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É importante ressaltar que, a partir da terceira década do Século XIX, a economia
gaúcha, que era baseada no trigo e nas charqueadas, entra em crise. A economia em baixa
acaba refletindo a insatisfação também na política, quando têm início as guerras platinas e a
Revolução Farroupilha. Esses conflitos mostram “a fragilidade dos laços que unem a
província ao Império brasileiro” (GIRON E BERGAMASCHI, 2004, p. 181).
Segundo as autoras, os conflitos diminuíram significativamente a população e, assim, a
capacidade de produção agrícola. A solução para o problema é o assentamento de imigrantes
que, inicialmente, são alemães, nas regiões dos rios Caí e dos Sinos e, posteriormente,
italianos. Giron e Bergamaschi (2004) afirmam que:
o aumento de delitos criminais , e a rebeldia da ‘nação gaúcha’, no dizer de Dreys,
exigem providências do governo imperial, e a principal é a introdução de imigrantes
italianos, que além de garantir a posse do território gaúcho para o Império, aumenta
a produtividade agrícola cultivando terras até então devolutas. (GIRON E
BERGAMASCHI, 2004, p. 181)
De certa forma, esta dependência que o morador luso-brasileiro tinha em relação ao
imigrante italiano, aparece como relação inversa anos mais tarde, na escolha dos personagens
que serão homenageados com suas denominações.
E a observação indica que esses nomes, dados, em sua maioria, no final do Século
XIX, antecipam, de certo modo, o que aconteceria na RCI em período anterior à Segunda
Guerra Mundial, quando, em 1937, o ensino escolar em língua portuguesa foi padronizado
nacionalmente
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e teve impacto político, social e histórico. Na denominação das ruas, essa
força já existia, mas talvez fosse percebida de forma menos contundente. Depois, com a
entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, intensificou-se a proibição de falar o dialeto
italiano e isso contribuiu para a desvalorização do grupo étnico italiano da região Sul do
Brasil. Mais uma vez, segundo o que afirma Dick (1996), é preciso contextualizar os nomes,
para tirá-los do esquecimento:
a toponímia é a disciplina que caminha ao lado da história, servindo-se de seus
dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado contexto regional,
inteirando-se de sua origem para estabelecer as causas motivadoras, num espaço de
tempo preciso, procurando relacionar um nome ao outro (...). (DICK, 1996, p.12)
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Oficializado por meio de dois decretos-lei do período do Estado Novo: o de número 406, de maio de 1938, e o
1545 de 25 de agosto de 1939.