessaram fontes variadas de informações disponíveis na Internet. Foram disponibilizados
links variados para textos e artigos disponíveis em periódicos científicos, informações
jornalísticas, estudos de casos, trechos de filmes, vídeos, áudios, animações, quadrinhos,
charges, gravuras, gráficos, tabelas. Enfim, uma variedade de objetos de aprendizagem
potencializaram a construção de sentidos e significados plurais, aliados às discussões nos
fóruns e nos chats que geraram um conteúdo único e diferenciado.
Mais uma vez, percebemos a dificuldade da maioria dos participantes em vivenciar
processos de participação-intervenção (SILVA, 2002), ou em experimentar a interação mútua
(PRIMO, 2007) através do ambiente virtual, da mesma forma que o percebemos na turma
anterior. Apesar da organização não linear do curso, foi visível a busca de orientação e a
resistência a uma atuação mais autônoma no sentido de cada participante construir seu próprio
percurso assumindo a gestão de sua própria aprendizagem. A passividade da maioria nos
220
alerta, mais uma vez, a uma presença ainda hegemônica na docência superior da concepção
bancária de educação (FREIRE, 2006a), além de uma compreensão equivocada da EAD,
como se nela não fosse necessário o diálogo e a construção coletiva de conhecimento.
Entretanto, o pequeno grupo de participantes que alcançou a compreensão das potencialidades
da docência em AVA, e, além disso, as possibilidades abertas por uma educação dialógica,
mostrou-se entusiasmado com a experiência vivenciada de maneira que o curso proposto,
apesar das diversas falhas, se mostra como uma importante iniciativa de formação docente,
devendo ser ampliada e melhorada para turmas futuras.
5.3 A DISCIPLINA EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E GÊNERO
A disciplina EDC714 – Educação, sexualidade e gênero é uma disciplina oferecida pelo
programa de pós-graduação em educação da FACED. No semestre de 2008.1, a disciplina foi
oferecida na modalidade a distância, formalmente aprovada no departamento e no colegiado
do curso como tal. A disciplina teve como responsável duas docentes vinculadas ao PPGE,
ambas participando como sujeitos desta pesquisa; uma delas, Docente1-DESG, participou do
Curso Moodle 2007 e tinha experiência com coordenação de cursos a distância em uma
universidade particular; a outra, Docente2-DESG, não tinha nenhuma experiência com EAD
ou com ambientes virtuais, e participou do Curso Moodle 2008, após o término da disciplina.
Após os trâmites burocráticos pelas instâncias responsáveis, a disciplina teve início em março
de 2008, sendo finalizada em julho do mesmo ano. Como o tema da disciplina é bastante
específico, não havia expectativa de um grande número de participantes; no entanto, esse
número foi excessivamente reduzido em função de, nesse semestre, a PPGE não ter permitido
a matrícula de alunos especiais. Assim, a disciplina teve a participação de apenas duas alunas
regulares que pesquisavam o tema e eram orientandas de uma das duas docentes.
Com relação à aprovação da disciplina como “disciplina a distância”, foi por interesse
da Docente1-DESG, que propôs a disciplina na PPGE, e que queria a disciplina registrada
oficialmente como disciplina a distância. Durante os trâmites da aprovação, a Docente1-
DESG entrou em contato com a PRPPG que lhe informou que no colegiado do curso já estava
aprovada a oferta de disciplinas a distância, mas que seria necessária a aprovação dos
departamentos envolvidos, que tinham autonomia para tal. Segundo a Docente1-DESG,
alguns docentes dos departamentos envolvidos sugeriram que a disciplina fosse
221
semipresencial, pois tinham “medo” que não se desse a aprendizagem. Mas a Docente1-
DESG argumentou que:
[...] mas isso eu também tenho [medo da não aprendizagem], e é isso que eu
garanto com os encontros presenciais [...]. O que eu tenho aprendido não é
isso, os cursos à distância podem ter encontros presenciais e nem por isso
deixam de ser à distância. (Docente1-DESG na entrevista).
É interessante notar a visão da Docente1-DESG, que afirma que vai “garantir a
aprendizagem” com encontros presenciais, dando a entender que a aprendizagem não pode se
dar apenas através da atuação no ambiente virtual; inclusive, reforça, durante a entrevista, que
ela é a favor do presencial pois é nele que os participantes se aproximam, com “cheiro, afeto,
carinho, beijinho, abraço” (entrevista Docente1-DESG), apesar de acreditar que a interação no
AVA é muito ampliada. No entanto, a Docente1-DESG insiste na aprovação formal da
disciplina na modalidade a distância, apesar de ter conhecimento que muitos espaços já
haviam sido criados no Moodle UFBA com esse objetivo e sem uma formalização. Além
disso, a Docente1-DESG menciona a resistência da FACED com a inovação, argumentando
que, na FACED, “sempre que tem inovação tem gente que é contra, tem preconceito porque é
inovação” (entrevista Docente1-DESG); a pouca atuação da FACED nas atividades de EAD
da UFBA parece reforçar essa percepção.
5.3.1 Os sujeitos da pesquisa neste estudo de caso
Neste estudo de caso, atuamos com a análise do desenvolvimento da disciplina, mas
com o foco na proposta apresentada no ambiente e na atuação das docentes. A atuação das
alunas participantes da disciplina não foi considerada como aspecto de análise. As duas
docentes responsáveis pela disciplina foram entrevistadas: a Docente1-DESG, antes do início
da disciplina, após a finalização do Curso Moodle 2007, numa entrevista presencial; a
Docente2-DESG, após a finalização da disciplina e do Curso Moodle 2008, numa entrevista
on-line.
A Docente1-DESG tinha a formação em pedagogia, com mestrado e doutorado em
educação, docente aposentada da UFBA e atuava como voluntária na PPGE através do
222
PROPAD
100
; seu interesse pela EAD surgiu após sua aposentadoria na UFBA, quando passou
a atuar num programa de formação a distância de uma universidade particular. Inicialmente,
atuou com a elaboração de material didático, depois passou a coordenar o curso de Pedagogia,
além de assumir o papel de tutora em algumas disciplinas com o objetivo pessoal de estar
mais próxima dos alunos. Segundo sua fala na entrevista, tem uma proximidade pequena com
as tecnologias digitais, e utiliza a Internet com grandes ressalvas. Parece um paradoxo uma
pessoa com esse perfil se encantar com a EAD, mas assim se deu com a Docente1-DESG;
após o encantamento, ela decide trazer para a UFBA esse formato de docência.
A Docente2-DESG era bióloga e doutora em Educação; atuava como docente no
Instituto de Biologia da UFBA, onde atuou na graduação de diversos cursos; na pós-
graduação, atuava em três programas: o PPGE, da FACED, o Mestrado em Ensino, Filosofia
e História das Ciências UFBA/UEFS e no PPG NEIM, trabalhando com disciplinas que
articulam educação, ciência e gênero. Em entrevista, disse não ter dificuldades com
tecnologia, aprende fazendo e se adapta facilmente. Essa foi sua primeira experiência com
EAD; após isso, participou do Curso Moodle 2008 e no semestre seguinte começou a atuar
num curso a distância pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT).
A relação entre as duas docentes parecia bastante amigável e com uma cumplicidade de
quem atua junto muito tempo. A ideia da disciplina a distância, porém, foi apenas de
uma delas, a Docente1-DESG, que convenceu a parceira a atuar junto. A proposta da
disciplina foi elaborada em conjunto; mas a estrutura da disciplina, os recursos inseridos no
ambiente, foram de responsabilidade da docente com mais experiência em EAD.
5.3.2 A proposta da disciplina no Moodle e a atuação docente
A proposta da disciplina no ambiente Moodle trazia uma preocupação com o design
gráfico, buscando apresentar uma interface com aparência que motivasse os alunos, sendo
utilizados recursos de formatação de letras para rótulos, e imagens significativas para o tema
da disciplina e que eram trocadas no decorrer do semestre (Figuras 15 e 16). Os boxes laterais
também foram configurados a partir do desejo das docentes, não mantendo o padrão que é
trazido pelo Moodle quando o espaço é criado, inclusive com a modificação do tema.
100
O PROPAD é o Programa Especial de Participação de Professores Aposentados nas atividades de pesquisa e
ensino de Pós-Graduação, instituído pela UFBA em 1996, que garante a permanência de docentes que queiram
continuar a exercer estas atividades, após a aposentadoria, sem ônus para a Instituição.
223
Figura 15: Espaço da DESG no início do semestre.
Figura 16: Espaço da DESG no final do semestre.
224
A Docente1-DESG argumentou em entrevista que na universidade particular onde atuava
em EAD havia um suporte técnico que era responsável por inserir todo o material no ambiente,
que isso é muito bom para facilitar o trabalho do professor e que a equipe técnica dava
orientações sobre o que podia e o que o podia, o que era “pesado” para o ambiente etc. Por
outro lado, critica a ausência de autonomia do professor que, embora pudesse mexer no
ambiente, dependia da atuação da equipe técnica para alterar alguma coisa que fugisse aos
padrões previamente especificados; além disso, nem sempre as alterações solicitadas pelos
docentes são acatadas pela equipe técnica que atua no sentido de manter, o somente, um
padrão entre as disciplinas como também atender a um modelo de interação pré-definido,
limitando a criatividade, a possibilidade de autoria, e a atuação do docente de acordo com seu
perfil pessoal. A Docente1-DESG cita como exemplo uma aula de educação e sexualidade na
qual queria colocar uma cor vermelha e o padrão era cinza e o pode ser alterado: “[...] o
es com cara de sexualidade... esse cinzinha está muito triste...” (entrevista Docente1-DESG).
Com a inexistência de um suporte estruturado para a EAD e para a utilização de AVA na
UFBA, a Docente1-DESG percebe que terá mais dificuldades, mas, por outro lado, terá
liberdade para a construção do ambiente no formato que considerar mais adequado como se
pode notar no espaço da disciplina em questão. Com relação à sua própria formação, a
Docente1-DESG relata que foi “formada” no AVA da instituição particular em vinte minutos de
“bate-papo”; depois disso, ela leu o manual, mas, na verdade, o conhecimento instrumental do
AVA que tinha era mínimo, e o considerava desnecessário já que se apoiava no suporte técnico
da instituição. Isso reforça seu interesse, no decorrer do Curso Moodle 2007, mais focado nas
discussões teóricas. Após a experiência de construção da disciplina no Moodle, praticamente
sem ajuda técnica, a Docente1-DESG reconhece que avançou no conhecimento instrumental
do ambiente, mas ainda sabe muito pouco para atuar de forma autônoma.
A disciplina foi organizada em 17 tópicos, cada um correspondendo a uma das semanas
do semestre letivo (Figura 17). Em cada um dos tópicos era explicitada a data correspondente
àquele tópico (aparentemente seguindo o modelo do Curso Moodle 2007), e eram
disponibilizados materiais de estudos e/ou a atividade prevista para aquela semana. Alguns
materiais eram disponibilizados no ambiente em formato digital; outros eram apenas indicados.
225
Figura 17: Disposição principal dos tópicos no espaço da DESG no Moodle.
No tópico zero foi disponibilizado o cronograma proposto (com data das “aulas”, tema,
leitura básica, e as atividades ou avaliações), descrevendo cada semana do curso. A avaliação
da disciplina foi assim composta: 5 fóruns (2 pontos cada) valendo 10 pontos; 4 exercícios
(2,5 pontos cada) valendo 10 pontos; 3 encontros presenciais (2 pontos cada), valendo 6
pontos; Autoavaliação valendo 4 pontos; Resenha valendo 10 pontos; Ensaio valendo 10
pontos. Verificando a proporção de cada uma das atividades avaliativas, a atuação nos runs
(único espaço de interação da disciplina no ambiente) correspondia a 20% do total da nota.
Ainda no tópico zero do ambiente havia um fórum “Agendas semanais” no qual a Docente1-
DESG abria, semanalmente, tópicos lembrando as atividades de cada semana; este fórum teve
uma atuação praticamente nula dos demais participantes. No tópico um, correspondente ao
primeiro encontro presencial, foi disponibilizado o programa da disciplina (com Ementa,
Objetivos, Metodologia e Avaliação).
A disciplina teve início em março de 2008; no s de abril, após uma conversa on-line
entre esta autora e a Docente1-DESG apontando para a ausência de espaços onde as alunas
pudessem se manifestar mais livremente, foi criado um Fórum livre cujo objetivo era a
integração das participantes para além dos conteúdos da disciplina. O espaço foi inicialmente
226
utilizado para uma comunicação mais livre; no entanto, foi também mal interpretado por uma
das alunas que o utilizou para o envio das tarefas, desconsiderando o espaço próprio para tal
envio. As docentes não se manifestaram com relação a isso, aceitando as tarefas enviadas sem
nenhum questionamento ou orientação.
Nos fóruns temáticos, as duas docentes atuavam na interação com as alunas,
respondendo aos seus questionamentos e avaliando suas colocações. No entanto,
possivelmente pela pouca quantidade de participantes, os fóruns não pareciam um espaço vivo
de construção coletiva de conhecimento, mas sim um espaço onde as respostas às
provocações iniciais das docentes eram postadas e onde, em seguida, as docentes davam um
feedback, caracterizando a interação reativa (PRIMO, 2007). Além disso, a proposta de fóruns
semanais focados em leituras selecionadas para aquela semana específica, não favorecia uma
discussão rica; como os fóruns são espaços de comunicação assíncrona, onde os participantes
têm liberdade para determinar o momento de sua atuação, dificilmente uma semana é
suficiente para leituras densas e discussões coletivas. Esse aspecto ficou também parcialmente
caracterizado na entrevista com a Docente2-DESG quando afirmou que, se a disciplina se
repetisse, ela reduziria a quantidade de leituras sugeridas. A atuação da Docente1-DESG nos
fóruns também contemplou chamadas para participação numa tentativa de motivação das
alunas; a Docente2-DESG atuou de forma bastante formal nos fóruns, apenas contribuindo
com informações relativas ao conteúdo em discussão, reforçando sua colocação em entrevista
quando disse não conseguir atuar no on-line da mesma forma alegre e com energia que atuava
no presencial com seus diversos alunos. Aqui podemos observar a importância do perfil
docente na atuação on-line: nem todos serão bons docentes on-line, nem todos conseguem
atuar num chat com uma proposta de interação livre; o perfil individual do docente, assim
como influencia de forma contundente sua atuação em aulas presenciais, influenciará também
em sua atuação on-line.
Com relação às outras atividades, que eram compostas de exercícios para serem
elaborados individualmente, o foram disponibilizados no ambiente espaços próprios para a
interação entre os participantes da disciplina (alunos e docentes) sobre essas atividades;
caracterizando, assim, uma atuação individual e isolada das alunas para o “cumprimento” das
tarefas. Para as atividades finais da disciplina (a resenha e o ensaio) também não foram
disponibilizados espaços que favorecessem uma discussão coletiva para apoio à sua
elaboração. Reforçando essa interpretação, o recurso utilizado para os exercícios e atividades
finais foi a tarefa do Moodle: um recurso que não permite a troca entre os participantes.
227
Dessa forma, entendemos que, embora a proposta da disciplina contemple a atuação em
fóruns, com um percentual razoável (20%) para a avaliação, a maneira como a disciplina foi
construída no Moodle traduz um modelo de EAD focado na autoaprendizagem, favorecendo o
fazer sozinho e não a construção coletiva do conhecimento, ou uma concepção de educação
pautada na autonomia. É interessante, no entanto, observar que as docentes defendem uma
educação dialógica, mas não conseguem implementar essa concepção no on-line. A
Docente2-DESG, inclusive, mostra-se angustiada quando percebe a diferença de sua própria
atuação do presencial para o on-line:
Interajo com muita energia e alegria com os estudantes [no presencial]; isso
os motiva. Acho, sinceramente, que no on-line a espontaneidade dança; a
gente sempre pensa mais antes de escrever, e falando, a coisa sai mais de
verdade. Por exemplo, em minhas aulas sempre falo de outros assuntos,
coloco percepções bem pessoais sobre diversas coisas, falo de minha vida
pessoal etc. On-line, não sou motivada para fazer isto. No Curso Moodle,
praticamente não interagi com o pessoal que está fazendo agora; na minha
disciplina no semestre passado, falava apenas dos assuntos pertinentes ao
curso; e agora no IAT faço intervenções bastante técnicas ou teóricas, de
correção mesmo. Eu leio as mensagens, mas não tenho vontade de entrar na
discussão. Uma coisa que me incomoda é a quantidade de informação e de
vozes ao mesmo tempo. [No presencial,] sou praticamente um motor de falar
rs. (Docente2-DESG na entrevista).
Essa docente, apesar de utilizar as TIC para as suas atividades (pesquisas na web, orientação
via e-mail, vídeos e imagens), não tem um perfil de quem está inserido na cibercultura (por
exemplo, não tem MSN, não participa de comunidades virtuais); ela deixa explícito que gosta
mais do presencial. Paradoxalmente, aceita o convite da Docente1-DESG para atuar na
disciplina a distância, inicia uma atuação em outro curso a distância pelo IAT e nossa
entrevista foi on-line e, diga-se de passagem, com bastante desenvoltura (utilizando o MSN
do marido que não possuía o seu próprio). Essa situação retrata a questão do tempo para a
formação docente, trazida por Tardiff e Raymond (2000), pois, apesar de a docente não
parecer acreditar que tem o perfil ideal para atuar no on-line, ela se mostra motivada a isso e
se deixa envolver por essa nova modalidade; no entanto, parece precisar vivenciar a
experiência on-line por mais tempo para que se sinta confortável e verdadeira nas interações
no virtual.
A Docente1-DESG mostrou-se mais à vontade com a modalidade a distância e o on-
line, apesar de afirmar que sua experiência com informática limita-se ao uso do Word e
acesso à Internet com muitos “senões” e ressalvas; a concepção de educação que defende é
numa perspectiva dialógica e acredita que quando acontece a interação no on-line de forma
228
mais intensa isso se reflete na aprendizagem dos alunos que assumem uma postura mais
autoral ao elaborar suas atividades. No entanto, a docente tem experiência com um modelo
em que, eventualmente, um tutor atua numa proporção de 1 para 20, 30, 50 ou até 80 alunos
(sic!), sem que isso prejudique a aprendizagem; segunda ela, somente se passar de 100 alunos
é que complica a interação, e se o modelo do curso for muito participativo, o tutor “corre”. É
interessante como a Docente1-DESG assume de forma leve e tranquila as novas
responsabilidades relativas à EAD. Com relação a esse envolvimento com EAD, ela afirma
que:
A gente pensa que é diferente, mas não é... Você chama uma pessoa que tem
uma certa referência e convida para fazer um trabalho novo que muita gente
nem sabe o que é, nem como é, principalmente essa pessoa, e no que dá.
(Docente1-DESG na entrevista).
Com essa fala a Docente1-DESG aborda uma realidade na forma como as pessoas
assumem novas atividades, em especial aquelas relacionadas com a EAD, acreditando que
não são necessários conhecimentos específicos para tal. Entendemos que essa postura pode
contribuir com a própria formação dos docentes que participam de tais atividades, numa
perspectiva de experiência como formação; no entanto, a reflexão durante tais processos e a
abertura para a ressignificação de antigas concepções são aspectos fundamentais para tal
formação, já que entendemos que a atuação na EAD e em atividades educacionais no contexto
da cibercultura apresentam especificidades que precisam ser compreendidas e apropriadas
pelos envolvidos.
Com essas observações percebemos como o perfil de cada uma das docentes influenciou
no andamento da disciplina Educação, Sexualidade e Gênero; uma disciplina que foi um
marco na FACED, ainda que isolado, no que se refere à formalização da oferta de disciplinas
a distância na pós-graduação em Educação, aprovada oficialmente no colegiado do curso e no
departamento responsável. É interessante observar que a Docente1-DESG, mais
tranquilamente envolvida com a EAD, se inscreveu no Curso Moodle 2007 com o objetivo
específico de sentir-se respaldada por um curso “oficialmente” oferecido pela UFBA para
coordenar uma disciplina a distância. Ela percebe a importância desta formalização na UFBA,
e, em especial na FACED, e, ao mesmo tempo, acredita na EAD como uma opção de
educação de qualidade, séria, e confia na sua própria competência para essa atuação; apesar
de ainda apresentar, na sua atuação no on-line, características de uma postura criticada pelos
autores que defendem a interação e a construção colaborativa no on-line. A Docente2-DESG,
229
por outro lado, busca encontrar na sua atuação no on-line uma coerência com sua atuação no
presencial; mas percebe que (ainda) não tem essa condição mas, continua no caminho,
inscreve-se no Curso Moodle 2008 (mas não logra a aprovação) e tenta inserir-se nessa nova
cultura contemporânea, ainda que a pequenos passos. Duas posturas distintas, ambas
comprometidas com uma educação de qualidade e pautada na dialogicidade e que,
certamente, contribuem com a construção da história da EAD na UFBA, numa experiência
que nos ajuda a compreender esse processo desintegrado e multivocal que se dá na instituição.
5.4 A LICENCIATURA EM MATEMÁTICA A DISTÂNCIA
O curso de Licenciatura em Matemática a Distância (LMD) é a primeira graduação a
distância oferecida pela UFBA e, por esse motivo, entrou como um dos estudos de caso desta
pesquisa. Como dito no Capítulo 4, o processo de planejamento do curso e de sua
aprovação nas instâncias internas e externas da UFBA foi bastante conturbado e teve como
principal motivação o fato de que a instituição, por ser uma instituição federal de ensino
superior, estava sendo pressionada pelo MEC para fazer parte do Sistema UAB através do seu
credenciamento para a oferta de cursos a distância e da aprovação de, pelo menos, um curso
de graduação a distância. Diante disso, iniciou-se, dentre outras ações já relatadas no Capítulo
4, o planejamento da LMD tendo como responsáveis uma equipe de docentes do
Departamento de Matemática do Instituto de Matemática (IM). Para efeito desta pesquisa, os
principais aspectos considerados dizem respeito ao planejamento do curso pela equipe
responsável e à transposição deste planejamento para o ambiente virtual Moodle, constituindo
o concreto do curso no AVA. Além disso, como não poderia deixar de ser, alguns aspectos
burocráticos e políticos da relação entre a coordenação do curso, a administração central e as
demais instâncias de aprovação do projeto também são trazidos como elementos que
interferem no próprio planejamento da LMD. O desenvolvimento do primeiro semestre da
LMD, que tem início em 20 de abril de 2009, não faz parte desta pesquisa, sendo considerado,
no entanto, como um importante lócus de pesquisa e que sugerimos como trabalho futuro.
5.4.1 Os sujeitos e os espaços da pesquisa para este estudo de caso
Neste estudo de caso, atuamos com a análise do planejamento do primeiro semestre da
LMD; para isso, utilizamos algumas estratégias metodológicas envolvendo a participação dos
230
docentes responsáveis pela construção das disciplinas do primeiro semestre (seis docentes) e a
participação do coordenador do curso. Optamos por utilizar entrevistas semiestruturadas,
observação participante em reuniões da equipe e em reuniões com subgrupos da equipe,
observação de aulas presenciais de cada um dos docentes envolvidos e a estruturação do curso
no ambiente Moodle – resultado concreto do planejamento. Além disso, participamos de
diversas reuniões com representantes da administração central, da coordenação da UAB e
com a coordenação do curso para discutir aspectos operacionais da LMD.
A relação dos sujeitos da pesquisa neste estudo de caso, juntamente com seus perfis e
outras informações que consideramos relevantes, estão disponíveis no Apêndice E. O roteiro
utilizado para a entrevista semiestruturada foi o mesmo dos outros estudos de caso, disponível
no Apêndice A. A entrevista com o coordenador do curso, entretanto, apesar de usar o mesmo
roteiro, foi ampliada para abordar as questões mais burocráticas da implantação do curso,
incluindo aí sua aprovação nas diversas instâncias da UFBA.
5.4.2 A organização acadêmica do curso: aprovação nas diversas instâncias, montagem
da equipe, seleção de tutores e alunos
O planejamento da LMD tem início com a elaboração do seu projeto pela PROPLAD no
início de 2006. Tendo a UFBA a necessidade de submeter um projeto de curso de graduação a
distância para a UAB, e sendo o Departamento de Matemática o único que já havia se
manifestado nesse sentido, a administração central opta por adaptar o antigo projeto,
elaborado pelo LED do IM na época do Projeto UFBANET, para as necessidades da UAB. A
adaptação do projeto do curso foi assumida pela PROPLAD e foi feito o contato com o então
diretor do IM a fim de que ele desse o aval no projeto, assumindo a sua coordenação, para que
este pudesse ser submetido para a UAB. Em maio de 2006, o projeto da LMD foi submetido
ao Sistema UAB, em julho do mesmo ano saiu a aprovação com restrições, e as solicitações
de reformulação foram assumidas já pelo Docente1-LMD, coordenador da LMD. Nesse
momento, o Docente1-LMD havia colocado em reunião do departamento a questão da
LMD e havia feito o convite para a participação de outros docentes no planejamento do
curso, sendo que cerca de 10 docentes se manifestaram com interesse.
Em 31 de outubro de 2006 foi publicado no Diário Oficial da União o resultado do
processo seletivo referente ao edital 1 da UAB, e o Curso de Licenciatura em Matemática é
aprovado para ser oferecido em dez municípios polos, em diferentes regiões da Bahia: Bom
231
Jesus da Lapa, Camaçari, Ipupiara, Itamaraju, Itapicuru, Jacaraci, Lauro de Freitas, Mundo
Novo, Paratinga e Simões Filho.
Com a publicação da aprovação do curso, o Docente1-LMD retoma o contato com o
CEDERJ no sentido de firmar o convênio, acordado verbalmente à época do UFBANET, para
a utilização do material didático do curso de matemática a distância do CEDERJ pela LMD.
Com esse convênio encaminhado, o coordenador sente-se mais tranquilo com relação ao
planejamento do curso já que reconhece a complexidade que envolve a elaboração de material
didático para um curso a distância, em especial quando a equipe não tem experiência nessa
modalidade de educação e com a própria inexperiência da UFBA com a oferta de cursos de
graduação a distância. O material didático do curso de matemática a distância do CEDERJ,
por sua vez, se apresentava com uma qualidade aprovada pelo coordenador e sua equipe, que
o haviam avaliado anteriormente, além de ter o reconhecimento de pertencer a um curso
coordenado, à época, por um conceituado pesquisador da área de Matemática.
O passo seguinte foi a tramitação interna do projeto do curso na UFBA, que incluiu o
Departamento de Matemática, como responsável por cerca de 80% das disciplinas, além dos
Departamentos de Estatística, de Educação I e II, de Ciência da Computação e de Física.
Inicialmente, foi encaminhada a aprovação nos departamentos internos ao Instituto de
Matemática (Estatística e Computação). Em março de 2007 o projeto foi encaminhado para os
departamentos da FACED e do Instituto de Física.
Em abril de 2007, reuniões da coordenação da LMD com a coordenação da UAB e a
administração central (alguns momentos com a PROPLAD, outros com a PROGRAD, outros
com a vice-reitoria ou reitoria) são feitas a fim de definir as atribuições de cada um dos atores
no processo de aprovação e planejamento do curso. O planejamento didático, estava claro, era
de responsabilidade do IM, mas as demais atividades acadêmicas que se faziam necessárias
para o desenvolvimento do curso (a exemplo da sua aprovação nas diversas instâncias,
organização do processo seletivo, definição das atividades relacionadas ao sistema acadêmico
da UFBA, estabelecimento dos aspectos relacionados ao espaço virtual do curso, dentre
outras) eram muitas e não havia definição nem consenso com relação aos responsáveis pelas
elas. Como a submissão do projeto do curso para a UAB havia sido uma iniciativa da
administração central, o coordenador do curso entendia que havia uma responsabilidade desta
com relação ao curso e que processos como a aprovação do curso nos demais departamentos
envolvidos e na Câmara de Graduação deveriam ser cobrados e acompanhados diretamente
pelo reitorado e não pela coordenação da LMD. os representantes da administração central
232
não pareciam dispostos a assumir responsabilidades com o curso que fossem além das
mesmas estabelecidas para os cursos presenciais; além disso, como dito anteriormente, não se
percebia um consenso entre estes representantes com relação à importância do
desenvolvimento da LMD na UFBA, chegando-se ao ponto de ser verbalizado, em uma
dessas reuniões, que o melhor talvez fosse voltar atrás e desistir do curso. Assim, o processo
de aprovação foi encaminhado, mas havia um impasse com relação ao seu acompanhamento
e, acreditamos que, pela falta de uma pressão maior no sentido de uma agilidade nesse
processo, ele seguiu o ritmo lento da burocracia da universidade. O impasse começou a ser
dissolvido quando, em uma das reuniões com a administração central, o vice-reitor
verbalizou, num tom que não deixava dúvidas, que este era um projeto encaminhado pelo
próprio Reitor e que não havia possibilidade de voltar atrás, de forma que as ações necessárias
deveriam ser encaminhadas, não importando por quem, mas garantindo que o desfecho
desejado (a aprovação e o início da LMD) fosse alcançado.
Em maio de 2007, dois meses depois de recebido o processo, os dois departamentos da
FACED aprovaram o projeto; em outubro do mesmo ano, sete meses depois de recebido o
processo, o Departamento de Física devolve o processo com sua aprovação. Só então o
processo pode tramitar na Câmara de Graduação para a sua aprovação final, que somente se
daria seis meses depois, em abril de 2008.
O impasse com relação ao acompanhamento da aprovação do curso internamente na
UFBA e a demora para a sua finalização teve consequências na relação com a UAB, que
exigia essa aprovação para enviar os recursos necessários para diversas atividades (como
visita aos polos, impressão do material didático, material de consumo, formação de tutores,
dentre outras). Quando o curso é, finalmente, aprovado internamente, quase um ano e meio
depois da publicação de sua aprovação pela UAB no Diário Oficial da União, novos recursos
foram liberados pela UAB para dar continuidade às atividades, e ações como a organização do
processo seletivo, registro do curso no sistema acadêmico da UFBA, processo seletivo e de
formação de tutores, finalização da visitação aos polos, dentre outras, puderam ser iniciadas.
O contato com os polos para as questões relativas ao curso foi fortemente apoiado pela
coordenação da UAB, que também fazia a intermediação com a instância da UAB em Brasília
e assumiu a construção de planilhas e demais documentos solicitados, tendo a colaboração do
CPD. As visitas aos polos tiveram início em abril de 2007, quando foram visitados os polos
de Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho, utilizando recursos da UFBA; em junho, a
pedido da Prefeitura de Mundo Novo e com recursos desta, esse polo também foi visitado
233
pela equipe de avaliação. Essas visitas tinham o objetivo de avaliar a situação de cada polo no
que dizia respeito ao apoio presencial que eles dariam aos alunos do curso (sala de tutoria,
conexão com Internet, computadores para acesso dos alunos ao ambiente virtual, biblioteca,
dentre outros), e deveriam ser financiadas pela UAB; as visitas oficiais aos polos só
aconteceram em 2009, quando os recursos foram liberados. A coordenação da UAB na UFBA
também atuou fortemente, junto à coordenação da LMD nos encaminhamentos relativos ao
processo seletivo e de formação dos tutores, ao registro acadêmico do curso na UFBA, ao
processo seletivo dos alunos e suas matrículas, apoiada, sempre que solicitado, pelo CPD.
O modelo de EAD proposto pela UAB é organizado através da parceria entre a
instituição de ensino superior (IES), os chamados municípios polos e o MEC (agora, a
CAPES). A IES tem a responsabilidade do planejamento e oferta do curso na modalidade a
distância e através de ambiente virtual de aprendizagem; os municípios são responsáveis pela
estruturação dos polos de apoio presencial, garantindo os recursos necessários para apoiar o
aprendizado do aluno como: biblioteca, acesso à Internet, laboratórios, sala de tutoria
presencial etc.; o MEC é responsável pelo pagamento das bolsas a professores e tutores e por
parte do recurso financeiro necessário para a operacionalização do curso incluindo: impressão
de material didático, visitas aos polos, formação de tutores e professores, dentre outros. Uma
IES pode ofertar o mesmo curso para diversos polos e um município pode ser polo presencial
de diversas IES, formando uma rede. Um exemplo de rede UAB pode ser visto na Figura 18.
Figura 18: Exemplo do funcionamento da rede UAB e suas articulações.
Fonte: Universidade Aberta do Brasil
(http://uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=55&Itemid=74).
234
Como atores do Sistema UAB na IES temos: o coordenador e coordenador suplente da
UAB na IES, que desenvolvem atividades administrativas e gerenciam contatos entre o MEC
e os polos associados; o coordenador de cada curso ofertado pela IES que realiza as atividades
de administração do curso; os professores, que acompanham o desenvolvimento do curso,
realizam aulas a serem disponibilizadas no ambiente virtual; os tutores a distância, que
interagem com os alunos para apoio aos estudos através do ambiente virtual; o professor
conteudista, que realiza atividades de apoio ao professor na criação de conteúdos; o professor
pesquisador, que realiza pesquisas voltadas às práticas de educação a distância com o enfoque
na UAB (UAB, 2009). Os atores do Sistema UAB nos polos presenciais são: o coordenador
do polo, que coordena a oferta do curso superior em seu polo, a manutenção das instalações
para atender seus alunos e estabelece contato entre coordenadores UAB nas IES e MEC; o
tutor presencial, que estabelece contato com alunos para apoio aos estudos in loco; e os alunos
(UAB, 2009). Esse modelo possibilita e, de certa forma, sugere que as atividades docentes
relativas ao planejamento e acompanhamento do curso possam ser executadas por sujeitos
distintos; assim se procedeu na LMD, de forma que os docentes que organizaram o material
didático do primeiro semestre do curso não tinham, necessariamente, o compromisso de
assumir o acompanhamento das disciplinas. Essa situação favorece uma fragmentação nas
atividades do curso de forma que a maior importância parece ser depositada no material
didático e não no desenvolvimento do próprio processo formativo. Além disso, o papel da
tutoria no modelo UAB é desconectado da organização do curso, de maneira que a
responsabilidade dos tutores se restringe a seguir as orientações definidas pelos docentes, não
tomando parte nas decisões sobre a dinâmica do curso; paradoxalmente, o modelo UAB
também sugere que todo o relacionamento com os alunos é de responsabilidade dos tutores
(presenciais e a distância), de forma que a relação docente-aluno pode ser inexistente. Por
outro lado, existe no modelo UAB flexibilidade para que essas relações e esses papéis sejam
ressignificados; no entanto, para uma UFBA iniciante na EAD e na ausência de diretrizes
institucionais para a modalidade, é natural que o modelo se apresente como um padrão a ser
seguido.
A seleção e a formação dos tutores para a LMD se deram entre maio e setembro de
2008; como mencionado anteriormente, foi contratado o PROGED para assumir a formação
dos tutores, que utilizou o mesmo curso de formação de tutores da sua experiência,
acrescentando algumas atividades de matemática, atendendo à solicitação da coordenação do
curso. A equipe de docentes mostrava uma grande preocupação com relação à competência
235
dos tutores que acompanhariam o curso, no que dizia respeito aos conteúdos de matemática;
por isso, consideravam que a formação dos tutores deveria contemplar os conteúdos de
matemática abordados na LMD. No entanto, era impossível que todo o conteúdo de um curso
superior fosse trabalhado em 200 horas de formação. Nesse impasse, optou-se pela
participação de dois professores da equipe no acompanhamento da formação dos tutores e que
ficariam responsáveis pela seleção e organização dos conteúdos de matemática que deveriam
ser abordados.
No final de 2008, com o curso já aprovado na PROGRAD, a postura crítica e cética com
relação à EAD por parte dos representantes da administração central parecia estar amenizada
e uma postura conciliatória no sentido de contribuir para que as coisas acontessem passa a
existir de forma unânime nas reuniões, parecendo mostrar que a EAD, enfim, passa a ser
entendida, no mínimo, como inevitável na UFBA. O processo seletivo para ingresso na LMD
aconteceu via vestibular especial em 28 de setembro de 2008, em cada um dos 10 polos
presenciais. A organização do processo seletivo foi de responsabilidade do Serviço de Seleção
e Orientação da UFBA e para tal foi elaborado edital específico, estabelecendo o percentual
de 50% das vagas para professores da rede municipal de ensino. Foram aprovados 450 alunos
no processo seletivo, assim distribuídos em cada um dos polos: Bom Jesus da Lapa, 50;
Camaçari, 50; Ipupiara, 42; Itamaraju, 50; Itapicuru, 43; Jacaraci, 47; Lauro de Freitas, 51;
Mundo Novo, 45; Paratinga, 22; Simões Filho, 50.
5.4.3 O planejamento da Licenciatura em Matemática a Distância: a atuação dos
professores
Após a aprovação do curso de Licenciatura em Matemática a distância no processo
seletivo referente ao edital 1 da UAB, com publicação no Diário Oficial da União em 31 de
outubro de 2006, o coordenador do curso define a equipe de docentes que atuará no primeiro
semestre da LMD. A equipe do Instituto de Matemática envolvida com o curso inicia suas
atividades de planejamento em fevereiro de 2007, quando são implantadas as bolsas da UAB
para o coordenador do curso, e os seis docentes responsáveis pelo planejamento das
disciplinas do primeiro semestre do curso. O início do planejamento prioriza as reuniões com
todo o grupo com o objetivo de atualizar a equipe sobre as notícias referentes às questões
burocráticas, pelo coordenador, e a fim de definir o processo inicial de trabalho da equipe.
Fica decidido que o grupo de seis professores se dividiria em dois subgrupos, cada um
236
responsável pelo planejamento de duas disciplinas. O primeiro subgrupo, composto pelos
docentes Docente5-LMD, Docente6-LMD e Docente7-LMD, ficou responsável pelas
disciplinas Matemática Discreta e Introdução às Tecnologias de Informação; o segundo
subgrupo, composto pelas docentes Docente2-LMD, Docente3-LMD e Docente4-LMD, ficou
responsável pelas disciplinas Geometria e Pré-cálculo. Com o encaminhamento do convênio
com o CEDERJ, a atividade inicial da equipe era a análise do material didático do CEDERJ
para definir as adaptações necessárias para o curso da UFBA embora estivesse definido que
o material não poderia ser alterado no seu original (disponibilizado em formato PDF), os
professores poderiam acrescentar conteúdos elaborados por eles ou definir restrições a
conteúdos do material do CEDERJ. Definiu-se que estas adaptações seriam descritas em
documentos de orientações aos alunos que seriam também impressos juntamente com o
material do CEDERJ e estariam também disponíveis no ambiente virtual do curso. Os espaços
das quatro disciplinas e o espaço principal do curso no Moodle foram criados em julho de
2007. No segundo semestre de 2008, foi iniciado o planejamento da disciplina Seminário
Temático Interdisciplinar I, que também seria oferecida no primeiro semestre do curso, e que
ficou sob a responsabilidade da Docente2-LMD.
Durante essa etapa de planejamento do primeiro semestre da LMD, o CPD atuou de
forma bastante próxima à equipe do curso apoiando nas suas necessidades relativas à
implantação do curso no ambiente Moodle. Dentre as atividades de que o CPD participou,
podemos destacar a criação dos espaços do curso no Moodle, a definição do design gráfico
das ginas do curso e das disciplinas, a definição do formato de cadastro de professores e
alunos e o suporte aos professores, através da equipe de bolsistas, no que diz respeito à
utilização dos recursos do Moodle, além da organização de algumas oficinas de Moodle para
iniciar os professores na sua utilização. Esta autora, em particular, além da atuação como
pesquisadora (o que foi explicitado à equipe desde o início de sua atuação), apoiou a equipe
na definição da estrutura das disciplinas no ambiente Moodle, na seleção dos recursos a serem
utilizados, nas discussões sobre EAD e atuação on-line, na formação da equipe para a
docência no Moodle, atuando assim, de certa forma, como uma consultora de EAD para a
equipe, buscando provocar reflexões sobre as especificidades da modalidade a distância e suas
possibilidades.
A equipe de professores responsáveis pelo planejamento do primeiro semestre da LMD
não tinha nenhuma experiência anterior com cursos a distância ou com ambientes virtuais de
aprendizagem, embora tivessem experiência na formação de professores em serviço, pois a
237
maioria havia atuado no PROLE
101
. Com a aprovação da LMD pela UAB, o MEC
estabeleceu que a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) seria responsável pela formação
dos professores da Região Nordeste que estivessem atuando no sistema, no que diz respeito à
EAD e à utilização do ambiente Moodle ambiente definido como preferencial para a
implantação dos cursos da UAB. Os professores da LMD, no entanto, não pareciam perceber
a importância de uma formação para atuação na EAD; o próprio coordenador do curso
discordava da necessidade de formação da equipe, que todos eram professores experientes
em dar aula de matemática; segundo verbalizado pelo coordenador em reunião, “as dúvidas
dos alunos e o bom senso do professor experiente vão definir o que precisará ser feito”. Nesse
contexto, o curso da UFAL não teve uma boa aceitação por parte dos professores que, embora
tenham participado dos encontros presenciais, não se motivaram a elaborar as atividades
propostas pelo curso nem a interagir através do ambiente virtual. Nessa mesma época, foi
oferecido o Curso Moodle para Professores (turma 2007) e apenas dois membros da equipe
(Docente2-LMD e Docente3-LMD) optaram por participar do curso. Quando questionados
sobre suas posições com relação a essas propostas de formação, as respostas refletiam alguns
aspectos interessantes e até divergentes entre os professores. O Docente5-LMD, por exemplo,
parecia compartilhar do pensamento do Docente1-LMD, não percebendo a necessidade de
uma formação para atuar em EAD, que tinha facilidade em lidar com tecnologia e tinha
participado das oficinas de Moodle:
Eu acho que [não participei do curso da UFAL] mais [por causa de] tempo
mesmo... O curso Moodle 2007? Ah! Não entrei porque eu sou muito
metido... achei que sabia....rsrs. Não, brincadeira. Eu achei que pra quem
tinha feito as oficinas, não precisava. fiz a oficina, diante da falta de
tempo... achei que não precisava. [...] Tenho facilidade... e quando começa
a fazer é que vai aprender mesmo. // Fizemos uma atividade do presencial
do curso da UFAL; ficaram as tarefas pra fazer depois e ninguém fez
nada. Agora aquilo era bem diferente; uma discussão mais teórica... o que
nós fizemos aqui [nas oficinas] foi uma coisa bem mais direcionada, foi ver
a plataforma... é bem mais interessante que a discussão teórica. (Docente5-
LMD, na entrevista).
Outra docente traz o aspecto do desconhecimento total sobre o que se tratava, tanto
com relação ao instrumental como com relação à discussão teórica, e argumenta que por isso
se sentiu tão perdida que não teve como participar:
101
Programa de Licenciaturas Especiais da UFBA, já mencionado no Capítulo 4.
238
O curso da UFAL foi assim: eles vieram aqui dois dias... A gente realmente
naquela época ainda não tinha amadurecido; a gente olha pra trás, quando
eles chegaram aqui eles fizeram uma proposta de curso que hoje eu digo
assim, por mim: Eu não me situava em nada!! Eu não entendia nada, nada!!
Era como se eles estivessem falando alemão, chinês!! Eu acho que eles
começaram como se a gente tivesse alguma noção, e eu não tinha
nenhuma!! Então, eu não entendia o que eles falavam [...] Acho que a
maioria estava assim, e não se situava direito... e ninguém participou...
porque eles deixaram tarefas e ninguém fez. Porque realmente a gente o
tinha o contato, não sabia o que fazer, e depois que a gente começou a
entrar na plataforma [daqui da UFBA], é que a gente começou a entender...
(Docente3-LMD, na entrevista).
Durante as reuniões com a participação de toda a equipe eram levantadas algumas
questões sobre como aconteceria efetivamente o desenvolvimento do curso. Os docentes
mostravam-se inseguros com relação a esse aspecto, muito pela sua inexperiência com a EAD
e, em alguns casos, com tecnologia. Das questões mais recorrentes nessas discussões,
destacamos a preocupação em garantir uma boa qualidade no curso, “mesmo sendo a
distância”, mostrando que um preconceito com a EAD estava presente na equipe. Era notável
também uma grande preocupação em como garantir que “os alunos é que estavam mesmo
participando do curso, e não uma outra pessoa”, e por isso era muito comum uma descrença
nas atividades a distância, ainda que fossem discussões em fóruns. Outra preocupação
recorrente era com relação ao nível dos alunos e a consequente evasão do curso, que, no
curso de matemática presencial, se notava uma taxa de evasão grande e se percebia uma
grande dificuldade dos alunos em alcançarem a complexidade dos conteúdos do curso;
“imagine com alunos do interior cuja formação básica deixa muito a desejar”. Quando a
questão da interação era colocada, como sendo um aspecto que viabiliza a qualidade na EAD,
os professores pareciam ficar aturdidos, pois não conseguiam conceber aulas de matemática
mediadas pela tecnologia e apoiadas por discussões nos fóruns; na sua maioria, os docentes
acreditavam que “para ensinar matemática era necessário o olho no olho” e, por isso, eles
sempre imaginavam que o papel dos tutores presenciais seria de fundamental importância. No
entanto, os tutores presenciais, moradores das regiões dos polos, eram vistos como os mais
despreparados que não havia muita gente disponível com formação em matemática e em
instituições com credibilidade. Com todos esses impasses, as reuniões coletivas eram muitas
vezes pouco produtivas, e muitas decisões importantes não conseguiam ser tomadas, como
por exemplo, a definição detalhada dos papéis do coordenador da disciplina, dos tutores
presenciais e dos tutores a distância durante o desenvolvimento do curso. O coordenador
tendia a manter a estrutura do curso o mais semelhante possível ao curso do CEDERJ, que
239
estavam utilizando o material didático de lá. No entanto, a equipe como um todo não parecia
segura com relação a isso e nem mesmo tinha conhecimento detalhado sobre os
procedimentos utilizados pelo CEDERJ durante o desenvolvimento do curso. Dessa forma, a
atuação dos professores acaba se concentrando na revisão do material didático e na
estruturação das disciplinas no ambiente, enquanto as questões mais gerais do curso ficam em
aberto ou são deixadas sob a responsabilidade da coordenação.
Com a inexperiência da equipe com relação à EAD, as discussões iniciais sobre a
estrutura das disciplinas foi bastante conturbada e baseada em suposições sobre “como
aconteceria o curso”. A preocupação principal dos docentes era em disponibilizar o material
didático do CEDERJ com algumas orientações sobre as alterações (cortes, inclusões,
destaques para aspectos mais importantes...) que eles consideravam necessárias. Inicialmente,
a equipe não tinha certeza da importância da existência de fóruns de discussão no ambiente
das disciplinas, já que entendiam que os tutores presenciais é que seriam os únicos que teriam
contato com os alunos e, por isso, a equipe revela uma grande preocupação com a
competência que esses tutores teriam com relação ao “ensino dos conteúdos” do curso. À
medida que algumas questões eram colocadas com relação à interação e à possibilidade de
acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos via discussões on-line, os docentes foram
se convencendo que os tutores a distância também poderiam contribuir com a aprendizagem
dos alunos através das discussões dos fóruns embora a concepção de interação dos docentes
não conseguisse ultrapassar o esclarecimento de dúvidas, caracterizando uma concepção de
interação reativa; a possibilidade de construção coletiva, de valorização dos saberes do aluno,
de provocação para uma educação mais dialógica e numa perpectiva de autonomia não
parecia ter significado para os docentes. Com relação aos saberes prévios do aluno, por
exemplo, a concepção da equipe era baseada numa suposição preconceituosa de que esses
saberes eram equivocados e poderiam, inclusive, causar problemas com o aprendizado
“correto” dos conteúdos abordados no curso. Os saberes da experiência docente dos alunos,
ou as construções culturais do grupo aprendente, não eram considerados pela equipe; essa era
uma preocupação que não cabia, segundo os docentes, nas discussões das disciplinas de
matemática, mas poderia ser abordada, se fosse o caso, nas disciplinas específicas para o
ensino da matemática. Essa visão dicotômica que separa os conteúdos matemáticos dos
conteúdos didático-pedagógicos e que valoriza muito mais os primeiros em detrimento dos
últimos tem origem, segundo Dermeval Saviani (2009), na época da implantação dos cursos
de pedagogia e de licenciatura no Brasil, no período entre 1939 e 1971, quando “os cursos de
240
licenciatura resultaram fortemente marcados pelos conteúdos culturais cognitivos, relegando o
aspecto pedagógico-didático a um apêndice de menor importância [...](p.147). Segundo o
autor, embora a questão pedagógica venha ganhando importância ao longo dos anos e das
reformas educacionais, tendo se tornado um componente obrigatório na formação dos
professores secundários, a ênfase da formação ainda está nos conteúdos de responsabilidade
das faculdades específicas que são trabalhados separadamente dos aspectos didático-
pedagógicos de responsabilidade das faculdades de Educação. O que resulta é uma
justaposição dos dois aspectos formativos sem que se alcance uma articulação adequada entre
eles. Saviani (2009) ressalta que “tudo indica que na raiz desse dilema está a dissociação entre
os dois aspectos indissociáveis da função docente: a forma e o conteúdo” (p.151).
A estrutura do curso no ambiente Moodle foi montada de forma a se ter um espaço
principal para o curso (Figura 19) e um espaço para cada uma das disciplinas.
Figura 19: LMD – Espaço principal do curso.
No espaço principal da LMD, além de informações gerais sobre o curso, polos, matriz
curricular, disciplinas, dentre outras, foi previsto um espaço de interação com um Fórum de
notícias (onde apenas a equipe tem autorização para postar mensagens, embora os alunos
possam respondê-las); um fórum social (onde todos os participantes e a equipe podem
interagir livremente), e alguns fóruns específicos para a interação da equipe (invisíveis aos
alunos), como pode ser visto da Figura 20. A presença do rum Social foi, inicialmente,
questionada pelos professores que se preocupavam com quem iria “responder a 500 alunos”.
241
Com o decorrer das discussões da equipe, chegou-se à conclusão que era inevitável que
houvesse um espaço para que o aluno pudesse se manifestar livremente, na ausência de um
telefone 0800 e de uma secretaria adequada para atender a demanda dos alunos; no entanto, a
equipe não parecia associar a existência desse espaço “livre” com o fomento a uma atuação
mais autônoma dos alunos nem muito menos com a possibilidade de uma interação mútua
entre os participantes e que poderia resultar na construção coletiva de conhecimento e das
próprias definições relativas ao curso.
Figura 20: LMD – Espaço de interação na página principal do curso.
A estrutura de cada disciplina no ambiente Moodle seguiu um padrão visual e uma
organização de boxes semelhantes, como pode ser visto nas Figuras 21 e 22.
Figura 21: LMD – Introdução às Tecnologias de Informação.
242
Figura 22: LMD – Pré-cálculo: estrutura geral.
No bloco inicial de cada disciplina (tópico zero do Moodle) foram disponibilizadas
informações gerais sobre a respectiva disciplina (orientações gerais, cronograma, material
impresso, bibliografia) além de um fórum de notícias (onde seriam postadas mensagens
relativas a cada disciplna) e um rum social com a finalidade de criar um espaço de livre
expressão para os alunos. Com relação à disponibilização dos conteúdos, as disciplinas
Geometria e Pré-cálculo foram organizadas de forma semanal, de maneira que os materiais de
estudo estavam distribuídos ao longo das 17 semanas previstas para o curso, muito
semelhante à organização do curso presencial cujos conteúdos são distribuídos nas aulas
semanais (Figuras 23 e 24). Para a discussão teórica, foram criados fóruns de discussão para
grupos de semanas (por exemplo: Fórum sobre os temas de estudos das semanas 1 a 4).
243
Figura 23: LMD – Geometria: organização semanal.
Figura 24: LMD – Pré-calculo: organização semanal.
244
A construção da disciplina Matemática Discreta, que foi assumida, principalmente, pelo
Docente7-LMD, seguiu uma estrutura menos rígida na associação com as semanas de “aula”,
sendo que seus conteúdos foram organizados em blocos e, embora tenham sido distribuídos
no período de um semestre, davam a sensação de flexibilidade com relação ao tempo de
estudo para cada tema (Figura 25). Essa foi uma discussão travada com os docentes da equipe,
mas a maioria deles não conseguiu se desvincular do modelo de gestão do tempo para os
cursos presenciais, em que as “aulas” são planejadas dentro de um cronograma mais gido.
Dessa forma, a flexibilidade no gerenciamento do tempo de estudo pelo aluno, característica
básica da EAD, nem sempre foi considerada no planejamento da LMD. Para essa disciplina,
organizada por tópicos temáticos, foi criado um fórum de discussão teórica para cada tema.
Figura 25: LMD – Matemática Discreta: organização por temas.
Para cada disciplina, o subgrupo responsável analisou o material do CEDERJ e para
cada uma das “aulas” – terminologia utilizada pelo CEDERJ para nomear os blocos de
conteúdo do material foi elaborado um documento de “orientações” (Figura 26) para o
245
aluno contendo uma apresentação do assunto abordado, ressalvas sobre determinadas questões
que não precisavam ser estudadas ou que precisavam de uma abordagem diferente da trazida
pelo material do CEDERJ, exercícios complementares, e outras observações que os docentes
consideravam essenciais para o estudo individual do aluno. Esse espaço de orientações
também deveria, de acordo com o discutido nas reuniões, contemplar materiais
complementares de estudo (possivelmente em formato multimídia ou links para sites que
pudessem contribuir para o processo de aprendizagem dos alunos). No entanto, pouco foi
acrescentado nesse sentido, de forma que as disciplinas, principalmente Pré-cálculo,
Geometria e Introdução às Tecnologias de Informação, eram baseadas, quase que
exclusivamente, no material do CEDERJ e utilizavam apenas a linguagem textual e a
linguagem matemática.
Figura 26: LMD – Geometria: orientações sobre a aula 1 para os alunos.
Na disciplina Matemática Discreta, era frequente, nas orientações, a presença de
sugestões de sites com informações complementares, exercícios, curiosidades etc., com o
objetivo de contribuir com o processo de aprendizagem do aluno (Figura 27). Isso reflete a
246
compreensão do
Docente7-LMD com relação à importância de se ampliar as possibilidades de
navegação para os alunos, ultrapassando os muros do conteúdo pré-formatado e fechado; uma
compreensão construída no processo de planejamento do curso durante as discussões com o
grupo e que o fez refletir sobre os aspectos da EAD, desconhecidos por ele. Essa reflexão é
verbalizada pelo Docente7-LMD na entrevista:
Eu acho que ter participado disso daí [do planejamento da disciplina] foi
legal para mim, foi um crescimento. Achei que a sua participação
[referindo-se a esta autora] como pessoa ligada a essa área [de educação] foi
muito importante para o grupo, para gente absorver. Eu acredito até que se
você não estivesse lá, se fosse a gente da matemática, aquele grupinho
dos seis, as coisas não teriam ficado do jeito que ficaram, foi importante. E
ai a gente vai aprendendo as coisas. (Docente7-LMD, na entrevista).
A inserção de materiais multimídia, no entanto, não foi contemplada por nenhuma das
quatro disciplinas inicialmente planejadas.
Figura 27: LMD – Matemática Discreta: exemplo de orientações com sugestão de sites.
Para a construção das orientações, na qual muitas vezes era necessária a inclusão de
trechos em linguagem matemática (Figura 28), os docentes utilizavam imagens fixas
247
elaboradas a partir de editor offline e copiadas para a página web no Moodle, ou construíam a
fórmula ou desenho geométrico utilizando o LaTeX
102
diretamente no Moodle. O LaTeX é
um filtro de linguagem matemática que é aceito pelo Moodle UFBA; no entanto, a utilização
do LaTeX não era dominada por toda a equipe e isso causou um certo desconforto no sentido
de que os docentes que não dominavam o LaTeX foram, de certa forma, obrigados a estudá-
lo. Essa foi uma queixa reincidente do grupo de docentes com relação ao suporte à utilização
do Moodle, e provocou dificuldades na elaboração das orientações e dos materiais adicionais
por parte da equipe de professores. Além disso, como o conhecimento do LaTeX era
necessário para a interação via fóruns utilizando linguagem matemática, os docentes que não
dominavam o LaTeX sentiam-se ainda mais desmotivados a uma eventual participação nas
discussões on-line durante o desenvolvimento do curso.
Figura 28: LMD – Geometria: orientações utilizando linguagem matemática.
102
O é um conjunto de macros para o processador de textos , utilizado amplamente para a
produção de textos matemáticos e científicos devido à sua alta qualidade tipográfica e à facilidade para trabalhar
com fórmulas matemáticas, gráficos e símbolos esdrúxulos; pode também ser utilizado para a produção de textos
em geral (mais informações sobre o LaTeX e o TeX em http://www.tex-br.org/ e http://www.latex-project.org/).
248
O planejamento da disciplina Introdução às Tecnologias de Informação ficou,
inicialmente, sob a responsabilidade do Docente6-LMD. Esse docente era o que apresentava
maior facilidade com tecnologias e, um pouco por isso, sentiu-se à vontade de não
acompanhar o mesmo ritmo do planejamento das outras três disciplinas; apenas foi definida a
sua estrutura principal, que era distinta das demais (Figura 29), e os detalhes das atividades e
das orientações aos alunos seriam elaborados posteriormente pelo Docente6-LMD. Vale
ressaltar que essa disciplina tinha a particularidade de ter uma avaliação a distância composta
por diversas atividades que eram solicitadas aos alunos por meio do recurso “tarefa” do
Moodle. A estrutura da disciplina foi organizada por temas agrupados e, para cada bloco de
temas, foram criadas páginas web contendo os objetivos, os exercícios propostos e os
respectivos gabaritos; além desses materiais, cada bloco de temas apresentava um espaço de
atividades que contemplava um rum para a discussão dos temas abordados no tópico e uma
tarefa que comporia a avaliação a distância. Com o surgimento da função de Coordenador de
Tutoria no Sistema UAB, o Docente6-LMD foi alocado para esta função e outro docente, que
não participou da equipe inicial (e, portanto, não faz parte do grupo de sujeitos participantes
desta pesquisa), concluiu o planejamento da disciplina.
Figura 29: LMD – Introdução às Tecnologias de Informação: estrutura da disciplina.
249
Essa disciplina, como o próprio nome diz, tem o foco nas tecnologias de informação, e
seu conteúdo aborda temas como o surgimento dos computadores e da Internet, software livre,
aplicativos de edição de texto, planilhas, bancos de dados, editores gráficos etc., pesquisa na
Internet, ferramentas de comunicação, segurança em rede, hackers e crakers, linguagem na
Internet, dentre outros. Embora vários desses temas sejam bastante apropriados para uma
construção coletiva de conhecimento, uma discussão horizontalizada em fóruns baseada numa
interação mútua, a abordagem da disciplina segue uma linha fortemente tecnicista e
instrumental, que pode ser observada em uma das atividades a distância propostas, que
transcrevemos na Figura 30. Mesmo quando é proposta uma atividade discursiva, esta não
toma o aspecto da discussão coletiva, caracterizando um modelo de EAD apoiado em
atividades que devem ser elaboradas de forma individualizada e não compartilhada, como
pode ser vista na Figura 31. Inclusive flagramos
103
, nas orientações ao aluno com relação à
execução das atividades propostas em uma das aulas da disciplina Introdução às Tecnologias
de Informação, uma recomendação que traz fortemente esse aspecto da individualização:
“Não reenvie sua apresentação para outras pessoas! Envie somente para a tutoria a distância”.
Figura 30: LMD – Exemplo de atividade a distância proposta na disciplina Introdução às Tecnologias de
Informação.
103
Dizemos que “flagramos” porque o material didático utilizado na LMD, de autoria do CEDERJ, embora
componha o que entendemos como o planejamento do curso, não foi analisado nesta pesquisa; o excerto que
trazemos no texto foi encontrado por acaso quando eram levantados os conteúdos abordados na disciplina em
questão.
250
Figura 31: LMD – Exemplo de atividade a distância proposta na disciplina Introdução às Tecnologias de
Informação.
A disciplina Seminário Temático Interdisciplinar I, cujo planejamento foi iniciado quase
um ano depois das demais disciplinas, foi assumida pela Docente2-LMD, que também
assumiria a sua coordenação durante o desenvolvimento do curso. Essa disciplina tem um
caráter diferente das demais, pois traz como objetivo a abordagem de temas interdisciplinares
relacionados à contemporaneidade. Essa disciplina contemplou, no seu primeiro momento, a
ambientação no Moodle com duas atividades principais: apresentação dos alunos num fórum
e a atualização do perfil individual. Como demais temas a serem abordados, foram escolhidos:
Educação a Distância, História da Matemática e Reciclagem; todos eles seriam trabalhados
através de fóruns e com algumas atividades a distância. Vale observar que essa disciplina foi a
única que contemplou a inserção de material multimídia (no formato de vídeos disponíveis na
web) como material didático para os alunos (Figura 32). A Docente2-LMD, embora ainda
apresentasse certa insegurança no virtual, parecia ter compreendido a ideia da educação
dialógica e a necessidade de promover a interação através do ambiente virtual num curso a
distância. Como aspectos que podem ter favorecido essa percepção e que contribuíram para
que essa disciplina tivesse uma característica mais dialógica trazemos: a atuação da Docente2-
LMD como responsável pela mesma disciplina no curso presencial de matemática e, portanto,
já apresentar uma experiência com a proposição de atividades interdisciplinares; a sua atuação
no curso de formação de tutores, o que, como verbalizado pela própria Docente2-LMD,
possibilitou a ela uma aproximação com um modelo de educação pautado na interatividade e
251
que traz o diálogo como estratégia pedagógica; e a própria concepção da disciplina que
contempla um conteúdo mais flexível que as demais, possibilitando uma abordagem mais
dialógica. No entanto, apesar de a proposta de atividades da disciplina contemplar a discussão
em fóruns, não parecia haver uma valorização da interação mútua no seu planejamento, já que
a expectativa de participação dos alunos se resumia à postagem nos fóruns propostos, sem
necessariamente haver uma busca de construção coletiva ou até mesmo de um diálogo entre
os participantes. Outra observação é que o planejamento da disciplina é desenvolvido de
forma isolada e a partir da concepção exclusiva da docente responsável pela mesma, embora a
sua definição no projeto do curso de matemática aponte para a “integração interdisciplinar
entre os diferentes conteúdos específicos, entre os conteúdos específicos e pedagógicos, entre
a teoria estudada e a prática vivenciada e entre os saberes envolvidos nas diversas
licenciaturas” (LMD, 2008). Era de se esperar que houvesse uma integração entre a equipe
docente participante do curso, dentro das diversas áreas, a fim de que a interdisciplinaridade
fosse efetivamente vivenciada no planejamento da disciplina; no entanto, a fragmentação
entre as diversas vertentes que contemplam uma licenciatura (conteúdos específicos,
conteúdos pedagógicos, atividades práticas e estágio supervisionado) aparece fortemente
presente na LMD.
Figura 32: LMD – Seminário Temático Interdisciplinar I.
252
A construção de todas as disciplinas do curso no ambiente Moodle foi apoiada pelo
CPD, sempre que solicitado, de forma que o pouco conhecimento dos docentes sobre os
recursos disponíveis no Moodle não se tornou, em nenhum momento, um empecilho para que
se fizesse opção por uma abordagem menos conteudista. Pelo contrário, o planejamento das
disciplinas retrata, o mais fielmente possível, o desejo de cada um dos docentes participantes
da equipe. No entanto, a ausência do conhecimento instrumental sobre o Moodle pela maioria
dos docentes envolvidos com a LMD, apesar da presença de pessoas apoiando tecnicamente a
construção das disciplinas no ambiente, pode ter contribuído para que as disciplinas, na sua
maioria, se apresentassem como uma transposição das aulas presenciais para o virtual. Com o
foco claramente no conteúdo das disciplinas, cujos materiais estavam devidamente
elaborados seguindo uma orientação para a EAD (já que estes foram cedidos pelo CEDERJ) e
continham exercícios propostos para cada um dos temas, os docentes pareciam acreditar
que o essencial do curso já estava organizado. Os fóruns temáticos, por exemplo, eram
entendidos como espaços onde os tutores iriam interagir com os alunos na intenção exclusiva
de esclarecer as dúvidas postadas por estes últimos; em nenhum momento os docentes
pareciam perceber a necessidade de criar estratégias pedagógicas que problematizassem os
conteúdos, ou que provocassem os alunos na direção de uma maior interação entre os
participantes, ou que promovessem discussões sobre questões trazidas pelos alunos a partir de
sua experiência em sala de aula.
253
6 SISTEMATIZAÇÃO DA ANÁLISE: ASPECTOS DA IMPLANTAÇÃO
DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA
No universo das coisas simples, é preciso que a porta esteja
aberta ou fechada, mas, no universo complexo, é preciso que
um sistema autônomo esteja aberto e fechado, a um só tempo.
É preciso ser dependente para ser autônomo.
Edgar Morin
Neste capítulo, buscamos sistematizar a análise dos quatro casos descritos no capítulo
anterior, buscando compreender a implantação de AVA na UFBA e identificar aspectos
relacionados à construção de propostas pautadas na autonomia. As reflexões trazidas
anteriormente revelam diversos pontos importantes do estudo de casos múltiplos que
desenvolvemos. A sistematização que buscamos construir possivelmente deixa para trás
muitos aspectos importantes dos processos que acompanhamos; mas entendemos como uma
síntese daquilo que foi possível organizar diante da imensa quantidade de informações que
analisamos e diante da grande riqueza que pudemos encontrar nas reflexões suscitadas nos
espaços formativos que pesquisamos e, ao mesmo tempo, vivenciamos.
254
Figura 33: Organização das categorias trabalhadas na análise.
Para proceder à análise dos quatro casos, como explicitado na Introdução deste trabalho,
foi construída uma matriz de análise organizada por participante, no eixo vertical, e por área
255
de significação/categoria, no eixo horizontal. Inicialmente foram definidas algumas categorias
básicas relativas ao tema da pesquisa; no decorrer da análise das falas dos participantes foram
sendo acrescentadas categorias surgidas do campo. Em seguida, no esforço da sistematização
e a fim de viabilizar a finalização (embora sempre inacabada) da análise contrastiva das falas
dos sujeitos com o referencial teórico abordado na pesquisa, optamos por agrupar algumas das
categorias elencadas e descartar outras. Esse agrupamento foi concebido sempre em função da
importância de cada categoria para a compreensão do nosso objeto e também em função da
ênfase dada pelos sujeitos participantes da pesquisa a esta ou aquela categoria. A matriz
completa, no entanto, segue disponível a fim de que análises futuras possam ser desdobradas.
Durante a descrição dos quatro casos de estudo que elaboramos nas seções anteriores, o
processo de análise teve início, e diversos aspectos sobre a compreensão do nosso objeto
foram discutidos. Nesta seção, buscamos, exatamente, sistematizar os achados da pesquisa a
fim de explicitar de forma mais clara os nossos resultados. A Figura 33 apresenta a
organização e agrupamento das categorias/áreas de significação trabalhadas na análise; para
essa sistematização que agora buscamos construir, focamos, principalmente nas oito
categorias resultantes do agrupamento, marcadas em verde na figura: autonomia; concepção
de educação e EAD; interação; concepção de TIC; cibercultura; formação docente; docência
on-line e presencial; sobre a UFBA.
A partir da análise detalhada das informações registradas referentes às oito categorias
resultantes do agrupamento contrastadas entre si e com a literatura -, foi construído um
conjunto de seis categorias analíticas que representam, ao final, os aspectos mais relevantes da
implantação de AVA na UFBA que se relacionam com a construção da autonomia no
contexto educacional, e que são destacadas como o principal resultado desta pesquisa.
Buscamos, a seguir, sistematizar esses aspectos, abordando-os separadamente para fins de
organização do texto, conscientes, no entanto, da sua complexa imbricação.
6.1 A AUTONOMIA ALÉM DO INDIVIDUALISMO E DO AUTODIDATISMO
A formação do sujeito crítico que se reconhece como autor e como corresponsável
pelo seu contexto social e pela instituição da sociedade não é condizente com uma
concepção de autonomia que seja associada apenas aos conceitos de autodidatismo e
individualismo. Como vimos no Capítulo 2, a autonomia é aqui defendida como o assumir-se
como sujeito de sua própria trajetória de vida, de forma vinculada ao coletivo social,
256
entendendo que o meio (o outro) faz parte de sua própria história e contribui com a construção
de suas próprias concepções. Sendo a autonomia individual sempre influenciada pelo meio, a
presença da alienação em nível social reverte-se em uma limitação da própria autonomia
individual, que a perspectiva alienada do outro se constitui também em uma influência
externa ao sujeito. Dessa forma, a busca da autonomia coletiva é um imperativo para a
construção e manutenção da própria autonomia individual. Assim, a aprendizagem
individual/autodidatismo, embora possa se constituir em um aspecto dessa construção/busca
de autonomia, não pode ser entendida como sinônimo desta. A concepção de autonomia
ultrapassa esse limite quando é compreendida, em consonância com Paulo Freire, como o
reconhecer-se como sujeito do mundo e da história.
Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja
feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. Daí
que insista tanto na problematização do futuro e recuse sua inexorabilidade.
[...] Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de
minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência
das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo
geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a
ver comigo mesmo. [...] O fato de me perceber no mundo, com o mundo e
com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem
nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a
ele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para
não ser apenas objeto, mas sujeito também da História. (FREIRE, 2006b,
p.53-54).
A busca de uma concepção ampliada de autonomia vai de encontro ao modelo de
educação pautado na reprodução do conhecimento, ainda fortemente presente na sociedade
atual, onde o professor é o detentor do conhecimento que transmite ao aluno; a este por sua
vez é esperada uma atitude de memorização e reprodução do conhecimento estabelecido.
Esse modelo, segundo Maria Cândida Moraes (1996), “produz indivíduos incapazes de se
autoconhecerem como fonte criadora e gestora de sua própria vida, como autores de sua
própria história” (p.58).
Com relação aos participantes da pesquisa, não existe uma visão única da concepção de
autonomia. No caso das professoras-tutoras do Curso Moodle 2008, por exemplo, percebe-se,
nos excertos de entrevistas a seguir, a problematização que trazem ao abordar o conceito:
Acredito que a autonomia é a capacidade de nos relacionarmos com o meio
externo, nos auto organizando. Concordo com Morin, quando ele coloca que
a autonomia é sempre relativa, por dependermos dos outros. Logo,
autonomia não é sinônimo de solidão, e sim de parceria, de trabalho
257
conjunto. [...] Nesse processo, a autoria é fundamental, e ela é conseguida
na articulação com muitos nós. Precisamos trocar, compartilhar, colaborar,
para sermos autônomos. Nos ambientes virtuais de aprendizagem, essa
questão é de fundamental importância, pois a relação educador educando,
deve ser de trocas e de interações. (Docente5-CM08, na entrevista).
Compreendo [autonomia] articulando com a questão da auto-organização
[...]. Mas isso supera a ideia de que seja da forma isolada... Entendo que
precisa existir uma inter-relação com todos.[...]Uma formação crítica
aponta para a ideia da busca dessa autonomia. Agora! Entendo que esse
processo não pode estar associado apenas com a questão do “deixar fazer”
ou do “faça como quiser”. E sim, que nesse processo é essencial a questão
da troca, pois não consigo perceber essa “autonomia” no sentido de que o
aluno vai “adquirir” [sozinho] no decorrer do processo... Ao contrário
disso, entendo que para muitos ela vai sendo construída na inter-relação, na
troca, e assim cada um vai deixando sua marca, sua contribuição...
(Docente4-CM08, na entrevista).
Como pode ser visto, a Docente5-CM08 problematiza o conceito de autonomia indo
além da sua associação a uma atitude solitária. A Docente4-CM08, além de descartar a
concepção de autonomia associada à atuação solitária, ressalta que esta não pode ser
compreendida, no contexto educacional, como o “deixar solto”, mas sim com atitudes
colaborativas, na inter-relação, na troca. Essa compreensão ampliada da autonomia por parte
das professoras-tutoras do Curso Moodle que é entendida como um reflexo da própria
formação destas professoras foi um fator fundamental para a própria problematização do
conceito durante as discussões com os participantes do curso, possibilitando-os refletir sobre
suas próprias concepções. Além disso, a atuação da equipe fomentando a discussão e
construção coletiva de conhecimento, respeitando e buscando trazer para o debate as ideias,
experiências e saberes dos participantes, se refletia numa prática pautada na autonomia e que,
em última instância, possibilitava a formação dos participantes a partir da experiência como
alunos, num exercício de autonomia; ou seja, um processo em que a autonomia é meio e fim
da práxis pedagógica (CASTORIADIS, 2000).
Para muitos dos demais participantes, a concepção de autonomia é associada ao fazer
sozinho”. No excerto a seguir, por exemplo, o professor entende que a autonomia é limitada
pela dificuldade do aluno em compreender “sozinho” os conteúdos de matemática:
Quando eles [os alunos] têm consciência que estão fazendo um curso a
distancia, eu acho que eles têm que ter autonomia para buscar muita coisa.
Agora, essa autonomia, ela, não sei, ela se bate com a dificuldade
matemática, sabe. Às vezes, um aluno tem uma dificuldade matemática que
ele não vai mais para lugar nenhum se ele não tiver um apoio. Então, não
vai fluir naturalmente com autonomia e autodidatismo. Ele vai precisar
258
de muito apoio. O curso de matemática é muito complicado. É difícil, em
matemática, uma pessoa pegar um livro e aprender sozinho. (Docente6-
LMD, na entrevista).
A Participante9-CM08 coloca nas mãos do aluno “autônomo” a responsabilidade do
sucesso de um curso:
Será que criar bons conteúdos garante um projeto de educação on-line? Em
minha opinião, o que garante um projeto de educação on-line ou de
qualquer outro projeto é o desenvolvimento da autonomia do estudante. A
resposta que ele dará em relação ao curso é muito importante para a
garantia do sucesso do projeto. (Participante9-CM08, no fórum).
A Docente2-DESG ressalta a cultura da passividade do aluno que ela vivencia na
graduação presencial, e associa, explicitamente, autonomia a “se virar sozinho” e “fazer o que
quer” no caso da EAD:
Na graduação, os estudantes tendem a não discutir e aceitar passivamente o
que proponho. // Autonomia é algo ausente na graduação. Os estudantes
tendem a esperar ordens e direcionamentos. Já ouvi estudantes se queixando
de professores que os deixam muito soltos. No caso da EAD, é verdade, a
autonomia é mais interpretada como você se virar sozinho mesmo, aprender
o que quer. Se você for bem articulado, pode fazer o que lhe der na cabeça e
então atender às expectativas do docente. Pois é, é autonomia, mas não sei
se é aprendizado em termos da proposta das disciplinas... Disciplinas têm
objetivos. (Docente2-DESG, na entrevista).
A Docente3-LMD associa a concepção de autonomia ao fazer sozinho criticando a
atitude de um aluno que veio pedir sua ajuda para a elaboração de uma atividade de um curso
a distância. A docente não consegue ver, na atitude do aluno, uma postura autônoma de
buscar alguém com maior experiência para ajudá-lo na resolução do trabalho. Pelo contrário,
a docente ressalta sua preocupação com as atividades a distância da LMD, que não se pode
garantir que o aluno as execute de forma individual:
Um aluno chegou na minha sala e disse “professora eu estou com uma
dúvida aqui em uma questão, eu fiquei curiosa e perguntei que curso ele
fazia, e ele disse que era um trabalho para um curso a distância. Essa parte
que eu estou falando, que eu sempre estou perguntando, esses trabalhos que
não são presenciais, como é que a gente vai cobrar no curso? Como é que a
gente vai pontuar? eu estava resolvendo o trabalho dele... e se eu não
fizesse, outra pessoa faria... Enfim, o que eu vejo nisso é uma falha grande
de como você realmente cobrar que o aluno tenha autonomia de sentar e
dizer “não, eu estou aqui para aprender, eu não vou me enganar”,
entendeu? Eu acho que ele está buscando se enganar, na ausência de uma
fiscalização!!! (Docente3-LMD, na entrevista).
259
Outras falas refletiram a ideia de que o aluno, na nossa cultura, não tem autonomia e
espera sempre do professor uma postura paternalista e que direcione suas ações e estudos.
Neste sentido, o modelo de transmissão do conhecimento, apoiado fortemente em aulas
expositivas e pouco dialogadas, é entendido como complementar a esta postura não autônoma
do aluno e, algumas vezes, como consequência dela!
E eu acho que, em geral, os alunos são muito limitados nesse aspecto [da
autonomia]; e os professores também. A gente tende a ter uma postura, a
mesma de anos e anos atrás; ao mesmo tempo que os alunos não
desenvolvem essa autonomia, também os professores se acomodam a isso...
(Docente5-LMD, na entrevista).
Nem pros projetos eles tinham autonomia pra fazer a coisa. // vai ser um
desafio: pra mim que vou trabalhar pela primeira vez assim desse jeito [com
EAD], assim como para o aluno que vai entrar num curso desse jeito. Eu
acho que eles vão ter que ter uma maturidade muito maior. Porque o hábito
da gente é sentar ali naquela cadeira, dar a aula, e eles copiarem. E eles
realmente, vão ter o texto impresso, mas claro fica muito longe de uma
maior autonomia. [...] Então vai ser um desafio muito grande pra gente que
é professor, e eles vão ter que ter realmente uma autonomia, organizar o
tempo deles de estudo. (Docente2-LMD, na entrevista).
Porém, nem sempre o docente parece associar esse modelo e essa postura passiva do
discente a elementos que vão de encontro a uma educação crítica; a reprodução de conteúdos
pelos docentes e a valorização da repetição e, muitas vezes, das posturas passivas dos alunos
formam um ciclo vicioso que dificulta a compreensão do mundo como construído – e passível
de transformação – por cada sujeito cognoscente, de forma que uma atitude alienada e
alienante é alimentada.
O Participante40-CM07 e o Participante15-CM07
demonstram perceber que a presença
das TIC impele o indivíduo a uma atitude mais autônoma, a uma postura de participação-
intervenção, como sugere Eugênio Trivinho (2000); no entanto, não associam essa autonomia
a uma atuação coletiva:
Eu me viro sempre sabe? Mas, a tecnologia da informática induz um pouco
a isso [autonomia], não? Tipo: você compra um produto e sai usando
batendo a cara na parede até aprender... (Participante40-CM07, na
entrevista).
Esclareço [... que] me referi a “humildade” não no sentido de um valor
pessoal (este eu também valorizo nas relações sociais), mas, referindo-me a
um “sentimento” que é possível ter diante da imensidão que se abre com as
novas tecnologias; imensidão de possibilidades, imensidão de ideias,
imensidão de contatos, imensidão de saberes, imensidão de caminhos,
260
imensidão de conhecimentos. Ressalto o sentimento de quem se pergunta:
quem sou eu nesta rede? Sou ínfima(o). Sou pequena(o). Sei muito pouco.
Mas, ao mesmo tempo: posso muito. Posso viajar por caminhos que eu
mesma, com a autonomia possível no uso destas ferramentas, vou
construindo. Vou fazendo, vou sendo, vou descobrindo, vou me
apaixonando, vou me constrangendo... (Participante15-CM07, no fórum).
Em alguns casos, porém, surge uma centelha de dúvida com relação a esse conceito por
parte dos sujeitos participantes da pesquisa, como se eles, no processo de reflexão provocado
pela participação nos casos de estudo, fossem levados a ressignificar sua concepção de
autonomia, ampliando-a no sentido de entendê-la mais próxima da autoria crítica, da
possibilidade de transformação do mundo, sempre na dependência do coletivo. Isso pode ser
percebido nos excertos a seguir:
Autonomia está relacionada com ambos [autoria e autodidatismo] // Sim,
acredito que à medida que a formação crítica é desenvolvida através de
leituras, discussões de ideias, escritas, a autoconfiança é melhorada e a
autonomia é uma consequência // Na prática pedagógica em ambientes
virtuais, o debate, questionamento, leituras de textos indicados e reflexões
em grupos podem possibilitar o aumento da autocrítica, da autonomia.
(Participante5-CM07, na entrevista).
Instigada com a discussão fui fazer uma busca e uma leitura um pouco
mais detalhada. Algumas coisas me chocaram e outras me permitiram um
paralelo importante a esta experiência- a questão da EAD precisar, para
dar certo, de ruptura dos conceitos tradicionais da educação (da mídia de
massa) como bem coloca a Docente5-CM08. Aqueles que não o fazem de
forma consistente permitindo interação/ a tal dialogicidade/ interatividade
enfrentam a evasão como o grande problema, seja por desmotivação,
solidão ou falta de compromisso. Mas para que isso ocorra Paulo Freire
ajudou na necessidade da Pedagogia da Autonomia. Da necessidade de se
buscar autonomia participativa dos sujeitos, e que ela se constrói na
experiência de vários e que estas experiências são o papel do professor de
forma a serem estimuladoras da decisão e da responsabilidade.
(Participante10-CM08, no fórum).
Diante do exposto, essa pesquisa nos mostra que, embora a maioria dos participantes
apresente uma concepção de autonomia associada ao “fazer sozinho”, a sua compreensão de
forma ampliada e coletiva, indo além das concepções de autodidatismo e individualismo, é
fomentada à medida que espaços de reflexão sobre a prática docente e de debate e troca entre
pares são possibilitados. Espaços de reflexão que não se limitem a avaliações esvaziadas de
teorização; teoria e prática integradas é que se revelam na verdadeira práxis transformadora.
Em artigo em que articula a abordagem filosófica de Cornelius Castoriadis com a educação,
Lilian do Valle (2008) contribui com essa perspectiva argumentando que:
261
O requisito é, pois, a aceitação de que é preciso recolocar continuamente em
questão as certezas, os hábitos instituídos, as crenças e os valores sob os
quais nossa existência e nosso saber, nosso modo de ser e de agir se
sustentam. O que em nada implica a demissão da teoria, mas, ao contrário, a
supõe eminentemente necessária, ao mesmo tempo em que torna igualmente
indispensável o estabelecimento de uma atitude de resistência à submissão e
ao conformismo em que as ideias a que muito nos apegamos tendem a nos
entreter. (p.5).
6.2 A EDUCAÇÃO COMO UM PROCESSO DIALÓGICO: O PAPEL
COMUNICACIONAL DOS AVA
Segundo Henry Giroux (1997),
Uma das maiores ameaças aos professores existentes e futuros nas escolas
públicas é o desenvolvimento crescente de ideologias instrumentais que
enfatizam uma abordagem tecnocrática para a preparação dos professores e
também para a pedagogia de sala de aula. No cerne da atual ênfase nos
fatores instrumentais e pragmáticos da vida escolar colocam-se suposições
pedagógicas importantes. Elas incluem: o apelo pela separação de concepção
de execução; a padronização do conhecimento escolar com o interesse de
administrá-lo e controlá-lo; e a desvalorização do trabalho crítico e
intelectual de professores e estudantes pela primazia de considerações
práticas. (p.158-159).
Essa visão de educação baseada em uma racionalidade instrumental, enfatizando o
conhecimento técnico, nega a própria necessidade de um pensamento crítico ou de uma
postura de questionamento ao que esposto e instituído. O conhecimento é visto como algo
externo ao indivíduo que é levado apenas a reproduzi-lo, fomentando e reforçando uma
atitude alienada em que o indivíduo não se reconhece como sujeito capaz de pensar
criticamente e de agir sobre a realidade transformando-a de acordo com os seus anseios.
A compreensão da autonomia de forma coletiva e ampliada, como vimos na seção
anterior, aliada à busca de uma educação problematizadora e dialógica que foque na formação
de sujeitos críticos e autores, vai de encontro a essa racionalidade técnica e alienante. Andréa
Lapa (2005), preocupada com a possibilidade de combater a alienação através de uma prática
educativa emancipadora no contexto da EAD, e tendo como pressuposto a necessidade de
uma prática dialógica para a formação do sujeito crítico, propôs um modelo em que são
definidos cinco elementos essenciais para avaliar o potencial de propiciar uma formação
crítica em ambientes de EAD:
262
A partir do conceito da ação dialógica como prática necessária para a
formação crítica, reconhecemos a possibilidade de existência de uma
formação do sujeito nas práticas da educação a distância, e definimos cinco
elementos essenciais da formação crítica: o relacionamento horizontal, o
compartilhamento de ideias, a reflexão crítica, a prática social, e a ação
política. Esses cinco elementos foram tomados como indicadores para
propiciar uma análise de ambientes comunicativos de cursos à distância, em
sua potencialidade de propiciar uma formação crítica do sujeito. (LAPA,
2005, resumo).
Os cinco elementos essenciais para a formação crítica (o relacionamento horizontal, o
compartilhamento de ideias, a reflexão crítica, a prática social, e a ação política) foram
sistematizados pela autora no que ela denominou de “Modelo Conceitual” no qual propôs
indicadores e variáveis de mensuração relativos a cada um dos cinco elementos. O Quadro 2
transcreve o esquema proposto para o referido modelo.
Quadro 2: Modelo Conceitual – Elementos essenciais da formação crítica do sujeito (LAPA, 2005, p.142).
AÇÃO DIALÓGICA
ELEMENTOS INDICADORES VARIÁVEIS DE MENSURAÇÃO
Comunicação bidirecional Distribuição de mensagens trocadas Relacionamento
horizontal
Diálogo aberto e informal Respostas às mensagens iniciadas pelos
estudantes
Iniciativa
Existência de informalidade entre
professor e estudante
Convívio com a diferença Diversidade cultural no grupo de
aprendizagem
Conhecimento da diversidade cultural
pelos estudantes
Compartilhamento de
ideias
Aprendizagem colaborativa Análise do método pedagógico (bancário
X colaborativo; individual X coletivo)
Prática social Comunidade de aprendizagem Existência de sinais de uma comunidade
de aprendizagem
Compartilhamento do astral do grupo
Discussões morais e éticas Objetivos do curso (treinamento de
habilidades X formação social)
Interdisciplinaridade (aprendizagem
múltipla X conteúdo específico)
Reflexão crítica
Profundidade de reflexão Identificação de sinais de profundidade de
reflexão crítica em um contexto social
263
Integração do contexto dos
estudantes
Currículo relacionado à experiência
anterior do estudante
Currículo apropriado ao contexto e às
necessidades dos estudantes
Abertura para questionamento e
contribuição dos estudantes ao currículo
Abertura do curso à integração das
experiências e valores culturais dos
estudantes
Manutenção de laços
comunitários
Manutenção das conexões comunitárias e
de vizinhança dos estudantes às
comunidades de origem
Ação política
Retorno social Produtos relacionados ao curso (projetos
comunitários, aplicação das discussões no
cotidiano)
Ainda que os elementos trazidos no Quadro 2 precisem ser adaptados a cada prática
educativa, e que nem todos possam ser aplicados a todos os contextos a serem analisados
como é aqui o nosso caso eles trazem uma visão geral dos aspectos que caracterizam uma
abordagem pedagógica crítica e são úteis no sentido de nortear uma análise nessa perspectiva.
Assim, analisando os casos aqui estudados com base no Modelo conceitual proposto por Lapa
(2005), podemos afirmar que as duas turmas do Curso Moodle apresentam potencial para a
formação crítica, que trazem características que se enquadram nos indicadores propostos.
No caso da DESG, apesar de, como dissemos anteriormente, a presença de apenas duas alunas
na experiência dificultar a análise da proposta com relação a uma ação dialógica, entendemos
que os recursos inseridos no ambiente virtual da disciplina, assim como a maneira como os
mesmos foram apresentados trazem alguns limites à compreensão da proposta como dialógica
e com o foco numa formação crítica. Com a LMD, como o escopo desta pesquisa se limita ao
planejamento do primeiro semestre do curso, temos a mesma dificuldade de proceder uma
análise baseada no Modelo Conceitual de Lapa, pois os elementos que dispomos para fazer
esta análise se resumem ao discurso dos professores e à estrutura proposta no ambiente; esses
elementos, no entanto, sugerem que a proposta da LMD também não está pautada numa
perspectiva dialógica de educação, apresentando muito mais elementos correspondentes a
uma abordagem reprodutivista. No entanto, responder sim ou não a esta pergunta não é
suficiente para a compreensão dos complexos processos de cada um dos casos estudados; no
decorrer da análise ficou claro que a ausência de formação adequada para os participantes de
atividades de EAD na UFBA leva a uma reprodução do modelo presencial de educação que é
praticado pelos docentes envolvidos; modelo este baseado, hegemonicamente, num modelo
264
convencional pautado na racionalidade técnica criticada por Giroux (1997). Por outro lado, a
proposta do Curso Moodle, apesar de ainda apresentar diversas questões que precisam ser
discutidas e melhoradas, traz uma perspectiva de educação dialógica e pautada nos princípios
da cibercultura que favorece a construção da autonomia e a reflexão crítica, como pudemos
perceber nos extratos de fóruns trazidos durante a análise; no entanto, é importante ressaltar
mais uma vez, apenas um pequeno grupo entre os participantes das duas turmas do Curso
Moodle parece ter sido mobilizado por esta perspectiva dialógica de educação, o que sugere a
necessidade de uma investigação sobre os possíveis fatores que limitaram a atuação da
maioria dos participantes.
O que pudemos observar e analisar nesta pesquisa é que ainda é muito enraizada nos
docentes do ensino superior a concepção bancária de educação (FREIRE, 2006a), conforme
aponta a literatura da área; uma atuação mais reprodutivista de educação, principalmente no
caso daqueles que atuam em áreas de conhecimento distintas da Educação (como discutido
no Capítulo 2), nas quais predomina um despreparo para a docência e um desconhecimento
científico sobre o processo de ensino e aprendizagem (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
Seguramente, a realidade educacional contemporânea não abriga mais de forma tão universal
o educador bancário, mas, ainda podemos perceber, principalmente na docência universitária,
uma perspectiva formativa excessivamente dirigida, de cima para baixo, constituindo-se
naquilo que foi denominado por Nelson Pretto (2008) de educação broadcasting, usando uma
expressão trazida do universo midiático, justamente por conta da enorme presença dos meios
de comunicação no mundo contemporâneo e na necessidade de uma maior articulação da
educação com a própria comunicação. A superação dessa lógica broadcasting demanda de
todos os profissionais da educação e das políticas públicas a implantação de dinâmicas
pedagógicas baseadas na dialogicidade, em que professores e alunos, apesar das diferenças
nos papéis, não podem ser concebidos como objetos um do outro.
Para Marilda Behrens (2009a), o modelo de reprodução do conhecimento que se reflete
nas concepções pedagógicas do professor universitário caracteriza “o paradigma educacional
vigente (unidimensional, monocultural e compartimentado disciplinarmente)” (p.21) e está
associado a uma visão de mundo racionalista e mecanicista apoiada no paradigma
newtoniano-cartesiano. Para acompanhar as mudanças socioculturais da contemporaneidade,
a autora sugere a transição para o que alguns autores, a exemplo de Boaventura Santos (2006),
denominam de “paradigma emergente”, em que o processo de ensino e aprendizagem estaria
pautado não mais na reprodução, mas, sim, na produção de conhecimento, o que implica o
265
envolvimento do aluno no processo educativo de forma ativa, autônoma e criativa, e
reconhecer o próprio conhecimento como provisório e relativo, historicamente
contextualizado. Para tal superação paradigmática na prática pedagógica, Behrens (2009a)
sugere “uma aliança entre os pressupostos da visão sistêmica, da abordagem progressista e do
ensino com pesquisa, instrumentalizada pela tecnologia inovadora” (p.57). Para a autora, a
visão sistêmica ou holística busca a superação da fragmentação do conhecimento de forma
que a totalidade do ser humano, com suas múltiplas dimensões, seja resgatada, uma
concepção que leva à ideia de rede, de teia, de inter-relações; a abordagem progressista
defende as parcerias e a participação crítica e reflexiva de alunos e professores tendo como
pressuposto central a transformação social, apresentando o diálogo e a discussão coletiva
como forças propulsoras de uma aprendizagem significativa; o ensino com pesquisa considera
aluno e professor como pesquisadores e produtores de seus próprios conhecimentos, através
da interação com os conteúdos estabelecidos, atuando com autonomia e espírito crítico e
investigativo na busca da superação da reprodução e da imitação referendadas pelo
pensamento newtoniano-cartesiano (BEHRENS, 2009a, 2009b). Uma prática pedagógica em
consonância com essas abordagens pressupõe uma atuação docente que se afaste do
autoritarismo e caminhe no sentido de atitudes mais colaborativas e críticas a fim de
contribuir com a construção de processos autônomos de apredizagem..
No contexto desta pesquisa, diversos sujeitos expressaram, algumas vezes de forma
explícita, sua adesão a essa concepção reprodutivista. A postura do educador como autoridade
do saber é muito clara, por exemplo, na entrevista com o Docente5-LMD, quando ele descarta
a possibilidade de considerar os saberes da experiência do aluno da LMD (grande parte
professores da rede pública anos) que entende que esse saber é, na grande maioria das
vezes, equivocado, refletindo um preconceito com relação ao nível de compreensão e de
conhecimento que se supõe que os alunos tenham. O extrato de entrevista seguinte retrata
essa concepção na resposta do docente quando questionado sobre como os saberes e
experiência dos futuros alunos da LMD seriam considerados no planejamento do curso.
[...] ele pode estar 10, 15 anos ensinando errado (rs); a gente isso;
então tem que ter uma formação forte no conteúdo mesmo. Na licenciatura
tem disciplinas especificas para o ensino da matemática. Mas aquilo que ele
vai ensinar ele tem que ter um conhecimento bem sólido. Esses vícios, esses
erros da matemática, vão acumulando, vão se propagando... é um problema
mesmo. (Docente5-LMD, na entrevista).
266
Essa visão vai de encontro às teorias cognitivas da aprendizagem que defendem “a
importância de resgatar os saberes prévios de nossos alunos, para o que é prioritário conhecer,
na medida do possível, sua idiossincrasia e seus estilos de construção de conhecimento”
(COIÇAUD, 2001, p.61). A complexidade dessa tarefa, no entanto, adquire proporções ainda
maiores quando se trata da modalidade a distância, em especial em cursos oferecidos a um
grande número de pessoas e de regiões diferentes. O primeiro passo, porém, é a elucidação
dos preconceitos com relação ao sujeito aprendente e a percepção da importância do
oferecimento de espaços de diálogos em que se possa discutir, entre outras coisas, as formas
de relacionar os conhecimentos teóricos e práticos.
Outro exemplo que retrata uma visão instrucional da educação é o excerto de fórum
seguinte, que traz a fala de um dos participantes que faz uma interessante reflexão sobre a
importância de considerar o “tipo de saber” que está sendo trabalhado no processo de ensino e
aprendizagem para que se possa definir a abordagem pedagógica:
Me desculpem por bancar o advogado do diabo, mas simplesmente não
entendo qual seria o problema em utilizar essa interface [o Moodle], ou
qualquer outra semelhante, como um repositório de dados, ou melhor, como
um lócus para disponibilização e integração de materiais em formato
digital. [... Alguns cursos] envolvem a compreensão, o domínio e a
instrumentalização individual de um saber livresco, tais como as disciplinas
de aquisição de línguas antigas, por exemplo. Qual seria o problema em
utilizar, nessas disciplinas, sejam elas EAD, E. On Line ou educação
presencial, cursos com um perfil instrucional? Por que o fato do professor
funcionar como principal polo de emissão dos conteúdos abordados, nesse
tipo de disciplinas, seria um problema? [...] Enfim, me parece que estamos
enxergando as coisas de uma maneira polarizada demais, como se existisse
um embate entre as novas formas de lecionar e as antigas que valesse para
qualquer tipo de saber. Acho que o que deve determinar o perfil do curso é,
acima de tudo, a natureza do conhecimento que ele procura transmitir ou da
habilidade que ele procura desenvolver. (Participante37-CM08, no fórum).
Para o Participante37-CM08, mais importante que buscar uma concepção de educação
que valorize a autonomia e a formação crítica é adaptar o perfil do curso à área do saber que
ele aborda, ainda que para isso um modelo instrucional e não dialógico seja utilizado. É
importante ressaltar, no entanto, que, como argumenta Eliane Schlemmer (2005), a
abordagem instrucional está associada a uma concepção empirista sobre a “aquisição” de
conhecimento na qual se defende que o conhecimento está nos objetos e é adquirido pelos
sentidos caracterizando a atitude passiva do aluno –; na abordagem interacionista, por outro
lado, acredita-se que o conhecimento é construído no “processo de interação entre sujeito e
objeto de conhecimento, entre o indivíduo e seu meio físico e social” (p.33), de forma que a
267
aprendizagem se dá na medida em que o aluno “age” sobre os conteúdos específicos e
interage com o meio caracterizando uma atuação interativa e autônoma. Nesse sentido, a
postura do professor não pode se limitar à transmissão ou disponibilização do conteúdo, mas
sim avançar para uma atitude interativa de mediação, problematização, articulação do
processo. Ainda segundo Eliane Schlemmer (2005), quando falamos em instrução
programada, o computador é pensado como uma máquina de ensinar; quando falamos em
concepção interacionista, o computador é visto como um dispositivo de desenvolvimento
cognitivo e, nesse caso, podemos falar em aprendizagem em ambientes virtuais.
A perspectiva reprodutivista de educação reflete-se, também, na atuação silenciosa da
grande maioria dos docentes quando no papel de alunos nas duas turmas do Curso Moodle.
Alguns participantes justificaram sua pouca participação com a falta de tempo (ou prioridade)
normal de docentes envolvidos com atividades de ensino, pesquisa e extensão em uma
universidade pública retratando a questão do “trabalho intensificado” dos professores
universitários (SGUISSARDI; SILVA JÚNIOR, 2009). No entanto, pudemos perceber, nas
entrelinhas do processo, que alguns docentes não percebiam a importância de interagir nos
fóruns, entendendo que as leituras e a “escuta” das discussões seriam suficientes para o seu
aprendizado. No caso da LMD a perspectiva de reprodução do conhecimento também pode
ser percebida nas propostas concretizadas nos ambientes virtuais, em que o foco é,
claramente, o material didático.
Com relação à concepção de educação a distância, em muitas das falas dos sujeitos da
pesquisa ela é associada a uma educação na qual o autodidatismo é sinônimo de autonomia,
na qual construção coletiva de conhecimento não é possível, na qual o conteúdo, concretizado
no material didático que é disponibilizado aos alunos, é a parte central do processo de ensino
que por sua vez é separado da aprendizagem nesta concepção –, na qual a interação é no
máximo reativa, em resposta a dúvidas do discente ou a “tarefas” propostas pelo docente. Em
verdade, como argumenta Silvia Coiçaud (2001), originalmente a modalidade a distância
tinha como um dos princípios o autodidatismo e seus projetos eram apoiados em abordagens
comportamentalistas e instrumentais, com “uma forte marca tecnicista, tanto em sua
concepção pedagógica global, como no desenho de seus materiais” (p.54); isso justifica, de
certa forma, o preconceito ainda presente contra essa modalidade, e que desconsidera suas
possibilidades quando pensada no contexto da comunicação em rede.
No entanto, essa concepção de EAD foi reelaborada por alguns sujeitos da pesquisa, em
particular os participantes do Curso Moodle, que mostraram reconhecer as possibilidades da
268
EAD, na atualidade, no sentido de uma educação mais dialógica. As postagens a seguir
retratam algumas das reflexões nesse sentido:
Creio que outra mobilização [que vivenciei no Curso Moodle] está
associada à forma como passo, agora, a pensar sobre EAD. // Tornei móvel
também minha impressão rígida, imóvel, de que a EAD fosse só desgaste
mental e sico... tornei móvel esta impressão e a mandei embora
definitivamente, porque encontrei prazer no aprendizado que ainda está em
curso. Foi uma ótima decisão resolver inscrever-me e estar aqui com todas
as pessoas que fazem a ideia andar. (Participante2-CM08, no fórum).
A Participante10-CM08 reflete sobre uma experiência prévia e consegue, agora,
perceber os diferentes modelos possíveis para a EAD e suas implicações no que diz respeito a
uma educação mais dialógica:
Na prática, compreendi depois de todas as leituras nosso curso como um
misto de colaborativo e interativo. Estou errada? [...] fui tutora de dois
cursos à distância- hoje percebo que por mais estruturado e por melhor que
tenha sido a experiência no momento, como ela foi pobre em promover o
debate entre os participantes do curso. Embora fossem utilizados diferentes
formatos de mídia, o contato era no máximo individual aluno-tutor, num
formato fechado, utilizando um referencial muito próximo da educação
bancária (fiquei meio preocupada com a minha própria falta de crítica à
época), apesar de todas as inovações tecnológicas adotadas e de termos
pessoas de todo o país. (Participante10-CM08, no fórum).
A Participante16-CM08 reflete sobre a concepção errônea que tinha com relação à EAD
e ressalta que o Curso Moodle põe em prática os estudos de pesquisadores da FACED sobre o
tema:
A educação a distância tem uma emissão centralizada, mesmo que o
conteúdo veiculado seja revolucionário, enquanto a on line, pelo próprio
suporte que utiliza, possibilita uma maior interatividade, o que não significa
que não possa centralizar também a autoridade no emissor. Isso é que é
mais preocupante: temos um monte de ações de educação on line que não
consegue se despregar desse modelo de educação em que o conteúdo,
métodos, avaliação ficam na mão dos “meios de produção”, digamos assim
e não se estabelece aquilo que está posto para a cibercultura. Para nossa
preocupação, centenas de jovens estão optando por “receber” formação por
meio desses projetos de EAD que usam a comunicação e informação on line
apenas como fachada.// Minha participação [no Curso Moodle] é sofrível,
mas o curso em si põe em prática os estudos de meus colegas da Faculdade
de Educação da UFBA e de outros pesquisadores cujas leituras eu pude
fazer [...] O curso é muito bom, veio desfazer a ideia errônea que tinha de
EAD. (Participante16-CM08, no fórum).
269
O Participante21-CM08 reflete sobre diferentes modelos de EAD possíveis e ressalta a
importância da não linearidade no que diz respeito à organização do tempo na EAD:
Talvez a minha participação tenha sido atropelada, pois foram muitos
afazeres que me cobravam atenção, mas até isso me permitiu entender a
vantagem da EAD, pois em um curso tradicional, linear, eu teria perdido
parte do conteúdo e da participação. No formato que vocês empreenderam
está sendo possível retornar aos tópicos que não foram estudados,
participar de fóruns que já foram trabalhados. O modelo de EAD que
conhecia era diferente. Apesar de serem cursos a distância, o tempo para
cada coisa, assim como a não opção de retornar e recuperar o que tinha
perdido não existia, acabava sendo um curso presencial disfarçado.
(Participante21-CM08, no fórum).
Esses excertos de fóruns retratam o potencial de reflexão que o Curso Moodle
apresentou, de forma a mobilizar, nos participantes, conceitos prévios, possibilitando uma
ressignificação, nesses casos, com relação à concepção de EAD.
No caso da LMD, essa ressignificação da concepção de EAD mostrou-se parcialmente
presente nos docentes que acompanharam o curso de formação de tutores da UAB; nesse
curso, a Docente2-LMD e o Docente6-LMD vivenciaram uma prática pautada na interação
mútua e se mostraram sensibilizados e surpresos com essa atuação, de forma que refletem
sobre a LMD com base nessa experiência. Os docentes verbalizam nas entrevistas a influência
que o curso de tutores teve nas suas concepções, confirmando a importância da experiência
on-line para a sua própria formação:
Eu fico preocupada com essas coisas todas; talvez pra outra pessoa não, ela
pode vir com um pensamento de que ensino a distância é só colocar o
material lá e pronto, um fórum de dúvidas e acabou. Eu acho que o papel do
coordenador vai ser importante. [...] A gente pode também estar fazendo o
papel um pouco dele, não é? A gente termina fazendo. Então eu e o
Docente6-LMD, provavelmente, [pela vivência que tivemos no curso de
tutores] vamos ter um interferência nesse processo, não é? // Veio depois [do
curso de tutores, a compreensão de que o fórum não é só pra tirar duvidas]!
Eu ficava achando que era pra tirar dúvida. Eu não sei como ficam os
outros professores que não participaram do curso de tutores. Fora os outros
que não participaram de nada... eles vão entrar depois e vão ficar por fora
de tudo. (Docente2-LMD, na entrevista).
Com certeza, é possível [fomentar a autonomia], através da interação, dos
fóruns. Mas se não tiver interação acaba virando, por exemplo, um curso de
correspondência mesmo daqueles... E essa coisa de se o professor não
provocar uma coisa desse tipo, o aluno acaba ficando alienado mesmo, não
é? [...] eu despertei pra isso depois do curso de tutores [...] Isso, [a proposta
de formação vai além do instrumental], existe uma certa diplomacia pra
você lidar... porque você está via tecnologia, mas você está lidando com
270
pessoas. Aprendi, com certeza, ali no curso de tutores. Aprendi muito. Isso
vai me ajudar bastante, inclusive, quando começar o curso. (Docente6-
LMD, na entrevista).
O preconceito com relação à EAD também foi pauta de debate nas discussões nos
fóruns do Curso Moodle, em especial quando um dos participantes traz sua experiência como
professor da rede particular e retrata a maneira como a instituição se utiliza da EAD para
reduzir a atuação dos professores e, consequentemente, seus salários, sem uma aparente
preocupação com a interferência que isso pode ter na qualidade do ensino; diante disso, o
participante manifesta-se de forma negativa e preconceituosa com relação à EAD,
entendendo-a, de forma generalizada, como um recurso mercadológico para a rede particular.
O Participante2-CM08 responde à argumentação do outro participante relatando a
possibilidade que ele, Participante2-CM08, teve de repensar sua visão sobre a EAD a partir da
sua participação no Curso Moodle e nas discussões que foram travadas, ressaltando a
importância da imersão no debate sobre a teoria abordada:
Todos temos muita, muitíssima, escassez de tempo, caro [Participante53-
CM08], mas estamos numa luta danada aqui nestes debates deste fabuloso
curso que a equipe da UFBA, especialmente as quatro professoras
principais, estão nos oferecendo. O debate, o instrumento e as teorias a que
estamos tendo acesso, são excelentes e não ingênuos por aqui. O fato é
que não há, me parece, salvo melhor juízo, uma única EAD, como pode
transparecer em sua mensagem. Pelo menos é assim que entendo o que
estou apreendendo aqui no curso. Esta [EAD] de que você fala foi muito
debatida aqui no nosso curso (que pena você não ter tido condições de
participar desde o início, mas está tudo disponível para você dar uma
‘futucada’, como dizemos aqui). Estamos, aqui na UFBA, inventando uma
nova EAD. O curso é sensacional, e naturalmente a tendência é melhorar,
pois estamos apenas na segunda turma. É claro que o sistema vigente no
mercado da educação privada irá sempre superexplorar a mão de obra que
quiser se submeter à exploração, mas aqueles que partirão pra outra
(permita-me dizer que eu sou destes casos de resistência)... os que não têm
condição de se reinventar podem juntar-se aos que estão sabendo desta
situação, e não estão parados, estão organizados ou se organizando. Além
disso, tenho uma visão diferente da sua, com relação ao MEC, e aos
empresários que você “instalados por lá”. Eles não estão no MEC, estão
em todo o mundo, e são empresários, muitos deles inescrupulosos mesmo,
mas nem todos... (Participante2-CM08, no fórum).
A experiência vivenciada como aluno on-line no Curso Moodle possibilitou, para alguns
professores, um espaço de reflexão sobre sua prática docente, de forma que foram
mobilizadas suas concepções com relação à EAD e à educação de forma geral, independente
de sua modalidade. Esse espaço de reflexão e trocas entre pares e pesquisadores constitui-se
em importante elemento para a ressignificação de conceitos e para o exercício da práxis, onde
271
teoria e prática são olhadas de forma indissociável e levam ao que Evandro Ghedin (2001)
chama de “consciência-práxis” que age orientada por uma teoria e tem consciência de tal
orientação – indo de encontro à alienação que se reflete na separação entre teoria e prática. Na
LMD, os espaços de trocas entre pares promovidos a partir das reuniões e encontros para
discutir a prática que se realizaria no desenvolvimento do curso a distância também se
constituíram em espaços de reflexão sobre a prática; no entanto, este último espaço pouco
possibilitou com relação à teorização sobre a prática de forma que a reflexão se limitou, na
maioria das vezes, a questões metodológicas, numa visão tecnicista da EAD.
Na busca da construção de processos educacionais dialógicos como caminho para a
formação de sujeitos críticos e autônomos, os AVA apresentam-se como espaços
comunicacionais que possibilitam o relacionamento horizontal, a livre expressão e o debate
em profundidade, como pudemos perceber nos diálogos travados nas duas turmas do Curso
Moodle analisadas. Mas, para tal, a concepção de educação que embasa a proposta educativa
precisa estar pautada no modelo de construção de conhecimento de forma coletiva, com vistas
a uma formação emancipadora.
Os professores não estão à margem da discussão pública sobre as finalidades
do ensino e sua organização. Pelo contrário, se encontram precisamente no
meio das contradições presentes na sociedade. Pôr isso mesmo, não podem,
de modo algum, nas suas reflexões e ações, deixar de levar em consideração
tal contexto como condicionante de sua própria prática. Sob este ponto de
vista, a deliberação prática e o juízo profissional autônomo se realizam no
contexto dos elementos que intervém na reflexão, e ela participa do conflito
ideológico ou da contradição de interesses que se desenvolve publicamente.
Aqui assume relevância ímpar a crítica, pois os professores tem a
responsabilidade de ter opiniões informadas e critérios de valor
argumentáveis, assim como de defendê-los publicamente. (GHEDIN, 2001,
p.3).
6.3 A IMERSÃO NA CIBERCULTURA: OS AVA COMO ESPAÇOS DE
COLABORAÇÃO E AUTORIA
A apropriação dos elementos fundamentais da cibercultura, manifestos de forma
explícita através das tecnologias digitais de informação e comunicação, amplia as
possibilidades de intervenção e, principalmente, de uma transformação radical nas formas de
se ensinar e aprender. Outras possibilidades podem ser abertas, de forma a implantar-se
processos horizontais de formação, que tenham como princípios balizadores a permanente
troca de informações, o estímulo à produção de conhecimentos e de culturas e promovendo
272
novas relações entre as culturas e os conhecimentos estabelecidos. É nesse sentido que a
perspectiva tecnológica abre um leque de possibilidades dos sujeitos intervirem no processo
de comunicação. Dessa forma, as diferenças, de culturas e conhecimentos, passam a ser
objetos de enaltecimento, sendo os chamados pressupostos da cibercultura elementos que
contribuem para a radicalidade desses processos de comunicação e de partilha, uma vez que, a
interatividade possibilitada pela comunicação no contexto digital permite que a mensagem
seja modificável a partir das necessidades e solicitações daqueles que a manipulam. O
receptor, portanto, potencialmente, pode romper com uma postura de passividade e vivenciar
processos de coautoria, cocriação e (trans)formação, reconhecendo-se como sujeito da sua
aprendizagem, como autônomo.
A autonomia, quando numa compreensão que vai além do autodidatismo, é sempre
associada às possibilidades de interação presentes numa proposta educativa, em especial na
perspectiva da EAD, que é através da interação que o discente pode se posicionar de forma
ativa e construir, junto ao docente, uma educação dialógica, interferindo no processo coletivo;
a intervenção de todos os envolvidos é possibilitada de forma horizontalizada, ainda que
exista a hierarquia na experiência e no conhecimento produzido, de maneira que o processo
educativo é único (e novo!) a cada contexto, cada tempo, cada espaço e, em última instância,
cada sujeito.
A interação, no entanto, embora percebida na sua importância por diversos dos
participantes da pesquisa, não é uma ação comumente presente na educação, e, mais
especialmente, na EAD, nem muito menos uma atitude fácil de provocar a partir da simples
presença de recursos tecnológicos que a possibilitem. Essa complexidade no que diz respeito
à interação apareceu como reflexão de alguns participantes, que hora se animavam com o
fórum, hora resistiam ao chat, mas que, em diversas situações, se mostraram sensibilizados
com as possibilidades que a cibercultura carrega no que diz respeito à interação e como esta
pode ser um diferencial numa proposta de EAD. Nas duas falas a seguir, por exemplo, os
participantes expressam seu amadurecimento com relação à compreensão do papel do fórum:
Estive envolvido em outros tópicos quando a atividade fórum estava bem
interessante, assim não percebi, naquela oportunidade, quanto pode
alavancar um curso à distância essa atividade. De qualquer modo nessa
terceira semana foi possível, mais “maduro”, entender melhor essa
atividade e assim ter a consciência da necessidade do seu uso com
estudantes do curso que tenho disponibilizado no moodle. Certamente no
segundo bimestre estarei trabalhando com esse tema incluído.
(Participante1-CM08, no fórum).
273
Através dos fóruns é que se estabelece a verdadeira construção interativa de
conhecimento. Este recurso permite que o conhecimento exposto se amplie
para além do que teria apenas o tutor a oferecer, que materiais e
pensamentos oriundos de diversas experiências podem ser compartilhados.
(Participante2-CM07, no fórum).
Sobre o chat, alguns participantes expressaram sua resistência à participação, mas que,
aos poucos foi sendo ressignificada ou reavaliada em função das opiniões de outros
participantes, que, por sua vez, expressaram a satisfação de participar do chat ou a percepção
do quanto a interação síncrona pode contribuir para a construção da afetividade ou provocar a
mobilização dos participantes:
[...] vou participar do chat (quer dizer farei o possível), que vejo como um
momento descontraído de encontro, troca de ideias e mais uma
oportunidade de crescimento, neste curso, que tem aberto os meus
horizontes. (Participante8-CM08, no fórum).
Também não gosto muito de Chat, mas reconheço ser uma ferramenta
importante na EAD, por ser uma forma ncrona de interação, permitindo a
construção do conhecimento a partir do que está sedimentado, de uma
forma mais espontânea, on line! Percebo, também, que cada vez mais são
ofertados cursos a distância, muitas vezes qualificados pelo MEC, mas que
apenas utilizam recursos de TI, sem a preocupação com atividades que
possibilitem a interação aluno x tutor x aluno. Desta forma perde-se a
contribuição desta troca de dúvidas, opiniões e experiências, até para a
própria evolução do conteúdo do curso, que poderia se modificar e
enriquecer a cada novo grupo. Aqui entraria, então, o reforço da
importância do Chat. (Participante13-CM08, no fórum).
Gostei dessa parte, que eu não havia pensado: “Por seu formato digital, o
chat permite também o armazenamento das discussões para posterior leitura
dos alunos que não participaram da seção ou mesmo uma posterior análise
da experiência, destacando os comentários que não foram compreendidos
para um futuro debate, ou mesmo o aprofundamento de alguma temática
levantada.” É bem interessante a possibilidade desta memória... achando
que ainda vou gostar de chat... Vou dormir pensando nisso hoje... no chat.
(Participante2-CM08, no fórum).
Oi gente! Até o Participante2-CM08 passou para o lado do chat? Viva!
Porém, “perde ponto” quem não participar? Ainda não me convenci! Por
enquanto, fora! Acho (tenho certeza) que eu ainda não tenho o que dizer.
Ainda tenho muita coisa pra ler, ouvir e aprender antes de ficar c h a t e a n
d o os outros ao vivo. Ainda bem que os agendamentos estão próximos, não
vai dar tempo de mudar de ideia, ufa! (Participante3-CM08, no fórum).
Se é correto entender a expressão “mobilizar saberes” como ‘tornar
saberes móveis’, com o sentido de compartilháveis, de flexíveis (sem
rigidez), talvez eu possa dizer que tornei móvel meu “saber” preconceituoso
associado à minha incapacidade de aceitar o uso de chat (mas somente em
274
algumas situações muito específicas, como aconteceu no chat do dia 16 pela
manhã, que foi muito interessante, com participação muito produtiva e
agradável de se mobilizar...). (Participante2-CM08, em outro momento, no
fórum).
Os temas interação e interatividade também foram trazidos, pelos participantes,
associados à compreensão da cibercultura como uma cultura que favorece a participação ativa
dos sujeitos e, em se tratando de AVA, como o aspecto que pode ser o diferencial na EAD e
mesmo na educação presencial, possibilitando uma maior troca entre os participantes.
Vejo a interatividade como ponto fundamental já que, sem ela, corremos o
risco do aluno dormir na frente do computador. O aluno tem que se sentir
participante, atuante. Ele deve ser questionado e motivado a não ficar
parado frente ao computador (clicar o mouse aqui, fazer mover uma figura
para outro lado, realizar um exercício-pesquisa, webquest etc). A interação
com outros indivíduos pode ser maior no ambiente on-line do que em uma
aula presencial, se o ambiente for propício para as trocas. (Participante4-
CM08, no fórum).
O Participante1-CM08 manifesta-se no fórum trazendo reflexões sobre sua própria
aprendizagem com relação aos pressupostos da cibercultura, considerando as transformações
que essa aprendizagem pode promover em sua própria prática docente:
Se consideramos a cibercultura como o conjunto de técnicas e saberes
(envolvendo a Internet e tudo que é gerado, partindo e à sua volta) conforme
está num dos textos, se estou compreendendo bem, é natural que a
cibercultura tenha provocado na educação transformações absolutamente
inimagináveis, conforme a realidade de hoje. Uma transformação bem
palpável é a proximidade do educador com o educando. A interação via chat
(tenho que enfrentar), ou via fórum de discussão, é um outro exemplo. Esse
contexto virtual ou real, como é colocado por colegas desse curso, permite
também a obtenção do conhecimento novo muito facilmente, significando a
necessidade do educador estar sempre atualizado. // Quanto à temática dos
saberes ligados à mediação pedagógica estou pensando que tenho que fazer
um esforço para tornar a interatividade mais forte. Seja através de minha
participação seja através do estímulo à participação entre os estudantes,
fornecendo também os resultados daquilo que foi posto para discussão etc.
Penso que assim poderei interligar a mediação à interatividade. A leitura de
suas reflexões e induções sobre esse tema foi bastante útil para o meu
entendimento da temática e tomada de posição. Penso que poderei agir
melhor na integração do on-line com o presencial da parte da disciplina que
é de minha responsabilidade. (Participante1-CM08, no fórum e espaço de
autoavaliação).
A Participante10-CM08 comenta sobre suas inquietações com relação aos temas
abordados nos fóruns e como elas lhe levaram a buscar novos elementos para a sua
275
compreensão; ela compartilha o texto encontrado e reflete como as concepções de interação
no on-line se constituem numa forma contra-hegemônica no contexto do curso em que atua:
[...] é um desafio e tanto essa participação tão ativa na graduação, mas é
uma forma contra hegemônica dentro do meu curso; pois é... eu sou
professora da saúde coletiva... os alunos sabem que é diferente... tem que
participar mais, opinar; mas essa não é a realidade do curso de
odontologia. (Participante10-CM08, no fórum).
A virtualização, no sentido que discorremos em capítulo anterior, aparece nas
discussões dos fóruns, quando são ressignificadas diversas concepções previamente
estabelecidas pelos participantes da pesquisa. Na LMD, as virtualizações se dão nas conversas
durante as reuniões, nas ideias debatidas, nas “novidades” sobre interação que eram discutidas
com os docentes. No momento de atualizar, no entanto, pouco se vê das novidades, e muito da
experiência e cultura de educação conteudista; mas na virtualização/reflexão, podemos trazer
como exemplo uma fala da Docente2-LMD com relação à interação do docente e do tutor
com os alunos para apoiar a aprendizagem:
Agora, a gente vai ter que estar atento, os tutores também, a estar
incentivando e chamando atenção: “olha, você precisa estudar mais!” Por
exemplo, eu senti isso no curso de tutores. // É importante também deixar
claro: “olhe, sua avaliação vai ser essa, você tem que realmente participar
dos fóruns”. Tem que ficar muito claro pros alunos. // O que que seria ideal:
o professor, ou o tutor pode ter a ideia antes do professor, ou pode ser
combinado, tem que estar fazendo algumas perguntas de forma que quando
os alunos forem respondendo você vai avaliando se os conteúdos foram
entendidos. Provocando, fazendo provocações: “nessa demonstração, se
tirasse essa condição, será que poderia dar certo? Será que a volta vale?”
Eu faço isso em sala de aula, mudo alguma coisa e provoco [...]. Então
assim, pra entender bem o conceito, perguntas, provocações, com esse
objetivo. Porque o aluno vai estar investigando aquilo e ao mesmo
tempo vai estar estudando. E você vai estar percebendo se o aluno está
estudando, e também se está compreendendo aquilo. E algumas dúvidas vão
surgir, claro, que pode até ser coletivo, e você tem que estar ajeitando as
coisas porque pode ser que aquele material impresso não seja suficiente, e
provavelmente não vai ser. (Docente2-LMD, na entrevista).
Refletindo sobre a atuação do docente no on-line, e extrapolando essa reflexão para o
presencial que muitos dos participantes perceberam que as questões e dilemas da
educação a distância muitas vezes também fazem parte da educação presencial -, alguns
docentes expressaram sua preocupação em dialogar com os alunos, mas trouxeram alguns
entraves como a quantidade de alunos em sala de aula, impossibilitando uma atuação mais
276
individualizada, o paternalismo presente na maneira de lidar com os alunos, a cultura da
passividade na atuação do aluno no presencial:
Você tem toda razão quando coloca a necessidade do educador desenvolver
sua atividade de maneira que o estudante seja ele próprio agente do seu
aprendizado. Eu mesmo tenho pensado e dito: como vou fazer para eliminar
o “paternalismo” no ensino da minha matéria? Tenho conseguido alguma
coisa, mas não é o suficiente ainda. Nesse sentido, como você colocou bem:
aprender a utilizar os recursos das TIC e experimentar novos desenhos
educacionais. (Participante3-CM08, no fórum).
Deu um (positivo) no juízo. Perfeitas as colocações de Docente5-CM08
[sobre saberes docentes], fiquei babando... o processo virtual não me
incomoda. Por esses dias estava preparando material- gravações de áudio,
animações, preparações de fóruns tentando essa organicidade dentro de
uma disciplina. Mas acho que de fato o grande limite para a formação atual
do professor / e do aluno é a interação- compreendida como forma de
construção de saberes interativa como superar a inércia da formação
tradicional dentro de um curso tecnicista por exemplo – fazer o aluno
opinar em qualquer coisa presencial já é um processo! (Participante10-
CM08, no fórum).
Essas reflexões apontam para um questionamento, por parte dos docentes, sobre o
modelo conservador de educação que vivenciam e as possibilidades e importância de uma
prática pedagógica na qual o professor é desafiado a “ultrapassar seu papel autoritário, de
dono da verdade, para se tornar um investigador, articulador e pesquisador crítico e reflexivo”
(BEHRENS; TORRES; MATOS, 2007, p.590).
A discussão sobre a cibercultura nos casos estudados teve questões unânimes entre os
participantes ativos, como, por exemplo, perceber a irreversibilidade do processo de
transformação cultural que estamos vivendo. Já a percepção que cada docente traz sobre como
essas transformações perpassam sua própria atividade docente o segue um padrão, como é
natural; enquanto alguns docentes afirmam que as mudanças estão presentes em sua “sala
de aula”, outros afirmam que sua prática não mudou, como é o caso do Docente5-LMD, por
exemplo, que afirma que o conteúdo de uma determinada disciplina é o mesmo de 20 anos
atrás, e que a maneira como ensina é praticamente a mesma de agora, nem mesmo as aulas
são digitadas:
Eu uso [as TIC], mas nem tanto; não participo de fóruns de professores; de
vez em quando entro na Internet, mas atuo mais em cima de livros mesmo;
as coisas na matemática são mais estáticas mesmo, os programas das
disciplinas são os mesmos; se você quer alguma mudança, você tem que
começar a mudar, mas não por uma demanda específica do campo tipo:
‘você tem que mudar senão fica desatualizado...’; não, isso não existe. O
277
conteúdo dessa disciplina de 20 anos atrás é quase o mesmo [...]. [Os
softwares educativos são uma] coisa que a gente pode mudar; eu uso de vez
em quando, mas não com tanta frequência como poderia ser; porque? por
várias coisas, uma é a própria extensão da disciplina; às vezes programo
para usar o mapple, por exemplo, para matriz, então eu programo para usar
a sala 150 [o laboratório,] com os alunos; eu uso muito pouco; os
professores em geral, na matemática, ou não usam ou usam muito pouco. //
Agora, tenho conseguido usar no mínimo 1 ou 2 vezes por semestre o lab.
(Docente5-LMD, na entrevista).
Entretanto, as possibilidades de colaboração, de maior interação, de maior autoria
também são facilmente percebidas pelos participantes, que acreditam que essa nova cultura
implica também uma nova forma de pensar e de agir no mundo e, consequentemente, de fazer
educação.
Gosto de pensar nas mudanças de postura que as novas tecnologias, se não
impõem, pelo menos, instigam. Talvez seja difícil mudar de “mero receptor”
para colaborador/produtor... mas, penso que vamos conseguir. Se não nesta
geração, certamente na próxima. (Participante15-CM07, no fórum).
Tenho planos para utilizar o ambiente complementando a formação dos
graduandos nas disciplinas que ministro com o imenso desafio de tornar o
computador em um “novo ambiente cognitivo” que muda a nossa forma de
pensar e, portanto, a de aprender. Finalizando este curso me sinto
verdadeiramente como “um arquiteto cognitivo e engenheiro do
conhecimento”. Está em nossas mãos, agora, a possibilidade de deletar a
escola de portas fechadas e cercadas por muros, para deixar nascer a
escola da multiplicidade, do hipertexto, do link, das janelas abertas e das
salas de aulas conectadas com o mundo. (Participante3-CM07, no fórum).
A Participante4-CM07 ressalta a importância de superar os métodos vigentes de ensino
para dar sentido à incorporação das TIC na educação:
Na educação, sem dúvida, um dos avanços mais marcantes é o acesso às
novas tecnologias. Contudo as chamadas TICS terão sentido se houver
mudança de postura docente, aumento da conscientização sobre a
importância da interação entre os participantes de um processo de ensino-
aprendizagem, aliados à competência profissional...De nada adianta
introduzir novas tecnologias se a ‘metodologia’ se mantiver nos moldes
tradicionais. (Participante4-CM07, no fórum).
A Participante16-CM08 destaca a possibilidade da interação horizontalizada e a
importância desse aspecto para que as múltiplas referências dos participantes passem a
interferir na construção do conhecimento, agora, de forma coletiva; a Participante12-CM07
traz questões semelhantes à perspectiva do conhecimento em rede; o Participante5-CM07
278
segue a mesma linha de pensamento, associando as mudanças em curso a uma quebra
paradigmática:
Oi, Docente1-CM08, estou simplesmente encantada com sua participação
nesse curso, aliás, com todo o curso, mesmo considerando que o mesmo
acolhe estudantes tão ausentes como eu. rss. Mas essa inclusão é possível,
creio eu, pela perspectiva da cibercultura, essa cultura que mergulha no
ciberespaço, sem um direcionamento prévio, tendo o virtual como instância
privilegiada para possíveis atualizações. Nesse espaço, estabelece-se uma
comunicação mais horizontalizada, as referências de toda a ordem podem
ser disponibilizadas, acessadas, trocadas, hipertextualizadas e cada pessoa
poderá “puxar seu fio de pensamento”, como diria Hugo Assmann, de
acordo com seus modos culturais e interagir, trazendo novas referências
para serem trocadas, acessadas... É uma nova cultura que se estabelece...
(Participante16-CM08, no fórum).
[...] acredito que a educação na cibercultura tem como característica
marcante a cooperação, o compartilhamento, a integração das diferenças, o
que vem oportunizar, sobretudo, a produção coletiva não linear. A
construção do conhecimento passa a ser coletiva mesmo entre pessoas
distantes, rompendo barreiras de tempo-espaço. Realmente é um
conhecimento em rede, em que cada estudante entende a importância da sua
efetiva participação, compreende a complexidade da coisa. Cada
participante, cada indivíduo representa um dessa rede. Penso que, este
entendimento é fundamental para uma educação comprometida com tudo e
com todos. A interação/conexão entre Natureza-Cultura Por outro lado,
focando a nossa realidade. (Participante12-CM07, no fórum).
Acredito que a possibilidade de interação entre os diversos saberes e pontos
de vista promovem a reflexão, o questionamento, podendo levar a uma
quebra de paradigmas pré estabelecidos // com a velocidade que andam
as informações e as tecnologias é quase impossível passar ao largo da
interação virtual e acho que devemos melhorar a capacitação para o uso do
ambiente virtual como forma de melhor formar // aprendi muito com o curso
mas acho que ainda estou no pré em relação à cibercultura. vou tentar
entrar nas discussões. (Participante5-CM07, no fórum).
Algumas discussões possibilitaram emergir as questões políticas e sociais que estão
presentes na cibercultura, como o viés consumista do ciberespaço, a questão do acesso que
não é para todos, ou a necessidade de políticas públicas e institucionais que favoreçam uma
apropriação dessas tecnologias com o cuidado em buscar garantir um acompanhamento
adequado da expansão da educação nesse novo cenário, em especial no que diz respeito à
EAD, além de reflexões sobre a atividade docente on-line que, dentro dos modelos que se
apresentam na atualidade, constitui uma sobrecarga a mais não contabilizada na carreira
acadêmica, o que vem agravar uma situação de trabalho intensificado (SGUISSARDI;
SILVA JÚNIOR, 2009). O Participante4-CM08, por exemplo, além de argumentar sobre o
279
viés consumista do ciberespaço e sobre o grande crescimento na oferta de cursos a distância
não necessariamente num formato coerente com o que defendemos reforça a discussão
sobre a inclusão digital, ressaltando, inclusive, a péssima escolha do termo.
O caminho não tem mais volta. O ciberespaço também está em constante
expansão, e claro que a lógica capitalista vai tentar tirar o máximo proveito
disso (o ciberespaço também é um terreno dos mais férteis para o
consumismo), e, na educação, isso pode acabar sendo um tiro pela culatra.
Temos que ter políticas que estejam atentas para que isso não ocorra (já
perceberam os milhares de cursos de EAD em instituições particulares
pipocando por aí baseados em tudo aquilo que NÃO deve ser feito, de
acordo com o que estamos aprendendo aqui?). Já podemos perceber um
esforço político no sentido de trazer para o ciberespaço pessoas que estão à
sua margem (comentaram em algum fórum por aqui que o termo EAD não é
bom, pois o termo “inclusão digital”, convenhamos, é o pior de todos.
Rsrs...). Claro que ninguém é tão inocente para não perceber que também
existem outros intere$$e$ nesta história toda, mas discutimos bastante
todo o impacto positivo que isso pode causar na nossa sociedade (devemos
cuidar para que seja!. (Participante4-CM08, no fórum).
O Participante2-CM08, participando da discussão com o Participante15-CM08 e o
Participante4-CM08, também levanta questões sobre o acesso de todos às tecnologias da rede,
além de questionar a lógica perversa do sistema capitalista e considerando os códigos abertos
(o software livre) como uma possível solução colaborativa e libertária:
Somos 6 bilhões no mundo humano de hoje. O que me chama a atenção,
com relação ao debate sobre globalização, cibercultura e similares, é que,
de acordo com o vídeo [disponibilizado pelo Participante4-CM08], apenas
10% da população mundial, em 2006, estava conectada à Internet... 10%...
cadê a globalização? e a cibercultura de todos-todos? [...] Vamos em frente,
mas não podemos deixar de lembrar que já viveu aquele que demonstrou a
lógica perversa do sistema capitalista. Como mudar a educação sem mudar
o sistema de gestão das riquezas e a posse dos meios de produção de
conteúdos? Produzir conteúdos e disponibilizá-los na grande rede significa
ter posse dos meios de produção? Quem “comanda”? O detentor dos meios
de produção ou o detentor do conhecimento sobre produção de linguagens
técnicas para os meios de produção? Os códigos abertos podem ser a
solução colaborativa mais libertária que exista hoje... (Participante2-CM08,
no fórum).
A Participante12-CM07 também expressa sua preocupação com o acesso às TIC,
reconhecendo a importância cultural desse acesso, principalmente pelo inevitável
imbricamento técnico-cultural que vivemos na atualidade, em que cada vez mais o ser
humano é solicitado a adentrar esse mundo tecnológico, mas, na maioria dos casos, a partir de
ações limitadas a uma escolha entre opções pré-estabelecidas:
280
[...] sabemos que, infelizmente o acesso às novas tecnologias não atingiu à
população de uma maneira geral, tal da inclusão/exclusão digital entre
tantas outras... Devo observar, que entre os meus alunos, também os
oriento, trocamos textos etc. via e-mail, vejo que ainda é difícil a
comunicação via espaço eletrônico, isso é preocupante!!! // [...] acho sim,
que as novas tecnologias de uma maneira geral interferem não só na prática
docente, como em todo o comportamental humano. Como falei
anteriormente, o ser humano é totalmente biológico e totalmente cultural,
como bem explica Edgar Morin. Hoje parece que é muito mais cultural. O
homem modifica o meio/ambiente/cultura e é modificado. Essa relação,
interconexão corpo-sujeito/ambiente/cultura é que vai dando esse
imbricamento virtual/presencial, homem/máquina, sujeito/objeto... A
preocupação é que realmente, especialmente no Nordeste, a política
implementada parece que o acesso para a população fica muito a desejar...
e o professor-educador sempre fica entre situações angustiantes e buscando,
é claro, soluções instigantes sempre! (Participante12-CM07, no fórum).
Os participantes acima apresentam uma preocupação pertinente com relação à
estratificação social entre os usuários das TIC, em especial no que diz respeito ao acesso à
Internet. Na “Pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil
2008”, elaborado pelo ComiGestor da Internet no Brasil (2009), pode ser visto que apenas
43% da população urbana do Brasil já teve acesso à Internet alguma vez na vida. Quando
observado esse percentual de acesso estratificado por classe social, nas classes D e E ele cai
para 19%. Além disso, é preciso atentar para o tipo de ação que o usuário está apto a executar
enquanto acessando a Internet; a pesquisa mencionada investigou sobre as seguintes
habilidades: usar um mecanismo de busca para achar informação, enviar e-mails com
arquivos anexados, enviar mensagens em salas de bate-papo e fóruns, usar um programa de
compartilhamento de arquivos, baixar e instalar softwares, usar a Internet para realizar
ligações telefônicas, criar uma gina na Internet. O resultado retrata que 60% da população
urbana não tem habilidade para nenhuma dessas ações e, no caso das classes D e E, esse
percentual aumenta para 83%. Com relação a isso, Marilena Chauí (2006) defende a
existência de dois grupos de usuários: os que são capazes de ações de autoria e os que têm
possibilidade de atuar como receptores passivos:
As pesquisas indicam o crescimento da estratificação social entre os
usuários: ou seja, o peso das diferenças de classe, etnia e gênero, pois o
acesso à multimídia depende não só de condições econômicas (dinheiro,
infraestrutura física da casa, disponibilidade de tempo) mas também de
condições educacionais e culturais (conhecimentos de várias línguas,
conhecimentos gerais básicos para buscar informações e formas de interação
entre elas), de sorte surgem dois tipos de usuários, o que é capaz de ação
seletiva e interativa e o que é capaz de recepção de pacotes enviados pelo
emissor. (CHAUÍ, 2006, p.70).
281
Apesar dos aumentos nos índices de acesso, como relata o Comitê Gestor da Internet no
Brasil, não se pode negligenciar a importância de um olhar ampliado para a questão do acesso
aliado a uma qualificação para que esse acesso possa se dar no sentido emancipatório, de
forma que o usuário seja reconhecido como autor e ao mesmo tempo se reconheça como tal.
O que, necessariamente, será fomentado a partir de práticas emancipatórias em AVA que
valorizem a liberdade de expressão e a reflexão crítica. Nesse sentido, mais uma vez
ressaltamos o aspecto condicionante das TIC na cibercultura que, apesar de não determinarem
as mudanças e inovações, criam possibilidades para tais transformações que não poderiam ser
pensadas sem a sua presença.
6.4 VISÃO PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA SUPERIOR: A EXPERIÊNCIA ON-LINE
COMO FORMAÇÃO
Em geral, os docentes universitários têm uma visão não profissional da docência,
olhando-a como uma atividade majoritariamente intuitiva e que o necessita de
competências específicas, exceto aquelas relacionadas ao conhecimento especializado
(ZABALZA, 2004). Durante os debates estabelecidos nos casos estudados, em especial no
Curso Moodle, diversas falas retratam a percepção de alguns participantes com relação à
necessidade da formação pedagógica para o professor universitário, não diretamente
relacionada com a EAD ou com as TIC, mas no sentido de pensar a formação para a docência
superior, independente da modalidade ou das tecnologias que se utilize. O espaço de formação
do Curso Moodle possibilitou, para alguns participantes, essa constatação:
Aliás, devo ressaltar que o entusiasmo diz respeito à forma como se
articulam as discussões, inclusive sobre questões de ensino e pedagogia,
coisas que geralmente se trabalha muito pouco na Universidade. Os
professores em geral são autodidatas, e isto nem sempre tem um efeito
positivo. (Participante35-CM07, no fórum).
Acredito ainda que acrescentei à minha experiência docente importantes
conceitos pedagógicos, que servem tanto para a educação presencial como
para a on-line, e que sinto falta devido à minha formação tecnológica.
(Participante5-CM07, no fórum).
Por outro lado em relação à docência então, é fatal a necessidade do
educador acompanhar, aprender e usar as novas ferramentas disponíveis na
cibercultura. Finalmente, o exercício da docência, naturalmente, vai exigir
acompanhamento e imersão nesse novo mundo que já é realidade // Tenho
feito algumas tomadas de atitude no processo de avaliação somente usando
o bom senso. As suas palavras sobre o grande desafio “como posso
282
melhorar o desempenho dessa turma” ou “como posso melhor contribuir
para essa turma tomar o caminho mais adequado” (interrogação). Isso
parece-me agora, mais importante do que nunca. As suas reflexões dirigidas
são bastante úteis. A orientação de quem tem origem em Faculdade de
Educação é mais que útil, é indispensável. [,,,] Estou convencido da
necessidade de interagir cada vez mais com os professores da Faculdade de
Educação. (Participante1-CM08, no fórum).
A importância da formação do docente para atuação na EAD ou na docência on-line é
problematizada por Silvia Coiçaud (2001), que discorda do trabalho compartimentado na
EAD (como propõe o modelo da UAB) argumentando que, além da necessidade de uma
formação especializada para a realização das atividades específicas da modalidade, a
responsabilidade dos projetos a distância deve ser assumida por toda a equipe; nessa
perspectiva, as tarefas de produção de material didático, apoio à aprendizagem dos alunos e
de avaliação de todos os processos envolvidos requerem, segundo a autora, um trabalho
conjunto de uma equipe de profissionais conhecedores das especificidades da modalidade e
comprometidos axiologicamente com ela. Com relação a isso, alguns docentes expressaram
sua preocupação com as propostas do modelo da UAB no qual está presente o papel do
professor conteudista e dos tutores; eles refletem em como esta separação de papéis pode
gerar consequências indesejáveis na educação, e interpretações desastrosas como a ideia de
que o tutor pode substituir o professor:
[...] Seguindo o que professora Docente1-CM08 escreveu: “Se o professor-
tutor fizer parte do processo melhor ainda. Este pode contribuir com novas
situações de aprendizagem. O ideal é que o conteudista forme os tutores e
que estes também sejam autores no processo...” Com esse sonho nas mãos,
não seriam todos conteudistas, no amadurecimento do processo? Isso seria
muito bom! Porém, o atual funil brasileiro o real não estaria invertido?
O fluxo da EAD não estaria andando na contramão desse comentário, nas
mãos de EADs com fins lucrativos? Formando tutores-substitutos de tutores-
professores ainda mais distantes dos conteudistas? (Participante3-CM08, no
fórum).
[...] acho que [...] a equipe envolvida tem que estar bem envolvida no
processo... e sempre. Principalmente o conteudista, este deve estar
continuamente olhando de perto como o seu conteúdo está sendo utilizado,
transformado (concordo que ele não deve ser estático, e sim evoluir junto
com o amadurecimento do curso). Se isso não acontece corremos o risco
daquele efeito da brincadeira do telefone sem fio. O problema é que, como
você mesmo falou, o conteudista produz o material e “some”. Aliás, mesmo
sendo especialista e conhecendo muito o tema, na maioria das vezes ele
pega uma obra pronta e faz uma rápida adaptação, se livra dos
problemas autorais e pronto. O conteudista é mau caráter? Quero acreditar
que não. Quero acreditar que ele queira voltar para suas outras
283
atividades (seus projetos, suas pesquisas, suas turmas). (Participante2-
CM08, no fórum).
Silvia Coiçaud (2001) argumenta que a função do professor tutor é de fundamental
importância e que a relação estabelecida através de contratos temporários entre a instituição e
ele pode gerar situações conflituosas comprometendo o andamento do projeto. A
pesquisadora defende ainda que “os tutores devem fazer parte das equipes de trabalho e que
seu nível de responsabilidade não pode restringir-se aos períodos de tutoria” (p.67), que
eles são os sujeitos mais próximos dos alunos e, por isso, mais conhecedores de suas
características idiossincráticas. Nesse sentido, a participação dos professores tutores em
tarefas como a organização de conteúdos, definição de estratégias pedagógicas, ou elaboração
de instrumentos de avaliação pode ser bastante enriquecedora. Em modelos como o proposto
pelo Sistema UAB, no entanto, essa necessária valorização da função do professor tutor é
dificultada pelos critérios rígidos de sua contratação, de forma que a concepção de tutoria
mais adotada é de uma atividade funcional e de atuação apenas reativa a dúvidas e
questionamentos dos alunos, dando a impressão de que o tutor é apenas um filtro entre o
corpo discente e o corpo docente, de forma a possibilitar a ampliação da relação numérica
docente/aluno. Nessa concepção, o perfil do tutor é concebido como alguém de menor
importância para o desenvolvimento de um curso a distância e sua atuação se limita a uma
atividade pontual e sem autonomia.
Os participantes Participante1-CM08, Participante2-CM08, Participante3-CM08,
Participante4-CM08, Participante5-CM08 e Participante6-CM08 foram os mais ativos no
Curso Moodle 2008. Em determinado momento do curso, eles conversam, via fórum, sobre os
próximos passos e a responsabilidade de quem está fazendo o curso em, de certa forma,
propagar essas ideias e contribuir com a institucionalização da EAD em suas unidades e na
UFBA como um todo. Partindo do virtual, eles trazem a interação para o concreto e tentam
planejar ações, de forma coletiva, que promovam a continuidade não das relações
construídas no curso, mas também da formação que foi iniciada nele. Trazem a preocupação
com as mudanças que estão ocorrendo nos processos educativos em função da presença da
cibercultura e levantam hipóteses de como a UFBA vai conduzir/acompanhar esse processo;
com muita frequência, falam da necessidade de formação continuada do docente do ensino
superior para acompanhar essas mudanças e da importância de uma aproximação com as
discussões trazidas pela Educação.
284
É fato que uma grande defasagem de formação pedagógica dos docentes na UFBA;
não que a realidade da UFBA seja diferente das demais instituições de ensino superior, mas
apenas confirma o que pesquisadores como Maria Isabel da Cunha (2003), Selma Pimenta e
Léa Anastasiou (2002), Miguel Zabalza (2004), dentre outros, trazem anos nas suas
pesquisas sobre a docência no ensino superior, alertando sobre a prática da docência
universitária baseada quase que exclusivamente no instinto individual, na própria experiência
como aluno e no conhecimento do conteúdo.
Algumas instituições caminham no sentido de uma formação específica para os
docentes envolvidos em programas de EAD, como é o caso da UNEB, que, ao convocar
docentes para atuarem em cursos da UAB, estabeleceu a obrigatoriedade da participação em
curso de capacitação para docentes em EAD oferecido pelo Núcleo de EAD da instituição,
independente da comprovação de experiência na modalidade
104
. Dessa forma, são criados
espaços de discussão e reflexão para os docentes que passam a atuar nessa modalidade assim
como se abre espaço para a discussão de propostas de forma integrada e coletiva.
Outras universidades caminham na direção de uma formação ampliada e
institucionalizada para a docência superior com programas que abordam a mudança
paradigmática, as tecnologias, a EAD, a exemplo da Universidade Federal do Paraná que
propõe uma formação continuada para o professor universitário que atua no ambiente virtual
da instituição, visando “munir o docente-aluno de base teórico-prática para potencializar o uso
de Tecnologias de Informação e Comunicação na educação on line de uma forma crítica,
criativa, dialógica, interativa e que corresponda aos pressupostos do paradigma da
complexidade” (BEHRENS; TORRES; MATOS, 2007, p.595). A proposta é apoiada nos
pressupostos da abordagem progressista, de Paulo Freire (1992), citado pelas autoras, que
defende uma atuação ativa e autônoma do aluno no processo de construção do conhecimento
e que, embora tenha antecedido a proposição do paradigma da complexidade, tem uma
pertinente conexão com este quando defende uma docência crítica e dialógica (
BEHRENS
;
TORRES; MATOS, 2007). Segundo as autoras:
A base teórica do estudo focaliza a mudança paradigmática gerada na
sociedade do conhecimento. Toma como referência a necessidade de
superação do paradigma conservador e a busca de um paradigma inovador
que atenda à produção do conhecimento num processo reflexivo, crítico e
104
Informação obtida em email de divulgação do Processo de cadastro e seleção para docentes bolsistas a fim de
atuarem no âmbito da educação a distância, do Núcleo de Educação a Distância da Universidade do Estado da
Bahia, em setembro de 2009.
285
transformador. A superação do paradigma conservador torna-se emblemática
neste processo formativo, pois a maioria dos programas de formação a
distância repousa sobre pouca interatividade e fundamenta-se na [concepção
de uma] educação bancária [...]. (BEHRENS; TORRES; MATOS, 2007,
p.591).
A UFBA ainda não possui diretrizes para a formação pedagógica, ou para uma
formação específica para EAD ou educação em AVA, de seu corpo docente, mas a demanda
para esse tipo de formação está presente na instituição, especialmente no que diz respeito
aos ambientes virtuais de aprendizagem. Discutimos no Capítulo 2 a noção de experiência
como formação, ou formação na experiência, baseando-nos na abordagem de Jorge Larrosa
(2001, 2005). Essa perspectiva de formação associa-se a um “vir a ser o que se é” a partir das
reflexões sobre as experiências vividas, entendendo as experiências como aquilo que se passa
ao sujeito da experiência, sempre associado ao sentido que é dado à experiência pelo próprio
sujeito que a vivencia. Nessa lógica, e entendendo que a imersão na cibercultura é um aspecto
fulcral para a apropriação dos novos modos de ser, pensar e estar que emergem a partir das
suas especificidades, a experiência on-line como formação é uma das perspectivas viáveis
para a formação para a docência superior on-line; e aqui nos referimos às inúmeras vertentes
possíveis do que pode ser compreendido como uma experiência on-line (a exemplo da
experiência como aluno on-line, como docente on-line, como participante de comunidades
virtuais, como interagente em espaços de discussão na rede ou salas de bate-papo etc.), desde
que associadas a uma reflexão crítica sobre a própria experiência.
Durante o decorrer da nossa própria experiência vivenciada junto aos sujeitos desta
pesquisa nos diversos espaços que a compuseram muitos deles on-line refletimos
criticamente sobre cada momento e buscamos construir conhecimento a partir dessas
reflexões, associadas, é claro, às teorias que embasaram a pesquisa. Formamo-nos pela
experiência. Os demais sujeitos que vivenciaram conosco esse processo também foram
levados a ressignificar e mobilizar seus saberes, dentre eles os saberes docentes,
caracterizando uma formação a partir das experiências vivenciadas. Mais especificamente
sobre a formação para a docência on-line, pudemos perceber, a partir das reflexões
explicitadas em fóruns, entrevistas e outros espaços analisados na pesquisa, o potencial de
ressignificação de conceitos e de aprendizagem sobre os próprios ambientes utilizados como
suporte (especialmente no caso do ambiente Moodle), caracterizando o que estamos
chamando de “experiência on-line como formação”.
286
Essa perspectiva não descarta a necessidade de teorização nem de reflexão sobre as
mudanças em curso na sociedade contemporânea que questionam o modelo conservador de
reprodução de conhecimento e defendem que a formação do docente universitário deve
orientar-se na possibilidade de transição paradigmática, como as defendidas por Maria Isabel
Cunha (2003), Marilda Behrens (2009a, 2009b), dentre outros. Além disso, a perspectiva da
experiência on-line como formação está em consonância com propostas como a discutida por
Doris Bolzan e Silvia Isaia (2010) que compreendem a experiência como princípio e não
como momento de culminância da aprendizagem docente e defendem que esta
[...] constitui-se como elemento basilar da pedagogia universitária, na medida
em que se consolida a partir da articulação entre modos de ensinar e de
aprender, permitindo aos atores desse processo intercambiarem essas funções,
tendo o conhecimento profissional compartilhado e a aprendizagem
colaborativa [...] como condição para o desenvolvimento e concretização do
fazer-se professor ao longo da trajetória pessoal e profissional. Essa condição
implica a possibilidade do docente estar aberto e receptivo a aceitar novas
formas de constituir-se, tanto em termos de conhecimentos específicos, quanto
pedagógicos e experienciais. (BOLZAN; ISAIA, 2010, p.3).
6.5 PESQUISA E PRÁTICA NOS AVA: A INTEGRAÇÃO DE SEUS SUJEITOS
A educação na cibercultura enfrenta o desafio de lidar com uma cultura pautada na
comunicação interativa e que ultrapasse o modelo de comunicação de massa, de forma que os
sujeitos comunicantes são, em potencial, ao mesmo tempo receptores e emissores e atuam
numa perspectiva de cocriação e de autoria. Essa perspectiva favorece uma proposta educativa
pautada na autonomia com vistas a uma construção coletiva de conhecimento de forma crítica
e que supere o modelo da transmissão tão amplamente criticado por mestres como Anísio
Teixeira e Paulo Freire. No entanto, como argumenta Marco Silva (2004), até para aqueles
que se sensibilizam com as argumentações desses mestres e defendem a participação e a
dialógica como fundamentais para a aprendizagem, é difícil atuar dentro de um modelo
comunicacional que supere a lógica da transmissão e da repetição; para o autor,
[...] mesmo adeptos das orientações destes mestres, os professores podem
permanecer apegados ao modelo da transmissão que faz repetir e não
construir. Isto porque não desenvolveram uma atitude comunicacional que
favoreça promover as participações e dialógica como condição sine qua non
da aprendizagem. Falo de uma atitude comunicacional que não apenas atente
idealmente para a participação e para a dialógica, mas que também as
promova concretamente no cotidiano da sala de aula presencial e a distância.
Essa atitude supõe técnicas específicas, mas antes de tudo, requer a
287
percepção crítica de uma mudança paradigmática em curso na cibercultura.
(SILVA, 2004, p.4).
Com o objetivo de sugerir elementos que considera essenciais para a prática de uma
pedagogia baseada na interatividade, Marco Silva (2004) sistematiza o que ele denomina de
“indicadores de interatividade”, os quais resumimos a seguir: (1) Disponibilizar múltiplas
experimentações, múltiplas expressões favorecer a participação coletiva em debates
possibilitando o livre diálogo e as trocas, oportunizar trabalhos em grupos e motivar o grupo
através de recursos cênicos; (2) Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que
permite múltiplas ocorrências fazer uso de diferentes suportes, garantir um território de
expressão e aprendizagem labiríntico, possibilitar que o aprendiz conduza suas explorações,
desenvolver um ambiente intuitivo, funcional e amigável; (3) Provocar situações de
inquietação criadora promover ocasiões de enfrentamento com o grupo, elaborar problemas
que possibilitem aos alunos ressignificar ideias, conceitos e preconceitos, incentivando-os a
buscar soluções de forma autônoma e colaborativa; (4) Arquitetar percursos hipertextuais
explorar o potencial do hipertexto criando caminhos diferentes, multidisciplinares, com
múltiplas combinações de linguagens, baseados no universo cultural dos estudantes; (5)
Mobilizar a experiência do conhecimento organizar situações de aprendizagem
considerando a experiência, conhecimento e expectativas prévias dos estudantes, tendo o
conteúdo como ponto de partida da aprendizagem e não de chegada.
Observando os casos estudados, podemos perceber a presença desses indicadores de
interatividade nas turmas do Curso Moodle através de aspectos como: possibilidade de debate
de forma aberta, criação de caminhos hipertextuais e hipermidiáticos nos conteúdos
disponibilizados, problematização de questões relativas aos temas de estudo possibilitando a
troca entre os participantes e promovendo colaboração entre eles, além de um espaço de
reflexão e de ressignificação de conceitos e ideias. Observando os dois outros casos
estudados, com foco na estrutura proposta nos ambientes virtuais, podemos perceber que
esses indicadores não aparecem de forma clara: a hipertextualidade é pouco implementada, o
fomento às atividades de grupo é quase inexistente, os percursos propostos seguem um padrão
linear, e o conteúdo é o foco central sendo concebido, em especial na LMD, como ponto de
chegada da aprendizagem. Além disso, os docentes da LMD verbalizaram nas entrevistas sua
tendência à adoção de propostas mais próximas de uma visão conteudista e,
consequentemente, reprodutivista, o que também pode ser percebido no modelo de suas aulas
presenciais pautadas no falar/ditar do professor e no ouvir e copiar do aluno. A estrutura
288
proposta no ambiente, porém, embora seja um importante elemento para a análise que aqui
elaboramos, não se constitui num aspecto determinante da prática pedagógica que virá a se
concretizar, já que a interação entre os sujeitos do processo educativo é que implicará ou não
uma prática dialógica pautada numa concepção ampliada de autonomia. Vale ressaltar,
portanto, que a análise aqui elaborada da LMD é, inevitavelmente, parcial, que finaliza
antes que o processo educativo se complete na interação docente-discente; no caso da DESG,
embora a análise decorra até o final do processo educativo, a reduzida quantidade de alunos
não propicia uma compreensão ampla do caso, que desfavorece os debates propostos pelas
docentes. No entanto, no que diz respeito à educação em AVA, uma proposta pautada nos
indicadores de interatividade relacionados vem favorecer de forma bastante acentuada a busca
de tal dialogicidade.
Pautados nessa consideração, ressaltamos que a proposta do Curso Moodle foi
construída apoiada pelas investigações de dois grupos de pesquisa da FACED que estudam a
EAD e as TIC (o GEC e a REDPECT) e buscou trazer para a prática as concepções teóricas
discutidas e ressignificadas durante o processo de doutoramento desta autora. As propostas da
DESG e da LMD, por outro lado, não foram concebidas pautadas em uma interlocução com
as teorias existentes sobre o tema da EAD e das TIC, caracterizando uma falta de integração,
dentro da universidade, entre os sujeitos que praticam a educação em AVA e os que
pesquisam sobre esses temas. Essa situação remete-nos ao princípio da indissociabilidade
entre pesquisa, ensino e extensão que, embora já estabelecido como princípio, ainda não se
de forma completa na realidade das universidades brasileiras (MOITA; ANDRADE, 2009).
Sobre esse tema, Antônio Joaquim Severino (2009) argumenta que privilegiar a pesquisa seria
desprestigiar o ensino de graduação, considerando-o como uma tarefa menor, correndo o risco
de assumir “uma postura altaneira e arrogante que acabará impedindo a universidade de dar à
sociedade o retorno que ela espera e merece, com toda legitimidade. Processo que,
independentemente de sua qualidade intrínseca, desvirtua a própria razão de ser da
Universidade” (p.258). Por outro lado, privilegiar o ensino de graduação apenas seria assumir
uma postura profissionalizante, ignorando o papel da universidade na formação científica e
política de seus estudantes, levando o ensino superior a se fechar em si mesmo.
Nunca é demais insistir: cabe à universidade como instituição como lugar
específico do ensino superior dedicar-se à formação do cidadão autêntico,
pois seu papel mais substantivo vai muito além da formação do profissional,
do técnico e do especialista. Por mais que os resultados históricos não
tenham correspondido a essa expectativa, isso não compromete sua
finalidade intrínseca, formadora que precisa ser da consciência social que é a
289
única sustentação de um projeto político minimamente equitativo, justo e
emancipador. (SEVERINO, 2009, p.258).
Em consonância com essa argumentação, Filomena Moita e Fernando Andrade (2009)
defendem que o ensino sofre importante renovação quando integrado ao conhecimento
produzido na pesquisa, ao mesmo tempo em que ganha relevância e significado para a
comunidade universitária. Segundo os autores,
O ensino é, provavelmente, o melhor exemplo dessa renovação, à medida
que, integrado ao conhecimento produzido através da pesquisa e aos anseios
da sociedade considerados nas atividades de extensão, ganha em relevância e
significado para a comunidade universitária. Desse modo, ensinar termina
por ser uma atividade que, ao mediar a pesquisa e a extensão, enriquece-se e
amadurece nesse processo: o professor universitário, ao integrar seu ensino à
pesquisa e à extensão, mantém-se atualizado e conectado com as
transformações mais recentes que o conhecimento científico provoca ou
mesmo sofre na sua relação com a sociedade, além de formar novos
pesquisadores, críticos e comprometidos com a intervenção social. Logo,
não pesquisa nem extensão universitária que não desemboquem no
ensino. (MOITA; ANDRADE, 2009, p.272).
Na EAD, ou na educação em AVA de modo geral, a importância da renovação dos
processos educativos a partir do conhecimento produzido na pesquisa é fundamental para que
se avance para um patamar de qualidade na EAD, e para a busca de uma educação dialógica
pautada na autonomia e na construção coletiva de conhecimento. Na UFBA não existe uma
prática, institucional, nesse sentido; no caso do Curso Moodle, embora a proposta tenha sido
concebida a partir dessa integração com a pesquisa e tenha possibilitado a reflexão sobre a
prática e provocado uma ressignificação de diversas concepções relacionadas ao tema EAD, o
alcance quantitativo do curso é ainda muito restrito, além de não se caracterizar formalmente
como uma proposta institucional para a formação do docente universitário nem ter uma
parceria efetiva com a FACED principal lócus de investigação sobre os temas em questão.
Além disso, como pudemos observar no histórico trazido no Capítulo 4, diversas outras ações
educativas em AVA estão acontecendo na UFBA independente de reflexões conjuntas com
pesquisadores do tema. Uma maior integração entre os indivíduos e grupos que pesquisam a
educação em AVA e a EAD e aqueles que a praticam favoreceria uma renovação de tais
práticas.
Essa concepção é compartilhada pelo Fórum de Diretores das Faculdades de Educação
do país, que, em carta divulgada pela direção da FACED abordando uma discussão sobre a
formação de professores na modalidade a distância, ressalta que:
290
[...] os cursos de Formação de Professores (FP) na modalidade à Distância
não podem estar dissociados das Faculdades/Centros de Educação ou
permanecerem encastelados em espaços próprios, nem tampouco, esta
modalidade deve distanciar-se dos parâmetros curriculares e das exitosas
experiências dos cursos presenciais. Estes cuidados são necessários pois,
reafirmamos que as Unidades da Educação têm competências estabelecidas
para uma melhor condução pedagógica desses cursos. (FORUMDIR, 2008).
Concordamos com essa perspectiva defendida pelo FORUMDIR e a ampliamos
entendendo que as Faculdades de Educação têm competências estabelecidas (e
responsabilidades) não somente para contribuir com os cursos de formação de professores a
distância, mas, também, com cursos a distância de outras áreas do conhecimento. Para tal,
ações institucionais no sentido de integrar pesquisadores e demais sujeitos que praticam a
EAD e a educação em AVA na UFBA são necessárias para que se possa ampliar o
envolvimento da UFBA com essa modalidade de ensino, sempre na busca da construção de
propostas que visem a uma educação dialógica que contribua com a formação de sujeitos
críticos e autônomos; propostas essas que sejam pensadas em espaços interdisciplinares e que
propiciem a reflexão sobre as possibilidades de transição entre uma prática docente
conservadora para uma inovadora, condizente com as exigências da sociedade do
conhecimento.
Na Universidade, ensino, pesquisa e extensão efetivamente se articulam, mas a
partir da pesquisa, ou seja, se aprende, se ensina, pesquisando,
construindo conhecimento; só se presta serviços à comunidade, se tais serviços
nascerem e se nutrirem da pesquisa. Impõe-se partir de uma equação de
acordo com a qual educar (ensinar e aprender) significa conhecer; e conhecer,
por sua vez, significa construir o objeto; mas construir o objeto significa
pesquisar. Por isso mesmo, também na Universidade, a aprendizagem, a
docência, a ensinagem, serão significativas se forem sustentadas por uma
permanente atividade de construção do conhecimento. Ambos, professor e
aluno, precisam da pesquisa para bem conduzir um ensino eficaz e para ter um
aprendizado significativo. (SEVERINO, 2009, p.261).
6.6 POLÍTICAS INSTITUCIONAIS PARA A EDUCAÇÃO EM AVA
A importância de políticas institucionais para a EAD, coerentes com os objetivos e
demandas da instituição e coerentes com as políticas públicas para a modalidade, vem sendo
problematizada de maneira enfática pela literatura. O artigo “Learning to teach on-line:
creating a culture of support for Faculty”, de Kate Marek (2009), por exemplo, aborda a
necessidade de suporte institucional para as práticas on-line e recupera algumas pesquisas
sobre o tema destacando que a ênfase, na literatura trazida pela autora, é mais no como fazer,
291
no desenho dos cursos, nos ambientes de aprendizagem, no aprendizado das ferramentas
tecnológicas, entre outros. A pesquisa também retrata que poucas instituições apresentam um
suporte considerado, pelos docentes, adequado para o necessário apoio às práticas on-line. A
autora conclui sugerindo um modelo de três níveis para a criação de uma cultura de suporte
para a docência on-line que inclui: um vel de suporte específico do curso/programa –
incluindo apoio de colegas e parceiros mais experientes, suporte voltado especificamente para
as disciplinas do curso e para o seu desenvolvimento; um nível de suporte institucional
incluindo infraestrutura tecnológica, suporte financeiro, formação pedagógica e técnica para a
docência on-line, apoio para a elaboração do projeto (desenho) do curso; e um vel que
envolva a formação continuada externa – como participação em eventos e cursos que abordem
o conhecimento específico da área e a especificidades da docência on-line.
Considerando a tendência de convergência entre a EAD e a educação presencial com a
presença das TIC, a definição de políticas institucionais para a EAD, a nosso ver, encontra-se
dentro de um contexto maior que estamos chamando de política institucional para a Educação
em AVA. Isso porque a docência em ambientes virtuais, como dito anteriormente, não se
limita à modalidade a distância, embora a englobe quando falamos da EAD na atualidade
que, quase sempre, se refere à EAD on-line. A educação em AVA também se refere ao uso
desses ambientes como espaços virtuais para a modalidade presencial e que, apoiado na
Portaria Ministerial nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, que trata da oferta de 20% da carga
horária dos cursos superiores através de atividades a distância, tende a dar origem a uma
educação híbrida, semipresencial.
Speck (2000), citado por Kate Marek (2009), critica a forma como a academia vem
adotando a educação on-line com relação a três aspectos: (1) a deficiência da academia em
avaliar cursos on-line; (2) a deficiência em preparar as faculdades e institutos para o
oferecimento de cursos on-line; e (3) a opção pelos cursos on-line não pelo modelo
educacional que representam, mas pelo modelo econômico. Com relação ao item (2), o autor,
ainda segundo Kate Marek (2009), argumenta que a academia, além de não prover uma
formação adequada aos professores para a docência on-line, também enfraquece a autoridade
docente levando-os a assumir atividades on-line para as quais eles não têm autonomia (em
função da não formação) e ficam dependentes de outros profissionais.
A análise que fazemos dos casos de estudo é coerente com essa argumentação, e fica
bastante evidenciada no caso da LMD pela ausência de formação dos professores para a
docência e, menos ainda, para a docência on-line, além de uma atuação da equipe
292
independente de um apoio institucional adequado nem no planejamento, nem no
desenvolvimento do curso no que diz respeito às especificidades da EAD. Essa ausência de
apoio institucional e de formação gera uma reprodução do modelo de educação presencial
adotado, individualmente por cada docente, no on-line; inclusive desconsiderando, como
vimos na descrição da LMD, aspectos basilares da EAD como é o caso da flexibilidade do
tempo de estudo. Além disso, como, no caso da UFBA, a ausência de formação pedagógica
do docente superior situação condizente com o que relata a literatura da área leva a uma
atuação docente mais pautada numa visão tecnicista e reprodutivista da educação (se é que
podemos generalizar), a repetição do presencial no on-line se também a partir dessa visão;
tudo isso ocorre no contexto da inexistência de espaços institucionais de reflexão coletiva
sobre as práticas na EAD.
No Curso Moodle, a busca de um apoio ou de uma ação mais institucionalizada para a
atuação no on-line foi verbalizada por alguns docentes; no excerto a seguir, o Participante4-
CM08 reflete sobre um possível modelo de gestão e apoio à EAD e verbaliza seu
entendimento de que o necessárias políticas institucionais nesse sentido, além de buscar
informações sobre outras iniciativas na UFBA no que diz respeito aos AVA ou à EAD
explicitando a ausência de compartilhamento de informações nesse sentido na instituição.
Além disso, o Participante4-CM08 também ressalta, em outro momento, sobre a importância
do espaço de reflexão coletiva e de trocas entre pares possibilitado pelo Curso Moodle:
Imagino que estamos caminhando para uma situação onde o papel do
professor será cada vez mais de guia para o aluno, que, por sua vez, deverá
ter um papel mais ativo na sua própria educação. O professor gradualmente
substituirá então parte de suas atividades (tempo em sala de aula, por
exemplo) para investir em produção científica (incluindo elaboração de
materiais didáticos e cursos baseados neste novo modelo). Grupos
envolvidos especificamente no estudo e desenvolvimento de materiais para
serem utilizados nestes novos modelos deveriam ser formados e ampliados.
Claro que este tipo de comportamento deveria ser incentivado e direcionado
por políticas educacionais da instituição. Entendo que todos nós que
estamos envolvidos neste curso somos exemplos disso, mas alguém pode dar
outros exemplos de movimentos neste sentido aqui na UFBA?
(Participante4-CM08, no fórum).
Vejam como é incrível ver se tornando realidade aquilo que temos discutido
aqui. Talvez nunca tenha trocado tantas experiências e aprendido tanto com
outros professores que trabalham na mesma instituição que eu como agora,
aqui, neste ambiente virtual. (Participante4-CM08, em outro momento no
fórum).
293
A Participante34-CM08, ao refletir sobre a dificuldade de estabelecer uma prática
colaborativa e interativa no on-line quando a superação da pedagogia da transmissão ainda
não se deu no presencial, questiona sobre a necessidade de uma prioridade institucional para a
formação pedagógica de seu corpo docente:
Em todos os textos e discussões do fórum fala-se na necessidade de
superação da pedagogia da transmissão na concepção de cursos EAD.
Contudo, mesmo na educação presencial, ainda prevalece o uso da
metodologia tradicional de “educação bancária” (pelo menos na minha
unidade). Assim, estabelecer estratégias colaborativas e de interatividade no
ambiente virtual pode ser extremamente difícil para quem não consegue se
desfazer da pedagogia da transmissão sequer na modalidade presencial. A
universidade não deveria estar mais preocupada na capacitação de docentes
para a nova realidade do ensino? (Participante34-CM08, no fórum).
Em contrapartida, a ausência de uma atuação contundente da institucão parece mobilizar
a autonomia do docente, que, em alguns casos, busca seus próprios caminhos para a formação
e para garantir, ainda que minimamente, um respaldo institucional; pudemos observar uma
situação como essa na DESG, quando a docente responsável optou por participar do Curso
Moodle com o objetivo de estar respaldada por uma proposta formativa “da UFBA” para
atuar em EAD no Moodle.
Na LMD, uma das docentes traz a necessidade do “tempo” para se apropriar dos
conhecimentos necessários para a utilização do ambiente Moodle e para compreender essa
nova maneira de “ensinar”. Os primeiros impasses com o ambiente foram difíceis para os
docentes; especialmente para aqueles que estão se aproximando dos processos ciberculturais
na educação, vencer esse primeiro contato foi um grande desafio. É o tempo individual de
cada um que se mostra presente como um elemento que não pode ser desconsiderado nos
processos formativos.
Mas eu acho que geometria já vai ser bem mais simples, a próxima,
geometria analítica. Pela experiência e pela disciplina. Porque, a gente
combinava ‘você vai fazer isso’, eu anotava, fazia todas as anotações; agora
é interessante que quando eu sentava pra digitar, eu tinha outras ideias e
mudava. Outra história era como a gente estava... lia, lia, lia e quando ia
fazer alguma coisa, que alguém explicava como, a gente esquecia de
tudo... quantas e quantas vezes a gente recomeçou o trabalho. (Docente3-
LMD, na entrevista).
O tempo também foi abordado por diversos sujeitos da pesquisa como um elemento
necessário e escasso no nosso contexto contemporâneo; a ausência de tempo para acompanhar
o curso Moodle, por exemplo, foi um dos argumentos mais trazidos como justificativa para a
294
pouca participação nas discussões teóricas. Kate Marek (2009), na pesquisa citada
anteriormente (realizada nos Estados Unidos), traz importante reflexão sobre o que os
professores universitários consideram como necessidades básicas na formação do docente
para a atuação em cursos on-line; a primeira dessas manifestações, expressas na parte aberta
do survey que deu origem ao artigo, trouxe à tona a categoria tempo. Tempo aqui
compreendido como tempo do “lançamento dos cursos, mas também parece referir-se ao
‘tempo’ em um sentido mais cósmico (por exemplo: ‘Há sempre tempo suficiente?’)”.
Entendemos esse tempo encurtado, que corresponde ao “trabalho intensificado” dos
professores universitários (SGUISSARDI; SILVA JÚNIOR, 2009), como dissemos antes,
como um impeditivo para que a formação possa se dar, também ela, da forma desejável. Na
fala seguinte, o Participante2-CM08 expressa claramente a sua preocupação com o excesso de
trabalho docente e questiona como a EAD e os AVA podem ser pensados de forma a não
aumentar ainda mais a “exploração” do docente:
Quero a máquina, o virtual, para tornar a vida melhor, não para agilizar a
exploração de minha força e capacidade laboral, de minha vida, de meu
tempo livre. [...] A EAD nas IFES tem que ser instrumento do MEC para a
valorização docente, não para a exploração docente...nosso espaço é
público, temos que propor novas formas de organização para nossa
formação continuada no mundo atual. (Participante2-CM08, no fórum).
Silvia Coiçaud (2001), refletindo sobre as tensões que se estabelecem em instituições
presenciais que passam a ofertar cursos a distância, em consequência das divergências
existentes entre os critérios e exigências de cada uma das modalidades, fala da necessidade
de:
[...] entabular um diálogo permanente entre os especialistas da modalidade,
os docentes e os alunos dessas carreiras para analisar problemáticas
diferentes, sanar dúvidas e discutir aspectos teóricos inerentes a essa forma
de estudar; por outro lado, implica estabelecer certas pautas e certos acordos
de trabalho intra e interinstitucionais que possibilitem gerar um marco
normativo tendo em vista viabilizar o desenvolvimento desses projetos
educativos a distância”. (p.62).
A EAD tem sido vista e debatida atualmente como um viés da busca de
democratização da educação no país, muito embora este debate tenha uma tendência
fortemente quantitativa. No entanto, concordando com Antônio Joaquim Severino (2009) no
que diz respeito a uma necessária atenção aos aspectos qualitativos dessa democratização da
295
educação de maneira geral, a busca da qualidade na EAD não pode esperar por uma solução
dos aspectos quantitativos para, então, se preocupar com a qualidade.
São, pois, ainda muito numerosos os desafios político-sociais que envolvem
a realidade da educação universitária no país. Mas, por maiores que sejam
esses desafios em sua dimensão quantitativa, não se pode aguardar sua
solução para se cuidar igualmente daqueles desafios de natureza qualitativa,
relacionados aos aspectos da vida acadêmica no interior das instituições e
nos processos propriamente pedagógicos da formão universitária.
(SEVERINO, 2009, p.257).
Nesse sentido, as políticas institucionais para a educação em AVA, inexistentes na
UFBA atual, precisam ser pensadas a partir da observância dos demais aspectos
problematizados nesta pesquisa – além de outros que não abordamos – buscando definir
diretrizes que apontem para: a construção de propostas educacionais pautadas na autonomia,
na dialogicidade, no respeito às diferenças e idiossincrasias de cada um dos envolvidos no
processo, que avancem da perspectiva de reprodução para a de construção de conhecimento;
para a imersão na cibercultura, buscando a efetiva construção de uma cultura on-line na
instituição; para a integração das práticas educacionais em AVA com as pesquisas sobre o
tema; para propostas de formação pedagógica do professor universitário na UFBA que
abordem as especificidades da educação on-line, que possibilitem a existência de espaços
multidisciplinares de trocas, de discussão de experiências, de reflexão sobre a prática docente
e que contribua com uma mudança paradigmática nas práticas educativas na instituição.
Políticas essas construídas de forma coletiva e que possam ser reelaboradas continuamente a
partir da reflexão que se na própria experiência docente. Certamente, essa é uma tarefa
extremamente complexa, e pensamos que o ponto de partida para essa construção coletiva é
exatamente a valorização das experiências já existentes (práticas e investigativas), entendendo
que os grupos já atuantes são aqueles que mais podem, inicialmente, contribuir para a
construção dessas políticas de educação em AVA e, principalmente, para a difusão do
conhecimento já produzido entre os demais membros da comunidade UFBA, abrindo
possibilidades para outras construções de experiências e conhecimento, e agregando a essa
grande empreitada outros sujeitos que se mobilizam e se permitem ressignificações de antigas
concepções.
Durante toda a pesquisa vimos brotar “borbulhas” de inovação, de transgressão, de
ressignificação de antigas concepções, tanto no que diz respeito às possibilidades da educação
na cibercultura quanto com relação a uma educação pautada numa perspectiva de autonomia.
296
Vimos que diversos participantes já estavam ou foram mobilizados a partir dos debates
travados, posicionando-se como sujeitos autônomos em busca de construções coletivas, de
práticas docentes comprometidas com uma educação que além da formação profissional
para um mercado competitivo. Não foram muitos, é verdade, mas foi um pequeno grupo que
parece exemplificar o que Michael Apple (2003) chama de “trabalho contra-hegemônico” e
que representa a resistência às práticas hegemônicas conservadoras; segundo o autor, as
mudanças mais significativas acontecem de baixo para cima, do local para o global,
justamente pela dificuldade de sustentar grandes movimentos transformadores, e demonstram
que as práticas educacionais não tomaram uma única direção unidimensional e conservadora.
Dessa forma, essas “borbulhas”, aliadas à busca de diretrizes institucionais construídas de
forma coletiva, e lançando mão da “docilidade das técnicas contemporâneas,
que se
apresentam mais propícias à liberação do esforço, ao exercício da inventividade e à afloração
e multiplicação das demandas sociais e individuais” (SANTOS, M., 2006, p, 166),
representam o potencial de transformação das práticas educativas em AVA na UFBA numa
perspectiva de autonomia.
297
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Longe é um lugar que não existe...
Richard Bach
O contexto contemporâneo é fortemente marcado pela presença das tecnologias de
informação e comunicação de base telemática, e a relação íntima estabelecida entre a
sociedade e as tecnologias faz emergir a chamada cibercultura como nova forma sociocultural
da atualidade. A cibercultura caracteriza-se “como a forma sociocultural que emerge da
relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica
que surgiram com a convergência das telecomunicações com a informática na década de 70”
(LEMOS, 2003, p.12), consubstanciada por um “conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores, que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço caracterizado como o novo
ambiente de comunicação que surge com a interconexão mundial de computadores” (LÉVY,
2000, p.32). A comunicação é o aspecto que mais sofre transformações nessa nova cultura
que a mesma é caracterizada pela liberação do polo de emissão através da implantação das
redes tecnológicas que são estruturantes de uma atuação pautada na autoria e na colaboração.
Assim como em outras áreas da cultura contemporânea, na educação tem-se vivenciado
a evolução das TIC de forma cada vez mais contundente. Essa evolução provoca
transformações sociotécnicas que sugerem transformações também nas relações pedagógicas,
que o processo de aprendizagem é naturalmente modificado com as mudanças culturais. A
EAD, em especial, tem sido uma modalidade amplamente influenciada com essa evolução das
TIC, na medida em que estas possibilitam uma interação coletiva entre os participantes de um
curso a distância, interação essa que era praticamente impossível quando a EAD era baseada
na utilização exclusiva de mídias de massa, como o material impresso, o rádio ou a TV. A
utilização das TIC na educação presencial também vem acontecendo num crescente, o que
gera a necessidade de reflexões sobre a maneira como essas tecnologias estão sendo
apropriadas pelos sujeitos da educação, seja ela presencial ou a distância. Dentro desse
298
contexto, surgem os chamados ambientes virtuais de aprendizagem que passam a se constituir
em espaços de interação, colaboração e difusão de conteúdos na educação, e cuja utilização
segue orientações diversas a depender das concepções de educação compartilhadas pelos
envolvidos.
As reflexões sobre a relação educação/tecnologias, portanto, têm alcançado uma
importância fundamental para o meio acadêmico com base em diversos argumentos, dentre os
quais se destaca aquele que enfatiza a ampliação, em virtude de tais mudanças culturais, das
possibilidades de expressão e de autoria individual e coletiva na chamada sociedade em rede.
Nesse contexto, o termo “autonomia” é amplamente utilizado como sendo uma característica
fundamental para aqueles que pretendem participar de processos educativos mediados pelas
TIC, o que nos mobilizou a aprofundar a compreensão da autonomia apoiados,
principalmente, nas concepções de Cornelius Castoriadis (2000) e Paulo Freire (2006a,
2006b).
A utilização das TIC nas instituições de ensino superior, diante das mudanças culturais,
passa a ser um imperativo e cada instituição faz suas próprias opções sobre como apoiar a
apropriação dessas tecnologias pela sua comunidade. A UFBA iniciou esse processo a partir
de iniciativas isoladas de membros de suas unidades organizacionais, de forma que não se
criou diretrizes que orientassem sua comunidade para tal, o que se refletiu em práticas com
características diversas dentro da instituição. A partir da atuação desta autora como
representante do CPD para os assuntos relacionados com a EAD e com os AVA na UFBA,
surgiram inquietações sobre a maneira como a comunidade UFBA, de forma crescente, vinha
fazendo uso dessas tecnologias na educação, o que nos motivou a desenvolver esta pesquisa
com o objetivo de compreender como está se configurando a implantação de ambientes
virtuais de aprendizagem na UFBA e que aspectos essa implantação apresenta no que diz
respeito à construção da autonomia no contexto educacional. Para tal, optamos por orientar a
pesquisa a partir de três objetivos específicos: (1) Compreender as características da
cibercultura, relacionando-as com a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem numa
perspectiva de autonomia; (2) Elaborar um diagnóstico da implantação de ambientes virtuais
de aprendizagem na UFBA e das políticas de EAD na instituição; e (3) Identificar aspectos
relacionados à construção da autonomia na implantação de ambientes virtuais de
aprendizagem, a partir da análise de casos de utilização do ambiente virtual Moodle na
UFBA. A metodologia foi baseada em uma pesquisa qualitativa, tendo a observação
299
participante como o principal dispositivo de investigação e lançando mão de um estudo de
casos múltiplos para a compreensão do nosso objeto.
Recapitulamos, então, nossa trajetória, trazendo para estas considerações finais as
principais argumentações abordadas em cada um dos capítulos da tese, a partir do primeiro
(Introdução), que sintetizamos nas argumentações anteriores. No segundo capítulo,
relatamos nossa investida para a compreensão das conexões entre cibercultura, autonomia e
educação. A cibercultura foi trazida desde suas origens, nos ajudando a compreender os
aspectos colaborativos que a caracterizam desde seu próprio surgimento e que culmina numa
cultura de possibilidades de interação mútua, colaboração e autoria, ressaltando, é claro, as
limitações de acesso que ainda impossibilitam sua real democratização. Alguns dos seus
aspectos fundamentais digitalização, hipertextualidade, virtualização, multivocalidade, não
linearidade, comunicação todos-todos – foram discutidos e entendidos como a base das
transformações nas novas relações que se estabelecem. Essas relações, por seu lado, exigem
uma atuação ativa e autônoma dos sujeitos que interagem nesses novos espaços
comunicacionais.
O termo autonomia, no entanto, muitas vezes, é banalizado, sendo associado a uma
atuação individualista e, no âmbito da educação, autodidata; no nosso entender, autonomia
refere-se a um assumir-se como sujeito de sua própria história, reconhecendo a importância
do meio sociocultural para tal, e como responsável pela história coletiva que é entendida
como passível de transformação a partir do desejo de cada sujeito e, ao mesmo tempo, do
coletivo ao qual faz parte. Nessa perspectiva, a autonomia é compreendida como meio e como
fim da prática educativa; compreensão esta que se apoia numa perspectiva de construção de
conhecimento em que os sujeitos, autônomos, são reconhecidos como autores, produtores de
conhecimento, e que vai de encontro a uma perspectiva alienante e reprodutivista da
educação. Para melhor compreender essa visão da educação pautada na autonomia, optamos
pela abordagem da pedagogia crítica, apoiados em leituras de Henry Giroux (1997), Michael
Apple (2003), Peter McLaren (1997, 1999) e Paulo Freire (2006a, 2006b), compreendendo-a
como uma opção de formação baseada no compromisso com a transformação social e a
emancipação, com ênfase na solidariedade com grupos marginalizados e que não esteja
comprometida com a reprodução social; formação esta que se constitui a partir da
compreensão da dialogicidade como aspecto fundamental da relação entre os sujeitos nela
envolvidos.
300
A conexão entre a cibercultura e a concepção de autonomia que adotamos pauta-se na
perspectiva da autoria, que é inerente a ambas. A dialogicidade, que compreendemos como o
aspecto que viabiliza a formação crítica, está em consonância com a perspectiva
comunicacional da cibercultura e, portanto, é viabilizada e potencializada pelas TIC quando
incorporadas à educação. O modelo comunicacional da rede, no qual os centros são móveis,
possibilita uma comunicação horizontalizada; a hipertextualidade potencializada pelo digital
possibilita a construção de caminhos individuais permeados de multivocalidade; as
virtualizações são potencializadas pela linguagem digital; os processos coletivos fomentados
pelas relações na cibercultura possibilitam a emergência de produções colaborativas; a
autoria, que é possibilitada e, ao mesmo tempo, exigida pela cibercultura, se traduz em
autonomia.
Como atores e autores da educação na cibercultura, os docentes que passam agora a
exercer a docência on-line e sua formação são aspectos que não se pode negligenciar nesse
processo. Aqui se estabelece um importante dilema, que a docência superior,
majoritariamente, é pautada num modelo reprodutivista da educação e carece de processos de
formação pedagógica, como argumentam autores como Miguel Zabalza (2004), Selma
Pimenta e Léa Anastasiou (2002), dentre outros. Para possibilitar que a atuação on-line do
docente universitário se dê numa perspectiva de autonomia e dialogicidade, produção de
conhecimento e formação crítica, é necessária uma reflexão sobre a formação desses docentes
nessa mesma perspectiva e que os possibilite imergir em espaços ciberculturais de formação e
apropriação das TIC de forma crítica, compreendendo-as como estruturantes de novas formas
de saber, conhecer e fazer. É nesse sentido que propomos a experiência on-line como
formação, apoiados na abordagem da experiência como formação de Jorge Larrosa (2001,
2005), entendendo que na vivência em espaços on-line, especialmente em ambientes virtuais
de cursos a distância ou espaços virtuais de apoio a cursos presenciais, o docente desperta
para situações antes nunca experenciadas e, quando devidamente apoiados por teorizações,
são levados à reflexão de sua própria prática e à ressiginificação de antigas concepções sobre
a docência.
Estabelecidas as conexões entre cibercultura, autonomia e educação, que trazem o
embasamento teórico da pesquisa, buscamos, no Capítulo 3, refletir sobre os AVA e suas
características, entendendo-os como espaços multirreferenciais de aprendizagem (FRÓES
BURNHAM, 2000), constituídos em rede, onde diversas possibilidades de construção de
conhecimento estão abertas, e onde são potencializadas as virtualizações em virtude da
301
linguagem digital. Nessa concepção ampliada, qualquer interface no ciberespaço pode ser
entendida como um ambiente virtual de aprendizagem que, em potência, fundamento do
virtual, podem ser estabelecidas ali práticas de aprendizagem. Uma categoria especial de
AVA são os chamados Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem, também conhecidos
por LMS, que são ambientes computacionais estruturados, desenvolvidos intencionalmente
para o suporte à aprendizagem on-line. Os LMS apresentam recursos para promover a
interação, para a proposição de atividades, para possibilitar a publicação de conteúdos em
diversos formatos, gerenciamento de integrantes (alunos e professores), relatórios de acesso e
de atividades, dentre outros, e possibilitam a criação de cursos on-line por educadores, com
relativa facilidade. O TelEduc, o AulaNet, o ROODA e o e-Proinfo são exemplos de LMS
desenvolvidos por instituições no Brasil e que são disponibilizados gratuitamente. O Moodle,
o ambiente virtual de aprendizagem mais utilizado na UFBA e no qual foram desenvolvidos
os casos de estudo desta pesquisa, é um software livre que vem ganhando grande espaço no
Brasil e no mundo especialmente pela sua interface amigável, potencial de customização,
grande número de recursos também configuráveis e facilidade de instalação. Além disso, a
existência de uma grande comunidade mundial do Moodle que atua de forma colaborativa
para aprimorar o software, também contribui para fomentar sua utilização.
Analisando os recursos disponíveis no Moodle, a maneira como podem ser configurados
favorecendo a criatividade docente, inclusive para a criação de metáforas com os recursos a
fim de atender as necessidades pedagógicas de cada caso, além da sua facilidade de utilização
independente da função que se esteja assumindo no ambiente e do potencial comunicacional
que apresenta, entendemos que o Moodle apresenta um grande potencial para o fomento à
autonomia docente e discente e para a construção de propostas educacionais que tenham como
objetivo a formação de sujeitos críticos no contexto da cibercultura. Para tal, no entanto, é
necessário o conhecimento do próprio ambiente e suas funcionalidades e uma pré-disposição
para uma abordagem educacional com foco na emancipação, que a simples utilização de
ambientes flexíveis como esse apenas possibilita uma maior autonomia e colaboração, mas
não as garante. Pelo contrário, podemos testemunhar atuações discentes e docentes em cursos
utilizando o ambiente Moodle que repetem no on-line estratégias baseadas numa perspectiva
de transmissão de conhecimento e que subutilizam o potencial comunicacional e virtualizante
dos AVA.
Podemos dizer que o Moodle, embora não tenha sido oficialmente definido como tal, é
o ambiente institucional da UFBA para a EAD e para o apoio a cursos presenciais. Isso
302
porque, a partir do início de sua utilização na instituição, em 2004, a comunidade UFBA
começou, paulatinamente, a adotá-lo como o ambiente de suas práticas educacionais em
AVA. O histórico da UFBA no que diz respeito à EAD e à utilização de AVA foi relatado no
Capítulo 4; esse relato foi construído a partir da elaboração de uma Linha do Tempo da EAD
na UFBA (disponibilizada no Apêndice D desta tese) em que foram incluídos fatos (internos e
externos à instituição) que fizeram parte dessa história; os fatos foram classificados em cinco
categorias: (1) atos legais, internos ou externos à UFBA, que dizem respeito à EAD ou à
utilização de ambientes virtuais; (2) projetos que abordem temas relacionados às TIC, ou à
EAD, ou ainda especificamente aos AVA; (3) cursos ou disciplinas vivenciados na
modalidade a distância (ainda que não utilizem ambientes virtuais) ou que utilizaram
ambientes virtuais (ainda que não tenham sido na modalidade a distância); (4) eventos
acadêmicos nos quais foram discutidos aspectos relativos à EAD na UFBA ou à utilização de
AVA na instituição; (5) outros fatos relevantes para a pesquisa.
Desse relato histórico, destacamos os aspectos relativos ao marco inicial de
institucionalização da EAD na UFBA, quando foi instituída a Comissão Institucional de EAD,
à mesma época em que a instituição foi credenciada para o oferecimento de cursos de
graduação a distância pelo MEC e aprovou o seu primeiro curso de graduação nessa
modalidade: a Licenciatura em Matemática a distância. Antes e depois desse marco inicial,
que se deu no primeiro semestre de 2006 (o histórico abordou o período desde a cada de
1990 até o mês de junho de 2009), diversas experiências isoladas aconteceram na UFBA a
partir de iniciativas individuais ou de grupos interessados em pesquisar ou desenvolver
atividades relacionadas com a utilização das TIC na educação, sem que, no entanto,
houvessem espaços de compartilhamento dessas experiências na instituição, nem grupos que
se integrassem para refletir sobre as diferentes experiências ou para colaborar entre si. Tão
pouco as iniciativas institucionais caminharam na direção de integrar ou apoiar esses grupos,
à exceção de dois seminários internos desenvolvidos pela CEAD, mas cujos desdobramentos
não foram significativos, e da concepção do Curso Moodle para Professores que, embora
desenvolvido quase que exclusivamente pela equipe do CPD (na qual esta autora se insere),
surgiu a partir de uma das metas da CEAD. Como iniciativa que partindo do local buscou
integrar globalmente a comunidade UFBA, podemos citar o Projeto EAD-CPD Moodle
UFBA, que surge com o objetivo de dar suporte à utilização do Moodle, garantindo seu
desempenho em níveis aceitáveis, e de disseminar o uso do ambiente na UFBA. Embora
institucionalmente a UFBA tenha poucos avanços nas práticas educativas em AVA e na EAD,
303
as iniciativas isoladas refletem o interesse de indivíduos ou grupos nessas práticas e, em
virtude do seu número crescente e dos incentivos de políticas públicas, como o Sistema UAB,
das práticas de EAD pelas IFES, apontam para um maior envolvimento da UFBA nessas
práticas educacionais ao mesmo tempo em que demandam da administração central um
posicionamento mais efetivo de suporte e de estabelecimento de políticas relativas à
incorporação das TIC nas atividades educativas da instituição.
Dando prosseguimento à pesquisa, no quinto e último capítulo descrevemos e
analisamos o estudo de casos múltiplos em que culminou este trabalho. Foram quatro os casos
estudados: duas turmas do “Curso Moodle para Professores: a educação on-line na UFBA”,
curso desenvolvido pela equipe do Projeto EAD-CPD, a primeira em 2007 e a segunda em
2008; a “Disciplina, Educação, Sexualidade e Gênero”, oferecida na modalidade a distância
pelo PPGE-FACED, em 2008; e a “Licenciatura em Matemática a Distância”, cujo
planejamento do primeiro semestre do curso, escopo desta pesquisa, aconteceu de fevereiro de
2007 a fevereiro de 2009. Todos os quatro casos foram implementados no ambiente Moodle
da UFBA.
A proposta do Curso Moodle tinha a finalidade de formação da comunidade UFBA para
a docência on-line no Moodle, e buscou a integração entre uma formação instrumental para o
conhecimento do ambiente e uma abordagem teórica sobre temas relativos à educação
mediada pelas TIC. Pelo que pudemos observar, a demanda da maioria dos participantes era o
conhecimento instrumental do Moodle, revelada a partir da pouca participação nos debates
teóricos e na maior preocupação na experimentação do ambiente e na solução das dúvidas
sobre suas funcionalidades. Em ambas as turmas, no entanto, um pequeno grupo de docentes
mobilizou-se pelas discussões teóricas travadas nos fóruns e mediadas pela equipe de
acompanhamento do curso, de forma que diversos temas foram ressignificados por esse grupo
de participantes e uma ampla reflexão sobre a prática educativa em AVA e na EAD foi
possibilitada. Na segunda turma do curso, essa reflexão deu-se de forma ainda mais intensa, o
que atribuímos à presença de uma equipe de docentes mediadores mais qualificada para tal, de
forma que uma mobilização de experiências e saberes por parte dos participantes mais ativos
foi favorecida.
As duas turmas do Curso Moodle atenderam um grupo em torno de 200 participantes,
apresentando uma grande diversidade tanto em termos da formação dos participantes
(contemplando diversas áreas de conhecimentos e unidades de ensino na UFBA) como
também com relação a suas concepções de autonomia, de educação e de TIC quando
304
utilizadas no contexto educacional. O grupo de participantes mais ativos também apresentava
essa diversidade, apontando para a não existência de uma relação direta entre área de
conhecimento e a possibilidade de conceber a educação de forma crítica e dialógica; aponta
também para a necessidade de uma investigação mais acurada no que diz respeito a que
fatores mobilizam o docente universitário a adentrar em reflexões dessa natureza. Como
principal resultado da análise do Curso Moodle destacamos a carência de formação
pedagógica do professor universitário da UFBA e, ao mesmo tempo, a demanda por espaços
de troca entre pares e de reflexões sobre as possibilidades da educação no contexto
contemporâneo.
O terceiro caso estudado, a Disciplina Educação, Sexualidade e Gênero, destaca-se por
ter sido a primeira disciplina oferecida formalmente na modalidade a distância da FACED,
tendo sido aprovada como tal pelo departamento responsável. A análise da experiência
revelou que, apesar de as docentes da disciplina apresentarem uma visão de educação não
conservadora e exercerem, no presencial, uma prática emancipadora, a proposta da disciplina
a distância apresentava poucos elementos que favorecessem uma educação dialógica,
sugerindo um despreparo, por parte das docentes, para a docência on-line nessa perspectiva.
No quarto e último caso, a LMD, analisamos o planejamento das cinco disciplinas do
primeiro semestre do curso, com foco nas concepções apresentadas pelos docentes
responsáveis pelas elas e na estrutura proposta para as disciplina no ambiente Moodle. A
análise da experiência revelou que o grupo de docentes apresentava uma visão conservadora e
reprodutivista de educação, tendo como principal preocupação a formação para o exercício da
profissão, com foco no conteúdo. O grupo apresentava ainda uma visão não profissional da
docência superior, de forma que não percebiam a necessidade de uma formação para a
docência (fosse ela presencial ou on-line) além dos aspectos instrumentais relativos ao
ambiente a ser utilizado. Apesar disso, foi possível perceber que a participação do grupo na
pesquisa possibilitou pequenas mobilizações dessas concepções, de forma que alguns poucos
indícios disso se refletiram na proposta do curso no ambiente Moodle (como a presença de
espaços abertos para a livre expressão dos alunos e de fóruns para discussão teórica – embora
com foco no esclarecimento de dúvidas); predominou, no entanto, uma estrutura focada no
material didático (não hipertextual) com fortes expressões de uma perspectiva reprodutivista
da educação e de uma concepção de autonomia (em especial na EAD) como sinônimo de
autodidatismo.
305
Cada um dos casos descritos neste trabalho despertou em nós, enquanto pesquisadores,
importantes reflexões sobre o processo de implantação de ambientes virtuais de aprendizagem
na UFBA. A LMD e a DESG fazem-nos refletir sobre o estágio embrionário em que a UFBA
se encontra no que diz respeito à EAD, já que a estrutura institucional existente não é
suficiente para apoiar suas iniciativas nessa modalidade, e não dispõe de um projeto
institucional, nem de uma equipe multidisciplinar adequada para tal. Embora o Projeto EAD-
CPD supra, parcialmente, o suporte tecnológico necessário para a atuação com o ambiente
virtual Moodle, sua equipe não atende às necessidades gerenciais, pedagógicas e de formação
dos projetos de EAD ou educação on-line na UFBA. O que se apresenta na UFBA são
iniciativas conduzidas por sujeitos (hercúleos?) comprometidos e que possuem o desejo de
dar certo e a coragem de enfrentar os desafios (e as críticas); também foi constatata a
existência, na UFBA, de um grande lastro teórico sobre os diversos temas aqui abordados
embora este esteja encerrado dentro dos grupos de pesquisa e afastado das práticas em EAD
de outros grupos ou unidades.
Pela nossa vivência em diversos espaços acadêmicos na UFBA, percebemos a enorme
carência existente com relação a uma formação para a docência em AVA e para a docência no
ensino superior de uma maneira geral. Muitos docentes se sentem atraídos, por motivos
diversos, para atuar na EAD e buscam no CPD um apoio técnico; ironicamente, têm
encontrado ali um pequeno apoio pedagógico que leva, um pequeno percentual deles, a
refletir mais profundamente sobre as possibilidades da educação em AVA. A grande maioria
desses grupos, que buscam o apoio do CPD, está aberta a um debate teórico sobre a EAD,
aberta a inovações no que diz respeito às propostas para a EAD, e aberta a repensar sua
prática docente também no presencial. Mas o próprio CPD nega o seu papel na formação
pedagógica dos docentes, claro, que tal atividade não faz parte de seus objetivos e seu
corpo cnico não tem competência para tal. Em contrapartida, essa formação também não se
a partir da Faculdade de Educação, cujo potencial teórico para contribuir nesse sentido é
inquestionável.
Tendo em vista a formação do sujeito crítico que se reconhece como autor e como
corresponsável pelo seu contexto social e pela instituição da sociedade, a busca da autonomia
na utilização de AVA no contexto educacional está associada à liberdade de expressão, à
possibilidade de interação, à autoria, à construção coletiva de conhecimento, à
multivocalidade. A busca da autonomia, portanto, está associada a uma compreensão da
cibercultura como uma cultura da autoria, da participação ativa, da colaboração, do respeito à
306
diversidade. Em resposta à questão que motivou esta pesquisa, nossa conclusão é no sentido
de que a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA vem se configurando
de forma parcial e irregular na instituição, embora crescente, e independente de um projeto
institucional amplo que foque no fomento à EAD e à apropriação das TIC como estruturantes
dos processos de ensino e aprendizagem na instituição. A busca da autonomia no contexto da
implantação de AVA na UFBA também vem acontecendo de forma parcial e pontualmente, a
partir de iniciativas isoladas de seu corpo docente, e está relacionada a uma série de aspectos,
dos quais destacamos:
A compreensão da autonomia de uma maneira ampliada, para além do
individualismo e do autodidatismo: A autonomia é aqui defendida como o
assumir-se como sujeito de sua própria trajetória de vida, de forma vinculada ao
coletivo social, entendendo que o meio (o outro) faz parte de sua própria história e
contribui com a construção de suas próprias concepções. Sendo a autonomia
individual sempre influenciada pelo meio, a presença da alienação a nível social
reverte-se em uma limitação da própria autonomia individual, que a perspectiva
alienada do outro se constitui também em uma influência externa ao sujeito. Dessa
forma, a busca da autonomia coletiva é um imperativo para a construção e
manutenção da própria autonomia individual. Assim, a aprendizagem
individual/autodidatismo, embora possa se constituir em um aspecto dessa
construção/busca de autonomia, não pode ser entendida como sinônimo desta.
Uma concepção de educação como um processo dialógico e um entendimento
do papel comunicacional dos AVA: A perspectiva da educação baseada em uma
racionalidade instrumental, enfatizando o conhecimento técnico, nega a própria
necessidade de um pensamento crítico ou de uma postura de questionamento ao que
está posto e instituído. O conhecimento é visto como algo externo ao indivíduo que
é levado apenas a reproduzi-lo, fomentando e reforçando uma atitude alienada em
que o indivíduo não se reconhece como sujeito capaz de pensar criticamente e de
agir sobre a realidade transformando-a de acordo com os seus anseios. A
compreensão da autonomia de forma coletiva e ampliada aliada à busca de uma
educação problematizadora e dialógica que foque na formação de sujeitos críticos e
autores vai de encontro a essa racionalidade técnica e alienante. No contexto da
educação mediada pelas tecnologias, o foco na dialogicidade e a compreensão do
potencial comunicacional dos AVA, entendendo-os como espaços que possibilitam
307
o relacionamento horizontal, a livre expressão e o debate em profundidade,
contribuem para uma visão da educação como um processo de produção e não de
reprodução do conhecimento.
A imersão na cibercultura e a apropriação de seus aspectos fundamentais,
tendo os AVA como espaços de colaboração e autoria: A apropriação dos
elementos fundamentais da cibercultura amplia as possibilidades de intervenção e,
principalmente, de uma transformação radical nas formas de se ensinar e aprender.
Outras possibilidades podem ser abertas, de forma a implantar-se processos
horizontais de formação, que tenham como princípios balizadores a permanente
troca de informações, o estímulo à produção de conhecimentos e de culturas e
promovendo novas relações entre as culturas e os conhecimentos estabelecidos. É
nesse sentido que a perspectiva tecnológica abre um leque de possibilidades de os
sujeitos intervirem no processo de comunicação, de forma que o receptor,
potencialmente, pode romper com uma postura de passividade e vivenciar processos
de coautoria, cocriação e (trans)formação, reconhecendo-se como sujeito da sua
aprendizagem, como autônomo. A autonomia é sempre associada às possibilidades
de interação presentes numa proposta educativa, em especial na perspectiva da
educação em AVA, que é através da interação que o discente pode se posicionar
de forma ativa e construir, junto ao docente, uma educação dialógica, interferindo
no processo coletivo; ressaltando, porém, o aspecto condicionante das TIC na
cibercultura, que, apesar de não determinarem as mudanças e inovações, criam
possibilidades para tais transformações que não poderiam ser pensadas sem a sua
presença.
Uma visão profissional da docência superior que leve à construção de propostas
formativas para o docente universitário, atentando para a contribuição da
perspectiva da experiência on-line como formação: Em geral, os docentes
universitários têm uma visão não profissional da docência, olhando-a como uma
atividade majoritariamente intuitiva e que não necessita de competências
específicas, exceto aquelas relacionadas ao conhecimento especializado, de forma
que a prática da docência universitária tem sido baseada quase que exclusivamente
no instinto individual, na própria experiência como aluno e no conhecimento do
conteúdo, corroborando com uma concepção reprodutivista da educação.
Caminhando na contramão dessa perspectiva, a visão profissional da docência
308
universitária apoia-se na existência de espaços de formação pedagógica em que
sejam fomentadas a reflexão crítica sobre a própria prática, a teorização sobre a
pedagogia universitária, a troca entre pares. Alia-se a isso a necessidade de
formação para a docência on-line, numa perspectiva não instrumental, que busque a
compreensão da TIC como estruturantes de novas formas de estar no mundo,
pautadas em autoria e colaboração. Os ambientes virtuais de aprendizagem
constituem uma ambiência rica em possibilidades de diálogo com o conhecimento
instituído, de construção de novos conhecimentos e culturas, de ampliação de visão
de mundo e de ressignificação de antigas concepções, de tal modo que a experiência
on-line representa uma possibilidade de formação para os docentes universitários.
A integração dos sujeitos que atuam na pesquisa e na prática sobre/nos AVA:
Na EAD, ou na educação em AVA de modo geral, a importância da renovação dos
processos educativos a partir do conhecimento produzido na pesquisa é fundamental
para que se avance para um patamar de qualidade e para a busca de uma educação
dialógica pautada na autonomia e na construção coletiva de conhecimento. Nesse
sentido, a integração dos sujeitos que pesquisam a educação mediada pelas
tecnologias e/ou a EAD e aqueles que a praticam favorece a reflexão sobre a prática
e provoca a ressignificação de concepções relacionadas às especificidades desse tipo
de ação educativa, fomentando a renovação de tais práticas.
O desenvolvimento de políticas institucionais para a Educação em AVA que
sejam pensadas de forma coletiva e que contemplem os cinco aspectos
abordados: A inexistência de políticas institucionais para a EAD ou para a
educação mediada pelas tecnologias reflete-se na falta de diretrizes para a prática
docente, o que favorece o desenvolvimento de atividades isoladas e pautadas em
concepções e perspectivas diversas, muitas vezes repetindo aspectos de um modelo
conservador e reprodutivista. As políticas institucionais para a educação em AVA
precisam ser pensadas a partir da observância dos cinco aspectos destacados
buscando definir diretrizes que apontem para: a construção de propostas
educacionais pautadas na autonomia, na dialogicidade, no respeito às diferenças e
idiossincrasias de cada um dos envolvidos no processo, que avancem da perspectiva
de reprodução para a de construção de conhecimento; para a imersão na
cibercultura, buscando a efetiva construção de uma cultura on-line na instituição;
para a integração das práticas educacionais em AVA com as pesquisas sobre o tema;
309
para propostas de formação pedagógica do professor universitário que abordem as
especificidades da educação on-line, que possibilitem a existência de espaços
multidisciplinares de trocas, de discussão de experiências, de reflexão sobre a
prática docente e que contribua com uma mudança paradigmática nas práticas
educativas na instituição. Políticas essas construídas de forma coletiva e que possam
ser reelaboradas continuamente a partir da reflexão que se na própria experiência
docente.
Como trabalhos futuros, nossas reflexões apontam para a necessidade de diversas ações
na UFBA no que diz respeito à utilização de ambientes virtuais numa perspectiva de
autonomia. Ações que estão relacionadas aos aspectos sistematizados como conclusão desta
tese e que pressupõem o desejo institucional de fomentar uma formação nessa perspectiva.
Sugerimos, a seguir, algumas possibilidades de desdobramentos futuros desta pesquisa, no
que diz respeito a novas investigações ou ações que possam contribuir com a difusão e
ampliação das ideias aqui discutidas, entendendo, no entanto, que a sua definição e
implementação dependerá de uma integração entre os sujeitos que pesquisam, os sujeitos que
praticam, e os sujeitos responsáveis pela gestão da EAD na UFBA – essa integração, portanto,
pode ser pensada como a primeira destas ações:
criação de espaços de integração entre os grupos que pesquisam sobre a EAD e
sobre a Educação mediada pelas TIC, e aqueles que já atuam nessas perspectivas
educacionais, assim como com as entidades de gestão da EAD, a exemplo da
Coordenação da UAB e do NEAD, a fim de trocar experiências e definir
diretrizes e políticas que contribuam com a institucionalização e ampliação da
EAD e da educação em AVA na UFBA;
avaliação do desenvolvimento da Licenciatura em Matemática a distância;
investigação com os egressos do Curso Moodle na busca de identificar que
fatores mobilizam o professor universitário a adentrar em debates e reflexões
teóricas que abordem a educação mediata pelas TIC;
ampliação da proposta do Curso Moodle no sentido de abordar as questões sobre
as mudanças paradigmáticas na educação;
ampliação da proposta do Curso Moodle no sentido de agregar mais fortemente
a perspectiva da experiência on-line como formação, incluindo o
310
desenvolvimento, durante o próprio curso, de propostas de disciplinas
semipresenciais pelos docentes participantes;
investigação sobre a formação do docente universitário da UFBA que vise à
construção de propostas de formação que contemplem uma abordagem
profissional da docência universitária.
A Universidade, enquanto espaço de democratização e produção de conhecimento, não
tem como se abster de atuar em consonância com as mudanças culturais e tecnológicas da
atualidade; além disso, enquanto Universidade, deve também contribuir para a construção de
uma sociedade mais justa, na qual os indivíduos sejam vistos, e se vejam, como sujeitos
autônomos e autores de suas histórias e suas coletividades. A convergência dessas duas
vertentes, longe de estar no campo do impossível, é favorável quando se buscam respostas
baseadas em múltiplas referências, em respeito ao próximo, em relações horizontais e
dialógicas, em um pensar criticamente que veja a realidade como um processo permeado de
incessantes virtualizações e atualizações.
Edgar Morin (2008), em palestra proferida em Salvador no Projeto Fronteiras do
Pensamento Brasken, falou sobre a importância da esperança, acreditando que, embora o mais
provável seja o colapso da Terra diante do modelo hegemônico capitalista de consumo e de
uma visão individualista (no nível do eu e das nações), é possível uma mudança na direção da
solidariedade, da concepção de mundo como uma unidade e que precisa de diretrizes globais
mas que ao mesmo tempo respeitem o local. No entanto, as grandes mudanças, segundo o
pensador, não têm início de forma global, com um numero significativamente grande de ações
e pessoas/grupos envolvidos; as grandes mudanças ocorrem a partir do movimento de
pequenos grupos que vão influenciando outros indivíduos até que se forme uma massa crítica
em torno das novas concepções que vão emergindo. Se concordamos com Morin, podemos
dizer que uma grande mudança na UFBA já teve início.
311
REFERÊNCIAS
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326
APÊNDICES
327
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista para investigar a implantação de ambientes virtuais de
aprendizagem na UFBA (docentes participantes dos casos de estudo)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ROTEIRO DE ENTREVISTA
PESQUISADOR: NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO (doutoranda em educação)
OBJETIVO:
Investigar a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA, em
particular os aspectos relacionados à autonomia.
ENTREVISTADOS: Docentes da UFBA que participaram de um dos casos de estudo da pesquisa em
curso
QUESTÕES A SEREM ABORDADAS:
1. Há quanto tempo atua na docência? Em que área/espaços/nível?
2. Sua prática docente já sofreu alguma alteração em função das tecnologias de informação e
comunicação?
3. Já utiliza espaços virtuais na sua prática docente? Quais? Com que objetivo?
4. conhece e/ou utiliza o ambiente virtual Moodle em sua prática docente? Quais os recursos
mais utilizados?
5. De que espaços formativos para a docência on-line você já participou ou pretende participar?
6. Como você entende a relação educação/autonomia? Na sua prática, a autonomia está mais
relacionada com a autoria ou com o autodidatismo? Na sua concepção, uma educação que
busque uma formação crítica pressupõe também uma busca de autonomia? Esta relação se
modifica na prática pedagógica em ambientes virtuais?
7. Qual o modelo de interação que você pratica na docência presencial (Como interage com os
alunos? Através de que recursos? Os alunos interagem entre eles? Como? Há incentivo a isso?
Existe espaço para críticas e sugestões por parte dos alunos?)? Esse modelo é diferente na sua
prática docente on-line? Acredita que este modelo influencia (favorece ou dificulta) a busca da
autonomia do grupo?
8. Classifique sua prática pedagógica presencial de 0 a 10, sendo 0 mais próximo de uma prática
conteudista e 10 mais próximo de uma prática interacionista. Essa classificação muda na sua
prática on-line?
328
9. Como você define sua prática avaliativa? De que recursos faz uso? Esta prática se modifica na
docência on-line? Você considera que sua prática avaliativa favorece ou dificulta a busca de
autonomia?
10. Como você vê o desejo da presença física (por parte do professor e por parte do aluno) num
curso on-line? Como isso influencia (favorece ou dificulta) a busca da autonomia do grupo?
11. Acredita nas possibilidades de abertura (autoria, multivocalidade, não linearidade) que a
cibercultura traz? Se sim, como essas possibilidades são postas na sua prática em AVA?
329
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista para investigar a implantação de ambientes virtuais de
aprendizagem na UFBA (professoras tutoras do Curso Moodle 2008)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ROTEIRO DE ENTREVISTA
PESQUISADOR: NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO (doutoranda em educação)
OBJETIVO: Investigar a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem na UFBA, em particular
os aspectos relacionados à autonomia.
ENTREVISTADOS: Professoras-tutoras do Curso Moodle 2008
QUESTÕES:
1. Qual a sua formação e experiência na docência e na docência on-line?
2. Como você compreende o conceito de autonomia?
3. Como você entende a relação educação/autonomia? Na sua prática/concepção, a autonomia
está mais relacionada com a autoria ou com o saber fazer sozinho? Uma educação que busque
uma formação crítica pressupõe também uma busca de autonomia? Esta relação se modifica
na prática pedagógica em ambientes virtuais?
4. Que elementos/aspectos na educação mais favorecem a atuação dos participantes de forma
autônoma? E no on-line? E no curso Moodle?
5. Que elementos/aspectos na educação limitam a atuação dos participantes de forma autônoma?
E no on-line? E no curso Moodle?
6. Qual a maior dificuldade que você encontrou durante o Curso Moodle 2008?
7. Que avanços você vê na turma de 2008, comparada à turma de 2007?
8. Como você vê a avaliação proposta no Curso Moodle?
9. Como você o desejo da presença física (por parte do professor e por parte do aluno) num
curso on-line? Como isso influencia (favorece ou dificulta) a busca da autonomia do grupo?
10. Acredita nas possibilidades de abertura (autoria, multivocalidade, não linearidade) que a
cibercultura traz? Se sim, como essas possibilidades são postas na sua prática em AVA?
11. Como você vê esta experiência no Curso Moodle para a sua própria formação?
330
APÊNDICE C – Modelo de autorização solicitada para os participantes da pesquisa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
AUTORIZAÇÃO
Eu, ________________________________________________, participante do
curso/disciplina _______________________________ como (aluno/docente)
_________________, informo que estou ciente e concordo que o projeto de pesquisa
intitulado AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NA UFBA: A
POSSIBILIDADE DE AUTONOMIA E NOVAS EDUCAÇÕES, da Faculdade de Educação
da UFBA, de responsabilidade da doutoranda NICIA CRISTINA ROCHA RICCIO, e
orientado pelo professor NELSON DE LUCA PRETTO, utilize como campo de pesquisa o
espaço virtual do referido curso/disciplina no ambiente Moodle da UFBA, assim como as
eventuais entrevistas, reuniões ou encontros presenciais ocorridos com os participantes.
Portanto, estou ciente e autorizo a utilização das minhas falas nestes espaços, desde
que não identificadas, para citação e/ou análise das mesmas.
Salvador, (data)
_________________________________________
(assinatura)
331
APÊNDICE D – Linha do tempo da EAD na UFBA.
Legenda: Projetos
Eventos
Cursos
Atos Legais
Outros
Fatos internos Data/período Fatos externos
DECRETO-LEI Nº 9.155, DE 8 DE ABRIL DE 1946
Criação da UFBA
Eurico G. Dutra.
Ernesto de Souza Campos
1946
Instalação do Ponto de Presença da RNP na Bahia; POP-BA
Claudete Alves – CPD
1991 Criação da Rede Nacional de Pesquisa; RNP fase 1
MCT
1992 Criação do GT16 – Educação e Comunicação
ANPEd
Implantação da Rede Bahia
Criação do Comitê Gestor da Rede Bahia
Assinatura do Protocolo de Cooperação Técnica
UFBA
Governo do Estado da Bahia
Prefeitura Municipal do Salvador
FIEB
TELEBAHIA
novembro/1994
1995 Criação da Secretaria de Educação a Distância
MEC
1995 Criação da ABED
1995 Implantação do Prossiga – Programa de Informação para Gestão de
Ciência, Tecnologia e Inovação
CNPq
332
Fatos internos Data/período Fatos externos
dezembro/1996 LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996
Artigo 80 aborda, pela primeira fez na legislação, a EAD
Fernando Henrique Cardoso
Paulo Renato Souza – MEC
Criação do GEC
Nelson Pretto – FACED
1996
Criação do CIBERPESQUISA
André Lemos e Marcos Palácios – FACOM
1996
Criação da REDEPECT
Teresinha Fróes Burnham – FACED
1997
Curso de especialização em alfabetização
Fernando Floriano – FACED
Década de 90
Disciplina optativa EDC001- Educação a Distância
Kátia Siqueira e Fernando Floriano – FACED
Década de 90
Projeto Sala de Aula
Marcos Palácios, André Lemos e Cláudio Cardoso – FACOM
1997-2002
Projeto ADMNET
João Dias de Queiroz
1997
abril/1997 Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997
Cria o PROINFO.
Paulo Renato Souza – MEC
fevereiro/1998 DECRETO N
o
2.494, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1998
Regulamenta o artigo 80 da LDB.
Fernando Henrique Cardoso
Paulo Renato Souza – MEC
abril/l998 PORTARIA Nº 301, DE 7 DE ABRIL DE 1998
Normatiza os procedimentos de credenciamento de instituições para a
oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica a
distância.
Paulo Renato Souza – MEC
abril/1998 DECRETO Nº 2.561, DE 27 DE ABRIL DE 1998
Altera a redação dos artigos 11 e 12 do Decreto nº 2.494, de 10 de
fevereiro de 1998, que regulamenta o disposto no artigo 80 da LDB
Fernando Henrique Cardoso
Paulo Renato Souza – MEC
1999 A Secretaria de Educação a Distância do MEC elabora o primeiro
conjunto de Indicadores de Qualidade para os projetos de EaD;
333
Fatos internos Data/período Fatos externos
Projeto Biblioteca Virtual de EAD – BVEAD
Nelson Pretto – FACED
Teresinha Fróes Buirnham – FACED / ICI
Maria Inez Carvalho – FACED
Henriette Gomes Ferreira – ICI
1998-2002
Projeto UFBANET
Othon Jambeiro – Vice-reitoria
1999-2002
Desenvolvimento do ambiente I-MAT, e testes do mesmo no curso de
atualização: Projetos Pedagógicos Interdisciplinares em Matemática
Apoiados por Tecnologias de Informação
Wilton Moacyr Oliver – LED -Instituto de Matemática
Anna Friedericka Schwarzelmüller – DCC -Instituto de Matemática
2000-2002
Consórcio de universidades baianas com a proposta do curso de
Licenciatura em Matemática a distância para a UFBA
Othon Jambeiro – Vice-reitoria
Wilton Moacyr Oliver – Instituto de Matemática
2000
Disciplina optativa a distância: Superfícies Geométricas
Christina Araújo Paim Cardoso – Faculdade de Arquitetura
2000
Assinatura do Termo de Adesão à UniRede agosto/2000 Assinatura do Termo de Adesão ao projeto UniRede por 62
universidades públicas, criando a Universidade Virtual Pública do
Brasil.
Projeto de cooperação internacional em parceria com a Universidade de
Aveiro
Othon Jambeiro – FACOM
Teresinha Fróes Burnham – ICI
Fernando Ramos – Universidade de Aveiro
2000-2004
Projeto ABRA – Ambiente Brasileiro de Aprendizagem; integrado ao
Projeto REMA – Rede Metropolitana de Alta Velocidade
Claudete Alves – CPD-RNP
2000
Polo de Avaliação da Universidade Virtual Pública do Brasil – UniRede;
vinculado ao Núcleo de Avaliação Educacional – NAVE
Robert Verhine – ISP
Bohumila Araújo – ISP
2001-2004
abril/2001 RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 1, DE 3 DE ABRIL DE 2001
Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação
Roberto Cláudio Frota Bezerra – Câmara de Educação Superior
334
Fatos internos Data/período Fatos externos
outubro/2001 PORTARIA N. 2.253 DE 18 DE OUTUBRO DE 2001
Trata da oferta de 20% da carga horária dos cursos superiores através
da modalidade a distância
Paulo Renato Souza – MEC
Projeto ABRA em parceria com o UFBANET
Claudete Alves – CPD
Othon Jambeiro – ICI – Vice-reitoria
2001
Projeto ABRANET – Ambiente Brasileiro de Aprendizagem via Internet;
através de parceria com o Projeto INFRAVIDA
Claudete Alves – CPD
2002-2004
Curso de extensão: Curso Batuta – Educação a Distância para Músicos de
Filarmônicas
Regina Cajazeira – Escola de Música
2002
Implantação do PROLE
PROGRAD
Instituto de Matemática
Instituto de Biologia
Instituto de Letras
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Instituto de Química
Instituto de Geociências
2003
Tentativa de implantação da Licenciatura em Matemática a distância
PROGRAD
Instituto de Matemática
Secretaria de Educação do Estado da Bahia
UFSC
2003 Implantação de licenciaturas a distância na Bahia
Secretaria de Educação do Estado da Bahia
UFSC
UNEB
UEFS
UESC
UESB
UNIFACS
Instalação do Teleduc na UFBA
Sebastião Loureiro – ISC
Lynn Alves – UNEB
Jerônimo Bezerra – CPD
2003
Curso de extensão: Comunidades Virtuais de aprendizagem; oferecido no
Teleduc
Sebastião Loureiro – ISC
Lynn Alves – UNEB
2003
335
Fatos internos Data/período Fatos externos
Curso de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática; através de
teleconferências via internet; duas turmas; parceria com o IMPA
Enaldo Vergasta – Instituto de Matemática
2003-2009
Projeto Saúde para Todos na América Latina
Ceci Vilar Noronha – ISC
2003-2007
2003 Início da utilização do Moodle em outras instituições baianas
Lynn Alves – UNEB / Faculdades Jorge Amado
Projeto Ire
Maria Inez Carvalho – FACED
2004
Projeto Salvador
Mary Arapiraca – FACED
2004
Plano de Desenvolvimento Institucional da UFBA: 2004-2008
Administração Central
maio/2004
Portaria 422/04.
Cria o Comitê Gestor de Tecnologia da Comunicação e Informação
2004
Tentativa de desenvolvimento de um LMS na FACED
Nelson Pretto – FACED
Maria Helena Bonilla – FACED
2004
Instalação do Moodle na UFBA
Nelson Pretto – FACED
Jerônimo Bezerra – CPD
2004
Utilização experimental do Teleduc na FACED
Teresinha Fróes Burnham – REDPECT – FACED
2004
Utilização experimental do Moodle
Teresinha Fróes Burnham – REDPECT – FACED
Nelson Pretto – GEC – FACED
2004
Curso de extensão: Economia da Saúde; oferecido no Teleduc
Sebastião Loureiro – ISC
Moema Soares Ferreira– ISC
2004
setembro/2004 Portaria nº 37, de 2 de setembro de 2004
Cria o Grupo de Trabalho de Educação a Distância para a Educação
Superior (GTEADES) da SESU-MEC
SESU-MEC
Curso de especialização a distância para professores de língua alemã; em
parceria com o Goeth Institute
Instituto de Letras
2004
336
Fatos internos Data/período Fatos externos
Curso de especialização a distância: Saúde e Segurança no Trabalho;
parceria com o SESI; plataforma SGA
Vilma Santana – ISC
setembro/2004
PROGED
Robert Verhine – ISP
outubro/2004 a
abril/2008
Primeira turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED;
utilizando Blog e Abranet
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Out/2004
dezembro/2004 Portaria Ministerial nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004;
Publicada no DOU em 13 de dezembro de 2004, trata da oferta de 20%
da carga horária dos cursos superiores na modalidade semipresencial;
revoga a Portaria nº 2253 de 18 de outubro de 2001.
Tarso Genro – MEC
dezembro/2004 Portaria Ministerial nº 4.361, de 29 de dezembro de 2004
Normatiza os procedimentos de credenciamento e recredenciamento de
instituições de educação superior para o oferecimento de cursos a
distância, dentre outras coisas.
Tarso Genro – MEC
2005 Desenvolvimento do PAPED
SEED
CAPES
Curso de especialização a distância: Gerenciamento de recursos hídricos;
ambiente Formare da Portugal Telecom Inovação
Yvonildes Medeiros – Departamento de Engenharia Ambiental
2005
Instalação do Moodle ISP
Fernando Saldanha – ISP
Nicia Riccio – CPD
janeiro/2005
I Seminário de EAD do PROGED
Kátia Siqueira Freitas – ISP
abril/2005
Resolução 03/2005 – regulamenta os cursos de graduação a distância
Câmara de Ensino de Graduação
julho/2005
Desenvolvimento da linha de pesquisa: Ensino a distância na
Contabilidade
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
João Vicente Costa Neto – Faculdade de Ciências Contábeis
2005
337
Fatos internos Data/período Fatos externos
Disciplina: EDC703 – TEE: Ensino virtual; semipresencial no Moodle
Nelson Pretto – FACED
Maria Helena Bonilla – FACED
Roberto Aparici – UNED Espanha
agosto/2005
Disciplina: EDC704 – TEE: Educação a Distância e Difusão do
Conhecimento; semipresencial no Moodle
Teresinha Fróes Burnham – FACED
agosto/2005
Tentativa de elaboração do Plano de EAD
PRPPG
setembro/2005
Segunda turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED; no
Moodle
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
outubro/2005
II Seminário de EAD do PROGED
Kátia Siqueira Freitas – ISP
dezembro/2005
dezembro/2005 Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005
Regulamenta o art. 80 da Lei n.9.394.
Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad – MEC
dezembro/2005 Lançamento do 1º. Edital da UAB, publicado no DOU de 20 de
dezembro de 2005, seção 3, p.19
Ronaldo Mota – SEED – MEC
Instalação do Moodle na Faculdade de Medicina
Márcio Alírio Silveira – Faculdade de Medicina
2006
Instalação do Moodle na Escola de Administração para uso da pós-
graduação
Paulo Penteado de Arruda Filho – Escola de Administração
2006
Plano Institucional de EAD da UFBA
Noamar Monteiro de Almeida Filho – Reitoria
abril/2006
Portaria n. 187/2006; cria a Comissão Institucional de Educação a
Distância da UFBA
Noamar Monteiro de Almeida Filho – Reitoria
abril/2006
338
Fatos internos Data/período Fatos externos
maio/2006
Decreto Nº 5.773, de 9 de Maio de 2006.
Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e
avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de
graduação e sequenciais no sistema federal de ensino; noArt. 5
o
,
especifica as competências da Secretaria de Educação a Distância nesse
âmbito.
Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad – MEC
Portaria n. 239/2006; designa os membros da CEAD
Noamar Monteiro de Almeida Filho – Reitoria
maio/2006
junho/2006 Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006; institui o Sistema
Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad – MEC
Terceira turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
outubro/2006
Credenciamento da UFBA para a oferta de cursos a distância outubro /2006 Portaria nº 1.673, de 5/10/06, DOU de 9/10/06
Credencia a UFBA, pelo prazo de 5 anos, para a oferta de cursos de
graduação na modalidade a distância.
Fernando Haddad – MEC
outubro/2006 Lançamento do 2º. Edital da UAB, publicado no DOU n.200 de 18 de
outubro de 2006, seção 3, p.24.
Ronaldo Mota – SEED
Fernando Haddad – MEC
III Seminário de EAD do PROGED
Kátia Siqueira Freitas – ISP
outubro/2006
Instalação da Coordenação da UAB na UFBA
Robert Verhine – ISP
Bohumila Araujo – ISP
outubro/2006
Aprovação do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância pela
UAB, para o oferecimento do curso a 10 polos presenciais do estado da
Bahia
Marco Antonio Fernandes – Instituto de Matemática
outubro/2006 Publicação no DOU de 31 de outubro de 2006, Seção 3, p.37 do
resultado do processo seletivo referente ao edital UAB 1
Ronaldo Mota – SEED/MEC
Projeto de Cooperação Internacional: AMELAT
Carlos Milani – Escola de Administração
2006
339
Fatos internos Data/período Fatos externos
Curso de extensão: Planejamento e Gestão em Segurança e Saúde no
Trabalho
Carmen Teixeira – ISC
2006
Curso de extensão: Legislação e o Direito à Segurança e à Saúde no
Trabalho; duas turmas
Letícia Nobre – ISC
2006
Curso de extensão: Odontologia em Saúde do Trabalhador; duas turmas
Sônia Chaves – ISC
2006
Capacitação Continuada a Distância em Saúde e Segurança no Trabalho
ISC
2006
Instalação do Núcleo de Ensino a Distância da Escola de Enfermagem
Gesilda Lessa – Escola de Enfermagem
Valda Novaes – Escola de Enfermagem
2006
Seminário: Ensino a Distância na área de Saúde: perspectivas e
possibilidades
Gesilda Lessa – Escola de Enfermagem
Valda Novaes – Escola de Enfermagem
outubro/2006
Curso de extensão: Contabilidade de custos; duas turmas
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
2006
Curso de extensão: Gestão de custos
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
2006
Curso de extensão: Gestão de custos; convênio com o Banco do Brasil
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
2006
Curso de extensão: Controladoria; convênio com o Banco do Brasil
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
2006
Curso de extensão: Finanças/Banking; convênio com o Banco do Brasil
Joseilton Rocha – Faculdade de Ciências Contábeis
2006
Curso a Distância de Licenciatura em Libras; parceria com UFSC; UFBA
atuando como polo do curso
Nídia Regina Limeira de Sá – FACED
Elizabeth Reis Teixeira – Instituto de Letras
outubro/2006
I Seminário Interno de EAD da UFBA
CEAD
novembro/2006
Projeto EAD – CPD
Nicia Riccio – CPD
Eduardo Lima – CPD
dezembro/2006
340
Fatos internos Data/período Fatos externos
A UFBA passa a integrar a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE)
Suzy Cavalcanti – HUPES
2006
Curso de extensão: Educação, Comunicação em Saúde da Família
Projeto Saúde para Todos na América Latina; ambiente ILIAS
Ceci Vilar Noronha – ISC
outubro/2006 a
fevereiro/2007
Curso de extensão: Prevenção da Violência Intrafamiliar
Projeto Saúde para Todos na América Latina; ambiente ILIAS
Ceci Vilar Noronha – ISC
outubro/2006 a
fevereiro/2007
Curso de extensão: Sexualidade e Ciclo de Vida
Projeto Saúde para Todos na América Latina; ambiente ILIAS
Ceci Vilar Noronha – ISC
outubro/2006 a
fevereiro/2007
Instalação do Moodle no Depto. de Engenharia Ambiental
Ricardo Kalid – Politécinica
2007
Curso de extensão: Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-
brasileiras
Zelinda Barros – CEAO
janeiro/2007
Projeto Gestão de Conhecimento
Teresinha Fróes Burnham – REDPECT/FACED
2007-2009
janeiro/2007 Portaria Normativa nº 2, de 10 de janeiro de 2007:
Dispõe sobre os procedimentos de regulação e avaliação da educação
superior na modalidade a distância.
Alteração na Coordenação da UAB na UFBA
Paulo de Arruda Penteado Filho – ADM – CEAD
Bohumila Araujo – ISP
março/2007
Início do desenvolvimento do Curso de Licenciatura em Matemática a
distância
Marco Antonio Fernandes – Instituto de Matemática
2007
Curso de especialização em Economia da Saúde
Sebastião Loureiro – ISC
2007
Quarta turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
abril/2007
junho/2007 Resolução do CNE nº 1, de 8 de junho de 2007:
Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação
lato sensu, em nível de especialização
Antônio Carlos Caruso Ronca – Câmara de Educação
Superior/CNE/MEC
341
Fatos internos Data/período Fatos externos
julho/2007 Sistema UAB passa a ser vinculado à DED/CAPES, em parceria com a
SEED/MEC
Celso José da Costa – DED/CAPES
Carlos Eduardo Bielschowsky – SEED/MEC
Curso a distância: Design, Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável
Escola Politécnica
agosto/2007
Projeto Escola de Gestores
José Wellington de Aragão – FACED
Jocelma Rios – FACED
setembro/2007 a
dezembro/2008
Quinta turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
outubro/2007
Primeira turma do Curso Moodle para professores
Nicia Riccio – CPD / CEAD
outubro a
dezembro/2007
Curso de especialização: Desenvolvimento Regional Sustentável
CIAGS – Escola de Administração
2007
Parceria com a UFRGS para desenvolvimento de competências em EAD
CIAGS – Escola de Administração
2007
IV Seminário de EAD do PROGED
Kátia Siqueira Freitas – ISP
outubro/2007
II Seminário Interno de EAD da UFBA
Nicia Riccio – CPD/CEAD
Fernando Saldanha – ISP/CEAD
novembro/2007
Curso de Especialização em Saúde da Família com Ênfase em
Gerenciamento de Processo de Trabalho
Marilia Fontoura – Escola de Enfermagem
Gesilda Lessa – SESAB
2007
Implantação do Doutorado Multiinstitucional e Multidisciplinar em
Difusão do Conhecimento
Teresinha Fróes Burnham – FACED
2007
342
Fatos internos Data/período Fatos externos
dezembro/2007 Decreto nº 6.303, de 12 de dezembro de 2007
Altera dispositivos dos Decretos n
os
5.622, de 19 de dezembro de 2005,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 5.773, de 9
de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de
regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior
e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de
ensino
Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad – MEC
Disciplina: Educação, Sexualidade e Gênero; primeira disciplina oferecida
oficialmente a distância no PPGE/FACED
Tereza Cristina Fagundes – FACED
Ângela Maria Freire de Lima e Souza – FACED/Instituto de Biologia
março/2008
Assinatura de convênio de cooperação com universidades baianas para a
oferta de cursos em EAD
Naomar Monteiro de Almeida Filho – Reitoria
2008
junho/2008
RESOLUÇÃO CD/FNDE Nº 24 DE 04 DE JUNHO DE 2008
Estabelece orientações e diretrizes para o apoio financeiro às
instituições de ensino participantes do Sistema UAB, vinculado à
CAPES e à SEED/MEC, nos exercícios de 2008/2009.
Fernando Haddad – MEC
Sexta turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
abril/2008
Aprovação do Curso de Licenciatura em Matemática a distância pela
Câmara de Graduação da UFBA
Marco Antônio Fernandes – Instituto de Matemática
abril/2008
Sétima turma do curso de formação de tutores em EAD do PROGED;
oferecida para candidatos a tutores da UAB-UFBA
Patrícia Rosa da Silva – ISP
Nicia Riccio – CPD
julho/2008
Curso de licenciatura em música a distância; oferecido pela UFRGS;
participação de docente da UFBA na disciplina Violão a distância
Cristina Tourinho – Escola de Música
2008
Segunda turma do Curso Moodle para professores – CPD e CEAD
Nicia Riccio – CPD / CEAD
setembro a
novembro /2008
343
Fatos internos Data/período Fatos externos
Curso de especialização a distância em Segurança e Saúde no Trabalho;
parceria com o FIEB/SESI; segunda turma
Vilma Santana – ISC
outubro/2008
III Colóquio Internacional Saberes, Práticas: Tecnologias e Processos de
Difusão de Conhecimento
Vera Fartes – FACED
Teresinha Fróes Burnham – FACED
novembro/2008
Curso de especialização a distância em Saúde Coletiva com concentração
em Gestão Pública Municipal
Maria Lígia Rangel – ISC
janeiro/2009
Aprovação do curso de extensão: Educação de Jovens e Adultos; no
contexto da UAB com apoio da SECAD/MEC
Sandra Marinho Siqueira – FACED
2009
Aprovação do curso de extensão: Educação Ambiental, no contexto da
UAB com apoio da SECAD/MEC
Sueli Almuiña Holmer Silva – FACED
2009
Aprovação do curso de extensão: Relações Étnico-Raciais; no contexto da
UAB com apoio da SECAD/MEC
Zelinda Barros – CEAO
2009
Aprovação do Curso de Formação Básica de Dança como Tecnologia
Educacional; no contexto da UAB
Virgínia Maria Rocha Chaves – Escola de Dança
2009
Terceira turma do Curso Moodle para professores
Lanara Souza – CPD
abril a maio/2009
Início do Curso de Licenciatura em Matemática a distância
Marco Antônio Fernandes – Instituto de Matemática
abril/2009
junho/2009
RESOLUÇÃO CD/FNDE Nº 26, DE 5 DE JUNHO DE 2009
Estabelece orientações e diretrizes para o pagamento de bolsas de
estudo e de pesquisa a participantes da preparação e execução dos
cursos dos programas de formação superior, inicial e continuada no
âmbito do Sistema UAB, vinculado à Capes, a serem pagas pelo FNDE
a partir do exercício de 2009.
Fernando Haddad – MEC
Portaria n. 480/2009
Designa a Comissão Gestora Provisória do Núcleo de Educação a
Distância
Naomar Monteiro de Almeida Filho – Reitoria
junho/2009
344
APÊNDICE E – Relação dos sujeitos da pesquisa por caso de estudo.
Participantes da pesquisa no Curso Moodle 2007
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade
de mensagens
no ambiente
Resultado
no Curso
Moodle
Observação
Participante1-CM07
Docente do Instituto de
Geociências; Doutor em Geologia Regional;
Especialista no ensino de Geociências
Entrevista on-
line (MSN) em
06/12/2007
95 Aprovado
Participante2-CM07
Docente da Faculdade de Medicina; Doutora
em Saúde Pública
Entrevista on-
line (MSN) em
10/12/2007
32 Aprovado
Coordena o NUTS Núcleo de
Tele Saúde do HUPES
Participante3-CM07
Docente da Faculdade de Odontologia;
Mestre em Odontologia
Entrevista on-
line (MSN) em
28/11/2007
26 Aprovado
Coordena as Jornadas on-line de
Radiologia
Participante4-CM07
Docente aposentada da FACED; Doutora
em Educação
Entrevista
presencial em
29/11/2007
22 Aprovado
Responsável pela disciplina
Educação, Sexualidade e Gênero
Participante5-CM07
Química, técnica da Escola Politécnica;
Doutora em Química Analítica;
Coordena curso de especialização
Entrevista on-
line (MSN) em
08/10/2008
15 Aprovado
Colocou-se como voluntária para
a entrevista
Participante6-CM07 Técnico do Instituto de Matemática 10 Aprovado
Participante7-CM07 Técnica do Instituto de Geociências; 10 Aprovado
Participante8-CM07
Docente do Instituto de Geociências;
Doutora em Geografia
10 Aprovado
Participante9-CM07
Técnico da PRODEP; Mestre em Saúde
Coletiva
10 Aprovado
Participante10-CM07
Técnico da PRODEP; Graduada em
Administração
9 Aprovado
Participante11-CM07
Técnica do Instituto de Química;
Bibliotecária
9 Aprovado
345
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade
de mensagens
no ambiente
Resultado
no Curso
Moodle
Observação
Participante12-CM07
Docente da Escola de Dança; Mestre em
Artes Cênicas
8 Aprovado
Participante13-CM07 Técnico da Faculdade de Medicina 7 Aprovado
Participante14-CM07 Técnica do Instituto de Matemática; 7 Aprovado
Participante15-CM07 Docente da FACED; Doutor em Educação 6
Participante16-CM07
Docente da Escola de Música; Doutor em
Música
6 Aprovado
Participante17-CM07
(
Docente3-LMD)
Docente do Instituto de Matemática; Mestre
em Matemática
Entrevista
presencial em
12/09/2008
6
Docente do curso de
Licenciatura em Matemática a
distância
Participante18-CM07
Docente do Instituto de Matemática; Mestre
em Ciência da Informação
5 Aprovado
Participante19-CM07 Técnico do Instituto de Química 5 Aprovado
Participante20-CM07
Docente 1º e 2º Graus da Creche UFBA;
Pedagoga
5
Participante21-CM07
Docente da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas; Doutor em Psicologia
5
Participante22-CM07
Docente do Instituto de Letras; Mestre em
Estudos Culturais
4 Aprovado
Participante23-CM07 Técnico da PRPPG 4 Aprovado
Participante24-CM07
(
Docente2-LMD)
Docente do Instituto de Matemática; Mestre em
Matemática
Entrevista
presencial em
25/11/2008
3 Aprovado
Docente do curso de
Licenciatura em Matemática a
distância
Participante25-CM07
Docente do Instituto de Ciências da Saúde;
Doutora em Neurociência
3 Aprovado
Participante26-CM07
Docente da Escola de Enfermagem;
Doutora em Saúde Coletiva
3
Participante27-CM07 Técnico do CPD 3
Participante28-CM07 Técnica da PRODEP; Graduada em História 3 Aprovado
Participante29-CM07
Docente da Escola de Enfermagem; Mestre
em Enfermagem
3
346
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade
de mensagens
no ambiente
Resultado
no Curso
Moodle
Observação
Participante30-CM07
Docente do Instituto de Biologia; Mestre em
Imunologia; doutoranda em Educação
(2009)
2 Aprovado
Participante31-CM07
Docente da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas; Doutor em Psicologia
2
Participante32-CM07 Técnico da Faculdade de Ciências Contábeis 2 Aprovado
Participante33-CM07
Docente da Faculdade de Farmácia; Doutor
em Química
2
Participante34-CM07
Docente da Faculdade de Odontologia;
Doutora em Radiologia
2
Participante35-CM07
Docente da Faculdade de Economia; Mestre
em Economia; doutorando em Educação
(2008)
2 Aprovado
Participante36-CM07
Docente aposentado do Instituto de
Matemática; Mestre em Matemática
1
Participante37-CM07
Docente do Instituto Multidisciplinar em
Saúde, Vitória da Conquista; Mestre em
Saúde Coletiva
1
Participante38-CM07
Docente do Instituto de matemática; Mestre
em Matemática
1
Participante39-CM07
Docente do Instituto de Letras; Doutora em
Letras
1
Participante40-CM07
Docente da Escola de Belas Artes; Mestre
em Artes Visuais
Entrevista on-
line (MSN) em
20/12/2007
1 Aprovado
Colocou-se como voluntário
para a entrevista
Participante41-CM07
Docente da Faculdade de Ciências
Contábeis; Doutor em Engenharia de
Produção
1 Aprovado
Participante42-CM07
Docente da Escola Politécnica; Especialista
em Prática e Economia do Processamento de
Minerais
1
Participante43-CM07
Técnico do Instituto Multidisciplinar em
Saúde, Vitória da Conquista;
1 Aprovado
Participante44-CM07 Docente da FACED; Doutor em Educação 1
347
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade
de mensagens
no ambiente
Resultado
no Curso
Moodle
Observação
Participante45-CM07
Docente do Instituto de Letras; Doutora em
Letras e Linguística
1 Aprovado
Participante46-CM07
Docente da Faculdade de Odontologia;
Mestre em Clínica Odontológica
1 Aprovado
Participante47-CM07 Técnico da PRODEP 1
Participante48-CM07
Docente da Escola de Nutrição; Mestre em
Ciências Aplicadas à Pediatria
1
Participante49-CM07 Técnico da Faculdade de Farmácia 1
Participante50-CM07 Docente da Escola de Administração; 1 Aprovado
Docente1-CM07
(Docente3-CM08)
Pedagoga; membro do GEC; mestranda em
Educação (2009)
28
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso Moodle
2008 não foi considerada para a
pesquisa
Docente2-CM07
(Docente4-CM08)
Pedagoga; membro do GEC; mestranda em
Educação (2009)
99
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso Moodle
2008 não foi considerada para a
pesquisa
Docente3-CM07
Pedagoga
60
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso Moodle
2008 não foi considerada para a
pesquisa
Docente4-CM07
Pedagoga; Técnica do CPD; doutoranda em
Educação (2008)
46
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso Moodle
2008 não foi considerada para a
pesquisa
Docente5-CM07
(Docente6-CM08)
Técnica do CPD; Mestre em Informática;
doutoranda em Educação (2006); membro do
GEC; coordenadora do CM07
145
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso Moodle
2008 não foi considerada para a
pesquisa
348
Participantes da pesquisa no Curso Moodle 2008
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Resultado no
Curso Moodle
Observação
Participante1-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Doutor em
Imunologia
107 aprovado
Participante2-CM08
Docente do Instituto de Ciência da Informação;
Doutor em Ciência da Informação; Mestre em
História da Arte; Bacharel e Licenciado em
História
103 aprovado
Participante3-CM08
Docente do Instituto de Ciências da Saúde; Doutora
em Fisiologia; Especialista em Docência no Ensino
Superior
68 aprovada
Participante4-CM08
Docente do Instituto de Ciências da Saúde; Doutor
em Bioquímica
42 aprovado
Participante5-CM08
Docente do Instituto de Matemática; Mestre em
Matemática
42 aprovada
Participante6-CM08
Docente do Instituto de Ciência da Informação;
Mestre em Ciência da Informação
35 aprovado
Participante7-CM08
Docente da FACED; Mestre em Filosofia; Doutor
em Educação; membro do GEC
31 aprovado
Participante8-CM08
Docente aposentada da Faculdade de Farmácia;
Doutora em Patologia
20 aprovada
Participante9-CM08
Docente da Faculdade de Farmácia; Doutora em
Biotecnologia
18 aprovada
Participante10-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Doutora em
Saúde Pública
18 aprovada
Participante11-CM08
Docente do Instituto de Matemática; Mestre em
Estatística; Doutora em Educação
17 aprovada
Participante12-CM08
Docente aposentado da Escola Politécnica; Mestre
em Engenharia Elétrica
16 aprovado
Participante13-CM08
Técnica do HUPES; Graduação em Medicina 15 aprovada
Participante14-CM08
Técnico do HUPES/ CPD; Graduação em Ciência
da Computação
15 aprovado
Participante15-CM08
Docente da Faculdade de Arquitetura; Mestre em
Conservação e Restauro
13 aprovado
Participante16-CM08
Docente da FACED; Doutora em Educação 13 aprovada
Participante17-CM08
Docente da Escola Politécnica; Doutorado em
Engenharia Civil
12 aprovado
349
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Resultado no
Curso Moodle
Observação
Participante18-CM08
Docente da Faculdade de Arquitetura; Mestre em
Pedagogia Profissional; Licenciado em Construção
Civil e em Desenho e Prática
11 aprovada
Participante19-CM08
Técnica do HUPES; Graduada em Gestão
Hospitalar
11 aprovada
Participante20-CM08
Técnica do HUPES; Mestre em Enfermagem 10
Participante21-CM08
Docente substituto da FACED; Mestre em
Educação; doutorando em Educação (2009)
10
Participante22-CM08
Docente aposentada da Escola Politécnica 10 aprovada
Participante23-CM08
Docente da FAMED; Doutora em Saúde Pública 9 aprovada
Participante24-CM08
Docente do Instituto de Biologia; Doutora em
Ecologia
8 aprovada
Participante25-CM08
Docente da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas; Doutora em História
8 aprovada
Participante26-CM08
Docente do Instituto de Letras; Doutora em
Fonética e Linguística
8
Coordenadora, na UFBA, da
Licenciatura em Libras a
distância
Participante27-CM08
Docente do Instituto de Geociências; Mestre em
Geoquímica e Meio Ambiente
8
Participante28-CM08
Docente do Instituto de Matemática; Doutora em
Bioestatística
7
Participante29-CM08
Docente da Escola de Administração; Doutor em
Política do Desenvolvimento
6
Participante30-CM08
Técnica da Biblioteca Central; Mestre em Ciência
da Informação
6 aprovada
Participante31-CM08
Docente da Faculdade de Ciências Contábeis;
Mestre em Contabilidade
5
Participante32-CM08
Docente do Instituto de Matemática; Doutora em
Matemática
5
Participante33-CM08
Docente da Escola de Nutrição; Doutorado em
Ciências de Alimentos
5
Participante34-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Mestre em
Odontologia
5
Participante35-CM08
(Docente2-DESG)
Docente do Instituto de Biologia; Bióloga; Doutora
em Educação
4
Uma das docentes responsáveis
pela disciplina a distância
Educação, Sexualidade e
Gênero
350
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Resultado no
Curso Moodle
Observação
Participante36-CM08
Técnica do ICADS, Barreiras; Licenciada em
Pedagogia
4
Participante37-CM08
Docente do Instituto de Letras; Mestre em Estudos
Literários
4 aprovado
Participante38-CM08
Docente da FACED; Doutorando em Educação
(2006)
4
Participante39-CM08
Docente da Faculdade de Ciências Econômicas;
Doutora em Economia Aplicada
3 aprovada
Participante40-CM08
Docente da Escola de Dança; Mestre em Artes
Cênicas
3
Aprovou um projeto de curso
de extensão a distância pela
UAB em 2009
Participante41-CM08
Docente do Instituto de Biologia da UFBA; Doutor
em Ciências
3 aprovado
Participante42-CM08
Técnica do ICADS, Barreiras; Pedagoga 3
Participante43-CM08
Docente do Instituto de Ciências da Saúde; Mestre
em Patologia Humana
3
Participante44-CM08
Docente do Instituto de Letras; Mestre em Letras 2 aprovada
Participante45-CM08
Docente da Escola de Enfermagem; doutora em
Enfermagem
2
Participante46-CM08
Docente da Escola de Dança; Doutora em
Comunicação e Semiótica
2 aprovada
Participante47-CM08
Docente da Faculdade de Comunicação; Doutor em
Sociologia
2
Participante48-CM08
Docente da Escola de Nutrição; Doutora em Saúde
Coletiva
2
Participante49-CM08
Técnica do HUPES; Graduada em Administração 2
Participante50-CM08
Docente da Faculdade de Ciências Contábeis;
Doutor em Engenharia de Produção
1
Participante51-CM08
Técnico do Instituto de Química; Bacharel em
Comunicação Social
1
Participante52-CM08
Docente do Instituto de Matemática; Doutora em
Ciência da Computação
1
Participante53-CM08
Docente do Instituto de Letras; Doutor em
Literatura Comparada
1
Participante54-CM08
Docente da Escola de Nutrição; Doutora em
Ciência dos Alimentos
1
Participante55-CM08
Técnica do HUPES; graduanda em Tecnologia de
Gestão de Serviços de Saúde
1
351
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Resultado no
Curso Moodle
Observação
Participante56-CM08
Docente da Escola Politécnica; Doutor em
Engenharia Civil
1
Participante57-CM08
Docente da Escola de Nutrição; Mestre em
Nutrição
1
Participante58-CM08
Docente do Instituto de Ciências da Saúde; Mestre
em Engenharia Biomédica
1
Participante59-CM08
Docente do Instituto Multidisciplinar em Saúde,
Vitória da Conquista; Mestre em Medicina e Saúde
1
Participante60-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Mestre em
Odontologia; Doutora em Educação
1
Participante61-CM08
Docente da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas; Doutor em Psicologia
1
Participante62-CM08
Docente do Instituto de Ciências da Saúde; Doutora
em Microbiologia
1
Participante63-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Doutora em
Odontologia
1
Participou da organização da I
Jornada Pedagógica on-line em
Radiologia juntamente com o
Participante3-CM07
Participante64-CM08
Docente da Escola de Belas Artes; Doutor em
Arquityetura e Urbanismo
1
Participante65-CM08
Docente da Faculdade de Odontologia; Doutor em
Odontologia
1
Participante66-CM08
Técnica do Instituto de Ciências da Saúde 1
Participante67-CM08
Docente do Instituto de Geociências; Doutor em
Geografia
1
Docente1-CM08
Docente do departamento de EAD da UERJ;
Doutora em Educação; ex-membro do GEC;
Pesquisadora responsável pela mediação teórica do
CM08
118 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
Docente2-CM08
Pedagoga; membro do GEC;
Professora-tutora do CM08
Entrevista on-
line em
21/01/2009
97 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
Docente3-CM08
(Docente1-CM08)
Pedagoga; membro do GEC; mestranda em
Educação (2009); Professora-tutora do CM08
182 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
352
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Resultado no
Curso Moodle
Observação
Docente4-CM08
(Docente2-CM08)
Pedagoga; membro do GEC; mestranda em
Educação (2009); Professora-tutora do CM08
Entrevista on-
line em
27/12/2008
105 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
Docente5-CM08
Docente da Faculdade de Educação da UESB;
Mestre em Educação; membro do GEC;
Professora-tutora do CM08
Entrevista on-
line em
27/12/2008
100 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
Docente6-CM08
(Docente5-CM08)
Técnica do CPD; Mestre em Informática;
doutoranda em Educação (2006); membro do GEC;
coordenadora do CM08
120 -
A participação das docentes no
ambiente virtual do Curso
Moodle 2008 não foi
considerada para a pesquisa
Participantes da pesquisa na Disciplina a distância Educação, Sexualidade e Gênero
Codinome Perfil Entrevista
Quantidade de
mensagens no
ambiente
Observação
Docente1-DESG
(Participante4-CM07)
Docente aposentada da FACED; Doutora em
Educação
Entrevista presencial em
29/11/2007
37
Participou do Curso Moodle 2007;
aprovada
Docente2-DESG
(
Participante35-CM08
)
Docente do Instituto de Biologia; Bióloga;
Doutora em Educação
Entrevista on-line (MSN)
em
22/10/2008
8
Participou do Curso Moodle 2008;
não aprovada
Participantes da pesquisa na Licenciatura em Matemática a Distância
Codinome Perfil Entrevista
Participação no Curso
Moodle/ resultado
Observação
Docente1-LMD
Docente do Instituto de Matemática; Doutor
em Matemática; coordenador da LMD
Entrevista presencial em
20/10/2009
Docente2-LMD
(Participante24-CM07)
Docente do Instituto de Matemática; Mestre
em Matemática
Entrevista presencial em
25/11/2008
Participou do Curso Moodle
2007; aprovada
Acompanhou, como docente, o
curso de Formação de Tutores
em EAD para a UAB
Docente3-LMD
(Participante17-CM07)
Docente do Instituto de Matemática; Mestre
em Matemática
Entrevista presencial em
12/09/2008
Participou do Curso Moodle
2007; não aprovada
Docente4-LMD
Docente do Instituto de Matemática; Mestre
em Matemática
Entrevista presencial em
09/12/2008
353
Codinome Perfil Entrevista
Participação no Curso
Moodle/ resultado
Observação
Docente5-LMD
Docente do Instituto de Matemática; Doutor
em Matemática
Entrevista presencial em
09/09/2008
Docente6-LMD
Docente do Instituto de Matemática; Doutor
em Matemática
Entrevista presencial em
17/10/2008
Acompanhou, como docente, o
curso de Formação de Tutores
em EAD para a UAB
Docente7-LMD
Docente do Instituto de Matemática; Doutor
em Matemática
Entrevista presencial em
30/09/2008
354
ANEXOS
355
ANEXO A – Portaria n.422/2004 – Institui o Comitê Gestor de Tecnologia da Comunicação e
Informação
Serviço Público Federal
Ministério da Educação
Universidade Federal da Bahia
Gabinete do Reitor
PORTARIA Nº 422 de 04 de novembro de 2004
O REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, no uso de suas atribuições legais,
RESOLVE:
Designar a Profª Dora Leal Rosa, Pró-Reitora de Planejamento e Administração, o
Prof. Paulo de Arruda Penteado Filho, lotado na Escola de Administração, o Prof.
Cláudio Guimarães Cardoso, lotado na Faculdade de Comunicação, o Prof. Hédison Kiuity
Sato, lotado no Instituto de Geociências, e o técnico-administrativo Luiz Cláudio
Mendonça, lotado no Centro de Processamento de Dados, João Gualberto Rizzo Araújo,
lotado no Centro de Processamento de Dados, para, sob a presidência da primeira,
comporem o Comitê Gestor de Tecnologia da Informação e Comunicação.
Publique-se, cumpra-se, registre-se,
Naomar Monteiro de Almeida Filho
Reitor
356
ANEXO B – Resolução n.03/2005 – Regulamenta os cursos de graduação a distância da
Universidade Federal da Bahia
Serviço Público Federal
Ministério da Educação
Universidade Federal da Bahia
Câmara de Ensino de Graduação
RESOLUÇÃO Nº 03/2005
Regulamenta os Cursos de Graduação à Distância
PRÍNCIPIOS GERAIS
Art. Ficam estabelecidos os Cursos de Educação à Distância como modalidade
educativa fundamentada na autoaprendizagem e flexibilização do processo de
aquisição de conhecimentos, com mediação docente, recursos didáticos organizados e
apresentados através de diferentes meios tecnológicos de informação e comunicação,
utilizados isoladamente ou combinados.
Art. 2º – A oferta de cursos de graduação à distância tem os seguintes objetivos:
a. democratizar o acesso, com formação de qualidade, às pessoas que desejam
estudar ou atualizar-se sem as limitações de tempo e espaço;
b. preservar os valores sócios culturais propiciando aos alunos se desenvolverem no
seu próprio meio cultural.
Art. São considerados cursos de graduação à distância aqueles que apresentarem as
seguintes características:
a. interlocução permanente entre professor, aluno e tutor;
b. abertura ao acesso inclusive em tempo diferente do presencial;
c. flexibilização do processo de apropriação dos conhecimentos;
d. adoção de didática e metodologia não presencial ou semipresencial;
e. superação das distâncias geográficas e das relações espaço tempo;
f. fomento à formação permanente e educação continuada;
c. possibilidade de permanência do aluno em seu ambiente geográfico e cultural.
Art. Os projetos de cursos de graduação em EAD poderão originar-se de iniciativas de
Congregações e outros órgãos colegiados das Unidades de Ensino.
Art. Os cursos propostos serão homologados pelos respectivos Colegiados, apreciados
pela PROGRAD e aprovados pela Câmara de Ensino de Graduação.
DA COORDENACÃO E ADMINISTRACÃO DOS CURSOS
Art. O curso de Educação à Distância secoordenado por um Colegiado, nos termos
do Regimento Geral, constituído especificamente para gerir seu projeto didático-
pedagógico.
Art. 7º – Compete ao Colegiado:
357
a. elaborar o projeto pedagógico do curso;
b. aprovar a relação de professores tutores e suas modificações;
c. orientar e acompanhar os trabalhos de coordenação didática e realizar a supervisão
administrativa do curso;
d. acompanhar as atividades do curso;
e. avaliar e propor medidas necessárias ao aprimoramento do curso;
f. cumprir e fazer cumprir as determinações dos órgãos da administração superior e
da legislação vigente.
Art. 8º – São atribuições do Coordenador do curso:
a. coordenar a execução dos conteúdos programáticos do curso, adotando as medidas
necessárias para seu adequado funcionamento;
b. exercer a direção administrativa do curso;
c. dar cumprimento às decisões do colegiado e dos órgãos superiores da Universidade;
d. convocar e presidir as reuniões do colegiado do curso;
e. remeter à PROGRAD o relatório anual de atividades;
f. decidir matéria de urgência, “ad referendum” do Colegiado;
g. discutir e propor à PROGRAD o estabelecimento de normas, ementas dos conteúdos
das disciplinas e formato do teste seletivo especifico.
Art. O processo de criação de cursos à distância deverá ser instruído com os seguintes
documentos:
1. projeto pedagógico;
2. fluxograma;
3. anuência formal dos Departamentos envolvidos, com declaração expressa sobre a
disponibilidade do corpo docente;
4. anuência formal das Direções das unidades de ensino envolvidas, sendo
asseguradas, entre outras condições:
funcionamento adequado de bibliotecas e secretarias para a realização de
aulas presenciais e práticas em laboratórios, e
disponibilidade de servidores técnico e administrativos.
DO REGIME DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Art. 10 Os projetos de cursos de graduação à distância deverão apresentar o mínimo de
carga horária, previsto em Lei, para a respectiva profissão e atender os seguintes
requisitos:
a. identificação do curso;
b. nome da unidade proponente;
c. nome do coordenador;
d. histórico e justificativa da oferta;
e. carga horária total, discriminando o número de horas-aula nas modalidades
presencial e à distância;
f. duração;
g. periodicidade (tempo de conclusão de cada módulo);
h. clientela alvo;
i. regime e turno de funcionamento;
j. organização da tutoria (número de tutores / número de alunos);
k. número de vagas;
l. formato do teste seletivo específico;
m. matriz curricular;
n. quadro de integralização curricular (em forma de plano de periodização, contendo
a listagem das disciplinas, com indicação de código, denominação, carga horária
semanal, créditos);
o. anteprojeto de resolução contendo o rol de disciplinas com respectivos códigos,
denominações, carga horária semanal e créditos);
358
p. ementas das disciplinas;
q. cronograma, com especificação das datas do teste de seleção e início do curso. O
cronograma do curso poderá sugerir datas e horários de uso normal ou especial de
espaços, com ênfase para as áreas que exijam laboratório, práticas e estágios
supervisionados;
r. sistema de avaliação do aluno (com especificação das modalidades e composição
dos resultados qualitativos e quantitativos), e
s. sistema de avaliação do curso.
DO PROCESSO DE ADMISSÃO
Art. 11 O ingresso de alunos nos cursos de graduação à distância da UFBA far-se-á
mediante teste seletivo específico, aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão.
Art. 12 – Compete à Superintendência Acadêmica, a execução do teste seletivo específico,
compreendendo os atos concernentes a sua realização, desde a publicação dos editais até
a divulgação oficial dos resultados da classificação dos candidatos e convocação para a
matrícula.
DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Art. 13 Avaliação da aprendizagem em EAD é processual, possibilitando conhecer o
rendimento acadêmico dos alunos e orientar a sua aprendizagem.
§ 1º – A avaliação deve ser fundamentada através do estabelecimento da referência
(projeto do curso) e de critérios bem definidos.
§ A identificação da ocorrência ou não da aprendizagem será medida através de
processos de avaliação, conforme as características e especificidades de cada curso.
§ O processo de avaliação será integralizado com a realização de exames presenciais,
conforme disposto no Decreto nº 2494/98.
§ Os alunos dos cursos de educação à distância deverão cumprir, no mínimo, 75% dos
encontros presenciais previstos no projeto do curso.
CONTROLE ACADÊMICO
Art. 14 O controle acadêmico dos cursos de graduação à distância será efetivado,
conforme prazos e datas estabelecidos em cada projeto de curso.
DA DIPLOMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO
Art. 15 – A diplomação e certificação dos cursos obedecerão à legislação vigente.
Art. 16 – Esta Resolução entrará em vigor na data da sua aprovação.
Salvador, 26 de julho de 2005
Terêsa Cristina Bahiense de Sousa
Presidente da Câmara de Graduação
359
ANEXO C – Portaria n.187/2006 – Cria a Comissão Institucional de Educação a Distância da
Universidade Federal da Bahia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Gabinete do Reitor
PORTARIA Nº.187, de 11 de abril de 2006
O REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, no uso de suas atribuições
estatutárias e legais e considerando a necessidade de estruturar Comissão Institucional de Educação a
Distância da Universidade Federal da Bahia (CEAD) e regulamentar as suas atividades no âmbito
desta Instituição,
RESOLVE:
Art. Criar a Comissão Institucional de Educação a Distância da Universidade Federal da Bahia
CEAD, vinculada à Reitoria.
Art. A CEAD será constituída por um representante da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, da
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, da Pró-Reitoria de Extensão, e da Pró-Reitoria de
Planejamento e Administração, do Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público, do
Centro de Processamento de Dados, da Faculdade de Educação e do Comitê Gestor de Tecnologias da
Informação e Comunicação.
§ Único A CEAD será presidida por um de seus membros, escolhido por seus pares, na primeira
reunião de instalação dos trabalhos.
Art. 3º – São atribuições dessa Comissão:
I – Gerir as atividades e planos de Educação a Distância (EAD) no período de 2006 a 2008;
II – Promover as condições de criação e institucionalização de um Núcleo de Educação a
Distância (NEAD), até o final de 2008.
Art. 4º – Ficam estabelecidas as seguintes atribuições dos órgãos representados na CEAD:
I – À Pró-Reitoria de Ensino de Graduação – PROGRAD:
a) Criar, no seu âmbito, Grupo de Trabalho para estimular e apoiar iniciativas e projetos
de criação de cursos de graduação à distância junto a Unidades de Ensino, Departamentos
e Colegiados de Cursos de Graduação;
b) Orientar tecnicamente a elaboração de projetos de criação de cursos;
360
c) Estabelecer diálogo com a Câmara de Ensino de Graduação do CONSEPE no sentido
de institucionalizar cursos de graduação a distância.
II – À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PRPPG:
a) Criar, no seu âmbito, Grupo de Trabalho para estimular e apoiar iniciativas e projetos
de criação de cursos de pós-graduação a distância, junto a Unidades de Ensino,
Departamentos e Colegiados de Cursos de Pós-Graduação;
b) Orientar tecnicamente projetos de criação de cursos; estabelecer diálogos com a
Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa do CONSEPE no sentido de
institucionalizar cursos de pós-graduação a distância.
III – À Pró-Reitoria de Extensão – PROEXT:
a) Criar, no seu âmbito, Grupo de Trabalho para estimular e apoiar iniciativas e projetos
de cursos de extensão a distância, junto a Unidades de Ensino e Departamentos;
b) Orientar tecnicamente a elaboração de projetos de cursos;
c) Estabelecer diálogo com a Câmara de Extensão do CONSEPE no sentido de
institucionalizar cursos de extensão a distância.
IV – Pró-Reitoria de Planejamento e Administração – PROPLAD:
a) Prestar apoio institucional à CEAD e à criação do NEAD;
b) Assessorar as iniciativas e processos de captação de recursos financeiros para suporte
às atividades de EAD na Universidade.
V) Ao Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público – ISP:
a) Promover articulações intra e interinstitucionais para o desenvolvimento da EAD na
Universidade;
b) Prestar apoio técnico à Comissão;
c) Sediar provisoriamente os trabalhos da CEAD fornecendo a infraestrutura necessária.
VI – Ao Centro de Processamento de Dados – CPD:
a) Desenvolver metodologias ligadas a ambientes virtuais de aprendizagem; e
b) Assessorar tecnicamente, no seu âmbito, projetos de cursos apoiados em EAD.
VII À Faculdade de Educação FACED, prestar apoio pedagógico na elaboração de projetos,
desenvolvimento e avaliação de cursos apoiados em EAD.
VIII Ao Comitê Gestor de Tecnologias da Informação e Comunicação, prestar apoio
tecnológico às iniciativas de desenvolvimento e suporte à EAD na Universidade.
Publique-se, cumpra-se e registre-se.
Naomar Monteiro de Almeida Filho
Reitor
361
ANEXO D – Portaria n.239/2006 – Designa servidores para compor a Comissão Institucional
de Educação a Distância da Universidade Federal da Bahia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Gabinete do Reitor
PORTARIA Nº 239, de 18 de maio de 2006
O REITOR da UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, no uso de suas atribuições
legais e visando a implementação da Portaria nº 187, de 11 de abril de 2006.
RESOLVE:
1. Designar os servidores abaixo indicados para compor a Comissão Institucional de Educação a
Distância da Universidade Federal da Bahia – CEAD, vinculada à Reitoria:
a) Márcia de Matos Pontes, representante da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
(PROGRAD);
b) Vera Lúcia Aguzzolli Travi, representante da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
(PRPPG);
c) Ana Elisabeth Simões Brandão, representante da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT);
d) Marcos Paulo Pereira da Anunciação, representante da Pró-Reitoria de Planejamento e
Administração (PROPLAD);
e) Fernando Jorge Carrera Saldanha Filho, representante do Centro de Estudos
Interdisciplinares para o Setor Público (ISP);
f) Nicia Cristina Rocha Riccio, representante do Centro de Processamento de Dados (CPD);
g) Teresinha Fróes Burnham, representante da Faculdade de Educação (FACED);
h) Paulo de Arruda Penteado Filho, representante do Comitê Gestor de Tecnologias da
Informação e Comunicação (GTIC);
2) As atribuições da CEAD e dos órgãos que a integram estão definidas na Portaria 187, de 11 de
abril de 2006.
Publique-se, cumpra-se e registre-se.
Naomar Monteiro de Almeida Filho
Reitor
362
ANEXO E Portaria n. 480/2009 Designa a Comissão Gestora Provisória do Núcleo de
Educação a Distância da Universidade Federal da Bahia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Gabinete do Reitor
PORTARIA Nº 480, de 17 de junho de 2009
O REITOR da UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, no uso de suas atribuições
legais, resolve:
Designar os professores Paulo de Arruda Penteado Filho, Eduardo Henrique Lima, Marco
Antonio Nogueira Fernandes e Nícia Cristina Rocha Riccio para, sob a coordenação do primeiro,
comporem a Comissão Gestora Provisória do Núcleo de Educação a Distância (NEAD).
Salvador, 17 de junho de 2009
Naomar Monteiro de Almeida Filho
Reitor
363
ANEXO F – Pesquisa de avaliação disponível no ambiente Moodle utilizada para avaliação
do Curso Moodle para Professores, turmas 2007 e 2008.
364
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