mio figlio ov’è? Perchè non è ei teco?”
E io a lui: “Da me stesso non vegno:
colui ch’attende là, per qui mi mena,
forse cui Guido vestro ebbe a disdegno.”
Le sue parole e ‘l modo de la pena
m’avean di costui già letto il nome;
però fu la risposta così piena.
Di subito drizzato gridò: “Come
dicesti? elli ebbe? non viv’elli ancora?
non fiere li occhi suoi lo dolce lume?”
Quando s’accorse d’alcuna dimora
ch’io facea dinanzi a la risposta,
supin riccade e più non parve fora
Ma quell’altro magnanimo, a cui posta
restato m’era, non mutò aspetto,
nè mosse collo, nè piegò sua costa;
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(Inf.: X, 22-75)
Auerbach chama atenção para o fato de que, apesar do evidente lirismo existente em
algumas cenas, da demonstração da subjetividade individual e distinta das personagens, que
permanecem com o mesmo caráter de quando estavam vivos, a arquitetura do poema de Dante
os insere dentro de uma mesma ordem hierárquica. À custa de seus pecados, as personagens
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“Ó toscano que no país do fogo / vivente vais assim falando honesto, / que um pouco aqui detenhas-te eu te rogo. / A tua
fala me torna manifesto / o nobre berço que te concebeu, / ao qual, demais talvez, eu fui molesto.” / Foi esse o som que súbito
interrompeu / de uma tumba, e me fez virar para trás, / temeroso, buscando o Mestre meu. / E ele: “Volta-te! O que hesitar te
faz? / Vê Farinata que se ergueu, direito; / da cintura pra cima já o verás”. / Eu já cruzara o seu olhar: co’o peito / e com a
fronte, reto ele se erguia, / como tivesse o inferno em grão despeito. / Com solícita e presta mão, meu guia / levou-me a ele
entre as tumbas ferais, / sugerindo-me cauta garlhadia. / Quando à sua tumba aproximei-me mais, / olhou-me um pouco e,
quase desdenhoso, / “Quais foram”, perguntou, “teus ancestrais?” / E eu, já de contenta-lo desejoso / não lho escondi, mas
tudo revelei, / o que tornou-o ainda mais cenhoso. / “Tão duros na adversão à minha grei / foram”, disse ele, “ e a mim e aos
meus parentes, / que, por duas vezes, eu os expulsei.” / “Expulsos”, respondi, “mas renitentes / foram, voltando duma e
doutra prova, / e essa arte não tiveram vossas gentes.” / Surgiu da tumba então ua sombra nova / sobre a borda, mostrando-se
até ao mento; / talvez se ajoelhando na sua cova. / Olhou-me à volta, parecendo intento / a achar quem estivesse ali comigo /
e então, lhe sucedendo o desalento, / disse, em pranto: “Se neste desamigo / cárcere vais por primazia de engenho, / por que o
meu filho não está contigo?” / E eu respondi: “Não por mim mesmo eu venho: / aquele que lá está meu rumo ordena, / por
quem, quiçá, evadia o teu Guido empenho”. / Por seu falar, e a espécie de sua pena, sem inquiri-lo eu já o reconhecia, / e isso
minha resposta fez tão plena. / Súbito ereto gritou: “Evadia? / disseste? então não vive? então não mais / o doce lume os
olhos lhe embacia?” / Quando foi percebendo que demais / demorada ficava-lhe a resposta, / caiu supino e não mostrou-se
mais. / A outra grande alma, por cuja proposta / tinha eu ficado, não moveu o peito / e o colo, nem mudou a feição
composta;”. Trad. Ítalo Eugênio Mauro.