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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós-graduação em Administração - PROPAD
Alessandra Neves Bastos
Análise da caracterização do aglomerado de
empresas de TI da cidade de Fortaleza
Recife, 2008
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1
Alessandra Neves Bastos
Análise da caracterização do aglomerado de
empresas de TI da cidade de Fortaleza
Orientador: Marcos André Mendes Primo, PhD
Dissertação apresentada como requisito
complementar para a obtenção do grau de
Mestre em Administração, área de
concentração em Gestão Organizacional,
do Programa de Pós-graduação em
Administração da Universidade Federal de
Pernambuco.
Recife, 2008
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2
Bastos, Alessandra Neves
Análise da caracterização do aglomerado de
empresas de TI da cidade de Fortaleza / Alessandra
Neves Bastos. - Recife : O Autor, 2008.
106 folhas : fig., quadro, tab., abrev. e siglas.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de
Pernambuco. CCSA. Administração, 2008.
Inclui bibliografia e apêndices.
1. Aglomerados. 2. Tecnologia da informação. 3.
Governança. I. Título.
658 CDU (1997) UFPE
658 CDD (22.ed.) CSA 2010 - 111
3
“No fundo, quem investiga procura argumentos e
espera poder comunicá-los. Tudo o que se pode
fazer é produzir evidências para um público a
quem o pesquisador-autor se dirige. Ele
argumenta.”
Pedro Lincoln Mattos
4
Dedico aos que ainda acreditam.
5
Agradecimentos
À Deus, em todas as suas formas e sentidos.
À minha família - Olga, Morais, Aníbal e Filhote - por tudo que fizeram e têm feito por mim,
por acreditarem, por terem sempre o melhor abraço, o melhor conforto, os sorrisos que eu
tanto gosto. Obrigada por me fazerem buscar e ver o sentido das coisas além do que os outros
esperam.
Ao meu orientador, Marcos Primo, que tornou esse trabalho possível, decisivamente.
Obrigada por tentar me entender sempre, pelo incentivo crucial, pelo exemplo, pela atenção
dificilmente verificada em outros profissionais. Sem palavras para retribuir a minha gratidão
nesse momento tão peculiar. Obrigada professor!
À professora Rezilda e ao professor Gesinaldo, por aceitarem participar da minha banca e
contribuir com este trabalho. Ao professor Chico Correia, pelos conselhos e indicações
sempre preciosos.
À Laís Angélica, irmã, amiga, companheira, motorista, etc. Obrigada por ter ajudado a deixar
a minha estadia no Recife tão especial, desde o início. Obrigada pela sinceridade, pela alegria,
pelo respeito, por saber me chamar atenção, pela estadia, pelo computador, por estar fazendo
café pra mim enquanto termino essas linhas.
Ao Geovanny por compartilhar as alegrias e ouvir as minhas desventuras, pelas correções de
português, pelo patrocínio, pelo tempo que nos foi privado, pelas viagens que eu tive de
cancelar. Obrigada por ter feito o que lhe foi possível.
Aos professores do PROPAD, em especial às lições preciosas de Walter Araújo e Pedro
Lincoln. Aos funcionários do PROPAD pela atenção.
6
Às empresas e instituições que permitiram e colaboraram com esta pesquisa, em especial ao
Instituto Titan, que patrocinou os deslocamentos para pesquisa.
Agradeço em especial a oportunidade de através desta pesquisa conhecer o sr Mauro Oliveira,
um dos que acreditam.
Aos amigos do PROPAD, e em especial aos mais próximos nessa minha passagem por
Recife: Naldeir (mineiro), Milton, Felipe, Fabiana, Larissa. Agradeço em especial à Sandra,
que me ouviu e me compreendeu no momento mais crítico desta caminhada.
Ao ex-aluno, amigo e agora colega Rodrigo, pelo apoio operacional e pelo compartilhamento
de tensão pré-nota Agradeço também a todos os meus alunos, motivação principal para a
escolha do meu caminho acadêmico. O mestrado já valeu a pena pelo prazer de compartilhar
momentos de aprendizagem com vocês.
Aos velhos amigos de Fortaleza, aos novos amigos do Recife e aos novíssimos de BSB,
obrigada pelas palavras de carinho e pelos sorrisos. Em especial agradeço à Weri, Carol, Dan
e Ilda, que estiveram presentes com palavras e carões importantes nessa reta final. Obrigada
“coleguinhas”!!
Às minhas companheiras de casa Nadir, Camila, Mell e Halana. Obrigada pelos momentos de
compreensão, e pelos churrasquinhos de 2h da madrugada na CDU.
Aos meus filhotes felinos por me trazerem tantos sorrisos bobos.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão
da bolsa, indispensável para minha permanência em Recife.
À todos que não foram citados, mas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho.
7
Resumo
Esta dissertação consiste em um estudo sobre a estrutura e a governança do aglomerado das
empresas de TI (Tecnologia da Informação) da cidade de Fortaleza. O objetivo central desta
pesquisa foi analisar o aglomerado das empresas de TI de Fortaleza a partir das características
de governança, na visão dos atores participantes do mesmo. Utilizando a metodologia de
estudo de caso descritivo, este trabalho possui um caráter exploratório no sentido que busca
entender melhor as relações entre atores do aglomerado. Os dados obtidos e a análise
realizada demonstram que o aglomerado, apesar de ser oficialmente um APL (Arranjo
Produtivo Local), precisa ainda desenvolver instrumentos mais claros para identificação da
sua governança por parte dos atores interessados.
Palavras-chaves: Aglomerados. Tecnologia da Informação. Governança
8
Abstract
This work is a study about the structure and good governance of the Informational
Technology companies’ agglomerate (IT) in the city of Fortaleza. The main goal of this
research was to analyze the IT companies’ agglomerate through the governance structure,
according to its members’ point of view. Utilizing the study of case methodology, this work
has an exploratory purpose. The data collected and the consideration that was made lead to
the conclusion that the agglomerate, despite to be officially a Local Productive Arrangement
(LPA), still needs to develop more effective tools in order to have its good governance
recognized by the players who are interested in the arrangement.
Key-words : Agglomerate. Informational Technology. Governance
9
Lista de Quadros e Tabelas
Quadro 01 (1): Certificações e melhorias de processos relacionados à TI
Quadro 02 (2): Características de redes
Quadro 03 (2): Tipologia de clusters
Quadro 04 (2): Características de clusters
Quadro 05 (2): Características de APL’s
Quadro 06 (2): Características de parques tecnológicos
Quadro 07 (3): Perfil dos entrevistados
Quadro 08 (4): Quadro-resumo características de aglomerados
Tabela 01 (1): Distribuição APL`s de TI no Brasil
10
Lista de Figuras
Figura 01 (2): Aplicação dos conceitos de redes numa perspectiva organizacional
Figura 02 (3): Fases da coleta de dados
31
55
Figura 03 (3): Fases Análise da Pragmática da Linguagem
56
Figura 04 (4): Aglomerado de TI da cidade de Fortaleza
59
11
Lista de Siglas e Abreviaturas
TI: Tecnologia da Informação
APL: Arranjo Produtivo Local
SIL: Sistema Inovativo Local
SPIL: Sistema Produtivo Inovativo Local
MDIC: Ministério para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio
TIC: Tecnologia da Informação e Telecomunicações
SECITECE: Secretária de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa
UFPE: Universidade Federal de Pernambuco
CESAR: Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife
SOFTEX: Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro
ASSESPRO: Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviços e Serviços de
Informática
ANPROTEC: Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores
SEITAC: Sindicato das Indústrias de Informática, Telecomunicações e Automação do Cea
SAS: Sistema Assespro Seitac
CenpRa: Centro de Pesquisas Renato Archer
12
Sumário
1 INTRODUÇÃO
14
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA
14
1.2 IMPORTÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO TEMA
20
1.3 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
22
1.4 OBJETIVOS
24
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
26
2.1 CATEGORIZAÇÃO DOS AGLOMERADOS DE EMPRESAS
27
2.1.1 Redes
28
2.1.2 Clusters
34
2.1.3 Arranjos Produtivos Locais (APL’s)
37
2.1.4 Parques Tecnológicos
41
2.2 ASPECTOS DE GOVERNANÇA
45
3 MÉTODO
50
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
50
3.2 COLETA DE DADOS
52
3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
56
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
59
4.1 CONHECENDO O AGLOMERADO
59
4.1.1 Sistema Assespro / Seitac (SAS)
60
13
4.1.2 Insoft / Itic
61
4.1.3 Instituto Titan
63
4.2 CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS E RELAÇÕES INTER-FIRMAS
66
4.3 GOVERNANÇA
86
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
92
REFERÊNCIAS
97
APÊNDICE A- ROTEIRO DE ENTREVISTA
103
APÊNDICE B LISTAGEM DE EMPRESAS
105
14
1 Introdução
1.1 Apresentação do tema
A Tecnologia da Informação (TI) interfere ativamente na modelagem do mundo
empresarial. Corresponde aos recursos tecnológicos e computacionais para geração e uso da
informação, tais como hardware, segurança da informação, software, ergonomia, entre outros;
na definição de Siqueira Filho e Silva Filho (2004). A TI permeia operações financeiras,
operações de vôos, serviços de atendimento direto a cliente, cirurgias, entretenimento, enfim,
diversas aplicações que fazem parte do cotidiano da maior parte da população, demandando
cada vez mais recursos de segurança e de rapidez no tráfego dessas informações. Essas
demandas, para serem atendidas, devem ser contempladas por mecanismos de gestão
compatíveis tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da organização.
A indústria de software está no âmbito da TI, sendo caracterizada pela velocidade
intensa da introdução de inovações técnicas, com o contínuo desenvolvimento de produtos
apoiados na capacidade criativa e intelectual da mão-de-obra. Soma-se à caracterização desse
mercado, a competição acirrada entre empresas e o baixo investimento em capital fixo,
segundo Campos (2000).
O processo de expansão e de amadurecimento do mercado da indústria de software
cresce a uma taxa média anual de 11%, de acordo com Araújo e Meira (2003). Esse
15
incremento de concorrência também aumentou e a exigência dos clientes, iniciando-se a busca
pela excelência na qualidade como forma de diferencial. Um reflexo dessa busca pela
excelência é a demanda por certificações de qualidade para software e serviços relacionados,
como o CMM, o MPS, a SPICE/ISO 15.504, ITIL (Information Technology Infrastructure
Library); entre outras mais gerais, como a ISO (International Organization for
Standardization) e o PMBOK.
Nome
Foco
Descrição
CMM
Software
Capability Maturity Model.
COBIT
Serviços
Control Objectives for Information Technology
ISO 9000
Serviços
International Organization for Standardization
SPICE
Software
Software Process Improvement and Capability dEtermination
ITIL
Serviços
Information Technology Infrastructure Library
MPS
Software
Melhoria Processo de Software
PMBoK
Serviços
Project Management Body of Knowledge
Quadro 01 (1): Certificações e melhorias de processos relacionados à TI. SIQUEIRA FILHO, J.
B., SILVA FILHO, J. B
(2004) Adaptado pela autora
Uma alternativa para enfrentar o aumento da concorrência e as maiores exigências do
mercado são as novas formas de organização empresarial. Essas organizações têm como
objetivo reforçar e/ou criar vantagens competitivas individuais e grupais. Com relação às
novas formas de organizar as empresas, Fleury e Fleury (2001) explicam:
Três ondas de mudança sobrepõem-se nos dias de hoje, gerando um contexto
de grande turbulência: a passagem de um regime de mercado vendedor para
mercado comprador, a globalização dos mercados e da produção e o advento
da economia baseada em conhecimento. Esses fatores levam à novas formas
de organizar as empresas, seja em termos de estratégias, seja em termos de
arranjos inter-empresariais, seja em termos de gestão em geral. (FLEURY e
FLEURY, 2001).
Os arranjos inter-empresariais, citados por Fleury e Fleury (2001), partem do princípio
da cooperação. E várias são as possibilidades e características dessa cooperação, o que leva à
inúmeras concepções de modelos de organizações entre os agentes.
16
Característico das ciências sociais, também no caso dos aglomerados os conceitos se
intersectam, se complementam e, dependendo da abordagem e dos autores, se igualam. Pode
se abordar e verificar características de um aglomerado desde um conceito mais abrangente de
redes, até um conceito mais específico, como o de Arranjo Produtivo Local (APL), ou de um
ambiente mais voltado à inovação, como os parques tecnológicos.
Dados do SEBRAE (2006) expõem que a grande maioria das empresas
desenvolvedoras de software cerca de 90% - são pequenas ou médias empresas. Boa parte
dessas empresas se encontram dentro ou de alguma forma ligadas à organizações, que
compõem aglomerados de empresas relacionadas à TI ou, numa visão mais ampla de atuação,
à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
A organização dessas empresas em aglomerados pressupõe a criação de uma
identidade e o desenvolvimento dos seus meios de gestão, incluindo recursos humanos,
financeiros e operacionais. A eficiência desse organismo passa pela gestão e pela cooperação
entre os participantes, ao que podemos denominar genericamente de governança. Para este
trabalho é importante distinguir-se a governança corporativa da governança entre várias
organizações. Importante porque o primeiro termo é o mais difundido nos meios
organizacionais e nas revistas de negócios, referindo-se às relações desenvolvidas entre
acionistas e executivos nas mais diversas esferas de uma mesma organização, de acordo com
Pound (2000).
A governança tratada nesta pesquisa se refere a uma esfera mais ampla, a das relações
entre entes (empresas e demais organizações) dentro de uma rede de relações sociais, sem
haver necessariamente relações de subordinação. O termo foi inicialmente utilizado por
Williamson (1985) para o processo de coordenação dos atores econômicos, nas esferas
pública e privada e nos níveis local e global. Suzigan (2007) ao desenvolver trabalhos
17
específicos de governança em arranjos e sistemas produtivos locais, define a governança
como “a capacidade de comando ou coordenação que certos agentes (...) exercem sobre as
inter-relações produtivas, comerciais, tecnológicas e outras, influenciando decisivamente o
desenvolvimento do sistema ou arranjo local”.
Uma alternativa complementar à governança para se estudar a complexidade da
sobreposição das firmas e da coordenação de agentes é o argumento da Triple Helix, proposto
por Etzkowitz e Leydersdorff (1996) para empresas inovadoras. Os autores sugerem uma
integração entre os agentes pertencentes ao governo, às instituições de ensino, e ao meio
empresarial; em prol do desenvolvimento em áreas específicas, como a de Ciência e
Tecnologia (C&T). Utilizando a metáfora de uma hélice de três pás ou filamentos, essas
giram em suas esferas particulares em torno de um objetivo comum, e com a sua órbita
influenciando as demais. Todos os entes apresentam-se com papéis distintos e declarados;
respeitando e gerindo as sobreposições, as contribuições e os impulsos entre uns e outros,
visando o desenvolvimento de todos.
Nos aglomerados ocorre uma sobreposição de firmas, nas quais o grau de
envolvimento em termos de fluxos de informação e materiais aumenta sobremaneira, com a
possibilidade de gerar economias externas, Marshall (1985). Vide que as estruturas de
governança, na medida em que favorecem a sinergia e cooperação entre as firmas, estimulam
a inovação e aumentam a efetividade das políticas públicas, de acordo com Charan (2000).
Os aglomerados de empresas de software no Brasil geralmente são formados pelas
empresas - desenvolvedoras de software, de hardware, e serviços associados -, pelas suas
representações e/ou núcleos gestores, pelas instituições de ensino e pelos órgãos do governo
que estejam ligados à gestão e/ou promoção do setor de TI, como se pode verificar nos casos
do Porto Digital no Recife, da aglomeração produtiva de software de Curitiba, na Tecnopuc-
18
RS, dos sistemas localizados de produção e inovação no Estado de São Paulo , entre outros
(Oliveira, 2007;Baiardi e Basto, 2006; Sampaio e Scatolin, 2006; Suzigan, Cerrón, Diegues
Jr, 2005). Outras entidades associativas como SEBRAE, Federação das Indústrias de Estado e
alguns órgãos do sistema S (SENAI, SENAC, SESI, entre outros) podem fazer parte do
aglomerado. Para o governo brasileiro, umas das formas de cooperação a se estimular são os
Arranjos Produtivos Locais (APL’s). Na tabela 01 observa-se a distribuição dos APL’s
ligados à TI relacionados com as instituições promotoras, num levantamento do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para o Brasil até o ano de 2005.
CAIXA
SEBRAE
C&T
SECTI,s
IEL
MDIC
APEX
MEC
CNI
BRADESCO
BB
Tot
Alagoas
x
x
2
Salvador
x
X
x
x
4
Brasília
x
x
x
x
x
x
x
7
Vitória
x
1
Goiânia
x
x
X
x
x
5
Camp. Grande
x
x
x
x
4
Recife
x
x
x
x
x
x
6
Curitiba
x
1
Rio de Janeiro
X
1
Rio de Janeiro *
x
x
X
x
x
5
Porto Alegre
x
1
Florianópolis
x
x
x
3
Campinas
x
1
Total = 13 APL's
1
6
6
4
3
5
4
5
3
3
1
* pólo audiovisual/mídia
Tabela 01 (1): Distribuição APL`s de TI no Brasil. MDIC (2007). Adaptado pela autora
O aglomerado de TI de Fortaleza, da qual fazem parte as empresas desenvolvedoras de
software, não estava incluído no levantamento do MDIC apresentado na tabela 01. Porém já
constava a classificação do aglomerado como um APL em estudos do IPECE - Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.- através das pesquisas de Filho, Scipião e Souza
(2004). Durante a execução desta dissertação, houve no mês de junho de 2008 o lançamento
do APL do setor de TI do Ceará, capitaneado pelo Titan, caracterizando o APL dentro das
regras que o MDIC exige e através da Secretária das Cidades de Fortaleza, que coordena mais
19
dois APLs. Logo é um aglomerado caracterizado como APL há pouco tempo, e ainda sem o
pleno funcionamento da câmara gestora, cuja criação foi anunciada no lançamento do APL,
(Titan, 2008).
As principais representações das empresas desenvolvedoras de software na cidade de
Fortaleza são (por ordem de número de afiliados):
Sistema Assespro/Seitac (SAS), formado pela parceria entre a Associação Brasileira
das Empresas de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Ceará
(ASSESPRO-CE) e o Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e
Automação do Ceará (SEITAC CE),
Instituto do Software (Insoft), que no decorrer dessa pesquisa passa por profundas
transformações vindo a ser denominado Instituto de Tecnologia da Informação e
Comunicação (Itic). Então ao longo do trabalho, se fará referência à Insoft/Itic,
Instituto Titan, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos formada por
empresas cearenses da área de Tecnologia da Informação e Telecomunicações para
promover o desenvolvimento do setor.
Apesar da literatura acadêmica listar características de vários tipos de aglomerações de
empresas; cada uma delas traz particularidades decorrentes de tipo de produto, da região, dos
agentes participantes e dos laços entre esses agentes. Portanto, é preciso entender cada arranjo
dentro do seu modelo único, particular de governança.
A partir das considerações sobre o tema, é apresentada a seguinte pergunta de
pesquisa:
20
Como se apresenta a governança no aglomerado de empresas desenvolvedoras de software
da cidade de Fortaleza na visão dos entes participantes do aglomerado?
1.2 Importância e justificativa do tema
A articulação entre agentes econômicos surge como uma alternativa para solucionar os
desafios de mercado enfrentados por micro, pequenas e médias empresas. Os diversos tipos de
aglomerações equilibram e confrontam fatores como inovação, dinamicidade, aprendizagem,
cooperação, competição; e abrem espaço para a utilização de neologismos, como a
coopetição.
Em um aglomerado desenvolvido, a produção será o resultado da grande cooperação
entre os diferentes agentes da cadeia produtiva: fornecedores de matéria-prima e de bens,
produtores, vendedores e pesquisadores; complementando-se em busca de um mesmo
objetivo. Porém, a simples proximidade local não é suficiente para explicar o
desenvolvimento dos aglomerados. É preciso buscar uma ativa divisão do trabalho e uma
intensa e eficaz comunicação entre os agentes para impulsionar o crescimento a partir, por
exemplo, de arranjos produtivos locais. Concomitantemente, há o desenvolvimento de um
conjunto de informações e conhecimentos que devem ser compartilhados entre seus agentes,
criando condições favoráveis ao desenvolvimento de inovações entre os componentes do
arranjo.
As parcerias entre organizações conseguem criar benefícios a serem estendidos para as
outras empresas do conjunto; situações de competência mercadológica, investimentos em
laboratórios e pesquisadores, que um empresário sozinho agindo livremente dificilmente
21
conseguiria gerar. O cenário também é caracterizado pela carência ou pelo desajuste entre as
entidades governamentais que deveriam estar apoiando as ligações entre esses membros, com
vista ao desenvolvimento local nem sempre estão a par das peculiaridades e necessidades de
cada setor.
Em todo o país surgem iniciativas de apelo cooperativo entre empresas de TI, sendo o
setor uma das prioridades para o desenvolvimento nacional, de acordo com dados do
Ministério para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, MDIC (2007). Inclusive o
governo disponibiliza através deste mesmo ministério, programas específicos para o
desenvolvimento de aglomerados, mais especificamente APL’s.
Porém, esse esforço cooperativo é mais difícil de ser realizado se não houver uma
estrutura eficiente para coordenação e apoio entre os agentes; frente aos seus objetivos, ao
lócus de ação e ao de competição. A eficiência desse organismo passa pela gestão do mesmo,
ao que podemos denominar genericamente de governança. Há ainda estudos, como o da
Triple Helix, que se dispõem especificamente a analisar as relações entre gêneros específicos
(empresas, universidade, governo). E essa forma de gerenciar, de conduzir, de relacionar os
atores está intimamente ligada a como eles estão organizados. Para isso, é preciso conhecer a
estrutura dos aglomerados, conhecer suas características principais e relaciona-las às
características dos diversos tipos de aglomerados discutidos na literatura, para facilitar a tarefa
de compreender e estimular o seu desenvolvimento.
Para estudar o aglomerado em questão, este trabalho propõe um cruzamento entre os
principais conceitos de aglomerados existentes no Brasil para empresas de software,
comparando-os e apresentando seus pontos de intersecção. O resultado desse confronto entre
as características de diversos tipos de aglomerados presentes na literatura com o aglomerado
em questão constitui uma justificativa acadêmica para a realização desta pesquisa, ao gerar
22
material sobre a caracterização do aglomerado em particular. Na seqüência, serão analisadas
as características de governança deste mesmo aglomerado, na visão dos agentes participantes
do mesmo, o que constitui a linha mestra deste trabalho. Como cada aglomeração vai variar
decisivamente em questões como setor, tipo de produto, tipos de agentes e interação desses
agentes; a existência de uma diversidade de trabalhos acerca do comportamento
organizacional desses aglomerados pode possibilitar a comparação entre fatores semelhantes,
gerando desdobramentos de interesse para a comunidade acadêmica.
Uma justificativa prática para o presente trabalho seria fortalecer o arranjo a partir do
conhecimento de si próprio através das suas características estruturais e relacionais. Sabendo
como se processam os mecanismos de cooperação, competição, de senso de comunidade,
gerentes, empresas e governo podem partir em busca da criação e/ou manutenção de
competências coletivas.
1.3 Delimitação da pesquisa
A forma de organização do aglomerado, seja ele um cluster, um parque tecnológico,
um arranjo produtivo local, deve dispor de uma infra-estrutura compatível, indo desde os
aspectos regulamentares até os aspectos mercadológicos. Para tanto, antes é necessário uma
ordenação das características do grupo, com o intuito de conhecer os tipos de relacionamento
entre os atores e assim impulsionar a atividade econômica na região. Em mercados como o da
indústria de software, a velocidade intensa da introdução de inovações desenvolvidas
principalmente apoiadas na capacidade criativa e intelectual da mão-de-obra aliada a um
baixo investimento em capital fixo, cria um ambiente de competição acirrada.
23
O que inicialmente pode parecer paradoxo, a relação cooperação e competição, é
realidade comum entre empresas participantes de certos tipos de aglomerado. E essas são
apenas algumas das características a serem abordadas. Fluxo de conhecimentos, senso de
comunidade, capacidade inovativa, entre outros, também estarão presentes no caminho para
se conhecer as relações entre os entes do aglomerado. A proposta desta dissertação se encerra
com o estudo da gestão dessas relações, ou seja, das relações de governança entre os entes
participantes do aglomerado.
A abrangência do trabalho está na aglomeração de empresas desenvolvedoras de
software da cidade de Fortaleza e região metropolitana. O estudo pode ser expandido para a
compreensão do setor de TIC do estado do Ceará, já que a maior concentração dessas
empresas está na cidade de Fortaleza, de acordo com o trabalho de Filho, Scipião e Souza
(2004).
A visão aqui exposta será dos principais representantes de cada face do aglomerado, a
partir da estrutura de triple helix: governo, universidade e empresas. As instituições
representativas, que são as responsáveis pela gestão dessas relações e pela defesa dos
interesses e pela interligação dessas faces, também são objetos de pesquisa, com o intuito
final de poder classificar o aglomerado quanto ao tipo de organização e analisar a sua
governança.
24
1.4 Objetivos
O objetivo geral deste estudo é analisar o aglomerado de empresas desenvolvedoras de
software da cidade de Fortaleza a partir da estrutura de governança na visão dos entes
participantes do aglomerado. Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos específicos:
i) Propor um arcabouço teórico para classificação dos aglomerados de software, a
partir da literatura acadêmica;
ii) Conhecer a estrutura do aglomerado de software da cidade de Fortaleza através
das características propostas no arcabouço teórico;
iii) Discutir a governança no aglomerado a partir de características das relações ente
os agentes pertencentes ao aglomerado
1.5 Estrutura da dissertação
Incluindo este conteúdo inicial, a dissertação está estruturada em 5 (cinco) capítulos, a
saber:
i) Primeiro Capítulo: introdução ao tema, justificativa, delimitação da pesquisa,
definição do problema e exposição dos objetivos (geral e específicos);
ii) Segundo Capítulo: apresentação do referencial teórico com a caracterização dos
aglomerados de empresas do tipo redes, cluster, APL e parque tecnológico.
Segue com aspectos de governança, incluindo a abordagem triple helix.
25
iii) Terceiro Capítulo: delineamento da pesquisa e descrição do método a ser
utilizado. Seleção do caso, das técnicas e das ferramentas para coleta de dados e
da abordagem utilizada para análise e conclusão do estudo.
iv) Quarto Capítulo: Apresenta os dados coletados, a caracterização dos principais
atores do aglomerado. Análise com classificação do aglomerado e das
características da governança.
v) Quinto Capítulo: considerações finais, limitações da pesquisa e sugestões para
estudos futuros.
26
2 Referencial Teórico
O referencial teórico tem duas grandes funções dentro de um trabalho: a primeira é a
de dar as bases conceituais para responder à pergunta de pesquisa e aos objetivos; a sua
segunda tarefa é a de esclarecer ao leitor qual será a abordagem dada pelo pesquisador aos
conceitos tratados neste trabalho específico, visando assim evitar possíveis choques
ideológicos e problemas de alcance do significado das palavras.
De acordo com Wilson (2005), as palavras não têm um significado único em si, só
significam à medida que os grupos passam a utilizá-las. A grande maioria delas depende ainda
do registro de vários usos para que possa ser descrito um conceito. Então, ao perguntar sobre
conceitos, não se pergunta sobre fatos, mas sim sobre juízos de valor. Dessa forma, sempre
haverá um grau de arbitrariedade nas definições, sendo interessantes, então, os aspectos
lógicos dos conceitos, suas limitações, aplicações e similitudes.
A primeira parte deste referencial traz conceituações de aglomerações,
conglomerados, redes, clusters, APL´s e parques. Os dois primeiros aparecem como
classificações genéricas para os seguintes. A partir do dicionário eletrônico Houaiss (2007), a
definição de aglomerado mais próxima da presente pesquisa é o “conjunto de coisas ou
pessoas reunidas; aglomeração”. Já conglomerado, na mesma referência, é definido como
“reunido, agregado numa massa compacta ou num todo coerente. Organização em que várias
empresas, dos mais diversos setores e ramos, pertencem à mesma holding”. Etimologicamente
não há choque desses conceitos, pois ambos são de origem latina, derivados do mesmo
27
elemento de composição glomer-, que significa novelo, bola. Com relação às variedades
“aglomerado” e “aglomeração”, são as mesmas formas sendo a primeira o substantivo
masculino e a seguinte o feminino. De acordo com Cândido et al (2006), o termo aglomeração
empresarial está no contexto das redes sociais, em que envolvem diversas formas de
convivência e relacionamentos entre os seus respectivos atores.
Geralmente essas duas definições acompanham as demais para substituí-las ou
introduzir a apresentação. Nesta breve amostra conceitual, é verificado que conglomerado traz
a idéia da existência de uma ordenação do conjunto, uma coerência, servindo inclusive para
caracterizar quando estão no domínio de uma entidade central, no caso de uma holding.
Aglomerado, portanto, dá uma conotação mais geral, sem aspectos determinados de
organização ou de hierarquia. Para conhecer melhor e poder analisar o arranjo em questão se
faz necessário classificar quais as características de tipos de aglomerados predominantes na
sua composição.
Uma das possíveis formas de conhecer o aglomerado é perceber como o trabalho é
organizado e quais são os meios e canais pelos quais ele é coordenado. Essa idéia remete ao
conceito de governança. Esta pode ser ainda classificada em governança vertical ou
horizontal, sendo objeto predominante nesta pesquisa a segunda forma.
2.1 Categorização dos aglomerados de empresas
Para categorizar os aglomerados de empresas de software foi realizado um
levantamento de quais as definições e abordagens para as principais formas de conglomerados
de empresas, neste caso, com foco nas empresas de TI. A presença de vários conceitos e
28
abordagens envolvendo essas definições mostram a necessidade de classificá-los e tentar
identificar quais os principais norteadores para estudar tais fenômenos.
Foram utilizados trabalhos sobre a origem dos conceitos, tipologias e características;
sendo que relacionar as características semelhantes desses tipos de aglomeração é a finalidade
dessa parte do referencial. Portanto, não será objetivo do mesmo aprofundar-se nas discussões
acerca das várias tipologias, se valendo das mesmas apenas para orientar a linha escolhida
para a comparação entre os tipos de aglomerados.
2.1.1 Redes
O dicionário eletrônico Houaiss (2007) apresenta a definição etimológica do termo
"rede" como uma derivação do latim, que significa "entrelaçamento de fios, cordas, cordéis,
arames, com aberturas regulares fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido". O
princípio para a formação de redes entre organizações vem do mesmo princípio para a
formação dos grupos sociais, a necessidade gregária do ser humano, comum também a
diversos outros organismos vivos.
Esse princípio pode extrapolar a relação indivíduo-indivíduo e passar para a relação
organismo-organismo, visando gerar interações que reflitam positivamente para ambos. É um
termo de ampla utilização e permeia discussões nas mais diversas esferas do conhecimento,
passando por biologia, sociologia, antropologia, teoria de sistemas computacionais, entre
outros.
Devido a essa amplitude de utilização e das diversas possibilidades de classificação
dessa tipologia, praticamente todo tipo de aglomerado é algum tipo de rede, e dentro desta,
29
pode haver a presença de tantos outros tipos de redes. Portando, cluster, APL, consórcio, são
extensões da compreensão desse termo raiz, só que com algumas características próprias de
cada conformação. O trabalho de Motta (2000) ao apresentar princípios para a existência das
redes interorganizacionais, destaca a grande abrangência do termo rede na esfera
organizacional e a interconectividade entre os diversos atores:
i) Todas as organizações podem ser consideradas redes sociais e devem
ser analisadas dentro dessa perspectiva.
ii) O ambiente é considerado também uma rede formada por
organizações interconectadas entre si.
iii) As decisões e os comportamentos dos atores sociais em organizações
podem ser compreendidos com base no estudo do sistema de relações de
poder e pressões aos quais esses indivíduos são submetidos.
iv) Um sistema de contatos e interconexões entre grupos organizacionais
exerce pressões sobre os membros desse sistema, induzindo certos tipos de
comportamento e jogo de poder.
1
v) Ao comparar as organizações, devem-se considerar as características
das networks e redes mais amplas nas quais essas organizações estão
inseridas. (Motta, 2000)
Apesar de toda organização poder ser considerada uma rede social, e de toda a complexidade
inerente ao tema, ainda assim há características que devem ser pontuadas. Por exemplo, a
caracterização pode permitir comparação de níveis de maturidade entre diferentes redes; a
análise de evolução de uma mesma rede, entre outras possibilidades. Portanto, a compreensão
e o levantamento das características das redes é parte importante para a compreensão e
construção de qualquer outra composição de agregação.
Ainda numa conotação mais geral, para Batalha e Silva (2001) a utilização do termo
redes de empresas se refere “a uma estrutura de ligações entre atores de um sistema social
qualquer”. Essa rede pode representar uma forma organizacional adaptada a um ambiente de
aumento de concorrência. Esse ambiente de alta concorrência e competição, típico da
1
Os princípios iii e iv serão retomados no referencial acerca de governança. Nesse mesmo trabalho, o autor
levanta como uma desvantagem da organização em rede a diminuição do controle que a organização tem das
atividades. A governança aqui trata da dinâmica que interfere nas relações de poder, que determina o nível de
controle nas mais diversas esferas e atividades da rede.
30
economia informacional/global discutida por Castells (1999), tem na estrutura de redes uma
resposta organizacional para gerar conhecimentos e processar informações com maior
eficiência.
Machado e Castro (2006) também apresentam as redes como elementos estratégicos
que impactam diretamente na competitividade entre empresas. Já a melhoria dessa
competitividade também está vinculada à melhorias das competênciascnicas individuais,
dentre as quais: controle de qualidade, avaliação tecnológica do produto, avaliação do
processo e da empresa. A noção de competências também é descrita em Boehe e Toni (2006),
onde as redes são genericamente definidas como acordos de longo prazo entre empresas
legalmente independentes, porém muitas vezes economicamente dependentes que buscam
melhorar suas vantagens competitivas competências - complementando suas capacidades
gerenciais, mercadológicos ou tecnológicos.
Para a realização desta dissertação, o foco estará nas redes inter-empresas ou
interorganizacionais, sendo este último um termo mais amplo por envolver também entes não
empresarias, como associações, entidades de classe, instituições de ensino, governo, entre
outros.
O trabalho de Cândido (2000) propõe uma figura (Figura 01) com a evolução e
classificação dos conceitos de redes a partir de uma perspectiva organizacional, abrangendo
diversos tipos e termos de composição de redes. Os conceitos mais relacionados à esta
dissertação estão assinalados pelas hachuras.
31
Figura 01 (2): Aplicação dos conceitos de redes numa perspectiva organizacional. Cândido
(2000)
Os trabalhos de Cândido et al (2000) e posteriormente o de Hoffmann et al (2004),
apresentaram propostas de tipologia para a classificação de redes de empresas. Cândido op cit
ressalta como mais importantes modelos os de Miles e Snow (1986), o modelo de Hakanson
(1987) e o modelo de Lipnack & Stamps (1994). Hoffmann et al op. cit. retoma no seu marco
teórico além de Miles e Snow, Thorelli (1986) e Jarillo (1998). Desses trabalhos,
resgataremos as características das redes, inicialmente dentro de cada modelo e depois em
conjunto, somando às outras características e, quando oportuno, a alguns dos princípios de
redes.
Em Miles e Snow (1986) apud Cândido (2000) é proposto um modelo no qual as
empresas mantêm uma relação de interdependência e inter-relacionamento, tendo como eixo
principal empresas centraisâncoras - que funcionariam como elemento de conexão. Destaca
que para que as redes possam funcionar adequadamente é necessária uma divulgação
Sociologia
Antropologia
Psicologia
Biologia Molecular
Teoria de Sistemas
etc.
TEORIA DE REDES
REDES SOCIAIS
Interação Relacionamento Ajuda Mútua
Compartilhamento Integração
Complementaridade
Redes
Intraorganizacionais
Redes
Intrapessoais
Redes
Interorganizacionais
Redes Flexíveis de PME's Redes de Inovação Redes de Relacionamento
Redes de Informação Redes de Comunicação Redes de Pesquisa
Alianças: Estratégica Vertical Horizontal Transacional
De Fornecimento De Posicionamento De Aprendizado
Joint Ventures Consórcios Acordos Cooperativos Fusões e Aquisições
Franchising Organização Virtual Clusters etc.
32
completa das informações entre os diversos componentes da rede, com os relacionamentos
internos e externos sendo pautados na confiança.
No modelo de Hakänsson (1987) apud Cândido (2000) o conceito de redes significa
duas ou mais organizações envolvidas em relacionamentos de longo prazo, tendo como
objetivo principal dinamizar os diversos processos organizacionais para o alcance da
competitividade, num ambiente cada vez mais turbulento. As redes formadas a partir de três
dimensões propostas pelos agentes (autores, atividades, recursos) têm as seguintes
característica e estruturas:
i) de interdependência funcional : na qual atores, atividades e recursos
apresentam diferentes graus de heterogeneidade e de complementaridade;
ii) de estrutura de poder dos atores : baseada no controle de atividades e
recursos;
iii) de estrutura de conhecimento e experiência : pelas quais serão definidos os
papéis e funções dos atores;
iv) de estrutura relacionada a tempo : partindo do princípio de que a rede é um
produto de sua história em termos de experiência e investimentos em
relacionamentos, conhecimento, rotinas, etc.
O último modelo abordado por Cândido é o de Lipnack & Stamps (1994), que ao
estudar os conceitos de redes e as suas múltiplas abordagens, classifica os níveis de
organização, obedecendo um certa hierarquia, importância e complexidade. Lista princípios e
características de cada um desses grupos, mas não das redes como um todo.
Hoffmann (2004), após uma revisão do conceito de redes, apresenta como
características das redes interorganizacionais:
i) Relatividade nos papéis dos atores organizacionais: (...)A visão de redes de
empresas enfatiza que os atores econômicos jogam diferentes papéis não só
em relação a diferentes contrapartes (uma empresa é fornecedora de um
cliente e consumidora de um fornecedor), mas também é uma contraparte
isolada.
2) Interação: Não se encontraram estudos que explicitem que em uma rede
pode haver passividade entre as partes e que essa passividade seja benéfica
para elas. A interação entre as partes é muito maior do que uma adaptação
passiva. Quando interagem, seus problemas são confrontados com soluções,
suas habilidades com necessidades etc. Conhecimento recíproco e
33
capacidades são revelados e desenvolvidos juntamente e em uma dependência
mútua pelas partes.
3) Interdependência das partes: um conjunto complexo de interdependências
se desenvolve gradualmente. Dado às naturezas distintas das partes, as
interdependências no relacionamento se tornam mais fortes. Através desse
relacionamento, cada parte ganha acesso aos recursos dos demais. Os atores
poderão, a um certo grau, mobilizar e usar recursos controlados por outros
atores nas redes.
4) Complementaridade: Os atores podem utilizar a existência de
complementaridade ou competitividade em suas relações em diferentes
caminhos, assim como eles interagem uns com os outros.(...)Essa relatividade
inclui as atividades de quase-integração (...) a conexão com seus recursos e os
da própria rede e; a influência de sua percepção e das demais partes nas
dimensões importantes do contexto.
5) Especialização das atividades das empresas: Em função das vantagens da
especialização e da escala, as empresas geralmente se situam no nível do
componente e não do sistema como um todo. Focando assim, elas farão
melhor e, depois, podem estabelecer alianças para administrar a
interdependência do âmbito do sistema.
A sexta característica listada por Hoffmann (2004) é a competitividade entre redes.
Como essa é uma característica mais da relação entre redes do que intra-rede, não será
utilizada no quadro-resumo.
A partir dessas características acerca de redes inteorganizacionais e/ou interempresas,
foi formulado o quadro 02, agrupando os conceitos por semelhança de significado e
relacionando aos autores:
34
Interdependência
Miles e Snow (1986)
Interdependência funcional
Hakänsson (1987)
Interdependência das partes
Hoffmann (2004)
Inter-relacionamento
Miles e Snow (1986)
Relacionamento
NOHRIA & ECCLES (1992)
Empresas centrais
Miles e Snow (1986)
Relatividade nos papéis
Hoffmann (2004)
Especialização
Hoffmann (2004)
Confiança
Miles e Snow (1986)
Relacionamentos de longo prazo
Hakänsson (1987)
Acordos de longo prazo
Boehe e Toni (2006)
Interação
NOHRIA & ECCLES (1992)
Interação
Hoffmann (2004)
Integração
NOHRIA & ECCLES (1992)
Complementaridade
NOHRIA & ECCLES (1992)
Complementaridade
Hoffmann (2004)
Complementariedade
Boehe e Toni (2006)
Ajuda mútua
NOHRIA & ECCLES (1992)
Compartilhamento
NOHRIA & ECCLES (1992)
Para este trabalho se caracterizam as redes interorganizacionais a partir dos pontos
listados no quadro 02, oferecendo uma visão mais abrangente do conceito através da
sobreposição de autores e de abordagens correlatas.
Quadro 02 (2) : Características de redes. Formulado pela autora
2.1.2 Clusters
O conceito de cluster remete a um conceito geográfico de aglomeração e
interdependência de cidades proposto por Porter (1998). Porém, apenas a cooperação entre as
cidades não é capaz de formatar efetivamente um cluster entre cidades. A articulação entre as
esferas (público, privada, ensino, civil) traz maior capacidade de negociação, principalmente
com o governo estadual e federal, maior “fidelização” entre as partes através do
relacionamento, e maior envergadura para resolver possíveis problemas.
35
Marshall (1985), com o conceito de distritos industriais, já defendia a idéia de que há
ganhos na formação de aglomerações setoriais em determinados espaços geográficos. O autor
destaca que “freqüentemente são asseguradas pela concentração de várias pequenas empresas,
com características similares e em determinada localidade”. O autor define os ganhos dessa
configuração associativa como “economias externas”. Para Porter (1998), a localização passa
a ser foco de uma nova abordagem de competição. O conceito de cluster remete a um
conceito geográfico de aglomeração e interdependência de cidades. Porém, apenas a
cooperação não é capaz de formatar efetivamente um cluster. Ainda de acordo com o autor, os
princípios que regem o seu funcionamento são: a cooperação, a complementaridade, o senso
de comunidade e a competição.
Clusters na definição de Arantes (2001), são empresas que atuam em um mesmo setor
sejam empresas de serviço, indústrias, cadeias produtivas, setores ou atividades econômicas,
negócios, centros de inovação tecnológica, núcleos que agreguem conhecimento, capital
físico, capital humano ou capital social, tendo em comum o fato de estarem localizadas numa
mesma área e contribuírem para um sistema que desenvolve produtos característicos da
região. Entre os benefícios gerados há desde um considerável ganho de poder de ação frente
às adversidades até uma melhoria da qualidade de vida da região, passando ainda pela redução
de custos e pelo aumento do ambiente de inovação.
Ainda de acordo com o Arantes op cit, os princípios que regem o funcionamento do
cluster são: a cooperação, a complementaridade, o senso de comunidade e a competição. Toda
produção é o resultado da grande cooperação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva:
fornecedores de matéria-prima e de bens, produtores, vendedores e pesquisadores,
complementando-se no trabalho na busca de um objetivo comum.
36
Mytelka e Farinelli (2000)
Características
expõem uma análise de clusterização, que seria o grau que
o aglomerado consegue responder com relação às características de cluster. O quadro 03
apresenta as variáveis e sua intensidade que caracterizam os clusters informais, organizados e
inovativos. Essa tipologia distingue aglomerações produtivas em termos de sua capacidade
dinâmica de transformação competitiva e na presença maior ou menor das tais características.
Clusters Informais
Clusters Organizados
Clusters Inovativos
Existência de liderança
Baixo
Baixo e Médio
Alto
Tamanho das firmas
Micro e Pequena
Pequena e Média
Pequena, Média e Grande
Capacidade Inovativa
Pequena
Alguma
Contínua
Confiança Interna
Pequena
Alta
Alta
Nível de Tecnologia
Pequena
Média
Média
Interação
Alguma
Alguma
Difundido
Cooperação
Pequena
Alguma e Média
Média e Alta
Competição
Alta
Alta
Média e Alta
Novos produtos
Poucos ou Nenhum
Alguns
Continuamente
Exportação
Pouca ou Nenhuma
Média e Alta
Alta
Quadro 03 (2). Tipologia de Clusters. Mytelka e Farinelli (2000). Adaptado pela autora
O quadro 04 foi elaborado a partir das características aqui citadas em conceitos e
revisões da literatura acerca de clusters:
Existência de liderança
Mytelka & Farinelli (2000)
Capacidade inovativa
Mytelka & Farinelli (2000)
Confiança interna
Mytelka & Farinelli (2000)
Cooperação
Mytelka & Farinelli (2000)
Cooperação
Arantes (2001)
Competição
Mytelka & Farinelli (2000)
Competição
Arantes (2001)
Interação,
Mytelka & Farinelli (2000)
Complementaridade
Arantes (2001)
Mesmo setor.
Arantes (2001)
Mesma área
Arantes (2001)
Produtos característicos da região
Arantes (2001)
Senso de comunidade
Arantes (2001)
Quadro 04 (2): Características de clusters. Formulado pela autora
37
As características de Mitelka e Farinelli (2000) referentes ao tamanho das firmas,
novos produtos e exportação foram retiradas desta avaliação, pois estão mais relacionados à
evolução de cluster (de informal para inovativo) do que à existência ou não do cluster.
2.1.3 Arranjos Produtivos Locais (APL’s)
A estratégia de APL, denominação desenvolvida no Brasil, segue uma tendência
formulada por Porter (1998) apud Cândido (2005) e seus estudos sobre cluster, e fica no
limiar entre a literatura de organização industrial e a de desenvolvimento regional. Demonstra
que a análise setorial não consegue por si só abordar a complexidade dos fenômenos que
envolvem a dinâmica industrial.
A Redesist (Rede de pesquisa em sistemas a arranjos produtivos e inovativos locais),
através dos trabalhos de Cassiolato e Lastres (Cassiolato et al 2000) é responsável por vários
que disseminam a noção de APL para o país. Para a Redesist a conceituação de APL envolve
o aspecto territorial, histórico e a interação entre agentes econômicos.
Arranjos Produtivos Locais (APLs) são aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes.
Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas - que podem
ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e
equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras,
clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação.
Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas
para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e
universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e
financiamento." (REDESIST, 2006)
Para Cândido (2005), APL envolve o conjunto de atividades desenvolvidas por um
conjunto de empresas atuando em um mesmo setor econômico, numa mesma localidade ou
38
região, aplicando práticas de cooperação, parcerias e relações complementares, de forma
espontânea ou induzida, tendo as instituições (públicas e privadas) de apoio às atividades
econômicas papel relevante como indutor de ações coletivas e no estabelecimento de relações
de confiança entre os agentes produtivos e institucionais.
De acordo com Koeppel (2006) “a definição de APL´s enfatiza os aspectos de
cooperação local e a força que a iniciativa privada necessita ter para estruturar ações de seu
interesse, a saber: arranjos produtivos são aglomerações de empresas localizadas em um
mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais tais
como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.” Ou seja,
o APL nasce da necessidade e da dedicação dos empresários, buscando uma convergência em
termos de expectativas de desenvolvimento, estabelecendo parcerias e compromissos para
manter e especializar os investimentos de cada um dos atores no próprio território, e promover
ou ser passível de uma integração econômica e social no âmbito local.
Câmara e Galão (2006) ressaltam que os estudos sobre vantagens de APL’s para o
desenvolvimento tecnológico e regional de um país apontam que empresas aglomeradas
territorialmente podem se beneficiar da aglomeração através das chamadas economias
externas. Suzigan et al (2003) descrevem que as economias externas, incidentais ou
deliberadamente criadas, contribuem para o incremento da competitividade das empresas e,
em conseqüência, do sistema ou arranjo local como um todo.
Segundo Cassiolato e Lastres (2004), os arranjos normalmente apresentam fortes
vínculos envolvendo agentes localizados no mesmo território. As interações referem-se não
apenas a empresas atuantes em diversos ramos de atividade e suas diversas formas de
39
representação e associação (particularmente cooperativas), mas também a diversas outras
instituições públicas e privadas. Ainda segundo Cassiolato e Lastres (2004), a ênfase em
sistemas e arranjos produtivos locais privilegia a investigação das relações entre conjuntos de
empresas e destes com outros atores; dos fluxos de conhecimento, em particular, em sua
dimensão tácita; das bases dos processos de aprendizado para as capacitações produtivas,
organizacionais e inovativa; da importância da proximidade geográfica e identidade histórica,
institucional, social e cultural como fontes de diversidade e vantagens competitivas.
De acordo com Lastres, Arroio e Lemos (2003) “APL é definido como um conjunto de
empresas que atuam em torno de uma atividade econômica comum, com apoio de outras
empresas correlatas e complementares em uma região específica.”
Assim exposto, e de acordo com Costa et al (2006) os APL’s em geral, são
decorrentes da construção de identidades e formações de vínculos territoriais, construídos a
partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. O APL é também uma
estrutura de organizações voltadas para a otimização de processos, redução de custos e
aumento de qualidade, uma vez que despesas como transporte, serviços especializados,
consultoria, treinamento, insumos, matéria-prima, são compartilhados e com isso, aumentam
as condições de competição dentro de um mercado.
A partir das características citadas em conceitos e revisões de literatura acerca de
APL’s foi formulado o quadro 05, agrupando os conceitos por semelhança de significado e
relacionando aos autores:
40
Interações
Cassiolato e Lastres (2004)
Interação
Koeppel (2006)
Fluxos de conhecimento
Cassiolato e Lastres (2004)
Aprendizagem
Koeppel (2006)
Proximidade geográfica
Cassiolato e Lastres (2004)
Mesma localidade ou região
Cândido (2005)
Mesmo território
Koeppel (2006)
Identidade histórica, institucional,
social e cultural
Cassiolato e Lastres (2004)
Atividade econômica comum
Cassiolato e Lastres (2004)
Mesmo setor econômico
Cândido (2005)
Apoio de outras empresas
Cassiolato e Lastres (2004)
Correlatas
Cassiolato e Lastres (2004)
Complementares
Cassiolato e Lastres (2004)
Parcerias e relações complementares
Cândido (2005)
Cooperação
Cândido (2005)
Cooperação
Koeppel (2006)
Instituições (públicas e privadas) de
apoio
Cândido (2005)
Especialização produtiva
Koeppel (2006)
Articulação
Koeppel (2006)
Quadro 05 (2): Características de APL’s. Formulado pela autora
A Redesist adota o conceito de APL como auxiliar ao de Sistema Produtivo e
Inovativo Local (SPIL), onde os APL’s são “aglomerações produtivas cujas articulações entre
os agentes locais não é suficientemente desenvolvida para caracterizá-las como sistemas
(Redesist, 2006). O conceito de SPIL sugere uma evolução, um nível superior à conceituação
e aos estudos de APL’s e de clusters. A definição da Redesist para esses sistemas explicita a
diferença e a relação quanto ao conceito de APL. De acordo com a Redesist, através das
pesquisas de Cassiolato e Lastres:
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SPILs designam conjuntos de
agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo
território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que
apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem.
SPILs geralmente incluem empresas produtoras de bens e serviços finais,
fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços,
41
comercializadoras, clientes, etc., cooperativas, associações e representações
- e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos
humanos, informão, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e
financiamento. Já o termo Arranjos Produtivos Locais designa aqueles
casos de sistemas fragmentados e que não apresentam significativa
articulação entre os agentes. (CASSIOLATO e LASTRES, 2004).
Grosso modo, os sistemas inovativos locais seriam uma evolução aos outros modelos
de aglomerados. Eles são marcados por uma forte presença e influência das organizações
âncora, sejam elas grandes empresas ou as instituições de gestão e de fomento.
2.1.4 Parques Tecnológicos
Os parques tecnológicos são reconhecidos como instrumentos de integração de
múltiplos atores, instituições e atividades relacionadas aos processos de inovação tecnológica,
de acordo com Vedovello (2006). Ainda de acordo com o autor, essas organizações atuam
como suporte à integração entre agentes sociais similares (pequenas e grandes empresas) ou
distintos (universidade e indústria), além de serem mecanismo de desenvolvimento
regional/local de estímulo à maior competitividade e performance empresarial, gerando
crescimento e desenvolvimento econômicos. Em especial, a partir de 2000, vêm-se tornando
objeto de programas especiais do governo tendo sido incluídos no Plano Plurianual do
Governo Federal (PPA-2004/2007).
De acordo ainda com Vedovello (2006), historicamente, a discussão de parques
científicos e tecnológicos, como suporte ao processo de inovação, data do final dos anos 1960.
Diversos estudos sobre a temática vêm, ao longo do tempo, buscando melhor elaborar o
42
conceito, acompanhar experiências práticas implantadas e avaliar resultados alcançados,
através de sua ação. A institucionalização dos parques tecnológicos nos anos 1980-90 resulta
no surgimento de um conjunto de associações nacionais de parques tecnológicos: norte-
americana, européia, britânica, brasileira, etc, gerando uma polissemia conceitual.
Para a United Kingdom Science Park Association (UKSPA, 2006) instituição criada
em 1984, parque científico e tecnológico é uma iniciativa de suporte empresarial e
transferência de tecnologia que:
i) incentiva e apóia o início e a incubação de negócios inovadores de alto
crescimento baseados em conhecimento;
ii) provê ambiente onde empresas, em suas várias dimensões e negócios,
inclusive internacionais, podem desenvolver relações específicas e próximas
com particular centro promotor de conhecimento para o mútuo benefício das
partes;
iii) tem ligações formais e operacionais com centros promotores de
conhecimento, como universidades e instituições de ensino superior. A ênfase
desta definição recai na geração de conhecimento e no papel central de
universidades e centros de pesquisa e na interação que pode ser estabelecida
entre esses agentes e empresas.
Já para a International Association of Science Parks IASP, (2006), instituição também
criada em 1984, considera um parque científico como: uma organização gerenciada por
profissionais especializados cujo principal objetivo é incrementar a geração de renda e riqueza
na comunidade através da promoção da cultura de inovação e competitividade de suas
empresas associadas e instituições baseadas no conhecimento. Buscando o cumprimento de
tais metas, um parque científico estimula e gerencia o fluxo de conhecimento e tecnologia
entre universidades, instituições de P&D, empresas e mercados. Um parque facilita a criação
e o crescimento de empresas inovadoras através de incubação e mecanismos de criação de
spin-offs (empresas oriundas de laboratórios e resultantes de pesquisas acadêmicas ou
industriais) e fornece serviços de valor agregado juntamente com espaço físico de qualidade -
infra-estrutura e equipamentos.
43
A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores,
criada em 1987, conceitua parque tecnológico como: um complexo produtivo industrial e de
serviços de base científico-tecnológica, planejado, de caráter formal, concentrado e
cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica
desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque (ANPROTEC, 2006). Trata-se de um
empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, do aumento da
capacitação empresarial, fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o
objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma região. Dessa forma, os parques
brasileiros tendem a tomar a forma de um lócus delimitado, planejado, em que são previstos
espaços para alocação de empresas de todos os portes e infra-estrutura adequada ao tipo de
negócios que pretende fixar.
Para Baiardi e Basto (2006) o conceito de parque tecnológico vem associado e é
dependente do de Pólo Tecnológico. Os pólos tecnológicos são definidos como aglomerados
de empresas que se estruturam a partir de um ou mais eixos, que podem ser o escopo de gerar
inovações. Essa definição de pólo tecnológico coincide com algumas das definições de parque
tecnológico, já citadas neste trabalho. Ainda segundo os autores, os parques tecnológicos são
criados para promover e desenvolver a pesquisa científica, comercializar a tecnologia e
incentivar o desenvolvimento econômico local, constituindo-se por excelência em um habitat
da inovação.
Segundo Vianna e Mota (2005), a principal função do parque tecnológico é
administrar o fluxo do conhecimento dentre as diversas instituições que o integram
(Universidades, Instituições de Pesquisas e Desenvolvimento, empresas já estabelecidas no
mercado, empresas incubadas) podendo, inclusive gerar “spin-offs. É importante ressaltar
que um parque tecnológico não se resume a um aglomerado industrial, nem a um complexo
44
de serviços de base científica tecnológica. Sua composição é mais ampla devendo
proporcionar um ambiente, que seja um lócus para transferência de tecnologia, para o fomento
à criação de novas empresas e para o aumento da competitividade daquelas já consolidadas,
além de reunir características de atratividade de empresas que investem em P&D de forma
expressiva.
O quadro 06 traz características e seus agrupamentos para o tipo de aglomerado
parque tecnológico.
Transferência de tecnologia
Vianna e Mota (2005)
Transferência de tecnologia
(UKSPA, 2006)
Fluxo de conhecimento e tecnologia
entre universidades, instituições de
P&D, empresas e mercados.
IASP, (2006)
Transferência de tecnologia
ANPROTEC (2006)
Fomento à criação de novas empresa
Vianna e Mota (2005)
Incubação de negócios
(UKSPA, 2006)
Suporte empresarial
(UKSPA, 2006)
Do aumento da capacitação
empresarial,
ANPROTEC (2006)
Aumento da competitividade
Vianna e Mota (2005)
Cultura de competitividade
IASP, (2006)
Competitividade,
ANPROTEC (2006)
Integração
Vedovello (2006)
Processos de inovação
Vedovello (2006)
Cultura de inovação
IASP, (2006)
Cultura da inovação,
ANPROTEC (2006)
Planejado, de caráter formal,
ANPROTEC (2006)
Ligações formais e operacionais com
centros promotores de conhecimento
(UKSPA, 2006)
Serviços de base científico-
tecnológica
ANPROTEC (2006)
Concentrado
ANPROTEC (2006)
Cooperativo,
ANPROTEC (2006)
Transferência de conhecimento
ANPROTEC (2006)
Quadro 06 (2): Características de parques tecnológicos. Formulado pela autora
45
Para o caso específico desta dissertação, o trabalho de Baiardi e Basto (2006),
apresenta o Instituto Titan como ponto central do aglomerado de TI de Fortaleza, no estudo de
protagonismo das redes nos parques tecnológicos. O mesmo trabalho também conta com a
análise do pólo da Tecnopuc de Porto Alegre e do Porto Digital, em Recife.
2.2 Aspectos de governança
Para este estudo é importante distinguirmos a governança corporativa. Esse termo é
mais difundido nos meios organizacionais, referindo-se às relações desenvolvidas entre
acionistas e executivos, nas mais diversas esferas da estrutura, de uma mesma organização, de
acordo com Pound (2000). No caso específico do objeto de estudo desta dissertação, além de
entenderem a governança como sendo a corporativa, poderiam ainda os entrevistados
entenderem como a governança de TI, que consiste na estruturação das ferramentas e
produtos de TI dentro de uma organização.
Os modelos de governança que envolvem mais de uma empresa ou organização
podem ser classificados ainda como governança vertical ou horizontal, segundo Oliveira
(2007). Na governança vertical, a rede é constituída de empresas que realizam atividades
contínuas em diferentes etapas do processo de transformação dos materiais, o que implica em
relações de suprimento cadeia produtiva. Nesse modelo, a cooperação dá-se principalmente
pelo fluxo de informação. Já na governança horizontal, mais comum entre micro, pequenas e
médias empresas; tem-se uma rede formada por empresas que estão na mesma etapa de
transformação dos materiais ou em um mesmo setor. Nesse modelo há menor formalização da
governança, bem como maior participação nas tomadas de decisão por todas as empresas e
maior simetria de poder econômico e político. Esta é classificação para os aglomerados de
46
software como o de Fortaleza, onde não há uma polarização de uma grande empresa nem um
sistema exclusivo e hierárquico de cliente fornecedor.
A governança tratada nesta pesquisa refere-se às relações entre entes (empresas e
demais organizações) dentro de uma rede de relações sociais. É a uma abordagem próxima à
defendida por Cassiolato e Szapiro (2003) que “parte da idéia geral do estabelecimento de
práticas democráticas locais por meio da intervenção e participação de diferentes categorias
de atores - Estado, em seus diferentes níveis, empresas privadas locais, cidadãos e
trabalhadores, organizações não-governamentais etc. nos processos de decisão locais.”
O termo foi inicialmente utilizado por Williamson (1985) para o processo de
coordenação dos atores econômicos, nas esferas pública e privada e nosveis local e global.
Para Silva (2005), a governança está ligada ao conceito de custos de transação. Ocorre
transação quando há uma troca entre firmas com tecnologias distintas, em que se encerra um
estágio e se inicia outro. A viabilização desta troca ocorre através de contratos, também
entendidos como parcerias, que podem ser moldados a partir de quatro modelos: o planejado,
o de compromisso, o competitivo e o governável. Sobre esse último, em que há racionalidade
limitada, oportunismo e ativos específicos, a única forma de manter contratos que reduzam
custos de transação é via governança de uma instituição privada sobre a(s) outra(s).
Já Fleury & Fleury (2001) ressaltam que a idéia central da análise das cadeias de
produção é a identificação das estruturas de poder em que uma ou mais empresas coordenam
e controlam atividades econômicas geograficamente.
As estruturas de governança em rede, na medida em que favorecem a sinergia e
cooperação entre os atores, estimulam a inovação e aumentam a efetividade das políticas
47
públicas, para Charan (2000). Essas características estão intimamente relacionadas aos
conceitos de aglomerados, principalmente os que estimulam a inovação.
Para Suzigan (2007), a governança surge quando as empresas decidem ir além das
vantagens competitivas e estreitar suas interdependências, em iniciativas conjuntas, com o
objetivo de alcançar uma eficiência coletiva, mais vantajosa do que o cenário de simples
competição poderia prover. Essas iniciativas podem tomar diversas formas. Frequentemente
convertem-se em cooperação em projetos logísticos, marcas conjuntas, consórcios de
exportação, instituições de treinamento profissional, entre outras.
Ainda segundo Suzigan op cit, vários são os fatores que influenciam na forma que a
governança tomará. Entre eles pode-se destacar o tamanho das empresas participantes
(pequenas empresas são mais propensas a formar APL), tipo de produto, a forma como se
organiza a produção local, a forma como as empresas locais se inserem nos mercados, a
existência de empresas que dominem capacitações e ativos estratégicos, o contexto
sociocultural e político, entre outros.
No entender de Garcia, Motta e Neto (2004), as estruturas de governança em rede
podem fomentar um processo de aprendizado local. A interação com os responsáveis pelo
monitoramento da produção leva as empresas locais a desenvolverem capacitações
importantes nas suas funções produtivas, resultando em maior competitividade. Ressaltam
também as características de hierarquia e comando presentes na governança.
O papel desempenhado pelo governo é de grande influência no desempenho e mesmo
na forma de governança das redes. O governo tem a capacidade de legislar sobre as regras de
competição (leis de proteção à propriedade intelectual, anti-truste, etc.), fornecer infra-
estrutura de qualidade, desenvolver políticas de incentivo e estímulo ao crescimento dos
clusters (isenções, incentivos fiscais...), como ressaltou Carvalho (2002).
48
No que se refere a sistemas de inovação, e dentro deles os aglomerados de TI,
Leydesdorff (2006) apóia-se no modelo da triple helix para afirmar que tais sistemas podem
ser dirigidos por várias subdinâmicas nas mais variadas extensões. Nesse modelo, os
principais entes do sistema baseado no conhecimento são a universidade, a indústria e o
governo. Incorporando elementos da microeconomia clássica, a abordagem segundo a triple
helix considera a interação entre as unidades institucionais, as bases de comunicação e as
dinâmicas do mercado para analisar as diferentes potenciais dimensões dos sistemas de
inovação.
Seguindo essa abordagem, é importante considerar os dois níveis de relação entre os
entes do sistema, a saber, o nível institucional, no qual a ação de cada um é limitada pelos
outros, e o nível funcional, no qual eles moldam as expectativas uns dos outros.
Alhures, Leydesdorff e Etzkowitz (1999) explicitam a relação metafórica do modelo
da tripla hélice com o da dupla hélice de DNA apresentada por Watson e Crick em 1952. Eles
salientam que não é incomum um pesquisador acadêmico abrir uma empresa de tecnologia ou
uma indústria patrocinar pesquisas em universidades ou ainda o governo interferir diretamente
nas empresas, seja através de políticas industriais ou mesmo de leis anti-truste que podem vir
a dividir uma empresas em duas ou mais. Posto assim, explicitam a porosidade entre essas
três esferas universidade, empresa e governo -,bem como mostram que pode ocorrer de uma
eventualmente desempenhar o papel da outra. O modelo da tripla hélice busca exatamente
explicar essa relação dinâmica e complexa entre esses atores.
O pesquisador não estaria mais na sua “torre de marfim”, as relações com indústrias e
governo têm-se intensificado e adensado. Para Fujino (2005), o argumento da tripla hélice
vem sendo utilizado no Brasil para influenciar as políticas de ciência e tecnologia no sentido
de aproximar a universidade das empresas. Buscar-se-ia, com a formação desse novo contrato
49
social, estimular a inovação e o desenvolvimento econômico do País no contexto da sociedade
da informação. Por isso, o conceito de triple helix pode auxiliar na pesquisa sobre governança
de arranjos com características de inovação, pois engloba o estudo das relações entre os
principais atores, oficiais ou não, para o desenvolvimento do aglomerado.
50
3 Método
O método apresenta o posicionamento do pesquisador frente ao objeto de pesquisa.
Cabe aqui verificar quais as formas mais adequadas para se observar o fenômeno, buscando
entendê-lo através de técnicas e de ferramentas de pesquisa adequados.
3.1 Delineamento da pesquisa
A partir da análise da contextualização e da pergunta de pesquisa, foi decidido encarar
a pesquisa sob o enfoque qualitativo, mais especificamente um estudo de caso qualitativo. É
importante salientar que a definição de estudo de caso está na delimitação e no
aprofundamento do objeto a ser estudado, e não nos métodos utilizados, de acordo com
Godoy (2006). Merriam (1998) esclarece que o estudo de caso é um trabalho intensivo por
meio do qual se visa aprofundar uma unidade de análise claramente identificada. Para Yin
(2005), os estudos de caso exploratórios são bem recebidos para trabalhos onde se apresentam
questões do tipo “como” e “por que”, sendo então adequado para esta dissertação onde a
pergunta de pesquisa se apresenta como questão do tipo “como”.
Para o presente trabalho, a unidade de análise é o aglomerado de empresas
desenvolvedoras de software, da cidade de Fortaleza. Apesar da clara distinção entre as
51
organizações participantes do aglomerado e assumindo o risco de estas se posicionarem na
pesquisa como respondentes pelas empresas e não pelo aglomerado, ainda assim acredita-se
que a análise deve focar no aglomerado e não nas empresas. Para tanto, foi proposta uma
proporção de 1/3 dos respondentes serem diretores de empresas, e os outros 2/3 ligados ao
governo, às instituições de ensino superior e às organizações de empresas de TIC, que
coincide com das empresas desenvolvedoras de software. Organizações aqui neste trabalho
devem ser lidas como as entidades responsáveis por aglutinar esforços para desenvolvimento
da TI, sem subordinação ao governo, às instituições de ensino ou a uma empresa em
particular. O que se quer neste trabalho é visualizar as relações de governança dentro do
arranjo, sendo que esta se dá a partir das relações entre os componentes do mesmo.
O estudo de caso qualitativo inicia-se na construção de um arcabouço teórico
consistente. Por arcabouço teórico Merriam (1998) entende como sendo o resultado da
orientação ou circunstâncias que o levam ao seu estudo, é o corpo da literatura, a orientação
disciplinar que se carrega para a situação de estudo. A partir do arcabouço teórico é possível
identificar o que já é conhecido ou não, que aspecto deverá ser enfatizado e precisar o
propósito do estudo. A partir desse trabalho, o pesquisador pode se deslocar ao campo com a
finalidade da obtenção dos dados e através da sua análise simultânea à pesquisa, os resultados
emergem. Com um processo dinâmico e sistemático, busca-se o refinamento dos dados e
verificação das tendências, até a visualização de padrões e categorias de dados que levarão à
conclusão da pesquisa. Vale ressaltar a necessidade de validação e verificação da
consistência dos dados, confrontando resultados de entrevistas, observações e documentos,
trazendo assim fidelidade e credibilidade para os leitores, de acordo com Merriam (1998).
52
3.2 Coleta de dados
A amostragem, segundo Godoy e Mattos (2006), é uma das decisões metodológicas
mais incômodas no trabalho de investigação qualitativa. Um dos motivos é por ele não se
ajustar às lógicas de proporcionalidade e representatividades estatísticas. Como o objetivo é
cobrir o aglomerado formado pelas empresas desenvolvedoras de software da cidade de
Fortaleza, foram incluídas empresas, governo, entidades representativas e instituições de
ensino superior.
A experiência profissional da autora nas empresas do aglomerado mostra que na
mesma empresa pode haver mais de uma pessoa-chave para o levantamento e compreensão
das relações no aglomerado. Além disso, é comum que os próprios empresários participem da
direção de algumas das entidades organizadoras e fomentadoras do arranjo. Portanto, a
definição do número final de entrevistados está atrelada a uma sondagem dos atores ativos no
aglomerado, a ser realizada a partir do cronograma estabelecido. Fica a autora desta
dissertação ciente do trade-off entre a quantidade de dados levantados e o aprofundamento
dos mesmos.
A coleta de dados principal do trabalho deu-se através de entrevistas semi-
estruturadas, com o auxílio de um roteiro, que segundo Godoy e Matos (2006), possibilita
mais liberdade ao entrevistador para introduzir as perguntas e aprofundá-las no decorrer do
diálogo com o entrevistado. Nas palavras do autor:
A entrevista semi-estruturada tem como objetivo principal compreender os
significados que os entrevistados atribuem às questões e situações relativas
ao tema de interesse. Neste caso a entrevista é utilizada para recolher dados
descritivos na linguagem do próprio sujeito, possibilitando ao investigador
desenvolver uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam
aspectos do mundo (GODOY e MATTOS, 2006)
53
O roteiro foi avaliado numa “entrevista-teste” com um empresário relacionado ao
aglomerado, para verificar se havia algum termo que pudesse gerar confusão no entendimento
das perguntas. Essa entrevista também serviu para identificar pessoas importantes para o
aglomerado, guiando a amostra de entrevistados para a pesquisa, já que o empresário em
questão está envolvido há mais de 15 anos na área de desenvolvimento de software na cidade
de Fortaleza. Foram destacadas pessoas com envolvimento e conhecimento das questões
sobre o relacionamento entre os atores do aglomerado e com disposição em colaborar com
pesquisa acadêmica. O quadro 07 apresenta o perfil dos entrevistados e a sua relação com o
aglomerado:
Nome
Perfil
Ator
Adriana
Engenheira de Software. Coordenadora incubadora UNIFOR
Ensino
Adriano
Engenheiro de Software. Diretor de Desenvolvimento IA
Empresa
Alexandre
Engenheiro de Software. Diretor Presidente Ivia
Empresa
Cristiano
Advogado. Consultor Prefeitura de Fortaleza
Governo
Lenardo
Economista. Presidente do Instituto Titan
Organizações
Mauro
Engenheiro de Software. Secretário Adjunto SECITECE.
Professor CEFET
Governo
Ensino
Samuel
Administrador Vice-presidente ITIC. Professor UECE
Ensino
Organizações
Tales
Engenheiro de Software. Diretor de Desenvolvimento Fortes
Informática
Empresa
Organizações
Jorge (pré-
entrevista)
Engenheiro de Software Diretor Comercial Fortes Informática
Empresa
Organizações
Quadro 07 (3): Perfil dos entrevistados. Formulado pela autora
Foi permitido alterar o roteiro de acordo com o desenvolvimento da pesquisa e com o
maior entrosamento com o objeto, além de outros apontamentos surgidos em uma das
entrevistas e que poderiam ser confirmados ou aprofundados em outra entrevista.
Como o objetivo do trabalho está em compreender a governança do aglomerado, a
maioria dos entrevistados tem ou já teve alguma ligação com uma das organizações abordadas
neste trabalho.
54
Outra técnica utilizada foi a pesquisa documental. É preciso, antes de qualquer coisa,
definir o que vem a ser documento. Uma definição, ou um entendimento equivocado a
respeito dessa ferramenta, pode comprometer a lisura e a coerência da pesquisa. Documento,
segundo Merriam (1998), é material escrito, visual e físico relevante para o estudo da
pesquisa; artefatos; qualquer outro dado que não tenha sido coletado através de entrevista e
observação. Foram utilizadas como fonte de pesquisa documental:
Atas de reunião;
Relatórios e planilhas referentes à estrutura e indicadores
Website oficial das organizações ;
E-mails
Jornais internos
Informativos das organizações
As vantagens da coleta de dados em documentos podem ser esquematizadas da
seguinte forma, segundo Merriam (1998):
i) A documentação não altera/interfere no ambiente: é produzida através de um processo
natural de desenvolvimento das atividades e interação entre os membros.
ii) Não depende da cooperação das pessoas: elas o trabalham no dia-a-dia, sem necessidade
de uma cooperação específica para a produção dos mesmos, como ocorre com as entrevistas.
iii) Fonte de dados pronta e de fácil acesso, mais simples comparando com entrevistas e
questionários.
iv) Revela fatos que aconteceram antes da pesquisa ser iniciada: caráter histórico e não-
influenciável.
v) Estimula questões a serem pesquisadas na observação e entrevista: caráter complementar.
55
Como complemento houve um trabalho de observação direta assistemática, devido à
oportunidade de desenvolver os trabalhos de pesquisa dentro da sede de um dos organismos
representantes do aglomerado. Segundo Marconi e Lakatos (1999) essa técnica “consiste em
recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios especiais ou
precise fazer perguntas diretas”. Nessa ocasião foi possível: verificar a participação dos
empresários nas reuniões das entidades, acompanhar o movimento de pessoas nos laboratórios
que dividem o mesmo espaço físico do Titan e do Insoft/Itic, a presença de alguns
pesquisadores de universidades, entre outros aspectos que geraram anotações da pesquisadora
ao longo da pesquisa. As fases da pesquisa podem ser resumidas e visualizadas na figura 02:
Figura 02 (3): Fases da coleta de dados. Elaborada pela autora
A utilização de mais de um método de pesquisa proporciona a possibilidade de
triangulação de dados. Para Patton (2002), a triangulação apresenta três vantagens. A primeira
é poder oferecer diferentes pontos de vista sobre o que está sendo observado, através das
várias formas de coleta dos dados, permitindo diversas possibilidades de contextualização.
Outra vantagem é a de poder identificar discrepâncias entre o que o entrevistado diz e o que
ele efetivamente foi realizado, e , dependendo da discrepância, desconsiderar os dados. A
terceira vantagem é a de evitar ou minimizar visões tendenciosas do entrevistador. Essa
prática permite uma maior verificação da validade das informações, além de poder retro-
alimentar o processo de coleta de dados, ao sugerir pontos a serem esclarecidos ou
aprofundados.
Levantamento
de dados
(internet)
Visita
exploratória
Apresentação
do Projeto
1a Visita
Observação e
Pesquisa
Documental
Elaboração
Roteiro de
Entrevista
2a Visita -
Entrevistas
Análise e
confirmação
dos dados
56
3.3 Procedimentos de análise
A análise de dados foi feita tendo como cerne o material das entrevistas. A pesquisa
documental foi utilizada na preparação do roteiro e para triangulação de dados. As anotações
oriundas da observação direta foram utilizadas para readequação do roteiro ao longo do
processo e, em menor grau, para triangulação.
O método utilizado para a análise das entrevistas será através da pragmática da
linguagem, proposto por Mattos (2006). Este método, diferentemente da análise de conteúdo,
preocupa-se com a interpretação do contexto em que a resposta foi elaborada, o que o
entrevistado estaria sinalizando além da resposta frasal. Para tanto são muito importantes as
anotações tomadas durante a entrevista, sobre as reações dos entrevistados, sobre o seu
comportamento durante a pesquisa. Nas palavras de Mattos (2006) “Ora, é falso interpretar o
que alguém “disse” sem se perguntar também o que, na ocasião, “deu a entender”, o que
sinalizava para além do que dizia, enfim, o que também fazia ao responder tais e tais
perguntas” O método consiste em seis fases, descritas por Mattos (2006) e representadas na
figura 03.
Figura 03 (3): Fases Análise da Pragmática da Linguagem. Elaborada pela autora a partir de
Mattos (2006)
A Recuperar os diálogos gravados e fazer a sua transcrição, enfatizando alguns momentos
especiais que deverão ser registrados na memória ou anotados para o momento da análise
final.
A
DIÁLOGOS
B
CONTEXTO
C
SIGNIFICADO
D
MATRIZ
E
ANÁLISE
D
SUBMISSÃO
57
As entrevistas foram gravadas em meio digital. As anotações foram feitas à parte, em uma
cópia do roteiro de entrevistas, incluindo alguns comportamentos dos entrevistados durante a
entrevista. As perguntas feitas fora do roteiro, ou para confirmar alguma informação dada,
também foram assinaladas, estão transcritas nas respostas entre colchetes.
B Resgatar o contexto em que o diálogo aconteceu, a partir do levantamento das seguintes
questões: “o que aconteceu ali entre aquelas duas (ou mais) pessoas; ou o que foi acontecendo
ao longo da entrevista? Como o assunto foi se desenvolvendo? Onde parece terem ocorrido
“pontos altos” e momentos de “ausência”. Que respostas “transbordaram” para outras?
Identificação e relação dos fatos e opiniões expostos nas entrevistas com as informações
do histórico dos entrevistados, dos seus interesses (quando demonstrado pelo entrevistado), e
dos interesses das suas organizações de origem.
C. Apresentar ao entrevistado o significado nuclear da resposta para que haja uma validação.
Essa validação poderia ser feita durante a entrevista, logo após a mesma, ou ainda na fase
de análise e confirmação dos dados.
D. Transcrever “os dados colhidos, pelo menos os da análise dos significados nucleares das
respostas acima para uma matriz de dupla entrada: em uma os entrevistados, possivelmente
aproximados por características de estratificação, em outra, as perguntas.
Foi elaborado um documento com os blocos de perguntas e para cada bloco as respostas e
os comentários anotados durante a entrevista. Algumas falas estão em mais de um bloco de
perguntas, devido a resposta estar relacionada a mais de um tema do roteiro.
58
E. Analisar o conjunto, visualizando “os fatos de evidência relativos a cada entrevistado, no
conjunto das suas respostas, quando se identificarão “respostas retardadas” ou “antecipadas”;
segundo, visualizando os fatos de evidencia relativos, ou bem como aqueles que dizem
respeito a cada uma das perguntas; terceiro, “pairando meditativamente” sobre todo o
conjunto das entrevistas”
Redação do trabalho, análise segundo os questionamentos do item “E”, início das
considerações sobre os resultados.
F. Submeter aos pares “certas observações conclusivas do pesquisador, antes que este se sinta
autorizado a redigir seu texto, funcionando a praxe como “validação da interpretação
Para cada entrevistado foi repassado um e-mail, com as conclusões gerais das suas falas
durante a pesquisa, confirmando se realmente era aquilo que queriam dizer. Pela proximidade
com algum dos entrevistados durante a fase de análise e confirmação dos dados, estes
confirmaram verbalmente, sem responder ao e-mail. Vale ressaltar que no início da gravação
das entrevistas, todos os entrevistados concordaram com a publicação das mesmas.
59
4. Apresentação e análise dos dados
4.1 Conhecendo o aglomerado
A formatação organizacional apresentada na figura 04 foi elaborada a partir de
informações acerca do aglomerado conseguidas através de pesquisa documental com acesso
ao site das instituições (Assespro, Seitac, Insoft/Itic e Instituto Titan), às atas de reunião de
diretoria anos 2006-2007 (até março) e aos documentos de constituição, ambos do Instituto
Titan.
Figura 04 (4): Aglomerado de TI da cidade de Fortaleza. Elaborada pela autora.
SAS
ITIC
7
TITAN
11
24
60
40
74
26
73
4
11
20
35
29
25
64
39
67
5
22
38
41
42
45
47
53
56
66
68
72
23
44
21
16
63
32
71
81
18
4
30
2
19
7
34
28
3
1
6
9
10
11
13
15
27
17
31
37
36
33
43
48
49
51
50
52
57
55
58
44
69
59
62
61
65
70
77
75
79
76
80
8
14
12
GOVERNO:
- ESTADO / SECITECE
- PREFEITURA FORTALEZA
- PREFEITURA EUSÉBIO
- CenpRA
OUTROS:
- SOFTEX
- FIEC/CIC
- SEBRAE
UNIVERSIDADE:
- UFC
- UECE / CEFET
- UNIFOR
- FA7, FIC, URCA, UVA
Grupos
1
Empresas
60
Cada esfera representa uma empresa, em negrito/sublinhado representa um ator que
participou da entrevista. A lista com a denominação e com os negócios de cada empresa está
no apêndice B desta dissertação.
4.1.1 Sistema Assespro / Seitac (SAS)
A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação, Software e
Internet –ASSESPRO - é uma representação nacional em prol do desenvolvimento do setor de
TI. Juridicamente é definida como uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos
e político-partidários. O seu propósito maior é incentivar o desenvolvimento da informática
nacional através do fortalecimento das empresas nacionais de tecnologia da informação.
Fundada em 1976, hoje a Assespro Nacional representa mais de 1.200 empresas em todo
Brasil. Atua nos estados da federação através de 12 regionais, que seguem as diretrizes da
matriz, mas que possuem autonomia para parcerias e projetos dentro do âmbito de cada
realidade específica. A Assespro busca defender legitimamente assuntos de interesse das
empresas privadas nacionais de informática, razão pela qual sua representação é reconhecida
em todos os escalões do poder público e, especialmente, junto ao Ministério de Ciência e
Tecnologia, tendo assento cativo no CATI - Comitê da Área de Tecnologia da Informação
(Lei 8248/91-art. 21), e no Comitê Gestor da Internet (CGI.BR), de acordo com Assespro
(2007).A Assespro-CE foi fundada em 1988, com o objetivo de defender os interesses das
empresas participantes, nas áreas de programas especiais, eventos, geração de negócios e
serviços de informação e assessoramento aos empresários (Insoft, 2007).
A partir de 1999, com o estabelecimento do maior diálogo entre as empresas do setor
de TI no Ceará, um primeiro passo no sentido da integração foi conquistado com o
61
surgimento de uma entidade única de defesa dos interesses das empresas, denominada
Sistema Assespro/Seitac - composta pela união do Sindicato das Indústrias de Informática,
Telecomunicações e Automação do Ceará (SEITAC) e da Associação das Empresas
Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (ASSESPRO/CE).
O SEITAC foi fundado em 1995 e reconhecido pelo Ministério do Trabalho e
Emprego como entidade sindical patronal em 1996. O SEITAC considera-se uma entidade de
representação empresarial de vanguarda, sintonizada com a realidade brasileira, tendo como
diretrizes básicas a defesa da classe empresarial legalizada e que foi instituida para fins de
estudo, coordenação, proteção e representação legal do segmento econômico das empresas
que atuam nas áreas de Informática, Telecomunicações e Automação, com base territorial no
Estado do Ceará. O SEITAC atualmente congrega cerca de 1.200 empresas ligadas aos
segmentos por ele representados, em sua base territorial.
4.1.2 Insoft / Itic
O INSOFT (Instituto do Software do Ceará) foi o agente mais difícil de ser
caracterizado por estar passando por profundas transformações no decorrer deste trabalho
científico. Durante o desenvolvimento da pesquisa, o instituto passou por reformulações e
passou a se chamar ITIC (Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação). Pesquisa
documental no site verificou que a denominação da página, no site de busca Google, ainda
consta como Insoft. Observação indireta nos meios de TI, como cursos de pós-graduação na
área de gestão de projetos, ainda mostra o reconhecimento pelo nome Insoft. Placas de
identificação física ainda estavam com a marca Insoft.
62
Em termos de contextualização histórica, no final de 1995 foi criado o INSOFT, um
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) vinculado à Secretaria de Ciência &
Tecnologia do Estado que teve papel inicial na geração de planos de negócios e incubação de
empresas, visando a alavancagem de recursos e a formação de uma cultura de P&D dentro do
âmbito empresarial.
Tem por missão contribuir para o desenvolvimento do setor de tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) do Ceará, com ações que elevem a competitividade, o
empreendedorismo e a demanda por seus produtos e serviços. Até a data de fechamento desta
pesquisa, ainda não tinham sido divulgadas alterações nos aspectos institucionais devido à
mudança de Insoft para Itic, então consideraremos a mesma missão e os meus objetivos, a
saber:
i) Gerir o Programa para Promoção da Excelência do Software Brasileiro - SOFTEX;
ii) Proporcionar mecanismos de apoio às empresas cearenses de software;
iii) Promover capacitação técnica e gerencial em novas tecnologias;
iv) Promover o desenvolvimento de tecnologia de ponta em conjunto com Universidades
e Instituições de pesquisa;
v) Fornecer consultoria ao mercado cearense de software nas áreas de marketing,
qualidade de software e negócios;
vi) Apoiar a criação de novas empresas através de sua Incubadora de software.
O Instituto do Software do Ceará é devidamente credenciado junto ao Ministério da Justiça
como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, de cunho
tecnológico. Criado em 1995 através da Secretaria da Ciência e Tecnologia, conjuntamente
com as empresas de software, institutos de pesquisa, universidades e vários segmentos da
63
sociedade que buscam contribuir para o desenvolvimento do setor de tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) do Ceará, com ações que elevem a competitividade, o
empreendedorismo e a demanda por seus produtos e serviços.
4.1.3 Instituto Titan
O Instituto Titan (Instituto da Tecnologia da Informação Telecomunicações e
Automação do Nordeste) consiste numa pessoa jurídica de direito privado, sem fins
lucrativos, criado em 2003 pelas mais representativas empresas cearenses da área de
Tecnologia da Informação e Telecomunicações para promover o desenvolvimento do setor.
A atuação do instituto pode acontecer de forma isolada ou através de parcerias com
suas associadas, instituições governamentais e de ensino e pesquisa. Suas atividades se
concentram no fornecimento de soluções científicas e tecnológicas inovadoras, contribuindo
para o desenvolvimento social, econômico e tecnológico da sociedade cearense.
Surgiu a partir do Sistema Assespro/Seitac, SAS, em 2003, dedicado ao trabalho no
setor de TI através de comissões compostas por empresários, em setores como Parque
Tecnológico (Titan Park) e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Neste ano, os empresários
promoveriam, em parceria com o Governo do Estado, o Workshop “Novos Caminhos para o
Setor de TI no Ceará”, com a participação de representantes do Governo Estadual, reunindo
diversas empresas do setor. Desta referida reunião de trabalho, resultou a firme decisão de
criar o Instituto Titan, cujo lema maior era “cooperar para competir”.
Assim, após o convite estendido a toda a base de associados do SAS, juntam-se as
principais empresas do segmento e formam o Instituto Titan, que passou a se manter com
recursos próprios e apoio de agencias de fomento.
64
Este Instituto teria, a partir de então, como principais metas a concretização de um
Pólo Tecnológico (Titan Park) envolvendo a aglomeração de empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) em um mesmo ambiente propício para a P&D cooperada
entre Universidades e Empresas, com o estímulo de governos.
A missão da organização é “contribuir para o desenvolvimento do setor de tecnologia
da informação e comunicação, promovendo sinergia entre os seus agentes, soluções
competitivas e inovação tecnológica”.
A Estrutura Organizacional do Instituto Titan compreende tradicionais estruturas de
uma organização sem fins-lucrativos, assim dispostas:
i) Assembléia Geral: composta por um representante de todas as empresas associadas, a
assembléia é responsável pela formulação das políticas do Instituto;
ii) Conselho Deliberativo: formado apenas por representantes das associadas fundadoras e
efetivas do Instituto Titan, formula e define as ações a serem implementadas.
iii) Conselho Fiscal: composto por representantes do conjunto de empresas fundadoras e
efetivas do Instituto Titan, acompanha e fiscaliza as movimentações financeiras, elabora o
parecer sobre a prestação de contas e o balanço anual do Titan.
iv) Conselho Consultivo: constituído por representantes das associadas e por convidados
especiais, escolhidos entre pessoas de reconhecida competência e notável contribuição ao
setor de TI&T, tem a função de propor diretrizes estratégicas para a realização dos objetivos
do Instituto.
v) Diretoria Executiva: escolhida entre os integrantes do Conselho Deliberativo, é responsável
pela gestão do Titan.
65
É verificado que a entidade máxima, a Assembléia Geral, é composta exclusivamente
por membros das empresas participantes do instituto. As organizações de estruturação e
fomento participam dentro do Conselho Consultivo. Fica clara a postura de ter sempre à frente
dos objetivos gerais da instituição as empresas privadas participantes, e não órgãos públicos
relacionados.
O instituto considera como objetivo contribuir com o desenvolvimento científico e
tecnológico, sem esquecer do seu papel social. A diferença maior entre missão e objetivo está
na inclusão do papel social. Nesse sentido, o Titan desenvolve soluções competitivas e
inovadoras, que podem ser decorrentes das seguintes atividades:
i) Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico;
ii) Estudos Especializados de Tecnologias;
iii) Desenvolvimento de protótipos, implementação, manutenção e suporte de hardware e/ou
software;
iv) Consultorias e Assessorias Especializadas;
v) Ensino e Formação de Recursos Humanos;
vi) Promoção de Congressos, Seminários, Simpósios, Jornadas e Conferências;
vii) Serviços Tecnológicos de Certificação, Metrologia e Propriedade Intelectual;
viii) Elaboração e realização de Projetos Sociais.
Mesmo com este esforço, a idéia de um instituto já se encontrava presente dentro do
universo das entidades empresariais locais. Vislumbrava-se a criação de um instituto próprio,
composto por representantes das empresas que pudessem trabalhar em prol da geração de
negócios, produtos e serviços tecnológicos em comum.
66
Apenas um trabalho de nível acadêmico, o de Baiardi e Basto (2006), foi encontrado
versando sobre o instituto. Os autores apresentam evidencia como os agentes, personalidades
e organizações começam a se relacionar formando uma rede na qual se destacam as empresas
nas atividades de concepção e implantação, na gênese do Instituto Titan.
A implantação deste parque, além de permitir o aumento da competitividade e o
progresso das empresas já existentes no Estado, teria por objetivo a promoção de sinergia
entre comunidade científica e empresarial, movimentando a economia cearense.
4.2 Características estruturais e relações inter-firmas
O quadro 08 (4) consolida as características dos aglomerados desenvolvidos no
referencial teórico. Cada característica é ainda classificada, de acordo com a autora desta
dissertação, como estrutural (ESTR) ou relacional (REL). As características estruturais
referem-se àquelas inerentes a uma empresa ou a um agente em si, sem necessariamente ter
relação direta com algum outro ente do aglomerado para que haja a existência dessa
característica. Um exemplo seria número de funcionários, faturamento, entre outros. Estas
características estruturais geralmente podem ser identificadas através de pesquisa documental,
como sites, regimentos internos, dados de constituição, entre outros. A identificação foi
realizada através de pesquisa documental e da consulta aos relatórios e textos técnicos
produzidos pelo LASO - Laboratório de Simulação e Otimização Empresarial. Apoiado pela
Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), o
LASO funciona no mesmo espaço físico do Titan e Itic, e tem por objetivo atender às
demandas regionais e nacionais por ferramentas de simulação e otimização (Titan, 2007).
67
As características aqui ditas relacionais se referem à existência de alguma interação
entre os agentes. A característica pode ser a existência de determinado tipo de interação ou
um reflexo de uma interação. Para que haja a característica relacional é necessário que haja
mais de um agente envolvido, para que possa haver a interação. Como exemplo, existem os
fluxos de conhecimentos, desenvolvimento em conjunto, entre outros. A existência dessa
característica pode ser verificada através de entrevistas complementares (onde os dois agentes
da interação assumem a existência da mesma), pode ser através da triangulação entrevista e
documental ou observação direta, e em casos mais específicos, documentos de
acompanhamento de execução de ações ou projetos podem denotar as características
relacionais.
Das variáveis aqui relacionadas, a maioria apresenta a definição dos próprios autores
no decorrer do referencial teórico. Outras foram apresentadas nos artigos a partir da sua
significação literal. Para a proposta de agrupamento no quadro 08(4), que servirá de base para
a análise dos dados, foram levadas em consideração a conceituação da variável proposta pelo
autor e a significação literal mais aproximada com o contexto do tema. As significações
literais adotadas para a análise são de Hoiass (2007).
68
Rede
Cluster
APL
Parque
Presença
Empresas centrais
não ¹
Especialização das atividades das
empresas / Especialização produtiva
não ²
Mesmo setor.
sim
Produtos característicos da região
não
Proximidade geográfica
sim
Concentrado localmente/prédio
não
A
Recursividade
Inter-relacionamento
Relacionamentos de longo prazo
Interação
Ajuda mútua
Compartilhamento
Cooperação
Articulação
Integração
B
Relatividade nos papéis
Existência de liderança
Complementaridade
Competição
Correlatas
C
Confiança
Senso de comunidade
Identidade histórica, institucional, social e
cultural
D
Capacidade inovativa,
Fluxos de conhecimento
Aprendizagem
Transferência de tecnologia
Cultura de inovação
Transferência de conhecimento
E
Apoio de outras empresas
Instituições (públicas e privadas) de
apoio
Fomento à criação de novas empresas
Incubação de negócios
Suporte e capacitação empresarial
Planejado, de Caráter formal,
Serviços de base científico-tecnológica
¹ Existe uma disparidade entre tamanho de empresas, como se verifica nos relatórios do LASO, mas não existem
características de empresa central com outras satélites.
Quadro 08 (4): Quadro-resumo características de aglomerados. Formulado pela autora
² Através das entrevistas foi verificado apenas em casos excepcionais, como em projetos e editais.
ESTRUTURAIS
69
Grupo A) Recursividade, Inter-relacionamento, Relacionamentos de longo prazo,
Interação, Ajuda mútua, Compartilhamento, Cooperação, Articulação, Integração
Os conceitos do grupo A guardam entre si, dentro da noção semântica, a característica
dominante de “relacional”. Durante as entrevistas, os fatos descritos ligados a essas
características referiram-se a relações entre empresas versus empresas (principalmente) e
empresas versus demais entes do aglomerado (governo, entidades, instituições de ensino). O
conceito menos citado entre os entrevistados foi o de recursividade, que corresponde à
existência de interações entre os agentes do aglomerado, sendo esta interação não somente
estímulo-resposta-ação, mas um complexo processo de troca social que pode resultar em
novos recursos para as empresas. Vale salientar que há outros conceitos dentro do arcabouço
proposto no quadro 08(4) que também podem ter a noção de relação no seu entendimento,
como é o caso do conceito de aprendizagem. Porém, as relações descritas neste primeiro
grupo de análise dizem respeito a relações mais gerais, sem uma especificidade; como ocorre
com as de aprendizagem, de transferência de tecnologia, entre outras A existência de relações,
de ligações, acaba por ser a característica fundamental da existência de qualquer rede
organizacional.
Entre as empresas, verificou-se predominantemente três tipos de relacionamento:
parceria, fornecimento, e concorrência, esta última tratada em outro tópico da análise.
Existe um relacionamento de fornecedores, existe de parceiro. De
cliente/fornecedor. Na relação de parceria, a gente tem parceria com várias
empresas, (...) com integração e indicação de produtos. (Tales, Diretor de
empresa, entrevista, 2007)
Em observação direta informal em visita a duas das empresas do aglomerado, foi
verificada a presença de diretores e funcionários de outras empresas em reuniões sobre
70
prospecção de negócios em conjunto, e também já efetivando trabalhos em parceria. Também
foi verificada a característica de compartilhamento, através de compartilhamento de
consultores, de espaços de treinamento, de alguns tipos de informação privilegiada, num
ambiente mais informal, entre outros.
Sobre as relações entre empresas, ainda se observou o aceno, e por vezes, a
preocupação, com movimentos de fusão e incorporação de empresas, que podem ser
encarados como o aprofundamento de certos tipos de relação de parceria.
Já até se citou em reunião do Titan, “- Estou vendo que vocês teriam uma
oportunidade de se fundir e tal...”. Não está só na cabeça de uma pessoa, o
pessoal tem externado isso aí. A FCM não é uma fusão, mas funciona como
um indicador que isso é possível. Se duas se juntaram para formar uma
terceira, vai que essa terceira cresce e adquire umvel de importância
grande, aí vejam que é melhor serem absorvidas. Não vejo problema com
relação a isso não. (Tales, Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Já na opinião do presidente do Titan, o assunto fusão deve ser visto com cautela.
Quero que você saiba que nós não temos capacidade ainda e maturidade
empresarial para fusões (...) o cluster associativo é muito bom para
determinadas situações, (...). O que pode acontece é o surgimento de novas
empresas. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
Sobre o resultado de articulações e cooperações, não se verificou um exemplo muito
comum que é o de compra conjunta de materiais e equipamentos, apesar de já haver alguma
sinalização. Porém foi verificado um esforço conjunto para a contratação de serviços.
A Fortes não, mas não sei se outras fazem compras conjuntas. Mas a gente
começou a conversar sobre isso no âmbito do Titan(Tales, Diretor de
empresa, entrevista, 2007)
Ah, perfeito, essa é interessante, existe um modelo de maturidade de software
o MPS-Br (...), e ele tem um modelo de implantação cooperado. Como
funciona: um conjunto mínimo de 5 (cinco) empresas pode se reunir e além de
obter preços diferenciados por estarem contratando de forma conjunta na
consultoria de avaliação, tamm conseguem um apoio de um fundo junto ao
BID se não me engano, que o Softex disponibiliza para fomentar, para ter
acesso à certificação e à formação de massa crítica. (Tales, Diretor de
empresa, entrevista, 2007)
71
Também foi verificada a articulação, junto às organizações âncora, para busca de
financiamentos para operação de projetos de interesse comum. Geralmente também conta
com aporte das próprias empresas para ter acesso ao financiamento.
A gente busca no âmbito do Titan. Por exemplo, a construção da sede, foi buscada
junto à Funcap, inclusive no mesmo complexo do Insoft, Itic. Teve uma verba da
Finep para “estartar” o projeto do parque tecnológico.
(Tales, Diretor de empresa,
entrevista, 2007)
No ponto de vista financeiro, nos temos dois tipos de recursos, o primeiro são
os recursos de contrapartidas. Esse tipo de recurso geralmente é colocado
pelas empresas que têm interesse direto nos projetos. Sob o ponto de vista de
RH essa divisão dessa parceria tamm é percebida, tanto na origem dos
projetos. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
A própria articulação das empresas para fomento e gestão de organizações
representativas, de organizações âncora, refletem como esforços cooperativos, apesar de ainda
não estarem muito evidentes os resultados desses esforços. Mas como é reforçado pelo
representante do Insoft/Itic e pelo presidente do Titan, já estão em andamento vários projetos,
inclusive em parceria com a academia. No material impresso e no site do Instituto Titan há
vários exemplos de início de projetos e parcerias, como é o caso dos laboratórios, numa
parceria academia, Titan, Insoft/Itic, SECITECE, CenPRA, entre outros. Vale ressaltar que o
parque tecnológico citado pelos entrevistados como esforço cooperativo continua em vias de
execução, ainda não está funcionando.
O próprio parque tecnológico é um exemplo de cooperação. (...) O beneficio
final ainda não foi, eu diria percebido claramente (...) mas a história recente
tem vários projetos que estão em andamento e que tem essa característica de
colaboração. Tem um projeto de 32 empresas pequenas na área de software
livre. Existe o do núcleo de MPS BR, que de fato já tiveram um resultado [a
certificação] que só foi possível devido às empresas todas juntas no mesmo
barco, um ajudando o outro. (Samuel, Vice-presidente Insoft, entrevista,
2007)
Um nível mais avançado de cooperação e articulação foi verificado através de uma
proposta de serviço em conjunto para o governo do estado. É dito mais avançado devido à
72
maior complexidade de gestão para a execução de um serviço em conjunto do que para a
aquisição de um serviço.
O governo do estado no ano passado ia comprar de uma empresa alemã um
sistema integrado de contabilidade, que nenhuma empresa daqui
individualmente poderia fornecer. Através da sinergia das empresas
conseguimos mostrar ao governo que seriamos capazes de atender de forma
mais barata e mais efetiva essa demanda. Esse convencimento acabou por
criar uma modelagem de contratação, fazendo com que o governo desistisse
de comprar da empresa de fora. Estamos criando uma plataforma jurídica que
possibilite esse tipo de contratação. O IDETEC é uma parte do conglomerado
de empresas, é um arcabouço jurídico voltado para atender o maior cliente do
estado do Ceará, que é o governo. Então muitas vezes o ITIC também vai
participar desse processo. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
Vale salientar na última fala que o IDETEC estaria como uma parte do aglomerado,
uma entidade jurídica para poder negociar, oferecer serviços ao governo. Todavia, não
apresenta atualmente uma caracterização física ou jurídica que justificasse um estudo junto às
outras organizações âncora.
Nas três formas de coleta de dados, a pesquisadora verificou a presença de diversos
tipos de relação, correspondendo a todas as características citadas no grupo A, em maior ou
menor grau. Uma ressalva para o termo “ajuda mútua”, mais entendido pelos participantes e
mais verificado nos documentos como sendo “parceria”. O termo “articulação” esteve mais
presente para descrever as relações entre organizações âncora, governo e universidade para
com as empresas; ou então da articulação entre empresas para pleitear algo junto a um outro
ator, principalmente com o governo.
73
Grupo B) Relatividade nos papéis, Existência de liderança, Complementaridade,
Competição , Correlatas
As características do grupo B se referem a papéis que os atores exercem dentro do
aglomerado. Dentre os papéis assumidos há também o de competidores; seja entre as
empresas ou entre as organizações, como no caso da sobreposição de objetivos e atuação de
algumas organizações âncora.
A relatividade nos papéis foi verificada nos depoimentos acerca das relações cliente-
fornecedor, na qual uma empresa pode ser ao mesmo tempo, fornecedora de um
serviço/produto para uma empresa e também consumir desta mesma empresa. Os três
empresários respondentes admitiram esse tipo de comportamento.
A pesquisadora optou por não analisar em conjunto as características cooperação e
competição no grupo por argumentar que o fenômeno de competição não parte de um acordo
ou relação entre as partes, mas sim de posicionamento de mercado. Ainda no tocante à
concorrência entre as empresas foi verificado que existe o que chamaram de saudável e não
saudável. Entendem por saudável a concorrência que não viola as regras de mercado, e que
possa possibilitar espaço de diálogo para que também sejam propostas medidas de
cooperação, quando for conveniente. Também foi ressaltada a mudança que poderia trazer ao
arranjo caso uma grande empresa desenvolvedora de software viesse se instalar na região.
Existe a concorrência saudável e existe também a não saudável. O desafio é
juntar essas competências. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
A gente tem concorrência. Agora a relação das empresas é uma relação, na
maioria das vezes, muito saudável, apesar de concorrentes. Curioso isso “né”?
Que é difícil de acontecer. A gente, por exemplo, fornece solução de pessoal,
e tem uma empresa concorrente nossa (...), a gente concorre mesmo aqui no
estado. Mas nós temos uma relação muito próxima, até de amizade, com a
diretoria de lá. (Tales, Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Imagina o que poderia acontecer se uma TATA viesse pra cá? As empresas
têm que se preparar para isso. Desestabilizaria as empresas, muitas perderiam
74
seus analistas, seus clientes, poderiam até fechar, como já aconteceu com
outras empresas daqui com a entrada de concorrentes mais fortes. (Adriano,
Diretor IA, entrevista, 2007)
Os depoimentos e a pesquisa documental quanto às relações de complementaridade,
em que uma empresa complementa o produto da outra, deixa clara a existência dessa
característica no arranjo. Foi verificado que existem empresas que adaptam seus softwares ou
hardwares uns aos outros. É o caso de uma empresa de relógios de ponto que adapta seus
aparelhos para interagir com softwares de departamento de pessoal. Uma outra empresa, de
automação comercial, também exporta dados para sistemas ERP produzidos por outras
empresas do arranjo.
Quanto à existência de empresas correlatas, isso pode ser verificado no quadro 08(4),
no início deste capítulo, que traz a relação de atividades das empresas. Existe mais de uma
empresa no arranjo que trabalhe com ERP, outras também oferecem serviços na área de folha
de pessoal, no desenvolvimento de websites, entre outras correlações.
O quesito liderança foi abordado em dois aspectos: o das entidades e o das pessoas. Os
entrevistados conseguiram identificar os casos de liderança formal e os de liderança informal
dentro do aglomerado. As lideranças formais são os representantes oficiais das organizações.
As lideranças informais têm um papel importante de aglutinador, pois são pessoas que
independente do cargo que ocupem, podem trazer unidade, credibilidade e para as discussões,
além de promover um senso de comunidade. Foi apontado como caso de liderança formal o
secretário adjunto de Ciência e Tecnologia, sr Mauro Oliveira, mais próximo das questões
relacionadas à TIC no estado. Foi verificado também o envolvimento pessoal que o secretário
adjunto Mauro Oliveira trata a questão da Tecnologia da Informação, principalmente no que
diz respeito à inclusão de jovens considerados de áreas de risco, e da preocupação com o
75
impacto social no entorno dos projetos, sendo referência para os mesmos. Logo a liderança
aqui exposta tem características que vão além da formalidade do cargo.
As pessoas físicas, no governo do estado, têm trazido um diferencial em
relação às gestões anteriores ao apostar na área de TI, e aí a gente traria nesse
contexto a figura do secretário adjunto, Mauro Oliveira. Estão querendo dar
um salto de qualidade, de percepção do Ceará. Existe um projeto do governo,
o E-jovem que prevê incluir um ano a mais no ensino médio para capacitar as
pessoas em matemática, inglês, e informática, para gerar massa critica para
que a gente possa aproveitar, por exemplo, nessa onda de off-shore. E também
tem um projeto do Titan, UTD [Universidade do Trabalho Digital], que o
governo tem comprado. O projeto visa desenvolver empregabilidade. É
direcionado para os jovens que estão “soltos”, não conseguem passar no
vestibular e ficam na ociosidade, e que acabariam “descambado” para
criminalidade. (...). Obviamente que tem o Lenardo, talvez o cargo faça com
que ele tenha esse destaque. Por exemplo, quem faz parte da diretoria do
Titan, acaba carregando um pouco dessa liderança, quem faz parte do SAS
também acaba carregando essa característica de liderança, acho que é mais
pelo cargo que exige do que pela pessoa, e eu considero isso até uma
vantagem. Acho que está repleto de líderes, ninguém está puxando o trem
sozinho, estão com um objetivo bem traçado. (Mauro, Secretário-adjunto
SECITECE, entrevista, 2007)
O presidente do Titan ao falar sobre a liderança, deteve-se mais à coordenação entre os
diversos líderes das entidades representativas. Neste ponto, já se verifica também
características relacionadas à governança do arranjo. Existe uma sobreposição das pessoas nos
cargos dessas entidades. O relacionamento, a troca, a influência dessas pessoas, e
conseqüentemente nas organizações que representam, interfere ativamente na estrutura de
governança do aglomerado.
Nós trabalhamos muito fortemente no conjunto Seitac e Assespro. Então, o
Titan trabalha afinado com as entidades representativas. De pessoas, o Titan
tem um presidente, que no caso sou eu e mais 5 vice-presidentes, cada um
com suas atividades. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
O depoimento sobre lideranças a partir da ótica do secretário adjunto e o diretor do
Insoft, Samuel, listou nomes importantes na liderança informal do aglomerado de TI de
Fortaleza.
76
O Lenardo, até independente de ser presidente do Titan, citaria o Ricardo
Liebman, (...) e tem os novos o da Ivia, tem a turma nova. Valdelírio da
Microsol [não é empresa de software], me ligou ainda agora me falando que
quer criar um instituto de P&D. Maurício do Seitac, (...), Baltazar da FIC.
Essas pessoas afetam o cenário de TI (...), no sentido de promover um rumo
pra o estado. (Mauro, Secretário-adjunto SECITECE, entrevista, 2007)
Eu acho o seguinte a liderança do Alexandre da Lanlink, (...) , foi ele q estava
a frente disso, tornou algo realizável. Em seguida teve a liderança do Lenardo
(...). O Maurício é muito importante, da Domínio, da SOS, um empresário de
sucesso mas que dedica boa parte do seu tempo ao Seitac ao Assespro. Tem
um estilo mais leve que o Lenardo, mas é também uma liderança importante,
que agrega muita gente traz muitos empresários que querem sair da entidade,
por desestímulo, e ele consegue trazer essas pessoas pra dentro, sabe fazer
isso muito bem. Poderia dizer que estes são os mais importantes em termos de
liderança. Há também o sub-secretário de tecnologia o Mauro Oliveira, que
tem algumas divergências com relação aos empresários, mas tem muitos
pontos em comum e é um cara muito aberto a como tratar isso, é um líder
importante em relação ao setor. (...) o Cristiano q trabalha nessa área que
pouca gente desenvolve no poder municipal [Fortaleza], faz um trabalho
relacionado à questões tributárias, questões de incentivo fiscal. (Samuel,
Vice-presidente Insoft, entrevista, 2007)
Verifica-se então que existem a relatividade dos papéis, a complementaridade,
empresas correlatas e competição entre empresas. No caso das entidades representantes,
principalmente se forem comparadas as semelhanças entre missões e objetivos, verifica-se
uma provável sobreposição de papéis o que poderia levar a uma concorrência pelos mesmos
recursos (editais, mão-de-obra, clientes, entre outros). Mas como também há um acúmulo,
uma repetição dessas lideranças nas entidades, existe a possibilidade de diminuição de atritos
na disputas por recursos, pois pode se estabelecer uma comunicação entre os projetos, entre os
idealizadores dos mesmos. Isso acontece nas parcerias para um mesmo edital e também no
esforço conjunto para oferecer serviços ao governo, que individualmente não poderiam arcar.
Grupo C) Confiança, Senso de comunidade, Identidade (histórica, institucional, social e
cultural)
77
Dentre o conjunto de características estudadas, este foi o que apresentou mais
dificuldade na coleta de dados, tanto na parte de entrevistas, quanto na documental e na
observação direta. Na palavra dos próprios entrevistados, confiança é um conceito difícil de
mensurar. Uma sugestão de trabalhos futuros para se analisar a confiança em um arranjo pode
ser a partir dos trabalhos que propõem uma escala de nível de confiança.
Essa questão dos conflitos até na casa da gente acontece. Acho assim, a coisa
não acontece num volume que abale a confiança. (...) Eu acho que as
discussões, discordâncias, não foram nem nunca serão resolvidas, mas que a
percepção da maioria é acordada. Eu acho que está no rumo certo. (...)
Percebo, mas claro que como toda comunidade desse porte, você verifica
conflitos, políticas, observa “fofoquinha”, empresário que combina com um
combina com outro. Mas acho que isso é coisa natural. (Tales, Diretor de
empresa, entrevista, 2007)
Esta dissertação foi elaborada sob a ótica apenas das empresas e dos atores mais
representativas do aglomerado. Para se apurar o senso de comunidade seria interessante uma
amostra maior, incluindo as empresas não tão atuantes no aglomerado. Como os entrevistados
foram aqueles que têm participação ativa no aglomerado, foi apontado por eles a existência de
senso de comunidade. Houve também nas respostas uma confusão entre senso de comunidade
e trabalho em equipe, ou em conjunto. Outra resposta apontou que, apesar da participação
ativa de membros, ainda falta melhorar mecanismos de coordenação. A noção de senso de
comunidade, assim como a de identidade, vai além dos mecanismos de controle e
coordenação, necessita de identificação de características, comportamentos, atitudes típicas e
comuns para o grupo social. Este comportamento não pode ser verificado claramente através
do material coletado.
[senso de comunidade] Eu acho que ele está muito evoluído, devido ao nível
de excelência da relação, por exemplo, a criação do Titan e o fomento do
parque tecnológico, vêm do fruto dos esforços dos empresários, o governo
não está puxando isso, por exemplo. Falando do setor com relação às
empresas. Teoricamente, a discussão iria ter que envolver governo, academia.
A gente está buscando um parque, onde todas as empresas pudessem trocar
conhecimento, estabelecer parcerias, e isso tudo é fruto nosso e não do
78
governo, como aconteceu em outros parques, outros estados. A gente tem um
canhão na mão, só falta mirar pro ponto certo, e eu acho que a gente tem
mirado pro ponto certo. A criação de um processo complexo desses não
acontece do dia para noite, aí as coisas tem seu tempo sua cadência, mas eu
acho que a gente está indo muito bem, há boas perspectivas pela frente. O
setor, especialmente as empresas, está bem amadurecido (...). Está num nível
que me agrada. (Tales, Diretor de empresa, entrevista, 2007)
A identidade na caracterização dos aglomerados pode ser entendida como o conjunto
de características e circunstâncias que distinguem o grupo e graças às quais é possível
individualizá-la.
Dentro de um grupo é bastante consistente quais são as empresas que
participam de todos eles [grupos de empresas]. As que participam do Insoft,
do Titan, o SAS, essas empresas tem um espírito de corpo muito grande (...),
mas precisam ainda de muita coordenação. Nós estamos num caminho, de
onde essas pessoas partiram, esses empresários, começaram ‘lá trás’ [tempo]
no Insoft, depois houve um momento de desagregação, aí partiram para o
Instituto Titan.. Eles estão percebendo que o sentido de colaboração vem
aumentando gradativamente (...) um dos sinais é a criação do projeto do
parque tecnológico. ‘Ventos’ que são marcos dessa coordenação maior com
relação ao setor. Você marca uma reunião no Titan e as pessoas participam.
Na inauguração de um laboratório que é algo formal seguido de algo informal,
você percebe que ali, tão ou mais importante que o formal, você percebe
claramente que os grupos se formam, começam a conversar sobre os projetos.
(Samuel, Vice-presidente Insoft, entrevista, 2007)
A característica “Identidade” não pode ser verificada claramente em nenhuma coleta,
mas foi possível visualizar um esforço na formação, na busca de um espírito de corpo, que
pode reunir características que um dia passem a identificar o arranjo.
Grupo D) Fluxos de conhecimento, Transferência de conhecimento, Aprendizagem,
Transferência de tecnologia, Cultura de inovação , Capacidade inovativa
Aprendizagem e conhecimento foram analisados em conjunto com inovação e
transferência de tecnologia pelo caráter dependente entre eles. Esse caráter de
interdependência pôde ser identificado através da pesquisa documental e das entrevistas.
79
Foram realizados fóruns, reuniões que objetivavam trabalhar a questão da inovação
tecnológica, e estava na pauta dos mesmos a questão da aprendizagem que pudesse gerar
inovação e transferência de conhecimentos. Durante as entrevistas também foi verificado o
constante link criado pelos entrevistados ao se referirem ao tema inovação, a maioria deles
também fez considerações acerca dos temas aprendizagem e conhecimento ao abordar o tema
inovação.
Eu acho que o Instituto Titan há uns dois anos atrás, era uma outra diretoria,
não eram próximas, eram divergentes em vários pontos. Mas na época
houve uma tentativa do Titan de fazer umas rodadas junto com os
pesquisadores das universidades, mas foi um fracasso total, pois os
empresários têm muita dificuldade de entender os pesquisadores e vice-
versa. No lado dos empresários, o encontro foi muito bem preparado, muito
bem dosado, se não houver um canal de relação muito forte que conduza ao
entendimento mútuo, não dará certo. Só colocar numa mesa, numa pauta,
não dá certo. Participei de alguns, vi discussões interessantes, projetos
factíveis, mas não teve realização de nenhum, se teve não conheço. Então
eu acho que o Insoft é uma instituição que deve ocupar esse espaço, esse
meio de campo entre a academia e as empresas. (Samuel, Vice-presidente
Insoft, entrevista, 2007)
Ao responderem sobre inovação dentro das empresas e/ou das organizações, as
respostas confirmaram como sendo fruto mais de ações isoladas das empresas do que fruto de
um esforço comum, Foi verificada a indicação do parque tecnológico como um caminho para
incentivar mais ações inovadoras, seja em produtos ou processos. No caso abaixo, verifica-se
que a idéia de inovação surge dentro de uma empresa individual, e combinada com o produto
de outra empresa, surgiria um produto novo, logo um produto inovador.
[inovação em processos, métodos ou produtos] No caso do MPS-Br, falando
em método, foi uma coisa de certa forma capitaneada pelo Insoft. Na verdade,
teve uma pessoa de uma empresa que estava fazendo um curso em melhoria
de processo de software, com a cadeira de Mps-Br, e trouxe essa informação
para gente. Aí a gente trouxe uma pessoa de fora. Em caso de tecnologia no
produto, tem a questão da parceira para promover produtos no caso do BI
(business inteligence). Para gente já é um diferencial pro produto, que a gente
vende. A nossa solução hoje em dia não é mais como um produto isolado,
mas sim como um ERP. Eu vejo isso como inovação, pois não há mais o
produto isolado.(...) Eu acho que tem um pouco de tudo. Tem processos
inovativos que são altamente protegidos (...) e é umas das mais frágeis áreas
80
em software, que já tem uma fragilidade natural. (...) Existe processo
inovativo em projetos individuais, onde tem que ter a proteção. Existem
também processos relacionados a projetos de P&D, mas geralmente
coordenados através de editais (...), as empresas acordaram para esse tipo de
recurso. (Samuel, Vice-presidente Insoft, entrevista, 2007)
Há também a opinião de outro ator do aglomerado ressaltando a importância da Lei de
Informática para a injeção de recursos e patrocínio de um ambiente de pesquisa.. Esse mesmo
trecho traz, porém, opinião sobre o papel ainda incipiente da academia na área de TI.
Eu acho que na área de TI nesses 12 anos não temos quase nada, a academia
ainda está muito incipiente. (...) Eu considero que a Lei de Informática mudou
radicalmente o panorama desse estado, ao injetar recursos (...) que antes iriam
para São Paulo, ou para o exterior. Nos anos 90 a partir da Lei de Informática,
você começa a ter uma cultura de inovação de TI. Hoje são mais inovadoras,
mais voltadas à aplicação prática, a gerar renda; e não dá para dizer que não é
importante, todos os países precisam gerar renda, transformar o conhecimento
em dinheiro mesmo. (Mauro, Secretário-adjunto SECITECE, entrevista,
2007)
Ao serem questionados sobre a existência de transferência de tecnologia, as respostas
convergiram para a fraca disseminação desse tipo de comportamento. Foi verificado, assim
como nos processos de inovação, algumas poucas ocorrências, motivadas por editais de
órgãos de fomento.
No caso de tecnologia, de forma formal, acredito que não aconteça muito (...).
Um grupo de empresas se juntou de forma consorciada para alguns projetos
de inovação, inclusive conseguiram verba junto ao Finep. Foi a Inteq que
encabeçou, se não me engano (...), agora não me vem à cabeça. (Tales,
Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Sobre conhecimento e aprendizagem, a discussão e a troca ocorrem nas esferas
informais, muitas vezes promovidas ao redor dos encontros formais. Há entre as empresas e
seus funcionários grupos destinados a estudos de matérias específicas, como Java, Gestão de
projetos, entre outros, como se pode verificar através de pesquisa documental no site das
empresas e ter sido confirmado nas entrevistas. A maioria desses grupos tem a sua criação e
gestão independente dos entidades organizadoras do aglomerado. Mais recentemente, a partir
81
de 2007, alguns desses grupos passaram a dispor do apoio do Titan e Insoft/Itic através da
disponibilização de salas para o seu funcionamento, como foi o caso do PMI-CE (Project
Management Institute), entidade sem fins lucrativos e mundialmente reconhecida na área de
projetos (TITAN, 2007).
Através de uma maneira informal, a gente tem reuniões e acaba conversando
sobre esse assunto. A gente tem entidades, grupos informais de temas, como o
PMI Ceará, da qual eu faço parte da diretoria. Lá a gente tem uma troca de
conhecimentos, com palestras e tal. Tem o Cejug também, de Java, com troca
sobre a tecnologia, palestras. Outro grupo também, o Spin Ceará que cuida da
parte de fomento a disciplina de processo de software. [tem participação das
organizações âncoras?] De certa forma sim, através das instalações. Eles não
foram fomentados por elas, só o PMI, foi através do Insoft, através do
primeiro presidente, o Eliseu Castelo Branco Jr [professor, academia?], sim da
FIC, funcionário do BNB. Através do esforço inicial dele, depois ele se
desligou e o PMI caminhou sozinho. Até que se formou a instalação do Titan
e perceberam que seria interessante levar o PMI para lá pela questão da
sinergia da equipe. Assim como com as outras instituições. Titan e Insoft são
braços para fomentar o desenvolvimento e deviam ficar juntas. (Tales, Diretor
de empresa, entrevista, 2007)
Ao relatar a questão da aprendizagem e transferência de conhecimento, fica clara
ainda a distinção proposta entre o entendimento do acadêmico e o do empresário. Mas há o
entendimento por parte de alguns atores que isto precisa mudar. Uma das causas apontadas
para o insucesso dos fóruns ocorridos em 2006 para aproximação desses profissionais, é a
diferença da linguagem, sem que houvesse uma espécie de “tradutor” e sem a defesa ferrenha
de um objetivo comum, que tivesse a capacidade de criar empatia e sentimento de grupo entre
esses diferentes atores.
Não só o conhecimento de mercado as empresas trazem, mas também o de
gestão. Elas se agregam e estão em busca da inovação. Então eu acho que isso
faz uma diferença hoje (...). A academia trabalha com um nível de exigência
totalmente diferente do imediatismo das empresas (...), e isso ao longo do
tempo vinha distanciado essas entidades. O Titan foi criado para permitir um
link entre academia e as empresas. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista,
2007)
A linguagem deles [empresários e acadêmicos] é bem diferente. È preciso que
haja uma intermediação para que se possa estabelecer parcerias mais
82
duradouras e eficientes para ambos. (Adriana, Incubadora UNIFOR,
entrevista, 2007)
Ainda sobre a questão da inovação, apesar das críticas e do reconhecimento que ainda
muito tem o que melhorar, a maioria dos atores indicou acreditarem que o aglomerado está no
rumo certo. Em todos os que acreditam nesse cenário, a participação das políticas públicas
através de fomento é vista como fator primordial para que haja o desenvolvimento de um
ambiente de inovação.
E eu acho que houve uma mudança, acho que estamos no caminho certo, viu?
Essa questão da inovação, como fazer isso, como transformar isso, é um
desafio. Somos um estado pobre, temos que ser criativos, empresário cearense
é antes de tudo um herói. Em São Paulo tem 10 garotos trabalhando pra ele [o
empresário], aqui só tem dois; lá tem mais bolsa, mais recurso, mais dinheiro.
É preciso ter uma política que seja mais inteligente, que possa ser direcionada
diretamente. É inovação e interiorização. Duas palavras das mais importantes.
(Mauro, Secretário-adjunto SECITECE, entrevista, 2007)
A inovação de hoje é muito fruto de esforços homéricos de empresas e pesquisadores a
nível individual, falta a coordenação desses agentes. Projetos que já foram anunciados, mas
que não estão ainda em pleno funcionamento, como a ida do CenPRA para o ambiente do
Titan e Insoft/Itic, além de laboratórios de TV Digital e o de condutores, são um indicativo
desse esforço para a desenvolvimento de uma cultura de inovação.
Grupo E) Apoio de outras empresas, Instituições (públicas e privadas) de apoio,
Fomento, Incubação de negócios, Suporte e capacitação empresarial, [Ambiente]
Planejado, de Caráter formal, Serviços de base científico-tecnológica
Neste grupo foram agrupadas as características de organização do arranjo, seja através
de novos membros de incubação, seja através de suporte e fomento. Também estão incluídos
aqui os esforços de incubação e, por conseguinte, do parque tecnológico.
83
Sobre as instituições de apoio e seus papéis, não se esperava haver confusões ou
equívocos na descrição da função destas, já que a maioria dos entrevistados fez ou faz parte
direta da estrutura das instituições. Porém, o momento de transição Insoft/Itic ainda causa
algum desconhecimento sobre as novas funções dessas organizações dentro do aglomerado.
Além disso, a pesquisa documental aos sites e aos documentos de constituição, demonstrou
áreas de sobreposição entre as missões das instituições de apoio, o que pode ocasionar
conflitos na busca de recursos. Essa possibilidade é minimizada por um outro tipo de
intersecção: a dos conselhos e das diretorias dessas instituições. É comum que o dirigente de
uma instituição seja também dirigente ou conselheiro de outra. Essa prática faz com que,
mesmo com missões semelhantes, não haja tanto conflito pelos recursos. Há uma sinergia
ocasionada por essa proximidade organizacional.
O Titan surgiu de dentro do Seitac, é como um “filho” do Seitac. E o Seitac
não tem cunho empresarial, não pode fazer negócio. E a gente precisava de
um mecanismo de pesquisa e que pudesse fazer negócio. Inclusive o convite
para participar do Titan foi aberto, chamada pública para todos os membros
do SAS. O Seitac continua como representante do setor empresarial de TI. O
Titan tem uma forte representatividade também, são as 19 maiores empresas,
mas o Seitac tem o seu peso. Na hora de negociar com o governo, ele não
chama o Titan, chama o Seitac, como na questão do ICMS, por exemplo.
Prioritariamente chama o Seitac, até chama o Titan também. [quando chama o
Titan?] Quando chama o Titan, sempre chama o Seitac, e aí tem Itic, Insoft. A
gente tem essas três entidades que congregariam as empresas, que
representariam os nossos interesses. (Tales, Diretor de empresa, entrevista,
2007)
Foram relacionadas instituições de apoio e projetos relacionados à P&D e
aprendizagem, como é o caso da UTD (Universidade do Trabalho Digital) e do CenPRA. No
caso do CenPRA, ele também estaria fazendo o link com o governo federal. Até o
encerramento da pesquisa, esses projetos não estavam em funcionamento. Em consulta ao site
do MCT (2007), verificou-se a autorização de concurso público para provimento de cargos
84
nos institutos de pesquisa, inclusive para o CenPRA. Há grande possibilidade que parte desse
efetivo seja para iniciar as atividades do instituto no Ceará.
O Titan é uma entidade mantida por 20 empresas, uma espécie de holding,
mas ela não aglutina as responsabilidades de cada uma dessas entidades, ela
aglutina sim o pensamento das 20 maiores empresas de TI do Ceará. Ela apóia
o sindicato e o Assespro no que tange ao desenvolvimento regional da área de
TI. Para essa coordenação tem o ITIC, e daí para que tenha sucesso,
trouxemos o braço de P&D do MCT que é o Cenpra. Aí a gente junta governo
federal através do Cenpra, a própria academia, dentro do ITIC. E agora a
gente pode receber recurso e fazer produto junto às empresas. Em paralelo, o
Titan toca a UTD (Universidade do Trabalho Digital) que visa contratar nas
universidades profissionais para formação de força de trabalho, criar cursos
específicos e formar profissionais que possam atuar na área de TI. O ITIC é o
Insoft, com um outro nome, com uma outra roupagem. (Lenardo, Presidente
Titan, entrevista, 2007)
A partir da atuação desses institutos, verifica-se a existência de um esforço em prol de
um caráter planejado e formal do aglomerado, mas devido à intersecção de objetivos e
missões e por praticamente não haver uma dedicação exclusiva de profissionais para gerir o
aglomerado, essa característica não pode ser evidenciada. No final da elaboração desta
dissertação, no mês de junho de 2008 foi oficialmente lançado o APL de TI do Ceará, mas
ainda está em formação uma câmara gestora. Durante as entrevistas, foi citado o caso do Porto
Digital como exemplo a ser seguido. Por possuir uma estrutura exclusiva para a gestão do
arranjo, o tempo dos gestores não compete com a gestão das suas empresas.
Não foi observada no aglomerado a existência de uma empresa central, mas sim de um
núcleo de empresas centrais, as maiores e mais representativas em termos de faturamento e
funcionários (LASO, 2007). Logo, a característica “apoio de outras empresas” não foi
verificada. O apoio e a coordenação vêm das próprias empresas que fazem parte do
aglomerado.
Sobre a incubadora, os relatos foram divergentes quanto a situação atual dessa
iniciativa. Praticamente todos os entrevistados fizeram menção ao Insoft quando este
85
capitaneava o processo de incubação. Comparando as entrevistas com o levantamento
documental, foi verificado que a incubadora é um projeto atrelado ao parque tecnológico. Não
foi possível verificar no momento, nenhuma empresa incubada a partir de esforços do
aglomerado. Também foi verificada a fraca comunicação com outras incubadoras
tecnológicas do Estado. Foi citado um interesse de uma empresa do arranjo em desenvolver
projetos associados ao núcleo de incubação da Unifor. As idéias quanto à incubação são
muitas, e foi unânime a afirmação da sua importância. É um trabalho que depende da
integração empresas, governo e instituições de ensino, logo o seu desenvolvimento depende
crucialmente do entendimento e da sinergia entre estes atores.
Deixe-me ver se me lembro...está tendo um movimento nesse sentido, não sei
exatamente o status atual disso, a última noticia que eu tenho tava para que ia
se instalar no prédio do Cine São Luiz, estavam negociando fazer reforma, já
tinha espaço, já tinha pré-projeto(...).A incubadora está sendo criada, existia
há um tempo atrás a Incubasoft, a incubadora do Insoft. Só que o Insoft
passou por um período de crise e desativou essa incubadora, e a gente agora
está na recuperação do Insoft e até mesmo para criar essa incubadora. Hoje a
gente não tem incubadora. (Tales, Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Também foi citada a participação de agentes de fomento não ligados diretamente ao
governo, como é o caso do SEBRAE, mas sem maiores detalhes sobre a participação do
SEBRAE na elaboração ou gestão do parque.
Existe uma verba junto ao SEBRAE para se dar o desenvolvimento de uma
incubadora.
(Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
No depoimento dos representantes do governo sobre a incubadora, foi verificada uma
outra alternativa de parque tecnológico, a ser instalada na cidade de Fortaleza.
Houve uma iniciativa dos empresários na cidade do Eusébio, houve uma troca
de prefeitura e nessa nova não houve o mesmo entusiasmo. Há um movimento
muito forte, da prefeitura de Fortaleza com o estado, através do Therrien, que
você conhece. Não descartamos ter no Eusébio o parque tecnológico, e aqui
na Francisco Sá a gente ter um parque de desenvolvimento tecnológico,
voltado para pesquisa com a Lei de Informática e também na área de serviços.
Um local onde ter as empresas instaladas gerando renda. Uma opção seria um
parque tecnológico que poderia condensar pesquisadores doutores. Você ter
86
um local, uma área bonita, um projeto ‘bacana’, onde você teria clientes. Aqui
em Fortaleza seria um parque, um centro de pesquisa,, de desenvolvimento,
de inovação, algo mais perto da universidade. Estamos inaugurando no Cine
São Luís, um ícone (...), instalar o E-jovem que a gente pensa que ‘vai mudar
a humanidade’. Vamos incubar, vai ter aí uma incubadora também. (Mauro,
Secretário-adjunto SECITECE, entrevista, 2007)
No projeto dos empresários, o parque tecnológico seria instalado num terreno já
cedido pela prefeitura do Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. Não foi possível
apurar com precisão as causas do atraso na implantação do parque tecnológico na cidade do
Eusébio, houveram alguns comentários relacionados com a mudança da gestão, sendo que a
anterior era mais favorável ao projeto.
4.3 Governança
Boa parte das características relacionadas à governança descritas no referencial teórico
também faz parte das características relacionadas aos aglomerados de uma forma geral. As
características de governança que vão além das citadas no referencial teórico sobre
aglomerados, excluindo as muito semelhantes entre si, são: hierarquia e comando. Estas
características peculiares serão analisadas neste tópico. Para complementar a análise sobre
governança do aglomerado, também serão analisadas as relações entre empresas,
universidades (instituições de ensino) e o governo, na proposta de relacionamento da triple
helix, a qual amplia o entendimento sobre as ações dos atores anvolvidos.
Sobre a questão da hierarquia e do comando, pela semelhança semântica, as respostas
tenderam a se complementar e se confundir. O termo governança, apesar da explicação da
entrevistadora, por muitas vezes foi compreendido como estrutura organizacional.
87
(...)mas a relação é de sociedade e dentro desse mecanismo do Titan a gente
tem a estrutura de governança bem definida. (Tales, Diretor de empresa,
entrevista, 2007)
A hierarquia relatada foi a formal, individual para cada organização. Entre as
organizações não foi identificada uma hierarquia formal, sendo constantemente utilizada a
expressão “parceria” para relatar as estruturas de hierarquia e comando entre elas. Uma forma
sutil de hierarquia percebida foi quanto ao tamanho da organização, como por exemplo,
comparar o Assespro com o Titan. Mas também há a questão da hierarquia derivada do
relacionamento financeiro entre uma e outra. Nesse sentido, o Titan estaria acima do
Insoft/Itic.
Essa que talvez tenha mudado de nome [Insoft], é uma OCIP de P&D, de
desenvolvimento na área de TI. Essa instituição também tem a sua
governança estabelecida, tem um conselho deliberativo, tem a diretoria eleita,
contratada. O conselho deliberativo é formado, eu não me lembro exatamente,
tem os diretores do Titan que são da parte do conselho deliberativo do Insoft e
tem mais algumas cadeiras: a do secretário de tecnologia, a do presidente da
Funcap e, eu acho, que tem até mais alguma cadeira, mas não estou lembrado
agora. E esse conselho é presidido pelo secretário de tecnologia. (Tales,
Diretor de empresa, entrevista, 2007)
A questão do comando traduz-se numa complexa rede de conselhos e diretorias
comuns às entidades e comuns às maiores e/ou mais significativas empresas do setor,
verificado através da pesquisa documental e da observação direta. Em alguns dos conselhos
também estão presentes membros da academia e do governo. Nesse ponto, há semelhança
com a formação do conselho do Porto Digital (Porto Digital, 2007).
A pergunta é complexa, mas eu entendi, mas acho que a resposta é frustrante.
Eu acho que não existe comando, assim, a única coisa social, não sei se algum
lugar do mundo existe comando para um negócio tão complexo como este.
Dentro desse universo complexo digamos que a única hierarquia que eu
percebo, e não é uma hierarquia clara: o Titan, ele ocupa seis cadeiras dentro
do Insoft, seis de 8 ou de 9, uma maioria absoluta, isso se tornaria uma
hierarquia talvez, uma certa percepção de hierarquia (...). Cada instituição é
independente. (...) Está num nível claro do relacionamento onde nenhuma
assume uma posição maior. Cada instituição é uma composição, inclusive
88
financeira, diferente (...) não é uma relação de hierarquia, nível de
importância maior. (Tales, Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Sobre a estrutura do aglomerado , os entrevistados concordaram que talvez não esteja
claro para quem está de fora as características e atividades da mesma. Esta dúvida existe até
mesmo para atores no aglomerado. Na pesquisa documental e na observação direta isso foi
verificado, inclusive com dúvidas entre os funcionários das instituições sobre quando e em
que assuntos eles deveriam cooperar – visualizado através de observação direta.
As instituições estão no mesmo local, tem conselheiros comuns, então, para
gente que está lá é clara a distinção. Quem está de fora, talvez seja difícil de
interiorizar a estrutura, para quem está de fora. (Tales, Diretor de empresa,
entrevista, 2007)
Vale ressaltar que o modelo do Porto Digital foi citado como referência por boa parte
dos entrevistados, guardadas as devidas diferenças quanto às motivações e atores
incentivadores do aglomerado, já que no caso de Fortaleza o processo é tocado
prioritariamente pelos empresários e no Recife a academia foi essencial no desenvolvimento
do APL.
Olha, a gente tem tentado aprender muito com a experiência exitosa de
Pernambuco, embora guarde as suas particularidades, mas eu acho que é uma
coisa que orgulha o nordeste, é algo exitoso (...). Eu acho que o nosso modelo
pode ser um modelo descentralizado. E ao longo prazo, médio prazo até, eu
penso no Ceará tendo software como uma alternativa sócio-econômica capaz
de influenciar o PIB do Estado..(...) Então a curto prazo eu estou prevendo
um apoio do governo, acho que em 2008 vai acontecer esse encontro, digo, o
investimento do governo na nossa versão do Porto Digital. (Mauro,
Secretário-adjunto SECITECE, entrevista, 2007)
Durante as entrevistas dos empresários e, principalmente, com os representantes das
instituições, falou-se sobre organismos de fomento e sobre o apoio do governo. Nas
entrevistas, o governo mostrou buscar uma aproximação do setor, mas membros do setor
afirmam que é preciso uma melhor compreensão do que significa a TI para o estado.
89
No caso do Ceará o governo é extremamente importante e talvez seja hoje o
elo mais frágil nesse processo (...). Esse tipo de atividade não tem uma ligação
linear com a indústria tradicional. O pro de um emprego no setor de TI é
mais barato do que um emprego no setor tradicional. Nós temos sido 100
vezes mais geradores de posição de emprego do que uma siderúrgica. O
governo ainda não percebe isso com clareza, e ainda não é só o Ceará que não
percebe esse movimento. Muitas vezes nós nos debatemos pessoas que
confundem o raciocínio da indústria com o da nova indústria. São empregos
urbanos, agregados à vida urbana; alguns com home office, muitos em
pequenas salas, sem demanda de grandes estruturas, diferente do que as
indústrias tradicionais precisam. Ainda falta a compreensão para essas
diferenças, essas características. (Lenardo, Presidente Titan, entrevista, 2007)
A prefeitura de Fortaleza, através do representante Cristiano Therrien, mostrou-se
interessada em um projeto que englobe a formação do jovem fortalezense, com iniciativas
geradoras e mantenedoras de empregos. Os empresários e representantes das instituições
alegam uma desconexão com o processo do APL. Com relação à cidade do Eusébio, foi
verificado que além do incentivo fiscal e da doação do terreno para o parque, outras ações
para o pleno envolvimento com o desenvolvimento do setor de TI ainda estão por ser
implementadas.
A participação da prefeitura [de Fortaleza] ainda é a mais frágil, a prefeitura
ainda está desconectada nesse processo.(...) [E a cidade do Eusébio?] Tem
sido um parceiro importante, criou uma legislação de incentivo, pagamos
apenas 2% de ISS, que não existe em Fortaleza ainda. (Lenardo, Presidente
Titan, entrevista, 2007)
Foram relatadas e verificadas na pesquisa documental a fraca relação entre a academia
e o aglomerado, unânime nas entrevistas. Vários foram os motivos relatados. Um muito
comum foi a diferença na linguagem, na cultura de acadêmicos e de empresários.
Ainda não. É muito forte a participação da comunidade como um todo, no
entanto ainda há um distanciamento acadêmico (Lenardo, Presidente Titan,
entrevista, 2007)
Isso aí é um ponto que acho que precisa melhorar. Acho muito fraca a relação
entre empresa e universidade aqui no estado. (Tales, Diretor de empresa,
entrevista, 2007)
90
Os empresários entrevistados reconhecem que há uma perda no quesito inovação ao
haver o afastamento com a universidade, e também se questionam porque essa aproximação é
difícil.
Há uma perda por não ter essa relação. A gente trabalha com inovação, com
cérebro, mas praticamente nossa única mão-de-obra são idéias e uma das
formas de fabricar idéias é dentro da universidade, se a gente tivesse uma
relação mais próxima, creio que poderíamos transformar em negócios muitas
das idéias que vem da universidade. E é curioso como eu acho que isso está
claro na cabeça de qualquer empresário, mas não sei por que essa
aproximação não se dá. Antes a gente achava que era culpa da universidade, o
pessoal ser fechado (...). Acho até que é função das empresas mudarem isso
aí, porque esperar que o pesquisador venha até a empresa, passa longe do
aspecto tradicional do pesquisador, tem que estar lá puxando, com faro
apurado para negócio, é o empresário que pode fazer isso. Não sei explicar
porque isso não acontece. Ainda temos muito que crescer, talvez haja essa
falta de uma maior maturidade (...), talvez nos falte isso para ir atrás das
oportunidades na academia. Há uma visão equivocada de achar que a
academia é intocável e isso pode ser falta de maturidade do setor. E
obviamente entra o papel do estado nisso aí, acho que o estado deveria
fomentar mais isso aí , ser mais eficaz, e o estado não tem se posicionado
quanto à isso Se isso acontecer, a gente pode mudar esse quadro. (Tales,
Diretor de empresa, entrevista, 2007)
Vale ressaltar que o papel de inovação não cabe só à universidade. Outras instituições
de pesquisa, os CEFET’s (Centros Federais de Inovação Tecnológica) e também organismos
privados podem ser agentes promotores de inovação.
O Insoft não pode hoje chegar hoje e dizer: vou me transformar num CEFET.
A gente nunca vai chegar perto, mas eu acho que o Insoft entende melhor os
empresários que as universidades, e é formado por uma diretoria de pessoas
que são próximas às universidades. Essa é uma maneira de aproximar os
empresários das competências que existem na universidade (...).Então além do
papel de pesquisa direta, (...) tem um papel de relacionar as competências
acadêmicas com as necessidades empresariais. O empresariado pode e deve
aproveitar as capacidades que a universidade possui, e vice-versa. O Insoft
tem competência de captação de recursos da lei de informática, que gerencia
dentro do laboratório do Cefet, (...) não há porque existir uma briga. Es
fazendo muito bem esse papel de aproximação, de botar discussão na mesa.
Estou participando de um projeto de educação à distância em
profissionalização de TI, que envolve 3 empresários, envolve também um
pesquisador da Unifor, um da UFC e dois da UECE. Está completamente
integrado, e quem fez isso foi o Insoft. Existe também um projeto com o
Mauro Oliveira que a gente se transforma numa espécie de referência em
pesquisas setoriais, é como se fosse um CGEE Centro de Gestão de Estudos
Estratégicos. É uma espécie de agência, ligada a Unicamp, faz estudos
estratégicos sobre várias atividades do país. A idéia do Mauro é transformar o
91
Insoft numa CGEE para o setor de TI. A minha idéia é montar um grupo com
economista, sociólogo, antenados com o que está acontecendo no mundo da
TI e trazer esse conhecimento para o setor. Um exemplo: qual o impacto das
compras governamentais?. Enfim, estudos estratégicos sobre o setor, uma
espécie de CGEE do setor. (Samuel, Vice-presidente Insoft, entrevista, 2007)
Acho que a universidade perdeu o papel dela, (...) quanto ao papel de
formadores de pessoas que vão mudar a sociedade, continua elitista e
excludente, (...) está tirando aquele cara do bairro, nunca se preocupou com
isso. Ela tem cumprido um papel grande na produção de conhecimento. Mas o
conhecimento não está adequado. (...) Eu diria que houve uma mudança
radical com a criação dos fundos setoriais. Apareceu dinheiro, apareceu
oportunidade, feito com que professores se dediquem. É preciso pensar em
criar políticas diferenciadas. (Mauro, Secretário-adjunto SECITECE,
entrevista, 2007)
A crítica com relação a essa aproximação universidade-empresa também passa pelo
repensar da própria universidade, se ela está ciente e trabalhando no seu papel precípuo de
formadora de cidadãos, como salientou o secretário adjunto de C&T do estado do Ceará.
92
5 Considerações Finais
Este trabalho foi resultado de entrevistas com profissionais diretamente ligados ao
aglomerado de TI do Ceará, contando também com visitas às instituições representativas do
aglomerado, a fim de compreender melhor o objeto através de observações diretas e de
pesquisa documental.
Para responder a pergunta sobre como se apresenta a governança no aglomerado de
empresas desenvolvedoras de software da cidade de Fortaleza, antes foi proposto um estudo
sobre o arcabouço teórico para entender e tentar propor uma classificação dos aglomerados de
software, com base na literatura acadêmica.
Corroborando com outros autores que também fizeram cruzamentos entre os conceitos
de aglomerados em geral, foi verificado que muitas das abordagens e conceitos presentes na
literatura dizem respeito à casos específicos, dificultando a elaboração de um arcabouço que
seja geral para todo e qualquer tipo de aglomerado. Ao aproximar o levantamento dos
conceitos relacionados aos aglomerados de empresas de software, espera-se ter um quadro
mais próximo da realidade deste setor. Não se constituiu em um modelo fechado de
classificação de aglomerados, face a já exposta peculiaridade dos casos e também o caráter de
intensidade de certas características para classificação quanto ao tipo de aglomerado, por
exemplo, alta ou baixa confiança interna, alto ou baixo fluxo de aprendizagem, entre outros.
O quadro-resumo 08(4) de características foi utilizado como base para conhecer o aglomerado
e discutir a sua governança, assunto relacionado à forma como ele se coordena.
93
A partir do arcabouço teórico elaborado, nota-se que o conceito de redes é o mais
abrangente, mas não chega a incluir todos os outros conceitos, já que o conceito de parque
tecnológico possui especificidades. Os conceitos de cluster e APL são os mais próximos, o
que confirma que APL seria uma adaptação nacional para o entendimento de cluster. Como o
objetivo do trabalho é conhecer e não classificar o aglomerado, seguem as considerações a
partir dos grupos de características levantadas no arcabouço.
As características mais gerais de relacionamento, cooperação, integração, entre outras
presentes no grupo A, foram identificadas a partir de vários indicativos, como parcerias,
contratos, articulações entre outros. Essas são características suficientes para entender o
aglomerado como uma rede interorganizacional. Apenas a característica “recursividade” não
pôde ser verificada. Recursividade é um complexo processo de troca social que pode resultar
em novos recursos para as empresas. A não verificação indica que ou os relacionamentos não
têm gerado economias externas, que é o que se espera de um cluster ou um APL mais
desenvolvido (Marshall, 1985), ou então esses ganhos não tem sido levantados, relatados após
os trabalhos em conjunto ou em prol do aglomerado como um todo.
Os relacionamentos mais específicos como liderança, complementariedade, correlação
e competição foram todos verificados. No caso da liderança, houve algumas confirmações do
exposto no trabalho de Baiardi e Basto (2006) sobre parques tecnológicos, principalmente
relacionado às lideranças empresariais. O conceito de parque tecnológico aqui levantado
pressupõe a criação de um ambiente de inovação, que pressupõe investimentos, os quais as
empresas de software analisadas não estão dispostas a realizar e não teriam recursos
suficientes para arcar sozinhas. Por isso a necessidade de maior aproximação com as
lideranças individuais e formais das instituições de ensino, do governo e de órgãos de
94
fomento, com o objetivo de constituir de uma rede propícia à criação de um lócus de inovação
do estado. O parque tecnológico é oficialmente constituído, mas ainda está sem previsão de
funcionamento.
Não foram suficientemente caracterizadas a confiança interna, o senso de comunidade
e as identidades histórica, cultural e social. Um indicativo do desenvolvimento desses
conceitos pode ser a tentativa de alocar num só espaço vários atores do setor, como tem
acontecido com o Titan, o Insoft/Itic e os laboratórios de pesquisa. A organização de palestras
e encontros também pode auxiliar no desenvolvimento desse sentimento de grupo. A
existência de várias entidades promotoras, muitos nomes, dentro de um mesmo espaço
comum, que ainda não representa uma unidade, ainda confunde membros mais próximos do
aglomerado. Isso indica a dificuldade de criação de uma identidade social única.
Com relação à aprendizagem e transferência de conhecimento, foram percebidas
algumas atividades, mas a maioria de apelo individual, iniciadas antes da constituição das
entidades promotoras do aglomerado. Hoje em dia, algumas dessas atividades são apoiadas
através de espaços cedidos na sede Titan, Insoft/Itic. As atividades de inovação ainda são
restritas às empresas individualmente ou às parcerias pontuais em prol de editais de fomento.
Não foram percebidas atividades ligadas à incubação ou ao parque tecnológico, a não ser
atividades de planejamento.
Não há uma polarização a partir de uma grande empresa conforme verificado em
outros arranjos de TI, como O CESAR no Porto Digital no Recife (Oliveira, 2007). Fazem
parte dos institutos de organização do aglomerado boa parte das maiores e mais
representativas empresas de TI do Ceará. Existe uma clara estruturação dessas entidades,
porém ainda não há a estrutura oficial para coordenar o aglomerado, o que pode gerar
confusão em potenciais novos participantes. No momento do lançamento oficial do APL, foi
95
informado que está em elaboração a formação de uma câmara gestora. A análise da
polarização mostra que os aglomerados de TI no país apresentam estruturas de poder diversas.
Foi verificada a busca de editais de fomento, a aproximação com governo federal, do
estado e de municípios;.porém foram observadas diferenças quanto ao entendimento da
importância do setor de TI, ou da forma como deve ser trabalhado, por parte desses atores.
Com relação às instituições de ensino, foi verificado um grande distanciamento, relatado por
todos os entrevistados. Mesmo com algumas ações de aproximação, esse link ainda é o mais
frágil da composição do aglomerado. Isso demonstra que o modelo da Triple helix o retrata
a realidade de arranjos em fase de desenvolvimento.
A maioria das características de governança estão mescladas às características dos
aglomerados aqui apresentadas; restando para concluir a análise da governança as
características de hierarquia e comando. Peculiaridades quanto à formação dos conselhos e
diretorias com membros comuns a todos as instituições promotoras do aglomerado criam
um ambiente onde hierarquia e comando acabam se diluindo entre essas organizações.
Estruturalmente é clara a divisão, mas, na prática, acabam sempre por se referir a uma
“entidade” única. Se por um lado esse modelo diminui a possibilidade de conflitos e disputas
por poder, por outro dificulta a clara delimitação de objetivos e de atuação das entidades,
principalmente para quem não participa delas.
Durante a realização das entrevistas, e posteriormente na análise de conteúdo pelo
pesquisador, a interpretação e a análise dos dados encontrados foram baseados, em grande
parte, nos conhecimentos e subjetividade do autor, pelo fato de o mesmo ter experiência
profissional na área e com algumas empresas do arranjo, podendo assim ter influenciado nos
resultados.
Entre as limitações para a pesquisa podem ser citadas:
96
(i) A classificação semântica elaborada pela autora com base em dicionário de língua
portuguesa, pode não ser a mais adequada, por não ter tido um aprofundamento
semântico orientado por um profissional de letras.
(ii) Os dados defasados do MCT e MDIC, além de se apresentarem com anos de
fechamento diferentes, dificultaram a comparação entre esses dados.
(iii) Dificuldade de contato com o responsável pelo parque tecnológico, não
permitindo confirmar dados de previsão de funcionamento do parque tecnológico.
(iv) Falta de acesso ao membro da ETICE Empresa de Tecnologia da Informação do
Ceará, para levantar dados sobre compras governamentais e tributação.
Com o objetivo de aprofundar o conhecimento a respeito do tema, bem como
confirmar as conclusões deste estudo seria interessante um estudo mais voltado para
confiança interna e senso de comunidade, que não foram bem visualizados neste trabalho.
Outra sugestão seria a realização de estudos com membros potenciais à participação do
aglomerado. Quanto a sugestão de trabalhos quantitativos, a equipe do LASO avançou em
trabalhos dessa categoria no decorrer do desenvolvimento desta dissertação, Finalmente o
quadro comparativo entre redes, clusters, parques e APL´s pode ser melhorado e adaptado
para estudos comparativos em aglomerados de software ou até mesmo de empresas de base
tecnológica.
97
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103
APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista
Interesse de pesquisa: Como se apresenta a governança no aglomerado de empresas
desenvolvedoras de software
da cidade de Fortaleza na visão dos entes
participantes do aglomerado?
Conceitos / Abordagens
Perguntas
i) Características
Estruturais dos
Aglomerados:
ii) Relações Inter-firmas
Legenda:
1 - Rede
2 - Cluster
3 - APL
4 - Parque Tecnológico
5 Sistema Inovativo
GOV Governança
TH Triple helix
P1 (1-2-3-GOV Relacionamento, Interação,
Aprendizado) Com quais organizações do aglomerado
você mantêm relações e que tipo de relações são essas?
(compra, cursos, exportação, certificação,
desenvolvimento, financiamento, etc)
P2 (1-2-3 Redundância/Geração de recursos) Existe
algum produto, processo que esteja sendo feito em
conjunto? Há concorrência com algum outro ator do
aglomerado?
P3 (1-Auto-consciência) Como você define o “grupo”
de software? E a sua participação nele?
P4 (2- Senso de Comunid
ade) Você percebe o
aglomerado como uma comunidade? Porque?
P5 (2-GOV Liderança) Você percebe uma os várias
lideranças no movimento? Quem são?
P6 (2-
Capacidade Inovativa) Há inovação nos
produtos, nos métodos de produção e na estrutura
organizacional ? A capacidade de inovação é percebida
das empresas para o todo, do aglomerado para a
empresa ou é interno de cada agente?
P7 (2-3-GOV Confiança Interna)
P8 (2- Nível de Tecnologia)
P9 (1-2 Economia de escala / Barganha) Já houve
algum ganho por meio da ação coletiva ?
P10 (3 TH Instituições de apoio) Qual a importância?
Está satisfeito com as ações?
P11 (4 Incubação de negócios) Existe um programa de
incubação de empresas?
P12 (4 TH Universidades, Centros de Pesquisa) Como
104
se dá o relacionamento com Universidades e Centros
de Pesquisa?
P13 (4 Fluxo de Conhecimentos) Você reconhece esse
fenômeno dentro do aglomerado?
P14 (5 Forte presença e influência das organizações
âncora) Como você define a papel, a atuação das
organizações âncora no desenvolvimento das empresas
de software?
iii) Governança
P 15 (Hierarquia) Como você descreveria a hierarquia
dentro do aglomerado?
P 16 (Comando) Como se organiza a estrutura de
comando que determina a alocação de recursos
financeiros, materiais e humanos?
iv) Triple Helix
P (Governo) Como se dá o relacionamento com o
Governo (União, Estados e Municípios)
105
APÊNDICE B Listagem de Empresas
1.
ACERVO INFORMÁTICA
Comércio
2.
ACTIVE BRASIL
Desenvolvimento de softwares
3.
ALLTEC SISTEMAS DE
CONTROLE
Controle de Ponto e de acesso
4.
ASP AUTOMAÇÃO, SERVIÇOS
Assessoria na Área de Administração Pública
5.
ASPEC
Desenvolvimento de softwares
6.
ASPEC - ASSESSORIA,
PROCESSAMENTO
Assessoria na Área de Administração Pública
7.
ATHOMUS
Segurança e Proteção de Dados
8.
ATTALUS TECNOLOGIA
Desenvolvimento de Software
9.
AURIGA
Serviços
10.
BIOSEC-IT
Controle de Ponto e de acesso
11.
BUREAU TECNOLOGIA
Desenvolvimento de Software
12.
CASA MAGALHÃES
Comércio
13.
CECOMIL
Comércio de Produtos para Escritório e Informática.
14.
CHIP TELECOMUNICAÇÕES
Comércio Representação e Prestação de Serviços
15.
CONVERGE SOLUÇÕES
Desenvolvimento de Soluções de Software
16.
DARTE
Comercialização de Software.
17.
DATA SYSTEMS SOFTWARE
INDUSTRIAIS
Desenvolvimento de Software; Consultoria
Empresarial
18.
DATAPREV
Processamento, e Desenvolvimento de Software.
19.
DIGIMAX
Aparelhos eletrônicos
20.
DOMÍNIO
Desenvolvimento de Software, Serviços
21.
ERGUS
Prestação de Serviços de Informática
22.
EVOLUÇÃO
Servi;os Educacionais
23.
FECET EVOLUÇÃO
Educação superior
24.
FLUXUS
Desenvolvimento soluções de Software
25.
FORTES INFORMÁTICA LTDA
Desenvolvimento de Software.
26.
FOTOSENSORES
Sistemas de monitoramento do trânsito
27.
GESTÃO INTEGRADA
Consultoria de Sistemas Administrativos
28.
HAPTECH SOLUÇÕES
Desenvolvimento de sites
29.
HS TECNOLOGIA
Digitalização, Identificação e Trânsito.
30.
IATIVA
Desenvolvimento de sites
31.
IBYTE COMPUTADORES
Indústria e Comércio de Computadores
32.
IFACTORY SOLUTIONS
Fábrica de software, treinamento
33.
INFORMADOR 144
Serviços de Informação
34.
INSTITUTO ATLÂNTICO
Desenvolvimento de soluções científicas e
tecnológicas
35.
INTEQ SYSTEMS
Desenvolvimento de Soluções em TI
36.
INTERSYSTEM / SBR COMÉRCIO
Comércio e Serviços
37.
INTERSYSTEM / STARSYSTEM
Comércio e serviços de equipamentos de informática
38.
ITI
Serviços
39.
IVIA
Desenvolvimento de Software.
40.
LANLINK INFORMÁTICA LTDA
Infra-estrutura de Tecnologia da Informação
41.
LINGUAGEM CONSULTORIA
Consultoria
42.
LOOP LTDA
Desenvolvimento de Programas de Informática.
43.
LUX TECNOLOGIA
Desenvolvimento de Programas Consultoria.
44.
M. INFORMÁTICA
Desenvolvimento de Software Corporativos
45.
MAXIMUS CONSULTORIA
Consultoria
106
46.
MCF TECNOLOGIA
Telemarketing, call center, CRM e help desk;
47.
MENTORES CONSULTORIA
Consultoria
48.
MICROSIGA ARM CEARÁ-PIA
Desenvolvimento de Software
49.
MORPHUS TECNOLOGIA
Serviços segurança da informação
50.
MRH GESTÃO DE PESSOAS
Consultoria em Recursos Humano e Treinamento.
51.
MV INFORMÁTICA NORDESTE
Comércio e serviços de equipamentos de informática
52.
NOIX INFORMÁTICA
Desenvolvimento de Software, Sites e Consultoria TI
53.
NÓS SERVIÇOS DE INFO.
Desenvolvimento de Software
54.
NÚCLEO INFORMÁTICA
Soluções em hadware, software
55.
NUNES & NUNES
Comércio atacadista de relógios de ponto, instalação
56.
OKTIVA.NET
Comércio eletrônico, Internet, Serviços
57.
PROJETUB
Comercio e Manutenção de PABX.
58.
PROVIDER LTDA
Terceirização de serviços
59.
R2 CONNECT
Serviços
60.
RCN CONSULTORIA E SISTEMAS
LTDA.
Desenvolvimento de Software.
61.
RM CE INFORMÁTICA
Treinamento
62.
RW INFORMÁTICA
Assist. Técnica de Informática.
63.
SB CONSULTORES
Consultoria
64.
SECREL
Desenvolvimento de Soluções
65.
SILICON TECH DO BRASIL
Comércio Varejista de Equipamentos de Informática
66.
SOFTBUILDER INFOMÁTICA
Simulação e Modelagem
67.
SOFTIUM INFORMÁTICA
Desenvolvimento de Software.
68.
SOFTSITE
Fábrica de software
69.
SOLUÇÃO MAX IMAGING
Desenvolvimento de Software.
70.
SST
Prestação de Serviços Terceirizados e Administração
71.
STL INFORMÁTICA
Impressão a Laser e Desenvolvimento de Software
72.
TECHNE
Administração Escolar, Administração Pública
73.
TINVEST
Elaboraçào e Execução de Projetos
74.
TSN - TECHNO SOLUTION
NETWORK LTDA
Automações, Telemetria, Aferição de vazões.
75.
ULTIMATUM
Banco de Dados na área jurídica
76.
ULTRASYST
Consultoria
77.
VIA LÓGICA
Soft House/Representações Área de Informática
78.
VTI / VTI TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO LTDA
Comércio Representações
79.
VTI VTI TECNOLOGIA LTDA
Manutenção e Assitência Técnica
80.
WJ INFORMÁTICA
Sistema com padrão MARC /AACR2 /ISO2709
81.
XSEED
Venda de Software, Serviços. Consultoria e
Treinamento
Livros Grátis
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