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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
NÍVEL MESTRADO
Arina Blum
INSERÇÃO DA TÉCNICA DE ORIGAMI NO
PROCESSO DE PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS
Porto Alegre
2010
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Arina Blum
INSERÇÃO DA TÉCNICA DE ORIGAMI NO
PROCESSO DE PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS
Dissertação apresentada como requisito parcial para a
obtenção do tulo de Mestre, pelo Programa de Pós-
Graduação em Design da Universidade Vale do Rio
dos Sinos.
Orientador: Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da Costa
Porto Alegre
2010
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Arina Blum
INSERÇÃO DA TÉCNICA DE ORIGAMI NO
PROCESSO DE PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS
Dissertação apresentada como requisito parcial para a
obtenção do tulo de Mestre, pelo Programa de Pós-
Graduação em Design da Universidade Vale do Rio
dos Sinos.
Orientador: Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da Costa
Aprovado em ____/____/_________
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da Costa – Universidade Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dr. Celso Carnos Scaletsky – Universidade Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dra.
Yeda Swirski
de Souza – Universidade Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dr. Júlio Carlos de Souza van der Linden – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Dedico este trabalho à minha família,
especialmente ao Ezequiel, à Laís e ao Davi.
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação é resultado do apoio de muita gente. Meus sinceros agradecimentos:
Ao Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da Costa, orientador deste trabalho, por abraçar a
causa e me dar segurança e incentivo.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Design da Unisinos, que
contribuíram para construção deste processo de aprendizagem.
Aos profissionais da embalagem, Fabio Mestriner e Lincoln Seragini, por me
receberem e por compartilharem suas experiências.
Aos amigos da F4, especialmente a Liziane Froehlich Figur, por cederem seu tempo
apoiando-me neste projeto.
À psicóloga Sheila Lauffer Glaser, pela parceria em boa parte do processo.
Aos designers que, gratuitamente, colaboraram com esta pesquisa: Amanda Acker,
André Reinke, Claudia Machado, Daiana Staudt, Euler Silva, Grace Koelln, Luciano Lima da
Rocha, Luiz Américo Borges Teixeira, Lusiane Casara, Pablo Junior Jaeger, Patricia Kehl e
Roberto Ilhescas.
RESUMO
O presente trabalho apresenta a pesquisa que teve por objetivo avaliar a influência da
inserção da técnica de origami no processo de projetação de embalagens. O estudo baseou-se
na análise das características do origami e de sua analogia estética com determinados
formatos de embalagens e, ainda, na descrição e confrontação de onze diferentes métodos
projetuais. A investigação delineou-se por uma pesquisa qualitativa de natureza experimental,
onde quatro grupos compostos cada um por três profissionais atuantes na área do design
foram instigados, num ambiente de workshop, à resolução de um mesmo briefing para
desenvolvimento projetual de uma embalagem. Dois destes grupos foram observados como
caráter de controle e os outros dois receberam o tratamento experimental através de uma
oficina de origami. Os resultados apontam para o mapeamento do processo de projeto
utilizado nos workshops e sua relação com a solução projetual apresentada e o uso do origami
no processo. O estudo destaca a confirmação de que o conhecimento da técnica de dobradura
de papel pode gerar alternativas influenciadoras no processo de projeto de embalagens e, em
contrapartida, abre indicativos para continuação desta pesquisa.
Palavras-chave: Design. Origami. Embalagem. Método projetual. Workshop.
ABSTRACT
This paper presents the research that had as a goal to evaluate the influence of the
inclusion of the origami technique at the package design process. The research is based on the
analysis of origami's characteristics and his aesthetic analogy with certain forms of packages
and, also, on the description and confrontation of eleven different projecting methods. The
investigation was outlined by a qualitative study of an experimental nature, on which, four
groups - each one composed by three professionals working in the design area - were
instigated, at a workshop environment, to appoint a solution to the same briefing document
for a projectual development of a package. Two of these groups were observed for control and
the other two received the experimental treatment trough a origami workshop. The results
point to the mapping of the design process used in workshops and their relationship with the
given projectual solution and the use of origami in the process. The study highlights the
confirmation that the knowledge of the paper folding technique may create influent
alternatives in the package design process and therefore opens indicative to the continuation
of this research.
Key words: Design. Origami. Packaging. Projectual method. Workshop.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 – Origami tradicional 18
FIGURA 1.2 – Kirigami 19
FIGURA 1.3 – Origami arquitetônico 19
FIGURA 1.4 – Simbologias das receitas de origami 21
FIGURA 1.5 – Simbologias das receitas de origami 22
FIGURA 1.6 – Simbologias das receitas de origami 23
FIGURA 1.7 – Formas básicas 24
FIGURA 1.8 – Bicho 28
FIGURA 1.9 – Bicho 28
FIGURA 1.10 – Embalagem promocional 29
FIGURA 1.11 – Sistema de abertura e fechamento 30
FIGURA 1.12 – Exemplo de embalagem 30
FIGURA 1.13 – Embalagem em origami 31
FIGURA 1.14 – Embalagem em origami 31
FIGURA 1.15 – Construções em origami 32
FIGURA 1.16 – Semelhança formal 32
FIGURA 1.17 – Embalagem artesanal e industrial 32
FIGURA 1.18 – Registro de dobras 33
FIGURA 2.1 – Moura e Banzato 35
FIGURA 2.2 – Pereira 37
FIGURA 2.3 – Calver 39
FIGURA 2.4 – Mestriner 2002/2005 40
FIGURA 2.5 – Mestriner 2007 42
FIGURA 2.6 – Programa de Inteligência da Embalagem 44
FIGURA 2.7 – Fag 8 45
FIGURA 2.8 – Seragini 47
FIGURA 2.9 – Carvalho 49
FIGURA 2.10 – UAM 51
FIGURA 2.11 – Stewart 52
FIGURA 2.12 – Pesquisa de Ciravegna
55
FIGURA 2.13 – Politecnico di Milano 56
FIGURA 2.14 – Scadenze da Rispettare 57
FIGURA 2.15 – Scadenze da Rispettare 57
FIGURA 2.16 – Scadenze La tavola del buonsenso 58
FIGURA 2.17 – Quadro comparativo: itens metaprojetuais 62
FIGURA 2.18 – Quadro comparativo: métodos projetuais 63
FIGURA 2.19 – Quadro comparativo: métodos projetuais 64
FIGURA 3.1 – Fluxograma da pesquisa 66
FIGURA 4.1 – Slide 1 da oficina 86
FIGURA 4.2 – Slide 2 da oficina 86
FIGURA 4.3 – Slide 3 da oficina 87
FIGURA 4.4 – Slide 4 da oficina 87
FIGURA 4.5 – Slide 5 da oficina 87
FIGURA 4.6 – Slide 6 da oficina 87
FIGURA 4.7 – Slide 7 da oficina 87
FIGURA 4.8 – Slide 8 da oficina 87
FIGURA 4.9 – Slide 9 da oficina 87
FIGURA 4.10 – Slide 10 da oficina 87
FIGURA 4.11 – Slide 11 da oficina 88
FIGURA 4.12 – Slide 12 da oficina 88
FIGURA 4.13 – Grupo de Controle 1 91
FIGURA 4.14 – Grupo de Controle 1: medições 91
FIGURA 4.15 – Grupo de Controle 1: mock-up 91
FIGURA 4.16 – Grupo de Controle 1: alternativas 91
FIGURA 4.17 – Grupo de Controle 1: alternativas 91
FIGURA 4.18 – Grupo de Controle 1: alternativas 91
FIGURA 4.19 – Grupo de Controle 1: mock-up final 92
FIGURA 4.20 – Grupo de Controle 1: berço 92
FIGURA 4.21 – Grupo de Controle 1: mock-up com produto 92
FIGURA 4.22 – Grupo de Controle 2: anotações 94
FIGURA 4.23 – Grupo de Controle 2: alternativas 94
FIGURA 4.24 – Grupo de Controle 2: alternativas 94
FIGURA 4.25 – Grupo de Controle 2: montagem 94
FIGURA 4.26 – Grupo de Controle 2: medições
94
FIGURA 4.27 – Grupo de Controle 2: opções para furo 94
FIGURA 4.28 – Grupo de Controle 2: montagem mock-up 94
FIGURA 4.29 – Grupo de Controle 2: mock-up 94
FIGURA 4.30 – Grupo de Controle 2: proposta 94
FIGURA 4.31 – Grupo Experimental 1: oficina 97
FIGURA 4.32 – Grupo Experimental 1: troca de ideias 97
FIGURA 4.33 – Grupo Experimental 1: alternativas 97
FIGURA 4.34 – Grupo Experimental 1: estudo de dobras 98
FIGURA 4.35 – Grupo Experimental 1: mock-up 98
FIGURA 4.36 – Grupo Experimental 1: roteiro 98
FIGURA 4.37 – Grupo Experimental 1: sugestões 98
FIGURA 4.38 – Grupo Experimental 1: embalagem final 98
FIGURA 4.39 – Grupo Experimental 1: embalagem final 98
FIGURA 4.40 – Grupo Experimental 2: origami 101
FIGURA 4.41 – Grupo Experimental 2 101
FIGURA 4.42 – Grupo Experimental 2: esboço 101
FIGURA 4.43 – Grupo Experimental 2: alternativas 101
FIGURA 4.44 – Grupo Experimental 2: alternativas 101
FIGURA 4.45 – Grupo Experimental 2: mock-up 101
FIGURA 4.46 – Grupo Experimental 2: berço 101
FIGURA 4.47 – Grupo Experimental 2: embalagem final 101
FIGURA 4.48 – Grupo Experimental 2: abertura e fechamento 101
FIGURA 4.49 – Montagem tridimensional 119
FIGURA 4.50 – Desenho com base em origami 119
LISTA DE TABELAS
TABELA 3.1 – Conceitos da experimentação 70
TABELA 3.2 – Dados dos profissionais especialistas 76
TABELA 4.1 – Cronograma de composição da amostra 82
TABELA 4.2 – Emparelhamento 82
TABELA 4.3 – Descrição dos profissionais: Grupo de Controle 1 83
TABELA 4.4 – Descrição dos profissionais: Grupo de Controle 2 83
TABELA 4.5 – Descrição dos profissionais: Grupo Experimental 1 84
TABELA 4.6 – Descrição dos profissionais: Grupo Experimental 2 84
TABELA 4.7 – Observação Grupo de Controle 1 90
TABELA 4.8 – Colocações Grupo de Controle 1 92
TABELA 4.9 – Observação Grupo de Controle 2 93
TABELA 4.10 – Colocações Grupo de Controle 2 95
TABELA 4.11 – Observação Grupo Experimental 1 96
TABELA 4.12 – Colocações Grupo Experimental 1 98
TABELA 4.13 – Observação Grupo Experimental 2 99
TABELA 4.14 – Colocações Grupo Experimental 2 102
TABELA 4.15 – Contribuição pessoal ao processo 104
TABELA 4.16 – Percepção do processo 104
TABELA 4.17 – Metodologia projetual empregada 105
TABELA 4.18 – Percepção do resultado 105
TABELA 4.19 – Contribuição quanto ao uso de uma técnica 106
TABELA 4.20 – Aprendizado com o processo 106
TABELA 4.21 – Auxílio do origami 107
TABELA 4.22 – Interação entre profissionais 108
TABELA 4.23 – Divisão de responsabilidades 108
TABELA 4.24 – Exibição ou inibição de um componente 109
TABELA 4.25 – Aproveitamento do origami pelo grupo 109
TABELA 4.26 – Tipo de embalagem desenvolvida 110
TABELA 4.27 – Tempo de duração do workshop 111
TABELA 4.28 – Passagens pelas etapas projetuais
111
TABELA 4.29 – Referência ao origami 112
TABELA 4.30 – Uso de desenhos 112
TABELA 4.31 – Número de montagens tridimensionais 113
TABELA 4.32 – Avaliação de proporção com os produtos 113
TABELA 4.33 – Número de apresentações 114
TABELA 4.34 – Indicativos de contrabriefing 114
TABELA 4.35 – Presença de variáveis estranhas 115
TABELA 4.36 – Percepção quanto às contribuições 118
TABELA 4.37 – Percepção quanto ao uso do tempo 120
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1 ORIGAMI COMO TÉCNICA APLICADA 18
1.1 ELEMENTOS DA TÉCNICA 19
1.2 HISTÓRIA DO ORIGAMI 25
1.3 ORIGAMI E INTERATIVIDADE 27
1.4 ORIGAMI E EMBALAGEM 29
2 MÉTODOS PARA PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS 34
2.1 DESCRIÇÃO DE MÉTODOS PROJETUAIS 34
2.1.1 Moura e Banzato 35
2.1.2 Pereira 37
2.1.3 Calver 38
2.1.4 Mestriner 2002/2005 40
2.1.5 Mestriner 2007 41
2.1.6 Fag 8 44
2.1.7 Seragini 47
2.1.8 Carvalho 48
2.1.9 Uam 50
2.1.10 Stewart 52
2.1.11 Politecnico di Milano 54
2.2 ANÁLISE COMPARATIVA 58
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 66
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA 67
3.1.1 Experimentação 67
3.1.2 Caráter metodológico 71
3.2 UNIDADES DE ESTUDO 72
3.2.1 A empresa 73
3.2.2 Unidades de teste 74
3.3 COLETA DE DADOS 75
3.3.1 Entrevistas 75
3.3.2 Observação
76
3.4 ANÁLISE DOS DADOS 79
4 EXPERIMENTAÇÃO NA PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS 81
4.1 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES 81
4.2 DESCRIÇÃO DOS WORKSHOPS 85
4.2.1 Grupo de Controle 1 90
4.2.2 Grupo de Controle 2 93
4.2.3 Grupo Experimental 1 96
4.2.4 Grupo Experimental 2 99
4.3 ESTRUTURAÇÃO DOS RESULTADOS 102
4.3.1 Percepção dos profissionais 103
4.3.2 Resultados da observação 110
4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 115
4.4.1 Quanto ao processo de projeto 115
4.4.2 Quanto ao origami no processo 117
4.4.3 Quanto à solução 119
4.5 CONTRIBUIÇÕES 120
CONSIDERAÇÕES FINAIS 123
REFERÊNCIAS 128
GLOSSÁRIO 133
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA: SERAGINI 135
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA: MESTRINER 138
APÊNDICE C – DADOS DA EMPRESA 141
APÊNDICE D – ROTEIRO ENTREVISTAS PREPARATÓRIAS 144
APÊNDICE E – ROTEIRO ENTREVISTAS: AVALIAÇÃO DO PROCESSO 146
APÊNDICE F – ROTEIRO WORKSHOP: GRUPO DE CONTROLE 147
APÊNDICE G – ROTEIRO WORKSHOP: GRUPO EXPERIMENTAL 148
APÊNDICE H – APRESENTAÇÃO DO BRIEFING 149
14
INTRODUÇÃO
Intimamente relacionada com lucros, perdas e crescimento de vendas, a embalagem é
um importante fator nos planos operacionais e mercadológicos de qualquer empresa
(MOURA; BANZATO, 1997, p. 21). A embalagem exerce o papel de conter e proteger o
produto embalado (MESTRINER, 2002), além de transportá-lo. Outras funções
acondicionar adequadamente e ampliar a validade do produto, ser funcional facilitando
aplicação e uso de seu conteúdo, identificar e informar, formar e consolidar uma imagem,
promover e vender, agregar valor (NEGRÃO; CAMARGO, 2008) são também atributos
essenciais, que caracterizam e definem uma embalagem.
Há, segundo Stewart (2008), um paralelo entre o design das embalagens e as estruturas
e tendências sociais e comportamentais – como os hábitos alimentares, as questões de saúde, a
formação de tribos, o avanço tecnológico e o ambiente mercadológico. A embalagem, hoje,
reflete as características do ambiente contemporâneo, pois é construída a partir dos preceitos e
de códigos da atual sociedade.
Conforme Carvalho (2008, p.18), ao projetar uma embalagem deve-se planejá-la como
um todo, prevendo que ela seja física e quimicamente compatível com o produto e com o
meio ao qual será inserida. Stewart (2008) afirma que o ato de desenvolver embalagens
implica em fazer design para pessoas e que elas se identificarão com o projetado se o
designer conhecer as circunstâncias sociais e econômicas onde estão inseridas.
Carramenha (2007) indica a importância da embalagem na conquista dos
consumidores, dizendo ser uma forma de dar a quem compra os elementos que os farão ter a
sensação de que possuem o controle daquela ação. A pesquisa do POPAI (The Global
Association For Marketing At Retail) de 2008 mostra que, no Brasil, 80% das escolhas dos
consumidores em relação às marcas acontecem no ponto-de-venda. Esta pesquisa, se
comparada ao dado de Gracioso (2007) de que 92% dos produtos vendidos em
supermercados não são anunciados, sendo a embalagem a única forma de comunicação com o
consumidor fornece indícios quanto à coerência que entre a linguagem presente na
embalagem e a sua identificação com o consumidor.
Assim, o ato de projetar embalagens requer a aproximação com um amplo espectro de
interações, incluindo: o conhecimento a respeito do mercado e dos dados econômicos, os
indicativos de possibilidades técnicas para a sua industrialização e a projeção de fundamentos
ergonômicos e também estéticos, tangíveis e intangíveis. O desenvolvimento de embalagens
15
envolve uma série de relações descritas em métodos projetuais específicos e diretamente
articulados na prática do design, o que permite afirmar que projetar embalagens é fazer
design.
Esta prática, o fazer design, está contida, segundo Villas-Boas (1999, p.61), no próprio
sentido da palavra design que, no português lembra o mesmo que desígnio projeto, plano,
propósito “com a diferença que desígnio denomina uma intenção, enquanto design faz uma
aproximação maior com a noção de uma configuração palpável (ou seja, projeto)”. Denis
(2000, p.16) afirma que o design é resultado da junção do designar com o desenhar
atribuindo forma material aos conceitos intelectuais, sendo uma atividade direcionada a
geração de projetos.
Desta forma, as afirmações acerca do termo design residem, tradicionalmente, no
espectro projetual, podendo ser alocadas como parte do que se denomina cultura de projeto.
Tal cultura, no âmbito do design, encontra forte estrutura no contexto italiano através do
viés estratégico – podendo ser definida por meio da articulação de uma série de ações,
propostas em torno de perspectivas que são diretamente relacionadas ao projeto. Destacam-se,
neste contexto, termos como metaprojeto, sistema produto e a própria definição de projeto
que, embora articulados em diferentes fases, se concretizam em uma unidade que constitui,
assim, o “fazer design”.
Por metaprojeto, entende-se o procedimento de idealização e programação do
processo de pesquisa e da atividade projetual (CELASCHI; CAUTELA, 2007, p.40). Trata-se
de um plano que antecipa o projeto final, considerando a dimensão estratégica do design
dentro de um ambiente sistêmico. O metaprojeto configura-se, portanto, como uma etapa
anterior a um projeto de determinado produto material ou mercadoria, podendo ser definido
como o “projeto do projeto”, conforme termo apresentado por Celaschi.
O sistema produto é a articulação entre as diversas dimensões que englobam o campo
do design. O foco deste pensamento não está na mercadoria em si, mas nas suas relações com
o meio, nas interferências além da forma do produto que, interagindo entre si, definem as
próprias características finais desse produto. Segundo Celaschi, hoje é projetável não o
formato, mas o processo de comunicação com o mercado e o modo através do qual o bem
alcançará o consumidor final. Assim, com uma visão sistêmica, o autor chama de sistema
produto o que ele define como o conjunto interferente da forma do bem, da forma da
comunicação e da forma de distribuição.
Quanto ao termo projeto, sob o olhar estratégico, entende-se a organização de fatores
que concorrem para se obter um resultado, ou seja, a constituição de um processo que
16
estimula efeitos, afronta ideias e prevê dificuldades e problemas. Celaschi (2007, p.38-39)
apresenta o projeto como uma atividade que engloba cinco fases, sendo elas: (i) a observação
da realidade em função de um escopo e/ou de uma hipótese; (ii) a construção de modelos que
sintetizam a realidade e destacam qualidades características dela; (iii) a manipulação dos
modelos para obter a simulação do resultado; (iv) a avaliação dos prós e dos contras do
processo simulado; (v) a transformação do processo simulado em realidade.
Assim, configurando-se nos termos destacados na construção do design pelo viés
estratégico, a presente pesquisa teve foco especialmente no âmbito projetual, apresentando
elementos que constituem a prática da projetação de embalagens. Diante da hipótese de que o
conhecimento de uma determinada técnica artesanal, o origami, pode promover estímulos
positivos e visíveis num processo de projeto de embalagens, este texto relata a
experimentação gerada em torno na observação de grupos de trabalhos expostos a esta
temática.
A técnica do origami é a prática da dobradura de papel. Milenarmente conhecida, é
difundida no mundo não por sua estética ou por fatores lúdicos, mas também pela
geometria matemática contida nas suas formas e nos valores didáticos e construtivos evocados
a partir deste conhecimento. A escolha do origami, como foco temático desta pesquisa, deu-se
pelo acesso a determinados estudos que relacionam os fatores estéticos de algumas
embalagens às características da dobradura de papel sem, no entanto, demonstrarem conexão
quanto à prática projetual desta relação.
Tais estudos mostram a analogia no formato, sendo este o resultado final de um
projeto. Neles é indicada a presença, no mercado, de embalagens de papel que, tal como no
origami, exploram as dobras e os vincos como diferenciais estéticos. No entanto, não se tem
conhecimento de bibliografias que descrevam os meios pelos quais se projetou este resultado.
Assim, com base no questionamento a respeito de quais influências o conhecimento da
técnica de origami causa no processo projetual de embalagens, a pesquisa foca-se na
avaliação deste contexto.
Por meio da observação a quatro grupos de designers e, utilizando procedimentos
próprios da experimentação, a pesquisa teve por objetivo avaliar a influência da inserção da
técnica de origami num processo de projetação de embalagens. Destacam-se como objetivos
específicos: (i) levantar dados acerca de métodos para concepção de embalagens; (ii) compilar
e apresentar os estudos que apontam a relação estética entre as embalagens e a técnica de
origami; (iii) analisar os procedimentos de projetação utilizados pelos envolvidos na
experimentação.
17
O capítulo 1 apresenta o origami como técnica aplicada, antes o contextualizando
historicamente e através dos elementos que o compõe e, depois, relatando aspectos de relação
interativa e das características que permitem a analogia entre os formatos do origami e de
algumas embalagens. Este capítulo visa listar informações da técnica de dobradura de papel,
entendendo que cada uma das abordagens foi instrumento importante na análise das
experimentações.
Como objetos de estudo, os métodos para projetação de embalagem são listados e
apresentados no capítulo 2. Onze métodos são descritos a partir de suas etapas e implicações
expostas em literatura por diferentes autores. Por meio da descrição e da análise de cada uma
das etapas, os métodos foram compilados formando um quadro comparativo que permitiu a
identificação de possíveis ações projetuais envoltas no processo prático da pesquisa.
O capítulo 3 relata a metodologia da pesquisa, indicando seu delineamento, as
unidades de estudo e as ferramentas para coleta de dados. Nele apresentam-se os pontos chave
que deram foco à investigação e explanam-se as principais características estruturadoras do
processo de experimentação e análise dos resultados.
A experimentação na projetação de embalagens é exposta no capítulo 4, onde se
relata a seleção da amostra e o procedimento de pesquisa, assim como a descrição, a análise e
a contribuição dos achados. Considerando o mapeamento dos dados colhidos, bem como a
apreciação dos resultados, a pesquisa apontou para considerações onde, cada fase da pesquisa,
foi estruturada a fim de permitir um olhar amplo sobre processo de projeto sem, no entanto,
perder o foco no origami e na sua relação com a concepção de embalagens.
18
1 ORIGAMI COMO TÉCNICA APLICADA
A palavra origami vem da composição de ori (dobrar) e gami (de kami, papel). Trata-
se da arte oriental milenar de dobradura de papel. Difundida mundialmente pelo seu apelo
lúdico e pela promoção do estudo geométrico, a grande motriz da escolha do origami para
análise nessa pesquisa está, especialmente, na capacidade que essa técnica apresenta para
moldar o papel de maneira a lhe dar novos formatos e, assim, novo valor.
O origami do tipo tradicional (Figura 1.1) consiste de, a partir de uma folha de papel
plana no formato quadrado, criar figuras tridimensionais com o uso apenas de dobras. A
técnica tradicional não requer o uso de corte ou colagem. No entanto, as aplicações de
origami em peças gráficas contemporâneas são também baseadas no origami arquitetônico,
derivação da técnica tradicional, e no kirigami (Figura 1.2). O kirigami é também um
artesanato em papel no qual se utiliza o corte, tendo como resultado folhas planas vazadas. O
origami arquitetônico (Figura 1.3) mescla o tradicional com o kirigami, transformando
imagens bidimensionais em tridimensionais a partir de uma base aberta no ângulo de 90º.
Figura 1.1 – Formas em origami tradicional.
Fonte: KITAMURA, 1991, p.1.
19
Figura 1.2 – Formas em kirigami.
Fonte: www.curbly.com
Figura 1.3 Exemplo de origami arquitetônico.
Fonte: www.papercraftcentral.net
O foco deste trabalho está especialmente no origami tradicional, sendo ele a base para
os demais tipos e, também, por sua fonte de estudo estar exclusivamente na dobra. Assim
como as formas de dobradura evoluíram para peças com corte e colagem, da mesma maneira
o conhecimento da técnica tradicional de origami poderia influenciar o processo de concepção
de embalagens. Para identificação das características que compõem a formatação do origami,
este capítulo apresenta os elementos da técnica (item 1.1) e um levantamento histórico (item
1.2), bem como o conceito de interatividade estimulado na sua construção (item 1.3) e a
ligação da dobradura com as embalagens (item 1.4).
1.1 ELEMENTOS DA TÉCNICA
A fim de entender como se a elaboração da dobradura de papel, alguns aspectos da
técnica podem ser destacados. Dentre eles, conforme enfatiza Ueno (2003, p.16), a
importância do perfeito corte do papel – quadrado em sua maioria – de acordo com o tamanho
20
exato necessário, a perfeita junção das pontas uma com as outras e a qualidade e espessura do
suporte. Existem papéis próprios para a técnica de origami, mas no Brasil são importados e
possuem um custo elevado. São, desta forma, substituídos por outros tipos de papel, em geral
o gessado ou espelho e alguns tipos de papel para embrulho de presentes.
A técnica de origami exige um suporte com flexibilidade, mas que, ao mesmo tempo,
tenha uma estrutura suficientemente forte para fixar as diversas dobras. A articulação do papel
durante a montagem de uma peça é intensa, pois a maioria das figuras exige diversas
marcações (vincos) antes que sua forma seja tridimensionalmente estruturada. Para que as
diversas maneiras de marcação e dobra do papel fossem compreendidas, criou-se uma
linguagem denominada receitas de origami.
Cada expressão tem uma linguagem. Cada linguagem uma grafia, uma notação
própria. É, portanto, necessário conhecer os símbolos que compõe essas notações. O
origami, como música, tem uma linguagem própria e uma notação que podemos
chamar de universal. Notação é um sistema de representação gráfica de elementos de
determinado campo de conhecimento. (GENOVA, 2008, p.11).
Assim, a representação gráfica da linguagem que permeia a dobradura de papel pode
ser identificada de maneira universal e uníssona em literaturas sobre o assunto. O
conhecimento da simbologia que compõe tais receitas (Figuras 1.4 a 1.6) permite, assim, a
compreensão da construção das figuras independente da língua em que se encontra
apresentada. Os símbolos que fazem parte das notações do origami são indicativos gerais de
como o papel deve ser manipulado, apresentando desde regras de rotação e angulação das
dobras até elementos para marcações diversas.
21
Figura 1.4 – Simbologias que compõem as notações ou receitas do origami.
Fonte: KANEGAE; IMAMURA, 2002.
22
Figura 1.5 – Simbologias que compõem as notações ou receitas do origami.
Fonte: KANEGAE; IMAMURA, 2002.
23
Figura 1.6 – Simbologias que compõem as notações ou receitas do origami.
Fonte: KANEGAE; IMAMURA, 2002.
24
Outro aspecto que se destaca, dentre os elementos construtivos do origami, é o pré-
estabelecimento de formas básicas (Figura 1.7). Na literatura, muitos autores, como Kanegae
e Imamura (2002, p.24-25), expõem os critérios de construções dessas formas na parte
introdutória das publicações. Como a grande maioria das figuras em origami é resultado de
dobraduras provindas das formas básicas, a pré-demonstração de tais formatos evita que esses
passos tenham que ser repetidos diversas vezes no decorrer da notação.
Figura 1.7 – formas básicas que dão origem a grande maioria das figuras no origami.
Fonte: KANEGAE; IMAMURA, 2002.
Ressalta-se que a construção das formas básicas, bem como a confecção das diversas
figuras estruturadas a partir da dobradura, foi definida ao longo da história do origami. A fim
de compreender como a técnica surgiu, evoluiu e chegou aos dias de hoje caracterizando
alguns produtos industriais, é pertinente destacar alguns passos históricos que constituíram a
divulgação e os registros do conhecimento do origami.
25
1.2 HISTÓRIA DO ORIGAMI
A origem do origami é desconhecida, porém os estudiosos da técnica acreditam que as
primeiras figuras de dobradura de papel surgiram na antiguidade, por volta do século VI.
Nesta época, um monge budista trouxe para o Japão, via Coréia, o método de fabricação de
papel, sendo a origem da técnica de origami possivelmente paralela ao conhecimento acerca
da fabricação de seu suporte (IEJ, 2009). De qualquer maneira, sabe-se que a primazia de
codificar e aprimorar a técnica de dobradura de papel deve-se ao Japão. Neste país, figuras
são há séculos utilizadas em cerimoniais religiosos e festas populares (ARCHENBACH;
FAZENDA; ELIAS, 1992)
Segundo Kanegae e Imamura (2002), pesquisas indicam que os primeiros origamis
foram vistos em ornamentações de templos xintoístas. Tais ornamentações, chamadas de
katashiros são ainda hoje utilizadas nesses templos. Um outro origami muito utilizado ainda
hoje é o noshi, um ornamento colocado sobre o embrulho de presente. O noshi seria uma
abreviação do costume japonês de se embrulhar presentes com puro papel branco e a
confecção desse ornamento pode ter despertado o interesse pela construção de outras formas
de origami.
Informações do Instituto de Estudos Japoneses
1
relatam que o uso exclusivo da dobra,
sem corte ou colagem no papel, perdurou até o século XVI. O origami deixou de ser tão
formal, passando a ser mais recreativo, na Era Heian (794-1192). Porém, até meados do
século XIX, o origami era uma atividade restrita aos adultos, especialmente devido ao alto
valor da matéria-prima.
Foi durante a Era Edo (1590-1858) que o origami passou a ser praticado por crianças e
por mulheres de diversas classes sociais. Passando a técnica de pais para filhos, como ainda
hoje é costume no Japão, até o final da Era Edo cerca de setenta tipos de dobras haviam sido
criadas. Na Era Meiji (1868-1912) a técnica passou a ser ensinada nas escolas após sofrer
influências do método alemão.
Foi o educador Friedrich Froebel (1782-1852) quem iniciou o uso da dobradura em
escolas da Alemanha (NARVAS et al, 2006). Froebel considerava as atividades com papel
um excelente recurso para familiarizar a criança com conceitos geométricos
(ARCHENBACH; FAZENDA; ELIAS, 1992). Segundo Oliveira (2004, p.2), na abordagem
de Froebel a dobradura dividia-se em três estágios: dobras de verdade, da vida e da beleza.
1
Centro de estudos da Universidade Estadual de Marin, criado em 1982 para atuação na divulgação da cultura japonesa.
Fonte: BRAVO, 2010.
26
Dobras de verdade trabalhavam com geometria elementar, dobras da vida com memorização
de dobras tradicionais e dobras da beleza com intenção de levar a criança à criatividade e à
arte.
O interesse pelo origami como recurso geométrico tem raiz na própria introdução da
técnica na Europa. A técnica chegou pela Espanha no século XII com as invasões
mulçumanas. Foi levada à Europa pelos árabes, que haviam descoberto a técnica já no século
VIII. Como a religião mulçumana não permite a criação e adoração de elementos figurativos,
os árabes passaram a utilizar a técnica concomitantemente à matemática (OLIVEIRA, 2004,
p.3).
David Lister (1998), estudioso da história da dobradura de papel no Ocidente, afirma
que o origami moderno teve sua divulgação especialmente através de Akira Yoshizawa
quem, segundo Oliveira (2004, p.3), em 1956 criou algumas regras para representação gráfica
das dobras. Lister destaca, ainda, o predecessor de Yoshizawa, o filósofo e reitor da
Universidade de Salamanca, Miguel Unamuno, grande divulgador do origami na Espanha.
Porém, os grandes impulsores do conhecimento do origami no Ocidente são descritos
por Oliveira como sendo os norte-americanos, especialmente Lilian Oppenheimer, fundadora
do The Origami Center New York, na década de 50. Oliveira afirma, ainda, que o
conhecimento acerca do origami sofreu grande disseminação nas últimas três décadas devido
a uma maior comunicação entre os profissionais que trabalham com origami e o
desenvolvimento de técnicas que permitiram a confecção de dobras cada vez mais complexas.
Nos anos 80, segundo Peter Engel (apud OLIVEIRA, 2004, p.4), diferenciaram-se
duas correntes na prática do origami: a japonesa e a ocidental. Na corrente japonesa a cnica
de dobradura de papel era praticada como arte e filosofia, e não como ciência. Na prática
ocidental, por outro lado, o origami era tido como uma área de estudo, onde matemáticos,
engenheiros, físicos e arquitetos usavam processos aritméticos, técnicas geométricas de
desenho e recursos computacionais para investigação da técnica.
Essa distinção entre a prática do origami no Japão e no Ocidente, no entanto, não se
aplica nos dias hoje. Conforme afirma Oliveira (2004, p.4), assim como o matemático
americano John Montroll e o engenheiro Robert Lang criador do software TreeMaker, para
projetos de origami é grande o número de cientistas japoneses que pesquisam a cnica,
entre eles Toshikuyi Meguro, Jun Maekawa, Issey Yoshino, Seiji Nishikawa, Fumiaki
Kawahata, Tomoko Fuse, Toshikazu Kawasaki e integrantes do grupo Origami Tanteidan.
No Brasil, a introdução da técnica de dobradura de papel deve-se, segundo
Aschenbach, Fazenda e Elias (1992, p.28-32), aos colonizadores portugueses e aos
27
preceptores europeus que vieram orientar crianças da alta sociedade. Para Kanegae (2009), no
entanto, o origami chegou ao Brasil através da imigração japonesa, a partir de 1908, ou via
Argentina que, por possuir influência da cultura espanhola, foi beneficiada com heranças da
tradição de dobrar papel. Através de artigos escritos por Miguel Unamuno e, mais tarde, por
meio de livros publicados por europeus que emigraram para Argentina Vicente Solórzano
Sagredo e Giordano Lareo – o conhecimento acerca do origami teria se espalhado pela
América do Sul. Kanegae afirma, por outro lado, que quando os japoneses emigraram para o
Brasil procuraram preservar diversos costumes de sua terra natal, entre eles a prática do
origami. No que se refere ao ensino oficial do origami no Brasil, Kanegae atribui à Yachiyo
Koda o início desta atividade.
1.3 ORIGAMI E INTERATIVIDADE
Kanegae (2009) afirma que o origami está se tornando reconhecido como uma forma
de integração. Neste contexto, um dos aspectos que interessou a este estudo foi fazer um
levantamento das diversas articulações proporcionadas pelo uso da técnica de origami,
especialmente aquelas focadas na dobradura como um aspecto de promoção de maior
interatividade do usuário junto às embalagens. Tal relação está presente no envolvimento do
usuário frente à possibilidade de manipular a embalagem, fator que Chinem (2005)
denominou de “informações recebidas pelo tato”.
As informações recebidas pelo tato podem ser úteis, que permitem liberar outros
canais sensoriais para desenvolver outras tarefas. É conveniente pensar na adoção
desse fator desde o início do projeto da embalagem ou do signo em que, por
exemplo, possam ser estudadas soluções como configurações anatômicas que
induzam o usuário a encontrar ou manusear determinadas funções sem a necessidade
de usar a visão; aplicação de texturas em elementos planos ou volumétricos que os
caracterizam de tal maneira que o seu uso se faça sem olhar, e que, pelo simples
contato ou pressão, o consumidor os reconheça imediatamente ou, ainda,
simplesmente pelo conforto no toque ou ‘pega’ desses elementos. (CHINEM, 2005,
p.9).
Esta relação de interação junto ao objeto foi estudada no âmbito da arte, especialmente
durante o neoconcretismo. Lygia Clark, artista neoconcreta, extrapolou o sentido da visão
proporcionando, ao espectador, a possibilidade de tocar e manipular a obra de arte. A artista
afirmava que suas obras aconteceriam somente mediante a intervenção do espectador
(OLIVEIRA, 1999).
28
Os elementos estudados e desenvolvidos por Lygia Clark interessam, também, devido
à semelhança estética de sua obra com o origami. Em especial a série de obras denominada
Bichos (Figuras 1.8 e 1.9) que é, segundo Alvarado (1999), uma arte vivencial que expunha o
desejo de eliminar a contemplação do espectador, levando-o a uma participação direta com a
obra.
Figura 1.8Bicho, 1960.
Fonte: Bicho, [200-?].
Figura 1.9 – Manipulação de Bicho.
Fonte: TATE, 2007.
Bichos é uma série de obras de diferentes tamanhos e formas, porém uníssonos no que
se refere a objetos articuláveis e promotores da experiência corporal. As peças são construídas
de alumínio anodizado ou organismos de folha de flandres. O corpo da obra é estruturado por
29
figuras geométricas articuláveis através de dobradiças. Algumas das peças são plenamente
móveis e outras possuem uma espinha fixa nos quais os membros se articulam nela. O
espectador manipula as partes da obra, podendo montá-la de maneiras diversas.
A obra de Lygia Clark, segundo Fortes e Barbosa (1999), abre um enorme leque de
desenvolvimento das questões sensoriais. Num artigo comparando peças gráficas com a
ruptura do suporte na arte contemporânea, os autores destacam que peças que apresentam
elementos mais lúdicos do que os tradicionais estabelecem uma espécie de cumplicidade
interativa com o receptor. No caso de embalagens, tais aspectos podem ser conseguidos por
interações que extrapolem os aspectos estritamente visuais, passando a considerar novas
maneiras de trabalhar o suporte, escolher materiais e técnicas com que as peças são
produzidas.
1.4 ORIGAMI E EMBALAGEM
A geometria presente na elaboração do origami pode ser transpassada para a indústria
gerando peças gráficas com formatos diferenciados (Figura 1.10). Além de elaborados
formatos, a utilização do conceito da dobra em embalagens (Figura 1.11) também pode
resultar em abordagens funcionais como, por exemplo, gerando sistemas de abertura e
fechamento que requerem movimentos variados.
Figura 1.10 Embalagem promocional que utiliza a
dobra como diferencial não fazendo uso de cola.
Fonte: arquivo da autora.
30
Figura 1.11 Sistema de abertura e fechamento que funciona através
da rotação e encaixe de dobras.
Fonte: arquivo da autora.
Como existe uma forma de aplicar a geometria no origami, a indústria viu a
possibilidade de transformar um artesanato em produção em série. Dessa forma, as
técnicas dessa arte foram utilizadas no desenvolvimento de diversos produtos [...] O
origami não é aplicado apenas em cartões, mas também em projetos de embalagens,
com sistema de abertura e fechamento diferenciados, além de um design que o
valoriza ainda mais. (UENO, 2003, p.30).
Não foram identificados escritos que indicassem a maneira com que o origami foi
aplicado à confecção de embalagens. Porém, analisando algumas peças encontradas no
mercado, é possível fazer uma relação entre o origami e determinadas embalagens
constituídas de dobras que geram formatos diferenciados. A partir da análise de algumas
embalagens (Figura 1.12), Ueno (2003, p.68) concluiu que os formatos nelas aplicados
possuem influência do origami. Para Ueno, as cnicas de dobradura de papel são, de fato,
aplicadas em projetos de embalagem, sendo influenciadoras na concepção desses produtos.
Figura 1.12 – Exemplo de embalagem que Ueno (2003)
afirma possuir influência do origami na sua concepção.
Fonte: Arquivo da autora.
31
Um aspecto que reforça a afirmação de Ueno é o fato de que diversos livros, voltados
à técnica de origami, apresentam variedades de modelos de embalagens artesanais. As
imagens que ilustram a dobradura (Figuras 1.13 e 1.14) expõem sugestões de uso das
mesmas, demonstrando claramente que sua confecção se destina à função de conter produtos
– em geral alimentos.
Figura 1.13 – Embalagem desenvolvida em origami.
Fonte: Kitamura,1991, p.54.
Figura 1.14 – Outro exemplo de embalagem desenvolvida em origami.
Fonte: Seibido Mook, 2000, p.12.
32
Por outro lado, embora as dobras sejam ensinadas através do método manual, os
formatos finais remetem a aspectos industriais. Muitos formatos cujas estruturas são
apresentadas por meio da construção manual (Figura 1.15) própria da técnica artesanal de
origami possuem semelhança formal com embalagens industrializadas (Figuras 1.16 e
1.17).
Figura 1.15 – Exemplos de construções em origami.
Fontes:http://www.flickr.com/photos/oschene/96734795/in/set-1457200/;
http://origami.oschene.com/archives/2005/11/20/pentagonal-compass-rose-box-and-quiddity/;
http://www.flickr.com/photos/oschene/160148108/in/set-1457200/
Figura 1.16 – Embalagem de alimento que tem semelhança formal com os
origamis indicados na figura 1.15.
Fonte: Arquivo da autora.
Figura 1.17 semelhança formal entre uma embalagem artesanal feita em origami
esquerda) e uma de produção industrial (à direita).
Fonte (origami): Seibido Mook, 2000, p.21.
Fonte (embalagem industrial): http://powerfullbrands.blogspot.com/.
33
Próprio da técnica de origami e da confecção de embalagens, outro aspecto que liga
ambos é a configuração de formatos através da divisão espacial com a utilização da
geometria. Ao observar alguns estudos geométricos provindos da cnica de origami é
possível compará-los às plantas de embalagens planificadas (Figura 1.18).
Figura 1.18 Ambos os esquemas acima indicam a demarcação de área para construção de caixas. A figura à esquerda
apresenta o registro de todas as dobras que delimitam a divisão espacial para tridimensionalização através do origami. A
figura à direita mostra o esquema de uma faca de impressão para o corte e vinco de uma caixa em produção industrial.
Fonte: Arquivo da autora.
Assim, análises visuais indicam que um paralelo entre o origami e a construção de
determinadas embalagens, já que esteticamente suas características são análogas. Esta relação,
no entanto, é hipotética, na medida em que não se tem dados para afirmar que o conhecimento
da técnica de dobradura esteve presente nos procedimentos projetuais de tais produtos. A
compreensão do método de projeto, com as etapas que cercam a concepção de uma
embalagem, pode dar margem à união do processo projetual com a técnica de dobradura. Por
este motivo, o capítulo seguinte apresenta a descrição e a confrontação de tais métodos.
34
2 MÉTODOS PARA PROJETAÇÃO DE EMBALAGEM
A fim de investigar os métodos projetuais de embalagem, descrevê-los e compará-los,
o presente capítulo retrata onze deles, selecionados a partir da premissa de busca em
publicações da área, mais especificamente em literatura especializada. A pesquisa acerca dos
métodos é resultado de uma investigação que apontou a totalidade de livros brasileiros que
abordam o assunto publicações essas vendidas nas principais livrarias brasileiras até o final
do ano de 2008 e tratam do tema embalagem perpassando por descrições de processos
projetuais. Os métodos também refletem o apontamento de especialistas
2
caso dos métodos
Calver, UAM e Stewart (abordados, respectivamente, nos itens 2.1.3, 2.1.9 e 2.1.10) ou o
interesse na investigação de técnicas do design estratégico – caso do método do Politecnico di
Milano (abordado no item 2.1.11)
Para que cada um dos métodos abordados seja analisado em seus pormenores, o
capítulo inicia com um descritivo de cada método (item 2.1). Esta etapa descritiva não se
estenderá a um olhar analítico, estando centrada no apontamento das etapas projetuais
propostas pelos autores e limitando-se a indicação dos principais pontos por eles tocados. A
fase de análise, no entanto, estará apresentada ao final deste capítulo (item 2.2), quando é feito
um comparativo dos métodos a partir de suas similaridades e diferenças.
2.1 DESCRIÇÃO DE MÉTODOS PROJETUAIS
Os métodos são apresentados de acordo com o enfoque dado pelos autores
pesquisados, respeitando termos por eles utilizados e, inclusive, mantendo a linearidade das
propostas projetuais. Os onze métodos, listados por ordem temporal de publicação,
apresentam-se da seguinte forma: (1) Moura e Banzato, de Reinaldo A. Moura e José M.
Banzato, 1997; (2) Pereira, de José Luis Pereira, 2003; (3) Calver, de Giles Calver, 2004; (4)
Mestriner 2002/2005, de Fábio Mestriner, apresentado em duas publicações complementares,
uma de 2002 e outra de 2005; (5) Mestriner 2007, também de Fábio Mestriner, 2007; (6) FAG
8, de Floriano do Amaral Gurgel, 2007; (7) Seragini, publicado por Celso Negrão e Eleida
Camargo, 2008; (8) Carvalho, de Maria Aparecida Carvalho, 2008; (9) UAM, publicado por
2
O apontamento de especialista refere-se à indicação do todo em literatura brasileira – caso do método UAM, uma
publicação citada por Negrão e Camargo (2008) – e apreciação de publicações que, caso dos métodos britânicos descritos por
Calver e Stewart, refletem a afirmação do especialista Lincoln Seragini (Cohen, 2008): “O melhor design gráfico de
embalagem hoje em dia é, reconhecidamente, o da Inglaterra. As embalagens das marcas próprias britânicas viraram
referência para o mundo”.
35
Maria Dolores V. Giovannetti, em 1997, e por Celso Negrão e Eleida Camargo, em 2008; (10)
Stewart, por Bill Stewart, 2008; (11) Politecnico di Milano, uma compilação da tese de
doutorado de Erik Ciravegna, de 2008, e da publicação organizada por Valeria Bucchetti em
2007.
2.1.1 Moura e Banzato
O método projetual apresentado por Moura e Banzato (1997) é parte de uma
apresentação que engloba o processo, desde o planejamento da embalagem até a sua logística.
Os autores destacam que “o projeto da embalagem deve ser considerado como um enfoque
sistêmico” (MOURA; BANZATO, 1997, p.54), recomendando os seguintes passos para que
nenhum aspecto do projeto seja desconsiderado: conhecer o produto; definir o ambiente de
distribuição; escolher os materiais da embalagem; projetar e fabricar protótipos de
embalagens; testar os protótipos das embalagens; emitir especificações e critérios de
qualidade.
Para representar as fases que compõem o método projetual, Moura e Banzato
apresentam um esquema (Figura 2.1) que perpassa as seguintes etapas: (1) Levantamento de
dados; (2) Desenvolvimento da embalagem; (3) Construção do protótipo; (4) Teste da
embalagem; (5) Revisão ou aperfeiçoamento da embalagem; (6) Especificações.
Figura 2.1 – Esquema de planejamento de uma embalagem segundo Moura e Banzato (1997, p.56)
O levantamento de dados, abrange a investigação de quatro pontos denominados pelos
autores como: conhecimento do produto, dos materiais de embalagens, das condições
logísticas e das condições formais. Ainda, para o melhor gerenciamento dos dados coletados
nesta fase, Moura e Banzato recomendam o estabelecimento de linhas de comunicação entre a
36
função da embalagem e outras funções na empresa, além de sugerir o desenvolvimento de
checklists que permitam que a organização obtenha informações.
Após o levantamento de dados passa-se a fase do desenvolvimento da embalagem, que
consiste de uma estrutura de procedimentos para a criação da mesma. Para Moura e Banzato,
a escolha do processo a ser utilizado deve ser baseada, principalmente, na forma do material
manuseado, nas suas propriedades, nas quantidades movimentadas e na proteção que o
produto exige para o trânsito e movimentação. Os autores destacam, nesta etapa, a
importância de observar uma série de elementos proteção, probabilidade de dano, logística,
estocagem, custo que servem de parâmetro ao desenvolvimento projetual e, ao mesmo
tempo, minimizam perdas e mantêm o produto intacto.
A construção do protótipo ocorre quando, após coletar informações e usá-las para
desenvolver as necessidades da embalagem, escolhem-se os materiais e a alternativa que
contemplará tais necessidades. Para tanto, os autores destacam três pontos: a embalagem final
reúne diferentes necessidades e deve-se escolher a que melhor atenda a um conjunto de
prioridades; o projeto deve ser voltado à simplicidade, evitando uma embalagem complexa
que atrapalhe o processo; possíveis inovações formais devem ser aplicadas com cautela,
especialmente se há boa aceitação da embalagem.
Após a construção do protótipo, o teste da embalagem procura examinar se a
embalagem escolhida atende às necessidades estabelecidas. A finalidade do teste é
determinar o desempenho da embalagem sob condições específicas.
A revisão ou aperfeiçoamento da embalagem compõe a fase que consiste em
responder às mudanças na informação, necessidades, materiais, processos, regulamentos,
preferência do consumidor, canais de distribuição ou qualquer outro fator” (MOURA;
BANZATO, 1997, p.73). Para esta etapa os autores sugerem: o aperfeiçoamento da
embalagem de maneira contínua e organizada; não limitar o aperfeiçoamento à redução de
custo, pois a mudança na embalagem pode compensar o aumento no valor; desenvolver um
processo de auditoria a fim de encontrar oportunidades de tornar a embalagem mais eficiente
e atender às necessidades da empresa.
A última fase da proposta de Moura e Banzato é a contemplação das especificações,
quando as informações coletadas anteriormente são utilizadas para formulação das
necessidades que informam o que a embalagem deve proteger. Os autores sugerem considerar
os seguintes itens nesta etapa projetual: especificação de normas por escrito; colocação de
necessidades em termos mensuráveis; promoção entre os envolvidos no projeto – da
comunicação das informações sobre as quais as necessidades são baseadas.
37
2.1.2 Pereira
O método projetual apresentado por Pereira (2003) trata da programação de
embalagens, dando enfoque ao papel como suporte. Pereira destaca seis fases projetuais
(Figura 2.2): (1) Briefing; (2) Pesquisa de campo; (3) Planejamento conceitual; (4)
Especificações de projeto; (5) Projeto preliminar; (6) Mock-up da embalagem.
Figura 2.2 – Etapas do método Pereira (2003).
A etapa inicial do design de embalagens, segundo o autor, diz respeito ao
conhecimento do público ao qual se destina o produto ou serviço. Os programas e
metodologias de pesquisa são suportes para conhecer tal público, pois incluem “a capacidade
perceptiva dos detalhes dessas embalagens por parte dos consumidores, avaliando a correta
captação de informações quanto a compreensão e utilização do produto/serviço” (PEREIRA,
2003, p.80).
O início da busca por informações acerca do consumidor é parte do briefing
3
, cuja
correta aplicação e elaboração ajudam, segundo o autor, no sucesso de venda dos produtos.
Pereira destaca que é tarefa do designer de embalagens prospectar todas as informações úteis
ao desenvolvimento do projeto. Desta forma, o profissional de design deve, na etapa do
briefing, mapear informações sobre o projeto, além de definir com o cliente os locais para
elaboração do estudo de campo e obter junto a ele os folhetos promocionais, pesquisas e
desenhos técnicos.
Conforme diretrizes acertadas no briefing, passa-se à fase de pesquisa de campo.
Nesta etapa, Pereira incorre ao levantamento de informações objetivas como dados dos
3
Briefing é um “resumo; série de referências fornecidas contendo informações sobre o produto ou objeto a ser trabalhado,
seu mercado e objetivos. O briefing sintetiza os objetivos a serem levados em conta para o desenvolvimento do trabalho.
(ADG, 1998, p.18). Ainda, segundo Phillips (2008, p.13), um briefing de design deve conter informações mais específicas e
estratégicas, sendo preparado de forma colaborativa entre o solicitante e o grupo do projeto, após diversos entendimentos
entre a natureza do projeto, a forma de executá-lo, prazos e recursos disponíveis.
38
concorrentes, preços, entre outros e subjetivas como indicativos de valores estéticos na
categoria. É também nesta fase da pesquisa que se colhe detalhamentos a respeito do público-
alvo e se estabelece ações para atingi-lo.
Na sequência da pesquisa de campo é indicada a fase de planejamento conceitual
quando, citando a proposta metodológica de Lincoln Serragini
4
e de Gui Bonsiepe
5
, Pereira
apresenta o princípio da interatividade, explorando os princípios da solução. Para tanto, o
autor indica que o objetivo nesta fase do projeto é identificar o problema, que será
solucionado pela embalagem, de forma simples e breve. Também mostra a importância da
análise das necessidades, sendo esta base e justificativa para o desenvolvimento do projeto, a
estruturação das soluções para os problemas levantados.
Assim que definidas as opções para desenvolvimento da embalagem segundo
resultados da análise, inicia-se o projeto preliminar com a geração de croquis da embalagem e
configurações formais, aspectos ergonômicos, uso de cores e grafismos, indicação de
materiais, sistemas de abertura e fechamento, planificações e acabamentos, vincos e dobras,
entre outros. Ao final desta fase, indica-se a possibilidade de geração de um mock-up
6
da
embalagem.
2.1.3 Calver
Em sua publicação, Giles Calver
7
discorre acerca de diversos temas que contribuem
para o processo de desenvolvimento de uma embalagem. Entre os temas, destacam-se:
4
A proposta metodológica de Lincoln Seragini é detalhada no item 2.1.7 e a apresentação de sua biografia profissional consta
no capítulo 3.
5
Gui Bonsiepe nasceu em Gluecksburg, Alemanha, em 1934. Diplomou-se na High School em Stuttgart e graduou-se no
Departamento de Informação da Hochschule für Gestaltung (Escola Superior da Configuração), de Ulm. Foi docente na
mesma instituição e trabalhou na América Latina, com experiências expressivas no setor do Design no Chile, na Argentina e
no Brasil. Nos anos 80 fixou residência no Brasil onde passou a trabalhar como pesquisador do CNPq, tendo sido também o
criador e primeiro coordenador do Laboratório Brasileiro de
Design, em Santa Catarina. Fonte: Escola Superior de Desenho Industrial, http://www.esdi.uerj.br/noticias/p_bonsi.shtml.
6
O mock-up consiste de um “modelo de um produto ou embalagem em qualquer escala, utilizado para avaliações em geral e,
muitas vezes, para produção fotográfica” (ADG, 1998, p.74).
7
Giles Calver é especialista em consultoria de design e branding. Ele faz uso do desenvolvimento estratégico e de
planejamentos em torno de uma série de disciplinas de projeto. Graduou-se na University of Western Ontario, em 1983, e
construiu sua carreira atuando na Ogilvy & Mather Direct, DMB&B Direct e Pearson Paul Haworth Nolan. Por dezesseis
anos, de 1990 a 2006, foi diretor de consultoria em design multidisciplinar na Lippa Pearce Design, de Domenic Lippa e
Harry Pearce. Entre as companhias e organizações assessoradas por Calver na área de design, branding e estratégias
comunicacionais, citam-se: Associa, BAA, The Boots Company, The Co-operative, Certa (UK) Limited, Eversheds, HM
Revenue & Customs, New Hall Projects, The Nichols Group, Planet Organic, TDK Europe e Yell. Calver possui dois livros
publicados: What Is Packaging Design? e Retail Graphics. Fonte: DBA.
39
reflexões sobre o mercado, a embalagem no contexto do mix de marketing, comportamento
do setor e considerações ambientais. Calver, ao definir a concepção da embalagem, elenca
cada um dos elementos dividindo-os em estruturais e gráfico de superfície os quais serão
abordados mais adiante. Seguindo as descrições de Calver, sua metodologia (Figura 2.3) pode
ser organizada da seguinte forma: (1) Briefing; (2) Compreensão do briefing; (3)
Desenvolvimento estrutural; (4) Desenvolvimento gráfico de superfície.
Figura 2.3 – etapas projetuais conforme método apresentado por Calver (2004).
O briefing, segundo o autor, deve apresentar limitações e restrições ao designer, dando
objetivos para o desenvolvimento do projeto e parâmetros sobre a proposta da marca, sobre o
mercado e o público ao qual se destina. A compreensão do briefing é a união das instruções
do briefing à habilidade e experiência do designer para examinar, avaliar, selecionar,
organizar, enfatizar, simplificar, gerenciar e adaptar às circunstâncias do projeto.
A compreensão do briefing é essencial na construção dos elementos estruturais e
gráficos, sendo que é a boa análise do briefing que permitirá a indicação de metas e objetivos
na elaboração do projeto da embalagem. O trabalho do designer, segundo Calver (2004, p.70),
consiste do entendimento quanto ao pedido do cliente, desenhando uma solução que satisfaça
questões como: transporte e armazenamento, manipulação do produto, exposição e
merchandising, seleção de materiais e respeito ao meio ambiente, custos e fabricação.
Calver destaca que muitos fatores relacionados com o desenvolvimento estrutural
requerem conhecimento dos materiais e suas composições, resistência e comportamento
físico, processos de fabricação e tecnologias de envase. O autor afirma que o desenvolvimento
técnico da embalagem deve ser acompanhado, por exemplo, de preocupações quanto à
idoneidade logística e de produção.
Junto à definição estrutural, ocorre o desenvolvimento gráfico de superfície. Calver
enfatiza a importância da busca pela inovação, através do uso de elementos gráficos
40
combinados de maneiras diferenciadas. O autor faz reflexões acerca do uso da tipografia, da
disposição e hierarquia das informações na embalagem; a utilização das partes que compõe o
corpo da embalagem; a linguagem gráfica de acordo com o público-alvo; a inserção da
fotografia ou ilustrações; o uso de cores, símbolos e ícones; a apresentação do peso, medidas e
código de barras.
2.1.4 Mestriner 2002/2005
Mestriner apresenta dois tipos de métodos que se diferenciam, especificamente, por
sua aplicação. O primeiro, de 2002 e 2005, aborda o design de embalagem focado em seus
aspectos projetuais. O segundo, de 2007 (item 2.1.5) tem uma dimensão, denominada pelo
autor, estratégica.
Destacando pontos chave para o design de embalagens, Mestriner (2002, 2005) divide
a metodologia projetual em cinco passos (Figura 2.4): (1) Briefing; (2) Estudo de campo; (3)
Estratégia de design; (4) Desenho; (5) Apresentação e Implantação do projeto.
Figura 2.4 – Etapas metodológicas para projetação de embalagens segundo Mestriner (2002, 2005).
A definição do briefing demarca o início do projeto, consistindo do mapeamento das
informações que permearão o trabalho. Mestriner (2005) destaca que a ênfase dada pelos
clientes, nesta etapa, está normalmente nos resultados mercadológicos, cabendo ao designer
abordar questões quanto aos aspectos da produção industrial e sua operação na linha de
envase, além de informações mercadológicas.
Seguindo as principais diretrizes do briefing, o estudo de campo engloba o
levantamento de informações acerca do ponto-de-venda, do público-alvo, dos concorrentes,
da categoria do produto e de oportunidades mercadológicas. Em geral tais dados são colhidos
41
in loco, observando como os consumidores se comportam frente aos produtos nos ambientes
de venda.
Partindo das observações colhidas no estudo de campo, elabora-se a estratégia de
design caracterizada, segundo Mestriner, entre quatro tipos básicos, que podem ser utilizados
para posicionar um produto, através da embalagem, na competição em gôndola: (i) inovar e
criar algo que não exista na categoria, fazendo com que o produto tome formas que apelem
para a curiosidade do consumidor; (ii) romper com essa linguagem da categoria, adotando a
diferenciação em relação aos demais participantes; (iii) estabelecer um novo padrão visual na
categoria; (iv) inserir o produto na categoria.
Com a estratégia definida, o passo seguinte do método proposto Mestriner consiste da
projetação visual da embalagem, quando se inicia a etapa do desenho. Para melhor
configuração deste estágio, o autor sugere o uso de um checklist ou lista de checagem.
A etapa do desenho compõe-se da construção ou do uso de diversos itens, entre eles:
forma da embalagem; cor de destaque e cores de apoio; imagens ilustrativas; logotipo do
produto e/ou da marca; tipologia nos textos de destaque e nos textos legais; elementos de
fundo. A composição desses itens deve tornar visível o que foi definido da etapa da estratégia
e destaca a hierarquia das informações, observando a distribuição dos elementos principais e
de outros mais periféricos. A confecção do protótipo e a simulação em gôndola, além da
comparação junto às embalagens concorrentes, também são atividades realizadas nessa etapa.
Depois de configurada a estrutura formal e estética da embalagem, Mestriner ainda
inclui uma etapa metodológica denominada apresentação e implantação do projeto. Nesta
fase, o designer apresenta o desenvolvimento do projeto ao cliente, passando a ele todos os
estágios que permitiram a formatação do resultado final. Assim que aprovado, o projeto passa
para fase de pré-produção e em seguida para fabricação.
2.1.5 Mestriner 2007
Outra metodologia projetual, publicada por Mestriner (2007), denomina-se Programa
de Inteligência da Embalagem, contituindo-se de um método integrador de subprogramas: (i)
Programa de Design; (ii) Programa de Inovação; (iii) Programa de Utilização de
Embalagens como Ferramenta de Marketing, Veículo de Comunicação e Elo de Integração
com a Web. A metodologia consiste da montagem e implantação do Programa em empresas,
utilizando para tanto um roteiro que se constitui de seis etapas (Figura 2.5): (1) Briefing do
42
projeto; (2) Diagnósticos; (3) Estratégia; (4) Fixação do objetivo central do programa; (5)
Definição das ações nos subprogramas; (6) Aplicação do Programa de Inteligência da
Embalagem.
Figura 2.5 – Etapas metodológicas segundo Mestriner (2007).
Mestriner destaca que essa metodologia envolve sistematizações de uma série de
procedimentos e atividades nas empresas. O projeto deve ser iniciado com a elaboração de um
escopo, o qual o autor denomina briefing. Essa primeira etapa do projeto consiste do
levantamento de informações em quatro campos complementares, que permitem conhecer o
produto e suas características, a embalagem, o mercado, o consumidor e os concorrentes.
Ainda nessa etapa, o autor sugere um estudo de campo, visitando pontos-de-venda e
procedendo com uma análise detalhada dos concorrentes.
Por meio de um objetivo central, para o qual todas as ações convergem, inicia-se com
o diagnóstico na empresa, a fim de conhecer em detalhes as suas características, deficiências
e potencialidades. Para essa segunda etapa da metodologia, Mestriner propõe os seguintes
passos: (i) montagem do quadro da categoria posicionando cada um dos componentes de
acordo com determinadas classificações, tais como preço do produto, participação de mercado
ou posição que ocupa na categoria, agrupamento dos produtos por cor e por tamanho; (ii)
diagnóstico do design das embalagens segundo a forma, a cor, a imagem, o logotipo, as
informações complementares e o verso; (iii) diagnóstico das funções de marketing analisando
como são as ações utilizadas pelos concorrentes da categoria; (iv) diagnóstico da inovação no
intuito de promover a produção e lançamentos de novidades na categoria; (v) diagnósticos
complementares, tais como: aspectos ligados à produção, à linha de envase e aos
fornecedores; (vi) síntese do diagnóstico.
Tendo os objetivos efetivados, passa-se para a consolidação da estratégia, quando o
autor recomenda a seleção de ações fáceis e rápidas, que tornem a estratégia simples e
43
compreensível e, assim, bem-sucedida. Mestriner também destaca que a síntese da estratégia
visa atender o que foi apontado na etapa do diagnóstico. O autor apresenta alguns tipos de
estratégia: (i) o uso da liderança competitiva, quando planeja-se manter a embalagem à frente
da categoria, liderando tendências; (ii) manter um programa intensivo de inovação, a fim de
capturar valor, criar diferenciação e obter vantagem competitiva; (iii) a observação dos
posicionamentos da categoria para manter-se na liderança ou para identificar posições
vulneráveis; (iv) fazer a embalagem trabalhar para a marca, adotando uma identidade de linha.
O quarto passo proposto por Mestriner, a fixação do objetivo central do programa,
consiste do momento em que um foco preciso é definido a partir do conhecimento da
empresa, de seus produtos, da forma como competem no mercado e dos seus recursos
internos. Segundo o autor, a fixação do objetivo consiste de uma meta construída por meio da
“convergência dos objetivos de marketing com as metas de crescimento, as ações defensivas,
as correções que precisam ser feitas e outros aspectos identificados no diagnóstico do
sistema” (MESTRINER, 2007, p.61).
O objetivo central do programa auxiliará na definição das ações nos subprogramas.
Nesta etapa, são identificadas ações necessárias em cada um dos subprogramas para que, na
montagem do programa de inteligência, sejam organizadas e hierarquizadas no conjunto das
ações gerais. Os subprogramas Programa de Design; Programa de Inovação de
Embalagem; Programa de Utilização de Embalagens como Ferramenta de Marketing,
Veículo de Comunicação e Elo de Integração com a Web – têm o objetivo de detectar
oportunidades competitivas para a embalagem, sendo que autor apresenta roteiros específicos
para cada um deles.
O sexto e último passo da metodologia proposta por Mestriner é a aplicação do
Programa de Inteligência da Embalagem. Após definidas as metas em cada um dos
subprogramas, as ações são reunidas, organizadas e estabelece-se uma ordem de prioridade
para realização de cada uma delas. O autor destaca que é preciso integrar todas as ações ao
objetivo central do programa e, ainda, dispô-las num gráfico (Figura 2.6) a fim de que sejam
enxergadas em conjunto.
44
Figura 2.6 – Figura destacada no livro “Gestão estratégica de
embalagem”, representando a essência do programa apresentado por
Mestriner. O autor ressalta a importância de hierarquizar as ações.
Fonte: MESTRINER, 2007, p. 42.
2.1.6 Fag 8
O método projetual FAG 8, assim denominado pelo autor Floriano do Amaral Gurgel,
consiste de oito fases (Figura 2.7) subdivididas em três etapas. A primeira delas, Definição da
proposta de trabalho, abrange as duas primeiras fases: (1) Atendimento das necessidades dos
consumidores e (2) Avaliação do custo da embalagem. A segunda etapa, o Desenvolvimento
tecnológico, constitui-se das terceira, quarta e quinta fases: (3) Desenvolvimento da
embalagem; (4) Desenvolvimento dos desenhos finais da embalagem e (5) Sistema de
informação do projeto da embalagem. A terceira etapa, a Avaliação econômica do projeto, é
formada pelas três últimas fases: (6) Correção dos rumos; (7) Viabilidade comercial da
embalagem e (8) Revisão crítica.
45
Figura 2.7 – Etapas projetuais do método Fag 8, conforme Gurgel (2007).
A primeira fase, atendimento das necessidades dos consumidores inicia-se com
desenhos em forma de esquemas à mão livre. A partir deste desenvolvimento inicial, definem-
se os níveis de diferencial que poderão ser assumidos pela embalagem e as possibilidades de
se formar uma família de produtos a partir do produto inicial. Esta questão permeia o
atendimento de diferentes segmentos de mercado, detectados por meio do estudo da
comercialização. Deve-se, então, gerar a descrição do conceito do segmento e sua aplicação
na embalagem.
A segunda fase do método FAG 8, a avaliação do custo da embalagem, envolve a
definição do preço pelo qual o produto poderá ser vendido no mercado. Fixado o valor
mercadológico, seguem os exames em outras embalagens disponíveis no mercado,
procurando encontrar similaridades de matéria-prima, de forma, de tecnologia e de preço em
relação à embalagem em questão.
Entrando na segunda etapa do método, a terceira fase constitui-se do desenvolvimento
da embalagem – um conjunto de tarefas de cunho técnico: (i) desenhos preliminares de
engenharia a partir dos esquemas à mão livre; (ii) estudo inicial da embalagem de contenção,
de apresentação no ponto-de-venda e de comercialização; (iii) definição da embalagem de
movimentação e transporte; (iv) seleção de matérias-primas; (v) especificações técnicas das
matérias-primas; (vi) definição das normas de ensaios; (vi) definição das exigências
mercadológicas e das normas de segurança.
Por se constituir de uma fase de estruturação da forma, o autor ainda apresenta os
estágios do desenvolvimento e as ferramentas para tanto, abrangendo o cuidado em torno de
quatro itens: (i) relacionamento de todos os envolvidos no processo de desenvolvimento; (ii)
46
revisões funcionais, analisando a situação em que se encontra a embalagem para direção aos
objetivos propostos; (iii) formalização por escrito do briefing; (iv) execução do projeto,
envolvendo a análise crítica do briefing, da execução gráfica e da estrutura da embalagem,
além de observar indicações ou limitações técnicas e mercadológicas.
Segue-se, assim, com o desenvolvimento dos desenhos finais da embalagem, quando
são executados, detalhadamente, todos os desenhos de engenharia e gráficos, além da listagem
das matérias-primas. Estima-se, nessa etapa, as quantidades de embalagens a serem
utilizadas por mês e indica-se de que maneira a embalagem será montada.
A seguir, o sistema de informação do projeto da embalagem prevê a utilização do
sistema de codificação de materiais implantado na empresa para elaboração do sistema de
informações. A sua boa construção permitirá a utilização nas etapas de planejamento,
aquisição e armazenamento de embalagens e no orçamento de custos industriais.
numa etapa de avaliação econômica do projeto, a correção de rumos indica que a
equipe do projeto assuma as funções de desenvolver embalagens que possam resultar em
lançamentos de produtos e impedir que a empresa lance embalagens predestinadas a
apresentar problemas no embalamento, na logística e no ponto-de-venda.
Com as seis primeiras etapas concluídas, implanta-se uma fase de análise crítica do
projeto, denominada viabilidade comercial da embalagem. Atuando como instrumental
preparatório para a avaliação final, a análise é elaborada abrangendo os seguintes pontos
setoriais: (Setor 1) Requisitos avaliação do desempenho da embalagem com relação aos
requisitos iniciais; (Setor 2) Custo objetivo avaliação dos custos reais em relação ao
objetivo; (Setor 3) Matérias-primas e materiais complementares pesquisa e determinação
da especificação dos materiais a serem utilizados no projeto da embalagem; (Setor 4) Revisão
dos desenhos revisão dos desenhos do projeto; (Setor 5) Revisão do sistema de montagem e
embalamento teste do sistema de abertura e montagem da embalagem e ajuste junto aos
equipamentos da linha de embalamento na fábrica.
A oitava e última fase do método FAG 8 é a revisão crítica, que parte dos conceitos de
produto estrela, dúvida e frio. O produto estrela é aquele que o valor mercadológico supera o
valor econômico. O dúvida é o produto cujo valor mercadológico é pouco superior ao valor
econômico. O produto frio é aquele que tem o valor mercadológico inferior ao valor
econômico. Assim, no final da revisão crítica, são elaboradas alternativas de embalagens que
associam melhorias de desempenho, reduções de custo e variações do nível de investimentos.
47
2.1.7 Seragini
Negrão e Camargo (2008) apresentam o Método Seragini indicando que Lincoln
Seragini
8
considera o planejamento como fato essencial para o sucesso de um projeto de
embalagens e, consequentemente, de um produto. O todo Seragini propõe o
desenvolvimento da embalagem a partir de sete estágios (Figura 2.8): (1) Identificação do tipo
de desenvolvimento; (2) Planejamento preliminar; (3) Desenvolvimento estrutural; (4)
Desenvolvimento formal e gráfico; (5) Implantação; (6) Embalagem operando; (7) Avaliação
e correção das falhas.
Figura 2.8 – etapas projetuais do método Seragini conforme descrito por Negrão e Camargo (2008).
No primeiro estágio, a identificação do tipo de desenvolvimento do projeto, definem-
se os problemas, os objetivos e os conceitos projetuais. Considera-se, também, já nessa
primeira etapa, a predominância do projeto, estruturada de acordo com o tipo de produto e
seus requisitos de mercado.
No planejamento preliminar, o principal instrumento é o uso de um checklist
composto por uma parte de caráter técnico e outra de caráter mercadológico – entendido como
uma ferramenta sistematizada para colher informações do produto e evitar que detalhes sejam
esquecidos.
Após o planejamento preliminar, o método indica o desenvolvimento estrutural. Essa
etapa considera, segundo Negrão e Camargo (2008), os impactos formais, perceptivos e
8
Lincoln Seragini é um especialista em embalagem e um dos pioneiros na pesquisa deste universo no Brasil. Seu currículo
será detalhado no capítulo 3.
48
técnicos do material a ser aplicado na embalagem e na sua produção. Envolve a investigação
dos materiais e suas características físico-químicas, as possibilidades de produção em série, o
tipo de fechamento e abertura da embalagem, o acondicionamento e transporte do produto e
suas relações ergonômicas.
Como complemento da etapa estrutural ocorre o desenvolvimento formal e gráfico,
quando se realiza a programação visual da embalagem, concentrando a estratégia
comunicacional. Para tanto, são consideradas as seguintes informações: textos legais;
indicações de uso do produto; estratégias visuais de marketing; identidade da marca.
Depois de estruturado o desenvolvimento, passa-se para a implantação, que pressupõe
o estabelecimento de especificações quanto aos materiais empregados: definição da
característica e propriedade do material, do desenho técnico e suas respectivas tolerâncias, dos
testes de avaliação de qualidade.
Na continuidade aplica-se a etapa denominada por Seragini de embalagem operando,
que consiste da implementação do projeto. Negrão e Camargo (2008, p.142) destacam que
reavaliações nesse estágio devem ser constantes a fim de corrigir falhas, alterar materiais,
processos e componentes ou, até mesmo, para substituir a embalagem por uma nova. A
avaliação e correção das falhas é iniciada na etapa da embalagem operando, mas tem
continuidade por um tempo indeterminado.
2.1.8 Carvalho
A metodologia de projeto sugerida por Carvalho
9
(2008) perpassa por sete etapas
(Figura 2.9) definidas pela autora como “sequência lógica de um projeto”: (1) Definição; (2)
Estratégia; (3) Processo de criação; (4) Soluções; (5) Escolha da solução; (6)
Implementação; (7) Realimentação.
9
Maria Aparecida Carvalho é engenheira mecânica formada pela Universidade Católica de Petrópolis. É especialista em
embalagens e desenvolvimento de produtos e árbitro formada pelo Instituto Nacional de Mediação e Arbitragem. É
articulista de revistas especializadas em embalagens. Atuou como professora convidada no curso de MBA, Gestão e
Engenharia de Produtos, da USP. É diretora técnica da JIT Assessoria e Consultoria.
49
Figura 2.9 – estapas metodológicas do projeto de embalagem apresentadas por Carvalho (2008).
O projeto inicia com o contato junto ao cliente. Na etapa de definição, deve-se
conseguir o maior número de informações do produto. Carvalho destaca a importância de
entender a forma do produto, bem como sua massa e configurações; limites de temperatura,
umidade e pressão; além de listar possíveis acessórios ou materiais agregados ao produto.
Após tais definições, passa-se à construção da estratégia do projeto. Levando em
consideração os custos envolvidos no projeto, a autora descreve alguns pontos a serem
considerados nesta etapa, quando se estabelece um conjunto de características que irá guiar o
contrato de profissionais específicos.
Para o processo de criação, Carvalho sugere uma lista que sirva de guia para
checagem das informações que interessam ao projeto: a busca de respostas para as questões
“como fazemos hoje?” e “como faz a concorrência?”. Com tais informações em mãos,
Carvalho destaca que ainda não se deve definir a embalagem final. Estas respostas são
requerimentos mínimos a serem atendidos e não servem para dar uma solução final ao projeto,
mas para listar possíveis formas de embalar o produto.
Após entender as premissas do projeto e desenvolver esboços de propostas, segue-se a
fase das soluções de embalagem. A partir de todas as informações coletadas, prepara-se um
checklist a fim de avaliar cada possível solução. Carvalho (2008, p. 90-91) comenta da
importância de uma reunião na fase de escolha das soluções, quando os membros da equipe
de criação mostram as ideias desenvolvidas e, preferencialmente, apresentam-nas em forma
de protótipos ou amostras. A autora descreve que, para escolha da solução, algumas
50
ferramentas podem ser utilizadas: brainstorming
10
, tabulação dos dados, votação e outras
técnicas de administração e anotação de variáveis.
A definição final dependerá de testes que verificam o desempenho esperado da
embalagem e ensaios que, por exemplo, comparam a matéria-prima com os componentes
da embalagem. Tendo os testes aprovados e a configuração da embalagem definida, passa-se
para uma fase de especificações, onde se constrói a documentação técnica os desenhos da
embalagem.
A etapa seguinte consiste da implementação, quando Carvalho sugere que, além de
checar o início da produção desde o teste até o lote-piloto –, também se observe a
distribuição do produto nos primeiros meses, acompanhando o lançamento.
De posse das informações procedentes do lançamento e dos primeiros lotes, é possível
fazer uma análise dos resultados. Para tanto, Carvalho indica que se obtenham informações de
todos os envolvidos no projeto. É necessário saber, segundo a autora, se está havendo
dificuldades com respeito à embalagem ou ao produto. São esses os dados que darão base
para a realimentação, garantindo a manutenção positiva do projeto.
2.1.9 Uam
Giovannetti
11
(1997) apresenta o método da Universidad Autónoma Metropolitana
(UAM, México). O mesmo método é também descrito por Negrão e Camargo (2008). O
método UAM constitui-se de cinco etapas (Figura 2.10), sendo elas: (1) Caso; (2) Problema;
(3) Hipótese; (4) Projeto; (5) Produção. Negrão e Camargo frisam que esta estrutura
metodológica tem a ideia de ser circular, não estanque. Exemplificam afirmando que muitas
vezes é necessário refazer as fases do projeto e produção ou repensar o problema e o enfoque
a fim de conseguir melhores resultados.
10
Brainstorming é uma técnica de produção de ideias desenvolvida por Alex Osborn, nos anos 40. A técnica, aplicada em
grupos de trabalho, é baseada em duas etapas. A primeira, denominada divergente, tem o objetivo de obter o maior número
de ideias possíveis. A segunda, convergente, consiste da seleção das ideias e de agrupamento em áreas comuns. Fonte:
NEGRÃO; CAMARGO, 2008, p.131.
11
Maria Dolores Vidales Giovannetti é formada em Diseño de la Comunicación Gráfica pela Universidad Autónoma
Metropolitana, Unidade Azcapotzalco, México. Atua no Departamento de Evaluación del Diseño en el Tiempo como
professora, onde também participou como chefe da área de Design Gráfico. Foi presidente da Asociación Mexicana de
Envase y Embalaje e do Comitê de Ensino e Formação desta associação. Por diversas vezes foi presidente do júri do
Certamen Envases Estelares. Tem formação em Envase y Embalaje através da AMEE, assim como em Marketing, pela
Universidad Iberoamericana, e Maestría en Estudios de Arte, pela mesma instituição. São publicações de sua autoria: El
envase en el tiempo, La historia del envase e Envase y mercadotecnia. Fonte: GIOVANNETTI, 1997.
51
Figura 2.10 – etapas do método UAM conforme Giovannetti (1997).
O que dá início ao projeto é o caso, descrito pelos autores como o momento em que se
conhece o cliente e obtém-se o briefing. É também neste momento que toma-se conhecimento
do cenário ao qual se aplica o projeto e busca-se informações sobre o mercado, os
concorrentes, os fornecedores, as tendências e outras informações que darão base ao projeto
como um todo.
Por meio dos levantamentos realizados diante do conhecimento do caso, passa-se a
questão central do projeto, o problema. Negrão e Camargo afirmam que, segundo cada caso, o
problema pode ser subdividido em subproblemas, compreendendo que a natureza do projeto
sintetiza questões de diferentes segmentos comunicacional, formal, funcional, econômico,
produtivo, entre outros.
Frente às questões indicadas pelo problema, os autores frisam que as hipóteses são as
respostas propostas pelo projeto. Segundo os autores, as hipóteses são derivações do
brainstorming: são esboços, rascunhos, estudos e demais indicativos projetuais que atendem,
de forma parcial ou plena, aos pré-requisitos estabelecidos nas etapas anteriores.
Normalmente são várias as hipóteses levantadas e, diante delas, escolhe-se a mais adequada a
fim de ser desenvolvida, dando forma ao projeto efetivo.
Assim, o amadurecimento da hipótese permite o início da fase de projeto, quando são
realizados os desenhos e as especificações cnicas, os modelos e os protótipos. Citando o
modelo de Bruce Archer (NEGRÃO; CAMARGO, 2008, p.134-136), os autores indicam um
projeto composto de três fases: (i) Fase analítica – que consiste do conhecimento do caso e do
problema; (ii) Fase criativa – formada pela elaboração de hipóteses e projeto; (iii) Fase
executiva – etapa da produção.
A fase de produção deriva do desenvolvimento do projeto, sendo a última etapa
indicada pelo método. É um procedimento de seriação e produção em escala, que pode ser
procedido por testes de caráter técnico ou mercadológico, já sendo possível visualizar e
entender a aceitação do mercado frente à embalagem e ao produto.
52
2.1.10 Stewart
Stewart
12
(2008) destaca que, para estruturação de projetos de embalagens, não há uma
maneira típica, mas que a maioria das concepções pode definir-se mediante o uso do modelo
que abrange oito etapas (Figura 2.11): (1) Briefing; (2) Investigação; (3) Fase 1 do desenho;
(4) Reunião de segmento; (5) Fase 2 do desenho; (6) Fase 3 do desenho; (7) Apresentação
final; (8) Fase 4 do desenho.
Figura 2.11 – etapas projetuais conforme método apresentado por Stewart (2008).
O briefing, primeira etapa do método, é descrito por Stewart como linhas mestres que
dão seguimento a todo o trabalho. Deve ser um documento escrito que registre o
entendimento entre o cliente e o designer, além de ser base para projeção do trabalho, dos
custos e do calendário do projeto. Segundo o autor, o primeiro passo num processo de design
é compreender perfeitamente o briefing, assimilando os detalhes e, em caso de dúvida,
solicitando ao cliente informações adicionais.
A segunda etapa, denominada investigação, consiste de uma fase que engloba a
pesquisa de mercado e o conhecimento do perfil do consumidor, além de estender-se à busca
de informações acerca do produto e da embalagem: onde são vendidos, como se utiliza, quais
são as competências e as estratégias de branding e de venda.
12
Bill Stewart é autor do livro Packaging Design (traduzido para o castelhano sob o título Packaging: manual de diseño y
producción). É professor de Embalagem e Design Gráfico na Sheffield Hallan University e, na mesma instituição, é membro
da Art & Design Research Centre e fundador da The Packaging Partnership, uma consultoria de embalagens integrada ao
grupo Design Futures. Fonte: STEWART, 2008.
53
A terceira etapa do método Stewart início a Fase 1 do desenho, descrito pelo autor
como a parte mais importante do projeto. Esta etapa contempla o desenho conceitual,
analisando as informações da investigação e propondo ferramentas para estimular a indicação
de ideias – como, por exemplo, o brainstorming – e a preparação de moodbords
13
.
A reunião de segmento é a quarta etapa da metodologia. Consiste de uma fase para
assegurar-se de que a ideia, em torno da concepção da embalagem, está seguindo um rumo
adequado e, ainda, para apresentar ao cliente as diretrizes do desenho e colher recomendações
acerca do trabalho posterior. A partir da reunião de segmento, dá-se sequência à fase 2 do
desenho. Esta etapa principia o processo de transformar as ideias em propostas reais. Para
tanto, uma seleção dos desenhos ideais deve ser feita.
Depois de escolher os desenhos cujos conceitos cumprem com o briefing, Stewart
indica que se passe para uma fase de reflexão mais aprofundada, trabalhando nos detalhes do
desenho da embalagem. Parte-se, desta forma, para as especificações da embalagem:
detalhamento técnico com indicação de todos os materiais e dimensões.
A partir das especificações técnicas, é possível iniciar a fase 3 do desenho, que
consiste da incorporação dos aspectos gráficos à forma estrutural definida. O autor sugere
que a parte visual da embalagem parta da divisão espacial na sua área, definindo dimensões
adequadas que indiquem a localização de imagens, ilustrações e textos.
Concluída a etapa de definição da estrutura e dos aspectos gráficos, passa-se à
apresentação do produto. Para tanto, são confeccionados os protótipos, os modelos digitais
bidimensionais e tridimencionais. Com estas informações constituídas, o material deve ser
organizado numa apresentação do processo, etapa denominada pelo autor de fase 4 do
desenho.
Para a fase 4, o autor dicas a respeito da entrega do projeto ao cliente, indicando a
montagem de pranchas de apresentação. Stewart sugere a mostra dos protótipos, mas também
a fotografia dos modelos e de uma programação visual condizente com o contexto da
embalagem.
13
Moodboard é uma ferramenta de apoio visual ao projeto, sendo constituído por referências tais como colagens de imagens
e textos. Segundo Steve Garner e Deana McDonagh-Philp (2008, p.58), fotografias, amostras de tecidos, desenhos, objetos,
texturas e cores reunidos através do moodboard podem exprimir emoções e sentimentos relacionados ao briefing do projeto.
54
2.1.11 Politecnico di Milano
Visto o interesse pela busca de métodos projetuais em embalagem que se
aproximassem da configuração do Design Estratégico, partiu-se para a pesquisa de
profissionais e entidades italianas que poderiam sustentar uma estrutura metodológica
diferenciada. Neste sentido, chegou-se a um exemplo desenvolvido no curso de Design de
Comunicação, do Politecnico di Milano
14
. Mesmo sendo um método especificamente
direcionado aos aspectos de comunicação especialmente visual nas embalagens, a
exposição do processo de pesquisa apresenta características que poderiam servir de
ferramentas para futuros desenvolvimentos projetuais.
A estrutura metodológica desenvolvida no Politecnico di Milano, encontra-se
registrada parte em uma tese de doutorado
15
e parte em uma publicação do próprio
Politecnico. A tese apresenta um aprofundamento teórico nos instrumentos de coleta
utilizados nesta pesquisa e a publicação apresenta os resultados projetuais construídos a partir
da aplicação acadêmica do tema. A linha condutora desta pesquisa encontra-se em temas que
abordam a comunicação e, em especial, a acessibilidade comunicativa através da embalagem.
A projetação desenvolvida nesta pesquisa, baseia-se numa ideia de responsabilidade
social por parte do designer. Segundo Valeria Bucchetti (BUCCHETTI, 2007, p.11), é
responsabilidade do designer de comunicação fornecer direcionamentos para redefinição do
dispositivo comunicativo, projetando, assim, soluções funcionais, sustentáveis e sensíveis a
figura do destinatário final.
Na publicação, resultante da pesquisa e projetação participada pelos acadêmicos do
Politecnico di Milano, não uma descrição pontuada e específica do método utilizado,
apresentando apenas os resultados, de forma ilustrativa e com alguma contextualização. Por
outro lado, a tese de Ciravegna descreve um método formatado no intuito de investigar
problemas de comunicação nas embalagens para, assim, solucioná-los. Enfatiza-se que o
método não consiste de etapas metodológicas projetuais, pois não apresenta maneiras
específicas de como resolver os problemas, mas sim, de como identificá-los.
Ciravegna apresenta um modelo de pesquisa basicamente formatado em cima de
quatro linhas: (1) sistema de avaliação; (2) arquivo de produtos; (3) linhas-guia; (4)
aprofundamento. Cada uma das linhas de investigação dá forma ao método de pesquisa
14
O Politecnico di Milano, localizado em Milão, Itália, foi fundado em 1863 e figura entre as mais importantes universidades
europeias nas áreas de engenharia, arquitetura e design.
15
Tese desenvolvida por Erik Ciravegna sob o tema “Progettare la qualità comunicativo-informativa dell’imballaggio:
metodi e strumenti perl’accesso ai contenuti informativinel packaging design”.
55
(Figura 2.12). Partindo do sistema de avaliação, Ciravegna propõe a inserção de uma série de
dados referente ao conteúdo informativo disposto na embalagem. Destaca-se que o autor está
propondo um sistema digital para tal investigação, sendo assim, o objetivo de sua pesquisa é
apresentar esse dispositivo digital de avaliação.
Figura 2.12 – etapas da pesquisa descrita por Ciravegna. Fonte: Ciravegna (2008, p.180-181).
Por meio de um arquivo de produtos, é possível estudar uma série de informações
pertinentes à comunicação na embalagem. Tais informações são dados descritos, por
exemplo, pela mensuração do contraste da escrita com o fundo, do comprimento e da
dimensão do caractere, pelo cálculo do tempo e dos gestos na análise das informações
rotuladas na embalagem.
A constituição das linhas-guia constrói o corpo da pesquisa, dispondo os resultados
provenientes da investigação, percepção e compreensão dos dados avaliados. O
aprofundamento, por outro lado, busca a contrapartida descrita na legislação e limitação
tecnológica, sendo que essas questões podem ser fatores delineadores do futuro projeto.
A pesquisa apresentada por Ciravegna está circunscrita numa etapa metaprojetual,
que a constituição do sistema digital, por ele proposto, é a construção de uma maneira de
investigação para a coleta de dados. Como indicado no texto da Introdução, o metaprojeto é a
idealização, o plano que antecede o processo projetual. Assim, a preocupação do autor neste
56
estudo não esteve focada na apresentação do produto final, mas na identificação de itens
relevantes que possam ser utilizados posteriormente, na etapa projetual.
A publicação do Politecnico di Milano em Packaging contro.verso (BUCCHETTI,
2007) é, por outro lado, o relato da etapa projetual. Em tal publicação, no entanto, não se
tem dados sobre a construção metodológica dos resultados. Os autores não se estendem na
descrição das fases constituintes do projeto, porém é possível construir algumas conclusões
(Figura 2.13) com base nas descrições projetuais apresentadas.
Figura 2.13 esquema mostrando as etapas metodológicas indicadas por Ciravegna (2008), na primeira linha do quadro, e
alguns passos da metodologia projetual desenvolvida no Politecnico di Milano, na segunda linha do quadro - coletados do
texto de Buchetti (2007).
Buchetti (2007, p.7) sinais do briefing ao afirmar que a problemática nele
apresentada revela-se através do que a autora chamou de “resposta a superação da repetição
acrítica do modelo difuso” do design. Comenta, ainda, de seminários a respeito do tema junto
aos alunos, além da importância da abordagem de assuntos relevantes a etapa projetual,
especialmente os relacionados com a comunicação da embalagem fator de ligação entre o
produto e o consumidor.
A publicação apresenta os resultados projetuais deste processo. A fim de exemplificar
a questão da acessibilidade comunicativa descrita neste livro, selecionou-se dois resultados
projetuais de embalagens desenvolvidas: uma por Paola Terzi , Stefania Tomasello e Andrea
Zambardi e outra por Eleonora Piana, Mario Porpora e Chiara Sartori.
57
A embalagem denominada Scadenze da Rispettare coordinate per orientarsi nel
tempo (Figuras 2.14 e 2.15), de Terzi, Tomasello e Zambardi, apresenta um layout gráfico que
valoriza a visualização da data de validade do produto. A observação do comportamento do
consumidor, no ponto de venda, revelou a desatenção quanto a esta informação, visto que a
mesma normalmente está localizada em zonas de pouca visibilidade na embalagem, além de
ter um tratamento gráfico que afeta a legibilidade do texto. Assim, o resultado projetual
constitui-se de uma embalagem que valoriza a data de validade como elemento gráfico,
informando-a ao consumidor de maneira rápida e ajudando na promoção do produto através
do destaque de sua qualidade (BUCHETTI, 2007, p.26-31).
Figuras 2.14 e 2.15 Imagens do conjunto de embalagens Scadenze da Rispettare coordinate per orientarsi nel
tempo, de Paola Terzi , Stefania Tomasello e Andrea Zambardi.
Fonte: CIRAVEGNA, 2008.
A embalagem desenvolvida por Piana, Porpora e Sartori foi denominada La tavola del
buonsenso Il food-packging per uma scelta consapevole (Figura 2.16). A embalagem foi
projetada pensando-se em chamar a atenção do consumidor para os valores nutricionais do
alimento, levando em consideração problemas sociais tais como sedentarismo e obesidade.
A tabela nutricional foi deslocada da zona de menor impacto e realocada para a área de maior
visibilidade na embalagem, passando a ser o centro da comunicação. Além disso, o design da
tabela nutricional foi repensado a fim de facilitar a leitura e compreensão por parte do
consumidor (BUCHETTI, 2007, p.42-47).
58
Figura 2.16 Imagens da embalagem Scadenze La tavola del buonsenso Il food-packging per uma scelta
consapevole, desenvolvida por Eleonora Piana, Mario Porpora e Chiara Sartori.
Fonte: CIRAVEGNA, 2008.
2.2 ANÁLISE COMPARATIVA
Após a descrição de cada um dos métodos, uma análise confrontando-as permite a
visualização de suas similaridades e diferenças. Para tanto, construiu-se um quadro
comparativo que posiciona cada um dos métodos dentro de uma ordem estabelecida de acordo
com a descrição dos seus respectivos autores. Embora as terminologias utilizadas pelos
autores nem sempre sejam as mesmas, a caracterização desenvolvida nas fases permite alocar
cada uma das etapas metodológicas dentro de temas específicos.
Compreendendo o conteúdo informado nos métodos, nomearam-se etapas gerais de
acordo com as caracterizações apresentadas autores, o que resultou em dezessete temas
projetuais, especificados e descritos a seguir:
(1) Briefing:
Referenciais formatados de maneira colaborativa entre o solicitante e o grupo de
projeto. Contém especificações gerais para o desenvolvimento da embalagem, o
produto contido nela, informes gerais sobre a identidade da marca, sobre o mercado e
os objetivos do trabalho.
(2) Imersão:
Envolvimento da equipe de projeto em torno do contexto (mercadológico, social,
cultural, conceitual) a ser trabalhado na embalagem. A imersão pode englobar
atividades como pesquisas em geral, seminários, visitas e entrevistas referentes ao
59
tema do trabalho. O intuito não é se aprofundar no tema em detalhes, mas
especialmente entender o meio de atuação do projeto.
(3) Problema
Identificação da natureza do projeto, contemplando o apontamento da principal
questão que a embalagem deverá resolver ao final do processo. Pode-se, também,
elencar subproblemas pontuando questões a serem verificadas no decorrer do projeto,
tais como as de aspecto comunicacional, formal, funcional, estético, econômico e
produtivo.
(4) Pesquisa
Levantamento de dados com ênfase no estudo de campo, visando aprofundar as
informações descritas no briefing. A pesquisa envolve a investigação e compreensão
do meio em que a embalagem atua ou atuará. Tem por objetivo colher informações em
profundidade acerca da marca e da categoria do produto, das necessidades dos
consumidores, da atuação da concorrência, das condições logística, produtiva e
mercadológica.
(5) Conceito
Estruturação, de forma sintética, da resposta ao problema. Consiste da junção das
informações até então coletadas, elegendo ações e ideias que darão direcionamento a
formatação da embalagem. O conceito se caracteriza como um planejamento que
descreve e qualifica qual será o alvo específico do desenvolvimento do projeto.
(6) Definições
Revisão do briefing juntando-o às demais informações até então coletadas. Trata-se da
listagem das normas que cercam o projeto da embalagem; da conferência, a partir da
definição do conceito, dos quesitos que devem constar na embalagem seus atributos
ergonômicos e estéticos e, também, da listagem de limitações técnicas ou
econômicas que envolvem o projeto.
(7) Forma
Trata-se do processo de desenvolvimento estrutural da embalagem, quando a equipe se
direciona especificamente para definição do formato. Conduzindo-se em torno do
conceito e considerando as definições gerais do projeto, diversas propostas são
desenhadas, discutidas e refinadas. A estruturação da forma engloba, ainda, a
60
investigação em torno do comportamento do material empregado, sua resistência e
composição.
(8) Superfície
O desenvolvimento gráfico é denominado de superfície, pois envolve a aplicação de
elementos impressos ou gravados sobre a estrutura da embalagem. Consideram-se,
especialmente, os aspectos estético visuais e a linguagem gráfica, tais como: cor,
tipografia, disposição e hierarquia das informações, inserção de imagens, símbolos e
ícones.
(9) Finalização
A finalização está relacionada à conclusão da proposta, sendo executados os
detalhamentos técnicos necessários a compreensão do projeto e os refinamentos que
permitem a compreensão das características gerais da embalagem.
(10) Solução
Trata-se da escolha da proposta que mais se adéqua a resolução do problema e ao
direcionamento conceitual. Comparam-se as diversas ideias e, dentre elas, escolhe-se a
proposta que melhor se apresenta como solução para o projeto.
(11) Construção
Envolve a confecção do protótipo ou mock-up da embalagem, a fim de visualizar e
verificar o volume e o dimensionamento da estrutura, seus aspectos ergonômicos,
estéticos e comunicacionais.
(12) Apresentação
As soluções são apresentadas ao cliente ou solicitante para sua análise quanto aos
aspectos comunicados no briefing e para sua aprovação ou apontamento de alguma
impossibilidade técnica.
(13) Implantação
Trata-se do estabelecimento de especificações e do preparo das documentações
técnicas que permitirão a fabricação da embalagem.
(14) Acompanhamento
O acompanhamento da produção é parte do trabalho para certificar-se que a fabricação
estará ocorrendo de forma correta, dentro dos parâmetros técnicos previamente
acertados.
61
(15) Testes
Exames referentes à qualidade física e estética da embalagem, avaliando
características técnicas e mercadológicas. Os testes permitem visualizar aspectos que
determinam o desempenho da embalagem sob condições específicas.
(16) Revisão
A revisão consiste de um aperfeiçoamento no projeto. Através de uma avaliação frente
à embalagem operando no mercado, é possível detectar falhas e/ou novas
necessidades, sendo recomendada a correção ou melhoria do projeto.
(17) Especificações
As especificações são uma parte da revisão, sendo que as informações colhidas
durante os processos anteriores são registradas, ou até mensuradas, a fim de gerar a
formulação de novas necessidades para projetos futuros.
O objetivo da nomeação dessas 17 fases foi articular os diversos métodos entre si,
promovendo um comparativo visual entre eles e permitindo, assim, a constatação de etapas
em comum e/ou específicas de cada método. Ressalta-se, ainda, que em dois métodos –
Mestriner 2007 e Politecnico di Milano os descritivos projetuais apontaram para fases
metaprojetuais. Nestes casos específicos, o levantamento metodológico também foi
reproduzido em um quadro (Figura 2.17).
Tanto o método Mestriner 2007 quanto o método do Politecnico di Milano apontam
para etapas metaprojetuais por abordarem levantamentos específicos que ocorrem antes da
fase propriamente projetual. O método Mestriner 2007 consiste de diversos diagnósticos
empresariais que culminam em definições de ações para, somente então, entrar numa fase
projetual. O método do Politecnico de Milano, conforme abordagem de Ciravegna (2008),
tem o objetivo de investigar um sistema de pesquisa em embalagens a fim de propor
melhorias estratégicas que constituirão a posterior fase projetual.
62
Figura 2.17 – Contextualização dos métodos que apresentam etapas metaprojetuais.
Assim, a principal análise comparativa permeou os estágios projetuais apontados por
todos os autores investigados, visto que o objetivo de tal levantamento foi entender como se
o processo de projeto para que, durante a fase de pesquisa, fosse possível compreender os
caminhos percorridos nas unidades de teste. Desta forma, o quadro comparativo (Figuras 2.18
e 2.19) aponta para caracterizações em comum, que dão critérios para compreensão de um
todo projetual.
63
Figura 2.18 – Primeira parte do quadro comparativo dos métodos.
64
Figura 2.19 – Segunda parte do quadro comparativo dos métodos.
65
Dentre as dezessete etapas nomeadas de acordo com os descritivos dos autores, nota-
se que apenas uma delas está presente em todos os métodos projetuais investigados. Trata-se
da etapa nomeada pesquisa, cujas características englobam o levantamento de dados acerca de
diversos itens que darão parâmetros para o resultado final do projeto de embalagens: o estudo
de campo, o conhecimento do consumidor e do público-alvo, a definição de planejamentos e a
constatação das informações que compõem o briefing.
Outra etapa presente nos métodos, porém não descrita e detalhada por todos eles, é a
etapa de construção da forma. Nesta fase, típica da etapa criativa, são apurados os desenhos e
boa parte das ideias que constroem a forma final da embalagem. Nota-se que todas as demais
etapas descritas pelos autores permeiam uma resposta provinda desta fase de criação da
forma. Assim, é possível afirmar que não método projetual de embalagem que não
contemple a etapa de construção, revisão ou aceitação da estrutura formal.
Os métodos dão parâmetro para afirmar, ainda, que a fase criativa do projeto inicia no
estabelecimento do conceito. Em alguns métodos, como Fag 8, Seragini, UAM e Calver, a
etapa conceitual é resultado mesclado com a etapa de pesquisa. De qualquer forma, a
construção do conceito engloba estratégias de posicionamento e planejamento do projeto,
dando assim, diretrizes para o desenvolvimento das etapas de criação.
A fase criativa é permeada pela aceitação ou exclusão de desenhos e ideias de acordo
com as possibilidades reais de implantação do projeto. Essas alternativas são citadas por todos
os autores pesquisados e envolvem aspectos quanto à viabilidade de custo, tecnologia,
inovação, diferenciação formal e aprovação através de testes.
A análise comparativa entre os métodos permite a constatação de que o uso de técnicas
diversas tais como origami não é impedido nas recomendações metodológicas. Também,
na mesma medida, o uso de tais técnicas não é citado ou indicado, ficando aberta a
possibilidade de investigação deste quesito dentro do desenvolvimento projetual.
66
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa trabalhou com a hipótese de que a inserção da técnica de origami na
projetação de embalagens pode produzir influências neste processo. Para verificação da
hipótese, traçou-se um escopo envolvendo uma pesquisa de caráter experimental, utilizando
essencialmente ferramentas que dão parâmetros para uma análise qualitativa do processo de
projetação de embalagens. A figura 3.1 indica o fluxo da pesquisa:
Figura 3.1 – Fluxograma da pesquisa.
O item 3.1 expõe o delineamento da pesquisa, indicando quais os parâmetros que
definem a investigação de natureza experimental e como a presente pesquisa foi desenhada a
fim de atingir seus objetivos. As unidades de estudo são apresentadas no item 3.2, onde se faz
uma descrição da empresa envolvida, bem como das unidades de teste. O item 3.3 engloba
uma exposição da forma de coleta de dados, sendo o item 3.4 a apresentação de como tais
dados foram analisados a fim de gerar os resultados.
67
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
A partir da hipótese de que a inserção da técnica de dobradura de papel pode produzir
efeitos no processo de projetação de embalagens, a pesquisa envolveu a manipulação de
variáveis por meio de uma experimentação. A técnica experimental se desenvolveu num
ambiente de workshop
16
, onde grupos pré-selecionados resolveram um briefing proposto
para pesquisa com base no problema de uma determinada empresa
17
.
A experimentação envolveu a verificação da hipótese através de testes de efeito em
grupos de controle e em grupos experimentais. Os grupos de controle foram compostos de
pessoas que não estiveram expostas à variável independente, nesse caso, o grupo que resolveu
o briefing sem o aprendizado da técnica de origami. Em contraste, a composição dos grupos
experimentais foi formada por aqueles que estiveram sujeitos ao tratamento experimental
(HAIR JR. et al, 2005, p.322), as pessoas que, no caso dessa pesquisa, receberam orientações
e passando pela aprendizagem da técnica de origami.
3.1.1 Experimentação
A experimentação é uma técnica de pesquisa que possibilita a alteração das variáveis
de interesse para observação das mudanças que seguem. As variáveis são sistematizadas de
maneira que o pesquisador manipula a chamada variável independente ou exploratória e
verifica se, a do tipo dependente, é afetada pela intervenção. Na experimentação pelo
menos uma variável independente e uma dependente (HAIR JR. et al, 2005, p.320).
Malhotra (2006, p. 217) descreve que as variáveis independentes, também conhecidas
como tratamento, são alternativas manipuladas pelo pesquisador e seus efeitos são medidos e
comparados. Os efeitos são sustentados por meio das unidades de teste, termo utilizado para
designar indivíduos, organizações ou outras entidades cuja resposta às variáveis
independentes está sendo examinada.
As variáveis que medem o efeito dos tratamentos sobre as unidades de teste, nomeiam-
se variáveis dependentes. Ainda, para variáveis diferentes da independente e que afetam as
respostas das unidades de teste e podem confundir as medidas da dependente, usa-se o termo
variáveis estranhas (MALHOTRA, 2006, p. 217).
16
Workshop é uma ferramenta utilizada na projetação. Outras informações são apresentadas no item 3.3.2.
17
Detalhes sobre a empresa estão expostos no item 3.2.1
68
Destaca-se que o caráter da presente pesquisa envolveu a probabilidade de
significativas interferências de variáveis estranhas, devido a não possibilidade de compor
grupos experimentais e de controle com características totalmente idênticas. A complexidade
das diversas variáveis estranhas poderia impossibilitar seu diagnóstico, por isso a condução da
investigação se estruturou sob o entendimento de que a assimilaridade entre os grupos é típica
de um contexto de workshop, sendo portanto, uma característica constante nessa pesquisa.
O diferencial entre os grupos, típico da formação composta por pessoas que,
naturalmente, apresentam perfis distintos, exigiu que a condução da pesquisa fosse
essencialmente qualitativa e que os resultados da mesma alcançassem apenas um dos níveis
da experimentação: a validade interna. Este mede a precisão de um experimento, avaliando se
a manipulação das variáveis independentes foi causa real dos efeitos, sendo que os resultados
não podem ser generalizados para todo e qualquer experimento do mesmo gênero
(MALHOTRA, 2006, p. 219).
Por tratar-se de um experimento com grandes possibilidades de ocorrência de
variáveis estranhas, algumas delas foram indicadas como precauções a serem observadas no
procedimento de pesquisa. Seguindo os conceitos e classificações de Malhotra (2006) e de
Hair Jr. et al (2005), foram monitorados os seguintes tipos de variáveis estranhas: maturação;
efeitos de teste; instrumentação; seleção; mortalidade experimental; difusão ou imitação do
tratamento; rivalidade compensatória.
A maturação é uma variável estranha determinada por mudanças causadas pela
passagem do tempo. É mais preocupante quando tempo de estudo é longo, mas pode
acontecer também em testes mais curtos. Os participantes da pesquisa podem, por exemplo,
ficar entediados, famintos ou cansados, comprometendo os resultados.
Os efeitos de teste podem ocorrer ao se repetir um experimento. A experiência de fazer
um primeiro teste gera um processo de aprendizagem e, através dele, os resultados do
segundo teste podem ser influenciados pelo efeito do aprendizado, afetando a classificação.
A instrumentação é resultado de mudanças entre as observações, tanto no instrumento
de mensuração como no observador. São ameaça à validade da pesquisa: o uso de perguntas
diferentes a cada mensuração; a utilização de diferentes observadores ou entrevistadores; a
experiência, o tédio e o cansaço do observador; a antecipação dos resultados.
A seleção é um tipo de variável estranha determinada pela eleição diferenciada de
pessoas para o grupo experimental e de controle. Para aumentar a equivalência entre os
grupos, pode-se atribuir, aleatoriamente, pessoas aos grupos e, adicionalmente, promover o
emparelhamento dos membros de acordo com os principais fatores.
69
A mortalidade experimental acontece quando a composição dos grupos muda durante
o teste. Ocorre pela redução do grupo em função da desistência ou do afastamento de algum
membro ou recusa das unidades de teste em continuar no experimento. Segundo Malhotra
(2006, p.221), a mortalidade confunde os resultados, pois é difícil determinar se as unidades
de teste perdidas responderiam aos tratamentos da mesma maneira que as unidades que
permaneceram.
A difusão ou imitação do tratamento ocorre se as pessoas no grupo experimental ou de
controle conversam entre si e passam a conhecer o tratamento, podendo eliminar a diferença
entre os grupos e influenciar o resultado do experimento.
Outra variável estranha que pode ocorrer no processo é a rivalidade compensatória,
quando os membros do grupo de controle percebem que estão nesse grupo, o que pode gerar
pressões competitivas, fazendo com que se dediquem com mais afinco.
Para o mínimo de controle de tais variáveis, algumas precauções podem ser tomadas.
Malhotra (2006, p.221-222) cita quatro maneiras de controle: randonização
18
; controle
estatístico
19
; controle de planejamento
20
; emparelhamento.
Para essa pesquisa, o método de controle utilizado foi o de emparelhamento, que
envolve a comparação de unidades de teste antes de atribuí-las ao experimento. Trata-se de,
antes de submeter as unidades ao teste, promovê-las ao emparelhamento através de um
conjunto de variáveis-chave fundamentais. O emparelhamento foi feito a partir do controle da
formação dos grupos envolvidos no workshop. Para tanto, os componentes dos grupos foram
selecionados mediante a determinação de definições pré-requisitos que permitiram deixá-
los com o máximo possível de homogeneidade.
Destaca-se, ainda, que pela característica de impossibilidade do total controle das
variáveis estranhas, esse projeto de pesquisa se enquadra no tipo quase-experimento ou semi-
experimento (HAIR JR. et al, 2005, p.332). Esse tipo de estudo experimental surge, segundo
Malhotra (2006, p. 226), quando o pesquisador pode controlar quando e sobre quem as
medidas serão tomadas, mas não tem controle sobre o esquema dos tratamentos e não tem
condições de expor as unidades de teste aleatoriamente aos tratamentos. Entende-se, dessa
18
“Método de controlar variáveis estranhas que envolve a atribuição aleatória de unidades de teste a grupos experimentais,
utilizando números aleatórios. As associações de tratamento são também atribuídas aleatoriamente a grupos experimentais”
(MALHOTRA, 2006, p.221)
19
“Método de controle de variáveis estranhas por meio da sua medição e pelo ajuste a seus efeitos mediante métodos
estatísticos” (MALHOTRA, 2006, p.222)
20
“Método de controle de variáveis estranhas que envolve planejamentos experimentais específicos” (MALHOTRA, 2006,
p.222).
70
forma, que o estudo quase-experimental se adéqua a presente pesquisa, na medida em que
será possível esquematizar, a partir de uma seleção, o grupo a ser pesquisado; mas é inviável
controlá-los de maneira idêntica durante o processo de pesquisa.
No intuito de compreender e aplicar os conceitos da experimentação nesta pesquisa, o
quadro a seguir (Tabela 3.1) mostra como tais conceitos podem ser visualizados nas diversas
etapas da investigação:
TABELA 3.1 – Relação dos conceitos de experimentação aplicados à presente pesquisa.
Conceito Aplicação do conceito na pesquisa
Grupo de controle
Grupo de profissionais que o passará pela oficina
de origami
Grupo experimental
Grupo de profissionais que passará pela oficina de
origami
Variável independente,
exploratória ou tratamento
Oficina ensinando conceitos da técnica de origami
Variável dependente
Análise do processo projetual e do resultado obtido
em cada grupo
Unidades de teste Profissionais participantes do workshop.
Variável estranha:
Maturação
Estresse causado por fatores tais como: tédio,
pressão psicológica, fome, cansaço, ansiedade
Variável estranha:
Efeitos de teste
Influências da pesquisadora e observadora sobre os
projetos desenvolvidos nos grupos com base nas
experiências anteriores
Variável estranha:
Instrumentação
Diferentes maneiras de apresentação aos diferentes
grupos; antecipação dos resultados do workshop;
avaliação diferenciada para cada grupo
Variável estranha:
Seleção
Seleção equivocada de profissionais na composição
dos grupos
Variável estranha:
Mortalidade experimental
Desistência de algum participante; o
comparecimento ao workshop
Variável estranha:
Difusão ou imitação do
tratamento
Grupos se informam quanto às hipóteses da
pesquisa ou percebem, durante o processo, à que
condições estão sendo expostos
Variável estranha:
Rivalidade compensatória
Grupo de controle se dedica em utilizar a técnica de
origami por se dar conta das hipóteses da pesquisa
Emparelhamento
Composição dos grupos por meio de características
homogêneas dos membros: experiência profissional,
formação acadêmica, profundidade de
conhecimento na área de embalagens.
71
3.1.2 Caráter metodológico
Embora a abordagem da pesquisa tenha sido direcionada para um resultado
qualitativo, a experimentação provém de características inscritas no método quantitativo. Isso
porque é típico da pesquisa experimental que os fatos e acontecimentos sejam apreendidos em
um contexto de normas constantes, podendo ser sistematicamente observados e
deliberadamente organizados, sujeitos a interferências planejadas (CHIZOTTI, 2003, p. 26).
O fato de a presente pesquisa envolver um grupo de pessoas que desenvolve a
projetação a partir de conhecimentos de caráter pessoal adquiridos academicamente,
profissionalmente, empiricamente ou tacitamente pressupõe-se que os fatos e
acontecimentos no decorrer do experimento o podem receber influência planejada ou
sistematizada. É, precisamente, nesse ponto que o experimento proposto deixou de ter um
caráter quantitativo para assumir-se como um método de análise qualitativa.
Devido à quantificação dos dados, o controle e classificação dos fenômenos, o método
quantitativo não suporta possíveis análises subjetivas (DEMO, 2001, p.09) e elimina, ao
máximo, a influência do pesquisador. A abordagem qualitativa, por outro lado, não exclui
análises subjetivas. Os pesquisadores que trabalham com métodos qualitativos, conforme
Strauss e Corbin, (2008, p.18) podem se basear em suas próprias experiências ao analisar
materiais e, com esses dados, fazer comparações e descobrir propriedades e dimensões. Os
autores defendem, ainda, que um método quantitativo pode resultar no qualitativo. A grande
diferença entre eles es na maneira como se conduz cada uma das abordagens e
especialmente na forma de estruturação da análise e dos resultados.
As ideias centrais que conduzem a pesquisa qualitativa diferem daquelas
empregadas na pesquisa quantitativa. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa
consistem na escolha correta dos métodos e teorias oportunos, no reconhecimento e
na análise de diferentes perspectivas, nas reflexões dos pesquisadores a respeito de
sua pesquisa como parte do processo de produção de conhecimento, e na variedade
de abordagens e métodos. (FLICK, 2009, p.23).
A abordagem qualitativa, segundo Guimarães et al. (2004, p. 79-80), envolve uma
multiplicidade de formas de investigação e postula a existência de um vínculo dinâmico entre
o entorno objetivo e a subjetividade do sujeito. Os autores ressaltam que os estudos
qualitativos são flexíveis e particulares ao objeto de estudo, diferente da abordagem
quantitativa que visa à apresentação e manipulação numérica de observações.
Flick (2009, p. 23) destaca quatro aspectos que representam a pesquisa qualitativa:
apropriabilidade de métodos e teorias; perspectivas dos participantes e sua diversidade;
reflexibilidade do pesquisador e da pesquisa; variedade de abordagens e métodos. Outras
72
características, complementares às de Flick, são pontuadas por Martins e Theóphilo (2007,
p.136): predominância de dados descritivos na coleta de dados; preocupação com o processo
e, não somente, com os resultados e o produto; análise indutiva de dados, onde não se busca
comprovar evidências e se analisa as informações na medida em que são coletadas;
preocupação com o significado, procurando capturar a perspectiva do participante.
A presente pesquisa seguiu a estrutura da experimentação, que é essencialmente
quantitativa, porém fez uso de ferramentas de análise qualitativa. As formas de união dos
métodos são descritas por Bryman (apud FLICK, 2009, p. 39-40) através da identificação de
onze caminhos
21
para interpretação das pesquisas quantitativas e qualitativas. Nesse contexto,
a forma híbrida foi a que interessou, visto que a montagem da estrutura da pesquisa seguiu a
lógica quantitativa, por meio de regras da experimentação, enquanto a análise dos dados teve
por base a percepção qualitativa.
A reunião dos métodos também é denominada de método misto. Creswell (2007, p.33)
indica que, dentre as diversas variações de junção dos métodos, tem-se os procedimentos
seqüenciais. O estudo inicia com um método de estrutura quantitativa e, depois, prossegue
com um método qualitativo, envolvendo exploração detalhada de poucos casos ou de poucas
pessoas. Destaca-se, nesse contexto, que a combinação dos métodos não é percebida como a
junção de opostos, mas sim como utilização de análises complementares.
3.2 UNIDADES DE ESTUDO
Entende-se por unidades de estudo a empresa envolvida na pesquisa e as unidades de
teste, ou seja, os profissionais que atuaram no workshop. A empresa teve uma participação
parcial no processo de experimentação, sendo a unidade de parâmetro para o briefing. A
definição dos profissionais participantes do workshop, por outro lado, foi de fundamental
importância para o andamento da pesquisa, estando a seleção dessa unidade de teste
21
“A lógica da triangulação (1) significa, para ele, a verificação de exemplos de resultados qualitativos em comparação com
resultados quantitativos. A pesquisa qualitativa pode apoiar a pesquisa quantitativa (2) e vice-versa (3), sendo ambas
combinadas visando a fornecer um quadro mais geral da questão em estudo (4). Os aspectos estruturais são analisados com
métodos quantitativos, e os aspectos processuais analisados com o uso de abordagens qualitativas (5). A perspectiva dos
pesquisadores orienta as abordagens quantitativas, enquanto a pesquisa qualitativa enfatiza os pontos de vista dos sujeitos
(6)... O problema de generalização (7) pode ser resolvido, na pesquisa qualitativa, através do acréscimo das descobertas
quantitativas, considerando-se que as descobertas qualitativas (8) deverão facilitar a interpretação das relações existentes
entre as variáveis dos conjuntos de dados quantitativos. A relação entre os níveis micro e macro de um ponto essencial (9)
pode ser esclarecida por meio da combinação entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, podendo cada uma dessas ser
apropriada a etapas distintas do processo de pesquisa (10). Por fim, existem as formas híbridas (11) que utilizam a pesquisa
qualitativa em planos quase-experimentais” (FLICK, 2009, p.39-40).
73
condicionada às características pré-estabelecidas, procurando igualar, ao máximo, os grupos
de controle e os grupos de teste.
3.2.1 A empresa
A empresa forneceu o briefing para a proposta do workshop, sendo que este esteve
direcionado especialmente para projetos de criação da forma estrutural dos invólucros, não
sendo foco o desenvolvimento da programação gráfico-visual da embalagem (tais como
definições tipográficas, editorações de texto e imagem, cor e marca).
A partir dos indicativos apresentados nos métodos de embalagem e, também, colhidos
nas entrevistas com os profissionais, ficou claro a importância de se ter em mãos, no momento
da criação, diversas informações sobre o produto que será embalado, sua marca e os dados do
mercado. A fim de evitar que os participantes do workshop fossem influenciados por algum
possível pré-conceito em relação à marca seja pelo conhecimento de suas embalagens ou
pela própria imagem já estabelecida pela empresa (fatores mais comuns nas marcas de
grandes negócios ou grandes empreendimentos) – o briefing partiu de uma empresa de
pequeno porte e com baixa difusão no mercado.
A empresa em questão é a F4 Bijuterias e Acessórios Ltda. Trata-se de uma empresa
atuante no comércio de bijuterias (brincos, pulseiras, colares etc) e acessórios femininos em
geral (cintos, bolsas, carteiras, lenços, chaveiros, entre outros). Possui dois pontos comerciais
no Vale do Rio dos Sinos, sendo uma loja localizada no centro da cidade de Novo Hamburgo
e outra na região central de São Leopoldo.
As atividades da empresa iniciaram em junho de 2006, primeiramente com ponto
comercial somente em Novo Hamburgo. O negócio foi empreendido entre quatro sócios,
sendo dois deles atuantes na área de design. Hoje, as duas lojas contam com o total de sete
vendedoras e duas gerentes. Apesar de ser uma empresa de pequeno porte, realizou por seis
meses (de setembro de 2008 a fevereiro de 2009) investimento em comunicação num
programa de rádio de grande audiência
22
, o que gerou, segundo os sócios, boa fixação da
marca frente ao público-alvo. Os sócios indicam que o perfil do cliente é amplo, porém a
maioria dos frequentadores da loja são do sexo feminino, com idade entre 15 e 40 anos.
Conforme explanado pelos representantes da empresa (Apêndice C), a F4 apresenta
um portfólio de produtos que são tendência de moda e possui preços acessíveis ao seu
22
Programa Pretinho Básico, da Rádio Atlântida (RS).
74
público. No entanto, o diferencial está em não parecer uma loja de cunho popular, como
alguns de seus concorrentes. Para tanto, usam como estratégia uma exposição diferenciada
dos produtos, sendo a loja organizada por divisão de acordo com as cores das mercadorias
expostas e, também, por meio de mini-setores, tais como: infantil, anti-alérgico, óculos de sol,
entre outros.
A empresa foi escolhida por oferecer um briefing pertinente à experimentação em
questão, sendo que a sua necessidade era o desenvolvimento de uma embalagem de presente
para o invólucro de seus produtos (especialmente bijuterias). A embalagem deveria ter baixo
custo de produção em torno de R$ 2,00 tendo o papel ou papelão como suporte, não
precisando agregar nenhum trabalho gráfico-impresso.
3.2.2 Unidades de teste
As unidades de teste foram compostas por grupos de profissionais atuantes na área de
design de embalagens. Ocorreram quatro momentos de workshop, sendo dois especificamente
designados aos grupos de controle e, os outros dois, aos grupos experimentais. Cada grupo
contou com a participação de três profissionais. Com base no entendimento de que “a
amostragem de casos para coleta de dados está voltada para o preenchimento dos campos da
estrutura da forma mais uniforme possível” (FLICK, 2009, p. 118), o emparelhamento das
unidades de teste foi determinado pelas seguintes características:
i. Todos os grupos foram compostos por três profissionais atuantes na área de
design;
ii. Dois profissionais de cada grupo deveriam ter atuação de pelo menos dois anos
no mercado e na área de design, tendo efetiva experiência com design de
embalagens;
iii. Um dos profissionais, em cada grupo, deveria ser estudante de design, sendo
pré-requisito o conhecimento acadêmico no desenvolvimento de embalagens;
iv. Os componentes de cada grupo, preferencialmente, não poderiam ter laços
profissionais já estabelecidos;
v. Nenhum dos participantes do workshop deveria ser profissional atuante na
empresa fornecedora do briefing.
75
3.3 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi baseada em entrevistas e na observação através do workshop. As
entrevistas foram previstas em três diferentes momentos da pesquisa: preliminar; preparatória
e conclusiva de avaliação do processo. A observação ocorreu em dois momentos, sendo o
primeiro envolvendo os grupos de controle e o segundo envolvendo os grupos experimentais.
3.3.1 Entrevistas
A coleta de dados através de entrevistas envolveu tanto os participantes do workshop
quanto determinados profissionais da empresa parceira, bem como profissionais especialistas
da área de embalagem. As entrevistas denominadas preliminares serviram de embasamento
teórico para a estruturação da pesquisa. Estas foram realizadas com profissionais especialistas
na área de embalagens e com a empresa parceira.
Os especialistas entrevistados são duas autoridades brasileiras na área do design de
embalagens (Tabela 3.2). As entrevistas ocorreram no mês de fevereiro de 2009, em São
Paulo, SP
23
, e seguiram a técnica semi-estruturada, denominada por Flick (2009, p.148-158)
como entrevista semipadronizada. Esta técnica é indicada, pelo autor, para entrevistas com
especialistas, visto que os mesmos possuem uma reserva complexa de conhecimento sobre os
tópicos em estudo. A condução da entrevista semi-padronizada seguiu um guia (Apêndice A e
B) e se caracterizou pela entrevista em profundidade, com a introdução de áreas de tópicos e
com a formulação de questões baseadas em teorias sobre o tópico.
23
Fabio Mestriner foi entrevistado no dia 06/02/2009, nas dependências da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM). Lincoln Seragini foi entrevistado no dia 02/02/2009, no escritório Seragini Farné.
76
TABELA 3.2 – Dados dos profissionais entrevistados
Fabio Mestriner:
Designer com 34 anos de experiência profissional. Professor coordenador do cleo de
Estudos da Embalagem, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Autor
dos livros “Gestão Estratégica da Embalagem”, “Design de Embalagem - Curso Básico” e
“Design de Embalagem - Curso Avançado”. Coordenador do Comitê de Estudos
Estratégicos, da Associação Brasileira da Embalagem (ABRE). Professor do curso de s-
Graduação em Engenharia de Embalagem, da Escola de Engenharia Ma. Foi presidente
da ABRE e representante do Brasil na WPO World Package Organization (gestão 2002-
2006).
Lincoln Seragini:
Presidente da Seragini/Farné, escritório que atua no design de Ideias, Marcas e
Inovação. Membro da Academia Brasileira de Marketing e dos conselhos da Marca Brasil
Premium, do Ministério do Desenvolvimento, Centro São Paulo Design e da Abedesign.
Professor dos cursos de MBA em Marketing, da Fundação Instituto de Administração da
Universidade de São Paulo (FIA/USP); Tecnologia de Embalagem, do Instituto Mauá de
Tecnologia e Branding (Gestão de Marca); Gestão de Inovação e Design, das Faculdades
Integradas Rio Branco de São Paulo. Conferencista internacional nas áreas de Design e
Tecnologia de Embalagem, Marca e Inovação.
Além da pesquisa com especialistas, foi também utilizada a técnica de entrevista em
profundidade para questionar especialmente os profissionais componentes das unidades de
teste. Tais entrevistas ocorreram antes dos workshops denominando-se entrevistas
preparatórias (Apêndice D) e também após as observações denominando-se entrevistas
de avaliação do processo (roteiro no Apêndice E). Na primeira etapa, a preparatória, teve-se
o objetivo de verificar as competências das pessoas envolvidas, bem como suas expectativas
quanto à participação na pesquisa. Na entrevista de avaliação do processo, teve-se o intuito
de colher dados sobre a percepção dos participantes frente à sua interação na pesquisa.
3.3.2 Observação
A observação, segundo Flick (2009, p.203) permite ao observador descobrir como
algo efetivamente funciona ou ocorre, em comparação com as apresentações de entrevistas,
que indicam uma mistura de como algo é e de como deveria ser. As técnicas observacionais
são, conforme indicadas por Martins e Theóphilo (2007, p. 84), procedimentos empíricos de
77
natureza sensorial, consistindo de um exame minucioso que requer atenção na coleta e análise
das informações, dados e evidências.
A observação, ao mesmo tempo que permite a coleta de dados de situações, envolve
a percepção sensorial do observador, distinguindo-se, enquanto prática científica, da
observação da rotina diária... deve ser precedida de um levantamento de referencial
teórico e resultados de outras pesquisas relacionadas ao estudo. (MARTINS;
THEÓPHILO, 2007, p.84).
O foco da observação na pesquisa foi o workshop. Esse ambiente pretendeu
proporcionar uma interação entre os profissionais, envolvidos em seus respectivos grupos. O
intuito foi incentivar a resolução de um problema de projeto, instigando os profissionais a
chegarem, juntos, a uma solução.
Workshop é um ambiente de criação definido por alguns autores apenas como
sinônimo de oficina (PINHO, 1997, p. 380) ou como oficina e reunião de trabalho
(MIGLIAVACCA, 1999, p.267). Silva (2000, p.413) escreve que workshop é uma reunião de
trabalho em que profissionais discutem determinado assunto ou desenvolvem determinada
técnica.
Duas outras definições, uma apresentada pelo SEBRAE-MG (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micros e Pequenas Empresas de Minas Gerais)
24
e a outra pela AMB (Associação
dos Magistrados Brasileiros)
25
, apresentam noções mais aprofundadas à respeito de workshop.
Segundo o SEBRAE-MG, “o conceito de workshop resulta da aplicação prática de uma
metodologia, onde os passos a dar em cada momento da intervenção são ditados pela
aprendizagem em grupo” (SEBRAE-MG, 2005). A AMB define:
Workshop é a palavra inglesa que foi adotada entre nós para designar um método de
trabalho sugerido pela sua origem: chão da fábrica, lugar onde se produz. Ou seja, os
participantes se reúnem com um mediador, organizador ou condutor, a quem
incumbe fazer a exposição teórica dos temas, controlar o respeito ao tempo
designado para cada atividade, agrupar os participantes, orientar os grupos durante
os debates internos, mediar os debates entre os grupos, consolidar o produto final.
Aos participantes são apresentados casos concretos, atribuídos prazos para
discussão, produção e apresentação. (AMB, 2006)
24
O Sebrae é uma entidade que atua desde 1972 pelo desenvolvimento sustentável das empresas de pequeno porte. Promove
cursos de capacitação, facilita o acesso a serviços financeiros, estimula a cooperação entre as empresas, organiza feiras e
rodadas de negócios e incentiva o desenvolvimento de atividades que contribuem para a geração de emprego e renda. O
Sebrae atua no Brasil, com unidades nos 26 estados e no Distrito Federal. Fonte: http://www.sebraemg.com.br/
25
A Associação dos Magistrados Brasileiros congrega 36 associações regionais, sendo 27 de juízes estaduais, sete de
trabalhistas e duas de militares. Magistrados federais também fazem parte do grupo de associados. A AMB está voltada para
a qualificação dos magistrados, promovendo debates e cursos de especialização e buscando esclarecer a sociedade acerca das
atribuições dos profissionais do Judiciário. Gestora da Escola Nacional da Magistratura (ENM), a AMB mantém convênios
com as escolas estaduais e outras instituições de ensino. Fonte: http://www.amb.com.br
78
Destaca-se, segundo o CNEP (Centro Nacional de Estudos e Projetos)
26
que o
“significado do nome inglês ‘workshop’ equivale ao significado original da palavra
‘laboratório’, isto é, ‘lugar de trabalho’ (laborare = trabalhar). Isto indica a natureza
eminentemente prática ou aplicada desta técnica [...] De fato, os objetivos do ‘laboratório’ são
muito específicos e se definem em termos do que os participantes aprenderão a fazer melhor
durante a reunião” (CNEP, 2008). O CNEP indica, ainda, que o workshop é uma reunião de
pessoas com interesses e problemas profissionais comuns, tendo elas o objetivo de melhorar
sua habilidade ou eficiência, estudando e trabalhando juntas.
O trabalho em conjunto é um dos destaques do workshop e, nesse sentido, a
observação desse ambiente tornou-se pertinente para essa pesquisa. A interação e a troca de
informação entre os profissionais permitiram observar os conhecimentos de cada participante
através da exposição, por exemplo, de ideias e vivências.
No design, o workshop apresenta-se com o uma eficaz ferramenta de projetação.
Cautela (2007, p.122-123) indica que as interações promovidas em um workshop podem:
aprofundar as possibilidades de exploração de uma tecnologia disponível; ampliar as
oportunidades de uso e de mercado de soluções existentes; gerar novas soluções de ofertas
considerando mudanças no mercado; complementar o catálogo de ofertas de um produto
existente; enriquecer o conteúdo de um serviço, de uma experiência, de um produto ou de
uma tecnologia existentes.
O workshop de design inicia com uma apresentação para os participantes, indicando
informações relevantes para se começar o projeto. Após disponibilizar o material da
apresentação, pode-se promover debates entre os participantes do workshop, utilizando
procedimentos semelhantes ao de brainstorming. Os participantes são, então, subdivididos em
grupos de trabalho onde projetam em torno do briefing (FRANZATO, 2008, p.155).
A pesquisadora e observadora teve um papel de participação parcial no processo geral
do workshop (o cronograma do workshop encontra-se nos Apêndices F e G). Sua participação
junto aos grupos se deu em momentos específicos do processo - apresentando o briefing,
ministrando a oficina de origami para os grupos experimentais, envolvendo os participantes
na condução do projeto, apresentando os profissionais uns aos outros, instigando-os na
resolução do problema projetual e suprindo algumas dúvidas de processo, surgidas durante o
26
O CNEP é uma associação
, de direito privado, sem fins lucrativos, que atua, no contexto do Terceiro Setor, em gestão,
monitoramento e avaliação de ações que incentivam as práticas de responsabilidade
social. Atua como uma incubadora de
programas sociais, por meio da cooperação bilateral, reestruturação técnica, qualidade e uso do conhecimento para
mobilizar diferentes recursos na busca de resultados para um modelo de gestão auto-sustentável. Fonte: www.cnep.org.br
79
workshop. A observação em si, no entanto, foi não-participante, visto que, durante o processo
de projeto, não houve interação de ideias entre a observadora e os observados.
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados esteve dividida em duas fases específicas: (1) análise das
entrevistas englobando as entrevistas junto aos especialistas e a comparação entre as
entrevistas preparatórias e conclusivas de avaliação do processo; (2) análise da observação
contemplando cada um dos quatro ambientes de workshop observados.
Como ambas as análises estiveram baseadas em dados qualitativos, para tanto Martins
e Theóphilo (2007, p.138) sugerem três atividades interativas e contínuas, as quais foram
utilizadas para interpretação das informações dessa pesquisa:
i. Redução de dados: processo contínuo de seleção, simplificação, abstração e
transformação dos dados originais provenientes das observações;
ii. Apresentação de dados: organização dos dados de tal forma que o pesquisador consiga
tomar decisões e tirar conclusões: textos narrativos, matrizes, gráficos, esquemas,
entre outros;
iii. Delineamento e busca de conclusões: identificação de padrões, possíveis explicações,
configurações e fluxos de causa e efeito, seguida da verificação e recorrendo às
anotações de campo e à literatura ou, ainda, replicando o achado em outro
conjunto de dados.
Para análise das entrevistas com os especialistas, as conversas foram gravadas em
áudio e vídeo, sendo posteriormente transcritas de maneira literal. A transcrição permitiu a
comparação, tanto com o roteiro utilizado nas entrevistas, quanto com as publicações dos
autores, fortalecendo os dados à respeito de seus métodos e dando parâmetros para a
constatação de que os especialistas não tinham conhecimento quanto ao uso do origami num
processo de projeto.
As entrevistas com os profissionais participantes do workshop, realizadas em duas
etapas uma antes e outra após o processo de projetação foram registradas em áudio. Nas
entrevistas pré-workshop, com auxílio do roteiro, foram analisadas as informações dadas
pelos entrevistados, em comparação com os aspectos que caracterizavam a amostra esperada.
80
Os dados colhidos após o processo de projeto serviram, por outro lado, para registrar as
percepções pessoais de cada participante, tornando possível a compreensão ou confirmação de
determinadas ações identificadas na observação.
Martins e Theóphilo (2007) afirmam que a consistência dos resultados da análise pode
ser checada por meio de um exame entre o referencial teórico e os achados da investigação.
Para, no entanto, indicar os achados da investigação, é necessária a análise do conteúdo
observado. A fim de que o foco da observação não se perdesse, estabeleceu-se uma relação
entre o quadro comparativo dos métodos projetuais (itens 2.19 e 2.20) e as ações dos
profissionais no workshop. Dentre as dezessete etapas apresentadas no quadro comparativo, a
observação esteve focada em quatro: Conceito; Definições; Forma; Solução. Foram estes
itens, comparados às demais coletas, que deram parâmetro para a posterior análise dos dados.
81
4 EXPERIMENTAÇÃO NA PROJETAÇÃO DE EMBALAGENS
No intuito de observar a projetação de embalagens e, a partir disso, verificar possíveis
influências do origami no processo de projeto, o presente capítulo faz uma descrição da
experimentação e, posteriormente, apresenta a análise dos dados coletados. O procedimento
de observação envolveu seis encontros, entre oficinas para aprendizado da técnica de origami
e workshops, dos quais participaram os profissionais constituintes da unidade de teste e a
pesquisadora como condutora e observadora do experimento.
O item 4.1 descreve a seleção dos participantes, indicando o cronograma, a forma de
composição e o emparelhamento. No item 4.2 é apresentada a coleta dos dados, pontuando os
principais tópicos que envolveram as oficinas e os workshops. A partir desta coleta, o item 4.3
estrutura os resultados, apontando parte das observações da pesquisadora e as soluções
projetuais indicadas pelos grupos. A análise dos resultados é apresentada no item 4.4, quando
faz-se um cruzamento entre os dados coletados na experimentação, a percepção dos
profissionais, o processo de projeto e a própria solução projetual desenvolvida em cada
workshop. Conclui-se o capítulo em 4.5, onde explanam-se as contribuições dos achados
desta pesquisa.
4.1 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES
A seleção da amostra iniciou em julho de 2009, através do contato, por e-mail, com 29
profissionais da região metropolitana de Porto Alegre todos atuantes na área do design de
embalagens. Obteve-se o retorno de 26 profissionais, sendo que, desses, 5 apresentaram
indisponibilidade para participação. A etapa de entrevistas individuais, ocorrida entre os
meses de agosto e setembro de 2009, foi efetivada com 14 profissionais, constatando-se que
todos eles estavam dentro dos parâmetros necessários (item 3.2.2) para amostra.
82
TABELA 4.1 – Cronograma de composição da amostra
Cronograma de Composição da Amostra
Etapa
Mês Número de
Participantes
Envio de e-mail a profissionais
Julho/2009 29
Retorno de profissionais
Julho, Agosto/2009 26
Entrevistas preparatórias
Agosto, Setembro/2009 14
Emparelhamento
Setembro/2009 12
Assim, seguindo os critérios de emparelhamento (item 4.2.2) e a disponibilidade dos
profissionais para atuação na pesquisa em datas determinadas quatro grupos foram
ordenados conforme descrição a seguir:
TABELA 4.2 – Ordenação dos profissionais por grupos.
Emparelhamento
Grupo de Controle 1 (GC1) Profissional A Profissional B Profissional C
Grupo de Controle 2 (GC2) Profissional D Profissional E Profissional F
Grupo Experimental 1 (GE1) Profissional G Profissional H Profissional I
Grupo Experimental 2 (GE2) Profissional J Profissional K Profissional L
De acordo com as informações colhidas no relato dos profissionais, através da
entrevista preparatória, listou-se as principais características de cada membro dos grupos. O
contato individualizado com os profissionais, bem como a descrição do perfil de cada um,
permitiu que o emparelhamento ocorresse de maneira a manter-se certo equilíbrio entre as
características dos membros e o máximo possível de homogeneidade entre os grupos.
83
TABELA 4.3 – Descrição dos profissionais atuantes no Grupo de Controle 1 (GC1).
Grupo de Controle 1 (GC1)
Profissional A Profissional B Profissional C
Atua na área de design gráfico desde a
década de 90. É graduado onze anos
e tem experiência profissional na
projetação de embalagens para
empresas de grande porte. Foi
coordenador do núcleo de embalagens
de um conhecido escritório de design e,
atualmente, é designer-sócio de uma
agência de criação que tem foco no
desenvolvimento de identidades
corporativas na qual se incluem
projetos na área de embalagem. Ressalta
que não usa um método projetual
específico, mas costuma dar preferência
ao planejamento para posicionamento
da marca e, por meio disso, parte para
aspectos de desenho do produto.
Graduado em Design doze
anos e pós-graduado em
Marketing. Trabalhou com
conhecidos profissionais atuantes
na área de embalagem. É sócio de
um escritório que tem como
clientes empresas de pequeno e
médio porte, para as quais
projeta materiais gráficos
diversos. Afirma que, ao iniciar
um projeto, tem o cuidado de
verificar a verba disponibilizada
pelo cliente, evitando que o
desenvolvimento se torne
inviável. Para a projetação, afirma
não utilizar um método em
especial.
Estudante na Graduação
em Design, onde
desenvolveu projetos de
embalagens em disciplina
do curso. Estagia num
laboratório da instituição
de ensino na qual está se
graduando, tendo atuação
especialmente na área de
design gráfico.
TABELA 4.4 – Descrição dos profissionais atuantes no Grupo de Controle 2 (GC2).
Grupo de Controle 2 (GC2)
Profissional D Profissional E Profissional F
Graduado trinta anos em área da
engenharia, técnico em artes gráficas
mais de vinte anos. Tem especialização
em Desenho Industrial e atua com
projetos de embalagens desde a década
de 80. É docente e pesquisador na área
de embalagens, tendo atuado como
professor e palestrante em diversas
faculdades da região metropolitana de
Porto Alegre. Tem escritório próprio
onde trabalha especialmente com o
desenvolvimento estrutural de
recipientes e invólucros. Afirma não
seguir um método projetual específico,
mas faz uso de uma metodologia de
design para produto, com algumas
adaptações pessoais.
Profissional com graduação em
Publicidade e especialização em
Design Gráfico. Coordena a área
de design de embalagens e
ponto-de-venda de um conhecido
escritório de design. Como
método para o design de
embalagens, ressalta alguns
pontos que costuma abordar nos
projetos (reunião de briefing,
brainstorming, análise de ponto-
de-venda e contato com
fornecedores), mas não aponta o
uso de uma metodologia
projetual específica.
Acadêmico em fase de
conclusão do curso de
graduação em Design. Atua
em estágio na área de
design gráfico,
desenvolvendo
especialmente projetos de
identidade visual. Cursou
disciplina específica de
design de embalagem e
desenvolveu, no estágio,
um projeto nesta área.
84
TABELA 4.5 – Descrição dos profissionais atuantes no Grupo Experimental 1 (GE1).
Grupo Experimental 1 (GE1)
Profissional G Profissional H Profissional I
Atua em agência de design com projetos
de produto, identidade visual e
embalagens para marcas renomadas.
Tem graduação e especialização em
Design e experiência profissional de oito
anos na área, sendo seis deles
especialmente com projetos de
embalagens. Junto a uma equipe de
quatro profissionais, afirma seguir,
sempre que possível, uma metodologia
projetual que perpassa pela pesquisa de
ponto-de-venda, análise da
concorrência, visita a feiras
internacionais e contato com
fornecedores.
Atua em instituição de ensino
como docente e como
profissional responsável pela área
de criação de um setor de
marketing. Tem graduação na
área de Design e mestrado em
Qualidade Ambiental. Teve a
embalagem como foco de
pesquisa tanto no trabalho de
conclusão da graduação quanto
em sua dissertação de mestrado.
Na docência, ministra disciplinas
na área de metodologia de
projeto e ecodesign.
Estudante do último período do
curso de Design. Na graduação
passou pela disciplina de
projeto de embalagens, quando
desenvolveu um produto
apresentado em feira de
iniciação científica. Trabalha na
área administrando a parte de
design de uma marca própria,
para a qual desenvolveu
embalagens como tema de seu
trabalho de conclusão da
graduação.
TABELA 4.6 – Descrição dos profissionais atuantes no Grupo Experimental 2 (GE2).
Grupo Experimental 2 (GE2)
Profissional J Profissional K Profissional L
Profissional com mais de vinte anos de
experiência na área de projeto, tendo
sido coordenador do núcleo de
embalagens de uma grande agência de
design. Recebeu um prêmio de âmbito
nacional pelo desenvolvimento de uma
embalagem para empresa de telefonia.
Atualmente, é graduando de um curso
de administração e sócio de um
escritório de design, onde trabalha
especialmente com branding
27
. Afirma
não seguir uma metodologia especifica
no desenvolvimento projetual, mas não
dispensa o desenho à mão livre como
etapa fundamental em seus projetos.
Graduado em Design doze
anos. É sócio em um escritório
atuante na área de design gráfico,
onde é responsável,
especialmente, pela parte de
desenvolvimento digital.
Trabalhou com projetos de
embalagem, ressaltando a não
utilização de um método
projetual específico, mas a
importância de conhecer o
mercado do produto e as
limitações técnicas e legais,
através de contato com
fornecedores.
Estudante do último ano da
graduação em Design,
tendo passado por
disciplina específica de
projeto de embalagem.
Atua profissionalmente na
área de design gráfico,
tendo experiência com
desenvolvimento de
identidade visual e design
de superfície.
27
Segundo ADG (1998, p.18) branding é a “sustentação da identidade de uma marca de empresa, produto ou serviço;
conjunto de ações destinadas a consolidação de uma marca no mercado”
85
Formados os grupos, foram agendados os workshops, que ocorreram entre os meses
de setembro e dezembro de 2009. Ressalta-se que não houve contato prévio entre os
profissionais componentes de um mesmo grupo, sendo que os membros foram informados da
composição da equipe e apresentados entre si apenas no primeiro encontro marcado para
pesquisa.
4.2 DESCRIÇÃO DOS WORKSHOPS
Os quatro grupos determinados para a experimentação envolveram seis encontros,
todos ocorridos nas dependências da Escola de Design Unisinos, em Porto Alegre, RS. Os
Grupos de Controle (1 e 2) participaram do workshop para resolução de um briefing, enquanto
os Grupos Experimentais (1 e 2) foram envolvidos numa oficina para conhecimento da
técnica de origami e, duas semanas após, submetidos ao workshop que envolveu o mesmo
briefing apresentado aos Grupos de Controle. Os encontros seguiram o seguinte roteiro
padrão:
1. Contextualização: Explanação do contexto geral da pesquisa, sem detalhar
especificamente os objetivos da investigação.
2. Apresentações: Apresentação formal dos componentes da equipe.
3. Oficina (apenas para Grupos Experimentais): Ensino e prática das principais
técnicas de origami.
4. Regras: Explanação acerca do conceito de workshop e especificação das regras que
regem essa atividade.
5. Briefing: Proposta do workshop exposta através de um briefing contendo
detalhamentos que dêem subsídio para execução do projeto.
6. Disponibilização de material: Fornecimento de produtos da loja e de materiais para
criação desde instrumentos de projeto até equipamentos técnicos e arquivos digitais
que compuseram o briefing apresentado.
86
7. Desenvolvimento projetual: Momento de interação entre os componentes da equipe
para produção projetual.
8. Apresentação dos resultados: Momento em que o grupo apresenta o resultado
projetual e expõe, verbalmente, suas percepções frente à experiência.
9. Entrega de material: Disponibilização do material desenvolvido ou utilizado
durante o workshop, incluindo anotações de rascunho e possíveis pesquisas realizadas
no processo.
10. Entrevistas de avaliação do processo: Interrogatório individual com cada um dos
componentes do grupo, conforme roteiro específico (Apêndice E).
Conforme item 3 do roteiro, houve a oficina para ensino da técnica de origami. Tendo
duração de três horas, esta foi ministrada, pela pesquisadora, aos Grupos Experimentais,
abordando as principais características da dobradura de papel. Seguindo o passo-a-passo de
dobras, os grupos praticaram a cnica recebendo instruções para confecção de 10 peças de
origami, estas selecionadas em tipos que variaram de simples a complexo, de modulares a
peças unitárias, de figurativas a formas geométricas e utilitárias. As peças foram,
inicialmente, apresentadas através de imagens (Figuras 4.1 a 4.12) e, posteriormente,
confeccionadas por meio de indicações orais e em literatura, sendo que cada membro do
grupo elaborava sua peça de origami concomitantemente à prática demonstrada pela
ministrante da oficina.
Figura 4.1: Abertura da oficina. Figura 4.2: Contextualização técnica e histórica.
87
Figura 4.3: Explanação acerca das receitas. Figura 4.4: Informação sobre as dobras básicas.
Figura 4.5: Peça (flor) confeccionada na oficina. Figura 4.6: Peça (pássaro) confeccionada na oficina.
Figura 4.7: Peças (estrelas) confeccionadas na oficina. Figura 4.8: Peça (modular) confeccionada na oficina.
Figura 4.9: Peça (envelope) confeccionada na oficina. Figura 4.10: Peça (portacopo) confeccionada na oficina.
88
Figura 4.11: Peça (cesto) confeccionada na oficina. Figura 4.12: Peça (folder) confeccionada na oficina.
Para resolução do briefing, cada um dos quatro grupos participou de um encontro com
duração, pré-estabelecida, de até seis horas. O briefing definido possuía igual conteúdo para
todos os grupos envolvidos na pesquisa, sendo apresentando aos profissionais de maneira a
relatar as principais informações da empresa e destacando aspectos que colaborassem com
importantes informações para a realização do projeto. Organizado de maneira visualmente
didática, o briefing foi explanado a cada um dos grupos observando a ordem de apresentação
indicada a seguir (imagens no Apêndice H):
(1) Dados gerais da empresa: razão social, nome fantasia, área de atuação, tempo de
mercado, pontos comerciais e composição da empresa.
(2) Imagens dos pontos de venda: fachadas das lojas e disposição dos produtos.
(3) Portfolio de produtos: descrição dos produtos comercializados e mostra de alguns
exemplos, principais fornecedores e forma de acondicionamento dos produtos.
(4) Exposição: descrição do padrão geral de exposição dos produtos e suas colocações
em mini-setores.
(5) Clientes: caracterização dos clientes e do público alvo da empresa.
(6) Concorrência: indicação dos principais concorrentes, as vantagens sobre eles e a
estratégia para superá-los.
(7) Necessidade: descrição da necessidade projetual com base na visualização da
embalagem atualmente utilizada.
89
(8) Briefing: informação
28
quanto ao desenvolvimento do projeto a ser realizado no
workshop.
(9) Restrições: limitações a serem respeitadas no projeto, tais como: resistência, preço,
suporte e quantidade de propostas.
(10) Embalagens: visualização e manipulação das embalagens dos concorrentes e das
já utilizadas pela empresa.
(11) Imagens: painéis representando o público alvo e o conceito da embalagem a ser
projetada.
(12) Oportunidades: demonstrativo de forças, fraquezas, ameaças e oportunidades a
serem consideradas no projeto.
Para desenvolvimento da proposta projetual, cada grupo teve à disposição uma
variedade de tipos de papéis entre cartolinas, papelão e papéis brancos e coloridos e
ferramentas para desenho e construção de protótipos – lápis, canetas, réguas, esquadros,
estilete, fitas adesivas, cola. Também foi disponibilizado um computador com acesso a
internet e equipado com softwares de computação gráfica.
Embora observassem o mesmo briefing, cada grupo conduziu o processo de projeto de
maneira particular. Houve diferenças quanto à forma de atuação e ordenação do projeto, assim
como quanto ao tempo utilizado para definição do resultado. A fim de pontuar tais
particularidades, a condução de cada grupo foi descrita cronologicamente e apresentada a
seguir, indicando o tempo de atuação nos workshops, bem como as principais características
processuais e o demonstrativo do resultado final. Ressalta-se que os dados da pesquisa foram
coletados in loco, utilizando anotações da observadora e ferramentas para captura audiovisual
(gravações de áudio, filmagens e fotografias).
28
O briefing foi apresentado sob o seguinte texto: “Desenvolver uma embalagem de papel ou papelão que comporte
diferentes tamanhos de bijuterias. A embalagem será utilizada como invólucro de presentes, devendo ser, esteticamente, e
funcionalmente propícia para este fim. O projeto restringe-se a proposição estrutural da embalagem, com uso de faca especial
(corte, vinco, dobra). Não está prevista a utilização de impressão ou de outros acabamentos especiais”.
90
4.2.1 Grupo de Controle 1
O workshop, junto ao do Grupo de Controle 1, ocorreu no dia 26/09/2009, tendo
iniciado às 9:30 e encerrado às 14:10. Neste período de tempo, ocorreram constantes
conversas entre os membros do grupo. Destacam-se as seguintes ações (Tabela 4.7):
TABELA 4.7 – Observação ao Grupo de Controle 1.
Observação ao Grupo de Controle 1 (GC1)
9:30 Contextualização e apresentação de cada componente.
9:40 Explanação das regras e apresentação do briefing.
Grupo inicia processo de projeto.
Discutem o conceito da marca, o problema de projeto.
Com papel, fazem uma montagem: dobram e fazem medições.
Trocam opiniões sobre aspectos técnicos, a partir da montagem.
Consideram os variados tamanhos de produtos.
Verbalizam possibilidades para abertura e fechamento da embalagem.
Explanam dificuldade para separar a embalagem da identidade visual da marca.
Contando casos, trocam experiências sobre embalagens diversas.
9:55
Desenham proposta e discutem aproveitamento do papel.
Iniciam montagem de um mock-up. 10:50
Chegam a conclusão de que seria necessário o uso de cola e, por isso, descartam a ideia.
Novo mock-up é montado.
Analisam problemas e indicam possíveis melhorias de funcionalidade.
Fazem comparações com embalagens dos concorrentes.
Indicam intenção de desenvolver um berço
29
para caixa.
Chegam ao acordo de realizar uma faca para berço e outra para tampa, tipo “gaveta”.
11:10
Discutem estratégias para “descomplicar” a montagem da caixa.
Apresentam resultado parcial, destacando os seguintes itens:
Manter-se a embalagem tipo caixa, pois é padrão entre os concorrentes.
O formato da caixa foi definido como mais alongado, mais verticalizado.
Preocupação na confecção de uma caixa que seja logisticamente interessante.
Buscam dar à caixa atributos de “presente” e de “jóia”.
11:50
Não se conseguiu bom resultado na tentativa de fazer uma faca única, para base e tampa.
29
Receptáculo colocado dentro de uma caixa e utilizado para posicionar o produto devidamente, evitando o seu deslocamento
na embalagem (GURGEL, 2007, p.336).
91
Estariam partindo para confecção de caixa estruturada sobre duas facas.
12:00 Pausam o projeto.
Retornam ao desenvolvimento do projeto.
Dividem a realização das tarefas: um componente desenha faca para encaixe dos produtos, demais
realizam novo mock-up da caixa.
Descartam o uso do tag
30
já adotado pela loja.
12:40
Indicam possibilidades de impressão sobre a caixa.
Testam encaixe dos produtos na embalagem. 13:20
Iniciam processo de acabamento da peça.
Apresentam o resultado final, destacando os seguintes itens:
Montagem e estocagem das caixas.
Detalhes técnicos a serem melhorados num protótipo real.
Utilização da embalagem como display expositor.
Sugestão de cores e de uso da marca.
14:10
Possibilidade do descarte do berço na embalagem de determinados produtos.
Figura 4.13: Grupo trabalhando. Figura 4.14: Realização de montagem
e medições.
Figura 4.15: à esquerda, primeiro
mock-up desenvolvido
Figura 4.16: Esboços de alternativas. Figura 4.17: Esboços de alternativas. Figura 4.18: Esboços de alternativas.
30
Tag é um tipo de etiqueta, não adesiva, que fica pendurada de forma solta e junto ao produto (ADG, 1998, p.101).
92
Figura 4.19: Desenvolvimento do
mock-up final.
Figura 4.20: Desenvolvimento do
berço.
Figura 4.21: Mock-up final com
posicionamento do produto.
Subsequente ao de workshop, ocorreram as entrevistas de avaliação do processo,
realizadas, individualmente, com cada profissional, logo após a apresentação do resultado
projetual. A partir do roteiro de entrevista (Apêndice E), questionou-se as percepções de cada
um dos componentes do Grupo de Controle 1, das quais destacam-se as seguintes colocações
(Tabela 4.8):
TABELA 4.8 – Colocações dos profissionais do Grupo de Controle 1.
Entrevistas de avaliação do processo - GC1
Sua principal contribuição ao projeto foi a experiência na área.
O grupo trabalhou em equipe e o processo de trabalho foi objetivo.
A solução projetual foi conservadora, pois o prazo exigia um resultado rápido.
Imaginava outra solução no início do projeto, mas o resultado surgiu de acordo com o
processo da equipe.
Profissional A
Considera a solução inovadora em relação à concorrência.
Não houve uso de um método projetual específico.
As etapas de projeto foram baseadas nas tentativas e, através de erros, a equipe repensava
a solução.
O levantamento do problema, a participação nas discussões e a solução de um “expositor
deitado” foram as suas principais contribuições ao projeto.
Profissional B
Acredita que o Profissional A coordenou o processo, devido ao seu maior conhecimento,
em relação aos demais profissionais, na área de design de embalagens.
Contribuiu com o projeto especialmente trazendo pensamentos diferentes para os
resultados propostos.
Com relação ao processo de desenvolvimento da embalagem, houve foco na discussão do
problema.
Profissional C
Considerou bom o resultado projetual e tranqüilo o processo, tendo destacado que
aprendeu muito devido a experiência dos demais profissionais.
93
O workshop junto ao Grupo de Controle 1 foi o primeiro dos quatro seguintes, sendo
que serviu de base para implantação de melhorias nos encontros posteriores com os demais
grupos. Nos workshops ocorridos em seguida, as respostas às dúvidas questionadas pelos
componentes do Grupo de Controle 1 foram inseridas no briefing.
4.2.2 Grupo de Controle 2
O workshop realizado junto ao Grupo de Controle 2 ocorreu no dia 3/10/2009, das
9:40 às 11:50. Os membros do grupo trabalharam de maneira mais individualizada,
conversando pouco e trocando ideias pontuais. Dentre as principais ações, destacam-se
(Tabela 4.9):
TABELA 4.9 – Observação ao Grupo de Controle 2.
Observação ao Grupo de Controle 2 (GC2)
9:40 Contextualização e apresentação de cada componente.
9:50 Explanação das regras e apresentação do briefing.
Início do processo de projeto.
Questionam valor proposto para desenvolvimento da embalagem, acreditando que seria mais viável
a compra de uma embalagem pronta.
Sugere-se o uso de uma embalagem com base redonda.
Procuram viabilidades técnicas, através de pesquisas na internet.
Desmontam uma embalagem concorrente e medem-na.
Concentram-se nas limitações técnicas e econômicas.
10:00
Acordam desenvolver uma sacola como formato final.
Desenvolvem um mock-up da sacola.
Um dos membros coloca a opinião de que o papel é um suporte limitante.
10:40
Apontam para possibilidades que promovam diferenciais estéticos na sacola.
Depois do formato definido, procuram dar explicações acerca do que foi concebido até o momento.
Um dos profissionais faz anotações, escritas, acerca do projeto em desenvolvimento.
Diante do mock-up, estudam possibilidades para colocação de alça na sacola e, para tanto, definem
a inclusão de um “furo”.
11:00
Grupo identifica que o furo apresenta problemas de proporção e de localização na sacola.
Refazem o mock-up. 11:30
Estudam possibilidades de aplicação do furo, procurando corrigir problemas detectados no primeiro
mock-up.
94
Apresentam resultado final pontuando as seguintes características:
O formato permite que produtos pequenos não fiquem “perdidos”, como numa caixa.
A sacola diferencia a embalagem dos concorrentes.
A sacola oferece praticidade e é funcional.
O tipo de embalagem que desenvolveram quebra o conceito da “sacola como saco”.
11:50
Ressaltam que a alça (furo) poderia ser substituída por fita ou por tecido acoplados por ilhós.
Figura 4.22: Anotações do grupo. Figura 4.23: Esboços de alternativas. Figura 4.24: Esboços de alternativas.
Figura 4.25: Montagem de mock-up. Figura 4.26: Medições. Figura 4.27: Alternativas de furo.
Figura 4.28: Montagem de mock-up. Figura 4.29: Mock-up com erro na
altura da sacola (produto aparecendo).
Figura 4.30: Embalagem final
montada e dobrada para estoque.
95
Seguindo o roteiro da entrevista de avaliação do processo, cada profissional foi
questionado sobre a visão pessoal do processo de workshop, sendo que destacaram-se os
seguintes pontos (Tabela 4.10):
TABELA 4.10 – Colocações dos profissionais do Grupo de Controle 2.
Entrevistas de avaliação do processo - GC2
Houve um processo de projeto que considerou um método, mas não foi utilizada nenhuma
metodologia acadêmica.
Sua principal contribuição ao processo foi a ordenação das ideias do grupo.
Não ocorreu divisão de responsabilidades, sendo que os profissionais trabalharam em
conjunto.
Profissional D
Considerou bom o resultado, sendo que o Profissional E contribuiu especialmente com a
parte visual do projeto.
O grupo trabalhou de forma harmônica, com responsabilidades divididas, cada um
trazendo uma visão para construção do projeto.
A solução projetual foi coerente com o briefing e de acordo com as questões de custo.
Profissional E
Houve o uso de um método, mas não sabe dizer um em especial. Acredita que é uma
metodologia inconsciente.
Sua principal contribuição ao processo de projeto esteve na prática, através da confecção
do mock-up.
Profissional E liderou as ideias.
Acredita que não houve o uso de um método projetual específico, mas a projetação
perpassou pela discussão e seleção de ideias, desenvolvimento de rascunhos e execução da
proposta.
Profissional F
O resultado projetual ficou visualmente interessante, simples e prático.
Ao final das observações aos Grupos de Controle, havia um farto material de
observação (imagens fotográficas, filmagens, anotações da observadora, alternativas e
rascunhos gerados pelos profissionais) colhido desde o princípio das ações dos grupos. Tais
registros foram essenciais para o embasamento do processo de projeto, tendo especialmente
auxiliado na detecção do uso da técnica de origami nos posteriores workshops, realizados
junto aos grupos experimentais.
96
4.2.3 Grupo Experimental 1
O primeiro encontro do Grupo Experimental 1 deu-se no dia 24/10/2009, quando foi
realizada a oficina de origami, no horário das 9:00 às 12:00. Nesta data os profissionais se
reuniram sem ter informações detalhadas a respeito do que fariam. Após apresentarem-se
entre si, lhes foi explanada a atividade que seria desenvolvida naquele momento.
Evitando detalhamentos acerca do que estava sendo pesquisado, procurou-se fazer
uma desconexão entre o encontro para a oficina e o segundo encontro marcado. Com o intuito
de impedir que os profissionais fizessem uma ligação direta entre o origami e o
desenvolvimento da embalagem, explanou-se aos profissionais as seguintes informações: a
pesquisadora tinha interesse em duas áreas pontuais e distintas didática e embalagem; a
pesquisadora precisava realizar dois trabalhos em cada uma dessas áreas, por isso optou por
dois encontros em datas separadas; o primeiro encontro teria relação com a prática didática de
atuação da pesquisadora, sendo “origami” o tema escolhido; o segundo encontro estava
relacionado com a parte projetual de embalagem, por isso estariam realizando a resolução de
um briefing.
O workshop para desenvolvimento da embalagem ocorreu no dia 07/11/2009. A
explanação do briefing teve início às 9:30 e o grupo concluiu o projeto às 12:10. O
desenvolvimento projetual (Tabela 4.11) foi impulsionado por constantes trocas de ideias
entre os profissionais.
TABELA 4.11 – Observação ao Grupo Experimental 1.
Observação ao Grupo Experimental 1 (GE1)
9:30 Explanação das regras e apresentação do briefing.
Grupo inicia processo de projeto.
Discutem o problema.
Explanam que o papel do designer vai além de apenas propor uma nova embalagem, por isso
analisam a identidade visual da empresa e comparam-na com as embalagens dos concorrentes.
Propõem a necessidade de readequar a identidade visual, a sacola e a embalagem tipo saco
utilizadas pela empresa.
9:40
Um dos profissionais sugere uma embalagem única, que substitua todas as demais em uso.
Um dos profissionais inicia anotações textuais sobre o processo.
Começam a esboçar propostas.
10:00
Discutem possíveis formatos.
97
Profissional comenta sobre uma embalagem de perfume e grupo faz ligação desta embalagem com
a técnica de origami.
Uma das profissionais havia trazido as peças de origami, confeccionadas na oficina, e grupo as pega
para analisar.
Fazem esboços desenhados e trabalham com recortes e montagem.
Descartam a ideia de utilizar dobras mais complexas.
10:30
Iniciam montagem de mock-up.
Apresentam resultado parcial, destacando os seguintes itens:
Os problemas de design vão além da necessidade da embalagem.
O grupo teve várias ideias e optou por um formato padrão, que seja fácil de montar e que
faça uso do conceito de reciclável e ecológico.
11:40
A solução indicada está passando por testes, para que o grupo avalie o funcionamento da
ideia.
O mock-up é finalizado.
11:50
Grupo nota alguns problemas estruturais na embalagem, mas profissionais indicam que a mesma
está finalizada.
Como resultado final, apresentam as seguintes característica da embalagem projetada:
Projeto a partir de uma faca única para caixa, indicando que os concorrentes fazem uso de
duas peças.
Caixa em papel do tipo pardo.
Utilização de papel seda como berço, indicando cor específica.
Permanência do uso da fita utilizada pela empresa em outras embalagens e do tag ou
uma etiqueta.
Sugestão de desenvolvimento de novas embalagens, como a caixa para óculos.
12:00
Embalagem ganhou valor estético.
Figura 4.31: Oficina de origami. Figura 4.32: Grupo discutindo ideias. Figura 4.33: Esboços de alternativas.
98
Figura 4.34: Montagem confeccionada
para estudo de dobras.
Figura 4.35: Mock-up da embalagem
final.
Figura 4.36: Roteiro para apresentação
parcial.
Figura 4.37: Propostas para
embalagem e sugestões.
Figura 4.38: Parte interna da
embalagem.
Figura 4.39: Parte externa da
embalagem.
Indicando a visão pessoal do processo, os principais pontos destacados pelos
profissionais, no decorrer da entrevista de avaliação, foram (Tabela 4.12):
TABELA 4.12 – Colocações dos profissionais do Grupo Experimental 1.
Entrevistas de avaliação do processo - GE1
Sua principal contribuição ao processo foi organizar as informações para o desenvolvimento
do projeto.
O contato direto com o cliente fez falta.
Utilizou a metodologia de seu dia a dia de trabalho: anotação dos itens, identificação do
problema, filtragem do que apresentar ao cliente.
O resultado foi satisfatório, mas não completo.
O conhecimento do origami ajudou a tornar a faca plana em peça tridimensional.
Profissional G
Acredita que se tivesse trabalhado uma semana inteira com origami a faca seria mais
rapidamente concebida.
99
O resultado final ficou interessante, de acordo com o briefing proposto.
De acordo com a sua percepção do processo, o grupo cumpriu etapas como normalmente
ocorre em seu dia a dia de trabalho.
Acredita que a indicação de materiais e soluções de abertura e fechamento foram as suas
principais contribuições ao processo.
Procurou usar outras referências para não usar cola, sendo o origami uma dessas
referências.
Profissional H
Precisaria de mais tempo para a busca de outras referências e para o aprofundamento da
pesquisa.
Auxiliou, especialmente, opinando com ideias sobre as dimensões e o uso, por exemplo, do
papel seda.
As responsabilidades foram divididas entre os profissionais, sendo que G fez as anotações, H
contribuiu com as montagens e I com ideias e opiniões.
Acredita que o resultado final ainda precisa de ajustes.
Houve a tentativa do uso do origami durante o processo de criação, mas no resultado final
ele não aparece.
Profissional I
A técnica de origami é complexa, talvez poderia ser aplicada se conhecesse mais a respeito.
4.2.4 Grupo de Experimental 2
A oficina de origami foi realizada junto ao Grupo Experimental 2 no dia 04/12/2009,
das 18:10 às 21:20. Como contextualização da pesquisa foi utilizada a mesma explanação
apresentada ao Grupo Experimental 1. Duas semanas após a oficina, no dia 18/12/2009,
ocorreu o workshop para resolução do briefing, iniciado às 14:35 e concluído às 17:30. Os
principais destaques observados no processo do workshop foram (Tabela 4.13):
TABELA 4.13 – Observação ao Grupo Experimental 2.
Observação ao Grupo Experimental 2 (GE2)
14:35 Explanação das regras e apresentação do briefing.
Grupo inicia processo de projeto.
Começam esboçando, cada um apresentando algumas ideias.
Solicitam para pesquisadora as peças de origami confeccionadas na oficina.
Profissional analisa uma das peças confeccionadas (o “folder”) e mostra ao grupo.
Questionam-se sobre o uso do papel cartão para aplicação de dobras de origami.
Fazem críticas à identidade visual da marca, um dos profissionais acredita que ela não funciona.
14:45
Medem as dimensões do produto de maior tamanho.
100
Cada um dos profissionais faz desenhos separados e vão trocando opiniões sobre as ideias e
viabilidades.
Iniciam montagem de mock-up.
Montam diversas caixas.
Testam dimensões e funcionalidade das caixas.
15:15
Refazem partes da caixa através de ementas e novos cortes.
Cada profissional trabalha isoladamente.
Profissionais K e L continuam esboçando outras ideias.
16:15
Profissional J prossegue com o desenvolvimento do mock-up.
Profissional J desenha como ficaria a peça final, como seria seu funcionamento.
Fazem uma apresentação parcial do processo, destacando os seguintes pontos:
Chegaram neste resultado através da geração de alternativas, fazendo desenhos.
Optou-se por uma caixa com diferencial na abertura e fechamento, através de um tipo de
encaixe.
Preocuparam-se com a facilidade de montagem da caixa.
Mostram outras alternativas e destacam questões que impediram a escolha destas peças:
forma simplificada, maior número de facas, complexidade no desenvolvimento ou
montagem.
16:30
Continuam a montagem do mock-up, verificando algumas imperfeições técnicas e corrigindo-as.
Desenvolvem um berço para caixa.
Fazem ajustes na união das peças.
17:00
Concluem o projeto fazendo a apresentação final. Montam cada uma das partes que compõem a
peça final e destacam as seguintes características do resultado projetual:
O corte feito para o encaixe das abas seguiu um padrão observado em uma caixa de
concorrente.
O mock-up não condiz com o material correto. A caixa deveria ser mais “firme”.
É possível que os vendedores tenham dificuldade na montagem da caixa, que esta exige
uma ordem adequada no encaixe das peças.
Não há utilização de cola na base da embalagem.
Dependendo do tamanho do produto que será embalado, o berço pode ser dispensado.
17:30
A embalagem tem ganhos estéticos em relação aos concorrentes.
101
Figura 4.40: Peças desenvolvidas na
oficina de origami.
Figura 4.41: Grupo trabalhando. Figura 4.42: Esboço de embalagem
baseado em origami.
Figura 4.43: Esboços de alternativas. Figura 4.44: Esboços de alternativas. Figura 4.45: Anotações em mock-up.
Figura 4.46: Testes para berço. Figura 4.47: Embalagem final. Figura 4.48: Demonstrativo de
abertura.
Seguindo com as entrevistas de avaliação do processo, a percepção individual dos
profissionais foi descrita com base nos seguintes relatos (Tabela 4.14):
102
TABELA 4.14 – Colocações dos profissionais do Grupo Experimental 2.
Entrevistas de avaliação do processo - GE2
Gostou do resultado final, mas acredita que poderiam ter trabalhado mais opções.
O conceito da ideia foi bem resolvido.
Contribuiu ao processo especialmente a partir dos esboços iniciais que desenvolveu.
Fez ligação deste processo com um trabalho realizado para uma grande marca, quando
precisou fazer inúmeras dobras, calculando uso do papel e custo de produção da
embalagem.
Normalmente trabalha com elementos tridimensionais e sentiu falta de ter finalizado a
caixa em um papel cartão mais rígido, deixando a peça mais estruturada.
Profissional J
Relacionou o processo de projeto com a prática do origami, indicando que em ambos é
necessário pegar o papel, imaginar uma peça e passá-la para o conceito tátil-físico.
Afirmou que nenhuma metodologia em especial foi utilizada, mas passaram por etapas
como rough
31
, brainstorming e desenvolvimento do protótipo.
Seu principal aprendizado com o grupo foi o trabalho em equipe, visto que no dia-a-dia
costuma executar tarefas individualmente.
Teria outras alternativas para apresentar e colocar em prática. Pensou em outras soluções,
mas procurou não complicar o processo, evitando que o mesmo ficasse estagnado.
O grupo não focou na discussão do problema.
Profissional K
Acredita que a técnica de dobradura de papel poderia ter sido uma das alternativas e
chegou a pensar em fazer algo utilizando o origami, mas acredita que, neste caso, seria
inviável obter uma solução rápida.
Sua principal contribuição ao processo foi na geração de alternativas.
Acredita que o grupo poderia ter se aprofundado mais.
De sua parte, teria gerado mais alternativas antes de iniciar a etapa técnica do projeto.
O resultado ficou atrelado a ideia inicial.
Não notou o uso de uma metodologia em especial, sendo que o grupo partiu direto para a
prática.
Profissional L
Pensou em utilizar diferenciais na dobra, mas ressalta que para isso teria que ter mais
tempo.
4.3 ESTRUTURAÇÃO DOS RESULTADOS
A reflexividade do pesquisador, segundo Flick (2009, p.25), é parte da pesquisa
qualitativa. Assim, a estruturação dos dados que compuseram os resultados desta pesquisa
considerou o conjunto das percepções e observações da pesquisadora, frente às descrições dos
próprios observados e diante das soluções projetuais por eles propostas.
31
Segundo o Glossário da ADG (1998, p. 96) rough significa rascunho, tratando-se do esboço inicial no planejamento
gráfico de um projeto.
103
Os métodos qualitativos consideram a comunicação do pesquisador em campo como
parte explícita da produção de conhecimento, em vez de simplesmente encará-la
como uma variável a interferir no processo. A subjetividade do pesquisador, bem
como daqueles que estão sendo estudados, torna-se parte do processo de pesquisa.
As reflexões dos pesquisadores sobre suas atitudes e observações em campo, suas
impressões, irritações, sentimentos, etc., tornam-se dados em si mesmos,
constituindo parte da interpretação. (FLICK, 2009, p.25).
As respostas dos profissionais à entrevista de avaliação geraram a tabulação de
informações a respeito da percepção pessoal dos participantes da pesquisa. Com base no
roteiro da entrevista, destacaram-se afirmações emitidas pelos profissionais, as quais foram
norteadas pelos seguintes tópicos: (1) Contribuição pessoal ao processo; (2) Percepção do
processo; (3) Metodologia projetual empregada; (4) Percepção do resultado; (5) Percepção
pessoal quanto ao uso de um conhecimento técnico; (6) Aprendizado com o processo; (7)
Auxílio da técnica de origami; (8) Interação entre os profissionais; (9) Divisão de
responsabilidades; (10) Exibição ou inibição de algum profissional; (11) Aproveitamento da
técnica de origami pelo grupo.
Os resultados da pesquisa também foram organizados a partir da observação aos
workshops. Dez tabelas foram geradas considerando os seguintes picos: (1) Tipo de
embalagem desenvolvida; (2) Duração do workshop; (3) Etapas projetuais perpassadas; (4)
Referência ao origami; (5) Uso de desenhos; (6) Desenvolvimento de montagens
tridimensionais; (7) Avaliação de proporção; (8) Apresentação do processo; (9) Contra-
briefing; (10) Presença de variáveis estranhas.
4.3.1 Percepção dos profissionais
A contribuição pessoal ao processo (Tabela 4.15) considerou as respostas que
apontaram para uma responsabilidade específica, assumida e reconhecida pelo próprio
profissional entrevistado. Não se acrescentaram, neste item, os apontamentos dos demais
envolvidos no workshop, mas a visão individual do profissional com relação às suas próprias
ações dentro do grupo.
104
TABELA 4.15 – Contribuição pessoal ao processo
1. Contribuição pessoal ao processo
Profissional A
Experiência profissional.
Profissional B
Levantamento do problema, discussões e apresentação do display como solução.
GC1
Profissional C Ideias diferentes. Inicialmente o grupo estava concentrado numa única ideia.
Profissional D
Ordenação das ideias.
Profissional E Mais na área da criação.
GC2
Profissional F Execução prática das ideias, confecção das peças.
Profissional G
Preocupação em organizar as informações.
Profissional H
Ideias em torno do material, soluções para abertura e fechamento.
GE1
Profissional I Opiniões e sugestões, como a dimensão da peça e o uso do papel seda.
Profissional J Esboços iniciais.
Profissional K
Consentimento quanto às ideias dos demais; não complicar o processo.
GE2
Profissional L Geração de alternativas.
A percepção do processo (Tabela 4.16) aponta para a avaliação do profissional quanto
ao desenvolvimento global do projeto. Indica a visão pessoal do entrevistado frente aos
procedimentos utilizados na projetação proposta, destacando aspectos como: os pontos
positivos do processo, propostas de melhorias e comparativos com o dia-a-dia profissional.
TABELA 4.16 – Percepção do processo
2. Percepção do processo
Profissional A
Processo foi objetivo, tendo foco no cumprimento do prazo.
Profissional B
Já conhecia desenvolvimento de embalagem, por isso o processo foi facilitado.
GC1
Profissional C Processo tranquilo, um profissional ouvia ao outro.
Profissional D
Nada a comentar. Foi legal.
Profissional E Cada um trouxe uma visão que acrescentou algo ao projeto.
GC2
Profissional F Processo rápido, com ideias mais práticas e viáveis.
Profissional G
Processo normal, o que ocorre no meu dia-a-dia.
Profissional H
Cumpriram as etapas necessárias com a contribuição da experiência de cada um.
GE1
Profissional I Processo bom, os demais profissionais eram bem acessíveis.
Profissional J Houve evolução e chegaram a uma ideia em consenso.
Profissional K
Escolhemos uma ideia e a desenvolvemos, sem geração de muitos questionamentos.
GE2
Profissional L O processo poderia ser mais aprofundado, com maior geração de alternativas.
105
Questionando os entrevistados sobre o uso de uma metodologia projetual específica
(Tabela 4.17), procurou-se averiguar se o grupo passou conscientemente por determinadas
etapas no projeto e se conseguiam identificar as mesmas, ou até nomeá-las, de acordo com os
métodos disponíveis em literatura.
TABELA 4.17 – Metodologia projetual empregada.
3. Metodologia projetual empregada
Profissional A
Não há uma específica. Foi ocorrendo durante o processo.
Profissional B
Não é formalizada. Usamos a tradicional: problema, alternativas, tentativas e erros.
GC1
Profissional C Não usamos uma pontual. Vimos o problema, listamos o que precisava e projetamos.
Profissional D
Houve uma metodologia pela ordenação do projeto, mas nenhuma das acadêmicas.
Profissional E Talvez utilizamos uma, mas não conscientemente.
GC2
Profissional F Não específica. O processo foi: ideias, rascunhos, seleção de uma ideia e execução.
Profissional G
A usada no dia a dia: estruturo informações, identifico problema e assim por diante.
Profissional H
Fizemos as etapas necessárias para verificar a problemática e chegar na solução.
GE1
Profissional I Usamos as etapas que uma das profissionais trabalha, especialmente no briefing.
Profissional J Parti para trabalhar com a montagem em papel, pois sou mais “do tridimensional”.
Profissional K
Se houve método específico, ele está tão internalizado que não deu para perceber.
GE2
Profissional L Não. O processo foi bem técnico, direto para a prática, com testes após a montagem.
A percepção do resultado (Tabela 4.18) indica a opinião do profissional acerca da
solução projetual apresentada pelo grupo. Em resposta a esta questão, os designers tiveram a
possibilidade de expor como foi a concepção do resultado, explanando as alternativas
pensadas e apontando melhorias para a solução apresentada.
TABELA 4.18 – Percepção do resultado
4. Percepção do resultado
Profissional A
Solução conservadora, mas inovadora. Solução comum com uma melhoria.
Profissional B
Imaginava algo diferente, fui voto vencido, mas acho que o resultado foi bom.
GC1
Profissional C Muito bom. Admirei-me com o resultado, ficou de acordo.
Profissional D
Bom.
Profissional E Bem coerente, de acordo com briefing: prático, tem moda e leva em conta o custo.
GC2
Profissional F Solução simples, prática e com visual interessante. Se diferenciou dos concorrentes.
Profissional G
Satisfaz dentro da expectativa vista no briefing, mas faria além da embalagem.
Profissional H
Solucionamos de uma forma interessante o solicitado no briefing.
GE1
Profissional I Não ficou perfeito, pois não temos a faca acertada. Falta a impressão. Mas gostei.
Profissional J Gostei. Poderíamos trabalhar mais opções, mas o tempo era limitado.
Profissional K
Teriam outras alternativas, mas o resultado ficou legal.
GE2
Profissional L Não houve um grande processo para gerar a ideia, mas ficou boa, tem seu diferencial.
106
Técnicas diversas e conhecimentos específicos em geral poderiam se sobressair como
resposta projetual, dando alguma característica diferenciada à solução ou ao processo de
projeto. Ao questionar os profissionais sobre a contribuição pessoal quanto ao uso de uma
técnica e/ou algum conhecimento específico (Tabela 4.19), procurou-se identificar se a
solução ou as alternativas geradas pelo grupo tinham alguma peculiaridade referente a uma
prática ou conhecimento individual.
TABELA 4.19 – Contribuição pessoal quanto ao uso de técnica/conhecimento específico.
5. Contribuição pessoal quanto ao uso de técnica/conhecimento específico
Profissional A
Nada de novo em relação ao que já conhecia.
Profissional B
Um dos profissionais tinha mais experiência. Ajudei com o que podia.
GC1
Profissional C Não. Mais aprendi com o processo.
Profissional D
Não.
Profissional E Não com uma técnica, mas com a parte da criação.
GC2
Profissional F Não.
Profissional G
Contribuí com o pensamento de que é sempre bom ir além do que o cliente pede.
Profissional H
Especialmente o uso de materiais. Tentei utilizar o origami. Lembrei de outras facas.
GE1
Profissional I Não. Mais com sugestões e opiniões.
Profissional J Partir para a confecção da peça tridimensional.
Profissional K
Não. Eu normalmente sou questionador, mas dessa vez quis “não complicar”.
GE2
Profissional L Pensei no uso de uma das dobras feitas na oficina, mas seria complexo desenvolvê-la.
Entendendo que o conceito de workshop segue os passos ditados pela aprendizagem
em grupo (SEBRAE-MG, 2005) e que esta tem relação intrínseca na aprendizagem individual
(FRANZATO, 2008, p.154 e SOUZA, 2004, p.7), a percepção acerca do aprendizado de cada
profissional participante desta pesquisa (Tabela 4.20) auxilia no entendimento do processo
como um todo.
TABELA 4.20 – Aprendizado com o processo.
6. Aprendizado com o processo.
Profissional A
O trabalho da equipe: imaginava uma coisa e outro colega que deu a melhor solução.
Profissional B
Vivo pouco a produção de embalagem na vida profissional, por isso foi uma aula.
GC1
Profissional C Aprendi muito com o processo. Ouvia o que os demais falavam.
Profissional D
Um dos profissionais que atuou na equipe tem uma boa visão sobre a parte gráfica.
Profissional E Aprendi especialmente trabalhando com profissionais que eu não conhecia.
GC2
Profissional F Como é o processo de trabalho de outros profissionais de embalagem.
107
Profissional G
Se tivéssemos trabalhado uma semana toda com origami a faca sairia mais rápido.
Profissional H
Nada de novo, mas achei a experiência interessante, conseguimos rápido resultado.
GE1
Profissional I Aprendi com a experiência dos demais envolvidos.
Profissional J O aprendizado está em como cada um trabalha e como expõem uma opinião.
Profissional K
Foi interessante trabalhar em trio, pois no dia-a-dia trabalho individualmente.
GE2
Profissional L O compartilhamento da vivência que os demais profissionais têm em seus trabalhos.
Questionando os grupos experimentais sobre o uso da técnica de origami no processo
de projetação (Tabela 4.21), esperou-se confirmar aspectos observados no decorrer do
workshop. Através desta explanação por parte dos profissionais, foi também possível
identificar se o grupo havia feito algum tipo de relação entre os dois encontros (oficina e
workshop) e se o conhecimento adquirido com a oficina contribuiu, de alguma forma, para o
processo de projeto.
TABELA 4.21– Auxílio da técnica de origami.
7. Auxílio da técnica de origami
Profissional A
- Não se aplica -
Profissional B
- Não se aplica -
GC1
Profissional C - Não se aplica -
Profissional D
- Não se aplica -
Profissional E - Não se aplica -
GC2
Profissional F - Não se aplica -
Profissional G
Se tivéssemos trabalhado uma semana toda com origami a faca sairia mais rápido.
Profissional H
Tentei utilizar especialmente pela questão de apelo de corte e por não usar cola.
GE1
Profissional I Não apareceu na solução final. Tentamos usá-lo, mas acho o origami complicado.
Profissional J O processo foi como fazer origami: encaixar, pegar, montar e chegar num resultado.
Profissional K
Cheguei a pensar em usar algo neste sentido, mas o foco foi fazer algo mais rápido.
GE2
Profissional L Logo pensei em usar o origami quando se falou em uma embalagem diferenciada.
Seguindo a lógica da relação do grupo sob a ótica de cada um dos profissionais
atuantes na pesquisa, a opinião em torno da interação entre os profissionais (Tabela 4.22)
auxiliou no entendimento da dinâmica coletiva e propiciou a explanação sobre a participação
individual dentro do grupo.
108
TABELA 4.22 – Interação entre os profissionais.
8. Interação entre os profissionais
Profissional A
Grupo trabalhou muito bem e em equipe.
Profissional B
Tranquilo e facilitado, porque eu já conhecia uma dos profissionais.
GC1
Profissional C Muito boa. Um deles contribuiu muito com a sua experiência.
Profissional D
Grupo trabalhou em equipe.
Profissional E Grupo fechou muito bem entre si.
GC2
Profissional F Boa.
Profissional G
Fluiu bem.
Profissional H
Tranquilo. Cada um contribuiu um pouco para o processo.
GE1
Profissional I Bom. Os profissionais eram bem acessíveis.
Profissional J Foi tranqüila. Sempre sou a favor do trabalho em equipe.
Profissional K
Houve integração, tocamos o trabalho de forma direta, cada um fazendo uma tarefa.
GE2
Profissional L O grupo trabalhou em equipe. Fui o que menos “colocou a mão na massa”.
Ainda, procurando identificar as dinâmicas que conduziram o grupo e, por
consequência, os elementos que originaram a solução projetual apresentada, questionou-se
cada um dos profissionais sobre a divisão de responsabilidades dentro do processo de projeto
(Tabela 4.23).
TABELA 4.23 – Divisão de responsabilidades.
9. Divisão de responsabilidades
Profissional A
Não combinamos nada. As responsabilidades foram divididas durante o processo.
Profissional B
Um profissional “capitaneou” o processo. Os demais contribuíram com o que podiam.
GC1
Profissional C Todos fizeram tudo. Um deles ficou com a parte de corte, pois entendia mais.
Profissional D
Nos dividimos bem entre a equipe.
Profissional E Harmônico. Um profissional fez mais a parte prática, outro a técnica e eu a criação.
GC2
Profissional F Um dos profissionais guiou o processo, conduziu-o desde o começo.
Profissional G
Organizei as informações, enquanto os demais ficaram com a parte mais prática.
Profissional H
Com a experiência do grupo, cada um contribuiu um pouco para a solução.
GE1
Profissional I Os demais tomaram mais partido, um deles fez anotações, contribui com sugestões.
Profissional J Comecei com esboços, outro desenvolveu a parte interna e assim por diante.
Profissional K
No decorrer do processo, cada um foi fazendo uma parte.
GE2
Profissional L Um fez a parte interna, outro a externa – a montagem.
Em caso de haver exibição ou inibição de algum profissional (Tabela 4.24), este item
deve ser identificado a fim de analisar se o resultado projetual foi, de fato, coletivo ou refletiu
a visão individual de algum membro do grupo.
109
TABELA 4.24 – Exibição ou inibição de algum profissional.
10. Exibição ou inibição de algum profissional
Profissional A
Eu tenho um jeito de “pegar e ir fazendo”, se tivesse outro como eu seria complicado.
Profissional B
Trabalhamos em conjunto.
GC1
Profissional C Eu mais ouvi o que os demais falavam e contribui com ideias.
Profissional D
Não houve.
Profissional E Não.
GC2
Profissional F Não. Um deles apenas guiou mais o processo.
Profissional G
Não.
Profissional H
Não.
GE1
Profissional I Não. Ouve apenas a tomada de frente pelos demais, por serem mais experientes.
Profissional J o.
Profissional K
Não. Um dos profissionais tocou mais a ideia, mas o resultado ficou legal.
GE2
Profissional L Não.
Questionando os grupos experimentais sobre o uso da técnica de origami no processo
de projetação (Tabela 4.25) esperou-se confirmar aspectos já observados no decorrer do
workshop. Através desta explanação por parte dos profissionais, tornou-se viável identificar se
houve algum tipo de relação entre os dois encontros (oficina e workshop) e se o
conhecimento, adquirido com a oficina, interferiu no processo de projeto.
TABELA 4.25 – Aproveitamento da técnica de origami pelo grupo.
11. Aproveitamento da técnica de origami pelo grupo
Profissional A
- Não se aplica -
Profissional B
- Não se aplica -
GC1
Profissional C - Não se aplica -
Profissional D
- Não se aplica -
Profissional E - Não se aplica -
GC2
Profissional F - Não se aplica -
Profissional G
O origami ajuda na transformação de uma peça plana para tridimensional.
Profissional H
A oficina que tivemos foi muito válida, com mais tempo poderíamos usar a técnica.
GE1
Profissional I Se estudássemos mais, tivéssemos outras facas, seria lindo: é um “a mais” na peça.
Profissional J Seguimos a lógica do pegar, montar, imaginar a peça e passar para o tátil-físico.
Profissional K
Na nossa peça poderíamos ter aplicado mais dobras, ficamos mais no corte, na faca.
GE2
Profissional L Teríamos que ter mais tempo, há possibilidades bem amplas dentro do origami.
A identificação do aproveitamento da técnica de origami pelo grupo deu respostas a
uma visão mais coletiva com relação ao uso deste conhecimento, sendo complementos os
dados indicados no questionamento apresentado na Tabela 4.21.
110
4.3.2 Resultados da observação
O tipo de embalagem desenvolvida reflete a solução apresentada por cada um dos
grupos, sendo o resultado do processo de projeto. A Tabela 4.26 descreve o formato das
embalagens; o número de facas utilizadas; o uso de cola; a definição das medidas (cotagem)
das peças tanto fechadas quanto abertas; a apresentação de sugestões que complementam as
peças; a forma de estocagem e uso na loja.
TABELA 4.26 – Tipo de embalagem desenvolvida.
Tipo de embalagem desenvolvida
GC1 GC2 GE1 GE2
Caixa tipo gaveta. Sacola. Caixa. Caixa.
2 facas. 1 faca. 1 faca. 3 facas.
Não utiliza cola. Utiliza cola. Não utiliza cola. Utiliza cola na tampa.
Tamanho (fechada):
85 X 240 X 35 mm
(base)
88 X 245 X 37 mm
(tampa)
Tamanho (fechada):
170 X 260 X 70 mm
Tamanho (fechada):
132 X 100 X 30 mm
Tamanho (fechada):
170 X 170 X 30 mm
(base)
170 X 170 X 30 mm
(tampa)
150 X 160 X 20 mm
(berço)
Tamanho (aberta):
245 X 605 mm
(base)
268 x 245 mm
(tampa)
Tamanho (aberta):
500 X 470 mm
Tamanho (aberta):
274 X 315 mm
Tamanho (aberta):
330 X 350 mm
(base)
200 X 540 mm
(tampa)
150 X 190 mm
(berço)
Sugestão de impressão.
Furo pode ser substituído
por alça.
Sugestão de uso de papel
de seda, como berço, e
fita, para fechamento.
Berço pode ser
descartado de acordo
com o tamanho da peça.
Tampa é empilhada
dobrada. Base é
empilhada aberta. Base
requer montagem.
Sacola é empilhada
dobrada. Para uso só
requer abertura.
Caixa é empilhada aberta
e requer montagem.
Tampa é empilhada já
montada. Base requer
montagem e encaixe do
berço.
O tempo máximo a ser utilizado pelos grupos era de seis horas. Dentro deste limite,
cada grupo apresentou a solução em determinada faixa de tempo, conforme indica a Tabela
4.27. Faz-se referência à duração de cada workshop, ao horário de início e término nas datas
que ocorreram.
111
TABELA 4.27 – Tempo de duração de cada workshop.
Duração do workshop
GC1 4h40min
09:30 – 14:10 26/09/2009
GC2 2h10min
09:40 – 11:50 03/10/2009
GE1 3h00min
09:30 – 12:30 24/10/2009
GE2 2h55min
14:35 – 17:30 18/12/2009
Dentre as dezessete etapas relacionadas ao processo de projeto (item 2.2), quatro delas
Conceito; Definições; Forma; Solução foram observadas no decorrer do workshop. Todos
os grupos perpassaram pelas fases de forma e solução, três grupos (GC1, GC2 e GE1)
transcorreram pela etapa de conceito e dois grupos (GC1 e GC2) por definições. A numeração
na Tabela 4.28 indica a ordem em que se observou a recorrência do grupo de profissionais a
cada uma das etapas projetuais, sendo que o número 1 representa a etapa em que o grupo
iniciou o processo de projeto, o número 2 a segunda etapa perpassada pelo grupo e assim
sucessivamente. Nota-se que tanto no Grupo de Controle 1 quanto no Grupo de Controle 2
não uma linearidade na passagem das etapas: o GC1 passa pelas quatro fases (indicadas
com números 1 a 4) e, depois, retorna às etapas de forma e solução (5 e 6); o GC1 inicia o
projeto em forma (1), segue para definições (2), retorna a forma (3), indica a solução (4) e
termina o projeto em conceito (5).
TABELA 4.28 – Passagem dos grupos pelas etapas projetuais observadas.
Etapas projetais perpassadas
GC1 GC2 GE1 GE2
Conceito 1
5
1
-
Definições 2
2
-
-
Forma 3 |5
1 |3
2
1
Solução 4 |6
4
3
2
A Tabela 4.29 indica o momento em que os grupos fizeram referência ao uso do
origami no processo projetual. As etapas perpassadas pelos grupos estão representadas pelos
números indicados na Tabela 4.28 e, o tempo percorrido em cada uma delas, está representado
pela linha mais clara, que acompanha os números. Nota-se que, tanto o Grupo Experimental 1
quanto o Experimental 2, fizeram menção ao origami na fase de forma, sendo que o
Experimental 1 aplicou mais tempo para utilização desta técnica (tempo e momento de uso da
técnica estão indicados com o retângulo vermelho).
112
TABELA 4.29 – Referência ao origami no processo de projeto.
Referência ao origami
GC1
GC2
GE1
GE2
O uso de desenhos (Tabela 4.30) durante o processo foi recorrente em todos os grupos,
sendo que houve maior concentração na fase inicial dos projetos, especialmente na etapa de
forma. Chamou-se de “desenhos”, de maneira generalizada, as representações gráficas de
imagens à mão-livre, tais como esboços
32
e roughs.
TABELA 4.30 – Uso de desenhos no processo de projeto.
Uso de desenhos
GC1
GC2
GE1
GE2
O desenvolvimento de montagens tridimensionais (Tabela 4.31) refere-se ao uso do
papel, como suporte para estruturas não planas. O Grupo de Controle 1 realizou uma
montagem na primeira parte da etapa forma e confeccionou outros três mock-ups até o final
do processo de projeto. O Grupo de Controle 2 desenvolveu dois mock-ups, diretamente
relacionados com a solução apresentada ao final do workshop. No Grupo Experimental 1,
durante a etapa formas, notou-se o estudo de possibilidades com o uso de uma montagem
tridimensional e, posteriormente, em soluções, a apresentação do mock-up da embalagem. O
Grupo Experimental 2 confeccionou uma única montagem tridimensional, em torno da qual
realizou ajustes técnicos, tais como cortes e encaixes.
32
Também chamados de sketchings, os esboços são desenhos preliminares no processo de projeto. Normalmente à mão-livre,
visam registrar pensamentos que já estão na mente, passando-os ao papel, e podem auxiliar na geração de ideias através do
ato de riscar. (GOLDSCHMIDT, 1994, p.161-162)
1
2
3
4
5
1
2
3
4
5
1
2
3
1
2
1
2
3
4
1
2
1
3
2
4
5
5
1
2
3
6
6
113
TABELA 4.31 – Número de montagens tridimensionais desenvolvidas por cada grupo.
Desenvolvimento de montagens tridimensionais
GC1
GC2
GE1
GE2
Os grupos realizaram, durante o processo de projeto algumas avaliações para medição
da proporção entre a embalagem em estudo e os diversos tamanhos de produtos (Tabela
4.32) a eles disponibilizados pela empresa. As avaliações consistiram, em todos os grupos, da
medição do produto de maior proporção e da experimentação destes junto às montagens
tridimensionais desenvolvidas.
TABELA 4.32 – Realização de avaliação quanto a proporção da embalagem e o tamanho dos produtos.
Avaliação de proporção
GC1
GC2
GE1
GE2
A cada um dos grupos foi oferecido o tempo máximo de seis horas para duração do
workshop, sendo que os grupos realizariam apresentações (Tabela 4.33) no decorrer do
processo, a fim de explanar seu andamento. Tais apresentações ocorreriam ao término do
workshop e, ainda, a cada duas horas de projeto ou conforme o grupo julgasse necessário. O
Grupo de Controle 1 optou por fazer uma apresentação após os testes relacionados ao
desenvolvimento da terceira montagem tridimensional. O Grupo de Controle 2 apresentou
uma vez, indicando a solução final. Aos Grupos Experimental 1 e Experimental 2 foi
solicitada a explanação dos resultados, após duas horas de projeto e, também, ao término do
processo.
1
2
3
4
1
2
1
3
2
4
5
5
1
2
3
6
1
2
3
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1
2
1
3
2
4
5
5
1
2
3
6
114
TABELA 4.33 – Apresentações durante o processo de projeto.
Apresentações no processo
GC1 2
GC2 2
GE1 2
GE2 2
O termo contrabriefing é apontado por Desserti (CELASCHI e DESSERTI, 2007)
como um elemento de projeto posterior ao briefing inicial. O contrabriefing é resultado do
confronto entre os objetivos iniciais do projeto e o trabalho de pesquisa conceitual, pois traz,
em si, uma visão mais aprofundada com relação ao objeto de estudo, podendo propor adições
ou alterações adversas ao briefing inicial. Conforme indica a Tabela 4.34, o Grupo de
Controle 1 e o Grupo Experimental 1 propuseram soluções além das solicitadas no briefing.
TABELA 4.34 – Indicativos de contrabriefing.
Contrabriefing
GC1 Embalagem como expositor. Indicações de possibilidades de impressão sobre a embalagem.
GC2 -
GE1 Definição e padronização da identidade visual. Definição de marca preferencial. Criação de um
elemento gráfico de apoio, com conceito vinculado ao universo do público alvo. Definição de cor
principal e cores de apoio.
GE2 -
Conforme apresentado no capítulo 3 (item 3.1.1), determinadas variáveis estranhas
poderiam estar presentes no experimento e, por este motivo, receberiam especial atenção.
Dentre os sete tipos listados como possibilidades, notou-se a presença da variável de
maturação nos Grupos Experimental 1 e Experimental 2. Foi possível identificá-la
especialmente pelas entrevistas individuais, quando profissionais de ambos os grupos
alegaram que o resultado poderia ser mais elaborado. Notou-se que houve pressa para
concluir o projeto e apresentar a solução, já que mesmo individualmente afirmando que o
resultado estava incompleto e mesmo dispondo de 3 horas a mais para a projetação, ambos os
grupos deram por finalizado o processo.
1
2
3
4
1
2
1
2
3
4
5
6
1
2
3
5
115
TABELA 4.35 – Variáveis estranhas no processo de projeto.
Presença de variáveis estranhas
GC1
GC2
GE1 GE2
Maturação - - - Observada a presença de pressa.
Efeitos de teste - - - -
Instrumentação - - - -
Seleção - - - -
Mortalidade experimental - - - -
Difusão ou imitação do tratamento - - - -
Rivalidade compensatória - - - -
A partir da descrição, listagem e tabulação das observações aos wokshops, tornou-se
acessível a visualização, graficamente representada, dos resultados. Tais implicações deram
possibilidade à interpretação dos dados, permitindo uma análise que comparou etapas do
processo com as ações projetuais.
4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise dos resultados teve três enfoques: (i) a visão do processo de projeto; (ii) o
uso do origami; (iii) a solução projetual apresentada. Embora tais enfoques estejam
interligados, a análise foi dividida nestes três vieses a fim de permitir um aprofundamento
maior em cada um dos itens. Destaca-se, no entanto, que procurou-se compreender cada dado
coletado como componente importante no todo do experimento, entendendo que ações o
são isoladas neste contexto, mas referem-se às partes que dão sentido e estruturam a
integralidade do processo.
4.4.1 Quanto ao processo de projeto
O levantamento dos métodos para o desenvolvimento de embalagens (Capítulo 2)
possibilitou uma visão ampla das diversas etapas projetuais relatadas por autores. A partir da
observação de quatro destas fases conceito, definições, forma e solução percebeu-se o uso
delas nos processos de workshop, o que indicou consenso entre os aspectos projetuais,
apresentados em literatura, e os observados nos grupos.
116
Destaca-se, no entanto, que embora os profissionais tenham perpassado por, pelo
menos, duas das fases projetuais levantadas, nenhum deles soube nomear alguma dessas
etapas ou indicar uma metodologia específica à qual teriam feito uso. Foi notável, também,
que não, necessariamente, linearidade como apresentado em literatura na passagem
pelas etapas dos métodos, pois os profissionais recuam, avançam, repetem ou retomam fases,
de acordo com as necessidades projetuais daquele momento.
A partir da análise do processo explicitado por cada grupo e por meio da tabulação de
determinadas ações (item 4.3.2), algumas das necessidades puderam ser identificadas,
destacando-se: (i) a comunicação das ideias entre os profissionais; (ii) o teste de viabilidade
das ideias; (iii) a relação de proporções; (iv) a finalização das peças.
Quanto à comunicação das ideias entre os profissionais, observou-se que ela não
ocorreu somente de forma verbal, mas também através da utilização de desenhos, além da
confecção de peças tridimensionais. O uso de roughs e esboços durante o processo foi
recorrente em todos os grupos, sendo que houve maior concentração na fase inicial dos
projetos, especialmente na etapa de forma, quando os profissionais estavam propondo ideias e
discutindo possíveis soluções.
O uso do desenho no desenvolvimento da embalagem é indicado em alguns dos
métodos estudados, como no de Pereira (2003), Mestriner (2002 e 2005) e Gurgel (2007). No
entanto, a ação de desenhar é relatada, por estes autores, como uma fase restrita à proposição
individual de alternativas, sendo considerado o ato de “colocar ideias no papel”. O desenho
como facilitador de troca de informações entre o grupo, assim como observado nos
workshops, não aparece listado de forma explícita nos métodos apresentados por Pereira,
Mestriner e Gurgel.
Cabe destacar que, em uma das metodologias projetuais estudadas, a de Stewart
(2008), cita-se o uso do desenho como uma ão próxima a observada pela pesquisadora,
sendo esta também relacionada ao trabalho em equipe. Stewart menciona o desenho
conceitual como base para o estímulo de ideias sendo fortemente relacionado aos aspectos de
proposição de alternativas. O autor liga o desenho ao cumprimento do briefing e à
incorporação de anotações e comentários dos designers em torno das características,
oportunidades e problemas do projeto. A partir destes desenhos o projeto passaria para uma
reflexão mais aprofundada, onde os detalhes no traçado da embalagem seriam trabalhados.
Assim, embora a comunicação de ideias através do desenho não seja literalmente
confirmada por Stewart, sua menção, quanto ao uso de grafismos manuais como expressão
das alternativas e troca de informações entre os designers, corresponde ao observado nos
117
workshops. Destaca-se que, nos métodos estudados, o desenho corresponde a uma etapa
pontual, ocorrendo em determinada fase do processo de projeto. No entanto, pela
experimentação, foi possível identificar que o uso do desenho é recorrente em diversos
momentos do desenvolvimento da embalagem.
Nota-se, por exemplo, que algumas montagens tridimensionais coincidem com o
desenvolvimento de desenhos, sendo que foram confeccionadas a fim de testar viabilidades
técnicas e, simultaneamente, detalhar uma ideia pessoal, apresentando-a ao grupo de trabalho.
A montagem tridimensional possibilitou o entendimento acerca da proposta de uma
alternativa que, junto com os desenhos, foi decisória na aceitação ou descarte de uma solução.
Seguindo a mesma linha de dependência entre as ões projetuais, a tabulação dos
resultados também mostra que o teste de proporção entre os produtos e a embalagem
relacionou-se, invariavelmente, ao desenvolvimento do mock-up. Observou-se que os
profissionais dependiam de uma peça tridimensional próxima da solução proposta pelo grupo,
podendo, assim, testar se as bijuterias caberiam no espaço determinado na embalagem. Foi a
partir dos testes de relação e proporção que os grupos definiram melhorias no encaixe e no
corte das peças.
Ainda, referente às necessidades projetuais, notou-se uma relação direta entre o tempo
decorrido no workshop e o sentimento do grupo quanto ao acabamento da solução proposta.
Se comparados ao Grupo de Controle 1, os demais grupos atuaram de maneira mais rápida e,
através das entrevistas, afirmaram certa incompletude na solução, relatando falta de
acabamento ou diferenças quanto ao tipo de papel em que confeccionaram o mock-up e o real
suporte da embalagem proposta. A finalização da peça apresentada pelo Grupo de Controle 1,
por outro lado, tem o resultado mais fiel ao que seria a embalagem real, notando-se que os
profissionais se preocuparam em refazer o mock-up a fim de entregar uma solução finalizada.
O Grupo de Controle 1 desenvolveu mais montagens tridimensionais e, inclusive, utilizou
mais tempo – se comparado aos demais grupos – da etapa de solução.
4.4.2 Quanto ao origami no processo
A condução do processo permitiu que os Grupos Experimentais não fizessem
associação direta entre a etapa de workshop e a oficina de origami. Isso ficou nítido a partir
do início da projetação, quando as ideias trocadas entre os profissionais estiveram em torno de
alternativas variadas e não relativas ao origami. A dobradura de papel apareceu, no entanto,
118
sendo lembrada por um dos profissionais em cada grupo e em determinado momento do
processo de projeto, enquanto perpassavam pela etapa de forma. Observou-se que houve
consenso com relação ao interesse de promover dobras diferenciadas na embalagem, porém os
grupos descartaram a ideia quando se depararam com a complexidade deste desenvolvimento.
Durante o processo de workshop, enquanto discutiam a possibilidade de variações na
dobra do papel, os profissionais recorreram à análise das peças desenvolvidas na oficina de
origami. Em ambos os grupos, Experimental 1 e Experimental 2, ao manipular as dobraduras
de papel, houve comparação com outras embalagens presentes no mercado, destacando
especialmente sistemas de abertura e fechamento. As comparações coincidem com a analogia
entre as formas do origami e as embalagens (item 1.4).
Destaca-se que a proposição do uso do origami esteve diretamente relacionada à busca
por soluções projetuais. No que se refere à contribuição pessoal ao processo de projeto, dois
profissionais afirmaram que suas principais colaborações estiveram em torno da apresentação
de soluções e alternativas para embalagem. Estes profissionais, um do Grupo Experimental 1
e outro do Grupo Experimental 2, são especificamente os mesmos que propuseram o uso do
origami aos demais e, também, os que mais se dedicaram às tentativas de variação na
dobradura da embalagem (Tabela 4.36).
TABELA 4.36 - Percepção dos profissionais segundo suas contribuições ao projeto.
Grupos experimentais: contribuições segundo percepção dos participantes
Contribuição pessoal ao processo em
geral:
Uso de técnica e/ou conhecimento
específico:
Profissional G Preocupação em organizar as informações.
Contribuí com o pensamento de que é sempre bom
ir além do que o cliente pede.
Profissional
H
Ideias em torno do material, soluções
para abertura e fechamento.
Especialmente o uso de materiais. Tentei
utilizar o origami. Lembrei de outras
facas.
GE1
Profissional I
Opiniões e sugestões, como a dimensão da peça e o
uso do papel seda.
Não. Mais com sugestões e opiniões.
Profissional J
Esboços iniciais.
Partir para a confecção da peça tridimensional.
Profissional K
Consentimento quanto às ideias dos demais; não
complicar o processo.
Não. Eu normalmente sou questionador, mas dessa
vez quis não complicar.
GE2
Profissional
L
Geração de alternativas.
Pensei no uso de uma das dobras feitas
na oficina, mas seria complexo
desenvolvê-la.
Com relação à passagem por ações projetuais, assim como o uso de desenhos esteve
relacionado à comunicação de ideias, as tentativas de uso de dobras diferenciadas também
119
conectaram-se a análise de peças tridimensionais. Em ambos os grupos, os profissionais
manipularam as dobraduras desenvolvidas na oficina. No Grupo Experimental 1, um dos
profissionais dedicou-se à elaboração e estudo de uma montagem tridimensional (Figura
4.71), esteticamente comparável com uma peça de origami. No Grupo de Controle 2 houve a
sugestão de uma alternativa, demonstrada ao grupo através de um desenho baseado no
origami (Figura 4.72).
Figura 4.49: Montagem tridimensional
confeccionada no Grupo Experimental 1.
Figura 4.50: Desenho (ao fundo) desenvolvido no Grupo
Experimental 2 com base na peça de origami (foto na frente).
As afirmações dos profissionais, nas entrevistas individuais de percepção do processo,
combinadas às observações da pesquisadora, evidenciaram que o origami poderia ser
utilizado nestas embalagens, mas o uso da técnica dependeria da aplicação de mais estudos e
mais tempo. Alguns pontos positivos, quanto ao conhecimento do origami para o
desenvolvimento de embalagens, foram destacados pelos profissionais: auxílio na
transformação de uma peça plana em tridimensional (Profissional G); uso de encaixe sem cola
(Profissional H); acréscimo de valor estético (Profissional I e Profissional L); materialização
de uma ideia através de um processo tátil-físico (Profissional J). Nenhum dos grupos
evidenciou aspectos negativos quanto ao uso do origami.
4.4.3 Quanto à solução
O origami esteve presente no processo projetual como uma das alternativas
consideradas pelos profissionais. No entanto, a solução final projetada pelos grupos não
apresenta elementos estéticos que evidenciam o uso do origami. As embalagens cumpriram os
objetivos definidos no briefing, mas é possível que, com uso de mais tempo, as soluções
atingissem um nível mais elevado de aprofundamento técnico ou mesmo de complexidade.
120
Foi notável a preocupação de alguns profissionais com relação ao cumprimento pontual da
tarefa e do prazo, sendo que os mesmos deixaram claro que outras alternativas não foram
testadas em razão do limite de tempo (Tabela 4.37).
TABELA 4.37 – Percepção dos profissionais quanto ao uso do tempo.
Processo de projeto: Tempo
Profissional
A Processo foi objetivo, tendo foco no cumprimento do prazo.
Profissional G Se tivéssemos trabalhado uma semana toda com origami a faca sairia mais rápido.
Escolhemos uma ideia e a desenvolvemos, sem geração de muitos questionamentos.
Profissional K
Cheguei a pensar em usar algo neste sentido, mas o foco foi fazer algo mais rápido.
Profissional L O processo poderia ser mais aprofundado, com maior geração de alternativas.
É importante destacar que, embora os resultados projetuais tenham sido tecnicamente
limitados, houve um grupo (Experimental 1) que expôs claramente a opinião sobre a
importância de expansão do tema, entendendo que a necessidade da empresa não estava
restrita à solicitação do briefing. Este foi o grupo que propôs um contrabriefing por escrito,
pontuando aspectos especialmente relacionados à identidade visual da empresa.
A análise com relação à solução apresentada por cada um dos grupos permite afirmar
que não houve diferencial no que se refere ao resultado projetual. Os grupos desenvolveram
formatos esteticamente comuns que, embora projetualmente estudados, relacionaram-se a
objetos bem conhecidos – caixas e sacola – sem novas estruturas como, por exemplo, sistemas
inovadores de abertura e fechamento. Assim, notou-se que o diferencial revelado pelo
experimento não esteve na solução, mas no processo: na maneira como os grupos discutiram
ideias, conduziram ações e consideraram possibilidades projetuais.
4.5 CONTRIBUIÇÕES
Negrão e Camargo (2008, p.146) afirmam que o campo projetual envolve paradigmas
parâmetros estabelecidos e utilizados indiscriminadamente que podem comprometer a
aplicação de novidades e inovações em projetos de embalagens. Tal colocação remete ao uso
“engessado” dos métodos projetuais, ressaltando a ideia de que os mesmos são utilizados de
maneira pouco articulada.
O presente estudo apresentou resultados que contribuem para reflexão acerca dos
métodos projetuais para embalagens utilizados por profissionais e ensinados no meio
121
acadêmico. Destaca-se, entre as implicações da pesquisa, especialmente os fatores que
apontam para o uso de novas possibilidades dentro do processo de projeto, tornando etapas
mais flexíveis à inclusão de técnicas que venham a contribuir na solução de design.
Moura e Banzato (1997, p.54) afirmam que o projeto da embalagem deve ser visto
através de um enfoque sistêmico. Considerando esta questão apresentada pelos autores, parece
claro que não se pode determinar um projeto em torno de etapas estagnadas, com regras fixas.
O projeto pode, por outro lado, ser estruturado, pensado ou mesmo repensado, de acordo com
o rumo das pesquisas e soluções, especialmente considerando a articulação sistema produto
que é particular de cada projeto.
Um dos itens, a serem refletidos no processo de projeto, é a inclusão de meios que
auxiliem com novas proposições técnicas. O resultado desta pesquisa indicou o origami como
um possível artifício para alcançar o que Chinem (2005, p.9) destaca como “informações
recebidas pelo tato”. A autora afirma que o uso do tato libera outros canais sensoriais, sendo
conveniente pensar em seu uso desde o início do projeto. Neste caso, a dobradura de papel
seria um meio para tanto, na medida em que ela permite que, o designer, tenha ricas
interações táteis com o material para, assim, poder gerar intervenções positivas no processo
projetual.
A inclusão de uma técnica neste caso o origami no desenvolvimento de
embalagens pode dar novos rumos a própria construção do projeto. Negrão e Camargo (2008),
ao falar do método UAM (abordado no item 2.1.9), declaram que, muitas vezes, é necessário
refazer fases do projeto ou repensar seu enfoque para obter-se melhores resultados. Assim,
através das observações da presente pesquisa, acredita-se que, se identificada a necessidade
do uso do origami em um projeto, algumas fases ou enfoques podem ser replanejados a fim
de se buscar resultados diferenciados.
A inclusão da dobradura de papel no processo de projeto pareceu ser mais indicada nas
etapas de conceito e construção fases nomeadas segundo item 2.2. Como os métodos
estudados iniciam a parte criativa do projeto, especialmente na etapa de conceito, é cabível
que, aí, se estabeleçam parâmetros para relacionar, se for o caso, o aprendizado da técnica
de origami. Desta maneira, se permitiria prever tempo para a investigação e/ou
aperfeiçoamento da técnica.
Junto ao conceito, a etapa de construção seria, também, o momento para articulação
da dobradura de papel junto ao processo de projeto. Dentre os métodos projetuais analisados,
a fase de construção é contemplada em todos eles, pois constitui a revisão ou aceitação da
estrutura formal da embalagem. Esta etapa seria acessível à inclusão de novas técnicas – como
122
o origami – na medida em que viriam a contribuir para complementar ou mesmo aperfeiçoar a
estratégia projetual construída até então.
Ressalta-se que esta pesquisa esteve focada no uso do papel como suporte das
embalagens e que, tais resultados, são considerados achados, a princípio, especialmente
indicados para este tipo de material. A embalagem de papel, diferentemente do que ocorre
com outros substratos, tem a particularidade de ser oriunda de uma forma planificada
(bidimensional), que requer uma montagem para sua tridimensionalização (NEGRÃO;
CAMARGO, 2008, p.230). Este fato em si tornaria interessante a inserção do origami no
processo de projeto.
Conforme afirma Carvalho (2008, p.32), é oportuno, num projeto, investigar soluções
além da existente, na medida em que, manter-se conservador, pode frear outros ganhos.
Fazendo um paralelo com esta ideia, entende-se que os métodos projetuais também devem ser
investigados e articulados de maneira a complementar suas etapas e seus meios. Evita-se,
desta forma, que a estagnação e o conservadorismo das fases projetuais impeçam a inclusão
de novidades e de artifícios que aperfeiçoem o projeto. Os resultados, assim, vieram a
contribuir na reflexão acerca do projeto de embalagens, sendo este um tema relevante dentro
da ideia de que a boa condução do processo projetual é item indispensável na articulação de
um sistema produto complexo, como é o caso do design de embalagens.
123
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visto ser a embalagem a expressão da comunicação do produto com o consumidor, o
interesse no desenvolvimento de formatos diferenciados, atrativos e inovadores é parte dos
projetos de embalagem. Seguindo a mesma linha, o origami técnica milenar de dobradura
de papel envolve o desenvolvimento de formas tridimensionais com interessantes apelos
estéticos. A ligação entre a técnica do origami e as embalagens está expressa em exemplos
que citam a dobra como diferencial estético, sendo que o origami estaria diretamente
relacionado com a aplicação de formatos inovadores em algumas embalagens (UENO, 2003,
p.30).
Apesar de estudos afirmarem a relação estética entre o origami e determinadas
embalagens, não foram encontradas menções quanto ao desenvolvimento projetual destas. O
levantamento de onze métodos projetuais, explicitado no Capítulo 2, também não apresentou
indicação quanto à possibilidade de se recorrer a uma técnica especificamente utilizável no
desenvolvimento de embalagens. Assim, esta pesquisa buscou elementos para avaliar a
influência da inserção da técnica de origami no processo de projetação de embalagens.
A metodologia utilizada desenvolveu-se em torno de uma pesquisa qualitativa de
caráter experimental. Quatro grupos formados com o total de doze designers três em cada
grupo participaram de um workshop de criação, onde dois destes grupos passaram pelo
tratamento experimental e os outros dois serviram de controle. O trabalho realizado pelos
designers tinha o objetivo de resolver projetualmente um mesmo briefing, sendo que a
variável de tratamento consistiu da aplicação de uma oficina de origami.
Ocorridas entre os meses de setembro e dezembro de 2009, as observações aos
workshops e a posterior análise dos processos projetuais resultaram em achados de pesquisa
que trouxeram informações tanto para a verificação de indícios quanto ao uso da técnica de
origami no processo de projeto de embalagens, quanto para o mapeamento de aspectos que
caracterizaram a projetação. Ressalta-se, no entanto, que o resultado desta pesquisa não é
conclusivo.
Os estímulos, indicados pelo conhecimento do origami, apresentaram-se no processo,
sendo que os profissionais destacaram o interesse no uso desta técnica e relacionaram-na com
possíveis resultados projetuais. Os estímulos também foram visíveis, pois os grupos
experimentais desenvolveram propostas que perpassaram por alternativas envolvendo a
124
técnica de origami. No entanto, não se pode afirmar um resultado conclusivo, visto que o
origami surgiu no processo de maneira sutil e pouco aprofundada.
A observação aos grupos de controle foi anterior ao acompanhamento dos grupos
experimentais e, esta ordem, forneceu parâmetros para melhor analisar os processos de
projeto que abarcaram o tratamento experimental. Com base nas observações aos grupos de
controle, foi possível mapear as características quanto à resolução do briefing e, assim,
identificar os possíveis diferenciais que caracterizaram o uso do origami nos grupos
experimentais.
Ressalta-se que tais diferenças foram detectadas essencialmente no processo de
projeto, sendo que não se identificou particularidades quanto ao uso do origami no resultado
final das embalagens propostas. Embora o foco da pesquisa fosse o processo projetual, seria
possível que alguma embalagem apresentasse características esteticamente comparáveis ao
origami, tal como os exemplos apresentados no capítulo 1, especialmente os destacados por
Ueno (2003).
Para chegar a estes resultados estéticos, o origami seria, segundo Ueno, aplicado a
estes projetos através das peculiaridades que o caracterizam: o uso da geometria e a busca por
diferenciais no formato. Ueno não explica, no entanto, como estas características seriam
transpostas ao processo, ou seja, em que momento do projeto a relação origami e embalagem
seria estabelecida. Também não referências indicando que o origami pode estar no
processo sem, entretanto, aparecer claramente como uma solução estética na embalagem
proposta.
Assim, o fato da técnica de dobradura de papel ter aparecido no procedimento
experimental observado nesta pesquisa e, ao mesmo tempo, estar esteticamente dissociada do
resultado projetual final, pode tanto indicar que a estética não é primordial para associação do
origami com a embalagem como, ainda, sugerir que a solução projetual nos workshops
poderia ter tomado outro rumo, caso a dobradura perdurasse na geração de alternativas. Neste
sentido, entende-se que, a determinação do tempo imposta aos workshops, gerou uma
limitação que impediu a verificação da relação entre o processo de projeto e o resultado
estético da embalagem.
Por outro lado, a análise do tempo em analogia às ações projetuais gerou condições
para o estabelecimento de relações entre a confecção do origami e o processo de
desenvolvimento de uma embalagem. Da mesma maneira pela qual a tridimensionalidade é
destacada como uma das características do origami, também foi constatada como elemento
importante no processo de projeto, sendo que os profissionais dependeram de peças
125
tridimensionais para testar alternativas, viabilidades técnicas e elementos de proporção.
Estabeleceu-se, deste modo, uma clara similaridade entre o desenvolvimento que caracteriza o
origami e a construção de peças tridimensionais como subterfúgio para alternativas projetuais.
Tal relação margem para questionar se haveria uma fase ideal para aplicação da
técnica de origami no processo de projeto. No caso observado, as etapas em que os designers
consideraram as peças tridimensionais foram as que mantiveram relação com o origami, pois
nelas visualizaram necessidades de mudança da forma e buscaram novas alternativas para o
projeto. Foi também nesta fase que os grupos experimentais descartaram o uso de dobraduras
elaboradas, alegando tempo restrito e conhecimento limitado para aplicação da técnica. Diante
disso, obtiveram-se evidências indicando que, a técnica de origami, se aplicada e aprofundada
nesta fase do projeto, poderia auxiliar no refinamento das peças tridimensionais,
possivelmente alterando a geração de alternativas e, por consequência, a solução projetual.
Tendo a oficina de origami ocorrido em momento anterior ao processo de projeto e,
propositalmente, anunciada de maneira dissociada do workshop, não ficou evidente que os
profissionais tenham feito uma relação direta entre o origami e o desenvolvimento da
embalagem. Notou-se, no entanto, que a técnica de dobradura foi mencionada em
determinado momento do processo: exatamente quando os profissionais discutiam
possibilidades e propunham alternativas de projeto. O origami apareceu no processo como
uma solução possível, havendo reflexão quanto à geração de alternativas que ele permitiria,
mas também sendo descartado na medida em que o grupo julgou ter que despender demasiado
tempo para concretizar seu uso.
A observação quanto à dificuldade para utilização da técnica no momento do projeto
indicou que o distanciamento de tempo entre a oficina e o workshop, bem como o pouco
aprofundamento com relação ao conhecimento do origami, freou a utilização mais ampla da
técnica de dobradura. Acredita-se que, se fosse viável oferecer a oficina durante a etapa
projetual na qual a necessidade de aprofundamento da técnica foi detectada, possivelmente a
utilização do origami teria sido mais efetiva.
Esta relação – do tempo necessário para o treinamento da técnica e sua implantação no
projeto pode ser comparada ao que Schön (2000) denomina reflexão-na-ação. Se a oficina
tivesse ocorrido no momento em que os profissionais identificaram a necessidade de uso
origami é possível que eles analisassem o uso da dobradura de maneira diferente, ou seja,
refletindo na ação de construir o origami e, ao mesmo tempo, relacionando-o à construção da
embalagem.
126
Schön destaca que a reflexão-na-ação tem uma função crítica no processo, sendo que
novos rumos e novas alternativas projetuais podem ser gerados na medida em que o condutor
do projeto se depara com surpresas novos conhecimentos , reflete em torno delas, faz
relações e novos experimentos, dando margem ao desencadeamento de resultados. Desta
forma, dentro do processo projetual analisado nesta pesquisa, acredita-se que maior tempo de
reflexão em torno da relação origami-embalagem e sua colocação no momento oportuno
teriam contribuído com novos rumos através de alterações no processo de projeto.
O ato de conduzir o projeto da embalagem de acordo com o momento em que se
identificam necessidades e oportunidades é, também, um aspecto que pode ser comparado a
caracterizações do Design Estratégico. Assim como a proposição do sistema produto é
determinada por pesquisas metaprojetuais que direcionam o processo de projeto
(CELASCHI, 2007) e o tornam flexível frente à detecção de oportunidades, assim os métodos
para projetação de embalagens também poderiam se articular conforme a particularidade de
cada caso e de acordo com a gerações de alternativas.
Independentemente da viabilidade para o uso mais extenso do origami no processo,
ficou nítido que seu conhecimento pode ampliar proposições projetuais. Este resultado fez
refletir na necessidade de flexibilidade dos métodos para projetação de embalagens, sendo que
os mesmos poderiam ser permeáveis quanto à inclusão de conhecimentos específicos como
o origami e de acordo com a necessidade projetual. Reconhecendo que os métodos são
apresentados de forma linear, conforme expostos no Capítulo 2, o resultado da pesquisa
também indicou que a relação das etapas projetuais não segue padrões lineares e deve, assim,
ser flexibilizada, de acordo com o processo característico de cada projeto.
É importante ressaltar, ainda, que este estudo apresenta limitações. Tratando-se de
uma pesquisa de caráter qualitativo e restrita a observação de quatro grupos específicos, seu
resultado enquadra-se nas limitações apresentadas por Guimarães et al. (2004, p.82-83) das
quais destacam-se: a subjetividade do observador, a impossibilidade de generalizar resultados
e a auto-crítica do pesquisador quanto ao próprio viés de observação.
Neste sentido, as principais limitações do estudo estiveram concentradas nos critérios
temporais, definidos para os grupos envolvidos no experimento, e na impossibilidade de mais
comparações frente a determinados resultados da pesquisa. Os critérios de tempo limitados
a três horas de oficina e outras seis de workshop não se confirmaram como ideais, tendo
sido pouco para o aprendizado efetivo da técnica e para a imersão dos profissionais no
envolvimento com o projeto.
127
A restrição do experimento em quatro grupos também impediu que mais comparações
de resultados fossem possíveis. Um dos resultados, por exemplo, indicou que, em ambos os
grupos experimentais, a proposição de uso do origami partiu de um dos profissionais
envolvidos. Tanto no Grupo Experimental 1 quanto no 2, a menção ao origami não ocorreu
por parte do profissional mais experiente e com mais tempo de atuação na área de
embalagens. Esta questão levou à dúvida quanto a possibilidade do uso da técnica estar
relacionada, diretamente, com a pré-disposição do profissional para novos conhecimentos ou
novas maneiras de projetar proposições estas que poderiam destoar do que os profissionais
mais experientes estariam acostumados a fazer. Tal vida, no entanto, não pôde ser
averiguada através desta pesquisa, sendo que, para tanto, mais grupos deveriam ser analisados
e expostos ao mesmo tratamento.
Seguindo a linha de pensamento que compara uma ação individual de um componente
com os resultados do grupo, o fato do uso do origami ter partido de um dos profissionais
também suscita dúvidas quanto ao interesse pessoal, de cada componente, com relação ao
aprendizado da técnica. É possível que o uso do origami seja uma ação individual e não do
grupo, ou seja, que os profissionais que indicaram a utilização da dobradura estivessem, de
alguma maneira, mais sensibilizados para a técnica do que os demais.
Estas vidas apresentadas como limitações da pesquisa suscitam, por outro lado,
oportunidades de continuidade do estudo. Investigações mais amplas abarcando outros grupos
e novas observações, gerariam maior quantidade de dados para cruzamento de informações e,
consequentemente, para mais comparações. Aspectos verificados nos processos analisados
poderiam ser testados a fim de investigar respostas que ficaram circunscritas a limitação da
pesquisa.
A sinalização de que o origami foi utilizado no processo projetual desenvolvido pelos
grupos experimentais confirmou as expectativas quanto a sua contribuição técnica e alimentou
resultados que dão critérios para extensão do estudo. O fato do uso do origami ter surgido,
durante o experimento, em momentos específicos quando os profissionais detectaram a
necessidade de utilizá-lo indica que os métodos projetuais podem ser analisados,
confrontados e reorganizados de maneira a aceitar a inserção do origami e, provavelmente, de
outras técnicas. Tal revisão e articulação dos métodos, bem como a inserção de técnicas, são
possíveis caminhos de continuidade para este estudo.
128
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Maringá. Disponível em: < http://www.iej.uem.br/hist_origami.htm>. Acesso em: 06 abr.
2009.
UENO, Thaís Regina. Do origami tradicional ao origami arquitetônico: uma trajetória
histórica e técnica do artesanato oriental em papel e suas aplicações no design
contemporâneo. Bauru: Dissertação de Mestrado da Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, 2003.
VILLAS-BOAS, André. O que é e o que nunca foi: the dub remix. Rio de Janeiro: 2AB,
1999.
133
GLOSSÁRIO
Acabamento especial: tratamentos específicos no suporte gráfico, tais como: aplicação de
vernizes, grampeamento, montagens, dobras, colagens, refiles, entre outros.
Berço: receptáculo utilizado, dentro da embalagem, para posicionar o produto.
Brainstorming: técnica de produção de ideias.
Briefing: informações referenciais solicitadas para o desenvolvimento do projeto.
Branding: conjunto de ações para consolidação de uma marca.
Checklist: lista de checagem de itens a serem contemplados no projeto.
Contrabriefing: sugestão de novas propostas a partir das solicitações do briefing.
Croqui: desenhos, sem detalhamentos, representando as ideias projetuais.
Display: expositor de produtos.
Envase: inserção do produto na embalagem.
Ergonomia: estudo da relação homem-máquina, visando determinar aspectos ideais para esta
interação.
Esboço: desenhos preliminares à mão-livre.
Faca especial: cortes diferenciados no papel que exigem o uso de uma chapa com lâmina
específica.
Kirigami: artesanato em papel que utiliza o corte como principal elemento estético.
Metaprojeto: procedimento de idealização e programação do processo de pesquisa e da
atividade projetual, o “projeto do projeto”.
Mock-up: modelo, em qualquer escala, de um produto ou de uma embalagem.
Moodboard: ferramenta de apoio ao projeto, constituida de elementos como imagens e
textos.
Origami: técnica milenar de dobradura de papel.
Protótipo: modelo funcional idêntico ao produto a ser produzido em escala industrial.
Rótulo: impresso afixado em embalagens.
Rough: esboço, rascunho.
134
Sistema de abertura e fechamento: elementos no envólucro que permitem a vedação do
produto e, também, a manipulação, para que a embalagem possa ser aberta e fechada.
Sistema produto: conjunto interligado da forma do bem, da forma da comunicação e da
forma de distribuição do produto.
Suporte: elemento base, apoio para uma produção gráfica.
Tag: etiqueta não adesiva que fica, normalmente, amarrada junto ao produto.
Workshop: espécie de oficina, regida por regras específicas, onde profissionais se reunem a
fim de solucionar um problema projetual.
135
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA: SERAGINI
Roteiro de entrevista: LINCOLN SERAGINI
São Paulo: 29/01/2009.
Trajetória profissional
Questão inicial: Comente a respeito da sua trajetória profissional.
Formação acadêmica?
Ano de formação?
Formação
Instituição de ensino?
Quando iniciou-se?
Embalagem
Algum trabalho de destaque?
Tempo de docência?
Instituições que trabalha?
Docência
Disciplinas que ministra?
Como é a atuação no escritório?
Palestras e seminários?
Atua em pesquisas?
Ocorre constante interação com outros profissionais?
Outros
Atua em instituições de classe?
Metodologia projetual
Questão inicial: Comente sobre a metodologia utilizada na criação de embalagens.
Como foi a construção?
Usou outros métodos como base?
São efetivamente aplicadas?
Aplicam-se a qualquer trabalho?
Tempo de aplicação: prazos?
Etapas
Como é a formação da equipe?
136
O design está presente na metodologia?
O que é design?
Qual a importância do design?
Design
O design brasileiro está atrás do estrangeiro?
Uso de alguma técnica específica nos projetos?
Como se dá o aprendizado de novas técnicas?
Já houve dificuldade na aplicação de alguma técnica?
Técnicas
Já utilizou o origami?
Indica algum outro método brasileiro?
Indicações
Algum outro estrangeiro?
É necessária a pesquisa acerca de métodos?
Há preocupação com a pesquisa na área?
Pesquisa
Conhece pesquisadores que trabalham nessa área?
Mercado
Questão inicial: Como é o setor de embalagens hoje e qual a sua importância?
Sabem a importância de uma embalagem?
Qual a freqüência de procura por projetos?
Novas tecnologias são procuradas?
O preço da embalagem é um empecilho?
Empresas
É preciso algum trabalho de sensibilização?
Escolhe pela embalagem?
Aceita novidades?
Gosta de tradição?
Consumidor
Gosta de embalagens interativas?
Há fornecedores preparados para qualquer técnica?
Há parcerias específicas para cada projeto?
Fornecedores
São todos brasileiros?
137
Específicas
No livro Design de Embalagens do marketing à produção”, Celso Negrão e Eleida Camargo (2008),
afirmam que o senhor considera que o planejamento é essencial para o sucesso de um projeto de
embalagens”. O que envolve esse planejamento?
Os mesmos autores ainda ressaltam que o senhor propõe o “desenvolvimento racional da
embalagem”. Do que se trata essa questão do “racional”. Por que “racional”?
138
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA: MESTRINER
Roteiro de entrevista: FÁBIO MESTRINER.
São Paulo: 04/02/2009.
Trajetória profissional
Questão inicial: Comente a respeito da sua trajetória profissional.
Formação acadêmica?
Ano de formação?
Formação
Instituição de ensino?
Quando iniciou-se?
Embalagem
Algum trabalho de destaque?
Tempo de docência?
Instituições que trabalha?
Docência
Disciplinas que ministra?
Como é a atuação no escritório?
Palestras e seminários?
Atua em pesquisas?
Ocorre constante interação com outros profissionais?
Outros
Atua em instituições de classe?
Mercado
Questão inicial: Como é o setor de embalagens hoje e qual a sua importância?
Sabem a importância de uma embalagem?
Qual a freqüência de procura por projetos?
Novas tecnologias são procuradas?
O preço da embalagem é um empecilho?
Empresas
É preciso algum trabalho de sensibilização?
139
Escolhe pela embalagem?
Aceita novidades?
Gosta de tradição?
Consumidor
Gosta de embalagens interativas?
Há fornecedores preparados para qualquer técnica?
Há parcerias específicas para cada projeto?
Fornecedores
São todos brasileiros?
Metodologia projetual
Questão inicial: Comente sobre as metodologias apresentadas em seus livros.
Como foi a construção?
Usou outros métodos como base?
São efetivamente aplicadas?
Aplicam-se a qualquer trabalho?
Tempo de aplicação: prazos?
Etapas
Como é a formação da equipe?
O design está presente na metodologia?
O que é design?
Qual a importância do design?
Design
O design brasileiro está atrás do estrangeiro?
Uso de alguma técnica específica nos projetos?
Como se dá o aprendizado de novas técnicas?
Já houve dificuldade na aplicação de alguma técnica?
Técnicas
Já utilizou o origami?
Indica algum outro método brasileiro?
Indicações
Algum outro estrangeiro?
É necessária a pesquisa acerca de métodos?
Há preocupação com a pesquisa na área?
Pesquisa
Conhece pesquisadores que trabalham nessa área?
140
Específicas
Quais são as diferenças da metodologia descrita em “Design de Embalagem” e “Gestão estratégica da
embalagem”?
Pode-se chamar o método da Gestão Estratégica da Embalagem de MÉTODO MESTRINER 2007?
Materiais super utilizados em embalagens, como o papel, podem de alguma forma promover inovação numa
embalagem?
Como você enxerga a inovação na embalagem?
141
APÊNDICE C – DADOS DA EMPRESA
Data: 07/04/2009
Preenchido por: Liziane Froehlich Figur
Dados de identificação da empresa:
Razão social:
F4 Bijuterias e Acessórios Ltda
Nome fantasia:
F4 acessórios
Área de atuação:
Comércio de bijuterias e acessórios femininos em geral.
Início das atividades:
24/06/2006
Pontos comerciais:
Dois pontos: um em Novo Hamburgo e outro em São Leopoldo, RS.
Proprietários:
Rebeca Figur; Fernando Ricardo Figur; Liziane Froehlich Figur; Kássio Figur.
Número de funcionários e funções:
Sete vendedoras e duas gerentes.
Portfolio:
Produtos comercializados:
Bijuterias, semi-jóias e acessórios femininos em geral: cintos, bolsas, carteiras, lenços,
maquiagens, chaveiros.
Principais fornecedores:
Os principais fornecedores de bijuterias, bolsas, cintos e carteiras são de São Paulo, e os
fornecedores de semi-jóias são de Caxias do Sul e Guaporé.
Como os produtos são acondicionados?
Os produtos são embalados em plásticos, e transportados em caixas de papelão. Quando
chegam à loja são acondicionados em caixas plásticas.
142
Como os produtos são expostos?
Os produtos são expostos de acordo com suas cores, ou seja, a loja está organizada por
divisão de cores. Dentro das “cores” foi criado um padrão de exposição, no qual os colares
devem ficar todos juntos, os enfeites para cabelos acima dos brincos, e abaixo dos brincos as
pulseiras. Além da exposição dos produtos por cores temos a exposição de alguns produtos
por mini setores, tais como: setor infantil, setor de anti-alérgicos, setor de carteiras, óculos de
sol, e pulseiras que são vendidas avulsas (sem o tag da loja), entre outros.
Como é a logística?
Os produtos comprados em São Paulo chegam na loja via transportadora. As semi-jóias são
pronta-entrega. Após a chegada, os produtos são todos revisados e colocados em um tag
padrão da nossa loja. O preço do produto é fixado neste tag. Após é separado a mercadoria
que fica em Novo Hamburgo e a que vai para São Leopoldo. O próximo passo é a exposição
dos produtos.
Dados de mercado:
Perfil do cliente:
Temos clientes do sexo feminino e masculino com idades bem variadas, entre 10 e 60 anos,
aproximadamente. Porém, a maioria dos clientes que freqüentam a loja é do sexo feminino,
com idade entre 15 e 40 anos.
Principais concorrentes:
Flor de Liz, Tendência acessórios, Revel, Toque Especial.
Vantagens sobre concorrentes:
Nenhum dos concorrentes tem os produtos divididos por cor. Apenas um dos concorrentes
(Revel) tem caixa de presente, os demais não fazem pacote, apenas entregam papel para o
cliente.
Marketing:
Faz comunicação?
No momento não. Fez-se na rádio Atlântida, no período de setembro de 2008 a fevereiro de
2009. Por corte de despesas esta estratégia de comunicação foi cancelada, mas pretende-se
retomá-la em breve. A comunicação da marca acontecia durante o Pretinho Básico, programa
de maior audiência no horário das 13:00 às 14:00. Não se notou crescimento nas vendas,
porém houve nítida divulgação da marca, ajudando a fixá-la na mente dos consumidores.
Estratégias de mercado:
Ser uma loja de acessórios femininos que busca realmente a satisfação do cliente através de
um atendimento diferenciado, oferecer produtos que são tendências de moda com preços
acessíveis (sem parecer uma loja popular como alguns concorrentes).
143
Embalagens:
Embalagem para acondicionamento:
Caixas de plástico.
Embalagem para transporte pelo cliente:
Sacolas plásticas ou se o cliente comprar produtos de tamanho bem pequeno é colocado em
um “pacotinho” plástico. Temos quatro tamanhos de sacolas plásticas.
Embalagem para presente:
Temos seis tamanhos de pacotes de presente (saquinhos plásticos estampados), que são
utilizados de acordo a dimensão do produto. O nosso pacote de presente é um pacote plástico,
nas cores Pink ou prata, na borda superior é amarrado um fitilho para fechar o pacote, e
também é colocado um cartão com o logotipo da loja e com espaço para a pessoa que vai dar
o presente escrever o seu nome e também o nome da pessoa que vai receber o presente.
Tínhamos caixas para vender, num único tamanho, mas não possuímos mais.
Briefing:
Descreva a necessidade da empresa quanto ao projeto em questão:
A necessidade é uma embalagem de presente, mais elaborada, para quem deseja investir em
um produto com valor mais alto. Esta embalagem pode ter um único tamanho e será usada
para colares, brincos e pulseiras. Poderá até mesmo ser vendida para os clientes, devendo o
custo de produção ficar em torno de R$2,00 (dois reais).
144
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTAS PREPARATÓRIAS
Roteiro de entrevista: profissionais (pré-workshop)
Data:
Local:
Nome do entrevistado:
Ano de nascimento:
Profissão:
Trajetória profissional
Questão inicial: Comente a respeito da sua trajetória profissional.
Formação acadêmica?
Ano de formação?
Instituição de ensino?
Formação
Cursos diversos em design ou áreas afins?
Há quanto tempo atua na área de design?
Trabalha especificamente com design?
Atua em pesquisas?
Trabalha com criação?
Atuação
profissional
Trabalha sozinho ou numa equipe?
Tem experiência com projeto de embalagens?
Algum trabalho de destaque?
Que tipos de materiais já usou em projetos de embalagens?
Embalagem
Fez algum curso que o ajudou especificamente nesta área?
145
Metodologia projetual
Questão inicial: Comente sobre a maneira como normalmente desenvolve os projetos de embalagens.
Segue algum método projetual em específico?
Como são as etapas?
O método aplica-se a qualquer trabalho?
Onde ou com quem aprendeu este método?
Tempo de aplicação: prazos?
Método
Participa de todas as etapas?
O design está presente na metodologia?
O que é design?
Design
Qual a importância do design?
Uso de alguma técnica específica nos projetos?
Como se dá o aprendizado de novas técnicas?
Técnicas
Já houve dificuldade na aplicação de alguma técnica?
146
APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTAS: AVALIAÇÃO DO
PROCESSO
Roteiro de entrevista: profissionais (pós-workshop)
Data:
Local:
Nome do entrevistado:
Processo do workshop
Questão inicial: Comente a respeito de como ocorreu o desenvolvimento da embalagem.
Qual foi especificamente sua contribuição ao projeto?
Qual sua percepção do processo?
Uma metodologia em especial foi empregada?
Qual sua percepção do resultado?
Contribui com alguma técnica/conhecimento em especial?
Aprendeu algo novo no processo de trabalho?
Visão individual
O conhecimento do origami auxiliou?
O grupo trabalhou em equipe?
Como foi a interação entre os membros?
As responsabilidades foram divididas?
Houve exibição ou inibição por parte de algum membro?
Envolvimento
coletivo
(grupo experimental) Todos aproveitaram o conhecimento do origami?
147
APÊNDICE F – ROTEIRO WORKSHOP:
GRUPO DE CONTROLE
Roteiro de workshop – Grupo de controle
1. Contextualização
Explanação do contexto geral da pesquisa, sem detalhar os objetivos específicos da investigação.
2. Apresentações
Apresentação formal dos componentes da equipe, visto a probabilidade de que os mesmos não se conheçam.
3. Regras
Explanação acerca do conceito de workshop e especificação de todas as regras que regerão essa atividade.
4. Briefing
Proposta do workshop exposta através de um briefing contendo detalhamentos que dêem subsídio para
execução do projeto.
5. Disponibilização de material
Fornecimento de materiais para criação, desde instrumentos de projeto (papel, lápis, régua e afins) a
equipamentos técnicos (computador, scanner, impressora) e os arquivos digitais que compõem o briefing
apresentado.
6. Desenvolvimento projetual
Momento de interação entre os componentes da equipe para elaboração projeto, quando não deve haver
interferências por parte da observadora ou de outras pessoas externas à experimentação.
7. Apresentação dos resultados
Momento em que o grupo apresenta o resultado projetual e expõe verbalmente suas percepções frente a
experiência.
8. Entrega de material
Disponibilização de todo material desenvolvido ou utilizado durante o workshop, incluindo material de
rascunho e possíveis pesquisas realizadas no processo.
148
APÊNDICE G – ROTEIRO WORKSHOP:
GRUPO EXPERIMENTAL
Roteiro de workshop – Grupo experimental
1. Contextualização
Explanação do contexto geral da pesquisa, sem detalhar os objetivos específicos da investigação.
2. Apresentações
Apresentação formal dos componentes da equipe, visto a probabilidade de que os mesmos não se conheçam.
3. Oficina
Ensino e prática das principais técnicas de origami.
4. Regras
Explanação acerca do conceito de workshop e especificação de todas as regras que regerão essa atividade.
5. Briefing
Proposta do workshop exposta através de um briefing contendo detalhamentos que dêem subsídio para
execução do projeto.
6. Disponibilização de material
Fornecimento de materiais para criação, desde instrumentos de projeto (papel, lápis, régua e afins) a
equipamentos técnicos (computador, scanner, impressora) e os arquivos digitais que compõem o briefing
apresentado.
7. Desenvolvimento projetual
Momento de interação entre os componentes da equipe para elaboração projeto, quando não deve haver
interferências por parte da observadora ou de outras pessoas externas à experimentação.
8. Apresentação dos resultados
Momento em que o grupo apresenta o resultado projetual e expõe verbalmente suas percepções frente à
experiência.
9. Entrega de material
Disponibilização de todo material desenvolvido ou utilizado durante o workshop, incluindo material de
rascunho e possíveis pesquisas realizadas no processo.
149
APÊNDICE H – APRESENTAÇÃO DO BRIEFING
150
151
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
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Baixar livros de Artes
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