26
por classe alta e média alta (auto-segregação) uma vez que é a que tem as
implicações mais profundas sobre a estrutura urbana (SANTOS 1979).
A maioria das análises sobre segregação parte de um espaço urbano
dado, que é melhor, seja qual for o motivo, e por isso atrai os mais
ricos, os que possuem mais prestígio, poder e status. Nos casos em
que não há atributo natural especial, não cogitam como esse espaço
melhor foi produzido limita-se a constatar-se uma correlação entre a
classe social que ocupa determinada região e os equipamentos
públicos de que ela é dotada. As posições que afirmam ser a
segregação um produto “do mecanismo de formação de preços do
solo” estão na incomoda posição de ter de demonstrar essa tese, já
que é mais provável que a verdade esteja no lado oposto: os preços
dos solos é que são fruto da segregação. (VILLAÇA 2001, p. 150)
A Segregação socioespacial dos pobres já havia sido descrito por
Engels (1988) nas cidades inglesas do século XIX. Em destaque, o autor analisa os
problemas de insalubridade das habitações e dos bairros proletários nas principais e
mais ricas cidades do Reino Unido: Londres, Birmingham, Leeds, Liverpool e, em
particular, Manchester, segunda cidade da Inglaterra e primeira cidade industrial do
mundo. Em maior detalhe, refere-se à moradia proletária de capital rentista. Engels
(1988) percorre as ruas dessas cidades, observando, em cada detalhe, as condições
mais degradantes que ele denomina “guerra social” sob as quais vivem não animais,
mas seres humanos: a classe trabalhadora britânica. “Trata-se, como ele próprio
afirma, dos bairros de má reputação”. Nesses bairros, apinham-se as famílias em
pequenas casas de três a quatro cômodos, não sendo incomum elas ocuparem
apenas um cômodo. As ruas não são pavimentadas: “são sujas, cheias de detritos
vegetais e animais, sem esgotos nem canais de escoamento semeado de charcos
estagnados e fétidos” (1988, p.38). Regra geral, as casas dos trabalhadores eram
mal implantadas, “mal construídas, mal conservadas, mal arejadas, úmidas e
insalubres; nelas, os habitantes estavam confinados a um espaço mínimo e, na
maior parte dos casos, num cômodo dormia pelo menos uma família inteira”. A
disposição interior das casas era miserável, chega-se num certo grau à ausência
total dos móveis mais indispensáveis. (ENGELS, 1988 p. 88). Esses bairros, com
freqüência, estavam localizados em terrenos acidentados, próximos a rios e riachos,
ao longo dos quais a água, como em Manchester, era estagnada, escura “como o
breu e de cheiro nauseabundo, cheio de imundícies e de detritos” (ENGELS, 1988,