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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
REPRESENTAÇÕES MATERNAS NO CONTEXTO DA MATERNIDADE
NA ADOLESCÊNCIA
STELA ARAÚJO CABRAL
Dissertação de Mestrado
São Leopoldo, maio de 2010.
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
REPRESENTAÇÕES MATERNAS NO CONTEXTO DA MATERNIDADE
NA ADOLESCÊNCIA
STELA ARAÚJO CABRAL
Dissertação de Mestrado como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Psicologia Clínica, sob
orientação da Profa. Dra. Daniela
Centenaro Levandowski
São Leopoldo, maio de 2010.
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Catalogação na publicação: Bibliotecário Flávio Nunes, CRB 10/1298
C117r Cabral, Stela Araújo.
Representações maternas no contexto da maternidade na
adolescência / Stela Araújo Cabral. – 2010.
155 f. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2010.
“Sob orientação da Profa. Dra. Daniela Centenaro
Levandowski”.
1. Maternidade. 2. Gravidez na adolescência Aspectos
psicológicos. 3. Mães adolescentes. 4. Psicanálise. I. Título.
CDD
618.200835
CDU 618.2-053.6
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
REPRESENTAÇÕES MATERNAS NO CONTEXTO DA MATERNIDADE
NA ADOLESCÊNCIA
elaborada por
Stela Araújo Cabral
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Psicologia Clínica
COMISSÃO EXAMINADORA
Daniela Centenaro Levandowski, Profa. Dra.
(Presidente/Orientadora)
Vera Regina Röhnelt Ramires, Profa. Dra.
(Relatora)
Diana Dadoorian, Profa. Dra. (UFRJ)
(Membro)
Cesar Augusto Piccinini, Prof. Dr. (UFRGS)
(Membro)
3
Ao querido mestre e amigo Salvador Célia (in memoriam),
que muito me ensinou sobre mães e bebês, cujo trabalho foi fonte de inspiração
para este estudo.
Foi nas palavras de Celso Gutfreind, seu colega e amigo, que encontrei a
verdadeira expressão do que ele representou em minha vida. Nunca esquecerei
“seu abraço terapêutico e continente (o holding Salvador), seu apego seguro e
amoroso, sua resiliência, sua empatia simples. Basta que continue ao nosso
lado que o terapêutico virá um dia, como uma presença, um poema. Leio o que
me falta no que nele sobra; troco minha obra pela sua alma”.
Trecho de Poema ao Salvador
4
AGR
AGRAGR
AGRADECIMENTOS
ADECIMENTOSADECIMENTOS
ADECIMENTOS
“Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
Sócrates
Ser ou não ser mestre em Psicologia, eis a questão! Levei anos para amadurecer
esta idéia.
O desejo e interesse de exercer a docência futuramente fizeram com que me
aventurasse em uma área até então desconhecida para mim: a pesquisa em Psicologia.
Devo confessar que inicialmente não foi fácil para uma psicóloga clínica, de orientação
analítica, com pretensão de tornar-se psicanalista, entender o paradigma da ciência. Foi
um verdadeiro desafio. Talvez, um dos maiores que vivi a agora em minha vida
profissional.
No decorrer desta caminhada, que foi árdua e cercada de questionamentos, de
idas e vindas, mas também gratificante e, sobretudo, desafiadora, gostaria
primeiramente de registrar meu sincero agradecimento à orientadora deste trabalho,
Profa. Dra. Daniela Levandowski. Agradeço a dedicação e a orientação firme e
consistente desta dissertação, a compreensão e o respeito às minhas idéias e aos valores
que carrego comigo como pessoa e profissional. Também um agradecimento especial à
minha família, por seu apoio e sua compreensão.
Deixo aqui registrado também, meu agradecimento às participantes deste estudo,
mães adolescentes e suas mães, que gentilmente acolheram este trabalho, e que me
tocaram profundamente com suas histórias. Ao Hospital Mãe de Deus, que possibilitou
5
acesso às participantes da pesquisa. Obrigada a Silvana Tomé e às enfermeiras do
Centro Materno Infantil, Perla Di Leone e Isolda Formolo.
Agradeço aos professores da banca examinadora, por suas contribuições a este
trabalho. Também às professoras Elizabeth Pinto Wiese (USP), Jaqueline Wendland
(Paris V) e Christiane Robert-Tissot (Universidade de Genebra), pelas informações
sobre a Entrevista-R, importante instrumento utilizado nesta pesquisa.
Por fim, muito obrigada aos amigos, colegas da clínica e do Mestrado,
professores do Mestrado, alunos da disciplina Clínica Psicológica - Base Psicanalítica
(2009/1), que acompanharam minha trajetória até aqui, com os quais compartilhei
muitos momentos. Não esquecerei o carinho, respeito e as palavras de incentivo a este
trabalho e, sinceramente, espero não desapontá-los!
6
“Afinal de contas, ela foi um bebê, e traz com ela lembranças de tê-lo sido;
tem, igualmente, recordações de que alguém cuidou dela, e estas lembranças
tanto podem ajudá-la quanto atrapalhá-la em sua própria existência como
mãe. A natureza, no entanto, decretou que os bebês não possam escolher suas
mães. Eles simplesmente aparecem, e as mães têm o tempo necessário para se
reorientar e para descobrir que, durante alguns meses, seu oriente não estará
localizado a leste, mas sim no centro (ou será que um pouco fora do centro?)”.
Os bebês e suas mães (Winnicott, 2006)
7
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................9
ABSTRACT...................................................................................................................10
Apresentação.................................................................................................................11
Seção I - Relatório de Pesquisa
1 – Introdução................................................................................................................14
1.1 A Maternidade na Adolescência e as Representações Maternas nesse Contexto.....15
1.2 Justificativa e Objetivos do Estudo...........................................................................24
2 – Método......................................................................................................................24
2.1 Participantes..............................................................................................................24
2.2 Delineamento e Procedimentos.................................................................................25
2.3 Instrumentos..............................................................................................................28
2.4 Considerações Éticas.................................................................................................29
2.5 Procedimentos de Análise dos Dados........................................................................30
3 - Resultados e Discussão............................................................................................31
3.1 Caso 1: Carolina........................................................................................................32
3.2 Caso 2: Fabiana.........................................................................................................45
3.3 Caso 3: Júlia..............................................................................................................57
3.4 Discussão Geral.........................................................................................................68
Seção II Artigo Teórico: Representações Maternas: Aspectos Teóricos e
Possibilidades de Avaliação e Intervenção Clínicas
Resumo...........................................................................................................................75
Abstract..........................................................................................................................76
Introdução......................................................................................................................77
Algumas Considerações sobre o Conceito Representação..............................................78
Conceituando Representação Materna............................................................................79
Possibilidades de Avaliação e Intervenção Clínica das Representações Maternas.........85
Considerações Finais.....................................................................................................89
8
Seção III - Artigo Empírico: Representações de mães adolescentes sobre suas
mães: Aspectos intergeracionais na relação mãe-criança
Resumo...........................................................................................................................92
Abstract..........................................................................................................................93
Introdução......................................................................................................................94
Método............................................................................................................................97
Participantes....................................................................................................................97
Delineamento,Procedimentos e Instrumentos.................................................................97
Procedimentos de Análise dos Dados..............................................................................99
Resultados e Discussão................................................................................................100
Considerações Finais...................................................................................................109
IV- CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO..........................................112
V- REFERÊNCIAS.....................................................................................................115
VI – ANEXOS..............................................................................................................124
Anexo A: Parecer Comitê de Ética em Pesquisa...........................................................125
Anexo B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para as adolescentes.............127
Anexo C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para as avós maternas..........129
Anexo D: Ficha de Contato Inicial................................................................................133
Anexo E: Entrevista sobre a Gestação e o Parto...........................................................134
Anexo F: Entrevista-R (instruções e folha de anotação)...............................................135
Anexo G: Entrevista com Avó Materna........................................................................155
9
RESUMO
A investigação das representações maternas, que se inserem nos aspectos subjetivos da
relação mãe-criança, constitui um campo atual de estudos e um dos eixos principais da
clínica pais-bebê. A presente dissertação trata de uma pesquisa realizada sobre as
representações maternas no contexto da maternidade na adolescência. Trata-se de um
estudo qualitativo, transversal, com delineamento de estudo de caso, cujo referencial
teórico está alicerçado na teoria psicanalítica. Participaram do estudo três mães
adolescentes, de 16 e 17 anos e suas mães. Elas foram contatadas em um hospital da
cidade de Porto Alegre. Os bebês tinham três e seis meses de idade, sendo dois do sexo
feminino e um do sexo masculino. Foram avaliadas as representações das adolescentes
sobre si mesmas, sobre a própria mãe e sobre o bebê através dos seguintes instrumentos:
entrevista sobre a gestação e o parto, Entrevista R (Stern et al., 1989), observação da
díade mãe-bebê em situação de amamentação e entrevista com a avó materna. As
informações obtidas revelaram que as representações sobre a própria mãe foram
norteadoras para a maternidade destas jovens, destacando a influência dos aspectos
intergeracionais na relação com a criança. Também foi demonstrado que o desempenho
da função materna estava ligado às representações sobre o bebê, e que as representações
sobre si mesmas mostraram diferentes percepções e sentimentos das adolescentes como
mãe e pessoa. Apesar dos desafios impostos pela maternidade precoce, percebeu-se que
tal condição não se apresentou como fator determinante na qualidade das representações
destas mães.
Palavras-chave: maternidade, adolescência, representações maternas, psicanálise.
10
ABSTRACT
The investigation of maternal representations, that includes some subjective aspects of
mother-infant relationship, constitutes itself a current field of study and one of the main
axes of parent-infant clinic. This qualitative and transversal study, with a case study
design, aims to present a research about maternal representations in the context of
adolescent motherhood, grounded on psychoanalysis theory. Three adolescent mothers,
ages 16 and 17, and their mothers, were recruited in a Porto Alegre’s hospital. Their
babies, two girls and one boy, were three and six months old. The adolescents’
representations about themselves, their own mother and their baby were investigated
through the following instruments: interview about pregnancy and birth, Interview R,
observation of mother-infant in a breastfeeding situation and interview with the
adolescent’s mother. Results revealed that representations about the own mother were
references for the adolescents’motherhood, showing the influence of intergenerational
aspects on mother-baby relationship. It was also observed that the maternal role
performance was related to representations about baby, and that adolescents’
representations about themselves demonstrate different insights and feelings as mother
and person. Besides the challenges placed by a pregnancy in adolescence period, it
seems that this condition haven’t determined the quality of these adolescent mothers’
representations.
Key words: motherhood, adolescence, maternal representations, psychoanalysis.
11
APRESENTAÇÃO
A maternidade constitui um evento ímpar de vida, comumente dando lugar a
modificações importantes no âmbito psicológico. Nesse momento, a mulher poderá
atingir novos níveis de integração e desenvolvimento da personalidade (Maldonado,
1997). O nascimento de um bebê tende a gerar uma nova e única organização psíquica
temporária, que será o eixo organizador dominante na vida emocional da mãe durante
meses ou anos (Stern, 1997).
De fato, para que a mulher consiga exercer plenamente a função materna, faz-se
necessária uma reorganização de sua identidade (Stern, 1997). Tal reorganização
envolve, dentre outros aspectos, a busca por um modelo materno próprio, e tende a
impulsionar a revivência e a transformação das representações maternas. Esse aspecto,
que perpassa a relação da mãe com o bebê desde a gravidez e antes dela, bem como
durante o exercício da maternidade, é de grande importância, e, atualmente, constitui-se
em um dos eixos principais de investigação da clínica pais/bebê (Stern, 1997).
As representações maternas englobam as relações atuais da e com o bebê
(Stern, 1997; Winnicott, 1987/2006), além de expectativas, fantasias e desejos sobre ele,
e estão intrinsecamente ligados às lembranças da sua própria infância, aos seus modelos
maternos e às predições para o futuro do bebê (Aulagnier, 1994; Brazelton & Cramer,
1992; Cramer & Palacio-Espasa, 1993; Lebovici, 1987; Mazet & Stoleru, 1990; Stern,
1997). Conforme Stern (1997), essas representações se apresentam nos principais
discursos que compõem o mundo representacional materno: o discurso com a própria
mãe, o discurso consigo mesma e o discurso com o bebê.
É necessário destacar ainda que também fazem parte de tais representações as
questões transgeracionais (Lebovici, 1996, 1998), mais particularmente, conflitos
associados às gerações anteriores, principalmente às famílias de origem dos pais. Os
12
aspectos transgeracionais podem influenciar, mesmo de forma inconsciente, a
constituição da relação atual da díade mãe-bebê.
Isso posto, percebe-se que essas representações podem repercutir na constituição
inicial da organização psíquica da criança (Marques, 2003; Wendland, 2001). Assim,
podem contribuir para a sua resiliência ou para a instalação de um processo patológico,
observado no relacionamento triádico mãe-pais/bebê e/ou na formação de sintomas
psicofuncionais no bebê (Guedeney & Lebovici, 1999; Pinto, 2004).
Apesar de diversos estudos focalizarem a compreensão da gestação e da
maternidade na adolescência, especialmente pelas suas repercussões para a e e o
bebê, a investigação das representações maternas nesse contexto consiste em um tema a
ser ainda explorado, tanto no período de gestação quanto após o nascimento. Torna-se
relevante investigar essas representações em um contexto de maternidade que, apesar de
não ser incomum em nosso meio, é considerado atípico, devido ao período do ciclo vital
em que ocorre.
De fato, estudos demográficos no Brasil referem aumento significativo da
gravidez entre jovens de 15 a 19 anos nas duas últimas décadas, caracterizando este
fenômeno como um problema social e de saúde pública (Brandão & Heilborn, 2006;
Dias & Aquino, 2006; Hoga, 2008; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2003;
Moreira et al, 2008). Embora se tenha constatado, em geral, uma ligeira queda do
percentual de mães adolescentes no país nos últimos anos, devido ao declínio da taxa de
fecundidade da população feminina, a incidência da maternidade nessa faixa etária
ainda é um fato que não pode ser desprezado, representando em torno de 20% do total
de nascimentos do país (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2006). Percebe-
se uma carência de ações efetivas, que contribuam para abrandar sua incidência, assim
13
como suas repercussões para a jovem, sua criança e sua família, observadas de múltiplas
formas.
Pensa-se que, através da investigação do mundo representacional das mães
adolescentes, torna-se possível conhecer um aspecto subjetivo importante que norteia a
relação estabelecida com a criança. Por sua vez, a avaliação dessas representações
possibilita, quando necessário, uma intervenção psicoterapêutica precoce, que tem como
objetivo incrementar a qualidade da relação mãe-bebê.
Diante disso, a presente Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica
apresenta uma pesquisa realizada sobre as representações maternas no contexto da
maternidade na adolescência. Para tanto, está organizada em três seções, a saber:
relatório de pesquisa (Seção I), artigo teórico (Seção II) e artigo empírico (Seção III).
Na primeira seção, apresenta-se o relatório da pesquisa desenvolvida, no qual são
descritos detalhadamente os objetivos, método e procedimentos, bem como os
resultados do estudo e sua discussão. A segunda seção trata do artigo teórico, que
apresenta algumas considerações teóricas e clínicas sobre as representações maternas,
embasadas no referencial psicanalítico. Por fim, na terceira seção, que abrange o artigo
empírico, aprofunda-se um aspecto importante da pesquisa realizada, analisando-se os
aspectos intergeracionais que fazem parte das representações das mães adolescentes
sobre suas mães, assim como sua influência na relação com o bebê.
14
Seção I
Relatório de Pesquisa
REPRESENTAÇÕES MATERNAS NO CONTEXTO
DA MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA
1- Introdução
O presente estudo teve como objetivo geral investigar o mundo representacional
de mães adolescentes, mais especificamente, o conjunto de representações que o
compõem: representações sobre a própria mãe, sobre si mesma e sobre o bebê (Stern,
1997). O embasamento teórico compreendeu a literatura sobre o tema, especialmente
autores psicanalíticos clássicos, como Donald Winnicott e Wilfred Bion, e
contemporâneos, como Bernard Golse e Daniel Stern. Para tanto, foi empregada uma
abordagem qualitativa, através da realização de estudos de caso, segundo a concepção
de D’Allonnes (2004), que propõe uma interlocução entre a pesquisa, a psicologia
clínica e o referencial psicanalítico.
A escolha por este tema decorre da experiência da mestranda na clínica
psicanalítica da infância e adolescência, incluindo a clínica pais-bebê. Além disso, a
investigação das representações maternas se constitui em um dos principais eixos que
norteiam a relação mãe-bebê (Lebovici, 1987; Cramer & Palácio-Espasa, 1993; Golse,
2003; Stern, 1997). Por isso, destaca-se o caráter preventivo de tal investigação, uma
vez que esta visa à prevenção de psicopatologias que possam acometer o pleno
desenvolvimento da criança e também da mãe (Pinto, 2004). Assim, a análise das
15
representações maternas busca promover uma melhor qualidade dessa relação diádica
(Wendland, 2001).
Outro ponto a destacar refere-se ao fato de o presente estudo contribuir para
preencher uma lacuna encontrada na literatura acerca de investigações sobre esse tema
no contexto da maternidade na adolescência. Considerando o mencionado, a primeira
parte desta seção apresenta alguns estudos já realizados sobre as representações de mães
adolescentes, embora não caracterize uma revisão sistemática da literatura. Na
seqüência, apresentam-se os principais aspectos desenvolvimentistas e psicossociais que
norteiam a maternidade nessa faixa etária. Finalizando a parte teórica, são tecidas
algumas considerações sobre os aspectos intrapsíquicos que se inserem nesse contexto
de maternidade. A segunda parte desta seção contempla a descrição do método e dos
procedimentos da pesquisa, bem como os resultados e sua discussão.
1.2 A Maternidade na Adolescência e as Representações Maternas nesse Contexto
A investigação das representações maternas no contexto da maternidade na
adolescência ainda é rara e, portanto, constitui-se em um campo fértil para futuras
pesquisas. Destaca-se que a maioria dos estudos existentes sobre o tema investigou as
representações de es adolescentes sobre a criança, o que aponta para a carência de
trabalhos sobre as demais representações (por exemplo, sobre si mesma e sobre a
própria mãe) que também compõem o seu mundo representacional. Como
mencionado, essas representações podem influenciar na relação mãe-bebê e, por
conseguinte, contribuir para a resiliência da criança ou para a instalação de
psicopatologias, interferindo no seu desenvolvimento (Guedeney & Lebovici, 1999;
Pinto, 2004).
16
Alguns estudos, de caráter quantitativo, realizados acerca das representações de
mães adolescentes canadenses (Bailey et al., 2007) e americanas (Madigan et al., 2007)
sobre a criança, apontaram a sua influência no desenvolvimento de apego inseguro
(Bailey et al., 2007) e em problemas de comportamento da criança (Madigan et al.,
2007). Outros trabalhos, de cunho qualitativo, realizados com mães adolescentes
canadenses (Deoliveira, Moran & Pederson, 2005) e brasileiras (Bergamaschi & Praça,
2008), demonstraram que essas representações são construídas através das vivências
cotidianas com a criança (Bergamaschi & Praça, 2008), e também através de suas
representações sobre si mesmas, que se apresentaram de forma particular para cada uma
(Deoliveira, Moran & Pederson, 2005).
Ressalta-se que as representações maternas também figuram na literatura através
de outras nomenclaturas, comumente percepções ou sentimentos maternos. Nesse
sentido, as percepções e os sentimentos de mães adolescentes em relação ao filho(a)
recém-nascido(a) foram abordados no trabalho qualitativo de Rocha e Minervino
(2008), realizado com mães paraibanas. Observou-se que, em geral, estas mães
apresentaram expectativas positivas em relação ao futuro da criança. Também foram
destacados, pela maioria das mães, sentimentos positivos, como amor e felicidade, em
relação ao filho(a). Porém, em geral, elas manifestaram medo, insegurança e
preocupação quanto aos cuidados iniciais do bebê, referindo ser difícil cuidar de uma
criança.
No âmbito internacional, destacam-se trabalhos portugueses de revisão sobre a
maternidade na adolescência (Figueiredo 2000, 2001), que incluíram estudos sobre as
representações de mães adolescentes sobre a criança. Estes demonstraram percepções e
expectativas negativas e irrealistas destas es frente ao bebê, apontando a necessidade
17
de auxílio na resolução de conflitos internos em relação ao nascimento do(a) filho(a),
que poderiam estar ligado a sentimentos ambivalentes em relação à maternidade.
Convém destacar que a investigação das representações maternas no contexto da
maternidade na adolescência não se encontra restrita à experiência da maternidade
propriamente dita. Isso foi demonstrado no estudo de Piccinini et al. (2003), que
investigou qualitativamente as representações maternas de gestantes adolescentes e
gestantes adultas gaúchas, mais especificamente, as características do bebê imaginário e
suas expectativas em relação ao futuro do filho. Constatou-se que as mães adolescentes
apresentaram maior dificuldade para descrever suas percepções sobre o bebê em
comparação às mães adultas. Também suas expectativas em relação ao futuro do bebê
estavam ligadas ao desejo de não repetir a sua própria história de gestação precoce.
Percebe-se que a compreensão das representações maternas, que se inserem nos
aspectos subjetivos que permeiam a relação mãe-bebê (Aulagnier, 1994; Brazelton &
Cramer, 1992; Lebovici, 1987), também depende, dentre outros aspectos, das
características específicas de cada contexto de maternidade. Assim, para a análise e
entendimento das representações de mães adolescentes, torna-se necessário
compreender as especificidades da maternidade nessa etapa da vida.
Aspectos Desenvolvimentistas e Psicossociais da Maternidade na Adolescência
As mães adolescentes, além de lidarem com os desafios impostos pela
maternidade, também se confrontam com os desafios próprios de sua etapa de
desenvolvimento (Carlos et al., 2007). Dessa forma, a maternidade nesse período do
ciclo vital se apresenta, por vezes, como um evento para o qual a maioria das
adolescentes pode não estar preparada. De fato, alguns estudos realizados com mães
18
adolescentes canadenses (Bigras & Panquette, 2007) e portuguesas (Carlos et al., 2007;
Figueiredo, 2000, 2001) demonstraram que, em geral, elas estão cognitivamente e
emocionalmente menos aptas para o desempenho do papel materno, apresentando
desconhecimento acerca do desenvolvimento do bebê e das tarefas específicas que
envolvem a maternidade.
Outros estudos constataram algumas repercussões psicológicas da gravidez e da
maternidade nessa etapa da vida (Herrman, 2008; Kristen & Montgomery, 2004;
Levandowski, Piccinini & Lopes, 2008). Dentre elas, destacam-se sentimentos como
medo, preocupação e rejeição, devido a possíveis reações negativas da família e/ou
companheiro frente à gravidez (Moreira et al., 2008). No entanto, observam-se também
sentimentos positivos em relação ao bebê que, dentre outras condições, podem estar
relacionados à autoestima da adolescente após o parto, mesmo que a gravidez não tenha
sido planejada (Levandowski et al., 2008). Evidencia-se, dessa forma, que as
repercussões psicológicas são específicas para cada jovem e estão associadas não
apenas a aspectos individuais, mas também sociais, econômicos e familiares (Esteves &
Menandro, 2005; Levandowski et al., 2008).
A literatura é unânime em apontar que as mudanças nos hábitos de vida destas
adolescentes, por conta da maternidade, estão relacionadas, principalmente, à
interrupção dos estudos, dificuldade de inserção profissional e ao afastamento dos
amigos devido aos cuidados com o bebê (Dadoorian, 2003; Figueiredo, 2000, 2001;
Esteves & Menandro, 2005; Levandowski et al., 2008; Moreira et al., 2008; Ximenes
Neto, Dias, Rocha & Cunha, 2007). Contudo, apesar das dificuldades advindas da
maternidade precoce, tornar-se mãe tão cedo nem sempre significa ter uma vida e um
futuro interrompidos. Por exemplo, entre mães adolescentes cariocas de nível sócio-
19
econômico médio (Brandão & Heilborn, 2006), observou-se que a maternidade, apesar
de, indubitavelmente, promover mudanças, não se apresentou como um obstáculo frente
aos projetos profissionais e/ou conjugais futuros. Embora tenham sido exigidas
adaptações frente à chegada do bebê, os pais das adolescentes as auxiliaram na
concretização de seus projetos anteriores à gestação (Brandão & Heilborn, 2006).
Além disso, o nascimento de um bebê pode, por vezes, auxiliar a jovem mãe a
desenvolver a responsabilidade e a afetividade (Esteves & Menandro, 2005; Seamark &
Lings, 2004). Responsabilizar-se por um bebê pode dar novo sentido à vida desta mãe,
estimulando nela o desejo de progredir, o que contribui para a sua resiliência frente à
maternidade (Figueiredo, 2001; Gontijo & Medeiros, 2008; Herrman, 2008; Kristen &
Montgomery, 2004).
Apesar de a maternidade entre adolescentes ser mais freqüente nas classes
menos favorecidas economicamente (Dadoorian, 2003), devido principalmente a fatores
sociais, econômicos e culturais, cabe referir que ela ocorre em todas as classes sociais,
embora não tenha sido ainda muito estudada entre adolescentes de nível sócio-
econômico médio e/ou alto (Andrade, Ribeiro & Silva, 2006). Contudo,
independentemente do nível sócio-econômico, são observadas formas de organização
familiar semelhantes nesse contexto de maternidade: residir com o companheiro, morar
com um dos pais ou morar com o companheiro e seus pais e/ou pais do companheiro
(Dias & Aquino, 2006). Todas essas formas de organização revelam dependência
afetiva e material da adolescente em relação à sua família, ao companheiro e/ou à
família de ambos, através de ajuda nos cuidados com a criança e de contribuição ou
sustento financeiro.
20
Constata-se, então, que o contexto familiar apresenta-se como um aspecto
importante da rede de apoio destas mães, especialmente os familiares e o parceiro.
Destaca-se o envolvimento das avós maternas como central para as adolescentes, seja
através do oferecimento de apoio afetivo, prático e/ou financeiro (Gee & Rhodes, 2008;
Silva & Salomão, 2003). De fato, a participação de tais avós tem papel relevante na
adaptação destas mães frente à maternidade (Silva & Salomão, 2003).
Outro aspecto a destacar refere-se à interação de mães adolescentes com sua
criança. Em geral, são observadas nestas mães, em comparação a mães adultas, menor
responsividade, bem como menor estimulação do bebê e menor sensibilidade às suas
necessidades. Por vezes, são encontradas condutas que envolvem maus-tratos e
negligência (Bigras & Panquette, 2007; Carlos et al., 2007; Figueiredo, 2000, 2001;
Marin & Levandowski, 2008). Diante desse tipo de interação, dentre outros aspectos,
alguns estudos identificaram prejuízo no desenvolvimento cognitivo e linguístico, baixo
rendimento escolar (Vieira et al., 2007), problemas de comportamento e vinculação
insegura em filho(as) de mães adolescentes (Carlos et al. ,2007).
No que tange ao desenvolvimento dos filhos de mães adolescentes, o estudo
realizado por Carniel et al. (2006) com mães dessa faixa etária e seus recém-nascidos na
cidade de Campinas (SP) constatou maior possibilidade de prematuridade, baixo peso
ao nascer, déficit de crescimento, maior probabilidade de mortalidade e de atraso no
desenvolvimento dessas crianças, em comparação a filhos de mães adultas. Já o trabalho
de Vieira et al. (2007) acompanhou o crescimento e desenvolvimento de filhos de mães
adolescentes paulistas no primeiro ano de vida e não apontou diferenças quanto à
evolução psicomotora entre estas crianças e filhos de mães adultas nesse período.
Houve, sim, constatação de baixo peso ao nascer e maior incidência de hospitalização
21
das crianças. Mas, de modo geral, o estudo revelou que filhos de mães adolescentes
podem apresentar um desenvolvimento semelhante aos filhos de mães adultas.
Através das questões mencionadas, torna-se possível observar algumas
conseqüências desenvolvimentistas que invariavelmente ocorrem por conta da
maternidade na adolescência. Diante de tais conseqüências, pergunta-se por que as
adolescentes continuam engravidando, uma vez que, hoje em dia, elas têm livre acesso a
informações sobre métodos contraceptivos e educação sexual, principalmente através da
mídia, hospitais e escolas (Brandão & Heilborn, 2006; Dadoorian, 2003; Hoga, 2008).
Essa constatação aponta para a importância da investigação do significado individual da
gravidez e da maternidade para as adolescentes, aspecto este ainda pouco discutido pela
literatura (Dadoorian, 2003; Ximenes et al., 2007). Assim, torna-se relevante abordar os
principais aspectos intrapsíquicos que permeiam a vivência da maternidade entre as
adolescentes.
Aspectos Intrapsíquicos da Maternidade na Adolescência
Conforme Lebovici (1987), no plano psíquico, a gestação na adolescência pode
assumir significados diversos. O autor destacou que, para algumas adolescentes, a
gravidez pode significar a possibilidade de distanciamento da família, uma vez que
tornar-se mãe as coloca em outro plano na constelação familiar. Em outros casos,
algumas jovens veem a maternidade como a possibilidade de elaboração de experiências
difíceis vivenciadas com os pais.
De outra forma, a chegada de um filho também pode demonstrar a identificação
da adolescente com o funcionamento parental dos próprios pais (Cramer & Palácio-
Espasa, 1993). Cabe ressaltar que o desenvolvimento dessas identificações parentais
22
tem seu ápice entre a adolescência e a idade adulta, através da construção de imagens
pré-conscientes sobre os projetos e desejos relacionados à parentalidade (Cramer &
Palacio-Espasa, 1993). Os projetos podem ter uma relação de identidade ou de oposição
às imagens, também pré-conscientes, construídas sobre os próprios pais. Assim, as
gratificações e satisfações vividas com os pais desde a infância deixam pontos de
referência conscientes e inconscientes, que auxiliam no estabelecimento de relações
futuras satisfatórias com o próprio filho(a). Por outro lado, as frustrações e decepções
vividas em relação aos pais durante a infância levam ao desejo de evitar que o mesmo
aconteça com o filho(a) (Cramer & Palacio-Espasa, 1993).
Ainda no plano das identificações, é preciso mencionar o Complexo de Édipo,
que se constitui em uma etapa decisiva para as adolescentes e mulheres em geral,
importante aspecto que também faz parte da construção da identidade feminina, o ser
mulher, identidade essa que tem como base as imagens parentais (Golse, 1998).
Portanto, o Complexo de Édipo será um dos norteadores das futuras escolhas amorosas
da menina. Ela o reviverá intensamente por conta do ingresso na adolescência, uma vez
que nessa etapa ocorre a busca de novos objetos libidinais. Tal busca por um parceiro
implicará na renúncia aos objetos primários, instalando a necessidade de romper com o
modelo de amor infantil em detrimento de um modelo de amor mais maduro (Golse,
1998), o que nem sempre acontece sem conflitos.
Por sua vez, Dadoorian (2003) destaca que, para muitas adolescentes, o desejo
negativo de ter um filho é expresso através do aborto, enquanto que o desejo positivo
manifesta-se no acontecer da maternidade. Também refere que a gravidez na
adolescência deriva da estreita relação entre o corpo e a pulsão sexual, que é intensa
nesse período.
23
Especificamente sobre a sexualidade na puberdade feminina, Freud (1905/1996)
ressaltou que o corpo da adolescente sofre transformações orgânicas, devido à pressão
hormonal, a fim de alcançar a maturidade sexual. Nesse período, a pulsão sexual tem
como principal objetivo a função reprodutora. Isso leva a jovem a testar sua capacidade
reprodutiva, despertando o interesse pelo sexo, que pode ter como conseqüência a
gravidez.
Outro ponto a destacar sobre os aspectos intrapsíquicos que permeiam a
maternidade na adolescência refere-se à gravidez como forma de suprir carências
afetivas (Gontijo & Medeiros, 2008; Levandowski, 2005). Tal significado para a
maternidade é encontrado principalmente entre mães adolescentes que foram
abandonadas pela família ou que apresentam vínculos frágeis com os familiares, cuja
gravidez pode representar o fim da solidão e a construção de um futuro melhor. Nesses
casos, a chegada de um filho(a) é significada como uma oportunidade de estabelecer
uma relação duradoura, e, em geral, é vivenciada por estas mães como uma forma de
dar e receber amor incondicionalmente.
Ao considerar os principais aspectos intrapsíquicos que podem nortear a
vivência da maternidade nessa faixa etária, torna-se importante destacar que estes estão
imbricados no mundo representacional da adolescente. Tais representações, que são
discutidas no artigo teórico (ver Seção II), podem repercutir diretamente na relação da
díade mãe adolescente-bebê, constituindo-se ainda em um dos principais pilares para a
construção da identidade materna e da criança (Stern, 1997).
24
1.3 Justificativa e Objetivos do Estudo
A investigação das representações maternas tem como principal objetivo
detectar eventuais dificuldades na relação mãe-bebê, visando intervir precocemente nos
aspectos patológicos dessa relação, acionados por conta dessas representações. Assim,
essa temática se inscreve de forma relevante na clínica pais/bebê, que visa o diagnóstico
e a intervenção precoces nesse contexto (Pinto, 2004). Por sua vez, a maternidade na
adolescência se constitui em um contexto atípico de maternidade, no qual as
adolescentes se confrontam com os desafios e os conflitos típicos de seu
desenvolvimento, acrescidos às demandas da maternidade. Assim, o objetivo do
presente trabalho foi investigar as representações maternas de mães adolescentes.
Devido ao destaque dado às mesmas pela literatura, nesse estudo foram
investigadas as representações da adolescente sobre o bebê. Contudo, como os
diferentes elementos do mundo representacional materno se encontram interligados,
considerou-se pertinente investigar também as representações da adolescente sobre si
mesma e sobre a própria mãe, pela carência de pesquisas sobre tais representações.
Assim, mais especificamente, o presente estudo buscou analisar o conjunto de
representações das adolescentes, que engloba as representações sobre suas próprias
mães, sobre si mesmas e sobre seu bebê.
2- Método
2.1Participantes
Participaram do estudo três mães adolescentes, com idades entre 16 e 17 anos,
de nível sócio-econômico baixo, e suas mães. Seus bebês tinham entre três e seis meses
de idade, sendo dois do sexo feminino e um do sexo masculino. Como critérios de
25
inclusão no estudo, as adolescentes deveriam ter idade inferior a 18 anos, apenas um
filho, nascido a termo, e não haverem apresentado complicações clínicas durante a
gravidez e o parto. A tabela abaixo apresenta os dados sócio-demográficos de cada
participante.
Tabela 01: Dados Sócio-Demográficos das Participantes
Participante
1
Idade (em anos) Escolaridade Estado Civil Sexo e Idade do
Bebê
Carolina 16 8ª. série Ensino
Fundamental
Casada (contrato
nupcial)
Menino, 3 meses
Fabiana 17 8ª série Ensino
Fundamental
Coabitação Menina, 6 meses
Júlia 17 1ª série Ensino
Médio
Coabitação Menina, 6 meses
2.2 Delineamento e Procedimentos
No presente estudo qualitativo adotou-se um delineamento de estudo de caso.
Segundo Turato (2005), o método qualitativo tem como objetivo interpretar fenômenos
de acordo com o significado que lhe é atribuído pelo indivíduo. Assim, busca conhecer
em profundidade as vivências e as representações que as pessoas têm de suas
experiências de vida, buscando também entender o processo pelo qual as mesmas
constroem seus significados e como os descrevem. Este método atenta para o processo
do fenômeno, ou seja, compreender, interpretar, descrever e desenvolver teorias acerca
do mesmo, ao invés de estabelecer relações entre causa e efeito.
o delineamento de estudo de caso é definido por D’Allonnes (2004) como
uma construção feita pelo pesquisador de uma história de vida singular, a partir de
elementos provenientes de uma ou várias fontes de dados, tais como entrevistas,
1
A fim de preservar a identidade das participantes, foram adotados nomes fictícios para cada uma delas,
bem como para seus bebês.
26
observações, testes psicológicos, entre outros. Assim, o estudo de caso se constitui em
um trabalho de análise e apresentação do material referente a uma pessoa ou grupo em
uma situação específica de estudo.
Com base na Psicologia Clínica e na teoria psicanalítica, D’Allonnes (2004)
destaca que o estudo de caso, como delineamento de pesquisa, se apresenta como um
método criativo, que descreve, ilustra, sugere, reforça e demonstra determinada
situação, podendo também utilizar-se do raciocínio clínico. Esse raciocínio visa revelar,
apontar e extrair fatos, através da leitura analítica e sintética do material coletado,
apresentando a compreensão dos aspectos relevantes identificados no contexto
estudado. Tal definição também se aplica ao estudo de mais de um caso
concomitantemente, que possibilita a descrição das semelhanças e particularidades entre
os mesmos.
Inicialmente, foi feito contato com o Setor de Psicologia de um hospital de
grande porte da cidade de Porto Alegre, que presta atendimento particular e para
convênios, com o intuito de apresentar a proposta da pesquisa. A partir de sua
concordância, foi feito um contato com a enfermeira-chefe do Centro Materno-Infantil,
a fim de apresentar a pesquisa. Após a sua autorização, o projeto foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa do referido hospital. Somente depois de sua aprovação
pelo Comitê (parecer 295b/09) é que foi iniciada a coleta de dados, que envolveu,
inicialmente, uma consulta ao livro de registros de nascimentos a partir do mês março
de 2009. Tal consulta teve por objetivo identificar possíveis participantes, tendo em
vista a sua idade e a idade de seus bebês, bem como ter acesso a informações clínicas do
acompanhamento pré-natal e do parto.
27
A partir dessa identificação, foram realizados contatos telefônicos com algumas
adolescentes e suas mães, quando se explicou os objetivos do estudo. Não havendo
recusa para a participação de nenhuma das contatadas, foi agendado um horário para a
realização da coleta de dados na sua residência. Cabe destacar que a coleta ocorreu entre
os meses de agosto e setembro de 2009, em dois momentos. Primeiramente, foi
apresentado às participantes e suas responsáveis o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexos A e B). Depois da leitura e da assinatura do referido Termo, cada
adolescente preencheu uma Ficha de Contato Inicial (Anexo C) e, após, respondeu
individualmente a Entrevista sobre a Gestação e o Parto (Anexo D) e a Entrevista R
(Anexo E), com o intuito de investigar suas representações maternas. Ainda, realizou-se
individualmente, com as mães das adolescentes, a Entrevista com a Avó Materna
(Anexo F). Ambas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para
análise.
Ao final, foi agendado um novo horário com cada adolescente, na mesma
semana, para a finalização da coleta de dados. Nesse segundo encontro, foi realizada a
Observação Mãe-Bebê em Situação de Amamentação, que também foi relatada para
posterior análise. A entrevista sobre a gestação e o parto com as adolescentes teve
duração de aproximadamente 30 min., enquanto que a Entrevista R variou entre 45 a 60
min. Já a entrevista com as avós durou aproximadamente 30min e a observação e-
bebê em situação de amamentação variou entre 20 e 35min.
Cabe ainda salientar que, antes do início da coleta de dados propriamente dita,
foram feitas aplicações piloto da Entrevista R com três mães adultas. Essa atividade,
que permitiu maior familiarização com o instrumento, foi realizada para a disciplina de
Prática Clínica, do Mestrado em Psicologia Clínica da UNISINOS.
28
2.3 Instrumentos
Ficha de Contato Inicial: elaborada para este estudo e preenchida
individualmente com as participantes da pesquisa, para coletar informações como idade,
escolaridade, nível sócio-econômico-cultural, situação conjugal, domicílio, ocupação e
algumas informações clínicas sobre a gestação e o parto.
Entrevista sobre a Gestação e o Parto: elaborada para este estudo e realizada
individualmente com a adolescente, a fim de analisar seus sentimentos e os sentimentos
de sua família e do companheiro acerca da gravidez, além da participação destes durante
a gestação e o parto. Também buscou investigar os sentimentos da adolescente nos
primeiros dias após o parto.
Entrevista R: entrevista semi-estruturada, elaborada por Stern et al. (1989) e
traduzida para o português do Brasil por Pinto (1997). Foi utilizada individualmente
com a adolescente por permitir a compreensão do mundo representacional materno. É
composta de 10 temas e 28 itens que apresentam perguntas abertas e fechadas. Os temas
da entrevista são os seguintes: descrição da criança, papel dos eventos importantes do
passado da criança, descrição de si mesma como mãe, papel de sua própria mãe,
semelhanças com a família, influências do passado e do presente da mãe, afetos ligados
às representações, desejos e medos, auto-estima e outros temas que o entrevistador
julgue necessário investigar, após a realização da entrevista.
Entrevista com a Avó Materna: elaborada para este estudo e realizada
individualmente com a avó materna, trata-se de uma entrevista semi-estruturada que
visou coletar informações sobre a maternidade da filha, sua relação com ela antes e
depois da gravidez e sua percepção de si mesma e da filha no desempenho do papel
materno.
29
Observação Mãe-Bebê em Situação de Amamentação: empregada para examinar
as representações maternas nesse momento de interação da díade, a partir da observação
da relação mãe-bebê e dos cuidados maternos. Optou-se pela observação da situação de
amamentação, porque envolve o atendimento a uma necessidade principal do bebê (a
alimentação) e porque este momento possibilita visualizar a sintonia ou não da díade e a
adaptação da mãe à função materna (Costa & Locatelli, 2008). Nesse estudo a
observação foi inspirada no Método Bick de Observação de Bebês (Bick, 1964/1987),
pois a díade mãe-bebê foi observada uma única vez, em seu contexto natural (casa) e
apenas na situação de amamentação. Esse procedimento difere do método, uma vez que
este objetiva a observação longitudinal de um bebê em um contexto familiar mais
amplo, envolvendo outras figuras além da mãe e outras situações de observação, embora
todas também ocorridas no contexto doméstico. No entanto, foram preservadas a atitude
de neutralidade do observador e a utilização da atenção flutuante (Freud 1911/1996)
para a elaboração do relato das situações observadas, aspectos esses que fazem parte do
método.
2.4 Considerações Éticas
O presente projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa
do hospital onde foi realizada a seleção das participantes, tendo sido aprovado para
execução sob Parecer 295b/09. Também foram aprovados os Termos de
Consentimento Livre e Esclarecido apresentados às participantes adolescentes e suas
mães, antes da realização da pesquisa.
Destaca-se que, ao final da coleta de dados, houve um momento de retorno a
cada participante acerca do que foi observado nas entrevistas e na observação mãe-bebê.
30
Isso possibilitou o encaminhamento de duas mães para uma avaliação psicológica, a fim
de auxiliá-las na relação com seus bebês e, por conseguinte, consigo mesmas. De outra
forma, a própria aplicação dos instrumentos possibilitou momentos de reflexão sobre a
relação das mães adolescentes com seus bebês, pois as fez pensar sobre alguns aspectos
que podem estar influenciando essa relação, demonstrando também o caráter terapêutico
deste trabalho.
2.5 Procedimentos de Análise dos Dados
No intuito de atingir o objetivo do presente estudo, foi realizada primeiramente a
análise dos instrumentos empregados com cada uma das participantes. Após a análise de
cada instrumento, procedeu-se, então, à descrição dos achados de cada caso e sua
discussão. Posteriormente, foram discutidas as semelhanças e particularidades entre os
casos.
A Entrevista sobre a Gestação e o Parto e a Entrevista com a Avó Materna
foram analisadas qualitativamente, através da análise de conteúdo. As categorias
temáticas foram definidas a priori, de acordo com as questões que nortearam as
entrevistas, a partir da proposta de Laville e Dionne (1999). Sendo assim, as categorias
temáticas derivadas da Entrevista sobre a Gestação e o Parto foram as seguintes:
- impressões e sentimentos da adolescente sobre a descoberta da gravidez
- impressões e sentimentos da adolescente sobre como a notícia da gravidez foi
recebida pela família e pelo companheiro
- apoio familiar e do companheiro durante a gestação
- apoio familiar e do companheiro na hora do parto
- sentimentos da adolescente nos primeiros dias após o parto.
31
Já as categorias temáticas da Entrevista com Avó Materna foram as seguintes:
- sentimentos frente à notícia da gravidez da filha
- impressões e sentimentos sobre a relação com a filha antes da gravidez
- impressões e sentimentos sobre a relação com a filha após a gravidez
- impressões e sentimentos sobre o desempenho da filha como mãe e sobre o seu
próprio desempenho do papel materno.
A análise dos dados da Entrevista R baseou-se em estudos portugueses que
empregaram o mesmo instrumento (Almeida et al.,2003; Marques, 2003). Assim, nas
questões abertas (descrição espontânea) foi utilizada a análise qualitativa de conteúdo,
na qual as categorias foram definidas a priori, de acordo com as perguntas do
instrumento. Em todos os itens que envolveram descrição espontânea das
representações, estas também foram analisadas segundo sua riqueza (rica = número de
características e/ou adjetivos >3; não rica = número de características e/ou adjetivos
<3). Nesses itens foi analisada ainda a tonalidade afetiva da representação, que pode ser
positiva (>50% de características e/ou adjetivos com tonalidade afetiva positiva) ou não
positiva (<50% de características e/ou adjetivos não positivos), bem como a coerência
da representação.
Analisou-se a tonalidade afetiva também nos itens que englobam a descrição das
representações maternas sob a forma de escala de adjetivos opostos. A escala apresenta
em cada extremo da linha dois adjetivos de significados opostos (que se distanciam
entre si 100mm); a mãe deveria assinalar, por exemplo, em que ponto da linha situa a
criança ou a si própria. Avalia-se a distância (sendo a distância máxima de 100mm) da
cruz feita pela mãe em relação ao adjetivo escolhido na escala. Foram consideradas
apenas as distâncias assinaladas pelas adolescentes referentes aos adjetivos positivos.
32
as questões dispostas sob escala Lickert (nove questões sobre a relação mãe-
criança) foram analisadas de acordo com a cotação de cada resposta, que varia de 1
(totalmente verdadeira) a 4 (totalmente falsa). A interpretação dos resultados dá-se
através da soma de pontos de todos os itens, que mostrará o grau de concordância ou
discordância da mãe em relação às questões mencionadas.
Por fim, na Observação Mãe-Bebê constou a descrição detalhada de condutas
diretamente observáveis (Oliveira et al.,2006) na situação de amamentação, bem como
as impressões da observadora. Essa descrição permitiu a compreensão qualitativa dos
dados observados, tendo sido inspirada nos procedimentos do Método Bick de
Observação de Bebês (1964/1987).
3- Resultados e Discussão
Apresenta-se agora o relato de cada caso analisado, no qual foram descritas: as
respostas de cada mãe adolescente às questões das entrevistas, os aspectos observados
na observação mãe-bebê e as respostas das avós à entrevista. Após a apresentação de
cada caso, segue-se a discussão do mesmo, tendo por base a literatura consultada. Ao
final, encontra-se uma discussão geral, que contempla uma comparação entre os casos,
ressaltando-se suas semelhanças e particularidades.
3.1 Caso 1: Carolina, 16 anos, mãe de Matheus (três meses)
Carolina cresceu em uma família composta pela mãe e um irmão três anos mais
velho. Seus pais se separaram quando ela contava com nove meses de idade. No
entanto, nunca perdeu o contato com o pai, mantendo com ele, até hoje, uma relação
bastante próxima. O irmão, que falecera um ano e meio, em um acidente de trânsito,
33
era bastante preocupado com ela e a mãe, demonstrando atenção e cuidado para com
ambas.
A experiência da maternidade modificou a vida de Carolina, pois os estudos
foram parcialmente interrompidos em função do bebê. A adolescente encontrava-se, no
momento da coleta de dados, concluindo o Ensino Fundamental através de um curso à
distância.
Atualmente, Carolina e o marido (que tem 22 anos e com o qual se relaciona
dois anos) moram sozinhos em uma casa, alugada com o auxílio financeiro de suas
famílias e do trabalho de entregador que ele exerce. Os cuidados com Matheus tomam
praticamente todo o seu tempo. Além disso, encontra-se envolvida com afazeres com os
quais antes não estava habituada, pois, enquanto morou com sua mãe, esta era a
responsável pelas atividades domésticas.
Entrevista sobre a Gestação e o Parto
Carolina se encontrava no quinto mês de gestação quando soube que estava
grávida. Atribuiu a gravidez inesperada ao fato de ter tomado medicação durante 15
dias, devido a um tratamento dentário. Segundo ela, essa medicação anulou o efeito do
anticoncepcional, destacando: “eu não sabia que isso podia acontecer e fiquei sabendo
em uma palestra na escola sobre gravidez. eu pensei que isso podia acontecendo
comigo. Mas a minha menstruação tava normal e, como eu sou gordinha, não pensei
que tava grávida”.
Certo dia sentiu-se mal na escola e a mãe, preocupada, levou-a ao médico, que
diagnosticou a gravidez em estado avançado: “eu passei mal na escola, a minha
pressão baixou e quase desmaiei. A minha mãe me levou no médico, que disse que eu
34
tava grávida tempo. No início, eu fiquei preocupada, porque sou muito nova, mas
depois fiquei feliz”.
Assim, quando descobriu que estava grávida, a mãe foi a primeira pessoa com
quem a adolescente compartilhou suas aflições. A notícia da gravidez foi dada ao
namorado depois da conversa com a mãe. Logo que contou a novidade, ele lhe
sugeriu morarem juntos. Então, foi morar na casa dele, na qual também moravam seus
pais.
Ela relatou a reação inicial do marido e dos pais dela à notícia da gravidez da
seguinte forma: “no início, ela ficou assustada por causa da minha idade, e que a
gravidez ia atrapalhar os meus estudos. Mas, me deu todo apoio. O meu namorado
também ficou assustado, porque não tava esperando que isso acontecesse. A gravidez
aconteceu sem planejar, mas ele aceitou bem”. Já o pai, inicialmente, relutou em aceitar
sua gravidez, “mas depois ele viu que a gente [ela e o marido] tava levando a sério a
gravidez, então passou a nos ajudar”.
Os exames realizados no período pré-natal revelaram que tanto a adolescente
como seu bebê estavam bem. Matheus nasceu a termo, de parto normal, e a dupla foi
para casa no prazo previsto. Durante todo o período no hospital, Carolina contou
principalmente com a presença de sua mãe, referindo que “ela me acompanhou em tudo
e ficou comigo na hora do parto”. Quanto ao marido, destacou “assim que ele [bebê]
nasceu, ele disse que a gente tinha que ter a nossa própria casa e que a gente casasse.
A gente foi no cartório e fez um contrato de casamento. Ele disse que eu e o bebê tinha
que ter segurança e o contrato era pra isso, porque ele se sentia responsável por nós
dois”.
35
Quanto aos primeiros dias após o parto e os cuidados com o filho, Carolina
referiu: “desde o início eu cuidei dele sozinha, pois somos nós dois em casa
praticamente o dia inteiro. A minha mãe sempre vem aqui, às vezes fica uns dias, mas
quando ela aqui em casa, ela não faz nada com ele [bebê]; quer dizer, brinca, essas
coisas, mas quem cuida dele sou eu. Quando eu tinha alguma dúvida do que tava
acontecendo com ele e ela [mãe] não tava aqui, eu ligava e ela me explicava. Até hoje
faço isso”.
Entrevista R
Em sua descrição espontânea como mãe, Carolina descreveu-se da seguinte
maneira: “Acho que sou uma mãe carinhosa, gosto de acariciar o rostinho dele quando
ele mamando. Assim, sou atenciosa. Cada dia eu procuro ensinando as coisinhas
pra ele. Agora, ele ainda não entende muito... Procuro conversar com ele, brincar
bastante com ele; eu fico sozinha com ele durante o dia. Acho que sou cuidadosa
também; cuido de trocar a fraldinha, limpar o rostinho dele, essas coisas de higiene.
Sou um pouquinho ciumenta também; a gente quer que ele sempre fique pequeninho,
com a gente”. Percebeu-se a dimensão rica dessa representação de si mesma como mãe
e sua coerência, que foi demonstrada através de exemplos no dia a dia com a criança.
Constatou-se o predomínio de tonalidade afetiva positiva da representação, que também
foi demonstrada na sua descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual
predominaram características mais positivas como, afetiva, disponível, carinhosa,
cuidadosa e dedicada.
Quanto à própria mãe como mãe, assim a descreveu espontaneamente: “pra mim
ela foi pai e mãe, porque meu pai desde os meus nove meses não tava ali perto. Ela me
36
dava bastante conselho quando eu comecei a querer namorar. Era uma mãe assim
atenciosa, nunca deixou faltar nada pra gente. Sempre foi amorosa, assim na maneira
dela me tratar; ela sempre diz ‘Fica com Deus, eu te amo!’. Era bastante amiga
também; é minha melhor amiga. Quando preciso de um conselho sobre o bebê, ela
sempre me dá. Esses dias, ele tava com dor de barriga e eu não sabia por que. Então,
ela me explicou os motivos da dor de barriga. Ajudava bastante com o colégio, até
hoje. Pra mim, ela foi um exemplo. O que sou hoje foi ela que me ensinou, pelo amor
que ela tem”. Essa descrição demonstrou a dimensão rica, a coerência e a tonalidade
afetiva positiva dessa representação sobre a própria mãe como mãe, o que também foi
evidenciado na descrição de sua mãe na escala de adjetivos opostos, na qual
predominaram características mais positivas como afetiva, atenciosa, disponível,
dedicada e tolerante.
Através da descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe, foi
possível observar a identificação da adolescente com esta. Constatou-se esse fato
principalmente no predomínio de características semelhantes de personalidade na
descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe na escala de adjetivos
opostos (como por exemplo, afetiva, disponível, dedicada e satisfeita como mãe).
Quanto à sua relação com a própria mãe após tornar-se mãe, assim descreveu
Carolina: “a nossa relação ficou mais forte, porque agora eu entendo quando ela ficava
preocupada comigo, antes eu não dava bola. E também porque tem o bebê e a gente
conversa muito sobre ele”. No que se refere ao seu futuro como mãe, destacou como
maiores desejos “terminar os estudos e ter uma profissão, para poder ajudar meu filho.
Preciso dar exemplo pra ele”, e, como maiores medos, “fazer coisas erradas como
mãe, que possam magoar ele, e que ele vá pra longe de mim”.
37
Também a descrição espontânea do bebê caracterizou-se pela tonalidade afetiva
positiva, dimensão rica e coerência da representação: “ele é bastante risonho, é uma
criança brincalhona, gosta de dormir e de mamar. Ele é calmo, ah, gosta bastante de
passear, de na rua de carrinho. É uma criança sapeca, gosta de no chão
brincando comigo e com o pai. É bastante esperto também; antes ele ficava deitado,
agora quer ficar sentado, assim como uma criança grande. O meu marido bota
música e ele acompanha, parece que quer cantar. Agora ta dando gargalhada, antes
não dava”.
Na descrição do filho na escala de adjetivos opostos, que apresenta algumas
características de personalidade mais comuns de uma criança, percebeu-se também
tonalidade afetiva positiva, através do predomínio das características consideradas mais
positivas como, por exemplo, afetivo, alegre, vivo, sociável, inteligente. Observou-se
que a maioria dos adjetivos escolhidos para descrever a personalidade do filho também
foi utilizada pela adolescente na sua descrição como pessoa (alegre, inteligente, afetiva,
extrovertida e esperta), o que demonstrou a identificação com seu bebê. Já na
caracterização da relação mãe-filho, avaliada por uma escala Lickert, foi possível
perceber sua compreensão e envolvimento nos cuidados com seu bebê.
Quanto a situações e/ou impressões especificamente ocorridas durante a
gravidez e após o parto, que poderiam influenciar no seu modo de pensar e perceber o
filho, a adolescente destacou: “no começo, eu tava meio assim com a gravidez, porque
eu era nova. Quando ele nasceu, tudo mudou. As pessoas me falavam que ia ser difícil,
que as coisas não seriam mais as mesmas, que eu não ia poder fazer as mesmas coisas
que as meninas da minha idade fazem, que é sair, ir para o colégio normalmente, sem
aquela preocupação. E aí, quando ele nasceu, conforme o tempo foi passando, eu achei
38
que não ia ser difícil... ele é tudo pra mim. Eu não sabia nada, mas depois a gente
aprende”. sobre situações de seu passado que poderiam influenciar na sua forma de
pensar e perceber o filho, assim referiu: “eu penso na morte do meu irmão, porque ele
era meio que um exemplo masculino em casa. Gostaria que meu filho tivesse conhecido
ele, porque ele era uma boa pessoa e seria um bom exemplo pra ele”.
Carolina descreveu as principais emoções que sente pelo filho da seguinte
forma: “sinto muito amor, alegria; ele é a minha vida. Depois que ele veio, eu vejo a
vida de outra maneira, eu dou tudo por ele”. Quanto aos seus desejos para o futuro do
filho, relatou: “espero que ele estude, que tenha uma profissão e que consiga realizar
os sonhos que tiver”. E sobre seus medos acerca do seu futuro, referiu: “me preocupo
com a violência e as drogas”.
No que diz respeito a eventuais semelhanças do bebê com pessoas da família,
Carolina destacou que este pareceu herdar mais características do pai, embora também
tenha apontado semelhanças com outros familiares: “ele é brincalhão e esperto como o
pai dele. Comigo ele é mais parecido na calma. Ele é risonho como a minha mãe e
sapeca como o meu primo”.
Por fim, especificamente sobre o pai de seu filho, assim o descreveu
espontaneamente: “ele é bem carinhoso com ele, amoroso, brincalhão. Tá sempre
presente; se preocupa com ele, quer saber como ele passou o dia. Ele chega em casa e
quer saber tudo que aconteceu. Também me ajuda bastante com ele”. Observa-se a
tonalidade afetiva positiva, assim como a dimensão rica e a coerência dessa
representação. Tal tonalidade também foi demonstrada na descrição do pai na escala de
adjetivos opostos, na qual predominaram características de personalidade consideradas
mais positivas, como alegre, calmo, inteligente, vivo e afetivo.
39
Observação Mãe-Bebê em Situação de Amamentação
A observação ocorreu no início da tarde e teve duração de 30 min. O horário foi
previamente combinado com a mãe, pelo fato de o bebê costumar dormir durante a
manhã, despertando por volta do meio-dia.
A observadora chegou à casa no horário combinado. Lá, conheceu o pai do bebê,
que estava de folga do trabalho. O bebê estava desperto, brincando no colo do pai, que
se encontrava sentado no sofá da sala, assistindo televisão. Após momento de conversa
amistosa com os pais sobre o bebê, a observadora explicou como seria a observação,
referindo que não faria perguntas sobre a amamentação do bebê, apenas observaria
como esta acontecia.
A mãe estava em pé, com o bebê no colo. Ela sentou-se no sofá ao lado do
marido. O pai do bebê cedeu seu lugar para a observadora, que, agradecendo, achou
conveniente acomodar-se num local da sala em que não tivesse contato visual direto
com a mãe e o bebê. Sentou-se, então, em uma cadeira lateral.
Cuidadosamente, Carolina deitou Matheus em seus braços. Ele começou a
procurar o seio. Calmamente auxiliou o filho a encontrar o peito. Matheus, então,
começou a mamar com vontade, porém, não parecia ser um bebê voraz.
Durante todo tempo de amamentação, a e mostrou-se atenta aos movimentos
de seu bebê. Olhava fixamente para seu rosto enquanto o amamentava e, ao mesmo
tempo, acariciava suavemente o seu corpo. Por duas vezes, Carolina olhou rapidamente
para a televisão, que estava ligada em volume baixo. Observou-se que esse fato não
interferiu na sua maneira de amamentar Matheus, pois seu olhar estava sempre voltado
para ele.
40
As mamadas do bebê eram intercaladas com breves cochilos. Enquanto o bebê
cochilava, a mãe permanecia olhando fixamente para o seu rosto e continuava a
acariciá-lo. Quando aconteciam os cochilos, Carolina aguardava pacientemente Matheus
recomeçar a mamar, oferecendo novamente o peito a ele. O bebê agitava-se um pouco e
movimentava a cabecinha, procurando o peito da mãe. Carolina estava lá, pronta para
ajudá-lo.
Percebeu-se que o bebê sentiu-se satisfeito e aconchegado durante a
amamentação. Matheus mamava tranquilamente de olhos fechados. Pousava uma de
suas mãozinhas ora no seio, ora na barriga e/ou na blusa da mãe. Por sua vez, a mãe
demonstrava, além de cuidado, prazer em amamentar o filho.
Após 30min, o bebê caiu em sono profundo no colo da mãe. Carolina percebeu
Matheus satisfeito, então o ajeitou em seus braços para, em seguida, levá-lo para o
quarto e colocá-lo no berço.
Entrevista com a Avó Materna
Gina, avó de Matheus, seu único neto, tem 41 anos e é divorciada. Atualmente é
dona de casa. Foi mãe pela primeira vez aos 21 anos; Carolina, sua segunda filha,
nasceu quando ela contava com 24 anos.
A notícia da gravidez precoce da filha foi recebida com receio e preocupação,
tendo sido descrita por Gina da seguinte forma: “Foi meio que um choque pra mim no
início, porque ela é novinha e ele [namorado] também. Pensava mais no futuro dela,
que ela teria que parar de estudar, parar a rotina dela, tudo o que ela tinha planejado,
de fazer cursos, como ela iria assumir ser mãe, a gravidez. Achei que ela não tinha
capacidade, mas me enganei, ainda bem!”.
41
Quanto a sua relação com a filha antes da gravidez, observou que esta era bem
aberta e baseada na amizade: Sempre fomos muito amigas. A gente sempre falou de
tudo; um relacionamento bem aberto desde a infância, quando ela já tinha idade pra
entender as coisas. Não tem nada restrito que não possa falar, por exemplo, quando ela
teve a primeira relação sexual, a gente conversou sobre isso”. Após a gravidez da filha,
destacou-se o sentimento de preocupação, demonstrado no seguinte relato: “Depois da
gravidez, me preocupo em dobro com ela e o bebê. Filho é filho em qualquer idade; tu
sempre te preocupa com ele”.
Em sua descrição como mãe, referiu se considerar “bem amiga, companheira.
Assim, se ela necessita de alguma coisa, eu bem presente. Sou amiga, porque pra um
amigo tu conta tudo, é uma pessoa de confiança, que te dá segurança, que tu pode falar
de qualquer assunto, qualquer problema. Se tu passa aquela segurança acima de tudo,
ela pode contar sobre qualquer coisa. Acho que sou uma pessoa que ela pode confiar e
contar plenamente”.
Por fim, na descrição da filha como mãe, elogiou o seu desempenho do papel
materno: “ela me surpreendendo, porque achei que ela teria mais dificuldades, que
não ia conta. Comparando quando eu tive o meu primeiro filho, ela se saindo
melhor do que eu! Na primeira semana já deu banho no bebê! Ela, como se diz, mete a
cara, não tem medo. A gente acha que eles não vão aprender, porque mãe é mãe e acha
que os filhos são inocentes e indefesos. Mas são mais fortes do que a gente! Pra idade
dela, ela cuida muito bem dele. Eu me surpreendendo com ela como mãe, porque a
maternidade sendo muito boa pra ela e acho que ainda vai acrescentar muito mais.
Agora ela é mãe e, se for pra escola, não vai matar aula, porque ela tem que
exemplo para o filho dela. Agora compreende mais o meu lado de mãe. Quando ela
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reclamava, quando eu falava alguma coisa, ela não entendia, e agora ela entende. Eu
acho que a maternidade, independente da idade, amadurece a pessoa, a mulher. Ela
outro sentido pra vida da mulher”.
Analisando as Representações Maternas de Carolina
Quanto às representações sobre sua mãe, percebe-se que as vivências passadas
de Carolina com ela, assim como as atuais, pautadas pela afetividade, compreensão e
acolhimento, parecem contribuir para a construção e o exercício de seu papel materno.
Esses aspectos foram evidenciados também na entrevista com a avó, corroborando a
representação de Carolina sobre sua mãe. Assim, essa representação demonstrou as
principais características que permeiam a sua relação com a própria mãe, por conta das
lembranças e da imagem construída a respeito desta no desempenho do papel materno.
Tais aspectos denotam a internalização de sua mãe como suficientemente boa
(Winnicott, 1987/2006) e continente (Bion, 1962/1982).
Da mesma forma, foi perceptível a identificação de Carolina com a própria mãe,
o que, por sua vez, parece influenciar no seu desempenho do papel materno. De fato,
observou-se o envolvimento emocional e a dedicação de Carolina nos cuidados com
Matheus, o que demonstra a sua preocupação materna primária (Winnicott,
1956/2000), mais especificamente, a capacidade de holding (Winnicott,1971/1988) e de
continência (Bion, 1962/1982). Destacaram-se, então, os aspectos intergeracionais
presentes nessa representação (Lebovici, 1996, 1998), através da identificação
construtiva (Golse, 2003) estabelecida pela adolescente com a própria mãe.
Quanto às representações sobre si mesma, observa-se que a experiência da
maternidade fez com que Carolina realinhasse sua identidade, a fim de adaptar-se ao
43
papel materno e às tarefas impostas por ele (Bigras & Panquette, 2007; Carlos et al.,
2007). Isso ilustra o processo de reorganização das representações de self, apontado por
Stern (1997) como constituinte da constelação da maternidade. Percebe-se que a busca
por uma identidade materna própria estava contribuindo ainda para a maturidade da
adolescente, fazendo com que se sentisse melhor como pessoa e construísse uma
imagem positiva de si mesma nesse sentido e também como mãe.
as representações sobre o bebê demonstraram o tipo de relação estabelecida
por Carolina com o filho, pautada pela compreensão e afeto. Especificamente na
situação de amamentação, observou-se a sintonia da díade mãe-bebê, mediante a
compreensão e o atendimento da adolescente às necessidades do filho. Tal fato remete à
identificação projetiva de Carolina com seu bebê (Winnicott, 1956/2000), o que
demonstra, por sua vez, a sua capacidade de rêverie (Bion, 1962/1987).
Apesar da gravidez inesperada e das mudanças acarretadas por ela, foi possível
observar o desejo de Carolina pela maternidade, através da forte identificação com o
filho. Percebeu-se que as representações sobre o bebê, apontadas principalmente na
Entrevista R, estavam, em sua maioria, carregadas de expectativas, fantasias e desejos
positivos (Aulagnier, 1994; Cramer & Palacio-Espasa, 1993; Lebovici, 1987; Stern,
1997). Essas representações podem estar ligadas às vivências passadas e atuais da
adolescente (Aulagnier, 1994; Stern, 1997), não apenas com a figura materna, mas
também com outras pessoas importantes para ela, como o irmão falecido e o marido.
Destaca-se que as vivências com esses últimos pareceram estar pautadas pela proteção e
segurança, fato esse evidenciado na relação de Carolina com o filho, principalmente na
observação da situação de amamentação de Matheus.
44
Observou-se também que a chegada do bebê deu uma nova perspectiva de vida
(Figueiredo, 2001; Gontijo & Medeiros, 2008; Herrman, 2008; Kristen & Montgomery,
2008) para Carolina. Apesar das mudanças que a maternidade precoce acarretou, como
a interrupção dos estudos e a nova organização familiar, corroborando a literatura da
área (Esteves & Menandro, 2005; Moreira et al., 2008; Levandowski et al., 2008), estas
não pareceram estar influenciando negativamente na (re)construção de suas
representações sobre si mesma, o bebê e a própria mãe. Outro ponto a destacar refere-se
ao fato de Carolina, apesar da pouca idade, demonstrar, no momento, estar apta
cognitivamente e emocionalmente para o desempenho do papel materno, ter
conhecimento sobre o desenvolvimento de seu filho e dar conta das tarefas específicas
que envolvem a maternidade. Esses aspectos se contrapõem aos achados apontados pela
literatura revisada (Bigras & Panquette, 2007; Carlos et al., 2007; Figueiredo, 2000,
2001, Levandowski et al., 2008).
De outra forma, percebeu-se a influência dos aspectos intrapsíquicos na
construção de sua identidade materna, presentes em suas representações, salientando-se
a identificação com o funcionamento parental da mãe (Cramer & Palácio-Espasa, 1993).
Ressalta-se também a possível (re) elaboração das perdas vivenciadas com a figura
paterna e com o irmão, que se separaram dela de diferentes formas e em diferentes
períodos, que parecem estar sendo (re) significadas no relacionamento estabelecido com
o filho. Considerando o exposto, percebeu-se que a análise e a compreensão do conjunto
de representações de Carolina, que se inserem em uma nova organização psíquica
estabelecida pela maternidade (Stern, 1997), indicaram um desenvolvimento emocional
harmonioso dessa díade mãe-bebê, independentemente do contexto atípico de
maternidade.
45
3.2 Caso 2: Fabiana, 17 anos, mãe de Nina (seis meses)
Fabiana mora com o companheiro na casa de seu pai, juntamente com sua
madrasta, o irmão de 13 anos e uma prima de 20 anos. Seus pais se separaram quando
ela contava com 13 anos de idade. Sua mãe saiu de casa devido a um relacionamento
extraconjugal do marido, que trouxe a atual companheira para morar com a família.
Após a separação dos pais, a adolescente passou a ter pouco contato com a mãe, devido
ao fato de ela ter morado em outra cidade durante algum tempo.
Atualmente, Fabiana não está estudando e/ou trabalhando; dedica-se aos
cuidados da filha. Concluiu o Ensino Fundamental durante a gravidez, e está esperando
a menina crescer um pouco mais para trabalhar junto com o companheiro, que é sócio
em uma pequena videolocadora. Eles pretendem em breve mudar para uma casa
própria; estão prestes a alugar um apartamento. Para isso, contam com a ajuda de suas
famílias.
Entrevista sobre a Gestação e o Parto
Após três anos de namoro, Fabiana engravidou; ela e o namorado, de 20 anos,
não estavam utilizando, no momento, qualquer método anticoncepcional. Entretanto,
uma possível gravidez estava nos planos futuros de ambos, conforme relatado pela
adolescente: “a gente pensava em ter filhos, mas não agora. Um pouco mais pra frente,
mas aí aconteceu. Ele já tem um filho de dois anos”.
Soube que estava grávida inicialmente através de um teste de gravidez de
farmácia. Já se encontrava no quarto mês de gestação, quando passou a realizar o pré-
natal: a minha prima que me disse pra fazer um teste de farmácia; ela foi a primeira a
saber que eu tava grávida. Aí, o teste deu positivo e ela disse que eu tinha que procurar
46
um médico”. No entanto, a gravidez não a impediu de concluir o Ensino Fundamental:
“eu tava com um barrigão no final do ano, mas consegui terminar o ano”.
A princípio, não sabia como contar a notícia da gravidez para a sua família,
temendo a reação dos pais: “Fiquei com medo da reação do meu pai. Pedi pra minha
madrasta conversar com ele. No começo, ele não gostou e ficou brabo porque eu era
muito nova. falou comigo depois de uns dias; ele disse que precisava esfriar a
cabeça. Depois, ficou tudo bem; ele disse que ia me ajudar como sempre fez, e que eu
podia contar com ele. Disse que meu namorado viesse morar com a gente”. O
namorado, por sua vez, recebeu bem a notícia: “O meu namorado ficou feliz com a
notícia”.
a mãe foi a última pessoa a tomar conhecimento de sua gravidez; soube por
intermédio de uma tia e logo procurou a filha para falar sobre o fato. Não lhe recriminou
e mostrou-se disponível para ajudar no que fosse preciso, mas não entendeu porque ela
não havia lhe comunicado sobre a gravidez: ela não me xingou, conversou comigo e
disse que ia me ajudar. Mas disse que não entendia por que eu não tinha contado pra
ela; ficou chateada, porque foi a tia que contou. Eu queria contar, mas tava
preocupada com o que ela ia me falar...”.
A gestação transcorreu normalmente e Nina nasceu a termo, de cesariana, pois
estava em posição sentada no útero. Durante os dias que ficou no hospital, por conta da
recuperação do parto, a adolescente foi acompanhada por sua mãe, que ficou com ela
todo tempo, auxiliando-a nos cuidados com a bebê. Fabiana sentiu-se bem com o apoio
recebido da mãe, pois pensou, a princípio, que ficaria sozinha no hospital: “fiquei com
medo de ficar sozinha com o bebê e achei que ninguém fosse ficar comigo. Aí, a
47
minha mãe disse que não ia me deixar sozinha e ficou comigo no hospital, ficou até de
noite; ela dormia numa cadeira. Fiquei mais tranqüila”.
Durante o primeiro mês após o parto, a adolescente referiu que ainda não se
sentia mãe: “no início, eu não me sentia uma mãe, porque parecia que não tinha bebê
em casa, ela dava pouco trabalho”. Com o passar do tempo, a filha foi crescendo e
exigindo mais cuidados:agora ela maior, chora, grita pra chamar a atenção, se
mexe mais...”. Passados seis meses do nascimento de Nina, Fabiana acredita que está
mais adaptada às tarefas impostas pela maternidade: “hoje, eu me sinto mãe e não
vejo dificuldade em lidar com ela. Agora, ela fazendo mais coisas e isso fez com que
eu prestasse mais atenção nela”.
Entrevista R
Fabiana atribuiu a si as seguintes características em sua descrição espontânea
como mãe: “sou uma mãe apegada, gosto bastante de com ela, não saio de volta
dela, sempre junto; tenho muito ciúmes dela. Sou uma mãe boa, eu acho. Todo
mundo diz que eu cuido bem dela, não deixo ela cair e nem se machucar. Tô muito feliz
em ser mãe”. Essa descrição demonstra a dimensão rica dessa representação, pois
Fabiana conseguiu expressar várias características como mãe, tais como apegada,
ciumenta, boa, cuidadosa e feliz. Também se observou a coerência da representação,
pois Fabiana citou exemplos que demonstraram algumas características descritas.
Percebeu-se a tonalidade afetiva positiva da representação, que também foi constatada
em sua descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram
características mais positivas, tais como afetiva, tolerante e disponível.
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na descrição espontânea de sua própria mãe como mãe, apresentou
dificuldades, o fazendo após alguns minutos de silêncio: “ela me cuidava bem e foi uma
boa mãe. Não deixava eu cair, nunca bateu em mim e nunca me negou nada. Eu lembro
poucas coisas, não sei por que”. Esse relato demonstrou a dificuldade da adolescente
para descrever a mãe, o que denotou dimensão não rica dessa representação. No entanto,
percebeu-se a sua coerência, através da elucidação das características mencionadas: mãe
cuidadosa e boa. Tais características mostraram a tonalidade afetiva positiva da
representação, que também foi evidenciada na descrição de sua mãe como mãe na
escala de adjetivos opostos, na qual houve predomínio de características mais positivas,
tais como dedicada, preocupada, tolerante e afetiva.
Através da descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe, foi
possível observar a identificação da adolescente com esta. Esse fato foi demonstrado
principalmente através do predomínio de características de personalidade semelhantes
na escala de adjetivos opostos na descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe
como mãe. No caso, características semelhantes (como afetiva, tolerante, disponível e
preocupada) foram apontadas. Quanto à relação com sua mãe após tornar-se mãe,
Fabiana referiu algumas mudanças: “a gente antes não tinha muito contato, agora tem
ela [neta] pra ver. A gente conversa mais sobre a bebê, ela também pergunta mais de
mim. A relação um pouco melhor, porque eu vejo ela mais. Agora que sou mãe, vejo
a paciência e o cuidado com uma criança; é muito difícil!”.
a descrição espontânea de Fabiana a respeito da filha demonstrou-se não rica,
uma vez que ela descreveu poucas características de seu bebê: “ah, ela é quietinha, eu
adoro isso! Não incomoda, chora pra mamar, pra trocar roupa. Agora ela brinca
bastante também, com as mãos, os bichinhos. Grita o tempo todo pra chamar atenção,
49
ela não para nunca e é isso”. No entanto, a coerência da representação sobre a
criança foi demonstrada na menção das características principais do bebê (quieta e
brincalhona). Essa descrição denota a tonalidade afetiva ambivalente (positiva e não
positiva) da representação sobre a filha, pois duas características foram descritas como
mais positivas (quieta e brincalhona), enquanto que as últimas, bebê que grita e que não
para, pareceram não ser avaliadas positivamente pela adolescente.
Nessa mesma direção, a descrição da filha na escala de adjetivos opostos, que
apresenta algumas características de personalidade mais comuns de uma criança,
também apresentou tonalidade afetiva pouco positiva. No caso, destacaram-se
características como medrosa, feia e tímida. Observou-se ainda que a maioria dos
adjetivos escolhidos nessa escala para descrever a personalidade da criança eram, por
vezes, totalmente opostos àqueles mencionados na sua descrição como pessoa nessa
mesma escala de adjetivos opostos. Esse fato demonstrou, no momento, a pouca
identificação de Fabiana com seu bebê. Em contrapartida, na descrição das principais
características da relação mãe-criança (escala Lickert), foi possível perceber a
compreensão e a disponibilidade da adolescente no atendimento às principais
necessidades de Nina, como alimentá-la, fazê-la dormir e consolá-la facilmente quando
chora.
Quanto a situações e/ou impressões especificamente ocorridas durante a
gravidez e após o parto, que poderiam influenciar no seu modo de pensar e perceber a
filha, Fabiana referiu as mudanças percebidas em si mesma: “eu fiquei mais madura,
sou mais mulher. Eu adorava criança e, tendo a minha, gosto mais ainda. Fiquei mais
velha, mudei meu jeito de pensar. Eu gostava de festa, agora eu tenho que cuidar dela”.
sobre situações de seu passado que poderiam influenciar nesses mesmos aspectos,
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destacou o seguinte: “só no cuidado que a minha mãe tinha comigo, que agora eu tenho
com ela também”.
Referente às emoções que sente por Nina, observou-se a dificuldade de Fabiana
para nomeá-las. depois de algum tempo conseguiu expressar algumas que a filha lhe
desperta: “emoções... alegria, felicidade e que ela é bem carinhosa, assim e só”. Sobre
os medos em relação ao futuro da filha, referiu: “tomara que ela não fique grávida cedo
como eu. Não vai poder seguir em frente tão cedo nos estudos. Também me preocupo
com as drogas”. Já sobre os seus desejos para o futuro da menina, afirmou: “espero que
ela estude e trabalhe, que tenha uma boa vida, todo conforto que eu tive; meu pai me
deu tudo”. E quanto aos desejos e medos relativos ao seu futuro como mãe, indicou:
“espero ajudar e incentivar ela, mas tenho medo de não conseguir fazer isso....
No que tange às semelhanças da filha com pessoas da família, Fabiana destacou:
“no jeito de ser dela não pra perceber se é parecida com alguém da família. Agora,
no físico, é a cara do pai dela, muito parecida mesmo!”. Por fim, quanto ao pai de sua
filha, descreveu-o espontaneamente da seguinte forma: “ele acalma ela quando eu não
consigo, brinca bastante com ela e também me ajuda quando dá, porque ele trabalha”.
Percebeu-se a dimensão não rica da representação, devido à pobre descrição de Fabiana
sobre o pai de sua filha. No entanto, observou-se a tonalidade afetiva positiva dessa
representação, que foi demonstrada na descrição do pai tanto espontânea quanto na
escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características de personalidade
consideradas mais positivas, como alegre, bonito, sociável e afetivo, bem como a
coerência da representação.
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Observação Mãe-Bebê em Situação de Amamentação
A observação teve duração de 35 min e foi realizada no início da tarde, pois
segundo a mãe, ela e a filha dormiam durante a manhã. Quando a observadora chegou à
residência da mãe, no horário combinado, esta se encontrava sozinha com o bebê. Seu
companheiro estava dormindo no quarto que ficava ao lado da sala onde se
encontravam.
Fabiana estava assistindo televisão na sala com Nina em seu colo. A bebê estava
brincando com um bichinho de pelúcia no colo da mãe; ora o levava à boca e o jogava
no chão. A observadora perguntou como estavam passando e, então, explicou à mãe
como seria a observação, referindo que não faria perguntas sobre a amamentação do
bebê, apenas observando como esta aconteceria.
Nina começou a choramingar e a ficar inquieta e sua mãe imediatamente
ofereceu o seio a ela, sentando-se no sofá. A observadora sentou-se em um sofá lateral,
tomando cuidado para não interferir no momento de amamentação.
Assim que encontrou o seio da mãe, Nina acalmou-se e começou a mamar com
vontade. Olhava fixamente para o rosto da mãe enquanto uma de suas mãozinhas
brincava com a blusa dela. Por sua vez, a mãe olhava seriamente para seu rosto.
Enquanto Nina mamava, Fabiana a ninava e, às vezes, balançava-a levemente. Em
determinado momento, Fabiana foi ajeitar o sutiã do outro seio e esse gesto fez com que
Nina perdesse o seio no qual estava mamando. Nina inquietou-se e reclamou,
choramingando. Em seguida, a mãe lhe devolveu o seio e ela continuou a mamar.
Passado esse momento, Nina inquietou-se novamente e ergueu a cabeça,
olhando para mãe. A mãe perguntou a ela: “O que você quer, vai parar de mamar?”.
Então retirou-a do seio e levantou-a para que arrotasse, enquanto a balançava
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levemente. Nina continuava a olhar fixamente para a mãe e começou a choramingar.
Fabiana, então, deu o outro seio a ela, que recomeçou a mamar com vontade. A mãe
olhava para a filha, porém agora visivelmente incomodada com ela. Nina começou,
então, a brincar e a morder o seio da mãe, que não gostou disso. Imediatamente levantou
a filha e falou: você me mordendo, assim vou te tirar daqui”. Enquanto falava com
Nina, olhava incomodada para o seio, que estava vermelho. Fabiana, então, ajeitou sua
roupa e encerrou a amamentação da filha. A menina choramingou novamente, e a mãe
lhe deu os brinquedinhos de pelúcia. Nina contentou-se rapidamente com eles e não
mais choramingou.
Entrevista com a Avó Materna
Amália, dona de casa, separada, 39 anos, tornou-se mãe de Fabiana, sua filha
mais velha, aos 21 anos de idade. Nina é sua única neta. A notícia da gravidez da filha
aos 17 anos foi recebida com surpresa e preocupação: “eu fiquei muito mal quando
fiquei sabendo, foi um choque, porque eu não esperava por isso. Eu sempre dizia pra
ela se cuidar, tomar remédio, que tem como prevenir uma gravidez. Fiquei preocupada
pela idade dela, tão novinha! Sempre pensava nisso [gravidez] quando ela fosse mais
velha. Mas sempre dei apoio pra ela e ela pode contar comigo pra qualquer coisa”.
Sua relação com a filha antes da gravidez caracterizou-se pelo companheirismo e
confiança: “a gente sempre teve uma relação muito boa, tranqüila, sem brigas. Sempre
fomos amigas e parceiras e conversamos sobre tudo. Nunca teve segredos entre a
gente”. quanto à relação com a filha após a gravidez, destacou maior intimidade e
compreensão entre elas: “depois da gravidez dela eu acho que a nossa relação tá ainda
melhor, a gente tá muito mais parceira uma da outra, porque agora ela também é mãe
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e a gente tem mais coisas em comum. Como eu já tava separada do pai dela quando ela
engravidou, e ela mora com ele, não deu pra acompanhar tão de perto, mas eu tava
presente e visitava ela e também conversava por telefone. Agora, a gente se fala todos
os dias”.
Na descrição de sua filha como mãe, Amália exaltou algumas qualidades de
Fabiana: “ela é uma mãe maravilhosa, super dedicada. sempre junto da filha, não
larga ela por nada, muito cuidadosa e protetora. Ela é como eu era com ela, bem do
mesmo jeito, apegada aos filhos. Apesar de todas as dificuldades que ela enfrenta com
o marido, é que ele teve um filho com outra quando tava com ela, ela consegue ser
uma boa mãe pra Nina. que ela não gosta que se palpite no que ela deve fazer
com a Nina, não gosta que se metam. As coisas são do jeito dela”.
em sua descrição como mãe, Amália demonstrou atualmente sentimentos de
culpa e fracasso no desempenho do papel materno: “olha, agora eu uma mãe bem
relaxada, que não muito perto dela, não como eu gostaria. Me sinto um fracasso,
porque sei que ela precisa muito de mim, mas a minha situação é difícil. Ela mora na
casa do pai e também mora a mulher dele. É uma situação chata, e por isso não vou
muito lá. Também tô morando mais perto dela há pouco tempo”.
No entanto, antes de sua separação, percebia-se como uma mãe cuidadosa e
protetora: “antes da separação eu tava sempre com ela; a gente morava junto. Tava
sempre grudada nela e no meu pequeno [filho mais novo]. Cuidava deles pra que não
faltasse nada. Deus o livre acontecer alguma coisa ruim; eu protegia eles e não saía de
perto mesmo”.
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Analisando as Representações Maternas de Fabiana
Quanto às representações sobre sua mãe, chamou atenção a dificuldade de
Fabiana falar sobre ela, o que parece estar ligado às poucas lembranças que tem dela na
infância e também à relação atual estabelecida pela dupla. Observou-se que a
adolescente vê a mãe como alguém que supriu suas necessidades básicas, que lhe
proporcionou a continência (Bion 1962/1982) inicialmente necessária para seu
desenvolvimento na infância, porém, com pouca sintonia afetiva (Stern, 1997),
observada posteriormente na relação com a mãe (no início de sua adolescência e
atualmente). Esse panorama aponta para lacunas no desenvolvimento emocional
(Winnicott, 1971/1988) de Fabiana. Tal lacuna é demonstrada através do sentimento de
desamparo que esta jovem sente, por vezes, frente à maternidade. Assim, tal desamparo
parece estar ligado às suas vivências passadas (cuidados maternos precoces da mãe para
consigo; Golse, 2003), o que foi demonstrado na maneira como Fabiana se sentiu, por
exemplo, logo após o parto: sozinha e assustada frente aos primeiros contatos com a
filha.
De certa forma, esses primeiros contatos com Nina parecem ter reativado em
Fabiana sensações vividas na relação precoce com a mãe, apontando falhas no holding
materno (Winnicott,1971/1988). Esse aspecto também foi observado nas vivências
atuais com a e e confirmado na entrevista com a avó materna. Considerando o
mencionado, pode-se dizer que a relação de Fabiana com sua mãe está pautada por
identificações construtivas, mas também alienantes (Golse, 2003).
Percebeu-se que as representações sobre a mãe estavam influenciando as
representações de Fabiana em relação à filha (representações sobre o bebê). De fato, no
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momento do estudo, foi possível perceber um prejuízo na sua identificação com o bebê
e na sintonia afetiva da díade (Stern, 1992), principalmente no momento de
amamentação, o que demonstra falhas em seu holding (Winnicott, 1971/1988) e na sua
capacidade de rêverie (Bion, 1962/ 1982). Dessa forma, pode-se pensar em possíveis
falhas no desenvolvimento da preocupação materna primária (Winnicott, 1956/2000)
de Fabiana, fato demonstrado pela adolescente quando relatou como se sentiu
inicialmente em relação à filha Nina, parecendo não estar muito atenta e vinculada a ela.
Como comentado, Nina parece fazer com que Fabiana reviva o desamparo
vivenciado em relação à própria mãe. Essa situação oferece a possibilidade de
(re)elaboração de tal relação. No entanto, a impressão que se tem é que Fabiana, no
momento de realização do estudo, não estava conseguindo suportá-lo, por vezes
adotando atitudes de indiferença, irritação e falta de paciência para com a filha,
demonstradas na observação da amamentação. Compreende-se, desse modo, a
ambivalência dos sentimentos e da descrição de Fabiana a respeito da filha (Entrevista
R), frente ao que a menina desperta em si mesma (Golse, 2003). Sua gravidez também
parece representar, de certa forma, a busca pelo amparo e pelo suprimento de suas
carências afetivas decorrentes do abandono materno, aspecto que concorda com a
literatura (Gontijo & Medeiros, 2008).
Observou-se ainda, nas representações sobre a filha, o desejo de ser mãe,
demonstrado na intenção futura de gravidez. Tal fato nos indica que as representações
sobre o bebê apresentam-se muito antes da experiência da maternidade (Brazelton &
Cramer, 1992; Lebovici, 1987). Percebeu-se que a filha representa também sua
afirmação como mulher perante o companheiro (Stern, 1997), pois vem assegurar seu
lugar junto a este, uma vez que ele já tinha outro filho.
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Por fim, as representações sobre si mesma demonstraram como es a
construção de sua identidade, através do realinhamento de suas representações de self
(Stern, 1997). No caso, Fabiana apresentou, no momento do estudo, dificuldades para
exercer o papel materno, o que foi observado em alguns trechos de seus relatos, como
também na situação de amamentação de Nina. A adolescente via a maternidade como
algo difícil, pois, para ela, implica em maturidade, o que sentia não ter ainda adquirido.
Pode-se dizer que a maturidade, na maternidade de Fabiana, estava relacionada ao fato
de estar disponível e aprender a cuidar de alguém, o que implica em ser capaz de cuidar
de sua filha. Isso, por sua vez, depende, dentre outras condições, da forma como foi
cuidada não na infância, mas também como é cuidada atualmente (Winnicott,
1987/2006). De outro modo, as representações sobre si mesma indicaram como a
adolescente se percebe como mãe e como pessoa, ou seja, frágil e despreparada frente à
maternidade, o que aponta para sua dificuldade nas transformações de suas
representações de self (Stern, 1997), que visam auxiliar no desempenho do papel
materno.
Pode-se dizer que a análise e a compreensão do mundo representacional de
Fabiana, demonstrado através das representações sobre a própria mãe, sobre o bebê e
sobre si mesma (Stern, 1997), mostraram dificuldades, sobretudo na relação
estabelecida com a filha. Pensa-se que tal fato possa estar ligado à influência dos
aspectos intrapsíquicos presentes em suas representações, que parecem ocupar lugar de
destaque na constituição de sua maternidade. Referente a isso, destacam-se os aspectos
intergeracionais, uma vez que foi possível notar tanto identificações construtivas como
alienantes (patológicas; Golse, 2003) na relação com sua mãe. No entanto, as
identificações alienantes pareceram, no momento, preponderar na relação estabelecida
57
por Fabiana com a filha, e podem estar influenciando na constituição psíquica de Nina
(Marques, 2003; Wendland, 2001). Felizmente, percebeu-se que Fabiana, em alguns
momentos, consegue desempenhar o papel materno como uma mãe suficientemente boa
(Winnicott, 1987/2006), esforçando-se nos cuidados com a filha, fato esse vivenciado
por ela na relação com a mãe principalmente na infância e confirmado na entrevista
realizada com a avó materna.
3.3 Caso 3: Júlia, 17 anos, mãe de Dora (seis meses)
Júlia e o namorado de 18 anos (atendente em uma loja) moram na casa de sua
mãe, juntamente com sua irmã, de cinco anos de idade. A adolescente foi filha única até
os 12 anos, quando nasceu a irmã. Logo após o nascimento desta, seus pais se
separaram. O pai mudou-se para outro estado e, até pouco tempo atrás, lia costumava
passar férias escolares com ele e sua atual família, composta pela esposa e irmão de três
anos de idade, fruto desse segundo casamento.
No momento, Júlia não está estudando e/ou trabalhando, dedicando-se
integralmente aos cuidados da filha. Por conta da gravidez, cursou até o primeiro ano do
Ensino Médio, sendo que está esperando completar 18 anos para concluir os estudos,
através de um curso de educação para jovens e adultos (EJA). Também tem em vista um
emprego em uma lancheria.
Entrevista sobre a Gestação e o Parto
A gravidez de Júlia, que aconteceu após dois anos de namoro, não foi planejada:
“foi uma mudança de remédio [anticoncepcional], e aí nesse tempo eu fiquei grávida. O
meu peito inchou e saiu até leite, e então eu fui no médico, que disse que eu tava
58
grávida de quase dois meses”. A adolescente ficou preocupada com o fato, pois não
planejava ser mãe tão cedo: “eu não esperava por isso, eu pensava em ter filhos mais
tarde, mais velha, mas aconteceu. Também, quando pensava em ser mãe, sempre
queria que viesse um menino, não sei por que... acho que é porque tem muita mulher na
minha família!”.
Júlia referiu que a notícia de sua gravidez não foi bem aceita pela família do
namorado: ele é filho único, é todo paparicado pela mãe, avó e tia. Eu fui a primeira
guria que ele levou em casa, o primeiro caso sério, e a mãe dele sempre teve muito
ciúme da relação dele comigo. Ela me ignorou durante a gravidez, mas depois que ela
[neta] nasceu, se apaixonou por ela. Só que eu não tive nenhum apoio da família dele e
isso ainda tá um pouco difícil. Quando eu contei para o meu namorado, porque ele foi
o primeiro a saber, ele ficou preocupado, mas aceitou bem e ficou feliz”. quanto à
reação de seus próprios pais, relatou que ambos aceitaram a gestação, porém, com
preocupação: “a minha mãe encarou bem, só que tava preocupada com a minha idade,
mas não ficou me cobrando e sempre me ajudou. O meu pai mora longe e eu liguei pra
ele pra contar. Ele ficou um pouco preocupado, mas aceitou e veio aqui conhecer ela
[neta]”.
Sua gravidez transcorreu sem problemas e Dora nasceu a termo, de cesariana.
Destacou como se sentiu frente ao parto: ainda bem que não foi parto normal. Morria
de medo da dor, sou muito fiasquenta com essas coisas. Tava com pouca dilatação e a
médica disse que ia fazer uma cesária. Eu não senti nada e foi tudo bem”. No momento
do parto, estava acompanhada da mãe e do namorado, que filmou o parto. Porém,
durante os dois dias que permaneceu no hospital, ficou sozinha durante a noite (não era
permitido acompanhante) e referiu ter sentido medo de que algo acontecesse à filha: “eu
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ficava agarrada com ela o tempo todo. Morria de medo que alguém entrasse e levasse
ela dali; não conseguia dormir”.
Nos primeiros dias após o parto, Júlia sentiu medo ao cuidar de Dora: “eu tinha
medo de machucar ela, tão pequeninha, mas eu fazia tudo, menos banho. Fui fazer isso
quando ela tava com três meses; era a minha mãe que dava banho nela. Eu tinha
medo de deixar ela cair, agora não”. Apesar disso, adaptou-se à rotina de cuidados do
bebê: “desde o início eu cuidei dela; claro que a minha mãe me ajuda às vezes, mas eu
que faço tudo; cuido da roupinha dela, pra ela sempre limpinha e bem arrumada...
tudo”.
Entrevista R
Em sua descrição espontânea como mãe, Júlia assim se descreveu: “sou
protetora, porque não deixo ninguém que não conheço chegar perto dela. Esses dias no
ônibus eu tava com a Dora e com uma sacola na mão e, quando fui sentar, a mulher
que tava do meu lado disse que podia segurar ela pra eu ajeitar a sacola. Não deixei
ela segurar minha filha, não! Também cuido dela, sou bem cuidadosa. Assim, ela tá
sempre arrumadinha, limpinha, acho isso uma coisa bem importante. Também cuido
muito pra ela não se afogar; às vezes ela mama e se afoga e eu morro de medo que
aconteça alguma coisa com ela”. Essa descrição demonstra a dimensão não rica dessa
representação, devido à escassez de características denominadas (protetora e cuidadosa).
Porém, foi possível observar a coerência e a tonalidade afetiva positiva da
representação. Tal tonalidade e coerência também foram demonstradas em sua
descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, através do predomínio de
60
características mais positivas, como dedicada, afetiva, preocupada, disponível e
tolerante.
sua própria mãe foi assim descrita espontaneamente como mãe: ah,
maravilhosa, é um exemplo pra mim. Sempre me mimou muito e me deu muito carinho.
A atenção dela era toda pra mim, porque fui filha única até os 12 anos. Sempre foi
amiga, porque sempre pude conversar tudo com ela. Sempre me ajudou assim em tudo,
com a bebê, se eu preciso sair. Ela é bem protetora também. Ela protege eu e minha
irmã de qualquer coisa ruim que possa acontecer. A gente tem certeza que com ela a
gente pode contar”. Percebeu-se a dimensão rica e a coerência dessa representação,
bem como a tonalidade afetiva positiva. Essa tonalidade também foi evidenciada na
descrição de sua própria mãe como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual houve
grande predomínio das características mais positivas, como afetiva, tolerante,
disponível, confiante e preocupada. Portanto, a identificação de Júlia com sua mãe foi
observada em sua descrição como mãe e de sua própria mãe como mãe na escala de
adjetivos opostos, através do predomínio de características de personalidade
semelhantes, tais como dedicada, preocupada, tolerante e paciente.
Quanto à sua relação com a mãe após tornar-se mãe, relatou: “antes eu não
ficava muito em casa, ficava mais com o meu namorado ou na casa de amigas. Agora a
gente mais próxima uma da outra, a gente conversa mais, olha novela junto. Tudo o
que eu não sei sobre a bebê eu pergunto direto pra ela. Hoje eu sei o que é
preocupação de mãe, porque antes eu achava que ela era muito exagerada nessas
coisas”.
Na descrição de sua filha, Júlia assim a descreveu espontaneamente: ela é bem
ativa, é linda, bem esperta e adora brincar. É sapeca em tudo, brincando, quando olha
61
TV. Tenta chamar atenção, faz umas coisas, grita ahhh pra gente olhar pra ela. Ela é
braba também”. Evidenciou-se a dimensão rica e a coerência dessa representação.
Observou-se ainda o predomínio da tonalidade afetiva positiva da representação, o que
também se repetiu na descrição da criança na escala de adjetivos opostos, na qual
predominaram características de personalidade mais positivas, como alegre, inteligente,
viva, sociável e afetiva.
A maioria dos adjetivos escolhidos para descrever a filha na escala de adjetivos
opostos também foi utilizada por Júlia em sua descrição como pessoa, o que
demonstrou sua identificação com Dora. Nesse sentido, destacaram-se algumas
características comuns, como afetiva, sociável, viva, inteligente e esperta. Quanto à
relação com a filha, esta foi demonstrada principalmente na descrição das principais
características que fazem parte da relação mãe-criança, dispostas sob forma de escala
Lickert, na qual se percebeu sua capacidade de compreensão e disponibilidade nos
cuidados maternos para com a filha.
Quanto a situações e/ou impressões especificamente ocorridas durante a
gravidez e após o parto, que poderiam influenciar no seu modo de pensar e agir com a
filha, Júlia referiu como principal fato a não aceitação de sua gravidez pela família do
namorado: “o fato da família dele não aceitar o que aconteceu faz com que eu proteja
ela. Eu morro de medo, se um dia eu terminar com o meu namorado, que tirem ela de
mim. Porque eu amo ela demais e Deus me livre que façam algum mal a ela!”. Já sobre
possíveis situações ocorridas no seu passado e também no presente, que poderiam estar
influenciando em sua maneira de pensar e de agir com Dora, Júlia nada referiu.
Na descrição espontânea das principais emoções que a filha lhe desperta, Júlia
destacou: “sinto amor, felicidade, tranqüilidade. Sou muito apaixonada por ela. Sinto
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tristeza quando ela não bem, assim com alguma dor”. quanto aos seus maiores
desejos sobre o futuro da filha, referiu: “quero que ela seja uma criança muito feliz,
amada e esperta. Que a gente pudesse viver numa casa nossa, eu, ela e o meu
namorado”. E sobre seus maiores medos relativos ao futuro de Dora, mencionou: “que
eu morra e que ninguém cuide bem dela, eu penso um monte nisso. Que a família do pai
dela tire ela de mim, se eu não puder cuidar dela como eu gostaria”.
Júlia também revelou os seus maiores desejos relativos ao seu futuro como mãe:
“poder dar tudo o que ela quiser. Poder amar ela como eu amo”. E sobre seus maiores
medos acerca desse futuro, afirmou: “ficar sem ela. Às vezes ela se afoga quando
mamando e penso que ela pode morrer. Eu não agüentaria viver sem ela, não. Eu não
teria forças pra viver”.
Nas semelhanças da filha com pessoas da família, destacou que Dora se parecia,
tanto fisicamente como no jeito de ser, principalmente com o pai e a avó paterna: “ela é
a cara do pai e da avó dela, todo mundo diz isso. É braba como eles, mas eu também
sou um pouco braba. De gênio ela é bem parecida com nós três”.
Quanto ao pai de sua filha, assim o descreveu espontaneamente: “com ela, ele é
bem carinhoso, protetor. Ajuda a cuidar, faz tudo, não banho”. Essa descrição
demonstra a coerência, porém a dimensão não rica dessa representação, devido à pobre
descrição das características do namorado. Contudo, observou-se a tonalidade afetiva
positiva da representação, que também foi demonstrada na descrição do pai de Dora na
escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características de personalidade tais
como confiante, afetivo, vivo e caloroso.
63
Observação Mãe-Bebê em Situação de Amamentação
A observação teve duração de 20 min e foi realizada no início da tarde, pois
segundo Júlia, Dora dormia durante a manhã e mamava mais no período da tarde e à
noite. Quando a observadora chegou à residência da mãe, esta se encontrava na sala,
juntamente com sua mãe e irmã, assistindo televisão. Dora estava sentada em seu
carrinho, desperta. A observadora cumprimentou a todos e conversou com a mãe sobre
como seria a observação, referindo que não iria lhe fazer perguntas sobre a
amamentação do bebê, mas simplesmente observar como ela acontecia.
Júlia pegou Dora no colo e sentou-se com ela no sofá. A avó cedeu lugar para
que ela se sentasse. A adolescente, então, acomodou a filha em seu colo, que estava
procurando o seio. Dora logo encontrou o seio e passou a mamar com vontade, olhando
fixamente para o rosto da mãe. Com uma das mãozinhas, brincava com a blusa da mãe e
também com o seio. Suas mamadas eram rápidas, pois ficava inquieta, interrompendo a
mamada para olhar para o ambiente ao seu redor. Nesse momento, girava a cabecinha
como se estivesse procurando algo e, às vezes, sorria para todos que estavam na sala. O
ambiente estava movimentado; a televisão estava ligada e a irmã de Júlia, que tem cinco
anos, não parava de falar, sendo que a avó de Dora a advertiu para que ficasse quieta. A
observadora estava sentada em um sofá localizado na lateral da sala, enquanto Júlia e
Dora se encontravam em um sofá no centro da sala. Em alguns momentos, a
observadora foi chamada pela irmã da adolescente, que queria mostrar seus desenhos.
Então, foi combinado com a menina que seus desenhos seriam vistos com atenção logo
após a observação.
Por sua vez, Júlia prestava mais atenção na televisão e olhou para a filha apenas
nos primeiros minutos de amamentação. Também a maneira como segurava a filha
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chamou a atenção: Júlia não conseguia segurar Dora em seus braços, que, muito
inquieta, acabava por distrair-se de mamar e ficava agitada. No entanto, a adolescente
parecia não estar incomodada com a agitação da filha.
Após esse momento inicial, Júlia segurou Dora firmemente em seus braços,
colocando-a mais perto de si. Nesse momento, a inquietação e a distração de Dora
dissiparam-se. O bebê, envolvido pelos braços da mãe, passou a mamar tranquilamente,
olhando fixamente para o rosto dela, não mais brincando. Por alguns minutos, foi
possível observar um maior entrosamento entre a ade. Contudo, logo após esse
momento, Dora inquietou-se novamente e Júlia a soltou. Assim, Júlia sentou a filha em
seu colo e começou a conversar com ela, dizendo, “ah, tu quer brincar, né, mas não é
hora de brincar!”. Dora passou, então, a brincar com o seio da mãe, apertando e
balançando o mesmo. Júlia parecia não estar incomodada com a brincadeira da filha, e
permitiu que ela ficasse brincando com seu seio por um tempo. Depois, ajeitou sua
blusa e colocou Dora no carrinho. A menina começou então a brincar com os
brinquedinhos (bolinhas coloridas com guizos) que estavam pendurados em seu
carrinho, tocando as bolinhas.
Entrevista com a Avó Materna
Alaíde tem 37 anos, é divorciada e trabalha como auxiliar de recepção. Júlia, sua
primeira filha, nasceu quando ela tinha 20 anos. Aos 32 anos teve a segunda filha,
Camila. É a provedora da casa, na qual mora com as filhas, a neta e o genro, de 18 anos.
A gravidez de Júlia não foi surpresa para ela. Porém, não contava com isso
naquele momento: “não foi nenhuma surpresa, não fiquei horrorizada, porque a gente
que tem filhas mulheres não sabe se não quer. Ela ficava mais de uma vez
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menstruada no mês. E teve um mês que ela não ficou. Até fui eu que disse pra ela que
achava que ela tava grávida. Isso não tava nos meus planos, não é o que a gente quer,
nenhuma mãe quer isso. No meu caso, eu era casada. Agora, vai atrapalhar a vida
dela, os estudos, trabalho. Mas era uma vidinha que tava vindo, e fiquei feliz”.
A relação com a filha antes da gravidez foi descrita como difícil: bem
complicada. A gente sempre teve uma relação bem conturbada, ela sempre foi rebelde.
Não sei se pelo fato de quando eu me separei ela ficou sendo cuidada pela avó paterna
e meio que perdeu o limite. A avó era muito protetora, dizia que ela não tinha pai perto
e fazia tudo que ela queria. Ela ficou um ano morando com o pai e, quando voltou, a
minha autoridade não valia muito. Me culpava muito pela separação. Saía muito,
não parava em casa. Eu me preocupava com as companhias; recebia os amigos em
casa pra conhecer, só que ela nunca aceitava a minha opinião sobre eles”.
Já quanto à relação com Júlia após a gravidez, destacou o fato de a filha entender
melhor o papel de mãe: “ela melhorou bastante, não 100%, mas melhorou. Acho que
ela ter ficado grávida fez ela ver o meu lado de mãe, eu acho. Hoje ela pensa mais em
como eu vejo as coisas. Começou também a mudar o jeito de pensar. Ela sempre
pensava nela, os outros não importa. E com a filha isso mudou”.
Em sua descrição da filha como mãe, demonstrou surpresa com o desempenho
de Júlia, destacando a afeição e a preocupação dela para com Dora: “Até que ela é uma
boa mãe, até que ela me surpreendeu bastante. Comparo ela com a minha irmã de 23
anos que foi mãe e deu o maior trabalho. Eu pensei que a Júlia, com 17 anos, ia me dar
o dobro de trabalho. Mas foi totalmente o contrário daquilo que eu pensava. Ela teve o
nenenzinho dela, veio pra casa, assumiu o neném. Eles [filha e namorado] ficavam
cuidando dela sozinhos de noite, de madrugada. Até em vista de outras mães, acho que
66
ela tá super bem, apesar da pouca idade dela. Ela é mãezona, brincalhona, mais
melosa do que eu era com ela. Pega no colo, balda. Se a neném fica doente, se
desespera”.
em sua descrição como mãe, Alaíde descreveu-se como pouco afetiva,
provedora das necessidades básicas da filha e compreensiva: “ah, sou, como é que eu
vou te explicar... Isso ela sempre cobrou, eu sou uma mãe assim que não é muito de dar
abraço, beijo. Talvez porque eu nunca ganhei, eu não sei lidar com isso. Me preocupo
em dar o necessário, como alimentação, roupa. Também escuto, converso, mas falo o
que eu penso, o que nem sempre agrada ela”.
Analisando as Representações Maternas de Júlia
As representações de Júlia sobre a mãe demonstraram inicialmente percepções e
sentimentos positivos em relação a ela. Observou-se sua identificação com a mãe no
sentido de espelhar-se nela para a construção de sua própria identidade materna.
Contudo, percebeu-se que tal identificação estava calcada tanto em identificações
construtivas como alienantes (Golse, 2003). No caso, as identificações construtivas têm
por base a valorização de aspectos positivos presentes em sua relação com a mãe,
principalmente na infância, na qual destacou-se o acolhimento (holding) da mãe em
relação à Júlia (Winnicott, 1971/1988). as identificações alienantes parecem ter sido
mais evidenciadas a partir da pré-adolescência, fase na qual ocorreu um distanciamento
entre elas, possivelmente ligado à separação dos pais e ao nascimento da irmã. Nesse
período, percebeu-se que o desempenho do papel materno de sua mãe para consigo
caracterizou-se pela capacidade reduzida de continência (Bion, 1962/1982), o que
denotou pouco envolvimento emocional e sintonia afetiva (Stern, 1992) da díade.
67
Percebeu-se que esses aspectos presentes nas representações da adolescente
sobre sua mãe, de certa forma, estavam influenciando nas representações de Júlia sobre
a filha, o que foi demonstrado na Entrevista-R e também na situação de amamentação
de Dora. Na entrevista, evidenciaram-se os aspectos construtivos (identificações
construtivas, Golse, 2003) vivenciados por Júlia na relação com sua mãe, no caso,
sentimentos de proteção e segurança na infância, que se repetem na relação da
adolescente com a filha. na situação de amamentação de Dora, foram mais
evidenciados os aspectos não-construtivos (identificações alienantes, Golse, 2003),
pelas falhas no holding materno (Winnicott, 1971/1988) que também foram vivenciadas
por Júlia na relação com sua mãe, fato confirmado na entrevista com a avó materna.
as representações sobre o bebê demonstram que a filha pode estar
representando para Júlia a compensação das perdas vivenciadas com os pais (Brazelton
& Cramer, 1992; Lebovici, 1987) e, por conseguinte, ficar sem ela representa o medo do
desamparo. De outra forma, a preocupação excessiva com a filha também parece estar
ligada à necessidade de reparação (Klein, 1952/1982) por algo que poderia ter causado a
ela. Nesse sentido, pode-se pensar na possível culpa que Júlia sente em relação à filha,
devido ao fato de acalentar o desejo de ser mãe de um menino, que este talvez
oportunizaria o reconhecimento dela pela família e pelo namorado, uma vez que o filho
homem ocuparia lugar de destaque nos dois grupos familiares (Stern, 1997). Entretanto,
percebeu-se que tal sentimento impulsiona Júlia a aprimorar sua capacidade de rêverie
(Bion 1962/1991) buscando maior compreensão às necessidades da filha.
Por fim, as representações sobre si mesma demonstram como se encontra o
realinhamento de suas representações de self (Stern, 1997), fundamentais para o
exercício da função materna. Nesse aspecto, percebeu-se sentimentos de baixa
68
autoestima, insegurança e medo, que parecem interferir no desempenho de seu papel
materno. Esses sentimentos frente à maternidade são comuns em mães adolescentes,
sendo freqüentemente apontados pela literatura (Herrman, 2008; Moreira et al., 2008).
No caso de Júlia, apesar de mostrar-se adaptada às tarefas impostas pela maternidade,
esses sentimentos foram percebidos na Entrevista-R, na qual a adolescente referiu em
alguns momentos ter medo de não saber desempenhar bem o papel materno e de que
isso possa vir a prejudicar o desenvolvimento de sua filha e levar ao seu afastamento
dela.
A partir da análise do mundo representacional de Júlia, observou-se como ela
está construindo a sua identidade materna, bem como a relação que está estabelecendo
com a filha. Percebeu-se que a adolescente encontra-se em um momento de adaptação
ao papel materno, permeado por dúvidas e inseguranças. No entanto, tais sentimentos
não parecem impedir Júlia de procurar ser uma mãe suficientemente boa
(Winnicott,1987/ 2006) e continente (Bion 1962/1982) para Dora, e assim construir uma
relação segura e afetuosa com a filha.
3.4 Discussão Geral
Considerando os achados do estudo, torna-se importante destacar inicialmente as
semelhanças encontradas nos três casos através da análise de algumas representações
que compõem o mundo representacional das adolescentes. Ressalta-se que as
semelhanças entre os casos foram mais percebidas nas representações sobre a própria
mãe e sobre o bebê.
Primeiramente, nas representações sobre a própria mãe foi possível identificar,
em todos os casos, o processo de identificação com a figura materna (Golse, 2003), que
69
parece nortear a maternidade destas jovens, apontando para a relevância da transmissão
intergeracional (Golse, 2003; Lebovici, 1996, 1998). Esse fato demonstra a importância
da investigação do modelo materno (Aulagnier, 1994; Cramer & Palácio-Espasa, 1993;
Lebovici, 1987; Stern, 1997) de mães adolescentes, talvez porque as identificações
parentais têm seu ápice na adolescência, uma vez que, nessa etapa, os projetos e desejos
sobre a parentalidade podem ser vivenciados com mais intensidade (Brazelton &
Cramer, 1992). Além disso, pela própria situação de parentalidade, que estimula a
identificação com os próprios pais, pelo fato de se atingir a mesma posição e status
deles (Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1987).
Destaca-se também, como ponto semelhante entre os casos, a estreita ligação
entre as representações sobre a própria mãe e as representações sobre o bebê, pois, a
partir da análise das primeiras, foi possível uma melhor compreensão das segundas,
elucidando, por vezes, sentimentos e atitudes das mães adolescentes para com seus
filhos. Pode-se dizer que as representações sobre a própria mãe serviram de referência
para a construção das representações sobre o bebê, devido à influência da transmissão
intergeracional (Golse, 2003) mencionada. Cabe destacar novamente que tal
transmissão foi pautada por identificações construtivas e alienantes (Golse, 2003),
sendo que as primeiras predominaram nas representações sobre a própria mãe de
Carolina (caso 1), e ambas as identificações foram observadas nas representações de
Fabiana (caso 2) e Júlia (caso 3) sobre suas mães. Considerando esse aspecto, é possível
pensar que as representações sobre o bebê não podem ser consideradas isoladamente,
uma vez que seu entendimento parece depender, dentre outros aspectos, da
compreensão das vivências com a própria mãe e de seus significados para as
adolescentes.
70
Já nas representações sobre o bebê foi possível vislumbrar como estava se
dando, no momento, a identificação ou não de cada mãe com seu bebê. Essa
identificação foi observada na Entrevista R a partir do predomínio de características
semelhantes na descrição da criança na escala de adjetivos opostos e também na
descrição de cada e como pessoa na escala de adjetivos opostos. Nesse sentido,
observou-se a identificação de Carolina com o filho Matheus (caso 1), pois a maioria
das características apontadas na descrição do filho também foi utilizada por ela em sua
descrição como pessoa. Da mesma forma, também foi percebida a identificação de Júlia
com a filha Dora (caso 3), uma vez que foram semelhantes, em sua maioria, as
descrições da criança e de si mesma como pessoa. no caso de Fabiana (caso 2),
observou-se que a adolescente descreveu a filha Nina e a si mesma como pessoa
utilizando-se, em maioria, de características totalmente opostas, evidenciando uma
pobre identificação no momento do estudo. Ressalta-se que a identificação das mães
com suas crianças também foi demonstrada na situação de amamentação dos bebês, na
qual foi possível observar a capacidade de rêverie (Bion 1962/1982) de cada
adolescente, enfocando o atendimento e a compreensão das necessidades de seus filhos.
Ainda, através das representações sobre o bebê foi possível identificar como
estava acontecendo, no momento, o desempenho da função materna pelas adolescentes,
evidenciado principalmente através do holding (Winnicott, 1971/1988) e da continência
(Bion 1962/1982). Assim, observou-se que o desempenho de tal função estava
associado, dentre outros aspectos, à imagem que cada mãe tinha de seu bebê, sendo esta
positiva para Carolina (caso 1) e Júlia (caso 3), e pouco positiva para Fabiana (caso 2).
Ressalta-se também a interferência dos aspectos desenvolvimentistas e
psicossociais na (re)construção do conjunto de representações das mães adolescentes
71
(representações sobre a criança, sobre si mesmas e sobre a própria mãe). Percebeu-se
que, de certa forma, alguns desses aspectos, tais como a interrupção dos estudos e a
responsabilidade de cuidar de um bebê (Esteves & Menandro, 2005; Levandowski et al.,
2008; Moreira et al., 2008; Ximenes et al., 2007), observados nos casos, também
contribuíram para a (re)construção de seu mundo representacional, uma vez que
promoveram mudanças importantes na rotina destas jovens e, possivelmente, em seu
mundo interno.
Entretanto, pode-se pensar que a idade de ocorrência da maternidade, por si só,
mesmo diante dos desafios impostos a estas mães, não se constituiu em um fator
determinante de influência na qualidade de suas representações. A análise das mesmas
indicou a importância e a preponderância dos aspectos intrapsíquicos e subjetivos,
principalmente as vivências passadas com a própria mãe, para tal qualidade, através de
associações e/ou lembranças de aspectos significativos desta relação (Cramer &
Palácio-Espasa, 1993). Destacaram-se também as vivências atuais com a própria mãe no
mundo representacional das participantes.
Obviamente que esse aspecto pode estar ligado à intensidade da identificação
parental que tem seu ápice no período da adolescência (Brazelton & Cramer, 1992),
como mencionado, e também à influência do modelo materno na maternidade das
adolescentes, identificada nesse estudo. Contudo, convém ressaltar que a influência de
tal modelo não é uma condição apenas observada no contexto da maternidade na
adolescência, mas sim na situação de transição para a maternidade em geral, mesmo
entre mães adultas (Aulagnier, 1994; Brazelton & Cramer, 1992; Cramer & Palácio-
Espasa, 1993; Lebovici, 1987; Stern, 1997).
72
Quanto às particularidades encontradas entre os casos, estas salientaram-se nas
representações sobre si mesma, que incluem uma reflexão de cada participante como
mãe e como pessoa (Stern, 1997). Foi possível identificar diferentes percepções e
sentimentos das adolescentes sobre si mesmas. A partir dessas representações,
evidenciou-se a organização de self das adolescentes, que mostrou a maturidade de
Carolina (caso 1), apesar da pouca idade, a precária organização de self de Fabiana
(caso 2) e o esforço de Júlia (caso 3) nessa reorganização, quesito necessário para o
exercício da maternidade. Cabe ressaltar que estas mães se encontram em uma etapa da
vida na qual estão reformulando a sua própria identidade (Urribarri, 2004), o que leva a
pensar que as representações sobre si mesma podem estar demonstrando como está
ocorrendo o processo de modificação dessa identidade nesse momento. Também não se
pode esquecer que o próprio processo de tornar-se mãe exige uma reconstrução da
identidade da mulher (Stern, 1997), o que faz pensar que essa reorganização de self
estaria sendo impulsionada por esses dois eventos concomitantemente; adolescência e
maternidade. (Houzel, 2004).
Especificamente nas representações sobre o bebê também foram percebidas
algumas particularidades. No caso, os diferentes significados da criança para cada mãe,
(Aulagnier, 1994; Stern, 1997). Por exemplo, para Carolina (caso 1), o filho pareceu
significar uma mudança positiva em sua vida, conduzindo-a para a maturidade
(Lebovici, 1987). Já Nina, filha de Fabiana (caso 2), representou o suprimento de suas
carências afetivas (Gontijo & Medeiros, 2008) não apenas em relação à figura materna,
mas também frente ao companheiro. Por fim, o nascimento de Dora, para Júlia (caso 3),
pareceu representar principalmente a compensação das perdas vivenciadas com os pais
(Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1987).
73
Através do conjunto dos dados sobre as representações das adolescentes foi
possível observar como está sendo estabelecida a relação da díade no momento atual e
vislumbrar a saúde mental da mãe e do bebê (Pinto, 2004). Nesse sentido, observou-se
na díade Carolina-Matheus (caso 1), harmonia e sintonia afetiva, apontando para um
desenvolvimento emocional harmonioso de Matheus. Já a relação de Fabiana e Nina
(caso 2), caracterizada por atitudes e sentimentos ambivalentes sobre a filha, apontou a
fragilidade emocional de Fabiana. Porém, Nina não apresentou, no momento do estudo,
nenhum bloqueio em seu desenvolvimento emocional, que poderia se manifestar, por
exemplo, através de sintomas psicofuncionais (Pinto, 2004). Ao contrário, mostrou-se
uma criança viva e esperta, que procurava dar pistas à mãe sobre as suas necessidades.
Da mesma forma, a relação de Júlia com Dora (caso 3), que se caracterizou, sobretudo,
pela insegurança desta mãe quanto ao seu desempenho do papel materno, evidenciou a
sua fragilidade emocional, porém em menor grau, comparado ao de Fabiana (caso 2).
Também nesse caso não foi observado comprometimento do desenvolvimento
emocional de Dora, que se mostrou uma criança viva e interativa.
Destaca-se que, quando uma mãe, independentemente da idade, apresenta algum
comprometimento ou dificuldade no desempenho do papel materno, tal fato não
pressupõe que a criança poderá necessariamente apresentar alguma dificuldade
(Lebovici, 1987). De qualquer forma, convém ressaltar que a análise desses aspectos
possibilitou a indicação de avaliação psicológica para duas participantes (Fabiana e
Júlia), a fim de auxiliá-las na relação com seus bebês e também consigo mesmas. Tal
indicação teve como foco prevenir possíveis dificuldades na relação mãe-bebê, devido
principalmente à condição emocional das mães.
74
Seção 2
Artigo Teórico
2
REPRESENTAÇÕES MATERNAS: ASPECTOS TEÓRICOS E
POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO CLÍNICAS
3
Stela Araújo Cabral
4
Daniela Centenaro Levandowski
5
2
O presente artigo será submetido para a Revista Estilos da Clínica.
3
O presente estudo deriva da Dissertação de Mestrado da primeira autora, realizada sob a orientação da
segunda autora, intitulada Representações maternas no contexto da maternidade na adolescência,
apresentada ao PPG Psicologia da UNISINOS no ano de 2010.
4
Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Clínica (UNISINOS) e Membro Aspirante da Sociedade
Psicanalítica de Porto Alegre.
5
Psicóloga, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS). Doutora em Psicologia (UFRGS), com
Pós-Doutorado em Psicologia (PUCRS).
75
RESUMO
As representações maternas se inserem nos aspectos subjetivos que permeiam a relação
mãe-bebê e englobam expectativas, fantasias e desejos da mãe sobre o bebê, assim
como os aspectos transgeracionais ligados a isso. O objetivo do presente artigo é
discutir as diferentes representações que compõem o mundo representacional materno,
tendo por base os conceitos desenvolvidos por Stern. Além disso, buscou-se apresentar
as possibilidades de avaliação e intervenção clínica sobre essas representações, segundo
a perspectiva psicanalítica. Ressalta-se que a exploração das representações maternas
constitui uma importante ferramenta da clínica pais-bebê, auxiliando na melhoria da
qualidade dessa relação, e em decorrência disso, tal investigação poderia ser mais
utilizada tanto no contexto clínico como de pesquisa.
Palavras-chave: representações maternas, relação mãe-criança, clínica pais-bebê.
76
ABSTRACT
Maternal representations consist of mother-infant relationship’s subjective aspects and
include mother’s expectations, fantasies and desires about baby, as well as
transgenerational aspects related to this. This study aims to discuss different
representations that make part of maternal representational world, based on concepts
developed by Stern. It also shows possibilities of evaluation and clinical intervention
about these representations, in a psychoanalytical perspective. It was highlighted the
investigation of maternal representations as an important instrument of parent-infant
clinic, helping to improve the quality of this relationship. Then, their investigation could
be more employed not only in clinical, but also in research context.
Key words: maternal representations, mother-infant relationship, parent-infant clinic.
INTRODUÇÃO
A vida fantasmática da mãe e suas repercussões na relação com o bebê encontram-
se retratadas nos trabalhos de vários autores psicanalíticos, desde Freud (1914/1996), a
partir de diferentes perspectivas (Bick, 1964/1987; Bion, 1962/1991; Cramer & Palácio-
Espasa, 1993; Fraiberg, Adelson e Shapiro, 1975; Klein, 1952/1987; Lebovici, 1987, 1996,
1998; Winnicott, 1956/2000, 1987/ 2006). Mais recentemente, Stern (1989, 1997, 1999), a
partir de um intercâmbio entre a psicanálise e a psicologia do desenvolvimento, trouxe
importantes contribuições para a compreensão e a avaliação desse aspecto, a partir do
conceito representações maternas.
A percepção do papel fundamental exercido pelas representações maternas na
maneira de a mãe agir com o bebê se constitui em um campo atual de estudos e se insere
como um dos temas de investigação da situação clínica pais-bebê, inicialmente inspirada
pelas concepções psicanalíticas (Stern, 1997). Contudo, apesar da importância do tema, as
influências dessas representações no desenvolvimento da criança foram verdadeiramente
consideradas pela psiquiatria infantil somente a partir dos anos 70 (Cramer & Palácio-
Espasa, 1993).
O presente artigo tem por objetivo discutir as diferentes representações que
compõem o mundo representacional materno: as representações sobre a própria mãe, sobre
si mesma e sobre o bebê, destacando os conceitos de Stern (1997). Também buscou
apresentar as diferentes possibilidades de avaliação e intervenção clínica sobre essas
representações, segundo a perspectiva psicanalítica.
A fim de situar o tema em estudo, inicialmente são tecidas algumas considerações
sobre o conceito representação. Após, discute-se o conceito representação materna e, por
fim, são apresentadas algumas possibilidades de avaliação e intervenção clínica sobre essas
representações.
78
Algumas Considerações sobre o Conceito Representação
Inicialmente, cabe mencionar que a representação foi investigada pela psicanálise a
partir de Freud em seus estudos sobre a afasia (1891). Caropreso (2003, 2008) referiu que,
a princípio, esse autor considerou que tal fenômeno fazia parte estritamente do campo da
consciência, uma vez que a psicanálise, no início, estava sendo construída de acordo com o
parâmetro das leis físicas postuladas pelas ciências biológicas. Posteriormente, no Projeto
para uma psicologia científica (1895), publicado em 1950, Freud redimensionou a sua
concepção sobre representação, dissociando-a do campo consciente, passando a situá-la
como um fenômeno do campo inconsciente (Caropreso, 2003, 2008).
Contudo, foi em 1915, em suas considerações sobre o inconsciente, que o conceito
representação foi mais aprofundado e aprimorado por esse autor, sendo definido como uma
categoria fundamental da experiência psíquica (Almeida et al., 2003). Segundo Thá
(2004), Freud descreveu as representações como unidades mentais compostas
fundamentalmente de imagens psíquicas de objetos, bem como sensações exteriores ao
aparelho psíquico. As mesmas estariam relacionadas com redes associativas que
manifestariam sua ocorrência na realidade externa e seriam capazes de representar também
relações e eventos.
Diante de tal definição, é possível perceber o quão complexo é esse fenômeno, e
onde ele se situa: no campo consciente, inconsciente, ou em ambos. Green (1990) refere
que a representação não faz parte apenas do inconsciente, do que está reprimido, mas
também do consciente. Ela se transforma a fim de que possa ser aceita pelo consciente.
Quando isso acontece, não se tem apenas representações de coisas inconscientes, mas
representações de palavras, que derivam da união da representação de coisa, descrita por
Freud (1915), associada ao afeto (Munhoz, 2009).
79
Para Almeida et al (2003), a inclusão do afeto como um dos principais aspectos que
norteiam a representação foi abordada por Sandler (1976), que considerou representação
como uma espécie de esquema ou organização construída sobre a base de múltiplas
impressões e também sobre o domínio da experiência, compreendendo imagens e outros
fenômenos subjetivos, como os sentimentos. Assim, o mundo representacional seria
formado por uma rede de conceitos e imagens permanentes do self do outro, que fornecerá
um esquema de base de referência à experiência pessoal
Compartilhando essa ideia, Stern (1997) conceituou representação como uma
experiência subjetiva construída pela mente, à medida que é vivida em decorrência da
experiência. Tal experiência é composta por sensações, afetos, ações e motivações que
provêem dos sentidos, que dão lugar a diferentes modelos internos da experiência
representada, ativados através do relacionar-se com o outro (Stern, 1997). Partindo dessa
definição, investigou e aprimorou o conceito representação materna, utilizado
previamente por outros autores psicanalíticos, como mencionado, buscando um melhor
entendimento sobre o mesmo, a partir de um intercâmbio entre a psicanálise e a psicologia
do desenvolvimento.
Conceituando Representação Materna
Precedendo o nascimento do bebê, ainda durante a gestação e antes mesmo de sua
ocorrência, a mãe tece expectativas, fantasias e demonstra desejos em relação à criança
(Aulagnier, 1994; Lebovici, 1987). Esses aspectos, que compõem o campo subjetivo das
relações mãe-bebê, constituem as representações maternas, que podem ser determinantes
para a natureza do relacionamento que a mãe estabelece com seu bebê (Brazelton &
Cramer, 1992; Cramer e Palácio-Espasa, 1993; Lebovici, 1987; Mazet & Stoleru, 1990;
Stern, 1997). Também fazem parte de tais representações os aspectos transgeracionais
80
(Lebovici, 1996, 1998), que constituem conflitos associados às gerações anteriores,
principalmente às famílias de origem dos pais, e que podem infuenciar, mesmo de forma
inconsciente, a relação atual da díade mãe-bebê.
Ressalta-se ainda que as representações maternas fazem parte tanto da relação real
como da relação estabelecida no mundo interno da mãe com a criança (Stern, 1997). A
relação real caracteriza-se pela relação atual estabelecida pela mãe com a criança, e é
percebida nas vivências reais e objetivas com a mesma. Já a relação estabelecida pela e
com a criança através de seu mundo interno conta das representações subjetivas, que se
constroem, em sua maioria, a partir das fantasias tecidas sobre o bebê, geralmente de
cunho inconsciente (Stern, 1997).
Cabe destacar que são encontradas na literatura outras nomenclaturas para designar as
representações maternas, as quais também são denominadas percepções e sentimentos da
mãe sobre a criança. Essas diferentes denominações buscam destacar, de modo geral, as
vivências atuais que norteiam a relação mãe-criança. Convém lembrar que esses aspectos
foram apontados pela psicanálise a partir dos trabalhos de Winnicott (1956/2000,
1987/2006) sobre a relação mãe-bebê.
Com o intuito de organizar os principais elementos que compõem as representações
maternas, Stern (1997) descreveu um conjunto de representações que dão sentido ao
mundo mental materno e possuem relevância clínica. Segundo o autor, as representações
maternas englobariam três preocupações e discursos diferentes, mas relacionados entre si:
1. o discurso da mãe com sua própria mãe; 2. o discurso consigo mesma e 3. o discurso
com o bebê.
No discurso da mãe sobre sua própria mãe se inserem as representações sobre a
própria mãe, que se intensificam com a chegada do bebê, pois a mulher passa a reavaliar
sua mãe tanto de maneira consciente quanto inconsciente. Essa reavaliação inclui sua mãe
81
como era para ela quando criança, como esposa, mulher e como avó da criança (Stern,
1997). Assim, a mulher, na construção de um modelo materno próprio, poderá reviver com
intensidade as identificações vivenciadas com a própria mãe tanto na infância como na
atualidade (Aulagnier, 1994; Stern, 1997). Torna-se importante mencionar que, no
processo de identificação com sua própria mãe, estão inseridas identificações construtivas
assim como identificações alienantes (patológicas), sendo que ambas podem repercutir na
relação atual mãe-criança (Golse, 2003). Assim, as vivências com a própria mãe têm
grande influência no exercício da maternidade da futura mãe, que se molda inicialmente
em torno de uma tríade psíquica, composta por sua mãe, por ela mesma e pelo bebê
(Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1987; Stern, 1997).
no discurso da mãe consigo mesma estão englobadas as representações sobre si
mesma, que remetem à reflexão e à reorganização da identidade pessoal decorrentes da
maternidade. De fato, o nascimento de um bebê conduz a mulher à reavaliação e
reorganização da maioria das representações de self: como mulher, mãe, esposa,
profissional, filha, dela própria enquanto pessoa, de seu lugar em sua família de origem e
de seu papel na sociedade (Stern, 1997). Essas mudanças terão de ser reelaboradas por
conta da experiência da maternidade.
Por fim, no que concerne ao discurso com o bebê estão inseridas as expectativas,
fantasias, desejos e medos da mulher sobre este como filho, neto e como pessoa que
apresenta determinado temperamento, de acordo com as tendências naturais que traz para a
relação (Stern, 1997). As predições sobre o bebê também fazem parte de tais
representações e se revelam, principalmente, em estágios posteriores ao seu nascimento. A
mãe passa a reconstruir as suas representações acerca de quem é o seu bee o que ele vai
se tornar a partir da imagem do bebê real. Assim, o nascimento do bebê se apresenta como
82
um encontro entre a imagem do bebê que estava na mente da mãe (bebê imaginário) e a
imagem do bebê real, que agora faz parte de sua vida (Stern, 1997).
Especificamente em relação a esse aspecto, cabe mencionar que a relação da mãe
com o bebê existe desde antes da gravidez e está presente nas suas fantasias frente à
possibilidade de ter um filho. Desse modo, a vida imaginária e fantasmática da mãe na
gravidez (e antes dela) se constitui na base essencial da relação posterior que ela
estabelecerá com o be (Mazet & Stoleru, 1990). Como parte das representações
maternas, especialmente durante a gestação, a futura mãe atribui ao feto características e
personalidade própria e, assim, começa a se relacionar com ele, iniciando uma vinculação
ainda imaginária (Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1987). Nesse sentido, o be
imaginário corresponde ao bebê fruto do desejo de ser mãe, que é construído durante a
gravidez (Lebovici, 1987). De qualquer modo, imaginar o bebê representa reconhecê-lo
como um ser próprio (Aulagnier, 1990), que, apesar de ser completamente dependente, não
pode ser considerado apenas como uma extensão do corpo materno. Essa representação do
futuro bebê enquanto ser próprio possibilita à mãe investi-lo afetivamente antes e
especialmente a partir do seu nascimento.
Além do bebê imaginário, a mente materna abriga a existência de outras
representações sobre o bebê, que estão relacionadas ao bebê edípico, bebê real e bebê
cultural (Lebovici, 1987). O bebê edípico está ligado diretamente ao inconsciente materno,
pois corresponde à história edípica materna, representando os desejos infantis da mãe. Esse
bebê representa o desejo de ter tido um filho com o pai, que foi reprimido por conta do
declínio do Complexo de Édipo. Quanto ao bebê real, este ajudará na reorganização do
mundo representacional da mãe, pois ele a está transformando em uma mãe,
impulsionando-a a formar novas representações sobre si mesma e a reorganizar as já
existentes (Lebovici, 1987), o que, por sua vez, levará à reestruturação de sua identidade
83
como mulher, futura mãe, esposa e filha (Brazelton & Cramer, 1992; Stern, 1997),
comentada anteriormente. o bebê cultural remete ao significado da criança de acordo
com o contexto cultural no qual está inserida, bem como sua família (Lebovici, 1987).
Por fim, ainda fazem parte do discurso da mãe com o bebê: as representações sobre
o marido, sobre sua própria família de origem, a família de origem do marido e sobre as
figuras parentais substitutas (Stern, 1997). Com a chegada do bebê, o casal passa a formar
uma tríade, pois é provocada uma mudança na relação da mulher com o marido, havendo
uma alteração dos seus esquemas em relação ao marido como pai, homem e esposo. O
nascimento acarreta, então, modificação das representações do casal, pois se faz necessária
a inclusão do bebê, estabelecendo-se, por conseguinte, uma nova relação conjugal. O bebê,
que surge como o terceiro na relação, pode assumir diversas possibilidades de identidades:
parceiro conjugal, que subentende o medo da mãe de ser abandonada pelo marido; amante,
que coloca o marido no papel de provedor e protetor para com a mãe; a única pessoa no
mundo que vai amá-la incondicionalmente, criando expectativas sobre como o marido
deveria amá-la; uma ameaça ao casamento, quando o marido exige ser cuidado como outro
bebê, e, por fim, um presente ao marido por algo que lhe devia.
nas representações sobre a família de origem da mãe e do marido (Stern, 1997)
estão incluídas a atribuição dada ao bebê de garantir a continuidade da família (levar
adiante o nome da família), bem como de sucesso familiar (manter o negócio da família,
perpetuando-o numa nova geração). O bebê pode representar também uma rixa familiar
antiga ou a ascensão social da família. As representações sobre o bebê nesse contexto são
múltiplas e se referem também aos diversos aspectos transmitidos transgeracionalmente.
No caso, muitas vezes as mães percebem e interpretam determinadas atitudes do
bebê de acordo com o legado psíquico inconsciente, que é passado através das gerações
(Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1996, 1998). Esse legado projeta no bebê a história
84
passada da mãe, ativada nessa relação. A transmissão transgeracional (Lebovici, 1996,
1998) faz com que as fantasias maternas sobre o bebê possam assumir três formas: a
representação de uma pessoa que teve papel relevante no passado da mãe, a revivência de
formas passadas de relacionamento e a representação de um aspecto inconsciente da mãe.
Entretanto, a manifestação do passado da mãe no relacionamento com o bebê é
normal e, de certo modo, favorece o estabelecimento do vínculo entre eles. Convém
ressaltar que essa manifestação se torna patológica quando esta passa a ver o bebê de
forma distorcida, por exemplo, com características adultas (Brazelton & Cramer, 1992).
Esse caráter patológico das representações maternas pode ser observado, dentre outras
formas, a partir do desenvolvimento de sintomas psicofuncionais no bebê (Pinto, 2004),
que se caracterizam por uma série de manifestações somáticas ou comportamentais, sem
causa orgânica, que apontam de forma geral dificuldades na relação mãe-pai/bebê.
Finalizando, conforme Stern (1997), as representações da mãe sobre as figuras
parentais substitutas, como avó, tia, irmã, etc. devem ser consideradas, pois estas podem
compensar as experiências negativas vivenciadas com os próprios pais. Nesse caso, torna-
se útil identificar experiências positivas que a mãe teve com outras figuras cuidadoras, que
se apresentam como modelos alternativos na edificação da relação com o bebê.
As idéias de Stern (1997) sobre as representações maternas demonstraram e
reforçaram a influência destas na relação mãe-criança, permitindo ainda um mapeamento
do mundo representacional materno. Apesar de cada representação abordar diferentes
aspectos que compõem este mundo representacional, é possível perceber o entrelaçamento
entre elas, demonstrando assim a complexidade que envolve a sua investigação. Além
disso, essa temática constitui um importante foco de atenção na clínica pais-bebê, cuja
avaliação e intervenção têm por objetivo promover a qualidade da relação mãe-bebê
(Manieu, 2002), permitindo, em decorrência, que a criança se constitua psiquicamente de
85
um modo saudável e harmonioso. Nesse sentido, são citadas a seguir algumas
possibilidades de avaliação e de intervenção clínica, derivadas tanto de contribuições
psicanalíticas como também de seu intercâmbio com a psicologia do desenvolvimento.
Possibilidades de Avaliação e Intervenção Clínica das Representações Maternas
Em relação à avaliação das representações maternas, na perspectiva psicanalítica
pode ser citado o Método Bick de Observação de Bebês (Bick, 1964/1987). Esse método,
criado em 1948, foi construído com o objetivo de contribuir para a formação de
psicoterapeutas e psicanalistas infantis. Consiste na observação direta de um bebê em seu
contexto natural, possibilitando a compreensão das relações do mesmo com a mãe (ou
figuras substitutas) em várias situações. Dessa forma, é possível observar o mundo
representacional de todos os envolvidos na situação, que inclui as ansiedades, fantasias e
defesas de cada um, somadas ainda às representações do observador.
A observação direta do bebê é realizada uma vez por semana, durante uma hora, ao
longo dos seus primeiros dois anos de vida. Do método fazem parte três etapas
sistemáticas, que consistem na observação, na anotação do que foi observado e na
supervisão do material. Assim, após a visita à família, o observador registra por escrito a
observação, incluindo todos os detalhes lembrados, bem como os afetos experimentados.
Por fim, é através da supervisão que ele terá a possibilidade de organizar e
compreender o material, dando sentido às vivências observadas, sob o ponto de vista
psicanalítico. Essa supervisão é realizada semanalmente e em grupo e é coordenada por um
psicanalista (Oliveira et al., 2006).
A partir do intercâmbio entre a psicanálise e a psicologia do desenvolvimento, Stern e
colaboradores propuseram dois instrumentos, cada qual com suas especificidades, para a
avaliação das representações maternas: a Entrevista R (Stern et al., 1989) e a Entrevista
86
Microanalítica (Stern, 1997). Como derivação mais estruturada do método freudiano de
associação livre, a Entrevista R consiste em uma entrevista semi-estruturada que investiga
as representações da mãe em relação aos temas que compõem seu mundo representacional.
No caso, são abordados aspectos tais como descrição da criança e os eventos importantes
de sua vida, descrição da mãe enquanto mãe e de sua própria mãe, semelhanças da criança
com as pessoas da família, eventos importantes do passado e do presente da mãe, afetos da
mãe ligados às representações de seu filho(a) e seus desejos, medos e auto-estima (Stern et
al., 1989). Esse método também tem por objetivo possibilitar modificações nas
representações maternas, com fins terapêuticos. A diferença desse método para o método
de associação livre é que o mesmo pode ser aplicado em vários contextos, não na
situação analítica, e que ele possibilita uma sistematização quantitativa e uma compreensão
qualitativa dos temas centrais do mundo representacional materno (Manieu, 2002).
Por sua vez, a Entrevista Microanalítica (Stern, 1997) investiga a ligação entre
comportamento e representação através da observação da interação mãe-bebê. Busca
identificar o tema representacional da mãe e suas manifestações comportamentais nas
condutas interativas da díade (Manieu, 2002). Essa entrevista possibilita obter uma noção
detalhada do que seria potencialmente evidenciado nas vivências cotidianas da mãe com o
bebê, entre outras situações, nos cuidados com a criança. Dessa forma, é possível ter
acesso a mecanismos mentais clinicamente indispensáveis para o entendimento dessas
representações, como as identificações, que se constituem um dos principais aspectos que
compõe o mundo representacional materno (Stern, 1997).
Especificamente quanto à intervenção psicoterapêutica sobre as representações
maternas, apresentam-se três formas distintas embasadas psicanaliticamente: o método de
associação livre (Freud, 1911/1996), a psicoterapia conjunta pais/bebê (Cramer & Palacio-
Espasa, 1993; Guedeney & Lebovici, 1999) e a consulta terapêutica (Lebovici, 1998). O
87
método de associação livre (Freud, 1911/1996) propicia um encadeamento dos conteúdos
psíquicos e suas representações, através de recordações e fantasias sobre uma situação
vivida no momento presente. Consiste em expor verbalmente e livremente o que vem à
mente (associações). No caso específico das representações maternas, inclui as
recordações, afetos, fantasias e acontecimentos nos quais emergem os principais conflitos
que determinam a relação atual entre a mãe e o bebê, e que são trabalhados na situação
analítica propriamente dita, sem um tempo determinado para tal. Quanto à postura do
analista, esta se situa no enquadre da neutralidade, que se caracteriza pela escuta imparcial
sobre os relatos apresentados, bem como a escassez de participação ativa nas sessões
(Manieu, 2002).
a psicoterapia conjunta pais/bebê (Cramer & Palacio-Espasa, 1993; Guedeney
& Lebovici, 1999) analisa as representações maternas com o objetivo de reelaborar as
projeções maternas e modificar as interações patológicas ligadas a elas. Porém, não
pretende modificar em profundidade o funcionamento psíquico da mãe, bem como da
criança e da díade ou tríade, pois tal psicoterapia é de caráter breve e focal. É indicada
quando o processo de reconhecimento do filho está bloqueado pelo reaparecimento de
conflitos antigos da mãe, que repercutem de forma conflituosa na representação sobre a
criança e remetem às identificações alienantes (patológicas) já mencionadas (Golse, 2003).
De acordo com Cramer e Palacio-Espasa (1993) e Guedeney e Lebovici (1999), a
possibilidade de se realizar uma psicoterapia breve pais/bebê está atrelada a dois aspectos
importantes: a grande mobilidade psíquica que ocorre no período pós-parto e a limitação
setorial das psicopatologias mais freqüentemente observadas na interação pais-bebê. As
sessões habitualmente têm duração de 45 a 50 minutos, podendo se estender ou até
ultrapassar os 60 minutos. A flexibilidade da duração da sessão visa a não interromper as
várias associações que geralmente são produzidas e também a permitir a observação de
88
vários modos de interação, segundo os aspectos fantasmáticos que surgirem ou o conflito
correspondente. A via de ingresso para o trabalho é a consulta na qual a mãe relata um
sintoma da criança e não dela. Esse relato descreve as perturbações relacionais
estabelecidas a nível diádico (Cramer & Palacio-Espasa, 1993).
Quanto ao número de sessões, estas variam conforme o caso, mas, em geral, são
realizadas de 4 a 12 sessões, com freqüência semanal. O setting deve favorecer a
capacidade de associação e a troca entre a díade ou tríade, da forma mais livre possível. O
psicoterapeuta é atento à observação visual das trocas entre a e e o bebê, limitando suas
interpretações ao campo dos conflitos diádicos estabelecidos e sua relação com a história
da mãe (Cramer & Palacio-Espasa, 1993).
Por fim, a consulta terapêutica (Lebovici, 1998) explora a história familiar da
criança, tendo também como base identificar as representações da e/pai sobre ela e sua
influência na relação diádica e/ou triádica, através da narrativa parental. No caso específico
das representações maternas, observa-se principalmente a comunicação que se estabelece
entre mãe e criança, através das emoções da mãe, que, por meio de sua preocupação
materna, possibilita a tradução dos sinais do bebê e a satisfação ou não de suas
necessidades (Lebovici, Solis-Ponton & Barriguete, 2004).
Diferentemente da psicoterapia breve pais/bebê, nessa modalidade de intervenção as
sessões são pouco numerosas (de três a quatro aproximadamente), porém, às vezes, com
maior duração: uma hora ou mais. Essa intervenção visa mobilizar psiquicamente os pais e
a criança, podendo provocar o desaparecimento do sintoma presente na criança e/ou na
relação pais/bebê. Também, quando necessário, possibilita a indicação de um tratamento
mais prolongado (Lebovici, Solis-Ponton & Barriguete, 2004). Ressalta-se que tanto as
formas de avaliação quanto as de intervenção psicoterapêutica aqui discutidas visam a
transformação dessas representações, quando isso se mostrar necessário (Stern, 1997).
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo discutir as diferentes representações que
compõem o mundo representacional materno, destacando os conceitos de Stern (1997).
Também buscou apresentar algumas possibilidades de avaliação e intervenção clínica
sobre essas representações, segundo a perspectiva psicanalítica. O interesse para a
realização desse estudo surgiu da necessidade de detalhar o conceito “representações
maternas”, assim como sua aplicação no contexto clínico. A partir do exposto, foi possível
constatar a complexidade desse conceito, cuja definição vem sendo desenvolvida por
diferentes autores psicanalíticos desde Freud.
Pelas diferentes formas de avaliação e intervenção psicoterapêuticas mencionadas,
percebe-se o caráter preventivo da investigação das representações maternas (Pinto, 2004).
Entretanto, apesar de sua relevância haver sido apontada anteriormente, nota-se a
necessidade de uma maior atenção a essa temática, não somente no contexto clínico, mas
também no contexto acadêmico, cuja abordagem do tema se mostra recente (por ex.,
Batthika, Faria & Kopelman, 2007; Gomes, Piccinini & Prado, 2009; Piccinini, Ferrari,
Levandowski, Lopes & De Nardi, 2003).
No âmbito acadêmico, se faz necessária a investigação dessas representações
especialmente em contextos diversos de maternidade, como, por exemplo, no caso de
gestações na adolescência, gestações múltiplas ou derivadas da utilização das tecnologias
de reprodução assistida. Pensa-se que tais estudos contribuiriam para a compreensão dos
aspectos subjetivos da relação mãe-bebê em cada um desses contextos.
De outra forma, torna-se necessária a realização de estudos que possibilitem um
mapeamento da produção científica já existente sobre as representações maternas, pois este
conceito pode estar sendo investigado empiricamente sob diferentes nomenclaturas, tais
como percepções e sentimentos maternos. Em suma, com o presente estudo, espera-se
90
principalmente estimular a realização de novos trabalhos sobre o tema, com o intuito de
promover intercâmbio de informações entre clínicos e pesquisadores, que possam fomentar
novas discussões e avanços na teorização, na avaliação e na terapêutica das representações
maternas.
Seção 3
Artigo Empírico
6
REPRESENTAÇÕES DE MÃES ADOLESCENTES SOBRE SUAS MÃES:
ASPECTOS INTERGERACIONAIS NA RELAÇÃO MÃE-CRIANÇA
7
Stela Araújo Cabral
8
Daniela Centenaro Levandowski
9
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
UNISINOS
6
O presente artigo será submetido para a Revista Estudos de Psicologia (Natal)
7
O presente estudo deriva da Dissertação de Mestrado da primeira autora, realizada sob orientação da
segunda autora, intitulada Representações maternas no contexto da maternidade na adolescência,
apresentada ao PPG Psicologia da UNISINOS no ano de 2010.
8
Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Clínica (UNISINOS) e Membro Aspirante da Sociedade
Psicanalítica de Porto Alegre.
9
Psicóloga, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS). Doutora em Psicologia (UFRGS), com
Pós-Doutorado em Psicologia (PUCRS).
92
RESUMO
As vivências com a própria mãe ao longo da vida e as representações sobre a própria mãe
podem influenciar no exercício da maternidade e na construção da identidade materna.
Este trabalho analisou as representações de mães adolescentes sobre suas mães e os
aspectos intergeracionais presentes na relação com o bebê. Três mães adolescentes
primíparas, cujos bebês tinham três e seis meses de vida e nasceram a termo, foram
selecionadas em um hospital da cidade de Porto Alegre. Elas preencheram uma Ficha de
Dados Sócio-Demográficos, responderam a Entrevista R (Stern et al., 1989) e foram
observadas durante a amamentação do bebê. Também foi realizada uma entrevista com as
mães das adolescentes. Os achados demonstraram a influência do modelo materno destas
mães na relação estabelecida com seus bebês. Foram identificadas tanto identificações
construtivas como alienantes das adolescentes na relação com as próprias mães. Estas
identificações, nem sempre conscientes, pareceram nortear a relação das jovens mães com
seus bebês. Esses resultados corroboram a literatura sobre o tema, que aponta a influência
do modelo materno e das representações sobre a própria mãe no exercício do papel
materno.
Palavras-chave: maternidade, adolescência, representações maternas, transmissão
intergeracional.
ABSTRACT
The experiences with the own mother during life course and the representations about her
may influence the exercise of the motherhood and maternal identity construction. This
study analyzed adolescent mothers representations about their own mothers and the
intergenerational aspects presented in mother-baby relationship. Three primiparous
adolescent mothers, which term babies were three to six months old, were recruited in a
Porto Alegre’s hospital. Interviews comprising socio-demographics data and Interview R
(Stern et al., 1989) were realized, as well an observation of the mother-baby in a
breastfeeding situation. An interview with the adolescent’s mother were employed too.
Results showed the influence of adolescents’ maternal model on their relationship with
baby. It was identified adolescents’ constructive as well as alienated identifications in the
relationship with their own mothers. These identifications, not always conscious, seemed
to orientate the adolescents’ relationship with baby. These results corroborate the literature
about this subject, which indicates the influence of maternal model and representations
about own mother on the maternal role accomplishment.
Key words: motherhood, adolescence, maternal representations, intergenerational
transmission.
94
INTRODUÇÃO
É fato que a função materna é vivenciada desde muito cedo pela mulher, através
das brincadeiras com bonecas e/ou bichinhos de pelúcia ainda na primeira infância, o que
se constitui em um ensaio para o desempenho futuro do papel materno (Brazelton &
Cramer, 1992; Lebovici, 1987). O exercício dessa função está alicerçado, dentre outros
aspectos, na identificação com a figura materna. Tal identificação é pautada pela imitação
dos cuidados recebidos da própria mãe e também de outras figuras maternais que se
tornaram modelos para a menina desde a sua infância. A imitação de tais cuidados
favorece a identificação consciente e inconsciente da menina com essas figuras (Brazelton
& Cramer, 1992).
Assim, durante o exercício da maternidade, na busca por um modelo materno
próprio, a mulher pode reviver com intensidade as identificações com a própria mãe da
infância e da atualidade. Tais identificações fazem parte das representações sobre a própria
mãe, que ocupam lugar de destaque no mundo representacional da maioria das mulheres
que passam a exercer a função materna (Aulagnier, 1994; Stern, 1997). Essas
representações englobam, dentre outros aspectos, a reavaliação consciente e inconsciente
do desempenho do papel materno pela própria mãe (Stern, 1997).
A importância que as vivências com a própria mãe têm no exercício da maternidade
aponta para a relevância do processo de transmissão intergeracional (Golse, 2003;
Lebovici, 1996, 1998). Diferentemente da transmissão transgeracional (Lebovici, 1996,
1998), que acontece entre gerações distantes e cujos membros nem sempre chegam a
estabelecer contato direto, a transmissão intergeracional ocorre apenas em gerações cujos
membros mantêm contato, essencialmente entre pais e filhos (Golse, 2003). De qualquer
forma, ambas as transmissões se constituem na herança psíquica, que é passada entre
gerações (Lebovici, 1996, 1998) e que engloba a transmissão de conflitos associados às
95
gerações anteriores, que podem influenciar, mesmo de forma inconsciente, a relação atual
pais/bebê.
Conforme Lebovici, Solis-Ponton e Barriguete (2004), a transmissão
intergeracional pode ser investigada de duas formas: através da análise da interação diádica
e/ou triádica e também das representações fantasmáticas identificadas na relação mãe-
criança, de cunho inconsciente. Esses aspectos podem influenciar na construção da
identidade materna e, conseqüentemente, no desenvolvimento da organização psíquica da
criança (Pinto, 2004; Wendland, 2001).
Convém destacar que o estudo da transmissão intergeracional tem como objetivo
principal a análise e a compreensão das dificuldades encontradas no processo de
identificação pais-filhos, o que possibilita a estes o entendimento do processo de filiação
vivenciado pelos filhos (Lebovici, 1996, 1998). Assim, é especialmente importante nos
casos de transmissão de conflitos inconscientes, que poderão bloquear o desenvolvimento
da criança (Lebovici, Solis-Ponton & Barriguete, 2004).
Nesse sentido, é importante mencionar que, no processo de identificação da mãe
com sua própria mãe (e de transmissão intergeracional) estão inseridas tanto identificações
alienantes (patológicas) como também construtivas (Golse, 2003), que podem se repetir na
sua relação atual com a criança. Desse modo, uma questão crucial que se coloca para a
mulher, independentemente da sua idade, é de que forma fará uso dessas identificações na
construção do próprio modelo materno, sem cair na alienação ou patologia, uma vez que a
linha divisória entre esses dois tipos de identificações é, às vezes, bastante tênue (Golse,
2003).
Considerando o exposto, torna-se relevante investigar os aspectos intergeracionais
que fazem parte das representações de mães adolescentes sobre as suas próprias mães,
destacados de forma unânime pela literatura, devido à sua repercussão na relação atual
96
mãe-criança (Aulagnier, 1994; Golse, 2003; Lebovici, 1996, 1998; Solis-Ponton, 2004;
Stern, 1997). De fato, observa-se uma escassez de estudos sobre o tema no contexto da
maternidade na adolescência. As investigações sobre a maternidade nessa faixa etária em
geral tem como foco os aspectos desenvolvimentistas, que englobam, por exemplo, as
possíveis mudanças que a maternidade acarreta na vida das adolescentes, tais como o
afastamento da escola e a dificuldade de inserção profissional (Dias & Aquino, 2006;
Esteves & Menandro, 2005; Figueiredo, 2001). Também os aspectos psicossociais são
enfatizados por alguns estudos, que apontam as repercussões psicológicas e a influência do
contexto familiar e social na adaptação das jovens à maternidade (Brandão & Heilborn,
2006; Carlos et al.,2007; Figueiredo, 2000, 2001; Hoga, 2008; Kristen & Montgomery,
2004).
Diferentemente dos aspectos mencionados, as representações de mães adolescentes
sobre suas mães, e os aspectos intergeracionais nelas presentes, ilustram aspectos
subjetivos e particulares que fazem parte da relação mãe-criança (Brazelton & Cramer,
1992; Cramer e Palácio-Espasa, 1993; Lebovici, 1987; Mazet & Stoleru, 1990; Stern,
1997), ainda pouco explorados junto a esse público.
Abordando essa temática, Houzel (2004) estabeleceu uma comparação entre a fase
da adolescência e a maternidade, ressaltando que ambas se constituem em períodos nos
quais ocorrem transformações identificatórias profundas na mulher, devido à revivência de
conflitos inconscientes, que, por sua vez, acarretam modificações na personalidade. Essas
transformações ativam processos tanto conscientes quanto inconscientes do funcionamento
mental das adolescentes, que podem influenciar a constituição e o exercício da
maternidade.
97
Com base nas questões mencionadas, e alicerçado na perspectiva psicanalítica, o
presente trabalho teve por objetivo investigar as representações de mães adolescentes sobre
suas mães, destacando os aspectos intergeracionais presentes na relação mãe-criança.
MÉTODO
Participantes
Participaram do estudo três mães adolescentes, com idades entre 16 e 17 anos e
nível sócio-econômico baixo, e suas mães. Seus bebês tinham três e seis meses de idade,
sendo dois do sexo feminino e um do sexo masculino. Como critérios de inclusão no
estudo, as adolescentes deveriam ter apenas um filho, nascido a termo, não haverem
apresentado complicações clínicas durante a gravidez e o parto e idade inferior a 18 anos.
A tabela abaixo apresenta os dados sócio-demográficos de cada participante.
Tabela 01: Dados Sócio-Demográficos das Participantes
Mãe
10
Idade
(em anos)
Escolaridade Estado Civil Sexo e Idade do
Bebê
Carolina 16 8ª. série Ensino
Fundamental
Casada (contrato
nupcial)
Menino, 3 meses
Júlia 17 1ª. série Ensino Médio Coabitação Menina, 6 meses
Fabiana 17 8ª. série Ensino
Fundamental
Coabitação Menina, 6 meses
Delineamento, Procedimentos e Instrumentos
No presente estudo, de caráter qualitativo, empregou-se um delineamento de estudo
de caso (D’Allonnes, 2004). A partir de uma proposta embasada na intersecção entre a
pesquisa em psicologia clínica e o referencial psicanalítico, esse autor destaca que o estudo
10
A fim de preservar a identidade das participantes, foram adotados nomes fictícios para cada uma delas,
bem como para seus bebês.
98
de caso, como delineamento de pesquisa, envolve a análise e a apresentação do material
referente à observação aprofundada e prolongada de casos individuais (uma pessoa em
uma determinada situação de interesse para o pesquisador), a partir da integração de dados
de fontes diversas. Desse modo, apresenta-se como um método criativo, que descreve,
ilustra, investiga, sugere, reforça e demonstra determinada situação, podendo-se utilizar, na
análise do material coletado, o raciocínio clínico.
As participantes do presente estudo foram contatadas em um hospital de grande
porte da cidade de Porto Alegre, que presta atendimento particular e para convênios.
Inicialmente, foi realizado um contato com a psicóloga do local, visando explicitar os
objetivos do estudo. A partir de sua concordância, foi feito um contato com a enfermeira-
chefe do Centro Materno-Infantil, a fim de apresentar a pesquisa. Após a sua autorização, o
projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do referido hospital. Somente
depois de sua aprovação pelo Comitê (parecer 295b/09) é que foi iniciada a coleta de
dados, que envolveu, inicialmente, uma consulta ao livro de registros de nascimentos. Tal
consulta teve por objetivo identificar possíveis participantes, tendo em vista a sua idade e a
idade de seus bebês, bem como ter acesso a informações clínicas do acompanhamento pré-
natal e do parto.
A partir dessa identificação, foram realizados contatos telefônicos com as
adolescentes e suas mães, quando se explicou os objetivos do estudo. Não havendo recusa
para a participação de nenhuma das contatadas, foi agendado um horário para a realização
da coleta de dados na sua residência. Cabe destacar que a coleta ocorreu entre os meses de
agosto e setembro de 2009, em dois momentos. Primeiramente, foi apresentado às
participantes e suas responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Depois
da leitura e da assinatura do referido Termo, cada adolescente preencheu uma Ficha de
Dados Sócio-Demográficos e, após, respondeu individualmente a Entrevista R (Stern et
99
al.,1989)
11
, com o intuito de investigar suas representações maternas. Ainda, realizou-se
individualmente, com as mães das adolescentes, a Entrevista com a Avó Materna. Ambas
as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para análise. Ao final, foi
agendado um novo horário com cada adolescente, na mesma semana, para a finalização da
coleta de dados. Nesse segundo encontro, foi realizada a Observação Mãe-Bebê em
Situação de Amamentação, inspirada no Método Bick de Observação de Bebês (Bick,
1964/1987), que também foi relatada para posterior análise. A entrevista com as
adolescentes teve duração de 45 a 60 min, enquanto que a entrevista com as avós durou
aproximadamente 30min. a observação mãe-bebê em situação de amamentação variou
entre 20 e 35min.
Procedimentos de Análise dos Dados
No intuito de atingir o objetivo do presente estudo, foi realizada inicialmente a
análise dos diferentes instrumentos empregados com cada uma das participantes e,
posteriormente, sua integração, em um relato de cada caso. Destaca-se que a análise dos
dados da Entrevista R baseou-se em outros estudos portugueses que empregaram o mesmo
instrumento (Almeida et al.,2003; Marques, 2003), tendo sido analisada a riqueza e a
tonalidade afetiva das representações. Para a Entrevista com a Avó Materna utilizou-se a
análise de conteúdo qualitativa, cujas categorias foram definidas a priori, de acordo com as
questões que nortearam a entrevista: impressões e sentimentos sobre o desempenho da
filha no papel materno e impressões sobre o seu próprio desempenho no papel materno.
Tais categorias serviram apenas como organizadores do relato de cada caso, para a
exposição dos resultados. Por fim, a observação mãe-bebê em situação de amamentação
foi analisada qualitativamente, através da descrição detalhada de condutas diretamente
11
Foi utilizada a versão em português desse instrumento, cuja tradução foi feita por Pinto (1997).
100
observáveis (Oliveira, et al.,2006), sendo consideradas também as impressões da
observadora (Bick, 1964/1987) que, de certa forma, são demonstradas no relato de cada
caso. Após a descrição integrada dos achados de cada caso, segue-se sua discussão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caso 1: Carolina, 16 anos, mãe de Matheus (três meses)
“O que sou hoje, foi ela que me ensinou”.
Carolina cresceu em uma família composta pela mãe e um irmão três anos mais
velho. Seus pais se separaram quando ela contava com nove meses de idade. No entanto,
nunca perdeu o contato com o pai, mantendo com ele, até hoje, uma relação bastante
próxima. O irmão, que falecera há um ano e meio, em um acidente de trânsito, era bastante
preocupado com ela e a mãe, demonstrando atenção e cuidado para com ambas.
A experiência da maternidade modificou a vida de Carolina, pois os estudos foram
parcialmente interrompidos em função do bebê. A adolescente encontrava-se, no momento
da coleta de dados, concluindo o Ensino Fundamental através de um curso à distância.
Atualmente, ela e o marido (que tem 22 anos e com o qual se relaciona dois anos)
moram sozinhos em uma casa, alugada com o auxílio financeiro de suas famílias e do
trabalho de entregador que ele exerce. Os cuidados com Matheus tomam praticamente todo
o seu tempo. Além disso, encontra-se envolvida com afazeres com os quais antes não
estava habituada, pois, enquanto morou com sua mãe, esta era a responsável pelas
atividades domésticas.
A análise da Entrevista R mostrou a identificação da adolescente com a própria
mãe, principalmente pelo predomínio de características semelhantes de personalidade
mencionadas na descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe na
escala de adjetivos opostos. Destacaram-se, dentre outras características, ser afetiva,
101
disponível, paciente, dedicada e satisfeita como mãe. Tal identificação com a mãe também
foi demonstrada através de algumas semelhanças apontadas na descrição espontânea de si
mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe, na qual apareceram características
como atenciosa, amorosa, carinhosa e cuidadosa.
Especificamente quanto às representações sobre a própria mãe como mãe,
percebeu-se a predominância de características positivas na descrição espontânea de
Carolina como, por exemplo, conselheira, atenciosa, amiga, disponível, amorosa e modelo
de mãe e pessoa. Essa descrição demonstrou a dimensão rica, a coerência e a tonalidade
afetiva positiva dessa representação, o que também foi evidenciado na descrição de sua
mãe como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características
positivas.
Esses aspectos foram confirmados na entrevista com avó, a qual ressaltou o tipo de
relação estabelecida entre ela e Carolina: “Sou bem amiga, companheira; se ela necessita
de alguma coisa, to sempre presente. Acho que sou uma pessoa que ela pode confiar e
contar plenamente”. na descrição de Carolina como mãe, a avó elogiou o seu
desempenho no papel materno: “Ela tá me surpreendendo; pra idade dela, ela cuida muito
bem dele. A maternidade ta sendo muito boa pra ela e acho que ainda vai acrescentar
muito mais”.
Percebeu-se que tal panorama se repetiu nas características apontadas por Carolina
na descrição da relação mãe-criança (escala Lickert da Entrevista R), em que se pode
observar a sintonia afetiva (Stern, 1992) entre a participante e seu filho, especificamente
nas seguintes questões: “eu sei com certeza que ele me ama” e “consigo fazer meu filho rir
e divertir-se”. o holding e o modelo de mãe suficientemente boa (Winnicott, 1987/2006)
e continente (Bion, 1962/1991) foram observados nos seguintes itens: “quando meu filho
102
chora, eu consigo consolá-lo facilmente”, “posso compreender o que ele necessita” e
“tenho a impressão de saber agir com meu filho para alimentá-lo e fazê-lo dormir”.
Esses aspectos também foram constatados na observação da amamentação. Durante
todo tempo (cerca de 30 min), Carolina mostrou-se atenta aos movimentos de seu bebê.
Olhava fixamente para seu rosto enquanto o amamentava e, ao mesmo tempo, acariciava
suavemente o seu corpo. As mamadas de Matheus eram intercaladas com breves cochilos.
Enquanto o bebê cochilava, a mãe permanecia olhando fixamente para o seu rosto e
continuava a acariciá-lo, aguardando pacientemente para oferecer-lhe novamente o peito.
O bebê agitava-se um pouco e movimentava a cabecinha, procurando o peito da mãe.
Carolina estava lá, pronta para ajudá-lo. Percebeu-se que o bebê se sentia aconchegado,
compreendido e satisfeito em suas necessidades.
Através dessas constatações, pode-se pensar que a representação sobre a própria
mãe fez com que Carolina a internalizasse como uma mãe continente (Bion, 1962/1991) e
suficientemente boa (Winnicott, 1987/2006), que proporcionou a ela holding (Winnicott,
1971/1988), o que se percebe na relação precoce e atual entre ambas, a partir de uma
sintonia afetiva (Stern, 1991), reproduzida na relação dela com o filho. Ressalta-se que a
maioria das características mencionadas aponta para a identificação construtiva (Golse,
2003) de Carolina com sua mãe, presentes na sua representação sobre a própria mãe, que
parece nortear a identidade materna dessa adolescente.
Caso 2: Júlia, 17 anos, mãe de Dora (seis meses)
“Ela sempre me ajudou em tudo; eu podia contar com ela”.
Júlia foi filha única até os 12 anos, quando nasceu a irmã, que hoje conta com cinco
anos de idade. Logo após o nascimento desta, seus pais se separaram. O pai mudou-se para
outro estado e, até pouco tempo atrás, Júlia costumava passar férias escolares com ele e sua
103
atual família, composta pela esposa e irmão de três anos de idade, fruto desse segundo
casamento.
No momento, Júlia não está estudando e/ou trabalhando, dedicando-se
integralmente aos cuidados da filha. Por conta da gravidez, cursou até o primeiro ano do
Ensino Médio, sendo que está esperando completar 18 anos para concluir os estudos,
através de um curso de Educação para Jovens e Adultos (EJA). Também tem em vista um
emprego em uma lancheria. Ela e o namorado de 18 anos (atendente em uma loja) moram
na casa de sua mãe.
As representações de Júlia sobre sua mãe, investigadas na descrição espontânea da
Entrevista R, caracterizaram-se por uma dimensão rica e coerente, bem como tonalidade
afetiva positiva. A adolescente apontou características positivas de sua mãe como mãe,
definindo-a como maravilhosa, carinhosa, atenciosa, amiga e protetora. Essa tonalidade
afetiva também foi evidenciada na descrição de sua própria mãe como mãe na escala de
adjetivos opostos, na qual houve predomínio das características positivas como afetiva,
tolerante, confiante e preocupada.
A identificação de Júlia com sua mãe foi observada em sua descrição como mãe e
de sua própria mãe como mãe também na escala de adjetivos opostos da Entrevista R. Esse
fato foi demonstrado através do predomínio de características de personalidade
semelhantes nas duas descrições, nas quais se destacaram, dentre outras, ser uma mãe
dedicada, preocupada, tolerante, afetiva e disponível. A identificação também foi
demonstrada na descrição espontânea de si mesma como mãe e na descrição espontânea de
sua própria mãe como mãe, nas quais a característica comum foi ser uma mãe protetora.
No entanto, a entrevista realizada com a avó materna apontou contradições quanto
aos aspectos mencionados, mostrando diferenças na descrição pessoal como mãe e na
descrição da filha (Júlia) como mãe. A mãe da adolescente descreveu-se como uma mãe
104
pouco afetiva, referindo que a filha sempre lhe cobrou isso: “Isso ela sempre me cobrou,
eu sou uma mãe assim que não é muito de abraço, beijo”. Porém, foi aquela que nunca
deixou faltar nada, tendo sempre suprido as necessidades básicas da filha: “Me preocupo
em dar o necessário, como alimentação, roupa”. em sua descrição de Júlia como mãe,
apontou que a filha busca atender as necessidades de sua neta, mostrando-se mais afetiva e
emocionalmente envolvida com o bebê em comparação a ela mesma: “Ela é uma mãezona,
brincalhona, mais melosa do que eu era com ela. Pega no colo, balda. Se a neném fica
doente, se desespera”.
Percebeu-se que esses aspectos mais difíceis, também presentes na relação mãe-
filha, foram ignorados por Júlia, que referiu perceber a mãe como uma pessoa desprovida
de defeitos, conforme a descrição de sua própria mãe como mãe. Provavelmente, a negação
de características pouco positivas de sua mãe fez com que se apoiasse nas identificações
construtivas (Golse, 2003) que também pautaram a sua relação com ela.
Contudo, nesses aspectos, que fazem parte da transmissão intergeracional (Golse,
2003; Lebovici, 1996, 1998) também estão inseridas as identificações alienantes (Golse,
2003), que apareceram de forma inconsciente na relação de Júlia com a filha Dora. No
caso, na descrição de características da relação mãe-criança, Júlia demonstrou o
atendimento às necessidades do bebê, evidenciado nos seguintes itens: posso
compreender o que minha filha necessita”, “tenho a impressão de saber como agir com
minha filha para alimentá-la e fazê-la dormir”, “em geral, tenho o sentimento de ser
eficiente como mãe”. A partir desses aspectos, pode-se dizer que os cuidados de Júlia com
sua filha podem ser considerados suficientemente bons (Winnicott, 1987/2006), da mesma
forma como percebeu os cuidados que recebeu de sua mãe principalmente na infância.
Já na observação da amamentação (que durou cerca de 20min), destacou-se a pouca
continência (Bion, 1962/ 1991) da adolescente com a filha, denotando uma falha na função
105
de holding (Winnicott, 1971/1988). No caso, Júlia prestou mais atenção na televisão, que
estava ligada, e olhou para a menina apenas nos primeiros minutos. Também a maneira
como segurava a filha chamou a atenção: a adolescente não conseguia segurar Dora em
seus braços. Ela, muito inquieta, acabava por distrair-se de mamar e ficava agitada. No
entanto, a mãe parecia não estar incomodada com essa agitação. Após esse momento
inicial, Júlia segurou mais firme a filha em seus braços, colocando-a mais perto de si.
Nesse momento, a inquietação e a distração da criança dissiparam-se. O bebê, envolvido
pelos braços da mãe, passou a mamar tranquilamente, olhando fixamente para o rosto dela,
não mais brincando. Por alguns minutos, foi possível observar um maior entrosamento
entre a díade. Porém, logo em seguida, Júlia distanciou-se da filha novamente.
Assim, de modo geral, nas representações sobre a própria e, destacaram-se as
identificações consideradas alienantes (Golse, 2003), que, de forma inconsciente,
perpassaram e de certa forma ainda perpassam a relação da adolescente com sua própria
mãe, estando atualmente também permeando a relação de Júlia com a sua filha. No
entanto, observa-se que as identificações construtivas (Golse, 2003) também se fizeram
presentes na relação de Júlia com sua mãe, de igual modo estando presentes na relação
atual com sua filha.
Caso 3: Fabiana, 17 anos, mãe de Nina (seis meses)
“Eu lembro poucas coisas sobre a minha mãe; não sei por que”.
Fabiana mora com o companheiro de 20 anos na casa de seu pai, juntamente com
sua madrasta, o irmão de 13 anos e uma prima de 20 anos. Seus pais se separaram quando
ela contava com 13 anos de idade. Sua mãe saiu de casa devido a um relacionamento
extraconjugal do marido, que trouxe a atual companheira para morar com a família. Após a
106
separação dos pais, a adolescente passou a ter pouco contato com a mãe, devido ao fato de
ela ter morado em outra cidade durante algum tempo.
Atualmente, Fabiana não está estudando e/ou trabalhando; dedica-se aos cuidados
da filha. Concluiu o Ensino Fundamental durante a gravidez, e está esperando a menina
crescer um pouco mais para trabalhar junto com o companheiro, que é sócio em uma
pequena videolocadora. Eles pretendem em breve mudar para uma casa própria; estão
prestes a alugar um apartamento. Para isso, contam com a ajuda de suas famílias.
Na Entrevista R, Fabiana demonstrou dificuldade para descrever espontaneamente a
própria mãe como mãe. Pouco falou sobre ela, definindo-a, entretanto, como uma e
cuidadosa, boa e compreensiva. Através das características descritas, observou-se a
dimensão não rica dessa representação. No entanto, percebeu-se a coerência da
representação e a sua tonalidade afetiva positiva, também evidenciada na descrição de sua
mãe como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual houve predomínio de características
positivas, como dedicada, preocupada, tolerante e afetiva.
Através da descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe como mãe foi
possível observar a identificação da adolescente com esta. Esse fato foi demonstrado
principalmente através do predomínio de características semelhantes de personalidade,
também encontrado na escala de adjetivos opostos, como afetiva, tolerante, confiante,
disponível e preocupada. A identificação da jovem com sua mãe foi demonstrada ainda na
descrição espontânea de si mesma como mãe e de sua e como e, na qual apareceram
características positivas em comum, tais como boa e cuidadosa.
Cabe ressaltar que a identificação da adolescente com a figura materna também foi
percebida na entrevista realizada com a avó materna, a qual ressaltou que ela e a filha
desempenhavam de forma muito semelhante o papel materno. No caso, a avó destacou
107
como semelhanças o fato de ambas serem mães apegadas e protetoras: “Ela é como eu era
com ela, bem do mesmo jeito, cuidadosa e apegada aos filhos”.
De fato, algumas dessas características destacadas pela avó materna no que diz
respeito à relação com a filha na infância foram percebidas na relação de Fabiana com seu
bebê, na descrição que ela fez das características da relação mãe-criança (Entrevista R),
como por exemplo, ser cuidadosa e boa mãe. A proteção (holding, Winnicott, 1971/1988)
também foi demonstrada pela adolescente em relação à filha Nina, quando referiu que
conseguia consolar facilmente sua criança quando ela chorava. Fabiana, em geral, tem a
impressão de saber como agir com a filha para alimentá-la e fazê-la dormir, e tem o
sentimento de ser eficiente e boa como mãe no atendimento às necessidades de sua criança.
A partir desses aspectos, pode-se dizer que, no momento, a adolescente parece estar
exercendo o papel de uma mãe suficientemente boa (Winnicott, 1987/ 2006), uma vez que
o bebê encontra-se assistido em suas necessidades vitais. Tal papel também foi vivenciado
por ela em sua relação com a mãe na infância, o que foi confirmado na entrevista com a
avó materna, a partir de sua descrição como mãe de Fabiana: “Cuidava para que não
faltasse nada. Deus o livre acontecer alguma coisa ruim com ela; eu protegia e não saía
de perto mesmo”.
Atualmente, a mãe de Fabiana vê-se como uma mãe em dívida perante os cuidados
e o amparo à filha, e busca compensá-los nos momentos em que estão juntas: “Olha, agora
uma mãe bem relaxada, não muito perto dela, não como eu gostaria. Me sinto um
fracasso, porque sei que ela precisa de mim, mas a minha situação é difícil; ela mora na
casa do pai...”. Percebeu-se que a ausência da mãe e, por vezes, o sentimento de
desamparo vivenciado, são difíceis de serem suportados pela adolescente, que nega a
existência deles, e, portanto, o fato de, em alguns momentos, não haver se sentido cuidada
pela mãe, o que indica uma falha na função de holding (Winnicott, 1971/1988). Porém, tais
108
sentimentos, que podem estar ligados a identificações alienantes (Golse, 2003), foram
observados em sua relação com a filha, especificamente no momento de amamentação do
bebê, que durou cerca de 35min. Nesse sentido, destacou-se a falta de sintonia entre a
díade (Cramer, 1993), pois Fabiana não entendia o que a filha queria e acabava ficando
incomodada com isso. Por sua vez, Nina teve que contentar-se com o que lhe foi dado.
Em determinado momento da amamentação, Fabiana foi ajeitar o sutiã do outro
seio e esse gesto fez com que a filha perdesse o seio no qual estava mamando. O bebê
inquietou-se e reclamou, choramingando. A mãe lhe ofereceu o seio novamente e o bebê
acalmou-se por alguns minutos. Em seguida, o bebê inquietou-se novamente e ergueu a
cabeça, olhando fixamente para a mãe, como se quisesse dizer a ela que não era aquilo que
queria. Fabiana não entendeu o que a filha lhe pedia, e achou que ela queria parar de
mamar. Então, levantou-a para que Nina arrotasse enquanto a balançava levemente. O bebê
continuava a olhar fixamente para a mãe e começou a choramingar. A mãe olhava para ele,
porém agora visivelmente incomodada com a situação, e parecia não saber o que fazer. O
bebê começou, então, a brincar e morder o seio da mãe, que não gostou disso e
imediatamente ajeitou sua roupa, encerrando a amamentação da filha. A menina
choramingou novamente e a mãe lhe deu os brinquedinhos de pelúcia. O bebê contentou-se
rapidamente com eles e não mais choramingou. Observou-se, nesse momento, uma falha
no holding (Winnicott, 1971/1988), pois o bebê parecia sentir-se, de certa forma,
incompreendido e desamparado pela mãe.
A partir do exposto, pode-se dizer que, no caso de Fabiana, fazem parte das
representações sobre a própria mãe tanto as identificações construtivas, que estão mais
ligadas às vivências com a mãe na infância, como as alienantes (Golse, 2003), presentes na
relação atual mãe-filha. Por sua vez, essas representações parecem estar influenciando a
109
construção da identidade materna da adolescente, bem como a sua relação com a própria
filha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo investigar as representações de mães
adolescentes sobre suas mães, destacando os aspectos intergeracionais presentes na relação
mãe-criança. Os resultados ilustram a influência da transmissão intergeracional, tanto
através de identificações construtivas como de identificações alienantes (Golse, 2003;
Lebovici, 1996, 1998), que permeiam as representações das mães adolescentes sobre suas
mães, destacando-se como um ponto norteador também do desempenho do papel materno
e da constituição da relação com o bebê.
Percebeu-se que fazem parte de tal transmissão tanto aspectos conscientes como
inconscientes (Stern, 1997) ligados às vivências e aos cuidados precoces das adolescentes
com suas es, como também aos cuidados e vivências atuais (Winnicott, 1987/2006).
Esses achados corroboram a literatura sobre o tema, que aponta a importância do modelo
materno da futura mãe e sua influência posterior na relação estabelecida com a criança
(Aulagnier, 1994; Brazelton & Cramer, 1992; Cramer & Palácio-Espasa, 1993; Lebovici,
1987; Stern, 1997).
Ressalta-se que, em geral, as identificações alienantes presentes na representação
sobre a própria mãe, que podem prejudicar o desenvolvimento da criança (Lebovici, Solis-
Ponton & Brriguete, 2004), predominaram na relação das mães adolescentes com seus
bebês em dois dos três casos estudados (Júlia e Fabiana). Pode-se pensar que os aspectos
considerados mais difíceis de serem elaborados pelas jovens no tocante à relação com as
suas próprias mães estão sendo revividos no relacionamento com os filhos, porém de forma
inconsciente, não sendo totalmente percebidos por elas. As identificações construtivas
110
(Golse, 2003), também mencionadas por todas as adolescentes na representação sobre a
própria mãe, mostraram-se mais conscientes e mais facilmente abordáveis, uma vez que
implicam os aspectos positivos que permeiam a relação mãe-filha.
De outro modo, observou-se que, independentemente das mudanças que a
maternidade precoce acarretou na vida de cada uma das adolescentes, as representações
sobre suas mães e os aspectos intergeracionais nelas inseridos apontaram características
particulares da identidade materna que cada uma das participantes está construindo. Tais
características mostram desde maturidade no exercício do papel materno (como visto em
Carolina), como algum despreparo (observado em Júlia e Fabiana), freqüentemente
mencionado na literatura (Bigras & Panquette, 2007; Carlos et al., 2007; Figueiredo, 2000,
2001).
Cabe ressaltar que as informações coletadas neste estudo derivam de um número
reduzido de participantes, o que não possibilita a generalização dos resultados. Nesse
sentido, a realização de um estudo que comparasse as representações de mães adolescentes,
por exemplo, com as representações de mães adultas permitiria observar melhor as nuances
das representações maternas em cada grupo etário, ampliando a compreensão sobre o tema.
Ainda, há que se considerar que o foco do presente estudo recaiu sobre as questões
intrapsíquicas das adolescentes, não sendo consideradas outras variáveis que poderiam
estar repercutindo sobre esses resultados, tais como a qualidade do relacionamento com os
companheiros e com os próprios pais, assim como as características reais dos bebês.
De qualquer forma, este trabalho visou contribuir para preencher a lacuna
encontrada na literatura acerca da investigação das representações maternas entre mães
adolescentes, a fim de fomentar novos estudos, não apenas nesse contexto, como também
em outros contextos de maternidade, por exemplo, no caso de reprodução assistida e em
mulheres que se tornaram mães a partir dos 40 anos.
111
Destaca-se que a investigação dos aspectos intergeracionais presentes nas
representações maternas, em qualquer contexto de maternidade, tem como principal
objetivo contribuir para a qualidade da relação mãe-criança, através da compreensão dos
aspectos subjetivos que fazem parte dessa relação (Cramer & Palácio-Espasa, 1993;
Lebovici, 1987; Stern, 1997). Sua investigação se insere no âmbito da clínica pais-bebê,
tanto em um trabalho de avaliação como psicoterapêutico, visando à prevenção de
psicopatologias que possam acometer o pleno desenvolvimento da criança (Pinto, 2004) e,
em última análise, também da mãe.
IV- CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO
A presente Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica teve como objetivo
apresentar uma pesquisa sobre as representações maternas no contexto da maternidade na
adolescência. Torna-se importante destacar novamente que este trabalho foi pautado na
interlocução entre a pesquisa, a psicologia clínica e o referencial psicanalítico (D’Allonnes,
2004). Assim, buscou-se o entrelaçamento do rigor metodológico necessário em uma
pesquisa (Turato, 2005), a interpretação clínica dos resultados baseada na amplitude e
flexibilidade presentes no raciocínio clínico, aliada à complexidade da compreensão
psicanalítica (D’Allonnes, 2004). Com base nessa premissa, optou-se pelo método
qualitativo, e utilizando-se do raciocínio clínico, no qual a análise do todo precede a
análise das partes (D’Allonnes, 2004), buscou-se, num primeiro momento, investigar o
conjunto de representações que compõem o mundo representacional das mães
adolescentes, para, em um segundo momento, analisar o tipo de representação que mais se
destacou: a representação sobre a própria mãe.
Outro ponto a destacar na realização deste trabalho refere-se à utilização de um
importante instrumento de investigação das representações maternas, a Entrevista-R, mais
conhecida e aplicada internacionalmente no contexto clínico, sobretudo na clínica pais-
bebê, e ainda pouco utilizada no contexto da pesquisa. Ressalta-se que a sua aplicação foi
fundamental nesse estudo, e sua interlocução com outros instrumentos permitiu maior
compreensão e aprofundamento do mundo representacional das mães estudadas. Salienta-
se que o instrumento é pouco conhecido no contexto brasileiro, tanto no âmbito clínico
como de pesquisa, não havendo registros de sua utilização em trabalhos nas duas áreas.
Isso posto, foi objetivo desse estudo também apresentar a Entrevista-R ao público
científico brasileiro, a fim de que outros investigadores possam utilizá-la como ferramenta
na exploração e análise das representações maternas.
113
Além de uma avaliação detalhada das representações, este trabalho também
demonstrou o seu caráter terapêutico, pois possibilitou não apenas às mães adolescentes,
mas também a suas mães, uma reflexão sobre o desempenho do papel materno. Considera-
se esse aspecto de especial importância, uma vez que, a partir dele, abriu-se a possibilidade
não só de reflexão, mas, talvez, de possíveis mudanças no desempenho do papel materno e
na relação mãe-criança. Dessa forma, acredita-se que a pesquisa realmente foi útil às
participantes, caracterizando- se verdadeiramente como uma pesquisa aplicada na área da
Psicologia Clínica.
Não obstante, a proposta de fazer uma dissertação em pesquisa aplicada vinculada à
área da infância e adolescência vai de encontro aos objetivos do Mestrado em Psicologia
desta Universidade (UNISINOS) que, dentre outros estudos, desenvolve trabalhos voltados
para esse público. Assim, com o presente trabalho, espera-se contribuir para o campo da
pesquisa em Psicologia Clínica, trazendo, talvez, novos olhares para este tipo de pesquisa.
Apesar de os achados deste estudo não servirem de base para generalização,
reiteram a importância da exploração detalhada dos aspectos subjetivos que se inserem nas
representações das mães adolescentes, devido à riqueza de seu mundo representacional.
Contudo, sabe-se que a compreensão psicanalítica dos casos pode ocasionar, por vezes,
alguma dificuldade no entendimento dos mesmos, dada a complexidade da teoria
psicanalítica, cuja interpretação baseia-se no fato clínico (D’Allonnes, 2004) e não
empírico. Nesse sentido, buscou-se, sempre que possível, a clareza nas interpretações, a
fim de tornar o trabalho compreensível, estando compatível com o paradigma científico,
cujo objetivo principal é apresentar dados inteligíveis (Turato, 2005).
Outra limitação do estudo revela que a investigação das representações das mães
estudadas permitiu pouco acesso acerca de sua influência no desenvolvimento de
problemas no bebê. Para tanto, seria necessária a utilização de instrumentos específicos
114
para a avaliação do bebê, que permitiriam melhor identificar o seu estado de saúde mental.
Sendo assim, sugere-se, para futuros estudos, a utilização de uma avaliação com o bebê, a
fim de melhor examinar a influência das representações maternas na saúde mental da
criança.
Ainda quanto a sugestões para novos estudos, salienta-se também a importância da
realização de trabalhos sobre as representações maternas, a partir da intervenção
psicoterapêutica sobre tais representações e suas repercussões para a mãe e a criança.
Destaca-se que o presente trabalho teve como objetivo realizar uma avaliação das
representações das mães estudadas, o que permitiu um mapeamento destas, possibilitando
intervenções psicoterapêuticas futuras, em caso de necessidade.
115
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publicado em 1987.
124
VI- ANEXOS
125
ANEXO A
126
ANEXO B
Universidade do Vale do Rio Dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UNISINOS, em parceria com o Hospital Mãe de Deus, que tem por
objetivo conhecer as percepções, expectativas e sentimentos de mães adolescentes sobre seu filho
(a).
Antes de aceitar participar da pesquisa, é importante que você saiba do que trata o estudo.
Portanto, leia atentamente as explicações que seguem, que informam sobre como o estudo será
realizado. A sua participação implica no preenchimento de uma ficha de dados sócio-demográficos,
responder a uma entrevista sobre a gestação e o parto, uma entrevista com algumas perguntas sobre
as suas percepções e seus sentimentos sobre sua criança e uma observação dos cuidados com o
bebê durante a amamentação. As entrevistas serão realizadas individualmente e gravadas em áudio.
Você poderá se recusar a responder qualquer pergunta que lhe causar algum constrangimento e a
omitir dados que possam comprometê-la. As informações obtidas serão analisadas de acordo com o
objetivo proposto nesse estudo e mantidas em sigilo em um banco de dados.
A sua participação no estudo será de até duas vezes e você poderá fazer perguntas a
qualquer momento. A participação não terá nenhum custo para você, mas também não lhe trará
nenhum privilégio ou remuneração. Da mesma forma, você tem a liberdade e o direito de optar pela
não participação e não terá prejuízo algum por tal decisão. A participação é completamente
voluntária e a qualquer momento você poderá optar por deixar de participar do estudo.
Cabe ressaltar que a pesquisa não oferece nenhum dano ou desconforto a você e não
riscos importantes envolvidos. Você receberá um número de identificação no estudo para que o
nome seja mantido anônimo nos formulários. Embora os resultados da pesquisa possam ser
publicados em revistas científicas, a identificação pessoal será omitida.
Você poderá esclarecer suas dúvidas entrando em contato com a pesquisadora que realizará
o estudo, Psicóloga Stela Cabral, através do telefone 3575 6132, ou com a orientadora da pesquisa,
Drª Daniela Levandowski, na Unisinos, pelo telefone 3591 1100, ramal 2228.
A autorização para sua participação nessa pesquisa dependerá de sua assinatura ao presente
Termo, emitido em duas vias, uma que será arquivada pela pesquisadora que realizará a pesquisa e
a outra, que ficará com você.
128
______________________________ ________________________________
Psicóloga Stela Cabral Drª Daniela Levandowski
Declaração de Assentimento
Confirmo ter conhecimento do conteúdo desse termo. A minha assinatura abaixo indica
que concordo com a participação nessa pesquisa e por isso dou meu consentimento.
__________________, ____ de __________ de 200__.
____________________________________
Participante da pesquisa
CI: _________________________
129
ANEXO C
Universidade do Vale do Rio Dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Sua filha está sendo convidada a participar de uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UNISINOS, em parceria com o Hospital Mãe de Deus, que tem por
objetivo conhecer as percepções, expectativas e sentimentos de mães adolescentes sobre seu filho
(a).
Antes de aceitar a participação dela na pesquisa, é importante que você saiba do que trata o
estudo. Portanto, leia atentamente as explicações que seguem, que informam sobre como o estudo
será realizado. A participação implica no preenchimento de uma ficha de dados sócio-
demográficos, responder a uma entrevista sobre a gestação e o parto, uma entrevista que terá
algumas perguntas sobre as percepções e os sentimentos de sua filha sobre sua criança e uma
observação do momento de amamentação do bebê. As entrevistas serão realizadas individualmente
e gravadas em áudio. Sua filha poderá se recusar a responder qualquer pergunta que lhe causar
algum constrangimento e a omitir dados que possam comprometê-la. As informações obtidas serão
analisadas de acordo com o objetivo proposto nesse estudo e mantidas em sigilo em um banco de
dados.
A participação dela no estudo será de até duas vezes, e ela poderá fazer perguntas a
qualquer momento. A participação de sua filha não terá nenhum custo para você e para ela, mas
tambémo lhe trará nenhum privilégio ou remuneração. Da mesma forma, você tem a liberdade e
o direito de optar pela não participação de sua filha na pesquisa e não terá prejuízo algum por tal
decisão. A participação é completamente voluntária e a qualquer momento você ou sua filha
poderão optar por deixar de participar do estudo.
Cabe ressaltar que a pesquisa não oferece nenhum dano ou desconforto aos participantes e
não riscos importantes envolvidos. Sua filha receberá um número de identificação no estudo,
para que o nome seja mantido anônimo nos formulários. Embora os resultados da pesquisa possam
ser publicados em revistas científicas, a identificação pessoal será omitida.
Você e/ou sua filha, poderão esclarecer suas dúvidas entrando em contato com a
pesquisadora que realizará o estudo, Psicóloga Stela Cabral, através do telefone 3575 6132, ou com
a orientadora da pesquisa, Profa. Daniela Levandowski, na UNISINOS, pelo telefone 3591 1100,
ramal 2228.
130
A autorização para a participação de sua filha nessa pesquisa dependerá de sua assinatura
ao presente Termo, emitido em duas vias, uma que será arquivada pela pesquisadora responsável e
a outra, que ficará com você.
______________________________ ________________________________
Psicóloga Stela Cabral Drª Daniela Levandowski
Declaração de Assentimento
Confirmo ter conhecimento do conteúdo desse termo. A minha assinatura abaixo indica
que concordo com a participação de minha filha nessa pesquisa e por isso dou meu consentimento.
__________, ____ de __________ de 200__.
____________________________________
Responsável pelo participante da pesquisa
CI: _________________________
131
Universidade do Vale do Rio Dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UNISINOS, em parceria com o Hospital Mãe de Deus, que tem por
objetivo conhecer as percepções, expectativas e sentimentos de mães adolescentes sobre seu filho
(a).
Antes de aceitar participar da pesquisa, é importante que você saiba do que trata o estudo.
Portanto, leia atentamente as explicações que seguem, que informam sobre como o estudo será
realizado. A sua participação implica responder a uma entrevista com algumas perguntas sobre a
gravidez e maternidade de sua filha. A entrevista será realizada individualmente e será gravada em
áudio. Você poderá se recusar a responder qualquer pergunta que lhe causar algum
constrangimento e a omitir dados que possam comprometê-la. As informações obtidas serão
analisadas de acordo com o objetivo proposto nesse estudo e mantidas em sigilo em um banco de
dados.
A sua participação no estudo será de apenas uma vez e você poderá fazer perguntas a
qualquer momento. A participação não terá nenhum custo para você, mas também não lhe trará
nenhum privilégio ou remuneração. Da mesma forma, você tem a liberdade e o direito de optar pela
não participação e não terá prejuízo algum por tal decisão. A participação é completamente
voluntária e a qualquer momento você poderá optar por deixar de participar do estudo.
Cabe ressaltar que a pesquisa não oferece nenhum dano ou desconforto a você e não
riscos importantes envolvidos. Você receberá um número de identificação no estudo para que o
nome seja mantido anônimo nos formulários. Embora os resultados da pesquisa possam ser
publicados em revistas científicas, a identificação pessoal será omitida.
Você poderá esclarecer suas dúvidas entrando em contato com a pesquisadora que realizará
o estudo, Psicóloga Stela Cabral, através do telefone 3575 6132, ou com a orientadora da pesquisa,
Drª Daniela Levandowski, na Unisinos, pelo telefone 3591 1100, ramal 2228.
A autorização para sua participação nessa pesquisa dependerá de sua assinatura ao presente
Termo, emitido em duas vias, uma que será arquivada pela pesquisadora que realizará a pesquisa e
a outra, que ficará com você.
______________________________ ________________________________
Psicóloga Stela Cabral Drª Daniela Levandowski
132
Declaração de Assentimento
Confirmo ter conhecimento do conteúdo desse termo. A minha assinatura abaixo indica
que concordo com a participação nessa pesquisa e por isso dou meu consentimento.
__________________, ____ de __________ de 200__.
____________________________________
Participante da pesquisa
CI: _________________________
133
ANEXO D
Universidade do Vale do Rio Dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Ficha de Contato Inicial
Número de identificação no estudo: _____________________
Dados da adolescente:
Data de nascimento: ___ / ___ / ______ Idade: _______ anos
Escolaridade: ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental completo
( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo
( ) Ensino Superior incompleto
Trabalha? ( ) Sim ( ) Não O que faz? ______________________ Horas/semana? _______
Qual é sua renda aproximada: R$ ____________________________
Religião: _____________________________ Praticante: ( ) Sim ( ) Não
Idade da primeira gravidez: ______ anos
Sexo do bebê: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ______ meses
Realizou acompanhamento pré-natal? ( ) Sim ( ) Não Quantas vezes ( )
Local: _____________________________________________________________________
Parto: ( ) Normal ( ) Cesariana Data do parto: ____ /____ / ______
Apresentou problemas na gestação ( ) Sim ( ) Não
Quais? _____________________________________________________________________
Apresentou problemas no parto ( ) Sim ( ) Não
Quais______________________________________________________________________
O bebê tem algum problema de saúde ( ) Sim ( ) Não
Quais? _____________________________________________________________________
Estado civil: ( ) Solteira ( ) Casada ( ) Coabitação ( ) Com namorado ( )
Outro:_______________ Tempo de relacionamento: ________ meses/anos
Quem mora na sua casa? _______________________________________________________
Contato:
Endereço: __________________________________________________________________
Cidade: ____________________________________________________________________
Telefone para contato: _________________ Celular:________________________________
Data da coleta de dados: ___ / ___ / _____
Nome do pesquisador:_________________________________________________________
134
ANEXO E
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Entrevista sobre a Gestação e o Parto
- Como aconteceu a gravidez?
- Como te sentiste ao receber a notícia da gravidez?
- Qual a reação da tua família e do teu namorado ao saberem da notícia?
- Como foi a participação da tua família e do teu namorado durante a tua gestação?
- Como foi a participação da tua família e do teu namorado na hora do parto?
- Como te sentiste com teu bebê nos primeiros dias após o parto?
- Gostarias de relatar mais alguma coisa sobre a tua gestação e o parto, que consideras
importante?
135
ANEXO
F
E
NTREVISTA
“R”:
I
NSTRUÇÕES
I. D
ESCRIÇÃO DA CRIANÇA
1 D
ESCRIÇÃO DA CRIANÇA
-
ESPONTÂNEO
Pergunte: “Você pode me descrever como é seu(sua) filho(a)? Que tipo de criança
ele(a) é?”
2 L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA
Traduza cada aspecto descrito pela mãe por 1 adjetivo (caso não esteja descrito
desta forma) e os escreva na folha de resposta. Deixe-a terminar sem dar
qualquer sugestão.
Caso a mãe não tenha dado 5 adjetivos descritivos, dê-lhe duas sugestões.
Espere após cada sugestão.
1: “Será que você pensa em todas as características, boas ou más?”
2: “Será que você não esqueceu alguma característica?”
Escreva na folha de respostas a lista de adjetivos que foi obtida após as
sugestões.
3 D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DA CRIANÇA
Apresente à mãe a lista de características da personalidade. Peça-lhe para
preenche-la dando-lhe as instruções necessárias.
Entretanto antes de fazê-lo acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou
anteriormente para descrever seu(sua) filho(a) e que não estão na lista de
características da personalidade.
Ex: caprichoso, divertido. Depois encontre a característica oposta para que a
escala contínua possa ser preenchida. Se não existir um antônimo natural em
língua portuguesa, anote apenas “não....”antes do adjetivo. Ex:
não caprichoso caprichoso
4 D
ESCRIÇÃO SITUACIONAL
vs
SEMÂNTICA DA CRIANÇA
Peça à mãe que ilustre 2 adjetivos escolhidos com um exemplo específico que
seja o mais recente possível, de preferência relativo às 24 ou 48 horas
precedentes. Escolha os adjetivos mais marcantes e mais susceptíveis de
provocar lembranças de situações interessantes. Ex: teimoso, negativista,
independente, etc...
II.
P
APEL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PASSADO DA CRIANÇA
1 D
ESCRIÇÃO VERBAL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PASSADO DA CRIANÇA
Peça: “Durante ou logo após a sua gravidez ou o parto, houveram eventos
importantes que tenham acontecido (a você, à sua família ou a seu(sua)
filho(a)) e que passou a ter um papel importante sobre o que você pensa ou
percebe na criança (ou no modo como você age com ele(a)). Podem ter havido
outros eventos além dos problemas médicos que possam ter um papel
importante?”
2 O
RDEM DE IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS
136
Faça uma lista de eventos por ordem de importância.
3 D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DOS EVENTOS IMPORTANTES
Pergunte à mãe como cada um desses eventos pôde influenciar sua maneira de
pensar ou agir com seu(sua) filho(a).
III.
D
ESCRIÇÃO DELA MESMA COMO MÃE
1 D
ESCRIÇÃO VERBAL DELA MESMA COMO MÃE
-
ESPONTÂNEO
Pergunte: “Você pode me descrever que tipo de mãe você é? Como você se
descreve como mãe?”
2 L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DELA PRÓPRIA COMO MÃE
-
ADJETIVOS
Traduza cada uma das características mencionadas pela mãe por um adjetivo
(caso não seja desta forma) e escreva na lista de adjetivos. Deixe-a terminar sem
qualquer sugestão.
Caso a mãe não tenha dado 5 adjetivos descritivos, dê-lhe duas sugestões.
Espere após cada sugestão.
1: “Será que você pensa em todas as características, boas ou más?”
2: “Será que você não esqueceu alguma característica?”
Escreva na folha de respostas a lista de adjetivos que foi obtida após as
sugestões.
3 D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DELA MESMA COMO MÃE
para a mãe preencher, com as instruções apropriadas, a lista das
características maternais.
Entretanto, antes de fazê-lo, acrescente à lista dos adjetivos referidos
espontaneamente e que não estão na lista. Encontre o antônimo, etc...
4 D
ESCRIÇÃO SITUACIONAL
vs
SEMÂNTICA DELA PRÓPRIA COMO MÃE
Peça à mãe que ilustre 2 adjetivos escolhidos com um exemplo específico que
seja o mais recente possível, de preferência relativo às 24 ou 48 horas
precedentes. Escolha novamente os adjetivos mais marcantes e mais
susceptíveis de provocar lembranças de situações interessantes.
5 D
ESCRIÇÃO DE CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO MÃE
-
CRIANÇA
Apresente à mãe a lista de características da relação mãe-criança e peça para ela
assinalar a resposta mais próxima a sua experiência.
IV.
P
APEL DE SUA PRÓPRIA MÃE
1 D
ESCRIÇÃO VERBAL DE SUA PRÓPRIA MÃE
-
ESPONTÂNEO
Pergunte: “Quando você era criança, como sua mãe foi para você?”
2 L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DE SUA PRÓPRIA MÃE
-
ADJETIVOS
Traduza cada aspecto descrito pela mãe por 1 adjetivo (caso não esteja descrito
desta forma) e os escreva na folha de resposta. Deixe-a terminar sem dar
qualquer sugestão.
Caso a mãe não tenha dado 5 adjetivos descritivos, dê-lhe duas sugestões.
Espere após cada sugestão.
1
: “Será que você pensa em todas as características, boas ou más?”
137
2: “Será que você não esqueceu alguma característica?”
Escreva na folha de respostas a lista de adjetivos que foi obtida após as
sugestões.
3 D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DE SUA PRÓPRIA MÃE
para a mãe preencher, com as instruções apropriadas, a lista das
características maternais.
Entretanto, antes de fazê-lo, acrescente à lista dos adjetivos referidos
espontaneamente para descrever-se enquanto mãe, assim como os novos
termos que ela utilizou para descrever as características de sua própria mãe.
Encontre o antônimo, etc...
4 D
ESCRIÇÃO SITUACIONAL
vs
SEMÂNTICA DE SUA PRÓPRIA MÃE
Peça à mãe que ilustre 2 adjetivos escolhidos com um exemplo específico que
seja o mais recente possível, de preferência relativo às 24 ou 48 horas
precedentes. Escolha novamente os adjetivos mais marcantes e mais
susceptíveis de provocar lembranças de situações interessantes.
5 M
UDANÇAS NA RELAÇÃO COM SUA PRÓPRIA MÃE
1. Comunicação: Pergunte: Você tem a impressão que a quantidade de contato
entre você e sua mãe modificou-se depois que você teve seu(sua) filho(a)? Por
contato, eu me refiro a ver + ou - freqüentemente e falar ou escrever com
maior ou menor freqüência.”
2. Vínculo I - Pergunte: “Você tem a impressão que após o nascimento de
seu(sua) filho(a) você pensa mais como sua mãe era com voquando você
era criança?”
3. Vínculo II - Pergunte: Você se sente + próxima ou + distante de sua mãe
comparado a antes do nascimento de seu(sua) filho(a)?”
4. Vínculo III - Pergunte: Você se sente atualmente + positiva ou + negativa
com relação à sua mãe comparado a antes do nascimento do seu(sua)
filho(a)?”
5. Vínculo IV - Pergunte: “Sua relação como filha (isto é, em seu papel de filha)
é a mesma de antes de vo ter seu(sua) filho(a)? Seu envolvimento na
relação mãe-filha (que você sempre teve com sua mãe) é + forte, + fraco ou o
mesmo de antes?”
6.
Vínculo V - Pergunte:
“Você acha que tem agora uma melhor compreensão e
conhecimento de como sua mãe é como mãe e como pessoa do que tinha
antes do nascimento de seu(sua) filho(a)?”
V.
S
EMELHANÇAS COM A FAMÍLIA
1.
Pergunte à mãe: “Com quem seu(sua) filho(a) se parece mais?” Deixe-a
continuar caso ela se refira apenas a características físicas mas peça-lhe para
especificar também as características de personalidade.
2.
Utilize os adjetivos que a mãe referiu para descrever as características da
criança e peça para que especifique de quem a criança teria herdado tais
características.
138
3.
Peça a mãe para preencher a lista de suas próprias características pessoais.
Acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou anteriormente para
descrever seu(sua) filho(a) e que não estão na lista de características de
personalidade.
4.
Peça a mãe para preencher a lista de características do pai da criança.
Acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou anteriormente para
descrever seu(sua) filho(a) e que não estão na lista de características de
personalidade.
VI.
I
NFLUÊNCIAS DO PASSADO E DO PRESENTE DA MÃE
1 D
ESCRIÇÃO VERBAL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PRESENTE E DO PASSADO DA MÃE
Diga à mãe: “É comum que pessoas ou circunstâncias do passado da mãe
influenciem sua forma de pensar e agir com relação a seu(sua) filho(a). Estas
circunstâncias vêm às vezes...(espere após cada questão e proponha se
necessário a, b, c, d). A forma de colocar as questões deve ser: “quais as
circunstâncias específicas de sua infância (pessoas, doenças, etc...) que podem
ser importantes aqui?”
A. Como ela foi tratada por sua família quando criança, por exemplo: “Eu
apanhava então eu prometi a mim mesma que eu nunca bateria no(a)
meu(minha) filho(a)” ou “Nós sempre comíamos todos juntos então eu
previa fazer o mesmo.”
B.
Outras vezes estas influências provêem de pessoas específicas que fizeram
parte de seu passado, por exemplo uma tia que fazia coisas especiais para
você e que foi um modelo na sua maneira de agir com as crianças, ou um ex-
namorado que você nunca esqueceu, ou seu(sua) filho(a) lembra a você uma
amiga querida.
C. Ou poderia ser uma doença, que você ou outra pessoa de sua família teve, ou
D. Um falecimento na família, que ainda repercute atualmente em você.
2 A
VALIAÇÃO PERCEPTUAL
(
ORDEM DE IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS
)
Peça à mãe para avaliar a influência de cada evento sobre sua forma de pensar e
agir com seu(sua) filho(a).
VII.
A
FETOS LIGADOS ÀS REPRESENTAÇÕES
1 E
SCOLHA AS EMOÇÕES PRINCIPAIS
Diga à mãe: “Todas as mães quando pensam ou agem com seu(sua) filho(a),
sentem muitas emoções diferentes. Quais são as 3 emoções mais fortes que você
julga ter por seu(sua) filho(a)?” Escreva as 3 emoções.
2 A
VALIAÇÃO
PERCEPTUAL
DAS EMOÇÕES
Diga à mãe: “Eu vou lhe mostrar uma lista com o nome de muitas emoções que a
maioria das mães sentem uma ou outra vez. Indique se, quando você pensa ou
139
está com seu(sua) filho(a), você sente muito ou nada dessas emoções.” Peça à
mãe para preencher as escalas.
VIII.
D
ESEJOS E MEDOS
Pergunte à mãe:
1.
Quais são os seus maiores desejos quando pensa no futuro de seu(sua) filho(a)?
2. “Quais são os seus maiores medos quando pensa no futuro de seu (sua) filho(a)?
3.
Quais são os seus maiores desejos quando pensa no seu futuro como mãe?
4. “Quais são os seus maiores medos quando pensa no seu futuro como mãe?
Assinale as respostas.
IX.
A
UTO
-
ESTIMA
Pergunte à mãe: “Ao longo do último mês como você se sentiu como pessoa,
consigo mesma, bem, ou mal?” Peça à mãe para completar a escala.
X.
O
UTROS
Pergunte: “Há alguma coisa que você não tenha comentado e que possa ser
importante em sua maneira de agir com seu(sua) filho(a)?”. Investigue de um
modo não estruturado todos os temas que mereçam ser explorados mais
profundamente, em particular aqueles que possam desempenhar um papel
central. O entrevistador deve prosseguir a entrevista como lhe parecer melhor.
140
E
NTREVISTA
“R1”:
F
OLHA DE
A
NOTAÇÃO
Nome:
Data:
Avaliador:
I.
D
ESCRIÇÃO DA
C
RIANÇA
1
D
ESCRIÇÃO DA CRIANÇA
-
ESPONTÂNEO
“Descreva como é seu(sua) filho(a)? Como ele(a) é?
1*
“Será que você não esqueceu alguma característica?”
2
L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA
-
ADJETIVOS
1.
2.
3.
4.
5.
3
D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DA CRIANÇA
Acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou para descrever seu(sua)
filho(a) e que não estão na lista de características de personalidade.
141
SUA CRIANÇA É:
calma
agitada
agressiva
pouco agressiva
extrovertida
tímida
alegre
triste
difícil
fácil
bonita
feia
pouco inteligente
inteligente
distante
calorosa
independente
dependente
medrosa
confiante
viva
quieta
pouco sociável
sociável
afetiva
pouco afetiva
142
II.
P
APEL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PASSADO DA CRIANÇA
1
D
ESCRÃO VERBAL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PASSADO DA CRIANÇA
“Durante a gravidez ou após o parto, podem ter ocorrido situações que
influenciaram seu modo de pensar e perceber a criança ou o modo como você age com ele(a).
Conte que situações foram essas e como cada uma influenciou sua maneira de pensar ou
agir com seu(sua) filho(a).”
2
O
RDEM DE IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS
1.
2.
3.
4.
5.
143
III.
D
ESCRIÇÃO DELA MESMA COMO MÃE
1
D
ESCRIÇÃO VERBAL DELA MESMA COMO MÃE
-
ESPONTÂNEO
“Descreva que tipo de mãe você é? Como você é?
1*
“Será que você não esqueceu alguma característica?”
2
L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DELA PRÓPRIA COMO MÃE
-
ADJETIVOS
1.
2.
3.
4.
5.
3
D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DELA MESMA COMO MÃE
Acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou para descrever-se como
mãe e que não estão na lista.
144
VOCÊ
COMO
MÃE
É
:
afetiva
pouco afetiva
tolerante
pouco tolerante
medrosa
confiante
disponível
ocupada
“mãe-coruja”
não “mãe-coruja”
impaciente
paciente
autoritária
permissiva
brincalhona
séria
controladora
pouco controladora
pouco dedicada
dedicada
despreocupada
preocupada
satisfeita como mãe
insatisfeita como mãe
acha fácil ser mãe
acha difícil ser mãe
145
4
D
ESCRIÇÃO DE CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO MÃE
-
CRIANÇA
Assinale as respostas:
Totalmente
verdadeira
1
Mais para
verdadeira
2
Mais para
falsa
3
Totalmente
falsa
4
1. Quando meu(minha) filho(a)
chora, eu consigo consolá-lo(a)
facilmente.
1 2 3 4
2. Posso compreender facilmente o
que meu(minha) filho(a) quer, ou
o que ele(a) necessita.
1 2 3 4
3. Posso fazê-lo(a) compreender o
que eu quero.
1 2 3 4
4. Consigo que meu(minha) filho(a)
me dê atenção por algum tempo
ou que brinquemos juntos.
1 2 3 4
5. Consigo facilmente fazer
meu(minha) filho(a) rir e diverti-
se.
1 2 3 4
6. Eu sei com certeza que ele(a) me
ama.
1 2 3 4
7. Consigo deixar meu(minha)
filho(a) por algum tempo e me
separar dele(a) sem dificuldades.
1 2 3 4
8. Na vida quotidiana, tenho a
impressão de saber como agir
com meu(minha) filho(a) para:
- alimentá-lo(a)
1 2 3 4
- faze-lo(a) dormir
1 2 3 4
9. Em geral, tenho o sentimento de
ser eficiente como mãe.
1 2 3 4
146
IV.
P
APEL DE SUA PRÓPRIA MÃE
1
D
ESCRIÇÃO VERBAL DE SUA PRÓPRIA MÃE
-
ESPONTÂNEO
“Seus pais são vivos? Você convive com eles?”
“Quando você era criança, como a sua mãe foi para você?”
1*
“Será que você não esqueceu alguma característica?”
2
L
ISTA DE CARACTERÍSTICAS DE SUA PRÓPRIA MÃE
-
ADJETIVOS
1.
2.
3.
4.
5.
3
D
ESCRIÇÃO
PERCEPTUAL
DELA MESMA COMO MÃE
Acrescente à lista os adjetivos que a mãe utilizou para descrever as
características de sua própria mãe e que não estão na lista.
147
SUA
MÃE
É
(FOI)
:
afetiva
pouco afetiva
tolerante
pouco tolerante
medrosa
confiante
disponível
ocupada
“mãe-coruja”
não “mãe-coruja”
impaciente
paciente
autoritária
permissiva
brincalhona
séria
controladora
pouco controladora
pouco dedicada
dedicada
despreocupada
preocupada
satisfeita como
mãe
insatisfeita como mãe
acha fácil ser
mãe
acha difícil ser mãe
148
5
M
UDANÇAS NA RELAÇÃO COM SUA PRÓPRIA MÃE
Após o nascimento do seu filho(a):
1
Você tem a impressão que o contato entre você e sua mãe se modificou? Por
contato, eu me refiro a ver, falar ou escrever + ou - freqüentemente.”
Sim (maior ou menor
contato).
Não.
2 “Você pensa mais como sua mãe era com você quando você era criança, depois que
você também é mãe?”
Sim. Não.
3 Você se sente + próxima ou + distante de sua mãe?”
Mais próxima. Mais distante.
4 Você se sente atualmente + positiva ou + negativa com relação à sua mãe?”
Positiva. Negativa.
149
5 “Sua relação como filha (isto é, em seu papel de filha) mudou ou é a mesma de antes
de você ter seu(sua) filho(a)? Seu envolvimento na relação mãe-filha (que você sempre teve
com sua mãe) é + forte, + fraco ou o mesmo de antes?”
Mais forte. Mais fraco
O mesmo.
6
“Você acha que tem agora uma melhor compreensão e conhecimento de como sua
mãe é como mãe e como pessoa?
Sim. Não.
V.
S
EMELHANÇAS COM A FAMÍLIA
1
“Com quem da família seu(sua) filho(a) se parece mais?”
2
Utilize os adjetivos que a mãe referiu para descrever as características da
criança e peça para que especifique de quem a criança teria herdado tais
características.
CARACTERÍSTICAS PESSOA
1.
2.
3.
4.
5.
OBSERVAÇÃO: Acrescente às listas a seguir os adjetivos que a mãe utilizou anteriormente para
descrever seu(sua) filho(a) e que não estão na lista de característica de personalidade
.
150
3. VOCÊ COMO PESSOA É:
calma
agitada
agressiva
pouco agressiva
extrovertida
tímida
alegre
triste
difícil
fácil
bonita
feia
pouco inteligente
inteligente
distante
calorosa
independente
dependente
medrosa
confiante
viva
quieta
pouco sociável
sociável
afetiva
pouco afetiva
151
4. O PAI DA CRIANÇA É:
calmo
agitado
agressivo
pouco agressivo
extrovertido
tímido
alegre
triste
difícil
fácil
bonito
feio
pouco inteligente
inteligente
distante
caloroso
independente
dependente
medroso
confiante
vivo
quieto
pouco sociável
sociável
afetivo
pouco afetivo
4a.
Descreva o tipo de pai que ele é para seu(sua) filho(a)?”
152
VI.
I
NFLUÊNCIAS DO PASSADO E DO PRESENTE
1 D
ESCRIÇÃO VERBAL DOS EVENTOS IMPORTANTES DO PRESENTE E PASSADO DA
MÃE
“É comum que pessoas ou situações do passado da mãe influenciem sua forma de
pensar e agir com relação a seu(sua) filho(a). O que em sua infância (pais, parentes,
amigos, doenças, morte, acidente etc...) pode ter sido importante neste sentido?
2 A
VALIAÇÃO PERCEPTUAL
(O
RDEM DE IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS
):
1.
2.
3.
4.
VII.
A
FETOS LIGADOS ÀS REPRESENTAÇÕES
1 E
SCOLHA AS EMOÇÕES PRINCIPAIS
“Todas as mães quando pensam ou agem com seu(sua) filho(a), sentem muitas
emoções. Quais são as três emoções mais fortes que você tem por seu(sua) filho(a)?
1
2.
3.
153
2 A
VALIAÇÃO
PERCEPTUAL
DAS EMOÇÕES
“Eu vou lhe mostrar uma lista com o nome de emoções que em geral as mães
sentem. Indique como você se sente quando está com o seu(sua) filho(a).”
Alegria
muita
nenhuma
Tristeza
muita
nenhuma
Ansiedade
muita
nenhuma
Medo
muito
nenhum
Curiosidade
muita
nenhuma
Raiva
muita
nenhuma
Culpa
muita
nenhuma
Orgulho
muito
nenhum
Vergonha
muita
nenhuma
VIII.
D
ESEJOS E
M
EDOS
Quando pensa no futuro de seu(sua) filho(a):
1
“Quais são os seus maiores desejos?”
2
“Quais são os seus maiores medos?”
154
Quando pensa no seu futuro como mãe:
3
Quais são os seus maiores desejos?”
4
Quais são os seus maiores medos?”
IX.
A
UTO
-
ESTIMA
1
“No último mês como você se sentiu como pessoa, consigo mesma?”
bem
mal
X.
O
UTROS
1
“Há alguma outra coisa que você não tenha comentado e que possa ser importante
para que eu conheça sua maneira de agir com seu(sua) filho(a)?”
Referência
Stern, D. N., Robert-Tissot, C., Besson, G., Rusconi-Serpa, S., Muralt, M. de, Cramer, B.,
Palacio-Espasa, F. (1989). L’entretien “R”: une méthode d’évaluation des representations
maternelles. (pp.151-160). Em Lebovici, S., Mazet, P. & Visier, (Eds.) L’évaluation des
interactions précoces entre le bébé et ses partenaires. Paris: Eshel; Tradução: Profa.
Elizabeth Batista Pinto. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Revisão da
Tradução: Profa. Dra. Jaqueline Wendland, Universidade de Paris V, Paris.
155
ANEXO G
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Clínica
Entrevista com a Avó Materna
- Como te sentiste ao receber a notícia da gravidez de tua filha?
- Como era a relação entre vocês antes da gravidez dela?
- E após a gravidez?
- Como descreves a tua filha como mãe?
- E como te descreves como mãe?
- Gostarias de relatar mais alguma coisa que consideras importante?
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