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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE SÃO PAULO
Desafios para implementação do Global Reporting Initiative nas empresas
sucroenergéticas no Brasil
José Ronaldo Vilela Rezende
São Paulo
2010
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Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
José Ronaldo Vilela Rezende
Bacharel em Ciências Contábeis
Desafios para implementação do global reporting initiative nas empresas sucroenergéti-
cas no Brasil
Dissertação apresentada à Escola de Administração de São
Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, para obtenção do título
de Mestre em Agroenergia. Área de concentração: Compe-
titividade e Desenvolvimento Sustentável
Orientador:
Prof. Dr. JOSÉ DILCIO ROCHA
São Paulo
2010
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Rezende, José Ronaldo Vilela
Desafios para Implementação do Global Reporting Initiative nas Empresas Sucro-
energéticas no Brasil / José Ronaldo Vilela Rezende – 2010.
92f
Orientador: José Dilcio Rocha
Dissertação (mestrado profissional) - Escola de Economia de São Paulo.
1. Desenvolvimento sustentável. 2. Desempenho -- Medição. 3. Álcool como
combustível -- Brasil. 4. Indicadores ambientais. I. Rocha, José Dilcio. II. Dissertação
(mestrado profissional) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Tí-
tulo.
CDU 620.9
José Ronaldo Vilela Rezende
Desafios para implementação do global reporting initiative nas empresas
sucroenergéticas
Dissertação apresentada à Escola de Administração de São
Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, como parte dos requisi-
tos para obtenção do Título de Mestre em Agroenergia. Á-
rea de concentração: Competitividade e Desenvolvimento
Sustentável
Data de aprovação: 12/12/2010
Banca examinadora:
______________________________________
Prof. Dr. José Dilcio Rocha - Orientador
EMBRAPA
______________________________________
Prof. Dr. Alexandre Mendonça de Barros
FGV
______________________________________
Prof. Dr. Eduardo Leão de Sousa
UNICA
Dedico este trabalho à minha mulher Maria Thereza,
às minhas filhas Ana Beatriz e Letícia, a meu pai Rezende
e à minha querida e saudosa mãe Ivalda.
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pelas oportunidades que tenho tido na vida e por
minha maravilhosa família que muito me apoiou nesta empreitada.
Ao ministro Roberto Rodrigues pela brilhante idéia e pelo trabalho incansável na cria-
ção deste mestrado em Agroenergia.
À Maria Luiza Barbosa, Iza, por sua colaboração e seu apoio na elaboração desta tese,
bem como pelo brilhante trabalho que vem realizando vários anos sobre sustentabilidade
no setor sucroenergético.
À Aline Silva, Daniel Lobo, Luiz Barbosa, Carlos Rossin e Dominic Schmal pelo a-
poio na elaboração da pesquisa.
Ao Prof. Alexandre Mendonça de Barros, pela atenção dedicada e conhecimento com-
partilhado.
Ao professor Weber Amaral pelo auxílio na estruturação do tema desta pesquisa.
Aos integrantes do PwC Agribusiness Research & Knowledge Center e ao amigo
Marco Goes pelo apoio nas pesquisas e discussões .
4
“Pode-se resistir à invasão de exércitos,
mas não a uma idéia cujo tempo certo chegou.”
Victor Hugo
5
SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................................................7
ABSTRACT ....................................................................................................................................8
LISTA DE FIGURAS .....................................................................................................................9
LISTA DE QUADROS.................................................................................................................10
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................11
LISTA DE SIGLAS ......................................................................................................................12
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................13
2 A GLOBAL REPORTING INITIATIVE - GRI: UM INSTRUMENTO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS ORGANIZAÇÕES................................18
2.1 Por que reportar a sustentabilidade?........................................................................................18
2.2 A evolução nos padrões de relatar o desempenho corporativo ...............................................19
2.3 O padrão GRI ..........................................................................................................................21
2.3.1 Histórico ...............................................................................................................................21
2.3.2 Como estruturar um relatório de sustentabilidade: as orientações sobre a estrutura
GRI, o que relatar e como relatar (protocolos e suplementos setoriais) ..............................23
2.3.2.1 A definição do conteúdo: princípios para a definição do conteúdo ..................................24
2.3.2.2 Qualidade do relatório: princípios para garantir a qualidade do reporte...........................29
2.3.2.3 O limite do relatório ..........................................................................................................32
2.3.3 O conteúdo do relatório de sustentabilidade GRI.................................................................33
2.3.3.1 Perfil da organização.........................................................................................................33
2.3.3.2 Forma de gestão dos indicadores de desempenho.............................................................38
2.3.4 Níveis de aplicação do Relatório de Sustentabilidade GRI..................................................41
2.4 Relatar e certificar: a maturidade do mercado.........................................................................42
2.4.1 O futuro: integrated reporting...............................................................................................45
2.5 A GRI ou outros indicadores: uma análise comparativa.........................................................47
3 O SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO: UMA ALTERNATIVA REAL
DE MUNDO RENOVÁVEL...............................................................................................50
4 A GRI NO SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO E A EVOLUÇÃO
PARA O ONE REPORT: INTEGRATED REPORTING .....................................................64
4.1 Análise do grau de maturidade das usinas sucroenergéticas para adoção da GRI..................64
4.2 Metodologia utilizada para a pesquisa.....................................................................................65
6
4.2 Aplicação da metodologia na pesquisa....................................................................................73
4.3 Proposição do autor para aumentar a maturidade organizacional..........................................76
6 CONCLUSÕES..........................................................................................................................79
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................83
ANEXOS.......................................................................................................................................84
7
RESUMO
Desafios para implementação do global reporting initiative nas empresas sucroenergéti-
cas no Brasil
A pesquisa pretende avaliar o grau de maturidade necessário para elaboração e publi-
cação de um Relatório de Sustentabilidade Integrado. O setor sucroenergético brasileiro foi
escolhido para a pesquisa por aderir ao padrão da Global Reporting Initiative para relatórios
de sustentabilidade e por ser um setor com exposição nacional e internacional, que vem pas-
sando por grandes transformações com entrada de novos players nacionais e internacionais,
profissionalização da gestão, alterações de práticas operacionais visando atender exigências
ambientais e sociais. Para se entender o grau de maturidade das organizações foi preciso defi-
nir seis fundamentos de suporte à realização de um relatório integrado: processos, estrutura,
pessoas, sistemas, políticas e procedimentos e cultura organizacional. A seguir, foram estabe-
lecidos três graus de maturidade alto, médio e baixo. Assim, para cada um desses funda-
mentos foi atribuído um grau de maturidade. Na prática de elaborar relatórios de desempenho
as organizações podem estar em diferentes estágios de um processo evolutivo. Elas têm por
fim a publicação de um relatório integrando os aspectos econômicos, ambientais e sociais,
denominado triple bottom line. Nesse processo evolutivo, existem as empresas que reportam
seu desempenho econômico financeiro e as que reportam o relatório anual da administra-
ção mais completo e que pode conter o relatório de sustentabilidade. Os dois estágios reque-
rem a aplicação dos fundamentos descritos acima, mas em graus de complexidades diferentes.
Para elaborar e publicar um relatório integrado, o grau de utilização dos fundamentos deverá
ser muito maior. Esse grau de maturidade na aplicação dos fundamentos será determinante
para o processo de interação com os stakeholders, criar um relatório transparente e que seja
também útil às suas interpretações e decisões. A pesquisa detectou que as empresas do setor,
como o esperado, têm o grau de maturidade alto quando se trata de reportar o desempenho
econômico-financeiro. Quando se trata dos indicadores ambientais, se nota uma evolução
em relação ao tema; há um esforço maior a ser empreendido quando o assunto é o reporte dos
aspectos sociais. Independentemente do grau de maturidade, a iniciativa das empresas do se-
tor sucroenergético brasileiro (na região Centro-Sul), na evolução dos Relatórios de Sustenta-
bilidade, deverá reverter em prol do desafio global para o meio ambiente.
Palavras-chave: Sucroenergético; Relatório de Sustentabilidade Integrado; Global Reporting
Initiative
8
ABSTRACT
Challenges to implement the GRI in the Brazilian sugarcane industry
This research aims to assess the degree of maturity necessary for the preparation and publica-
tion of an Integrated Sustainability Report, for companies in the Brazilian sugar-ethanol sec-
tor. This sector was chosen for research by virtue of its meeting the necessary criteria of the
Global Reporting Initiative for sustainability reports and because it is a sector with national
and international exposure that has been under huge transformation with new national and
international players, management professionalization and changes in some operational prac-
tices to be compliant with environmental and social regulations.
To understand the degree of maturity of the sector’s organizations, six pillars supporting the
implementation of a company’s integrated report had to be defined: Processes; Structure;
People; Systems; Policies and Procedures; and Organizational Culture. Next, three degrees of
maturity - high, medium and low were established. In terms of reporting performance, organi-
zations may be at different stages of an evolutionary process, at the end of which companies
eventually publish reports integrating economic, environmental and social aspects relevant to
their business, also known as “triple bottom line” reporting. At different stages of this evolu-
tionary process, there are companies that report only their financial performance, and then
those that produce a fuller annual report, which might also contain a sustainability report.
Both stages require implementation of the pillars described above, but to different degrees. To
prepare and publish a fully integrated report, the degree of utilization of all six pillars will be
much higher. This degree of maturity in application of the six fundamentals will impact the
process of interaction with stakeholders, creating a transparent and useful report to help them
in their interpretations and decisions.
The survey found that companies in the sector, as expected, have a high degree of maturity
when it comes to reporting on financial performance. When it comes to environmental indica-
tors, there has already been improvement in this area; however there is a greater effort re-
quired when it comes to reporting on social aspects.
Regardless of the degree of maturity within the industry, the initiative of Brazilian sugar-
ethanol sector companies (in the Center-South) in the evolution of sustainability reports
should impact positively on global environmental challenges.
Keywords: Sugar-ethanol sector; Integrated Sustainability Report; Global Reporting Initiative
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Histórico da evolução da GRI......................................................................................22
Figura 2 – Evolução dos relatórios de responsabilidade social.....................................................23
Figura 3 – Níveis de aplicação do RS ...........................................................................................42
Figura 4 – Selos relativos aos níveis de aplicação do RS..............................................................42
Figura 5 – Histórico comparativo da produção de combustíveis no Brasil...................................51
Figura 6 – Setor sucroenergético, mapa de produção....................................................................52
Figura 7 – Grau de evolução em sustentabilidade.........................................................................66
Figura 8 – O modelo de Burke-Litwin para gestão da mudança...................................................67
Figura 9 – Articulação entre componentes para a mudança organizacional .................................68
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Indicadores de desempenho e aspectos.......................................................................40
Quadro 2 - Indicadores de desempenho e aspectos.......................................................................41
Quadro 3 - Resultado da pesquisa sobre grau de maturidade das empresas do setor
sucroenergético, nas regiões Centro-Sul do país. Matriz Fundamentos por
Indicador – Grau de Maturidade.................................................................................74
Quadro 4 - Resultado da pesquisa sobre grau de maturidade das empresas do setor
sucroenergético, nas regiões Centro-Sul do país. Matriz Fundamentos por
Indicador – Comentários Adicionais..........................................................................75
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Potencial anual de variação da mortalidade mediante cenários de adição de
etanol na Região Metropolitana de São Paulo e respectiva valoração
econômica...................................................................................................................53
Tabela 2 - Potencial anual de variação da morbidade mediante cenários de adição de
etanol na Região Metropolitana de São Paulo e respectiva valoração
econômica...................................................................................................................54
Tabela 3 - Estimativas do potencial da bioeletricidade sucroenergética* ...................................57
Tabela 4 - Parâmetros de produção no período 2006/2020 .........................................................59
Tabela 5 - Produção de etanol, eletricidade e cana correspondente ............................................59
Tabela 6 - Consumo aparente de combustíveis no Brasil............................................................60
Tabela 7 - Expansão da capacidade do parque gerador brasileiro, por tipo de usina (em
MW, de acordo com previsão no PDE 2008-2017)....................................................61
Tabela 8 - Evolução prevista da capacidade instalada dos vários tipos de usinas de
potência no Brasil, segundo o PNE 2030 (Em MW)..................................................62
12
LISTA DE SIGLAS
BM&F Bovespa –Bolsa de Mercadorias & Futuros / Bolsa de Valores de São Paulo
BSI – Better Sugar Cane Initiative
CDP – Carbon Disclosure Project
Ceres – Coalition for Environmentally Responsible Economies
CTC – Centro de Tecnologia Canavieira
DJSI – Dow Jones Sustainability Index
EPE/MME – Empresa de Pesquisa Energética do Ministério de Minas e Energia
Fasb – Financial Accounting Standards Board
FTSE4Good – Índice de Sustentabilidade do Finantial Times Stock Exchange
GC – Global Compact
GEE – Gases do efeito estufa
Gesel/IE/UFRJ – Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica – Instituto de Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
GRI – Global Reporting Initiative
Iasb – Internacional Accounting Standards Board
Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ierse – Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial
MW – Megawatt
NGO – Non Governmental Organization
ONU – Organização das Nações Unidas
PNE 2030 – Plano Nacional de Energia 2030
RS – Relatório de Sustentabilidade
Uneo – United Nations Environmental Organization
UNFCCC – United Nations Framework Convetion on Climate Change
UNGC – United Nations Global Compact
Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas – SP
XBRL – Extensible Business Reporting Language
13
1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios de sua história, o homem desenvolve constantemente sua capaci-
dade de buscar alimentos, instrumentos e energia para seu sustento e evolução. Essa capaci-
dade de ser sustentável ao longo dos tempos permitiu a multiplicação da espécie e a tornou
única a ser capaz de destruir o ambiente onde evolui.
O consumo humano de alimentos, água e minerais, além de gerar resíduos, estão no
seu limite de capacidade e ameaça a existência do próprio homem. A geração dos resíduos do
consumo humano polui de forma generalizada a atmosfera, as fontes de água e a terra, com-
prometendo significativamente a sustentabilidade da espécie e consequentemente a própria
existência.
É certo que, a cada ano, estamos fazendo uso do capital natural mais do que ele é ca-
paz de repor. No ritmo atual de consumo humano, seriam necessários de três a quatro planetas
Terra para suprir essa demanda.
As teorias econômicas passadas tinham a visão de que a Terra era um recurso inesgo-
tável e que o impacto da poluição causada pelo consumo tinha custo zero. A atividade eco-
nômica está em um nível sem precedentes, mas o impacto na atmosfera e nos ecossistemas
pode ser maior que os benefícios desse volume de produção e consumo. Em uma era de mu-
danças ambientais, tem havido um aumento na conscientização e no interesse da sociedade
em relação ao impacto da ação humana nos recursos e processos naturais do planeta.
Nos últimos quarenta anos, a grande linha de atuação no campo das políticas públicas
internacionais e nacionais estava voltada para a conservação da natureza, da biodiversida-
de e dos recursos naturais. Somente na última década é que a discussão sobre mudanças cli-
máticas e a percepção da responsabilidade da sociedade global em relação ao assunto foram
ampliadas.
Essa conscientização traz novos elementos e conceitos ao cenário. Além da conserva-
ção dos recursos e dos processos naturais, passou-se a falar de sustentabilidade e de consumo
consciente, conceitos que levam a avaliar a forma de viver, além dos padrões socio-culturais,
estéticos e de consumo. É hora de se reverem os hábitos e a forma de se viver em todo o mun-
do.
14
Os padrões de vida e de consumo levam à ampliação progressiva da necessidade de
energia consumida diariamente por cada um de nós para viver. Tudo pode ser quantificado em
necessidade/consumo energético utilizado para produzir determinado produto ou serviço.
Naturalmente, esse padrão de consumo vai se refletir dentro da contabilidade energéti-
ca das necessidades de cada indivíduo, dos países e da sociedade global.
Finalmente, reconheceu-se a responsabilidade de todas as sociedades em relação ao
processo de mudanças climáticas, assim como a profunda relação destas com os níveis de
consumo de energia e com a importância da fonte energética – renovável ou não – bem como
o impacto de seu uso.
A reunião de todos esses conceitos e sua aplicação de forma qualificada, eficiente, e-
conomicamente equilibrada e sustentável é matéria possível de realização.
Pode-se, ao final, demonstrar que os novos conceitos, tecnologias e modelos de negó-
cios podem, em curto prazo, colocar a sociedade em outra condição em relação ao destino do
planeta, como também à própria sustentabilidade dos locais onde se vive e trabalha.
A crise financeira global oferece uma oportunidade única de transição para uma eco-
nomia de baixo carbono, eficiente no uso dos recursos e socialmente responsável, incorporan-
do, em curto prazo, medidas de sustentabilidade e responsabilidade social em medidas de re-
cuperação econômica e, em longo prazo, reforma do crédito e do investimento.
uma clara evidência de que a combinação de impostos e consumismo verdes e in-
vestimento consciente podem redirecionar uma grande quantidade de dinheiro para a criação
de um mundo sustentável.
Será uma grande contribuição para o desafio histórico de adequar o fluxo de dinheiro
para a regeneração dos ecossistemas mundiais e para o desenvolvimento de um sistema de
energia eficiente e sustentável para o mundo.
A cooperação internacional e a capacidade de conexão serão vitais mais do que nunca,
na busca desses desafios. Não esperança de que uma estratégia local reforme o sistema
global de energia, alimentação, comércio e financeiro. Todos os setores da sociedade, todos os
governos e todos os negócios terão de encontrar meios de trabalhar em conjunto na direção de
metas claras e comuns. Não haverá um resultado eficaz com ações isoladas, sejam das forças
de mercado, regulamentações governamentais ou movimentos de pequenos grupos engajados.
15
A economia do conhecimento, que gera uma quantidade exponencial de novas tecno-
logias, métodos e ferramentas, traz em seu bojo um paradoxo para a civilização: aumentar o
consumo médio do ser humano, igualando-o aos índices médios dos países mais ricos e con-
sumir os recursos naturais da Terra à exaustão?
O paradoxo visto pela ótica organizacional passa pelo fato de que as empresas, sejam
elas públicas ou privadas, precisarão mostrar que não vão consumir os recursos naturais à
exaustão.
Essa questão primária será a coluna central da dissertação, que pretende mostrar que
práticas de gestão uma organização deve adotar em função dos enormes desafios impostos por
esse paradoxo. Mais especificamente, a dissertação tem por objetivo mostrar que a adoção de
boas práticas de gestão é a forma como cada empresa pode responder a esse novo ambiente de
negócios, particularmente no setor sucroenergético brasileiro.
Os temas principais da dissertação podem ser entendidos por meio de três conceitos
chave: Sustentabilidade Empresarial, Governança Corporativa e Energia Renovável.
Eles serão correlacionados sob a ótica sistêmica das organizações, mostrando como
conceitos, princípios e ferramentas de administração são aplicados pela adoção da Global Re-
porting Initiative - GRI
1
.
A Global Reporting Initiative é uma das formas-padrão para reportar o desempenho
econômico, social e ambiental de uma organização; esse padrão, sua definição detalhada e
comparações com outros padrões instituídos serão objeto do capítulo 4. Será necessário des-
crever cada um dos três conceitos citados acima e mostrar como eles se correlacionam sob
essa visão.
Sustentabilidade Empresarial está relacionada à organização e ao ambiente em que es-
tá inserida. Entende-se aqui que sustentabilidade é a capacidade de uma organização ser pere-
ne e evoluir em um ambiente que é muito mais amplo que o conceito tradicional de ambiente
de negócio.
Por Governança Corporativa adotou-se a definição do Instituto Brasileiro de Gover-
nança
2
: “o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, en-
volvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e ór-
1
Disponível em: http://www.globalreporting.org/AboutGRI/WhatisGRI/.
2
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC. Código das melhores práticas
de governança corporativa. 4. ed., São Paulo: IBGC, 2009. 73 p.
16
gãos de controle. As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em re-
comendações objetivas, alinhando interesses, com a finalidade de preservar e otimizar o valor
da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade”.
Energia renovável é aquela originária de fontes naturais que possuem a capacidade de
regeneração (renovação), ou seja, não se esgotam. A energia solar, a energia eólica, a energia
hidráulica, a biomassa (matéria orgânica), a geotérmica e a maremotriz são exemplos de ener-
gia renovável
3
. Ao contrário dos combustíveis não renováveis (como os de origem fóssil, por
exemplo), as fontes de energias renováveis, no geral, causam um impacto significativamente
menor ao meio ambiente.
A visão sistêmica das organizações
4
se refere ao objetivo, aos componentes, aos recur-
sos, à gestão e ao ambiente como as partes desse todo denominado sistema/organização.
O mecanismo de retroalimentação (feedback) cria a interação entre ambiente e sistema
e permite que este sobreviva e evolua. Assim são as organizações: estão inseridas em seu am-
biente, interagem com ele e, por meio de sua administração, fazem a gestão de seus recursos e
partes interessadas, com o objetivo de se estabelecerem, crescerem e evoluírem.
Uma organização moderna, com ou sem fim lucrativo, privada ou estatal, quando ob-
servada sob essa ótica, apresenta os elementos principais desta dissertação gestão, recursos,
partes interessadas, objetivo e ambiente.
O tema sustentabilidade corporativa é hoje parte da agenda de qualquer organização
que pretenda ser vista como um padrão local ou mesmo mundial. Mais que adotar as melhores
práticas de gestão, a empresa deve estar apta a mostrar seu desempenho nessas práticas. As-
sim, governança corporativa, padrões para reportar a operação e o desempenho, responsabili-
dade social, sustentabilidade empresarial são assuntos da estratégia e da gestão operacional
das empresas.
O setor sucroenergético vem ganhando importância no Brasil com o desenvolvimento
do etanol, para além do significado econômico. Com o desenvolvimento do etanol para apli-
cação em motores à combustão e o uso da biomassa para a geração de energia elétrica, o setor
é parte da equação de sustentabilidade que o país vem construindo. Uma análise mais apro-
fundada do setor será vista no capítulo 3.
3
Disponível em: http://www.adital.com.br
4
Maiores informações, consultar Chiavenato (2004).
17
O padrão internacional de relatórios ambientais GRI será o objeto do capítulo 4, os cri-
térios para elaboração e qualidade do Relatório de Sustentabilidade estão detalhados, assim
como os indicadores de desempenho e as respectivas formas de gestão.
O capítulo 4 apresentará a pesquisa realizada pelo autor nas aplicações da GRI no se-
tor sucroenergético brasileiro. A tendência da unificação dos relatórios econômicos financei-
ros com os relatórios de desempenho ambiental e social (responsabilidade corporativa) em um
relatório integrado será também retratada. Ainda neste capítulo, se apresentada a hipótese
testada e apresentada nesta dissertação: a elaboração do relatório de sustentabilidade integrado
requer das empresas a aplicação de seis fundamentos – processos, sistemas, estrutura, pessoas,
políticas e procedimentos e cultura organizacional. O grau de aplicação desses fundamentos
foi testado em empresas do setor sucroenergético brasileiro por meio de um modelo de perfil
de maturidade que foi efetuado mediante pesquisa a consultores que atuaram em projetos
de consultoria de apoio a na elaboração da GRI em Usinas e a profissionais da ÚNICA com
profunda experiência neste tema. Será feita uma análise comparativa entre os principais pa-
drões internacionais para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, com as respectivas
dificuldades e benefícios. Neste capítulo será apresentada uma abordagem proposta pelo autor
para aprimorar a maturidade organizacional para a publicação de um Relatório de Sustentabi-
lidade Integrado.
A Conclusão mostrará como as empresas que adotam boas práticas de gestão, em par-
ticular, preocupam-se em apresentar saldo positivo em seu triple bottom line e contribuem
para a evolução também positiva do paradoxo inicial desta dissertação.
Por fim, o desafio consiste em uma mudança de paradigma, em construir um novo
modelo econômico e social, a serviço de um novo modelo democrático que traga a toda hu-
manidade um padrão de vida digno, com acesso à alimentação adequada, à saúde, à educação
e às oportunidades de trabalho. Para continuar o crescimento da produção e do consumo atu-
ais, como é proposto pelo modelo vigente, precisaríamos de mais de um planeta Terra, visto
que hoje são consumidos recursos naturais a uma taxa 30% maior do que a Terra tem con-
dições de repor. Aqui reside o limite do atual modelo de desenvolvimento econômico adota-
do: o limite do planeta
5
.
5
Disponível em: http://www.adital.com.br
18
2 A GLOBAL REPORTING INITIATIVE - GRI: UM INSTRUMENTO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS ORGANIZAÇÕES
2.1 Por que reportar a sustentabilidade?
Elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir, divulgar e prestar contas
para stakeholders internos e externos do desempenho organizacional, visando ao desenvolvi-
mento sustentável. Relatório de Sustentabilidade - RS é um termo amplo considerado sinôni-
mo de outros relatórios cujo objetivo é descrever os impactos econômicos, ambientais e soci-
ais (tripple bottom line) de uma organização, como o relatório de responsabilidade social em-
presarial, o balanço social etc.
O exercício de reportar o desempenho das organizações está comumente associado aos
relatórios da administração, normalmente voltados para os aspectos de negócio tradicionais
como o desempenho econômico financeiro, a tecnologia de produtos e processos, o desen-
volvimento dos recursos humanos e os programas de expansão. Com o aumento da conscien-
tização e, consequentemente, da pressão sobre as questões ambientais, os governos, as empre-
sas e as organizações o governamentais iniciaram, de forma tímida, o relato de suas ações
nesse âmbito.
Atualmente, nota-se um aumento gradativo no número de empresas que emite um rela-
tório de sustentabilidade para além dos relatórios dos administradores e também um núme-
ro significativo de empresas que reportam suas ações de sustentabilidade como parte dos
relatórios de administração.
Nota-se também que mesmo as empresas que não reportam formalmente têm ações de
sustentabilidade e as apresentam na forma de publicidade. Isso pode ser um ponto crítico, pois
relatar essas ações, por ser um modismo, pode ser um engano e põe em risco a reputação e a
marca da organização.
É importante relatar por que há benefícios que vão desde a captação e a retenção de ta-
lentos de alta capacitação à facilitação no acesso a investidores.
i. A empresa mostrará uma postura transparente e proativa no trato da sustentabilidade
e em todos os demais aspectos do negócio;
ii. A reputação e a marca da companhia serão reforçadas, com os clientes, fornecedo-
res, com o público em geral e com investidores;
19
iii. Assegura uma “licença de operação” da sociedade pelo aumento da credibilidade
pública;
iv. Atrai e mantém empregados de alta qualificação, que buscam companhias que pos-
sam atender suas expectativas profissionais e de cidadãos;
v. Identifica riscos e oportunidades das atividades da empresa para além daqueles que
são mais comumente e facilmente observados;
vi. Identifica áreas para aprimoramento pela adoção da gestão por indicadores amplos
do desempenho do negócio;
vii. Estimula a inovação para a resolução das questões ambientais relacionadas aos pro-
dutos, serviços e operação;
viii. Melhora o acesso aos investidores que buscam, a cada dia com mais intensidade,
empresas com altos padrões de ética, de sustentabilidade, de responsabilidade social e de go-
vernança corporativa;
ix. Gera oportunidades de redução de custos, principalmente custo de captação de re-
cursos;
x. Alinha as demandas das partes interessadas com as demandas da empresa, pela cria-
ção de um canal de diálogo propiciado com a publicação e fóruns de apresentação dos relató-
rios.
Postos os benefícios qualitativos e também quantitativos da elaboração, apresentação e
uso como ferramenta de gestão, deve-se tecer uma análise crítica do processo. A publicação
do relatório de sustentabilidade é a parte final de projeto de sustentabilidade, que requer o
compromisso e a participação ativa dos quadros da alta administração da organização, contra-
tação de profissionais especialistas, quer seja como empregados ou consultores, investimentos
na implantação das ações ambientais e todas as atividades de compilação e organização das
informações.
É natural que o passo inicial seja a escolha e a definição de um padrão para a forma e
o conteúdo do relatório; existem algumas entidades internacionais e outras nacionais que de-
finiram o processo e os modelos para a emissão de relatórios de sustentabilidade.
2.2 A evolução nos padrões de relatar o desempenho corporativo
20
Há três modelos-padrão de balanço social, ou relatório de sustentabilidade, disponíveis
no Brasil, dois nacionais um deles proposto pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas - IBASE e o outro pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
e um internacional, sugerido pela Global Reporting Initiative - GRI. Todos visam definir as
informações mínimas a serem publicadas para dar transparência às atividades da empresa.
Algumas organizações produzem relatórios com formato próprio, geralmente definido por sua
área de comunicação, os quais não contêm as informações exigidas por nenhum dos modelos-
padrão.
1. Modelo IBASE
Lançado em 1997, o Balanço Social Modelo IBASE inspira-se no formato dos balan-
ços financeiros. Expõe, de maneira detalhada, os números associados à responsabilidade soci-
al da organização. Em forma de planilha, reúne informações sobre a folha de pagamentos, os
gastos com encargos sociais de funcionários e a participação nos lucros. Além disso, detalha
as despesas com controle ambiental e os investimentos sociais externos nas diversas áreas
educação, cultura, saúde etc.
2. Guia de Elaboração de Balanço Social do Instituto Ethos
Baseado num relato detalhado dos princípios e das ões da organização, este guia in-
corpora os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e a planilha proposta
pelo IBASE, sugerindo um detalhamento maior do contexto das tomadas de decisão em rela-
ção aos problemas encontrados e aos resultados obtidos.
3. Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, da Global Reporting Initiative -
GRI
Este modelo, considerado o mais completo e abrangente, conta com princípios para
definição adequada do conteúdo do relatório e para a garantia da qualidade da informação
relatada, indicadores de desempenho e protocolos técnicos com metodologias de compilação,
21
fontes de referências, etc. Considerado o padrão internacional de relatórios de sustentabilida-
de, o modelo GRI está em sua terceira versão, a chamada G3.
2.3 O padrão GRI
2.3.1 Histórico
A Global Reporting Initiative é uma instituição em formato de rede (network-based
organization) que foi a pioneira na definição de estrutura e diretrizes para a elaboração de um
Relatório de Sustentabilidade.
O projeto para a criação da abordagem GRI foi iniciado em 1997/1998, sob a influ-
ência dos conceitos de um mundo sustentável na economia mundial. Nesse período foram
iniciados os primeiros movimentos da gestão ambiental, com a popularização da então
BS7750 na série de normas para Sistemas de Gestão Ambiental, conhecidas mundialmente
como ISO 14000.
A Coalition for Environmentally Responsible Economies - CERES foi a organização
sem fins lucrativos que iniciou o projeto com a montagem da infraestrutura, a busca de fundos
e o estabelecimento do Comitê Diretor do projeto.
Em 1999, com a criação da United Nations Environmental Organization - UNEO e
após a elaboração da versão draft das Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade, foram
emitidos vinte relatórios de sustentabilidade estruturados pelas diretrizes GRI.
A primeira emissão das Diretrizes GRI foi feita no ano 2000, quando também aumen-
taram significativamente os esforços para um alcance mundial das diretrizes. Nesse ano, oi-
tenta organizações emitiram o relatório de sustentabilidade seguindo o padrão GRI.
Com a separação da estrutura operacional da GRI em uma instituição independente da
Ceres e com o início do processo de consulta com partes interessadas (feedback), o ano de
2001 marcou o início de crescimento e importância da GRI. Em 2006, na conferência de
Amsterdam, foi emitida a terceira versão das diretrizes, popularizada como G3. A aplicação
da G3 contabilizou naquele ano mais oitocentas e cinquenta organizações de todas as partes
do mundo, que a aplicaram em seus relatórios de sustentabilidade. O relatório “Year in Revi-
22
ew” da instituição informa que mais de mil organizações emitiram relatórios aplicando as suas
diretrizes, sendo notado um crescente aumento de emissões por organizações dos países em
desenvolvimento, destacando-se entre eles o Brasil.
Figura 1 – Histórico da evolução da GRI
Fonte: Adaptada de GRI (2010)
23
Figura 2 – Evolução dos relatórios de responsabilidade social
Fonte: Adaptada de GRI (2010)
2.3.2 Como estruturar um relatório de sustentabilidade: as orientações sobre a estru-
tura GRI, o que relatar e como relatar (protocolos e suplementos setoriais)
A GRI estabelece no documento “Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade” um
guia para a elaboração de um relatório-padrão. O documento pretende ser orientador e não
uma norma determinada e rígida. A instituição entende que a elaboração do relatório é um
processo e como tal é um conjunto de atividades rotineiras que transformam dados e informa-
ções em indicadores de desempenho. Essa operação é parte de um processo principal que de-
fine a estratégia da organização, define e implementa planos de ação e avalia os resultados
(mecanismo de feedback). Desse modo, a elaboração do Relatório de Sustentabilidade é um
meio e não um fim, para a melhoria contínua de todo o desempenho organizacional e não
dos aspectos socioambientais.
Um segundo destaque dado pela GRI é que o processo de elaboração do RS é uma
forma de estabelecer comunicação e engajar as partes interessadas em um movimento de re-
troalimentação entre os stakeholders e a organização e, assim, buscar o consenso entre eles.
O terceiro destaque da GRI é que o RS deve conter aspectos positivos e negativos,
buscando sempre uma avaliação equilibrada do desempenho da organização. O padrão para o
relatório GRI pretende ser um documento transparente de comunicar os temas de sustentabili-
dade e para tal que ser uma estrutura de conceitos, com uma linguagem coerente e com
formas de medição (métricas) que sejam entendidas e compartilhadas globalmente.
A GRI também entende que um Relatório de Sustentabilidade pode ser usado como:
padrão de referência (benchmarking) do desempenho de sustentabilidade em relação a
aspectos regulatórios (leis, normas, códigos), padrões de desempenho e iniciativas volun-
tárias;
24
demonstração da influência mútua e correlação entre a organização e as expectativas de
desenvolvimento sustentável;
comparação de desempenho internamente à organização e externamente, entre organiza-
ções.
As orientações do que relatar e como relatar estão sustentadas por princípios, protoco-
los e suplementos setoriais segmentados em:
i. princípios para a definição do conteúdo RS quatro princípios que orientam como defi-
nir o conteúdo do relatório;
ii. princípios para a garantia da qualidade do RS cinco princípios para que haja assegurar
a qualidade no reporte;
iii. orientações sobre o limite do RS para determinar quais organizações devem ser incluí-
das no relatório;
iv. protocolos para indicadores de desempenho – definem, orientam e fornecem informações
para a organização interpretar de modo coerente os indicadores;
v. suplementos setoriais complementam as diretrizes com orientações e informações de
setores econômicos
6
, incluindo indicadores de desempenhos específicos de cada setor;
vi. protocolos técnicos orientam outras questões técnicas específicas na elaboração do re-
latório.
2.3.2.1 A definição do conteúdo: princípios para a definição do conteúdo
Ao estabelecer os princípios para a definição do conteúdo do relatório de sustentabili-
dade, a GRI tem como objetivo descrever os resultados que deverão ser atingidos e orientar a
elaboração do relatório, particularmente em relação aos assuntos, indicadores de desempenho
e mostrar como relatá-los.
Para cada princípio uma definição, uma explicação e algumas questões (testes) que
auxiliam a organização a definir a aplicação do conceito em seu relatório. Os princípios bus-
6
Eletric Utilities, Finantial Services, Food Processing, Mining & Metals, NGO.
25
cam dar ao relatório transparência
7
e materialidade. Esses princípios estão segmentados em
dois grupos para definição do conteúdo e para garantia de qualidade do relatório. A GRI
reafirma que essa segmentação foi estabelecida para esclarecer os papéis e funções de cada
princípio e que não deve ser aplicada como uma definição rígida ao uso, mas, sim, que eles
devem suportar as decisões sobre o conteúdo e devem ser aplicados para além dessa segmen-
tação básica.
Os princípios para a definição do conteúdo do RS são:
materialidade;
inclusão de stakeholders;
contexto da sustentabilidade;
abrangência.
Para um melhor entendimento do detalhe dos princípios com as respectivas definições,
explicações e testes, é preciso apresentar a abordagem sugerida pela GRI para a definição do
conteúdo do relatório.
Abordagem para a definição do conteúdo do Relatório de Sustentabilidade
A abordagem deve ter as seguintes etapas:
i. Identificação de temas e indicadores de desempenho relevantes esta identificação deve
ser realizada de modo interativo com os quatro princípios de definição de conteúdo;
ii. Análise da relevância do indicador de desempenho – definir a relevância sob a ótica de to-
dos os aspectos das diretrizes para GRI, Suplementos Setoriais, Suplementos Técnicos e
quaisquer outros temas considerados relevantes para o relatório;
iii. Avaliação e seleção dos temas e indicadores a serem relatados pela aplicação dos testes
é que se avalia o que será reportado;
iv. Priorização dos temas selecionados pela aplicação dos princípios priorizam-se os temas
selecionados e as informações que serão enfatizadas;
7
Define-se a transparência como a divulgação completa de informações sobre os temas e indicadores necessá-
rios para refletir impactos e possibilitar a tomada de decisões pelos stakeholders, bem como sobre os proces-
sos, procedimentos e hipóteses usados na preparação dessa divulgação (IBGC, 2009).
26
v. Definição da materialidade dos temas e indicadores os processos/métodos para a defini-
ção da materialidade devem ser diferentes em cada organização, podem ser definidos por
ela e devem levar em conta os princípios GRI e, muito importante, esses métodos deverão
ser divulgados;
vi. Diferenciação de indicadores essenciais e indicadores adicionais os indicadores desen-
volvidos pela GRI, no processo de consulta de múltiplos stakeholders, são considerados
essenciais, são aplicáveis e relevantes na maioria das organizações;
Os indicadores identificados nos Suplementos Setoriais serão considerados Indicadores
Essenciais e deverão ser aplicados, usando-se as diretrizes GRI. Adicionais poderão ser
considerados essenciais em função do contexto da organização e da respectiva aplicação.
Quaisquer outros indicadores ou informações da empresa devem estar sujeitos aos princí-
pios de elaboração do relatório e ao mesmo rigor técnico das diretrizes GRI.
vii. Definição do limite do relatório aplica-se o princípio da abrangência para definir se as
informações relatadas são apropriadas ao limite do relatório.
Princípios para a definição do conteúdo
Princípio da Materialidade
A organização deve relatar temas e indicadores que impactam significativamente o seu
triple bottom line ou que influenciem as avaliações e decisões dos stakeholders. A materiali-
dade é o limite em que um tema ou indicador se torna importante o suficiente para ser relata-
do, podendo assumir graus diferentes de importância, e essa diferença deve ser refletida no
relatório.
A materialidade é melhor entendida nos relatórios financeiros, até por serem de uso
mais comum. Nesses relatórios, ela é entendida como o limite que influencia as decisões fi-
nanceiras dos usuários do relatório (demonstrações financeiras), especialmente os investido-
res. Quando se trata da sustentabilidade, deve-se extrapolar a materialidade para os temas que
impactam os resultados econômicos, sociais e ambientais. Isso significa entender quais impac-
tos da organização ultrapassam o limite da capacidade de satisfazer as necessidades do pre-
sente sem comprometer as necessidades futuras. Por isso, o princípio da materialidade é de
27
extrema importância, impacta a perenidade da empresa e, portanto, os interesses dos próprios
investidores ou dos stakeholders nos indicadores de desempenho financeiro.
Um outro ponto muito importante em relação ao princípio da materialidade é que a or-
ganização terá de explicar e relatar como são os processos que determinam a priorização dos
temas e os indicadores de desempenho.
Os testes para o princípio da materialidade estão direcionados para avaliar aspectos in-
ternos e externos à organização. Sobre os aspectos internos têm-se os valores, estratégia e
políticas organizacionais, os sistemas de gestão, objetivos e metas, interesses e expectativas
dos stakeholders envolvidos diretamente com a empresa (empregados, acionistas, fornecedo-
res), riscos e competências essenciais para um desenvolvimento sustentável. Quanto aos as-
pectos externos, podem-se citar os assuntos e indicadores de sustentabilidade indicados pelos
stakeholders, temas e desafios futuros do setor, regulamentações, leis, acordos voluntários,
impactos, riscos ou oportunidades identificados por especialistas.
Princípio da Inclusão dos Stakeholders
A organização deverá explicar como procede no envolvimento dos stakeholders de
modo a considerar as expectativas que advêm deles.
Stakeholders são indivíduos ou organizações que são impactados pelas atividades e
pelos produtos/serviços da organização relatora e que, por sua vez, podem determinar a im-
plantação com sucesso da sua estratégia. Incluem-se aqueles indivíduos e instituições que
ganham essa legitimidade por meio de legislações ou convenções internacionais. Assim, os
stakeholders podem ser fornecedores, clientes, empregados, comunidade vizinha ou institui-
ções sindicais. Fica claro que o entendimento dos interesses e expectativas dos stakeholders é
parte determinante dos temas e indicadores de desempenho do RS.
Haverá diversas situações e decisões a serem tomadas na elaboração do relatório, que
são provocadas pela necessidade de atender a todos os stakeholders. Isso poderá exigir uma
ênfase maior naqueles que, se espera, farão maior uso do relatório. diversas formas de
promover o envolvimento dos stakeholders. O importante para este estudo é que o processo
deve ser documentado, pois gera maior confiabilidade ao relatório e credibilidade entre todas
as partes, até porque o relatório poderá ser passível de verificação externa.
28
Os testes de aplicação desse princípio estão fortemente focados na avaliação do pro-
cesso de envolvimento e na prestação de contas da organização para com os interesses e ex-
pectativas dos stakeholders.
Princípio do Contexto da Sustentabilidade
Esse princípio tem uma abordagem mais ampla no aspecto temporal de como a orga-
nização contribui, no presente, e como contribuirá no futuro para a melhoria ou para a deterio-
ração das condições econômicas, sociais e ambientais, nas esferas locais, nacionais ou glo-
bais. Esse princípio busca, além do desempenho de um tema específico ou do desempenho
organizacional, orientar sobre o impacto em temas tão amplos como o aquecimento global e o
uso de recursos naturais, assim como os impactos sociais da política nacional de redução do
desnível na distribuição de renda.
O princípio, como descrito, tem um entendimento amplo dos impactos econômicos,
sociais e ambientais que a organização pode gerar. Os testes desse princípio refletem clara-
mente isso e incluem algumas questões.
Se a organização apresenta seu entendimento de desenvolvimento sustentável e utiliza as
melhores informações e medidas de desenvolvimento sustentável disponíveis;
Se a organização apresenta seu desempenho com referência às condições e aos objetivos
de desenvolvimento sustentável mais amplos, conforme aparecem em publicações setori-
ais, locais, regionais e/ou globais;
Se a organização apresenta seu desempenho de modo a comunicar o impacto e sua contri-
buição em contextos geográficos apropriados;
Se o relatório descreve como os temas de sustentabilidade se relacionam com estratégia,
riscos e oportunidades de longo prazo da organização.
Princípio da Abrangência
A cobertura dos temas e indicadores e a definição do limite do relatório deverão refle-
tir os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos e permitir que os stakeholders
avaliem o desempenho da organização no período analisado. O princípio da abrangência é
composto de três dimensões escopo, limite e tempo. O conceito de abrangência também
29
pode ser entendido e aplicado para se referir à amplitude e à qualidade dos dados e informa-
ções. Esses temas serão tratados novamente nos princípios de exatidão e equilíbrio, de garan-
tia da qualidade do relatório.
A dimensão do escopo está relacionada à decisão de as informações contidas no rela-
tório serem suficientes e estarem baseadas tanto nos resultados dos processos de engajamento
dos stakeholders, como em expectativas sociais mais amplas.
A dimensão limite se refere às unidades de negócios (subsidiárias, joint ventures, em-
presas contratadas, controladas) cujo desempenho é declarado pelo relatório. Ao estabelecer o
limite de seu relatório, a organização deve considerar as entidades sobre as quais tem con-
trole vinculado a definições usadas em relatórios financeiros e às entidades nas quais exerce
influência (limite operacional). Ao avaliar influência, a organização tem de considerar sua
capacidade de influenciar entidades como fornecedores, distribuidores, clientes, usuários de
seus produtos e serviços. O limite pode variar, dependendo do tipo de informação ou do as-
pecto específico relatado.
A dimensão tempo se refere ao período em que as informações selecionadas devem
estar completas. Atividades, eventos e impactos deverão ser reportados de acordo com o perí-
odo coberto pelo relatório. Incluem-se atividades de baixo impacto no período, mas que po-
dem ser impactantes no médio e no longo prazo. As informações relativas a impactos futuros
(positivos e negativos) deverão basear-se em estimativas que reflitam o tamanho, a natureza e
o escopo dos impactos.
Os testes procuram avaliar se o relatório foi desenvolvido considerando todas as orga-
nizações da cadeia de valor da empresa e as informações relevantes, se o relatório inclui todas
as organizações sujeitas ao controle ou à influência significativa da organização relatora e se
as atividades, eventos e informações são relativos ao período de reporte, incluindo os impac-
tos futuros.
2.3.2.2 Qualidade do relatório: princípios para garantir a qualidade do reporte
A qualidade do Relatório de Sustentabilidade é garantida pela aplicação dos princípios
que orientam a escolha das informações a serem reportadas. Os princípios são fundamentais
para a transparência efetiva do relatório. A qualidade das informações possibilita a interação
30
com os stakeholders e que estes realizem avaliações de desempenho consistentes, justas e
tomem as medidas adequadas.
Princípio do Equilíbrio
Este princípio reforça que o relatório deve apresentar os aspectos positivos e negativos
do desempenho da organização, permitindo uma avaliação equilibrada e imparcial. Até a for-
ma do relatório deve ser pensada de modo a não influenciar uma decisão ou uma avaliação do
leitor. O relatório tem de fazer uma clara distinção entre a apresentação objetiva dos fatos e a
interpretação das informações por parte da organização relatora.
Os testes para esse princípio buscam assegurar que o relatório divulgue resultados e
temas favoráveis e desfavoráveis; as informações são apresentadas num formato que permite
aos usuários ver tendências positivas e negativas no desempenho de ano para ano. A ênfase
em diferentes temas do relatório é proporcional à sua materialidade.
Princípio da Comparabilidade
As informações relatadas deverão ser apresentadas de modo que se permita aos stake-
holders analisar mudanças no desempenho da organização ao longo do tempo e subsidiar aná-
lises sobre outras organizações. A aplicação do princípio deve permitir a comparação do de-
sempenho econômico, social e ambiental entre empresas de um mesmo grupo, entre organiza-
ções. A comparação também poderá permitir a análise do progresso nos vários programas e
decisões de investimento da companhia.
A manutenção de processos, os métodos de cálculo, o layout do relatório, a explicação
de métodos e as premissas usadas facilitarão a comparabilidade do relatório ao longo do tem-
po. As alterações de limite, escopo, período de reporte, definição e uso de indicadores devem
ser explicadas para que as comparações possam ser confiáveis.
Os testes definidos para o princípio buscam assegurar a comparação entre períodos (a-
no para ano), entre organizações e mesmo entre padrões (benchmarks) existentes. Buscam
ainda assegurar as explicações de alterações que possam impedir a comparação das informa-
ções e se o relatório utilizou protocolos técnicos e setoriais, assim como os indicadores da
GRI.
31
Princípio da Exatidão
Os temas e indicadores do relatório podem ser qualitativos ou quantitativos, a exatidão
dependerá do uso e do usuário das informações. No caso da informação qualitativa, a clareza,
o detalhamento e o equilíbrio (na descrição dos aspectos positivos e negativos) serão determi-
nantes. A análise quantitativa poderá depender de métodos específicos para a coleta e o pro-
cessamento dos dados e informações.
Para testar esse princípio, as questões procuram avaliar se o relatório indica quais são
os dados medidos e as técnicas de medição; se as bases de cálculo são descritas e se podem
ser reproduzidas com resultados semelhantes; se a margem de erro para dados quantitativos dá
conforto para as conclusões dos stakeholders; quais dados foram estimados e que hipóteses e
técnicas foram usadas na elaboração das estimativas ou se as informações podem ser encon-
tradas.
Princípio da Periodicidade
O processo decisório dos stakeholders determina a utilidade do momento em que o re-
latório é emitido e sua periodicidade. A captura de dados e a divulgação de informações para
a gestão da organização pode ser frequente, mas também onerosa. O princípio enfatiza que a
organização relatora deve se comprometer a fornecer regularmente informação consolidada
sobre seu desempenho econômico, ambiental e social em algum momento específico. Pode
ser relevante para os stakeholders que os calendários dos relatórios financeiro e de sustentabi-
lidade estejam alinhados.
Para garantir a aplicação do princípio da periodicidade, as questões dos testes procuram de-
terminar se as informações são divulgadas enquanto são recentes, se a coleta e a divulgação
das informações são compatíveis com o cronograma do relatório, se as informações mostram
claramente o período de tempo a que se referem e ao processo de atualização.
Princípio da Clareza
Qualquer que seja a mídia em que o relatório será publicado, ele deverá apresentar as
informações de modo compreensível, acessível e utilizável pelos stakeholders. As informa-
ções deverão ser encontradas com certa facilidade e apresentadas de forma clara para aqueles
stakeholders com algum conhecimento da organização e suas atividades. Formas gráficas e
32
apelos visuais podem facilitar o entendimento, assim como um determinado grau de agrega-
ção/consolidação das informações.
Os testes buscam verificar se as informações atendem aos stakeholders, se evitam de-
talhes desnecessários, se é fácil de encontrá-las, se utilizam ferramentas de apoio (gráficos,
tabelas, links, etc.), se evitam termos técnicos e a acessibilidade a stakeholders com necessi-
dades específicas (idioma, habilidades, tecnologias).
Princípio da Confiabilidade
As informações e os processos usados na preparação do relatório deverão ser coleta-
dos, registrados, compilados, analisados e divulgados de uma forma que permita sua revisão e
estabeleça a qualidade e a materialidade das informações. Os stakeholders deverão ter a certe-
za de que o relatório poderá ser verificado. Informações sobre o desempenho que não sejam
embasadas por comprovação não deverão constar no RS, salvo se apresentarem dados rele-
vantes e houver explicações inequívocas de quaisquer dúvidas relacionadas a elas. Os proces-
sos decisórios relativos ao relatório deverão ser documentados de forma que se permita anali-
sar como foram baseadas as decisões fundamentais (tais como os processos para determinar o
conteúdo e o limite do relatório e o engajamento dos stakeholders). Ao desenvolver seu sis-
tema de informação, a organização relatora deve prever verificação externa.
Para garantir a aplicação do princípio, os testes procuram avaliar se a abrangência da
verificação externa está identificada; se a fonte original das informações do relatório pode ser
identificada pela organização; se a organização pode fornecer comprovações que suportam
hipóteses ou cálculos complexos; se disponível uma declaração pelas partes que fornece-
ram os dados ou informações originais, atestando sua confiabilidade ou exatidão dentro de
margens de erro aceitáveis.
2.3.2.3 O limite do relatório
A definição do limite do Relatório de Sustentabilidade deve ser realizada paralelamen-
te à definição do conteúdo, elas são correlacionadas e a organização deverá decidir quais ou-
tras organizações (subsidiária, joint venture, controlada, participação, etc.) devem fazer parte
33
do relatório. A organização relatora deve iniciar o processo definindo se exerce controle ou
influência significativa
8
em outras instituições. A inclusão de uma instituição está diretamente
relacionada ao fato de que relações diferentes exigem diferentes graus de acesso às informa-
ções e capacidades diferentes em influenciar os resultados. Portanto, a definição da importân-
cia de determinadas unidades de negócios para a coleta de informações ou a consideração da
ampliação do limite dependem da escala de seus impactos de sustentabilidade.
O RS deverá incluir em seu limite todas as entidades que gerem impactos de sustenta-
bilidade significativos (reais e potenciais) e/ou todas as entidades sobre as quais a organização
relatora exerça controle ou influência expressivos sobre políticas e práticas financeiras e ope-
racionais. Essas entidades poderão ser incluídas por meio do uso de indicadores de desempe-
nho operacional, indicadores de desempenho de gestão ou descrições narrativas. A organiza-
ção deverá incluir no relatório as entidades sobre as quais ela exerça controle, por meio de
indicadores de desempenho operacional e as entidades sobre as quais a organização exerce
influência significativa, por meio de informes sobre desempenho de gestão.
Os limites para conteúdos narrativos deverão incluir organizações que estejam associ-
adas a desafios fundamentais para a organização relatora, em razão de seus impactos expres-
sivos, mesmo que ela não exerça controle ou influência significativa sobre elas.
2.3.3 O conteúdo do relatório de sustentabilidade GRI
A GRI dá flexibilidade na definição do modelo para conteúdo do Relatório de Susten-
tabilidade, porém especifica e recomenda como conteúdo básico:
2.3.3.1 Perfil da organização
Essa é a parte introdutória do relatório e deverá conter os dados e informações que
permitam o entendimento da organização, desde sua estratégia, operação e governança até os
8
Controle – o poder de dirigir as políticas financeiras e operacionais de um empreendimento para obter bene-
fícios de suas atividades.
Influência significativa – o poder de participar das decisões de políticas financeiras e operacionais da entida-
de, mas sem controle sobre estas políticas (GRI, 2006).
34
temas, indicadores e decisões que levaram à elaboração do relatório de sustentabilidade. A
GRI recomenda a divisão dessa parte introdutória nas seguintes seções:
i. Estratégia e análise
Nesta seção, deve-se prover a visão estratégica da organização em relação à sustenta-
bilidade e ao contexto para os temas do relatório que serão detalhados nas seções seguintes.
Deve-se propiciar o conhecimento sobre pontos estratégicos e não ser somente o sumário exe-
cutivo do relatório. Deve conter a declaração da pessoa na organização que tem o mais alto
grau de responsabilidade sobre a importância da sustentabilidade para a organização e sua
estratégia, assim como a descrição dos impactos, riscos e oportunidades em relação ao assun-
to.
A declaração deverá apresentar a visão e a estratégia geral de curto, dio e longo
prazos, especialmente com relação à gestão dos principais desafios associados ao triple bot-
tom line e deverá incluir
prioridades estratégicas e temas fundamentais referentes à sustentabilidade, incluindo o
respeito a normas internacionalmente aceitas, e como elas se relacionam à estratégia no
longo prazo;
tendências mais abrangentes que afetam a organização e influenciam as prioridades da
sustentabilidade;
principais eventos, realizações e insucessos durante o período coberto pelo relatório;
visões sobre o desempenho em relação a metas;
perspectiva sobre os principais desafios e metas da organização para o ano seguinte e ob-
jetivos para três ou cinco anos;
outros itens pertinentes à abordagem estratégica da organização.
A descrição dos principais impactos, riscos e oportunidades têm duas seções, a primei-
ra que enfoca os impactos e respectivos efeitos nos stakeholders e a segunda que enfoca as
tendências, riscos e oportunidades de sustentabilidade sobre as perspectivas e o desempenho
financeiro de longo prazo.
35
A primeira seção deve conter:
a descrição dos impactos nos direitos dos stakeholders definidos pela legislação nacional e
normas e padrões internacionalmente aceitos;
a explicação da abordagem para priorizar esses desafios e oportunidades;
as principais conclusões relativas ao progresso no tratamento desses temas e o desempe-
nho obtido no período coberto, assim como a avaliação dos motivos para o desempenho
positivo ou negativo em relação ao esperado;
a descrição dos principais processos em andamento para lidar com o desempenho e/ou as
mudanças relevantes.
A segunda seção foca as informações relevantes presentes ou futuras, para os stakeholders
financeiros e deve conter:
a descrição dos riscos e oportunidades mais importantes para a organização resultantes de
tendências de sustentabilidade;
a priorização dos principais temas de sustentabilidade, como riscos e oportunidades, de
acordo com sua relevância para a estratégia organizacional, vantagem competitiva, indi-
cadores qualitativos e quantitativos no longo prazo;
tabelas com metas, desempenho em relação às metas e lições aprendidas no período co-
berto;
metas para os riscos e oportunidades, para o período seguinte e para o médio prazo;
uma breve descrição de mecanismos de governança adotados para identificar e gerir riscos
e oportunidades relacionados.
ii. Perfil organizacional
Esta seção do conteúdo está segmentada em dez partes que apresentam os dados socie-
tários, estruturais e operacionais da organização:
nome da organização;
marcas, produtos e/ou serviços, indicando as responsabilidades e se terceirização das
atividades;
36
estrutura operacional da organização, principais divisões, unidades operacionais, subsidiá-
rias e joint ventures;
localização da sede da organização;
número de países em que opera, nome dos países em que suas principais operações estão
localizadas ou são relevantes para as questões de sustentabilidade cobertas pelo relatório;
tipo e natureza jurídica da propriedade;
mercados atendidos com a respectiva geografia, setores atendidos e tipos de clien-
tes/beneficiários;
porte com número de empregados, vendas líquidas (organizações privadas) ou receita lí-
quida (organizações públicas), capitalização discriminando ativo, dívida e patrimônio lí-
quido (organizações privadas), quantidade de produtos ou serviços oferecidos, detalhes
das operações dos países com mais de 5% da receita total;
principais mudanças durante o período coberto, relativas ao porte, estrutura ou participa-
ção acionária, entre elas localização ou mudanças nas operações, abertura ou fechamento
de unidades operacionais;
mudanças na estrutura do capital social e outra formação de capital, manutenção ou alte-
ração nas operações (setor privado);
prêmios recebidos no período coberto.
iii. Parâmetros para o Relatório
Perfil do relatório
Período coberto (ano contábil ou civil);
Data do relatório anterior;
Ciclo de emissão de relatórios;
Dados para contato.
Escopo e limite do relatório
Processo para definição do conteúdo definição da materialidade, temas e stakeholders
envolvidos;
37
Limite – divisões, subsidiárias, joint ventires, fornecedores, etc.;
Declaração de limitações ao escopo ou ao limite – caso o escopo não abranja todos os im-
pactos econômicos, sociais e ambientais;
Base da elaboração base de organizações para a elaboração do relatório que afeta a
comparabilidade entre períodos e/ou organizações;
Técnicas de medição e base de cálculos explicação das técnicas, cálculos, hipóteses so-
bre mudanças e respectivas consequências relativas aos relatórios anteriores;
Sumário do conteúdo GRI tabela com as indicações onde estão atendidas as diretrizes
GRI;
Verificação – política e práticas sobre a verificação externa, inclusive a relação entre a or-
ganização e os auditores;
iv. Governança, compromissos e engajamento
Governança
Estrutura descrição da estrutura dos comitês, órgãos e funções que exercem a governan-
ça inclusive sobre o desempenho dos parâmetros de sustentabilidade;
Mecanismos de interação entre acionistas e empregados e a estrutura de governança
descrição do modo como a interação poder ser realizada;
Relação entre a remuneração dos executivos e desempenho do triple bottom line;
Processos para gestão de conflito de interesses;
Processo para determinação da qualificação dos membros de governança a fim de que
possam definir a estratégia para as questões de sustentabilidade;
Declaração de missão, visão, valores e código de conduta particularmente em relação ao
desempenho dos temas de sustentabilidade, com o respectivo estágio de implementação;
Procedimentos de supervisão pelo mais alto órgão de governança sobre o tripple bottom
line;
Processo para autoavaliação da governança especialmente sobre o desempenho econô-
mico, social e ambiental;
Compromisso com iniciativas externas
38
Princípio da Precaução descrever como a organização aplica o princípio introduzido
pelo Artigo 15 dos Princípios do Rio de Janeiro
9
;
Outros princípios e iniciativas mostrar como a organização aplica outros princípios e
iniciativas sobre sustentabilidade;
Participação em organismos e associações descrever como a organização participa, em
órgãos de governança, integra projetos ou comitês e/ou contribui com recursos de monta.
Engajamento de stakeholders
O processo aqui referido é aquele conduzido pela organização para o engajamento dos
stakeholders durante o período de cobertura do relatório. Inclui a organização para a defi-
nição dos stakeholders, a determinação dos grupos com os quais se deseja engajar, as a-
bordagens para o engajamento e os temas e preocupações levantados pelos stakeholders e
as medidas que a organização realiza para tratá-los;
É sugerido que se relacionem os grupos de stakeholders envolvidos.
2.3.3.2 Forma de gestão dos indicadores de desempenho
Os indicadores de desempenho de sustentabilidade estão organizados em três categori-
as: econômicas, ambientais e sociais. Cada categoria inclui informações sobre a forma de ges-
tão e um conjunto correspondente de indicadores de desempenho essenciais e adicionais. A
GRI desenvolveu os indicadores essenciais por meio de processos interativos com vários sta-
keholders (processos multistakeholder) e identificou os indicadores que são normalmente a-
plicáveis a qualquer organização. Os indicadores adicionais representam práticas ainda novas
ou aplicáveis em alguns tipos de organização, mas não em outras.
As informações sobre a forma de gestão devem fornecer uma breve visão da aborda-
gem da gestão da organização no que tange aos aspectos definidos sob cada categoria de indi-
cador.
9
Os “Princípios do Rio Janeiro” foram estabelecidos na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambi-
ente e Desenvolvimento, em 1992.
39
Ao relatar os indicadores de desempenho, deve-se aplicar a seguinte orientação sobre
compilação de dados:
relato sobre tendências as informações apresentadas deverão ser relativas ao período
coberto pelo relatório (um ano, por exemplo) e a pelo menos dois períodos anteriores, bem
como às metas futuras, quando estabelecidas para curto e médio prazo;
uso de protocolos as organizações deverão usar os protocolos que acompanham os indi-
cadores ao relatá-los. Os protocolos fornecem orientação básica para a interpretação e a
compilação de informações;
apresentação de dados em alguns casos, índices ou dados normalizados são formatos
úteis e apropriados para a apresentação de dados. Se forem usados índices ou dados nor-
malizados, os dados absolutos também deverão ser fornecidos;
agregação de dados as organizações relatoras deverão determinar o nível apropriado de
agregação de informações;
sistema métrico os dados relatados deverão ser apresentados por um sistema métrico
internacionalmente aceito (quilogramas, toneladas, litros) e calculados, usando-se fatores-
padrão de conversão. No caso de existirem convenções internacionais específicas (como a
que trata das emissões de gases de efeito estufa), elas normalmente estarão especificadas
nos protocolos de indicadores.
Desempenho econômico
A dimensão econômica da sustentabilidade se refere aos impactos da organização so-
bre as condições econômicas de seus stakeholders e sobre os sistemas econômicos locaisl,
nacionais e globais. Os indicadores econômicos ilustram o fluxo de capital entre diferentes
stakeholders e os principais impactos econômicos da organização sobre a sociedade como um
todo. O desempenho financeiro é fundamental para compreender uma organização e sua pró-
pria sustentabilidade. Entretanto, essas informações são normalmente relatadas nas de-
monstrações financeiras. O que geralmente é menos informado, apesar de frequentemente
desejado por usuários de relatórios de sustentabilidade, é a contribuição da organização à sus-
tentabilidade de um sistema econômico mais amplo.
Desempenho ambiental
40
A dimensão ambiental da sustentabilidade se refere aos impactos da organização sobre
sistemas naturais vivos e não vivos, incluindo ecossistemas, terra, ar e água. Os indicadores
ambientais abrangem o desempenho relacionado a insumos (como material, energia, água) e à
produção (emissões, efluentes, resíduos). Além disso, abarcam o desempenho relativo à bio-
diversidade, à conformidade ambiental e a outras informações relevantes, tais como gastos
com meio ambiente e os impactos de produtos e serviços.
Desempenho social
A dimensão social da sustentabilidade se refere aos impactos da organização nos sis-
temas sociais nos quais opera. Os indicadores de desempenho social da GRI identificam as-
pectos de desempenho fundamentais referentes a práticas trabalhistas, direitos humanos, soci-
edade e responsabilidade pelo produto.
Categoria Econômico Ambiental
Aspectos
Desempenho econômico
(como valor gerado e distribuído)
Presença no mercado (como
contratação local, fornecedores locais)
Impactos econômicos indiretos
Materiais
Energia
Água
Biodiversidade
Emissões, efluentes e resíduos
Produtos e serviços (por exemplo,
seus impactos, produtos recuperados)
Conformidade
Transporte
Geral (como gastos ambientais)
Quadro 1 - Indicadores de desempenho e aspectos
Categoria Social
Práticas Trabalhistas Direitos Humanos Sociedade
Responsabilidade
pelo produto
Aspectos
Emprego
Relações entre
os trabalhadores
e a governança
Práticas de
investimento e de
processos de compra
Não-discriminação
Comunidade
(por exemplo,
gestão dos
impactos das
Saúde e segurança
do cliente
Rotulagem de
41
Saúde e segurança
no trabalho
Treinamento e
educação
Diversidade e
Igualdade de
oportunidades
Liberdade de
associação e acordo
de negociação
coletiva
Trabalho infantil
Trabalho forçado ou
análogo ao escravo
Práticas de segurança
Direitos indígenas
operações na
comunidade)
Corrupção
Políticas públicas
Concorrência
desleal
Conformidade
produtos e serviços
Comunicações de
marketing
Privacidade do
cliente
Conformidade
Quadro 2 - Indicadores de desempenho e aspectos
2.3.4 Níveis de aplicação do Relatório de Sustentabilidade GRI
Após a finalização do documento, os relatores deverão declarar o nível de aplicação da
estrutura de Relatórios da GRI por meio de um sistema que pretende fornecer:
aos usuários do relatório: clareza sobre até que ponto as Diretrizes da GRI e outros ele-
mentos da estrutura de Relatórios foram aplicados em sua elaboração;
aos relatores: uma visão ou um caminho para a expansão progressiva da aplicação da es-
trutura de Relatórios da GRI ao longo do tempo.
A organização, ao declarar o nível de aplicação, vai mostrar, de modo claro e transpa-
rente, quais elementos do padrão da GRI foram aplicados na elaboração do relatório. Existem
três critérios básicos para definir as organizações relatoras, nomeados simplesmente de C, B e
A, que estão respectivamente associados a empresas iniciantes, intermediárias e avançadas. A
organização poderá também solicitar uma verificação externa que será indicada com um o
símbolo (+) associado ao vel definido. Esse parecer externo poderá ser realizado pela pró-
pria GRI ou por outra entidade que cumpra com os seguintes pré-requisitos:
Ter especialista no assunto e em práticas de verificação externa;
Seguir procedimentos claros e documentados;
Avaliar o relatório em relação aos dados e conteúdo geral;
Oferecer uma opinião embasada nas Diretrizes da GRI.
42
A Figura 3 mostra o que deve estar contido no relatório e os respectivos níveis de apli-
cação. A Figura 4 apresenta os selos dos níveis de aplicação do relatório.
Figura 3 – Níveis de aplicação do RS
Figura 4 – Selos relativos aos níveis de aplicação do RS
2.4 Relatar e certificar: a maturidade do mercado
43
As mudanças tecnológicas, ambientais, sociais e econômicas que ocorreram nas últi-
mas décadas do culo XX e, nesta primeira cada do século XXI, têm formado ondas de
pressão exponencial nas sociedades, instituições, empresas e cidadãos.
Nos últimos anos, em especial após o fim do ciclo virtuoso da economia mundial em
2008, o mercado de capitais vem tentando mostrar maior maturidade e confiabilidade nas ins-
tituições, nos governos e na sociedade em geral. Por meio de certificações, índices de avalia-
ção de risco, opiniões independentes de terceiros e outros instrumentos de governança corpo-
rativa, as empresas têm feito esforços para se se adaptarem a um ambiente de constantes ava-
liações e julgamentos públicos que, devido à velocidade das informações da realidade virtual,
obrigam-nas a respostas mais ágeis. A Internet e as mídias sociais são os instrumentos de
crescimento forçado da maturidade do mercado de capitais, mercados, empresas e profissio-
nais.
Do acesso livre à Internet na China às solicitações sociais da segunda geração de imi-
grantes nos subúrbios de Paris, do aquecimento global aos protestos pelo uso de animais em
experiências científicas, mais uma crescente força atuando nas organizações. Paralelamen-
te às pressões do ambiente econômico, existem as pressões sobre o meio ambiente e social.
Pode-se até afirmar que não há país no mundo, onde essas novas forças não agem.
Portanto, qualquer organização privada, pública, sem fins lucrativos, está atualmente
inserida em um ambiente mais rígido, mais controlado, que busca clareza e transparência por
parte de todos os agentes e partes interessadas.
Para entender o que é um mercado maduro, na definição do autor, é preciso analisar os
princípios básicos de governança corporativa, definidos pelo IBCG: Transparência, Equidade,
Prestação de Contas e Responsabilidade Corporativa.
Transparência mais do que a obrigação de informar é o desejo de disponibilizar para as
partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas
por disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de
confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros. Não deve res-
tringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores
(inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à criação de valor.
44
Equidade caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessa-
das. Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis.
Prestação de contas (accountability) os agentes de governança sócios, administradores
(conselheiros e executivos/gestores) devem prestar contas de sua atuação, assumindo inte-
gralmente as consequências de seus atos e omissões.
Responsabilidade corporativa os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade
das organizações, visando a sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e
ambiental na definição dos negócios e operações.
A simples leitura dos princípios mostra que a aplicação deles em qualquer organiza-
ção fará com que ela tenha um alto grau de maturidade. Então, pode-se tomar como maturida-
de de uma organização o grau de aplicação de boas práticas, entre elas as de governança cor-
porativa.
Essa definição de maturidade reforça tudo o que foi descrito sobre as diretrizes e os
princípios da GRI, essencialmente quando se toma uma vez mais a citação “mais do que a
obrigação de informar é o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações
que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regula-
mentos”(IBGC, 2009).
Para se entender o termo “certificar”, deve-se recorrer ao termo “asseguração” e “ma-
terialidade”. O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil IBRACON (2007) estabele-
ce os princípios e procedimentos para a realização de um trabalho de asseguração, o termo
pode ser resumido em “o processo pelo qual um auditor independente verifica e/ou valida
determinadas informações”.
São necessários três elementos para a asseguração: informações que serão validadas,
um critério determinado para as informações e um auditor independente.
a materialidade, “depende do grau de conforto relacionado ao risco de omissão ou
subjugar uma informação e ao possível impacto que isso poderá causar nas decisões de quem
a irá utilizar”. A materialidade é necessária para a definição do objeto da auditoria, quando
45
não se pretende verificar todo o conteúdo do relatório. Ela também determinará a natureza, o
tempo e a extensão dos procedimentos de auditoria.
Para a GRI, a materialidade é o tema mais importante de um reporte, é um conjunto de
processos e não um conjunto de indicadores. Essa é outra evidência de que os processos para
a elaboração de um relatório de sustentabilidade devem ser parte do processo de gestão da
organização. Portanto, na visão da GRI, há que se encontrar a forma de manter engrenados os
interesses públicos, por meio de processos.
Relatar de forma voluntária, ampla e transparente o desempenho da sustentabilidade
de uma organização é um exercício enorme, que envolve esforços, recursos, ferramentas, sis-
temas, procedimentos, processos e liderança, além de uma enorme boa vontade. Essa é uma
ação que mostra a maturidade de uma organização, em busca da excelência; é uma vantagem
competitiva que o relatório será um meio facilitador para o relacionamento com todos os
stakeholders, mostrará o grau de boa vontade da organização com o ambiente em que está
inserida, com a busca de seus objetivos de lucro, estabilidade, perenidade e preservação do
meio social e meio ambiente.
Buscar uma certificação é um passo ainda maior de maturidade. Receber o feedback de
uma outra instituição independente é um outro exercício que exigirá da organização maior
disponibilidade, mas mostrará maior confiança na sua capacidade de atender aos requisitos de
uma sociedade que não pode mais deixar de fazer parte do ambiente de negócios.
2.4.1 O futuro: integrated reporting
As demandas para reportar o desempenho e ter uma certificação por uma entidade ex-
terna vêm aumentando significativamente nas últimas décadas. Entretanto, o desafio das or-
ganizações está no ambiente globalizado, de mídias que permitem comunicações instantâneas,
em que, especialmente por meio da Internet, toda e qualquer ação da companhia é monitorada
e sujeita a julgamento. A Internet é ao mesmo tempo fonte de risco e oportunidade, é uma
mídia que permite um processo de interação com os stakeholder e assim oferecer materialida-
de e utilidade nas informações.
Atualmente, um grande número de organizações publica relatórios de Responsabilida-
de Social ou de Sustentabilidade como parte de seu relatório anual com as Demonstrações
Financeiras. Eccles e Krzus (2010) sustentam que a baixa integração entre esses relatórios
46
mostra a falta de uma estratégia que envolva todos os aspectos do negócio nas dimensões e-
conômicas, sociais e ambientais. Para os autores, se a atenção dada ao desempenho dessas
dimensões é integrado aos processos de negócio, não há por que haver relatórios separados. A
lógica reversa também é válida, se um processo para criar estratégias que abranjam essas
três dimensões. Essa é uma forma de se obter maior compromisso da organização em reportar
seu desempenho externamente e de modo mais integrado. A mensagem principal dos autores
é que a visão de curto prazo focada nos aspectos econômicos deve ser substituída por uma
visão de longo prazo, que entende que uma empresa sustentável depende de sua contribuição
a uma sociedade sustentável. Para tanto, uma parte do processo passa pela elaboração de um
relatório integrado, denominado pelos autores One Report. Esse relatório único e integrado é
uma ferramenta e uma representação simbólica do compromisso da companhia para com a
sustentabilidade.
Os padrões internacionais para relatórios econômico-financeiros têm sido objeto de
simplificações, para que sejam mais facilmente compreendidos e úteis para os stakeholders.
Essa tendência para a simplificação não significa a redução nos esforços para a elaboração
dos relatórios, ao contrário, a adaptação requer mais atenção e maior esforço em especial dos
auditores externos. A Extensible Business Reporting Language - XBRL é uma ferramenta
eletrônica, de livre acesso, que apresenta formatos abertos para o reporte e facilita o acesso e a
análise da informação. A XBRL é um exemplo do trabalho que várias organizações estão rea-
lizando com o mesmo objetivo em relação aos relatórios econômico-financeiros.
O paradigma atual ainda é o de que o equilíbrio econômico-financeiro de uma organi-
zação é pressuposto para que se possa desenvolver a estratégia de sustentabilidade; é preciso
mudar o paradigma para o pressuposto de que a estratégia de sustentabilidade é que propiciará
o equilíbrio econômico-financeiro. O paradigma atual é um fator de resistência à elaboração
de um relatório único, porque o pensamento corrente ainda são os custos para a elaboração de
um relatório único. O novo paradigma deve ser o de que a estratégia de sustentabilidade, que
é parte essencial da estratégia do negócio, requeira investimentos.
Esse novo paradigma requer um maior grau de maturidade das organizações que, por
sua vez, demandará maior investimento na elaboração e na implantação da estratégia, assim
como para relatar o desempenho da organização.
Segundo Eccles e Krzus (2010), duas razões para a adoção pelas empresas do One
Report como forma de relatoria externa. A primeira é mostrar a seriedade do tema para a
companhia, uma vez que a estratégia de sustentabilidade está elaborada. A segunda razão é
47
que a mensagem única e simplificada é elemento-chave para melhorar a transparência e a di-
vulgação da companhia.
Os principais benefícios da abordagem integrada para o reporte corporativo são:
1. maior clareza na relação entre os indicadores de desempenho financeiros e não financei-
ros, permitindo melhorar o entendimento dos pontos positivos e negativos na busca do e-
quilíbrio entre as demandas financeiras, sociais e ambientais;
2. melhor gestão das decisões os autores citam a metodologia do Balanced Scorecard
(KAPLAN; NORTON, 1996) para mostrar a evidência de que melhores parâmetros de
medição levam a melhores informações e consequentemente a um melhor processo deci-
sório;
3. aprofundamento no envolvimento e no compromisso com uma comunidade maior de sta-
keholders, porque vai ajudá-los no entendimento, conscientização e no foco nos investi-
mentos e esforços para assegurar a viabilidade da companhia no longo prazo, mais do que
o foco no retorno de curto prazo;
4. mitigação do risco para a reputação o envolvimento dos stakeholders e a comunicação
clara e consistente sobre o desempenho financeiro e não financeiro vai criar um processo
construtivo de interação entre as partes.
Conforme os autores, existem algumas companhias pioneiras na elaboração do Inte-
grated reporting. Entre elas está a holandesa Philips (equipamentos para diagnóstico médico e
produtos eletroeletrônicos), a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, a empresa aeroespa-
cial americana United Techonologies e as brasileiras Natura e Aracruz.
Por fim, a realização de um relatório integrado vai demandar um maior alinhamento
empresarial para suportar processos, estruturas, pessoas, políticas e procedimentos, além de
uma nova cultura organizacional. Somente com esse novo grau de maturidade, será possível a
uma organização passar ao desempenho sustentável exigido para o século XXI.
2.5 A GRI ou outros indicadores: uma análise comparativa
Com a importância progressiva dos últimos anos dos relatórios de sustentabilidade e o
surgimento de diversos padrões, a escolha do padrão para ser usado no relatório é uma tarefa
48
que deve ser orientada pela utilidade. O relatório deve servir como uma efetiva ferramenta de
gestão para a organização, um processo amplo de definição da estratégia, de elaboração de
planos de ação e de avaliação de resultados. Esse conceito é aplicado em praticamente todos
os padrões avaliados neste estudo: GRI, Global Compact - GC, Better Sugar Cane Initiative -
BSI, Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial - IERSE, Carbon Disclosure
Project - CDP e o Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE da BM&F Bovespa. Esses
padrões foram escolhidos por terem reconhecimento internacional e/ou por serem os padrões
nacionais para apresentar o desempenho sustentável de uma organização.
Foram estudados também o Dow Jones Sustainability Index - DJSI e o FTSE4Good,
como padrões de viés de valorização econômica da sustentabilidade empresarial. Semelhantes
ao ISE Bovespa, são indicadores que permitem a comparação do desempenho das empresas
listadas no mercado de ações que adotaram as boas práticas de sustentabilidade corporativa
(econômica, social e ambiental) e de governança corporativa. A amplitude dos temas cobertos
por esses índices assemelha-se à amplitude coberta pela GRI, e o fato de serem padrões dire-
cionados às empresas listadas em bolsas torna-os um painel de alcance maior em todos os
setores sociais.
Já o Carbon Disclosure Project está centrado na medição e no reporte das emissões dos
gases do efeito estufa (GEE) e na estratégia para tratar as alterações climáticas fazendo com
que o RS seja o centro do processo decisório, político e financeiro das organizações e dos
governos. Foi publicado em 2010 o protocolo de ligação do CDP com a GRI, denominado
Linking up GRI and CDP: How do the Global Reporting Iniciative Reporting Guidelines mat-
ch with the Carbon Disclosure Project questions? O protocolo faz a analogia entre os critérios
e indicadores dos dois padrões.
10
O Global Compact ou Pacto Global é uma iniciativa da ONU, que, por meio da lide-
rança e da inovação, busca o compromisso das organizações com os dez princípios de respon-
sabilidade corporativa por ela criada. O reporte do desempenho da sustentabilidade é publica-
do pelo Communication on Progress, um relatório anual da organização sobre o seu progresso
na implantação dos dez princípios. Assim como entre GRI e CDP, há o protocolo de interação
Making the Connection The GRI Guidelines and UNGC Communication on Progress.
11
10
Disponível em: http://www.globalreporting.org/NR/rdonlyres/.../LinkingupGRIandCDP
11
Disponível em: http://www.unglobalcompact.org
49
O padrão nacional Ierse, desenvolvido para o ambiente brasileiro, declara em suas di-
retrizes que busca alinhar os Indicadores Ethos com os padrões internacionais e particular-
mente que “aplica a linguagem da GRI, de modo a concretizar essa integração”.
12
Por último o Better Sugar Cane Initiative é uma organização internacional do segmen-
to de cana-de-açúcar que visa definir padrões para a sustentabilidade das empresas do setor, a
instituição define as diretrizes, princípios e critérios para o plantio e a produção de produtos
derivados da cana-de-açúcar, assim como orienta sobre as boas práticas de gestão; a aborda-
gem da organização direciona as empresas para a demonstração dos resultados da aplicação
das boas práticas, afirmando que essa demonstração deve ser auditável. Um dos objetivos da
BSI é desenvolver um sistema de certificação para que todos os envolvidos na cadeia de valor
da cana-de-açúcar possam ter produtos segundo um padrão pré-acordado, confiável, transpa-
rente e mensurável. Os cinco princípios do Better Sucar Cane Initiative Production Standards,
de julho de 2010
13
apresentam, de forma detalhada, os princípios e respectivos indicadores
que se assemelham aos da GRI. O enfoque e as descrições técnicas específicas, assim como a
falta de uma abordagem mais ampla no aspecto de gestão e estratégia, podem explicar o fato
de não haver ainda um protocolo de interação entre BSI e GRI. Essa análise não se aprofun-
dou nos detalhes, porém é claro que existe uma complementaridade entre os padrões com al-
guma sobreposição dos requisitos dos padrões da GRI sobre os da BSI, particularmente na
visão mais holística da primeira.
Essa análise comparativa de padrões não tem a intenção de tecer uma crítica mais pro-
funda e/ou extensa, o objetivo é dar uma visão geral das iniciativas internacionais e nacionais
mais importantes, mostrar que um amadurecimento global contínuo na busca de integração
e melhores práticas de sustentabilidade. Duas tendências se destacam: a tentativa de alinha-
mento aos conceitos, critérios e indicadores da GRI e a intenção de que o Relatório de Susten-
tabilidade seja um processo estratégico de desenvolvimento sustentável das organizações.
Portanto, a análise corrobora para o direcionamento conceitual do One Reporting, ou
seja, um relatório integrado que seja permeado por uma abordagem holística, que cumpra a
missão de ser útil aos stakeholders e que gere impacto positivo na sustentabilidade do planeta.
12
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, revisão de jun. 2010.
13
Disponível em: http://www.bettersugarcane.org
50
3 O SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO: UMA ALTERNATIVA REAL
DE MUNDO RENOVÁVEL
Na Europa, na época que remonta aos descobrimentos, o açúcar tinha seu valor no
mesmo patamar que o ouro, por ter uma produção limitada devida às condições climáticas. A
oferta não tinha capacidade de atender à demanda do mercado. Portanto, plantar cana-de-
açúcar era um negócio bastante rentável, mas limitado na região.
Com as navegações portuguesas e o início da colonização do Brasil, iniciou-se o ciclo
da cana-de-açúcar no país, na região Nordeste, principalmente em Pernambuco. Desde então,
seguiram-se ciclos virtuosos, alternando-se com ciclos viciosos. No século XIX, o Brasil caiu
para o quinto lugar, com apenas 8% da produção mundial, após ter sido, durante um longo
período, o líder mundial na produção.
Com o fim do Ciclo do Café no século XX, ocorreu a retomada do plantio da cana-de-
açúcar para atender ao mercado interno. São Paulo e Rio de Janeiro passaram a abastecer o
Sul do país, fazendo com que a atividade entrasse em declínio no Nordeste.
Com a primeira crise do petróleo, em 1973, o setor sucroenergético do país acabou por
encontrar uma alternativa singular: a produção do álcool combustível ou etanol. A criação do
Programa Nacional do Álcool - Proálcool em 1975 permitiu a diversificação da atuação da
indústria açucareira, ampliando a área plantada com cana-de-açúcar e a implantação de desti-
larias de etanol. Assim, o país criou uma alternativa e diminuiu sua vulnerabilidade energética
durante a crise mundial do petróleo.
A segunda crise do petróleo, em 1979, trouxe o surgimento de motores movidos a eta-
nol hidratado. em 1984, os carros a etanol correspondiam a 94% da produção de veículos
no Brasil. Essa participação anual dos veículos a etanol caiu para 1,02% em 2001, devido à
diminuição dos efeitos da crise do petróleo. Essa queda da demanda do etanol hidratado foi
compensada pelo maior uso do álcool anidro (sem água) misturado à gasolina, o que acompa-
nhou o crescimento da frota brasileira de veículos leves (UNIÃO DA INDÚSTRIA DE
CANA-DE-AÇÚCAR - UNICA, 2010).
O lançamento do carro flex, movido a etanol, gasolina ou com qualquer mistura entre
os dois, início a um novo ciclo virtuoso no setor. Somado a isso, a crescente preocupação
com a disponibilidade e o preço dos combustíveis fósseis, as preocupações com o meio ambi-
51
ente e o aquecimento global, o etanol surge, então, como uma alternativa renovável de com-
bustível.
Figura 5 – Histórico comparativo da produção de combustíveis no Brasil
Fonte: Brasil (2009), Elaborada pela UNICA
Sustentabilidade Empresarial
O plantio da cana ocupa, atualmente, cerca de sete milhões de hectares ou próximo de
2% de toda a terra arável do Brasil, hoje o maior produtor mundial, seguido por Índia, Tailân-
dia e Austrália. São duas safras anuais permitidas pelo cultivo nas regiões Sudeste, Centro-
Oeste, Sul e Nordeste; assim o país produz durante todo o ano.
Após a liberalização do mercado e sem subsídios governamentais, os preços do açúcar
e do etanol passaram a ser definidos conforme a lei da oferta e da demanda. Portanto, os pre-
ços da cana dependem da qualidade e da participação percentual nos produtos finais. Para
equilibrar produção e demandas setoriais, a iniciativa privada vem criando instrumentos de
mercado, como operações futuras e vem desenvolvendo novas oportunidades para o açúcar e
o etanol, por meio da queda das barreiras protecionistas e do empenho em transformar
o etanol numa commodity ambiental.
A produção de cana-de-açúcar se concentra nas regiões Centro-Sul e Nordeste do Bra-
sil. O mapa a seguir mostra em vermelho as áreas onde se concentram as plantações e usinas
produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade, segundo dados oficiais do IBGE, Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP e do Centro de Tecnologia Canavieira - CTC.
52
Figura 6 – Setor sucroenergético, mapa de produção
Fonte: UNICAMP (2010), IBGE (2010) e CTC (2010), Elaborada pela UNICA
O setor gera cerca de US$ 28 bilhões, e desta quantia 25% ou US$ 7 bilhões são im-
postos pagos anualmente. No campo social, o setor leva a riqueza para o interior, sua capilari-
zação, em São Paulo, por exemplo, faz da atividade presente em 60% dos 645 municípios do
estado, gerando empregos e distribuindo renda. Ainda a título ilustrativo, se 15% da gasolina
consumida fossem substituídos pelo etanol, seriam criados 117 mil novos postos de trabalho
com uma renda anual de cerca de R$ 250 milhões.
Do ponto de vista ambiental, está comprovado que o etanol pode reduzir em 90% as
emissões de gases do efeito estufa (GEE) em comparação com os impactos da gasolina. A
economia é de 20 centavos de dólar em cada litro de etanol, em medidas para a redução da
emissão de gases, diminuindo, assim, o investimento a ser gasto no desenvolvimento de novas
tecnologias.
A substituição do diesel por etanol na frota de ônibus da capital paulista pouparia 250
vidas e mais de 1.200 internações hospitalares anuais. A troca de gasolina por etanol traria
uma economia de 1 centavo de dólar por litro de etanol nos custos da saúde pública. Se a
substituição fosse do diesel por etanol, a economia chegaria a 3 centavos de dólar por litro de
etanol.
53
O estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, mostra que a troca dos combustíveis
poderia obter economias de até US$ 113 milhões anuais provenientes da redução das taxas de
mortalidade, conforme exposto na Tabela 1. Já a redução dos índices de morbidade (interna-
ções hospitalares devido a doenças associadas à poluição atmosférica) poderia trazer benefí-
cios de US$ 0,6 milhões a cerca de US$ 20 milhões anuais.
Tabela 1 - Potencial anual de variação da mortalidade mediante cenários de adição de etanol
na Região Metropolitana de São Paulo e respectiva valoração econômica
Mortalidade anual
Cenário de substituição
de combustíveis
Diagnóstico Quantidade US$ milhão
5% do diesel por etanol Redução 37 6,63
10% do diesel por etanol Redução 75 13,45
15% do diesel por etanol Redução 112 20,08
50% do diesel por etanol Redução 373 66,89
100% do diesel por etanol Redução 745 113,60
5% da gasolina por etanol Redução 6 1,07
10% da gasolina por etanol Redução 13 2,33
15% da gasolina por etanol Redução 19 3,40
100% da gasolina por etanol Redução 130 23,31
Fonte: Leão de Sousa e Macedo (2010)
54
Tabela 2 - Potencial anual de variação da morbidade mediante cenários de adição de etanol
na Região Metropolitana de São Paulo e respectiva valoração econômica
Morbidade anual
Internações hospitalares (SUS + Privado)
Cenário de substituição
de combustíveis
Diagnóstico Quantidade US$ milhão
5% do diesel por etanol Redução 224 0,63
10% do diesel por etanol Redução 450 1,26
15% do diesel por etanol Redução 675 1,89
50% do diesel por etanol Redução 2270 6,38
100% do diesel por etanol Redução 4588 12,86
5% da gasolina por etanol Redução 398 0,98
10% da gasolina por etanol Redução 795 1,96
15% da gasolina por etanol Redução 1193 2,95
100% da gasolina por etanol Redução 8002 19,79
Fonte: Leão de Sousa e Macedo (2010)
Governança
O conceito do Mundo Renovável ainda está sendo construído. Os sistemas energéticos
que fizeram o mundo moderno possível, a transição para fontes de energia renováveis pare-
cem ser inevitáveis para o desejo de um futuro melhor. Milhões de empregos serão gerados
em um mundo sustentado por energias renováveis, autossuficiência energética, manufatura
verde, reciclagem de produtos e materiais, uso sustentado de água, reflorestamento e melhor
uso da terra. É um novo começo para o mundo ganhar com maior igualdade de oportunidades
e benefício para toda a humanidade.
O setor sucroenergético brasileiro mostra que, mais do que ser um participante desse
processo, é um dos principais articuladores de um volume significativo de pessoas, pelas a-
ções que desenvolve, pela inovação constante e pelo impacto das ações. A construção de um
mundo renovável demanda esforços significativos, mas é possível, e o setor sucroenergético é
um dos pilares dessa construção.
O setor sucroenergético está vivendo um processo de amadurecimento empresarial,
com forte tendência de profissionalização visto a concentração e o aumento da participação de
capital externo no setor, bem como as empresas nacionais se tornando bem maiores por
55
processos de fusões e aquisições. Atualmente, mais de 20 conglomerados internacionais
comandam ou participam de usinas brasileiras. E a participação estrangeira deve aumentar,
principalmente a partir dos investimentos das grandes empresas petrolíferas e do
desenvolvimento de tecnologias para a produção do etanol de segunda geração, como o etanol
celulósico.
A internacionalização do setor exige transformações urgentes nas estruturas
organizacionais das empresas. A maior participação de companhias multinacionais e de
investimentos internacionais aumenta a sua complexidade e estimula a profissionalização das
empresas do setor. Nesse contexto de mudanças, a adoção das boas práticas de governança
corporativa pode ser decisiva para a sobrevivência das diferentes organizações, seja uma
corporação de capital aberto ou uma empresa familiar.
Práticas de governança corporativa significam adoção de princípios, métodos de
gestão, sistematização de controles e de processos de prestação de contas, que, aplicadas com
efetividade, estabelecem novos padrões de comportamento e estimulam conselheiros, gestores
e colaboradores a forjarem uma cultura vencedora e comprometida com a perenidade da
empresa.
Podemos citar entre os principais benefícios da governança corporativa:
1) maior acesso a capitais;
2) redução do perfil de risco da empresa;
3) diminuição do custo de captação;
4) prestação de contas para a comunidade;
5) postura transparente e próativa;
6) agregação de valor aos acionistas;
7) atração e retenção de talentos;
8) possibilidade de redução de custos;
9) criação de canal de comunicação e alinhamento das demandas dos
stakeholders com as da empresa. Além da competitividade no mercado
global, a crise econômica recente aponta para a necessidade de rever os
modelos de negócios contemporâneos.
56
Destaca-se especialmente um melhor alinhamento entre os diversos elementos de
gestão, monitoramento e controle, que estão na base da governança corporativa.
A situação do setor sucroenergético é emblemática nesse cenário de agronegócio
globalizado. Paralelamente ao crescente interesse de fundos de private equity na produção de
etanol, tanto internacionais quanto nacionais, predomina no setor o modelo de empresas
familiares, com a gestão a cargo dos controladores e sucessão também dentro da família.
Apesar dos grandes investimentos que tornaram o Brasil o maior e mais eficiente produtor de
açúcar e etanol do mundo, o modelo é incapaz de manter essas empresas no concorrido jogo
do comércio mundial. Hoje um dos principais desafios é o processo de transição de comando
em organizações familiares, dentro do contexto de profissionalização da gestão e adesão à
governança corporativa.
57
Energia Renovável
Ao expandir a análise para a biomassa, o bagaço e a palha de cana, poderemos ter mais
uma alternativa de energia renovável na matriz energética brasileira, que a safra de cana é
concentrada no período de seca no Centro-Sul do país. A energia elétrica gerada pelo bagaço
de cana poderá ser equivalente a uma usina de Itaipu, em 2020 (UNICA, 2010)
A energia hidroelétrica predomina, aproximadamente em 88%, na matriz energética
brasileira, o que ao país uma posição quase única e extremamente positiva em relação ao
meio ambiente. No mundo, poucos países têm uma matriz semelhante e a busca pelo aumento
das energias renováveis na composição das matrizes energéticas tem sido a tônica nestas últi-
mas décadas.
Seja para a expansão necessária da oferta, seja pela redução dos riscos de falta de a-
bastecimento ou pela diminuição dos impactos gerados pelos gases do efeito estufa, a compo-
sição da matriz energética brasileira deve ser repensada. O modelo centrado na geração hidro-
elétrica está se modificando, as limitações físicas e a legislação ambiental estão restringindo
os tamanhos dos reservatórios. Assim, a inserção e o aumento da capacidade de geração por
fontes alternativas, em especial as renováveis, é um fato e uma tendência para o sistema elé-
trico brasileiro.
Portanto, a bioeletricidade sucroenergética vem se mostrando uma alternativa viável e
vem crescendo na composição da matriz energética brasileira. As tabelas a seguir mostram a
tendência dessa evolução.
O aumento na produção nacional de cana-de-açúcar, a quantidade de cana-de-açúcar
colhida, que define o volume de biomassa e a maior utilização da palha de cana (com o fim da
queima) deverão aumentar a oferta potencial de mais de cinco mil MW no horizonte de dez
anos.
Tabela 3 - Estimativas do potencial da bioeletricidade sucroenergética*
Safra
Cana (em milhões de toneladas) Potencial de geração (em MW med)
2012/13 696 9642
2015/16 829 11484
2020/21 1038 14379
Fonte: elaborada a partir de dados da UNICA (2010)
58
* as premissas destas estimativas são a utilização da tecnologia de extra-condensação e o aproveitamento de
75% do bagaço e 50% da palha disponíveis.
O desenvolvimento tecnológico do setor que inclui diversos estudos em conjunto com
universidades e associações do setor e as novas tecnologias comercialmente disponíveis
aumentarão a produtividade agrícola e industrial e, consequentemente, a conversão de energia
elétrica. Esse novo estágio tecnológico, chamado Tecnologia E (de Eletricidade), vai multipli-
car até 2020, em quase 15 vezes, a produtividade da geração de energia pela cana-de-açúcar
excedente (kWh/t cana), efeito mostrado na Tabela 4 (MEIRA FILHO et al., 2010).
59
Tabela 4 - Parâmetros de produção no período 2006/2020
t cana/ha L etanol/t cana kWh/t cana excedente área de cana, M ha
2006, média 87 86,3 9,2 2,4
2020, Tecnologia E 95 93,2 135 7,3
Fonte: Leão de Sousa e Macedo (2010)
Nota: Tecnologia E (de Eletricidade): estágio tecnológico esperado nos processos e na produção de energia
A produtividade na geração de energia elétrica disponibilizará 52 TWh (Tera Watt ho-
ra) a cada ano, a partir de 2020. A TAB. 5 apresenta o incremento exponencial de energia em
relação à duplicação na área plantada de cana.
Tabela 5 - Produção de etanol, eletricidade e cana correspondente
2006 2010 2015 2020
Etanol, Merc Int (Mm³) 14,2 23 35 50
Etanol, Export (Mm³) 3,7 5 10 15
Área de cana (M ha) 2,4 3,6 4,2 7,3
Cana (M t) 207 318 385 697
Eletricidade (TWh/ano) 1,9 2,9 20,3 52
Fonte: Leão de Sousa e Macedo (2010)
O consumo aparente de combustíveis no Brasil (Tabela 6) mostra a participação do bi-
odiesel e do etanol entre os anos de 2007 e 2008. A participação desses dois combustíveis foi
de cerca de 17% do total em 2008 e nota-se o crescimento significativo dessas duas fontes
cujo crescimento se destaca em relação às demais. Por efeito de regulamentação, o volume
percentual mínimo do biodiesel no diesel vendido ao consumidor foi de 4% em 2009 e de 5%
em 2010, assegurando a tendência de crescimento do biocombustível.
60
Tabela 6 - Consumo aparente de combustíveis no Brasil
mil m³ %Combustível
2007 2008 2008/2007
Diesel 41.558 44.764 7,7
Biodiesel 260 1.125 332,7
Gasolina C 24.235 25.175 3,9
Gasolina A 18.483 18.881 2,2
Etanol Anidro 5.843 6.294 7,7
Etanol hidratado 9.367 13.290 41,9
Etanol total 15.210 19.584 28,8
GLP 12.005 12.259 2,1
Óleo combustível 5.525 5.172 -6,4
QAV 4.891 5.227 6,9
GAV 55 61 10,9
Querosene iluminante 31 24 -22,6
Total 97.757 105.972 8,4
GNV (mil m³/dia) 7.015 6.614 -5,7
Fonte: Leão de Sousa e Macedo (2010)
O Plano Decenal de Energia - PDE para o período 2008-2017 prevê uma forte expan-
são na geração, com redução na participação da energia hidroelétrica de 82% em 2008 para
71% em 2017 (Tabela 7). Essa redução compensada pela maior participação de usinas ter-
moelétricas geradas a óleo combustível marca um retrocesso no resultado dos leilões de ener-
gia nova realizados nos últimos anos. Entretanto, esse retrocesso não está na previsão do PNE
2030, em que a participação das energias alternativas deverá ser maior na matriz energética
nacional, como mostra a Tabela 8.
61
Tabela 7 - Expansão da capacidade do parque gerador brasileiro, por tipo de usina (em MW,
de acordo com previsão no PDE 2008-2017)
Fontes 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Hidro (b) 84.374 86.504 89.592 91.480 92.495 95.370 98.231 103.628 110.970 117.506
Nuclear 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 3.357 3.357 3.357 3.357
Óleo (c) 1.984 3.807 5.713 7.153 7.397 10.463 10.463 10.463 10.463 10.463
Gás Natural 8.237 8.237 8.453 8.948 10.527 12.204 12.204 12.204 12.204 12.204
Carvão 1.415 1.415 1.765 2.465 2.815 3.175 3.175 3.175 3.175 3.175
F. Alternativa (d) 1.256 2.682 5.420 5.479 5.479 5.593 5.593 5.913 6.233 6.233
Gás de processo
e vapor 469 959 959 959 959 959 959 959 959 959
UTE Indicativa - - - - - - - 900 900 900
Total 99.742 105.611 113.909 118.491 121.679 129.771 133.982 140.599 148.261 154.797
Fonte: Brasil (2009)
*potência em dez. de cada ano. (b) inclui PCH. (c) óleo combustível e óleo diesel. (d) biomassa e eólica.
62
Tabela 8 - Evolução prevista da capacidade instalada dos vários tipos de usinas de potência
no Brasil, segundo o PNE 2030 (Em MW)
Fonte Capacidade instalada em Acréscimo
2020 2030 2005-2030 2015-2030
Hidrelétricas
116.100 156.300 87.700 57.300
Grande porte (1) 115.100 156.300 87.700 57.300
Térmicas
26.897 39.897 22.945 15.500
Gás Natural 14.035 21.035 12.300 8.000
Nuclear 4.347 7.347 5.345 4.000
Carvão (2) 3.015 6.015 4.600 3.500
Outras (3) 5.500 5.500 700 -
Alternativas
8.783 20.322 19.468 15.350
PCH 3.330 7.769 7.000 6.000
Centrais eólicas 2.282 4.682 4.653 3.300
Biomassa de cana 2.971 6.751 6.515 4.750
Resíduos urbanos 200 1.300 1.300 1.300
Importação
8.400 8.400 - -
Total 160.180 224.919 130.113 88.150
Fonte: Brasil (2007)
(1) Inclui usinas bionacionais.
(2) Refere-se somente ao carvão nacional, não houve expansão com carvão importado.
(3) A expansão após2015 é, numericamente, pouco significativa, por referir-se aos sistemas isolados remanes-
centes (0,2% do consumo nacional).
Concluindo, essa visão da sustentabilidade vem tornando o setor sucroenergético bra-
sileiro renovável. Podem-se citar dois exemplos: os bioplásticos assim como os créditos de
carbono têm sido fonte de (re) aproveitamento de recursos e de geração de renda.
O bioplástico é um produto do aproveitamento do bagaço da cana que, por definição, é
“bio” porque é biodegradável e, por uma fonte natural como matéria-prima, poderá trazer no-
vas receitas para as usinas. Com custo maior do que o similar, entre 15% a 30%, a produção
mundial atual é de menos de 1% do total produzido de plástico sintetizado. No Brasil, ainda
não há escala para a comercialização do produto (NEVES; FAVA et al., 2010).
O mercado de crédito de carbono tem crescido nos últimos anos. O Brasil em 2008,
apesar de ocupar a terceira posição entre os países vendedores, detinha apenas 3% do mercado
(em volume negociado). China com 84% e Índia com 4% eram as primeiras posições.
63
O mercado de crédito de carbono ocorre, no caso brasileiro, pelo chamado Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo - MDL. Até aquele ano, foram apresentados sessenta e oito proje-
tos ao United Nations Framework Convetion on Climate Change - UNFCCC que geraram
uma redução aproximada de 3,5 milhões de toneladas de CO
2
e faturamento de US$ 25 mi-
lhões. Desses sessenta e oito projetos, vinte e quatro foram do setor sucroenergético com uma
redução de 474 mil toneladas de CO
2
e faturamento de US$ 3,5 milhões.
64
4 A GRI NO SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO E A EVOLUÇÃO PARA
O ONE REPORT: INTEGRATED REPORTING
4.1 Análise do grau de maturidade das usinas sucroenergéticas para adoção da GRI
O registro na GRI do RS é voluntário, por esse motivo não o número exato de em-
presas que o desenvolveram. Portanto, também o se tem o conhecimento das empresas bra-
sileiras que desenvolvem iniciativas de sustentabilidade. Mas sabe-se que o Brasil é o ter-
ceiro país que mais produziu relatórios, tendo como base os números de 2008.
Mundialmente, sabe-se que mais de mil organizações que emitiram relatórios de
sustentabilidade com os padrões e diretrizes G3 da GRI, entre as empresas brasileiras, dez são
do setor sucroenergético.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar elaborou em 2008 seu relatório de sustenta-
bilidade seguindo as diretrizes da GRI. A Unica foi a primeira associação do agronegócio no
mundo a realizar tal iniciativa. O próximo relatório da Unica será sobre a safra de 2009-2010:
deverá aumentar a abrangência e terá um número maior de usinas participantes.
O setor sucroenergético vem evoluindo em todos os aspectos do negócio, a exposição
internacional também tem aumentado, e o momento é de mostrar ao mundo o que as usinas
brasileiras estão realizando. O número de relatórios, assim como as iniciativas realizadas in-
dividualmente pelas empresas e/ou conjuntamente a associações de classe, universidades e
instituições governamentais, mostra que as empresas do setor buscam adotar estratégias de
sustentabilidade.
O passo seguinte rumo a um grau maior de maturidade será a adoção de relatórios in-
tegrando os temas econômicos, sociais e ambientais e seus respectivos indicadores de desem-
penho, que mostrem o empenho da organização em construir uma sociedade sustentável e que
esteja de acordo com todos os stakeholders.
No capítulo 2, mostrou-se que o desafio é saber se as empresas estão preparadas para a
mudança no paradigma necessária para a elaboração do relatório integrado. que se equa-
cionar o real desejo dos acionistas e executivos com as demandas, através de um processo
rotineiro para extrair, coletar, estruturar dados e informações, consultar interativamente as
65
partes interessadas, relatar progressos e pontos negativos, ser auditado por instituição inde-
pendente e, então, publicar externamente o relatório.
4.2 Metodologia utilizada para a pesquisa
A elaboração do relatório de sustentabilidade integrado requer das empresas a aplica-
ção de seis fundamentos – processos, sistemas, estrutura, pessoas, políticas e procedimentos e
cultura organizacional. A hipótese testada foi o grau de maturidade na aplicação desses fun-
damentos; esse grau de maturidade determinará a capacidade da empresa em realizar com
sucesso o RS integrado.
Com esse objetivo, o autor pesquisou sobre as empresas do setor sucroenergético loca-
lizadas na região Centro-Sul do Brasil, que elaboraram relatórios no padrão GRI, quais as
que possuem a aplicação rotineira daqueles fundamentos com seu respectivo grau de maturi-
dade. Esta pesquisa foi efetuada em entrevista a consultores que atuaram em projetos de
consultoria de apoio a Usinas Socroenergéticas na elaboração da GRI e a profissionais da
UNICA com profunda experiência neste tema, bem como experiência do autor sobre a matu-
ridade de processos e controles internos em Usinas.
A maturidade de uma organização está diretamente ligada à maturidade como ela ope-
ra seus processos, como mede os indicadores de desempenho e como ela age sobre eles na
busca de progresso. O enfoque nos processos inclui a definição clara de atividades, responsa-
bilidades, indicadores/medidas de controle, avaliação e mitigação de riscos, treinamento, am-
biente propício e ferramentas adequadas.
A pesquisa realizada pelo autor definiu três estágios de maturidade para os processos
de negócio de uma organização. Essa classificação foi suportada e adaptada do Modelo de
Maturidade de Processos (HARMON, 2004).
A proposição, adotada pelo autor, para a evolução da maturidade dos processos apre-
senta quatro vertentes:
Avaliação da maturidade da organização em relação à sustentabilidade;
Avaliação da prontidão para a mudança organizacional em relação ao perfil de
maturidade;
66
Análise de gaps entre a situação existente e o mais alto perfil de maturidade
(cinco elementos organizacionais e Diretrizes GRI);
Implantação do plano de integração para o relatório de sustentabilidade.
A figura a seguir mostra quais as práticas a serem adotadas por uma organização em
função dos diversos estágios de maturidade para a sustentabilidade.
Figura 7 – Grau de evolução em sustentabilidade
Fonte: Adaptada de Zadek (2006)
Nota-se a necessidade de mudanças significativas na organização conforme a evolução
requerida. O modelo de Burke-Litwin (1992) fornece uma abordagem sistêmica para a elabo-
ração de um plano de mudanças, transformacionais e transacionais.
67
AMBIENTE
EXTERNO
MISSÃO E
ESTRATÉGIA
LIDERANÇA
CULTURA
PRÁTICAS
GERENCIAIS
ESTRUTURA
SISTEMAS
CLIMA
MOTIVAÇÃO
REQUISITOS
DA TAREFA
NECESSIDADES
E VALORES
INDIVIDUAIS
MUDANÇA
TRANSFORMACIONAL
MUDANÇA
TRANSACIONAL
(Modelo Burke-Litwin)
DESEMPENHO
Figura 8 – O modelo de Burke-Litwin para gestão da mudança
O modelo de Burke-Litwin pode ser modificado para uma abordagem em dois grupos
de componentes organizacionais que suportarão a análise dos gaps e a elaboração do plano de
integração do RS.
68
Figura 9 – Articulação entre componentes para a mudança organizacional
Fonte: PwC (2009)
Essa conceituação foi a base para a elaboração da metodologia de avaliação dos gaps
dos indicadores de um relatório de sustentabilidade integrado. A proposta cobre os cinco fun-
damentos propostos por este trabalho: Processos, Estrutura, Sistemas, Políticas/Procedimentos
e Cultura, fazendo uma análise cruzada com os parâmetros determinados pela GRI. A meto-
dologia implica um projeto abrangente que inclui aspectos estratégicos, de liderança e cultura
e aspectos operacionais e técnicos para os temas econômicos, sociais e ambientais de uma
empresa. O produto do projeto é o RS Integrado, conforme os padrões GRI, apto a ser exami-
nado por entidade externa, e que leve a organização a um patamar superior de desempenho
sustentável.
Os instrumentos básicos para a análise dos gaps são as matrizes apresentadas no capí-
tulo 5, aplicadas aos indicadores de desempenho da GRI, essenciais ou adicionais. Também
entrevistas com os diversos stakeholders devem ser realizadas para que se determine o estágio
em relação à sustentabilidade e à prontidão para a mudança; por fim a análise comparativa
com os padrões GRI mostrará o grau de mudança necessária nos aspectos tecnológicos da
sustentabilidade.
69
O relatório de sustentabilidade é a expressão de uma filosofia institucional que deve
estar incorporado nas práticas gerencias das empresas. Essa incorporação se por meio de
seus instrumentos de gestão ou fundamentos administrativos citados no capítulo 5. Para saber
se as empresas estão preparadas para a elaboração do relatório integrado, a análise de gaps
pode ser executada, verificando
i. Políticas e procedimentos
O grau de formalismo das políticas e procedimentos deve ser analisado e confrontado
com as estratégias de sustentabilidade da empresa, contemplando:
a verificação da existência de políticas de sustentabilidade aprovada em instân-
cias investidas de poder e representatividade para tal;
o nível de convergência e clareza das políticas com relação à estratégia de sus-
tentabilidade;
os mecanismos através dos quais essas políticas são comunicadas aos diversos
níveis hierárquicos da companhia;
o grau de documentação dos procedimentos;
a suficiência de detalhes para viabilizar a efetiva execução das atividades ne-
cessárias à
implementação das políticas de sustentabilidade;
emissão do RS dentro dos padrões exigidos.
ii. Estrutura
A estrutura organizacional e as responsabilidades de cada uma das áreas intervenientes
no processo devem ser verificadas quanto ao (à):
aderência às estratégias e políticas, no sentido de garantir que as funções ne-
cessárias à implementação daquelas estão adequadamente representadas na es-
trutura funcional;
grau de clareza e detalhamento das funções e responsabilidades tanto na im-
plementação da estratégia de sustentabilidade quanto na emissão do RS;
70
existência de instrumentos e ferramentas que viabilizem o cumprimento das
funções descritas;
razoável segregação de funções que garantam que as atividades serão executa-
das com independência.
iii. Processos
A estrutura de processos deve estar alinhada tanto às políticas quanto à estrutura orga-
nizacional da companhia e para tanto a análise de gaps deverá verificar:
a convergência entre responsabilidades de cada unidade funcional e os proces-
sos que dão suporte à realização de suas respectivas atividades;
o grau de documentação e formalismos desses processos, de modo a garantir se
uma interpretação homogênea das atividades parte de toda a organização;
os mecanismos de atualização da documentação que garanta que esta reflita as
atividades efetivamente executadas;
os controles instituídos para garantir que as tarefas fundamentais serão conclu-
ídas no prazo e na qualidade desejados.
Um processo de particular interesse é aquele por meio do qual as informações para
composição e fechamento do RS está adequadamente estruturado, de modo a garantir que as
informações são produzidas pela área apropriada e no prazo oportuno.
iv. Sistemas
Os sistemas de informação (automatizados ou o) são os mecanismos por meio dos
quais as responsabilidades, processos e procedimentos se materializam. Nesse sentido, a tôni-
ca na avaliação de gaps desses instrumentos de gestão será dada pela verificação da consis-
tência entre os sistemas que dão suporte aos profissionais com:
suas responsabilidades;
os processos por eles executados;
as políticas de sustentabilidade definidas pela alta administração;
71
a necessidade de informações dos diversos stakeholders.
v. Pessoas
Nesse quesito, deverão ser identificados, junto aos colaboradores,
o grau de entendimento quanto à estratégia e ao posicionamento em relação à
sustentabilidade;
a compreensão da relevância do assunto para a companhia;
a necessidade de treinamento e a capacitação nesse quesito;
o nível de mobilização em torno do tema.
vi. Cultura organizacional
Esse componente da estrutura gerencial de uma empresa é sensibilizado por dois fato-
res: o comprometimento da alta administração em perseguir esse propósito e o reflexo efetivo
desse comprometimento nos demais instrumentos de gestão, ambos funcionando como indu-
tores do comportamento dos colaboradores.
Nesse sentido, o gap analysis deve ser executado avaliando-se como as metas e os ob-
jetivos de sustentabilidade estão considerados no(a):
modelo de planejamento e definição de metas corporativos;
processo de monitoramento de resultados;
modelo de recompensa e remuneração;
estrutura de informações gerenciais;
iniciativa de treinamento e capacitação de colaboradores.
Uma vez concluída a identificação e a análise de gaps, serão definidas as recomenda-
ções necessárias para corrigi-los, apresentando para cada uma um plano de ação contendo
o objetivo claro da ação e os produtos esperados;
o detalhamento das etapas e tarefas necessárias à consecução desses objetivos;
o prazo estimado para sua execução;
72
os recursos necessários (financeiros, humanos e tecnológicos);
o responsável pela implementação.
Definidas as ações, um plano de implementação global será elaborado considerando
o prazo desejado pela alta administração para iniciar a emissão do RS;
os investimentos necessários à implementação das recomendações de ajustes
em cada um dos ciclos de gestão anteriormente mencionados;
o prazo necessário para a assimilação das mudanças e da incorporação da nova
filosofia, dependendo do estágio da cultura organizacional com relação a as-
pectos de sustentabilidade.
O plano para integrar os temas econômicos/financeiros, sociais e ambientais em um
único relatório será abrangente e permeará todas as áreas da organização, da alta administra-
ção à gestão operacional, dos clientes aos fornecedores, das áreas técnicas às áreas administra-
tivas, dos vizinhos às autoridades, dos proprietários/acionistas aos empregados.
73
4.2 Aplicação da metodologia na pesquisa
Foram selecionados 16 indicadores, julgados mais importantes e diversificados, de
modo a representar todas as categorias de indicadores.
A matriz abaixo foi aplicada utilizando o critério de maturidade a seguir.
1. Processos – existem processos para coleta de dados/análise/tomada de decisão,
está definida a frequência com que os processos devem ser realizados?
2. Estrutura – existe uma função na estrutura organizacional que tenha a respon-
sabilidade formal pela realização dos processos descritos acima?
3. Pessoas – há pessoas capacitadas para a realização dos processos?Elas estão
alocadas em tempo integral nesses processos? É pessoal próprio ou terceirizado?
4. Sistemas – os sistemas que suportam os processos são seguros? Propiciam a a-
gilidade no tratamento dos dados e análise da informação?
5. Políticas e procedimentos – existem políticas e procedimentos (manual de ope-
ração) que orientam o trabalho na operacionalização dos processos?
6. Cultura organizacional – a cultura (valores, crenças, comportamentos espera-
dos, liderança, etc.) da empresa propicia e dá suporte integral à realização dos processos?
As respostas foram obtidas de forma aberta e qualitativa e um grau de maturidade
foi atribuído pelo respondente, como se segue:
A = Alto grau de maturidade;
M = Grau médio de maturidade;
B = Baixo grau de maturidade.
74
INDICADOR Processos Estrutura Pessoas Sistemas
Políticas e Pro-
cedimentos
Cultura
Organizacional
Valor Econômico Direto Gerado (EC1) A A A A A A
Ajuda Financeira Significativa Recebida do Governo (EC4) A A A A A A
Consumo de Energia direta discriminado por fonte primária (EN3) M M M M M M
Consumo de energia indireta descriminado por fonte primária (EN4) M M M M M M
Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência
(EN7)
M M M M M M
Totais de Retirada de água por fonte (EN8) M M M M M M
Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de água (EN9) M M M M M M
Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada (EN10) M M M M M M
Total de trabalhadores, por tipo de emprego, contrato de trabalho e região
(LA1)
M M M M M M
Número total e taxa de rotatividade de empregados, por faixa etária, gênero
e região (LA2)
M M M M M M
Trabalho infantil (HR6) A A A A A A
Trabalho forçado ou análogo ao escravo (HR7) B B B B B B
Natureza, escopo e eficácia de quaisquer programas e práticas para avaliar
e gerir os impactos das operações nas comunidades, incluindo a entrada,
operação e saída (S01)
B B B B B B
Posições quanto a políticas públicas e participação na elaboração de políti-
cas públicas e lobbies (S05)
B B B B B B
Fases do ciclo de vida de produtos e serviços em que os impactos na saúde
e segurança são avaliados visando melhoria, e o percentual de produtos e
serviços sujeitos a esses procedimentos (PR1)
B B B B B B
Tipo de informação sobre produtos e serviços exigida por procedimentos
de rotulagem, e o percentual de produtos e serviços sujeitos a tais exigên-
cias (PR3)
B B B B B B
Quadro 3 - Resultado da pesquisa sobre grau de maturidade das empresas do setor sucroenergético, nas regiões Centro-Sul do país. Matriz
Fundamentos por Indicador – Grau de Maturidade
75
INDICADOR Processos Estrutura Pessoas Sistemas
Políticas e
Procedimentos
Cultura
Organizacional
Valor Econômico Direto Gerado (EC1)
Ajuda Financeira Significativa Recebida do Governo (EC4)
Os indicadores econômicos são melhor assimilados pelas usinas, pois a equipe geralmente já
utiliza essas informações em seu balanço financeiro. Há sistemas adequados para o armazena-
mento de informação, treinamentos e equipe específica para esse tipo de trabalho. Nos grandes
grupos essas informações são muito importantes para as reuniões de conselho da empresa.
Consumo de Energia direta discriminado por fonte primária (EN3)
Consumo de energia indireta descriminado por fonte primária (EN4)
Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência
(EN7)
Totais de Retirada de água por fonte (EN8)
Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de água (EN9)
Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada (EN10)
Está se desenvolvendo uma cultura de coleta e monitoramento dos parâmetros ambientais nas
usinas, principalmente pelas exigências legais e participação no Protocolo Agroambiental. Con-
tudo, trata-se de um processo mais recente que está sendo assimilado pelas usinas. Geralmente
não há pessoas específicas para essa função e o departamento de qualidade acaba por incorporar
a atividade de obtenção e monitoramento desses indicadores. Os sistemas utilizados não são
sofisticados e muitas vezes armazenam os dados em arquivo Excel por exemplo.
Total de trabalhadores, por tipo de emprego, contrato de trabalho e região
(LA1)
Número total e taxa de rotatividade de empregados, por faixa etária, gênero
e região (LA2)
Trabalho infantil (HR6)
Trabalho forçado ou análogo ao escravo (HR7) O setor tem problemas com esse indicador devido principalmente à terceirização da contratação
de mão-de-obra rural. Os procedimentos internos necessitam ser melhorados.
Natureza, escopo e eficácia de quaisquer programas e práticas para avaliar
e gerir os impactos das operações nas comunidades, incluindo a entrada,
operação e saída (S01)
Posições quanto a políticas públicas e participação na elaboração de políti-
cas públicas e lobbies (S05)
Os indicadores de sociedade precisam ser mais difundidos na cultura organizacional das usinas.
Fases do ciclo de vida de produtos e serviços em que os impactos na saúde
e segurança são avaliados visando melhoria, e o percentual de produtos e
serviços sujeitos a esses procedimentos (PR1)
Tipo de informação sobre produtos e serviços exigida por procedimentos de
rotulagem, e o percentual de produtos e serviços sujeitos a tais exigências
(PR3)
Os indicadores de responsabilidade pelo produto precisam ser mais difundidos na cultura orga-
nizacional das usinas.
Quadro 4 - Resultado da pesquisa sobre grau de maturidade das empresas do setor sucroenergético, nas regiões Centro-Sul do país. Matriz
Fundamentos por Indicador – Comentários Adicionais
76
Os resultados mostrados nos Quadros 3 e 4 estão dentro do que se esperava: um alto
grau de maturidade nos que se refere aos indicadores econômico-financeiros e uma redução
da maturidade no que tange aos indicadores sociais e ambientais. Destaca-se o indicador de
Trabalho Infantil (HR6) que apresenta um alto grau de maturidade. No setor que necessita
aumentar a velocidade da evolução nos aspectos de gestão social, essa informação é um e-
xemplo de como um relatório de sustentabilidade pode criar o círculo virtuoso.
Nota-se claramente que para aqueles indicadores mais objetivos, como o consumo de
energia ou de água, a maturidade da aplicação dos fundamentos é maior sem, entretanto, ser
alta. Por fim, nota-se pela leitura das informações dos Quadros 3 e 4 que em relação à evolu-
ção da maturidade nos indicadores sociais e ambientais, há uma mudança acontecendo no que
tange os aspectos ambientais, porém ainda não se nota esse mesmo movimento quando o as-
sunto são os aspectos sociais.
4.3 Proposição do autor para aumentar a maturidade organizacional
i) Políticas e procedimentos
Estabelecer políticas de sustentabilidade aprovada pela alta administração
da empresa;
Implantar mecanismos de comunicação destas políticas aos diversos níveis
hierárquicos da empresa;
Documentar adequadamente as políticas e procedimentos;
Dar detalhes suficientes para viabilizar a efetiva execução das atividades
necessárias à implementação das políticas de sustentabilidade;
Emitir Relatório de Sustentabilidade dentro dos padrões exigidos.
ii) Estrutura
77
Adequar a estrutura funcional da empresa às funções necessárias para a-
tender as estratégias e políticas de sustentabilidade;
Estabelecer com grau de clareza e detalhamento as funções e responsabili-
dades tanto na implementação da estratégia de sustentabilidade quanto na
emissão do RS;
Criar instrumentos e ferramentas que viabilizem o cumprimento das fun-
ções acima descritas;
Manter razoável segregação de funções que garantam que as atividades se-
rão executadas com independência.
iii) Processos
A estrutura de processos deve estar alinhada tanto às políticas quanto à es-
trutura organizacional da companhia e para tanto a análise de gaps deverá
verificar;
Criar convergência entre responsabilidades de cada unidade funcional e os
processos que dão suporte à realização de suas respectivas atividades;
Documentar e formalizar os processos de modo a garantir uma interpreta-
ção homogênea das atividades por toda a empresa;
Estabelecer mecanismos de atualização da documentação para garantir que
esta reflita as atividades efetivamente executadas;
Definir controles para garantir que as tarefas fundamentais serão concluí-
das no prazo e na qualidade desejados.
iv) Sistemas
78
Os sistemas de informação (automatizados ou o) são os mecanismos por meio dos
quais as responsabilidades, processos e procedimentos se materializam. Nesse sentido, avaliar
se os sistemas dão suporte:
aos profissionais com suas responsabilidades;
os processos por eles executados;
as políticas de sustentabilidade definidas pela alta administração;
a necessidade de informações dos diversos stakeholders.
v) Pessoas
Identificar o grau de entendimento dos colaboradores quanto à estratégia e
ao posicionamento em relação à sustentabilidade;
Certificar que os colaboradores tem a compreensão da relevância do assun-
to para a empresa;
Avaliar a necessidade de treinamento e a capacitação dos colaboradores;
Avaliar o nível de mobilização dos colaboradores em torno do tema.
vi) Cultura organizacional
Certificar que as metas e os objetivos de sustentabilidade estão considerados no(a):
modelo de planejamento e definição de metas corporativos;
processo de monitoramento de resultados;
modelo de recompensa e remuneração;
estrutura de informações gerenciais;
iniciativa de treinamento e capacitação de colaboradores.
79
6 CONCLUSÕES
O paradoxo moderno da humanidade – como aumentar o consumo e melhorar a quali-
dade de vida média sem consumir os recursos da Terra até a exaustão? leva a outras duas
questões mais imediatas onde buscar o equilíbrio, nos indivíduos ou nas organizações? Os
indivíduos devem se privar do consumo ou as organizações devem ser mais eficientes?
Entretanto, como é óbvio, essa é uma questão complexa e que se resolve com o en-
volvimento de todos os segmentos da sociedade, sejam os cidadãos, as empresas, as institui-
ções governamentais, as instituições não governamentais.
Os impactos da produção e do consumo no meio ambiente vêm gerando pressões nas
empresas algumas décadas. Mais recentemente, as reivindicações sociais também exer-
cem pressões, internas e externas. O surgimento da Internet, especialmente da versão denomi-
nada 2.0, que permitiu maior interatividade, e o surgimento das redes sociais, assim como a
facilidade de comunicação global completam o conjunto de novas forças sobre as organiza-
ções. Para responder a essas forças, as empresas iniciam projetos e programas, uns tímidos a
princípio, outros mais arrojados, dependendo do setor econômico e da intensidade das forças
atuantes no setor.
Nesse ambiente, surgem os relatórios de sustentabilidade, os relatórios de responsabi-
lidade social, a ISO 14000 de gestão ambiental entre outras normas e padrões para a gestão e
o reporte do desempenho sustentável das organizações.
Algumas dessas empresas, por força da regulamentação ou por maior liderança e pio-
neirismo, começaram a reportar suas ações e desempenho ambiental nos relatórios anuais da
administração. A tese é a de que o reporte do desempenho ambiental leva a um ciclo virtuoso
de melhoria contínua do desempenho econômico, ambiental e social das empresas, conhecido
como triple bottom line. Como corolário, o aumento do desempenho impacta diretamente no
meio ambiente global e assim o ciclo virtuoso se expande. Esse ciclo ainda é pífio perante o
enorme desafio do aquecimento global, do consumo dos recursos e do tratamento dos resíduos
gerados, porém os resultados são importantes. O certo é que esse ambiente se modificará para
criar mais exigências sobre as empresas e que é um processo sem volta, afinal o momento é
80
de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
de suprir suas próprias necessidades.
Existem alguns padrões para a elaboração de um relatório de sustentabilidade, entre
eles o da GRI é o de maior alcance global, com mais de três mil e quinhentos relatórios regis-
trados desde 2002. O padrão reforça que o desempenho organizacional deve ser reportado
pelos aspectos econômico, ambiental e social; a corrente pela integração dos temas em um
relatório aumenta nos mais diversos fóruns. O livro One Report Integrated Reporting for
Sustainable Strategy resume as questões e as ações realizadas em fóruns como o Financial
Accounting Standards Board - FASB e o Internacional Accounting Standards Board - IASB,
apresentando os esforços para simplificar e facilitar a integração dos temas em um único rela-
tório. O livro também sustenta que a emissão do relatório integrado suporta a melhoria contí-
nua do triple bottom line.
Assim, volta-se ao tema central desta dissertação: o relatório integrado, como uma boa
prática de gestão, gera um ciclo de melhoria contínua com impactos no meio ambiente e no
meio social. A outra parte do tema central está relacionado a como gerar um relatório integra-
do, ou o que a organização precisa fazer para obter os benefícios de um relatório integrado.
Tomando por base o padrão GRI para reportar o relatório de sustentabilidade, o passo seguin-
te seria fazer a integração com o relatório anual da administração. De forma resumida, a em-
presa precisa manter/criar processos, estrutura, pessoas, sistemas, políticas e procedimentos e
cultura, de modo que esses fundamentos sejam incorporados na rotina de operação normal da
organização. Desse modo, a rotina operacional, para levantar informações financeiras, como a
provisão para devedores duvidosos, seria semelhante à rotina para informar o número de em-
pregados portadores de necessidades especiais ou o volume total de água retirada por fonte.
Obviamente, cada rotina tem seu período de ciclo em função da materialidade e da utilidade
da informação.
A última parte do tema central abordou os Desafios de Implementação do GRI nas U-
sinas Sucroenergéticas, onde se pesquisou o grau de maturidade das empresas que já reportam
a sustentabilidade visando entender se estão preparadas para a elaboração do Integrated re-
port. Mesmo tendo reportado os aspectos ambientais e sociais e mesmo que os relatórios
dos aspectos econômicos façam parte da rotina das empresas, a hipótese testada foi a de
avaliar se essas empresas estão preparadas para o desafio de um relatório integrado.
Foi visto que o uso de energias alternativas é crescente no mundo. No Brasil, a matriz
energética está se alterando em especial pelo uso do etanol, e a bioenergia é uma realidade na
81
cogeração. Nesse sentido, o setor sucroenergético nacional tem se destacado mundialmente e
consequentemente tem aumentado a exposição com seus diversos stakeholders.
Portanto, a elaboração e a publicação de relatórios de sustentabilidade é uma forma e-
ficiente de mostrar o desempenho das companhias àquelas partes interessadas.
O padrão GRI, por ser o de maior alcance global, é também o mais utilizado no setor
sucroenergético brasileiro. No país aproximadamente 10 empresas estão em fase de aplicação
desse padrão. A GRI nas “Diretrizes para o Relatório de Sustentabilidade” afirma que o pro-
cesso de interação e aprendizado com especialistas dos diversos stakeholders é o motivo da
ampla aceitação do padrão.
As diretrizes da GRI estabelecem um conjunto de princípios para o conteúdo e a qua-
lidade do relatório: transparência e utilidade para o uso e decisão pelos stakeholders são os
objetivos principais para o relatório. A utilização do relatório somente para fins de informação
ao público externo ou mesmo como publicidade não deve ser o objetivo, mas só uma etapa do
processo com as partes interessadas; o relatório deve ser um processo interativo e equilibrado,
um instrumento para a tomada de decisão e orientação para a ação da companhia.
O grau de preparação das empresas do setor para a elaboração do relatório integrado
apontou que um alto grau de maturidade quando se trata dos indicadores econômico-
financeiros. quando se trata dos indicadores sociais e ambientais, o grau de maturidade cai
para médio ou baixo, com uma honrosa exceção, o indicador de trabalho infantil que possui
alto grau de maturidade. Independentemente do grau de maturidade dessas empresas em rela-
ção ao diversos indicadores ambientais e sociais, o importante é o movimento em busca de
um desempenho melhor, porém concluiu-se que um enorme trabalho a ser realizado, na
direção do Integrated reporting.
As questões principais desta dissertação não têm respostas simples. O principal ponto
reside no fato de que as soluções para os temas de sustentabilidade não podem ser tratadas por
uma empresa, nem por uma associação setorial, por um país ou mesmo um conjunto de paí-
ses. Os esforços para a redução dos impactos dos impactos da ação humana sobre a própria
Terra devem ser coletivos e não pode haver exceções. A não-adesão de um país a um protoco-
lo internacional de sustentabilidade leva à falta de credibilidade nas instituições. Paradoxal-
mente, sem o esforço de cada indivíduo, empresa, associação e governo, não haverá a energia
necessária para a mudança de comportamentos relativos à sustentabilidade do planeta. Nesse
sentido, a transparência, a utilidade e a credibilidade dos relatórios de sustentabilidade serão
82
determinantes para o sucesso dessa empreitada. As organizações têm papel fundamental no
processo porque podem buscar os stakeholders, engajá-los e em conjunto ampliar os efeitos
de suas ações.
Finalmente, a soma das ações e resultados individuais das organizações terá impacto
significativo no meio ambiente e no meio social; assim que ser empreendido um esforço
máximo na realização de programas de sustentabilidade e na forma de mostrar o progresso ou
não desses programas. A apresentação dos resultados positivos e negativos não deve ser um
paradigma, porque o objetivo final é o progresso contínuo na redução de riscos ao meio ambi-
ente e a construção de uma economia sustentável.
Novos trabalhos de pesquisas relacionadas com os Desafios de Impelementação do
Global Reporting Initiative – GRI em Usina Sucroenegéticas poderiam ser feitas na medida da
ampliação do número de Usinas que adotem este padrão para reportar temas de sustentabili-
dade. Adicionalmente, a pesquisa poderá abranger, também, Usinas que manifestem interesse
em adotar o padrão GRI no curto ou médio prazo.
83
REFERÊNCIAS
ZADEK, S.; MERME, M. Redefining Materiality. Disponível em:
http://www.accountability.org/publications. Acesso em: 10 out. 2010.
COMPÊNDIO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DE NAÇÕES. Disponível
em: http://www.compendiosustentabilidade.com.br/2008/default.asp?actA=2. Acesso em: 20
out. 2010.
UNIÃO DA INDUSTRIA DE CANA DE AÇÚCAR - UNICA. Setor Sucroenergético –
Mapa da Produção. Disponível em: http://www.unica.com.br. Acesso em: 10 out. 2010.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Publicações-Balanço Energético Nacional. Dis-
ponível em: http://www.mme.gov.br. Acesso em: 10 set. 2010.
BRASIL (2009) – Ministério de Minas e Energia.
BRASIL (2007) – Ministério de Minas e Energia.
BURKE, W.W.; LITWIN, G.H. A causal model of organizational performance and change.
Journal of Management, New York, v. 18, n. 3, p523-545, 1992.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração, 7. ed., São Paulo: Campus
Elsevier, 2004. 610p.
ECCLES, R.G.; KRZUS, M.P. One report: integrated reporting for sustainable strategy. New
Jersey: John Wiley & Sons, 2010. 235 p.
HARMON, P. Business process trends newsletter. Disponível
em:http://www.bptrends.com/resources_publications.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC. Código das
melhores práticas de governança corporativa, 4. ed., 2009. Disponível em:
http://www.ibgc.org.br/Download.aspx?...Codigos&CodCodigo. Acesso em: 18ago. 2010.
KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. The balanced scorecard: translating strategy into action.
Boston: Harvard Business School Press, 1996. 344p.
LEÃO DE SOUSA, E.L.; MACEDO, I.C. Etanol e bioeletricidade: a cana-de-açúcar no
futuro da matriz energética. Disponível em: http://www.unica.com.br/multimedia/. Acesso
em: 18 set. 2010.
FAVA NEVES, M.; TROMBIN, V.G.; CONSOLI, M. Etanol e bioeletricidade: a cana-de-
açúcar no futuro da matriz energética.
PRICE WATERHOUSE COOPERS – PwC. Materialidade no processo de asseguração.
2009. Disponível em: http://www.pwc.com. Acesso em: 20 jul. 2010.
ZADEK, S. Responsible competitiveness: reshaping global markets through responsible
business practices. London: AccountAbility, 2006. 334-348p.
84
ANEXOS
85
ANEXO A – Roteiro para pesquisa de Dissertação de Mestrado – EASP-FGV. José Ro-
naldo Vilela Rezende
Título da Dissertação:
Desafio da implementação do Global Reporting Initiative nas empresas sucroenergéticas.
Objetivo da Pesquisa:
Determinar o estágio de maturidade da empresa em seis fundamentos (processos, estrutura,
pessoas, sistemas, políticas e procedimentos, cultura organizacional) na medição, na análise e
na forma de reportar os indicadores sugeridos pela GRI.
INDICADORES SELECIONADOS:
ECONÔMICOS
Aspecto Desempenho Econômico valor econômico direto gerado (EC1), ajuda financeira
significativa recebida do governo (EC4).
AMBIENTAIS
Aspecto Energia consumo de energia direta discriminado por fonte primária (EN3), con-
sumo de energia indireta descriminado por fonte primária (EN4), energia economizada devido
a melhorias em conservação e eficiência (EN7).
Aspecto Água totais de retirada de água por fonte (EN8), fontes hídricas significativamente
afetadas por retirada de água (EN9), percentual e volume total de água reciclada e reutilizada
(EN10).
SOCIAIS
Aspecto Práticas Trabalhistas total de trabalhadores, por tipo de emprego, contrato de
trabalho e região (LA1), número total e taxa de rotatividade de empregados, por faixa etária,
gênero e região (LA2).
Aspecto Direitos Humanos trabalho infantil (HR6), trabalho forçado ou análogo ao escra-
vo (HR7).
86
Aspecto Sociedade natureza, escopo e eficácia de quaisquer programas e práticas para ava-
liar e gerir os impactos das operações nas comunidades, incluindo a entrada, a operação e a
saída (S01). Posições quanto a políticas públicas e participação na elaboração de políticas
públicas e lobbies (S05).
Aspecto Responsabilidade sobre o Produto fases do ciclo de vida de produtos e serviços
em que os impactos na saúde e na segurança são avaliados visando à melhoria e ao percentual
de produtos e serviços sujeitos a esses procedimentos (PR1), ao tipo de informação sobre pro-
dutos e serviços exigidos por procedimentos de rotulagem e ao percentual de produtos e ser-
viços sujeitos a tais exigências (PR3).
Metodologia:
1. Leitura e entendimento do indicador
2. Leitura e entendimento das definições para cada grau de maturidade dos fundamentos (ver
definições a seguir)
3. Avaliação de cada indicador atribuindo um grau de maturidade para cada fundamento,
seguindo as perguntas sugeridas (a seguir)
4. Registro das repostas com base nas definições (ver exemplo a seguir)
5. Inserção de comentários adicionais (ver exemplo a seguir)
DEFINIÇÕES DOS FUNDAMENTOS:
Processos é o conjunto de atividades realizadas para a medição do indicador, a respectiva
análise do desempenho e a tomada de ação para ajuste no desempenho do indicador.
Estrutura – é a função/área/departamento responsável pela realização do processo.
Pessoas – são os profissionais alocados para a realização das atividades do processo, podem
ou não fazer parte da estrutura definida acima, como consultores externos contratados para a
coleta de dados do indicador.
Sistemas – são as ferramentas eletrônicas (software) que servem como base para armazenar
dados, gerar informação para a tomada de decisão, realizar uma transação (exemplo: controle
e pagamento da conta de energia) que suportam a realização dos processos.
Políticas e procedimentos – políticas dão as diretrizes e orientam a realização dos processos;
os procedimentos explicam os detalhes de como uma política deve ser seguida. Exemplo: a
87
política para a identificação das fontes hídricas significativamente impactadas deve dar dire-
trizes sobre o consumo e o tratamento de água para as unidades de negócio, sobre os riscos e
cuidados que devem ser observados; os procedimentos dão as instruções para a identificação
das fontes hídricas impactadas e definição da materialidade do impacto.
Cultura organizacional – é o conjunto de valores, crenças, comportamentos em relação ao
tema/indicador em questão. Exemplo: em relação ao indicador “ajuda financeira significativa
recebida do governo”, a organização pode ter aversão a relatar o tema e isso comprometer a
realização do processo de coleta de dados, análise e reporte da informação.
PERGUNTAS SUGERIDAS PARA AVALIAÇÃO DOS FUNDAMENTOS:
1. Processos – existem processos para coleta de dados/análise/tomada de decisão? Está defi-
nida a frequência com que os processos devem ser realizados?
2. Estrutura – existe uma função na estrutura organizacional que tenha a responsabilidade
formal pela realização dos processos descritos acima?
3. Pessoas – há pessoas capacitadas para a realização dos processos?
Elas estão alocadas em tempo integral nesses processos? É pessoal próprio ou terceiriza-
do?
4. Sistemas os sistemas que suportam os processos são seguros? Propiciam a agilidade no
tratamento dos dados e a análise da informação?
5. Políticas e procedimentos existem políticas e procedimentos (manual de operação) que
orientam o trabalho na operacionalização dos processos?
6. Cultura organizacional a cultura (valores, crenças, comportamentos esperados, lideran-
ça, etc.) da empresa propicia e dá suporte integral à realização dos processos?
DEFINIÇÕES DO GRAU DE MATURIDADE:
A = Alto grau de maturidade o fundamento é aplicado, está formalmente definido (manu-
ais, organogramas, memorandos, etc.) e existe evidência da ação de feedback sobre o indica-
dor (o fundamento atua para a melhoria da qualidade e a utilidade do indicador). O ambiente é
monitorado onde os controles são padronizados com testes periódicos do efetivo desenho,
operação e reporte à administração.
M = Grau médio de maturidade – o fundamento é aplicado, mas não está formalmente defi-
nido, existe ação de feedback sobre o indicador, mas não há evidência. O ambiente é informal
– as atividades de controle foram desenhadas e implementadas, porém não são documentadas
adequadamente.
88
B= Baixo grau de maturidade – o fundamento não é aplicado na medição, na análise e no
reporte do indicador. O ambiente é imprevisível, e as atividades de controle não foram dese-
nhadas ou não estão implementadas.
89
ANEXO B – Matriz Fundamentos por Indicador – Grau de Maturidade (exemplo)
(continua)
INDICADOR Processos Estrutura Pessoas Sistemas
Políticas e
Procedimentos
Cultura
Organizacional
Valor Econômico Direto
Gerado (EC1)
Ajuda Financeira Significati-
va Recebida do Governo
(EC4)
Consumo de Energia direta
discriminado por fonte pri-
mária (EN3)
Consumo de energia indireta
descriminado por fonte pri-
mária (EN4)
Energia economizada devido
a melhorias em conservação
e eficiência (EN7)
Totais de Retirada de água
por fonte (EN8)
Fontes hídricas significati-
vamente afetadas por retirada
de água (EN9)
Percentual e volume total de
água reciclada e reutilizada
(EN10)
Total de trabalhadores, por
tipo de emprego, contrato de
trabalho e região (LA1)
Número total e taxa de rota-
tividade de empregados, por
faixa etária, gênero e região
(LA2)
Trabalho infantil (HR6)
Trabalho forçado ou análogo
ao escravo (HR7)
90
ANEXO B – Matriz Fundamentos por Indicador – Grau de Maturidade (exemplo)
(conclusão)
INDICADOR
Processos Estrutura Pessoas Sistemas Políticas e
Procedimentos
Cultura
Organizacional
Natureza, escopo e eficácia
de quaisquer programas e
práticas para avaliar e gerir
os impactos das operações
nas comunidades, incluindo a
entrada, operação e saída
(S01)
Posições quanto a políticas
públicas e participação na
elaboração de políticas pú-
blicas e lobbies (S05)
Fases do ciclo de vida de
produtos e serviços em que
os impactos na saúde e segu-
rança são avaliados visando
melhoria, e o percentual de
produtos e serviços sujeitos a
esses procedimentos (PR1)
Tipo de informação sobre
produtos e serviços exigida
por procedimentos de rotula-
gem, e o percentual de pro-
dutos e serviços sujeitos a
tais exigências (PR3)
91
ANEXO C – Matriz Fundamentos por Indicador – Comentários Adicionais (exemplo)
(continua)
INDICADOR Processos Estrutura Pessoas Sistemas
Políticas e
Procedimentos
Cultura
Organizacional
Valor Econômico Direto
Gerado (EC1)
Ajuda Financeira Significati-
va Recebida do Governo
(EC4)
Consumo de Energia direta
discriminado por fonte pri-
mária (EN3)
Consumo de energia indireta
descriminado por fonte pri-
mária (EN4)
Energia economizada devido
a melhorias em conservação
e eficiência (EN7)
Totais de Retirada de água
por fonte (EN8)
Fontes hídricas significati-
vamente afetadas por retirada
de água (EN9)
Percentual e volume total de
água reciclada e reutilizada
(EN10)
Total de trabalhadores, por
tipo de emprego, contrato de
trabalho e região (LA1)
Número total e taxa de rota-
tividade de empregados, por
faixa etária, gênero e região
(LA2)
Trabalho infantil (HR6)
Trabalho forçado ou análogo
ao escravo (HR7)
92
ANEXO C – Matriz Fundamentos por Indicador – Comentários Adicionais (exemplo)
(conclusão)
INDICADOR Processos Estrutura Pessoas Sistemas
Políticas e
Procedimentos
Cultura
Organizacional
Natureza, escopo e eficácia
de quaisquer programas e
práticas para avaliar e gerir
os impactos das operações
nas comunidades, incluindo a
entrada, operação e saída
(S01)
Posições quanto a políticas
públicas e participação na
elaboração de políticas pú-
blicas e lobbies (S05)
Fases do ciclo de vida de
produtos e serviços em que
os impactos na saúde e segu-
rança são avaliados visando
melhoria, e o percentual de
produtos e serviços sujeitos a
esses procedimentos (PR1)
Tipo de informação sobre
produtos e serviços exigida
por procedimentos de rotula-
gem, e o percentual de pro-
dutos e serviços sujeitos a
tais exigências (PR3)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
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