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combinação é o correspondente intratextual da seleção como ato de fingir, pois “[...] abrange
tanto a combinalidade do significado verbal, o mundo introduzido no texto, quanto os
esquemas responsáveis pela organização dos personagens e suas ações” (ISER, 1996, p.963).
Cabe lembrar que os relacionamentos, segundo o teórico, são resultados das combinações,
criando uma aparência de real. Iser salienta que esse relacionamento pode assumir múltiplas
maneiras no texto ficcional. Já o desnudamento da ficcionalidade do texto literário
[...] é reconhecido através de convenções determinadas, historicamente variadas, de
que o autor e o público compartilham e que se manifestam nos sinais
correspondentes. Assim, o sinal de ficção não designa nem mais a ficção, mas sim o
“contrato” entre autor e leitor, cuja regulamentação o texto comprova não como
discurso, mas sim como “discurso encenado”. (ISER, 1996, p.970)
Como resultado destes fatores, instaura-se, portanto, segundo Iser (1996), a narrativa
do como se, do fingido. Mas a narrativa do como se não é menos, é outra, é fingida porque
contém muitos elementos identificáveis de realidade
[…] que, através da seleção, são retirados tanto do contexto sociocultural, quanto da
literatura prévia ao texto. Assim, retorna ao texto ficcional uma realidade de todo
reconhecível, posta agora, entretanto, sob o signo do fingimento. Por conseguinte,
este mundo é posto entre parênteses, para que se entenda que o mundo representado
não é o mundo dado, mas que deve ser apenas entendido como se o fosse.
(ISER,1996,p.972-973)
Assim, tanto White (2001), quanto Reis (1998) e Iser (1996) nos permitem, a partir de
suas reflexões, considerar as marcações históricas privilegiadas nas narrativas literárias para a
construção de uma leitura do real. Em Ventos do apocalipse as marcações históricas
aparecem de maneira privilegiada na intromissão da voz autoral no texto e nos elementos de
realidade selecionados e combinados ao longo da narrativa, como, por exemplo, os da
tradição oral mobilizados, de maneira quase didática, ao longo do romance, bem como o “solo
histórico” sob o qual se constrói a tessitura. Nesse sentido, torna-se importante esclarecer que,
ao longo desta dissertação, usaremos, indistintamente, a terminologia voz autoral, voz da
intelectual e voz do autor implícito, como representação funcional de questões caras para o
escritor-intelectual, ou seja, para o autor empírico. Porque este, ao desempenhar o seu papel
público no espaço literário, inscreve-se, no nosso entender, tanto por meio dessas vozes,
quanto por meio da voz do narrador e das personagens.
Chiziane, portanto, ao produzir este romance, apresenta, a nosso ver, uma narrativa
alternativa/contra-narrativa de uma “realidade histórica”, mostrando-nos, sob a perspectiva de
signos diversos e por meio de uma linguagem própria um outro enredo possível para essa