Mas, no que tange à temática, os estudiosos concordam que o que transborda de sua
poesia é a leitura do cotidiano, sua capacidade “de transformar as coisas rotineiras em poesia”
(CARVALHAL, 2005, p. 26). Seus temas, de acordo com Figueiredo (1976), abrangem a
mais vasta gama, incluindo:
[...] tempo, relógio, retrato, infância, adolescência, maturidade, nuvem, vento,
movimento, saudade, esperança, morte, eternidade, Deus, espaço finito, cidade,
esquina, rua, casa, bonde, fim de linha, transcendência, janela, lua, barco, sapato,
condicionamento social, amor, amizade, progresso, crítica política, sociedade, tudo
enfim que nas “lentas torturas da expressão” o poeta cantou (FIGUEIREDO, 1976,
p. 96).
Maria da Glória Bordini
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acrescenta que seu universo poético também é muito
próprio e pessoal: “as amadas impossíveis, as ruas e bares, os bairros, os grilos, as lilis, as
marias, as adalgisas, as velhas tias, para não falar naquele vago país de Trebizonda”
(BORDINI, 1997, p. 8). Mas a autora esclarece que ele não se limita à simples representação.
Tais temas estão impregnados de emoção, fazendo com que o leitor pense “no que há de
inconquistável, incomprável e incomparável no tu, esse outro ao qual eu me dirijo, que pode
ser um ser humano, a natureza ou a civilização, tanto faz” (Idem).
Regina Zilberman elucida que, “adentrando no seu mundo interior e investigando a
própria história – da infância à proximidade da morte –, o autor encontra um rico celeiro de
onde retira seus motivos literários mais assiduamente utilizados” (1988, p. 42). Muitos de
seus textos são, por isso, impregnados de suas recordações e vivências, e esse caráter pessoal
torna-se uma das suas marcas.
É o que acontece com o tema da cidade, por exemplo, tão recorrente em sua obra.
Fischer e Fischer (2006) lembram que é possível encontrar poemas, comentários, crônicas e
lembranças da cidade em todos os seus livros, porém, não é a cidade progressista, mas a
cidade pequena, que está morrendo, ou a cidade noturna e solitária, espaço de lembrança do
passado. O tom é, assim, triste e melancólico. Ou romântico, na ótica de Carvalhal, que
acrescenta que essa cidade de Quintana é a volta à infância, a busca de um “paraíso eleito, a
cidade antiga de pequenas ruas sossegadas, dos bondes, um mundo que, preservado em certos
cantos da cidade provinciana, na verdade não existe mais” (2005, p. 18).
Entretanto, apesar de sua aura nostálgica e romântica, quando precisa ser crítico, sua
arma é o humor, segundo Zilberman (1988). É através dessa técnica que ele desafia
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BORDINI, Maria da Glória. Imaginação moderna e intimidade com o leitor. In: SCHMIDT, Simone Pereira;
BARBOSA, Márcia Helena Saldanha. Mario Quintana. Porto Alegre: Unidade Editoral, 1997. p. 7-13.