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se tem controle, e onde se dá a construção de sentidos. Daí, o passado e suas
camadas arqueológicas carecem que sejam desveladas, possibilitando uma forte
crítica do presente e sua transformação. Burilam segredos que, aos poucos, vão
quebrando os tabus, sendo o silêncio o maior deles, e:
Falar dos silêncios da historiografia tradicional não basta; penso que é
preciso ir mais longe: questionar a documentação histórica sobre as
lacunas, interrogar-se sobre os esquecimentos, os hiatos, os espaços
brancos da história. Devemos fazer o inventário dos arquivos do silêncio, e
fazer a história a partir dos documentos e das ausências de
documentos.(LE GOFF,1990, p. 109)
O processo de escrita da literatura de cordel é libertador, promove assim a
fala dos sujeitos. Compôs-se, por final, uma proposta de aplicação da literatura de
cordel em sala de aula, sob os pressupostos do estudo de gêneros textuais. Tentou-
se sair definitivamente da teoria e ir direto para a aplicação. Seguiu-se a ideia das
sequências didáticas de Joaquim Dolz, Michèlle Noverraz e Bernard Scheuwly, que
preveem uma produção dos gêneros contextualizados e inseridos dentro do conjunto
de atividades escolares e do cotidiano da sala de aula. As relações de poder dentro
dos procedimentos curriculares não cessam, mas precisam ser contrariadas, pois,
mesmo tendo a favor uma série de ações que viabilizam a aplicabilidade dos
conteúdos, ainda persistem discursos tradicionalistas que barraram ações como a
que aqui é defendida. A literatura de cordel, enquanto gênero textual, é um contra-
discurso a diretrizes de ensino alheias às diferenças e, por isso, incapazes da
experiência ampla da cidadania. Nenhum conhecimento pedagógico e cognoscível
pode negar afirmações como esta do cordelista Pedro Firmino, colhida em
entrevista:
Com dois anos que eu vendia cordel com o grande mestre, Manoel de
Almeida Filho, tive a ideia de fazer o meu primeiro folheto 1956, eu tinha
dezesseis anos, escrevi a minha primeira obra, uma profecia do Padre
Cícero do Juazeiro, e com esta profecia eu dei a continuidade. Mostrei ao
mestre, e ele disse “Quando você for escrever ou publicar uma obra sua
você peça um rascunho na tipografia, na gráfica pra você fazer a revisão.
(eu nem sabia o que era isso). Olhe, são vários erros aqui não são seus ,
são erros da gráfica”. Aí a próxima obra que eu fiz, eu já melhorei mais. A
terceira veio pra o mestre fazer a revisão, ele fez a revisão, mostrou como
era. E da quarta obra pra frente eu não precisei mais da revisão. Ele disse
“Você já tá andando com seus pés, já pode caminhar muito bem. Daí pra
frente são cinquenta, vai fazer esse ano, são cinquenta e três anos de
carreira. Minhas obras hoje estão nas universidade, nas faculdades por aí,
na Unicamp, na Universidade de Campinas tem várias obras minhas lá na
sala de aula. Na França, num lugar chamado Quatier também tem minhas
obras, traduzidas para o francês.