Download PDF
ads:
Reginaldo Francisco
REIS CAOLHOS E CAJADADAS EM COELHOS:
a questão da tradução de provérbios e expressões idiomáticas
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Estudos da
Tradução da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Estudos da Tradução: Teoria, crítica e
história da tradução.
Orientador: Prof. Dr. Mauri Furlan
Coorientadora: Profa. Dra. Maria
Lúcia Barbosa de Vasconcellos
FLORIANÓPOLIS
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária
da
Universidade Federal de Santa Catarina
.
F819r Francisco, Reginaldo
Reis caolhos e cajadadas em coelhos [dissertação] : a
questão da tradução de provérbios e expressões idiomáticas
/ Reginaldo Francisco ; orientador, Mauri Furlan. –
Florianópolis, SC, 2010.
232 p.: tabs.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de
s-Graduação em Estudos da Tradução.
Inclui referências
1. Tradução e interpretação - Expressões idiomáticas.
2. Linguística. 3. Provérbios. I. Furlan, Mauri. II.
Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Tradução. III. Título.
CDU 801=03
ads:
Reginaldo Francisco
REIS CAOLHOS E CAJADADAS EM COELHOS: a questão da
tradução de provérbios e expressões idiomáticas
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de
Mestre em Estudos da Tradução e aprovada em sua forma final pelo
Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução da Universidade
Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, agosto de 2010.
________________________
Prof. Dr.Walter Carlos Costa
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr. Mauri Furlan
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Profa. Dra. Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos
Co-Orientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Profa. Dra. Claudia Borges de Faveri
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Profa. Dra. Germana Henriques Pereira de Sousa
Universidade de Brasília
À Roberta, companheira constante, meu
equilíbrio, que me faz uma pessoa bem
melhor do que eu conseguiria ser sozinho.
A todos os amigos, próximos e distantes, que
me fazem achar a vida uma experiência
fantástica, e que me enchem de uma saudade
permanente espalhada “pelos quatro cantos
do mundo”.
AGRADECIMENTOS
Vendo concretizar-se o resultado deste trabalho, devo sinceros
agradecimentos a todos que colaboraram para seu desenvolvimento, em
especial:
Ao meu orientador Prof. Dr. Mauri Furlan e à minha
coorientadora Profa. Dra. Maria Lúcia Vasconcellos, pelas leituras
atentas e sábias sugestões, que tanto contribuíram para minha pesquisa e
para a escrita desta dissertação. Antes deles (temporalmente), à minha
família, à Profa. Dra. Claudia Zavaglia e à Profa. Dra. Cristina Carneiro
Rodrigues, que me ensinaram, das mais diversas (e às vezes misteriosas)
formas, a trabalhar com rigor;
A todos que me ajudaram a reunir o material necessário para esta
pesquisa, especialmente à Profa. Me. Márcia Moura da Silva, à Profa.
Dra. Cláudia Borges de Fáveri e à Profa. Dra. Marie-Hélène Catherine
Torres, por me emprestarem os diversos Macunaímas;
Ao Deni Yuzo Kasama, amigo constante e prestativo, pelo
auxílio nas consultas a materiais da Biblioteca da UNESP de São José
do Rio Preto (SP);
Ao Gino Dornelles, por ouvir e, quando possível, ajudar a sanar
minhas dúvidas de informática;
Aos desenvolvedores do BrOffice Writer (BrOffice.org), por
disponibilizarem gratuitamente esta ferramenta que agilizou bastante
minha escrita;
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino
Superior (CAPES) e à Pós-graduação em Estudos da Tradução (PGET),
pela bolsa que me permitiu a dedicação necessária para a conclusão
deste trabalho.
“O papel tudo aceita.”
(Meus pais, ensinando-me, quase sem querer, a
ser um leitor crítico, e Pérez (1961), com base em
muitos outros antes deles, registrando o
ensinamento entre seus Provérbios brasileiros.)
RESUMO
Provérbios e expressões idiomáticas (EIs) são lexias complexas que têm
em comum características como indecomponibilidade, cristalização na
língua e sentido conotativo. O objetivo deste trabalho é investigar a
questão da tradução de provérbios e EIs, buscando reunir estratégias
possíveis para lidar com esses fraseologismos no ato tradutório.
Primeiramente, é realizada uma revisão bibliográfica na qual são
analisados diferentes pontos de vista de diversos autores a respeito do
tema. Com base nessa revisão, propomos uma sistematização das
soluções mencionadas na bibliografia em dez estratégias de tradução.
Em seguida, é apresentada a composição e a análise de um corpus
composto por trechos retirados do romance brasileiro Macunaíma: o
herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade, contendo provérbios e
EIs, acompanhados dos trechos correspondentes em traduções para o
italiano, o espanhol, o inglês e o francês. Nesse corpus, estudamos cada
solução utilizada para traduzir provérbios e EIs, verificando se se
assemelham às estratégias previstas a partir da bibliografia.
Palavras-chave: Provérbios. Expressões Idiomáticas. Estratégias de
Tradução.
ABSTRACT
Proverbs and idioms are frozen patterns of language which have some
characteristics in common: they allow little or no variation in form and
have a figurative meaning, which is conventional and fixed in the
language. This study aims at investigating the translation of proverbs
and idioms, seeking to gather strategies to deal with them when
translating literature. Firstly, a bibliography about the subject is
examined, in order to compare different authors’ points of view. The
solutions mentioned in that bibliography are then systematized into a set
of ten translation strategies. Finally, we build up and analyze a corpus
with excerpts from the Brazilian novel Macunaíma: o herói sem nenhum
caráter, by Mário de Andrade, containing proverbs and idioms,
followed by the corresponding excerpts from its translations into Italian,
Spanish, English and French. The solutions found in the corpus to
render proverbs and idioms are studied, in order to verify whether they
are similar to those established based on the bibliography.
Keywords: Proverbs. Idioms. Translation Strategies
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................... 17
CAPÍTULO 1: DEFINIÇÕES, DELIMITAÇÕES E
CARACTERÍSTICAS ........................................................................ 29
1.1 CATEGORIAS MAIS AMPLAS............................................... 30
1.2 DEFINIÇÃO: EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS......................... 33
1.3. DEFINIÇÃO: PROVÉRBIOS................................................... 34
1.4 CARACTERÍSTICAS EM COMUM ........................................ 37
1.4.1 Indecomponibilidade......................................................... 37
1.4.2 Conotação...........................................................................39
1.4.3 Cristalização ...................................................................... 43
1.5 OUTRAS CARACTERÍSTICAS............................................... 45
1.5.1 Outras características das EIs.......................................... 46
1.5.2 Outras características dos provérbios............................. 48
CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS A RESPEITO DA TRADUÇÃO
DE PROVÉRBIOS E EIS................................................................... 55
2.1 BERMAN ...................................................................................55
2.2 NIDA .......................................................................................... 59
2.3 BURITY ..................................................................................... 66
2.4 BAKER....................................................................................... 67
2.5 RÓNAI........................................................................................ 72
2.6 XATARA.................................................................................... 74
2.7 OUTROS LEXICÓGRAFOS E A QUESTÃO DOS
DICIONÁRIOS BILÍNGUES .......................................................... 78
2.8 MALLAFRÈ E MONLLOR....................................................... 82
2.9 OUTROS AUTORES E A PREFERÊNCIA PELA BUSCA DE
CORRESPONDENTES ................................................................... 89
CAPÍTULO 3: SISTEMATIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS PARA
TRADUÇÃO DE PROVÉRBIOS E EIS........................................... 93
3.1 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE LITERAL .............. 94
3.2 TRADUÇÃO LITERAL ............................................................ 96
3.3 TRADUÇÃO POR FIGURA DE LINGUAGEM NÃO-
CONSAGRADA ............................................................................ 100
3.4 TRADUÇÃO DA LETRA........................................................ 101
3.5 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE NÃO-LITERAL .. 104
3.6 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE ADAPTADO....... 107
3.7 TRADUÇÃO POR CRIAÇÃO DE CORRESPONDENTE..... 108
3.8 TRADUÇÃO POR PARÁFRASE ........................................... 110
3.9 TRADUÇÃO POR OMISSÃO ................................................ 112
3.10 COMPENSAÇÃO.................................................................. 113
3.11 RESUMO DAS ESTRATÉGIAS........................................... 114
CAPÍTULO 4: ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO CORPUS....... 117
4.1 COMPOSIÇÃO DO CORPUS................................................. 117
4.2 SELEÇÃO E VALIDAÇÃO DE PROVÉRBIOS E EIS ......... 118
4.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEXTO ......................................... 120
4.4 ANÁLISE DO CORPUS E RESULTADOS OBTIDOS ......... 120
4.4.1 Ocorrências de tradução por paráfrase........................ 121
4.4.2 Ocorrências de tradução por correspondente literal... 123
4.4.3 Ocorrências de tradução literal..................................... 128
4.4.4 Ocorrências de tradução por correspondente não-literal
................................................................................................... 131
4.4.5 Ocorrências de tradução da letra .................................. 134
4.4.6 Ocorrências de tradução por figura de linguagem não-
consagrada................................................................................ 139
4.4.7 Ocorrências de tradução por correspondente adaptado
................................................................................................... 142
4.4.8 Ocorrências de tradução por criação de correspondente
................................................................................................... 143
4.4.9 Ocorrências de compensação......................................... 145
4.4.10 Ocorrências de tradução por omissão......................... 148
4.4.11 Estratégias coincidentes................................................ 148
4.4.12 Estratégias concorrentes .............................................. 150
4.4.13 Soma de estratégias....................................................... 152
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 155
REFERÊNCIAS................................................................................ 159
ANEXO – CORPUS.......................................................................... 175
17
INTRODUÇÃO
Frequentes em muitas línguas, se não em todas, os provérbios e
as expressões idiomáticas (EIs) apresentam um estatuto ambíguo: por
um lado, muitos se manifestam de formas semelhantes em diversos
idiomas, e geralmente é possível encontrar correspondentes
1
(inclusive
porque vários são importados de uma língua para outra); por outro lado,
essas lexias mantêm uma forte relação com as culturas e os povos nos
quais ocorrem. Neste trabalho, estudamos a questão da tradução desses
fraseologismos, numa tentativa de reunir as possíveis soluções para lidar
com esse estatuto ambíguo no texto traduzido.
Consideramos ser relevante refletir sobre a tradução de
provérbios e EIs por eles serem bastante utilizados em textos literários
(além de publicitários, jornalísticos, etc.)
2
, proporcionando efeitos
expressivos que merecem a atenção do tradutor que pretenda tornar
esses textos disponíveis em outras línguas e para outras culturas. De
fato, conforme Xatara (2008), os idiomatismos constituem uma “fonte
constante de problemas para o tradutor”, uma vez que,
por representarem expressões lingüísticas
culturalmente construídas, ou seja, típicas de uma
determinada cultura e próprias a uma determinada
língua, são considerados, por muitos,
intraduzíveis. Na realidade, retratam um dos
indícios de uma mentalidade nacional, pois se a
cultura vem do povo, a língua exprime e molda o
espírito do povo e a alma da nação, naquilo que
eles têm de mais específico, como diz Humboldt.
(p. 65)
Na mesma linha de pensamento, a pesquisadora Maria Tereza
Camargo Biderman acredita que o conjunto dos provérbios de uma
nação, “se de um lado remete à identidade profunda de seu povo, de
outro constitui domínio linguístico que levanta inúmeros obstáculos para
o tradutor”. Quanto às EIs, essa autora chega a afirmar que sejam “a
1
O conceito de “correspondente” utilizado neste trabalho é discutido no capítulo 2, no qual
também se justifica a escolha deste termo em detrimento de “equivalente”.
2
Apesar de termos consciência de que essas lexias ocorrem também em outros tipos de texto,
para não tratarmos de gêneros demasiadamente distintos, o que obrigaria a considerar muitos
outros aspectos, neste trabalho ocupamo-nos apenas da tradução literária. Ademais, a esta se
refere a grande maioria da bibliografia utilizada. Para um estudo sobre idiomatismos em textos
publicitários, ver Ferraz e Souza (2004).
18
área mais problemática e que maiores dificuldades apresenta na tradução
de uma ngua para outra”, pois reúnem “as idiossincrasias, a
idiomaticidade medular de uma cultura” (In XATARA e OLIVEIRA,
2008, p. 11).
Galisson (1989) também crê que os idiomatismos, por serem
lexias conotativas que fazem parte da cultura compartilhada de um
povo, constituem certo problema para tradutores e estudiosos de línguas
estrangeiras. De acordo com ele, por meio dessa cultura compartilhada,
que rege o cotidiano, os indivíduos de um grupo sociocultural se
identificam, se reconhecem e se aproximam, advindo daí a dificuldade
do estrangeiro para compreender os falantes nativos, se não possuir essa
cultura cotidiana (CAMACHO, 2008, p. 40).
Como frequentemente o tradutor é um estrangeiro, conforme
aponta Rios (2003), ou seja, a língua da qual traduz não é sua língua
materna, para traduzir uma EI ele “recorre a dicionários e outros
materiais de consulta, ou a seu conhecimento, adquirido em aulas de
língua estrangeira e com base em sua vivência, como estrangeiro, em
um país onde se fale essa língua” (p. 56). A mesma autora menciona
ainda que o tradutor pode encontrar obstáculos nessa pesquisa pelo fato
de por muito tempo a linguagem coloquial, parte da cultura cotidiana,
não ter sido aprendida na escola nem descrita seriamente e,
consequentemente, não ter sido incluída nos materiais de referência.
Nosso interesse pelo tema nasceu a partir da leitura do livro A
tradução e a letra ou o albergue do longínquo, do teórico e crítico de
tradução francês Antoine Berman (1985/1999/2007)
3
. Nessa obra,
resultante de um seminário realizado em 1984 no Collège International
de Philosophie, em Paris, o autor faz uma defesa contundente da
tradução da “letra” do texto original, ou seja, aquela que tem sua
“atenção voltada para o jogo de significantes(BERMAN, 2007, p. 16),
e um exemplo utilizado por ele para indicar o que seria (e o que não
seria) traduzir dessa forma é a tradução de provérbios e “locuções”
(“locutions”)
4
. Assim, Berman (2007) considera que essas ocorrências
3
A primeira edição em francês (La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain) foi
publicada em 1985. Neste trabalho utilizamos a tradução para o português de Marie-Hélène
Catherine Torres, Mauri Furlan e Andréia Guerini, publicada em 2007 e realizada a partir da
segunda edição francesa, de 1999.
4
Em nosso capítulo 1, veremos que o termo “locuções” não é definido claramente pelo autor,
porém nos parece bastante coerente considerar que se refira, se o totalmente, ao menos em
parte, ao que estamos chamando aqui de expressões idiomáticas (EIs). Seria possível também
atribuir uma significação mais abrangente ao termo, semelhante ao conceito de “lexia
complexa”, como utilizado em Francisco e Zavaglia (2008), mas neste caso teríamos um objeto
demasiadamente amplo para o presente trabalho, já que trataríamos de formas extremamente
19
devam ser traduzidas de uma maneira próxima à literalidade,
reproduzindo a imagem e as características formais presentes no
provérbio ou locução original, em lugar de substituí-los por
correspondentes na língua da tradução.
Diante desse posicionamento de Berman (2007), veio-nos o
interesse em pesquisar a visão de outros autores e reunir as diferentes
estratégias propostas para a tradução de provérbios e EIs.
Posteriormente, consideramos que seria produtivo também comparar
tais estratégias com aquelas utilizadas por tradutores profissionais em
um corpus de pequenas dimensões.
Portanto, o objetivo geral deste trabalho é chegar a um
levantamento de estratégias que poderiam ser empregadas para lidar
com provérbios e EIs no ato tradutório. Nesse sentido, tivemos como
objetivos específicos (i) realizar uma revisão crítica do que foi
afirmado a respeito desse assunto
5
por teóricos da tradução, tradutores,
lexicólogos e lexicógrafos
6
; (ii) analisar um corpus de traduções,
observando a ocorrência das estratégias estabelecidas a partir dessa
revisão bibliográfica e buscando definir se elas seriam suficientes para
dar conta de todos os casos observados. Esse corpus é composto por
trechos do romance brasileiro Macunaíma, o herói sem nenhum caráter,
de Mário de Andrade (1928), e os excertos correspondentes nas
traduções para o inglês, o italiano, o espanhol e o francês de E. A.
Goodland, Giuliana Segre Giorgi, Héctor Olea e Jacques Thiériot,
respectivamente.
Da mesma forma que Silva (2009), o conceito de estratégias que
empregamos aqui é aquele encontrado em Chesterman (2000) como
“formas de manipulação explicitamente textual […] diretamente
observáveis a partir do produto da tradução em comparação com o
variadas, indo desde “com certeza” ou “de fato”, por exemplo, até “De cavalo dado não se olha
os dentes” ou “Quem tudo quer nada tem”.
5
Obviamente, embora tenhamos nos esforçado para encontrar o máximo possível de
referências sobre o tema, temos ciência de não ser possível dar conta de absolutamente tudo
que foi afirmado a respeito. Mesmo considerando apenas a cultura ocidental, ainda
estivemos limitados ao que foi escrito nas línguas neolatinas que compreendemos, ou
traduzidas a elas, além das demais limitações relacionadas ao acesso a materiais e ao prazo
disponível para a realização do trabalho de pesquisa.
6
Apesar de tratarmos de espaços teóricos distintos, como tradução literária, no caso de Berman
(2007), e lexicologia/lexicografia, no caso de Xatara (1994, 1998, 2002), por exemplo,
julgamos válidas as comparações estabelecidas, tendo como eixo o tema da tradução de
provérbios e EIs, uma vez que tomamos o cuidado de buscar em cada texto as referências
específicas às possíveis soluções às quais o tradutor pode recorrer, em sua prática tradutória,
para lidar com esses elementos.
20
texto-fonte” (p. 89, grifo do autor)
7
. Chesterman (2000) afirma que o
ponto de partida de uma estratégia é sempre um problema, para o qual
ela ofereceria uma solução. Assim, no nosso caso temos o problema da
tradução de EIs e provérbios e estamos interessados nas estratégias que
possam ajudar a solucioná-lo. Nesse sentido, aquelas estudadas aqui se
identificam com o grupo das estratégias locais (local strategies)
proposto pelo autor (seguindo Jääskeläinen, 1993, e Séguinot, 1989),
que se refere a como traduzir uma dada estrutura, ideia ou item, em
oposição às estratégias globais (global strategies), que dizem respeito à
tradução de um certo texto ou tipo de texto (CHESTERMAN, 2000, p.
90-91).
Essa distinção é importante para nosso trabalho, pois não nos
inserimos na linha de estudos iniciada por Vinay e Darbelnet (1958),
que tenta estabelecer os diversos procedimentos adotados pelos
tradutores na tradução em geral
8
. Nosso interesse são unicamente as
estratégias possíveis para traduzir EIs e provérbios. Por esse motivo
preferimos a nomenclatura e a definição de Chesterman (2000) e não as
desses autores. Além disso, preferimos “estratégias” a
“procedimentos”
9
, por parecer-nos que, embora usual no campo dos
Estudos da Tradução, este último termo traz uma carga semântica mais
associada a regras que devem ser seguidas, enquanto o primeiro parece
transmitir melhor a ideia, pretendida neste trabalho, de soluções
possíveis, à escolha do tradutor, que pode decidir qual utilizar ou mesmo
não utilizar nenhuma delas.
7
forms of explicitly textual manipulation […] directly observable from the translation product
itself, in comparison with the source text”. Todas as traduções de citações em língua
estrangeira utilizadas neste trabalho, quando não houver menção em contrário, são de nossa
autoria.
8
Para uma revisão dos procedimentos descritos por esses autores e por diversos outros depois
deles, acompanhada de uma nova proposta de categorização para procedimentos de tradução,
ver Barbosa (1990).
9
Chesterman (2000) lembra ainda outras nomenclaturas:
The term ‘strategy’ has many different senses in psychology, sociology, linguistics and
applied linguistics, and translation theory. Different kinds of distinctions have been made
between strategies, tactics, plans, methods, rules, processes, procedures and principles etc.
(see e.g. Lörscher 1991): the result has been considerable terminological confusion.” (p. 87).
O termo ‘estratégia’ tem diversos sentidos diferentes na psicologia, na sociologia, na
linguística e na linguística aplicada, e na teoria da tradução. Diferentes tipos de distinções têm
sido feitos entre estratégias, táticas, planos, métodos, regras, processos, procedimentos,
princípios, etc. (ver por exemplo Lörscher, 1991): o resultado tem sido uma considerável
confusão terminológica.
Aubert (1984), trabalhando na linha de Vinay e Darbelnet (1958), prefere “modalidades” a
“procedimentos”.
21
Outra distinção mencionada por Chesterman (2000) é aquela
entre estratégias de compreensão (comprehension strategies) e
estratégias de produção (production strategies), aquelas tendo a ver com
a análise do texto-fonte e a natureza da tarefa de tradução e estas com as
manipulações do material linguístico visando a produzir um texto-alvo
apropriado (CHESTERMAN, 2000, p. 92). Neste trabalho tratamos
sempre de estratégias de produção, uma vez que, conforme destacamos
mais adiante, estamos interessados nas alternativas para traduzir EIs e
provérbios, considerando que tenha sido superada a etapa de
compreensão desses elementos.
Como a nomenclatura empregada pelos autores estudados em
relação aos fraseologismos com os quais estamos lidando é bastante
variável e muitas vezes confusa, reservamos o primeiro capítulo para
uma discussão conceitual. Por ora, vale dizer que ao longo de nosso
trabalho tomamos emprestada a seguinte definição para EI: “lexia
complexa indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela
tradição cultural” (XATARA, 1998, p.17; XATARA e OLIVEIRA,
2002, p. 57; XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 125). Além disso,
utilizamos o termo “idiomatismo” como sinônimo de EI
10
e os termos
“fraseologismo”, “lexia” e “lexia complexa” como hiperônimos nos
quais se incluem tanto os provérbios quanto as EIs.
Para provérbio, decidimos adotar a definição de Succi (2006):
UL [unidade lexical] fraseológica relativamente
fixa, consagrada por determinada comunidade
linguística que recolhe experiências vivenciadas
em comum e as formula em enunciados
conotativos, sucintos e completos, empregando-os
como um discurso polifônico de autoridade por
encerrar um valor moral atemporal ou verdades
ditas universais e por representar uma tradição
popular transmitida até milenarmente entre as
gerações. (p. 31, grifos nossos)
Essa definição não reúne todas as características possíveis dos
provérbios, uma vez que cada provérbio não contém todas as
características dos provérbios como um todo, e também a definição de
EI adotada é bastante sintética. Entretanto, veremos ao longo do trabalho
10
Nas citações em inglês e francês, consideramos idiom e idiotisme, respectivamente, como
correspondentes de EI ou idiomatismo.
22
que ambas foram suficientes para os nossos objetivos. Além disso, mais
detalhes serão apresentados no capítulo 1.
Com os grifos na citação de Succi (2006) acima, pretendemos
chamar a atenção para traços comuns aos provérbios e EIs. Nota-se,
pelas definições adotadas, que ambos são (relativamente)
indecomponíveis/fixos, cristalizados/consagrados e conotativos. Esses
importantes pontos em comum permitem considerar a possibilidade de
haver estratégias aplicáveis à tradução de ambos (como na proposta de
Berman, 2007), o que representa uma justificativa para nossa decisão de
trabalhar com essas duas categorias de fraseologismos, e não com outras
ou com todas.
É importante ressaltar, no entanto, que o foco deste estudo não
são os provérbios e EIs em si, e sim a questão de como podem ser
traduzidas suas ocorrências. Estudos sobre essas lexias, suas
características sintáticas, semânticas, discursivas, etc., assim como obras
lexicográficas especializadas nelas, existem, como se pode verificar
em nossa bibliografia.
A pesquisadora Claudia Maria Xatara, por exemplo, de quem
utilizamos a definição de EI, dedica todo um conjunto de trabalhos ao
estudo das EIs do francês e do português, além de ter publicado alguns
artigos sobre provérbios e de ter orientado pesquisas sobre esses
assuntos. Na sua dissertação de mestrado, Xatara (1994) trata das EIs de
matriz comparativa no francês, organizando, depois de conceituá-las e
diferenciá-las de outros fraseologismos, um vocabulário francês-
português de expressões desse tipo e discutindo as traduções propostas
nele.
No doutorado, Xatara (1998) expande seu escopo para as EIs em
geral, embora sempre tendo em vista a tradução no par linguístico
francês-português. Mais uma vez o trabalho resulta em um vocabulário
bilíngue a partir do qual a autora propõe uma tipologia das EIs, analisa-
as do ponto de vista interlinguístico e intercultural, apontando as
temáticas mais recorrentes, e novamente comenta os critérios para
chegar às traduções apresentadas.
A partir desses dois trabalhos, a autora aborda as EIs e outros
fraseologismos em diversos artigos. Em Xatara (2002a), ao tratar da
“tradução fraseológica”, poderia parecer que a autora estaria realizando
aquilo que propomos neste trabalho, mas na verdade ela apresenta
apenas a maneira que concebe como sendo a mais adequada para
traduzir fraseologismos, enquanto em nosso estudo buscamos reunir
diversas estratégias para atingir esse objetivo.
23
Em Xatara (2002b), é discutida a importância das EIs no ensino
de línguas e na lexicografia, apesar de seu tratamento geralmente
secundário nessas áreas. Em Xatara, Riva e Rios (2002), analisam-se os
problemas teóricos e práticos na elaboração de um dicionário de EIs na
direção francês-português. Também sobre a construção de um dicionário
de idiomatismos temos Xatara e Rios (2005). Xatara e Riva (2005)
pensam a categorização dos idiomatismos a partir de seus elementos
temáticos, organizados em pares dicotômicos. Não relacionado com a
língua francesa, temos Falcão e Xatara (2005), em que se analisam
idiomatismos em inglês contendo nomes de animais. Além desses e de
outros trabalhos sobre EIs ou sobre fraseologismos em geral, também
contamos com a participação da autora no artigo de Xatara e Succi
(2008), no qual são comentadas as características mais frequentemente
atribuídas aos provérbios.
Em 2002, Xatara e Oliveira publicaram o PIP dicionário de
provérbios, idiomatismos e palavrões: francês-português/português-
francês, obra que teve boa repercussão nas áreas de Lexicografia,
Língua Francesa e Tradução, sendo posteriormente reorganizada no
Novo PIP – dicionário de provérbios, idiomatismos e palavrões em uso:
francês-português/português-francês (2008).
Dentre os trabalhos sobre o assunto orientados pela pesquisadora
estão: Falcão (2002), que elabora um dicionário bilíngue inglês-
português de EIs com nomes de animais; Rios (2003), que apresenta um
dicionário trilíngue português-francês-espanhol de EIs com nomes de
partes do corpo humano; Riva (2004, 2009), que apresenta uma proposta
de dicionário onomasiológico de EIs do português do Brasil; Succi
(2006), que pesquisa os provérbios em português relacionados aos sete
pecados capitais; e Camacho (2008), que estabelece correspondências
entre EIs em português brasileiro e europeu e em francês da França e do
Canadá.
O artigo de Ferraz e Souza (2004) trata de EIs encontradas em
textos publicitários de revistas de circulação nacional, e o de Gonçalves
e Sabino (2001) aborda as dificuldades enfrentadas por aprendizes de
italiano para conseguir dominar as EIs dessa língua. Podemos
mencionar ainda o livro de Rocha (1995) sobre os efeitos enunciativos
do provérbio, as pesquisas sobre expressões convencionais e idiomáticas
de Tagnin (1989, 2005), o capítulo de Francisco e Zavaglia (2008) sobre
as armadilhas que as lexias complexas em geral podem ocasionar ao
tradutor, dentre inúmeros outros trabalhos.
Na Pós-graduação em Estudos da Tradução (PGET) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também houve
24
trabalhos de pesquisa envolvendo EIs e provérbios, dos quais podemos
citar Arancibia (2007) e Matias (2008), que estudam as EIs presentes no
Diccionario Bilingüe de Uso Español-Portugués / Português-Espanhol
(DiBU), e Reis (2008), que compara o tratamento dado às EIs em quatro
dicionários bilíngues francês-português e português-francês. Na Pós-
graduação em Língua Inglesa e Literatura Correspondente da mesma
universidade, Burity (1989) aplicou a teoria de Eugene Nida para
discutir a traduzibilidade de provérbios
.
Quanto aos dicionários especiais contendo EIs e/ou provérbios,
além daqueles referidos de Xatara e Oliveira (2002, 2008), podemos
citar, envolvendo diferentes línguas ou pares de línguas, mas apenas a
título de amostra e sem nenhuma intenção de sermos exaustivos, as
obras de Cabral (1982), Camargo e Steinberg (1989, 1990), Campos
(1980), Fraenkel (1987), Gomes (2003), Jiménez (2005), Natale e
Zacchei (2000), Schambil e Schambil (2002), Schwamenthal e Straniero
(1999), Silva (1975), Simões (1993), Steinberg (1985/2002), além de
compilações clássicas como o Tesouro da fraseologia brasileira, de
Antenor Nascentes (1966), os Provérbios brasileiros de José Pérez
(1961), as Locuções tradicionais no Brasil, de Luís da Câmara Cascudo
(1977), e o Adagiário brasileiro de Leonardo Mota (1987)
11
.
Alguns teóricos da tradução também trataram do tema, embora
muitas vezes sem se aprofundar nele. Dentre eles, podemos citar
Meschonnic (1973, 1976), Berman (2007), Rónai (1981), Baker (1992),
cujas contribuições serão discutidas mais adiante, em nosso segundo
capítulo.
Vários desses autores apontam como primeiro obstáculo na
tradução das lexias complexas em geral, incluindo EIs e provérbios, a
necessidade de identificar seu sentido global, o que na maioria das vezes
não é possível apenas considerando o sentido literal de cada um dos
elementos que as compõem. Francisco e Zavaglia (2008), tratando de
dificuldades na tradução do italiano para o português a partir da análise
de traduções de aprendizes, reservam um capítulo para o estudo dos
obstáculos causados por lexias complexas. Nesse capítulo, explicitam
como “todo tipo de lexia complexa, constituindo um todo inseparável,
com um sentido único global que não resulta da soma dos sentidos das
partes que o compõem, representa uma possibilidade de armadilha para
11
Apesar de o Adagiário de Leonardo Mota ter sido publicado apenas em 1987, pelo fato de o
original ter-se perdido, acarretando a necessidade de uma reconstituição realizada
posteriormente pelos filhos do autor, consta que a coleta dos fraseologismos estava
concluída em 1935.
25
o tradutor” (p. 56) e concluem que o motivo da maioria das
inadequações observadas “consiste na não identificação por parte do
tradutor da lexia complexa como uma unidade de sentido
indecomponível (p. 69).
Em relação às EIs especificamente, a questão havia também
sido tratada por Baker (1992), que afirma: “No que diz respeito aos
idiomatismos, a primeira dificuldade que um tradutor encontra é ser
capaz de reconhecer que está lidando com uma expressão idiomática.
Isto não é sempre tão óbvio. vários tipos de idiomatismos, alguns
mais facilmente reconhecíveis que outros” (p. 65)
12
. A autora chega a
desenvolver o tema de quais seriam as EIs mais facilmente
reconhecíveis normalmente aquelas que parecem estranhas quanto à
lógica ou à gramaticalidade, ou que não fazem sentido se interpretadas
literalmente e quais ocasionariam maior risco de serem interpretadas
de forma equivocada — aquelas que possibilitam tanto um sentido
literal quanto um idiomático e aquelas que existem em mais de um
idioma com significados total ou parcialmente diferentes.
Entretanto esse não é o foco de nosso estudo: como indicado
acima, nosso trabalho se centra nas estratégias de produção, não nas de
compreensão. Assim, levaremos sempre em conta que esse primeiro
obstáculo tenha sido superado, que se tenha observado se tratar de
uma sequência de vocábulos com um sentido em conjunto, de modo que
estaremos então diante da questão de como traduzir um provérbio ou EI
já identificado e cujo significado já é conhecido. E, como coloca a
mesma Baker (1992), “as dificuldades envolvidas em traduzir um
idiomatismo são totalmente diferentes daquelas envolvidas em
interpretá-lo. Aqui, a questão não é se um dado idiomatismo é
transparente, opaco ou enganador. Uma expressão opaca pode ser mais
fácil de traduzir do que uma transparente” (p. 68)
13
.
Conforme foi possível notar, não temos conhecimento de nenhum
trabalho que trate especificamente da questão da tradução de provérbios
e EIs com a delimitação e a abordagem adotadas aqui. Mesmo os
teóricos da tradução mencionados acima apenas tangenciam o tema, não
constituindo ele o ponto central de seus escritos. Meschonnic (1976),
por exemplo, na verdade analisa apenas os provérbios, sem abordar as
12
As far as idioms are concerned, the first difficulty that a translator comes across is being
able to recognize that s/he is dealing with an idiomatic expression. This is not always so
obvious. There are various types of idioms, some more easily recognizable than others.
13
the difficulties involved in translating an idiom are totally different from those involved in
interpreting it. Here, the question is not whether a given idiom is transparent, opaque, or
misleading. An opaque expression may be easier to translate than a transparent one.
26
dificuldades para traduzi-los. É para preencher essa lacuna que
procuramos oferecer subsídios com este trabalho, reunindo e
sistematizando diferentes propostas a respeito. Assim, nosso trabalho
não representa um estudo conceitual de provérbios e EIs
14
nem pretende
realizar um levantamento com fins lexicológicos ou lexicográficos, mas
atém-se principalmente ao problema de sua tradução.
De fato, nossa pesquisa se diferencia da maioria das existentes
inclusive pelo fato de tratar essas duas categorias de fraseologismos em
conjunto, o que se justifica pelos importantes traços em comum de
ambas, apontados acima e examinados mais detalhadamente no capítulo
1. Além disso, esse tratamento em conjunto persegue abordagem
semelhante à dada a provérbios e locuções por Berman (2007), e
pretende dessa forma verificar a hipótese implícita nela de que seria
possível pensar em soluções aplicáveis a ambos.
Contudo, a principal diferença entre este estudo e aqueles citados
é nosso interesse em reunir diversas estratégias distintas. Mesmo nos
trabalhos consultados que mencionam a questão da tradução, apesar de
concordarem que EIs, provérbios e outras lexias complexas causam
dificuldades ao tradutor, normalmente cada estudioso acaba se limitando
a poucas opções, quando não a uma só, para lidar com elas, descartando
a possibilidade de que, dependendo da situação tradutória, possa ser
interessante ou necessário lançar mão de diferentes estratégias. Nossa
sistematização, pelo contrário, pretende permitir ao tradutor uma visão
mais geral do assunto e das escolhas que pode realizar.
Nesse sentido, partimos do pressuposto de que a tradução de
provérbios e EIs é possível. Ou melhor, consideramos improdutivo, no
contexto desta pesquisa, questionar sua possibilidade, uma vez que
afirmar ser impossível traduzir uma EI ou um provérbio significaria
partir da ideia de que deveria haver uma forma única e ideal de traduzi-
los (e que seria, então, inatingível), concepção oposta aos objetivos
deste trabalho. Pretendemos, em vez disso, pensar as diversas soluções
propostas, de modo a ter sempre uma alternativa quando outra se
mostrar “impossível”.
Iniciamos nossas pesquisas pela leitura de trabalhos a respeito de
EIs e provérbios, especialmente aqueles de Claudia Xatara e Stella
Tagnin. A partir das referências bibliográficas desses textos, pudemos
chegar a outros textos sobre o tema. Além de textos teóricos,
14
Apesar de reservarmos um capítulo para discutir as definições com as quais trabalhamos,
este tem apenas o objetivo de esclarecer os conceitos instrumentais para este trabalho, e o o
de contribuir para a discussão conceitual dos objetos de estudo.
27
pesquisamos também dicionários especiais
15
, em busca de prefácios,
prólogos e introduções que pudessem tratar da questão da tradução
desses fraseologismos. E, concomitantemente, revisitamos teóricos da
tradução em busca de trechos nos quais viesse à tona esse tema, mesmo
que fosse, como ocorreu algumas vezes, apenas como um exemplo
utilizado por um autor para ilustrar uma posição que estivesse
defendendo.
Ao analisar referências tão diversas, ocorreu muitas vezes de
termos de lidar com nomenclaturas diferentes em cada texto. Assim,
encontramos, por exemplo, informações e opiniões sobre o que
chamamos de EIs, com base na definição citada acima, porém sob o
nome de “locuções”, como em Berman (2007), “metáforas
convencionais”, como em Rónai (1981), entre outros. Da mesma forma,
o que consideramos provérbios muitas vezes era chamado de “ditados”,
“adágios”, “refrães”, etc. Nesses casos, consideramos tratar-se de EIs ou
provérbios sempre que as características ou os exemplos coincidissem
ou tivessem uma grande intersecção com as categorias conforme as
definições assumidas por nós. Assim, por exemplo, consideramos como
provérbios a maioria dos adágios de Mota (1987) e dos refranys de
Monllor (1999), e como EIs a maior parte das “locuções tradicionais” de
Câmara Cascudo (1977), das “metáforas consagradas” de Rónai (1981),
dos modi di dire de Quartu (1993), etc.
Problema ainda mais frequente, muitas vezes eram utilizados os
termos “provérbio” ou “expressão idiomática”, porém com abrangências
diferentes, incluindo ou não ditados, aforismos, etc., no caso daquele
primeiro, ou verbos frasais, coloquialismos, gírias, etc. no caso desta
última. Trabalhando com base nas definições apresentadas,
normalmente nossas categorias eram menos abrangentes que as dos
autores estudados. Ou seja, pudemos sempre considerar que as
afirmações desses autores se aplicavam às nossas categorias, já que estas
estavam inclusas no conjunto, mais abrangente, de EIs e provérbios
conforme definidos por eles. Assim, consideramos como provérbios boa
parte, mas não a totalidade, dos Provérbios brasileiros de Pérez (1961),
15
Falcão (2002) reúne algumas definições para “dicionário especial”: “Dentre os vários
lingüistas que se referem aos tipos de dicionários, porém, encontramos Rey-Debove (1984),
para quem um dicionário especial (DE) só descreve um setor de todos os signos de uma língua
dada ou de todos os valores de uma civilização, Boutin-Quesnel (1985, p. 290), que define um
DE como um ‘dicionário de língua que descreve unidades lexicais selecionadas por algumas de
suas características’, e Hartmann & James (2001, p. 129), para os quais um DE é ‘o termo
coletivo para uma gama de trabalhos de referência dedicados a um conjunto relativamente
restrito de fenômenos’.” (FALCÃO, 2002, p. 25)
28
por exemplo (pois o autor acabou incluindo ditados e até algumas EIs), e
também muitas, mas não a totalidade, das expressões chamadas de
“expressões idiomáticas” em praticamente todos os os dicionários
consultados, que quase sempre incluíam outros fraseologismos.
Com essa metodologia realizamos a revisão bibliográfica a partir
da qual conseguimos um levantamento das estratégias de tradução
propostas por diferentes autores para solucionar o problema alvo de
nosso estudo. A composição e a análise do corpus no qual pesquisamos
a aplicação dessas estratégias estão fortemente relacionadas a esse
levantamento, assim como às definições e características abordadas no
capítulo 1. Por esse motivo, preferimos apresentar a metodologia
referente a essas etapas da pesquisa em nosso capítulo 4 e não nesta
introdução.
Primeiramente, no entanto, consideramos apropriado dedicar um
capítulo a uma breve discussão das nomenclaturas e definições dos
fraseologismos estudados e de alguns outros “vizinhos” cujas fronteiras
conceituais não costumam ser muito claras. Essa discussão constitui o
capítulo 1.
Em seguida, no segundo capítulo, passamos à análise dos textos a
respeito da tradução de EIs e provérbios encontrados a partir da
metodologia descrita acima, expondo os posicionamentos teóricos de
cada autor tratado e as diversas estratégias propostas por eles para lidar
com as ocorrências desses fraseologismos no ato tradutório.
No capítulo 3, reunimos todas as estratégias mencionadas e
discutidas ao longo do capítulo anterior e propomos uma nova
sistematização para elas.
No quarto capítulo, apresentamos a composição e a análise de um
corpus de pequenas dimensões para observar exemplos reais de
estratégias utilizadas por tradutores e verificar a relação entre estas e
aquelas reunidas e sistematizadas no capítulo anterior.
Por fim, apresentamos nossas considerações finais com base nos
capítulos anteriores, além das possibilidades de pesquisas futuras, em
termos do que este estudo não pôde cobrir e que mereceria atenção.
29
CAPÍTULO 1: DEFINIÇÕES, DELIMITAÇÕES E
CARACTERÍSTICAS
Neste capítulo, discutimos algumas definições, conceitos e
distinções que ajudam a esclarecer melhor as características das lexias
complexas de cuja tradução estamos tratando. Entretanto, como não é o
foco de nosso trabalho, conforme exposto na Introdução, não
discutiremos de maneira aprofundada todos os atributos dos provérbios
e EIs, inclusive por existirem trabalhos a respeito, aos quais
remetemos o leitor que deseje mais informações nesse sentido.
Procuramos apenas entender melhor o que são esses fraseologismos de
acordo com as definições adotadas, para podermos refletir sobre a sua
tradução.
É importante ressaltar também que os conceitos apresentados
aqui não o consensuais, de modo que sua abrangência varia bastante
de autor a autor, e as definições utilizadas neste trabalho não deixam de
representar escolhas. A confusão maior parece girar em torno dos
termos “locução” e “expressão idiomática”, bastante utilizados, quase
sempre com sentidos demasiadamente amplos, muitas vezes
controversos e pouco rigorosos. É o que aponta Claudia Xatara, ao
comentar sobre dicionários especializados existentes:
No que diz respeito a inventários específicos, sob
o título de “dicionários de locuções” ou
“dicionários de expressões idiomáticas”,
encontramos obras muito incompletas. São
coletâneas de verbetes, isto é, de entidades
lexicais de natureza heterogênea: ora referem-se a
“armadilhas” de certa língua estrangeira onde até
um pronome de tratamento é incluído como EI;
ora referem-se a problemas de regência verbal,
coloquialismos e gírias; outras vezes são
identificados como frases feitas ou clichês.
(XATARA, 1994, p. 8)
A elaboração de dicionários especiais de EI
também carece de sistematização, pois geralmente
essas expressões são tratadas de um modo
excessivamente amplo. Juntam-se a elas unidades
lexicais muito heterogêneas e heteróclitas, como
lexemas isolados de sentido figurado fixo, todo
tipo de anomalias e curiosidades gramaticais,
30
perífrases verbais, provérbios, ditados, gírias,
vulgarismos, fraseologismos técnico-científicos,
etc. (XATARA, 2008, p. 16)
1.1 CATEGORIAS MAIS AMPLAS
Em primeiro lugar, de se observar que provérbios e EIs estão
incluídos em categorias maiores, como lexias, fraseologismos, que
temos utilizado como seus hiperônimos, ou locuções, lexias complexas,
empregadas respectivamente por Berman (2007) e Francisco e Zavaglia
(2008), por exemplo. Em relação às lexias, tratando-se de um termo
bastante geral, não necessidade de nos aprofundarmos em seu
conceito, sendo suficiente a definição simplificada oferecida por Xatara
e Rios (2007): “[…] a lexia é uma unidade funcional significativa do
discurso […]” (p. 60)
1
.
No mesmo artigo, encontramos que fraseologismos
podem ser formas simples ou complexas,
conotativas ou denotativas, idiomáticas ou não.
São exemplos dos vários tipos de fraseologismos:
gírias (manero, mano, estar ligado), idiomatismos
(fazer cara de quem comeu e não gostou, agüentar
a mão, saltar aos olhos), injúrias (corno manso,
filho da puta, orelhudo), provérbios (uma mão
lava a outra; barriga cheia, goiaba tem bicho;
quem procura, acha) etc. (XATARA e RIOS,
2007, p. 58).
Outro conceito geral, embora menos amplo, é o de lexia
complexa, que seria uma sequência de palavras que constitui “um todo
inseparável, com um sentido único global que não resulta da soma dos
sentidos das partes que o compõem” (FRANCISCO e ZAVAGLIA,
2008, p. 56). Em outras palavras, partindo do conceito de lexia citado
acima, Xatara e Rios (2007) afirmam que uma lexia complexa é “uma
unidade funcional significativa do discurso constituída por uma
seqüência estereotipada de lexemas” (p. 60).
1
Uma definição mais elaborada para lexias seria a encontrada em Greimas e Courtés (1979):
“unidades de conteúdo […] que poderiam ser definidas, paradigmaticamente, por sua
possibilidade de substituição no interior de uma classe de lexemas dados (“ipê”, “pinheiro”,
“pé de mandioca”, por exemplo) […] e, sintagmaticamente, por uma espécie de recursividade
léxica, podendo as unidades de nível hierarquicamente superior ser reproduzidas no nível
lexemático (p. 29)
31
O termo “locução” (“locution”), utilizado por Berman (2007),
merece um comentário à parte. Não sendo este o ponto central de sua
reflexão, o autor não se preocupa em apresentar definições para
provérbio ou locução, ou em ser homogêneo em relação à terminologia
sobre o assunto. Veja-se o parágrafo a seguir, presente na seção de seu
livro intitulada “A destruição das locuções” (“La destruction des
locutions”):
Ora, ainda que o sentido seja idêntico, substituir
um idiotismo pelo seu equivalente é um
etnocentrismo [] As equivalências de uma
locução ou de um provérbio não os substituem.
[] Ademais, querer substituí-las significa
ignorar que existe em nós uma consciência-de-
provérbio que perceberá imediatamente no novo
provérbio, o irmão de um provérbio local.
(BERMAN, 2007, p. 60, itálicos do autor, negritos
nossos)
É possível notar que “locução” e “idiotismo” são utilizados no
parágrafo praticamente de forma intercambiável, além de o próprio
provérbio acabar inserido no conceito de locução, uma vez que o autor
também o menciona no parágrafo e, logo em seguida, oferece
correspondentes em várias línguas de um mesmo provérbio (“Le monde
appartient à ceux qui se lèvent tôt”), e tudo isso dentro do mesmo tópico
intitulado “A destruição das locuções”. Já no início deste, aliás, Berman
(2007) faz menção aos diversos tipos de fenômenos aos quais se refere:
“A prosa abunda em imagens, locuções, modos de dizer, provérbios etc.,
que dizem respeito ao vernacular. A maioria deles veicula um sentido ou
uma experiência que se encontram em locuções etc., de outras línguas”
(p. 59).
Semelhantemente abrangente parece-nos ser a definição
explicitada por Xatara (1994): “O termo ‘locução’, na verdade, quer
dizer que se trata de mais de uma palavra formando um sintagma, uma
unidade lexical, que exprime um conceito, e cuja função gramatical é
explícita” (p. 23)
2
. Já para Casares (1969), uma locução seria uma
“combinação estável de dois ou mais termos, que funciona como
elemento oracional e cujo sentido unitário consagrado não se justifica
2
Também o conceito de lexia complexa utilizado em Francisco e Zavaglia (2008) ou o de
fraseologismo de Xatara e Rios (2007) expostos acima apresentam uma abrangência próxima
àquela aparentemente dada por Berman (2007) às suas locuções.
32
apenas como uma soma do significado normal dos componentes” (p.
170)
3
.
No Dicionário francês-português de locuções, de Aluísio Mendes
Campos, pode-se notar como o autor abarca com esse termo os mais
variados fraseologismos, inclusive provérbios. Na própria apresentação
da obra é apontado que nela se encontram entidades lexicais “de
natureza heterogênea, diferentes na extensão, na estrutura e na função,
assim como no nível e no registro em que se usam: são locuções no
sentido clássico do termo
4
, populares, coloquiais ou literárias, além de
frases feitas e provérbios”, tendo em comum apenas o fato de
constituírem dificuldades para aprendizes do francês, professores,
tradutores, etc. e de se tratarem de “associações vocabulares”
(CAMPOS, 1980, p. 4).
Já no clássico de Luís da Câmara Cascudo, Locuções tradicionais
no Brasil, embora o autor não discuta a definição do termo, observando
as dez primeiras “locuções” de sua lista podemos notar como aparecem
desde vocábulos individuais até sentenças completas: “favas contadas”,
“porrado”, “minha senhora!”, “camisa de onze varas”, “amarrar o bode”,
“macaco não olha o rabo!”, “coma sal com ele”, “andar à toa”, “ouvir
como grilo”, “apetitosa!” (CASCUDO, 1977, p. 15-18). Também
Pugliesi (1981) ao seu Dicionário de expressões idiomáticas o
subtítulo “locuções usuais da língua portuguesa” e, conforme observa
Falcão (2002), inclui, além de EIs, também ditados, provérbios e
locuções adverbiais como “à inglesa” (FALCÃO, 2002, p. 32).
Para muitos autores, porém, o conceito de locução é bem menos
amplo. É o caso de Rios (2003), por exemplo, que locuções “apenas
como lexias complexas denotativas e preposicionadas, que geralmente
desempenham uma função gramatical: de modo que, de acordo com,
com cuidado etc.” (p. 27). Ortíz Alvarez (2000), por sua vez, define-a
como uma “combinação lexical formando um sintagma que constitui
uma unidade significativa e cujos componentes conservam sua
individualidade fonética e mórfica” (apud XATARA e RIOS, 2007, p.
125). Por fim, como veremos logo abaixo, Xatara (1994) aponta que
Diaz (1984) utiliza locuções e EIs indiferentemente.
3
combinación estable de dos o más términos, que funciona como elemento oracional y cuyo
sentido unitario consabido no se justifica, sin más, como una suma del significado normal de
los componentes
4
Infelizmente não é explicitado com mais clareza qual seria esse “sentido clássico do termo”.
33
1.2 DEFINIÇÃO: EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
Em relação às EIs, um dos tipos de fraseologismo envolvidos em
nosso trabalho, valemo-nos da seguinte definição: “lexia complexa
indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradição
cultural” (XATARA, 1998, p.17; XATARA e OLIVEIRA, 2002, p. 57;
XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 125). Atendo-nos a essas
características essenciais e utilizando o termo “idiomatismo” como
sinônimo de EI, esperamos conseguir escapar à confusão conceitual
verificada em muitas obras:
o termo expressão idiomática, ao lado de
idiomatismo, parece-me consagrado, embora não
seja muito adequado, pois seu sentido etimológico
é amplo demais e, justamente por isso, bastante
impreciso.
Além disso, termos vizinhos que provocam
confusão: Galisson (1984) considera expressões
idiomáticas sinônimos de frases feitas e de
locuções figuradas. Locuções ou expressões
idiomáticas são utilizadas indiferentemente por
Diaz (1984); Rwet (1983), Danlos (1981) e Gross
(1982) falam apenas em expressões ou frases
cristalizadas (figèes). (XATARA, 1994, p. 22,
grifos da autora)
Assim como a autora, decidimos trabalhar com o termo
“expressão idiomática”, por se tratar de uma denominação amplamente
difundida e consagrada, mesmo cientes da relativa imprecisão de seu
sentido conforme o uso pelos diferentes autores. Procuramos, entretanto,
não reproduzir tal imprecisão, tendo sempre em vista a definição
adotada. Levando em conta apenas uma das características mencionadas
nela, aliás, Ferraz e Souza (2004) estabelecem várias distinções úteis
como complemento por negação para a definição acima. Considerando o
“caráter eminentemente conotativo” das EIs, as autoras diferenciam-nas
de outras lexias que não apresentam essa particularidade: locuções
5
(“às
pressas”), combinatórias usuais
6
(“perdidamente apaixonado”, “água
potável”), perífrases verbais (“dar um passeio”), ditados (“amor com
5
Aqui aparentemente no sentido de “lexias complexas denotativas e preposicionadas”, como
na definição presente em Rios (2003), citada acima.
6
Também chamadas de “colocações”.
34
amor se paga”), sintagmas terminológicos ou termos técnicos (“válvula
redutora de pressão”), e coletivos (“constelação de estrelas”) (p. 145).
7
Quanto às diferenças entre EI e provérbio, a mais marcante
parece ser a sintática: este, conforme aponta a definição citada em 1.3, é
um enunciado completo, independente (embora semanticamente se
relacione com o contexto), encerrando muitas vezes uma micronarrativa,
enquanto aquela,
além de não representar nenhuma verdade
universal, na maioria das vezes, é estruturalmente
constituída por enunciados incompletos ou ULs
[unidades lexicais] complexas que constituem
partes de enunciados, ao invés de orações
completas e fechadas (“ter alguém atravessado na
garganta”, por exemplo, será um enunciado
completo com a determinação de um sujeito e um
objeto direto). (XATARA e SUCCI, 2008, p. 34)
Assim, podemos comparar, por exemplo, o provérbio “Em terra
de cego, quem tem um olho é rei”, enunciado completo, com a EI
“matar dois coelhos com uma cajadada só”, que necessita de um sujeito
que se atualiza a cada enunciação. Isso pode ser verificado mesmo no
caso de EIs frasais: em “O gato comeu sua língua?”, por exemplo, o
pronome possessivo se refere ao destinatário específico da situação em
que a EI está sendo empregada.
1.3. DEFINIÇÃO: PROVÉRBIOS
Em relação aos provérbios, decidimos adotar a definição de Succi
(2006):
provérbio é uma UL [unidade lexical] fraseológica
relativamente fixa, consagrada por determinada
comunidade linguística que recolhe experiências
vivenciadas em comum e as formula em
enunciados conotativos, sucintos e completos,
empregando-os como um discurso polifônico de
autoridade por encerrar um valor moral atemporal
ou verdades ditas universais e por representar uma
7
Para mais informações sobre essas e outras lexias complexas, com a mesma nomenclatura ou
com denominações diferentes, consultar o estudo sobre a convencionalidade linguística
realizado por Tagnin (1989, 2005).
35
tradição popular transmitida até milenarmente
entre as gerações. (p. 31, grifos nossos)
Observando nossos grifos acima, pode-se notar que as três
características presentes na definição que adotamos para EI aparecem
também na de provérbio: a indecomponibilidade, a cristalização e a
conotatividade. Tratamos de cada uma abaixo, com mais detalhes.
No entanto, assim como com as EIs, não existe consenso a
respeito dessa definição, seja no senso comum, seja na bibliografia
sobre o assunto:
Normalmente o provérbio é tomado, pelos leigos,
por designações genéricas ou pretensamente
sinônimas, mas, se observarmos as definições de
provérbio e de outros fraseologismos propostas
por lexicógrafos e fraseólogos renomados
(OLIVEIRA, 1991; SILVA, 1992; ROCHA,
1995; VELLASCO, 2000; HOUAISS, 2001;
BRAGANÇA JÚNIOR, 2003), poderemos
constatar que os vários fraseologismos tidos como
“sinônimos” de provérbio ora se distanciam, ora
se aproximam entre si. Uns possuem traços
particularmente diferenciados de provérbio, como
a chufa, o rifão e o dictério, que têm traços
maliciosos, satíricos e vulgares respectivamente;
outros possuem autoria conhecida como o
aforismo, o apotegma, o axioma, a citação, o
pensamento e a sentença. Existem fraseologismos,
como a máxima e o brocardo, que têm cunho
erudito; outros, cunho publicitário como o slogan;
outros, forma estereotipada como o clichê e a
frase feita; sem esquecermos das unidades que se
caracterizam primordialmente pela rima, como o
refrão. Entretanto, alguns fraseologismos são
apenas sutilmente diferentes de provérbio como o
adágio, o anexim, o dito, o preceito e o ditado;
este último, aliás, difere especialmente por não
apresentar metáfora. (XATARA e SUCCI, 2008,
p. 33-34)
8
8
Succi (2006) lista citações de definições de vários autores para cada um dos fraseologismos
vizinhos e/ou pretensos sinônimos de provérbios, ilustrando bem a confusão conceitual
existente na bibliografia.
36
Vale frisar que essas irregularidades no que tange às distinções
entre categorias de fraseologismos não ocorrem apenas em português.
Quartu (1993), por exemplo, inicia a introdução do seu Dizionario dei
modi di dire della lingua italiana alertando: “Máximas, provérbios,
modos de dizer, locuções e frases feitas são todas categorias que fogem
a uma definição precisa, ainda que muitos pesquisadores, em épocas
diversas, tenham tentado classificá-las” (p. III)
9
. Veja-se também em
Sintes Pros (1961): “É muito difícil deslindar completamente a diferença
que existe entre aforismo e cada um dos termos: adágio, provérbio,
refrão e apotegma, pois todos incluem o sentido de uma proposição ou
frase breve, clara, evidente e de profundo e útil ensinamento” (p. 5,
grifos do autor)
10
. O autor chega a afirmar:
Nenhum autor antigo ou moderno conseguiu
expor clara e definitivamente as diferenças entre
uns e outros, e o próprio uso vulgar raso e
corrente, conforme as épocas e os títulos que
adotaram seus autores ou compiladores, chamou
de provérbio, adágio, refrão ou aforismo,
indistintamente, a mesma classe de expressões da
sabedoria popular. (p. 5, grifos do autor)
11
Da mesma forma que com as EIs, também em relação aos
provérbios tentamos escapar a essa confusão conceitual remetendo-nos
sempre à definição adotada. Além disso, dadas as muitas sobreposições
entre os fraseologismos próximos ao provérbio, como os mencionados
acima, e a pouca ajuda da bibliografia consultada para traçar fronteiras
mais definidas entre eles (se é que tais fronteiras são possíveis),
consideramos ser mais relevante em nosso caso distinguir se cada
exemplo seria ou não um provérbio, sem nos preocuparmos se
simultaneamente seria também um adágio, refrão, ou outro. “Água mole
9
Motti, proverbi, modi di dire, locuzioni e frasi fatte sono tutte categorie che sfuggono a una
definizione precisa anche se molti ricercatori, in epoche diverse, hanno tentato di
classificarli”. A autora justifica sua escolha do termo modi di direpor considerá-lo talvez o
mais genérico. Seu dicionário de fato inclui fraseologismos variados, com predominância, a
nosso ver, de EIs.
10
Es muy difícil deslindar cumplidamente la diferencia que existe entre aforismo y cada una
de las voces: adagio, proverbio, refrán y apotegma, pues todas ellas incluyen el sentido de una
proposición o frase breve, clara, evidente y de profunda y útil enseñanza.
11
Ningún autor antiguo ni moderno ha logrado todavía exponer clara y terminantemente las
diferencias entre unas y otras, y el mismo uso vulgar llano y corriente, según las épocas y los
títulos que adoptaron sus autores o compiladores, ha llamado proverbio, adagio, refrán o
aforismo, indistintamente, a una misma clase de expresiones de la sabiduría popular.”
37
em pedra dura tanto bate até que fura”, por exemplo, por apresentar
rima, talvez seja um refrão, conforme o afirmado por Xatara e Succi
(2008) acima, mas para os efeitos deste trabalho basta verificar que pode
ser considerado um provérbio, pois contém as características essenciais
mencionadas na definição deste.
1.4 CARACTERÍSTICAS EM COMUM
1.4.1 Indecomponibilidade
O fato de as EIs e os provérbios serem lexias complexas
indecomponíveis refere-se à pouca possibilidade de variações formais
permitidas sem que se perca seu sentido idiomático. Em outras palavras,
Uma EI […] constitui uma combinatória fechada,
de distribuição única ou distribuição bastante
restrita, pois se apresenta como um sintagma
complexo que não tem paradigma, ou seja, quase
nenhuma operação de substituição característica
das associações paradigmáticas pode ser
normalmente aplicada. […] sua interpretação
semântica não pode ser calculada a partir da soma
dos significados individuais de seus elementos
(“dar com a cara na porta” significa por conotação
“não encontrar ninguém onde se foi procurar” e
não “bater a cara, intencionalmente ou não, numa
determinada porta”). (XATARA e OLIVEIRA
(2002, p. 57, grifos nossos)
Apresentando uma distribuição única ou muito
restrita dos seus elementos lexicais, o provérbio é
uma UL [unidade lexical] autônoma além de
complexa, pois encerra todo um discurso,
dispensando outras ULs para completar seu
significado, como “Tal pai, tal filho”. Note-se
também que as ULs “pai” e “filho”, no enunciado
proverbial, não são mais unidades independentes
e são dispostas em uma ordem pré-determinada
na língua, com uma significação estável, ou seja,
uma construção reconhecidamente lexicalizada.
(SUCCI, 2006, p. 33, grifos nossos)
38
Portanto, tanto EIs como provérbios apresentam uma forma fixa,
cristalizada, na qual geralmente não se pode substituir, acrescentar,
retirar ou mesmo flexionar qualquer elemento sem que o resultado deixe
de constituir uma EI ou provérbio. Dizemos “geralmente” porque
algumas vezes são permitidas adaptações sintáticas, ou coexistem duas
ou mais variantes
12
(casos de “distribuição restrita”), mas mesmo nesses
casos as alterações possíveis são bastante limitadas. Veja-se o quadro de
exemplos abaixo
13
:
Tabela – Fraseologismos e não-fraseologismos
São EIs
Não são EIs
“cutucar a onça com vara curta” “cutucar a leoa com vara curta” /
“cutucar a onça com vara longa”
(para uma provocação menos
arriscada, por exemplo)
“dois dedos/dedinhos de prosa” “duas mãos de prosa” (para uma
conversa mais longa, por exemplo)
“bater/bateu as botas” “as suas botas foram batidas”
“o gato comeu sua língua?” “comeu o gato sua língua?”
“[já] estar [meio] alto “estar no alto”
“não ir [muito] bem das pernas” “não ir bem das duas pernas”
“achar-se o centro do universo” /
“sentir-se o centro do universo” /
“achar-se o umbigo do universo” /
“achar-se o centro do mundo”
“sentir-se no meio do universo”
São provérbios Não são provérbios
“Tal pai, tal filho” “Tal tio, tal primo”
“A ocasião faz o ladrão” “A ocasião faz o ladrão profissional”
“Beleza não se põe à mesa” “À mesa beleza não se põe”
“O castigo anda/vem a cavalo” “O castigo corre a cavalo”
“De cavalo dado não se olha os
dentes”
“De cavalo dado como presente não
se repara nos dentes”
“Deus ajuda quem cedo madruga” “Cristo ajuda quem cedo madruga”
12
Para provérbios sinônimos, antônimos e variantes, ver Succi (2006, p. 45-47) e Xatara e
Oliveira (2008, p. 22). Steinberg (2002) apresenta uma lista de provérbios “semanticamente
semelhantes” em inglês (juntamente com outra de provérbios no mesmo idioma que se
contradizem).
13
A maioria dos exemplos foi adaptada de Falcão (2002), Rios (2003), Succi (2006), Xatara e
Succi (2008), Camacho (2008) e Xatara e Oliveira (2008). Para exemplos semelhantes em
inglês, ver Longman (1979) e Baker (1992).
39
Essa propriedade de EIs e provérbios relaciona-se com outras.
Por exemplo, sendo fixas, indecomponíveis, essas estruturas precisam
ser aprendidas como um todo, pois, assim como as lexias complexas em
geral, seu significado não equivale à soma dos significados literais de
cada termo que as compõe. Além disso, são fixas porque sofreram um
processo de cristalização (ver 1.4.3 abaixo) que as consagrou na forma
como as conhecemos hoje.
Xatara (1994) fala em “graus de cristalização”, Tagnin (1989,
2005) em “graus de idiomaticidade”, e na introdução do dicionário
Longman (1979) encontramos que “os idiomatismos variam muito em
relação a quão metafóricos ou invariáveis eles são. Em outras palavras,
a idiomaticidade (a qualidade de ser idiomático) é uma questão de grau
ou escala” (p. viii, grifo dos autores)
14
. Contudo, para nossos objetivos
basta a informação de que uma das características essenciais de EIs e
provérbios é possuírem formas consagradas, com pouca ou nenhuma
variação paradigmática, de modo que não nos preocupamos com essas
graduações.
Vale comentar ainda que frequentemente a linguagem publicitária
ou jornalística lança mão de EIs ou provérbios propositalmente
modificados para causar estranhamento, como recurso estilístico, o qual,
entretanto, somente provocará o efeito desejado se o leitor conhecer o
fraseologismo original. Camacho (2008, p. 19) cita o exemplo “acabar
em tapioca” (variação da EI “acabar em pizza”), utilizada na mídia por
ocasião da investigação a respeito da compra de tapioca por um ministro
utilizando um cartão corporativo do governo federal. Outros exemplos
reais podem ser encontrados em Riva (2004, p. 22-23). Para mais
detalhes sobre a indecomponibilidade de EIs e provérbios, ver Xatara
(1994, 1998), Xatara e Oliveira (2002), Boatner e Gates (1984) e os
textos mencionados na nota de rodapé número 13 deste capítulo.
1.4.2 Conotação
Uma das razões da idiomaticidade de EIs e provérbios, ou seja,
de seu sentido não corresponder à soma dos significados literais das
partes que os compõem, vem do fato de constituírem enunciados
conotativos. Isso significa que apresentam uma representação figurada
da realidade, uma conotação que é própria da linguagem cotidiana,
porém difere da utilizada na linguagem literária: esta é normalmente
14
Idioms vary a great deal in how metaphorical or invariable they are. In other words,
idiomaticity (the quality of being idiomatic) is a matter of degree or scale.”
40
consciente, refletida, enquanto aquela faz parte do sistema linguístico
(XATARA e OLIVEIRA, 2002), tendo passado por um processo de
lexicalização, pelo qual um uso conotativo repetido várias vezes, por
várias pessoas, torna-se parte do léxico de uma língua (CAMACHO,
2008, p. 21). Daí resulta sua idiomaticidade, por meio do fenômeno da
dessemantização, pelo qual “cada um de seus componentes perde sua
função nominativa, ou sua relação com o objeto que representa, em
favor do significado global próprio da EI” (RIOS, 2003, p. 37). Xatara,
Riva e Rios (2002) exemplificam com “procurar uma agulha na gaveta”,
de sentido denotativo, enquanto “procurar uma agulha no palheiro” tem
um sentido conotativo cristalizado: “procurar algo difícil de ser
encontrado” (p. 185).
O mesmo é válido para os provérbios, pois sua significação
também se estabiliza no idioma, passando do uso individual para o
coletivo:
[…] “Mais vale um pássaro na mão do que dois
voando”, por exemplo, significa que é melhor se
contentar com aquilo que se tem do [sic] correr o
risco de perdê-lo ao procurar por mais. Já um
enunciado denotativo, de mesmo significado
como “Garanta o pouco que tens ao invés de
procurar ter mais” não se consagrou pela tradição
cultural […] (SUCCI, 2006, p. 45; XATARA e
OLIVEIRA, 2008, p. 22)
Nesse sentido, a conotação é uma característica essencial para
nosso trabalho por constituir um fator semântico distintivo das lexias
estudadas. Nas palavras de Xatara (1998), uma EI “poderia ser
confundida com qualquer unidade léxica composta, devido ao critério de
cristalização comum a ambas, mas não o é por seu caráter
eminentemente conotativo” (p. 21). Como vimos em 1.2 acima, é esse
aspecto que diferencia EIs de outras expressões convencionais, como
locuções, perífrases verbais, termos técnicos, etc.
Nesse sentido, é pertinente ainda a observação de Camacho
(2008):
Aliás, sempre que uma EI também puder ser
entendida em um sentido denotativo, por exemplo,
quando dizemos “lavar a roupa suja” diante de
uma pilha de roupa suja, ela deixará de ser aí
classificada como EI, marca fraseológica restrita a
41
contextos em que significa “discutir assuntos
desagradáveis apenas com os que estão
envolvidos”. (CAMACHO, 2008, p. 20)
Essa observação, aliás, também traz à baila o fato de o contexto
ser essencial ao se pensar em EIs e provérbios
15
. Como se no
exemplo apresentado pela autora, EIs que o são em determinados
contextos, nos quais são usadas com seu sentido conotativo consagrado,
e também o provérbio
nunca é desvinculado do discurso, de um
contexto, quer dizer, nunca se dá isolado. Sem
dúvida, todos falantes [sic] sabem identificar um
provérbio referente a um determinado tema, mas
se pedirmos para alguém citar um provérbio sobre
um tema, por exemplo, ele dificilmente o falará de
imediato. A menção a um provérbio normalmente
desencadeia-se após uma seqüência de
pensamentos ou de falas, por isso, nas situações
em que ele é requerido, surge repentinamente.
(XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 21-22, grifos
das autoras)
Meschonnic (1976) enfatiza esse aspecto, comparando o
provérbio fora de contexto a uma palavra em um dicionário:
Entre o provérbio empregado no discurso e o
provérbio que figura em um dicionário ou uma
lista de provérbios, a relação é a mesma que entre
um segmento do discurso e uma palavra em sua
posição alfabética em um dicionário de palavras.
O provérbio é frase e, mesmo frase feita, separá-lo
de seu emprego é chegar ao contra-provérbio, à
contra-linguagem. (MESCHONNIC, 1976, p.
426-427)
16
15
Em função disso, tomamos o cuidado, ao elaborar nosso corpus, de manter o contexto
imediato no qual ocorriam os provérbios e EIs, conforme descrito no capítulo 4.
16
Entre le proverbe employé dans le discours et le proverbe figurant dans un dictionnaire ou
une liste de proverbes, le rapport est le même qu’entre un segment de discours et un mot à sa
place alphabétique dans un dictionnaire de mots. Le proverbe est phrase, et, même toute faite,
le séparer de son emploi est aller à contre-proverbe, à contre-langage.
42
Voltando à característica da conotação, ela também foi utilizada
como critério para separarmos provérbios de ditados, pois estes, apesar
de também serem indecomponíveis, cristalizados, e de apresentarem
várias características em comum com aqueles, possuem sentido
denotativo (SUCCI, 2006; XATARA e SUCCI, 2008). Portanto,
“Quanto mais se tem, mais se quer”, “Não faça aos outros o que não
gostaria que lhe fizessem”, “Faça o bem sem olhar a quem seriam
ditados, pois seu sentido é denotativo, enquanto “Em terra de cego,
quem tem um olho é rei”, Mais vale um pássaro na mão do que dois
voando”, “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”, todos de
sentido conotativo, seriam provérbios. XATARA e SUCCI (2008)
fornecem outros exemplos:
Assim, “Quem ama o feio, bonito lhe parece” é
totalmente motivado, composicional e denotativo
por isso estamos diante de um ditado. em
“Dinheiro não tem cheiro”, não se recupera a
motivação que nos leva sem dificuldades à
compreensão conotativa da seqüência: trata-se,
pois, de um provérbio não-composicional, mas
como sempre figurado. E em “Quando a
esmola é demais, o santo desconfia”, resgatam-se
elementos composicionais que nos facilitam
compreender o sentido figurado e esse caráter
composicional não invalida a identidade
proverbial do enunciado. (p. 36)
Rios (2003) chama a atenção para o fato de alguns autores, como
Tagnin (1989) e Roncolatto (2000), falarem em metáfora em vez de
conotação ao tratarem de definições de EI. Esta última, por exemplo,
afirma: “Com base em pontos de vista e visões de mundo são criadas
imagens mentais que geram metáforas. Essas se consolidam no uso
popular e são transmitidas de geração em geração. As expressões
idiomáticas são frutos de um processo metafórico de criação” (apud
RIOS, 2003, p. 33). Porém, concordamos com Rios (2003) quanto à
necessidade de distinguir metáfora e conotação, sendo esta última mais
abrangente, por incluir, além da metáfora, também outras figuras de
linguagem. Assim, seria mais apropriado, segundo a autora, falar em
conotação em se tratando de EIs (e, a nosso ver, também de provérbios),
uma vez que “podemos encontrar idiomatismos sempre conotativos, mas
43
que apresentam outras figuras como a metonímia, a comparação
17
, a
hipérbole etc.” (p. 33).
1.4.3 Cristalização
As duas características discutidas acima estão diretamente ligadas
à frequência de uso do provérbio ou EI, ou seja, à sua cristalização.
Conforme Xatara e Oliveira (2008):
Outro fator que será responsável por seu [das EIs]
processo de lexicalização […] é a freqüência de
seu emprego pela comunidade dos falantes, em
outras palavras, é a sua consagração pela tradição
cultural que o cristaliza em um idioma, tornando-o
estável em significação, o que possibilita sua
transmissão às gerações seguintes e seu alto grau
de codificabilidade. (p. 125)
Assim, o uso frequente de uma frase ou expressão leva à
consagração de sua forma e também de seu significado conotativo.
Desse modo, apesar de não apresentar um sentido denotativo,
transparente, a compreensão do sentido conotativo de uma EI ou de um
provérbio não depende da interpretação do falante/ouvinte, pois seu
significado é estável, convencionado.
Dizemos que uma expressão idiomática é
cristalizada em um idioma pela tradição cultural,
porque o seu significado, embora conotativo, é
estável, o que permite uma rápida e correta
decodificação pelo falante/ouvinte, além de
possibilitar que a expressão seja transmitida a
gerações futuras. (FERRAZ e SOUZA, 2004, p.
146)
Falcão (2002) descreve a evolução de um idiomatismo da
seguinte forma: num primeiro momento, um indivíduo seleciona
combinações dentre as possibilidades do sistema da língua, que subjaz à
sua competência linguística, e produz uma formulação idiomática no
nível da fala. Posteriormente, essa formulação é reproduzida no discurso
coletivo até que, num terceiro momento, “passa a ser consagrada por
17
As EIs de matriz comparativa são o objeto de estudo de Xatara (1994).
44
toda a comunidade, ou seja, acolhida pela norma que corresponde ao
conjunto das possibilidades lingüísticas já selecionadas pelas tradições e
valores socioculturais dos falantes da língua em questão” (FALCÃO,
2002, p. 21; FALCÃO e XATARA, 2005, p. 73-74).
No caso dos provérbios, a sua consagração é um dos motivos para
que sejam tomados pelos falantes como representativos da sabedoria dos
antigos, ajudando a manter seu caráter de discurso de autoridade:
Os provérbios fazem parte do folclore de um
povo, assim como as superstições, lendas e
canções, pois são frutos das experiências desse
povo, representando verdadeiros monumentos
orais transmitidos de geração em geração, cuja
autoridade está justamente nessa tradição; para
seus destinatários tão anônimos quanto seus
autores. (XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 20)
Na verdade, mais do que uma forma linguística cristalizada, os
provérbios representam maneiras de pensar cristalizadas, afirmações
consagradas como verdades eternas (embora seja fácil encontrar
provérbios que se contradigam entre si). Assim, o provérbio
constitui uma verdade de origem anônima
consagrada pelo senso comum, ou seja, um
enunciado citado, e não criado no momento de
uma enunciação específica. Por isso a
argumentação apresenta-se como totalmente
cerceadora, na medida em que o locutor
reenunciador apóia-se sobre princípios
anteriormente admitidos. (ROCHA, 1995, p. 175)
Entretanto, essa estabilidade das EIs e mesmo dos provérbios não
é eterna, de modo que alguns podem desaparecer pouco tempo depois de
seu surgimento, pois se adaptam às necessidades comunicacionais do
momento. Porém, o fato de não estar mais em uso atualmente não
impede que um item seja considerado uma EI ou provérbio, pois, como
esclarece Riva (2004), “para que uma lexia complexa possa, então, ser
identificada como EI [ou provérbio, no nosso caso], é necessário que seu
uso seja, ou tenha sido, freqüente por um considerável número de
pessoas” (p. 19, grifo nosso). Muitos, porém, continuam no léxico,
45
incorporados pela língua, e, especialmente em relação aos provérbios,
chegamos a ter alguns cuja origem remonta à Antiguidade
18
.
1.5 OUTRAS CARACTERÍSTICAS
As três características comentadas acima
indecomponibilidade, conotação e cristalização constituem, a nosso
ver, as essenciais para identificar EIs e provérbios, além de serem
aquelas que, nas definições adotadas, são comuns às duas categorias
de fraseologismos. Foram, por isso, aquelas nas quais nos apoiamos ao
longo do trabalho para nos certificarmos se uma determinada ocorrência
poderia ser considerada como pertencente a tais categorias.
Como foi possível observar, esses atributos principais estão
estreitamente relacionados uns aos outros, de modo que podemos
afirmar serem indissociáveis. Assim, podemos estender a EIs e
provérbios as seguintes considerações de Rios (2003) sobre as
primeiras: “o significado idiomático de uma EI, que provém de seu
caráter conotativo, só pode ser compreendido se esse for usado da
maneira como foi cristalizado. Uma EI é, portanto, a cristalização
indecomponível de um uso conotativo” (p. 39).
Além dessas características principais, existem ainda várias
outras, embora nem sempre se trate de traços presentes em todas as
ocorrências de EIs ou provérbios. Quanto às EIs, “costumam ter outras
características em comum, embora estas não se apliquem geralmente a
todos os casos” (LONGMAN, 1979, p. viii, grifo do autor)
19
, e em
relação às características formais dos provérbios é “pertinente
observarmos que raramente qualquer um desses recursos de construção
não se faz acompanhar por outro recurso, e que muito dificilmente
encontraríamos todos eles reunidos em um provérbio” (XATARA e
OLIVEIRA, 2002, p. 14).
Vellasco (2000) chega a apontar esse fato como uma possível
causa da dificuldade de se chegar a uma definição para o provérbio: “No
meu entender, a inviabilidade de se chegar a uma definição geral de
18
“O provérbio, um discurso cristalizado do passado, cuja origem de produção foi apagada,
mantém-se surpreendentemente vivo no presente. Além de transmitir e preservar o
conhecimento serve para nos mostrar que o homem em quase nada evoluiu: os sentimentos, os
conflitos e guerras, as uniões são experiências comuns a todas as culturas, em todas as épocas,
dos gregos aos nossos contemporâneos. Alguns provérbios aconservam palavras arcaicas,
justamente porque elas lhes conferem um caráter de sabedoria ancestral.” (XATARA e SUCCI,
2008, p. 37; XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 20).
19
tend to have other characteristics in common, although these do not apply generally to
every case.
46
provérbio decorre do fato de que não se pode trazer todos os vários tipos
desta forma concisa para uma categoria: um provérbio não reúne
todas as características atribuídas aos provérbios como um todo” (apud
SUCCI, 2006, p. 30).
Assim, tendo apresentado e discutido as características essenciais
de EIs e provérbios e comuns a ambos, comentaremos rapidamente a
seguir outras características recorrentes que, no entanto, não são
encontradas em todas as suas ocorrências.
1.5.1 Outras características das EIs
Sobre o emprego de EIs, Xatara (1994) afirma:
O uso ou não de uma EI justifica-se por
corresponder a certas expectativas do usuário em
relação ao seu interlocutor, mas também por ser
apropriado ao nível de linguagem em que os
falantes estiverem envolvidos.
[…]
O enunciado:
Você deve mandar brasa em suas pesquisas.
onde se reconhece a EI mandar brasa, seria
coerentemente usada se se tratasse de um registro
informal, oral e ajustado entre, por exemplo, dois
colegas de profissão. O mesmo não aconteceria se
fosse um diretor enviando uma circular, ou
mesmo falando, com seu funcionário. (p. 34,
grifos da autora)
No entanto, apesar de as EIs ocorrerem principalmente na
linguagem informal e falada, em Falcão e Xatara (2005) temos que elas
“são utilizadas, diariamente, como parte da linguagem comum de
registro informal, tanto na modalidade oral quanto na escrita” (p. 74), e
Rios (2003) afirma que
são mais freqüentes no estilo informal, mas
também estão presentes em situações que exigem
maior grau de reflexão sobre o uso da língua,
como é o caso da literatura ou da publicidade. Na
literatura, para caracterizar ou reproduzir o modo
de falar dos personagens; na publicidade, para
atrair a atenção por meio de implícitos culturais.
(p. 43)
47
Outra característica apontada por diversos autores é o fato de EIs
representarem dificuldades para estrangeiros, uma vez que “nem todos
os aprendizes de uma língua, considerados falantes ingênuos (Fillmore
1979), têm a oportunidade de estar em contato direto e contínuo, ou
mesmo indireto, mas sistemático, com a maneira de cada povo
expressar-se em seu idioma” (FALCÃO, 2002, p. 21; FALCÃO e
XATARA, 2005, p. 74, grifos das autoras). O mesmo é apontado por
Tagnin (1989, 2005) em relação a todas as manifestações de
convencionalidade na linguagem, o que inclui, além de EIs e provérbios,
também colocações, binômios, coletivos, marcadores conversacionais,
entre outros.
Em relação à sua necessidade e à motivação para sua
lexicalização, aponta-se que as EIs preenchem lacunas do léxico das
línguas, permitindo ao falante comunicar-se com mais expressividade,
valendo-se de diferentes efeitos de sentido.
As EIs são indispensáveis para a comunicação
entre as pessoas, pois apesar de a língua dispor de
meios para se expressar objetivamente sobre
qualquer assunto, essas expressões saciam a
necessidade do falante de comunicar suas
experiências de maneira mais expressiva,
lançando mão de combinatórias inusitadas. O
falante procura recursos para tornar sua fala mais
persuasiva, como em: Não “feche os olhos” para
os problemas ambientais. Ou para ficar mais
próximo de seu interlocutor: Nós, eleitores
brasileiros, estamos todos “no mesmo barco”.
Também são utilizadas para despertar sentimentos
como emoção: Após conquistar a medalha, estava
“feliz como uma criança”; comoção: A situação
de sua mãe era de “cortar o coração”; ironia: Era
alto como um “pintor de rodapé”; irritação:
Durante a reunião saiu “cuspindo fogo” e amor:
Como nos contos de fada, foi “amor à primeira
vista”, etc. (CAMACHO, 2008, p. 17)
Quanto às imagens utilizadas nas EIs, há uma forte recorrência de
itens de campos semânticos relacionados ao cotidiano, como animais,
corpo humano, família, etc., o que permite que em diversas pesquisas,
especialmente de cunho lexicográfico, escolha-se trabalhar com um
48
desses grupos. É o que fazem, por exemplo, Falcão (2002), com nomes
de animais, e Rios (2003) e Matias (2008), com partes do corpo
humano
20
.
1.5.2 Outras características dos provérbios
Conforme mencionado, a variedade de características
recorrentes em muitos provérbios, porém não presentes em todos eles, é
muito grande, a ponto de ser considerada uma das razões para a
dificuldade de estabelecer-lhes uma definição geral. Seria desnecessário
discutir todas elas, uma vez que isso foi realizado em outras obras,
mas transcrevemos abaixo um trecho de Xatara e Oliveira (2002) no
qual boa parte dessas características, especialmente as formais, é listada.
O provérbio estrutura-se com vários recursos de
construção, como rima (para dar cadência e
facilitar a memorização), aliteração, assonância,
elipse de artigo, elipse do antecedente, repetição
de palavras, oposição de palavras, paralelismo
fônico, paralelismo morfossintático, dialogismo,
deformação intencional de palavras, paronomásia;
unidades completas e independentes (enunciados
fechados) realizadas nas dimensões do período, da
oração ou da oração sem verbo; estrutura binária
de sintagmas correlatos; arcaísmos lexicais;
ordem não-convencional das palavras; preferência
pelo presente do indicativo ou imperativo
21
;
formulação abstrata, figurada ou plena de
imagens; formas impessoais ou indefinidas;
concisão e brevidade (não palavras inúteis e às
vezes algumas úteis são dispensadas para dar ao
conjunto o atrativo de uma certa obscuridade,
facilitando também a memorização do
enunciado).
22
20
Em relação aos temas a que se referem as EIs (avareza, sorte/azar, riqueza/pobreza, loucura,
etc.), pode-se consultar o dicionário onomasiológico proposto por Riva (2009).
21
“Podem ser registrados provérbios em outros tempos verbais, mas com menor incidência:
‘Quem pariu Mateus que o embale’, ‘Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza’,
etc. (JESUS, 2005, p. 152, grifos da autora)
22
[…] la brevità della formulazione riveste un carattere essenziale; seguono gli accorgimenti
metrici e ritmici più comuni, dalla rima alle assonanze, dall’alliterazione alle simetrie
strutturali, che tutte mirano a conferir loro la necessaria incisività, fissandoli nella memoria
dei parlanti come tante utili pezze d’appoggio del discorso pronte a venire alla luce non
49
[…]
Quanto ao conteúdo, o provérbio tende ao geral,
sem restrições de tempo ou lugar, sem referências
a nenhum caso em particular, procurando uma
validade universal. Os provérbios falam de
animais, de condições climáticas, de idéias
religiosas
23
, de fases de vida, de costumes
corriqueiros, de profissões, de comportamentos
diversos frente às mais variadas situações. (p. 13-
14, grifos da autora)
Em razão de todos esses recursos de construção, podemos
certamente concordar com Amadeu Amaral (1982) quando afirma que
“o provérbio, quando não é puro verso, é parente próximo dêste, pelo
ritmo e, muitas vezes, também pela rima” (p. 219), muitos tendo até
mesmo sete pés métricos. Isso justificaria que algumas ponderações a
respeito da tradução de poesia fossem pensadas também em relação à
tradução de provérbios (como a necessidade de considerar a importância
da forma além do conteúdo ao realizar a tradução).
Sobre seu emprego, Xatara e Succi (2008) apontam que são
utilizados “com a função de ensinar, aconselhar, consolar, advertir,
repreender, persuadir ou até mesmo praguejar (p. 35)
24
. Nota-se,
portanto, que constituem claramente instrumentos de argumentação, e
dos mais eficientes, conforme analisado por Rocha (1995):
appena se ne presenti l’occasione opportuna.” (SCHWAMENTHAL e STRANIERO, 1999, p.
IX)
“[…] a brevidade da formulação reveste um caráter essencial; seguem-se os recursos métricos
e rítmicos mais comuns, da rima à assonância, da aliteração às simetrias estruturais, que visam
todos a conferir-lhes a necessária incisividade, fixando-os na memória do falante como
numerosas peças de apoio do discurso prontas para vir à luz tão logo se apresente a ocasião
oportuna.”
23
O trabalho de Succi (2006), por exemplo, trata dos provérbios sobre os sete pecados capitais.
24
Em muitos desses usos, o provérbio pode ser empregado como uma forma de amenizar o que
se pretende dizer. Xatara e Succi consideram esse efeito uma forma de eufemismo: “O
provérbio, por vezes, comporta uma sentença enigmática, apresentando-se como uma palavra
que vale por outra, muitas vezes empregado como uma forma indireta de dizer algo
desagradável. Assim, numa situação em que o indivíduo A se propõe a fazer algo que B é
contra, este pode se utilizar do provérbio ‘Quem avisa amigo é’, por exemplo, que na verdade
mascara uma forma direta de dizer simplesmente ‘Não faça isso, as conseqüências não serão
agradáveis’. As duas orações em questão o reprovações, no entanto, a diferença consiste em
que a primeira é uma frase impessoal que requer uma prévia decifração do interlocutor ele
necessita tirar suas próprias conclusões; enquanto a segunda é uma frase imperativa, direta,
uma imposição. Por isso, também se diz que o provérbio funciona como um eufemismo,
ajudando as pessoas a administrarem conflitos e evitando reações mal-humoradas” (SUCCI,
2006, p. 37; XATARA e SUCCI, 2008, p. 38).
50
[…] o locutor que emprega um provérbio em seu
discurso é invencível, porque não se apresenta
como o criador de tal enunciado. O que ele faz é
apoiar-se sobre uma idéia estabelecida pelo senso
comum, não-refutada pela coletividade, admitida
de longa data como verdadeira, e preexistente
assim à sua argumentação de locutor particular
numa situação particular. (p. 175)
Assim, discursivamente, o provérbio permitiria o ideal da
argumentação, reduzindo o interlocutor ao silêncio, criando nele uma
adesão obrigada, e “isto sem que o argumentador aja como se quisesse
forçar diretamente o comportamento de seu parceiro, uma vez que se
trata de um discurso polifônico” (ROCHA, 1995, p.176), funcionando
de forma semelhante à citação
25
. Ou seja, o enunciador toma emprestado
um conceito estabelecido para dar respaldo à sua argumentação, porém
“[…] ao contrário da citação, que é a idéia do outro, em que consta um
autor, o autor do provérbio é toda uma coletividade […]” (XATARA e
OLIVEIRA, 2008, p. 20). Assim, o falante realiza uma enunciação-eco,
na qual retoma “infindas enunciações anteriores do mesmo provérbio”
(BUSARELLO, 1998, p. 25), enquanto “mistura sua voz com todas as
que proferiram antes dele o mesmo pensamento” (XATARA e
OLIVEIRA, 2002, p. 14), conseguindo, ao mesmo tempo em que
concorda com o conteúdo expresso, distanciar-se dele por atribuí-lo ao
Outro.
Na verdade, tudo se passa de um modo muito
indireto, quando se trata do uso de provérbios em
discurso: o locutor não fala com suas palavras, já
que usa o discurso do Outro, em cuja autoridade
se apóia, e dirige-se indiretamente ao alocutário,
pois mesmo que o provérbio traga um nítido tu,
trata-se sempre de um tu de percurso, que designa
todo mundo em geral e ninguém em particular.
(ROCHA, 1995, p.172).
25
Greimas (1975) aponta um reflexo disso na expressão oral dos provérbios: “Na língua falada,
os provérbios e ditados se distinguem nitidamente do conjunto da cadeia pela mudança de
entonação. Tem-se a impressão de que o locutor abandona voluntariamente sua voz, tomando
uma outra de empréstimo a fim de proferir um segmento da fala que não lhe pertence
propriamente e que ele está unicamente citando” (p. 288).
51
Outro elemento que contribui para a força argumentativa do
provérbio, conferindo-lhe autoridade, é a sua antiguidade. De fato, os
provérbios são utilizados desde os primórdios da humanidade
26
, e
muitos dos utilizados ainda hoje têm sua origem muitos séculos (às
vezes alguns milênios) atrás. Com base nisso, Câmara Cascudo (1977)
compara vários provérbios atuais com seus antecedentes ou semelhantes
da Antiguidade, como no exemplo abaixo:
O imperador Vespasiano faleceu em Roma a 23
de junho do ano de 79 na Era Cristã.
Dezenove séculos passaram.
Dizia ele que a raposa mudava de pêlo mas não de
costumes. Vulpem pilum mutare, non mores.
O sertanejo continua convencido de que “a raposa
muda de cabelo, mas não deixa de comer
galinhas”. (CASCUDO, 1977, p. 22)
Mais ainda, muitos provérbios conservam ou recriam um estilo
arcaico, que os remete “a um passado não determinado, além de conferir
uma espécie de autoridade que provém da ‘sabedoria dos antigos’”
(GREIMAS, 1975, p. 294).
Todavia, apesar desse estatuto de expressão da sabedoria dos
antigos ou da sabedoria do povo
27
, é fácil encontrar provérbios que
explicitam certas ideologias difundidas que na verdade não são nenhum
exemplo de sabedoria, como racismo, sexismo, preconceitos,
superstições. De fato, Schwamenthal e Straniero (1999) afirmam com
muita propriedade que os provérbios, além da sabedoria, expressam
igualmente a estupidez, a ambiguidade e a incerteza dos povos. Além
disso, é fácil encontrar provérbios completamente opostos entre si,
embora nem sempre isso signifique que um esteja correto e o outro
equivocado.
26
Para uma retomada histórica sobre o uso de provérbios, consultar, entre outros, Maloux
(1960/2001), Tosi (1996), Schwamenthal e Straniero (1999), Succi (2006) e Xatara e Succi
(2008).
27
Apesar de ser comum se referir a eles como parte da “sabedoria popular”, Tosi (1996)
lembra que “muitas vezes os provérbios não passam de redações estereotipadas de topoi
literários e que as relações entre a tradição literária e a pretensa ‘sabedoria popular’ se revelam
profundas e complexas. Além disso, é evidente que muitas expressões proverbiais têm origem
não certamente popular, mas derivam de trechos e textos famosos, citados como sentenças
independentes (e às vezes propositalmente com significados diferentes dos originais)” (p.
XIII).
52
Que os provérbios expressem a sabedoria dos
povos é um lugar comum abonado sobretudo
pelos próprios provérbios e até, como se diz,
passado em provérbio; mas poder-se-ia com igual
fundamento afirmar que, dos povos, eles
expressam igualmente bem a estupidez, a
ambiguidade e a incerteza. Talvez, no fim das
contas, são estes os componentes, ou alguns dos
componentes, da tão exaltada sabedoria. Não é
difícil dar-se conta, mesmo somente de memória,
da fragilidade de provérbios e ditos proverbiais de
qualquer povo, sem falar de sua frequente
contraditoriedade. “O hábito não faz o monge”?
Claro; contudo “as aparências enganam”, e de
qualquer modo se sugere no napolitano (terra
bastante proverbial), “vista-se de Ceppone, que
parecerá Barão” “De cavalo dado não se olha
os dentes”? Certamente! E todavia, adverte o
antigo latino, “timeo Danaos et dona ferentes”,
quer dizer, desconfio dos dânaos (ou seja, dos
gregos), mesmo que venham com presentes.
(SCHWAMENTHAL e STRANIERO, 1999, p.
V)
28
Apesar de que em muitos adágios se faz notar o
bom senso ou mesmo a sabedoria do povo,
ninguém deve buscar neles uma filosofia coerente.
Tanto menos que muitas vezes nota-se em dois
ditados contradição redonda. Entre “Deus o
frio conforme a roupa” e “Deus nozes a quem
não tem dentes”, para qual votar? Seria
lamentável excluir um ou outro por motivo
ideológico. (Rónai, in MOTA, 1987, p. 28)
28
Che i proverbi esprimano la saggezza dei popoli è un luogo comune accreditato soprattutto
dai proverbi stessi, e anzi a sua volta, come si dice, passato in proverbio; ma si potrebbe con
eguale fondamento asserire che, dei popoli, essi esprimono altrettanto bene la stupidità,
l’ambiguità e l’incertezza. Forse, dopotutto, sono proprio queste le componenti, o alcune delle
componenti, della tanto lodata saggezza. Non è difficile accorgersi, anche soltanto a memoria,
della fragilità di proverbi e detti proverbiali di qualsiasi popolo, nonché della loro frequente
contraddittorietà. « L’abito non fa il monaco » ? Certo; tuttavia « l’apparenza inganna », e in
ogni modo, si suggerisce nel Napoletano (terra assai proverbiale), « vesti Ceppone, che pare
Barone »... « A caval donato non si guarda in bocca »? Sicuro! E tuttavia, ammonisce l’antico
latino, « timeo Danaos et dona ferentes », vale a dire, diffido dei Dànai (ossia, praticamente, i
Greci), anche se arrivano coi regali.
53
Succi (2006), Xatara e Succi (2008) e Xatara e Oliveira (2008)
também falam em provérbios e ditados “antagônicos” ou “antônimos” e
recordam, dentre outros exemplos, “Ruim com ele, pior sem ele” x
“Antes do que mal acompanhado” e “Rei morto, rei posto” x “Quem
foi rei nunca perde a majestade”. Steinberg (2002) apresenta em seu
apêndice uma lista de provérbios em inglês que se contradizem
(juntamente com outra de provérbios semanticamente semelhantes nesse
mesmo idioma).
Por fim, vale lembrar que muitos provérbios existem em formas
muito semelhantes em diferentes línguas, principalmente por ser comum
passarem de um povo para outro, tornando-se geralmente impossível
determinar em qual cultura surgiu primeiro. Por esse motivo não é
difícil encontrar obras que os listem em diversas línguas, como o
dicionário de Jorge Sintes Pros (1961), que o faz em espanhol, latim,
francês, italiano, inglês e alemão.
Por outro lado, como mencionamos no início da Introdução, eles
se adaptam a cada povo, além de cada cultura ter provérbios bastante
próprios, de modo que esses fraseologismos m muito a dizer sobre a
cultura na qual se encontram, reforçando a relevância da reflexão a
respeito de sua tradução. Como exemplificam Moacir e Orlando Mota
na apresentação do Adagiário brasileiro de seu pai Leonardo Mota,
Quem primeiro afirmou que “Pobre alevanta a
cabeça quando quer comer pitomba” estava
apenas confirmando milenar convicção comum, a
de que os fracos devem mostrar-se humildes. Mas
fê-lo de modo tão nosso, tão verde-e-amarelo que
a sentença pode, sem exagero, ser considerada
tipicamente brasileira. Expressando a mesma
idéia, é evidente que um esquimó não o faria nos
mesmos termos. (in MOTA, 1987, p. 25)
Tendo em mente as características de provérbios e EIs que
comentamos neste capítulo, esperamos ter esclarecido a delimitação
desses fraseologismos no contexto deste trabalho e evidenciado a
imbricação desses elementos com a língua e a cultura às quais
pertencem, e as consequentes complicações que podem surgir no
momento de traduzi-los para um outro complexo língua-cultura. No
próximo capítulo, abordaremos as reflexões de alguns autores a esse
respeito e as possíveis soluções propostas por eles.
54
55
CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS A RESPEITO DA TRADUÇÃO
DE PROVÉRBIOS E EIS
Uma vez discutidas no capítulo anterior as principais
características dos provérbios e das EIs, neste reunimos concepções a
respeito de sua tradução encontradas em diferentes textos de teóricos,
lexicógrafos e tradutores. Apesar de os autores pesquisados ora se
referirem a EIs e ora a provérbios, além de alguns incluírem outros
fraseologismos, preferimos não abordar cada lexia em uma seção
separada, tanto por considerarmos que apresentam semelhanças
suficientes para receberem tratamento parecido no ato tradutório, como
pelo fato de muitas vezes um autor estar tratando principalmente de uma
das categorias mas fazer referências também à outra.
2.1 BERMAN
Começamos abordando a posição do teórico e crítico de tradução
francês Antoine Berman, por ser um dos poucos teóricos da tradução
que tratam especificamente, embora de maneira rápida e superficial, da
tradução de provérbios e EIs (estas últimas incluídas no que ele chama
de “locuções”), e também por ter sido, por isso, um dos autores que
chamaram nossa atenção para o assunto. Vemos mais adiante, no
entanto, que a posição defendida por ele se contrapõe à da maioria dos
estudiosos e tradutores.
Em seu livro A tradução e a letra ou o albergue do longínquo,
resultante de um seminário realizado em 1984 no Collège International
de Philosophie, em Paris, Berman faz uma defesa contundente da
tradução da “letra” (“lettre) do texto original, ou seja, aquela que tem
sua “atenção voltada para o jogo de significantes(BERMAN, 2007, p.
16). Apesar disso, o autor tem consciência de que a maior parte das
traduções realizadas em seu país tanto atualmente como no passado não
seguem esse posicionamento, assim como a maioria das teorias a
respeito.
Berman (2007) afirma que as traduções literárias em suas formas
tradicionais e dominantes representam um ato culturalmente
etnocêntrico, isto é, “que traz tudo à sua própria cultura, às suas normas
e valores, e considera o que se encontra fora dela o Estrangeiro
como negativo ou, no máximo, bom para ser anexado, adaptado, para
aumentar a riqueza desta cultura” (p. 28). Para ele, esse tipo de tradução
busca “fazer com que a esqueçam”, fazer com que “não se ‘sinta’ a
tradução”, evitando chocar com ‘estranhamentos’ lexicais e sintáticos”
56
(p. 33, grifo do autor). Ecoando o texto clássico de Schleiermacher
(1813/2007)
1
, afirma ser um dos princípios da tradução etnocêntrica que
“a tradução deve oferecer um texto que o autor estrangeiro teria escrito
se tivesse escrito na língua da tradução” (BERMAN, 2007, p. 33).
Para se opor à tradução etnocêntrica dominante, o autor propõe a
prática de uma tradução ética, cujo objetivo estaria em “reconhecer e em
receber o Outro enquanto Outro” (BERMAN, 2007, p. 68), em lugar de
esconder o elemento estrangeiro da obra traduzida
2
. Para esse propósito
defende uma tradução literal
3
, fiel à “letra” do original, o que para ele
representaria a “essência última e definitiva da tradução”: “Partimos do
seguinte axioma: a tradução é tradução-da-letra, do texto enquanto
letra” (BERMAN, 2007, p. 25, grifo do autor). Assim, para o autor, não
teria cabimento uma fidelidade ao sentido ou ao “espírito” da obra.
O objetivo ético do traduzir, por se propor acolher
o Estrangeiro na sua corporeidade carnal, pode
estar ligado à letra da obra. Se a forma do objetivo
é a fidelidade, é necessário dizer que
fidelidade — em todas as áreas — à letra. Ser
‘fiel’ a um contrato significa respeitar suas
cláusulas, não o ‘espírito’ do contrato. Ser fiel ao
‘espírito’ de um texto é uma contradição em si
(BERMAN, 2007, p.70).
1
Ueber die verschiedenen Methoden des Uebersetzens, de 1813. Em nossa bibliografia consta
a tradução de 2007 para o português, Dos diferentes métodos de traduzir, realizada pelo Prof.
Dr. Mauri Furlan, ainda não publicada. Berman (1985/1999/2007) cita em sua bibliografia a
tradução ao francês realizada por ele mesmo: “Des différentes méthodes du traduire”.
2
Posteriormente, Berman ameniza essas afirmações. Em seu último livro, Pour une critique
des traductions: John Donne, publicado postumamente, Berman (1995) passa a associar a ética
do tradutor à transparência deste em relação à forma como realizou sua tradução e a condenar
como antiético apenas o ato de esconder as manipulações realizadas no texto traduzido:
“Não dizer aquilo que se vai fazer — por exemplo adaptar em vez de traduzir — ou fazer algo
diferente daquilo que se disse é o que valeu à corporação o adágio italiano traduttore traditore,
e que a crítica deve denunciar duramente. O tradutor tem todos os direitos, desde que jogue
abertamente”.
Ne pas dire ce qu’on va faire par exemple adapter plutôt que traduire ou faire autre
chose que ce qu’on a dit, voilà ce qui a valu à la corporation l’adage italien traduttore
traditore, et ce que le critique doit dénoncer durement. Le traducteur a tout les droits s lors
qu’il joue franc jeu” (BERMAN, 1995, p. 93, grifos do autor).
3
Apesar de Berman (2007) utilizar algumas vezes a palavra “literal”, é fácil notar que essa
literalidade é bastante diferente daquela tratada por Xatara, por exemplo (ver abaixo). Por esse
motivo, preferimos adotar “tradução da letra”, também utilizada pelo autor, de modo que a
distinção fique mais clara. A tradução da letra de um texto, para esse autor, não deve ser
confundida com uma tradução “palavra por palavra”, pois não se restringe às palavras; envolve
também, como ele exemplifica ao tratar da tradução de provérbios, ritmo, comprimento,
possíveis aliterações, rimas, etc. (BERMAN, 2007, p. 16).
57
A tradução de provérbios e “locuções” (como vimos no primeiro
capítulo, este termo é utilizado pelo autor de maneira abrangente, mas
aqui nos atemos às EIs) é um exemplo utilizado por Berman (2007) para
indicar o que seria (e o que não seria) traduzir da forma como ele
propõe. Nesse ponto fica bem claro o significado para ele de uma
tradução voltada para a letra, conforme assinala em relação aos
provérbios, por exemplo: “traduzir literalmente um provérbio não é
simplesmente traduzir ‘palavra por palavra’. É preciso também traduzir
o seu ritmo, o seu comprimento (ou sua concisão), suas eventuais
aliterações etc. Pois um provérbio é uma forma” (p. 16).
Apesar de numa perspectiva geral a tradução no Brasil ter uma
orientação mais voltada para o estrangeiro, diferentemente do contexto
francês que inspira a crítica de Berman (2007) à tradução etnocêntrica,
mesmo aqui a tradução da letra em relação a provérbios e EIs, conforme
proposta pelo autor, não é defendida pela maioria dos autores, como
veremos ao longo deste capítulo.
Os provérbios são mencionados logo no início do seu livro. Por
repousarem em experiências a princípio semelhantes, normalmente
apresentam correspondentes em outros idiomas, embora muitas vezes
com imagens diferentes. Berman (2007) emprega o termo “equivalente”
(équivalent), mas preferimos não utilizá-lo para evitar o conceito
problemático de “equivalência” e especialmente fugir da sua
significação etimológica ligada a “igual valor”. Considerando que
dificilmente dois fraseologismos de idiomas diferentes terão exatamente
o mesmo valor, e também que as correspondências não são fixas e não
existem de antemão, sendo definidas de acordo com cada situação
tradutória, quando falamos em fraseologismo “correspondente”
queremos dizer aquele que o tradutor seleciona na língua de chegada
como sendo capaz de cumprir uma função semelhante à daquele
utilizado na língua de partida, se empregado no contexto correspondente
no texto traduzido.
Provavelmente com base nessa frequente existência de
correspondentes em outros idiomas, a maior parte dos tradutores,
segundo Berman (2007), acredita que traduzir um provérbio seja sempre
encontrar o seu correspondente. O autor, no entanto, defende que
procurar equivalentes não significa apenas
estabelecer um sentido invariante, uma idealidade
que se expressaria nos diferentes provérbios de
língua a língua. Significa recusar introduzir na
58
língua para a qual se traduz a estranheza do
provérbio original […], significa recusar fazer da
língua para a qual se traduz “o albergue do
longínquo”, significa, para s, afrancesar: velha
tradição. Para o tradutor formado nesta escola, a
tradução é uma transmissão de sentido que, ao
mesmo tempo, deve tornar este sentido mais
claro, limpá-lo das obscuridades inerentes à
estranheza da língua estrangeira. (p. 17, grifos do
autor)
Mais adiante, Berman (2007) inclui a “destruição das locuções”
em sua lista das “tendências deformadoras” da tradução, e demonstra ser
também nesse caso favorável a uma tradução voltada para a letra. Além
disso, na sequência esclarece como acredita poder o leitor da tradução
compreender o sentido do provérbio estrangeiro traduzido desse modo,
por meio de uma “consciência-de-provérbio” que os falantes de
qualquer idioma possuiriam.
Ora, ainda que o sentido seja idêntico, substituir
um idiotismo pelo seu equivalente é um
etnocentrismo […] Servir-se da equivalência é
atentar contra a falância da obra. As equivalências
de uma locução ou de um provérbio não os
substituem. Traduzir não é buscar equivalências.
Ademais, querer substituí-los significa ignorar que
existe em nós uma consciência-de-provérbio que
perceberá imediatamente no novo provérbio o
irmão de um provérbio local. (BERMAN, 2007, p.
60, grifos do autor)
Assim, empregar um equivalente nesses casos significaria limitar
o leitor, impedi-lo de ter contato com uma riqueza do texto estrangeiro e
conhecer novas formas de expressão. Ao contrário, realizar uma
tradução próxima à letra, procurando manter as imagens, a sonoridade e
o jogo dos significantes da expressão ou provérbio seria uma forma de
não esconder o elemento estrangeiro da obra original, de reconhecer e
“receber o Outro enquanto Outro” (p. 68)
4
.
4
Em Francisco (2009), procuramos verificar as possibilidades dessa estratégia tradutória,
testando sua aplicação na tradução de provérbios e expressões extraídos do romance italiano
Fontamara, de Ignazio Silone. Chegamos à conclusão de que, considerando os exemplos com
os quais trabalhamos, parece ser viável realizar uma tradução da letra, no sentido proposto por
Berman (2007), dessas lexias complexas, pois diversos indícios contextuais são capazes de
59
Ao introduzir o tema da tradução dos provérbios, Berman (2007)
lembra que o assunto foi examinado por Valery Larbaud e Henri
Meschonnic. De fato, a posição de Berman é bastante semelhante à de
Meschonnic (1973), que por sua vez evoca o clássico Sous l’invocation
de Saint Jérôme, de Larbaud, para defender o “empréstimo” (emprunt)
como possibilidade para traduzir provérbios, EIs e outros
fraseologismos de uma forma que enriqueça a língua da tradução:
Para a poética das línguas e da tradução, o
provérbio é um desses locais de câmbio e
intercâmbio. V. Larbaud mostra que o empréstimo
neste caso fornece essas “condições de
‘estranheza’ que pede Aristóteles” e “que
enriquecem incontestavelmente as línguas em que
são introduzidas. Os tradutores se dão conta disso
quando se encontram na presença de frases feitas,
de provérbios, de ditados, e mesmo de simples
idiomatismos, cujo equivalente na sua língua
perderia sua característica, e que ganhariam muito
se fossem traduzidos literalmente […]”.
(MESCHONNIC, 1973, 356)
5
Embora as posições de Larbaud, Meschonnic e Berman estejam
em consonância, veremos que a maior parte dos autores tem uma visão
bastante diferente do assunto.
2.2 NIDA
Tendo trabalhado por muitos anos no departamento de tradução
do American Bible Society, Eugene A. Nida utilizou sua experiência em
projetos de tradução da Bíblia para diversos idiomas para tentar
formular uma teoria que fosse válida também para outros tipos de
tradução. Uma de suas propostas mais conhecidas é a distinção entre
equivalência formal e equivalência dinâmica, a primeira mais ligada à
levar o leitor a reconhecer o provérbio ou expressão idiomática como tais e a compreender seu
sentido.
5
Pour la poétique des langues et de la traduction, le proverbe est un de ces lieux d’échange et
de changement. V. Larbaud montre que l’emprunt ici fournit ces « conditions d’ etrangeté*"
que demande Aristote » et « qui enrichissent incontestablement les langues où elles sont
introduites. Les traducteurs s’en rendent bien compte, lorsqu’ils se trouvent en présence de
locutions toutes faites, de proverbes, de dictons, et même de simples idiotismes, dont
l’équivalent dans leur langue serait sans caractère, et qui en acquièrent beaucoup si on les
traduit littéralement […] ».
60
reprodução tanto da forma quanto do conteúdo do texto original e a
segunda mais voltada para a busca de uma resposta dos receptores da
tradução que seja semelhante àquela dos leitores do texto original.
Essa divisão teve grande repercussão nos Estudos da Tradução, e
Nida se tornou um nome bastante conhecido na área, embora alguns
autores considerem sua proposta como apenas uma reformulação da
velha dicotomia tradução literal x tradução livre, como comenta
Rodrigues (2000). Esta mesma autora analisa a obra de Nida e aponta
ainda vários pontos problemáticos nela, como a falta de uma definição
clara para o termo “equivalência” utilizado pelo autor; o prescritivismo
observável em vários pontos da teoria, mesmo esta se colocando como
fundamentalmente descritiva; os pressupostos pretensamente válidos
para todas as línguas, mas contaminados pela perspectiva
angloamericana e protestante de Nida; etc.
Ainda que sua exposição teórica remeta aos
primeiros leitores da Bíblia, praticamente todos os
exemplos fornecidos se referem ao inglês,
sugerindo que toma como ponto de partida para
suas análises o texto em inglês. O fato de Nida
(Nida & Taber, 1969/1982) incluir dez textos
bíblicos em sua bibliografia, mas apenas um em
grego, reforça essa hipótese. A certeza dessa idéia
se amplia porque o autor não se reporta às versões
do hebraico ou do aramaico.
Assim, o processo de tradução da Bíblia, no
esquema colocado pelo autor, não envolve apenas
a cultura bíblica e a receptora, pois as traduções
não são necessariamente feitas do hebraico, do
grego e do aramaico para outras línguas: há uma
terceira cultura envolvida, a anglo-americana, ou
melhor, uma parcela dessa cultura, que
compartilha determinada orientação religiosa, o
que sugere que houve uma etapa de
“aculturação” do texto anterior à passagem para as
outras línguas. (RODRIGUES, 2000, p. 91)
Meschonnic (1976) também denuncia “a escamoteação da língua
de partida” (p. 335)
6
pelo fato de o ponto de partida dos exemplos ser
quase sempre a King James Version, além de criticar duramente outros
aspectos, como a distinção, ideológica segundo Meschonnic (1976),
6
l’escamotage de la langue de départ.
61
segundo a qual a forma é oposta ao sentido e privada de significado. Em
suma, o crítico francês busca demonstrar que
[…] a teoria de Nida não é científica; que traveste
a gramática transformacional que utiliza; que
procede a uma distorção ideológica da Bíblia, e
que é feita para garantir uma completa distorção
ideológica; que nada mais é que o aprimoramento
com instrumentos modernos da mais velha
ideologia da tradução. (p. 329)
7
Venuti (1995) aponta que a busca de uma equivalência
dinâmica conforme a teoria nidiana, com seu ideal de produzir uma
resposta nos receptores finais semelhante àquela dos receptores
originais, na verdade representaria a domesticação resultante do discurso
fluente, da transparência na tradução, valorizada na cultura anglófona,
“mascarando uma disjunção básica entre os textos da língua-fonte e da
língua-alvo que colocam em questão a possibilidade de obter uma
resposta ‘semelhante’” (p. 21)
8
.
O que nos interessa na teoria nidiana, porém, não é a conhecida
distinção entre os tipos de equivalência, mas a menção à tradução de EIs
e provérbios, que surge em Nida (1964) quando este comenta os ajustes
formais que se fariam necessários para alcançar uma equivalência
dinâmica, afetando principalmente, segundo ele, três áreas: “formas
literárias especiais” (“special literary forms”), como no caso da poesia
9
;
“expressões semanticamente exocêntricas (“semantically exocentric
expressions”), que a nosso ver incluiriam fraseologismos como EIs e
provérbios; e “significados intraorganísmicos (“intraorganismic
meanings”), isto é, itens cuja compreensão depende do contexto cultural
no qual estão inseridos.
Burity (1989) afirma que Nida (1964) considerava como
expressões semanticamente exocêntricas as combinações de palavras
7
[…] la théorie de Nida n'est pas scientifique ; qu’elle travestit la grammaire
transformationelle qu’elle utilise ; qu’elle procède à une distorsion ideologique de la Bible, et
qu’elle est faite pour cautionner toute distorsion idéologique ; qu’elle n’est que le
perfectionnement avec des outils modernes de la plus vieille idéologie de la traduction.
8
masking a basic disjunction between the source- and the target-language texts which puts
into question the possibility of eliciting a ‘similar’ response.
9
Burity (1989) considera que, juntamente com a poesia, os provérbios também caberiam nesta
categoria de Nida (1964), uma vez que muitos envolvem ritmo, outros rima, outros jogos de
palavras, trocadilhos, figuras de linguagem, e outros ainda são em forma de poema (BURITY,
1989, p. 71). A visão desse autor sobre a tradução de provérbios, baseada na teoria de Nida,
será discutida mais adiante.
62
que formam uma unidade lexical, ou seja, cujo sentido não é resultante
da soma do sentido das suas partes, mas sim aplicado à combinação
como um todo, o que aparentemente equivaleria a lexias complexas ou
fraseologismos. Observando, no entanto, os exemplos de Nida (1964),
sempre retirados da tradução da Bíblia, nota-se que o conceito do autor
parece mais abrangente, abarcando também figuras de palavra e
metáforas não-convencionais, ou seja, não-consagradas, não-
cristalizadas, sem deixar, porém, de incluir aquelas convencionais como
as EIs.
Embora não afirme que a tradução literal dessas expressões
sempre resulte em problemas, Nida (1964) aponta que quando isso
ocorre são necessários ajustes para conseguir uma tradução com
equivalência dinâmica (D-E translation).
Quando locuções semanticamente exocêntricas no
idioma de partida ficam sem sentido ou
equivocadas se traduzidas literalmente para o
idioma receptor, é-se obrigado a realizar alguns
ajustes em uma tradução com equivalência
dinâmica. Por exemplo, o idiomatismo hebraico
“cinja os quadris da sua mente” pode não
significar nada além de “coloque um cinto ao
redor dos quadris dos seus pensamentos” se
traduzido literalmente. (p. 170)
10
Assim, Nida (1964) sugere que tais expressões sejam
classificadas de acordo com esses ajustes ou adaptações: metáforas por
metáforas, metáforas por símiles, metáforas por não-metáforas e não-
metáforas por metáforas. O primeiro tipo de ajuste, se pensarmos apenas
em figuras consagradas, corresponderia primeiramente à tradução por
um fraseologismo correspondente, nos termos propostos por Xatara (ver
2.6 abaixo).
A necessidade de realizar certas alterações
profundas em relação a expressões exocêntricas
10
When semantically exocentric phrases in the source language are meaningless or
misleading if translated literally into the receptor language, one is obliged to make some
adjustments in a D-E translation. For example, the Semitic idiom “gird up the loins of your
mind” may mean nothing more than ‘put a belt around the hips of your thoughts’ if translated
literally. Como os exemplos do autor utilizam sempre a língua inglesa, resultando numa
espécie de tradução intralingual, procuramos fazer o mesmo nas traduções das citações,
opondo, quando for o caso, expressões não-consagradas no português a EIs preexistentes.
63
sempre foi reconhecida por bons tradutores.
Assim, idiomatismos como o alemão Mit Wölfen
muss man heulen” (literalmente, “deve-se uivar
com os lobos”) pode ser vertido em inglês como
when in Rome do as the Romans”; a expressão
francesa ventre à terre (literalmente
“ventre/barriga no chão”) pode ser vertida de
diversas fomas, como “o mais rápido possível”, “a
toda velocidade” ou “manda brasa” (Savory,
1957, p. 16); e o espanhol rasgarse la barriga
(literalmente “rasgar a própria barriga”) torna-se
“cruzar os braços”. É tradicional em traduções
com equivalência dinâmica verter idiomatismos
clássicos por meio de idiomatismos
correspondentes em línguas modernas. Uma
expressão latina como manibus pedibusque
(literalmente “com mãos e pés”) torna-se “com
unhas e dentes”, e rem acu tetigisti
(literalmente, “você tocou a coisa com uma
agulha”) é vertido como “você acertou na mosca”.
(NIDA, 1964, p. 237-238)
11
Entretanto, o tratamento generalizado de Nida (1964), reunindo
figuras de palavra consagradas e não-consagradas sob o mesmo rótulo,
abre espaço também para pensarmos na possibilidade de traduzir EIs e
provérbios por uma figura não-consagrada, como por exemplo uma
metáfora. Parece-nos ser esse o caso nos exemplos do autor no trecho a
seguir:
Quando não um idiomatismo prontamente
correspondente na língua receptora, um leve
ajuste na expressão da língua-fonte pode torná-la
aceitável na língua receptora. Em uduk, por
exemplo, “caminhar no Espírito” (Gálatas 5:15) é
11
The necessity for certain thorough alterations of exocentric expressions has always been
recognized by good translators. Thus such idioms as German Mit Wölfen muss man heulen
(literally, ‘one must howl with wolves’) may be rendered in English as ‘when in Rome do as
the Romans’; the French phrase ventre à terre (literally, ‘belly to the ground’) may be rendered
variously as ‘as quickly as possible’, ‘at full stretch’, and ‘hell for leather’ (Savory, 1957, p.
16); and Spanish rasgarse la barriga (literally, to scratch one’s belly’) becomes ‘to twiddle
one’s thumbs’. It has been traditional in D-E translations to render classical idioms by
corresponding idioms in modern languages. A Latin phrase such as manibus pedibusque
(literally, ‘with hands and feet’) becomes ‘tooth and nail’, and rem acu tetigisti (literally, ‘you
touched the thing with a needle’) is rendered as ‘you have hit the nail on the head’.”
64
totalmente sem sentido, mas “deixe o Espírito
guiá-lo no caminho é um paralelo próximo. Da
mesma maneira, um equivalente de “coroa da
vida” (Tiago 1:12) não é possível em navajo, mas
um ajuste para “o prêmio da vida” preserva o
sentido básico do original e se conforma muito
bem aos conceitos indígenas. (NIDA, 1964, p.
238)
12
Além de uma estratégia, parece-nos que a tradução de um
idiomatismo por uma metáfora não-consagrada pode ser também um
efeito involuntário: o tradutor verte o fraseologismo de forma mais ou
menos literal e o leitor da tradução, não percebendo que se trata de um
fraseologismo da língua de partida, pode acreditar que seja uma
metáfora ou outra figura de palavra original e não consagrada.
A tradução de metáforas por símiles, como sons of thunderpor
men like thunder (NIDA, 1964, p. 171) é útil segundo o autor para
ajudar o leitor a perceber que se trata de um sentido figurado.
Se expressões semanticamente exocêntricas na
língua-fonte forem traduzidas literalmente,
geralmente serão interpretadas como
endocêntricas (ou seja, mais ou menos
literalmente), a menos que pistas práticas ou
linguísticas sinalizem que a expressão utilizada
envolve uma extensão de sentido incomum. Por
essa razão, frequentemente se conclui que um
símile é o meio mais eficaz de render uma
metáfora. Itens como “tal qual” ou “como”
imediatamente indicam ao leitor o fato de que as
palavras em questão devem se tomadas em um
sentido especial. (NIDA, 1964, p. 219)
13
12
When there is no readily corresponding idiom in the receptor language, a slight adjustment
in the source-language expression may make it acceptable in the receptor language. In Uduk,
for example, “walk in the Spirit” (Galatians 5:15) is quite meaningless, but ‘let the Spirit lead
you in the way’ is a close parallel. Similarly, a literal equivalent of crown of life” (James
1:12) is hopeless in Navajo, but an adjustment to ‘the life-way prize’ preserves the basic
meaning of the original and fits indigenous concepts very well.”
13
If semantically exocentric expressions in the source language are translated literally, they
are generally interpreted as endocentric (i.e. more or less literally), unless practical or
linguistic clues signal that the expression used involves an unusual extension of meaning. For
this reason one often finds that a simile is the most effective way of rendering a metaphor.
Words such as ‘like’ and ‘as’ immediately cue the reader to the fact that the words in question
are to be taken in a special sense.
65
Também este caso parece-nos poder ocorrer como efeito
involuntário resultante da tradução literal, especialmente se pensarmos
nas EIs de matriz comparativa como as estudadas por Xatara (1994)
14
.
Assim, se uma EI como avoir l’estomac comme un pneu crevé”, em
lugar de ser traduzida pelo correspondente “estar com o estômago nas
costas”, conforme sugere esta autora (p. 127), for traduzida literalmente
por “ter/estar com o estômago como um pneu furado”, o leitor pode
tanto compreender que se trata de uma EI consagrada no idioma original
quanto pensar que seja apenas um símile não-consagrado na língua da
tradução.
Muitas vezes, porém, segundo o autor, as metáforas precisam ser
traduzidas por não-metáforas, ou seja, por paráfrases ou explicações,
quando certas extensões de sentido do original não têm paralelo no
idioma receptor ou quando não na cultura receptora um elemento
presente na expressão original. Um dos exemplos fornecidos é “seu
semblante caiu” (Marcos 10:22), que em certa língua das Filipinas teria
de ser traduzido simplesmente como “ele ficou triste” (NIDA, 1964, p.
220)
15
.
Por fim, o autor apresenta também a hipótese de se traduzir uma
não-metáfora por uma metáfora, inclusive obrigatoriamente em alguns
casos: “Por exemplo, em shilluk o único meio de falar em doença é dizer
‘ele foi tomado por Deus’, mas esse uso de Jok ‘Deus’ em uma
expressão tão fortemente idiomática não é interpretada pelas pessoas de
maneira endocêntrica” (NIDA, 1964, 221)
16
. No caso das EIs,
obrigatório ou não, o emprego de uma EI em um ponto no qual o
14
Essas EIs são chamadas por Tagnin (1989; 2005) de miles, porém esta autora, da mesma
forma que Xatara (1994), trata apenas dos casos consagrados, cristalizados no idioma,
enquanto Nida (1964), ao sugerir a tradução das expressões semanticamente exocêntricas por
símiles, parece se referir à figura de palavra em seu uso geral, frequentemente não-cristalizado,
como nos exemplos apresentados em alguns dicionários: A figure of speech in which two
essentially unlike things are compared, often in a phrase introduced by like or as, as in ‘How
like the winter hath my absence been’ or ‘So are you to my thoughts as food to life’
(Shakespeare)(PICKETT, 2004); “figura que estabelece uma comparação entre dois termos
de sentidos diferentes ligados pela palavra como ou por um sinônimo desta (qual, assim como,
do mesmo modo que etc.); ambos estão obrigatoriamente presentes na frase e um deles, com
sentido real, identifica-se com outro mais expressivo; comparação assimilativa (p.ex.: a linda
jovem desabrochava como uma rosa na primavera; investiu qual uma fera contra o
assaltante)” (HOUAISS, VILLAR e FRANCO, 2001).
15
his countenance fell” / “he became sad
16
For example, in Shilluk the only way to speak of sickness is to say ‘he is taken by God’, but
this use of Jok ‘God’ in such a highly idiomatic phrase is not interpreted by the people
endocentrically
66
original não tem uma correspondente pode funcionar como a estratégia
de compensação mencionada por Baker (1992) e Rónai (ver 2.4 e 2.5
abaixo), contrabalançando uma eliminação que tenha sido necessária em
outro local do texto.
2.3 BURITY
Burity (1989) propõe-se a aplicar a teoria de Nida para examinar
a questão da traduzibilidade de provérbios do inglês para o português.
Após comentar algumas das características desses fraseologismos e
revisar as abordagens de oito autores a respeito da tradução em geral,
dentre as quais seleciona (e por isso discute com mais detalhes) a de
Nida como mais adequada em sua opinião, o autor analisa uma lista de
provérbios, escolhidos, segundo ele, de forma aleatória, juntamente com
seus correspondentes, a maior parte retirada do Adagiário de Leonardo
Mota e dos 1001 provérbios em contraste de Martha Steinberg
17
.
Nesse ponto fica evidente que na verdade Burity (1989) considera
como estratégia possível para traduzir provérbios apenas o emprego de
um equivalente (ou correspondente, como preferimos chamar), seja ele
semelhante ao do original ou não. Ou seja, nessa perspectiva, se não
houver um provérbio com o mesmo sentido na língua de chegada, a
tradução não será possível.
Dos exemplos selecionados, o autor chama de provérbios
formalmente equivalentes somente aqueles cujos correspondentes no
português são uma tradução palavra-por-palavra do provérbio em inglês,
como The end justifies the means / “O fim justifica os meios” ou
Every man has his price / “Todo homem tem seu preço” (p. 96).
Todos os demais casos, desde aqueles com correspondências próximas,
como He who lives with cripples, learns to limp/ “Quem com coxo
anda, aprende a mancar” (p. 99), até outros bem diferentes como
Beauty is skin deep / “Quem cara não coração” (p. 98), são
considerados dinamicamente equivalentes. Essa aplicação um tanto
enviesada da teoria de Nida leva Burity (1989) a concluir que “o número
de provérbios dinamicamente equivalentes superaram de longe o de
provérbios formalmente equivalentes”
18
, enquanto identifica
completamente a tradução de provérbios ao estabelecimento de um
17
Ambas as obras fazem parte de nossa bibliografia, porém, da de Steinberg, Burity (1989)
utiliza a primeira edição, de 1985, enquanto nós utilizamos a segunda, de 2002.
18
dynamically equivalent proverbs by far outnumbered their formally equivalent
counterparts
67
correspondente. Essa visão é resumida neste trecho das conclusões de
seu trabalho:
Provérbios são universais, uma vez que derivam
de experiências humanas semelhantes e as
refletem. A universalidade dos provérbios é
evidenciada pelos equivalentes encontrados nas
mais diferentes línguas por todo o mundo.
Entretanto, como uma forma literária especial, os
provérbios são difíceis de traduzir porque apenas
raramente pode-se transferir fielmente a forma e o
significado de uma mensagem transmitida em
uma língua para outra diferente. Por isso, quando
se fala em provérbios, mais do que a tradução
correta, deve-se procurar o equivalente
apropriado. (p. 104-105)
19
2.4 BAKER
Em seu livro In Other Words: A Coursebook on Translation, de
1992, Mona Baker se propõe a apresentar contribuições da teoria
linguística moderna para embasar a formação do tradutor e para guiar as
decisões deste durante seu trabalho. A obra é dividida em capítulos
organizados de maneira crescente em termos de complexidade
linguística, ampliando o foco em cada capítulo. Assim, a autora começa
tratando da equivalência
20
no nível da palavra, passa à equivalência
acima do nível da palavra — ponto no qual insere a questão da tradução
19
Proverbs are universal since they derive from, and reflect similar human experience. The
universality of proverbs is evidenced through equivalents found in many different languages
throughout the world.
However, as a special literary form, proverbs are difficult to translate because only rarely can
one faithfully transfer the form and the meaning of a message conveyed in a certain language
to another. Hence, when speaking of proverbs, rather than the right translation, one must
search for the suitable equivalent.
20
A autora toma a precaução de explicar que “o termo equivalência é adotado neste livro mais
por conveniência porque os tradutores estão habituados a ele do que por ele ter algum
status teórico. É utilizado aqui com a ressalva de que, embora geralmente seja possível obter
alguma forma de equivalência, ela é influenciada por uma variedade de fatores linguísticos e
culturais e portanto é sempre relativa”.
the term equivalence is adopted in this book for the sake of convenience because most
translators are used to it rather than because it has any theoretical status. It is used here with
the proviso that although equivalence can usually be obtained to some extent, it is influenced
by a variety of linguistic and cultural factors and is therefore always relative (BAKER, 1992,
p. 6).
68
de idiomatismos —, depois à equivalência gramatical, à textual e à
pragmática.
Baker (1992) discute a tradução de colocações (collocations), EIs
(idioms
21
) e expressões fixas (fixed expressions, como as a matter of
fact”, “ladies and gentlemen”, etc.
22
). Sobre EIs e expressões fixas,
aponta duas dificuldades principais para o tradutor: i) reconhecê-las e
interpretá-las corretamente e ii) reproduzir na tradução os vários
aspectos de seu significado. Conforme exposto em nossa Introdução,
não tratamos neste trabalho da primeira dificuldade, restringindo nossa
atenção às soluções possíveis após a identificação e compreensão do
fraseologismo.
Ao tratar do problema da tradução dos idiomatismos, Baker
(1992) discute de forma breve, porém sistemática e rica de exemplos, as
razões da dificuldade de traduzir esses fraseologismos e as estratégias
que propõe aos tradutores para superá-la. Para a autora, a tradução
desses itens é problemática principalmente pelos seguintes motivos:
- Pode não haver equivalente na língua-alvo.
Um idiomatismo ou expressão fixa pode não ter
nenhum equivalente na língua-alvo. A forma que
a língua escolhe para expressar, ou não expressar,
vários significados não pode ser prevista e apenas
ocasionalmente corresponde à forma que outra
língua escolhe para expressar o mesmo
significado. Um idioma pode expressá-lo por
meio de uma única palavra, outro pode expressá-
lo por meio de uma expressão fixa transparente,
um terceiro pode expressá-lo por meio de um
idiomatismo, e assim por diante. Portanto, não é
realista esperar encontrar com certeza
idiomatismos e expressões equivalentes na língua-
alvo. (BAKER, 1992, p. 68)
23
21
Para a autora, “construções linguísticas fixas que permitem pouca ou nenhuma variação
formal e […] frequentemente contêm sentidos que não podem ser deduzidos a partir de seus
componentes individuais”
frozen patterns of language which allow little or no variation in form and […] often carry
meanings which cannot be deduced from their individual components” (BAKER, 1992, p. 63).
Alguns exemplos da autora são “bury the hatchet” e “the long and short of it”.
22
Ou, pensando no português, “volte sempre”, “de fato”, “com certeza”, etc.
23
An idiom or fixed expression may have no equivalent in the target language. The way a
language chooses to express, or not express, various meanings cannot be predicted and only
occasionally matches the way another language chooses to express the same meanings. One
69
- Pode haver um correspondente semelhante na língua-alvo, porém com
contextos de uso diferentes, conotações diversas, ou que não seja
pragmaticamente intercambiável.
To sing a different tune (“cantar uma melodia
diferente”) é um idiomatismo em inglês que
significa dizer ou fazer algo que sinaliza uma
mudança de opinião porque contradiz o que se
disse ou se fez antes. Em chinês, chang-dui-tai-xi
(“cantar melodias diferentes/cantar um dueto”)
também se refere normalmente a pontos de vista
contraditórios, mas tem um uso bastante diferente.
A expressão tem conotações políticas e pode, em
certos contextos, ser interpretada como
expressando pontos de vista complementares em
vez de contraditórios. (BAKER, 1992, p. 69)
24
- Um idiomatismo pode ser usado no texto de partida com o sentido
literal e o idiomático ao mesmo tempo, de modo que, se o
correspondente não for semelhante em forma e conteúdo, não será
possível reproduzir plenamente o jogo de palavras. A autora cita o
trecho de um texto contendo o seguinte jogo: He had sufficient
influence to be able to poke his nose into the private affairs of others
where less aristocratic noses might have been speedly bloodied
(BAKER, 1992, p. 70, grifos da autora) e afirma que ele poderia ser
reproduzido “em idiomas, como o francês ou o alemão, que apresentam
um idiomatismo idêntico ou pelo menos um idiomatismo que se refira a
interferir em assuntos alheios e que contenha o equivalente de nose
(BAKER, 1992, p. 70)
25
. Seria o caso também do português, por
exemplo: “Ele tinha influência suficiente para poder meter o nariz em
language may express it by means of a single word, another may express it by means of a
transparent fixed expression, a third may express it by means of an idiom, and so on. It is
therefore unrealistic to expect to find equivalent idioms and expressions in the target language
as a matter of course.
24
To sing a different tune is an English idiom which means to say or do something that signals
a change in opinion because it contradicts what one has said or done before. In Chinese,
chang-dui-tai-xi (‘to sing different tunes/to sing a duet’) also normally refers to contradictory
points of view, but has quite a different usage. It has strong political connotations and can, in
certain contexts, be interpreted as expressing complementary rather than contradictory points
of view.
25
in languages such as French or German which happen to have an identical idiom or at
least an idiom which refers to interfering in other people’s affairs and which has the equivalent
of nose in it
70
assuntos particulares de outras pessoas quando narizes menos
aristocráticos teriam rapidamente ficado cobertos de sangue”.
- A própria convenção de utilizar idiomatismos na língua escrita, os
contextos em que são empregados e sua frequência de uso podem ser
diferentes nos dois idiomas: “Línguas como o árabe e o chinês, que
fazem uma distinção acentuada entre discurso escrito e falado e nas
quais a modalidade escrita é associada a um alto nível de formalidade,
tendem, em geral, a evitar utilizar idiomatismos em textos escritos”
(BAKER, 1992, p. 71)
26
.
Baker (1992) expõe as estratégias que considera válidas para lidar
com idiomatismos na tradução, fazendo poucos comentários sobre cada
uma, mas sempre exemplificando com trechos de textos e suas
traduções, envolvendo diversos idiomas além do inglês, como francês,
árabe, espanhol, etc.
27
A autora alerta de antemão que a escolha de
qual estratégia utilizar depende de diversos fatores, e não apenas da
existência ou não de um correspondente. Segundo ela, outros fatores a
considerar incluiriam, por exemplo, a importância dos itens lexicais que
constituem o idiomatismo, ou seja, se um ou mais deles será retomado
em outro ponto do texto, assim como a adequação do uso de linguagem
idiomática no registro em questão (p. 72).
A primeira estratégia discutida é o emprego de um idiomatismo
com sentido e forma similares, ou seja, que além de transmitir
aproximadamente a mesma ideia também seja constituído por itens
lexicais equivalentes, uma combinação pouco frequente segundo a
autora. Um dos exemplos apresentados se refere à EI to force one’s
hand” (“forçar a mão”), cujo correspondente em francês utiliza a mesma
imagem: “forcer la main a qqn.”.
Baker (1992) chama a atenção para o fato de, apesar de parecer a
solução ideal, essa primeira estratégia não ser sempre a mais
recomendada, pois questões de estilo, registro e efeito retórico também
devem ser levados em consideração (p. 72). Nesse ponto a autora
concorda com Fernando e Flavell (1981), que também alertam que, além
da dificuldade de conseguir uma correspondência próxima no nível
semântico, “mesmo onde isso é possível, frequentemente diferenças
26
Languages such as Arabic and Chinese which make a sharp distinction between written and
spoken discourse and where the written mode is associated with a high level of formality, tend,
on the whole, to avoid using idioms in written texts
27
Para os trechos em idiomas estrangeiros a autora fornece uma back translation o mais literal
possível para facilitar a compreensão dos leitores anglófonos.
71
consideráveis de estilo, registro, frequência, etc. Existe uma forte
compulsão inconsciente da maioria dos tradutores de procurar
desesperadamente por um idiomatismo na língua receptora, não
importando o quanto inadequado ele possa ser” (p. 82)
28
.
A segunda estratégia seria utilizar um idiomatismo com
significado similar mas com forma diferente. Um dos exemplos
apresentados é o ditado (“expression”, para a autora) em inglês One
good turn deserves another”, correspondente ao provérbio (também
chamado de expressionpor Baker) francês À beau jeu, beau retour
(FERNANDO e FLAVELL, 1981, apud BAKER, 1992, p. 74).
A estratégia seguinte é a tradução por paráfrase, que, segundo a
autora, é “de longe a maneira mais comum de traduzir idiomatismos
quando não se consegue encontrar um correspondente na língua-alvo ou
quando parece inadequado utilizar linguagem idiomática no texto-alvo
devido a diferenças nas preferências estilísticas da língua-fonte e da
língua-alvo” (p. 74)
29
. É o caso de “to push another pony past the post”,
presente em um dos exemplos, no qual é traduzido em francês por
favoriser un autre candidate (“favorecer outro candidato”), uma
paráfrase explicitando seu significado.
Opção geralmente desconsiderada pelos outros autores
consultados, que talvez não a aceitassem como solução válida para
traduzir provérbios e EIs, a tradução por omissão é a estratégia seguinte
de Baker (1992). Consistiria em apagar completamente o fraseologismo
no texto traduzido e realizar os ajustes necessários para que não se sinta
sua falta.
É de se notar que a autora fala em translation by omission”, e
não apenas omission”, reforçando assim a ideia de que esta seria uma
estratégia de tradução, e não uma não-tradução
30
. Ela aponta essa
solução para os casos nos quais um idiomatismo “não tenha nenhum
correspondente próximo na língua-alvo, seu sentido não possa ser
facilmente parafraseado, ou por razões estilísticas (BAKER, 1992, p.
77)
31
. O exemplo apresentado é o seguinte, envolvendo um trecho em
28
even where this is possible there are often considerable differences of style, register,
frequency, etc. There is a strong unconscious urge in most translators to search hard for an
idiom in the receptor-language, however inappropriate it may be”.
29
by far the most common way of translating idioms when a match cannot be found in the
target language or when it seems inappropriate to use idiomatic language in the target text
because of differences in stylistic preferences of the source and target languages
30
A mesma observação valeria para sua translation by paraphrase”, uma vez que alguns
autores não consideram a paráfrase como uma forma de tradução stricto sensu.
31
has no close match in the target language, its meaning cannot be easily paraphrased, or for
stylistic reasons
72
inglês e sua tradução em árabe, da qual tomamos aqui a back translation
da autora:
It was bitter, but funny, to see that Professor
Smith had doubled his own salary before
recommending the offer from Fayed, and added a
pre-dated bonus for good measure.
[…]
It was regrettable, even funny, that Professor
Smith had been able to double his salary twice
before offering his recommendation to accept
Fayed’s offer, and that he added to this a bonus,
the date of which had been previously decided on.
(BAKER, 1992, p. 77-78)
A tradução por omissão, ou outra que minimize a idiomaticidade
do trecho original, pode ser acompanhada pela compensação, também
mencionada pela autora, embora aponte ser impossível exemplificar tal
estratégia adequadamente porque para isso seria necessário muito
espaço. A compensação consistiria em inserir, em outro ponto do texto-
alvo em que isso seja possível, outro fraseologismo, de modo a manter
um equilíbrio idiomático, “compensando” aquele que teve de ser
omitido ou traduzido por uma paráfrase em outra parte.
2.5 RÓNAI
Paulo Rónai, teórico da tradução e tradutor consagrado, trata do
tema da tradução de EIs no capítulo sobre “armadilhas da tradução”,
presente em seu livro A tradução vivida, no qual comenta, com base em
sua experiência profissional, as mais variadas dificuldades encontradas
pelo tradutor em seu trabalho. Nesse capítulo, Rónai (1981), ao tratar
das metáforas, inclui as EIs no que chama de “metáforas
convencionais”, expressões figuradas que “conseguem adoção geral a
ponto de serem empregadas sem que a pessoa falante se lembre do
sentido primitivo das palavras que as compõem. ‘É uma mão na roda’
dizemos pensando num auxílio que vem no momento oportuno, sem
vermos a imagem da carroça encalhada” (p. 55).
Em relação à tradução dessas “metáforas convencionais”, o autor
parece julgar inapropriado traduzi-las literalmente, considerando “raro
existirem expressões metafóricas de sentido igual em duas línguas”,
coincidência que segundo ele ocorreria “em geral por influência de uma
73
língua sobre a outra” (p. 56). Esse posicionamento pode ser constatado
nos dois trechos a seguir:
Ai do tradutor que não identifica a metáfora
convencional e a verte dissecada em seus
elementos. “Não ter papas na língua”, “vir com
quatro pedras na mão” assim como avoir du poil
dans le nez ou faire des gorges chaudes se
aplicam a situações dissociadas por inteiro,
respectivamente, de “papa”, de “pedra”, de
“nariz” e de “calor”. (RÓNAI, 1981, p. 56,
negritos nossos)
Em todo caso, o problema das metáforas lembra-
nos mais uma vez de que não estamos traduzindo
palavras, mas sentenças. Noutros termos: o bom
tradutor, depois de se inteirar do conteúdo de um
enunciado, tenta esquecer as palavras em que ele
está expresso, para depois procurar, na sua
língua, as palavras exatas em que semelhante
idéia seria naturalmente vazada. (RÓNAI, 1981,
p. 58, grifos nossos)
Nesse sentido, a visão de Rónai (1981) se alinha com a da
maioria dos autores estudados, que demonstram forte preferência pela
tradução por fraseologismos correspondentes, como o autor explicita
logo adiante:
Bem mais comum é à locução metafórica de uma
língua corresponder outra igualmente figurada,
embora composta de elementos de todo diferentes.
Assim s’en aller en eau de boudin é “passar em
branca nuvem”. Ao nosso “sem dizer água vai”
corresponde em inglês before you could say Jack
Robinson; a “matar dois coelhos de uma
cajadada” corresponde o francês tirer d’un sac
deux moutures. (p. 56)
Também de maneira consoante com o ponto de vista de outros
autores, Rónai (1981) admite a tradução por paráfrase explicativa se (e
somente se) não for encontrado um correspondente no outro idioma. No
entanto, diferentemente dos demais, apresenta tal opção necessariamente
aliada ao recurso da compensação: “quando na língua-alvo não
74
encontramos expressão metafórica de igual teor, vertemos a metáfora
francesa ou inglesa pela explicação dela e, adotando o método da
compensação, empregaremos uma locução figurada na primeira
oportunidade para não empobrecer o texto” (p. 57). Como vimos acima,
a compensação também é mencionada por Baker (1992), que a associa
também à tradução por omissão, não citada no capítulo de Rónai (1981).
Entretanto, Baker (1992) apresenta a compensação apenas como uma
opção ao tradutor, admitindo portanto a possibilidade de utilizar a
paráfrase não aliada a ela, enquanto no trecho de Rónai (1981) transcrito
acima a compensação aparece quase como um complemento
indispensável da paráfrase explicativa.
2.6 XATARA
Uma das maiores especialistas em EIs no Brasil, a lexicóloga e
lexicógrafa Claudia Maria Xatara aborda de passagem o tema da
tradução dessas lexias complexas (e às vezes também de outras,
inclusive provérbios) em seus trabalhos. Esse interesse é compreensível,
que suas pesquisas quase sempre têm por objetivo dicionários
especiais de EIs voltados principalmente para tradutores, além de
professores e estudantes de línguas ou de tradução.
Quanto às estratégias para o tradutor lidar com esses
fraseologismos, a autora estabelece primeiramente uma macrodivisão
entre tradução literal e tradução não-literal. Para ela, a tradução literal só
seria possível nos casos, pouco frequentes, em que existam expressões
idênticas nos dois idiomas, com “presença de equivalentes lexicais e
manutenção da idiomaticidade, da mesma estrutura (classe gramatical e
ordem), do mesmo valor conotativo, do mesmo efeito e do mesmo nível
de linguagem” (XATARA, 1998, p. 67; XATARA e OLIVEIRA, 2008,
p. 127), como em arriver comme un ouragan / “chegar como um
furacão”.
Contudo, quando todos esses requisitos não forem preenchidos, a
autora desaprova completamente a tradução literal, considerando-a
nesses casos, com base em Tristá (1988), como um “freqüente erro”: “O
domínio dessas expressões é imprescindível para o tradutor, não
somente porque evita o freqüente erro de traduzir literalmente os
fraseologismos, mas também porque permite eleger entre vários
sinônimos o que estilisticamente se aproxima mais do original
(XATARA, 1998, p. 63; XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 127).
Também em Xatara (2002a) a tradução literal é explicitamente
contraindicada, desta vez em relação a provérbios:
75
[…] para traduzir os provérbios Au royaume des
aveugles, les borgnes sont rois e À brebis tondue,
Dieu mesure le vent, por exemplo, […] o tradutor
também não deve se contentar com a tradução
literal “No reino dos cegos, os caolhos são reis”
para o primeiro provérbio, ou “Para ovelha
tosquiada, Deus mede o vento” para o segundo
[…] (XATARA, 2002a, p. 442)
32
O próprio fato de a autora não se preocupar em justificar a recusa
das opções literais pode indicar que essa posição raramente é
contestada
33
. De fato, como veremos, tal ideia é predominante, quase
uma unanimidade, sempre que se trata de tradução de EIs ou provérbios,
tanto entre teóricos como entre tradutores.
Percebe-se portanto uma distinção bem marcada entre a
concepção de tradução literal quando existem idiomatismos muito
semelhantes nas duas línguas, caso em que na verdade se está traduzindo
por um idiomatismo correspondente, e quando não existe tal semelhança
e a tradução literal resultará em algo novo, desconhecido na cultura de
chegada.
Para a autora, a tradução não-literal, muito mais comum, seria
possível em três casos: (i) quando houver idiomatismos semelhantes,
embora não exatamente iguais, como promettre monts et merveilles/
“prometer mundos e fundos”; (ii) quando houver expressões
completamente diferentes, mas com manutenção da idiomaticidade,
como “avoir plusieurs cordes à son arc” / “ter muitas cartas na manga”;
e (iii) quando não houver idiomatismos correspondentes, “quando as EIs
se traduzem por paráfrases”, como no caso de parler comme un oiseau
en cage / “ser palpiteiro”. (XATARA, 1998, p. 68; XATARA e
OLIVEIRA, 2008, p. 127).
32
[...] pour traduire les proverbes « Au royaume des aveugles, les borgnes sont rois » et « À
brebis tondue, Dieu mesure le vent », par exemple, [...] le traducteur ne doit pas non plus se
contenter de la traduction littérale No reino dos cegos, os caolhos são reis pour le premier
proverbe, ou Para ovelha tosquiada, Deus mede o vento pour le deuxième [...]
33
Afinal, no texto não são explicitadas as razões para desconsiderar a opção de inserir na
cultura de língua portuguesa uma imagem original como “Para ovelha tosquiada, Deus mede o
vento”, ou uma variação como “No reino dos cegos, os caolhos são reis” ou, para produzir
um resultado melhor em relação ao ritmo, como desejaria Berman (2007), “Em reino de cegos,
caolhos são reis”. Ou, em relação à EI ménager la chèvre et le chou”, mencionada em um
trecho próximo neste mesmo texto (citado abaixo), por que não importar uma EI como “cuidar
da cabra e da couve”, já com aliterações prontas?
76
A nosso ver, as possibilidades (i) e (ii) se relacionariam a uma
mesma solução, a tradução por fraseologismo correspondente, diferindo
apenas em relação à dificuldade para se encontrar tal correspondente,
menor no caso (i) e maior no caso (ii)
34
. Essa é claramente a estratégia
privilegiada pela autora, de modo que a tradução por uma paráfrase
explicativa, solução proposta para o caso (iii), é colocada como último
recurso, aceito apenas se não tiver sido possível de forma alguma obter
um fraseologismo correspondente. Portanto, segundo essa visão, “se
identificarmos uma lexia complexa como EI, não devemos nos
contentar, na tradução, com uma paráfrase da expressão. Devemos pois,
[sic] encontrar uma expressão correspondente que podemos identificar
com base em seu significado conotativo” (XATARA, RIVA e RIOS,
2002, p. 188).
Assim, cairá a qualidade da tradução se uma EI
do francês, como glisser une peau de banane à
quelqu’un, receber em português uma
‘explicação’, no caso “enganar, lograr, burlar ou
ludibriar”, ao invés de simples e precisamente sua
equivalência idiomática, “puxar o tapete” ou “dar
uma rasteira” […] (XATARA, 1998, p. 63,
negritos nossos)
Nesses casos, a autora parece nem considerar a paráfrase como
tradução da EI: “Assim, ‘levar vantagem’ ou ‘enganar’ não deve ser
considerada a ‘tradução’ da EI couper l’herbe sous les pieds, mas sim
‘dar uma rasteira’, ‘passar a perna’, ‘passar pra trás’ ou ‘puxar o tapete’”
(XATARA e OLIVEIRA, 2008, p. 127, negritos nossos).
Pode-se concluir, portanto, que as estratégias nessa visão podem
ser divididas em três possibilidades: tradução literal, tradução por
correspondente idiomático e tradução por paráfrase explicativa. Dessas,
a segunda opção é claramente a mais prestigiada, uma vez que a
tradução literal é aceita quando também resulta em um
correspondente idiomático, e a explicação é vista como um último
recurso, somente no caso de não ser realmente possível encontrar um
correspondente. Todos esses posicionamentos ficam bastante claros
neste trecho de Xatara (2002a), no qual se incluem tanto a tradução de
EIs como a de provérbios:
34
Na verdade, de certa forma podemos considerar até mesmo a tradução chamada de literal
pela autora como uma variante dessa estratégia, constituindo o caso no qual seria mais fácil
encontrar o idiomatismo correspondente, por ser ele praticamente igual ao da língua de partida.
77
O tradutor que deve ménager la chèvre et le chou,
não deve apenas “administrar interesses
contraditórios”, mas deverá, idiomaticamente,
“acender uma vela a Deus e outra ao Diabo”, ou
então “agradar a gregos e troianos”, ou ainda
“jogar com pau de dois bicos”. Da mesma forma,
para traduzir os provérbios Au royaume des
aveugles, les borgnes sont rois e À brebis tondue,
Dieu mesure le vent, por exemplo, ele não pode se
satisfazer, respectivamente, com a explicação “um
sujeito medíocre parece notável se comparado
com outros sem nenhum valor” ou “Deus dá
provações proporcionais à fraqueza humana”; o
tradutor também não deve se contentar com a
tradução literal “No reino dos cegos, os caolhos
são reis” para o primeiro provérbio, ou “Para
ovelha tosquiada, Deus mede o vento” para o
segundo, mas tem de encontrar os provérbios
equivalentes fixos e consagrados: “Em terra de
cegos, quem tem um olho é rei” e “Deus o frio
conforme o cobertor”. (p. 442)
35
Muitas dessas ideias transparecem também, em maior ou menor
grau, em trabalhos orientados por Xatara, como Falcão (2002), Rios
(2003), Riva (2004, 2009), Succi (2006) e Camacho (2008) algumas
passagens que ilustram isso serão citadas mais adiante. Também tiveram
influência em muitos estudos que utilizaram seus trabalhos como
referência bibliográfica, como Gonçalves e Sabino (2001), Arancibia
(2007), Matias (2008), Reis (2008).
35
Le traducteur qui doit « ménager la chèvre et le chou », ne devra pas seulement administrar
interesses contraditórios, mais il devra, idiomatiquement, acender uma vela a Deus e outra ao
Diabo, ou alors agradar a gregos e troianos, ou encore jogar com pau de dois bicos. De la
même façon, pour traduire les proverbes « Au royaume des aveugles, les borgnes sont rois » et
« À brebis tondue, Dieu mesure le vent », par exemple, il ne peut pas se satisfaire,
respectivement, de l’explication « un médiocre quelconque paraît notable s’il est comparé à
des gens sans aucune valeur » ou « Dieu donne les épreuves proportionnelles à la faiblesse
humaine » ; le traducteur ne doit pas non plus se contenter de la traduction littérale No reino
dos cegos, os caolhos são reis pour le premier proverbe, ou Para ovelha tosquiada, Deus mede
o vento pour le deuxième, mais il a à trouver les proverbes équivalents figés et consacrés:
Em terra de cegos, quem tem um olho é rei et Deus dá o frio conforme o cobertor”.
78
2.7 OUTROS LEXICÓGRAFOS E A QUESTÃO DOS DICIONÁRIOS
BILÍNGUES
Gonçalves e Sabino (2001) estudam as dificuldades existentes
para aprendizes, professores, tradutores, intérpretes, etc. conseguirem
dominar as EIs de um idioma mais especificamente, neste estudo,
aquelas da língua italiana. Analisando diferentes dicionários bilíngues
italiano-português, as autoras apontam diversos problemas, como
ausência de determinadas expressões, correspondentes incompletos,
correspondentes em português de Portugal. Nota-se, portanto, que as
expectativas das autoras relacionam-se sempre com a presença de
correspondentes nesses dicionários, de modo que, por exemplo, não
parecem esperar, como não esperam quase todos aqueles que
encontramos tratando de dicionários de fraseologismos, que essas obras
disponibilizassem uma tradução literal na qual se compreendesse a
imagem utilizada na expressão original, assim como desaprovam
quando apenas uma paráfrase explicativa é fornecida. Vejamos parte de
uma das tabelas comparativas criadas pelas autoras:
Expressão
Idiomática
Explicação do contexto Sugestão de tradução
Dare un colpo al
cerchio e uno alla
botte.
Dar razão a ambos os
contendores.
Agradar a gregos e a
troianos; acender uma
vela para Deus e outra
para o Diabo
Essere il diavolo e
l’acqua santa.
Diz-se de duas pessoas
que se odeiam.
Ser como o diabo e a
cruz; ser como cão e
gato.
Mettere il bastone
fra le ruote.
Criar dificuldade. Criar
obstáculos.
Jogar areia em.s. [sic]
(GONÇALVES e SABINO, 2001, p. 64, adaptada)
As sugestões de tradução fornecidas na última coluna são das
autoras, que apontam o fato de em alguns dos dicionários analisados
aparecerem as explicações da coluna anterior. Em nenhum momento do
trabalho se considera, por exemplo, que uma tradução literal pudesse
interessar a aprendizes, professores ou tradutores. Como para as autoras
citadas anteriormente, na falta de correspondentes, a única opção para
Gonçalves e Sabino (2001) é a paráfrase explicativa:
algumas
expressões, por não possuírem uma correspondência adequada na
língua-alvo, podem ser traduzidas por meio de uma definição ou de
uma explicação” (GONÇALVES e SABINO, 2001, p. 73, grifo nosso).
79
Esse ideal do dicionário bilíngue como fornecedor de
correspondentes idiomáticos para o tradutor se faz presente no discurso
da maioria dos lexicólogos e lexicógrafos que consultamos, e revela
quase sempre um determinado pensamento em relação à tradução de EIs
e provérbios, qual seja, a valorização do emprego de um fraseologismo
correspondente igualmente idiomático. Esse pensamento está sintetizado
com clareza nos seguintes fragmentos: “[…] nos dicionários bilíngües
de EIs, o lexicógrafo deve tentar propor equivalentes tão idiomáticos
quanto os da língua de partida” (CAMACHO, 2008, p. 33)
[…] muitos dicionários bilíngües trazem somente
as definições, as quais servem apenas para
elucidar o que elas querem dizer, mas não ajudam
em nada o tradutor, que deve colocar no seu texto
expressões de igual valor idiomático, para que o
texto não perca sua característica estilística.
(CAMACHO, 2008, p. 43-44)
Também Rios (2003), apesar de reconhecer que as EIs integram a
herança linguístico-cultural de um povo e que “as divergências culturais
se acentuam em razão da história de cada língua e de cada povo”,
defende que mesmo assim pode haver correspondências entre unidades
idiomáticas de diferentes idiomas, pois estes “têm imagens diferentes
para expressarem conceitos, senão idênticos, ao menos suficientemente
próximos para serem adequados à tradução”, de modo que o
“lexicógrafo deve elaborar materiais de consulta que auxiliem o tradutor
por meio da indicação dessas imagens que, em línguas diferentes,
remetem a conceitos semelhantes” (p. 52-53).
Em Falcão (2002), podemos observar até mesmo uma reprodução
da ideia, que vimos transparecer em Xatara e Oliveira (2008), de que a
paráfrase não poderia ser considerada uma tradução.
Com relação à tradução, os dicionários gerais
bilíngües apresentam, quando possível, traduções
idiomáticas, mas encontramos também muitas
explicações e paráfrases no lugar de traduções que
são também possíveis. […]
No caso específico dos DLEB [dicionários de
língua especiais bilíngues], encontramos vários
tipos de traduções, ou melhor, apenas em alguns
pudemos observar traduções, na maioria das vezes
também idiomáticas; nos demais, encontramos
80
muitas explicações e paráfrases na língua de
chegada da EI na língua de partida.” (FALCÃO,
2002, p. 39)
Contudo, mais uma vez essa concepção acaba relativizada na
mesma obra, uma vez que, mais adiante, comentando os resultados de
sua pesquisa com dicionários bilíngues, a mesma autora relata ter
encontrado “para a grande maioria das EIs em inglês (exatamente 386
expressões), traduções também idiomáticas em português; apenas 6 com
traduções conotativas, mas não idiomáticas e 34 com traduções
parafrásticas ou explicativas
36
(FALCÃO, 2002, p. 73, grifos nossos).
Ou seja, no mesmo trabalho a autora num momento opõe tradução e
paráfrase como distintas e noutro fala em “tradução parafrástica”.
Alguns dicionários bilíngues especiais de EIs e provérbios que
consultamos (com diferentes abrangências para esses conceitos em cada
um) confirmam essa visão de que, diante de uma dessas lexias
complexas, a primeira providência é procurar um correspondente e, na
inexistência deste, explicar o sentido por meio de uma paráfrase.
Schambil e Schambil (2002), por exemplo, avisam em sua apresentação
que “cada verbete contém uma tradução ou explicação em português,
seguida de sentenças-modelo que exemplificam o uso da expressão no
inglês contemporâneo, e sugestões para o seu uso” (p. 8). Ou seja, os
autores parecem ver como tradução apenas o correspondente, na
ausência do qual é apresentada uma explicação (que não seria então uma
tradução?), e nunca uma tradução literal, por exemplo, como
confirmamos nestes dois verbetes de páginas iniciais da obra, um com
um provérbio (chamado pelos autores de ditado) e outro com uma EI:
ACTIONS
actions speak louder than words (ditado) Falar
é fácil, fazer é que são elas. Every new
government has promised to improve the situation
of the elderly. I only believe it when I see it.
Actions speak louder than words.
ADAM
36
As traduções por lexia simples de sentido conotativo, chamadas por Falcão (2002) de
“traduções conotativas, mas não idiomáticas” constituem uma estratégia aparentemente rara na
bibliografia, não tendo sido comentada por nenhum outro estudioso. Mesmo essa autora lhe dá
pouca atenção, apenas mencionando sua ocorrência em seu corpus e não tecendo maiores
comentários. No próximo capítulo, ao sistematizar as estratégias para tradução de EIs e
provérbios, tomamos este caso como um tipo especial de tradução por paráfrase.
81
not know someone from Adam nunca ter visto
alguém mais gordo, não ter a menor idéia de quem
é alguém. Who is that woman that keeps
smiling at you?” “I have no idea, I don’t know
her from Adam.” How am I supposed to meet
Mr. Walton amongst all the passengers arriving
from Boston when I don’t know him from Adam?
(p. 21-22)
Também em Gomes (2003), dicionário bastante interessante cuja
abrangência do conceito de EI inclui desde provérbios e ditados até
verbos frasais e neologismos, observamos uma organização semelhante
ao localizar EIs que se enquadram no conceito com o qual trabalhamos
aqui. Para not know someone from Adam”, por exemplo, também
encontramos o correspondente “nunca ter visto mais gordo”, além da
explicação “desconhecer totalmente” (GOMES, 2003, p. 5).
Uma exceção nesse sentido parece ser a obra de Steinberg (2002).
Nela, a autora lista 1001 provérbios ingleses e norte-americanos e, para
cada um deles, fornece uma “tradução tão literal quanto possível” (p.
14), seguida, se houver, de um correspondente. Ruptura ainda maior
representa o fato de, na ausência deste, a autora na maioria das vezes
não explicar o sentido do provérbio, deixando ao leitor o papel de
interpretar a imagem pintada nele. No prefácio, Alfredo Bosi aponta o
que considera uma vantagem da presença da tradução literal:
A literalidade, no caso, é de rigor, pois através
dela pode-se cotejar a frase, assim transposta, com
o provérbio correspondente em nossa língua. Na
comparação ressaltam os torneios peculiares a
cada idioma e reponta aquele não sei quê chamado
com sal e propriedade pelos velhos filólogos de
“gênio da língua”. (In STEINBERG, 2002, p. 4)
Esse “gênio da língua” provavelmente seria o que Berman (2007)
pretendia que transparecesse em sua proposta de tradução, comentada
acima. Obviamente, não parece razoável esperar que algum dicionário
apresente a tradução da “letra” defendida por esse autor, recriando
características formais do provérbio ou da expressão original, mas uma
tradução literal como a fornecida por Steinberg (2002) poderia servir de
base para que o tradutor a construísse. Como dissemos, todavia, essa
obra e o trecho citado do prefácio de Bosi representam uma exceção,
82
pelo que pudemos observar em outros textos, inclusive no prefácio de
outra obra de Steinberg, comentado mais abaixo (2.9).
2.8 MALLAFRÈ E MONLLOR
Mallafrè (1991) comenta diversos elementos que frequentemente
trariam dificuldades no momento da tradução, partindo principalmente
de sua experiência de tradução do Ulisses de James Joyce. Assim, após
apresentar um longo panorama da tradução em geral e seus diversos
tipos, para enfim chegar à tradução literária, que lhe interessa mais
diretamente, o autor discute onomatopeias, repetições, rimas,
aliterações, duplos sentidos, jogos de palavras, topônimos,
idiomatismos, “fórmulas proverbiais”, etc. Interessam-nos aqui os dois
últimos pontos, que suas considerações sobre a tradução desses
elementos (especialmente em relação às fórmulas proverbiais, pois o
autor não se detém na tradução de idiomatismos), assim como as de
Monllor (1999), trazem uma contribuição muito interessante para
pensarmos a distinção entre as diferentes visões envolvendo a tradução
literal, conforme visto acima nos trabalhos de Xatara e Berman. Apesar
de Monllor (1999) não utilizar o termo “provérbio”, parece-nos válido,
considerando a coincidência entre as características dos refranys
catalães (ou refranes espanhóis “refrãesou “refrãos” no português)
e dos provérbios como entendidos aqui, aproveitar as observações dessa
autora.
A produção de provérbios, refrães e frases feitas,
entre outros, é uma atividade que se revela a priori
comum a todos os povos como uma marca de
cultura fundamentalmente oral, com uma
linguagem figurada de grande riqueza que torna
possível a união de dois elementos: a observação
do mundo e o juízo que sobre este se faz, e com
traços característicos que facilitam a sua
memorização e expansão. (MONLLOR, 1999, p.
21)
37
37
La producció de proverbis, refranys i frases fetes, entre altres, és uma activitat que se’ns
revela a priori comuna a tots els pobles com a marca de cultura fonamentalment oral, amb un
llenguatge figurat de gran riquesa que fa possible la unió de dos elements: l’observació del
món i el judici que sobre aquest hom fa, i amb uns trets característics que faciliten la seua
memorizació i expansió.
83
Mallafrè (1991) parece basear sua orientação tradutória
principalmente no objetivo de produzir “efeitos equivalentes” (“efectes
equivalents), sintetizado no que ele chama de regra de três (“regla de
tres”): “a obra original é para o leitor típico da obra original como a
tradução é para o leitor típico da obra traduzida” (p. 62)
38
. O autor
considera como “leitor típico” aquele que faz parte “do público habitual
mediano, da clientela, de um autor ou de um gênero determinados” (p.
62)
39
, assumindo haver entre os elementos desse público e entre os
públicos correspondentes nas duas culturas uma semelhança de
receptividade, de formação, etc.
Quanto à tradução de provérbios e outros compostos
paremiológicos, Mallafrè (1991) aponta que pode ser difícil encontrar
um equivalente em outro idioma e, quando um, “se não for
literalmente exato, é possível que necessite de algumas modificações”
(p. 205)
40
. Por isso, sugere um “sistema de tradução” (“sistema de
traducció”) com quatro estratégias, aplicável, segundo ele, também a
outros campos além do de expressões proverbiais (p. 206): literalidade
preexistente (literalitat preexistent), equivalência preexistente
(equivalència preexistent), adaptação literal (adaptació literal) e
adaptação equivalente (adaptació equivalent) (p. 206-211).
Comentamos cada uma delas mais abaixo.
O artigo de Monllor (1999) baseia-se em um pequeno corpus de
refrães em catalão, espanhol e francês com a temática homem/mulher,
divididos em quatro grupos: i) refrães com correspondência total de
forma e conteúdo em catalão, espanhol e francês; ii) refrães com
correspondência aproximada em catalão, espanhol e francês (mesmo
conteúdo com forma diferente); iii) refrães com correspondência de
forma e conteúdo em catalão e espanhol, mas não em francês; e iv)
refrães com correspondência de forma e conteúdo em espanhol e
francês, mas não em catalão. A partir desse corpus, a autora discute as
três primeiras possibilidades de tradução do esquema proposto por
Mallafrè (1991). Como seus exemplos são bastante úteis, sendo
inclusive mais numerosos que os do próprio Mallafrè (1991), aliaremos
aqui os trabalhos dos dois autores para tratar das estratégias sugeridas.
O uso da literalidade preexistente seria possível nos casos em que
houvesse uma correspondência exata ou com “variações mínimas de
38
l’obra original és al lector tipus de l’obra original com la traducció és al lector tipus de
l’obra traduïda
39
del públic habitual mitjà, de la clientela, d’un autor o d’un gènere determinats
40
si no és literalmente exacte, és possible que necessiti algunes modificacions
84
léxico e construção”
41
, ou seja, quando a mesma ideia fosse expressa
com palavras e forma semelhantes (MALLAFRÈ, 1991, p. 206;
MONLLOR, 1999, p. 26). Seriam os casos nos quais, segundo Monllor
(1999), a literalidade é tão grande que até mesmo a tradução palavra-
por-palavra poderia funcionar, apesar de que, havendo pequenas
diferenças, “sempre será mais recomendável e menos arriscado utilizar o
equivalente” (MONLLOR, 1999, p. 26)
42
, comentário que constitui mais
uma demonstração da preferência generalizada pela tradução por um
correspondente idiomático.
Alguns exemplos dos dois autores seriam:
Del que els ulls no veuen, el cor no se’n dol /
What the eye does not see the heart does not
grieve / Ojos que no ven, corazón que no siente
[…]
Feta la llei, feta la trampa / Every law has a
loophole (MALLAFRÈ, 1991, p. 206)
• A la dona i a la cabra, corda llarga
• A la mujer y a la cabra, soga larga
• À la femme comme a la chèvre, longue corde
[…]
• Tira més un pèl de dona que cent mules
• Más tira moza que soga
• Un cheveu de femme tire plus que trente paires
de boeufs
[…]
• Home previngut val per dos
• Hombre prevenido vale por dos
• Un homme averti en vaut deux (MONLLOR,
1999, p. 21-22)
Apesar de os autores serem mais “tolerantes” em relação à noção
de correspondência total, como se pode observar acima no segundo
exemplo de cada um deles, de modo geral essa primeira estratégia pode
ser comparada com a possibilidade de tradução literal para Xatara
(1998) e Xatara e Oliveira (2008), discutida em 2.6 acima.
A equivalência preexistente abrangeria os casos nos quais a
mesma ideia é expressa com palavras e forma diferentes e
frequentemente com diferentes níveis de linguagem, como alerta
41
variacions mínimes de lèxic i construcció”.
42
sempre serà més recomanable i menys arriscat fer servir l’equivalent
85
Mallafrè (1991, p. 207). Monllor (1999) especifica que “já não estamos
diante de refrães que poderíamos traduzir quase de maneira literal.
Apesar disso, será interessante ver como, com palavras, formas e
imagens diferentes, expressam uma mesma ideia ou fazem referência a
um tema comum […]” (MONLLOR, 1999, p. 27)
43
.
Essa estratégia pode ser identificada com a tradução por
correspondentes proposta por vários autores. O nome “equivalência
preexistente” não nos parece adequado, pois na verdade quem estabelece
a correspondência é o tradutor, com base no contexto e em cada situação
tradutória a correspondência não preexiste independente desses
determinantes.
Mallafrè (1991) lembra, no entanto, que “às vezes a equivalência
é válida, porém, no contexto, pode se referir a uma situação na qual não
é possível mudar as palavras da LO” (p. 208)
44
. Nesses casos, o autor
sugere ser possível uma solução aliando o correspondente e a tradução
literal, o que a nosso ver poderia constituir uma quinta estratégia no
esquema proposto por ele, mas que o autor prefere ver como uma
variação da equivalência preexistente. Um dos poucos exemplos dados
para ilustrar essa possibilidade seria o seguinte: para traduzir A burnt
child dreads the fire”, cujo correspondente mais comum no catalão seria
Gat escaldat amb aigua tèbia en prou”, poder-se-ia utilizar Nen
escaldat amb aigua tèbia en prou (p. 209), para não perder a
referência à criança (child/nen) do provérbio original, caso esta seja
importante no contexto. Nessa solução, “a estrutura a consistência
suficiente de refrão a uma tradução literal” (p. 208-209)
45
. Pensando no
português, significaria uma tradução como “Bebê escaldado tem medo
de água fria” ou Criança escaldada tem medo de água fria”. Mallaf
(1991) acrescenta ainda que, da mesma forma, uma tradução do catalão
(ou do português, podemos concluir) para o inglês poderia ser, se
conviesse, “A burnt cat dreads the fire” (p. 209).
A “consistência de refrão” mencionada acima também parece ser
fundamental na terceira alternativa apresentada por Mallafrè (1991) e
retomada por Monllor (1999). Nela, não sendo encontrado um
correspondente nem literal nem com outras palavras, o tradutor poderia
realizar uma adaptação literal. Esta é a estratégia à qual Monllor (1999)
43
Ja no som davant de refranys que podríem traduir quasi de manera literal. Malgrat això
serà interessant de veure com, amb paraules, formes i imatges diferents, expressen una
mateixa idea o fan referència a un tema comú […]
44
De vegades l’equivalència és vàlida, però, en context, pot referir-se a una situació en què
no és possible canviar les paraules de la LO.
45
L’estructura dóna la consistència suficient de refrany a una traducció literal.”
86
dedica maior espaço, talvez por ser um conceito menos comum. Vale
notar que nenhum dos dois autores menciona a opção da tradução por
paráfrase, sugerida por vários outros no caso de não haver um
correspondente idiomático. Como têm por objetivo uma tradução com o
mesmo conteúdo e que cause o mesmo efeito no receptor, consideram
que, se este não reconhecer na estrutura o provérbio ou refrão, a
tradução não terá funcionado (MONLLOR, 1999, p. 28).
A adaptação literal significaria manter uma correspondência de
sentido e ao mesmo tempo de “tom ou estilo, por meio do ritmo, da
inversão, do jogo de palavras ou outros recursos próprios do provérbio”
(MALLAFRÈ, 1991, p. 210)
46
. Ou seja, traduzir seu conteúdo dando-lhe
uma forma externa que na língua de chegada pareça um provérbio
(MONLLOR, 1999, p. 27). Para alcançar tal resultado, seria
Indispensável a competência linguística do
tradutor, tanto em relação à língua original como
em relação à língua meta; mas também é
indispensável a competência ideológica que lhe
permita ver e compreender a mensagem que o
refrão transmite, o contexto social e cultural em
que este tem origem e do qual se serve.
(MONLLOR, 1999, p. 27-28)
47
Não é difícil chegar à conclusão de que tal estratégia se
assemelha fortemente à tradução da letra proposta por Berman (2007)
48
e, como esta, desvia-se bastante do ponto de vista da maioria dos demais
autores. Um dos exemplos de Mallaf(1991) seria traduzir A hungry
man is an angry manpor Home afamat, home enfadat(p. 210), que
não é um provérbio em catalão, mas passa a impressão de ser.
Monllor (1999) também oferece vários exemplos dessa estratégia
com propostas de tradução para refrães de seu corpus sem
correspondentes em alguma das línguas. Nessas propostas, busca
sempre, conforme aponta em seus comentários, reproduzir o conteúdo
46
to o estil mitjaçant el ritme, la inversió, el joc de paraules o altres recursos propis del
proverbi”.
47
Indefugible la competència lingüística del traductor, tant respecte a la llengua original com
a la llengua meta; però també és indefugible la competència ideològica que el permeta de
veure i de comprendre el missatge que el refrany transmet, el context social i cultural en què
aquest té l’origen i es fa servir.
48
Embora Berman (2007) fale em “tradução” e os outros dois autores falem em “adaptação”,
todos eles propõem soluções semelhantes, visando a traduzir o conteúdo do provérbio/refrão
numa estrutura com traços formais de provérbios/refrães da língua de chegada, mesmo não
sendo um fraseologismo consagrado nesta.
87
do original e, ao mesmo tempo, recriar um efeito de refrão na língua de
chegada, trabalhando especialmente com ritmo e rima, entre outros
recursos formais. Eis alguns de seus exemplos:
Muller arreglada, el llit fet i pentidada La femme lavée et coiffée, et
le lit fait (p. 28)
La dona a casa i l’home a la plaça La femme sous le toit et l’homme
sur le trotoir (p. 28)
Dona i sardina, com més petita més fina La femme comme la
sardine, plus elle est petite plus elle est fine (p. 29)
Ne dire à ta femme ce que tu celer veux A la teua dona no digues
allò que guardar vols (p. 29)
Monllor (1999) não como efetiva, nesses casos, uma tradução
literal que não se valha de recursos para reproduzir o estilo dos refrães.
Assim, para o segundo exemplo acima, descarta a opção la femme à la
maison et l’homme à la place como “muito distante de nosso
objetivo”
49
porque “o resultado não causaria o efeito de refrão” (p. 28)
50
.
Da mesma forma, em relação ao último, afirma:
Uma tradução literal não causaria o efeito de
refrão, razão pela qual se usa uma estrutura menos
habitual, um pouco artificial, talvez, mas que
aparentemente conserva o tom de advertência e
conselho da forma francesa. A tradução literal
seria “no dir a la teua dona allò que guardar
vols”. (p. 29)
51
A quarta estratégia assinalada por Mallafrè (1991) seria, segundo
ele próprio, bem pouco frequente. Chamada pelo autor de “adaptação
equivalente”, denominação um tanto confusa e pouco esclarecedora,
seria utilizada quando “a ilusão de expressão preexistente pode
49
molt llunyana del nostre objectiu
50
el resultat no faria l’efecte de refrany
51
Una traducció literal no faria l’efecte de refrany, raó per la qual es fa servir una estructura
menys habitual, una mica artificial, potser, però que aparentment conserva el to d’advertència
i consell de la forma francesa. La traducció literal seria «no dir a la teua dona allò que guardar
vols».
88
aconselhar uma tradução não literal, ou não totalmente literal, com
significados e ritmo mais adequados” (p. 211)
52
. Os exemplos do autor
seriam traduzir “Birds of a feather go together” por “Els qui van a l’una
fan causa comunae traduzir Cap in hand goes through the landpor
A barretades fas caminades”. Mallafrè (1991) não oferece mais
nenhum exemplo ou explicação, de modo que esta sua última estratégia
não fica muito clara. Além disso, Monllor (1999) não a retoma em seu
artigo, provavelmente por não ver necessidade de aplicá-la em seu
corpus de refrães. Portanto, como também não é mencionada por
nenhum outro autor que tenhamos estudado, isso é tudo que temos sobre
tal estratégia. Com base nesse parco conteúdo, parece-nos que a ideia de
Mallafrè (1991) seria a possibilidade de traduzir criando um novo
provérbio, inexistente no idioma de chegada, que tivesse um sentido
semelhante ao do original mas utilizasse imagens e palavras diferentes,
caso esse procedimento tivesse um resultado com um melhor efeito de
provérbio que uma tradução utilizando as mesmas imagens e palavras.
Além da retomada das estratégias de Mallafrè (1991), também
são interessantes, no artigo de Monllor (1999), as considerações da
autora sobre as diferentes visões de mundo inerentes a cada cultura e
suas influências nas manifestações linguísticas, o que a leva a levantar
outra questão em relação à tradução de refrães:
Quanto à tradução do refrão, teríamos de nos
perguntar, em primeiro lugar, se este é um recurso
válido em outras línguas e, em segundo lugar, se
os referentes simbólicos são intercambiáveis de
uma língua a outra, o que significaria, talvez, que
estamos diante de um fenômeno de universalidade
temática, o que implicaria podermos interpretar o
conteúdo do refrão da mesma maneira e que não
importaria tanto a existência de refrães idênticos
quanto a repetição de temas, campos semânticos e
símbolos. (MONLLOR, 1999, p. 30)
53
52
la illusió d’expressió preexistent pot aconsellar una traducció no literal, o no del tot, amb
significats i ritme més adients
53
Quant a la traducció del refrany, hauríem de preguntar-nos, en primer lloc, si aquest és un
recurs vàlid en altres llengües i, en segon lloc, si els referents simbòlics són intercanviables
d’una llengua a una altra, la qual cosa significaria, potser, que som al davant d’un fenomen
d’universalitat temàtica, la qual cosa implicaria que podríem interpretar el contingut del
refrany de la mateixa manera i que no importaria tant l’existència de refranys idèntics com la
repetició de temes, de camps semàntics i de símbols.
89
Ou seja, o refrão ou o provérbio ser um recurso válido nas duas
línguas envolvidas na tradução e no mesmo registro, caberia
acrescentar e os elementos simbólicos utilizados serem interpretados
da mesma forma talvez seriam pontos mais importantes que a existência
ou não de correspondentes consagrados, pois a recriação do
fraseologismo estrangeiro levaria à mesma interpretação pela repetição
de símbolos e campos semânticos compartilhados. A autora observa a
recorrência de diversos temas específicos e referentes simbólicos em seu
corpus, porém continua em aberto se o mesmo ocorreria em se tratando
de outras combinações de línguas e se a temática geral não fosse
delimitada, como neste caso, em que todos os refrães escolhidos se
referem de alguma forma ao tema homem/mulher.
2.9 OUTROS AUTORES E A PREFERÊNCIA PELA BUSCA DE
CORRESPONDENTES
De modo geral, como apontamos, os comentários dos vários
autores estudados sobre a tradução de provérbios e/ou EIs indicam
claramente ser privilegiada a utilização, no texto traduzido, de uma EI
ou provérbio da cultura de chegada correspondente ao original quanto ao
sentido. No caso de não existir um elemento correspondente composto
por imagens semelhantes, prefere-se o uso de uma solução igualmente
idiomática com outras imagens e, na inexistência também desta, alguns
aceitam (a contragosto) uma paráfrase explicativa. Encontramos algo
semelhante à proposta de recriação da letra de Berman (2007), inspirada
em Larbaud e Meschonnic, na adaptação literal mencionada por
Mallafrè (1991) e Monllor (1999), mas em geral esta não é considerada
como uma solução boa ou sequer possível, uma vez que não foi citada
por mais nenhum dos autores estudados
54
. Outras, como a tradução por
omissão ou a compensação, também recebem ainda menos atenção.
O ponto de vista dominante pode ser sintetizado na concepção de
Heinz (1999) mencionada por Arancibia (2007): “Heinz (1999, p. 155)
considera que a tradução das expressões idiomáticas deva ter como
característica imprescindível a equivalência semântica, como condição
54
Uma possível causa poderia ser o fato de a proposta de Berman ainda ser recente: a obra na
qual é enunciada foi lançada na França em meados dos anos 1980 e traduzida no Brasil apenas
em 2007. Talvez a publicação em português leve a uma maior divulgação de suas ideias no
Brasil e provoque mais reflexão a respeito de suas proposições.
90
importante a equivalência de registro, e de maneira quase irrelevante a
correspondência dos componentes” (ARANCIBIA, 2007, p. 20)
55
.
Outro indício do quanto essa visão é arraigada é o fato de alguns
teóricos, ao tratar de outro tema ligado à tradução e utilizar provérbios
ou EIs em seus exemplos, apontarem a tradução por correspondente
como a correta ou a melhor. Catford (1965), ao comentar a relação dos
conhecidos termos “tradução livre”, “tradução literal” e “tradução
palavra-por-palavra” com sua distinção entre tradução limitada
(bounded) e não-limitada (unbounded)
56
, como exemplo a frase It’s
raining cats and dogs”, para a qual fornece três possibilidades de
tradução em francês: uma palavra-por-palavra (“Il est pleuvant chats et
chiens”), uma literal (“Il pleut des chats et des chiens”) e uma livre (“Il
pleut à verse”) (p. 26-27). Ao comentar as três opções, o autor afirma
que “Apenas a 3, a tradução livre, é intercambiável com o texto-fonte
em situações [idênticas]” (p. 27)
57
. O mesmo é apontado em relação ao
exemplo seguinte, em russo: Bog s n’im’i! (palavra-por-palavra: God
with them!”; literal: “God is with them!”; livre: “Never mind about
them”) (p. 27).
Tratando da teoria de Catford, Barbosa (1990) cita o primeiro
exemplo deste e é mais categórica: “Aqui, somente a terceira versão é
comutável com o TLO [texto na língua original] e, portanto, ao meu ver,
é a única que constitui uma tradução aceitável” (p. 39, grifos nossos).
A valorização da tradução por correspondentes também é
encontrada em autores que, além de teóricos, são bastante conhecidos
como tradutores, como por exemplo Paulo Rónai, já comentado acima, e
José Paulo Paes, que, prefaciando o dicionário de Camargo e Steinberg
(1989), ao se referir a outros trabalhos dos mesmos autores dentre os
quais a primeira edição dos 1001 provérbios em contraste de Steinberg
(2002) mencionados acima—, afirma:
Esses três livros vieram enriquecer o instrumental
de trabalho dos tradutores brasileiros, facultando-
lhes adentrar com passo mais firme o sertão da
página-fonte para chegar mais depressa, mas sem
cortar caminho, ao oásis da página-alvo. Cortar
55
Heinz (1999, p. 155) considera que la traducción de las expresiones idiomáticas debe tener
como característica imprescindible equivalencia semántica, como condición importante la
equivalencia de registro, y de manera casi irrelevante la correspondencia de los
componentes.
56
Adotamos a mesma tradução para os termos utilizada por Barbosa (1990) e Rodrigues
(2000).
57
Only 3, the free translation, is interchangeable with the SL text in situations.
91
caminho, em tradução, significa quase sempre
privar o leitor de alguns dos maiores encantos da
travessia do texto. Isso acontece sobretudo
quando, por não encontrar na língua-alvo
equivalente adequado para alguma expressão
figurada do texto-fonte, o tradutor se contenta em
verter-lhe apenas o significado, sem fazer justiça
ao torneio verbal. Em tal pecado incorreria, por
exemplo, quem diante de um idiomatismo tão
saboroso quanto o nosso “descascar o abacaxi”, se
contentasse em prosaicamente traduzi-lo por “to
solve a rough problem”, deslembrado ou
ignorante de que existe em inglês idiomatismo
equivalente, não menos saboroso, qual seja “to
handle a hot potato”. (In CAMARGO e
STEINBERG, 1989, p. V-VI)
Ou seja, para Paes, o principal serviço prestado por essas obras ao
tradutor seria proporcionar correspondentes, e, apesar de considerar
“descascar o abacaxi” um idiomatismo “saboroso”, o autor não concebe
a possibilidade de introduzi-lo nas culturas de língua inglesa.
Também em Camargo e Steinberg (1990), complemento inglês-
português do mesmo dicionário, encontramos o prefácio de outro
tradutor, Izidoro Blikstein, condenando a tradução literal de EIs em
favor do uso de correspondentes idiomáticos:
[…] nos encontraríamos em situação
desconcertante e até ridícula, se traduzíssemos,
por exemplo, frases como
I don’t know him from Adam
por
Eu não o conheço desde Adão (!?),
ou
We must clear the air before resuming
negotiations
por
Precisamos limpar o ar (!?) antes de retomarmos
as negociações,
ou ainda
That dress of yours looks like something out of the
ark
por
Esse seu vestido parece algo fora da arca (!?).
92
O nosso interlocutor certamente não entenderia o
sentido da tradução e poderia até pensar que
desconhecemos tanto o inglês quanto o português.
(In CAMARGO e STEINBERG, 1990, p. I,
negritos nossos)
Ou seja, enquanto Berman (2007) defende que o leitor possui
uma “consciência-de-provérbio”, Blikstein acredita que com certeza
uma EI traduzida literalmente não seria compreendida, deixando o
tradutor em uma situação “desconcertante” ou mesmo “ridícula”,
parecendo desconhecer os idiomas envolvidos. Pouco adiante, ele
ressalta que, consultando o dicionário de Camargo e Steinberg (1990),
será possível
traduzir, com segurança e correção, as
expressões das três frases acima por suas
equivalentes em português:
Nunca o vi mais gordo (… from Adam)
Precisamos esclarecer um malentendido [sic]…
(… clear the air)
Esse seu vestido parece do tempo da onça (… out
of the ark).
(In CAMARGO e STEINBERG, 1990, p. I,
negritos nossos)
Após discutirmos esses diversos pontos de vista relacionados à
tradução de EIs e provérbios, no próximo capítulo apresentamos uma
tentativa de sistematização das estratégias propostas pelos autores
estudados. Assim, reunindo-as e resolvendo sobreposições e diferenças
de nomenclatura, esperamos oferecer uma lista mais clara e abrangente
das alternativas levantadas nesta revisão bibliográfica.
93
CAPÍTULO 3: SISTEMATIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS PARA
TRADUÇÃO DE PROVÉRBIOS E EIS
No capítulo anterior, discutimos os pontos de vista de diferentes
autores a respeito da tradução de EIs e provérbios. Vimos que, apesar de
concordarem que essas e outras lexias complexas causam dificuldades
ao tradutor, normalmente cada um se limita a poucas opções, quando
não a uma só, para lidar com elas, descartando a possibilidade de que,
dependendo da situação tradutória, possa ser interessante ou necessário
lançar mão de diferentes estratégias. Neste capítulo, buscamos
sistematizar as soluções mencionadas no anterior, de modo a permitir-
nos uma visão mais geral do assunto e das escolhas disponíveis para o
tradutor. Essa sistematização consistiu em escolher as características
distintivas de cada estratégia mencionada na bibliografia e eleger a
nomenclatura que nos pareceu mais precisa dentre as empregadas pelos
autores, ou ainda propor uma denominação diferente quando esta nos
parecesse mais adequada que a(s) existente(s).
Com isso, chegamos ao estabelecimento das dez estratégias
abaixo, ordenadas num percurso da mais próxima em relação à forma do
original, que seria a tradução por um correspondente literal, até a mais
distante, que seriam a tradução por omissão e a compensação, o que não
impede que em alguns pontos a decisão por uma em vez de outra seja
discutível, envolvendo algum grau de incerteza e subjetividade. Vale
ressalvar também que essa ordem não representa nenhum julgamento de
superioridade de uma estratégia em relação a outra simplesmente por
antecedê-la.
- tradução por correspondente literal;
- tradução literal;
- tradução por figura de linguagem não-consagrada;
- tradução da letra;
- tradução por correspondente não-literal;
- tradução por correspondente adaptado;
- tradução por criação de correspondente;
- tradução por paráfrase;
- tradução por omissão;
- compensação.
Mesmo baseando-se em soluções sugeridas por outros autores,
essa sistematização representa uma proposta totalmente nova pelo fato
94
de nenhum trabalho anterior ter reunido e organizado todas essas
possibilidades, como fazemos aqui.
A seguir, comentamos e exemplificamos cada uma delas. Como
nosso corpus é composto de traduções do português para línguas
estrangeiras, para dar neste capítulo exemplos com contexto e em
traduções para o português, utilizamos outra fonte: retiramos trechos
contendo EIs ou provérbios do romance italiano Fontamara, de Ignazio
Silone, e mostramos as soluções da tradução de Doris Natia Cavallari,
publicada no Brasil, ou soluções nossas para ilustrar cada estratégia
discutida. Desse modo, pretendemos facilitar a compreensão da análise
apresentada no próximo capítulo para as ocorrências verificadas em
nosso corpus.
3.1 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE LITERAL
Esta seria a estratégia utilizada quando o provérbio ou a EI do
texto original tivesse um correspondente na língua da tradução que
também constituísse uma tradução literal. Essa coincidência pode se
dever a origens em comum dos fraseologismos, como no caso de
provérbios oriundos do latim em diferentes línguas neolatinas, por
exemplo, ou à sua “migração” de um idioma para outro como resultado
de empréstimos e decalques.
Independentemente da razão da existência do correspondente
literal, essa parece ser a situação mais confortável para o tradutor, pois
se trata da mesma imagem empregada em sentido figurado, de modo que
os jogos de palavras ou trocadilhos com o sentido literal de seus
elementos que o original possa conter terão maior probabilidade de
serem reconstituídos na tradução.
Para Xatara (1998) e Xatara e Oliveira (2008), como explícita ou
implicitamente para vários outros, apenas nessa situação de existência
de um correspondente com tamanho grau de semelhança seria possível
uma tradução literal. No entanto, a nosso ver essa estratégia estaria mais
próxima, em relação a seus efeitos e à postura dos estudiosos a seu
respeito, da tradução por correspondente que da tradução literal
conforme comentada mais adiante, que esta é normalmente criticada
por teóricos e tradutores. Nisso concordamos com Baker (1992), que
não fala em tradução literal, mas sim em “usar um idiomatismo de
sentido e forma similares” (p. 72). Nossa distinção também leva em
conta Monllor (1999), que chama essa situação de “literalidade
preexistente”.
95
Para Burity (1989), estas seriam as ocasiões, poucas segundo ele,
em que seria realizável uma tradução com equivalência formal, de
acordo com seu entendimento da teoria de Nida, para provérbios. Como
não conseguimos nenhum exemplo contextualizado com provérbios,
ficaremos com os dois primeiros exemplos desse autor, selecionados por
ele em Steinberg (1985):
1. The end justifies the means
O fim justifica os meios (Steinberg:35);
2. Every man has his price
Todo homem tem seu preço (Steinberg:37) (BURITY, 1989, p. 96)
Já para EIs, temos os seguintes exemplos com contexto:
L’indomani mattina venne da me Maria Rosa, la madre di Berardo.
“Hai visto mio figlio?” mi chiese. “Ha dormito in casa tua? Non ho
chiuso occhio per aspettarlo.” (SILONE, 1988, p. 130)
Na manhã seguinte veio a minha casa Maria Rosa, a mãe de Berardo.
“Você viu o meu filho? me perguntou. “Dormiu na sua casa? Não
fechei os olhos esperando por ele”.
“Tua madre ti va cercando di casa in casa” io gli risposi in tono
risentito e spingendo davanti a me l’asino perché s’affrettasse.
Ma Berardo non vi fece caso e si mise a camminare accanto a me,
indovinando dal tono della mia voce che io sapevo tutto. (SILONE,
1988, p. 130-131)
“Sua mãe está lhe procurando de casa em casa”, respondi-lhe num tom
ressentido enquanto tocava o burro para que fosse mais depressa.
Mas Berardo não fez caso e pôs-se a caminhar ao meu lado, adivinhando
pelo tom da minha voz que eu sabia de tudo.
A maioria dos autores analisados no capítulo 2 considera esta a
estratégia mais segura e a situação mais favorável para o tradutor,
embora alguns, como Xatara (1998) e Baker (1992), admitam raramente
ocorrerem correspondentes com o mesmo sentido utilizando as mesmas
imagens, as mesmas palavras, na mesma ordem, com o mesmo registro,
etc. Baker (1992) também alerta que esta solução, apesar de parecer
ideal, nem sempre é a mais apropriada. Mesmo apresentando a mesma
forma e o mesmo sentido, pode haver variações de uma língua para a
outra quanto aos contextos de uso e às conotações do fraseologismo.
96
Também vale lembrar que algumas vezes dois fraseologismos
que parecem ser correspondentes literais um do outro na verdade são
utilizados com sentidos totalmente diferentes; são o que Rios (2003)
chama de “falsos cognatos idiomáticos” (ver 3.4 abaixo). Esses casos,
assim como aqueles, mencionados por Baker (1992), nos quais dois
fraseologismos supostamente correspondentes são utilizados de
maneiras diferentes, podem ser armadilhas na busca por correspondentes
literais.
3.2 TRADUÇÃO LITERAL
Tratamos aqui da tradução literal enquanto escolha do tradutor,
quando não resulta em um correspondente preexistente na língua de
chegada, caso já discutido no item anterior. Essa separação foi motivada
principalmente pela grande diferença entre os dois casos em relação à
postura dos teóricos estudados: enquanto a situação descrita em 3.1 é
considerada quase sempre a ideal, em razão da preferência geral pelo
emprego de correspondentes, a tradução literal em outras condições é
muitas vezes vista como um erro.
Entendemos a tradução literal neste trabalho conforme as duas
primeiras possibilidades de compreensão desse conceito explicitadas por
Aubert (1991)
1
. Assim, consideramos como literais tanto a tradução na
qual “determinado segmento textual (palavra, frase, oração) é expresso
na LC [língua de chegada] mantendo-se as mesmas categorias numa
mesma ordem sintática, utilizando vocábulos cujo semanticismo seja
(aproximadamente) idêntico ao dos vocábulos correspondentes no texto
em língua de partida (LP)”, quanto aquela “em que se mantém uma
fidelidade semântica estrita, adequando porém a morfo-sintaxe [sic] às
normas gramaticais da LC” (AUBERT, 1991, p. 187, grifos do autor).
Aubert (1991) também considera como uma possível
interpretação do conceito de tradução literal “aquela em que se observa
uma fidelidade semântico-contextual estrita, adequando a morfo-sintaxe
[sic] e o estilo às normas e usos da LC”, como na tradução de Yours
truly por “Atenciosamente ou pour ce que de droit por “para os
devidos fins (de direito)” (p. 188). Em relação a EIs e provérbios, no
entanto, consideramos que este caso já se caracterizaria mais como
1
Aubert (1991) trata em seu artigo da tradução literal em geral, e não apenas no caso de
provérbios e/ou EIs. Por esse motivo suas definições não foram mencionadas nos capítulos
anteriores.
97
tradução por correspondente do que como tradução literal, de modo que
adotamos do autor apenas os dois tipos anteriores.
Para facilitar a visualização das diferenças entre as estratégias,
procuramos utilizar o mesmo trecho em vários exemplos, de modo a
demonstrar como seria traduzi-lo seguindo cada uma delas. É importante
ter em mente, porém, que o fato de uma estratégia ser mais eficiente que
outra para o trecho mostrado nos exemplos não significa que ela o será
sempre. A conveniência de empregar uma ou outra solução varia de
acordo com a situação tradutória.
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] também para os velhos proprietários chegou o dia da penitência.
[…] Como se diz? “Quem comeu a ovelha, agora vomita a lã”.
Neste exemplo, temos um provérbio no italiano para o qual
realizamos uma tradução literal no português. O único desvio da
tradução palavra-por-palavra é em relação a ha mangiato, no passato
remoto, que é um tempo verbal composto, mas corresponde a “comeu”,
no pretérito perfeito, um tempo verbal simples no português. Aqui
alguns poderiam até ver uma tradução da letra, que a frase quase soa
como provérbio também no português, especialmente com o estímulo da
introdução “Como se diz?”. Preferimos, no entanto, colocá-lo como
tradução literal e mostrar mais adiante como é possível trabalhar a forma
para reforçar o efeito de provérbio.
[…] L’acqua è nostra e resterà nostra. Ti mettiamo fuoco alla villa,
com’è vero Cristo. (SILONE, 1988, p. 60)
[…] A água é nossa e continuará nossa. Te tocamos fogo na villa, como
é verdadeiro Cristo.
Neste caso também se faz uma tradução literal, desta vez de uma
EI. Como o correspondente de verono português é uma palavra mais
longa, o ritmo da frase fica diferente, o que não seria um grande
problema; porém, mais adiante mostramos como seria possível uma
tradução da letra aproximando a sonoridade da frase traduzida àquela do
original.
A tradução literal como delimitada aqui é mencionada por
diversos autores, mas apenas para desaconselhá-la ou apontá-la como
um erro a ser evitado, como vimos no capítulo anterior com Xatara
98
(2002), Xatara e Oliveira (2008) e Izidoro Blikstein (In CAMARGO e
STEINBERG, 1990), por exemplo. Algumas vezes essa rejeição não é
acompanhada de justificativas, talvez indicando ser esse julgamento tão
difundido e tido como certo a ponto de alguns dispensarem maiores
discussões. Em geral, o argumento mais comum é que o leitor da
tradução não conseguiria compreender o fraseologismo traduzido
literalmente por seu significado não ser a soma dos significados literais
dos elementos que o compõem e não ser consagrado na língua de
chegada.
Entretanto, autores que lembram ser possível que o falante
consiga interpretar o sentido figurado de um fraseologismo,
especialmente no caso de provérbios, ainda que seja a primeira vez que
tenha contato com ele.
Os significados literais podem, em boa parte dos
casos, ajudar a entender o significado conotativo
da expressão. Não se deve, portanto, levar em
consideração o sentido individual de cada parte
constituinte de uma EI, porém é importante se
atentar para os casos nos quais partes do
idiomatismo direcionam seu uso. (RIVA, 2004, p.
13; RIVA, 2009, p. 21)
Podemos encontrar, então, enunciados conotativos
mas não necessariamente opacos ou não-
composicionais, isto é, existem provérbios, de
sentido conotativo, mas cujos elementos
formadores são mais ou menos motivados e
contribuem para se chegar à compreensão
semântica. Assim, Quem ama o feio, bonito lhe
parece” é totalmente motivado, composicional e
denotativo por isso estamos diante de um
ditado. em “Dinheiro não tem cheiro”, não se
recupera a motivação que nos leva sem
dificuldades à compreensão conotativa da
seqüência: trata-se, pois, de um provérbio não-
composicional, mas como sempre figurado.
E em “Quando a esmola é demais, o santo
desconfia”, resgatam-se elementos
composicionais que nos facilitam compreender o
sentido figurado e esse caráter composicional não
invalida a identidade proverbial do enunciado.
(XATARA e SUCCI, 2008, p. 36)
99
Por outro lado, em relação à tradução dos
mesmos, caso não exista um provérbio
equivalente na língua meta, seu sentido poderá ser
compreendido por meio da tradução literal de seus
componentes. Ou seja, diferentemente das
expressões idiomáticas, ao compreender o
significado de seus componentes é possível a
aproximação entre o receptor e a expressão, neste
caso, o provérbio. (ARANCIBIA, 2007, p. 24)
2
Vemos, portanto, que mesmo estudiosos partidários da tradução
por correspondente admitem não ser a tradução literal sempre
incompreensível, apesar de esse ser um dos argumentos frequentes
daqueles que a desaconselham, como quando Izidoro Blikstein dizia das
traduções literais de seus exemplos: “O nosso interlocutor certamente
não entenderia o sentido da tradução e poderia até pensar que
desconhecemos tanto o inglês quanto o português” (In CAMARGO e
STEINBERG, 1990, p. I) ver 2.9. Portanto, mesmo que realmente
não seja a estratégia mais apropriada na maior parte das vezes, seria
arriscado afirmar tão categoricamente, como faz Blikstein, que o
interlocutor não poderia compreender a tradução literal de um
fraseologismo.
Ainda assim, mesmo compreensível, provavelmente em poucos
contextos a tradução literal exatamente como delimitada aqui traria os
melhores resultados com EIs ou provérbios, sendo quase sempre mais
eficiente acrescentar algumas adaptações para reproduzir seus recursos
formais, resultando numa tradução da letra, ou para tornar mais claro o
sentido figurado, levando a uma tradução por figura de linguagem não-
consagrada (essas distinções são mais difíceis em relação a EIs que a
provérbios, por aquelas serem mais curtas e por isso com menos
recursos de construção que estes). Porém, essas soluções também
mantêm a imagem conotativa do original, de modo que as considerações
acima sobre a possibilidade de se compreender um fraseologismo
traduzido literalmente podem ajudar a sustentar também estas outras
estratégias.
2
Por otro lado, con respecto a la traducción de los mismos, en el caso de que no exista un
proverbio equivalente en la lengua meta, su sentido podrá ser comprendido por medio de la
traducción literal de sus componentes. Es decir, a diferencia de las expresiones idiomáticas, al
comprender el significado de sus componentes es posible la aproximación entre el receptor y
la expresión, en este caso, el proverbio.
100
3.3 TRADUÇÃO POR FIGURA DE LINGUAGEM NÃO-
CONSAGRADA
Esta estratégia representa uma variação em relação à tradução
literal que percebemos ser possível principalmente ao considerar a
possibilidade vista por Nida (1964) como tradução de metáfora por
metáfora (ver 2.2). Como o autor tratava tanto de metáforas
consagradas, ou seja, fraseologismos, como de metáforas não-
consagradas, notamos haver espaço para se traduzir EIs e provérbios
como metáforas ou outras figuras de linguagem não-consagradas.
A principal diferença entre esta solução e a tradução literal
tratada acima seria que aqui se fazem outras adaptações além daquelas
necessárias para não gerar um enunciado agramatical, visando a deixar a
tradução mais clara ou mais adequada estilisticamente. O que não é
adaptado é o uso conotativo, ou seja, mantém-se a imagem figurada
utilizada no texto de partida; contudo, não sendo esse uso conotativo
consagrado na língua de chegada, o efeito não será mais o de um
provérbio ou de uma EI, mas sim o de uma figura de linguagem nova,
original. Nesse aspecto, essa estratégia difere da tradução da letra,
comentada abaixo, que esta se propõe a recriar o efeito do provérbio
ou EI.
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] também para os velhos proprietários chegou o dia da penitência.
[…] Pois é, o lobo que comeu a ovelha agora está vomitando a lã.
Retomando esse trecho, apresentado acima para exemplificar a
tradução literal, sugerimos agora uma tradução que reproduz a figura de
linguagem, neste caso a metáfora, utilizada no original, mas não no
formato de um provérbio, e também se desviando de forma mais
acentuada da tradução literal. Outro exemplo, agora com uma EI, seria:
Così il sole era già alto quando uscimmo dal paese. Faceva un’afa da
vomitare. (SILONE, 1988, p. 34)
Assim o sol estava alto quando saímos do vilarejo. Fazia um calor de
dar ânsia de vômito.
101
Mais uma vez não se tem uma tradução literal próxima à palavra-
por-palavra, mas o texto traduzido mantém a hipérbole presente na EI do
original.
Esta estratégia pode incluir também a sugestão de Nida (1964) de
traduzir idiomatismos por símiles, para explicitar que se está falando em
sentido figurado e impedir que se faça uma interpretação literal. Um
exemplo do autor, como vimos em 2.2, seria traduzir uma expressão que
significasse “sons of thunder” como “men like thunder” (NIDA, 1964, p.
171). Podemos mais uma vez retomar o exemplo anterior:
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] também para os velhos proprietários chegou o dia da penitência.
[…] Estão como lobos que comeram ovelhas e agora vomitam a lã.
3.4 TRADUÇÃO DA LETRA
Contrário a uma tradução que busque obsessivamente por
correspondentes, considerada por ele como “etnocêntrica”, Berman
(2007) propõe que se traduza valorizando a “letra” (“lettre”) do original,
ou seja, levando em conta a importância da forma, dos significantes,
percebendo-os como geradores de sentido (ver 2.1). No caso de
provérbios e EIs, essa abordagem significaria traduzir reproduzindo
tanto a imagem utilizada no fraseologismo estrangeiro como os seus
recursos formais: “traduzir literalmente um provérbio não é
simplesmente traduzir ‘palavra por palavra’. É preciso também traduzir
o seu ritmo, o seu comprimento (ou sua concisão), suas eventuais
aliterações etc. Pois um provérbio é uma forma” (BERMAN, 2007, p.
16)
3
.
O principal efeito perseguido por essa estratégia é que o leitor
reconheça se tratar de um provérbio ou EI, compreenda que seu sentido
é conotativo, mas perceba se tratar de um fraseologismo desconhecido,
estrangeiro, novo, sentindo um certo estranhamento pela imagem
figurada diferente daquela do correspondente em sua língua, à qual está
habituado.
3
Ver nota número 3 do capítulo 2 sobre o uso de Berman (2007) de “tradução literal” com um
sentido próprio, para o qual preferimos adotar sempre o termo “tradução da letra”, emprestado
do mesmo autor, para diferenciar do conceito mais difundido de literalidade.
102
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] também para os velhos proprietários chegou o dia da penitência.
[…] Como se diz? “Quem tinha comido a ovelha, agora vomita a lã”.
Neste exemplo, retraduzimos o trecho usado para ilustrar a
tradução literal, porém desta vez acrescentamos uma pequena alteração
para produzir um ritmo mais “proverbial”: substituindo “comeu” por
“tinha comido”, conseguimos obter dois versos de sete sílabas poéticas
(redondilhas maiores), a métrica mais popular no português, bastante
comum em provérbios
4
. Além disso, os dois versos ficam com as tônicas
na segunda, na quinta e na sétima sílabas:
Quem / ti / nha / co / mi / do a o / ve / lha,
A / go / ra / vo / mi / ta a / .
Dessa forma, o tradutor consegue uma frase com “sabor” de
provérbio no português sem ter de recorrer a um correspondente, como
fez a tradutora da obra (conforme veremos em 3.5 abaixo). Outro
exemplo em que a tradução literal resulta em uma frase semelhante a um
provérbio, porém inexistente no português, é o seguinte:
Il conducente non gli fece più caso e riprese a gridare:
“Presto, presto; chi tardi arriva, male alloggia.” (SILONE, 1988, p.
99)
O motorista não lhe fez mais caso e recomeçou a gritar:
“Rápido, rápido; quem tarde chega, mal se aloja.”
Neste caso, talvez por não ter encontrado um correspondente, a
tradutora do livro preferiu fazer uma paráfrase, conforme veremos em
3.6 abaixo.
no próximo exemplo, retomando mais um trecho traduzido
literalmente acima, conseguimos, trocando um de seus vocábulos,
chegar a uma expressão sonoramente muito próxima daquela do italiano.
[…] L’acqua è nostra e resterà nostra. Ti mettiamo fuoco alla Villa,
com’è vero Cristo
.” (SILONE, 1988, p. 60)
4
Exemplo: “Água mole em pedra dura / tanto bate até que fura”.
103
“[…] A água é nossa e continuará nossa. Te tocamos fogo na villa,
como é certo Cristo.”
Outros exemplos, envolvendo o catalão, o inglês, o espanhol e o
francês, podem ser encontrados em Mallafrè (1991) e Monllor (1999),
que sugerem uma estratégia muito semelhante, a qual chamam de
“adaptação literal (alguns deles foram reproduzidos em 2.8). Berman
(2007), Mallafrè (1991) e Monllor (1999) parecem concordar na
necessidade de que a tradução de um fraseologismo pareça um
fraseologismo (provérbios e locuções para o primeiro, provérbios para o
segundo e refrães para a última), o que os leva a não comentar a
possibilidade de tradução por paráfrase. A principal diferença entre os
três autores é que Berman (2007) coloca sua tradução da letra como
frontalmente oposta ao uso de correspondentes e como necessária
substituta deste, enquanto Mallafrè (1991) e Monllor (1999) propõem
sua adaptação literal apenas para os casos nos quais não seja possível
descobrir um correspondente.
Afora esses autores, não encontramos referências a estratégias
semelhantes em nenhum outro, a não ser nas vagas referências a
empréstimo de Meschonnic e Larbaud, lembrados por Berman (2007).
Isso reforça a conclusão de que essa proposta representa uma ruptura em
relação ao que defende a maioria dos demais autores. Apesar disso, as
afirmações citadas em 3.2 acima no sentido de ser possível chegar ao
sentido de um provérbio ou EI pela interpretação conotativa de sua
tradução literal ajudam a justificar a possibilidade da tradução da letra
para esses fraseologismos. A isso se pode acrescentar ainda o conceito
sugerido por Berman (2007) de “consciência-de-provérbio” (p. 60), que
seria a capacidade do falante de reconhecer um provérbio como tal,
mesmo nunca o tendo encontrado anteriormente, de atribuir-lhe um
significado com base no contexto e de associá-lo a outro preexistente
com sentido semelhante. Em Francisco (2009), apresentamos exemplos
(alguns deles reutilizados acima) que reforçam a hipótese de ser
realmente possível reconhecer e compreender traduções da letra de
provérbios e de EIs, principalmente com a ajuda de indícios contextuais
que colaborariam com essa “consciência-de-provérbio”.
Entretanto, assim como com as demais estratégias, também esta
não é adequada para todas as situações. Rios (2003), lembrando que “a
mesma imagem pode ter significados diferentes em culturas diferentes”
(TAGNIN, 1989, p. 46), alerta para a existência de “falsos cognatos
idiomáticos”, que seriam
104
idiomatismos que, em duas culturas diferentes,
recorrem à mesma imagem e possuem
significados diferentes. Exemplificando, con pies
de plomo, em espanhol, significa “com muito
cuidado”, ao passo que em português, a expressão
dançar com de chumbo, aparentemente
bastante próxima da espanhola, significa “dançar
mal ou devagar”. (RIOS, 2003, p.38)
Nessas situações, uma tradução da letra pode gerar certa
confusão, pois ao leitor ocorrerá o sentido do fraseologismo de seu
idioma em vez da interpretação conotativa que permita a compreensão
do fraseologismo original. Assim, pode ser aconselhável empregar outra
estratégia que cause menos problemas em casos como este.
3.5 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE NÃO-LITERAL
Se o fraseologismo correspondente na língua de chegada não
coincidir com a sua tradução literal, ainda assim utilizá-lo é geralmente
a solução indicada pela maioria dos autores que temos analisado
5
. Neste
caso estabelecer o correspondente exige um maior esforço, mas
normalmente é apontado como o objetivo maior do tradutor, para que
não seja obrigado a “se contentar” com uma paráfrase (ver 3.8 abaixo).
Segundo essa estratégia, busca-se uma EI ou um provérbio que,
apesar de se expressar por meio de elementos formais diferentes e
representando metáforas ou outras figuras de linguagem diversas das do
original, possa transmitir um sentido semelhante e seja utilizado no
mesmo contexto. Assim, ao contrário da tradução por correspondente
literal, não são sempre mantidas as mesmas imagens do provérbio ou EI
original, o que pode causar problemas se houver jogos de palavras ou
alusões a elas em outros pontos do texto.
Um exemplo de escolha bastante bem-sucedida dessa estratégia é
o seguinte:
[…] egli avrebbe finito di scialacquare le proprietà lasciategli dal
padre, don Antonio che, pur ricchissimo e avanzato in età, era morto
conducendo l’aratro. Ben si dice: la roba chi la fa e chi la gode.
(SILONE, 1988, p. 47)
5
Muitos, como vimos, utilizando “equivalente” em vez de “correspondente”, porém sempre
indicando estratégias semelhantes. Monllor (1999) fala em “equivalência preexistente”, termo
que consideramos inadequado, conforme comentado em 2.8.
105
[…] teria dissipado, muito tempo, os bens herdados do pai, dom
Antonio, o qual, apesar de riquíssimo e de idade avançada, morrera
conduzindo o arado. Bem que se diz: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”.
(CAVALLARI, 2003, p. 66)
6
O correspondente em português encontrado pela tradutora se
ajusta muito bem à situação, que o trecho se refere a um filho que
desperdiçou a herança do pai e a metáfora do provérbio em português se
baseia nos elementos “pai”, “filho” e “neto”, o que não acontece no
provérbio italiano, mais geral (“a coisa um a faz e outro a goza”). Outros
exemplos da mesma tradutora são:
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] o tempo da penitência tinha chegado também para os antigos
proprietários. […] Como se diz mesmo? “Quem comeu a carne que roa
os ossos” (CAVALLARI, 2003, p. 69).
Così il sole era già alto quando uscimmo dal paese. Faceva un’afa da
vomitare. (SILONE, 1988, p. 34)
Assim, quando saímos do povoado o sol ia alto. Fazia um calor de
rachar. (CAVALLARI, 2003, p. 52)
Os argumentos dos defensores desta solução baseiam-se
tipicamente na ideia de que com ela o sentido e a idiomaticidade do
correspondente serão tão familiares ao leitor da tradução quanto o
fraseologismo do texto de partida é para seus leitores. Algumas vezes,
porém, nem são utilizados argumentos, que a estratégia é tão
difundida a ponto de parecer óbvia e incontestável para alguns autores.
Essa posição predominante em parte se deve à consagração da
legibilidade e da fluência como características ideais para a tradução
7
, o
que pode ser percebido, por exemplo, nesta passagem de Baker (1992):
6
Para esta tradução do romance de Silone e para as traduções do Macunaíma, adotamos um
sistema de referências baseado no nome dos tradutores, em detrimento da norma da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), seguida para as demais obras, que exige a referência
pelo nome do autor do original. Consideramos que nosso método facilita a comparação entre as
traduções e entre originais e traduções, além de ser mais justo, já que estas obras são estudadas
neste trabalho pelo interesse nas traduções que receberam.
7
Para um estudo e uma crítica desse ideal de tradução fluente, ver Venuti (1995; 2002).
106
Usar a fraseologia típica da língua-alvo suas
colocações naturais, suas próprias expressões
fixas e semifixas, o nível correto de
idiomaticidade, e assim por diante aumentará
muito a legibilidade de suas traduções. Alcançar
esse nível correto significa que seu texto-alvo
parecerá menos “estrangeiro” e, mantidos outros
fatores, pode até passar por um original. (p. 78,
grifos nossos)
8
Entretanto, apesar dessa preferência geral, quem advirta não
ser o correspondente sempre a melhor solução de tradução, e até quem
critique duramente essa estratégia. Nesse sentido, vale a pena repetir o
alerta de Fernando e Flavell (1981) contra a “forte compulsão
inconsciente da maioria dos tradutores de procurar desesperadamente
por um idiomatismo na língua receptora, não importando o quanto
inadequado ele possa ser” (p. 82)
9
, assim como as palavras de Berman
(2007):
Ora, ainda que o sentido seja idêntico, substituir
um idiotismo pelo seu equivalente é um
etnocentrismo […] Servir-se da equivalência é
atentar contra a falância da obra. As equivalências
de uma locução ou de um provérbio não os
substituem. Traduzir não é buscar equivalências.
(BERMAN, 2007, p. 60, grifos do autor)
Um dos problemas da tradução por correspondentes é que às
vezes ela faz com que se perca algum efeito de sentido que poderia ser
salvo utilizando-se outra estratégia. Um exemplo pode ser encontrado
em Xatara (1998), quando fala em EIs irônicas: “[…] o efeito irônico
nem sempre é mantido nas EI das duas línguas em questão, o que
representa, aliás[,] uma das perdas da tradução: être haut comme un
mouchoir de poche revela ironia, não valendo o mesmo para sua
correspondência em língua portuguesa, ‘ser um tampinha’” (p. 59).
8
Using the typical phraseology of the target language its natural collocations, its own
fixed and semi-fixed expressions, the right level of idiomaticity, and so on will greatly
enhance the readability of your translations. Getting this level right means that your target text
will feel less ‘foreign’ and, other factors being equal, may even pass for an original”.
9
strong unconscious urge in most translators to search hard for an idiom in the receptor-
language, however inappropriate it may be”.
107
Neste caso, uma tradução literal como “ser grande como um lenço de
bolso” poderia manter o caráter irônico mencionado.
3.6 TRADUÇÃO POR CORRESPONDENTE ADAPTADO
Atribuímos este nome ao que Mallafrè (1991) apresenta como
uma variação de sua “equivalência preexistente” (ou seja, do que
chamamos acima de “tradução por correspondente não-literal”),
consistindo numa mescla do correspondente na língua de chegada com
elementos da tradução literal do provérbio. A nosso ver, não se trata
apenas de uma tradução por correspondente, caracterizando, em vez
disso, uma estratégia totalmente nova. Como sugere Mallafrè (1991),
esta seria uma solução em casos nos quais uma ou mais palavras do
provérbio original sejam importantes e não possam ser trocadas, como
quando há um trocadilho com o provérbio, ou quando por qualquer
outra razão essa(s) palavra(s) seja(m) retomada(s) na sequência do texto.
Nessa situação, a tradução poderia ser construída a partir do
correspondente idiomático, facilmente reconhecível para o leitor da
tradução, porém com a inserção de palavras e imagens do fraseologismo
original. Podemos pensar, no entanto, que o sucesso pleno dessa
estratégia dependeria de o leitor compreender ou não que os elementos
inseridos no fraseologismo do seu idioma são oriundos do fraseologismo
estrangeiro.
Um exemplo seria o seguinte, resgatando novamente um trecho já
utilizado acima:
[…] anche per i vecchi proprietari è arrivato il giorno della penitenza.
[…] Come si dice? “Chi ha mangiato la pecora, adesso vomita la
lana.” (SILONE, 1988, p. 49)
[…] o tempo da penitência tinha chegado também para os antigos
proprietários. […] Como se diz mesmo? “Quem comeu a ovelha tem
que roer os ossos”.
Neste exemplo, pensando numa situação na qual a palavra
“ovelha” fosse relevante na continuação do texto, introduzimo-la no
correspondente utilizado pela tradutora brasileira do romance, Doris
Natia Cavallari. Pelo mesmo procedimento, mas desta vez realizando
uma interferência maior, poderíamos pensar em mais um exemplo:
[…] egli avrebbe finito di scialacquare le proprietà lasciatagli dal
padre, don Antonio che, pur ricchissimo e avanzato in età, era morto
108
conducendo l’aratro. Ben si dice: la roba chi la fa e chi la gode.
(SILONE, 1988, p. 47)
[…] teria acabado de dissipar os bens deixados pelo pai, dom Antonio, o
qual, apesar de riquíssimo e de idade avançada, morrera conduzindo o
arado. Bem que se diz: “A coisa o pai a faz, o filho a goza, o neto a
perde”. (CAVALLARI, 2003, p. 66)
Em relação às EIs, é compreensível que essa estratégia seja bem
mais complicada, devido à sua menor extensão e ao consequente menor
número de itens com os quais jogar na construção do correspondente
adaptado. O único exemplo que pudemos elaborar foi com base no
trecho abaixo, em cuja tradução brasileira Doris Cavallari optou pelo
correspondente “pão, pão; queijo, queijo” (CAVALLARI, 2003, p. 29)
para verter a EI “chiamando pane il pane e vino il vino”.
Non c’è alcuna differenza tra questa arte del raccontare, tra questa arte
di mettere una parola dopo l’altra […] di spiegare una cosa per volta,
senza allusioni, senza sottointesi, chiamando pane il pane e vino il vino,
e l’antica arte di tessere […] (SILONE, 1988, p. 13)
Não nenhuma diferença entre esta arte de narrar, entre esta arte de
colocar uma palavra depois da outra […] de explicar uma coisa por vez,
sem alusões, sem subentendidos, pão, pão; queijo, queijo; vinho, vinho,
e a antiga arte de tecer […]
Apesar de bastante incomum, tendo sido proposta apenas por
Mallafrè (1991), e ainda assim sem grande ênfase, podemos observar,
considerando os exemplos sugeridos acima, que essa solução não deixa
de constituir uma possibilidade plausível, podendo gerar resultados
satisfatórios em determinadas situações tradutórias.
3.7 TRADUÇÃO POR CRIAÇÃO DE CORRESPONDENTE
Acreditamos ser mais clara essa denominação para a estratégia
chamada por Mallafrè (1991) de “adaptação equivalente”, pois descreve
com mais precisão a operação textual sugerida e evita as controvérsias
sobre a distinção entre adaptação e tradução ou sobre a existência de
equivalências
10
. Essa estratégia consistiria em criar uma frase com
sentido conotativo e com recursos típicos de provérbios, porém sem
10
Ver no capítulo 2 as justificativas para nossa preferência por “correspondente” em vez de
“equivalente” neste trabalho, bem como a definição assumida para o termo escolhido.
109
utilizar as palavras do provérbio original nem de nenhum provérbio
correspondente. Embora apenas esse autor proponha tal solução, e
dedique pouquíssimo espaço a ela, podemos concluir, a partir de sua
observação de que ela seria possível quando “a ilusão de expressão
preexistente pode aconselhar uma tradução não literal”, que ele estaria
se referindo às situações nas quais uma tradução da letra (ou “adaptação
literal”, em sua nomenclatura) resultaria numa construção que não
causaria uma ilusão de provérbio suficiente na língua de chegada.
Poderia ser o caso, por exemplo, quando seus elementos apresentassem
uma conotação de sentido obscuro, como em “Comida de angu,
quiabo é que entende” ou “Cu de pato não é gaveta”, dois provérbios
registrados por Pérez (1961, p. 36-37).
Retomando um dos exemplos utilizados acima, poderíamos
pensar que, se a tradução de la roba chi la fa e chi la gode ficasse
pouco clara em português, pela estratégia de criação de correspondente
poder-se-ia elaborar um novo “provérbio” buscando reproduzir o mesmo
sentido e gerar uma ilusão de idiomaticidade.
[…] egli avrebbe finito di scialacquare le proprietà lasciatagli dal
padre, don Antonio che, pur ricchissimo e avanzato in età, era morto
conducendo l’aratro. Ben si dice: la roba chi la fa e chi la gode.
(SILONE, 1988, p. 47)
[…] teria acabado de dissipar os bens deixados pelo pai, dom Antonio, o
qual, apesar de riquíssimo e de idade avançada, morrera conduzindo o
arado. Bem que se diz: “Quem viveu de pedreiro às vezes morre ao
relento”.
Nesse exemplo, inclusive, a expressão “Bem que se diz” reforça a
ilusão de provérbio preexistente. Bem mais difícil seria pensar em um
exemplo com EIs, embora em tese a estratégia também poderia ser
estendida a elas, considerando as características em comum dos dois
tipos de fraseologismo. O problema novamente é a menor extensão e o
menor número de recursos típicos das EIs em comparação aos
provérbios, dificultando a elaboração de uma expressão nova,
conotativa, que realmente passe a ilusão de idiomaticidade consagrada.
Um exemplo possível seria o seguinte, em relação à EI afa da
vomitare”, imaginando que a tradução literal ou da letra poderia ficar
pouco clara ou que não se pudesse utilizar o correspondente (mas
admitimos que o resultado soa um tanto forçado).
110
Così il sole era già alto quando uscimmo dal paese. Faceva un’afa da
vomitare. (SILONE, 1988, p. 34)
Assim, quando saímos do povoado o sol ia alto. Fazia um calor de
entontecer.
Mesmo em relação aos provérbios, com os quais a criação de um
correspondente forjado parece menos difícil, não encontramos menção a
essa estratégia em nenhum outro autor. Mesmo Monllor (1999), que
retoma as estratégias de Mallafrè (1991), não faz nenhuma referência a
essa possibilidade. Ainda assim, com o intuito de trabalhar com um
levantamento o mais exaustivo possível de soluções propostas na
bibliografia a respeito, consideramos interessante incluir a sugestão de
Mallafrè (1991), embora com uma denominação a nosso ver mais clara
que a escolhida pelo autor, e observar se ocorre alguma aplicação dela
em nosso corpus.
3.8 TRADUÇÃO POR PARÁFRASE
A paráfrase explicativa é a solução geralmente proposta pelos
autores para quando não há correspondentes idiomáticos, “quando as EI
se traduzem por paráfrases” (XATARA, 1998, p. 68; XATARA e
OLIVEIRA, 2008, p. 127), constituindo, para Baker (2002), a estratégia
mais comum quando não se encontram correspondentes ou quando a
linguagem idiomática não é apropriada na língua de chegada (ver 2.4).
Para Gonçalves e Sabino (2001), essa parece ser a única opção, na falta
de correspondentes: “algumas expressões, por não possuírem uma
correspondência adequada na língua-alvo, podem ser traduzidas por
meio de uma definição ou de uma explicação” (p. 73, grifo nosso).
Para exemplificar, retomaremos três trechos já utilizados para
apresentar novas opções de tradução, desta vez utilizando a paráfrase
(duas são soluções da tradutora da obra e outra é criação nossa).
Il conducente non gli fece più caso e riprese a gridare:
“Presto, presto; chi tardi arriva, male alloggia.” (SILONE, 1988, p.
99)
O motorista não lhe deu atenção e continuou a gritar: “Depressa,
depressa; quem chegar tarde, não acha lugar
”. (CAVALLARI, 2003, p.
120)
Così il sole era già alto quando uscimmo dal paese. Faceva un’afa da
vomitare. (SILONE, 1988, p. 34)
111
Assim o sol estava alto quando saímos do vilarejo. Fazia um calor
insuportável.
“[…] L’acqua è nostra e resterà nostra. Ti mettiamo fuoco alla Villa,
com’è vero Cristo.” (SILONE, 1988, p. 60)
“[…] A água é nossa e vai continuar nossa. Por Deus, vamos tocar fogo
no teu casarão.” (CAVALLARI, 2003, p. 80)
No primeiro exemplo, a tradutora parafraseia o sentido do
provérbio utilizado no original por meio de um enunciado comum que
não constitui um provérbio no português e nem se parece com um.
Fazemos o mesmo no segundo exemplo, com uma das várias maneiras
possíveis de expressar o sentido da EI (“calor muito forte”, “calor
infernal”, “muito calor”, etc.). No terceiro exemplo, a paráfrase é
realizada por meio de uma interjeição que reconstitui o sentido e a
ênfase da EI italiana
11
.
Um caso especial de tradução por paráfrase para EIs seria a
utilização de uma lexia simples de sentido conotativo, situação
mencionada por Falcão (2002) como “tradução conotativa, mas não
idiomática” (p. 73). Os exemplos, envolvendo EIs em inglês com nomes
de animais, encontrados por essa autora em dicionários bilíngues, foram
os seguintes:
dog ear
orelha [de caderno]
night owl
coruja [pessoa que dorme tarde]
one horse town
buraco (ovo) [cidadezinha]
pack rat
lixeiro [pessoa que junta tranqueira]
rat fink
dedo-duro
stool pigeon
dedo-duro (p. 76)
A paráfrase neste caso conseguiria reproduzir boa parte do efeito
da EI, que seu sentido também é conotativo e consagrado no idioma.
11
Não se trata de um caso de tradução por omissão porque, mesmo a EI sendo suprimida no
final da frase, o seu sentido é de alguma forma retomado pela inserção no início. Também não
consideramos como compensação porque neste trabalho restringimos esta estratégia à inserção
de outro fraseologismo (provérbio ou EI) em um ponto diferente do texto.
112
A única diferença é ser uma lexia simples em vez de complexa.
Contudo, essa possibilidade não parece muito frequente, tendo tido bem
poucas ocorrências no corpus de Falcão (2002) e não tendo sido
mencionada por nenhum outro autor estudado.
Em geral, como a maioria dos estudiosos parece preferir o
emprego de correspondentes (ver 3.1 e 3.5 acima) para traduzir
provérbios e EIs, a paráfrase costuma ser aceita apenas como um último
recurso (com alguma frustração, como aceitando uma derrota), de forma
que utilizá-la quando exista um fraseologismo correspondente resultaria
numa tradução de qualidade inferior, ou mesmo uma não-tradução (ver
2.6 e 2.7). Essa visão deixa transparecer a ideia de que para cada
fraseologismo seria possível somente uma estratégia, definível a partir
de um sistema binário: se houver um correspondente, este será a
tradução correta; se não, a saída é parafrasear.
Dentre os vários autores com abordagens nesse sentido
comentados no capítulo anterior, basta lembrar o trecho de José Paulo
Paes (ver 2.9), que chama de “pecado” que o tradutor “se contente” com
a paráfrase na existência de um idiomatismo correspondente. Para ele,
isso representaria “cortar caminho”, expressão que, assim como o verbo
“contentar-se”, passa a ideia de que a paráfrase seria uma acomodação
do tradutor incapaz de vencer o desafio de encontrar um correspondente.
E fica visível também o sistema binário mencionado: afora
correspondente (positivo) e paráfrase (negativo), nenhuma outra
hipótese é considerada.
3.9 TRADUÇÃO POR OMISSÃO
Encontrada por nós como estratégia apenas em Baker (1992), a
omissão é comumente encarada como a não-tradução; todavia, segundo
essa autora, ela pode ser uma escolha consciente e até aconselhável do
tradutor em situações nas quais outras estratégias não sejam possíveis ou
apropriadas. Seguindo Baker (1992), também preferimos utilizar
“tradução por omissão” em vez de apenas “omissão” por julgarmos que
ela envolva decisões do tradutor, inclusive porque, não tendo substituído
o fraseologismo por nenhum elemento visível (paráfrase,
correspondente, etc.), ele precisa realizar as adequações necessárias para
que o leitor não sinta haver um “buraco” no texto traduzido. Além disso,
se o sentido do fraseologismo for indispensável para o trecho em que
ocorre, deverá ser diluído no texto para ser de alguma forma
compreendido pelo leitor.
113
“[…] L’acqua è nostra e resterà nostra. Ti mettiamo fuoco alla Villa,
com’è vero Cristo.” (SILONE, 1988, p. 60)
“[…] A água é nossa e vai continuar nossa, ou vamos tocar fogo no teu
casarão!”
No exemplo acima, não traduzimos nem a forma nem o sentido
da EI original; apenas reestruturamos os períodos para que não se sinta a
sua ausência. Adicionalmente, acrescentamos um ponto de exclamação
para recuperar um pouco da ênfase dada à promessa no original por
meio da EI.
Se a ocorrência de linguagem idiomática ou conotativa for
relevante para o texto que está sendo traduzido, pode ser indicado fazer
acompanhar a tradução por omissão ou por paráfrase do recurso à
compensação.
3.10 COMPENSAÇÃO
Estratégias que resultem no apagamento de características dos
provérbios e EIs (conotação, coloquialismo, recursos formais, etc.),
como a paráfrase ou a omissão, podem ser “compensadas” pela
introdução de fraseologismos do mesmo tipo em outros pontos do texto,
caso essas características sejam estilisticamente relevantes. Ou seja, ao
traduzir outros trechos nos quais o original não contém fraseologismos,
o tradutor os utiliza — algo como a tradução de não-metáfora por
metáfora de Nida (1964) (ver 2.2) para manter um equilíbrio
idiomático e “não empobrecer o texto” (RÓNAI, 1981, p. 57).
Essa estratégia é lembrada por Rónai (1981) e por Baker (1992).
Como menciona esta última, é difícil exemplificá-la porque envolve
grandes porções do texto ou mesmo ele todo. Aproveitando o trecho
utilizado para demonstrar a tradução por omissão, no entanto, podemos
dar um exemplo mais localizado de compensação.
“[…] L’acqua è nostra e resterà nostra. Ti mettiamo fuoco alla Villa,
com’è vero Cristo.”
Le parole esprimevano esattamente il nostro stato d’animo; ma quello
che ristabilì la calma fu don Circostanza. (SILONE, 1988, p. 60)
“[…] A água é nossa e vai continuar nossa, ou vamos tocar fogo no teu
casarão!”
As palavras expressavam exatamente nosso estado de espírito; mas
quem acalmou os ânimos
foi dom Circostanza.
114
Assim, empregando a EI “acalmar os ânimos” em um ponto no
qual o original contém uma expressão denotativa, não-consagrada,
recuperamos certo equilíbrio em relação ao período anterior, no qual a
EI do original foi traduzida por uma omissão.
Também em nosso corpus, apesar de trabalharmos apenas com
trechos limitados, pudemos notar ocorrências claras de compensação nas
traduções analisadas. Isso pode ser um indício de que essa estratégia seja
bastante utilizada pelos tradutores, hipótese que entretanto só poderia ser
confirmada por meio de uma análise mais ampla.
Podemos pensar também que ela possa muitas vezes ser
involuntária por parte do tradutor: ao se ajustar ao “tom” do texto, este
acaba optando sempre por alternativas mais coloquiais ou idiomáticas ao
traduzir frases comuns, o que resulta na inserção de EIs ou provérbios
em locais onde estes não ocorriam no original, compensando outros
pontos nos quais EIs ou provérbios foram traduzidos por omissão ou
paráfrase. A confirmação dessa possibilidade, porém, escapa ao alcance
do presente trabalho.
3.11 RESUMO DAS ESTRATÉGIAS
Para tentar apresentar de maneira mais clara a sistematização
proposta neste capítulo, organizamos no esquema abaixo as principais
características das estratégias comentadas:
tradução por correspondente literal:
- tradução literal coincide com correspondente da língua de chegada;
- jogos de palavras e referências a elementos do fraseologismo são
traduzidos com mais facilidade
tradução literal:
- tradução palavra-por-palavra ou apenas com alterações necessárias
para se conformar às regras da língua de chegada;
- não coincide com correspondente da língua de chegada
tradução por figura de linguagem não-consagrada:
- mantém a imagem conotativa do fraseologismo original;
- apresenta outras alterações além das necessárias para se conformar às
regras da língua de chegada;
- não passa a impressão de ser provérbio ou EI
tradução da letra:
115
- mantém a imagem conotativa do fraseologismo original;
- visa a dar a impressão de ser um provérbio ou EI
tradução por correspondente não-literal:
- emprego de correspondente da língua de chegada com palavras e
imagens diferentes daqueles do original
tradução por correspondente adaptado:
- emprego de correspondente da língua de chegada alterado para conter
palavras e imagens traduzidas literalmente do fraseologismo original
tradução por criação de correspondente:
- elaboração de um provérbio ou EI inexistente na língua de chegada;
- não utiliza as palavras e imagens do fraseologismo original;
- parece um provérbio ou EI na língua de chegada;
- procura transmitir, de forma conotativa, o mesmo sentido do
fraseologismo original
tradução por paráfrase:
- explicação do sentido do fraseologismo por meio de palavra ou
expressão não-idiomática, não-conotativa e não-consagrada
tradução por omissão:
- tradução com total apagamento do fraseologismo presente no original;
- pode acarretar a necessidade de ajustes na sentença ou período para
que não transpareça a ausência do item omitido
compensação:
- inserção de provérbio ou EI em um ponto do texto no qual o original
não utiliza esses elementos, de modo a compensar a tradução por
omissão ou paráfrase utilizada em relação a um fraseologismo em outro
ponto.
Realizada essa sistematização, surgem algumas novas questões.
Refletindo sobre a aplicação das estratégias, parece haver uma maior
dificuldade em distinguir entre algumas delas quando se trata de EIs do
que quando se trata de provérbios. Por serem geralmente mais curtas e
conterem menos recursos de construção, em relação a elas parece mais
difícil separar tradução literal, tradução da letra e tradução por figura de
linguagem não-consagrada. Haveria então uma variedade maior de
116
estratégias possíveis para traduzir provérbios que para traduzir EIs? Não
estaria correta nossa hipótese inicial de que as estratégias para traduzir
uns e outros poderiam ser as mesmas?
Em tese, pela nossa sistematização da bibliografia, todas as
estratégias poderiam ser utilizadas tanto com provérbios quanto com
EIs, hipótese reforçada pelo fato de na maioria das vezes termos
conseguido encontrar ou elaborar exemplos para ambos os tipos de
fraseologismo. Entretanto, é inegável que em relação a algumas
estratégias foi muito mais fácil pensar em exemplos com provérbios que
com EIs.
Para podermos tratar essas questões com base em mais traduções
reais, decidimos utilizar um corpus de pequenas dimensões. A sua
constituição e análise é descrita no próximo capítulo.
117
CAPÍTULO 4: ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO CORPUS
Conforme apresentado no capítulo anterior, a partir da revisão
bibliográfica realizada conseguimos elaborar uma lista de estratégias
propostas para lidar com o problema da tradução de provérbios e EIs.
Para verificar em traduções reais a ocorrência ou não de cada uma delas
e contribuir para a reflexão sobre os contextos nos quais podem ser
empregadas e os possíveis efeitos decorrentes de cada escolha,
elaboramos um corpus de pequenas dimensões. Esse corpus é composto
de passagens do romance brasileiro Macunaíma: o herói sem nenhum
caráter, de Mário de Andrade (1928/1965)
1
, nos quais aparecem EIs e
provérbios, juntamente com os trechos correspondentes de suas
traduções para as línguas inglesa, espanhola, italiana e francesa de E. A.
Goodland, Héctor Olea, Giuliana Segre Giorgi, e Jacques Thiériot,
respectivamente.
4.1 COMPOSIÇÃO DO CORPUS
Sendo Macunaíma uma obra canônica da literatura brasileira,
cabe ressaltar que não a analisamos aqui enquanto contribuição literária
e nem pretendemos estudar as implicações do uso de EIs e provérbios
para a obra e para suas traduções. A decisão de utilizá-la na composição
de nosso corpus baseou-se apenas no fato de ela apresentar uma visível
riqueza de ocorrências dos fraseologismos cuja tradução nos interessa,
devido à declarada intenção do autor de representar a cultura e o folclore
populares do Brasil. De fato, não são as obras integrais original e
traduções que compõem o corpus, mas apenas trechos selecionados
contendo EIs e provérbios. Assim, mesmo as afirmações referentes aos
efeitos do emprego de cada estratégia dizem respeito principalmente a
uma análise do contexto imediato no qual ocorrem e não do romance
como um todo.
1
Como a obra foi reeditada várias vezes após a primeira edição de 1928, inclusive algumas
vezes com alterações do próprio autor, e provavelmente os quatro tradutores não utilizaram a
mesma edição como texto original, preferimos utilizar a quarta edição, de 1965, tendo
verificado, por comparação entre ela e as quatro traduções, que provavelmente não havia
diferenças entre ela e os originais utilizados por cada tradutor nas porções textuais selecionadas
para o corpus. A edição de 2008, por exemplo, foi descartada por conter uma omissão num
desses trechos que não correspondia a nenhuma das traduções, o que não ocorre em relação à
quarta edição. Além disso, pela organização dos capítulos idêntica na quarta edição e nas
quatro traduções, pudemos concluir que os tradutores não trabalharam com a primeira edição,
cuja composição dos capítulos era diferente, conforme explicado por Telê Ancona Lopez e
Tatiana Longo Figueiredo no prefácio da edição de 2008.
118
Na tipologia estabelecida por Baker (1995), assim como em sua
reformulação por Fernandes (2006), o nosso seria um corpus paralelo
(parallel corpus), pois é constituído por texto em uma língua
acompanhado por sua tradução em outras
2
. No entanto, lembrando que a
mesma autora define “corpus” como “uma coleção de textos
armazenados em formato legível por máquina e capaz de ser analisada
automática ou semiautomaticamente de variadas formas” (BAKER,
1995, p. 225)
3
, vale ressaltar que a manipulação de nosso corpus foi
semiautomática. Ou seja, para sua organização, valemo-nos do auxílio
de ferramentas computacionais simples, como editores de texto (como
BrOffice Writer 3.2 e Microsoft Word 2007); porém, como nenhuma
ferramenta poderia identificar as EIs e provérbios e selecionar e/ou
analisar automaticamente as ocorrências desejadas do romance e das
traduções, tivemos de fazê-lo “manualmente”, a partir de nossa leitura,
aplicando os estudos descritos nos capítulos anteriores e os critérios
explicados mais adiante.
4.2 SELEÇÃO E VALIDAÇÃO DE PROVÉRBIOS E EIS
Para selecionar os trechos para o corpus, primeiramente
localizamos no romance brasileiro um grupo de expressões ou frases de
sentido conotativo, atributo essencial comum a ambos os
fraseologismos, conforme as definições adotadas (ver 1.4). Em seguida,
pesquisamos cada fraseologismo selecionado em dicionários gerais e
especiais para confirmar que se tratassem realmente de EIs ou
provérbios.
Dadas as divergências entre as definições e nomenclaturas de
cada dicionário, o simples fato de um fraseologismo constar em um
deles não garantiria tratar-se de uma EI ou provérbio conforme
entendidos por nós, porém comprova sua cristalização e
indecomponibilidade total ou parcial, que somadas à conotação
(utilizada como critério na seleção dos trechos) resultam em
2
Embora Baker (1995) fale em originais numa língua A e traduções numa ngua B,
consideramos também se tratar de corpus paralelo quando mais do que dois idiomas estão
envolvidos, pois o que a autora chama de corpus multilíngue (multilingual corpus) se refere a
textos originais em diversos idiomas. Nesse sentido, concordamos com Fernandes (2006) que a
distinção mais relevante para os Estudos da Tradução seria entre corpora comparáveis
compostos de originais semelhantes em línguas diferentes e paralelos compostos de um
original e sua(s) tradução(ões) —, considerando suas características contrastáveis, já que
ambos os tipos podem ser bilíngues ou multilíngues.
3
a collection of texts held in machine-readable form and capable of being analysed
automatically or semi-automatically in a variety of ways”.
119
características suficientes para classificá-los como tais. Em alguns casos,
não foi encontrada exatamente a forma utilizada por Mário de Andrade,
mas variantes próximas o suficiente para permitir confirmar a existência
do fraseologismo. Por exemplo, para o provérbio “Plantei mandioca
nasceu maniva, de ladrão de casa ninguém se priva” (ANDRADE, 1965,
p. 201) e para a EI “tanto se me como se me dava” (ANDRADE,
1965, p. 66), localizamos apenas variantes como “Plantei mandioca
nasceu maniva, de ladrão de casa ninguém se livrae “tanto se me
como se me deu”, respectivamente.
Com essa validação por meio dos dicionários, procuramos nos
assegurar de não tomar como provérbio ou EI alguma metáfora ou
sentença de criação do autor que não fosse cristalizada na língua,
embora também seja provável que fraseologismos autênticos e
consagrados possam ter sido deixados de lado por não terem sido
registrados em nenhuma das obras consultadas. Acreditamos que possa
ter sido esse o caso com “si Deus o assinalou alguma lhe achou”
(ANDRADE, 1965, p. 54) e com as EIs destacadas na citação a seguir:
“— e cascavel faça ninho si eu não topo com a muiraquitã! Si vocês
venham comigo muito que bem, si não, homem, antes do que mal
acompanhado! Mas eu tenho opinião de sapo e quando encasqueto uma
coisa agüento firme no toco. Hei de ir pra tirar a prosa do passarinho
uirapuru, minto! da lacraia” (ANDRADE, 1965, p. 46). São todos
exemplos de lexias compostas, conotativas e provavelmente
consagradas que, no entanto, não foram encontradas em nenhum dos
dicionários consultados
4
e portanto não foram utilizadas no corpus.
Contudo, uma vez que nosso objetivo não era trabalhar com todos os
provérbios e EIs do livro, mas apenas reunir uma quantidade satisfatória
deles para nossa pesquisa, essa parte da metodologia parece-nos ter sido
bastante útil e necessária. em relação a “antes do que mal
acompanhado”, apesar de fixa e consagrada na maioria das obras
consultadas, também não foi utilizada por tratar-se de um ditado e não
de um provérbio, uma vez que seu sentido é denotativo.
Algumas EIs ainda em uso, como “dobrar a língua” e “botar a
boca no mundo”, foram encontradas em dicionários gerais de língua
(Aurélio e Houaiss, neste trabalho) e também na obra de Xatara e
Oliveira (2002), voltada para fraseologismos correntes. Para outras e
principalmente para provérbios mais antigos, no entanto, foram de muita
4
Apesar de termos localizado “aguentar firme” e “perder a prosa”, não consideramos tais
registros suficientes para validar as ocorrências “agüento firme no toco” e “tirar a prosa” como
EIs para este trabalho.
120
valia obras como a de Pérez (1961), Cascudo (1977) e Mota (1987), que,
por terem sido escritas mais tempo, contêm fraseologismos da época
da publicação de Macunaíma. As obras nas quais foi localizado cada
fraseologismo estão indicadas no Anexo I.
4.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEXTO
Uma vez validados os fraseologismos selecionados, delimitamos
a extensão dos trechos que os continham para composição do corpus.
Considerando que, conforme discutido no capítulo 1, o contexto no qual
ocorre uma EI ou um provérbio é crucial para sua compreensão e até
mesmo para seu funcionamento como tais, procuramos manter sempre
uma porção de texto suficiente para deixar entrever tal contexto. Via de
regra, buscamos trabalhar com o período no qual ocorre o fraseologismo
acompanhado do período anterior e do seguinte, porém dispensamos
algum deles sempre que pertencesse a outro parágrafo e não contribuísse
para a contextualização desejada. Da mesma forma, também incluímos
períodos a mais quando com isso obteríamos um parágrafo completo
e/ou quando os períodos vizinhos não bastassem para contextualizar
adequadamente o provérbio ou a EI.
Uma vez escolhidos e validados os fraseologismos e delimitados
os contextos, passamos à localização dos trechos correspondentes nas
traduções em inglês, francês, italiano e espanhol. Tomamos o cuidado
de não iniciar essa busca nem a análise das opções dos tradutores até
que estivesse completa a seleção das ocorrências no português, para não
corrermos o risco de sermos influenciados nessa seleção pelas
estratégias empregadas nas traduções.
O corpus com os trechos selecionados do romance em português
e suas traduções é apresentado no Anexo I deste trabalho.
4.4 ANÁLISE DO CORPUS E RESULTADOS OBTIDOS
A metodologia descrita acima resultou em um corpus composto
por 18 trechos em português contendo provérbios e 32 contendo EIs,
totalizando 50 fragmentos originais acompanhados de 4 traduções cada.
Passou-se então à análise das 200 soluções fornecidas pelos diferentes
tradutores para as ocorrências dos fraseologismos.
A metodologia empregada nessa análise consistiu em eliminações
subsequentes, identificando primeiramente as estratégias mais
facilmente reconhecíveis, sempre com base no exposto no capítulo 3. A
resultante sequência de identificação das estratégias poderá ser mais
121
bem compreendida nos subitens a seguir, organizados de acordo com
ela, que apresentam a discussão dos resultados obtidos. O corpus
completo com a classificação das estratégias pode ser consultado no
Anexo 1.
4.4.1 Ocorrências de tradução por paráfrase
Primeiramente, foram verificadas quais eram as soluções que não
apresentavam sentido conotativo ou que constituíam lexias simples,
mantendo, porém, uma intersecção de sentido notável com o
fraseologismo do texto de partida. Nesses casos, consideramos ter sido
utilizada a estratégia de tradução por paráfrase. Por esse raciocínio,
pudemos caracterizar claramente como tais as traduções a seguir, por
exemplo:
VII
5
Saindo da pensão Macunaíma topou com um beija-flor com rabo de
tesoura. Não gostou da cagüira não e pensou abandonar o randevu
porém como promessa é dívida fez um esconjuro e seguiu.
chegado encontrou o gigante no portão, esperando. […]
(ANDRADE, 1965, p. 65)
As he was leaving his digs, Macunaíma saw a scissor-tailed
hummingbird. He did not like this bad omen at all and almost gave up
all thought of his rendezvous, but feeling himself bound by his
appointment, he conjured up a spell to exorcise himself, and went on.
On arrival he the Frenchwoman was met by the giant waiting at
the gate. (GOODLAND, 1984, p. 43)
6
2
[…] A velha tapanhumas escutou a voz do filho no longe cinzado e se
espantou. Macunaíma apareceu de cara amarrada e falou pra ela:
— Mãe, sonhei que caiu meu dente. (ANDRADE, 1965, p. 25-26)
[…] La vieja tapañumas escuchó la voz de su hijo en lo cenizo lejano y
se espantó. Macunaíma apareció carantamaula y dijo hacia ella:
— Madre, soñé que se me caía un diente. (OLEA, 2004, p. 64)
Em todo o corpus, a estratégia da tradução por paráfrase foi
empregada 59 vezes, o que vem a confirmar a afirmação de Baker
5
Referência para localização no corpus.
6
Ver nota 6 do capítulo 3.
122
(1992) de que esta é uma solução bastante frequente (ver 2.4). Apesar de
geralmente representar abrir o de características como a
idiomaticidade e a conotação, presentes no fraseologismo original, e por
isso ser vista por muitos autores como um recurso inferior, foi possível
observar ocorrências de tradução por paráfrase aplicada de maneira
bastante expressiva. Alguns bons exemplos são:
IX
Daí Macunaíma pisou nos calos também:
— Pois nem eu queria nenhuma das três, sabe! Três, diabo fêz!
Então Vei com as três filhas foram pedir pouso num hotel e deixaram
Macunaíma dormir com a Portuga na jangada. (ANDRADE, 1965, p.
89)
Then Macunaíma felt his own corns being trodden on: “Right now I
don’t want any of your three you-know-whats either! Three of them! A
devil’s brood; may the devil fly away with the lot of them!”
Vei, with her three daughters, swept off to look for a hotel, leaving
Macunaíma to sleep with his white-skinned fishwife on the raft.
(GOODLAND, 1984, p. 65-66)
5
— Mas eu estou querendo tanto a pedra!
— Vá querendo!
— Pois tanto se me dá como se me dava, regatão! (ANDRADE, 1965, p.
61)
— Ho tanta voglia di quella pietra!…
— Peggio per te!
— E allora non me ne importa un bel niente, spilorcio, rigattiere!
(GIORGI, 2006, p. 77)
— Mais j’ai tellement envie de la pierre !…
— Eh bien, reste sur ton envie !
— L’avoir ou pas, ça m’est bien égal, marchand ! (THIÉRIOT, 1996, p.
75)
16
— Me diga uma coisa: você conhece a língua do lim-pim-gua-pá?
— Nunca vi mais gordo!
Pois então, rival: Vá-à-pá mer-per-da-pá! (ANDRADE, 1965, p.
130)
Dígame una cosa mariposa: usté conoce la lengua del len-pen-gua-
pá?
123
— Nunca oí esa vaina!
Pos entonces, rival: An-pan-dá-pá a la-pá mier-per-da-pá! (OLEA,
2004, p. 186)
[…] “Tell me something, do you know the Arago lingo, like ‘Staraguff
aragit aragup’?
“Never ‘eard of it!”
“Very well, Clever Dick, garago sharagit yaragour saragelf!”
(GOODLAND, 1984, p. 96)
Houve ainda diversos exemplos nos quais a tradução por
paráfrase foi acompanhada por uma compensação em outro ponto do
texto, ou até no mesmo ponto, tendo sido inserido um fraseologismo na
própria paráfrase. Essas situações serão discutidas em 4.4.9 abaixo, ao
tratarmos da estratégia de compensação.
É curioso notar também que 54 das ocorrências de tradução por
paráfrase referem-se a EIs, e apenas 5 a provérbios. Mesmo descontando
o fato de o corpus conter mais trechos com aquelas que com estes, a
diferença ainda é bem marcante. Basta pensarmos que são 54 exemplos
de tradução por paráfrase num total de 128 possibilidades, no caso das
EIs, e apenas 5 num total de 72, no caso dos provérbios. Esses
resultados podem sugerir uma maior facilidade ou tendência de se tentar
outras soluções para traduzir provérbios do que para traduzir EIs.
A tradução para o inglês foi a que mais se utilizou de paráfrases
(19 ocorrências), seguida pela do italiano e do francês (16 cada) e do
espanhol (8). Uma hipótese especulativa para a menor ocorrência na
tradução para o espanhol poderia ser que a proximidade com o
português tenha facilitado ao tradutor utilizar outras soluções, como
tradução literal ou por correspondente literal, com mais frequência do
que puderam fazê-lo os tradutores das outras línguas.
4.4.2 Ocorrências de tradução por correspondente literal
Quando a solução tinha sentido conotativo e parecia configurar
um provérbio ou EI correspondente, realizamos uma pesquisa em
diversos dicionários gerais e especiais, da língua de chegada e bilíngues,
com o intuito de confirmar se se tratavam de fraseologismos
consagrados, de forma análoga ao processo para validar os trechos do
original que compõem o corpus (ver 4.2 acima)
7
.
Dessa forma, havendo
7
Para ampliar as possibilidades de consulta, recorremos algumas vezes a dicionários cuja
digitalização foi disponibilizada, em parte ou no todo (no caso de obras em domínio público),
124
registro em algum dicionário consultado que confirmasse a cristalização
do fraseologismo na língua de chegada, nos (poucos) casos em que ele
também coincidisse com uma tradução literal, concluímos se tratar da
estratégia de tradução por correspondente literal. Estas são algumas das
ocorrências assim identificadas:
XIV
Teve raiva por demais e maliciou que ia ficar com o butecaiana que é
doença da raiva. Então exclamou:
— Ara! Ande eu quente, ria-se a gente!
Tirou as calças pra refrescar e pisou em cima. (ANDRADE, 1965, p.
147)
Fue por demás tanta rabia y malició que iba a quedar con beatacanina
que es el mal de la rabia. Entonces exclamó:
— Ara! Ándeme yo caliente, ríase la gente!
Se quitó los pantalones para refrescar y los pisoteó por encimita.
(OLEA, 2004, p. 203)
XIII
— Bom-dia, conhecido, como le vai, muito obrigado, bem.
Trabalhando, não?
— Quem não trabuca não manduca.
— É mesmo. Bom, té-loguinho. (ANDRADE, 1965, p. 142)
— Buongiorno, amico. Come va, bene, grazie. Si lavora, eh?
— Chi non lavora non mangia.
— Proprio così. Bene, arrivederci. (GIORGI, 2006, p. 165)
“Good morning, friend,” the huckster greeted Macunaíma, “how d’ye
do, thanks a lot! Doing a bit of work, eh? That’s good!
“He who doesn’t work doesn’t eat!”
“You said it. Well, bye bye!” […] (GOODLAND, 1984, p. 106)
O segundo exemplo acima representa um caso no qual os
fraseologismos das línguas de chegada, conforme Baker (1992) alerta
poder ocorrer (ver 2.4 e 3.1), não têm o mesmo efeito de seu
no site do Google Livros (http://books.google.com.br/). Alguns exemplos são Ortega (1953),
Pellecer (2007) e Partridge (2002). Com esse recurso pudemos localizar alguns itens que o
constavam em outros dicionários fisicamente acessíveis. Mesmo quando apenas uma parte dos
livros foi disponibilizada, muitas vezes essas partes continham a EI ou o provérbio que
procurávamos. Essas obras foram incluídas em nossa bibliografia, com a indicação do endereço
online em que estão disponíveis suas digitalizações, mesmo nos casos em que são permitidas
apenas visualizações parciais.
125
correspondente, mesmo se tratando de traduções literais. Isso se deve
principalmente à ausência da rima e ao fato de os verbos lavorare e
mangiare no italiano e to work e to eat no inglês serem de uso bem mais
corriqueiro que “trabucar” e “manducar” no português. É notável ainda
o traço semântico de intensidade atribuível a “trabucar “trabalhar
com grande energia; lidar, labutar” (HOUAISS, VILLAR e FRANCO,
2001, grifo nosso) o compartilhado por lavorare e to work, mais
neutros, tendo “trabalhar” como correspondente mais frequente.
Ao decidir se um fraseologismo utilizado na tradução seria
considerado um correspondente literal em vez de correspondente não-
literal, algumas vezes toleramos pequenas diferenças que, mesmo
fazendo a tradução deixar de ser palavra-por-palavra, não fazem com
que deixem de ser literais em sentido mais amplo (ver em 3.2 o conceito
de tradução literal adotado neste trabalho). Não se pode negar, todavia,
que os limites dessa tolerância, e consequentemente os limites de nosso
conceito de literalidade, não podem ser estabelecidos de forma
incontestável. Alguns exemplos:
II
[…] As lágrimas escorregando pelas faces infantis do herói iam lhe
batizar a peitaria cabeluda. Então ele suspirava sacudindo a cabecinha:
Qual, manos! Amor primeiro não tem companheiro, não!…
(ANDRADE, 1965, p. 45)
[…] Las lágrimas que escurrían por la faz infantil del héroe le iban a
bautizar el pelo en pecho. Entonces suspiraba sacudiendo la cabecita:
Ni modo, manos! Pal amor primero no hay compañero! ¿No?…
(OLEA, 2004, p. 87)
XVII
[…] ficara um aruaí muito falador. Macunaíma se consolou
pensamenteando: “O mal ganhado, diabo leva… paciência”. Passava os
dias enfarado e se distraía fazendo o pássaro repetir na fala da tribo os
casos que tinham sucedido pro herói desde infância. […] (ANDRADE,
1965, p. 201)
[…] Sólo quedó ahí un loro retetarabilla. Macunaíma se consoló
cavicavilando: “Lo mal habido, el diablo se lo lleva… paciencia”. Se
pasaba los días amorriñado y se distraía haciendo repetir al pajarraco
en el habla de la tribu los casos que habían sucedido al héroe desde la
niñez. […] (OLEA, 2004, p. 274)
126
VII
Saindo da pensão Macunaíma topou com um beija-flor com rabo de
tesoura. Não gostou da caguíra não e pensou abandonar o randevu
porém como promessa é dívida fêz um esconjuro e seguiu.
chegando encontrou o gigante no portão, esperando. (ANDRADE,
1965, p. 59)
Al momento di uscire dalla pensione, Macunaíma si vide davanti un
colibrì con la coda a forbice e il presagio non gli andò proprio affatto a
genio: pensò di rinunciare al randevu. Poi, dato che ogni promessa è
debito, fece uno scongiuro e proseguì.
giunto, trovò il gigante davanti al cancello che l’aspettava.
(GIORGI, 2006, p. 76)
Saliendo de la pensión, Macunaíma se topó con un chupamirto con rabo
de tijera. No le gustó el presagio y pensó abandonar el rendez-vous
pero como lo prometido es deuda en un santiamén se santiguó y siguió.
Llegando allá se encontró al gigante en el portón, esperando. (OLEA,
2004, p. 112)
23
Então os irmãos se descabelaram. Agora não era possível mais irem na
Europa não, porque possuíam a noite e o dia. Levaram na prantina
enquanto o herói esfregava óleo de andiroba no corpo pros mosquitos
não amolarem e adormecia bem. (ANDRADE, 1965, p. 147)
Entonces los manos se desesperaron. Ahora ya no era posible que
fueran a Europa, pues sólo poseían a las noches y los días. Soportaron
el lloriqueo mientras el héroe se refregaba aceite de jalapa en el cuerpo
pa que los mosquitos no lo fregaran y se durmió de un hilo. (OLEA,
2004, p. 103)
A principal vantagem dos casos em que um correspondente
literal é a possibilidade de resolver mais facilmente trocadilhos ou
outras referências a elementos do fraseologismo do texto original. É o
que se pode verificar claramente nestes dois trechos:
VIII
Estava desconsolado de não ter força ainda e vinha numa distração
tamanha que deu uma topada.
Então de tanta dor o herói viu
no alto as estrêlas e entre elas enxergou
Capêi minguadinha cercada de névoa. (ANDRADE, 1965, p. 69)
127
Era tutto sconsolato per il fatto di non essere ancora in forze, e
camminava tanto distrattamente che fece um bel capitombolo.
Allora, dal gran dolore, l’eroe vide le stelle lassù in alto e in mezzo ad
esse scorse Capêi calante al massimo e circondata di bruma. (GIORGI,
2006, p. 87)
Estaba desconsolado por no tener las fuerzas aún y venía en tan tamaña
distracción que se dio un topetazo.
Entonces de tanto dolor se puso a ver estrellas el héroe y en lo alto,
entre ellas, divisó a Capei menguadita y cercada de neblina. (OLEA,
2004, p. 123)
11
[…] Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
— Vá tomar banho! ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho!” que os Brasileiros
empregam se referindo a certos imigrantes europeus. (ANDRADE,
1965, p. 87)
[…] Cayuanog se fue allegando pero el héroe apestaba mucho.
— Que qué, vete a bañar! — le replicó. Y se retiró.
Así nació la expressión “Vete a bañar!” que los Brasileños emplean
refiriéndose a ciertos inmigrantes europeos. (OLEA, 2004, p. 138)
Caïouanogue s’approcha mais notre héros puait fort.
— Va te laver ! Dit-elle. Et elle s’en fut.
Ainsi naquit l’expression « Va te laver » que les Brésiliens emploient à
propos de certains immigrants européens. (THIÉRIOT, 1996, p. 96)
Nos dois trechos, “viu estrelas” e “vá tomar banho” são utilizados
ao mesmo tempo em seu sentido conotativo, como EIs, e no sentido
denotativo. Nas quatro traduções mostradas, esse jogo de palavras pôde
ser mantido por existir um correspondente literal, enquanto nas
traduções para as outras línguas os tradutores tiveram que dar outras
soluções, como a tradução literal, por paráfrase, etc.
No entanto, em conformidade com o que afirmam alguns teóricos
estudados nos capítulos anteriores, os casos em que foi possível uma
tradução utilizando um correspondente literal foram poucos (15 no total:
7 com provérbios e 8 com EIs). E, como vimos no exemplo acima
envolvendo o provérbio “Quem não trabuca não manduca”, nem sempre
se trata de uma solução perfeita, podendo haver várias diferenças entre
os correspondentes, mesmo eles tendo sentido e forma semelhantes.
Como se podia prever pela maior proximidade com o português, a maior
parte (10) das ocorrências de correspondente literal foi registrada na
128
tradução para o espanhol. A tradução para o italiano teve 3 e as outras
duas tiveram 1 cada.
4.4.3 Ocorrências de tradução literal
Quando o fraseologismo foi traduzido literalmente, mas o
resultado não constitui um correspondente na língua de chegada,
verificamos tratar-se de aplicação da estratégia de tradução literal
conforme delimitamos no capítulo anterior. Foram identificadas dessa
forma 15 ocorrências, sendo 8 envolvendo provérbios e 7 envolvendo
EIs. Os idiomas que mais se prestaram a essa solução foram o espanhol
(8) e o italiano (5), mais uma vez possivelmente devido à maior
proximidade com o português, enquanto o inglês e o francês tiveram
apenas 1 ocorrência cada.
A maioria dos casos de tradução literal localizados no corpus
também podem ser considerados exemplos de tradução da letra, pois
resultam em enunciados com traços de provérbios ou EIs na língua de
chegada. É o que podemos notar nos exemplos abaixo, particularmente
no primeiro:
I
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando
que “espinho que pinica, de pequeno traz ponta”, e numa pagelança
Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 13)
En las pláticas de mujeres a pleno rayo del día, el bululú era siempre
por las travesuras del héroe. Las mujeres reían muy halagadas,
diciendo que “espina que pincha de pequeña ya trae punta” y en una
brujencia de payé, Rey Nagô hizo un discurso y avisó que el héroe era
inteligente. (OLEA, 2004, p. 48)
8
Chegou na pensão tomando a bênção de cachorro e chamando gato de
tio, vendo! suando esfolado com fogo nos olhos, botando os bofes
pela boca. (ANDRADE, 1965, p. 70)
Llegó a la pensión tan sumiso que tomaba la bendición del perro y
llamaba al gato de tío, tenían que verlo! Sudaba despellejándose con
ojos de fuego, echando los bofes por la boca. (OLEA, 2004, p. 119)
129
Especialmente em relação às EIs, muitas vezes as duas estratégias
se sobrepõem, já que, enquanto com provérbios é necessário que a
tradução literal tenha ritmo ou outros traços característicos para poder
ser considerada também uma tradução da letra, no caso da EI
normalmente não muitos outros atributos além da conotação. Assim,
a tradução literal de uma EI somente não é também uma tradução da
letra quando soa totalmente estranha ou sem sentido na língua de
chegada. Porém, como em todos os casos envolvendo provérbios
também houve essa coincidência, podemos pensar na seguinte
explicação: como a tradução literal geralmente é mal vista por grande
parte dos teóricos e tradutores, conforme constatamos nos capítulos
anteriores, pode ser que os tradutores de Macunaíma somente tenham se
permitido traduzir literalmente quando o resultado soasse como
provérbio, e tenham portanto evitado fazê-lo nos demais casos. O
alcance deste estudo, todavia, não permite confirmar tal hipótese.
Foram observados apenas dois casos, envolvendo a tradução de
EIs, nos quais é possível dizer que a tradução literal não coincide com
uma tradução da letra. Em ambos os casos ela é associada ao recurso das
notas de rodapé. Essas notas foram bastante raras na maioria das
traduções que compõem nosso corpus. Apenas a tradutora italiana lança
mão delas com mais frequência
8
, havendo pelo menos uma na maioria
das páginas, normalmente com o intuito de esclarecer alguma referência
histórica, geográfica, cultural, etc. Seis delas encontram-se nos trechos
selecionados para o corpus, sendo que duas nos interessam diretamente
por envolverem a tradução de EIs. O primeiro trecho é o seguinte:
30
E trepou na rede com Denaquê. Imaerô desinfeliz suspirou assim:
— Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de secar!… (ANDRADE, 1965, p.
204)
E si mise nell’amaca con Denaquê, mentre Imaerô sospirava
sconsolatamente:
Lascia perdere i jacaré, tanto lo stagno si asciugherà!
*9
(GIORGI,
2006, p. 241)
8
Apesar de as notas não conterem nenhuma indicação do tipo “N. do T”, parece-nos muito
provável que sejam notas da tradutora, pelo caráter das informações nelas inseridas.
*
Versi popolari.
9
Utilizamos um sistema diferente para a chamada das notas de rodapé oriundas da tradução
italiana, para distinguir das nossas.
130
O exemplo contém uma tradução literal da EI brasileira (embora
com uma interpretação equivocada, como se se estivesse falando sobre
jacarés e não ao jacaré) e afirma na nota de rodapé tratar-se de “versos
populares”, o que não nos parece de todo falso, embora para este
trabalho se trate de uma EI. De todo modo, podemos pensar aqui numa
variação da estratégia de tradução literal não prevista pelos teóricos
estudados e não explorada nas demais traduções que constituem o
corpus. Essa variação consistiria em, tendo traduzido o fraseologismo
literalmente, explicitar em nota que aquele enunciado é uma EI ou um
provérbio (apesar de não ter havido nenhum exemplo no corpus, a
solução aparentemente seria válida também na tradução de provérbios).
O outro caso envolvendo o recurso a notas é:
11
[…] Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
— Vá tomar banho! ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho!” que os Brasileiros
empregam se referindo a certos imigrantes europeus. (ANDRADE,
1965, p. 87)
[…] Caiuanogue si avvicinò: ma l’eroe puzzava troppo.
— Va’ a fare il bagno
*
— disse; e se ne andò.
Fu così che ebbe origine l’espressione “Vá tomar banho!”, di cui si
servono i brasiliani riferendosi a certi immigrati europei. (GIORGI,
2006, p. 102)
Novamente a nota de rodapé refere-se à tradução literal do
fraseologismo, porém desta vez a informação fornecida nela é a EI
correspondente no italiano. Trata-se de mais uma possibilidade não
mencionada em nossas referências bibliográficas e que aparece esta
única vez no corpus, embora nos pareça uma alternativa bastante
interessante para traduzir provérbios e EIs, pois mantém a imagem
conotativa presente no original e ao mesmo tempo facilita a
compreensão por parte do leitor. Pode-se notar inclusive que isso
permitiu à tradutora utilizar logo em seguida, na segunda ocorrência da
mesma EI, o fraseologismo em português.
Portanto, a tradução literal acompanhada de nota de rodapé
parece ser uma solução bastante viável principalmente em trechos como
este, nos quais o sentido denotativo do fraseologismo tem relação com o
contexto em que está inserido. Neste exemplo, “vá tomar banho”
*
Equivalente dell’italiano “va’ a farti friggere!”.
131
funciona simultaneamente como EI e como expressão com sentido
denotativo, relacionado ao mau cheiro do personagem Macunaíma, jogo
que não seria possível reproduzir se fosse simplesmente traduzida pelo
correspondente “va’ a farti friggere (algo como “vá se fritar”)
10
.
4.4.4 Ocorrências de tradução por correspondente não-literal
Quando há registro em algum dicionário consultado, porém o
fraseologismo não coincide com a tradução literal, identificamos a
estratégia de tradução por correspondente não-literal.
XI
Oi, conhecido, tome tento com gigante! Você sabe do que ele é
capaz. Piaimã está fraco está fraco porém canudo que teve pimenta
guarda o ardume. Si você não tem medo mesmo, aposto. (ANDRADE,
1965, p. 130)
Ehi, amico, sta’ attento, con quel gigante! Sai bene di che cosa è
capace. Piaimã è debole, è debole, però la volpe perde il pelo e non il
vizio… se davvero non hai paura, io ci sto. (GIORGI, 2006, p. 150)
1
— Bom-dia, coraçãozinho dos outros.
Porém Macunaíma fechou-se em copas carrancudo.
— Não quer falar comigo, é?
— Estou de mal. (ANDRADE, 1965, p. 15)
— Buenos días, corazoncito de los demás
Pero Macunaíma rostritorcido cerró el pico.
— ¿No quieres hablar conmigo, eh?
— Ando de malas. (OLEA, 2004, p. 50)
Em alguns casos, quando uma frase ou expressão não consta em
nenhuma das obras consultadas, tentou-se ainda mais um expediente
para investigar se é cristalizada no idioma: a pesquisa de ocorrências na
internet. Assim, consideramos que um número elevado de ocorrências
11
10
Como vimos em 4.4.2 acima, em italiano e francês havia correspondentes literais. Na
tradução para o inglês, o problema foi resolvido empregando um correspondente não-literal
relacionado ao mesmo campo semântico: “go jump in the lake”.
11
Comparando as próprias buscas realizadas, estabelecemos o patamar de mil páginas para
considerar a ocorrência significativa. A rigor, tal valor deveria variar de acordo com o idioma,
mas, como a pesquisa na internet foi apenas um recurso acessório e não o principal para
132
ao realizarmos uma busca com a ferramenta Google
12
indicaria ser a
frase ou expressão pesquisada provavelmente cristalizada no idioma
13
.
Foi esse o caso com o seguinte segmento:
7
Vai, êle sentou na rêde mui rente da francesa, muito! e falou
murmuriando que com êle era oito ou oitenta, não vendia não
emprestava a pedra mas porém era capaz de dar… “Conforme…” O
gigante estava mas era querendo brincar com a francesa. (ANDRADE,
1965, p. 60)
Entonces se sentó en la hamaca muy junto de la francesa, harto! y habló
murmullando, pues con él lo demás era lo de menos, ya que no vendía
ni prestaba la piedra pero sin embargo sería capaz de darla…
“Depende de los asegunes… El gigante lo que estaba de veras
queriendo era juguetear con la francesa. (OLEA, 2004, p. 115)
Após as buscas em todos os dicionários disponíveis, foi
localizada apenas a EI tanto es lo demás como lo de menos” em Frauca
(1906); ao buscarmos na internet, porém, constatamos milhares de
ocorrências de “lo demás era lo de menos” e lo demás es lo de menos”,
principalmente desta última, por ser também o título de uma canção.
Assim, pudemos concluir tratar-se de uma expressão cristalizada no
espanhol, característica que faltava para confirmá-la como
correspondente não-literal da EI brasileira.
Vale dizer ainda que consideramos tratar-se dessa estratégia
mesmo quando tenha sido empregado um ditado ou citação em vez de
um provérbio. Levando em conta a proximidade desses fraseologismos e
o fato de muitos autores não se preocuparem em distingui-los, parece-
nos que o efeito possivelmente pretendido com sua utilização seja mais
determinar a consagração do fraseologismo, não consideramos imprescindível estabelecer
critérios mais precisos nesse sentido.
12
Para melhor ajustar as buscas a cada idioma, utilizamos os seguintes endereços:
www.google.com para as buscas em língua inglesa; www.google.it para aquelas em língua
italiana; www.google.es para aquelas em língua espanhola; e www.google.fr para aquelas em
língua francesa.
13
Tomamos o cuidado, todavia, de sempre verificar se as ocorrências não eram, na totalidade
ou em sua maioria, referentes a outros sentidos da expressão ou frase. Diante da
impossibilidade de analisar todas as páginas oferecidas como resultado de algumas buscas,
utilizamo-nos de amostras, ou seja, abrimos algumas dessas páginas para observar com qual
sentido a palavra ou expressão era predominantemente empregada nelas. Outra precaução foi
não procurar apenas o fraseologismo completo, exatamente como aparece nas traduções, mas
realizar também buscas por partes dele, ou inverter a ordem de algumas palavras, ou ainda
substituir algumas delas por sinônimos, etc., com o intuito de localizar possíveis variantes.
133
semelhante ao da tradução por correspondente que ao da tradução por
paráfrase ou qualquer outra estratégia. É o caso nestes exemplos:
II
[…] As lágrimas escorregando pelas faces infantis do herói iam lhe
batizar a peitaria cabeluda. Então ele suspirava sacudindo a cabecinha:
Qual, manos! Amor primeiro não tem companheiro, não!…
(ANDRADE, 1965, p. 45)
[…] le lacrime che scorrevano sul volto infantile dell’eroe andavano a
battezzargli il gran petto villoso. Allora lui sospirava scuotendo la
piccola testa:
È inutile, fratelli: il primo amore non si scorda mai!… (GIORGI,
2006, p. 53)
[…] Les larmes qui ruisselaient sur les joues de notre héros allaient
baptiser sa poitrine poilue. Alors secouant sa petite tête, il soupirait :
— Ah ! Mes frères, premier amour dure toujours ! (THIÉRIOT, 1996, p.
54)
XV
— Iriqui é muito relambória, mano, mas a princesa, upa! Não credito
pra Iriqui não! Oi que Sol de inverno chuva de verão choro de mulher
palavra de ladrão, eieiei… ninguém não caia não! (ANDRADE, 1965, p.
183)
Iriquí es muy singracia, mano, pero la princesa, uepa! No, no les des
bolilla a Iriquí! “No olvidés, me decia Fierro, / que el hombre no debe
crer / en las lágrimas de mujer / ni en la renguera del perro”. Ayayay,
malhaya quien caiga… (OLEA, 2004, p. 252)
Em relação ao primeiro trecho, localizamos o fraseologismo
italiano em Arthaber (1989) e uma ocorrência significativa (4.110
páginas) do francês na internet, além de um fraseologismo semelhante
(“On revient toujours a ses premières amours”) em Maloux (1960,
2001) e Lacerda, Lacerda e Abreu (1999). Dessa forma, pode-se
concluir que sejam consagrados em seus idiomas, porém seu sentido não
nos parece ser conotativo, de modo que não se configurariam como
provérbios, mas sim como ditados. De maneira semelhante, a solução
utilizada para o segundo trecho não é um provérbio, mas uma citação,
retirada da obra El gaucho Martín Fierro, de José Hernández, publicada
em 1872 (CULLETON, 2005).
Foram ao todo 56 ocorrências da estratégia, sendo 10 para
traduzir provérbios e 46 para traduzir EIs. A distribuição por idiomas foi
134
bastante homogênea: 16 no inglês, 14 no italiano e no espanhol e 12 no
francês. Essa frequente utilização vai ao encontro dos resultados da
revisão bibliográfica discutida nos capítulos anteriores, que apontavam
uma forte preferência da maior parte dos teóricos estudados pela
tradução por correspondentes. Por outro lado, a predominância de
ocorrências com EIs sugere mais uma vez, assim como no caso da
tradução por paráfrase (ver 4.4.1 acima), uma possível maior
preocupação em reproduzir os aspectos formais dos provérbios,
ocasionando a tentativa de outras alternativas que não privilegiem
apenas o sentido. Uma dessas alternativas foi a tradução da letra.
4.4.5 Ocorrências de tradução da letra
Não tendo sido localizado registro nos dicionários consultados
nem ocorrência abundante na internet, consideramos tratar-se da
estratégia de tradução da letra quando ainda assim a tradução possuísse
características que a fizessem parecer um provérbio ou uma EI na língua
de chegada. Aqui se admite certo grau de incerteza, que o fato de não
constarem em dicionários ou na internet não fornece certeza absoluta de
não se tratar de um fraseologismo consagrado. No entanto, como a
pesquisa foi ampla e minuciosa, podemos crer que a margem de erro
seja pequena.
Também se deve admitir alguma subjetividade ao julgar a
semelhança ou não da tradução com um provérbio ou EI, decisão que
representa a distinção entre uma tradução da letra e uma tradução por
figura de linguagem não-consagrada. Esse aspecto será comentado em
4.4.12 abaixo. Por ora, vejamos alguns exemplos claros de tradução da
letra.
I
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando
que “espinho que pinica, de pequeno traz ponta”, e numa pagelança
Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 13)
L’argomento abituale delle chiacchiere delle donne all’imbrunire erano
sempre i malestri dell’eroe. Le donne se la ridevano con simpatia e
dicevano che “prun che punge ha la punta aguzza fin da piccino
”; in
135
occasione di una pagelança
*
il re Nagô fece un bel discorso per
comunicare che l’eroe era intelligente. (GIORGI, 2006, p. 14)
En las pláticas de mujeres a pleno rayo del día, el bululú era siempre
por las travesuras del héroe. Las mujeres reían muy halagadas,
diciendo que “espina que pincha de pequeña ya trae punta” y en una
brujencia de payé, Rey Nagô hizo un discurso y avisó que el héroe era
inteligente. (OLEA, 2004, p. 48)
Dans les conversations méridiennes des femmes, le grand sujet c’était
toujours les polissonneries de notre héros. Elles en riaient de bon coeur
en disant : « Épine qui pique même petite déjà pointe. » Et lors du rite
de la pajelança, le Roi Nagô fit un discours et publia que notre héros
était intelligent. (THIÉRIOT, 1996, p. 24)
20
[…] Maanape e Jiguê encontraram o herói na porta da rua e perguntaram
pra ele:
— Quem matou seu cachorrinho, meus cuidados?
Então Macunaíma contou o sucedido e principiou chorando. […]
(ANDRADE, 1965, p. 141)
[…] Maanape e Jiguê erano davanti alla porta di strada e gli dissero:
— Chi ti ha ucciso il cagnolino, mio carino?
Allora Macunaíma raccontò quello che era successo e incominciò a
piangere. […] (GIORGI, 2006, p. 164)
Em relação ao primeiro segmento, todas as traduções, umas mais
literais e outras menos, mantêm a imagem figurada presente no original,
além de aspectos formais como concisão e aliterações, especialmente
envolvendo a consoante “p”; no italiano temos ainda assonâncias com as
vogais “u” e “i”. Em espanhol e francês, os dicionários registram formas
consagradas semelhantes em relação à imagem utilizada (“La espina
cuando nace, la punta lleva delante”, L’épine en naissant va la pointe
devant”); no entanto, ainda assim temos em ambos os casos traduções
mais literais (palavra-por-palavra, no caso do espanhol), que
reproduzem a forma do provérbio original e também soam como
provérbios na língua de chegada, como se fossem variantes daqueles
existentes.
No segundo exemplo, também temos, em vez de um
correspondente como Ti è morto il gatto?”, registrado em Battaglia
(1970), uma tradução mais literal (palavra-por-palavra seria Chi ha
*
Cerimonia rituale di scongiuro.
136
ucciso il tuo cagnolino?), com algumas alterações que permitem
recuperar o comprimento e o ritmo da EI brasileira, uma vez que a
tradução apresenta o mesmo número de sílabas e os acentos tônicos nas
mesmas posições.
Uma solução interessante envolvendo a estratégia de tradução da
letra é a utilizada no seguinte exemplo:
IX
Daí Macunaíma pisou nos calos também:
— Pois nem eu queria nenhuma das três, sabe! Três, diabo fêz!
Então Vei com as três filhas foram pedir pouso num hotel e deixaram
Macunaíma dormir com a Portuga na jangada. (ANDRADE, 1965, p.
92)
Entonces Macunaíma perdió la figura también.
— Pos al fin que ni quería, entiende! Tres, ni al revés!
Entonces Vei y las tres hijas se fueron a pedir posada en un hotel y
dejaron a Macunaíma durmiendo con la Portuga en la jangada.
(OLEA, 2004, p. 143)
A frase “Tres, ni al revés não foi localizada nos dicionários
consultados e nem apresentou ocorrências na internet. Verificamos,
porém, uma frequência alta na internet da expressão ni al revés”, além
de ocorrências da variante ni al derecho ni al revés”, indicando que,
apesar de não constarem nos dicionários consultados, estas
provavelmente são EIs consagradas no idioma espanhol. Assim sendo,
temos uma tradução que, além de reproduzir características formais do
original, como concisão e rima, e portanto soar como um provérbio na
língua de chegada, ainda utiliza, na construção desse candidato a
provérbio, uma EI preexistente, reforçando a idiomaticidade da
recriação proposta.
A estratégia parece ter sido uma opção interessante especialmente
em alguns casos nos quais possibilitou a manutenção de referentes
culturais mencionados no provérbio brasileiro, como nestes exemplos:
III
Resolveu abandonar a emprêsa, voltando pros pagos de que era
imperador. Porém Maanape falou pra êle:
Deixa de ser aruá, mano! Por morrer um carangueijo o mangue não
bota luto não! que diacho! desanima não que arranjo as coisas!
(ANDRADE, 1965, p. 44)
137
Resolvió abandonar la empresa volviendo pa los pagos donde era
emperador. Pero Maanape habló de este modo:
Dejese de ser baboso, mano! Por un cangrejo muerto el manglar no
guarda luto! qué diablos! no se desanime que yo me las arreglo con
esos cosos! (OLEA, 2004, p. 97)
Et décida d’abandonner son entreprise et de retourner aux domaines
dont il était empereur. Mais Maanape lui dit :
Ne sois pas moule, frérot ! Un crabe qui crève n’endeuille pas la
grève, qui diable ! Ne perds pas courage, je vais tout arranger !
(THIÉRIOT, 1996, p. 60)
XVI
A princesa teve ódio. É que ela andava ùltimamente brincando com
Jiguê. Macunaíma bem que percebeu porém imaginou: “Plantei
mandioca nasceu maniva, de ladrão de casa ninguém se priva,
paciência!…” E tinha encolhido os ombros. (ANDRADE, 1965, p. 203)
La principessa si arrabiò molto. Perché da qualche tempo aveva
cominciato a divertirsi insieme a Jiguê. Macunaíma se ne era accorto
benissimo ma aveva pensato: “Piantando manioca vien su maniva,
*
di
ladro di casa nessun si priva, pazienza!…”. Si era stretto nelle spalle.
(GOODLAND, 1984, p. 226)
A la princesa-carambolo le dio odio. Era ella quien ultimadamente
jugueteaba con Yigué. Macunaíma bien que se dio cuenta, pero pensó:
“Planto mandioca y me nace ñame, del ladronicio de casa nadie se
espante, paciencia…”. Y había encogido los hombros. (OLEA, 2004, p.
261-262)
The princess shuddered with disgust and loathing. Of late, she had been
making love with Jiguê. Macunaíma had noticed this, but had shrugged
his shoulders and said to himself,
“I planted cassava, cassava grew;
From a thief in the house,
No one is secure!
Patience!” (GOODLAND, 1984, p. 148-149)
La princesse en conçut de la haine : vous devez savoir que ces derniers
temps elle s’amusait avec Jigué. Macounaïma s’en était aperçu mais
avait pensé : « J’ai semé du manioc, je récolte du manioc, c’est le lot de
chacun d’abriter un voleur dans sa demeure, attendons notre heure
!… » Et il avait haussé les épaules. (THIÉRIOT, 1996, p. 202)
*
L’inutile fogliame della manioca: solo il tubero è commestibile.
138
A tradução da letra foi empregada para traduzir 38 provérbios e
13 EIs, totalizando 51 ocorrências
14
. Essa utilização foi mais frequente
do que esperávamos inicialmente, considerando as poucas menções à
estratégia na bibliografia consultada. Uma razão pode ser a carga
cultural da obra traduzida, plena de elementos culturalmente marcados
do contexto brasileiro, o que pode ter levado a uma preocupação em não
aclimatá-la demais nas traduções, uma possível consequência se se
recorresse sempre a correspondentes. No caso dos provérbios, a
tradução da letra chega a ser a estratégia predominante, reforçando a
hipótese de haver uma maior preocupação com as características formais
na tradução desses fraseologismos em comparação com a das EIs,
tendência sugerida pelos resultados referentes à tradução por
paráfrase e por correspondente não-literal (ver 4.4.1 e 4.4.4 acima).
Os idiomas nos quais a tradução da letra foi mais utilizada foram
o francês e o espanhol, com 16 exemplos cada, enquanto o inglês teve
11 casos e o italiano 9. De fato, em relação à tradução francesa, Torres
(2004) também já observou que
Os ditados e provérbios traduzidos por Thiériot
são, segundo a expressão de Berman (1985 : 36),
traduzidos “literalmente”. Não se trata de
traduções palavra-por-palavra, mas de uma
tradução que conserva ritmo, comprimento,
aliteração e moral […] O tradutor até mesmo
criou rimas que não existem no texto brasileiro e
conservou as principais metáforas […]. A atenção
do tradutor é voltada, ainda segundo a expressão
de Berman, “ao jogo dos significantes” […].
(TORRES, 2004, p. 285)
15
14
Desse total, houve casos nos quais a estratégia coincidiu com a tradução literal, ou nos quais
a solução dada também poderia ser interpretada como outra estratégia. Esses casos são
comentados em 4.4.11 e 4.4.12 abaixo.
15
Les dictons et proverbes traduits par Thiériot sont, selon l’expression de Berman (1985 :
36), traduits « littéralement ». Il ne s’agit pas de traductions mots à mots mais d’une
traduction qui conserve rhythme, longueur, allitération et morale […] Le traducteur a même
créé des rimes qui n’existent pas dans le texte brésilien et a conservé les principales
métaphores […]. L’attention du traducteur s’est portée, tourjours selon l’expression de
Berman, « au jeu des signifiants » […].
139
4.4.6 Ocorrências de tradução por figura de linguagem não-
consagrada
Quando uma tradução observada no corpus mantém de alguma
forma a conotação verificada no provérbio ou EI do original, porém não
em forma de provérbio ou EI (nem preexistentes na língua de chegada,
nem como criação do tradutor por meio de uma tradução da letra),
consideramos caracterizada a estratégia de tradução por figura de
linguagem não-consagrada, prevista com base na sugestão de Nida
(1964) de tradução de metáfora por metáfora (ver 2.2 e 3.3)
16
. Os
exemplos a seguir esclarecem melhor como ela funciona:
I
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando
que “espinho que pinica, de pequeno traz ponta”, e numa pagelança
Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 13)
During the women’s midday chatter the talk was always about the
hero’s pranks. The women laughed knowingly, saying, “The little one’s
prickly prickle already has a point!” And in the tribal assembly, King
Nagô declared that the hero had his head screwed on the right way.
(GOODLAND, 1984, p. 4)
XII
Olha, primo, pagar não posso não mas vou te dar um conselho que
vale ouro: Neste mundo tem três barras que são a perdição dos homens:
barra de rio, barra de ouro e barra de saia, não caia! (ANDRADE, 1965,
p. 138)
Senti, cugino, pagare non posso, ma ti voglio dare un consiglio che
vale un tesoro: a questo mondo ci sono tre “barra” che portano l’uomo
alla perdizione: barra (secca) di fiume, barra (sbarra) d’oro, e barra
(orlo) di gonna, attenzione. (GIORGI, 2006, p. 160)
[…] “Look, cousin, it’s impossible for me to repay you, but I’ll make
you a present of some advice that’s worth its weight in gold. In this
16
Pode-se pensar também que em alguns casos esta não seja uma estratégia, mas apenas o
resultado do fato de o tradutor ter pensado tratar-se no original de uma metáfora ou outra figura
de linguagem comum, e não cristalizada. Contudo, como neste trabalho lidamos apenas com o
produto da tradução, sem termos acesso ao processo tradutório, não temos meios de verificar
essa hipótese. Além disso, o fato de uma estratégia ter sido voluntária ou involuntária não
influencia seus efeitos no texto traduzido.
140
world there are three bars that are the ruination of mankind: the sand
bar in a river where the washerwomen are endlessly quarreling; the
bar of gold over which both friends and thieves fall out; and the bar
of a skirt that won’t come off!” (GOODLAND, 1984, p. 103)
No primeiro exemplo, nota-se que o enunciado empregado para
traduzir o provérbio brasileiro é conotativo, empregando uma imagem
semelhante, além de conter um jogo de palavras com prickly prickle”.
Apesar disso, não se parece com um provérbio na língua de chegada por
não ser geral, mas se referir especificamente ao menino Macunaíma
(“the little one”). Portanto, não pode ser considerado uma tradução da
letra conforme tratada aqui, mas ilustra bem o que estamos chamando de
tradução por figura de linguagem não-consagrada.
No segundo exemplo, também fica claro que as traduções não são
nem pretendem parecer provérbios, pois em ambas são inseridos apostos
para esclarecer o significado de suas partes, o que seria desnecessário se
se tratasse de um provérbio cristalizado e desaconselhável se se
pretendesse imitar um. É fácil notar a diferença em relação a uma
tradução da letra comparando com a versão francesa:
— Écoute, cousin, je peux pas te payer mais je vais te donner un conseil
qui vaut son pesant d’oseille : En ce monde, sables mouvants, or
trébuchant et jupon au vent sont la perdition des hommes. Garde-toi de
tomber dans leur piège ! (THIÉRIOT, 1996, p. 147)
Muitas vezes, porém, a distinção entre as duas estratégias não é
tão clara, pois o limite a partir do qual podemos dizer que um enunciado
soa como provérbio pode ser incerto e depender da subjetividade do
leitor. Essas situações são comentadas com mais detalhes em 4.4.12
abaixo.
Do total de 17 ocorrências
17
de tradução por figura de linguagem
não-consagrada, 15 envolvem provérbios e apenas 2 envolvem EIs,
novamente, podemos supor, por estas terem menos elementos
conotativos passíveis de recriação do que aqueles, e por isso se
17
Os casos em que a solução do texto traduzido pode ser interpretada como tradução da letra
ou como tradução por figura de linguagem não-consagrada (ver 4.4.12 abaixo) foram incluídos
em ambas as contagens, mas, como as duas estratégias são mutuamente excludentes, diferentes
interpretações podem levar a diferentes totais para cada uma delas. Preferimos levar em conta
as duas possibilidades e não forçar uma classificação unívoca, que o principal objetivo de
nossa análise do corpus não foi chegar a resultados quantitativos, com números exatos, mas
sim embasar uma pesquisa de cunho mais qualitativo.
141
prestarem mais à tradução por correspondentes ou por paráfrase. Por
sinal, os dois exemplos da estratégia com EIs referem-se a expressões
mais longas, e podem, dependendo da leitura, ser considerados como
traduções da letra.
8
Chegou na pensão tomando a bênção de cachorro e chamando gato de
tio, vendo! suando esfolado com fogo nos olhos, botando os bofes
pela boca. Descansou um pedaço e como estava arado de fome bateu
uma fritada de sururu de Maceió, um pato seco de Marajó molhando a
janta com mocororó. Descansou. (ANDRADE, 1965, p. 70)
Macounaïma arriva à la pension il fallait voir dans quel état ! Suant,
soufflant, l’oeil enflammé, des égratignures partout, époumoné, égaré :
il présenta ses civilités au chien et appela tonton le matou. Il s’accorda
un petit repos et comme il avait une de ces faims, il bâfra une friture de
moules de Maceió, un canard fumé de Marajó et arrosa le casse-croûte
de liquer de cajou. Et là-dessus se reposa. (THIÉRIOT, 1996, p. 80)
30
E trepou na rêde com Denaque. Imaerô desinfeliz suspirou assim:
— Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de secar!… (p. 217)
Y se trepó en la hamaca con Denaqué. Imaeró desinfeliz suspiró así:
No le hace caimán, que tus lagunas se han de secar! (OLEA, 2004,
p. 278)
Nenhum dos casos de tradução utilizando essa estratégia
correspondeu à tradução por símiles, prevista por Nida (1964) e incluída
por nós como uma subcategoria da tradução por figura de linguagem
não-consagrada (ver 2.2 e 3.3). Inicialmente, pensamos que fosse esse o
caso nesta tradução para o inglês:
28
[…] Légua e meia adiante olhou pra trás. Isso Oibê vinha na cola dele.
Então tornou a botar o furabolo na goela e lançou que era feijão e
água. […] (ANDRADE, 1965, p. 181)
[…] A league and a half farther, he looked over his shoulder to find
Oibê sticking to him like glue
, so he tickled his throat yet again and
threw up just beans and water […] (GOODLAND, 1984, p. 139)
142
Entretanto, posteriormente localizamos um registro da EI em
Fraenkel (1987), de modo que concluímos tratar-se simplesmente de
uma tradução por correspondente não-literal.
4.4.7 Ocorrências de tradução por correspondente adaptado
Houve 6 casos em nosso corpus (3 com provérbios e 3 com EIs)
nos quais a estratégia utilizada parecia uma tradução da letra, porém na
verdade consistia em uma combinação de elementos do correspondente
não-literal da língua de chegada com elementos da tradução literal do
fraseologismo original. Essa possibilidade foi prevista, na bibliografia
estudada, apenas por Mallaf(1991), como uma variação da tradução
por correspondente não-literal (“equivalência preexistente”, para o
autor). Como comentado em 3.6, consideramos mais apropriado vê-la
como uma estratégia à parte, a qual chamamos de “tradução por
correspondente adaptado”. Eis alguns exemplos:
IV
Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou pros
manos:
Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo
sem tacha anda de a-pé…
Com êsses cobres é que Macunaíma viveu. (ANDRADE, 1965, p. 44)
[…] Ochenta contos no valía mucho pero el héroe reflexionó bien y le
dijo a los manos:
— Paciencia. Uno se las arregla con eso mero, pues quien quiere
caballo con colmillo dado anda a pie…
Con esos cobres Macunaíma la fue pasando. (OLEA, 2004, p. 97)
25
No fim da semana o herói estava descascando bem e foi na cidade
buscar sarna pra se coçar. Andou banzando banzando, e muito fatigado
por causa da fraqueza parou no parque do Anhangabaú. (ANDRADE,
1965, p. 153)
Alla fine della settimana l’eroe aveva già incominciato a spellarsi e
andò in città a cercarsi delle rogne da grattare. Gironzolò, gironzolò e
quando fu troppo stanco per la debolezza che aveva addosso andò a
fermarsi nel giardino dell’Anhangabaú. (GIORGI, 2006, p. 175-176)
143
20
Brincou com a copeira muito aluado e voltou macambúzio prà pensão.
Maanape e Jiguê encontraram o herói na porta da rua e perguntaram pra
êle:
— Quem matou seu cachorrinho, meus cuidados?
Então Macunaíma contou o sucedido e principiou chorando.
(ANDRADE, 1965, p. 143-144)
Jugueteó en la cama-camera de la mucama con la cabeza en la luna y
regresó a la pensión pesaroso. Maanape y Yiguê hallaron al héroe en la
puerta de la calle y le preguntaron:
— ¿Qué, lo machucó un tren, mis cuidados?
Entonces Macunaíma contó lo sucedido y llegó a llorar. (OLEA, 2004,
p. 199-200)
Maanape et Jigué trouvèrent notre héros sur le pas de la porte et lui
demandèrent :
— Ma parole, frangin ! On a tué ton chien !
Alors Macounaïma leur conta ce qui était arrivé et se mit à pleurer.
(THIÉRIOT, 1996, p. 150)
No primeiro exemplo, a solução dada pelo tradutor mexicano é
uma fusão da tradução literal do provérbio brasileiro com o
correspondente A caballo regalado no se le mira/busca el colmillo”.
Da mesma forma, o correspondente italiano da EI “buscar sarna para se
coçar” é “cercare (delle) rogne”, ao qual o tradutor acrescenta “da
grattare”, presente apenas na EI brasileira (“para se coçar”). Por fim, no
terceiro exemplo, as traduções para o espanhol e para o francês da EI
“quem matou seu cachorrinho?” são elaboradas, respectivamente, a
partir da fórmula de despedida jocosa Que te vaya bien y que te
machuque un tren e a partir dos provérbios preexistentes em francês
Celui qui/Quand on veut tuer son chien (on) l’accuse de la rage/dit
qu’il est enragé e Il ne faut pas tuer son chien pour une mauvaise
année”.
Apesar de quase não ser mencionada em nossa bibliografia, essa
estratégia foi empregada pelo menos uma vez na tradução para cada
idioma.
4.4.8 Ocorrências de tradução por criação de correspondente
Após identificarmos no corpus todas essas estratégias conforme
descrito acima, restaram ainda 4 casos (2 envolvendo provérbios e 2
envolvendo EIs) que receberam soluções que não correspondiam a
144
nenhuma delas. As traduções utilizadas para verter os fraseologismos
tinham traços de provérbios e EIs da língua de chegada (portanto não
eram paráfrases nem traduções por figura de linguagem não-
consagrada), porém empregavam imagens e conotações muito diferentes
daquelas do original (o que excluiria traduções literais, da letra ou por
correspondente literal) e o foram localizadas em dicionários ou na
internet (não sendo, assim, correspondentes não-literais). Embora a
princípio tenham parecido casos sem solução prevista na bibliografia,
posteriormente percebemos se tratar precisamente da estratégia chamada
por Mallafrè (1991) de “adaptação equivalente”, e que preferimos
denominar “tradução por criação de correspondente” (ver 2.8 e 3.7).
Aqui estão 3 dessas ocorrências (a quarta é comentada em 4.4.13,
porque nela esta estratégia foi utilizada aliada à tradução por criação de
correspondente):
X
Mas que catingueiros êsses! O herói nunca matou viado! Não tinha
nenhum viado na caçada o! Gato miador, pouco caçador, gente! Em
vêz foram dois ratos chamuscados que Macunaíma pegou e comeu.
(ANDRADE, 1965, p. 122)
— Quoi ! des chevreuils ! Le héros n’a jamais tué de chevreuil ! Vous ne
savez donc pas qu’y a pas plus hâbleur qu’un chasseur ? Y avait pas de
chevreuils dans le bois, seulement deux souris grillées que Macounaïma
a attrapées et mangées ! (THIÉRIOT, 1996, p. 130)
XI
Oi, conhecido, tome tento com gigante! Você sabe do que êle é
capaz. Piaimã está fraco está fraco porém canudo que teve pimenta
guarda o ardume. Si você não tem medo mesmo, aposto. (ANDRADE,
1965, p. 129)
— Eh l’ami! Prends garde au géant ! Tu sais déjà de quoi il est capable.
Piaïman en ce moment n’est pas vaillant vaillant, mais rappelle-toi que
vipère qui a mordu tout son venin n’a pas perdu… Si vraiment tu n’as
pas peur, je tope. (THIÉRIOT, 1996, p. 137)
30
E trepou na rede com Denaquê. Imaerô desinfeliz suspirou assim:
— Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de secar!…
(ANDRADE, 1965, p.
204)
Et il grimpa dans le hamac avec Denaquê. Imaerô l’infortunée exhala
ses soupirs :
145
« Le jour viendra, caïman, que tu perdras tes dents ! » (THIÉRIOT,
1996, p. 215)
Não podemos descartar totalmente a possibilidade de que se trate
de fraseologismos consagrados não registrados em nenhum dicionário e
sem nenhuma ocorrência na internet, contudo a probabilidade dessa
situação nos parece reduzida.
4.4.9 Ocorrências de compensação
Conforme discutido nos capítulos anteriores, alguns autores
propõem que o tradutor pode traduzir um provérbio ou EI utilizando
uma paráfrase ou omissão e, para tentar manter um “equilíbrio
idiomático” do texto, inserir um provérbio ou EI em outro ponto no qual
esses fraseologismos não ocorrem no original. Inicialmente, assim como
Baker (1992), não pretendíamos buscar exemplos de compensação em
nosso corpus, uma vez que, a rigor, tal estratégia funcionaria no âmbito
do texto como um todo.
No entanto, ao longo da análise do corpus, pudemos notar
diversas vezes, nas quatro traduções, o recurso a essa estratégia, mesmo
apenas nos limites dos trechos selecionados. Por esse motivo, decidimos
que seria válido registrar essas ocorrências, para termos uma visão,
mesmo que restrita, das possibilidades de sua aplicação. Nesse sentido,
tendo em mente que todas as traduções utilizaram a tradução por
paráfrase, consideramos como aplicação da estratégia de compensação
toda vez que um fraseologismo aparecesse no texto traduzido sem que
houvesse um fraseologismo no ponto correspondente do texto original.
Vejamos alguns exemplos:
I
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando
que “espinho que pinica, de pequeno traz ponta”, e numa pagelança
Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 13)
During the women’s midday chatter the talk was always about the
hero’s pranks. The women laughed knowingly, saying, “The little one’s
prickly prickle already has a point!” And in the tribal assembly, King
Nagô declared that the hero had his head screwed on the right way
.
(GOODLAND, 1984, p. 4)
146
21
Então puderam pensamentear.
— Pois é, meus cuidados, você andou lerdeando, cozinhando galo,
cozinhando galo, o gigante é que não havia de esperar, foi-se. Agora
aguente a massada! (ANDRADE, 1965, p. 144)
Dopodiché furono in grado di pensare.
Insomma, caro mio, tu te la sei presa comoda, menando il can per
l’aia, menando il can per l’aia, non c’era ragione perché il gigante
stesse lì ad aspettare, e se ne è andato. Adesso sopporta le conseguenze!
(GIORGI, 2006, p. 164)
[…] they were able to think clearly.
“The trouble is, fellows, you drag your feet so, waiting for hens to piss
holy water; now the giant doesn’t hang around to see which way the cat
jumps, he just gets up and goes. Now you take the strain!”
(GOODLAND, 1984, p. 105)
[…] ils purent réfléchir à leur aise.
Tu vois, frérot, à quoi ça mène de faire le lièvre : on muse, on
s’amuse et pendant ce temps le géant ne t’a pas attendu et a levé le
camp. Maintenant à toi les embêtements ! (THIÉRIOT, 1996, p. 150)
XVI
A princesa teve ódio. É que ela andava ùltimamente brincando com
Jiguê. Macunaíma bem que percebeu porém imaginou: “Plantei
mandioca nasceu maniva, de ladrão de casa ninguém se priva,
paciência!…” E tinha encolhido os ombros. (ANDRADE, 1965, p. 203)
A la princesa-carambolo le dio odio. Era ella quien ultimadamente
jugueteaba con Yigué. Macunaíma bien que se dio cuenta, pero pensó:
“Planto mandioca y me nace ñame, del ladronicio de casa nadie se
espante, paciencia…”. Y había encogido los hombros. (OLEA, 2004, p.
261-262)
Vemos portanto que todos os tradutores utilizaram,
conscientemente ou não, EIs para traduzir lexias simples ou expressões
denotativas ou não-consagradas: to have one’s head screwed on the
right way” para “ser inteligente”, prendersela comoda” e to drag your
feetpara “andar lerdeando”, etc. Em todos esses casos, o resultado é
que estilisticamente essas traduções recuperam de alguma forma o
elemento conotativo e idiomático que não pôde ser mantido em outro
ponto no qual foi necessária uma paráfrase
18
.
18
Ou omissão, porém em nosso corpus não identificamos nenhuma ocorrência dessa estratégia.
147
Das 33 ocorrências de compensação identificadas, 32 consistiram
na inserção de EIs; o único caso de compensação por inserção de
provérbio foi o seguinte:
26
Suzi viu êle sair, enxugou os olhos e falou pro namorado:
— Choremos não.
Então Macunaíma desamarrou a cara e se arranjou pra ir falar com mano
Maanape. (ANDRADE, 1965, p. 162)
Suzi saw him go out, dried her tears and said to her lover, “No use
crying over spilt milk!” So Macunaíma pulled himself together too and
decided he had better go and chew the fat with Maanape.
(GOODLAND, 1984, p. 118)
Em alguns trechos, como os apresentados a seguir, a
compensação ocorreu pela introdução de uma EI na própria paráfrase ou
outra estratégia utilizada para traduzir o fraseologismo do original.
IV
[…] Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou
pros manos:
Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo
sem tacha anda de a-pé…
Com esses cobres é que Macunaíma viveu. (ANDRADE, 1965, p. 51)
[…] Eighty thousand milreis was not a fortune, but after giving it much
thought, the hero declared to his brothers, “Patience! A chap could
make ends meet pretty well on that. Don’t forget that a man who insists
on a horse without a blemish finds himself ridind Shanks’ mare!Thus
it was that on this trifle Macunaíma lived. (GOODLAND, 1984, p. 33)
II
[…] As lágrimas escorregando pelas faces infantis do herói iam lhe
batizar a peitaria cabeluda. Então ele suspirava sacudindo a cabecinha:
Qual, manos! Amor primeiro não tem companheiro, não!…
(ANDRADE, 1965, p. 45)
[…] the tears running down his fuzzing cheeks to baptize his hairy chest.
Then he sighed, wagging his tiny head, “Fiddlesticks, brother! I’ll ne’er
find a patch on that other!” (GOODLAND, 1984, p. 28)
148
30
E trepou na rede com Denaquê. Imaerô desinfeliz suspirou assim:
— Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de secar!… (ANDRADE, 1965, p.
204)
[…] And with that he climbed into the hammock with Denaquê.
“‘Never mind! The day of reckoning is sure to come!’ muttered Imaerô
unhappily […] (GOODLAND, 1984, p. 158)
A distribuição por idioma da tradução ficou desta forma: inglês
com 19 ocorrências; espanhol e francês com 5 cada e italiano com 4.
Vemos portanto que, apesar de lembrada por apenas dois dos autores
estudados, a compensação foi um expediente bastante utilizado e,
mesmo com frequências diferentes, em todas as línguas de chegada do
corpus.
4.4.10 Ocorrências de tradução por omissão
Não foi encontrado em nosso corpus nenhum exemplo de
omissão como estratégia para traduzir EIs ou provérbios, o que talvez se
deva a uma visão negativa desta solução, por deixar de reproduzir um
elemento do original. Assim, quando considerada como possibilidade,
ela seria uma última opção, quando nem mesmo uma compreensão
segura do original para permitir uma paráfrase fosse possível. Essa
explicação, porém, é principalmente intuitiva, sendo necessárias mais
pesquisas para verificar se essa estratégia, mencionada por Baker
(1992), é utilizada e em quais contextos.
4.4.11 Estratégias coincidentes
Encontramos em nosso corpus alguns casos de coocorrência de
estratégias, ou seja, traduções nas quais seria possível identificar duas
estratégias diferentes. Essa coocorrência foi verificada em duas
situações distintas, que decidimos separar em coincidência e
concorrência de estratégias.
Consideramos haver coincidência de estratégias nos casos (14 no
total) em que a solução dada pelo tradutor representa simultaneamente
mais de uma estratégia. Isso ocorreu com frequência, como
mencionamos acima, com traduções literais e da letra, ou seja, traduzido
literalmente, às vezes palavra-por-palavra, o fraseologismo ainda
apresenta (ou passa a apresentar) elementos formais que o fazem parecer
um provérbio ou EI da cultura de chegada.
149
I
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando
que “espinho que pinica, de pequeno traz ponta”, e numa pagelança
Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 13)
En las pláticas de mujeres a pleno rayo del día, el bululú era siempre
por las travesuras del héroe. Las mujeres reían muy halagadas,
diciendo que “espina que pincha de pequeña ya trae punta” y en una
brujencia de payé, Rey Nagô hizo un discurso y avisó que el héroe era
inteligente. (OLEA, 2004, p. 48)
VIII
Então de tanta dor o herói viu no alto as estrelas e entre elas enxergou
Capei minguadinha cercada de névoa. “Quando míngua a Luna não
comeces coisa alguma” suspirou. E continuou consolado. (ANDRADE,
1965, p. 75)
Allora, dal gran dolore, l’eroe vide le stelle lassù in alto e in mezzo ad
esse scorse Capêi calante al massimo e circondata di bruma. “Quando
cala la luna, non iniziar cosa alcuna” sospirò. E continla sua strada
riconfortato. (GIORGI, 2006, p 88)
Entonces de tanto dolor se puso a ver estrellas el héroe y en lo alto,
entre ellas, divisó a Capei menguadita y cercada de neblina. “Cuando
mengua la Luna no comiences cosa alguna” suspiró. Y proseguió más
consolado. (OLEA, 2004, p. 123)
8
Chegou na pensão tomando a bênção de cachorro e chamando gato de
tio, vendo! suando esfolado com fogo nos olhos, botando os bofes
pela boca. (ANDRADE, 1965, p. 70)
Llegó a la pensión tan sumiso que tomaba la bendición del perro y
llamaba al gato de tío, tenían que verlo! Sudaba despellejándose con
ojos de fuego, echando los bofes por la boca. (OLEA, 2004, p. 119)
Outra coincidência observada foi de tradução da letra com
tradução por correspondente adaptado, no trecho abaixo:
XVII
ficara um aruaí muito falador. Macunaíma se consolou
pensamenteando: “O mal ganhado, diabo leva…
paciência”. Passava os
150
dias enfarado e se distraía fazendo o pássaro repetir na fala da tribo os
casos que tinham sucedido pro herói desde infância. (p. 214)
Seul était resté un ara maracanan particulièrement loquace.
Macounaïma se consola en ruminant : « Bien mal acquis, le diable se le
farcit… Patience! »
Il passait ses jours dans l’ennui et sa distraction était de faire répéter à
l’oiseau, dans le parler de la tribu, ses aventures de héros depuis son
enfance. (p. 212)
Além de constituir uma tradução da letra do provérbio brasileiro,
a solução do tradutor francês contém ainda elementos emprestados de
provérbios correspondentes: Bien mal acquis ne profit jamais”, De
bien mal acquis courte joie”, “Bien mal acquis ne prospère pas”.
Houve até mesmo um caso no qual a solução dada pelo tradutor
aparentemente contém três estratégias coincidentes:
V
No outro dia estava tão fatigado da farra que a saudade bateu nêle. Se
lembrou da muiraquitã. Resolveu agir logo porque primeira pancada é
que mata cobra. (ANDRADE, 1965, p. 47)
The morning after this carouse he felt so whacked that homesickness
overcame him again. He remembered his lost amulet and decided he
must do something about it at once because it is always the first blow
that kills the snake. (GOODLAND, 1984, p. 36)
A tradução apresentada do provérbio “Primeira pancada é que
mata cobra” pode ser facilmente classificada como sendo
simultaneamente uma tradução literal e da letra. Contudo, além disso, a
escolha da palavra blowem vez de qualquer outro correspondente de
“pancada” permite concluir que na elaboração da tradução houve ainda
um trabalho a partir do correspondente The first blow is half the
battle”. Vemos, portanto, tratar-se também de um exemplo de tradução
por correspondente adaptado.
4.4.12 Estratégias concorrentes
Em outras situações (8 ao todo), também é possível considerar
duas estratégias distintas, mas já não se trata de estratégias coincidentes:
como a diferença entre os efeitos esperados de cada estratégia é mais
acentuada, não podemos dizer que as duas funcionam ao mesmo tempo,
mas apenas que a solução pode ter diferentes efeitos dependendo de
151
cada leitor. Como trabalhamos com base no produto da tradução, sem
ter acesso direto ao seu processo, não podemos saber qual foi a
estratégia escolhida pelo tradutor; assim, o que temos são duas
estratégias potenciais, e a decisão entre os efeitos de uma ou de outra
realizar-se-á somente no momento de cada leitura, a partir da
interpretação de cada leitor da tradução. Ou seja, se este vir a solução
oferecida no texto traduzido como uma metáfora comum, o efeito será o
de uma tradução por figura de linguagem não-consagrada; se pensar que
se trata de um fraseologismo de sua língua, ou mesmo perceber que se
parece com um provérbio ou EI, o efeito será o de uma tradução da letra.
Vejamos alguns exemplos:
III
Resolveu abandonar a empresa, voltando pros pagos de que era
imperador. Porém Maanape falou assim:
Deixa de ser aruá, mano! Por morrer um carangueijo o mangue não
bota luto! que diacho! desanima não que arranjo as coisas! (ANDRADE,
1965, p. 51)
Decise di abbandonare l’impresa e far ritorno ai villaggi dove lui era
l’imperatore. Ma Maanape gli disse:
Non fare lo stupido, fratello! La palude non porta il lutto per la
morte di un granchio, diamine! Non ti scoraggiare, che aggiusto tutto
io! (GIORGI, 2006, p. 60)
[…] thought of throwing in his hand and returning to his birthplace, of
which he was emperor. But Maanape broke in, “Stop your whining,
brother! If a crab dies, the whole mudflat doesn’t go into mourning.
Don’t worry, I’ll fix things for you!” (GOODLAND, 1984, p. 33)
IV
[…] Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou
pros manos:
Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo
sem tacha anda de a-pé…
Com esses cobres é que Macunaíma viveu. (ANDRADE, 1965, p. 51)
[…] Ottantamila milréis non era gran che, ma l’eroe dopo matura
riflessione disse ai fratelli:
Pazienza. Chi vuole andare a cavallo senza pagare finisce che va a
piedi…
Macunaíma andó avanti con quei soldi lì. (GIORGI, 2006, p. 61)
152
8
Chegou na pensão tomando a bênção de cachorro e chamando gato de
tio, vendo! suando esfolado com fogo nos olhos, botando os bofes
pela boca. Descansou um pedaço e como estava arado de fome bateu
uma fritada de sururu de Maceió, um pato seco de Marajó molhando a
janta com mocororó. Descansou. (ANDRADE, 1965, p. 70)
Macounaïma arriva à la pension il fallait voir dans quel état ! Suant,
soufflant, l’oeil enflammé, des égratignures partout, époumoné, égaré :
il présenta ses civilités au chien et appela tonton le matou. Il s’accorda
un petit repos et comme il avait une de ces faims, il bâfra une friture de
moules de Maceió, un canard fumé de Marajó et arrosa le casse-croûte
de liquer de cajou. Et là-dessus se reposa. (THIÉRIOT, 1996, p. 80)
Em todos os casos como esses, considerando que o objetivo de
nosso estudo não é prioritariamente quantitativo, isto é, não visamos a
realizar uma classificação exata das estratégias verificadas, mas
observar seu emprego, não vimos problemas em apontar as duas opções,
quando seriam, a nosso ver, igualmente possíveis. Nesse sentido,
parece-nos que, se não é possível determinar com certeza qual de duas
estratégias foi aplicada, pode-se concluir que ambas poderiam tê-lo sido
naquele contexto.
4.4.13 Soma de estratégias
24
[…] O outro enquizilou assanhado:
Não me olhe de banda que não sou quitanda, não me olhe de lado
que não sou melado!
— Mas o quê você está fazendo aí, tio! (ANDRADE, 1965, p. 146)
[…] The monkey did not like being stared at and said angrily, “Do you
think you’ll know me again? This side’s honey and that side’s funny!”
“But whatever are you doing down there, uncle?” (GOODLAND, 1984,
p. 110)
Na tradução do trecho acima, foram utilizadas duas estratégias
somadas: primeiro uma tradução por um correspondente do inglês (“do
you think you’ll know me again?”) e em seguida um jogo de palavras
rimado (“This side’s honey and that side’s funny!”), que, considerando o
fato de não o termos localizado em nenhum dos dicionários consultados
e de não utilizar as mesmas imagens do original, provavelmente
configura uma tradução por criação de correspondente. Desse modo, o
153
tradutor parece ter lançado mão de duas estratégias diferentes para
conseguir dar conta dos diversos aspectos relevantes no fraseologismo
original: forma, sentido, cristalização, etc.
Apesar de ter-se verificado apenas uma vez no corpus todo,
parece-nos válido considerar que essa ocorrência possa apontar para
uma possibilidade não prevista por nenhum dos teóricos discutidos nos
capítulos anteriores. Assim, se pensarmos as estratégias de tradução não
como regras a serem seguidas, mas sim como alternativas flexíveis à
disposição do tradutor, a soma de estratégias pode se colocar como uma
solução interessante quando apenas uma delas o parecer dar conta de
toda a riqueza do fraseologismo a ser traduzido.
De modo geral, considerando a dificuldade em muitos casos para
distinguir qual de duas ou mais estratégias estaria sendo utilizada, e a
consequente necessidade de aceitar a possibilidade de estratégias
coincidentes, concorrentes ou somadas, podemos afirmar que a principal
conclusão inspirada pela análise do corpus será que a melhor maneira de
visualizarmos as estratégias para traduzir EIs e provérbios não é
separando-as em categorias estanques, mas imaginando-as num
continuum. Assim, a sistematização que propomos no capítulo anterior
foi suficiente para descrever as estratégias verificadas no corpus e
provavelmente representa um elenco abrangente das alternativas à
disposição do tradutor, mas não significa que este tenha necessariamente
de optar por uma delas e nem que sua opção automaticamente elimina
todas as demais.
154
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, investigamos a questão da tradução de provérbios
e expressões idiomáticas, buscando reunir as estratégias disponíveis para
lidar com esses fraseologismos no ato tradutório. Primeiramente,
realizou-se uma revisão bibliográfica na qual foram analisados
diferentes pontos de vista de diversos autores a respeito do tema. De
modo geral, essa etapa do estudo apontou uma forte preferência pela
tradução por correspondentes idiomáticos, sejam eles coincidentes com
a tradução literal do fraseologismo ou não. Apenas na completa
impossibilidade desta a maior parte dos autores analisados parece
admitir, embora a contragosto, a tradução por meio de uma paráfrase. A
tradução literal é condenada pela maioria deles quando não coincide
com um correspondente, e outras possibilidades, como a tradução da
letra, a omissão ou a compensação, são defendidas ou mencionadas por
menos autores. Essas tendências gerais puderam ser observadas não
em textos teóricos, mas também em prefácios de tradutores consagrados,
como Isidoro Blikstein e José Paulo Paes, e em textos de lexicógrafos
que trabalham com esses fraseologismos, além de dicionários resultantes
desse trabalho.
A partir de uma sistematização das opções mencionadas na
bibliografia analisada, chegou-se ao estabelecimento de dez estratégias:
tradução por correspondente literal, tradução literal, tradução por figura
de linguagem não-consagrada, tradução da letra, tradução por
correspondente não-literal, tradução por correspondente adaptado,
tradução por criação de correspondente, tradução por paráfrase, tradução
por omissão e compensação.
Em seguida, foi organizado um corpus composto por trechos
retirados do romance brasileiro Macunaíma: o herói sem nenhum
caráter, de Mário de Andrade, nos quais foram identificados provérbios
e EIs, com base nas definições que adotamos, alinhados com os trechos
correspondentes nas traduções para o italiano, o espanhol, o inglês e o
francês. Nesse corpus, analisou-se cada solução utilizada para traduzir
provérbios e EIs do original, verificando se corresponderiam às
estratégias previstas a partir da bibliografia.
Na análise do corpus, essas estratégias mostraram-se suficientes
para descrever todas as ocorrências observadas, porém também vieram à
tona possibilidades que não foram antevistas por nenhum autor, como o
emprego de notas de rodapé associadas às estratégias, a coincidência e a
concorrência de estratégias, a combinação de mais de uma estratégia
para compor uma solução. Vale reforçar ainda que foi possível
156
classificar todas as ocorrências utilizando a lista resultante de nossa
sistematização, contendo estratégias estabelecidas com base em
diferentes autores, o que significa que nenhum dos autores estudados
havia fornecido individualmente opções suficientes para descrever todas
as possibilidades verificadas no corpus. Além disso, concluímos ser
mais produtivo pensar essas possibilidades não como estratégias
claramente distinguíveis, separadas em categorias estanques, mas sim
como um continuum no qual a escolha de uma solução não representa a
exclusão automática de todas as outras.
Os resultados obtidos a partir do corpus mostraram certo
alinhamento com aqueles da revisão bibliográfica no sentido de as
estratégias mais frequentes terem sido de fato a tradução por
correspondentes (literais e não-literais, estes últimos mais numerosos) e
a tradução por paráfrase. Essa concordância também se observou no que
concerne à menor ocorrência das estratégias de tradução literal e de
tradução por omissão, ambas vistas de forma desfavorável pela maioria
dos autores. Em relação à primeira, quase todas as ocorrências
verificadas no corpus coincidem com a estratégia de tradução da letra, o
que pode ser um indício de que se tenha evitado utilizá-la quando essa
coincidência não ocorreu. Quanto à segunda, não houve nenhuma
ocorrência dela em todo o corpus.
Por outro lado, verificou-se uma frequência bastante significativa
da estratégia de tradução da letra, contrariando nossas expectativas
anteriores baseadas na exiguidade de referências a ela na bibliografia.
Isso ocorreu especialmente em relação aos provérbios, e pode se dever
às características da obra traduzida, na qual têm grande relevância os
elementos que destacam a cultura brasileira, mas pode também apontar
para um potencial da estratégia que poderia ser mais explorado na
tradução de outros textos. Outra solução muito pouco discutida na
bibliografia que teve uma ocorrência bastante acentuada no corpus foi a
compensação, utilizada numerosas vezes em todas as traduções que o
compõem.
A hipótese aventada inicialmente de que se poderia pensar em
soluções válidas tanto para EIs quanto para provérbios se confirmou
parcialmente pelo fato de todas as estratégias levantadas em nossa
sistematização poderem ser tentadas com ambos os tipos de
fraseologismos, pois conseguimos encontrar ou elaborar exemplos de
cada uma delas tanto com EIs como com provérbios. Pôde-se notar,
contudo, e a análise do corpus veio a reforçar essa percepção, que cada
estratégia pode se prestar melhor à tradução de um ou de outro
fraseologismo. Observou-se nitidamente, por exemplo, uma maior
157
incidência de traduções da letra ou por figura de linguagem não-
consagrada para provérbios e de traduções por paráfrase ou por
correspondente não-literal para EIs. Uma explicação para isso poderia
ser que os provérbios chamem mais a atenção para sua forma que as EIs,
pelo fato de normalmente apresentarem mais recursos de construção, e
talvez por isso os tradutores se ocupem mais em recriar suas
características formais. Ou ainda, pode ser que essa maior riqueza de
recursos possibilite uma maior “margem de manobra” para os tradutores
tentarem soluções mais elaboradas.
Com exceção da tradução por omissão, todas as demais
estratégias ocorreram pelo menos algumas vezes no corpus, o que
sugere que sejam todas utilizáveis, podendo ser escolhidas de acordo
com as prioridades do projeto de tradução e com diversos fatores, como
aqueles sugeridos por Baker (1992): relevância dos itens lexicais que
constituem o fraseologismo e adequação do uso de linguagem
idiomática no idioma e no registro envolvidos (p. 72).
Nesse sentido, nosso objetivo não foi estabelecer qual a melhor
maneira de traduzir EIs e provérbios, pois consideramos bastante
arriscado pensar em “receitas” aplicáveis à tradução de qualquer texto,
mesmo restringindo o alcance à tradução literária ou à tradução da
“grande prosa”, como faz Berman (2007, p. 46). O próprio fato de um
mesmo fraseologismo do original ter quase sempre sido traduzido
utilizando diferentes estratégias em cada idioma aponta para a
multiplicidade de opções a que o tradutor pode recorrer.
Assim, os resultados aqui apresentados, tanto referentes às
preferências observadas na bibliografia como às ocorrências no corpus,
podem tanto indicar que certas estratégias tenham se consagrado por
produzir normalmente melhores efeitos, quanto sugerir que uma visão
tradicional tenha impedido uma reflexão sobre outras possibilidades
interessantes. Assim, mesmo aquelas alternativas desconsideradas pela
maioria talvez devessem ser pensadas com mais atenção, podendo
representar boas opções em muitas situações tradutórias.
Muitas questões permanecem em aberto em relação à tradução de
EIs e provérbios, e futuras pesquisas seriam desejáveis para investigar a
ocorrência, na tradução de outros textos, das estratégias aqui listadas,
com o intuito de observar até que ponto as conclusões verificadas neste
trabalho se mantêm e quais estariam mais relacionadas com as
características particulares da obra cujas traduções analisamos. Uma
possibilidade seria pesquisar as traduções do Ulisses, de James Joyce,
por exemplo, uma vez que foi na experiência de sua tradução para o
catalão que Mallafrè (1991) baseou suas observações. Podem ser
158
tentadas também pesquisas com grandes corpora de traduções de textos
literários, como o COMPARA (http://www.linguateca.pt/COMPARA/).
Para localizar passagens contendo EIs ou provérbios nesse tipo de
corpus, poder-se-ia realizar buscas automáticas com base em elementos
de campos semânticos recorrentes nesses fraseologismos, como animais,
partes do corpo, etc. Nesse sentido, levantamentos como os de Falcão
(2002) e Rios (2003) poderiam ser úteis como ponto de partida.
Considerando ainda que nossa pesquisa baseou-se no produto do
processo tradutório, não pudemos chegar a conclusões em relação aos
processos mentais envolvidos na tomada de decisão por parte do
tradutor sobre qual estratégia utilizar. Pesquisas voltadas para o
processo de tradução poderiam esclarecer mais este ponto,
possibilitando verificar se nessa tomada de decisão se manifestam as
preferências observadas na análise da bibliografia exposta em nosso
capítulo 2. Também seriam válidas investigações voltadas para a
recepção de diferentes estratégias por leitores das traduções. Pesquisas
que fornecessem mais dados sobre a aceitação e a compreensão das
diversas formas de traduzir os fraseologismos estudados poderiam jogar
mais luz sobre os efeitos potenciais de cada uma das estratégias a que
chegamos neste trabalho.
Assim, esperamos com nosso trabalho ter contribuído com uma
sistematização que possa servir de ponto de partida para futuros estudos
sobre o tema, além de possibilitar uma visão mais ampla por parte dos
tradutores quanto às soluções à sua disposição para lidar com provérbios
e EIs no ato tradutório.
159
REFERÊNCIAS
Traduções e originais cotejados
1
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. 4. ed.
São Paulo: Martins, 1965.
CAVALLARI, Doris Nátia (tradução). SILONE, Ignazio. Fontamara.
São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2003.
GIORGI, Giuliana Segre (tradução). ANDRADE, Mário de.
Macunaíma: l’eroe senza nessun carattere. 6. ed. Milano: Adelphi,
2006.
GOODLAND, E. A. (tradução). ANDRADE, Mário de. Macunaíma.
London/Melbourne/New York: Quartet Books, 1984.
OLEA, Héctor (tradução). ANDRADE, Mário de. Macunaíma.
Barcelona: Octaedro, 2004.
SILONE, Ignazio. Fontamara. Milano: Arnoldo Mondadori, 1988.
THIÉRIOT, Jacques (tradução). ANDRADE, Mário de. Macounaïma.
Paris: Stock/Unesco/ALLCA XX, 1996.
Obras citadas
ACADÉMIE FRANÇAISE. Complément du Dictionnaire de
l’Académie Française. Bruxelles: Société Typographique Belge, 1843.
AMARAL, Amadeu. Tradições populares. 3. ed. São Paulo: Hucitec,
1982.
AMMER, Christine. The American Heritage Dictionary of Idioms.
Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 1997. Disponível em:
<
http://books.google.com.br/books?id=9re1vfFh04sC>. Acesso em 25
mar. 2010.
1
Ver nota 6 do capítulo 3.
160
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de
Janeiro: Agir, 2008.
ARANCIBIA, María de las Victorias. Un estudio sobre la traducción de
los fraseologismos en El DiBU. 2007. 116 f. Dissertação (Mestrado em
Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível
em:
<http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Maria_de_Las_Victorias_d
e_Vieira_-_Dissertacao.pdf>. Acesso em: 9 jul 2009.
ARTHABER, Augusto. Dizionario comparato di proverbi e modi
proverbiali in sette lingue. Milano: Hoepli, 1989.
AUBERT, Francis Henrik. Descrição e quantificação de dados em
Tradutologia. Tradução e Comunicação. São Paulo: Álamo, n. 4, p. 71-
82, julho 1984.
——————. A tradução literal: impossibilidade, inadequação ou
meta?. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 0, n. 25, p. 185-192, 1991.
Disponível em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/8782/81
44>. Acesso em: 23 abr 2010.
BAKER, Mona. In Other Words: A Coursebook on Translation.
London: Routledge, 1992.
——————. Corpora in Translation Studies: An Overview and
Suggestions for Future Research”. Target, Amsterdam, v. 7, n. 2, p. 223-
243, 1995.
BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução:
Uma nova proposta. Campinas: Pontes, 1990.
BATTAGLIA, Salvatore. Grande dizionario della lingua italiana.
Torino: Unione Tipografico-editrice Torinese, 1970. 18 v.
BERMAN, Antoine.
Pour une critique des traductions: John
Donne. Paris, Gallimard, 1995.
161
——————. La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain.
2. ed. Paris: Éditions du Seuil, 1999.
——————. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Trad.
Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andréia Guerini. Rio de
Janeiro: 7Letras/PGET-UFSC, 2007.
BOATNER, Maxine Tull; GATES, John Edward. A Dictionary of
American Idioms. New York: Barron’s Educational Series, 1984.
BOHN, Henry George. A polyglot of foreign proverbs: comprising
French, Italian, German, Dutch, Spanish, Portuguese, and Danish, with
English translations and a general index. London: Bell & Daldy, 1867.
Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=-
xtWAAAAMAAJ>. Acesso em: 7 jul. 2010.
BOISTE, Pierre Claude Victor; NODIER, Charles; BARRÉ, Louis.
Dictionnaire universel de la langue française avec le latin et
l’étymologie. Paris: Firmin Didot e Rey et Belhatte, 1857. Disponível
em: <http://books.google.com.br/books?id=MK4-AAAAcAAJ>. Acesso
em 7 jul. 2010.
BURITY, Ivan Macêdo. On Translatability: As Illustrated by the
Equivalence between English and Portuguese Proverbs. 1989. 112 f.
Dissertação (Mestrado em Língua Inglesa e Literatura Correspondente)
– Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1989.
BUSARELLO, Raulino. ximas latinas para o seu dia-a-dia:
Repertório de citações, provérbios, sentenças e adágios tematizados e
traduzidos. Florianópolis: Ed. Do autor, 1998.
CABRAL, Tomé. Novo dicionário de termos e expressões populares.
Fortaleza: UFC, 1982.
CAMACHO, Beatriz Facincani. Estudo comparativo de expressões
idiomáticas do português do Brasil e de Portugal e do francês da
França e do Canadá. 2008. 167 f. Dissertação (Mestrado em Estudos
Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas –
Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2008. Disponível
em:
162
<http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brp/33004153069P5/
2008/camacho_bf_me_sjrp.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2009.
CAMARGO, Sidney; STEINBERG, Martha. Dicionário de expressões
idiomáticas metafóricas português-inglês. São Paulo: EPU, 1989.
——————. Dicionário de expressões idiomáticas metafóricas
inglês-português. São Paulo: EPU, 1990.
CAMPOS, Aluísio Mendes. Dicionário francês-português de locuções.
São Paulo: Ática, 1980.
CAMPOS, Juana García; BARELLA, Ana. Diccionario de Refranes. 3.
ed. Rev. Madrid: Espasa Calpe, 1996.
CASARES, Julio. Introducción a la lexicografia moderna. Madrid:
Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1969.
CASCUDO, Luís da Câmara. Locuções tradicionais no Brasil. 2. ed.
rev. e aum. Rio de Janeiro: MEC, 1977.
CATFORD, John Cunnison. A Linguistic Theory of Translation: An
Essay in Applied Linguistics. London: Oxford University Press, 1965.
CHESTERMAN, Andrew. Memes of Translation: The Spread of Ideas
in Translation Theory. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2000.
CULLETON, José Guillermo. Análise da tradução para o português do
poema “El Viejo Viscacha”, do livro La Vuelta de Martín Fierro, de
José Hernández. Scientia Traductionis. n. 1, dez. 2005. Disponível em:
<http://www.scientiatraductionis.ufsc.br/viscacha.html>. Acesso em: 30
jun. 2010.
FALCÃO, Paula Christina de Souza. A tradução para o português de
expressões idiomáticas em inglês com nomes de animais. 2002. 108 f.
Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas – Universidade Estadual Paulista,
São José do Rio Preto, 2002.
FALCÃO, Paula Christina de Souza; XATARA, Claudia Maria. Os
animais nos idiomatismos: interface inglês-português. Cadernos de
163
Tradução, Florianópolis, v. 16, p. 71-82, 2005. Disponível em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/6733/62
06>. Acesso em: 28 mar. 2009.
FERNANDES, Lincoln. Corpora in Translation Studies: Revisiting
Baker’s Tipology. Fragmentos, Florianópolis, v. 30, p. 87-95, jan.-jun.
2006. Disponível em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fragmentos/article/view/8217
>. Acesso em: 11 jul. 2010.
FERNANDO, Chitra; FLAVELL, Roger. On Idiom: Critical Views and
Perspectives. Exeter: University of Exeter, 1981.
FERRAZ, Aderlande Pereira.; SOUZA, Kariny Cristina de. O uso de
expressões idiomáticas em textos publicitários. Maestria, Sete Lagoas,
n. 2, p. 143-153, jan./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.unifemm.edu.br/publicacoes/arquivos/Maestria_n2_2004.p
df>. Acesso em 28 mar. 2009.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio – Século
XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FRAENKEL, Benjamin Bevilaqua. Dicionário de expressões
idiomáticas da língua inglesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,
1987.
FRANCISCO, Reginaldo. A tradução da letra dos provérbios e
locuções: uma possibilidade de tradução estrangeirizante. In-Traduções,
Florianópolis, v. 1, 2009. Disponível em: <http://www.pget.ufsc.br/in-
traducoes/public/papers/artigo_1_2009_reginaldo_francisco.pdf>.
Acesso em 10 jan. 2010.
FRANCISCO, Reginaldo; ZAVAGLIA, Claudia. Parece mas não é: as
armadilhas na tradução do italiano para o português. São Carlos:
Claraluz, 2008.
FRAUCA, Julio Cejador y. La lengua de Cervantes: gramática y
diccionario de la lengua castellana en el ingenioso hidalgo Don Quijote
de la Mancha. Vol. 2. Madrid: Rates, 1906. Disponível em:
<
http://books.google.com.br/books?id=YDErAAAAIAAJ>. Acesso em:
25 mar 2010.
164
GIL, José Manuel Fraile. La palabra: expresiones de la tradición oral.
Salamanca: Centro de Cultura Tradicional, Disputación de Salamanca,
2002. Disponível (parcial) em:
<http://books.google.com.br/books?id=MoqBAAAAMAAJ>. Acesso
em: 17 mar 2010.
GLAZER, Mark. A Dictionary of Mexican American Proverbs.
Westport: Greenwood, 1987. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=39-sWW7QvUYC>. Acesso em:
7 jul. 2010.
GOMES, Luiz Lugani. Novo dicionário de expressões idiomáticas
americanas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
GONÇALVES, Daria Cândido; SABINO, Marilei Amadeu. Desafios
enfrentados para obter o domínio das expressões idiomáticas italianas.
Fragmentos, Florianópolis, v. 21, p. 61-76, jul.-dez. 2001. Disponível
em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fragmentos/article/view/6540/
6171>. Acesso em: 30 jan 2009.
GREIMAS, Algirdas Julien. Os provérbios e os ditados. Tradução de
Katia Hakim Chalita. In: Sobre o sentido: ensaios semióticos. Tradução
de Ana Cristina Cruz Cezar et al. Petrópolis: Vozes, 1975. p. 288-295.
GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de
Semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Cultrix,
c1979.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco
Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
JAMES, Ewart. NTC’s Dictionary of British Slang and Colloquial
Expressions. [S.l.]: NTC, c1996.
JIMÉNEZ, Alberto Buitrago. Diccionario de dichos y frases hechas. 12.
ed. Madrid: Espasa, 2005.
165
LACERDA, Roberto Cortes de; LACERDA, Helena da Rosa Cortes de;
ABREU, Estela dos Santos. Dicionário de provérbios: francês -
português – inglês. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999.
LAROUSSE. Gran diccionario de la lengua española. [S.l.]: Larousse,
c. 1998.
LEBOUC, Georges. Dictionnaire de belgicismes. Bruxelles: Racine,
2006. Disponível (parcial) em:
<http://books.google.com.br/books?id=7Jj625vvHckC>. Acesso em: 25
mar 2010.
LONGMAN Dictionary of English Idioms. Harlow: Longman, 1979.
LONGMAN Dictionary of English Language and Culture. 5. ed.
Harlow: Longman, 2002.
LONGMAN Active Study Dictionary. 4. ed. Harlow: Longman, 2003.
CD-ROM.
MALLAFRÈ, Joaquim. Llengua de tribu i llengua de polis: Bases d’una
traducció literària. Barcelona: Quaderns Crema, 1991.
MALOUX, Maurice. Dictionnaire des proverbes, sentences et maximes.
Paris: Larousse, 1960.
——————. Dictionnaire des proverbes, sentences et maximes.
Paris: Larousse, 2001.
MATIAS, Luciana Corrêa. Expressões idiomáticas corporais no
Diccionario bilingüe de uso español-portugués / português-espanhol
(Dibu). 2008. 126 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) –
Centro de Comunicação e Expressão – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2008. Disponível em:
<http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Luciana_Correa_Matias_-
_Dissertacao.pdf>. Acesso em 9 jul. 2009.
MESCHONNIC, Henri. Pour la Poétique II: Épistémologie de
l’Écriture - Poétique de la Traduction. Paris: Gallimard, 1973.
166
——————. Les proverbes, actes de discours. Revue des Sciences
Humaines, Tome XL 1, n. 163, Université de Lille III, Lille, p. 419-430,
1976.
MOLINER, María. Diccionario de uso español. 2.ed. Madrid: Gredos,
2001. CD-ROM. Versão 2.14.1.
MONLLOR, Paloma Gómez. La traducció del refrany. In: MARTOS,
Josep Lluís (ed.). La traducció del discurs. Alacant: Universitat
d’Alacant, 1999.
MOTA, Leonardo. Adagiário brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Editora da USP, 1987.
NASCENTES, Antenor. Tesouro da fraseologia brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro / São Paulo: Freitas Bastos, 1966.
NATALE, Francesco di; ZACCHEI, Nadia. In bocca al lupo!:
Espressioni idiomatiche e modi di dire tipici della lingua italiana. 3. ed.
[s.l.]: Guerra, 2000.
NIDA, Eugene Albert. Toward a Science of Translating: With Special
Reference to Principles and Procedures Involved in Bible Translating.
Leiden: E. J. Brill, 1964.
ORTEGA, José Jara. Más de 2.500 refranes relativos a la mujer:
soltera, casada, viuda y suegra. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1953.
Disponível (parcial) em:
<http://books.google.com.br/books?id=w7wcAAAAMAAJ>. Acesso
em: 17 mar 2010.
PANCKOUCKE, André Joseph. Dictionnaire des proverbes françois et
des façons de parler comiques, burlesque et familieres, &c.: Avec
l’explication, et les etymologies les plus avérées. Frankfurt/Mainz:
François Varrentrapp, 1750. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=iITQMh7fNzIC>. Acesso em: 18
mar 2010.
PARTRIDGE, Eric; BEALE, Paul. A Dictionary of Slang and
Unconventional English. 8 ed. rev. London/New York: Routledge, 2002.
Disponível em:
167
<http://books.google.com.br/books?id=tvRp1whVFUsC>. Acesso em
10 mar 2010.
PARTRIDGE, Eric; SIMPSON, Jaqueline. The Routledge Dictionary of
Historical Slang. 6 ed. rev. London: Routledge, 1973. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=0voNAAAAQAAJ>. Acesso em
6 jul. 2010.
PELLECER, Sergio Morales. Diccionario de guatemaltequismos. 4 ed.
Guatemala: Artemis Edinter, 2007. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=DbROpoJGCZwC>. Acesso em
10 mar 2010.
PÉREZ, José. Provérbios brasileiros. São Paulo: [s.n.], 1961.
PICKETT, Joseph P. (ed.) The American Heritage Dictionary of the
English Language. 4. ed. Boston: Houghton Mifflin, 2004.
PUGLIESI, Márcio. Dicionário de expressões idiomáticas: locuções
usuais da língua portuguesa. São Paulo: Parma, 1981.
QUARTU. Bruna Monica. Dizionario dei modi di dire della língua
italiana: 10.000 modi di dire ed estensioni figurate in ordine alfabetico
per lemmi portanti e campi di significato. Milano: Rizzoli, 1993.
RADICCHI, Sandra. In Italia: modi di dire ed espressioni idiomatiche.
Roma: Bonacci, 1985.
REAL ACADEMIA Española. Diccionario de la Lengua Española.
Espasa Calpe, 1995. CD-ROM. Versão 21.1.0.
REIS, Simone Rosa Nunes. Uma comparação do tratamento de
expressões idiomáticas em quatro dicionários bilíngües francês /
português e português / francês. 2008. 178 f. Dissertação (Mestrado em
Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. Disponível
em:
<
http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Simone_Rosa_Nunes_Reis
_-_Dissertacao.pdf>. Acesso em 9 jul. 2009.
REYNA, José Reynaldo Reyna. Modismos de Tejas. San Antonio:
Penca Books, 1980. Disponível em:
168
<http://books.google.com.br/books?id=os0uAAAAYAAJ>. Acesso em:
3 jul. 2010.
RIOS, Tatiana Helena Carvalho. Idiomatismos português-francês-
espanhol com nomes de partes do corpo humano. 2003. 187 f.
Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas – Universidade Estadual Paulista,
São José do Rio Preto, 2003.
RIVA, Huélinton Cassiano. Proposta de dicionário onomasiológico de
expressões idiomáticas. 2004. 163 f. Dissertação (Mestrado em Estudos
Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas –
Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2004.
——————. Dicionário onomasiológico de expressões idiomáticas
usuais na língua portuguesa do Brasil. 2009. 311 f. Tese (Doutorado em
Estudos Lingüísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências
Exatas – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2009.
Disponível em:
<http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brp/33004153069P5/
2009/riva_hc_dr_sjrp.pdf> . Acesso em: 16 nov. 2009.
ROBERT, Paul. Le nouveau Petit Robert: dictionnaire alphabétique et
analogique de la langue française . Paris: Dictionnaires Le Robert, 1993.
ROCHA, Regina. A enunciação dos provérbios: descrições em francês e
português. São Paulo: Annablume, 1995.
RODRIGUES, Cristina Carneiro. Tradução e diferença. São Paulo:
Editora UNESP, 2000.
ROLLAND, Eugène. Faune Populaire de la France: Noms vulgaires,
dictons, proverbes, légendes, contes et superstitions. Paris: Maisonneuve
& Larose, 1967. tomo IV. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=8HUHNZ77eEkC>. Acesso em:
1 jul. 2010.
RÓNAI, Paulo. A tradução vivida. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1981.
169
SABATINI, Francesco; COLETTI, Vittorio. Dizionario di Italiano
Sabatini-Coletti. Firenze: Giunti, 1997. 1 CD-ROM.
SAVAIANO, Eugene, WINGET, Lynn W. Modismos ingleses para
hispanos/English Idioms for Spanish Speakers. 2 ed. rev. New York:
Barron’s Educational Series, 2007. Disponível (parcial) em:
<http://books.google.com.br/books?id=LRVXSi97SOEC>. Acesso em:
1 abr. 2010
SCHAMBIL, Maria Helena; SCHAMBIL, Peter. Dicionário de
expressões idiomáticas da língua inglesa. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.
SCHLEIERMACHER, Friedrich Daniel Ernst. “Sobre os diferentes
métodos de tradução”. Tradução Mauri Furlan, 2007. No prelo.
SCHWAMENTHAL, Riccardo; STRANIERO, Michele. L. Dizionario
dei proverbi italiani. 3. ed. Milano: RCS, 1999.
SEVILLA, Julia; URBINA, Jesús Cantera Ortiz de. Pocas palabras
bastan: vida e interculturalidad del refrán. Salamanca: Centro de Cultura
Tradicional, Disputación de Salamanca, 2002. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=CyhlAAAAMAAJ>. Acesso em:
17 mar. 2010.
SIEFRING, Judith. The Oxford Dictionary of Idioms. 2 ed. rev. New
York: Oxford University Press, 2006.
SILVA, Euclides Carneiro da. Dicionário de locuções da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch, 1975.
SILVA, Guido Gomes. Diccionario breve de mexicanismos. México:
FCE, 2001. Disponível em:
<http://www.academia.org.mx/dicmex.php>. Acesso em 10 mar. 2010.
SILVA, Márcia Moura. Análise da tradução de termos indígenas em
Macunaíma de Mário de Andrade na tradução de Héctor Olea para o
espanhol. 2009. 130 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução)
– Centro de Comunicação e Expressão – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2009. Disponível em:
<
http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Marcia_Moura_da_Silva_-
_Dissertacao.pdf>. Acesso em 25 ago. 2009.
170
SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de expressões populares
portuguesas. Lisboa: Dom Quixote, 1993.
SINTES PROS, Jorge. Diccionario de aforismos, provérbios y refranes:
Con su interpretación para el empleo adecuado y con equivalencias en
cinco idiomas (latín, francés, italiano, inglés y alemán). 3. ed. rev. e
ampl. Barcelona: Sintes, 1961.
STEINBERG, Martha. 1001 provérbios em contraste: ditados ingleses e
norte-americanos e seus equivalentes em português. 2. ed. São Paulo:
Nova Alexandria, 2002.
STRAUSS, Emanuel. Concise Dictionary of European Proverbs.
London/New York: Routledge, 1998. Disponível (parcial) em:
<http://books.google.com.br/books?id=HJ_BJtntMioC>. Acesso em: 18
mar 2010.
SUCCI, Thais Marini. Os provérbios relativos aos sete pecados
capitais. 2006. 152 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) –
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Universidade
Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2006. Disponível em:
<http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brp/33004153069P5/
2006/succi_tm_me_sjrp.pdf>. Acesso em 30 set. 2009.
TAGNIN, Stella Ester Ortweiler. Expressões idiomáticas e
convencionais. São Paulo: Ática, 1989.
——————. O jeito que a gente diz: Expressões convencionais e
idiomáticas. São Paulo: Disal, 2005.
TORRES, Marie-Hélène Catherine. Variations sur l’étranger dans les
lettres: cent ans de traductions françaises des lettres brésiliennes. Arras:
Artois, 2004.
TOSI, Renzo. Dicionário de sentenças latinas e gregas. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
URBINA Jesús Cantera Ortiz de. Diccionario Akal del refranero
sefardí. Madrid: Akal, 2004. Disponível em:
<
http://books.google.com.br/books?id=TDaEvsjmm6sC>. Acesso em:
18 mar 2010.
171
——————. Diccionario Akal del refranero latino. Madrid: Akal,
2005. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=xll5lkkwNI0C>. Acesso em: 18
mar 2010.
VENUTI, Lawrence. The translator’s invisibility: a history of
translation. London/New York: Routledge, 1995.
______________. Escândalos da tradução: por uma ética da diferença.
Tradução Laureano Pelegrini, et. al. Bauru, SP: EDUSC, 2002.
VINAY, Jean-Paul; DARBELNET, Jean. Stylistique comparée du
francais et de l'anglais. Paris: Didier, 1958.
VIRMAÎTRE, Charles. Dictionnaire D’Argot Fin-de-Sicle. Paris: A.
Charles, 1894. Disponível em:
<http://www.archive.org/details/dictionnairedarg00virmuoft>. Acesso
em: 18 mar. 2010.
XATARA, Claudia Maria. As expressões idiomáticas de matriz
comparativa. 1994. 140 f. Dissertação (Mestrado em Letras: Lingüística
e Língua Portuguesa) – Faculdade de Ciências e Letras – Universidade
Estadual Paulista, Araraquara, 1994.
______________. A tradução para o português de expressões
idiomáticas em francês. 1998. 254 f. Tese (Doutorado em Letras) –
Faculdade de Ciências e Letras – Universidade Estadual Paulista,
Araraquara, 1998.
______________. La traduction phraséologique. Meta, Montreal, v. 47,
p. 441-444, 2002a. Disponível em:
<http://www.erudit.org/revue/meta/2002/v47/n3/008029ar.pdf>. Acesso
em: 30 jan 2009.
______________. Les expressions idiomatiques: de la marginalité à la
reconnaissance. Le Français Dans Le Monde, Paris, v. 319, p. 28-29,
2002b. Disponível em:
<
http://www.fdlm.org/fle/article/319/idiomatique.php3>. Acesso em: 2
fev. 2009.
172
XATARA, Claudia Maria; OLIVEIRA, Wanda Leonardo de. PIP –
dicionário de provérbios, idiomatismos e palavrões: francês-
português/português-francês. São Paulo: Cultura Editores Associados,
2002.
——————. Novo PIP – dicionário de provérbios, idiomatismos e
palavrões em uso: francês-português/português-francês. 2. Ed. Reest.
São Paulo: Cultura Editores Associados, 2008.
XATARA, Claudia Maria; RIVA, Huélinton Cassiano; RIOS, Tatiana
Helena Carvalho. As dificuldades na tradução de idiomatismos.
Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 8, p. 183-194, 2002.
Disponível em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/viewFile/589
2/5572>. Acesso em: 21 fev. 2009.
XATARA, Claudia Maria; RIVA, Huélinton Cassiano. A linguagem
idiomática organizada em pares dicotômicos. Alfa Revista de
Lingüística, São Paulo, v. 49, n. 2, p. 111-123, 2005. Disponível em:
<http://seer.fclar.unesp.br/index.php/alfa/article/viewFile/1406/1106>.
Acesso em: 6 nov. 2009.
XATARA, Claudia Maria; RIOS, Tatiana Helena Carvalho. A
elaboração de um dicionário de idiomatismos: da teoria à prática.
Estudos Lingüísticos, Campinas, v. 34, p. 165-170, 2005. Disponível
em:
<http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-
estudos-2005/4publica-estudos-2005-pdfs/a-elaboracao-de-um-
dicionario-
1349.pdf?SQMSESSID=a38ffc79c82bcbe561e1c641326fd16c>. Acesso
em 21 fev. 2009.
______________. O estudo contrastivo dos idiomatismos: aspectos
teóricos. Caderno Seminal Digital, Rio de Janeiro, v. 7, n. 7, p. 54-80,
jan./jun. 2007. Disponível em:
<http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/seminal_VII.pdf>. Acesso em:
21 fev. 2009.
XATARA, Claudia Maria; SUCCI, Thais Marini. Revisitando o
conceito de provérbio. Veredas on-line, v. 1, p. 33-48, 2008. Disponível
173
em: <http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo3.pdf>.
Acesso em: 30 jan. 2009.
ZAPATA, Carlos García; MUÑOZ, César. Refranero antioqueño:
diccionario fraseológico del habla antioqueña. Medellin: Editorial
Universidad de Antioquia, 1996. Disponível (trechos) em
<http://books.google.com.br/books?lr=&cd=2&as_brr=0&id=lrYuAAA
AYAAJ>. Acesso em 25 mar 2010.
ZINGARELLI, Nicola. Vocabolario della lingua italiana. Bologna:
Zanichelli, 2001, CD-ROM.
Obras consultadas
AUBERT, Francis Henrik. As (in)fidelidades da tradução: Servidões e
autonomia do tradutor. 2.ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994.
BASSNETT, Susan. Estudos da tradução. Tradução de Vivina de
Campos Figueiredo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
BERMAN, Antoine. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na
Alemanha romântica. Trad. Maria Emília Pereira Chanut. Bauru:
EDUSC, 2002.
BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: uma
introdução à lexicografia. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
BRUNELLI, Anna Flora. Aconselhamentos de auto-ajuda: um caso de
captação do gênero proverbial. Alfa Revista de Lingüística, São Paulo,
v. 50, n. 1, p. 113-128, 2006. Disponível em:
<http://www.alfa.ibilce.unesp.br/download/v50/09_BRUNELLI.pdf>.
Acesso em: 2 nov. 2009.
CAMARGO, Sidney; BORNEBUSCH, Herbert. Dicionário de
expressões idiomáticas metafóricas alemão-português. São Paulo: EPU,
1996.
FURLAN, Mauri. La retórica de la traducción en el Renacimiento:
Elementos para la constitución de una teoría de la traducción
renacentista. Tesis doctoral. Barcelona: Universidad de Barcelona, 2002.
174
INSTITUT DE FRANCE. Dictionnaire de l’Académie Française. 6 ed.
Paris: Firmin Didot, 1835. Vol. 1. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=OQ8JAAAAQAAJ>. Acesso em
10 mar 2010.
JESUS, Izabel Teodolina de. Construções condicionais proverbiais: uma
visão sociocognitiva. Alfa Revista de Lingüística, São Paulo, v. 49, n. 1,
p. 139-160, 2005. Disponível em:
<http://www.alfa.ibilce.unesp.br/download/v49/v49-1/cap8.pdf>.
Acesso em 13 nov. 2009.
PRIETO, Jorge Mejía. Así habla el mexicano: diccionario básico de
mexicanismos. Ciudad de México: Panorama, 1984. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=yrD7X-KZBCcC>. Acesso em 6
jul. 2010.
STEINER, George. Depois de Babel: questões de linguagem e tradução.
Tradução de Carlos Alberto Faraco. Curitiba: Editora UFPR, 2005.
TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies and Beyond.
Amsterdam: Benjamin, 1995.
WILLIAMS, J.; CHESTERMAN, A. The Map: A Beginner’s Guide to
Doing Research in Translation Studies. Manchester: St. Jerome, 2002.
Sites consultados
www.hkocher.info/minha_pagina/proverbios.htm
www.linguateca.pt/COMPARA/
www.deproverbio.com
www.google.com
www.google.com.br
www.google.es
www.google.fr
www.google.it
www.books.google.com.br
175
ANEXO – corpus
Trechos contendo provérbios
I
1
Nas conversas das mulheres no pino do dia
o assunto era sempre as peraltagens do
herói. As mulheres se riam muito
simpatizadas, falando que “espinho que
pinica, de pequeno já traz ponta”, e numa
pagelança Rei Nagô fêz um discurso e
avisou que o herói era inteligente.
(ANDRADE, 1965, p. 4)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
L’argomento abituale delle chiacchiere
delle donne all’imbrunire erano sempre i
malestri dell’eroe. Le donne se la ridevano
con simpatia e dicevano che “prun che
punge ha la punta aguzza fin da piccino”;
in occasione di una pagelança
*2
il re Nagô
fece un bel discorso per comunicare che
l’eroe era intelligente. (GIORGI, 2006, p.
14)
Tradução da letra
En las pláticas de mujeres a pleno rayo del
día, el bululú era siempre por las travesuras
del héroe. Las mujeres reían muy
halagadas, diciendo que “espina que pincha
de pequeña ya trae punta” y en una
brujencia de payé, Rey Nagô hizo un
discurso y avisó que el héroe era
inteligente. (OLEA, 2004, p. 48)
Tradução literal E
Tradução da letra
Campos e Barella (1996)
3
:
“La espina cuando nace, la
punta lleva delante”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “La espina, cuando
nace, lleva la punta
delante”
1
Para facilitar as referências no corpo do trabalho, utilizamos uma numeração sequencial em
números romanos para os trechos com provérbios e uma com algarismos arábicos para aqueles
com EIs.
*
Cerimonia rituale di scongiuro.
2
Utilizamos um sistema diferente para a chamada das notas de rodapé oriundas da tradução
italiana, para distinguir das nossas.
3
Toda vez que não for indicado nenhum registro em dicionário significa que o fraseologismo
não foi localizado em nenhum dos dicionários da bibliografia. Quando houver alguma
diferença mais acentuada entre o fraseologismo no trecho e a forma como ele consta no
dicionário, esta será indicada; nos demais casos, será informada apenas a referência da obra
lexicográfica.
176
During the women’s midday chatter the
talk was always about the hero’s pranks.
The women laughed knowingly, saying,
“The little one’s prickly prickle already has
a point!” And in the tribal assembly, King
Nagô declared that the hero had his head
screwed on the right way. (GOODLAND,
1984, p. 4)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
Compensação
4
Partridge e Beale (2002):
“have one’s head screwed
on, or on right, or on the
right way
Longman (2002): “have
one’s head screwed on”
Dans le conversations méridiennes des
femmes, le grand sujet c’était toujours les
polissonneries de notre héros. Elles en
riaient de bon coeur en disant : « Épine
qui pique même petite déjà pointe. » Et lors
du rite de la pajelança, le Roi Nagô fit un
discours et publia que notre héros était
intelligent. (THIÉRIOT, 1996, p. 24)
5
Tradução da letra
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “L’épine en
naissant va la pointe
devant”
Compensação
Robert (1993): “de bon
coeur”
II
As lágrimas escorregando pelas faces
infantis do herói iam lhe batizar a peitaria
cabeluda. Então êle suspirava sacudindo a
cabecinha:
— Qual, manos! Amor primeiro não tem
companheiro, não!… (p. 36)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
[…] le lacrime che scorrevano sul volto
infantile dell’eroe andavano a battezzargli
il gran petto villoso. Allora lui sospirava
scuotendo la piccola testa:
— È inutile, fratelli: il primo amore non si
scorda mai!… (p. 53)
Tradução por
correspondente não-literal
(ditado)
Arthaber (1989)
Strauss (1998)
4
Para facilitar a visualização dos usos da estratégia de compensação, utilizamos negrito para
identificar os fraseologismos referentes a ela.
5
No restante do corpus, como as traduções se repetem sempre na mesma ordem, indicamos
apenas o número da página. Veja também a nota 6 do capítulo 3.
177
Las lágrimas que escurrían por la faz
infantil del héroe le iban a bautizar el pelo
en pecho. Entonces suspiraba sacudiendo
la cabecita:
— Ni modo, manos! Pal amor primero no
hay compañero! ¿No?… (p. 87)
Tradução por
correspondente literal
Gil (2002): “Amor
primero no tiene
compañero”
Sevilla e Urbina (2002):
“Amor primero no tiene
compañero”
Ortega (1953): “Luna de
enero y amor primero no
tienen compañero”
[…] the tears running down his fuzzing
cheeks to baptize his hairy chest. Then he
sighed, wagging his tiny head,
“Fiddlesticks, brother! I’ll ne’er find a
patch on that other!” (p. 28)
Tradução por paráfrase
Compensação
Gomes (2003): “not a
patch on [col] longe de
ser igual ou comparável a,
nem por sombra, nem de
leve”
Longman (1979): “not be
a patch on coll. To be not
nearly so good as”
Longman (2003): “not be
a patch on
somebody/something
British English informal to
be much less good,
attractive etc than
someone or something
else”
Les larmes qui ruisselaient sur les joues de
notre héros allaient baptiser sa poitrine
poilue. Alors secouant sa petite tête, il
soupirait :
— Ah ! Mes frères, premier amour dure
Tradução por
correspondente não-literal
(ditado)
Google
6
:
“premier amour dure
6
Busca em páginas em francês pelo site www.google.fr em 2 de julho de 2010. Toda vez que
não for indicado o resultado da pesquisa no Google significa que não foi encontrada ocorrência
significativa ou que a busca não foi realizada porque o fraseologismo havia sido localizado
em algum dos dicionários da bibliografia.
178
toujours ! (p. 54) toujours” - 4.110
ocorrências
Maloux (1960, 2001): “On
revient toujours a ses
premières amours”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “On revient
toujours a ses premières
amours
III
Resolveu abandonar a emprêsa, voltando
pros pagos de que era imperador. Porém
Maanape falou pra êle:
— Deixa de ser aruá, mano! Por morrer um
carangueijo o mangue não bota luto não!
que diacho! desanima não que arranjo as
coisas! (p. 44)
Pérez (1961): “Por morrer
um caranguejo não se
cobre o mangue de luto”
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Decise di abbandonare l’impresa e far
ritorno ai villaggi dove lui era l’imperatore.
Ma Maanape gli disse:
— Non fare lo stupido, fratello! La palude
non porta il lutto per la morte di un
granchio, diamine! Non ti scoraggiare, che
aggiusto tutto io! (p. 60)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
OU Tradução da letra
Resolvió abandonar la empresa volviendo
pa los pagos donde era emperador. Pero
Maanape habló de este modo:
— Dejese de ser baboso, mano! Por un
cangrejo muerto el manglar no guarda luto!
qué diablos! no se desanime que yo me las
arreglo con esos cosos! (p. 97)
Tradução da letra
[…] thought of throwing in his hand and
returning to his birthplace, of which he was
emperor. But Maanape broke in, “Stop
your whining, brother! If a crab dies, the
Tradução da letra OU
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
179
whole mudflat doesn’t go into mourning.
Don’t worry, I’ll fix things for you!” (p.
33)
Compensação
Ammer (1997): “throw in
one’s hand”
Et décida d’abandonner son entreprise et
de retourner aux domaines dont il était
empereur. Mais Maanape lui dit :
— Ne sois pas moule, frérot ! Un crabe qui
crève n’endeuille pas la grève, qui diable !
Ne perds pas courage, je vais tout
arranger ! (p. 60)
Tradução da letra
IV
Oitenta contos não valia muito mas o herói
refletiu bem e falou pros manos:
— Paciência. A gente se arruma com isso
mesmo, quem quer cavalo sem tacha anda
de a-pé…
Com êsses cobres é que Macunaíma viveu.
(p. 44)
Pérez (1961): “Quem quer
cavalo sem taxa anda a pé”
Mota (1987): “Quem quer
cavalo sem tacha anda a
pé”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Ottantamila milréis non era gran che, ma
l’eroe dopo matura riflessione disse ai
fratelli:
— Pazienza. Chi vuole andare a cavallo
senza pagare finisce che va a piedi…
Macunaíma andó avanti con quei soldi lì.
(p. 61)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
OU Tradução da letra
Compensação
Sabatini Coletti (1997):
“andare avanti”
Zingarelli (2001): “andare
avanti
Ochenta contos no valía mucho pero el
héroe reflexionó bien y le dijo a los manos:
— Paciencia. Uno se las arregla con eso
mero, pues quien quiere caballo con
colmillo dado anda a pie…
Con esos cobres Macunaíma la fue
pasando. (p. 97)
Tradução por
correspondente adaptado
Bohn (1867): “Quien
quisiere mula sin tacha,
ándese á pie”
Campos e Barella (1996):
“El que quiere caballo sin
tacha, ese se anda a pata”
Glazer (1987): “A caballo
180
regalado no se le mira el
colmillo” / “A caballo
regalado no se le busca
colmillo”
Eighty thousand milreis was not a fortune,
but after giving it much thought, the hero
declared to his brothers, “Patience! A chap
could make ends meet pretty well on that.
Don’t forget that a man who insists on a
horse without a blemish finds himself
ridind Shanks’ mare!” Thus it was that on
this trifle Macunaíma lived. (p. 33)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
Compensações
Longman (2002): “make
(both) ends meet”;
Longman (1979): “(on/by)
shanks’s pony/mare”
Schambil e Schambil
(2002): “on shank’s pony
(ou mare)”
Quatre-vingts contos, ce n’était pas
beaucoup, mais notre héros mûrement
réfléchit et dit à ses frères :
— Patience. Nous nous débrouillerons
avec ça. Qui veut un cheval parfait n’a qu’à
aller à pied…
Voilà donc avec quel blé Macounaïma
vécut. (p. 60)
Tradução por
correspondente não-literal
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “Qui veut un
cheval sans défaut doit
aller à pied”
V
No outro dia estava tão fatigado da farra
que a saudade bateu nêle. Se lembrou da
muiraquitã. Resolveu agir logo porque
primeira pancada é que mata cobra. (p. 47)
Pérez (1961)
Il giorno dopo era tanto stanco per la
baldoria fatta, che gli ritornò la nostagia.
Gli venne in mente il muiraquitã. Decise di
agire subito, chi ha tempo non aspetta
tempo. (p. 64)
Tradução por
correspondente não-literal
Arthaber (1989)
Sabatini e Coletti (1997)
Zingarelli (2001)
Strauss (1998)
Al otro día estaba tan fatigado de la farra
que la morriña lo zangoloteó duro. Se
Tradução literal E
Tradução da letra
181
acordó de la muiraquitán. Resolvió actuar
lueguito porque el primer golpe es lo que
mata a la culebra. (p. 101)
The morning after this carouse he felt so
whacked that homesickness overcame him
again. He remembered his lost amulet and
decided he must do something about it at
once because it is always the first blow that
kills the snake. (p. 36)
Tradução literal E
Tradução da letra E
Tradução por
correspondente adaptado
Steinberg (2002): “The
first blow is half the
battle.”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “The first blow is
half the battle.”
Le lendemain il était si fatigué de sa
foiridon que la saudade le poignit. Il se
souvint de la mouïraquitan et résolut d’agir
rondement car c’est du premier coup que
du souroucoucou il faut couper le cou. (p.
64)
Tradução da letra
VI
Macunaíma não quis saber.
— Pois vou assim mesmo. Onde me
conhecem honras me dão, onde não me
conhecem me darão ou não!
Então Maanape acompanhou o mano. (p.
47-48)
Mota (1987)
Macunaíma non lo volle sapere.
— E io ci vado lo stesso. Chi mi conosce
mi onora, e chi non mi conosce faccia
come vuole!
Allora Maanape accompagnò il fratello. (p.
65)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
Macunaíma no se dió por enterado.
— Pues así mero voy. Donde me conocen
honras me dan, donde no me conocen
quien quite y me las darán!
Tradução da letra
182
Maanape entonces acompañó al mano. (p.
101)
Macunaíma didn’t want to listen to any of
this. He said, “Then I’ll go there on my
own. Where I’m known, I’m thought well
of. Where I’m not, who cares!”
In the end, Maanape went with his brother.
(p. 36)
Tradução por paráfrase
Compensação
Pickett (2004): “on (one’s)
own”
Macounaïma ne voulut pas savoir.
— Assez barguigné, j’y vais ! Qui me
connaît me respecte, qui ne me connaît pas
apprendra à me respecter ou bien gare !
Du coup Maanape accompagna son frère.
(p. 64)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
VII
Saindo da pensão Macunaíma topou com
um beija-flor com rabo de tesoura. Não
gostou da caguíra não e pensou abandonar
o randevu porém como promessa é dívida
fêz um esconjuro e seguiu.
Lá chegando encontrou o gigante no
portão, esperando. (p. 59)
Xatara e Oliveira (2002)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Al momento di uscire dalla pensione,
Macunaíma si vide davanti un colibrì con
la coda a forbice e il presagio non gli andò
proprio affatto a genio: pensò di rinunciare
al randevu. Poi, dato che ogni promessa è
debito, fece uno scongiuro e proseguì.
Là giunto, trovò il gigante davanti al
cancello che l’aspettava. (p. 76)
Tradução por
correspondente literal
Sabatini e Coletti (1997)
Zingarelli (2001)
Strauss (1998)
Compensação
Sabatini e Coletti (1997):
“andare a genio”
Zingarelli (2001): “andare
a genio”
Saliendo de la pensión, Macunaíma se topó
con un chupamirto con rabo de tijera. No le
gustó el presagio y pensó abandonar el
Tradução por
correspondente literal
Urbina (2004, 2005)
183
rendez-vous pero como lo prometido es
deuda en un santiamén se santiguó y
siguió.
Llegando allá se encontró al gigante en el
portón, esperando. (p. 112)
Strauss (1998)
As he was leaving his digs, Macunaíma
saw a scissor-tailed hummingbird. He did
not like this bad omen at all and almost
gave up all thought of his rendezvous, but
feeling himself bound by his appointment,
he conjured up a spell to exorcise himself,
and went on.
On arrival he — the Frenchwoman — was
met by the giant waiting at the gate. (p. 43)
Tradução por paráfrase
En sortant de la pension, Macounaïma
croisa un colibri à la queue bifide. Ce
mauvais présage lui déplut et il pensa
renoncer au rendez-vous, mais chose
promise, chose due ! il fit un signe de
conjuration et continua. (p. 73-74)
Tradução por
correspondente não-literal
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Urbina (2004)
Strauss (1998)
Panckoucke (1750)
VIII
Então de tanta dor o herói viu no alto as
estrêlas e entre elas enxergou Capêi
minguadinha cercada de névoa. “Quando
mingua a Luna não comeces coisa alguma”
suspirou. E continuou consolado. (p. 70)
Mota (1987): “Quando
minguar a lua não comeces
coisa alguma”
7
Cascudo (1977):
“Antiqüíssimo adágio do
séc. XVI aconselhava: ‘Ao
minguar a lua, não
comeces coisa alguma’. (p.
225)
Allora, dal gran dolore, l’eroe vide le stelle
lassù in alto e in mezzo ad esse scorse
Capêi calante al massimo e circondata di
Tradução literal E
Tradução da letra
7
O autor aponta que “Pronuncia-se nasalisando o ‘u’ de ‘lua’” (MOTA, 1987, p. 173).
184
bruma. “Quando cala la luna, non iniziar
cosa alcuna” sospirò. E continuò la sua
strada riconfortato. (p 87-88)
Entonces de tanto dolor se puso a ver
estrellas el héroe y en lo alto, entre ellas,
divisó a Capei menguadita y cercada de
neblina. “Quando mengua la Luna no
comiences cosa alguna” suspiró. Y
proseguió más consolado. (p. 123)
Tradução literal E
Tradução da letra
The sudden twinge of pain made the hero
lift his eyes to the stars above, and among
them he saw Capei, the Moon, on the wane
and circled by a halo.
“When the Moon’s on the wane, to start is
in vain!” he remembered sadly; the thought
gave him some comfort. (p. 50)
Tradução da letra
La douleur fut si violente que notre héros
vit là-haut les étoiles et parmi elles il
aperçut Capeï à son décours, entourée d’un
halo de brume. « Quand la Lune décroit,
garde-toi d’entreprendre quoi que ce soit »,
soupirait-t-il. Et il fut consolé. (p. 83)
Tradução da letra
IX
Daí Macunaíma pisou nos calos também:
— Pois nem eu queria nenhuma das três,
sabe! Três, diabo fêz!
Então Vei com as três filhas foram pedir
pouso num hotel e deixaram Macunaíma
dormir com a Portuga na jangada. (p. 89)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Allora Macunaíma si irritò terribilmente lui
pure:
— E io non ne volevo nessuna delle tre,
sai! Tre è il numero del diavolo
!
A questo punto Vei e le sue tre figlie
andarono a prendere alloggio per quella
notte in un hotel e lasciarono Macunaíma a
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
185
dormire con la portughesina sulla jangada.
(p. 108)
Entonces Macunaíma perdió la figura
también.
— Pos al fin que ni quería, entiende! Tres,
ni al revés!
Entonces Vei y las tres hijas se fueron a
pedir posada en un hotel y dejaron a
Macunaíma durmiendo con la Portuga en
la jangada. (p. 143)
Tradução da letra
Google
8
:
“Tres ni al revés” - 2
ocorrências (digitalizações
da tradução espanhola de
Macunaíma)
“ni al revés” - 15.900
ocorrências
“ni al derecho ni al revés”
- 442 ocorrências
Then Macunaíma felt his own corns being
trodden on: “Right now I don’t want any of
your three you-know-whats either! Three
of them! A devil’s brood; may the devil fly
away with the lot of them!”
Vei, with her three daughters, swept off to
look for a hotel, leaving Macunaíma to
sleep with his white-skinned fishwife on
the raft. (p. 65-66)
Tradução por paráfrase
Macounaïma lui monta sur les pieds à son
tour :
— J’en voulais pas de vos trois filles !
Trois, c’est le diable sous le toit !
Alors Veï et ses trois filles allèrent prendre
pension dans un hôtel et laissèrent
Macounaïma dormir avec sa pompadour
dans la jangada. (p. 102)
Tradução da letra
X
— Mas que catingueiros êsses! O herói
nunca matou viado! Não tinha nenhum
viado na caçada não! Gato miador, pouco
caçador, gente! Em vêz foram dois ratos
Pérez (1961): “Gato muito
miador é pouco caçador”
Mota (1987): “Gato
miador, ruim caçador”
8
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 2 de julho de 2010.
186
chamuscados que Macunaíma pegou e
comeu. (p. 122)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
— Macché cervi di pianura! L’eroe manco
ne ha ammazzato uno di cervo! Non
abbiamo trovato nessun cervo a caccia,
macché! Gatto che miagola molto, di
caccia ne fa poca, gente! Quello che ha
preso Macunaíma erano due topi
bruciacchiati e se li è mangiati. (p. 142)
Tradução da letra
— Qué guazubirás ni que ojo de hacha!
El héroe nunca mató venado! No había
ningún venado en la cacería! Cae más
pronto un hablador que un cojo! En cambio
fueron dos ratas tatemadas lo que
Macunaíma agarró y comió. (p. 178)
Tradução por
correspondente não-literal
Glazer (1987): “Cae más
pronto un hablador que un
cojo” / “Más pronto cae un
hablador que un cojo”
Compensação
Silva (2001): “ni qué ojo
de hacha”
[…] “But what deer are you talking about?
There were no deer at all in that hunt.
There’s a proverb, friends, saying,
‘Meowing cats catch few rats!,’ but at one
time a couple of singed rats came out,
which Macunaíma killed and ate.” (p. 89)
Tradução da letra
— Quoi ! des chevreuils ! Le héros n’a
jamais tué de chevreuil ! Vous ne savez
donc pas qu’y a pas plus hâbleur qu’un
chasseur ? Y avait pas de chevreuils dans
le bois, seulement deux souris grillées que
Macounaïma a attrapées et mangées ! (p.
130)
Tradução por criação de
correspondente
XI
— Oi, conhecido, tome tento com gigante!
Você já sabe do que êle é capaz. Piaimã
está fraco está fraco porém canudo que
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
187
teve pimenta guarda o ardume. Si você não
tem medo mesmo, aposto. (p. 129)
— Ehi, amico, sta’ attento, con quel
gigante! Sai bene di che cosa è capace.
Piaimã è debole, è debole, però la volpe
perde il pelo e non il vizio… se davvero
non hai paura, io ci sto. (p. 150)
Tradução por
correspondente não-literal
Arthaber (1989): “La
volpe/il lupo perde il pelo,
ma il vizio mai”
Sabatini Coletti (1997): “il
lupo perde il pelo ma non
il vizio”
Zingarelli (2001): “Il lupo
perde il pelo ma non il
vizio
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “La volpe perde il
pelo, ma il vizio mai”/“Il
lupo cangia il pelo, ma non
il vizio”
Strauss (1998): “Il lupo
muta/cangia il pelo, ma
non il vizio”
— Oiga, conocido, tome tiento con el
gigante! Usté ya sabe de lo que es capaz.
Piaíma anda debilón debilón pero pajilla
que tuvo ají guarda el ardor… Si usté de
veras no tiene miedo, apuesto. (p. 185)
Tradução literal E
Tradução da letra
[…] “Okay, dad, but watch it, you ought to
know what that giant is capable of.
Piaiman may be in a very weak state, but a
jaguar never changes its spots. If you’re
not frightened of him, I’ll take your bet.”
(p. 95)
Tradução por
correspondente não-literal
Steinberg (2002): “The
leopard cannot change its
spots”
Schambil e Schambil
(2002): “The leopard
cannot change its spots”
Strauss (1998): “The
leopard cannot change its
spots”
— Eh l’ami! Prends garde au géant ! Tu Tradução por criação de
188
sais déjà de quoi il est capable. Piaïman en
ce moment n’est pas vaillant vaillant, mais
rappelle-toi que vipère qui a mordu tout
son venin n’a pas perdu… Si vraiment tu
n’as pas peur, je tope. (p. 137)
correspondente
XII
— Olha, primo, pagar não posso não mas
vou te dar um conselho que vale ouro:
Nêste mundo tem três barras que são a
perdição dos homens: barra de rio, barra de
ouro e barra de saia, não caia! (p. 138-139)
Mota (1987)
— Senti, cugino, pagare non posso, ma ti
voglio dare un consiglio che vale un tesoro:
a questo mondo ci sono tre “barra” che
portano l’uomo alla perdizione: barra
(secca) di fiume, barra (sbarra) d’oro, e
barra (orlo) di gonna, attenzione. (p. 160)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
— Mire, primo, pagar no puedo pagarle
pero le daré un consejo que vale oro: En
este mundo hay tres barras que son la
perdición de los hombres: Barras de río,
barras de oro y embarradas de falda,
añañay, no caiga! (p. 195)
Tradução da letra
[…] “Look, cousin, it’s impossible for me
to repay you, but I’ll make you a present of
some advice that’s worth its weight in
gold. In this world there are three bars that
are the ruination of mankind: the sand bar
in a river — where the washerwomen are
endlessly quarreling; the bar of gold —
over which both friends and thieves fall
out; and the bar of a skirt that won’t come
off!” (p. 103)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
— Écoute, cousin, je peux pas te payer
mais je vais te donner un conseil qui vaut
son pesant d’oseille : En ce monde, sables
Tradução da letra
189
mouvants, or trébuchant et jupon au vent
sont la perdition des hommes. Garde-toi de
tomber dans leur piège ! (p. 147)
XIII
O tequeteque saudou:
— Bom-dia, conhecido, como vai, muito
obrigado, bem. Trabalhando, não?
— Quem não trabuca não manduca.
— É mesmo. Bom, té-loguinho. (p. 145)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Il girovago salutò:
— Buongiorno, amico. Come va, bene,
grazie. Si lavora, eh?
— Chi non lavora non mangia.
— Proprio così. Bene, arrivederci. (p. 165)
Tradução por
correspondente literal
Sabatini Coletti (1997)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Strauss (1998)
El tilichero saludò:
— Buen día, conocido, cómo le va, bien,
muchas gracias. ¿Laburando, no?
— En esta tierra caduca, quien no trabaja
no manduca.
— Así es. Bueno, ta-lueguito. (p. 201)
Tradução por
correspondente não-literal
Mota (1987)
Sintes Pros (1961): “En
esta vida caduca, el que no
trabaja, no manduca”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “En esta vida
caduca, el que no trabaja
no manduca”
Strauss (1998): “El que no
trabaja no come/manduca”
“Good morning, friend,” the huckster
greeted Macunaíma, “how d’ye do, thanks
a lot! Doing a bit of work, eh? That’s
good!”
“He who doesn’t work doesn’t eat!”
“You said it. Well, bye bye!” […] (p. 106)
Tradução por
correspondente literal
Mota (1987): “He that will
not work, neither shall he
eat”
Strauss (1998)
Steinberg (2002): “He that
will not work shall not
eat”
190
Le camelot le salua :
— Bonjour amigo comment ça va pas mal
merci et chez vous pas mal non plus moi
aussi merci. Alors on travaille ?
— Pour grailler, faut travailler !
— Ça c’est bien vrai ! Allez, salut ! (p.
151)
Tradução da letra
XIV
Teve raiva por demais e maliciou que ia
ficar com o butecaiana que é doença da
raiva. Então exclamou:
— Ara! Ande eu quente, ria-se a gente!
Tirou as calças pra refrescar e pisou em
cima. (p. 147)
Mota (1987)
Si arrabiò troppo e temette che gli venisse
la butecaiana, cioè la malattia della rabbia.
Alla fine esclamò:
— Diamine! Al diavolo il caldo e che
ridano pure!
Per rinfrescarsi, si tolse i pantaloni e li
calpestò. (p. 168)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
Fue por demás tanta rabia y malició que
iba a quedar con beatacanina que es el mal
de la rabia. Entonces exclamó:
— Ara! Ándeme yo caliente, ríase la gente!
Se quitó los pantalones para refrescar y los
pisoteó por encimita. (p. 203)
Tradução por
correspondente literal
Mota (1987): “Ande yo
caliente y ríase la gente”
(p. 44)
Moliner (2001): “Ande [o
ándeme] yo caliente y
ríase la gente.”
He was smoldering with rage, all hot
under the collar, and he feared he might
be felled by a stroke; then he suddenly
burst out, “Oh deary me, oh glory be!
When I come over sweaty hot, my folks do
nowt but laugh a lot!”
He tore off his trousers to cool himself and
Tradução da letra
Compensação
Pickett (2004): “hot under
the collar”
191
jumped up and down, trampling on them.
(p. 108)
Sa rage redoubla et enfin atteignit de telles
proportions qu’il pensa qu’il être pris par la
boutecaïana qui est la fièvre rabique. Alors
il s’ecria :
— Bon sang ! Si la fièvre me prend, de moi
vont rire les gens !
Il enleva son pantalon pour se rafraîchir et
le piétina. (p. 154)
Tradução por paráfrase
XV
— Iriqui é muito relambória, mano, mas a
princesa, upa! Não dê crédito pra Iriqui
não! Oi que Sol de inverno chuva de verão
chôro de mulher palavra de ladrão, eieiei…
ninguém não caia não! (p. 193)
Mota (1987): “Sol de
inverno, chuva de verão,
choro de mulher, palavra
de ladrão, ninguém caia,
não!”
— Iriquì è molto infingarda, fratello, e la
principessa, invece, op là! Non dar mica
retta a Iriquì! Bada che Sole d’inverno,
pioggia d’estate, pianto di donna, parola di
ladro, eheheh… si salvi chi può! (p. 216)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
— Iriquí es muy singracia, mano, pero la
princesa, uepa! No, no les des bolilla a
Iriquí! “No olvidés, me decia Fierro, / que
el hombre no debe crer / en las lágrimas de
mujer / ni en la renguera del perro”.
Ayayay, malhaya quien caiga… (p. 252)
Tradução por
correspondente não-literal
citação - El gaucho Martín
Fierro, de José Hernández,
publicada em 1872,
conforme Culleton (2005)
Compensação
Real Academia (1995):
“dar bolilla”
[…] “Iriqui is really very tiresome, brother,
she gives me a pain in the neck; but the
princess — my word! — that’s a different
kettle of fish! Don’t you believe a word
that Iriqui says, ever! The sun may fail in
Tradução da letra
Compensação
Longman (2002): “pain in
the neck” / “a
192
summer, the winter rain may fail, but a
woman’s tears fail never her lover to
bewail!” And he went off to make love to
the princess again. (p. 141-142)
pretty/fine/different kettle
of fish”
Pickett (2004): “kettle of
fish”
— L’Iriqui est débectante comme tout,
frangin, tandis que la princesse, quel chic !
Laisse Iriqui chialer et souviens-toi qu’il ne
faut se fier ni au soleil d’hiver ni à la pluie
d’été ni à femme qui pleure ni à parole de
voleur !
Et il alla s’amuser avec la princesse. (p.
193)
Tradução da letra
XVI
A princesa teve ódio. É que ela andava
ùltimamente brincando com Jiguê.
Macunaíma bem que percebeu porém
imaginou: “Plantei mandioca nasceu
maniva, de ladrão de casa ninguém se
priva, paciência!…” E tinha encolhido os
ombros. (p. 203)
Pérez (1961): “Plantei
mandioca e nasceu
maniva, de ladrão de casa
ninguém se livra”
Mota (1987): “Plantei
mandioca, nasceu maniva,
de ladrão de casa ninguém
se livra”
La principessa si arrabiò molto. Perché da
qualche tempo aveva cominciato a
divertirsi insieme a Jiguê. Macunaíma se
ne era accorto benissimo ma aveva
pensato: “Piantando manioca vien su
maniva,
*
di ladro di casa nessun si priva,
pazienza!…”. Si era stretto nelle spalle. (p.
226)
Tradução literal E
Tradução da letra
A la princesa-carambolo le dio odio. Era
ella quien ultimadamente jugueteaba con
Yigué. Macunaíma bien que se dio cuenta,
pero pensó: “Planto mandioca y me nace
ñame, del ladronicio de casa nadie se
Tradução da letra
Compensação
Real Academia (1995):
“darse cuenta de”
*
L’inutile fogliame della manioca: solo il tubero è commestibile.
193
espante, paciencia…”. Y había encogido
los hombros. (p. 261-262)
Larousse (1998): “darse
cuenta”
The princess shuddered with disgust and
loathing. Of late, she had been making love
with Jiguê. Macunaíma had noticed this,
but had shrugged his shoulders and said to
himself,
“I planted cassava, cassava grew;
From a thief in the house,
No one is secure!
Patience!” (p. 148-149)
Tradução da letra
La princesse en conçut de la haine : vous
devez savoir que ces derniers temps elle
s’amusait avec Jigué. Macounaïma s’en
était aperçu mais avait pensé : « J’ai semé
du manioc, je récolte du manioc, c’est le
lot de chacun d’abriter un voleur dans sa
demeure, attendons notre heure !… » Et il
avait haussé les épaules. (p. 202)
Tradução da letra
XVII
Só ficara um aruaí muito falador.
Macunaíma se consolou pensamenteando:
“O mal ganhado, diabo leva… paciência”.
Passava os dias enfarado e se distraía
fazendo o pássaro repetir na fala da tribo os
casos que tinham sucedido pro herói desde
infância. (p. 214)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
Era rimasto soltanto un aruaí molto
chiacchierino. Macunaíma si consolò
pensando tra sé: “Il maltolto se lo porta via
il diavolo… pazienza”. Si annoiava tutto il
giorno e per distrarsi faceva ripetere
all’uccello, nella lingua della tribù, tutte le
avventure che erano successe all’eroe
dall’infanzia in poi. (p. 238)
Tradução da letra
Sólo quedó ahí un loro retetarabilla. Tradução por
194
Macunaíma se consoló cavicavilando: “Lo
mal habido, el diablo se lo lleva…
paciencia”. Se pasaba los días amorriñado
y se distraía haciendo repetir al pajarraco
en el habla de la tribu los casos que habían
sucedido al héroe desde la niñez. (p. 274)
correspondente literal
Zapata e Muñoz (1996):
“Lo mal habido (avenido)
se lo lleva el diablo”
The only one that stayed behind was a
parrot that was a notable talker.
Macunaíma consoled himself, pensively
remarking, “Whatever has been earned by
wickedness, the devil will surely take
away! Patience!”
He spent all his days plunged deeply in
remorse, distracting himself by making the
bird repeat, in the tribal tongue, all the
things that had happened to the hero since
childhood. (p. 156)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
OU Tradução da letra
Seul était resté un ara maracanan
particulièrement loquace. Macounaïma se
consola en ruminant : « Bien mal acquis, le
diable se le farcit… Patience! »
Il passait ses jours dans l’ennui et sa
distraction était de faire répéter à l’oiseau,
dans le parler de la tribu, ses aventures de
héros depuis son enfance. (p. 212)
Tradução da letra E
Tradução por
correspondente adaptado
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “Bien mal acquis
ne profit jamais” / “De
bien mal acquis courte
joie”
Strauss (1998): “Bien mal
acquis ne profit jamais” /
“Bien mal acquis ne
prospère pas”
XVIII
Decidiu:
— Qual o quê!… Quando urubú está de
caipora o de baixo caga no de cima, êste
mundo não tem geito mais e vou pro céu.
Ia pro céu viver com a marvada. (p. 208)
Pérez (1961): “Quando
urubu está infeliz o do
baixo borra no de cima”
Mota (1987): “Urubu,
quando anda caipora, o de
baixo caga no de cima”
Xatara e Oliveira (2002):
195
“Urubu, quando está
infeliz, até o debaixo suja
o de cima”
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999): “Quando urubu
está de azar, o de baixo
caga no de cima” /
“Quando urubu está
infeliz, o de baixo borra no
de cima”
Decise:
— Per carità!… Quando l’urubù ha il
malocchio, quello di sotto caga su quello di
sopra: a questo mondo non c’è remedio e
io me ne vado in cielo.
Andava in cielo a vivere con la sua
malvagia. (p. 246)
Tradução literal E
Tradução da letra
Así pues se decidió:
— Sonó! Cuando el gallinazo anda
empingorotado el de abajo caga el de
encima, este mundo no tiene arreglo, me
voy pal cielo.
Se iba pal cielo a vivir con la marvada. (p.
282)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
OU Tradução da letra
He made up his mind: “What of it! When
the vulture becomes the harbinger of woe,
it shits on those above it from below! This
world has nothing for me anymore; I shall
go up to heaven!”
He went up to heaven to live with his she-
devil. (p. 163)
Tradução da letra
Compensação
Longman (2002): “make
up one’s mind”
Il décida donc :
— Ici-bas y a que du tracas ! Quand il a la
poisse, l’urubu du dessus se fait conchier
par l’urubu du dessous. Ce monde est
devenu invivable, je pars pour le ciel.
Oui, il irait vivre au ciel avec sa friponne.
(p. 220)
Tradução por figura de
linguagem não-consagrada
OU Tradução da letra
196
197
Trechos contendo expressões idiomáticas
1
— Bom-dia, coraçãozinho dos outros.
Porém Macunaíma fechou-se em copas
carrancudo.
— Não quer falar comigo, é? (p. 15)
Nascentes (1966)
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
Camacho (2002)
— Buon giorno, tesoruccio bello.
Ma Macunaíma imbronciato non aprì la
bocca.
— Non vuoi parlare con me, eh? (p. 16)
Tradução por paráfrase
— Buenos días, corazoncito de los demás.
Pero Macunaíma rostritorcido cerró el
pico.
— ¿No quieres hablar conmigo, eh? (p. 50)
Tradução por
correspondente não-literal
Real Academia (1995)
Moliner (2001)
Larousse (1998)
“Good morning! How’s our little
heartthrob today?”
Macunaíma kept a surly silence.
“So you don’t want to speak to me, is that
it? (p. 5)
Tradução por paráfrase
— Bonjour, petit trésor !
Mais Macounaïma se renfrogna et lui fit la
gueule.
— Tu veux pas me causer ? (p. 25-26)
Tradução por
correspondente não-literal
Lebouc (2006)
2
A velha tapanhumas escutou a voz do filho
no longe cinzado e se espantou.
Macunaíma apareceu de cara amarrada e
falou pra ela:
Simões (1993)
Simões (1993): “cara
amarrada”
Ferreira (1999): “amarrar
198
— Mãe, sonhei que caiu meu dente. (p. 16)
a cara”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “amarrar a cara”
Xatara e Oliveira (2002):
“amarrar a cara”
Camacho (2002): “ficar
de cara amarrada”
La vecchia negra udì in lontananza la voce
del figlio nel crepuscolo e rimase
stupefatta. Macunaíma venne avanti con la
faccia scura e le disse:
— Mamma, ho sognato che mi è cascato
un dente. (p. 29)
Tradução por paráfrase
La vieja tapañumas escuchó la voz de su
hijo en lo cenizo lejano y se espantó.
Macunaíma apareció carantamaula y dijo
hacia ella:
— Madre, soñé que se me caía un diente.
(p. 64)
Tradução por paráfrase
The old Tapanhuma woman heard the
voice of her son in the twilit distance and
marveled. Macunaíma approached her, his
face crumpled with worry, and said,
“Mother dear, I had a dream that one of my
teeth had fallen out!” (p. 13)
Tradução por paráfrase
La vieille Tapanioumas entendit la voix de
son fils dans le lointain cendré et tressaillit.
Macounaïma apparut, le visage maussade,
et lui dit :
— Mère, j’ai rêvé qu’était tombée ma dent.
(p. 35)
Tradução por paráfrase
3
A icamiaba não tinha nem um
arranhãozinho e cada gesto que fazia era
mais sangue no corpo do herói soltando
berros formidandos que diminuíam de
Cascudo (1977)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
199
mêdo os corpos dos passarinhos. Afinal se
vendo nas amarelas porque não podia
mesmo com a icamiaba, o herói deitou
fugindo chamando pelos manos:
— Me acudam que sinão eu mato! me
acudam que sinão eu mato! (p. 22)
[…] mentre l’amazzone non aveva
nemmeno un graffio e, a ogni gesto che
faceva, altro sangue sgorgava dal corpo
dell’eroe, che lanciava urla spaventose;
dalla paura gli uccellini si rimpicciolivano
tutti. Alla fine, vedendosela brutta perché
con quell’amazzone non ce la faceva
proprio, l’eroe se la diede a gambe e andò
a chiedere aiuto ai fratelli:
— Accorrete, che se no l’ammazzo!
Accorrete, che se no l’ammazzo! (p. 36)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997):
“vedersela brutta”
Zingarelli (2001):
“vedersela brutta”
Compensação
Sabatini e Coletti (1997):
“darsela a gambe”
Zingarelli (2001):
“darsela a gambe”
La icamiaba no tenía ni una arañadita y
cada gesto que hacía era más sangre en el
cuerpo del héroe, que ya daba berridos
horrísonos que disminuían de miedo los
cuerpos de los pajaritos. Al final,
viéndoselas color de hormiga porque de
veras no podía con la amazona, el héroe
largó a huir llamando a los manos:
— Socórranme que si no mato!
Socórranme que si no mato! (p. 70)
Tradução por
correspondente não-literal
Silva (2001): “(estar o
ponerse algo) color de
hormiga”
The Amazon hadn’t even the tiniest
scratch, while with each blow she struck
she drew more blood from the hero, who
was letting out such dreadful roars that the
birds shrank in terror. At last, getting the
wind up from being outmatched by this
female warrior, the hero turned and fled,
calling to his brothers, “Help! Help! I’m
killing her!” (p. 17)
Tradução por
correspondente não-literal
Longman (2002)
Camargo e Steinberg
(1990)
L’Icamiaba n’avait pas la moindre éraflure Tradução por paráfrase
200
et chacun de ses coups faisait jaillir de
nouveaux flots de sang du corps de notre
héros qui poussait des braillements si
épouvantables qu’ils rétrécissaient le corps
des oiseaux apeurés. Finalement, se voyant
réduit à merci car il ne pouvait rien contre
l’Icamiaba, notre héros prit le parti de la
fuite tout en appelant ses frères :
— À l’aide sinon je la tue ! À l’aide sinon
je la tue ! (p. 40)
Compensação
Robert (1993): “Prendre
le parti de”
4
Os dois manos estavam com fome. Fizeram
um zaiacúti com folhagem cortada pelas
saúvas, esconderijo no galho mais baixo da
árvore pra flecharem a caça devorando as
frutas. Maanape falou pra Macunaíma:
— Olha, si algum pássaro cantar não
secunda não, mano, sinão adeus minhas
encomendas!
O herói mexeu a cabeça que sim. (p. 48)
Nascentes (1966)
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
I due fratelli avevano fame. Fecero uno
scudo di foglie, uno zaiacùti, servendosi di
quelle tagliate dalle formiche saùvas e vi si
nascosero dietro stando sul ramo più basso
dell’albero per frecciare la cacciagione che
veniva a divorare la frutta. Maanape disse a
Macunaíma:
— Bada, fratello, se un uccello si mette a
cantare, tu non rispondere, altrimenti siamo
fritti!
L’eroe con il capo fece cenno di sì. (p. 65)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997)
Radicchi (1985)
Los dos manos estaban con hambre.
Escudados con un zaiacuti tramado con el
hojerío cortado por las tambochas hicieron
un escondrijo en la rama más baja del árbol
para así poder flechar la caça y devorar las
frutas. Maanape le dijo a Macunaíma:
Tradução por paráfrase
201
— Mira, me tinca que si algún pájaro canta
mejor chitón-chiticalladito, que si no, adiós
atracón!
El héroe movió la cabeza que sí. (p. 101)
The two brothers were very hungry, so
they made themselves a shield from leaves
cut by the ants and hid on the lowest
branch of the tree to pick off the game
feeding on the fallen fruit. Maanape
warned Macunaíma, “Look, if you hear a
birdcall, don’t reply, brother, or it’s
farewell to my spell!” The hero nodded
agreement. (p. 37)
Tradução por
correspondente não-literal
Google
9
:
“farewell for a spell”:
1.610 ocorrências
Les deux frères avaient faim. Avec le
feuillage coupé par les fourmis ils se firent
un zaïacouti sur la plus basse branche de
l’arbre pour s’y tapir et pouvoir décocher
leurs flèches sur les bêtes qui se
repaissaient des fruits. Maanape dit à
Macounaïma :
— Fais gaffe ! Si un piaf chante, ne lui
réponds pas ! Sinon, frangin, tu peux dire
adieu au repas !
Notre héros fit un signe d’assentiment. (p.
64)
Tradução por paráfrase
5/6
10
— Mas eu estou querendo tanto a pedra!
— Vá querendo!
— Pois tanto se me dá como se me dava,
regatão!
— Regatão uma ova, francesa! Dobre a
língua! Colecionador é que é!
Foi lá dentro e voltou carregando um
Nascentes (1966): “tanto
se me dá como se me
deu”
Silva (1975): “tanto se lhe
dá como se lhe deu”
Mota (1987): “tanto se me
dá como se me deu”
9
Busca em páginas em inglês pelo site www.google.com em 2 de julho de 2010.
10
Quando dois trechos contendo provérbios ou EIs estavam próximos, apresentamos a
sequência completa para facilitar a visualização do contexto.
202
grajaú tamanho feito de embira e cheinho
de pedra. (p. 61)
Simões (1993): “tanto se
me dá como se me deu”
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
— Ho tanta voglia di quella pietra!…
— Peggio per te!
— E allora non me ne importa un bel
niente, spilorcio, rigattiere!
— Rigattiere un corno, francesina! Sta’
attenta a come parli! Si dice collezionista!
Andò di là e ritornò con una enorme cesta
fatta di fibre di embira e piena colma di
pietre. (p. 77)
5- Tradução por paráfrase
6- Tradução por paráfrase
— Pero es que estoy queriendo tanto la
piedra!…
— Siga queriendo!
— Pos me va y me viene, regatón!
— Regatón un cuerno, francesa! ¿Sabe con
quien está hablando? Nomás que con un
Coleccionista!
Fue allá adentro y volvió cargado con
tamaño escriño hecho con cáñamo y
llenecito de piedras. (p. 114)
5- Tradução por
correspondente não-literal
Moliner (2001): “A mí
qué me va ni me viene [a
ti qué te va ni te viene,
etc.]”; Larousse (1998):
“ni me, te o le va ni me, te
o le viene”
6- Tradução por paráfrase
“But I want that stone ever so much!”
“You can keep on wanting it!”
“It’s all the same to me, I’m sure, my dear
dealer!”
“Dealer, fiddlesticks, Frenchwoman! Take
that word back. I’m a collector, that’s what
I am!
He went inside again and returned carrying
a great wicker clothes basket full of stones.
(p. 44)
5- Tradução por
correspondente não-literal
Longman (2002)
6- Tradução por paráfrase
— Mais j’ai tellement envie de la 5- Tradução por paráfrase
203
pierre !…
— Eh bien, reste sur ton envie !
— L’avoir ou pas, ça m’est bien égal,
marchand !
— Marchand mon oeil, petite Française !
Tourne ta langue avant de parler ! Je suis
col-lec-tion-neur !
Il passa dans la pièce voisine et revint
chargé d’un énorme panier à poules en
fibre, tout rempli de pierres […] (p. 75)
6- Tradução por
correspondente não-literal
Google
11
:
“tourne ta langue avant de
parler”: 1.390 ocorrências
“tourner la langue avant
de parler”: 391
ocorrências
“tourner la langue * avant
de parler”: 9.110
ocorrências
“tourner la langue sept
fois avant de parler”:
4.120 ocorrências
“tourner la langue 7 fois
avant de parler”: 4.960
ocorrências
“tourner la langue * fois
avant de parler”: 5.910
ocorrências
Robert (1993): “PROV. Il
faut tourner sept fois sa
langue dans sa bouche
avant de parler
7
Vai, êle sentou na rêde mui rente da
francesa, muito! e falou murmuriando que
com êle era oito ou oitenta, não vendia não
emprestava a pedra mas porém era capaz
de dar… “Conforme…” O gigante estava
mas era querendo brincar com a francesa.
(p. 60)
Nascentes (1966)
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Dopodiché andò a sedersi nell’amaca Tradução por paráfrase
11
Busca em páginas em francês pelo site www.google.fr em 2 de julho de 2010.
204
vicino, molto! alla francesina, e
sussurrando le disse che era tutto o niente e
la pietra non la vendeva e non la
imprestava, però era capace di regalarla…
“Dipende…”. Il gigante, quello che voleva,
era divertirsi insieme alla francesina. (p.
78)
Entonces se sentó en la hamaca muy junto
de la francesa, harto! y habló
murmullando, pues con él lo demás era lo
de menos, ya que no vendía ni prestaba la
piedra pero sin embargo sería capaz de
darla… “Depende de los asegunes…” El
gigante lo que estaba de veras queriendo
era juguetear con la francesa. (p. 115)
Tradução por
correspondente não-literal
Frauca (1906): “tanto es
lo demás como lo de
menos”
Google
12
:
“lo demás era lo de
menos”: 76.900
“lo demás es lo de
menos”: 326.000
13
He came and sat in the hammock, very
close, affectionately close to the
Frenchwoman and murmured in her ear
that with him, it was all or nothing. He
wouldn’t lend her the stone; however, he
might feel willing to give it to her. “It all
depends…!” he cooed. The giant had
reached that stage when he felt compelled
to make a pass at the Frenchwoman. (p.
45)
Tradução por paráfrase
Compensação
Longman (2002): “make a
pass at”
Soudain il s’assit sur le hamac contre, tout
contre la Française et lui glissa dans
l’oreille qu’avec lui c’était tout ou rien, il
ne vendrait ni ne prêterait la pierre, mais il
était prêt à la donner… selon son bon
vouloir à elle… Le géant n’avait qu’une
idée en tête, s’amuser avec la belle. (p. 76)
Tradução por paráfrase
12
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 2 de julho de 2010.
13
É também o título de uma música, motivo da grande ocorrência.
205
8/9
Chegou na pensão tomando a bênção de
cachorro e chamando gato de tio, só vendo!
suando esfolado com fogo nos olhos,
botando os bofes pela bôca. Descansou um
pedaço e como estava arado de fome bateu
uma fritada de sururú de Maceió, um pato
sêco de Marajó molhando a janta com
mocororó. Descansou. (p. 65)
Nascentes (1966): “Pedir
a benção aos cachorros”
Mota (1987): “tomando
benção a cachorro,
chamando gato ‘meu tio’”
Ferreira (1999): “tomar a
benção a cachorro”,
“chamar o gato meu tio”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “tomar a benção a
cachorro”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “pôr/deitar os
bofes pela boca”
Xatara e Oliveira (2002):
“botar os bofes pra fora”
Arrivò in pensione tanto frastornato che
non capiva più niente, bisognava vederlo,
sudato, scorticato, con gli occhi che
bruciavano, tutto scalmanato. Riposò un
pocchino e poi, dato che era morto di fame,
si preparò una frittata con molluschi di
Maceió e un anitra secca di Marajó,
innaffiando la cena con il mocororó o
acquavite di cajú. Poi si riposò. (p. 82)
8- Tradução por paráfrase
9- Tradução por paráfrase
Llegó a la pensión tan sumiso que tomaba
la bendición del perro y llamaba al gato de
tío, tenían que verlo! Sudaba
despellejándose con ojos de fuego,
echando los bofes por la boca. Descansó un
ratito y como andaba muerto de hambre
preparó unas fritangas con mejillón de
Maceió, un pato seco de Marajó sopeando
la comida con mocororó. Descansó. (p.
119)
8- Tradução literal E
Tradução da letra
9- Tradução por
correspondente literal
Real Academia (1995)
Moliner (2001)
Larousse (1998)
The hero arrived back at the digs, his tail 8- Tradução por paráfrase
206
between his legs, spent and ready to eat a
humble pie. He was scratched and
sweating, with bloodshot eyes, fed up to
the teeth with his futile exertions. He
rested a bit, and then, realizing how hungry
he was, he had for dinner a dish of fried
mussels from Maceió, and a cold duck,
Marajó style with cashew-nut sauce. He hit
the hay. (p. 48-49)
9- Tradução por paráfrase
Compensação (4)
(paráfrases incluem EIs,
além da compensação ao
final)
Longman (2002): “with
one’s tail between one’s
legs” / “eat humble pie” /
“hit the hay
Schambil e Schambil
(2002): “with one’s tail
between one’s legs” / “eat
humble pie” / “be fed up
to the back teeth with
someone (ou something)”
Camargo e Steinberg
(1990): “with one’s tail
between one’s legs”
Pickett (2004): “eat a
humble pie”
James (1996): “fed (up) to
the back teeth with
something or someone”
Macounaïma arriva à la pension il fallait
voir dans quel état ! Suant, soufflant, l’oeil
enflammé, des égratignures partout,
époumoné, égaré : il présenta ses civilités
au chien et appela tonton le matou. Il
s’accorda un petit repos et comme il avait
une de ces faims, il bâfra une friture de
moules de Maceió, un canard fumé de
Marajó et arrosa le casse-croûte de liquer
de cajou. Et là-dessus se reposa. (p. 80)
9- Tradução por paráfrase
8- Tradução por figura de
linguagem não-
consagrada OU Tradução
da letra
10
Estava desconsolado de não ter força ainda Houaiss, Villar e Franco
207
e vinha numa distração tamanha que deu
uma topada.
Então de tanta dor o herói viu no alto as
estrêlas e entre elas enxergou Capêi
minguadinha cercada de névoa. (p. 69)
(2001): “ver estrelas”
Ferreira (1999): “ver
estrelas ao meio-dia”
Era tutto sconsolato per il fatto di non
essere ancora in forze, e camminava tanto
distrattamente che fece um bel
capitombolo.
Allora, dal gran dolore, l’eroe vide le stelle
lassù in alto e in mezzo ad esse scorse
Capêi calante al massimo e circondata di
bruma. (p. 87)
Tradução por
correspondente literal
Sabatini e Coletti (1997)
Zingarelli (2001)
Estaba desconsolado por no tener las
fuerzas aún y venía en tan tamaña
distracción que se dio un topetazo.
Entonces de tanto dolor se puso a ver
estrellas el héroe y en lo alto, entre ellas,
divisó a Capei menguadita y cercada de
neblina. (p. 123)
Tradução por
correspondente literal
Real Academia (1995)
Larousse (1998)
He was so sunk in gloom over his
feebleness that he stumbled into a hole in
the road which tripped him up. The sudden
twinge of pain made the hero lift his eyes
to the stars above, and among them he saw
Capei, the Moon, on the wane and circled
by a halo. (p. 50)
Tradução por paráfrase
Il ne pouvait se consoler de n’avoir pas
encore de force et cela le plongea dans une
telle distraction qu’il trébucha.
La douleur fut si violente que notre héros
vit là-haut les étoiles et parmi elles il
aperçut Capeï à son décours, entourée d’un
halo de brume. (p. 83)
Tradução literal E
Tradução da letra
11
Caiuanogue foi se chegando porém o herói Nascentes (1966):
208
fedia muito.
— Vá tomar banho! ela fêz. E foi-se
embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar
banho!” que os Brasileiros empregam se
referindo a certos imigrantes europeus. (p.
84)
“Mandar tomar banho”
Cascudo (1977)
Caiuanogue si avvicinò: ma l’eroe puzzava
troppo.
— Va’ a fare il bagno
*
— disse; e se ne
andò.
Fu così che ebbe origine l’espressione “
tomar banho!”, di cui si servono i brasiliani
riferendosi a certi immigrati europei. (p.
102)
Tradução literal com
correspondente em nota
de rodapé e transcrição da
EI original na segunda
ocorrência
Sabatini e Coletti (1997):
“mandare qlcu. a farsi
friggere”, “andare a farsi
friggere
Zingarelli (2001):
“Mandare qc. a farsi
friggere”, “Andare a farsi
friggere”
Cayuanog se fue allegando pero el héroe
apestaba mucho.
— Que qué, vete a bañar! — le replicó. Y
se retiró.
Así nació la expresión “Vete a bañar!” que
los Brasileños emplean refiriéndose a
ciertos inmigrantes europeos. (p. 138)
Tradução por
correspondente literal
Silva (2001)
The hero was stinking so foul that
Kaiuanog kept on her course. “Go jump in
the lake!” she cried and glided on. In this
way was born the expression “Go jump in
the lake!,” which Brazilians use when
being rude to certain European immigrants.
(p. 61)
Tradução por
correspondente não-literal
James (1996)
Camargo e Steinberg
(1990)
Caïouanogue s’approcha mais notre héros
puait fort.
Tradução por
correspondente literal
*
Equivalente dell’italiano “va’ a farti friggere!”.
209
— Va te laver ! Dit-elle. Et elle s’en fut.
Ainsi naquit l’expression « Va te laver »
que les Brésiliens emploient à propos de
certains immigrants européens. (p. 96)
Virmaître (1894)
12
Não te dou mais nenhuma das minhas três
filhas não!
Daí Macunaíma pisou nos calos também:
— Pois nem eu queria nenhuma das três,
sabe! Três, diabo fêz! (p. 89)
Nascentes (1966)
Simões (1993): “pisou os
calos”
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002):
“pisou no calo”
Non ti voglio più dare nessuna delle mie
figlie, ecco!
Allora Macunaíma si irritò terribilmente lui
pure:
— E io non ne volevo nessuna delle tre,
sai! Tre è il numero del diavolo! (p. 108)
Tradução por paráfrase
Ya no le ofrezco a ninguna de mis hijas.
Nanay!
Entonces Macunaíma perdió la figura
también.
— Pos al fin que ni quería, entiende! Tres,
ni al revés! (p. 143)
Tradução por
correspondente não-literal
Google
14
:
“perder la figura”: 13.300
ocorrências
I shall certainly not give you one of my
daughters. No, I certainly will not!
Then Macunaíma felt his own corns being
trodden on: “Right now I don’t want any of
your three you-know-whats either! Three
of them! A devil’s brood; may the devil fly
away with the lot of them!” (p. 65)
Tradução por
correspondente não-literal
Camargo e Steinberg
(1990)
Longman (2002)
[…] et plus question que je te donne une
des mes trois filles, sûrement pas !
Macounaïma lui monta sur les pieds
à son
Tradução por
correspondente não-literal
Google
15
:
14
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 6 de julho de 2010.
210
tour :
— J’en voulais pas de vos trois filles !
Trois, c’est le diable sous le toit ! (p. 102)
“monter sur les pieds”:
316.000 ocorrências
13
Ninguém mais não falava em boutonnière
por exemplo; só puíto, puíto se escutava.
Macunaíma ficou de azeite uma semana,
sem comer sem brincar sem dormir só
porque desejava saber as línguas da terra.
Lembrava de perguntar pros outros como
era o nome daquêle buraco mas tinha
vergonha de irem pensar que êle era
ignorante e moita. (p. 113)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Nessuno diceva più boutonnière; si sentiva
dire soltanto puíto, puíto.
Macunaíma rimase di malumore per una
settimana, senza mangiare, senza fare
all’amore, senza dormire, solo perché
desiderava conoscere le lingue del posto.
Aveva voglia di domandare a qualcuno
com’era il nome di quel buco, ma si
vergognava temendo che lo credessero
ignorante, e allora silenzio. (p. 131)
Tradução por paráfrase
Nadie más decia ojal o boutonnière por
ejemplo; sólo puito y puito se escuchaba.
Macunaíma anduvo hecho un vinagre una
semana sin comer sin juguetear y sin
dormir sólo porque deseaba saber las
lenguas de la tierra. Se acordaba de
preguntar a los demás cómo era el nombre
de aquel agujero pero tenía vergüenza de
que fueran a pensar que era ignorante, y
mejor chitón. (p. 167)
Tradução por
correspondente não-literal
Savaiano e Winget (2007)
Nobody spoke anymore of a flower for the Tradução por
15
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 2 de julho de 2010.
211
buttonhole; only arsehole, arsehole, was
heard.
Macunaíma was down in the dumps for a
whole week without eating, without
making love, without sleeping, because he
badly wanted to know the country’s
language, that was all. He thought about
asking someone else the name of that hole,
but being ashamed of showing his
ignorance, he held his tongue. (p. 81-82)
correspondente não-literal
Longman (2002)
C’est ainsi que nul ne parlait plus de
boutonnière par exemple, mais de trou-de-
balle, on n’entendait plus que « trou-de-
balle » partout.
Macounaïma fut de méchante humeur
pendant une semaine, sans manger sans
s’amuser sans dormir, rien que parce qu’il
voulait savoir les langues du pays. Il aurait
bien demandé aux autres quel était le nom
de ce trou-là, mais il avait honte d’être pris
pour un ignorant, il préférait la fermer. (p.
121)
Tradução por paráfrase
14
Então Macunaíma fumou fava de paricá
pra ter sonhos gostosos e adormeceu bem.
No outro dia lembrou que precisava se
vingar dos manos e resolveu passar um
pealo nêles. Levantou madrugadinha e foi
esconder no quarto da patroa. (p. 124)
Nascentes (1966)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Allora Macunaíma fumò fave di paricá che
dànno sogni piacevoli e si addormentò
tranquillamente.
Il giorno dopo pensò che si doveva
vendicare dei fratelli e decise di giocar loro
un tiro. Si alzò prestissimo e andò a
nascondersi nella stanza della padrona […]
(144-145)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997):
“giocare un (brutto) tiro a
qlcu.”
Zingarelli (2001):
“giocare un brutto tiro a
qc.”
212
Entonces Macunaíma fumó habas de paricá
para pipiscar sueños sabrosos y se
adormeció rebién.
Al otro día se acordó que necesitaba
vengarse de los manos y resolvió tenderles
una. Se levantó de madrugada y fue a
esconderse al cuarto de la encargada. (p.
180)
Tradução por paráfrase
So Macunaíma smoked some hash to give
himself delicious dreams and went soundly
to sleep.
The next day he remembered he wanted to
revenge himself on his brothers and
decided to pull their legs. He rose early and
went to the landlady’s room to hide […] (p.
91)
Tradução por
correspondente não-literal
James (1996)
Pickett (2004)
Longman (2002)
Alors Macounaïma prisa de la fève de
parkia pour avoir de beaux rêves et plongea
dans la sommeil.
Le lendemain il se rappela qu’il devait se
venger de ses frères et résolut de les berner.
Il se leva dès potron-jaquet et alla se cacher
dans la chambre de la patronne […] (p.
132)
Tradução por paráfrase
15
Formou-se um furdunço temível. Então
Macunaíma se aproveitou da trapalhada e
pernas praquê vos quero! Vinha um bonde
na carreira badalando. Macunaíma pongou
o bonde e foi ver como passava o gigante.
(p. 128)
Nascentes (1966):
“Pernas, para que te (sic)
quero?”
Mota (1987): “pernas,
para que te quero!”
Simões (1993): “Pernas
para que vos quero”
Ferreira (1999): “pernas,
para que te quero!”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “pernas, para que
te quero!”
213
Xatara e Oliveira (2002):
“pernas para que te
quero”
Si era creato proprio un casino tremendo.
Macunaíma approfittò della confusione e
mise le gambe in spalla. Stava arrivando a
tutta velocità un tram dondolante e
scampanellante: ci saltò su e andò a vedere
come se la stava passando il gigante. (p.
148-149)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997)
Se formó un desbarajuste terrible. Entonces
Macunaíma se aprovechó de la balumba y
piernas pra qué las quiero! Venía un
tranvía desbadajándose en la carrera.
Macunaíma subió de palomita al tranvía y
fue a ver cómo la pasaba el gigante. (p.
184)
Tradução por
correspondente literal
Moliner (2001): “Pies
para qué os quiero.”
Larousse (1998): “Pies
para qué os quiero.”
Real Academia (1995):
“Pies, ¿para qué os
quiero?”
Google
16
:
“piernas para qué las
quiero”: 186 ocorrências
“piernas pa qué las
quiero”: 102 ocorrências
The skirmish worsened into a terrible
brawl. Macunaíma made good use of the
confusion and showed a clean pair of heels
by jumping onto a streetcar that came
clanging on its tracks. He went to see how
the giant was getting along. (p. 94)
Tradução por
correspondente não-literal
Longman (2002)
Schambil e Schambil
(2002)
Camargo e Steinberg
(1990): “to show heels”
La pagaille devenait terrible. Alors
Macounaïma profita du tohu-bohu et pris
ses jambes à son cou. Un tram
brinquebalant arrivait au bout de la rue.
Macounaïma l’attrapa au vol et s’en fut
Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993)
16
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 3 de julho de 2010.
214
prendre des nouvelles de la santé du géant.
(p. 136)
16
— Me diga uma coisa: você conhece a
língua do lim-pim-gua-pá?
— Nunca vi mais gordo!
— Pois então, rival: Vá-pá à-pá mer-per-
da-pá! (p. 130)
Nascentes (1966): “Nunca
ter visto mais gordo”
Simões (1993)
Xatara e Oliveira (2002)
— Dimmi una cosa: tu conosci la lingua
del lim-pim-gua-pá?
— Mai sentita nominare!
— E allora, sta’ a sentire, rivale: Va-pa a-
pa mer-per-da-pa! (p. 151)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997)
— Dígame una cosa mariposa: usté conoce
la lengua del len-pen-gua-pá?
— Nunca oí esa vaina!
— Pos entonces, rival: An-pan-dá-pá a la-
pá mier-per-da-pá! (p. 186)
Tradução por paráfrase
[…] “Tell me something, do you know the
Arago lingo, like ‘Staraguff aragit
aragup’?”
“Never ‘eard of it!”
“Very well, Clever Dick, garago sharagit
yaragour saragelf!” (p. 96)
Tradução por paráfrase
— Dis-moi : tu connais le javanais ?
— Je l’aurais vu que ça se serait su !
— Eh bien, mavalavin, jeve
tavenmeverdeve ! (p. 139)
Tradução da letra
17
Era a velha Ceiuci chegando. Macunaíma
pernas pra que vos quero pelo eucaliptal.
Mas o passarinho sempre mais perto e
Macunaíma isso vinha que vinha acochado
pela velha. (p. 136 )
Nascentes (1966):
“Pernas, para que te (sic)
quero?”
Mota (1987): “pernas,
para que te quero!”
215
Simões (1993): “Pernas
para que vos quero”
Ferreira (1999): “pernas,
para que te quero!”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “pernas, para que
te quero!”
Xatara e Oliveira (2002):
“pernas para que te
quero”
[…] della vecchia Ceiucì che arrivava.
Macunaíma via come il vento attraverso il
bosco di eucaliptus, ma quel grido di
uccello che gli veniva dietro si avvicinava
sempre di più e perciò doveva continuare a
correre a più non posso con la vecchia alle
calcagna. (p. 157)
Tradução por
correspondente não-literal
Google
17
:
“via come il vento”:
18.200 ocorrências
“e via come il vento”:
1.330 ocorrências
Era la vieja Ceiuci llegando. Y Macunaíma
piernas pa qué las quiero por los
eucaliptos. Pero el pajarito más cerca y
Macunaíma en eso venía que venía
acosado por la vieja. (p. 193)
Tradução por
correspondente literal
Moliner (2001): “Pies
para qué os quiero.”
Larousse (1998): “Pies
para qué os quiero.”
Real Academia (1995):
“Pies, ¿para qué os
quiero?”
Google
18
:
“piernas para qué las
quiero”: 186 ocorrências
“piernas pa qué las
quiero”: 102 ocorrências
It meant that the old Ceiuci was coming.
Macunaíma skedaddled all out into a stand
of blue gums. But the little bird came
closer, ever closer, and Macunaíma could
see he was being overtaken by the old
Tradução por paráfrase
17
Busca em páginas em italiano pelo site www.google.it em 3 de julho de 2010.
18
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 3 de julho de 2010.
216
woman. (p. 101)
[…] de la vieille Ceïouci qui le talonnait.
Macounaïma se carapata par un bois
d’eucalyptus. Mais l’oiseau était toujours
plus près plus près et Macounaïma sentait
déjà le souffle de la vieille lui siffler aux
oreilles. (p. 145)
Tradução por paráfrase
18
Macunaíma agradeceu muito e quis pagar o
ajutório porém se lembrou que estava
carecendo de fazer economia. Virou pro
tuiuiú e falou:
— Olha, primo, pagar não posso não mas
vou te dar um conselho que vale ouro:
Nêste mundo tem três barras que são a
perdição dos homens: barra de rio, barra de
ouro e barra de saia, não caia! (p. 138-139)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Macunaíma ringraziò moltissimo e volle
pagare l’aiuto ricevuto, ma poi si ricordò
che aveva bisogno di far economia e disse,
rivolto al tuiuiú:
— Senti, cugino, pagare non posso, ma ti
voglio dare un consiglio che vale un tesoro:
a questo mondo ci sono tre “barra” che
portano l’uomo alla perdizione: barra
(secca) di fiume, barra (sbarra) d’oro, e
barra (orlo) di gonna, attenzione. (p. 160)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997):
“valere, costare un tesoro”
Macunaíma agradeció mucho e quiso pagar
la manita pero se acordó que estaba
careciendo de hacer economías. Se vi
hacia el tuyuyú y concluyó:
— Mire, primo, pagar no puedo pagarle
pero le daré un consejo que vale oro
: En
este mundo hay tres barras que son la
perdición de los hombres: Barras de río,
barras de oro y embarradas de falda,
Tradução literal E
Tradução da letra
217
añañay, no caiga! (p. 195)
Macunaíma thanked the stork profusely.
He would have liked to pay for the help he
had been given, but he remembered that
they needed to economize.
He turned to the jabiru stork and said,
“Look, cousin, it’s impossible for me to
repay you, but I’ll make you a present of
some advice that’s worth its weight in
gold. In this world there are three bars that
are the ruination of mankind: the sand bar
in a river — where the washerwomen are
endlessly quarreling; the bar of gold —
over which both friends and thieves fall
out; and the bar of a skirt that won’t come
off!” (p. 103)
Tradução por equivalente
não-literal
Ammer (1997)
Macounaïma dit mille mercis et voulut
payer le coup d’aile mais il se souvint qu’il
avait besoin de faire des économies. Il se
tourna vers le touiouiou et lui dit :
— Écoute, cousin, je peux pas te payer
mais je vais te donner un conseil qui vaut
son pesant d’oseille : En ce monde, sables
mouvants, or trébuchant et jupon au vent
sont la perdition des hommes. Garde-toi de
tomber dans leur piège ! (p. 147)
Tradução da letra
19/20
Não tinha ninguém no palácio e a copeira
do vizinho contou que Piaimã com tôda a
família fôra na Europa descansar da sova.
Macunaíma perdeu tôdo o requebrado e se
contrariou bem. Brincou com a copeira
muito aluado e voltou macambúzio prà
pensão. Maanape e Jiguê encontraram o
herói na porta da rua e perguntaram pra
êle:
— Quem matou seu cachorrinho
, meus
Xatara e Oliveira (2002):
“perder o rebolado”
Nascentes (1966): “Quem
matou seu cachorrinho?”
218
cuidados?
Então Macunaíma contou o sucedido e
principiou chorando. (p. 143-144)
Nel palazzo non c’era nessuno, ma la
cameriera di un vicino raccontò a
Macunaíma che Piaimã era andato in
Europa con tutta la famiglia per ristabilirsi
dalle botte ricevute. Macunaíma rimase
malissimo e molto seccato: controvoglia si
divertì insieme alla cameriera, poi ritor
in pensione tutto imbronciato. Maanape e
Jiguê erano davanti alla porta di strada e gli
dissero:
— Chi ti ha ucciso il cagnolino, mio
carino?
Allora Macunaíma raccontò quello che era
successo e incominciò a piangere. (p. 164)
19- Tradução por
paráfrase
20- Tradução da letra
Battaglia (1970): “Ti è
morto il gatto?: domanda
scherzosa a chi appare di
pessimo umore o veste
come se portasse il lutto”
No había nadie en el palacete y la mucama
del vecino contó que Piaíma con toda la
familia se había ido a Europa a reponerse
de la soba. Macunaíma perdió la figura y se
recontracontrariò. Jugueteó en la cama-
camera de la mucama con la cabeza en la
luna y regresó a la pensión pesaroso.
Maanape y Yiguê hallaron al héroe en la
puerta de la calle y le preguntaron:
— ¿Qué, lo machucó un tren, mis
cuidados?
Entonces Macunaíma contó lo sucedido y
llegó a llorar. (p. 199-200)
19- Tradução por
correspondente não-literal
Google
19
:
“perder la figura”: 19.300
ocorrências
Compensação
Google
20
:
“con la cabeza en la
luna”: 1.810.000
ocorrências
20- Tradução por
correspondente adaptado
Reyna (1980): “Que te
vaya bien – y que te
machuque un tren.
Humorous farewell”
There was no one at home at the palace, 19- Tradução por
19
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 6 de julho de 2010.
20
Busca em páginas em espanhol pelo site www.google.es em 6 de julho de 2010.
219
but a barmaid from a boozer nearby told
him that Piaiman had gone to Europe with
his whole family to recover from the
trouncing he had been given. Macunaíma
shook off the torpor remaining from his
illness and flew into a passion. He
screwed the maid like crazy; by the time he
was back in his digs he was crestfallen.
Maanape and Jiguê met him at the door,
and after one look at him, said, “Whose
dog has been hung now, brother?”
Macunaíma told them what he had found
out and started yowling. (p. 104-105)
paráfrase
21
Compensação
Gomes (2003): “fly into a
rage/passion encolerizar-
se”
20- Tradução por
correspondente não-literal
Partridge e Beale (2002):
“Whose dog is dead?;
Whose dog’s a-hanging”
Il n’y avait personne au palais et la
servante du voisin lui conta que Piaïman
avec toute sa famille était parti pour
l’Europe se remettre de la dérouillée.
Macounaïma perdit tout son allant et fut
bien contrarié. Il s’amusa avec la servante
mais il était complètement dans les
nuages, pas du tout à l’ouvrage, et il s’en
revint tout piteux à la pension. Maanape et
Jigué trouvèrent notre héros sur le pas de la
porte et lui demandèrent :
— Ma parole, frangin ! On a tué ton chien !
Alors Macounaïma leur conta ce qui était
arrivé et se mit à pleurer. (p. 150)
19- Tradução por
paráfrase
Compensação
Robert (1993): “Être, se
perdre dans les nuages”
20- Tradução por
correspondente adaptado
Académie Française
(1843): “Il ne faut pas
tuer son chien pour une
mauvaise année”
Boiste, Nodier e Barré
(1857): “Quand on veut
tuer son chien, on dit qu’il
est enragé [PROV.]”
Rolland (1967): “Celui
qui veut tuer son chien
l’accuse de la rage” / “Il
ne faut pas tuer son chien
pour une mauvaise année”
Robert (1993): “Qui veut
noyer son chien l’accuse
de la rage”
21
Porém provavelmente resultante de compreensão equivocada da EI.
220
21
Então puderam pensamentear.
— Pois é, meus cuidados, você andou
lerdeando, cozinhando galo, cozinhando
galo, o gigante é que não havia de esperar,
foi-se. Agora aguente a massada! (p. 144)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Dopodiché furono in grado di pensare.
— Insomma, caro mio, tu te la sei presa
comoda, menando il can per l’aia,
menando il can per l’aia, non c’era ragione
perché il gigante stesse lì ad aspettare, e se
ne è andato. Adesso sopporta le
conseguenze! (p. 164)
Tradução por
correspondente não-literal
Battaglia (1970
Radicchi (1985)
Sabatini e Coletti (1997)
Zingarelli (2001)
Compensação
Sabatini e Coletti (1997):
“prendersela comoda”
Zingarelli (2001):
“prendersela comoda”
Hasta entonces pudieron pensamentear.
— Pos sí, mis cuidados, usté anduvo por
ahí demore y demore dando atole con el
dedo, y el gigante sí que no se iba a quedar
espere y espere y se fue. Ora aguante el
tren! (p. 200)
Tradução por
correspondente não-literal
Moliner (2001)
[…] they were able to think clearly.
“The trouble is, fellows, you drag your
feet so, waiting for hens to piss holy water;
now the giant doesn’t hang around to see
which way the cat jumps, he just gets up
and goes. Now you take the strain!” (p.
105)
Tradução por
correspondente não-literal
Partridge e Simpson
(1973): “when hens make
holy water”
Compensação (2)
Longman (2002): “drag
one’s feet/heels”
Pickett (2004): “drag
(one’s) feet/heels”
Siefring (2006): “drag
your feet” / “see which
221
way the cat jumps
[…] ils purent réfléchir à leur aise.
— Tu vois, frérot, à quoi ça mène de faire
le lièvre : on muse, on s’amuse et pendant
ce temps le géant ne t’a pas attendu et a
levé le camp. Maintenant à toi les
embêtements ! (p. 150)
Tradução por paráfrase
22
Compensação
Robert (1993): “lever le
camp”
22
Não vê que o Governo estava com mil
vêzes mil pintores já encaminhados pra
mandar na pensão da Europa e Macunaíma
ser nomeado era mas só no dia de São
Nunca. Ficava muito longe. (p. 147)
Simões (1993)
Xatara e Oliveira (2002)
Camacho (2002)
Succede che il governo aveva mille volte
mille pittori già pronti per farsi mandare in
Europa con la borsa di studio e prima che
venisse il turno di Macunaíma bisognava
aspettare l’anno di San Mai. Troppo tempo.
(p. 167)
Tradução por
correspondente não-literal
Sabatini e Coletti (1997):
l’anno del mai, l’anno
che non ci sarà”
Battaglia (1970):
“Rimandare all’anno mai”
/ “Pagare il giorno di San
Mai”
No ve que el Gobierno estaba con mil
veces mil pintores ya encaminados para ser
mandados con la beca a Europa y para que
Macunaíma fuera nombrado sólo faltaba
que llegase el día de San Nunca. Y para
eso aún le colgaba. (p. 203)
Tradução literal E
Tradução da letra
They had not realized that there were
already a thousand painters clamoring to
squeeze a grant out of the government and
that Macunaíma would have to wait for
donkey’s years
before it was his turn. They
had waited there a long time […] (p. 107)
Tradução por
correspondente não-literal
Longman (2002)
James (1996)
Schambil e Schambil
(2002)
22
Contendo referência à fábula de La Fontaine, “A lebre e a tartaruga”.
222
Il faut dire que le Gouvernement avait déjà
sur les bras les requêtes de mille fois mille
peintres qui demandaient à être envoyés en
pension en Europe et Macounaïma avoir
une bourse, ce serait à la saint-glinglin,
donc pas pour demain. (p. 153)
Tradução por paráfrase
Compensações
Robert (1993): “avoir sur
les bras” / “Ce n’est pas
demain que”
23
Então os irmãos se descabelaram. Agora
não era possível mais irem na Europa não,
porque possuíam só a noite e o dia.
Levaram na prantina enquanto o herói
esfregava óleo de andiroba no corpo pros
mosquitos não amolarem e adormecia bem.
(p. 147)
Pérez (1961)
Allora i frattelli incominciarono a
strapparsi i capelli. Adesso non avevano
più un soldo in tasca e non era più possibile
andare in Europa. Continuarono a lungo il
loro piagnisteo, mentre l’eroe si passava
olio di andiroba sul corpo per non esser
disturbato dalle zanzare e si addormentava
tranquillamente. (p. 168)
Tradução por paráfrase
Entonces los manos se desesperaron.
Ahora ya no era posible que fueran a
Europa, pues sólo poseían a las noches y
los días. Soportaron el lloriqueo mientras el
héroe se refregaba aceite de jalapa en el
cuerpo pa que los mosquitos no lo fregaran
y se durmió de un hilo. (p. 103)
Tradução por
correspondente literal
Moliner (2001): “No tener
más que el día y la
noche.”
The brothers tore their hair at this. It
would now be impossible for any of them
to go to Europe, as they were left with
nothing but sunshine and moonshine. They
lifted up their voices in a common howl of
dismay while the hero rubbed himself all
over with crab oil against the mosquitoes
Tradução da letra
Compensação
Pickett (2004): “tear
(one’s) hair
Longman (2002): “tear
one’s hair (out)”
223
and fell into a sound sleep. (p. 108)
Alors les deux frères s’arrachèrent les
cheveux. Cette fois il n’était plus possible
d’aller en Europe, ils n’avaient plus que
l’air du temps pour vivre. Pendant que ses
frères se répandaient en lamentations, notre
héros se frottait le corps d’huile d’andiroba
pour ne pas être turlupiné par les
moustiques et il n’eut pas de peine à
s’endormir. (p. 153)
Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993): “vivre de
l’air du temps”
24
O outro enquizilou assanhado:
— Não me olhe de banda que não sou
quitanda, não me olhe de lado que não sou
melado!
— Mas o quê você está fazendo aí, tio! (p.
149-150)
Pérez (1961): “Não me
olhe de banda que não sou
da quitanda”
Mota (1987): “Não me
olhe de banda que não sou
quitanda nem me olhe de
lado que não sou melado”
L’altro seccato sbottò:
— Guardare e non toccare è una cosa da
imparare!
— Ma che cosa stai facendo lì, zietto? (p.
171)
Tradução por
correspondente não-literal
Battaglia (1970)
Zingarelli (2001):
“Vedere e non toccare è
una cosa da crepare”
El otro se puso como energúmeno.
— No me mire de soslayo que no soy
malayo, ni me vea de lado que no soy
melado!
— Pero que anda usté haciendo ahí, titío!
(p. 207)
Tradução da letra
The monkey did not like being stared at
and said angrily, “Do you think you’ll
know me again? This side’s honey and that
side’s funny!”
“But whatever are you doing down there,
uncle?” (p. 110)
Tradução por
correspondente não-literal
+ Tradução por criação de
correspondente
Partridge e Beale (2002):
“do you think you’ll know
224
me again? or “you’ll
know me again, won’t
you?”
L’autre agacé par ce manège se mit en
boule :
— Ne me regarde pas de travers, je ne suis
pas ton père ; ne me regarde pas en
coulisse, je ne suis pas la police !
— Je voudrais savoir ce que tu fais, tonton
! (p. 156)
Tradução da letra
Compensação
Robert (1993): “Être, se
mettre en boule”
25
No fim da semana o herói estava
descascando bem e foi na cidade buscar
sarna pra se coçar. Andou banzando
banzando, e muito fatigado por causa da
fraqueza parou no parque do Anhangabaú.
(p. 153)
Pérez (1961)
Nascentes (1966)
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
Alla fine della settimana l’eroe aveva già
incominciato a spellarsi e andò in città a
cercarsi delle rogne da grattare. Gironzolò,
gironzolò e quando fu troppo stanco per la
debolezza che aveva addosso andò a
fermarsi nel giardino dell’Anhangabaú. (p.
175-176)
Tradução por
correspondente adaptado
Radicchi (1985): “cercare
rogna”
Al final de la semana el héroe ya andaba
despellejándose y se fue a la ciudad, pero
queriendo salir de guatemala entró en
guatepeor. Anduvo a trochemoche y sin
ton ni son, y así muy desmejorado por la
debilidad se detuvo en el parque del
Añangabaú. (p. 211)
Tradução por
correspondente não-literal
Moliner (2001): “Salir de
Guatemala y entrar en
Guatepeor”
Compensação
Real Academia (1995):
“sin ton ni son”
By the weekend the hero’s skin had peeled,
so he went into town to trail his coat. As he
Tradução por
correspondente não-literal
225
mooched about here he felt more and more
tired and done in after his illness, and came
to a standstill in Anhangabaú Park. (p. 112)
James (1996)
À la fin de la semaine les croûtes du héros
commençaient à tomber et il alla en ville
chercher des verges pour se faire fouetter.
Il bada baguenauda et recru de fatigue car
il était encore faiblard, il s’arrêta dans le
parc de l’Aniangabaou. (p. 159)
Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993): “Donner
des verges pour se faire
battre, fouetter
26
Suzi viu êle sair, enxugou os olhos e falou
pro namorado:
— Choremos não.
Então Macunaíma desamarrou a cara e se
arranjou pra ir falar com mano Maanape.
(p. 162)
Simões (1993): “cara
amarrada”
Ferreira (1999): “amarrar
a cara”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “amarrar a cara”
Xatara e Oliveira (2002):
“amarrar a cara”
Camacho (2002): “ficar
de cara amarrada”
Appena Suzi lo vide uscire si asciugò gli
occhi e disse all’innamorato:
— Non dobbiamo piangere.
Allora Macunaíma si rasserenò e fece in
modo di andare a parlare con il fratello
Maanape. (p. 183)
Tradução por paráfrase
Suzi lo vio salir, se secó los ojos y le dijo a
su enamorado:
— Ya no lloremos.
Entonces Macunaíma desfrunció la cara y
se las arregló para ir a hablar con su mano
Maanape. (p. 219)
Tradução por paráfrase
Suzi saw him go out, dried her tears and
said to her lover, “No use crying over spilt
milk!” So Macunaíma pulled himself
together too and decided he had better go
Tradução por
correspondente não-literal
Pickett (2004): “pull
(oneself) together”
226
and chew the fat with Maanape. (p. 118) Longman (2002): “pull
sbdy. together”
Camargo e Steinberg
(1990): “pull oneself
together”
Compensação (2)
Ammer (1997): “No use
crying over spilt milk”
Strauss (1998): “there is
no use crying over spilt
milk”
Pickett (2004): “chew the
fat”
Suzi le vit sortir, sécha ses yeux et dit à son
coquin :
— Assez pleuré !
Alors Macounaïma se dérida et s’accoutra
pour aller parler à son frère Maanape. (p.
167)
Tradução por paráfrase
27
— Eu sou Mendonça Mar pintor.
Desgostoso da injustiça dos homens faz
três séculos que afastei-me dêles metendo
cara no sertão. Descobri esta gruta ergui
com minhas mãos êste altar do Bom Jesus
da Lapa e vivo aqui perdoando gente
mudado em frei Francisco da Soledade. (p.
189)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
— Io sono il pittore Mendonça Mar.
Disgustato dall’ingiustizia degli uomini, tre
secoli fa mi sono staccato da loro per
ritirarmi nel sertão.
*
Ho scoperto questa
grotta, ho eretto con le mie mani questo
altare del Bom Jesus da Lapa e vivo qui,
Tradução por paráfrase
*
Episodio realmente accaduto.
227
perdonando la gente, tramutato in frate
Francisco da Soledade. (p. 212)
— Yo soy Mendonça Mar, pintor.
Disgustado con la injusticia de los hombres
hace tres siglos que me alejé de ellos
metiendo la cara en la Tierradentro del
sertón. Descubrí esta gruta y erguí con mis
propias manos este altar de Bom Jesus da
Lapa y vivo acá perdonando gente, mudado
pa Fray Francisco de la Soledad. (p. 248)
Tradução literal E
Tradução da letra
23
[…] “I am Mendonça Mar, painter.
Disgusted with the injustice of man, I have
spent three centuries withdrawn from
human contact in the far reaches of the
backlands. I discovered this grotto, and
built with my own hands this shrine
dedicated to the Lord Jesus of the Cavern. I
live here, forgiving mankind, changed into
Friar Francisco of the Solitude.” (p. 138)
Tradução por paráfrase
— Je suis Mendonça Mar, peintre de mon
état. Écoeuré de l’injustice des hommes,
cela fait trois siècles que je me suis éloigné
d’eux et que je me suis enfoncé dans le
sertão. J’ai découvert cette grotte, j’ai élevé
de mes propres mains cet autel au Bon
Jésus de la Lapa et je vis ici, pardonnant à
mon prochain, devenu frère Francisco de la
Solitude. (p. 189)
Tradução por paráfrase
28
Légua e meia adiante olhou pra trás. Isso
Oibê vinha na cola dêle. Então tornou a
botar o furabolo na goela e lançou que era
só feijão e água. (p. 190)
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “andar na cola de”
Xatara e Oliveira (2002)
Silva (1975)
23
Meter la cara tem uma forte ocorrência na internet, porém em outros contextos e com
outros sentidos.
228
Una lega e mezza più in là guardò di nuovo
indietro. Oibê gli stava proprio alle spalle.
Allora si mise ancora una volta l’indice in
gola e vomitò soltanto acqua e fagioli. (p.
213)
Tradução por
correspondente não-literal
Zingarelli (2001)
Legua y media adelante miró hacia atrás.
En eso Oibé venía pisándole la cola.
Entonces volvió a ponerse el dedo pica-
tortas en el garguero y guác! guacareó puro
poroto y agua. (p. 249)
Tradução por
correspondente não-literal
Pellecer (2007): “pisar la
cola”
A league and a half farther, he looked over
his shoulder to find Oibê sticking to him
like glue, so he tickled his throat yet again
and threw up just beans and water (p. 139)
Tradução por
correspondente não-literal
Fraenkel (1987): “Sticks
like glue”
Une lieue et demie plus loin il regarda en
arrière. Oïbé était à deux pas. Alors
derechef il s’enfila l’index dans le bec et
cracha seulement les haricots et l’eau du
couac. (p. 190)
Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993): “C’est à
deux pas d’ici, tout près, à
côté.”
29
Vinha a noite. Aromado pelas frutas dos
cajueiros o herói ferrava no sono bem.
Quando a arraiada vinha o papagaio tirava
o bico da asa e tomava o café da manhã
devorando as aranhas que de-noite fiavam
as teias dos ramos pro corpo do herói. (p.
214)
Simões (1993)
Ferreira (1999)
Houaiss, Villar e Franco
(2001)
Xatara e Oliveira (2002)
Veniva notte. Odoroso di frutti di ca
l’eroe si addormentava profondamente.
Quando l’alba ritornava, il pappagallo
tirava fuori il becco da sotto l’ala e per
colazione divorava i ragni che durante la
notte avevano filato la loro tela tra i rami e
il corpo dell’eroe. (p. 238)
Tradução por paráfrase
Venía la noche. Aromatizado por las frutas Tradução por paráfrase
229
del cajuil, el héroe se achinchorraba rebién
en el sueño. Cuando el rayar del otro día
venía, el loro destapaba el pico del ala y se
tomaba el café de mañana devorando a las
arañas que de noche urdían ñanduti de las
ramas hacia el cuerpo del héroe. (p. 274-
275)
Night came. Perfumed by the scent of the
cashews, the hero fell asleep. When dawn
broke, the parrot took its beak from under
its wing and breakfasted off the spiders that
had spun their webs from the branches to
the hero’s body during the night. (p. 156)
Tradução por paráfrase
La nuit venait. Tout confit par l’arôme du
cajou, notre héros s’enfonçait poings
fermés dans le sommeil. Dès potron-jaquet,
le perroquet sortait son bec de dessous
l’aile et pour petit déjeuner dévorait les
araignées qui la nuit avaient tendu leurs
arantèles entre les branches et le corps de
notre héros. (p. 212)
Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993): “Dormir à
poings fermés, très
profondément.”
30
E trepou na rêde com Denaque. Imae
desinfeliz suspirou assim:
— Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de
secar!… (p. 217)
Pérez (1961)
Mota (1987)
Lacerda, Lacerda e Abreu
(1999)
E si mise nell’amaca con Denaquê, mentre
Imaerô sospirava sconsolatamente:
— Lascia perdere i jacaré, tanto lo stagno
si asciugherà!…
*
(p. 241)
Tradução literal
24
com
nota de rodapé
Y se trepó en la hamaca con Denaqué.
Imaeró desinfeliz suspiró así:
— No le hace caimán, que tus lagunas se
Tradução por figura de
linguagem não-
consagrada OU Tradução
*
Versi popolari
24
Apesar de equivocada na primeira parte.
230
han de secar! (p. 278) da letra
And with that he climbed into the
hammock with Denaquê.
“‘Never mind! The day of reckoning is
sure to come!’ muttered Imaerô unhappily
[…] (p. 158)
Tradução por paráfrase
Compensação
Gomes (2003): “day of
reckoning”
Longman (1979): “the
day of reckoning”
Et il grimpa dans le hamac avec Denaquê.
Imaerô l’infortunée exhala ses soupirs :
« Le jour viendra, caïman, que tu perdras
tes dents ! » (p. 215)
Tradução por criação de
correspondente
31/32
Vinha chegando assim como quem não
quer, com muitas danças, piscava pro
herói, parecia que dizia — “Cai fora, seu
nhonhô moço!” e fastava com muitas
danças assim como quem não quer. Deu
uma vontade no herói tão imensa que
alargou o corpo dêle e a bôca umideceu
[…] (p. 218-219)
Mota (1987): “como
quem não quer, querendo”
Ferreira (1999): “como
quem não quer e
querendo”
Xatara e Oliveira (2002):
“como quem não quer
nada”
Ferreira (1999): “cair
fora”
Houaiss, Villar e Franco
(2001): “cair fora”
Xatara e Oliveira (2002):
“cair fora”
Camacho (2002): “cair
fora”
Veniva avanti così, come contro voglia,
con molte danze, faceva cenno all’eroe
come per dirgli “Vattene via
, bel
signorino!”, e con molte danze si
allontanava come se non volesse. All’eroe
venne una voglia tanto immensa che il suo
31- Tradução por
paráfrase
32- Tradução por
paráfrase
231
corpo crebbe e gli si inumidì la bocca […]
(p. 243)
Se venía allegando, así como quien no
quiere la cosa, con muchas danzas, le
guiñaba al héroe, parecía que decía
“Aviéntese, mi moquenquén!” y se
apartaba con muchas danzas así como sin
querer la cosa. Le dieron al héroe unas
ganas tan immensas que estiró el cuerpo
suyo y la boca se le humedeció […] (p.
279)
31- Tradução por
correspondente não-literal
Moliner (2001)
32- Tradução por
paráfrase
She came toward him dancing to and fro,
feigning reluctance, then ogling him;
seeming to say “Keep off, you naughty
boy!,” then stepping back again with
inviting movements. She made such a
seductive gesture that the hero’s body
dilated and his mouth watered. (p. 160)
31- Tradução por
paráfrase
32- Tradução por
paráfrase
Elle s’approchait avec la coquetterie de
celle qui d’avance se refuse, dansant mille
danses, clignant de l’oeil à notre héros
comme pour dire : « Bas les pattes, jeune
homme ! » et elle s’éloignait dansant mille
danses, avec la coquetterie de celle qui
d’avance se refuse. La convoitise de notre
héros décupla : tout son corps se tendit et
l’eau lui monta à la bouche […] (p. 217)
31- Tradução por
paráfrase
32- Tradução por
correspondente não-literal
Robert (1993)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo