Download PDF
ads:
SOLANGE RICHARTZ WILVERT
ANÁLISE DAS ÁREAS DE RISCO RELACIONADAS À DINÂMICA DO
MEIO FÍSICO NA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS - SC
FLORIANÓPOLIS
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA- UFSC
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGG
SOLANGE RICHARTZ WILVERT
ANÁLISE DAS ÁREAS DE RISCO RELACIONADAS À DINÂMICA DO
MEIO FÍSICO NA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS - SC
Orientador: Joel Robert Georges Marcel Pellerin
Co-orientador: Juan Antonio Altamirano Flores
Dissertação de Mestrado
Área de Concentração: Utilização e Conservação de Recursos Naturais
FLORIANÓPOLIS SC
2010
ads:
Dedico este trabalho a minha família e a os
meus amigos, pela compreensão, paciência e
dedicação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Porfírio e Helena, pelo apoio, carinho e paciência, ao meu
irmão, Vilmar, pela torcida e confiança.
Meu agradecimento especial ao professor Joel Pellerin, por toda a ajuda prestada,
pelos inúmeros ensinamentos e lições aprendidas.
Agradeço também especialmente à professora Edna Lindaura Luiz, por sua ajuda
sempre disponível, pelos conselhos e conhecimento prestado, e à professora Gerusa Maria
Duarte por sua válida contribuição na qualificação deste trabalho.
Ao CNPq, pela concessão da bolsa, a qual foi imprescindível para o desenvolvimento
e conclusão dessa pesquisa.
À prefeitura de Antônio Carlos e aos seus funcionários, e à Defesa Civil do Estado de
Santa Catarina pela disponibilização das informações para a elaboração desta pesquisa.
Ao Guilherme C. Wosny e a Grazieli Testa pela ajuda nos momentos de dúvida com o
programa ArcGis e, novamente, a Grazi pela ajuda na confecção, na edição final dos mapas e
na leitura desta pesquisa.
Aos amigos do Mestrado Francielle da S. Cardozo, Graziela M. P. Bini, Renata
Duzzioni, Michelle Damásio, Tássia Castelli, Joice Konrad, Ary P. leite, Anderson Vietro,
vulgo Araponga, pelos bons momentos, pela torcida, pela amizade, por me ouvirem.
Novamente a Francielle da S. Cardozo e Graziela M. P. Bini, pelas dicas, pelas gargalhadas,
por me incentivarem em todos os momentos e a Tássia Castelli pelo apoio emocional nos
momentos difíceis e por compartilhar minhas alegrias e conquistas.
À minha madrinha Evanir da Cunha Wilvert, pela torcida, pela confiança e pelas suas
palavras de incentivo.
À Joice C. Guesser, Cleiton Araújo, Roseni R. da Silva, Adriana da S. Bunn, Grazieli
Testa, Claudir Didomenico, Marcos A. da Silva, Leila C. Eckert, William M. Pauli, Cris
Morais, Elisa B. Cabral, Heloisa de C. Lalane pela eterna torcida, pelo carinho e atenção.
E a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desta dissertação, o meu
muito obrigada!
RESUMO
Este trabalho possui como objetivo analisar os processos da dinâmica do meio físico -
processos pluviais (alagamentos), fluviais (inundação e erosão marginal) e movimentos de
massa (deslizamentos) – que produzem perigo à população da cidade de Antônio Carlos, a fim
de contribuir para o conhecimento das áreas de risco. A área de estudo encontra-se no médio
vale do rio Biguaçu sobre uma planície alveolar, formada por feições terraceadas e meandros
abandonados, e por encostas com espessos mantos de alteração, que apresentam cicatrizes de
processos erosivos. Para entender os processos que ali ocorrem foram analisados o clima, os
aspectos geológicos, geomorfológicos, as características do solo, da cobertura vegetal e os
aspectos gerais da ocupação da área, apoiados na interpretação de fotos aéreas, imagens de
satélite e trabalhos de campo. Ainda foram analisados 23 eventos adversos que ocorreram
entre 1980 e 2010, através dos totais diários de precipitação e dos sistemas atmosféricos
atuantes no momento. Desses 23 eventos, 17 foram desencadeados por precipitações acima de
100 mm em 24 h. Durante o desenvolvimento da pesquisa ocorreram três eventos adversos,
que evidenciaram cada um dos fenômenos estudados e auxiliaram no mapeamento das áreas
de risco. Estes eventos também demonstraram como a população e o poder público são
vulnevel a eles, devido à falta de conhecimento sobre a dinâmica do meio físico e a ausência
de políticas públicas de uso e ocupação da terra, que implicam em modificações no meio que
intensificam a ocorrência dos fenômenos. O risco a alagamento é recente na área de estudo e
ocorre sobre o antigo curso do rio Biguaçu, ao longo da Rua Adão Reitz e parte da Rua São
Paulo, sendo que este fenômeno pode ser intensificado pela sobreposição do fenômeno da
inundação. A inundação por sua vez, foi classificada como alta nas áreas que são
primeiramente inundadas, levando em consideração as formas de terraço e os meandros
abandonados; médio nas áreas que são inundadas em um segundo momento, pois a inundação
não ocorre de maneira uniforme ao longo da planície e; baixa nas áreas não inundadas no
evento de janeiro de 2008, o que o significa que estas áreas o possam ser atingidas por
eventos de maior magnitude. As margens côncavas dos rios foram classificadas como de risco
a erosão marginal. os riscos aos deslizamentos foram classificados como baixo nas áreas
que possuem a forma natural da encosta; dio nas áreas que possuem corte nas encostas,
independente da profundidade e da declividade deste, pois os cortes modificam a forma,
aumentam o ângulo de inclinação da encosta e alteram a geometria das forças que atuam no
seu equilíbrio e; alto, nas áreas que possuem algum deslizamento ou cicatriz de processos
erosivos, ou sinais que evidenciam a movimentação da encosta. Espera-se que esta pesquisa
possa fornecer subsídios aos órgãos públicos em relação ao gerenciamento das áreas de risco
e a fiscalização do uso e ocupação da terra, para evitar que novas áreas suscetíveis a esses
fenômenos sejam ocupadas ou criadas, diminuindo assim, a probabilidade de perdas e danos.
PALAVRAS-CHAVE: Dinâmica do meio físico. Áreas de risco. Cidade de Antônio Carlos.
Alagamentos. Inundações. Erosão Marginal. Deslizamentos.
ABSTRACT
The objective of this work is to analyze the processes of the physical environment dynamics -
rain processes (flooding), water (flooding and bank erosion) and mass movements (landslides)
- which produce danger to the population of the Antonio Carlos City, in order to contribute to
the knowledge of risk areas. The study area is located in the middle valley of the Biguaçu
river on a alveolar plain, formed by terraces features and abandoned meanders, and hillsides
with thick mantles of alteration, showing the scars of erosive processes To understand the
processes that occur there were analyzed the climate, geology, geomorphology, soil
characteristics, vegetation cover and the general aspects of the occupation of the area,
supported by the interpretation of aerial photographs, satellite images and field work. Also
were analyzed 23 adverse events that occurred between 1980 and 2010 years, through the
daily totals of precipitation and the atmospheric system operating in the time of the event. Of
these 23 events, 17 were triggered by rainfall exceeding 100 mm in 24 h. During the
development of the research occurred three adverse events, which showed each one of the
phenomena studied and assisted in the mapping of the risk areas. These events also
demonstrate how the population is vulnerable to them due to lack of knowledge about the
dynamics of the physical environment and lack of public policies on land use and occupation,
which imply changes in the environment that exacerbate the occurrence of the phenomena.
The flooding risks are recent in the study area and occur on the old course of Biguaçu river,
along the Adão Reitz Street and part of St. Paul Street, and this problem can be intensified by
the overlap of the phenomenon of flooding. The flooding was classified as. high in areas that
are flooded first, taking into account the forms of the terrace and abandoned meanders;
mediun in the areas that were flooded in a second time, because the flooding did not occur
uniformly along the plain; and low occurs in areas not flooded in the event of January 2008,
however does not means that these areas are not affected by events of greater magnitude.
Areas with convex margin were classified as at risk to bank erosion. The risks to landslides
were classified as low in areas that have the natural shape of the slope, because they are not
occupied; average in areas that have cut slopes, regardless of the depth and the declivity,
because the sections change the shape, increase the angle of the inclination of the slope and
change the geometry of the forces acting on your balance; and high in areas that have some
landslide or scars of erosion processes, or signals that evidence the movement of the slope. It
is expected that this research provide subsidies to public agencies regarding to the
management of risk areas and the fiscalization of the land use and land occupation, to prevent
new susceptible areas to these phenomenon are occupied or created, minimizing the
likelihood of losses and damage.
KEY - WORDS: Dynamics of the physical environment. Areas Risk. City of Antonio Carlos.
Flooding. Flood. Bank Erosion. Landslides.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Mapa de Localização da área de estudo ............................................................ 19
Figura 5.1- Distribuição da precipitação dia mensal de 1977 a 2009................................50
Figura 5.2 – Precipitação anual de 1977 a 2009....................................................................51
Figura 5. 4 Exploração de saibro na Cidade de Antônio Carlos. Observar a profundidade do
manto de alteração (mais de 30 m.), sem a presença de matriz rochosa.....................................67
Figura 5.5 – Manto de alteração conservado, sem a presença de núcleos de rocha sã. Foto...67
Figura 5.6 – Manto de alterão intensamente fraturado, em dois planos visíveis...................... 67
Figura 5.7 – Vista da cidade de Antônio Carlos. Observar os morros do modelado de dissecação
em montanhas, com forma de ombreira, que circunda a área de estudo.....................................69
Figura 5.9 – Ao fundo na foto, reativação da cicatriz erosiva, após o evento de março de 2010,
no qual precipitou 172 mm de chuva....................................................................................70
Figura 5.8 Pequenas rupturas a partir de terracetes em uma encosta que sofre pisoteio do
gado.....................................................................................................................................70
Figura 5.10 Inundação da planície do rio Biguaçu, no evento de janeiro de 2008, quando
choveu o acumulado de 170 mm em 24 h.............................................................................72
Figura 5.11 Vista da planície do rio Biguaçu. A área que margeia a rua no centro da figura
(Rua Adão Reitz) fica inundada em períodos de precipitação excepcional ou continua.
Observar ao fundo as colinas presentes no meio da planície. ................................................73
Figura 6.1 – Precipitação diária do mês de outubro de 1981.................................................81
Figura 6.2 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1983...................................................82
Figura 6.3 – Precipitação diária do mês de fevereiro de 1983. ..............................................82
Figura 6.4 – Precipitação diária do mês de julho de 1983. ....................................................83
Figura 6.5 – Precipitação diária do mês de novembro de 1983..............................................83
Figura 6.6 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1983.............................................. 84
Figura 6.7 – Precipitação diária do mês de agosto de 1984...................................................84
Figura 6.8 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1989.................................................85
Figura 6.9 – Precipitação diária do mês de novembro de 1991..............................................85
Figura 6.10 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1992.................................................86
Figura 6.11 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1993.................................................87
Figura 6.12 – Precipitação diária do mês de fevereiro de 1993. ............................................87
Figura 6.13 – Precipitação diária do mês de fevereiro de 1994. ............................................88
Figura 6.14 – Precipitação diária do mês de março de 1994..................................................89
Figura 6.15 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1995............................................90
Figura 6.16 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1997.................................................90
Figura 6.17 – Precipitação diária do mês outubro de 1997.................................................... 91
Figura 6.18 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1998.................................................92
Figura 6.19 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1998............................................92
Figura 6.20 – Precipitação diária do mês de janeiro de 2000.................................................93
Figura 6.21 – Precipitação diária do mês de janeiro de 2008.................................................93
Figura 6.22 Rio Biguaçu com o extravasamento das margens, próximo à confluência do rio
do Louro..............................................................................................................................94
Figura 6.23 Alagamento da Rua João Henrique Pauli, que ocasionou a interdição da mesma
no centro da cidade ..............................................................................................................95
Figura 6.24 Residência localizada sobre o antigo curso do rio Biguaçu. A residência
encontra-se em um nível mais baixo (aterro) que as áreas vizinhas........................................95
Figura 6.25 – Rua Adão Reitz inundada próxima ao canal principal do rio Biguaçu .............95
Figura 6.26Rua Jardim Esperança inundada devido ao retorno da água pelo antigo curso do rio
Biguaçu, que fica ao final da rua.............................................................................................. 95
Figura 6.27 - Rua João Henrique Pauli e residências inundadas por terem sido construídas
sobre um curso de água canalizado.......................................................................................96
Figura 6.28 Deslizamento próximo a uma residência na área urbana, que ocasionou a queda
de uma árvore a menos de 2 m da residência........................................................................96
Figura 6.29 Deslizamento (na área urbana) em um corte com degraus mal dimensionados, que
danificou a estrutura da casa de cima e ocasionou o entulhamento da resincia abaixo..................96
Figura 6.30 Erosão fluvial da margem direita do Rio Biguaçu na Avenida João Frederico
Martendal............................................................................................................................. 97
Figura 6.31 Plantação de alface totalmente destruída pela inundação e pela deposição dos
sedimentos...........................................................................................................................98
Figura 6.32 – Precipitação diária do mês de novembro de 2008............................................99
Figura 6.33 Rio Biguaçu próximo à estrada para o bairro Rio Farias. À tarde neste mesmo
local o nível do rio estava 3 m mais elevado, cobrindo toda a pastagem presente na planície
em volta............................................................................................................................. 100
Figura 6.34 –– Destruição parcial de uma residência na Rua Vereador Osvaldino Hoffmann, na
área urbana.. ....................................................................................................................... 100
Figura 6.35 - Erosão fluvial na margem côncava e deposão de sedimentos na margem convexa.. 100
Figura 6.36 Deslizamento de terra e rocha em um corte mal dimensionado e não estabilizado
na Rua João Henrique Pauli, em 22 de novembro de 2008. Esta área é uma antiga saibreira,
que depois de desativada foi loteada................................................................................... 101
Figura 6.37 – Fendas de abatimento paralelas, no solo, evidenciando o movimento do material
da encosta, no Morro da Cana, na área urbana de Annio Carlos......................................101
Figura 6.38 – Precipitação diária do mês de março de 2010................................................ 102
Figura 6.39 Trecho da Rua João Henrique Pauli, próximo ao terminal rodoviário, interditado
pelo alagamento................................................................................................................. 103
Figura 6.40 – Alagamento da Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente localizada no
subsolo da Prefeitura........................................................................................................ 103
Figura 6.41 – Subsolo da Prefeitura Municipal alagado em mais de 1 m. de água............... 103
Figura 6.42 Deslizamento na Rua Antônio José Zimmermann, que deixou o trânsito em
meia pista. A encosta ao fundo na figura possui problemas de instabilidade provocados por
deslizamentos no evento que ocorreu em novembro de 2008, que estão sendo retrabalhados a
cada novo episodio pluviométrico e por conter surgência de água na sua base.................... 104
Figura 6.43 – Vista da residência em relação ao corte na encosta. Observar a proximidade da casa
em relação ao corte e a altura deste em relão à casa............................................................ 105
Figura 6.44 – Material deslizado que atingiu a residência. Observar a proximidade da casa em
relação ao corte.................................................................................................................. 105
Figura 6.45 Sedimentos depositados nas ruas provenientes dos cortes das encostas da cidade
trazidos pela chuva torrencial.............................................................................................. 106
Figura 6.46 – Rompimento da tubulação pluvial que abriu um buraco de 4 m. de diâmetro sob
o muro de uma residência na Avenida João Antônio Besen................................................ 106
Figura 6.47 – Vista do corte na encosta da Rua Libório Francisco Goedert. A seta em
vermelho indica um deslizamento ocorrido no evento de janeiro de 2008. As setas em preto,
os deslizamentos ocorridos em novembro de 2008. Observar próximo às duas setas da parte
esquerda da figura, os blocos de rocha imersos no manto de alteração................................ 127
LISTA DE MAPAS
Mapa 5.1 – Mapa da Bacia do Rio Biaguaçu........................................................................61
Mapa 5.2 – Mapa Geomorfológico da Cidade de Annio Carlos.........................................68
Mapa 6.1 – Mapa de suscetibilidade aos fenômenos perigosos........................................... 108
Mapa 6.2 – Mapa de risco a alagamentos, inundações e erosão marginal fluvial................. 120
Mapa 6.3 – Mapa de risco a deslizamentos......................................................................... 125
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 - Total mensal de precipitação (1977- 2009) .......................................................52
Tabela 5.2 – População total residente e situação domiciliar.................................................75
Tabela 6.1 Registro dos eventos naturais adversos ocorridos no município de Antônio Carlos/ SC
entre 1980 e 2010...................................................................................................................78
Tabela 6.2 Índice pluviométrico diário relacionados aos meses em que ocorreram eventos
adversos na área de estudo (1980 – 2009)............................................................................. 80
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APP – Área de Preservação Permanente
AVADAN Relarios de Avaliação de Danos
Bi Horizonte B incipiente
Bt – Horizonte B textural
BNDO – Banco Nacional de Dados Oceanográficos
CEASA – Central de Abastecimento de Alimentos de Santa Catarina
CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina
CEI – Centro de Educação Infantil
CP - Calamidade Pública
CHN - Centro de Hidrografia e Navegação
CIRAM - Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa
Catarina
CODESC Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
DEDC – Departamento Estadual da Defesa Civil de Santa Catarina
DENIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes
EIRD - Estratégia Internacional para a Redução dos Desastres nas Américas
ENGEMAP – Engenharia e Mapeamento Ltda
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
ETE – Estação de Tratamento de Esgoto
FPA - Frente Polar Atlântica
IDNRD - Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
ISDR – Estratégia Internacional para a Redução dos Desastres
MDE – Modelo Digital de Elevação
mEc – massa equatorial continental
mPa – massa polar atlântica
mTa – massa tropical atlântica
mTc – massa tropical continental
ONU Organização das Nações Unidas
SE – Situação de Emergência
UNDRO – Escririo das Nações Unidas para Auxílio aos Desastres
UNESCO – Organizão das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
ZCAS – Zona de Convergência do Atlântico Sul
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................16
2 OBJETIVOS..................................................................................................................... 24
2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................24
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................... 24
3 REVISÃO TEÓRICA.....................................................................................................25
3.1 EVENTOS, ACIDENTES E DESASTRES NATURAIS ...............................................25
3.2 PERIGO......................................................................................................................... 27
5.3 SUSCETIBILIDADE.....................................................................................................28
3.4 VULNERABILIDADE..................................................................................................29
3.5 RISCO...........................................................................................................................30
3.6 FENÔMENOS PERIGOSOS DA DIMICA DO MEIO FÍSICO PASVEIS DE OCORRER
NA CIDADE DE ANNIO CARLOS..................................................................................32
3.6.1 Alagamentos ............................................................................................................... 32
3.6.2 Inundação....................................................................................................................33
3.6.3 Eroo fluvial marginal ou lateral................................................................................37
3.6.4 Movimentos de Massa.................................................................................................39
4. MATERIAS E MÉTODOS............................................................................................ 44
4.1 LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS E MATERIAIS
CARTOGRÁFICOS ............................................................................................................44
4.2 TRABALHOS DE CAMPO...........................................................................................45
4.3 ATIVIDADES DE GABINETE.....................................................................................45
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.......................................................... 50
5.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO CARLOS............................... 50
5.1.1 Clima ..........................................................................................................................50
5.1.2 Geologia......................................................................................................................55
5.1.3 Geomorfologia ............................................................................................................ 56
5.1.4 Solos...........................................................................................................................58
5.1.5 Hidrografia..................................................................................................................60
5.1.6 Cobertura Vegetal .......................................................................................................62
5.1.7 Aspectos Gerais da Ocupação......................................................................................63
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS.....................................65
5.2.1 Caracterização do Meio Físico..................................................................................... 65
5.2.2 Evolução da Cidade de Antônio Carlos........................................................................74
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...........................................77
6.1 ANÁLISE DOS EVENTOS NATURAIS ADVERSOS CORRIDOS NA CIDADE DE
ANTÔNIO CARLOS ENTRE 1980 E 2010.........................................................................77
6.1.1 Eventos Adversos Ocorridos no Município de Antônio Carlos ....................................77
6.1.2 Análise da Precipitação Diária Relacionada aos Meses em que Ocorreram Eventos
Adversos na Cidade de Antônio Carlos................................................................................79
6.2 ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE AOS FENÔMENOS PERIGOSOS NA CIDADE
DE ANTÔNIO CARLOS...................................................................................................107
6.2.1 Suscetibilidade aos Alagamentos............................................................................... 107
6.2.2 Suscetibilidade à Inundação....................................................................................... 109
6.2.3 Suscetibilidade à Erosão Marginal............................................................................. 116
6.2.4 Suscetibilidade a Deslizamentos................................................................................ 117
6.3 ANÁLISE DA VULNERABILIDADE E DOS RISCOS RELACIONADOS À
DINÂMICA DO MEIO FÍSICO NA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS.......................... 118
6.3.1 Áreas de risco a alagamentos..................................................................................... 119
6.3.2 Áreas de risco a inundações....................................................................................... 120
6.3.3 Áreas de risco a erosão marginal ............................................................................... 123
6.3.4 Áreas de risco a deslizamentos .................................................................................. 124
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 129
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 134
16
1 INTRODUÇÃO
Grande parte dos fenômenos que desencadeiam os riscos para a população fazem parte
da dinâmica natural da superfície terrestre e são responveis pela configuração do relevo. Os
fenômenos naturais, como escorregamentos, terremotos, inundações, sempre existiram, mas
passaram a se configurar em desastres naturais, a partir do momento em que o homem passou
a interagir com o meio, como aponta Alcântara-Ayala (2002).
Os desastres naturais estão vinculados diretamente à hisria do homem e da sua
apropriação do meio, desde a formação das primeiras comunidades até o desenvolvimento das
cidades modernas (MARCELINO, 2008), como por exemplo, a erupção do Vesúvio que
atingiu as cidades de Pompéia e Herculano, na Itália, no ano 79 dC, além de outros desastres
que fazem parte da história da sociedade. Porém, hoje, está ocorrendo uma mudança na forma
de vê-los e interpretá-los.
Segundo Veyret (2007), esses eventos eram vistos no passado como catástrofes de
origem natural, onde a natureza era o problema e o homem, através da ciência, deveria possuir
o conhecimento para combater esses fenômenos perigosos. Hoje, a sociedade entende a
natureza como benevolente, protetora, mesmo existindo alguns fenômenos perigosos, e que o
risco pressupõe uma ação humana, voluntária ou não.
Os desastres naturais eram objetos de estudo na década de 20 na Itália e na França em
um campo denominado de Geografia das Calamidades. Na Itália destacavam-se os estudos de
Giovanni Ciraolo e na França de Raoul Montandon, que deram início ao debate do tema, com a
criação de encontros científicos, periódicos e atlas sobre os desastres naturais (VALDATI, 2000).
No mesmo período, nos Estados Unidos, desenvolvia-se uma nova linha de pesquisa
denominada de Natural Hazard baseada nos trabalhos de Gilbert White. As primeiras
pesquisas tratavam sobre os fenômenos de inundação, expandindo-se depois para outros tipos
de fenômenos naturais (VALDATI, 2000).
Com o crescimento das cidades e a falta de políticas públicas de planejamento, o espaço
urbano passou a ser ocupado de maneira desordenada. A populão passou a ocupar áreas
suscetíveis a fenômenos perigosos, como as encostas com alto grau de inclinação e as planícies de
inundação dos rios. Este crescimento desordenado das cidades é considerado um dos
condicionantes dos desastres, pois significa que cada vez mais pessoas estão ocupando áreas de
risco, tornando-se mais vulneráveis às conseqüências dos fenômenos perigosos (CRISTO, 2002).
17
Para Chardon (1999), o processo urbano não só cria como também amplifica os riscos,
pois a expansão urbana aumenta o número de elementos expostos a ele, o que aumenta o
número de perdas e danos na infra-estrutura das cidades e dos bens da própria população.
Devido ao aumento do número de pessoas e de bens atingidos pelos desastres naturais
que ocorrem em quase todos os lugares do mundo, a Organizão das Nações Unidas (ONU)
declarou a década de 90 como a Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais
(IDNRD). Neste contexto, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) e o Escritório das Nações Unidas para Auxílio aos Desastres (UNDRO),
organismos ligados à ONU, criaram comitês cnicos em diferentes países para a realização
de debates e investigações sistemáticas sobre os fenômenos naturais que causam perdas e
danos à população (CRISTO, 2002).
Essas pesquisas tiveram como base o estudo dos fenômenos naturais que causam os
desastres, as condições socioeconômicas que fazem com que as comunidades sejam mais ou
menos vulneráveis a eles e a relação existente entre os fenômenos naturais e as condições
socioeconômicas (VILAGRAN DE LEON, s/d).
Ao final da década de 90, pouco de concreto se realizou para minimizar os impactos
dos desastres, pois os fenômenos continuam os mesmos, mas os elementos expostos
aumentaram, tornando os desastres cada vez maiores. Mas, segundo Cristo (2002), todas essas
pesquisas evidenciaram a problemática dos desastres naturais para o mundo, pois ele atinge
tanto países ditos desenvolvidos como os subdesenvolvidos, sendo que a diferença se
encontra na capacidade de prevenção aos fenômenos perigosos e na recuperação dessas áreas.
Por isso, em 1999, a UNDRO e outros órgãos de assistência criaram a Estratégia
Internacional para a Redução dos Desastres (ISDR), com o objetivo de dar continuidade ao
programa de redução dos desastres (LIEBER; ROMANO-LIEBER, 2005). A partir desta
iniciativa criaram-se organismos regionais, dentre eles a Estratégia Internacional para a
Redução dos Desastres nas Américas (EIRD).
No Brasil, os principais desastres ou acidentes ocorrem devido às características naturais
(geológicas, geomorfológicas e climáticas) e a sua grande exteno territorial, associada às
diferentes formas de urbanização em áreas suscetíveis (BINI, 2007), como por exemplo, a cidade
de o Paulo que se desenvolveu sobre uma planície de inundação ou a cidade de Petrópolis,
sobre encostas com alta declividade. Isto significa que a falta de conhecimento sobre o ambiente
da área a ser ocupada e o adensamento populacional intensificam cada vez mais os riscos.
18
A Defesa Civil é o organismo responsável por gerir os efeitos dos desastres no Brasil,
mas sua atuação ocorre, principalmente, durante ou após o evento, sem trabalhar efetivamente
as medidas de previsão e prevenção desses desastres.
Santa Catarina é um dos estados da Federação mais atingidos por desastres naturais,
tais como inundações, escorregamentos, quedas de blocos, estiagens, vendavais, precipitações
de granizo, tornados e marés de tempestade (HERRMANN, 2007).
Alguns desses desastres o de evolução lenta, como as estiagens e a erosão do solo, mas
outros são de ocorrência rápida e difíceis de serem previstos com antecedência, o que evidencia a
necessidade de maior preparo da comunidade para lidar com eles, como é o caso das precipitões
excepcionais que desencadeiam fluxos torrenciais, escorregamentos e inundações.
Verifica-se que devido à diversidade de desastres que ocorrem no estado, há uma variada
gama de trabalhos que se dedicam a estudar esses fenômenos. Dentre eles pode-se citar: Dias
(2000) analisou a suscetibilidade a escorregamentos no bairro Saco Grande em Florianópolis;
Cristo (2002) estudou a suscetibilidade a enchentes e escorregamentos no setor leste da bacia do
rio Itacorubi em Florianópolis; Vieira (2004) analisou a perceão frente ao risco de
deslizamentos na sub-bacia do Ribeio Araranguá no município de Blumenau; Saito (2004)
estudou a suscetibilidade a escorregamentos e queda de blocos no maciço central do Morro da
Cruz em Florianópolis; Testa (2006) analisou a suscetibilidade a inundões na área urbana do
município de Biguaçu (SC); Souza (2006) estudou os perigos geoambientais (enchentes,
inundações, alagamentos, enxurradas e escorregamentos) nos bairros Forquilhinhas, Flor de
poles e Picadas do Sul no município de São José (SC); Bini (2007) analisou os fenômenos da
dimica natural do meio sico que representam perigo à comunidade da bacia do Rio Cachoeira,
localizada no bairro Caieira do Saco dos Limões, em Florianópolis, procurando identificar os
mecanismos e os prováveis locais de atuação de tais fenômenos; Cardozo (2009) analisou a
suscetibilidade a inundação e escorregamentos na bacia do rio Forquilhas em São José (SC).
Dentro deste contexto, observa-se que o município de Antônio Carlos, que pertence à
região da Grande Florianópolis, não possui estudos voltados para essa temática. O munipio es
localizado na porção centro leste do Estado de Santa Catarina, entre as latitudes 27º23’47”norte e
27º34’29” sul e, entre os meridiano 48º41’51” e 48º55’25” (Figura 1.1) possui uma populão de
7.087 habitantes, com a economia baseada na produção de hortigranjeiros.
19
20
Desde 1980, o município de Antônio Carlos registrou 26 eventos adversos, que
provocaram perdas e danos à população, à infra-estrutura e à economia. Desses 26 eventos, 23
estão relacionados a precipitações excepcionais ou moderadas e contínuas, que provocaram
alagamentos, inundações, erosões das margens dos rios e escorregamentos. Os demais eventos
registrados foram vendavais, granizo e estiagem.
A cidade de Antônio Carlos eslocalizada no médio vale do rio Biguaçu e possui
2.072 habitantes. Seu espaço urbano ainda possui áreas destinadas ao cultivo de hortaliças,
grama e áreas de pastagem, mas que estão sendo aos poucos substituídos por loteamentos.
Nos últimos dois anos, a cidade passou por três eventos: uma inundação brusca em
janeiro de 2008, uma inundação gradual com grande incidência de deslizamentos em
novembro do mesmo ano e outra inundação brusca em março de 2010.
Em 31 de janeiro de 2008, devido a uma precipitação concentrada de 170,8 mm, a
cidade foi atingida por uma inundação brusca, que abrangeu toda a bacia do rio Biguu. Ruas,
casas, áreas agrícolas e de pastagem ficaram inundadas, o que resultou em inúmeros danos e
levou o município a decretar situação de emergência (SE). Além disso, outro fenômeno que
ocorreu por causa deste evento foi o surgimento de áreas alagadas no centro da cidade.
No evento de novembro de 2008, a área inundada foi menor, mas os problemas com
deslizamentos foram incomparáveis. Neste episódio, teve-se uma inundação gradual entre os
dias 21 e 25 com um total pluviométrico de 364,2 mm, sendo que 140,8 mm precipitaram
apenas no dia 22. Grande parte dos deslizamentos ocorreu nas encostas que tiveram sua forma
modificada para a construção de residências e para a melhoria das estradas. Esses
deslizamentos deixaram comunidades isoladas e algumas famílias precisaram ser desalojadas.
Outro fenômeno observado neste evento foi a erosão da margem dos rios, que destruiu
duas residências e danificou outra, além das perdas de terras utilizadas para a agricultura e
pastagens e a destruição de ruas. Por conta desses acontecimentos, o município novamente
decretou situação de emergência.
O evento do dia 25 de março de 2010 foi desencadeado por uma precipitação de 172
mm concentrada em 6 horas, que atingiu o médio e o baixo vale do rio Biguaçu, deixando o
centro da cidade de Antônio Carlos alagado com uma coluna de um metro de água, além da
ocorrência de deslizamentos.
Se comparado com uma grande cidade, Annio Carlos possui menos elementos em
risco, o que não significa que os desastres que ali ocorrem sejam menos importantes e não
21
tragam conseqüências para a população.
A grande parte dos trabalhos existentes sobre riscos e desastres naturais se refere às
grandes cidades, mas Cross (2001), afirma que dependendo do tipo do evento e das características
do local, os danos podem ser maiores em pequenas cidades ou comunidades rurais.
O mesmo autor chama a atenção que certos femenos, como a inundação, podem
atingir somente partes de uma megacidade, enquanto que uma cidade pequena ou uma
comunidade rural seria totalmente atingida.
O autor ainda afirma que as megacidades estão mais bem preparadas para enfrentar o evento
do que as pequenas cidades, ou seja, estas o mais vulneráveis, com relão à infra-estrutura, à
economia, às políticas de preparação, mitigação e de recuperação de um evento perigoso.
Mas indiferente de ser uma grande cidade ou uma cidade pequena, todas elas possuem
em comum o fato de serem espos sociais, produzidos através da transformação da natureza
pelo trabalho social, que possuem “objetos geográficos artificiais” (SOUZA, 2000). Estes por
sua vez, acarretam uma valorização do solo construído, conseqüentemente perdas e danos
para a sociedade, no caso da ocorrência de um fenômeno perigoso.
Na cidade de Antônio Carlos não um estudo sobre a problemática do risco, na
realidade, há poucos estudos sobre o meio físico da região, destacando-se o trabalho de Fortes
(1996) que analisou a bacia do rio Biguaçu com o intuito de compreender a evolução da
planície costeira; o trabalho de Wilvert (2006) que analisou as modificações realizadas pelo
homem no relevo da área urbana de Antônio e; o trabalho de Silva (2007) que realizou um
estudo socioeconômico da bacia do rio Biguaçu tendo como base a dinâmica natural dos
compartimentos da bacia (serra, planície fluvial e planície costeira) e as transformações
advindas das atividades humanas, com o objetivo de identificar e hierarquizar as unidades
ambientais para o zoneamento ambiental.
Por isso, esta pesquisa se propõe a analisar as áreas de riscos relacionadas à dinâmica
do meio físico na cidade de Antônio Carlos, dando ênfase aos fenômenos que possam causar
perdas e danos à população, à infra-estrutura e a economia local.
Oliveira, Robaina e Reckziegel (2004, p. 251) denomina as “áreas sujeitas a desastres
naturais associadas à ocorrência de processos da dinâmica superficial” como risco
geomorfológicos, dividindo-os segundo o seu processo causador.
Luiz (2004) também parte desse princípio, e coloca que para se estudar o risco é
necessário conhecer os processos do meio físico responsáveis pelos fenômenos perigosos que
22
ocorrem na área de estudo e que podem gerar riscos. Assim, baseada na literatura sobre o
município, em trabalhos de campo, nos relatórios de Avaliação de Danos (AVADAN) da
Defesa Civil, constatou-se que a cidade de Antônio Carlos possui riscos a alagamentos,
inundações, eroo fluvial marginal e deslizamentos.
Esses processos fazem parte da dinâmica natural do planeta, ocorrendo independente
da presença do homem. Mas, segundo Reckziegel et al. (2005), o homem pode acelerar,
intensificar e induzir a ocorrência de muitos fenômenos devido as alterações ambientais
provocadas pela ocupação. Por isso, para os autores os processos induzidos pelas atividades
humanas também englobam a expressão de processos naturais.
Assim, para identificar os riscos relacionados à dinâmica do meio físico na cidade de
Antônio Carlos é necessário avaliar os fenômenos perigosos que ali ocorrem (análise da
suscetibilidade); como a populão está preparada para enfren-los (análise da vulnerabilidade) e;
qual o grau de perdas e danos caso um fenômeno adverso ocorra (análise do risco).
Com o intuito de compreender os riscos relacionados à dinâmica do meio físico na
cidade de Annio Carlos foram elaborados 6 capítulos. No próximo capítulo o
apresentados os objetivos desta pesquisa. No terceiro capítulo são apresentados os aspectos
conceituais utilizados (evento, desastre, acidente, perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e risco),
bem como os fenômenos estudados e seus condicionantes. Os procedimentos operacionais, os
materiais e a proposta metodológica utilizada para a elaboração deste trabalho são abordados
no quarto catulo.
Os condicionantes ambientais e da ocupação do município e da cidade de Antônio
Carlos (clima, geologia, geomorfologia, solos, cobertura vegetal aspectos gerais da ocupação)
são apresentados no quinto capítulo. Por fim, no sexto capítulo é apresentada a analise dos
eventos adversos que ocorreram na cidade de Antônio Carlos no período de 1980 a 2010 e a
análise e discussão sobre as áreas de risco na área de estudo. E, por último, as considerações
finais e as recomendações.
Alguns autores, como Villagn de León (s/d), consideram a falta de conhecimento da
população sobre a dinâmica do meio físico do local que ocupam como um dos principais
fatores que influenciam na análise do risco. A falta de conhecimento permite que sejam
realizadas modificações no meio que podem aumentar a suscetibilidade do local a um
determinado fenômeno perigoso ou criar áreas de risco antes inexistentes, o que aumenta a
probabilidade de perdas.
23
Esse também é o grande problema que ocorre com o poder público que tem o dever de
gerir o espaço urbano e garantir a segurança da sua população. Grande parte dos gestores
públicos não conhece a dinâmica do meio físico onde está localizada a unidade político-
administrativa que governam, nem mesmo onde estão e quem são os moradores expostos aos
riscos, agindo somente quando ocorre o desastre, com medidas emergenciais.
O correto seria agir na prevenção e no apoio à população para que esta seja orientada a
conviver com os riscos, tornando-a menos vulnerável, ou propor formas mais adequadas de
ocupação do meio, evitando assim a ocupação das áreas de risco.
O conhecimento resultante deste trabalho poderá subsidiar os órgãos municipais com
informões ao planejamento urbano e a elaboração de planos de gestão de risco, diminuindo
assim, a vulnerabilidade e, conseqüentemente, as perdas e danos da população e da infra-
estrutura da cidade.
24
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar como os processos da dinâmica do meio físico - processos pluviais
(alagamentos), fluviais (inundação e erosão marginal) e de movimentos de massa
(deslizamentos) - produzem perigo à população da cidade de Annio Carlos a fim de
contribuir para o conhecimento das áreas de risco.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Analisar a estrutura e a dinâmica dos ambientes naturais presentes no sítio urbano e
identificar quais os fenômenos que representam perigo à comunidade.
2. Levantar os eventos passados, descrevendo sua localização, perdas e danos que
possam ter gerado, especialmente, as conseqüências dos eventos recentes.
3. Descrever o processo de ocupação humana, as formas de uso da terra e as obras
realizadas que alteraram a estrutura e a dinâmica do meio físico.
4. Identificar os elementos exposto (população, residências, infra-estrutura) nas áreas
de ocorrência dos fenômenos perigosos.
5. Analisar as áreas de riscos relacionadas à dinâmica do meio físico.
25
3 REVISÃO TEÓRICA
A temática do risco é estudada por diversas áreas do conhecimento, como a Geografia,
a Geologia, as Engenharias, a Sociologia entre outras, por isso, há uma grande divergência em
relação aos conceitos associados (perigo, vulnerabilidade, suscetibilidade e desastres).
Valdati (2000) em sua dissertação discorre sobre a falta de clareza entre a
conceituação dos termos riscos e desastres naturais. Kobiyama et al. (2006) ao apresentar os
principais conceitos relacionados à temática do risco e desastres naturais também aborda a
questão da falta de clareza entre eles, em especial entre risco e perigo. Souza (2004),
Kobiyama et al. (2006) e Herrmann et al. (2007) abordam a falta de clareza entre os conceitos
de inundação e enchente na língua portuguesa.
Cardona (2003), as uma revisão teórica da abordagem do risco nas ciências naturais,
aplicadas e sociais, defende uma vio holística, interdisciplinar para a compreensão, análise e
mensuração do risco. Para o autor, as interpretões dos cientistaso diferentes da não das pessoas
das comunidades expostas e das autoridades do governo encarregadas de tomar as decisões
necessárias para reduzir e mitigar o risco, por isso, a necessidade de uma metodologia interdisciplinar,
que aborde todas essas interpretões para que facilite a tomada de decisão pelos gestores públicos.
Essa questão de diferentes percepções sobre o risco e suas causas, que
conseqüentemente refletirá nas medidas tomadas pelos gestores públicos e pela população,
também são levantadas por Veyret (2007) e Burton e Kates (1972). Estes afirmam que essa
percepção muda de uma comunidade para outra devido à cultura, por isso o mesmo risco será
percebido e enfrentado de maneira diferente pelas comunidades.
Na realidade, a percepção do risco muda de pessoa para pessoa e de evento para evento.
Uma mesma pessoa pode estar preparada para enfrentar uma inundão, ou seja, ser menos
vulnerável a este fenômeno, mas não significa que terá a mesma capacidade de resposta para um
deslizamento, pois os fenômenos envolvem processos e mecanismos diferentes.
3.1 EVENTOS, ACIDENTES E DESASTRES NATURAIS
A ocorrência de um fenômeno com características, dimensões e localização no tempo
e no espaço é caracterizado como um evento. Cerri e Amaral (1998) definem o evento como
um fato ocorrido que não tenha provocado danos e prejuízos relacionados diretamente a ele.
26
Os eventos como as inundações, os terremotos que ocorrem em um determinado local
e não causam danos e prejuízos à população são chamados de eventos naturais. Mas, a partir
do momento que ele atinge a sociedade e causa danos e prejuízos ele se caracteriza como um
acidente, desastre ou ainda catástrofe.
Cross (2001) diferencia desastre de acidente. Para o autor um acidente ou emergência
se caracteriza por um evento extremamente localizado e restrito, já o desastre estaria
relacionado com o alto número de vítimas atingidas por um evento em relação à população
total. Para Bini (2007) o acidente, geralmente, se caracteriza como algo mais cil de ser
solucionado, já o desastre se apresenta como um evento com grande impacto sobre a
sociedade, cujas conseqüências seriam mais graves e, portanto, há maior demora no retorno à
situação de normalidade.
Pfluck (2009), no seu estudo sobre riscos a enxurradas e desabamentos de fossas
negras na cidade de Marechal Candido Rondon/PR, classifica os episódios de desabamentos e
enxurradas, que provocam danos e prejuízos à população ou à infra-estrutura da cidade de
acidentes, pois possuem proporções espacialmente reduzidas se comparadas com a área de
abrangência de um terremoto ou tsunami.
Nesse sentido a autora utiliza o termo acidente para descrever eventos que provocaram
perdas e danos em um local restrito, como uma casa, uma rua ou um bairro, e não em uma
grande área, como um município ou uma bacia hidrográfica, onde os danos seriam maiores
sobre a sociedade.
Assim, entende-se que a diferenciação entre acidente, desastre e/ou catástrofe está na
proporção do impacto e na quantidade de recursos (humanos e financeiros) necessários para
mitigação dos problemas gerados (DIAS; HERRMANN, 2002).
O desastre, por sua vez, é entendido por Cardona (2003) como a materialização do
risco, ou melhor, a materialização das condões de risco preexistentes, que são definidas
pelos fatores socioeconômicos. Por isso, para Uitto (1998) um evento ou a ocorrência de
fenômeno natural perigoso se torna um desastre quando afeta a população que está exposta
e é vulnerável a ele, sendo que a sua ocorrência e a sua extensão dependem de três fatores: o
perigo (o fenômeno natural), a exposição (as estruturas, construções e o homem) e a
vulnerabilidade (disposição em sofrer danos).
Nesse mesmo contexto, Palácios, Chuquisengo, e Ferradas (2005) caracterizam
desastre como a interrupção do funcionamento normal da sociedade ou de parte dela, quando
27
um fenômeno perigoso atua sobre as condições de vulnerabilidade e produz graves danos à
vida, aos bens e à infra-estrutura do local. Quando os autores se referem aos desastres, eles
não estão se referindo somente aos valores monetários dos danos, mas também ao valor social
do impacto, a capacidade de absorção e de reconstrução e as desigualdades sociais existentes,
que resultarão em formas diferenciadas de recuperar ou absorver o impacto.
Por isso, um fenômeno natural não é sinônimo de desastre, pois ele não pode ser
compreendido somente como a ocorrência do fenômeno, mas sim como as conseqüências
deste sobre a estrutura organizacional da sociedade (CARDONA, 2003), o que Mitchell
(1999) chama de inadequado ajustamento entre o homem e ambiente.
Assim, o desastre é compreendido como um fenômeno social (HÉTU, 2003), que pode
ter sua origem em um fenômeno natural ou não, que atinja uma comunidade e provoque a
interrupção do funcionamento dela ou de parte dela.
3.2 PERIGO
Caso um fenômeno natural ocorra e possua o potencial de causar conseqüências ditas
desagradáveis à comunidade atingida, ele então é denominado de perigo. O perigo pode ser
definido como qualquer condição potencial ou real que possa causar morte, ferimentos às pessoas
e danos às propriedades (CASTRO, 2008).
Outro termo, importante na discussão sobre risco é o estudo dos hazards, que recebe
diferentes traduções, pois o na língua portuguesa uma palavra que corresponda
exatamente. Para Marandola e Hogan (2004) o significado do termo perigo advém da adoção da
palavra inglesa hazard, que possui seus estudos direcionados para a relação sociedade/natureza
(homem e meio), sobre os impactos advindos da ação humana sobre o meio.
White (1974, apud MARANDOLA JR; HOGAN, 2004) define hazard como um evento
que ocorre na interface sociedade-natureza, ou seja, um evento que ocorre nas áreas ocupadas
pelo homem, gerando perdas e danos, colocando em perigo a população. Assim, nem todo
furacão ou um terremoto se um hazard, mas somente aquele que coloca em situação de perigo
a população. Para este trabalho o termo hazard será traduzido como perigo.
O perigo não é considerado um evento natural ou um desastre natural, ele indica um
potencial acidente ou desastre, pois ele consiste na interação entre os possíveis usos de uma
determinada área e o provável fenômeno natural que pode ocorrer nela, como a ocupação de
28
uma planície de inundação, onde as pessoas e suas propriedades podem ser atingidas pelo
transbordamento das águas do canal (ERICKSEN, 2004).
O perigo ou hazard envolve a probabilidade de um determinado fenômeno ocorrer,
seja ele de origem, natural, tecnológica, social, etc. Ele não é o evento em si, mas a ameaça de
ele ocorrer e o potencial que ele possui em provocar danos (THYWISSEN, 2006)
Palácios, Chuquisengo e Ferradas (2005) caracterizam o perigo como a probabilidade da
ocorrência de um fenômeno natural ou induzido pelo homem, que pode ocasionar graves danos
a um determinado local e, que pode ser classificado de acordo com sua origem em naturais,
sócio-naturais e humanos. Kobiyama et al. (2006) define perigo como um fenômeno que ocorre
em um determinado tempo e espaço e que pode causar danos nas áreas afetadas e, os perigos
naturais como processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera, que podem ser
modificados pela atividade humana, como a degradação do ambiente e a urbanização.
Assim, se entende que o perigo é a probabilidade da ocorrência de um fenômeno
natural ou induzido pelo homem, em um determinado tempo e espaço que pode ocasionar
danos e prejuízos nas áreas afetadas e pode ser classificado em (CASTRO, 2000):
perigo natural: quando o fenômeno que pode produzir os danos tem sua origem na
natureza;
perigo antrópico: quando o fenômeno que pode produzir perdas e danos tem sua
origem nas ações humanas e;
perigo ambiental: quando o evento que pode causar prejuízo tem sua causa
combinada, ou seja, um perigo natural agravado pela ação humana, um perigo antrópico
agravado pela natureza ou ainda um perigo antrópico que afeta a natureza.
3.3 SUSCETIBILIDADE
O termo perigo pressupõe o termo suscetibilidade, que indica a potencialidade de
ocorrência de um determinado fenômeno em um determinado local, levando em consideração
a predisposição natural do ambiente para que o fenômeno ocorra, ou seja, a interação dos
agentes condicionantes e desencadeadores.
Neste sentido, Saito (2004), em seu trabalho sobre suscetibilidade a deslizamentos e
quedas de blocos no maciço central do Morro da Cruz, entende suscetibilidade como as
características inerentes do meio que condicionam a ocorrência desses fenômenos no local.
29
Cerri e Amaral (1998) e Oliveira, Robaina e Reckziegel (2004) também caracterizam a
suscetibilidade como as características do meio que determinam a probabilidade de um
fenômeno natural atingir uma determinada área com uma determinada magnitude, sendo que
para estes autores os danos advindos do fenômeno se ele irá ou não afetar a população e a
infra-estrutura do local - não são considerados.
A suscetibilidade indica a potencialidade de ocorrência do fenômeno perigoso, em um
determinado local, bem como sua magnitude e freqüência. A suscetibilidade aos fenômenos
do meio físico faz parte da dinâmica natural de cada lugar. Entretanto, as modificações
realizadas pelo homem ao meio podem acelerar tais processos, deixando o ambiente
suscetível aos acidentes ou desastres.
3.4 VULNERABILIDADE
Os danos e prejuízos causados por um acidente ou por um desastre variam em função da
magnitude do fenômeno perigoso e do grau de vulnerabilidade dos elementos expostos a ele.
A vulnerabilidade pode ser entendida como o conjunto de condições/fatores ambientais,
sociais, econômicas, políticas, culturais e educacionais que determinam se uma comunidade
está mais ou menos exposta a um fenômeno, seja pelas suas caractesticas naturais ou por sua
capacidade de responder ou de recuperar-se de tal evento, isto é, “la vulnerabilidad esta
determinada por causas estructurales, processos sociales y condiciones inseguras que
interactúan entre si
1
(PALÁCIOS; CHUQUISENGO; FERRADAS, 2005, p. 13).
Para Cardona (2003), a vulnerabilidade é uma condição, circunsncia ou predisposição para
sofrer danos e não uma propriedade propensa a eles. Para o autor, a vulnerabilidade o deve ser
relacionada somente à exposição dos elementos, como afirma Mitchel (1999), ou a suscetibilidade
física dos elementos expostos, mas também com as fragilidades sociais, com a capacidade da
sociedade atingida por um fenômeno perigoso de responder ou de absorver o seu impacto.
Por isso, o autor afirma que as conseqüências do evento não estão somente
relacionadas ao seu impacto (impactos diretos), mas com a capacidade de resistir ao impacto e
suas implicações na área/sociedade atingida (impactos indiretos).
Isto pressupõe que cada pessoa, cada comunidade ou cada instituição social possui
diferentes tipos de vulnerabilidade, que não são somente resultado das ações, decisões e
1
A vulnerabilidade é determinada por fatores estruturais, processos sociais e condicionantes de insegurança que
interagem entre si. (tradução livre da autora).
30
escolhas humanas, mas o resultado da interação do sistema natural, econômico, social,
cultural e político onde ela se encontra (ALCANTARA-AYALA, 2002).
Entende-se que a vulnerabilidade possui um caráter social (GÁRCIA-TORNEL,
1997), pois ela refere-se ao grau de preparo das pessoas, em relação à tomada de decisões e
ações perante um determinado fenômeno perigoso e irá determinar o grau de danos e perdas
de um elemento ou de um conjunto de elementos em risco.
Por isso, a vulnerabilidade pode ser considerada como uma característica intrínseca de
cada comunidade, em relação a um determinado fenômeno e que ela é dinâmica, ou seja,
muda no tempo e no espaço.
3.5 RISCO
A relação existente entre a probabilidade de ocorrência de um determinado fenômeno
perigoso associada ao grau de preparo e ação (vulnerabilidade) da comunidade a ser atingida é
entendida como risco.
Monteiro (1991) relaciona o termo risco ao homem, a algo negativo, desfavorável e
prejudicial. Para Cardona (2003) o risco representa algo irreal, difícil de compreender, que
não existe no presente, somente no futuro e que pressupõe a possibilidade de algo que poderá
ocorrer. Nesse mesmo sentido, Brüseke (2001) entende o risco como um acontecimento
futuro, mas que não existe sem que haja perdas. Já para Veyret e Richemond (2007), risco é a
percepção de um perigo possível, que é mais ou menos previsível por um grupo social ou por
um indivíduo que tenha sido exposto a ele.
Para Castro, Peixoto e Rios (2005, p.17) o risco “compreende a identificação de
perigos e pressupõe uma quantificação e/ou qualificação dos seus efeitos para a coletividade
em termos de prejuízos materiais e imateriais”, isto é, quais as perdas e danos que a sociedade
terá em relação a determinado fenômeno perigoso.
Nesse sentido, Marcelino (2008) afirma que o risco é a probabilidade (mensurável) de
ocorrer perdas e danos devido à interação entre um perigo natural e as condições de
vulnerabilidade do local.
Para Chardon (1999), uma situação de risco envolve a combinação de quatro fatores: o
perigo (hazard), a probabilidade (lugar, tempo, conseqüências do evento e fatores
circunstanciais), a complexidade (ligada ao sistema) e as perdas possíveis, isto é, para se ter
31
uma situação de risco é necessário que dois componentes interajam entre si: o fenômeno
perigoso (perigo) e a sociedade ameaçada a sofrer danos (vulnerabilidade).
Para se ter uma situação de risco é necesria a combinão do perigo (hazard) e da
vulnerabilidade, pois “(...) one cannot be vulnerable if one is not threatened, and one cannot be
threatened if one is not exposed and vulnerable
2
, ou seja, deve existir um perigo ou uma ameaça
para que algm ou algo seja vulnerável e é preciso que algo seja vulnevel para estar em perigo
(CARDONA, 2003).
Para alguns autores, como Chardon (1999), é excessivo afirmar que o risco é um
fenômeno social, porque existe a predisposição natural do local para a ocorrência de
determinado fenômeno. Mas riscos que podem ser provocados ou intensificados pelas
intervenções humanas e, as conseqüências da ocorrência desses fenômenos são determinadas
pelas condições de infra-estrutura, organização e medidas tomadas pela sociedade para
confrontar a exposição ao risco.
Outro fator importante a ser destacado é que cada situação de exposição ao risco
possui específicas características e particularidades que são percebidas diferentemente pelas
pessoas, principalmente em função da sua cultura, que determinará a forma de enfrentá-lo
(BURTON; KATES, 1972).
O risco ao longo do tempo pode aumentar ou diminuir em uma determinada área. Isto
pode ocorrer devido à ação de medidas estruturais e não-estruturais, como obras de contenção,
sistemas de alerta e medidas de prevenção e de educação (SAITO, 2004).
inúmeros critérios de classificar os riscos, eles podem ser classificados segundo a
origem do fenômeno perigoso ou ter como base situações potenciais de perdas e danos aos
homens. Dessa maneira pode-se classificar o risco em tecnológico através da contaminação
industrial, risco geológicos por meio de terremotos e vulcões, risco associados à dinâmica
climática, como as secas.
Cerri e Amaral (1998) apresentam uma classificação em que o risco ambiental foi
classificado como a classe maior de risco, que por sua vez foi subdividido em riscos
tecnológicos, naturais e sociais.
Os riscos tecnológicos se referem às contaminações por vazamento de produtos
tóxicos, por radioatividade. Os riscos naturais são relacionados aos meios físicos e biológicos,
como o risco a um tornado ou a uma doença, sendo que os riscos físicos podem ser divididos
2
Um não pode ser vulnerável se não é ameaçado, e não pode ser ameaçado se não estiver exposto e vulnerável
(tradução livre da autora).
32
naqueles que possuem a ação potencializadora do homem, como os deslizamentos, ou não. E,
os riscos sociais que se referem à violência urbana, ao desemprego e a fome, entre outros.
Na cidade de Antônio Carlos foram escolhidos para análise os riscos ligados aos
processos da dinâmica do meio físico, que estão relacionados aos processos pluviais
(alagamentos), fluviais (inundação e erosão fluvial da margem) e de movimentos de massa
(deslizamentos).
3.6 FENÔMENOS PERIGOSOS DA DINÂMICA DO MEIO SICO PASSÍVEIS DE
OCORRER NA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS
Nesta seção serão apresentadas as definições e as discussões sobre os fenômenos
perigosos que podem vir a ocorrer na cidade de Antônio Carlos e seus principais
condicionantes de um modo geral. Os fenômenos em si, seus condicionantes e as
características dos processos na área de estudo serão apresentados na seção 6.2.
3.6.1 Alagamentos
Os alagamentos o caracterizados por Lima, Melo e Corrêa (2008) como fenômenos
antropicamente induzidos nas cidades devido à impermeabilização do solo atras de
construções e pavimentações que não permitem a infiltração da água das chuvas, fazendo com
que esta escoe para o sistema de drenagem em direção aos rios.
Para Castro (2003) os alagamentos ocorrem devido ao acúmulo de água no leito das
ruas e nas áreas urbanas, por meio de precipitações intensas e de um sistema de drenagem
deficiente. Para o autor, este fenômeno está relacionado à redução da infiltração natural do
solo provocada pela compactação e impermeabilização do solo, por meio da pavimentação de
ruas e construção de calçadas e de edificações, ao acúmulo de detritos em galerias pluviais,
canais de drenagem e cursos de água e a uma deficiente rede de galerias pluviais.
Mas, o autor ainda ressalta que nesse tipo de fenômeno, os alagamentos dependem
muito mais de uma drenagem deficiente, que dificulta a vazão das águas acumuladas, do que
das precipitações locais.
para Souza (2004) os alagamentos ocorrem em áreas ocupadas pelo homem com
baixo coeficiente de escoamento superficial e em locais distantes dos canais, ou seja, as áreas
33
alagadas não possuem ligação com o sistema de drenagem natural de uma determinada área.
Como observado nas definições dos autores acima, os alagamentos ocorrem em maior
quantidade nas áreas urbanas devido à impermeabilização dos solos e ao sub-dimensionamento
das galerias pluviais (sistema de drenagem deficiente). Mas é importante destacar que os
alagamentos também ocorrem em áreas o urbanizadas, quando a precipitação é maior que a
capacidade de infiltração do solo ou quando este se encontra saturado, fazendo com que grande
parte da precipitação escoe e alague as áreas com topografias mais baixas, ou ainda, devido às
caractesticas do próprio solo, como a presença do lençol freático próximo à superfície.
Assim, os alagamentos são condicionados pela própria dinâmica geomorfológica da
área, pelas condições de uso e ocupação do solo e pelas características da precipitação
(LIMA; MELO; CORRÊA, 2008). Os alagamentos ocorrem em áreas com topografia mais
baixa que as áreas vizinhas, em locais de intensa ocupação humana, que ocasionam a
impermeabilização do solo e devido a precipitações concentradas ou a excedentes
pluviométricos. Isto ocasiona uma maior permanência da água das chuvas em superfícies
impermeabilizadas e o aumento do volume do escoamento (FUJIMOTO, 2002).
3.6.2 Inundação
Para a International Strategy for Disaster Reduction ISDR (2002, apud Souza, 2004), a
inundação se caracteriza por um fenômeno de caráter hidrometeorológico ou hidrológico, ou
seja, fenômenos de natureza atmosférica, hidrológica ou oceanográfica. Mas as inundões
também são condicionadas pelas características geomorfológicas da bacia como o tamanho, a
forma e a disposição do relevo (FORTES, 1996; TESTA, 2006; COLLISCHONN, 2009). Por
isso, neste trabalho entende-se que a inundão é condicionada por fatores
hidrogeomorfólogicos e desencadeada por fenômenos atmosféricos (as precipitações pluviais).
As águas das chuvas ao alcançarem um curso de água aumentam a vazão por um
determinado tempo. Este acréscimo na descarga da água é chamado de cheia ou enchente.
Quando o acréscimo de água em um rio for superior a sua capacidade de vazão, extravasando
para as áreas marginais (planície de inundação), que normalmente não são ocupadas pelas
águas, ocorre o fenômeno da inundação (MACEDO et al., 2004).
Para Collischonn (2009), que segue a mesma definição de Macedo et al. (2004), existe
uma relação direta entre enchente e inundação, pois toda enchente envolve a crescida na
34
descarga da água e, pode haver o transbordamento para as áreas marginais, isto é, a
inundação. Assim, toda inundação é considerada uma enchente, mas nem toda enchente
resultará numa inundação.
Os termos inundação e enchente são muitas vezes empregados na literatura como
sinônimos, como exemplo pode-se citar a definão de Tucci (2003).
Para este autor, a inundação ou enchente é a quantidade de água que chega a um canal,
como resultado de uma precipitação intensa, que excede a sua capacidade de drenagem
fazendo com que a áreas adjacentes sejam tomadas pela água. Este fenômeno pode ocorrer
devido ao comportamento natural dos rios ou pode ser ampliado pelo homem, através da
urbanização (impermeabilização do solo e canalização dos rios).
para Kobiyama et al. (2006) e Herrmann et al. (2007), o termo inundão o é
sinônimo de enchente. Para esses autores a inundação ocorre quando a vazão ou débito supera a
capacidade de descarga do canal, ocorrendo o transbordamento de suas águas para a planície de
inundação. A enchente ou cheia de canal ocorre quando o aumento da vazão do rio, por um
determinado período de tempo, sem que ocorra o transbordamento para a planície adjacente.
Kobiyama et al. (2006) e Herrmann, Kobiyama e Marcelino (2007) seguem a mesma
definição de Macedo et al. (2004), que é utilizada nos trabalhos do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo (IPT), que também será adotada neste trabalho, apenas
substituindo o termo enchente por cheia de canal, pois o termo enchente é vinculado nos
meios de comunicação de maneira errônea aos fenômenos de inundação e de alagamento.
As inundações podem ser classificadas para Castro (2003, 2008) de acordo com a sua
magnitude em excepcionais, de grande magnitude, normais ou regulares e de pequena magnitude,
e, de acordo com seu padrão evolutivo em enchentes ou inundações graduais, enxurradas ou
inundações bruscas, alagamentos e inundações litorâneas. Percebe-se que ao classificar as
inundações de acordo com o seu padrão evolutivo, o autor, também não faz distinção entre o uso
dos termos inundações e enchentes. Esta classificação é utilizada nos relatórios de Avaliação de
Danos da Defesa Civil no Brasil.
Para Herrmann, Kobiyama, e Marcelino (2007) as inundações fluviais podem ser de
dois tipos: inundação brusca e inundação gradual. A primeira é caracterizada pela súbita e
violenta elevação dos níveis das águas dos rios, que escoam de forma pida e violenta e a
inundação gradual é caracterizada pela elevação lenta e previsível das águas que se mantêm em
situão de cheia durante algum tempo e, a seguir, escoam gradualmente (CASTRO, 2003).
35
Entres os fatores que condicionam o aumento da vazão de um rio e, a conseqüente
subida das águas no canal causando as cheias de canal e as inundações estão os fatores
naturais e antrópicos (TESTA, 2006; COLLISCHONN, 2009).
O aumento da vazão de um canal é resultado da interação de todos os componentes do
ciclo hidrológico, principalmente da água que infiltra ou não no solo, como da água pelo
processo de escoamento superficial.
Segundo Collischonn (2009), o aumento da vazão de um canal ocorre, principalmente,
devido à parcela da precipitação que não se infiltra no solo e que escoa superficialmente
(escoamento superficial). De acordo com a autora, isto ocorre pela ação da gravidade, de
modo não organizado, das áreas mais elevadas paras as mais baixas, primeiro na forma de
uma mina de água e depois em pequenos cursos de água e posteriormente nos rios. Sendo
que o escoamento superficial ocorre como uma resposta rápida à precipitação e cessa pouco
tempo depois dela e é responsável por gerar os picos de vazão nos cursos de água, como
resposta aos episódios de chuva.
Percebe-se que a vazão de um rio depende de fatores relacionados diretamente à
precipitação e ao escoamento, que são o relevo, a forma e o tamanho da bacia, a densidade e
distribuição da rede de drenagem, o tipo e a profundidade do solo, o tipo de leito e canal fluvial,
a duração e a intensidade da precipitação e a circulação costeira (marés de sizígia ou de
tempestade), além dos fatores antrópicos, como as alterações no próprio canal e no uso do solo
da bacia, que potencializam o aumento da vazão (CHRISTOFOLETTI, 1981).
A velocidade do escoamento superficial é controlada pela declividade e pela quantidade
de água que escoa dos terrenos da bacia, que determinará o tempo em que a água da chuva levará
para concentrar-se nos rios. Este fator está diretamente ligado à intensidade dos picos da cheia do
canal e da inundão. A forma da bacia es relacionada ao tempo de duração que uma gota de
chuva leva para atingir o fluxo principal da rede de canais fluviais, que ela define o tempo
necessário para que toda a bacia passe a contribuir para a vazão do rio, além de exprimir a maior
ou a menor tendência que a bacia possui para inundações (CHRISTOFOLETTI, 1981).
O tamanho da bacia condiciona a contribuição das águas para o rio principal, assim,
quanto maior a bacia, maior a captação de água para o rio, o que determinará o volume de
água que o canal principal poderá comportar.
A rede de drenagem superficial é formada pelo conjunto de rios de uma determinada
área (CHRISTOFOLETTI, 1980), isto é, o conjunto formado pelo rio principal e pelos seus
36
afluentes. Assim, quanto maior for a rede de canais fluviais, maior será a sua eficiência e a
rapidez no aumento do fluxo ou vazão do rio principal.
O tipo de solo condiciona a capacidade de infiltração e de absorção das águas da
chuva, além da suscetibilidade à erosão, o que permite compreender o transporte e deposição
de sedimentos na bacia, a erosão das margens do rio, a forma do leito e o pado de canais
fluviais. Além disso, a forma do leito e a sua profundidade estão ligadas à constituição
litológica (ao tipo de rocha) sobre a qual o rio se encontra (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Os leitos fluviais correspondem aos locais utilizados para o escoamento das águas.
Christofoletti (1980) distingue quatro tipos de leito principais: o leito de vazante, que é utilizado
para o escoamento das águas mais baixas e faz parte do leito menor, que é caracterizado por ser
bem delimitado e por possuir suas margens, geralmente, bem definidas; o leito maior periódico
ou sazonal que é regularmente ocupado pelas cheias regulares; e o leito maior excepcional que é
ocupado pelas inundações mais elevadas, com intervalos mais irregulares.
Os padrões de canais fluviais estão relacionados diretamente à velocidade do fluxo, a
quantidade de sedimentos que o rio transporta. Os canais podem ser classificados como
retilíneos, anastomosados, meandrantes e entrelaçados, sendo que estes padrões são resultado
do ajuste da seção transversal do canal como reflexo do equilíbrio entre a velocidade do fluxo,
a descarga líquida, os sedimentos transportados, a declividade, a largura e a profundidade do
canal (CHRISTOFOLETTI, 1980).
O volume e a duração das chuvas, isto é, as características da precipitação, é o fator
que desencadeia as inundações ou cheias de canal. Com relação à circulação costeira, as
marés astronômicas e/ou meteorológicas são responsáveis pela elevação das águas do mar,
momentânea e costeira, o que dificulta o lançamento das águas dos rios junto à foz, em função
do represamento das águas fluviais (HERRMANN, 1999).
Com relação aos condicionantes antrópicos, o homem é responsável por mudanças nas
condições hidrológicas da bacia, contribuindo para o aumento do escoamento superficial e da
quantidade de carga sólida que chega aos canais, através do desmatamento, da agricultura e da
urbanização; e, por mudanças diretas no canal, por meio de obras de engenharia, para a
retilinização, dragagem e canalização dos canais, que aumentam a velocidade do fluxo e a
quantidade de sedimentos em suspensão, além da retomada dos processos erosivos.
37
3.6.3 Erosão fluvial marginal ou lateral
A erosão fluvial é resultado da mudança no fluxo e na carga de sedimentos do canal,
provocando a eroo do fundo e das margens do canal. Christofoletti (1981) classifica a erosão
fluvial como um importante fenômeno que atua em todo o leito do rio. Ela é responsável pela
retirada de detritos do fundo e das margens do canal, fazendo com que passem a integrar a carga
sedimentar transportada pelo fluxo.
A capacidade de erosão das águas de um rio depende da sua velocidade e turbulência,
do volume e das partículas transportadas em suspensão, saltação e rolamento (CUNHA,
2007). Os processos erosivos podem ser classificados em corrosão, abrasão ou corrasão,
cavitação, arranque.
A corrosão engloba os processos qmicos que ocorrem como reação entre a água e as
rochas, que constituem a carga de fundo, além de abranger as reações químicas entre a água e
a carga detrítica transportada pelo leito em suspensão (CHRISTOFOLETTI, 1981).
Para Lima (2009), a corroo não é considerada um processo erosivo em si, mas um
conjunto de processos ou ações que facilitam a erosão pela cavitação, arranque e corrasão, mas
o autor ressalta que o intemperismo pode liberar soluções que reduzem a massa das rochas.
O processo erosivo da corrasão ou abrasão ocorre devido ao atrito entre as partículas
em suspensão, nas margens e no fundo do canal, o que ocasiona a diminuição da rugosidade
do leito. A corrasão é um processo lento, no qual a remoção dos grãos ocorre pelo efeito das
correntes. O processo erosivo pode ser acelerado através do aumento da velocidade do fluxo
em períodos de cheia no canal, quando o processo se torna mais intenso devido ao aumento da
turbulência do fluxo (ROCHA; SOUZA FILHO, 1996).
A cavitação ocorre sob condições de velocidade elevada da água (corredeiras e quedas
d’água), criando condições de fragmentação da rocha pelas variações de pressão
(CHRISTOFOLETTI, 1981). Barnes (1956, apud CHRISTOFOLETTI, 1981) explica que este
processo ocorre devido à diminuição da pressão da água num canal, pelo aumento da velocidade
do fluxo, o que possibilita a formão de bolhas. Estas ao estourarem junto ao leito e as margens
do canal liberam uma grande energia de impacto, que promove a fragmentação das rochas.
A erosão por arranque hidráulico é ocasionada pela força do fluxo fluvial que age no
sentido de destacar fragmentos do leito e das margens, sem a ação do fluxo de sedimentos. Esse
processo requer a presença de blocos de rochas delimitados por descontinuidades estruturais, tais
como fraturas e planos de acamamento, nas margens fluviais (LIMA, 2009).
38
Os rios podem erodir seus canais verticalmente, aprofundando o talvegue, ou lateralmente,
alargando o canal. O processo de aprofundamento do canal é denominado de erosão vertical ou do
fundo do leito e o de ampliação da largura do canal, erosão lateral ou marginal.
A erosão marginal desempenha um importante papel no controle da largura do canal,
além de contribuir para o incremento da carga do canal (THORNE; TOVEY, 1981).
A erosão das margens também possui uma importância econômica devido à perda de
terras cultiváveis, à perda da proteção de estruturas construídas próximas ou sobre os canais
fluviais, como rodovias e pontes, e na perda de empreendimentos comerciais e residenciais
construídos próximos ao leito (FERNANDEZ; FULFARO, 1993).
Segundo Thorne e Tovey (1981), os fatores que condicionam a erosão das margens
são os mais variados, destacando-se o tamanho, a geometria e a estrutura da margem, as
propriedades mecânicas do material, as características hidrodinâmicas do fluxo nas
proximidades das margens e as condições climáticas.
As características hidrodinâmicas incluem a variação do nível da água, a turbulência e
a variação da velocidade, sendo que a variação do nível do rio é considerado um dos fatores
mais importantes na erosão marginal, pois controla a atuação das forças do canal sobre os
materiais das margens (ROCHA; SOUZA FILHO, 1996). Por isso, a erosão das margens é
mais intensa em condições pluviométricas adversas, quando há acentuadas variações na altura
do nível das águas fluviais.
Park (1977, apud SANTOS; PINHEIRO, 2002) chama a atenção para a ação do homem
na aceleração dos processos de erosão marginal. Segundo o autor, o homem pode atuar em
locais específicos, interferindo diretamente no canal - extração de areia e obras de engenharia –
ou em toda a bacia hidrográfica – modificões na cobertura vegetal e uso da terra.
A extração de areia altera as linhas de talvegue do canal, modifica as direções das
principais linhas de fluxo e, conseqüentemente, a distribuição espacial dos processos de
eroo e de deposição do rio (ROCHA; SOUZA FILHO, 1996).
As transformações ambientais na bacia ocorrem através do desmatamento, das
mudanças no uso da terra e da urbanização, que alteram o equilíbrio das encostas,
aumentando o volume do escoamento superficial e da carga detrítica que chega aos canais,
comprometendo a estabilidade das margens (SANTOS; PINHEIRO, 2002).
39
O processo de erosão fluvial é uma resposta do canal às transformações ambientais
sofridas buscando atingir um novo estado de equilíbrio (SANTOS; PINHEIRO, 2002;
CUNHA; GUERRA, 2006).
Os processos erosivos marginais podem ser classificados em corrasão ou abrasão,
escorregamento (deslizamento) rotacional, desmoronamento e solapamento (FERNANDEZ;
FULFARO, 1993; ROCHA; SOUZA FILHO, 1996; ARAÚJO; ROCHA, 2008).
O processo de corrasão ou abrasão, como mencionado anteriormente, ocorre devido ao
atrito entre as partículas em suspensão e as margens do canal. O escorregamento rotacional é
definido como um movimento pido, com massa de solo ou de sedimentos bem definida
quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora da margem, ao
longo de uma superfície de ruptura (GUIDICINE; NIEBLE, 1984)
O desmoronamento é caracterizado pela queda livre e rápida dos blocos de sedimentos
por causa da força de gravidade a partir das faces dos barrancos, que podem ocorrer por
basculamento, quando o bloco desmorona sem ocorrer prévio solapamento e por cisalhamento,
quando o bloco de terra desmorona seguindo o plano vertical do barranco (FERNANDEZ;
FULFARO, 1993).
O processo de solapamento se caracteriza pela remoção dos sedimentos na base das
margens ou criação de pequenas cavidades localizadas aleatoriamente nas margens dependendo
apenas do nível que o fluxo atinge, principalmente nas cheias (ARAÚJO; ROCHA, 2008).
3.6.4 Movimentos de Massa
Os movimentos de massa são considerados por Bigarella et al. (2003), como os mais
importantes processos geomórficos modeladores da superfície terrestre. Selby (1993) o
caracteriza como movimento de solo ou de material rochoso encosta abaixo sob a influência
da gravidade, sem contribuição direta de outros fatores como água, ar ou gelo. Entretanto,
água e gelo geralmente estão envolvidos em tais movimentos, reduzindo a resistência dos
materiais e interferindo na plasticidade e fluidez dos solos.
uma gama de proposta para a classificação desses movimentos, devido à
complexidade dos fenômenos, que envolve uma grande variedade de materiais e processos,
juntamente com as rápidas transformações que ocorrem nas cicatrizes resultantes dos
processos erosivos e nas transformações antrópica (FERNADES et al., 2001) ou pelo fato de
muitas vezes ocorrerem combinações de dois ou mais processos (DIAS; HERRMANN, 2002)
40
Fernandes e Amaral (2006) apresentam alguns critérios para classificar os movimentos
de massa, tais como o tipo de material, a velocidade e o mecanismo de movimento, o modo de
deformação, a geometria da massa movimentada e o conteúdo de água. Estes autores
classificam os movimentos de massa em corridas, deslizamentos ou escorregamentos e quedas
de blocos. Guidicini e Nieble (1984) classificam os movimentos de massa em: escoamentos
densos (rastejo e corrida de terra, de lama ou de detritos), escorregamentos (rotacionais e
translacionais), queda de blocos e queda de detritos, subsidências, recalques e desabamentos, e
por último as formas de transição e movimentos complexos. Já Cunha (1991) classifica como
movimentos de massa os rastejos, corridas de massa, escorregamentos, quedas e tombamentos.
Neste trabalho optou-se por distinguir os tipos genéricos, utilizados por Vieira (2008)
e citado por Dias e Herrmann (2002), que são os rastejos, as corridas, os deslizamentos
(escorregamentos) e as quedas de blocos,
Os rastejos ou creep são definidos por Bigarella et al. (2003) como movimentos
imperceptíveis ou muito lentos, de caráter mais ou menos contínuo, da camada superficial do
solo, perceptível somente em observações de longa duração.
para Cunha (1991), esse movimento pode ocorrer tanto nos horizontes superficiais
como nos mais profundos, sendo responsável pela abertura de fissuras no solo e possui uma
superfície de ruptura bem definida.
Segundo Bigarella et al. (2003), as causas para que esse processo ocorra são as mais
variadas, podendo ser ocasionado pelas variações sazonais de temperatura e umidade, pelo
congelamento e degelo, pela alterncia de períodos úmidos e secos, pisoteio de animais, pelo
crescimento das raízes das plantas e ações humanas, mas ele também pode ocorrer em solos
que se deformam pelo próprio peso, como os solos argilosos.
O início desse movimento está relacionado a mudanças no teor de água no solo,
podendo cessar em épocas secas e para que ele ocorra é necessário que o material superficial
apresente certa plasticidade (GUIDICINI; NIEBLE, 1984).
As corridas (flows) ou fluxos são movimentos rápidos, associados à concentração dos
fluxos de água superficial em certo local da vertente, constituídos por materiais com aparência
altamente viscosa, que não possuem uma superfície de ruptura definida (FERNANDES e
AMARAL, 2006).
Segundo Cunha (1991) e Bigarella et al. (2003), as corridas possuem um alto poder
destrutivo e de transporte, além de um extenso raio de alcance, podendo afetar pequenas áreas
41
até extensões de vários hectares, ocasionados por elevados índices pluviométricos.
Esse fato pôde ser observado no evento ocorrido em dezembro de 1995 no sul do
estado de Santa Catarina, estudado por Pellerin et al. (1997a), que deixou 29 vítimas fatais e
centenas de desabrigados.
As corridas, normalmente, ocorrem em áreas escarpadas, com solos rasos e grandes
descontinuidades hidrológicas que facilitam a infiltração da água no solo. Geralmente os
materiais movimentados (solo, rocha, e restos vegetais) são transportados seguindo os canais
fluviais, comportando-se como fluidos altamente viscosos (CRISTO; HERRMANN, 2002).
As corridas são classificadas por Fernandes e Amaral (2006) como fenômenos
complexos, porque muitas vezes se originam a partir de um deslizamento anterior, quando o
material ganha mais água e escoa encosta abaixo, às vezes alcançando o rio. Para os autores,
quando há apenas o acúmulo de água concentrada num local da encosta pode ocorrer uma
corrida simples, que se constitui no transporte contínuo de material terroso da encosta.
Os deslizamentos ou escorregamentos são hierarquizados como a classe mais
importante dentre todas as formas de movimentos de massa que modelam a paisagem
(FERNANDES; AMARAL, 2006). Eles são caracterizados por movimentos rápidos, de curta
duração, com plano de ruptura bem definidos (tanto lateralmente, quanto em profundidade),
permitindo a distinção entre o material deslizado e aquele não movimentado (FERNANDES;
AMARAL, 1996; CUNHA, 1991). O material envolvido pode ser constituído por solos,
depósitos de encosta (colúvio), rochas, detritos ou até lixo doméstico (FERNANDES;
AMARAL, 2006).
De acordo com a forma da superfície de ruptura, os escorregamentos podem ser
classificados em translacional ou rotacional. Os deslizamentos translacionais (em pranchas)
possuem supercie de ruptura com forma planar, normalmente acompanham as descontinuidades
mecânicas e/ou hidrológicas existentes no interior do material, e podem ser resultantes de
processos geológicos (acamamentos, foliações, falhas, fraturas), geomorfológicos (depósitos de
encosta) e pedológicos (contato entre horizontes) (FERNANDES; AMARAL, 2006).
Os movimentos translacionais costumam ser compridos e rasos e estão associados a
uma dinâmica hidrológica mais superficial. As rupturas tendem a ocorrer rapidamente, devido
ao aumento da poro-pressão positiva durantes peodos de precipitação excepcional ou em
período de precipitação moderada, mas contínua.
42
Os deslizamentos rotacionais (slumps) possuem sua superfície de ruptura curva, ncava
para cima (topo se aprofunda e a base projeta-se para fora), ocorrendo em locais com espesso
manto de alteração (FERNANDES; AMARAL, 2006).
Esse movimento também é determinado pelas descontinuidades mecânicas e/ou
hidrológicas resultante dos processos geológicos, geomorfológicos e pedológicos citados no
movimento translacional. O início do processo, muitas vezes, ocorre devido a cortes na base
das encostas para construções de estradas e moradias ou provocados por eroo fluvial ou
marinha (FERNANDES; AMARAL, 2006).
Cunha (1991) também classifica os deslizamentos em induzidos, que são aqueles
movimentos que ocorrem em encostas ocupadas, cuja deflagração é potencializada pelo
homem e que pode vir a mobilizar materiais produzidos pela própria ocupação como entulho
de construção, lixo doméstico, etc.
As quedas de blocos são caracterizadas como movimentos extremamente rápidos de
blocos e/ou lascas de rocha pela ação de gravidade sem a presença de uma superfície de
deslizamento, na forma de queda livre (CUNHA, 1991). Este movimento é favorecido pela
presença de descontinuidades na rocha, como fraturas e bandamentos composicionais, e pelo
avanço do intemperismo físico e químico (FERNANDES; AMARAL, 2006).
Segundo Brasil (2007), a ocorrência desse processo es condicionada à presença de
afloramentos rochosos em encostas íngremes e cortes nas encostas. Este autor classifica a queda
de blocos em dois processos, que são o rolamento e o tombamento.
O rolamento é característico de área com rochas graníticas, devido à maior
predisposição para a presença de matacões expostos ou isolados em superfície. A modificação
da encosta, através da escavação e da retirada do apoio, decorrente do processo de ocupação é
a ão mais comum para o desencadeamento desses processo. o tombamento ocorre em
encostas rochosas íngremes, com descontinuidades (fraturas, diáclases) verticais, ocorrendo
principalmente em cortes de encostas, onde a mudança na geometria acaba desconfinando
estas descontinuidades, o que propicia o tombamento das paredes rochosas (BRASIL, 2007).
Os fatores condicionantes dos movimentos de massa estão relacionados à estrutura
geológica, as características dos materiais envolvidos, à morfologia da encosta, ao regime de
chuvas, à perda de vegetação e as atividades antrópicas (LUIZ, 1996; AUGUSTO FILHO;
VIRGILI, 1998; HERRMANN, 1999; FERNANDES et al., 2001; DIAS; HERRMANN,
2002; BIGARELLA et al. 2003; LUIZ, 2003; HERRMANN; PELLERIN; SAITO, 2004).
43
Com relação à estrutura geológica consideram-se os aspectos litológicos; os padrões
de fratura, diáclase, xistosidade e dobramentos, que condicionam o surgimento de
descontinuidades mecânicas e hidrológicas.
As características dos materiais como a granulometria, porosidade, permeabilidade,
resistência ao cisalhamento entre outros também são responsáveis pelas descontinuidades
acima citadas, que determinam a estabilidade natural dos materiais da encosta.
A morfologia da encosta, como a forma, o comprimento, a altura e a inclinação da
mesma, a área de contribuição e os depósitos de encostas também condicionam a ocorrência
desses movimentos.
Os aspectos climáticos dizem respeito ao regime das chuvas, ou seja, à quantidade e
intensidade da precipitação. A alta pluviosidade é um dos principais fatores desencadeadores
do processo; uma forte pancada de chuva durante um curto intervalo de tempo, antecedida de
dias secos, tem grande probabilidade de provocar deslizamentos, da mesma forma que uma
precipitação intensa sobre uma superfície já saturada (HERRMANN, 1999). Isto significa que
é necessário levar em consideração o tempo de duração das chuvas, a condutividade
hidráulica e o grau de saturação dos solos (HERRMANN, 1999; LUIZ, 2003).
O uso do solo é um importante condicionante na deflagração dos movimentos de
massa. A retirada da vegetação deixa o solo exposto à ação direta das águas das chuvas,
permitindo uma maior infiltração de água no solo. Os cortes e aterros executados para
construção de residências e ruas, sem avaliação técnica, modificam a forma da encosta,
aumentam o seu ângulo de inclinação e modificam a geometria das forças atuantes no
equilíbrio da mesma, além de desestabilizar a cobertura superficial (CRISTO; HERRMANN,
2002, LUIZ, 2003).
44
4. MATERIAS E MÉTODOS
4.1 LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS E MATERIAIS CARTOGRÁFICOS
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram realizados levantamentos bibliográficos
sobre as características físicas e sobre a ocupação da área de estudo; sobre os conceitos
utilizados nesta pesquisa (evento, desastre, acidente, perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e
risco); bem como sobre os fenômenos estudados e seus condicionantes.
Também foi realizado um levantamento do material cartográfico existente da área de
estudo para a elaboração da base cartográfica. A área de estudo conta com uma imagem
SPOT 5 de 2004, da bacia hidrográfica do Biguu, com resolução de 2,5 m e a carta
topográfica do município na escala de 1:25.000, que foi elaborada pelo Departamento
Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DENIT), pela Companhia de Desenvolvimento
do Estado de Santa Catarina (CODESC) e pela Engenharia e Mapeamento Ltda (ENGEMAP)
do ano de 2005.
Além disso, a área de estudo conta com o levantamento aéreo na escala de 1:25.000
dos anos de 1957, 1978, fornecidos pela Secretaria de Planejamento e levantamento aéreo da
área urbana de Antônio Carlos, na escala de 1: 8000 do ano de 2000 cedida pelas Centrais
Elétricas de Santa Catarina (CELESC).
Os dados dos eventos adversos que ocorreram na área de estudo entre os anos de 1980
e 2010, foram obtidos a partir dos relatórios de avaliações de danos, da Defesa Civil do
Estado de Santa Catarina (DEDC/SC), que são preenchidos pelas prefeituras. Estes dados
foram levantados também a partir de pesquisas em jornais e entrevistas com os moradores que
vivenciaram tais eventos.
Os totais de precipitação diária foram obtidos na Agência Nacional de Águas (ANA) e na
Empresa de Pesquisa Agropecria e Extensão Rural de Santa Catarina/Centro de Informões de
Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (EPAGRI/CIRAM), provenientes
da Estação Meteorológica deo José (. 83897) e de Antônio Carlos (n
o
. 2748016).
Os dados da estação meteorológica de Antônio Carlos foram utilizados para obter a
precipitação anual e a distribuição dia mensal (1977 a 2009), e os totais de precipitação diários
para a análise do tipo de precipitação dos meses que ocasionaram desastres na cidade de Antônio
45
Carlos (1980 a 2010). Para cada mês foi gerado um gfico da precipitação diária, que foi
relacionado a um tipo de tempo atuante no momento da precipitação.
Os dados de maré foram utilizados para complementar a análise sobre os eventos
adversos na cidade de Annio Carlos, pois a maré alta ocasiona o represamento do rio em sua
foz, e em associação com as precipitações concentradas, elas podem potencializar as
inundações. Mas devido à falta dos totais horários de chuva não se pode estimar o tempo de
duração das chuvas e relacioná-las corretamente com as alturas horárias das marés, para saber
se estas auxiliaram ou não no episódio de inundação.
Esses dados foram obtidos no Centro de Hidrografia e Navegação (CHN) através do
Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO), referentes à estação 60245 do porto de
Florianópolis, que está localizada nas coordenadas 27º35’3” Sul e 48º33`4” Oeste.
4.2 TRABALHOS DE CAMPO
Os trabalhos de campo foram realizados para auxiliar aa fotointerpretação; atualizar
dados de uso da terra; identificar feições erosivas e deposicionais e os mecanismos de atuação
dos processos; identificar e mapear as áreas suscetíveis aos fenômenos perigosos; identificar
áreas com registro de acidentes e quais os elementos em risco e identificar as intervenções
humanas que possam aumentar ou induzir os fenômenos perigosos.
4.3 ATIVIDADES DE GABINETE
Nesta etapa da pesquisa foi utilizado o Laboratório de Cartografia e Fotogrametria
para a interpretação das fotos aéreas de 1957, 1978 e de 2000. Para a confecção dos mapas foi
utilizado o programas de processamento de dados geográficos ArcGis 9.3.
Para a confecção do mapa da bacia hidrográfica foi utilizada a base cartográfica 1:25.
000 do DENIT/CODESC/ENGEMAP (2005). Foi realizada a interpretação das fotos aéreas
de 1957 e 1978 para a identificação dos antigos cursos dos rios antes do processo de
retilinização; a interpretação da imagem SPOT 5 de 2004 para corrigir erros de vetorização da
rede de rios contidos na base cartográfica. Sobre esta imagem também foram vetorizadas o
sistema viário da bacia e as localidades que a compõem. Dessas informações resultou o mapa
da bacia do rio Biguaçu na escala de 1:50.000.
46
O mapa geomorfológico foi confeccionado na escala 1:10.000, a partir da
interpretação das fotografias aéreas do ano de 2000 (escala 1:8.000) e da imagem de satélite
SPOT 5, além das verificações em campo.
Primeiramente foram vetorizados os polígonos do modelado de dissecação em
montanha e morraria e modelado de acumulação fluvial. Depois foram vetorizados os
interflúvios convexizados e angulosos, os colos ou selas e os topos convexos, as formas de
relevo em depressão fechada, anfiteatro, deslizamentos (atuais e cicatrizes), ombreiras,
terraços e meandros abandonados e, as formas antropizadas - meandros abandonados pela
retilinização dos rios, talude de corte, aterros e terraplenagem.
Após essa etapa, foi feita a edição final com a inserção da rede hidrografia, dos
lineamentos, da malha viária, dos símbolos que representam os locais com extração de areia e
de saibro.
A imagem de satélite foi recortada através da ferramenta Extraction by Mask do
programa ArcGis 9.3, para obter apenas a área de estudo. Foi recortada uma área maior que a
área urbana para se ter uma noção do relevo que a circunda e dos processos que ali ocorrem.
Para a análise e espacialização dos fenômenos perigosos foi confeccionado um único
mapa, no qual foram vetorizadas as áreas de ocorrência de cada fenômeno. As áreas alagadas
foram vetorizadas a partir da magnitude dos eventos de janeiro de 2008 e março de 2010.
Para vetorizar as áreas suscetíveis à inundação foram criados dois polígonos. Um que
representa a extensão da inundação de janeiro de 2008 e outra a inundação de novembro do
mesmo ano, além de levar em consideração as características do terreno, como as formas de
terraço e os meandros abandonados.
Para as áreas sujeitas à erosão marginal foram vetorizados polígonos nas áreas
erodidas nos eventos citados acima e nas margens convexas dos rios. Para as áreas suscetíveis
aos deslizamentos foram vetorizados os cortes nas encostas, formas de anfiteatro e cicatrizes
de processos erosivos.
O mapa de suscetibilidade aos fenômenos perigosos foi plotado na escala 1:10.000,
sendo utilizado o mesmo recorte do mapa de geomorfologia, porém apenas foram vetorizadas as
informações referentes à área de estudo. Essas informações foram sobrepostas à imagem SPOT
5 e para a visualização das informações da área sob os polígonos foi aplicada uma transparência
de 50% para os layers da inundação e dos deslizamentos. A área alagada foi representada
através de um polígono tracejado, pois esta fica sobreposta à área inundada em alguns trechos.
47
Para a análise dos riscos a esses fenômenos (alagamentos, inundação, erosão marginal
e deslizamentos) foi utilizada a proposta metodológica de Brasil (2007). Nesta metodologia a
análise da vulnerabilidade está centrada na tipologia da construção, ou seja, se a casa é de
alvenaria, madeira ou mista, pois para os autores, uma casa de madeira é mais vulnerável a
um deslizamento do que uma casa de alvenaria, por exemplo.
Isto pode ser comprovado pelo deslizamento de terra e rocha que ocorreu em um
determinado local da área de estudo. O bloco de rocha atingiu uma residência de alvenaria
que teve sua estrutura danificada, se o bloco tivesse deslizado sobre a residência ao lado, que
é uma residência mista, os danos teriam sido maiores.
Existem outros todos para analisar a vulnerabilidade, como aqueles que utilizam os
dados censitários. Como exemplo da aplicação destetodo pode-se citar os trabalhos de Cutter,
Mitchell e Scott (2000), que utilizaram os dados censitários para estabelecer a vulnerabilidade
social do Condado de Georgetown, no estado da Carolina do Sul, nos Estados Unidos e, o
trabalho de Cutter, Boruff e Shirley (2003) que criaram o Índice de Vulnerabilidade Social dos
Condados dos Estados Unidos, tendo como base os dados censitários do ano de 1990.
Para esta pesquisa foi levada em consideração a tipologia das residências e prédios
públicos, as obras de infra-estrutura (pontes e ruas) e a atividade agrícola.
A proposta metodológica de Brasil (2007) cria critérios para a análise dos riscos a
movimentos de massa, erosão marginal e inundações. Esta proposta cadastra as áreas de risco
a esses movimentos e posteriormente as classifica em graus (níveis) de risco.
Devido à escala de trabalho (1:10.000) e ao tempo para o desenvolvimento desta
pesquisa, foi realizada apenas a hierarquização das áreas de risco, ligados aos deslizamentos e
à inundação. As áreas de risco a alagamentos e eroo marginal foram classificadas como
possuindo risco ou não a esses processos.
Para mapear as áreas de risco foram criados dois mapas, um contendo os fenômenos que
causam risco no compartimento da planície e outro na encosta. No primeiro mapa, aparecem as
áreas de risco a alagamentos, inundações e erosão marginal. Em alguns pontos estes riscos se
sobrepõem, como por exemplo, as margens dos canais, que estão sujeitas à erosão marginal e às
inundações e as áreas de risco à inundação e alagamentos sobre a Rua Ao Reitz.
O mapa de risco referente às encostas possui apenas um fenômeno perigoso analisado
nesta pesquisa, os deslizamentos. Outro fenômeno que ocorre no compartimento das encostas é
o escoamento superficial concentrado, responsável pelos sedimentos depositados nas ruas do
48
centro da cidade durante a precipitação excepcional do dia 25 de março de 2010. Este fenômeno
não foi analisado nesta pesquisa devido ao tempo para o seu desenvolvimento de seu estudo.
Para a análise e mapeamento do risco a alagamentos foi considerada a magnitude dos
eventos de janeiro de 2008 e mao de 2010, pois estas áreas não estavam ocupadas em
eventos passados ou possuíam menos elementos vulneveis (residências). Foram
consideradas a quantidade de residências e casas de comércio atingidas e a probabilidade de
maiores danos num evento futuro de maior magnitude.
Para análise e mapeamento do risco à inundação foi considerada a magnitude do
evento de janeiro de 2008, que se assemelha à magnitude dos eventos de novembro de 1991 e
janeiro de 1997. Foi analisado o alcance e a extensão do fenômeno, os impactos dos
processos, as estruturas criadas para enfrentar o fenômeno (aterros, casas em palafitas) e a
estimativa de prováveis perdas e danos através de eventos passados. O risco à inundação foi
classificado em três níveis: baixo, médio e alto.
O risco baixo foi caracterizado pelas áreas que não foram inundadas no evento de
janeiro de 2008, por se encontrarem em uma cota topográfica natural mais alta ou por estarem
localizadas sobre aterros. Mas isto não significa que estas áreas não estejam sujeitas a eventos
futuros de maior magnitude.
Em campo foram observados que alguns desses aterros possuem entre 1 m e 1,5 m de
altura, ficando mais altos que o restante da planície. Por isso, com base nos trabalhos de campo
foram vetorizados os aterros mais espessos que não foram atingidos no evento de janeiro de
2008, pois se entende que para eventos de igual magnitude, estas áreaso possuem risco.
Para o risco alto foram vetorizadas as áreas que primeiro foram inundadas em janeiro
de 2008. Estas áreas, na maioria das vezes, coincidem com as formas de terraço e com os
meandros abandonados. As áreas que foram inundadas em um segundo momento foram
classificadas como de risco médio.
Para a análise e mapeamento do risco à erosão marginal foram analisados a extensão
dos processos erosivos e o solapamento das margens, a distância das moradias e das vias
públicas, a possibilidade de destruição delas e as perdas econômicas (terreno, produção
agrícola). As margens ncavas dos rios e as áreas erodidas pelos eventos ocorridos durante o
desenvolvimento desta pesquisa foram classificadas como de risco à erosão marginal.
Para a análise do risco aos deslizamentos foram mapeadas e analisadas as áreas que
possuem cortes nas encostas, com resincias e vias públicas próximas e as áreas que
49
apresentam formas de anfiteatro e sinais de instabilidade, como cicatrizes de deslizamentos e
degraus de abatimento. O risco a deslizamento foi classificadas em 3 níveis: baixo, dio e alto.
As áreas classificadas como de risco baixo são as que possuem a forma natural da
encosta; as de risco médioo todas as áreas ocupadas que possuem corte nas encostas,
independente da profundidade e da declividade deste, pois os cortes aumentam o ângulo de
inclinação, modificam a forma e a geometria das forças que atuam no seu equilíbrio, e os de
risco alto são as áreas ocupadas que possuem algum deslizamento ou cicatriz desse processo, ou
sinais que evidenciam a movimentação da encosta.
Além disso, foi analisada a distância da moradia em relação à base do corte, à sua
geometria, à situação das águas servidas, se possuía vegetação ou não, se há alguma estrutura
de contenção e prováveis perdas e danos.
50
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
5.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO CARLOS
5.1.1 Clima
De acordo com os parâmetros de eppen (SANTA CATARINA, 1986), o clima do
Município é do tipo Cfa (temperado úmido), com chuvas bem distribuídas ao longo do ano,
com um acentuado aumento da precipitação entre os meses de dezembro a março (Figura 5.1),
apresentando dias anuais de 1884,37 mm, segundo os dados da Estação meteorológica de
Annio Carlos. As temperaturas médias variam entre 16,3ºC no inverno e 24,6 ºC nos meses
de verão (SANTA CATARINA, 1986).
267,52
238,52
187,54
113,50
100,93
73,82
108,37
95,74
158,58
173,24
170,42
204,94
0
50
100
150
200
250
300
Jan. Fev. Mar. Abril Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Meses
Precipitação média (mm)
Figura 5.1- Distribuição da precipitação dia mensal de 1977 a 2009.
As médias anuais de precipitação variam muito de lugar para lugar, pois depende dos
sistemas atmosféricos que atuam sobre a região e a configuração do relevo. A média anual
para Annio Carlos é de 1884, 37 mm para uma série de 32 anos (Figura 5.2). Já Herrmann
(1999) encontrou uma média anual de 1439,12 mm de precipitação para uma série de 71 anos de
dados da Estação Meteorológica de o José e Cardozo (2009) encontrou uma média anual de
1740, 2 mm de chuva para a mesma estação, considerando os dados de 1980 a 2008.
Como pode ser observado na Figura 5.2 e na Tabela 5.1, os anos mais chuvosos foram
o de 1983, com 3.627,9 mm, ocasionado pela influência do fenômeno El Niño (HERRMANN,
1999) e, o ano de 2008 (2.401,9 mm), devido às chuvas dos meses de janeiro e novembro, que
estão destacados na Tabela 5.1. Os anos mais secos foram o de 2003, 2006 e 1988 que
51
apresentaram 1199,8 mm, 1230,8 mm, e 1245, 09 mm, respectivamente, também destacados
na Tabela 5.1.
2401,9
2193,5
2282,8
2152,6
2125,6
3627,9
2392,7
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Anos
Precipitação (mm)
dia anual: 1884,37 mm
Figura 5.2 – Precipitação anual de 1977 a 2009
A estação mais chuvosa é o verão (janeiro, fevereiro e março), com dia de 231,19
mm precipitados, seguido da primavera (outubro, novembro e dezembro) com 182,86 mm, do
inverno (julho, agosto e setembro) com 120,89 mm e o outono (abril, maio e junho) com 96,08
mm (Figura 5.1). Diferente dos dados encontrados por Herrmann (1999), em que a estação
menos chuvosa é o inverno. Isto é explicado pelo índice pluviométrico dos meses de julho de
1983, ano de El Niño e pela precipitação excepcional do mês de agosto de 1984, como pode ser
observado na Tabela 5.1, onde são apresentados os totais mensais de 1977 a 2009.
Ao comparar os dados pluviométricos da estação de Antônio Carlos e de São José
presente nos trabalhos de Herrmann (1999) e Cardozo (2009) é visível um aumento no valor
das precipitações na estação de Antônio Carlos. Isto ocorre em decorrência da conformação
do vale e das elevações da bacia, que podem chegar a quase 900 m de altitude, o que propicia
um maior volume pluviométrico no contraforte destas elevações, pois a ascensão das
massas de ar, gerando chuvas orográficas na região, como havia sido analisado por Fortes
(1996) e Testa (2006).
52
Tabela 5.1 - Total mensal de precipitação (1977- 2009)
Meses
Anos
1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Jan.
257,4 225,3 62,1 232,8 220,7 181,1 436,5 260,1 290,8 205,7 216,4
337,3 391,1 296,9 195,5 281,2 342,8
Fev.
313,3 231,8 239,8 164,1 179,6 388,7 452,3 132 268 273,1 275,2
104,4 142,7 265,3 147,4 260 356
Mar.
126,2 163,2 144,1 188.89
228,3 469,1 196,9 157,1 192,7 81,8 153,3
196,6 267,1 253,5 105,1 240 186,4
Abril
118,2 13,2 128,3 72,9 138,5 148 278 123 138,9 160,1 105,6
104,6 156,9 121,3 83,5 32,7 137,9
Mai.
30,8 47,7 140,8 48,3 131, 9 132,2 290,4 104,6 35,6 70,5 175,7
106,9 146,7 112,2 61,7 254 105,2
Jun.
30,4 68,5 41,8 79,6 73,2 156,4 196,9 102 16 21 69,6 42,2 36,7 102,8 104,3 91,4 51,6
Jul.
53,5 71,4 57 203,9 127,4 45 605,6 106,6 49,8 70,6 74,9 7,09 84,7 143,3 15,6 191,7 186,8
Ago.
358,6 76,9 74,2 155,4 39,7 76,8 107,6 306,9 42,8 43,1 136,7
8,7 45,4 117,5 136,6 115,9 10,8
Set.
344,6 185,3 172,9 137,2 68,1 24,3 163,6 175,3 67,9 128,3 69,1 112,4 206,1 235,9 27,8 86,2 244,8
Out.
271,4 112,9 342,7 248,1 355,8 173,3 81,2 84,1 152,9 197,7 229,3
71,5 86,1 154,8 228 36,6 115,2
Nov.
256,2 150,6 194,4 97,9 110,7 215,1 376,2 309,8 235,7 168,6 95,4 44,1 100,9 187,1 346,4 137,2 14,7
Dez.
232,1 280,5 155,5 319,6 292,7 86,4 442,7 91 86,3 239,1 192,8
109,3 259,2 135 272,9 47,9 274,1
Total
2392,7
1627,3
1753,6
1759,8
1834,7
2096,4
3627,9
1952,5
1577,4
1659,6
1794
1245,09
1923,6
2125,6
1724,8
1774,8
2026,3
Meses
Anos
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Média
Jan.
220,8 365,2 302 665,3 395,9 190 315,6 171,8 288 73,9 270,5 153,2 298,2 157,9 62,3
271,7
267,52
Fev.
456,1 301 304,4 213 301,5 254,8 202,7 290,6 167,9 152 159,7 188,9 131,7 104,4 318,4
318,4
238,52
Mar.
368,2 175,3 195,7 74,5 162,9 148,7 195,6 150,6 164,3 145,3 194,7 143,9 106,5 269 239,8
239,8
187,54
Abril
163,8 57,2 51,3 80,4 169,2 49,4 79,7 160,4 194,2 74,5 130,1 131,2 70 51,7 151,3
151,3
113,50
Mai.
195,2 9,9 13,8 50,1 58 76,2 22,6 216,3 65,7 30,5 149,9 183 28,6 79,8 92,5
92,5
100,93
Jun.
88,1 147,1 142 38,7 82,5 106,1 64,6 105,4 35,3 83,2 94,5 35,8 30,3 3,9 65,8
65,8
73,82
Jul.
168,1 56,5 108,1 78,3 88,8 152 44,8 103,2 89,3 34,8 118,9 82,9 41 183,8 8,9
8,9
108,37
Ago.
17 75,4 103,7 53,3 288,4 15 21,8 40,1 125,4 11,6 29,1 136,5 73,3 95,2 77,6
77,6
95,74
Set.
9,1 113,9 243,4 171,1 273,3 106,5 156,1 398 96,2 107,8 155,7 342,2 66 117,7 201,5
201,5
158,58
Out.
160,2 138,1 102,8 391,4 127,8 217,1 142,2 264,5 191,8 129,3 125,2 206,2 82,8 166,8 218,1
218,1
173,24
Nov.
110 62,1 84,6 222,7 111,3 153,6 98,1 127,5 158,8 129,6 135,8 123,1 151,8 113,1 628,3 628,3
170,42
Dez.
196 571,1 245,8 165,6 223,2 150,7 254,6 165,1 195,7 227,3 189,4 156,8 150,6 88,2 128
128
204,94
Total
2152,6
2072,8
1897,6
2204,4
2282,8
1620,1
1598,4
2193,5
1772,6
1199,8
1753,5
1883,7
1230,8
1431,5
2401,9
2401,9
1884,37
Fonte: Estação meteorológica de Antônio Carlos (SC), organizados pela autora.
53
A área central do litoral de Santa Catarina, onde se encontra a área de estudo, sofre a
atuação das massas de ar tropical continental (mTc) e atlântica (mTa), polar atlântica (mPa) e
equatorial continental (mEc), além das frentes frias (MONTEIRO; FURTADO, 1995). Estes
sistemas atmosféricos juntamente com os vórtices ciclônicos, os cavados de níveis médios, a
convecção tropical e a disposição do relevo são responveis por regular a distribuição, a
intensidade e a freqüência das precipitações pluviométricas durante todo o ano, além de
influenciar na temperatura (MONTEIRO, 2001).
A mTa atua durante o ano inteiro, mas é mais freqüente na primavera e no verão,
enquanto que as Massas Polares, atlântica (mPa) ou pafica (mPp), atuam com maior freqüência
no outono e no inverno. A mTa é uma massa de ar quente, de circulação essencialmente marítima
(úmida). A mPa é uma massa de ar frio de origem oceânica, que se desloca para o norte com
trajetória marítima no veo e continental no inverno. A mPp possui atuação indireta na região
Sul, praticamente, no inverno, quando reforça a formação da Frente Polar Atlântica (FPA), ao sul
do continente americano (MONTEIRO; FURTADO, 1995; MONTEIRO, 2001).
No verão, as massas polares estão enfraquecidas, o que propicia a invasão das massas
tropicais (mTa) no continente, que proporcionam dias agradáveis, com pouca nebulosidade,
ventos frescos, umidade relativa em torno de 90% pela manhã, mas que a tarde pode atingir
70%. A temperatura pode atingir a máxima superior a 30ºC e a mínima superior a 20ºC
(MONTEIRO; FURTADO, 1995).
Esse elevado calor associado aos altos índices de umidade favorece a formação das
chuvas de convecção tropical, geralmente no período da tarde. A passagem das frentes no
oceano pode aumentar essa convecção, resultando em tempestades caracterizadas por chuvas
intensas com descargas elétricas, rajadas de ventos e, às vezes, granizo (MONTEIRO, 2001).
A mTc possui baixa umidade, o que dificulta a formação de nebulosidade. A sua onda de
calor pode atingir todo o leste catarinense. Os dias sob efeito desta massa o desagraveis
devido às elevadas temperaturas e os ventos de pouca intensidade. A sua temperatura xima é
superior a 30ºC e anima acima de 22ºC (MONTEIRO; FURTADO, 1995).
A mEc desloca-se do norte amazônico até o sul do país, através de grandes cavados
(áreas alongadas de baixa pressão). A sua presença deixa a umidade do ar elevada, formando
uma nebulosidade que se desloca de NW para SE, acompanhada de trovoadas e rajadas de
vento (MONTEIRO; FURTADO, 1995).
No outono ocorrem os bloqueios que impedem a passagem das frentes no Rio Grande do
Sul (MONTEIRO, 2001). Nesta rego, elas o desviadas para o oceano e os dias o estáveis,
com tempo bom e sem muita ocorncia de chuvas, devido à diminuição da convecção.
54
Essa diminuição da precipitação pode provocar em alguns lugares pequenas estiagens, que
podem ser intensificadas em anos de La Niña (MONTEIRO, 2001), sendo que os dias apresentam
condições de tempo estável, quando a temperatura pode atingir valores acima de 30ºC. Devido
aos baixos índices pluviotricos esse peodo é denominado de “veranico” de maio.
Quando não há o bloqueio atmosférico, ocorrem as primeiras incursões das massas
polares, que são consideradas fracas, mas que podem provocar quedas bruscas na temperatura.
Em alguns lugares elevados ou no interior, bem como no planalto, as temperaturas podem
atingir valores negativos e ocorrer geadas de baixa intensidade (MONTEIRO, 2001).
O inverno é influenciado pelas sucessivas massas polares provenientes do anticiclone
polar, que nesta época possui trajetória mais continental. O tempo sob predomínio desta
massa ocasiona dias de céu claro, com acentuado declínio da temperatura, o que favorece a
formação de geada e de nevoeiros (MONTEIRO, 2001).
Segundo Monteiro (2001), o volume pluviométrico no inverno, na maioria dos
municípios catarinenses, é pouco superior ao do outono, como pode ser observado na Figura
5.1. Já nos municípios litorâneos, o inverno é a estação com o menor volume de chuvas.
Sobre influência da mPa, as temperaturas se mantêm baixas em todo o Estado. As
geadas podem ocorrer com mais freqüência e, em alguns lugares, pode até nevar. No litoral
esses fenômenos são raros, mas as possibilidades aumentam em direção às proximidades das
encostas elevadas (MONTEIRO, 2001).
No início da primavera, o tempo se torna insvel, e as frentes ainda atingem o Estado
provocando linhas de instabilidades responsáveis por altos índices pluviométricos. A partir de
outubro, as frentes derivam para o oceano, fazendo com que as precipitações frontais e a
umidade diminuam (MONTEIRO; FURTADO, 1995). Em novembro, ocorre a entrada das
massas tropicais, deixando o tempo com as características da estação do verão.
As frentes frias são o principal sistema que ocasiona chuvas na área de estudo, porém
sua atuação é diferenciada ao longo do ano, devido à influência das estações do ano e do
aquecimento diferencial, como visto.
Os vórtices ciclônicos são sistemas de baixa pressão em médios níveis da atmosfera,
quando atuam no verão proporcionam um aumento significativo da convecção tropical e
favorecem a ocorrência de temporais em curto espaço de tempo, com ventos fortes e granizo
(MONTEIRO; MENDONÇA, 2007).
Outros sistemas que modificam as condições de tempo são o Jato Subtropical, o
aglomerado convectivo e o fenômeno El Niño. O Jato Subtropical atua bloqueando o
deslocamento das frentes frias, tornando-as estacionárias e elevando os totais de precipitação
55
(MONTEIRO; MENDONÇA, 2007). O aglomerado convectivo (baixa pressão) deixa o
tempo instável com a presença de muitas nuvens, que ocasionam chuvas em forma de
pancadas ou temporais com chuvas intensas. E, o fenômeno El Niño atua bloqueando os
sistemas frontais, que permanecem estacionários sobre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul,
aumentando as precipitações (MONTEIRO; MENDONÇA, 2007).
5.1.2 Geologia
Segundo o mapeamento realizado por Trainini et al, (1978) o município de Antônio
Carlos é formado por rochas ígneas e metamórficas e por depósitos sedimentares recentes. As
rochas cristalinas encontradas na área o os diatexitos e os metatexitos, do Complexo
Metamórfico-Migmático, e os quartzomonzonitos, com variações de granito a granodiorito da
Suíte Intrusiva Valsungana datadas do Pré-Cambriano. Os diques de diabásio da Formação
Serra Geral que afloram na área do embasamento cristalino são datados do Mesozóico.
As rochas ígneas e metamórficas sustentam elevações que variam de 40 m a quase 900
m com espesso manto de alteração. Estas elevações formam as serras do Major, Macaco
Branco, das Congonhas, do Pai João, de Santa Filomena e da Guiomar, que são caracterizadas
por possuírem “vertentes alongadas, com forte amplitude de relevo, que podem ultrapassar
25% de declividade” (FORTES, 1996, p. 30).
As Serras das Congonhas, do Major e do Macaco Branco são áreas de nascente dos
rios Farias e Rachadel e possuem direção NE-SW, coincidindo com os principais
alinhamentos estruturais (escarpas de falhas) que se desenvolvem sobre as rochas da Ste
Intrusiva Valsungana. Esta por sua vez, corresponde a um corpo ígneo alongado constituído
por granito ou granodiorito, localizado na porção oeste do Município, com direção NE-SW
(FORTES 1996). Ela se apresenta pouco dissecada e possui as maiores cotas altimétricas do
Município, como pode ser observado no Mapa 5.1.
Os diatexitos do Complexo Metamórfico-Migmático se encontram na porção extremo
oeste do Município. Já os metatexitos constituem uma faixa larga NE-SW no centro-oeste do
Município (TRAININI et al, 1978).
A Formação Serra Geral também está presente no município na forma de diques de
diabásio que preencheram falhas e fraturas abertas nos metatexitos (TRAININI et al., 1978).
Estes diques ocorrem no alto vale do rio Rachadel e possuem direção N-S (FORTES, 1996).
As rochas da Formação Serra Geral foram intensamente dissecadas, o que possibilitou
a formação de uma vale aberto, com planície relativamente ampla e de baixa declividade,
56
além de apresentar mantos de alteração espessos, que possibilitam a atuação de processos
erosivos, como movimentos de massa e escoamento superficial concentrado.
5.1.3 Geomorfologia
Devido à composição litológica e o arcabouço estrutural, no Município de Antônio
Carlos dois tipos principais de modelados. O modelado de dissecação, que é subdividido em
morraria (ou outeiro) e em montanha e, o modelado de acumulação, representado pelos
depósitos fluviais, leques aluviais e depósitos coluviais (FORTES, 1996).
O modelado de dissecação corresponde às áreas de rochas ígneas e metamórficas, que
caracteriza-se por serras de vertentes alongadas, com forte amplitude de relevo, que podem ter
declividades maiores que 25% (FORTES, 1996). Já o modelado de acumulação compreende
as áreas com declividades entre 2% e 5% ou inferiores a 2%, sendo as areias quartzosas e os
sedimentos siltico-argilosos os elementos predominantes (FORTES, 1996).
O modelado de dissecação do tipo morraria ou outeiro é representado por morros
isolados que limitam os depósitos fluviais, com altitudes que variam entre 20 e 60 metros. Estão
situados na área dos médios e baixos vales do rio Biguu, e de seus afluentes da Guiomar e do
Farias. Este tipo de dissecação possui vales encaixados e elevações com topo e encostas
convexo-côncavas (FORTES, 1996).
O modelado de dissecação em montanhas constitui as principais elevações do
Município e é denominado de serra pelos moradores. Ele é representado por um conjunto de
serras subparalelas entre si, possuindo vales bem encaixados, fechados, que podem conter
terraços alveolares. Apresenta topos angulosos e, secundariamente, arredondados, sendo
comum à forma de ombreiras nas encostas (FORTES, 1996).
As áreas do modelado de dissecação esculpidas nas rochas metamórficas do Complexo
Metamórfico-Migmático apresentam elúvios espessos. Bigarella et al. (2003), explicam que os
elúvios correspondem a espessos mantos de alteração da rocha in situ, que normalmente
aumentam de espessura com a diminuição da inclinação das encostas. Eles mantêm a estrutura
original da rocha, mesmo com a atuão do intemperismo, embora a maioria dos seus minerais
tenha sido transformada em outros, adaptados às novas condições físico-químicas do meio.
Fortes (1996), em seu trabalho, analisou um elúvio, próximo à cidade de Antônio Carlos,
com aproximadamente 26 m de espessura. Essas feições superficiais são de ocorrência generalizada
no município, evidenciando a intensidade do intemperismo, além de serem fonte de sedimentos de
diversos tamanhos, inclusive argila para os cursos d’água e planícies (FORTES, 1996)
57
Devido à intensa pluviosidade e aos mantos de alteração espessos, os processos
erosivos e deposicionais resultaram na formação de cicatrizes de dissecação, bem como na
exposição de matacões nas encostas das serras e nos altos cursos de rios (FORTES, 1996). A
exposição dos matacões está associada à remoção do material alterado mais fino que os
envolvia a partir da atuação dos processos de escoamento superficial e movimentos de massa
e também pelo intenso fluxo de águas nos rios ou próximos a eles, formando os depósitos de
leques aluviais (FORTES, 1996).
Os leques aluviais são depósitos constituídos por sedimentos detríticos grossos, mal
selecionados, formados no sopé das áreas montanhosas. Sua deposição ocorre devido à
diminuição da velocidade do fluxo e da descarga do rio, quando este sai da área montanhosa
para a planície, ocorrendo concomitantemente no canal fluvial (BIGARELLA et al. (2003)
Os leques aluviais no município correspondem aos depósitos que recobrem o fundo
dos vales dos rios que vão iniciar a planície através da reunião de vários canais. Do sopé das
encostas e início da planície estão localizados os ápices dos pequenos leques. Estes por sua
vez, coalescem e prolongam-se até as partes baixas dos vales (depósitos distais), onde se
irradiam, formando uma larga planície (FORTES, 1996). Os depósitos distais se misturam e
estão dispostos ao longo do canal principal que os tem retrabalhado e redepositado como
depósito de planície de inundação (FORTES, 1996).
outro depósito fluvial no município denominado de confinado, por não possuir
condições geomorfológicas favoráveis à formação de leques. Eles estão em áreas planas com
declividade da ordem de 2 a 5% em cotas de 700 a 800 metros de altitude, embaciadas entre
os topos mais altos das serras do Major e do Macaco Branco (FORTES, 1996).
É possível encontrar vales mais abertos e de fundo chato logo após trechos de vales
em V, estreitos e profundos, formando planícies alveolares. Nestas planícies, a sedimentação
é intensa e com depósitos com alto teor de argila e ausência de materiais grossos. Isto ocorre
nos rios Braço do Norte, Farias e Rachadel (FORTES, 1996).
As áreas de sedimentação coluvial localizam-se a partir da média encosta das serras
até o contato com os desitos fluviais, através de rampas de colúvio, podendo apresentar
cores castanhas, marrom ou vermelha. O colúvio é constituído de sedimentos que sofreram
deslocamento ao longo das encostas até a base das mesmas, resultante da movimentação do
elúvio (BIGARELLA et al., 2003).
A exisncia de depósitos de colúvio evidencia a ocorrência de processos erosivos com
alta energia nas encostas, como escoamento superficial concentrado (enxurradas) e em lençol
e movimentos de massa (deslizamentos, corridas de terra). Em alguns pontos da Bacia, estes
58
depósitos se confundem com os dos leques aluviais, principalmente no sopé dos
compartimentos de relevo com amplitude altimétrica e vales confinados.
Nas áreas estáveis da paisagem, sobre o manto de alteração in situ das rochas, e sobre
depósitos antigos de colúvio, fluviais e de leques aluviais, desenvolvem-se solos com
diferentes idades e horizontes.
5.1.4 Solos
Devido a essas características climáticas, litológicas, de relevo e ao tempo de
intemperismo, há no município de Antônio Carlos a ocorrência de cinco tipos predominantes
de solo: o neossolo litólico, o argissolo, o cambissolo, o neossolo flúvico e o gleissolo.
O solo do tipo neossolo lilico aparece em locais de topografia acentuada, associado
aos afloramentos rochosos. Os neossolos são solos rasos ou muito rasos, com no máximo 50
cm de profundidade até a rocha sã, isto é, o solos pouco desenvolvidos, com a seqüência de
horizontes A, C e R (rocha sã) (GUERRA; BOTELHO, 2001).
Pode existir um horizonte B incipiente (Bi), pouco espesso, acima do material
rochoso, pouco intemperizado (PALMIERI; LARACH, 2000). Este tipo de solo pode ocorrer
associado ao cambissolo.
Por se situar em terrenos íngremes e ser um solo jovem, em fase inicial de formação,
Lepsch (2002, p.114), afirma, que em muitos casos “[...] a velocidade da erosão é igual ou
maior à velocidade de transformação da rocha em solo”, sendo que algumas vezes a rocha pode
apresentar resistência à decomposição, não permitindo o desenvolvimento do horizonte.
Devido a sua pequena espessura, o fluxo de água em seu interior é interrompido,
facilitando o escoamento superficial no local de contato entre a rocha e o solo, o que pode
provocar processos erosivos, como o deslizamento, quando existir manto de alteração, e
quedas ou rolamentos de blocos.
O solo do tipo argissolo e o cambissolo ocorrem em terreno mais colinoso, com
predomínio de solos mais espessos e mantos de alterão mais profundos que no neossolo litólico.
O argissolo possui migração de argila do horizonte A para o B com formação de um
gradiente textural (horizonte Bt). Esta diferença de textura entre o horizonte A, mais arenoso, e o
B, mais argiloso, representa um obstáculo à infiltração da água, diminuindo a permeabilidade do
solo e favorecendo o escoamento superficial e subsuperficial na zona de contato entre os
horizontes (GUERRA; BOTELHO, 2001).
59
Apesar de o argissolo possuir boa agregação e estruturação (horizonte Bt em blocos
angulosos e subangulosos), apresenta suscetibilidade aos processos erosivos, que serão mais
intensos, quanto maior forem as descontinuidades texturais e estruturais ao longo do perfil
(GUERRA; BOTELHO, 2001).
Outro tipo de solo que ocorre no município de Antônio Carlos é o cambissolo, que apresenta
um horizonte superficial em início de desenvolvimento e um horizonte B incipiente (Bi), pois o
material subjacente ao horizonte A sofreu alterações em grau o muito avançado, mas o
suficiente para o desenvolvimento de cor e/ou estrutura, podendo apresentar no máximo,
menos da metade do volume do horizonte Bi, constituído por fragmentos do material
originário ou não (PALMIERI; LARACH, 2000).
O grau de suscetibilidade a erosão é variável, pois depende da profundidade (mais
rasos, mais suscetíveis, devido à camada impermvel do substrato rochoso estar próximo a
superfície), da declividade, do teor de silte e do gradiente textural do terreno (GUERRA;
BOTELHO, 2001).
Na área de planície, sobre os depósitos aluviais, se desenvolve o neossolo flúvico e o
gleissolo. O solo do tipo neossolo flúvico é pouco desenvolvido, originado de sedimentos
recentemente depositados pelos rios durante os períodos de inundação. Ele apresenta o
horizonte A depositado sobre o horizonte C e o não indícios de formação de um horizonte
B, sendo que o horizonte C é formado pelas camadas das deposições pouco alteradas, com
partículas de vários tamanhos, trazidos pelos rios (LEPSCH, 2000).
O gleissolo se caracteriza por ser um solo hidromórfico, mal drenado, pouco profundo,
com ou sem mosqueado, distrófico ou eutrófico, dependendo da natureza do material sobre o
qual se desenvolveram (GUERRA; BOTELHO, 2001).
Sua textura, geralmente, é argilosa, podendo variar de siltosa a média. O horizonte A
possui cor preta, devido aos altos teores de matéria orgânica. A partir desta camada, os
horizontes apresentam cores acinzentadas ou cinzentas, devido à saturação do solo, que na
presença de matéria orgânica, diminui o oxigênio dissolvido e provoca a redução e dissolução
dos óxidos de ferro e, no processo de oxidação aparecem manchas de cor ferrugem. Estes
fenômenos ocorrem devido às oscilações do lençol freático (PALMIERI; LARACH 2000;
LEPSCH, 2002).
Por se situar em áreas planas (planícies aluviais e rzeas), a suscetibilidade a erosão
não apresenta relevância, pois estes locais não favorecem o escoamento (GUERRA;
BOTELHO, 2001), porém são áreas sujeitas a inundações, pois são baixas e possuem o lençol
freático próximo da superfície.
60
5.1.5 Hidrografia
A bacia do rio Biguaçu situa-se no centro leste do estado de Santa Catarina e constitui
uma pequena bacia costeira, com aproximadamente de 309 km
2
, dos quais 205 km
2
compõem o
município de Antônio Carlos, no qual se situa no alto e dio vale do rio Biguaçu. O baixo vale e
a foz do rio situam-se no município de Biguu, como pode ser observado na Figura 5.3.
Segundo Fortes (1996) a Bacia do rio Biguaçu possui um comprimento aproximado de
27 km e uma largura média de 18 km, disposta na direção E-W. O rio Biguaçu (canal
principal) nasce na serra das Congonhas a uma altitude de 778 metros. Este rio possuía da foz
à nascente 40,6 km de comprimento, mas, devido aos projetos de retilinização o seu
comprimento foi reduzido para 37 km (REITZ, 1988).
Os principais afluentes da margem esquerda do rio Biguaçu são os rios Saudade, Três
Riachos (localizados no município de Biguaçu), Rachadel, Farias e Braço do Norte (no
território de Antônio Carlos) e os da margem direita são o Louro e Ribeirão Vermelho (em
Annio Carlos). Os últimos afluentes, segundo Fortes (1996), são de menor expressão e
possuem um papel secundário com relação à “alimentação” da corrente principal.
Essa Bacia caracteriza-se por possuir uma drenagem perene, devido aos elevados e
regulares índices pluviométricos, mas no alto curso dos rios Braço do Norte e Rachadel
ocorrem pequenos trechos intermitentes, onde pode ser observada, em pequenos setores, uma
drenagem entrelaçada, por causa dos leques aluviais (FORTES, 1996).
Alguns trechos fluviais estão dispostos ao longo de falhas, que originam vales
profundos e encaixados com predomínio da forma em “V”. As nascentes estão localizadas nas
áreas mais elevadas das serras constituídas por rochas do embasamento cristalino (FORTES,
1996). Devido a estas características litológicas e estruturais e ao clima da região, o padrão de
canais possui uma grande variedade de formas.
predomínio dos canais sinuosos (canais meandrantes), que drenam as planícies nos
baixos vales dos principais rios, os quais foram alterados a partir da retilinização para eliminar
as inundações e aproveitamento das terras, através da drenagem dos terrenos.
O rio Biguaçu foi retilinizado em três trechos desde a cidade de Antônio Carlos até sua
foz em Biguaçu, numa extensão de 10,7 km entre 1966 e 1970: ao norte da cidade de Antônio
Carlos numa extensão de 1,7 km; nas proximidades da desembocadura do Ribeirão Vermelho
até próximo à localidade da Volta da Pedra, numa extensão de 5,5 km e; entre este ponto e o
depósito de lixo urbano de Biguaçu, numa extensão de 3 km, sendo que as obras de
engenharia, neste trecho são anteriores ao levantamento aéreo de 1957 (FORTES, 1996).
61
(Mapa reduzido a partir da versão impressa desta dissertação)
62
Alguns afluentes do rio Biguu também tiveram parte do seu traçado modificado, como
pode ser observado na Figura 5.3. Em Antônio Carlos, o rio Guiomar, afluente do rio Rachadel,
teve seu curso retilinizado entre 1973 e 1977, numa extensão de 2,5 km. Ao norte da cidade de
Antonio Carlos, o rio Rachadel foi retilinizado em 1969, numa exteno de 1,25 km; o ribeirão
Vermelho teve aproximadamente 2,75 km do seu leito retilinizado (FORTES, 1996) e; o Rio do
Louro foi retilinizado em 1994 numa extensão de 1,5 Km.
no município de Biguaçu, o rio Três Riachos teve seu médio e baixo curso
retilinizado numa extensão de 7,5 km e o rio da Saudade, afluente do Três Riachos, foi
retilinizado numa extensão de 2, 25 km (FORTES, 1996).
5.1.6 Cobertura Vegetal
Devido às características climáticas e pedológicas apresentadas as formações vegetais
presentes no município de Antônio Carlos são a Floresta Pluvial da Encosta Atlântica,
Floresta com Pinheiros e Campo Nativo (Reitz, 1988),
A Floresta Pluvial de Encosta Atlântica estendia sua formação desde as “várzeas úmidas
até uma altitude de 600 metros(REITZ, 1988, p.414). Ela era caracterizada pela densidade e
diversidade de espécies de árvores, cobertas por epífitos e por muitas espécies de cipós e alguns
“mata-paus”, sendo que “nas montanhas as árvores de vales úmidos e fechados se elevam até 35
metros, [...] nas encostas drenadas dificilmente ultrapassam 25 m.” (REITZ, 1988, p.414-415).
A mata das planícies, localizada nas áreas úmidas e freqüentemente brejosas, de
gleissolos, profundos e férteis, podia medir até 30 metros de altura ou mais. Hoje,
praticamente não existe mais, pois deu lugar à pastagem ou à lavoura (Reitz, 1988).
Faziam parte dessa floresta espécies como: a canela-preta (Ocotea catharinensis), o
cedro (Cedrela fissilis), o louro (Cordia trichotoma), a canela sassafrás (Ocotea pretiosa), a
peroba (Aspidosperma ovilaceeum), a canela óleo (Copaifera trapezifolia), que foram
praticamente devastadas para a criação de pastagens e para a agricultura ou ainda pelas
madeireiras (REITZ, 1988).
A Floresta com Pinheiros ocorre nas áreas com altitude superior a 600 m. Devido ao clima
mais frio há uma mudaa em parte das espécies da mata, com a presença de pinheiros (Araucária
angustifólia), de taquaras (Merostachys multiramea) e carás (Chusquea spp). Acima da altitude de
700 m ocorrem os faxinais, onde há o predomínio de uma vegetação arbórea mais baixa que a
Floresta com Pinheiros, que segundo Reitz (1988) são próprias para as pastagens de gado.
Reitz (1988) classifica no Município outra formação, a do Campo Nativo, com pequena
63
área de ocorrência, que “mede apenas um quilometro quadrado” (REITZ, 1988, p.415). Esta
área de campo situa-se nas nascentes do ribeirão Rancho Miguel, do rio Farias. Caracteriza-se
por ser uma vegetação rasteira, onde dominam as gramíneas (conhecidas por capim) e, nas áreas
úmidas, dominam as ciperáceas (tiriricas), os musgos Sphagnum e outros arbustos.
A cobertura vegetal atual do Município apresenta alguns locais com mata original, os
quais estão localizados nas áreas mais íngremes onde os acessos são precários ou não existem.
Em muitas encostas, que foram desmatadas para a agricultura ou para a pastagem e
posteriormente abandonadas, observa-se a regeneração da vegetação da Floresta Pluvial da
Encosta Atlântica, apresentando todos os estágios da sucessão vegetal, capoeirinha, capoeira e
capoeirão. Nestas áreas de regeneração estão presentes espécies como a embaúba (Cecropia
adenopus), o garapuvu (Schizolobium parahyba) e a capororoca (Rapanea ssp).
também no Município algumas plantações de palmiteiro (Euterpe edulis), contudo,
em vários locais, a vegetação nativa está sendo substituída pela silvicultura de pinheiro (Pinus
elliotti) e de eucalipto (Eucalyptus ssp).
5.1.7 Aspectos Gerais da Ocupação
Antes de o Município de Antônio Carlos ser povoado pelos europeus, ele já era habitado
pelos índios da tribo Xokleng do grupo lingüístico Jê (REITZ, 1988; KREMER, 1993).
A ocupação do Município pelos europeus ocorreu no século XIX a partir da chegada
dos descendentes de açorianos de São Miguel, e dos alemães provenientes da Colônia de São
Pedro de Alcântara e da Colônia Leopoldina.
Os açorianos de São Miguel subiram inicialmente, o rio Três Riachos, afluente do rio
Biguaçu, em 1816, e, em 1845 exploraram o territótio a partir do rio principal, o Biguaçu,
ocupando as planícies do Alto Biguaçu, hoje município de Antônio Carlos. Nesta planície
organizaram fazendas com mão-de-obra escrava na localidade.
Todos os senhores de terra açorianos possuíam escravos, “alguns com mais de 10 e até
20(REITZ, 1988, p. 44) sendo que a população de negros, na década de 60 do século XIX
era maior que a de brancos (REITZ, 1988).
Com a homologação da Lei Áurea em 1888, os escravos libertos se reuniram em
pequenos quilombos ao redor do que é hoje a cidade de Annio Carlos. Na metade do século
XX, muitos ex-escravos e descendentes destes mudaram-se para os morros da Coloninha
(Estreito) e da Caixa d’Água (Mont Serrat), em Florianópolis Suas propriedades foram
adquiridas pelos descendentes dos imigrantes alemães, que se instalaram no município de
64
Annio Carlos, na segunda metade do século XIX (REITZ, 1988).
A colonização do município pelos alemães provenientes de São Pedro de Alcântara é
datada de 6 de maio de 1830, às margens do rio do Louro, com “(...) 10 famílias e 5 solteiros”
(REITZ, 1988, p.42).
Do vale do rio do Louro, os colonos alemães foram ocupando as montanhas ao redor,
Morro da Glória, Santa Maria, Rancho Miguel e Egito e, posteriormente as planícies do rio do
Louro e do Biguaçu (REITZ, 1988).
Em 1847, foi concedida ao belga Sheridan Telghys Filho uma área de 2 léguas de terra
destinadas à criação da Colônia Leopoldina, hoje Reserva Particular do Patrimônio Natural de
Caraguatá, no Faxinal (KREMER, 1993). Esta colônia foi fundada em 24 de fevereiro de
1884, com o prazo de quatro anos para povoar, podendo ser prorrogado por mais 2 anos
(REITZ, 1988).
A Colônia estava localizada nas nascentes do rio Rachadel e do rio Farias, os quais
eram terras remanescentes entre os vales dos rios Biguaçu e Tijucas. Devido ao terreno ser
acidentado e precariamente acessível, esta colônia não possuía povoamento permanente dos
proprietários das terras. Além disso, nesta área estão localizadas as maiores cotas altimétricas
do município (REITZ, 1988).
Em 1963, pela Lei nº. 920/06, foi criado o Município de Antônio Carlos, na área
correspondente ao distrito de Alto Biguaçu, desmembrando-se assim do município de
Biguaçu, com os seguintes limites:
“[...] quanto a latitude [...] o ponto mais ao norte é o encontro de 3 serras: serra da
Guiomar, serra da Boa Vista e serra do Macaco Branco, com 27º23’47” de latitude
norte, enquanto o ponto mais ao sul apresenta-se na serra de Santa Filomena [...],
com latitude 234’29” sul. Quanto à longitude situa-se entre o meridiano 48º41’51”
[...], na serra de Santa Filomena, no leste do Município, e o meridiano 48º55’25”,
que passa na serra de Congonhas, ao oeste do Egito” (Reitz, 1988, p. 165-166).
A população atual de Antônio Carlos é, na sua maioria, descendente dos colonos
alemães provenientes da Colônia de São Pedro de Alntara, mas grande parte da cultura
original se perdeu, como observado por Luiz (2003) em São Pedro de Alcântara.
Num primeiro momento, os imigrantes, tanto açorianos como alemães, desmataram a
área e começaram a desenvolver atividades agrícolas e de pecuária para a sua subsistência. As
áreas de agricultura eram utilizadas, principalmente, para a plantação de cana-de-açúcar,
aipim, milho e feijão, sendo a cana-de-úcar o produto base do município, que possuía locais
próprios para o seu beneficiamento, como a Usina Pirabeiraba e alambiques artesanais.
65
Até o início dos anos 90, do século passado, havia no município vários engenhos de
farinha e de cana-de-açúcar, com mão-de-obra familiar. Mas, devido às exigências da
vigilância sanitária sobre a industrialização dos produtos (farinha de mandioca, melado de
cana-de-açúcar, cachaça) praticamente não existem mais.
Outra atividade remanescente dos imigrantes são as serrarias que antes utilizavam
madeiras da própria rego, e que hoje, utilizam madeira trazida de outras áreas ou de
reflorestamentos de pinheiro (Pinus elliotti) e de eucalipto (Eucalyptus ssp) do próprio município.
A partir da década de 70 e, principalmente, na década de 80, iniciou-se no município o
cultivo de hortaliças, que é a sua principal atividade econômica. Atualmente o município é um dos
principais abastecedores da CEASA (Central de Abastecimento de Alimentos) deo José.
Os cultivos da cana-de-açúcar, do aipim, do milho e do feijão foram aos poucos sendo
substituídos por hortaliças. Estas passaram a ser cultivadas nas áreas de planície e na baixa
encosta, devido às menores irregularidades do relevo, pois junto com este cultivo foi
incorporado o uso de máquinas agrícolas.
Assim, nas áreas de média e alta encosta, que eram anteriormente utilizadas para a
atividade agrícola e pastagem, a vegetação passou a se regenerar. Fato este confirmado pelos
moradores, que afirmam que mais mata (capoeira, capoeirão) nas encostas hoje do que
havia 40 anos. Este fato também é observado por Néis (1997), que analisou o uso da terra da
sub-bacia do rio Rachadel entre os anos de 1956 e 1995.
No final da década de 80, incorporou-se outra forma de uso da terra, o plantio de grama,
que necessita para seu cultivo de solo argiloso. As áreas de cultivo de grama o as planícies e
algumas áreas de encostas cortadas e aplainadas especificamente para este cultivo. Esta atividade
econômica predomina na planície do Ribeio Vermelho, junto à área urbana de Antônio Carlos.
Na década de 90 surgiu no município uma atividade econômica ligada ao turismo, os
parques aquáticos. Eles foram implantados por antigos agricultores, como um complemento
da renda. Hoje há no Município 5 parques aquáticos que são responveis por 1% da
arrecadação do ICMS municipal (ROSA, 2008).
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS
5.2.1 Caracterização do Meio Físico
A cidade de Antônio Carlos está localizada no dio vale do rio Biguaçu, as margens
deste rio. O relevo dessa área, como de todo o Município, abrange dois compartimentos: o
66
compartimento de colinas/morros, pertencentes à unidade Serras do Leste Catarinense e o
compartimento da planície do Rio Biguaçu (SANTA CATARINA, 1986).
A forma dominante do compartimento das Serras do Leste Catarinense é o modelado
de dissecação, que na área de estudo é caracterizado pela dissecação em outeiro ou morraria e
em montanha.
As rochas do modelado de dissecação da área de estudo eram cartografadas como
rochas diatexíticas do Complexo Metamórfico Migmatítico (TRAININI et al., 1978). Mas o
mapeamento realizado por Zanini et al. (1997) identificou estas rochas como granitóides de
composição calcialcalinos, com múltipas intrusões e rochas variando de tonalitos a
monzogranitos da Suíte Intrusiva Maruim, datada do Proterozóico Superior, com idade entre
700 e 600 milhões de anos.
A unidade litológica que predomina na área de estudo é o Granito São Pedro de Alcântara,
constituída, principalmente, por monzogranitos, que variam desde quartzo-monzonitos até
sienogranitos (ZANINI et al., 1997), o que significa que há variações nas proporções dos
principais componentes mineralógicos que o feldspato alcalino, quartzo, plagioclásio cálcico-
sódico e biotita, e podem apresentar anfibólios e muscovita como minerais acessórios.
A rocha dessa unidade caracteriza-se como mesocrática, de coloração cinza-escuro e
granulação grossa, com presença de fenocristais esbranquiçados de feldspato alcalino e
plagioclásios. Sua textura porfirítica é interrompida por enclaves de outras litologias, como a
do Tonalito Forquilha e do Graniide Alto da Varginha (ZANINI et al., 1997).
Ao comparar essas rochas com um granito propriamente dito, elas possuem uma maior
quantidade de feldspato e uma menor quantidade de quartzo em sua composição, por isso elas
são mais suscetíveis à ação do intemperismo.
A área de ocorncia dessa unidade litológica é muito fraturada e falhada. Os lineamentos
possuem as dirões N-S, NE – SW, NW – SE, e alguns lineamentos paralelos entre si na direção
E W. Alguns segmentos de cristas e vales ou mesmo a disposão dos colos seguem uma
orientação estrutural, como pode ser observado no mapa geomorfológico (Mapa 5.2).
As características mineralógicas apresentadas anteriormente mais a existência de muitas
fraturas e falhas explicam o intenso processo de intemperismo da rocha e a formação de
espessos mantos de alteração. Estes mantos podem chegar a mais de 60 m de profundidade,
com características siltosas e arenosas, evidenciando que a rocha possuía uma matriz mais fina.
As colinas presentes na área de estudo são formadas apenas pelo espesso manto de
alteração, sem presença de núcleo rochoso, com a alterita conservada. Este fato foi observado
na saibrera visitada (Figura 5.3 e 5.4), na qual eram visíveis as fraturas mantidas da rocha de
67
origem, bem como a distribuição de feldspatos e quartzo (Figura 5.5), que auxiliaram no
processo de intemperismo.
Figura 5. 3 Exploração de saibro na Cidade de Antônio Carlos. Observar a profundidade do manto de
alteração (mais de 30 m.), sem a presença de matriz rochosa. Foto: Solange R. Wilvert, 17 abr. 2010.
Figura 5.4 Manto de alteração conservado,
sem a presença de núcleos de rocha sã. Foto:
Solange R. Wilvert, 17 abr. 2010.
Figura 5.5 Manto de alteração intensamente
fraturado, em dois planos visíveis. Foto: Solange
R. Wilvert, 17 abr. 2010.
Este tipo de alteração configura o modelado de dissecação em outeiro ou morraria com
elevações na forma de colinas policonvexas ou morros isolados, com altitudes que variam de
20 a 60 m, que limitam os depósitos fluviais, como pode ser observado no Mapa 5.2.
Essas elevações apresentam topo convexo, devido ao espesso manto de alteração e
encostas com declividade inferior a 45º. Algumas encostas apresentam cicatrizes de processos
erosivos, já revegetadas.
Já o modelado de dissecação em montanha (Figura 5.6), que circunda a área de estudo,
possui os vales bem encaixados, com topos extensos convexo-côncavos e alguns
arredondados, que podem atingir mais de 300 m. Suas vertentes possuem diferentes graus de
inclinação, por vezes desdobradas em patamares, sendo comuns as formas de ombreiras.
68
(Mapa reduzido a partir da versão impressa desta dissertação)
69
Figura 5.6 Vista da cidade de Antônio Carlos. Observar os morros do modelado de dissecação em
montanhas, com forma de ombreira, que circunda a área de estudo. Foto: Solange R. Wilvert, 30 jun. 2006.
Muitas das encostas das colinas e morros do modelado de dissecação apresentam
cicatrizes erosivas. As feições erosivas ocorrem tanto na base das encostas quanto na meia
encosta ou podem abranger desde a base até o topo. É comum a forma de anfiteatros e de
cicatrizes de deslizamentos nas encostas das colinas e morros. Alguns deslizamentos ocorrem
no interior dos anfiteatros, reativando o processo erosivo, que o anfiteatro é resultado da
atuação de diferentes mecanismos, que se associaram e/ou se sucederam ao longo do tempo.
As formas de anfiteatro e as cicatrizes de deslizamentos formam perfis ncavos nas
encostas, que são locais preferenciais de convergência das águas dos escoamentos superficiais
e subsuperficiais, que pode resultar na reativação da forma.
Devido aos episódios pluviométricos de janeiro e novembro de 2008 e março de 2010,
novos deslizamentos ocorreram na área de estudo. A maior parte deles, em locais com a forma
da encosta modificada por cortes. Estes cortes, por sua vez, são realizados sem nenhum
conhecimento técnico e depois de executados não recebem estruturas de contenção, deixando-
os expostos a ação direta dos processos erosivos.
Além disso, muitos desses deslizamentos não foram estabilizados, e as cicatrizes do
processo estão sendo retrabalhadas a cada novo epidio de chuva. Este fato pode ser
observado em um corte que deslizou no evento de novembro de 2008 e que está colocando em
risco 10 residências.
70
Outra feição que ocorre nas elevações da área de estudo são os terracetes, que são
provocados pelo movimento de rastejo e pisoteio do gado nas encostas. O pisoteio do gado
gera processos de rastejo ou creep, que consiste no deslocamento lento e contínuo das
camadas superficiais do solo, desenvolvendo pequenas rupturas no solo que facilitam a
infiltração da água.
No evento de março de 2010, uma cicatriz de terracete observada por Wilvert (2006) e
que tinha sido revegetada, voltou a ser ativada, devido à variação de umidade no solo (Figuras
5.7 e 5.8).
Figura 5.7 Ao fundo na foto, reativação da
cicatriz erosiva, após o evento de março de
2010, no qual precipitou 172 mm de chuva.
Foto: Solange R. Wilvert, 17 abr. 2010
Figura 5.8 Pequenas rupturas a partir de
terracetes em uma encosta que sofre pisoteio
do gado. Foto: Cleiton Araújo, 30 ju. 2006.
Ocorrem na área de estudo, depressões fechadas, também chamadas de depressões
doliniformes, que podem ser observadas no Mapa 5.2. Elas possuem forma quase arredondada
ou alongada e estão localizadas nos topos das encostas, podendo acumular água em algum
período do ano. A explicação para sua origem é controversa, uma das hipóteses apresentadas
explica que esta feição é formada a partir de processos de transformação geoquímica e da
exportação de substâncias por lixiviação (ESTEVES, 2001).
Na área de estudo foram encontradas duas depressões fechadas nos topos das encostas do
modelado de dissecação em montanha (Mapa 5.2) e uma feição que se assemelha a uma
depressão fechada, mas que possui uma de suas extensões planas, permitindo o escoamento da
água. Segundo os moradores, essa feição o acumula água durante o ano e em episódios de
71
chuva, toda a água acumulada na feição escorre pela encosta da colina formando uma cachoeira.
As depressões fechadas são feições recorrentes na região. Pellerin et al. (1997b),
estudaram uma depressão fechada existente na localidade de Sorocaba do Sul, Biguaçu/SC,
onde encontraram cobertura pedológica com volumes de solo hidromórfico e acúmulo de
manganês na parte central. Esteves (2001) em seu trabalho verificou que as depressões
fechadas de Sorocaba do Sul se encontram sobre lineamentos estruturais. Luiz (2003)
verificou quatro depressões fechadas fortemente alinhadas no topo de uma colina na
localidade de Boa Parada, em São Pedro de Alcântara/SC, onde constatou que as falhas e/ou
fraturas cruzavam-se nesta área.
Todos esses processos relatados são resultados do espesso manto de alteração e de sua
composição mineralógica, que junto com processos pluviais modificam as formas do relevo e
condicionam as características do solo.
O solo deste modelado é caracterizado como argissolo, com migração de argila do
horizonte A para o B com formação de gradiente textural, que representa um obstáculo à
infiltração da água, diminuindo a permeabilidade do solo e favorecendo o escoamento
superficial e subsuperficial na zona de contato entre os horizontes.
Os horizontes A e B do solo possuem em torno de 1,50 m de espessura, enquanto que
o horizonte C varia muito de espessura, alcançando grandes profundidades.
O horizonte A apresenta cor cinza escura devido à presença de material orgânico, com
textura argilo-arenosa, além de estrutura em blocos subangulares pequenos e, apresenta boa
coesão devido à presença das raízes da vegetação.
O horizonte B apresenta estruturação em blocos subangulares maiores do que no
horizonte A e coloração vermelha-amarela e apresenta translocação de argila por iluviação no
seu topo. Por possuir blocos angulosos e subangulosos, este horizonte é mais suscetível aos
processos erosivos, que podem ser condicionados pelas descontinuidades texturais e
estruturais ao longo do perfil.
O horizonte C apresenta cor mais rosada, possui estrutura maciça, textura areno-siltosa
a siltico-arenosa e, em alguns pontos, textura arenosa. Nas encostas no Sudoeste da área de
estudo foi constatado a presença de relíquias da rocha ou mesmo grandes blocos de rocha no
meio do material alterado, além de veios quartzo-feldspáticos e pequenas fraturas
Isso pode ocorrer por dois motivos. Primeiro porque no local em que se encontrava o
fragmento da rocha não havia planos de fraqueza (fratura ou falha), que facilitariam a
entrada de água para acelerar os processos de intemperismo. Ou porque este fragmento de
rocha sã possui uma composição mineralógica mais resistente à ação do intemperismo.
72
Essas estruturas herdadas da rocha matriz são importantes na análise da erosão do
solo, pois podem condicionar a circulação da água no interior do material e servir como
superfícies de ruptura para os movimentos de massa.
O compartimento da planície do Rio Biguaçu é caracterizado por possuir modelado de
acumulação, constituído por formas de relevo geradas em ambientes de deposição fluvial, que
estão sujeitas a inundações periódicas (Figuras 5.9 e Figura 5.10) e pelo modelado de
acumulação torrencial (ROSA, 1995).
Figura 5.9 Inundação da planície do rio Biguaçu, no evento de janeiro de 2008, quando choveu o
acumulado de 170 mm em 24 h.. Foto: Prefeitura Municipal de Annio Carlos, 31 jan. 2008.
A cidade localiza-se sobre uma planície alveolar, que retém parte das águas que escoam
dos vales em momento de intensa precipitação. Essas planícies são fechadas pelo estreitamento
do vale (controle litológico), que serve de nível de base
3
local para os processos erosivos.
O modelado de acumulação apresenta formas de leitos abandonados e de terraço, como
mostra o Mapa 5.2. O trecho do médio e baixo vale do rio Biguaçu e de seus afluentes,
Rachadel e Ribeio Vermelho se caracterizavam como meandrantes, com feões de meandros
abandonados. Porém, parte do curso do rio Biguu, na cidade de Antônio Carlos, foi deslocado
e outros trechos foram retilinizados, acontecendo o mesmo com seus afluentes, como uma
medida para a redução da magnitude das inundações.
As formas de terraços fluviais representam à antiga planície de inundação, que foi
abandonada, devido ao ajustamento das mudanças do nível do mar provocadas pelas
3
O vel de base controla os processos erosivos na bacia. Ele pode ser geral, controlado pelo vel do mar ou
pode ser local, controlado por algum elemento no interior da bacia, como o rio principal, que serve de vel de
base para os seus afluentes, ou por rochas mais resistentes (CHRISTOFOLETTI, 1981).
73
oscilações climáticas (CHRISTOFOLETTI, 1981), já que esta é uma planície costeira.
Muitas dessas feições na área de estudo podem ser denominadas de feições
terraceadas, pois não funcionam como um terraço propriamente dito. Elas possuem pequena
altura em relação ao nível do rio e são inundadas em períodos de precipitação excepcional,
como a de janeiro de 2008. Algumas feições terraceadas encontram-se erodidas, provavelmente
pela ação do próprio rio, em peodos de cheia.
Figura 5.10 Vista da planície do rio Biguaçu. A área que margeia a rua no centro da figura (Rua
Adão Reitz) fica inundada em peodos de precipitação excepcional ou continua. Observar ao fundo as
colinas presentes no meio da planície. Foto: Joel Pellerin, jan. 2010.
Os aterros são formas artificiais que predominam na planície da área de estudo. Eles são
executados para elevar o nível da planície para a construção de residências e de loteamentos,
evitando que estas áreas sejam inundadas em eventos pluviométricos intensos.
No evento de janeiro de 2008, alguns desses locais aterrados não foram inundados, mas em
outros, o aterro o foi suficiente para evitar que a inundação atingisse a propriedade. Os aterros
impermeabilizam os solos e favorecem o escoamento superficial, além disso, eles aumentando o
nível da planície, o que acarreta a inundação de áreas anteriormente não inundadas.
Devido à ação dos rios e ao tipo de formação rochosa da região, a planície apresenta
desitos arenosos e argilosos intercalados. Sobre esses depósitos, se desenvolve o gleissolo do
tipo eutrófico, caracterizado como um solo fértil, com lençol freático próximo da superfície e
textura, geralmente argilosa, mas que pode variar de siltosa a média (FORTES, 1996).
Toda a área de estudo era recoberta pela Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, com
densa cobertura arbórea que podia atingir mais de 25 m de altura (REITZ, 1988). Hoje, essa
74
formação vegetal deu lugar a áreas de pastagem e de cultivo agrícola na planície do rio
Rachadel e Biguaçu. Já na placie do Ribeirão Vermelho o principal uso é o cultivo de grama.
Com o crescimento da cidade, algumas dessas áreas estão sendo substituídas por
loteamentos e para a implantação da área industrial, como é o caso do bairro de Canudos.
Muitas encostas foram cortadas para a retirada de material de empréstimo para execução de
aterros na planície e para dar lugar a ruas e edificações.
5.2.2 Evolução da Cidade de Antônio Carlos
A área urbana atual de Antônio Carlos e seus arredores, entre os anos de 1845-1850, era
ocupada por estâncias (fazendas) de nacionais, originários de São Miguel, que adentraram o
vale do Rio Biguaçu, embasados numa economia escravagista”
4
(REITZ, 1988, p. 178).
Na margem direita do rio Biguaçu, junto à atual igreja, estabeleceu-se Manoel Coelho
Jordão, que era proprietário das terras para o leste e para o oeste, isto é, até mais ou menos
início do perímetro urbano, na divisa de Annio Carlos com Biguaçu (lado leste) e até o
morro do Zé Maneca (REITZ, 1988), onde termina o lado oeste do atual perímetro urbano.
Essa propriedade contava com duas edificações, a casa do senhor Manoel e a senzala
(REITZ, 1988). No início do século XX, esta propriedade foi “alienada e parcelada em
diversas glebas” (REITZ, 1988, p.179) e, por volta de 1915, o que é hoje o perímetro urbano
era composto por seis minifúndios (REITZ, 1988).
Segundo Reitz (1988), entre 1915 a 1920, José Luiz Hoffmann estabeleceu-se na casa
de Manoel Coelho Jordão e construiu seis casas, nos arredores da colina da atual igreja, para
alugá-las, gerando assim, o embrião da cidade de Annio Carlos. Nestas casas instalaram-se
os primeiros artesões, casa de comércio e a escola. Mas, para Reitz (1988) foi a construção da
Igreja Matriz, em 1925, que “sedimentou e perpetuou a vida comunitária do povoado” (p.
182) e que iniciou a existência da cidade.
O perímetro urbano da cidade de Annio Carlos foi definido pela Lei Municipal nº.
18/1966 nos moldes da mesma área da Lei Municipal nº. 7/1938 de Biguaçu, que criou o
perímetro urbano e suburbano da Vila de Antônio Carlos.
Em 1973, a Prefeitura Municipal, comprou o terreno em frente à igreja matriz, para a
construção da praça e jardim central da cidade, que foi criada pela Lei nº. 196/1981 e recebeu
a denominação de Praça Anchieta.
4
Ao utilizar o termo nacionais” o autor está se referindo aos imigrantes açorianos e seus descendentes.
75
Com a modificação do curso do rio Biguu, a área anteriormente ocupada pelo leito do
rio foi aterrada e deu lugar à nova sede da Prefeitura Municipal, ao Centro de Educão Infantil
(CEI), ao posto da Polícia Militar, ao terminal rodovrio e as mais variadas edificações.
Com o passar dos anos, a área urbana do Munipio foi sendo ampliada. Em 1994, a
área urbana possuía 3.380.780,00 m
2
.
Ela iniciava a leste, na divisa do município de Antônio
Carlos com Biguaçu e terminava a oeste no Morro do Maneca, ao norte era limitada pelo
rio Biguaçu e ao sul pelo Morro da Cana.
Em 2005, foram acrescentados mais 976.020,00 m
2
, que compreendem a área delimitada
pela Rua Militão José Coelho, no bairro Canudos. E, em 2009, foram acrescentados mais
985.360,00 m
2
, que compreende uma área ao norte do rio Biguaçu, onde se construída a Estação
de Tratamento de Esgoto (ETE), o que resulta em uma área urbana total de 5.342.160, 00 m
2
.
Com relação ao crescimento populacional, a população rural sempre foi maior que a
urbana na área de estudo. A população urbana tem aumentado em todos os recenseamentos
realizados no município, sendo que no censo de 2000, a população urbana praticamente
duplicou em relação ao censo de 1991, e a população rural se manteve estável. na contagem
da população de 2007, a população urbana continuou a crescer e a população rural, também
aumentou como pode ser observado na Tabela 5.2.
Tabela 5.2 – População total residente e situação domiciliar
5
Ano Situação
domiciliar/
População
Total
1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007
Urbana
183 268 799 499 710 977 1.210 1.760
2072
Rural
3.772 4.078 3.723 5.125 4.702 4.636 4.797 4.674
5015
Total
3.955 4.347 4.522 5.624 5.412 5.613 6.007 6.434
7087
Fonte: Reitz (1988), BRASIL (2008, 2009), organizados pela autora.
Na década de 70 muitos moradores de Antônio Carlos migraram para outras cidades,
como Joinville, Blumenau, Brusque e Florianópolis, provocando uma queda, principalmente
na população rural, como pode ser observado na Tabela 5.2. Estas pessoas saíram de Antônio
Carlos em busca de novas oportunidades, de melhores empregos e condições de vida mais
favoráveis, do que o campo poderia proporcionar. Outro fator que contribuiu para esta
5
Os dados do censo de 1940 a 1960 correspondem ao distrito de Alto Biguaçu, quando este fazia parte do município
de Biguaçu (REITZ, 1988) e os dados a partir de 70 são referentes ao município de Antônio Carlos, criado em 1963.
76
migração está relacionado com a divisão das propriedades entre os herdeiros, que não poderia
ocorrer infinitamente.
Nesta última década, o que se observa é que muito desses moradores têm retornado.
Alguns retornam aposentados, outros voltam devido à violência nas maiores cidades
catarinenses, o que auxilia a explicar tanto o crescimento da população rural como da
população urbana.
Além disso, o crescimento da população urbana também está atrelado ao próprio
crescimento vegetativo da população e à proximidade do município de Antônio Carlos à
capital do Estado, Florianópolis, e sua área conurbada (Biguaçu, São José e Palhoça), pois
muitas pessoas que trabalham nesta área foram morar em Antônio Carlos.
77
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1 ANÁLISE DOS EVENTOS NATURAIS ADVERSOS CORRIDOS NA CIDADE DE
ANTÔNIO CARLOS ENTRE 1980 E 2010
Buscou-se nesta seção analisar os eventos naturais adversos que ocorreram na cidade
de Antônio Carlos, a partir de 1980 a 2010, num período de 30 anos. O estudo foi baseado no
trabalho de Herrmann (1999), que analisou os sistemas atmosféricos em que ocorreram
fenômenos pluviais intensos ou dias consecutivos de chuva que causaram danos ambientais,
sociais e econômicos na área conurbada de Florianópolis no período de 1980 a 1995. O
mesmo trabalho foi realizado por Souza (2006) para os bairros Forquilhinhas, Flor de Nápoles
e Picadas do Sul, em São José, no período de 1995 a 2006; por Testa (2006) para a área
urbana de Biguaçu, no período de 1980 a 2006 e Cardozo (2009) para a bacia do rio
Forquilhas, em São José, no período de 1980 a 2008.
Além disso, foram utilizados os dados de precipitações diárias da Estação Meteorológica
de Antônio Carlos e, quando possível, foi realizada uma descrição dos eventos ocorridos por
meio de notícias em jornais e dados dos Avadans. Os eventos de janeiro e novembro de 2008 e
de março de 2010, que ocorreram durante a realização desta pesquisa, foram descritos com
maior número de informações.
6.1.1 Eventos Adversos Ocorridos no Município de Antônio Carlos
Ao longo de 30 anos foram verificados 23 eventos que causaram danos ou prejzos na área
de estudo relacionados à dinâmica do meio sico, isto é, a fenômenos ligados à dinâmica pluvial
(alagamentos), fluvial (inundação, erosão marginal) e a movimentos de massa (deslizamentos).
Esses eventos são apresentados na tabela 6.1, descrevendo o ano, o dia e mês, quando
possível, qual o fenômeno ocorrido, segundo o pado definido pela Defesa Civil (CASTRO,
2003; 2008) contido nos Avadans e se foi decretada situação de emergência (SE) ou
calamidade pública (CP) pelo município.
Com relação ao ano de 1983, foi encontrado o registro de apenas um evento,
inundação brusca no verão (HERRMANN, 2007), mas ao analisar os dados de precipitação
diária daquele ano e os relatos dos moradores, optou-se por incluir os meses de janeiro,
fevereiro, julho, novembro e dezembro na análise. O mesmo fato ocorreu com os meses de
janeiro de 1989 e 1992 e outubro de 1997.
78
Tabela 6.1 – Registro dos eventos naturais adversos ocorridos no município de Antônio Carlos/ SC
entre 1980 e 2010
Ano Dia Mês Ocorrência SE ou CP
1981
27 a 29 Outubro
Inundação gradual e
escorregamento
Janeiro
14 Fevereiro Inundação Brusca
Julho
Novembro
1983
Dezembro
1984
6 e 7 Agosto Inundação Gradual
1989
Janeiro
1991
13 a 15 Novembro Inundação Gradual SE
1992
Janeiro
1993
08 Fevereiro Inundação Gradual SE
21 e 22 Fevereiro Inundação Brusca CP
1994
10 e 11 Março
Inundação Gradual e
Escorregamento
24 Dezembro Inundação Gradual SE
1995
28 e 29 Dezembro Inundação Gradual SE
26 Janeiro Inundação Gradual
1997
Outubro
26 Janeiro Inundação Brusca SE
1998
10 Dezembro Inundação Brusca SE
2000
10 e 11 Janeiro Inundação Brusca. SE
31 Janeiro
Inundação Brusca,
Alagamento e
Escorregamento
SE
2008
22 a 25 Novembro
Inundação Gradual e
Escorregamento
SE
2010
25 Março Inundação Brusca SE
Fonte: Reitz (1988), Kremer (1993), Herrmann et al. (2007), AVADANs e dados de jornais,
organizados pela autora.
Legenda: SE – Situação de Emergência CP Calamidade Pública
Todos os eventos apresentados acima foram desencadeados por precipitações
excepcionais ou por dias consecutivos de chuvas que serão descritos no item 6.1.2. Dos registros
existentes sobre a tipologia do fenômeno 7 eventos foram classificados como inundações bruscas,
9 como inundações graduais, 4 como deslizamentos e 1 alagamento, sendo que os dois últimos
fenômenos ocorrem concomitantemente com um dos tipos de inundação.
Além dos eventos apresentados na Tabela 6.1, há registro de eventos anteriores relatados
na literatura. A inundação de 1916 é considerada por Reitz (1988) como a maior e mais
79
catastrófica enchente no rio Biguaçu, que ocasionou o assoreamento do rio impedindo a passagem
de chatas
6
, canoas ou qualquer tipo de transporte por flutuação, como balsas. Segundo o mesmo
autor, “(...) as várzeas do Alto Vale do rio Biguaçu viraram um imenso lago (p.415).
A inundação de 1927 e a enchente de outubro 1932 são apenas citadas por Reitz (1988) e
Kremer (1993), não há referência sobre a magnitude dos eventos e dos danos provocados. A
inundação de 1937 carregou a primeira ponte de madeira construída sobre o rio Biguaçu em 1930, na
Rua Adão Reitz, que ligava a cidade de Antônio Carlos à comunidade de Rachadel (REITZ, 1988).
A inundação de 1957 interrompeu o tráfego rodoviário (REITZ, 1988) e a inundão de 1972
foi caracterizada por Kremer (1993, p.54) como a maior e mais destruidora das enchentes” ocorridas
no Município, que durou de 23 a 25 de dezembro (REITZ, 1988; KREMER, 1993) e destruiu,
novamente, a ponte de madeira sobre o rio Biguaçu, na estrada para o Rachadel.
A maior parte dos registros em livros faz menção às inundações, que também são
lembradas com mais freqüência pelos moradores. Outra questão observada em campo foi a
localização das residências mais antigas, que se encontram no limite do compartimento da
planície com a encosta, diferente das residências atuais, que estão localizadas, muitas vezes,
sobre as margens dos canais.
6.1.2 Análise da Precipitação Diária Relacionada aos Meses em que Ocorreram Eventos
Adversos na Cidade de Antônio Carlos
A Tabela 6.2 apresenta as precipitações diárias dos meses em que ocorreu algum evento
adverso, relacionado à dinâmica do meio físico na cidade de Antônio Carlos. Dos 23 eventos
analisados, 13 foram precedidos por dias chuvosos e 10 por dias sem volumes de chuva
consideráveis ou mesmo sem chuva. Nos eventos estudados, 17 foram causados por precipitões
acima dos 100 mm em 24 h, sendo o evento de março de 1994 (227 mm), o maior em volume de
chuva, precedido pelos eventos de mao de 2010 (172 mm), janeiro de 2008 (170,8 mm) e
janeiro de 1997 (164,7 mm). Os maiores volumes de chuva, que desencadearam cada um dos
eventos adversos analisados eso destacados em vermelhos na Tabela.
O mês de janeiro de 1997 foi o mais chuvoso com 665,3 mm, o que ocasionou uma
inundação brusca, seguido do mês de novembro de 2008, com 628,3 mm precipitados,
destacados em vermelho na Tabela 6.2.
6
Barco de pouco calado (REITZ, 1988).
80
Tabela 6.2 – Índice pluviométrico diário relacionados aos meses em que ocorreram eventos adversos na área de estudo (1980 – 2009)
Dias
1981
Out.
1983
Jan.
1983
Fev.
1983
Jul.
1983
Nov.
1983
Dez.
1984
Ago.
1989
Jan.
1991
Nov.
1992
Jan.
1993
Fev.
1994
Fev.
7
1994
Mar.
1995
Dez.
1997
Jan.
1997
Out.
1998
Jan.
1998
Dez.
2000
Jan.
2008
Jan.
2008
Fev.
2008
Nov.
2010
Mar.
1
0 0 25,1 0 1 0 0 21,7 7,09 0 19,2 11,4 29,8 0 0 11,6 0,3 0 17,2 0 170,8
0
9,5
2
0 0 1,6 0 2,9 10,9 21,3 9 31 8 14,1 5,1 10,8 0 0 5,8 3,4 0 2,5 0 1,4 14,1
5,5
3
0 0 1,7 2,6 0,6 0,6 20 25 54 4,5 32,9 6,3 0,0 6,9 54,5 0,1 20,4 0 0 0 0 0,9
0,7
4
0 4,2 0 0 4,7 4,1 5,8 13,7 35 0 22,4 0 0,0 0,8 0 8,4 141 12,2 0 0 0 0
36,4
5
29,3 41,6 0 0 0,9 37,7 28,1 22,4 8,6 0 13,0 23,7 0,0 0 0 10 23,5 0,3 0 0,5 0 0
2,5
6
0 104,2
2,6 28,6 14,9 6,4 65,8 114,2
2 0 0,0 0 0,0 0 7 24,1 0 0 8,2 15,4 0 17,2
15,2
7
5 89,7 19,2 57,8 0 1 103,6
0 0 0 0,0 1 30,5 0,2 0 10,4 3 0 22,4 0 0 27,5
16,8
8 0 3,6 22,2 32,9 0 0 9,8 28,3 0 0 4,7 8,8 0,5 0 0 25,2 1,6 0,8 0 10,2 6,7 8,2
4,6
9
1 0 32,4 48,2 39,1 0 4,4 54,3 0 5,7 83,4 18,8 49,2 0 0,3 13,1 0 0,4 0 0 0 0
31,9
10
0 1,7 26,8 37,2 0 8,2 2,5 0 0 32,4 8,4 0,1 98,2 0 11,8 78,9 2,3 3,9 0 0,9 0 12,2
0
11
0 1,8 6,5 43,5 0,4 50,2 0,6 0 2 0 14,8 8,2 70,0 0 25,9 3,8 0 146,6
72,6 11,1 18 38,6
38,4
12
0 2,9 0 38,7 147,2
55,5 0 0 12,4 1 7,9 1,2 1,9 0 0 0 0 10 45,8 0,9 2,7 11,4
3,4
13
0,3 17,9 0,3 1,1 6,7 11,6 0,8 7,3 0 0 0,0 31,1 2,5 2,4 0 3,9 5 0 0 0 0 11,6
0
14 0 3,4 0,4 16,5 0 22,1 0 0,3 8,8 17,4 9,5 12,7 2,6 0 40 2 0 1,3 54,2 12,3 0 5,3
0
15
0 1,2 107,5
0,2 38,1 6,4 0 5,5 145 0 7,2 17 1,9 0 0 2,7 14 24 13,2 0 0 3,2
11,2
16
1 8,1 1,2 5,3 16,1 0,4 0 19,4 6,8 0,7 0,5 0 9,1 0 0 0,5 0 0,2 30,5 0 0 0
0
17
0 0,1 38,4 68,2 0 98,2 0 6,1 1,3 0 7,2 4 1,3 0 17 0 22,4 3 30,2 0 0,8 0,8
0,3
18
0 0 8 0,6 0 0,3 0 0 0,3 0 52,7 9,8 9,0 0 9,3 1,1 3,4 0 0 1,9 13 0
0
19
1,9 7,4 0 1,1 0 11,4 0,4 0 13,2 0 0,0 9,9 29,6 0 6,1 2,2 0,1 0 2,4 0 0 21,4
0
20
22,1 26,7 61 1,2 4,3 58,6 0,5 0 0 0 0,0 7,9 16,8 0 38,2 14 0,4 0 0 10 0 7,7
1,1
21
3,6 8,5 0 0 0 7,7 11,2 6 0 0 3,7 0 0 0 51,8 42,8 0 0 0 0,8 40,2 43,4
0,1
22
0,3 0 0 0 9,9 1,1 3,3 1 0 10,8 16,2 227 0 0 2 103,6
0 1,3 0 13,8 0 140,8
0
23
0 0 0 0 0 3,1 3,8 0 0 3,5 22,2 15,3 0 60,4 29 0 13 10,2 0 15,1 0 108
0
24
0 2,8 0 13,4 0 0 0,2 7,9 0 17,6 6,7 0 0 91 32,8 3 17,4 9 12,4 0 1,4 38,2
0,1
25
0 34,2 0 55,6 0 0 18,2 7,7 0 53,6 0,9 11,3 0 113 81 0,7 0,2 0 0 14,2 10 33,8
44
26
2,5 4,3 20,1 13 0 1,1 5,6 4,6 17,6 108,4
8,2 6,8 4,4 6,3 25 0 8,3 0 3,6 0,4 10,3 17
172
27
45,2 0 0,4 25,1 20,7 4,3 0 23,7 1,3 2,7 0,2 0 0,0 22,2 164,7
4,2 84 0 0 0,7 34,7 0
5
28
86,3 7,6 76,9 71,4 48,1 30,7 0 10,6 0 7,8 0,0 4,2 0,1 154 4,3 0 0 0 0 7,5 7,2 13,8
2,6
29
72,7 42 11,3 16,4 0 0 0 0 0 0,0 113,9
22,3 0 8,4 0 0 67,8 1,2 2,3
12,8
30
66,1 16,5 1,9 4,2 1,2 1 0 0 7,09 0,0 0 0,1 6,1 0,8 0 0 25,9 50,9
16,4
31
18,5 6,1 30,2 9,9 0 2,4 0 0,0 0 42,2 13,2 23 0 0,4 62,3
0
Total
355,8
436,5
452,3
605,6
376,2
442,7
306,9
391,1
346,4
281,2
356,0
442,7
368,2
571,1
665,3
391,4
395,9
223,2
315,6
271,7
318,4
628,3
430,5
Fonte: Estação meteorológica de Annio Carlos – SC, organizados pela autora.
7
Dados da Estação Meteorológica de São José (2009)
81
Década de 1980
Os primeiros vinte dias do mês de outubro de 1981 foram praticamente sem chuva,
com exceção do dia 5 e do dia 20, com 29,3 mm e 22,1 mm de precipitação, respectivamente.
Do total de 358,8 mm de chuva que precipitaram no mês de outubro, 270,3 mm ocorreram
entre os dias 27 e 30, resultando em inundação gradual e deslizamentos na área de estudo
Sendo que no dia 28, choveu 86,3 mm, no dia 29, 72,7 mm e no dia 30, 66,1 mm, como pode
ser observado na Figura 6.1.
45,2
66,1
72,7
86,3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 355,8 mm
Figura 6.1 – Precipitação diária do mês de outubro de 1981.
O ano de 1983 é ano mais chuvoso medido pela estação meteorológica de Antônio
Carlos, como pode ser o observado na Tabela 5.1 na página 52, e considerado por Herrmann
(1999), o ano mais chuvoso do estado de Santa Catarina, dentre os anos que se tem registro.
No ano de 1983 ocorreu o episódio mais forte do El Nino do século XX, que afetou a
maioria dos municípios do estado de Santa Catarina, provocando inundações, principalmente,
durante os meses de janeiro, julho, novembro e dezembro (HERRMANN, 1999).
No município de Annio Carlos, os meses de janeiro, fevereiro, julho, novembro e
dezembro (436,5 mm, 452,3 mm, 605,6 mm, 376,2 mm, 442,7 mm, respectivamente) tiveram
uma grande quantidade de chuvas que ocasionaram danos.
O mês de janeiro de 1983 começou sem chuvas, sendo que no dia 05 precipitou 41,6 mm,
no dia 06 precipitou 104,2 mm e no dia 07 precipitou 89,6 mm, totalizando 235,5 mm em 3 dias
consecutivos, como pode ser observado na Figura 6.2, devido a uma frente quente de retorno.
O mês de janeiro teve 22 dos 31 dias com chuvas, totalizando 438,5 mm de chuva,
sendo que depois da inundação do início do mês, as precipitações mais consideráveis ocorreram
nos dias 25, com 34,2 mm e no dia 29 com 42 mm.
82
89,7
104,2
41,6
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 436,5 mm
Figura 6.2 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1983.
O mês de fevereiro de 1983 teve um total de 452,3 mm de chuva, sendo que no dia 15,
choveu 107,5 mm ocasionando uma inundação brusca no Município. O mês iniciou chuvoso,
como mostra a Figura 6.3. As duas primeiras semanas acumularam uma precipitação de 138,
8 mm, ocasionando o encharcamento do solo. Após a chuva do dia 15, apenas os dia 20 e 28
tiveram chuvas expressivas (61 e 76,9 mm respectivamente) sem ocasionar maiores danos no
Município.
107,5
76,9
61
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 452,3 mm
Figura 6.3 – Precipitação diária do mês de fevereiro de 1983.
O s de julho foi o mais chuvoso daquele ano com 605,6 mm e o maior índice
mensal do mês de julho registrado ao longo de 32 anos medidos na estação meteorológica de
Annio Carlos, sendo que normalmente este mês é um dos meses mais secos do ano na área
de estudo, como pode ser observado na Figura 5.1 da página 50.
As chuvas foram constantes ao longo de todo mês, provocando pequenas inundações,
que atingiram pontos isolados do Município. Entre os dias 6 e 12 choveu 248,2 mm, sendo
que o dia 7 teve 57,8 mm de chuva. Ainda no dia 17, choveu 68,9 mm e entre os dias 24 e 31
83
precipitou mais 221,9 mm, sendo que 71,4 mm apenas no dia 28, como pode ser observado na
Figura 6.4. As chuvas contínuas desse mês foram provenientes de um sistema frontal semi-
estacionário na região (HERRMANN, 1999).
68,2
55,6
71,4
57,8
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 605,6 mm
Figura 6.4 – Precipitação diária do mês de julho de 1983.
O mês de novembro teve um total de 378,2 mm, sendo que a inundação foi decorrente dos
147,2 mm de chuva do dia 12 de novembro originado por uma frente quente de retorno. Nos dias
anteriores, as chuvas foram praticamente nulas, como pode ser observado na Figura 6.5.
147,2
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Dias
Precipitação (mm)
Total: 376,2 mm
Figura 6.5 Precipitação diária do mês de novembro de 1983.
O mês de dezembro de 1983 começou chuvoso, já na primeira quinzena o total precipitado
foi de 214,7 mm, e no dia 17, choveu 98,2 mm, como mostra a Figura 6.6, ocasionando inundações
na área de estudo. Essas inundações ocorreram devido à grande concentração de chuva no dia 17 e
aos vários dias de precipitão acumulados na primeira quinzena do mês, o que ocasionou a
saturação do solo, dificultando a infiltrão das águas. O mês de dezembro teve um total mensal de
442,7 mm de precipitação, tendo chovido em 25 dos 31 dias do mês.
84
Figura 6.6 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1983.
As chuvas do ano de 1984 não tiveram associação com o fenômeno El Niño. As
chuvas do mês de agosto foram decorrentes da passagem das frentes frias, e a inundação
brusca entre os dias 05 e 07 ocorreu devido às chuvas frontais (HERRMANN, 1999).
Em agosto de 1984, choveu durante toda a primeira semana do mês, totalizando 244,6
mm em sete dias, como mostra a Figura 6.7. No dia 05, precipitou 28,1 mm, no dia 06
precipitou 65,8 mm e no dia 07 mais 103,6 mm, totalizando 197,5 mm em apenas 3 dias, o
que ocasionou inundações bruscas. No restante do mês as precipitações não foram
significativas e o mês totalizou 306,9 mm de chuva.
28,1
65,8
103,6
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 306,9 mm
Figura 6.7 – Precipitação diária do mês de agosto de 1984.
O mês de janeiro de 1989 foi bastante chuvoso na área de estudo, com um total de
391,1 mm precipitados. A chuva do dia 6, 114,2 mm, causou inundação brusca na área de
estudo, que nos dias anteriores as chuvas não foram significativas, como pode ser
observado na Figura 6.8. Nesse dia, havia uma frente fria deslocando-se do sul do continente
98,2
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 442,7 mm
85
em direção à Região Sul do Brasil, provocando queda de temperatura com chuvas e trovoadas
esparsas e ventos por correntes de jato subtropical (HERRMANN, 1999).
114,2
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 391,1 mm
Figura 6.8 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1989.
Década de 1990
Na primeira semana do mês de novembro de 1991 haviam sido acumulados 137,7
mm de chuvas. No dia 15 choveu 145 mm devido à influência do fenômeno El Niño
(HERRMANN; MENDONÇA; CAMPOS, 1994), ocasionando inundações e
escorregamentos. No restante do mês as precipitações não foram significativas, como mostra
a Figura 6.9. O total mensal foi de 346,39 mm.
145
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 346,39 mm
Figura 6.9 Precipitação diária do mês de novembro de 1991.
O munipio de Antônio Carlos decretou situação de emergência (SE), sendo que grande
parte do sistema viário municipal foi destruído, am de inúmeras pontes, bueiros e pontilhões.
86
O sistema que provocou essas chuvas foi um aglomerado convectivo que se formou
sobre o sul do Paraguai e o norte da Argentina, que se intensificou e deslocou para leste. No dia
13, a nebulosidade, associada a um vórtice ciclônico que vinha cruzando os Andes, propagou-se
para leste, atingiu o centro-norte da Argentina, e, na manhã do dia 14, causou chuvas no Rio
Grande do Sul e no leste de Santa Catarina. Na tarde deste dia, o sistema deu origem à
ciclonese e frontogênese sobre o litoral, sendo que seu deslocamento foi rápido, tendo sido
observada convecção tropical muito intensa sobre o Brasil Central (HERRMANN, 1999).
O mês de janeiro de 1992 teve um total de 281,2 mm precipitados, facilitado pelo El
Niño, em atuação desde meados de 1991 (HERRMANN; MENDOA; CAMPOS, 1994). As
chuvas que precipitaram no dia 26, num total de 108,4 mm (Figura 6.10), provocaram
inundações bruscas na área de estudo.
53,6
108,4
17,6
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 281,2 mm
Figura 6.10 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1992.
As chuvas foram ocasionadas por um sistema frontal que deslocou-se apenas pelo
litoral, e que foi intensificado a partir do dia 23, devido à presença de extensas áreas de
instabilidade convectiva associada às baixas pressões formadas no oceano, que se
encontravam no noroeste do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (HERRMANN, 1999).
O ano de 1993 iniciou chuvoso. Dos 2.026,3 mm de chuva que ocorreram durante
o ano, 698,8 mm precipitaram nos dois primeiros meses, sendo 342,8 mm em janeiro e
356 mm em fevereiro.
As chuvas do s de janeiro ocorrem durante 20 dos 31 dias, como pode ser
observado na Figura 6.11. A primeira semana de janeiro teve um total de 136,6 mm,
sendo que 49 mm precipitaram no dia 02. As chuvas, de um modo geral, o tiveram
nenhum valor significativo (no dia 17, 50,3 mm, e no dia 26, 36,4 mm) que provocasse
inundão da área de estudo, mas ajudaram na saturação do solo.
87
36,4
50,3
49,0
0
10
20
30
40
50
60
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 342,8 mm
Figura 6.11 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1993.
No mês de fevereiro ocorreu precipitão em 22 dos 28 dias do mês, como mostra a
Figura 6.12. Na primeira semana de fevereiro choveu 101,6 mm, sendo que no dia 09 precipitou
83,4 mm, provocando inundação gradual e deslizamentos no Munipio, que foram ocasionadas
pelas frentes frias estacionárias sobre o estado de Santa Catarina (HERRMANN; MENDONÇA;
CAMPOS, 1994).
52,7
83,4
32,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dias
Precipitação (mm)
Total: 356 mm
Figura 6.12 Precipitação diária do mês de fevereiro de 1993.
O município de Annio Carlos decretou situação de emergência; as localidades de
Santa Maria, Rachadel, Vila Doze, Morro dos Mannes, Louro, Egito, Rio Farias e Guiomar
foram atingidas (O Estado, 1993). A malha viária foi comprometida com quedas de barreiras,
pontes, pontilhões e bueiros entupidos; 80% da produção agcola ficou comprometida e
muitas áreas marginais ao rios utilizadas pelos agricultores foram erodidas.
Na área urbana as ruas Daniel Petry, João Henrique Pauli, 6 de novembro e a Praça
Anchieta foram atingidas, além da ocorrência da destruição de uma ponte (ponte do Cantório)
com 32,5 m sobre o rio Biguaçu.
88
Para a análise da precipitação que ocasionou a inundação entre os dias 21 e 22 de
fevereiro de 1994 foram utilizados os dados da estação meteorológica de São José e não os
dados da estação de Antônio Carlos, pois a data do evento que consta no Avadan e nos jornais
não coincide com os dados de chuva dessa estação.
O Avadan e os dados coletados a partir dos jornais locais informam que a chuva que
ocasionou a inundação do mês de fevereiro ocorreu entre a noite do dia 21 e 22. a estação de
Antônio Carlos apresenta 195,1 mm de chuva no dia 25, sendo que no dia 22 constam apenas 48,2
mm de chuva.
As chuvas do mês de fevereiro foram associadas à ocorrência de vórtices ciclônicos e
a passagem de sistemas frontais (HERRMANN, MENDONÇA, CAMPOS, 1994), que
provocaram precipitação em 21 dos 28 dias do mês, o que resultou um total mensal de 442
mm como mostra a Figura 6.13.
Entre às 23 h do dia 21 e às 3 h do dia 22 de fevereiro, choveu 227,4 mm sobre a
região da Grande Florianópolis, ocasionando inundações graduais e escorregamentos em
Annio Carlos. Esta precipitação ocorreu devido à atuação de um cavado nos baixos veis,
que permaneceu semi-estacionário entre os dias 21 e 23, por causa da presença de um vórtice
ciclônicos sobre a região (HERRMANN; MENDONÇA; CAMPOS, 1994).
227,4
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dias
Precipitação (mm)
Total: 442 mm
Figura 6.13 – Precipitação diária do mês de fevereiro de 1994.
Fonte: Estação meteorológica de o José.
A chuva iniciou às 23 h, quando a maré estava com a altura de 0,96 m. Durante duas
horas de chuvas fortes a maré chegou a 1,13 m à 1 h do dia 22, o que pode ter provocado o
represamento das águas do rio Biguaçu, em todo o seu setor estuarino, agravando o fenômeno
da inundação.
89
Em Antônio Carlos o ocorreram problemas na cidade, mas as estradas vicinais que
ligam as comunidades do interior ficaram intransitáveis e parte do munipio ficou sem energia
elétrica até às 19 h do dia 23. O Munipio decretou situação de Calamidade Pública (Diário
Catarinense, 1994).
Em março, do mesmo ano, a precipitação total do mês foi de 368,2 mm, sendo que as
precipitações mais significativas ocorreram entre os dias 09 e 11, conforme a Figura 6.14, que
resultaram na ocorrência de inundações e deslizamentos no Município.
70,0
49,2
98,2
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 368, 2 mm
Figura 6.14 – Precipitação diária do mês de março de 1994.
No dia 09 precipitou 49,2 mm de chuva, no dia 10 foram 98,2 mm e no dia 11,70 mm,
totalizando 217,4 mm. As chuvas foram ocasionadas pela passagem de três rtices ciclônicos
sobre a região sul do Brasil, que apresentaram um deslocamento para sudoeste, ficando seu centro
sobre o litoral dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (HERRMANN, 1999).
Nesse evento ocorreu um deslizamento na madrugada do dia 11, na comunidade de
Rio Farias, no interior de Antônio Carlos, ocasionando a morte de três crianças de 2, 7 e 13
anos, da mesma família, soterradas. O deslizamento foi localizado a menos de 10 m dos
fundos da residência, sendo que dias antes havia ocorrido outro deslizamento no mesmo local,
que não havia atingido a casa (A Notícia, 1994).
O mês de dezembro de 1995 foi praticamente sem chuvas até o dia 22 (10,3 mm),
como mostra a Figura 6.15. A partir do dia 23 até o dia 29 foram precipitados 560,8 mm em
seis dias consecutivos de chuvas, causando inundações bruscas com graves conseqüências na
área de estudo. A maré nesse dia chegou a 1,1 m às 3:53 h, o que pode ter agravado as
inundações por causa do represamento das águas do rio Biguaçu.
Entre os dias 22 e 28 um vórtice ciclônico dos médios e baixos níveis permaneceu
semi-estacionário ao sul do Paraguai. A umidade das reges Norte e Centro-Oeste do Brasil
90
convergiram para este vórtice, intensificando um sistema frontal que se deslocava pela região
sul, resultando em chuvas intensas no leste de Santa Catarina (HERRMANN, 1999).
113,9
154
113
91
60,4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 571,1 mm
Figura 6.15 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1995.
Antônio Carlos decretou situação de emergência nesse evento, com prejuízos na agricultura,
nas estradas vicinais, pontes e bueiros calculados na ordem de R$ 500.000,00 (A Notícia, 1995).
O mês de janeiro de 1997 foi o mais chuvoso em 32 anos analisados, 665,3 mm. A
precipitação excepcional deste mês ocorreu devido à atuação da Zona de Converncia do
Atlântico Sul (ZCAS), que alcançou o litoral de Santa Catarina (HERRMANN, 2007).
Os primeiros dez dias do mês foram secos, tendo precipitado apenas 73,6. A partir da
segunda quinzena o mês se tornou bastante chuvoso, tendo precipitado 292,2 mm até o dia 25.
No dia 26 foram precipitados 164,7 mm de chuva, ocasionando uma inundação na área de
estudo, mas cabe ressaltar que o solo encontrava-se saturado devido aos dias consecutivos de
chuva, como pode ser observado na Figura 6.16.
81
164,7
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 665,3 mm
Figura 6.16 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1997.
91
Todo o município de Annio Carlos foi atingido. Na área urbana houve alagamento e
várias pessoas ficaram desalojadas. Na área rural, houve perdas na agricultura e destruição das
estradas. Onze pontes foram arrancadas e outras 5 ficaram parcialmente destruídas (erosão das
cabeceiras). O sistema viário foi danificado devido a deslizamentos, destruição de bueiros e
pontilhões, que isolaram comunidades do interior por vários dias.
No total 26 pessoas ficaram desalojadas e 07 desabrigadas, 2 residências danificadas e
1 destruída; 01 escola de ensino pública danificada; foram contabilizados R$ 2.000.000,00
reais de prejuízos na agricultura e parte do município ficou sem abastecimento de água e luz
nos dia 26 e 27 de janeiro.
O mês de outubro de 1997 é marcado por precipitações em 24 dos 31 dias do mês,
conforme Figura 6.17. Até o dia 21, havia sido acumulado um total de 260,6 mm de chuva,
ocasionando o encharcamento do solo. No dia 22 precipitou 103,6 mm o que provocou
inundação no Município. A precipitação total do mês chegou a 391,4 mm.
78,9
103,6
0
20
40
60
80
100
120
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 391,4 mm
Figura 6.17 – Precipitação diária do mês outubro de 1997.
O mês de janeiro de 1998 teve um total de 395,4 mm de precipitação, e duas
inundações bruscas. Uma no dia 4, com um total de 141 mm e outra no dia 26, com 84 mm,
conforme observado na Figura 6.18. A inundação brusca do dia 26 ocasionou muitos danos no
Município, quando então foi decretada situação de emergência.
A inundação do dia 26 danificou 12 residências, uma escola pública e um posto de saúde
e deixou 19 pessoas desalojadas; comunidades do interior ficaram isoladas, devido à destruição
de pontes, bueiros e deslizamentos, além da falta de energia e do abastecimento de água
comprometido; 40% da produção de agrícola do Município foi destruída somando perdas da
ordem de R$ 200.000,00.
92
84
141
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 395,9 mm
Figura 6.18 – Precipitação diária do mês de janeiro de 1998.
O mês de dezembro de 1998 teve um total de 223,2 mm de chuva, dos quais, 146,6
mm precipitaram no dia 11, como mostra a Figura 6.19, sendo que o restante do mês
ocorreram chuvas pouco expressivas. Este volume de chuva do dia 11 ocasionou uma
inundação brusca no município, que decretou situação de emergência (A Notícia, 1998).
146,6
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 223,2 mm
Figura 6.19 – Precipitação diária do mês de dezembro de 1998.
Década de 2000
As chuvas mais expressivas do mês de janeiro de 2000 concentraram-se entre os dias
11 e 17, quando precipitaram 246,5 mm dos 315,6 mm do total do mês, como mostra a Figura
6.20. Essa precipitação ocasionou inundação brusca entre os dias 10 e 11, que foram
acompanhadas de granizo, pela qual o município decretou situação de emergência, pois houve
a devido à destruição de pontes, bueiros, da malha rodoviária, das plantações e de casas.
93
72,6
54,2
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 315,6 mm
Figura 6.20 – Precipitação diária do mês de janeiro de 2000.
6.1.2.1 Evento do dia 31 de janeiro de 2008
O mês de janeiro de 2008 foi bastante chuvoso, com um total mensal de 442,5 mm de
acordo com a Figura 6.21. As precipitações ocorridas até o dia 28 não tiveram um índice
muito significativo (115,7 mm).
170,8
62,3
67,8
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1/1 3/1 5/1 7/1 9/1 11/1 13/1 15/1 17/1 19/1 21/1 23/1 25/1 27/1 29/1 31/1 2/2
Dias
Precipitação (mm)
Total: 442,5 mm
Figura 6.21 – Precipitação diária do mês de janeiro de 2008.
As chuvas na região começaram a partir do dia 28 de janeiro, sendo registrados, entre
às 9 horas do dia 28 e às 9 horas do dia 31, 156 mm, que provocaram o encharcamento do
solo, e resultou em alguns deslizamentos na área de estudo. Devido aos 156 mm de chuva
acumulados nos dias anteriores, no dia 31, o rio Biguaçu, pela manhã, estava com o nível de
água elevado, inundando algumas áreas.
Segundo os relatos dos moradores, o período mais intenso de chuvas ocorreu entre às 9 h e
às 15 h do dia 31, quando o nível do rio Biguu e de seus afluentes subiu consideravelmente
94
inundando todo o município de Antônio Carlos (Figura 6.22). A precipitação registrada neste dia
foi de 170, 8 mm
8
. A mamais alta ocorreu às 2h e as 21 h, com 0,8 m, e no horio de maior
concentrão da chuva a maoscilou entre 0,7 e 0,8 m.
Figura 6.22 Rio Biguu com o extravasamento das margens, próximo à confluência do rio do Louro.
Foto: Solange R. Wilvert, 31 jan. 2008.
As chuvas ocorreram devido a um sistema de baixa pressão que atuou no litoral de
Santa Catarina, formando muitas nuvens, associado a um Jato Subtropical em altos níveis, que
ficou mais ativo durante a tarde (SANTA CATARINA, 2008).
Na zona rural do Município, a inundação atingiu muitas áreas de pastagens e áreas
agrícolas, comprometendo a colheita, além de inúmeras famílias que tiveram suas residências
inundadas. Durante o período da manhã, praticamente, todas as estradas e ruas do município
estavam transitáveis, a partir da tarde, comunidades inteiras ficaram isoladas e sem energia
elétrica até o restabelecimento por volta das 12 horas do dia 01 de fevereiro. Segundo os dados
do AVADAN, 3.800 consumidores ficaram sem energia elétrica no Município.
Já a cidade de Antônio Carlos teve parte de sua área inundada e outras áreas alagadas (ver
Mapa 6.1 na página 110). Os alagamentos se formaram principalmente pela saturão natural do
solo e/ou pela impermeabilização deste, principalmente pelos aterros. A área alagada ocorreu
sobre o antigo leito do rio Biguu, ao lado do terminal rodovrio, pois são áreas com topografias
mais baixa em relação ao restante do relevo. Esta área foi aterrada e loteada, mas alguns desses
lotes ficaram em um nível mais baixo que a área vizinha e sofreram alagamento (Figura 6.23 e
6.24).
8
O acumulado de chuva é medido entre as 9 h do dia anterior e às 9 h do dia atual. Assim, o registro de chuvas do dia 01
de fevereiro, é o acumulado das 24 h referente ao período das 9h do dia 31 a as 9 h do dia 01 de fevereiro.
95
Figura 6.23 Alagamento da Rua João
Henrique Pauli, que ocasionou a interdição da
mesma no centro da cidade. Foto: Prefeitura
Municipal de Antônio Carlos, 31 jan. 2008.
Figura 6.24 Residência localizada sobre o
antigo curso do rio Biguaçu. A residência
encontra-se em um vel mais baixo (aterro)
que as áreas vizinhas. Foto: Prefeitura Municipal
de Antônio Carlos, 31 jan. 2008.
As inundações ocorreram em áreas próximas ao canal que são ocupadas por residências
e casas de comércio (Figura 6.25) e nas áreas próximas ao antigo curso do rio Biguaçu, antes do
seu deslocamento pela ação antrópica. A partir de uma determinada altura do nível do rio, a
água voltou pelo antigo curso abandonado inundando loteamentos inteiros (Figura 6.26),
inclusive a prefeitura municipal, que se encontra sobre esse trecho do antigo curso.
Figura 6.25 Rua Adão Reitz inundada
próxima ao canal principal do rio Biguaçu.
Foto: Prefeitura Municipal de Antônio Carlos,
31 jan. 2008.
Figura 6.26 Rua Jardim Esperança inundada
devido ao retorno da água pelo antigo curso do rio
Biguaçu, que fica ao final da rua. Foto: Prefeitura
Municipal de Antônio Carlos, 31 jan. 2008.
Algumas áreas foram inundadas devido à construção das residências sobre pequenos
cursos de água, que ao serem canalizados tiveram sua vazão máxima mal dimensionada, como é o
caso mostrado na Figura 6.27. Mas em casos excepcionais, como este, esta área seria inundada
com ou sem canalização do curso, porque as casas estão sobre o próprio eixo de drenagem. A Rua
João Henrique Pauli, que aparece inundada na Figura 6.23, é a mesma rua que aparece na Figura
6.27 com um trecho alagado. Esta rua liga a área urbana às comunidades rurais do Município.
96
Figura 6.27 - Rua João Henrique Pauli e residências inundadas por terem sido construídas sobre um
curso de água canalizado. Foto: PM de Antônio Carlos, 31 jan. 2008.
Essa inundação também provocou a interdição da rodovia SC 408, no município de
Biguaçu, próximo à base da Petrobrás. Esta rodovia é a principal ligação do município de
Annio Carlos com a rodovia BR 101 e com outros municípios do Estado.
Outro fenômeno desencadeado pelas chuvas dos dias 28 a 31 de janeiro foram os
deslizamentos, que interditaram ruas, deixando comunidades sem ligação, além de
comprometer a estrutura de algumas residências (Figura 6.28 e 6.29).
Figura 6.28 Deslizamento próximo a uma
residência na área urbana, que ocasionou a
queda de uma árvore a menos de 2 m da
residência. Foto: Prefeitura Municipal de
Antônio Carlos, 01 fev. 2008.
Figura 6.29 Deslizamento (na área urbana)
em um corte com degraus mal dimensionados,
que danificou a estrutura da casa de cima e
ocasionou o entulhamento da residência
abaixo. Foto: Prefeitura Municipal de Antônio
Carlos, 01 fev. 2008.
Os deslizamentos ocorreram em encostas que tiveram sua forma modificada, como
cortes para construção de residências, para a ampliação de estradas e para áreas de extração de
97
material de empréstimo. A maior parte dos deslizamentos ocorreu na área rural, sendo que
aqueles que movimentaram maior volume de terra estão localizados próximos das cabeceiras
dos cursos dos rios.
Segundo os dados do AVADAN o município registrou 320 pessoas desalojadas, 14
desabrigadas e 2.800 pessoas afetadas pela inundação ou pelos deslizamentos decorrentes dos
quatro dias de chuva e 60 casas foram danificadas e 2 destruídas. Com relação à infra-estrutura do
município, os danos nas estradas e ruas pavimentadas foram orçados em R$ 2.400.000,00.
A Figura 6.30 mostra o solapamento de parte da Avenida João Frederico Martendal,
que se encontra sobre a margem do rio Biguaçu. Este local em 2000 recebeu uma estrutura de
contenção, devido aos processos de eroo da margem do rio Biguaçu.
Essa avenida é a ligação do Município com a Rodovia SC - 408, por onde escoa toda a
produção de hortigranjeiros.
Figura 6.30 Erosão fluvial da margem direita do Rio Biguaçu na Avenida João Frederico Martendal.
Foto: Solange R. Wilvert, 01 fev. 2008.
Esta parte da avenida encontra-se sobre a margem côncava do rio, onde ocorrem os processos
erosivos devido ao movimento helicoidal do fluxo. Além disso, 300 m a jusante deste ponto há uma
mineração de areia. Esta é extraída diretamente do leito do rio através de dragas flutuantes.
Como visto na seção 3.6.3, a mineração de areia é responvel por alterar o fundo do
canal, modificar as linhas de talvegue, a direção dos fluxos e alterar a distribuição espacial
dos processos de erosão e deposição no canal, o que explicaria a erosão das margens esquerda
e direita do rio Biguaçu no local de Figura 7.30.
Muitas áreas marginais aos rios foram erodidas interditando ruas e ocasionando a perda de
terreno utilizado para a agricultura e pastagem. Com relão à agricultura à perda estimada foi de
98
aproximadamente R$ 2.000.000,00, principalmente, por causa da deposição de sedimentos, que
ocasionaram a perda das lavouras (Figura 6.31).
Figura 6.31 Plantação de alface totalmente destruída pela inundação e pela deposição dos
sedimentos. Foto: Prefeitura Municipal de Antônio Carlos, 01 fev. 2008.
6.1.2.2 Evento de novembro de 2008
O mês de novembro de 2008 foi o segundo mês em que mais ocorreram precipitações
em todo o período analisado, totalizando 628,3 mm, devido a uma combinação de sistemas
atmosféricos.
No dia 19 de novembro, a circulação marítima que desloca os ventos úmidos do mar
para o continente, manteve o tempo instável, com chuvas constantes de fraca intensidade e,
em alguns momentos, de intensidade moderada a forte. Entre os dias 21 e 23, um vórtice
ciclônico intensificou a instabilidade e a nebulosidade, com formações de trovoadas, que
resultou na mudança da chuva de moderada para forte de forma persistente (LIMA;
MONTEIRO, 2009).
A combinação desses sistemas resultou numa inundação gradual a partir da noite do dia
21. Do valor total de chuvas do mês de novembro, 628,3 mm, 364,2 mm ocorreram entre os
dias 21 e 25, o dobro da média mensal histórica de 170,4 mm. Somente no dia 22 e no dia 23
foram registrados 140,8 mm e 108 mm de chuva, respectivamente, como mostra a Figura 6.32.
99
43,4
38,2
108
140,8
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Dias
Precipitação (mm)
Total: 628,3 mm
Figura 6.32 – Precipitação diária do mês de novembro de 2008.
No dia 22, a altura da maré chegou a 0,9 m às 9:49 h da manhã e às 22:28 h da noite.
Já no dia 23 a maré atingiu a altura de 1 m às 11:02 h e às 23:23h, o que pode ter dificultado o
escoamento da água do rio Biguaçu para o mar.
Neste episódio, a inundação não foi tão pronunciada se comparada com a de janeiro do
mesmo ano, mas o fator agravante deste evento foi o período de chuvas freqüentes registradas
desde setembro, com valores acima dadia mensal, o que deixou o solo encharcado.
O mês de setembro teve 201,5 mm de chuva, sendo a média histórica de 158,6 mm. No
mês de outubro, choveu em 21 dos 31 dias do mês, com total de 218,1 mm de precipitação,
sendo a média histórica de 173,2 mm. O mês de novembro registrou 23 dias com chuva num
total de 628,3 mm, sendo a média histórica de 170,4 mm, como citado anteriormente.
Na manhã do dia 22, o rio Biguaçu e seus afluentes estavam com nível de água elevado,
mas o extravasamento estava ocorrendo somente em alguns pontos (Figura 6.33). No período da
tarde, desse dia, o volume das águas dos rios aumentou, deixando alguns trechos de estradas
inundadas, impedindo a passagem de automóveis de passeio.
Entre os dias 21 e 25, o nível das águas dos rios permaneceu em torno de 2 m acima do
nível normal, e nos períodos de precipitação mais intensa, como no dia 22 à tarde, ele elevou-se
até 3 m. Esta oscilação ocorreu até o dia 25 de novembro, quando as águas começaram a baixar.
Neste evento, o que mais chamou a atenção não foi a extensão da inundação, mas as
áreas erodidas pelos rios, a quantidade de sedimentos depositados e o grande número de
deslizamentos, tanto em locais com a encosta modificada quanto em locais com cobertura
vegetal, portanto sem intervenção do homem.
100
Figura 6.33 Rio Biguaçu próximo à estrada para o bairro Rio Farias. À tarde neste mesmo local o
nível do rio estava 3 m mais elevado, cobrindo toda a pastagem presente na planície em volta. Foto:
Solange R. Wilvert, 22 nov. 2008.
Com relação à erosão fluvial, duas residências foram destruídas (Figura 6.34) e em outras,
a margem do rio se aproximou muito das construções, por causa da migração lateral do mesmo.
rias ruas, como a Avenida Beira Rio, na área urbana, foram erodidas, além de cabeceiras de
pontes, áreas agrícolas e de pastagem, (ver Mapa 6.1 na página 110).
Figura 6.34 Destruão parcial de uma
residência na Rua Vereador Osvaldino
Hoffmann, na área urbana. Foto: Prefeitura
Municipal de Antônio Carlos, 25 de nov. 2008.
Figura 6.35 - Erosão fluvial na margem
côncava e deposição de sedimentos na margem
convexa. Foto: Solange R. Wilvert, 02 dez. 2008.
Além disso, um meandro do rio Biguaçu e outro do rio Rachadel foram erodidos de um
lado ao outro, sendo cortados pelo próprio fluxo. Isto se deve à subida e à descida do nível dos
101
rios durante cinco dias (de 21 a 25 de novembro), o que resultou na perda de grandes áreas
marginais e na sedimentação em outras (Figura 6.35).
Os deslizamentos ocorreram na área urbana, atingindo uma residência (Figura 6.36), e na
área rural. Os maiores deslizamentos ocorreram próximo às nascentes dos rios Rachadel, Farias e
Biguaçu. Nestas áreas, há cicatrizes no meio da vegetão e foi constatado um fluxo de detritos na
área do alto curso do rio Biguaçu, na localidade de Alto Egito.
Nos bairros Egito, Braço do Norte e Vila Doze, as estradas foram interditadas pela
grande quantidade de deslizamentos que ocorreram desde o dia 22, e foram totalmente
liberadas uma semana após o término do período das chuvas. Na localidade de Egito, 2
residências foram condenadas pela Defesa Civil.
Também foram registrados degraus de abatimento no solo em vários locais, na área
urbana, no Morro da Cana, em Santa Maria e em Vila Doze. Segundo os moradores algumas
fendas em área com vegetação que não constam nos relatórios da prefeitura municipal. A Figura
6.37 apresenta uma área com degraus de abatimento no Morro da Cana, na área urbana, que
segundo relato dos moradores, algumas dessas fendas abriram há cerca de quinze anos.
Figura 6.36 Deslizamento de terra e rocha
em um corte mal dimensionado e não
estabilizado na Rua João Henrique Pauli, em
22 de novembro de 2008. Esta área é uma
antiga saibreira, que depois de desativada foi
loteada. Foto: Prefeitura Municipal de Antônio
Carlos, 27 nov. 2008.
Figura 6.37 Fendas de abatimento paralelas,
no solo, evidenciando o movimento do
material da encosta, no Morro da Cana, na
área urbana de Antônio Carlos. Foto:
Prefeitura Municipal de Antônio Carlos, 09 de
dez. 2008.
O município registrou em torno de 3.500 pessoas afetadas pela inundação ou pelos
deslizamentos decorrentes dos quatro dias consecutivos de chuva. Sendo que 68 pessoas
102
foram desalojadas e 63 ficaram desabrigadas, 10 residências foram danificadas, 16 destruídas
e 1 foi levada pelo rio. Com relação à infra-estrutura do município, os danos em estradas e
ruas pavimentadas foram oados em quase R$ 2.000.000,00. Com relação à agricultura a
perda estimada foi de aproximadamente R$ 5.000.000,00. Além disso, 4 comunidades ficaram
isoladas durante quase uma semana (Egito, Morro da Gloria, Vila Doze e Braço do Norte) e
2.700 pessoas ficaram sem energia elétrica por até 48 horas.
6.1.2.3. Evento de 25 de março de 2010
A inundação brusca que atingiu a área urbana do município de Antônio Carlos na noite
do dia 25 de março teve a duração de 6 h, com um total pluviométrico de 172 mm, ocasionado
pela passagem de uma frente fria.
Os primeiros quinze dias do mês de março precipitam um total de 176,1 mm de chuva,
sendo que choveu em doze dos quinze dias, como pode ser observado na Figura 6.38. O restante
do mês foi praticamente seco até o dia 25 e 26 quando precipitou respectivamente 44 e 172 mm.
A chuva que ocasionou alagamentos na cidade de Antônio Carlos iniciou por volta das
19 h do dia 25 e parou por volta da 1 h do dia 26. A maré atingiu 1,3 m à 01:04 h do dia 26
dificultando o escoamento da água do rio Biguaçu para o mar.
172
0
30
60
90
120
150
180
210
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
Precipitação (mm)
Total: 430, 5 mm
Figura 6.38 – Precipitação diária do mês de março de 2010.
A precipitação foi concentrada sobre o dio e baixo vale do rio Biguu, o atingindo
de maneira intensa o alto vale. A cidade de Annio Carlos, por se localizar no dio vale, foi
bastante atingida, decretando situação de emergência devido ao alagamento no centro da cidade e
de outras ruas da área urbana. Além disso, ocorreram deslizamentos na cidade e em comunidades
do interior que as isolaram e deixaram o trânsito em meia pista em alguns trechos.
103
A principal área alagada ocorreu no centro da cidade, onde a água atingiu mais de um
metro de altura, deixando 150 pessoas desalojadas e 5 desabrigadas. Nesta área, os
alagamentos ocorreram sobre parte do antigo curso do rio Biguaçu, em trechos das ruas João
Henrique Pauli (Figura 6.38), Adão Reitz, Saul Scherer, Zeno Pauli, Lorenço V. Rios e da
Avenida João Antônio Besen, interditando-as (ver Mapa 6.1).
Figura 6.39 Trecho da Rua João Henrique Pauli, próximo ao terminal rodoviário, interditado pelo
alagamento. Foto: Altamiro A. Kretzer, 25 mar. 2010.
Segundo o AVADAN, 78 residências foram danificadas, 18 imóveis comerciais e três
prédios públicos foram atingidos, incluindo a Prefeitura Municipal (Figura 6.40 e 6.41) e o
Centro de Educação Infantil (CEI), deixando 300 alunos sem aula no dia 26.
Figura 6.40 – Alagamento da Secretaria da
Agricultura e Meio Ambiente localizada no
subsolo da Prefeitura. Foto: Prefeitura
Municipal de Annio Carlos, 26 mar. 2010.
Figura 6.41 – Subsolo da Prefeitura Municipal
alagado em mais de 1 m. de água. Foto:
Prefeitura Municipal de Antônio Carlos, 26
mar. 2010.
104
O subsolo da prefeitura ficou alagado em mais de 1 m de água. Ali funcionavam as
Secretarias da Educação, da Agricultura e do Meio Ambiente, o Museu e o Telecentro
Comunitário. Somente na prefeitura, as perdas em equipamentos eletrônicos e documentos
foram estimados em R$ 50.000,00.
Outro ponto de alagamento na cidade ocorreu em um trecho da Rua São Paulo. A rua
ficou interditada e algumas residências alagadas.
Os deslizamentos ocorreram, principalmente, sobre estradas do interior deixando
algumas comunidades sem ligação com o restante do município (Louro, Rio Farias e
Canudos) ou deixando o trânsito em meia pista, como ocorreu na rua que liga a cidade de
Annio Carlos à comunidade de Rachadel.
Na área urbana, houve deslizamentos na Rua Antônio José Zimmermann (Figura 6.42)
e Avenida João Antônio Besen, o que deixou o trânsito em meia pista. Outro deslizamento
ocorreu na Rua 7 de Setembro, em um corte de encosta, não estabilizado, para a construção de
uma residência. O material deslizado atingiu a parede da casa e a família foi retirada da
residência até a obra de afastamento da encosta.
Figura 6.42 Deslizamento na Rua Antônio José Zimmermann, que deixou o trânsito em meia pista.
A encosta ao fundo na figura possui problemas de instabilidade provocados por deslizamentos no
evento que ocorreu em novembro de 2008, que estão sendo retrabalhados a cada novo episodio
pluviométrico e por conter surgência de água na sua base. Foto: Prefeitura Municipal de Antônio
Carlos, 26 mar. 2010.
As Figuras 6.43 e 6.44 mostram a residência atingida pelo deslizamento. Importante
observar nestas figuras que a casa está localizada a menos de um metro do corte, que é mais
alto que a mesma e não possui nenhuma obra de contenção.
105
Figura 6.43 – Vista da residência em relão ao
corte na encosta. Observar a proximidade da casa
em relação ao corte e a altura deste em relação à
casa. Foto: Prefeitura Municipal de Antônio
Carlos, 26 mar. 2010.
Figura 6.44 Material deslizado que atingiu a
residência. Observar a proximidade da casa em
relação ao corte. Foto: Prefeitura Municipal
Antônio Carlos, 26 mar. 2010.
As perdas iniciais, deste evento foram calculadas em R$ 500.000,00 e o prejuízo na
produção agrícola na ordem de 12,5 toneladas. Durante a manhã e parte da tarde do dia 26, a
cidade ficou sem água e sem energia elétrica devido à erosão ocasionada por um curso de água,
que danificou a rede de distribuição de energia elétrica, de água e parte da estrada.
Outra conseqüência deste evento foi a quantidade de sedimentos depositados nas ruas
e o rompimento da tubulação pluvial da cidade. A quantidade de sedimentos (Figura 6.45) é
derivada do escoamento superficial concentrado atuando no corte das encostas realizado para
a extração de material de empréstimo ou para a construção de residências e de
empreendimentos comerciais. Estes cortes não são estabilizados, deixando a encosta exposta
aos processos erosivos.
O rompimento da tubulação pluvial (Figura 6.46) ocorreu sob o muro de uma
residência. A tubulação pluvial mais antiga da cidade foi construída no mesmo local onde
passava o antigo curso do rio Biguaçu. Hoje este traçado encontra-se aterrado e com
residências construídas sobre ele. A tubulação rompeu nos fundo de uma residência sob o
muro, na Avenida João Annio Besen, abrindo um buraco de 4 m de diâmetro. Se a
tubulação tivesse rompido 200 m acima deste ponto, teria rompido sob algumas casas, o que
provocaria perdas e danos maiores.
Além disso, a tubulação da cidadeo comportou a quantidade de água escoada, devido à
quantidade de chuva precipitada neste evento, por a tubulação ser antiga e sub-dimensionada para
os dias atuais, por receber esgoto clandestino e conter muito lixo. Segundo informações de
funcionários da prefeitura, foram encontradas muitas garrafas pets na tubulação.
106
Figura 6.45 Sedimentos depositados nas
ruas provenientes dos cortes das encostas da
cidade trazidos pela chuva torrencial. Foto:
Prefeitura Municipal Antônio Carlos, 26 mar.
2010.
Figura 6.46 Rompimento da tubulação
pluvial que abriu um buraco de 4 m. de
diâmetro sob o muro de uma residência na
Avenida João Antônio Besen. Foto: Altamiro
A. Kretzer, 26 mar. 2010.
Analisando os 23 eventos estudados pode-se concluir que não há uma freqüência para
a ocorrência deles e para a sua magnitude. Os eventos adversos aqui estudados ocorreram em
3 das 4 estações do ano, sendo 12 episódios no verão, 8 na primavera e 2 no inverno. O mês
com mais eventos foi o de janeiro com um total de 7 eventos, seguido do mês março,
novembro e dezembro, com 3 eventos em cada um.
O mesmo ocorre com os sistemas atmosféricos responsáveis pela nese das chuvas. Nos
eventos analisados, as chuvas foram ocasionados por: Frentes Frias, Frente Quente de Retorno,
Frente Fria Estacionária, Sistemas Frontais, Vórtices Ciclônicos, Zonas de Convergência do
Atlântico Sul, Jato Subtropical, Sistemas de Baixa Pressão. Isto significa que as precipitões na
área de estudo não ocorrem sob a influência de um único sistema atmosférico e que podem
ocorrer durante o ano inteiro, dependendo do sistema que estiver atuando.
Com relação aos eventos ocorridos durante o desenvolvimento desta pesquisa, eles
evidenciaram cada um dos fenômenos estudados e como as pessoas e o poder público são
vulneráveis a eles. Com relação aos eventos, o de janeiro de 2008 mostrou a magnitude das
inundações e que este fenômeno ocorre por toda a Bacia. No evento de novembro de 2008, pode-
se observar que os deslizamentos ocorrem de maneira pontual, principalmente nas encostas que
tiveram sua forma modificada por cortes, e, que a erosão marginal nos rios ocorre principalmente
na margem ncava. O evento de março de 2010 mostrou que os alagamentos ocorrem com maior
magnitude no centro da cidade de Antônio Carlos sobre o antigo traçado do rio Biguaçu.
Os condicionantes de cada um dos fenômenos acima mencionados e os danos e
prejuízos que podem ocasionar à população e à infra-estrutura da área de estudo são
apresentados a seguir.
107
6.2 ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE AOS FENÔMENOS PERIGOSOS NA CIDADE
DE ANTÔNIO CARLOS
Como visto, no capítulo 3, a suscetibilidade indica a potencialidade de um fenômeno
ocorrer em um determinado local, com uma determinada magnitude e freência. Caso haja a
probabilidade de o fenômeno ocorrer e ele possua o potencial de causar danos e prejuízos a
comunidade atingida, ele passa a ser denominado de perigo.
Na cidade de Antônio Carlos os fenômenos que causam perigo à comunidade são os
alagamentos, as inundações, as erosões marginais fluviais e os deslizamentos. Nesta seção são
apresentados os condicionantes, as características e a localização (Mapa 6.1) de cada processo
na área de estudo.
6.2.1 Suscetibilidade aos Alagamentos
Os alagamentos na área de estudo ocorrem devido à topografia, à impermeabilização
do solo por aterros e construções, pela falta de uma rede pluvial eficiente e pelo tipo de
precipitação.
Na cidade de Antonio Carlos, as áreas topograficamente mais baixas encontram-se
sobre o antigo curso do rio Biguaçu. Esta área hoje está aterrada e ocupada pela Prefeitura
Municipal, pelo posto da Polícia Militar, pelo CEI, por um clube (Estrela Azul), pelo terminal
rodoviário, e por inúmeras residências e pelo comércio.
As residências mais antigas não mudaram a topografia com aterros, permanecendo em
parte a forma do antigo canal. Já, as construções mais novas aterraram e adensaram a
ocupação impermeabilizando o solo e favorecendo o escoamento superficial.
Assim, as residências mais antigas, que se encontram em áreas topograficamente mais
baixas, ou os lotes aterrados que estão em um nível mais baixos que as áreas vizinhas ficam
alagados durante o período de chuvas excepcionais ou contínuas. A Rua João Henrique Pauli
e a Avenida João Antônio Besen, paralelas ao antigo curso do rio, também tem parte do seu
trajeto alagado, como pode ser observado no Mapa 6.1.
108
(Mapa reduzido a partir da versão impressa desta dissertação)
109
A falta de uma rede pluvial eficiente tamm agrava o problema dos alagamentos. As
galerias pluviais existentes o antigas e sub-dimensionadas, não comportando o volume de água
das chuvas de episódios excepcionais e acabam rompendo, como aconteceu em janeiro de 2008 e
mao de 2010. Além disso, as galerias o utilizadas por muitos moradores para lançarem seu
esgoto doméstico, que o município não conta com uma rede de coleta e tratamento de esgoto.
Os alagamentos também ocorrem devido às características da precipitação. Elas
podem ser excepcionais ou contínuas, por isso é necessário levar em consideração a duração e
a intensidade das precipitações.
No dia 31 de janeiro de 2008, devido a uma precipitação excepcional de 170,8 mm, as
ruas citadas acima e as residências que se encontram sobre o antigo curso do rio Biguaçu
ficaram alagadas. No dia 23 de março, daquele mesmo ano, uma precipitação de 50,2 mm,
que segundo os moradores durou aproximadamente 4 horas, ocasionou o alagamento de um
trecho da Rua João Henrique Pauli e o trânsito precisou ser desviado.
No dia 25 de março de 2010, uma precipitação de 172 mm, que segundo os moradores
durou aproximadamente 6 h alagou em mais de um metro de altura o centro da cidade de
Antônio Carlos.
Nesse evento, parte das residências localizadas sobre o antigo curso do rio Biguu, o
terminal rodovrio, o CEI, o subsolo da Prefeitura Municipal ficaram alagados. As ruas João
Henrique Pauli, João Antonio Besen, Saul Antonio Scherer, Zeno Pauli, Lorenço V. Rios, Adão
Reitz, São Paulo e Gilberto Schmitz, foram alagadas, além das residências que se localizam
ao longo das vias, como pode ser observado no Mapa 6.1.
Essas informações demonstram como a intensidade e a duração das chuvas é um
importante elemento na análise desse fenômeno, que juntamente com os outros fatores acima
mencionados, explicam a maior permanência da água das chuvas em superfícies
impermeabilizadas e rebaixadas topograficamente, o que favorece o surgimento de áreas
alagadas e o aumento do volume do escoamento (FUJIMOTO, 2002).
6.2.2 Suscetibilidade à Inundação
As inundações na Bacia do rio Biguaçu são fenômenos naturais que sempre ocorreram
devido às características físicas da bacia, como o tamanho, a forma, a disposição do relevo, ao
tipo de precipitação diferenciado (chuvas orográficas). Este fenômeno pode ser intensificado
pela ação humana, por meio de mudanças no uso da terra e no próprio canal, que alteram o
regime hidrológico e o perfil de equilíbrio do canal.
110
Essa Bacia possui uma extensão espacial de 309 km
2
. Em sua área estão localizados os
municípios de Antônio Carlos e Biguaçu. A Bacia do rio Biguaçu engloba todos os 205 km
2
do município de Antônio Carlos, que corresponde ao alto e médio vale da Bacia, enquanto
que o baixo vale e a foz estão situados no município de Biguaçu.
As cidades desses dois municípios se originaram e desenvolveram sobre a planície e
junto às margens do rio Biguaçu, isto é, no seu leito maior, em áreas sujeitas a inundações.
Este fenômeno, por sua vez, já trouxe muitos danos e prejuízos para a população dessas áreas.
O fenômeno da inundação na cidade de Biguaçu foi estudado por Herrmann (1999) e
Testa (2006) que demonstraram a suscetibilidade do meio físico para a ocorncia do mesmo.
Além disso, as autoras destacaram como o homem, através das modificões que realiza no meio
físico, pode contribuir para a intensificação desse processo.
A inundação não é um processo pontual, por isso precisa ser compreendido no
contexto de uma bacia hidrográfica (HERRMANN, 1999; COLLISCHONN, 2009),
considerando os fatores climáticos, as características físicas e as modificações antrópicas, pois
qualquer modificação neste sistema, seja natural ou humano, poderá gerar graves
desequilíbrios, que serão refletidos em toda a Bacia.
Como citado, todo o território de Antônio Carlos es inserido na Bacia do rio Biguaçu.
Por isso, a seguir, serão apresentados os condicionantes do fenômeno da inundação na Bacia do
rio Biguaçu e, posteriormente na cidade de Antônio Carlos, que é a área de estudo deste trabalho.
6.2.2.1 Suscetibilidade à Inundação na Bacia do Rio Biguaçu
A Bacia do rio Biguaçu possui uma grande extensão espacial (309 km
2
),
conseqüentemente uma grande área de captação, caracterizada por uma rede de drenagem
superficial densa e eficiente, o que aumenta a velocidade com que a água deixa os terrenos
altos, e o conseqüente aumento do fluxo no rio principal (TESTA, 2006).
As nascentes dos rios dessa Bacia eso localizadas em altitudes que podem chegar a 900
m, principalmente no norte, sul e oeste da Bacia (ver Mapa 5.1 na página 61). Estas altitudes
condicionam um regime de chuvas diferenciado devido ao efeito orogfico, como observado por
Fortes (1996), resultando em uma drenagem superficial perene, devido aos elevados e regulares
índices pluviais.
Os canais fluviais, nos altos cursos da Bacia, estão encaixados em linhas estruturais
(falhas, fraturas e/ou contatos litológicos), basicamente na direção N-S, enquanto que o canal
principal, o Biguaçu, segue na direção E-W, situando seu leito mais próximo aos divisores
111
presentes no sul da Bacia (TESTA, 2006).
As elevações dos terrenos no alto vale apresentam declividade acentuada, o que
auxilia na maior ocorrência do escoamento superficial, pois nestes locais, o solo e manto de
alteração são rasos (neossolos) e as encostas não apresentam mais a densa vegetação original,
que foi substituída por pastagens, áreas agrícolas ou por plantações de pinheiro (Pinus elliotti)
e de eucalipto (Eucalyptus ssp) apesar de, em algumas áreas vir se desenvolvendo vários
estágios da sucessão vegetal.
Com solo e manto de alteração rasos a água das chuvas tem dificuldade em infiltrar-se
no solo, o que resulta em uma maior quantidade de água e de sedimentos que chegam aos
cursos dos rios.
Assim, em episódios de chuva intensa, as águas fluem de forma mais direta para os
cursos de água e o escoamento torna-se mais concentrado, carregando para estes cursos
d’água sedimentos, tronco de árvores, que serão responsáveis pela destruição de pontes,
edificações, deposição de sedimentos nas áreas baixas, inclusive, nas residências que ali se
encontram (HERRMANN, 1999).
Onde o terreno é mais colinoso, o predomínio de solos mais espessos e mantos de
alteração bastante acentuados. Neste compartimento de relevo o predomínio do solo do
tipo cambissolo e argissolo.
Como visto na seção 5.1.4, o cambissolo apresenta um horizonte superficial em início de
desenvolvimento, sendo um solo raso com horizonte B incipiente (Bi), pois sofreu alterações em
grau não muito avançado. Em encostas desprotegidas de vegetação, este solo auxilia no
aumento do escoamento superficial e o seu grau de suscetibilidades depende da profundidade,
da declividade, do teor de silte e do gradiente textural.
o argissolo possui migração de argila do horizonte A para o B com formação de um
gradiente textural. Esta diferença de textura entre o horizonte A e o B representa um obsculo à
infiltração da água, diminuindo a permeabilidade do solo e favorecendo o escoamento superficial
e subsuperficial na zona de contato entre os horizontes. Em áreas sem cobertura vegetal, esse solo
favorece a erosão resultando numa maior produção de sedimentos para o canal.
No baixo e médio vale do rio Biguaçu, os canais drenam áreas de depósitos fluviais e
praiais de baixa declividade, que associada à sinuosidade do canal, retardam o escoamento das
águas, favorecendo as inundações (FORTES, 1996).
Nessas áreas de baixa altimetria e baixa declividade, sobre os depósitos fluviais,
predomina o solo do tipo gleissolo, que apresenta o lençol freático próximo à superfície. Ele é
formado por camadas de sedimentos, de textura fina (argilas e siltes), que possuem baixa
112
permeabilidade, o que dificulta a infiltração da água e contribui para o acúmulo desta na
superfície (FORTES, 1996; TESTA, 2006).
Isso significa que a captação de água pelos solos da Bacia, tanto nas encostas quanto na
planície, é pouco eficiente, principalmente em áreas sem cobertura vegetal, que acentuam os
efeitos do escoamento superficial e conseqüente produção de sedimentos que chegam aos rios.
A Bacia do rio Biguaçu possui uma forma arredondada, com planícies alveolares ou
interiores que pressupõe que a onda de cheia do canal avance lentamente, ficando parte da
água e sedimentos acumulados nessas planícies, como acontece na cidade de Antônio Carlos
(WILVERT, 2006).
Além disso, essa Bacia recebe a contribuição de afluentes de ordem fluvial elevada,
como o rio Rachadel, que desemboca junto à cidade de Antonio Carlos, o que aumenta a
possibilidade de inundações a partir deste trecho, uma vez que este afluente possui uma
grande área de captação (TESTA, 2006).
O curso inferior do rio Biguaçu assume a característica de um estuário
9
, sendo que a
cunha salina alcança uma extensão de 10 km a partir da foz do rio (CAMPOS, 2003). O corpo
de água estuarino ocasiona a floculação das argilas. Este processo ocorre quando o material
fino transportado pelo rio entra em contato com água salgada do mar. A mudança no pH da
água do rio, isto é, a elevão do pH, provoca atração elétrica entre os grãos de argila, que se
agrupam e decantam, parte nos domínios do estuário, diminuindo a profundidade do canal, e
parte é exportada para o oceano formando uma pluma de sedimentos.
Na foz do rio Biguaçu esse processo criou um depósito em barra, formando uma coroa na
frente da foz do rio para o mar, represando a água escoada. Esse depósito vem se desenvolvendo
há cerca de 30 anos, como observado por Fortes (1996), Herrmann (1999) e Testa (2006).
A ação das marés é outro fator importante, pois ela se prolonga rio adentro, retardando
o escoamento do rio, principalmente as marés de sizígia ou de tempestade, que muitas vezes,
ocorrem concomitantemente com as elevadas precipitações, dificultando o escoamento da
água para o mar (FORTES, 1996; HERRMANN, 1999; TESTA, 2006),
Além das características físicas, o fenômeno da inundação pode ser intensificado pelo
homem, por meio de mudanças no uso da terra e no próprio canal.
A área da Bacia era densamente ocupada pela Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, que
se estendia desde a planície até a alta encosta (REITZ, 1988). Esta floresta deu lugar às
pastagens, a áreas agrícolas, à silvicultura de pinheiro (Pinus elliotti) e de eucalipto (Eucalyptus
9
O corpo de água estuarino caracteriza-se pela mistura das águas do rio com a do mar ampliada pela maalta,
estendendo-se rio acima até o limite da influência desta.
113
ssp) e à urbanização, modificando a estabilidade hidrológica dos terrenos da bacia.
A mudança no uso da terra é responsável pelo aumento do escoamento superficial e da
quantidade de sedimentos que chega aos leitos dos rios. A urbanização é responsável pela
impermeabilização e o conseqüente acúmulo de água em superfície fazendo com que ocorra
um aumento da vazão máxima, a antecipação do pico da cheia e o aumento do volume das
águas que chegam aos canais.
A bacia teve parte de seus canais retilinizados a partir da segunda metade da década de
60, além da drenagem de áreas úmidas, na cidade de Antônio Carlos e em áreas próxima à
cidade de Biguaçu, onde hoje se localiza a área industrial de Biguaçu.
Essas alterações no canal foram realizadas com o objetivo de diminuir a magnitude das
inundações, pois ao retirar os meandros (as curvas) dos rios e torná-los mais retos, diminui-se
o percurso e o trabalho exercido pelo rio e as águas escoariam mais rápido até a foz.
Mas após essas obras, as inundações continuaram a ocorrer na Bacia, devido as suas
características naturais, ao pequeno desnível entre os trechos retilinizados e o nível do mar,
pelo fato de os canais cortarem depósitos fluviais com espessas camadas arenosas e o leito do
rio ser formado por material incoerente, o que contribui para retardar o fluxo das águas
(FORTES, 1996).
Essas modificações alteraram todo o equilíbrio dos rios da Bacia, pois modificaram o
regime hidrológico, romperam o perfil de equilíbrio longitudinal do rio, alteraram os sistemas
aquáticos, mudaram o padrão de drenagem do canal, reduziram seu comprimento devido à
perda dos meandros, alteraram a forma do canal (aprofundamento e alargamento), diminuíram
a rugosidade do leito e aumentaram o seu gradiente (FORTES, 1996).
Além disso, o aprofundamento do canal ocasiona o rebaixamento do nível de base, o
que favorece a retomada do processo erosivo nos afluentes, que resulta na erosão das margens
e na maior quantidade de sedimentos transportados pelo rio (FORTES, 1996; CUNHA, 2007;).
A mineração de areia é outro fator importante que altera a dinâmica da Bacia. Hoje
duas minerações que funcionam no rio Biguaçu, uma na cidade de Antônio Carlos e outra no
baixo curso do rio, próximo à área industrial de Biguaçu. Mas esse número foi maior.
Somente no município de Antônio Carlos, havia três minerações de areia no rio Biguaçu e
sem contar as extrações feitas pelos moradores nos bancos de areia do canal para uso próprio.
A mineração de areia aumenta a carga em suspensão, altera as linhas de talvegue do
canal, as direções das principais linhas de fluxo, a distribuição espacial dos processos de
eroo e de deposição do rio, além de modificar a largura e a profundidade do canal.
A rodovia BR 101 e a SC 408 constituem uma barreira para o escoamento das águas
114
do rio Biguaçu. A BR 101 corta a planície marinha no baixo vale, na direção N-S. A rodovia
eleva-se aproximadamente dois metros de altura e divide a planície, o que dificulta o livre
escoamento das águas, a montante do mesmo. O novo trecho da SC 408 corta a planície do
rio, com direção predominante NE-SO, formando um dique no meio da planície (ver Mapa
5.1 na página 61).
Na inundação de 31 de janeiro de 2008, esse novo traçado da rodovia formou um
dique que protegeu o bairro Vendaval, constantemente inundado pelo rio Biguaçu, pois a
rodovia eleva-se quase dois metros de altura sobre a planície.
Os aterros no baixo vale do rio Biguaçu, para a implantação da área industrial do
município de mesmo nome, é outro fator importante a ser destacado, pois também dificultará
o escoamento das águas do rio para o mar.
A área industrial está localizada nas margens do novo traçado da rodovia SC 408, em
uma área inundada pelo rio Biguaçu em períodos de precipitação elevada. Para a instalação
das indústrias esta área esta sendo aterrada, o que irá provocar o estrangulamento das águas
do rio em períodos de inundação, retardando o escoamento da água para o mar, além de
inundar áreas a montante, que antes não eram inundáveis.
Todos esses fatores, tanto naturais quanto antrópicos, são responsáveis pela ocorrência
de episódios de inundação na Bacia e pela maior ocorrência dos processos erosivos marginais,
que estão levando à migração do canal, que será analisado no item 6.2.3 deste capítulo.
6.2.2.2 Suscetibilidade a Inundação na Cidade de Antônio Carlos
A cidade de Antônio Carlos localiza-se no médio vale do rio Biguaçu, onde a largura
média do canal varia de 18,60 m até 42,60 m no seu leito maior (FORTES, 1996). A cidade
surgiu sobre a planície e margens desse rio (leito maior), nas áreas sujeitas a inundações.
Devido aos problemas ocasionados pelas inundações o curso do rio Biguaçu foi
modificado e outros trechos foram retilinizados como medidas para controlar a magnitude do
fenômeno e os danos causados por ela.
A cidade localiza-se sobre uma planície alveolar, formada pelo estreitamento do vale e
pela forma arredondada da bacia, que possui elevações com declividades acentuadas, para
onde converge a água do rio Biguaçu e de seus afluentes.
O rio Rachadel, afluente da margem esquerda do rio Biguaçu, deságua junto à cidade. Este
afluente drena uma grande área de captação, com elevações que alcançam mais de 800 m e áreas
utilizadas para o cultivo de hortalas e oleaginosas. o Ribeirão Vermelho (margem direita)
115
deságua no rio Biguu próximo ao limite entre os municípios de Antônio Carlos e Biguaçu,
portanto a leste da cidade e tem os terrenos circunvizinhos utilizados no cultivo de grama,
possuindo ainda duas extrações de saibro ativas.
As inundações na cidade de Antônio Carlos ocorrem quando todos os afluentes do
rio Biguaçu apresentam um grande volume de água, condição que causa o extravasamento de
água para as planícies. No evento de janeiro de 2008, todos os afluentes do rio Biguaçu
tiveram inundações nas suas planícies, fazendo com que o volume de água do Biguaçu se
elevasse e inundasse toda a área. Já no evento de novembro de 2008, entre os dias 21 e 25, a
área de estudo não teve problemas com inundação, porque apenas o rio Biguaçu teve pontos
isolados de inundação.
Outra característica que favorece a ocorncia deste fenômeno é o tipo de solo (gleissolo)
formado por camadas intercaladas de sedimentos finos (argilas e siltes) que possui baixa
permeabilidade e o lençol freático próximo à superfície, o que favorece o escoamento superficial.
A influência da maré também auxilia na inundação devido ao retardo do escoamento
das águas fluviais para o mar. Sabe-se que a cunha salina alcança uma extensão de 10 km no
rio Biguaçu, marcada pelo primeiro desnível topográfico no talvegue do rio (CAMPOS,
2003). Essa medição alcança o bairro Santa Catarina, no município de Biguaçu, que está a
menos de 3 km do início da área de estudo.
As mudanças no uso da terra acarretam uma alteração no balanço hídrico e na
quantidade de sedimentos que chega ao rio, que juntamente com as modificações no canal
(retilinização e mineração de areia no leito do rio) podem auxiliar na intensificação do
fenômeno e de outros processos erosivos.
A construção de pontes e bueiros sub-dimensionados auxiliam o fenômeno, pois em
algumas situações, formam um barramento para o escoamento das águas, o que pode ocasionar a
inundação de áreas a montante dos mesmos. Além disso, esses barramentos diminuem a área de
passagem do fluxo e aumentam a força deste, o que resulta na erosão da cabeceira das pontes e áreas
próximas, muito comum na área de estudo.
Os aterros para a construção da SC 408 e para a indústria Vonpar Refrescos S/A é
outro ponto importante a ser destacado. Vários trechos da SC 408 antes da ampliação e
pavimentação asfáltica na década de 80 ficavam cobertos pelas águas do rio Biguaçu e de seus
afluentes. Hoje, são poucos os trechos que ficam inundados, pois o leito da rodovia foi
aterrado e encontra-se em alguns locais até 2 m mais alto do que a planície circundante.
A indústria Vonpar Refrescos S/A encontra-se sobre uma área relatada pelos
moradores como um banhado e que em períodos de chuva ficava intransitável. Os moradores
116
dessa área residiam em palafitas que chegavam até dois metros de altura. Hoje a área se
encontra aterrada, tanto no espaço onde foi instalada a indústria como nas imediações onde
instalaram-se os moradores que residem nas imediações. Esta condição justifica os relatos da
não ocorrência de inundações no local.
Os aterros hoje não ocorrem somente para a construção de indústrias e estradas, mas
também para a criação de loteamentos em áreas baixas ou anteriormente inundáveis. Como a
cidade se encontra sobre uma planície alveolar, estes aterros aumentam as cotas altimétricas
da planície, o que pode gerar um barramento do fluxo e intensificar a inundação a montante
desses locais.
As áreas inundáveis da cidade ocorrem em locais próximos ao canal e ao antigo curso
do rio Biguaçu, como pode ser observado no Mapa 6.1. A partir de uma determinada altura do
nível do rio, a água volta pelo leito abandonado pela retilinização inundando residências e
casas comerciais.
Outra questão importante apresentada no Mapa 6.1 é que em algumas áreas ocorre a
sobreposição dos fenômenos de inundação e do alagamento. Essas áreas ocorrem ao longo das
ruas Adão Reitz e Gilberto Schmitz, na juão destas com a Avenida João Antônio Besen e
no trecho onde se localiza a Prefeitura Municipal. Isto significa que a sobreposição desses
dois fenômenos perigosos aumenta a magnitude do fenômeno e, conseqüentemente, o
potencial de perdas e danos.
6.2.3 Suscetibilidade à Erosão Marginal
A eroo marginal na área de estudo ocorre devido ao tipo de depósito e a estrutura
das faces da margem do canal, a variação no nível e na velocidade da água, as mudanças
provocadas no uso e cobertura da terra e as modificações no canal.
A planície do rio Biguaçu é formada por depósitos de materiais incoerentes e de textura
fina (areia e argila) intercalados. O mesmo ocorre com o material que compõe as margens do
canal. Em períodos de cheia ocorre uma variação no nível e da velocidade do fluxo do rio, o que
intensifica os processos erosivos de abrasão ou corrasão nas paredes do canal, que é facilitado
pelo tipo de material que o compõe.
Além disso, a retirada da mata ciliar e o uso das margens dos rios para a agricultura e
pecuária auxiliam na desestabilização e no aumento dos sedimentos que chegam ao canal. A
mineração, por sua vez, provoca mudanças na rugosidade do fundo do canal e na distribuição
espacial dos processos erosivos e de deposição, além de remobilizar o material do fundo do
117
leito recolocando-o em suspensão. O escoamento oriundo das vias que estão localizadas junto
aos rios também aumenta a probabilidade de eroo marginal, pois este forma fluxos
concentrados nas margens dos canais erodindo-os.
Outro processo que ocorre na área de estudo é o solapamento. As camadas de areias
são mais fáceis de serem removidas do que as de argila, pois são menos coesas. Quando as
camadas de areia se encontram sob a argila no perfil da margem do rio e são removidas da
base, a camada superior perde o suporte basal e cai. Isto ocorre principalmente em períodos
chuvosos, devido à variação do nível do fluxo e ao aumento da sua energia.
Devido ao movimento helicoidal do fluxo do rio, os processos de erosão marginal
ocorrem na parte côncava, enquanto que a deposição ocorre na parte convexa do canal. Mas
devido as mudança ocorridas no rio Biguaçu (retilinização do canal e mineração de areia) e no
uso da terra, tanto na margem convexa quanto na margem côncava do rio tem ocorrido
processos de eroo.
Um exemplo disso é a Avenida João Frederico Martendal e a Avenida Beira Rio, que
são paralelas ao rio Biguaçu, que está destacada no Mapa 6.1 como ponto A. Na inundação do
dia 31 de janeiro de 2008, esta avenida, localizada na margem direita do rio, teve parte de sua
pista erodida. Este trecho encontrava-se na margem côncava do rio. A Rua Beira Rio, que se
encontra na margem direita do canal, tem um trecho localizado sobre a margem convexa, que
também foi erodido, demonstrando que devido às alterações realizadas no canal e as mudança
das condições hidrológicas da Bacia, o sistema não se encontra em equilibro.
No Mapa 6.1 são apresentados os locais em que ocorreram os processos de erosão
marginal nos eventos de janeiro e novembro de 2008 e março de 2010. Além disso, também
são demarcadas no mapa as margens côncavas que possuem maior suscetibilidade à
ocorrência desse fenômeno.
6.2.4 Suscetibilidade a Deslizamentos
Na cidade de Antônio Carlos, os deslizamentos ocorrem devido ao espesso manto de
alteração, às mudaas na cobertura vegetal e no uso da terra, aos cortes nas encostas e aos
episódios de precipitação excepcionais ou moderados e contínuos.
Os espessos mantos de alteração dos morros e colinas são derivados das características
litológicas dos granitóides que compõe os terrenos da área mais a existência de fraturas e
falhas, como visto no capítulo 5.
118
Os mantos de alteração podem chegar a mais de 60 m de profundidade e, na maioria
das vezes, são siltosos e arenosos, com declividade inferior a 45º nas colinas e com diferentes
graus de inclinação nos morros. As encostas apresentam muitas cicatrizes erosivas.
A mudança da cobertura vegetal e no uso da terra também gera problemas de
instabilidade nas encostas. A retirada da vegetação deixa o solo exposto à ação direta das
águas das chuvas, o que permite uma maior infiltração desta no solo, condição esta que resulta
na modificação do regime hidrológico da encosta.
Os cortes nas encostas são executados para abertura de estradas, constrão de casas,
loteamentos e para a retirada de material para aterro. Estes cortes são construídos sem orientação
cnica e o contemplam estruturas de contenção, fato que resulta na modificação da encosta e
na geometria das forças que atuam no seu equilíbrio, desestabilizando a cobertura superficial.
Esta nova forma da encosta criada pelo homem associada a episódios pluviométricos
intensos ou precipitações moderadas e continuas é muito suscetível a deslizamentos. Como as
encostas da área de estudo possuem espessos mantos de alteração, elas se tornam suscetíveis
aos deslizamentos do tipo rotacional.
A precipitação é um dos principais fatores desencadeadores deste fenômeno. As
precipitações podem ser excepcionais, como a dos eventos de janeiro de 2008 e março de
2010 ou contínuas e moderadas, como a do evento de novembro de 2008.
O excesso de chuvas ocasiona a saturação do solo, a perda da coesão entre as
partículas e do ângulo de atrito interno do material que constitui a encosta desestabilizando-a
(SELBY, 1993) e, conseqüentemente, levando-a a deslizar.
Todos os deslizamentos recentes na área de estudo ocorreram em locais que tiveram
intervenção humana. Assim no Mapa 6.1 o delimitadas todas as encostas que possuem cortes
suscetíveis a deslizamento rotacionais. Tamm são delimitadas as encostas que possuem formas
de anfiteatro e de cicatrizes de deslizamentos como suscetíveis, pois estes formam perfis côncavos
nas mesmas, queo locais preferenciais de convergência das águas dos escoamentos superficiais
e subsuperficiais, que pode resultar na reativação dos processos erosivos.
6.3 ANÁLISE DA VULNERABILIDADE E DOS RISCOS RELACIONADOS À
DINÂMICA DO MEIO FÍSICO NA CIDADE DE ANTÔNIO CARLOS
A vulnerabilidade determina o grau de perda de um dado elemento exposto, grupo ou
comunidade em uma área passível de ser atingida por um fenômeno perigoso. Na área de
estudo, os elementos expostos são a ppria população, as residências, os prédios públicos, as
119
obras de infra-estrutura e a atividade agrícola.
Estes elementos estão expostos a quatro cenários de risco: alagamentos, inundação
eroo marginal e deslizamentos. As características de cada processo e sua localização foram
apresentadas na seção 6.2.
Nesta seção será analisado o risco a cada um desses fenômenos tendo como base a
proposta metodológica de Brasil (2007). Para a espacialização dessas áreas foram gerados
dois mapas de risco divididos de acordo com os fenômenos que ocorrem em cada
compartimento de relevo: mapa de risco a alagamentos, inundações e erosão marginal (Mapa
6.2) e de risco a deslizamento (Mapa 6.3).
6.3.1 Áreas de risco a alagamentos
As áreas de risco à alagamento estão localizadas sobre o antigo curso do rio Biguu, ao
longo da Rua Ao Reitz e em parte da Ruao Paulo, como pode ser observada no Mapa 6.2.
Os alagamentos sobre o antigo leito do rio Biguaçu é um fenômeno recente, pois esta
área passou a ser densamente ocupada e modificada na segunda metade da década de 90. Na
realidade, esta área poderia ser alagada anteriormente, mas como não era ocupada, não
caracterizava uma área de risco, pois o existiam elementos em risco, conseqüentemente,
não havia danos e prejuízos.
A área de risco a alagamento localizada ao lado do terminal rodoviário possui 20
construções, sendo 10 construções com mais de dois pisos, onde apenas duas não abrigam
salas comerciais no térreo.
As ruas João Henrique Pauli e João Antônio Besen, que margeiam esta área, também
possuem risco a alagamentos, sendo que a primeira rua teve por vezes o trânsito
interrompido, para evitar que a passagem de veículos formasse uma onda e invadisse as lojas.
Essa área ficou alagada nos eventos de janeiro de 2008 e março de 2010. No evento de
março de 2010, a chuva foi mais intensa e concentrada que no evento de janeiro de 2010, o
que significa que a magnitude do fenômeno foi maior, provocando mais danos.
No evento de março, além da área descrita acima, a área localizada entre o terminal
rodoviário e a prefeitura Municipal ficou alagada. Neste trecho, algumas lojas e o subsolo da
prefeitura ficaram alagados com mais de um metro de água.
120
(Mapa reduzido a partir da versão impressa desta dissertação)
121
O alagamento das ruas Adão Reitz e Gilbert Schmitz afetou aproximadamente 20
construções e interditou as ruas para o tnsito de carros pequenos. As construções ao longo
dessas ruas são de alvenaria e o possuem um sistema de prevenção, como a construção de
casas sobre palafitas ou pilotis. A única medida tomada pelos moradores foi o aumento do nível
da planície pelo aterro, que auxilia a potencializar o fenômeno, como visto na seção 6.2.1.
O evento de março de 2010 foi maior que o de janeiro de 2008, conseqüentemente o
número de edificações alagadas (residências, lojas e prédios públicos). Isto significa que
dependendo da magnitude do evento o número de áreas alagadas pode aumentar ocasionando
maiores prejuízos à populão e à infra-estrutura da cidade, principalmente se ocorrer
concomitantemente com o fenômeno da inundação.
6.3.2 Áreas de risco a inundações
O risco à inundação foi classificado em três níveis: baixo, médio e alto, como pode ser
observado no Mapa 6.2. Para análise e mapeamento do risco à inundação foi levado em
consideração à magnitude do evento de janeiro de 2008, que se assemelha à magnitude dos
eventos de novembro de 1991 e janeiro de 1997, que inundou áreas próximas ao canal, as
formas terraceadas e os meandros abandonados.
O risco baixo é caracterizado pelas áreas queo foram inundadas no evento de janeiro de
2008, o que não significa que elas o estejam sujeitas a eventos futuros de maior magnitude.
Estas áreas o ocupadas por residências, lojas, indústrias, áreas de agricultura e pastagem. As
residências, as lojas e as indústrias encontram-se sobre aterros, que são utilizados como
medidas mitigadoras para evitar os danos ocasionados por este fenômeno perigoso.
Segundo os relatos dos moradores, muitas das áreas classificadas como risco baixo
corresponde às áreas atingidas pela inundação de 1972. Mas vale ressaltar que naquela época as
obras de retilinização do rio Biguaçu estavam no início e o trado do rio na área de estudo ainda
não tinha sido modificado, ou seja, o rio possa uma dinâmica diferente. Além disso, cada evento
possui uma dinâmica específica, determinada pela intensidade e duração das chuvas e pelo
represamento das águas pela maré.
Muitas dessas áreas hoje encontram-se aterradas, como a área ocupada pela Vonpar
Refrescos S/A e pelas residências próximas, a área do Ginásio de Esporte e a própria rodovia
SC 408, que no município passa a se chamar de Av. João Frederico Martendal.
Levando-se em consideração a magnitude das últimas inundações, as áreas que possuem
os aterros mais espessos (1 a 1,5 m) e que se encontram mais afastados do canal, não apresentam
122
risco. Mas é preciso lembrar que esta medida mitigadora intensifica o fenômeno do alagamento,
pois eleva a cota altimétrica da planície e pode ocasionar a inundação de outras áreas.
Além disso, esses aterros são considerados como áreas de risco nulo somente para os
eventos com magnitude similar ao de janeiro de 2008.
Devido às características da planície e do próprio processo, as áreas marginais dos rios
não são inundadas de maneira uniforme e em um único momento. As áreas que o
primeiramente inundadas são classificadas como de risco alto e as áreas que são inundadas em
um segundo momento foram classificadas como de risco dio.
As áreas de risco alto estão localizadas próximo ao canal, junto às feições de terraço e
aos meandros abandonados. Nestas áreas predomina o cultivo de hortaliças e áreas de
pastagens. Juntamente com estas áreas, as ruas Adão Reitz, Gilberto Schmitz, Jardim
Esperança e áreas vizinhas, são as primeiras a serem inundadas (Mapa 6.2).
No evento de janeiro de 2008 a água chegou a um metro de altura em algumas
residências das ruas Adão Reitz e Gilberto Schmitz e o trânsito ficou interditado para veículos
pequenos. Nesta área, o rio Biguaçu, a partir de um determinado vel de água, volta pelo
antigo leito abandonado e inunda as áreas vizinhas, onde estão localizadas as referidas ruas.
Num segundo momento, as águas do leito do rio extravasam para uma área à montante e a
jusante da primeira, inundando áreas destinadas ao cultivo de hortaliças e de pastagens, como
pode ser observado no mapa 6.2.
Nesse trecho ocorre a sobreposição do fenômeno da inundação e do alagamento,
aumentando a magnitude do evento e conseqüentemente os danos.
A inundação da Rua Jardim Esperança também ocorre devido à proximidade com o rio
Biguaçu e ao retorno da água pelo antigo leito. Nesta rua a inundação atingiu a altura da
janela em algumas residências. A Servidão Paulino Néis, localizada ao lado, teve a parte final
inundada, devido à proximidade com o canal, mas nenhuma residência foi invadida pelas
águas, pois as casas foram construídas sobre espessos aterros, que chegam a 1,5 m de altura
em algumas construções.
A inundação na Rua Vereador Osvaldino Hoffmann e na Servidão Pedro Schetz foram
classificadas como de risco médio (Mapa 6.2). No evento de janeiro de 2008 a água não
chegou a invadir as residências, mas muitos moradores por precaução não permaneceram em
suas casas.
Essas ruas encontram-se sobre a margem direita do rio Biguaçu, em frente à
confluência com o rio Rachadel, como pode ser observado no Mapa 6.2. A margem esquerda
onde deságua o rio Rachadel possui um desnível de 2 m em relação à margem direita, o que
123
cria a falsa impressão nos moradores de que somente aquela margem seria inundada, fato este
constatado na fala de um morador.
Nesse local, o rio Rachadel deságua seu fluxo no rio Biguaçu. Em períodos de cheia
ou inundação, o rio Biguaçu por estar com um grande volume de água acaba represando o rio
Rachadel, que já possui sua planície inundada, retardando o escoamento e aumentando a
magnitude da sua inundação.
Nos trabalhos de campo, foi observado que as residências construídas sobre essas ruas,
após o evento de janeiro de 2008, possuem os aterros mais espessos, como uma medida
mitigadora para evitar inundações de maiores magnitudes.
O morador, que deu a declaração acima, o é natural de Antônio Carlos, e não morava
neste local quando ocorreu outro fenômeno dessa magnitude, o que demonstra que a falta de
conhecimento dos moradores sobre o local em que vivem diminui sua capacidade de enfrentar o
perigo, aumentando assim sua vulnerabilidade e a probabilidade de ocorrer perdas e danos.
Outro problema constatado é o despreparo da esfera pública em relação ao meio que
governa. A construção da Rua Vereador Osvaldino Hoffmann e Servidão Pedro Schetz foram
aprovados pela Prefeitura Municipal, estando a menos de 30 m da margem do rio, conforme
preconiza o Código Florestal Brasileiro (Lei n
o
. 4.771, de 15 de setembro de 1965). Além disso,
as residências dessas ruas, que estão próximas ao canal, possuem risco à erosão marginal,
condição esta verificada no evento de novembro de 2008 que destruiu uma residência.
6.3.3 Áreas de risco a erosão marginal
Como apresentado na seção 6.2.3 as áreas suscetíveis à ocorrência do processo da
eroo marginal são as margens ncavas dos rios (Mapa 6.2), mas devido às mudanças na
dinâmica da Bacia, estes processos podem ocorrer em qualquer tipo ou local das margens.
Esse fenômeno traz risco à agricultura devido à perda de terrenos utilizados para o
cultivo de hortaliças; às residências, pois estas podem ter sua estrutura danificada ou mesmo
destruídas, como no exemplo citado anteriormente; ao sistema viário com a destruição das
ruas, já que a maioria delas margeia o leito dos rios; e, a destruição de cabeceiras de pontes e
bueiros, pois estes são sub-dimensionados e não comportam o volume de água nos períodos
de cheia ou inundação, diminuindo a área de passagem da água e, conseqüentemente,
aumentando a pressão do fluxo.
O evento de janeiro de 2008 destruiu parcialmente a Rua Beira Rio e a Av. João
Frederico Martendal (ver Ponto A no mapa 6.2). No evento de novembro do mesmo ano, a
124
Rua Beira Rio voltou a ser destruída e o aterro para a reconstrução do trecho da Av. João
Frederico Martendal foi danificado. Uma residência foi destruída (Ponto B), outra teve sua
estrutura danificada (Ponto C), com trincas pelas casas, mas os moradores não foram retirados
da moradia e continuam residindo nela, sendo que as rachaduras continuam a aumentar a cada
novo episódio de inundação ou cheia.
Em um quarto local, a margem erodida se aproximou de três residências (Ponto D).
Esta área foi aterrada pelo poder blico para aumentar a distância das casas em relação à
margem do canal, o que não significa que o risco tenha diminuído. Além disso, muitos
bueiros e cabeceiras de pontes foram erodidos deixando moradores isolados.
As margens côncavas dos rios foram classificadas como áreas de risco à erosão marginal,
mas como apresentado, todas as margens possuem risco a esse fenômeno perigoso. Por isso, deve
ser evitada a constrão de residências ou qualquer outro tipo de obra próximo às margens dos
canais, pois estes o formados por depósitos incoerentes que são facilmente erodidos.
6.3.4 Áreas de risco a deslizamentos
Para a análise do risco aos deslizamentos foram mapeadas e analisadas as áreas que
possuem cortes nas encostas, que apresentam formas de anfiteatro e sinais de instabilidade,
como cicatrizes de deslizamentos e degraus de abatimento.
Com base na metodologia adaptada de Brasil (2007) as áreas de risco foram
classificadas em 3 níveis: baixo, médio e alto, como pode ser observado na Mapa 6.3.
As áreas classificadas como de risco baixo são as áreas que possuem a forma natural
de encosta. Devido ao espesso manto de alteração e ao regime pluviométrico, estas áreas
podem ser palco de deslizamentos em períodos de chuvas intensas ou contínuas. Essas áreas
são, normalmente, utilizadas para a pastagem ou possuem alguma cobertura arbórea e não
possuem residências próximas.
125
(Mapa reduzido a partir da versão impressa desta dissertação)
126
As áreas classificadas como de risco médio o todas aquelas que possuem cortes nas
encostas, independente da profundidade e do grau de inclinação do corte, pois todos eles
aumentam a inclinação da encosta e conseqüentemente mudam as forças que atuam na sua
estabilização. Estas áreas margeiam as ruas e estão ocupadas por residências ou por construções
destinadas ao comércio, que normalmente, estão localizadas a menos de 3 m da base do corte.
Os cortes possuem as mais variadas profundidades e inclinação próxima dos 90º.
As áreas classificadas como de risco alto a deslizamento são aquelas que possuem
algum deslizamento ou cicatriz desse processo, ou sinais que evidenciam a movimentação da
encosta, seja em área com a forma natural da encosta ou em áreas com corte.
Como exemplo de risco alto pode-se citar a área ao longo do morro do Zé Maneca
(Ponto A), o trecho da Rua Libório Francisco Goedert (Ponto B) e a encosta atrás do terminal
rodoviário (Ponto C) na Avenida João Antônio Besen, que estão destacadas no Mapa 6.3.
O morro do Maneca (Ponto A) possui um corte com 20 m de profundidade e é
formado por um espesso manto de alteração sem a presença de blocos de rocha imersa no
material alterado. Sua inclinação é de aproximadamente 90º e não possui a presença de
surgências de água no talude. A vegetação está presente apenas do topo da encosta, deixando
o talude exposto à ação dos processos erosivos superficiais, que podem ser observados pelos
sedimentos depositados na sua base.
Esse corte é resultado da construção da estrada que dá acesso às comunidades do
interior do município, na década de 1920. Depois da construção, parte do material da encosta
comou a ser explorado para a extração de saibro e mais tarde, a parte plana do terreno,
passou a ser ocupada por residências.
Atualmente, 3 residências próximas ao talude, sendo que uma está localizada a
menos de 2 m de distância da base deste. As outras residências se encontram mais afastadas,
cerca de 6 m. Todas as residências são de alvenaria.
No evento de janeiro de 2008, houve um deslizamento neste corte. O material
movimentado ficou a menos de um metro de umas das residências. No evento de novembro
de 2008 ocorreu um novo deslizamento ao lado do deslizamento de janeiro, mais afastado das
residências e em março de 2010, houve um novo deslizamento sobre a rua, que a deixou
parcialmente interditada.
O corte existente na Rua Libório Francisco Goedert (Ponto B) é resultado de uma
antiga exploração de saibro, utilizado pela prefeitura e pelos moradores para aterros e obras de
terraplanagem, principalmente sobre o antigo leito do rio Biguaçu, para a ampliação da área
127
urbana. Depois que a exploração do material foi abandonada, a área plana na base do corte foi
loteada e começou a ser ocupada por residências.
O corte possui em torno de 40 m de profundidade e é formado pelo manto de alteração e
blocos de rocha imersos nele. Sua inclinação se aproxima dos 80º, com dois degraus para
diminuir a declividade. Há diversos pontos de surgência de água na base do corte, que
auxiliam nos processos de reativação da cicatriz. As paredes do corte não possuem cobertura
vegetal, estando esta presente apenas no topo da encosta.
Hoje, há nessa área 10 residências que encontram-se a menos de 1 m da base do corte.
Dessas 10 resincias, apenas uma é de construção mista (alvenaria e madeira).
No evento de novembro de 2008, houve a ocorrência de três deslizamentos neste
talude de corte (Figura 6.47). Em um trecho ocorreu o deslizamento de solo e rocha, que
atingiu uma residência causando danos na estrutura. O outro deslizamento destruiu o muro
nos fundos da casa e a parede próxima, causando rachaduras na edificação. Em um terceiro
ponto, ocorreu um pequeno deslizamento cujo material invadiu o jardim até o limite da casa.
Figura 6.47 Vista do corte na encosta da Rua Libório Francisco Goedert. A seta em vermelho indica
um deslizamento ocorrido no evento de janeiro de 2008. As setas em preto, os deslizamentos ocorridos
em novembro de 2008. Observar próximo às duas setas da parte esquerda da figura, os blocos de rocha
imersos no manto de alteração. Foto: Joel Pellerin, jan. 2010.
Esse talude já se encontrava degradado antes dos eventos de 2008, com deslizamentos
e outros processos erosivos como foi observado por Wilvert (2006). A cada novo episódio
pluviométrico, as feições deste corte são retrabalhadas. No evento de março de 2010, este
corte voltou a ser palco de deslizamentos, que deixou o pátio de algumas casas e a rua na
frente delas coberta por material lamoso.
128
Outro exemplo de uma área com risco alto a deslizamento é a encosta atrás do terminal
rodoviário (Ponto C). Esta encosta possui cicatrizes de deslizamentos revegetadas, tanto no
seu lado oeste quanto no lado norte, que podem ser observadas sobre as fotografias aéreas e
sobre o mapa de geomorfologia (Mapa 5.2, página 68).
Além dessas cicatrizes, essa encosta possui o lado leste ocupado por residências que
modificaram a sua forma. A base da encosta também foi cortada para aterrar o antigo leito do
rio Biguaçu e para dar lugar a Avenida João Antônio Besen. No evento de março de 2010, um
trecho desta encosta deslizou sobre a referida avenida, deixando o trânsito em meia pista.
Grande parte dos cortes realizados nas encostas da área de estudo foram executados
pela Prefeitura Municipal ou esta permitiu a ocupação das áreas anteriormente utilizadas para
a extração de saibro, o que demonstra, mais uma vez, a vulnerabilidade do poder público em
gerir o meio, sendo responsável pela criação de novas áreas de risco.
Nas áreas em que houve deslizamentos ou sinais de instabilidade, como degraus de
abatimentos, ocasionados pelos eventos que ocorreram durante o desenvolvimento desta
pesquisa, apenas em um local foi realizado obras de retaludameto da encosta, com
estrutura de conteão adequada. Nos outros locais, a prefeitura realizou o afastamento da
encosta, sem estruturas de conteão, aumentando a extensão do corte e o seu ângulo de
inclinação, permanecendo o risco a novos deslizamentos e deixando a falsa impressão de
seguraa à população.
129
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Antônio Carlos encontra-se no médio vale do rio Biguaçu em uma
planície alveolar, formada por formas terraceadas e meandros abandonados, e por encostas
com espessos mantos de alteração, que apresentam cicatrizes de processos erosivos.
Os fenômenos perigosos ocorrem devido às características naturais do meio físico, que
o intensificadas ou mesmo criadas pelas modificações causadas pela população ao meio, pois
ela não possui conhecimento sobre a dinâmica local, o que dificulta o adequado planejamento
da ocupação.
A planície é o compartimento do relevo que se encontra mais urbanizada. As
modificações causadas neste compartimento contribuem para a intensificação dos
alagamentos, da inundação e dos processos de erosão marginal. A retilinização dos rios, a
execução de aterros, a impermeabilização do solo, a ocupação das margens dos rios são
algumas dessas modificações.
Os cortes são as modificações mais freqüentes que favorecem a desestabilização das
encostas. Eles o executados para a construção de estradas, de residências, para obtenção de
material de empréstimo para os aterros e para o plantio de grama. Esses cortes possuem declividades
altas e espessos mantos de alteração, que associados a episódios pluviométricos intensos ou
connuos, tornam estes lugares suscetíveis aos deslizamentos.
Durante o desenvolvimento da pesquisa, a área de estudo passou por três eventos
adversos: janeiro e novembro de 2008 e março de 2010. Cada um desses eventos evidenciou um
dos fenômenos estudados e mostrou como a população e o poder público são vulneráveis a eles.
Desde novembro de 1998, a área de estudo não era atingida por uma inundação. O
evento de janeiro de 2000 foi localizado e não é lembrado pelos moradores. Durantes estes 10
anos, loteamentos foram construídos sobre as margens dos rios e nas planícies. Muitas
pessoas construíram suas casas ou desenvolveram suas atividades econômicas próximas a
estes ou em áreas de antigos leitos, por pensarem que fenômenos excepcionais, como a
inundação de 1998, o aconteceriam mais. Outros moradores elevaram o seu terreno por
meio de aterro para evitar a inundação.
A inundação de janeiro de 2008 é considerada pelos moradores como a maior em
danos, mas não a maior em volume de água ou em área inundada. A inundação de 1972, que
durou do dia 23 ao dia 25 de dezembro é considerada a maior em relação à área inundada.
O evento de janeiro é o maior em danos, porque hoje mais elementos expostos ao
perigo do que em 1972, quando a população de cidade era de 449 habitantes, e hoje a
130
população é de 2.072 habitantes, conseqüentemente, aumentou o número de residências, casas
de comércio e infra-estrutura construídas.
O evento de novembro de 2008 acarretou um grande prejuízo à infra-estrutura e à
agricultura. A inundação o foi tão pronunciada como a de janeiro, mas o fator agravante foi o
peodo de chuvas freqüentes registradas desde setembro, com valores acima das médias mensais,
que ocasionou a saturação do solo e resultou nos deslizamentos.
Os deslizamentos ocorreram de forma pontual nos cortes das encostas, interditando ruas e
danificando a estrutura de algumas residências. O fenômeno da erosão marginal dos canais
também foi mais intenso que no evento de janeiro, devido à oscilação no nível da água dos rios
durante os cinco dias (21 a 25 de novembro) do evento.
As chuvas que ocasionaram o evento de março de 2010 ocorreram de forma mais
intensa sobre o médio e o baixo vale do rio Biguu, não atingido da mesma forma o alto
vale. Na área de estudo, ocorreram alagamentos, que atingiram principalmente o Centro da
cidade, com mais de um metro de altura de água e alguns deslizamentos isolados.
Esses eventos demonstraram como a população e os órgãos públicos são vulneráveis à
dinâmica do meio físico, que eles utilizam sem nenhum conhecimento técnico e, que
resultaram na intensificação desses processos e no aumento dos prejuízos para a população e
para a infra-estrutura pública.
O risco a alagamento é recente na área de estudo. Estes ocorrem num trecho
correspondente ao antigo leito aterrado do rio Biguaçu. Hoje essa área encontra-se ocupada
por residências, pelo comércio e por serviços públicos, que além de aterrar os terrenos,
adensaram as construções sobre o local, impermeabilizando o solo e favorecendo o
escoamento superficial. No evento de janeiro de 2008 e março de 2010, essa área foi atingida
ocasionando muitos danos, inclusive ao patrimônio público.
As outras áreas alagadas situam-se ao longo das Ruas Adão Reitz, Gilberto Schmitz e
em parte da Rua São Paulo. Nas Ruas Adão Reitz e Gilberto Schmitz e, no terreno onde está
localizada a Prefeitura Municipal, o fenômeno do alagamento pode ocorrer sobreposto ao
fenômeno da inundação, o que potencializa a sua ocorrência.
As áreas com risco à inundação foram hierarquizadas em três níveis: alto, médio e
baixo, de acordo com as magnitudes dos eventos de janeiro de 2008, novembro de 1991 e
janeiro de 1997. As áreas com risco baixo, são aquelas que não foram atingidas por esses
eventos, o que não significa que não estejam sujeitas a eventos futuros de maior magnitude.
As áreas de risco alto são as áreas próximas aos canais, que o inundadas num primeiro
momento, pois a inundação não ocorre de maneira uniforme ao longo da planície. Todas as
131
formas terraceadas e os meandros abandonados possuem risco alto a este fenômeno. Além
disso, a partir de uma determinada altura do fluxo do rio, a água volta pelo antigo leito do rio
Biguaçu inundando loteamentos, residências e a prefeitura municipal. As áreas que foram
inundadas em um segundo momento foram classificadas como de risco médio, como a Rua
Vereador Osvaldino Hoffmann e a Servidão Pedro Schetz.
As modificações nos rios da área de estudo ocorreram como medidas mitigadoras para
diminuir os danos gerados pelas inundações. Por exemplo, o rio Biguaçu cortava o centro da
cidade de Antônio Carlos e segundo os relatos dos moradores toda esta área ficava inundada.
De acordo com os relatos, esta área poderia ser considerada de risco alto, pois as residências
ficariam com água na altura das janelas. Hoje, com o traçado modificado, esta área é
classificada como de risco baixo.
O traçado do rio foi aterrado e a cidade passou a se desenvolver sobre ele. Mas devido
à impermeabilização e ao aumento do nível da planície pelos aterros, estas áreas passaram a
apresentar risco aos alagamentos.
Os aterros são utilizados como medida mitigadora para aumentar as cotas altimétricas
do terreno a fim de evitar que as inundações atinjam as construções. Mas, como a área de
estudo encontra-se sobre uma planície alveolar, estes aterros estão aumentando a cota
altimétrica da planície, o que pode gerar um barramento do fluxo e intensificar a inundação a
montante desses locais.
Outro risco na área está relacionado às perdas e danos advindos das erosões marginais
nos canais. Estes ocorrem com as inundações e também com as cheias de canal, devido ao
aumento da velocidade e da turbulência do fluxo e à variação do nível do rio. Estes processos
aumentam a pressão do fluxo sobre as paredes do canal, erodindo-as. Este fenômeno ocorre
principalmente nas margens côncavas dos rios. Devido às mudanças no uso da terra e nos
canais da bacia, este fenômeno pode ocorrer em qualquer parte das margens, erodindo terras
agricultáveis, áreas de pastagens, estradas, cabeceiras de pontes e danificando, ou mesmo
destruindo, residências, que o construídas junto à margem do canal.
Este fenômeno causou muitos danos à agricultura, com perdas de terras agriculveis,
no evento de novembro de 2008, além de danificar a estrutura de uma residência e destruir
outra na área de estudo.
As inundações são fenômenos freqüentes na área de estudo, que já passou por grandes
inundações, como em 1916, 1972, 1991, 1997 e 2008, por exemplo. Mas, todo o crescimento
da cidade continuou e continua sobre a planície de inundação, com a execução de loteamentos
aprovados pela prefeitura junto à margem dos rios. Durante o período de 1980 a 2010, foram
132
registrados 23 eventos de inundação que atingiram a área da cidade de Antônio Carlos.
Concomitantemente com ela, ocorrem os alagamentos, a erosão marginal fluvial e os
deslizamentos, pois todos são deflagrados por episódios de chuvas intensas e/ou contínuas.
Este último fenômeno tem se tornado mais freqüente, devido ao aumento das
intervenções humanas nas encostas. Anteriormente, esse fenômeno correspondia às quedas de
barreiras que danificavam ou interditavam as estradas ou, ao episódio de março de 1994, onde
um deslizamento vitimou três pessoas de uma mesma família.
Os locais com alto risco a deslizamento se encontram nas encostas que tiveram sua forma
modificada e que apresentam sinais de instabilidade e cicatrizes de processos erosivos, como
formas de anfiteatro e antigos deslizamentos. As áreas com risco dio o as encostas que
possuem cortes, independente da inclinão e extensão, pois a forma da encosta foi modificada e
conseqüentemente, foram mudadas as foas que atuam no seu equilíbrio.
As áreas com risco baixo são aquelas que conservam a forma natural da encostas, mas
estas podem desenvolver instabilidades devido às suas características naturais (estrutura
geológica, morfologia da encosta, regime de chuvas) ou podem vir a desenvolver instabilidades
devido à intervenção do homem no ambiente, principalmente pela realização de cortes.
Os mapas gerados – de suscetibilidades aos fenômenos perigosos, áreas de risco a
alagamentos, inundões, erosão marginal e deslizamentos - apresentam as características gerais
do uso e ocupão de terra e a magnitude dos eventos atuais. O que significa que as áreas
delimitadas como de risco baixo à inundação e deslizamentos, podem mudar de acordo com as
modificações no uso e ocupação da terra e na mudança da magnitude dos fenômenos. O mesmo
pode ocorrer para as áreas de risco a alagamento e erosão marginal.
Com relação à proposta metodológica aplicada nesta pesquisa, ela é utilizada pelo IPT
no mapeamento de áreas de risco no estado de São Paulo e adotada pelo Ministério das
cidades nos cursos de Gestores em Área de Risco que ocorrem pelo país. Esta metodologia
permite o cadastro do risco e fornece informações específicas sobre o número de residências
localizadas em cada um dos setores definidos pelos veis de risco, quais as intervenções
necessárias em cada uma das áreas e o detalhamento das situações caso a caso.
Devido ao tempo de duração da pesquisa, não foi realizado o cadastro das áreas, mas
apenas o zoneamento delas, que compreende a identificação dos fenômenos perigosos, a
avaliação do risco e a hierarquização das áreas, estabelecendo quantas classes fossem
necessárias, o que permite caracterizar cada um dos setores.
133
Essa metodologia deve ser utilizada por pessoas treinadas que conheçam a dinâmica
do meio físico do local e o histórico dos eventos adversos ocorridos na área para poder
determinar os graus de risco, de acordo com as magnitudes dos eventos.
Diante do exposto nesta dissertação é necessária a adoção de algumas medidas com o
objetivo de melhorar as condições ambientais e evitar ou diminuir as prováveis perdas e danos
resultantes desses fenômenos, por isso pode-se considerar as seguintes recomendações:
Fiscalização do uso da terra por parte dos órgãos públicos com objetivo de ordenar
o crescimento urbano sobre os locais suscetíveis aos fenômenos perigosos estudados.
Criação de um banco de dados com informações e registro sobre os eventos
adversos passados, os locais de ocorrência, o número de pessoas afetadas, com atualizações
freqüentes dos eventos que venham atingir a área de estudo, o que facilitará o acesso e o
entendimento por parte dos órgãos públicos.
Redução da vulnerabilidade através de melhorias urbanas (obras de contenção de
encostas, sistema de coleta das águas do escoamento superficial e da rede de esgotos) e
conscientização da população por meio de programas de educação e campanhas sobre a
importância das práticas corretas do uso e ocupação da terra.
Elaboração de um plano emergencial pela defesa civil municipal para atender as
pessoas na eventualidade da ocorrência de um possível fenômeno adverso.
Elaboração de um mapeamento cadastral identificando problemas como cortes,
lançamento de águas servidas, depósitos de lixo que podem potencializar a ocorrência dos
fenômenos perigosos e um cadastro dos fenômenos que podem ocorrer em cada uma das
residências da área de estudo.
Espera-se que os resultados obtidos por esta pesquisa possam auxiliar na elaboração
do plano diretor municipal e estabelecer estratégias que permitam aos órgãos públicos
gerenciar os riscos derivados dos fenômenos aqui estudados.
134
REFERÊNCIAS
ALACANTARA-AYALA, Irsaema. Geomorphology, natural hazard, vulnerability and
prevention of disasters in developing countries. Geomorphology, n.
47, p. 107-124, 2002.
A Notícia, Florianópolis, 1994.
A Notícia, Florianópolis, 27-28 dez. 1995.
A Notícia, Florianópolis, 12 dez. 1998.
ARAÚJO, Alex P.; ROCHA, P. C. Magnitudes e identificação de processos de erosão de
margens no córrego do cedro em Presidente Prudente-SP. In: SIMPOSIO NACIONAL DE
GEOMORFOLOGIA, 7 / ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE GEOMORFOLOGIA, 2,
2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte, 2008 (CD-ROM).
AUGUSTO FILHO, Oswaldo; VIRGILI, Jo Carlos. Estabilidade de Taludes. In:
OLIVEIRA, A. M. dos S.; BRITO, S. N. A. de. (org) Geologia de engenharia. São Paulo:
Associação brasileira de geologia e engenharia, 1998, p. 243-269.
BIGARELLA, J.J.; PASSOS, E; HERRMANN, M.L. de P.; SANTOS, G. F, dos;
MENDONÇA, M.; SALAMUNI, E.; SUGUIO, K. Estrutura e origem das paisagens
tropicais e subtropicais. v. 3. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. p. 877-1436.
BINI, Graziela M. P. Susceptibilidade a eventos perigosos do meio físico da comunidade
da bacia do rio Cachoeira, Caieira do Saco dos Limões, Florianópolis SC. 2007. 54 f.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia), Universidade do Estado de
Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
BRASIL. Ministério das Cidades / Instituto de Pesquisas Tecnológicas IPT. Mapeamento
de Riscos em Encostas e Margem de Rios. Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de
Pesquisas Tecnológicas IPT, 2007. 176 p.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sistema de Recuperação
Automática (SIDRA). Censo Demográfico. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em:
15 agosto 2008.
BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População recenseada, por
situação do domicilio e sexo, segundo os municípios/ Santa Catarina, 2007. Disponível em:
135
<www.ibge.gov.br> . Acesso em: 05 janeiro 2009.
BRÜSEKE, F. J. A técnica e os riscos da modernidade. Florianópolis: EdUFSC, 2001. 216 p.
BURTON, I; KATES, R.W. The perception of natural hazards in resource management. In:
ENGLISH, P. W.; MAYFIELD, R. C. (Ed.). Man, Space and Environment. New York:
Oxford University Press, 1972. p. 282-304.
CAMPOS, Alexandre V. Variabilidade espaço-temporal dos parâmetros físico-quimicos
da zona estuarina do rio Biguaçu. 2003. 62 f. Monografia (Trabalhos de Conclusão de
Curso em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
CARDONA, Omar. D. The need rethinking the concepts of vulnerability and risk from a
holistic perspective. A necessary review and criticism for effective risk management. In.
BANKOFF, G; FRERKS, G.; HILHORST, D (Ed). Mapping vulnerability: disasters,
development and people. Earthscan Publishers, in press, London, 2003.
CARDOZO, Francielle da S. Análise das áreas suscetíveis a inundações e escorregamentos
na bacia do rio Forquilhas, São Jo / SC. 2009. 226 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
CASTRO, Antônio L. C. de. Manual de desastres: desastres naturais. Volume I. Ministério
da Integração Nacional/ Secretaria Nacional de Defesa Civil. Brasília, 2003. p. 174.
_________ Glossário de defesa civil: estudos de riscos e medicina dos desastres. Ministério
da Integração Nacional/ Secretaria Nacional de Defesa Civil. Brasília, 2008. p. 173.
CASTRO, C. M. de; PEIXOTO, M. N. de O.; RIOS, G. A. P. do. Riscos Ambientais e
Geografia: Conceituações, Abordagens e Escalas. Anuário do Instituto de Geociências, Rio
de janeiro. v. 2, n. 28, p. 11-30. 2005.
CASTRO, Susana D. A. de. Riesgos y peligros: una visión desde la geografia. Scripta Nova,
Barcelona v. 4, n. 60, mar. 2000. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn-60.htm>.
Acesso em: 02 agosto 2008.
CERRI, L. E. da S.; AMARAL, C. P. do. Riscos geológicos. In: OLIVEIRA, A. M. dos S.;
BRITO, S. N. A. de. (org) Geologia de engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de
Geologia e Engenharia, 1998. p. 300 - 310.
136
CHARDON, Anne-Catherine. A geographic approach of the global vulnerability in urban
area: case of Manizales, Colombian Andes. Geojournal, n.49, p. 197–212, 1999.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. 149 p.
CHRISTOFOLETTI, A.Geomorfologia fluvial: o canal fluvial. São Paulo: Edgard Blücher.
v. 1, 1981. 313 p.
COLLISCHONN, Erika. Inundações em Venâncio Aires/RS: interações entre as dinâmicas
natural e social na formação de riscos socioambientais urbanos. 2009. 327 f. Tese (Doutorado
em Geografia), Universidade Federal da Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
CRISTO, Sandro S. V. de. Análise de susceptibilidade a riscos naturais relacionados às
enchentes e deslizamentos do setor leste da bacia hidrográfica do rio Itacorubi,
Florianópolis – SC. 2002. 195 f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
CROSS, John A. Megacities and small towns: different perspectives on hazard vulnerability.
Environmental Hazard, n. 3, p. 63-80, 2001.
CUNHA, Marcio A. (Org). Ocupação de encostas. o Paulo: Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), 1991. 230 p.
CUNHA, Sandra B. da e GUERRA, Antonio, J. T. Degradação Ambiental. In: GUERRA,
Antonio J. T.; CUNHA, Sandra B. da (Org). Geomorfologia e Meio Ambiente. 6 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 337-379.
CUNHA, Sandra B. da. Geomorfologia fluvial. In: GUERRA, Antonio J. T & CUNHA,
Sandra B. da (Org). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 211-247.
CUTTER, Susan L; MITCHELL, Jerry T; SCOTT, Michael S. Revealing the vulnerability of
people and places: a case study of Georgetown County, South Carolina. Annals of The
Association of American Geographers, v. 4, n. 90, p. 713-737, 2000.
CUTTER, Susan L.; BORUFF, Bryan J.; SHIRLEY, W. Lynn. Social vulnerability to
environmental hazards. Social Sciencie Quartely, v. 84, n. 2, p. 242-261, Jun. 2003.
Diário Catarinense, 23 fev. 1994. p. 22-24.
137
DIAS, Fernando P. Análise da susceptibilidade a deslizamentos no bairro Saco Grande,
Florianópolis - SC. 2000. 103 f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2000.
DIAS, Fernando P.; HERRMANN, Maria L. de P. Ssusceptibilidade a deslizamentos: estudo
de caso no bairro Saco Grande, Florianópolis –SC. Caminhos de Geografia, Uberlândia,
v.6, n.3, p. 57-73, jun. 2002.
ERICKSEN, Neil. ‘Natural’ Hazards and Disasters: Basic Concepts. 5 ed. The International
Global Change Institute/ The University of Waikato, 2004. 21 p.
ESTEVES, Marcelo. B. Aplicação de métodos geofísicos ao estudo das coberturas
superficiais: caso de Sorocaba do Sul Biguaçu/SC. 2001. 102 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia), Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
FERNANDEZ, Oscar V. Q; FULFARO, Vicente J. Magnitudes e processos da erosão
marginal no rio Paraná, trecho de Porto Rico, PR. Geografia, Rio Claro, v. 18, n. 1, p. 97-
114, abril. 1993.
FERNANDES, Nelson F. & AMARAL, Cláudio P. Movimentos de Massa: uma abordagem
geológico-geomorfológica. In: GUERRA, Antonio J. T.; CUNHA, Sandra B. da (Org).
Geomorfologia e meio Ambiente. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 123-194.
FERNANDES, N. F; GUIMARÃES, R. F.; GOMES, R. A. T.; VIEIRA, B. C.;
MONTGOMERY, D. R.; GREENBER, H. Condicionantes geomorfológicos dos deslizamentos
nas encostas: avaliação de metodologias e aplicação de modelo de previsão de áreas
susceptíveis. REVISTA BRASILEIRA DE GEOMORFOLOGIA, vol. 2, n. 1, p. 51-71, 2001.
FORTES, Edson. A planície Costeira da região de Biguaçu SC: abordagem dos aspectos
ambientais da bacia hidrográfica do rio Biguaçu. 1996. 195 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia), Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.
FUJIMOTO, Nina S. V. M. Implicações ambientais na área metropolitana de Porto Alegre -
RS: um estudo geográfico com ênfase na geomorfologia urbana. Geousp - Espaço e Tempo,
São Paulo, n.12, p. 141-177, 2002.
RCÍA-TORNEL, Francisco. C. Algunas cuestiones sobre Geografia de los Riesgos. Scripta
Nova, Barcelona, v. 01, n. 10, nov. 1997. Disponível em: < http://www.ub.es/geocrit/sn-10.htm>.
Acesso em: 02 agosto 2008.
138
GUERRA, J. T.; BOTELHO, R. G. M. Erosão dos solos. In: GUERRA, Antônio. J. T.;
CUNHA, Sandra B. da (Org). Geomorfologia do Brasil, 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001. p.181-227.
GUIDICINI, G; NIEBLE, C. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. 2 ed. São
Paulo: Editora Edgard Blucher, 1984. 216 p.
HERRMANN, Maria L. P.; MENDONÇA, Magaly; CAMPOS, Nazareno J. São José:
Avaliação das Enchentes e Deslizamentos Ocorridos em Novembro de 1991 e Fevereiro de
1994. Geosul, Florianópolis, n° 16, p. 46-77, 2º sem. 1994.
___________ Problemas geoambientais na faixa central do litoral catarinense. 1999. 307
f. Tese (Doutorado em Geografia Física), Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.
___________; PELLERIN, Joel R.G.M., SAITO, Silvia M. Análise da ocorrência de
escorregamentos no estado de Santa Catarina com base nos formulários de avaliação de danos
da Defesa Civil. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1, 2004,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, p.159-173, 2004. (CD-ROM).
___________ (Org.). Atlas de desastres naturais do estado de Santa Catarina.
Florianópolis. IOESC(CD-RAM) 146p. 2007.
___________; KOBIYAMA, Masato; MARCELINO, Emerson V. Inundação gradual. In:
HERRMANN, Maria L. de P. (Org.). Atlas de desastres naturais do estado de Santa
Catarina. Florianópolis. IOESC(CD-RAM), 2007. p. 89-92.
HÉTU, Bernard, Uma Geomorfologia socialmente útil: os riscos naturais em evidência.
MercatorRevista de Geografia da UFC, ano 2, n.
03, p. 83-97, 2003.
KOBIYAMA, M.; MENDONÇA, M.; MORENO, D. A.; MARCELINO, I. P. V. DE O.,
MARCELINO; E. V.; GONÇALVES, E. F.; BRAZETTI, L. L. P.; GOERL, R. F.;
MOLLERI, G. S. F., RUDORFF, F. DE M. Prevenção de desastres naturais: conceitos
básicos. Curitiba: Ed. Organic Trading, 2006. 109 p.
KREMER, Rogério. Datas históricas de Antônio Carlos: 1830 1992. Florianópolis:
Papalivros, 1993. 104 p.
LEPSCH, Igo F. Formação e conservão dos solos. o Paulo: Oficina de Textos, 2002. 178 p.
139
LIEBER, Renato R.; ROMANO-LIEBER, Nicolina S. Risco e precaução no desastre
tecnológico. Cadernos Saúde Coletiva, v. 1, n. 13, p. 67-84, 2005.
LIMA, Adalto G. de. Controle geológico e hidráulico na morfologia do perfil longitudinal
em rio sobre rochas vulcânicas básicas da formação Serra Geral no estado do Paraná.
2009. 219 f. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2009.
LIMA, Camila de S.; MELO, Rhaíssa F. T. de; CORRÊA, Antonio C. de B. Análise de áreas
de risco a alagamentos no setor conurbado dos municípios do Recife, Olinda e Jaboatão dos
Guararapes ao longo do ano de 2005. In. SIMPOSIO BRASILEIRO DE
GEOMORFOLOGIA, 7 / ENCONTRO LATINO AMERICANO DE GEOMORFOLOGIA, 2,
2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte, 2008 (CD-ROM).
LIMA, Marilene de; MONTEIRO, Maurici. Sistemas atmosricos responsáveis pelas chuvas em
Santa Catarina entre os dias 21 e 23 de novembro de 2008. Disponível em: < ciram.epagri.rct-
sc.br/portal/Controlador?command=ExibirNoticia&module=website&idNotic=439&tipo_notic=
meteorologia&ixFoto=0&pag=0> Acessado em: 06 de dezembro de 2008. Acesso em: 15 mar.
2009.
LUIZ, Edna. L. Estudo de movimento de massa na bacia do rio Inferninho e sua influencia
na evolução das vertentes, Sorocaba de Dentro Biguaçu/SC. 1996, 125 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.
____________ Influência da Dinâmica Hidrológica e das Características das Formações
Superficiais nos Mecanismos de Ruptura das Encostas com Rochas granitóides de Áreas
Subtropicais - São Pedro de Alcântara/SC. 2003, 239 f. Tese (Doutorado em Geografia),
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
____________ Dinâmica dos sistemas físico-naturais e sua importância para a definição de
áreas de risco. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1, 2004,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 368-378. (CD-ROM).
MACEDO, E.. S. de; OGURA, A. T.; CANIL, K.; ALMEIDA FILHO, G. S.; GRAMANI, M.
F.; SILVA, F. C.; CORSI, A. C.; MIRANDOLA, F. A. Modelos de fichas descritivas para
áreas de risco a escorregamento, inundação e erosão. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
DESASTRES NATURAIS, 1, 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC,
2004. p. 892-907. (CD-ROM).
MARANDOLA JR, E; HOGAN, D.J. Natural hazards: o estudo geográfico dos riscos e
perigos. Ambiente e Sociedade, v. 8, n.2, jul/dez. 2004. Disponível em:
140
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=51414-753x2004000200006>. Acesso
em: 27 setembro 2008.
MARCELINO, Emerson V. Desastres naturais e geotecnologias: conceitos básicos. Cadernos
Didáticos, n. 1, p.1-38, fev. 2008.
MITCHELL, James K. Megacities and natural desasters: a comparative analyse. Geojournal,
n. 49, p. 137-142, 1999.
MONTEIRO, Carlos A. F. Clima e excepcionalismo: conjecturas sobre o desempenho da
atmosfera como fenômeno geográfico. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1991. 241 p.
MONTEIRO, Maurici A. & FURTADO, Sandra M. A. O clima do trecho Florianópolis -
Porto Alegre: uma abordagem dinâmica. Geosul, Florianópolis, v. 10, n. 19/20, p. 117-183,
1º/2º sem. 1995.
___________ Caracterização climática do estado de Santa Catarina: uma abordagem dos
principais sistemas atmosféricos que atuam durante o ano. Geosul, Florianópolis, v.16, n. 31,
p. 69-78, jan./jun. 2001.
___________; MENDONÇA, Magaly. Dinâmica atmosférica no estado de Santa Catarina. In:
HERRMANN, Maria L. de P. (org.). Atlas de desastres naturais do estado de Santa
Catarina. Florianópolis. IOESC(CD-RAM), 2007. p. 05-10.
NÉIS, Agnes. Análise Comparativa (1956 1995): uso do solo sub-bacia do rio Rachadel,
Annio Carlos, SC. 1997. 57 f (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia),
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.
O Estado, Florianópolis, 10 fev. 1993.
OLIVEIRA, Edson L. de A.; ROBAINA, Luiz E. de S.; RECKZIEGEL, Bernadete W.
Metodologia utilizada para o mapeamento de áreas de risco geomorfológico: bacia
hidrográfica do Arroio Cadena, Santa Maria RS. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
DESASTRES NATURAIS, 1, 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC,
2004. p. 248-261.(CD-ROM)
PALÁCIOS, lio Dias; CHUQUISENGO, Orlando; FERRADAS, Pedro. Gestión de riesgo
em los gobiernos locales. Lima: Soluciones Prácticas – ITDG, 2005. 107 p.
141
PALMIERI, Francesco; LARACH, Jorge. O. I. Pedologia e Geomorfologia. In: GUERRA,
Annio J. T.; CUNHA, Sandra B. da (Org). Geomorfologia e Meio Ambiente. 3 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 59-85.
PELLERIN, J.R.G.M; DUARTE, G. M.; SCHEIBE, L. F.; MENDONÇA, M.; BUSS, M. D.;
MONTEIRO, M. A. Timbé do Sul Jacinto Machado: avaliação preliminar da extensão da
catástrofe de 23 – 24/12/95. Geosul, Florianópolis, v. 12, n. 23, p. 71-83, 1997a.
____________; VIEIRA, A. F. G.; LIMA, M. S.; ESTEVES, M. B. Análise tridimensional da
cobertura pedológica de uma pequena depressão fechada. In: ENCUENTRO DE
GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 6, 1997, Buenos Aires (Argentina). Anais...
Sessione Temas Libres: Buenos Aires, 1997b (CD-ROM).
PFLUCK, Lia D. Riscos ambientais: enxurradas e desabamentos na cidade de Marechal
Cândido Rondon-PR, 1980 a 2007. 2009. 272 f. Tese (Doutorado em Geografia),
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
REITZ, Raulino. Alto Biguaçu: narrativa cultural tetrarracial. Florianópolis: Lunardelli;
Editora da UFSC, 1988. 581 p.
RECKZIEGEL, Bernadete W.; ROBAINA, Luiz E. de S.; OLIVEIRA, Edson L. de A.
Mapeamento de áreas de risco geomorfogico nas bacias hidrográficas dos Arroios Cancela e
Sanga do Hospital, Santa Maria RS. Geografia, Londrina, v. 14, n. 1, p. 05-18, jan./jun.
2005. Disponível em: < http://www.geo.uel.br/revista >. Acesso em: 18 outubro 2008.
ROCHA, Paulo César; SOUZA FILHO, E. E. Erosão marginal em canais associados ao Rio
Paraná na região de Porto Rico-PR. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, v. 44, p
97-116, 1996.
ROSA, Caroline H. As mudanças com a instalação dos parques aquáticos no município
de Antônio Carlos – SC. 2008. 63 f (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia),
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
ROSA, R. de O. Estudos Ambientais da Grande Florianópolis: Geomorfologia.
Florianópolis. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 1995. 16 p.
SAITO, Silvia M. Estudo analítico da suscetibilidade a escorregamentos e quedas de
blocos no Maciço Central de Florianópolis. Florianópolis, 2004. 130f. Dissertação
(Mestrado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
142
SANTOS, Gilberto F. dos; PINHEIRO, Adilson. Transformações geomorfológicas e fluviais
decorrentes da canalização do Rio Itajaí-Açu na divisa dos municípios de Blumenau e Gaspar
(SC). Revista Brasileira de Geomorfologia, ano 3, n. 1, p. 1-9, 2002.
SANTA CATARINA. Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral (GAPLAN). Atlas de
Santa Catarina. Rio de Janeiro: Aerofoto Cruzeiro, 1986. 173 p.
SANTA CATARINA. Centro de Informações de Recursos Ambientais e de
Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM). Boletim de Monitoramento Climático
Mensal e Diário de janeiro de 2008.
SELBY, M. J. Hillslope materials and processes. Oxford University Press. New York, 1993.
451 p.
SILVA, Vicente R. Análise sócio-ambiental da bacia do rio Biguaçu SC: subsídios ao
planejamento e ordenamento ambiental. 2007. 227 f. Tese (Doutorado em Geografia Física),
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
SOUZA, C. R. G. Riscos a inundações, enchentes e alagamentos em regiões costeiras. In:
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1, 2004, Florianópolis. Anais...
Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 231-247. (CD-ROM)
SOUZA, Marcelo L. de. Dos problemas cio-espaciais à degradação ambiental e de volta
aos primeiros. In: __ O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemática espacial das
metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000. p. 113-139.
SOUZA, Mirela I. Perigos Geoambientais nos Bairros Forquilhinhas, Flor de Nápoles e
Picadas do Sul São Jo/ SC. 2006, 104f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso
em Geografia), Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
TESTA, Grazieli. Alise de suscetibilidade a inundações no sítio urbano do município
de Biguaçu. 2006. 102f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia),
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
THORNE, C. R.; TOVEY, N. Keith. Stability of composite river banks. Earh Surface
Processes and Landforms, v.6, p.469-484, 1981.
THYWISSEN, Katharina. Components of risk: a comparative glossary. Source - ‘Studies of
the University: Research, Counsel, Education’, n
o
. 2, p. 1-47, 2006.
143
TRANINI, Doulglas R. et al. Projeto Vidal Ramos Biguaçu. v 1. Companhia de Pesquisa
e Recursos Minerais (CPRM). Porto Alegre, 1978.
TUCCI, Carlos E.M. Escoamento superficial. In: ____ (org.) Hidrologia: ciência e aplicação.
São Paulo: EDUSP/ABRH/Editora da UFRGS, 1993, p. 391-437.
UITTO, J. I. The geography of Disasters Vulnerability in Megacities. Applied Geography, v.
18, n. 1, p. 7-16, 1998.
VALDATI, Jairo. Riscos e Desastres Naturais: a área de risco de inundação na sub-bacia do
rio da Pedra Jacinto Machado / SC. Florianópolis, 2000. 145f. Dissertação (Mestrado em
Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000.
VEYRET, Yvette. Introdução. In: ___ (org.) Os Riscos: o homem como agressor e vítima do
meio ambiente. São Paulo. Ed. Contexto, 2007. p. 11-21.
VEYRET, Yvette; RICHEMOND, Nancy M. de. O risco, os riscos. In: VEYRET, Yvette
(org.) Os Riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo. Ed.
Contexto, 2007. p. 23-24.
VIEIRA, Rafaela. Um olhar sobre a paisagem e o lugar como expressão do
comportamento frente ao risco de deslizamento. Florianópolis, 2004. 197f. Tese
(Doutorado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
VIEIRA, Solange F. Análise e mapeamento das áreas suscetíveis a movimentos de massa
no setor central da Serra da Esperança, na divisa entre os municípios de Guarapuava e
Prudentópolis PR. 2008, 191b f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
VILLAGRÁN DE LEON, Juan Carlos. La natureza de los riegos, um enfoque conceptual.
Guatemala: Centro de Investigación y Mitigación de Desastres Naturales (CIMDEN). s/d. 53 p.
WILVERT, Solange R. Modificações antrópicas no relevo da área urbana de Antônio
Carlos. 2006. 85f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia).
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
ZANNINI, Luiz F.P; BRANCO, Pércio M; CAMOZZATO, Eduardo; RAMGRAB, Gilberto
E. Programa de levantamentos básicos do Brasil. Folha Florianópolis/Lagoa. CPRM/MME,
Brasília, 1997. 223 p.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo