A exposição Arte como Questão – Anos 70, a que mais interessa aqui para
nosso objeto de pesquisa, apresentou mais de trezentas obras e documentos de
cerca de cem artistas das mais variadas “latitudes brasileiras”, como disse
Ferreira. Entre eles, cito Mario Ramiro, Hudinilson Jr., Cildo Meirelles, Frederico
Morais, Paulo Bruscky, Regina Silveira, Lygia Clarck e Artur Barrio, para citar
alguns artistas.
No catálogo de abertura da exposição Arte como Questão – Anos 70, a
curadora Glória Ferreira salienta:
Se as frequentes referências, pelos jovens artistas de hoje, à produção
artística dos anos 70 dizem respeito, sobretudo, à repotencialização da
interpelação sistemática de valores estéticos, éticos e políticos levada a
cabo pelos artistas, a década desdobra-se em diferentes situações
inseparáveis dos contextos sociopolíticos decorrentes da ditadura. Longe
de serem uniformes em termos históricos, esses anos congregam
repressão, tortura, ações transgressivas, luta armada, efervescência e
vazio cultural, desbunde, patrulha ideológica, loucura, exílio,
perseguição, censura, autocensura, assassinatos, indústria cultural,
milagre econômico, inflação e a chamada “abertura lenta e gradual”. No
que diz respeito ao período abordado na mostra Arte como Questão –
Anos 70, a Nova Objetividade, em 1967, revela-se como ponto de
inflexão condensando questões e afirmando o experimentalismo, que
perpassou a década como condição de possibilidade do fazer artístico e
de sua inscrição no mundo. (FERREIRA, 2009, p.21).
As palavras de Glória Ferreira nos dão uma dimensão da práxis artística
dos anos 1970 e sua manifestação experimental sem limites estilísticos, formais e
conceituais. Como a própria curadora salienta, o advérbio “como”, mediando
“arte” e “questão” pretende sinalizar “uma práxis artística que esgarça os limites
do próprio conceito de arte.” (FERREIRA, 2009, p.21).
Nas salas e corredores do Instituto Tomie Ohtake, nos deparamos com
pregos, plásticos, balanças, fotografias, vídeos, desenhos, pinturas,
televisão, cartões-postais, livros, muita xerox, pedras, cacos de vidro,
máquinas fotográficas queimadas, metal gravuras, serigrafias, textos,
garrafas de coca-cola, bolhas de plástico, consultório e objetos
relacionais, super-oito, papéis carimbados, essências, jornais, brotos de
feijão, enfim, uma diversidade de materiais em profusão de
formalizações de impossível classificação estilística ou por categorias,
ou, ainda, ineficazes como identificação da produção de um mesmo
artista. (FERREIRA, 2009, p.21).
Como comenta Célia Antonacci, os pregos, folhas plásticas, brotos de
feijão, enfim, todo e qualquer material colocado na exposição de forma
museológica, isto é, apresentado com formas de conservação que eliminam todo