Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ANÁLISE INTEGRADA DO SISTEMA LACUSTRE
DA MARAPONGA NA PERSPECTIVA
SOCIOAMBIENTAL.
Mestrando: Nataniel Colares Dias
Orientadora: Profª. Drª. Maria Elisa Zanella
FORTALEZA
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
NATANIEL COLARES DIAS
ANÁLISE INTEGRADA DO SISTEMA LACUSTRE
DA MARAPONGA NA PERSPECTIVA
SOCIOAMBIENTAL.
Dissertação submetida à coordenação do
programa de mestrado em Geografia da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial para a obtenção do titulo de mestre.
Orientador: Profª. Drª. Maria Elisa Zanella
FORTALEZA
2010
Análise
ads:
3
ANÁLISE INTEGRADA DO SISTEMA LACUSTRE DA MARAPONGA NA
PERSPECTIVA SOCIOAMBIENTAL
Esta dissertação foi submetida como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do titulo de
Mestre em Geografia, outorgada pela Universidade
Federal do Ceará.
_____________________________________
Nataniel Colares Dias
DISSERTAÇÃO APROVADA EM __________________
___________________________________________
Dra. Maria Elisa Zanella
__________________________________________
Dra. Marta Celina Linhares Sales
_________________________________________
Dra. Maria Lucia Brito da Cruz
4
Agradecimentos
Concluir essa caminhada não foi fácil, foi necessária muita dedicação e
abdicação de várias outras atividades pessoais, onde pessoas tentaram me desestimular,
mas também foram nesses momentos difíceis que apareceram amigos para me ajudar e
estimular a concluir esse trabalho que sem eles não teria concluído.
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu sabedoria e saúde para concluir
esse trabalho, sendo ele a quem sempre me apego nos momentos difíceis e sei que ele
não me abandona e sempre me ajuda.
A minha amada esposa Josie e meu amado filho Enzo pelo incentivo e pela
paciência que tiveram nos meus momentos de estresse, quando com um sorriso me
tranqüilizavam para que retomasse o raciocínio.
A minha amável mãe D. Maria José e o padrasto sempre paciente Sr. Nairton
José, por depositarem em mim toda a confiança e sempre estiveram dispostos a me
ajudar sempre que precisei.
A meu pai Sr. Francisco de Assis, que da forma dele sempre buscou me
incentivar e cobrar.
Aos meus irmãos Roberta, Adriano e Denílson. E primas irmã Nancy e
Vanessa pela força, companheirismo e confiança que incondicionalmente em mim
depositaram.
A meu primo Albert em especial, pois parte do que sou hoje devo a ele, e
que infelizmente não se encontra mais entre nós. Meu muito obrigado.
A D. Carolina, Sr. Ecir, Junior, Joyce e Jonas que de forma agradável me
acolheram em sua família e sempre me incentivaram na busca do conhecimento.
A Universidade Federal do Ceará, em particular ao Departamento de
Geografia. A todos os professores que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização desse trabalho. Aos funcionários Fernando, Evaldo, Fernandes e Denise, que
sempre estiveram dispostos a me ajudar desde a minha graduação.
De maneira especial agradeço a Prof. Dra. Vanda Claudino Sales que me
acolheu em seu laboratório me propiciando um vasto conhecimento para o inicio desse
trabalho sempre ajudando quando necessário.
5
A minha adorável orientadora Prof. Dra. Maria Elisa Zanella que com
paciência sempre me acolheu, orientou e incentivou no decorrer desses dois anos. Sua
sabedoria foi de fundamental importância para a conclusão desse trabalho. Muito
obrigado.
A Prof. Dra. Marta Celina que sempre esteve disposta a me ajudar e que
forneceu colaborações sabias para esse trabalho.
Aos meus companheiros de LAGECO Alcione, Valdete, Renata, Pámela e
Edson pela amizade e apoio nos momentos certos.
Aos meus colegas de turma 2008.2, em especial a Simone, Cicera e Pedro a
quem sempre recorri nos momentos de dúvida.
Aos meus amigos Everton, André, Barros e Vale que contribuíram de forma
especial com informações da área de estudo para a realização das pesquisas de campo,
muito obrigado.
Agradeço a todos aqueles que de forma direta ou indiretamente colaboraram
e contribuíram para a realização e conclusão desse trabalho.
6
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos socioambientais do sistema
lacustre da maraponga e a relação estabelecida dos moradores e freqüentadores do
bairro com a lagoa, analisando os aspectos geoambientais e socioeconômicos
relacionados a capacidade do sistema lacustre da maraponga, bem com as alterações
físico-química e bacteriológica a lagoa, par tanto identificando os agentes emissores de
poluentes que comprometem a qualidade da água. A Lagoa da Maraponga está
localizada no setor Sudoeste da cidade de Fortaleza que faz parte do segmento costeiro
do Estado do Ceará a uma latitude 3°47‟20.58”S e longitude 38°34‟7.475”W. Ela faz
parte da micro-bacia de Fortaleza, mais precisamente da bacia fluvial do Rio Cocó,
estando interligada as outras microbacias da cidade. O presente trabalho será
desenvolvido sob a abordagem socioambiental desenvolvida por Mendonça (2002). O
objeto de estudo da geografia socioambiental é construído a partir da relação entre
sociedade e natureza, e como o objeto de estudo está inserido na área urbana utilizou-se
o Sistema Ambiental Urbano S.A.U. que um método que começou a ser desenvolvido
por Mendonça (2004), na busca de uma abordagem dos problemas socioambientais
urbanos. Sendo este constituído de três subsistemas o natural, o social e o construído,
sendo O S.A.U. constituído de um sistema complexo e aberto. Esse método está
associado aos princípios limnológicos uma vez que trata do estudo das águas
continentais, além de possuir uma característica interdisciplinar. Para a análise dos
fatores socioeconômicos foram utilizados os dados estatísticos do censo do IBGE de
2000 e entrevistas com os freqüentadores do parque onde está localizada a lagoa Os
dados de indicadores da qualidade da água da lagoa da Maraponga, que foram
utilizados, foram coletados junto a SEMAM/PMF, os parâmetros físico-químico e
bacteriológico das amostras utilizaram como determinação padrão as especificações da
Resolução CONAMA 357/2005. A partir dos dados coletados foi possível constatar os
principais impactos socioambientais e inter-relação entre sociedade natureza, que
possibilitou as propostas de melhor utilização daquele recurso hídrico.
PALAVRAS-CHAVES: Sócioambiental, Sócio-econômico, Lagoa da Maraponga,
Qualidade da água.
7
ABSTRACT
This study aims to examine the environmental aspects of the lake system and the
relationship of Maraponga of residents and visitors to the neighborhood pond,
examining aspects related to socio-economic and geo-environmental capacity of the
lake system Maraponga well with the physical and chemical changes Bacteriological
and the lagoon, both pair identifying the agents emitters that compromise water quality.
Maraponga's Lagoon is located in southwest sector of the city of Fortaleza that is part of
the coastal segment of the state of Ceara at latitude 3 ° 47'20 .58 "S and longitude 38 °
34'7 .475" W. It is part of the micro-watershed of Fortaleza, specifically the Rio Coco
river basin and is connected to other watersheds in the city. This work will be developed
under the social environmental approach developed by Mendonca (2002). The object of
study of social and environmental geography is constructed from the relationship
between society and nature, and as the object of study is inserted in the urban area, we
used the Urban Environmental System SAU a method that was first developed by
Mendonca (2004), in search of an approach to urban social and environmental
problems. This being composed of three subsystems that natural, social and built, and
the UAA consists of a complex system and open. This method is associated
limnological principles as regards the study of inland waters, also has an
interdisciplinary character. For the analysis of socioeconomic factors were used for
statistical data from the IBGE census of 2000 and interviews with patrons of the park is
located where the pond data quality indicators Maraponga of pond water , which were
used were collected from SEMAM / PMF, the physico-chemical and bacteriological
samples used to determine the standard specifications of Resolution 357/2005. From the
data collected, we determined the major environmental impacts and inter-relationship
between society nature, which made proposals for better use of that water resource.
KEYWORDS: Socio-Environmental, Socio-economic, Maraponga Pond, Water
Quality.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAS - Anticiclone do Atlântico Sul.
APA - Área de Preservação Ambiental.
CEFET - Centro Federal de Educação e Tecnologia do Ceará.
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento.
COGERH - Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
CPRM - Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais
ENG - Encontro Nacional de Geógrafos.
FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IDACE - Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará
IPECE - Instituto de Planejamento Econômico do Ceará.
LIAMAR - Laboratório Integrado de Águas de Mananciais e Residuários.
OAT - Oceano Atlântico Tropical.
RMF - Região Metropolitana de Fortaleza.
S.A.U - Sistema Ambiental Urbano.
S.C.U. - Sistema Clima Urbano.
SBGFA - Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada.
SBSR - Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto.
SEMAM - Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano.
SEMACE - Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará.
STA - Sistema Tropical Atlântico.
TSM - Temperatura da Superfície do Mar
VCAS ou VCAN - Vórtices Ciclônicos de Ar Superior ou Altos Níveis.
9
FIGURAS
Figura 1 - Sistema clima urbano..................................................................................... 30
Figura 2 - Sistema ambiental urbano.............................................................................. 32
Figura 3 - Marcos importante no conhecimento do sistema aquático continental......... 35
Figura 4 - Mapa de localização da área em estudo......................................................... 51
Figura 5 - Batimétria da Lagoa da Maraponga...............................................................52
Figura 6 - Rede de monitoramento do oceano e da atmosfera no oceano pacífico
equatorial........................................................................................................................ 60
Figura 7 precipitação anual de Fortaleza (1966-2005)................................................ 63
Figura 8 precipitação média mensal de Fortaleza (1972-2001).................................. 65
Figura 9 temperatura média mensal de Fortaleza (1972-2001).................................. 66
Figura 10 Umidade média mensal de Fortaleza (1972-2001).....................................66
Figura 11 Nebulosidade média mensal de Fortaleza (1972-2001).............................. 67
Figura 12 Insolação média mensal de Fortaleza (1972-2001)..................................... 67
Figura 13 Velocidade média mensal dos ventos de Fortaleza (1972-2001).................68
Figura 14 Evaporação meda mensal de Fortaleza (1972-2001).................................. 69
Figura 15 Mapa da Hidrografia de Fortaleza............................................................... 71
Figura 16 - Mapa das Tipologias de Solos de Fortaleza................................................. 74
Figura 17 - Mapa da Cobertura Vegetal de Fortaleza. .................................................. 80
Figura 18 - Os principais problemas e processos relacionados com a contaminação das
águas superficiais............................................................................................................ 88
Figura 19 - Foto dos pontos de coleta da água na lagoa da maraponga......................... 89
Figura 20 - Gráfico da temperatura da água da lagoa da maraponga............................. 94
Figura 21 Gráfico da transparência da água da lagoa da maraponga.......................... 94
Figura 22 Gráfico da condutividade da água da lagoa da maraponga......................... 95
Figura 23 Gráfico da cor verdadeira da água da lagoa da maraponga......................... 95
Figura 24 Gráfico da turbidez da água da lagoa da maraponga.................................. 96
10
Figura 25 Gráfico das frações sólidas da água da lagoa da maraponga...................... 97
Figura 26 Gráfico da alcalinidade e dureza total da água da lagoa da maraponga..... 98
Figura 27 Gráfico do pH da água da lagoa da maraponga.......................................... 99
Figura 28 Gráfico do oxigênio dissolvido na água da lagoa da maraponga.............. 100
Figura 29 Gráfico da clorofila “a”encontrada na lagoa da maraponga......................101
Figura 30 Gráfico dos metais localizados na lagoa da maraponga............................ 102
Figura 31 Gráfico dos não metais localizados na lagoa da maraponga..................... 104
Figura 32 Gráfico dos óleos e graxas encontrados na lagoa da maraponga.............. 106
Figura 33 Gráfico da DBO e DQO encontrado na lagoa da maraponga entre os meses
de agosto de 2006 e novembro de 2007....................................................................... 107
Figura 34 Gráfico da DBO da lagoa da maraponga entre os meses de dezembro de
2007 e maio de 2009.................................................................................................... 108
Figura 35 Gráfico da presença de coliformes termotolerantes e E. coli................... 110
Figura 36 Serviço de esgoto presente na lagoa da maraponga................................. 110
Figura 37 Foto da casa localizada dentro do parque da maraponga......................... 111
Figura 38 Gráfico das formas de ocupação dos domicílios da maraponga.............. 117
Figura 39 Gráfico dos tipos de escoamento por domicilio da maraponga............... 118
Figura 40 Gráfico da faixa etária dos entrevistados na lagoa da maraponga........... 119
Figura 41 Gráfico que mostra se os freqüentadores da lagoa da maraponga moram no
bairro............................................................................................................................ 119
Figura 42 Gráfico da renda mensal dos entrevistados na lagoa da maraponga........ 120
Figura 43 Foto da lagoa da maraponga coberta de aguapé....................................... 121
Figura 44 Gráfico da opnião dos entrevistados a respeito da poluição da lagoa...... 121
Figura 45 Foto do gari recolhendo lixo deixado pelos freqüentadores do final de
semana.......................................................................................................................... 122
Figura 46 Foto do lixo deixado após a limpeza dos garis......................................... 122
Figura 47 Foto da árvore pinchada............................................................................ 122
11
Figura 48 Foto da árvore riscada .............................................................................. 122
Figura 49 Foto da fogueira queimando a base da árvore........................................... 123
Figura 50 Foto da árvore quase tombando devido ao fogo....................................... 123
Figura 51 Foto do morador tentando limpar o córrego............................................. 123
Figura 52 Foto da ocupação as margens do córrego................................................. 123
Figura 53 Algumas fontes de poluição da lagoa da maraponga................................ 124
Figura 54 Foto do animal as margens da lagoa da maraponga.................................. 124
Figura 55 Foto do esgoto sendo lança do direto no córrego...................................... 124
Figura 56 Foto da partida de futebol nos jogos da revitalização............................... 126
Figura 57 Foto da premiação dos jogos da revitalização.......................................... 126
12
TABELAS
Tabela 01 Precipitação Anual de Fortaleza (1966-2005)............................................ 62
Tabela 02 - Parâmetros Climáticos para a cidade de Fortaleza (1972-2001)................. 64
Tabela 03 Balanço Hídrico segundo Thornthwaite e Mather 1955............................. 70
Tabela 04 As várias atividades humanas e o acumulo dos usos múltiplos na produção
das diferentes ameaças e problemas para a disponibilidade de água............................. 87
Tabela 05 Classificação das águas doces em relação a classe e sua finalidade segundo
a resolução do CONAMA 357/05.................................................................................. 90
Tabela 06 Padrões dos parâmetros da qualidade da água............................................ 91
Tabela 07 Propriedades física da água da lagoa da maraponga de agosto de 2006 à
novembro de 2007.......................................................................................................... 93
Tabela 08 - Propriedades física da água da lagoa da maraponga de dezembro de 2007 à
maio de 2009.................................................................................................................. 93
Tabela 09 Frações sólida das da lagoa da maraponga................................................. 97
Tabela 10 Características limnológicas da lagoa da maraponga................................. 98
Tabela 11 Metais encontrados na lagoa da maraponga............................................. 101
Tabela 12 Parâmetros e valor máximo dos metais.................................................... 102
Tabela 13 Não metais localizados na lagoa da marraponga...................................... 103
Tabela 14 Constituintes orgânicos encontrados na lagoa da maraponga entre os meses
de agosto de 2006 e novembro de 2007....................................................................... 105
Tabela 15 - Constituintes orgânicos encontrados na lagoa da maraponga entre os meses
dezembro de 2007 e maio de 2009............................................................................... 105
Tabela 16 Componentes biológicos encontrados na lagoa da maraponga entre os
meses de agosto de 2006 e novembro de 2007............................................................. 108
Tabela 17 - Componentes biológicos encontrados na lagoa da maraponga entre os meses
de dezembro de 2007 e maio de 2009.......................................................................... 109
13
1 Introdução.
A expansão das áreas urbanas, que em sua grande maioria crescem de forma
desordenada e caótica no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. As
atividades de construção das obras civis, a expansão das atividades agrícolas, bem como
outras atividades desenvolvidas pelas sociedades no decorrer dos anos, vêm alcançando
estágios de desenvolvimento tecnológico, que na maioria das vezes não vem
acompanhados de processo de organização e planejamento, necessários para a
sustentabilidade da natureza.
No processo de uso, ocupação e produção do espaço o homem apodera-se da
natureza de forma a não analisar nem considerar a importância de uma relação
equilibrada entre sociedade/natureza. Pelo contrário, esta última sempre foi vista ora
como obstáculo a ser vencido, ora fornecedora de recursos para a manutenção da
sociedade humana no decorrer dos diversos processos produtivos que a humanidade têm
atravessado (SANTOS, 2006).
Sob esta ótica de problemática, o Brasil de um modo mais geral, se enquadra
como um dos países onde o inchaço populacional de suas cidades, dentre elas Fortaleza,
e a ocupação desenfreada têm causado graves impactos que repercutem na vida das
pessoas, por falta de planejamento urbano eficiente e que contemple a visão una da
sociedade/natureza.
Os ecossistemas que ainda são encontrados nas diferentes cidades estão
fortemente impactados e degradados, fato que tem provocado um aumento significativo
de problemas relacionados à gestão do espaço urbano. Tais ecossistemas são devastados
para dar lugar à construção de centros econômicos, residenciais, comercias e industriais,
em prol do progresso e do desenvolvimento, sendo este descompromissado com o
equilíbrio ambiental.
As múltiplas intervenções feitas nas cidades e no campo geram fluxos e
refluxos materiais e imateriais produzindo sérios impactos sociais, econômicos e
ambientais, principalmente quando não abrangem as diferentes entidades dos sistemas
ambientais e sociais. Sendo assim, os problemas criados envolvem múltiplas dimensões
do espaço geográfico nas mais diferentes escalas (SILVA, 2001). Assim, o presente
estudo aborda uma visão mais abrangente da relação sociedade/ natureza.
14
Segundo Silva (2001, p. 95) “... o mundo contemporâneo vive as agruras da
incessante relação antagônica entre a sociedade e natureza. Uma perversão ignóbil instituiu um
olhar preconceituoso do homem sobre a natureza, resultando numa ação devastadora. Só
recentemente, a idéia de uma natureza em vias do esgotamento permitiu a emergência do
discurso ecológico e o de sustentabilidade, impondo uma racionalidade no uso dos recursos
naturais. O mero reconhecimento da natureza enquanto recurso revela a mesquinhez deste olhar
que reduz tudo à condição econômica na perspectiva do lucro”.
O planejamento urbano que deveria servir como uma ferramenta, por parte
dos órgãos públicos e privados, para o direcionamento que proporcionaria a melhoria da
qualidade de vida das pessoas, bem como o crescimento mais racional da urbe, não
serve para tal finalidade, pois os órgãos responsáveis por este gerenciamento o fazem de
forma inadequada e desconexa com questões relacionadas aos impactos produzidos pela
intervenção social nos recursos naturais, principalmnete os hídricos.
As populações que se concentram nas regiões de forte processo de
urbanização, provocam um efeito direto nos recursos hídricos, principalmente no que
tange ao tratamento e a conservação dos corpos hídricos naturais, como as lagoas que
estão em processo de desaparecimento nas áreas urbanas.
As lagoas de um modo geral vêm sendo soterradas, principalmente por
interventores do espaço urbano que em sua maioria são compostos por agentes
imobiliários, órgãos públicos e privados, bem como pela população carente que tem
contribuído para a degradação da natureza, através da ocupação de áreas indevidas, que
colocam em risco a vida desta comunidade, dada a instabilidade desse ambientes.
Na cidade de Fortaleza, o processo de desaparecimento de várias lagoas no
segmento leste da cidade ocorreu devido à especulação imobiliária, que tomou
proporções gigantescas. Exemplo dessa situação diz respeito ao aterro da “Lagoa
Grande”, que ficava onde hoje se localiza o bairro da cidade 2000 (COSTA, 1988).
A cidade de Fortaleza tem apresentado um crescimento exarcebado. Nesse
processo, a população menos favorecida, em razão da existência de déficit habitacional,
ocupa áreas próximas a mananciais hídricos, onde começam a degradá-lo e
conseqüentemente alteram a morfologia local. Ao longo desse processo, que se
intensificam na segunda metade do século XX, os recursos hídricos superficiais,
incluindo as lagoas, foram sendo erradicados da paisagem local.
15
Com efeito, Fortaleza era uma cidade “pontilhada” de lagoas perenes e
intermitentes, as quais eram conectadas por córregos e riachos que as proviam. A partir
de meados da década de 1970, a malha urbana da cidade de Fortaleza se expande de
forma acelerada em direção a zona leste, e esses avanços propiciaram o
desaparecimento de lagoas daquela área, dentre as quais a Lagoa do Coração, no
Vicente Pizzon, e a Lagoa Grande, na Cidade 2000 (CLAUDINO SALES, 2005).
A população de renda média ou elevada vem ajudando a depredar as
condições ambientais do meio aquático, através da aquisição e/ou construção de imóveis
em áreas de preservação, através de autorizações muitas vezes adquiridas de forma
ilícitas, tornando-se dessa forma co-participes dos fatores degradadores da natureza.
De acordo com Lefebvre (1969, p.107) .
“Muito estranhamente, o direito à natureza (ao campo e à “natureza
pura”) entrou para a prática social alguns anos em favor dos lazeres.
Caminhou através das vituperações, que se tornaram banais, contra o barulho, a
fadiga, o universo “concentracionistas” das cidades (enquanto que a cidade
apodrece ou explode). Estranho percurso, dizemos: a natureza entra para o valor
de troca e para a mercadoria; é comprada e vendida”.
As lagoas urbanas deveriam ser tratadas com um importante reservatório
hídrico para a sociedade, justamente nesse período em que a escassez de água torna-se
um problema global. Porém é considerada como um reservatório de esgotos que lançam
eflúvios diariamente, promovendo a contaminação deste recurso natural.
O uso de um corpo hídrico, do tipo lagoa pode caracterizar risco a saúde
humana, uma vez que recursos hídricos poluídos por resíduos humanos e animais
transportam grande variedades de agentes patogênicos como bactérias e vírus, ou outros
organismos que podem infectar aqueles que têm contato direto com a água. E este risco
é maior pelo fato da lagoa está inserida na zona urbana.
No geral os problemas, ambientais, econômicos e sociais, relacionados aos
recursos hídricos como é o caso da lagoa da Maraponga são tratados separadamente o
que propicia a pouca eficiência das políticas adotadas, Assim surgiu o interesse em
abordar a lagoa da Maraponga considerando aspectos socioambiental da área em
questão.
16
A área que compreende o entorno da Lagoa da Maraponga é um parque
ecológico criado em 1991. Com uma área aproximada de 248.000 m
2
, com espelho
d´água em torno de 85.000 m
2
(SER V, 2009). No decorrer de sua história, o parque
passou por diferentes problemas gerados pela utilização dos freqüentadores e falta
de conservação por parte do poder público.
Apesar de a área ser um parque ecológico, o qual deveria ser preservado e
protegido, passou por um longo período de abandono desde a sua criação. No ano de
2006 a prefeitura de Fortaleza promoveu a limpeza do parque, bem como do espelho
d`água, sendo a partir daí freqüentado novamente por moradores do bairro e de diversos
outros bairros de Fortaleza, principalmente nos fins de semana.
Em face da gama de fatores que compreende aquela área o presente trabalho
buscou de modo geral analisar os aspectos socioambientais do sistema lacustre da
Maraponga e a relação estabelecida dos moradores e freqüentadores do bairro com a
lagoa.
Quanto aos objetivos específicos este trabalho buscou caracterizar os
aspectos geoambientais e socioeconômicos relacionados a capacidade de utilização do
sistema lacustre; visou a busca junto a comunidade das inter-relações estabelecidas dos
populares com a lagoa; analisou as alterações da qualidade físico-química e
bacteriológica da lagoa a partir de dados disponibilizados pela secretaria do meio
ambiente de Fortaleza; identificou e distinguiu os agentes emissores dos efluentes
lançados na lagoa que comprometem a qualidade da água daquele corpo hídrico e
proporcionou algumas alternativas de melhor utilização dos recursos naturais do
entorno da lagoa.
A escolha da área foi feita, pelo fato da lagoa da Maraponga apresentar
características divergentes de várias outras lagoas de Fortaleza, no que tange a interação
da comunidade, principalmente nos fins de semana com a mesma, bem como com o
parque de modo geral.
Muito embora análises mensais da qualidade da água realizadas pela
prefeitura mostrem que a água é imprópria para banho, aparentemente não faz muita
diferença para os freqüentadores da lagoa nos fins de semana, sendo mais importante
para eles a beleza paisagística do local.
17
Pelo fato da análise ter sido feita numa perspectiva socioambiental foi
necessário inserir o bairro de mesmo nome, para poder ter acesso à comunidade que
interage com o ambiente lacustre, onde foi possível observar a característica funcional,
de um bairro residencial, tendo em vista ao número crescente de imóveis residenciais,
composto geralmente por casas (de baixo, médio e alto padrão), presença de
apartamentos e de favelas, localizados principalmente no lado sudoeste e leste da lagoa.
18
2 - Fundamentação Teórica Metodológica.
2.1 Geografia Socioambiental
O presente trabalho será desenvolvido sob a abordagem socioambiental
desenvolvida por Mendonça (2002). De acordo com o referido autor, o cenário que
começou a se formar no decorrer do século XX e inicio do século XXI no tocante ao
tema “Geografia e meio ambiente”, obrigou os geógrafos a fazer uma nova abordagem
da problemática ambiental e de sua abordagem na geografia. Para tanto isto significou
entrar num dos principais entraves existentes na Geografia que é o da dicotomia ou
dualidade entre a geografia física e a geografia humana.
A concepção socioambiental surge no intuito de quebrar os paradigmas
existentes entre essa dualidade e fazer uma análise mais integradora do ambiente, onde
o homem é observado como elemento do ambiente ao mesmo tempo em que ele é
agente transformador deste.
“A concepção aqui adotada toma em
consideração a convicção de que a abordagem geográfica do
ambiente transcende à desgastada discussão da dicotomia
geografia física versus geografia humana, pois concebe a
unidade de conhecimento geográfico como resultante da
interação entre os diferentes elementos e fatores que compõem
seu objeto de estudo.” (MENDONÇA, 2002, p.123).
Para referido autor, no decorrer do século XX a evolução do conceito meio
ambiente passa por transformações relativa ao crescimento do envolvimento das
atividades humanas, onde anteriormente havia uma concepção mais naturalista.
No processo evolutivo do conceito de meio ambiente é notório a maior
participação das atividades humanas, mas embora esta participação tenha se tornado
mais efetiva ele ainda possui um forte cunho naturalista, onde o homem parece ser visto
mais como um fator socialmente organizado no ambiente do que como um elemento do
ambiente. A geografia socioambiental busca analisar o homem como um ser integrante
e pertencente do ambiente, sendo ao mesmo tempo transformador deste.
19
“De maneira geral, e observando-se tanto o senso
comum como o debate intra e extra-academia, a impressão
geral que se tem é de que a abordagem do meio ambiente está
diretamente relacionada à natureza, como se existisse um a
priori determinante, traduzido numa hierarquização dos
elementos componentes do real, onde aqueles atinentes ao
quadro natural estão hierarquicamente em posição mais
importante e sem os quais não haveria a possibilidade da
compreensão ambiental da realidade.” (MENDONÇA, 2002,
p.124).
A ampliação do conceito do termo meio ambiente o deixou mais abrangente
e mesmo assim aparentemente não conseguiu se desprender de sua gênese, onde possui
uma história fortemente ligada aos princípios naturalistas. Este fato aparece denotando
que o empírico e o cultural, procuram excluir a sociedade da condição de componente
do meio (MENDONÇA, 2002).
Ainda, de acordo com o referido autor, a inserção na abordagem ambiental
da perspectiva humana (o social, econômico, político e cultural), se apresenta como um
desafio para os estudiosos, no que tange as dimensões espaciais e aos graves problemas
sociais gerados na contemporaneidade.
Na segunda metade do século XX, se intensifica a discussão ambiental, e o
centro das discussões fica em torno da relação natureza X sociedade. Os enclaves se
pautam pela análise do mundo construído na modernidade, e que dentre tantas
conseqüências, desencadearam um processo progressivo de separação do homem da
natureza, onde a natureza entra como mantenedora de recursos para suprir as
necessidades humanas (MENDONÇA, 2002).
E diante deste desafio observado na atualidade, da análise integrada do social
com o ambiental, que Mendonça (2002) uma forte utilização do termo
socioambiental, pois enfatiza no próprio nome esta análise integradora que o termo
meio ambiente tornou-se insuficiente para se pensar a interação sociedade-natureza no
presente.
20
Em sua explanação sobre a geografia ambiental Suertegaray (2000) também
ressalta a não observância do social numa análise geográfica quando relata que:
“Nem toda análise geográfica ressalta ou tem
como objetivo enfatizar a transfiguração da natureza pela
pratica social, portanto o objetiva explicitar questões
ambientais. Porem não consideramos apropriada a
denominação geografia ambiental, pois implica em qualificar a
geografia. Assim a geografia poderia ser denominada de
ambiental como também poderia ser denominada de territorial,
ou regional ou das paisagens , como, inclusive, no passado
foi denominada” (SUERTEGARAY, 2000, p.112).
Na designação ambiental proposta por ela, haveria uma visão integracionista
e interacionista da sociedade com a natureza, uma vez que, na origem da discussão
dessa relação tanto o determinismo, que tinha a natureza como causa; quanto o
possibilismo, onde o homem constrói as possibilidades técnicas da utilização da
natureza, buscavam uma interação do homem com o meio, onde este era visto como
natural, o que deixava o homem a parte, ou seja, deixava o homem fora da natureza, e
no decorrer do processo evolucionista da Geografia ela vai transformando sua
compreensão e passa a ver o ambiente como homem ou sociedade e seu entorno, não
está envolvido pelas ações na natureza, mas envolve-se com elas de forma integrada e
conflitiva.
Segundo Mendonça (2002) a crescente necessidade da inserção da dimensão
social na problemática ambiental possibilitou a implementação da terminologia
socioambiental, onde esta não se prende apenas em enfatizar o envolvimento da
sociedade como elemento processual, mas é também decorrente da busca de cientistas
naturais a preceitos filosóficos e da ciência social na busca de compreensão da realidade
numa abordagem inovadora.
É importante salientar sem contestação, a pluralidade de concepções e
conceitos que o termo meio ambiente adquiriu no decorrer do tempo por diversos
grupos e/ou segmentos grupos políticos, culturais, de estudiosos, de movimentos sociais
dentre outros.
21
A harmonia entre esses grupos ocorre, quando concordam que as concepções
ligadas ao ambiente no século XIX destoam dos apresentados na atualidade, uma vez
que naquela época estava mais ligada a natureza, como se apresentava a diversidade
natural do planeta. E hodiernamente está atrelada aos problemas derivados da interação
sociedade natureza. Assim sendo, no contexto atual não devemos ver o homem à parte
das situações de vivência da relação com a natureza, como experiências desconectadas
do ambiente (MENDONÇA, 2002).
Para Mendonça (1993) a abordagem ambiental se configurava a partir de
dois momentos onde o primeiro o ambiente era comparado a natureza, tese concebida
desde que a Geografia começou a se estruturar como ciência.
O segundo momento é marcado pelo rompimento de alguns geógrafos, que
possuíam uma característica mais descritiva do ambiente natural, onde esta
característica perduraria em alguns trabalhos na atualidade, e passa a analisá-lo numa
perspectiva mais interacionista da sociedade com a natureza, para tanto, propondo a
recuperação da degradação da natureza e da melhoria da qualidade de vida do homem,
para isto promovendo atitudes intervencionistas, quando necessárias.
Segundo Mendonça (2002) por vezes é possível destacar descasos por parte
da Geografia frente à problemática ambiental na atualidade. Estes descasos podem estar
associados a fatores como a concepção de que a geografia é uma ciência eminentemente
social, onde o aparato natural parecia ou parece ser de segunda ordem; outro fator é a
crença na tecnologia, nesse caso se pensa que, se a tecnologia foi capaz de gerar o
problema através da evolução ela pode encontrar a solução; e a recusa da dinâmica da
natureza e sua importância na formação do espaço, território e da sociabilidade,
concepção que aos poucos vem sendo modificadas.
Quanto a métodos específicos de estudo seja da sociedade seja da natureza, é
de fácil compreensão de que a natureza não deva ser estudada por métodos específicos
do estudo da sociedade ou estudar a sociedade através de métodos da natureza, pois não
seria viável, mas isso não quer dizer que uma não possa se apropriar das técnicas
existentes na outra como, por exemplo, a contribuição marxista na compreensão da
natureza/sociedade explanada ao considerar que:
22
A historia da natureza precederia a da
humanidade, mas uma vez que essa última houvesse atingido
um elevado grau de desenvolvimento tecnológico e agisse cada
vez mais eficazmente no sentido de modificar a natureza, a
história natural ficaria subordinada à história social e seria
parte integrante desta. A grande preocupação dessa linha
interpretativa não é evidentemente o estudo da natureza em si,
mas a fundamentação do socialismo como a continuação da
lógica do capitalismo, como “etapa” histórica posterior e mais
avançada, numa interpretação evolucionista. (SOARES
PONTES 1999, p.38).
Com a problemática do meio ambiente a necessidade de ampliação do
foco de estudo não podendo ficar apenas em trabalhos específicos sobre hidrológica,
morfologia, clima, etc. Com efeito, os trabalhos nessas áreas específicas têm que aplicar
conhecimentos especializados da área, mas sem deixar de lado o geral sempre se
mantendo atento quanto aos os impactos dos elementos naturais quando influenciados
pela sociedade sobre o meio ambiente.
Com essa forma de observância da abordagem ambiental o método de estudo
deste sofre avanços significativos, uma vez que, ela sai de uma abordagem caracterizada
pelo enfoque ecológico, que está mais atrelada a vertente naturalista, para uma centrada
mais no ambiente, onde a sociedade e a natureza compõem as duas partes de uma
interação dialética. E sob essa observância a problemática ambiental deixa de estar
ligada apenas a geografia física, passando a ser focados pelos diversos segmentos da
geografia, portanto sendo eminentemente geográfica.
Essa nova visão holística vem a atender os anseios citados de Monteiro
(1984), um dos precursores da corrente socioambiental da Geografia que:
Os geógrafos dedicados aos aspectos naturais não
deixem de considerar o homem no centro deste jogo de
relações, e que aqueles dedicados às desigualdades sócias não
as vissem fora dos lugares seriam meros pontos superficiais de
uma convergência que pode ser como tem sido, destacada a
qualquer momento. O verdadeiro fio condutor de uma
estratégia capaz de promover a unicidade do conhecimento
23
geográfico advirá de um pacto mais profundo que só pode
emanar de uma concepção filosófica propicia.
(MONTEIRO 1984, p.24).
No âmbito da Geografia, os estudos relacionados a problemática ambiental,
se desenvolveu segundo as mais diversas matizes filosóficas utilizadas, usualmente
empregadas pela Geografia. Com efeito, os extremos se exarcebam, o que deixaria o
enfoque mais peculiar para o social ou para o natural, causando processo de ruptura, na
configuração atual da produção geográfica.
É importante frizar que toda produção emanada da geografia é útil no estudo
ambiental, pois uma das mais importantes manifestações da problemática ambiental esta
na formação espacial, como a geografia ecológica que é eminentemente naturalista e a
geografia ambiental que tem como característica a abordagem que toma a natureza e a
sociedade em um mesmo patamar, sendo o termo socioambiental destacado para
evidenciar essa analise.
Na concepção aqui definida um estudo elaborado
em conformidade com a geografia socioambiental deve emanar
de problemáticas em que situações conflituosas, decorrentes da
interação entre a sociedade e a natureza, explicitem degradação
de uma ou de ambas. A diversidade das problemáticas é que
vai demandar um enfoque mais centrado na dimensão natural
ou mais na dimensão social, atentando para o fato de que a
meta principais de tais estudos e ões vai na direção da busca
de soluções do problema, e que este deverá ser abordado a
partir da interação entre essa duas componentes da realidade
(MENDONÇA, 2002, p.134).
A geografia socioambiental é revestida de uma característica multi e
interdisciplinar, portanto não apenas um método especifico para a compreensão da
temática ambiental nessa abordagem. Devido a essa característica da geografia
socioambiental, em relação à interação em um mesmo patamar entre a sociedade e a
natureza, faz com que haja o rompimento com um dos clássicos postulados da ciência
moderna, onde ela estabelece apenas um método no processo de elaboração do
24
conhecimento cientifico. Nesta abordagem pode ser demandado tanto métodos
experimentados em outras ciências como podem ser aplicados novos métodos.
Sob a ótica do estudo do ambiente, podemos destacar uma perspectiva mais
global da geografia a partir da interação de métodos que abarca no seu seio uma
perspectiva sistêmica da paisagem, ou seja, a relação dos conjuntos de elementos entre
si formadores de uma unidade. Como é o caso da abordagem socioambiental de
Mendonça (2002) aplicada nesse trabalho.
Quanto aos métodos que estudam o social são de suma importância na
compreensão da sociedade, mas para uma abordagem ambiental elas ficam muito
estanque ou parcializadas, pelo fato delas abrangerem uma parte do ambiente que é o
social. Portanto na abordagem ambiental não podemos deixar os elementos da natureza
reduzidos apenas a recursos, pois possuem dinâmica própria e que independem da
apropriação social, que em conjunto com esta desempenham papel fundamental na
estruturação do espaço.
O objeto de estudo da geografia socioambiental é construído a partir da
relação entre sociedade e natureza, não podendo ser concebido como se tivesse sido
gerado de uma realidade onde seus dois componentes sejam observados de forma
estanque e independente, posto que seja da relação dialética entre as duas que dá
sustentação ao objeto.
Para Monteiro (1984) a corrente da geografia socioambiental está embasada
na concepção de que o maior ponto de relevância epistemológica para a geografia esteja
na atitude fenomenológica de não considerar nem a natureza nem o homem como
fundante.
2.2 Sistema Ambiental Urbano.
O Sistema Ambiental Urbano S.A.U. é um método que começou a ser
desenvolvido por Mendonça (2004), na busca de uma abordagem dos problemas
socioambientais urbanos e pelo fato do foco de estudo deste trabalho está inserido em
uma zona urbana esta abordagem foi de suma importância na produção deste.
25
Ela parte da perspectiva de que a cidade não é apenas uma construção
humana; ela é uma construção somada das atividades humanas com as atividades da
natureza, que precedeu a primeira. É dessa interação que surge a produção de ambientes
aprazíveis e com ótimas condições para o desenvolvimento humano, e como
conseqüência desse ambiente também surgem ambientes degradados, desagradáveis e
altamente problemáticos, onde uma grande parcela da população vive geralmente em
condições sub-humanas.
Nesta perspectiva a cidade deve ser observada sob uma ótica mais interativa,
ampla conjuntiva e holística, pois o urbano é por natureza um campo multidisciplinar,
onde os problemas ambientais gerados pela relação do construído com o natural
demandam uma solução mais eficiente, e esta pode ser alcançada com esse olhar
(MENDONÇA, 2004).
É nesse sentido que Mendonça (2004) propõe uma reflexão acerca do debate
em torno da questão ambiental atual evidenciando a evolução do conceito de ambiente
urbano, com a proposta de estudo e gestão da cidade a S.A.U. surge com a perspectiva
de contribuir com a abordagem da cidade e a possível solução dos problemas
socioambientais urbanos sob um ponto de vista mais integrador e abrangente.
É evidente observar que ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos
melhoram e se aceleram as implicações ambientais evidenciam os maiores riscos e
vulnerabilidade da sociedade humana. Assim é possível observar uma situação dispare
na atualidade, onde se evidencia uma descarga elevada de aparato tecnológico arrojado,
sendo que a maior parcela da humanidade é constituída de população pobre e miserável,
ficando assim destituída desse aparato tecnológico, ficando vulnerável as intempéries e
catástrofes naturais.
Os problemas e questões enfocados na
perspectiva ambiental são, sobretudo, de ordem social, dado
que a noção de problema é uma abstração exclusivamente
humana, o que reforça a idéia de que não existe problema na e
para a natureza; quando colocados não passam das leituras
possíveis do homem sobre a natureza, da maneira humana de
compreendê-los, de certa humanização dela. (MENDONÇA,
2004, p.188).
26
Da forma como se apresenta os problemas ambientais estão relacionados
com o esgotamento e/ou desaparecimento dos recursos naturais, que servem de base
natural para a vida humana, sendo que este fato deixa a sociedade em situação de risco e
vulnerabilidade, ocasionada pela brusca alteração dos processos naturais pelas
atividades humanas.
É importante destacar a correlação existente entre o tempo da natureza e o da
sociedade e como os eventos de ambos afetam o meio na transformação do espaço, onde
podemos destacar o evento natural que teoricamente segundo (SERRES, 1989) possui
um tempo mais lento se comparado com o da sociedade nessa transformação, mas
quando os eventos naturais se dão de forma mais abrupta eles passam a ter um sentido
de maior repercussão na sociedade, onde as camadas mais pobres são os que sofrem
mais com os impactos ocasionados por eles.
Os eventos derivados da tecnologia gerados pela sociedade e os eventos
naturais catastróficos, conhecidos como “natural hazards”, são responsáveis por
impactos e desconformidades nos estados de equilíbrio, ou estados normais, da
dimensão socioambiental. Em todo caso é importante frizar que tantos os impactos
naturais, como os tecnológicos atingem mais fortemente os homens que vivem de certa
forma um tempo lento, em suma os pobres que ficam afastados da evolução
tecnológicas que em tese traria melhoria para a vida em sociedade sofrendo assim
apenas os seus impactos. Nas cidades a população mais pobre ocupa espacialmente
áreas que sofrem mais diretamente os impactos naturais, como é o caso dos moradores
que ficam as margens da Lagoa do Papicú e os moradores que moram na parte mais
elevada, onde fica o bairro Dunas, em caso ocorrendo uma chuva torrencial os primeiros
sofreram mais com os impactos da natureza.
Os problemas relativos à cidade, à urbanização e
ao ambiente urbano parecem, todavia, não se restringir a uma
visão dialética estreita que toma somente duas variáveis
possíveis da questão ambiental, afinal o fato urbano é a
expressão máxima e paradoxal das alterações e dependência
humana de um substrato natural que a contém e lhe
sustentação. (MENDONÇA, 2004, p.189)
27
A partir dessa relação natureza sociedade, torna-se complicado a defesa da
natureza em seu estado natural no interior da cidade, assim como é inviável uma boa
condição de vida humana destituída dos elementos naturais, portanto é necessária a
maior observância da interação entre os dois fatores, na tentativa do maior equilíbrio
possível. Fato que não ocorreu no decorrer dos anos, podendo ser constatado pelo
desequilíbrio existentes dos mais diversos ambientes urbanos do planeta.
A urbanização no contexto histórico se apresentou de forma bastante
desigual no espaço e no tempo, fato constatado em decorrência dos estágios
diferenciados do desenvolvimento econômico. No contexto mais global os paises que
atingiram desenvolvimento econômico, técnico e tecnológico mais cedo na
modernidade foram possíveis uma maior preocupação com o ordenamento dos espaços
urbanos e uma tentativa do controle dos processos de urbanização, em contrapartida os
países que desenvolveram mais tardiamente o processo de criação e desenvolvimento
das cidades apresentaram características mais complexas, com efeito, apresentando
problemas socioambiental de mais difícil solução.
O processo de urbanização que demorou mais tempo para se desenvolver em
alguns países não deve ser encarado como um fato ocorreu de forma espontânea, pois
foi à economia excludente, elitista e injusta dos países mais desenvolvidos que impôs os
espaços e condições de vida para os países menos desenvolvidos. Desta forma
Mendonça (2004) destaca que o desenvolvimento dos países e cidades ricas se deu em
detrimento dos países e cidade mais pobres.
Assim em vista da gravidade da sociedade e do ambiente das cidades pobres,
passou a alertar os lideres responsável, pois assim que o capitalismo industrial se
desenvolveu pelo mundo de maneira ampla era preciso também encontrar soluções para
esses problemas que colocam a reprodução do sistema em crise, como por exemplo, o
caso da favelização que passou a preocupar os estudiosos e urbanistas em meados do
século XX (MENDONÇA, 2004).
Segundo Mendonça (2004) a urbanização corporativa surgiu como reflexo
do capitalismo tardio foi o que se observou no processo de evolução e surgimento das
cidades nos países em estágio de desenvolvimento complexo. Onde o Brasil pode ser
citado como exemplo de forma clara, pois:
28
A urbanização vertiginosa, coincidindo com o
fim de um período de acelerada expansão da economia
brasileira, introduziu nos territórios da cidade um novo e
dramático significado: mais do que evocar progresso ou
desenvolvimento, elas passam a retratar e reproduzir de
forma paradigmática as injustiças e desigualdades da
sociedade. (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2002, p.23).
A urbanização desenvolvida a partir do capitalismo tardio está diretamente
relacionado a elevada concentração de renda, injustiças sociais, más condições de vida,
degradação e poluição do ar e dos cursos d´agua, insuficiência do saneamento
ambiental, altas taxas de doenças e mortalidade, precariedade e falta de trabalho,
debilidade na escolaridade e moradia, descaso com a produção e o destino final dos
resíduos sólidos urbanos, dentre outros.
O poder público brasileiro apresenta-se de forma incapaz e ineficiente na
condução e organização da sociedade, onde através da transferência de responsabilidade
entre a esfera federal, estadual e municipal busca se eximir do seu papel no trabalho das
causas fundamentais dos problemas socioambientais urbanos que estão em sua quase
totalidade ligados a superestrutura da sociedade.
As cidades de hoje são marcadas por contradições que se tornam mais
evidentes em sociedades capitalistas menos desenvolvidas, ou nas sociedades em que
uma parcela da população é dependente da outra.
Os fatos observados se destacam a partir da perda da cidadania a degradação
do ambiente, a degeneração das condições de vida, a usurpação de valores culturais e a
perda de identidade e soberania de povos e nações são mais evidentes quanto mais
pobres o grupo social e mais fraco a sua coesão, como por exemplo, a injeção de
culturas dos Estados Unidos sobre os países da América Latina, principalmente no que
tange o consumismo desenfreado de produtos daquele país. Nesse sentido, pensar os
problemas socioambientais urbanos requer por parte dos estudiosos uma atenção
especial das cidades como é o caso da proposta desse trabalho.
29
Estudar e intervir na cidade, tendo por iniciativa uma perspectiva conjuntiva
a partir dos problemas socioambientais urbanos é que este trabalho propõe uma
perspectiva de ruptura com a clássica e predominante visão do estudo da cidade
resultante da forma positivista de separação dos campos do conhecimento que a coloca
sob abordagem das ciências humanas e sociais aplicadas.
É pelo fato do trabalho buscar a interação do natural com o social que a área
estudada foi abordada como um sistema, que pode ser entendido como um conjunto de
elementos que se encontra em relação entre si, e que formam uma determinada unidade
e integridade (RODRIGUEZ, 2007).
O “sistema” é um todo complexo, único,
organizado, formado pelo conjunto ou combinação de objetos
ou partes. Segundo o enfoque sistêmico pesquisado, examina-
se não como algo imóvel, mas como um objeto que muda
constantemente, devido ao metabolismo de suas partes inter-
relacionadas em um todo integral (GALLPIN 1986, p.42).
Ao tratar da relação entre a cidade e o meio ambiente Pigeon (1994, p.193)
concebe o “ambiente como um conjunto de espaços rurais ou fora do ecúmeno, tocados,
modificados pelos fluxos de origem urbana”. Nessa concepção o ambiente urbano deve
ser levado em conta quanto às considerações sobre a introdução de crises e alteração de
fluxos naturais.
Segundo Mendonça (2004) os debates que surgiram após a década de
oitenta, é possível observar com mais intensidade a necessidade das abordagens da idéia
de “cidade saudável” e de “cidade sustentável”, terminologias que tem um viés em
comum que é o de restabelecimento de condições de vida para os seres humanos nos
contextos urbanos.
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD), é um exemplo desses debates, conhecida também pelo
nome de ECO 92 ou Rio 92, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro do dia 03 ao dia 14
de junho de 1992, segundo Wild (2008) teve como objetivo principal a busca por meio
de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos
ecossistemas da terra.
30
Foi elaborado um documento oficial na ECO 92, que foi a carta da terra,
pautada em três acordos, o primeiro sobre a biodiversidade, desertificação e mudanças
climáticas, outro sobre as florestas e a agenda 21, que seria uma base para a elaboração
individual dos países de seu plano para a preservação do meio ambiente, na época
confirmado por 168 dos 175 países presentes na convenção.
A condição biológica do homem faz com que haja a necessidade, da
interação e convivência do homem com os elementos da natureza, o menos degradada
possível uma vez que, a vida humana se realiza com dificuldade em face às condições
de ar, água e solo deteriorados e na ausência do relevo e da vegetação. Nestas
condicionantes não se pode deixar de lado as necessidades básicas como habitação,
alimentação, escolaridade, lazer e cidadania, que são de fundamental e suma
importância para a vida em sociedade.
Com efeito, a cidade tem que ser observada de forma mais abrangente, ou
numa perspectiva mais totalitária onde o espaço urbano fosse tomado a partir das
complexidades de elementos, dimensões e dinâmicas que a formam. Sobre essa ótica de
interações entre sociedade e natureza em permanente intercâmbio e construções é que
Monteiro (1976) propõe o sistema clima urbano S.C.U. Figura 1.
Figura 1 - Sistema Clima Urbano
Processo
Radioativo
Sitio Urbano
Fato Urbano
Subsistema
Termodinâmico
Subsistema
Físico-químico
Subsistema
Hidrometeórico
Diagnóstico
Climático
Planejamento
Urbano
INPUT
OUTPUT
APLICAÇÕES
Fonte: Monteiro (1976), simplificado.
31
Em sua análise Monteiro (1976) aborda o clima como sendo um sistema
singular, aberto e evolutivo composto pelo clima local e pela cidade. Ele se realiza a
partir dos canais de percepção humana e está subdividido em três subsistemas o
termodinâmico a partir do conforto térmico; do sico-químico a partir da qualidade do
ar e hidrometeórico a partir do impacto pluvial concentrado como atributo tropical.
Na interação entre sociedade e natureza na cidade tem que ser observado
todo um complexo fluxo de matéria e energia, de origem natural e/ou de origem
humana, interage permanentemente no contexto urbano e dinamizam as formas com que
se manifestamos elementos da natureza e da sociedade na cidade, formando a
materialidade urbana.
“... uma das primeiras iniciativas, pelo menos no
campo da geografia, a tratar a cidade de um ponto de vista
sistêmico, ainda que tomando apenas um de seus elementos
formadores a atmosfera/o clima mas entendendo-o como
parte de um sistema maior, a cidade” (MENDONÇA,
2004, p.198).
Segundo Mendonça (2004) a dinâmica dos processos naturais acelera-se
quando em meio urbano, onde o clima, o relevo, o solo a água dentre ouros passam a ter
novas características influenciadas pelas ações humanas por meio da cultura, da
economia e da política. Com efeito, os problemas ambientais aparecem como resultado
desta complexa interação.
O sistema ambiental urbano S.A.U. que aparece como proposta nesse
trabalho toma a cidade em sua totalidade, sendo o mesmo constituído pelo subsistema
natural e pelo subsistema construído, responsáveis pela entrada do S.A.U. e o
subsistema social como sendo aquele no qual se a dinâmica do sistema a partir das
ações humanas (atributos do sistema); a dinâmica da natureza,a qual perpassa os
controles exercidos pela sociedade quando se manifesta em episódios extremos e
impactantes.
32
O S.A.U. é constituído por um sistema complexo e aberto, onde dentro dos
três subsistemas citados podem ocorrer outros subsistemas como, por exemplo, um
subsistema hídrico como é o proposto nesse trabalho, que trata da lagoa da Maraponga
como ambiente natural e a comunidade do bairro que leva o nome da lagoa e seus
atributos.
Os problemas relacionados a qualidade da água da lagoa, ao abastecimento,
o esgotamento sanitário do bairro, poluição, dentre outros. Deste subsistema demandam
ações sociais e políticas públicas que podem ser solucionadas através de estudos e
propostas de planejamento e gestão.
Figura 2 - Sistema Ambiental Urbano (simplificado)
S
Cultura
Economia
Politica
Educação
Tecnologia
Problemas
Socioambientais
Urbanos
Planejamento e
Gestão
Socioambiental
Urbana
Habitação
Industria
Comércio
e serviço
Transporte
Lazer
INPUT
ATRIBUTOS
OUTPUT
APLICAÇÃO
Fonte: Mendonça (2004)
2.3 - Considerações sobre limnologia.
O presente trabalho tem como objeto de estudo a Lagoa da Maraponga e por
se tratar de um corpo hídrico, ele também está fundamentado nos princípios
limnológicos, onde Tundisi (2008) define Limnologia como sendo o estudo cientifico
do conjunto das águas continentais em todo o planeta, portanto incluindo lagos, lagoas,
rios, represas, áreas pantanosas, lagoas salinos, estuários e áreas pantanosas em regiões
costeiras.
33
“Lagos não são ilhas isoladas em uma paisagem,
mas geograficamente estão inseridos em um sistema
hidrográfico como pérolas em um colar. Se quisermos
realmente fazer desenvolvimento sustentável deveremos
compreender as interações do lago com sua bacia hidrográficas
e os impactos na zona litoral. A implicação disto é que o
desenvolvimento sustentável do lago é possível se for parte
de um processo sistêmico, integrado, de gerenciamento da
bacia hidrográfica”. (FALKENMARK, 1999, p.177).
Ela possui ainda uma característica interdisciplinar e integrador dos estudos
biológicos, químicos, físicos e geológicos, para uma maior compreensão do
funcionamento das águas intercontinentais. Sendo os corpos hídricos de caráter único,
sendo a morfometria da bacia, o clima, os usos econômicos da bacia e os mais
diferentes usos de ocupação humana os responsáveis pelos mais diferentes impactos que
eles venham a sofrer.
Segundo Tundisi (2005) durante uma boa parte da história da Limnologia,
ela foi tratada isoladamente por biólogos, geólogos e engenheiros civis, sendo que os
conceitos atuais como os citados mostram o caráter mais interdisciplinar e sistêmico
desta ciência.
As mudanças sobre a visão da Limnologia ocorreram devido aos esforços e a
visão de vários pesquisadores dentre os quais podemos destacar H. Odum e R.
Margalef, bem como a constatação da necessidade do profundo conhecimento nesta
ciência para a recuperação dos corpos hídricos continentais ameaçadas pela poluição e
eutrofização¹ acelerada.
A interdependência entre os fatores físicos, químicos e biológicos torna a
compreensão dos mecanismos de funcionamento dos sistemas aquáticos complexa,
sendo este fato agravado pelos impactos ocasionados pelas atividades humanas, que
transformam e modificam o ambiente.
______________________________________________________________________
1 Eutrofização pode ser compreendida como um processo natural é quando o ambiente
lacustre deixa de possuir características mais propriamente deste ambiente passando a possuir mais
característica de ambiente terrestre, sendo prejudicial quando esse processo passa a ser acelerado pela
ação humana (ESTEVES, 1998).
34
É importante ressaltar que ao definir limnologia é necessário levar em conta
dois aspectos: o descritivo e o funcional do ambiente lacustre, sendo necessária uma
síntese destes. Aspectos este que serão discutidos mais adiante neste trabalho.
A limnologia em uma abordagem ampla e sintética é considerada a ciência
das águas interiores estudadas como ecossistemas, onde estes podem ser compreendidos
como uma unidade natural que consiste em componentes vivos (bióticos) e não vivos
(abióticos), pertencentes a um sistema de fluxo de energia e ciclo de materiais.
O estudo desta ciência segundo Tundisi (2008) pode ser comparado com o
de outras ciências, uma busca de princípios, onde estes atuam em certos processos e
mecanismos de funcionamento, podendo ter diversas utilizações dentre as quais
prognósticos e comparações.
A aplicabilidade da ciência limnológica é de suma importância justamente
pelo fato de possibilitar prognósticos, e a degradação dos ecossistemas aquáticos, como
por exemplo, as diversas lagoas existentes em Fortaleza, são cada vez maiores em
virtude dos mais diversos tipos de resíduos sólidos e líquidos que são despejados
diariamente nestes corpos hídricos.
Com efeito, a diminuição desses processos de deteriorização e a possível
correção e prevenção das lagoas poderão ser feitos com um sólido e vasto
conhecimento limnológico. Isso sem deixar de lado as interferências humanas na vida
aquáticas, que são responsáveis por enormes alterações na estrutura dos ecossistemas
aquáticos.
É possível dizer ainda que além dos problemas de poluição, eutrofização e
deteriorização das lagoas de áreas urbanas, como as de Fortaleza sofrem, é importante
salientar que o adequado manejo desses ecossistemas aquáticos proporciona o melhor
aproveitamento deles para o homem, como para o lazer e para amenizar a temperatura
no local.
Ao possibilitar o diagnóstico e possível prognóstico desses ambientes
lacustres, a Limnologia estende-se para uma visão mais global, que não considera
apenas o meio liquido mais também o complexo sistema de interações que se
desenvolve no sistema terrestre que circunda a lagoa, por isso a abordagem do bairro da
Maraponga como área de estudo e não apenas o corpo hídrico da lagoa.
35
O Progresso mais importante da Limnologia
como ciência nos últimos dez anos foi a compreensão mais
avançada da ecologia dinâmica dos sistemas aquáticos e sua
aplicação para a resolução de problemas aplicados de proteção,
conservação e recuperação dos lagos. (TUNDISI, 2008, p.31)
As interações desses objetivos fundamentais da Limnologia podem ser
destacadas no diagrama feito por Rawson (1939), que buscou de forma sintetizada
mostrar as importâncias no conhecimento de sistemas aquáticos.
Figura 3 -Marcos importantes no conhecimento de sistemas aquáticos continentais.
Localização
Geográfica
Impactos de
Atividades
Humanas
Formação
Geológica
Fonte: Rawson (1939) modificado por Dias (2009).
Latitude-
Longitude
Altitude
Resíduos domésticos
Agricultura
Mineração
Morfologia
das Lagoas
Clima
Topografia
Nutrientes
Primários
Profundidade
Vento
Insolação
Fatores
Edáficos
Natureza dos
Sedimentos
Penetração de
Luz
Distribuição de
Calor e
estratificação
Distribuição de
Oxigênio e
Utilização
Desenvolvimento
Litoral
Área da
Lagoa
Batimetria
Ciclo anual
Estrat. e mistura
vertical
Produtividade Estado trófico
Precipitação
36
Os desenvolvimentos dos estudos limnológicos podem ser feitos através de
diferentes aspectos e abordagens, dentre as quais podemos incluir a abordagem
descritiva ou de história natural, abordagem experimental, modelagem matemática e
ecológica, balanços de massa e limnologia preditiva.
A abordagem descritiva consiste na descrição do sistema e seus
componentes, sendo a abordagem mais utilizada em muitos estudos de lagos, rios,
represas e áreas alagadas, utilizam-se da observação e a medição periódica das variáveis
físicas, químicas e biológicas, e diante dos dados obtidos busca a interpretação do
funcionamento dos sistemas e aquáticos e a interpretação dos seus componentes.
Esta abordagem, segundo Tundisi (2008), buscou o componente biológico
do sistema com maior afinco, desta forma ela originou uma vasta massa de informação,
que serviu de contribuição para aumentar e aprofundar o conhecimento da biologia
aquática, da ecologia e da física e química da água.
Assim, é aconselhável a combinação da abordagem descritiva com estudos
de longa duração, pois se torna um sistema altamente informativo, mesmo que sejam
utilizadas poucas variáveis, Nessa abordagem também são utilizados dados
climatológicos e hidrológicos, que são possíveis de ser obtidos em diversas instituições,
inclusive na internet, o que possibilita a comparação de dados em uma escala maior de
tempo.
Portanto, diante da praticidade oferecida por esta abordagem, ela é uma das
metodologias utilizada neste trabalho, onde os dados foram obtidos em instituições do
Governo. Como por exemplo, os dados climatológicos que foram obtidos junto a
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos FUNCEME e os dados da
análise da qualidade da água fornecidos pela Secretaria do Meio Ambiente e Controle
Urbano SEMAM de Fortaleza.
Para a abordagem experimental faz-se necessário a proximidade de um
laboratório com a área estudada, o que ficou inviável nesse trabalho, a aproximação
possibilita a combinação das observações descritivas com os experimentos controlados
em laboratórios.
37
Os métodos experimentais, no laboratório,
possibilitam desenvolver capacidade preditiva limitada (como,
por exemplo, no caso dos indicadores biológicos), mas, se
combinados com análises e observações no campo, podem ser
instrumentos importantes de predição. (TUNDISI, 2008,
p.568)
A Limnologia preditiva segundo Tundisi 2008, é uma abordagem que busca
através da análise interpretativa de informações existente de ambientes aquáticos
continentais, gerar modelos preditivos que deverão apresentar cenários diversificados
sobre os impactos nesses sistemas e a resposta de componentes.
Ela se deu em virtude dos incontáveis processos de degradação que ocorrem
na estrutura e na função dos sistemas aquáticos, para os trabalhos experimentais de
modelagem ecológica e matemática, que irão ser comentadas a seguir, fez-se necessário
um instrumento de predição.
Segundo Hakanson e Peters (1995), a Limnologia preditiva está pautada na
qualidade dos dados empíricos (amostragem, representatividade dos dados, a
compatibilidade) e a capacidade de hierarquização de fatores estruturais e dinâmicos,
que são os principais atuantes do sistema.
A modelagem ecológica e matemática é uma abordagem utilizada
principalmente na quantificação de processos essenciais e busca compreender os
componentes dinâmicos dos ecossistemas aquáticos.
É necessária uma quantidade elevada de informação cientificas para servir de
fundamentação para a montagem do modelo conceitual, a calibração e a validação, na
implantação de modelos ecológicos. Esse modelo segundo Tundisi 2008, aplicados em
reservatórios hídricos sem uma base informacional sobre os ciclos estacionais, as
variações diurnas, a composição das espécies e os ciclos biogeoquímicos não tem tanta
eficiência tendo mais funcionalidade como um exercício teórico do que propriamente
uma modelagem efetiva do sistema.
No estudo limnológico é importante o processo de monitoramento, pois ele é
uma importante etapa na avaliação do processo de funcionamento de ecossistemas
aquáticos continentais. Ele nos auxilia no desenvolvimento da pesquisa a detectar
38
problemas no reservatório como as fontes pontuais de poluição do reservatório, como
por exemplo, as tubulações de galeria que deságuam na Lagoa da Maraponga e
provocam alterações naquele ambiente hídrico.
O monitoramento tem como componentes principais o monitoramento de
orientação, que se trata da coleta do máximo de dados possíveis, para avaliar o estado
do sistema. E o monitoramento sistemático em um determinado ponto do reservatório,
por períodos prolongados, permite a associação do reservatório, com o efeito dos
ventos, da precipitação da radiação solar, bem como dos impactos antropológicos.
2.4. - Material e procedimento técnicos.
O ponto de inicialização para este trabalho foi a busca por materiais
bibliográficos sobre os diferentes objetos de estudo, do ambiente lacustre e da
comunidade que foram analisados de forma interdependente. As buscas efetivaram-se,
em levantamentos pela internet, por meio da publicação de artigos em revistas eletrônicas
disponíveis, além de tios das universidades brasileiras e de órgãos que fornecem dados e
materiais bibliográficos relacionados à temática de estudo.
Os levantamentos bibliográficos foram feitas principalmente, nas bibliotecas
da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará(UECE),
bem como nas bibliotecas vinculadas a estas instituições.
Também foram feitas consulta em Anais de Congressos como Encontro
Nacional de Geógrafos ENG; Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada
SBGFA; Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR; além das bibliotecas
das instituições governamentais como: Companhia de Gerenciamento de Recursos
Hídricos - COGERH, Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará SEMACE,
Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará IDACE, Instituto de Planejamento
Econômico do Ceará IPECE, Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais CPRM e
Secretaria do Meio Ambiente e Controle urbano - SEMAM, como principais.
A revisão bibliográfica foi feita principalmente no que tange a conceituação
da análise socioambiental e limnológica, hidrografia, uso e ocupação do solo,
39
degradação e impacto ambiental, bem como outros temas relacionados aos corpos
lênticos e a sociedade.
Foram realizados 06 (seis) trabalhos de campo em horários diferentes, nas
seguintes datas: 20/05/2009; 28/06/2009; 25/09/2009, 22/11/2009, 17/01/2010 e
05/09/2010. Essa etapa foi desenvolvida para compreender o conjunto de fatores
ambientais e coleta de dados dos freqüentadores para alcançar os objetivos ao qual esse
trabalho se propõe, bem como permite a observação de que as informações coletadas
junto à prefeitura são verídicas, bem como auxilia na discussão do contexto
socioambiental, além do registro fotográfico da área.
Para análise dos fatores socioeconômicos são utilizados os dados estatísticos
do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000,
e matérias de jornais já publicados na área de pesquisa. Foram feitas também entrevistas
e posteriormente aplicado o questionário, cujos entrevistados foram moradores do
bairro, trabalhadores ou freqüentadores da Área de Preservação Ambiental (APA) do
Parque Ecológico da Maraponga. Trataram-se dos atores sociais mais importantes desta
pesquisa, onde foram levantadas informações de caráter qualitativo e quantitativo sobre
os diferentes aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais.
Os dados de indicadores da qualidade da água da lagoa da Maraponga, que
foram utilizados, foram dados coletados junto a SEMAM/PMF, realizados através de
amostras de coleta de água feitos pelo Laboratório Integrado de Águas de Mananciais e
Residuários LIAMAR, do Centro Federal de Educação e Tecnologia do Ceará
CEFET.
Foram analisadas 17 amostras coletadas entre agosto de 2006, período em
que a prefeitura começou a fazer o monitoramento de dez lagoas de Fortaleza dentre
elas a lagoa da Maraponga, objeto de estudo, até o mês de maio de 2009, sendo esta a
última amostra até o dia em que foi coletado o material para análise.
Os parâmetros físico-químico e bacteriológico das amostras utilizaram como
determinação padrão as especificações da Resolução CONAMA 357/2005, nos
seguintes parâmetros: pH, Cor, Turbidez, Nitrogênio, Nitrito, Nitrato, Sulfato, Ferro,
Oxigênio Dissolvido OD, Demanda Bioquímica de Oxigênio DBO, Condutividade,
Clorofila a, Fósforo Total, Cloretos, Escherichia Coli e Coliformes Termotolerantes
CTT.
40
3. Classificação e características gerais da origem dos corpos limnicos.
O estudo geomorfológico contribui consideravelmente para o conhecimento
da origem dos lagos e lagoas e para a dinâmica dos processos de formação desses
ecossistemas (TUNDISI, 2008). Os lagos e lagoas são corpos hídricos dinâmicos,
formados pela ação dos agentes internos e externos, materializados na forma de
depressão da superfície, coberta por água e/ou gelo.
Os lagos ou lagoas formados a partir de determinados eventos
geomorfológicos, e que estão localizados em determinadas áreas geográficas,
apresentam características similares, por isso o agrupados em distritos lacustres. A
geomorfologia dos lagos e lagoas tem, portanto um papel relevante nas condições
físicas, químicas e biológicas (TUNDISI, 2008).
As lagoas são corpos d´água interiores sem comunicação direta com o mar e
suas águas têm em geral baixo teor de íons dissolvidos, quando comparadas às águas
oceânicas. Tendo como exceção os lagos localizados em regiões áridas e/ou submetidas
a longos períodos de seca, nos quais o teor de íons dissolvidos pode ser alto, pois a
intensa evaporação não é compensada pela precipitação, onde nessas condições o teor
de sais dissolvidos pode ser muitas vezes superior ao da água do mar (ESTEVES, 1998,
p,63).
Segundo GUERRA (1978, p,248), os lagoas são definidos como sendo
“Depressões do solo produzidas por causas diversas e cheias de águas confinadas, mais
ou menos tranqüilos, pois dependem da área ocupada pelas mesmas. Geralmente são
alimentados por um ou mais afluentes. Possuem também rios emissários o que evita o
seu transbordamento. Os lagos são mais freqüentes nas regiões montanhosas e no
hemisfério norte”.
Para ESTEVES (1998, p,63) os lagos e lagoas não são elementos
permanentes das paisagens da terra, pois eles são fenômenos de curta durabilidade na
escala geológica, ou seja, surgem e desaparece no decorrer do tempo, o que está ligado a
várias causas, principalmente a seus metabolismos ou à deposição de sedimentos
transportados por seus afluentes”.
41
É importante salientar que não é pelo fato dos lagos e lagoas não serem
elementos permanentes das paisagens da terra, que eles não tenham um papel
importante na morfologia terrestre ou na qualidade de vida da população, podendo dessa
forma ser degradados de qualquer forma. Pelo contrário, devemos utilizá-los de forma
adequada, a fim de conservá-los por mais tempo possível, que a demanda de água
potável tem aumentado em vários países, bem como a degradação desses recursos como
veremos mais a frente.
Segundo Carvalho (1980: 213) e ODUM (1988: 369), os ecossistemas
lacustres possuem estratificação horizontal, no sentido centro à sua margem, que são
divididas em três zonas: litoral (presença de vegetação fixa ao longo de sua margem);
limnética (caracterizada pela presença de fitoplâncton) e profunda (ocorrência de
heterótrofos). (Ocorre ainda a presença de zonação horizontal quanto à ação da luz solar
no corpo hídrico), sendo constituída pela zona fótica (camada até onde a luz penetra,
tratando-se da lâmina d´água com incidência da luz solar) e zona afótica (área com
ausência de luz). Ocorre ainda uma divisão interna quanto à estratificação térmica,
constituída das camadas epilímnia (camada superior mais quente), hipolímnia (zona de
gradiente térmico, propiciando a formação de barreira, impedindo trocas de matéria) e
metalímnia (camada de transição entre temperaturas mais quentes e mais frias).
A figura geométrica da superfície de um lago ou lagoa é resultante
aproximada de sua forma tridimensional, devido a este fator ela também pode guardar
relação com sua origem, ou até mesmo sua idade relativa. A que possui um formato
circular geralmente pode ser decorrente de bacias de dissolução e crateras de vulcões
extintos; as subcirculares podem ser de bacias de contorno como montanha; as que
possuem formato de lua podem ser originadas de meandros abandonados de rios, como
pode ser o caso da lagoa em estudo; polígono irregular como é o caso da maioria dos
lagos e lagoas (COSTA, 1991).
Segundo este mesmo autor a entrada de água nas bacias lacustres pode se
dar de diferentes modos como a precipitação sobre a superfície dos lagos ou lagoas,
percolação de aqüífero através do leito, surgências de águas subterrâneas, recepção de
água através do escoamento superficial, bem como de afluência de rios e outras
correntes de superfície. a saída de água se verifica pela descarga de defluêntes ,
infiltração, evaporação e transpiração das macrófitas de superfície.
42
3.1 Lagunas.
De acordo com ISLA (1996: 241) “De um ponto de vista evolutivo, lagunas
costeiras são relacionadas aos ventos longshore ou variações do nível do mar. Algumas
lagunas costeiras estão associadas à antigas depressões inundadas pela transgressão
pós-glacial, Algumas são conectadas para formar Barreiras (Pleistoceno Superior).
Como a maior parte dos ambientes costeiros, o desenvolvimento costeiro se deu nos
últimos 7.000 anos, quando o nível do mar reduziu sua ascensão, se tornaram estável ou
começou a cair (Holocene quase-stillstand)”.
As lagunas são corpos continentais de água que são desconectado do mar,
exceto pelo escoamento, em alguns casos, do lago para o mar. Os ambientes lacustres
ocorrem hoje, em aproximadamente 1% da superfície da terra, onde são locais de
deposição de sedimentos e outros fragmentos e o geológicamente efêmeros e existem
a milhões de anos (HOLS, 1999).
“As lagunas costeiras em latitude baixa são dominadas por
evaporação (sabkhas ou lagunas costeiras áridas), siltação
(relacionados aos deltas tropicais), atividade biogênica
(lagunas em corais, mangue submerso) ou eventos episódicos
(furacões, monções). Quando a evaporação excede entrada de
água doce, os sais começam a precipitar como carbonatos,
cloros ou sulfatos. Caso os ventos forem fortes o bastante,
eólitos e areias com restos de esqueletos, dominam nas porções
mais rasas” (EVANS apud ISLA, 1996: 247-248).
De acordo com a citação acima as lagunas costeiras ocorrem nas partes mais
baixas da costa e são comumente relacionados com depósitos antigos da linha de costa
com disponibilidade de sedimentos. Elas são formadas a partir do retrabalhamento das
planícies costeiras, que proporcionam a formação de barreiras, praias, alagadiços dentre
outras (ISLA, 1996).
43
Segundo ISLA (1996, p 244) os modelos de lagunas costeiras usualmente,
são dominadas por lamas laminadas. E se a laguna é rasa o bastante para ser modificada
facilmente pelo vento, através da indução de ondas, o material de fundo é
continuamente resuspenso. Onde a bioturbação é significante, e a laminação é alterada.
Através de processos físicos e biogênicos, onde ocorra a precipitação de
evaporito em locais de clima tropical, pode acontecer a presença de lagunas ou lagos
hiperáridos. “Os evaporitos são depósitos salinos formados a partir da evaporação da
água do mar em salinas marinhas, lagunas e mares reliquiários” (SUGUIO, 1980: 188).
A formação de lagunas salinas, “Devem sua origem a formação de barras
que podem fechar e isolar uma baía do mar aberto. Aberturas esporádicas na barra
permitem o fluxo de água salgada, compensando a evaporação. Lentamente aumenta o
teor em sal na água, podendo finalmente dar-se a precipitação dos sais, formando
depósitos salinos. Sua espessura pode ser considerável, no caso de haver um
abaixamento gradual, epirogenético, do continente” (LEINZ & AMARAL, 1989, p.
138).
Segundo HARDIE et al. apud NICHOLS (1999, p.128) “A água em lago
salino possui alta concentração relativa de sais dissolvidos, definidos como maiores do
que 5g l
-1
de solutos. Deve ter alta concentração de íons dissolvidos como na água do
mar. Lagos salinos desenvolvem-se em regiões áridas e semi-áridas onde a taxa de
evaporação é igual ou excede a entrada dos rios, e os sais captados no lago se tornam
mais concentrado com o tempo”.
As lagunas segundo ISLA (1996), podem ser classificadas em “Choked”
(estrangulada) que possui uma abertura de certa forma larga para o mar, “Restricted”
(restrita) que possui um barramento restringindo a laguna e a “Leaky” (mal vedada) que
possui diversas áreas de contato com o mar devido a diversas barragens que deixam
inconstante o contato.
3.2 Processos formadores de Lagoas.
As lagoas podem ser derivadas de diversos processos morfológicos, dentre
os quais podemos destacar as formadas pelos processos litorâneos, que são
denominadas de lagoas costeiras.
44
Para TUNDISI (2008, p 25), a “deposição de material na costa, produzidos
em regiões onde existem baias ou reentrâncias, pode dar origem a lagoas costeiras. Em
muitos casos ocorre uma separação insuficiente e, com isso, alteram-se períodos de água
doce e água salobra no lago. Também podem formar-se pequenos lagos costeiros
adjacentes a grandes lagos interiores”.
No Brasil, de forma mais ampla utiliza-se o termo lagoas costeiras para fazer
alusão a todos os corpos d´água costeiros, independentemente de sua origem, no entanto
ESTEVES (1998), diz que esse procedimento não é correto uma vez que, a maioria das
lagoas ditas costeiras na verdade são lagunas, como por exemplo, a lagoa Rodrigo de
Freitas no Rio de Janeiro.
Os principais processos formadores de lagoas costeiras são por isolamento
da enseada marinha; fechamento da desembocadura de rios por sedimentos marinhos,
por recifes de corais e por sedimentos fluviomarinhos, bem como pela depressão de
faixas de areias que consistem as restingas.
As lagoas costeiras formadas pelo isolamento de enseada marinha, são feitas
através de cordões de areia, que por sua vez se desenvolvem normalmente a partir de
pontões rochosos. Onde o aumento progressivo destes cordões se deve à deposição de
sedimentos marinhos pela ação de correntes e ondas em condições de submersão
marinha interglacial e pela ação de ventos sobre os sedimentos marinhos, quando estes
estão emersos (ESTEVES, 1998).
O resultado obtido por essa atividade marinha é o isolamento de uma
enseada ou um braço do oceano, onde este se transforma em uma laguna, quando esta
permanece ligada com o mar através de fluxo e refluxo, ou numa lagoa costeira, quando
esta fica isolada do mar.
É importante salientar que em “via de regra, tanto lagunas quanto lagoas
costeiras têm sua gênese vinculada aos mesmos processos transgressivos do mar, que
ocorreram a partir do pleistoceno e se prolongaram até os últimos dois mil anos do
holoceno, quando ocorreu a gênese da grande maioria das lagoas costeiras do Brasil”
(ESTEVES 1998, p.83).
Lagoas formadas pelo fechamento de desembocaduras de rios por
sedimentos marinhos são comuns em regiões de tabuleiros. Elas se originam por
deposição de sedimentos marinhos na desembocadura de pequenos rios ou por
45
isolamento de estuário de vários pequenos rios como, por exemplo, a lagoa do Catu na
zona leste do Ceará.
As que são formadas pelo fechamento das desembocaduras de rios por
recifes de corais são típicas do litoral nordestino, onde existem condições favoráveis
para a formação de recifes que represam os rios, como por exemplo, temperatura
superior a 20° C.
As lagoas formadas pelo fechamento da desembocadura dos rios por
sedimentos fluviomarinhos, se dão pelo barramento da foz do rio tanto por sedimentos
marinho como por sedimentos trazidos pelo rio, como por exemplo, as lagoas formadas
pela antiga foz do rio Paraíba do Sul (ESTEVES, 1998).
As lagoas formadas por depressões entre faixas de praia que constituem as
restingas, são muito rasas e abastecidas por pequenos córregos e pela água da chuva.
Por vezes aquelas que se localizam mais próximas à faixa de praia são invadidas pelo
mar durante a maré alta. (ESTEVES, 1998). Com essas características existem as lagoas
interdunares, onde estas podem apresentar diferenças na forma de abastecimento.
As lagoas interdunares são reservatórios hídricos que se acham “...
interiorizados às dunas, isolados dos meios adjacentes e submetidos à dinâmica
evolutiva dessas formas de gradação. Nessa conceituação, não se incluem as lagunas e
lagoas resultantes do isolamento de águas costeiras por formas construtivas geradas pela
oscilação eustáticas. Estas ocorrências refletem-se na morfogênese costeira, mas têm
papel indireto ou assumem caráter passivo em se tratando de lagoas resultantes do
desenvolvimento de campos de dunas” (CLAUDINO SALES, 1993, p. 113).
Em MEIRELES (2001, p. 115) “Estes depósitos estão dispostos ao longo da
planície e normalmente encontram-se associados à presença de dunas (lagos
interdunares) e entre as cristas de terraços marinhos (beach ridges). Apresentam-se em
dimensões reduzidas e são sazonais. Em períodos de estiagem encontram-se
praticamente desprovidos do espelho d‟água”.
O processo de ascensão da superfície piezométrica, que é a superfície que
une todos os pontos onde o nível d'água alcançaria, caso não estivesse confinado por
uma camada impermeável ou semi-impermeável, se a partir da percolação das águas
nos períodos de maior precipitação pluviométrica, localizado nas depressões e
46
ondulações comumente existentes ao sopé das dunas, como resultado da remoção de
material realizada pela ação do vento in situ.
No Estado do Ceará a presença de lagoas interdunares é muito comum, bem
como em boa parte do litoral nordestino brasileiro. São pequenas lagoas possuindo em
média 2 ou 3 km² de área, são intermitentes, podendo por vezes serem perenes, e criam
um tipo específico de paisagem, onde ocorre uma sucessão de faixas arenosas e corpos
hídricos, evoluindo morfológicamente de acordo com as dinâmicas morfológicas e a
evolução do campo de dunas. Algumas dessas lagoas que tem fonte de água continental
têm como fonte de água fornecida pelos aqüíferos costeiros (CLAUDINO SALES
,
2000).
Os aqüíferos que são formados a partir da precipitação, onde parte da água
“infiltra-se no solo, onde podemos distinguir duas zonas: a saturada e a zona de aeração,
ou subsaturada. Acham-se separadas pela chamada superfície piezométrica, designada
também por lençol freático ou por nível hidrostático (expressões atualmente em desuso),
cuja profundidade varia com as mudanças climáticas, com a topografia da região e com
a permeabilidade das rochas” (LEINZ & AMARAL, 1989, p.78).
As lagoas salinas são corpos hídricos localizados em áreas de clima semi-
árido a árido, cuja evaporação é intensa ao longo do ano, e são de caráter temporário. O
acúmulo de sais no seu interior se dá pelas as águas provenientes das precipitações
pluviométricas. As lagoas salinas são classificados, conforme a concentração de sal no
seu interior, podendo ser: hiposalino, quando a concentração de hálica é de 3 a 20 ppt,
mesosalino (de 20 a 50 ppt) e hipersalino (> de 50 ppt). (HORNE & GOLDMAN 1994,
p. 492).
Esta concentração de sal, bem como em paleoambientes lacustres salinos,
pode propiciar a formação de depósitos salinos do tipo evaporitos “... são depósitos
salinos formados a partir da evaporação da água do mar em salinas marinhas, lagunas e
mares reliquiares” (SUGUIO, 1988. p. 188).
Sobre o processo de formação destas lagoas, “Possivelmente, pelo menos as
de menor tamanho, são causados pela barragem de alguns canais de rede por dunas
eólicas. Devido à elevada taxa de evaporação, as lagoas salinizam-se rapidamente,
dando origem às chamadas sabkhas continentais. O caráter efêmero dessas feições gera
47
depósitos onde se intercalam sedimentos lacustres, fluviais e eólicos” (DELLA
FÁVERA, 2001, p. 155).
A dinâmica dos rios, que é um dos principais sistemas modeladores da
superfície terrestre, atua também na formação das lagoas. Esse processo pode ocorrer de
diferentes formas como os gerado por barragem, os gerados por meandro abandonado e
os formados por inundação.
Os rios, ao fluírem, tem a capacidade obstrutiva, por deposição de
sedimentos, e uma capacidade erosiva, por transporte de sedimentos. Muitas lagoas
laterais são formadas a partir dessa atividade de rios por deposição de sedimentos que
bloqueiam tributários. Em regiões onde ocorre intensa sedimentação, a água tende a
fluir ao redor dos sedimentos formando um vale em U, onde em muitos casos pode
ocorrer a formação de lagoas deltaicos quando esse bloqueio ocorre próximo aos
depósitos aluvionares nas regiões costeiras ou nos grandes deltas internos (TUNDISI,
2008).
As lagoas de barragem são formadas quando o rio principal transporta
grande quantidade de sedimentos que é depositado no decorrer do seu próprio leito.
Onde essa deposição proporciona uma elevação do nível do leito do rio, causando o
represamento de seus afluentes, que passam a se transformar em lagoas. É importante
salientar que esses afluentes são pobres em aluviões, o que fazem com que não
acompanhem a elevação do leito do rio principal (ESTEVES, 1998).
As lagoas em meandros, crescentes ou ferraduras, são formadas a partir de
processos que ocorrem em rios maduros que percorrem planícies e que atingiram o
seu nível de base, que é o ponto limite abaixo do qual a erosão das águas correntes não
pode trabalhar, apresentam um curso sinuoso (ESTEVES, 1998).
Este tipo de lagoa ocorre na sinuosidade ou curvas dos rios, que são os
meandros, onde o fluxo fluvial segue das partes mais altas para as mais baixas do
terreno, e no decorrer destes são encontradas inúmeras lagoas, que são formados através
do isolamento dos meandros por processos de erosão ou sedimentação das margens.
Fazendo com que o mesmo mude de direção, ao longo de sua trajetória.
Em HORNE & GOLDMAN (1994, p. 22) “Meandros horizontais ocorrem
nas porções aplainadas de cursos hídricos, não importa se o córrego é largo ou pequeno,
montanhoso ou em planície. Graças à água buscando o caminho menos energético e
48
produzem fluxos mais profundos e mais rápidos perto da erosão, da borda exterior do
meandro circula e torne rasas as áreas de deposição no banco oposto dos meandros”.
As lagoas de inundação também são formadas por processos fluviais tendo
como uma das características principais a grande variação no nível da água em função
da precipitação, com os lagos de várzea que ocorrem nas depressões, em locais ainda
não totalmente colmatados pelo material transportado pelo rio, no processo normal de
formação de várzea (ESTEVES, 1998).
As lagoas também, podem ser geradas a partir da dissolução da rocha
solúvel por ácidos em água de percolação de um lado a outro. Podendo ser resultado do
desmoronamento de cavernas, sendo mais comum esses lagos em áreas de rochas
calcárias (HORNE & GOLDMAN, 1994).
As lagoas de dissolução são resultados do acumulo de água em depressão
formada devido à solubilização de rochas calcárias, de cloreto de sódio (salgema) ou de
sulfato de lcio (gipsita). O agente solubilizador ou de erosão pode ser a água da
chuva, subterrânea ou as duas. (ESTEVES, 1998).
As águas de percolação, acidificadas principalmente pelo
bióxido de carbono, têm o poder de dissolver, de modo lento e
contínuo, grande volume de rochas calcárias, em especial as de
carbonato de cálcio. (...). Elas na maioria das vezes apresentam
forma circular, quando a depressão teve início a partir da
superfície, ou tomam as mais variadas formas quando resultam
de cavernas calcárias subterrâneas cujo teto desabou, solapado
pela infiltração das águas de superfície”. (COSTA, 1991, p.
37).
As lagoas formadas pela erosão das rochas calcárias ou lagoas dolinas, que
são formados quando a água começa a dissolver o calcário gerando uma depressão na
rocha calcária de forma pequenas e circulares, onde as pequenas dolinas podem se
fundir a outras formando lagoas de proporções maiores de formato mais alongado.
49
Existem lagoas que são formadas por impacto de meteoros, quando estes
atingem a crosta da terra, a ponto de provocar um desnível topográfico, e que depois
será preenchido por águas provenientes de diferentes locais, entre eles, pelas
precipitações pluviométricas.
É importante salientar que além da necessidade do meteorito atingir a
superfície terrestre para gerar a depressão, a fonte de abastecimento d`água para a
formação dessas lagoas, geralmente estão associados a precipitação, não apresentando
rios afluentes, sempre na dependência exclusiva da chuva, por isso geralmente de pouca
duração (GUERRA, 1978).
Para ocorrer a identificação deste tipo de lagoa, é necessário identificar a
existência de depósito de Irídio, haja vista que esse elemento é encontrado geralmente
em corpos meteóricos. Devido a este fato, a presença de irídio numa lagoa indica que
neste local ocorreu impacto de meteoro (DOYLE, BENNETT, BAXTER, 1995).
A ação humana também é responsável pela formação de lagoas e lagos a
partir do represamento de rios para a utilização do recurso hídrico, causando alterações
significativas no espaço geográfico, a fim de obter maiores benefícios na utilização
desse recurso.
No Brasil, as represas e açudes são formados principalmente pelo
represamento de rios para atender o abastecimento de água, regularização de curso,
irrigação, lazer dentre outros. Esses represamentos recebem diversas denominações que
nada mais são do que sinônimos, pois todos têm a mesma finalidade e origem
(ESTEVES, 1998).
A construção de reservatórios hídricos é vital para o abastecimento,
principalmente nos centros urbanos, onde o adensamento populacional demanda grande
quantidade de água, em locais aonde ocorrem longos períodos de estiagem, como o
Nordeste brasileiro e também para criação de animais aquáticos de valor econômico.
Dependendo do tipo de tomada de água da barragem, as represas
apresentam grande instabilidade limnológica. Estes ecossistemas, por apresentarem
baixo tempo de residência da água, podem ser considerados na sua grande maioria,
como um estágio intermediário entre um rio e um lago, ou seja, entre ambiente lótico e
lêntico (ESTEVES, 1998, p.88).
50
Apesar de sua importância, as construções das médias e grandes barragens
geram enormes problemas à fauna e flora, ao homem, ao ambiente, tanto em escala
local quanto regional, de modo que a restituição do ambiente degradado acarreta um
elevado preço para a sua recuperação, pois as construções dessas lagoas e lagos
artificiais provocam alteração tanto no ambiente aquático quanto no terrestre.
Algumas das alterações geradas pela construção de lagoas e lagos artificiais
são: o aumento da transpiração e evapotranspiração, maior possibilidade de
deslizamentos e tremores de terra, elevação do lençol freático, aumento da taxa de
sedimentação à montante de seus afluentes, inundação de áreas florestais e agrícolas,
modificação na fauna dentre outras (ESTEVES, 1998).
O nordeste brasileiro tem vários exemplos desse tipo de lago artificial,
dentre quais podemos destacar o açude Castanhão no Estado do Ceará, formado através
do represamento rio Jaguaribe na cidade de Alto Santo. A construção do açude além de
promover alteração nos recursos naturais, também foi responsável pelo deslocamento da
população da cidade de Jaguaribara.
51
4 - Caracterização Geoambiental regional e da Lagoa da Maraponga.
4.1 - Localização da área de estudo.
A Lagoa da Maraponga está localizada no setor Sudoeste da cidade de
Fortaleza que faz parte do segmento costeiro do Estado do Ceará a uma latitude
3°47‟20.58”S e longitude 38°34‟7.475”W (figura 4). Ela faz parte da micro-bacia de
Fortaleza, mais precisamente da bacia fluvial do Rio Cocó, estando interligada as outras
microbacias da cidade.
É possível caracterizar o corpo hídrico em estudo como sendo do tipo aberto,
uma vez que, nos trabalhos de campo foram detectados diferentes afluentes, como a de
um riacho que deságua na lagoa pela parte sul, parte que concentra a maior parte de
mata ciliar, bem como se encontra uma favela no local. A lagoa também apresenta um
canal de saída (efluente), determinando um sistema aberto, que sai por baixo da Av.
Godofredo Maciel na parte leste da lagoa.
Figura 4 Mapa de localização da área em estudo.
52
Na visita feita a lagoa no primeiro semestre do ano de 2009 foi possível
observar uma elevada presença de aguapés e de outros tipos de vegetações hidrófitas no
interior do espelho d´agua, o que correspondia a cerca de 50% do corpo hídrico, o que
denotava o elevado grau de eutrofização daquele corpo, acentuado ainda mais pela
decomposição de lixo domestico que estava a vista nas margens da lagoa.
A Secretaria Regional V define o perímetro da Lagoa da Maraponga como
iniciando na confluência da via férrea Fortaleza/Baturité com a reta imaginária que é o
prolongamento da Rua Dom Henrique. Em seguida segue por esta reta imaginária e
depois pela lagoa da Maraponga até o sangradouro da lagoa no sentido leste da lagoa até
encontrar a Rua Carlos Juaçaba. Na seqüência vai por esta rua no sentido sul até
encontrar a Avenida Holanda, seguindo ainda em sentido sul até chegar a Rua Francisco
Glicério. Segue por esta rua no sentido oeste até encontrar a Avenida Godofredo
Maciel, seguindo por esta Avenida no sentido sul, até encontra a Rua Castro Meireles,
tomando o sentido oeste por esta rua até a via férrea Fortaleza/Baturité, segue-se por
esta até ao ponto inicial.
Figura 5 Batimétria da Lagoa da Maraponga. (Fonte: SEMAM, 2006).
53
De acordo com o mapa batimétrico da lagoa da Maraponga (figura 5) feito
em 2006 pela Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano (SEMAM) a
profundidade máxima da lagoa é de aproximadamente três metros podendo esta
aumentar de acordo com os índices pluviométricos do ano.
4.2 Caracterização dos componentes Geoambientais regionais.
A lagoa da Maraponga como mencionado anteriormente está localizada no
município de Fortaleza, mais precisamente a sudoeste. Por este motivo alguns
parâmetros na caracterização dos componentes geoambientais da área abrangerão o
município de forma mais geral.
4.2.1 Arcabouço Geológico.
Segundo a classificação morforestrutural de Ross (1985, p.37), a área em
questão está enquadrada nas unidades de planície, que “... correspondem às áreas
essencialmente planas, geradas por deposição de sedimentos recentes quer sejam de
origem marinha, lacustre ou fluvial. São áreas, portanto onde atualmente predominam
processos agradacionais”. Estas unidades no contexto geológico correspondem a
Formação Barreira.
A lagoa da Maraponga está localizada sobre o domínio dos depósitos
sedimentares Terciários e Quaternários denominados de Formação Barreira, cujos
sedimentos são mal selecionados notando-se intercalações de material mais grosseiro
com fáceis conglomerática. Os efeitos da lixiviação, sendo mais pronunciados próximo
ao litoral, justificam os baixos percentuais das frações finas. A espessura apresenta
acentuada variação. Esse fato deriva, em parte, do substrato ondulado, sobre o qual os
sedimentos repousam em discordância (SOUZA, 1988).
A Formação Barreiras, faz parte do Domínio dos Depósitos Sedimentares
Cenozóicos, que recobre e repousa sobre os terrenos pré-cambrianos do embasamento
cristalino, de espessura variada (SOUZA, 2000). Esta formação ocorre ao longo da faixa
litorânea marcando o contato morfológico entre a superfície de erosão (depressão
54
sertaneja) e a linha de costa, situando-se na parte posterior dos sedimentos eólicos
antigos e atuais.
Sobre o processo de deposição dos sedimentos da Formação Barreira, os
mesmos “... foram depositados sob condições de um clima semi-árido, sujeito a chuvas
esporádicas e violentas, formando amplas faixas de leques aluviais coalescentes.
Durante esta época, o nível do mar era mais baixo que o atual, propiciando o
recobrimento de uma ampla plataforma” (BRANDÃO, 1988: 15).
Segundo Bigarella (1965), a Formação Barreira data do Mioceno superior ao
Pleistoceno, quando os sedimentos foram depositados sob condições de clima semi-
árido, sujeito a chuvas esporádicas e violentas, formando amplas faixas de leques
aluviais coalescentes em sopés de encostas mais ou menos íngremes.
A Formação Barreira é caracterizada por uma expressiva variação
faciológica, com intercalações de níveis mais e menos permeáveis, o que lhe confere
parâmetros hidrogeológicos diferenciados, de acordo com o contexto local. No contexto
regional esta unidade não pode ser considerada um aqüífero e sim, um aqüítardo, ou
seja, uma formação geológica que possui porosidade e permeabilidade (k= 1,85x10
-6
m/s) baixos, transmitindo a água lentamente (BRANDÃO, 1988).
Essa formação apresenta um potencial hidrogeológico fraco, de acordo com
os resultados da matriz de determinação numérica, sendo tal fato comprovado pela
vegetação dominante, textura do solo e pelo condicionamento morfológico
(RADAMBRASIL, 1981: 189).
Ela é formada por depósitos compostos de sedimentos areno-argilosos,
munido de complexidade de fácies sedimentares, podendo por vezes conter a presença
de conglomerados, sobreposto ao embasamento cristalino ou ainda em menor
quantidade sobre rochas do período cretáceo, como por exemplo, no extremo leste do
Estado do Ceará, na bacia potiguar. (CLAUDINO SALES, 2002).
Devido o relevo plano dificulta a dissecação de rios e sendo fator
preponderante na formação de água parada do tipo lagoas. O depósito Barreira expõe
fácies argilosa mais desenvolvida sotaposto a pacotes arenosos superficial.
Com efeito, em Fortaleza os depósitos Barreiras apresentam facies areno-
siltosa e arenosa com matriz argilosa, mostrando-se capeado por cobertura arenosa de
55
dunas atuais e subatuais (BRAGA et al, 1981), devido a essa fácies diminuem a
permeabilidade² do solo possibilitando o acúmulo de água e a formação de lagoas.
Quanto à espessura desta formação, pode-se dizer que ela aparenta ser
bastante variada, pelo fato da largura estar associada a superfície irregular do
embasamento cristalino, o qual foram depositados os sedimentos que constituem essa
formação, aprofundando-se em direção a costa, onde encontra-se sotoposta aos
sedimentos eólicos que constituem as paleodunas (SOUZA, 1988).
Estabelecer a separação nas coberturas sedimentares cenozóicas dos
sedimentos e a manta de intemperismo sobre as litologias pré-cambriana, não é fácil,
por vezes essa separação somente é possível quando é detectável restos de estrutura
metamórfica (BRANDÃO, 1994).
Assim como Brandão (1994) estabelece a dificuldade na distinção de
sedimentos das coberturas sedimentares cenozóicas Moura-Fé (2008) relata que fazer a
distinção entre os sedimentos da Formação Barreira e dos sedimentos eólicos edafizados
pode ser complicado, uma vez que ambos são constituídos de materiais arenosos de
características parecidas principalmente no que se refere à coloração. Sendo necessária
uma análise da estrutura sedimentar para determinar a separação.
Em alguns estados, a mesma pode está sobreposta a outras formações
formando grupo. Segundo Nichols (1999, p. 236) “Onde duas ou mais formações são
encontradas, associadas mutuamente e compartilham certas características elas são
consideradas para formar um grupo”.
Segundo Baptista, et al (1984, p. 51) esta formação ocorre em diferentes
estados da federação: Amapá, Amazonas, Pará (Região Norte); Maranhão, Piauí, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia (Nordeste);
Espírito Santo, Rio de janeiro (Sudeste).
Verifica-se a presença de depósitos fluvio-aluvionares, que são
caracterizados basicamente por depósitos de areias, cascalhos, siltes e argilas, estes com
ou sem matéria orgânica, compreendendo os sedimentos fluviais, lacustres ou de
estuários recentes (SUGUIO, 2003).
______________________________________________________________________
2 permeabilidade é a propriedade de uma rocha que permite a passagem de fluidos através dela,
sem se deformar estruturalmente ou causar o deslocamento relativo das suas pares componentes. (Suguio,
2003, 75p)
56
Em Fortaleza um exemplo desses depósitos pode ser encontrado no médio
curso do rio Cocó. Nessas áreas os depósitos são constituídos de faixas estreitas, de
sedimentos de granulometria grossa, ao longo dos canais ativos, enquanto as planícies
de inundação apresentam uma constituição mais fina (SANTOS, 2006).
4.2.2 - A Geomorfologia.
A Formação Barreira, formação geológica predominante no município de
Fortaleza apresenta diferentes feições geomorfológicas, podendo a mesma ser
representada na forma de planícies litorâneas e terraços fluviais e tabuleiro costeiros
(SOUZA, 1988).
As coberturas sedimentares continentais estão relacionadas à deposição de
sedimentos de origem continental e marinha durante o cenozóico. Suas principais
unidades são as dunas móveis e fixas, a planície fluvio-marinha, as planícies fluviais,
lacustres e fluvio-lacustre, os sedimentos areno-quartzosos e os tabuleiros pré-litorâneos
da Formação Barreira (SANTOS, 2006).
A Formação Barreira tem uma superfície tabular, sendo o relevo do seu topo
denominado de Tabuleiros Costeiros. Os Tabuleiros Costeiros margeiam toda a costa
cearense e são levemente inclinados em direção ao mar, com aproximadamente cinco
graus (CLAUDINO SALES, 2005).
Os tabuleiros costeiros são relevos que afloram também em diversos setores
mais internos do continente como manchas dispersas, comprovando que a cobertura
chegou a ter uma maior abrangência espacial (SOUZA, 1989).
Os tabuleiros penetram cerca de 40 km em média para o interior, onde
apresentam níveis altimétricos de 80 metros podendo chegar a 100 metros nas partes
internas do continente, com efeitos mergulham de maneira suave quase que
imperceptível, com declives de aproximadamente 5 graus até o nível do mar (SOUZA,
1988).
A caracterização da planície litorânea de Fortaleza e formada por uma faixa
de terra constituída por sedimentos essencialmente arenosos de origem continental e
marinha, mobilizados e re-trabalhados pela ação dos ventos e abrasão marinha,
57
constituí-se de depósitos holocêniocos arenoquartzozos e areno-argilosos formando
dunas praias, terraços marinhos, manguezais e de modo mais localizados aluviões.
Os sedimentos quaternários dos depósitos flúvio-aluvionares, constituem as
mais típicas formas de deposição fluvial, bordejando longitudinalmente os principais
cursos fluviais como os da planície fluvial dos rios Pacoti, Cocó e Ceará-
Maranguapinho e seus afluentes. Sobre o domínio dos terrenos cristalinos as planícies
fluviais formam uma faixa estreita de terras compostas essencialmente por sedimentos
grosseiros, expondo níveis de terraços fluviais.
As planícies fluvio-marinhas são assim denominadas quando os cursos
fluviais ao se aproximarem das suas desembocaduras passam aos poucos a ter mais
contato com o ambiente marinho, principalmente através das águas salgadas que avança
continente adentro através das marés, sobre este aspecto o baixo cursos dos rios, as
planícies fluviais passam a ter novas características.
Elas são caracterizadas pelas ações mutuas de processos continentais e
marinhos, são ambientes gerados pela deposição de sedimentos dominados por argilas e
rico em matéria orgânica, onde a vegetação de mangue é desenvolvida. São formadas em
áreas onde se processa a mistura de água doce dos rios e lagoas costeiras, com água salgada
que penetra no continente através das marés (BRANDÃO, 1995).
As planícies lacustres e flúvio-lacustres são áreas de acumulação de
sedimentos que bordejam lagoas, como as da área de estudo em questão, e áreas
aplainadas e/ou deprimidas com problemas de drenagem, sujeitas periodicamente às
inundações. São ambientes de origem fluvial, freática ou mista em áreas precariamente
incorporadas à rede de drenagem, constituídas por sedimentos coluviais e lagunares
areno-argilosos.
O que melhor identifica a planície litorânea do Ceará, de forma mais geral, é
a ocorrência de um extensivo cordão de dunas, refletindo a ação predominante da ação
eólica. Onde as dunas móveis recentes, geralmente móveis, têm uma coloração amarelo-
esbranquiçada, não apresentam indícios de ação pedogenéticas. A inexistência de
cobertura vegetal justifica o trabalho continuo da migração dos sedimentos. Os efeitos
delas são traduzidos através de evidências variadas, margeando as embocaduras fluviais,
capeando paleodunas e restingas ou níveis dos tabuleiros. A altura delas varia de 30 a 50
metros, dependendo da incidência dos ventos (LIMA, 2000).
58
As dunas mais antigas possuem areias com tons vermelho-amarelado.
Possuem dunas menos elevadas que as dunas mais recentes, em alguns pontos as formas
foram dissipadas, principalmente através da ação antrópica, elas são posicionadas à
retaguarda das dunas móveis. Mostram-se revestidas por vegetação, o que detém ou
atenua os efeitos da deflação eólica. A ação pedogenética mais efetiva favorece a
fixação de um recobrimento herbáceo-arbustivo. A estrutura dessas dunas exibe
estratificação cruzada, evidenciando variações nas direções dos ventos (LIMA et al,
2000, p.21).
A depressão sertaneja é outra importante feição morfológica que se expõe
através dos pedimentos que se inclinam desde a base dos maciços residuais e dos
planaltos sedimentares. O caimento topográfico é feito no sentido dos fundos dos vales
e do litoral, elas estão situadas em níveis altimétricos inferiores a 400 m, englobando
cerca de 1000.000 km², quase 70% do território do Estado do Ceará. Elas são marcadas
pela primazia de topografia planas ou levemente onduladas, sendo as litologias que as
compõem representadas pelas rochas do Complexo Nordestino (LIMA et al, 2000).
ocorrência de dois ambientes de exceção são representados pelo Morro
Caruru e Ancuri, esculpidos sobre rochas vulcânicas alcalinas geneticamente associadas
ao vulcanismo terciário do arquipélago de Fernando de Noronha (BRANDÃO et. al,
1995). O primeiro tem forma de neck vulcânico situado próximo à foz do rio Pacoti e o
segundo em crista residual no extremo sul do município.
4.2.3 Caracterização Climática e Hidrográfica.
A região onde está inserida a Lagoa da Maraponga, pela sua localização
geográfica próxima a zona litorânea, está inserida no domínio do clima tropical sub-
úmido. No litoral, ocorre uma maior intensidade da atuação dos sistemas atmosféricos,
que geram índices de precipitação mais elevados em relação aos do interior do Estado.
Entretanto, embora estes índices sejam mais importantes, se apresentam distribuídos de
forma sazonal, com variabilidade acentuada no tempo, onde está caracterizada pela
divisão de dois períodos, sendo um seco e o outro chuvoso, com duração de
aproximadamente seis meses podendo variar de acordo com a intensidade dos fatores
climáticos.
59
Existem vários fatores responsáveis pelas características climáticas da
região, dentre os quais se destacam os sistemas atmosféricos. O seu entendimento tem
sido de fundamental importância para as relações que são estabelecidas entre os vários
elementos do clima e na formação da paisagem e sua dinâmica (ZANELLA, 2005).
No município de Fortaleza, bem como no Estado do Ceará, vários são os
sistemas atmosféricos que atuam no tempo e no clima, onde destes o de maior
importância é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é a responsável pelo
estabelecimento da quadra chuvosa na região.
A ZCIT passa a atuar de modo mais expressivo a partir de meados do verão
atingindo sua posição mais meridional no outono. No Hemisfério Sul chega a
aproximadamente 2 de Latitude Sul, entre os meses de fevereiro a abril, podendo
variar de acordo com a sua intensidade, ocasionando chuvas abundantes para toda a
região (ZANELLA, 2005).
Conforme mencionam Ferreira e Mello (2005), o deslocamento da ZCIT está
diretamente relacionado aos padrões de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre
o Oceano Atlântico Tropical (OAT). Quando as temperaturas estão mais elevadas no
Atlântico Sul a ZCIT se desloca para posições mais meridionais e se posiciona nas áreas
onde as águas encontram-se mais aquecidas.
De acordo com Ferreira e Mello (1995), o fenômeno do El niño, e/ou Dipolo
do Atlântico positivo geralmente estão vinculados a anos secos, enquanto anos
chuvosos relacionam-se à presença de La Nina e/ou Dipolo do Atlântico negativo.
Estes fenômenos estão associados às anomalias na temperatura da superfície
do mar (TSM), especialmente dos oceanos tropicais, mais precisamente no Oceano
Pacifico Equatorial. O aquecimento (El niño) ou resfriamento (La niña) que ocorrem
naquela bacia oceânica interfere na circulação atmosférica global e regional, produzindo
impactos no clima de diversas regiões do mundo como na região nordeste brasileira
(BERLATO e FONTANA, 2003).
60
Figura 06 -Rede de monitoramento do oceano e da atmosfera no Oceano Pacífico equatorial
(região onde ocorrem os fenômenos El Niño e La Niña).
Fonte: Berlato & Fontana (2003).
Segundo Bertolato e Fontana (2003) através da rede de monitoramento são
gerados modelos que tem a habilidade de prever as anomalias de TSM que caracterizam o
El Niño e a La Niña com certa antecedência, como por exemplo, o El Niño de 1997 previsto
ainda no final de 1996 e a La niña de 1998/2000 anunciada em junho de 1998 e se
iniciando no final daquele ano.
Sobre a Bacia do Atlântico Equatorial, incluindo o leste da Amazônia e semi-
árido nordestino aparece à predominância de um ramo de ar descendente que inibe a
formação de nuvens. Sendo esta a explicação física pela qual o fenômeno do El Niño está
associado com as nuvens abaixo do normal, principalmente no norte do semi-árido
nordestino, incluindo o Estado do Ceará (FUNCEME, 2005).
Por volta do mês de maio devido à diminuição das temperaturas do oceano
no hemisfério Sul, a ZCIT inicia seu retorno em direção ao Hemisfério Norte, que é
quando então entra em declínio o período chuvoso na região .
Os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior ou Altos Níveis (VCAS ou VCAN),
juntamente com as linhas de instabilidade, processos convectivos de meso-escala e as
ondas de leste são outros sistemas secundários que se manifestam na região e são de
suma importância na ocorrência de chuvas no município de Fortaleza.
61
As VCAS proporcionam chuvas principalmente na pré-estação chuvosa e se
estende até o mês de março, sendo o seu pico de maior intensidade nos meses de janeiro
e fevereiro (GAN e KOUSKY, 1982).
Eles formam-se no Oceano Atlântico e penetram no continente,
principalmente entre os meses de novembro e março, sendo a sua trajetória
normalmente no sentido leste/oeste, o tempo destes sistemas é em média de uma a duas
semanas (FERREIRA e MELLO, 2005).
As linhas de instabilidade que são grupos de nuvens causadoras de chuvas
principalmente nos meses de fevereiro e março, são organizadas em forma de linha, por
isso o nome, sendo que a proximidade da ZCIT contribui para o incremento delas dando
um maior poder de ação (ZANELLA, 2005).
Elas são formadas basicamente, devido aos elevados índices de radiação
solar sobre a região tropical ocorre o desenvolvimento dessas nuvens cumulus, que
atingem o número maior à tarde e inicio da noite, quando a convecção é máxima, com
chuvas como conseqüência (FERREIRA e MELLO, 2005).
Os processos convectivos de meso-escala atuam no período chuvoso e
ocorrem de forma isolada, geralmente associados a dias de chuva extrema, eles são
grupos de nuvens que gerados a partir de condições favoráveis locais, como por
exemplo, pressão atmosférica, temperatura, condição do relevo, dentre outros fatores.
Juntamente com as chuvas extremas se associam fortes rajadas de vento (FERREIRA e
MELLO, 2005).
As Ondas de Leste que são responsáveis pelas chuvas de junho e julho, são
formadas na faixa tropical do globo terrestre na área sobre influência dos ventos alísios,
as nuvens formadas se deslocam de leste para oeste, elas atravessam todo o oceano
atlântico até o litoral brasileiro (FERREIRA e MELLO, 2005).
Além desses sistemas, as brisas também podem influenciar na formação de
chuvas na área costeira de Fortaleza. Contudo, na maior parte do tempo, a área fica sob
a ação do Anticiclone do Atlântico Sul (AAS), responsável pelas condições estáveis do
tempo.
62
- Caracterização dos parâmetros Climáticos
As condições climáticas da área de estudo em questão, serão analisados a
partir de dados disponíveis do município de Fortaleza, mais precisamente da estação
meteorológica do Campus do PICI, localizada no referido município, uma vez que a
lagoa da Maraponga também se encontra nesse município e apresenta todo os
parâmetros climáticos necessários a caracterização do clima.
O período em análise está compreendido entre os anos de 1966 e 2005,
portanto de 40 anos para os dados de precipitação anual e de 30 anos para a precipitação
mensal, temperatura média, umidade relativa, ventos, insolação, nebulosidade e
evaporação, compreendido entre os anos de 1972 e 2001.
TABELA 01 PRECIPITAÇÃO ANUAL DE FORTALEZA (1966-2005)
Ano
Precipitação
Ano
Precipitação
Ano
Precipitação
Ano
Precipitação
1966
1335,8
1976
1416,5
1986
2265,8
1996
1667,7
1967
1949,7
1977
1943,8
1987
1293,8
1997
975,5
1968
1379,2
1978
1500,1
1988
1757,9
1998
1182,0
1969
1799,2
1979
987,5
1989
1732,4
1999
1344,6
1970
1190,7
1980
1079,0
1990
974,8
2000
1797,6
1971
2089,0
1981
1109,1
1991
1512,6
2001
1438,2
1972
1418,0
1982
1135,9
1992
1165,7
2002
1734,9
1973
2287,8
1983
958,2
1993
945,1
2003
2346,2
1974
2796,6
1984
2007,1
1994
2414,6
2004
1851,3
1975
1809,8
1985
2900,1
1995
2116,6
2005
1178,9
Fonte : Posto meteorológico do Campus do Pici.
63
A diferença entre o maior e o menor índice pluviométrico foi de 1.955mm,
enquanto a média do período é de 1.619,17mm. Nos anos secos os problemas estão
relacionados principalmente falta de recursos hídricos, o que apresenta graves
conseqüências para à agricultura.
É importante salientar que os fenômenos climáticos responsáveis pela chuva
nessa região provocam alterações sociais, uma vez que, a escassez da água repercute
nos processos migracionais de moradores do campo para a cidade, provocando inchacos
populacionais, enquanto nos anos chuvosos registra-se com grande freqüência,
inundações, com prejuízos não menos danosos, principalmente nas periferias das áreas
urbanas, devido aos elevados índices de capeamento dos solos o que diminui a
infiltração da agua aumentando assim o escoamento superficial e da ocupação
desordenada dos canais fluviais.
Figura 07 - Precipitação Anual de Fortaleza (1966-2005)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Anos
Precipitação (mm)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
É possível observar no gráfico da figura 08 que alem da variabilidade da
precipitação no decorrer do ano, tem-se ainda, uma distribuição sazonal muito
acentuada da chuva no decorrer do ano. O trimestre de maiores índices pluviométricos
corresponde aos meses de março, abril e maio, onde se concentra 63% das chuvas
ocorridas, período de maior influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
64
Durante o período seco, quando os índices pluviométricos tornam-se
efetivamente baixos, deve-se à atuação do Sistema Tropical Atlântico (STA), que tem
seu centro de ação no anticiclone do Atlântico Sul.
Tabela 02 - Parâmetros Climáticos para a cidade de Fortaleza (1972-2001)
PARÂMETRO
CLIMÁTICO
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Predcipitação
(mm)
116,8
199,6
339,4
349,2
220,4
162,6
82,7
33,9
26,9
12,8
12,3
41,5
Temperatura
Média (oC)
27,3
27,0
26,6
26,6
26,5
26,2
26,0
26,4
26,8
27,3
27,5
27,6
Umidade
Relativa (%)
78
80
84
84
82
80
78
75
73
73
74
75
Evaporação
Piche (mm)
120,7
95,2
73,0
66,9
82,3
96,7
119,4
152,8
153,8
164,1
154,7
140,8
Velocidade dos
Ventos (m/s)
3,6
3,4
2,7
2,6
3,1
3,3
3,7
4,4
4,7
4,7
4,5
4,1
Nebulosidade
(décimos)
5,8
6,2
6,5
6,4
5,6
4,8
4,5
3,8
4,0
4,3
4,5
4,8
Insolação
(horas)
223,0
177,3
155,1
152,1
209,5
235,1
263,2
289,3
275,1
285,6
280,7
264,6
Fonte : Posto meteorológico do Campus do Pici.
65
FIGURA 08 - Precipitação (mm) Média Mensal de Fortaleza (1972-2001)
116,8
199,6
339,4
349,2
220,4
162,6
82,7
33,9
26,9
12,8
12,3
41,5
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
500,0
jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Precipitação (mm)
Fonte: Posto Meteorológico do Pici.
É importante destacar, entretanto, a variação diurna da temperatura, que
apresenta elevados valores durante o dia e valores mais amenos durante a noite. A
variação térmica dio-noturna é importante para o desenvolvimento dos processos
intempéricos físicos, contribuindo para a formação da paisagem local.
Quando fala-se da temperatura pode-se dizer que a mesma se apresenta
praticamente estável ao longo do ano, sendo esta uma característica típica das regiões
tropicais, onde as amplitudes térmicas variam muito pouco. A média gira em torno de
26,8°C. Na tabela. 02 e no gráfico da figura 09 encontram-se registradas e visualizadas
as temperaturas médias mensais para o município de Fortaleza.
66
0
5
10
15
20
25
30
35
jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 09- Temperatura (°C) média mensal de Fortaleza (1972-2001).
Fonte:
Posto Meteorológico do PICI.
Em se tratando da umidade relativa do ar, observa-se que os valores guardam
uma relação direta com a precipitação. Apresentam-se mais elevados durante o período
chuvoso (entre fevereiro e maio) e mais baixos no período seco, principalmente entre
setembro e novembro. Os valores médios variam de 73% para os meses de setembro e
outubro a 84% para março e abril, como pode ser observado na figura 10. Apesar da
variação sazonal significativa na umidade relativa, a proximidade do oceano assegura
valores relativamente elevados para todos os meses do ano.
50
55
60
65
70
75
80
85
90
jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 10- Umidade Relativa (%) média mensal de Fortaleza (1972-2001)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
67
A nebulosidade, da mesma forma, apresenta relação com a precipitação, com
valores mais elevados durante os meses de maior pluviosidade e mais baixos nos meses
mais secos. Os valores médios variam de 6,5 décimos em março a 3,8 décimos em
agosto (tabela 02 e figura 11).
FIGURA 11 - Nebulosidade (décimos) média mensal de Fortaleza(1972-2001)
5,8
6,2
6,5
6,4
5,6
4,8
4,5
3,8
4
4,3
4,5
4,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Nebulosidade (décimos)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
A insolação como pode ser observado na figura 12, ao contrário, da forma
como se apresenta a nebulosidade mostra-se mais elevada no período seco, por causa da
pouca incidência de nuvens que são as responsáveis pela chuva no primeiro semestre do
ano, portanto apresentando um menor índice nesse semestre.
FIGURA 12 - Insolação (horas) Média Mensal de Fortaleza (1972-2001)
223
177,3
155,1
152,1
209,5
235,1
263,2
289,3
275,1
285,6
280,7
264,6
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
500,0
jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Insolação (horas)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
68
Com relação aos ventos durante todos os meses do ano sopram ventos do
quadrante E-SE pela influência acentuada do anticiclone do Atlântico Sul, sistema de
alta pressão de onde se originam os alísios de SE. Contudo, no período das chuvas, tem-
se também, embora pouco expressiva, a presença de ventos de NE, influenciados pela
posição mais meridional da ZCIT.
A velocidade dos ventos apresenta-se maior no período seco (Figura 13),
destacando-se os meses de setembro (4,7 m/s), outubro (4,7 m/s) e novembro (4,5m/s),
época em que a mídia tevelisiva chama de temporada dos ventos quando atingem as
maiores velocidades dias, período em que o centro de ação do anticiclone do
Atlântico sul encontra-se mais fortalecido. As menores velocidades são observadas nos
meses de abril e março com valores médios de 2,6 e 2,7 m/s, respectivamente.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 13- Velocidade média mensal dos ventos (m/s) e Fortaleza (1972-2001)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
A evaporação apresenta-se elevada nos meses em que atuam ventos de maior
velocidade e os índices de insolação também se apresentam elevados. Destaca-se o mês
de outubro com o maior índice de evaporação, coincidindo com o mês de maiores
velocidade dos ventos, com índices de insolação também altos, conforme pode-se
observar no gráfico da figura 14.
69
FIGURA 14 - Evaporação piche (mm) Média Mensal de Fortaleza (1972-2001)
120,7
95,2
73
66,9
82,3
96,7
119,4
152,8
153,8
164,1
154,7
140,8
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
140,0
160,0
180,0
200,0
jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Evaporação piche (mm)
Fonte: Posto Meteorológico do PICI
- Análise do Balanço Hídrico
A tabela 03 contém dados relativos ao Balanço Hídrico do município de
Fortaleza, município onde está inserido a Lagoa da Maraponga. Sua análise visa à
avaliação do regime hídrico e uma tipologia climática para a área.
É possível observar de acordo com referidos dados, os valores de
precipitação em relação a evapotranspiração potencial (P-ETP), apresentam-se positivos
por ocasião do período chuvoso, (fevereiro a maio), o que implica em potencial de água
no solo, o que por sua vez repercute no pleno desenvolvimento das plantas, no
armazenamento de água nos aqüíferos e no escoamento superficial, havendo, portanto,
disponibilidade de recursos hídricos para a área.
Os valores médios mensais de evapotranspiração (ETP) são elevados, sendo
superiores a 115mm e totalizam 1.693mm anuais. Já os de evapotranspiração real
variam de 147mm em março para 15mm em novembro, apresentando um índice médio
anual de 1114mm, tendo-se portanto uma deficiência hídrica de julho a janeiro,
correspondendo, assim, ao período em que falta água no solo.
70
Portanto o excedente hídrico ocorre entre os meses de fevereiro e junho, que
chegam a totalizar 583mm, saturando a água no solo, que é assim, incorporada à rede de
drenagem superficial.
O estudo do balanço hídrico serviu ainda para estabelecer uma tipologia
climática para a área em estudo, de acordo com a classificação proposta por
Thornthwaite e Mather (1955). Para Fortaleza, o resultado obtido indica o seguinte tipo
climático: C2 W1 A´a´, cujos significados dos símbolos encontram-se organizados na
tabela 03.
Tabela 03 Balanço Hídrico segundo Thornthwaite e Mather 1955.
Local: Fortaleza Ceará
Capacidade de armazenamento do solo: 100mm
MÊS
T
EP
Corr
ETP
P
P-ETP
NegAc
ARM
ALT
ETR
DEF
EXC
(ºC)
(mm)
(q)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
0
100
0
JAN
27,3
148
1,14
169
116
-53
-53
90
-10
126
43
0
FEV
27,0
142
1,02
145
199
54
0
100
10
145
0
43
MAR
26,6
134
1,09
147
339
192
0
100
0
147
0
192
ABR
26,6
134
1,01
136
349
213
0
100
0
136
0
213
MAI
26,5
133
0,99
131
220
89
0
100
0
131
0
89
JUN
26,2
127
0,92
117
162
45
0
100
0
117
0
45
JUL
26,0
123
0,93
115
88
-27
-27
117
17
71
44
0
AGO
26,4
131
0,94
123
33
-90
-116
48
-69
102
20
0
SET
26,8
138
0,94
130
26
-104
-220
17
-31
57
73
0
OUT
27,3
148
1,02
151
12
-139
-360
4
-13
25
127
0
NOV
27,5
153
1,03
157
12
-145
-505
1
-3
15
142
0
DEZ
27,6
155
1,11
172
41
-131
-636
0
-1
42
130
0
Totais
-
1667
-
1693
1597
-96
-
-
-
1.114
579
583
Médias
26,8
-
-
-
133
-
-
-
-
-
-
-
(Programa desenvolvido por Costa, 2006)
Índice de Aridez = 34,20 Significado dos Símbolos
Índice de Umidade = 34,44 T = temperatura ©
Índice Hídrico = 0,24 P = precipitação
C2 W1 A´a´ EP evapotranspiração potencial
Subúmido úmido ARM armazenamento de água no solo
Grande déficit na primavera ALT variação do armazenamento
Megatérmico ER estimativa da evapotranspiração real
Sem variação estacional da temperatura EXC excendente hídrico
DEF deficiência hídrica
71
- Condições Hidrográficas e Hidrogeológicas
O sistema hidrográfico da área de estudo é condicionado principalmente pela
sazonalidade das precipitações e pela água armazenada nos aqüíferos que alimentam e
regularizam os cursos d´água.
O sistema hidrográfico mais importante da área de estudo é a bacia do Rio
Cocó, como pode ser observado no mapa hidrográfico, que nasce na vertente oriental da
Serra da Aratanha, na cidade de Pacatuba. O seu curso tem cerca de 50 km de percurso
e uma área de cerca de 485 km² , ele nasce naquele embasamento cristalino, que é um
dos maciços residuais dispersos nas depressões sertanejas, atinge o seu médio curso nas
cidades de Maracanaú. (SEMACE, 2010).
Figura 15 Hidrografia de Fortaleza (Fonte: Observatório das Metrópoles, 2009).
72
em Fortaleza no seu baixo curso escoa suas águas sobre os Tabuleiros
Pré-litorâneos da Formação Barreiras e sobre os depósitos arenosos da planície
litorânea, esta última formada pelas dunas e praia, responsável em grande parte pela
introdução de grande quantidade de material em seu leito. Desaguando no Oceano
Atlântico, nos limites das praias do Caça e Pesca e de Sabiaguaba.
É importante salientar que no alto/médio curso mais precisamente entre os
município de Pacatuba as águas do rio são barradas pelo Açude Gavião um dos
responsáveis pelo abastecimento de água de Fortaleza.
As formas morfológicas pouco movimentadas da área litorânea, modeladas
em sedimentos e rochas permeáveis, condicionam, para os cursos d´água que drenam a
área, um fluxo hídrico lento, com pequena capacidade de transporte, depositando os
seus sedimentos em suas margens, formando faixas aluvionares e meandros. As águas
do rio Cocó ao interagirem com as águas do mar em suas desembocaduras, permitem o
desenvolvimento de planícies flúvio-marinhas, onde se desenvolve o ecossitema do
manguesal.
O escoamento fluvial acompanha o regime sazonal das precipitações. As
chuvas desta área, concentradas em um período de meses (janeiro a junho) e seguidas
por uma prolongada estação seca de 6 meses (julho a dezembro), geram um fluxo
hidrológico intermitente. Próximo ao oceano, alguns rios mantém o escoamento perene,
até onde há influência da maré.
No baixo curso do rio Cocó, as reservas subterrâneas são alimentadas pela
infiltração da água das chuvas, sendo que a capacidade de infiltração vai depender do
substrato geológico existente, uma vez que o relevo tabular propicia a infiltração. A área
é constituída por sedimentos da planície litorânea, muito permeáveis, o que aumenta a
capacidade de infiltração e a formação de um bom aqüífero. As reservas mais
significativas estão relacionadas ao aqüífero Dunar.
As Dunas são constituídas por areias quartzosas de origem marinha e
fluviomarinha, remobilizadas, e acumuladas pelo trabalho eólico, com alta porosidade e
permeabilidade, com totais bastante significativos de reservas. A profundidade média
varia de 56,1m a 6,8m. (MACROZONEAMENTO AMBIENTAL, 1998).
73
Atualmente um dos problemas mais graves, além da restrição em termos de
quantidade, é a qualidade da água, devido a poluição ocasionada pelos esgotos
domésticos, efluentes industriais, erosão dos solos, fertilizantes agrícolas, entre outras
fontes, o que gera a sua degradação, comprometendo a flora e a fauna aquáticas e o
abastecimento humano.
4.2.4 Classificação de solos e Cobertura Vegetal.
- Solos.
Os solos são entidades geoambientais que recebem influências diversas,
dentre elas o clima, ação biológica, relevo etc., em seus processos de formação ao longo
do tempo e que exibem os processos que os formaram ao longo do tempo.
O solo segundo LEINZ & AMARAL (1989: 65) pode ser definido como
sendo o produto final do intemperismo das rochas, caso as condições físicas, químicas e
biológicas possibilitem o desenvolvimento da vida vegetal junto a atividades de
microrganismos em íntima associação com a vida de vegetais mais desenvolvidos.
O solo é a resultante da ação conjunta dos agentes intempéricos sobre restos
minerais depositados e enriquecidos de detritos orgânicos; é, portanto um processo
natural de acumulação e evolução dos sedimentos minerais, aos quais se vão juntando
lenta e progressivamente restos e produtos orgânicos, pois a sua formação tem início no
momento em que as rochas entram em contado com o meio ambiente e começam a
sofrer transformações (VIEIRA 1988: 9).
Durante o contato com o meio ambiente o solo gerado pode estar susceptível
a erosão, sendo este fator influenciado pelo potencial de erosão, que está relacionado
com as propriedades dos componentes que formaram o solo.
Erosão é o processo de desprendimento e arraste acelerado das partículas do
solo causado pela água ou pelo vento. A erosão do solo constitui, sem dúvida, a
principal causa do depauperamento acelerado das terras. As enxurradas, provenientes
das águas de chuva que não ficaram retidas sobre a superfície, ou não se infiltraram,
transportam partículas de solo em suspensão e elementos nutritivos essenciais em
dissolução (LEINZ & AMARAL, 1989).
74
As modificações resultantes da ação dos fatores ambientais podem
corresponder a uma seqüência de eventos ou a um complexo de reações e/ou ao
arranjamento de materiais na massa do solo, promovendo alterações que se refletem nas
características morfológicas e/ou nas propriedades químicas, físicas e mineralógicas dos
solos (GUERRA & CUNHA 1996).
Na classificação dos tipos de solos será utilizado o mapa de tipologias de
solos de Fortaleza, do plano diretor participativo da prefeitura municipal de Fortaleza,
onde pode ser observada a presença de Neossolos flúvicos (AE), Quartizarênicos
(AMD) e Litólicos (RE), Planossolos Solódico (PLS e SS), Gleissolos (SK) e
Argissolos Vermelho-amarelo (PV). Ao lado das respectivas classes de solos, entre
parêntese estão as siglas da nomenclatura antiga dos solos, que foi utilizada no mapa.
Figura 16 - Mapa das Tipologias de Solos de Fortaleza (Fonte: PMF, 2006).
75
Os Neossolos Flúvicos são caracterizados por possuir solos pouco
desenvolvidos, gerados pelas deposições fluviais recentes e de natureza variada, onde
são individualizadas na área de influência dos rios e riachos.
Eles apresentam um horizonte “A” diferenciado sobreposto a um pacote “C”
composto por uma seqüência de camadas estratificada, geralmente sem relações
pedogenéticas entre elas, desta forma dificilmente ocorrem perfis que apresentem a
formação de um horizonte “B”. Eles variam de profundo a muito profundo,
morfologicamente as característica entre as camadas variam muito, principalmente no
que tange a textura, que pode variar entre arenosa e argilosa.
Os Neossolos Flúvicos são de natureza muito variada, dependendo
fortemente das características dos sedimentos aluviais que os formaram, podem
apresentar um horizonte glei ou horizontes de coloração pálida. São distróficos ou
eutróficos, podendo ou não apresentar salinidade ou sodicidade, é importante salientar
que este tipo de solo pode apresentar boa aptidão para a agricultura.
Em Fortaleza os neossolos fluvicos podem ser encontrados nas planícies
fluviais dos rios Cocó, Ceará, Pacoti e Maranguapinho, bem como em algumas lagos da
cidade como a Lagoa da Maraponga, área de estudo em questão, mais precisamente na
parte sul da lagoa, onde deságua um pequeno riacho.
Os Neossolos Litólicos,são solos que possuem limitações físicas para o
enraizamento das plantas em profundidade, pois alem de serem erosivos por causa de
declives acentuados, apresentam também dificuldade de infiltração da água no perfil do
solo (EMBRAPA, 2007).
É importante considerar nessa limitação de profundidade física a dureza da
rocha, pois arenitos e folhelhos (rochas sedimentares) permitem enraizamento mais
fácil do que do quartzito, ou ardósia (rochas metamórficas). A principal
recomendação para o uso agrícola nos Neossolos Litólicos são as pastagens porque
são solos rasos, e com limitação para o crescimento radicular em profundidade da
maioria das plantas.
Solos com horizonte A ou hístico, assentes diretamente sobre a rocha ou
sobre um horizonte C ou Cr ou sobre material com 90% (por volume) ou mais de sua
massa constituída por fragmentos de rocha com diâmetro maior que 2mm (cascalhos,
calhaus e matacões), que apresentam um contato lítico típico ou fragmentário dentro de
76
50cm da superfície do solo. Admite um horizonte B em início de formação, cuja
espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.
Estes solos são geralmente encontrados em áreas dissecadas, podendo ocupar
posições de encostas, em relevos que podem variar desde suave ondulado a
montanhoso, ou até mesmo escarpado, entre outras áreas em relevo praticamente plano.
Em suma estes solos ocupam áreas de predomínio da depressão sertaneja.
A contrario dos neossolos litólicos os neossolos quartzarênicos são muito
profundos, em geral são depósitos originados de depósitos arenosos apresentando
textura areia ou areia franca ao longo de pelo menos 2 m de profundidade. Como o
nome diz, o mineral da fração areia destes solos é o quartzo. Quartzo é um mineral
extremamente resistente ao intemperismo e desprovido de nutrientes. Os poucos
nutrientes que existem nesses solos estão concentrados na matéria orgânica
(EMBRAPA, 2007).
Essa classe de solos abrange as Areias Quartzosas não-hidromórficas
descoloridas, apresentando também coloração amarela ou vermelha. A granulometria da
fração areia é variável e, em algumas situações, predominam diâmetros maiores e, em
outras, menores. O teor máximo de argila chega a 15%, quando o silte está ausente.
A cor avermelhada dos neossolos quartzarênicos é dada por um pouco de
hematita (um óxido de ferro) que também está presente. Eles são solos muito
homogêneos. A única diferença entre os horizontes destes solos é devida à presença de
matéria orgânica nos primeiros 10 ou 15 cm. O horizonte A é seguido diretamente pelo
horizonte C, já que o alto teor de areia não permite formação de horizonte B.
Os neossolos quartzarênicos são consideradas solos de baixa aptidão
agrícola. O uso contínuo de culturas anuais pode levá-las rapidamente à degradação.
Práticas de manejo que mantenham ou aumentem os teores de matéria orgânica podem
reduzir esse problema. Culturas perenes, plantadas em áreas de Areia Quartzosas,
requerem manejo adequado e cuidados intensivos no controle da erosão, da adubação e
da irrigação, esta última, visando à economia de água. Caso contrário o
depauperamento da lavoura, acarretando baixas produtividades (EMBRAPA, 2007).
77
Por serem muito arenosos, com baixa capacidade de agregação de
partículas, condicionados pelos baixos teores de argila e de matéria orgânica, esses
solos são muito suscetíveis à erosão. Quando ocupam as cabeceiras de drenagem, em
geral, dão origem a grandes voçorocas.
Em Fortaleza esta classe de solo é encontrada mais abundantemente na
faixa de praia. Na área de estudo essa classe de solo também é localizada, na parte
leste da lagoa, embora seja em pequena quantidade. De acordo com a EIA/RIMA
feito pela GEOPLAN (1991: 58-59).
Os Planossolos Solódico são classes de solos que apresentam horizonte B
textural, normalmente com argila de atividade alta, saturação com sódio (100.Na+/T)
entre 6 e 15% nos horizontes Bt e/ou C, mostrando estes horizontes subsuperficiais
feições associadas com umidade (mosqueado e/ou cores de redução), em face da
drenagem imperfeita, apresentando problemas de encharcamento durante o período
chuvoso e ressecamento e fendilhamento durante a época seca (FUNCEME 2008).
São solos moderadamente profundos a rasos, raramente profundos, e
possuem de modo geral uma sequência de horizontes A, Bt e C. São imperfeitamente
drenados, de baixa permeabilidade e muito susceptíveis à erosão, em geral,
moderadamente ácidos a praticamente neutros, com alta saturação de bases, contendo,
nos horizontes subsuperficiais Bt e C, principalmente neste último, elevados teores de
minerais primários facilmente decomponíveis, fontes de nutrientes às plantas.
Apresentam, em geral, de textura arenosa no horizonte A e média ou argilosa, no Bt ,
com transição normalmente plana e abrupta ou clara, do A para o Bt (FUNCEME
2008).
O horizonte A é comumente fraco, possui uma espessura que variam de 30 a
100 cm, exceto em áreas onde a erosão é mais intensa, quando variam de 10 a 18cm. A
coloração mais freqüente varia de bruno escuro a bruno-amarelado escuro; a estrutura
apresenta-se maciça, pouco a muito pouco coesa ou em grãos simples, de consistência
solto, macio ou ligeiramente duro e muito friável ou friável, quando úmido.
O material originário é constituído, principalmente, por saprolito de gnaisses
e migmatitos do Pré-Cambriano Indiviso e de micaxistos do Pré-Cambriano (A), quase
sempre influenciados, superficialmente, por uma delgada cobertura de material
78
pedimentar. Nas áreas de várzea, associam-se a sedimentos argilos e siltosos do
Holoceno e siltitos da Formação Jaibaras. O relevo varia de plano a suave ondulado.
São fortemente limitados pela falta d'água em áreas semi-áridas, devendo-se
considerar, também, a saturação com sódio elevada, nos horizontes subsuperficiais,
fator de restrição importante para a maioria das culturas. Em fortaleza essa classe de
solo se apresenta de modo pontual no setor oeste como pode ser observado no mapa
tipológico de solos.
A vegetação no Planossolos Solódico é representada, predominantemente,
pela caatinga hiperxerófila, ocorrendo, ainda, a floresta ciliar de carnaúba e poucas
áreas com campos xerófilos e caatinga hiperxerófila. São solos bastante susceptíveis à
erosão, apresentando ligeiro excesso d'água no curto período chuvoso e um grande
ressecamento no período seco, tendo o horizonte Bt condições físicas pouco favoráveis
à penetração das raízes.
Os Gleissolos agrupam solos hidromórficos e salinos (halomórficos), pouco
diferenciados, com elevados teores de sódio, estes solos ocorrem normalmente em
regiões com clima permanentemente úmido tanto em planícies ribeirinhas como na
parte inferior das encostas adjacentes.
Esses solos são desenvolvidos em materiais inconsolidados e muito
influenciados por ocorrências de encharcamento prolongado. São constituídos por
material mineral, que apresentam horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm da
superfície do solo, por isso tal denominação.
Os gleissolos são solos tipicamente influenciados pela maré, por este fato,
pode também ser encontrados em algumas lagoas, principalmente as costeiras, e partes
da orla marítima ou nas faixas de transição entre planícies fluviais e litorâneas. Eles têm
como característica marcante a profundidade moderada, altas concentrações de sais,
textura indiscriminada e drenagem imperfeita. O material de origem é constituído por
sedimentos fluviais de natureza e granulometria variada.
Essa classe de solo tem o extrativismo vegetal como fonte de exploração
econômica, principalmente pelo aproveitamento da carnaúba, que são encontradas em
abundancia nessa classe de solo, bem como a pecuária que é pouco utilizada. Em
fortaleza os gleissolos podem ser melhor observados, através do mapa de tipologia, nas
79
desembocaduras dos rios Ceará, Cocó e Pacoti, bem como de forma isolada em algumas
lagoas.
Os Argissolos Vermelho-amarelo são grupos de solos bem intemperizados,
característicos de regiões com climas tropicais úmidos, que apresentam horizontes B
textural de acumulo de argila, ou seja, as partículas de argilas migram do horizonte A
para se depositarem no B. Por essa razão, este horizonte apresenta mais comumente
uma estrutura com agregados na forma de blocos revestidos por finas partículas de
argilas denominadas de cerosidade, devido a isto o horizonte A é menos argiloso que o
B.
É comum que os argissolos apresentem um horizonte E com coloração amis
clara que o A e o B, fato decorrente da iluviação da argila do horizonte superficial para
o horizonte situado abaixo, como dito acima. Em função desta iluviação de argila que
esta ordem recebe tal denominação. Normalmente ocorrem em situações de relevo com
inclinações mais acentuadas.
Este solos são formados a partir da degradação direta da rocha, sem haver a
necessidade de transporte para que haja a deposição, são bem drenados, porosos e de
textura variando de média a argilosa. Eles apresentam tonalidades de cores varmelho-
amareladas.
Os argissolos são encontrados em áreas de relevo plano e suave ondulado,
como os tabuleiros costeiros, por esse motivo é a classe de solo mais representativa em
Fortaleza, presente em quase toda a região como pode ser observada no mapa tipológico
de soos, bem como é a classe de solo mais encontrada na área de estudo com mais de
50% segundo a EIA/RIMA feito pela GEOPLAN (1991: 58-59).
- Cobertura vegetal
Na execução do programa de uso e ocupação do solo o conhecimento da
cobertura vegetal é de suma importância Brandão (1995), uma vez que, a vegetação é
um recurso natural que fornece aos seres humanos enormes benefícios, para tanto
devendo ser preservada, sob a ótica de que em havendo essa devastação comprometer a
qualidade de vida futuramente.
80
Em Fortaleza assim como em outras áreas urbanas é notório o descaso com a
cobertura vegetal, principalmente em áreas lacustres, como por exemplo, a vegetação no
entorno de lagoas como a da Maraponga, que embora tenha sido criado um parque
ecológico, a aplicação deste não efeito de forma condizente, principalmente no que
tange aos esclarecimentos da população freqüentadora, para a preservação e
conservação da flora local.
É possível observar no mapa de cobertura vegetal de Fortaleza o elevado
grau de antropização vegetacional do município, uma vez que a mais de 257 km² do
município é recoberto por vegetação de cunho antrópico.
Figura 17 - Mapa da Cobertura Vegetal de Fortaleza (Fonte: PMF, 2006).
No mapa é possível observar as unidades de vegetação, onde Fortaleza, bem
como a área da Lagoa da Maraponga, faz parte do complexo vegetacional da zona
litorânea. Onde tal complexo engloba tipos diversos, tais como manguezal, a vegetação
das praias arenosas e dunas Kuhlmann (1977).
81
É importante salientar que os modelados de erosão e acumulação marinha,
fluviomarinha, eólicas e fluviais, são indicadores de estágios diferentes do litoral. São
elementos de fundamental importância para o estabelecimento da cobertura vegetal que,
em condições gerais, tendem a conferir maior ou menor condição fitoestabilizadora a
cada subunidade do complexo vegetal (LIMA, 2000, p50).
A vegetação da faixa praial é decorrente da maior ou menor proximidade do
mar. O agrupamento mais próximo o mar, como o que acoberta a alta praia ou a berma.
Abaixo do nível de berma, porção que é submetida a variação das marés apresentam
sedimentos lavados e devido a isto praticamente não tem vegetação, ficando a exeção
por parte das algas verdes que recobrem as rochas de praia ou setores esparsos da
plataforma de abrasão.
Na alta praia as espécies vegetacionais mais comuns são a Iresine
portulocoides (bredinho de praia), Remirea marítima (cipó de praia), Borreria marítima
(cabeça branca) e Sesuvium portulacastrum (beldroega de praia), entre outras (LIMA,
2000).
Seguindo sentido ao interior as vegetações que encontramos são as dos
campos de dunas fixas ou semi-fixas, onde a vegetação coloca-se como elemento
fundamental para justificar a mobilidade ou a retenção dos sedimentos arenosos, sendo
que as dunas móveis não têm qualquer revestimento vegetal.
As dunas semi-fixas possuem uma cobertura vegetacional esparsa, em tufos
e com plantas herbáceas dispostas descontinuamente sobre a superfície. Por vezes
podendo ocorrer esporadicamente plantas do porte arbustivo ou até arbóreo. Em geral a
vegetação herbácea e rastejante apresenta plantas que representam os primeiros estágios
sussecionais da comunidade primária (LIMA, 2000).
As espécies dominantes nesse ambiente são Indigofera macrocarpa (anil
miúdo), Alternanthera tenela (quebra pedra), Ipomoea asarifia (salsa), Iresine
portulocoides (bredinho de praia), Borreria marítima (cabeça branca) e Sesuvium
portulacastrum (beldroega de praia) e Canavalia obtusifolia (fava de boi).
As dunas fixas por serem de gerações mais antigas, encontram-se sobreposta
de cobertura vegetal de porte arbóreo geralmente denso e se colocam a retaguarda das
dunas móveis, no sentido interior entra em contato com a superfície dos tabuleiros da
Formação Barreira. Elas são submetidas às influências dos processos pedogenéticos e
82
as ações morfogenéticas se anulam em função do anteparo e das limitações impostas
pelo recobrimento vegetal.
As espécies vegetais mais encontradas nas unas fixas são a Anacardium
occidentale (cajueiro), Tocoyena formosa (jenipapim), Lantana câmara (camará),
Ouratea fieldingiana (batiputá), Byrsonima crassifólia (murici), Bauhinia ungulata
(mororó), Hymenoe courbaril (jatobá), Ziziphus joazeiro (juazeiro), Mouriri cearensis
(mandapuçá), Manilkara triflora (maracandula), Copaifera langsdorffíi (pau d`óleo),
Buchenavia capitata (amarelão), entre outras.
Na transição dos campos de dunas com os tabuleiros, desenvolve-se a
floresta a retaguarda das dunas, ela ocorre de modo descontinuo e em condições de
equilíbrio ecológico frágil. Nesse ecossistema é comum a presença de espécies vegetais
componentes de agrupamentos típicos das serras úmidas, subúmidas e das comunidades
das caatingas arbóreas (FIGUREDO, 1989).
A vegetação dos tabuleiros que se localizam após as dunas fixas no sentido
interior são bastante descaracterizadas em relação às condições originais, elas são
típicas dos glacis pré-litorâneos da Formação Barreira .
Para FERNANDES (1990), conjunto vegetacional dos tabuleiros não se
apresenta homogêneo, principalmente quando analisados pelo quadro fisionômico.
Considerando as plantas lenhosas, ele pondera que duas feições distintas podem ser
consideradas: a vegetação subperenifólia e a vegetação caducifólia.
Nesse caso a primeira abrange as áreas com argissolos e neossolos
quartzarênicos, sendo as plantas que compõem esse grupo tem geralmente o porte
arbustivo ou arbustivo/arbóreo. E à medida que os sedimentos da Formação barreira vão
diminuindo de espessura em contato com os solos das depressões sertanejas, passam a
prevalecer espécies caducifólias com as condições fisionômicas e florísticas que mais se
aproximam das caatingas sertanejas (LIMA, 2000).
Algumas das espécies encontradas na vegetação dos tabuleiros são a
Bauhinia ungulata (mororó), Bocoa mollis (café bravo), Ouratea fieldingiana
(batiputá), Guettarda angélica (angélica brava), Ceasalpinia bracteosa (catingueira),
Hitlla racemosa (azeitona do mato),. Solanum paniculatum (jurubeba), Ziziphus
joazeiro (juazeiro), Mouriri cearensis (mandapuçá), Anacardium occidentale (cajueiro),
entre outras.
83
A vegetação das planícies lacustres e fluivolacustre, que em tese eram pra
ser bastante rico. Uma vez que o sistema lacustre de Fortaleza é bastante desenvolvido,
por boa parte do seu território é de tabuleiro, o que propicia a formação de águas
paradas do tipo lagoas, que são oriundas tanto da alimentação fluvial como do lençol de
águas subterrâneas.
De forma geral as planícies lacustres suportam uma vegetação de porte
predominantemente herbáceo, composta principalmente de gramíneas. Na massa
d`água, é comum a presença de formas variadas de algas. nas planícies
fluviolacustres de maiores dimensões, uma vegetação de maior porte tende a ficar nas
suas margens, onde se verifica a presença de uma vegetação de porte e de fisionomia
variada (LIMA, 2000).
O mangue é a vegetação típica das planícies fluviomarinhas que se
desenvolvem ao longo dos estuários, gerados em terrenos em que a declividade é quase
nula e onde as correntes fluviais não têm mais a nima capacidade de entalhe na
superfície. Por estarem posicionados próximo das desembocaduras de fluviais, o
ambiente passa a sofrer influências continentais e marítimas.
A vegetação de mangue é densa e intricada, em função do crescimento das
espécies que lhes são típicas. Ela é composta de arvores e arbustos de portes variados.
Emite raízes adventícias de diferentes portes de troncos e de ramos, conferindo as
espécies maior superfície de sustentação nos solos que praticamente não tem
consistência. A escassez de arejamento nos solos indiscriminados de mangues viabiliza
o desenvolvimento de raízes respiratórias (LIMA, 2000, p54).
Segundo Fernandes (1990), o mangue, na sua área nuclear, forma uma densa
mata que tem um efeito assaz atenuante de microclima através de sua cobertura e da
diminuição de evaporação. Apresenta-se como um ambiente florestal denso com
espécies lenhosas.
As folhas da vegetação de mangues são geralmente pequenas, espessas,
brilhosa e coriáceas. As espécies típicas do litoral cearense são a Avicenna schaueriana
(mangue canoé), Rhizophora mangle (mangue verdadeiro), Laguncularia racemosa
(mangue sapateiro), Conocarpus erecta (mangue de botão), Senuvium portulacastrum
(beldroega de praia) e Iresine portutacoides (bretinho de praia).
84
Por serem ambientes ecológicamente dotado de fragilidade os manguezais,
bem como a vegetação fixadora de dunas, de tabuleiros e as da mata ciliar que falarei a
seguir são protegidos pelo código florestal em anexo. Os mangues apresentam,
,contudo, uma alta produtividade biológica influindo decisivamente na fertilidade
marinha, e além disse possui um importante significado como áreas de reprodução de
espécies animais, por estas razões, devem ser considerado como área de preservação
compulsória e permanente.
As matas ciliares são compreendidas ou denominadas de carnaubal e de
vegetação ribeirinha por Fernandes (1990), onde o carnaubal é a vegetação dominada
por este tipo de palmeira e que pode ser considerada pertencente às formações florestais.
Não apresentam, entretanto, as características próprias das primitivas florestas dicótilo-
palmácea. Já a vegetação ribeirinha bordeja as calhas fluviais em razão das melhores
condições oferecidas pelas partes marginais dos rios com solos aluviais mais férteis e
com maior teor hídrico.
Nas planícies fluviais desenvolvem-se os neossolos flúvicos que criam
condições para a instalação das matas ciliares ou galerias que têm como eixos
direcionais os maiores coletores de drenagem.
As principais espécies das matas ciliares são a Copernicia prunifera
(carnaúba), Erythrina velutina (mulungu), Geoffroea spinosa (umari), Coccoloba
latifólia (cuaçu), Licania rigida (oiticica), Lonchocarpus sericeus (ingazeira), Ziziphus
joazeiro (juazeiro), Auxemma oncocalyx (pau-branco), Combretum Leprosum
(mofumbo), Cróton sondertanus (marmeleiro preto).
85
5 - Uso e degradação dos recursos hídricos: o caso da lagoa do
Moraponga.
5.1 Diversidade de uso das águas continentais.
O consumo de água nas atividades humanas varia muito entre as diversas
regiões, seja global ou local. Os vários usos múltiplos da água e as permanentes
necessidades de água para fazer frente ao crescimento populacional e as demandas
industriais e agrícolas faz com que haja uma pressão permanente nos recursos hídricos
continentais.
Quando uma determinada área é desenvolvida para uso humano, ocorre o
aumento acelerado do escoamento superficial, devido à pavimentação e também pela
remoção da vegetação que é de fundamental importância para a recarga de aqüíferos.
Com efeito, muitos sistemas que retêm água são removidos, como lagoas que são
alimentadas por pequenos riachos que são transformados em galerias que passam a ser
interligados com esgotos clandestinos, que passam a poluir aquele sistema lacustre.
Os usos múltiplos da água podem incluir a irrigação, a utilização doméstica,
a recreação e o turismo. No interior do Ceará assim como em outros estados
principalmente do Nordeste as duas ultimas atividades são de extrema importância no
período chuvoso uma vez que tornam o acesso à recreação mais fácil e barato sem
contar com a beleza paisagística responsável por atrair turistas para o local promovendo
a alteração na economia local.
os corpos lacustres de Fortaleza são mais utilizados para as atividades
recreacionais, principalmente das classes menos favorecidas que são vedadas de
algumas atividades de lazer devido aos elevados custos e em como, por exemplo, nas
lagoas como a da maraponga, localizada na área de estudo, uma atividade de lazer
barata como veremos mais adiante.
A diversificação dos usos múltiplos da água ocasionado seja pelo
desenvolvimento econômico ou pelo social são responsáveis por produzir inúmeras
pressões e alterações na hidrologia da área afetada. Os benefícios do uso aquático ao
86
homem são múltiplos e variados principalmente na economia, mas quando não utilizada
de forma adequada tornam os impactos mais severos e complexos (TUNDISI,2005).
5.2 Deterioração das águas continentais.
O gama de ações produzidas pelas ações humanas ao explorar os recursos
hídricos para expandir o desenvolvimento econômico seja para as atividades agrícolas,
industriais ou ainda devido ao crescimento populacional principalmente em áreas
urbanas tem se tornado mais complexo, no que tange o manejo mais adequado desses
recursos.
É importante destacar a importância da percepção do custo beneficio que a
alteração de um ambiente hídrico pode acarretar, essa percepção é importante por
representar uma valoração adequada e necessária para cada ambiente aquático. A
valoração é fundamental para cálculos econômicos, valores de perda e também para
calcular os custos do tratamento e recuperação (TUNDISI, 2005).
A busca por melhorias na qualidade de vida da população através de
atividades que transformam o espaço é responsável também pela deterioração do
sistema aquático como podemos observar na tabela 4, que de forma simplificada mostra
as atividades humanas e seus respectivos impactos no ambiente aquático, bem como os
serviços que são alterados pelo impacto.
A contaminação das águas subterrâneas é uma fonte importantíssima de
deterioração dos recursos hídricos e das reservas de água doce disponíveis nas áreas
continentais, onde geralmente esta contaminação se processa através da percolação de
resíduos como, por exemplo, os de aterros sanitários ou de fertilizantes agrícolas que
infiltram no solo.
87
Tabela 04 As várias atividades humanas e o acumulo de usos múltiplos na produção
de diferentes ameaças e problemas para a disponibilidade de água.
Atividade humana
Impacto nos ecossistemas
aquáticos
Serviços em risco
Construção de represas
Altera o fluxo dos rios e o
transporte de nutrientes e
sedimento e interfere na
migração e reprodução de
peixes.
Altera habitats e a pesca
comercial e esportiva. Altera os
deltas e suas economias.
Construção de diques e canais
Destrói a conexão do rio com as
áreas inundáveis.
Afeta a fertilidade natural das
várzeas e os controles de
enchentes.
Alteração do canal natural dos
rios
Danifica ecologicamente os rios.
Modifica o fluxo dos rios
Altera habitats e a pesca
comercial e esportiva. Afeta a
produção de hidroelétrica e
transporte.
Drenagem de áreas alagadas
Elimina um componente-chave
dos ecossistemas aquáticos.
Perda de biodiversidade. Perda
de funções naturais de filtragem
e reciclagem de nutrientes, Perda
de habitats para peixes e aves
aquáticas.
Desmatamento/uso do solo
Altera padrões de drenagem,
inibe a recarga natural dos
aqüíferos, aumenta a
sedimentação.
Altera a qualidade e quantidade
da água, pesca comercial,
biodiversidade e controle de
enchente.
Poluição não controlada
Diminui a qualidade da água.
Altera o suprimento de água.
Aumenta os custos de
tratamento. Altera a pesca
comercial. Diminui a
biodiversidade e afeta a saúde
humana.
Remoção excessiva de biomassa
Diminui os recursos vivos e a
biodiversidade.
Altera a pesca comercial e
esportiva. Diminui a
biodiversidade. Altera os ciclos
naturais dos organismos.
Introdução de espécies exóticas
Elimina as espécies nativas.
Altera ciclos de nutrientes
Perda de habitats e a alteração da
pesca comercial. Perda da
biodiversidade natural e estoques
genéticos.
Poluentes do ar (chuva ácida) e
metais pesados
Altera a composição química de
rios e lagoas.
Altera a pesca comercial. Afeta a
biota aquática. Afeta a recreação
e a saúde humana.
Mudanças globais no clima
Afeta drasticamente o volume
dos recursos hídricos. Altera
padrões de distribuição de
precipitação e evaporação.
Afeta o suprimento de água,
transporte e produção de energia
elétrica, produção agrícola e
pesca, aumenta enchentes e
fluxo de água em rios.
Crescimento da população e
padrões gerais no consumo
Aumenta a pressão para a
construção de hidroelétricas e
aumenta a poluição da água e a
acidificação de lagoas e rios.
Altera o ciclo hidrológico.
Afeta praticamente todas as
atividades econômicas que
dependem dos serviços dos
ecossistemas aquáticos.
Fonte: Tundisi(2002).
88
Os problemas de deterioração das águas superficiais estão relacionados com
o crescimento e a diversificação das atividades agrícolas, o aumento da urbanização e o
aumento das atividades nas bacias hidrográficas, como foram evidenciados no estudo
desenvolvido pelo ILEC (International Lake Environment Committee) como pode ser
observado na síntese criada com base nesse estudo (Tundisi, 1999). Na figura 18
podemos observar os diferentes problemas e processos que estão diretamente
relacionados com a contaminação dos aqüíferos superficiais.
Figura 18: Principais problemas e processos relacionados com a
contaminação de águas superficiais.
Fonte: ( Kira, 1993; Tundisi,1999)
Diminuição dos
recursos hídricos
Transporte
de superfície
alterado
Perda de
diversidade
biológica
Perturbação e
deterioração da
pesca
Degradação da
qualidade da
água
Desaparecimento
dos ecossistemas
e da biota
Aumento do
material em
suspençção
Declínio do
nível de água
Contaminação
tóxica
Eutrofização
Acidificação
Uso excessivo do solo,
desmatamento, agricultura não
sustentavel
Uso excessivo
de águas
Aumento de população,
conseqüência de economia global
Industrialização
89
5.3 - Qualidade do recurso hídrico da lagoa da Maraponga
O presente trabalho utilizará os dados coletados pela Secretaria Municipal do
Meio Ambiente SEMAM, da Prefeitura Municipal de Fortaleza/PMF, por meio do
Laboratório Integrado de Águas de Mananciais e Residuárias LIAMAR, do Centro
Federal de Educação Tecnológica do Ceará/CEFET, no processo de análise da
qualidade da água da lagoa da Maraponga.
- Análise físico-químicas e bacteriológicas.
A lagoa da Maraponga possui um espelho d´agua de aproximadamente
85.000 segundo a SER V, onde foram selecionados três pontos de coletas para a
análise da qualidade da água (figura 19 ) no período de agosto de 2006 a maio de 2009,
o primeiro ponto fica na entrada do tributário principal 3°46‟140‟‟S / 38°34‟090‟‟W, o
segundo ponto fica no centro da lagoa de coordenadas 3°33‟977‟‟S / 38°46‟085‟‟W e o
terceiro ponto fica no sangradouro da lagoa 45‟870‟‟S / 38°33‟932‟‟W (SEMAM,
2008).
Figura 19: Pontos de coleta da água na lagoa da maraponga.
Fonte: (SEMAM, 2008)
90
Com efeito, a resolução do CONAMA 357, de 17 de março de 2005, para
efeito de classificação dos parâmetros de qualidade da água, onde a qual dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes sobre o seu enquadramento, as águas da
lagoa da maraponga estão especificadas no parâmetro de classificação II para águas
doces.
De acordo com a resolução do CONAMA 357/2005 as classes de água e
suas finalidades podem estar dispostas de forma simplificada para melhor compreensão
na tabela 05.
Tabela 05 - classificação das águas doces em relação a classe e sua
finalidade segundo a resolução do CONAMA 357/2005
Classe
Finalidade
especial
Ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;
À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação
de proteção ambiental
Classe I
Ao abastecimento para consumo humano,após tratamento
simplificado.
A proteção das comunidades aquáticas.
A recreação de contato primário, conforme a resolução 274/2000 do
CONAMA.
A irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção
de película
A proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas.
Classe II
Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento
convencional
A proteção das comunidades aquáticas
A recreação de contato primário, conforme a resolução 274/2000 do
CONAMA
A irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, de parques e jardins,
campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter um
contato direto.
A aqüicultura e a atividade de pesca.
Classe III
Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento
convencional ou avançado.
A irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrajeiras.
A pesca amadora.
A recreação de contato secundário
A dessendentação de animais
Classe IV
A navegação.
A harmonia paisagística.
91
Na Lagoa da Maraponga a SEMAM em conjunto com o LIAMAR/CEFET
utilizaram vários parâmetros dentre os quais neste trabalho de forma mais direta foram
destacados dezessete parâmetros constantes na tabela 06, que foi estabelecido segundo a
resolução 357/2005 e em especial os coliformes termotolerantes e a bactéria Escherichia
coli que tem os padrões estabelecidos segundo a resolução 274/2000, sendo ambas as
resoluções estabelecidas pelo CONAMA.
Tabela 06 - Padrões dos parâmetros da qualidade da água utilizado no trabalho para
classe I, segundo a resolução do CONAMA 357/2005.
Parâmetros
Valor Máximo
Cor (mg PT/L)
-
Turbidez (UNT)
≤ 40
Sólidos Totais (mg/L)
500
PH
6,0-9,0
Oxigênio Dissolvido - OD (mg/L O2)
> 6
Clorofila “a”μg/L
< 10
Cloretos mg/L Cl
< 250
Fósforos mg/L Ph
< 0,020
Ortofosfato solúvel (mg/L)
-
Sufatos (mg/L)
< 250
Sufeto (mg/L)
< 0,002
Nitrato (mg/L)
< 10,0
Nitrito (mg/L)
< 1,0
Demanda Bioquímica de Oxigênio DBO5
(mg/L O2)
< 3
Óleos e Graxas (mg/L)
-
Coliformes Termotolerantes
(NMP/100ml)
1000
Escherichia coli (NMP/100mL)
800
No intuito de facilitar a compreensão de alguns parâmetros pode-se de forma
simplificada definir que coliformes termotolerantes são consideradas bactérias gram-
negativas, em forma de bacilos, oxidase negativas, caracterizadas pela atividade da
enzima b-galactosidade. Podem crescer em mais contendo agentes tenso-ativos e
fermentar a lactose em temperaturas de 40-45°, com produção de ácido e gás. São
comunment3e encontrados em fezes humanas e de animais homeotérmicos (CONAMA,
2005).
92
A escherichia coli (E.coli) são bactérias pertencentes a família
enterobacteriacea, sendo ela caracterizada pela atividade da enzima b-glicuronidase, ela
é a única espécie do grupo dos coliformes termotolerantes cujo o habitat exclusivo é o
intestino humano e de animais homeotérmicos (CONAMA 2005).
O oxigênio dissolvido e suas inter-relações podem provocar variações que
ocorrem no epilimnio de lagoas durante os períodos diurnos e noturnos, que em
conjunto com o aumento do pH e a alta concentração de clorofila acarretam elevados
valores de saturação (TUNDISI, 2008).
Segundo Tundisi (2008, p.117) em muitas lagoas dos trópicos, aumentos de
pH e supersaturação de oxigênio dissolvido, acompanhados de depleção de oxigênio e
valores baixos de pH durante o período noturno dependem das macrofitas aquáticas.
O fósforo, bem como o nitrogênio e seus derivados são os principais
responsáveis pelo processo de eutrofização dos corpos lacustres, onde este pode ser
considerado como o crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto de algas
planctônicas e de macrofilas, a níveis tais que sejam considerados como causadores de
interferências com os usos desejáveis dos corpos d‟água (Thomann e Mueller, 1987).
Os sólidos encontrados podem ser de natureza variada e podem ser
provenientes de drenagem superficial das águas da chuva ou através das galerias que
além de trazerem água da chuva trazem resíduos urbanos através de ligações
clandestinas.
A turbidez pode ser considerada como o inverso da transparência e uma
medida da quantidade de materiais em suspensão. A clorofila “a” é outro parâmetro
importante pois é uma substância atuante no processo fotossintético a sua concentração
propicia o crescimento de espécies vegetais como algas.
- Resultado das análises para a lagoa da Maraponga
Com relação ás amostras que foram coletadas da lagoa da Maraponga, estas
foram realizadas a cada dois meses no decorrer do ano no período de agosto de 2006 a
maio de 2009 no total de dezessete amostras realizadas pela SEMAM, que foram
realizados em três pontos diferentes da lagoa como pode ser observado na figura 19.
93
Os parâmetros físico-químico e bacteriológico das amostras utilizam como
determinação padrão as especificações da Resolução CONAMA 357/2005, para águas
doces de classificação II, uma vez que possuem águas com salinidade igual ou inferior a
0,5%. Desta forma pode-se iniciar, de forma sucinta a discussão dos resultados das
amostras.
É possível observar na tabela 07 as propriedades físicas referentes a
temperatura, transparência, condutividade cor e turbidez no período de agosto de 2006
ao mês de novembro de 07. Na tabela 08 estão os dados de dezembro de 2007 até maio
de 2009.
Tabela 07
PROPRIEDADES
FÍSICAS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Temperatura (°C)
28
30,5
33,7
29,5
29
28
28
29
Transparência (m)
0,42
0,3
0,3
0,35
0,45
0,3
0,32
0,28
Condutividade (μS/cm)
463
549
591
323
335
471
601
725
Cor Verdadeira (uH)
29
24
36
53
37
31
23
25
Turbidez (uH)
16
17
19
23
17
14
15
16
Tabela 08
Propriedades
Fisicas
Dez/07-
jan/08
Fev-
mar/08
Abr-
mai/08
Jun-
jul/08
Ago-
set/08
Out-
nov/08
Dez/08
-jan/09
Fev-
mar/09
Abr-
mai/09
Temperatura(°C)
29,9
29,6
30
30
29
30,3
29,9
31,3
30
Transparência(m)
0,41
0,38
0,43
0,4
0,2
0,41
0,4
0,35
0,5
Condutividade(uS/
cm)
593
538
362
349
410
640
593
594
303
Cor (uH)
20
13
40
38
34
24
20
47
31
Turbidez (uH)
13
41
16
13
13
15
13
15
4
Na figura 20 que corresponde ao gráfico da temperatura e possível observar
que a temperatura da água da lagoa fica mais amena no período de agosto a setembro,
onde a temperatura começa a se elevar atingindo o seu ápice no período de dezembro a
janeiro onde a temperatura começa a decair.
94
0
5
10
15
20
25
30
35
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Propriedade Física
Temperatura
(°C)
Figura 20 - Gráfico da temperatura da água da lagoa no período analisado.
Nas figuras 21 e 22 podemos ver respectivamente o gráfico da transparência
e da condutividade, onde a transparência atinge índices mais elevados no período entre
agosto e setembro de 2006 e abril e maio de 2007 e 2009, provavelmente pelo aumento
da captação de água pluvial. A condutividade em contrapartida se mostra mais elevada
no segundo semestre, que coincide com o período de menor incidência de chuva.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Propriedade Física
Transparência
(m)
Figura 21 - Gráfico da transparência da água da lagoa no período analisado.
95
0
200
400
600
800
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Propriedade Física
Condutividade
(uS/cm)
Figura 22 - Gráfico da condutividade da água da lagoa no período analisado.
Na figura 23 pode-se observar o gráfico da cor verdadeira que se refere ao
nível de cor natural do corpo de água, onde o máximo de alteração no decorrer do
período analisado é de 53 mg PT/L, fato que ocorre entre o mês de fevereiro e março de
2007, período em que a lagoa recebe água da chuva através das galerias.
A resolução 357/05 prevê o índice de 75 mg PT/L como aceitável para
água doce, por tanto dentro da normalidade, sendo este talvez o fator preponderante na
resposta de alguns entrevistados, como veremos mais a frente, de considerar a água da
lagoa limpa.
0
10
20
30
40
50
60
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Propriedade Física
Cor
Verdadeira(uH)
Figura 23 - Gráfico da cor verdadeira da água da lagoa no período analisado.
96
A turbidez da lagoa no período analisado assim com a cor verdadeira tem o
seu ápice entre os meses de fevereiro e março de 2007 com o índice de 23 (UNT), e
como tal ficou dentro dos parâmetros estabelecidos (figura 24), portanto normal se
comparado com os índices da resolução 357/005 do CONAMA que prevê até 40
unidades nefelométricas de turbidez (UNT).
0
5
10
15
20
25
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Propriedade Física
Turbidez (uH)
Figura 24 - Gráfico da turbidez da água da lagoa no período analisado.
Na tabela 09 estão representa as frações sólidas localizadas na lagoa, onde
estão subdivididos respectivamente em sólidos totais, sólidos totais fixos, sólidos totais
voláteis, sólidos suspensos totais, sólidos suspensos fixos, sólidos suspensos voláteis e
sólidos dissolvidos totais.
Embora na tabela sejam apresentados às frações sólidas de forma
subdivididas, para efeito comparativo dos parâmetros da qualidade da água será
utilizado apenas os sólidos totais, onde a resolução 357/05 prevê até 500 mg/l , sendo
que apenas nos interstícios de abril-maio e agosto-setembro de 2007 as amostras
apresentam quantidade inferior ao estabelecido pela resolução.
97
Tabela 09
FRAÇÕES
SÓLIDAS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
ST (mg/L)
541
655
647
666
484
391
543
560
STF (mg/L)
237
477
459
304
243
323
398
491
STV (mg/L)
304
178
188
362
240
68
145
76
SST (mg/L)
37
23
37
31
15
25
20
17
SSF (mg/L)
14
14
6
9
4
10
6
8
SSV (mg/L)
24
9
30
22
11
14
14
8
SDT (mg/L)
487
632
610
635
469
366
523
543
Na figura 25 pode ser melhor observado através do gráfico a distribuição
dessas frações sólidas onde cada cor representa um interstício entre dois meses de
agosto de 2006 a novembro de 2007, e estão postas lado a lado o que possibilita uma
visão mais geral.
Maraponga - Frações lidas
0
100
200
300
400
500
600
700
ST
(mg/L)
STV
(mg/L)
SSF
(mg/L)
SDT
(mg/L)
(mg/L)
AGO-SET/06
OUT-NOV/06
DEZ/06-JAN/07
FEV-MAR/07
ABR-MAI/07
JUN-JUL/07
AGO-SET/07
OUT-NOV/07
Figura 25 - Gráfico das frações sólidas da água de agosto de 2006 à novembro de 2007.
No primeiro bloco de coluna especificamente pode-se observar os sólidos
totais, que é o parâmetro aqui comparado. Apenas duas colunas de cores não passam
dos 500mg/l, que são justamente os meses mencionados anteriormente e no interstício
fevereiro-março apresenta a maior concentração de sólido total, o que coincide com o
período chuvoso.
98
Na tabela 10 estão descritos respectivamente os parâmetros que tratam das
características limnológicas da água no que se refere à alcalinidade, dureza total, pH,
oxigênio dissolvido e clorofila “a”.
Tabela 10
CARACTERÍSTICAS
LIMNOLÓGICAS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Alcalinidade (mg
CaCO3/L)
79,1
83
68
66
67,6
174
165,6
191,6
Dureza Total (mg
CaCO3 /L)
170,4
109
124
131
78,8
99
111,8
126,3
pH
7,7
7,98
8,28
7,51
7,3
7,8
8,2
8
Oxigênio Dissolvido
(mg/L)
8,7
7,99
7,34
7,78
6,59
4,99
8,8
5,3
Clorofila "a" (μg/L)
16,5
22,1
16,7
38,8
55,5
46,1
25,76
21,84
Na figura 26 estão representados no gráfico os dados referentes à
alcalinidade e dureza total em (mgCaCO3/L) na forma de colunas paralelas. Podemos
observar que a alcalinidade e a dureza total não têm uma regularidade anual, podendo
ser observada no interstício de agosto-setembro de 2006 e de 2007, onde no primeiro a
alcalinidade se apresenta mais amena que a dureza e no ano seguinte a alcalinidade se
apresenta mais acentuada.
Maraponga - Características Limnológicas
0
50
100
150
200
250
AGO-
SET/06
DEZ/06-
JAN/07
ABR-
MAI/07
AGO-
SET/07
(mg CaCO3 /L)
Alcalinidade (mg
CaCO3/L)
Dureza Total (mg
CaCO3 /L)
Figura 26 - Gráfico da alcalinidade e dureza total da água da lagoa.
99
Na figura 27 esta o gráfico das características limnológicas do pH da água,
onde segundo a resolução 357/05 do CONAMA estabelece um padrão de 6 a 9 para o
pH. As amostras mostraram que o pH da água da lagoa está dentro dos padrões
adequados ficando entre 7,3 e 8,28 mostrando uma característica básica da qualidade da
água.
Maraponga - Características Limnológicas
7
7,2
7,4
7,6
7,8
8
8,2
8,4
AGO-
SET/06
DEZ/06-
JAN/07
ABR-
MAI/07
AGO-
SET/07
pH
pH
Figura 27 - Gráfico do pH da água da lagoa.
O oxigênio dissolvido é um dos principais elementos no metabolismo dos
microorganismos aeróbicos que habitam as águas e como tal é um parâmetro que não
podia deixar de ser analisado como é no caso da figura 28 que expressa o gráfico do
oxigênio dissolvido no período de agosto de 2006 a novembro de 2007.
A poluição pode causar a diminuição nas concentrações médias de Oxigênio
Dissolvido (OD) na água, a partir do momento em que a matéria orgânica começa a se
formar na lagoa ocorre à proliferação de plantas aquáticas, uma nima quantidade de
oxigênio é produzida para equilibrar uma eventual perda de oxigênio durante a
decomposição.
Segundo relatório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2010), a
relação OD e causa pode ser posta da seguinte forma, onde zero de OD causa anoxia
que é a ausência total de oxigênio; de 1 a 2 é pobre a presença de OD; de 3 a 5 de OD
causa estresse e de 7 a 14 de OD o meio pode ser considerado normal.
100
Segundo a resolução 357/05 as taxas de oxigênio dissolvido (OD) não
podem ser inferiores a 6 mg/l, e como pode-se observar no gráfico em duas
oportunidades os níveis de OD estão inferiores ao estabelecido no inicio do segundo
semestre de 2007, bem como do meio para o fim deste semestre.
Maraponga - Características Limnológicas
4
5
6
7
8
9
10
AGO-
SET/06
DEZ/06-
JAN/07
ABR-
MAI/07
AGO-
SET/07
Oxigênio Dissolvido (mg/L)
Oxigênio Dissolvido
(mg/L)
Figura 28 - Gráfico do oxigênio dissolvido na água da lagoa.
Um importante grupo de pigmentos fotossintéticos produzidos nos
cloroplastos das folhas e em outros tecidos vegetais á a clorofila. Eles são responsáveis
pela cor verde das plantas funcionando como um fotorreceptor da luz visível utilizada
no processo de fotossíntese.
A clorofila a” é a espécie de clorofila encontrada nas plantas verdes, sendo
um dos parâmetros limnológicos utilizados na qualidade da água como pode ser
observado na figura 29. Segundo a resolução 357/05 estabelece que o valor máximo de
clorofila “a” é de 10 μg/L.
No gráfico é possível observar que em nenhuma das amostras colhidas está
dentro dos padrões estabelecidos, sendo que a primeira amostra a que mais se aproxima
com 16,5 μg/L e a maior delas tem mais de cinco vezes o valor previsto com um total de
55,5 μg/L no primeiro semestre de 2007.
101
Figura 29 Gráfico da clorofila “a” encontradas na água da lagoa.
Na tabela 11 estão presente os dados referentes aos metais que foram
encontrados presentes nas amostras de água coletadas na lagoa da Maraponga no
período analisado, mesmo que tenha sido apresentado apenas em uma das amostras e na
tabela 12 estão os metais e o máximo permitido na água. Os metais estão distribuídos na
tabela respectivamente zinco, manganês, níquel, cobre, cádmio, ferro e mercúrio.
Tabela 11
METAIS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Zn (mg/L)
0,043
0,022
0,001
0,021
0,027
0,033
0,042
0,031
Mn (mg/L)
0,023
0,035
0,03
0,064
0,034
0,006
0,03
0,034
Ni (mg/L)
0,017
0,02
0,003
0,006
0,008
0,015
0,001
0,001
Cu (mg/L)
0,007
0,006
0,006
0,002
0,004
0,003
0,005
0,006
Pb (mg/L)
0,005
0,012
0,011
0,015
0,012
0,003
0,008
0,009
Cd (mg/L)
0,0001
0,001
0,003
0,003
0,001
ND
NND
ND
Fe (mg/L)
0,2
0,152
0,177
0,432
0,172
0,074
0,215
0,215
Hg (mg/L)
0,00005
ND
ND
ND
ND
ND
ND
ND
Maraponga - Características Limnológicas
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
AGO-
SET/06
DEZ/06-
JAN/07
ABR-
MAI/07
AGO-
SET/07
Clorofila "a" (μg/L)
Clorofila "a" g/L)
102
Tabela 12
Na figura 30 está o gráfico dos metais distribuídos mensalmente, é
importante salientar que todos os metais localizados nas amostras de água estão dentro
das especificações da resolução 3567/05, tabela V, mas não pode-se deixar de perceber
que na amostra coletada entre fevereiro e março o índice de ferro é muito superior aos
coletados nos outros meses, provavelmente pelo aumento de captação de água da chuva
através das galerias que também trazem poluentes.
Maraponga - Metais
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
Zn
(mg/L)
Ni
(mg/L)
Pb
(mg/L)
Fe
(mg/L)
(mg/L)
AGO-SET/06
OUT-NOV/06
DEZ/06-JAN/07
FEV-MAR/07
ABR-MAI/07
JUN-JUL/07
AGO-SET/07
OUT-NOV/07
Figura 30 -Gráfico dos metais localizados na água da lagoa.
Os não-metais são outros parâmetros que forma apresentados como podemos
ver na tabela 13, onde estão dispostos os cloretos, fósforos, ortofosfatos, sufatos,
sufetos, nitrito, nitrato e amônia que também foi localizado nas amostras de água. Na
seqüência podemos dizer que os cloretos coletados estão dentro dos padrões
estabelecidos como podemos ver na tabela 06.
Parâmetros
Valor Máximo
Zinco (mg/L)
0,18 mg/L Zn
Manganês (mg/L
0,1 mg/L Mn
Níquel (mg/L)
0,025 mg/L Ni
Cobre (mg/L)
0,009 mg/L Cu
Chumbo (mg/L)
0,01mg/L Pb
Cádmio (mg/L)
0,001 mg/L Cd
Ferro (mg/L)
0,3 mg/L Fe
Mercúrio (mg/L)
0,0002 mg/L Hg
103
Tabela 13
NÃO-METAIS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Cloretos (mg/L)
144
175
204
142
88
141
178
202
Fósforo Total (mg/L)
0,222
0,24
0,378
0,411
0,403
0,297
0,548
0,296
OPS (mg/L)
0,049
0,01
0,024
0,193
0,083
0,025
0,057
0,05
Sulfato (mg/L)
4,4
14,7
11
40,8
21,5
15,9
16,5
12,1
Sulfeto Total (mg/L)
1
1,04
0,93
0,52
1,5
0,6
2,8
0,59
Amônia Total (mg/L)
0,33
0,362
0,29
0,355
0,413
0,108
0,433
0,276
Nitrito (mg/L)
0,072
0,045
0,003
0,013
0,032
0,122
0,012
0,013
Nitrato (mg/L)
0,171
0,055
0,011
0,136
0,121
0,716
0,315
0,066
A quantidade de fósforo encontrada nas amostras é superior a quantidade
estabelecida pela resolução 357/05, que estabelece o valor máximo de 0,020 mg/L,
pode-se observar que o menor índice de fósforo encontrado é mais de dez vezes maior
que o estabelecido.
A elevada quantidade de fósforo na lagoa propicia aceleração no processo de
eutrofização do ambiente lacustre e crescimento de plantas aquáticas, uma vez que é
componente de ácidos nucléicos e adenosina trifosfato. O ortofosfato dissolvido é a
principal fonte de fósforos para as plantas aquáticas, sobretudo para o fitoplâncton
(TUNDISI, 2005).
O fósforo juntamente com o nitrogênio e seus derivados atuam como
regulador do processo de eutrofização e disponibilidade de nutrientes na água, uma vez
que os demais nutrientes essenciais normalmente estão presente em quantidades não
limitantes nas águas (CORRELL, 1998).
A eutrofização pode ser caracterizada como natural ou cultural conforme a
origem dos poluentes (ESTEVES, 1998). Sendo a primeira resultante da descarga
normal de fósforo proveniente de fontes naturais. A cultural está relacionada
diretamente as fontes de poluição geradas pela intensificação da ação antrópica, as quais
resultam numa grande geração de resíduos domésticos, como é o caso específico do
ambiente aquático da lagoa da Maraponga, que capta esses resíduos através do
escoamento das águas superficiais que deságuam na lagoa através das galerias, com
efeito, acelera o processo natural de enriquecimento desses nutrientes, provocando o
desequilíbrio ecológico no meio.
104
Maraponga - Não-Metais
0
50
100
150
200
Cloretos
(mg/L)
OPS
(mg/L)
Sulfeto
Total
(mg/L)
Nitrito
(mg/L)
(mg/L)
AGO-SET/06
OUT-NOV/06
DEZ/06-JAN/07
FEV-MAR/07
ABR-MAI/07
JUN-JUL/07
AGO-SET/07
OUT-NOV/07
Figura 31 - Gráfico dos não metais localizados na água da lagoa.
É possível observar que os sufatos , nitritos e nitratos das amostras coletadas
estão dentro dos parâmetro estabelecidos pelo CONAMA, sendo que os sulfetos
apresentaram-se acima dos padrões pré-estabelecidos, apresentando maior concentração
entre agosto e setembro de 2007, período de menor capacidade de água da lagoa.
O sulfeto é uma espécie que pode ser encontrada em baixas concentrações
em águas naturais estagnadas. Em condições anaeróbicas, sua concentração pode chegar
a faixa de 100mg/L, sendo seu comportamento em águas naturais sazonal e ligados ma
variações climáticas (CASELLA e SANTELLI, 1995).
De modo geral os sulfetos podem estar presentes em despejos domésticos
devido a decomposição de matéria orgânica ou da redução de sulfato. Ele é considerado
tóxico para animais e plantas aquáticas, o que pode causar o desequilíbrio no ambiente
aquático. Quando em excesso em despejos, pode exercer a ação corrosiva sobre as
tubulações, devido a produção de H²SO4 oriundo de sua oxidação bacteriológica.
O valor máximo estabelecido pela resolução 357/05 de sulfeto para água
doce classe I, como podemos ver na tabela I, é de 0,002 mg/L. os valores de sulfetos
encontrados nas amostras são bem elevados se comparados com o estipulado, onde
atinge o valor de 2,8 mg/L entre agosto e setembro de 2006, período que coincide com o
valor máximo de fósforo encontrado nas amostras, provavelmente por ser um período
menos chuvoso e ocorra a maior estagnação da água.
105
Na tabela 14 e 15 estão os constituintes orgânicos encontrados nas amostras
de água no período de agosto de 2006 a maio de 2009, no caso os óleos e graxas que
deveriam segundo a resolução 357/05 deveria ser virtualmente ausente, a demanda
química de oxigênio (DQO) e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
Geralmente os óleos e graxas são substâncias de origem mineral, vegetal ou
animal. Em sua maioria são hidrocarbonetos, gorduras, dentre outros. Como dito
anteriormente este tipo de componente orgânico não devem ser encontrados em águas
naturais, pois normalmente são oriundos de despejos e resíduos industriais, esgotos
domésticos, efluentes de oficinas mecânicas e postos de gasolinas (CETESB, 2010).
Tabela 14
CONSTITUINTES
ORGÂNICOS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/0
7
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Óleos e Graxas
(mg/L)
6,5
3,33
5,7
4,9
2,5
9,2
1,4
18,3
DQO (mg O2/L)
99,4
107
70
73
107
56,7
55
75
DBO5 (mg O2/L)
45,5
99
34
33
51,6
28,5
30
38
O que mais contribui para o aumento de óleos e graxas dentro dos corpos
d‟água são os despejos de origem industrial, como refinarias, frigoríficos e saboarias. O
problema da presença desse material é que reduz a área de contato entre a superfície da
água e o ar atmosférico, o que impede dessa forma, a transferência de oxigênio para a
água, isso sem mencionar o fator estético do ambiente aquático. Durante o processo de
decomposição os óleos e graxas reduzem o oxigênio dissolvido elevando a DBO e a
DQO, causando alteração no ambiente aquático.
Tabela 15
Constituintes
Orgânicos
Dez/07-
jan/08
Fev-
mar/08
Abr-
mai/08
Jun-
jul/08
Ago-
set/08
Out-
nov/08
Dez/08-
jan/09
Fev-
mar/09
Abr-
mai/09
Óleos e Graxas
(mg/L)
9,4
6,6
29,3
16
19,3
21
9,4
7,3
11,3
DBO5
(mg/L)
11
60,6
36,33
37,33
38,00
24,66
11
14,66
10,66
106
Na lagoa da Maraponga esse material orgânico foi encontrado em todas as
amostras feitas de agosto de 2006 até maio de 2009, sendo que ela se apresentou de
forma mais acentuada entre os meses de abril e maio de 2008 com 29,3 mg/L como
podemos observar na (figura 32) e as amostras que se seguiram apresentaram índices
bastante elevado.
0
5
10
15
20
25
30
Agos-
set/06
Fev-
mar/07
Ago-
set/07
Fev-
mar/08
Ago-
set/08
Fev-
mar/09
Constituintes Orgânicos
Óleos e Graxas
(mg/L)
Figura 32 - Gráfico dos óleos e graxas localizados na lagoa.
A demanda bioquímica de oxigênio é entendida como a quantidade de
oxigênio que é necessário para promover a oxidação da matéria orgânica por
decomposição microbiana aeróbica para uma forma inorgânica estável. Ela é
normalmente considerada como a quantidade de oxigênio consumido durante um
determinado período de tempo geralmente cinco dias numa temperatura de 20ºC
conhecido como DBO5 (CETESB, 2010). Parâmetro utilizado pela resolução do
CONAMA e por este trabalho.
Num corpo d‟água como o da lagoa Maraponga os maiores aumentos em
termo de DBO5 são provocados por despejos de material predominantemente orgânicos
como os óleos e graxas comentados anteriormente, sendo que o alto teor de matéria
orgânica pode induzir ao completo esgotamento de oxigênio na água, o que acarreta no
desaparecimento da vida aquática.
107
A demanda química de oxigênio também esta relacionada com a quantidade
de oxigênio necessário no processo de oxidação da matéria orgânica assim como a
DBO5, mas nesse caso o agente para tal oxidação é químico. Os valores da DQO
normalmente são maiores que os da DBO5, como podemos ver na (figura 33).
O aumento deste parâmetro num corpo d‟água esta relacionado
principalmente ao despejo de matéria de origem industrial. Com efeito, esse parâmetro é
indispensável no estudo da caracterização de esgotos sanitários e de efluentes
industriais.
Maraponga - Constituintes Orgânicos
0
20
40
60
80
100
120
AGO-
SET/06
DEZ/06-
JAN/07
ABR-
MAI/07
AGO-
SET/07
(mg O2/L)
DQO (mg O2/L)
DBO (mg O2/L)
Figura 33- Gráfico da DQO e DBO da lagoa.
É importante destacar que a resolução 357/05 do CONAMA não estabelece
um valor máximo para a DQO, enquanto que esta mesma resolução estabelece o valor
de DBO5 para classe I de água doce não deve ser maior que três, sendo que na lagoa da
Maraponga as amostras apresentaram números bem maiores do que o valor máximo
estabelecido, como pode ser observado entre os meses de outubro e novembro bem
expressos na figura 33. Na figura 34 estão representados os dados da demanda
bioquímica de oxigênio de dezembro de 2007 a maio de 2009.
108
0
10
20
30
40
50
60
70
Dez/07-
jan/08
Abr-
mai/08
Ago-
set/08
Dez/08-
jan/09
Abr-
mai/09
Constituintes Orgânicos
DBO(mg/L)
Figura 34- Gráfico da demanda bioquímica de oxigênio de dezembro de 2007 à maio de 2009.
Na tabela 16 e 17 podemos ver os dados dos parâmetros relacionados aos
componentes biológicos encontrados nas amostras d‟água, que são os coliformes
termotolerantes e os de escherichia coli, na primeira está o período de agosto de 2006
até novembro de 2007 e na segunda os dados de dezembro de 2007 até maio de 2009.
Tabela 16
COMPONENTES
BIOLÓGICOS
AGO-
SET/06
OUT-
NOV/06
DEZ/06-
JAN/07
FEV-
MAR/07
ABR-
MAI/07
JUN-
JUL/07
AGO-
SET/07
OUT-
NOV/07
Coliformes
Termotolerantes
(NMP/100 mL)
225
255
213
3200
5660
80,4
67,9
67,8
E. coli (NMP/100 mL)
103
11,6
76,6
110
2600
49,3
58,7
67,8
O Escherichia coli (E.coli) é um grupo grande e diverso de bactéria. Embora
maioria das variedades do E.coli seja inofensivas outras podem causar doenças como
diarréia, infecção urinária, doenças respiratórias, pneumonia dentre outras. O E.coli é
um parâmetro utilizado como marcador de contaminação da água, uma vez que a
presença dessa bactéria na água é indicativa da presença de fezes na água ou raramente
de animais.
109
Tabela 17
Componentes
Biológicos
Dez/07-
jan/08
Fev-
mar/08
Abr-
mai/08
Jun-
jul/08
Ago-
set/08
Out-
nov/08
Dez/08
-jan/09
Fev-
mar/09
Abr-
mai/09
Coliformes
Termotolerantes
44
2.733
14.800
10.23
5.580
56
44
44
8.933
Escherichia coli
(NMP/100mL)
31
2.100
11.033
6.816
3.693
47
31
31
3.940
Os coliformes também tratam-se de um grupo de bactérias dentre as quais
podemos destacar a escherichia. Elas habitam o intestino de mamíferos como o homem,
a presença delas na água significa elevado índice de poluição e representa risco a saúde
pela presença de agentes patogênicos.
Os coliformes aqui utilizados como parâmetros serão os coliformes fecais ou
também chamados coliformes termotolerantes, pois toleram temperaturas acima de 40ºC
e reproduzem-se nessa temperatura em menos de vinte e quatro horas. Eles estão
diretamente associados com os grupos de animais com sangue quente.
A resolução CONAMA 357/05 estabelece como valor máximo para água
doce de classe I 800 NMP/100mL de E.coli e de 1000 NMP/100mL para coliformes
termotolerantes. Nas amostras coletadas foi possível observar que em certos períodos os
índices ultrapassam o valor máximo estabelecido.
Como pode-se observar no gráfico da figura 35, que nos meses do primeiro
semestre, período mais chuvoso do ano, aumenta a presença de coliformes
termotolerantes e escherichia coli, que contrasta com o período mais seco, onde a
presença destes se torna mais escassa. Com exceção do período de agosto a setembro de
2008 que apresenta uma presença considerável de coliformes e E.coli, onde a primeira
aparece com mais de 5000 e a segunda com mais de 3000 NMP/100 mL.
110
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
Ago-
set/06
Dez/06-
jan/07
Abr-
mai/07
Ago-
set/07
Dez/07-
jan/08
Abr-
mai/08
Ago-
set/08
Dez/08-
jan/09
Abr-
mai/09
Coliformes
termotolera
ntes
(NMP/100
ml)
E.Coli
(NMP/100
ml)
Componentes Biológicos
Figura 35 - Gráfico da presença de coliformes termotolerantes e escherichia coli na lagoa da maraponga.
O aumento desses agentes nas águas da lagoa da Maraponga se processa pela
coleta de água da lagoa através das galerias pluviais do escoamento superficial e pela
ligação de esgotos clandestinos na galeria. Uma vez que segundo a SEMAM não existe
redes de esgotos no entorno da lagoa da Maraponga como pode ser observado na figura
36.
Figura 36 - serviço de esgoto presente na lagoa da Maraponga.
111
6 Aspectos sociais da área de estudo.
A dinâmica social da cidade vem mudando diariamente através dos usos
e transformação do espaço ao longo do tempo. Essa mudança vem promovendo
novos sentimentos em seus moradores, sentimentos estes que transpassam o de posse
e de identidade por parte dos atores sociais. Causam transformações de valores,
hábitos e de usos, essencialmente relacionados ao inchaço das cidades.
O que antes era reconhecido como lugar de lazer, de identidade e de
referência pelos moradores transpassa para o de negação, de estranhamento e até
mesmo de indiferença sobre a porção do bairro alterado.
Neste caso, segundo Silva (2001), o sentido de vulnerabilidade não
provém da reduzida presença de habitantes, mas se deve precisamente ao
crescimento populacional, o que proporciona a sensação de instabilidade e
insegurança nos que vivem, freqüentam e trabalham na área em questão.
O Bairro Maraponga de modo geral, segundo a “dona santinha” moradora
da casa que fica no parque (figura 37), era constituído em sua maioria de sítios
grandes, como no caso do "Sitio Santa Terezinha”, onde hoje fica o Parque
Ecológico da Maraponga. Esse espaço vem passando por várias transformações de
ordem social e ambiental ao longo de sua história.
Figura 37: Foto da casa remanescente dentro do parque ecológico da maraponga.
Fonte: Colares Dias (2010).
112
As transformações repercutem na forma de utilização do ambiente
lacustre em questão, que alteram a dinâmica e o funcionamento dos sistemas sócio-
econômico e cultural da população local e também ambiental, gerando entre outras
consequências o sentimento de negação e de abnegação da identidade da população
do bairro com o local, na vida do coletivo, de alguns moradores, trabalhadores e
freqüentadores locais, principalmente dos mais jovens.
A mudança cultural ocorrida entre os mais jovens com relação à
utilização da lagoa pode ter acontecido também pela mudança do comportamento
destes nos últimos vinte anos, dada a popularização dos jogos eletrônicos, cinemas,
shoppings dentre outros.
Os mais velhos tem a lagoa como lugar para recordar o que transpassa do
plano físico para o emotivo, foi o que pode ser observado na conversa com “dona
santinha” que relembra como era agradável morar no bairro antes do
desenvolvimento, onde os enormes sítios foram sendo vendidos pelos filhos dos
proprietários no intuito de partilha da herança, sendo mais forte esse movimento no
início da década de noventa, época em que as construtoras começaram a realizar
grandes empreendimentos como o condomínio “Parque Maraponga” e o
“Maraponga Mart Moda”, tratados mais adiante.
Tal mudança identitária por parte da população mais velha tem se
pronunciado fortemente pelo estado de abandono e de deterioração que se encontra a
lagoa, efetivamente por parte dos órgãos responsáveis por aquele ecossistema, pela
própria população e pelos usuários, que compõem a nova dinâmica social.
Os problemas vigentes no complexo lacustre afugentam os moradores do
bairro, principalmente a falta de segurança preventiva. Estes problemas ocasionam
um sentimento de estranhamento do lugar que antes tinham como identidade,
transformando o lugar em não-lugar.
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade
habitante, identidade e lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano
da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos
mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas
condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser
sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo, enquanto que o não-lugar
113
está caracterizado pelo espaço da não-identidade e do não reconhecimento
(CARLOS, 1996).
A área no entorno da lagoa apresenta estado de conservação muito
precário, contrapondo-se as informações dadas pela Prefeitura Municipal de
Fortaleza. Segundo a SER V a limpeza e a manutenção da lagoa é operacionalizada
pela varrição do parque duas vezes por semana e pela capinação do mesmo duas
vezes ao ano, ambos programados pela SER V. A remoção dos aguapés é realizada
duas vezes por ano, programada pela SEMAM.
De modo geral o bairro da Maraponga foi dotado de empreendimentos
importantes que proporcionaram a alteração do mesmo, bem como serviram para
impulsionar o crescimento demográfico da área, com a chagada do DETRAN em
1978, o Maraponga Mart Moda em 1990 e a construção do Residencial Parque
Maraponga que gerou protesto por parte da comunidade e transformou a área do
entorno da lagoa em Parque Ecológico em 1991.
O Departamento Estadual de Transito do Ceará (DETRAN-CE) é uma
autarquia criada por meio da lei 9.450, de 14 de maio de 1971, onde passou a ser
vinculado a secretaria de policia e segurança pública. Sua sede era na Rua Antonio
Pompeu, onde hoje funciona o Batalhão de Choque da Policia Militar.
Segundo Paulo Ernesto, assessor de imprensa e comunicação do Detran,
o primeiro diretor geral do Detran Major Reinaldo Albuquerque Cisneiros, cuja
gestão foi de 16 de junho de 1971 a 06 de fvevereiro de 1977, foi o responsável pela
escolha da atual sede do Detran.
A atual sede localizada na Av. Godofredo Maciel 2900 no Bairro da
Maraponga, foi inaugurada no dia 22 de fevereiro de 1978, no governo de Adalto
Bezerra, sendo o diretor geral o coronel João de Almeida.
Em 1988 o Detran passou a ser vinculado à secretaria de transportes e
energia, comunicações e obras Seteco. Em 1998, o órgão vinculou-se a secretaria
de infra-estrutura.
114
Segundo Paulo Ernesto o prédio que hoje compreende o Detran abriga
todos órgãos que estão ligados ao trânsito no âmbito estadual, pois abriga a
Delegacia de Roubos e Furtos de veículos e cargas DRFVC, o departamento de
estradas e rodovias DER e a policia rodoviária estadual PRE, o que facilita o
intercâmbio de informação entre esses órgãos.
o Parque Ecológico da lagoa da Maraponga teve sua criação originada
a partir de um grande embate que ocorreu na sociedade cearense em meados de
1990, devido a criação de um empreendimento imobiliário denominado de Parque
Maraponga.
O citado empreendimento está localizado na margem sul da lagoa da
Maraponga. Com o inicio da criação deste primeiro condomínio o que motivava a
criação de uma série de outros, surgiram protestos por parte dos ambientalistas, que
levantavam questões éticas e ecológicas acerca do empreendimento.
A respeito das questões ecológicas destacava-se o fato do referido
empreendimento localizar-se próximo da lagoa da Maraponga e ocasionar a
derrubada de árvores, agredindo o meio ambiente, apesar de o empreendimento ter
sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBAMA,
Superintendência Estadual do Meio Ambiente SEMACE e Secretaria de
Planejamento Urbano e de Meio Ambiente do Município de Fortaleza SPLAN,
órgãos competentes da época (LIRA, 2006).
Embora o empreendimento tivesse todas as autorizações necessárias para
a construção ele sofreu vários embargos pelos órgãos que liberaram as licenças.
Com efeito, em 16 de abril de 1991 o conselho estadual do meio ambiente
COEMA, votou pela suspensão do parque Maraponga, exigindo para tal um estudo
de impacto ambiental (EIA-RIMA).
Várias associações se uniram e assinaram um manifesto denominado de
SOS Maraponga, que alertava para a ameaça que a lagoa sofreria caso houvesse a
construção do empreendimento imobiliário. Propunham para tal a desapropriação da
área e a discussão com a comunidade sobre a implantação de um parque ecológico
urbano.
115
Com o decorrer das manifestações foi feito um abaixo-assinado assinado
por aproximadamente 14 mil pessoas e entregue em novembro de 1990 ao prefeito
de Fortaleza, que não sancionou a lei de criação da área de proteção ambiental da
lagoa da Maraponga, sendo esta aprovada no decurso de prazo na câmara municipal
de Fortaleza, mas sem haver a desapropriação da área.
A mesma reivindicação foi feita ao Governo do Estado na época, que em
maio de 1991, desapropriou a área para a implantação do parque ecológico da lagoa
da Maraponga, através do decreto estadual nº 21.349/1991, sendo modificada através
do decreto 21.350/1991. As áreas de proteção da lagoa da maraponga impediram
a criação do restante dos apartamentos do empreendimento imobiliário, exetuando o
que já havia sido construído na margem sul da lagoa.
Com relação ao Maraponga Mart Moda, o mesmo foi instalado no bairro
que leva o nome do shopping, no dia 08 de outubro de 1990, na Rua Francisco
Glicério 290, pelos empresários cearenses Manoel Holanda e Mana Holanda. Ao ser
inaugurado, o empreendimento dava continuidade a ligação de Fortaleza com a
moda, quando no ano de 1981 houve a realização do primeiro festival de moda do
município.
Segundo a funcionária do shopping Ana Lécia Souza Pontes, o
Maraponga Mart Moda foi o primeiro empreendimento atacadista fora do eixo Rio
de Janeiro e São Paulo, e que é hoje reconhecido como a mais completa central de
distribuidora de produtos e serviços para o setor de modas de todo o Norte e
Nordeste do Brasil.
O shopping é uma exposição permanente de moda brasileira, pois reúne
marcas de diversos estados do Brasil como Ceará, Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa
Catarina. O posicionamento geográfico do estado do Ceará favorece ao shopping
dada a facilidade de atrair compradores de todos os estados. O Maraponga Mart
Moda encontra, ainda, na África um possível mercado consumidor, mais
especificamente os países de Angola e Cabo Verde, como mercado em potencial.
116
O Maraponga Mart Moda embasado no potencial turístico de Fortaleza
desenvolve um projeto chamado “pacote especial de vantagens”, cujo programa
ocorre em dois dias unindo compras e lazer para os clientes do shopping, com
ônibus de turismo e guia que apresenta Fortaleza para os compradores.
Segundo a referida funcionária o shopping também é responsável pela
organização de eventos tradicionais no calendário brasileiro de feiras de moda,
editado pela ABRAVEST Associação Brasileira do Vestuário.
Entende-se que esses empreendimentos foram importantes para o
crescimento e expansao do bairro.
6.1 Caracterização sócio-econômica da população do Bairro da
Maraponga.
De acordo com o censo do ano 2000 feito pelo IBGE, como pode-se ver
nos anexos, a população total residente da Maraponga era de 8.588, sendo 4.023
masculinas e 4.565 femininas. A população daquele bairro no que tange a
alfabetização possui um percentual bastante elevado se comparado com outros
bairros, principalmente os de menor potencial econômico. Uma vez que num total de
7.813 pessoas acima de cinco anos de idade 7.033 são alfabetizada, tendo apenas
780 pessoas não alfabetizadas.
No começo desta década a população da Maraponga residia em sua
maioria em casas quando comparado à apartamentos, sendo que na primeira
residiam 6.450 e na segunda 2.114. Com o desenvolvimento e crescimento do bairro
os condomínios se proliferaram, fato que é possível observar em trabalho de campo,
o que possivelmente venha a se evidenciar no censo de 2010, alterando o tipo de
domicilio particular dos moradores.
O valor médio da renda do responsável pelo domicilio no censo de 2000
era de 1.201,72 reais, o que para os padrões da época caracterizava um padrão de
classe média para os moradores do bairro.
No que se refere à condição de ocupação dos domicílios da Maraponga a
maioria dos residentes possuem domicilio próprio, sendo 1174 quitadas de um total
117
de 2240, que ainda efetuam pagamento, como pode-se observar na figura 38, onde
641 domicílios eram próprios mas os proprietários ainda quitavam as prestações.
Figura 38: Formas de ocupação dos domicilios da maraponga.
O bairro da Maraponga segundo o censo do IBGE possuía um total de 2.240
domicílios, destes 1.184 possuíam banheiro ou sanitário e 56 não o possuíam. Os tipos
de escoamento dos banheiros ou sanitários foram subdivididos em seis categorias como
podemos ver no gráfico da figura 39. De acordo com os dados observados pode-se
perceber que a maioria dos domicílios utiliza as fossas, sendo poucos domicílios
integrados a rede de esgoto, fato que pode evidenciar poluição do solo, bem como das
águas que infiltram no solo, através do processo de percolação e/ou infiltração de
substâncias.
Forma de ocupação do domicilio
0
200
400
600
800
1000
1200
Condição de ocupação
Domicilio
próprio
quitado
Domicilio
próprio não
quitado
Domicilio
alugado
Domicilio
cedido
Outra
118
Figura 39: Tipos de escoamento por domicilio da maraponga.
6.2 - Características sócio-econômicas dos freqüentadores entrevistados
na lagoa da Maraponga.
Com o objetivo de analisar a relação entre a lagoa e os que a utilizam foi
aplicado um questionário, cujas perguntas serão analisadas a seguir.
De acordo com os resultados coletados nos trinta questionários aplicados
aos que freqüentam a lagoa da Maraponga nos finais de semana pode-se concluir sobre
a faixa etária dos mesmos. 26,66% deles possuem até 30 anos, 30% possuem entre 31 e
40 anos, 26,66% entre 41 e 50 anos e 16,66% dos freqüentadores possuem mais de 50
anos de idade, como podemos observar na figura 40. Nota-se que aproximadamente
74% dos freqüentadores tem idade superior a 30 anos, o que demonstra pouca
freqüência de jovens como freqüentadores daquela área.
Tipo de escoamento por domicilio
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Tipo de escoamento
sanitário
Rede de
esgoto
Fossa séptica
Fossa
rudimentar
Vala
Rio, lago ou
mar
Outro
escoadouro
119
3
5
5
4
4
4
3
2
0
5
10
15
20
25
30
Nº de Entrevistados
≤ 30 anos ≤ 40 anos ≤ 50 anos < 50 anos
Faixa etária dos entrevistados
Homens
Mulheres
Figura 40: Faixa etária dos freqüentadores entrevistados na lagoa da maraponga.
Foi possível observar também que as maiorias dos entrevistados não moram
no bairro no qual está localizada a lagoa. Do total de entrevistados apenas 16,67% dos
freqüentadores residem no bairro da Maraponga e 83,33% dos freqüentadores da lagoa
não mora no bairro, como pode ser observado na figura 41.
Os entrevistados que não moram no bairro residem em bairros
circunvizinhos como Mondubim, Parangaba, Vila Manoel Sátiro, dentre outros. bem
como moradores de bairros mais distantes como Bom Jardim, Parque Araxá, Granja
Portugal e até moradores de outra cidade como os da cidade de Cascavel.
1
3
14
12
11
9
0
5
10
15
20
25
30
Nº de
Entrevistados
Morador do
bairro
Não morador Gosta ou
gostaria de
morar no bairro
Residência dos entrevistados
Homens
Mulheres
Figura 41: gráfico que mostra se os freqüentadores entrevistados na lagoa moram no bairro da
maraponga.
Quando indagados sobre o desejo de morar no bairro, vários freqüentadores
manifestaram o desejo suprimido pelo baixo potencial aquisitivo dos freqüentadores,
ficando por parte dos que não tem o interesse de morar no bairro a forte ligação de
120
identidade daqueles com o bairro em que moram, chegando a tecer manifestações de
afeto para com o mesmo.
No que tange ao potencial aquisitivo dos freqüentadores, como foi
mencionado é baixo uma vez que a maioria possui uma renda média de um salário
mínimo como podemos observar no gráfico da figura 42. Eles em na lagoa uma
perspectiva de lazer como ressalta o senhor José Alves que diz: “eu não posso ir à praia,
venho pra lagoa, tomar banho e beber com a família. Domingo sim e outro não estou
aqui”.
1
5
10
8
3
2
1
0
0
5
10
15
20
25
30
Nº de
Entrevistados
≤ 400,00
reais
≤ 800,00
reais
≤ 1.200,00
reais
>1.200,00
reais
Renda dos entrevistados
Homens
Mulheres
Figura 42: Renda mensal dos freqüentadores entrevistados na lagoa da maraponga.
É importante destacar a opinião dos freqüentadores quanto à poluição da lagoa
(figura 44). A maioria das mulheres crê que a lagoa esta poluída, enquanto a opinião dos
homens fica mais nivelada. Mesmo sabendo e crendo que a lagoa está poluída, como pode-
se ver no aviso colocado pela Prefeitura no poste (figura 43) como local de potencial de
risco à saúde os freqüentadores tomam banho sem muita preocupação, atentando apenas
para a beleza paisagística do local.
121
Figura 43 : Foto da lagoa da maraponga repleta de aguapé e no poste
um pequeno papel escrito imprópria colocado pela SER V.
Fonte:Colares Dias 2009
É importante destacar que durante a pesquisa junto aos freqüentadores na
pergunta sobre a poluição da lagoa, vários entrevistados responderam que os banhistas
urinam dentro da água fato que a senhora Ana Cláudia confirma ao dizer que “utiliza a
lagoa para „urinar‟ quando a prefeitura não coloca banheiros químicos no parque”.
8
13
7
2
0
5
10
15
20
25
30
Nº de
Entrevistados
Acham que a lagoa está
poluida
Acham que a lagoa é
limpa
Opinião sobre a poluição da lagoa
Homens
Mulheres
Figura 44: Opinião dos freqüentadores a respeito da poluição na lagoa.
Na segunda-feira pode ser observada a degradação que a população
ocasiona no parque, pois pode ser visto grande quantidade de lixo jogado pela
população nas dependências do mesmo, e que embora ela seja realizada pelos garis da
prefeitura, é possível observar que a limpeza não é completa.
122
Figura 45: Gari recolhendo o lixo deixado pela população. Figura 46: Lixo que continua no parque mesmo após a limpeza
Fonte: Colares Dias, 2010. Fonte: Colares Dias, 2010.
Foi possível observar que as árvores do parque estão sendo degradadas pela
população que risca a base das árvores (figuras 47 e 48), bem como a queimam onde
fazem fogueira para esquentar a comida (figuras 49 e 50), isso sendo praticado
principalmente por catadores de reciclagem que se instalam nas dependências do parque
e fazem a sua alimentação embaixo das árvores.
Figura 47 : Árvore pinchada no interior do parque Figura 48 : Árvore riscada e garrafas de cerveja quebrada
Fonte: Colares Dias, 2010. Fonte: Colares Dias, 2010.
123
Figura 49 : Fogueira na base da árvore recém apagada. Figura 50: árvore quase tombando devido ao fogo.
Fonte: Colares Dias, 2010. Fonte: Colares Dias, 2010.
Na margem sul da lagoa da Maraponga é possível observar um aglomerado
de casas as margens de um córrego que deságua diretamente dentro da lagoa. Essas
moradias de forma precária não contam com sistema de esgoto, vindo este a ser
despejado diretamente dentro do córrego o que acarreta na contaminação da lagoa
(figura 51 e 52).
Figura 51: Morador tentando limpar o córrego Figura 52: Ocupação as margens do córrego que deságua na lagoa.
Fonte: Colares Dias, 2010. Fonte: Colares Dias, 2010.
É importante destacar que existem diferentes fontes de poluição da lagoa
como podemos observar na figura 53, onde podemos destacar como uma das principais
fontes as tubulações da água de drenagem superficial que deságua dentro daquele corpo
h‟idrico, que traz consigo lixo e esgotos clandestinos.
124
Figura 53: Algumas fontes de poluição da lagoa.
A presença de animais no entorno da lagoa e que são banhados por seus
proprietários dentro deste corpo hídrico foi notada como podemos observar na figura 54,
bem como o despejo direto de esgoto no córrego que alimenta a lagoa como pode ser
observado na figura 55. Isso contribui para os elevados veis de poluição dos recursos
hídricos do local.
Figura 54: Animal que pasta e é banhado na lagoa. Figura 55: Esgoto lançado direto no córrego que alimenta a lagoa.
Foto: Colares Dias, 2010. Foto: Colares Dias, 2010.
125
6.3 Atividades desenvolvidas pela prefeitura para revitalizar a área da
lagoa.
Segundo a Secretaria Regional V as lagoas de Fortaleza estão sendo
monitoradas através da SEMAM, dentre estas se pode destacar a lagoa da Maraponga,
área de estudo, ficando a cargo da SER V as propostas de atividade para a urbanização
e revitalização da área.
Como atividades e projetos desenvolvidos pela SER V e SEMAM na área
do Parque Ecológico da Maraponga são a manutenção do parque, catalogação das
árvores, análise da água para o banho, monitoramento, iluminação do parque, análise
batimétrica, peixamento, cadastro de barracas aos domingos, banheiros químicos,
recuperação da pavimentação poliédrica e calçadão e colocação de areia nas margens
da lagoa, quadra de voley e campo de futebol.
Além destas atividades desenvolvidas, ainda tem outras à serem efetivadas.
As retiradas de moradias irregulares e a criação de estação de tratamento, bem como a
construção de um espaço para atender os visitantes, freqüentadores e alunos com vista a
proferir palestras de educação ambiental e a construção de muros contornando a área do
parque.
O núcleo de esportes e lazer da SER V realizou no período de 23 de
fevereiro a 08 de março de 2008 os jogos de revitalização da lagoa da Maraponga, com
o intuito de propiciar aos moradores do bairro e bairros vizinhos uma diversão com a
pratica esportiva na área do parque, pretendendo contribuir para a melhoria e ampliação
das diversas opções de lazer, entretenimento e socialização na área do parque (PMF,
2008).
Os “I Jogos de Revitalização da Lagoa da Maraponga”, realizou-se nas
modalidades de Futebol de Areia, Handebol de Areia, Voleibol e Futevôlei, categorias
masculino e feminino, com a participação de 16 Escolas dos mais diversos bairros da
área da SER V, como pode-se observar nas fotos.
126
Figura 56 : Partida de futebol disputada durante a prática esportiva. Figua 57: Entrega de premiação.
Fonte: SER V Fonte: SER V
127
7 Considerações finais
As transformações sócio-econômica que repercutem na qualidade de vida da
sociedade e de seu meio são geradores de preocupações, devido às intervenções que
estas estão produzindo no espaço geográfico. Os diferentes ecossistemas que ainda
persistem em existir como é o caso das lagoas, mesmo com o descaso por parte do
estado e da população, vêm sendo degradadas paulatinamente.
A lagoa da Maraponga é um exemplo clássico dessa degradação, onde
mesmo sendo localizada em uma área de proteção ambiental e que segundo a Prefeitura
vem sendo monitorada no intuito de preservar o local, não é o que de fato acontece
conforme exposto nesse trabalho. O principal fator para a não ocorrência da preservação
é a falta de fiscalização que deveria ser mais intensa por parte da SER V responsável
pela área, principal proposta a ser sugerida neste estudo.
Na área de pesquisa pode-se ver a partir do sistema ambiental urbano, que o
subsistema construído é altamente degradado, onde este surge a partir da intervenção do
subsistema social responsável pela dinâmica que gera o subsistema construído a partir
das ações humanas sobre o subsistema natural.
Os atos e/ou ações humanas observadas na área de estudo alteram e
degradam o subsistema construído a partir da perda da cidadania da parte da população
menos esclarecida. A degeneração das condições de vida, a usurpação de valores
culturais e a perda de identidade podem ser visualizadas na ocupação de moradores as
margens do córrego que lançam esgotos diretamente na lagoa.
No local pode-se observar problemas relacionados com a qualidade da água
da lagoa, com o esgotamento sanitário do bairro, poluição, dentre outros. E para a
solução desses problemas são necessárias ações sociais e políticas públicas como a
remoção dos moradores que habitam as margens do córrego que poluem a água da
lagoa.
Uma política de conscientização para os freqüentadores da lagoa nos finais
de semana, uma vez que estes em sua maioria não são moradores do bairro, como pode
ser constatado nas pesquisas de campo, e não se sentem responsável pela manutenção
do ambiente lacustre.
128
Poderia ser implementado um sistema de fiscalização diária na área do
parque com o apoio da guarda municipal, uma vez que recicladores de lixo que ocupam
semanalmente a área do parque são bastante agressivos com os fiscais quando estes
aparecem no local.
Foi possível observar a partir das seqüências da análise da água que o
período de aumento da presença de coliformes termotolerantes e escherichia coli na
lagoa trata-se do chuvoso quando comparado ao período seco. Este fato se deve ao
aumento do nível das águas da lagoa, que são trazidas através das galerias pluviais que
deságuam na mesma como se pode observar na figura 53.
As galerias são responsáveis por levar para dentro da lagoa da Maraponga
resíduos sólidos que ficam jogados nas ruas, bem como esgotos clandestinos são
observados, uma vez que não existe serviço de saneamento na lagoa como mostra a
figura 36, sendo necessário por parte da SER V maior fiscalização quanto a isso.
A poluição causa uma diminuição nas concentrações médias de oxigênio
dissolvido na água, bem como aumenta a quantidade de matéria orgânica dentro da
lagoa o que acarreta no crescimento de plantas aquáticas como os aguapés que podem
ser observados na figura 43.
É importante destacar que embora placa informa que a água está imprópria
para o uso as pessoas que freqüentam a lagoa parecem não se importar. Este fato se
deve principalmente pela beleza paisagística do local e pela comparação que as pessoas
fazem com a lagoa da Parangaba que fica próxima e encontra-se num processo de
degradação mais acelerado. Vários freqüentadores daquela lagoa passaram a freqüentar
a lagoa da Maraponga, sendo eles principalmente de renda baixa e pouca consciência
ambiental, onde buscam usufruir o máximo da natureza sem preservar.
129
8 - BIBLIOGRAFIA:
BAPTISTA, Milton Brand, BRAUN, Oscar Paulo Gross, CAMPOS, Diógenes
Almeida. Léxico estratigráfico do Brasil. Brasília: DNPM, 1984.
BERLATO, M. A.; FONTANA, D. C. El Niño e La Niña: Impactos no clima, na
vegetação e na agricultura do Rio Grande do Sul; aplicações de previsões climáticas na
agricultura. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
_________, M. A.; CORDEIRO, A. P. A. Variabilidade climática e agricultura do Rio
Grande do Sul. In: Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiência -
FEDERACITEa. (Org.). As Estiagens e as Perdas na Agricultura: Fenômeno Natural ou
Imprevidência?. 1ª ed. Porto Alegre: Ideograf Editora Gráfica, 2005.
BIGARELA, J. J. et al. Pediplanos, pedimentos e seus depósitos correlativos no Brasil.
Revista B. Paran. Geogr, Curitiba, v. 16, n. 17, p. 153-197, 1965.
BRAGA, A. P.G.; Passos, C.A B.; Souza, E.M.; França, J.B.; Medeiros, M.F.; Andrade,
V. A. Geologia da Região Nordeste do Estado do Ceará. DNPM, Brasília, MME (1981).
BRANDÃO, A. M. P. M. Clima Urbano e Enchentes no Rio de Janeiro. In: GUERRA,
A. J. T. e CUNHA, S. B. (Org.). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 4 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
BRANDÃO, R. L. (Org). Sistema de informações para Gestão e Administração
Territorial da Região Metropolitana de Fortaleza Projeto SINFOR: Diagnostico
Geoambiental e os principais problemas de ocupação do meio físico da Região
Metropolitana de Fortaleza. CPRM/SEMACE/SRH. Fortaleza: CPRM, 1995.
CARVALHO, Benjamin de Araújo. Ecologia aplicada ao saneamento ambiental. Rio de
Janeiro: ABES, 1980.
CASSET, V. Estudo da Geomorfologia. In : Elementos da geomorfologia, Goiânia, pp
11-38: Ed da UFG , 2001.
CASSET, V. Gestão do território, impactos ambientais e desafios. In: ANPEGE nº1,
São Paulo, pp. 123-145, 2003.
CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão
geosistêmica da análise ambiental.2.ed; et al. Fortaleza: Edições UFC, 2007.
CLAUDINO SALES, V.C. Cenários Litorâneos - Lagoa do Papicu: Natureza e
Ambiente na Cidade de Fortaleza CE. Dissertação de Mestrado, Universidade de São
Paulo USP, 349 P. 1993.
___________. Les Littoraux Du Ceará. Evolution géomorphologique de la zone côtiére
de L´Etat duCeará, Brésil Du long terme au court terme. Thése de doctorat, Université
Paris-Sorbonne, 511p. 2002.
130
____________. Geografia, sistemas e análise ambiental: abordagem critica. In:
GEOUSP Espaço e Tempo. São Paulo n°16, pp 125-141.2004.
____________. Lagoas costeiras na cultura urbana da cidade de Fortaleza. In:
ANPEGE, São Paulo 2005.
__________, PEULVAST, Jean Piere. “Dune generation and ponds on the coast of
Ceará State (Northeast Brazil)”. In: Applied geomorphology: theory and
practice. ALLISON, R. J. (ORG.). Wiley & Sons. pp. 443-460. 2000.
CORDANI, U.G. Idade do vulcanismo no Oceano Atlântico Sul. Instituto de
Geociências e Astronomia, Boletim IGA, 1970.
CORRELL, D.L. The role of phosphorus in the eutrophication of receiving waters: A
review. J. Environ, 1998.
COSTA, Ayrton Fernandes da. Introdução à ecologia das águas doces. Recife:
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Imprensa Universitária, 1991.
COSTA, M.C. Lustosa da. Cidade 2000: Expansão Urbana e Segregação espacial em
Fortaleza. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, (1988).
DELLA FÁVERA, Jorge Carlo Fundamentos de estratigrafia. Rio de Janeiro: Ed.
UERJ, 2001.
DOYLE, Peter, BENNETT, Matthew R., BAXTER, Alistair N. The key to earth
history: an introduction to stratigraphy. Trowbridge: John Wiley & Sons,1995.
EMBRAPA: http://www.cnps.embrapa.br/solosbr/_2007 acesso entre 05/01/2010 e
29/01/2010
ESTEVES, Francisco de Assis, 1950-Fundamentos de limnologia.- 2 ed. Rio de
Janeiro : Interciência, 1998.
FALKENMARK, M (1999). Lakes inglobal perspective: pearls on a river string. In:
TUNDISI, J.G. Água no século XXI: Enfrentando a Escassez. São Carlos: RiMA, IIE,
2 ed., 2005.
FERREIRA, A.G. e MELLO, N.G. da S. Principais Sistemas Atmosféricos Atuantes
Sobre a Região Nordeste do Brasil e a Influencia dos Oceanos Pacífico e Atlântico no
Clima da Região. Revista Brasileira de Climatologia, vol. 1, 1, Presidente Prudente,
2005.
FERREIRA, A. G.; MELLO, N. G. da S.: Principais sistemas atmosféricos atuantes
sobre a Região Nordeste e a influência dos oceanos Pacíficos e Atlântico no clima da
região. Revista Brasileira de Climatologia, v. 1, n.1, p.15-28, 2006.
FUNCEME. http://www.funceme.br/DEMET/index.htm. Acessado: entre 05 de
novembro de 2009 e 10 de janeiro de 2010.
131
GALLPIN, G. 1986 In. RODRIGUES, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente e
CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão
geosistêmica da análise ambiental. 2.ed; et al. Fortaleza: Edições UFC, 2007.
GAN, M.A; KOUSKY, V.E. Estudo observacional sobre as baixas frias da alta
troposfera nas latitudes subtropicais do Atlântico Sul e Leste do Brasil. São José dos
Campos, INPE, 1982.
GEOPLAN (1991). Parque Maraponga EIA/RIMA. V. 1 e Anexos 1. Fortaleza:
Geoplan.GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3
a
ed. São Paulo:
Atlas, 1991.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4
a
ed. São Paulo: Atlas.
,1994.
GOMES, Ivair. Geossistemas: sistemas e subsistemas naturais da regional barreiro -
Belo Horizonte -MG Brasil. Monografia de graduação do curso de Geografia do
IGC/UFMG. 2002.
GUERRA, Antônio José Teixeira. Dicionário geológico e geomorfológico. 5
a
ed. Rio de
janeiro: IBGE, 1978.
____________. Dicionário Geológico e Geomorfológico, Fundação IBGE, Rio de
janeiro, 1996.
____________; CUNHA, Sandra Baptista Erosão dos solos. In: Geomorfologia do
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1996.
____________; GUERRA, A.J.T. Novo dicionário geológico-geomorfológico.3. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
___________; MARÇAL, M. Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2006.
KUKAL, Z. 1970. In: SUGUIO, Kenetiro. Geologia sedimentar São Paulo: Blucher,
2003
HAKASON, L & PETERS, R.H. In: TUNDISI, José Galizia; TUNDISI, Takako
Matsumura. Limnologia - São Paulo: Oficina de textos, 2008.
HOLS P., M. KLEEREBEZEM, A.N. SCHANCK, T. FERAIN, J. HUGENHOLTZ, J.
DELCOUR. Conversion of Lactococcus lactis from homolactic to homoalanine
fermentation through metabolic engineering. Nature Biotechnology 17, W.M. de VOS ,
1999.
HORNE, Alexander J., GOLDMAN, Charles R.: Limnology. 2
a
ed. USA: Mcgraw
Hill. 1994.
ISLA, Frederico. Coastal lagoons. In: Geomorphology and sedimentology of estudaries.
The Nederlands: Elsevier science, 1996.
132
LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. São Paulo: Documentos. (1969).
LEINZ, Viktor, AMARAL, Sérgio Estanislau do.: Geologia geral. 11
a
ed. São Paulo:
Nacional, 1989.
LIMA, Lima Cruz; SOUZA, M.J. Nogueira; MORAIS, Jader Onofre.
Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará. Fortaleza: FUNCEME, 2000.
LOCZY, Louis de, LADEIRA, Eduardo A.: Geologia estrutural e introdução à
geotectônica. São Paulo: Edgard Blücher. 1980.
MEIRELES, Antonio Jeovah de Andrade Meireles. Morfología litoral y sistema
evolutivo de la costa de Ceará Nordeste de Brasil. Tese de Doutorado. Universidade
de Barcelona. Barcelona. 2001.
MENDONÇA, Francisco e KOZEL, Salete. Elementos da epistemologia
contemporânea: Ed. Da UFPR, 2002.
____________ (org.). Impactos socioambientais urbanos Curitiba: Ed. UFRP, 2004
MONTEIRO, C. A. F; MENDONÇA F. A. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003.
MONTEIRO, C. A. F. A Geografia no Brasil (1934-1977): avaliação e tendências. São
Paulo: IGEO USP, 1980.
____________. Teoria e clima urbano. São Paulo: IGEO/USP, 1976.
____________.Geografia & Ambiente. Orientação, Instituto de Geografia USP, São
Paulo, n.5, p. 19-28, 1998.
MOURA FÉ, Marcelo Martins de. Evolução Geomorfológica do Sitio Natural de
Fortaleza, Ceará. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Ceará.
Fortaleza, 2008.
NICHOLS, Gary. Sedimentology and stratigraphy. Great Britain: Blackwall science. ,
1999.
ODUM, Eugene P.: Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
PEULVAST, J.P. e SALES, V.C. Formas litorâneas: Barreiras no litoral do estado do
Ceará, Nordeste do Brasil. In: Litoral e Sertão, Fortaleza- CE, pp 425-432, 2006.
ROBERTO, F. A. C. et al. Distritos Mineiros do Estado do Ceará. Fortaleza: DNPM,
10º Distirto, 2000.
133
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente e CAVALCANTI,
Agostinho Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão geosistêmica da análise
ambiental.2.ed; et al. Fortaleza: Edições UFC, 2007.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches.: “Relevo brasileiro: uma nova proposta de
classificação”. In: Revista do departamento de geografia, 4. São Paulo: Ed: USP.
1985.
_____________; CUNHA, Sandra Baptista. Geomorfologia do Brasil. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
SANTOS, Jader de Oliveira. Vulnerabilidade Ambiental e Áreas de Risco na Bacia
Hidrográfica do Rio Cocó: Região Metropolitana de Fortaleza Ce. Dissertação
(Mestrado em Geografia). UECE. Fortaleza, 2006.
SEMACE –– Diagnóstico e Macrozoneamento Ambiental do estado do Ceará Volumes
1 a 3. Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
Prodetur/CE. Inédito, Fortaleza, 1998.
SEMACE - http://www.semace.ce.gov.br/biblioteca/unidades/PqRioCoco.asp ;
Acessado entre 11 de novembro de 2009 e 29 de janeiro de 2010.
SEMAM - http://www.fortaleza.ce.gov.br/semam/. Acessado entre 03 e 08 de dezembro
de 2008.
SILVA, José Borzacchiello da. “Disciplinando a cidade e o urbano”. In: A cidade e o
urbano: temas para debates. Fortaleza: EdUFC, (1997).
__________. Nas trilhas da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura e
Desporto do Ceará, (2001).
SOARES PONTES, B. M. A ciência geográfica e o desafio da questão natureza-
sociedade. Sociedade & Natureza, ano 11, n. 21-22, p. 29-44, jan./dez. 1999.
SOUZA, Marcos José Nogueira de.: “Contribuição ao estudo das unidades morfo-
estruturais do estado do Ceará”. In: Revista de Geologia. V. 1. n°. 1. Fortaleza:
Imprensa Universitária da UFC. P. 73 91. 1988.
______. Bases naturais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In:
Lima, Luiz Cruz, et al. Compartimentação Territorial e Gestão Regional do Ceará.
Fortaleza: FUNECE, 2000.
______. Compartimentação geoambiental do Ceará. In: ______, et al (Orgs.). Ceará:
um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005.
________: MELENEU NETO, J. SANTOS, Jader de O. SOUZA FILHO, M. J. N.
Diagnóstico e Zoneamento Ambiental de Fortaleza: subsídio à revisão do Plano Diretor
Participativo de Fortaleza. Fortaleza, 2009.
134
SUERTEGARAY, D. M. A.Espaço geográfico uno múltiplo. In: SUERTEGARAY, D.
M. A; BASSO, L. A.; VERDUM, R. (Orgs.). Ambiente e lugar no urbano: a grande
Porto Alegre. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2000.
SUGUIO, Kenetiro. Geologia sedimentar São Paulo: Blucher, 2003.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro. IBGE, 1997.
TUNDISI, José Galizia. Água no culo XXI: Enfrentando a Escassez. São Carlos:
RiMA, IIE, 2 ed., 2005.
TUNDISI, José Galizia; TUNDISI, Takako Matsumura. Limnologia - São Paulo:
Oficina de textos, 2008.
TWENHOFEL, W. H. In: SUGUIO, Kenetiro. Geologia sedimentar São Paulo:
Blucher, 2003.
THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. The water balance. Publications in
Climatology. New Jersey: Drexel Institute of Technology. 1955.
THOMANN, R.V. & MUELLER, J. A. - Principles of surface water quality. Modeling
and control. Harper Collins Publisher. New York. 1987.
VIEIRA JR., A.O. Entre o Futuro e o Passado: Aspectos Urbanos de Fortaleza (1799-
1850). Fortaleza: Museu do Ceará, 2005.
VIEIRA, Lúcio Salgado. Manual da ciência do solo: com ênfase aos solos tropicais. São
Paulo: Agronômica Ceres. 1988.
WILD, Bianca. Eco 92 um histórico. recantodasestrelas.uol.com.br. 2008.
ZANELLA, Maria Elisa. As características climáticas e os recursos hídricos do Ceará.
In: SILVA, et al (Orgs.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, 2005.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=572345 (14/01/2010) 21:20 hs.
http://tvverdesmares.com.br/cetv1aedicao/lagoa-da-maraponga-e-poluida/
http://www.copacabanarunners.net/escherichia-coli.html
135
SUMÀRIO:
1 - Introdução................................................................................................................ 13
2 - Fundamentação Teórico Metodológica................................................................ 18
2.1 Geografia Socioambiental.............................................................................. 18
2.2 Sistema ambiental urbano............................................................................... 24
2.3 Considerações sobre limnologia..................................................................... 32
2.4 Materiais e Procedimentos Técnicos ............................................................. 38
3 - Classificação e características gerais da origem dos corpos limnicos...................... 40
3.1 Lagunas........................................................................................................... 42
3.2 Processos formadores de lagoas...................................................................... 43
4 Caracterização ambiental da Lagoa da Maraponga.................................................. 51
4.1 Localização da área de estudo......................................................................... 51
4.2 Caracterização dos componentes Geoambientais........................................... 53
4.2.1 Arcabouço Geológico..........................................................................53
4.2.2 A Geomorfologia................................................................................ 56
4.2.3 Caracterização Climática e Hidrográfica............................................ 58
- Caracterização dos parâmetros Climáticos................................................ 62
- Análise do Balanço Hídrico....................................................................... 69
- Condições Hidrográficas e Hidrogeológicas............................................. 71
4.2.4 Classificação de solos e Cobertura Vegetal......................................... 73
- Solos........................................................................................................... 73
- Cobertura vegetal....................................................................................... 79
5 Uso e degradação dos recursos hídricos................................................................... 85
5.1 Diversidade de uso das águas continentais........................................................... 85
5.2 Deterioração das águas continentais..................................................................... 86
136
5.3 Qualidade do recurso hídrico da maraponga........................................................ 89
- Análise físico-químico e bacteriológica da água................................................. 89
- Resultado das analises para a lagoa da maraponga.............................................. 92
6 Aspectos sociais da área de estudo....................................................................... 110
6.1 Caracterização sócio-econômica da população da maraponga.......................... 116
6.2 Características sócio-econômicas dos freqüentadores entrevistados na lagoa da
maraponga................................................................................................................... 118
6.3 Atividades desenvolvidas pela prefeitura para revitalizar a área da lagoa da
maraponga................................................................................................................... 125
7 Considerações finais.............................................................................................. 126
8 Bibliografia............................................................................................................ 129
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo