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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Centro de Educação e Humanidades
Instituto de Letras
OS NEOLOGISMOS NAS PUBLICAÇÕES
ESPECIALIZADAS PARA ADOLESCENTES
Simone Nejaim Ribeiro
UERJ
2006
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2
OS NEOLOGISMOS NAS PUBLICAÇÕES ESPECIALIZADAS
PARA ADOLESCENTES
por
Simone Nejaim Ribeiro
Trabalho final apresentado à Coordena-
ção de Pós-Graduação em Letras da Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro,
como requisito para a conclusão do curso
de Doutorado em Língua Portuguesa. O-
rientador: Professor Doutor Claudio Ce-
zar Henriques.
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
semestre de 2006
Banca Examinadora:
Prof. Dr. André Crim Valente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Prof. Dra. Andréa Rodrigues Neylor
Universidade Estácio de Sá
Prof. Dr. Claudio Cezar Henriques (Orientador)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Prof. Dra. Lucia Helena Gouvêa
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Dra. Maria Emília Barcellos da Silva
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Prof. Dra. Bethânia Mariani (Suplente)
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dra. Nícia Verdini Clare (Suplente)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Examinada em 20/ 03 /2006.
Grau: Aprovada com distinção
4
Para:
Meu avô NACIB ANTÔNIO NEJAIM (in
memoriam), pelo amor, orgulho e admiração
que sentia por mim.
Minha avó, que sempre me apoiou e rezou
por mim.
Meus pais, que tanto me incentivaram e me
ajudaram sempre com muito amor.
Meu marido, que sempre me incentivou
com muito amor.
Meus irmãos, amigos com quem sempre
pude contar.
Meu tio Gilberto, que me ajudou bastante
em todos os momentos dessa jornada.
Meu tio Jorge, que sempre rezou e torceu
por mim.
Minha cunhada, Mariana, que me ajudou
muito com seu apoio e dedicação.
Meus alunos e amigos, que direta ou indire-
tamente me deram força.
Meu mestre e amigo Claudio Cezar Henri-
ques, que confiou e acreditou em mim.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter-me iluminado e protegido
em todos os momentos de minha vida.
Aos professores do curso de Doutorado em
Língua Portuguesa do Instituto de Letras da
UERJ, pelos ensinamentos e pela segura o-
rientação.
À Ana Luiza Teixeira Avvad, eterna ado-
lescente, pela ajuda nesta pesquisa.
6
Adolescente
A vida é o bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade que
faz
o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicentemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!
(Mário Quintana)
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SINOPSE
Estudo dos neologismos nas publicações espe-
cializadas em adolescentes, com vista à descri-
ção e à associação dos itens lexicais a aspectos
semânticos, discursivos e estilísticos da língua
portuguesa. A linguagem da juventude e as ca-
racterísticas físicas e psicológicas dessa faixa
etária. A linguagem das publicações voltadas
para os adolescentes. Lexicografia e lexicolo-
gia. Relação entre léxico e desenvolvimento
social. Neologismos. Glossário dos neologis-
mos, com as abonações.
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SUMÁRIO
Lista de abreviaturas e siglas
1 Introdução............................................................................................. p. 11
2 - A linguagem da juventude..................................................................... p. 15
2. 1 - Puberdade e Adolescência.............................................................. p. 16
2.2 - A língua do adolescente: linguagem especial ou gíria?................... p. 28
3 - A linguagem das revistas....................................................................... p. 36
3. 1 - As publicações voltadas para adolescentes........................................ p. 40
4 - Lexicologia e lexicografia...................................................................... p. 42
4. 1 - O xico e o desenvolvimento social.............................................. p. 45
4. 2 - Neologismos.................................................................................. p. 49
5 - Critérios ................................................................................................. p. 80
5. 1 - O corpus........................................................................................ p. 81
5. 2 A organização da nominata........................................................... p. 92
5. 3 A definição dos verbetes ............................................................... p. 94
6 - Glossário........................................................... ...................................... p. 96
7 - Conclusão............................................................................................... p. 177
8 - Referências bibliográficas ..................................................................... p. 181
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
a ...........................adjetivo
adv ....................... advérbio
AEXXI..................Dicionário Aurélio Século XXI
art .......................artigo
cap. ..................... capítulo
cf .........................confira, confronte
compl ..................complemento
conj .....................conjunção
DH ..................... Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
interj ...................interjeição
loc adj ............... locução adjetiva
loc adv............... locução adverbial
loc interj ............ locução interjeitiva
NL ......................neologismo lexical
NLoc ..................neologismo locucional
NS ......................neologismo semântico
num ....................numeral
pejor ...................pejorativo
p.ex. ....................por exemplo
prep ....................preposição
pron ....................pronome
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q.v. ......................queira ver
s2g ....................... substantivo de dois gêneros
sf .........................substantivo feminino
sm .......................substantivo masculino
v ...........................ver
var ........................ variante
vi .......................... verbo intransitivo
VOLP ...................Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
vtd ........................verbo transitivo direto
vtdi .......................verbo transitivo direto e indireto
vti ........................ verbo transitivo indireto
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1 INTRODUÇÃO
A adolescência é uma fase na qual ocorrem mudanças no corpo e na
mente e quando as sensações se alternam desde uma intensa depressão até
a mais profunda felicidade, da total segurança à plena indecisão. O medo
do desconhecido habita as mentes em transição assim como a avidez por
descobertas. Desse modo, é normal que essas condições físicas e mentais
se reflitam na linguagem.
Essas repercussões lingüísticas são variadas, interessando-nos neste
trabalho as que ocorrem no campo do léxico, tema que vem ocupando um
lugar expressivo nos estudos de língua portuguesa. Considerando que essa
é uma fase complexa e de duração prolongada, é importante analisar a in-
fluência que os vocábulos usados por seus representantes exercem nas vá-
rias camadas da sociedade, pois seus termos passam a fazer parte do lin-
guajar cotidiano e podem, até, interferir na comunicação.
A hipótese que aqui defendemos parte da idéia de que a linguagem de
uma faixa etária tão expressiva como a dos adolescentes oferece material
bastante rico para os estudos lingüísticos, o que poderá ser comprovado
por meio de um estudo do seu léxico.
O ponto que se pretende desenvolver focaliza os neologismos presen-
tes no léxico desse grupo, o que se associa a aspectos semânticos, discur-
sivos, gramaticais e estilísticos da língua portuguesa. Para isso, utilizare-
mos como corpus textos escritos publicados na imprensa e destinados a
esse tipo de público especial. Ressalte-se desde já que se trata de uma ma-
nifestação lingüística produzida para o jovem e não do jovem. Isso porque
12
nosso propósito é estudar um registro que caracterize uma espécie de abo-
nação documentada, institucionalizada por escrito, o que não seria possível
com a língua oral.
Foram selecionadas para esse levantamento as revistas Atrevida
(mensal), Capricho (quinzenal) e Todateen (mensal), consultadas de julho
de 2001 a dezembro de 2004, totalizando o quantitativo de 164 publica-
ções. O estabelecimento desse corpus se deu pela coleta dessas fontes, se-
gundo critérios de seleção lexical que se baseiam no confronto com os di-
cionários Aurélio Século XXI, Houaiss e com o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa. No capítulo 5, intitulado Critérios, serão explici-
tados, mais detalhadamente, o levantamento do corpus e a organização dos
verbetes. No decorrer da pesquisa, foi possível perceber que esse corpus
apresenta uma faceta dupla, já que a fronteira existente entre a linguagem
da imprensa e a linguagem do adolescente pode gerar reflexões interessan-
tes na área da linguagem, embora o propósito do presente trabalho não seja
o de fazer essa interface: nosso intuito é estudar o léxico e proceder a um
levantamento dos neologismos encontráveis nesse corpus.
No capítulo 2, intitulado A linguagem do adolescente, serão aborda-
dos conhecimentos que ultrapassam o campo lingüístico, enveredando por
contribuições da Biologia, da Psicologia e da Sociologia. Essa interdisci-
plinaridade faz com que, num primeiro momento, no item Puberdade e
adolescência, abordem-se considerações sobre as características fisiológi-
cas do adolescente associadas aos aspectos psicológicos dessa faixa etária.
Em seguida, o adolescente é situado na sociedade contemporânea, ca-
racterizada pelo “culto à juventude”, cheia de apelos e situações que o fa-
zem agir de determinada maneira e ter uma linguagem característica. Po-
derá ser observado, com isso, que os neologismos encontrados nas publi-
cações especializadas para adolescentes refletem, claramente, a sociedade
13
em que eles vivem e os conflitos que enfrentam.
Ainda nesse capítulo, após definir e situar o adolescente na socieda-
de, retoma-se a visão de língua como fato social. Em decorrência disso,
como o trabalho aborda os neologismos de um determinado grupo, é ne-
cessário definir se a linguagem do adolescente pode ser classificada como
um tipo de gíria ou de linguagem especial. Para tanto, serão vistos os pon-
tos de vista de alguns estudiosos que discutem esse assunto, tentando che-
gar a uma conclusão que melhor se aplique ao caso.
Como os neologismos levantados são provenientes de publicações
voltadas para adolescentes, no capítulo 3 será feita uma abordagem da lin-
guagem usada nas revistas, mais especificamente nas publicações destina-
das a essa faixa etária.
O fato de tratarmos dos neologismos retirados das fontes menciona-
das inclui esse trabalho no âmbito dos estudos lexicológicos e lexicográfi-
cos. Tal fato faz com que o capítulo 4 seja dedicado aos conceitos, objeti-
vos e fatos relacionados à Lexicologia e à Lexicografia. Entram aí as con-
siderações a respeito do léxico, sua relação com a sociedade e sobre o pro-
cesso de criação vocabular cujo produto é o foco de nosso estudo: a neolo-
gia e os neologismos, respectivamente.
No capítulo 5, serão estabelecidos mais detalhadamente os critérios
utilizados para a seleção do corpus, a organização da nominata e a defini-
ção dos verbetes.
No capítulo 6, encontra-se o glossário dos neologismos retirados das
publicações mencionadas, com as respectivas abonações. Esse levanta-
mento, porém, não inclui a descrição pormenorizada dos aspectos social e
regional dessa faixa etária, já que trabalhamos com a linguagem voltada
para o jovem, focalizado aqui com um perfil intencionalmente amplo.
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Nossa pesquisa também se inspira na necessidade de, como educado-
res e pesquisadores, estarmos sempre atentos às novas formões vocabu-
lares e às novas construções gramaticais que envolvem a linguagem dos
adolescentes, com os quais convivemos diariamente e por cuja orientação
lingüística somos responsáveis. Com essa motivação, em vez de enveredar
por levantamentos exaustivos do léxico, da história, da dialectologia ou da
estilística como conteúdos auto-excludentes –, optamos por levar em
conta que, para nossos objetivos, seria mais proveitoso lidar com a contri-
buição dos neologismos voltados para uma determinada faixa etária cuja
linguagem, diferentemente do que se costuma apregoar, muito tem a a-
crescentar à nossa língua.
Pretende-se, então, verificar a riqueza da expressão lingüística dos
adolescentes e sua criatividade, representada pelos neologismos, responsá-
vel por imagens e construções frasais extremamente valiosas no contexto
dos estudos de linguagem e reflexo das condições “biopsicossociais” dessa
faixa etária.
15
2 – A LINGUAGEM DA JUVENTUDE
Tendo em vista que o presente estudo abrange a linguagem de uma
determinada faixa etária – a adolescência –, é importante fazer uma pe-
quena abordagem a respeito dessa fase, normalmente tão conturbada. Isso
porque o lado psicológico dos adolescentes influencia bastante seu modo
de usar a língua, fato percebido mais claramente no xico.
Segundo Mônica Rector, em A linguagem da juventude (1975: 205),
(...) não podemos deixar de reconhecer que a lin-
guagem estudantil é mais concreta, utilitária, rápida
e é a proximidade com a vida objetiva, com a reali-
dade diária, que condiciona a formação de seu vo-
cabulário. É materialista e sentimental, ou seja, as
duas maneiras de ser na realidade imediata. Carece,
pois, de refinamentos formais. Por isso, ocorre a
aceleração na renovação da linguagem.
Diferentemente do trabalho feito por Mônica Rector, este levanta-
mento não leva em conta diferenças diatópicas e diastráticas (com exceção
das relativas à idade), já que o corpus foi recolhido de uma linguagem
produzida para o adolescente. Mesmo assim, podeser observado que,
algumas vezes, as revistas especializadas transcrevem entrevistas nas quais
o jovem tem sua fala apresentada. No entanto, é preciso ter cuidado já que
o jornalista nem sempre transcreve ipsis litteris o que o entrevistado falou.
De todo modo, para organizar um trabalho que examina uma expres-
são lingüística associada ao adolescente, é importante analisar as caracte-
rísticas físicas e psicológicas dessa fase que a tornam o peculiar, in-
clusive no que diz respeito ao vocabulário a ele destinado.
16
2. 1 – PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA
Puberdade e adolescência são dois termos que, muitas vezes, são to-
mados como sinônimos. Entretanto, embora sejam referentes a uma mes-
ma faixa etária, possuem pontos de vista diversos.
A puberdade tem um aspecto biológico e universal, caracterizada por
modificações visíveis, como, por exemplo, o crescimento de pêlos pubia-
nos, auxiliares ou torácicos, o aumento da massa corporal, desenvolvimen-
to das mamas, evolução do pênis, aparecimento da menstruação, etc. Essas
mudanças físicas caracterizam a puberdade, neste caso como um ato bio-
lógico ou da natureza.
Por outro lado, a adolescência se configura como uma atitude cultu-
ral, registrando a postura do ser humano durante uma fase de seu desen-
volvimento, que deve refletir as expectativas da sociedade sobre as carac-
terísticas desse grupo. A adolescência, portanto, corresponde a um papel
social. E esse papel social de adolescente parece sempre ter sido simultâ-
neo à puberdade.
A despeito de parecer para os nossos hábitos algo muito corriqueiro,
o conceito de adolescência como o que se tem hoje em dia, em que é enfa-
tizado o aspecto psicológico do jovem, não era comum quando o termo surgiu.
O Dicionário Houaiss a palavra como do séc. XIV (esno Índice
do Vocabulário do Português Medieval, de A. G. Cunha) e mostra a se-
guinte etimologia: lat. adolescentìa,ae 'adolescência, mocidade, a idade de
mancebo'; ver alt-; f.hist. sXIV adolescencia, sXIV adolecencia, sXV a-
dollacencia.
O enfoque no aspecto psicológico é relativamente recente na nossa
história, tendo surgido no final do século XIX. Pode-se dizer então que a
17
adolescência é uma formulação diferente da puberdade que esta com-
preende o período de mudanças fisiológicas no corpo que fazem o ser hu-
mano adquirir características de um adulto, enquanto a adolescência cons-
titui uma fase que marca a passagem psicossocial da infância para o mun-
do adulto.
Pode-se constatar que a abordagem tardia da vertente psicológica do
termo adolescência talvez se deva ao que se poderia chamar de o “novo
status da juventude”. Esse tema é abordado mais detalhadamente no artigo
da psicanalista Maria Rita Kehl, intitulado “A juventude como sintoma da
cultura” (NOVAES & VANNUCHI, 2004). Segundo a psicanalista,
O prestígio da juventude é recente. “O Brasil de
1920 era uma paisagem de velhos”, escreveu Nel-
son Rodrigues em uma crônica sobre sua infância
na rua Alegre. “Os moços não tinham função nem
destino. A época não suportava a mocidade.” O es-
critor estava se referindo aos sinais de respeitabili-
dade e seriedade que todo moço tinha pressa em os-
tentar, na primeira metade do século XX. Um ho-
mem de 25 anos já portava o bigode, a roupa escura
e o guarda-chuva necessários para identificá-lo en-
tre os homens de 50, e não entre os rapazes de 18.
Homens e mulheres eram mais valorizados ao in-
gressar na fase produtiva / reprodutiva da vida do
que quando ainda habitavam o limbo entre a infân-
cia e a vida adulta chamado de juventude ou, como
se tornou bito depois da década de 1950, de ado-
lescência. (2004: 90)
A autora afirma ainda que, em todas as culturas, a puberdade aparece
como o período de amadurecimento sexual das crianças, marcando a fase
de transição do corpo infantil para o adulto, que tem com função procriar.
Da Grécia clássica às sociedades indígenas brasilei-
ras, o(a) púbere é reconhecido(a) como tal, e a pas-
sagem da infância para a vida adulta é acompanha-
da por rituais cuja principal função é reinscrever
simbolicamente o corpo desse(a) que não é mais
criança, de modo que passe a ocupar um lugar entre
os adultos. Mas o conceito de adolescência, que se
18
estende em certos países até o final da juventude
(hoje em dia não hesitamos em chamar adolescente
a um moço de 20 anos), tem uma origem e uma his-
ria que coincidem com a modernidade e a indus-
trialização. A adolescência na modernidade tem o
sentido de uma moratória, período dilatado de espe-
ra vivido pelos que já não são crianças, mas ainda
não se incorporaram à vida adulta. O conceito de
adolescência é tributário da incompatibilidade entre
a maturidade sexual e o despreparo para o casamen-
to. Ou, também, do hiato entre a plena aquisição de
capacidades físicas do adulto – força, destreza, ha-
bilidade, coordenação etc. e a falta de maturidade
intelectual e emocional, necessária para o ingresso
no mercado de trabalho. O aumento progressivo do
período de formação escolar, a alta competitividade
do mercado de trabalho nos países capitalistas e,
mais recentemente, a escassez de empregos obri-
gam o jovem adulto a viver cada vez mais tempo na
condição de “adolescente”, dependente da família,
apartado das decisões e responsabilidades da vida
pública, incapaz de decidir seu destino. (2004: 91)
Atualmente, vê-se também que crianças assumem, cada vez mais
precocemente, o papel social de adolescentes e estes, por sua vez, cada vez
mais precocemente, assumem o papel social de adultos – que não se con-
funde com as responsabilidades sociais dos adultos. Dando asas à imagi-
nação, parece, salvo melhor juízo, que essa adolescência precoce tem ar-
rastado consigo a puberdade precoce, principalmente a feminina, com me-
ninas de nove e dez anos menstruando e desenvolvendo seios.
Assim sendo, já não podemos explicar a adolescência apenas como
sendo fruto da interferência do fator biológico humano (puberdade) no pa-
pel social de uma pessoa. Muito pelo contrário, acaba-se tendo de explicar
a puberdade precoce de nossas crianças como sendo a interferência do pa-
norama social no biológico humano.
Em 1840, a média de idade em que ocorria a menarca (primeira
menstruação) ficava por volta dos dezesseis, dezessete anos, idade clara-
mente coincidente com o momento da incorporação da adolescente na vida
19
adulta, na responsabilidade do casamento e da procriação.
Diferentemente, hoje em dia, nenhuma família se sentiria à vontade
se a filha de dezesseis anos assumisse responsabilidades matrimoniais. A
despeito disso, aceita-se que esteja integrada plenamente (ou quase) nas
liberdades sexuais do mundo moderno. Hoje, antes de completar treze a-
nos, a jovem já teve a menarca e, aos dezesseis, a família e a sociedade
esperam que ela estude e se prepare, tendo como objetivo se formar profis-
sionalmente e, com isso, encontrar seu papel na sociedade.
A puberdade, período que se refere às mudanças fisiológicas no cor-
po, tem início com a maturação do eixo hipotalâmico-hipofisário-
adrenalgonadal, cuja secreção é transportada pelo sistema endócrino dos
hormônios sexuais. Durante essa fase, a produção e a concentração de
hormônios sexuais no organismo aumentam, causando alterações no cor-
po. Nos dois sexos, a concentração atinge seu nível máximo aos dezesseis
anos; contudo, as meninas iniciam sua puberdade em média aos onze anos,
dois anos antes da idade em que normalmente isso se com os meninos.
Até mesmo os aumentos de peso e de altura ocorrem primeiro nas meni-
nas, o que as torna, aos doze anos em média, mais altas e pesadas que os me-
ninos.
As oscilações na concentração dos hormônios sexuais no organismo
podem causar mudanças de humor. Nas mulheres, os baixos níveis de es-
trógeno provocam depressão. Nos homens, níveis elevados de testosterona têm
sido relacionados com agressão e impulsividade, assim como com a libido e a
manifestação do impulso sexual. Observa-se que, em diversos aspectos, os efeitos
dos hormônios parecem influenciar de forma mais intensa os jovens do sexo
masculino.
No entanto, pode-se afirmar que a puberdade, tanto no menino quanto
20
na menina, não gera apenas mudanças físicas, mas, principalmente, psico-
lógicas. As alterações hormonais tornam a sensibilidade sexual mais agu-
çada e, conseqüentemente, é neste período que muitos adolescentes come-
çam a experimentar as relações sexuais.
Essas alterações hormonais e as eventuais dificuldades de adaptação
às alterações físicas proporcionam momentos de depressão, característicos
dos adolescentes, que se alternam com períodos de intensa energia física,
entusiasmo e muita inquietação. Também é possível observar, em alguns
casos, atitudes de rebeldia, de oposição e de certa irritabilidade. Apesar de
a maioria dos adolescentes ser dependente economicamente dos pais, em
geral eles sentem muita vontade de mostrar a sua própria personalidade e,
assim, formar o seu caráter e sua personalidade.
Durante esse período, os adolescentes costumam ansiar fortemente
por sensações novas, chegando a fumar, a experimentar bebidas alcoólicas
ou a usar drogas, tudo isso como forma de auto-afirmação de sua pseudo-
independência.
Portanto, a puberdade é marcada por significativas mudanças bioló-
gicas e psicossociais (adolescência). É neste momento que ocorre, simul-
taneamente, maior separação do filho em relação aos pais e maior busca de
novos laços afetivos.
Vejamos neste passo a adolescência como um termo que apresenta
diversas definições que mudam de acordo com critérios psicológicos, so-
ciológicos, médicos ou cronológicos. Cronologicamente, a adolescência
costuma ser dividida em três períodos. O inicial vai dos doze aos quatorze
anos; o intermediário, dos quatorze aos dezessete; e o tardio, dos dezessete
aos vinte e um anos. Não se pode, entretanto, generalizar, pois, como
grandes diferenças individuais, essas divisões são arbitrárias.
A Psicologia dedicou um tratamento secundário à adolescência, espe-
21
cialmente quando comparada à infância, que foi bastante estudada por dois
de seus principais teóricos, Piaget e Freud. Para eles, a gênese dos proces-
sos mentais (Piaget) e da psique humana (Freud) estava na infância, de
modo que as origens de falhas nesses processos deviam ser procuradas nos
primeiros anos de vida de uma pessoa.
Freud escreveu sobre a adolescência nos Três ensaios para uma vida
sexual (1905). O último ensaio, “A metamorfose da puberdade”, aborda a
nova finalidade sexual que ocorre na adolescência. Isto porque a sexuali-
dade na infância se caracteriza por um polimorfismo, ao passo que na ado-
lescência há o desenvolvimento dos órgãos genitais, que estão prontos pa-
ra a função de procriar. Desse modo, segundo Freud, o crescimento dos
órgãos genitais externos e dos internos faz com que seja constituído o que
ele chama de um complicado aparato que aguarda a sua utilização. Os e-
feitos dessa espera, no tempo de Freud um pouco mais demorada do que
nos dias de hoje, foram examinados por ele em outros textos em que abor-
dava as conseqüências patogênicas do tabu da virgindade ou a relação en-
tre a moral sexual e a neurose.
Nesses três ensaios, Freud nos revela que na adolescência o comple-
xo de Édipo é intensificado devido ao amadurecimento da sexualidade ge-
nital. Desse modo, o que não foi resolvido no complexo de Édipo infantil
fica em repouso entre os sete e os doze ou treze anos, voltando a produzir
efeitos perturbadores sobre o psiquismo a partir da adolescência. Assim,
na Psicanálise, a crise da adolescência é concebida como um retorno, em
proporções maiores, da crise edipiana.
Jean-Jacques Rassial, um estudioso da adolescência, contemporâneo
nosso, no livro O adolescente e o psicanalista, afirma que o adolescente se
vê “excedido por seu corpo”, sem base para tomar uma atitude, que não
tem sua personalidade formada. Por conta disso, o crescimento físico que
22
acontece nessa fase não é acompanhado na mesma proporção por um a-
madurecimento psíquico, o que leva o adolescente a se valer de objetos-
fetiche, como o sutiã para a menina e o barbeador para o menino, denomi-
nados por Rassial como apêndice do corpo. Esses objetos dão o suporte
para o crescimento que ele reivindica.
Essa análise nos faz reconhecer que, independente da classe social, o
adolescente também possui um lugar de destaque como consumidor seja
potencial, incipiente ou efetivo. Com a expansão dessas condões, uma
conseqüência natural é o oferecimento de produtos voltados para esse pú-
blico-consumidor que busca nesses acessórios objetos que o ajudam na
tarefa difícil de
reinscrever esse novo corpo, estranho até para o
próprio sujeito, nesse lugar também de transição
entre a infância e a vida adulta que ele passa a habi-
tar. Em nossas sociedades laicas, em que faltam ri-
tos de passagem para sinalizar o ingresso na vida
adulta, os objetos de consumo e os espos próprios
para freqüentação adolescente – a lanchonete, o
baile funk, a boate, os megashows de rua substi-
tuem os ritos característicos das culturas pré-
modernas. Os jovens também inventam seus pró-
prios ritos. Penso que o consumo de drogas leves
como a maconha ou a cerveja funciona como prova
ou desafio para decidir a entrada dos novatos em
certos grupos, estabelecendo a linha não só entre os
que são vistos como ainda crianças e os que já se
consideram com um pé na vida adulta. (KEHL,
2004: 95)
Entre os psicanalistas que mais estudaram a adolescência, o nome
de Erik Ericson (1902 – 1994) é um dos mais representativos junto à co-
munidade científica, onde é considerado o “pai do desenvolvimento psi-
cossocial” e “arquiteto da identidade”. Ele desenvolveu o estudo sobre os
oito estágios do desenvolvimento humano, segundo o qual os bebês nas-
cem com algumas capacidades básicas e temperamentos distintos. No en-
tanto, passam por mudanças radicais no caminho até a fase adulta. De a-
23
cordo com Erik Erikson, cada pessoa passa por oito estágios de desenvol-
vimento, denominados por ele de “estágios psicossociais”. Cada estágio é
caracterizado por uma diferente “criseou “conflito” psicológico, que de-
ve ser resolvido por cada um antes de passar para o próximo estágio. Se
uma pessoa não resolver bem uma crise particular, o resultado será que
mais tarde enfrentará essa mesma questão de forma mais difícil. Para Erik-
son, a seqüência dos estágios é determinada pela natureza.
Para ele, o principal conflito no estágio da adolescência situa-se entre
a obtenção da identidade e a confusão de papéis. Sendo a identidade um
senso seguro de si mesmo, de uniformidade e conformidade interior, é na
adolescência que há a expectativa de deixarmos de ser pessoas dependen-
tes para nos tornarmos independentes.
Nessa fase, a necessidade da busca urgente por um senso de identida-
de faz com que sejam determinados os padrões de comportamento. Um
exemplo disso é a formação de pequenos grupos fechados, isto é, forma-
dos por jovens cujas características são comuns. Freqüentemente, essas
associações entre adolescentes assumem dimensões de intolerância e cru-
eldade, principalmente no que se refere à exclusão de outros que são vistos
de alguma forma como “diferentes”, ou seja, como uma espécie de ameaça
à identidade dos membros da associação, que se reforçam mutuamente.
Esse anseio por uma definição de identidade também é realizado na
preocupação constante com o que seus pares irão pensar deles. Isso se
concretiza através da busca por roupas, sinais, gestos, vocabulário e hábi-
tos comuns e pela filiação a ideologias ou grupos considerados radicais
pela sociedade. Daí encontrarmos “tribos” intituladas pelos próprios ado-
lescentes como “roqueiros”, “nerds”, “patricinhas” (ou “paty”), “maurici-
nhos”, “orkuteiros”, “pagodeiros”, “forrozeiros”, entre muitos outros.
Nota-se que até mesmo os primeiros envolvimentos amorosos são
24
bastante marcados pela necessidade de se chegar a uma definição de si
mesmo – talvez mais até do que os impulsos sexuais. Dessa forma, o amor
adolescente busca o senso de individualidade por meio da projeção de uma
auto-imagem em construção em uma outra pessoa.
Essa busca de um sentido de identidade caracteriza-se pelo desejo
que o adolescente possui de se ver livre dos conflitos de papéis ou identifi-
cações contraditórias. Isso pode fazer com que ele chegue ao paradoxo de
preferir uma identidade negativa, ou seja, uma identidade baseada nas i-
dentificações e papéis que lhe foram apresentados como indesejáveis ou
perigosos. Desse modo, o uso de drogas, o envolvimento com atos delin-
qüentes e a prostituição podem ser vistos como a opção por uma identida-
de “inteira”, mesmo que prejudicial, em detrimento da busca por uma i-
dentidade socialmente mais valorizada. O jovem pode julgar esses papéis
marginais mais facilmente desempenháveis do que outros, que, apesar de
mais aceitáveis, são, em sua avaliação, inatingíveis por meio de seus re-
cursos pessoais – especialmente quando vítima de exclusão social.
Note-se ainda que os próprios parâmetros classificatórios da adoles-
cência vêm sendo revistos. Hoje, a Organização Mundial da Saúde consi-
dera adolescentes jovens entre os dez e os vinte anos. Esse período, há até
pouco tempo, era compreendido entre treze e dezoito anos. Isso parece
refletir que boa parte dos jovens insiste em não crescer, em não assumir
tarefas e responsabilidades típicas da fase adulta embora queira desfrutar
de muitos direitos exclusivos dessa fase.
A educadora Tânia Zagury afirma que, mesmo aos vinte anos, o jo-
vem não pode ser considerado adulto, pois não tem condões de respon-
der de forma independente por todos os segmentos de sua vida, tanto no
nível profissional como no afetivo e no financeiro. Para ela, como men-
cionamos anteriormente, as crianças estão entrando mais cedo na puberda-
25
de e demoram mais a chegar à fase adulta. Existem vários fatores que con-
tribuem para esse alongamento da adolescência, os quais dizem respeito à
própria situação atual da nossa sociedade.
Na medida, por exemplo, em que melhoram as
condições alimentares, em especial em termos qua-
litativos, mais cedo se dá o amadurecimento físico
e a conseqüente entrada na puberdade. Apesar das
desigualdades sociais ainda existentes em muitos
países, de uma maneira geral, os estudos indicam
que houve uma melhora alimentar qualitativa para
grande parte da população mundial. Mais gente está
se alimentando – e melhor. Esse fator acarreta nos
organismos das crianças um desenvolvimento e
amadurecimento precoce. (ZAGURY, 2002: 19)
Além disso, há a forte influência da televisão. Os jovens assistem ho-
je, desde muito pequenos, a programas e filmes destinados a um público
adulto, com temas complexos. A exposição freqüente a esse tipo de pro-
gramação faz com que as crianças adotem, precocemente, comportamen-
tos, gestos, posturas, modo de vestir, andar, agir e pensar de pessoas adul-
tas. Devido a isso,
não é à toa que, um belo dia, a mãe de um menino
de quatro anos o surpreende beijando a amiguinha
na boca, a menina de três exibe aos pais e parentes,
boquiabertos, uma dança sensual com trejeitos e
gestos totalmente incompatíveis com a idade, ou
que outra, de dez, sonha fazer um “book”, um ál-
bum fotográfico, no qual pose como uma verdadei-
ra estrela de cinema ou de TV... A TV ensina, mo-
dela comportamentos. Cria pequenos clones de ar-
tistas. E, assim, hoje, nossas meninas, aos quatro,
cinco anos, pintam unhas, lábios, só querem usar
roupas colantes e provocadoras, shortinhos super-
curtos, adotam andar e poses sensuais, enquanto al-
guns meninos insistem em comprar revistas tipo
Playboy, entrar em sites eróticos na Internet etc.
muitas vezes sem ter uma compreensão real do sig-
nificado daquilo que estão fazendo. (ZAGURY,
2002: 20)
26
Isso tudo se reflete, como se sabe, não só no comportamento e nas a-
titudes como também na linguagem, mais especificamente no vocabulário,
que se insere em campos semânticos relativos a relacionamentos amorosos
(namoro, relação sexual, etc.), que há pouco tempo eram típicos da idade
adulta. Nossas crianças, desse modo, vão deixando, ao menos externamen-
te, de ser crianças, pois passam a imitar o que vêem na televisão e no ci-
nema.
Por outro lado, devido às dificuldades e exigências do mercado de
trabalho, os jovens demoram um pouco mais para adquirir a independência
financeira, decorrente de sua formação profissional. Isso ocorre porque
a complexidade da ciência, a extensão de conheci-
mentos em todos os campos do saber têm exigido
um aumento substancial no período necessário à
formação dos profissionais, em especial nas ativi-
dades de nível superior. (ZAGURY, 2000: 21)
Assim, o mundo globalizado e suas altas taxas de desemprego tornam
cada vez mais complexo o acesso a boas posições de trabalho em várias
áreas de conhecimento. Hoje é exigido o domínio de mais de uma língua,
além da língua materna, a habilidade no uso do computador, entre outros
requisitos recomendados para se obter mais qualificação para o mercado
de trabalho de uma sociedade muito competitiva. Por tudo isso, para mui-
tos jovens, a independência financeira demora a chegar e, sem ela, não se
chega à fase adulta.
Outro fato interessante é que, diferentemente das décadas de 60 e 70,
o jovem de hoje o tem pressa de ir embora da casa dos pais. A maior
liberdade dada a eles certamente contribui muito para a falta de vontade de
“ter um cantinho só seu”. Os pais dos adolescentes de hoje o vivencia-
ram o mesmo grau de liberdade de seus filhos e, devido a isso, deram-lhes
27
a liberdade que não tiveram em suas casas. Atualmente, os jovens das
classes mais favorecidas social e economicamente têm seu próprio quarto,
têm o respeito do seu espaço, trazem as namoradas para casa, trancam-se
quando não querem ser incomodados por ninguém. Diante disso, não
necessidade de sair de casa, ter contas para pagar, preocupações com ali-
mentação, compras, roupa suja, faxina. Como decorrência, jovens de vinte
e seis, vinte e sete e, até mesmo, trinta anos continuam, sem pressa alguma, na
casa dos pais, onde têm privacidade e respeito.
Além disso, ressalte-se que, nas classes mais favorecidas, os jovens
não têm obrigação de ajudar em casa; só têm a obrigação de estudar. Ge-
ralmente, quanto maior o nível econômico, menores são suas obrigações e
tarefas. Isso contribui para retardar o amadurecimento e, conseqüentemen-
te, para alongar a adolescência. Ainda de acordo com Tânia Zagury, cabe
aos pais e aos educadores a tarefa de encurtar esse período ou de, pelo me-
nos, evitar que ele se estenda mais do que o necessário ou se eternize, co-
mo tem sido observado em alguns casos.
Tendo em vista que tais mudanças físicas e psicológicas são caracte-
rísticas dessa fase tão conturbada – e, agora, prolongada – de nossas vidas,
a análise do comportamento lingüístico do adolescente, fortemente influ-
enciado pelos fatos abordados, é também uma tarefa que se reveste de es-
pecial interesse. E o primeiro ponto a investigar quanto a isso é definir se a
expressão lingüística que representa esse tipo específico de grupo pode ser
considerada gíria ou linguagem especial.
2. 2 – A LÍNGUA DO ADOLESCENTE: linguagem especial ou gíria?
Sendo este um estudo que envolve aspectos lingüísticos e sociais,
relembremos a visão da língua como um fato social e façamos também
uma distinção entre linguagem especial e gíria que abordamos os neo-
28
logismos presentes nas publicações voltadas para o adolescente. Para isso,
tomaremos por base o artigo escrito por Celso Cunha em 1941, “Em Torno
dos Conceitos de Gíria e Calão” (PEREIRA, 2004: 237-262).
Podemos afirmar que nas linguagens especiais encontramos fatores
psicológicos e sociais, entre outros, que agrupam as pessoas de acordo
com a profissão, a religião, as atividades esportivas, etc. Tais grupos se
expressam através do sistema lingüístico comum a todos, fazendo uso de
certas particularidades expressivas e representativas desse sistema.
Sabemos que a gíria dá um novo significado a formas já existentes ou
que tenham sido alteradas nesse sistema lingüístico comum. O objetivo da
gíria é não se fazer entender por quem não pertence a um determinado
grupo. Logo, ela pretende manter a identidade e a consciência de um gru-
po social específico.
Por isso, a diferença básica entre a gíria e a linguagem especial está
no paradoxo existente entre a originalidade e o anonimato. Ou seja: a cria-
ção de termos e expressões pode servir ao desejo de o se fazer entender
por estranhos ao grupo, mas a esse objetivo pode-se acrescentar a natural
necessidade de auto-afirmação desse mesmo grupo, o que o levaria a bus-
car meios de imposição de sua expressão lingüística. De sua parte, a co-
munidade geral tende a receber essas inovações também de forma antagô-
nica, demonstrando sentimentos de conservadorismo e de curiosidade. Es-
tamos assim diante de um dos mecanismos mais interessantes no que tan-
ge à evolução da língua.
Diz Celso Cunha que:
Em todos os grupos humanos organizados, desde o
momento em que adquirem a consciência de sua
unidade, os que não pertencem ao círculo, os não
iniciados, passam a ser vistos como profanos. E é
justamente daí que decorre o antagonismo entre a
ação uniformizadora da sociedade geral, procuran-
29
do estagnar a língua, pela resistência da inércia co-
letiva a toda invenção lingüística, e a ação dos gru-
pos particulares tentando diferenciá-la, principal-
mente quando se trata de um grupo mais ou menos
fechado e autônomo. (2004: 244)
O autor acrescenta que a linguagem especial pode passar à gíria sob
certas condões especiais, ou seja,
desde o momento em que deixe de ser uma prote-
ção involuntária do grupo, mas no instante em que
este, tomando consciência do caráter enigmático de
sua linguagem, passe a usá-la voluntariamente, em
ocasião oportuna, como arma não só de defesa mas
também de ataque aos profanos. (IDEM)
Para Dino Preti, em A gíria e outros temas, a criação de uma lin-
guagem especial pode
não apenas atender ao desejo de originalidade mas
também servir a finalidades diversas, como, por e-
xemplo, ao desejo de se fazer entender apenas por
indivíduos do grupo, sem ser entendido pelos de-
mais da comunidade, de onde advém seu caráter
hermético.
A partir do momento em que essa linguagem espe-
cial serve ao grupo como elemento de auto-
afirmação, de verdadeira realização pessoal, de
marca original, ela se transforma em signo de gru-
po. Foi o caso, por exemplo, nos idos de 60, da lin-
guagem dos “hippies”, com vocabulário, fraseolo-
gia e até formas de chamamento específicas, em
flagrante oposição ao uso da comunidade. Ou tam-
bém, em certos casos, em todas as épocas, da lin-
guagem dos estudantes das grandes universidades,
dos militares, dos marginais do crime, dos vende-
dores ambulantes etc.
Essa oposição ao uso provoca, de imediato, duas
reações diversas na comunidade: a primeira, de crí-
tica, de condenação, porque ela infringe os padrões
lingüísticos, opõe-se agressivamente à tradição,
mantida em especial pela escola; a segunda, de cu-
riosidade, dado que toda e qualquer reação às re-
gras sociais vigentes causa admiração, e o uso res-
trito evoca hábitos, atitudes, atividades pouco coe-
rentes e, muitas vezes, contestatórias. (1984: 2-3)
30
Como se vê, toda ria é uma linguagem especial, mas nem toda lin-
guagem especial é obrigatoriamente uma gíria, o que se poderia condensar na
definição dada por Zélio dos Santos Jota (1976: 154), ou seja, a gíria é uma
"linguagem especial de conteúdo expressivo vigente em um grupo social".
Continuando no caminho das referências acerca desse termo, exami-
nemos mais alguns depoimentos sobre o verbete "gíria".
[gíria é] em sentido lato, [a] linguagem especial de
um grupo social ou classe profissional; em sentido
restrito, linguagem particular de um grupo caracte-
rizada por deformações intencionais, criões anô-
malas, transformações semânticas, de caráter bur-
lesco, jocoso ou depreciativo. (LUFT, 1973: 91)
[num sentido lingüisticamente] mais técnico: repre-
senta exclusivamente uma forma de língua na qual
o léxico específico está ligado a um grupo social,
ou porque o grupo tem uma vida fechada (a ria
politécnica), ou porque ele elaborou uma língua se-
creta que o protege (a gíria dos malfeitores, a gíria
dos mercadores, comerciantes).
1
(MOUNIN, 1993: 40)
[a gíria é uma] variedade lingüística compartilhada
por um grupo restrito (por idade ou por ocupação),
que é falada para excluir da comunicação as pesso-
as estranhas e para reforçar o sentimento de identi-
dade dos que pertencem ao grupo.
2
(CARDONA,
1991: 159)
Essas definições confirmam o vínculo entre “gíria” e “grupo”, o que
também se retoma nas palavras de Preti (1984: 3), para quem a gíria se
caracteriza por um “vocabulário especial’ e “surge como um signo de gru-
po, a princípio secreto, domínio exclusivo de uma comunidade social res-
trita”, que pode ser – segundo seus exemplos a dos marginais, da polícia,
1
il désigne exclusivement une forme de langue dont le lexique spécifique est lié à un groupe social, soit
parce que le groupe a une vie fermée (l'argot de Polytechinique), soit parce qu'il a élaboré une langue
secrète qui le protège (l'argot des malfaiteurs, l'argot des maquignons). (MOUNIN, 1993:40)
2
Variedad lingüística compartida por un grupo restringido (por idad o por ocupación) que es hablada
para excluir a las personas ajenas de la comunicación y para reforzar el sentimiento de identidad de los
que pertencen al grupo. (CARDONA, 1991: 159)
31
dos estudantes ou de outros grupos e profissões. Em seguida, alerta que:
quanto maior for o sentimento de união que liga os
membros de pequeno grupo, tanto mais a lingua-
gem gíria servirá como elemento identificador, di-
ferenciando o falante na sociedade e servindo como
meio ideal de comunicação, além de forma de auto-
afirmação. (IDEM)
Frise-se também que, de um modo geral, a criação dessas línguas es-
peciais atende a uma necessidade do falante, que emprega vocábulos que
dão mais clareza a um conceito ou que designam significações novas.
Observando o xico das línguas especiais, vê-se que ele é organizado
pela formação de novos vocábulos, a partir de elementos da língua co-
mum, por meio de significação nova, ou pelo uso de estrangeirismos. En-
contramos também muitos casos de elipse e de troca de classe gramatical,
o que serve de excelente material para a comprovação da vitalidade da lín-
gua. Além disso, mesmo nas vezes em que os vocábulos originais ou os
oriundos de línguas estrangeiras não são entendidos da forma como deve-
riam, isso não impede sua utilização, ainda que foneticamente alterada ou
adaptada pela pronunciação. Como esses vocábulos são utilizados por
muitas pessoas, acabam sendo incorporados com as eventuais modifica-
ções provocadas pelo princípio do menor esforço ou da economia de ener-
gia ou pela analogia.
A gíria é, portanto, derivada de contribuições variadas da língua co-
mum, incorporando arcaísmos, neologismos, aspectos estilísticos, mudan-
ças sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam o objetivo de tornar
uma linguagem irreconhecível. No entanto, como o termo gíria pode ter
também uma conotação negativa, a maneira de falar específica de um gru-
po profissional pode receber a denominação de "linguagem especial" ou
"tecnoleto" ou "microlíngua", conforme suas características intrínsecas.
32
Além disso, muitos estudiosos e teóricos vêem a gíria como o con-
junto de expressões pertencentes ao linguajar popular e aos modismos
de certas épocas.
Assim, se for seguida a tendência de considerar a linguagem especial
dos adolescentes um modo de comunicação que se destina somente aos
iniciados, aqueles que estão a par de seus significados simbólicos, ela será
tomada como gíria. A esse respeito, é interessante observar o fato de mui-
tas revistas se especializarem em assuntos que envolvem os gostos e inte-
resses dos adolescentes, formando um público especial, que conhece os
termos usados. Sob este prisma, somente esse blico iniciado entenderia,
a princípio, tal linguagem. Apesar disso, embora inicialmente restrita a um
pequeno grupo, muitas vezes ela passa a fazer parte da língua cotidiana.
Por isso, é natural a oscilação entre considerar ou o a "língua do adoles-
cente" um caso de gíria, pelo menos no que tange às definições técnicas
desse termo. Como a gíria está em contato com a língua comum, muitas de
suas leis são iguais às da língua comum, com diferenças apenas no léxico.
A propósito, a definição de Lázaro Carreter para gíria mostra de que
forma o enquadramento rigoroso da linguagem do adolescente como gíria
ou como língua especial é tarefa pouco confortável:
Língua especial de um grupo social diferenciado,
usada por seus falantes apenas enquanto membros
desse grupo social. Fora deste, falam a língua ge-
ral.
3
(1974: 251).
Por esse conceito, a língua do adolescente não é gíria porque pretende
atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo, a fim de incor-
porá-las a ele. Todavia, não deixa de ser gíria porquanto, fora do universo
3
Lengua especial de un grupo social diferenciado, usada por sus hablantes sólo en cuanto membros de
ese grupo social. Fuera de él hablan la lengua general. (CARRETER, 1974: 251)
33
do adolescente, seus falantes adotam a língua geral.
Essas definições confirmam que o termo "gíria" pode ser tomado ou
empregado de maneiras variadas, o que também se depreende das palavras
de Mattoso Câmara Jr.:
Em sentido estrito, uma linguagem fundamentada
num "vocabulário parasita que empregam os mem-
bros de um grupo ou categoria social com a preo-
cupação de se distinguirem da massa dos sujeitos
falantes" (Marrouzeau, 1943, 36), o que correspon-
de ao que também se chama JARGÃO. Os vocábu-
los da gíria ou jargão coexistem ao lado dos vocá-
bulos comuns da língua: "a gíria só se torna tal por-
que se projeta num fundo de tela que não é gíria"
(Krapp, 1927, 64); ela abrange o vocabulário pro-
priamente dito e a fraseologia. A origem pode estar
em: - a) derivações anômalas (ex.: bestialógico, da
gíria dos estudantes), b) deformação de vocábulos
usuais (ex.: brilharetur, idem), c) metáforas ou me-
tonímias (ex.: burro, idem, para um texto grego ou
latino com tradução literal), d) especialmente digna
de nota a gíria dos malfeitores, designada como ca-
lão. Há gírias em classes e profissões não só popu-
lares, mas também cultas, sem qualquer intenção de
chiste e petulância, que comumente caracteriza as
primeiras; mas em todas há uma atitude estilística.
Quando se trata de mero vocabulário técnico, sem
essa atitude, tem-se a LÍNGUA ESPECIAL, como
a dos médicos baseada em helenismos técnicos. Em
sentido lato, a gíria é o conjunto de termos que,
provenientes das diversas gírias em sentido estrito,
se generalizam e assinalam o estilo na linguagem
coloquial popular, correspondendo aí ao papel da
ngua literária na linguagem ptica. Amplia-se
com o uso de termos obscenos ou pelo menos gros-
seiros para a expressão de uma violenta linguagem
afetiva. (1986: 127)
No caso dos adolescentes, citando a situação específica da lingua-
gem dos estudantes, assim se expressa nica Rector:
A “gíria” dos estudantes é uma linguagem especial,
própria de um grupo social e etário. Trata-se de
termos e expressões que se referem a uma determi-
nada atividade. No caso dos estudantes, a lingua-
34
gem empregada tem a intenção de fazer com que
não sejam compreendidos, principalmente pelos
professores, e sejam identificados como alunos. As-
semelha-se ao que I. Iordan (p. 632-34) chama de
“argot”: a) pertence a uma categoria social determi-
nada, a um grupo de indivíduos que, ao lado da gí-
ria, usam a língua comum, e b) pode ser utilizada
com a finalidade de não ser compreendida pelas
pessoas que não pertencem ao respectivo grupo.
Tem a intenção de “impressionar” e “chamar a a-
tenção” dos não iniciados, sobretudo por parte dos
universitários. (1975: 101)
Dino Preti também faz menção à giria usada pelos jovens:
A chamada gíria jovem, linguagem de grupo restri-
to, com seu vocabulário herdado, em parte, das co-
munidades marginais (da própria gíria dos malan-
dros, ou da antiga gíria dos “hippies”), tornou-se
um signo grupal bem definido na sociedade moder-
na das grandes cidades, onde o jovem já passou, de
fato, a ser classe social, muito mais que simples
faixa etária da população. Nestas últimas décadas,
mais que nunca, essa linguagem espelha com fide-
lidade o conflito das gerações.
Aliás, essa gíria reflete bem certa feição catártica da
linguagem das classes marginais, entendendo-se
por estas não apenas os marginais do crime propri-
amente ditos (malandros, punguistas etc.), mas
também grupos intelectuais, como estudantes uni-
versitários, por exemplo, pequenas comunidades
muito preocupadas em ditar hábitos lingüísticos o-
riginais (e, por isso, sempre renovados). (1984: 3-4)
Deve-se ressaltar, no entanto, que os termos adolescentes e estudan-
tes, embora aproximados pelo contexto escolar e pela prática pedagógica
mais usual, não podem ser tomados como sinônimos.
Portanto, para os objetivos a que nos propomos, será adotada aqui a
posição de que a linguagem do adolescente é um caso particular de lin-
guagem especial, pois contém características da gíria, mas, ao mesmo
tempo, se insere nas relações comunicativas com a língua comum. Fora do
rigor técnico, pode-se todavia classificá-la como gíria ou jargão, enten-
35
dendo-a como um conjunto de expressões estilísticas de cunho popular.
36
3. A LINGUAGEM DAS REVISTAS
O vobulo “revista” está assim explicado no Dicionário Houaiss:
Substantivo feminino (1833 cf. Antônio Geraldo da
Cunha) COMUNICAÇÃO JORNALÍSTICA publi-
cação periódica, destinada a grande público ou a
um público específico, que reúne, em geral, maté-
rias jornalísticas, esportivas, econômicas, informa-
ções culturais, conselhos de beleza, moda, decora-
ção etc. [Algumas revistas destinam-se a um públi-
co especializado, assumindo, portanto, um determi-
nado formato: jornalístico, científico, literário, es-
portivo etc.] - ETIMOLOGIA tradução do inglês
review 'publicação periódica dedicada principal-
mente a críticas e ensaios'; ver vid- - SINÔNI-
MO/VARIANTE ver sinonímia de resenha - CO-
LETIVO hemeroteca - HOMÔNIMO ver
1
revista
Vê-se, por essas palavras, que as revistas fazem parte da mídia im-
pressa e são formas muito populares, cujo número de leitores é difícil de
ser estimado. A pessoa que as adquire tem em sua família e nos amigos
outros leitores potenciais. Além disso, essas revistas estão normalmente
disponíveis em lugares públicos, como nas salas de espera dos consultó-
rios médicos, nos salões de cabeleireiros, nas ante-salas de escritórios e
empresas, etc. Ao contrário dos jornais, que perdem sua utilidade informa-
tiva no dia seguinte à sua publicação, as revistas têm vida menos efêmera.
Nelas, há ainda um outro aspecto que, no caso dos títulos destinados
ao público adolescente, favorece sua aceitação e, na maioria das vezes,
preferência em relação a outras publicações impressas: seu layout.
Geralmente, as revistas destinadas a adolescentes são bastante colori-
das, com notícias e artigos polêmicos e com ídolos ou personalidades ve-
37
neradas por essa faixa etária. A maneira como o dispostos os artigos,
os desenhos, as fotos... tudo é estrategicamente escolhido para despertar
a atenção do público-alvo.
Sobre isso, Linda McLoughin, em The Language of Magazines diz:
A capa é a mais importante propaganda de uma re-
vista, mas também serve para rotular quem a com-
pra. ‘A imagem da capa e as chamadas das matérias
de uma revista são ferramentas de persuasão para a
venda. Eles motivam os leitores – confrontados
com prateleiras de capas disputando sua atenção – a
comprar nossas revistas e não as outras’.Essa cita-
ção da carta do editor da Tatler mostra a grande
competição que os produtores de texto enfrentam.
Não é bobagem, então, pensar que eles fazem de
tudo para que suas revistas saltem de suas pratelei-
ras. É através de truques de linguagem que isso é
atingido, mas imagens visuais, layout e grafologia
também têm um papel importante. A capa de uma
revista nos ajuda a distinguir uma da outra e, embo-
ra elas estejam mudando constantemente para vari-
ar e se manter em dia, mantêm traços suficientes
para marcar suas identidades.
4
(2000: 5)
Confirma-se que a capa e o layout de uma revista caracterizam tam-
bém quem a lê, e a linguagem usada nos textos das revistas voltadas para
os adolescentes não apenas reflete o modo de falar dessa faixa etária mas
também, ao mesmo tempo, pode ser formadora de opinião, já que se apro-
xima bastante de seu público-alvo.
Além disso, é importante considerar a variedade no tamanho dos arti-
4
The front cover is the magazine’s most important advertisement but it also serves to label its posses-
sor. (...)‘A magazine’s front-cover image and coverlines are persuasive selling tools. They motivate
readers – confronted with shelves of front covers competing for their attention – to buy our magazine
rather than another.’ This quote from the editor’s letter of Tatler acknowledges the vast competition
which text producers face. It is little wonder then that they go to great lengths in order to make their
particular magazine jump out at us from shelves. It is through tricks of language that this is chiefly
achieved, but visual images, layout and graphology also play their part. The cover of the magazine helps
us to distinguish one magazine from another and although they are constantly changing in order to create
variety and to keep up-to-date, they retain sufficient features to mark out their own identity. (McLOU-
GHLLIN, 2000: 5)
38
gos, nas imagens vinculadas a eles e na disposição em que se encontram
em uma página. Tudo isso tem um papel importante no apelo de uma re-
vista. No caso específico dos adolescentes, esse tipo de apelo é fundamen-
tal para despertar o interesse.
Quanto à linguagem utilizada nas revistas, pode-se constatar que ela
influencia ou determina o modo de se perceber o mundo. Sendo assim,
quem escreve os artigos apresenta um determinado ponto de vista e pre-
tende que os leitores sigam suas idéias e seu modo de perceber o mundo.
A partir disso, vê-se que os jornalistas que escrevem para as revistas
manipulam diferentes aspectos da linguagem para darem ao assunto abor-
dado credibilidade e, assim, conquistar o leitor.
Então, é pertinente enfatizar que o que interessa, neste trabalho, é
averiguar como o vocabulário é trabalhado nas revistas e na mídia impres-
sa destinada a adolescentes. De um modo geral, pode-se afirmar que a lin-
guagem da mídia impressa encabeça as transformações e as mudanças de
aceitabilidade social das palavras. Segundo Dino Preti, no artigo “Varia-
ção lexical e prestígio social das palavras”, isso pode ser observado no que
diz respeito à gíria e aos vocábulos ou expressões obscenas, que
ganham maior aceitabilidade em gêneros jornalísti-
cos, como os cartuns e seções humorísticas, ou em
programas televisivos, em que se procuram repre-
sentar certos tipos populares, aliando sua imagem e
situação de comunicação a seu vocabulário de fundo
expressivo e emocional. (2003: 56)
Para Preti, na passagem da língua oral para a escrita, o caso mais
expressivo e generalizado de mudança de prestígio social das palavras o-
corre com a gíria, que teve seu uso demasiadamente ampliado. Inicialmen-
te, o vocabulário gírio era restrito a grupos fechados; no entanto, foi sendo,
aos poucos, incorporado ao léxico comum. Pode, a princípio, ocorrer um
39
estranhamento, mas a reiteração do uso faz com que diminua ou desapare-
ça o eventual desconforto que aquele termo ou emprego pede provocar.
Uma etapa seguinte consiste na sua incorporação às variadas situações na
fala espontânea, passando a aparecer nos jornais, artigos, manchetes, revis-
tas, etc.
Atente-se também para o fato de que no Brasil há um espaço privi-
legiado para a língua oral, na qual é permitido fugir ao controle de certas
regras prescritivas, mais específicas da escrita. Por causa disso, a tendên-
cia da oralidade é distanciar-se das construções mais conservadoras, atra-
vés da adoção de formas não previstas nessas normas.
Segundo Mary A. Kato, em No Mundo da Escrita: uma perspectiva
psicolingüística,
A avalanche do uso oral ao lado do uso relativa-
mente insignificante da escrita pode fazer com que,
a longo prazo, as formas do oral venham afetar as
formas da escrita. O que se está prevendo aqui é
que, se nas sociedades altamente letradas as pessoas
procuram simular a escrita na fala, em um país co-
mo o Brasil, a força da oralidade marca a própria
escrita (...), havendo necessidade de um policia-
mento cada vez mais consciente por parte do escri-
tor, se ele quiser seguir os padrões institucional-
mente aceitos. (2002: 40)
Amesmo os falantes letrados mostram essa primazia do oral. Isso
é observado, por exemplo, quando há uma certa preferência em procurar
uma informação oral em lugar de se consultar um guia, um manual, regi-
mentos, leis, enciclopédias, livros técnicos. Por isso, segundo Mary A. Ka-
to, é comum ouvirmos que o Brasil é o país dos assistentes técnicos, dos
assessores técnicos, e dos advogados – incluem-se aqui, obviamente, os
consultores gramaticais.
Esse fato é muito importante quando tratamos de revistas voltadas
40
para uma determinada faixa etária – no caso, a dos adolescentes –, pois a
língua registrada em suas ginas esfortemente impregnada de traços da
oralidade que identifica seus leitores preferenciais.
3.1 AS PUBLICAÇÕES VOLTADAS PARA ADOLESCENTES
Normalmente, a linguagem dos jovens é analisada com o objetivo
crítico de julgá-los falantes incompetentes ou de criticar a escola. Os jor-
nais e a mídia em geral têm voltado, porém, sua atenção para ouvir os ado-
lescentes e procurar valorizar a fala de sua faixa etária, vendo-a (e ven-
dendo-a) como uma linguagem criativa e de algum prestígio social, consi-
derando os limites de seu grupo e as situações em que se envolvem.
Isso pode explicar por que surgiram tantas publicações voltadas para
adolescentes
5
, que refletem a linguagem usada por eles. Daí a ressalva
que fizemos na introdução a respeito do fato de ter-se optado neste traba-
lho pelo estudo de uma linguagem para o adolescente. É importante lem-
brar que nessas publicações há, com freqüência, entrevistas com adoles-
centes, onde é captada a sua própria linguagem.
Vê-se, pela análise dessas revistas, que o jovem tem consciência de
que fala uma linguagem diferente da usada por seus pais e professores, por
exemplo, e orgulha-se disso. Observa-se, aí, que para esse grupo sua vari-
ante é dotada de enorme prestígio social, pelo menos do ponto de vista
5
Nas bancas de revistas no Rio de Janeiro, por ocasião do início desta pesquisa, o mero habitual de
revistas destinadas a adolescentes ficava em torno de dez títulos.
41
prático de sua conversação.
Falar uma linguagem que os “coroas” e os “caretas” não entendem
faz com que o adolescente se sinta orgulhoso. E é nesse momento que a
mídia jornalística entra, divulgando vocábulos e expressões dos adolescen-
tes, tidas a princípio como de baixo prestígio social ou estranhas, mas que
por conta dessa “promoção” acabam ingressando na linguagem espon-
tânea dos falantes em geral, assumindo outros níveis de prestígio social.
Diante dessa propagação do vocabulário dos jovens, acabam-se en-
contrando em jornais e revistas voltados para o público adulto muitas des-
sas expressões que ganham aceitabilidade social e passam a fazer parte
não só do discurso falado mas também do escrito.
Como já foi dito, o mundo moderno valoriza a juventude. Todos bus-
cam uma forma de permanecerem jovens, seja fisicamente, com a procura
por medicamentos e procedimentos cirúrgicos; psicologicamente, com a-
dultos tendo comportamento de adolescentes; ou socialmente, por meio da
maneira de se vestir e de falar. Isso explica o fato de encontrarmos mães e
pais tentando falar e se vestir como seus filhos, no intuito de não dar mos-
tras de sua idade ou de seu “desajuste” com a juventude. Enfim, constata-
se hoje, no que diz respeito à linguagem, uma grande divulgação do voca-
bulário do jovem em todas as camadas da sociedade.
42
4. LEXICOLOGIA E LEXICOGRAFIA
Trabalhar com neologismos é enveredar pelo campo do léxico e, em
conseqüência, estabelecer relações com outras áreas de conhecimento. Isso
porque enquanto a gramática se constitui em um sistema fechado, compos-
to por um número limitado de elementos, o léxico – com certa fixidez de
longo prazo – se estabelece em um sistema aberto, ilimitado, onde a cria-
ção individual é uma prática habitual. No léxico, entretanto, juntamente com
a relativa estabilidade de alguns termos, uma renovação rápida de outros.
Pode-se dizer que as palavras se distribuem no léxico por campos
semânticos e por famílias léxicas. Ao se estudarem fatos de natureza lexi-
cal, analisa-se, na realidade, a relação do homem com o mundo em que
vive, na medida em que ele se utiliza dos signos para estabelecer a comu-
nicação. Maria Emília Barcellos da Silva, no artigo “Competência e pers-
pectivas dos estudos de base lexical”, ressalta o que move o interesse pelos
estudos lexicais:
O interesse pela competência e perspectivas dos es-
tudos léxicos decorre do fato inconteste de que a
ngua se vale dos recursos de natureza léxica – no
seu sentido o mais amplo – para cumprir os propó-
sitos comunicativos dos grupos humanos, que, ao e
por se realizarem, atendem as exigências das trans-
formações de ordem social lato sensu, lançando
mão dos processos de ampliação vocabular que o
conta da aquisição e alteração a que o signo se
submete por força de pressões fônicas e semânticas
com as quais se ritualizam as pressões de uso de-
correntes da interação de sociedades postas frente a
frente, em que pese estarem, não raro, insertas em
estádios civilizatórios diferenciados. (In: OLIVEI-
RA, & ISQUERDO, 1998: 115)
43
As definições de xico não envolvem conceitos contraditórios como
vimos com a palavra gíria, mas contemplam igualmente graus distintos de
amplitude, como nos lembram Othon Moacyr Garcia, em Comunicação
em Prosa Moderna, Mário Vilela, em Léxico e Gramática, e Maria Teresa
Biderman, no artigo “A estrutura mental do léxico”, publicado nos Estu-
dos de Filologia e Lingüística.
O léxico é um conjunto de vobulos de um idio-
ma, e, como tal, ordinariamente empregado como
sinônimo de “dicionário”, que é um “repertório a-
berto”, quer dizer, capaz de se enriquecer sempre
(com neologismos, por exemplo). Mas, à luz de
correntes lingüísticas mais em voga, “léxico” pode
até, em certo sentido, opor-se tanto a “dicionário”
quando compreende apenas o elenco das palavras
utilizadas por um autor, uma ciência ou uma técni-
ca – quanto a “vocabulário”, pois o léxico, lato sen-
su, pertence à língua (“langue”), ao passo que o vo-
caburio pertence ao discurso (“parole”). (GAR-
CIA, 1988: 199)
O léxico é, numa perspectiva cognitivo-
representativa, a codificação da realidade extralin-
güística interiorizada no saber de uma dada comu-
nidade lingüística. Ou, numa perspectiva comunica-
tiva, é o conjunto de palavras por meio das quais os
membros de uma comunidade lingüística comuni-
cam entre si. Tanto na perspectiva da cognição-
representação como na perspectiva comunicativa,
trata-se sempre da codificação de um saber parti-
lhado (= shared knowledge). (VILELA, 1995: 13)
O léxico pode ser considerado como o tesouro vo-
cabular de uma determinada língua. Ele inclui a
nomenclatura de todos os conceitos lingüísticos e
não-lingüísticos e de todos os referentes do mundo
físico e do universo cultural, criado por todas as
culturas humanas atuais e do passado. Por isso, o
léxico é o menos lingüístico de todos os domínios
da linguagem. Na verdade, é uma parte do idioma
que se situa entre o lingüístico e o extralingüístico.
(BIDERMAN, 1981: 138)
Tendo em vista as muitas formas de se tomar o léxico como objeto de
44
pesquisa, diz-se que cabe à Lexicologia o estudo científico da unidade le-
xical enquanto geradora e representante de um recorte específico. Nesse
caso, a Lexicologia não tem como função inventariar todo o material in-
cluído no léxico, mas dar um suporte teórico e delinear as linhas que coor-
denam o léxico de uma língua. Tem como função, portanto, apresentar as
informações sobre as “unidades lexicais necessárias à produção do discur-
so e caracterizar a estrutura interna do léxico, tanto no aspecto conteúdo,
como no aspecto forma” (VILELA, 1994: 10).
Nesse sentido, é preciso não esquecer que a Lexicologia faz fronteira
com a semântica, já que, ao se ocupar do xico e da palavra, leva em con-
sideração a dimensão significativa. A Lexicografia estuda a descrição da
língua feita pelos dicionários, a elaboração de dicionários, o que se concre-
tiza por meio dos conhecimentos fornecidos pela Lexicologia. Mas pode
também ser definida como o estudo da cnica de elaborar dicionários. Se-
gundo Ieda Maria Alves, em Neologismo: criação lexical (1994), a Lexi-
cografia está no domínio da Lexicologia e tem o objetivo de organizar e
analisar os dicionários. Para a autora, a confecção dos dicionários cabe à
dicionarística, cujos métodos baseiam-se nos princípios da Lexicologia e
da Lexicografia.
A Lexicografia é uma atividade antiga e tradicional. No Ocidente,
remonta aos princípios dos tempos modernos, tendo tido como precursores
os glossários latinos medievais, obras que se resumiam a listas explicati-
vas para o auxílio do leitor nos textos bíblicos e da antigüidade clássica.
Quanto à língua portuguesa, pode-se dizer que a Lexicografia nasceu dos
vocabulários bilíngües que confrontavam o latim e as línguas vulgares. Os
primeiros dicionários relevantes em língua portuguesa são o Vocabulário
Português-Latino, de Rafael Bluteau, obra bilíngüe em oito volumes (pu-
blicada entre 1712 e 1728), e o Dicionário da Língua Portuguesa, de An-
45
tônio de Morais Silva (1ª ed. 1789; ed. 1813).
Francisco da Silva Borba aponta um duplo aspecto pelo qual a Lexi-
cografia pode ser vista:
(i) como técnica de montagem de dicionários, ocu-
pa-se de critérios para a seleção de nomenclaturas e
ou conjunto de entradas, de sistemas definitórios,
de estruturas de verbetes, de critérios para remis-
es, para registro de variantes etc; (ii) como teoria,
procura estabelecer um conjunto de princípios que
permitam descrever o léxico (total ou parcial) de
uma língua, desenvolvendo uma metalinguagem
para manipular e apresentar as informações perti-
nentes. (2003: 15)
Lembramos, por fim, que os produtos lexicográficos, em sua essên-
cia, são descrições “incompletas” da língua, já que o léxico não está fe-
chado. Na verdade, quando se termina de confeccionar um dicionário, pa-
lavras novas com certeza já terão surgido.
4.1. O LÉXICO E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Língua e sociedade mantêm uma relação bastante estreita. Muitos es-
tudiosos já abordaram essa interação de variadas maneiras. Utilizaremos,
aqui, os pontos de vista Mikhail M. Bakhtin, Erving Goffman e Émile
Benveniste.
Para analisar a influência da transformação social na linguagem, de-
ve-se escolher que falantes estarão envolvidos. Isso porque, dependendo
da faixa etária, há uma abertura maior ou menor às mudanças e transfor-
mações lingüísticas e sociais. Os falantes mais velhos apresentam uma re-
sistência maior às mudanças, ao passo que os mais jovens estão mais aber-
46
tos às novidades. Quando analisamos, portanto, a linguagem dos adoles-
centes, vemos mais facilmente a marca das transformações sociais e lin-
güísticas de uma determinada época presentes na sintaxe, na fonética e,
mais fortemente, no léxico, parte da língua mais sensível às mudanças –
palavras surgem e envelhecem muito rápido.
É importante, antes de tudo, termos consciência de que o falante pos-
sui uma competência lexical que abrange, como diz Margarida Basílio,
três aspectos:
a) conhecimento de uma lista de entradas lexicais;
b) o conhecimento da estrutura interna dos itens le-
xicais, assim como relações entre os vários itens;
c) o conhecimento subjacente à capacidade de for-
mar entradas lexicais novas (e, naturalmente, re-
jeitar as agramaticais). (1980: 9)
A partir disso, podemos afirmar que o falante de uma língua se utili-
za de uma lista que compreende não palavras mas também afixos, desi-
nências, que não constituem palavras. Sendo assim, o falante tem interna-
lizado o léxico mental, “formado por toda e qualquer forma lingüística que
a pessoa conhece ou utiliza.” (ROCHA, 2003: 75) Cabe, portanto, ao lin-
güista explicitar, por meio de técnicas adequadas, as formas utilizadas in-
tuitivamente pelo falante. Devido a essa competência lexical, o léxico de
uma língua pode ser constantemente renovado.
Nesse sentido, o xico é a parte mais dinâmica da língua, pois é nele
que se configura lingüisticamente o que há de novo. É nele que se refletem
mais claramente as mudanças científicas, políticas, econômicas, culturais e
sociais. Por isso, Biderman nos diz que “o léxico de qualquer língua cons-
titui um vasto universo de limites imprecisos e indefinidos” (1978: 139).
Isso pode ser comprovado através de mudanças semânticas, de emprésti-
mos e de formação de palavras a partir de elementos da própria língua.
Daí, Mario Vilela afirmar que
47
a urgência em serem satisfeitas as necessidades de
comunicação e expressão dos falantes, a exigência
em configurar o que de novo surge na comunidade
e a necessidade em manter a sistematicidade da lín-
gua, são as maiores forças que se manifestam no
léxico. (1994: 14)
Bakhtin abordou essa interação e descreveu como as enunciações são
organizadas a partir do exterior, isto é, do social, e não do interior, ou seja,
da própria língua. Goffman, posteriormente a Bakhtin, chamou a atenção
para a importância da situação social. Para ele,
é quase impossível citar uma variável social que
quando surge não produz um efeito sistemático so-
bre o comportamento lingüístico: idade, sexo, clas-
se, casta, país de origem, geração, região, escolari-
dade; pressuposições cognitivo-culturais, bilin-
güismo e assim por diante. (1998: 11)
Voltando então ao caso específico do léxico do adolescente, mesmo
que seja através de publicações que o têm como alvo preferencial – logo,
um léxico para esse público –, podem-se notar fatos que demonstram mu-
danças e transformações sociais de uma determinada época.
Como lembra Émile Benveniste, a língua e a sociedade mantêm entre
si uma relação semiótica de interpretante (língua) e interpretado (socieda-
de). Nesse caso, pode-se dizer que a língua contém a sociedade, já que a-
quela explica (diz) esta. Para o autor,
a língua engloba a sociedade de todos os lados e a
contém em seu aparelho conceitual, mas ao mesmo
tempo, em virtude de um poder distinto, ela confi-
gura a sociedade instaurando aquilo que se poderia
chamar de semantismo social. (...) O vocabulário
fornece aqui uma matéria muito abundante, de que
se servem historiadores da sociedade e da cultura.
(1989: 100)
A esse respeito, Bakhtin explicita mais claramente a relação língua-
48
sociedade e reconhece a via de mão dupla que as liga quando afirma que
“a língua penetra na vida através de enunciados concretos que a realizam e
é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua”
(1992: 282).
Diante do que diz Benveniste, pode-se concluir que o léxico é o nível
lingüístico em que a relação língua-sociedade é mais explícita. No entanto,
como ressalta o autor, não se pode examinar o léxico fora de sua enuncia-
ção. A língua, desse modo, deve ser analisada em relação à sua realidade
social.
Os testemunhos que a língua dá deste ponto de vis-
ta [do vocabulário] só adquirem seu valor se eles
forem ligados entre eles e coordenados à sua refe-
rência. Existe aí um mecanismo complexo cujos
ensinamentos é preciso interpretar prudentemente.
O estado da sociedade numa época dada não apare-
ce sempre refletido nas designações de que ela faz
uso, pois as designações podem muitas vezes sub-
sistir quando os referentes, as realidades designadas
mudaram. (...) O que se chama polissemia resulta
desta capacidade que a língua possui de subsumir
em um termo constante uma grande variedade de
tipos e em seguida admitir a variação da referência
na estabilidade da significação. (BENVENISTE,
1989: 100)
Beth Brait, no artigo “Interação, gênero e estilo”, reporta-se às pala-
vras de Bakhtin, que também se posicionou a esse respeito, defendendo a
idéia de que, “durante o processo de elaboração de um enunciado”, nossas
escolhas lexicais nem sempre são feitas a partir “do sistema da língua, da
neutralidade lexicográfica” (In: PRETI, 2002: 155).
Costumamos tirá-la de outros enunciados, e, acima
de tudo, de enunciados que estão aparentados ao
nosso pelo gênero, isto é, pelo tema, composição e
estilo: selecionamos as palavras segundo a especifi-
cidade de um gênero. (IDEM)
49
Essas afirmações sobre a relação arbitrária entre designação e refe-
rente são antigas, mas relevantes para um trabalho que envolve a análise
do léxico, que só poderá ser interpretado adequadamente se for analisado
dentro do contexto em que foi enunciado, isto é, a partir da sua enuncia-
ção, da relação enunciado-enunciação. Isso significa que, no caso do le-
vantamento dos neologismos presentes nas publicações voltadas para os
adolescentes, terá relevância a passagem textual em que foram emprega-
dos, de modo a propiciar o entendimento do contexto em que foram enun-
ciados. assim, poder-se-á analisar melhor sua formação e seu significado.
4.2 NEOLOGISMOS
Como falantes de uma língua, temos a impressão de que ela é estáti-
ca. Essa aparência, no entanto, não é gratuita. Segundo Martinet,
Tudo conspira para convencer os indivíduos da i-
mobilidade e homogeneidade da língua que prati-
cam: a estabilidade da forma escrita, o conservan-
tismo da língua oficial e literária, a incapacidade
em que se encontram de se lembrarem de como fa-
lavam dez ou vinte anos antes. (1975: 177)
Tal situação ocorre por dois motivos. Um deles deve-se ao fato de os
elementos da língua estarem em sincronia, isto é, apresentarem-se em um
estado de língua onde se apreende uma estrutura. O outro decorre de o fa-
lante estar sincronizado com sua língua a ponto de não percebê-la em mo-
vimento, já que a continuidade da língua se confunde com sua própria con-
tinuidade enquanto sujeito histórico (COSERIU, 1979: 208). Dessa forma,
dentro de um estado de língua encontramos alternativas que sugerem ca-
minhos a serem ou não seguidos dentro de um falar que possa ser compre-
50
endido numa comunidade linística. Pode-se dizer, assim, que há uma
dinamicidade na língua que faz com que ela “se faça” e “se realize” com o
passar do tempo.
Os estados da língua não são estáticos: fazem parte da própria siste-
matização da língua, que apenas aparentemente é inerte. Deve ficar claro,
contudo, que a mudança de que se fala não corresponde às que ocorrem
nos seres vivos que nascem, crescem e morrem. Na verdade, como diz Co-
seriu, “os objetos culturais têm desenvolvimento histórico e não evolu-
ção’ como os objetos naturais” (1979: 157).
Por conta desse desenvolvimento hisrico, tudo admite mudança
numa língua – o que Martinet assim explica:
Tudo pode mudar numa língua: a forma e o valor
dos monemas, ou seja, a morfologia e o léxico; a
ordem dos monemas no enunciado, quer dizer, a
sintaxe; a natureza e condições de emprego das u-
nidades distintivas, isto é, a fonologia. Aparecem
novos fonemas, novas palavras, novas construções,
enquanto outras unidades e maneiras de dizer dimi-
nuem de freqüência e caem no esquecimento.
(1975: 177)
Vê-se assim que, nesse processo de mudança lingüística, há o que se
chama de inovação, isto é, tudo aquilo que se afasta dos modelos existen-
tes na língua. Dependerá dos falantes da língua a aceitação, a adoção dessa
inovação, fato que levará à mudança na língua. Essas fases (inovação, a-
doção e mudança) confundem-se pela simples razão de que, quando to-
mamos consciência da inovação, ela já foi adotada pelos falantes e, portan-
to, já ocorreu a mudança.
Não se pode, contudo, chegar ao indivíduo criador da inovação nem
ao momento em que ela ocorreu. Segundo Saussure, as inovações devem-
se à coletividade dos indivíduos, à massa falante. Isso acontece, obviamen-
te, devido às mudanças de ordem social que não são observadas indepen-
51
dentemente dos indivíduos. Na verdade, as modificações sociais são feitas
pelos indivíduos. Fato análogo se verifica com as mudanças lingüísticas.
Este trabalho enfocará, como se mencionou, a dinamicidade dessas
mudanças no léxico, que se deve, como diz Antônio Pio de Assunção Ju-
nior, em Dinâmica xica Portuguesa, aos
ltiplos processos responsáveis pela criação e a-
quisição de novos signos e significados; pela alte-
ração de significantes tradicionais e, ainda, pela se-
leção de significados e significantes equivalentes,
ocorrências que, sob inspiração naturalista, se tem
resumido, metaforicamente ou não, como “vida e
morte” das palavras. (1986: 23)
Na verdade, é a partir das necessidades comunicativas dos falantes
que ocorre a evolução de uma língua, e elas se devem ao desenvolvimento
social, intelectual e econômico da comunidade lingüística.
De modo a atender às transformações socioeconômicas e culturais, a
língua se vale da criação de novos termos ou de novos significados para
termos já existentes. Esse fenômeno recebe o nome de neologia, processo
de criação lexical cujo produto é o neologismo. A palavra nova pode ser
formada através de mecanismos da própria língua, por empréstimo ou por
processos autóctones.
Ieda Maria Alves, no artigo “Os conceitos de neologia e neologismo se-
gundo as obras lexicográficas, gramaticais e filológicas da língua portugue-
sa”, afirma que as primeiras atestações do termo neologismo, de acordo com
Guiraud, mostram-nos que o vocábulo alemão Neologimus e em seguida o
inglês neologism designaram durante muito tempo uma nova doutrina, se-
gundo a qual se devia “confiar apenas na razão e admitir nos dogmas religio-
sos somente o que ela reconhece como lógico e adequado, de acordo com a
nova luz (lumière nouvelle).” (In: HORTA & PETTER, 2002: 203)
52
O Dicionário Houaiss da língua portuguesa data o termo neologismo
no português em 1813 e neologia, em 1858. Nele, o verbete neologismo
recebe as seguintes informações:
Substantivo masculino. (1813 cf. no Diccionario da
Lingua Portugueza (3ª edição), por Antônio de Mo-
rais e Silva) LINGÜÍSTICA 1 emprego de palavras
novas, derivadas ou formadas de outras já existen-
tes, na mesma língua ou não 2 atribuição de novos
sentidos a palavras já existentes na língua - ETIMO-
LOGIA neologia + -ismo; ver ne(o)- e -logia - ANTÔ-
NIMO arcaísmo - HOMÔNIMO neologismo (flexão:
neologismar)
Além de neologia e neologismo, o DH consigna os termos neológico,
neólogo, neologista, neologismar, neologizante, neologizar.
José Pedro Machado, no Dicionário etimológico da língua portugue-
sa, informa que o termo português neologismo é atestado no século XVIII,
em Filinto Elísio. Antônio Geraldo da Cunha, no Dicionário Etimológico
Nova Fronteira da Língua Portuguesa, consigna que neologia é de 1858;
neologismo, do século XVII; neologista, de 1881 e nlogo, de de 1858,
mesma datação apresentada no Dicionário Houaiss da ngua portuguesa.
Ieda Maria Alves expõe outras informações sobre a origem e os sig-
nificados dos termos neologismo e neologia:
Em francês, néologisme nasceu no século XVIII pa-
ra designar uma afetação mundana quanto à manei-
ra de expressão e o termo néologie, alguns lustros
depois, foi criado para designar a arte de inovar se-
gundo o progresso das idéias (DEROY, 1971, p. 5).
Jean Guiraud (...) especifica os primeiros empregos
de néologue, em carta datada de 06-11-1723, escri-
ta por J. –B. Rousseau ao abade d’ Olivet; néologi-
que, em Dictionnaire néologique, publicado em
1726 por Pierre-François Guyott Desfontaines e Je-
an-Jacques Bel; néologisme, em ennuyeux persi-
flage et lê néologisme (Lê pour et contre), vol.6, p.
1735; néologien, sinônimo efêmero de néologue,
em Le sage (La valise trouvée), datado de 1740 (In:
53
HORTA, José Nunes. & PETTER, Margarida,
2002: 203)
Lembra a autora que o termo neologismo aparece no Diccionario da
lingua portugueza (1813, vol. 2, p. 340), de Morais Silva, com a definição
de “uso freente de palavras novas”.
O Grande diccionario portuguez ou Thesouro da lingua portugueza,
de Frei Domingos Vieira (1871-4, vol. 4, p. 425), tem, em sua introdução,
escrita por Adolpho Coelho, uma referência à neologia:
Ao passo que as linguas perdem palavras muitas
novas vão apparecendo n´ellas. O neologismo é
uma outra phase da sua metamorphose. Em cada
uma das linguas modernas há hoje milhares de pa-
lavras que em vão se buscarão nos escriptores dos
seculos precedentes. Essas palavras saem ou 1) do
fundo de cada lingua, isto é, são produzidas por no-
vas combinações de seus elementos proprios, ou 2)
são tiradas já formadas das linguas classicas ou
produzidas pelas combinações d´elementos princi-
palmente d´essas linguas (o grego e o latim), o que
se dá principalmente na technologia scientifica, ou
3) são introduzidas das outras linguas modernas.
(Adolpho Coelho, 1871-4, vol. 1, p. XXV) (In:
HORTA, José Nunes. & PETTER, Margarida,
2002: 204)
Outros dicionários, como a 1edição de Morais Silva (1949-59, vol.
7, p. 246) e o Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa, de
Laudelino Freire (1957, vol. 4, p. 3592), não fazem distinção entre neolo-
gismo e neologia, colocando-os como sinônimos.
Na obra de Caldas Aulete (1970, vol. 4, p. 2491), há a distinção entre
neologia e neologismo. Além disso, são introduzidos os verbetes neologo-
fobia (sentimento de aversão ao neologismo) e neologofilia (a doutrina do
neologófilo, aquele que gosta de neologismos).
Os termos neologia e neologismo também aparecem nas obras de
muitos gramáticos e filólogos do Brasil e de Portugal, muitas vezes, em
54
oposição a arcaísmo. Nessas obras, é enfocado o fato de neologismos e
arcaísmos serem frutos da necessidade de grupos sociais.
O conceito de neologia, relativo a todos os fenômenos novos que a-
tingem uma língua, foi definido em termos lexicais por Louis Guilbert
(1975: 31) como “a possibilidade de criação de novas unidades lexicais,
em razão das regras de produção incluídas no sistema lexical”. Ele tam-
bém inclui no estudo da neologia os empréstimos lingüísticos.
Para Guilbert, o neologismo é imperiosamente solicitado e qualquer
um pode criar palavras novas, independente de elas se tratarem de desco-
bertas científicas, de progressos da indústria, de modificações da vida so-
cial, de momentos de pensamento, de maneiras de se sentir ou compreen-
der, entre outros fatos. Na obra La Creativité Lexicale, o autor nos apre-
senta quatro tipos de criatividade lexical: denominativa, criação neológica
estilística, neologia da língua e poder gerador de certos elementos consti-
tuintes.
No que diz respeito ao primeiro tipo, Guilbert se refere às criações
decorrentes da necessidade de nomear novas realidades provenientes, na
maioria das vezes, dos avanços tecnológicos, como por exemplo na infor-
mática, na saúde, na política, na economia. A criação neológica estilística
diz respeito aos neologismos encontrados na linguagem literária, tornando
o texto altamente expressivo. O terceiro tipo engloba os neologismos en-
contrados na linguagem coloquial para traduzir momentaneamente uma
idéia. O quarto tipo é referente a palavras novas formadas por elementos
históricos de uma língua – no nosso caso, oriundos do latim e do grego.
Outro importante autor que estudou a neologia foi Jean-Claude Bou-
langer, que definiu neologismo da seguinte maneira:
Um neologismo é uma unidade do léxico, palavra,
lexia ou sintagma, cuja forma significante ou a re-
lação significante / significado não estava realizada
55
no estágio imediatamente anterior de um determi-
nado sintagma.
6
(1971: 65)
No artigo Neologia e tecnoletos (In: OLIVEIRA & ISQUERDO,
1998), Ieda Maria Alves comenta que, através da história das línguas, é
possível observar que a incorporação de unidades lexicais neológicas sem-
pre acompanhou o desenvolvimento do acervo lexical dos idiomas. Devi-
do a isso, os estudos sobre neologia, especialmente no século XX, refletem
a importância dada ao fenômeno neológico no âmbito lexical.
É Nelly Carvalho quem afirma que, quando se fala em neologismo,
temos sempre como referência os conceitos de mudança, evolução, novi-
dade, novo, criação, surgimento, inovação. E acrescenta:
Além de testemunhar a criatividade e a imaginação
fértil de seus falantes, os neologismos têm profunda
ligação com as manifestações do mundo exterior e
as mais diversas áreas de conhecimento. (1987: 9)
O fato é que, a partir da década de 50, surgem trabalhos, em francês,
que abordam o neologismo de forma sistemática. Isso reflete, na verdade,
a possibilidade de se acompanhar o desenvolvimento dos métodos de aná-
lise estrutural e da Lexicologia enquanto subárea da Lingüística. Em sin-
tonia com essa afirmação, Ieda Alves reporta-se às palavras de Jean Du-
bois, em Le vocabulaire politique et social em France de 1869 a 1872:
Embora o progresso da lingüística sincrônica e dos
métodos de análise estrutural permita um conheci-
mento mais completo dos fenômenos lexicais e a
utilização de meios técnicos aperfeiçoados imprima
mais segurança às conclusões da Lexicologia, a
6
Un néologisme est une unité du lexique, mot, lexie on syntagme, dont la forme signifiante on la rela-
tion signifiant-signifié, supposant un fonctionnement effective dans un modêle de communication de-
terminé, n’était pas réalisée au stade immediatement antériem du code de la langue. (BOULANGER,
1971: 65)
56
própria definição de seus princípios e de seus ter-
mos essenciais ainda sofre hesitações e incertezas
inerentes a uma ciência no início de seu desenvol-
vimento. (In: OLIVEIRA & ISQUERDO, 1998:
23)
O primeiro trabalho de cunho lexicológico dedicado ao estudo da ne-
ologia, La formation du vocabulaire des chemins de fer em France, de Pe-
ter Wexler, foi publicado em 1950. A partir desse trabalho pioneiro, que
descreve a formação, em francês, do vocabulário das ferrovias, surgiram
outros como: Le vocabulaire politique et social em France de 1869 a
1872, de Dubois; La formation du vocabulaire de l aviation, de Guilbert;
Le vocabulaire de l astronautique, também de Guilbert. Nesses estudos, o
vocabulário técnico ou científico é descrito morfológica e semanticamente,
através do estudo dos processos de formação que constituem as novas uni-
dades lexicais e também as relações semânticas.
Para Ieda Maria Alves, a atividade neológica passa a refletir, com es-
ses estudos, as duas vertentes vinculadas à Lexicologia, disciplina de cará-
ter estrutural: Morfologia e Semântica Lexical. A autora observa ainda
que, a partir da década de 70, o conceito de neologia, que até então se re-
feria apenas aos aspectos lingüísticos da formação de novas unidades lexi-
cais, passou a ser polissêmico, em razão das poticas de planejamento lin-
güístico que passaram a circular por várias comunidades lingüísticas.
A neologia estabelece, assim, relações mais estrei-
tas com a Terminologia, já que o ato de nomear
começa também a ser realizado no âmbito de uma
perspectiva de planejamento e de intervenção lin-
güísticas. (In: OLIVEIRA & ISQUERDO, 1998:
24)
Por causa disso, Jean-Claude Boulanger apresenta atribuições con-
temporâneas para o conceito de neologia. Ieda Alves refere-se a elas e cita
atividades como:
57
- processo prático de criação de novas unidades le-
xicais, na língua geral ou nos tecnoletos, por meio
do recurso consciente ou inconsciente aos meca-
nismos de criatividade lexical habituais de uma lín-
gua;
- estudo teórico e aplicado relativo às inovações le-
xicais: os processos de criação, os critérios de reco-
nhecimento, aceitabilidade e difusão de neologis-
mos, os aspectos sociais e culturais da neologia;
- atividade institucional, organizada sistematica-
mente para coletar, registrar, difundir e implantar as
inovações lexicais, no âmbito concreto de uma polí-
tica da língua;
- tarefa de identificação dos setores especializados
novos ou recentes, ou com lacunas que necessitam
de intervenção;
- relação com os dicionários, tanto gerais unilíngües
como específicos (dicionários de neologismos, de
palavras selvagens, de empréstimos...). (In: OLI-
VEIRA & ISQUERDO, 1998: 25)
Comparando os neologismos da língua comum e os dos tecnoletos,
Ieda Maria Alves (In: OLIVEIRA & ISQUERDO, 1998) mostra que os
dois conjuntos possuem pontos em comum, mas divergem em alguns as-
pectos. No caso da língua comum, “os neologismos constituem unidades
lexicais, as unidades do léxico geral da língua.” Diferentemente, nos tec-
noletos, os neologismos “constituem elementos que integram uma termi-
nologia”, empregada no texto como o “conjunto dos termos que representa
um sistema de conceitos de uma subárea particular” (Norme ISO 1087) .
Os neologismos tecnoletais surgem de uma criação motivada, devido
a uma necessidade de denominação pertencente ao desenvolvimento das
ciências e das técnicas. Por isso, há regras que são seguidas na criação
desses neologismos. Isso faz com que eles reflitam um caráter normativo e
relativamente estável na língua.
Os neologismos criados no âmbito de um tecnoleto
pertencem a uma rede conceitual. Desse modo exis-
te, idealmente, uma relação unívoca entre a desig-
nação e o conceito dos neologismos tecnoletais, re-
58
lação essa que determina o caráter denotativo e in-
ternacional desses elementos: o mesmo conceito é
distintamente denominado, sob forma de equivalen-
tes, nas diferentes línguas. A relação idealmente u-
nívoca entre designação e conceito não impede, en-
tretanto, que variações lexicais também sejam ob-
servadas nos tecnoletos, possibilitando que criações
lexicais de caráter sinonímico possam corresponder
a um único conceito.
No que diz respeito à formação, tanto na língua ge-
ral como nos tecnoletos, são os mesmos os proces-
sos que presidem à criação de novos elementos: de-
rivação, composição, transferência semântica, trun-
cação, formação sintagmática e por siglas, emprés-
timos oriundos de outros sistemas lingüísticos. (In:
OLIVEIRA & ISQUERDO, 1998: 26)
Voltando ao conceito de neologismo na língua comum, observa-se,
nos estudos mais recentes, que sua definição vem sempre vinculada a uma
tipologia: neologismos formais, semânticos, de vocábulo, de significação,
de sentido, completos, incompletos, estrangeiros, intrínsecos e extrínsecos,
científicos, literários, populares.
Independente da tipologia, o importante é notar que nos neologismos
encontra-se o verdadeiro retrato da sociedade de uma determinada época.
Neles estão presentes novidades no que diz respeito à economia, à política,
aos esportes, à arte, à tecnologia, à faixa etária. A criação neológica reflete
a dinâmica de uma língua e a liberdade que os falantes possuem.
Com relação à faixa etária, um dos casos mais produtivos é o da lin-
guagem dos adolescentes. Para eles, a criação de palavras novas ou de sig-
nificados novos para palavras antigas reforça o desejo de auto-afirmação e
de não se fazer entender pelos que o pertencem ao seu grupo.
Assim, o neologismo empregado em texto destinado ao adolescente
faz com que, num primeiro momento, a mensagem pareça comprometida
com sua linguagem, explicitando uma cumplicidade entre o texto e o leitor.
A contribuição que os neologismos dão à ngua já foi confirmada por
59
muitos estudiosos que se dedicaram ao seu estudo. A leitura desses traba-
lhos mostra a coerência dos critérios aqui adotados na organização do cor-
pus de neologismos dos adolescentes.
Em primeiro lugar, reconheçamos o interesse despertado pelo estudo
dos neologismos, inclusive no que tange a sua classificação como “um ví-
cio de linguagem”. Desde a época de José de Alencar até a de Rui Barbo-
sa, os neologismos foram estigmatizados por gramáticos e filólogos. De
acordo com o artigo De neologismos”, de Edith Pimentel Pinto, publica-
do na Revista Confluência IV,
Sobressaem nesse grupo, além do pontífice Castro
Lopes, alguns nomes que, por seu prestígio, forma-
ram a opinião dominante, como Júlio Ribeiro, Eduar-
do Carlos Pereira, João Ribeiro e Maximino Maciel.
Quase todos esses e outros gramáticos renomados
da época praticamente só tratam de neologismos
culturais importados, considerando-os como “vícios
de linguagem”: “Os neologismos não passam de
deturpadores da língua” (Júlio Ribeiro, Gramática
Portuguesa, p. 353), Eduardo Carlos Pereira, cuja
influência no ensino gramatical cobre toda a pri-
meira metade do século, nas sucessivas edições de
sua Gramática expositiva jamais deixou de incluir
os neologismos entre os “vícios de linguagem”,
deixando, assim, de acusar a desativação do puris-
mo, que se esgotou durante esse período. Limitou-
se a justificar o emprego de neologismos quando
necessários para a expressão de idéias novas e
quando são bem formados, isto é, de acordo com o
“gênio da língua” as regras do sistema – como
se verificava nos vobulos então recentes: fer-
roviário, ferrovia, bisar. Em contrapartida, re-
jeitava certos francesismos recentes, a seu ver e-
vitáveis, como avançar, comitê, constar, deboche,
debutar, departamento, detalhe, fuzil, fuzilar, go-
vernante, interdito, sucesso, toalete (Op.cit., p.
251). Abria exceção, contudo, para os fixados
no léxico da língua, como audacioso, bandido,
boné, crachá, conduta, comportamento, dege-
lar, emoção, envelope, felicitação, garantir, ga-
rantia, isolado, imbecil, jornal, pretensioso,
ponto de vista, rotina, regressar, susceptível.
(Ib., loc. cit.) (PINTO: 26)
60
No mesmo artigo, a autora distribui os neologismos em dois grupos,
os culturais e os literários. Distingue-os, a um tempo, por sua gênese,
seu modo de circulação e sua finalidade textual. Para a autora, são neolo-
gismos culturais aqueles que têm o uso coletivo como referencial, “fonte,
meio de circulação e base de projeção, no âmbito da língua escrita” (p.
25). Os neologismos literários, ou estilísticos ou de autor, são os que têm
como referencial seu criador, em função da língua escrita, na qual, comu-
mente, “eles vicejam e morrem, sem atingir o uso coletivo” (p. 25). Pi-
mentel ressalta que, embora João Ribeiro (Gramática portuguesa Curso
Superior, p. 363) não condenasse expressamente os neologismos, também
incluía entre os “vícios de linguagem” os francesismos e os anglicismos.
Entretanto, no seu Dicionário Gramatical, considerava admissíveis os ne-
ologismos que acontecessem por necessidade e se não implicassem abuso
de formações por derivação.
Maximino Maciel, em sua Gramática descritiva, fala em neologis-
mos técnicos, literários, populares e semânticos e aponta a moda, a influ-
ência e a criação de algum objeto como responsáveis pela criação dos neo-
logismos, que representavam, para ele, uma forma de reposição vocabular,
cujo intuito seria compensar o desgaste provocado pelo envelhecimento e
desuso das palavras. Devido à sua linha de pensamento evolucionista, Ma-
ximino Maciel (1912) considerava que havia “duas grandes leis da Biolo-
gia”: a assimilação, correspondendo aos neologismos, e a desassimilação,
aos arcaísmos.
A censura gramatical feita aos neologismos literários, desde Alencar,
inibia os escritores. Somente os neologismos culturais decorrentes dos a-
vanços tecnológicos, da ciência e da filosofia eram capazes de romper essa
barreira. O mesmo acontecia com as palavras novas vindas da Europa,
principalmente francesismos. Os puristas preferiam recuperar arcaísmos a
61
aceitar os neologismos.
Com o tempo, mais especificamente a partir do Modernismo, ficou
claro que os neologismos literários têm um grande valor expressivo e po-
dem surgir a qualquer momento, no texto oral e no escrito, a despeito da
indiferença de alguns gramáticos que restringem esse assunto para os ma-
nuais de estilística.
Na Gramática secundária de Said Ali, de 1923, os neologismos de
importação eram tratados em uma parte intitulada “Sintaxe e estilística” e
eram justificados pelo fato de serem úteis por não haver expressões portu-
guesas para dizerem a mesma coisa.
Sousa Lima, em sua Gramática expositiva da ngua portuguesa, de
1937, trata do assunto no capítulo Da importação de palavras”, quando
aborda a constituição do xico português. O autor justifica essas importa-
ções na história da língua, contanto que sejam obedecidas as regras de
formação de palavras.
Evanildo Bechara, na edição de 1961 da Moderna gramática da n-
gua portuguesa, tratava dos neologismos em um “Apêndice”, mas os situ-
ava entre os “Vícios e anomalias da linguagem”, considerando-os conse-
qüência de um processo natural de assimilação cultural, condenados quan-
do desnecessários, por encontrarem vocábulos equivalentes no vernáculo.
na 37ª edição (revista e ampliada), de 2003, Bechara aborda rapi-
damente os neologismos na parte intitulada “Estrutura das unidades: análi-
se mórfica”, no item “Formação de palavras do ponto de vista constitucio-
nal”. O tema, que é abordado sob o título “Renovação do léxico: criação
das palavras”, apresenta os neologismos como “as palavras que vêm ao
encontro dessas necessidades renovadoras” (2003: 351), diferente dos ar-
caísmos, que se colocam em lado oposto a esse movimento criador. Os
empréstimos lingüísticos, citados como uma das fontes de renovação lin-
62
güística, são mencionados no mesmo capítulo, mas encontram-se detalha-
damente explicitados no “Apêndice”, entre os “Vícios e anomalias de lin-
guagem”.
A Gramática normativa da ngua portuguesa de Rocha Lima (1989)
não aborda o assunto no âmbito gramatical. Não há menção alguma aos
neologismos, nem mesmo no capítulo intitulado “Rudimentos de estilística
e poética”. O mesmo acontece na Nova gramática do português contem-
porâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra (1985), onde o tema também
não é abordado.
Voltemos então ao que diz Edith Pimentel em suas conclusões sobre
essas constatações históricas, pois coincidem com o que também consta-
tamos nas obras de referência que consultamos. Esses levantamentos mos-
tram que, no que diz respeito aos neologismos, as criações de autores (os
neologismos literários) não sofrem maiores restrições, por se circunscreve-
rem aos domínios da estilística. Quanto aos neologismos culturais, especi-
almente os de importação, constata-se que foram perdendo espaço, che-
gando a desaparecer das gramáticas.
Outro ponto que nos importa são os mecanismos de que se vale o u-
suário da língua para criar o neologismo. Antônio José Sandmann, em
Morfologia Lexical, explica que uma língua como a portuguesa se serve de
três recursos para ampliar seu vocabulário: dois marginais e outro central
ou sico.
Os recursos secundários utilizados são o emprésti-
mo de outras línguas e a criação por assim dizer do
nada. A formação de palavras que acabamos de
chamar de “criação do nada” é, na verdade, uma
criação apenas a partir de fonemas ou sílabas e não
de palavras ou morfemas já existentes na língua. É
um recurso extremamente raro, sendo prova disso o
fato de, em seguidos anos de pesquisa, só termos
encontrado uma forma: tititi, diz-que-diz-que, me-
63
xerico (Jornal do Brasil, 14/12/84, 1º Caderno, p.
11, coluna 3), em que temos a repetição da sílaba
semanticamente vazia ti formando um vocábulo
onomatopaico, sendo que apenas à palavra plena se
pode atribuir significado. (1992: 22)
Sobre os empréstimos, tipo mais produtivo do que o caso “gratuito”
citado acima, Sandmann subdivide-os em “adaptados (líder, do ingl. lea-
der) e não-adaptados”, sendo que essa não-adaptação pode ser só ortográ-
fica (show), fonológica e ortográfica (joint venture) ou morfossintática
(campi, plural de campus). E acrescenta ainda estas particularidades de
ocorrência:
Há empréstimos lexicais, isto é, sem tradução /
substituição de morfemas / palavras (esputinique,
videoteipe, puver), empréstimos semânticos, isto
é, com tradução / substituição de morfemas / pala-
vras, com alteração de estrutura (spaceship = nave
espacial) e sem alteração da estrutura (spaceship =
espaçonave). E há, finalmente, empstimos estru-
turais: são aqueles formados com recursos do por-
tuguês mas segundo modelo estrutural estrangeiro:
cineclube, motogincana. (1992: 23)
Sandman (IDEM) também explica o critério a ser adotado para se a-
valiar se “o empréstimo está bem adaptado à língua-destino” e diz que um
indício seguro para isso “é a existência de palavras derivadas do mesmo,
como acontece em: “ingl. bluff = blefe (blefar), ingl. knock-out = nocaute
(nocautear), ingl. lunch = lanche (lanchar, lancheira, lancheiro, lancheria).”
O autor faz a ressalva de que, para alguns, o empréstimo dessas uni-
dades lexicais estrangeiras, principalmente do inglês, no caso da língua
portuguesa no Brasil, possa não parecer tão secundário assim. Entretanto,
ele observa que há muito mais neologismos formados a partir de prefixos
(anti-, des-, hiper-, super-, etc.), sufixos (-ista, -ismo, -izar, -ção, -mento,
etc.) e até compostos, principalmente de substantivo + substantivo (trem-
bala), e cruzamentos vocabulares (amazonóia) do que empréstimos.
64
Isso nos leva a constatar que o recurso principal de que uma língua se
serve para ampliar o léxico é a formação de palavras a partir de palavras
ou morfemas preexistentes, pela derivação (prefixação e sufixação) e pela
composição.
Vejamos o que diz Margarida Basílio:
O léxico, portanto, não é apenas um conjunto de
palavras. Como sistema dinâmico, apresenta estru-
turas a serem utilizadas em sua expansão. Essas es-
truturas, os processos de formação de palavras,
permitem a formação de novas unidades no léxico
como um todo e também a aquisição de palavras
novas por parte de cada falante. (2004: 9)
Considerando a língua um sistema de comunicação, Basílio explica
que “a expansão lexical é efetivada sobretudo pelos processos de formação
de palavras”, cuja finalidade é “garantir a máxima eficiência desse siste-
ma”. E acrescenta que esses processos
são fórmulas padronizadas de construção de novas
palavras a partir de material já existente no léxico.
Por meio desses padrões, podemos formar ou captar
a estrutura de palavras e, portanto, adquirir palavras
que já existiam mas que não conhecíamos anteri-
ormente. (2004: 10)
Quantos aos motivos pelos quais se formam novas palavras, concor-
damos com Margarida Basílio quando nos aponta, para isso, duas funções
centrais, a semântica e a sintática, com a possibilidade de uma terceira, a
discursiva. Levando-se em conta tal subdivisão, a autora cogita de pelo
menos três funções fundamentais para a formação de palavras”:
a função de denominação, que corresponde, natu-
ralmente, a necessidades semânticas; a função de
adequação discursiva e a função de adequação sin-
tática. Entretanto, o se pode descartar a possibili-
dade de que estas funções sejam mescladas, pelo
menos em alguns casos. (1987: 67)
Dessa forma, quando se nomeiam coisas ou seres, objetos novos, fa-
65
tos culturais novos, fatos da nossa realidade, fenômenos da natureza, entre
outras coisas, é dada uma função semântica à formação de palavras.
A função sintática ou a função de adequação sintática (que aparece
principalmente na frase) se manifestará quando um processo de formação
de palavras implicar a mudança de classe gramatical.
Quanto à função discursiva, André Valente, no artigo “Produtividade
lexical: criações neológicas”, publicado no livro Da ngua ao discurso:
reflexões para o ensino, afirma que
os estudos lexicológicos ignoraram, durante certo
tempo, os aspectos discursivos da linguagem. De
outra parte, os trabalhos sobre discurso nem sempre
deram a devida atenção à seleção lexical. Atual-
mente, tem-se valorizado a integração de Lexicolo-
gia e discurso na leitura e na produção de textos vá-
rios, quer literários, quer não-literários. (2005: 129)
A respeito do papel discursivo dos processos de formação de pala-
vras, cabe incluir novamente as opiniões de Sandmann (1992), que destaca
dois pontos: a função de expressar aspectos subjetivos do emissor em rela-
ção ao conteúdo do que é comunicado (feita, principalmente através de
sufixos, com destaque para os de cunho pejorativo) e a função de adequa-
ção discursiva ou de adequação à estrutura do texto como um todo. Ele
menciona também que, às vezes, por razões de ordem estilística, as restri-
ções à produtividade lexical e ao bloqueio da produtividade lexical podem
ser rompidas.
Vistos esses conceitos acerca de variadas abordagens que se pode fa-
zer no estudo dos neologismos, resta examinar mais detidamente os “pro-
cessos de formação neológica”. Ieda Maria Alves, em Neologismo, cria-
ção lexical (1994), indica as seguintes possibilidades: neologia fonológica,
neologia sintática (derivação, composição, formação por siglas, composi-
ção sintagmática), neologia semântica, neologia por empréstimo, conver-
66
são, entre outros processos.
Os neologismos fonológicos são o resultado da criação de um vocá-
bulo cujo significante é totalmente inédito. Esse tipo de neologia não é
muito comum, pois para que um vocábulo seja considerado neologismo, é
preciso que ele seja compreendido pelo receptor. Nesse caso, a criação de
um significante inédito comprometeria a comunicação, fato que torna a
neologia essencialmente fonológica raríssima.
Poderiam ser incluídas na neologia fonológica as onomatopéias. No
entanto, esse tipo de formação o é totalmente arbitrário. Há, embora im-
precisa, uma relação entre o vocábulo formado e ruídos e gritos. É, na ver-
dade, a imitação de um som.
Os neologismos sintáticos, bem mais freqüentes, são formados atra-
vés da combinação de elementos já existentes na língua portuguesa.
Classificados em derivados, compostos, compostos
sintagmáticos e compostos formados por siglas ou
acronímicos, são denominados sintáticos porque a
combinação de seus membros constituintes não está
circunscrita exclusivamente ao âmbito lexical (jun-
ção de um afixo a uma base), mas concerne tam-
bém ao nível frásico: o acréscimo de sufixos pode
alterar a classe gramatical da palavra-base; a com-
posição tem caráter coordenativo e subordinativo;
os integrantes da composição sintagmática e acro-
nímica constituem componentes frásicos com o va-
lor de uma unidade lexical. (ALVES, 1994: 14)
No caso da conversão, processo também conhecido como derivação
imprópria, a formação lexical se através de alterações em sua distribui-
ção sem que ocorram mudanças na forma. No caso da linguagem do ado-
lescente, podem ser citados como exemplos de conversão os usos de ma-
luquinho e neguinho como pronomes indefinidos, com o valor de “qual-
quer pessoa”.
Os neologismos semânticos ou conceptuais são aqueles em que uma
67
unidade léxica já existente adquire um novo significado. É o que Nelly
Carvalho explica como “conceitos novos introduzindo novos hábitos, ou
velhos hábitos vistos por um prisma diferente(1987: 23). Muitos desses
novos significados podem ser atribuídos a uma forma por meio de metáfo-
ras, metonímias, sinédoques, entre outros processos estilísticos.
Segundo Ieda Maria Alves, também neologismo semântico,
quando um termo, característico de um vocabulário,
extrapola os limites desse vocabulário e passa a in-
tegrar outra terminologia ou a fazer parte da língua
geral. Da mesma maneira, a passagem de um ele-
mento da língua corrente para um vocabulário es-
pecífico é igualmente possível. (1994: 65)
Esse tipo de neologismo semântico ocorre bastante na linguagem do
adolescente, que se caracteriza pelo emprego de um vocabulário que tem
“a intenção de dificultar a compreensão por parte daqueles que não inte-
gram um determinado grupo” (ALVES, 1994: 65). Nesse caso, a neologia
é bastante produtiva.
A difusão do neologismo conceitual é a prova de que foi aceito pela
comunidade lingüística. A partir daí, haverá a inserção da nova aceão
nos dicionários. Assim, vão sendo acrescentados ao significado básico de
um item léxico os que forem criados através da neologia semântica.
Dentro dos outros processos citados por Ieda Maria Alves, encon-
tram-se: a) a truncação (processo pelo qual há uma abreviação em que
uma parte da seqüência lexical, na maioria das vezes a última, é eliminada:
finde, churras, refri, pati, descontrol, emo, p, pretê, visu, sussa, vagal);
b) a palavra-valise (tipo de redução em que dois itens lexicais são privados
de seus elementos para formarem um novo: um perdendo sua parte final e
o outro, a parte inicial: micabraço, brasiguaio, showmício); c) a reduplica-
ção (processo pelo qual a mesma base é repetida duas ou mais vezes: tran-
68
ça-trança, tchu-tchu); d) a derivação regressiva (processo em que a forma-
ção lexical resulta da supressão de um elemento, considerado de caráter
sufixal: pega, xaveco).
7
Há também – como já vimos – os neologismos por empréstimo, fre-
qüentemente encontrados em vocabulários técnicos (esportes, economia,
informática) e em algumas linguagens especiais como a da publicidade e a
das colunas sociais. Os estrangeirismos se integram à língua por adaptação
gráfica, morfológica ou semântica. No período de integração é que o es-
trangeirismo tem sua fase propriamente neológica. Nesse grupo, inclui-se
ainda o decalque, tipo de empréstimo em que há a versão literal do item
estrangeiro para a língua que o recebe.
Segundo Ieda Maria Alves (1994), o falante, ao criar um neologismo,
tem consciência, muitas vezes, de que está inovando, gerando novas uni-
dades léxicas. Isso ocorre tanto com os processos de formação vernácula
quanto com os estrangeirismos. A sensação de neologia é traduzida grafi-
camente pelo uso de aspas, maiúsculas e itálico, recursos que ajudam a
realçar a inovação no léxico. Quanto ao estrangeirismo, o fato de ele ser
traduzido revela que o falante percebeu o caráter neológico dessa forma
não-vernácula.
A autora acrescenta que, no que diz respeito à inserção do neologis-
mo no dicionário, sua simples criação não é motivo suficiente para que ele
seja incorporado ao “acervo lexical de uma língua”. E prossegue:
É, na verdade, a comunidade lingüística, pelo uso
do elemento neológico ou pela sua não difusão, que
decide sobre a integração dessa nova formação ao
idioma. (1994: 84)
Em outros termos: se o neologismo for bastante freqüente, será in-
7
A exemplificação contida neste parágrafo está baseada no corpus de nossa pesquisa (cd. Glossário).
69
corporado em obras lexicográficas e considerado parte do sistema lingüís-
tico. Não podemos desconsiderar, porém, duas realidades a respeito desse
mecanismo de “dicionarização” de um neologismo. A primeira, que se re-
fere à freqüência, mostra que a reiteração estatística, por si só, não deve
ser motivo suficiente para se incorporar um vocábulo a um dicionário ge-
ral da língua. Palavras derivadas ou compostas a partir de antropônimos de
políticos (malufista, valerioduto...), artistas (caetanear, beatlemaníaco...)
ou figuras do esporte (domingada, maradonismo...), por exemplo, dificil-
mente são “promovidasaos “tesouros” porque, a despeito de sua insisten-
te utilização nos meios de comunicação, têm um prazo para desaparecer
(que coincide com o ostracismo, o final da carreira ou mesmo o falecimen-
to de seu “inspirador”). A outra reconhece uma certa arbitrariedade no que
se refere ao modo de agir dos lexicógrafos. Às vezes, termos muito usados
são esquecidos e outros pouco difundidos fazem parte de seus dicionários.
Apesar disso, essas obras lexicográficas são os parâmetros disponíveis pa-
ra tomarmos conhecimento se um item xico pertence ou não ao acervo
lexical de uma língua.
Sobre a neologia semântica, tomemos a síntese que André Valente,
no artigo “Letras de música nas aulas de português: estilo, cultura e cida-
dania” (2004), faz das idéias de M. Louis Guilbert, para quem esse tipo de
neologismo é uma mudança de sentido “que se reproduz em um dos três
aspectos significantes do lexema, sem que intervenha simultaneamente
uma modificação na forma desse lexema.” A explicação prosssegue:
A primeira forma de neologia semântica é aquela
que se opera na modificação do agrupamento dos
semas aferentes a um lexema, segundo modalidades
diversas. Estas foram descritas pelos retóricos sob o
nome de sinédoque, metáfora, comparação, meto-
nímia.
A segunda forma de neologia semântica é a que a-
feta a categoria gramatical do lexema, e que é cha-
mada, às vezes, neologia por conversão. A essência
70
da modificação nos parece de caráter semântico,
sendo a categoria gramatical apenas um meio de re-
alização da mutação.
A terceira forma de neologia semântica é o que po-
deria se qualificar de sociológica. Acontece com os
termos técnicos que passam para o vocabulário ge-
ral usual, com as palavras de autores as quais se
disseminam na massa falante. (In: HENRIQUES &
SIMÕES, 2004: 202)
Uma autora que não utiliza a expressão “neologismo sintático” é Nel-
ly Carvalho (1987: 23), que chama de “neologismo formal” as palavras
que ainda o aparecem como verbete de dicionário. Sob essa denomina-
ção encontram-se os casos de derivação, composição, redução, siglas, em-
préstimos, derivação imprópria. A autora defende, porém, a idéia de que
“a maneira mais simples e econômica de surgimento de uma palavra não é
através de construção e sim de mudança de sentido.” (1987: 23)
Maria Aparecida Barbosa é outra pesquisadora que enfatiza ser o es-
tudo da renovação lexical muito importante, na medida em que mostra de
maneira clara as transformações pelas quais passa o sistema de valores
compartilhados por um grupo. No artigo Da neologia à neologia na litera-
tura”, Barbosa afirma que
não é pelo fato de uma palavra ter caráter inédito
que passa a ser imediatamente considerada neológi-
ca. Com efeito, há vários momentos importantes na
criação do neologismo: a) o instante mesmo de sua
criação; b) o momento s-criação, que se refere à
recepção, ou ao julgamento de sua aceitabilidade
por parte dos destinatários, bem como sua inserção
no vocabulário e no léxico de um grupo lingüístico
cultural; c) o momento em que começa a dar-se a
sua desneologização. Na criação lexical, devem dis-
tinguir-se duas fases: aquela que considera o neolo-
gismo no instante em que é produzido no quadro
enunciativo e aquela em que é apreendido e regis-
trado pelos falantes-ouvintes do grupo. (In: OLI-
VEIRA & ISQUERDO, 1998: 35)
Obviamente, o primeiro momento de um neologismo é o de sua cria-
71
ção. Seu segundo momento diz respeito à recepção e à aceitabilidade pelos
destinatários, assim como sua inclusão no conjunto das unidades léxicas
memorizadas. Para Aparecida Barbosa, a partir do momento em que o
neologismo é criado, ele só passa a ter esse estatuto, se for usado generali-
zadamente a ponto de ser um vocábulo disponível para pelo menos um
grupo de indivíduos e se, depois, começar a ser empregado, difundindo-se.
Às vezes, pode ocorrer de um termo ser rejeitado, intencionalmente ou
o, e desaparecer logo após ser criado. Essa aceitabilidade se processa no
meio social, isto é, depende de um consenso social e cultural.
Assim, segundo a autora, o neologismo pode completar seu percurso,
perdendo a consciência de fato neológico, ou seja, pode ocorrer a desneo-
logização. Isso vai ocorrendo na medida em que seu uso se expande, dimi-
nuindo, portanto, seu impacto de novidade lexical.
Barbosa ainda chama a atenção para o fato de o conceito de neolo-
gismo ser relativo, que pode ser analisado do ponto de vista diacrônico,
diatópico, diastrático e diafásico.
Segundo a perspectiva diacrônica, o neologismo criado em determi-
nada etapa da língua, caso não desapareça, integra-se à norma, isto é, se
desneologiza. Se quisermos conhecer os neologismos de uma determinada
época, sepreciso ter como parâmetro fontes dessa época, como jornais,
revistas, cartas e dicionários para confrontá-los com as de etapas posteriores.
o neologismo diatópico pode ocorrer das seguintes maneiras.
Um neologismo pode ser criado, por exemplo, nu-
ma única região, ficando a ela restrito. Ainda na
perspectiva diatópica, pode ocorrer, que um vocá-
bulo pertencente a uma norma regional e exclusivo
dessa região, às vezes até um arcaísmo, passe para
outra região, se torne conhecido nesta, onde é ado-
tado com função neológica. Trata-se de um fenô-
meno comum, favorecido pelas correntes migrató-
rias, pelo comércio ou pela difusão através da mí-
72
dia, etc., como, por exemplo, no caso do vestuário,
das comidas típicas, da dança. (1998: 37)
Com relação a essa “viagem” das palavras entre regiões, cabe aqui ci-
tar Sérgio Correa da Costa, em Palavras sem fronteiras, ao enfatizar que
algumas,
ao contrário de outras, ultrapassam as fronteiras dos
países onde nasceram e se tornam portadoras de
uma espécie de marca registrada de suas origens.
Essas palavras de vocação cosmopolita circulam
pelo mundo e acabam por integrar uma espécie de
“vocabulário sem fronteiras” que aumenta sem ces-
sar e aproxima as culturas. (2000: 19)
Nesse sentido, podemos dizer que o neologismo diatópico nem sem-
pre se limita às fronteiras de um país. Fato semelhante acontece com o ne-
ologismo diastrático. Segundo Maria Aparecida Barbosa, vocábulos carac-
terísticos de uma camada social, ou mesmo os neologismos que já sofre-
ram o processo de desneologização, podem ser introduzidos em outra ca-
mada social, como uma novidade lexical, como um neologismo. As causas
dessa “viagem” de vocábulos são as mesmas dos neologismos diatópicos.
A autora também tece considerações sobre o que se com os neolo-
gismos diafásicos:
Algo comparável, embora mais complexo – em vir-
tude do número de universos de discurso co-
ocorrentes, sobretudo nas sociedades heterogêneas,
industriais e pós-industriais – sucede na variação
diafásica. Desse modo, um termo metalingüístico,
técnico-científico, específico de uma ciência, onde
surgiu, no passado, como neologismo específico,
mas que naquele já se desneologizou, já integra a
norma discursiva daquele universo de discurso, po-
de ser adotado noutra área de conhecimento, onde é
assumido justamente por sua função neológica, pa-
ra designar novo recorte; da mesma forma, vocábu-
los de normas técnico-científicas passam para o u-
niverso de discurso político, ecomico, até para o
discurso coloquial, onde são adotados como o já
mencionado impacto da novidade lexical. De ma-
73
neira geral, pois, um vocábulo que já se desneolo-
gizou num universo de discurso se neologiza noutro
universo de discurso. (1998: 37)
Diante dessas perspectivas de análise dos neologismos e tomando
como parâmetro os objetivos apresentados no presente trabalho, podería-
mos incluir os “neologismos etários”, que surgidos inicialmente em um
grupo de uma determinada faixa etária, podem se incorporar à norma, se
desneologizar, ou “viajar” para outro grupo de faixa etária diferente, como
um neologismo “mutante”.
Dessa forma, poderíamos concluir, citando as considerações feitas
por André Valente, em “As letras de música nas aulas de português”, que
resume e acrescenta alguns conceitos relevantes, classificando a criação de
novas palavras em português em dois grandes grupos: formações vernácu-
las e formação por empréstimos.
No primeiro grupo, utilizam-se fundamentalmente a
derivação e a composição, o que também se aplica
às criações neológicas.
Neologismos
(1) vocabulares (formais) à neologia de forma
(2) semânticos (conceituais) à neologia de sentido
(In: HENRIQUES. & SIMÕES, 2004: 200)
No segundo grupo, Valente se refere a um estudo de Antônio Sand-
mann (1992), que expõe os “tipos de empréstimos lingüísticos”:
- empréstimo lexical
: sem tradução ou substituição
de fonemas; pode ser não adaptado fonogica ou
graficamente (jazz, smoking), só ortograficamente
(freezer,show) ou morfossintaticamente (cam-
pus/campi, corpus/corpora).
- empréstimo semântico
: com tradução ou substitu-
ão de fonemas; empresta uma idéia, um significa-
do sem os significantes, com ou sem alteração da
estrutura (hot-dog/cachorro quente, com alteração
de estrutura; haute-couture/alta costura, sem altera-
ção de estrutura).
74
- empréstimo estrutural: não importa morfemas ou
palavras, mas sim um modelo (videolocadora, com
determinante + determinado, contrariando a ordem
do Português; também em motogincana; ainda em
nomes de lojas e empresas como Lucy Calça-
dos).(IDEM: 201)
No mesmo artigo, Valente acrescenta que, nos estudos de morfologia
lexical e de criações neológicas, é importante destacar os conceitos de
bloqueio e desbloqueio. O bloqueio, fenômeno citado pela primeira vez
por Mark Aronoff, em 1976, consiste em uma forma não ocorrer pelo fato
de outra já existir. Funciona, na verdade, como uma restrição aos proces-
sos de formação de palavras. Pelo fato de um item lexical já existir na lín-
gua, um novo termo o é formado, apesar de possuir todas as condições
de produtividade necessárias. Por exemplo, por já existirem “golpista” e
“governista”, não houve a criação de “golpeiro” e “governeiro”.
É a mesma situação que Luiz Carlos de Assis Rocha aborda no artigo
“Guimarães Rosa: criação lexical, bloqueio e desbloqueio”, publicado no
livro Veredas de Rosa, de 2000, quando afirma que
Em português existe a conhecida relação paradig-
mática jogar / jogador, treinar / treinador, namo-
rar / namorador, paquerar / paquerador, a partir da
qual é possível fixar a RFP (regra de formação de
palavras, grifo meu) da língua (V S –dor). Com
base em fabricar, a língua não apresenta, porém,
(?) fabricador, porque a casa lexical do agentivo
derivado de fabricar está preenchido por fabricante,
produto formado por outra RFP da língua (V S –
nte), ou seja, por meio de uma regra recorrente. Ca-
racteriza-se desse modo o bloqueio, fenômeno que, como
dizíamos, impede a formação de inúmeros itens lexicais do
português. (2000: 365)
Segundo o autor, agora em Estruturas morfológicas do português,
há quatro tipos de bloqueio: o paradigmático, o heterônimo, o homofônico
e o parônimo.
75
O bloqueio paradigmático ocorre quando “não se cria uma determi-
nada palavra simplesmente pelo fato de haver outra correspondente com
o mesmo sentido e/ou função.” (ROCHA, 2003: 141)
A CASA LEXICAL do adjetivo correspondente a
braço já está preenchida por bral. Os falantes
não vêem necessidade de criar (?) braçar, (?) bra-
çano, (?) braçário, (?) braceiro etc. O mesmo se
diga com relação a família: por que criar (?) famili-
al, (?) familiano ou (?) familiário, se já existe fami-
liar? (2003: 141)
8
O bloqueio heterônimo consiste no fato de que
certas formações deixam de ser produzidas na lín-
gua, por existirem outras palavras – com raiz dife-
rente da raiz de base em questão – que bloqueiam o
surgimento dos possíveis produtos. É assim, por
exemplo, que (?) ensinador é bloqueado por profes-
sor, (?) aprendedor é bloqueado por aluno, (?) ane-
leiro é bloqueado por joalheiro e assim por diante.
(2003: 143)
Para Assis Rocha, na língua há formações que não são produzidas por
conta de um bloqueio homofônico, isto é,
a nova palavra não é criada por existirem outras
formações com o mesmo aspecto fonético, mas
com significado diferente:
terra (?) terreiro (bloqueado por terreiro = quintal)
sala (?) saleiro (bloqueado por saleiro = recipiente
onde se coloca o sal)
cobre (?) cobreiro (bloqueado por cobreirodoen-
ça) (2003: 144)
O bloqueio parônimo ocorre quando certas formas não se realizam
porque a língua apresenta parônimos que inibem o surgimento delas:
cabelo (?) cabeleiro (bloqueado por cabeleireiro,
que tem como base cabeleira)
8
A forma “familial” está consignada no AEXXI e no DH (sem datação).
76
vidro (?) vidreiro (bloqueado por vidraceiro, que
tem como base vidraça)
Assis Rocha acrescenta que
o bloqueio não é, porém um mecanismo que produ-
za efeito “geral e irrestrito”, como fazem supor al-
guns morfólogos. O fenômeno contrário, o desblo-
queio, também ocorre na língua. A existência de
uma formação consagrada não impede a criação de
outra forma concorrente. (2000: 365-366)
O desbloqueio ocorre quando, mesmo existindo uma forma, é criada
outra com fins estilísticos. Como exemplos, André Valente (In: HENRI-
QUES & SIMÕES, 2004: 201) cita "apitador" (para mau juiz de futebol ou
mau árbitro) e "pintador" (para mau pintor). Na MPB, André destaca, ain-
da, o uso de "sambeiro" por "sambista", empregado numa canção popular:
Depois que o visual virou quesito / Na concepção desses sambeiros / O
samba perdeu sua pujança / ao curvar-se à circunstância/Imposta pelo di-
nheiro (“Visual”, de Neném e Pintado).
Assis Rocha reconhece quatro tipos de desbloqueio:
a - Desbloqueio rotulativo
A par do nominal consagrado, a língua pode apre-
sentar nominais específicos de profissões e ocupa-
ções ou de situações especiais, em que se quer a-
crescentar à formação nominalizada um componen-
te semântico novo:
ligação / ligamento (termo médico) / ligadura (ter-
mo dico)
batida / batimento (termo dico)
caída / caimento (termo da costura)
salvamento / salvação (no sentido espiritual)
aparecimento / aparição (no sentido espiritual)
indução / induzimento (aspecto dinâmico)
apoio / apoiamento (aspecto dinâmico)
estímulo / estimulação (aspecto dinâmico)
b Desbloqueio cumulativo
77
Uma formação nominalizada, além de ser ‘ato de
X’, pode apresentar também um outro componente
semântico, caracterizando o que se pode chamar de
semântica de segundo grau. Nos exemplos que se
seguem, extraídos da linguagem coloquial, os no-
minais desbloqueados são também interativos, pois
denotam que se trata de ações repetidas:
batida / bateção
chamada / chamação
abertura / abrição
estudo / estudação
mudança / mudação
c – Desbloqueio espodico
Na fala espontânea, o produto consagrado de uma
regra de nominalização pode ser substituído por ou-
tro, com base em uma regra recorrente. Isso é feito
de maneira esporádica, ou seja, há uma espécie de
“escorregadela”, em que o falante troca o sufixo a-
cidentalmente. Esse “descuido” se dá em conse-
ência da coerção exercida pelo padrão lexical, V
S suf., que é muito forte na língua e que é opera-
cionalizado por meio de vários sufixos, como -ção,
-mento, -zero, -agem, -ura, etc. É o caso, por e-
xemplo, de acoplação (por acoplamento), contem-
plamento (por contemplação), degeneramento (por
degeneração), aceleramento (por aceleração), de-
lineamento (por delineação), destinamento (por
destinação), gravamento (por gravação), atrasa-
mento (por atraso), transportamento (por transpor-
te), etc.
d – Desbloqueio estilístico
Uma formação nominalizada pode ser desbloquea-
da por razões estilísticas, ou seja, o que se pretende
é que a formação nova seja mais expressiva, como
se pode deduzir dos contextos:
Vou dar um chego na minha casa. (em vez de che-
gada).
O ladrão deu uma limpa no escritório. (em vez de
limpeza)
Amanhã vai ter um agito na Praça do Papa. (em
vez de agitação)
Você precisa sair desse sufoco. (em vez de sufoca-
mento ou sufocação)
Mamãe vai te dar um xingo daqueles. (em vez de
xingamento) (ROCHA, 2000: 366-367)
Como se vê, muitos são os exemplos de neologismos e suas respecti-
78
vas terminologias. Mas é preciso fazer ainda uma distinção entre os neolo-
gismos criados pelo falante comum e aqueles inventados pelos literatos.
Michel Rifatérre, em A produção do texto (1989), afirma que os neo-
logismos literários apresentam certas especificidades, ausentes nos neolo-
gismos dos falantes comuns, que são vistos como anomalias. Os neolo-
gismos da língua, segundo o autor, são criados para a expressão de um re-
ferente ou de um significado novo. Desse modo, seu uso depende da rela-
ção existente entre as palavras e as coisas (fatores não lingüísticos). Já os
neologismos literários, dentro de seu contexto e uso, se inserem em rela-
ções pertencentes somente à linguagem.
Com tantos conceitos expostos, percebemos que o neologismo é a
prova da existência de uma renovação lexical feita, na maioria das vezes,
por mecanismos próprios do sistema lingüístico. Isso significa que o po-
tencial criativo de um falante está intimamente relacionado ao seu domínio
lingüístico.
79
5. CRITÉRIOS
Optamos neste trabalho por delimitar nosso campo de investigação e
análise privilegiando a função de interação social da linguagem, através de
neologismos que circulam na língua escrita em prosa.
Tomando por base o artigo “Competências e perspectivas dos estudos
de base lexical”, de Maria Emília Barcellos da Silva, poderíamos encaixar
este trabalho na competência dos estudos lexicais que “trata o léxico como
o locus observandi do percurso social dos usuários de uma língua dada”.
(In: OLIVEIRA, & ISQUERDO, 1998: 117) Essa competência
promove a possibilidade de o falante configurar e
arquivar não só a realidade extralingüística mas
também o saber lingüístico de uma comunidade,
propiciando que, simultaneamente, se possa apreci-
ar a língua e a cultura de um grupo: incontestavel-
mente, a palavra é o lugar de observação dos fatos e
dos feitos que pontuam o fazer das gentes (...). (I-
DEM)
Nossa investigação tem o propósito de “levantar propriedades sintáti-
co-semânticas do léxico”, como lembra Francisco da Silva Borba, e por
isso
tem que começar por verificar quais são as grandes
linhas de circulação vocabular em todos ou num re-
gistro determinado das duas modalidades sicas de
manifestação da língua: o oral e o escrito. A primei-
ra impressão que se tem é de dispersão ou de difu-
são um tanto desordenada ou arbitrária, que dá lugar,
em seguida, à percepção de uma estreita relação texto/contexto
associada à variação de acepções. (2003: 17)
80
Desse modo, o levantamento dos termos utilizados pelos adolescentes
foi feito com base nas principais publicações voltadas para esse público.
Foram selecionadas as seguintes revistas: Capricho, Todateen, Atrevida,
consultadas a partir de julho de 2001 até dezembro de 2004, como repro-
dutoras da linguagem utilizada pelos adolescentes. Na realidade, como já
foi mencionado, o vocabulário levantado retrata uma linguagem para o
jovem.
5.1 O CORPUS
O estabelecimento do corpus se deu pela coleta das fontes menciona-
das, segundo critérios de seleção lexical (neologismos lexicais, semânticos
e locucionais) que se baseiam no confronto com os Dicionários Houaiss e
Aurélio XXI e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Quanto
ao último, por suas características específicas, observamos apenas a exis-
tência do verbete, constatando-se se a inovação ocorreu na forma (neolo-
gismo lexical).
A exemplificação recolhida de ocorrências retrata a expressividade
semântica, gramatical e estilística, próprias dessa faixa etária, como em:
superlindo, supersério, supergamado, superchato, superposter, superle-
gal, superfeliz, supertriste, superbem, supermaquiada, colhidos da revista
Todateen, que mostram a produtividade do prefixo super-.
Com base nos estudos apresentados acerca de neologismos e neologi-
a, adotaremos a divisão que nos pareceu mais adequada ao corpus coleta-
do. Chamaremos de neologismos semânticos os verbetes já dicionariza-
dos com acepção o dicionarizada (nos casos em que um substantivo pas-
81
sa, na linguagem do adolescente, a ser usado como adjetivo ou advérbio,
não consideraremos que houve neologia semântica por todas essas classes
fazerem parte de um mesmo grupo os nomes). Neologismos lexicais se-
rá a terminologia utilizada para verbetes não dicionarizados. Classificare-
mos de neologismos locucionais expressões cujos componentes, separa-
damente, estão dicionarizados, mas que, juntos, têm um valor semântico
novo. Toda vez que julgarmos pertinente, haverá a inserção de uma nota
logo após o(s) exemplo(s).
Quanto aos neologismos locucionais, cabem algumas observações a
respeito da formação desses sintagmas. Vemos, em La langue francaise de
la techinique et de la science, de Rostislav Kocourek que
A formação das unidades lexicais com várias pala-
vras (os sintagmas lexicais) é a lexicalização (a for-
mação sintagmática). Os sintagmas lexicais que
têm uma definição especializada chamam-se os
termos-sintagmas. Os termos-sintagmas e os ter-
mos-palavras constituem a terminologia..
9
(1984:
116)
O autor afirma que o problema da lexicalização terminológica merece
uma atenção particular, pois o número de termos-sintagmas ultrapassa o
número de termos-palavras. Apresenta, então, uma lista com pares de sin-
tagmas:
- terras raras e sentimentos raros
- ácidos graxos e alimentos gordurosos
10
(I-
DEM)
Vemos que os sintagmas da esquerda possuem uma especificidade da
qual é difícil não se dar conta, mas que não é fácil de compreender. Na sua
9
La formation des unités lexicales à plusieurs mots (des syntagmes lexicaux), c’est la lexicalisation (la for-
mation syntagmatique). Les syntagmes lexicaux pourvus d’une définition spécialisée s’appellent les termes-
syntagmes. Les termes-syntagmes et les termes-mots contituent la terminologie. (KOCOUREK, 1984: 116)
10
- terres rares et sentiments rares // - acides grãs et aliments gras (IDEM)
82
acepção específica, as “terras raras” são óxidos dos metais vizinhos ao lan-
tânio, os “ácidos graxos” são monoácidos orgânicos especiais. A estes sin-
tagmas, o autor chama de sintagmas lexicais, supondo-se que eles consti-
tuam as unidades lexicais com várias palavras.
Quanto aos sintagmas da direita, observa-se que são desprovidos des-
sa especificidade. Por esta razão, o autor os considera sintagmas livres
(não lexicalizados, eventuais, fortuitos, acidentais) e por isso adverte:
A exteno dos sintagmas lexicais é muito mais li-
mitada que aquelas dos sintagmas livres, ou, na fe-
liz formulação de Guilbert “a construção lexemáti-
ca” é mais limitada que a “construção sintagmáti-
ca”.
11
(1984: 120)
Desse modo, ao usarmos a nomenclatura neologismos locucionais,
estaremos nos referindo aos sintagmas lexicais, definidos por Kocourek.
O corpus levantado foi selecionado de modo a ser representativo das
classes gramaticais e das composições sintagmáticas, muito comuns na
linguagem do adolescente.
Seguindo os critérios mencionados, verificou-se no Novo Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa, de 1986, que vocábulos como antenado (ad-
jetivo), barraco (substantivo), bolado (adjetivo), desencanar (verbo), ficar
(verbo), malhado (adjetivo), pegação (substantivo), vazar (verbo) ainda não
estavam registrados com os significados dados pelos adolescentes.
No entanto, os dicionários Aurélio Século XXI (1999) ou Houaiss da
Língua Portuguesa (2001) já incorporaram esses significados usados na
linguagem dos adolescentes. Portanto, pelos nossos critérios, deixaram
esses exemplos de ser neologismos semânticos, desneologizaram-se, fa-
11
L’étendue des syntagmes lexicaux est beaucoup plus limitée que celle des syntagmes libres, ou,
dans la formulation heureuse de Guilbert (’70: 119), <la construction lexématique> est <plus limitée que
la construction syntagmatique>. (KOCOUREK, 1984: 120)
83
zendo parte do léxico da língua comum – ainda que indicados nessas fon-
tes como brasileirismos ou acepções populares.
Selecionamos sete desses vocábulos, suas ocorrências e significa-
dos. Transcreveremos, em seguida, as definições do Novo Dicionário Au-
rélio da Língua Portuguesa (NDALP), de 1986 e do Dicionário Aurélio
Século XXI (AEXXI), de 1999. Quando for necessário, também será utili-
zada a transcrição do Dicionário Houaisss da Língua Portuguesa (HOU-
AISS), de 2001.
1) Antenado, por exemplo, é um adjetivo dado à pessoa que está in-
formada sobre tudo o que acontece. Vejamos nos exemplos:
Ela está sempre antenada às novidades e informa-
ções. (Todateen, Julho/2001, p. 5)
É preciso ficar antenado às novidades do mercado
da informática. A todo momento surgem novidades
que podem nos ajudar tanto na escola quanto na vi-
da pessoal. (Atrevida, Agosto/2002, p.56)
Estou sempre antenado. Nada me escapa. Qualquer
novidade chega até mim pela internet, jornais, e-
mails, etc. (Capricho, Junho/2003, p.23)
O verbete antenado encontra-se com as seguintes definições:
antenado. [De antena + -ado] Adjetivo 1. Provido de antenas. 2. Mandibu-
lado. Substantivo masculino 3. Mandibulado. (NDALP, 1986: 128)
antenado [De antena + -ado1.]Adjetivo 1. Que tem antenas. 2. Figurado
Gíria Que se mantém, ou procura se manter bem informado a respeito do
que se passa, do que é atual; ligado, conectado. (AEXXI:148)
2) O vocábulo barraco é um substantivo masculino usado com o sig-
nificado de vexame, confusão. Aparece com esse significado apenas no
Dicionário Aurélio XXI.
Na hora do ciúme, não adianta dar barraco; a me-
lhor coisa é o diálogo. (Atrevida, Agosto/2001, p.34)
84
Ela sempre arma o maior barraco se sentir que o
seu namorado está xavecando outra. Aí a casa caí e
a confusão está formada. (Capricho, Março/2003, p.34)
Se a garota com quem estou ficando arma barraco,
finjo que não conheço e sumo da vida dela. Barraco
não dá. (Todateen, Abril/2003, p. 67)
Vejamos as definições do verbete barraco encontradas nos dicioná-
rios mencionados:
barraco. [De barraca] Substantivo masculino. Brasileirismo, do Rio de Ja-
neiro. Habitação tosca, improvisada, construída geralmente nos morros, com
materiais de origem diversa e adaptados, coberta com palha, zinco ou telha,
onde vivem favelados; barracão: “A porta do barraco era sem trinco. / Mas a
lua, furando o nosso zinco, / Salpicava de estrelas nosso chão...” (Orestes
Barbosa, Chão de Estrelas, p. 275.) (NDALP, 1986: 234)
barraco. [De barraca] Substantivo masculino. Brasileirismo, do Rio de Ja-
neiro. Habitação tosca, improvisada, construída geralmente nos morros, com
materiais de origem diversa e adaptados, coberta com palha, zinco ou telha,
onde vivem favelados; barracão: “A porta do barraco era sem trinco. / Mas a
lua, furando o nosso zinco, / Salpicava de estrelas nosso chão...” (Orestes
Barbosa, Chão de Estrelas, p. 275.). Locução Armar (o maior) barraco. Bra-
sileirismo. Gíria. Pejorativo. 1. Criar confusão, rolo, quizumba. 2. Partir
para briga. (AEXII: 272)
barraco. Substantivo masculino. (1913 cf. Cândido de Figueiredo, Novo
Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, 2 volumes, 3ª ed.) 1 casa mal
construída ou malconservada 2 (1958) RJ casa tosca, feita sem planejamen-
to, originalmente construída nas encostas dos morros e com paredes de tá-
buas e teto de zinco, pela população de baixa renda; barracão ETIMOLO-
GIA barraca com alteração da vogal temática -a para -o, tomado como desinên-
cia de masculino; ver barrac- COLETIVO favela. (HOUAISS, 2001: 406)
3) O verbete boladoo aparece no NDALP, 1986. No AEXXI e no
HOUAISS está com o sentido de chateado, aborrecido.
Isso tudo me deixa muito bolado. Como pode um
país como o nosso ainda ter habitantes tão miserá-
veis. (Capricho, 2 de maio de 2004, p. 78)
Foram encontradas as seguintes definições de bolado:
85
bolado. [De bola + -ado1.] Adjetivo. Brasileirismo. Gíria. 1. Diz-se de in-
divíduo sob efeito de tóxicos. 2. Preocupado; grilado, amolado. (AEXXI,
1999: 314)
bolado adjetivo. Brasil informal. 1 surpreso e confuso com determinada atitude
ou reação de outrem <ficou b. com o fora que levou> 2 aborrecido, chateado,
amolado <ficou b. com a namorada por motivo bobo> 3 sob efeito de tóxicos;
doidão ETIMOLOGIA origem obscura. (HOUAISS, 2001: 480)
4) O verbo desencanar, isto é,não se preocupar à toa; desistir”, apa-
rece, nos exemplos abaixo, como verbo intransitivo (1º) e como transitivo
indireto (2º).
O jeito é desencanar e curtir o momen-
to.(Todateen, Julho/2001, p.13.)
Finalmente desencanou do cara. Ele não dava a
mínima para ela que ficava correndo atrás dele. Era
deprimente ver aquela cena. (Capricho, 11 de abril
de 2004, p. 37)
O verbete desencanar aparece com as seguintes acepções:
desencanar. [De des- + encanar1] Verbo transitivo direto. Tirar ou desviar
do cano. (NDALP, 1986: 557)
desencanar 1 [De des- + encanar1.] Verbo transitivo direto 1. Tirar ou des-
viar de cano.
desencanar 2 [Corruptela de desencarnar, possivelmente.] Brasil. Gíria.
Verbo transitivo indireto 1.Desencarnar (3).Verbo intransitivo 2. Despreo-
cupar-se, desapoquentar-se; tranqüilizar-se; desligar-se. (AEXXI, 1999:
646)
Embora o verbo desencanarapareça no Dicionário Aurélio XXI e no
Dicionário Houaiss da língua portuguesa com o significado usado pelos
adolescentes, o mesmo não ocorre com o verbo encanar, com o sentido de
cismar com alguma coisa. Por essa razão, os verbetes encanar, assim como
encanação e encanador aparecerão, mais adiante, como neologismos semân-
ticos. Nos dois exemplos abaixo, o verbo encanar é transitivo indireto.
Não adianta encanar com ciúme. (Todateen, Ju-
lho/2001, p.14)
86
Os meninos encanaram com aquela brincadeira de
agarrar as garotas. No início foi divertido, mas, de-
pois, perdeu a graça. Mas eles não pararam. tive-
mos que ser grosseiras. (Atrevida, Maio/2003, p. 47)
Encanar aparece com os seguintes significados:
encanar 1. [De en-3 + cano1 + -ar2.] Verbo transitivo direto 1. Conduzir
por cano ou canal; canalizar: encanar as águas pluviais. 2. Abrir raias longi-
tudinais em (uma coluna). [Presente do indicativo: encano, etc. Confrontar
incano.]
encanar 2 Verbo transitivo direto 1. Cirurgia Pôr (o osso fraturado) em ta-
las, ou canas, em direção para se soldar. 2. Brasil Gíria Meter em cana1 (5);
prender. Verbo intransitivo 3. Criar canas [ ver cana1 (1) ]: O milharal já
encanou. [Presente. indicativo: encano, etc. Confrontar incano.] (NDALP,
1986: 642)
encanar 1 [De en-2 + cano1 + -ar2.] Verbo transitivo direto 1. Conduzir por
cano ou canal; canalizar: 2 2. Abrir raias longitudinais em (uma coluna).
[Presente do indicativo: encano, etc. Confrontar incano.]
encanar 2 [De en-2 + cana1 + -ar2.]Verbo transitivo direto 1. Cirurgia Pôr
(o osso fraturado) em talas, ou canas, em direção para se soldar. 2. Brasil
Gíria Meter em cana1 (4); prender. Verbo intransitivo 3. Criar canas [ ver
cana1 (1) ] : 2 Presente. indicativo: encano, etc. Confrontar incano.] (AEX-
XI, 1999: 745)
encanar 1 verbo. (antes de 1649 cf.. João Pinto Ribeiro, Relação) 1 transiti-
vo direto. conduzir através de cano ou canal; canalizar 2 transitivo direto.
fazer raias ou sulcos longitudinais em (uma coluna) ; ETIMOLOGIA
1
en- +
1
cano + -ar; ver can(i)-; f.hist. a1649 encanado, a1697 encanar ; ANTÔ-
NIMO desencanar ; PARÔNIMO encano(1ªpessoa do singular)/ incano (ad-
jetivo)
encanar 2 verbo. (século XX) 1 transitivo direto. proteger (o osso fraturado)
por meio de talas ou canas, mantendo-o em posição adequada ao processo
curativo <teve de encanar o braço> 2 transitivo direto.r em cana, pôr na
cadeia; encarcerar, prender <a polícia encanou o punguista> 3 intransitivo.
adquirir formato ou aspecto de cana <o trigo já encanou> ; ETIMOLOGIA
1
en- +
1
cana + -ar; ver can(i)- ; ANTÔNIMO desencanar ; PARÔNIMO ver
1
encanar (HOUAISS, 2001: 1132)
5) O verbo ficar, que aparece no Dicionário Aurélio XXI e no Dicio-
nário Houaiss da língua portuguesa com a acepção de ter uma relação
amorosa sem compromisso cuja duração pode ser apenas de algumas horas
ou uma noite, dará origem aos neologismos lexicais ficação, ficada, fican-
87
te, ex-ficante, como veremos no capítulo 6.
Hoje em dia só há namoro firme depois que os ado-
lescentes ficam várias vezes para testar se vale a pe-
na. (Capricho, 13 de junho de 2004, p.23)
Ficar por ficar não rola. Tem que haver alguma coi-
sa no cara que me faça querer a ficada. Se não tiver
uma química, não fico de jeito nenhum. (Capricho,
11 de Julho/2003, p.78)
Encontram-se as seguintes definições do verbo ficar:
ficar [Do latim vulgar *figicare, freq. de figere, 'fixar'.] Verbo transitivo cir-
cunstancial. 1.Estacionar (em algum lugar); não sair dele; permanecer: ficar
em casa. 2. Estar situado: “Para o romano, o mundo dos prodígios ficava a
Ocidente.” (Aquilino Ribeiro, Os avós dos nossos avós, p. 39) & Brasília fi-
ca no Planalto Central. 3. Não dever ser conhecido senão por (uma ou mais
pessoas): Isto fica entre nós. 4. Albergar-se, pernoitar: Anoiteceu e ficamos
num rancho próximo. 5. Restar, sobrar: Não lhe ficou um só livro. Ser ad-
quirido pelo preço de; custar: Cada um dos livros ficou em 25 reais. 6. A-
justar, combinar, assentar: “Aceitei o oferecimento e a moça ficou de vir à
noitinha.” (Coelho Neto, Turbilhão, p.295) Permanecer por algum tempo:
Casou-se e assim ficou por 15 anos. Verbo transitivo indireto 7. Ser adia-
do, transferido, procrastinado: Esse assunto fica para amanhã. 8. Não dizer
mais; não ir além de: Disse três palavras e nisto ficou. 9. Obrigar-se (a al-
guma coisa); prometer: Ficou de trazer resposta hoje. 10. Convir, concordar:
Afinal ficamos de voltar imediatamente. 11. Provir, proceder, resultar: Da
abundância de pau-brasil na Terra de Santa Cruz lhe ficou o nome de Brasil.
12. Caber por quinhão; tocar por sorte: Recebeu a parte da herança que lhe
ficou. 13. Adquirir, comprar: Reclamou do preço, mas acabou ficando com
a mercadoria. 14. Ser cometido; contrair: ficar com sarampo, com caxumba.
15. Ajustar-se, quadrar: Esta roupa lhe fica bem. 16. Estar sob a responsabi-
lidade (de alguém): Isto fica por sua conta. Verbo transitivo direto e indire-
to 17. Afiançar, assegurar, prometer: Fiquei-lhe que lhe faria o prometido.
Verbo predicativo. 18. Permanecer em determinada disposição de espírito
ou situação: Durante dias ficou triste. & Saí e ele ficou acamado. 19. Conti-
nuar, permanecer: Isto não ficará assim. & “Fica agora assim ... que a luz do
entardecer está batendo nos seus cabelos e eu quero guardar ... esta imagem
de você tão linda.” (Caio Fernando Abreu, Estranhos Estrangeiros, p.14)
20. Converter-se em; tornar-se: As tábuas, depois de batidas, ficam mesa.
21. Vir a estar em determinado estado ou situação; tornar-se, fazer-se: “Os
campos ficaram tristes.” (Antônio Feliciano de Castilho, Amor e Melancoli-
a, p. 25) & “E assentado entre as formas incompletas / Para sempre fiquei
pálido e triste.” (Antero de Quental, Sonetos, p. 159) 22. Ser nomeado
ou escolhido para cargo: ficou para chefe. Verbo intransitivo. 23. Conser-
var-se atras dos tempos; durar, perdurar, subsistir: Vão-se os homens, po-
rém suas obras ficam. & “A história das minas jaz na escuridão. Como fa-
zer de uma vez um trabalho que fique?” (Capistrano de Abreu. Ensaios e Es-
88
tudos, 1ª série, p. 199) 24. Parar de repente, estacar: Ao ver-me, ficou. 25.
Restar, sobrar: Trouxe o que pôde, porém muita coisa ficou. 26. Não dar
mais passo; parar: Seguiram todos e ele ficou-se. Verbo pronominal 27.
Permanecer, conservar-se, demorar-se, deter-se, quedar-se: Vai à serra e fica
lá um mês. & “E os olhos de azeviche, ardentes e tranqüilos, / Ficam-se ho-
ras a olhar as sombras do montado” (Conde de Monsaraz, Musa Alentejana,
p. 204) 28. Reter em seu poder: Na herança, ficou-se com a parte melhor.
29. Entregar-se à guarda e proteção de alguém. 30. Cessar de comprar cartas
em alguns jogos. 31. Fazer-se, tornar-se: “Mais te procuro, mais te ficas al-
to...” (Hermes-Fontes, Gênese, p. 63) 32. Seguido da preposição por mais
verbo no infinitivo, expressa que não se praticou a ação indicada por esse
verbo: O trabalho ficou por fazer. 33. É usado também como auxiliar: Ficou
sabendo de tudo. [Conjugação: ver trancar.] Ficar ao pintar. 1. Quadrar,
convir, assentar excelentemente. Ficar atrás de. 1. Ser inferior a; ter menos
mérito que: Apesar de bom poeta, Junqueira Freire fica atrás de Castro Al-
ves. 2. Ter uma qualidade qualquer em grau inferior: Se Paulo é rico, Pe-
dro não lhe fica atrás. & “Era um velho conversador. Pajeú não ficava a-
trás: gostava de bater um papo.”(Adalberon Cavalcanti Lins, Curral Novo,
p. 112) [Mais usado negativamente.] Ficar bem. 1. Quadrar, convir. Ficar
bonitinho. Bras. Gír. 1. Expressão com que se ameaça alguém, aconse-
lhando-o a não se intrometer, não agir. Ficar de fora. 1. Ser excluído; não
ser contemplado. Ficar de mal com. Bras. 1. romper relações com; incom-
patibilizar-se, brigar com; pôr-se de mal com. Ficar falando sozinho. 1. Ser
desprezado, abandonado, sem a convivência de pessoa querida. 2. Não ser
objeto de atenção, de apreço; não ser levado em conta; não ser ouvido. Ficar
limpo. 1. Perder ou gastar todo o dinheiro. Ficar mal a. 1. Não ser próprio
ou digno de; ser desabonador para: Fica-lhe mal agir dessa maneira. Ficar
mal com. 1. Não se harmonizar ou não combinar com: Esta blusa fica mal
com a saia. Ficar por isso mesmo. 1. Não haver punição de falta ou crime
cometido: Pratica as maiores violências e fica por isso mesmo. Ficar so-
brando. 1. Ser relegado, ser esquecido; sobrar: Os demais irmãos foram
convidados, só ele ficou sobrando. 2. Não ser procurado ou atendido; não
ser alvo de atenção; sobrar: Várias pessoas conseguiram audiência, e eu fi-
quei sobrando. Ficar sujo. 1. Desmerecer no conceito alheio. (NDALP,
1986: 774)
ficar [Do latim vulgar *figicare, freq. de figere, 'fixar'.] Verbo transitivo cir-
cunstancial. 1.Estacionar (em algum lugar); não sair dele; permanecer: ficar
em casa. 2. Estar situado: “Para o romano, o mundo dos prodígios ficava a
Ocidente.” (Aquilino Ribeiro, Os avós dos nossos avós, p. 39) & Brasília fi-
ca no Planalto Central. 3. Albergar-se, pernoitar: Anoiteceu e ficamos num
rancho próximo. 4. Ser adiado, transferido, procrastinado: Esse assunto fica
para amanhã. 5. Ser adquirido pelo preço de; custar: Cada um dos livros fi-
cou em 25 reais. 6. Permanecer por algum tempo: Casou-se e assim ficou
por 15 anos. Verbo transitivo indireto 7. Restar, sobrar: Não lhe ficou um
só livro. 8. Não dever ser conhecido senão por (uma ou mais pessoas): Isto
fica entre nós. 9. Não dizer mais; não ir além de: Disse três palavras e ficou
nisto. 10. Provir, proceder, resultar: Da abundância de pau-brasil na Terra de
Santa Cruz lhe ficou o nome de Brasil. 11. Caber por quinhão; tocar por sor-
te: Recebeu a parte da herança que lhe ficou. 12. Adquirir, comprar: Recla-
89
mou do preço, mas acabou ficando com a mercadoria. 13. Estar sob a res-
ponsabilidade (de alguém): Isto fica por sua conta. 14. Ser cometido; contra-
ir: ficar com sarampo, com caxumba. 15. Estar, permanecer em companhia:
Não quis vir, preferiu ficar com a mãe. 16. Bras. Pop. Namorar sem com-
promisso, durante um curto espaço de tempo (às vezes, por uma noite): Na
festa de formatura, F. ficou com sua melhor amiga. Verbo transitivo direto
e indireto 17. Afiançar, assegurar, prometer: Fiquei-lhe que lhe faria o pro-
metido. Verbo predicativo.
(...). (AEXXI, 1999: 899)
6) O adjetivo malhado caracteriza quem se preocupa com o corpo e
pratica exercícios físicos:
Sou, na verdade, um cara malhado que curte uma
aventura e se preocupa com o corpo. (Capricho, Ju-
lho/2001, p.20)
A garota deve ser malhada de um modo normal,
sem parecer um homem. Músculo demais fica pare-
cendo jogador de futebol. (Atrevida, Julho/2002, p.45)
Ficar bem malhada é o meu objetivo. Quero ter
meu corpo todo definido. Acho muito maneiro e
lindo. (Todateen, Abril/2003, p. 67)
Malhado aparece com os seguintes significados:
malhado 1 [Particípio de malhar1] Adjetivo. Que se malhou; batido ou calçado
com malho.
malhado 2 [De malha2 + -ado] Adjetivo. 1. Que tem malhas ou manchas: touro
malhado; Substantivo masculino. 2. Brasileirismo. Certo arbusto pitosporáceo.
(NDALP, 1986: 1071)
malhado 1 [Part. de malhar1.] Adjetivo. 1. Que se malhou; batido ou calcado
com malho. 2. Brasleirismo. Gíria. Diz-se de droga (4) adulterada com misturas. 3.
Brasileirismo. Gíria. Moldado (o corpo ou parte dele) em conseência de ginástica e
exercícios intensos; sarado.
malhado 2 [De malha2 + -ado1.] Adjetivo. 1. Que tem malhas ou manchas: tou-
ro malhado Substantivo masculino. 2. Brasileirismo. Botânica. Certo arbusto pitospo-
ráceo. (AEXXI, 1999: 1262)
7) O substantivo feminino pegação, apresenta duas acepções utiliza-
das pelos adolescentes. Uma é o ato de ficar atormentando alguém com
perguntas, questionamentos, exigências que aborrecem uma pessoa:
É bom ter uma garota par sair e se divertir numa
90
boa, sem compromisso sério ou pegação no pé.
(Capricho, Julho/2001,p.10)
Pai e mãe adoram ficar com aquela pegação no pé
com perguntas, que mais parecem um interrogató-
rio da polícia. Assim não dá. (Todateen, Mai-
o/2003, p.45)
A outra é o ato de ficar abraçando e beijando alguém de maneira
exagerada:
Sempre nas baladas rola a maior pegação. Minha
e já está acostumada; já desencanou. (Todateen,
Julho/2002, p.24)
Quando a garota fica na pegação a festa inteira, só
dá para ficar; não rola algo mais sério. (Atrevida,
Agosto/2002, p.54)
Esse vocábulo o aparece no Novo Dicionário Aurélio da Língua-
Portuguesa, de 1986, nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portu-
guesa, de 1999, mas está registrado no Dicionário Aurélio Século XXI, de
1999, e no Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de 2001 .
pegação [De pegar + -ção.] Substantivo feminino. Brasileirismo Gíria. 1.
Bolinagem, esfregação: “Patrice Bowman, 30, conheceu William Kennedy
Smith, em Au Bar, um bar de pegação em Palm Beach, Flórida.” (Paulo
Francis, em O Estado de São Paulo, 8.12.1991) (AEXXI, 1999: 1527)
pegação substantivo feminino. Brasileirismo informal mesmo que bolina-
ção ; ETIMOLOGIA pegar + -ção; ver peg- ; SINÔNIMO/VARIANTE ver
sinonímia de esfregação. (HOUAISS, 2001: 2166)
É interessante chamar a atenção para o fato de que, como poderemos
comprovar mais adiante, no levantamento dos neologismos, embora o vo-
cábulo pegação esteja registrado nos dicionários, os substantivos pega e
pegada, o adjetivo pegador e o verbo pegar, pertencentes ao mesmo cam-
po semântico de pegação, surgem como neologismos semânticos.
Com essa breve amostragem em um corpus específico (publicações
voltadas para adolescentes), é possível notar a movimentação existente no
léxico, como ele se renova e se enriquece a todo o momento.
91
5.2 A ORGANIZAÇÃO DA NOMINATA
Quando se elaboram verbetes de um dicionário ou de um glossário, é
preciso adotar um critério que organize esse processo de um modo coerente.
Para os objetivos deste trabalho, os critérios que nortearam a composição do
glossário foram os seguintes:
Em primeiro lugar, há que se considerar a identificação da unidade
léxica que constituirá entrada no levantamento proposto. Isto porque a de-
finição de palavra engloba vários problemas teóricos com reflexos na sua
identificação e tratamento ortográfico e lexicográfico.
Sabe-se que o lexema é uma entidade abstrata que, no nível do dis-
curso, pode manifestar-se em formas fixas ou assumir formas variáveis.
Tomamos como base a nomenclatura de AndMartinet, que consi-
dera como unidade mínima que estabelece a relação entre significado e
significante o monema. Este compreende o lexema, que constitui o concei-
to do mundo exterior, e o morfema, que carrega o conceito gramatical.
A combinação do lexema com o morfema dará origem ao vocábulo,
conjunto de conteúdo significativo. No presente trabalho, empregamos os
termos vocábulo e palavra indiscriminadamente.
Cada verbete, no nível lexical, está identificado por sua classe gra-
matical, do tipo de neologismo (lexical, locucional ou semântico), da sua
definição, da abonação e, se necessário, será feita uma observação ao final
do verbete, com comentários a respeito da sua formação, da etimologia (no
92
caso dos neologismos semânticos e locucionais), alguns comentários his-
tóricos, sociais, e lingüísticos.
A classificação gramatical segue indicada por abreviaturas. O crité-
rio adotado para a determinação da classe gramatical foi baseado no valor
estabelecido pelo contexto, o que será possível comprovar-se nas abona-
ções. Desse modo, de acordo com o contexto, uma palavra poderá ser clas-
sificada como adjetivo, substantivo ou advérbio.
Quanto ao gênero, foi levado em conta o critério adotado por Matto-
so Câmara Jr., em Estrutura da ngua Portuguesa, em que os nomes são
divididos em de um gênero (masculino ou feminino) e de dois gêneros,
com ou sem flexão.
Com relação aos substantivos originados de verbos, tanto por deri-
vação sufixal como por regressão, foi usado o termo deverbal. E, no caso
de ser mencionado o processo de formação, privilegiou-se o critério sin-
crônico.
Ao final de cada verbete, segue a abonação com diferentes citações
acompanhadas da fonte de onde foram retiradas. Elas colaboram para o
entendimento da definição e para a identificação da classe gramatical.
Um campo complementar indicará as formas variantes porventura
encontradas.
5.3 A DEFINIÇÃO DOS VERBETES
No que diz respeito à definição dos termos utilizados pelos adoles-
93
centes, é preciso mencionar os critérios levados em conta quando elabo-
ramos o texto de uma definição. Isto porque, como veremos adiante, há,
normalmente, um padrão de enunciado definitório cristalizado devido a
uma tradição de texto. Segundo Maria José Bocorny Finatto, no artigo “O
Papel da Definição de Termos Técnico-científicos”, publicado na Revista
da Abralin,
O enunciado que define uma noção, processo ou
objeto é um elemento-chave na constituição e na
veiculação do conhecimento especializado, tecno-
lógico e científico. Afinal, expressa um segmento
de relações de significação de uma determinada á-
rea do saber. (Julho/2001: 74)
No entanto, é importante lembrar que não se pode generalizar esse
padrão, pois, dependendo da situação, será preciso “quebrá-lo” em favor
das diferentes situações de texto de comunicação.
(...)Mas, algumas vezes, com o objetivo de buscar
padrões lógicos estritos e uma homogeneidade es-
tanque para a apresentação da definição, esquece-
mos que as diferenças e as homogeneidades são i-
nerentes à Linguagem. Isso, conseqüentemente,
condicionaria ou espelharia padrões lógicos, subja-
centes ou expressos, peculiares para as diferentes
áreas do conhecimento. (IDEM)
O enunciado que explica ou define o verbete de um dicionário pre-
cisa ter clareza e objetividade. Entretanto, como explica Finatto,
um excesso de normatividade lógica, tanto tomado
como medida de análise, quanto cobrado da sua a-
presentação, pode gerar alguns problemas quando
se lida com definições concretas, reais. Portanto,
colocar ou requerer um padrão de formulação uni-
forme, absoluto ou invarvel, que possa valer para
qualquer situação, ou privilegiar apenas uma forma
lógica seria uma medida pouco inteligente na me-
dida em que nos distancia da realidade da lingua-
gem em geral e também de uma determinada lin-
guagem técnica ou científica em uso. Afinal, a vari-
94
ação é um traço constitutivo da linguagem in vivo,
seja ela especializada ou não. (IDEM)
Dessa forma, tentaremos seguir um padrão definitório que poderá,
todavia, ser rompido em favor de um esclarecimento mais preciso, de a-
cordo com a necessidade.
95
6. GLOSSÁRIO DOS NEOLOGISMOS NAS PUBLICAÇÕES VOL-
TADAS PARA OS ADOLESCENTES
achar-se vi
NS
Vangloriar-se; gabar-se.
Não é por nada não, mas hoje os garotos estão se
achando. Querem ficar com várias garotas na bala-
da e acham que todas estão disponíveis para isso.
(Capricho, 2 de maio de 2004, p.25)
A Marcela, por exemplo, fica se achando só por-
que tem o cabelo lisinho e não precisa de chapinha.
(Atrevida, Abril/2002, p.45)
Ele dá em cima de meninas na sua frente. E, por
causa dessa atitude, se acha. Cruzes! (Capricho, 26
de dezembro de 2004, p. 79)
Meus amigos dizem que eu sempre brilho mais en-
tre eles. Falam que eu me acho um pouquinho.
Não é que eu me acho, entende? Eu curto o jeito
que eu sou. Eu digo: “Pode falar a verdade. Eu sou
linda!” E eles tiram sarro. (Capricho, 26 de dezem-
bro de 2004, p. 8)
Sabe aquela pinta de “Eu me acho” dos meninos?
É pura casca Eles têm muitas dúvidas sobre o pró-
prio corpo. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p.
72)
Obs.: O verbo apresenta nova acepção e predicação. O pronome se
é parte integrante do verbo.
96
afinzão a
NL
Muito interessado em algo ou alguém.
A gatinha Jéssica Thaís Delambert Hireschberger
foi a grande vencedora do Concurso Cultural “Can-
tadas Oi Pegação”. Sua frase foi “Estava eu oiza-
rando e fiquei afinzona de te dar uma flechada para
saber tudo sobre eu e você, e te levar para o mundo
Oi ...(Atrevida, Junho/2004, p.7)
Obs.: Formado a partir da locução a fim de, com o aproveitamento
da palavra fonológica como base para a derivação.
agitar vtd / vtdi
NS
Arrumar namorado para si ou para outrem.
Caio namora há cinco meses uma colega de escola
que ele já xavecou para um amigo. “Eu era a fim
dela, mas achava que não tinha chance. Por isso
quando o menino mais bonito da escola me pediu
par agitá-la, quis ficar bem na fita com o cara e
tentei mas ela disse que o achava muito convenci-
do. Logo depois a amiga dela me contou que na
verdade ela era a fim de mim.” (Capricho, 4 de
abril de 2004, p. 95)
Ouvimos a conversa de Mateus, 17 anos, e Felipe,
18, na volta da balada, em São Paulo. Sandra, uma
conhecida de Felipe, pediu para ele agitar o Ma-
teus pra ela. Só que o Mateus não estava nem um
pouco a fim. (Capricho, 11 de julho de 2004, p. 67)
Numa rave fui agitar uma supergata para meu ami-
go, e logo que comecei a falar dele ela disse que es-
tava a fim de outra pessoa. Perguntei: ‘Eu conhe-
ço?’. E ela mandou: ‘Claro, é você’. (Capricho, 4
de abril de 2004, p. 95)
“Quem agita as meninas para os amigos geralmen-
97
te é o cara mais alegre e autoconfiante do grupo. E
isso encanta qualquer uma”, diz João Bernardes,
16, outro que sempre faz o papel do cupido. (Ca-
pricho, 4 de abril de 2004, p. 95)
Quando você quer agitar uma amiga sua para al-
gum amigo dele, qual a reação do gatinho? (Capri-
cho, 26 de dezembro de 2004, p. 72)
Obs.: A nova acepção parte do significado de mexer-se para fazer
alguma coisa neste caso, arrumar namorado(a) para alguém. Na predica-
ção original, achar-se aparece, no Dicionário Houaiss da língua portu-
guesa, como pronominal com o sentido de “estar em um local ou em de-
terminada condição, situação ou estado; encontrar-se. Ex.: <acha-se fora
da cidade> <acha-se numa situação difícil>”. Ou como transitivo direto
predicativo e pronominal, com o sentido de “ter determinado pensamento
ou avaliação acerca de; julgar(-se) considerar(-se), reputar(-se). (...) Ex.:
<acham-no louco> <acha-se dono da verdade>”.
alemão sm
NS
Aquele que denuncia um amigo; rival.
É chato ter no seu grupinho um alemão que a qual-
quer hora pode te trair. É melhor deixar que ele per-
ceba que não é bem-vindo no grupo. (Todateen,
Dezembro/2002, p. 19)
Como não queria dar uma de alemão, não me in-
trometi no assunto e saí de fininho. Em assunto de
marido e mulher, mesmo que eles sejam seus pais,
não se deve meter a colher. (Capricho, Novem-
bro/2002, p. 25)
Obs.: Neologismo diastrático. O substantivo, inicialmente utiliza-
do por marginais para se referir ao inimigo, foi incorporado ao vocabulário
do adolescente.
98
amigo-cupido sm
NL
Aquele que arruma namorada para um amigo.
Um tipo desses já deve ter chegado em você na ba-
lada ou na escola. Eles fazem o serviço duro: jogar
o xaveco para convencer a garota de que vale a pe-
na ficar com o amigo. A parte boa – beijar – fica
com o outro. Mas, ao contrário do que parece, de
bobo o amigo-cupido não tem nada. (Capricho, 4
de abril de 2004, p. 95)
O amigo-cupido costuma ser o cara mais popular
da galera: além de ter uma superfacilidade de inte-
ragir com as garotas, e transitar à vontade entre e-
las, são admirados pelos amigos. (Capricho, 4 de
abril de 2004, p. 95)
Obs.: Composição por justaposição dos substantivos amigo (indi-
víduo com quem se tem amizade, companheirismo; camarada) e cupido
(deus do amor – para os gregos, Eros), representado geralmente com asas,
às vezes de olhos vendados, e provido de arco e flechas, para acertar os
corações).
balada sf
NS
Festa, evento social.
Na hora da balada, o lance é usar uma roupa bem
transada e confortável.(Todateen, Julho/2001, p.
55)
“Quando a gente liga, as meninas ficam metidas”,
justifica Rafael Nunes, 19. Ele explica que só pede
o telefone quando está muito a fim. Em geral rola
uma garota por balada. (Capricho, Abril/2004, p.
25)
Você vê um gatinho na balada. O que é imprescin-
dível saber antes de ficar com ele? (Capricho,
Abril/2004, p. 27)
99
Obs.: O termo, preferido pelos adolescentes de São Paulo, tem
como equivalente, no Rio de Janeiro, o estrangeirismo night (q.v.). Com
relação à balada, uma relação entre o seu significado na linguagem dos
adolescentes e o tradicional. Isso porque balada, no DH, aparece como
“substantivo feminino 1 Rubrica: música.composição musical de caráter
épico 2 Rubrica: música.composição instrumental sem forma definida 3
Rubrica: literatura, sica. composição poética popular antiga, acompa-
nhada ou não de música 4 Rubrica: literatura. poema em estrofes que ger.
narra uma lenda popular ou uma tradição histórica, podendo ser acompa-
nhada por instrumentos musicais 5 Derivação: por extensão de sentido.
Rubrica: dança.dança executada com esse fundo musical 6 Rubrica: versi-
ficação.poema ger. constituído de três estrofes com rimas recorrentes, um
envio (tb. dito oferta, ofertório)e um refrão que finaliza cada parte 7 Ru-
brica: música. canção sentimental, em ritmo lento, interpretada por canto-
res de sica pop, acompanhada por conjuntos de instrumentos modernos,
como guitarra, teclado etc.Ex.: uma b. dos Beatles”. Desse modo, em uma
festa e em um evento geralmente há música. Daí a associação.
baladeiro a
NL
Que freqüenta baladas.
Mariana é muito baladeira; não perde uma balada
por nada desse mundo. (Capricho, Novembro/2002,
p.13)
Ser baladeiro é quase uma filosofia de vida. O im-
portante é selecionar as baladas. Ser arroz de festa é
queimação de filme. Só se deve aparecer nas bala-
das mais quentes e especiais. (Atrevida, Mar-
ço/2003, p.80)
Bolsinhas com gancho para pendurar no passador
da calça ou da saia são perfeitas para a baladeira
dá para dançar despreocupada. (Capricho, 2 de
maio de 2004, p. 58)
Os baladeiros adoram as noites de terça-feira,
quando só o às baladas pessoas selecionadas, se é
que vocês me entendem. Final de semana é muita
muvuca, muito farofeiro. (Capricho, Agosto/2002,
100
p. 65)
Obs.: Derivação sufixal de balada (+eiro).
sico a
NS
Simples, sem muito luxo.
Gosto de me vestir bem básica, sem frescuras. o
uso muita maquiagem. (Capricho, 26 de dezembro
de 2004, p. 67)
Sabendo escolher a cor do gloss, vofica sica e
fashion e pode fazer uma boca simples e, ao mesmo
tempo, sofisticada – repare como o brilho laranja-
metálico deu um ar de festa à produção. (Capricho,
26 de dezembro de 2004, p. 28)
Obs.:, Básico, que em seu sentido denotativo significa mais impor-
tante; fundamental, primordial, essencial, passou a ser usado como sinô-
nimo de simples, sem luxo.
beata sf
NS
Vagabunda.
Detesto essas beatas. Elas não prestam e se orgu-
lham disso. Alguns carinhas gostam desse tipo. Eu
não procuro me envolver com meninas direitas.
(Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 81)
Não freqüento baladas com beatas. Elas queimam
101
o filme de qualquer um. Posso ser confundida com
uma delas. (Todateen, Janeiro/2003, p. 67)
Obs.: Por antonímia, beata assume o significado de “vagabunda”.
beijação sm
NL
Ato ou efeito de beijar em demasia.
Nessa balada rolou a maior beijação. Foi irada.
Não dava para perder. (Capricho, 26 de dezembro
de 2004, p. 78)
Obs.: Verbete registrado no VOLP. O sufixo -ção é utilizado para
dar a idéia de repetição. Segundo o DH, -ção é um elemento de composi-
ção pospositivo, composto da vogal -a- temática da 1ª conj. + -ção, por
sua vez oriundo do -t- do rad. do supn. dos v. da conj. (amatum, canta-
tum, datum, placatum), seguido do suf. lat. -ìo,iónis, formador de subst.
verbais de ação provindos do rad. do supn., extremamente fecundo em
lat.cl. e continuando-o no lat.vulg. sob a f. -ióne(m), que dá o port.arc. -
om, mod. -ão, no caso vertente -çom > -ção; em princípio, qualquer v.
port. da 1ª conj. tem um subst. nessas condões, mesmo que para uso ad
hoc por parte do decisor, mas quase sistematicamente aceito pelo ouvinte
ou legente; seria, assim, ocioso dar exemplificação com os mais de dez mil
v. da 1ª conj.; impõe-se, pom, levar em conta que o subst. corrente pode
ser outro, com outro suf. de igual fim (casamento em face de casação,
passamento em face de passação, beliscadela em face de beliscação, além
de coexistências semanticamente distintas, como chupa-
ção:chupadela:chupamento etc.); ver -ão (1).
beleza interj
102
NS
Forma de saudação equivalente a como vai?, como vão as coisas?
Quando chego na balada e não conheço muito bem
o pessoal, digo “E, aí, beleza? (Todateen, Janei-
ro/2003, p. 34)
blogar vtd
NL
Participar de um “blogue”.
Blog-se. Entre no nosso blog e faça parte da nossa
turma. Vai ser demais. (Capricho, 26 de dezembro
de 2004, p. 28)
Obs.: Derivação sufixal do anglicismo blog (abreviação de “we-
blog” = web + log -, termo da informática que significa “diário virtual”),
com a peculiaridade ortográfica de ainda não ter grafado o dígrafo gu, re-
presentando o fonema /g/. Isso explica a forma “blog-se”, até o momento
sem outras flexões registradas: *bloguem-se, *blogou-se ... (cf. plugado <
plugue).
blogueiro sm
NL
Participante assíduo de um blogue”.
Bloguês de gringo. Você pensa que só no Brasil os
blogueiros se comunicam através de uma língua
esquisita e própria? Dê uma conferida no bloguês
dos americanos. (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 78)
bloguês sm
103
NL
O linguajar dos participantes de um “blogue”.
Bloguês de gringo. Você pensa que só no Brasil os
blogueiros se comunicam através de uma língua es-
quisita e própria? Dê uma conferida no bloguês dos
americanos.
cu = See you (até mais)
gal = Get a life (sai dessa vida)
kiss = keep it simple, stupid (não complica, bur-
rão/burrona) (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 78)
bombado a
NL
Que é forte devido ao uso de anabolizantes.
O cara bombado pensa que arrasa, mas, na verda-
de, não está com nada. É todo artificial. (Todateen,
Janeiro/2003, p. 57)
Dá logo para ver se o cara é chegado a uma malha-
ção saudável ou é bombado. (Atrevida, Ju-
nho/2003)
Obs.: Derivação sufixal – pelo verbo “bombar” (q.v.) – do subs-
tantivo “bomba”, informalmente usado para designar “qualquer medica-
mento forte, ou com efeitos colaterais nocivos. Refere-se também, especi-
ficamente, a medicamento anabolizante usado por atletas, desportistas,
fisiculturistas.” (HOUAISS)
bombar vi
NL
Fazer sucesso; ser popular.
Essa roupa vai bombar geral. É superfashion e
confortável. (Atrevida, Janeiro/2003, p.56)
O hip-hop está bombando nas baladas de todo o
ps. (Todateen, Abril/2003, p. 3)
104
Fui deixá-la na casa dela e depois voltei para a ba-
lada. Consegui camarote e coloquei as amigas dela
e umas amigas da Karina lá comigo. Tava bom-
bando. Aí essa amiga da Karina ficou me xavecan-
do forte. (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 93)
10 coisas que vão bombar no futuro: piercing no
olho, coleira elétrica para namorado galinha, namo-
rado de aluguel... (Capricho, 2 de maio de 2004, p.
28)
Obs.: Bombar e bombado têm usos/significados diferentes.
botar na fita
NLoc
Colocar alguém em situação favorável.
Sempre que ele pode, me bota na fita de umas ga-
tas sensacionais. Por isso é que gosto dele. (Todate-
en, Maio/2003, p. 45)
Eu botei minha prima na fita dos meus amigos,
mas nunca rolou nada. Ela é muito devagar. (Atre-
vida, Junho/2004, p. 38)
Obs.: O sintagma toma o significado do substantivo “fita” como
sinônimo de “filme”.
brotar vi
NS
Aparecer em algum lugar.
A mauricéia está brotando em Angra direto. Todos
se concentram nas festas das ilhas, causando um
congestionamento de lanchas. (Atrevida, Julho/2003, p. 81)
Obs.: Brotar, que tem seu sentido denotativo “ter origem; nascer,
medrar”, é utilizado para plantas. Na linguagem do adolescente, está asso-
105
ciado a pessoas, que aparecem, ou “nascem como plantas”, em determina-
do lugar.
bunda lisa
NLoc
Bobo, tolo, otário.
Eu sou muito romântico, cavalheiro. Não admito
ser chamado de bunda lisa. (Todateen, Agos-
to/2002 p.38
bv s2g
NL
Sigla de “boca virgem”, pessoa que nunca beijou.
Todo mundo é BV pra sempre?
“99, 9% das dúvidas sobre beijo são de meninas
BV. TODAS as minhas amigas já beijaram!”, es-
creveu uma leitora. A galera quer saber: com quan-
tos anos pega mal dizer que ainda é BV e como
começar beijando bem?”
Vamos lá. Em primeiro lugar, uma espécie de con-
solo: todo mundo já foi BV na vida. Sei que isso
não diminui o pânico do primeiro beijo (ou o ni-
co da falta dele), mas dá um conforto saber que
todo mundo já passou pelo mesmo drama. Não há
uma idade para deixar de ser BV, já que é uma coi-
sa que depende de oportunidade, sorte e – princi-
palmente – de uma outra pessoa disponível. (Capri-
cho, 21 de março de 2004, p. 31)
A BV
“Quando dei meu primeiro beijo, as minhas amigas
ficaram superfelizes e começaram a gritar feito lou-
cas ‘a Vicky não é mais bv!(Capricho, 4 de abril
de 2004, p. 81)
Obs.: A grafia “beo foi registrada.
bvl s2g
106
NL
Sigla de “boca virgem de língua”, pessoa que nunca deu um beijo
“de língua”.
Não sou mais bv, mas a galera fica me cobrando
porque sou bvl. Só por isso. (Capricho, Abril/2004,
p. 81)
Obs.: A grafia “bê-vê-ele” não foi registrada.
caça sf
NS
Ato de conquistar.
Agora apresentamos o Dossiê 2004 da ficação, mas
de um jeito diferente: 1438 garotas de todo o país
responderam no nosso site a uma enquete sobre
como agem, interagem e caem fora na hora da “ca-
ça”. (Capricho, 13 de junho/2004, p. 80)
Obs.: O ato de conquistar se associa a uma relação do homem com
sua “presa”.
capa sm
NS
Camisinha, preservativo.
Entrei com a mulé pra dentro do vestiário de 20 ca-
bines, joguei a mulé pra uma cabine e aí pá! Foi di-
reto, sem capa! É, aquele dia foi legal! Mas tava
muito bêbado, tava amarradão na situação. É lá de
Laranjeiras ela. (Capricho, 20 de fevereiro de 2005, p. 81)
caraca interj
107
NL
Indica surpresa, espanto, irritação.
Quando eu vi aquele gato, caraca, fiquei vidrada.
Ele era tudo de bom. (Capricho, Junho/2002, p. 43)
Caraca! Dava para xavecar o gato na maior. (To-
dateen, Janeiro/2002, p. 40)
Ela apareceu no meio da pista, me puxou com força
e falou: “Me dá um beijo agora”. Aí eu pensei “ca-
raca” e falei: “Vamos no bar, eu vou pegar uma
bebida”. (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 93)
- pra caraca loc adv
Muito; em demasia.
Esse filme é bom pra caraca. Todos devem assistir
porque vão gostar. (Atrevida, Agosto/2003, p. 30)
É que os desconfortos não são nada perto de você
ver a moçada se divertindo pra caraca. Todas as
roubadas parecem se justificar. (Capricho, 26 de
Dezembro/2004)
Obs.: O termo, cuja formação se origina de um eufemismo de
substantivo chulo, tem homônimos dicionarizados (v. AEXXI).
careta sm
NS
Cigarro.
Sou a única que fuma na minha turma. Sempre que
acendo um careta, me pedem para sair de per-
to.(Todateen, Agosto/2003 p.40)
Obs.: Percebe-se no uso uma relação com a rejeição ao fumo.
catar vtd
108
NS
Namorar alguém por um curto espaço de tempo.
O verbo “catar” para eles não é desrespeitoso.
Quando eles dizem para os amigos “catei aquela
mina” não quer dizer que ele só quis “ficar” com
ela. (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 91)
causador a
NS
Que causa confusão, que não sabe se comportar em um evento
social.
Que tipo você faz na balada? É comportada ou cau-
sadora? Faça o teste e descubra.(Capricho, No-
vembro/2003, p. 36)
cerva sf
NL
Abreviação de “cerveja”.
Festa sem cerva é inimaginável. Se não tiver nem
me convidem porque não vou. Outras bebidas não
me atraem. (Atrevida, Junho/2002, p. 70)
Não somos de beber demais. O máximo que rola
nas baladas é uma cerva e só. Não curtimos cair de
porre e dar vexame. (Capricho, Novembro/2003, p.
36)
chapa quente
109
NLoc
Que é capaz ou confiável.
Esse cara é chapa quente. Torço por ele porque sei
que se esforça e merece o nosso apoio e reconhe-
cimento. É uma grande figura do rock atual. (Toda-
teen, Agosto/2001, p.36)
Obs.: O substantivo “chapa” (s 2g) está dicionarizado com a acep-
ção de “(Bras. Pop.) companheiro, camarada, amigo” (AEXXI)
chapar o coco
NLoc
Ingerir bebida alcoólica em excesso.
Jovem...
Se você acha que sua mãe não tá entendendo nada
do que você fala, mostre para ela esse texto enviado
pela Débora Thomaz Martina, 18 anos. Para ela já
será meio caminho andado, saca?
... não briga, dá porrada
... não bebe, chapa o coco
... não cai, capota
... não entende, se liga
... não entra, invade
... não pede, ime
... não fala, troca idéia
... não vai embora, vaza
... não reclama, protesta
... não dorme, apaga
... nunca tá apaixonado, tá a fim
... não namora, dá uns pega
... não mente, passa migué
... não se dá mal, se ferra
... não acha interessante, acha irado
... não é gente, é jovem
E para finalizar: “Sangue na veia do jovem não cor-
re, tira racha”. (Capricho, 21 de março de 2004, p.
95)
chegada sm
110
NS
Ato ou efeito de aproximar-se de alguém com objetivo de conquista.
Sua chegada na gata tem que ser bem planejada pa-
ra evitar micos e furadas. (Capricho, Maio/2003,
p.80)
chegar vti
NS
Aproximar-se de alguém com objetivo de conquista.
Se eu chegar na menina e ela me der um fora, eu
chego na próxima que aparecer na minha frente e
tento beija-la na frente da outra. (Atrevida, Ju-
nho/2002, p. 49)
Se liga, tem menino muito mais interessante por aí
e você nem está chegando neles... Você deve ter
uma paciência incrível com os caras. Acha que se
for muito românica ele pode enjoar. (Capricho, 26
de dezembro de 2004, p. 73)
Outro dia foi no forró. Puxei a mina para falar do
meu amigo ela disse que o achou bonito, mas me
preferiu porque cheguei nela, lembra João.
Os meninos que fazem isso não têm capacidade pa-
ra chegar em uma menina. Eu me sinto muito mal
depois de ser beijada à força, chego a sentir nojo,
ódio e completo desprezo pelo menino. (Capricho,
4 de abril de 2004, p.99)
Obs.: Nessa acepção, a preposição em gramaticaliza-se com o va-
lor híbrido de destino ou finalidade de uma ação” (um dos valores da
preposição em) e “movimento para dentro” (valor do prefixo em-), ambos
provenientes da preposição latina in.
churras sm
111
NL
Abreviação de “churrasco”.
Nessas férias churras é básico. Sempre rola com a galera
que não viaja. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 6)
cofrinho sm
NS
Sulco existente entre as nádegas.
Acompanhei uma excursão para um programa na
Rede Bandeirantes. Chegando lá, tivemos que ficar
nas arquibancadas, esperando o programa começar.
Na minha frente, uns degraus para baixo, sentou
uma mulher que estava com o “cofrinho” apare-
cendo. Quando um garoto comentou que não pare-
cia um cofrinho mas sim um “vulcão”, de tão gran-
de que era, olhei para minha colega. Ela estava en-
gasgando com o suco, pois não tinha como parar de
rir. (Atrevida, Dezembro/2004, p. 22)
Obs.: A carga metafórica só se manifesta na derivação com o sufi-
xo diminutivo.
coleira sm
NS
Garoto que namora sério.
Dá para ver que ele entrou para o time dos coleiras.
Não desgruda daquela garota. Tá perdido, coitado.
(Atrevida, Dezembro/2004, p. 22)
saímos com cara sem namorada. Sair com colei-
rase você não quiser ficar com ninguém. (Ca-
pricho, 2 de maio de 2003, p. 50)
Obs.: O substantivo está associado ao seu valor denotativo de algo
112
que prende. Assim, um “coleiraé alguém que, mais que compromissado
com outro, está aprisionado a uma outra pessoa.
cueca sm
NS
Garoto, menino; adolescente do sexo masculino.
Normalmente os cuecas adoram os programas onde
aparecem mulheres de biquíni, rebolando o tempo
todo. (Capricho, Mao/2003, p. 25)
Todos os cuecas vão adorar a nova coleção de mi-
nissaias para esse verão. (Atrevida, Abril/2004, p.
32)
Obs.: O termo pode também ser empregado como segundo ele-
mento de um composto, como em “papo-cueca” (q.v.).
da hora loc adj
NLoc
De boa qualidade, interessante; que está em evidência.
Essa roupa é da hora. Não tem como ficar sem
comprar uma dessas para as baladas. (Todateen,
Dezembro/2003, p. 78)
Pô, não suporto festa com pagode. Se não tiver mú-
sica da hora, rock, nem passo na porta. (Todateen,
Novembro/2003, p. 76)
113
danada sf
NS
Mulher bonita, charmosa.
As micaretas são demais. Não perco uma. Rola de
tudo, eu sei, mas gosto mesmo é das bebidas e das
danadas, que só querem saber de beijar. (Todateen,
Novembro/2003, p. 58)
demorou interj
NS
Expressa satisfação, alegria.
Viajar de férias sem os pais? Demorou! É muito
mais que um sonho! (Capricho, Julho/2003, p.31)
Se a balada está cheia de gatas, demorou, é essa
que é a boa do final de semana. (Capricho, Mai-
o/2002, p.43)
Demorou!
Veja os melhores e piores de 2004 e o resultado do
nosso (seu) concurso de colírios. (Capricho, 26 de
dezembro de 2004, p. 45)
Obs.: Há uma relação com a idéia de expectativa.
de pista loc adj
NLoc
De lado, sozinho (em uma festa) ou trocado por outra pessoa.
Ir pra night pra ficar de pista é brabo. Melhor ficar
em casa dormindo e não pagar esse mico na frente
de todos. (Atrevida, Abril/2003, p. 65)
114
O cara ficou de pista, mas saiu pegando a primeira
que passou na frente. Não deu bobeira. (Capricho,
2 de maio de 2003, p. 47)
Obs.: Ver também “na pista”.
descontrol a
NL
Abreviação de “descontrolado(a)”.
O ciúme transtorna você? Coisa de gente insegura
ou um cuidado natural com quem a gente quer
bem? Cheque se você está mais para sossegada ou
mais para descontrol. Sai de baixo quando você
engata uma cena. Melhor nem provocar o monstro,
né? O tipo descontrol, na verdade, é uma tremenda
controladora. Daquelas que querem saber onde,
quando e como aquela garota cruzou na frente do
seu namorado. Só de imaginar que não sabe onde
ele anda, você já fica paranóica. Relaxe que a vida
melhora. (Capricho, 13 de junho de 2004, p. 89)
desencanado a
NL
Despreocupado.
Não adianta ficar encanada o tempo todo com o
corpo. As desencanadas são mais felizes. (Todate-
en, Outubro/2003, p. 34)
115
dibob adv
NL
Sem compromisso, à toa.
Quando não estou estudando ou surfando, curto
mesmo é ficar dibob, ouvindo um som maneiro,
deitado na minha cama. (Atrevida, Setembro/2003,
p.80)
Minha mãe não pode me ver dibob que arruma lo-
go alguma tarefa para mim. Parece uma coisa. Por
isso, quando ela me pergunta o que estou fazendo,
digo logo que tenho prova e preciso estudar. (Toda-
teen, Março/2002, p. 47)
Obs.: Advérbio formado a partir da locução “de bobeira”, com a-
daptação ortográfica da preposição e abreviação do substantivo.
dropar um barro
NLoc
Ficar com uma garota feia.
Pior que não ficar com ninguém na balada é dro-
par um barro. Ninguém merece ficar com uma ga-
rota horrorosa e depois ser zoado por todos. (Ca-
pricho, 2 de Maio de 2003, p. 80)
Obs.: O termo dropar vem do verbo inglês drop, cair, que, no vo-
cabulário dos surfistas, quer dizer descer em uma onda. Em “dropar um
barro”, vemos, em primeiro lugar, o aportuguesamento do verbo inglês e a
associação da garota feia com o barro. Dessa forma, ser visto com uma
garota feia “suja” a imagem de um garoto da mesma forma que alguém
que cai em cima de um barro (lama) se suja.
116
embananar vtd
NS
Ingerir banana.
Embanane-se!
A banana é uma das frutas mais ricas (só perde para
o abacate) em potássio, que auxilia no bom desem-
penho muscular. É por isso que o Guga sempre co-
me uma entre um set e outro no tênis: combate cãi-
bras. (Capricho, 25 de junho de 2004, p. 71)
Obs.: A derivação parassintética mantém o sentido literal da pala-
vra primitiva, contrariando o uso metafórico dicionarizado. Embora o ver-
bete, a rigor, não diga respeito unicamente à linguagem da juventude e
tenha sido incorporado pelo critério da ocorrência, exemplifica a produti-
vidade na recuperação do valor denotativo de algumas palavras.
emo sm
NL
Abreviação de “emocional”.
Relacionamentos são um tema freqüente nas músi-
cas. No primeiro single do disco, 1x0 Eu, por e-
xemplo, eles dizem: Pois quando me tinha não
soube cuidar, ganhava sempre no seu jogo de a-
mar. E agora vem correndo pedindo pra voltar,
não vai dar, não vai dar. Há um forte pé no emo,
mas com uma boa dose de bom humor. (Capricho,
26 de dezembro de 2004, p. 26)
encanação sf
NS
Iia fixa.
“Não suporto tanta encanão das meninas com
beleza. Elas ficam obcecadas pela perfeição do cor-
po que se tornam chatas, inseguras, mal-humoradas
117
e invejosas”. (Capricho, Maio/2004, p. 84)
Esse lance de ciúme só rola quando há muita enca-
nação por parte de um dos dois. (Atrevida, Setem-
bro/2003, p.80)
“Toda essa encanação com moda é uma jogada do
mercado para arrancar dinheiro das pessoas”. (To-
dateen, Março/2003, p.55)
encanado a
NS
Preocupado em excesso.
Ficamos por mais alguns dias e eu comentei que fi-
cava sem graça de beijá-lo na frente dos amigos do
meu ex-namorado. acho que ele ficou encanado e não quis
continuar. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 82)
Será que não é hora de desencanar e aceitar que
cinco meses juntos têm que significar alguma coi-
sa? E que você deveria soltar fogos de artifício em
vez de bancar a Miss Encanada 2004? (Capricho,
18 de abril de 2004, p. 73)
Elas são encanadas em mostrar a barriga o tempo
todo, mas, se puderem valorizar o acessório, por
que não? (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 58)
Obs.: Por derivação prefixal, forma-se também “superencanada”.
“Logo no começo que rolou comigo, eu fiquei super-
encanada. Ficava me perguntando se era sbica. De-
pois eu mesma, conversando com minhas amigas e
vendo que o meu negócio é mesmo menino, concluí
que toda essa encanação era bobagem”, relata Giova-
na. (Capricho, 6 de março de 2004, p. 23)
encanador sm
118
NS
Aquele que se preocupa em demasia, que não consegue se livrar
de uma idéia fixa.
Ele é um encanador de primeira. Não desencana
das brincadeiras que faço. Fica sempre grilado com
tudo. Ninguém merece! (Atrevida, Junho/2004, p. 40)
encanar vti
NS
Preocupar-se; ter uma idéia fixa.
Não adianta encanar com dieta. O lance é deixar
tudo acontecer naturalmente para ver se a auto-
estima fica bem e a pessoa se sinta legal fazendo
dieta. (Capricho, Dezembro/2003, p.36)
Encanar com namoro sério só atrapalha a ficada.
Se tiver que rolar um namoro, vai rolar, sem enca-
nação. (Todateen, Junho/2002, p.40)
Obs.: Seu antônimo “desencanar” (vti), já registrado no AEXXI
(q.v.), usa a preposição “de”:
Ele é um encanador de primeira. Não desencana
das brincadeiras que faço. Fica sempre grilado com
tudo. Ninguém merece! (Atrevida, Junho/2004, p. 40)
encoleirado a
NL
Estar compromissado com alguém.
Não saio com quem já está encoleirado. Se quero
xavecar, não terei uma boa companhia. Nesse caso
é melhor sair com amigos solteiros. (Capricho, 2 de
Maio de 2003, p. 87)
119
Marcos já está encoleirado. Não pode fazer um
bando de coisas. Ir pra night sozinho, nem pensar,
só com a namorada. (Todateen, Maio/2003, p. 76)
encoleirar vtd
NL
Ter um compromisso com alguém.
“Ela finalmente conseguiu encoleirar o carinha
com quem ficou na balada reggae.” (Capricho,
Março/2003, p. 65)
Encoleirou a menina e já se sente o dono dela. Isso
é um terror. (Atrevida, Abril/2002, p.32)
Obs.: A acepção do substantivo “coleira” como “espécie de colar
que cinge o pescoço dos animais” (AEXXI) está presente na formação da
parassíntese “encoleirar”. Ver coleira.
espancar vi
NS
Estar muito bom.
Para a balada ser boa é preciso que vários fatores
estejam funcionando legal. Se a música estiver es-
pancando já é meio caminho andado. O resto vai
se ajeitando. (Capricho, 2 de Maio de 2003, p. 45)
A praia no verão passado estava espancando. Es-
pero que nesse ano aconteça a mesma coisa. (Ca-
pricho, 26 de dezembro de 2004, p. 43)
esparrar vtd
120
NL
Dar um fora, rejeitar.
Eles não respeitam ninguém. Vão esparrando todo
mundo, sem dar bola para ninguém mesmo. (Atre-
vida, Junho/2004, p. 54)
Obs.: O verbo é derivado do substantivo “esparro” (Bras.), varian-
te de “esporro”, que significa “barulho, desordem, assuada, esparro” (A-
EXXI).
estar à pampa
NLoc
Estar bem disposto.
Para ir pra night tem que estar à pampa, pronto
para encarar qualquer parada. (Capricho, Mai-
o/2002, p.20)
Obs.: O sintagma é uma simplicação da expressão “estar bem à
pampa”, que singulariza a locução adverbial “às pampas(forma abrevia-
da de “às pamparras”), usada informalmente para indicar grande quantida-
de ou intensidade; à beça (cf. HOUAISS).
estrondar vi
NS
Passar dos limites; fazer sucesso.
Não adianta você se arrumar toda e o cara falar que
você está linda. Para mim, é preciso estrondar logo
de cara. Parar a festa é o meu objetivo. (Capricho,
26 de dezembro de 2004, p. 81)
O show foi muito maneiro; estrondou geral. Quem
não foi não sabe o que perdeu. Pior é que agora eles
não vêm mais para a América do Sul tão cedo. (To-
121
dateen, Maio/2002, p.70)
ex-ficante (v. ficante)
fala sério loc interj
NLoc
Indica indignação, surpresa.
Fala sério! Ter que sair sempre acompanhado dos
pais é o maior mico. Não tem condição. Nem pen-
sar. (Atrevida, Maio/2004, p. 59)
Estudar Matemática é muito chato. Fala sério, de-
corar um bando de fórmulas que eu nunca mais vou
ver na vida é demais.! (Capricho, Agosto/2002, p.
53).
(...) ou que, quando come, fica se lastimando, re-
clamando, jurando que amanhã vai ficar só na água
ou vai se matar na academia. Ai, fala sério: nin-
guém merece! (Capricho, 26 de dezembro de 2004,
p. 78)
farpar vi
NS
Relacionar-se com alguém sem compromisso e por um curtíssimo
período; ficar, no sentido de “namorar sem compromisso, durante um cur-
to espaço de tempo (às vezes, por uma noite)” (cf. AEXXI).
Hoje não é legal namorar certinho. O lance é ficar
farpando, sem compromisso sério. (Capricho, Se-
tembro/2001, p.40)
Não adianta querer encoleirar logo. A pessoa deve
122
farpar muito antes disso. (Atrevida, Outubro/2003,
p.70)
farpar também não é legal. Queima o filme da
pessoa. (Todateen, Maio/2002, p.45)
Obs.: O verbo se associa com o sintagma “arame farpado”, cabo
de uma liga de cobre e zinco fixado com pontas metálicas, que tem como
uma de suas finalidades “prender, agarraro que nele se encosta.
fazer o filme
NLoc
Fazer bonito; ficar bem na fita (q.v.).
Em vez de pagação de mico, acham que ter uma
e baladeira faz o filme. (Capricho, Novembro/2002,
p. 49)
Obs.: Opõe-se a “queimar o filme”. Remete para o campo semân-
tico de ficar bem, isto é, ter uma boa atuação no “filme”.
ficação sf
NL
Ato ou efeito de namorar várias pessoas, seguidamente, por um
tempo muito curto.
No Carnaval, principalmente a ficação rola solta.
As pessoas ficam com quinze, vinte numa só noite.
(Atrevida, Fevereiro/2004, p.56)
Agora apresentamos o Dossiê 2004 da ficação, mas
de um jeito diferente: 1438 garotas de todo o país
responderam no nosso site a uma enquete sobre
como agem, interagem e caem fora na hora da “ca-
ça”. (Capricho, 13 de junho/2004, p. 80)
ficada sf
123
NS
Ato de namorar alguém por um tempo muito curto.
Você é do tipo que começa com uma ficada e de-
pois namora sério? (Capricho, Julho/2001, p.15)
Mas durante sete meses passei com uma só. A gen-
te não namorou, mas ficava junto sempre que se vi-
a. Foi uma ficada aberta. Quantidade nunca foi im-
portante para mim, acho a qualidade mais impor-
tante. (Capricho, 26 de dezembro/2004, p. 49)
O casal quase terminou o namoro no segundo dia
em que oficializaram a relação. Os dois resolveram
ter uma conversa sincera sobre as ficadas que rola-
ram antes do namoro. (Capricho, 21 de março de
2004, p. 89)
ficante s2g
NL
A pessoa com a qual se fica.
Se o seu ficante não gostar do comprimento da sua
saia, tenha uma conversa séria. Ele quer continuar
ficando ou quer namorar com você? (Capricho,
Abril/2002, p.23)
Cristiano e Michael são favoráveis a ficar com des-
conhecidas. Para os outros, amiga de amiga ou co-
nhecida são a melhor opção: eles acham mais fácil
já ter pontos em comum para conversar com a fi-
cante. (Capricho, 13 de junho de 2004, p. 80)
Você acredita em simpatia pega-rapaz? Nickolas
Fonseca, 19 anos, não mesmo. Já a ficante dele,
Michele Gelesko, 17, jura que foi graças a uma
mandinga que conseguiu pegar o cara de jeito. (Ca-
pricho, 26 de dezembro de 2004, p. 86)
Obs.: O significado do verbo “ficar” como “Bras. Pop. namorar
sem compromisso durante um curto espaço de tempo” (AEXXI) serve de
base para a formação dos derivados neológicos “ficação”, “ficada”, “fican-
te” e “ex-ficante”.
124
Não dá para freqüentar os mesmos points da sua
ex-ficante. Assim é queimação de filme. (Todate-
en, Novembro/2001, p. 31)
ficar bem na fita
NLoc
Fazer bonito; agradar alguém; fazer o filme (q.v.).
Eu era a fim dela, mas achava que não tinha chan-
ce. Por isso, quando o menino mais bonito da esco-
la me pediu para agitá-la, quis ficar bem na fita
com o cara e tentei, mas ela disse que o achava
muito convencido. Logo depois, a amiga dela me
contou que na verdade ela era a fim de mim. No
mesmo dia me ofereci para levá-la em cada e a bei-
jei, conta Caio. (Capricho, Abril/2004, p. 95)
filé a
NS
Que é bonito(a), usado somente para pessoas.
Aquela menina, a Mari, é o maior filé. o tem um
garoto na escola que não queira ficar ou ter um rolo
com ela. (Todateen, Maio/2002, p.45)
Se me acham ou não filé, não me importa. Agora
sou comprometido com a minha gata e não quero
saber de ninguém. Quem tem que me achar filé é a
minha namorada. (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 84)
- filé sm
Mulher ou homem bonito.
Aquele filé ali, por exemplo, eu cato sem nenhum
esforço. Ela já me olhou várias vezes, tá afinzona
de mim. (Capricho, 2 de maio de 2004, p. 37)
125
Obs.: Termo associado ao significado de filé (“1ALIM carne de
boi, porco, carneiro e outras reses proveniente da região lombar do animal
2 CUL bife alto dessa carne; filé-mignon 3 CUL B qualquer fatia fina de
carne (vermelha ou branca) <f. de peixe> 4 INFRM. m.q. filé-mignon ('o
melhor quinhão') <contentou-se com uma participação modesta nos lu-
cros, porque o f. eles não dividiam com ninguém>”). A metáfora se apóia
no fato de o “filé” ser a melhor parte da carne de um animal.
finde sm
NL
Forma reduzida de “fim de semana”.
Praia realmente é o melhor programa para se fazer
no finde. É show um domingo de sol. (Capricho,
Dezembro/2001, p. 28)
Só no finde consigo relaxar por completo. Durmo
até tarde, vou à praia. Não programo nada. (Capri-
cho, 18 de abril de 2004, p. 8)
Obs.: Exemplo de truncação.
fofo a
NS
Que é bom, interessante, confiável, gentil, agradável.
Ele era fofo, dizia que eu era linda, que estava ado-
rando ficar comigo, mandava mensagens de texto
pelo celular falando que estava com saudade. Até
que a última vez que fui assistir à peça dele, ele foi
frio. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 82)
E afirmam que a cabeça dos caras é bem simples:
se ele gosta de você, vai ligar sempre. Se tem com-
portamentos incoerentes (é fofo um dia e no outro
some) é porque não está a fim. (Capricho, 26 de
dezembro de 2004, p. 82)
126
Obs.: O sentido figurado de “fofo”, como o “que encanta pelo as-
pecto bonito e gracioso” (HOUAISS), ampliou seu uso para qualificar
qualquer pessoa, por seu modo de agir, como boa, agradável, confiável.
fofowear sm
NL
Estilo “fofo” (q.v.) de se vestir.
Daí percebi que todas as garotas que vêm aqui e o-
lham minhas coisas ficam suspirando e falando “ai
que fofo”. Aí batizei meu estilo de fofowear. (Ca-
pricho, 2 de maio de 2004, p. 44)
Claro que eu me ligo em tendências. Mas a Kel tem
um estilo próprio, que é o tal do fofowear. Gosto
de coisas divertidas e exploro tudo que é bem de
mulherzinha: ursinho, florzinha, estrelinha, lacinho,
bolinha ... tudo inho ou inha. Não sei fazer as coisas
de outro jeito. Eu adoro essas coisinhas que são fo-
fas. (Capricho, 2 de maio de 2004, p. 45)
Obs.: O vocábulo apresenta uma composição híbrida: “fofo”, vo-
cábulo expressivo de origem onomatopaica, + “wear”, vocábulo da língua
inglesa que significa “vestimenta, modo de vestir”.
fotobloguismo sm
NL
Fenômeno relativo a quem usa o fotoblog, diário virtual com fotos.
O pessoal da minha cidade tá começando com ‘fo-
tobloguismo’ agora. E sempre me interessei mais
pelo pessoal de fora. Sinto que meus dias aqui estão
contados... Vou acabar meus estudos e cair no
mundo. (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 8)
galerar vtd
NL
127
Enturmar.
Galere-se!
Faça parte da galera Capricho. Escreva para nós.
(Capricho, 18 de abril de 2004, p. 15)
garpar vtd
NL
Namorar com alguém por um curto espaço de tempo; ficar.
A galera só vai pra garpar. É tanta mulher que a
galera não dá conta. O que rola de xaveco é incrí-
vel. (Atrevida, Fevereiro/2003, p. 74)
Obs.: Possível corruptela de “garfar”, cujo significado pejorativo
de “prejudicar, lesar, roubar” pode ser associado à idéia de “namorar sem
compromisso sério, só para tirar proveito”.
garpezar vtd
NL
Namorar alguém por um curto espaço de tempo; ficar; garpar (q.v.).
Quando a sica não é boa o lance é ficar garpe-
zando a noite toda. Só é chato quando só tem bagu-
lho na festa. (Todateen, Setembro/2003, p.45)
Obs.: Variante de “garpar’ com sufixo.
gastar vti
NS
128
Rir de alguém ou fazer-lhe uma brincadeira, por divertimento; ca-
çoar, gozar.
A galera fica me gastando quando eu coloco aque-
la bermuda florida. Nem ligo, meu pai comprou no
Havaí e eu me amarrei nela. (Capricho, 18 de abril
de 2004, p. 83)
gente a
NS
Aquele que é bom, que faz o bem.
Tia Vevete pode ter levantado poeira nos Jogos O-
límpicos com o hit Sorte Grande, ter vendido 500
mil cópias de seu Ao Vivo MTV e 300 mil do
mesmo DVD. Mas ela é muito gente! Duvida? Leia
aí... (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 18)
geral sf
NS
Todo o mundo.
É muito chato quando geral vai à festa e sua mãe
não deixa você ir. O jeito é dizer que estava pas-
sando mal, e mudar de assunto. (Todateen, Setem-
bro/2003, p.54)
Obs.: Expansão de sentido do vocábulo “geral”, usado no futebol
(p. ex. do Maracanã), significando “o pessoal”.
gogrin sm
NL
129
Gringo.
Não gosto de ir à praia cheia de gogrin. Eles só que-
rem saber de ficar com aquelas prostitutas e, às vezes,
ficam achando que nós também somos garotas de
programa. (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 48)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do substantivo
“gringo”.
hard a
NL
Que é excessivo, violento.
A gente entrevistou malhadores tipo hard e elabo-
rou um roteiro de paquera para você. Veja o que es-
tá dando certo e o que é mico total. (Capricho, 26
de dezembro de 2004, p. 78)
Obs.: Anglicismo o aportuguesado
inveja branca
NLoc
Inveja boa.
Acho lindo o cabelo da minha melhor amiga. Ele é
bem comprido, lisinho e brilhoso. Tenho uma inve-
ja branca. Não fico desejando que o cabelo dela
fique feio. (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 56)
Obs.: A palavra “inveja” tem o sentido de “sentimento em que se
misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade, prosperi-
dade de outrem; desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusi-
vo, o que é possuído ou gozado por outrem” (HOUAISS). No neologismo
locucional “inveja branca”, o adjunto adnominal branca elimina o sentido
negativo da inveja.
130
irado a
NS
Ótimo, perfeito, excelente, interessante.
Vai ser um show irado, muito bom, com certeza.
(Todateen, Agosto/2001, p.16)
Viajar sozinho é uma parada irada que você deve
ralar para conseguir. (Atrevida, Janeiro/2002, p. 58)
Como se não bastasse conhecer uma galera irada
no Oi Pegação, a Oi ainda aprontou uma surpresa
para os mais fanáticos pelo serviço: escolheu os
campeões de acesso, de diversos estados, para se-
rem convidados vips no Coca-Cola Vibezone. (A-
trevida, Junho/2004, p. 7)
- iraaaaado
var
Você não pôde ir na balada – mas ele sim. Qual o
seu comentário quando ele diz que a noite estava
iraaaaada? (Capricho, 13 de junho de 2004, p. 88)
Obs.: Intensificação marcada pelo alongamento da vogal, sem
função distintiva.
iradaço a
NL
Muito bom; ótimo, perfeito, excelente, interessante.
Ir ao clube é iradaço, principalmente quando a gale-
ra está toda reunida e o clube na está muito cheio. para curtir
até de noitinha. (Atrevida, Novembro/2002, p. 29)
ir ali
NLoc
Ficar com determinada pessoa.
131
Se estou a fim de ficar com alguém, pergunto logo
se algum amigo já foi ali e se valeu a pena. Só as-
sim, o entro em furada. (Atrevida, Novem-
bro/2002, p.60)
Obs.: Equivalência semântica entre o verbo “ir” dessa expressão e
o verbo “ficar”, como “Bras. Pop. Namorar sem compromisso, durante um
curto espaço de tempo (às vezes, por uma noite)”. (AEXXI)
ir pra guerra
NLoc
Ficar, namorar por um curto peodo, com várias pessoas em
uma noite.
Não me deixo abalar. Se vejo que vou ficar pra bai-
xo, dou uma geral no visual e vou pra guerra para
espantar o baixo-astral. (Todateen, Março/2003,
p.85)
Gosto de ir pra guerra com uma galera. Depois
sempre rola uma competição para ver quem ficou
com mais garotas. (Atrevida, Agosto/2002, p. 68)
jaburu-martelo sf
NL
Mulher feia.
Sair com um jaburu-martelo é uma queimação de
filme de alto grau. Depois dessa, o cara não conse-
gue pegar nenhuma menina bonita. Fica difícil. (A-
trevida, Novembro/2002, p. 59)
já é loc interj
NLoc
Indica aceitação; o contrário de “já era” (q.v.).
132
Se alguém me convida para sair, já é. Na mesma
hora me arrumo e já estou pronto para qualquer pa-
rada. (Capricho, Outubro/2003, p. 49)
já era loc interj
NLoc
Indica desaprovação; o contrário de “já é” (q.v.).
Se me chamam para um programa de índio, já era.
Pulo fora na mesma hora. Não caio mais em pro-
grama furado. Prefiro ficar em casa. (Atrevida, No-
vembro/2002, p. 72)
jarmi(r) vi
NL
Urinar.
Um dia, bebi tanto que tive que jarmi atrás do car-
ro. Foi o maior mico porque vinha um pessoal da
mesma balada e acendeu o farol bem na minha di-
reção. (Todateen, Novembro/2003, p. 35)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do verbo “mi-
jar”. A grafia registra apócope do R no infinitivo.
133
joselito a
NL
Que o mede as conseqüências do que faz; sem noção (q.v.)
Não banque o joselito. Não deixe passar essa chan-
ce de passar as férias com toda a galera, sem gastar
um tostão com hotel. Inscreva-se e concorra. (Ca-
pricho, 4 de abril de 2004, p. 28)
Obs.: Joselito é o nome de um personagem, representado por um
apresentador da MTV, canal de TV especializado em músicas e voltado
para o blico jovem. Ele é atrapalhado, não mede as conseqüências de
seus atos. Daí ter virado um adjetivo, caracterizando quem tem essas
mesmas atitudes.
kiwi sm
NS
Homossexual forte e musculoso.
me chamaram de kiwi, que é forte e rude por fo-
ra e frutinha por dentro, mas eu não ligo. Me sinto
bem assim. (Capricho, Novembro/2002, p. 13)
“Ele era tido como o kiwi da turma mas não se im-
portava com isso. Aproveitava para se aproximar
das garotas e tirar casquinha delas.” (Atrevida,
Maio/2003, p. 68)
Obs.: Kiwi é um empréstimo do inglês (kiwi-kiwi), proveniente do
maori. É um fruto rico em vitamina C, de sabor doce e agradável, proveni-
ente de uma trepadeira (Actinidia deliciosa) da família das actinidiáceas,
de folhas orbiculares, flores de cor creme e bagas ovóides, com pêlos e
tomento marrons, de tom claro ou dourado, e polpa verde, com pequenas
sementes pretas. Foi batizado de kiwifruit na Nova Zelândia por seu exte-
rior peludo, integrou-se por volta de 1970 no francês com o nome de kiwi,
tal como o pássaro que é também símbolo da Nova Zelândia, passando a
ser assim conhecido no resto do mundo. No Brasil, houve flutuação inicial
entre a pronúncia [ki’vi] e [kiw’i]. A segunda parece haver suplantado a
primeira na década de 1990.
lacraia sf
134
NS
Mulher muito magra.
Não gosto de mulher gorda, mas lacraia já é de-
mais. Gosto de mulherão, bem sarada. (Atrevida,
Novembro/2002, p. 26)
Obs.: A imagem de uma mulher macérrima, do tipo anoréxico,
vem associada à figura desse artrópode.
lance sm
NS
Relacionamento.
Quando seu lance com o gato já passou de uma
simples ficada, mas vocês ainda não estão namo-
rando, certamente estão de rolo. (Todateen, Ju-
lho/2001, p.43)
É o momento para confrontar seus sentimentos com
os dele. Ou o lance é sério, ou é fogo de palha.
(Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 94)
Já começou o segundo semestre e você ainda não
sabe se o seu pretê está a fim de namoro ou amiza-
de? Então confira as dicas Oi para ajudá-la a dar
um empurrão e definir esse lance. (Atrevida, Ju-
nho/2004, p. 15)
lanchinho da madrugada
NLoc
Pessoa com quem se pode ter um relacionamento rápido a qual-
quer momento.
Mesmo quando não me interesso por ninguém nu-
ma balada, não fico na mão. Encontro sempre um
lanchinho da madrugada para não ficar na vonta-
de. (Atrevida, Novembro/2004, p. 72)
135
Obs.: A locução se explica pela associação desse tipo de relacio-
namento com o lanche feito na madrugada - de curta duração, sem requin-
tes, servindo apenas para saciar a vontade de comer alguma coisa leve.
maluquinho pron
NS
Alguém.
As pessoas estão cada vez mais inovando nas rou-
pas. Maluquinho chega a usar roupas todas rasga-
das para ir à balada. Sou muito patricinha para isso.
(Atrevida, Julho/2003, p. 29)
Obs.: “Maluquinho”, “neguinho” (q.v.), “cara”, “pessoal” são
substantivos que passaram por processo de gramaticalização como indefi-
nidos.
mandar a real
NLoc
Falar a verdade.
Outra coisa bacana do Oi Blog é poder sair do
“clube da luluzinha” e descobrir um pouco mais
sobre as angústias dos gatinhos. O Fernando é um
deles. Super poético, ele manda a real sobre os
seus sentimentos. (Atrevida, Junho/2004, p. 7)
marcar um dez
NLoc
136
Fazer uma hora; dar um tempo.
Como chegamos muito cedo, resolvemos marcar
um dez, dando uma olhada nas lojas do shopping e
xavecando um pouquinho. (Atrevida, Julho/2003, p.
39)
mauricéia sf
NL
Grupo de mauricinhos e patricinhas.
A mauricéia toda nessas férias vai pra Angra. Vai
rolar umas baladas sinistras de duas marcas de uís-
que que vão bombar. Vai ter engarrafamento de
lancha, com certeza. (Atrevida, Julho/2004, p. 35)
O lançamento de uma conhecida grife francesa dei-
xou a mauricéia agitada mês passado. Todos com-
praram as novidades e gastaram bastante. (Capri-
cho, 21 de março de 2004, p. 87)
Obs.: Termo derivado de “mauricinho, vocábulo que entrou na
língua em 1991, usado informalmente, com conotação pejorativa, para de-
signar uma pessoa jovem do sexo masculino que se veste com apuro e
freqüenta os lugares da moda. Etimologicamente, é um diminutivo do an-
tropônimo Maurício. Cf. patricinha. Nesse caso, é usado abrangendo tanto
os jovens do sexo masculino quanto os do feminino. Não se encontrou re-
gistro de “mauricéia” como referência à naturalidade desses jovens (cf.
suf. -éia x -eu: “relação, origem, procedência”, segundo o AEXXI). Isso
impede o reconhecimento de vínculo com o substantivo “paulicéia”.
meter o
NLoc
Ir embora.
137
Se eu vejo que está rolando droga na balada, meto
o na hora. Não quero me encrencar à toda e
queimar meu filme com meus pais. (Capricho, 21
de março de 2004, p. 45)
micabraço sm
NL
Situação constrangedora, relacionada com a expectativa frustrada
de um abraço.
Micabraço
Eu fazia um curso de informática. No último dia, o
meu professor, que era horrível, chegou pra mim e
disse:”Você vai ficar com saudade de mim?” Logo
depois que disse isso, ele estendeu o braço e eu,
crente que era para me abraçar, o abracei. Foi
quando eu percebi que ele estava tentando puxar
o teclado por cima da minha cabeça! Todos come-
çaram a rir e eu fiquei vermelha como um pimen-
tão. (Atrevida, Dezembro/2005, p. 22)
Obs.: Composição por aglutinação (mico + abraço). Ao empregar
as aspas, a revista indica ter consciência de que se trata de neologismo.
micado a
NL
Que representa um grande mico.
Engasgou com o confete? Escorregou na serpenti-
na? Relaxe e leia aqui as baladas mais micadas do
Carnaval passado, que foram enviadas à redação.
(Capricho, 21 de março de 2004, p. 62)
Leia as histórias mais micadas que chegam à reda-
ção e os comentários de Jerri. (Capricho, 26 de de-
zembro de 2004, p. 89)
Festa micada
138
A turma resolve fazer uma festa à fantasia. Você
entra na brincadeira e compra uma roupa de bruxa
caríssima, com direito a chapelão e vassoura.
Quando chega à balada, percebe que é a única
Hermione Granger entre um monte de gente vestida
de jeans e camiseta. (Atrevida, Abril/2004, p. 58)
(um) monte adv
NS
Muito.
Para mim, é normal, sabe. Claro que viajar é bem
melhor. Mas não tenho aquela obsessão. Curto um
monte onde eu estiver. (Capricho, 26 de dezembro
de 2004, p. 8)
Obs.: Embora o verbete, a rigor, o diga respeito unicamente à
linguagem da juventude, foi incorporado pelo critério da ocorrência. O
neologismo só foi registrado ao lado do artigo indefinido um.
na lata
NLoc
De forma direta, sem rodeios.
Como é o namoro entre meninas?
É mais ou menos o de sempre: olhares, aproxima-
ção e conversa. “Como não dá para adivinhar que a
garota curte beijar menina, tem umas que chegam
na lata e perguntam. (Capricho, 6 de março de 2004,
p. 25)
na pista loc adj
NLoc
Disponível.
139
Com todo aquele jeito sensual, está na cara que a
gata está na pista. É só partir para o ataque e pron-
to, tá no papo. (Capricho, Junho/2003, p.61)
Obs.: Ver também “de pista”.
neguinho pron
NS
Alguém.
Normalmente, neguinho não quer nem saber se a
garota está acompanhada ou não. Vai logo dando
em cima. Por isso, ando grudada no meu namorado
para não criar uma confuo e acabar a noite na de-
legacia ou no hospital. (Todateen, Setembro/2003,
p. 57)
Obs.: “Neguinho”, maluquinho” (q.v.), “cara”, “pessoal” são
substantivos que passaram pelo processo de gramaticalização como inde-
finidos.
nerd s2g
NL
Que é muito estudioso e inteligente.
O quarto tipo de ficante indispensável é o culto.
Não culto no sentido de nerd e mala, mas culto no
sentido de interessante e viajado. (Capricho, 26 de
dezembro de 2004, p. 96)
Te chamam de nerd? Levou um pé? Receitas es-
pertas de auto-estima. (Capricho, 26 de dezembro
de 2004, p.20)
Obs.: Uso pejorativo. Anglicismo não aportuguesado
nhacoma sf
140
NL
Maconha.
Não uso drogas. De vez em quando fumo nhacoma
para relaxar e acabo sempre dormindo. Não sou
viciado, uso como um tranqüilizante. (Todateen,
Setembro/2002, p. 69)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do substantivo
“maconha”. Por ser uma droga ilegal, “de efeito entorpecente preparada
com os ramos, folhas e flores do cânhamo, cortados e secos, geralmente
curtidos em substâncias como o mel, conhaque etc., consumida como o
tabaco, e cujo componente ativo é o tetraidrocanabinol” (Dicionário Hou-
aiss da Língua Portuguesa), foi usada de trás para a frente intencionalmen-
te como um disfarce. O Dicionário Houaiss enumera os seguintes sinôni-
mos para maconha: abango, abangue, aliamba, bagulho, bango, bangue,
bengue, birra, bongo, cangonha, chá, diamba, dirígio, dirijo, erva, fumi-
nho, fumo, fumo-de-angola, jererê, liamba, marijuana, massa, nadiamba,
pango, rafi, riamba, seruma, soruma, suruma, tabanagira, umbaru.
night sf
NL
Festa, badalação.
Para ir para night você precisa estar com o espírito
de guerreira e ir atrás do que quer. Mas é preciso
conseguir bancar um fora e passar a bola pra frente,
numa boa. (Capricho, Abril/2003, p. 34)
O bom é cair na night sem medo de ser feliz. Topar
qualquer parada. (Capricho, Abril/2003, p.34)
Obs.: Anglicismo não aportuguesado; termo preferido pelos ado-
lescentes do Rio de Janeiro, tem como equivalente, em São Paulo, o subs-
tantivo balada (q.v.).
ninguém merece loc interj
NLoc
141
Indica insatisfação.
Dia de sol, ficar trancada em casa, ninguém mere-
ce! É de doer ver todo o mundo indo à praia curtir e
você com febre em casa. (Todateen, Setem-
bro/2002, p. 57)
Levar um fora da gata na frente de todos os amigos,
ningm merece! Fala sério! (Atrevida, Janei-
ro/2004, p. 42)
(...) ou que, quando come, fica se lastimando, re-
clamando, jurando que amanhã vai ficar só na água
ou vai se matar na academia. Ai, fala sério: nin-
guém merece! (Capricho, 26 de dezembro de
2004, p. 78)
no suco loc adj
NLoc
Em boas condições físicas, devido à prática de uma atividade física.
Gosto quando as garotas me olham e elogiam meu
corpo. Eu sei que é sincero porque eu estou no su-
co. (Atrevida, Maio/ 2002, p.56)
Obs.: A expressão se relaciona com o fato de, nas academias de
ginástica, ser comum a ingestão de sucos energéticos.
no vácuo loc adv
NLoc
Sem resposta.
Fico bolado quando alguém me deixa no vácuo.
Parece que não sou ninguém, que a minha opinião
não tem valor. (Todateen, Abril/2003, p. 76)
142
10 coisas que você não sabe sobre os meninos. O
significado das atitudes masculinas que deixam vo-
no vácuo. (Capricho, 4 de abril de 2004, p. 91)
on-line
NLoc
Que está bem informado.
Esse é um cara inteligente, um cara on-line, ante-
nado a tudo o que acontece. (Todateen, Julho/2001,
p. 30)
Obs.: O neologismo (estrangeirismo) é resultante da influência da
linguagem da internet.
ops interj
NL
Exprime surpresa, admiração ou indignação.
Prô, uma vida!
Tenho um professor de 22 anos e estou apaixonada
por ele. Ele é um cara capacitado, inteligente, boni-
to, lindo, perfeito... Ops, me empolguei! Não paro
de pensar nele um minuto, é uma obsessão. Como
posso me aproximar dele? (Capricho, 18 de abril de
2004, p. 73)
pagar gorila
NLoc
Passar um grande vexame ou por situação ridícula.
Pagando gorila
Ser top em alguma coisa é ótimo para ganhar pon-
tos com o cara de quem você está a fim. Desde que
você seja a mais coordenada, não a mais sem no-
143
ção. “Tem muita menina que acha o máximo pegar
mais peso do que realmente agüenta ou fazer séries
de exercícios muito puxados. No fim ela paga mico
e ainda atrapalha a aula. É chato para ela e para
quem está perto”, diz Edison. (Capricho, 26 de de-
zembro de 2004, p. 73)
Obs.: Gradação entre o sintagma “pagar mico”, dicionarizado, e
“pagar gorila”, um vexame bem maior, marcando a idéia de exagero.
pagar paixão
NLoc
Estar gostando de alguém.
Se encontro alguém e sinto que estou me apaixo-
nando, não deixo que ela perceba que estou pagan-
do paixão. Se ela percebe, vai se achar e eu estou
perdido. (Todateen, Setembro/2003, p. 73)
papo-beijo sm
NL
Conversa sobre beijo.
Papo-beijo
Conheça Alice, a última bv! É impressionante.
(Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 89)
Antes da balada, sempre rola aquele papo-beijo,
para ver quem vai beijar mais. (Todateen, Outu-
bro/2003, p. 34)
papo-cueca sm
NL
Conversa de homem.
Papo-cueca
Veja o que os caras estão pensando sobre as fica-
das, as baladas e as garotas. (Capricho, 2 de maio
de 2004, p. 84)
144
papo-fala sério sm
NL
Conversa séria para resolver algum problema.
Quando alguma coisa me incomoda em casa ou
com minha ficante, sempre rola um papo-fala sé-
rio, para resolver o que está ruim e ficar tudo bem.
(Todateen, Março/2003, p. 78)
Obs.: Substantivo composto de substantivo + locução interjectiva,
por isso grafado com apenas um hífen.
parada sf
NS
Coisa; assunto; negócio; troço; treco; trem.
Hoje em dia, essa parada de namoro sério é coisa pa-
ra gente mais velha. O lance maneiro é ficar várias
vezes e com muitas pessoas antes de um compromis-
so tão rio assim. (Atrevida, Junho/2003, p. 56)
A parada é a seguinte: a camisinha é fundamental
em qualquer tipo de relação; até nos namoros sérios
e longos. (Capricho, Maio/2003, p.49)
- paradinha sf
NS
Aquela era uma paradinha que eu gostava de fazer
depois do almoço, nas férias. Andava um pouqui-
nho e meu cachorro passeava. (Todateen, Ju-
lho/2003, p. 57)
Obs.: Diminutivo afetivo ou neutro, com a mesma acepção.
145
passar migué
NLoc
Mentir.
Jovem...
Se você acha que sua mãe não tá entendendo nada
do que você fala, mostre para ela esse texto enviado
pela Débora Thomaz Martina, 18 anos. Para ela já
será meio caminho andado, saca?
... não briga, dá porrada
... não bebe, chapa o coco
... não cai, capota
... não entende, se liga
... não entra, invade
... não pede, ime
... não fala, troca idéia
... não vai embora, vaza
... não reclama, protesta
... não dorme, apaga
... nunca tá apaixonado, tá a fim
... não namora, dá uns pega
... não mente, passa migué
... não se dá mal, se ferra
... não acha interessante, acha irado
... não é gente, é jovem
E para finalizar: “Sangue na veia do jovem não cor-
re, tira racha”. (Capricho, 21 de março de 2004, p.
95)
Obs.: A locução usa o antropônimo Miguel como epônimo, na a-
cepção de “constrangimento”.
pati sf
NL
Abreviação de patricinha (cf. HOUAISS).
Fernanda evoluiu. Depois da pati horrorozinha de
Malhação, ela virou um feminista legal em A Es-
crava Isaura. (Capricho, 26 de dezembro de 2004,
p. 40)
146
O que atrai
. Beleza
. Já ter visto a menina antes. Aí fica mais natural
chegar junto, sem xavecos
. Roupa adequada ao lugar (estilo pati em lugar de
pati; estilo rock em lugar de rock)
. Ficar sempre por perto do garoto
. Olhar recorrente
. Mostrar animação, dançar
. Ficar sorrindo enquanto conversa com ele (Capri-
cho, 6 de março de 2004, p. 67)
- paty
var
Se alguém ainda acha que andar de skate é coisa de
menino, está totalmente por fora. É cada vez mais
comum encontrar nas pistas garotas como Larissa
Carollo, 19 anos, de Curitiba (PR). Tem das tatua-
das de bermudão às arrumadinhas, quase patys”,
diz ela “Eu mesma sou bem fresquinha”. (Capri-
cho, 26 de dezembro de 2004, p. 66)
Obs.: Não foi registrada a ocorrência da grafia “páti”.
peça gringa
NLoc
Vestimenta, indumentária que ninguém tem igual.
Adoro aparecer na balada e até mesmo na escola
com uma peça gringa. As meninas ficam e olhando
e loucas de inveja. São poucas as que me peguntam
onde eu comprei. (Todateen, Outubro/2003, p. 78)
pega sm
NS
Abraçar e beijar alguém sem que isso implique compromisso;
amasso.
Sempre que podia dava uns pegas nela na hora do
recreio. Escondido, claro. Era uma escola de pa-
dres. (Capricho, Junho/2003, p. 50)
É sempre bom o pega no escurinho do cinema. Fica
147
mais emocionante. (Atrevida, Agosto/2002, p.65)
Obs.: Deverbal de pegar, na acepção de “conseguir, obter” (cf.
AEXXI).
pegada sf
NS
Jeito de abraçar e de beijar; modo de demonstrar carinho.
No namoro ou na ficada, é muito importante a pe-
gada certa. É preciso conhecer o que seu parceiro
gosta. O sucesso do relacionamento depende muito
disso. (Todateen, Junho/2002, p.78)
Será que essa é a melhor pegada? Leia os depoi-
mentos abaixo e veja se está no caminho certo. (To-
dateen, Abril/2003, p. 54)
Não estamos falando aqui daqueles fofos demais,
sem pegada... Mas daqueles caras que sabem ser
interessantes e charmosos. (Capricho, 26 de de-
zembro de 2004, p. 72)
pegador sm
NS
Que consegue namorar, “pegar” (q.v.), muitas pessoas.
Esse é mais um daqueles grupos de “pegadores” de
carteirinha. São 18 amigos de Vitória (ES) que re-
solveram oficializar a turma com direito a site
(www.salvagatas.com) e uniforme. Os meninos fi-
caram tão conhecidos na cidade que viraram cele-
bridades. Há danceterias que, percebendo que a
presença deles atrai a mulherada, os convidam co-
mo VIPs. (Capricho, 11 de julho de 2004, p. 86)
Não, ele não é o maior pegador do Carnaval. Fran-
cisco de Assis Ângelo Júnior, o Chico, curte pacas
a folia, mas trabalhando. (Capricho, 20 de fevereiro
de 2005, p. 80)
148
Os pegadores do colégio
Pra que esperar a balada do fim de semana?
Zé e Ian faziam da escola lugar de azaração. (Ca-
pricho, 26 de dezembro de 2004, p. 72)
pegar vtd
NS
Relacionar-se com alguém por um curto período sem compromis-
so sério.
Nessas férias vou pegar todas; ninguém me escapa.
Vou beijar todas também. (Todateen, Junho/2003,
p. 85)
o sou de confiar muito em quem eu não conheço
direito. Eu fico feliz por ter ficado com uma menina
e só. Acho que muita gente se preocupa com a “fa-
ma” que isso pode render depois. E fica satisfeito
quando muita gente fica sabendo disso, principal-
mente se o cara pega uma menina muito bonita. É
bom lembrar que as meninas fazem isso também.
(Capricho, 13 de junho de 2004, p. 96)
Eu sabia que ele estava pegando a nova vizinha. Vi
o jeito que eles se olharam. Rolou um sentimento.
(Capricho, 2 de maio de 2004, p.46)
peguete s2g
NL
Pessoa com quem alguém está tendo um relacionamento rápido e
sem compromisso algum; pessoa que alguém está “pegando” (q.v.).
Quando apresento uma peguete a um amigo, digo
que é uma amiga. Não falo que é peguete na frente
dele e também não vou dar mole e dizer que é fi-
149
cante ou uma namorada. (Todateen, Agosto/2003,
p. 59)
Obs.: Derivação sufixal de pega (q.v.).
peidão a
NS
Quem não tem palavra, o cumpre o combinado.
Detesto quem não faz o que promete. Peidão comi-
go não tem vez, não se cria. Só faz uma vez, porque
corto logo do meu grupo. (Todateen, Feverei-
ro/2003, p. 81)
peidar vi
NS
Não fazer o combinado.
Costumo perceber se um amigo vai cumprir o que
me prometeu. Se começa dando uma desculpa para
não me apresentar uma garota, vejo logo que vai
peidar. (Todateen, Feveiro/2003, p. 80)
peito de pombo
NLoc
Pessoa metida, presunçosa, que “se acha” (q.v.).
Meu primo se acha. É o maior peito de pombo, diz
que sabe tudo, pega todas, sempre é convidado para
as baladas. Acho que é o maior caozeiro. (Atrevida,
Novembro/2003, p.41)
150
Obs.: Associação entre o peito de um pombo, que é empinado,
imponente, e uma pessoa presunçosa, que tem a mesma postura.
la s 2g
NS
Pessoa inconveniente. Abreviação de “péla-saco(q.v.).
Não agüento mais meu namorado. Ele é o maior
péla. (Todateen, Abril/2002, p.15)
Tem sempre um péla na sua sala. O lance é fugir
dele ou dar um fora nele. (Atrevida, Novem-
bro/2002, p.74)
la-saco s 2g
NL
Pessoa inconveniente.
Aquela professora é uma péla-saco. Fica no meu pé
o tempo inteiro. Isso já é marcação. Não posso nem
olhar para o lado que ela me chama a atenção. Fala
sério! (Atrevida, Maio/2003, p. 60)
perdido sm
NS
Ação de sair de perto da pessoa com quem “ficava” (cf. AEXXI),
sumir e “ficar” com outra pessoa, na mesma balada (q.v.).
O clima da balada eletrônica é total de paquera.
Mas tamm é pra ficar e nada mais, porque o mais
normal é voficar com alguém e sair andando. Pe-
lo tamanho dos lugares e por eles estarem muito
151
cheios, é mais fácil dar o famoso perdido”. (Ca-
pricho, 13 de junho de 2004, p.81)
pilhado a
NS
Que está com disposição, energia.
A segunda temporada da série The O.C. começou
pilhada com novos personagens e as encrencas de
sempre, só que multiplicadas por mil. Sem falar no
rock. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p.40)
Geralmente, quem vai a uma rave já chega pilhado.
Ficar mais de 24 horas dançando não é para qual-
quer um. É preciso gostar muito e não se preocupar
com a hora que vai chegar em casa. (Capricho, 2 de
maio de 2004, p. 98)
playsom a
NL
Que tem atributos positivos.
Dá para ver quando o lance com a gata é playsom.
Se ela é gata e não é vagal, já é um bom começo.
Depois é preciso ver se tem um bom papo. (Atrevi-
da, Abril/2004, p.36)
Obs.: Formação híbrida (ingl. + port.), sem adaptação ortográfica
do elemento estrangeiro.
ploc a
NL
Que tem estilo próprio e é educado.
Se o carinha for legal com você e com suas amigas,
isso mostra é ele é ploc e não vai atrás dos outros
garotos que costumam implicar com as amigas da
namorada. (Todateen, Dezembro/2004, p.74)
Obs.: Palavra onomatopaica.
152
plugado a
NS
Que sabe tudo o que está acontecendo no mundo.
Tati é muito plugada, não vive sem TV paga, lê
jornal e adora fuçar as novidades sobre o mundo na
internet. (Capricho, Novembro/2002, p. 13)
Quem não tiver o tempo todo plugado corre o risco
de ficar de fora das conversas, sem saber o que di-
zer sobre o que está rolando por aí. (Atrevida, Feve-
reiro/2003, p. 62)
Obs.: Incorporado ao léxico do português, o anglicismo “plugue”
(< plug) é constituinte de “plugar”, “plugado”, termos que incorporaram
valores metafóricos pelo vínculo semântico com “ligar-se”, “conectar-se”.
pochete sm
NS
Gordura localizada na barriga; pneu.
Pochete incômoda
Tenho deixado de sair e ir à praia por causa da mi-
nha barriga. Ela está desproporcional ao corpo. Eu
sou magra, mas ela está gigante. Me sinto inferior
às outras garotas. Me ajude! (Capricho, 18 de abril
de 2004, p. 73)
O boxe é um tremendo esporte para garotas. “Na
academia, só dou aulas para as meninas”, conta A-
lexandro de Almeida, treinador de boxe da Acade-
mia Fórmula. A paixão feminina pelo esporte tem
uma razão bem específica: ele derrete pochetes e
outras gordurinhas localizadas. (Capricho, 26 de
dezembro de 2004, p. 58)
153
Obs.: Metáfora com “pochete”, galicismo que significa “pequena
bolsa que se leva a tiracolo ou presa à cintura” (HOUAISS).
.com.br [ponto-com-ponto-bê-erre] a
NL
Estar informado sobre tudo o que acontece; o mesmo que antena-
do, no sentido de quem se mantém ou procura se manter bem informado a
respeito do que se passa, do que é atual; ligado, conectado (cf. AEXXI) .
Estou sempre .com.br. Nada me escapa na night e
nas baladas. (Capricho, Maio/2002, p. 21)
Obs.: Forma extraída dos endereços eletrônicos (sítios). A represen-
tação gráfica se vale do sinal de pontuação com valor lexical (não-gráfico).
popô sm
NL
Nádega.
Não gosto de shorts que mostram meu popô. Acho
muito vulgar e, além disso, seu usar, meu namorado
me mata. (Atrevida, Novembro/2003, p.78)
Obs.: Palavra onomatopaica, hipocorística, resultante de provável
sonorização e desnasalização de bumbum”.
popozudo a
NL
Que tem nádega grande.
Gosto muito das popozudas. Nos bailes funk, en-
contro muitas delas. Aquelas calças apertadas me
deixam doido. (Atrevida, Setembro/2003, p.74)
154
Obs.: Derivação sufixal de popô (q.v.), com o sufixo –udo, deno-
tando abunncia. Apesar de adjetivo flexional, parece ter seu uso restrito
apenas ao feminino, o que se deve ao valor de erotismo atribuído, nas pu-
blicações, a essa parte do corpo das mulheres.
pretê s 2g
NL
Abreviação de “pretendente”.
Vou digitar o nome do meu pretê e investigá-lo na
internet. (Capricho, 2 de maio de 2004, p. 94)
E se o pretê aparecer e voestiver com outro?
Se quiser provocar ciúme, faça bem escondido! To-
dos os garotos dizem que deixariam a menina sozi-
nha se descobrissem que estavam sendo usados.
(Capricho, 13 de junho de 2004, p. 82)
Você não está a fim de pagar mico na próxima vez
que entrar no Oi Pegação, né? Então fique ligado
nas idéias que vonão deve mandar para seus pre-
tês. (Atrevida, Junho/2004, p. 14)
Já começou o segundo semestre e você ainda não
sabe se o seu pretê está a fim de namoro ou amiza-
de? Então confira as dicas Oi par ajudá-la a dar um
empurrão e definir esse lance. (Atrevida, Ju-
nho/2004, p. 15)
Eu e minha amiga decidimos levar uma máquina
para a escola para tirar uma foto do nosso pretê.
Pedimos o favor a um amigo nosso, que é da classe
dele. O amigo disse que ia dar um jeito, mas passou
a bola para uma garota. Ela chegou no pretê e fa-
lou: “Deixa eu tirar uma foto sua para as meninas
da sexta série?Ele deixou, na boa. (Capricho, 26
de dezembro de 2004, p. 71)
pretendência sf
NL
155
Disposição para um(a) pretendente.
Não é fácil a gente destravar. Porque uma preten-
dência sempre parece um quiz show: se você não
responder às perguntas certas... um alçapão vai se
abrir e você vai ser eliminada! E enquanto a gente
fica tentando acertar, acaba errando! Ou evitando se
relacionar. Mantenha a calma. (Capricho, 13 de ju-
nho de 2004, p.76)
prima sf
NS
Prostituta.
Quando vejo uma menina bem vulgar, não consigo
me envolver. Destesto garota que se veste como
uma prima. (Atrevida, Novembro/2004, p.48)
prô sm
NL
Abreviação de professor.
Prô, uma dúvida!
Tenho um professor de 22 anos e estou apaixonada
por ele. Ele é um cara capacitado, inteligente, boni-
to, lindo, perfeito... Ops, me empolguei! Não paro
de pensar nele um minuto, é uma obsessão. Como
posso me aproximar dele? (Capricho, 18 de abril de
2004, p. 73)
Obs.: Não foi registrado o emprego da abreviatura “prof.”.
punk a
NS
Que é difícil, quase impossível.
156
Ficar trancado em casa estudando é punk. Não é
qualquer um que suporta não. Eu acho impossível
ficar horas estudando matemática e depois emendar
com outra matéria. (Atrevida, Junho/2004, p. 54)
Aprendi isso com as mortes de meus pais. Uma coi-
sa é o respeito por aquela pessoa. Outra coisa é se
alimentar de um sofrimento. Esse é o lema da mi-
nha vida: eu não sofro. Se isso tá me fazendo so-
frer, então não gosto mais disso! E perder a mãe,
depois o pai, é punk. (Capricho, 26 de dezembro de
2004, p. 22)
Tequila. A bebida mexicana é servida em copo pe-
queno e tomada de uma vez só, depois de lamber
um pouco de sal e morder um limão. O teor dessa é
punk: 45%. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 82)
Obs.: Metáfora com o anglicismo punk “adjetivo ou substantivo
de dois gêneros 1 movimento contestador reunindo jovens que exibem vá-
rios signos exteriores (cortes de cabelos, roupas) de provocação e escarni-
nho com relação à ordem social vigente; 2 que ou o que tem traços desse
movimento ou que dele deriva, esp. a corrente musical surgida na Grã-
Bretanha” (HOUAISS).
puxar o bonde
NLoc
Ir embora.
Quando eu vejo que a galera da balada começa a fi-
car esquisita, não penso duas vezes, puxo o bonde
porque pode rolar briga, confusão. Não suporto vio-
lência e meus pais sabem disso. Por isso ficam
tranqüilo quando vou para as baladas. (Atrevida,
maio/2003, p. 62)
157
qual é loc interj
NLoc
Saudação.
No meu primeiro dia de aula no colégio novo, che-
guei logo me enturmando, dizendo: “Qual é! Meu
nome Leonardo, mas podem me chamar de Leo.
Tenho 16 anos e sou novo aqui nessa cidade”. Logo
o pessoal foi se chegando, sem estresse. (Atrevida,
Setembro/2002, p. 59)
Começaram a olhar muito para mim e eu falei logo
qual é? Não gosto de deixar nada sem uma expli-
cação. (Todateen, Abril/2004)
Obs.: Interjeição acompanhada, indiferentemente, de ponto-de-
exclamação ou de interrogação.
quebrete sf
NL
Mulher desavergonhada, indecente, devassa, imoral.
Reconheço uma quebrete de longe. Por isso, me
recuso a ir a lugares que ficam cheios delas com
meu namorado. Se ele olhar para alguma ou elas se
insinuarem para ele, não sei o que sou capaz de fa-
zer. (Atrevida, Agosto/2004, p.75)
que pegada loc interj
NLoc
Elogio.
Se vejo uma garota gostosa na balada, chego nela e
digo “que pegada”. Elas adoram. (Atrevida, No-
158
vembro/2004, p.59)
quiz show
NLoc
Programa de televisão que consiste em uma competição com per-
guntas e respostas.
Não é fácil a gente destravar. Porque uma preten-
dência sempre parece um quiz show: se vonão
responder às perguntas certas... um alçapão vai se
abrir e você vai ser eliminada! E enquanto a gente
fica tentando acertar, acaba errando! Ou evitando se
relacionar. Mantenha a calma. (Capricho, 13 de ju-
nho de 2004, p.76)
Obs.: As grafias de quiz [‘kwi] e de show [‘ow] vêm diretamen-
te do inglês.
ralar vi
NS
Ir embora.
Quando a gente vê que a mina não quer nada, antes
de levar um não é melhorralar. (Capricho, Abril/2004, 38)
Quando vejo que meus pais estão a fim de ficar so-
zinhos, sem a filharada do lado, eu e meus irmãos
ralamos. (Atrevida, Maio/2003, p. 80)
Obs.: Verbo derivado de “ralo”, com o valor de“lâmina com orifí-
cios para coar água e outros líquidos, especialmente a que se adapta à a-
bertura de um encanamento.” (cf. AEXXI). O uso de ralar no sentido de
“ir embora” associa-se metaforicamente ao ato de o líquido sair pelo ralo.
- ralar peito
NLoc
Se o gato o te dá bola, o jeito é ralar peito e par-
159
tir para outra, sem crise. (Capricho, Novem-
bro/2002, p.20)
refri sm
NL
Abreviação de “refrigerante”.
Refri com comida
Poder, pode, mas há contra-indicações. Alguns re-
fris têm cafeína, o que dificulta a passagem da co-
mida do estômago para o intestino, atrapalhando a
digestão. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p.6)
remar vi
NS
Ir embora.
Se eu percebo que estou sobrando no balada, remo
logo e procuro outra balada. Não perco tempo com
uma balada sem graça. (Todateen, Novembro/2004, p.67)
réti sm
NL
Maconha.
Se alguém puxar um réti na minha frente, eu me
afasto para mostrar que essa não é a minha. (Atre-
vida, Novembro/200, p.74)
Obs.: Neologismo com formação não identificada.
160
roca sm
NS
Carro.
Só saio com garotos que têm roca. Por isso, me
chamam de “maria gasolina”. (Atrevida, Outu-
bro/2003 p.74)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do substantivo
“carro”.
rolo sm
NS
Relacionamento sem compromisso; estágio anterior ao namoro.
Quando seu lance com o gato já passou de uma
simples ficada, mas vocês ainda não estão namo-
rando, certamente estão de rolo. (Todateen, Ju-
lho/2001, p.43)
Vocês já ficaram algumas vezes, mas ainda não é
um rolo firme? (Capricho, Novembro/2002, p. 34)
Se você quer que seu rolo se torne um namoro sé-
rio, leia algumas dicas que poderão resolver o seu
problema. (Capricho, Novembro/2002, p.35)
Nunca teve um namorado, só vários rolos. Mas já
beijou tantos meninos que nem quis revelar para a
gente o número. “Eu e o meu rolo atual conversa-
mos todos os dias por ICQ, MSN, e-mail, mensa-
gens de texto pelo celular e telefone. Mas ame-
nidades, nada profundo. (Capricho, 2 de maio de
2004, p. 83)
ronheibã sm
NL
Banheiro, escrito ao contrário.
- Aí, outro dia, no ronheibã (banheiro ao contrário,
161
faz parte da gíria carioca inverter as palavras) da
boate, tava com a mulé, maior banheiro de vestiário
vazio, eu com a mulé, bum, joguei ela lá dentro.
Entrei com a mulé pra dentro do vestiário de 20 ca-
bines, joguei a mulé pra uma cabine e aí pá! (Ca-
pricho, 20 de fevereiro de 2005, p. 81)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do substantivo
“banheiro”.
saia-nave sf
NL
Saia muito curta.
Meu namorado detesta que eu use saia-nave. Se eu
coloco, ele me faz tirar na hora. (Todateen, No-
vembro/2004, p.51)
salva-gata sm
NL
Que sabe se relacionar com as meninas.
As regras dos salva-gatas:
. Nunca tratar as meninas como número.
. Jamais forçar a barra e chegar agarrando.
. Nunca denegrir a imagem das meninas depois de
beijá-las.
. Tentar ficar amigo das ex-ficantes.
. Se rolar sentimento com alguma, é obrigatório a-
visar o resto do grupo que aquela está interditada.
Assim eles evitam briga. (Capricho, 11 de julho de
2004, p. 86)
selinho sm
NS
Beijo pido, com os lábios fechados.
162
Para falar a verdade, no comecinho rolou um cons-
trangimento, mas passou. Hoje, nem esquento, é tra-
balho. Fiquei sem graça mesmo foi quando tivemos
que gravar uns selinhos na novela O Beijo do Vampi-
ro. (Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 15)
Seu maxilar já está com cãibra de tanto beijar? É
hora de fazer uma pausa, dar um descanso para o
pobre coitado. Mas não dá para simplesmente lar-
gar a boca do menino, como se colocasse o talher
no prato entre uma garfada e outra. A melhor ma-
neira de terminar o beijo é dando selinhos. Várias
bitoquinhas delicadas indicam que o fim do beijo
está próximo. (Atrevida, Junho/2004, p. 39)
sem noção loc adj
NLoc
Que não mede as conseqüências de seus atos.
Quantas vezes na balada ou na escola você já pen-
sou em avisar uma pessoa “sem noção” – ou por-
que ela está mal vestida ou porque ela está dando
um escândalo ou por qualquer outra coisa? (Capri-
cho, 21 de março de 2004, p. 68)
“Eu tenho noção de que sou sem noção.” É dessa
maneira bem-humorada que Tainá Tonoli, 17 anos,
fala sobre o seu jeito. “Não tenho vergonha de cho-
rar na aula de matemática se briguei com o namo-
rado”, diz ela. (Capricho, 21 de março de 2004, p.
70)
- sem-noção s2g
Outra clássica dos “sem noção”: chamar todo
mundo de “melhor amiga”. Se você diz isso para
alguém que não é sua melhor amiga, essa pessoa
vai se ligar que rola um falsidade. (Capricho, 21 de
março de 2004, p. 68)
Para fazer isso, uma pessoa em sã consciência pre-
cisa ser um sem noção assumido. Se eu fosse um
163
repórter com noção trabalharia no Amaury Jr. (Ca-
pricho, 21 de março de 2004, p.101)
Obs.: Embora registrado sem hífen, assume como substantivo o
papel de composto reduzido (= sem-terra, sem-teto)
seqüelado a
NL
Que sofreu conseqüência de uma seqüela.
A maioria desses caras são seqüelados. Não é pos-
sível gostar de pagode e freqüentar roda de samba,
cara. (Todateen, Agosto/2002, p. 34)
Há sempre aquela turma de seqüelados em qual-
quer família. Como não tem outro jeito, resta a-
ceitá-los e não estressar. (Atrevida, Setembro/2003,
p. 78)
seqüelar vtd
NL
Causar dano.
Sei não, estudar demais pode seqüelar qualquer um.
Depois não tem mais volta. (Todateen, Outubro/2002, p. 25)
Pais que brigam muito e depois descontam nos fi-
lhos seqüelam seus filhos para o resto da vida. É
claro que alguns superam, mas outros levam esse
trauma para a vida adulta. (Atrevida, Maio/2003, p. 36)
serrote a
NS
Que vive pedindo as coisas.
Meu primo é o maior serrote. Quando vem me vi-
164
sitar, escondo tudo de novo que comprei ou ganhei
porque sei que ele vai me pedir emprestado. (Toda-
teen, Novembro/2004, p.38)
siamês a
NS
Que se veste com a roupa da moda e adora freqüentar lugares da
moda.
O tipo ideal para você é o cara siamês, todo arru-
madinho, antenado à moda, bem fashion. (Todate-
en, Julho/2001, p.25)
sinistro a
NS
Muito interessante e envolvente.
Acampar nas férias é uma parada sinistra. Quando
tudo sai como programamos, então, aí que fica mais
sinistra. Vale a pena repetir todas as férias. (Toda-
teen, Julho/2002, p. 56)
Nada como ficar bonita para conquistar um gato si-
nistro. (Atrevida, Junho/2003, p. 66)
solteirice sf
NL
Qualidade e/ou propriedade de quem é solteiro.
Senão você corre no mínimo dois riscos. O primei-
ro é que quando aparecer o seu “the one” (brega, eu
sei) você pode estragar tudo por ter a sensação de
que o aproveitou sua solteirice. (Capricho, 26 de
dezembro de 2004, p. 78)
165
superencanado (v. encanado)
sussa a
NL
Abreviação de “sossegado”.
Gian é do tipo que sabe curtir uma boa balada e ser
sussa”, mas nas horas certas é sério e responsável.
Gian está no 3º módulo do técnico em eletrônica e
pensa em trabalhar. (Capricho, 21 de março de
2004, p. 8)
Sou sussa”, não preciso de muita coisa para viver.
Acho que tem esquema pra tudo na vida. Eu prefiro
não me prender na parte ruim, não tem nada a ver
comigo ficar de bode. Procuro ver o lado bom das
coisas. (Capricho, 21 de março de 2004, p. 8)
Praia sussa!
Veja o que é certo e errado em relação aos biquínis,
cangas, shorts e acessórios. (Capricho 26 de de-
zembro de 2004, suplemento especial (ed. nº 3), ca-
pa)
Você sabe quando deve sugerir programas e quan-
do deve ser sussa, no seu canto, pra não atrapalhar
a vontade da galera. (Capricho, 26 de dezembro de
2004, p. 71)
A calça larga e a camiseta fazem referência à capo-
eira, esporte sussa. (Capricho, 26 de dezembro de
2004, p. 51)
Obs.: O desvio ortográfico (sossa*) decorre do debordamento do o
átono pretônico. Nota-se nas duas primeiras abonações que o verbete vem
entre aspas, fato que demonstra o sentimento de que é um neologismo re-
cém-criado. Já nas seguintes ele é usado sem esse sinal gráfico, represen-
tando sua incorporação ao léxico do adolescente.
tanquinho sm
166
NS
Abdômen bem definido.
Para turbinar o tanquinho
Abdominais para a sua barriga ficar igual à da Lai-
la. Faça cada série 15 vezes. (Capricho, 4 de abril
de 2004, p. 53)
tapu sf
NL
Piranha; prostituta (pejor).
Quando vejo uma tapu numa balada tenho até pe-
na. É triste uma garota se submeter a esse tipo de
profissão. (Atrevida, Janeiro/2004, p.66)
Obs.: Substantivo formado com a inversão das sílabas da palavra
“puta”.
tchu-tchu sm
NL
Tocar em uma pessoa de um modo inconveniente.
A onda de fazer tchu-tchu vem deixando algumas
menina irritadas com esse tipo de “carinho” um tan-
to inconveniente. (Capricho, 24 de junho de 2004,
p. 50)
A gente até gosta de um tchu-tchu de vez em
quando, mas não desse jeito. Achei ridículo o com-
portamento dos garotos! (Capricho, 11 de julho de
2004, 105)
167
A reportagem “Tchu-Tchu hardcore” despertou
polêmica entre os leitores. (Capricho, 11 de julho
de 2004, p.105)
Obs.: Redobro, com repetição da sílaba semanticamente vazia tchu
formando um vocábulo hipocorístico, sendo que apenas à palavra plena se
pode atribuir significado. A grafia tch o é vernácula, mas corresponde a
uma realização alofônica de /t/.
tdb s2g
NL
Tudo-de-bom (q.v.).
Aquele gato é tdb, o máximo do máximo. Faria de
tudo para ficar com ele. (Capricho, 11 de julho de
2004, p. 67)
Nossa, acampar é tdb! Vale a pena ficar no mato e
sem conforto. (Capricho, 11 de julho de 2004,
p.34)
Obs.: Sigla. Não foi registrada a grafia “tedebê”, embora seja as-
sim escrito o nome de uma personagem do seriado Malhação, da Rede
Globo.
telescópio a
NS
Que agrada bastante uma pessoa, fazendo-a “ver estrelas”.
Ele é o tipo telescópio. Seu beijo me tira o fôlego,
me deixa nas nuvens. Vejo estrelas, cara. (Atrevida,
Junho/2004, p. 40)
teu tio
NLoc
168
Policial.
A galera que se envolve com drogas tem um voca-
bulário parecido com o dos traficantes, sei lá. Mo-
rem de medo dos teus tios, isto é, da polícia. (Atre-
vida, Novembro/2002, p.74)
the one
NLoc
Pessoa destinada para ser o seu par romântico.
Você está solteira? Então saiba de uma verdade que
toda solteira precisa saber: não dá para abrir mão
do quesito “variedade” na hora de escolher seus fi-
cantes. Senão você corre no mínimo dois riscos. O
primeiro é que quando aparecer o seu the one
(brega, eu sei) você pode estragar tudo por ter a
sensação de que não aproveitou sua solteirice. (Ca-
pricho, 26 de dezembro de 2004, p. 78)
Todas essas categorias vão expandir seus horizon-
tes e enriquecer sua vida afetiva enquanto seu “the
one” não chega. Peraí, mas e sele não chegar?
Bom, isso fica para a coluna “Será que existe esse
negócio de the one? (Capricho, 26 de dezembro de
2004, p. 78)
Obs.: Anglicismo. Empréstimo usado com aspas de ênfase, equi-
valente aos sintagmas vernáculos “cara metade”, “alma gêmea”.
tipo conj
NS
Como.
Amigas na novela, Luma Costa e Juliana Lohmann
são tipo irmãs na vida real. (Capricho, 26 de de-
zembro de 2004, p. 78)
A gente entrevistou malhadores tipo hard e elabo-
rou um roteiro de paquera para você. Veja o que es-
tá dando certo e o que é mico total. (Capricho, 26
de dezembro de 2004, p. 78)
Um: eu nunca disse que era um filme. É a última
169
temporada de um seriado que eu amo, mas que não
vai adiantar falar o nome porque você não conhece.
Dois: para ficar à vontade, né, mãe? Tipo rir sem
ter pais carentes perguntando “O que é tão engraça-
do, hein, gente?” (Capricho, 13 de junho de 2004,
p. 98)
Se você é gente boa: marque uma balada com os
melhores amigos dele, tipo surpresa. (Capricho, 2
de maio de 2004, p. 92)
Prefiro uma coisa mais simples, tipo calça jeans e
blusinha. (Atrevida, Junho/2004, p. 54)
- tipo assim
Como.
Não sei se vai rolar uma ficada com aquela gata.
Mas eu estou levando fé, pois tem tudo para dar
certo. Tipo assim, a sica vai ser irada, a bebida
vai ser boa, enfim, vai ser show. (Capricho, 21 de
março de 2004, p.38)
Obs.: O assim é expletivo.
toco sm
NS
Fora; tratamento desdenhoso; recusa, rejeição.
Os meninos, geralmente, são mais medrosos que as
meninas. Eles têm medo de chegar nas meninas e
levar um toco. Por isso, muitas vezes deixam de fa-
lar com elas por puro medo. Toco faz parte da vida.
Se não arriscarmos, não conseguimos nada. (Capri-
cho, 21 de março de 2004, p. 73)
170
tomar balão
NLoc
Ser enganado.
Não admito tomar balão. É uma questão de honra
me vingar e pagar com a mesma moeda. (Atrevida,
Novembro/2002, p.64)
Obs.: Neologismo diastrático. Vem do futebol (“jogada na qual a
bola é chutada por cima do adversário e recuperada logo adiante, às suas
costas” HOUAISS).
topre sm
NL
Preto (pejor.).
Geralmente, rola um preconceito contra os topres.
Não sou racista. Tenho amigos de tudo o que é ra-
ça. (Atrevida, Novembro/2004, p.42)
Obs.: Palavra formada com a inversão das sílabas do substantivo
“preto”, com a intenção de camuflar preconceito racial.
tudo-de-bom a
NL
Que é muito bom.
“Fiz a minha cama e agora tenho de deitar nela to-
dos os dias!”, diz o vocalista tudo-de-bom, expli-
cando mais uma vez o rolo em que se meteu. (Atre-
vida, Junho/2004, p. 24)
- tudo-de-bom s2g
171
Por trás dos músculos de Dionísio Sardinha há um
garoto romântico que gosta mais de namorar do que
de ficar, e que escrevia poemas para as meninas na
adolescência. Conheça melhor esse tudo-de-bom!
(Atrevida, Junho/2004, p. 60)
Obs.: Usado também na forma abreviada tdb (q.v.).
a
NL
Que é desagradável, ruim.
Beijo
“Eu conheci um menino chamado Robison, que era
muito lindo! As minhas amigas falavam que ele es-
tava a fim de mim, que eu só esnobava, coisa e tal.
No baile da escola resolvi chegar nele. O pior é que
todo mundo estava sabendo que eu ia falar com ele,
então ficaram na maior expectativa. Quando estava
chegando perto, percebi que ele estava beijando ou-
tra pessoa... Outro menino! Ele é homossexual! Eu
não tenho nada contra, mas ser trocada por um ho-
mem é . (Capricho, 18 de abril de 2004, p. 55)
... síndrome de Peter Pan é
Quem é que não se lembra do Peter Pan, aquele
personagem que se recusava a crescer? Hoje em dia
muita gente prefere ser criança até depois dos 30
anos. E fica brincando de adolescente quando já é
adulto. Isso é péssimo. Ser adulto não é sinônimo
de ser careta: você pode crescer e continuar moder-
no e irreverente. Mas dá uma preguiça quando você
encontra alguém que já tem 26 anos e age como se
tivesse 13. Crescer pode ser doloroso, mas... tem
outro jeito?! (Capricho, 20 de fevereiro de 2005, p.
74)
Obs.: Termo originado de “o ó”, no qual o substantivo se origina
de valor semântico pejorativo atribuído à vogal o.
vagal a
172
NL
Abreviação de vagabundo; que não faz nada.
A professora daquela matéria que você manja mui-
to anuncia um trabalho em grupo com peso de pro-
va. Quando seu amigo mais vagal e a turma dele
pedem para fazer com você, qual sua reação? (Ca-
pricho, 26 de dezembro de 2004, p. 78)
Obs.: Forma alternativa a “vagaba”, também abreviação de “vaga-
bundo”.
vamos combinar loc interj
NLoc
Indica desaprovação.
Vamos combinar! Ficar segurando vela para a ir-
mã mais velha não está com nada. (Capricho, 21 de
março de 2004, p. 89)
verme sm
NS
Polícia.
A polícia, entre os usuários de drogas, também é
conhecida como “os vermes”. Eles usam vários
nomes para camuflar e despistar possíveis delato-
res. (Atrevida, Outubro/2004, p.70)
Obs.: Neologismo diastrático, provavelmente proveniente da lin-
guagem dos marginais, para os quais os policiais são como um verme
(“Derivação: sentido figurado.indivíduo impotente, insignificante, abjeto,
desprezível” HOUAISS). Embora o verbete, a rigor, não diga respeito uni-
173
camente à linguagem da juventude e tenha sido incorporado pelo critério
da ocorrência, exemplifica a produtividade na recuperação do valor deno-
tativo de algumas palavras.
visu sm
NL
Abreviação de visual.
Reza a lenda que passar o cabelo a ferro dá o mes-
mo resultado da chapinha...
... Olha, até dá, mas é perigoso porque pode quei-
mar o cabelo ou a pele. Na época das nossas avós
essa era a única alternativa para mudar o visu. Mas
hoje é desespero, né? (Atrevida, Junho/2004, p. 15)
xavecar vtd
NS
Paquerar; conquistar; aproximar-se de alguém com o objetivo de
namorar.
Mas a maior estratégia de venda deles é xavecar a
acompanhante de quem está experimentando a rou-
pa. “As meninas são muito influenciáveis pela opi-
nião da amiga. A melhor forma de persuadi-las é
ganhar a acompanhante. Fica mais fácil quando
quem está junto é a amiga mais feinha. (Capricho,
Maio/2004, p. 85)
Uma vez dois caras nos xavecaram numa viagem.
Eles pensavam que éramos amigas. Quando desco-
briram que éramos mãe e filha, mudaram de postu-
ra e se tornaram apenas amigos. (Capricho, No-
vembro/2002, p. 50)
Caio namora há cinco meses uma colega de escola
que ele já xavecou para um amigo. (Capricho,
Abril/2004, p. 95)
Em primeiro lugar, não é pecado estar a fim de um
garoto. Ou xavecar vááários. Você é livre e desim-
174
pedida e uma das boas coisas de ser solteira é essa.
(Capricho, 26 de dezembro de 2004, p. 75)
Obs.: Metáfora de “xavecar”, arabismo abbak que significa “tra-
pacear”, por expansão semântica de sua acepção de gíria “patifaria” “tra-
tantice”.
xaveco sm
NS
Ato de paquerar, conquistar.
Eles próprios não precisam de intermediários quan-
do estão a fim de alguém. “Confio mais no meu
xaveco do que no de um amigo”, diz João. “E tem
muita menina que acha bobo o cara que não tem co-
ragem de chegar. Ela pode estar até a fim, mas,
quando vê que o cara é inseguro, cai fora”. (Capri-
cho, Abril/2004, p.95)
“Ninguém esquece de avisar, parece que é de pro-
sito. Não tem como sair limpo. Se rolasse xave-
co, então, eu ia me vingar e fazer o mesmo, pagar
na mesma moeda! Só terminaria em caso de trai-
ção.”(Capricho, Março/2004, p. 89)
Paquero no shopping. Tem bastante menina bonita
e eu me sinto mais à vontade para me aproximar e
jogar um xaveco. (Atrevida, Maio/2002, p. 52)
Obs.: Deverbal de “xavecar”.
x-9 s2g
NL
Alcagüete, delator.
Detesto X-9. Muitos são incentivados pelos pais e
professores para delatarem os colegas que infrin-
gem algumas regras. (Todateen, Março/2003, p.44)
175
Minha irmã é a maior X-9. Tudo o que faço ela cor-
re e conta para minha mãe. (Atrevida, Setem-
bro/2004, p.24)
Obs.: Neologismo diastrático, oriundo do vocabulário de margi-
nais.
176
7. CONCLUSÃO
O presente trabalho procurou levantar os neologismos presentes nas
publicações voltadas para os adolescentes (Atrevida, Capricho e Todate-
en), de julho de 2001 a dezembro de 2004, com o objetivo de mostrar que
essa faixa etária possui uma linguagem expressiva e rica, embora muitas
vezes seja vítima de preconceito por boa parte da sociedade.
Como foi dito inicialmente, o corpus pesquisado representa uma ma-
nifestação lingüística para o adolescente e não do adolescente. Além dis-
so, embora ele apresente uma faceta dupla, já que a fronteira existente en-
tre a linguagem da imprensa e a linguagem do adolescente pode suscitar
outras investigações interessantes na área da linguagem, nosso propósito
não foi fazer essa interface, focalizando-se aqui apenas o léxico, com o
levantamento dos neologismos.
Uma pesquisa na linguagem do adolescente, mais especificamente
no léxico, exige, como se pôde observar, conhecimentos que vão além do
campo lingüístico, invadindo a Biologia, a Psicologia e a Sociologia. Essa
interdisciplinaridade tornou necessária, primeiramente, além das conside-
rações sobre a língua, uma abordagem dos aspectos relacionados às carac-
terísticas fisiológicas do adolescente, bem como aos aspectos psicológicos,
relativos às transformações mentais decorrentes das mudanças físicas.
Além disso, foi preciso situar o adolescente na sociedade contempo-
rânea, caracterizada pelo “culto à juventude”, cheia de apelos e situações
responsáveis pela forma como agem e pela sua linguagem característica,
que reflete, claramente, a sociedade em que vivem e os conflitos que en-
177
frentam.
Para tentarmos enten-los por completo, é necessário ter essa visão
“biopsicossocial”. Daí, a afirmação de Louis Guilbert, em La créativité
lexicale:
... o léxico jamais pôde ser definido como um sis-
tema fechado, em razão de sua abertura sobre o re-
ferente, a evolução do mundo, do pensamento, so-
bre a transformação da sociedade.
12
(1975: 32)
Partindo para a abordagem propriamente relativa à língua, retoman-
do-a como um fato social, foi necessário discutir-se a questão de a lingua-
gem dessa faixa etária ser considerada gíria ou linguagem especial. Che-
gou-se à conclusão de que é um caso particular de linguagem especial, já
que contém características da gíria, mas, ao mesmo tempo, se insere nas
relações comunicativas com a língua comum.
Como o foco desta pesquisa foram os neologismos encontrados nas
publicações voltadas para os adolescentes, apresentaram-se algumas con-
siderações a respeito da linguagem dessas revistas. O fato de estarem
comprometidas com um determinado público faz com que tenham caracte-
rísticas específicas e uma linguagem que, embora não seja do adolescente,
é voltada para ele. Logo, reflete o vocabulário utilizado pelo jovem.
Em seguida, como abordamos um fenômeno lexical, buscou-se tratar
do xico e das ciências responsáveis por ele: a Lexicologia e a Lexicogra-
fia. Com isso, foi possível confirmar que o léxico é um campo aberto a
inovações decorrentes da necessidade dos falantes. Essas inovações, os
neologismos, e o processo de criação, a neologia, também tiveram seus
conceitos aqui analisados.
12
... le lexique n’a jamais pu être défini comme un système clos, en raizon de son ouverture sur le réfé-
rent, l’evolution du monde, de la pensée, sur la transformation de la société. (GUILBERT, 1975: 32)
178
Definiram-se, também, os critérios utilizados para a seleção do cor-
pus, a organização da nominata e a definição dos verbetes.
Por fim, foi apresentado o glossário dos neologismos retirados das
publicações mencionadas, que reuniu 188 verbetes, com as respectivas
abonações. Foi encontrado o seguinte resultado:
Neologismos Lexicais (NL) 76
Neologismos Semânticos (NS) 73
Neologismos Locucionais (NLoc) 39
Desse levantamento, é importante que se destaquem algumas consi-
derações. A primeira delas diz respeito ao campo semântico da maioria
dos verbetes. Ele se insere, na maior parte das vezes, na área referente aos
relacionamentos amorosos, fato explicável pelas transformações típicas da
adolescência, abordadas no segundo capítulo.
Diante do glossário apresentado, pode-se dizer que essa produtivida-
de linística nos mostra o uso de mecanismos de formação de palavras,
através da derivação e da composição, e da ampliação do campo semânti-
co de palavras já existentes na língua portuguesa. Com isso, observou-se a
atividade criadora e sua constante evolução, provocada, muitas vezes por
relações metafóricas e metonímicas. Também encontramos no corpus al-
guns neologismos diastráticos, provenientes do vocabulário de outras clas-
ses ou grupos. Observou-se, por fim, um equilíbrio quanto ao número de
ocorrências dos neologismos lexicais e semânticos.
Isso tudo serve para comprovar a vitalidade e a riqueza da língua por-
tuguesa, do ponto de vista semântico, fonológico, morfológico, sintático e
estilístico e para abordar também a questão dos empréstimos lingüísticos,
179
da gíria e das linguagens especiais.
Cabe ainda dizer que a criatividade dos adolescentes certamente con-
tinuará lançando sementes que irão inspirar a criação de novos termos e
expressões que servirão para enriquecer a nossa língua e para mostrar que,
diferentemente do que se pensa, o vocabulário dos adolescentes, reflexo de
suas transformações físicas, psicológicas e sociais, muito tem a acrescentar
ao estudos lingüísticos. Espera-se, com isso, que este trabalho possa con-
tribuir para os estudos lexicográficos, estimulando outras pesquisas nessa
área.
E, por fim, como o tema aqui desenvolvido está permeado por emo-
ções e descobertas, abre-se espaço para que a sensibilidade tome conta do
último parágrafo deste trabalho, esperando que este estudo represente a
união de três paixões: a adolescência, o léxico e a língua portuguesa.
180
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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língua portuguesa. Rio de Janeiro: A Academia, 1999.
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lho de 2001 e dezembro de 2004.
189
RESUMO
Este trabalho desenvolve um estudo sobre os neo-
logismos encontrados nas revistas especializadas
em adolescentes. Considera alguns dos pontos rela-
cionados com as características físicas e psicológi-
cas dos indivíduos dessa faixa etária. Analisa a lin-
guagem usada pelos adolescentes e a linguagem das
revistas que eles lêem. Também se refere à Lexico-
logia e à Lexicografía enfatizando a relação entre o
léxico e o desenvolvimento social. Faz algumas
considerações sobre neologia. Organiza uma lista de
neologismos usados pelos adolescentes.
190
ABSTRACT
This work develops a study about the neologisms
found in magazines especialized in teenagers. It
considers some points related to the phisycal and
psychological caracteristics of this age. It analyses
the language used by teenagers and the language of
the magazines they read. It also refers to lexicogra-
phy and lexicology, emphasizing the relation be-
tween lexicon and society development. It makes
some considerations of neology. It organizes a list
of the neologisms used by teenagers.
191
RESÚMEN
Este trabajo desenvuelve un estudio sobre los neo-
logismos encontrados en las revistas especializadas
en adolescentes. Considera algunos de los puntos
relacionados con las características físicas y psico-
lógicas de individuos de esta franja de edad. Analiza
el lenguaje usado por los adolescentes y el lenguaje
de las revistas que ellos leen. También se refiere a la
lexicología y a la lexicografía enfatizando la relaci-
ón entre el léxico y el desarrollo social. Hace algu-
nas consideraciones sobre neología. Organiza una
lista de neologismos usados por los adolescentes.
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