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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Mestrado em Biologia Celular e Molecular
Encefalopatia Associada a Sepse: Disfunção Comportamental,
Metabólica e Mitocondrial em Modelo de Sepse Abdominal
Renata Carnevale Carneiro Chermont de Miranda
Rio de Janeiro
Setembro de 2010
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Instituto Oswaldo Cruz
Curso de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular
Renata Carnevale Carneiro Chermont de Miranda
Encefalopatia Associada a Sepse: Disfunção Comportamental Metabólica e
Mitocondrial em Modelo de Sepse Abdominal
Orientadores: Prof. Dr. Hugo Caire de Castro Faria Neto
Dr. Fernando Augusto Bozza
Rio de Janeiro
2010
Tese apresentada ao Instituto Oswaldo
Cruz, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Ciências.
4
Instituto Oswaldo Cruz
Curso de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular
Renata Carnevale Carneiro Chermont de Miranda
Encefalopatia Associada a Sepse: Disfunção comportamental metabólica e mitocondrial
em modelo de sepse abdominal
Orientadores: Prof. Dr. Hugo Caire de Castro Faria Neto
Dr. Fernando Augusto Bozza
Data aprovção: 2809/2010
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Milton Osório de Moraes Presidente
Dr. Joari Marques de Miranda
Dr. Otelo Rigato
Rio de Janeiro, 28 de Setembro de 2010
5
ÍNDICE
Página
Lista de abreviaturas
vii
Lista de figuras e tabelas
x
Resumo
Xiii
Abstract
Xiv
1 Introdução
1
1.1 - Definições de sepse
2
1.2 - Epidemiologia da sepse
4
1.3 Fisiopatologia da sepse
8
1.4 Encefalopatia associada a sepse
13
1.5 Modelos experimentais
17
2 Objetivos
20
2.1 Objetivo geral
2.2 Objetivo específico
3 Materiais e métodos
21
3.1 Desenho experimental
21
3.2 Animais
22
3.3 Preparo e injeção de fezes
22
3.4 - Medida da pressão arterial
22
3.5 - Análise de lactato
23
3.6 Análise da celularidade total e diferencial
23
6
3.7 Análise bioquímica
23
3.8 Dosagem de citocinas
24
3.9 Análise microbiológica
24
3.10 Obtenção de fatias de cérebro
24
3.11 - Dano cognitivo
25
3.12 Captação de glicose
25
3.13 Consumo de oxigênio
25
3.14 Substâncias reativas do ácido tiobarbitúrico
26
3.15 Análise estatística
26
4 Resultados
27
4.1 Análise de sobrevida
27
4.2 Análise clínica e metabólica
27
4.3 Análise bioquímica
29
4.4 Dosagem de citocinas
31
4.5 Análise de celularidade total e diferencial
32
4.6 Análise microbiológica
34
4.7 Dano cognitivo
34
4.8 Captação de glicose/ consumo de oxigênio
35
4.9 Avaliação de estresse oxidativo
37
5 Discussão
39
6 Conclusão
49
7 - Referências Bibliográficas
50
Anexo 1: artigo: Early Fluid Ressuscitation in Sepsis: Evidence and Perspectives.
63
7
Lista de abreviaturas:
ACCP/SCCM Colégio Americano de Médicos do Tórax/Sociedade Americana de Medicina Intensiva
(American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine)
ADP adenosina 5´-difosfato
ANOVA analysis of variance
ATP adenosine 5´-trifosfato
bpm batimentos por minuto
BSA Doro de albumina bovina (Bovine Serum Albumine)
CAM - Método de avaliação de delirium (Confusion Assesmente Method)
CASP Peritonite por stent em colon ascendente (Colon Ascendent Stent Peritonitis)
CECAL Centro de Criação de Animais de Laboratório
CLP - ligadura e punção cecal (cecal ligation and puncture)
Cont Controle
CTE - Cadeia Transportadora de Elétrons
DNA ácido desoxirribonucléico
DSM Manual estatístico e de diagnóstico de desordens mentais (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Didordes)
EAS Encefalopatia Associada à Sepse
EEG - Eletroencefalograma
ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay
e-NOS Óxido nítrico sintase endotelial (endotelial Nitric Oxide sintase)
EUA Estados Unidos da América
FADH
2
Dinucleotídeo adenina flavina (Flavine Adenine Dinucleotide)
FCCP - carbonil cianeto p-(trifluorometoxi)fenilhidrazona
FiO2 fração inspirada de oxigênio
HEPES-NAOH 10mM AC 4-(2-hidroxi-etil)-1-piperazina-2-etilsufonico
8
HMGB-1 - high mobility group box 1
ICAM-1 molécula de adesão intercelular 1 (intercellular adhesion molecule-1)
IL interleucina (interleukin)
irpm incursões respiratórias por minuto
LPS lipopolissacarídeos (lipopolysaccharide)
MDA - Malondialdeído
MCP-1 proteína quimiotática para monócito-1 (monocyte chemoattractant protein-1)
MIP-1 proteína inflamatória de macrófago-1(macrophage inflammatory protein-1)
N Normal
NADH Dinucleotídeo adenina nicotinamida (Nicotinamide Adenine Dinucleotide)
NFkB - fator nuclear-kB (nuclear factor-κB)
NK natural killer (célula)
NO Óxido nítrico (Nitric Oxide)
O
2
- oxigênio
O
2
·
- ânion superóxido
PAMP Padrões moleculares associados a microorganismos (Pathogen Associated Molecular
Pattern)
PCRt - proteína C reativa titulada
PRR Receptores de reconhecimento de padrão (Pattern Recognition Receptors)
RNAm Ácido Ribonucleico mensageiro
RNM Ressonância Magnética
ROS Espécies reativas de oxigênio (Reactive Oxigen Species)
RPM Rotações Por Minuto
SARA Síndrome de Angustia Respiratória Aguda
SDOM - Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla
SIRS Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica (systemic inflammatory response
syndrome)
9
SNC Sistema Nervoso Central
SOFA Avaliação de Disfunção Orgânica relacionada à Sepse (Sepsis-related Organ Failure
Assessment)
sTREM-1 - receptor solúvel de desencadeamento expresso em células mieloides (Soluble
Triggering Receptor Expressed on Myeloid Cells)
TBARS Substância reativas do ácido tiobarbitúrico (Thiobarbituric Acid Reactive
Sustances)
TF - fator tecidual (Tissue Factor)
TFPI Inibidor da via do fator tecidual (Tissue Factor Pathway Inhibitor)
TGO Transaminase Glutâmico-Oxalacética
TGP Alanina Aminotransferase
TLR receptor tipo Toll (Toll-like receptor)
TNF - fator de necrose tumoral (tumor necrosis factor)
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
6- NBDG 6-[N-(7-nitrobens-2-oxa-1,3-diazol-4-yl)-6-amino]
10
Lista de Figuras e Tabelas:
Tabela e Figuras
Página
Tabela 1.1: SOFA: avaliação da disfunção orgânica múltipla por sistema de pontos
3
Tabela1.2: Mortalidade hospitalar comparativa entre diferentes estudos epidemiológicos
referentes à sepse, sepse grave e choque séptico.
6
Figura 1.1: Representação esquemática da cadeia respiratória mitocondrial
12
Figura 1.2: Interaçoes sistemicas na fisiopatologia da disfunção orgânica múltipla
13
Figura 1.3: Fatores envolvidos na fisiopatologia da encefalopatia associada a sepse
17
Figura 3.1: Desenho experimental
21
Figura 4.1: Análise de sobrevida
27
Figura 4.2: Medida da pressão arterial sistólica em animais sépticos
28
Figura 4.3: Dosagem de lactato sérico
29
Figura 4.4: Avaliação da disfunção renal em animais sépticos
30
Figura 4.5: Avaliação da disfunção hepática em animais sépticos
30
Figura 4.6: Concentração de citocinas no plasma de animais sépticos
31
Figura 4.7: Concentração de citocinas no líquido peritoneal de animais sépticos
32
Figura 4.8: Avaliação da celularidade total e diferencial no sangue de animais sépticos
33
Figura 4.9: Avaliação de celularidade total e diferencial no líquido peritoneal de animais
sépticos
34
Figura 4.10: Dano cognitivo em animais que sobreviveram a sepse
35
Figura 4.11: Captação de glicose no cérebro de animais sépticos
36
Figura 4.12: Consumo de oxigênio no córtex cerebral
37
Figura 4.13: Produção de estresse oxidativo em diferentes estruturas cerebrais de animais
sépticos
38
11
Figura 5.1: Esquema da fisiopatologia da encefalopatia associada à sepse
47
12
Agradecimentos
Aos meus orientadores Fernando Bozza e Hugo Caire que me ensinaram muito e foram grandes
amigos durante a elaboração desta tese.
A Rose Branco e Daniele Lobato pela boa vontade sempre.
Aos colegas do laboratório de Imunofarmacologia e de Bioquímica que souberam entender as
minhas limitações e cooperaram de maneira fundamental para esta tese. Gostaria de destacar o
Rodrigo Amâncio, André Japiassu, Rachel Novaes, Patrícia Reis e Marcus Oliveira.
Aos meus sogros pelo carinho e respeito.
Aos meus amigos pela compreensão nos momentos mais difíceis.
Aos meus pais por terem me dado a oportunidade de chegar até aqui.
Ao meu irmão por me mostrar sempre um lado diferente da vida.
Ao meu marido, Lula, pelo amor e apoio incondicionais.
A Deus por ter colocado todas essas pessoas na minha vida.
13
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Encefalopatia Associada a Sepse: Disfunção Comportamental, Metabólica e Mitocondrial
em Modelo de Sepse Abdominal
Resumo
A sepse e síndrome de disfunção orgânica múltipla representam um problema clínico de alta
relevância, principalmente devido a sua grande incidência em pacientes críticos e aos seus altos
índices de mortalidade. Apesar de medidas terapêuticas terem sido capazes de diminuir a
mortalidade, observamos que muitos sobreviventes a sepse não são capazes de retomar suas
atividades usuais. Estudos experimentais em animais são uma ferramenta importante para o estudo
da fisiopatologia e da terapêutica da sepse. A encefalopatia associada à sepse (EAS) é muitas vezes a
primeira disfunção orgânica a se manifestar. Clinicamente pode se apresentar como sonolência,
agitação, delirium e coma. A presença da EAS está associado a maior mortalidade e pior prognóstico.
Muitos pacientes apresentam dano cognitivo a médio e longo prazo que pode ser irreversível.
Neste trabalho, padronizamos o modelo de injeção de fezes intraperitoneal em
camundongos Swiss para facilitar o estudo da EAS. No modelo utilizado podemos caracterizar o
choque com queda da pressão arterial 6 e 24h após a indução da sepse, disfunção metabólica
caracterizada pelo aumento de lactato, disfunção hepática e renal com aumento de uréia, creatinina,
TGO e TGP em 24h. A resposta inflamatória foi caracterizada pelo aumento de citocinas plasmáticas
e no líquido peritoneal. IL-6 e MIP-aumentaram em 6h e 24h tanto no plasma quanto no líquido
peritoneal. IL-1β, citocina de liberação precoce, teve aumento no plasma nas primeiras 6h.
Leucócitos totais, mononucleares e neutrófilos diminuíram no plasma nas primeiras 6h com
tendência a recuperação em 24h. No líquido peritoneal um aumento na contagem de leucócitos,
mononucleares e neutrófilos mais evidente em 24h. Dano cognitivo foi verificado em animais
sobreviventes após 10 dias do insulto da sepse. Observamos aumento no consumo de oxigênio pelo
córtex cerebral em 6h e seguido de queda em 24h. Houve aumento na captação de glicose pelo
cérebro tanto em 6h e 24h. Aumento no dano oxidativo foi verificado a partir do aumento de TBARS
em 6h nas regiões pré frontal, estriado, córtex e cerebelo.
Concluímos que o modelo de injeção de fezes intraperitoneal é capaz de reproduzir a sepse
clínica nos aspectos inflamatórios e de disfunção orgânica. O modelo também foi capaz de reproduzir
a EAS com dano cognitivo, alterações no consumo de oxigênio pela mitocôndria, no metabolismo da
glicose e de estresse oxidativo no cérebro. Mudanças no metabolismo energético, associado a
aumento no consumo de glicose pelo córtex cerebral, além da resposta inflamatória propiciaram o
estresse oxidativo. O conjunto de alterações observadas pode justificar o desenvolvimento de dano
cognitivo persistente observado tanto neste modelo quanto na clínica.
14
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Sepsis associated encephalopathy: behavioral, metabolic and mitichondrial dysfunction in
a model of abdominal sepsis
Abstract
Sepsis and multiple organ dysfunction syndrome represent a clinical problem of great
importance, mainly due to its high incidence in critical patients and its high mortality. Although
therapeutic measures have been able to reduce mortality, many sepsis survivors are not able to
regain their usual activities. Experimental trials in animals are an important tool to study the
pathophysiology and the treatment of sepsis. The sepsis associated encephalopathy is often the first
organ dysfunction to arise. Clinically it may present as drowsiness, agitation, delirium and coma. The
presence of sepsis associated encephalopathy is associated with increased mortality and worse
prognosis. Many patients persist with cognitive impairment that may be irreversible.
In this study, we established a model of abdominal sepsis in mice that facilitates the
study of sepsis associated encephalopathy. From this model we detected cognitive impairment on
the animals that survived sepsis, and acute changes related to sepsis associated encephalopathy as
mitochondrial dysfunction, metabolic changes and oxidative damage. This model is characterized by
the drop of blood pressure 6 and 24h after induction of sepsis, increased blood lactate and increased
urea, creatinine, AST and ALT at 24 hours. Inflamation was characterized by increased inflammatory
cytokines in plasma and peritoneal fluid. IL-6 and MIP-1α increased at 6h and 24h in both plasma and
peritoneal fluid. IL-1β, an early release cytokine, was increased in plasma on the first 6h. Total
leukocytes, mononuclear cells and neutrophils decreased in plasma during the first 6 hours with a
tendency to recovery at 24 hours. Peritoneal fluid leukocytes, mononuclear cells and neutrophils
increased markebly at 24h. We observed an increase in oxygen consumption by cerebral cortex in 6 h
and then decreased at 24 hours. There was an increase in glucose uptake by the brain in both 6h and
24h. Oxidative damage was assessed by the increase of TBARS in 6h at the pre frontal regions,
nucleus striatum, cortex and cerebellum. Cognitive impairment was observed in animals that
survived 10 days after the insult of sepsis.
We conclude that this model was able to reproduce inflammatory aspects and organ
dysfunction observed in sepsis. The model was also able to reproduce sepsis associated
encephalopathy and changes in cognitive damage, oxygen consumption, glucose metabolism and
oxidative damage. Bioenergetic damage associated with high glucose uptake and inflammatory
response leaded to oxidative damage. These acute changes may be responsible for the cognitive
damage observed at this model and on clinical practice.
15
1. INTRODUÇÃO
Sepse e síndrome de disfunção orgânica múltipla (SDOM) são as principais causas de
morte em terapia intensiva (Martin e cols., 2003). O tratamento atual para a sepse e suas
conseqüências se baseia em recomendações de controle da infecção, otimização
hemodinâmica e terapias de suporte (Dellinger e cols.; 2004), e a implementação destas
medidas foram capazes de diminuir a mortalidade da sepse. Mesmo assim, o número absoluto
de mortes por sepse vem aumentando que a incidência da sepse é crescente (Vincent e
cols.; 2006). Adicionalmente, passamos a observar que esse aumento na sobrevida nem
sempre se reflete em qualidade de vida e muitos pacientes não são capazes de retomar suas
atividades usuais após o período de internação na terapia intensiva (Hopkins e cols.; 2006).
Cerca de 70% dos pacientes sépticos desenvolvem algum grau de disfunção cerebral
aguda. No longo prazo esses pacientes podem apresentar déficit de memória e até mesmo
evolução para demência (Hopkins e cols.; 2006). A encefalopatia parece estar relacionada a
um processo de inflamação cerebral, sem evidência de infecção local, que pode se manifestar
como distúrbio de atenção, desorientação, delirium, sonolência até coma (Lacobone e cols.;
2009). Muitas vezes a avaliação clínica desses pacientes encontra-se prejudicada devido ao
uso disseminado de sedação no ambiente de terapia intensiva.
O conhecimento da fisiopatologia da encefalopatia associada à sepse (EAS) ainda é
bastante limitado. O desenvolvimento de novos modelos experimentais que sejam
clinicamente relevantes e reproduzam o acometimento cerebral da sepse em humanos podem
ajudar no esclarecimento dos mecanismos envolvidos. O cérebro pode ser afetado pela
resposta inflamatória sistêmica de diferentes formas. A quebra da barreira hematoencefálica
pode ser um dos mecanismos centrais que favorecem a neuroinflamação na sepse. A quebra
dessa barreira física permite que substâncias neurotóxicas extravasem para o parênquima
cerebral. geração de citocinas locais, alterações de microcirculação e desequilíbrio de
neurotransmissores (Lucas e cols.; 2006).
Esta tese propõe a padronizar um modelo experimental de sepse polimicrobiana em
murinos que dispensa o uso de drogas neurotóxicas como anestésicos, e está associada a
evolução para disfunção orgânica múltipla. Com esse modelo pretendemos caracterizar os
mecanismos envolvidos na fisiopatologia da EAS. Neste estudo focamos no dano cognitivo
presente em animais que sobreviveram a sepse, e em alterações agudas no tecido cerebral
como disfunção mitocondrial, metabólica e estresse oxidativo.
1.1 Sepse - definições
16
As primeiras definições de sepse vêm provavelmente dos gregos antigos que usavam
os termos “carne podre” ou putrefação. Em 1680 ocorreram as primeiras descrições de
bactérias, ou animalcules, feita por Leeuwenhoek, porém a associação de bactéria com
processo infeccioso ocorreu 200 anos depois com Pasteur. Em 1914, Schottmueller relatou
que a liberação de microorganismos patogênicos na corrente sanguínea era responsável por
sinais e sintomas sistêmicos propondo pela primeira vez o conceito mais moderno de sepse
(Vincent e col.; 2006)
Desde então, diversas terminologias como sepse, septicemia e síndrome séptica foram
utilizadas para descrever a sepse. A fim de uniformizar a terminologia relacionada à sepse, em
1991, membros da ACCP/SCCM se reuniram para estabelecer uma definição conceitual e
clínica da síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e sepse. O uso dessas
definições visa ajudar clínicos e pesquisadores que trabalham com sepse. A padronização cria
critérios específicos para o diagnóstico, estratifica quanto à gravidade e permite a inclusão e
análise de pacientes em ensaios clínicos.
A SIRS ocorre devido a uma grande variedade de insultos clínicos como pancreatite,
trauma, grande queimado e infecção. Seu diagnóstico é estabelecido quando dois dos
seguintes critérios estão presentes:
Temperatura >38
C ou <36
C.
Freqüência cardíaca >90bpm
Freqüência respiratória >20irpm ou PaCO
2
<32
Leucócitos>12000 ou <4000cels/mm
3
ou >10% de bastões
Quando a SIRS ocorre devido a uma infecção, temos o diagnóstico de sepse.
Sepse associada à disfunção orgânica e sinais de hipoperfusão caracteriza a sepse
severa.
O choque séptico é a hipotensão associada à sepse que não responde a reposição
volêmica adequada (Members of the American College of Chest Physicians e cols.,1992).
A síndrome de disfunção orgânica múltipla (SDOM) caracteriza-se pela falha
seqüencial de órgãos e sistemas não necessariamente envolvidos no foco primário da
infecção. A resposta inflamatória sistêmica na sepse gera mediadores que juntos com o
estado de hipoperfusão e hipercoagulabilidade podem produzir danos em todo o organismo.
Uma das primeiras disfunções observadas é a cerebral, com confusão mental, delirium e até
coma. Hipotensão, insuficiência respiratória, renal, metabólica e hepática são alguns outros
exemplos. A disfunção orgânica pode ser caracterizada por uma escala de pontuação, para
avaliação de disfunção orgânica relacionada à sepse (SOFA) (tabela 1.1) (Vincent e cols.,
17
1996). Nesta, as principais disfunções orgânicas são pontuadas de acordo com a gravidade.
Pontuações mais altas estão relacionadas ao pior prognóstico.
Tabela 1.1: SOFA, avaliação da disfunção orgânica múltipla por sistemas de postos
SISTEMAS
1 ponto
2 pontos
3 pontos
4 pontos
Respiratório
PO
2
/FIO
2
<400
<300
<200
< 100
Neurológico
Glasgow 13-14
Glasgow 10-12
Glasgow 6-9
Glasgow <6
Cardiovascular
Pressão arterial
média
<70mmHg
Uso de
dopamina ou
dobutamina
Noradrenalina
<0,1
mcg/kg/min
Noradrenalia
>0,1
mcg/kg/min
Hepático
Bilirrubina 1,2-
1,9mg/dl
Bilirrubina 2,0
5,9mg/dl
Bilirrubina 6,0
11,9mg/dl
Bilirrubina
>12mg/dl
Coagulação
Plaquetas
<150000/mm
3
Plaquetas
<100000/ mm
3
Plaquetas
<50000/ mm
3
Plaquetas
<20000/ mm
3
Renal
Creatinina
1,2 1,9mg/dl
2,0 3,4mg/dl
3,5 4,9mg/dl
>5mg/dl
Apesar de alta sensibilidade, as definições de 1991 são pouco específicas e por isso
alvo de críticas. Estudos mais recentes relacionam marcadores biológicos com diagnóstico e
prognóstico da sepse. Alguns exemplos são os marcadores de superfície de leucócitos,
interleucinas (IL), fator de necrose tumoral α (TNFα), proteína C reativa (PCRt),
procalcitonina, sTREM-1 (receptor solúvel de desencadeamento expresso em células
mieloides) entre outros (Lever e cols., 2007). Desses, a procalcitonina é o que apresenta maior
sensibilidade e especificidade para detectar sepse (Gerlach e cols., 2004).
Diante desses dados uma nova conferência foi realizada em 2001 para rever as
definições e critérios de sepse de dez anos atrás (Levy e cols., 2003). Nesse momento a
inclusão de biomarcadores no diagnóstico da sepse foi discutida. Após ampla revisão da
literatura, o grupo achou que essa medida ainda não seria adequada e as definições originais
se mantiveram apesar das críticas. Porém, o grupo sugere um sistema de classificação baseado
na Predisposição, Insulto infeccioso, Resposta do hospedeiro e disfunção Orgânica ou PIRO.
Neste novo sistema, a predisposição avalia patologias associadas que podem ter impacto na
sepse modificando o processo da doença e a sua terapia, como a imunossupressão ou
polimorfismos genéticos em componentes da resposta inflamatória. O insulto Infeccioso
18
identifica bactérias e outros patógenos assim como o sítio de infecção, além de produtos
microbianos como LPS e DNA bacteriano. A resposta refere a marcadores de resposta do
hospedeiro que podem ser clínico como choque ou laboratorial como PCR, IL6 e
procalcitonina. Por fim, a disfunção orgânica identifica a presença de alterações funcionais
em órgãos através de scores como o SOFA, ou por resposta celular ao insulto, como apoptose
e stress celular.
Alguns desses critérios sugeridos no PIRO não estão disponíveis na prática clínica da
maioria dos centros de terapia intensiva. O diagnóstico à beira do leito deve priorizar critérios
simples, de alta sensibilidade, prejudicando o menos possível a especificidade. Os critérios
não devem deixar dúvida uma vez que a abordagem precoce da sepse pode mudar o
prognóstico do paciente (Levy e cols.; 2003).
1.2 Epidemiologia
A sepse é a principal causa de morte em unidades de terapia intensiva. Anualmente,
nos Estados Unidos (EUA) 750.000 pessoas m sepse e desses 210.000 morrem. A idade
média dos pacientes sépticos é de 60 anos e vem aumentando à medida que a população
envelhece. Sepse tende a ocorrer mais tardiamente em mulheres. (Martin e cols., 2003). A
mortalidade permanece alta apesar de avanços em suporte e tratamento desses pacientes
tornando a sepse um problema de saúde pública.
A mortalidade da sepse aumenta progressivamente com a idade, sendo de 10% em
crianças e chegando a 38,4% nos pacientes com mais de 85 anos. Esse número pode ser maior
dependendo das comorbidades do paciente. A mortalidade é progressiva de SIRS, sepse, sepse
grave e choque séptico: 7%, 16%, 20% e 46% respectivamente (Rangel-Frausto e cols, 1995).
Nos EUA o tempo médio de permanência hospitalar do paciente séptico é de 19,6 dias e o
custo médio de U$ 22.000,00. O tempo de permanência não é muito diferente entre
sobreviventes e não sobreviventes, porém os não sobreviventes estão associados a um maior
custo. O mesmo ocorre em pacientes com número maior de disfunção orgânica. O tempo de
permanência é parecido, porém o custo sobe de U$ 19.500,00 para aqueles pacientes com uma
disfunção para U$32.800,00 para aqueles pacientes com 4 ou mais disfunções orgânicas
(Angus e cols.; 2001).
As diferenças de mortalidade por sepse grave de estudos ao redor do mundo estão
representadas na Tabela 1.2. Na França, a mortalidade da sepse é de 35% em 30 dias e de
41,9% em dois meses. 14% dos pacientes admitidos em terapia intensiva preenchem critérios
para sepse grave ou choque séptico (Brun-Buisson e cols., 2004). No Reino Unido, 46% das
diárias de Terapia Intensiva são utilizadas por pacientes sépticos (Blanco e cols, 2008). Na
19
Espanha a mortalidade da sepse grave pode atingir 54% (Blanco e cols., 2008). A incidência
de sepse grave na Alemanha é de 76 a 110 casos por 100.000 habitantes e a mortalidade é de
55% (Engel e cols., 2007).
No período de 2004 a 2007 estudos prospectivos foram publicados mostrando dados
referentes ao Brasil. O primeiro deles, BASES (Silva e cols., 2004), a idade média dos
pacientes era de 65,2 anos. Dos 884 pacientes que permaneceram internados por mais de 24
horas, 241 (27,3%) desenvolveram sepse grave e 203 (23%) desenvolveram choque séptico. A
mortalidade foi de 47,3% e 52,2% respectivamente.
O Sepse Brazil (Sale e cols., 2006) reuniu 3128 pacientes sépticos em 65 hospitais. A
mortalidade em 28 dias foi se 46,6% chegando a 65,3% no choque séptico. A mortalidade foi
maior em hospitais do Norte, nordeste e centro-oeste. O estudo Progess (Beale e cols.,2003)
envolveu 36 países. Sete Unidades de Tratamento Intensiva (UTI) brasileiras foram incluídas.
A mortalidade no Brasil foi de 56%, ficando muito acima dos países desenvolvidos (30%) e
de outros países em desenvolvimento (45%).
Mais recentemente o estudo COSTS (Sogayar e cols., 2008) incluiu 21 Unidades de
Terapia Intensiva brasileiras. A mortalidade foi de 44,3% e o custo global de U$ 10.595,00. O
custo diário desses pacientes é de U$1.028,00 e esses custos não diferem muito entre
instituições públicas e particulares.
Em 2002, a Sociedade Européia de Terapia Intensiva, o Forum Internacional de Sepse
e a Sociedade de Medicina Intensiva, na esperança de melhorar o tratamento do paciente
séptico, se reuniram para forma a Campanha Sobrevivendo a Sepse (Dellinger e cols., 2004).
Usando dados de medicina baseada em evidência, elaboraram um guia de recomendações para
o tratamento da sepse. A implementação e divulgação de protocolos baseados nas
recomendações é parte essencial da campanha. De 2005 a 2008 hospitais em todo mundo
foram analisados quanto à utilização desses protocolos e resultados. 15022 pacientes de 165
hospitais foram incluídos. A mortalidade caiu de 37% para 30,8% com a implementação da
campanha. Esta diminuição está diretamente relacionada às taxas de adesão de cada unidade
(Mitchel e cols., 2010).
Apesar do avanço que a implementação de protocolos pode representar para a questão
de mortalidade na sepse, a qualidade de vida após a sepse não parece ser afetada de maneira
significativa, uma vez que muitos pacientes sobreviventes não são capazes de retomar as suas
atividades usuais. Cerca de um terço dos pacientes em terapia intensiva desenvolve dano
cognitivo a longo prazo que pode ser irreversível. 35% permanecem com dificuldade de
exercer tarefas funcionais como planejamento e capacidade de tomar de decisões 9 meses
após a alta da unidade de terapia intensiva (Hopkins e cols.; 2009)
20
Tabela 1.2: Mortalidade hospitalar comparativa entre diferentes estudos epidemiológicos
referentes à sepse, sepse grave e choque séptico.
Autor Principal
Ano
N pacientes
País
Mortalidade
Sepse
Sepse Grave
Choque
Séptico
Greenman
1991
226
EUA
41%
Ziegler
1991
543
EUA
43%
Rangel-Frausto
1995
467
EUA
16%
20%
46%
Brun-Buisson
1995
1052
França
-
56%
71%
Salvo
1995
67
Itália
36%
52%
81,8%
Sands
1997
1342
EUA
34%
Angus
2001
192980
EUA
28,6%
Alberti#
2002
3239
Europa
17-50%
25,5-56,3%
45,7-66,8%
Martin*
2003
4068819
EUA
17,9%
Annane
2003
8251
França
-
-
61,2%
Padkin
2003
15362
Reino Unido
47,3%
Brun-Buisson
2004
546
França
-
41,9%
-
Finfer
2004
691
Anzics
1
-
37,5%
-
Silva
2004
241
Brasil
33,9%
46,9%
52,2%
Flaatten
2004
6665
Noruega
13,5%
27%
29,3%
Sundararajan
2005
33741
Austrália
10,2%
31,1%
-
Adrie
2005
713
França
-
39%
-
21
Tanriover
2005
63
Turquia
-
87,3%
-
Záhorec
2005
124
Rep.
Eslovaca
-
51,2%
-
Sales Júnior
2006
521
Brasil
16,7%
34,4%
65,3%
Cheng
2007
318
China
-
48,7%
-
Engel
2007
415
Alemanha
-
55,2%
-
Moreno†
2008
2052
Global
35,4%
44,9%
52,5%
Ballester
2008
33767
Espanha
-
42,5%
-
Blanco
2008
311
Espanha
-
54,3%
-
Rezende
2008
342
Brasil
-
64%
-
PROGRESS
2009
12570
Global
-
49,6%
-
PROGRESS ††
2009
969
Brasil
-
67,4%
-
Kwannimit
2009
390
Tailândia
-
21,8%
44,2%
Levy
2010
15022
Global
-
30,8%
-
Castellanos
2010
384
Espanha
-
-
37,5%
Total
91-
2010
4393558
-
19%
-
Excluindo-se
Martin 2003
91-
2009
324739 ‡
32,9%‡
Estudos
brasileiros
2004-
09
2073 ‡‡
59,1% ‡‡
1
Anzics - Australian and New Zealand Intensive Care Society; EUA Estados Unidos da
América; PROGRESS - Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis; # -
mortalidade foi classificada de acordo com presença ou ausência de infecções adquiridas na
enfermaria e na UTI; * - correspondente ao ultimo período de observação do estudo (1995-
2000); - parte do estudo multicêntrico SAPS 3; †† - parte do estudo multicêntrico
22
PROGRESS, com dados do desfecho de pacientes sépticos oriundos do Brasil; - Taxa
calculada excetuando o estudo de Martin e cols., 2003; ‡‡ - Taxa calculada apenas com
estudos brasileiros.
1.3 Fisiopatologia da Sepse
1.3.1 Resposta Inflamatória
A resposta do hospedeiro na sepse começa com receptores de reconhecimento
de padrão (PRR) que podem ser de três famílias: 1) receptores Toll Like (TLR); 2) proteínas
repetidoras de domínio de oligomerização de nucleotídeo rico em leucina (NOD-LRR); 3)
ativadores de caspase. Padrões moleculares associados a microorganismos (PAMP) se ligam
aos PRRs que também são capazes de reconhecer sinalizadores endógenos como proteínas de
choque térmico, fibrinogênio, fibronectina, HMGB-1 entre outros (Cinal e cols., 2009).
Receptores TLR induzem uma cascata de sinalização intracelular e ativação de fatores
de transcrição como o fator nuclear Кβ (NFКβ) que migra do citoplasma para dentro do
núcleo, se liga a sítios de transcrição e ativa genes responsáveis pela síntese de proteínas de
fase aguda, óxido nítrico (NO), fatores de coagulação e citocinas. Dentre as citocinas
envolvidas na sepse, TNF-α e IL-1β são as mais precocemente liberadas. São responsáveis
pelo aumento da expressão de moléculas de adesão, que vão resultar em migração celular para
os tecidos e estimulam a produção de IL-6 e IL-10 (Thijs e cols., 1995). A IL-6 é capaz de
ativar o gene da molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1) em células endoteliais
favorecendo a migração de neutrófilos além de inibir a apoptose de neutrófilos aumentando a
sua sobrevida e colaborando assim para o processo inflamatório (Taneja e cols., 2004).
IL-6 aumenta dois a três dias após o início da sepse e pode ser usado como preditor de
SDOM e mortalidade hospitalar. (Pinsky e cols., 1993; Bernard e cols., 2001; Frink e cols.,
2009). Não sobreviventes têm IL-6 mais elevada do que os sobreviventes (Oda e cols., 2005)
e pacientes com pneumonia comunitária grave que tiveram alta hospitalar ainda com níveis
elevados de IL-6 apresentam menor sobrevida em um ano (Yende e cols., 2008).
As caspases têm função de citocina pró inflamatória, facilitando a eliminação de
microorganismo e a produção de espécies reativas de oxigênio. São importantes no processo
de apoptose, regulação celular e inflamação. Um dos seus principais alvos é a enzima DNAse
ativada por caspase que é responsável pela fragmentação do DNA na morte celular
programada (Cinel e cols.; 2009).
Proteína inflamatória de macrófago (MIP-1α) é uma quimiocina pró inflamatória
que aumenta a quimiotaxia de leucócitos. É capaz também de inibir a proliferação de células
hematopoiéticas. Animais nocaute para MIP-têm resposta inflamatória ao vírus influenza
23
reduzida e se tornam resistentes a miocardite induzida pelo coxsackievirus que ocorre por
mecanismo autoimune (Opal e cols., 1998).
Dentre as citocinas antiinflamatórias, IL-10 desempenha papel fundamental. É
produzida por células B, linfócitos T, macrófagos, monócitos, neutrófilos e células epiteliais.
Liga-se diretamente a receptores celulares e inibe a ativação do NFКβ e conseqüentemente a
produção de citocinas pró inflamatórias e óxido nítrico (Opal e cols., 1998). IL-10 é capaz de
desativar macrófagos, impede quimiotaxia e degranulação de neutrófilos e contrapõe o
aumento de sobrevida de neutrófilos induzidos por outras citocinas.
Diversas outras citocinas pró e antiinflamatórias são liberadas na sepse e o
desequilíbrio entre elas favorece a inflamação com migração e adesão de neutrófilos e
monócitos, ativação de macrófagos e alteração da permeabilidade vascular, disfunção
endotelial, além de vasodilatação arteriolar.
1.3.2 Coagulação
Existem inúmeras evidências que correlacionam inflamação e coagulação. Inflamação
sistêmica é capaz de iniciar a cascata de coagulação, assim como a coagulação é capaz de
perpetuar o estado pró inflamatório. A disfunção endotelial está intimamente relacionada com
a agregação plaquetária e formação de microtrombos (Levi e cols., 2010). Além de atividade
procoagulante exagerada, durante a sepse, vias anticoagulantes encontram-se deficientes. A
atividade procoagulante costuma ser regulada por três vias fisiológicas aniticoagulantes:
antitrombina, proteína C e inibidor da via do fator tecidual (TFPI). Na sepse essas três vias
estão deficientes, favorecendo o estado pró-coagulante. Níveis de antitrombina encontram-se
baixos pela diminuição na síntese e aumento na degradação. A via da proteína C encontra-se
deficiente desde a síntese, passando pela sua ativação, ligação com a proteína S, até a
regulação negativa de seus receptores. O papel do TFPI na sepse ainda não foi bem
esclarecido, mas a sua administração no estado recombinante bloqueia a produção de
trombina induzida pela inflamação. Além disso, a fibrinólise, durante o processo
inflamatório, encontra-se completamente deficiente, não é capaz de remover a fibrina e
favorece a trombose microvascular (Gando e cols., 2010).
1.3.3 Alterações no metabolismo energético na inflamação
O conjunto de alterações inflamatórias e trombóticas na microcirculação leva a uma
limitação na oferta de oxigênio (O
2
) principalmente na fase aguda da sepse. Neste momento,
24
medidas que aumentem a oferta de O
2
para os tecidos parecem ser muito eficientes em
diminuir a resposta inflamatória exagerada na sepse (Rivers e cols., 2007). Após a fase aguda,
o aumento na oferta de O
2
não é vantajoso e o que se observa é uma queda a na utilização de
O
2
a nível celular, conhecido como hipóxia citopática (Fink; 2001). Uma vez que a maior
parte da utilização de oxigênio celular ocorre em uma organela particular chamada
mitocôndria, parece bastante plausível que as alterações na tensão de oxigênio observadas na
sepse sejam decorrentes de alterações funcionais nesta organela.
A mitocôndria desempenha um papel central na homeostase energética e redox
celular, uma vez que é responsável pela produção de pelo menos 90% do ATP celular
(Saraste; 1999) e de uma quantidade significativa de espécies reativas de oxigênio (ROS)
(Halliwell; 2006). A produção de ATP por esta organela se dá por um processo que envolve a
utilização de O
2
e é conhecido como fosforilação oxidativa. Neste processo, os elétrons
oriundos do metabolismo de nutrientes reduzidos, são encaminhados até os complexos da
cadeia transportadora de elétrons (CTE) tendo como destino final o oxigênio. Ao longo deste
transporte, a energia dos elétrons é utilizada para a formação de um gradiente eletroquímico
de prótons através da membrana interna mitocondrial. A síntese do ATP é mediada por um
complexo proteico localizado na membrana interna mitocondrial, chamado ATP sintase, e que
utiliza a energia do gradiente eletroquímico na produção e liberação do ATP da enzima. Uma
representação esquemática deste processo é mostrada na figura 1.1 (Harrois e cols.; 2009).
A glicólise representa uma das vias metabólicas centrais no metabolismo energético
celular uma vez que fornece poder redutor para a fosforilação oxidativa. Esta via metabólica é
praticamente universal. A glicólise compreende um conjunto de 11 reações envolvidas na
transformação de glicose em piruvato. De forma geral, as reações catalisadas pelas enzimas da
glicólise envolvem a conversão do esqueleto carbônico da glicose em duas trioses e
paralelamente, a produção de 2 moléculas de NADH, e quatro moléculas de ATP. No entanto,
como as primeiras reações desta via são termodinamicamente desfavoráveis, a necessidade
de se utilizar duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose metabolizada. Assim, o
saldo energético final desta via é de 2 moléculas de ATP para cada mol de glicose, um saldo
bem menor comparado à oxidação completa da glicose pela fosforilação oxidativa (que pode
produzir 34 ATPs/mol de glicose). Assim, esta via é considerada de baixa eficiência do ponto
de vista energético, mas tem a vantagem de poder ocorrer em condições desfavoráveis, como
por exemplo em hipóxia ou anóxia além do fato de produzir ATP mais rapidamente do que a
fosforilação oxidativa. Na ausência de oxigênio, o piruvato é convertido, através da reação
catalisada pela lactato desidrogenase, em lactato. Na presença de O
2
, o piruvato é
completamente oxidado e descarboxilado na mitocôndria em CO
2
, NADH e FADH2 através
25
das reações do ciclo de Krebs. As moléculas de NADH e FADH
2
são posteriormente
oxidadas, transferindo seus elétrons para os complexos da CTE mitocondrial. Em situações
de hipóxia/anóxia, que implicam numa redução significativa da fosforilação oxidativa, os
níveis celulares de ATP não são significativamente alterados em alguns tecidos já que a
metabolização da glicose através da fermentação é aumentada (Mayes e col.; 2003).
TNF-α e NO são capazes de inibir o carreamento de elétrons na cadeia respiratória.
Quando a concentração de O
2
encontra-se baixa o NO se liga de forma reversível a cadeia
respiratória mitocondrial. Quando em concentrações mais altas, o ON é capaz de se ligar ao
ânion superóxido (O
2
·
), ambos abundantes na sepse, formando peroxinitrito (ONOO
-
).
Peroxinitrito reage com a maioria dos componentes da cadeia transportadora de elétrons.
Além disso, peroxinitrito aumenta a permeabilidade na membrana mitocondrial externa e
consequentemente, a permeabilização da membrana interna, levando a dissipação do potencial
de membrana e interrupção da transferência de elétrons (Horrois e cols., 2009).
Mudanças na estrutura da mitocôndria também são observadas durante a sepse. Há
perda na estrutura da membrana e inchamento da mitocôndria (Singer e cols., 2007). Crouser
e colaboradores (2002) foram capazes de mostrar uma correlação direta entre a severidade no
acometimento da estrutura da mitocôndria e a magnitude de disfunção na respiração
mitocondrial. Genes que codificam as enzimas da cadeia respiratória mitocondrial
encontram-se pouco expressos na sepse (Singer e cols.,2007).
Figura 1.1: Representação esquemática da cadeia respiratória mitocondrial. I, II, III e
IV são complexos I, II, III e IV da cadeia respiratória mitocondrial. β-oxidação e o ciclo de
Krebs produzem NADH e FADH que doam elétron para o complexo I e II respectivamente. O
26
Eletro transita para o complexo III e IV e gera um gradiente de prótons pela membrana
interna. O gradiente de próton é transformado em ATP no complexo V (ATP sintase)
Acylcoa, acyl coenzima A; FAD, dinucleotídeo flavina adenina (forma oxidada); FADH,
flavina adenina forma reduzida); LDH, desidrogenase lática; NAD, dinucleotídeo adenina
nicotina (forma oxidada; NADH, nicotina adenina (forma reduzida) (Harrois e cols.; 2009).
Pode-se concluir que após todas as alterações descritas, a produção de ATP pela
mitocôndria durante a sepse pode estar diminuída. A utilização de O
2
para produção de ATP
por mitocôndrias do rim e cérebro diminui após 24h da indução de sepse (Mela e cols., 1983).
Em modelo de sepse em rato, foi possível observar aumento na fosforilação nas primeiras 6h
seguido de queda já em 18h (Ohtoshi e cols., 1984). O efeito do tempo de infecção na
capacidade oxidativa da mitocôndria, também foi demonstrado através de ressonância por
espectroscopia (Mizobata e cols.,1995). Rosser e colaboradores (1998) demonstraram um
aumento máximo no consumo de O
2
por hepatócitos expostos a endotoxinas em 6h e
depressão significativa desse consumo em 24h.
1.3.4 Disfunção orgânica múltipla
A maneira como as alterações agudas da sepse levam a SDOM não está
completamente esclarecida. Um esquema fisiopatológico foi proposto na figura 1.2. O
metabolismo energético celular e o sistema de oferta e demanda de ATP está diretamente
envolvido (Carré e col.; 2008). Como não evidência de morte celular nos órgãos
acometidos pela sepse (Hotchkiss e cols.; 1999) acredita-se que a célula seja capaz de adaptar
seu fenótipo, ocorre a hipóxia citopática e inabilidade da célula de utilizar oxigênio
independente da oferta. Essa diminuição no metabolismo celular se assemelha à condição de
hibernação que permite a sobrevivência de alguns animais em situações adversas (Singer e
cols.; 2004).
No estudo de Brealey e colaboradores (2004), disfunção orgânica e pior prognóstico
estão associados à super produção de óxido nítrico e disfunção mitocondrial. Nesse estudo, o
complexo II, III e IV permaneceram inalterados enquanto a atividade de complexo I foi
diminuindo de acordo com a severidade da sepse sendo associado à queda na concentração de
ATP no fígado e músculo de ratos.
Em humanos, alterações mitocondriais durante a sepse foram demonstradas por
Singer e colaboradores (2007). Há associação entre disfunção orgânica e disfunção
mitocondrial. O aumento no tamanho da mitocôndria está associado ao pior prognóstico.
Subunidades de proteínas da CTE encontram-se diminuídas principalmente nos não
sobreviventes. RNAm do co-ativador transcricional da biogênese mitocondrial (PGC-) e a
27
Mn-superóxido dismutase estavam aumentados em sobreviventes sugerindo que a
respostas antioxidantes e que estimulam a biogênese mitocondrial estão envolvidas com
melhor prognóstico (Carré e cols.; 2010).
LPS e outros componentes bacterianos
Monócitos
Neutrófilos
Endotélio
CITOCINAS
Aumento de TF,
moléculas de adesão
e PAI-1
ROS e RNS
Efeito pró-coagulante
Oclusão vascular
Instabilidade vascular
Complemento
Quimiocinas,
enzimas lisossomais
Coagulopatia Permeabilidade
Capilar
Disfunçao
mitocondrial
Vasodilatação
DISFUNÇÃO ORGÂNICA
MEDIADORES
LIPÍDICOS
QUIMIOCINAS
Figura 1.2: Interações sistemicas na fisiopatologia da disfunção orgânica múltipla.
ROS, espécies reativas de oxigênio; RNS, espécies reativas de nitrogênio; TF, fator tissular,
PAI-1, inibidor do ativador do plasminigênio 1.
1.4 Encefalopatia Associada à Sepse
O acometimento cerebral na sepse, conhecido como EAS, é freqüente podendo atingir
até 71% dos pacientes com sepse grave (Young e cols., 1990). A disfunção cerebral na sepse
é precoce, sendo muitas vezes a primeira disfunção orgânica a se manifestar (Moreno e cols;
1999). A presença de disfunção cerebral está associada a pior prognóstico (Sprung e cols.,
1990), maior mortalidade em 30 dias ( Russel e cols.; 2000) e é um preditor independente de
pior desfecho nos pacientes sépticos (Sharshar e cols., 2007). EAS clinicamente caracteriza-
se por pensamento lentificado, desorientação, delirium, crise convulsiva e até coma.
Recentemente, o delirium em pacientes ventilados mecanicamente foi diretamente
relacionado com o dano cognitivo a médio e longo prazo (Girard e cols.; 2010). A
performance cognitiva dos pacientes foi analisada em 3 e 12 meses e em mais de 70% dos
casos os testes permaneciam alterados em um ano. A maioria dos pacientes com dano
cognitivo persistente apresenta falha de memória, alteração de função executiva, déficit de
atenção, na velocidade de processamento, na função intelectual e até alteração visual
(Hopkins e cols.; 2009). Essas alterações tendem a melhorar ao longo do tempo, porém estudo
28
com acompanhamento superior a seis anos mostrou que esse déficit pode ser permanente
(Rothenhausler e cols.; 2001).
O diagnóstico da EAS é principalmente clínico e de exclusão. A tomografia
computadorizada costuma ser normal. O eletroencefalograma (EEG) mostra lentificação e
diminuição principalmente da onda alfa e essas alterações estão relacionadas a diminuição do
fluxo sanguíneo cerebral medido nas primeiras 24h após a indução de endotoxemia por LPS
em ratos Wistar (Semmler e cols.; 2008). O EEG pode mostra alterações mesmo antes de
sintomas clínicos aparecerem (Wilson e cols., 2003). É um exame de alta sensibilidade, porém
de baixíssima especificidade (Semmler e cols., 2008), tornando seu uso à beira do leito
bastante limitado.
O exame clínico e teste específicos para avaliação de delirium são as principais
ferramentas para o diagnóstico. O método ouro é a aplicação do Manual de Diagnóstico e
Estatística para Desordens Mentais (DSM) IV. Este método é especificamente sensível para
pacientes hospitalizados e com doença aguda (Laurila e cols.; 2004). No entanto, a sua
aplicação exige treinamento extenso, conhecimento profundo do manual e tempo que nem
sempre está disponível na rotina das UTI. A fim de facilitar esse diagnóstico, outros testes
como o CAM (Confusion Assessment Methos; Inouye e cols.; 1990) ganharam importância.
Neste teste cinco critérios são utilizados para o diagnóstico de delirium. São avaliados a
instalação aguda, a característica flutuante, a falta de atenção, o pensamento desorganizado e
o nível de consciência alterado.
Nem sempre a avaliação clínica e aplicação de testes para diagnóstico de delirium são
possíveis no ambiente de terapia intensiva, pois grande parte dos pacientes sépticos,
principalmente os mais graves, encontra-se sedados. Protocolos de interrupção diária de
sedação podem favorecer essa avaliação além de diminuir o tempo de ventilação mecânica e
de internação em terapia intensiva (Kress e cols.; 2000).
O uso de imagens de ressonância magnética (RMN) evidenciou mudanças estruturais
no cérebro de pacientes sépticos. Edema vasogênico e citotóxico e ruptura da barreira
hematoencefálica podem ser observados na RNM de suínos sépticos (Bozza e cols., 2009).
Em humanos a RNM mostra acometimento principalmente de substância branca e sugere
lesão na barreira hematoencefálica. A lesão é progressiva e a quantidade de
leucoencefalopatia parece estar diretamente relacionada com a gravidade do choque e com
pior prognóstico (Sharshar e cols., 2007). Especificamente em pacientes com sepse e
disfunção pulmonar, a RNM mostra alterações em 53% dos pacientes incluindo atrofia
cerebral e aumento ventricular (Hopkins e cols.; 2006).
29
A análise de necropsia do córtex de 23 pacientes que morreram de choque séptico
realizada por Sharshar e colaboradores (2004) mostrou que o dano cerebral é difuso e está
relacionado a apoptose do centro autonômico neuronal. Hemorragia ocorreu em 26% e
micro-abscessos em 9%, leucoencefalopatia multifocal necrotizante em 9% e isquemia em
100% dos cérebros analisados. Isquemia também estava presente nos outros grupos de
pacientes de terapia intensiva incluídos no estudo, no entanto, nos pacientes que faleceram de
choque séptico, a isquemia é mais evidente nos centros autonômicos.
Durante muito tempo o conceito de “privilégio imune” foi atribuído ao rebro.
Acreditava-se que o cérebro não seria acometido e nem contribuiria para a resposta
inflamatória. Hoje, sabemos que isso não é verdade e que o cérebro apresenta sinais
clássicos de inflamação, bem parecido em alguns aspectos com o que observamos em outros
órgãos (Flierl e cols.; 2010). O aumento da permeabilidade vascular permite a passagem de
mediadores inflamatórios e interação com células do sistema nervoso central (SNC). O SNC
não é suscetível, mas contribuidor ativo na resposta inflamatória. As células do SNC
percebem insultos periféricos e rapidamente, em até 30 minutos, e podem gerar mudanças
neuroendócrinas. Como em outros tecidos, há liberação de citocinas, radicais livres e ativação
do complemento que agem localmente causando sintomas neurológicos e a distância
perpetuando a resposta inflamatória (Lucas e cols., 2006).
O cérebro possui maior taxa de consumo de O
2
por grama de tecido e dispões de
poucas defesas antioxidantes. Essa característica o torna bastante suscetível durante sepse. O
aumento de marcadores específicos de injúria cerebral, como enolase neurônio específica e a
proteína S-100β ocorre na maioria dos pacientes com EAS(Lacombe e cols., 2009). S-100β
está relacionada com a extensão da injúria cerebral. Valores acima de g/dl estão
relacionados a isquemia e hemorragia visto em tomografia, enquanto valores 1-2µg/dl estão
associados a infartos microembólicos na ressonância magnética. O aumento da S-100β tem
associação direta com a alta mortalidade e é um preditor independente de sobrevida na terapia
intensiva (Lacombe e cols., 2009).
TLR estão presentes na microglia, astrócitos e oligodendrócitos. A resposta
inflamatória parece ocorrer de maneira semelhante a outros órgãos (Wilson e cols., 2003).
Citocinas pró inflamatórias como IL6, IL1β e TNFα encontram-se aumentadas na EAS e
estimulam a produção de NO induzida pela oxido nítrico sintase endotelial (eNOS) (Wilson e
cols., 2003). NO é um fator importante para a autoregulação cerebral, é capaz de reagir com
fatores oxidantes, induzir a produção de peroxinitrito e interferir na cadeia respiratória
mitocondrial (Andersen e cols., 2004).
30
Há uma ineficiência no metabolismo mitocondrial com mudança no potencial de
membrana e aumento do consumo de oxigênio não relacionado a síntese de ATP (Dávila e
cols., 2008). Este aumento no consumo de oxigênio pode estar relacionado ao aumento na
produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e ativação da cascata de apoptose (Merenda
e cols., 2006). Dano oxidativo ocorre nas primeiras 6 h no cérebro de animais sépticos e isso
está diretamente relacionado a um desequilíbrio de enzimas antioxidantes (Barichello e cols.,
2006).
A maneira como essas alterações agudas resultam em dano cognitivo a longo prazo é
desconhecida. Uma sugestão de fatores envolvidos está representado na figura 1.3. O tempo
de hipóxia, choque e delirium dentro da terapia intensiva parecem ser fatores relevantes.
Idosos, que são aproximadamente 60% da população em terapia intensiva são mais suscetíveis
e apresentam mais comorbidades como doença neurovascular que está associada a alteração
neurocognitiva. A permanência em terapia intensiva é fator desencadeante e acelerador de
demência (Hopkins e cols.; 2010).
Não tratamento específico para o EAS. Diminuir o tempo de hipoxemia e choque
com terapias de suporte e reposição volêmica nas primeiras 6h pode diminuir a SDOM
(Bozza e cols.; 2010). O uso de dotrecogina alfa (ativada) é capaz de atenuar EAS severa e a
evolução de pacientes graves (Spapen e cols.; 2010). Muitos pacientes necessitam de terapia
de reabilitação e tem a qualidade de vida bastante prejudicada após uma única internação em
terapia intensiva.
Infecção inflamação sistêmica
Liberação de citocinas
Ruptura BHE
Ativação da microglia
Resposta neurotóxica
Injúria neuronal
Delirium, demência e pior prognóstico a longo prazo
idade
Anti-Ch
Infecção SNC
Demência
estresse
oxidativo
Figura 1.3: Fatores envolvidos na fisiopatologia da encefalopatia associada à sepse.
BHE, barreira hematoencefálica; SNC, sistema nervoso central.
1.5 Modelos Experimentais
A complexidade da sepse faz com que estudos clínicos e terapêuticos em humanos
sejam de difícil realização. Modelos animais foram desenvolvidos a fim de criar situações
semelhantes a prática clínica propiciando o estudo da fisiopatologia e tratamento da sepse.
Modelos animais são de fácil reprodução e podem ser usados em testes preliminares de
31
agentes terapêuticos. No entanto, quando se faz uma revisão de terapias propostas a partir de
testes em modelos experimentais vemos que menos do que 10% resulta na aprovação de
tratamento clínico (Marshall e cols., 2005). A condição humana de choque e sepse é
extremamente heterogênea e a sua tradução para um modelo experimental requer que se leve
em consideração não o insulto desencadeador, mas também as intervenções e
comorbidades envolvidas. Não existe um modelo animal ideal que consiga reproduzir
fielmente a sepse, o que não significa que os modelos experimentais devam ser abandonados,
mas sim aperfeiçoados.
Um fator interessante do modelo experimental é como uma mesma intervenção pode
causar resultados distintos dependendo do modelo usado. Nenhum modelo experimental pode
fornecer dados definitivos sobre a eficácia de um determinado tratamento. Parece interessante
a idéia de que uma única terapia seja testada em diversos modelos e em diferentes condições
experimentais. Vale a pena lembrar que na maioria das vezes o modelo é realizado em
animais jovens e previamente saudáveis o que difere bastante do que encontramos na prática
clínica.
O modelo de punção e ligadura do ceco (CLP) vem sendo usado mais de 25 anos
(Wichterman e cols.; 1980) e á considerado atualmente o modelo ouro para estudo da sepse.
O animal é anestesiado e submetido a um procedimento cirúrgico. O ceco é exposto, ligado e
perfurado causando uma sepse abdominal polimicrobiana e produzindo um quadro infeccioso
agudo com toxicidade do hospedeiro (Hubbard e cols., 2005). A gravidade do modelo é
controlada pelo número e pelo tamanho das perfurações realizadas no ceco. Reposição
volêmica e antibiótico podem ser usados nesse modelo e reduzem a mortalidade em 50-75%
(Deitch; 2005). Desta forma pode-se adaptar o modelo para uma morte em poucas horas ou
mais tardia.
O modelo CLP leva alterações hemodinâmicas e metabólicas. Observa-se uma
resposta inflamatória, aumento na produção de citocinas, presença de apoptose e resposta
imune semelhantes à encontrada em seres humanos (Remick e cols., 2005). A grande
desvantagem do modelo é a sua reprodutibilidade. A técnica permite grande variabilidade e os
resultados podem ser diferentes dependendo do treinamento técnico de quem executa o
procedimento.
Outro modelo de sepse abdominal polimicrobiana é a peritonite por stent em cólon
ascendente (CASP). É em procedimento cirúrgico e necessita do uso de anestésicos. Um stent
é colocado no cólon ascendente permitindo a comunicação do interior da alça com o
peritônio. extravasamento de fezes e a gravidade pode ser controlada pelo diâmetro do
stent (Deitch e cols., 2005). Este modelo permite o uso de reposição volêmica e antibiótico,
32
mas a sua técnica de execução é ainda mais complexa do que o CLP sendo um modelo pouco
utilizado.
O uso de anestésico, necessário nesses modelos cirúrgicos, pode trazer efeitos
colaterais significativos. Os anestésicos inalatórios podem causar alterações cardiovasculares,
opióides e benzodiazepínicos podem ser antiinflamatórios (Dyson e cols., 2009). Existe uma
associação relevante entre o uso de sedativos e o desenvolvimento de delirium (Kress; 2010).
Mesmo o uso intermitente dessas drogas pode trazer malefícios e relação entre a anestesia
e o desenvolvimento de delirium no pós operatório (Heymann A e col.; 2010).
Outra maneira de desencadear sepse no animal é usando modelos de endotoxemia.
Neles, uma toxina exógena é administrada para simular no animal as mudanças
fisiopatológicas que ocorrem durante a sepse (Buras e cols., 2005). Toxinas podem ter
diversas vias de administração: intravenoso, intra-abdominal e traqueal são alguns exemplos.
A toxina mais comumente usada é o lipopolissacarídeo (LPS). O LPS faz parte da membrana
de bactérias gram negativas, se liga ao TLR e é capaz de desencadear a resposta inflamatória
da sepse.
Apesar da facilidade técnica e pouca variabilidade, o modelo de administração de
toxina não parece reproduzir toda a complexidade da sepse. A administração de toxina intra-
abdominal tem grande semelhança ao CLP quando analisado mortalidade, alterações motoras
e hamatológicas. No entanto o aumento de citocinas como TNF-α, IL-1 e IL-6 é pontual e
transitório, enquanto no CLP, assim como no humano, o aumento de citocinas se sustenta por
um tempo mais prolongado (Dyson e cols., 2009).
Tentando manter o conceito de facilidade técnica e pouca variabilidade, a inoculação
de bactérias por diferentes vias (intravenoso, intra-abdominal e instilação traqueal), parece ser
uma alternativa interessante, uma vez que não se trata apenas da administração da toxina, mas
da bactéria íntegra. A instilação traqueal parece ter bons resultados em reproduzir a sepse
pulmonar. Porém, quando administrada via intravenosa ou intra-abdominal a bactéria
inoculada não parece capaz de se multiplicar desencadeando um processo infeccioso. Em vez
disso, a bactéria deflagra apenas uma resposta inflamatória transitória, é rapidamente
fagocitada, e o resultado é um modelo parecido com a inoculação de LPS (Dyson e cols.,
2009).
A injeção de fezes intraperitoneal é um modelo que se assemelha ao modelo CLP por
produzir sepse polimicrobiana, porem sem precisar do uso de anestésicos ou de procedimento
cirúrgico. É um modelo pouco utilizado por haver relatos de causar sepse rapidamente,
levando a morte ou recuperação do animal em pouco tempo (Rittirsch e cols., 2007), seguindo
o padrão do modelo de endotoxemia. No entanto, um estudo mostrou que com o uso de
33
reposição volêmica e antibiótico, o modelo de injeção de fezes é capaz produzir peritonite e
sepse com características semelhantes a do ser humano, inclusive com disfunção orgânica
múltipla e mitocondrial (Breadley e cols., 2004).
2.0 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
O objetivo geral desta tese é padronizar um modelo de sepse peritoneal em murinos e
caracterizar a resposta inflamatória e disfunção orgânica múltipla neste modelo. A partir do
modelo padronizado deu-se ênfase no estudo da EAS com caracterização de alterações
comportamentais, inflamatórias metabólicas e oxidativas.
2.2 Objetivo específico
- Analisar sobrevida em modelo de injeção de fezes intraperitoneal.
- Caracterizar o padrão da resposta inflamatória através de análise de biomarcadores e
de celularidade total e específica no sangue e peritônio.
- Caracterizar a disfunção orgânica no modelo a partir da análise de bioquímica
plasmática.
34
- Caracterizar o dano cognitivo em animais que sobrevivem a sepse.
- Verificar a disfunção mitocondrial cerebral em modelo de sepse peritoneal
- Avaliar as alterações na captação de glicose cerebral de animais sépticos.
- Caracterizar o dano oxidativo no cérebro de animais sépticos.
35
3.0 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Desenho experimental
Para realização deste estudo foram utilizados 240 camundongos Swiss. Todos os
parâmetros foram avaliados 6 e 24 h após a indução da sepse com exceção do dano cognitivo,
experimento realizado nos animais que sobreviveram à sepse após 10 dias. Os mesmos
protocolos foram realizados para os animais controle. Após 6 h da indução da sepse 10
animais foram usados para medida de pressão arterial e coleta de sangue da cauda. 60 animais
foram eutanasiados para avaliação de bioquímica, citocinas plasmáticas e em líquido
peritoneal, celularidade total e diferencial no sangue e no liquido peritoneal, e disfunção
cerebral (consumo de oxigênio mitocondrial, captação de glicose, produção de TBARS e de
citocinas no cérebro). O restante dos animais recebeu antibiótico Imipenem 10mg/kg diluído
em salina 0,2ml via subcutânea. Desses animais, 30 foram observados quanto a mortalidade,
10 usados para medida de pressão artéria e coleta de sangue da cauda, 60 foram eutanasiados
em 24 h para as mesmas análises realizadas com os animais em 6 h e 32 animais foram
avaliados no décimo dia quanto ao dano cognitivo (figura 3.1).
.
240 camundongos
Swiss 25-35g
indução de sepse
por injeção de fezes
intraperitoneal ou
injeção de salina
nos animais
controle
Imipenem 10mg/kg
diluído em 0,2ml de
salina via subcutânea
10 animais: medida
pressão arterial e
lactato em 6 e 24h
30 animais: análise de
sobrevida
60 animais: avaliação
de bioquímica,
citocinas, celularidade
e disfunção cerebral
em 24h
32 animais: Dano
cognitivo após 10 dias
60 animais: avaliação de
bioquímica, citocinas,
celularidade, disfunção
cerebral em 6h
36
3.2 Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos pesando 25-35g provenientes do Centro
de Criação de Animais de Laboratório (CECAL) da FIOCRUZ. Durante a permanência dos
animais em nosso biotério, estes foram mantidos em temperatura constante (25ºC), com ciclo
de 12h claro/escuro e livre acesso de água e comida.
3.3 Preparo e injeção de fezes
As fezes foram recolhidas do intestino grosso de camundongos Swiss que foram
submetidos à eutanásia em câmara com atmosfera rica em CO
2
. Cada animal foi capaz de
fornecer em torno de 1g de fezes. Foram adicionadas às fezes solução salina estéril para que
fosse obtido uma dose de 5mg de fezes para cada 1 grama de peso do animal, chegando ao
máximo de 150mg de fezes diluídas em 0,5ml de salina estéril. O material foi centrifugado a
800rpm por 5 minutos. O sobrenadante foi usado para injeção por via intraperitoneal. Após
seis horas os animais receberam 10mg/kg de antibiótico Imipenem diluído em 0,2ml de salina
via subcutânea. Os animais controles receberam 0,5ml de salina estéril por via intraperitoneal
e seis horas após, receberam antibioticoterapia.
3.4 Medida da pressão arterial
A medida da pressão arterial foi obtida por sistema computadorizado, não invasivo de
pressão pela cauda (BP 2000 Visitech System, Apex, USA). Os camundongos são contidos
em uma plataforma aquecida (38
C) em ambiente tranqüilo. Uma vez contidos na caixa
própria para a aferição da pressão arterial, os animais permaneceram por 10 minutos para que
se acalmem e se ambientarem. Cinco medidas consecutivas foram realizadas como teste para
que o animal se acostumasse com o procedimento, seguidas de 10 medidas consecutivas para
avaliação.
Figura 3.1: Desenho experimental. Foram utilizados 240 camundongos Swiss. 60 eutanasiados
para análise em 6 horas. O restante recebeu antibiótico imipenem . Desses, 30 foram
observados quanto a mortalidade, 10 tiveram a pressão arterial aferida e sangue colhido da
cauda, 60 foram eutanasiados em 24h para as mesmas análises realizadas em 6 horas, e 32
avaliados quanto ao dano cognitivo em 10 dias
37
3.5 Análise de Lactato
Para análise de lactato, o sangue foi coletado da cauda de 5 animais antes da indução
da sepse, bem como 6 e 24 horas após a indução de sepse. Aferições foram realizadas com
aparelho "Lactate Accutrend da Roche, Mannheim, Germany".
3.6 Análise de celularidade total e diferencial
Para a análise de celularidade sanguínea total e diferencial, o sangue foi colhido da
cauda dos animais, 6 e 24 horas após a indução de sepse. O número de leucócitos totais foi
obtido por contagem em câmaras de Neubauer, sob microscópio óptico, após diluição das
amostras em solução de Türk (2% de ácido acético). Para contagem diferencial dos leucócitos
no sangue, foram feitos esfregaços, corados pelo método de May-Grünwald-Giemsa, para
posterior análise sob microscópio ótico em objetiva de imersão em óleo (100x).
Para a análise da celularidade no lavado peritoneal dos animais, 6 e 24 horas após a
indução de sepse, os animais foram submetidos à eutanásia em câmara com atmosfera rica em
CO
2
e o fluido peritoneal foi obtido através da lavagem com 3ml de PBS (1x). Após a
obtenção do lavado peritoneal, a contagem total de leucócitos do lavado peritoneal foi
efetuada em maras de Neubauer em microscópio óptico (aumento de 100x), após diluição
(40x) das mesmas em solução de rk. A análise diferencial de leucócitos foi realizada sob
objetiva de imersão em citoesfregaços preparados em citocentrífuga (Cytospin 3 Shandon,
Nutley, USA) 450 rpm por 5 minutos, corados pelo método May Grunwald-Giemsa. De
acordo com este método, as lâminas ficam imersas no May Grunwald por 3 minutos para
fixação, 2 minutos em água para retirada do excesso de corante e 15 minutos no Giemsa, para
coloração. Foram contadas 100 células consecutivas por citoesfregaço. A quantificação de
cada tipo celular foi calculada a partir da porcentagem encontrada em relação ao número total
de células.
3.7 Análises bioquímica
Para análise de bioquímica o sangue foi coletado por punção cardíaca, 6 e 24 h após a
indução de sepse, os animais foram submetidos à eutanásia em câmara com atmosfera rica em
CO
2
. Imediatamente após a eutanásia, os animais tiveram a cavidade torácica aberta e o
sangue coletado através de punção cardíaca por visualização direta e punção do ventrículo
esquerdo, com o auxílio de uma seringa de 1ml e agulha 27G. O plasma foi obtido através da
centrifugação (8000rpm/5 minutos) do sangue total. A análise bioquímica: uréia, creatinina,
transaminase glutâmico-oxalacética (TGO) e alanina aminotransferase (TGP) foram
38
realizadas utilizando o plasma sanguíneo no equipamento Vitros 250 Ortho Clinical
Diagnostics, da Johnson & Johnson, Rochester, USA.
3.8 Dosagem de citocinas
A dosagem de citocinas e quimiocinas presentes no sangue obtido por punção cardíaca
e no lavado peritoneal dos animais, foram quantificadas pelo método de ELISA (Duo set Kit
da R&D systems). O ELISA foi realizado em três dias consecutivos. No primeiro dia foi
aplicado 50ul do anticorpo de captura correspondente a cada citocina ou quimiocina por poço
em placa de 96 poços. No segundo dia, os poços foram lavados com PBS/tween a 0,05%, para
remoção dos anticorpos não aderentes à superfície da placa. Esse procedimento é seguido do
bloqueio com PBS com 2% Soro de Albumina Bovina (BSA) por cerca de uma hora. O
bloqueio é realizado para evitar que ocorram ligações inespecíficas. Após o bloqueio a placa
foi lavada novamente por três vezes com PBS/tween a 0,05% e então foram aplicadas as
amostras a serem analisadas e o anticorpo recombinante das citocinas e quimiocina
analisadas, diluído de forma seriada em cada poço da placa de 96 poços. No dia seguinte, a
placa foi lavada por quatro vezes com PBS/tween a 0,05% e, posteriormente, foi aplicado o
anticorpo de detecção corespondente as citocinas e a quimiocina analisadas biotinilado da BD
pharmingen. Após 1 hora a placa foi lavada seis vezes com PBS tween a 0,05%, e aplicamos a
estreptavidina conjugada à peroxidase, que se liga à biotina. Meia hora após a placa foi lavada
8 vezes com PBS/tween a 0,05%, e foi colocada a solução de TMB (3,3′,5,5′-
Tetrametilbenzidina) da sigma, que é o substrato da peroxidase (3º dia do ELISA). Ocorre
uma reação que gera uma coloração azul que pode ser lida no comprimento de onda de 370 ou
655nm. No entanto, nós utilizamos uma solução de parada com ácido sulfúrico a 12 N, que foi
lida no comprimento de onda de 450 nm em leitora de microplacas e os dados foram
analisados utilizando o programa Softmax Pro 5.
3.9 Análise microbiológica
Amostras do sobrenadante das fezes centrifugada foram enviadas para análise no
laboratório de microbiologia para identificação de bactérias e teste de resistência a antibiótico.
Culturas foram realizadas em placas da ágar sangue, ágar chocolate a ágar McConkey.
3.10 Obtenção de cortes de cérebro
Para avaliação cerebral os animais foram eutanasiados por deslocamento cervical. A
calota craniana foi aberta e o cérebro exposto. O rebro foi retirado e mantido em tampão de
preservação (90mM NaCl, 3mM KCl, 2mM MgSO
4
, 2mM CaCl
2
, 10mM glicose, 105mM
39
sucarose e 10mM acido 4-(2-hidroxi-etil)-1-piperazina-2-etilsulfonico (HEPES-NaOH);
pH=7,4) e gelo. Imediatamente as estruturas cerebrais foram separadas em cerebelo, córtex
direito e esquerdo. O córtex direito foi colocado em choopper (Ted Pella Inc., McIlwain
Tissue Chopper, Redding, USA) e cortes de 400μm foram obtidas. Os cortes foram mantidos
em tampão de preservação e gelo até o momento do experimento.
3.11 Dano cognitivo - Teste "open field"
Em uma caixa de madeira (40 x 60 x 50 cm) com piso dividido em 12 quadrados
iguais, os animais, na sessão de treino, foram cuidadosamente colocados no quadrado do
canto posterior esquerdo do aparelho, a partir do qual exploraram livremente o ambiente por 5
minutos. Após 24 horas, a sessão de teste foi realizada como descrito para o treino. Em ambas
as sessões foram avaliados o número de cruzamentos através das linhas pretas e de “rearings”
(quando o animal se sustenta em apenas duas patas traseiras). O teste foi realizado com 20
animais controle e 12 animais que sobreviveram a sepse. A sessão de treino ocorreu 10 dias
após a indução da sepse e o teste no décimo primeiro dia.
3.12 Captação de glicose
A captação de glicose foi monitorada através de um análogo fluorescente, o 6-NBDG
(6-[N-(7-nitrobenz-2-oxa-1,3-diazol-4-yl)amino]-6-deoxyglucose). Cortes do córtex cerebral
foram mantidas em tampão de preservação resfriado a 4°C. Para a captação de 6-NBDG as
fatias foram colocadas em 500µl de tampão de respiração suplementado com 5mM de glicose
e 100 µM de 6-NBDG e incubadas por trinta minutos a 37°C. Após este período os tecidos
foram lavados três vezes em tampão de respiração para retirar o NBDG não captado. Em
seguida o material era homogeinizado e sonicado em banho maria por 6 minutos. As amostras
foram diluídas dez vezes e 200µL foram adicionados numa placa para a leitura no fluorímetro
(Molecular devices Inc., SpectraMax M5, Sunnyvale, USA) nos comprimentos de emissão e
excitação de 540nm e 465nm, respectivamente. Os resultados representam a diferença de
fluorescência entre os tecidos mantidos a 37°C e 0°C (controle de negativo para a captação de
6-NBDG). O mesmo protocolo foi realizado em animais controles, 6 e 24h após a indução de
sepse.
3.13 Consumo de oxigênio
Para avaliação do consumo de oxigênio, foi usado oxígrafo (Hansatech Instruments,
Norfolk, England). Cortes de 400μm do córtex junto com tampão de respiração (125mM
NaCl, 3mM KCl, 2mM CaCl
2
, 1,25mM fosfato de sódio, 2mM MgCl
2
e 20mM HEPES-
40
NaOH, pH7,4) foram colocados na cubeta do oxígrafo para análise. A temperatura da cubeta
foi estabelecida em 27
C. Foi adicionado glicose 0,1M 5μl. Após estabilização do traçado foi
titulado a dose de oligomicina adicionando oligomicina 0,1mg/ml (2μl) cinco vezes e seguido
de oligomicina 1mg/dl (1μl). Sempre, entre uma adição e outra, esperava-se a estabilização do
traçado. No final foi realizado a titulação da dose de carbonil cianeto p-(trifluorometoxi)
fenilhidrazona (FCCP) com adição de FCCP 0,2mM (3μl) duas vezes e depois mais (2μl). O
mesmo protocolo foi realizado para animais controle e 6 e 24 horas após a indução da sepse.
3.14 Substâncias reativas do ácido tiobarbitúrico (TBARS)
Para dosagem de TBARS o cérebro dos animais foi separado em 5 estruturas: pré-
frontal, hipocampo, estriado, córtex e cerebelo. As estruturas foram colocadas em criotubos
contendo 1ml PBS acrescido de BHT (0,2% em etanol). O tecido foi homogeinizado e
quantificou-se a proteína pelo método de BCA. A uma solução contendo 50 µg de proteína
adicionou-se 500µl da solução TBA 0,67% (solução 1:1 água e ácido acético). Os tubos foram
colocados em banho seco a 96ºC durante 30 minutos. A reação foi parada em gelo, o material
foi então transferido para uma placa de 96 poços (200µl), seguido pela leitura em
espectrofotômetro a 535nm. Para determinação da quantidade de TBARS foi utilizado o
coeficiente de extinção molar (A=l.Ɛ.C -1,56x10
5
M
-1
cm
-1
, onde A-absorvância, l-
comprimento de onda, Ɛ-coeficiente de extinção molar e C- concentração de MDA). Os
resultados foram expressos em concentração por miligrama de proteína.
3.15 Análise Estatistica
Todos os dados são apresentados em média +/- erro padrão. Dados foram analisados
por ANOVA two way quando comparados vários grupos e test t quando comparados apenas
dois grupos. Foi realizado o teste de normalidade (Kolmogorov) para aplicação de teste t
(distribuição normal) ou não paramétrico. O software utilizado foi o prism 4.
41
4.0 RESULTADOS
4.1 Analise de sobrevida
Vinte animais sépticos e dez controles foram acompanhados por 144 horas após a
indução de sepse por injeção de fezes intraperitoneal (dose de 5mg de fezes por grama de
peso do animal) seguido da administração de antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h após. Esta
mesma dose de fezes e antibiótico foi utilizada em todos os experiementos. Não houve óbito
entre os dez animais controles que receberam injeção intraperitoneal de salina e antibiótico
imipenem 6h depois. Entre os animais sépticos observamos que 10% dos animais morrem nas
primeiras 12 horas, cerca de 50% até 24h, e em torno de 60% até as primeiras 48 horas. Não
foi observado nenhum óbito após 48 horas. (Figura 4.1).
0 24 48 72 96 120 144 168
0
25
50
75
100
125
FEZES + ATB
controle
tempo (h)
sobrevida (%)
4.2 Análise clínica e metabólica
Para análise da pressão arterial foram usados 10 animais normais. Esses mesmos
animais foram submetidos a injeção de fezes intraperitoneal. Após 6h a pressão arterial dos
animais sobreviventes (n=8) foi aferida. Podemos observar uma queda na média da pressão
arterial sistólica de 101,2 mmHg (+/-2,8) para 67,13 mmHg (+/- 20,78). Nesse momento não
foi possível aferir a pressão de três animais que se encontravam em hipotensão severa. Os
animais receberam antibiótico imipenem. No tempo de 24h a pressão arterial dos
sobreviventes (n=6) foi novamente aferida. A média da pressão arterial sistólica foi de 82,17
mmHg (+/-8,9) (p<0,05) (figura 4.2).
Figura 4.1: Análise de sobrevida. Sobrevida em 144 horas de camundongos Swiss submetidos
injeção intraperitoneal de fezes e antibiótico imipenem 6h após. N=20. Controle recebeu salina
intraperitoneal e imipenem 6h após. N=10.
42
0h
6h
24h
0
25
50
75
100
125
*
*
PAS (mmHg)
A hipoperfusão periférica pode ser documentada a partir da dosagem do lactato sérico.
Nesse caso, os animais controle (n=5) receberam solução salina intraperitoneal seguido da
administração de antibiótico imipenem 6h depois. Os animais sépticos (n=5) foram
submetidos a injeção intraperitoneal de fezes seguido de antibiótico imipenem 6h depois.
Houve aumento significativo no lactato se comparados os animais controle (3,62 +/- 0,13
mmol/L) com 6h (4,86 +/-0,14mmol/L p<0,01) e com 24h (4,8 +/-0,55mmol/L p<0,01) de
sepse (figura 4.3)
Figura 4.2: Medida da pressão arterial sistólica em animais sépticos. A pressão arterial foi aferida
antes (n=10), 6h (n=8) e 24h (n=6) após os animais serem submetidos a injeção intraperitoneal de
fezes e injeção de antibiótico imipenem 6h depois. * p<0,05.
43
cont
6h
24h
0
1
2
3
4
5
6
*
*
lactato (mmol/L)
4.3 Análise Bioquímica
Disfunção renal e hepática foi documentada através de bioquímica plasmática.
Animais controle (n=4) receberam injeção de salina intraperitoneal seguido de antibiótico
imipenem 6h depois. Os sépticos (n=8) foram submetidos a injeção de fezes intraperitoneal
seguido de antibiótico imipenem 6h depois. Insuficiência renal foi caracterizado pelo
aumento de uréia e creatinina séricas em 24h. A média da uréia dos animais controle foi de
51,78mg/dl (+/-3,41) e em 24h de sepse 86,78mg/dl (+/-21,08). A creatinina aumentou de
0,28mg/dl (+/-0,3) nos animais controle para 0,79mg/dl (+/-0,13 p<0,01) em 24h de sepse
(p<0,01)(figura 4.4).
Figura 4.3: Dosagem de lactato sérico. A dosagem de lactato foi realizada em animais controle (n=5)
(salina 0,5ml + imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção
intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg após 6h) nos tempos
de 6 (n=5) e 24h (n=5).*p<0.01.
44
cont
6h
24h
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
*
Creatinina (mg/dL)
cont
6h
24h
0
25
50
75
100
125
Ureia (mg/dl)
A)
B)
A função hepática foi avaliada a partir da dosagem das enzimas TGO e TGP. A média
da TGO nos animais controle foi de 248,5U/L (+/-155,3). Em 6h houve aumento para
928,8U/l (+/-248) e em 24h a média foi de 1302U/l (+/-544,9 p<0,05) nos animais sépticos.
TGP aumentou de 38U/L (+/-1,4) nos animais controle para 131,4U/L (+/-46,9 p<0,05) em 6h
e para 265U/l (+/-160 p<0,05) em 24h nos animais sépticos (Figura 4.5).
cont
6h
24h
0
1000
2000
*
TGO (U/L)
cont
6h
24h
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
*
*
TGP (U/L)
Figura 4.4: Avaliação da disfunção renal em animais sépticos. Dosagem da uréia (A) e cratinina (B)
foi realizada em animais controle (n=5) (salina 0,5ml + imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de
24h e em animais sépticos (injeção intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal +
imipenem 10mg/kg após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p<0,01.
Figura 4.5: Avaliação da disfunção hepática em animais sépticos. Dosagem de
TGO(A) e TGP (B) sérica foi realizada em animais controle (n=4) (salina 0,5ml +
imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção
intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg
após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p<0,03 (ANOVA).
Figura 4.5: Avaliação da disfunção hepática em animais sépticos. Dosagem de TGO(A) e TGP
(B) sérica foi realizada em animais controle (n=4) (salina 0,5ml + imipenem 10mg/kg após 6h)
no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso
do animal + imipenem 10mg/kg após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p<0,05.
45
4.4 Dosagem de citocinas
A resposta inflamatória do modelo foi medida a partir do aumento de citocinas no
sangue e líquido peritoneal. Animais controle (n=4) receberam solução salina intraperitoneal
seguido da administração de antibiótico imipenem 6h depois. Os animais sépticos 6h (n=8)
foram submetidos a injeção intraperitoneal de fezes e os analisados em 24h receberam
antibiótico imipenem 6h depois da injeção de fezes intraperitoneal. A análise do sangue
revelou que em 6h houve aumento significativo dos níveis plasmáticos de IL-6: 789pg/ml (+/-
95) em relação ao controle 22pg/ml (+/-9, p<0,01); IL 1β: 80pg/ml (+/-17) em relação ao
controle 20pg/ml (+/-15 p<0.01) e MIP- 63pg/ml (+/-29) em relação ao controle 0,0
(p<0,01). Em 24h o aumento mais importante foi o de MIP-1α: 52pg/ml (+/-17)no plasma em
relação ao controle 0 (p<0,01) (Figura 4.6).
A)
B)
C)
D)
E)
F)
cont
6h
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
*
IL 6 (pg/ml)
cont
6h
0
25
50
75
100
*
IL 1
(pg/ml)
cont
6h
0
25
50
75
100
*
MIP (pg/ml)
cont
24h
0
100
200
IL 6 (pg/ml)
cont
24h
0
5
10
15
20
25
IL 1
(pg/ml)
cont
24h
0
10
20
30
40
50
60
70
*
MIP (pg/ml)
Figura 4.6: Concentração de citocinas no plasma em animais sépticos. Dosagem de IL 6 (A e D) IL
1β (B e E)e MIP 1α (C e F) no foi realizada no plasma em animais controle (n=4) (salina 0,5ml +
imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção intraperitoneal de
fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h
(n=8). *p<0,03.
46
A análise do liquido peritoneal mostrou aumento de IL-6 e MIP-em 6h e 24h. IL-6
aumentou de 210pg/ml (+/-1) no grupo controle para 879pg/ml (+/-14) em 6h (p<0,01). MIP-
1α aumentou de 10pg/ml (+/-0) no grupo controle para 306pg/ml (+/-37) em 6h (p<0,01). Na
análise de 24h a IL-6 e MIP-1α subiram de valores indetectáveis para 90pg/ml (+/-70 p<0,05)
e 126pg/ml (+/-6 p<0,01) respectivamente (Figura 4.7).
cont
6h
0
250
500
750
1000
*
IL6 (pg/ml)
A)
B) C)
D)
E)
F)
cont
6h
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
IL 1
(pg/ml)
cont
6h
0
50
100
150
200
250
300
350
*
MIP (pg/ml)
cont
24h
0
100
200
*
IL6 (pg/ml)
cont
24h
0
100
200
IL 1
(pg/ml)
cont
24h
0
50
100
150
*
MIP (pg/ml)
*
4.5 Análise de celularidade total e diferencial
A contagem de células inflamatórias totais e diferenciais foi realizada no sangue e no
liquido peritoneal. Animais controle (n=4) receberam injeção de salina intraperitoneal seguido
de antibiótico imipenem 6h depois. Os sépticos (n=8) foram submetidos a injeção fezes
intraperitoneal seguido de antibiótico imipenem 6h depois. No sangue, queda na contagem de
células pode indicar consumo. Essa queda é mais evidente nas 6h. Leucócitos totais nos
animais controle 9,59x10
6
cels (+/-1,21) é maior do que nos sépticos em 6h 2,77x10
6
cels( +/-
0,47 p<0,01) e 24h 6,01x10
6
cels (+/- 1,19) O número de neutrófilos cai de 1,59x10
6
cels (+/-
0,74) nos animais controle para 0,59x10
6
cels (+/-0,07) em 6h e volta a aumentar em 24h para
1,85x10
6
cels (+/-0,63). A média de mononucleares em animais controle é de 7,93x10
6
cels (+/-
Figura 4.6: Concentração de citocinas no plasma em animais sépticos. Dosagem de IL 6 (A e D) IL
(B e E)e MIP (C e F) no foi realizada no plasma em animais controle (n=4) (salina 0,5ml
+ imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção
intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg após 6h) nos
tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p<0,03 (t test two tailed, não pareado).
Figura 4.7: Concentração de citocinas no líquido peritoneal em animais sépticos. Dosagem de IL 6 (A
e D), IL 1β (B e E) e MIP 1α (C e F)no peritônio foi realizada em animais controle (n=4) (salina 0,5ml
+ imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais sépticos (injeção intraperitoneal de
fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h
(n=8). *p<0,05 (t test two tailed, não pareado).
47
0,87). Em 6h cai para 2,22x10
6
cels (+/-0,44 p<0,01) e em 24h volta a aumentar para
4,08x10
6
cels (+/-0,62 p<0,03) (figura 4.8).
cont
6h
24h
0.0
2.5
5.0
7.5
10.0
12.5
*
x10
3
cels/mm
3
cont
6h
24h
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
*
**
x10
3
cels/mm
3
s
A)
B)
C)
cont
6h
24h
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
10
3
cels/ mm
3
O liquido peritoneal por sua vez, é pobre em células e tem predomínio de
mononucleares. Na sepse, ocorre migração celular e aumento da celularidade total e de
neutrófilos no líquido peritoneal que é discreta em 6h e mais acentuada em 24h. Leucócitos
totais aumentam de 4,73x10
6
cels (+/-1,2) nos animais controle para 19,71 x10
6
cels (+/-5,91
p<0,03) em 24h nos animais sépticos. Neutrófilos aumentam de 0,5 x10
6
cels (+/-0,23) nos
animais controle para 2,99 x10
6
cels (+/-0,46 p<0,01) em 6h e 12,79 x10
6
cels (+/-4,06 p<0,05)
em 24h após a indução de sepse (Figura 4.9).
Figura 4.8: Avaliação de celularidade total e diferencial no sangue de animais sépticos.
Contagem de leucócitos totais (A) neutrófilos (B) e monócitos (C) no sangue foi realizada em
animais controle (n=4) (salina 0,5ml + imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em
animais sépticos (injeção intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem
10mg/kg após 6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p<0,01; **p<0.03. (t test two tail, não
pareado).
48
cont
6h
24h
0
10
20
30
*
10
6
cels/cav
A)
B) C)
cont
6h
24h
0
10
20
*
**
10
6cels/cav
cont
6h
24h
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
6cels/cav
4.6 Análise microbiológica
A cultura do material usado para injeção intraperitoneal e indução de sepse foi
culturado em placas ágar. As seguintes bactérias foram isoladas: Klebsiella oxytoca,
Enterococcus casseliflavus, Staphylococcus sciuri, Acinetobacter baumanii /
hameolyticus,Escherichia coli. Todas são sensíveis ao imipenem.
4.7 Dano cognitivo
A avaliação de dano cognitivo é realizada observando a capacidade exploratória e de
memória dos camundongos. Por ser um animal curioso, o camundongo tem o reflexo de
explorar a caixa utilizada. No primeiro dia é realizado um treino para que o animal possa
conhecer a caixa. No dia seguinte o animal é colocado na mesma caixa e por ter capacidade
de memória, explora menos o ambiente (teste). A capacidade exploratória analisada pelo
número de cruzamentos e rearings. Os animais submetidos a sepse tem a capacidade de
memória prejudicada, não reconhecem o local no treino, e exploram como no primeiro
contato com a caixa. Animais controle (n=20) receberam injeção de salina intraperitoneal
seguido de antibiótico imipenem 6h depois. Os sépticos (n=12) foram submetidos a injeção de
fezes intraperitoneal seguido de antibiótico imipenem 6h depois. O treino foi realizado no
décimo dia e o teste no décimo primeiro dia após o experimento. No animal controle, o
número de cruzamento diminui significativamente de 123,16 (+/-8,39) no treino, para
87,84(+/-7,63) no teste (p<0,05). O número de rearings diminui de 38,65 (+/-2,92) no dia do
treino, para 29,2 (+/-3,21) no teste (p<0,05). Não houve diferença significativa entre o número
Figura 4.9: Avaliação de celularidade total e diferencial no líquido peritoneal de animais sépticos.
Contagem de leucócitos totais (A) neutrófilos (B) e monócitos (C) no líquido peritoneal foi realizada
em animais controle (n=4) (salina 0,5ml + imipenem 10mg/kg após 6h) no tempo de 24h e em animais
sépticos (injeção intraperitoneal de fezes 5mg/grama de peso do animal + imipenem 10mg/kg após
6h) nos tempos de 6 (n=8) e 24h (n=8). *p=0,026 B) Neutrófilos. *p=0,004; **p=0,031 (t test two
tailed, não pareado) C) Monócitos. p=NS .
49
de cruzamentos e rearings no treino e no teste dos animais submetidos a sepse (Figura
4.10).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
*
treino
teste
treino teste
controle
sepse
rearing
0
50
100
150
*
treino teste
treino
teste
controle
sepse
cruzamentos
A)
B)
4.6 Captação de Glicose/ consumo de oxigênio
A captação de glicose no córtex é monitorada por um análogo fluorescente, 6-NBDG.
Tanto em 6h quanto em 24h, aumento da captação de glicose. Para esta avaliação foram
utilizadas fatias de córtex cerebral. No experimento de 6h os animais controle (n=2)
receberam solução salina intraperitoneal tiveram fluorescência média de 0,96A.F.U. (+/-0,27),
enquanto os animais pticos receberam injeção intraperitoneal de fezes (n=4) e tiveram
fluorescência média de 3,169(A.F.U.) (+/-0,95 p<0,05). Na análise de 24h os animais controle
(n=3) receberam solução salina intraperitoneal seguido de antibiótico imipenem 6h depois.
Os animais sépticos (n=5) foram submetidos a injeção de fezes intraperitoneal seguido de
antibiótico imipenem 6h depois. A média de fluorescência dos animais em controle foi de
0,72A.F.U. e em 24h de sepse de 1,25A.F.U.(+/-0,27 P<0,05) (Figura 4.11).
Figura 4.10: Dano cognitivo em animais que sobreviveram a sepse. Animais controle (n=20) receberam
injeção de salina intraperitoneal antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h depois. Os animais submetidos a
sepse (n=12) receberam fezes intraperitoneal (5mg/grama de peso do animal) seguido de imipenem
(10mg/kg) 6h depois. Medidas de cruzamentos (A) e "rearings" (B) foram realizadas após 10 (treino) e
11 dias (teste). Comparação entre teste e treino. *p<0,05.
50
controle
24hs
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
*
captação NBDG (A.F.U.)
A)
B)
Controle
6 h sepse
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
*
captão NBDG (A.F.U.)
A avaliação mitocondrial é feita pelo consumo de oxigênio por corte de córtex
cerebral em meio com glicose e adição progressiva de oligomicina. Animais controle (n=7)
receberam injeção de salina intraperitoneal seguido de antibiótico imipenem 6h depois. Os
sépticos para a avaliação em 6h (n=5) foram submetidos a injeção de fezes. Os sépticos para
avaliação em 24h foram submetidos a injeção de fezes intraperitoneal seguido de antibiótico
imipenem 6h depois. Podemos observar que os animais analisados com 6h de sepse
consomem mais oxigênio se comparados aos animais controle. Os animais analisados com
24h de sepse apresentam diminuição no consumo de oxigênio. A comparação entre os animais
com 6h e 24h de sepse mostra diferença significativa entre esses dois grupos (p<0,03). Não
parece haver diferença quanto à ação da oligomicina (Figura 4.12).
Figura 4.11: Captação de glicose no cérebro de animais sépticos. A captação de glicose foi
monitorada pelo análogo fluorescente 6-NBDG em animal controle que recebeu salina
intraperitoneal e antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h depois e em animais submetidos a injeção
intraperitoneal de fezes (5mg/grama de peso do animal) e antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h
depois.. A) análise da captação de NBGD no animal controle (n=2) e 6h (n=4). *p=0,0475 (t test não
pareado) B) Captação de NBDG em corte de córtex cerebral no animal controle (n=3) e 24h (n=5).
*p= 0,0272.
51
0 1 2 3
0
10
20
30
salina
sepse 6h
sepse 24h
Oligomicina (g)
Consumo de oxigênio
*
*
*
*
*
consumo O
2
4.8 Avaliação de estresse oxidativo
O estresse oxidativo foi avaliado a partir da dosagem de TBARS. Para esta avaliação
as estruturas cerebrais foram individualizadas. Os animais controle (n=2) receberam salina
intraperitoneal enquanto os sépticos (n=4) receberam injeção de fezes intraperitoneal. A
avaliação foi realizada após 6h. Houve aumento na dosagem de TBAR no pré frontal, estriado
córtex e cerebelo em relação aos animais controle. Esse aumento foi mais evidente no pré
frontal e no estriado. No estriado dosagem de TBARS foi de 2,63x10
-9
nmol/mg ptn
no animal
controle e 6,23x10
-9
nmol/mg ptn (+/- 1,25x10
-9
)
6h após a indução de sepse. No estriado os
animais controle apresentaram dosagem de 2,88 x10
-9
nmol/mg ptn (+/-5,53 x10
-9
) e os
sépticos 6,75x10
9
nmol/mg ptn (+/-9,34 x10
-9
). No córtex os animas controle apresentaram
dosagem de 2,99 x10
-9
nmol/mg ptn (+/-6,91 x10
-9
) e os sépticos 3,71 x10
-9
nmol/mg ptn (+/-
4,68 x10
-9
). No cerebelo os animais controle apresentaram dosagem de 3,71 x10
-9
nmol/mg ptn
(+/-2,07 x10
-9
) e os sépticos 4,73 x10
-9
nmol/mg ptn (+/-4,02 x10
-9
nmol) (Figura 4.13).
Medimos TBARS também nos animais com 24h de sepse, porém os valores foram muito
semelhantes aos animais controle (dados não mostrados).
Figura 4.12: Consumo de oxigênio em fatias de córtex cerebral. O consumo de oxigênio foi
avaliado em oxígrafo em meio com glicose e adição de oligomicina. animais controle (n=7)
receberam salina intraperitoneal e antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h depois. Os animais sépticos
foram avaliados 6h (n=5) e 24h (n=5) após receberem injeção de fezes intraperitoneal (5mg/grama
de peso do animal) e antibiótico imipenem (10mg/kg) 6h depois. Comparação entre os animais de
6h e 24h. *p<0,03.
52
pre frontal
hipocampo
estriado
cortex
cerebelo
0
1.0×10
-9
2.0×10
-9
3.0×10
-9
4.0×10
-9
5.0×10
-9
6.0×10
-9
7.0×10
-9
cont
6h
TBARS (nmol/mg de proteína)
Figura 4.13: Avaliação de estresse oxidativo em diferentes estruturas cerebrais. Dosagem de TBARS
em animais controle que receberam salina intraperitoneal(n=2) e 6h após a indução de sepse por
injeção de fezes intraperitoneal (5mg/grama de peso do animal) (n=4).
53
5.0 DISCUSSÃO
A síndrome de disfunção orgânica múltipla relacionada à sepse é a principal causa de
morte nas unidades de terapia intensiva (Martin e cols.; 2003). Ainda que sua fisiopatologia
não esteja totalmente esclarecida, várias evidências apontam para modificações fenotípicas
que incluem alterações bioenergéticas, como redução no consumo de oxigênio pela
mitocôndria durante as fases tardias da sepse (Singer; 2007) . Parece haver uma correlação
direta entre a gravidade da sepse, prognóstico e disfunção mitocondrial (Brealey e cols.;
2002).
Entre as disfunções orgânicas, a disfunção cerebral tem o aparecimento mais precoce e
está diretamente relacionada a um pior prognóstico a curto e longo prazo (Sharshar e cols.,
2007). Seu diagnóstico é feito a partir de avaliações neurológicas específicas, como o CAM,
de preferência acompanhadas da interrupção da sedação. O delirium ocorre em a80% dos
pacientes em terapia intensiva e o seu aparecimento aumenta a incidência de demência e dano
cognitivo permanente (Hopkins e col.; 2009). A disfunção cerebral na sepse pode repercutir
de diferentes formas na morbidade e mortalidade do paciente séptico. É possível que a
disfunção autonômica contribua para alterações hemodinâmicas que ocorrem durante a sepse.
Sharshar e colaboradores (2004) mostraram que em pacientes que faleceram por sepse,
isquemia e apoptose cerebral se concentram principalmente nos centros autonômicos. EAS
parece estar mais associada a distúrbios na auto regulação do que no fluxo cerebral (Pfister e
cols.; 2008)
Recentemente, importantes avanços foram feitos visando a redução de mortalidade de
pacientes sépticos. Entre estes avanços podemos apontar a Campanha Sobrevivendo a Sepse,
uma iniciativa de diferentes sociedades médicas afim de padronizar recomendações na
abordagem da sepse grave (Dellinger e cols.; 2004). A campanha usou o sistema Delphi
modificado para sugerir ações diagnosticas e terapêuticas para o paciente com sepse grave. O
sistema Delphi modificado se baseia qualidade da evidência que pode ser classificada em
cinco níveis, de A a E, sendo A o nível mais alto e baseado em grandes estudos (Sackett;
1989). Em uma análise com 15022 pacientes de 165 diferentes unidades hospitalares, Levy e
colaboradores (2010) mostraram que a implementação de orientações a serem seguidas nas
primeiras 6 e 24h do diagnóstico da sepse foram capaz de diminuir a mortalidade hospitalar
de 37% para 30,8% em dois anos. Apesar de reduções significativas na mortalidade, isso não
repercutiu necessariamente em melhoria da qualidade de vida dos sobreviventes. Muitas vezes
os pacientes que sobrevivem a um episódio de sepse grave ou choque séptico não são capazes
de retomar suas atividades usuais e podem desenvolver algum dano neurológico transitório,
ou até mesmo permanente (Hopkins e cols.; 2006).
54
Modelos experimentais que sejam representativos dos eventos que ocorrem na sepse
clínica são essenciais para o estudo dos mecanismos bem como para o desenvolvimento de
novas terapias na sepse. Nos últimos anos, um dos grandes dilemas no estudo da sepse foi a
dificuldade em transferir os achados experimentais para a prática clínica bem como introduzir
variáveis clínicas (ventilação mecânica, ressuscitação volêmica, antibióticos, etc.) nos
modelos experimentais (Dyson.; 2009). Na prática, a evolução dos pacientes depende das
comorbidades, da origem da sepse e das terapêuticas aplicadas, enquanto em modelos
experimentais essas variáveis costumam não estar presentes, que na maioria das vezes
utilizamos animais jovens e saudáveis, com uma intensidade de doença e evolução temporal
diferente daquela encontrada na clínica. Desta forma, estes fatores têm sido apontados como
um dos motivos para o fato de que muitos estudos farmacológicos falharam na translação do
resultado da bancada para a beira do leito (Marshal e cols.; 2005).
Nesta tese foram apresentados os resultados da padronização de um modelo de sepse
abdominal polimicrobiana desenhado para reproduzir alguns dos aspectos da sepse em
humanos. O uso de reposição volêmica e antibioticoterapia foram fatores incluídos no
modelo, que consideramos importantes na aproximação deste para a condição clínica. Os
achados de disfunção orgânica como choque, disfunção renal, hepática e hipoperfusão
periférica estavam presentes no nosso modelo, representados por aumento na uréia, creatinina
(figura 4.4), TGO, TGP (figura 4.5) e lactato sérico (figura 4.3) nas análises de 6 e 24 horas
após a sepse. Desta forma, foi possível caracterizar a SDOM neste modelo.
A elevação de citocinas tanto no sangue periférico quanto no líquido peritoneal
comprovaram a resposta inflamatória neste modelo. A IL-é uma das primeiras citocinas a
ser liberada na sepse e pode estar aumentada de 30 a 90 minutos após estímulo (Thijs e col.;
1995). No nosso modelo, o aumento da IL-foi detectado no plasma nas primeiras 6h. IL-6
e MIP-também apresentaram aumento tanto no sangue quanto no líquido peritoneal 6 e
24h após a indução da sepse.
Foi possível observar queda nos leucócitos totais, células mononucleares e neutrófilos
no sangue, o que sugere migração e seqüestro dessas células pelo processo inflamatório. No
líquido peritoneal houve aumento progressivo dessas células evidenciando a migração de
células inflamatórias para o local do insulto. Esse conjunto de resultados nos fez acreditar que
este modelo é capaz de representar diferentes aspectos da sepse em humanos.
A escolha deste modelo para o estudo da EAS não se deu por acaso. O fato do modelo
de injeção de fezes não envolver ato cirúrgico e nem o uso de anestésicos foi determinante.
Diversos estudos descrevem a presença de delirium como uma complicação pós operatória. O
delirium no paciente cirúrgico piora o prognóstico e aumenta o tempo de internação.
55
controvérsias quanto se esta alteração neurológica está associada ao ato cirúrgico, resposta
inflamatória sistêmica ou ao uso de anestésicos (Ramaiah e col.; 2009 e Sieber; 2009).
Interpretamos que o uso do modelo CLP, o mais utilizado para estudo da sepse, poderia
incluir fatores confundidores para o estudo da EAS, uma vez que inclui um procedimento
cirúrgico e utiliza anestésicos para a analgesia/anestesia.
Trabalhos anteriores em sobreviventes de terapia intensiva mostraram que a grande
maioria dos pacientes apresenta algum grau de dano cognitivo no momento da alta hospitalar.
Girard e colaboradores (2010) relacionaram a presença de delirium com dano cognitivo a
longo prazo. Estes autores avaliaram pacientes ventilados mecanicamente que apresentaram
delirium na unidade de terapia intensiva. A média do tempo que os pacientes permaneceram
em delirium foi de dois dias. Na avaliação três meses após a internação na terapia intensiva,
80% dos pacientes apresentavam algum grau de dano cognitivo. Ainda que o número de
pacientes com dano cognitivo grave tenha diminuído ao longo de um ano, 70% dos pacientes
ainda apresentavam algum déficit na avaliação de 12 meses. A principal alteração observada
em pacientes após estarem na terapia intensiva foi déficit de memória (Hopkins e cols.; 1999
e Angus e cols.; 2001).
Para avaliar o dano cognitivo no modelo de injeção de fezes intraperitoneal realizamos
o teste de habituação ao campo aberto ("open field"). Este teste é capaz verificar dano
cognitivo, mais especificamente a capacidade exploratória e alterações na memória de
roedores (Vianna e cols.; 2000). Nossos resultados mostraram que os animais controle
perderam o interesse exploratório no segundo dia (teste) que entram em contato com a caixa
de avaliação, por reconhecerem o meio que tiveram contato no dia anterior (treino) (figura
4.10). os animais que sobreviveram a sepse mantiveram o mesmo grau de exploração no
primeiro e no segundo dia de avaliação, sugerindo uma incapacidade de reconhecer o
ambiente com o qual teve contato no dia anterior.
A capacidade de fixação de memória destes animais foi analisada 10 dias após a sepse,
período no qual já houve recuperação do processo infeccioso. Não há relato na literatura desta
mesma análise realizada em camundongos. Quando comparados com uma avaliação
semelhante realizada em ratos, os achados são bastante próximos (Barichello e cols.; 2005). A
presença de um déficit cognitivo nestes animais mimetiza ao menos parcialmente o que
observamos em pacientes que sobrevivem à sepse. Nossos resultados confirmam a presença
de EAS neste modelo experimental e nos permite a investigação dos mecanismos biológicos
envolvidos.
A fisiopatologia da EAS ainda não é totalmente esclarecida. O dano cognitivo a longo
prazo pode estar relacionado a alterações que ocorrem agudamente durante a sepse. A
56
presença de quebra da barreira hematoencefálica foi demonstrada durante a sepse (Bozza e
cols.; 2009 e Sharshar e cols.; 2007). Falhas nesta barreira favorecem o contato do sistema
nervoso central com componentes bacterianos, favorecendo a ativação da microglia. Este
processo neuro-inflamatório também inclui a e produção de citocinas no tecido cerebral.
Alterações no metabolismo cerebral, bem como a geração de dano oxidativo durante a sepse
foram demonstradas (Dávila e cols.; 2008 e Barrichello e cols.; 2006) Nos perguntamos se
essas alterações variavam ao longo do curso da sepse (6 e 24h) e qual seria o envolvimento do
metabolismo cerebral de glicose nesta fisiopatologia.
A glicose é o principal substrato para o metabolismo cerebral. Transportadores de
glicose conhecidos como GLUT transportam glicose da corrente sanguínea para o cérebro.
GLUT 1 está presente principalmente em células endoteliais da BHE enquanto GLUT 3 está
presente nos neurônios. GLUT 1 é capaz de regular a captação de glicose pela sua presença na
parede luminal das células endoteliais. Havendo necessidade, transportadores podem ser
recrutados aumentando o número de GLUT 1 luminal (Simpson e cols.; 2007). De uma forma
geral, 85% da energia cerebral é consumida pelos neurônios que utilizam com substrato
preferencial a glicose (Porras e cols.; 2004). A glicose se difunde da lâmina basal e interstício
para dentro do neurônio. Uma vez dentro do neurônio a glicose pode ser usada para o
metabolismo oxidativo ou para geração de lactato. O lactato gerado pelo neurônio serve de
fonte energética para astrócitos. Quando estimulado, o neurônio aumenta a geração de lactato
que se difunde para o interstício e é captado por astrócitos. O lactato também é capaz de
atravessar a BHE chegando a circulação sistêmica (Simpson e cols.; 2007) .
O 6-NBDG é um análogo fluorescente da glicose capaz de entrar na célula através dos
transportadores de glicose e representa uma ferramenta simples e valiosa na análise da
captação de glicose celular. A partir desta metodologia foi possível documentar aumento na
captação de glicose pelo córtex cerebral 6h e 24h após a indução da sepse (figura 4.11). O
aumento da captação de glicose em diversos tecidos durante a sepse já foi documentada
(Meszaros e cols.; 1987 e Vary e cols.; 1995), tanto em humanos quanto em animais. No
entanto, no caso do cérebro a literatura ainda é bastante limitada e os resultados conflitantes.
Dois trabalhos analisaram a captação de glicose por tomografia por emissão de prótons em
cérebros de ratos submetidos a endotoxemia (Battelino e cols.; 1996 e Semmler e cols.; 2008).
Ambos mostraram diminuição na captação de glicose. Esse resultado foi o oposto do que
encontramos. A técnica de tomografia por emissão de prótons exige que o animal seja sedado
o que pode justificar diminuição no metabolismo de glicose. Por outro lado, Bozza e
colaboradores (manuscrito em preparação) utilizando essa mesma técnica de tomografia por
57
emissão de prótons, evidenciaram aumento na captação de glicose cerebral 2h, 6h e 24h após
a indução da sepse.
Não encontramos na literatura análise da captação de glicose durante a sepse por
NBDG apesar de esta cnica ser equivalente a tomografia por emissão de prótons (Sheth e
cols.; 2009). A medida da captação de glicose reflete a demanda metabólica do tecido e/ou
uma maior disponibilidade de receptores GLUT 1 na superfície luminal da BHE. Em um
modelo de isquemia e reperfusão cerebral em ratos, observou-se que na presença de isquemia
diminuição na captação de glicose na área de infarto, porém aumento de captação na área
de penumbra. A diminuição na captação de glicose durante a isquemia está relacionada com a
injúria celular irreversível (Martin e cols.; 2009). Neste caso, acredita-se que o aumento na
captação de glicose está relacionado a melhor prognóstico e favorece a recuperação celular na
área de penumbra.
Por outro lado, hiperglicemia cerebral está relacionada a disfunção mitocondrial,
aumento no estresse oxidativo e conseqüentemente apoptose (Singer; 2008). Além disso, a
hiperglicemia aumenta a vulnerabilidade da microglia ao LPS (Lacobone e cols.; 2009)
intensificando a resposta inflamatória. A indução de hiperglicemia em cérebro de embriões de
ratos está relacionada ao aumento da produção de ROS (Silva e cols.; 2004). A inflamação é
capaz de mobilizar receptores GLUT para a parede luminal da célula na BHE, aumentando a
captação da glicose o que pode contribuir para o dano oxidativo que por sua vez está presente
em diversas doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer (Bishop e cols.; 2010).
Geração de energia pela mitocôndria é um sistema complexo e em parte controlado
pela demanda metabólica. Em períodos de maior atividade a produção de ATP aumenta
visando manter níveis mínimos e evitando o desencadeamento do processo de apoptose.
Queda abrupta na oferta de oxigênio compromete drasticamente o metabolismo celular. Por
outro lado, queda gradativa permite um processo de adaptação fenotípica da célula podendo
ser um mecanismo de proteção a inflamação prolongada (Singer e cols.; 2007). Este processo
se assemelha ao de hibernação. Levy a colaboradores (2005) descreveram alterações
histológicas durante a sepse que são análogas àquelas encontradas durante o processo de
hibernação como depósito de glicogênio e aumento na regulação dos transportadores de
glicose. Uma vez que o paciente sobrevive a sepse, o metabolismo é restaurado, aumento
energético e o órgão acometido tende a se recuperar. No entanto, o papel desempenhado pelo
aumento da captação de glicose nas fases iniciais da sepse em relação a geração de ROS e a
disfunção mitocondrial, requer futuras investigações.
Durante a sepse ocorrem mudanças funcionais e estruturais na mitocôndria. As
principais alterações estruturais são perda na integridade da membrana interna e inchamento
58
da mitocôndria (Singer; 2007). Em relação as alterações funcionais alguns mecanismos estão
envolvidos. É possível observar inibição de complexos da cadeia mitocondrial e/ou
desacoplamento sugerindo perda da eficiência da fosforilação oxidativa seja pela ativação de
proteínas desacopladas ou pela abertura dos poros de permeabilidade com dissipação do
potencial de membrana mitocondrial (ΔΨm). A cadeia respiratória é alvo de diversas
substâncias geradas durante a sepse. O TNFα e NO diminuem a atividade da citocromo c
oxidase. Peroxinitrito gerado a partir reação de NO com ânion superóxido inibe os complexos
I e III da cadeia respiratória (Harrois e col.; 2009).
Glutationa é um importante antioxidante e protege o complexo I mitocondrial de
espécies reativas. Quando depleção de glutationa o complexo I é inativado e esta é a
principal alteração encontrada na cadeia mitocondrial durante a sepse (Singer; 2008). Em um
estudo in vivo com ratos sépticos, a administração de succinato, que doa elétron diretamente
para o complexo II ultrapassando o bloqueio do complexo I, foi capaz de reverter
completamente a queda no consumo de oxigênio (Protti e cols.; 2007).
Mudanças no funcionamento da bioenergética cerebral representam mecanismos
comuns entre os diferentes processos neurodegenerativos. O desenvolvimento de déficit
cognitivo e demência estão diretamente relacionados com disfunção mitocondrial e estresse
oxidativo em diferentes doenças neurológicas (Bishop e cols.; 2010). Nas doenças
neurodegenerativas, como Alzheimer, não perda neuronal significativa, mas sim alteração
nas sinapses prejudicando a conectividade e integridade cerebral. A presença de disfunção
mitocondrial diminui a expectativa de vida de alguns invertebrados, enquanto o aumento da
respiração mitocondrial é capaz de aumentar a expectativa de vida de leveduras (Bishop e
cols.; 2010). No Alzheimer os complexos mitocondriais IV e V apresentam disfunção
(Ferrer.; 2009). Alterações no complexo IV também ocorrem na disfunção mitocondrial na
sepse (D`àvila e cols.; 2008). A disfunção mitocondrial tende a atingir principalmente células
com alta demanda energética, e o cérebro por ter alto consumo de oxigênio por grama de
tecido e poucas defesas antioxidantes, se torna bastante suscetível durante a sepse (Halliwell;
2006).
Nesta tese observamos alterações na função mitocondrial em fatias de córtex cerebral.
A avaliação da função mitocondrial foi realizada a partir de medidas do consumo de oxigênio
em respirografia de alta resolução. No nosso protocolo, adicionamos glicose, que serviu como
substrato para cadeia respiratória e oligomicina como um inibidor da ATP sintase. A adição
gradativa de oligomicina foi responsável pela diminuição do consumo de oxigênio observada
após a sua adição, tanto nos animais sépticos quanto nos controles (figura 4.12). Nas
primeiras 6h após a indução da sepse, observamos um aumento no consumo de oxigênio em
59
relação ao animal controle. em 24h, o consumo de oxigênio caiu abaixo do controle.
Diversos estudos (revisto por Singer, 2007) mostram mudanças na função mitocondrial
durante a sepse. Poucos estudos dão ênfase na disfunção mitocondrial nas primeiras 6h da
sepse. Rosser e colaboradores (1998) verificaram em 6h aumento no consumo de oxinio por
hepatócitos expostos à endotoxina. Em 24h o consumo de oxigênio caiu significativamente.
Estudo realizado em ratos sépticos mostrou aumento da fosforilação oxidativa em mitocôndria
hepática com posterior diminuição em 18h (Ohtoshi e cols.; 1984). Não encontramos relatos
na literatura de medida de consumo de oxigênio cerebral nas primeiras 6h de sepse.
D`Ávila e colaboradores (2008) avaliaram a disfunção da mitocôndria cerebral em 24h
de sepse. Foi observado o consumo de oxigênio após adição de ADP em homogenato de
cérebro de animais controle e animais submetidos ao CLP. Após a adição de ADP, os dois
grupos mantiveram o mesmo consumo de oxigênio para produção de ATP. O consumo de
oxigênio acoplado a síntese de ATP é chamado de estado 3. Uma vez que todo o ADP foi
consumido, não mais produção de ATP. O consumo de oxigênio não relacionado com a
síntese de ATP é chamado de estado 4. Os animais sépticos mostraram aumento na respiração
no estado 4 sugerindo desacoplamento da fosforilação oxidativa.
Nesta tese, não foi realizado o estudo específico dos estados 3 e 4. Não sabemos se o
aumento no consumo de oxigênio que encontramos nas primeiras seis horas está relacionado
ao aumento na produção de ATP ou ao desacoplamento mitocondrial. A queda no consumo de
oxigênio induzido pela oligomicina pode ser uma evidência contra o desacoplamento, uma
vez que o consumo de oxigênio cai com a inibição gradual da ATP sintase, podemos supor
que este oxigênio estava sendo usado para produção de ATP.
Outra possibilidade para o aumento no consumo de oxigênio seria o aumento no
número de mitocôndrias no animal séptico devido a biogênese mitocondrial. Este fenômeno já
foi descrito em pacientes sépticos e está inclusive relacionado com melhor prognóstico (Carré
e cols.; 2010). No entanto a biogênese mitocondrial costuma ser mais tardia, característica da
fase de recuperação do metabolismo oxidativo (Haden e cols.; 2007). Aumento no RNAm do
PGC1alpha (coativador transcripcional da biogênese mitocondrial) e na superóxido dismutase
manganês (proteína do estresse oxidativo mitocondrial) na musculatura de pacientes que
sobreviveram a sepse comprova que a presença de biogenese mitocondrial e de defesas
antioxidantes estão relacionados com a recuperação da sepse e com um melhor prognóstico
(Carré e cols.; 2010).
A diminuição no consumo de oxigênio em 24h pode estar relacionada ao processo de
hipóxia citotóxica no qual a célula não consome oxigênio, independente da sua
disponibilidade. Este processo de diminuição na necessidade e na produção de energia pela
60
célula que foi interpretado como puramente patológico, credita-se ser parte do processo de
adaptação e preservação celular. A inibição da cadeia respiratória ocorre por inativação dos
complexos a pela ação direta gases produzidos durante o processo inflamatório como óxido
nítrico, monóxido de carbono e sulfeto de hidrogênio. Esses gases competem com o oxigênio
pela citocromo oxidadase e favorecem a formação de espécies reativas.
O oxigênio é necessário para produção de ATP, por outro lado, é substrato para a
geração de ROS que podem ser extremamente tóxicas para a célula. Por ter alto metabolismo
e pouca capacidade de regeneração, o cérebro é mais sensível ao estresse oxidativo do que
outros órgãos. O estresse oxidativo está presente na fisiopatologia de doenças
neurodegenerativas crônicas como Parkinson e Alzheimer (Navarro e col.; 2009 e Bishop e
cols.; 2010) assim como nas alterações neurológicas agudas como a EAS. O estresse
oxidativo influencia diretamente a mitocôndria. Espécies reativas de nitrogênio e ROS inibem
a cadeia respiratória mitocondrial, mais especificamente os complexos I e IV (Singer e cols.;
2007). O próprio envelhecimento é capaz de aumentar o estresse oxidativo cerebral. Há
controvérsias se o estresse oxidativo seria o evento desencadeador da neurodegeneração,
porém não dúvida de que ele é capaz de aumentar o dano celular colaborando para o dano
cognitivo (Andersen; 2004).
Seguindo está linha de raciocínio, estudos experimentais em ratos submetidos a CLP
foram realizados para verificar a capacidade neuroprotetora de substâncias antioxidantes. N-
acetil-cisteína e deferoxamina em conjunto foram capazes de prevenir dano oxidativo no
hipocampo assim como distúrbios de aprendizado e de memória observados nos animais
sépticos (Barichello e cols.; 2007). Na malária cerebral, é comum haver desenvolvimento de
déficit cognitivo. O uso da N-acetil-cisteína e deferoxamina preveniu o déficit cognitivo em
modelos relevantes de malária cerebral em camundongos (Reis e cols.; 2010). Substâncias
antioxidantes podem ter papel importante no tratamento na EAS.
Nesta tese analisamos o estresse oxidativo a partir da medida de substâncias reativas
do ácido tiobarbitúrico (TBARS). TBARS, produto da peroxidação lipídica, são marcadores
indiretos de estresse oxidativo. Nas primeiras 6h de sepse encontramos aumento de TBARS
em diversas regiões do cérebro. Não observamos qualquer alteração na quantidade de TBARS
em 24h (dados não mostrados). Isso mostra que o estresse oxidativo no cérebro é precoce,
diferente de outros tecidos. Esses resultados são compatíveis com a literatura (Barichello e
cols.; 2006). Em humanos já foi demonstrado presença de TBARS no liquor de pacientes com
EAS (Takezawa e cols.; 1983). O aumento na peroxidação lipídica também ocorre em
doenças associadas a dano cognitivo crônico como Parkinson e Alzheimer (Andersen; 2004).
61
Padrões moleculares associados a microorganismos e citocinas pró inflamatórias geram
ativação endotelial com aumento da expressão de moléculas de adesão e mudança no tônus
vascular. ruptura da BHE e a resposta inflamatória gerada pela sepse é capaz de atingir o
cérebro. A microglia, principal célula imune presente no cérebro, em condições fisiológicas
expressa o seu fenótipo desativado. Porém, quando quebra da BHE, por terem na sua
superfície TLR, a microglia é capaz de reconhecer moléculas associadas a patógenos
circulantes. A partir desse momento a resposta inflamatória é desencadeada com produção de
citocinas em colaboração com a resposta sistêmica. Geralmente esta resposta é limitada e
interrompida uma vez que a infecção foi controlada. Quando o estímulo inflamatório
permanece, com falha nos mecanismos fisiológicos de resolução, é desencadeado um
processo de neurodegeneração (Glass e cols.; 2010).
A partir do conjunto de resultados desta tese, fomos capazes de estabelecer um cenário
geral dos possíveis mecanismos envolvidos na EAS. Nas primeiras 6 horas da sepse, o que
observamos foi um aumento no consumo de oxigênio e na captação de glicose pelo córtex
cerebral. Há ainda aumento do estresse oxidativo. Com a persistência do processo
inflamatório, o consumo de oxigênio cai de maneira significativa em 24h. O consumo de
glicose continua alto podendo este ser substrato para respiração anaeróbia com geração de
lactato que pode servir como fonte energética para neurônios e astrócitos uma vez que a
geração de ATP pela cadeia respiratória mitocondrial encontra-se diminuída.
A persistência da neuroinflamação com algum grau de disfunção mitocondrial e
estresse oxidativo, está associado ao déficit cognitivo de longo prazo, não só na sepse mas em
outros processos neurodegenerativos como Alzheimer, doença de Parkinson, esclerose
múltipla e esclerose lateral amiotrófica. Todas essas patologias têm fatores desencadeantes
distintos, porém uma vez iniciadas a ativação na microglia leva a amplificação da resposta
inflamatória e produção de mediadores neurotóxicos.
Nossas perspectivas futuras são compreender melhor diferença entre a EAS com boa
recuperação e aquela que desencadeia a demência ou estabelece déficit cognitivo permanente.
Pretendemos estudar a produção de espécies reativas de oxigênio e o papel da glicose no
estresse oxidativo. Desta forma será possível colaborar com propostas terapêuticas para sepse
que não sejam capazes de diminuir a mortalidade mas de manter a qualidade de vida dos
pacientes acometidos.
62
glicose glicose
Precoce (6h)
Glut 1 Glut 1
ROS
Consumo O2
UCP?
LPS
ROS
Citocinas
E
N
D
O
T
É
L
I
O
Microglia
Neurônio
ROS ROS
Tardio (24h)
glicose
glicose
Glut 1 Glut 1
LPS
ROS
Citocinas
E
N
D
O
T
É
L
I
O
Consumo O2Consumo O2
Microglia ativada Neurotoxicidade
Figura 5.1: Fisiopatologia envolvida na encefalopatia associada a sepse. A ruptura da barreira
hematoencefálica favorece a passagem de substâncias neurotóxicas. Nas primeiras 6h
observamos aumento da captação de glicose, aumento no consumo de oxigênio e aumento no
stress oxidativo.Em 24h a captação de glicose permanece aumentada, porém ao consumo de
oxigênio diminui e não detectamos aumento de stress oxidativo. Espécies reativas produzidas
precocemente são capazes de ativar a microglia e causar neurotoxicidade.
63
6.0 CONCLUSÃO
O modelo de injeção de fezes intraperitoneal é capaz de reproduzir a resposta
inflamatória e as disfunções orgânicas induzidas pela sepse.
O modelo de injeção de fezes intraperitoneal cursa com EAS e dano cognitivo.
A EAS cursa com aumento da captação de glicose em 6h e 24h após indução da sepse.
Nas primeiras 6h da sepse aumento no consumo de oxigênio pela mitocôndria no
córtex cerebral, com posterior queda em 24h.
Diversas regiões do cérebro apresentam aumento do estresse oxidativo nas primeiras
6h após indução da sepse.
64
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