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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
LUIZ EDUARDO DE ANDRADE
HISTÓRIA, PAISAGEM E TURISMO:
O Caso de Ganchos, Governador Celso Ramos, SC.
Balneário Camboriú
2010
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LUIZ EDUARDO DE ANDRADE
HISTÓRIA, PAISAGEM E TURISMO:
O Caso de Ganchos, Governador Celso Ramos, SC.
Dissertação para a obtenção do título de Mestre em Turismo
e Hotelaria do Programa de Pós-graduação Strictu sensu de
Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria, Universidade
do Vale do Itajaí.
Orientadora: Profª Dra. Josildete Pereira Oliveira.
Balneário Camboriú
2010
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LUIZ EDUARDO DE ANDRADE
HISTÓRIA, PAISAGEM E TURISMO:
O Caso de Ganchos, Governador Celso Ramos, SC.
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em
Turismo e Hotelaria e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e
Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário
Camboriú.
Área de concentração: Planejamento e Gestão dos Espaços para o Turismo.
Balneário Camboriú, 01 de março de 2010
__________________________________
Profª Dra. Josildete Pereira Oliveira.
UNIVALI – CE Balneário Camboriú
Orientadora
__________________________________
UNIVALI – CE
__________________________________
AGRADECIMENTOS
A Paisagem sempre fez parte da história da humanidade, neste estudo
buscou-se descobrir seu potencial, enquanto atrativo turístico. Na elaboração desta
dissertação, leituras, discussões, perguntas, respostas, encontros e desencontros,
nos proporcionaram momentos de descobertas, repletos de entusiasmo, teorias e
história.
Agradeço:
A minha família, pela colaboração e apoio.
A minha esposa e filho, pela compreensão e paciência nos momentos de
ausência.
Aos funcionários, professores e a minha orientadora de Mestrado, pela
dedicação e ensinamentos, que contribuíram para a construção deste trabalho.
Aos colegas e amigos de mestrado, que proporcionaram momentos de
discussão, encontros, solidariedade e companheirismo, contribuindo para
elaboração da dissertação, proporcionando uma nova maneira de observar o
mundo.
E a todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste
trabalho.
RESUMO
A crescente importância da atividade turística, tem despertado inúmeros estudos, de diferentes
autores e pesquisadores, principalmente nas últimas décadas, onde os paradigmas de
sustentabilidade, planejamento e gestão, mercado e consumidores, vem-se definindo e redefinindo
constantemente pelos efeitos da globalização. O turismo é uma a atividade econômica, que se
expressa principalmente pelo consumo de espaços. Neste contexto a paisagem natural e edificada
constitui-se importante recurso para a imagem da cidade turística, proporcionando ao turista
experiência única na relação com este ambiente. O objetivo desta pesquisa é analisar o processo
histórico e social de formação da comunidade, e as transformações percebidas na paisagem da
localidade de Ganchos, município de Governador Celso Ramos, com a implantação da atividade
turística, mapeando a estrutura turística existente, relacionando-a com a qualidade da paisagem.
Paisagem esta que consolida-se em patrimônio natural e edificado desta localidade, transformando-
se em potencial turístico. Como estudo de caso, procura explicar, através da análise descritiva, os
elementos que compõem a paisagem natural e edificada de Ganchos e sua relação com o processo
histórico de sua formação e de suas características geográficas. A análise dos dados está
fundamentada na Visão Serial de Cullen, que define que a paisagem urbana surge como uma
sucessão de surpresas, possibilitando o dinamismo da cidade. E na configuração do espaço,
defendida por Milton Santos, onde o espaço surge como resultado dos processos produtivos.
Palavras-chave: Turismo. Paisagem. Ganchos-SC.
ABSTRACT
The growing importance of tourism has led to numerous studies by different authors and researchers,
particularly in the last few decades, where the paradigms of sustainability, planning and management,
market and consumer are being constantly defined and redefined by the effects of globalization.
Tourism is an economic activity that is expressed mainly by the consumption of spaces. In this
context, the natural and built landscapes are important resources for the image of the tourism town,
providing the tourist with a unique experience in the relationship with this environment. The objective
of this research is to analyse the historical and social process of formation of the community, and the
transformations perceived in the landscape of the locality of Ganchos, in the municipality of
Governador Celso Ramos, with the implementation of tourism, mapping the existing tourism
infrastructure and relating it to the quality of the landscape. This landscape is consolidated as a
natural and built heritage of this location, giving it tourism potential. As a case study, it seeks to
explain, through descriptive analysis, the elements that make up the natural and built landscape of
Ganchos and its relationship to the historical process of its formation, and its geographical
characteristics. The data analysis is based on the Cullen’s Serial Vision, which defines the urban
landscape as emerging as a succession of surprises, giving the city its dynamism; and in the
configuration of space, defended by Milton Santos, where the spaces emerges as the result of the
productive processes.
Key words: Tourism. Landscape. Ganchos-SC.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - ESTRUTURA DA PESQUISA...................................................................10
Figura 2 - MAPA POLÍTICO DE SANTA CATARINA................................................29
Figura 3 - MAPA POLÍTICO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS E LOCALIDADE DE
GOVERNADOR CELSO RAMOS .............................................................................30
Figura 4 - ESPECIFICAÇÃO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR
CELSO RAMOS E A DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO - GANCHOS ............37
Figura 5 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DE GANCHOS...............................................40
Figura 6 - DESENHO DA BAÍA DO CANTO DOS CANCHOS..................................46
Figura 7 – VISTA DA IGREJA, CANTO DOS GANCHOS.........................................46
Figura 8 - VISTA PANORÂMICA DA BAÍA DE GANCHOS DO MEIO......................47
Figura 9 - IATE CLUBE DE CAIOBÁ, CANTO DOS GANCHOS ..............................48
Figura 10 - GANCHO DE FORA ...............................................................................49
Figura 11 - BAÍA DE GANCHOS DE FORA..............................................................50
Figura 12 - PRAÇA E ORLA DE GANCHOS DO MEIO............................................51
Figura 13 - LOGRADOURO DOS GANCHOS DE DENTRO ....................................55
Figura 14 - BAÍA DE GANCHOS DO MEIO ..............................................................56
Figura 15 - CANTO DOS GANCHOS........................................................................57
Figura 16 - CANTO DOS GANCHOS........................................................................58
Figura 17 - GANCHOS DO MEIO .............................................................................59
Figura 18 - VISTA PARCIAL DE GANCHOS DO MEIO............................................60
Figura 19 - VISTA PANORÂMICA DE GANCHOS DO MEIO...................................61
Figura 20 - VISTA AÉREA DA BAÍA DE GANHOS...................................................62
Figura 21 - BAÍA DE GANCHOS DO MEIO ..............................................................63
Figura 22 - CANTOS DOS GANCHOS .....................................................................64
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA DE VALOR HISTÓRICO44
Mapa 2 - MAPEAMENTO DA INFRAESTRUTURA TURÍSTICA ..............................53
Mapa 3 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA .......................................65
Mapa 4 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA: RECORTE URBANO
RESIDÊNCIAS..........................................................................................................66
Mapa 5 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA RECORTE URBANO
LOUGRADOUROS ...................................................................................................67
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA................................................................1
1.1.1 Objetivo Geral ....................................................................................................3
1.1.2 Objetivos Específicos.........................................................................................4
1.1.3 Estruturação da Dissertação ..............................................................................4
2 ABORDAGEM METODOLÓGICA...........................................................................6
2.1 NATUREZA DA PESQUISA..................................................................................8
2.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS................................................................11
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................12
3.1 TURISMO: ASPECTOS CONCEITUAIS.............................................................13
3.2 O TURISMO NO BRASIL....................................................................................16
3.2.1 O Turismo na Região da Grande Florianópolis................................................18
3.3 ESPAÇO URBANO E ESPAÇO TURÍSTICO: ASPECTOS CONCEITUAIS.......20
3.4 PAISAGEM: ASPECTOS CONCEITUAIS...........................................................23
3.5 PAISAGEM: ASPECTOS HISTÓRICOS.............................................................25
4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA LOCALIDADE DE GANCHOS..................28
4.1 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA...................................................................28
4.2 CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL E ECONOMICA .............................31
4.3 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL............................................................33
4.4 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DO ESTUDO.............................................................36
5 ANÁLISE DO PROCESSO HISTÓRICO E TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM
COM A IMPLANTAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM GANCHOS...................38
5.1 PROCESSO HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DE GANCHOS...............................39
5.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E SUA
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA REGIÃO......................45
5.3 ANÁLISE DA INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA EXISTENTE NA LOCALIDADE
DE GANCHOS, E SUA RELAÇÃO COM A QUALIDADE DA PAISAGEM ...............51
5.4 MAPEAMENTO E ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO ATUAL DA PAISAGEM DA
LOCALIDADE DE GANCHOS E SUA POTENCIALIDADE TURÍSTICA...................54
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................68
REFERÊNCIAS.........................................................................................................71
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA
Neste capítulo, será apresentado a contextualização da pesquisa, situando o
leitor sobre a localidade de Ganchos de Governador Celso Ramos Santa Catarina
-, e a influência que a paisagem urbana, no seu sentido espacial, possui em relação
ao desenvolvimento sócio-econômico em relação ao turismo da região. Com efeito,
busca-se apresentar a questão problema do projeto de pesquisa como a sua
justificativa, além de seus objetivos, uma vez que se pretende demonstrar a
importância da paisagem urbana, como recurso turístico para o desenvolvimento de
uma localidade baseado nesse estudo de caso de uma região litorânea de Santa
Catarina, cuja paisagem ainda possui características e peculiaridades da própria
história arquitetônica local. Encerrando-se com a estrutura desta dissertação.
A crescente importância econômica do turismo é causa e conseqüência de
sua necessidade de intervenção espacial.
A localidade de Ganchos do Meio é a sede de Governador Celso Ramos,
cidade litorânea da grande Florianópolis, em Santa Catarina, sendo o objeto de
estudo desta dissertação, que abrange também as localidades de Canto dos
Ganchos e Ganchos de Fora.
Nestas localidades, o conjunto de edificações, características da sua
colonização açoriana, associadas à configuração da baía e as características
geográficas, é que permite uma leitura singular desta paisagem, e onde percebemos
que o desenvolvimento da localidade, contribuiu pouco para a descaracterização do
sítio.
É neste cenário, que com toda sua dinâmica e transformações econômicas e
sócio-culturais, durante décadas ainda estabelece uma paisagem urbana singular,
tornando-se um atrativo turístico potencial. Mas que tipo de turismo e turistas
interessaria a esta comunidade, para que a paisagem fosse mantida?
A importância desta pesquisa fundamenta-se na dinâmica, da peculiaridade
da localidade de Ganchos, devido às suas características topográficas e o processo
de transformação sócio- espacial desta comunidade, desde a pesca da baleia ao
2
início das atividades turísticas, permeadas pelo novo cenário mundial impulsionado
pela globalização.
Por considerar a paisagem natural e edificada de Ganchos, localidade de
Governador Celso Ramos em Santa Catarina, elemento de contribuição para o
atrativo turístico da região é que se pretende desenvolver esta pesquisa.
Paisagem esta caracterizada não pela presença de tipologias
arquitetônicas interessantes, mas também pelo conjunto de edificações, e na
reunião de outros elementos, que concorrem para a criação deste ambiente, desde
os edifícios, aos anúncios e ao tráfego, passando pelas árvores, pela água, por toda
a bela natureza que se desenvolveu ao longo de milhares de anos na região, e
entretecendo esses elementos de maneira a despertar emoções ou interesse, é que
Cullen (2002, p. 187) denomina da “arte do relacionamento”.
O tema torna-se de relevante escolha, porque de acordo com Yázigi (1996, p.
133) o Brasil foi a nação que mais descaracterizou seu patrimônio arquitetônico e
paisagem urbana no cenário mundial nas últimas décadas. Como se já não bastasse
às crises políticas e institucionais, vive-se uma verdadeira crise de identidade,
acentuada pela destruição do próprio patrimônio.
Como a atividade turística, é responsável pelas transformações da paisagem
edificada desta localidade, é o que se pretende analisar, com ênfase na análise
descritiva (nos elementos da paisagem edificada, nas características históricas e
culturais da sua formação e na peculiaridade geográfica da região) utilizando como
fundamentos teóricos, a VISÃO SERIAL proposta por Cullen.
O aumento do fluxo de turistas que vem ocorrendo nas últimas cadas, bem
como o crescimento do setor se tornou inevitável. Neste cenário os turistas estarão
buscando novas experiências em novas destinações, mas também, a maioria destes
locais estará buscando aproveitar esta demanda para aumentar a renda e o
emprego das comunidades locais.
As motivações para este novo perfil do turista estão mudando, além do
turismo de sol e mar, eles vem em busca de outros atrativos (culturais,
gastronômicos, educativos, etc.). Nesse sentido, a pesquisa pretende demonstrar a
importância da paisagem urbana, como recurso turístico para o desenvolvimento de
uma localidade.
A World Turism Organization (Organização Mundial do Turismo –OMT
2009) sugere que a imagem que o turista tem é apenas um dos aspectos da imagem
3
geral da destinação. É improvável que alguém visite uma destinação se, por uma ou
outra razão, não gostar dela. Ao contrário, “a descoberta” de um turista pode levar
ao conhecimento de outros aspectos de natureza econômica, política e cultural
sobre aquele local. Esta Organização (id.) acrescenta, ainda, que a apresentação da
imagem de uma destinação deve levar em conta o fato de que, em geral, o se
trata de criar uma imagem a partir do nada, mas sim de transformar uma imagem
existente.
Boullon (2002, p. 120), define paisagem como:
[...] uma qualidade estética que os diferentes elementos de um espaço físico
adquirem apenas quando o homem surge como observador, animado de
uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu
aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua
beleza ou feiúra.
Neste contexto, alguns problemas de pesquisa, são sugeridos:
Quais as transformações percebidas na “paisagem urbana”, na localidade
de Ganchos, Governador Celso Ramos, decorrentes do crescimento do fluxo de
turistas e veranistas?
Qual o papel da paisagem no desenvolvimento da atividade turística?
Quais as contribuições da atividade turística, na qualidade da paisagem
urbana?
Como a qualidade da paisagem urbana, contribui para a consolidação/
fomentação da atividade turística?
Qual a importância do planejamento urbano e turístico, na qualidade da
paisagem desta localidade?
A partir deste questionamento, foram estabelecidos os objetivos de pesquisa.
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar a transformação da paisagem na localidade de Ganchos decorrentes
da implantação da atividade turística.
4
1.1.2 Objetivos Específicos
Descrever a origem histórica da localidade de Ganchos;
Caracterizar o processo de transformação da paisagem (natural e
edificada) e sua relação com o desenvolvimento turístico da região;
Identificar a infra-estrutura turística existente, relacionando-a com a
qualidade da paisagem e as potencialidades turísticas.
Mapear a configuração atual da paisagem da localidade de Ganchos,
indicando as potencialidades turísticas.
1.1.3 ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
O trabalho foi desenvolvido, considerando a qualidade da paisagem edificada
e natural, na localidade de Ganchos no município de Governador Celso Ramos
pertencente ao Estado de Santa Catarina, como importante elemento de atratividade
turística.
O primeiro capítulo apresenta a justificativa da escolha do tema, além de seus
objetivos específicos, como a estruturação da dissertação.
O segundo capítulo é delineado a metodologia adotada, a qual busca, na
análise qualitativa descritiva da paisagem, compreender a importância desta, como
elemento importante da atividade turística, fundamentada na Visão Serial de Cullen
(1971).
O terceiro capítulo descreve a história da região, na qual explana brevemente
sobre o turismo e a história dele no Brasil e no Estado de Santa Catarina, como
também se elucida perante análise de referências teóricas, leituras realizadas de
Cullen, Yázigi, Boullon e Santos, oferecem suporte para conceitos de espaço e
paisagem, além de outros autores que contribuem e complementam os conceitos
mais imprescindíveis que são sobre o turismo e a paisagem.
No quarto capítulo do trabalho, caracterizasse a história e a geografia do
município de Governador Celso Ramos, e, sobretudo, os aspectos socioeconômicos
e culturais específicos da localidade de Ganchos.
5
No quinto capítulo se apresenta a análise dos resultados obtidos, com a
elaboração de desenhos e mapas da paisagem e estrutura turística da localidade de
Ganchos.
Em seguida a esse capítulo estão as considerações finais, a última etapa do
trabalho.
6
2 ABORDAGEM METODOLÓGICA
Nesse capítulo seabordada a fundamentação metodológica da pesquisa,
sobre a qual esta foi desenvolvida. Além de, notificar ao leitor sobre a natureza da
pesquisa, a qual influencia diretamente no embasamento teórico da mesma, como
os procedimentos metodológicos que possibilitam a exploração teórica, como a
argumentação da sustentabilidade do tema. Também apresenta sob qual ótica foi
desenvolvida a análise dos dados levantados sobre a questão problema a ser
desenvolvida passo a passo a medida que este problema for sendo desenvolvido.
A abordagem metodológica de um trabalho pode ser justificada pela
necessidade de embasamento científico adequado, geralmente caracterizado pela
busca da melhor abordagem de pesquisa a ser utilizada para endereçar à
problemática e aos objetivos do estudo, bem como considerar seus respectivos
métodos e técnicas para seu planejamento e condução da mesma.
A prática da pesquisa em si, oferece diversas maneiras de expressão, uma
vez que dela insurge características e fundamentos da observância congruente entre
o conhecimento e prática profissional. Desse modo, ela cria nessa emergência não
um fato simbólico, mas um fenômeno temporal para suplantar uma problemática,
muitas vezes, atemporal. Por isso, é o meio mais eficaz de construção de
conhecimento pelas diversas Ciências existentes.
Assim sendo, sua notoriedade é a eficácia da interpretação adequada da
limitação da problemática de pesquisa, a qual apontará, não somente a margem
primeira de abordagem do estudo, mas caracterizará o próprio estudo. Desse modo,
a partir da problemática de pesquisa estão inseridos secretamente os objetivos de
estudo que nortearão todo o processo científico, os quais limitarão os procedimentos
práticos do estudo, podendo ele se tornar um fato experimental ou um estudo de
caso.
Segundo Severino, o estudo de caso compreende um recorte da realidade
existente numa emergência fenomenológica descritiva a fim de torná-la alicerce para
a compreensão de um universo maior. Em suas palavras (2007, p. 121): “O caso
escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bem representativo, de modo a
ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando
inferências”.
7
Em vista dessa consideração, continua o autor (id.): “os dados devem ser
coletados e registrados como necessário rigor e seguindo todos os procedimentos
da pesquisa de campo. Devem ser trabalhos, mediante análise rigorosa, e
apresentados em relatórios qualificados”.
Portanto, a metodologia assume grande importância nas pesquisas
científicas, cuja ausência de métodos conceituais impossibilitaria o valor verossímil
agregado aos resultados alcançados durante todo o período das investigações,
sendo, desse modo, de difícil aceitação. O método científico é o modo encontrado
pela sociedade para legitimar um conhecimento adquirido empiricamente, ou seja,
quando um conhecimento é obtido pelo método científico, qualquer pesquisador que
repita a investigação nas mesmas circunstâncias, obterá o mesmo resultado, desde
que os mesmos cuidados sejam considerados. (SEVERINO, 2007).
Pode-se dizer, então, que o método científico de pesquisa é um conjunto de
passos específica e claramente determinados para obtenção de um conhecimento,
passos estes aceitos pelas pessoas que estudaram e militam na área em que foi
realizada a pesquisa (SELLTIZ et al, 1974).
Quando se fala em Estudo de casos vem logo à mente a idéia do uso de
casos como tentativa de reprodução da realidade para o ensino, o que é chamado
método de caso. Neste trabalho o Estudo de Caso é considerado como método de
pesquisa qualitativa social e empírica, o que é completamente diferente na visão
científica. Em outras palavras, a aplicabilidade da pesquisa qualitativa como fonte de
investigação social e empírica. Essa perspectiva, no contexto arquitetônico, implica
claramente na observância das mudanças comparativas acontecidas pelo tempo
numa data realidade social que modificou o modo do olhar estético na representação
de suas construções e a correlação entre passado e futuro, o que ocasiona uma
mudança interativa do modo como o homem, ou o turista, se relaciona com a
comunidade local.
O emprego do todo qualitativo pode conferir redimensionamento da
investigação, com vantagens em relação ao planejamento integral e prévio de todos
os passos da pesquisa. (PIORE, 1979, p. 560).
Por conseguinte, compreender e interpretar fenômenos, a partir de seus
significantes e contextos são tarefas sempre presentes na produção do
conhecimento, o que contribui para se perceber vantagem no emprego de métodos
que auxiliam a ter uma visão mais abrangente dos problemas, supõem contato direto
8
com o objeto de análise e fornecem um enfoque diferenciado para a compreensão
da realidade.
Por isso que a imbricação das questões que compõem o tema da dissertação
HISTÓRIA, PAISAGEM E TURISMO: O Caso de Ganchos, Governador Celso
Ramos, SC. sugere a retificação de diferentes procedimentos de pesquisa,
alinhados sob a ótica qualitativa. Essa combinação faz-se necessária face às
díspares naturezas dos aspectos envolvidos. Seguindo as definições de sobre
métodos de pesquisa em Arquitetura propostas por Groat e Wang, a estrutura
escolhida foi o desenvolvimento da argumentação descritiva a partir da
fundamentação teórica, histórico-cultural, complementada com estudo de caso.
Para tanto, foi escolhida a premissa fundamental da argumentação que
procura entender e explicar os elementos da paisagem urbana, relacionando-os com
as características históricas de sua formação, os aspectos geográficos do território e
a morfologia da cidade. A partir dessa premissa, a fundamentação teórica histórico-
cultural e descritiva foi estruturada tomando por base o potencial da paisagem
urbana composta por recursos naturais e histórico-culturais no sentido observando
o resultado do desenho proposto no sentido da apropriação em maior ou em
menor grau – do espaço urbano da região como fonte dinâmica de contrastes
temporais.
A etapa experimental iniciou-se com a caracterização de Governador Celso
Ramos – universo espacial de análise - e do recorte proposto: do potencial da
paisagem urbana composta por recursos naturais e histórico-culturais.
2.1 NATUREZA DA PESQUISA
Segundo Gil (1991, p. 58-59) as vantagens do estudo de caso são: estímulos
a novas descobertas; por ser um estudo flexível o pesquisador sempre está atento,
sendo freqüente o aparecimento de aspectos não previstos no plano de pesquisa;
ênfase na totalidade; neste tipo de todo o pesquisador deve estar voltado para a
totalidade do problema, como foi citado anteriormente, para que assim possa
estudar e medir seu objeto de estudo; simplicidade dos procedimentos, segundo Gil
9
ao se tratar do estudo de caso os procedimentos são os mais simples tanto na
coleta dos dados como na formulação do relatório de pesquisa.
O método é predominantemente qualitativo, focado na análise da
configuração do espaço, defendida por Santos (1994, p. 77), que propõe: a
sociedade pode ser definida através do espaço, que o espaço é o resultado da
produção, uma decorrência de sua história, mais precisamente, da história dos
processos produtivos impostos ao espaço pela sociedade, e na percepção ambiental
defendida por Cullen (1983, p.10) “a paisagem urbana surge na maioria das vezes
como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas”. É o que se entende por
VISÃO SERIAL (ibidem, p. 11). Cullen (ibidem, p. 19) enumera ainda outros
elementos para análise desta paisagem, como: apropriação do espaço, privilégio,
pontos focais, recintos, bordas, tipo de rua e pavimentação, paisagem interior, etc. A
combinação dessas categorias formam a tipologia da paisagem urbana.
Os procedimentos se apoiaram na pesquisa bibliográfica, documental e
iconográfica. Nesse sentido foi consultada a bibliografia pertinente ao tema proposto
e pesquisas documentais, especialmente, ao que se refere aos recursos naturais e
histórico-culturais, além de levantamento fotográfico da localidade e de pesquisa de
material iconográfico e fotos históricas. A utilização da fotografia justifica-se pelo fato
das mesmas, serem signos contidos que fornecem informações para as respostas
que o estudo propõe, que segundo Santaella e Noth (1998, p. 107) ao mesmo
tempo, que são ícone e índice, reproduz a realidade e a relação causal.
O diagrama que se segue procurou sintetizar o quadro metodológico e a
estrutura da pesquisa.
10
Figura 1 - ESTRUTURA DA PESQUISA
Fonte: Elaborado pelo Acadêmico, 2009.
PESQUISA QUALITATIVA
Entender e explicar os elementos da paisagem urbana,
relacionando-os com as características históricas de sua
formação, os aspectos geográficos do território e a morfologia
da localidade de Ganchos do município de Governador Celso
ESTUDO DE CASO
Fase I
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
OBJETIVOS DA PESQUISA
Pesquisa Documental
Turismo e Paisagem
Pesquisa Iconográfica
Fotografia e
Descrever a origem
histórica da localidade
de Ganchos;
Caracterizar o processo
de transformação da
paisagem (natural e
edificada) e sua relação
com o desenvolvimento
turístico da região;
Fase II
Identificar a infra
-
estrutura turística
existente, relacionando-a
com a qualidade da
Mapear a configuração
atual da paisagem da
localidade de Ganchos,
indicando as
potencialidades turísticas.
Análise de Imagem
Visão Serial: Óptica –
Local – Conteúdo
Análise Descritiva da
Paisagem
(CULLEN, 1971).
Pesquisa Bibliográfica / Fontes Primárias e Secundárias
11
2.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
A Visão Serial, proposta por Cullen (1983), é importante subsídio para
identificar na localidade de Ganchos, elementos para análise da paisagem urbana
(recintos, declives, desníveis, bordas e pontos focais) que segundo o autor
proporciona:
[...] a cidade algo mais do que o somatório dos seus habitantes: é uma
unidade geradora de um excedente de bem estar e de facilidades que leva
a maioria das pessoas a preferirem, independente de outras razões, viver
em comunidade a viverem isoladas (CULLEN, ibidem, p. 11).
Será elaborado um mapeamento com imagens de Ganchos de Dentro,
Ganchos de Meio e Ganchos de Fora, identificando além da paisagem natural,
elementos presentes na paisagem edificada.
12
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O homem é um ser sobre ação, isto é, é um ser que sempre está a caminho
de realizar qualquer atitude incisiva que julgue necessária ao seu bem estar e que,
concomitantemente, lhe prazer. Pode-se caracterizar assim, em poucas palavras,
a prática do turismo pelo homem e a sua interferência direta e ampla na paisagem
em com que se relaciona. É disso que trata esse capítulo do enfoque do turismo, e a
intercessão do homem sobre o que o ambiente lhe engendra. Trata-se de
contextualizar o tema em seus pontos principais que são: o Turismo e Paisagem no
sentido de correspondência e influencia de um sobre o outro e vice-versa. Dos
conceitos gerais de ambas as atividades de ação humana, funila-se para a prática
do Turismo no Brasil, e a este se restringe para o Turismo na Grande Florianópolis,
região a qual se situa a localidade de Ganchos do município catarinense de
Governador Celso Ramos. A seguir se define o que é Espaço Urbano e Espaço
Turístico e o quanto os dois se intercomunicação entre si, no que retrata a
problemática da Paisagem como um fator recentemente determinante de atração
turística. Por último, apreciam-se a Paisagem, na concepção arquitetônica, em todas
as características percebidas pelos teóricos mencionados na fundamentação
metodológica, elucidando os princípios de Ótica, Local e Conteúdo, cuja análise
elaborada por Cullen, principal autor desse estudo, organizará a fundamentação
teórica descrita.
Como fato marcante deste início de século, a relação homem com os demais
elementos naturais na organização do espaço geográfico denuncia trajetórias de
formas de produção e apropriação de recursos, através de conhecimentos mediados
pela evolução tecno-científica e por interesses de grupos sociais. Na
contemporaneidade, onde convivem “novos” e “velhos” estágios de produção da
globalização, criando “novidades”, os sistemas sociais refletem a maneira pela qual
existem inserções humanas, várias escalas, que caracterizam o mundo como todo
ou em suas partes (PRADO JÚNIOR, 2008).
Por isso, não é fácil responder de forma objetiva às muitas questões que
identificam a nossa contemporaneidade, geralmente associada aos ritmos de
mudanças, cuja gênese estrutural se atribui a processos desencadeados nos
13
séculos XVIII e XIX, mas que nos séculos XX e XXI, assumem amplitudes
diversificadas, às vezes associadas a “crise de civilização” (LEFF, 1994, p. 68).
3.1 TURISMO: ASPECTOS CONCEITUAIS
A existência de algumas definições, incertezas e conceitos em relação ao
tema turismo, permite-nos, neste capítulo, expor alguns autores e pesquisadores,
que vem tratando deste tema bastante tempo, percebendo que a evolução e
complexidade deste, é também fruto da realidade, deste tempo, onde conceitos e
definições não se consolidam por tanto tempo, num cenário mundial de
proximidades, onde as economias estão tão próximas e tão díspares, onde as
fronteiras políticas inexistem, surgindo aí novos paradigmas. Sustentabilidade,
planejamento estratégico, gestão por processos, protocolo de Kyoto, são temas que
devem estar relacionados com o turismo, configurando-o como conceito de caráter
multidisciplinar. Seguindo este raciocínio, Knafou (1996, p.63), identifica a atividade
turística como uma:
[...] atividade humana multiforme, que se repousa sobre um aparelho
econômico heteróclito, é particularmente difícil de ser avaliado. Ele oscila
entre a sub e a super avaliação, conforme a origem da avaliação e dos
avaliadores. Por um lado, é muito comum subestimar-se o peso do turismo:
porque ele utiliza equipamentos que não lhe pertence (transportes,
hospedagens, alimentação, etc.); porque o mais freqüente é que varie
conforme as estações, o que subentende muita mão-de-obra itinerante,
difícil de ser analisada, muito trabalho escondido, muita opacidade fiscal e
dissimulações, porque os próprios turistas como qualquer população em
movimento, o de difícil contabilização. Por outro lado, é igualmente
comum superestimar-se o peso do turismo, muitas vezes pelas mesmas
razões que as citadas precedentemente: porque avalia-se generosamente a
utilização turística dos instrumentos comuns, tais como as estradas, trens,
aviões, hotéis, restaurantes, etc.
De acordo com Barreto (1995, p. 43), o conceito turismo surge no culo XVI
na Inglaterra, onde se refere a um tipo de viagem, sendo que a palavra tour é de
origem francesa e significa volta. O autor ainda afirma que para compreender melhor
a história do turismo “[...] é essencial retornar á diferença entre o conceito de
viagem, que implica apenas deslocamento, e o conceito de turismo, que implica a
14
existência também de recursos, infra-estrutura e superestrutura jurídico-
administrativa”.
A definição de turismo vem suscitando controvérsias entre os teóricos,
principalmente após a Revolução Industrial, onde surge o turismo contemporâneo, e
após a segunda guerra mundial, com o turismo de massa.
O turismo de massa coloca a produção turística como um dos negócios mais
rentáveis e de maior crescimento sustentável das ultimas décadas.
De La Torre (1997, p. 15), define turismo como, “a soma de relações e de
serviços resultantes de uma mudança de residência temporária e voluntária
motivada por razões alheias a negócios ou profissionais”. Ainda, seguindo esta linha
de conceitos, Acerenza (2002, p. 57), afirma que
[...] o turismo, sob a perspectiva conceitual, não é nada mais do que o
conjunto de relações e fenômenos produzidos pelos deslocamentos e
permanência de pessoas fora de seu lugar normal de domicílio, motivadas
fundamentalmente por uma atividade não lucrativa.
No final do século XX, a concepção simples de espaços emissores e
receptores tornam-se complexas, e exigem estudos mais profundos. Pode-se dizer
que no contexto da terceirização da economia, da (re)definição de novos espaços,
na busca de novos negócios para investimentos, na criação de novas profissões e
espaços alternativos, o tema ócio associado ao ideário do turismo clássico (atrações
de lazer e equipamentos temáticos) desenvolve-se rapidamente e assume novas
leituras. O cenário da globalização oferece uma nova geografia turística, na qual
mais ofertas competindo com produtos tradicionais (CASTROGIOVANNI, 2000, p.
7).
Ainda segundo Castrogiovanni (id.), consenso de que no próximo século o
ócio será essencial para as sociedades pós-industriais. As fronteiras entre tempo
livre e descanso deverão ser cada vez menos claras. Com certeza, aparecerão
novos tempos sociais em que surgirão outros modelos de vida, nos quais o turismo
assumirá posições de maior destaque.
Ainda nestas confusões semânticas e conceituais, Boullon (2002, p. 15), nos
alerta que:
Desde que o turismo alcançou a importância que tem atualmente, seu
conhecimento analítico foi-se concretizado lentamente, não como produto
15
de um trabalho de pesquisa sistemática, mas como resultado de uma série
de estudos e ensaios individuais que ainda não conseguiram constituir um
corpo teórico. Uma das causas dessa falta de integração deve-se à
ausência de confrontos que permitam primeiro, conhecer, e depois
comparar todas as idéias em circulação no ambiente turístico. Uma das
maiores dificuldades são os diferentes códigos, mensagens, e informações
em livros, revistas, artigos de jornais referentes ao campo do turismo. É
necessário buscar uma linguagem técnica unificada para os sistemas de
capacitação e segmentos que participam do funcionamento do turismo.
Conceituando Turismo, e sua interface com paisagem e percepção, a
abordagem de Jacques Wainberg (2001, p. 17) nos ensina que a cidade deve ser
vista como uma escritura, uma fala a ser interpretada pelo transeunte. Trata-se de
um enigma a ser desvendado pela exploração. A percepção é estimulada pelo
estranhamento causado por sua arquitetura, vias, limites, bairros, pontos nodais,
marcos, avenidas, cafés e bares. É uma obra de arte viva, e seus atores móveis são
os seus habitantes. cores e odores, hábitos e costumes, história e memória.
Embora as imagens sejam construídas individualmente, uma imagem
pública trade mark - desses destinos urbanos. Elas são relativamente
consagradas, e por isso mesmo embaladas como produtos de consumos.
Consolidar-se-á nessa especial circunstância a imagem de cidade turística que
como tal, proporcionará o que toda atração deve oferecer, uma experiência ao
visitante na sua relação com o ambiente.
A excitação que emerge do primeiro olhar, é essa disposição paisagística da
cidade. O fenômeno turístico, por ser relativamente frenético e controlado no tempo,
é, em essência, fortemente visual. Vasculha-se o assentamento para inferir
significado daquela localidade e sua originalidade.
O turista busca, por isso mesmo, os elementos da paisagem, os espaços
construídos e o movimento da vida. É este fator de estranheza de como a vizinhança
vive diferentemente e realiza a proeza da sobrevivência com sentido, que atrai e
estimula o movimento do visitante.
Três conceitos são fundamentais para a consolidação da atividade turística,
na escala da cidade.
O primeiro conceito é o de atração: As cidades turísticas têm esse poder de
imantação que se propaga em círculos concêntricos cada vez mais distantes. Esse
poder aumenta conforme a cidade for constituída de elementos variados, que, em
micro-escala, provoquem os sentidos do transeunte e convertendo-se, em
decorrência, eles próprios, em destinos de peregrinação. Neste sentido, é fácil
16
perceber na comunidade de Ganchos, a constituição da cidade neste aspecto
(becos, recintos, recantos).
O segundo é o de identidade: Bem constituída, a identidade de uma cidade
turística é percebida sem ambigüidades. nela espaços embalados como
produtos, mas também outros, espaços multifuncionais, com identidade flexível e
variada, servindo ao mesmo tempo ao nativo e ao peregrino. Na verdade, talvez por
servir concomitantemente esses dois aspectos de público, que estimula, como
afirmativo, a investida e exploração antropológica.
Por decorrência do afirmado acima, o terceiro conceito é o da compreensão
do turismo como fenômeno cultural. Essa perspectiva é o cerne do incremento
turístico, que são as peculiaridades regionais que possibilitam, sociologicamente,
o motivo da prática do turismo em si. O fenômeno cultural funciona como firmamento
das tarefas de lazer, sendo a dinâmica social de um lugar desconhecido a
emergência do conhecimento da região, tanto, e principalmente, em seus pontos
positivos (festas regionais, época, arquitetura, quietude, natureza, artesanato, etc.),
quanto os negativos (degradação, pobreza, trabalho, etc.), que funcionam como
inusitados e extravagantes.
Como tantas definições de Turismo, quantos autores que tratam do
assunto, é difícil formalizar um conceito resumido de tal atividade humana. Uma vez
que quanto maior o número de pesquisadores que se preocupam em estudá-lo,
tanto mais evidentes se apresentarão à amplitude e a extensão do fenômeno do
Turismo e tanto mais insuficientes e imprecisas serão as definições existentes.
Muitos autores chegam a considerar a extrema dificuldade para uma definição
precisa e abrangente de Turismo, levando em conta que o fenômeno é o grande e
complexo que se torna praticamente impossível expressá-lo corretamente e, por
isso, preferem observar invariavelmente seus aspectos parciais ou, pelo menos,
algumas de suas realidades isoladas.
3.2 O TURISMO NO BRASIL
O turismo se consolida como atividade econômica, no Brasil a partir da
Segunda Guerra Mundial quando de um modo geral, o cenário do pós-guerra,
17
possibilita o desenvolvimento de uma indústria nacional, do surgimento da TV e do
surgimento das primeiras rodovias interestaduais.
A busca pela organização do turismo no Brasil o pode ser separada da
própria construção do país e de seu cotidiano, deve-se observar que a cidade, antes
de tudo, precisa atender as necessidades de seus habitantes e resgatar sua
dignidade. Mas, nem sempre, o que é bom para o cidadão é bom para o turista,
porque todo cotidiano dignificante para o residente é engajado no processo
civilizatório é bom para o turista, se permitir interpenetralidade do movimento
turístico com a totalidade do lugar comenta Yágizi (1996, p. 132) em sua análise.
Segundo Santos (1994, p.8) “O advento do período técnico-científico permitiu
que na história, espaço e tempo se fundissem, confundindo-se. Não há, nas ciências
sociais, como tratá-las separadamente. E a cidade, sobretudo a grande cidade, é o
fenômeno mais representativo desta união”. Partindo desta análise, afirmamos que
os fenômenos urbanização e turismo - se situam na leitura da sociedade s-
industrial e da cultura pós-moderna, subordinada à compreensão do processo de
globalização-fragmentação. Rodrigues (2001, p.125), sobre as nuanças desse
processo afirma que:
A cultura se mundializa enquanto a técnica, a informação e a economia se
globalizam. O processo de globalização unifica os mercados, definindo
subespaços hierarquizados ou não, que vão dos centros às suas
respectivas periferias, determinando relações de dominação e de
subordinação. não existe um centro hegemônico como contrapartida da
globalização, mas uma multiplicidade diferencial de centros. Esses centros
são extremamente dinâmicos, de caráter efêmero e transitório.
O crescimento do turismo global, como fenômeno de massa, a partir da
primeira metade do século XIX, é válido, para o Brasil, a partir dos anos sessenta,
período JK (1956-1960), com a modernização da atividade industrial. A
intensificação da ideologia desenvolvimentista, durante a ditadura militar (1964-
1985), desencadeia a explosão do processo de urbanização do país.
Com a implantação da indústria automobilística, a partir da década de 1960,
incrementa-se o acesso à motorização familiar, que vai favorecer os deslocamentos
de lazer e turismo para o litoral, induzindo a formação de dois tipos de ocupação
características: o bairro inserido num contexto urbano complexo (Rio, Santos ou
Vitória) ou o bairro de segunda residência (férias de verão ou feriados) (YÁGIZI,
1996, p. 156).
18
Nas considerações aqui feitas, para situarmos a implantação do turismo de
lazer no Brasil, é importante analisarmos o processo de implementação da segunda
residência, a partir da década de 1980, ocorrida, por exemplo, na Baixada Santista,
e que se estende de certa forma, excetuando a sua temporalidade, a algumas
metrópoles litorâneas brasileiras, como afirma Rodrigues (1992, p. 136):
A concretização da residência secundária na Baixada Santista, tal como
ocorrera em meados da década de setenta, explicaria, quanto à sua
gênese, por dois elementos fundamentais: de um lado, a formação de uma
classe média paulistana, que procurava a praia, fenômeno da moda, para
satisfazer de alguma forma suas necessidades de lazer. O apartamento de
praia é um produto criado pela indústria da construção civil, que,
evidentemente, ia ao encontro das aspirações coletivas, unindo aí duas
motivações: lazer e investimento. E paralelamente, os núcleos urbanos do
litoral foram sendo dinamizados para atender ao grande fluxo da população
procedente da região metropolitana e arredores paulistanos.
Percebe-se, que este fenômeno, pode ser estendido a outras cidades
litorâneas brasileiras, mas numa escala e tempo diferenciados. Em Santa Catarina,
por exemplo, pode-se acrescentar a proximidade de Argentina e Uruguai, como
outro fator de contribuição à implantação da atividade turística no estado, além da
instalação das segundas residências ter iniciado décadas anteriores (60 e 70).
3.2.1 O Turismo na Região da Grande Florianópolis
O relevante papel histórico das principais vias de circulação e acesso na
modificação da fisionomia do litoral e na vida regional catarinense em meados da
década de 60, entre eles a rede rodoviária federal (BR 101) e as estaduais (SC)
expandem o transporte rodoviário, facilitando e intensificando as comunicações e
alterando toda a estrutura social e econômica da região (HENRIQUE, 1997, p. 534).
Com o advento da BR 101 e a necessidade de facilitar o escoamento da
produção pesqueira do município de Governador Celso Ramos, o governo estadual
na década de 60, transformou o antigo caminho, que contornava a serra da
Armação, em estrada, interligando as diversas comunidades, Areias, Jordão, Canto
dos Ganchos, Ganchos do Meio e Ganchos de Fora, marcando a nova fisionomia da
superfície. (SATLER, 2001, p. 36).
19
As mudanças sócio-econômicas, espaciais e tecnológicas, passaram a
impor uma nova organização dos espaços locais. Assim os caminhos vão
perder significado no segundo quarto deste século, assumindo agora, uma
quase imperceptível configuração. (PRADO JÚRNIOR, 2008).
Segundo Renata Catarina Henrique (1996, p. 89), a
BR 101 atravessou o território catarinense, deixando à vista as belezas
quase escondidas. A BR 101 tornou-se o caminho de crescentes veículos
estrangeiros, principalmente argentinos e uruguaios, vistos até hoje. Iniciada
em 1953 e inaugurada em 1971, proporcionou o surgimento e posterior
desenvolvimento de vários núcleos urbanos.
Por isso, a BR 101 torna-se o principal eixo de acesso ao município de
Governador Celso Ramos. O fator que preconizou a concretização destas rodovias e
no caso específico da SC 410 e sua pavimentação foi o grande desenvolvimento
econômico da indústria pesqueira do município.
Com a pavimentação da BR 101 para ir e voltar de Governador Celso Ramos,
descobriu-se o luxuoso potencial turístico do Litoral Catarinense, cujo acesso
rodoviário se encontrava em desenvolvimento de toda a região do Vale do Itajaí,
como o conhecimento da população às belas praias e balneários da região.
Em vista desse argumento, em meados da década de 50 surgem os
balneários turísticos, que a partir da década de 70 se ampliam e densificam,
acarretando uma expressiva expansão imobiliária no litoral do estado catarinense.
Embora mais relacionada a população urbana, o calor forte no
Brasil meridional fomenta uma intensa atividade de veraneio.
Nisso o há, por certo, nada de extraordinário no Brasil, dotado
de extenso litoral semeado de praias, as mais variadas. Mas, a
esse respeito, o Brasil meridional, graças as suas características
climáticas, adquire feições próprias em relação ao resto do
Brasil. Aliás, a sedimentação neste trecho do litoral brasileiro, em
que a retificação da linha de costas é um caráter marcante,
criando belíssimas praias, longas e largas, possibilitando
amplamente o seu aproveitamento turístico. Nesta última década,
a especulação imobiliária dos grandes centros urbanos já
extravasou para as praias. (MONTEIRO, 1981, p.162).
A atividade turística no município intensifica-se, a partir da cada de 80, se
aceleram as transações imobiliárias, surgindo às segundas residências e o primeiro
empreendimento turístico na região: Palmas Park Hotel. Além de grande loteamento
na Praia de Palmas (final dos anos 80, início dos 90), que permitiu uma maior
20
densidade populacional, pois possibilitou a instalação das primeiras edificações
verticalizadas, em Governador Celso Ramos. Atualmente se percebe a instalação de
outros equipamentos turísticos, com características bastante diferenciadas e público
específico, como por exemplo, o Ponta dos Ganchos Resort.
3.3 ESPAÇO URBANO E ESPAÇO TURÍSTICO: ASPECTOS CONCEITUAIS
A análise do mundo moderno coloca-nos diante de uma rie de desafios
decorrentes de transformações provocadas pela globalização, como produto do
desenvolvimento capitalista. Nesse processo o espaço tem papel fundamental na
medida em que cada vez mais entra na troca como mercadoria. Cada vez mais o
espaço é produzido por novos setores da economia, como a do turismo, e desse
modo praias, montanhas e campos entram no circuito da troca, apropriadas
privativamente, como áreas de lazer para quem pode fazer uso delas (YAZIGI, 1996,
p. 22).
O lazer se torna uma nova necessidade: “A civilização industrial moderna com
seu trabalho parcelar, suscita uma necessidade geral de lazer e de outro lado no
quadro da necessidade, necessidades concretas diferenciadas” (LEFEBVRE, 1979,
p. 41).
O espaço produzido pela indústria do turismo perde o sentido, é o presente
sem espessura, quer dizer, sem história, sem identidade, neste sentido é o espaço
do vazio. Ausência, não-lugares. Isso porque o lugar é, em sua essência, produção
humana, fruto da relação entre espaço e sociedade, estabelecendo uma identidade
entre comunidade e lugar.
No lugar emerge a vida, posto que é que se a unidade da vida social.
Cada sujeito se situa num espaço concreto e real onde se reconhece ou se
perde, usufrui e modifica, posto que o lugar tem usos e sentidos em si, tem
a dimensão da vida. (CARLOS apud YÁZIGI, 1996, p. 28).
A “hora do não-trabalho”, destinada ao lazer, não escapa das regras de
mercado: transporte, cultura, viagem. Enfim, tudo vira mercadoria, e esta transforma
21
lugares e produz uma forma de ele se apropriar: a o apropriação. Fragmentam-se
os lugares, exclui-se o feio, afasta-se o turista do pobre, do usual.
A indústria cultural, a da moda e do turismo, a indústria do esporte e do
lazer estão estruturadas em conformidade com as exigências do mercado
capitalista e são elas que consomem todo o tempo que Lafargue esperara
que fosse dedicado as virtudes da preguiça. (CHAUI, 1999, p. 48).
A indústria do turismo sabe captar (além de produzir) o desejo, transformando
tudo que toca em espetáculo controlado, que transforma o indivíduo num ser
reduzido a passividade e ao olhar. O lugar é apenas o que pode ser visto,
fotografado e depois esquecido.
As abordagens marxistas compartilham a crença de que os processos de
desenvolvimento capitalista são materializados no espaço. “De que a organização
espacial das sociedades deriva de aspectos mais gerais de seu desenvolvimento
histórico, da evolução das forças produtivas e da concomitante divisão do trabalho
(PRADO JÚRNIOR, 2008).
Na configuração do espaço, Milton Santos (1985, p. 49), propõe que: A
sociedade pode ser definida através do espaço, que o espaço é o resultado da
produção, uma decorrência de sua história, mais precisamente, da história dos
processos produtivos impostos ao espaço pela sociedade.
Milton Santos (1997, p. 1), afirma que:
Consideramos o espaço como uma instância da sociedade, ao mesmo título
que a instância econômica e a instância cultural-ideológica. Isso significa
que, como instância, ele contém e é contido pelas demais instâncias, assim
como cada um delas o contém e é por ela contida. A economia está no
espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se com o
político-institucional e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a
essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser apenas
formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo
conjunto nos a natureza. O espaço é tudo isso, mais a sociedade: cada
fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual.
Santos (1994, p. 46), propõe “entender o espaço como um conjunto
indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações”. Tanto objetos como
ações não tem vida própria se não forem tomados em conjunto. “Espaço é também
formado de fixos e fluxos” (SANTOS, 1988, p. 77). Para entender o fenômeno do
turismo esta forma aparentemente simples de entender o espaço é bem pertinente,
22
porque expressa, de maneira mais clara, a dinâmica espacial, especialmente
quando unimos os dois conceitos.
Fixos, porém não estáticos, são os centros emissores da demanda, de onde
partem os fluxos para os núcleos receptores. O espaço do turismo é essencialmente
fluído, porque por natureza implica mobilidade horizontal e vertical.
É nos núcleos receptores que se de maneira mais explícita, o consumo do
espaço consumo compulsivo e consumo produtivo. O primeiro é o que se esgota
em si mesmo, ao passo que o segundo consome produzindo.
A paisagem é o resultado cumulativo desses tempos. No entanto, essa
acumulação a que chamamos paisagem decorre de adaptações (imposições)
verificadas nos níveis regional e local, não a diferentes velocidades como
também em diferentes direções. A existência de geografias desiguais no mundo,
leva ao surgimento de determinadas configurações, preparadas para certas
inovações do que outras. Segundo Santos (1985, p. 50), para se compreender o
espaço social em qualquer tempo é fundamental tomar em conjunto a forma, a
função, a estrutura e o processo, como se tratasse de um conceito único.
A paisagem é formada pelos fatos do passado e do presente. A compreensão
da organização espacial, bem como de sua evolução, se torna possível mediante
a acurada interpretação do processo dialético entre formas, estrutura e funções
através do tempo.
Forma é o aspecto visível de uma coisa. Função sugere uma tarefa ou
atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa. Estrutura implica a
inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção.
Processo pode ser definido como uma ação continua, desenvolvendo-se em direção
a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo e mudança. A função está
diretamente relacionada com sua forma; portanto, a função é a atividade elementar
de que a forma se reveste.
Para Santos (1985), os elementos do espaço são os homens, as firmas, as
instituições, o suporte ecológico, as infra-estruturas, estamos aqui considerando
cada elemento como um conceito. O conceito é real na medida em que é atual.
Isso quer dizer que as expressões do homem, só podem ser entendidas à luz da sua
história e do presente.
Ao longo da história, todas as variáveis estão em evolução constante. O que
nos interessa é o fato de que a cada momento histórico cada elemento muda seu
23
papel e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial e a cada momento,
o valor de cada qual deve ser tomado da sua relação com os demais elementos e
com o todo.
Os diversos elementos do espaço estão em relação uns com os outros:
homens e firma, homens e instituições, firmas e instituições, homens e infra-
estrutura, etc.
As relações entre os elementos ou variáveis são de duas naturezas: relações
simples e relações globais. Além dessas relações, as relações seriais que são,
sobretudo, relações de causa e efeito, na medida em que um elemento é causa de
uma modificação no outro e assim sucessivamente, até que ele próprio, o primeiro,
seja também afetado.
A verdade é que seja qual for à forma de ação, entre as variáveis ou dentro
delas, não se pode perder de vista o conjunto, o contexto. As ações entre as
diversas variáveis estão subordinadas ao todo e aos seus movimentos.
Na conceituação de espaços turísticos, Rodrigues (2001, p. 43) afirma que:
O turismo na sua enorme complexidade reveste-se de tríplice aspectos com
incidências territoriais específicas em cada um deles. Trata-se de fenômeno
que apresenta áreas de dispersão (emissoras), áreas de deslocamento e
áreas de atração (receptoras). É nestas que se manifesta materialmente o
espaço turístico ou se reformula o espaço anteriormente ocupado. É aqui
também que se dá de forma mais acentuada o consumo do espaço.
Assim sendo, torna-se relevante insistir no conceito de estrutura espaço-
temporal em uma análise do espaço geográfico ou espaço concreto. A sociedade
pode ser definida através do espaço, que o espaço é resultado da produção, uma
decorrência de sua história, mais precisamente, da história dos processos produtivos
impostos ao espaço pela sociedade.
3.4 PAISAGEM: ASPECTOS CONCEITUAIS
As definições de paisagem partem do ponto de vista de quem a contempla e a
analisa, como se a paisagem não existisse sem alguém que a observa-se,
24
acrescentando-se a experiência individual, a bagagem cultural, a história da vida, de
pensamentos e sentimentos.
Assim, ler a paisagem é muito mais complexo do que ver e perceber a
paisagem. Envolve uma visão de mundo, consciente e inconsciente, sempre
subjetiva e permeada pelo imaginário (RODRIGUES, 1999, p. 47).
Na análise da paisagem, ainda sobre a leitura desta, Cullen (1983, p. 10),
afirma que: “a visão tem o poder de invocar as nossas reminiscências e
experiências, com todo o seu corolário de emoções, fato do qual se pode tirar
proveito para criar situações de fruição extremamente intensas”. Situações estas,
que procurando saber como se processa, Cullen (1983) considera três aspectos, a
serem analisados:
1 ÓTICA: Ao analisar o percurso de um transeunte, o autor afirma que, o
primeiro ponto de vista é a rua; a seguir, ao entrar no pátio, surge novo ponto de
vista, ao atravessar a rua, porém, depara-se uma imagem completamente diferente.
Em outras palavras, embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo
uniforme, “a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de
surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por VISÃO SERIAL” (CULLEN,
ibidem, p. 11). Esta sucessão de situações, é que possibilita o dinamismo na cidade,
pelo vigor e dramatismo dos seus contrastes. Quando isto não se verifica, ela passa
despercebida, é uma cidade sem característica e amorfa.
Há, ainda, outro aspecto a ser considerado numa perspectiva visual: é o de se
ter dois pontos de vista, isto é, a imagem existente e a imagem emergente. O
aparecimento de acontecimentos fortuitos deve ser tomado como mais um aspecto
da arte do relacionamento.
2 LOCAL: Este segundo ponto diz respeito às nossas reações perante a
nossa posição no espaço. O nosso corpo tem o hábito de se relacionar instintiva e
continuamente com o meio ambiente, o sentido de localização não pode ser
ignorado e entra forçosamente na planificação do ambiente. Se, de um modo geral,
na cidade não surgem contrastes tão marcados, o princípio se mantém. uma
reação típica, quando nos encontramos muito abaixo ou acima do nível do terreno,
uma outra perante o encerramento, e outra ainda perante a praça pública. Os mais
belos efeitos urbanísticos residem justamente na forma como são estabelecidas
estas interrelações (CULLEN, 1981, p. 12). O autor neste ponto destaca as
25
diferentes reações que o indivíduo tem, ao confrontar-se com as distintas situações
espaciais.
3 CONTEÚDO: Este último aspecto relaciona-se com a própria constituição
da cidade: a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza e personalidade, e
tudo que a individualiza. Considerando que a maior parte das cidades e de fundação
antiga, apresentando em sua morfologia características e estilos arquitetônicos de
diferentes períodos, evidenciando uma variedade de materiais, estilos e escalas.
Cullen (op. cit, p. 13) afirma que:
Dentro de um enquadramento geralmente aceite, que tenha por objetivo
criar lucidez e não anarquia, e possível jogar com todas as variáveis de
escala, estilo, textura e cor, e conjugá-los por forma a criar um todo que
beneficie a comunidade. Se isso acontece o meio ambiente não será um
produto do conformismo, mas sim de interação.
Na visão serial, Cullen (1983) destaca os três aspectos: ótica, local e
conteúdo, para análise da paisagem. Propõe, ainda, para que esta seja dinâmica e
interessante, considerar outras condicionantes como: apropriação do espaço
privilegia, viscosidade, enclaves, recintos, ponto focal, edifício-barreira, espaço
intangível, etc.
O ritmo em que se processam hoje as mudanças impede os urbanistas de
assentar e aprender empiricamente a humanizar a matéria em bruto que se lhes
depara. Tem-se, pois, de proceder a determinadas alterações organizativas de
forma a conciliar da melhor maneira a aceleração do progresso com a noção de
escala humana (CULLEN, 1981, p. 17).
O autor propõe maior envolvimento emocional dos moradores, na percepção
da cidade, contribuindo para o entendimento da dialética de planejamento e bom
urbanismo.
3.5 PAISAGEM: ASPECTOS HISTÓRICOS
A respeito da paisagem edificada de Ganchos, e parafraseando Doberstein (apud
AÇORES GUIA TURÍSTICO, 2008) a valorização das edificações luso-brasileiras,
assim como de outros tantos monumentos, depende, pois, de uma depuração do
26
“ranço” modernizante, responsável pela nossa timidez em enaltecer manifestações
artísticas e culturais das periferias dos grandes centros. É necessário que tais
edificações passem a ser vistas com um olhar bem típico da melhor das pós-
modernidades, aquele olhar que, depois de percorrer o universal se volte com o
mesmo interesse e deslumbramento para o provinciano, para o municipal, para o
individual, em suma, para as micro historicidades. Considerando a sua micro
historicidade, os diversos anônimos que contribuíram para a configuração desta
paisagem.
É absolutamente incrível como, em poucas décadas, andar por este Brasil
revela incontáveis lances de aniquilamento da paisagem, das referencias naturais,
históricas (YÁZIGI, 1996, p.135),
Décadas de descaso e menosprezo, sejam os termos que convém à história
recente da paisagem. sabemos que a ação do colonizador na paisagem se faz
sentir desde o pau-brasil.
Tão logo surgiu o açúcar, o pau-brasil foi deixado para segundo plano,
permitindo assim algum repovoamento natural. Dessa forma, primeiro o açúcar,
depois a mineração e o café, é que vão devastando a paisagem.
Num primeiro momento não havia cidade alguma para ser destruída, elas
foram sendo, pelo contrário, criadas, e aumentando nosso patrimônio urbano ao
longo do tempo. Predomina, por longo período de tempo, a cidade colonial,
pontilhada do estilo barroco onde era possível.
Em fins do culo XIX, com o café e a borracha estourando no mercado
internacional, o Brasil entrou na Haussmanização
1
de algumas capitais e centros
regionais: São Paulo, Rio, Manaus, Belém com preceitos mais intencionalmente
estéticos do que o próprio Haussman.
Passado o café, uma outra cidade se superpôs às duas primeiras,
representada pela sociedade urbano-industrial. Alguns, assustados com o
vandalismo, criam no final dos anos 30, o primeiro órgão público em defesa do
patrimônio.
Um monumento isolado, de significado autônomo, mostrou-se muito longe de
contribuir para uma verdadeira consciência histórica que é o grande vértice da
1
Haussman, quando prefeito de Paris, foi idealizador de profundas alterações no aspecto urbano da
cidade, criando, por exemplo, os grandes boulevares e a Champs Elisee. E de certa maneira, foi o
inspirador, para um novo traçado urbano em algumas cidades da América do Sul (Rio de Janeiro,
Montevidéu e Buenos Aires) no final do século XIX.
27
preservação da paisagem. A este novo conceito consagrou-se a expressão
patrimônio ambiental urbano: ou seja, o conjunto de elementos arquitetônicos,
adornos, equipamentos, símbolos, espaços livres, espécies naturais, graças a seus
valores históricos, naturais, sociais e, culturais. E essa característica justamente vem
sendo destruída ao lado de grandes paisagens naturais.
A partir das décadas de 1950 e 1960, a grande arrancada industrial que o
Brasil experimenta, incluindo a nascente indústria automobilística, trouxe consigo
marcas indeléveis de destruição da paisagem natural, numa intensidade jamais
conhecida antes.
Habitantes dos segmentos médio e superior de grandes centros urbano-
industriais começam a buscar residências secundárias, constituindo-se em mercado
consumidor de casas e apartamentos no litoral e interior, provocando intensa
especulação imobiliária em vários pontos do país.
Com alguns intervalos que marcaram a crise no setor da construção civil,
particularmente nos anos 1980, a urbanização linear do litoral foi quilométrica.
Lamentavelmente, o Brasil é um dos países que apresenta uma degradação
visual estética arquitetônica desagradável perante a beleza que já houve nos centros
urbanos e comunidades rurais; característica essa extremamente evidenciada nos
últimos tempos. Memórias da literatura, de depoimentos pessoais, fotos e álbuns,
nos dão conta, mesmo depois da Segunda Guerra, de um Brasil ainda portador de
lugares cheios de superlativos.
O processo de degradação visual urbana continua sua marcha, salvo alguns
casos em que a sociedade se organiza e oferece obstáculos. Mas quando falamos
de uma ameaça presente, a quem nos referimos? Quem são os novos vândalos?
Os novos vândalos o seres de nosso cotidiano, as três esferas do governo,
nossos familiares, amigos, vizinhos, e quem sabe s mesmos (YÁZIGI, 1996, p.
141).
28
4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA LOCALIDADE DE GANCHOS
Nesse capítulo explana-se, sem mais delongas, sobre o contexto da
localidade de Ganchos de Governador Celso Ramos Santa Catarina. Localidade
esta caracterizada por uma paisagem urbana, a qual atrai a si a prática da ação do
turismo na região, fonte econômica primária atualmente. De um extremo ao outro do
capítulo é pesquisado um pouco da sua história, de sua política, abordando pontos
importantes da sociedade, da economia, da cultura, uma vez que são todos esses
que formam o perfil e as peculiaridades do lugar. Como a maior parte do litoral
catarinense, essa região também sofreu colonização e povoamento açorianos, na
qual predominou uma sustentabilidade de subsistência, tendo a pesca da baleia o
seu maior sustentáculo econômico até final do século XIX quando esta termina.
Depois, do rmino dessa pesca no final do século XIX, a região volta-se para o
isolamento e estagnação econômica, mas os seus habitantes não deixaram os
costumes açorianos serem esquecidos, principalmente na montagem do espaço. No
começo do século XX e, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, a
região retorna ao cenário econômico regional com auxilio do governo por meio da
industrialização local, mudança econômica esta que exige dos habitantes uma nova
organização espacial das cidades, o que exigiu planejamento e uma urbanização
tardias. No entanto, a arquitetura portuguesa da região não foi perdida, os traçados
históricos deixaram marcas profundas na arquitetura ambiental e urbana, a qual,
atualmente atrai um turismo de lazer e ao mesmo tempo histórico-cultural, pois é
nesse ambiente que se encontra a delimitação da pesquisa que é a comunidade de
Ganchos, formada pelas localidades de Canto dos Ganchos, Ganhos do Meio e de
Fora, lugares os quais ainda resgatam todas essas observações.
4.1 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA
O município de Governador Celso Ramos, encontra-se na parte litorânea do
litoral do Estado Federativo de Santa Catarina (figura 02), cuja capital é
Florianópolis. É uma península do litoral catarinense, abaixo do Trópico de
29
Capricórnio, situada a uma latitude 27º18'53" sul e a uma longitude 48º33'33" oeste,
estando a uma altitude de 40 metros. Especializada em extração de moluscos, a
cidade é considerada uma das maiores produtoras de marisco de cultivo de Santa
Catarina e um importante centro pesqueiro. (GOVERNADOR CELSO RAMOS,
2009).
Seu clima é o mesotérmico úmido, com temperatura média de 18°C por ano.
E sua população estimada, em 2008, era de 12.611 habitantes. Com seus 93
quilômetros quadrados, faz divisas a oeste com Biguaçu e Tijucas, ao norte, sul e
leste com o Oceano Atlântico. O Distrito de Ganchos pertencia ao município de
Biguaçu, emancipou-se em 1963, e em 1967 teve seu nome alterado para
Governador Celso Ramos. A sua topografia apresenta uma vasta planície (era
quaternária), rodeada de um mar de morros, com destaque para o Maciço da
Armação, pontos culminantes como o Morro do Pique (620m) e Morro da Costeira
(403m). Sua orla ainda é caracterizada por encostas íngremes.
Figura 2 - MAPA POLÍTICO DE SANTA CATARINA
Fonte: Santa Catarina, 2009.
Governador Celso Ramos, está inserida na Área Ambiental de Anhatomirim
onde está a Fortaleza de Santa Cruz, um dos principais monumentos históricos de
Santa Catarina. Está na área de Proteção Ambiental da Baleia Franca e a Reserva
Biológica Marinha do Arvoredo, santuário de espécimes raras de fauna e flora.
O município está na Rota do Sol do litoral catarinense, entre Florianópolis e
Balneário Camboriú, sendo seu acesso rodoviário feito através da BR 101, e SC
410.
30
Governador Celso Ramos tem muitas e belas praias, destacando-se a Praia
de Palmas. No Canto Sul encontram-se vestígios da Casa Grande e engenhos,
cercados de lendas e crendices. Na Praia da Armação, está a igreja de Nossa
Senhora da Piedade, um dos atrativos da região.
Também há as praias do Sinal, da Caieira, do Antenor, da Gamboa, da
Figueira, de Fora, o Canto dos Ganhos, os Ganchos de Fora e a Praia da Cruz.
A localidade de Ganchos (Canto, Meio e de Fora), pertencente ao município
de Governador Celso Ramos, é uma localidade típica de pescadores artesanais,
localizada no norte do município de Governador Celso Ramos, na grande
Florianópolis, no litoral de Santa Catarina (figura 03). É considerada área costeira e
definida, segundo o Plano de Gerenciamento Costeiro, como: “o espaço geográfico
de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não,
abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre”.
Figura 3 - MAPA POLÍTICO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS E LOCALIDADE DE GOVERNADOR
CELSO RAMOS
Fonte: http://img710.imageshack.us/i/govcelsoramos.jpg/, 2009.
31
4.2 CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL E ECONOMICA
O município de Governador Celso Ramos, tem iniciada sua colonização com
a chegada dos primeiros portugueses ao litoral de Santa Catarina, mas segundo
Lago (1961, p. 81), “[...] é a partir do século XVII, que o processo de ocupação do
litoral se fortalece, com a vinda dos bandeirantes vicentistas. Foi com a chegada dos
açorianos, a partir do século XVIII, no entanto, que a colonização da região se
consolida”.
É com a vinda dos açorianos, que estas localidades desenvolvem um “traçado
urbano”, configurado pela presença de uma praça, onde se localiza a capela. Esta
configuração sócio-espacial caracterizará as comunidades litorâneas catarinenses
de origem portuguesa.
O município de Governador Celso Ramos, devido a suas condicionantes
geográficas e recortes em seu sítio têm seu primeiro núcleo de povoamento
denominado Armação da Piedade, cujo local sedia as atividades de pesca e
industrialização de produtos baleeiros.
Durante dois séculos, a pesca foi à principal atividade econômica da região,
sendo substituída gradativamente pela pequena produção agrícola.
A atividade do pequeno produtor neste espaço, impulsionada pela
instalação de uma unidade fabril para a produção de cal, olarias e dois
armazéns varejistas em Piedade, além da atividade pesqueira (com
apetitosas salgas, conservas de garoupas e pescadas amarelas), dava a
localidade condições de abastecer o mercado de Desterro (SILVA, 1996, p.
93).
O Brasil, na época da descoberta, contava com uma população indígena
estimada em 5 milhões de indivíduos, divididos em várias tribos. No litoral
predominavam os Tupis Guarani. O litoral de Santa Catarina também era habitado
por índios, a ilha de Santa Catarina e imediações, litoral de Laguna e São Francisco,
pelos índios denominados Carijós, pelos europeus.
Estas populações, entretanto não eram as únicas, no interior, outras tribos
chamadas de Xokleng e Kaingang, que ocupavam áreas de florestas e campo.
É a partir do século XVII, entretanto que se o processo de ocupação do
litoral catarinense, que não se dá pelo mar, mas sim através dos bandeirantes
32
vicentistas, que desbravando as matas brasileiras vem fundar algumas vilas
(Francisco Dias Velho em Desterro, atual Florianópolis).
A ocupação do sul do Brasil é fruto de uma luta política entre Portugal e
Espanha, que mesmo com o Tratado de Tordesilhas (1494), não se acertavam sobre
os limites geográficos em questão. O litoral fronteiro e a ilha de Santa Catarina foram
povoados em função da atividade militar.
O início do povoamento destas localidades, efetivamente ocorre com a vinda
de bandeirantes vicentistas, oriundos da Capitania de São Vicente, que hoje venha
ser o atual Estado Federativo de São Paulo. Contudo, o motivo não era muito nobre
que trazia os bandeirantes vicentistas à região do litoral catarinense, o que eles
buscavam era mão de obra escrava para vender aos grandes latifundiários e ricos
proprietário a mão de obra mais barata que se comercializou no mundo. Assim,
como a necessidade é a mãe de todas as atitudes, nos primeiros anos do século
XVII bandeirantes
2
oriundos de terras de São Vicente internaram-se nos domínios
espanhóis com o firme propósito de aprisionar os indígenas que encontrassem para
depois vendê-los aos senhores fazendeiros paulistas. Intuito conquistado com êxito
pela metrópole portuguesa.
Era 7 de março de 1739, quando o Brigadeiro Silva Paes, inicia seu governo
na Capitania de Santa Catarina. Nessa época a pesca da baleia, era um grande
monopólio, entregue aos grandes comerciantes. Entre 1740 e 1742, próximo a
freguesia de São Miguel, foi instalado um núcleo de captura e industrialização de
baleia, denominado “Armação Grande ou Nossa Senhora da Piedade”, as
instalações ali construídas, faziam daquela armação a maior e mais importante do
nosso litoral e a segunda do Brasil colônia.
Por decisão do Conselho Ultramarino, Portugal, em 1746, resolve promover a
emigração de açorianos para a ilha de Santa Catarina, litoral fronteiro e Rio Grande.
Silva Paes, incumbido da defesa da ilha, procede à localização dos primeiros
açorianos. Em 1748, chegou à ilha, a primeira leva de povoadores, e até o último
transporte por cerca do ano de 1756, cerca de 5.000 pessoas foram transferidas de
Açores para Santa Catarina, originando a maior corrente migratória européia até
então dirigida ao Brasil.
2
Responsável pela incorporação de cerca de dois terços do atual território nacional à Coroa
portuguesa, o bandeirantismo pode ser dividido, em linhas gerais, em duas fases: até meados do
século XVII, as expedições bandeirantes dirigiram-se ao Sul à cata de indígenas para serem
escravizados; daí para frente seu interesse maior foi à busca de metais e pedras preciosas.
33
Os açorianos foram inicialmente localizados na ilha e no continente fronteiro
de o Miguel até Laguna, e alguns casais no Rio Grande e nas cercanias de Porto
Alegre. É com a vinda dos açorianos no século XVIII, que estas localidades
desenvolvem um “traçado urbano”, configurado pela presença de uma praça, onde
se localiza a capela. Esta configuração sócio-espacial caracterizará as comunidades
litorâneas de origem portuguesa.
O povoamento açoriano no litoral de Santa Catarina caracterizou em definitivo
a região. Distribuídos em diversas freguesias, os açorianos imprimiram feições
particulares ao ambiente, surgiram novos povoados, destacando-se: Fazenda e
Costeira da Armação, Canto e Ganchos.
Com o fim das atividades baleeiras, “Armação da Piedade”, sofre grande
evasão de pessoas, enquanto Ganchos e os povoados vizinhos crescem com as
unidades fazendeiras.
A decadência brusca começou quando os baleeiros ingleses e
norte-americanos começam a operar nas ilhas Falkland,
impedindo que as baleias, em suas migrações hibernais
chegassem, como era de costume, até as costas do Brasil.
Reduziram eles consideravelmente a espécie, pela devastação
praticada em larga escala e com processos aperfeiçoados.
(PRADO JÚNIOR, 2008).
Em 1826 findam as atividades das armações da pesca da baleia na proncia
de Santa Catarina.
Os mesmos açorianos que fundaram a vizinha São Miguel, iniciaram o
povoamento da cidade, que pertenceu a Biguaçu até 1963. A Armação da Piedade é
o local de fundação da localidade, mas a sede do município está na localidade de
Ganchos.
4.3 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
A pesca da Baleia foi a primeira atividade econômica desenvolvida na
localidade de Ganchos, sendo sua denominação originada desta atividade,
“Armação Grande“ ou “Nossa Senhora da Piedade”. Entre os anos de 1740 e 1826,
34
as instalações ali construídas, faziam daquela armação a maior e mais importante
do nosso litoral.
A pesca da baleia foi à principal atividade econômica da região, sendo
substituída gradativamente pela pesca artesanal e a pequena produção agrícola,
com a chegada dos primeiros açorianos no século XVIII.
Na colonização do litoral catarinense, os portos de São Francisco do Sul, Ilha
de Santa Catarina e Laguna, eram reconhecidamente as mais importantes “estações
de aguada”, para as embarcações que se dirigiam para o Rio da Prata ou Pacífico.
A exploração de produtos agrícolas, especialmente a farinha, destinada ao
abastecimento da população, das tropas e embarcações em trânsito, associada à
atividade pesqueira, aos poucos deu sentido econômico a população recém
chegada à comunidade.
A pequena produção pesqueira e agrícola açoriana ocupou de forma
diferenciada o espaço territorial da localidade, estabelecendo os agricultores nas
encostas e elevações e os pescadores na beira da praia.
Com a decadência da pesca da baleia, “Armação da Piedade”, sofre grande
evasão de pessoas, enquanto Ganchos e os povoados vizinhos crescem com as
unidades fazendeiras, a ocupação e uso do solo passam a ser redefinidas. Em
Jordão foram edificadas casas, senzalas e engenho. Em Ganchos, Manoel José
Sabino, além de casas e senzalas, construiu paióis para beneficiar a mandioca.
Com o fim das atividades nas armações da pesca da baleia, a ocupação e
uso do solo passam a ser redefinidas. algumas tentativas por parte do governo
da província para o melhor aproveitamento da produção pesqueira e agrícola, mas
estas se mostram inapropriadas para o crescimento econômico da região. Uma
dessas políticas diz respeito a implantação de colônias agrícolas, destinando ao
local algumas famílias germânicas.
Com o passar dos anos no litoral catarinense, ocorre um gradativo abandono
da atividade agrícola. Em Governador Celso Ramos, a maioria da população dedica-
se a pesca, abastecendo o mercado de Desterro. A atividade pesqueira intensifica-
se na metade do século XX, devido a incentivos do governo para o setor industrial.
Várias empresas ligadas ao setor pesqueiro estabelecem-se no município, como
veremos a seguir.
No desenrolar desta formação sócio-espacial, ocorreram diversos fatores
(concorrência com produtores próximos, esgotamento dos solos, serviço militar,
35
fragmentação das propriedades, etc.) que ocasionaram uma estagnação do
pequeno produtor. Logo, a agricultura açoriana não progrediu por muito tempo,
verificando-se a partir de então, isolamento e estagnação econômica bastante
profunda em todo o litoral catarinense, durante anos.
Os anos posteriores a Segunda Guerra Mundial, são caracterizados pela
expansão da economia capitalista, um período no qual a intervenção estatal teve
papel fundamental no processo de desenvolvimento da maioria das nações,
consolidando o planejamento territorial, como forma de controlar o uso do território
para determinados fins de desenvolvimento.
A nova ordem mundial exigia novas formas de organização territorial, por
meio da associação entre industrialização, urbanização e planejamento.
No litoral catarinense ocorre um gradativo abandono da atividade agrícola,
intensificando-se a atividade da pesca artesanal, principalmente a partir dos anos
1950, devido a política do governo para o setor industrial.
A formação sócio-econômica nesta região litorânea é intensificada pela
instalação de diversas indústrias ligadas ao comércio de pescados nas décadas de
1960 e 1970, percebendo-se transformações de ordem sócio-espacial, tendo na
interferência do estado um fator por excelência de elaboração do espaço. ”As
maiores indústrias eram a Predileta, instalada na Armação da Piedade, La Serena
Cia Ltda. de Ângelo D´Rico em Canto dos Ganchos e Três Irmãs em Ganchos do
Meio. Mais tarde apareceram outras como Silva & Filho, Pegan Napesca, Pescado
Rocha” (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2009), as quais permanecem desde a
década de 60 do século anterior.
Nos anos 1970 e 1980, com a construção da BR 101 e a melhoria dos
acessos ao município, percebe-se o desenvolvimento do turismo de segunda
residência, que se consolida nas décadas de 1990 e 2000.
Durante dois séculos e meio, a localidade passa por profundas modificações:
com o fim das atividades do setor baleeiro, das salgas, da industrialização do
pescado, do esgotamento do principal produto da pesca, o camarão, do
encerramento das atividades de algumas empresas pesqueiras, do aumento do
setor de serviços e comércio, da especulação imobiliária, do turismo de lazer.
A sua atual fisionomia espacial resulta de heranças, rugosidades e
combinações de sua estrutura sócio-econômica espacial. A agricultura, pesca
artesanal, construções, cultura, costumes, religião, imprimiram um habitat rural
36
açoriano característico e que vem se modificando em função do aumento da
exploração imobiliária-turística dos balneários, principalmente a partir dos anos 80, e
durante os últimos anos.
4.4 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DO ESTUDO
A delimitação da área a ser estudada, possibilitou uma análise mais detalhada
do objeto de estudo, a comunidade de Ganchos, formada pelas localidades de
Canto dos Ganchos, Ganhos do Meio e de Fora.
Tendo por finalidade identificar a infra-estrutura turística existente e a análise
da paisagem edificada, é instrumento facilitador do processo de relacionar a
qualidade desta paisagem como potencialidade turística.
A pesquisa compreendeu ainda o processo histórico de formação de
Governador Celso Ramos, que tem sua gênese na colonização açoriana, e
particularmente a formação espacial da localidade de Ganchos, conforme figura 04,
fruto das diferentes atividades econômicas percebidas na região ao longo de
décadas.
Delimitando-se a área, foi possível perceber de modo mais claro as diferentes
categorias de análise da paisagem proposta por Cullen (1983, p.10), e as peculiares
situações encontradas na comunidade pesquisada nesta análise. Será possível
perceber a potencialidade da paisagem edificada e natural, como atrativo turístico,
baseado em desenhos, fundamentação teórica, mapas gerais e pontuais, e acervo
fotográfico, que facilitarão esta compreensão.
37
Figura 4 - ESPECIFICAÇÃO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR CELSO RAMOS E A
DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO - GANCHOS
Fonte: Google Earth, 2009.
38
5 ANÁLISE DO PROCESSO HISTÓRICO E TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM
COM A IMPLANTAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM GANCHOS
A paisagem é o determinante principal que interfere diretamente no hábito e
prática do turismo. A fisionomia espacial a pesar de ser um reduto que conserva em
si suas origens transforma-se em relação à interferência desejada do homem,
principalmente pelo influxo econômico que comanda qualquer economia capitalista.
Este modifica aspectos históricos, que deveriam ser preservados para manter uma
linearidade do planejamento urbano que acaba decaindo na desordenada habitação
do espaço. No entanto, a comunidade de Ganchos, formada pelas localidades de
Canto dos Ganchos, Ganhos do Meio e de Fora, conserva detalhes ainda inusitados
do seu povoamento, muito embora a disposição espacial tenha sofrido mudanças
pelo influxo econômico, reativado, conforme sua História, logo depois da Segunda
Guerra Mundial com a industrialização, principalmente pesqueira. A indústria na
região se desenvolveu perante a intervenção direta do governo estadual, no entanto
os caminhos de acessos a ela criam muitas dificuldades para a exploração turística
da localidade. Somente, é com a construção da BR 101 e a melhoria dos acessos
nas décadas de 60 e 70, que o turismo ganhou um novo impulso na região como
atividade econômica, tornando-se no final do século XX a atividade de especulação
imobiliária local lucrativa em nível de residência em temporada. Com isso, o espaço
urbano passou por novas transformações a fim de receber os visitantes e turistas
pudessem usufruir o seu tempo de lazer confortavelmente. Por isso que a
necessidade de uma interferência incisiva na infraestrutura foi necessária,
modificando ao mesmo tempo a paisagem urbana e natural para se tornarem
depositário econômico, cuja finalidade de melhor planejamento e organização do
espaço o conseguiu esconder os indícios do povoamento açoriano local. É nessa
perspectiva que será apresentada a discussão e a análise do problema desse
estudo de caso, da relação entre turismo e arquitetura da comunidade de Ganchos,
formada pelas localidades de Canto dos Ganchos, Ganhos do Meio e de Fora, do
que se conservou do seu traçado urbano em seu espaço turístico. Para tanto, é
desenvolvida a análise do processo histórico de Ganchos, frisando a interferência
direta na arquitetura sócio-espacial urbana da colonização açoriana local, a qual se
caracteriza, de modo geral, por uma praça central, cuja localidade se edifica uma
39
Igreja, e, partindo desse ponto, as outras edificações circunscrevem formando,
desse modo, a cidade propriamente dita. Em seguida, é analisado o processo de
transformação da paisagem e sua relação com o desenvolvimento turístico da
região. Nesse ponto, é destacado que a atual fisionomia espacial de Ganchos é
resultado das diferentes combinações de sua estrutura cio-econômica. Em
seguida, é concretizada a análise da configuração atual da paisagem da localidade
de Ganchos e sua potencialidade turística. Esta análise é realizada tendo, por
orientação principal, Cullen, cuja análise semiótica da paisagem na perspectiva
Ótica, Local e Conteúdo, demonstra que o traçado urbano da região embora
modificado pela finalidade do turismo, ainda preserva em si as peculariedades do
traçado urbano colonial e do traçado da topografia local, que nasce da necessidade
imediata do direito de ir e vir. Todo o processo de análise é sustentado por mapas
elaborados especialmente para a demonstração visual da transformação da
paisagem e a ação nesta do homem como agente interventor direto nela para as
suas finalidades sócio-espaciais.
5.1 PROCESSO HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DE GANCHOS
O processo histórico de formação da comunidade de Ganchos é
caracterizada inicialmente pela vinda dos bandeirantes vicentistas, que a partir do
século XVII, se estabeleceram em parte do litoral catarinense, sendo a Armação da
Piedade, o local de chegada dos primeiros colonizadores.
De acordo com a figura 05, podem-se observar as diversas comunidades que
contribuíram para o processo de formação de Gov. Celso Ramos.
40
Figura 5 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DE GANCHOS
Fonte: http://img688.imageshack.us/i/localizacao.jpg/, 2009.
A produção do espaço do litoral catarinense passa pela compreensão de seu
processo histórico, e no caso particular da área litorânea, a sua gênese açoriana, ou
seja, a formação social de Açores, que em meados do século XVIII, tem parte de
sua população deslocada para o litoral sul do Brasil.
Na formação social portuguesa, e neste caso particular de Açores,
estabeleceram-se relações servis e de pequena produção independente,
desenvolvendo no plano externo relações capitalistas mercantis. Em ambas as
formações, porém, aprofundam-se as relações de comunitarismo em várias
dimensões: agrícola e pesqueiro (atividades básicas de Açores), nos costumes, nas
festas, na arte, etc.
Segundo Silva (1996, p. 469),
a presença e distinção de traços sócio-espaciais tão característicos da
população açoriana no litoral catarinense, visto que permaneceram vários
aspectos culturais, formas de utilização da natureza e diferentes tipos de
41
produção econômica, o só identificam a formação social litorânea
catarinense, como a diferencia de outras formações que se desenvolveram
em Santa Catarina, especialmente as áreas habitadas por populações de
origem alemã e italiana.
A ocupação do Brasil do Brasil Meridional, parte de uma estratégia da Coroa
Portuguesa, que buscava intensificar o povoamento ao longo do litoral, garantindo a
ocupação da área com a colonização açoriana. É importante salientar ainda, que
antes da chegada dos açorianos, alguns acontecimentos como: a criação de portos
e fortalezas, fundação da Capitania de Santa Catarina em 1738, e o início das
atividades baleeiras, reforçam o projeto político português para o sul brasileiro.
O processo de transformação sócio-espacial, decorre de mudanças das
diferentes atividades econômicas desenvolvidas na localidade, tendo início com as
atividades da pesca e industrialização da Baleia (1740-1826), em seguida no setor
primário (pesca e agricultura), setor terciário (pesca industrializada) e atualmente
evidenciado pelo setor turístico e de serviços, e como estas mudanças, alteram a
paisagem local.
A atividade da captura e industrialização da baleia, na localidade de “Armação
Grande” ou “Nossa Senhora da Piedade”, atualmente denominada Armação da
Piedade, caracteriza a primeira atividade econômica da região, estabelecendo e
fixando seus primeiros moradores.
É com a vinda dos açorianos no século XVIII, no entanto, que estas
localidades desenvolvem um “traçado urbano”, configurado pela presença de uma
praça, onde se localiza a capela. Esta configuração sócio-espacial caracterizará, de
modo geral, as comunidades litorâneas de origem portuguesa no litoral catarinense
e no caso a Armação da Piedade.
O povoamento açoriano no litoral de Santa Catarina caracterizou em definitivo
a região. Distribuídos em diversas freguesias, os açorianos imprimiram feições
particulares ao ambiente, surgiram novos povoados, destacando-se: Fazenda e
Costeira da Armação, Canto e Ganchos.
A exploração de produtos agrícolas, especialmente a farinha, associada à
atividade pesqueira, aos poucos deu sentido econômico a população recém
chegada. A pequena produção pesqueira e agrícola açoriana ocupou de forma
diferenciada o espaço territorial da localidade, estabelecendo os agricultores nas
42
encostas e elevações e os pescadores na beira da praia, como podemos perceber
ainda em Canto dos Ganchos.
Ganchos e os povoados vizinhos crescem com as unidades fazendeiras, e
com o declínio da pesca baleeira na Armação da Piedade. uma política de
implantação de colônias agrícolas, no início do culo passado, destinando ao local
algumas famílias germânicas, ainda há remanescentes desta política, com uma
pequena indústria de lacticínios na localidade da Fazenda.
Com o passar dos anos no litoral catarinense, ocorre um gradativo abandono
da atividade agrícola. Em Governador Celso Ramos, a maioria da população dedica-
se a pesca artesanal, abastecendo o mercado de Desterro, até praticamente a
metade do século XX.
As décadas de 60 e 70 marcaram as grandes transformações de ordem
sócio-espacial, com a implantação de várias indústrias do pescado,
descaracterizando de modo mais evidente a paisagem edificada, principalmente na
localidade de Ganchos do Meio, com o surgimento de edificações industriais,
destoando das pequenas residências inseridas nesta paisagem.
Durante dois séculos e meio, a localidade passa por profundas modificações,
de ordem econômica, alterando a sua configuração sócio-espacial: o fim das
atividades do setor baleeiro, das salgas, da industrialização do pescado, do
esgotamento do principal produto da pesca, o camarão, do encerramento das
atividades de algumas empresas pesqueiras, do aumento do setor de serviços e
comércio, atualmente com o surgimento das segundas residências, estabelecendo-
se a especulação imobiliária, do turismo de lazer e de praia, e mais recentemente do
turismo de luxo.
A sua atual fisionomia espacial resulta de heranças, rugosidades e
combinações de sua estrutura sócio-econômica espacial. A agricultura, a pesca
artesanal, construções, cultura, costumes, religião, imprimiram um habitat rural
açoriano, característico e que vem se modificando em função do aumento da
exploração imobiliário-turística dos balneários, principalmente a partir dos anos 80, e
durante os últimos anos.
Mussolini (1980, p.223), afirma que:
A impressão que se tem do litoral, é que a vida ali foi
simplificada em seus elementos culturais e, em comparação
com o passado, reduzida a ponto pequeno. Talvez seja este o
43
aspecto que mais causa a impressão de decadência. E como
se vivesse do que sobrou de outrora, tendendo-se, em geral,
antes a empobrecer esses restos que a lhes acrescentar novos
elementos.
A localidade de Ganchos tem seu traçado característico, pois está numa faixa
limite entre o morro e o mar, sendo importante compreender o processo histórico de
povoamento, como prerrogativa para o entendimento do modo de ocupação desta
localidade e a organização sócio-espacial como um fenômeno em constante
mudança.
44
Mapa 1 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA DE VALOR HISTÓRICO
Fonte: Acadêmico, 2009.
45
5.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E SUA
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA REGIÃO
Segundo Yázigi (1996, p.32), para o residente, a paisagem desempenha
algumas funções no cotidiano deste, onde podemos destacar que é o espaço
mediador para a vida e as coisas acontecerem, é o lugar de referências múltiplas:
geográficas, psicológicas, é a fonte de inspiração, alimento à memória social.
A paisagem é a “idéia de lugar”, de que tanto se defende, é a essência do
cotidiano do habitante, que o torna satisfeito e acaba produzindo interesse ao turista,
que busca o diferencial do cotidiano. É preciso ter claro, que a paisagem interessa
primeiramente a seus próprios moradores, que admirados por ela, despertam
interesses em visitantes e turistas.
Partindo destas considerações e tendo como lugar de estudo a localidade de
Ganchos, no município de Governador Celso Ramos, litoral de Santa Catarina, a
análise procura focar a paisagem edificada e natural, tendo como referenciais a sua
formação sócio-espacial, decorrente da colonização de base açoriana, e de seu
relevo, que é referência nesta ocupação.
Relacionando a análise da paisagem, com os diferentes modos de produção
ocorridos na comunidade ao longo de sua história, e mais recentemente com o
fenômeno turístico, que segundo Santos (1997, p.15), é expresso pelas relações
sociais e pela materialização territorial, que participa do processo de produção do
espaço, é que percebemos, as mudanças desencadeadas neste processo.
De acordo com a figura 06, podemos observar a herança da ocupação
açoriana muito presente na comunidade de Canto dos Ganchos, evidenciada ainda
pela situação geográfica peculiar, que no seu percurso, revela uma sucessão de
pontos de vista, culminando ao alto, com o ponto focal: a Igreja. Ainda notamos a
morfologia da localidade (figura 07), caracterizada pela irregularidade do traçado
urbano (herança da ocupação portuguesa).
46
Figura 6 - DESENHO DA BAÍA DO CANTO DOS CANCHOS
Fonte: Desenho do Acadêmico, 2007.
Figura 7 – VISTA DA IGREJA, CANTO DOS GANCHOS.
Fonte: Acervo do Acadêmico, 2007.
47
A pesca foi à base econômica do Município durante séculos, primeiramente
com a caça e captura de baleias. Com a vinda dos açorianos, desenvolveu-se uma
pequena produção agrícola, além da pesca artesanal. As indústrias pesqueiras
estabelecem-se na comunidade de Ganchos do Meio, a partir das décadas de 60 e
70, configurando-se uma nova ocupação espacial na localidade (figura 08).
Figura 8 - VISTA PANORÂMICA DA BAÍA DE GANCHOS DO MEIO
Fonte: Santur, 2002.
A atual fisionomia espacial de Ganchos é resultado das diferentes
combinações de sua estrutura sócio-econômica, que teve sua gênese com a
ocupação açoriana, modificando-se mais recentemente em função do aumento da
exploração imobiliária turística, principalmente a partir das décadas de 80 e 90,
como podemos perceber na figura 09, com o surgimento de novos equipamentos
turísticos, face ao surgimento dessa atividade.
48
Figura 9 - IATE CLUBE DE CAIOBÁ, CANTO DOS GANCHOS
Fonte: Acervo do autor, 2009
Em contra partida, com o aumento da atividade turística, surgem novos
serviços adequados a instalações existentes, o que confere certa peculiaridade a
estes lugares como se percebe na página 45.
49
Figura 10 - GANCHO DE FORA
Fonte: Desenho do Acadêmico, 2009.
A paisagem é formada pelos fatos do passado e do presente. A compreensão
desta organização, bem como da sua evolução, se torna possível mediante a
interpretação do processo dialético, entre formas, estrutura e funções através dos
tempos (SANTOS, 1985, p.50).
Analisando ainda as transformações percebidas na comunidade de Ganchos,
Santos (1982, p.38), numa das diversas concepções de paisagem em sua obra, se
refere “a paisagem como o resultado de uma acumulação de tempos”, ainda na
análise espacial, define algumas categorias, a saber: forma, função, estrutura e
processo.
Deve-se sempre ter em mente que o espaço não resulta da soma das partes,
como nos estudos funcionalistas, para se compreender o espaço social da
localidade de Ganchos, em qualquer tempo é fundamental tomar em conjunto estas
categorias.
Analisando a figura 10, percebemos que o desenho (forma) da baía de
Ganchos, com suas águas calmas e protegidas, permitiu durante séculos,
desenvolver tão somente a atividade (função) da pesca, que resultou numa estrutura
espacial bastante simples.
50
Figura 11 - BAÍA DE GANCHOS DE FORA
Fonte : Acervo do autor
A ocupação portuguesa nas cidades litorâneas tem na presença da praça e
da Igreja sua característica mais marcante. Na localidade da Armação da Piedade, é
presente esta situação.
Atualmente a sede do município de GCR é Ganchos, onde a praça (figura 11)
mantém um caráter múltiplo: institucional, comercial e até residencial, o que lhe
confere uma dinâmica singular. O pequeno estacionamento lhe confere um aspecto
peculiar, não é a praça que se estabelece na maior parte das cidades litorâneas de
colonização portuguesa, o ponto de encontro dá-se na extensão da orla de
Ganchos.
51
Figura 12 - PRAÇA E ORLA DE GANCHOS DO MEIO
Fonte: Acervo do Acadêmico, 2008
5.3 ANÁLISE DA INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA EXISTENTE NA LOCALIDADE
DE GANCHOS, E SUA RELAÇÃO COM A QUALIDADE DA PAISAGEM
Com a criação da BR 101, e posteriormente com a SC 410, rodovia inter
estadual (criada na década de 60, para o escoamento da produção pesqueira), é
que o município de GCR, como as cidades litorâneas catarinenses, de um modo em
geral, ampliam-se com a expansão imobiliária, a partir da década de 70.
A atividade turística em Governador Celso Ramos, intensifica-se a partir da
década de 80, surgindo às segundas residências e o primeiro empreendimento
turístico da região, Palmas Park Hotel, além do surgimento do loteamento na Praia
de Palmas, permitindo a instalação das primeiras edificações verticalizadas e uma
maior densidade.
Na comunidade de Ganchos, por apresentar topografia bastante irregular,
percebe-se um outro tipo de ocupação, refletindo-se na
infra-estrutura turística
52
existente, carentes de equipamentos turísticos,de acordo com os mapas 02 e 04
A atividade turística na localidade é percebida principalmente no período de
verão, e apesar da escassez de hospedagem, o aluguel de residências neste
período e na proximidade da Páscoa (Farra do Boi - Atividade comum nas pequenas
comunidades litorâneas catarinenses de origem açoriana), é bastante significativo.
Na localidade da Armação e nas praias da Caieira, do Antenor, da Gamboa e
Palmas, há melhor infra-estrutura e a existência da segunda residência é mais
característica, o que de certa maneira, supre a demanda de turistas e veranistas.
Quanto a outros equipamentos turísticos, percebe-se a existência de poucos
restaurantes e hospedagens (Hotel Ganchos e Pousada Villa dos Ganchos em
Ganchos do Meio, e a Pousada Ponta dos Ganchos em Ganchos de Fora), são as
únicas alternativas de acomodação. O Iate Clube de Caiobá (sede Ganchos), ainda
ofece hospedagem para sócios e restaurante aberto a comunidade somente na
temporada de verão.
A carência de infra estrutura turística, não impede entretanto que a
comunidade seja bastante requisitada no verão, período que observamos o grande
fluxo de turistas na localidade. A peculiaridade do local somada a paisagem da
região, obviamente contribui neste aspecto, oferecendo experiência única ao
visitante, na relação com este ambiente.
53
Mapa 2 - MAPEAMENTO DA INFRAESTRUTURA TURÍSTICA
Fonte: Acadêmico, 2009.
54
5.4 MAPEAMENTO E ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO ATUAL DA PAISAGEM DA
LOCALIDADE DE GANCHOS E SUA POTENCIALIDADE TURÍSTICA.
Na percepção da paisagem utiliza-se o arcabouço, baseado em Cullen (1971)
e Santos (1997), fundamentais para a compreensão do processo de transformação
ocorridos na localidade de Ganchos, além do suporte teórico de Boullon (2002) e
Lynch (1997). Desta forma, cada aspecto analisado da paisagem será remetido ao
aporte conceitual de cada um desses autores. Adotaremos a VISÃO SERIAL de
Cullen (1971), para análise desta paisagem por entender que tal metodologia se
mostra mais adequada para o sítio em questão.
Boullon (2002, p.190), em sua obra, define a cidade como um ambiente
artificial inventado e construído pelo homem, cujo objetivo prático é viver em
sociedade. Com as mudanças no modo de produção, advindas da revolução
industrial, há um crescimento acelerado, e conseqüentemente um “inchaço” nas
grandes cidades. A maior parte da população mundial é urbana, de qualquer modo e
apesar de tudo, temos tantas dificuldades para reconhecê-la.
Segundo o autor (
id.
), a percepção de uma cidade não é total nem
instantânea, mas se realiza no transcurso do tempo, pela soma das imagens
parciais que o espaço físico transmite e que o homem registra em sucessivas
vivências, por uma série de elementos formais, que o homem identifica e guarda na
sua memória, construindo assim a imagem da paisagem urbana.
Estas imagens mentais criam um código comum, que Kevin Lynch (1997, p.
32) define como:
Parece haver uma imagem pública de cada cidade que é o resultado da
superposição de muitas imagens individuais. Ou talvez o que exista seja
uma série de imagens públicas, cada uma das quais é mantida por um
número considerável de cidadãos. Essas imagens coletivas são necessárias
para que o indivíduo atue acertadamente dentro de seu ambiente e para
que coopere com seus cidadãos. Cada representação individual é única e
tem certo conteúdo que só varia muito raramente ou nunca é comunicado,
apesar de estar próximo da imagem pública, que, em diferentes ambientes,
é mais ou menos forçosa, mais ou menos compreensível.
As coisas que conformam a cidade, segundo Boullon (2002, p. 36) são os
edifícios e os espaços abertos. Nem todos os edifícios e os espaços abertos são
55
iguais, alguns se vêem mais que outros, estes últimos são considerados, pelo autor
como focais urbanos (logradouros, marcos, bairros, setores, bordas e roteiros),
considerando -os como os mais importantes na estruturação morfológica da cidade.
Estes indicadores são facilmente percebidos na paisagem edificada de
Ganchos. As edificações, em situações inusitadas com os logradouros, e estas com
o espaço aberto emoldurados pela presença do elemento água e como pano de
fundo as montanhas, conferem um cenário bem peculiar a localidade, caracterizando
com estes elementos a morfologia da cidade.
No caso de Ganchos, pode-se perceber, através das figuras 13 e 14,
logradouros, marcos e bordas, que caracterizam esta peculiaridade.
Figura 13 - LOGRADOURO DOS GANCHOS DE DENTRO
Fonte: Acervo do autor, 2007.
56
Percebe-se, na figura acima, a implantação inusitada (sem afastamentos,
recuos e passeios) das edificações no logradouro, o que confere a localidade uma
situação diferenciada de outras cidades, tendo ainda como marco a capela ao fundo.
As edificações não têm individualmente um valor histórico e estético, mas o conjunto
apresenta significado arquitetônico, herança de sua colonização açoriana. A
existência de um único edifício representa apenas uma obra de arquitetura, mas o
conjunto de construções sugere uma arte diferente.
Na visão de Cullen (1971) uma cidade é algo mais que o somatório de seus
habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades
que leva a maioria das pessoas a preferirem, independente de outras razões, viver
em comunidade a viverem isoladas.
Figura 14 - BAÍA DE GANCHOS DO MEIO
Fonte: Acervo do autor, 2007.
A reunião de elementos que concorrem para a criação de um ambiente,
desde os edifícios, aos anúncios e ao tráfego, passando pelas árvores, pela água,
como percebemos na figura 13, por toda a natureza, enfim, e entretecendo esses
elementos de maneira a despertarem emoção ou interesse, Cullen (1971) denomina
“arte do relacionamento”.
57
Na percepção da paisagem, Cullen cita três aspectos a considerar:
ótica
,
considera o percurso pela cidade, os diferentes pontos de vista observados, a rua, a
curva, o monumento, a paisagem urbana surge como uma sucessão de surpresas.
É de fácil percepção esta categoria de análise na leitura da paisagem de
Ganchos, pela sua morfologia e implantação geográfica (encostas e morros), além
de seu traçado, a sucessão de surpresas é inevitável. A existência da via principal, e
seus sucessivos “becos”, quase sempre de encontro com o mar, somados a
topografia local, conferem a Canto dos Ganchos esta peculiaridade.
Figura 15 - CANTO DOS GANCHOS
Fonte: Acervo do Acadêmico, 2009.
Local,
este segundo aspecto refere-se ás nossas reações perante a posição
no espaço, diz respeito ás experiências ligadas ás sensações, por espaços abertos
e fechados, por exemplo.
58
A localidade de Ganchos, por apresentar uma topografia bastante irregular,
apresenta vários desníveis o que permite perceber, de acordo com nossa posição no
local, a baía e orla, e em outra situação as montanhas existentes. Ao caminhar pelas
“vielas”, temos a sensação de clausura, e completando o percurso, nos defrontamos
com a praia, numa sensação de total amplitude.
Ainda utilizando o aspecto local, por exemplo, Cullen (1971) enumera
diversas propriedades, como: apropriação do espaço, território ocupado, apropriação
pelo movimento, privilégio, viscosidade, enclaves, recintos, ponto focal, unidades
urbanas, recintos múltiplos, edifício barreira, espaço intangível, delimitação do
espaço, focalização, desníveis, acidentes, iniciativa local, o pavimento, etc,
propriedades estas que se percebe facilmente na localidade de Ganchos, devido a
sua situação geográfica e pela sua implantação da cidade.
Por último, o
Conteúdo
, aspecto que se relaciona com a própria constituição
da cidade: sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade
e tudo o que a individualiza, como percebemos na figura 16.
Figura 16 - CANTO DOS GANCHOS
Fonte: Acadêmico, 2009.
59
Cullen, nesta categoria de análise enumera ainda, as seguintes propriedades:
categoria, individualização da paisagem, justaposição, objetos significativos,
texturas,cor, etc. Cita ainda outros fatores que percebemos na leitura da paisagem e
que com as ilustrações a seguir da localidade de Ganchos, poderemos identificá-las.
A cada aspecto analisado, Cullen ainda, enumera uma série de outros itens
que podemos perceber ou identificar na leitura da paisagem urbana de Ganchos.
Figura 17 - GANCHOS DO MEIO
Fonte: Acervo do Acadêmico, 2007.
No aspecto
Local
, Cullen (1983, p.46) salienta ainda a importância de
acidentes numa rua - torres, campanários, elementos que criem um efeito de
silhueta , cores vivas (figura 15), etc.- reside na sua capacidade de prender o olhar,
impedindo-o de deslizar para longe, e evitando, desta forma, a monotonia. A
60
disposição estratégica de acidentes vem dar sentido às formas essenciais numa
determinada rua, num determinado local.
Ainda no aspecto local, Cullen (
ibidem
,
p.40), na análise da paisagem,
descreve a característica desníveis:
Uma descrição das nossas reações emotivas perante a posição
que ocupamos num determinado espaço deverá forçosamente,
incluir a questão dos níveis. De um modo geral, abaixo do vel
médio do terreno, temos sensações de intimidade, inferioridade,
encerramento ou claustrofobia enquanto que acima desse nível
podemos ser tomados de grande euforia, ou por sensações de
domínio ou superioridade ou, ainda, sentirmo-nos expostos ou
com vertigens. Os desníveis, por sua vez, podem ser utilizados
de maneira funcional, para separar atividades e usos numa via
pública. (negrito do autor).
As figuras abaixo, (fig. 18 e 19), reforçam este aspecto:
Figura 18 - VISTA PARCIAL DE GANCHOS DO MEIO
Fonte : Acervo do autor, 2007.
61
Figura 19 - VISTA PANORÂMICA DE GANCHOS DO MEIO
Fonte: Acervo do autor, 2007.
Na situação geográfica em que encontra-se, pela formação de baías e
encostas, é de fácil percepção a característica desnível, como elemento fundamental
desta paisagem. Historicamente a orla era ocupada por pescadores, enquanto as
encostas desenvolviam atividades agrícolas.
A orla da Baía de Ganchos cria um cenário. A organização dos elementos da
cidade reflete certas
linhas de força
, (figura 18) que representam uma combinação
de circunstâncias que estiveram na origem da cidade.
Percebe-se também que o
espaço delimitado
conseqüência de
irregularidades ou assimetrias de traçado, em que o trajeto do ponto de partida ao
ponto de chegada não é oferecido ao olhar, como na malha ortogonal, é presente
nesta paisagem. Estas irregularidades dividem o percurso numa seqüência de
propostas visuais reconhecíveis e, por vezes, surpreendente, de modo que o
percurso a pé é enriquecido.
62
Figura 20 - VISTA AÉREA DA BAÍA DE GANHOS
Fonte:
Images Google
, 2008.
Por tratar-se de uma cidade à beira-mar (figura 21), a presença constante do
mar é elemento fundamental na paisagem.
Água, céu e edifícios não são afetados por considerações de prudência.
Estão para serem apreciados aqui e agora, ou nunca mais. Não um banco de
depósitos visuais. Ao contato visual direto entre homem e ambiente denominará aqui
de
Imediaticidade
. (CULLEN, 1983, p. 191).
Ainda por tratar-se de uma cidade à beira-mar (figura 21), sobre o elemento
água é na configuração da paisagem, Cullen (
ibidem
, p. 192), afirma que:
A água fornece-nos o exemplo mais óbvio, porque a transição
entre esta e a terra constitui o maior contraste psicológico.
Cidades à beira-mar deveriam viver sobre o mar, no sentido em
que a presença visível do oceano deveria ser apreensível do
maior número possível de locais na cidade. Para a cidade do
litoral, o mar é a sua razão de ser, e mesmo quando os seus
habitantes vivem em casinhas aconchegadas com o seu
aparelho de rádio, como qualquer família do interior, nunca é
uma cidade do interior, encontra-se à beira do abismo, face a um
horizonte constante mas enigmático. O mesmo poder-se-á dizer
do indivíduo num cais, que para este a tensão principal estará
concentrada na linha de demarcação entre terra e água. É a
63
experiência emocional desta tensão que transmite o sentido de
imediaticidade. (negrito do autor).
Figura 21 - BAÍA DE GANCHOS DO MEIO
Fonte: Acervo do autor, 2008
Yázigi (1996, p.134) ao defender a preservação da paisagem
lato sensu
natural e urbana- busca, antes de tudo, sua importância para o habitante do lugar,
de quem deve ser tributária, e só depois o turista.
É que para o residente do local, a paisagem é virtualmente conclamada a
desempenhar várias funções, entre as quais: a de espaço mediador para a vida e as
coisas acontecerem, a de referências ltiplas: geográficas, psicológicas, lúdicas,
informativas.
A paisagem é ainda, para o autor (1996), fonte de contemplação e inspiração
e, sobretudo, a de alimento à memória social através de todas as suas marcas. A
paisagem não é mais um cenário para uso exclusivo do turista, ela é a essência
cotidiana do habitante.
É preciso ter muito claro que a paisagem interessa antes a seus próprios
habitantes e que numa relação de estima deles com ela é que despertará o
64
interesse de transeuntes, visitantes, turistas. Não interessa a um indivíduo sair de
seu pedaço para outro igualzinho, nada se ganha.
Na localidade de Canto dos Ganchos (figura 20), o seu percurso, revela uma
sucessão de pontos de vista, culminando ao alto, com o ponto focal: a Igreja. Ainda
se nota a morfologia da localidade, caracterizada, pela ausência de passeios, recuos
e afastamentos que concede a paisagem uma característica peculiar e real, marcada
pela irregularidade do traçado urbano.
Figura 22 - CANTOS DOS GANCHOS
Fonte : Acadêmico, 2009.
65
Mapa 3 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA
Fonte: Acadêmico, 2009.
66
Mapa 4 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA: RECORTE URBANO RESIDÊNCIAS
Fonte: Acadêmico, 2009.
67
Mapa 5 - MAPEAMENTO DA PAISAGEM CONSTRUÍDA RECORTE URBANO LOUGRADOUROS
Fonte: Acadêmico, 2009.
68
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse capítulo serão observados as considerações que são resultados desta
pesquisa. O objeto de estudo, a localidade de Ganchos no município de Governador
Celso Ramos, tem na análise da paisagem, características decorridas da sua
história, pelas suas condicionantes geográficas, e pelos seus diferentes modos de
produção, percebidos na transformação desta paisagem.
Localidade típica de pescadores tem na morfologia traçado peculiar, base da
sua origem portuguesa, e no processo de transformação da paisagem,
características dos diferentes modos de produção, evidenciados ao longo de sua
história, iniciada no culo XVII com a pesca da baleia, seguida pelo setor primário
(pesca artesanal e agricultura de subsistência) com a chegada dos açorianos, pela
pesca industrializada, e atualmente evidenciado pelo setor de serviços e da
atividade turística e a criação de mariscos. Como conclui Santos (1982, p.38), “a
paisagem é o resultado da acumulação de tempos”.
Como referencial, para análise da paisagem em Ganchos, leituras de Santos
(1981), Cullen (1971), Boullon (1985; 2002), Rodrigues, Castrogiovanni (2000),
Lynch (1997) e Yázigi (1996), foram fundamentais para o arcabouço deste trabalho.
A paisagem é formada pelos fatos do passado e do presente, a compreensão deste
processo e da sua evolução, só se torna possível mediante a interpretação do
processo dialético, entre formas, estrutura e funções através dos tempos. Santos
(1985, p.50)...
Para se compreender o espaço social da localidade de Ganchos, em qualquer
tempo, é fundamental tomar em conjunto destas categorias. A forma da baía de
Ganchos, é que permitiu, durante séculos, desenvolver a atividade (função) da
pesca, resultando a partir daí, uma estrutura espacial bastante simples, que foi se
transformando com o surgimento de novas atividades econômicas.
Na Visão Serial desenvolvida por Cullen (1971), foram considerados três
aspectos: a Ótica, o Local e Conteúdo.
A Ótica, que considera o percurso, e os diferentes pontos de vista
observados, sugerindo uma sucessão de surpresas, como nos logradouros estreitos
de Canto dos Ganchos.
69
Dependendo da nossa posição espacial, temos diferenciadas sensações,
como: espaços fechados e abertos, amplos e enclausurados, a este aspecto
denomina-se Local.
As diferentes cores, texturas, escalas e estilos, elementos muito presentes na
paisagem de Ganchos, lhe confere uma identidade própria, e que Cullen (1983),
denomina Conteúdo. Estas categorias de análise, fazem sentido, se percebidas
em conjunto num processo dialético, atribuindo a localidade tal singularidade, um
novo olhar, reforçando sua atratividade turística.
Um olhar que, depois de percorrer o universal, se volte com o mesmo
interesse para o municipal, para o provinciano, o individual, em suma, para as micro
historicidades. Considerando os diversos atores que contribuíram para a
configuração desta paisagem, se pode relatar que ”ler esta paisagem, envolve uma
visão de mundo, consciente e inconsciente, sempre subjetiva e imaginária”.
(RODRIGUES,1999).
Analisando este diferencial na comunidade, e percebendo um novo perfil do
consumidor turístico, que busca, além de infra-estrutura e equipamentos turísticos,
um atrativo que proporcione uma experiência única, e que denote a diferença como
algo marcante e específico da região visitada. Por essa particularidade é que se
percebe a potencialidade da procura de diversificados atrativos que proporcionem
experiências de passeios inesquecíveis.
A paisagem de Ganchos contribui para esta experiência. O somatório das
suas edificações e paisagem natural coopera para a formação de seu patrimônio
ambiental urbano, que se fundamenta pelo conjunto de elementos arquitetônicos,
equipamentos, símbolos, espaços livres, espécies naturais, de um lugar que foi
palco de diversas tentativas históricas de desenvolvimento socioeconômico, que
encontrou na prática do turismo de lazer um dos recursos viáveis para compensar o
risco ambiental de frutos do mar, devido ao grande extrativismo e exploração dos
cardumes, antigamente, fartos na região.
É justamente isto, segundo Yázigi que vem sendo destruído, durante décadas
no Brasil. De acordo com Yázigi (1996, p.135), “é absolutamente incrível como, em
poucas décadas, andar por este Brasil revela incontáveis lances de aniquilamento
da paisagem, das referências naturais e históricas”.
Segundo Castrogiovanni (2000, p.7), “A atividade turística, no cenário da
globalização, da terceirização da economia, da redefinição de novos espaços, na
70
criação de novas profissões e espaços alternativos, o tema ócio associado ao
ideário de turismo clássico, desenvolve-se rapidamente e assume novas leituras”.
É neste cenário, que é possível projetar um novo modelo desta atividade,
para a comunidade de Ganchos, observando o cenário global, numa perspectiva
local, respeitando sua paisagem, seu patrimônio, enfim, sua história e sua
população.
71
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