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os demais e, diante dessa constância, formulou-se a teoria. Cumpre salientar que Chico
Buarque é dado, vez por outra, a esses malabarismos lingüísticos, vejamos, como
exemplos, as letras de “Rosa-dos-ventos”, com um grande número de versos esdrúxulos
e agudos e “Construção”, composição com todos os versos esdrúxulos. Atentemos ao
que Nóbrega (1965: 229) a respeito disso discorre:
Na poética dos cancioneiros galaico-portugueses, as rimas paroxítonas
diziam-se breves ou curtas; a versificação portuguesa do século XVIII
designava-as como inteiras, por isso que eram contadas na medida do
verso as suas sílabas átonas finais. Por predominantes em nossa língua, as
rimas graves constituíam o padrão prosódico, ficando as vozes
esdrúxulas, quando ao fim dos versos, sujeitas à perda métrica da sílaba
derradeira, e as agudas, ao acrescentamento teórico de uma sílaba, como
ainda se verifica na versificação tradicional italiana e espanhola. O
cômputo silábico até a tônica final do verso, à francesa, embora já
preconizada por Couto Guerreiro, em meados do século XVIII, só se
generalizou, na poética da língua portuguesa, por influência de Castilho.
O professor Said Ali defendeu o regresso ao sistema antigo,
deslembrando de que, além de inoportuna, sua proposta importaria, em
última análise, uma simples troca de nomes, na classificação métrica dos
versos.
Retornando, ainda, à questão da escansão, cumpre lembrar que a métrica de um
verso de se dá pela contagem das sílabas e esta se faz até a última sílaba tônica da
última palavra do verso. Se a última palavra for oxítona ou um monossílabo tônico,
contar-se-á até a última sílaba e é chamado de verso agudo; se for paroxítona, sobrará
uma sílaba e o verso é classificado como grave; e, em sendo proparoxítona, sobrararão
duas sílabas, e o verso é esdrúxulo. Assim teoriza Carvalho (1991: 19):
Em cada palavra o valor acentual é o da última sílaba (em palavra aguda,
como, por exemplo, implicitar), ou da penúltima sílaba (em palavra grave
como implicitava) ou da antepenúltima sílaba (em palavra esdrúxula
como implícito), porque essas sílabas se fazem distinguir das anteriores
em razão de se lhes suceder ou o silêncio (na palavra aguda), ou uma
sílaba branda (na palavra grave) ou duas sílabas brandas (na palavra
esdrúxula).
À luz dessa teoria, observamos, em nossa leitura pelas cantigas medievais, que
os versos, com rima final aguda ocorriam, com certa freqüência, durante a primeira
metade do século XVI, e todos os versos que apresentam rima aguda, faziam-no com
final vocálico. Cremos, também, que a própria evolução da língua encarregou-se de
certa adequação do ritmo imposto pelo tipo de acentuação que vinha predominando, a
tendência grave do português, e pela natureza da matéria tratada, uma vez que o uso
apenas de rimas agudas poderia limitar a intenção do autor, pois cabe aos acentos
rítmicos e ao acento terminal o papel de objetivar o ritmo, apoiando-o, e aos acentos