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GERARDO MANUEL GARCÍA CHINCHAY
O ESPANHOL DE CANTA (LIMA-PERU): ALGUNS ASPECTOS FONOLÓGICOS,
MORFOSSINTÁTICOS E LÉXICOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CÂMPUS DE TRÊS LAGOAS
TRÊS LAGOAS – MS
2010
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ii
GERARDO MANUEL GARCÍA CHINCHAY
O ESPANHOL DE CANTA (LIMA-PERU): ALGUNS ASPECTOS FONOLÓGICOS,
MORFOSSINTÁTICOS E LÉXICOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Letras da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Câmpus de Três Lagoas, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Letras. Área
de Concentração: Estudos Linguísticos.
Orientador: Prof. Dr. Rogério Vicente Ferreira.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CÂMPUS DE TRÊS LAGOAS
TRÊS LAGOAS – MS
2010
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iii
O ESPANHOL DE CANTA (LIMA-PERU): ALGUNS ASPECTOS FONOLÓGICOS,
MORFOSSINTÁTICOS E LÉXICOS
BANCA DE DEFESA
_________________________________________
Orientador Prof. Dr. Rogério Vicente Ferreira (UFMS/ CPTL)
_________________________________________
Prof. Dra. Vitória Spanghero Ferreira (UFMS/CPTL)
_________________________________________
Prof. Dr. Waldemar Ferreira Neto (USP)
Suplentes:
Prof. Dr. Ludoviko Carnasciali dos Santos (UEL)
Prof. Dr. Edson Rosa Francisco (UFMS/ CPTL)
TRÊS LAGOAS – MS
2010
iv
Aos povos andinos, em especial ao povo de
Canta, que, apesar dos anos, ainda conserva
“testemunhos” da presença indígena andina.
v
AGRADECIMENTOS
Registro aqui o meu reconhecimento e agradecimento àqueles que contribuíram
direta ou indiretamente para a concretização deste trabalho:
A Deus, por tudo o que me deu e me dará.
A meus informantes, ao povo andino de Canta, pela acolhida e disponibilidade,
que sem a ajuda deles este trabalho não existiria.
À minha família: meus pais, Gerardo Garcia Valverde e Mercedes Chinchay
Aliaga; meus irmãos: John Henry e Fiorella Judith. Todos eles têm sido fontes inacabáveis de
amor, alento e superação. Eles me apoiaram em todo momento e souberam compreender-me
nos momentos difíceis. A todos eles, sempre um agradecimento infinito.
A Nícida Mariela Oliva González pela ajuda no trabalho de campo.
Ao Professor Doutor, o meu orientador, Rogério Vicente Ferreira, por me orientar
com paciência e compreensão e por me brindar com conhecimentos de teoria linguística, bem
como com sua amizade, com conselhos significativos a um estudante estrangeiro.
Aos professores Edson Rosa Francisco de Souza e Marlene Durigan pelos valiosos
comentários e sugerências a esta pesquisa.
Ao Professor Mestre Augusto Alcocer Martinez (Universidad Nacional Federico
Villarreal, Peru), pelos comentários, sugestões e críticas ao trabalho.
Ao Dr. Rodolfo Cerrón-Palomino (Pontifícia Universidad Católica del Peru), por
influenciar-me sobre as pesquisas linguísticas na área andina.
Ao Professor Doutor Angel Corbera Mori (Universidade Estadual de Campinas),
pelos conselhos durante o mestrado.
Ao linguista Alejandro Guamancayo (Universidad Nacional Mayor de San
Marcos, Peru), pelos valiosos comentários aportados à pesquisa.
vi
Aos professores Dra. Celina Garcia do Nascimento e Dr. José Batista de Sales
(Coordenadores da Graduação Letras da UFMS-CPTL, 2009), pela oportunidade que me
concederam de atuar como professor voluntário no ensino superior, no Brasil, na disciplina
Língua Espanhola I, de março a setembro de 2009.
Aos meus amigos Vinicius Figueiredo e Joseane Marçal, por me acolherem como
professor de espanhol no Projeto de Extensão Pró-línguas na UFMS-CPTL, de abril de 2008
até dezembro de 2010.
Ao meu amigo Ivan, Mestrando em Geografia da Universidade Federal
Fluminense, Câmpus Niterói, pela realização dos mapas.
A pessoas como o sr. Luiz Guilherme, sra. Neuraci, Luiz, Jeferson, sr. Ary, sra.
Rose, sr. Mieceslaw, Luciano, Rodolfo, Ivan, Daniel, Roberto, Tayrone. Todos eles são
amigos que fizeram mais divertida minha estada neste país.
À CAPES (Coordenação Acadêmica Pessoal do Ensino Superior), pelo apoio
financeiro para a realização desta pesquisa.
vii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................
18
CAPÍTULO I – METODOLOGIA TEÓRICA E DE CAMPO........................................
21
1.1 Metodologia teórica........................................................................................................
21
1.1.1 Descrição linguística.................................................................................................... 21
1.1.1.1 Teoria do contato de línguas..................................................................................... 21
1.2 Metodologia de campo................................................................................................... 27
1.2.1 Pesquisa bibliográfica.................................................................................................. 27
1.2.2 Pesquisa de campo propriamente dita e coleta de dados............................................. 28
1.2.2.1 Coleta de dados......................................................................................................... 29
1.2.2.2 Os informantes .........................................................................................................
30
CAPÍTULO II – ANTECEDENTES...................................................................................
32
2.1 Antecedentes onomásticos..............................................................................................
32
2.2 Antecedentes linguísticos...............................................................................................
34
CAPÍTULO III – CANTA....................................................................................................
36
3.1 Situação atual..................................................................................................................
36
3.1.1 Aspectos físicos........................................................................................................... 36
3.1.2 Divisão política da província de Canta........................................................................
36
3.1.3 Altitude........................................................................................................................
36
3.1.4 População.................................................................................................................... 37
3.1.5 Principais características da economia ....................................................................... 37
3.2 Antecedentes históricos de Canta ...................................................................................
38
3.2.1 Época pré- incaica e incaica ..........................................................................................
38
3.2.2 Conquista e virreinato ....................................................................................................
39
CAPÍTULO IV – AS FAMÍLIAS LINGUÍSTICAS ANDINAS.......................................
40
4.1 Línguas mistas................................................................................................................
40
4.2 A família uru-chipaya ....................................................................................................
41
4.3 Possível origem comum do quechua e do aimara: quechumara.......................................
41
4.4 A família aimara............................................................................................................. 42
4.5 A família quechua........................................................................................................... 43
4.6 Características fonológicas e gramaticais das famílias quechua e aimara...................... 47
4.6.1 Fonologia..................................................................................................................... 47
4.6.1.1 O sistema vocálico .................................................................................................. 48
4.6.1.2 O sistema consonântico ........................................................................................... 48
4.6.2 Morfossintaxe.............................................................................................................. 50
4.6.2.1 A palavra em quechua e aimara................................................................................ 50
4.6.2.2 O sistema nominal quechua e aimara....................................................................... 53
4.6.2.3 O sistema verbal quechua e aimara.......................................................................... 54
viii
CAPÍTULO V – A LÍNGUA ESPANHOLA......................................................................
56
5.1 A língua espanhola nos quatro mundos............................................................................
56
5.2 A Língua espanhola na América.......................................................................................
56
5.3 O espanhol do Peru...........................................................................................................
62
5.3.1 O espanhol peruano e suas variedades...........................................................................
62
5.3.2 O espanhol andino peruano...........................................................................................
64
CAPÍTULO VI – ANÁLISE DOS DADOS: TRANSFERÊNCIA DAS LÍNGUAS
ANDINAS AO ESPANHOL DE CANTA ..........................................................................
65
6.1 Transferências fonológicas...............................................................................................
67
6.1.1 O segmento /ʃ/.................................................................................................................
69
6.1.1.1 Descrição e análises ....................................................................................................
69
6.1.1.2 Origem ........................................................................................................................
72
6.1.2 O segmento /¥/ ..............................................................................................................
75
6.1.2.1 Descrição e análises ....................................................................................................
75
6.1.2.2 Origem.........................................................................................................................
78
6.1.3 O segmento [ɹ]................................................................................................................
80
6.1.3.1 Descrição e análises.....................................................................................................
80
6.1.3.2 Origem.........................................................................................................................
81
6.2 Transferências morfossintáticas.........................................................................................
82
6.2.1 Transferência de alguns morfemas.................................................................................
82
6.2.1.1 As interjeições............................................................................................................. 82
6.2.1.2 O gênero.......................................................................................................................
83
6.2.2 Transferência na ordem de palavras...............................................................................
84
6.2.2.1 A dupla marcação de posse........................................................................................
..
84
6.2.2.2 Tratamento do acusativo.............................................................................................. 86
6.2.2.3 Tratamento do dativo...................................................................................................
91
6.3 Transferências léxicas........................................................................................................
95
6.3.1 Empréstimos léxicos.......................................................................................................
95
6.3.1.1 Por sua natureza...........................................................................................................
96
6.3.1.1.1 Empréstimos adaptados............................................................................................
96
6.3.1.1.1.1 Adaptações vocálicas............................................................................................. 97
6.3.1.1.1.2 Adaptações consonânticas....................................................................................
.
98
6.3.1.1.1.3 Adaptações vocálicas e consonânticas..................................................................
.
100
6.3.1.2 Empréstimos não adaptados........................................................................................
101
6.3.1.2 Por sua formação.........................................................................................................
102
6.3.1.2.1 Empréstimos não adaptados de lexemas simples.....................................................
102
A) Quechua .............................................................................................................................
102
B) Aimara................................................................................................................................
102
C) Quechua e Aimara .............................................................................................................
102
6.3.1.2.2 Empréstimos não adaptados de lexemas compostos...............................................
102
A) Quechua + Quechua........................................................................................................... 103
6.3.1.2.3 Empréstimos híbridos.............................................................................................. 103
6.3.1.2.3.1 Lexema + Lexema.................................................................................................
103
A) Quechua + Espanhol .........................................................................................................
.
103
B) Espanhol + Quechua...........................................................................................................
103
6.3.1.2.3.2 Lexema + Afixo..................................................................................................... 103
A) Quechua + Espanhol...........................................................................................................
103
ix
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................
105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................
108
ANEXOS................................................................................................................................
120
N° 1. LÉXICO COLETADO PARA A ANÁLISE DO ESPANHOL DE CANTA..............
121
N° 2 MAPA DE HISPANO-AMÉRICA...............................................................................
126
N° 3 MAPA DO QUECHUA E DO AIMARA E OUTRAS LÍNGUAS DO PERU
SEGUNDO O ETHNOLOGUE..............................................................................................
127
N° 4 MAPA DO ESPANHOL ANDINO..............................................................................
128
N° 5 MAPA DE CANTA.......................................................................................................
129
N° 6 MODELO DA ENTREVISTA......................................................................................
130
N° 7 MODELO DE QUESTIONÁRIO.................................................................................
131
x
LISTA DE SIMBOLOS
{-N} Qualquer sufixo do paradigma
[ ] Transcrição fonética
/ / Transcrição fonológica
* Proto-forma, forma reconstruída ou forma anterior
{ } Morfemas
~ Alomorfia
< > Grafemas ou fontes de escrita originais
% Fronteira morfêmica
. Fronteira silábica
xi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AC Aimara Central
ACUS. Acusativo
Adj. Adjetivo
ADV. Advérbio
Aim. Aimara
Arg. Argentina
AS Aimara do Sul
ASP. Aspectual
Bol. Bolívia
Col. Colômbia
CPP Constituição Política do Peru
DAT. Dativo
DET. POS. Determinante Possessivo
DRAE Diccionario de la Real Academia Española
Eq. Equador
E/LE Espanhol como Língua Estrangeira
Esp. Espanhol
Esp. lit. Espanhol literal
F.prep. / FP Frase Preposicional
Imp. Imperativo
IPA International Phonetic Alphabet
Jac. Jacaru
L1 Primeira língua ou língua materna
L2 Segunda língua
xii
N Nome
NUM Numeral
OBJ Objeto
Pe. Peru
PL. Plural
1PO 1ª Pessoa Objeto
1PPLEX 1ª Pessoa Plural Exclusiva
1PPLIN 1ª Pessoa Plural Inclusiva
1SG 1ª Pessoa Singular
1PS Pessoa Sujeito
2SG 2ª Pessoa Singular
3PL 3ª Pessoa Plural
3SG 3ª Pessoa Singular
3PS Pessoa Sujeito
PREP Preposição
PROG. Progressivo
Pr. Pronome
PRON. POS Pronome Possessivo
Quech. Quechua
Quech. A. Quechua Ancash-Huiallas
Quech. C. Quechua Cajamarca-Cañaris
QC Quechua Central
Quech. H. Quechua de Huánuco
Quech. J. Quechua Junín-Huanca
QN Quechua do Norte
xiii
Quech. PH Quechua de Pasco-Huánuco
QS Quechua do Sul
RAE Real Academia Española
S. Substantivo
Séc. Século
TOP Topicalizador
Vb./ VB Verbo
xiv
LISTA DE QUADROS
QUADRO N° 1: POPULAÇÃO DA PROVÍNCIA DE CANTA...................................
37
QUADRO 2: CONSOANTES DA FAMÍLIA LINGUÍSTICA QUECHUA E
AIMARA..........................................................................................................................
49
QUADRO 3: SUFIXOS POSSESIVOS E DE PESSOA DA FAMÍLIA
LINGUÍSTICA QUECHUA.............................................................................................
53
QUADRO N° 4: SUFIXOS VERBAIS DA FAMÍLIA QUECHUA E AIMARA..........
55
QUADRO N° 5: FONEMAS CONSONÂNTICOS DA LÍNGUA ESPANHOLA..
67
QUADRO N° 6: OS FONEMAS CONSONÂNTICOS DO ESPANHOL DE CANTA,
BASEADO EM MASGO (1977), RAMIREZ (1980) E BALDOCEDA
(1993)................................................................................................................................
68
QUADRO N° 7: COMPARAÇÃO ENTRE /ʃ/ DO AIMADARA DO CENTRO E /s/
DO AIMARA DO SUL....................................................................................................
73
QUADRO N° 8: HIPÓTESES DE /x/ e /k/ NO ESPANHOL DE CANTA....................
99
xv
LISTA DE FIGURAS
FIGURA N° 1: A FAMÍLIA LINGUÍSTICA AIMARA..................................................
42
FIGURA N° 2: A FAMÍLIA LINGUÍSTICA QUECHUA..............................................
44
FIGURA 3 A: ESTRUTURA MORFOLÓGICA DA PALAVRA EM QUECHUA
E AIMARA.........................................................................................................................
51
FIGURA N° 3 B: PALAVRA EM QUECHUA E AIMARA...........................................
51
FIGURA N° 4: VARIEDADES DIALETAIS DA LÍNGUA ESPANHOLA..................
55
FIGURA N° 5: ABRANGÊNCIA DO ESPANHOL ANDINO.......................................
55
FIGURA N° 6: O ESPANHOL PERUANO SEGUNDO ESCOBAR..............................
63
FIGURA N° 7: O ESPANHOL PERUANO SEGUNDO CARAVEDO..........................
63
FIGURA N° 8: MUDANÇAS NA REALIDADE LINGUÍSTICA DE CANTA.............
67
FIGURA N° 9: ORIGEM DE /ʃ/.......................................................................................
74
FIGURA N° 10: ORIGEM DA PALATAL......................................................................
79
xvi
RESUMO
A configuração atual de Hispano-América se deve à posição de vantagem que a língua
espanhola teve diante das línguas indígenas americanas. No espaço andino, especialmente no
Peru, esse contato e posterior substituição de línguas têm configurado um espanhol diferente
do padrão, que é conhecido como o espanhol andino. Esse espanhol é obtido de duas
maneiras: a primeira, como segunda língua de aprendizagem, dos falantes nativos de quechua
ou aimara; a segunda, como língua materna em zonas onde antes se falava uma das línguas
andinas. Sobre esse segundo aspecto, um exemplo real ocorre com os falantes da província de
Canta, localizada na região de Lima, a 101 km da cidade de Lima, capital do Peru. Nossa
pesquisa aborda alguns aspectos fonológicos, morfossintáticos e léxicos do espanhol de
Canta. Nessa província, onde, atualmente, existem só falantes monolíngues de espanhol,
sendo essa variedade de espanhol possuidora de várias marcas (ou transferências) de um
antigo contato com as nguas andinas. Essas marcas são visíveis em todos os níveis, desde o
fonológico e morfossintático até o léxico. No plano fonológico, encontra-se a pervivencia de
dois fonemas e uma aproximante; no morfossintático, chama a atenção o comportamento
pronominal dos casos acusativo e dativo; no léxico, encontra-se uma grande quantidade de
palavras indígenas adotadas e não adotadas, assim como a presença dos bridos. Na
construção do referencial teórico da pesquisa, foram utilizados os trabalhos de Thomason
(2001), Appel e Muysken (1996) sobre o contato de línguas; as contribuições de Thomason e
Kaufman (1988) sobre transferências; os aportes de Malmberg (1967), Alcaráz e Martinez
(1997) sobre substrato e, por último, acerca da teoria da multicausalidade ou causa múltipla,
baseamo-nos em Malkiel (1967) e, na sua aplicação no mundo hispânico, optamos por De
Granda (1999).
Palavras-chave: Espanhol Andino, Canta, Peru
xvii
ABSTRACT
The current configuration of Hispano-America is due to the advantageous position that took
the Spanish language in the face of American Indian languages. In the Andean area,
especially in Peru, this contact and subsequent replacement of Spanish languages have a
different set of pattern that is known as the Andean Spanish. This Spanish is obtained in two
ways: first, as a second language learning from native speakers of Quechua or Aymara, the
second mother tongue in areas where previously there was talk of the Andean languages. On
this second point, a real example is the case with the speakers of the province of Canta,
located in the Lima region, 101 km from the city of Lima, Peru. Our research addresses some
phonological, morphosyntactic and lexicons of Spanish of Canta. This province, where there
are currently only monolingual speakers of Spanish, and this variety of Spanish possession of
several brands (or transfers) of an old contact with the Andean languages. These marks are
visible at the phonological, morphosyntactic and even the lexicon levels. In terms of
phonological, there are two new phonemes; in morphosyntactic, draws attention to the
behavior of pronominal accusative and dative cases, the lexicon, there is a lot of Indian words
adopted and not adopted, as well as the presence doss hybrids. Were used with theoretical
work of Thomason (2001), Appel and Muysken (1996) on the language contact, the
contributions of Thomason and Kaufman (1988) on transfers; intakes of Malmberg (1967),
Alcaraz and Martinez (1997) on substrate and, finally, about the theory of multiple causes or
multiple causes us based on Malkiel (1967) and its application in the Hispanic world we
chose De Granda (1999).
Keywords: Andean Spanish, Canta, Peru
INTRODUÇÃO
No espanhol andino de Canta, encontram-se diversos “vestígios” de um
antigo contato com as línguas andinas quechuas e aimara. Esse tipo de contato
denomina-se, tecnicamente, transferência. Tem-se conhecimento dessas línguas por
meio de fontes históricas e onomásticas, pois elas nunca foram descritas nem
documentadas naquele território. Atualmente, nessa província localizada na região de
Lima, no Peru, todos os seus habitantes são falantes monolíngues hispanos e não
possuem lembrança de um passado linguístico andino. Por isso, este estudo pretende, de
forma geral, analisar o espanhol andino dessa província por meio das principais
transferências aportadas pelas línguas andinas nos diferentes níveis, do fonológico até o
lexical. Com efeito, este trabalho justifica-se pelo fato de que esse tipo de pequisa sobre
o lugar nunca foi realizado, pois existiam trabalhos independentes e isolados. De
forma geral, a pesquisa também se justifica quando se procura compreender o espanhol
andino dos monolíngues, uma vez que são os menos estudados no Peru.
A dissertação encontra-se estruturada em seis capítulos conforme descrevemos
na sequência.
O primeiro capítulo, Metodologia teórica e de campo, mostra, inicialmente,
os pressupostos teóricos em que se ancora a pesquisa, quais sejam: os trabalhos de
Wenreich (1953), Thomason e Kaufman (1988), Silva-Corvalán (1989, 1994), Appel e
Muysken (1996), Thomason (2001) e Makiel (1967). Posteriormente, apresentam-se os
procedimentos adotados na realização do trabalho de campo realizado nos distritos de
Canta, assim como os critérios de seleção de nossos informantes.
No segundo capítulo, Antecedentes, são relatadas as pesquisas anteriormente
realizadas sobre Canta, tanto aquelas de perspectiva histórica (CABRERA, 1984;
19
ROSTWOROWSKI, 1978; VILLAR, 1982), como as de natureza linguística
(ALCOCER, 1988; BALDOCEDA, 1993; CERRÓN-PALOMINO, 2008; MASGO,
1977, 1988; RAMÍREZ, 1980).
O terceiro capítulo, Canta, apresenta uma breve descrição geográfica,
geopolítica (RAMON, 2008), demográfica (INEI, 2007), social e histórica (CERRÓN-
PALOMINO, 1985; ROSTWOROWSKI, 1978; VILLAR, 1982) dessa Província.
No quarto capítulo, As famílias linguísticas andinas, mostramos a situação e
o funcionamento linguístico particularmente das famílias quechua (CERRÓN-
PALOMINO, 1987; PARKER, 1963; TORERO, 1964) e aimara (CERRÓN-
PALOMINO, 2000b; OLIVA, 2002).
No quinto capítulo, situamos o espanhol de Canta dentro do chamado
espanhol andino e, pois, do bloco denominado espanhol da América. (FONTANELLA,
1992; LAPESA, 1981; LÓPEZ, 1996; ZAMORA, 2009a). Assim também, utilizando
critérios linguísticos, históricos e práticos, dividimos o espanhol andino em espanhol
andino lato sensu e espanhol andino stricto sensu. O primeiro atingiria a extensão da
Cordilheira dos Andes desde Cabo de Fornos, no sul do continente sul-americano, até a
Venezuela, ao norte, passando pelo Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador e
Colômbia (ADELAAR E MUYSKEN, 2004). O segundo seria o espanhol andino
falado em lugares onde, no passado, estiveram as famílias linguísticas aimaras e
quechuas, e que corresponderia à área de alcance do desenvolvimento do Império dos
Incas. (UHLE, 1909; CERRÓN-PALOMINO, 1985).
Finalmente, no sexto capítulo, Análise de dados: algumas transferências das
línguas andinas ao espanhol de Canta, apresentamos descrições e análises das
transferências fonológicas (a presença dos segmentos [λ, ʃ, ɹ]), morfossintáticas (a
interjeição, o diminutivo, o gênero, a dupla marcação de posse e o tratamento do
20
acusativo e dativo) e léxicas (os empréstimos e híbridos), das línguas quechua e aimara
ao espanhol de Canta.
A seção de anexos contém o léxico coletado para a análise do espanhol de
Canta, quatro mapas (da Hispano-América, do quechua e aimara, do espanhol andino e
da Província de Canta) e os modelos da entrevista e questionário aplicados a nossos
informantes.
21
CAPÍTULO I
METODOLOGIA TEÓRICA E DE CAMPO
1.1 Metodologia teórica
Dentro da metodologia teórica, definimos e explicamos os pressupostos
teóricos usados na realização desta pesquisa.
1.1.1 Descrição linguística
O trabalho situa-se na perspectiva sociolinguística e do contato de línguas.
Esse campo de estudo foi iniciado pelos trabalhos feitos por Whitney e desenvolvido
por Wenreich ([1953] 1974), Thomason e Kaufman (1988), Silva-Corvalán (1989,
1994), Appel e Muysken (1996) e Thomason (2001). A seguir, detalharemos o que
entendemos por contato de línguas e que fenômenos constituem-se como causas dele.
1.1.1.1 Teoria do contato de línguas
Denomina-se contato de línguas a coexistência de duas (ou mais) línguas
num mesmo espaço geográfico. Thomason (2001, p. 1) define esse conceito de maneira
simplificada, dizendo que “o contato de línguas é o uso de mais de uma língua em
algum lugar, em algum tempo [...]”. Efetivamente, de acordo com essa proposta e a de
Garmadi (1983, p. 97), duas línguas estão em contato quando são alternativamente
utilizadas pelas mesmas pessoas. Os indivíduos que utilizam essas línguas são então os
lugares de contato, ou seja: são os falantes das línguas que se inter-relacionam, e não as
línguas em si. Apesar disso, a expressão “contato de línguas” é uma metáfora útil que
serve para explicar como os distintos sistemas linguísticos influenciam um ao outro
1
.
1
Appel e Muysken (1996) explicam que a expressão ‘contato de línguas’ é uma metáfora útil na pesquisa
sociolinguística.
22
Por outro lado, o contato linguístico tem sido objeto de especial atenção por
parte dos sociólogos da linguagem e etnógrafos da fala, bem como pelos estudos
variacionistas, sobretudo na vertente empírica, mas, como aponta García (1993, p. 53):
La preocupación [...] no ha sido exclusiva de los sociolingüistas. Psicólogos,
sociólogos, antropólogos o pedagógos se han ocupado de unos de los tema
clave de nuestro tiempo. No menos cierto es que esta vez el campo de
preocupaciones sociolingüísticas se halla bien delimitado: las características
del contacto linguístico, la situación social de las lenguas implicadas en el
mism, su distribución funcional y la stensiones generadas en relación a estos
factores.
Efetivamente, as pesquisas sobre línguas em contato começaram alheias à
linguística e, sobretudo, à sociolinguística. Os pressupostos iniciais da análise
basearam-se em conceitos psicológicos, antropológicos ou pedagógicos (ZANON,
1991).
Com efeito, o estudo das línguas em contato remonta, possivelmente, aos
estudos histórico-comparativos do século XIX. Nessa época, Whitney já havia feito
referência aos empréstimos na mudança linguística e Schuchardt havia tentado
explicar o contato de algumas línguas (APPEL E MUYSKEN, 1996, p. 16-17); no
entanto as pesquisas de Uriel Wenreich focalizadas na área da sociolinguística tiveram
como resultado o livro Language in contact, publicado em 1953, cujas bases eram os
modernos estudos sobre o contato de línguas (MERMA, 2007, p. 21).
O fato de que as línguas estejam em contínuo contato é um fenômeno
sociolinguístico comum. Calvet (2002, p. 35) aponta:
[...] torna-se evidente que o mundo é plurilingue em cada um dos seus
pontos e que as comunidades linguísticas se costeiam, se superpõem
continuamente. O plurilinguismo faz com que as línguas estejam
constantemente em contato. O lugar desses contatos pode ser o indivíduo
(bilíngue, ou em situação de aquisição) ou a comunidade [...].
Não existem dúvidas de que a situação natural do mundo é a de uma
realidade plurilíngue, pois, das 4000 ou 5000 línguas que existem no mundo, muitas se
encontram espalhadas apenas ao redor de 150 países. Assim, essa realidade é totalmente
23
assimétrica, que alguns países têm menos línguas e outros, mais; em alguns casos,
mais de uma centena. (CALVET, 2002; URIBE, 1972; MACKEY, 1976;
BERNÁRDEZ, 1999).
Sobre as consequências do contato de línguas, sobretudo nos países
bilíngues, Weinreich (1974, p. 1) menciona a aparição das interferências nos falantes e o
impacto causado por esse fenômeno:
La práctica de usar alternativamente las dos lenguas se denominará
bilingüismo y a las personas implicadas se denominarán bilingües. Los casos
de desviación con respecto a las normas de una u otra lengua que se da en
los bilingües como resultado de su familiaridad con más de una lengua, es
decir, como resultado del contacto de lenguas, se hará referencia con el
término fenómenos de interferencia. Son estos los fenómenos de habla y su
impacto sobre las normas de cada contacto de lengua expuesta al contacto lo
que despierta el interés del lingüista.
O surgimento das interferências como estágios intermediários diferentes das
normas das línguas em contato, tal como se afirma acima, pode ter um efeito muito
profundo nas línguas. Segundo Weinreich (1974, p. 1), pode implicar
El reacamodo de pautas resultantes de la introducción de elementos foráneos
en los dominios más acabadamente estructurados de la lengua como el fuerte
sistema fonemático, una gran parte de la morfología y la sintaxis y algunas
áreas del vocabulario (parentesco, color, clima, etc.
O contato e a interferência podem levar à substituição de uma língua por
outra ou à aparição de novas variedades linguísticas, como aconteceu com o espanhol na
América. Nesse caso, os falantes das línguas ameríndias abandonaram suas línguas
maternas pelo espanhol trazido da Península, configurando-se uma variedade de
espanhol “com novo rosto”. Além das interferências, que é um termo mais tradicional e
quase de uso específico para fenômenos e sociedades bilingues, nós preferimos usar o
termo moderno transferência. Sobre o uso e a definição desse termo, verifica-se, no
texto de Thomason e Kaufman (1988, p. 37), que “a reduplicação de alguns fatos (item
lexical, estrutura linguística, etc.) numa língua sobre o modelo de outra língua”
é
chamada de transferência. Da mesma maneira, para M. Clyne (1967 apud MORENO,
1998, p. 263), generalizar o termo e o conceito de “transferência” evitaria a conotação
24
(não gramatical) que implica a noção de interferência. Essa proposta não é, no entanto,
absolutamente nova, porque Weinreich fazia uso de tal denominação. No mesmo
caminho, Moreno (1998, p. 263) define a transferência como
[...] la influencia que una lengua ejerce sobre otra y, concretamente, como el
uso, en una lengua B, de un rasgo característico de la lengua A. En el terreno
de la gramática, las transferencias son, gicamente de naturaleza gramatical
y dan lugar a resultados agramaticales en la lengua B y a reestruccturaciones
de su sistema. Ahora bien, el hecho de que los resultados sean agramaticales
no quiere decir que sean poco frecuentes o antinaturales: en una situación de
contacto las transferencias (interferencias) son tan esperables como
habituales.
Moreno destaca que, no contato de línguas, é esperável, natural e habitual
que as transferências gramaticais na língua A resultem em transferências agramaticais
na língua B.
Silva-Corvalán (1989, 1994, p. 4-5) argumenta, todavia, que, para se falar de
transferência, é necessário que ocorram os seguintes fenômenos:
1) A substituição de uma forma da língua B por uma forma da língua A ou a
incorporação de uma forma de A inexistente em B. Esse fenômeno corresponde
ao que tradicionalmente se chamou empréstimo; Silva-Corvalán fala de
transferência direta.
2) A incorporação do significado de uma forma da língua A em uma forma
existente na língua B. Estaríamos também diante de uma transferência direta.
3) O aumento da frequência de uma forma de B por corresponder a uma forma
categórica ou majoritária na língua A. Tratar-se-ia de uma transferência
indireta.
4) Perda de uma categoria ou uma forma da língua B que não existe na língua A.
Também estaríamos diante de uma transferência indireta.
Apesar das críticas acerca da tradicional noção de interferência, isso não
supõe o abandono de tal denominação, que está muito arraigada entre os que são ou não
especialistas. Assim, nesta pesquisa, utilizamos o conceito de transferência (antes de
25
interferência), posto que, na nossa comunidade objeto de estudo, existem
monolíngues hispanos
2
.
De forma mais ampla, denomina-se de diferentes maneiras o tipo de
transferência, que depende da posição e função da língua que transfere traços sobre a
outra, havendo entre eles fenômenos como superstrato, adstrato e substrato.
Quando as transferências produzidas no contato de línguas obedecem ao
influxo que exerce a língua dominante sobre a oprimida, tem-se o superstrato. Sobre
esse termo, Carreter (1973, p. 383) concebe o superstrato como
un conjunto de fenómenos producidos por una lengua llevada a otro dominio
lingüístico en un proceso de invasión y que desaparece o no es adoptada ante
la firmeza de la lengua aborigen. W. Von Warturg, creador del rmino
(1933), ha hecho notar cómo, en estos casos, la lengua desaparecidad puede
teñir con algunos rasgos fónicos, xicos y gramaticales a la lengua que
persiste. Así por ejemplo, la distinción que el francés y el italiano hacen en
la diptongación entre sílabas libres y trabadas es, según Wartburg, la
consecuencia de un residuo que los hábitos articulatorios de los germanos
dejaron en el latín al adoptar éstos la lengua del Imperio conquistado y
abandonar la suya propia: un fenómeno de superestrato. Por tanto, se han
enseñado también acciones de superestrato las ejercidas por el español sobre
el guaraní, el quechua, el náhuatl..
Carreter, para explicar o superstrato como fenômeno sociolinguístico,
esclarece que ele tende a aparecer pela influência exercida pelo espanhol sobre as
línguas ameríndias iniciadas na época colonial.
Quando o influxo é, porém, ao contrário, de baixo para cima, da língua
dominada à dominante, o que se tem é o substrato. De forma geral, Malmberg define
esse fenômeno manifestando que:
En la teoría de los cambios lingüísticos se emplea el término SUBSTRATO
para designar la conservación de ciertos hábitos lingüísticos (la forma de
pronunciar cierto sonidos o el uso de ciertas construcciones o expresiones
idiomáticas) que puede suceder cuando un pueblo abandona su lengua nativa y
empieza a hablar otra lengua, a consecuencia de una conquista o invasión, por
ejemplo. Lo que en principio eran errores se va aceptando gradualmente en el
nuevo lenguaje. De esta manera, la lengua de un pueblo conquistador puede
modificarse por influencia del lenguaje de los conquistados (MALMBERG, B.,
1967, p. 20 apud ALCARÁZ, E. e MARTÍNEZ, M. 1997. p. 546).
2
Neste trabalho, optou-se por não utilizar o termo “empréstimo” de uma forma geral, ou seja, empréstimo
fonológico, morfossintático e léxico, mas sim em um sentido restrito: somente nas transferências lexicais
ou empréstimos lexicais, tal como segue Carvalho (1989), presentes, neste caso, na língua espanhola.
26
Com relação ao substrato, Malmberg argumenta que é a conservação de
certos aspectos da língua local presentes em outra língua. As características daquela
língua local que o falante substituiu no percurso do tempo encontram-se agora na nova
língua que é utilizada.
No tocante às línguas indígenas, Amado Alonso (1961) destaca os distintos
tipos de substrato produto do contato do espanhol com as línguas indígenas da América.
O autor argumenta que:
las lenguas indígenas se presentan como substratum fonético del español
americano, desde el grado cero (las grandes ciudades del Río de La Plata,
Lima, Bogotá, Las Antillas, etc.) hasta el grado máximo en las extensas zonas
de bilingüismo. El substratum morfológico y sintáctico es exclusivo de las
regiones todavía bilingües. El substratum léxico se presenta muy complicado
con los préstamos. La mayor parte de los indigenismos usados por toda
América (y de los que pasaron a Europa) preceden de una sola región, las
Antillas, primer asiento de los españoles y únicodurante treinta años; después
el náhuatl mejicano y el quechua peruano son los principales proveedores. Las
lenguas indias locales dan al español de cada región más palabras cuanto más
se aproximan sus habitantes al bilingüismo. En las lenguas locales, muchas
palabras han sido desplazadas por la correspondiente antillana, y menos por la
mejicana o la quechua. De este modo, América resulta ser excelente campo de
estudio para soprender el proceso histórico de la acción de substratum y el de
las migraciones de palabras de diferentes lenguas conjuntamente desplazadas
por otra de los conquistadores. (ALONSO, 1961, p. 266).
Por último, quando as línguas do mesmo status se transferem, o que temos é
o adstrato. Sobre esse termo, Lázaro Carreter (1973, p. 28) expressa o seguinte:
Adstrato/Parastrato: Término propuesto por M. Valkhoff para designar el
influjo entre dos lenguas que, habiendo convivido algún tiempo en un mismo
territorio, luego viven en territorios vecinos. Es sinónimo de Parastrato. El
mismo término se aplica actualmente por muchos lingüistas para designar el
influjo mutuo de dos lenguas o dialectos vecinos: catalán y castellano, gallego
y asturiano, etc..
Efetivamente, o adstrato mostra-se nos contatos de língua em espaços
geográficos vizinhos. A influência é bidirecional, sem chegar a desaparecer nenhuma
das línguas. Por exemplo: na Península Ibérica, existe adstrato entre o catalão e o
castelhano
3
(ATIENZA et al, 1998); na América do Sul, entre o português e espanhol,
3
Optamos por “castelhano” aqui porque obedece à denominação aceita pelos peninsulares, mas, ao longo
da dissertação, preferimos utilizá-los como sinônimos.
27
nas regiões de fronteira entre o Brasil e os países hispano-americanos (STEFANOVA-
GUEORGUIEV, 2000).
Superstrato, substrato e adstrato são fenômenos de transferência, tal como
define Silva-Corvalán (1989; 1994, p. 4-5): “produto do contato linguístico”. A aparição
desses fenômenos é um processo natural, assim como o contato de línguas dentro das
sociedades.
1.2 Metodologia de campo
Dentro da metodologia de campo, relatamos o processo de coleta
bibliográfica e de dados empreendido para a realização desta pesquisa.
1.2.1 Pesquisa bibliográfica
Inicialmente foi realizada uma coleta de documentos com fontes primárias
ou secundárias, dando preferência às contemporâneas: estudos publicados em revistas
especializadas, algumas delas disponíveis na internet. A coleta de informação teórica
referente ao espanhol, espanhol andino, contato de línguas, línguas andinas, fonética e
fonologia, gramática e lexicologia foi realizada nos seguintes locais e datas. A coleta
bibliográfica foi iniciada na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Três Lagoas,
MS, Brasil), Biblioteca Câmpus I, onde encontramos materiais sobre empréstimos
linguísticos, sociolinguística e dialetologia em língua portuguesa. Depois, viajamos ao
Peru e fomos à Pontificia Universidad Católica del Perú (PUCP), em cuja biblioteca
encontramos informações sobre espanhol andino e contato de línguas. Do mesmo modo,
visitamos a Biblioteca Central e a Biblioteca de Educação da Universidad Nacional
Mayor de San Marcos (Lima-Peru), onde encontramos duas teses que abordavam o
espanhol de um distrito da província de Canta. A Biblioteca Nacional del Peru foi outro
lugar visitado para a obtenção de informação histórica sobre a comunidade pesquisada.
28
Nos Andes da região de Lima, utilizamos a biblioteca do Concejo Provincial de Canta,
que nos proporcionou alguns manuais de natureza histórica e geográfica sobre a zona de
pesquisa. Na nossa visita à Universidad Nacional Federico Villarreal, obtivemos as
gramáticas das diferentes variedades do quechua e do aimara, além de encontrar
pesquisas toponímicas e históricas sobre Canta.
1.2.2 Pesquisa de campo propriamente dita e coleta de dados
A pesquisa de campo foi realizada na província de Canta, nos distritos de
Canta e no anexo de Obrajillo, San Miguel de Pariamarca, Cullhuay e Huaros, mas
também, de forma indireta, nas demais populações da província
4
. O trabalho de campo
dividiu-se em três momentos:
No primeiro trabalho de campo, de 12 a 22 de janeiro de 2009, entramos em
contato com as autoridades da província (o Alcalde provincial, o Governador provincial
e o chefe da comunidade) para informá-los sobre a pesquisa que pretendíamos realizar.
Após pedir-lhes audiência para conversar, manifestamos o motivo da visita, que era o de
pesquisar a variedade de espanhol que possui a comunidade. O líder informou que a
pesquisa poderia ser realizada na comunidade sem problemas. A primeira atividade do
trabalho de campo foi realizada na capital da província, onde foram selecionados os
informantes para a entrevista.
O segundo trabalho de campo, de 9 a 18 de fevereiro de 2009, foi realizado
no distrito de Obrajillo (anexo da cidade de Canta) e em San Miguel de Pariamarca,
onde foram entrevistados agricultores, criadores de gado e fabricantes de queijo
artesanal. Vale ressaltar que, nessas circunstâncias, percebemos a importância do
Caderno de campo, uma vez que o informante apresenta algumas vezes certos registros
linguísticos que escapam à entrevista formal, como aconteceu em nosso caso. No
4
Aos domingos, vinham pessoas de outros distritos da província para vender e comprar no distrito de
Canta. Aproveitamos a presença deles para aplicar o nosso questionário.
29
Caderno de campo, foram registrados dados importantes para o desenvolvimento direto
e indireto da pesquisa.
No terceiro trabalho de campo, de 10 a 20 de janeiro 2010, chegamos aos
distritos de Huaros e Culhuay, onde conseguimos entrevistar, em suas casas, várias
pessoas com idade acima dos 50 anos.
1.2.2.1 Coleta de dados
A coleta de dados é baseada na proposta de Garcia (2002), conhecida como a
encuesta. Esse é um método que se realiza por meio de técnicas de interrogação,
procurando conhecer aspectos relativos aos diferentes grupos humanos. Neste caso, o
interesse é estritamente linguístico e cultural. Tanto para entender como para justificar a
conveniência e a utilidade da encuesta, é necessário esclarecer que, em um processo de
pesquisa, em princípio, o recurso básico que nos auxilia para conhecer nosso objeto de
estudo é a observação, a qual permite a apreciação empírica das características e o
comportamento do que se pesquisa (Ibidem, p. 19). O objetivo de nossa encuesta foi
obter informação de natureza linguística (informação fonológica, gramatical e lexical).
As ferramentas mais frequentes para a realização de uma encuesta são a entrevista e o
questionário, as duas técnicas de pesquisa.
Segundo Garcia (Ibidem, p. 29-30), um questionário é um sistema de
perguntas racionais, ordenadas de forma coerente, tanto do ponto de vista lógico como
psicológico, expressas numa linguagem fácil e compreensível. Sabe-se que o
questionário permite a coleta de dados provenientes de fontes primárias, quer dizer, de
pessoas que possuem a informação pertinente ao interesse do pesquisador. Nosso
questionário, que permitiu a coleta de algumas palavras nativas do léxico do espanhol
de Canta, foi dividido em duas partes: na primeira, coletamos dados pessoais do
informante, como nome, idade, ocupação, grau de instrução, anotando-se a data em que
30
o questionário foi aplicado; na segunda parte, coletamos informação estritamente
linguística
5
.
Sobre a entrevista, ela se caracteriza por apresentar perguntas gerais de uma
maneira pouco rigorosa, gerando respostas de conteúdo pouco profundo (Ibidem, p. 22).
A duração de nossas entrevistas não teve um tempo limite e ela foi realizada por meio
da formulação de perguntas de natureza cultural, como relatos, histórias, origens dos
nomes de alguns lugraes, ocupações típicas da comunidade, entre outras coisas. Com as
entrevistas, obtivemos, além da informação léxica, dados fonológicos e gramaticais
relevantes dessa variedade de espanhol andino
6
.
Os dados foram coletados por meio de um microfone e áudio da marca
MICRONICS MIC 4840, ligado diretamente ao computador. Para salvar o material
coletado, utilizamos o programa Audacity, e o processamento realizou-se por meio do
programa Transcriber.
1.2.2.2 Os informantes
Os informantes são concebidos como falantes que aportam os materiais
linguísticos que constituem o corpus de nosso trabalho. As características dos
informantes dependem das perguntas que se tenta responder com a pesquisa.
(LISTERRI, 2008).
Foram selecionados, no total, 25 informantes. A escolha foi realizada com
base num critério sociolinguístico (ETXEBARRÍA,1985, p. 256-257 apud MORENO,
1998, p. 84), como se menciona abaixo:
a) Ser habitante de Canta ou ter nascido obrigatoriamente nessa província.
5
O modelo do Questionário Léxico pode-se ver no Anexo N° 7.
6
Para observar as perguntas que se formularam na entrevista, pode-se ver o Anexo N° 6.
31
b) Ser maior de 20 anos, pois, nessa faixa etária, maior conservação dos traços que
caracterizam uma variedade linguística, em oposição aos mais novos, que são altamente
inovadores.
c) Não fizemos distinção quanto ao gênero, grau de instrução e estado civil.
32
CAPÍTULO II
ANTECEDENTES
Entre os estudos sobre Canta, abundam trabalhos de perspectiva histórica
(CABRERA, 1984; ROSTWOROWSKI, 1978; VILLAR, 1982), no entanto, dentre os
estudos linguísticos, listamos aqueles de natureza onomástica e os estritamente
linguísticos.
2.1 Antecedentes onomásticos
Os trabalhos de natureza onomástica
7
foram os primeiros que, de forma
indireta, abordaram as antigas línguas do lugar.
No campo antroponímico, Ramírez (1980) analisa e descreve 101 gentílicos
e nomes da província de Canta a partir das Encuestas del Atlas Lingüístico y
Etnográfico del Peru durante os anos de 1973-1974. O relevante dessa pesquisa
encontra-se na mostra da alta frequência de palavras de origem quechua, sobretudo nos
apelidos que recebem os povoadores. Esses apelidos são derivados dos nomes das
comidas típicas de cada lugar da Província. Sobre isso, Ramírez exemplifica:
Caihuachupes (a los de Canchapilca [lugar]) o caihuachupe (del quechua
chupi “caldo”) es un alimento típico del lugar preparado a base de verduras
y [...] abundante caihuas (una especie de berenjena verde). (RAMÍREZ,
1980, p. 8; o itálico é nosso)
Sobre a toponímia, Baldoceda (1993) apresenta as origens dos diferentes
nomes dos lugares dessa província, que foram coletados a partir de mapas oficiais,
livros e monografias referentes ao lugar. A linguista peruana analisa o as raízes
substantivas, verbais e adjetivais dos topônimos, como também as funções que os
7
Segundo Solís (1997, p. 14) entende-se por Onomástica a ciência que estuda os nomes próprios, sejam
estes de pessoas (antropônimos) ou de lugares (topônimos).
33
sufixos exercem, tanto de natureza derivativa quanto formativa. Acerca da filiação
linguística que possuem os topônimos analisados, a autora explica da seguinte forma:
Las etimologías de los topónimos estudiados nos remiten a los idiomas
andinos conocidos (quechua, aimara y jacaru) y, en menor grado, al español,
en formaciones híbridas. Algunas veces es difícil precisar en que lengua se
basa la etimología, por dos razones: a) Hay raíces comunes en los tres
idiomas (por ejemplo., marka, pampa, paqcha, qutu, etc.); b) Contacto de
lenguas: en la sierra de Lima [zona en que está Canta] coexistieron
variedades del quechua con las lenguas aimaras, lo que aún se ve en Yauyos,
donde las áreas jacaru-hablantes quedan cerca de los pueblos quechua-
hablantes (BALDOCEDA, 1993, p. 1; o itálico é nosso).
Os topônimos mais comuns reconhecidos pela autora são das línguas
quechuas e aimaras (o jacaru é uma variedade de aimara), e neles se pode perceber o
antigo uso dessas línguas, embora seja difícil estabelecer, em algumas, a verdadeira
origem de uma palavra, já que aparece nas três línguas.
Na mesma pesquisa toponímica, Cerrón-Palomino (2008, p. 166) analisa o
nome “Canta” dando-lhe origem aimara e explicando o étimo. O linguista argumenta
que:
[...] podemos sustentar que también muestra un cambio en su forma fónica, a
partir del proto-aimara
kanĉa, habiendo ocurrido la mutación */ĉ/ > /t/ en
su desarrollo, fenómeno propio de la evolución de la proto-lengua
respectiva. (o itálico é nosso).
Cerrón-Palomino mostra como o nome Canta pertence ao aimara
8
, mas
algumas variedades de aimara que abarcam o ramo central e que nunca foram
registradas de forma direta
9
, como o jacaru de Canta. Hardman (1983, p. 25), ao
descrever a antiga área de abrangência dessa variedade linguística, explica que ainda
existiam falantes em Canta no começo do século XX. Sobre isso, acreditamos que é um
argumento difícil de provar, pois Hardman, em nenhum momento, apresenta as provas
necessárias para datar a extinção dessa variedade linguística.
8
Deve-se entender aqui o termo “Aimara” como família linguística. .
9
Sobre a descrição dessa variedade de aimara, Cerrón-Palomino (2000b, p. 49) relata que, em 1934, o
arqueólogo Toribio Mejía Xespe coletou material onomástico de toda a área cauqui (denominação do
aimara do lugar), que ela compreendia toda a região da antiga Nacion Yauyos e que atualmente são as
atuais províncias de Canta, Huarochirí y Yauyos.
34
As variedades centrais do aimara foram rapidamente assimilando-se ao
quechua daquele lugar, da mesma forma que o quechua foi assimilado pelo espanhol.
Argumentos favoráveis ao mencionado anteriormente podem-se encontrar nos registros
dessas várias ocupações, por meio dos diferentes itens toponímicos. Um exemplo é que
a cidade de Lima era antigamente um lugar de zona aimara em contacto com o quechua,
e isso se sabe por informação histórica e pela sobrevivência de topônimos dessas
línguas. (CERRÓN-PALOMINO, 2000a) .
2.2 Antecedentes linguísticos
Entre aqueles trabalhos que são considerados estritamente linguísticos,
temos as duas teses de Humberto Masgo, Fonologia del español hablado en la
Comunidad de Huaros (1977) e Gramática del español hablado en la Comunidad de
Huaros (Canta): Consecuencias pedagógicas (1988). Essas teses obedecem às
pesquisas feitas sobre a Comunidade de Huaros, localizada dentro do distrito do mesmo
nome, na província de Canta, na região andina de Lima e que foram apresentadas na
Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Sobre a primeira tese (1977), que versa
sobre o aspecto fonológico do espanhol dessa comunidade, Masgo explica o seu
funcionamento por meio de regras distribucionais, especialmente de alofones que
ocorrem em distribuição complementar. Além disso, descreve os padrões da estrutura
silábica (pp. 106-178) que não variam de acordo com o espanhol geral. No tocante à
segunda tese (1988), que discorre sobre o aspecto gramatical e os resultados
pedagógicos da mesma comunidade, o autor estabelece pontos de contato entre a
linguística pura e a linguística aplicada ao ensino da língua materna espanhola a partir
de comunidades concretas. Com isso, Masgo descreve e examina a estrutura e função
dos traços dialetais gramaticais do espanhol de Huaros a partir da coleta de dados. A
partir dessa descrição linguística, o pesquisador estende o conhecimento ao ensino-
35
aprendizagem da variedade particular para se aproximar a uma norma regional para, por
último, atingir a norma padrão do espanhol peruano. (MASGO, 1988, p.5).
No mesmo plano linguístico, o livro de Augusto Alcocer, Pequeño atlas
léxico del cuerpo humano en la Província de Canta (1988), destaca-se por mostrar a
diversidade léxica apresentada nessa província. Esse trabalho resume-se no registro de
mapas especiais da província, de seus distritos e anexos
10
, um conjunto de formas
linguísticas prioritariamente léxicas. A extensão e distribuição dos fenômenos se
comprovariam na forma aproximada com a delimitação geográfica da província, que
atinge cerca de 23 pontos. Coletaram-se diferentes variantes lexicais por meio de um
Questionario Básico, estruturado em campos lexicais referentes ao corpo humano. A
aplicação do Questionário foi realizada de 1973 até fins de 1974, por uma equipe de
professores e estudantes da Universidad de San Marcos, encabeçada pelo professor
Alcocer.
Dessa maneira, observamos que quase não existem trabalhos de descrição
linguística, tanto fonológica como morfossintática e lexical, sobre o espanhol da
província em geral. No campo do léxico, somente o trabalho de Alcocer (1988). No
aspecto gramatical ou morfossintático, uma exceção são os trabalhos de Masgo (1977;
1988), que abordam uma variedade de espanhol da província, do distrito de Huaros.
Pelo contrário, as pesquisas toponímicas foram as mais frequentes, com destaque aos
trabalhos de Ramírez (1980), Baldoceda (1993) e Cerrón-Palomino (2008), que
mostram a antiga presença das línguas andinas, apesar do tempo, no espanhol local.
10
Chama-se “anexo”, no Peru, a pequenas e isoladas populações que pertencem administrativa e
territorialmente a um distrito, que, por sua vez, é uma divisão da província. (ALCOCER, 1988, p. 64)
36
CAPÍTULO III
CANTA
3.1 Situação atual
A partir dos dados coletados em nossa pesquisa in loco, passamos a
descrever a comunidade de Canta.
3.1.1 Aspectos físicos
A Província de Canta localiza-se, geopoliticamente, na região de Lima, Peru,
na vertente hidrográfica do Pacífico, ou seja, no lado ocidental da Cordilheira,
pertencente aos Andes Centrais Peruanos, e ao norte da cidade de Lima,
aproximadamente a 101 km dela (RAMÓN, 2008, p. 6). Possui uma extensão de
1.687.29 km² e foi criada em 12 de fevereiro de 1821.
3.1.2 Divisão política da província de Canta
A província de Canta agrupa sete distritos
11
: Canta, Arahuay, Huamantanga,
Huaros, Lachaqui, San Buenaventura e Santa Rosa de Quives.
12
Limita-se, ao Norte,
com a província de Huaral; ao Sul, com a província de Huarochirí; a Oeste, com a
província de Lima; a Leste, com a província de Yauli , Região de Junín.
3.1.3 Altitude
Encontra-se a aproximadamente 2837 metros acima do nível do mar; mas
dentro da província existem diferenças. Por isso destacamos o lugar de maior altitude e
o de menor altitude: o lugar mais alto é no nevado denominado Señal Auquichani,
com 5,195 m.s.n.m., localizado no distrito de Huaros; o de menor altitude está no limite
11
Entende-se por distrito o que no Brasil é um município. Segundo o DRAE (2001), o distrito é uma das
demarcações em que se subdivide um território ou uma população para distribuir e ordenar o exercício
dos direitos civis e políticos, ou das funções públicas, ou dos serviços administrativos.
12
Dados tomados do Plan estratégico de la Provincia de Canta (2008, p. 5).
37
distrital com Carabayllo, distrito da província de Lima, sobre o río Chillón, com 520
m.s.n.m. (RAMÓN, 2008).
3.1.4 População
De acordo com o último censo realizado em 2007
13
, na Província de Canta
habitam 13513 pessoas, sendo a maioria de origem rural:
Distritos Urbano
% Rural
% Total
1 Santa Rosa de Quives 568 9.20 5,605
90.80
6,173
2 Canta 2,805 94.19
173 5.81 2,978
3 Huamantanga 967 76.44
298 23.56
1,265
4 Lachaqui 816 82.84
169 17.16
985
5 Huaros 692 75.14
229 24.86
921
6 Arahuay 356 51.90
330 48.10
686
7 San Buena Ventura 250 49.50
255 50.50
505
TOTAIS 6,454 47.76
7,059
52.24
13,513
QUADRO N°1: População da Província de Canta
3.1.5 Principais características da economia
A criação de gado é a principal atividade econômica na província, sendo o
mais importante o bovino, seguido do ovino, do caprino, do asinino, do equino, dos
camélidos (como a lhama e a vicunha) e do suíno. É intensiva a venda do gado nos
mercados limenhos. A criação de animais menores não tem um assessoramento técnico
nem responde às necessidades do mercado e serve basicamente para o autoconsumo,
embora, nos últimos anos, as famílias pobres tenham deixado de consumir para vendê-
los.
A segunda principal atividade é a agricultura. Nessas terras, seguem-se
semeando os tradicionais tubérculos, como la papa ‘batata’, mas as melhores variedades
delas a amarilla, a lucha, a negra, a canteña, a juyto, a jovera, a buena mosa, a shiri,
entre outras estão se perdendo. Em menor proporção, o olluco, tendo-se
abandonado por completo o cultivo da mashua e de cereais, como el maíz milho’, o
13
Dados tomados do INEI (2007). Neste site <http://desa.inei.gob.pe/mapas/bid/> podem-se encontrar as
cifras do último censo no Peru divididas por regiões e províncias.
38
trigo e a cevada, que estão em queda. (MUNICIPALIDAD PROVINCIAL DE CANTA,
2008, p. 23).
3.2 Antecedentes históricos de Canta
3.2.1 Época pré-inca e inca
Segundo Ramón (2008, p.8), dentro da costa e serra norte, essa província
teve suas origens históricas no Señorío
14
de Canta, dentro do Valle Chillón, por volta de
1200 d.C., anterior ao Império dos Incas. Ademais, Rostworowski (1978 p. 154) aponta
que esse Señorío estava formado por quatro ayllus e sua extensão territorial diferia da
atual. Sua capital era Kanta-Marka ou Cantamarca, que se encontra localizada a 3.500
metros de altitude, acima do nível do mar. Rostworowski não menciona a possível
língua desse Señorío, mas, conforme Villar (1982), deve ser uma variedade linguística
da família aimara.
Durante o apogeu do Império dos Incas ou o Tahuantinsuyo, o Inca Tupac
Yupanqui, que governou de 1471 a 1493, dominou numerosas regiões e organizou
extensos territórios fomentando a administração e a justiça social. Túpac Yupanqui
dominou aos Yauyos, Wancas, Wuarochiri e Chicamas e, descendo pela Cordilheira dos
Andes, acabou com o Reino Chimu, formando seu quartel geral na costa norte,
Paramonga, onde conquistou Cantamarca, capital do Señorío Canta. Da mesma
maneira, Rostworowski não explica sobre a imposição da língua dos Incas da época
15
nesse território, mas conhecedores da política linguística inca devem ter subjugado os
povos dominados ao quechua, na sua variedade Chinchay. (CERRÓN-PALOMINO,
1985, p. 504-572).
14
Entende-se por Señorío a “[...] Sociedade indígena do Antigo Peru, anterior aos Incas, que os
conquistadores espanhóis alcançaram a registrar...” (RAVINES, 1994, p. 375; tradução nossa)
15
Os incas da época de Inca Tupac Yupanqui falavam quéchua, ao passo que os primeiros incas falavam
uma variedade de Aimara. (CERRÓN-PALOMINO, 2004).
39
4.2.2 Conquista e virreinato
Com a chegada dos espanhóis, os cantenhos formavam parte de um
curacazgo
16
, reunidos sob a hegemonia dos Atavillos, no vale do Chillón. Foi o
conquistador Francisco Pizarro, quando esteve em Jauja (centro andino do Peru), que
reservou para si mesmo a Encomenda de Atavillos (RAMÓN, 2008, p. 9), iniciando-se
o seu processo de colonização.
Durante a imposição do sistema político-econômico do Império espanhol no
Peru, conhecido como Virreinato, a colonização do Vale do Chillón deu-se durante o
governo do Virrei dom Francisco de Toledo, que enviou a Canta comissionados, os
quais dispuseram os diversos ayllus ou grupos de família em marcas ou em
comunidades, que desceram dos cumes das montanhas de onde estavam situados para
construir suas novas populações hispanas e, assim, facilitar o governo das cidades e o
pagamento do imposto à real fazenda. (ROSTWOROWSKI, 1978, p.155).
16
Entende-se por Curacazgo o “[Pequeno governo p hispânico comandado por um curaca] [
Proveniente de Curaçá]. Curaca (q. Kuraka = ‘Senhor principal’, ‘senhor de vasalhos’): Chefe político e
administrativo do aillu. Originariamente foi o mais idoso e sábio. [...] Os incas nomearam curacas para
substituir aos que houvessem demonstrado resistência tenaz contra sua dominação...” (TAURO DEL
PINO, 2001, p. 795).
40
CAPÍTULO IV
AS FAMÍLIAS LINGUÍSTICAS ANDINAS
As famílias linguísticas mais estendidas atualmente nos Andes centrais são o
quechua e o aimara. Essas famílias compõem as línguas maternas da maioria da
população andina da Argentina, Peru, Bolívia, Equador, parte de Colômbia e Chile. No
Equador e na Bolívia, desenvolveram-se o que os linguistas têm chamado de “línguas
mistas”. Também na Bolívia, no estado de Oruro
17
, resiste ainda à extinção o chipaya,
língua do altiplano e única sobrevivente da família uru-chipaya. A seguir, passamos a
explicar as diferentes línguas e famílias linguísticas dos Andes Centrais, focalizando o
quechua e o aimara.
4.1 Línguas mistas
O callahuaya (ou callawalla) é uma língua mista composta pelo quechua
(sufixos e sintaxe) e uma variedade da extinta língua puquina (vocabulário). É usada
somente como segunda língua por uns 10 ou 20 curandeiros na serra ao Norte, na
província de Bautista Saavedra, no estado de La Paz
18
, na Bolívia (TORERO, 2002, p.
456). Seus falantes são homens curandeiros; as mulheres e as crianças falam
espanhol, quechua ou aimara.
Da mesma forma, outra língua mista é aquela que Muysken (1979) chama de
meia língua e é falada por alguns poucos povos da parte central do Equador, sendo o
número de falantes nativos cerca de mil pessoas (em 1999). Essa meia língua
caracteriza-se por possuir um sistema gramatical quechua e um vocabulário espanhol.
17
Seguindo a divisão geopolítica da Bolívia, originariamente é o departamento de Oruro.
18
Originariamente é o departamento de La Paz.
41
Além dessas famílias, desenvolveram-se também as línguas mochica (litoral
norte do Peru), puquina (litoral sul do Peru e o altiplano peruano-boliviano). O mochica
extinguiu-se nos inícios do século XX (CERRÓN-PALOMINO, 1995) e o puquina nos
inícios do século XVIII. (TORERO, 2002, p. 408).
4.2 A família uru-chipaya
A família uru-chipaya é uma das mais antigas do Altiplano; sua
denominação decorre de suas duas variedades existentes: o uru-wit’u e o chipaya. O
uru-wit’u é uma língua quase extinta, da qual, no ano de 2000, restaram apenas 2
falantes e 142 uros étnicos, castelhano ou falantes do aimara. Os uros moram na parte
do Lago Titicaca, ao sul do Lago Poopó (Bolívia). A mais vital é a língua chipaya
falada na comunidade de Santa Ana, por aproximadamente mil pessoas, no
departamento de Oruro, a 3800 m.s.n.m, ao leste do Lago Poopó, na Bolívia. Eles se
denominam “os homens da água”, explicitando a sua origem lacustre, em oposição aos
“homens da terra”, que são os forâneos em geral, mas, especialmente, os aimaras. O uso
dessa língua é vigoroso em alguns eventos (nas cerimônias religiosas, na educação), e
uma atitude positiva em relação a ela. Os falantes do chipaya falam também
espanhol ou aimara (CERRÓN-PALOMINO, 2006, p. 18).
4.3 Possível origem comum do quechua e do aimara: o quechumara
O quechua e o aimara o as famílias linguísticas mais abrangentes da zona
andina, e suas semelhanças formais e estruturais têm levado os pesquisadores a propor
que isso se deve a dois aspectos: (1) um forte contato secular; (2) uma possível origem
comum. Os partidários da hipótese da origem comum, como Lastra (1970), argumentam
que esse parentesco é proposto a partir das reconstruções e comparações das duas
famílias, encontrando noções e funções similares, em alguns casos formalmente iguais
42
(TORERO, 2002, p. 121); a própria criação do termo quechumara remete aos
paralelismos que existem entre as duas famílias. (CERRÓN-PALOMINO, 1994).
4.4 A família aimara
Seguindo a proposta de Cerrón-Palomino (2000b), a família aimara divide-
se em duas línguas. A primeira, o aimara central (AC), é composta pelos dialetos
cauqui, com no máximo 10 falantes, todos de idade avançada (OLIVA, 2002), e pelo
jacaru, com 2000 falantes (HARDMAN, 1983). Essa ngua está localizada na serra
central, na província de Yauyos, na região de Lima, Peru. A segunda é o aimara sulista
(AS), formada pelo aimara altiplânico (Peru e Bolívia) e pelo aimara do norte do Chile,
na região de Antofogasta (CERRÓN-PALOMINO, 1994, p. 69). Briggs (1976) divide
o AS em três variedades: a nortista, a intermédia e a sulista. Para maior clareza,
observemos a seguinte figura:
Família AIMARA
Línguas AIMARA CENTRAL AIMARA SULISTA
Dialetos Jacaru Cauqui Nortista Intermédia Sulista
FIGURA N° 1: A família linguística aimara
Não existem números exatos para a quantidade total da população que fala
aimara. Segundo Cerrón-Palomino (2000b, p. 69-70), o aimara boliviano registraria um
milhão e seiscentos mil falantes, enquanto o aimara peruano possuiria quatrocentos e
vinte um mil falantes (tendo o ramo central mil falantes) e o aimara do Chile se
aproximaria de catorze mil falantes, chegando a uma população total de dois milhões.
43
Assim, o aimara corresponderia à terceira família linguística sul-americana com maior
quantidade de falantes, depois do quechua e do tupi-guarani, respectivamente.
Os números anteriores não correspondem aos dados do Ethnologue
19
,
aportando diferentes dados modernos sobre a quantidade de falantes do aimara. Para o
Ethnologue, vários anos existia um total de dois milhões e duzentos mil em todos os
países: um milhão e setecentos mil na Bolívia (1985), quase meio milhão no Peru
(2000) e quase mil no Chile (1994; população étnica: 20 mil em 1983). Estes dados
foram confirmados por Cerrón-Palomino (2000b). Assim também, aimaras na
Argentina que chegaram à procura de trabalho. São produtivas também as porcentagens
que oferecem Cárdenas e Albó (1983, p. 285), segundo as quais os falantes do aimara
formavam 3% da população total peruana, 40% das regiões de Puno e Tacna e 25 % da
população boliviana, 80 % dos departamentos de Oruro e La Paz.
4.5 A família quechua
A família linguística quechua é formada por um grande número de línguas
quechuas, das quais muitas possuem uma denominação própria (ex. quechua huanca).
Uma variedade de quechua, a mais estendida, foi a ngua oficial do império incaico ou
Tawantinsuyu (na língua orginal), que a difundiu por todas as regiões que pertenciam a
esse império. O Tawantinsuyu, na sua maior extensão, abarcava desde o litoral até o
oriente dos Andes, e vai desde o rio Angasmayo, no sul de Colômbia, até o rio Maule,
no centro de Chile, um pouco mais ao sul da capital chilena. (CERRÓN-PALOMINO,
1987, p. 50).
As primeiras divisões dialetológicas da família quechua foram realizadas na
década 60 do século XX, por Parker (1963) e Torero (1964). Uma revisão crítica das
divisões foi realizada por Cerrón-Palomino (1987).
19
Disponível no site da Ethnologue: <www.ethnologue.com>
44
A família linguística quechua tem, segundo a bibliografia especializada,
divisões dialetais, como: Quechua A e Quechua B, feita por Parker (1963, p. 241-252),
ou Quechua I e Quechua II, proposta por Torero (1964, p. 446-476). Essa bipartição
refere-se a questões estritamente linguísticas: a zona central dos Andes peruanos
chamou-se Quechua I para Torero ou Quechua A para Parker; as zonas norte e sul
chamaram-se Quechua II ou Quechua B, para Torero e Parker, respectivamente. Os
linguistas citados propuseram esses termos como construções terminológicas, para não
ter nenhuma relação como a realidade linguística, mas, recentemente, confirmou-se que
essas divisões não são exatas, preferindo-se chamar agora de Quechua do norte, central,
do sul e do oriente (CERRÓN-PALOMINO, 1987). Além dessas definições, no caso
peruano, utiliza-se também como denominação o lugar onde se fala a língua: Quechua
de Cajamarca-Cañaris (QUESADA, 1976), Quechua Ancash Huaillas (PARKER,
1976), Quechua de Junín-Huanca (CERRÓN-PALOMINO, 1976a), Quechua del
Cusco-Collao (CUSIHUAMÁN, 1976), Quechua Ayacucho-Chanca (SOTO, 1976) e
Quechua de San Martín (COOMBS et al, 1976).
Protoquechua
Ramo Norte
Ramo Central Ramo Sul
Ingano (Col.) Ancash Pacaraos Huánuco Huanca Yaro Ayacucho- Chanca
Kíchua (Eq.)
Cuzquenho(Pe)-boliviano(Bol.)
San Martín
Sanriago del Estero (Arg.)
Cajamarca
-Cañaris
FIGURA N° 2: A família linguística quechua
Atualmente, as línguas da família quechua são faladas em cinco países
andinos e foram estudadas pelos seguintes autores: Caudemont (1953), na Colômbia;
45
Muysken (1979), no Equador; Albó (1964), na Bolívia; De Granda (2002), na Argentina
e no Peru. De igual maneira, há, segundo Cerrón-Palomino (1987, p.72), dados
imprecisos e não comprovados sobre sua presença no Chile, Paraguai e Brasil. Sobre
este último país, acredita-se que, na região do Acre (no Rio Chandless), existam cerca
de 700 falantes do Kíchua
20
, todos eles bilíngues.
De forma geral, as línguas quechuas e aimaras, em comparação ao espanhol,
possuem um desigual peso social. O menor peso social que possuem as línguas andinas
no Peru manifesta-se no perigo iminente de desaparecimento delas. O jornal peruano El
Comercio (20-fev.2009) difunde que o quechua e o aimara têm sido declaradas pela
UNESCO como duas das 6 mil línguas em perigo de extinção. Por isso, para
salvaguardar a vitalidade das línguas, o governo peruano decretou, em 1975, o quechua
como língua oficial do país e propôs o seu ensino em todos os níveis educativos e a sua
utilização nos processos judiciais, cujas partes envolvidas sejam falantes do quéchua;
aprovou-se um alfabeto e foram publicadas gramáticas e dicionários em vários dialetos.
Da mesma maneira, o governo boliviano promulgou, em 1977, uma lei pela qual
declarou línguas oficiais da Bolívia, além do espanhol, o quechua e o aimara (TORERO
1983, p. 71)
Apesar dessas decisões políticas, o uso funcional dessas línguas ainda é
altamente restrito, como escreve Itier (2003, p. 163): “Esta ley [la peruana] no ha tenido
mucho efecto sobre el gobierno y solo son frases porque não se utilizan suficientes
recursos técnicos de implementación del quechua como lengua oficial”.
Na década de 90, do século passado, parecia que a situação das línguas
andinas poderia melhorar com as mudanças legislativas ocorridas durante o governo de
20
Utilizamos o termo Quechua para nos referir à família linguística e Kíchua, à variedade brasileira. A
família Quechua é conhecida por meio das nguas pelos seguintes nomes Quichua, Quechua, Qheshwa,
Ingano, Inga (Colômbia); Runasimi (Serra sul), Runashimi (Serra central) (SOLÍS, 2003, p.178).
46
Alberto Fujimori. A Constituição Política Peruana de 1993
21
apresenta, no artigo 48,
que “são idiomas oficiais o castelhano e, nas zonas onde predominem também o são o
quechua, o aimara e as demais línguas aborígines, segundo a lei”. O artigo 17 afirma:
El estado garantiza la erradicación del analfabetismo. Así también fomenta
la educación bilingüe e intercultural, siguiendo las características de cada
zona. Preserva las diversas manifestaciones culturales y lingüísticas del país.
Promueve la integración nacional.
Quanto a esse tema, Solís (2003, p. 113-129) discute sobre a relatividade no
entendimento dos artigos 48 e 17, assim como sua implementação. Solís (2003, p. 116)
explica que a condição de oficialidade das nguas peruanas não é igual para todas,
porque existe uma hierarquia implícita entre elas, tendo as línguas indígenas uma
oficialidade de segunda classe determinadas pelo que diz a lei. Para o autor, falta
explicar o que se entende exatamente, no artigo 17, por “fomentar”, mas pode-se
presumir que a educação bilíngue seja uma estratégia para preservar as manifestações
culturais e linguísticas diversas.
Segundo Itier (2003, p. 164-165),
no ano de 2001, a educação bilíngue foi
disponíbilizada para aproximadamente cem mil crianças em todo o Peru. A quantidade
de manuais em quechua, que foi publicada pelo Estado e distribuída gratuitamente entre
os escolares, mostra graves deficiências linguísticas. Por razões políticas, os manuais
foram produzidos em um prazo demasiadamente curto, e os autores não foram capazes
de preparar os textos numa qualidade adequada. Itier explica que, nos manuais
quéchuas, abundam hispanismos e problemas com a padronização das diferentes
variedades. Como resultado, os professores quase nunca usam esses livros porque
resultam como algo incompreensível.
21
Constitución Política del Perú. Disponível em: < http://www.tc.gob.pe/legconperu/constitucion.html>.
47
4.6 Características fonológicas e gramaticais das famílias quechua e aimara
Na perspectiva linguística, as famílias quechua e aimara pertencem ao
phylum andino-equatorial (VOEGELIN; VOEGELIN, 1978; CERRÓN-PALOMINO
1987, 1994, 2000b; ESCOBAR, 1998). Tipologicamente, de acordo com a classificação
de Greenberg (1963), o quechua e o aimara são línguas Objeto-Verbo, apresentando as
ordens Adjetivo-Nome, Possuído-Possuidor, Frase Nominal-Posposição. Pela
perspectiva morfológica, o quechua e o aimara são famílias linguísticas tipologicamente
aglutinantes
22
. (SAPIR, 1949).
A seguir, apresentamos características picas da fonologia e gramática das
famílias quechua e aimara, sobretudo aquelas que são importantes para explicar o
espanhol de Canta. Embora nos centremos basicamente no quechua, mencionamos
também de forma secundária as características linguísticas do aimara. Acreditamos que
a prioridade na descrição do quechua obedece ao fato de que ela teve mais influência
que o aimara na configuração do espanhol andino dessa província.
4.6.1 Fonologia
Tal como acontece com as línguas andinas em geral, o quechua e o aimara
possuem um vocalismo simples e um consonantismo complexo. Elas contêm uma
quantidade regular de consoantes
23
e apenas três vogais fonológicas e até cinco
fonéticas. Diferente do espanhol, as línguas andinas geralmente não possuem oclusivas
sonoras, alguns grupos consonânticos e, sobretudo, vocálicos.
22
Uma língua aglutinante é aquela em que uma série de morfes vinculados obrigatoriamente, cada
uma das quais compreende um morfema único. Ou seja, uma correspondência unívoca entre morfe e
morfema nessa língua. (BAUER, 2003, p. 234).
23
Isso se comprova comparando as variedades do quechua (do lado peruano). Por exemplo, o quechua
Junín-Huanca e o quechua de San Martín têm 17 fonemas consonânticos e 3 vocálicos; o quechua
cajamarquino possui vinte e um, porque se acrescenta o fonema //, enquanto o quechua de Ancash,
produto do forte contato com o espanhol, sobe a trinta e três: vinte e três consoantes e dez vogais (breves
e longas). No A.C (aimara do centro), na sua variedade tupina, a ngua jacaru possui quarenta e um
fonemas, considerando-se aaqui, claro está, antes do chipaya, como a língua andina com mais fonemas
consonânticos.
48
4.6.1.1 O sistema vocálico
Como foi exposto, as duas famílias distinguem três vogais, como acontece
no quechua sulista:
/i/ /u/
[e] [o]
/a/
A alofonia das vogais médias [e] e [o] deve-se à presença de uma oclusiva
uvular como /q/, como acontece em sinqa [ˈseŋqa] ‘nariz’, urqu [ˈorqo], para o Q.S
(CERRÓN-PALOMINO, 1987, p. 116), e uqhu [ˈoqܒo] ‘lodo’, no A.C (HARDMAN,
1983, p. 43), e quli [ˈqoli] ‘amável’, no A.S (AYALA, 1988, p. 158). O aimara também
possui três vogais; as vogais longas (escritas com trema <ä, ö, ï>) decorrem de processo
morfofonológico em que o alongamento resulta na mudança de tempo verbal, como
saräta [sa’ra:ta] ‘irá’ e sarata [sa’rata] ‘foi’. (CERRÓN-PALOMINO, 2000).
/i/ /i:/ /u/ /u:/
[e] [o]
/a:/
4.6.1.2 O sistema consonântico
O consonantismo das línguas quechuas e aimaras tem muito em comum com
o espanhol, porém as diferenças mais destacadas se dão nas séries de oclusivas, visto
que, nas línguas andinas, não existem fonemas oclusivos sonoros /b, d, g/ e, em algumas
variedades, se distinguem três classes de fonemas oclusivos surdos: uma simples /p/,
uma aspirada /pʰ/ e outra glotalizada /pˀ/, além de oclusivas uvulares /q/. O sistema
consonântico do quechua e do aimara, de forma geral, compreende os fonemas
49
apresentados na tabela a seguir. (CUSIHUAMÁN, 1976; HARDMAN, 2001;
VLASTIMIL, 2005):
PONTOS
MODOS
Labial
Alveolar
Palatal
Velar
Uvular
Laringal
Oclusivas
simples
p t k q
Oclusivas
aspiradas
pʰ tʰ tʃʰ kʰ qʰ
Oclusivas
glotalizadas
pˀ tˀ tʃˀ kˀ qˀ
Fricativas
s ( ʃ )
24
x χ h
Africadas
tʃ
Nasais
m n ɲ
Laterais
l
¥
Vibrantes
R
Semiconsoantes
Semivogais
w y
QUADRO N° 2: Consoantes das famílias linguísticas quechua e aimara.
As oclusivas aspiradas e glotalizadas existem somente nos dialetos quechuas
cuzquenho e boliviano e em toda a família aimara. uma grande diferença entre as
duas línguas na distribuição desses fonemas. No A.S (aimara do sul), as oclusivas
aparecem rias vezes na palavra (até duas) e em qualquer posição; no quechua,
aparece, entretanto, uma oclusiva aspirada ou glotalizada, sempre na primeira oclusiva
da palavra e unicamente nas raízes (CERRÓN-PALOMINO, 1987, p.118-119).
As oclusivas sonoras aparecem apenas em empréstimos lexicais do espanhol;
em algumas variedades quechuas do Equador, sonorizam-se as surdas depois das
líquidas e nasais. Quanto às fricativas, todas as línguas quechuas e aimaras têm um /s/; a
24
Este segmento aparece somente nas variedades centrais e nortistas do quechua e aimara, por isso, ele
aparece entre parêntesis.
50
maioria usa também uma sibilante álveo-palatal /ʃ/. No quechua dialeto cuzquenho, em
geral no Q.S (quechua do sul) e A.S, essa sibilante não tem status fonêmico; aparece
num número limitado de palavras como alofone e no sufixo progressivo {-sha}.
Aparece, no entanto, nas variedades centrais do aimara e do quechua, como, por
exemplo, no A.C (aimara do centro) /ˈʃi¥u/ ‘unha’ (BELLEZA, 2005, p. 167) e no
quechua, na variedade Huanca /ˈʃimi/ ‘boca’, /ˈiʃkay/ ‘dois’(CERRÓN-PALOMINO,
1976b, p. 46); de igual forma, na variedade de Ancash /ˈʃamun/ ‘vem’, /ˈʃipʃi/ ‘ontem
de noite’, /ˈʃuquʃ/ ‘cana’. (PARKER, 1976, p. 41).
Com respeito às líquidas, o fonema /¥/ possui uma alta funcionalidade em
todas as línguas andinas, mas, em algumas zonas do grupo Quechua I ou Q.C,
deslateralizou-se a /y/. No Equador, em Cajamarca (zona norte do Peru) e na Argentina,
a palatal é pronunciada de forma fricativa, como um /ʒ/. (TORERO, 2005). Geralmente
existe uma vibrante /R/, mas, no Equador, na Bolívia, em algumas regiões do Peru e no
Aimara, tornou-se um fonema fricativo retroflexo (/ʁ/), passando, nos empréstimos
hispanos, como vibrante múltipla /r/.
4.6.2 A morfossintaxe
Apresentamos a seguir aspectos gerais distintivos e influentes no espanhol
andino de Canta das línguas quechua e aimara.
4.6.2.1 A palavra em quechua e aimara
Segundo Vlastimil (2005, p. 82), nas línguas aglutinantes as palavras quechuas e
aimaras compreendem, de forma geral, lexemas e sufixos e, em nenhum caso, prefixos.
Algumas palavras podem consistir só de uma raiz; outras requerem a presença de um ou
vários sufixos. Sobre essa unidade gramatical, Cerrón-Palomino (1976, p. 84-86)
51
define-a como uma construção formada por um lexema sem e/ou com sufixos
derivativos e/ou flexivos. Essas ideias se traduziriam graficamente da seguinte maneira:
PALAVRA
Lexema Suf.1 Suf.2 Suf.3 Suf.4 ... Suf. n
FIGURA N° 3A: Estrutura morfológica da palavra em quechua e aimara baseado em Wölck (1987)
Segundo Wölck (1987, p. 38), essa ordem de sufixos é uma característica das
línguas do tipo S (sujeito) O (objeto) V (verbo), que, em sua estrutura de frase ou sua
morfologia, seguem a ordem posposicional ou sufixante:
FIGURA N° 3 B: Palavra em quechua e aimara
Com relação a essa unidade, o único elemento necessário para sua existência
seria um lexema (L), sendo opcionais os sufixos derivativos (SD) e flexivos (SF), como
se observa em quechua (ZARIQUIEY, 2008, p. 36, 37), como por exemplo:
(1)
a) llaqta ‘Povo’
b) llaqta-cha ‘Povo pequeno’
c) llaqta-cha-yki ‘Seu povo pequeno’
d) llaqta-cha-yki-chik ‘Povo pequeno (de vocês)’
e) llaqta-cha-yki-chik-kuna ‘Povo pequeno (de vocês)’
f) llaqta-cha-yki-chik-kuna-manta ‘Desde seus povos pequenos (de vocês)’
g) llaqta- cha-yki-chik-kuna-manta-chá ‘Talvez desde seus povos pequenos (de
vocês)’
PALAVRA = L- (SD) - (SF)
52
O exemplo anterior corresponde a um lexema substantivo, mas também
ocorre com lexemas verbais. Por exemplo:
(2)
a) yacha ‘Saber’
b) yacha-chi- ‘Fazer saber, ensinar’
c) yacha-chi-naya- ‘Querer ensinar’
d) yacha-chi-naya-chka- ‘Estar querendo ensinar’
e) yacha-chi-naya-chka-n ‘Ele/ Ela está querendo ensinar’
f) yacha-chi-naya-chka-n-ku ‘Eles/Elas estão querendo ensinar’
Também existem palavras reduplicadas ou compostas de dois lexemas, como
em. taytamama, cuja composição é {tayta + mama} ‘pais’. Também podemos distinguir
vários tipos de lexemas e sufixos. Como se observou nos exemplos acima, os lexemas
quechuas e aimaras podem ser puramente nominais ou verbais e utilizam diretamente
sufixos nominais ou verbais, respectivamente.
Os lexemas correspondem às categorias lexicais quéchuas, que se dividem
segundo seu comportamento gramatical. A primeira são os nominais, que compreendem
os substantivos, os adjetivos, os pronomes, os adjetivos numerais e os nominais
interrogativos (distinguidos semanticamente); a segunda, os verbos; a terceira, as
palavras invariáveis, como as partículas.
Da mesma forma, Zariquiey (2008) menciona a existência de lexemas
ambivalentes, como para 'chuva' e paray 'chover’, pois possuem dupla função. O último
tipo são as partículas (mana ‘não’, ña ‘já’), que não podem tomar sufixos nominais nem
verbais. Todas as raízes podem levar sufixos independentes. Assim, os sufixos dividem-
se em três grupos: os nominais, os verbais e os independentes (oracionais e enclíticos).
Os dois primeiros subdividem-se em derivativos e flexivos. Os sufixos independentes
refletem as relações no vel interoracional ou na perspectiva funcional da oração. A
ordem dos sufixos é, como se pode supor, raiz – derivativos – flexivos –, independente.
53
4.6.2.2 O sistema nominal quechua e aimara
Segundo Vlastimil (2005, p. 83-85), os nominais (substantivos, adjetivos,
numerais, pronomes), no quechua e no aimara, distinguem pessoa (possessivos),
número e caso. Neles, a flexão de gênero não existe. Já o plural forma-se regularmente
com o sufixo {-kuna} ({-naka} no aimara), como em (3a). Nessas línguas, a
pluralização dessa forma não é obrigatória, sobretudo quando essa pluralidade está
expressa de outra maneira (p.ex., com numerais), como se observa em (3b)
(ZARIQUIEY, 2008, p. 181):
(3)
a) wawqi – kuna ‘irmãos’
irmão - Pl.
b) iskay wawqi ‘dois irmãos’
NUM. irmão
Existe mais de uma dezena de sufixos que expressam casos; geralmente
equivalem a uma ou mais preposições espanholas. Os mais importantes são {–ta} objeto
direto ou indireto, {-q}/{-pa} genitivo ({-q} ou {-p} depois de uma vogal), {-paq}
benefativo 'para', {-pi} locativo 'em', {-man} ilativo 'a', {-manta} ({-pita}, {-piq(ta))}
ablativo 'de, desde', {-wan} instrumental 'com'.
A flexão de pessoa refere-se, nos nominais, aos sufixos possessivos que
equivalem aos pronomes possessivos indo-europeus. Cabe dizer que, na primeira pessoa
do plural, distingue-se o exclusivo e o inclusivo. Este inclui o receptor (eu + você…);
aquele o exclui (eu + ele, mas você não). O sistema de sufixos possessivos e os
pronomes de pessoa estão resumidos no seguinte quadro:
54
POSSESSIVOS PESSOA
1IN. -nchis 1SG. -y
1EX. -yku
2SG. -yki 2PL. -nkichis
3SG. -n 3PL -nku
QUADRO N° 3: Sufixos possesivos e de pessoa da família linguística quechua
Nas palavras terminadas em consoante, que se inserir um morfema vazio
{-ni}; p. ex. sipas-ni-y ‘minha namorada’, o que não ocorre quando terminadas em
vogal, como em qusa-y ‘meu marido’. Devemos mencionar também que, numa
construção genitiva, o possuído leva um sufixo possessivo e o possuidor, o genitivo
(embora também possa ser um pronome), como se em: Pedro-q wasi-n A casa de
Pedro’, lit. ‘de Pedro sua casa’ e em tayta-y-pa chakran ‘A chácara do meu pai’, lit. ‘de
meu pai sua chácara’. Essas construções possuem reflexos no espanhol andino
(ZARIQUIEY, 2008), como explicamos mais adiante, exatamente no Cap. VI, onde é
tratado o aspecto morfossintático do espanhol de Canta.
4.6.2.3 O sistema verbal quechua e aimara
Segundo Zariquiey (2008, p. 83), uma particularidade muito importante
sobre a conjugação em quechua (e também em aimara) é que sempre é regular. Nessas
línguas, não existem verbos irregulares, como em espanhol.
As flexões dos verbos quechuas e aimara são pessoa, número, tempo e
modo. Às vezes, cada uma das categorias é representada por um sufixo particular, ou se
uma fusão de duas ou mais categorias num sufixo, ou também pode resultar em que
as partes da transição
25
são difíceis de distinguir. O plural geralmente deriva das formas
singulares mediante os sufixos {- chis} ({-chik}, {-chiq}, {-chi}), quando a pessoa
pluralizada é a segunda ou a contém (2ª plural e plural inclusiva), e {-ku} ({- kuna}),
25
Chama-se “transição” à complexa quantidade de sufixos das flexões dos verbos do quechuas e aimara.
(ZARIQUIEY, 2008).
55
nos demais casos (3ª plural e plural exclusiva), mas, igualmente para os nominais, a
pluralização não é obrigatória. Nas variedades do quechua I e no aimara ({-px} ou {-
pk}), pluraliza-se mediante alguns sufixos pretransitivos (derivativos), que, sobretudo
no quechua, levam outros significados, além de que a pluralização é menos frequente
que no Quechua II (a plural inclusiva é considerada geralmente uma quarta pessoa).
Em quechua (ZARIQUIEY, 2008, p. 89), por exemplo em (4a), utiliza-se a primeira
pessoa plural inclusiva (1PPLIN), no sentido de que ‘tanto eu como você somos
mulheres’. Já em (4b), usa-se a primeira pessoa plural exclusiva (1PPLEX) ante a
chegada de um terceiro personagem de sexo masculino, significando literalmente ‘nós, e
não você, somos mulheres’.
(4)
a) ñuqanchik warmim kanchik ‘Nós (eu e você, vocês e nós) somos mulheres’
1PPLIN mulher somos
b) ñuqayku warmim kaniku ‘Nós (mas não você) somos mulheres’
1PPLEX mulher somos’
As formas de sufixos do presente indicativo (que não é marcado) dos verbos
intransitivos ou dos transitivos com um objeto de pessoa compreendem a seguinte
tabela (incluindo os sufixos possessivos, onde observamos que a referência pessoal é
muito parecida entre os nominais e os verbos, e o futuro, que possui formas diferentes e
algumas formas dialectais) (VLASTIMIL, 2005, p. 83-86; WÖLCK, 1987, p. 49-51):
Quechua Presente Futuro Aimara
1SG. -y/-: -ni/-: -saq -ta
2SG. -yki -nki -nki -ta
3SG. -n -n -nqa -i
1IN. -nchis -nchis -sunchis -(px)tan
1EX. -yku/-:kuna -yku/-niku -saqku -(px-)ta
2PL. -ykichis -nkichis -nkichis -(px-)ta
3PL. -nku -nku -nqaku -(px-)i
QUADRO N° 4: Sufixos verbais das famílias linguísticas quechua e aimara.
56
CAPÍTULO V
A LÍNGUA ESPANHOLA
5.1 A língua espanhola no mundo
A configuração atual da língua espanhola no mundo tem seus inícios
históricos no século XVI, com a formação do Império espanhol, que estendeu seus
domínios à América e à África e que viu sua decadência no século XIX; entretanto,
naquelas antigas colônias, além do nexo político, ficou a língua, aquela que
historicamente forma a comunidade hispano-falante mundial. (OBEDIENTE, 2000, p.
341).
Atualmente, os autores apontam que o espanhol é a língua materna de 400
milhões de pessoas e é considerada como a quarta língua mais falada do mundo, depois
do chinês, inglês e hindi. Dessa quantidade de pessoas, 11 % aproximadamente estão na
Espanha, 79%, na Hispano-América e 9 % restantes, em outras partes do mundo, como
nos Estados Unidos (os migrantes hispanos), na África (Guiné Equatorial e Marrocos),
nas Filipinas e comunidades judeu-espanholas. (Ibídem, p. 343).
5.2 A língua espanhola na América
Antes da chegada da língua espanhola à América, no século XV, esse idioma
se encontrava consolidado na Península, pois contribuíram diversos fatos históricos e
idiomáticos para que o dialeto de Castilha se tornasse o mais sólido entre os dialetos
românicos que se falavam na Espanha, como o aragonês ou o leonês. Com a chegada da
língua espanhola à América, o novo continente apresentava um conglomerado de povos
e línguas diferentes que foram articuladas, posteriormente, política e economicamente,
como parte do império espanhol sob língua comum. (ZAMORA, 2009a). Efetivamente,
a hispanização da América foi um processo lento, pois, à medida que avançava a
57
conquista, os espanhóis deparavam com novas línguas, as quais tiveram pouca
importância para eles. sob o domínio da Espanha, a Coroa recomendava e obrigava
evangelizar em meio ao ensino da sua língua nas novas terras; mas os missionários
perceberam que isso era quase impossível em decorrência do desinteresse dos indígenas
e da complexidade estrutural que possuíam (e ainda possuem) as línguas ameríndias
(OBEDIENTE, 2000, p. 388). Esse acontecimento contribuiu para a descrição
gramatical e lexical das línguas de maior alcance regional, como as línguas gerais no
território americano. (ALTMAN, 2003, p. 57-83).
Atualmente, no Novo Mundo, o contato das línguas europeias com as
línguas ameríndias fez originar novas configurações em ambos os grupos. (MORENO,
1998). No caso específico, a língua espanhola na América
26
tem uma “nova cara”,
produto do contato entre as variedades do espanhol peninsular e das línguas indígenas
americanas. A esse respeito, Zimmerman (1995, p. 9) expressa o panorama das
pesquisas realizadas sobre o tema: “Na lingüística hispânica existe uma espécie de
polêmica sobre o grau de influência que em Hispano-américa tem as línguas ameríndias
no castelhano.”
Desse modo, existem duas vertentes sobre o grau do substrato das línguas
indígenas em relação ao espanhol da América. Alguns ressaltam uma forte influência
ameríndia na ngua peninsular; outros minimizam esse influxo reduzindo-o a
fenômenos lexicais e fonéticos. No primeiro grupo, listamos Rodolfo Lenz. Para o
autor, o espanhol chileno, especialmente na fonética, é produto do espanhol em contato
26
Do ponto de vista estritamente linguístico, segundo Alvar (1996, p. 17) não há um espanhol da Espanha
e outro da América, senão muitas variedades de espanhol nos dois lados do mar, mas prefere-se utilizar
essa dicotomia por questões didáticas e práticas.
58
com a ngua indígena araucana ou mapuche
27
. No segundo grupo, destacamos o
filólogo Amado Alonso, que refuta as ideias de Lenz, pondo em dúvida o fonetismo
mapuche no país do Sul. Para refutar a hipótese do pesquisador alemão, Alonso
baseou-se nos pressupostos teóricos da fonética, praticada pelo linguista Bertil
Malmberg. Assim, como resposta ao extremismo, surgiu, na década de 1980, uma
postura medial, com os trabalhos do linguista Germán de Granda, da Universidad de
Valladolid, com suas análises para uma série de fenômenos morfológicos no espanhol
paraguaio pela influência do guarani. (ZIMMERMANN, 1995)
Por outro lado, quando se fala do espanhol da América em oposição ao
espanhol da Península
28
, pensa-se numa unidade, porém não é assim. Lapesa (1981, p.
535) discorda dessa posição, que um cubano não fala da mesma forma que um
argentino, nem um peruano fala como mexicano. Quanto a isso, López (1996, p. 20)
trata todas estas variedades como um “mosaico dialetal”. Embora exista essa
heterogeneidade no espanhol americano, ela parece formar um bloco, onde as diferenças
linguísticas entre as suas variedades são menos discordantes entre si que os dialetos
peninsulares. Sobre isso, Fontanella (1992) afirma que a essas alturas dos estudos do
espanhol americano resulta injustificável atribuir, em termos gerais, ao influxo do
substrato, as suas peculiaridades. Pelo contrário, ela destaca que o resultado
imprescindível para avançar nesse tema é a realização de rigorosos estudos parciais,
que, por um lado, desenvolvam descrições científicas das diversas línguas indígenas e
das características do espanhol regional e, por outro, tomem em conta os avanços nos
estudos sobre as línguas de contato. (FONTANELLA, 1992, p. 31).
27
A língua mapuche ou mapudungun é o idioma dos mapuches, um povo ameríndio que habita no Chile e
na Argentina. Esta ngua possui cerca de 440 mil falantes com diversos graus de competência e é
considerada uma língua isolada. (SMEETS, 2008, p. 11).
28
Os espanhóis preferem chamar de castelhano o que a bibliografia reconhece como variedade
peninsular, já que na Espanha existem outras línguas oficiais como o catalão, o galego e o euskaro. Para o
hispano-americano, não existem problemas: os termos “espanhol’ e “castelhano” são tomados como
sinônimos. (ZAMORA, 2009b).
59
Quanto à delimitação das regiões dialetais de hispano-américa, Zamora e
Guitart (1982) consideram a existência de nove zonas dialetais, utilizando critérios
fonológicos e morfológicos. Segundo Fontannella (1992, p. 127), ainda existem,
entretanto, imprecisões nessa divisão
29
. Assim, nosso trabalho leva em consideração a
proposta de Pharies (2007), que utiliza critérios linguísticos e não linguísticos para a
divisão do espanhol americano. Optamos por essa divisão por seu caráter prático e
didático. Para Pharies (2007), o espanhol da América divide-se em quatro
supravariedades: (a) espanhol do Rio da Prata; (b) espanhol do Caribe; (c) espanhol do
México e do sudoeste dos Estados Unidos; (d) espanhol andino.
O espanhol do Rio da Prata é o mais estudado dentre as variedades
americanas (FONTANELA, 1992, pp.178-179). Chama-se assim à variedade falada ao
redor do Rio da Prata, especialmente em Buenos Aires, cuja variedade também é
denominada de portenho, e em Montevidéu (Uruguai). Fonologicamente, caracteriza-se
por ser zeísta
30
e pela aspiração de /s/. (PHARIES, 2007, p. 211); morfologicamente,
utiliza-se o voseo, ou seja, o uso de “vos” em lugar de “tú” como sujeito e como termo
de complemento. (DONNI, 1996, p. 215).
Quanto ao espanhol falado nos territorios islenhos de Cuba, na República
Dominicana, em Porto Rico e em territórios continentais de Venezuela, Colômbia e
Panamá, denomina-se de espanhol do Caribe. Pharies (2007, p. 211) argumenta que essa
variedade mostra, no xico, uma forte influência das línguas da África trazida pelos
escravos no século XIX. Vaquero (1996, p. 55) ressalta, como característica
29
Da mesma forma, Palacios (2006, p. 177) argumenta que, das numerosas classificações das áreas
dialetais que se têm elaborado para tentar descrever o espanhol falado na América, nenhuma se pode
considerar aceitável; todas cometem erros similares que levam ao fracasso. Palacios refere-se às
classificações baseadas em traços fonéticos (CANFIELD, 1981; RESNICK, 1975), em uma combinação
de traços fonéticos e morfológicos (RONA, 1964; ZAMORA E GUITART, 1982), numa seleção léxica
(CAHUZAC, 1980) e no substrato indígena (HENRÍQUEZ, 1921).
30
Fenômeno fonológico em que se utiliza [Ћ] para substituir /y/ e /¥/, como nas palavras yo [Ћo] ‘eu’ e
llama [»Ћama] ‘lhama’.
60
fonológica dessa variedade, a aspiração e o desaparecimento de s no final de sílaba ou
palavra ante uma pausa.
O espanhol do México e do sudoeste dos Estados Unidos é falado,
entretanto, por mais de cem milhões de pessoas em quase dois milhões de quilômetros
quadrados de território. Embora o México seja altamente heterogêneo, são
compartilhadas muitas características, como a velarização de /x/, a sibilação de /r/ e a
conservação da /s/ implosiva. (PHARIES, 2007, p. 223). Também se mostra uma forte
presença das línguas indígenas, em especial o “nahuatl”, língua do povo azteca, que é a
que mais tem influenciado o léxico dessa variedade. (LOPE, 1996, p, 85).
No território andino, o contato secular da língua de Castilha com as línguas
indígenas dos Andes permitiu originar o espanhol andino. A definição dessa variedade
de espanhol, segundo Pharies (2007), baseia-se mais em critérios geográficos do que
linguísticos. Para ele, esse tipo de espanhol atinge a extensão da Cordilheira dos Andes
desde Cabo de Fornos, no sul do continente sul-americano, até a Venezuela pelo norte,
passando pelo Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia. Fonologicamente,
distingue-se pela conservação da oposição dos fonemas /y/ e /λ/ e assibilação da
vibrante retroflexa. Por questões práticas e didáticas, preferimos chamar essa variedade
de espanhol como espanhol andino lato sensu: apesar de apresentar propriedades gerais,
existem muitas diferenças relacionadas à área da língua indígena que se falou ao longo
desse território (chibcha, quechua, aimara, mapuche, entre outras). Essa visão andina da
língua espanhola é aceita também por Adelaar e Myusken (2004). &
Em oposição ao lato sensu, o espanhol andino strictu sensu é aquela
variedade falada em lugares onde, no passado, estiveram somente as famílias
linguísticas aimaras e quechuas. A diferenciação dessa variedade obedece, além dos
critérios linguísticos, a um critério histórico-cultural, pois, ao longo desse território,
61
desenvolveu-se “a esfera da influência do país” dos Incas (UHLE, 1909). Esse critério é
aceito também por Cerrón-Palomino (1985, p. 504-572), no momento de estabelecer um
panorama da linguística andina. É por isso que o stricto sensu mostra um bloco
relativamente homogêneo, atingindo o espanhol falado na Argentina (no norte-oriente),
na Bolívia (no ocidente), no Chile (norte), na Colômbia (no sul), no Equador (centro e
sudeste) e no Peru (Norte-oriente, centro e sul
31
).
De forma resumida, a figuras seguintes mostram as diversas variedades de
espanhol e as duas grandes variedades do espanhol andino:
Língua Espanhola
Espanhol Americano Espanhol Peninsular
Rio da Prata Andino Caribe México e EUA
FIGURA N° 4: Variedades dialetais da língua espanhola.
Espanhol andino
Espanhol Andino (Lato Sensu) Espanhol Andino ( Strictu Sensu)
O espanhol falado ao longo da O e
spanhol falado nas áreas de
Cordilheira dos Andes. influência do quechua e aimara.
FIGURA N° 5: Abrangência do espanhol andino.
31
A área que o espanhol stricto sensu atingiria, segundo nossa proposta, seria: Argentina (nas províncias
de Jujuy, Salta, Catamarca, La Rioja, Santiago del Estero, San Juan y Mendoza), Bolívia (nos
departamentos de El Alto, La Paz, Oruro, Chuquisaca, Potosí, Cochabamba), Colômbia (no sul:
Putumayo, Nariño), Equador (nas províncias de Carchi, Imbabura, Pichincha, Cotopaxi, Tungurahua,
Bolívar, Chimborazo, Cañar, Azuay, Loja, Santo domingo de las tsachilas), Peru (nas regiões de Ancash,
Cajamarca, Huancayo, Huánuco, Cerro de Pasco, Serra de Lima, Ayacucho, Arequipa, Puno, Moquegua)
e Chile (a Cordilheira dos Andes está localizada na fronteira oriental, nas regiões de Tarapaca e
Antofagasta).
62
5.3 O espanhol do Peru
O critério para nomear essa variedade linguística como “o espanhol do Peru”
é estritamente sociopolítico, uma vez que existem muitas semelhanças com os demais
países da região, sobretudo os da área andina. A título de esclarecimento, a seguir
apresentamos as diversas classificações das distintas variedades que integram o
chamado espanhol peruano.
5.3.1 O espanhol peruano e suas variedades
Segundo Pérez (2004, p. 43), estabelecer exatamente quantas variedades
geográficas existem no Peru é uma tarefa impossível, que a fala de lugares muito
próximos pode distinguir-se por alguns poucos traços linguísticos.
Sobre as divisões feitas no espanhol peruano, Fontanella (1992, p. 197)
explica que o trabalho pioneiro foi de Pedro Benvenuto Murrieta, El lenguaje peruano
(1933), no qual se consideram aspectos fonológicos, morfossintáticos e léxicos.
Segundo Fontanella (1992), esse material é rico em dados dialetais, no entanto é pobre
em metodologia, em decorrência da não formação linguística do autor.
Posteriormente, os estudos de Escobar (1978, p. 57) dividem as variedades
do espanhol como L1, no Peru, em duas grandes áreas: (1) espanhol andino com suas
variedades: a) andino propriamente dito, b) altiplânico, c) do litoral e Andes Ocidentais
sulistas; (2) espanhol ribeirinho ou não andino com suas variedades: a) litoral nortista e
central, b) espanhol amazônico. Basicamente, Escobar utilizou o critério fonológico
para dividir o espanhol peruano em andino e não andino. Esse critério caracteriza a área
andina como conservadora da distinção /y/ e /¥/, enquanto, na não andina, os dois
fonemas anteriores fundem-se em /y/. Para maior clareza, observe-se a seguinte figura:
63
Espanhol peruano
Espanhol andino Espanhol não andino (ou ribeirinho)
Andino Altiplânico Litoral e Andes sulistas Litoral nortista e central Amazônico
FIGURA N° 6: O espanhol peruano, segundo Escobar (1978).
No final do século XX, uma nova proposta, feita por Caravedo (1996, p.
154), estabeleceria três áreas: a costeira, a andina e a amazônica. Para a autora, os
diferentes tipos de assentamentos demográficos favoreceram o desenvolvimento
paralelo de duas modalidades muito definidas do espanhol: a costeira (ou do litoral), nas
áreas de concentração hispânica, e a andina, nos lugares majoritariamente indígenas em
situação de contato de línguas. Por último, tem-se o espanhol amazônico desenvolvido
em contato com um amplo grupo de línguas de variada tipologia.
Espanhol peruano
Espanhol do litoral Espanhol andino Espanhol amazônico
FIGURA N° 7: O espanhol peruano segundo Caravedo (1996).
Da mesma forma, Ramírez (2003) classifica em três áreas o espanhol
peruano. Depois de vários anos, Calvo (2008, pp. 189-212) concorda com as divisões
propostas por Ramírez e Caravedo. Nesta pesquisa, seguimos as posturas de Caravedo
(1996), Ramírez (2003) e Calvo (2008), sendo importante explicar que as classificações
64
não são exatas e independentes, pois as variedades entraram (e ainda entram) em
contato com diferentes partes linguísticas do Peru. Um exemplo disso é Lima, a capital,
onde não se pode dizer que seus habitantes utilizam somente o espanhol costeiro, que
os distintos movimentos migratórios vindos de todos os cantos do Peru fazem que o
espanhol falado em Lima seja a somatória de todas as variedades ou uma síntese delas.
(CARAVEDO, 1989).
5.3.2 O espanhol andino peruano
Essa variedade do espanhol peruano pertence ao espanhol andino sul-
americano, que teve a sua origem no bilinguismo espanhol e línguas indígenas
(sobretudo as famílias linguísticas andinas quechua e aimara) durante vários séculos.
(RIVAROLA, 1989, p. 157). Pode-se chegar ao espanhol andino de duas formas.
Primeiro, como L2, tendo como L1 as nguas andinas (própria dos bilíngues); segundo,
como L1. O espanhol andino como L1 é aquele adquirido como língua materna e cujos
falantes desconhecem o quechua ou o aimara, mas procedem de lugares rurais, onde
antes se falavam essas famílias lingüísticas. (CERRÓN-PALOMINO, 2003, p. 98-99).
Entre os aspectos linguísticos mais relevantes dessa variedade,
mencionamos: no nível fonológico, a diferenciação /y/ e /¥/, e a presença de vibrantes
assibiladas. Também se destaca a utilização de lo como marca de pronome objeto,
fenômeno denominado como loismo, e o duplo possessivo ou possessivo redundante.
(CARAVEDO, 1998, p. 156-163). No léxico, verifica-se uma forte presença de palavras
das famílias das línguas quechua e aimara, que ingressam com foneticismo hispano.
Muitas dessas palavras são compartilhadas por outros países andinos e muitas têm-se
convertido em palavras de uso comum em todo o Peru. (LUNA, 2009).
65
CAPÍTULO VI
ANÁLISE DOS DADOS: ALGUMAS TRANSFERÊNCIAS
DAS LÍNGUAS ANDINAS AO ESPANHOL DE CANTA
Concordando com Cerrón-Palomino (2003), existem duas formas de
aprender o espanhol andino. A primeira, como segunda língua, ou seja, logo após
aquisição do quechua ou aimara; a segunda, o espanhol andino como língua materna.
Na segunda forma de aprendizagem, encontram-se os monolíngues hispanos de Canta.
A realidade linguística atual de Canta, onde se apresenta o monolinguismo
hispano, é produto da sobrevivência do espanhol, em substituição às línguas andinas
que se falavam nessa província. Da mesma forma, pensa Masgo, que trabalhou em
Huaros, um distrito de Canta. A esse respeito, ele diz:
[...] la lengua española que en la actualidad funciona como instrumento de
relación social, cultural, etc. en Santiago de Huaros, que está localizada na
zona andina de la provincia de Canta, Departamento. de Lima. Pueblo fundado
en el siglo XVI por la unión de Ainas y Huishco que eran comunidades
quechua-hablantes, que utilizaban una variedad de Quechua I (siguiendo la
clasificación de A. Torero) o del Quechua B (siguiendo la clasificación de G.
Parker). Hay evidencias de que en un tiempo pasado se habló o cauqui
(MASGO, 1988, p. 2; itálico nosso).
Assim, o espanhol andino de Canta reflete marcas que pertenceriam a essas
variedades de línguas andinas, agora mortas. Acreditamos que, pela proximidade
geográfica, as línguas indígenas que se falaram nessa região possuíam quase as mesmas
características estruturais que as atuais línguas quechua central (ou quechua I) e aimara
central. Isso fica demonstrado por meio do registro onomástico (BALDOCEDA, 1993;
CERRÓN-PALOMINO, 2008), documental (HARDMAN, 1983) e linguístico
(MASGO, 1977, 1988). Essas línguas agora mortas influenciaram todos os níveis do
espanhol que chegou a Canta, porque se podem encontrar marcas, em vários níveis
(pode-se observar isso com maior detalhe nos subcapítulos seguintes).
66
No plano fonológico, destacamos: a forte presença do fonema /ʃ/, que não
existe atualmente como fonema no espanhol em geral, e do fonema /¥/, que é uma
marca identificadora do espanhol de tipo andino, fonema fusionado com /y/, no
espanhol padrão peruano, e as vibrantes fricativizadas. No plano morfossintático,
mencionamos a presença das interjeições de origem quechua, e a variabilidade do
gênero e número como marca morfológica; dentro da frase nominal chama atenção a
dupla marcação de posse ou duplo possessivo como se nas línguas andinas (em
especial o quechua). No plano léxico, encontramos empréstimos de filiação quechua ou
aimara, que são de difícil compreensão para o forasteiro, mas esse vocabulário é
reduzido no que respeita à fauna, flora, culinária e topônimos.
Finalmente, mostramos, neste trabalho, em anexo, uma breve lista de
palavras devidamente estruturada em forma de vocabulários, a partir do alfabeto
espanhol, que serviu como base para realizar nossa análise em outros níveis.
Além da variedade de espanhol que serviu como base para a configuração do
espanhol andino de Canta, existe outra variedade que chegou (e continua chegando) a
essa província, mas agora de forma superestrática. Essa variedade de espanhol possui
maior prestígio que a da própria província, que é o espanhol da capital e que é a
variedade padrão do espanhol peruano.
Como resumo, apresentamos a figura
10,
que
desenvolvemos baseados em
Baldoceda (1993), Cerrón-Palomino (2008), Hardman (1983) e Masgo (1977, 1988),
para mostrar as mudanças das possíveis realidades linguísticas pelas quais passou o
espanhol de Canta até chegar ao atual monolinguismo:
67
Séc. XXI Espanhol de Canta (Monolinguismo)
A partir do séc. XVI Espanhol Línguas indígenas (Bilinguismo)
Antes do séc.. XVI Quechua Aimara (Bilinguismo)
FIGURA N° 8: Mudanças na realidade linguística de Canta.
6.1 Transferências fonológicas
O espanhol padrão é refletido nas gramáticas e dicionários da língua. Assim,
na fonologia, utilizamos a Gramática de la lengua española de Emilio Alarcos (2000, p.
31
32
), para realizar o contraste com o espanhol de Canta. Alarcos (2000) apresenta, no
nível fonológico, as seguintes consoantes:
Labial Dental
Alveolar
Palatal Palato-
alveolar
Velar
Surdas
p t tʃ k
Oclusivas
Sonoras
b d g
Surdas
f
ׯ
s x
Fricativas
Sonoras
y
Nasais
m n
ْ
Laterais
l
¥
Simples
R
Vibrantes
Múltipla
r
QUADRO N° 5: Fonemas consonânticos da língua espanhola
32
No texto, o autor apresenta os fonemas consonânticos utilizando os mbolos da Revista de Filologia
Hispânica (RFH). s preferimos atualizá-los utilizando os símbolos do International Phonetics
Alphabet (IPA),disponível em: <http://www.omniglot.com/writing/ipa.htm>.
68
Para estabelecer um contraste, nós nos remetemos apenas ao aspecto
funcional de três segmentos consonânticos [ʃ], [¥] e [ɹ], que aparecem no espanhol de
Canta. Tais segmentos distinguem-se da fonologia espanhola geral proposta por Alarcos
e do espanhol padrão peruano. Para o espanhol de Canta, não teríamos [ׯ], que ele é
característico da península e, no novo continente, o fone interdental fundiu-se em [s]
(HAENSCH, 2001, p. 70). O espanhol padrão peruano baseado no espanhol da cidade
capital de Lima não possui [¥] porque ali se fundiu em [y], provocando o fenômeno
conhecido na bibliografia hispânica como yeismo, como será explicado em 6.1.2. A
seguir, apresentamos um quadro representativo sobre os fonemas consonânticos do
espanhol de Canta:
Labial Dental
Alveolar
Palatal Palato-
alveolar
Velar
Surdas
p t tʃ k
Oclusivas
Sonoras
b d g
Surdas
f
ׯ
s ʃ x
Fricativas
Sonoras
Y
Nasais
m n
ْ
Laterais
l
¥
Simples
R
Vibrantes
Múltipla
r
QUADRO 6: Os fonemas consonânticos do espanhol de Canta, baseado em Masgo (1977), Ramirez
(1980) e Baldoceda (1993) ; grifo nosso.
Com o processamento e resultado da análise dos dados, verificamos que,
entre as marcas mais influentes da fonologia das línguas andinas deixadas ao espanhol de
Canta, temos a presença de três segmentos /
ʃ/, /¥/ e /r/ ( onde [ɹ] funciona como alofone)
69
A seguir, explicamos sua funcionalidade e possível origem nessa variedade de espanhol,
tendo como fontes os dados proporcionados por nossos informantes e por Masgo (1977),
Ramírez (1980) e Baldoceda (1993).
6.1.1 O segmento /ʃ/
6.1.1.1 Descrição e análise
Normalmente escrito como <sh>, esse som fricativo palato-alveolar surdo
possui, nessa variedade hispana, dupla funcionalidade. Inicialmente, funciona como
fonema / ʃ/ (MASGO, 1977, p. 75) e, depois, como alofone de /s/.
Aparece como [ ʃ] formando pares mínimos com [s], em (5):
(5)
a) /ˈʃala/ [ˈʃala] ‘terreno cheio de guijarros’
b) /ˈsala/ [ˈsala] ‘parte de uma casa. Imp. salar’
c) /paˈʃar/ [paˈʃar] ‘carregar’
d) /paˈsar/ [paˈsar] ‘mover-se de um lugar a outro’ ‘cruzar’
e) /piˈʃar/ [piˈʃar] ‘urinar’
f) /piˈsar/ [piˈsar] ‘apisoar’
g) /ˈpiʃta/ [ˈpiʃta] ‘Imp. matar’
h) /ˈpista/ [ˈpista] ‘asfalto’
A existência desses pares mínimos mostra que o falante do espanhol de Canta
distingue entre [ʃ] e [s], de modo que os exemplos (5a), (5c), (5e) e (5g) são de origem
quéchua, conforme informações dos dicionários (CERRÓN-PALOMINO, 1976b;
PARKER, 1976).
Importa evidenciar que foram encontradas palavras com [ʃ] que não fazem
constraste com [s], como em (6):
(6)
a) [ˈwiʃla] ‘colherão’
b) [
ˈmiʃki] ‘doce’
c) [ˈʃiri] ‘espécie de batata branca’
70
d) [ˈpuʃpo] ‘fava torrada e cozida’
e) [ˈʃukuy] ‘chinelo feito de couro de vaca’
f) [ˈʃulka] ‘filho caçula’
g) [ˈʃikro] ‘sacola rústica feita de intestino de carneiro’
h) [ˈʃoŋgo] ‘topônimo’ ‘lugar húmido’
i) [ˈʃokia] ‘topônimo’ ‘lugar de pedras’
j) [ʃwiˈto׹o] ‘topônimo’ ‘lugar de grande extensão’
k) [wayʃaˈRima] ‘pessoa que pouco visita’
l) [ˈxiʃa] ‘preguiçoso’
Essas palavras coletadas do espanhol de Canta foram encontradas nos
dicionários das variedades centrais do quechua (CERRÓN-PALOMINO, 1976b;
PARKER, 1976; WEBER et al, 1998; TOLIVER, 2005) e do aimara (BELLEZA, 1998;
AYALA, 1988), como se constata abaixo:
(7)
a) /ˈwiʃλa/ Quech. A > [ˈwiʃla] ‘colherão’
b) /ˈmiʃki/ Quech. J.; Quech. A > [ˈmiʃki] ‘doce’
c) /ˈʃiri/
33
Quech. H. > [ˈʃiri] ‘espécie de batata branca’
d) /ˈpuʃpu/ Jac., Quech. J., Quech. A. > [ˈpuʃpo] ‘fava torrada e cozida’
e) /ˈʃukuy/ Quech. J.; Quech. PH > [ˈʃukuy] ‘chinelo feito de couro de vaca’
f) /ˈʃuλka/ Quech. J.; Quech. A. Quech. H.; Aim. > [ˈʃulka] ‘filho caçula’
g) /ˈʃikra/ Quech. A.; Quech. H. > [ˈʃikro] ‘sacola feita de intestino de carneiro’
h) /ˈʃuŋku/ Jac. > [ˈʃoŋgo] ‘topônimo’ ‘lugar húmido’
i) /ˈʃuqya/ ‘amontoamento de pedras’ Quech. J. > [ˈʃokia] ‘topônimo’ ‘lugar de pedras’
j) /ˈʃuytuku/ ‘lugar de vivenda’ Jac. > [ʃwiˈto׹o] ‘topônimo’ ‘lugar de grande extensão’
k) /waytʃawˈRima/ Quech. Aim. > [wayʃaˈRima] ‘pessoa que pouco visita’
l) /ˈxila/ Quech. A; /xiλa/ Quech. J. > [ ˈxiʃa] ‘preguiçoso’
Observa-se, em (7), que [ʃ] aparece em palavras de origem indígena, tanto
em quechua como em aimara. De (7a) até (7j), o [ʃ] presente no espanhol de Canta
provém de [ʃ] nas línguas andinas, enquanto em (7k) ele provém de [tʃ] e em (7l), de [l]
33
Esta palavra foi encontrada na variedade Quech. de Huánuco (um tipo de quechua central), também
num site referindo-se a “um tipo de batata branca denominada <Shiri> própria das Punas e tendo a
qualidade de resistir às eladas”. Maior detalhe em: <http://wiki.sumaqperu.com/es/La_papa>.
71
ou [λ]. Não acreditamos que esses dois últimos exemplos sejam casos isolados, mas não
nos deteremos nessa questão por não ser foco de nossa pesquisa.
Também foi encontrado o fonema álveo-palatal em outras palavras do
espanhol de Canta, mas, diferente dos exemplos em (7), essas palavras, em (8), não se
encontram registradas nos dicionários modernos consultados
34
das línguas indígenas.
(8)
a) [xaʃxaˈlin] ‘intestino de porco’
b) [raˈniʃ] ‘mulher não arrumada’
c) [ˈʃalpe] ‘pelagem abundante’
d) [ʃaˈyaRo] ‘salamandra’
As palavras em (8), pela forma linguística que apresentam, possibilitam, no
entanto, a hipótese de que pertencem às línguas indígenas. Para isso, contamos com três
argumentos. O primeiro baseia-se no fato de que a língua espanhola não possui,
atualmente, /ʃ/ dentro do seu inventário fonológico e, portanto, não existiriam palavras
com [ʃ]. O segundo argumento obedece ao fato de que as palavras em (8) não se
encontram registradas nos dicionários modernos das línguas indígenas porque as nguas
indígenas de Canta (as variedades de quechua e aimara) nunca foram descritas nem
documentadas antes da sua extinção; ao menos não se tem notícia disso (MASGO, 1977,
1988). Por último, nosso conhecimento como falante nativo da língua espanhola nos
permite perceber a natureza exógena de (8).
Outra ocorrência do segmento álveo-palatal é como alofone de /s/. Neste
caso, ele é restrito a palavras que se referem a nomes, ou seja, formas hipocorísticas.
Segundo Gonçalves (2001, p. 1), os hipocorísticos são aqueles nomes abreviados
afetivamente, resultando numa forma diminuta que mantém identidade com o prenome
ou com o sobrenome original e devem ser interpretados como apelidos, conforme
34
Cerrón-Palomino (1976b), Parker (1976), Weber et al (1998), Toliver (2005), Belleza (1998) e Loayza
(1988).
72
acontece com os hipocorísticos encontrados no espanhol de Canta, como apresentamos a
seguir:
(9)
a) Zenaida /seˈnaia/ [ˈʃena]
b) Santiago /sanˈtjaɣo/ [ˈ ʃanti]
c) Saturnino /saturˈnino/ [ˈʃate]
d) Asunciona /asunˈsjona/ [ˈʃona]
e) José /xoˈse/ [ˈxoʃe]
Podemos observar, em (9), que, além da simplificação léxica, o fator
decisivo na utilização de um ou outro alofone é o critério semântico, ou seja, a atitude
com função subjetiva. (BASÍLIO, 1987), tendo como resultado a presença de [ʃ] ante
um hipocorístico
35
.
6.1.1.2 Origem
Diante do que foi apresentado, é possível afirmar que o surgimento de /ʃ/ no
espanhol de Canta deve-se ao contato que teve essa variedade de espanhol com as
línguas andinas. Essas nguas deixaram /ʃ/ como substrato no espanhol cantenho, que o
incorporou em seu inventario fonológico. Além disso, é importante esclarecer que quase
todos os exemplos mostrados encontram-se tanto nas línguas das famílias quechua como
em aimara, tornando difícil estabelecer uma filiação linguística exata.
Podemos observar que, nas línguas do ramo central das famílias quechua e
aimara, aparece esse fonema. Por exemplo, tal como foi apontado por Cerrón-Palomino
(1976a, p. 67), aparece /ʃ/ no quechua Junín-Huanca, em palavras como: <shansha>
/ʃanʃa/ ‘brasa’, <ashuy> /aʃuy/ ‘arrimar-se’ e <ukush> / ukuʃ/ ‘rato’. Da mesma forma,
Hardman (1985, p. 41) registra a sua existência no aimara central (AC) ou na língua
35
Nesse caso, a hipocorização não leva à formação de uma nova palavra, não apresentando, portanto,
função lexical. (GONÇALVES, 2006). Por seu caráter essencialmente afetivo, esse processo assemelha-
se à linguagem infantil, fazendo emergirem formas não marcadas (McCARTHY; PRINCE, 1994).
73
jacaru, como em /ʃimi/ ‘boca’. Esse fonema álveo-palatal não aparece, todavia, nas
variedades de quechua e aimara sulistas (CUSIHUAMÁN, 1976; SOTO, 1976) . Por
exemplo, no aimara do sul (AS) existem palavras com /s/, porém, no centro, este seria
equivalente a /ʃ/. Sobre isso, Cerrón-Palomino (2000, p. 146) faz a seguinte comparação
entre as duas variedades:
AC AS
/ʃanqܱa/ ‘laringe’
/iʃi/ ‘cobertor’
/tʃܱuʃi/ ‘terso’
/sanqa/ ‘ganguear’
/isi/ ‘vestido’
/ tʃusi/ ‘cobertor’
QUADRO N° 7: Comparação entre /ʃ/ do Aimara do Centro e do Aimara do Sul
O autor explica que as correspondências apontam para a proposição de * /ʃ/
como protofonema comum, do qual se produz a despalatização no AS para se fundir com
/s/ (CERRÓN-PALOMINO, 2000, p. 147). Como foi visto acima, tanto o quechua
central como o aimara central possuem /ʃ/ dentro do seu inventario fonológico e,
portanto, também nas variedades de quechua e aimara faladas em Canta deveria estar
presente esse fonema. Nos exemplos acima, observa-se que /ʃ/, no atual espanhol de
Canta, vem de [ʃ] do Quech./ Aim. (5a, 5c, 5e, 5g, 7a até 7j), de [tʃ] do Quech. / Aim.
(7k) e de [l]~[¥] do Quech. / Aim. (7l). No entanto, que o [ʃ] aparece como alofone de /s/
quando se utilizam hipocorísticos. Assim, a origem de /ʃ/ em Canta pode-se ver na
seguinte figura:
[ʃ]
/ʃ/ [tʃ]
[l] ~ [x]
FIGURA N° 9: Origem de /
ʃ/
74
Por outro lado, é importante destacar que a sobrevivência de /ʃ/ no espanhol
de Canta deve-se a que a língua espanhola, até o século XVI, tinha, em seu inventário, o
fonema /ʃ/, que era escrito como <x> pelos espanhóis que chegaram à América
(LAPESA, 1981, p. 377; LATHROP, 1980, p. 93). Sobre isso, Landerman (1982) e
Torero (2005) explicam que, desde os anos iniciais da empresa conquistadora espanhola
nos Andes, em torno de 1530 até aproximadamente meados do século XVI, o <x>
representava o fricativo palato-alveolar /ʃ/. Landerman (1982, p. 230) afirma que a
variedade predominante de espanhol na região andina, no século XVI, foi o andaluz, e
essa variedade diferenciava entre /s/ e /ʃ/ grafadas como <s> e <x>, sendo utilizada nas
descrições e na elaboração das Artes das línguas indígenas americanas pelos
missionários hispanos.
Sendo as línguas andinas de Canta possuidoras de /ʃ/, tal como se observou
nas gramáticas do quechua e aimara do ramo central, a chegada do espanhol no século
XVI, por meio do superstrato, permitiu a sobrevivência desse segmento na configuração
do espanhol andino de Canta. A teoria que nos ampara é proposta por Malkiel (1967),
denominada multiple causation ou causalidade múltipla: a origem e sobrevivência de
certos fenômenos numa língua é pluricausal e não monocausal, como tradicionalmente
se pensa; há, portanto, diferentes origens ou fatores para um mesmo fenômeno
36
. Neste
caso, a presença dos mesmos segmentos em espanhol, quechua e aimara confirmam a
nossa proposta.
36
Com essa proposta, Malkiel coloca em discussão a complexidade das causas (internas) que podem
motivar o desenvolvimento de uma mudança linguística. (CARRERA, 1984, p. 280)
75
6.1.2 O segmento /¥
¥¥
¥/
6.1.2.1 Descrição e análise
Normalmente escrito como <ll> no espanhol, esse fonema lateral palatal /¥/
registra-se no espanhol de Canta especialmente nos topônimos e em palavras de origem
indígena. A presença de /¥/ em oposição a /y/, ou seja, estabelecendo um contraste por
meio dos pares nimos, é de baixa frequência. Em geral, observa-se a tendência de que
/¥/ passe a /y/ por questões geográficas e sociais.
A diferença entre [y] e [¥] passa quase despercebida. Durante nossa coleta
encontramos somente um par mínimo (10), tal como apresentamos na sequência:
(10)
a) [ˈpo¥o] <pollo> ‘frango’
b) [ˈpoyo] <poyo> ‘tipo de objeto para sentar-se’ ‘banco’
O par mínimo em (10) mostra a oposição distintiva entre [λ] [y], escritos
como <ll> e <y>, respectivamente, e, embora seja de escassa funcionalidade, essa
oposição conserva-se nas palavras proferidas por pessoas adultas e idosas. Os mais
novos e as pessoas que moram em lugares mais próximos à cidade de Lima não fazem
tal diferença, com isso a palavra [ˈpoyo] tanto pode designar ‘frango’ quanto ‘tipo de
objeto para sentar-se’. Assim, a única forma de desambigüizar é o contexto. Também
/ˈpoyo/, com o significado de ‘objeto’, está se tornando desconhecido por muitas
crianças, fato que foi comprovado in loco durante nossas entrevistas.
76
Do mesmo modo, realiza-se [λ], em Canta, em palavras comuns com letra
<ll>, itens do espanhol geral e aqueles que se referem a vegetais e topônimos de filiação
indígena, como se vê nos seguintes exemplos:
Itens que possuem <ll> no espanhol geral
(11)
a) [aˈ¥i] <allí> ‘ali’
b) [kutʃiˈ¥o] <cuchillo> ‘faca’
Itens que possuem <ll> de origem indígena
(12)
a) [ˈ¥ik¥a] <lliklla> ‘prenda de vestir’
b) [ˈpa¥xa] <pallja> ‘um par’
c) [ampaˈ¥uko] <ampalluco> ‘flor da batata’
d) /ˈku¥pe] <cullpe> ‘tumba de origem pré- inca’
e) [ˈtʃak¥a/ <chaclla> ‘armação feita de paus’
f) [ˈwa¥ki] <huallqui> ‘sacola feita de couro ou lã’
Itens de topônimos que possuem <ll> com origem indígena
(13)
a) [rjoˈtʃik¥a] <Río Chiclla> ‘Nome de um rio’
b) [si¥aˈrume] <Sillarume> ‘Montanha com pedras’
c) [ka¥aˈkoto] <Callacoto> ‘Nome de uma montanha’
d) [wa¥aˈpukjo] <Huallapuquio> ‘Nome de uma lagoa’
e) [a¥awkaˈloksa] <Allauca-Locsa> ‘Nome de um nevado’
Um caso especial são (13a) e (13b), topônimos de natureza hibrida, nos quais
o primeiro lexema é espanhol <rio> rio’ e <silla> ‘cadeira’ e o segundo é quechua:
[ˈtʃik¥a] ‘nome de um rio’ e [ˈrume] ‘pedra’.
77
O yeismo [¥] > [y]
A tendência observada em Canta a utilizar [y] em vez de [¥] é conhecida no
mundo hispânico como yeismo (RAMÍREZ, 1994; QUILIS, 1999, p. 316). Essa
tendência decorre, em Canta, de dois fatores: geográfico e social. O fator geográfico
porque as pessoas que moram em Canta, em comunidades próximas à cidade de Lima,
como a capital da província de Canta e o distrito de Obrajillo, tendem a utilizar [y] em
vez de [¥], como ocorre no espanhol de Lima. O fator social observa-se no fato de que,
em Canta, é sinônimo de prestígio ser yeista, porque pertence à fala da capital e porque
os programas de rádio e televisão de alcance nacional utilizam [y]. Também no âmbito
social, a faixa etária é uma das causas do uso de um elemento e outro. Os idosos
conservam [¥], enquanto os mais novos já utilizam [y]. Por exemplo, em (14) a maioria
das palavras passaram a ser usadas com [y], como se pode verificar nos dados da
informante na faixa etária de 20 anos:
(14)
a) [kasteˈyano] <castellano> ‘castelhano’
b) [yaˈmaRon] <llamaron> ‘chamaram’
c) [yeˈgaRon] <llegaron> ‘chegaram’
d) [yeˈBo] <llevó> ‘levou’
e) [yeˈɣa] <llega> ‘chega’
e) [rio tʃiˈyon] <Rio Chillón> ‘nome de um rio’
f) [kaˈBayos] <caballos> ‘cavalos’
g) [soˈriyo] <zorrillo> ‘gambá’
h) [paˈriya] <parrilla> ‘churrasqueira’
i) [ˈku¥es] <culles> ‘povo da costa norte de Lima
37
Todas essas palavras de origem espanhola são faladas utilizando [y]. No
entanto, em nossos dados coletados de um determinado informante, houve vestígios da
37
Os culles foram um grupo indígena da costa norte-central de Lima ( ROSTWOROWSKI ,1978).
78
oposição entre [y] e [¥]. O segmento [¥] apareceu como referência a um grupo de
natureza indígena, como em (14i).
Também as pessoas acima de 60 anos que tiveram ou têm muito contato com
a cidade de Lima, tornam-se yeistas, mas ainda mostram vestígios de que utilizaram a
distinção /¥/ /y/. Podemos notar isso por meio dos dados de nossos informantes de 62
anos, dos quais registramos palavras como:
(15)
a) [desaˈroya] <desarrolla> ‘desenvolve’
b) [ˈdeyos] <de ellos> ‘deles’
c) [kasˈtiyo] <castillo> ‘castelo’
d) [ˈeyos] <ellos> ‘eles’
e) [aˈ¥i] <allí> ‘ali’
6.1.2.2 Origem
O surgimento do [¥] no espanhol de Canta, se assemelha ao mesmo processo
de /ʃ/, obedece também a uma dupla origem. (MAKIEL, 1967). A existência desse
segmento nessa variedade deve-se a sua presença tanto nas línguas indígenas como em
algumas variedades de espanhol, como aquela que chegou a Canta há séculos.
Nas línguas do ramo central da família quechua (CERRÓN-PALOMINO,
1976a, p. 47; PARKER, 1976, p. 43; TOLIVER, 2005, p. 48; WEBER et al, 1998, p.
162), [¥] mostra-se com alta funcionalidade, como se observa nas seguintes palavras:
(16)
a) /ˈtu¥pa/ <tullpa> ‘terra’ Quech. J.
b) /ˈ¥ika/ <llika> ‘teia-de-aranha’ Quech. A.
c) /ˈtʃu¥uk/ <chulluk> ‘calado’ Quech. H.
d) /ˈwa¥pa/ <huallpa. ‘galinha’ Quech. PH.
79
O mesmo ocorre com a família aimara, em que o jacaru (BELLEZA, 1995, p.
19) e o aimara do sul (AYALA, 1988, p. 132) mostram a presença desse elemento:
(17)
a) /ˈi¥ʃu/ <illshu> ‘procurar bem o lugar’ Jac.
b) /ˈ¥apܒi/ <llapi> ‘morno’ Aim.
A existência e conservação de [¥] no espanhol de Canta deve-se também à
língua espanhola. Lapesa (1981, p. 571) menciona que a oposição /y/ e /¥/
é prestigiosa
numa faixa interior da Colômbia que compreende as cidades de Bogotá e Popayan, na
parte sul da serra equatoriana;em amplas zonas e terras altas e costa meridional do Peru,
em quase toda a Bolívia, em parte das províncias argentinas de San Juan e La Rioja e
nas fronteiras do Paraguai, assim como focos isolados no sul do Chile. Nós
concordamos totalmente com Lapesa (1981, p. 552): a conservação de /¥/
no espanhol
de regiões andinas deve-se ao adstrato e substrato das línguas quechua e aimara, pois
essas línguas possuem esse fonema lateral palatal sonoro. A presença de /¥/ no espanhol
de Canta também se deve a uma característica multicausal, conforme destaca Malkiel
(1967). Como resumo, apresentamos a seguinte figura:
[¥] (línguas andinas) espanhol de Canta
/¥/
[¥] (
espanhol do séc. XVI que chegou a Canta)
FIGURA N° 10: Origem da palatal
80
6.1.3 O segmento [ɹ]
6.1.3.1 Descrição e análise
O aproximante [ɹ] no espanhol de Canta funciona como alofone de /s/ e
majoritariamente aparece em palavras de origem indígena. Além disso, nota-se que [ɹ]
está em um processo de perda nessa variedade, em decorrência de fatores estritamente
sociais.
Observemos agora o uso do [ɹ]:
(18)
a) [ɹamˈɹam] <Ram Ram> ‘topônimo’ ‘nome de uma chácara’
b) [ɹaˈRan] <Rarán> ‘topônimo’ ‘nome de um curral’
c) [ˈɹuma] <ruma> ‘grupo de objetos’ ‘pilha’
d) [aɹguaɹˈsin] <Arguarsín> ‘topônimo’ ‘nome de um córrego’
e) [ɹangraˈtʃani] <Rangrachani> ‘topônimo’ ‘nome de um riacho’
f) [ɹaˈmiRes] <Ramírez> ‘sobrenome’
g) [supeˈRioɹ] <superior> ‘superior’
h) [kaˈtoɹse] <catorce> ‘catorze’
Nesse pequeno corpus, existem dois grandes grupos que utilizam o segmento
aproximante: os topônimos de origem indígena e os nomes hispanos. No exemplo (18),
de (a) até (e), aparece [ɹ] em palavras de origem indígena. Embora não tenham sido
encontradas nos dicionários quechua (CERRÓN-PALOMINO, 1976a; PARKER, 1976;
WEBER et al, 1998; TOLIVER, 2005) e aimara (BELLEZA, 1995; LOAYZA, 1988),
refletem uma forma linguística exógena à língua espanhola. Também aparece [ɹ] no
início de palavra (ou início de sílaba inicial), com exceção de (g), no interior da sílaba e
em posição final de palavra.
Já os nomes hispanos, em (18), de (f) até (h), além de apresentarem a
aproximante, possuem também uma consoante fricativa alveolar [s] que contém o traço
[+ estridente], sendo possível a assimilação de [s] a [r] tanto no início de palavra quanto
no início e final de sílaba.
81
O uso desse segmento em Canta, em comparação a outras áreas andinas
peruanas
38
, é de funcionalidade baixa. Pode-se ouvir em uma ou outra palavra falada
pelos cantenhos que viajam pouco à cidade de Lima e têm acima de 40 anos. Ou seja,
o
fator idade é muito importante, pois, na fala dos jovens, é nula a presença da vibrante. É
possível que a aproximante [
ɹ
] está-se assimilando em [r], produto da estigmatização
social negativa que essa variedade possui em comparação ao espanhol padrão de Lima,
que contém a vibrante múltipla, que também é utilizada nacionalmente pela mídia
39
.
6.1.3.2 Origem
Nenhuma das línguas andinas possui o segmento aproximante [ɹ] como
fonema nem alofone (CERRÓN-PALOMINO, 1976a; PARKER, 1976; WEBER et al,
1998; TOLIVER, 2005, BELLEZA, 1995; AYALA, 1988), porém, segundo os dados,
no espanhol de Canta a presença de [ɹ], tanto nos topônimos de origem indígena, como
em palavras do espanhol, obedece a uma dupla origem. É difícil afirmar, mas é possível
que [ɹ] seja produto da evolução interna dessa variedade vigente pelo contato com as
línguas andinas. Por exemplo, nos nomes do espanhol geral, origina-se pela assimilação
do traço estridente que possui [s]. Segundo a bibliografia coletada, ainda não existem
propostas sobre a origem de [ɹ] no espanhol andino (lato sensu).
Também vale ressaltar aqui que a presença da aproximante não é uma
característica única do espanhol andino, visto que, em outras variedades de espanhol
localizadas fora dessa área, encontra-se esse tipo de som, como em: (a) Espanha: às
margens do rio Ebro, desde Logroño até quase Zaragoza (LLORENTE, 1965 apud
QUILIS, 1999, p. 348); (b) América Central: no México, na cidade de México
38
Por exemplo, no espanhol de Cuzco, especialmente na comunidade rural de Calca, mostra-se uma alta
frequência no uso dessa vibrante. (KLEE, C. et al, 2005, p. 27-45).
39
O fato de ser um pesquisador falante nativo do espanhol peruano, na sua variedade limenha, permite-
me perceber que, por exemplo, nas notícias e nas novelas quase nunca se usa [ɹ]. Raramente ele é usado
quando se tenta imitar uma pessoa de origem andina.
82
(LASTRA e BUTRAGUEÑO, 2003); (c) América do Sul: na Argentina, na cidade de
Rosário (DONNI, 1972); na Venezuela, na Cordilheira de Mérida (OBEDIENTE,
2009). Ou seja: tanto nas variedades de espanhol da Espanha, como México, Argentina
e Venezuela, utiliza-se [ɹ] em seu inventário fonético-fonológico de forma isolada e não
como ocorre no espanhol andino, que é de forma compacta.
6.2 Transferências morfossintáticas
Dentro do campo da morfologia e da sintaxe, entre as características
abordadas do espanhol de Canta e que foram transferidas das línguas andinas e
diferenciadas em relação ao espanhol geral, temos as interjeições, e a flexão de gênero.
Dentro da sintaxe, a dupla marcação de posse e o comportamento pronominal dos casos
acusativo e dativo chamam a atenção nessa variedade.
6.2.1 Transferência de alguns morfemas
6.2.1.1 As interjeições
No espanhol de Canta (e no espanhol geral), as interjeições cumprem um
papel gramatical (ALARCOS, 2000). Nessa província, as interjeições chamadas de
expressão ou sintomáticas (Ibídem, p. 242) – aquelas que dão informação sobre sensação
térmica –, utilizam-se da seguinte forma:
(19)
a) ¡alalau!, el agua está helada.
‘Que frio!, A água está gelada’
b) ¡achachau!, me quemé con la tetera caliente.
‘Que calor!, Eu me queimei com a chaleira quente’
c) ¡atatau, mamita
40
!, te debió doler mucho.
‘Que dor, mocinha!, Deveu te doer muito’
40
A palavra mamita significa literalmente ‘mãezinha’, mas no espanhol andino, além desse significado,
pode corresponder também a uma expressão de afeto para nomear qualquer pessoa comum, de diferente
idade. Neste caso, o contexto limita o significado da palavra a uma mocinha.
83
Nessas interjeições, observa-se, conforme prévia consulta nos dicionários das
línguas andinas (BELLEZA, 1995; CERRÓN-PALOMINO, 1976a; LOAYZA, 1988;
PARKER, 1976; WEBER et al, 1998; TOLIVER, 2005), que possuem uma origem
quechua. Assim, /alaˈlaw/ significa ‘que frio’, /atʃaˈtʃaw/, ‘que calor’ e /ataˈtaw/, ‘que
dor’. A filiação quechua dessas interjeições não é percebida pelo cantenhos, pois dizem
sempre que “falam só espanhol”.
Sobre o uso dessas interjeições em Canta, depende muito do fator idade, já
que são usadas majoritariamente por pessoas adultas e idosas, mas não por jovens e
crianças. Desse modo, resulta difícil explicar o porquê da conservação das interjeições
sintomáticas quechuas em Canta, coisa que não aconteceu com os outros tipos de
interjeições, como as assertivas, as de admiração ou expressivas (ALARCOS, 2000).
6.2.1.2 O gênero
A flexão de gênero está presente em quatro classes de palavras da língua
espanhola: nos artigos, pronomes, adjetivos e substantivos. Basicamente, focalizamos
aqui o gênero que diferencia levemente do espanhol-padrão e que é marcado pelos
substantivos por meio da presença dos artigos (ALARCOS, 2000, p. 60). A partir dos
exemplos encontrados, notamos que passa quase inadvertida a presença deles, como em:
(20)
a) La coliflor ‘o couve-flor’
b) La alba le dan (à Padroeira do povo, Virgen de las Mercedes) ‘o alva’
O peso dessa observação para o espanhol de Canta é que, no espanhol-
padrão, as duas palavras do exemplo (20) seriam de gênero masculino, ou seja, seria El
coliflor ‘o couve-flor’ e El alba ‘o alva’. A mudança de gênero mostrada em (20) parece
decorrer do contato que teve o espanhol que chegou a Canta com as línguas andinas. O
argumento em favor do contato se deve a que tanto o quechua quanto o aimara não
84
possuem artigos e marcam o gênero das frases nominais lexicalmente, e não
morfologicamente como em espanhol (CERRÓN-PALOMINO, 1976a, p. 114-115).
Esse fato de mudança de gênero ocorre com frequência nos bilíngues espanhol-línguas
andinas (ESCOBAR, 1998), enquanto o fato de que os cantenhos sejam todos
monolíngues se reflete na quase extinção do fenômeno de mudança de gênero a partir
dos poucos dados encontrados.
6.2.2 Transferência na ordem de palavras
6.2.2.1 A dupla marcação de posse
Tal como foi explicado brevemente em 4.2.2.2 sobre os possessivos em
aimara e, sobretudo, em quechua, estes se marcam gramaticalmente duas vezes. Por
exemplo, no quéchua, pelo genitivo {–pa} e pelo pronome possessivo preso, segundo o
paradigma de sufixos mostrado no Quadro 3 (p. 54). Na oração Juan-pa wasi-n A
casa de Juan’, pode-se notar que os sufixos {–pa} genitivo ‘de’ e {–n} ‘sua/seu’ marcam
posse e que a frase completa de Juan-pa wasi-n significaria literalmente ‘de Juan sua
casa’ ,e em espanhol, de Juan su casa, marcada também duas vezes. Essa expressão
foge ao espanhol-padrão, porque é suficiente dizer somente la casa de Juan, da mesma
forma que na oração (21), em que o sufixo {–y} significa ‘meu/ minha’; literalmente
quer dizer ‘de mim minha casa’ e, em espanhol, ‘ de mí mi casa’ (ZARIQUIEY, 2008, p.
90-91):
(21)
ñuqa - pa wasi - y
1P - GEN CASA - 1POS (lit. De mim minha casa)
‘minha casa’
No espanhol de Canta, registra-se presença funcional baixa da dupla
marcação de posse. Isso se encontra sobretudo nos lugares altos da província (de 3000 a
4500 m.s.n.m), como Huaros e Cullhuay, lugares em que coletamos os seguintes dados:
85
(22)
a) En mi caso mío,
PREP DET. POS. N PRON. POS
‘No meu caso’
b) Hoy me siembro mis papas
ADV. PRON. POS VB DET. POS N
‘Hoje semeio minhas batatas’
c) Su fiesta se celebra
DET. POS N PRON. POS VB
‘A sua festa se comemora’
d) De la señora Luisa su vaca
PREP. DET N N DET. POS N
‘A vaca da senhora Luíza’
e) De mí mi tio es albañil
PREP. PROP. POS DET. POS N VB N
‘O meu tio é pedreiro’
Nessas orações, existem diferentes tipos de dupla marcação de posse e,
seguindo a classificação de Merma (2004, p. 197-199), dividimo-las em até quatro
tipos: 1) possuidor + possuído, como de mi hijo su escuela; 2) de estrutura formal de +
possuidor + possuído, como na expressão de mí mi mamá es trabajadora; 3) possuído +
de + possuidor, fenômeno que se apresenta na variedade padrão do espanhol peruano,
na qual a ordem é inversa em relação aos demais tipos de possessivo; 4) uma forma em
que se usa o possessivo no lugar do artigo, como em me lavé mi cara, que, no espanhol-
padrão, seria me lavé la cara. Quase da mesma forma, Escobar (1998, p. 100) apresenta
uma quantidade maior de classes de duplo possessivo, com destaque àquele que possui
dois possessivos, um antes e outro depois do substantivo, como em esta es tu hoja tuya.
86
Assim, o exemplo (22a) é uma oração formada pela estrutura possessivo + nome +
possessivo. Já (22b) e (22c) possuem o quarto tipo de dupla possessão em Hoy me
siembro mis papas e Su fiesta se celebra, que, no espanhol padrão, é Hoy siembro las
papas e La fiesta se celebra. Substituindo, no espanhol andino, os possessivos pelos
artigos, nesse caso por la e las antes de papa e fiesta, (22d) possui a estrutura possuidor
+ possuído, que é o primeiro caso, e, em (22e), marca-se pela estrutura de + possuidor
+ possuído.
6.2.2.2 O tratamento do acusativo
Entre as distintas formas de marcar o acusativo em espanhol, existe uma que
se realiza por meio dos pronomes pessoais. A forma pronominal básica do acusativo no
espanhol é lo para o masculino; no feminino, é la e seus plurais los, las (ALARCOS,
2000, p. 198, 199). É o que se observa nas orações a seguir:
(23)
a) ¿Compró el carro?, Sí, él lo compró.
ACUS.
‘Comprou o carro? Sim, ele o comprou’
b) Me gusta este carro, ¿puedo comprármelo?
A
CUS.
‘Eu gosto desse carro, posso comprá-lo?’
c) ¿María tiene la mochila?, Sí, ella la tiene.
ACUS.
‘Maria tem a mochila? Sim, ela a tem’
87
d) Me gusta esta mochila, ¿puedo comprármela?
ACUS.
‘Eu gosto dessa mochila, posso comprá-la?’
e) ¿Juana traerá los libros?, sí, ellas los traérá.
ACUS.
‘Juana trará os livros? Sim elas os trará’
f) Me gustan estos libros, ¿puedo comprármelos?
ACUS.
‘Eu gosto desses livros, posso comprá-los?’
g) ¿Dónde están mis gafas?, no las veo
ACUS.
‘Onde é que estão meus óculos? Não os encontro’
h) Me gustan estas gafas, ¿puedo probármelas?
ACUS.
‘Eu gosto desses óculos, posso experimentá-los?’
Nas orações acima, vemos como os pronomes tônicos possuem até duas
localizações: antes e depois do verbo. O primeiro dos fenômenos, chamado próclise, é
aquele que possui o pronome tônico de maneira autônoma antes de verbo, como se
observa nas orações (23a), (23c), (23e) e (23g); entretanto nota-se ênclise quando o
pronome está ligado depois do verbo, como em (23b), (23d), (23f) e (23h)
41
.
41
A língua espanhola, em comparação a outras línguas românicas, como o português, não possui
mesóclise.
88
Em relação à marca acusativa pronominal no espanhol de Canta, temos dois
fenômenos que chamam a atenção: o duplo acusativo e o fenômeno conhecido pela
linguística hispânica como loismo. O primeiro verifica-se nas seguintes orações:
(24)
a) Ese lo que lo
ACUS. ACUS.
‘Isso é o que eu sei’
b) Eso es lo que lo quiero
ACUS.
ACUS.
‘Isso é o que eu quero’
c) Hasta ahora lo tenemos eso
ACUS. ACUS.
‘Até agora o temos’
d) Lo trajimos en burro
ACUS. ACUS.
‘Trouxemo-lo a burro’
O duplo acusativo caracteriza-se por ser marcado duas vezes dentro de uma
mesma oração. Primeiro, pelo pronome átono lo; depois, por outro pronome, que pode
ser lo, como se vê em (24b) e (24c) ou eso em (24d) ou uma FP como (24a). Também se
observa que existe duplicação do acusativo quando lo está proclítico, contudo não
encontramos exemplos que demonstram o contrário. Assim, podemos ver que, entre as
pesquisas realizadas anteriormente nessa província, como a de Masgo (1988), não se
informa nada sobre esse fenômeno. Essa propriedade pode ser atribuída às línguas
89
andinas, sobretudo ao quéchua, visto que o objeto está explícito e é marcado duas vezes,
tal como diz Vlastimil (2005, p. 156-157), em:
(25)
a) ñuqa - ta - n maqa- wa – sha - n
1PS-OBJ-TOP VB bater-OBJ-PROG-3PS (Esp. lit.: ‘(Él) me está pegándome’)
‘Ele está me batendo’
b) Pedro - ta - n maqa - sha - Ø - n
N-OBJ-TOP VB bater-PROG-OBJ- 3PS (Esp. lit. ‘Lo pega a Pedro’)
‘Ele bate a Pedro’
As duas marcas de objeto – no sujeito, {-ta-} e no verbo, {-wa} ou {Ø} – são
vistas em (25), em que se nota o duplo acusativo ou objeto por meio da tradução ao
espanhol literal, que é como se no espanhol andino de Canta. De um ponto de vista
mais abrangente, Julio Calvo (1996, p. 539 apud VLASTIMIL, 2005, p. 157) afirma
que esse fenômeno linguístico é comum no espanhol dos Andes e se deve à influência
do quechua (ou aimara):
… La reduplicación pleonástica de la conjugación objetiva hispánica, así como
la carencia del clítico en algunas anteposiciones del objeto o la total ausencia
de cualquier argumento objeto y hasta sujeto tiene poco que ver con la
diacronía del español y mucho más con el problema de las lenguas en contacto,
porque muchos de estos fenómenos se observan solamente entre el sur de
Colombia y el norte de Chile, territorios hasta donde se expandió la lengua de
los incas.
O duplo acusativo ou “reduplicação pleonástica da conjugação objetiva
hispânica”, como chama Calvo, obedece aos fatores relativos ao contato com as línguas
andinas. O espanhol-padrão obteve uma nova configuração naqueles lugares da
América onde essas línguas andinas foram faladas.
Sobre o loísmo, chama-se assim dentro do mundo hispânico ao uso de lo e
los na função de objeto indireto ou dativo quando o substantivo referido é de gênero
masculino (ALARCOS, 2000, p. 204). No espanhol-padrão, o pronome pico da marca
objeto indireto é le e seu plural les. A seguir, fazemos um contraste entre as orações
coletadas em Canta e seus equivalentes no espanhol-padrão.
90
(26)
a) Lo había mandado a Rosa.
OI
Lit.: ‘O tinha mandado a Rosa’
‘(Ele) tinha mandado a Rosa’
b) Le había mandado a Rosa
OI
Lit.: ‘Lhe tinha mandado a Rosa’
‘Tinha mandado ele a Rosa’
c) No lo mates a él
OI
Lit.: ‘Não o mate a ele’
‘Não o mate’
d) No le mates a él.
OI
Lit.: ‘Não lhe mate a ele’
‘Não lhe mate’
As orações (26b) e (26d) correspondem ao uso padrão da língua, pois le
refere-se ao OI que seria o beneficiário da ação, no entanto observa-se o loísmo em
(26a) e (26c), em que le é substituído por lo na mesma função. Sobre a origem dessa
característica no espanhol andino geral, existem duas propostas.
A primeira é de Cerrón-Palomino (2003, p. 157-159) e De Granda (1993,
1999), que afirmam que o afixo {-qlu-} origina-se de uma transferência dos morfemas
quechuas {-rqu}, {-pu} e {-ka} nas variedades sulistas e na central, exatamente no
quechua huanca, como em:
(27)
a) li - qlu - n
VB. SER-ASP.-3PS Esp. lit ‘Lo fue’
‘Ele foi’
b) asi – qlu - n
VB. RIR-ASP.-3PS Esp. Lit. ‘Lo rió’
‘Ele riu’
91
c) wañu - qlu - n
VB. MORIR-ASP.-3PS Esp. lit. ‘Ya lo murió’
‘Ele morreu’
Tal como se em (27), o afixo verbal {-qlu-}, que provém da metátese de
{-lqu} e, por sua vez, de {-rqu}, possui função aspectual de um processo realizado de
forma rápida, total e definitiva. (CERRÓN-PALOMINO, 2003, p. 158).
Uma segunda proposta sobre a origem do loísmo no mundo andino é aquela
apresentada por Merma (2007, p. 210), Kany (1994, p. 139) e Godenzi (1986, p.187).
Para eles, esse fenômeno corresponde a uma característica do espanhol geral antigo que
permaneceu nessa variedade de espanhol e que se resiste à mudança presente no
espanhol-padrão.
De acordo com nossa análise, podemos compreender que, da mesma forma
como explicamos as transferências fonológicas, seguindo a Malkiel (1967, p. 1246),
podemos fazê-lo com o loísmo. Segundo a teoria, o loísmo, visto em (26a), (26c) e (27),
tem dupla origem, à medida que permaneceu no mundo andino por fazer parte do
espanhol antigo. Assim, as nguas andinas que entraram em contato possuíam
estruturas semelhantes ao espanhol que chegou a Canta desde o século XVI. Portanto,
no espanhol de Canta conserva-se porque ainda cumpre uma função produtiva diferente
do espanhol-padrão e semelhante às línguas andinas que estiveram nessa província.
6.2.2.3 O tratamento do dativo
Da mesma maneira que o acusativo, entre as distintas formas de marcar o
caso dativo existe aquela que se realiza por meio de pronomes pessoais átonos
42
. A
forma pronominal básica do dativo no espanhol é le e o plural les. (ALARCOS, 2000, p.
42
Um estudo sobre a semântica e sintaxe dos dativos em espanhol, pode-se ver na dissertação de Patriau
(2007).
92
201). Pode-se notar, no espanhol de Canta, igual funcionamento do dativo nas orações a
seguir:
(28)
a) Le pagaron a la mujer hasta que diga su nombre
DAT. DAT.
‘Bateram na mulher até que diga o nome dela’
b) Le curó sus herida
DAT.
‘Curou as feridas dele’
c) Le ayudó
DAT.
‘Ajudou-lhe’
Além das orações acima, os sintagmas oracionais em Canta podem ser
descritos pela linguística hispânica como leísmo. Esse fenômeno linguístico consiste no
emprego de le e, com menor frequência, do seu plural les como referentes da função de
objeto direto, ou seja, de acusativo (ALARCOS, 2000, p. 202). Vejamos:
(29)
a) Que le llaman la rejilla
ACUS.
‘Que a chamam picareta‘
b) Los chunchitos llevan unas túnicas que les llaman ...
ACUS.
‘Os indígenas (amazônicos) levam umas túnicas que as chamam...’
c) Bueno señor, ya le terminé (con la entrevista) cualquier cosita ...
ACUS.
‘Bom senhor, já acabei (com a entrevista) qualquer coisa ...’
93
Em face dos escassos dados encontrados, pode-se afirmar que esse fenômeno
aparece com baixo uso no espanhol dessa província. A presença do leísmo nessa
variedade é o que Fernández-Ordoñez (1999, p. 9) chama de leísmo de contato ou
adstrato e deve-se ao contato do espanhol com as línguas indígenas
43
. Neste caso, o
contato realizou-se entre o espanhol com as línguas andinas, em especial o quechua, em
séculos passados. O argumento do leísmo de contato é que, nas línguas indígenas
andinas, não há marca de gênero.
Efetivamente baseados nos argumentos de Klee e Lynch (2009, p. 143),
percebemos que, no caso de Canta, não se pode atribuir o leísmo ao quechua (ou ao
aimara), que o ambiente de línguas em contato terá fomentado esse uso como uma
forma de sintetizar o complexo sistema clítico do espanhol. Uma pista disso seria, por
exemplo, a sua ausência na norma culta limenha.
O leísmo, como se observa, não é privativo do espanhol de Canta, nem da
língua espanhola
44
. No espanhol peruano, ele se apresenta fundamentalmente nos
Andes
45
, nos falantes monolíngues e bilíngues. Os trabalhos de Caravedo (1999) e
Valdez (2002) mostram a sua existência no norte-oriente, na região de Cajamarca. No
centro do Peru, encontra-se na região Junin (CERRÓN-PALOMINO, 1989); entretanto
Godenzi (1986, 1991) registra-o no sul, na região de Puno. Em Lima, o fenômeno não
43
Os exemplos mais conhecidos do leísmo por contato na América do Sul são do Equador e Paraguai.
Nesses países, o contato se realizou entre o espanhol e o quechua ou espanhol e guarani. Sobre o Equador,
Toscano (1953, p. 205) afirma que, nesse país, a influência do quechua sobre o espanhol favorece a
modificação do sistema pronominal átono de terceira pessoa, generalizando as formas le, les com
independência sintática e gênero do referente. No Paraguai, onde o conhecimento do guarani é geral entre
a população, De Granda (1982, p. 263) explica que o leísmo é comum nos estratos mais populares e na
fala informal dos estratos médios e superiores e é abandonado progressivamente segundo o aumento do
nível cultural do falante.
44
Um fenômeno semelhante ocorre no português do Brasil: segundo Nascentes (1990), é comum o uso
do pronome lhe (equivalente ao le em espanhol) como marca acusativa. Da mesma maneira, Matos (2003,
pp. 44-48) cria o termo lheismo, seguindo a forma do espanhol, para se referir a esse fenômeno que foge
da norma-padrão do português brasileiro.
45
Embora não existam muitas pesquisas sobre a área amazônica peruana, o trabalho de Campos (1991
apud CARAVEDO, 1999, p. 254) analisa o problema do leismo em um lugar amazônico (fronteira com a
área andina).
94
ocorre na norma culta; aparece nos falantes bilíngues que residem na capital.
(PAREDES, 1996, p. 30).
Fora do Peru, o le como marca de acusativo registra-se atualmente no
espanhol do centro e norte da Espanha
46
e, de forma menos compacta, em alguns países
da América Central e do Sul
47
(FERNÁNDEZ-ORDOÑEZ, 1999). Além do alcance
pan-hispânico desse fenômeno, a Real Academia Española, no seu Diccionario
Panhispánico de Dudas (2005, p. 392-396) expressa que o leísmo é “um uso impróprio
de le em função de complemento direto”, portanto a realização desse fenômeno é uso
não acadêmico porque foge da norma padrão
48
.
Sobre a origem do leísmo e em geral sobre a insegurança e variação dos
pronomes objeto, aceitamos a proposta de Clavería (1994, p. 168), para quem ele é
multicausal, pois, além do leísmo de contato, existe o leísmo etimológico. Claveria
explica que desde o latim existia essa variação pronominal entre o acusativo e o
dativo e passou ao espanhol medieval (naquela época chamado castellhano), como se
documenta em diversos textos da época e que posteriormente foram analisados pelos
filólogos hispanos Rufino Cuervo, Salvador Fernández e Rafael Lapesa
(FERNÁNDEZ-ORDOÑEZ, 1999, p. 2). A presença do leísmo etimológico encontrar-
se-ia no centro e norte da Espanha, excetuando o país basco, dado que essa comunidade
autônoma onde se apresenta o leísmo obedece ao contato secular entre a língua
espanhola e o basco. (URRUTIA, 2003, p. 518).
46
Encontra-se exatamente em Castilha-León, Santander, parte da Rioja, Madri e Castilha-La Mancha, nas
Ilhas Canárias e no País Vasco (GARCIA, 2004, p. 93).
47
Na América, além do Equador e do Paraguai, emprega-se também na Bolívia (MENDOZA, 1992, pp.
457-461), na região andina da Argentina (VIDAL, 1964, pp. 160-161) e de forma isolada em algumas
regiões do Chile (CONTRERAS, 1974, pp.157-176), Venezuela (D´INTRONO, 1978, p. 53-76) e o
México (CANTERO, 1979, p. 305-308).
48
Embora o leismo fuja do padrão, são vários os especialistas e professores que recomendam o seu ensino
para estudantes de E/LE (Espanhol Língua Estrangeira). Isso é justificado pelo espaço geográfico que
atinge esse fenômeno no mundo hispânico. Um exemplo disso é o trabalho de Garcia, C. (2004), que
considera importante incluir o leismo nos programas de E/LE de nível intermediário ou superior para
italófonos.
95
Resumindo, constata-se, por meio dos dados mostrados, que, no plano
morfossintático, o espanhol de Canta apresenta uma forte influência do quechua (e
levemente do aimara), embora não seja falado mais no lugar. Dentro do campo da
morfologia, vimos como as interjeições de expressão ocorreram tal qual são em
quechua. Sobre o nero de algumas palavras coletadas, houve mudanças,
diferenciando-se do padrão da língua. Essa mudança decorreu do contato com as línguas
andinas, porque elas não possuem artigos e marcam o gênero só lexicalmente.
Na sintaxe, dupla marcação de posse e o comportamento pronominal dos
casos acusativo e dativo parece ser configurado também a partir do contato. Isso é
válido, pois ocorreu o mesmo no aspecto fonológico dessa variedade de espanhol.
Assim, confirma-se a proposta de Malkiel (1967, p. 1246) sobre a causa múltipla desses
fenômenos desviados da norma: devem-se ao contato do quechua (e às vezes do aimara)
com o espanhol.
Segundo
Thomason (2003, p. 694)
entre todos os níveis linguísticos, o
morfológico e o sintático são aqueles que se mostram tão resistentes à mudança, o
fonológico e o léxico mostram são permeáveis. Sendo assim, é mais fácil que um
falante substituía uma palabra por outra, entanto fica difícil que se substitua uma
construção sintática ou morfema por outras. Sobre isso, Sáez (1993-1994, p. 489),
argumenta que a maior permeavilidade do xico se relaciona por sua natureza
denominadora e por interpretar o mundo externo gerando proximidade ao homem e a
sua cultura. Dessa forma, apresentamos a seguir o nível léxico do espanhol de Canta,
sendo ele de caráter informativo, mas não definitório.
96
6.3 Transferências léxicas
Entendemos por transferência léxica, segundo Bermudez (1997, p. 18), a
passagem de uma palavra de uma ngua ao léxico de outra ngua. Esse processo pode
realizar-se por meio dos empréstimos, dos híbridos e decalques. A seguir, nos
deteremos nos empréstimos e os híbridos.
6.3.1 Empréstimos léxicos
De acordo com Moreno de Alba (1992, p. 196), os empréstimos léxicos
constituem o fenômeno mais recorrente e visível associado ao contato linguístico e
cultural. Sobre a origem dos empréstimos, Carvalho (1989, p. 42) argumenta que eles
têm a “sua origem no momento em que os objetos, conceitos e situações nomeados em
língua estrangeira transferem-se para outra cultura”. Os empréstimos tentam cobrir um
vazio, como aquele que está relacionado com uma nova técnica ou um conceito
desconhecido pelos falantes. Como consequência, toda língua sempre possui em seu
léxico uma quantidade de empréstimos, pois não existem línguas puras, ou seja, aquelas
que não tenham no seu interior alguma palavra de origem estrangeira. (GARCIA
YEBRA, 1984, p. 335).
Por outro lado, sobre a classificação dos empréstimos, seguindo as propostas
de Prieto (1992, p. 84-87), eles podem ser de dois tipos: por adoção e por adaptação. Os
empréstimos por adoção foram transferidos de uma língua a outra sem sofrer nenhuma
mudança de forma ou de conteúdo no sistema da língua receptora. Já os empréstimos por
adaptação foram adaptados ao sistema fonológico, morfológico ou ortográfico da língua
receptora. Castillo (2002, p. 474) também distingue os empréstimos entre adaptados
(aqueles que sofreram alguma adaptação) e não adaptados. Embora concordemos com a
divisão feita por Prieto, optamos pela proposta de Castillo, por ser mais geral, didática e
clara, a qual vemos a seguir.
97
6.3.1.1 Por sua natureza
6.3.1.1.1 Empréstimos adaptados
Os empréstimos adaptados são aqueles que “mudam de roupa” para entrar no
novo sistema. Eles se amoldam às regras da estrutura da língua receptora. A adaptação,
segundo Castillo (2002, p. 473), inicia-se intuitivamente pelos próprios falantes,
fundamentalmente nos veis fonético e fonológico. No espanhol de Canta, encontramos
várias palavras de origem quechua ou aimara que passaram por esse processo de
adaptação. Tal é a mudança que seus falantes atuais consideram-nas como verdadeiras
palavras “hispanas”. Por razões didáticas, dividimos os empréstimos adaptados pelo tipo
de adaptação que foi realizada na própria palavra. Assim, temos primeiro os de
adaptação vocálica e depois os de adaptação consonântica. Por último apresentamos
aquelas palavras que possuem as duas adaptações.
6.3.1.1.1.1 Adaptações vocálicas
Aqui, as palavras das línguas andinas que passam ao sistema da língua
espanhola mudaram de timbre vocálico seguindo uma ordem. A seguir, vemos o
percurso somente das vogais quechuas e aimaras no espanhol a partir de nossos dados
coletados:
i > e
As palavras emprestadas pelo espanhol de Canta que possuem [e] derivam
de [i], em posição final de palavra, das línguas andinas. Essa mudança observada
atinge empréstimos de filiação quéchua, como em (30).
(30)
a) <cuche> [ˈkutʃe] < quech. kuchi /ˈkutʃi/ ‘cerdo’
b) <sillarume> [siλaˈrume] < esp. silla /ˈsiλa/ e quech. rumi /ˈrumi/ ‘pedra’
98
u > o
As palavras que possuem [o] no espanhol de Canta derivam de [u], tanto do
quechua como do jacaru (um tipo de aimara).
(31)
a) <marco> [ˈmarko] < quech. marku /ˈmarku/ ‘tipo de arbusto que serve
de alimento para cavalos e burros’
b) <matico> [maˈtiko] < jac. matiku /maˈtiku/ ‘erva medicinal que serve
para curar infecções’
c) <pishtaco> [piʃˈtako] < quech. pishtaaku /piʃˈta:ku/ ‘pessoa que tira a
gordura dos corpos para vendê-los’
d) <pushpo> [ˈpuʃpo] < quech., jac. pushpu /ˈpuʃpu/ ‘fava torrada e
cozida’
e) <tuco> [ˈtuko] < quech. e jac. tuku /ˈtuku/ ‘coruja’
a > o
Talvez esse processo de mudança seja o menos verificável, pois encontramos
poucos exemplos que nos permitem ver a força dessa alteração. Esse mesmo processo
ocorre com palavras de origem aimara e quéchua:
(32)
a) <muño> [ˈmuْo] < quech. muña /ˈmuْa/ ‘Planta medicinal’
b) <shicro> [ˈʃikro] < quech. e aim. shikra /ʃiˈkra/ ‘sacola ou custal de
malha’
Tal como foi explicado em 4.6.1.1, os sistemas fonológicos do quechua e do
aimara são trivocálicos, enquanto o sistema fonológico espanhol é pentavocálico, ou
seja, possui 5 fonemas: /a,e,i,o,u/. No espanhol de Canta, vemos, segundo os dados
apresentados, que a presença de rias palavras que possuem [e] e [o] originam-se de /e,
o/ das línguas quechua e aimara. As adaptações ocorreram onde /i/ do quech. aim.
passou a /e/ do espanhol de Canta (i > e). os fonemas /u/ e /a/ do quechua e aimara
passaram a /o/ no espanhol de Canta (u > o; a > o).
99
6.3.1.1.1.2 Adaptações consonânticas
As palavras de origem indígena, ao serem absorvidas pelo espanhol, sofreram
um processo de adoção de acordo com os fonemas do espanhol.
q > k
(33)
a) <carcamate> [karkaˈmate] < quech. qarka /ˈqarka/ ‘sujo’e mate /ˈmate/
‘vasilha feita de madeira’
b) <cuchicara> [kutʃiˈkaRa] < quech. kuchi /ˈkutʃi/ ‘cerdo’ e qara /ˈqaRa/
‘pele’
q > x
(34)
a) <jalachaqui> [xalaˈtʃaki] < quech. qala /qala/ ‘pele’ e chaqui /ˈtʃaki/ ‘pé’.
É possível que esses processos de adaptação sejam um só. Em algumas
variedades do quechua do norte e do sul, sobretudo na zona amazônica peruana, no
Equador, na Colômbia e na Argentina, o fonema /q/ dessa língua tem passado a /k/
(CERRÓN-PALOMINO, 1987; TORERO, 1964; 2002). Da mesma forma, nas
variedades sulistas quechuas peruanas, como em Ayacucho, o fonema /q/ é pronunciado
como [x] (SOTO, 1976; ZARIQUIEY, 2008); todavia o fonema /q/ não existe em
espanhol. Possivelmente, de [q] mudou a [k], em espanhol, por sua proximidade, pois as
duas pertencem à mesma classe natural, as oclusivas e surdas, como em (35). Já em (36)
ocorreu que, no antigo quechua falado em Canta, a mudança, dentro da própria língua,
de /q/, que é pronunciado como [x], passou ao espanhol sem nenhum problema, pois ele
pertence ao inventário fonológico do espanhol.
Resumindo, teríamos duas possibilidades sobre a origem de /k/ e /x/ no
espanhol andino de Canta, como se apresenta no quadro a seguir:
100
Possibilidade
N° 1
Línguas indígenas Espanhol
q > k
q > x
Possibilidade
N° 2
Línguas indígenas Espanhol
q > k > k
q > x > x
QUADRO N° 8: Hipóteses de /x/ e /k/ no espanhol andino de Canta.
Nessa primeira possibilidade, /q/ passa a /k/, como em (33), e a /x/, como
em (34), por estarem próximos quanto ao ponto de articulação, no entanto, na segunda,
a mudança ocorre nas próprias línguas indígenas, passando da mesma forma ao
espanhol. Acreditamos que a melhor hipótese é a segunda, uma vez que temos em conta
o critério dialetológico e geográfico das variedades das línguas indígenas propostas por
Cerrón-Palomino (1987), Torero (1964, 2002), Soto (1976) e Zariquiey (2008).
λ > l ; Ø > g
(35)
a) <chalguas> [ˈtʃalgwas] < quech. challwa /ˈtʃa¥
¥¥
¥wa/ ‘peixe’
b) <huishla> [ˈwiʃla] < quech., jac. e aim.wishlla /ˈwiʃλa/ ‘colherão’
c) <shulca> [ˈʃulka] < quech. e aim. shullka /ˈʃuλka/ ‘filho caçula ’
Em todas essas palavras, ocorreu um processo de despalatalização de /λ/ em
[l] ao entrar na língua espanhola. Um caso especial é a palavra (35a), que, além de
apresentar uma despalatização, insere também [g]. A nossa avaliação desses
comportamentos permite-nos comentar que o processo de inserção de /g/ é comum no
hábito articulatório dos hispanos: por exemplo, huevo ‘ovo’, é pronunciada tanto
[ˈweo], como [ˈgweo].
101
6.3.1.1.1.3 Adaptações vocálicas e consonânticas
As palavras que têm sofrido processos de mudança tanto no timbre vocálico
como no consonântico são aquelas que passaram por adaptações vocálicas e
consonânticas. Acreditamos que a primeira mudança ocorrida deve ser a vocálica, pois,
segundo a fonologia quechua (ZARIQUIEY, 2008) e aimara (CERRÓN-PALOMINO,
2000b), o segmento uvular /q/ permite o abrimento das vogais /i,u/ em [e,o], como
ocorre na palavra quechua /qiru/, que é pronunciada como [ˈqϯRo] ‘madeira’, podendo-
se observar aquela abertura como em (36). Sobre a presença de /g/ nos empréstimos (37),
eles vêm de /k/ ~ /q/ do quechua e do aimara, ou seja, tornam-se sonoras entre vogais ou
entre uma vogal e uma consoante, que são sons que compartilham o traço [+ sonoro],
conforme se observa na seguinte regra:
/k/
>
/g/ / V_ V
/q/ / V_C [+Son.]
u > o ; q > k
(36)
a) <callacoto> [kaλaˈkoto] < quech. kallaqutu /kaλaˈqutu/ ‘Nome de
uma montanha’
b) <chupacocha> [tʃupaˈkotʃa] < quech. chupa /ˈtʃupa/ ‘cola, rabo’ e qucha
/ˈqutʃa/ ‘lagoa’ ‘Nome de uma lagoa’
u > o ; k > g
(37)
a) <sogocha> [sogotʃa] < quech. suqucha /suˈqutʃa/ ‘Nome de um
curral’
b) <shongo> [ˈʃoŋgo] < quech. e jac. shunku /ˈʃuŋku/ ‘Parte plana
de uma ladeira. Meseta’ ‘Nome de um lugar úmido’
c) <shuitogo> [ʃwiˈtogo] < quech. e jac. shuytuku /ʃuyˈtuku/ ‘lugar de
vivenda’
102
6.3.1.1.2 Empréstimos não adaptados
Segundo Garcia Yebra (1984, p. 333-352), os empréstimos não adaptados são
conhecidos também como estrangeirismos, pois essas palavras diferem do restante do
léxico da língua receptora ou da língua que empresta. Nesse caso, as palavras conservam
suas próprias características típicas da língua-fonte. No espanhol de Canta, que
separamos tendo em conta a sua formação:
6.3.1.2 Por sua formação
Entre os empréstimos não adaptados, temos, do ponto de vista da sua
formação morfológica, os lexemas simples e compostos.
6.3.1.2.1 Empréstimos não adaptados de lexemas simples
Segundo González (2000), são lexemas simples aquelas palavras cuja
estrutura morfológica está formada por um lexema nominal ou verbal. A seguir,
dividimos os empréstimos seguindo o critério de filiação linguística (quechua e aimara):
A) quechua
(38)
a) <achachau> [atʃaˈtʃaw] < quech. ‘Que calor’
b) <chaclla> [ˈtʃakλa] < quech. ‘Armação feita de paus’
B) aimara
(39)
a) <macha> [ˈmatʃa] < jac. macha ‘Tubérculo oriundo dos Andes.
b) <huachhua> [ˈwatʃwa] < jac. huachhua [watʃʰwa] ‘Ave que mora na
altitude’
C) quechua e aimara
A palavra representada no exemplo (40) registra-se tanto em quechua quanto
em aimara; no entanto não nos é possível estabelecer de qual língua partiu o empréstimo.
103
(40) <shukuy> [ˈʃukuy] ‘Chinelo feito do couro da vaca’ < quech. e jac. shukuy /ˈʃukuy/
6.3.1.2.2 Empréstimos não adaptados de lexemas compostos
Entendemos por lexema composto, seguindo González (2000), a união de
dois lexemas com valor de uma palavra. Assim, os empréstimos de lexema composto são
aqueles lexemas emprestados das línguas andinas ao espanhol de Canta e que são
formados por dois lexemas:
A) quechua + quechua
(41)
a) <Allaucalocsa> [aλawka + loksa] ‘nome de um curral’
b) <Callacoto> [kaλa + koto] ‘nome de uma montanha’
c) <cuchicara> [kutʃi + kara] ‘pele de porco’
d) <chupacocha> [chupa + cocha] ‘nome de uma lagoa’
e) <huancaruna> [wanka + runa] ‘nome de um curral’
f) <huallapuquio> [waλa + pukjo] ‘nome de um córrego’
g) <huaysharima> [wayʃa + Rima] ‘pessoa que pouca visita’
h) <piquichanca> [piki + tʃanka] ‘pés curtos’
i) <jalachaqui> [xala + chaki] ‘pé descalço’
j) <yacochupe> [yako + tʃupe] ‘variedade de comida’
Não foram encontrados, no nosso léxico, lexemas compostos de aimara.
6.3.1.2.3 Empréstimos híbridos
Segundo Carvalho (1989, p. 48), os híbridos são aqueles compostos de
elementos que provêm de duas línguas diferentes e que se formam entre dois lexemas ou
entre um lexema e um afixo.
6.3.1.2.3.1 lexema + lexema
A) quechua + espanhol
(42)
a) <carcamate> [karka + mate] ‘vasilha feita de madeira’
b) <Paccha cruz> [pax
ˈtʃa + kruz] ‘nome de um poço de água’
104
c) <motepelado> [ˈmote + peˈlao] ‘caldo preparado com carne de
carneiro e milho pelado e cozido’
B) espanhol + quechua
(43) <sillarume> [siλaˈrume] < esp. silla /ˈsiλa/ e quech. rumi /ˈrumi/
‘pedra’
6.3.1.2.3.2 lexema + afixo
A) quechua + espanhol
(44)
a) <chumar> [tʃuˈmar] ‘espremer’
b) <aychamar> [aytʃaˈmar] ‘trabalho realizado que será devolvido da
mesma forma’
c) <huachito> [waˈtʃito] ‘diminutivo da ovelha’
d) <huachos> [ˈwatʃos] ‘ovelhas’
e) <pashar> [paˈʃar] ‘carregar’
f) <pishtar> [piʃˈtar] ‘matar’
Em (44a), (44b), (44e) e (44f), mostram-se as palavras formadas pelo lexema
verbal quechua {chum-}, {aycham-}, {pash-}, {pisht-} e a desinência verbal infinitiva
da primeira conjugação da língua espanhola {-ar}. em (44c) e (44d) encontra-se a
raiz nominal {watʃ-} e os sufixos hispanos {-it-}, {-o-}, {-s}. Finalmente, não se
encontraram palavras com esta estrutura morfológica: espanhol + quechua.
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espanhol analisado nesta pesquisa abrangeu a Província de Canta (os
distritos de Canta, Obrajillo [anexo], San Miguel de Pariamarca, Cullhuay e Huaros), na
região de Lima, Peru. Essa variedade de espanhol pertence ao espanhol andino peruano
e de igual maneira ao espanhol andino stricto sensu.
O principal objetivo da pesquisa foi o de coletar e analisar as influências
deixadas pelas línguas andinas na atual configuração do espanhol de Canta. O
levantamento teórico sociolinguístico, ancorado em Thomason e Kauffman (1998),
Silva-Corvalán (1989, 1994), Appel e Muysken (1996) e Thomason (2001), contribuiu
para reconhecer que a variedade de espanhol utilizado em Canta se deve ao contato
secular que tiveram as línguas andinas originárias (quechua e aimara central) dessa
província e à variedade de espanhol que chegou a Canta desde o século XVI. Nas
perspectivas de Alonso (1961) e Malmberg (1967), a presença de “marcas linguísticas”
das línguas andinas no espanhol de Canta obedece ao substrato deixado por elas antes
da sua extinção. Clyne (1967), Moreno (1998), Thomason e Kauffman (1988) e Silva-
Corvalán (1989, 1994), por sua vez, preferiram utilizar, tal como nós optamos, o termo
transferência para representar a influência que uma língua exerce sobre outra.
Os antecedentes a este trabalho, tanto os de perspectiva histórica
(CABRERA, 1984; ROSTWOROWSKI, 1978; VILLAR, 1982) quanto os de natureza
linguística (ALCOCER, 1988, BALDOCEDA, 1993; CERRÓN-PALOMINO, 2008;
RAMIREZ, 1980, MASGO, 1977, 1988), remetem a um passado indígena andino.
A partir da consulta às fontes, em Canta as famílias linguísticas andinas que
se desenvolveram foram as variedades centrais do quechua (CERRÓN-PALOMINO,
1987; PARKER, 1963; TORERO, 1964) e aimara (BELLEZA, 2005; HARDMAN,
106
1983, TORERO, 1983). Essas famílias linguísticas caracterizam-se por serem estrutural
e funcionalmente distintas do espanhol (língua românica). O quechua e o aimara são
famílias que pertencem ao phylum andino-equatorial (VOEGELIN; VOEGELIN, 1978;
CERRÓN-PALOMINO, 1987, 1994, 2000a; ESCOBAR, 1998); são línguas Objeto-
Verbo (GREENBERG, 1963); possuem a ordem possuidor-possuido e são aglutinantes
(BAUER, 2003).
O espanhol de Canta pode ser cincunscrito dentro do espanhol andino
peruano (PÉREZ, 2004; ESCOBAR, 1978; CARAVEDO, 1996; CALVO, 2008;
RAMÍREZ, 2003), por sua vez pertencente, segundo as propostas de Uhle (1909), ao
espanhol andino strictu sensu, por ser uma “esfera de influência” do quechua e aimara.
A partir dos dados coletados, as transferências identificadas feitas pelas
línguas andinas ao espanhol de Canta foram encontradas nos diferentes níveis
linguísticos.
No nível fonológico, identificamos a presença dos segmentos /λ/, /ʃ/: tanto o
quechua, como aimara central possuem esses segmentos em seu inventário fonológico e,
portanto, também nas variedades de quechua e aimara faladas em Canta deveram estar
presentes esses fonemas. Assim, o espanhol do século XVI que chegou a Canta por
meio do superstrato permitiu a sobrevivência desses segmentos. sobre a presença do
alofone [ɹ] (do fonema /s/) no espanhol de Canta, a partir do pequeno córpus elaborado
podemos afirmar que existem dois grandes grupos que utilizam essa aproximante: os
topônimos de origem indígena e os nomes hispanos. Ao que parece, [ɹ] é produto da
evolução interna dessa variedade pelo contato com as línguas andinas. Por exemplo, nos
nomes do espanhol geral, origina-se pela assimilação do traço estridente que possui /s/,
entretanto a presença da aproximante [ɹ] não é uma característica privativa do espanhol
107
de Canta e menos do espanhol andino, pois também é identificada em outras variedades
(embora menos compacta) de espanhol, localizadas tanto na Espanha como na América.
No plano morfossintático, destacamos que as interjeições, de origem
claramente quechua, são usadas, em Canta, majoritariamente por pessoas adultas e
idosas, mas não por jovens e crianças. Quanto à falta de concordância de gênero na
frase nominal no espanhol de Canta, deve-se à influência do quechua e do aimara
central, pois essas línguas não possuem artigos e marcam o gênero das frases nominais
lexicalmente e não morfologicamente, diferente do que ocorre em espanhol. Quanto
ao comportamento pronominal dos casos acusativo e dativo ou à presença do duplo
possessivo produzindo os fenômenos conhecidos no mundo hispânico como leísmo e
loísmo, devem-se ao substrato andino.
No nível léxico, o espanhol de Canta apresenta com maior legivilidade a
presença das línguas indígenas através dos bridos (língua indígena quechua + ngua
indígena aimara) e (língua indígena + língua espanhola), os quais refletem uma
convivência antiga entre estas nguas. No espanhol de Canta, encontram-se palavras de
natureza linguística aimara restritas aos topônimos, nomes de raízes, ervas e aves.
Até agora, temos como resultado que o espanhol de Canta tem uma dupla
origem, ou seja, é multicausal, pois ele é produto da variedade de espanhol que chegou a
esse lugar no séc. XVI mais as línguas indígenas andinas que se falavam nesse território
antes da chegada da língua romance. Essa hipótese se sustenta teoricamente na proposta
realizada por Malkiel (1967) e foi aplicada também em outras zonas andinas por De
Granda (1982, 1993, 1999, 2002), Klee et al (2005) e Merma (2007, 2009).
Desse modo, a nossa pesquisa sobre o espanhol dessa variedade pretende
preencher um dos vazios nos estudos parciais de que tanto reclamam os linguistas
especialistas em espanhol americano.
108
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120
ANEXOS
N° 1: Léxico coletado para a análise do espanhol de Canta
A
acuncar [akuŋˈkar] vb. Amarrar um
terneiro às extremidades dianteiras da
vaca, para a extração do leite.
achicoria [atʃiˈkoria] ~ achicora
[atʃiˈkora] s. (Do esp. chicória) 1. Planta
da família das Compostas, de folhas
recortadas, ásperas e comestíveis,
também conhecida como diente de león.
2. Bebida que se prepara com esta erva
medicinal.
achachau [atʃaˈtʃaw] interj. (Do
quech.) Que calor!.
Arguarsín [aɹguaɹˈsin] s. Topônimo.
ajiaco [aˈxiako] s. (Do esp. aji). Guiso
de caldo e carne, frutos e raízes picadas.
Ex. : Ajiaco de calabaza.
ajocharle [axoˈtʃarle] vb. Acossar a
alguém.
alalau [alaˈlaw] interj. (Do quech.).
Expressa sensação de frio.
Aleja [aˈlexa] s. Hipocorístico de
Alejandra.
aliso [aˈliso] s. 1. Árvore da família das
Betuláceas, contém até dez metros de
altitude, flores brancas, frutos pequenos
e vermelhos. 2. Madeira extraída desta
árvore empregada para elaborar
instrumentos musicais.
Allaucalocsa [a¥awka + loksa] s. (Do
quech. allaucaluqsa [a¥awka + luqsa]).
Topônimo.
allí [aˈ¥i] adv. (Do esp.). Ali.
ampalluco [ampaˈ¥uko] s. (Do quech.
ampa ‘mandioca seca’). Batata e flor.
añaco [aˈɲako] s. Gambá.
añas [ˈaɲas] s.. Milho de produção
arracusa [araˈkusa] s. Ferramenta que
serve para fazer buracos na terra.
atatau [ataˈtaw] interj. (Do quech.) Que
dor!
aychama [ayt
ˈʃama] adj. (Do quech.).
Pessoa que devolve com trabalho da
mesma forma, que ele recebeu quando
precisava.
aychamar [ayt
ʃaˈmar] vbj. (Do quech.).
Trabalho realizado que será devolvido
da mesma forma.
B
barbechar [barbeˈtʃar] vb. (Do esp.).
Remover a terra sem semear.
biga [ˈbiga] s. Pau
boliche [boˈlitʃe] s. (Do esp. bola)
Brinquedo de forma esférica e pequena
usado pelas crianças.
borregos [boˈre׹os] (Do esp.) s.
Cordeiro de um ou dois anos.
bron suis [bronˈswis] s. Tipo de raça de
gado.
C
C
caballo [kaˈayo] s. Cavalo.
Callacoto [ka¥aˈkoto] s. (Do quech.
ka
¥
aˈqutu). Topônimo.
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[kaˈ¥ana] s. Panela de barro.
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[kaˈrona] s. Estribo.
castellano [kasteˈyano] s. (Do esp.).
Castelhano.
castillo [kasˈtiyo] s. (Do esp.). Castelo.
catorce [kaˈtoɹse] ad. (Do esp.). Catorze.
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[kokaˈmuɲa] s. Planta
medicinal para a tosse.
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obtem da planta do mesmo nome.
crucita [kruˈsita] s. (Do esp.) Cruz
pequena.
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122
corralitos [koraˈlitos] s. (Do esp.
corral). Currais pequenos.
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.
.
cuchillo [kutʃiˈ¥o] s. (Do esp.) Faca.
cullpe [ˈku¥pe] s. Tumba de origem
pré- inca.
culles [ˈku¥es] s. Povo étnico da costa
norte da região Lima.
cuyes [ˈkuyes] s. Porquinhos da Índia.
C
C
H
H
chaclla [ˈtʃak¥a] (Do quech. ).
Armação feito de paus.
chilco [ˈtʃilko] s. Planta para a dor
estomacal.
chompita [tʃomˈpita] s. Blusa pequena.
chupacocha [tʃupa + kotʃa] s. (Do
quech. chupa ‘cola, rabo’ e qucha
‘lagoa’). Nome de uma lagoa.
chalguas. [ˈtʃa¥wa] s. (Do quech.
challwa). Peixe.
chuncho [ˈtʃuntʃo] adj. Pessoa com
fantasias no rosto na dança típica.
chaulle [ˈtʃaw¥e] s. Curral fora da casa.
champa [ˈtʃampa] (Do quech.) s. Pasto
seco.
champear [tʃampeˈar] vb.. Limpar o
curral pasa semear.
chicura [tʃiˈkuRia] ~ achicoria
[atʃiˈkoRia] s. Planta medicinal que
serve para a desinflamação.
chucullo [tʃuku’¥o] s. Lagartija.
chumar [‘tʃuma] vb. (Do quechua
chumay ). Espremer .
chaperito [tʃape’Rito] s. Santo patrão
da cidade de Canta que se adora todos
os 26 de junho de cada ano.
D
de ellos [ˈdeyos] fr. pr. (Do esp. de +
ellos ). Deles
desarrollar [desaˈroyar] vb. (Do esp.).
Desenvolver.
desconsonero [deskonsoˈneRo] s.
Planta medicinal que cresce na altitude.
E
ellos [ˈeyos] pr. (Do esp.). Eles.
F
fanalis [faˈnalis] s. Tipo de planta.
G
grana [ˈgrana] s. Tipo de planta
gabera [ gaˈeRa] s. Molde para
madeira
atun huasi [ˈatun ˈwasi] s. (Do quech.
lit.‘grande casa’). Nome de um curral.
H
huachito [ waˈtʃito ] s. Diminutivo da
ovelha.
huachos [ˈwatʃos] s. Ovelhas.
huallhua [ˈwa¥wa] s. Erva medicinal
para o estrenhimento, em outros lugares
é conhecido como colén.
huachhua [ˈwatʃwa] s. (Do jac.) Ave
que mora na altitude.
huancaruna [ˈwanka + Runa] s. (Do
quech. wanka ‘pedra grande’ e
R
una
‘homem’) Nome de um curral.
huaramas [waˈRamas] s. Madeira para
lenha.
huanchaco [wanˈtʃako] s. (Do quech.).
Tipo de ave.
huantara [wanˈtaRa] s. Nome de um
rio.
Huallapuquio [wa¥a + pukjo] s. (Do
quech.). Topônimo.
huillca [ˈwi¥ka] s. (Do quech.) Zona de
altitude.
huallqui [ˈwa¥ki] s. (Do quech.) Sacola
feita de couro ou lã.
huaysharima [wayʃa + Rima] adj. (Do
quech. e aim. waytʃaw ‘tipo de ave’ e
123
do quech.
R
ima ‘falar’). Pessoa que
realiza poucas visitas.
huishla [ˈwiʃla] s. (Do quech., jac. e
aim. wiʃλa). Colherão.
J
jalachaqui [xala + tʃaki] adj. (Do
quechua qala ‘pele’ + chaqui ‘pé’). Pé
descalço.
jashjalin [xaʃxa’lin] s. Intestino de
porco.
jisha [xiʃa] adj. (Do quech. e aim. qila e
do jac. xiλa). Preguiçoso.
Joshe [ˈxoʃe] ~ [xoˈʃe] s. Hipocorístico
do nome José.
justán [xusˈtan] s. (Do esp. fustán).
Tecido grosso de algodão.
LL
llamar [yaˈmar] vb. (Do esp.). Chamar.
llegar [yeˈ׹ar] vb. (Do esp.). Chegar.
llevar [yeˈar] vb. (Do esp.). Levar
lliklla [ˈ¥ik¥a] s. (Do quech.). Prenda de
vestir.
M
macha [ˈmatʃa] s. (Do jac. macha
‘oca’). 1.Tubérculo oriundo dos Andes.
2. Mazamorra doce preparada com este
tubérculo.
mantonaja [mantoˈnaxa] adj. (Do esp.
mantón). Carneira gorda e nova.
mallas [ˈma¥as] s. Lugar onde se leva
ao gado quando tem escassez de pasto.
marco [ˈmarko] s. (Do quech. marku ).
Tipo de arbusto que serve de alimento
para os cavalos e burros.
matico [maˈtiko] s. (Do jac. matiku) .
Erva medicinal que serve para curar
infecções.
mishki [‘miʃki] adj. (Do quech. miʃki).
Doce.
moya [ˈmoya] s. (Do quechua mullaka).
Planta pequena de fruto comestível
parecida ao molle.
morocho [moˈRotʃo] adj. Comida do
frango e da galinha.
motepelado [mote + pelao] s. (Do
quech. mote ‘milho cozido’ + hisp.
pelado) Caldo preparado com carne de
carneiro e milho pelado e cozido.
Conhecido também nas terras andinas
como patasca. Porque principalmente o
caldo é feito com a pata do carneiro.
muca [ˈmuka] s. Rato de cor preto e
amarelo oriundo das zonas andinas.
muchay [ˈmutʃay] vb.tr. (Do quech.)
Beijar.
muñiga [muˈñi׹a] s. Excremento da
vaca.
muño [ˈmuɲu] s. (Do quech. muña).
Planta medicinal.
O
Obrajillo [obraˈxiyo] s. (Do esp.
obraje). Obraje Pequeno. Topônimo.
Anexo da cidade de Canta.
P
paila [ˈpaila] s. (Do esp. ‘vasilha grande
de metal, redonda e pouco profunda’).
Panela de grande tamanho feita de
barro, no qual se coce o mote.
pallja [ˈpa¥xa] s. Um par. Conjunto de
duas coisas iguais.
pampanas [pamˈpanas] s. Utensílio.
parrilla [paˈriya] s. Churrasqueira.
pasar [paˈsar] vb. Passar. Movilizar-se
de um lugar a outro.
pashar [paˈʃar] vb. Carregar
patache [paˈtatʃe] s. Caldo composto
por favas, carne seca e feijões, embora
também possa ser preparado com trigo.
paucaldo [pawˈkalo] adv. Zona de
altitude.
pirca [ˈpirka] s. (Do quech. pirka
‘parede’). Madeira para lenha.
pisar [piˈsar] vb. (Do esp.) Pissar.
Apissonar.
pishar [piˈʃar] vb. Orinar
pishtaco [piʃˈtako] s. (Do quech.
pishtaaku) ‘Pessoa que mata a nativos
que viajam de noite sozinhos, para lhes
tirar a gordura do corpo e vende-las nas
cidades onde se usa na fabricação de
sabões, etc.’. Segundo a mitologia
124
andina, é uma pessoa estrangeira,
especialmente americano, que mata a
outras para extrair o óleo deles.
pichana [piˈtʃana] s. (Do quech. pichay
‘varrer’). Vassoura.
pichi [ˈpitʃi] adj. Cachorro muito
pequeno.
piquichanca [piki + tʃanka] adj. (Do
quech. piki ‘pulga’ + chanka ‘perna’).
Pés curtos.
pista [ˈpista] s. Asfalto.
pishtar [piʃˈtar] vb. (Do quech piʃtay).
Matar
ponchito [ponˈtʃito] s. (Do esp.).
Poncho pequeno.
pollo [ˈpo¥o] s. (Do esp.). Frango.
poyo [ˈpoyo] s. (Do esp.). Objeto para
sentar-se, banco.
purutu [puˈRutu] s. Feijão.
pushpo [ˈpuʃpo] s. (Do quech. e do jac.
puʃpu). Fava torrada e cozida
Pueblo viejo [pweblo + bjexo] s. (Do
esp.) Ruínas nas alturas da Província de
Canta, em Pariamarca.
puchero [puˈtʃeRo] s. (Do esp. puches
‘tipo de mingau’). Caldo feito com
menestras, legumes e couve-flor tudo
isso misturado. .
R
Ram Ram [ɹamˈɹam] s. Nome de um
curral. Topônimo.
Ramírez [ raˈmiRes] s. Sobrenome.
Rarán [ɹaˈRan] s. Topônimo.
ruma [ˈɹuma] s. (Do esp.) Grupo de
objetos. Pilha.
Rangrachani [ɹangraˈtʃani] s. (Do
quech.). Topônimo.
ranish [raˈniʃ] adj. Mulher não
arrumada.
restrojo [resˈtroxo] s. Alfalfa cortada.
rejilla [reˈxi¥a] s. (Do esp. reja). Pico.
Rio Chiclla [rjoˈtʃik¥a] s. (Do esp. rio e
do quech. tʃik
¥
a). Topônimo.
Rio Chillón [rioˈtʃiˈyon] s. (Do esp. rio
e do quech Chillon). Nome do rio que
cruza a província de Canta.
S
sala [ˈsala] s. (Do esp. sala). Parte de
uma casa. Imp. do verbo salar ‘dar
azar’.
sauco [sa’wko] s. (Do esp. saúco).
Variedade de planta silvestre.
Sillarume [si¥aˈrume] s. (Do esp. silla
‘cadeira’ e do quech. rumi ‘pedra’).
Topônimo.
sogocha [soˈ׹otʃa] s. (Do quech.
suqucha). Nome de um curral.
suchuchaura [sutʃuˈtʃawRa] s. Zona de
altitude
superior [supeˈRjor] adj. (Do esp.)
Superior.
SH
shala [ˈʃala] s. Terreno cheio de pedras
ou cantos rodados.
shala shala [ʃalaˈʃala] s. Zona de
pastoreio.
shalpe [ˈʃalpe] adj. Pelagem abundante.
shante [ˈʃante] ~ shanti [ˈʃanti] s.
Hipocorístico. Nome derivado de
Santiago.
shate [ˈʃate] s. Hipocorístico. Nome
derivado de Saturnino.
shayaro [ʃaˈyaRo] s. Salamandra.
shena [ˈʃena] s. Hipocorístico. Nome
derivado de Zenaida.
shicro [ˈʃikro] s. (Do quech. e do aim.
ʃikra ‘sacola ou costal de malha’). Sacola
rústica feita de intestino de carneiro.
shiri [ˈʃiRi] s. (Do quech. ʃiri). Espécie
de batata branca.
Shokia [ˈʃokja] s. Do quech. e jac. ʃuqya
‘amontoamento de pedras’). Topônimo.
shona [ˈʃona] s. Hipocorístico. Nome
derivado de Asunciona.
Shongo [ˈʃoŋgo] s. (Do quech. e jac.
ʃuŋku ‘parte plana de uma ladeira,
meseta’). Topônimo
Shuitogo [ʃwiˈto׹o] s. (Do jac. ʃuytu
‘grande’ % -ku ‘estar sentado’, ʃuytuku
‘lugar de vivenda’). Topônimo.
shukuy [ˈʃukuy] s. (Do quech e do jac.
ʃukuy ‘chinelo feito de pele de animal ou
125
camélido’). Chinelo feito do couro da
vaca.
shulca [ˈʃulka] s. (Do quech. e aim.
ʃuλka). Filho caçula.
T
torge [ˈtorxe] s. Variedade de planta.
totorcocha [totorˈkotʃa] s. Zona de
altitude.
trozando [tro’sando] vb. Cortando,
especialmente carnes.
tuco [ˈtuko] s. (Do quech. e do jac.
tuku). Coruja .
Y
yacochupe [yako + tʃupe] s. Variedade
de comida.
Z
zorrillo [soˈriyo] s. Gambá.
126
N° 2: Mapa de Hispano-América (Segundo PHARIES, 2007).
127
N° 3: Mapa do Quechua e do Aimara e outras línguas do Peru segundo o
Ethnologue (http://www.ethnologue.com/show_map.asp?name=PE&seq=10)
128
N° 4: Mapa do espanhol andino (lato e stricto sensu)
129
N° 5: Mapa de Canta (Com os lugares de pesquisa)
130
N° 6: Roteiro de Entrevista
Entrevista tomada e modificada de Masgo (1988, p. 246).
ENTREVISTA DIRIGIDA NA PROVINCIA DE CANTA
Fecha:
DATOS DEL INFORMANTE:
Nombre: _______________________________________ Género:________________
Lugar y fecha de nacimiento: ______________________________________________
Profesión u ocupación: ___________________________________________________
Lengua materna: ________________________________________________________
TEMARIO
1. Cuentos, fábulas, anécdotas, leyendas
2. La siembra de la papa: maguay y cochca o cochica.
3. El quitapelo
4. El botaluto
5. La faena: “Limpia de la acequia”
6. Las autoridades de la comunidad
7. La escuela
8. Nombre de los campos cultivados y no cultivados
9. Nombres de los cerros, quebradas, ríos, manatiales, etc.
10. Nombres de animales: aves, reptiles, insectos, etc.
11. Nombres de plantas, árboles, arbustos, plantas medicinales, etc.
12. Nombres de instrumento de trabajo
13. La vestimenta
14. La fiesta patronal
15. Platos favoritos
131
N° 7: Modelo de Questionário
CUESTIONARIO LÉXICO
Presencia de palabras nativas en el léxico castellano del departamento de Lima
Parte I
Datos del informante
Nombre:................................................... Procedencia:.....................................
Edad: ..................................................... Grado de instrucción:......................
Ocupación: ........................................ Fecha:.............................................
Parte II
Información léxica:
Instrucciones:
Estimado amigo, la presente encuesta tiene como objetivo principal, el
recojo de palabras, de uso popular, relacionadas a nombres referidos a : La agricultura,
la flora, la fauna, las comidas típicas, las prendas de vestir, los tejidos, las partes del
cuerpo, el trato y cuidado de los animales, el trato entre los pobladores, construcciones
de viviendas, las danzas populares, etc.
A) Palabras relacionadas a la agricultura, ganadería, flora y fauna:
1. ¿ Qué cereales, granos y otras palantas siembran en su pueblo ? ¿ Qué
variedades propias de la zona producen ? Señale las más importantes.
2. ¿ Cómo le llaman a las partes de las plantas que siembran: maíz, trigo, cebada,
papa, etc. Por ejemplo: la flor de la papa, la espiga del maíz, el fruto de la papa,
etc. ?
3. ¿ Cuáles son los nombres de las herramientas que emplean para sembrar,
cultivar y cosechar? ¿Qué partes tienen ?
4. ¿ Qué animales crían? ¿Qué razas de ganados tienen ?
5. ¿ Tienen algunas zonas para pastear ganado? ¿Cómo le llaman ?
6. ¿ Qué plantas y árboles silvestres crecen en su zona ?
7. ¿Qué plantas medicinales hay en su comunidad?
8. ¿ Conoce algunos animales del campo (aves, mamíferos, etc.) ?
¿ Cuáles son los nombres que le dan en su comunidad ?
9. Realizan alguna fiesta especial en la época de siembra, cultivo o cosecha ?
10. ¿ Qué nombres de gusanos, avispas u otros insectos conoces?
132
B) Palabras relacionadas con las comidas
1. ¿ Qué comidas típicas hay en tu pueblo?
2. ¿Cómo le llaman a los utensilios que emplean para servir la comida ?
3. ¿Cómo le llaman a los depósitos (platos u otros) en donde sirve la comida?
4. ¿ Qué tipos de ollas emplean? ¿Cómo son y cómo se llaman?
C) Palabras relacionadas con prendas de vestir y tejidos:
1. ¿ Cuáles son los nombres de las prendasde vestir tipicas de la zona?
2. ¿ Usan telares? ¿Cuáles son los nombres de las prendas hechas en los telares
(ponchos, pantalones, chompas, etc.)?
3. ¿Cuáles son los nombres de las partes y piezas de los telares?
4. ¿Usan tintes? ¿Cuáles son sus nombres? ¿De qué plantas los recogen?
D) Palabras relacionadas con las danzas populares:
1. Mencionar los nombres de las danzas populares propias de su comunidad
2. Mencione los nombres de las piezas (vestimenta) y objetos (quenas, tambores,
etc.) usadas en las danzas de zu Comunidad.
E) Palabras relacionadas con las partes del cuerpo
1. Mencione los nombres propios que usan en su zona para referirse a las partes del
cuerpo humano. Por ejemplo: cabeza, piernas, cuello, columna vertebral, etc.
2. ¿Qué nombres les dan a las personas con algún defecto físico? Explique
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