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portanto, não estabelecendo uma clara distinção entre o técnico daquela época e
aquele que acreditava ser necessário naquele momento [...]” (OLIVER, 2005, p. 31).
A compreensão de Arthur Torres Filho
17
sobre o ensino agrícola em seu tempo pode
fornecer indícios da influência que o pensamento francês exerceu sobre as opções da
República em relação a esse ensino, sem, contudo, descartar outras fontes de inspiração, como
a estadunidense. A leitura e análise de artigos do jornal Minas Gerais e da Revista Industrial
de Minas Gerais indicam que vários modelos de ensino profissional agrícola, em seus
diversos níveis, métodos e finalidades, circulavam pelo mundo ocidental. Esses modelos
estavam vinculados à modernização da agricultura, no intuito de fazer chegar a modernidade a
algumas esferas da vida humana. Nessas fontes encontrei diversas referências às experiências
de outros países em relação ao ensino agrícola: EUA, Inglaterra, França, Índia, México,
Argentina, Bélgica, Austrália, colônias africanas, Portugal, dentre outros.
Na Índia, por exemplo, o governo inglês, no início do século XX, estava empenhado
em impulsionar “o serviço de assistência e fomento oficial aos interesses da lavoura”
18
. Fazia
parte desse impulso o plano de erigir “uma fazenda modelo em cada província para a cultura e
distribuição de sementes, ensino prático, campos de experiências, de demonstração e a
propaganda, mediante as preferências rurais”
19
.
Com Portugal, o Estado de Minas teve, no final do século XIX, uma colaboração mais
estreita. Vários técnicos, os regentes agrícolas, foram contratados pelo secretário da
Agricultura, Francisco Sá
20
, por volta de 1896, para percorrer o Estado divulgando os
ensinamentos agrícolas mais modernos. Esses técnicos eram formados por uma das escolas
nacionais portuguesa, a Escola Central de Agricultura Moraes Soares. O ensino agrícola
citação foi extraída de TORRES FILHO, Arthur M. Contribuições para a regulamentação do Ensino Agrícola
no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926.
17
Arthur Mangarinos Torres Filho ocupou cargo no Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola do Ministério da
Agricultura (1921-1931) e chefiou o Serviço de Organização e Defesa Rural. Foi professor catedrático na ENA –
Escola Nacional de Agronomia (1933-1940) (MENDONÇA, 1998). Além disso, “foi um dos pioneiros na defesa
da implantação do extensionismo rural no país” (MENDONÇA, 1998, p. 35).
18
Jornal Minas Gerais, 02 de setembro de 1906, p. 6, col. 3.
19
Jornal Minas Gerais, 02 de setembro de 1906, p. 6, col. 4.
20
Político, engenheiro, jornalista e escritor, Francisco Sá nasceu em Santo Antônio do Gorotuba, Distrito de
Grão-Mogol, em Minas Gerais (hoje Catuni, distrito de Francisco Sá), a 14 de setembro de 1862. Teve
participação política de relevo não apenas em Minas, mas também no Ceará, ao qual se ligou pelo casamento
com a filha de um chefe político daquele Estado. Foi eleito deputado provincial de Minas Gerais em 1888;
engenheiro do Estado, depois Inspetor de Terras e Colonização do governo de Afonso Pena, iniciando então “os
trabalhos de levantamento geográfico e geológico e de estatística agrícola e industrial do Estado”. Foi secretário
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas no governo de Crispim Jacques Bias Fortes, entre 1894 e 1897. Neste
cargo “lançou uma política imigratória e agrícola mediante a celebração dos primeiros contratos com imigrantes
estrangeiros e a fundação de núcleos coloniais em várias zonas. Para introduzir processos modernos de cultivo,
instituiu os primeiros campos de demonstração agrícola”. Renunciou ao cargo para exercer mandato eletivo no
Ceará. Foi ainda Ministro da Viação por dois períodos: 1909-1910 e 1920-1922 (MONTEIRO, 1994, p. 603).