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como mulher, futura mãe, esposa e filha (Brazelton & Cramer, 1992; Stern, 1997),
comentada anteriormente. Já o bebê cultural remete ao significado da criança de acordo
com o contexto cultural no qual está inserida, bem como sua família (Lebovici, 1987).
Por fim, ainda fazem parte do discurso da mãe com o bebê: as representações sobre
o marido, sobre sua própria família de origem, a família de origem do marido e sobre as
figuras parentais substitutas (Stern, 1997). Com a chegada do bebê, o casal passa a formar
uma tríade, pois é provocada uma mudança na relação da mulher com o marido, havendo
uma alteração dos seus esquemas em relação ao marido como pai, homem e esposo. O
nascimento acarreta, então, modificação das representações do casal, pois se faz necessária
a inclusão do bebê, estabelecendo-se, por conseguinte, uma nova relação conjugal. O bebê,
que surge como o terceiro na relação, pode assumir diversas possibilidades de identidades:
parceiro conjugal, que subentende o medo da mãe de ser abandonada pelo marido; amante,
que coloca o marido no papel de provedor e protetor para com a mãe; a única pessoa no
mundo que vai amá-la incondicionalmente, criando expectativas sobre como o marido
deveria amá-la; uma ameaça ao casamento, quando o marido exige ser cuidado como outro
bebê, e, por fim, um presente ao marido por algo que lhe devia.
Já nas representações sobre a família de origem da mãe e do marido (Stern, 1997)
estão incluídas a atribuição dada ao bebê de garantir a continuidade da família (levar
adiante o nome da família), bem como de sucesso familiar (manter o negócio da família,
perpetuando-o numa nova geração). O bebê pode representar também uma rixa familiar
antiga ou a ascensão social da família. As representações sobre o bebê nesse contexto são
múltiplas e se referem também aos diversos aspectos transmitidos transgeracionalmente.
No caso, muitas vezes as mães percebem e interpretam determinadas atitudes do
bebê de acordo com o legado psíquico inconsciente, que é passado através das gerações
(Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1996, 1998). Esse legado projeta no bebê a história