professora e ser ridicularizado devido suas limitações, suas incertezas e
dúvidas. E olhe, não é só ele não! Os outros alunos sofrem do mesmo mal.
Particularmente, acredito que no jogo do saber, tanto o professor quanto o
aluno aprendem e ensinam um com o outro. Talvez as nossas escolas
apresentem, infelizmente, uma realidade um tanto quanto desconfortável
para a concretização dessa dinâmica, mas não nos impede de acreditar que
isso seja possível e também não impede que isso venha a realizar-se em
alguma escola. Posso garantir que, diante dessa perspectiva, o prazer e o
divertimento estariam presentes, mais do que nunca, tornando a escola um
lugar desejado pelas crianças, e o processo de ensino-aprendizagem um
caminho apaixonante, o qual nos permitiria vislumbrar horizontes mais
amplos, visto que viver é conhecer, e conhecer é viver.
― Mas você é insistente! Tenta ainda me convencer sobre o prazer e o
divertimento se fazerem presentes na escola ― devolveu a secretária,
demonstrando irritação e prosseguiu em suas colocações:
― Como você, Lúdico, pensa em sustentar a ordem e a disciplina na escola
defendendo a presença do prazer, do divertimento e do jogo? Isto é
praticamente impossível!
― O que as pessoas precisam entender, é que os alunos quando
constroem o seu jogo, eles (re)criam, imitam, percebem e estabelecem
relação com o próximo, enfim conhecem a si e ao mundo. Assim, posso
garantir que o jogo é ordem, ele cria a ordem, visto que está fundamentado
na discussão e elaboração de regras efetuadas pelo grupo que joga. Isto
nos exige muita responsabilidade, pois nós, alunos, devemos ser críticos
com aquilo que sugerimos e com aquilo que aceitamos ou não para o nosso
grupo. Certamente, quando nós construímos os nossos jogos, expressamos
e ordenamos os nossos pensamentos e ideias, portanto somos capazes de
respeitar esses jogos muito mais do que aqueles nos quais a ordem e a
disciplina são impostas por valores do mundo adulto. Porém, devo antecipar
à senhora que este processo de construção não acontece da noite para o
dia. É um processo longo. Também devo confirmar que este mesmo
processo só será possível mediante discussões inúmeras nos grupos,
auxiliados pelo professor que acredita em nossas possibilidades, onde cada
aluno possa colocar a sua ideia em pauta. Para tanto, é óbvio que toda essa
discussão pede diálogo, pede que estejamos colocando em prática as
sugestões do grupo. Isto quer dizer que o diálogo e o movimento estão
presentes todo o tempo entre os alunos e os professores. Devo reafirmar a
minha opinião de que o jogo, a alegria e o divertimento contemplam a
ordem e a disciplina, mas não esta idealizada pelo poder escolar.
A secretária, que a tudo ouviu, estava estarrecida e foi logo metralhando:
― Ora essa, quem você pensa que é para argumentar sobre a vida e a
educação? Só faltava você discutir sobre filosofia e finalizar dizendo que a
escola é lugar de alegria e que os professores precisam compartilhar dessa
ideia. É muita utopia! Tenho coisas mais importantes para fazer do que
estar me preocupando com a vontade de um aluno indesejado, querendo
implantar ideias tão absurdas! Coisas de teórico. Gostaria de refazer as
minhas palavras, caso você não tenha entendido. Você, Lúdico, não é
desejado por aqui. Por favor não insista mais, caso contrário eu chamo a
diretora para colocar você para fora de uma vez.
Lúdico Alegria dos Santos saiu pelo mesmo portão que entrou, porém agora
cabisbaixo e pensativo.