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PAULO ROGERIO MANGINI
A SAÚDE E SUAS RELAÇÕES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARANÁ.
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paraná como pré-requisito à obtenção do
título de Doutor.
Orientadores: Prof. José Milton Andriguetto Filho e
Profa. Eleusis Ronconi de Nazareno
CURITIBA
2010
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ii
PAULO ROGERIO MANGINI
A SAÚDE E SUAS RELAÇÕES COM A BIODIVERSIDADE, A PESCA E
A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE PESCADORES
ARTESANAIS NO LITORAL DO PARANÁ
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paraná como pré-requisito à obtenção
do título de Doutor.
Orientadores: Prof. José Milton Andriguetto Filho e
Profa. Eleusis Ronconi de Nazareno
CURITIBA
2010
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i
PARECER DA BANCA EXAMINADORA
ii
Dedico primeiro a Toda Minha Família…
Em especial
Ao vô Cindo, que foi marceneiro e caçador, ao
Paulino, que foi barbeiro no interior (ou seja, quase
médico)… deles herdei algumas habilidades; às minhas
Avós, Titina e Madalena; e finalmente à Paulinha, ao
Claudio, ao meu Pai e minha Mãe, sem essas pessoas
todas eu não teria os valores necessários, nem a firme
certeza de que para levar a vida devemos apenas fazer
o que gostamos de fazer
Depois, aos que entendem que não
podemos deixar essa herança...
… … … learn too late the simple, karmic law of ecology: all is interdependent and all is
interconnected. As bad philosophers continued to debate whether humans beings were part of
nature or his butcher, a spiral of dreadful causation erased this illusory dualism, and it became
evident that destiny of humanity on Earth was to be both, victim and executioner of creation. At
the end all earthly beings became joined in an intimate, slow dance of death (Michael Soulé,
2002).
"O saber, a gente aprende com os mestres e com os livros... A sabedoria... se aprende é com a
vida e com os humildes..." (Cora Coralina)
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiro agradeço...
Ao meu orientador Prof. José Milton Andriguetto Filho, que deu um apoio fundamental, orientando
no meio de alguma confusão, conduzindo boas discussões teóricas, pela confiança na equipe,
pela liberdade que nos deu pra criar esse modelo e por todo o apoio imprescindível na reta final
desse trabalho.
À Prof. Eleusis Ronconi de Nazareno, minha co-orientadora, e aos demais professores do MADE
que contribuíram direta ou indiretamente para o andamento desse trabalho.
Ao todos os colegas da Turma 7 do MADE, pelas ajudas, troca de informações e pela experiência
interdisciplinar. A Stela, que nos trouxe uma nova visão sobre as coisas entre sociedade e
natureza. Tivemos boas discussões e quase conseguimos fazer esse trabalho um pouco mais
transdisciplinar.
Aos todos os Moradores e Pescadores das Vilas do Superagui e do Ararapira, que foram bastante
receptivos e hospitaleiros, e tiveram prazer em parar o que estavam fazendo pra conversar com a
gente, também ao Sr. Rubens e Sr. Herundino sempre dispostos a colaborar.
Ao pessoal da vila de Barrancos, Fico, Taíco e Maíco, que sempre arranjam um jeito de nos levar
até Currais, e Sr. Jair pelas valiosas informações complementares.
Ao Laboratório de Ornitologia do CEM/UFPR pelo apoio logístico, e de pessoal e pelos dados
fundamentais sobre aves no litoral do Paraná.
À WCS Pelo suporte financeiro, e ao desenvolvimento de pesquisas e projetos na área de
Saúde e Conservação por meio do Programa One World One Health, que forneceu o Seed Money
fundamental para iniciarmos os trabalhos aqui no Litoral do Paraná. Em especial aos amigos Billy
Karesh e Marcy Uhart, que sempre foram companheiros apoiando algumas das minhas idéias, e à
Flavia Miranda pelo amplo apoio a essa atual parceria.
Ao ICMBIO e a figura do Diretor do PARNA do Superagui, Marcelo, que sempre viabilizou nossa
estada na ilha, disponibilizando o alojamento e também pelo apoio ao projeto, por meio das
licenças ambientais.
Ao CNPq pelo apoio financeiro ao pesquisador durante 20 meses desse trabalho e Ao MADE que
possibilitou essa ajuda.
iv
À Tríade Pelo apoio institucional, em particular aos amigos Jean, Fernanda, Kadu, Juliana e
Cláudia que em muitas ocasiões correram para ajudar a resolver os entraves burocráticos, mas,
sobretudo por serem companheiros pelos mesmos ideais dentro da Medicina da Conservação.
Ao I Por ser a instituição, a família de amigos, que me ajudou muito a entender e pensar de
forma interdisciplinar, sem a experiência do Pontal do Paranapanema eu não teria alcançado
muito do que tenho hoje. Para esse trabalho em particular, agradeço ao Beto Malheiros que cedeu
a base de dados do projeto de gestão participativa da pesca, referente às vilas de Ararapira e
Superagui.
Depois, porém nada menos importante, agradeço às meninas...
À Cris, minha Pequena, que fez de tudo um pouco para me ajudar a terminar esse trabalho,
compilando dados, ajudando com resumos, coletando amostras, capturando aves, mamíferos e
micuins... além de ser a pessoa que se preocupa, se dedica e sempre está por mim, e pelas
pessoas de quem gosta.
À Paulinha, minha irmãzinha, que ajudou um bocado em campo rias vezes e no laboratório
contando aquelas células e me ensinando, e por sempre ter tempo pra ajudar quando eu preciso.
À Val, minha filha adotiva, que teve que adivinhar que parasitos eram aqueles (sem chance de eu
aprender a fazer isso) e por sempre ter tempo pra ajudar quando eu preciso.
Às meninas do Lab de Ornito: Ana, Lu, Ju, Vivi, Elise, Mai e Dani que deram ajudas valiosas tanto
em campo, quanto na hora de tabular aqueles dados todos! Mas principalmente por serem boas
companheiras, competentes e bem humoradas.
À todas as meninas do Vida Livre, parte da minha falia, Pê, Marcinha, May, Aline, Val e
Paulinha que, mesmo de longe, muitas vezes me ajudaram também com uma série de pequenas
ajudas fundamentais.
À minha pupila, Lets, que foi um dos meus estímulos pra dar este passo e que também passou
pelo mesmo aperto que eu, ao mesmo tempo, mas terminou uns dias depois.
À Fufi, minha Afilhadinha‖, Patrícia Medici, que sempre me apoia, ou critica quando preciso, e
que passou ao mesmo tempo pelo mesmo aperto que eu... mas terminou uns dias antes. Por
conta da nossa parceria de trabalho de longa data, juntos aprendemos muitas coisas importantes
sobre conservação da natureza e o trabalho em campo, e sobre amizades verdadeiras. Sem o
exemplo da minha Afilhadinha sobre organização, dedicação e de como traçar e perseguir as
metas necessárias a um trabalho de sucesso, muito do que fiz profissionalmente seria certamente
diferente.
Agora os rapazes...
Ao meu Amigo e Comparsa, Ricardo Krul, o Pescadô. Sem esse parceiro essa tese não existiria!
Aprendi muito durante esse trabalho. Além disso, hospedagem, churrascos, peixada em Currais,
pescaria de albatroz, e muitas outras parcerias bem sucedidas, e outras que estão por vir,
v
passarinhada na vila abandonada do Ararapira, Saint-Hilaire Lange, os maçaricos, e algumas
consultorias e sem esquecer aquela coleta na Ilha das Palmas...
Ao Amigo Zé Milton que nos apoiou muitas vezes mais do que um orientador teria apoiado.
Ao Amigo JC que tenho certeza que se divertiu muito indo pra campo e de quebra foi uma grande
ajuda nas coletas.
Ao amigo Arnaud Desbiez que deu valiosos conselhos sobre a finalidade de uma tese.
Ao meu amigo a toda a prova, o Fabiano, que em 1989 resolveu conhecer melhor aquele sujeito
de boné amarelo que estava sempre conversando com as meninas. Sem essa amizade, eu sei
que teria estudado menos, e não sei se teria explorado essa saudável inquietação que me fez
aproveitar muito melhor a graduação e o mestrado, e que me trouxe até esta etapa.
Ao meu Mestre, Pachaly, que também em 1990 resolveu que iria ajudar aquele moleque que
queria organizar um curso de selvagens na semana acadêmica. Sem esse amigo, o seu exemplo
de profissional, suas dicas e orientações, e o apoio em todas as horas, o caminho teria sido
totalmente outro.
Ao Espiga, Maurício Barbanti, também um dos meus mestres, com quem aprendi muito, ainda nas
épocas de estagiário, em 1992, e nas muitas conversas depois disso. Essa etapa acadêmica que
se completa agora ainda guarda um tanto dessa influência. Sobretudo pelos exemplos da visão de
cientista, de conservacionista e a dedicação ao trabalho.
Ao Wanderlei de Moraes, mais um dos meus mestres, com quem também aprendi muito, ainda
nas épocas de estagiário, em 1993. O que aprendi lá na Itaipu Binacional e o exemplo
entusiasmado e dedicado do Wander, estruturando e gerenciando aquele criadouro de fauna
selvagem, certamente me ajudaram muito a gerenciar uma parcela importante das minhas
atividades profissionais, a qual sempre foi economicamente relevante, e em última estância
responsável por parte da minha sobrevivência durante o doutorado.
A todos os colegas e amigos da MAD_7, a melhor experiência interdisciplinar foi por conta do
chimarrão, conversa na sala de aula, churrasco, festa na casa da Beth e na chácara do Gustavo,
e toda a camaradagem que só tem quem senta nas cadeiras dos alunos.
A todos os outros Professores e Mestres que me deram censo crítico e me ensinaram como olhar,
ler e escrever.
Ao apoio de todas as minhas famílias: Parentes, Vida Livre, IPÊ, TRÍADE e Lab.
Finalmente, às propriedades emergentes dos sistemas sem isso nada seríamos e essa tese, em
especial, seria totalmente diferente...
vi
APRESENTAÇÃO
A presente tese aborda temas relevantes para o entendimento dos sistemas
socioambientais, com atenção especial às interações entre natureza e sociedade, a partir
de um modelo de estudo desenvolvido de forma interdisciplinar. O estudo aqui
apresentado resulta das discussões e reflexões teóricas desenvolvidas dentro da linha de
pesquisa: ―Dinâmicas Naturais dos Ambientes Costeiros: Usos e Conflitos‖, da sétima
turma do Curso de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paraná. Este programa de doutorado também tem como intenção promover a
interação entre profissionais formados em diferentes áreas específicas do conhecimento,
buscando identificação de problemas e elaboração de soluções para questões complexas
atreladas ao meio ambiente e o desenvolvimento. Dentro deste contexto, o foco da
discussão que originou o presente trabalho esteve direcionado às inter-relações entre a
paisagem, a pesca, a biodiversidade e a saúde, considerando as atividades da sociedade,
como sendo práticas de fundo material capazes de interferir no curso dessas inter-
relações. Os sistemas socioambientais escolhidos para o desenvolvimento dos estudos
de campo foram comunidades de pescadores do litoral do Paraná. A metodologia do
estudo enfocou primariamente as implicações ambientais decorrentes dos processos de
uso e ocupação de parte da faixa litorânea do estado, e foi empregada para recolher os
dados necessários ao desenvolvimento de duas teses desse programa de doutoramento,
desenvolvidas sob o mesmo tema. Estas teses em parte se sobrepõem, pois se utilizam
do mesmo conjunto de conceitos, que originou um modelo de estudo comum aos dois
trabalhos. Adicionalmente, durante a discussão dos resultados ambos os trabalhos
empregaram um enfoque interdisciplinar, considerando de forma concomitante aspectos
relevantes da saúde ambiental e da diversidade biológica, o que levou a uma análise
integrada dos principais indicadores das relações entre paisagem, pesca, biodiversidade e
saúde. Porém, as duas teses diferem substancialmente quanto ao enfoque dado aos
temas saúde e biodiversidade, sobretudo na discussão referente à complexidade destes
temas para o entendimento dos sistemas socioambientais, representados pelas duas
comunidades em estudo.
vii
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo geral avaliar as relações entre paisagem, pesca,
biodiversidade e saúde, considerando as atividades da sociedade como práticas capazes
de interferir no curso dessas interões. Os sistemas socioambientais escolhidos para os
estudos de campo foram duas comunidades de pescadores artesanais, Barra do
Superagui e Barra do Ararapira localizadas no Parque Nacional do Superagui litoral do
Paraná. O método de pesquisa aqui utilizado abordou 45 variáveis, que compreenderam:
1) Temas da Paisagem como condições de urbanização e tamanho das comunidades;
saneamento; uso de recursos naturais; e perfil das frotas pesqueiras; 2) Temas relativos à
Pesca como artes de pesca; recursos utilizados e a produção de rejeitos; 3) Temas
referentes à biodiversidade abordando aves associadas aos ecossistemas florestais e
marinhos; e 4) Temas referentes à Saúde, como acesso aos serviços de saúde disponível
nas comunidades; condições de saúde e manejo de animais domésticos; estado de saúde
e perfil parasitário de aves associadas aos ecossistemas florestais e estado de saúde das
aves marinhas. Os resultados obtidos a partir das variáveis analisadas possibilitaram
caracterizar as comunidades em estudo, bem como alimentar um modelo de análise que
se mostrou capaz de determinar a relevância das interações entre saúde, biodiversidade,
pesca e paisagem, e ainda relevar o nexo dessas relações, mediadas pelas práticas
materiais. O tamanho das comunidades pesqueiras, as práticas atuais associadas às
atividades de pesca, o extrativismo e uso dos espaços físicos demonstraram influenciar a
Saúde e a Biodiversidade. A atividade da pesca de arrasto do camarão demonstrou
impactos positivos sobre as aves associadas ao ecossistema marinho, principalmente
gaivotas (Larus dominicanus) e atobás (Sula leucogaster). Por outro lado, foi comprovado
que os períodos de defeso podem acarretar severa depressão nas populações de aves, o
que indica que a pesca de arrasto altera a dinâmica dessas populações. Tamm se
observou que as comunidades de pescadores influenciaram de forma negativa a Saúde e
a Biodiversidade das aves associadas ao ecossistema florestal, devido principalmente aos
impactos causados pelas características demográficas das vilas de pescadores, seus
animais domésticos e a distribuição das suas moradias. O perfil de saúde das aves
apresentou-se intimamente relacionado com impactos sobre a diversidade e distribuição
ecológica dessas aves dentro de guildas ambientais e alimentares. Assim, concluiu-se
que o modelo de estudo elaborado para este estudo indicou que, nas duas comunidades
em estudo, as práticas materiais relativas às atividades de pesca, extrativismo, e uso do
espaço físico influenciam a Saúde e a Biodiversidade. Atuando de forma positiva sobre o
estado atual da população de aves associadas ao ecossistema marinho e de forma
negativa sobre as aves associadas ao ecossistema florestal.
viii
ABSTRACT
The present study had as general goal to evaluate the relationships among landscape,
fishing, biodiversity and health, considering the activities of the society as practices that
are able to interfere in the course of these interactions. The social-environmental systems
chosen for the field studies were two communities of traditional fishermen, Barra do
Superagui and Barra do Ararapira located in Superagui's Park National Paraná's Coast,
Brasil. The research methodology used 45 variables, which boarded: 1) Landscape
themes as urbanization characteristics and communities' size; sanitation; use of natural
resources; and fishing fleet profile; 2) Fishing themes as applied fishing techniques; fishing
resources used and by-catch production; 3) Biodiversity themes boarding forest and
marine birds; and 4) Health themes, like access to health services; health issues and
management of domestic animals; health condition and parasitic profile of forest birds and
health condition of marine birds. The results enable to characterize the communities, as
well as to provide an analysis model that was able to determine the relevance of the
interactions among health, biodiversity, fishing and landscape, and still reveal the
connection links on these relationships, mediated by the material practices. The
communities' fishing size, the current material practices associated to the fishing, forest
products extraction and the land use are able to influence the Health and Biodiversity. The
shrimp fishing activities demonstrated positive impacts over marine birds, mostly over gulls
(Larus dominicanus) and brown boobys (Sula leucogaster). On the other hand, was
proved that the shrimp fishing prohibited periods can carry severe depression in the bird’s
health and reproduction, which indicates that the shrimp fishing changes the dynamics of
these populations. Also the fishermen communities had negative influenced on Health and
Biodiversity of the forest birds, mostly due impacts on ecosystem caused by demographic
characteristics of the fishermen villages, their domestic animals profile and distribution of
your domiciles on landscape. The forest bird’s health profile was intimately related with
impacts on the diversity and ecological distribution of these birds inside their guild. This
way, it concluded that the study model elaborated for this research indicated that, in the
two communities, the material practices related to fishing activities, use of forest
resources, and land use produce influence on the Health and Biodiversity, acting on
positive manner to the marine birds and on negative manner to the forest birds.
ix
A SAÚDE E SUAS RELAÇÕES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARANÁ
SUMÁRIO
PARECER DA BANCA EXAMINADORA ______________________________________ i
AGRADECIMENTOS _____________________________________________________iii
APRESENTAÇÃO ______________________________________________________ vi
RESUMO ___________________________________________________________ vii
ABSTRACT __________________________________________________________ viii
1 INTRODUÇÃO, HIPÓTESE e OBJETIVOS ________________________________ 1
1.1 Hipótese de estudo ________________________________________________ 5
1.2 Objetivo Geral ____________________________________________________ 5
1.3 Objetivos Específicos ______________________________________________ 5
1.3.1 Objetivos relativos à avaliação da paisagem _________________________ 5
1.3.2 Objetivos relativos à avaliação da pesca ____________________________ 6
1.3.3 Objetivos relativos à avaliação da biodiversidade ______________________ 6
1.3.4 Objetivos relativos à avaliação da saúde ____________________________ 7
1.3.5 Objetivos relativos ao modelo _____________________________________ 7
2 REFERENCIAL TEÓRICO _____________________________________________ 9
2.1 Saúde, Meio Ambiente e Biodiversidade ________________________________ 9
2.2 Biodiversidade e a Região Costeira __________________________________ 27
2.2.1 Biodiversidade de Aves_________________________________________ 28
2.2.2 Comunidade de aves associadas aos ecossistemas florestais___________ 29
2.2.3 Aves associadas aos ecossistemas marinhos _______________________ 30
2.2.4 Interação de Aves com a Pesca __________________________________ 31
2.3 Pesca _________________________________________________________ 33
2.4 Paisagem Natural ________________________________________________ 39
x
2.4.1 Unidades de Conservação ______________________________________ 41
3 DESENVOLVIMENTO DO MODELO CONCEITUAL DE ESTUDO _____________ 44
3.1 Oficinas de Pesquisa: Identificação de um tema de pesquisa conjunto _______ 44
3.2 Desenvolvimento de um modelo interdisciplinar de avaliação das relações
natureza e sociedade em comunidades de pescadores artesanais _______________ 44
4 MATERIAL E MÉTODOS _____________________________________________ 52
4.1 Local de Estudo __________________________________________________ 52
4.2 Modelos de Coleta de Dados _______________________________________ 54
4.3 Coleta de Dados Referentes à Paisagem ______________________________ 54
4.3.1 Moradias, Urbanização e Vias de Acesso___________________________ 55
4.3.2 Resíduos e Saneamento________________________________________ 56
4.3.3 Uso de Recursos Naturais ______________________________________ 57
4.3.4 Frota pesqueira _______________________________________________ 58
4.4 Coleta de Dados Referentes às Práticas Pesqueiras _____________________ 58
4.4.1 Artes de Pesca; Recursos Utilizados e Rejeitos ______________________ 58
4.5 Coleta de Dados Referentes à Biodiversidade __________________________ 60
4.5.1 Aves Associadas a Ecossistemas Florestais ________________________ 60
4.5.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos _______________________ 62
4.6 Coleta de Dados Referentes à Saúde _________________________________ 62
4.6.1 Acesso aos Serviços de Saúde __________________________________ 64
4.6.2 Condições de saúde e manejo dos animais domésticos _______________ 64
4.6.3 Estado Físico-Clínico e o Perfil Parasitário das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais ______________________________________________ 64
4.6.4 Estado Físico-Clínico das Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos __ 70
4.7 Procedimentos de Análise dos Dados _________________________________ 72
5 RESULTADOS _____________________________________________________ 74
5.1 Paisagem_______________________________________________________ 74
5.1.1 Moradias, Urbanização e Vias de Acesso___________________________ 74
5.1.2 Resíduos e Saneamento________________________________________ 84
5.1.3 Uso de Recursos Naturais ______________________________________ 93
5.1.4 Frota Pesqueira _____________________________________________ 100
5.2 Pesca ________________________________________________________ 102
5.2.1 Artes de Pesca ______________________________________________ 102
5.2.2 Recursos Utilizados __________________________________________ 105
xi
5.2.3 Rejeitos ____________________________________________________ 130
5.2.4 Destino do pescado __________________________________________ 140
5.3 Biodiversidade __________________________________________________ 143
5.3.1 Aves Associadas aos Ecossistemas Florestais _____________________ 143
5.3.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos ______________________ 157
5.4 Saúde ________________________________________________________ 165
5.4.1 Acesso aos Serviços de Saúde _________________________________ 165
5.4.2 Condições de Saúde e Manejo Animais Domésticos _________________ 167
5.4.3 Estado Físico-Clínico e Perfil Parasitário das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais _____________________________________________ 172
5.4.4 Estado Físico-Clínico das aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos _ 187
6 DISCUSSÃO ______________________________________________________ 197
6.1 Matrizes de Variáveis ____________________________________________ 197
6.1.1 A Saúde e a Diversidade de Aves Marinhas, a Paisagem e as Atividades
Pesqueiras _______________________________________________________ 204
6.1.2 A Saúde e a Diversidade de Aves Florestais, a Paisagem Terrestre e o
Extrativismo _______________________________________________________ 220
7 CONCLUSÕES ____________________________________________________ 233
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ____________________________________ 237
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Diagrama conceitual da interação entre saúde animal, humana e do ecossistema
proposto inicialmente como base para ações em medicina da conservação (Ilustração:
Paulo Rogerio Mangini). __________________________________________________ 15
Figura 2: Diagrama conceitual revisado da interação entre as diferentes esferas da saúde
associadas ao ambiente, proposto como base para ações em medicina da conservação
(Ilustração: Paulo Rogerio Mangini)._________________________________________ 15
Figura 3: Representação esquemática das abordagens do pensamento sobre as
interseções entre saúde e ambiente, ressaltando a abordagem clínica e a funcional
(Ilustração: Paulo Rogerio Mangini) _________________________________________ 18
Figura 4: Representação esquemática das relações consideradas entre variáveis relativas
à Paisagem, à Pesca, à Biodiversidade e à Saúde, dadas pelas práticas materiais em
comunidades pesqueiras. _________________________________________________ 46
xii
Figura 5: Localização das áreas de estudo (Ilustração: Paulo R Mangini, 2009 © Google
Inc.: Google Earth 5.1).___________________________________________________ 52
Figura 6: Imagem fotográfica por satélite da área da Vila do Superagui (Ilustração: Paulo
R Mangini / 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1). ____________________________ 53
Figura 7: Imagem fotográfica por satélite da área da Vila do Ararapira (Ilustração: Paulo R
Mangini / 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1). ______________________________ 53
Figura 8: Área de estudo controle no Penedo, município de Pontal do Paraná (Ilustração:
Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1). _______________________ 61
Figura 9: Localização do Arquipélago de Currais (Ilustração: Paulo R. Mangini / Imagem
Satelital de 2000: INPE). _________________________________________________ 63
Figura 10: Vista do Arquipélago de Currais (Imagem: Viviane L. Carniel). ____________ 63
Figura 11: Redes de neblina para captura de aves. A) Aspecto da rede disposta no
ambiente, tornando-se pouco perceptível; B) Exemplar de Thrythorus longirostris
(Arapaçu) retido em uma rede de neblina (Imagens: Ana L. M. Gomes). ____________ 65
Figura 12 Avaliação física, por auscultação, em um exemplar de Patagioenas cayennensis
(Pomba-galega) capturado na comunidade do Ararapira (imagem: Ana L.G. Mendes). _ 66
Figura 13: Detalhe da amostragem de ectoparasitos, em um exemplar de Turdus
amaurochalinus (sabiá-pocá), fazendo do uso de fita adesiva incolor (imagem: Juliana
Rechetelo). ____________________________________________________________ 66
Figura 14: Atividade de preparação para colheita de material biológico de aves associadas
aos ecossistemas florestais, realizada no interior da base de campo temporária (Imagem:
Ana L.G. Mendes). ______________________________________________________ 67
Figura 15: Colheita de amostra de sangue de um exemplar juvenil de Ramphocelus
bresilius (tié-sangue) para realização de esfregaço (imagem: Ana L.G. Mendes). _____ 67
Figura 16: Representação esquemática da secção, em plano transversal, do osso esterno
(OE) e da musculatura peitoral (MP) das aves (Ilustração: Paulo Rogerio Mangini.
Adaptado de Harrison e Ritchie, 1994) _______________________________________ 68
Figura 17: Réplica reduzida da ficha de campo utilizada para registro de dados de captura
de Sula leucogaster. _____________________________________________________ 71
Figura 18: Detalhe da Vila do Superagui (Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google
Inc.: Google Earth 5.1).___________________________________________________ 79
Figura 19: Detalhe da Vila do Ararapira (Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.:
Google Earth 5.1). ______________________________________________________ 80
xiii
Figura 20: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
Observar a diferença na distribuição da vegetação e densidade das moradias entre as
duas localidades (Imagens: Paulo R. Mangini). ________________________________ 80
Figura 21: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). ___ 81
Figura 22: Distribuição de moradias (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). _______ 81
Figura 23: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 82
Figura 24: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 82
Figura 25: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini) _____ 82
Figura 26: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini) _____ 83
Figura 27: Aspecto geral dos terrenos (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). ______ 83
Figura 28: Vista do Canal do Superagui. À Esquerda vista do atracadouro e edificações a
margem do canal. À Direita área de erosão atingindo edificações a margem do canal na
porção mais noroeste da vila (Imagens: Paulo R. Mangini e Ricardo Krul). ___________ 84
Figura 29: Vista do Canal do Ararapira. À Esquerda: Ramagem seca (setas) da vegetação
arrancada das margens do canal do Ararapira, devido aos processos de erosão, em
alguns pontos troncos e galhos submersos servem como ponto de referência para áreas
de pesca de espécies como o robalão (Centropomus undecimalis); À Direita vista do canal
do Ararapira, evidenciando pontos de erosão (seta ao fundo) e deposição de sedimentos
(banco de areia em primeiro plano na imagem) ao longo da área onde se estabelece a vila
do Ararapira (Imagens: Ana L.M. Gomes). ____________________________________ 84
Figura 30: Prevalência de resíduos dispersos nas comunidades de Superagui e Ararapira.
_____________________________________________________________________ 88
Figura 31: Distribuição qualitativa e quantitativa de resíduos dispersos nas comunidades
de Superagui e Ararapira. _________________________________________________ 89
Figura 32: Barracão destinado à manutenção temporária dos resíduos sólidos recicláveis,
na comunidade do Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________ 89
Figura 33: Acúmulo de resíduos sólidos recicláveis as margens de uma das trilhas
internas na comunidade do Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ________________ 89
xiv
Figura 34: Lixeira localizada a margem da trilha que leva à praia deserta na comunidade
do Superagui (Imagem: Ricardo Krul). _______________________________________ 90
Figura 35: Limpeza de pescado em Superagui (Imagem: Ricardo Krul). _____________ 90
Figura 36: Grupo de moradores em atividade de preparo de Xiphopenaeus kroyeri
(camarão-sete-barbas), para armazenagem e venda (Superagui / Imagem: Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 90
Figura 37: Uma das áreas utilizadas por moradores para limpeza de pescados na
comunidade do Ararapira, em geral os rejeitos decorrentes da manipulação do pescado
são dispostas diretamente ao solo nessa mesma área (Imagem: Paulo R. Mangini). ___ 90
Figura 38: Edificação utilizada para processamento e armazenamento de pescados, na
comunidade do Superagui, sendo o principal produto manipulado o Xiphopenaeus kroyeri
(camarão-sete-barbas) (Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________________ 91
Figura 39: Tubulação, utilizada para despejo dos rejeitos da manipulação de pescados no
canal do Superagui. (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________ 91
Figura 40: Vista do córrego que corta a área central da comunidade do Superagui
(Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________________ 91
Figura 41: Resíduos presentes no córrego que corta a área central da comunidade do
Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________ 91
Figura 42: Moradias localizadas as margens da área alagada na comunidade do
Superagui. Com destaque para novas habitações sendo instaladas nessa parte da vila
(Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________________ 92
Figura 43: Área de roça abandonada no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul).__________ 94
Figura 44: Área de roça de mandioca no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul) __________ 95
Figura 45: Área de roça no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul). ____________________ 95
Figura 46: Exemplo de trilhas do tipo ―A‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 96
Figura 47: Exemplo de trilhas do tipo ―B‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 96
Figura 48: Exemplo de trilhas do tipo ―C‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 97
Figura 49: Exemplo de trilhas do tipo ―C‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 97
Figura 50: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
_____________________________________________________________________ 98
Figura 51: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
_____________________________________________________________________ 98
Figura 52: Cavidade no solo (linha tracejada) produzida como consequência da atividade
de caça tendo como objetivo espécies de tatu. (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). ___ 99
xv
Figura 53: Exemplo de extrativismo de recursos madeireiros. (Esquerda Superagui; Direita
Ararapira / Imagens: Ricardo Krul). _________________________________________ 99
Figura 54: Exemplo de extrativismo de recursos vegetais, corte de exemplar de Palmito
Euterpes edulis. (Ararapira / Imagem: Ricardo Krul). ___________________________ 100
Figura 55: Embarcações de tábua da frota pesqueira da comunidade do Superagui
(Imagem: Ricardo Krul)__________________________________________________ 101
Figura 56: Canoas da frota pesqueira da comunidade do Ararapira (Imagem: Paulo R
Mangini) _____________________________________________________________ 101
Figura 57: Representações das porcentagens de utilização de tamanhos de malhas de
redes de pesca nas comunidades de Ararapira, em uma avaliação geral e em mar aberto,
e de Superagui. _______________________________________________________ 104
Figura 58: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Superagui no ano de
2009 e a contribuição destes para o total pescado. ____________________________ 107
Figura 59: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Ararapira no ano de
2009 em mar aberto e a contribuição destes para o total pescado. ________________ 108
Figura 60: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Ararapira no ano de
2009 em águas protegidas e a contribuição destes para o total pescado. ___________ 108
Figura 61: Análise de proximidade (n-MDS) com base nas espécies de peixes capturadas
mensalmente nas Vilas Ararapira (Rio e Mar) e Superagui, durante 2009. Os dois pontos
outliers (Superagui) apresentaram captura muito baixa (em Abril e Maio) quando
comparada aos outros meses. ____________________________________________ 109
Figura 62: Variação do número de espécies de peixes explotadas ao longo do ano de
2009 pelos pescadores das comunidades pesqueiras de Superagui e Ararapira. _____ 111
Figura 63: Representações da captura de peixes, em porcentagens do peso, ao longo do
ano de 2009 nas comunidades pesqueiras de Superagui e Ararapira. _____________ 112
Figura 64: Representação gráfica da porcentagem mensal do total das capturas anuais
referente aos cinco principais recursos ictíacos capturados pelos pescadores da
comunidade de Superagui no ano de 2009. __________________________________ 113
Figura 65: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictíacos em relação à captura total mensal de peixes pela comunidade
de Superagui no ano de 2009. ____________________________________________ 113
Figura 66: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictíacos capturados mensalmente pelos pescadores da comunidade de
Ararapira em mar aberto no ano de 2009. ___________________________________ 114
xvi
Figura 67: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos seis
principais recursos ictíacos em relação à captura total mensal dos recursos pela
comunidade de Ararapira no ano de 2009.___________________________________ 115
Figura 68: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictíacos do ambiente protegido em relão à captura individual do
recurso ao longo do ano pela comunidade de Ararapira no ano de 2009. ___________ 116
Figura 69: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictíacos de ambiente protegido em relão à captura total mensal dos
recursos pela comunidade de Ararapira no ano de 2009. _______________________ 116
Figura 70: Representação gráfica dos percentuais de captura da tainha nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses (A; B; C) e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês (D;
E; F) ao longo do ano de 2009. ___________________________________________ 117
Figura 71: Representação gráfica dos percentuais de captura da sororoca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 118
Figura 72: Representação gráfica dos percentuais de captura da salteira nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 118
Figura 73: Representação gráfica dos percentuais de captura do cação nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 119
Figura 74: Representação gráfica dos percentuais de captura da membeca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 119
Figura 75: Representação gráfica dos percentuais de captura de camarão pelas diferentes
artes de pesca utilizadas pelos pescadores da comunidade de Superagui durante o ano
de 2009. _____________________________________________________________ 121
xvii
Figura 76: Representação gfica da distribuição mensal dos percentuais dos eventos de
pesca conduzidos pelas artes de pesca de arrasto, lanço, gerival e caceio direcionados ao
camarão pelos pescadores da comunidade de Superagui ao longo do ano de 2009. __ 121
Figura 77: Representação gráfica da distribuição mensal dos percentuais de captura do
camarão-sete-barbas e do camarão-branco durante o ano de 2009 na comunidade de
Superagui. ___________________________________________________________ 122
Figura 78: Número de eventos pesqueiros empreendidos pela frota pesqueira motorizada
da comunidade de Ararapira no ano de 2009. ________________________________ 124
Figura 79: Número de eventos pesqueiros empreendidos por cada embarcação da frota
pesqueira da comunidade de Superagui direcionados aos camarões e aos peixes no ano
de 2009. _____________________________________________________________ 124
Figura 80: Amplitude, valor médio e intervalo onde se concentram 50% dos valores dos
dias trabalhados por mês pelos pescadores da comunidade de Superagui e Ararapira
durante o ano de 2009.__________________________________________________ 126
Figura 81: Amplitude, valor médio e intervalo onde se concentraram 50% dos eventos de
pesca efetuados pelos pescadores da comunidade de Superagui e Ararapira durante o
ano de 2009. __________________________________________________________ 127
Figura 82: Distribuição mensal dos dias trabalhados na pesca de camarão na comunidade
do Superagui no ano de 2009. ____________________________________________ 128
Figura 83: Média diária, desvio padrão e erro padrão dos eventos de pesca realizados
pelos pescadores da comunidade de Superagui de acordo com os meses de 2009. __ 129
Figura 84: Dias trabalhados e viagens de pesca mensais realizadas pela frota da
comunidade de Superagui na pesca de camarão no ano de 2009. ________________ 129
Figura 85: Representação gráfica da distribuição mensal da porcentagem de captura de
peixes em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010. ___________ 136
Figura 86: Representação gráfica da distribuição mensal da porcentagem de captura de
camarão em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010. _________ 137
Figura 87: Representação gráfica da proporção de captura entre camarão e peixe nos
diferentes meses do ano de acordo com Krul, 1999 e Cattani, 2010. ______________ 138
Figura 88: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva cumulativa de
espécies a partir da curva de rarefação para a comunidade de Ararapira. __________ 146
Figura 89: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva cumulativa de
espécies a partir da curva de rarefação para a comunidade de Superagui. __________ 146
xviii
Figura 90: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva cumulativa de
espécies a partir da curva de rarefação para a área controle. ____________________ 147
Figura 91: Média e erros padrões do número de espécies de aves registradas nos censos
conduzidos nas três áreas estudadas. ______________________________________ 148
Figura 92: Média e erros padrões das estimativas do número de indivíduos registrados
nos censos conduzidos nas três áreas avaliadas. _____________________________ 148
Figura 93: Contribuição das 12 espécies de aves com os maiores índices de abundância
relativa nas três áreas estudadas. _________________________________________ 149
Figura 94: Médias do comprimento padrão dos peixes consumidos por F. magnificens e S.
leucogaster ___________________________________________________________ 162
Figura 95: Médias da massa corporal dos peixes consumidos por F. magnificens e S.
leucogaster ___________________________________________________________ 162
Figura 96: Variação do número de ninhos de Sula leucogaster na Ilha Grapirá, no
Arquipélago de Currais, no período de agosto de 1995 a julho de 1996 (adaptado de Krul,
1999). _______________________________________________________________ 163
Figura 97: Variação do número de ninhos de Fregata magnificens na Ilha Grapirá, no
Arquipélago de Currais, no período de agosto de 1995 a julho de 1996 (adaptado de Krul,
1999). _______________________________________________________________ 164
Figura 98: Exemplar de Equus caballus apresentando sinais de déficit nutricional, com
exposição evidente dos arcos costais (Superagui / Imagem: Paulo R. Mangini). ______ 170
Figura 99: Exemplares de Equus caballus, mantidos em área cercada com pastagem,
apresentando bons escores corporais (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _________ 170
Figura 100: Estrutura utilizada para restrição de um exemplar de Equus caballus.
Notadamente a estrutura apresenta condições inadequadas para manutenção satisfatória
do conforto térmico do animal (Superagui / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________ 170
Figura 101: Exemplar de Equus caballus, apresentando bom escore corporal, circulando
livremente pela comunidade (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _________________ 170
Figura 102: Rastro de Equus caballus, observado em um das trilhas localizadas nas áreas
florestadas adjacentes à comunidade, evidenciando a possibilidade de circulação e a
capacidade de impacto da espécie nessas áreas (as setas indicam a marca da margem
da úngula do animal no terreno arenoso; Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _______ 171
Figura 103: Exemplar de Canis familiaris, apresentando bom escore corporal e sem sinais
evidentes de problemas clínicos, esse indivíduo como a ampla maioria dos animais desta
xix
espécie circulam livremente pela comunidade do Superagui, e áreas adjacentes (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 171
Figura 104: Exemplar de Canis familiaris, apresentando bom escore corporal e sem sinais
evidentes de problemas clínicos, esse indivíduo como a ampla maioria dos animais desta
espécie circulam livremente pela comunidade do Ararapira e áreas adjacentes (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 171
Figura 105: Exemplares de Gallus gallus, em atividade de forrageamento no entremarés
às margens do Canal do Ararapira (Imagem: Paulo R. Mangini). _________________ 171
Figura 106: Exemplares de Gallus gallus, retidos em galinheiro rudimentar. Situão
incomum onde o proprietário dos animais mantém um sistema de confinamento para as
aves domésticas. Nessa estrutura a totalidade dos animais avaliados apresentava escore
corporal inadequado (Ararapira / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________ 172
Figura 107: Exemplares de Gallus gallus, circulando livremente pela comunidade.
Situação mais comumente observada na Vila da Barra do Ararapira, onde as hortas e
cultivos peridomiciliares o protegidos contra a invasão das aves domésticas (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 172
Figura 108: Evento de interação entre Gallus gallus, Felis catus e Coragyps atratus
(urubu-de-cabeça-preta) durante alimentação. O grupo de animais se reuniu para
consumo de recursos alimentares provenientes de rejeitos da atividade de pesca
(Ararapira / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________________________ 172
Figura 109: Prevalência do grau de infestação por ectoparasitos em aves nas
comunidades do Superagui e Ararapira. ____________________________________ 176
Figura 110: Média do grau de infestação por ectoparasitos em aves nas comunidades do
Superagui e Ararapira. __________________________________________________ 177
Figura 111: Mediana do grau de infestação por ectoparasitos em aves nas comunidades
do Superagui e Ararapira. ________________________________________________ 177
Figura 112: Grau de infestação por ectoparasitos segundo o estado clínico das aves nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 178
Figura 113: Grau de infestação por ectoparasitos e do estado clínico de aves conforme
sítio amostral. _________________________________________________________ 179
Figura 114: Microfilária observada em esfregaço sanguíneo de Turdus amaurochalinus,
capturado na comunidade do Ararapira (Imagem: Paula B. Mangini). ______________ 181
Figura 115: Plasmodium/Haemoproteus observado em esfregaço sanguíneo de Turdus
rufiventris, capturado na comunidade do Superagui (Imagem: Paula B. Mangini). ____ 181
xx
Figura 116: Trouessartia sp. (tipo I) morfotipo com alta prevalência nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Turdus rufiventris) (Imagem: Paula
B. Mangini). __________________________________________________________ 181
Figura 117: Pterodectes sp. (tipo I) morfotipo com alta prevalência nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Turdus amaurochalinus) (Imagem:
Paula B. Mangini). _____________________________________________________ 181
Figura 118: Trombiculidae (sp. tipo I) morfotipo com alta prevalência nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Zonotrichia capensis) (Imagem:
Valéria N. Teixeira). ____________________________________________________ 182
Figura 119: Colônia de ectoparasitos da família Argaridae, em um exemplar de Turdus
amaurochalinus, capturado na comunidade do Superagui (imagem: Juliana Rechetelo).
____________________________________________________________________ 182
Figura 120: Detalhe da implantação cutânea da colônia de ectoparasitos da família
Argasidae, em um exemplar de Turdus amaurochalinus, capturado na comunidade do
Superagui. Notar a formação de uma borda elevada de pele ao redor da colônia (imagem:
Juliana Rechetelo). _____________________________________________________ 182
Figura 121: Detalhe de um abscesso cutâneo decorrente da implantação de uma colônia
de ectoparasitos, de hábitos semelhantes à Argasidae, em um exemplar de
Lepdocolaptes fuscus, capturado na comunidade do Ararapira. (imagem: Ana L.M.
Gomes). _____________________________________________________________ 182
Figura 122: Curva de rarefação de coleta para espécies de ectoparasitos de
passeriformes nas comunidades de Superagui e Ararapira. _____________________ 183
Figura 123: Diversidade de ectoparasitos em passeriformes nas comunidades do
Ararapira e do Superagui. ________________________________________________ 184
Figura 124: Dissimilaridade e agrupamento de ectoparasitos em passeriformes nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 184
Figura 125: Diversidade de ectoparasitos de passeriformes distribuída de acordo com as
guildas de aves observadas nas comunidades do Ararapira e do Superagui. ________ 187
Figura 126: Variação da massa dos ovos de Sula leucogaster, no arquipélago de Currais.
____________________________________________________________________ 188
Figura 127: Variação da massa dos ovos de Fregata magnificens, no arquipélago de
Currais. ______________________________________________________________ 189
Figura 128: Variação da massa dos ovos de L. dominicanus, em três períodos
reprodutivos distintos no Arquipélago de Currais. _____________________________ 190
xxi
Figura 129: Variação da massa corporal de exemplares de Sula leucogaster capturados
em Currais, nos meses de agosto de 2009 e janeiro de 2010. ____________________ 191
Figura 130: Distribuição da massa corporal de exemplares de Sula leucogaster
capturados em Currais, nos meses de agosto de 2009 e janeiro de 2010. __________ 191
Figura 131: Distribuição percentual de registros de sinais e problemas clínicos de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus (n=208) no PROAMAR UFPR.
____________________________________________________________________ 192
Figura 132: Distribuição percentual de registros de Sula leucogaster, Fregata magnificens
e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR, dentro e fora do período de defeso do
camarão. _____________________________________________________________ 194
Figura 133: Distribuição anual e linha de tendência dos registros de Sula leucogaster,
Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _______________ 195
Figura 134: Distribuição anual e linha de tendência dos registros por espécies de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 195
Figura 135: Distribuição mensal e linha de tendência dos registros conjuntos de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 196
Figura 136: Distribuição mensal e linha de tendência dos registros por espécies de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 196
Figura 137: Linha de tendência do recebimento sazonal de aves no CEM, entre os anos
de 1992 e 2009 e linha de tendência de captura sazonal de camarão-sete-barbas com
base nos dados de Superagui 2009. _______________________________________ 218
Figura 138: Diagrama das inter-relações observadas entre as dez variáveis mais
expressivas dentro do modelo de estudo. ___________________________________ 220
Figura 139: Diagrama das inter-relações observadas entre as variáveis relacionadas à
saúde e à diversidade de aves dos ecossistemas florestais. _____________________ 232
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Sistemas pesqueiros identificados para o Paraná, e as características distintivas
empregadas na metodologia de classificação. _________________________________ 37
Tabela 2: Tipologia vegetal na Ilha do Superagui (SCHMIDLIN, 2004) ______________ 41
Tabela 3: Localização e características das Unidades de Conservação (UCs) do litoral
paranaense. ___________________________________________________________ 42
xxii
Tabela 4: Características das Moradias, Urbanização e Vias de Acesso nas comunidades
do Superagui e de Ararapira. ______________________________________________ 74
Tabela 5: Características do tratamento de Resíduos e Saneamento nas comunidades do
Superagui e do Ararapira. _________________________________________________ 85
Tabela 6: Características do Uso de Recursos Naturais nas comunidades do Superagui e
do Ararapira. ___________________________________________________________ 93
Tabela 7: Característica da frota pesqueira nas duas comunidades em estudo. ______ 100
Tabela 8: Artes de pesca direcionadas aos peixes e registradas nas vilas de Superagui e
Ararapira no ano de 2009. _______________________________________________ 103
Tabela 9: Artes de pesca direcionadas aos camarões registradas nas vilas de Superagui e
Ararapira no ano de 2009. _______________________________________________ 105
Tabela 10: Espécies, ou categorias, de peixes explotados nas comunidades do Ararapira
e do Superagui. _______________________________________________________ 106
Tabela 11: Contribuição relativa e contribuição acumulada das espécies de peixe mais
importantes na formação dos grupos Ararapira Rio, Ararapira Mar e Superagui. _____ 110
Tabela 12: Riqueza de espécies de peixes capturadas na pesca de arrasto no Paraná 130
Tabela 13: Lista das 24 espécies de peixes com maiores índices de captura em peso em
arrastos direcionados ao camarão no litoral paranaense. _______________________ 134
Tabela 14: Resultados de cinco estudos sobre peixes capturados nos arrastos
direcionados aos camarões na costa paranaense. ____________________________ 135
Tabela 15: Índices de captura de peixe por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vários estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paraná. ____ 136
Tabela 16: Índices de captura de camarão por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vários estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paraná. ____ 137
Tabela 17: Relação de captura entre peixe e camarão-sete-barbas em gramas. _____ 138
Tabela 18: Preços dos recursos pesqueiros na primeira comercialização durante o ano de
2009 nas comunidades pesqueiras de Ararapira e Superagui. ___________________ 142
Tabela 19: Lista das espécies de aves registradas e ocorrência destas na área controle,
Penedo, e nas comunidades do Ararapira e do Superagui. ______________________ 143
Tabela 20: Lista das espécies de aves 11 espécies com maiores índices de abundância
relativa durante as contagens por ponto conduzidas nas comunidades do Ararapira e
Superagui. ___________________________________________________________ 150
Tabela 21: Lista das espécies de aves, suas categorias alimentares e estratos
associados, nas comunidades do Ararapira e Superagui. _______________________ 151
xxiii
Tabela 22: Lista das guildas identificadas e número de espécies de aves classificadas em
cada uma delas. _______________________________________________________ 154
Tabela 23: Lista dos estratos de obtenção de alimento e número de espécies de aves
classificadas em cada um deles. __________________________________________ 155
Tabela 24: Número de espécies de aves registradas nas guildas e estratos preferenciais
de ocorrência nas áreas Penedo (controle), Ararapira e Superagui. _______________ 156
Tabela 25: Lista das espécies de aves do ambiente aquático marinho da plataforma
continental interna a partir de informações do banco de dados coletados pelos
pesquisadores do Laboratório de Ornitologia do CEM/UFPR. ____________________ 157
Tabela 26: Lista das espécies de aves com potencial de consumir rejeitos da pesca no
ambiente de praia do litoral do Paraná, com base em Carniel (2008). ______________ 158
Tabela 27: Lista das espécies de aves consumidoras de rejeitos da pesca na costa
paranaense e frequência (F) e abundância relativa (A. R.) destas durante eventos de
descarte, com base em Krul (2004) para o ambiente aquático e Carniel (2008) para o
ambiente de entremarés. ________________________________________________ 159
Tabela 28: Espécies de peixes presentes na dieta de Sula leucogaster e Fregata
magnificens e sua contribuição (%) na dieta de ambas as espécies com base em Krul
(2004). ______________________________________________________________ 160
Tabela 29: Caracterização dos aspectos do Acesso aos Serviços de Saúde nas
comunidades do Superagui e do Ararapira. __________________________________ 165
Tabela 30: Caracterização de aspectos das Condições de Saúde e Manejo Animais
Domésticos nas comunidades do Superagui e do Ararapira. _____________________ 167
Tabela 31: Condições clínicas gerais de aves associadas aos ecossistemas florestais
amostradas nas comunidades do Ararapira e do Superagui. _____________________ 173
Tabela 32: Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos em aves selvagens nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 176
Tabela 33: Morfotipos de hemoparasitos e ectoparasitos observados em aves capturadas
nas comunidades de Ararapira e Superagui. _________________________________ 180
Tabela 34: Prevalência de morfotipos de ectoparasitos observados nas comunidades do
Ararapira e Superagui, considerando apenas aves parasitadas. __________________ 185
Tabela 35: Prevalência de morfotipos e ectoparasitos observados nas aves de acordo
com as guildas, considerando apenas aves parasitadas, nas comunidades do Ararapira e
Superagui. ___________________________________________________________ 186
xxiv
Tabela 36: Massa corporal e Parâmetros Clínicos de Sula leucogaster capturados no
Arquipélago de Currais. _________________________________________________ 190
Tabela 37: Perfil geral da massa corporal dos registros de Sula leucogaster, Larus
dominicanus e Fregata magnificens no PROAMAR UFPR. ____________________ 193
Tabela 38: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas no componente Paisagem com as variáveis dos componentes Pesca e
Biodiversidade. ________________________________________________________ 198
Tabela 39: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas no componente Paisagem com as variáveis do componente Saúde. _____ 199
Tabela 40: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas nos componentes Pesca, Biodiversidade e Saúde, com as variáveis dos
componentes Pesca e Biodiversidade. ______________________________________ 200
xxv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Componentes, grupos de variáveis e variáveis específicas selecionadas. ___ 49
Quadro 2: Dados recolhidos pelos pescadores nos cadernos de anotação de dados da
pesca. ________________________________________________________________ 59
Quadro 3: Dados registrados no Caderno de campo para captura de aves associadas aos
ecossistemas florestais___________________________________________________ 69
Quadro 4: Matriz das médias dos valores que indicam grau de interação entre as variáveis
com os componentes do modelo. __________________________________________ 201
Quadro 5: Matriz das 10 variáveis que obtiveram maiores médias nos valores que indicam
interação entre os componentes do modelo. _________________________________ 202
Quadro 6: Matriz que apresenta as 10 variáveis que obtiveram os maiores valores dentro
de cada componente do modelo. __________________________________________ 203
1
A SAÚDE E SUAS RELAÇÕES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARANÁ
1 INTRODUÇÃO, HIPÓTESE e OBJETIVOS
A aceleração nos processos de desenvolvimento, a maior demanda por recursos
naturais, e um maior adensamento populacional em centros urbanos são tendências
globais. Suprir os recursos necessários para uma população crescente, que atinge quase
sete bilhões de pessoas, tem gerado uma pressão extraordinária sobre os ambientes
naturais. Hails, et al. (2008) consideram que, caso essa tenncia não se reverta, em
meados de 2030, será necessário duas vezes a capacidade de suporte do planeta, para
sustentar as atividades humanas.
Globalmente os ecossistemas estão sujeitos a diferentes formas e intensidades de
pressão antrópica, diretas ou indiretas. O crescimento e o adensamento populacional
humano são acompanhados por mudanças na composição de todas as comunidades
biológicas, tanto em centros urbanos como nos hábitat naturais. Essas comunidades
bióticas se mantêm em constante mudança, e nelas se inserem as pessoas, animais e
plantas domésticas e selvagens, além de uma diversidade extraordinária de
microrganismos. As mudanças ocorrem constantemente, tanto em sistemas naturais
quanto antrópicos, contudo, podem ser positivas, quando as mudanças promovem um
realce, ampliando ou rejuvenescendo o ecossistema, ou negativa quando as mudanças
excedem a resiliência do ecossistema (TRESS e TRESS, 2008).
Contudo, a situação de adensamento das populações humanas e animais,
acrescidas de mudanças expressivas em fatores abióticos dos sistemas, como alterações
na qualidade do ar, água, condições de umidade, temperatura e radiação eletromagnética
e outros componentes estruturais geram severas mudanças nos processos ecogicos,
que se estabelecem entre os elementos das comunidades biológicas. O
desbalanceamento dos processos ecológicos leva a um aumento significativo do risco do
surgimento de doenças, que podem se manifestar em qualquer um dos componentes
biológicos dessas comunidades (DASZAK e CUNNINGHAM, 2002).
2
Diferentes abordagens atuais sobre as relações entre a saúde e ambiente
compartilham da ideia comum de que muitas das doenças da atualidade estão associadas
às mudanças nas relações ecológicas entre as espécies, o que ocorre em consequência
de rápidas e severas mudanças de origem antrópica no ambiente. Esses ambientes, ou
ecossistemas, constantemente expostos a agentes estressores externos e perturbações
internas tendem a se tornam menos saudáveis, gerando altas prevalências de doenças
nos grupos bióticos que o compõe (TABOR, 2002; COSTANZA, NORTON e HASKELL
1992; MANGINI e SILVA 2007; RAPPORT 1998; KOCH, 1996).
Atualmente, todas as comunidades biológicas estão sujeitas a um maior risco de
surgimento de doenças, o que é evidenciado por situações com o declínio global das
populações de anfíbios e agentes polinizadores, proliferação de algas tóxicas e o
surgimento de doenças infecciosas emergentes, como Hantavirose, Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SARS ou Pneumonia Asiática), e outras sendo observadas em
vários grupos taxonômicos (EPSTEIN, 2002; DASZAK e CUNNINGHAM, 2002). Sobre as
relações atuais entre saúde e biodiversidade deve se considerar que as atividades
humanas, reduzindo a diversidade biológica, e outros distúrbios antrópicos têm
consequências, sobretudo, para a distribuição das doenças infecciosas (CHIVIAN, 2002).
Assim, a partir do momento que os seres humanos passaram a ser uma variável muito
importante nos ecossistemas, o entendimento da capacidade de resposta do ambiente
requer a consideração também das atividades antrópicas (TROSPER, 2002). Bem como,
a importância emergente das zoonoses reforça a necessidade de um melhor
entendimento sobre relações epidemiológicas entre animais e pessoas (TABOR et al.,
2001; DASZAK e CUNNINGHAM 2002; TABOR, 2002; EPSTEIN, 2002).
Os sistemas de saúde, vigilância epidemiológica e sanitária de maneira geral não
estão adaptados para responder as novas ameaças à saúde, originadas pelas mudanças
ambientais. O manejo dos problemas atuais de saúde, tanto de pessoas quanto de
animais, requer mudanças nos modelos de profilaxia e vigilância, incorporando conceitos
atualizados de epidemiologia da paisagem e medidas integradas de manutenção da
saúde pública e animal, abordando as inter-relações entre espécies domésticas e
selvagens. Bem como uma abordagem integrada das relações entre biodiversidade e
saúde (GARRETT, 1994; EPSTEIN, 2002; ELSE e POKRAS, 2002; MANGINI e SILVA,
2007).
No que se refere aos aspectos da conservação da diversidade biológica, o litoral
paranaense possui atributos positivos, como extensas áreas de remanescentes florestais,
3
de relevante importância, e uma presença expressiva de unidades de conservação
abrigando uma grande diversidade de fisionomias vegetais e de espécies da fauna. Bem
como, áreas prioritárias para a conservação de aves marinhas, devido à presença de
sítios de reprodução de espécies coloniais, e áreas de alimentação importantes para aves
costeiras (KRUL, 1999). Adicionalmente, a constante atividade local de pesca de arrasto
do camarão e a disponibilidade de rejeitos proveniente desta pesca têm se mostrado
importante variável na estruturação e dinâmica de populações de aves marinhas no
Estado (KRUL, 1999; KRUL, 2004).
No Estado do Paraná a atividade de pesca é considerada, principalmente, como
artesanal ou semi-industrial, desenvolvida por uma frota composta, em grande parte, de
embarcações de pequeno a médio porte, sendo bastante direcionada à arte do arrasto
para captura de camarão (ANDRIGUETTO FILHO, 1999). A maior parte da atividade
pesqueira é conduzida por pescadores artesanais, que se distribuem em diferentes
comunidades ao longo da costa e no interior dos estuários. Em relação ao número de
comunidades pesqueiras presentes no litoral do estado indícios do desaparecimento e
de forte redução de uma parcela representativa delas. Esse fenômeno demográfico
parece estar associado à localização mais afastada dos pólos urbanos e da margem do
estuário. É tamm possível reconhecer diferenças marcantes entre as comunidades
remanescentes, demonstradas por aspectos relacionados à demografia, ao caráter
urbano ou rural, aos sistemas técnicos, à comercialização e a presença de agricultura
(ANDRIGUETTO FILHO, 1999).
A pesar da expressividade da pesca do camarão, a pesca no Paraná conta
também com uma diversidade adicional importante de recursos explorados, onde são
empregados sistemas e técnicas de pesca variadas. Reconhecer que diferentes
comunidades utilizando esses recursos leva a considerar que há tamm diferentes
formas de interação com o ambiente e, por consequência, emprego de diferentes práticas
materiais, as quais influenciam a evolução dos sistemas socioambientais como um todo.
Assim como, a utilização dos equipamentos de pesca tem caráter cíclico, o que ocorre
devido à disponibilidade temporal de recursos pesqueiros, associada aos interesses dos
próprios pescadores na escolha das espécies-alvo. Cada comunidade pesqueira possui
características próprias, explorando o ambiente em forma distinta das outras (ROBERT,
2008). A interação entre as comunidades de pescadores, suas práticas materiais sobre
ambiente e os recursos que utilizam cria uma paisagem particular. Nas vilas de
pescadores as interações entre a sociedade e o ambiente, bem como os padrões de
4
saúde e biodiversidade podem ser evidenciados, servindo como uma ―unidade de análise
das relações entre sociedade e natureza, dentro desses sistemas socioambientais.
A região de Superagui, e também o vale do rio dos Patos, representam as
melhores oportunidades à conservação da natureza no litoral do Para(ANDRIGUETTO
FILHO e MARCHIORO, 2002). A região de Superagui está inserida em uma região de
baixa ocupação humana, baixo potencial agro-extrativista e agricultura incipiente. A
pressão antrópica em geral é baixa e a atividade econômica predominante da população
é a pesca artesanal. O ambiente natural se encontra bem preservado e a região tem alta
significância à proteção da biodiversidade (ANDRIGUETTO FILHO e MARCHIORO,
2002).
Nesse ambiente em particular se destaca o Parque Nacional do Superagui, uma
unidade de conservação criada em 1989. Nela estão estabelecidas em suas áreas
periféricas e mesmo dentro da unidade de conservação, mais de dez comunidades de
pescadores artesanais, com grande variação em tamanho e no perfil nas atividades de
pesca e extrativismo. Entre estas comunidades se destaca a da Barra do Superagui, a
maior delas, situada na área de influência direta do Parque. Esta apresenta crescimento
populacional e uma transformação da pesca no sentido de uma maior inserção no
mercado. Na mesma unidade de conservação tamm se destaca a comunidade da Barra
do Ararapira, que atualmente encontra-se dentro dos limites do Parque, é
significativamente menor e geograficamente mais isolada (ANDRIGUETTO FILHO e
MARCHIORO, 2002; VIVEKANANDA, 2000 e 2001).
Nessas vilas de pescadores as práticas materiais, que se destinam à utilização de
diferentes recursos naturais, podem servir como ponto de observação inicial para se
evidenciar as interações das comunidades com o ambiente, o que pode ser feito por meio
da análise de quatro componentes desses sistemas, denominados: Paisagem, Pesca,
Biodiversidade e Saúde. A seleção desses componentes possibilita uma avaliação
disciplinar de aspectos particulares da realidade dos sistemas socioambientais em estudo,
ao mesmo tempo em que cria também as condições necessárias para integrar os
resultados dessa avaliação, promovendo posteriormente uma análise interdisciplinar de
como determinada prática ou variável contribui na constituição desses sistemas.
Assim, essas comunidades pesqueiras tradicionais do Litoral do Paraná, podem ser
entendidas como modelos de sistemas socioambientais, onde neles pode ser observada a
integração de diversos aspectos da saúde, da biodiversidade, da pesca e da paisagem.
Por se apresentaram como núcleos populacionais inseridos juntamente a um parque
5
nacional, implantado para manutenção da biodiversidade, um melhor entendimento das
relações entre sociedade e ambiente nessas comunidades se faz necessária até mesmo
para efeitos de planejamento da própria unidade de conservação.
Dessa forma, esse trabalho pretendeu criar um modelo de análise, aplicá-lo e
demonstrar como se apresentaram algumas das importantes interações entre a sociedade
e a natureza em um ambiente representado por comunidades de pescadores artesanais
no litoral do Paraná, mais especificamente as comunidades do Ararapira e do Superagui.
Para tanto se assumiram as hipóteses e objetivos apresentados nos tópicos a seguir.
1.1 Hipótese de estudo
―As relações entre Saúde, Biodiversidade, Pesca e Paisagem o influenciadas
pelas práticas materiais de maneiras distintas, em diferentes comunidades pesqueiras
artesanais, e podem ser reconhecidas, aferidas e representadas por modelos que indicam
as interações e a intensidade dessas relações‖
1.2 Objetivo Geral
"Identificar e caracterizar parâmetros relacionados à Pesca, à Biodiversidade, à
Paisagem e à Saúde e reconhecer relações entre estes componentes a partir de modelos
que representem as influências das práticas materiais em duas comunidades de
pescadores artesanais do litoral do Paraná".
1.3 Objetivos Específicos
1.3.1 Objetivos relativos à avaliação da paisagem
Determinar o tamanho das comunidades pesqueiras foco deste estudo, tanto em
número de pessoas quanto em relação à ocupação de área;
Caracterizar as moradias em relação ao material utilizado na construção, à
distância entre elas e ao aspecto geral;
6
Identificar as vias de acesso às duas comunidades pesqueiras, determinar as
distâncias até os centros urbanos de referência e tempo médio de deslocamento
para acessá-los;
Avaliar a disponibilidade de serviços e o fluxo de visitantes / turistas nas duas
comunidades pesqueiras;
Caracterizar a vegetação nas duas vilas foco do estudo e reconhecer outras
características físico-geográficas, bem como buscar evidências de trilhas, de
extrativismo vegetal e de caça de animais;
Identificar os meios de transporte presentes nas duas comunidades pesqueiras, a
origem e a qualidade da água para uso doméstico, a disponibilidade de serviços de
comunicação, de lazer e de saúde;
Identificar e quantificar a presença de resíduos sólidos nas duas comunidades
pesqueiras, bem como, avaliar a estrutura de saneamento e destino de efluentes
residenciais;
Identificar impactos de efluentes sobre o ecossistema nas duas comunidades
pesqueiras;
Avaliar o perfil da frota pesqueira nas duas comunidades de pescadores artesanais
foco do estudo.
1.3.2 Objetivos relativos à avaliação da pesca
Registrar e quantificar a utilização de artes de pesca praticadas em duas
comunidades de pescadores artesanais do litoral do Paraná;
Identificar e quantificar os recursos pesqueiros explotados em duas comunidades
de pescadores artesanais do litoral do Paraná;
Avaliar a sazonalidade de utilização dos recursos pesqueiros explotados e
quantificar o esforço de pesca direcionado a cada recurso;
Determinar o destino da produção pesqueira nas duas comunidades estudadas;
Avaliar a produção de rejeitos de pesca nas duas comunidades de pescadores
estudadas e extrapolar os índices para toda a frota paranaense;
Identificar impactos decorrentes da produção de rejeitos na costa paranaense.
1.3.3 Objetivos relativos à avaliação da biodiversidade
7
Determinar a riqueza e a abundância relativa de aves associadas a ecossistemas
florestais em duas comunidades de pescadores artesanais e em uma área controle
no litoral do Paraná;
Agrupar as espécies de aves associadas a ecossistemas florestais registradas nas
comunidades pesqueiras e área controle em guildas;
Caracterizar as comunidades de aves associadas ao ambiente de praia e
plataforma continental interna em relação ao perfil de interação com a pesca;
Identificar as principais espécies de aves que interagem com a pesca na costa
paranaense e caracterizar as dietas e aspectos da reprodução.
1.3.4 Objetivos relativos à avaliação da saúde
Avaliar a presença e as condições de acesso aos serviços de saúde, para a
população, em duas comunidades distintas de pescadores artesanais no litoral do
Paraná;
Estimar o tamanho das populações dos animais domésticos e avaliar os
parâmetros de manutenção, condições gerais de saúde e de manejo destes nas
duas comunidades de pescadores artesanais;
Avaliar o estado físico-clínico e o perfil parasitário das aves selvagens, associadas
aos ecossistemas florestais, em duas comunidades de pescadores artesanais;
Determinar o estado físico-clínico de aves associadas ao ecossistema marinho que
interagem com a pesca na plataforma continental interna e avaliar as condições de
massa corporal e massa dos ovos destas no Arquipélago de Currais;
Avaliar o perfil geral dos registros das principais espécies de aves marinhas da
plataforma interna paranaense, recebidas pelo projeto PROAMAR (Projeto de
Estudos e recuperação de aves, Mamíferos e Répteis) do Centro de Estudos do
Mar/UFPR.
1.3.5 Objetivos relativos ao modelo
Desenvolver um modelo de estudo que permita observar variáveis que revelem a
intensidade das interações entre o estado de saúde, o perfil de diversidade
biológica e o perfil das atividades de pesca, em uma paisagem representada por
duas comunidades distintas de pescadores artesanais no litoral do Paraná;
8
Elaborar uma matriz de interação entre os quatro componentes do estudo a partir
da interação entre todas as variáveis;
Identificar as variáveis mais importantes e que melhor refletem as relações dentro
dos componentes específicos do estudo e verificar as interações entre estas.
9
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Saúde, Meio Ambiente e Biodiversidade
As questões de saúde relacionadas ao meio ambiente vêm sendo apresentadas e
debatidas de forma mais intensa a partir de 1990, o que acontece de forma concomitante
com uma série de eventos onde prejuízos à saúde de populações de animais e plantas,
bem como de populações humanas, se mostraram fortemente correlacionados com a
crise global da perda de diversidade biológica, ou outros impactos ambientais decorrentes
das atividades antrópicas sobre os ecossistemas (GARRETT, 1994 passim; DASZAK,
CUNNINGHAM e HYATT, 2000; AGUIRRE et al. 2002 passim; MANGINI e SILVA, 2007).
A sociedade globalizada está apenas começando a compreender as conexões entre
saúde do ecossistema, saúde humana e saúde animal frente à situação atual de
mudanças globais em grande escala e da crescente influência em todo o planeta dos
efeitos negativos das atividades antrópicas sobre os ecossistemas. Uma dentre cinco
preocupações da sociedade em relação à saúde humana tem causa ambiental (SOULÉ,
2002). Com o crescimento sem precedentes da população, a consequente pressão sobre
os recursos do planeta e a globalização econômica, os regimes ecológicos do planeta têm
experimentado mudanças dramáticas, manifestadas por recentes consequências para a
saúde global (SOULÉ, 2002). Enquanto as mudanças no ambiente permanecerem
aceleradas e contínuas, os padrões das doenças e seus efeitos na saúde das populações
humanas e animais, tamm se manterão em contínua alteração (ELSE e POKRAS,
2002). Assim, a série de eventos, representados pelo surgimento de doenças e de
perturbações sobre a saúde dos ecossistemas, disseminados por diferentes áreas do
planeta nas últimas três décadas, tem sido entendida como uma crise global da saúde
(GARRETT, 1994 passim; AGUIRRE et al. 2002 passim).
Contudo, a interdependência entre saúde e ambiente não foi identificada como uma
questão relevante apenas no período atual, em diferentes regiões do planeta e em
períodos históricos variados essa relação entre saúde e ambiente foi ressaltada. De fato,
a percepção de que a saúde está ligada às relações do homem com o meio ambiente faz
parte do senso comum, e figura em diferentes filosofias médicas e de saúde coletiva,
10
desde a antiguidade (NAZARENO, 1999). Percepções focadas em causalidades externas
ou no desequilíbrio entre elementos constituintes do organismo foram ressaltadas por
diferentes culturas. Na cultura médica ocidental a maior influência destes pensamentos se
deve a Hipócrates que, segundo Nazareno (1999), desenvolveu a ptica clínica com
cuidadosas observações da natureza. No pensamento Grego a saúde era dada por um
estado de harmonia entre os elementos constitutivos do corpo, e a doença resulta do
desequilíbrio desses constituintes, como resultante de fatores e influências externas.
Hipócrates desenvolveu seus princípios terapêuticos buscando restabelecer o reequilíbrio
do organismo, usando o princípio da contraposição entre elementos. O pensamento de
Hipócrates também reconhecia a grande importância do ambiente sico, conferindo à
influência dos ventos, das águas, da posição das cidades, das estações do ano, entre
outros fatores, como importantes aspectos para a aparição e o curso das epidemias.
Deixando claro que a percepção existente na época era de que as agressões do ambiente
natural provocam reações no homem, produzindo doenças (NAZARENO, 1999).
Ao final do século XVIII, depois da Revolução Francesa, outra percepção,
relacionada ao ambiente social passa a fazer parte da discussão sobre saúde. A
concepção de causa social para o surgimento das doenças se destaca no meio médico,
relacionando o aparecimento de doenças às condições de vida e trabalho das
populações. Essa abordagem associada ao desenvolvimento das ciências sociais permite
o surgimento da medicina social, que atribuiu uma origem social às doenças, substituindo
então a importância do ambiente natural, pelo ambiente social, para a explicação da
causalidade das doenças (NAZARENO, 1999).
Contudo, na segunda metade do século XIX, os avanços da microbiologia e os
trabalhos de Henle, Pasteur e Koch (que ressaltam que a maior parte das doenças tem
um agente etiológico e uma causa identificável) criam um ambiente científico e acadêmico
que alterou profundamente o pensamento e a prática médica. As doenças passam a ser
vistas como disfunções objetivas, podendo ser perfeitamente diagnosticadas e reparadas.
Essa abordagem, representada por uma relação quase direta de causa e efeito entre a
presença do agente patogênico e o surgimento da doença, reduzem significativamente,
da prática e do pensamento médico, a relevância das relações entre saúde e meio
ambiente (NAZARENO, 1999). Em muitos campos das atividades ligadas a saúde, dentro
da medicina humana e da medicina veterinária, esse posicionamento permanece ainda
predominante na prática diagnóstica e terapêutica, com exceções em algumas áreas
específicas das atividades médicas.
11
Contudo a abordagem conjunta do ambiente e da saúde não foi totalmente
eliminada do pensamento médico, e voltou ser discutida com mais propriedade, seguindo
os moldes da ciência moderna, a partir do início de século XX, fundamentados por
estudos epidemiológicos como os apresentados por Gordon, 1920 (apud NAZARENO,
1999) que apresenta o modelo epidemiológico ecológico, composto por uma tríade onde o
agente, o hospedeiro e o meio ambiente devem estar em equilíbrio. Posteriormente, a
escola soviética de epidemiologia também contribui para essa abordagem com os
trabalhos de Evgeny N. Pavlovsky representados pela Teoria da Nidalidade das Doenças
(1939) e pela Epidemiologia da Paisagem (1964) (LEVINE, 1966), que demonstram a
importância de se analisar características físicas do hábitat, como clima, altitude, latitude,
e aspectos geogicos, além de características biológicas do ecossistema, como nicho
ecológico das espécies envolvidas, dinâmica populacional e localização das espécies na
cadeia trófica.
Mais recentemente essas abordagens centradas no estudo dos fenômenos
ecológicos e biológicos foram transpostas para os ramos da medicina ligados as ciências
sociais, como a geografia médica que ressalta que o estudo do enfermo não pode ocorrer
separado do seu ambiente, do biótopo, onde se desenvolvem os fenômenos de ecologia
associados com a comunidade a que esse indivíduo pertence (LACAZ, 1972 apud
PIGNATTI, 2004)
Nesse contexto as ciências veterinárias, que englobam conhecimentos tanto de
saúde animal como humana, seguiram a tendência de pensamento sobre saúde e
ambiente descrita anteriormente. Contudo, a importância das interações entre ambiente e
saúde permaneceu com certa relevância na prática médica veterinária, sendo
considerada em alguns campos fundamental para a manutenção da saúde. Como
exemplo, ressalta-se a medicina de animais selvagens, onde o ambiente e o estresse
decorrente da má adaptação do indivíduo ao ambiente são vistos como pontos
determinantes para o surgimento de doenças infecciosas, traumáticas e metabólicas, bem
como de comportamentos patológicos nos pacientes cativos. Na medicina de animais
selvagens o planejamento e o manejo ambiental são fundamentais para a manutenção da
saúde de animais não domésticos em cativeiro (WALLACH e BOEVER, 1984 passim;
FOWLER, 1986 passim; PACHALY, 1992; PACHALY et al. 1993, CUBAS, CATÃO-DIAS
e SILVA, 2007 passim). Atualmente, essa mesma abordagem que atribui importância
significativa para estresse, decorrente da má interação entre indivíduo e ambiente, como
fator determinante para o surgimento das doenças vem sendo também empregada como
12
referência para o entendimento das enfermidades em populações de animais de vida
livre. Mudanças severas e aceleradas nos padrões de uso do espaço, a fragmentação dos
habitas e outras consequências das atividades humanas sobre os ambientes naturais
geram novas formas de estresse. Estes novos estressores, em associação com a perda
de recursos naturais, a introdução de novos agentes patogênicos e o acúmulo de toxinas
no ambiente alteraram significativamente as relações entre hospedeiros e agentes
patogênicos, aumentando de forma expressiva o risco do surgimento de doenças em
populações selvagens (MUNSON e KARESH, 2002, MANGINI e SILVA, 2007).
A noção de saúde, em geral, é empregada para denotar a vitalidade de indivíduos,
porém pode ser empregada tamm para populações de pessoas, animais e plantas,
sejam domésticas ou selvagens. Atualmente, a saúde (que pode ser entendida como um
estado de balanço dinâmico entre diferentes componentes de um determinado sistema ou
organismo) é analisada sob a ótica de muitas disciplinas, incluindo medicina humana,
saúde blica, epidemiologia, medicina veterinária, toxicologia, ecologia, biologia da
conservação e medicina da conservação (TABOR, 2002). Dessa forma, o estudo da
saúde nos dias atuais compreende as relações entre os componentes de um determinado
organismo ou sistema, abordando uma ampla escala espacial, desde o nível químico e
molecular até as inter-relações ecossistêmicas, como por exemplo, aquelas dadas pelas
mudanças climáticas globais (TABOR, 2002; EPISTEIN, 2002).
A aplicação do conceito de saúde para ecossistemas e paisagens pode ser visto
como uma progressão natural do uso do termo saúde aplicado às populações.
Adicionalmente, estender a noção de saúde para o nível do ecossistema, da paisagem,
ou bacias hidrográficas oferece novas oportunidades para integrar as ciências sociais,
naturais e da saúde (RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). Dentro dessa
abordagem desenvolve-se a teoria e as ferramentas destinadas ao entendimento da
Saúde do Ecossistema apresentada por COSTANZA, NORTON e HASKELL (1992). Essa
abordagem de saúde sobre a funcionalidade do ecossistema é uma resposta ao acúmulo
de evidências de que os ecossistemas dominados pelas atividades humanas se tornaram
altamente disfuncionais (RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). De fato, nessa
abordagem o termo saúde pode ser entendido como uma analogia ao termo
funcionalidade, porém a correlação entre funcionalidade e saúde para o ecossistema
parece válida, pois se fundamenta em um estreito relacionamento entre o funcionamento
dos ecossistemas e a resposta destes frente ao estresse antropogênico. De acordo com
Odum (1988) o estresse sobre os ecossistemas, representado pelas perturbações, pode
13
ser agudo ou crônico, levando às respostas de diferentes naturezas, as quais dependem
da estabilidade de resistência‖ e ―estabilidade de elasticidade do sistema (mais
recentemente denominada como resiliência do sistema). Assim, a associação entre
perturbação (ou estresse) e funcionalidade (ou saúde) fundamenta o conceito de Saúde
do Ecossistema. Essa saúde é determinada então pelo seu grau de organização,
resiliência e vigor, bem como ausência de danos por estresse e a presença de funções
essenciais e atributos essenciais à sustentação da vida. O ecossistema saudável é
definido como aquele que permanece estável e sustentável, mantendo sua organização,
autonomia e resiliência ao estresse ao longo do tempo (RAPPORT, COSTANZA e
McMICHAEL, 1998). Assim, a alta prevalência de doenças em seus componentes é um
dos pontos-chave para indicar o estado de saúde dos ecossistemas. Por sua vez um
ecossistema doente faz com que seja aumentado o risco à saúde dos seus componentes.
Outras características gerais podem ser observadas como: a) retroalimentação positiva
aos agentes estressantes, com rápida recuperação; b) máxima diversidade em espécies
nativas, ocupando todos os níveis tróficos e nichos ecológicos; c) taxas de reprodução
sustentáveis; e d) diversidade genética (HASKELL, NORTON e CONSTANZA, 1992;
RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). Dentro dessa abordagem sistêmica o
termo saúde pode ter diferentes significados como: homeostase; ausência de doença;
diversidade ou complexidade; estabilidade ou resiliência; vigor ou capacidade de
crescimento; e balanço entre componentes do sistema conforme o nível onde a análise da
saúde se insere (COSTANZA, 1992).
A teoria da saúde do ecossistema prevê que sistemas sujeitos a constantes
estressores externos e perturbações internas, decorrentes destes estressores, tornam-se
menos saudáveis. Adicionalmente, o principal indicador de um ecossistema doente é a
alta prevalência de doenças nos grupos bióticos que o come; de forma recíproca, um
ecossistema doente aumenta o risco de saúde destes mesmos componentes bióticos
(RAPPORT, 1989; RAPPORT, 1998).
Outra abordagem de saúde que se refere diretamente ao meio ambiente, e que
merece destaque, é a denominada ―Saúde Ambiental‖. Para a Organização Mundial de
Saúde (OMS), para serviços de saúde pública e para o setor empresarial e industrial esta
denominação se refere mais a um campo operacional da saúde, do que a uma filosofia do
pensamento médico. Para a OMS
1
a área denominada Saúde Ambiental aborda a
1
Em: http://www.who.int/topics/environmental_health/en 28/01/2009.
14
avalião e o controle dos fatores ambientais que podem afetar a saúde, incluindo todos
os fatores físicos, químicos e biológicos, externos a uma pessoa, e todos aqueles que
geram impactos relacionados ao comportamento. Esse campo de ação tem como objetivo
a prevenção de doenças e a criação de ambientes que sustentem a saúde. A OMS, em
suas orientações e documentos, aborda dentro deste contexto principalmente assuntos
relativos à poluição do ar, ambiente infantil, clima, saúde ocupacional, radiação
eletromagnética, qualidade da água e tratamento de resíduos.
A abordagem de Saúde Ambiental da OMS apresenta também a necessidade de
promover o manejo ambiental em prol da saúde dos componentes de um sistema
socioambiental, estratégia que se baseia no pressuposto de que um conjunto de
condições favoráveis, as quais podem ser manejadas, são capazes de promover e
sustentar a saúde (ou o funcionamento adequado) de um determinado sistema. Esse
mesmo pressuposto de que as condições ambientais podem ser manejáveis tamm é
uma das bases da Saúde do Ecossistema proposto por COSTANZA, NORTON e
HASKELL (1992), assim como a orientação para a prática da Medicina da Conservação,
área do conhecimento que tem como metas implantar estratégias para atingir, de forma
global, a saúde ecológica e do ecossistema (KOCH, 1996, TABOR et al., 2001; ELSE e
POKRAS 2002; TABOR, 2002).
O conceito de Saúde do Ecossistema aliado à necessidade de melhor
entendimento da interdependência entre saúde humana e animal, frente aos riscos
crescentes para a saúde dos ecossistemas originou o conceito de Medicina da
Conservação. A qual pode ser entendida com como área do conhecimento que tem como
objetivo promover a saúde de uma forma sistêmica. Isso seria alcançado, inicialmente,
pela junção das ciências da saúde com a ecologia, aplicadas em um amplo contexto
ecossistêmico, onde a saúde humana e animal quando em equilíbrio promovem a saúde
do ecossistema (KOCH, 1996; TABOR, 2002) (Figura 1). Segundo ELSE e POKRAS
(2002) a meta primária da medicina da conservação é promover a saúde ecológica e, por
extensão, a saúde dos ecossistemas e seus habitantes. Meta que, todavia, não deixa
claro em que nível se dá a diferenciação entre a saúde ecológica e do ecossistema.
15
Figura 1: Diagrama conceitual da
interação entre saúde animal, humana e
do ecossistema proposto inicialmente
como base para ações em medicina da
conservação (Ilustrão: Paulo Rogerio
Mangini).
Utilizando o mesmo princípio, de amplas interações ecológicas entre os
componentes bióticos e abticos dos ecossistemas, Mangini e Silva (2007) ampliam a
base teórica original de Medicina da Conservação, propondo que a saúde humana, animal
e vegetal se sobrepõem, pelo menos parcialmente, influenciando-se de forma mútua
contribuindo então para manutenção da Saúde do Ecossistema (Figura 2).
Figura 2: Diagrama conceitual revisado
da interação entre as diferentes esferas
da saúde associadas ao ambiente,
proposto como base para ações em
medicina da conservação (Ilustração:
Paulo Rogerio Mangini).
Com essa ampliação os autores sugerem também que o conjunto de ecossistemas
saudáveis fundamenta um estado mais amplo de saúde, contudo, esse não é denominado
Saúde Ecológica (como proposto por ELSE e POKRAS, 2002), e sim Saúde Ambiental,
que por sua vez abordaria por completo as três esferas de saúde, servindo como base
para sua sustentação e para sustentação de um ecossistema saudável. A saúde do
ambiente, nesse contexto, é explicada como algo dinâmico, em um estado de constantes
alterações autorreguladas, o que significa que os padrões de surgimento de enfermidades
e seus efeitos sobre a saúde humana, animal e vegetal também permanecem dinâmicos e
interdependentes (MANGINI e SILVA, 2007).
16
Analisando a proposta dos autores acima verifica-se que o termo saúde ambiental
é utilizado para definir um estado sistêmico mais amplo da saúde. O que pode ser
entendido como uma extensão do conceito de saúde ecológica, porém nesta extensão a
esfera da saúde ambiental serve como base para a saúde do ecossistema, sendo
também influenciada pelo estado de funcionalidade dos próprios ecossistemas.
Abordagens dessa natureza, onde ocorrem alimentação e retroalimentação,
concomitantemente, entre diferentes níveis hierárquicos de um sistema, tamm
aparecem nas definições de Rapport (1998) sobre saúde do ecossistema, onde o
ecossistema doente aumenta o risco de doença para os seus componentes bióticos e, de
forma recíproca, a alta incidência de doenças nos grupos bióticos prejudica a saúde do
ecossistema.
Dessa forma, os autores julgam ter revisado o conceito de Medicina da
Conservação definindo esse campo como a ciência para crise da saúde ambiental e a
consequente perda da diversidade biológica” a qual deve ser implantada por meio da
“transdisciplinaridade na execução de pesquisas, ações de manejo e políticas públicas
ambientais voltadas à manutenção da saúde de todas as comunidades biológicas e seus
ecossistemas‖. Ressaltando ainda, como principal objetivo desse campo de atividade, a
necessidade de promover pesquisas sobre saúde que contribuam com a manutenção da
diversidade biológica e por consequência da qualidade de vida e da saúde para as
pessoas, espécies domésticas e selvagens, tendo como meta a manutenção de um
ambiente saudável e a plena saúde ecológica (MANGINI e SILVA, 2007).
Com essas abordagens os autores propõem identificar com mais propriedade as
dinâmicas da saúde entre os principais componentes bióticos dos ecossistemas, quando
comparados com o modelo conceitual de Tabor (2002). Adicionalmente, identificam o
posicionamento da esfera da saúde humana, em separado da saúde animal, como uma
escolha institucional que tem como objetivo ressaltar a relevância do componente humano
para estabelecimento e manutenção da saúde do ambiente. Justificando essa escolha
pela necessidade de enfatizar a sociedade humana como precursora das alterações, que
afetam o estado de saúde dos demais componentes dos ecossistemas, bem como o
próprio estado de saúde da sociedade. Enfatizando que as alterações positivas, ou
negativas, sobre o estado de saúde ambiental serão, preponderantemente, decorrentes
das mudanças de atitude desta mesma sociedade humana. Ponto de vista que se justifica
também em consequência da forte pressão que as alterões ambientais,
17
constantemente produzidas pela sociedade, impõem sobre o estado de saúde dos
componentes biológicos dos ecossistemas (MANGINI e SILVA, 2007).
Como crítica a abordagem apresentada pelos autores acima se pode salientar que
institucionalmente o termo saúde ambiental é amplamente empregado também para
definir uma área de atividade composta por normas técnicas e procedimentos
relacionados à saúde coletiva, ou seja, a saúde ambiental como definida pela OMS. No
entendimento dos autores o termo tem outro significado, representando um estado de
saúde, ou funcionalidade, e não uma determinada área normativa, o que pode gerar
conflitos de entendimento sobre a validade do uso do termo, ou a que contexto o termo se
aplica em um determinado momento. Contudo, para a concepção de Mangini e Silva
(2007) o conceito de Saúde Ambiental da OMS, pode fazer sentido operacionalmente,
mas é estritamente antropocêntrico e desconsidera que todos os elementos bióticos de
um determinado sistema estão sujeitos aos mesmos fatores ambientais, em menor ou
maior grau, e que relações de reciprocidade acontecem entre as esferas de saúde animal,
humana e vegetal, interagindo com outras dinâmicas ecossistêmicas e ambientais. Assim,
para que não se perca de vista toda a complexidade das condições de saúde, que podem
afetar simultaneamente animais e pessoas, o conceito de Saúde Ambiental deve ser
ampliado, o que é necessário tanto para a pesquisa quanto para a gestão dos problemas
de saúde, em escala local ou global.
Assim, sistematizando as abordagens apresentadas sobre saúde e ambiente, é
possível observar duas utilizações principais para o termo saúde. A primeira emprega o
termo como parâmetro de sanidade individual, referindo-se à saúde de organismos
biológicos, sejam animais ou plantas. A abordagem da saúde nessa escala emprega
conceitos de medicina, biologia e relações ecológicas, sobretudo as relações entre
hospedeiros e parasitos, bactérias, fungos, vírus ou qualquer outro agente etiológico. A
segunda forma de uso do termo refere-se às abordagens sistêmicas da saúde, nessa
escala o termo é aplicado como medida das condições de funcionalidade de um
determinado ecossistema; ou das relações entre o meio ambiente e os organismos. O
estado de saúde sistêmico pode ser representado, entre outros, por parâmetros como
expressividade, ausência ou presença de relações ecológicas entre diferentes grupos
taxonômicos; ou entre elementos bióticos e abióticos de um sistema; ou pela dimensão do
impacto de substâncias tóxicas sobre os organismos e populações; ou ainda a influência
do clima, qualidade do ar e da água, e das perturbações físicas (como eletromagnetismo,
18
alterações geofísicas) sobre componentes biológicos dos sistemas (Figura 3).
Adicionalmente, em qualquer escala em que se aplique o termo saúde, este se refere a
um estado que pode ser entendido como um balanço dinâmico entre diferentes
componentes de um determinado organismo ou sistema. Nas diferentes abordagens a
saúde aparece como um estado dependente das relações recíprocas entre os
componentes de um determinado sistema, onde a perturbação no balanço e nas
dinâmicas dos componentes de um subsistema (como a saúde animal) perturba o estado
de balanceamento dos demais subsistemas, adjacentes ou correlatos (como a saúde
humana, vegetal ou do ecossistema).
Contudo, de maneira geral, as diferentes abordagens atuais sobre as relações
entre a saúde e ambiente compartilham da ideia comum de que a manifestação das
doenças se em consequência das relações ecológicas entre as espécies, sendo a
ocorrência de doeas fortemente influenciada também pelo estado das relações entre os
elementos bióticos e abióticos que compartilham o mesmo ambiente (COSTANZA,
19
NORTON e HASKELL 1992; KOCH, 1996; RAPPORT 1998; TABOR, 2002; MANGINI e
SILVA, 2007). Outro ponto em comum entre estes autores é que essas relações, as quais
determinam o surgimento das doenças em um dado sistema ecológico ou socioambiental,
hoje se encontram fortemente influenciados por danos sistêmicos decorrentes do
estresse, originado em atividades antrópicas. Como essas abordagens pressupõem a
conectividade e a interdependência da saúde dos diferentes componentes bióticos para
funcionamento harmonioso desses sistemas, sem a análise dessas interações entre os
componentes de um sistema não seria possível prever o comportamento das
enfermidades, ou propor estratégias de manejo e controle para as doenças. Outro ponto
em comum é o aumento do risco a saúde humana frente ao mau estado de saúde, ou
funcionalidade, do ecossistema onde as comunidades se inserem. Finalmente, as
abordagens tamm ressaltam o papel central da sociedade como precursor da saúde
dos ecossistemas e todos seus componentes.
Sobre as relações entre saúde e biodiversidade o ponto inicial que deve ser
considerado é que a crescente atividade humana sobre a base de recursos naturais
perturba a estrutura e a função dos ecossistemas, alterando a diversidade biológica.
Esses distúrbios têm consequências para a distribuição das doenças infecciosas
(CHIVIAN, 2002).
Um importante e pouco reconhecido componente da diversidade são os inúmeros
tipos de hábitat, tanto em paisagens naturais quanto antrópicas. As atividades humanas
podem destruir os elementos constitutivos desses hábitats, ou rearranjar o
posicionamento e as relações de conectividade desses elementos. Mudanças na
constituição dos hábitats podem influenciar de muitas maneiras o risco ou a incidência de
doenças mediadas por vetores (CHIVIAN, 2002).
Existem diversos sinais biológicos das alterações ambientais globais, como o
declínio nas populações de anfíbios e agentes polinizadores, proliferação de algas tóxicas
e doenças infecciosas emergentes em vários grupos taxonômicos. Existem também
muitos sinais das correlações entre as alterações ambientais correntes e mudanças em
fatores sociais, ecológicos e globais (EPSTEIN, 2002).
Neste contexto, a principal ameaça identificada é a destruição de ciclos biológicos
complexos, responsáveis pela manutenção da saúde das espécies e seus ecossistemas.
O que não deve ser visto apenas como um contexto aplicável aos ambientes naturais,
mas tamm a grandes centros urbanos (MANGINI e SILVA, 2007).
20
muitos mecanismos e caminhos plausíveis pelos quais essas alterações
ambientais e sociais podem reduzir a biodiversidade e influenciar o surgimento de
doenças infecciosas. Em geral, o declínio da biodiversidade e os efeitos das mudanças
climáticas no hábitat e na diversidade biológica desestruturam sistemas de controle
biológico importantes, os quais poderiam limitar o aparecimento e dispersão de patógenos
(EPSTEIN, 2002).
De acordo com Epstein (2002) os mecanismos mais importantes para o surgimento
de doenças frente à perda de biodiversidade podem ser originados a partir de mudanças
como: 1) implantação de monoculturas e simplificação de hábitats, que aumentam o
potencial de dispersão de doenças entre cultivos agrícolas e espécies vegetais selvagens;
2) perda de hábitat e invasão humana em áreas selvagens que podem levar ao contato
entre hospedeiros e patógenos antecipadamente ―isolados‖; 3) declínio nas populações
de predadores, o que pode levar ao crescimento exacerbado das espécies-presa, como
pequenos roedores, suprimindo o controle natural das mesmas, possibilitando o
surgimento de pragas‖, ou crescimento de populões carreadoras de patógenos; 4)
desaparecimento de competidores ecológicos (os quais podem ser vetores menos
eficientes para alguns patógenos) o que leva a um aumento na abundância de vetores,
patógenos e sua dispersão; 5) dominância de espécies generalistas sobre as
especialistas, principalmente entre as populações de aves, podendo elevar os níveis de
patógenos (nos generalistas que tendem a ser mais tolerantes), bem como sua dispersão;
6) eventos epidêmicos em populações de vida livre, por si mesmas, causam redução na
diversidade biológica, aumentando a vulnerabilidade do sistema a outras doenças
infecciosas emergentes.
Desenvolvimento da agricultura é uma alteração do ecossistema que pode gerar
profundas consequências para a saúde humana. Mudanças nos padrões de manejo de
animais domésticos podem gerar severas consequências para a saúde pública,
promovendo a emergência ou re-emergência de doenças (CHIVIAN, 2002).
Criões de animais domésticos e animais selvagens são chaves na cadeia da
transmissão de doenças de reservatórios selvagens para as pessoas. O crescimento das
demandas das populações por alimentos aumenta a pressão sobre os recursos naturais,
em locais onde amplas áreas naturais ainda persistem, o comércio de carne de caça tem
sido amplamente implicado na emergência de doenças, com severas consequências
locais ou globais. Viroses como Febre Hemorrágica de Ebola, a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, a Síndrome Respiratória Aguda Severa se tornaram doenças
21
emergentes para os seres humanos em decorrência do comércio de escies selvagens.
Constantemente surtos de Febre Hemorrágica de Ebola, Peste Bubônica, Clostridioses e
outras doenças estão sendo correlacionados com o consumo e comércio de caça
(GARRETT, 1994; CHIVIAN, 2002; XU et al. 2004; KARESH, W.B. et al. 2005; KARESH e
COOK, 2005).
As perturbações no ecossistema podem afetar o risco, a prevalência e a incidência
de agentes infecciosos, diretamente, ou pelo impacto gerado na diversidade de agentes
infecciosos, reservatórios naturais e vetores. Como exemplo, a fragmentação ambiental
nas paisagens Norte Americanas causou a perda de predadores (aves de rapina, coiotes
e serpentes) e competidores do camundongo-de-pés-brancos (Peromyscus leucopus), o
que gerou altas densidades desse roedor nos fragmentos remanescentes. A espécie é um
eficiente vetor para a borreliose causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, atualmente a
doença mediada por vetor mais importante na América do Norte. Adicionalmente,
Peromyscus leucopus é reservatório tamm natural para doenças causadas por agentes
como Ehrlichia sp, Anaplasma sp. Bartonella sp., Babesia sp., Leptospira sp. Francisella
tularensis, Arenavirus e Hantavirus (CHIVIAN, 2002; EPSTEIN, 2002). A ausência de
roedores competindo ecologicamente com Peromyscus leucopus evita que se estabeleça
um efeito diluidor, pelo qual o aumento da diversidade de vetores menos competentes
reduz o risco de infecção para o hospedeiro definitivo (SCHMIDT e OSTFELD, 2001).
Os efeitos da biodiversidade sobre a saúde podem estar mediados por relações
ecológicas lineares ou complexas. Grande diversidade de espécies em populações de
vertebrados pode representar um importante efeito tampão contra o risco de surgimento
de doenças em seres humanos, devido ao efeito de diluição. Para muitas zoonoses o
reservatório natural mais eficiente para disseminação da doença será o organismo mais
abundante, pois está disponível para a maior proporção da população do agente
patogênico. Em geral os reservatórios de alta eficiência podem ser espécies generalistas,
como alta plasticidade adaptativa, e estão presentes em comunidades com alta ou baixa
diversidade biológica. Contudo, em comunidades com baixa diversidade (como ambientes
alterados e antrópicos) tendem a desenvolver populações maiores, amplificando o
potencial patogênico de um agente infeccioso. Por outro lado, quando esses hospedeiros
se encontram em comunidades biológicas complexas com alta riqueza de espécies,
tendem a formar populações menores, e ocorre o efeito de diluição. Em comunidades
ricas em espécies, muitos dos hospedeiros alternativos (―diluentes‖), podem estar
disponíveis, mas não são eficientes em completar o ciclo biológico da doença, reduzindo
22
a presença do agente patogênico no ecossistema, pois o agente patonico não dispõe
de um grande mero desses hospedeiros altamente eficientes para se disseminar, ou
amplificar seu potencial de transmissão (CHIVIAN, 2002).
O aumento significativo da importância das doenças emergentes, das quais cerca
de 70% são zoonoses, reforça a necessidade de entendimento sobre as estreitas e
inconstantes relações epidemiológicas entre animais e pessoas, principalmente quando
se encontram inseridos em um mesmo ecossistema doente (DASZAK e CUNNINGHAM
2002; TABOR; 2002; EPSTEIN; 2002).
Epidemias acontecendo em diferentes ambientes, atingindo diferentes grupos
taxonômicos passaram a ser observadas com maior frequência e fortaleceram o conceito
de que as doenças podem ser grandes obstáculos à manutenção da diversidade biológica
e do funcionamento dos ecossistemas (MANGINI e SILVA, 2007). Eventos de mortalidade
em massa, nos anos 80 e 90, observados na América do Norte, Rússia e Europa,
atingiram diferentes populações de mamíferos marinhos, causando mortalidade em focas
(Phoca vitulina, Phoca sibirica e Phocoena phocoena) e golfinhos (Delphinus delphis,
Tursiops truncatus, Lagenorrhynchus albirostris e Stenella coeruleoalba), os eventos
foram provocados por tipos diferentes de morbilivírus, pertencentes à família
Paramyxovidae. Análises moleculares identificaram dois dos agentes patogênicos como
altamente correlacionadas aos vírus da Cinomose Canina e ao Sarampo Humano
(GARRETT, 1994; DUIGNAN, 1999). A entrada desses agentes patogênicos no ambiente
aquático se deu a partir de rotas de transmissão tendo origem em agentes virais
terrestres. Os eventos demonstraram a suscetibilidade e fragilidade desse grupo de
mamíferos frente a novos agentes infecciosos, vindos de hospedeiros terrestres, e estão
intimamente correlacionados com alterações ambientais que determinaram contato mais
estreito entre animais domésticos e selvagens (MANGINI e SILVA, 2007).
Populações de anfíbios têm desaparecido ou entrado em declínio na Europa, Ásia,
Austrália, Américas do Norte, Central e do Sul. Diversas causas podem estar relacionadas
a esse desaparecimento global, incluindo, entre outras alterações ambientais, o impacto
de agentes químicos, metais pesados e pesticidas, bem como a ocorrência de
enfermidades fúngicas, bacterianas, virais e parasitárias. Infecções por fungos e
nematóides se mostraram como ameaças diretas à saúde dos indivíduos. Agentes tóxicos
foram identificados como fonte de alterações metabólicas e fisiológicas (DASZAK et al.
1999; DIERAUF, 1999). Contudo, entre diversas causas possíveis nenhuma foi
identificada em definitivo como responsável pelo declínio global de anfíbios, fato que
23
sugere causalidade múltipla, ou soma de múltiplos estressores ambientais sobre esse
grupo de vertebrados (MANGINI e SILVA, 2007).
A Síndrome Respiratória Aguda Severa [SARS] ou Pneumonia Asiática‖,
identificada em 2002, teve como origem a província de Guangdong, no interior da China,
e atingiu grandes centros urbanos no Oriente, como Hong Kong e Hanói e transpôs o
globo terrestre atingindo o Canadá em uma pida disseminação. Identificou-se o agente
causador da síndrome como um coronavírus (SARS-CoV) até então desconhecido e o
relacionado a qualquer coronavírus conhecido de pessoas ou animais. O agente foi
isolado em espécies selvagens, principalmente em carnívoros como viverrídeos (Paguma
larvata), canídeos (Nyctereutes procyonoides) e mustelídeos (Melogale moschata), ou
mais recentemente morcegos (Rhinolupus sp.). Porém, o hospedeiro reservatório do
SARS-CoV ainda não foi identificado. Estudos epidemiológicos indicaram que a doença
originou-se nos centros de comércio de fauna em Guangdong, pela manipulação de
animais vivos ou abatidos, situação onde o vírus conseguiu adaptar-se ao novo
hospedeiro humano, desencadeando uma enfermidade de caráter tipicamente emergente
(XU et al. 2004, LI et al. 2005; LAU et al. 2005). A situação que levou ao surgimento e
dispersão da SARS demonstra principalmente que a intensificação do uso dos recursos
naturais da fauna selvagem acentua a possibilidade de que até mesmo agentes
etiológicos bastante adaptados a seus hospedeiros, sejam capazes de transpor seus
nichos ecológicos originais e assumir um novo caráter patogênico (MANGINI e SILVA,
2007). As situações rapidamente descritas acima demonstram que problemas locais
podem se tornar ameaças globais, e que a saúde humana e a estabilidade dos
ecossistemas estão estreitamente relacionadas.
Dessa forma, o vínculo das doenças humanas emergentes com as zoonoses
justifica os investimentos na monitoração e no controle de doenças e agentes infecciosos
em populações de animais selvagens. O entendimento de relações ambientais e
ecossistêmicas entre animais e seus patógenos sejam mais simples ou complexas é
fundamental, tanto na manutenção da diversidade biológica quanto da saúde coletiva.
Relações ecológicas relativamente lineares, como o pelo efeito da sobrepesca, em água
interiores, reduzindo as populações de peixes predadores de moluscos, podem resultar
no aumento de moluscos hospedeiros e por consequência dos casos de esquistossomose
(CHIVIAN, 2002).
Outras vezes as relações ambientais podem ser mais complexas e requerem
indicadores biológicos que demonstrem processos complexos. O uso de aves marinhas
24
como sentinelas das condições dos ecossistemas é amplamente empregado. Esse grupo
de aves é utilizado muitas vezes para monitorar grandes perturbações nas cadeias
alimentares aquáticas, provocadas, por exemplo, por contaminação química, sobrepesca,
ou poluição física particulada. Tamm por serem animais que se deslocam por grandes
distâncias podem servir para monitorar condições locais, ou eventos que acontecem a
grandes distâncias das colônias onde descansam e reproduzem. As aves marinhas
também indicam padrões de estresse ambiental por meio da redução no esforço, ou
sucesso reprodutivo, bem como na sobrevivência de filhotes. Demonstrando respostas
dramáticas às mudanças ambientais, como eventos de mortalidade e grande depressão
populacional, ou ainda efeitos fisiológicos sutis, que possam ser usados para rastrear a
saúde do ecossistema, ou monitorar a saúde da população (MALLORY et al., 2010;
ROBERTSON, REED e GILCHRIST, 2001; WAYLAND, 2002, HEBERT et al., 2002,
HEBERT et al. 2008; BRETON, FOX, e CHARDINE, 2008).
A generalização mais importante sobre as relações ecológicas entre biodiversidade
e doenças é que as interações negativas entre parasitos [agentes patogênicos] e
hospedeiros tornam-se menos deletérias ao longo do tempo, caso o ecossistema seja
estável e diverso o suficiente para permitir adaptações recíprocas. Em ecossistemas
experimentais, populações de parasitos e hospedeiros, assim como de presas e
predadores, de um modo geral oscilam violentamente, e com alguma probabilidade se
extinguem (ODUM, 1988).
Diante da complexidade das interações entre ambiente, saúde e biodiversidade,
apresentadas acima a saúde da população humana deve ser entendida também dentro
de conceitos ecológicos, e compreendida como uma expressão da capacidade do
ambiente em sustentar a vida. Consequentemente, a saúde da população se torna um
importante critério de sustentabilidade, seja social ou ecológica (RAPPORT, COSTANZA
e McMICHAEL, 1998).
Nazareno (1999), se referindo as comunidades humanas, ressalta que: o estado de
saúde determina a capacidade das populações e comunidades durarem e se
reproduzirem no tempo, sendo a gestão da saúde dos membros de uma comunidade uma
condição para sua perpetuidade, a qual se realiza segundo condições sociais e biológicas
com um impacto direto qualitativo e quantitativo sobre a estrutura da população. É
interessante identificar que o pensamento enfatiza a saúde como fator determinante para
a existência e perpetuação das populações, ou comunidades, e que a gestão da saúde
25
individual leva a manutenção da saúde coletiva. Os termos população e comunidade, bem
como a constatação de que a sobrevivência destas populações depende da saúde
coletiva poderiam ser perfeitamente aplicados para qualquer população animal ou vegetal,
ou aplicados tamm às comunidades biológicas complexas, o que aborda em última
instância também os sistemas socioambientais.
Contudo, ainda que em princípio, as relações entre agentes patogênicos e seus
hospedeiros seja mediada por relações ecológicas e comportamentais, abordagens que
compreendem apenas as relações de fundo etológico ou ecológico não alcançam explicar
as inter-relações entre saúde humana e o ambiente, sendo a esfera da saúde ambiental
coletiva, muito mais complexa. Nesta esfera se inserem as interações sistêmicas
ambientais e ecológicas, que se impõem diretamente sobre os indivíduos, e tamm
interações dadas por questões culturais e econômicas (individuais ou coletivas), estando
a saúde coletiva sujeita ainda às estratégias de desenvolvimento regional e políticas
públicas setoriais. Assim, deve-se considerar que a análise da saúde ambiental, deve
abordar também a realidade das práticas da sociedade.
Assim, em relação à saúde humana, quando se analisa um indivíduo, este deve ser
percebido como um hospedeiro, sensível ou resistente, mas a saúde no plano coletivo é
um fato social, resultado da interação entre o homem e o seu meio, e neste plano coletivo
a expressão de um fator patogênico é modulada pelos comportamentos dos integrantes
da comunidade (NAZARENO, 1999). Adicionalmente, apesar do fator comum, para o
surgimento de novas doenças, estar associado às alterações ambientais, na verdade, são
os processos sociais que desencadeiam as mudanças nos ecossistemas e, portanto,
precisam ser avaliados como fatores predisponentes para a emergência ou re-emergência
de doenças infecciosas (PATZ et al. 2004). Da mesma forma, quando se avaliam e
monitoram as condições de saúde de populações de animais selvagens, é necessário
abordar as áreas naturais como componentes de uma matriz. Bem como visualizar as
alterações internas aos fragmentos florestais, de um determinado local, como
consequências das alterações sócio-econômicas nas áreas adjacentes, pois estes são
pontos imprescindíveis ao entendimento da dinâmica da saúde das comunidades
humanas, de seus animais e plantas domésticas, e das espécies selvagens (MANGINI e
SILVA, 2007)
26
Analisando a discussão acadêmica sobre saúde ambiental, dentro da saúde
pública, Freitas (2007) ressalta as duas abordagens preponderantes sobre o tema na
América Latina. A primeira, mais fundamentada nas ciências naturais, segue os
pensamentos de Koch (1996) e Rapport (1998). Na interpretação de Freitas, nesta linha o
foco da análise reside em identificar e medir sinais de mudanças em um sistema e prever
ou determinar os riscos atuais e futuros para a saúde dos seus componentes, propondo
medidas de manejo com bases técnicas, apoiadas na avaliação formal de dados sobre
ecologia das enfermidades. Ficando a elaboração de propostas ou a tomada de decisão
centralizada nos dados técnicos e nos profissionais envolvidos. A segunda linha de
atuação, mais ligada aos métodos das ciências sociais, segundo Freitas, estaria
fundamentada nos trabalhos de Kay et al. (1999) e Waltner-Toews (2004) onde a
estratégia está baseada no desenvolvimento de abordagens participativas e
contextualizadas com as realidades percebidas localmente, que se propõe a entender e
buscar estratégias de manejo que permitam lidar com as mudanças ambientais de um
dado local, e evitar impactos sobre a saúde das comunidades que habitam essas áreas.
Esta abordagem seria composta por avaliações do estado de saúde dos componentes
dos sistemas, seguida da tomada de decisão baseadas em percepção popular e
processos participativos, auxiliados pelos profissionais envolvidos.
As duas abordagens ressaltadas por Freitas (2007), não devem ser avaliadas como
antagônicas, pois deveriam ser entendidas como complementares. Estratégias
fundamentadas apenas em discussões participativas e contextualizadas, fundamentadas
pela visão local do problema, podem se mostrar ineficientes por falhas no processo de
entendimento sobre as interações ecológicas entre agentes patogênicos, hospedeiros e
as condicionantes ambientais para o estabelecimento da doença. Por outro lado,
estratégias baseadas apenas no entendimento ecológico da doença, podem se mostrar
ineficientes, pois de uma maneira geral não abordam particularidades socioambientais, as
quais se mostram fundamentais para a implantação de estratégias de manejo e controle
das doenças. Assim as duas abordagens devem ser aplicadas concomitantemente, tanto
na promoção da saúde humana, quanto em campanhas de sanidade animal e vegetal,
bem como na implantação de estratégias de saúde para o ecossistema, pois todas
envolvem parcelas da sociedade humana. Dessa forma, o papel fundamental da
sociedade na manutenção e perpetuação dos processos de modificação do ambiente
exige que, para o entendimento e gestão dos processos biológicos que sustentam a
27
saúde, haja tamm uma análise das práticas materiais e processos sociais que
influenciam a saúde dentro de um sistema socioambiental.
2.2 Biodiversidade e a Região Costeira
A zona costeira é considerada uma região de transição entre ecossistemas
marinhos e terrestres, fato que imprime complexidade e sensibilidade a este ambiente. No
Brasil essa zona abriga elevada biodiversidade, tanto por compartilhar da riqueza de
espécies das águas marinhas rasas, quanto por abrigar elementos da Floresta Atntica.
Nessa área, de grande diversidade biológica, não é raro encontrar espécies ainda
desconhecidas da ciência. De acordo com Pacheco e Bauer (1999), os ecossistemas
associados à Floresta Atlântica constituem um importante centro de endemismo para
diversos grupos de seres vivos.
Tendo por base os dados disponíveis em IPARDES (2001), que apresenta
informações referentes à APA de Guaraqueçaba e, por conseguinte, oferecem um
referencial amplo desta riqueza, englobando desde ambientes sob influência marinha a
aqueles situados acima de 1.000 metros acima do nível médio do mar. Entre os anfíbios
são encontradas 37 espécies o que representa quase 70% do total registrado para todo o
Estado (MACHADO, 2004). Em relação aos répteis, o número de espécies chega a 50, o
que representa 32,47% do registrado para o Estado. O grupo mais rico em espécies é o
das aves, com 341 espécies citadas para a área da APA, o que representa
aproximadamente 45% do total citado para o Paraná (SCHERER-NETO, STRAUBE e
BORNSCHEIN, 1995). A fauna de mamíferos apresenta aproximadamente 70 espécies,
representando 40,22% do total estadual.
A região marinha costeira do estado do Paraná abriga comunidades características
de Répteis, de Aves e de Mamíferos, várias espécies que ocorrem nesse ambiente se
encontram ameaçadas. Entre as aves classificadas como essencialmente marinhas, cerca
de 30% delas estão ameaçadas (BIRDLIFE INTERNATIONAL SEABIRD
CONSERVATION PROGRAMME). Bem como as cinco espécies de tartarugas marinhas
que ocorrem em águas brasileiras. No caso dos mamíferos aquáticos, das 39 espécies de
cetáceos registradas para costa brasileira, 58,83% delas figuram no Plano de Ação para
os Mamíferos Aquáticos do Brasil (IBAMA, 2001) como espécies vulneráveis.
28
Avaliando-se apenas os ambientes de baía, da zona costeira paranaense, é
notável a ocorrência de espécies de interesse conservacionista, por exemplo: no meio
aquático se destacam, o trinta-réis-real (Thalasseus maximus), a lontra (Lontra
longicaudis) e o boto-cinza (Sotalia guianensis) (MIKICH e BÉRNILS, 2004); no ambiente
entremarés ocorrem muitas espécies de aves migratórias, principalmente maçaricos e
batuíras, pertencentes às famílias Scolopacidae e Charadriidae, grupos protegidos pela
Convenção de RAMSAR, que contempla a proteção de áreas úmidas, da qual o Brasil é
signario. Nos ambientes florestados, se destacam escies ameaçadas de extinção,
como o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), o borboletinha (Phylloscartes
kronei), os gatos-do-mato (Leopardus tigrinus e L. wiedii), e jaguatiricas (L. pardalis)
(MIKICH e BÉRNILS, 2004).
Confirmando a importância da região, os remanescentes da Floresta Atlântica local
foram declarados pela UNESCO como Reserva da Biosfera. A costa paranaense, apesar
da sua limitada extensão, foi classificada pela Avaliação e Ações Prioritárias para a Zona
Costeira e Marinha (BIO-RIO, 2002) como de extrema importância para a conservação de
aves marinhas. A importância do litoral paranaense, para as aves associadas aos
ecossistemas marinhos, é justificada por ser ponto de parada de espécies migratórias, por
haver reprodução de aves aquáticas coloniais e tamm por abrigar importantes sítios de
alimentação para aves marinhas em geral. Da mesma forma, este ambiente assume
grande importância para mamíferos marinhos e mais recentemente tem sido detectada
relevância também para tartarugas marinhas (GUEBERT, 2008; ROSA, 2009; BARRERA,
2009).
2.2.1 Biodiversidade de Aves
A zona costeira do litoral do Paraná, apesar da pequena extensão, abriga um
mosaico de ecossistemas e, dessa forma, oferece uma variedade de hábitats e micro-
hábitats, que por sua vez possibilitam a ocorrência de elevada biodiversidade. Os dados
disponíveis em IPARDES (2001) trazem informações referentes à APA de Guaraqueçaba
e, por conseguinte, oferecem um referencial amplo da riqueza da comunidade faunística
do litoral paranaense. O documento cita um total de 341 espécies de aves para o litoral, o
que representa aproximadamente 45% do total citado para o Paraná (SCHERER-NETO e
STRAUBE, 1995). Essa diversidade de aves não está distribuída de forma homogênea
em todo o litoral, espécies, ou guildas de espécies, estão adaptadas para explorar
29
diferentes extratos da vegetação e diferentes fontes de alimento, o que implica em
arranjos particulares de espécies, decorrentes da disponibilidade de recursos. Com base
em vários estudos conduzidos na costa paranaense (MORAES, 1991; MORAES et al,
1995; MORAES e KRUL, 1995; MIKISH e LARA, 1996; MORAES, 1998; MORAES e
KRUL, 1999; KRUL, 1999; BORNSCHEIN e REINERT, 1997; KRUL, 2004; MESTRE,
KRUL e MORAES 2007; CARNIEL, 2008) é possível associar as espécies de aves a
ambientes específicos. Para este estudo, duas comunidades, ou agrupamentos
característicos, de aves podem ser destacados: 1) aves associadas aos ecossistemas
florestais; e 2) aves associadas aos ecossistemas marinhos.
2.2.2 Comunidade de aves associadas aos ecossistemas florestais
No domínio costeiro paranaense se encontra, muito provavelmente, o ambiente
mais rico em biodiversidade do Estado (STRAUBE, 2003), onde a riqueza de aves supera
as trezentas espécies apenas na planície. Os ecossistemas associados à Floresta
Atlântica constituem um importante centro de endemismo (PACHECO e BAUER, 1999),
mesmo para um grupo taxonômico com alta capacidade de dispersão como o das aves o
número de espécies endêmicas desta floresta chega a 199, o que representa 29% das
aves deste ambiente e 12% das aves registradas para o Brasil (PARKER, STOTZ e
FITZPATRICK, 1996; STATTERSFIELD et al. 1998). Segundo Scott e Brooke (1985) e
Goerck (2001), forte relação entre presença de espécies de aves endêmicas da Mata
Atlântica e o gradiente de altitude, decorrente das fitofisionomias características em cada
altitude que, por sua vez, refletem vários padrões de distribuição de aves. Nesse sentido,
Straube e Urben-Filho (2005), ao analisarem a distribuição dos endemismos registrados
na reserva Salto do Morato, Município de Guaraqueçaba PR, registraram 17 espécies
restritas às terras baixas da planície litorânea, sete exclusivas de zonas montanhosas. De
uma maneira geral, ampla disponibilidade de estudos sobre a fauna de aves
pertencente aos domínios da Floresta Atlântica paranaense (SCHERER-NETO e
STRAUBE, 1989; STRAUBE, 1990; MORAES, 1991; MORAES e KRUL, 1995;
SCHERER-NETO, STRAUBE e BORNSCHEIN, 1995; MARINI et al., 1996;
BORNSCHEIN e REINERT, 1997; MORAES, 1998; PEDROSO-JUNIOR, 1998;
CARRANO e SCHERER-NETO, 2000; ISFER, 2000; PEDROSO-JUNIOR, 2001;
STRAUBE, 2003). Com base nestes estudos, se registra a ocorrência de
aproximadamente 400 espécies de aves, o que reflete um conhecimento geral satisfatório
30
sobre o grupo taxonômico nessa região. No entanto, há certas localidades onde a
informação sobre a ornitofauna é limitada, caso do Parque Nacional do Superagui. Bem
como a literatura não apresenta informações que permitam um melhor entendimento da
distribuição e frequência das aves em hábitats específicos, ou áreas antropizadas.
2.2.3 Aves associadas aos ecossistemas marinhos
Esse grupo de aves pode ser caracterizado ainda por uma subdivisão em duas
comunidades de espécies, representada por aquelas aves da plataforma continental
interna (as quais são eventualmente denominadas aves marinhas costeiras) e tamm
por aquelas que utilizam o espaço do ambiente de entremarés, caracterizado por praias
arenosas, expostas ao mar aberto, ou praias de fundo lodoso, características dos
estuários (MORAES e KRUL, 1995; MORAES e KRUL, 1999; KRUL, 1999).
No grupo das aves da plataforma continental interna se destacam
aproximadamente 15 espécies de aves (MORAES e KRUL, 1995 e 1999), que
frequentemente são encontradas na costa do Paraná. Entre estas espécies de aves se
destaca um grupo formado por cinco representantes que nidificam nas três ilhas situadas
na plataforma continental interna. Localmente as espécies mais abundantes são o atobá
(Sula leucogaster) e o tesoureiro, (Fregata magnificens), que juntas superam cinco mil
casais nidificando no Arquipélago de Currais. Por outro lado, as populações da gaivota
(Larus dominicanus), da andorinha-do-mar-de-bico-amarelo (Sterna eurygnatha) e da
andorinha-do-mar-de-bico-vermelho, (S. hirundinacea), são expressivamente menores,
com estimativa de aproximadamente 100 casais de cada espécie reproduzindo no
Arquipélago de Currais e Ilhas Itacolomis (KRUL, 2004). O fato da plataforma continental
interna do Paraná abrigar estes importantes sítios de reprodução de espécies de aves
coloniais, associado às representativas áreas de alimentação para aves marinhas em
geral, determinou a classificação deste setor marinho como de extrema importância para
a conservação deste grupo animal (BIO-RIO, 2002). Os indivíduos pertencentes a estas
cinco espécies de aves vêm interagindo intensamente com o homem, sobretudo, com
atividades pesqueiras, que m provido farta alimentação a partir de rejeitos da pesca
(KRUL, 1999, 2004 e CARNIEL, 2008).
A comunidade de aves do ambiente de entremarés caracteriza-se por uma maior
diversidade de espécies. A região de praias arenosas expostas ao mar aberto aparenta
ser pouco abundante em recursos para a fauna em geral, no entanto, este ambiente
31
representa local de repouso e de alimentação para muitas espécies de aves residentes e
migratórias, conferindo localmente grande importância na manutenção de várias
populações (SCHIEFLER e SOARES, 1994; BERTELLOTTI et al. 2003; COSTA, 2007;
FESTTI 2007; CARNIEL, 2008). O ambiente de entremarés apenas recentemente foi alvo
específico de pesquisas ornitológicas (MORAES e KRUL, 1995; MORAES e KRUL 1999,
MIKICH e LARA 1996; COSTA, 2007; FESTTI, 2007; CARNIEL, 2008). Nas praias
paranaenses estudos têm revelado uma riqueza com mais de 60 espécies, o que parece
ser similar a outras praias localizadas no sul do Brasil (SCHIEFLER e SOARES, 1994;
VOOREN e CHIARADIA, 1990; FESTTI, 2007; COSTA 2007). Algumas situações
ambientais particulares podem influenciar expressivamente a riqueza de espécies no
ambiente entremarés, mesmo em uma escala geográfica relativamente pequena. Na Ilha
do Mel, por exemplo, Costa (2007) observou 63 espécies, ao passo que Festti (2007)
registrou apenas 28 no Balneário de Pontal do Sul, praias distantes apenas em cerca de 6
km. Estes extremos de riqueza de espécies podem ser devidos, por um lado a maior
heterogeneidade ambiental presente na Ilha do Mel, como desembocaduras de rios, e a
maior presença de aves pertencentes o ordem passeriformes. Por outro, a pressões
antrópicas presentes nas praias como a presença de veículos motorizados na praia, bem
como maior fluxo de pessoas e animais domésticos, tende a reduzir a riqueza de espécies
em praias mais urbanizadas (BUENO NETTO, 1998; BARBIERI e PINNA, 2005). Algumas
espécies de aves que ocorrem no entremarés são particularmente interessantes nas
abordagens da presente tese, pois incluem nas suas dietas rejeitos da pesca, tanto
recursos pesqueiros inteiros quanto partes derivadas da limpeza dos pescados, como
vísceras e carcaças. Nesse sentido se destacam a gaivota (L. dominicanus), a garça-
branca-pequena (Egretta thula) e o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus),
observadas com bastante frequência se alimentando de rejeitos da pesca nas praias de
Pontal do Paraná (CARNIEL, 2008).
2.2.4 Interação de Aves com a Pesca
Desde o início da pesca comercial é prática comum o descarte de parte da captura,
tanto na forma de peixes inteiros sem valor comercial, quanto de partes derivadas da
limpeza dos pescados, como vísceras e carcaças. Dados quantitativos referentes a
produção de rejeitos da pesca revelam a importância desta fonte alternativa de alimento.
Em escala mundial, as estimativas apontam um valor de 30 milhões de toneladas de
32
pescado sendo rejeitadas anualmente (Comissão Nacional Independente sobre os
Oceanos, 1998). Em algumas regiões do Mar do Norte o total descartado anualmente
atinge aproximadamente 789 mil toneladas (GARTHE et al., 1996). Vooren e Fernandes
(1989) estimaram em 10 mil toneladas o descarte produzido anualmente pela frota de
arrasteiros do porto de Rio Grande RS. Para o litoral paulista Paiva-Filho e
Schmiegelow (1986) concluíram que apenas a pesca dirigida ao camarão-sete-barbas
produz cinco mil toneladas de rejeitos por ano. No Paraná, Krul (1999) estimou a
produção anual em aproximadamente 3,5 toneladas.
Esses rejeitos atraem muitas aves ictiófagas, que interagem com a pesca. Essa
relação tem sido foco de vários estudos, principalmente na década passada (WAHL et al.,
1979; FURNESS, HUDSON e ENSOR, 1988; JONES e DEGANGE, 1988; HUDSON e
FURNESS, 1988; FURNESS, ENSOR e HUDSON, 1992; PONS 1992; CAIRNS et al.,
1992; GARTHE et al., 1996; ORO et al., 1996; WALTER e BECKER, 1997; GIACCARDI e
YORIO, 2004). Devido aos rejeitos constituírem uma fonte adicional e abundante de
alimento, observa-se impactos diretos no sucesso reprodutivo das aves que consomem
essa fonte adicional de alimentos (ORO, JOVER e RUIZ, 1996; ORO e RUIZ, 1997;
KRUL, 2004). Esse aporte artificial de alimentos para as aves marinhas, disponibilizado
pelos rejeitos, pode levar ao incremento populacional dessas aves, representando uma
das consequências diretas das atividades pesqueiras sobre a diversidade local
(VALEIRAS, 2003; WALTER e BECKER, 1997). Essa relação foi constatada com Larus
argentatus que apresentou enorme crescimento populacional no oeste da Europa a partir
de 1900, em consequência das atividades de pesca (FURNESS, ENSOR e HUDSON,
1992). Influência direta dos descartes da pesca sobre populações de aves marinhas foi
demonstrada por Oro (1996) e Oro et al. (1996), que monitoraram a reprodução de Larus
audouinii e L. fuscus na Espanha. Os autores verificaram que houve diferença significativa
no desempenho reprodutivo, em função da pesca de arrasto, havendo investimento
parental menor na qualidade do ovo e o sucesso reprodutivo também foi
significativamente menor durante o defeso, período com baixa disponibilidade de
alimento.
No Brasil este tema ainda é pobremente estudado (CARNIEL, 2008; KRUL, 2004;
REZENDE, 1987), havendo um destaque relativamente maior para as interações de aves
marinhas com práticas que acabam por capturar aves em redes de pesca e espinhéis
(KRUL, 2004; BRANCO, 2001; VASKE-JÚNIOR, 1991; CHIARADIA, 1991). Contudo, a
crescente explorão do meio marinho no Brasil deve criar novas relações e intensificar
33
os processos de interação entre aves e pesca, sendo possível que algumas espécies
tenham suas populações diminuídas e outras sofram aumento populacional como
consequência da atividade de pesca industrial e artesanal.
2.3 Pesca
Desde muito tempo a pesca representa uma importante fonte de alimentos para a
humanidade e produz, atualmente, cerca de 90 milhões de toneladas de pescado por ano,
provê benefícios empregatícios e econômicos para uma importante parcela da população
e, em uma avaliação geral, se estima que aproximadamente 420 milhões de pessoas
subsistam desta atividade no mundo (FAO, 2009). Destaca-se que no cenário mundial,
aproximadamente 99% dos pescadores são classificados como de pequena escala, ou
artesanais, e participam com cerca 50% da produção (BERKES et al., 2001).
No século XX, especialmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial, as
administrações públicas concentraram esforços em fomentar atividades pesqueiras e
assegurar o crescimento da produção e do consumo de seus produtos. Em resposta a
esse incremento, na década de 80 muitos recursos alcançaram plena explotação,
inclusive alguns sobre-explotados (código de Pesca Responsável, 1995). Desde então a
expansão ou manutenção global, em termos de produtividade, tem sido possível graças à
pesca de espécies cada vez menores dos níveis inferiores da teia alimentar marinha,
cujos efeitos ainda não são totalmente conhecidos (PAULY, 1998). A partir de 1990 a
atividade pesqueira, de um modo geral, tem apresentado um quadro de queda na
produtividade, apesar dos significativos avanços no conhecimento da biologia, da ecologia
e da dinâmica populacional dos recursos pesqueiros (CASTELLO, 2004).
vários elementos que dão visibilidade à crise pesqueira, podendo-se citar: a
diminuição da abundância do pescado, a diminuição da captura por unidade de esforço de
pesca (CPUE); a diminuição do tamanho médio dos indivíduos capturados; a maior
participação de indivíduos de baixas classes etárias na composição das capturas, etc. No
entanto, o excesso de capacidade de pesca, também pode ser traduzido por meio da
sobrecapitalização, refletida na quantidade excessiva de barcos ou aparelhos de captura
(MACE, 1997). Ainda, de acordo com esse mesmo autor, entre 1970 e 1992 o número de
embarcações dotadas de convés passou de 580.980 para 1.178.160, enquanto que no
34
mesmo período o número de barcos de pequeno porte, sem convés passou de 1,5
milhões para 2,3 milhões. Além da quantidade de barcos que caracteriza um estado de
excesso de capacidade de pesca, o desenvolvimento tecnogico, no que se refere aos
apetrechos e técnicas de pesca, aos equipamentos de navegação por satélite e
localizadores de cardumes, constitui, também, elemento de aumento da capacidade
pesqueira.
Atualmente se reconhece que a pesca pode reduzir a biodiversidade e
comprometer a resiliência dos ecossistemas, tanto localmente como em escala global. De
acordo com a FAO (1999), 44% dos estoques marinhos de importância comercial estão
em seu nível máximo de explotação; enquanto 16% estão sobre-explotados, 6% foram
severamente exauridos e 3% encontra-se em estado de recuperação. Muitas das ações
que contribuíram para o comprometimento dos estoques pesqueiros são reflexos do
desconhecimento da capacidade de suporte do ambiente, situação ilustrada em diversas
publicações dos anos 60 do século passado, onde se encontra farta referência aos
―recursos ilimitados‖ do mar. O excessivo esforço pesqueiro é reconhecido como um dos
principais problemas atuais do manejo da pesca (FAO, 2000; COCHRANE, 2000;
HENNESSEY e HEALEY, 2000; PAULY et al., 2002).
É comum atribuir o colapso de pescarias à atividade de frotas industriais, o que de
fato não deixa de ser verdadeiro, embora em alguns casos o ônus tamm deva ser
creditado a ação de pescarias ditas artesanais. Historicamente registros de
sobrepesca na costa do Peru, onde, cerca de 3 mil anos, se registrou o primeiro caso,
o qual teria levado à desorganização dos padrões econômicos e sociais vigentes
(McGOODWIN,1990). Atualmente tamm documentação de sobrepesca como
resultado da ação de pescadores de pequena escala, por exemplo, no caso dos
caranguejos da região do Cabo Horn, no Chile, decorrente do aumento do esforço
pesqueiro em função da valorização internacional do produto (POLLACK, BERGHOFER e
BERGHOFER, 2008).
Da mesma forma, artes de pesca inapropriadas, como a utilização de explosivos,
causam sérios problemas não às populações dos recursos alvo, mas a todo o
ecossistema. O uso de explosivos ainda é prática relativamente comum na Baía de Todos
os Santos, na Bahia, inclusive com expectativa de continuação desta atividade por
aproximadamente 6,7% dos pescadores entrevistados em sete comunidades pesqueiras
locais (AGUIAR JUNIOR e DIAS, 2007). Outra arte de pesca que causa fortes impactos
no ambiente é o arrasto, tanto por desestruturar o ambiente físico onde é praticada,
35
quanto por capturar espécies que não são o alvo da pescaria. No entanto, nada se
compara ao poder de pesca apresentado pela frota industrial. Por exemplo, a
insustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental da frota espinheleira do Pacífico
(OVETZ, 2006); a insustentabilidade da pesca da sardinha-verdadeira, Sardinella janeiro,
no Brasil (ROSSI-WONGTSCHOWSKI, et al., 2004) e principalmente, a pesca de arrasto,
considerada uma das maiores causadoras de dano ao ambiente marinho (INNES e
PASCOE, 2010), só para citar alguns. Um dos grandes problemas relacionados à pesca é
a captura de espécies que não o o alvo da pescaria e consequente não aproveitamento
destas (ALVERSON et al., 1994; KELLEHER, 2004). A parcela da pesca não aproveitada
é chamada rejeito, sendo composta principalmente por pequenos peixes que não
apresentam valor de mercado, além de crustáceos, moluscos e equinodermos
(SÁNCHEZ, DEMESTRE e MARTÍN, 2004; HARRINGTON et al.,, 2005). Informações
disponíveis indicam a produção anual de aproximadamente 25 a 30 milhões de toneladas
de peixes e seus derivados no mundo (ALVERSON et al., 1994; Comissão Nacional
Independente sobre os Oceanos 1998, MOORE e JENNINGS, 2000).
Ao contrário da pesca industrial, a diversificação e a complexidade o
características marcantes da pesca artesanal, situação que favorece o desenvolvimento
de práticas de pesca particulares. No entanto, apesar disso, de uma maneira geral é
possível reconhecer uma série de características que são compartilhadas em maior ou
menor grau entre as pescarias artesanais ao redor do globo (PANAYOTOU, 1982;
CHARLES, 1991; AGUERO, 1992), que são: 1) utilização de múltiplos recursos
pesqueiros e frota não homogênea; 2) Baixo nível de capital investido; 3) Pontos de
desembarque dos produtos dispersos; 4) Utilização sazonal de recursos pesqueiros com
complementação da renda a partir de outras atividades econômicas; 5) Significativa fonte
de proteína e de emprego; 6) Atração de migrantes e 7) Baixa capacidade de influenciar
os mercados de pescados. Essas características colaboraram para uma baixa visibilidade
e importância da atividade pesqueira artesanal diante dos órgãos governamentais e
também se refletem num confuso e limitado volume de informações científicas disponíveis
sobre essa atividade. Nesse sentido destaca-se, por exemplo, a falta de confiabilidade
das estatísticas oficiais relacionadas à pesca, não aquelas que dizem respeito ao
recurso, mas em todos os elos que compõem o complexo pesca (PAIVA, 1976;
VASCONCELLOS, DIEGUES e SALES 2007; MARRUL FILHO, 2003). Além disso, o
cenário da atividade é agravado pelas condições de pobreza dos seus atores, limitadas
36
alternativas de emprego, incentivos inapropriados e fraca atuação do governo (SALAS
CHUENPAGDEE e SEIJO, 2007; KALIKOSKI e VASCONCELLOS, 2003).
Uma das conclusões do estudo ―Síntese do estado de conhecimento Sobre a
Pesca Marinha e Estuarina do Brasil‖ (ISAAC et al, 2006), aponta para a extrema
diversidade social, econômica, ambiental e tecnológica das pescarias brasileiras. Em
geral, o cenário nacional da pesca é caracterizado pela diversidade de recursos
explorados e pela diversidade da frota e das artes de pesca praticadas, características
que dificultam a obtenção de informações sobre a pesca e o modo de vida a ela
associado (ISAAC et al, 2006). Fato que representa um grande desafio para a gestão e
sustentabilidade da pesca, requerendo, além de mudanças profundas no processo de
gestão, a aplicação de soluções criativas e focadas em situações específicas.
De acordo com Andriguetto Filho (1999), existem no litoral paranaense 60 vilas de
pescadores. Estas vilas podem se apresentar de várias formas, desde pequenos
povoados, exclusivamente pesqueiros, acessíveis somente por água, abairros urbanos.
O mesmo autor identificou ainda que algumas comunidades de pescadores,
anteriormente registradas na região, desapareceram ou diminuíram muito de tamanho. O
estado do Paraná possui uma frota pesqueira bastante direcionada à arte do arrasto para
captura de camarão, e composta, em grande parte, de embarcações de pequeno a médio
porte, que se enquadram na categoria da pesca artesanal ou semi-industrial
(ANDRIGUETTO FILHO, 1999). Recentemente, Andriguetto Filho et al. (2009),
identificaram oito sistemas de pesca para o Estado do Paraná (Tabela 1). Estes sistemas
são caracterizados tanto por tipos de embarcação utilizados e por áreas específicas de
pesca, quanto pelas lógicas que determinam a escolha da tripulação, que por sua vez
estão associados a características socioambientais particulares.
37
Tabela 1: Sistemas pesqueiros identificados para o Paraná, e as características distintivas
empregadas na metodologia de classificação.
Nome do sistema
Frota
Práticas / artes
Recurso
Ambiente
Tangoneiros familiares
Barcos tangoneiros com
porão e casario
Arrasto de camarão
Fundeio eventualmente
Camarões branco e sete-
barbas, cações, cienídeos,
etc.
Plataforma interna
Tangoneiros empresariais
ou não-familiares
Barcos tangoneiros com
porão e casario.
Arrasto de camarão
Fundeio eventualmente
Camarões branco e sete-
barbas, cações, cienídeos,
etc.
Plataforma interna.
Canoas a motor
Canoas a motor com
casco de madeira ou fibra
de vidro.
Arrasto de camarão
Fundeio
Deriva
Camarões branco e sete-
barbas, cações, cienídeos,
etc.
Plataforma interna.
Pesca da baía de
Guaratuba
Canoas a remo, vela, e
motor, usualmente
monóxilas. Às vezes,
voadeira.
Diversas: gerival, lanços,
tarrafa, fundeio, espinhel.
Camarão branco, siri,
caranguejo,moluscos,
diversos peixes.
Ambiente estuarino da
Baía de Guaratuba.
Pesca da baía de
Paranag
Canoas a remo, vela, e
motor, usualmente
monóxilas. Às vezes,
voadeira.
Diversas: gerival, lanços,
tarrafa, fundeio, espinhel,
irico, cerco fixo
Camarão branco, siri,
caranguejo,moluscos,
diversos peixes.
Ambiente estuarino da
Baía de Paranaguá.
Embarcações de tábua de
Guaratuba
Outras embarcações de
tábua, além dos barcos:
botes, bateiras, baleeiras.
Arrasto de camarão
Fundeio
Deriva eventualmente
Camarões branco e sete-
barbas, cações, cienídeos,
etc.
Plataforma interna.
Embarcações de tábua de
Paranag
Outras embarcações de
tábua, além dos barcos:
botes, bateiras, baleeiras.
Arrasto de camarão
Fundeio
Deriva eventualmente
Camarões branco e sete-
barbas, cações, cienídeos,
etc.
Plataforma interna.
Arrastão de tainha
Lance dado a partir da
praia com canoa a remo.
Arrastão de praia
Tainha, peixes diversos.
Praia; plataforma
imediata.
Outros estudos realizados no Estado do Paraná descrevem também uma ampla
diversidade de equipamentos de pesca e embarcações, utilizados em combinações
diferenciadas entre as comunidades pesqueiras. Essa heterogeneidade de estratégias
provavelmente está associada a diferenças nos ambientes explorados, a riqueza
específica e a fatores culturais, sociais e econômicos (ANDRIGUETTO FILHO, 2002;
CHAVES e ROBERT, 2003). Este raciocínio incita a necessidade do desenvolvimento de
estudos específicos, que localizem e descrevam as comunidades, as frotas pesqueiras,
as práticas pesqueiras, as estratégias de pesca, a composição das capturas e as
magnitudes dos recursos explotados e rejeitados.
Assim, uma grande diversidade de modalidades de pesca no litoral do Paraná,
porém são classificadas de um modo geral como sendo de pequena escala ou artesanal,
com sua produção ainda não corretamente avaliada (ANDRIGUETTO FILHO, et al, 2004).
Porém essa pesca de pequena escala foi responsável por mais de 90% da produção
desembarcada na região entre 1980 e 1994 (PAIVA, 1997). Além do esforço de pesca
realizado pela frota paranaense, embarcações vindas de São Paulo e Santa Catarina
38
também atuam no arrasto nessa costa, capturando principalmente camarão-rosa e sete-
barbas (ANDRIGUETTO FILHO, et al, 2006).
Paiva (1996) cita os camarões como o recurso pesqueiro mais importante do litoral
paranaense. Destacando o camarão-sete-barbas, o camarão-branco e o camarão-rosa na
pesca industrial e apenas o camarão-sete-barbas na pesca artesanal. Corrêa (1996),
estudando comunidades de pescadores tipicamente artesanais da Área de Proteção
Ambiental de Guaraqueçaba, confirmou a importância dos camarões como fonte de renda
nesta comunidade, registrando 84,62% dos pescadores se dedicando a este recurso.
Apesar da falta de informações concretas de captura de camarões na costa do Paraná,
D’Incao et al. (2002) mencionam a redução dos estoques a níveis alarmantes com base
em dados de desembarque, captura e esforço de pesca referentes ao camarão-sete-
barbas do sudeste e sul do Brasil.
Entre as artes de pesca praticadas e com alto potencial na produção de rejeitos
destaca-se o arrasto de camarão, que se configura em uma prática causadora de grandes
impactos sobre o ambiente marinho (ARCOS et al., 2001; CABRAL et al;, 2002;
HARRINGTON, et al., 2005; MADRID-VERA, AMEZCUA e MORALES-BOJORQUEZ,
2007). Além do comprometimento dos estoques do recurso alvo, a pesca de arrasto afeta
a estrutura da comunidade ictíaca em relação ao tamanho e indiretamente à fecundidade.
Pois, o descarte do arrasto inclui indivíduos maduros, que não chegaram a realizar a
desova, além de grande quantidade de indivíduos jovens, antes mesmo de iniciarem o
primeiro ciclo reprodutivo (SANTOS, 2006). A captura na pesca de arrasto é uma das
maiores causas de mortalidade de peixes e um dos fatores de maior importância
observados no declínio dos estoques pesqueiros (BROADHURST, 2000; GLASS, 2000).
Apesar do impacto reconhecido sobre a biodiversidade marinha a frota camaroeira
mantém a atividade de pesca de arrasto durante praticamente todo o ano, sofrendo uma
"interrupção" apenas durante o defeso, o período em que a pesca de arrasto está
oficialmente fechada (Portaria MMA 74/01 e IN IBAMA 91/06). O período do defeso
foi inicialmente criado para proteger o recrutamento do camarão-rosa (Farfantepenaeus
brasiliensis e F. paulensis). O período do defeso, apesar de direcionado ao camarão-rosa,
impossibilita também a captura de outras espécies, tamm de interesse econômico,
como o camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri), o camarão-branco (Litopenaeus
schimitti), o camarão-santana (Pleoticus muelleri) e o camarão-barba-ruça (Artemisia
longinaris). Nas regiões sul e sudeste o defeso foi implantado pela primeira vez em 1984
39
e, desde a sua implantação, o defeso tem proibido a atividade de arrasto, em geral entre
01 de março a 31 de maio, com algumas alterações em duração e data de início e final.
2.4 Paisagem Natural
A zona costeira é uma região de transição entre os ecossistemas marinhos e
terrestres, os quais, apesar da íntima associação, apresentam características particulares
que imprimem complexidade, dinamismo e sensibilidade a esta região (CARTER, 1993).
Por um lado, a zona costeira abriga elevada biodiversidade e por outro tamm assume
grande importância para as sociedades humanas, abrigando grandes centros urbanos.
Nesse sentido, a área costeira representou o ponto de partida para as colonizações e
atualmente representa um elo de intensa troca de mercadorias, um local de lazer, de
turismo e de moradia para grandes massas de populações (ANDRIGUETTO-FILHO,
1999).
Avaliando-se especificamente o litoral paranaense constata-se que a zona costeira
deste Estado ainda abriga ambientes pouco degradados, por exemplo, importantes
remanescentes de Floresta atlântica. Assim como o complexo estuarino da Baía de
Paranaguá é um dos sistemas costeiros menos alterados dos sudeste brasileiro (LANA et
al., 2001). Essas características são reflexos do padrão de ocupação do território
paranaense, onde houve o estabelecimento de grandes contingentes populacionais e
atividade industrial além da Serra do Mar, o que manteve a região costeira à margem dos
modelos de desenvolvimento adotados nas últimas décadas (ANDRIGETTO FILHO,
1999).
O litoral do Paraná se estende por aproximadamente 107 km, com limites ao norte
no Canal do Varadouro (25o 12' S) e ao sul na foz do Rio Saí-Guaçu (25o 58'S). Essa
faixa está incluída na região marítima sudeste do Brasil, situada entre Cabo Frio RJ e o
Cabo de Santa Marta SC. Essa área é caracterizada pela grande extensão da
plataforma continental, com largura variando entre 175 e 190 km, e quebra do talude a
cerca de 150 metros de profundidade. A cobertura sedimentar dessa área é composta,
em sua maior parte, por areia, lama e argila, e com exceção dos poucos substratos
rochosos que margeiam as ilhas paranaenses, a Plataforma Continental do Paraná é
dominada por fundos arenosos (MATSUURA, 1986).
As feições fisiográficas da plataforma continental, somadas às características
oceanográficas e climáticas, determinam a qualidade e a potencialidade dos recursos
40
pesqueiros. No caso da região sudeste-sul, a convergência subtropical favorece o
desenvolvimento da ictiofauna, sendo o seu deslocamento norte / sul responsável pelas
oscilações espaciais e sazonais na distribuição das populações de peixes na região
(DIAS-NETO e MESQUITA, 1988). Estas oscilações e o aumento da diversidade da
ictiofauna devem-se ao fato da plataforma no sul do Brasil estar localizada na região de
transição entre as zonas tropical e temperada.
Na costa paranaense ocorrem dois estuários denominados de Baía de Paranaguá,
que representa o maior estuário da costa sul do Brasil com 601 km
2
de extensão
(BIGARELLA, 1978) e a Baía de Guaratuba, consideravelmente menor, adentrando ao
continente por aproximadamente 15 km. A Baía de Paranaguá possui dois eixos principais
de orientação. Um no sentido leste-oeste, com extensão aproximada de 50 km e largura
máxima de 7 km, formado pelas Baías de Paranage Antonina e outro orientado no
sentido norte-sul, com cerca de 30 km de extensão e máxima de 13 km de largura,
compreendendo as Baías de Guaraqueçaba e Laranjeiras (KNOPPERS, BRANDINI e
THAMM, 1987). Nessa porção a ligação do estuário com o oceano ocorre por dois canais,
um ao norte e outro ao sul da Ilha do Mel. Ao norte da Ilha do Superagui os estuários de
Cananéia e de Paranaguá se comunicam com o oceano por meio do Canal do Ararapira.
Os ambientes florestais do litoral do Paraabordam fitofisionomias do domínio da
Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), que é influenciada diretamente pelas
massas de ar quente e úmido do oceano Atlântico e pelas chuvas relativamente intensas
e bem distribdas ao longo do ano (RODERJAN et al., 2002). A costa do Estado do
Paraná abriga um dos mais significativos remanescentes de Floresta Atlântica no Brasil,
sendo destaque pela grande diversidade de flora, e fauna, e pelo considerável número de
espécies endêmicas e ameaçadas (IPARDES, 2001). A planície costeira na porção norte
do litoral paranaense é dominada principalmente pelas formações pioneiras caracterizam-
se por vegetação de primeira ocupação, associada às espécies pioneiras, que se
desenvolvem sobre áreas instáveis com constantes deposições sedimentares, tais como
da orla marinha, margens dos rios e ao redor dos pântanos e lagoas. Sua florística é mais
simplificada em relação a florestas clímax (IPARDES, 2001; RODERJAN et al., 2002). A
vegetação presente na Ilha do Superagui pode ser classificada dentro de 11 tipologias
vegetais distintas, onde prevalecem as Formações Pioneiras, presentes em 49,9% da
ilha. Seguida por Formações de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas em Solos
Hidromórficos, presentes em 46,40% da área da ilha (SCHMIDLIN, 2004) (Tabela 2).
41
Tabela 2: Tipologia vegetal na Ilha do Superagui (SCHMIDLIN, 2004)
Tipologia Vegetal
Percentual de cobertura vegetal
F.O.D. das Terras Baixas em Solos Hidromórficos
46,40
F.O.D. Submontana
0,20
F.P.I. Marinha Arbórea
12,20
F.P.I. Marinha Arbustivo-Arbórea
16,30
F.P.I. Marinha Herbáceo-Arbustiva
3,50
F.P.I. Flúvio-Lacustre Arbóreo
3,90
F.P.I. Flúvio-Lacustre Herbáceo-Arbustivo
5,10
F.P.I. Fluviomarinha Baixa
3,90
F.P.I. Fluviomarinha Alta
5,00
Veg. Secundária Estágio Inicial de Desenvolvimento
1,20
Veg. Secundária Estágio Intermediário de Desenvolvimento
0,80
Áreas Antrópicas e Praias
1,50
Total
100,00
F.O.D. = Floresta Ombrófila Densa; F.P.I. = Formação Pioneira com Influência.
2.4.1 Unidades de Conservação
A presença de remanescentes florestais de grande extensão, grande diversidade
biológica e tamm de fisionomias geográficas, proporcionaram ao litoral do Paraná
receber a implantação de uma notável quantidade de Unidades de Conservação (UCs).
Estas estão distribuídas desde a planície litorânea até as formações montanhosas que
chegam ao primeiro planalto paranaense, e têm como objetivo proteger e conservar os
ecossistemas importantes nessa faixa geográfica do Estado. Outra característica
marcante é a expressiva área protegida por meio de UCs de uso sustentável.
Demonstrando a necessidade de se conciliar a proteção dos ecossistemas locais com a
demanda pelo uso desses espaços, tanto por comunidades rurais, tradicionais ou não,
quanto por centros urbanos. Atualmente, estão presentes pelo menos 24 UCs distribuídas
nos sete municípios costeiros (Tabela 3).
42
Tabela 3: Localização e características das Unidades de Conservação (UCs) do litoral
paranaense.
Tipo
Nome
Jurisdição
Área (ha)
Ato de criação
Município
UC de Proteção Integral
PF do Rio da Onça
Estadual
118,51
Dec. 3.825 de 04.06.1981
Matinhos
EE Estadual da Ilha do
Mel
Estadual
2.240,69
Dec. 5.454 de 21.09.1982
Paranaguá
PE do Boguaçu
Estadual
6.660,64
Dec. 4.056 de 26.02.1998 -
alterado Lei 13979 de
26.12.2002
Guaratuba
PE da Graciosa
Estadual
1.189,58
Dec. 7.302 de 24.10.1990
Morretes
PE Pico do Marumbi
Estadual
2.342,41
Dec. 7.300 de 24.10.1990
Morretes
EE do Guaraguaçu
Estadual
1.150,00
Dec. 1.230 de 27.03.1992
Paranaguá
PE do Pau Oco
Estadual
905,58
Dec. 4.266 de 21.11.1994
Morretes
PE Roberto Ribas Lange
Estadual
2.698,69
Dec. 4.267 de 21.11.1994
Antonina, Morretes
UCs de Uso Sustentável
APA Estadual de
Guaraqueçaba
Estado
191.595,5
Decreto 1.228 de 27.03.1992
Guaraqueçaba
APA Federal de
Guaraqueçaba
Federal
291.498,0
Decreto nº 90.883/85
Guaraqueçaba, Antonina,
Campina G. do Sul e
Paranaguá.
APA Estadual de
Guaratuba
Estadual
199596,5
Dec. 1.234 de 27.03.1992
Guaratuba; São José dos
Pinhais, Tijucas do Sul,
Morretes, Paranaguá e
Matinhos
FloE do Palmito
Estadual
530,00
Dec. 4.493 de 17.06.1998
Paranaguá
RPPN Salto do Morato
Federal
819,18
Portaria 132/94-N
Guaraqueçaba
PE Ilha do Mel
Estadual
337,84
Dec. 5506 de 21.03.2002
Paranaguá
PARNA do Superagui
Federal
34.254,00
Decreto 97.688/1989; lei
9513/1997
Guaraqueçaba
AEIT do Marumbi
Estadual
66732,99
Lei 7.919 de 22.10.1984
Antonina; Morretes, São
José dos Pinhais Piraquara,
Quatro Barras, Campina
Grande do Sul
RPPN Sebuí
Federal
400,78
Portaria 99/99-N
Guaraqueçaba
PE Pico Paraná
Estadual
4.333,83
Dec. 5769 de 05.06.2002
Campina Grande do Sul,
Antonina
EE de Guaraqueçaba
Federal
13.638,90
Decreto nº 87.222/1982
Guaraqueçaba
ARIE de Pinheiro e
Pinheirinho
Federal
109
Decreto nº 91.888/1985
Guaraqueçaba
PARNA Saint-Hilaire/
Lange
Federal
25.161
Lei nº 10.227/2001
Matinhos, Paranaguá,
Morretes, Guaratuba
PNat. Municipal do
Manguezal do Rio
Perequê
Municipal
3.307
Dec. 706 de 10.09.2001
Pontal do Para
PNat. Municipal da
Restinga
Municipal
3.945
Dec. 1120/02
Pontal do Para
RPPN Sítio do Bananal
Federal
28,84
Portaria 49/02
Morretes
AEIT= Área de Especial Interesse Turístico; APA = Área de Proteção Ambiental; ARIE = Área de Relevante Interesse Ecológico; EE = Estação
Ecológica; FloE = Floresta Estadual; PARNA = Parque Nacional; PE = Parque Estadual; PF = Parque Florestal; PNat = Parque Natural; RPPN
= Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Outra característica comum, notável na maioria das UCs na rego é a constante
presença de cleos de habitação humana, dentro das unidades ou nas suas
redondezas. Esse tema é assunto recorrente na gestão das unidades na região, e
43
representa tamm fonte de discussão acadêmica (DIEGUES, 1983; DIEGUES e
NOGARA, 1994; DIEGUES, 2000 e NEVES, 2003). Nesse sentido, a demarcação da área
do PARNA do Superagui suscitou, e ainda suscita, discussões importantes sobre o uso da
paisagem e a demarcação de unidades de conservação. No caso do PARNA do
Superagui, especialmente, por haver sobreposição dos limites demarcadas da unidade de
conservação com algumas comunidades de pescadores que acabaram por ser incluídas
dentro dos limites da UC (VIVEKANANDA, 2000). O PARNA do Superagui possui uma
área total de 34.254,00 ha, que compreende toda a bacia de drenagem do Rio dos Patos
e do Rio do Varadouro, sendo limitado pelo Oceano Atlântico, Canal de Superagüi, Baía
dos Pinheiros e Canal do Varadouro (VIVEKANANDA, 2001).
Essa postura preservacionista na criação de parques nacionais no Brasil acabou
gerando conflitos afetando populações de extrativistas, pescadores e índios (DIEGUES,
1992 e 1995). No século XX os parques e as reservas similares foram criados em vários
países e, além da proteção de belezas cênicas, a criação dos novos parques agregou
outras motivações como a preservação da diversidade da flora e da fauna, constituindo
bancos genéticos naturais (GHIMIRE, 1993). A riqueza biológica dessas unidades de
conservação ressalta o valor desses locais para a pesquisa básica em ciências biológicas,
bem como pela manutenção da diversidade biológica, reforçando a iia de que a
presença humana nessas áreas deveria ser permitida em situações muito particulares
e restritas. No entanto, a partir da disseminação das unidades de conservação,
especialmente nos países pobres, abriu-se um leque de complexidade, principalmente
devido ao fato de populações humanas habitarem as áreas escolhidas para a implantação
de UCs. Apesar de estas populações tradicionais dominarem um modo de vida menos
agressivo ao ambiente, o seu conhecimento não foi valorizado na elaboração de políticas
públicas regionais (ARRUDA, 1999). Atualmente essa questão, pelo menos, é pauta
discutida e começa a ser mais bem considerada.
44
3 DESENVOLVIMENTO DO MODELO CONCEITUAL DE
ESTUDO
Nesse capítulo será apresentado o processo de desenvolvimento do modelo de
estudo, abordando as etapas decorridas para a criação de uma temática comum de
estudo que contemplasse as demandas e especialidades dos alunos da linha de pesquisa
―Dinâmicas Naturais dos Ambientes Costeiros: usos e conflitos‖, bem como os principais
conceitos empregados nessa definição, finalizando com a apresentação do modelo de
estudo aplicado na elaboração da tese.
3.1 Oficinas de Pesquisa: Identificação de um tema de pesquisa
conjunto
Os alunos da linha de pesquisa ―Dinâmicas Naturais dos Ambientes Costeiros:
usos e conflitos‖ da turma VII do Curso de Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento iniciaram o exercício prático da interdisciplinaridade nas chamadas
―Oficinas de Pesquisa‖, iniciadas em setembro de 2006 em conjunto com os professores.
Faziam parte da equipe original de alunos um geólogo, uma representante das ciências
sociais, um biólogo e o autor, médico veterinário. O primeiro produto apresentado pelos
alunos consistiu na apresentação de propostas individuais de trabalho que foram
avaliadas com objetivo de identificar possíveis temas conjuntos de estudo. O primeiro
resultado prático das oficinas ocorreu em maio de 2007 e foi a determinação de que não
seria possível obter-se um tema comum que atendesse as demandas e afinidades
profissionais de todos os alunos da linha de pesquisa. Decidiu-se então que haveria a
condução individual de uma linha de pesquisa, no caso do geólogo, e que os demais
integrantes da linha seguiriam em uma temática de pesquisa comum, a qual ainda seria
construída.
3.2 Desenvolvimento de um modelo interdisciplinar de avaliação das
relações natureza e sociedade em comunidades de pescadores
artesanais
45
O tema comum de pesquisa definido durante as oficinas seguintes foi: Práticas
materiais e suas relações com o ambiente em comunidades pesqueiras do litoral do
Paraná. Um referencial teórico e as questões a serem investigadas foram trabalhadas
durante seis meses, chegando-se a um ―protocolo‖ de atividades conjuntas que daria
início a coleta de dados. No entanto, no mês de agosto de 2008, houve a saída da
representante das Ciências Sociais do grupo de trabalho. Isso alterou significativamente o
escopo do trabalho a ser conduzido pelos dois integrantes remanescentes do grupo,
determinando uma reestruturação do projeto e dos protocolos de atividades para coleta
de dados. Na ausência da cientista social, a utilização de metodologias mais complexas
das ciências sociais teve que ser reavaliada, optando-se pela utilização de métodos
menos complexos, como por exemplo, o emprego de observação participativa.
Adicionalmente, optou-se tamm por dar uma maior ênfase nos métodos de coleta
relativos às ciências naturais, com os quais os pesquisadores remanescentes estavam
mais familiarizados.
Apesar da reestruturação necessária no projeto, o conceito delineador da linha de
pesquisa identificado anteriormente pelos três pesquisadores foi mantido, e gerou a
hipótese central do estudo, já apresentada anteriormente, que sustenta que: As relações
entre Saúde, Biodiversidade, Pesca e Paisagem são influenciadas pelas práticas
materiais de maneiras distintas, em diferentes comunidades pesqueiras artesanais, e
podem ser reconhecidas, aferidas e representadas por modelos que indicam as
interações e a intensidade dessas relações. Essa hipótese principal orientou a
reformulação do modelo de estudo comparativo, que foi aplicado em duas comunidades
distintas de pescadores, buscando avaliar interões que decorrem da relação
Sociedade-Natureza, mantendo ainda os interesses relacionados às formações dos
pesquisadores nas áreas de Medicina Veterinária e Biologia.
O tema sustentabilidade socioambiental e sua expressão nas dinâmicas da
paisagem, da pesca, da biodiversidade e da saúde mostrou-se fortemente integrador para
o perfil interdisciplinar desse estudo, servindo assim como um orientador na seleção das
variáveis a serem consideradas na pesquisa. Com base na experiência particular dos
pesquisadores, obtida em ensaios pilotos e durante outras atividades profissionais destes
na região, estabeleceu-se um processo de discussão que permitiu planificar os
componentes e as variáveis que pudessem ser aferidos durante este estudo, bem como
estabelecer as prováveis relações entre estes quando inseridos dentro de um sistema
socioambiental particular, representado por comunidades de pescadores.
46
Assim, identificaram-se componentes e grupos de variáveis desse sistema
socioambiental, que poderiam estar relacionados entre si, possivelmente influenciando-se
mutuamente. Considerando-se a complexidade real representada pelas comunidades de
pescadores buscou-se identificar as correlações válidas para o presente estudo e durante
esse processo, foi criada uma representação esquemática dos componentes e variáveis e
das suas relações, apresentada na Figura 4.
Essa representação gráfica tamm teve como objetivo criar uma imagem didática
das possíveis relações entre os componentes e variáveis selecionados, e serviu ainda aos
pesquisadores como um mecanismo de validação teórica do modelo, demonstrando a
possibilidade de reduzir as variáveis reais do sistema em um conjunto menor delas, o qual
permite a análise comparativa entre as duas comunidades, como proposto inicialmente.
Setas claras indicam influência mútua; Setas escuras indicam influência sem reciprocidade evidente.
Figura 4: Representação esquemática das relações consideradas
entre variáveis relativas à Paisagem, à Pesca, à Biodiversidade e à
Saúde, dadas pelas práticas materiais em comunidades pesqueiras.
A figura acima evidencia os grupos de variáveis que permitem caracterizar o
sistema socioambiental em questão, considerando aspectos referentes à paisagem, à
pesca, à biodiversidade e à saúde, adicionalmente os grupos de variáveis selecionadas
permitem identificar interações entre dinâmicas ou processos relativos aos diferentes
47
componentes dos sistemas estudados. Essas interações podem ser representadas pela
influência de um grupo de variável sobre outro de forma mútua, ao apenas em uma
direção. Na representação gráfica acima (Figura 4) as setas mais claras indicam
influência mútua, setas escuras indicam influência de um grupo de variáveis sobre outro,
sem reciprocidade evidente. Como exemplo, pode se observar que há relação direta entre
a produção de rejeitos da atividade da pesca de arrasto de camarão sobre a dieta, a
saúde e a reprodução de aves marinhas. Contudo, essa diversidade de aves marinhas,
não influencia diretamente a produção de rejeitos, mas tem relações ecológicas
recíprocas com a diversidade de recursos pesqueiros no ecossistema, por meio de
relações do tipo presa/predador. Assim, o modelo prevê a análise integrada de práticas,
com origem na sociedade, e de processos ecológicos que refletem as relões entre
diferentes grupos taxonômicos que compõem os sistemas socioambientais em estudo.
Outra correlação que poderia ser ressaltada, e que resulta de um conjunto de práticas
materiais particulares, está associada ao impacto das condições de saneamento e dos
sistemas de destinação de resíduos que afetam diretamente a paisagem e tamm, de
forma bastante direta, a qualidade de vida e a saúde de animais e pessoas na
comunidade. Adicionalmente, parte das práticas relacionadas ao saneamento e
destinação de resíduos decorrentes dos processos de limpeza e preparação dos
pescados para comercialização, tem influência sobre a saúde de animais domésticos
como cães e gatos, que por sua vez, em dependência dos sistemas de manejo animal,
podem ter diferentes graus de impacto sobre as populações locais de aves selvagens.
Em síntese, o modelo baseia-se na quantificação e qualificação de variáveis, as
quais estão agrupadas dentro do domínio de alguns componentes dos sistemas
avaliados, mais especificamente a paisagem, a pesca, a biodiversidade e a saúde. Estas
variáveis devem indicar as relações entre estes diferentes componentes, indicando
também se diferenças qualitativas ou quantitativas entre as duas comunidades em
estudo, servindo dessa forma, como mecanismo de comparação entre o estado dos
sistemas avaliados. Finalmente, as variáveis escolhidas, como indicadores, foram
selecionadas tamm por permitirem comparação com dados de literatura, ou servirem de
base para comparações futuras. Outras tiveram como determinante na sua escolha a
viabilidade de se obter dados que contribuíssem ao entendimento do funcionamento dos
sistemas socioambientais em estudo. Seguindo os critérios, expostos acima,
determinaram-se as variáveis específicas possíveis de serem analisadas na busca dos
48
nexos entre os temas, obtendo-se um conjunto de indicadores formado por 13 grupos de
variáveis e 45 variáveis específicas a serem observadas (Quadro 1). Cabe ainda ressaltar
que essas variáveis não esgotam as possibilidades de interações entre os componentes,
contudo são suficientes para explorar a hipótese de pesquisa.
49
Quadro 1: Componentes, grupos de variáveis e variáveis específicas selecionadas.
Componentes
Grupos de Variáveis
Variáveis Específicas
Paisagem
1. Moradias, Urbanização e Vias
de Acesso
1. Tamanho das comunidades
2. Características gerais das moradias
3. Densidade e distribuição das moradias
4. Vias de acesso, tempo médio e distâncias para os centros urbanos de
referência.
5. Características da vegetação
6. Outras características físico-geográficas
7. Meios Locais de transporte disponíveis
8. Sistemas de comunicação
9. Fluxo de Visitantes / Turistas
10. Serviços disponíveis na comunidade
2. Resíduos e Saneamento
11. Destino de resíduos sólidos
12. Destino de resíduos provenientes de atividades de pesca
13. Origem e qualidade da água
14. Estrutura de saneamento e destino de efluentes residenciais e outros
15. Evidências de impactos de efluentes no ecossistema
3. Uso de Recursos Naturais
16. Presença de evidências da captura de animais
17. Uso de recursos madeireiros e outros extrativismos vegetais
18. Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta
4. Frota pesqueira
19. Características da frota de cada comunidade
Pesca
5. Artes de Pesca
20. Artes de pesca
6. Recursos Utilizados
21. Riqueza e abundância
22. Sazonalidade
23. Destino da Produção
24. Esforço de pesca / produtividade
7. Rejeitos
25. Produção de rejeitos
26. Impactos decorrentes da produção de rejeitos
Biodiversidade
8. Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais
27. Abundância e Riqueza das Escies de Aves Florestais.
28. Guilda das Espécies de Aves Florestais
9. Aves Associadas aos
Ecossistemas Marinhos
29. Abundância e Riqueza de Espécies de Aves Marinhas
30. Interação das Espécies de Aves Marinhas com a Pesca
31. Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
32. Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
Saúde
10. Acesso aos Serviços de Sde
33. Presença de serviço de sde
34. Estrutura e serviços disponíveis regularmente
11. Condições de Saúde e Manejo
de Animais Dosticos
35. Censo de animais domésticos
36. Parâmetros de manutenção dos animais domésticos
37. Práticas relacionadas à saúde dos animais domésticos
38. Identificação de problemas de saúde animal
12. Estado Físico-Clínico e Perfil
Parasitário das Aves
Associadas aos Ecossistemas
Florestais
39. Condições clínicas gerais: Condição corporal; Parâmetros respiratórios;
Inspeção dermatológica, oftálmica e oral; e Parâmetros hematológicos
40. Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos
41. Morfotipos de hemoparasitos observados
42. Morfotipos de ectoparasitos observados
13. Estado Físico-Clínico das aves
Associadas aos Ecossistemas
Marinhos
43. Massa dos ovos de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus
dominicanus
44. Massa corporal e Parâmetros Clínicos de Sula leucogaster capturados em
Currais
45. Perfil geral dos registros de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus
dominicanus no PROAMAR (CEM UFPR).
A noção de indicador empregada no modelo utiliza o proposto por Andriguetto Filho
et al. (2002), que identificam os indicadores como signos de uma realidade complexa, ou
seja, variáveis que dão à análise grande poder de inferência sobre diversos processos,
não imediatamente aparentes dos sistemas natureza e sociedade. Ainda, segundo os
50
autores, outra propriedade dos indicadores é que estes devem representar a síntese de
uma grande quantidade de informações.
Deve-se esclarecer tamm que os conceitos que definem os termos, empregados
nos componentes do modelo de estudo, apresentam em comum a noção de inter-relação
entre os diferentes elementos que constituem a realidade, enfatizando ainda as atividades
antrópicas como grandes modeladoras dos sistemas socioambientais e, em última
instância, valorizam a noção de complexidade dinâmica e diversidade desses sistemas.
Essas quatro características comuns aos conceitos utilizados nesse modelo para definir
paisagem, pesca, biodiversidade e saúde, foram tamm delineadoras das discussões
que definiram a temática de pesquisa associada às práticas materiais e sustentabilidade,
bem como a hipótese central desse estudo.
Assim, quando se emprega o termo Paisagem como componente desse modelo o
termo tem uma conotação que referesse a um processo dinâmico de caráter abrangente e
segue fundamentalmente o conceito proposto por Bertrand (1968, apud SALGUEIRO,
2001) que considera que: ―a paisagem é, em uma certa porção do espaço, o resultado da
combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos ou abióticos, biológicos e
antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável que evoluciona em bloco”.
O termo Pesca, utilizado no modelo, está de acordo como o expresso por Amanieu
(1991, apud ANDRIGUETTO FILHO, 1999) que explica a pesca artesanal como um
sistema complexo, de múltiplas interações sociais e ecossistêmicas (...) com
componentes inter-relacionados‖. Sendo que a pesca se trata de uma rede de atividades
onde tudo é múltiplo e de difícil abordagem pela ciência, onde a complexidade é dada,
entre outras coisas, pela multiplicidade de espécies alvo, de estratégias de sobrevivência,
estratégias de captura, pontos de desembarque, e redes de comercialização complexas e
difusas.
O conceito que apóia o termo Biodiversidade, utilizado nesse modelo, também é
de caráter abrangente sendo expresso pela idéia de que esta aborda o total de genes,
espécies e ecossistemas de uma região‖. Considerando tamm que: A diversidade de
vida na Terra, hoje, é o produto de centenas de milhões de anos de história evolutiva. Ao
longo do tempo, as culturas humanas emergiram e se adaptaram ao ambiente local,
descobrindo, usando e alterando os recursos bióticos. Muitas áreas que hoje parecem
“naturais” trazem marcas de milênios de habitação humana, cultivo de terra e manejo de
51
recursos. A domesticação e a criação de variedades locais de cultivares e rebanhos
também moldaram essa biodiversidade” (WRI, 1992).
O termo Saúde, empregado como componente do modelo de estudo, está em
parte alinhado com o conceito da Organização Mundial de Saúde que situa a saúde
ambiental como uma área de atividade que leva em consideração fatores ambientais que
podem afetar a saúde, incluindo todos os fatores físicos, químicos e biológicos, externos a
um indivíduo, e todos aqueles que geram impactos relacionados ao comportamento
(WHO, 2009). Diferente da definição da Organização Mundial de Saúde, no modelo de
estudo proposto, entende-se como indivíduo não apenas seres humanos, e sim qualquer
indivíduo componente da comunidade biológica nas áreas de estudo. Aqui o termo saúde
também se apóia no proposto por Mangini e Silva (2007) onde “a saúde ambiental não
pode ser interpretada como algo estático, e sim como um estado de constantes alterações
autorreguladas, o que significa que os padrões de surgimento de enfermidades e seus
efeitos sobre a saúde humana, animal e vegetal também permanecem dinâmicos e
dependentes entre si”.
Finalmente, ainda que uma discussão mais ampla sobre outros conceitos e usos
dos termos associados à saúde ecológica e ambiental tenha sido realizada anteriormente
no capítulo denominado Referencial Teórico, cabe aqui salientar que, quando se observa
acima que o componente ―Saúde‖, está corroborado por duas definições ligadas ao
ambiente, poderia se questionar por quais razões não se empregou neste modelo o termo
Saúde Ambiental. A mesma dúvida deveria surgir a respeito do componente ―Pesca‖, o
qual poderia ser substituído por Pesca Artesanal. Caberia ainda o mesmo questionamento
aos componentes ―Biodiversidade e Paisagem‖, que poderiam ser transformados em
subcategorias como Biodiversidade de Aves e Recursos Pesqueiros ou Paisagem
Antrópica. A utilização dos termos escolhidos, sem empregar subcategorias analíticas,
fundamenta-se principalmente em duas premissas. A primeira é reconhecer que o modelo
prevê e pode incluir a existência de complexidade dentro dele, independente dos rótulos
dados às subcategorias. Assim, o modelo o se propõe a enquadrar essa complexidade
de forma definitiva em um espaço restrito do conhecimento, mas propõe-se a utilizar
categorias que aceitem diversas subcategorias em seus domínios. A segunda é situar o
modelo em um estado de generalidade, onde possa ser aceitável aplicá-lo a outros
sistemas socioambientais com características semelhantes às estudadas aqui. Esta
premissa baseia-se tamm na idéia de que a redução para níveis de hierarquia inferiores
não representa necessariamente vantagem para o entendimento da complexidade, e que
52
o interesse do estudo sobre sistemas complexos é na verdade sua organização (MAYR,
2005).
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Local de Estudo
O estudo foi desenvolvido nas comunidades pesqueiras denominadas Barra do
Ararapira (25
o
17’28’’S e 48
o
05’34’’O) e a Barra do Superagui (25
o
27’19’’S e 48
o
14’50’’O),
localizadas no Parque Nacional do Superagui, município de Guaraqueçaba, litoral do
Estado do Paraná (Figura 5 a Figura 7). Uma delas, a do Ararapira, se encontra dentro
dos limites do Parque ao passo que a outra, a do Superagui, está adjacente à área limite
da unidade. A escolha dessas comunidades de pescadores, como objeto de estudo
comparativo, foi decorrente do fato destas estarem localizadas na área de influência de
um parque nacional, e por aparentemente apresentarem diferenças significativas na forma
como utilizam e modelam a paisagem, bem como das formas como se apropriam dos
recursos pesqueiros. Constituindo ainda, bons exemplos do perfil das práticas de pesca
artesanal empregadas no Estado do Paraná.
Figura 5: Localização das áreas de estudo (Ilustração: Paulo R
Mangini, 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1).
53
Figura 6: Imagem fotográfica por salite da área da Vila do Superagui
(Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1).
Figura 7: Imagem fotográfica por satélite da área da Vila do Ararapira
(Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.: Google Earth 5.1).
54
4.2 Modelos de Coleta de Dados
Para a obtenção dos dados relativos às variáveis específicas do modelo foram
empregados métodos de levantamento de dados primários tanto das ciências naturais
quanto das ciências sociais, bem como informações secundárias.
Os métodos gerais para o levantamento de dados pertinentes a cada variável
podem ser classificados em três categorias: 1) ―Observação direta‖ que se refere à
amostragem direta de parâmetros biológicos, sanitários e da paisagem; 2) Observação
Participativaque se refere à coleta de dados por meio ou entrevistas semi-estruturadas e
conversas informais com informantes considerados como especialistas, ou seja, aqueles
que se identificam ou são identificados pela comunidade como conhecedores de
determinado assunto, como o proposto por Marques (1991) e Pinheiro et al. (2008).
Nesse caso as aproximações seguiram ainda o modelo descrito por Goldenberg (1997),
que destaca a importância de criar uma atmosfera amistosa e de confiança entre
pesquisador e o entrevistado; e 3) Dados pretéritos ou secundários que se refere à
informação pré-existente em fontes impressas e digitais, como mapas, publicações e
bancos de dados de instituições que atuam na região. Em linhas gerais, os dados de
caráter quantitativo foram obtidos primariamente por meio de observação direta, dados
pretéritos e secundários, ao passo que dados de caráter qualitativos foram obtidos por
meio de observação participativa e entrevistas semiestruturadas.
Os dados obtidos por observação direta, entrevistas e observação participativa
foram coletados durante quatro visitas à comunidade do Superagui, somando 14 dias na
localidade, entre março de 2009 e janeiro de 2010. Na comunidade do Ararapira foram
realizadas três visitas, num total de 12 dias, entre dezembro de 2008 e agosto de 2009,
perfazendo aproximadamente 320 horas de atividades de coleta de dados em campo.
Adicionalmente, duas expedições ao Arquipélago de Currais para coleta de dados foram
realizadas nos meses de agosto de 2009 e janeiro de 2010, perfazendo um total
aproximado de 30 horas de atividades em campo.
4.3 Coleta de Dados Referentes à Paisagem
55
A paisagem foi caracterizada a partir de variáveis que permitissem avaliar os
reflexos das práticas relacionadas à pesca e uso de outros recursos biológicos, ou que
pudessem ter relações com qualidade de vida ou saúde dos moradores em cada
comunidade estudada. Os dados referentes às características da paisagem foram
coletados utilizando-se principalmente da observação direta e participante, bem como de
entrevistas semiestruturadas com informantes especialistas. Os dados foram obtidos com
seis informantes na comunidade do Ararapira e oito na comunidade do Superagui, no
período entre dezembro de 2008 e novembro de 2009. Adicionalmente, foram obtidos
registros fotográficos de características variadas da paisagem, os quais serviram como
apoio na obtenção dos dados de campo e na caracterização geral de cada comunidade.
4.3.1 Moradias, Urbanização e Vias de Acesso
Os dados referentes ao grupo de variáveis denominado Moradias, Urbanização e
Vias de Acesso‖, foram obtidos prioritariamente por meio de observação direta, a partir de
deslocamentos pelas trilhas presentes na área da comunidade, observando aspectos
qualitativos e quantitativos relativos às variáveis específicas como: ―Características gerais
das moradias‖; ―Densidade e distribuição das moradias‖; ―Características da vegetação‖;
―Outras características físico-geográficas‖; e ―Meios Locais de transporte disponíveis‖.
Adicionalmente, informações complementares sobre estas variáveis foram tamm
obtidas com auxílio de informantes especialistas. Os dados relativos à variável
―Características gerais das moradias‖ foram computados levando-se também em
consideração os cuidados com área externa, estruturas adjacentes e manutenção das
moradias, obedecendo a uma escala variando entre:
Baixo: Presença de acúmulos de restos de materiais diversos, construção, redes de
pesca, plásticos, metais, vidros e outros recicláveis que não estejam destinados a
aproveitamento aparente. Pintura e estrutura física da moradia bastante desgastada.
Jardins sem manutenção e/ou paisagismo.
Médio: Presença eventual e em baixa quantidade de restos de materiais diversos que
não estejam destinados a aproveitamento aparente. Pintura e estrutura física da
moradia mediamente desgastada. Jardins com eventuais sinais de manutenção e/ou
paisagismo.
56
Alto: Ausência de acúmulos de materiais diversos que não estejam destinados a
aproveitamento aparente. Pintura e estrutura física da moradia em bom estado. Jardins
delimitados com manutenção e/ou paisagismo
Conforme a proporção de residências classificadas dentro de cada uma das
categorias da escala acima, cada comunidade recebeu uma classificação geral com base
na mesma escala.
Os dados referentes à variável ―Tamanho das comunidades‖ foram obtidos a partir
de coordenadas geográficas, utilizando-se de um aparelho de posicionamento global,
modelo Colorado 300, Garmin Ltda., e software de apoio Mapsource v.6.13.7. Garmin
Ltda. O tempo médio e distâncias estimadas para acesso a partir de centros urbanos de
referência foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas e utilizando-se
imagens de satélite e ferramentas de medição do software Google Earth 5 1.3533.1731,
Google Inc.
As variáveis ―Sistemas de comunicaçãoe ―Serviços disponíveis na comunidade‖
foram avaliadas por meio de observação participativa e entrevistas semiestruturadas.
Dados referentes à variável ―Fluxo de Visitantes / Turistas‖ foram obtidos por meio de
dados secundários (MISAEL, 2005) e informantes especialistas.
4.3.2 Resíduos e Saneamento
Dentro do grupo de variáveis denominado ―Resíduos e Saneamento‖ os dados
referentes ao Destino de resíduos provenientes de atividades de pesca‖; ―Estrutura de
saneamento e destino de efluentes residenciais e outros‖; Evidências do impacto de
efluentes no ecossistema‖; e ―Origem e qualidade da água‖, foram obtidos empregando-
se os métodos de entrevistas, observação participativa e observação direta. Neste último
o pesquisador percorria as trilhas da comunidade observando aspectos qualitativos e
quantitativos relativos às variáveis específicas.
A variável denominada ―Destino de resíduos sólidos‖ foi avaliada também por meio
de observação participativa e observação direta, contudo para avaliar o perfil destes
resíduos dispersos nas duas comunidades em estudo realizou-se uma amostragem com
20 pontos de coleta em cada comunidade, 10 deles foram realizadas em uma das trilhas
principais da comunidade e outros 10 na faixa de entremarés. A amostragem foi
distribuída ao longo de 1.000 metros de deslocamento linear, com intervalos de 100
metros entre cada ponto amostral. Cada ponto de amostra foi compreendido por uma
57
circunferência com cinco metros de raio, na faixa de entremarés, e dois metros quadrados
nas trilhas. Em cada ponto amostral todos os itens observados foram identificados
qualitativa e quantitativamente, permitindo o cálculo da prevalência dentro dos grupos de
resíduos observados e a distribuição quantitativa de itens específicos observados nas
duas comunidades.
Os resíduos sólidos observados foram agrupados em: 1) Plásticos/Isopor
contendo materiais como Copo descartável; Fragmento de espuma; Fragmento de
isopor; Fragmento de nylon; Fragmento de plástico; Papel de bala (matéria plástica);
Sacos e sacolas de plástico; e Vasilha plástica; 2) Vidro contendo materiais como
Fragmento de vidro e Vasilha de vidro; 3) Papel/Madeira contendo materiais como
Fragmento de madeira; Fragmento de papel; e Filtro de cigarro; 4) Metal contendo
materiais como Vasilha de metal e Fragmento de metal; e 5) Outros contendo
materiais como Fragmento de tecido; Fragmento de alvenaria; e Embalagem tipo
Tetrapak.
4.3.3 Uso de Recursos Naturais
Os dados referentes ao grupo de variáveis denominado Uso de Recursos
Naturais‖, foram obtidos prioritariamente por meio de observação direta de aspectos
qualitativos e quantitativos dos indícios de atividades extrativistas, nas trilhas e áreas de
floresta, adjacentes às comunidades em estudo. Considerando-se que o havia o
objetivo de identificar a abrangência da área de influência das comunidades utilizou-se
como limite para as avaliações um raio de 300 metros, a partir do limite de distribuição
das edificações, metragem suficiente para abordar os dados necessários ao modelo. Foi
percorrido um trajeto de 3,5 km no Superagui, em quatro oportunidades distintas,
perfazendo um total de 14 km de deslocamentos para essa atividade. Na comunidade do
Ararapira a avaliação do uso de recursos naturais ocorreu em três ocasiões e
compreendeu um trajeto de 3,0 km, perfazendo um total de 9,0 km de deslocamentos.
As variáveis ―Presença de evidências da captura de animais‖ e ―Uso de recursos
madeireiros e coleta de plantas‖ foram quantificadas por meio de observação de indícios
como armadilhas para mamíferos e aves, corte de árvores, retirada de plantas e outras
alterações antrópicas relacionadas às atividades de caça e extrativismo vegetal. Como foi
realizada mais de uma avalião por local de estudo, a quantificação considerou apenas
os indícios recentes, descartando aqueles registrados na avaliação anterior. Em cada
58
amostragem procedeu-se a classificação da área em relação à utilização de recursos
animais e vegetais obedecendo à seguinte escala: 1) Nula Indícios de uso de recursos
extrativistas inexistentes; 2) Baixo Até cinco indícios de uso dos recursos por campanha
amostral; 3) Médio Entre seis e dez indícios de uso dos recursos por campanha
amostral; 4) Alto Mais do que dez indícios de uso dos recursos por campanha amostral.
Prevalecendo para cada comunidade a pontuação mais alta ao final da série de
avaliões.
A variável ―Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta‖ foi caracterizada
observando-se duas dimensões, uma que distingue as características físicas das trilhas e
outra que define a quantidade dessas alterações antrópicas no ambiente. A
caracterização dos tipos de trilhas para deslocamento na floresta seguiu a seguinte
escala: 1) Trilha tipo A = menos de um metro de largura, sem exposição do solo, com
pouca definição de trajeto; 2) Trilha tipo B = mais de um metro de largura, com exposição
parcial e pontual do solo, e trajeto bem definido; 3) Trilha tipo C = mais de um metro de
largura, com exposição do solo, e trajeto bem definido.
A presença e a quantidade de trilhas utilizadas para deslocamento na floresta
observadas nas áreas adjacentes a cada comunidade foi caracterizada obedecendo à
seguinte escala: 1) Nula: Trilhas inexistentes; 2) Baixa: Até cinco trilhas tipo C e/ou B no
raio de 300 metros da comunidade; 3) Média: Entre seis e dez trilhas do tipo C e/ou B no
raio de 300 metros da comunidade; 4) Alta: Mais do que dez trilhas do tipo C e/ou B no
raio de 300 metros da comunidade.
4.3.4 Frota pesqueira
Os dados referentes ao perfil da frota pesqueira, observada nas duas
comunidades, foram obtidos por meio de observação participativa e entrevistas semi-
estruturadas, com informantes considerados especialistas. Em adição, utilizaram-se
dados bibliográficos, com base principalmente no trabalho de Malheiros (2008).
4.4 Coleta de Dados Referentes às Práticas Pesqueiras
4.4.1 Artes de Pesca; Recursos Utilizados e Rejeitos
59
As características da pesca em cada comunidade estudada foram levantadas
considerando os grupos de variáveis que compreenderam ―Artes de Pesca‖; ―Recursos
Utilizados e ―Rejeitos‖. Os dados referentes à pesca foram obtidos seguindo três
métodos distintos. O principal foi à utilização de dados secundários brutos, coletados pelo
Projeto: “Nas malhas da inclusão – subsídios para implantação do plano de gestão
participativa da pesca na APA de Guaraqueçaba/PR” do IPÊ Instituto de Pesquisas
Ecológicas. O referido projeto coletou dados primários sobre pesca em diversas
localidades na APA de Guaraqueçaba durante todo o ano de 2009, monitorando
diariamente todas as atividades pesqueiras empreendidas pelos pescadores. O registro
das informações foi efetuado por pescadores locais, um em cada vila, que foram
previamente instruídos pelos técnicos do projeto em relação aos procedimentos de
preenchimento dos diários de pesca (MALHEIROS, 2010 com. pessoal). Os dados
coletados foram gentilmente cedidos pelos coordenadores do projeto e incluíram esforço
pesqueiro, artes de pesca utilizadas, recursos explotados, destino do pescado e valor de
venda, dentre outros (Quadro 2).
Quadro 2: Dados recolhidos pelos pescadores nos cadernos de anotação de dados da
pesca.
Data
Embarcação
Nome dos pescadores
Horário de saída h
Horário de chegada h
Local de pesca (pesqueiro)
Produção (separar de acordo com o tipo):
Camarão ___________________________________________________
Peixe _______________________________________________________
Tipo de pescaria:
Tamanho e malha das redes:
N
o
de lanços:
Duração de cada lanço:
Preço de venda (separar de acordo com os recursos):
Comprador: ( ) da Vila ( ) de Fora ( ) outro _________________
Gasto (R$):
Óleo _______________ Alimentação _______________ Outros ___________________
60
Secundariamente, como apoio aos dados quantitativos obtidos por meio dos
cadernos de anotação dos dados de pesca, utilizou-se de observação participativa e
entrevistas semiestruturadas, com informantes considerados especialistas, representadas
pela realização de oito entrevistas na comunidade do Ararapira e dez entrevistas na
comunidade do Superagui, conduzidas no período entre dezembro de 2008 e novembro
de 2009. Em adição, utilizaram-se dados bibliográficos referentes às atividades de pesca
artesanal no Paraná, principalmente os trabalhos de Andriguetto-Filho (1999), Krul (1999),
Rickli (2001), Santos (2006), Malheiros (2008), Schuartz Junior (2009), Carniel (2008),
Pina (2009) Cattani (2010).
Os dados relativos às variáveis específicas Artes de pesca‖; ―Riqueza e
Abundância‖; ―Sazonalidade‖; ―Esforço de Pesca / Produtividade‖ e ―Destino da produção‖
foram obtidos por meio dos dados do projeto Malhas da inclusão‖, e complementados por
entrevistas, observação participativa e referências bibliográficas. Os dados relativos à
―Produção de rejeitos‖ foram obtidos por meio de entrevistas, observação participativa e
dados bibliográficos. A identificação dos ―Impactos decorrentes da produção de rejeitos‖
foi obtida com base em informações bibliográficas, utilizando as fontes supracitadas.
4.5 Coleta de Dados Referentes à Biodiversidade
4.5.1 Aves Associadas a Ecossistemas Florestais
Para a avaliação das variáveis específica Abundância e Riqueza das Espécies de
Aves Florestais‖ e ―Guilda das Espécies de Aves Florestais‖ foi utilizado o método de
Pontos de Escuta, idealizado por Blondel et al. (1970) para as regiões temperadas e
adaptado por Vielliard e Silva (1990) para as regiões tropicais. Este método consiste em
uma série de observações com duração de 10 minutos, em que o pesquisador permanece
em pontos pré-determinados pelo tempo previsto, anotando as espécies e a quantidade
de indivíduos registrados visualmente ou por escuta (VIELLIARD e SILVA, 1990). Estes
pontos foram distribuídos ao longo das trilhas principais das duas comunidades
estudadas. Cada ponto de amostragem foi estabelecido mantendo-se uma distância de
150 metros entre seus adjacentes, para evitar possíveis sobreposições de contatos. No
total foram realizadas duas séries de avaliações por meio do índice pontual de
abundância em cada área de estudo, sendo utilizados 50 pontos de observação no
Superagui e 33 pontos na comunidade do Ararapira. Para o estabelecimento das guildas
61
das aves registradas em cada comunidade foram utilizados como base os trabalhos de
Moraes (1998) e Stotz et al. (1996).
Dados não publicados, disponibilizados pelo Laboratório de Ornitologia do CEM-
UFPR, foram utilizados de forma comparativa aos dados obtidos nos levantamentos do
Ararapira e do Superagui, fornecendo informações sobre a diversidade de aves de uma
área controle denominada Penedo (25º34’16’’ S e 48º23’42’’) (Figura 8), onde foi utilizado
o mesmo método de estudo e com esforço amostral equivalente. Esta área controle se
desenvolveu sob condições geológicas e geográficas similares às áreas das comunidades
estudadas, os três locais tamm se caracterizam por terem sido explorados pelo homem.
A maior diferença atualmente se refere à inexistência de concentrações humanas atuando
diretamente na área controle e presença bem definida dos extratos vegetais. Para a
avalião da curva cumulativa de espécies observadas a partir dos censos em cada vila
foi utilizada a curva de rarefação baseada em amostras, construída utilizando-se a
fórmula analítica proposta por Colwell (2004) e implementada pelo software EstimateS
v.7.
Figura 8: Área de estudo controle no Penedo, município de Pontal do
Paraná (Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.: Google
Earth 5.1).
62
4.5.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos
Para as variáveis específicas de Abundância e Riqueza de Espécies de Aves
Marinhas; ―Diversidade da Dieta das Aves Marinhas‖; ―Dinâmicas da Reprodução de
Aves Marinhas‖; ―Interação das Espécies de Aves Marinhas com a Pesca‖, os dados
foram obtidos a partir de fontes bibliográficas, considerando principalmente os trabalhos
de Krul (1999), Krul (2004), Carniel (2008) e Campos et al. (2004) bem como dados não
publicados, disponibilizados pelo Laboratório de Ornitologia do CEM-UFPR.
4.6 Coleta de Dados Referentes à Saúde
A saúde em cada comunidade foi caracterizada a partir de quatro grupos de
variáveis. O primeiro relacionou-se às condições de saúde pública na comunidade,
denominado ―Acesso aos Serviços de Saúde. O segundo grupo de variáveis denominou-
se ―Condições de Saúde e Manejo de Animais Domésticos‖ e relaciona-se com práticas
empregadas na manutenção de animais domésticos. O terceiro grupo de variáveis foi
denominado ―Estado Físico-Clínico e Perfil Parasitário das Aves Associadas a
Ecossistemas Florestais‖, que abordou aspectos de saúde relativos às aves de hábitos
florestais, principalmente passeriformes, que habitam as áreas adjacentes às
comunidades em estudo. O quarto grupo ―Estado Físico-Clínico das Aves Associadas aos
Ecossistemas Marinhos‖ abordou a saúde de aves marinhas representadas por Atobás
(Sula leucogaster), Fragatas (Fregata magnificens) e Gaivotas (Larus dominicanus), que
no litoral do Paraná utilizam como área de descanso e reprodução o Arquipélago de
Currais (25º44’10’’ S e 48º21’53’’ O) (Figura 9), localizado a 12 km da costa do Município
de Pontal do Paraná, composto por três ilhas rochosas, a maior delas denominada
Grapirá (Figura 10).
63
Figura 9: Localização do Arquipélago de Currais (Ilustração: Paulo R.
Mangini / Imagem Satelital de 2000: INPE).
Figura 10: Vista do Arquipélago de Currais (Imagem: Viviane L.
Carniel).
64
4.6.1 Acesso aos Serviços de Saúde
A totalidade dos dados referentes ao grupo de variáveis denominado ―Acesso aos
Serviços de Saúde‖, foi obtida por observação participativa e entrevistas semi-
estruturadas, com informantes considerados especialistas, buscando informações de
ordem primariamente qualitativa. A amostragem consistiu em de seis entrevistas
semiestruturadas na comunidade do Ararapira e oito na comunidade do Superagui,
realizadas no período entre dezembro de 2008 e janeiro de 2010.
4.6.2 Condições de saúde e manejo dos animais domésticos
Os dados referentes ao grupo de variáveis denominado ―Condições de saúde e
manejo dos animais domésticos‖, foram obtidos tamm primariamente por meio de
observação participativa e entrevistas semi-estruturadas. Adicionalmente, os dados
referentes às variáveis ―Censo de animais domésticos e Identificação de problemas de
saúde animal‖ foram complementados por meio de observação direta. Para tanto, se
realizou um censo de animais utilizando-se da técnica de contagem por transecção linear
(WWF, 2000). Sendo assim, as trilhas disponíveis na comunidade foram identificadas e
subdivididas em 20 transecções numeradas. As contagens eram realizadas em dez
transecções sorteadas a cada evento de contagem, sendo realizados três eventos no
Ararapira e três no Superagui. Para realizar a contagem o pesquisador deslocava-se a
lentamente pelas trilhas registrando todos os indivíduos observados de todas as espécies
domésticas presentes. A estimativa da população para cada espécie foi dada
multiplicando-se o número médio de animais observados por transecção, considerando os
três eventos de contagem, pelo número total de transecções em cada comunidade.
4.6.3 Estado Físico-Clínico e o Perfil Parasitário das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais
Os dados referentes ao grupo de variáveis denominado Estado Físico-Clínico e o
Perfil Parasitário das Aves Associadas a Ecossistemas Florestais‖, foram obtidos
primariamente por meio de observação direta. Duas atividades principais formam
desenvolvidas em campo para obtenção desses dados. A primeira foi a captura de aves
65
de ambiente florestal em áreas adjacentes às comunidades em estudo, utilizando-se de
redes para captura de aves (redes de neblina Figura 11).
Figura 11: Redes de neblina para captura de aves. A) Aspecto da rede disposta no
ambiente, tornando-se pouco perceptível; B) Exemplar de Thrythorus longirostris
(Arapaçu) retido em uma rede de neblina (Imagens: Ana L. M. Gomes).
Na comunidade do Superagui foram realizadas duas campanhas de captura de
aves florestais, com duração de três dias cada. Foram utilizadas seis redes de neblina
com dimensões de 3,0 m de altura por 12,0 m de comprimento em cada campanha. As
redes foram distribuídas em duas séries de três redes em dois diferentes pontos
amostrais fixos, que se repetiram nas duas campanhas. Cada ponto amostral contou com
uma rede de malha 64 mm e duas com malha de 32 mm. As redes foram abertas
diariamente as 07h00min e fechadas as 11h00min, retornando a abri-las as 14h00min e
fechando-as as 18h00min horas, totalizando desta forma 288 horas de rede. O cálculo de
horas de rede foi realizado pela multiplicação do número de redes utilizadas, pelo número
de horas por dia em que permaneceram abertas e também pelo total de dias em
atividade, somando as campanhas de captura [Horas rede = redes x Horas dia x
campanhas]. As redes foram vistoriadas de hora em hora para a retirada dos indivíduos e
posterior identificação e amostragem de material biológico. Os mesmos procedimentos
foram adotados nas capturas de aves na comunidade do Ararapira, contudo nesse local
foi realizada apenas uma campanha com quatro dias de duração, totalizando desta forma
A
B
66
192 horas de rede. As aves capturadas foram submetidas a exame físico, inspeção para
presença de ectoparasitos, adicionalmente era obtida uma a duas gotas de sangue total
para esfregaço. A variável ―Condições clínicas gerais‖ das aves florestais manipuladas foi
aferida por meio da avaliação de parâmetros respiratórios, inspeção dermatológica,
oftálmica e oral e da condição e massa corporal. Para aferir a massa corporal foi utilizado
um dinamômetro da marca Pesola ® com capacidade de 100,0 g e precisão de 1,0 g e
outro com capacidade de 300,0 g e precisão de 2,0 g. Os procedimentos de manipulação
das aves nessas condições eram realizados em uma base de campo temporária,
instalada próxima ao local onde estavam as redes, o que permitia a realização dos
procedimentos sem a interferência de insetos hematófagos (Figura 12 a Figura 15).
Figura 12 Avaliação física, por
auscultação, em um exemplar de
Patagioenas cayennensis (Pomba-
galega) capturado na comunidade do
Ararapira (imagem: Ana L.G. Mendes).
Figura 13: Detalhe da amostragem de
ectoparasitos, em um exemplar de
Turdus amaurochalinus (sabiá-pocá),
fazendo do uso de fita adesiva incolor
(imagem: Juliana Rechetelo).
67
Figura 14: Atividade de preparação para
colheita de material biológico de aves
associadas aos ecossistemas florestais,
realizada no interior da base de campo
temporária (Imagem: Ana L.G. Mendes).
Figura 15: Colheita de amostra de sangue
de um exemplar juvenil de Ramphocelus
bresilius (tié-sangue) para realização de
esfregaço (imagem: Ana L.G. Mendes).
A condição corporal foi avaliada subjetivamente por palpação, determinando-se a
proporção de musculatura peitoral em relação à quilha do osso esterno (Harrison e
Ritchie, 1994). Aves adultas saudáveis que possuíam a musculatura peitoral bem
formada, de consistência firme e arredondada, com uma leve curvatura no sentido dorsal
foram classificadas como apresentando bom escore corporal (Figura 16-A). Aves
medianamente debilitadas que possuíam a quilha do osso esterno proeminente em
decorrência da atrofia muscular, foram classificadas como moderadamente magras ou
magras (Figura 16-B e C). Aves muito debilitadas que apresentaram substancial perda de
massa da musculatura peitoral e o osso esterno bastante proeminente foram classificas
como extremamente magras (Figura 16-D).
68
A
B
C
D
A) Bom Escore Corporal; B) Moderadamente Magro; C) Magro; e D) Extremamente Magro
Figura 16: Representação esquemática da secção, em plano
transversal, do osso esterno (OE) e da musculatura peitoral (MP)
das aves (Ilustração: Paulo Rogerio Mangini. Adaptado de
Harrison e Ritchie, 1994)
Para obtenção dos dados referentes aos parâmetros hematológicos, bem como os
dados relativos à variável ―Morfotipos de hemoparasitos observadosas aves capturadas,
que apresentavam massa corporal acima de 10 g, foram submetidas à punção percutânea
de veias superficiais do tibiotarso, utilizando-se de uma lanceta de coleta. Uma a duas
gotas de sangue total eram colhidas diretamente em mina de microscopia, para
realização de esfregaços sanguíneos (Figura 15), os quais foram realizados
imediatamente após a obtenção da amostra. Posteriormente os esfregaços foram corados
pela coloração de Giemsa e/ou Panótico rápido. O perfil dos parâmetros hematológicos e
o diagnóstico e identificação de hemoparasitos foram realizados por microscopia ótica,
executados por profissionais especializados, no laboratório de fauna selvagem da
empresa Vida Livre Medicina de Animais Selvagens Ltda., com base em informações
hematológicas e parasitológicas apresentados por Campbell (1994) e Bowman (1995). As
69
aves que apresentassem qualquer alteração clínica ou escore corporal insatisfario eram
classificadas como estando com problemas clínicos.
Os dados referentes à variável ―Morfotipos de ectoparasitos observados‖ foram
obtidos por meio da identificação dos ectoparasitos. Para tanto, quando houve presença
de ectoparasitos, estes foram colhidos utilizando-se uma fita adesiva incolor, a qual era
suavemente pressionada sobre os parasitos retirando-os das penas ou pele das aves
parasitadas. Após a coleta os ectoparasitos eram inicialmente mantidos afixados, pelas
fitas adesivas, em um caderno de campo (Quadro 3). Posteriormente, em laboratório, os
exemplares eram retirados das fitas adesivas e fixados em álcool 70%. Os ectoparasitos
colhidos foram submetidos à análise para caracterização taxonômica. A identificação dos
ectoparasitos foi realizada por microscopia óptica, executada por profissionais
especializados, no laboratório de fauna selvagem da empresa Vida Livre Medicina de
Animais Selvagens Ltda., sendo utilizados para esse fim apoio dos artigos e chaves
classificatórias de Berla (1959); Atyeo and Braasch (1966); Park e Atyeo (1971A, 1971B,
1972) e Cerny (1974).
Quadro 3: Dados registrados no Caderno de campo para captura de aves associadas aos
ecossistemas florestais
Data:
Local:
N
o
ID:
Espécie
Nome comum:
Massa Corporal:
Sexo:
Escore corporal: Bom ; Mod.Magro ; Magro ; Ext.Magro
Exame físico:
Oral:
Ausculta:
Músculo Esquelético:
Abdominal:
Cutâneo:
Infestação por Ectoparasitos: Nula ; Sinais ; Baixa ; dia ; Alta ;
Amostras: Ectos Local:
Sangue: Papel Filtro ; Esfregaço ; Fezes
Outras Observações:
Área para Fixação Ectoparasitos de Pena
Os dados referentes à variável ―Prevalência do Grau de Infestação por
ectoparasitos‖ foram obtidos visualmente de forma semiquantitativa, sendo as aves
classificadas segundo o Grau de infestação nas seguintes categorias: 1) Nulo sem
70
presença ou sinais de ectoparasitos; 2) Sinais presença de lesões nas penas
ocasionadas por piolhos mastigadores, contudo sem a presença dos parasitos; 3) Baixo
presença de até dez indivíduos de uma ou mais espécies de ectoparasitos; 4) Médio
presença de dez a vinte indivíduos de uma ou mais espécies de ectoparasitos; e 5) Alto
presença de mais de vinte indivíduos de uma ou mais espécies de ectoparasitos. A
prevalência foi determinada nas duas áreas em estudo calculando-se o percentual de
indivíduos avaliados que se enquadraram em cada uma das categorias acima.
Utilizou-se como medida da diversidade de parasitos a curva de estabilização de
espécies, dada pelo valor acumulado de espécie e morfotipos de parasitos em cada sítio
amostral. Adicionalmente, foi mensurada também a diversidade de diferenciação por meio
do índice de similaridade de Jaccard (MAGURRAN 1988). Este foi dado pelo número total
de morfotipos ou espécies de ectoparasitos em cada área de amostragem. O Índice de
similaridade de Jaccard (Sj) foi obtido pela equação [Sj = j/ (a+b-j)], onde: j = número de
espécies comuns nos ambientes em ―a‖ e ―b‖; a = mero de espécies no ambiente ―a‖; b
= número de espécies no ambiente ―b‖. O índice caracteriza as mudanças na composição
da comunidade biótica em diferentes sítios amostrais dando a diversidade de
diferenciação‖ que é a medida de quão diferentes ou similares são os dois ou mais
ambientes. Assim o índice fornece uma noção de distância entre a diversidade de
espécies presentes em duas ou mais áreas. O mesmo perfil biótico nas duas áreas seria
representado pelo valor 1,0 (WILSON e MOHLER 1983, MAGURRAN 1988).
Adicionalmente, a prevalência de morfotipos de ectoparasitos, considerando apenas aves
parasitadas, foi estabelecida levando-se em conta o sítio amostral onde foram coletados,
bem como sua distribuição dentro das categorias de itens alimentares consumidos pelas
aves capturadas nos dois sítios de estudo.
4.6.4 Estado Físico-Clínico das Aves Associadas aos Ecossistemas
Marinhos
Os dados referentes ao grupo de variáveis denominado ―Estado Físico-Clínico das
Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos‖, foram obtidos por meio de observação
direta, utilizando tamm para algumas variáveis dados secundários. A variável Massa
dos ovos de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanusfoi obtida por
meio de dados secundários o publicados, disponibilizados pelo Laboratório de
71
Ornitologia do CEM-UFPR, e tamm com base nos dados de Krul (1999) e Carniel
(2008).
Os dados referentes à variável ―Massa corporal e Parâmetros Clínicos de Sula
leucogaster capturados em Currais‖ foram aferidos por meio da avaliação de parâmetros
respiratórios, inspeção dermatológica, oftálmica e oral e da condição e massa corporal.
Para tanto, no Arquipélago de Currais foram capturadas 33 aves, diretamente dos ninhos
no solo com auxílio de puçás de rede e luvas de raspa de couro. Para aferir a massa
corporal foi utilizado um dinamômetro da marca Pesola ® com capacidade para 5.000,0 g
e precisão de 50,0 g. A condição corporal dessas aves tamm foi avaliada
subjetivamente por palpação, seguindo os mesmo parâmetros descritos para avaliação
das aves de hábitos florestais. Os dados obtidos em campo foram anotados em ficha de
campo específica (Figura 17)
Figura 17: Réplica reduzida da ficha de campo
utilizada para registro de dados de captura de Sula
leucogaster.
A variável específica Perfil geral dos registros de Sula leucogaster, Fregata
magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR (CEM UFPR)‖ abordou a massa
72
corporal e o estado clínico dessas espécies, obtendo informações a partir de dados
secundários, correspondentes aos registros de animais recebidos pelo Programa de
Reabilitação de Aves, Mamíferos e Répteis Marinhos PROAMAR. Os dados foram
disponibilizados pelo Laboratório de Ornitologia do Centro de Estudos do Mar (CEM)
Universidade Federal do Paraná (UFPR), responsável pelo programa, e abrangeram o
intervalo entre 1992 e 2009.
4.7 Procedimentos de Análise dos Dados
Para a maior parcela das séries de dados obtidas foi utilizada estatística descritiva,
para obtenção de percentuais de abundância, frequência ou prevalência de dados em
geral. Para as comparações entre áreas específicas, em relação à riqueza de espécies e
à abundância relativa, e avaliação temporal da qualidade dos ovos de aves marinhas, foi
utilizado o valor total destas variáveis obtidas em cada censo e em cada amostragem.
Dados obtidos por meio de escalas qualitativas previamente definidas, como às variáveis
―Condições clínicas gerais‖ e ―Grau de Infestação por ectoparasitos‖ de aves selvagens
tiveram suas classes de variação dispostas em escalas ordinais, do menos ao mais
favorável, para possibilitar a análise estatística. Para as análises de variância (ANOVA)
foram realizados testes ―a priori‖ para avaliar a homogeneidade entre estas. Nestes casos
utilizaram-se testes univariados (Univariate Tests). Análises de variância unifatoriais foram
utilizadas para testar a significância nas diferenças entre as áreas amostradas. Quando
as diferenças foram significativas aplicaram-se testes a posteriori, utilizando-se o teste
das Diferenças Mínimas Significantes (LSD). Nos casos em que não foi possível a
aplicação da ANOVA, foram utilizados testes não-paramétricos (KRUSKAL-WALLIS) e
estatística básica para o tratamento dos dados, utilizando Software STATISTICA v 6.0 e
8.0 (StatSoft, Inc).
Para orientar a discussão, os resultados provenientes do conjunto das 45 varveis
específicas foram avaliados utilizando-se de um conjunto de matrizes, onde se analisou
se cada variável tinha relação ou influência direta sobre as demais variáveis pertencentes
aos outros componentes do modelo. Para tanto, se considerou apenas os resultados
observados nesse estudo. Para demonstrar a maior ou menor relevância da associação
entre as variáveis, foram conferidos valores às intersecções de uma variável com outra
dentro destas matrizes. Essa atribuição de valores, que refletiram o grau de importância
73
das relações entre os componentes do modelo, obedeceu à seguinte escala ordinal: a)
Interação nula = valor Zero; b) Interação baixa = valor Um; c) Interação média = valor
Dois; d) Interação alta = valor Três. A média dos valores atribuídos a cada intersecção de
uma variável foi calculada, determinando assim quais variáveis específicas tiveram maior
representatividade como integradoras dos componentes do modelo, frente aos dados
obtidos nas comunidades em estudo.
Cabe ressaltar que as variáveis pertencentes a um mesmo componente do modelo
não foram avaliadas entre si, devido ao fato de que os componentes Paisagem, Pesca,
Biodiversidade e Saúde estavam compostos por diferentes ―grupos de variáveis‖ os quais
muitas vezes possuíam dentro destes interações conceituais intrínsecas fortíssimas,
previamente identificadas. Como por exemplo, as variáveis específicas relativas à
biodiversidade de aves associadas aos ecossistemas marinhos. Outras vezes, dentro de
um mesmo componente os grupos de variáveis não apresentavam qualquer correlação
teórica. Como por exemplo, o acesso aos serviços de saúde para as pessoas das
comunidades, com a saúde das aves associadas aos ecossistemas marinhos. Dessa
forma, a análise das interações entre variáveis pertencentes a um mesmo componente do
modelo produziria incoerências, conferindo algumas vezes valores de interação
demasiadamente altos para a uma determinada variável, ou diluição do valor de outra
devido a relações nulas já conceitualmente identificadas.
Finalmente, o conjunto de resultados obtidos, a partir das 45 variáveis selecionadas
no modelo de estudo, serviu para caracterizar as duas comunidades em estudo, e teve
como principal objetivo alimentar matrizes que demontraram o grau de interações entre as
variáveis, e selecionar aquelas mais expressivas dentro do modelo, direcionando a
discussão do tema abordado para a tese. Dessa forma, alguns dos resultados,
apresentados na seção seguinte do documento, m um valor informativo sobre a
realidade observada nas duas áreas de estudo, contudo, podem não figurar durante a
discussão, por se mostraram menos significantes dentro do modelo de análise utilizado,
não servindo como bons exemplos das relações entre saúde, diversidade, pesca e
paisagem.
74
5 RESULTADOS
5.1 Paisagem
Os resultados do componente Paisagem relativos aos grupos de variáveis
―Moradias, Urbanização e Vias de Acesso‖, ―Resíduos e Saneamento e ―Uso de
Recursos Naturais‖ apresentaram como característica comum um caráter prioritariamente
qualitativo, abordando principalmente aspectos referentes às práticas materiais que, direta
ou indiretamente, afetaram componentes da paisagem. Os grupos de variáveis
denominados ―Resíduos e Saneamento‖ e ―Uso de Recursos Naturais‖ tiveram parte dos
dados aferidos de forma quantitativa, trazendo informações mais específicas sobre
alterações na paisagem que se relacionam, sobretudo, com a saúde e a biodiversidade.
5.1.1 Moradias, Urbanização e Vias de Acesso
A avaliação do grupo de variáveis denominado ―Moradias, Urbanização e Vias de
Acesso‖ resultou em dados sobre alguns aspectos da paisagem, relacionados às
condições físicas do espaço onde se localizam as residências e outras estruturas
presentes em cada comunidade estudada. Esses dados caracterizam, de uma maneira
geral, as práticas que os moradores empregam e que influenciam diretamente a
distribuição das estruturas de moradia, comércio, serviços e áreas de uso comum das
comunidades. Os resultados da caracterização das variáveis específicas desse grupo
estão apresentados na Tabela 4. Aspectos visuais relacionados a esse grupo de variáveis
podem ser observados da Figura 18 à Figura 26.
Tabela 4: Características das Moradias, Urbanização e Vias de Acesso nas comunidades
do Superagui e de Ararapira.
Tamanho das comunidades
Superagui
Ararapira
Distâncias entre extremos: 1.700 m de
extensão por 350 m de largura
mero de Casas: 225
Distâncias entre extremos: 1.800 m de
extensão por 200 m de largura
mero de Casas: 52
75
Área Aproximada Ocupada pela Vila: 38
ha
mero aproximado de Habitantes: 900
Área Aproximada Ocupada pela Vila: 18
ha
mero aproximado de Habitantes: 200
Características gerais das moradias
Superagui
Ararapira
Material: 90% de madeira, 10% alvenaria
Cuidados com área externa e estruturas
adjacentes e manutenção*: Baixo
Material: 95% de madeira, 5% alvenaria
Cuidados com área externa e estruturas
adjacentes e manutenção*: Alto
Densidade e distribuição das moradias
Superagui
Ararapira
Densidade Aproximada de Moradias:
6/ha
Núcleo central da comunidade com
maior adensamento apresentando
moradias e quintais contíguos, ou
agrupamentos de residências em
terrenos comuns.
Nas trilhas mais periféricas apresentam-
se moradias com quintais com maior
área.
Densidade Aproximada de Moradias:
3/ha
Moradias e quintais não contíguos ao
longo da trilha, com quatro núcleos onde
se instalam agrupamentos de 2 a 4
residências.
Vias de acesso, tempo médio e distâncias para os centros urbanos de referência
Superagui
Ararapira
Marítima: linha regular de barco a cada
dois dias para Paranaguá PR.
Três horas em média para as
embarcações da linha regular para o
maior centro local (Paranaguá).
Distâncias Aproximadas:
Paranaguá = 34 km.
(navegando pela Barra do Superagui);
Guaraqueçaba = 27 km.
(navegando pelo canal do Furado).
Vias internas: 1) Conjunto de onze trilhas
Marítima: linha regular diária de barco
para Cananéia SP.
Quatro horas e meia em média para as
embarcações da linha regulares para o
maior centro local (Cananéia).
Distâncias Aproximadas:
Cananéia = 48 km (navegando pelo canal
do Ararapira).
Paranaguá = 81 km (navegando pelo canal
do Varadouro).
Guaraqueçaba = 58 km (navegando pelo
76
interligadas; 2) Praia a margem do canal;
3) Trilha para a praia deserta.
canal do Furado).
Vias internas: 1) Praia em parte da
margem do canal, dependente do ciclo
de maré; 2) Uma trilha principal; 3) Duas
ramificações para o píer; 4) Trilha para a
praia deserta.
Características da vegetação
Superagui
Ararapira
Sub-bosque ausente na maioria das
áreas dentro da comunidade;
O adensamento das moradias em
determinados trechos cria espaços
amplos livres de vegetação arbustiva e
arbórea, tornando árvores isoladas e
quintais arborizados dispersos na
paisagem;
As moradias que se distribuem na trilha
mais periférica da comunidade, que faz o
limite da vila com a área de floresta
adjacente (no sentido sudeste/noroeste),
apresentam quintais mais amplos
(aproximadamente 900 m
2
), delimitados
por cercas, em geral estes apresentam
cobertura por gramíneas com pouca
vegetação arbustiva e arbórea;
Não há trechos da vegetação original da
área dentro dos limites de distribuição
das moradias na comunidade, com
exceção de uma faixa de vegetação que
divide as moradias dispostas na trilha da
praia deserta daquelas dispostas na
trilha periférica limite da vila;
Uma ampla área de vegetação arbustiva
e de gramíneas (aproximadamente
Presença de áreas de vegetação com
sub-bosque dentro dos limites de
distribuição das moradias da
comunidade;
As moradias em geral se apresentam
dispersas, ao longo da trilha central da
vila, muitas vezes extremamente
próximas as áreas de vegetação natural
adjacente;
Não há um padrão claro do tamanho dos
quintais, porém em geral ao redor das
moradias há uma área claramente
delimitada e mantida pelos moradores,
esses quintais apresentam entre si áreas
de vegetação, de tamanhos variados,
com manutenção dos estratos florestais
inferiores;
Há vários trechos da vegetação original
da área localizados entre as moradias;
Há uma ampla área de gramíneas e
alguma vegetação arbustiva
(aproximadamente 32.000 m
2
)
associadas a um terreno alagado que se
localiza dentro dos limites de distribuição
das moradias na comunidade.
77
43.200 m
2
) se localiza circundada por
moradias e limitada pela área alagada
que faz limite com a distribuição das
edificações da vila.
Outras características físico-geográficas
Superagui
Ararapira
A comunidade está disposta, à margem
do canal do Superagui, em uma área
onde há dois córregos, um deles situa-se
em uma porção relativamente central da
comunidade, logo ao norte do núcleo de
adensamento de edificações. O segundo
situa-se quase ao limite norte da
comunidade, cortando parte do terreno
onde se situam as moradias limítrofes da
vila;
O córrego central cria, ocasionalmente,
uma pequena lagoa nas proximidades da
sua barra com o canal do Superagui,
dependendo de condições e ciclos de
maré.
Uma área alagada, composta por uma
faixa em ―U‖ e de aproximadamente
1.200 m de comprimento por 40 m de
largura, limita a distribuição de moradias
na extremidade sudeste da comunidade.
A desembocadura do Superagui é
considerada instável, apresentando,
entre os anos de 1952 e 1980, um recuo
de 1.300 m na linha de costa na margem
sudeste da Ilha das Peças (Angulo,
1993), porém processos de deposição e
de erosão expressivos são pouco
evidentes ao longo do canal, ou na área
A comunidade está disposta, à margem
do canal do Ararapira, em uma área
onde há um terreno alagado de
aproximadamente 32.000 m
2
. Esta área
limita o espaço disponível para moradias
serem dispostas diretamente na margem
do canal.
A comunidade tem uma distribuição
espacial relativamente dispersa, quando
comparada ao Superagui, apresentando-
se de forma linear ao longo do canal. Em
alguns pontos ao longo da comunidade
se apresentam processos erosivos das
margens desse canal.
A desembocadura do Ararapira é
caracterizada por ser instável,
apresentando entre os anos de 1952 e
1980 um deslocamento de 1.200 m para
sudoeste, provocando áreas de erosão
(Angulo, 1993). Nessa desembocadura
observam-se áreas de deposição,
formando bancos de areia no interior do
canal e de áreas de erosão das margens
em diversos trechos ao longo da sua
extensão, incluindo a área onde se
localiza a vila do Ararapira.
Próximo a desembocadura do Ararapira
observam-se trechos onde os processos
78
onde se localiza a vila do Superagui.
erosivos estão destacados na paisagem
por atingirem áreas de vegetação
florestal, produzindo acúmulos de ramos
e troncos nas margens ou interior do
canal. Alguns desses pontos foram
identificados como áreas propícias à
pesca do robalão (Centropomus
undecimalis), espécie de alto valor
comercial.
Meios Locais de transporte disponíveis
Superagui
Ararapira
Carroças, bicicletas, embarcações
Bicicletas, embarcações
Sistemas de comunicação
Superagui
Ararapira
Telefone Fixo residencial Regular;
Telefone público; Celular; Rádio
Comunicador
Telefone público; Rádio Comunicador;
Um (1) telefone residencial irregular.
Fluxo de Visitantes / Turistas
Superagui
Ararapira
Maior que 2.500 por ano (Misael, 2005)
Menor que 500 por ano
Serviços disponíveis na comunidade
Superagui
Ararapira
Posto de Saúde com estrutura média
Telefone público
Água encanada comunitária
Rede de energia elétrica
Uma Escola Pública
Campo de Futebol
13 Pousadas
6 Mercearias/Panificadoras,
5 Carras para transporte de
mercadorias
Um Templo Evangélico com pastor
Posto de Saúde com estrutura pequena
Telefone público
Água encanada comunitária
Sem rede de energia elétrica (uma a
duas placas fotovoltaicas em atividade
por moradia); Um (1) gerador elétrico
movido a diesel na pousada, ativado
diariamente por duas a três horas no
início da noite.
Uma Escola Pública
Campo de Futebol
79
Uma Capela Católica sem figura
eclesiástica
Campo de Vôlei
Posto de correio desativado
Uma Pousada
Uma Mercearia
Capela Católica sem figura eclesiástica
* Cuidados com área externa e estruturas adjacentes e manutenção das moradias, variando em uma
escala de:
Baixo: Presença de acúmulos de restos de materiais diversos, construção, redes de pesca, plásticos,
metais, vidros e outros recicláveis que não estejam destinados a aproveitamento aparente. Pintura e
estrutura física da moradia bastante desgastada. Jardins sem manutenção e/ou paisagismo.
Médio: Presença eventual e em baixa quantidade de restos de materiais diversos que não estejam
destinados a aproveitamento aparente. Pintura e estrutura física da moradia mediamente desgastada.
Jardins com eventuais sinais de manutenção e/ou paisagismo.
Alto: Ausência de acúmulos de materiais diversos que o estejam destinados a aproveitamento
aparente. Pintura e estrutura física da moradia em bom estado. Jardins delimitados com manutenção
e/ou paisagismo
A.1) Limite aproximado de distribuição das edificações; A.2) Limite aproximado de área alagada que adentra a comunidade; C.1
e C.2) cursos d’água que atravessam a comunidade; e Tr) Trajeto aproximado da trilha que passa pela comunidade e leva à
praia deserta.
Figura 18: Detalhe da Vila do Superagui (Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google
Inc.: Google Earth 5.1).
80
A.1) Limite aproximado de distribuição das edificações; A.2) Limite aproximada de área alagada que adentra a comunidade; e
Tr.) Trajeto aproximado da trilha que passa pela comunidade.
Figura 19: Detalhe da Vila do Ararapira (Ilustração: Paulo R Mangini / 2009 © Google Inc.:
Google Earth 5.1).
Figura 20: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
Observar a diferença na distribuição da vegetação e densidade das moradias entre as
duas localidades (Imagens: Paulo R. Mangini).
81
Figura 21: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
Observar a menor densidade da vegetão de sub bosque na comunidade do Superagui
(Imagens: Ricardo Krul; Paulo R. Mangini).
Figura 22: Distribuição de moradias (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
Na comunidade do Superagui a maior parte das moradias encontram-se adjacentes em
terrenos delimitados por cercas. Na comunidade do Ararapira em geral as moradias estão
isoladas e m seus terrenos delimitados por áreas de vegeteção nativa (Imagens:
Ricardo Krul; Paulo R. Mangini).
82
Figura 23: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini).
Figura 24: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini).
Figura 25: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini)
83
Figura 26: Característica de distribuição das moradias e integração destas com a
vegetação (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini)
Figura 27: Aspecto geral dos terrenos (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
As moradias com quintais mais amplos no Superagui encontram-se localizadas na porção
periférica da vila. Estas m seus terrenos em geral delimitados por cercas. Na
comunidade do Ararapira poucos terrenos têm delimitação por cercas, os limites de
apresentam pela manutenção de áreas de vegetação (Imagens: Paulo R. Mangini).
84
Figura 28: Vista do Canal do Superagui. À Esquerda vista do atracadouro e edificações
a margem do canal. À Direita área de erosão atingindo edificações a margem do canal
na porção mais noroeste da vila (Imagens: Paulo R. Mangini e Ricardo Krul).
Figura 29: Vista do Canal do Ararapira. À Esquerda: Ramagem seca (setas) da
vegetação arrancada das margens do canal do Ararapira, devido aos processos de
erosão, em alguns pontos troncos e galhos submersos servem como ponto de referência
para áreas de pesca de espécies como o robalão (Centropomus undecimalis); À Direita
vista do canal do Ararapira, evidenciando pontos de erosão (seta ao fundo) e deposição
de sedimentos (banco de areia em primeiro plano na imagem) ao longo da área onde se
estabelece a vila do Ararapira (Imagens: Ana L.M. Gomes).
5.1.2 Resíduos e Saneamento
A avaliação do grupo de variáveis denominado Resíduos e Saneamentoresultou
em dados qualitativos sobre as práticas empregadas em cada comunidade na gestão dos
85
resíduos e destino de efluentes. Adicionalmente, resultou em dados comparativos sobre a
disposição incidental de resíduos sólidos nas áreas comuns das duas comunidades em
estudo. Os resultados da caracterização das variáveis específicas desse grupo estão
apresentados na Tabela 5. Aspectos visuais relacionados a esse grupo de variáveis
podem ser observados da Figura 32 à Figura 42.
Tabela 5: Características do tratamento de Resíduos e Saneamento nas comunidades do
Superagui e do Ararapira.
Destino de resíduos sólidos
Superagui
Ararapira
Existe um sistema na comunidade que
prevê a separação de resíduos não
orgânicos, que devem ser conduzidos a
um barracão pelos moradores para
armazenamento. Periodicamente o lixo
não orgânico deve ser levado para
Guaraqueçaba, uma pessoa da
comunidade recebe pagamento para
fazer esse transporte.
Contudo, outros destinos como
acúmulos pontuais, em algumas
residências, e queima de resíduos
sólidos foram amplamente observados
na comunidade.
Presença moderada de resíduos
sólidos, plásticos, metais, nas trilhas e
áreas comuns da comunidade.
Existem acúmulos de resíduos
domiciliares por residência ou grupos
de residências, sem haver separação
dos resíduos orgânicos e não
orgânicos. Os acúmulos são mantidos
um pouco afastados das residências,
por queses sanitárias e estéticas.
Muitos moradores destinam uma área
dos seus terrenos para os acúmulos,
preparando covas onde depositam os
resíduos. Quando repletas, os resíduos
são enterrados e algumas vezes
queimados antes disso, posteriormente
abre-se uma nova cova para os
resíduos.
Presença pouco significativa de
resíduos sólidos nas trilhas e áreas
comuns da comunidade.
Destino de resíduos provenientes de atividades de pesca
Superagui
Ararapira
A comunidade processa principalmente
camarão, esse produto é
majoritariamente manipulado na
comunidade.
A maior parte dos rejeitos desse
processo é dispensada às margens do
canal do Superagui. Isso ocorre
diretamente por despejo de recipientes
contendo os rejeitos, ou por meio de
tubulações que partem dos
A comunidade tem uma produção
pesqueira de perfil diversificado. Na
maior parte das vezes o pescado é
vendido em natura, e não é manipulado
na vila.
Quando o pescado é manipulado, os
resíduos do processo são dispostos ao
solo, às margens do canal, ou mesmo
nos pontos de limpeza e preparo do
pescado.
86
estabelecimentos de processamento.
Em algumas ocasiões, pequenas
quantidades de rejeitos são despejadas
no solo em áreas próximas a área de
processamento, parte desses rejeitos
são por vezes consumidos por animais
domésticos e sinantrópicos.
Muitos desses resíduos são
consumidos por aves e mamíferos
domésticos.
Origem e qualidade da água
Superagui
Ararapira
A água que serve aos moradores é
proveniente do Morro das Pacas, por
meio de uma tubulação de
aproximadamente 5 km. Um morador
da comunidade é responsável por fazer
a vistoria e manutenção dessa linha de
tubos.
Segundo os moradores a água é de
boa qualidade, e a fonte é protegida por
uma boa vegetação.
A água chega à comunidade e é
recebida em uma caixa e depois
distribuída entre as casas dos
moradores.
Em algumas moradias, incluindo a casa
do ICMBio, a água é provida por poço.
A água que serve aos moradores é
captada no vale do Rio dos Patos, e
disponibilizada por meio de uma
tubulação. Os moradores são
responsáveis pela manutenção da
tubulação. Esta percorre uma distância
de aproximadamente 7 km, passando
por várias áreas alagadas, estando
submersa no canal do Varadouro.
Segundo os moradores a água é de
boa qualidade, sendo captada em uma
área bem afastada com vegetação de
floresta alta.
A água chega à comunidade e é
recebida em uma caixa, a qual
eventualmente recebe tratamento com
hipoclorito de sódio, e depois é
distribuída entre as casas dos
moradores.
Em algumas moradias, mais afastadas,
a água é provida por poço.
Estrutura de saneamento e destino de efluentes residenciais e outros
Superagui
Ararapira
A maior parte das casas possui fossa
séptica para os vasos sanitários,
algumas residências utilizam sanitários
externos, no sistema de casinha e fossa
aberta.
Observou-se, em dois locais periféricos
a área da comunidade, a presença de
dejetos humanos e restos de panos e
papéis, utilizados para higiene pessoal,
depositados diretamente sobre o solo,
caracterizando áreas regulares de
A maior parte das casas possui fossa
séptica para os vasos sanitários,
algumas residências utilizam sanitários
externos, no sistema de casinha e fossa
aberta.
Na maior parte das moradias a água
servida do chuveiro, da cozinha, tanque
para lavagem de roupas e pias externas
é escoada diretamente, ou por
tubulações, para e valetas que servem
com sumidouros a céu aberto.
87
dejeção a céu aberto.
Na maior parte das moradias a água
servida do chuveiro, da cozinha, tanque
para lavagem de roupas e pias externas
é escoada diretamente, ou por
tubulações, para e valetas que servem
com sumidouros a céu aberto, alguns
desses efluentes acabam por
contaminar os corpos d’água presentes
na comunidade.
Evidências de impactos de efluentes no ecossistema
Superagui
Ararapira
Dois córregos cortam a comunidade,
um na extremidade noroeste e outro no
centro da vila, ainda há uma área
alagada que adentra pela vila na porção
sudeste, limitando o espaço disponível
para edificações nessa parte da
comunidade.
A área do alagado, na porção leste da
comunidade, tem sinais moderados de
contaminação orgânica doméstica,
sobretudo no trecho onde adentra a
comunidade.
O córrego que atravessa a porção
central da vila parece ser afetado pelo
aporte de efluentes das residências
adjacentes. Tendo sinais característicos
de contaminação por efluentes
domésticos e eutroficação*, como
crescimento rápido de algas de
coloração esverdeada, água de
coloração verde-acinzentada, produção
de mau-cheiro e manchas de gordura
flutuante (*termo que se refere ao
aumento do nível de nutrientes
orgânicos e baixa oxigenação em um
corpo d’água – comumente grafado de
forma errônea como: eutrofização).
O córrego apresenta abundância de lixo
disperso nas suas margens e no seu
leito.
Este mesmo córrego deságua no canal
do Superagui, levando a contaminação
A comunidade apresenta uma área
alagada que limita a distribuição das
edificações na sua porção norte.
Não há sinais evidentes de
contaminação orgânica dessa área
alagada, ou pontos onde seja visível o
despejo de efluentes residenciais,
contudo algumas poucas residências
encontram-se a margem dessa área.
88
para o mar. O fluxo lento e a influência
do regime da maré acentuam a
situão de hipertrofia e acúmulo de
resíduos sólidos no curso d’água em
determinados períodos.
O segundo córrego, a oeste da vila não
tem sinais evidentes de contaminação
orgânica, porém este passa pelas
proximidades de algumas residências
nessa porção da vila.
Realizando uma avaliação dos resíduos sólidos observados nas áreas comuns,
vias de deslocamento internas da comunidade, observou-se que os materiais plásticos
foram os mais prevalentes nas duas comunidades representando 85% do material
coletado no Superagui e 93% do material coletado no Ararapira (Figura 30). A avaliação
da distribuição quantitativa de itens observados nas duas comunidades demonstrou a
prevalência de fragmentos de material plástico e embalagens de balas, sendo a
quantidade de resíduos maior na comunidade do Superagui (Figura 31). Como fator
relevante a esse conjunto de dados, cabe salientar que a coleta de informações sobre
resíduos sólidos na comunidade do Ararapira se deu logo após um evento festivo, o que
deve ter elevado a quantidade de resíduos plásticos, como copos, embrulhos de balas e
doces, dispostos nas áreas comuns da comunidade.
(Plásticos/Isopor = Copo descartável; Fragmento de espuma; Fragmento de isopor; Fragmento de nylon; Fragmento de
plástico; Papel de bala (matéria plástica); Sacos e sacolas de plástico; e Vasilha plástica; Vidro = Fragmento de vidro e
Vasilha de vidro; Papel/Madeira = Fragmento de madeira; Fragmento de papel; e Filtro de cigarro; Metal = Vasilha de metal e
Fragmento de metal; e Outros = Fragmento de tecido; Fragmento de alvenaria; e Embalagem tipo Tetrapak).
Figura 30: Prevalência de resíduos dispersos nas comunidades de Superagui
e Ararapira.
89
Figura 31: Distribuição qualitativa e quantitativa de resíduos dispersos nas
comunidades de Superagui e Ararapira.
Figura 32: Barracão destinado à
manutenção temporária dos resíduos
sólidos recicláveis, na comunidade do
Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 33: Acúmulo de resíduos sólidos
recicláveis as margens de uma das trilhas
internas na comunidade do Superagui
(Imagem: Paulo R. Mangini).
90
Figura 34: Lixeira localizada a margem da
trilha que leva à praia deserta na
comunidade do Superagui (Imagem:
Ricardo Krul).
Figura 35: Limpeza de pescado em
Superagui (Imagem: Ricardo Krul).
Figura 36: Grupo de moradores em
atividade de preparo de Xiphopenaeus
kroyeri (camarão-sete-barbas), para
armazenagem e venda (Superagui /
Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 37: Uma das áreas utilizadas por
moradores para limpeza de pescados na
comunidade do Ararapira, em geral os
rejeitos decorrentes da manipulação do
pescado são dispostas diretamente ao
solo nessa mesma área (Imagem: Paulo
R. Mangini).
91
Figura 38: Edificação utilizada para
processamento e armazenamento de
pescados, na comunidade do Superagui,
sendo o principal produto manipulado o
Xiphopenaeus kroyeri (camarão-sete-
barbas) (Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 39: Tubulação, utilizada para
despejo dos rejeitos da manipulação de
pescados no canal do Superagui.
(Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 40: Vista do córrego que corta a
área central da comunidade do Superagui
(Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 41: Resíduos presentes no
córrego que corta a área central da
comunidade do Superagui (Imagem:
Paulo R. Mangini).
92
Figura 42: Moradias localizadas as
margens da área alagada na comunidade
do Superagui. Com destaque para novas
habitações sendo instaladas nessa parte
da vila (Imagem: Paulo R. Mangini).
93
5.1.3 Uso de Recursos Naturais
A avaliação do grupo de variáveis denominado Uso de Recursos Naturais
resultou em dados sobre o grau de intensidade com que atividades extrativistas estão
presentes nas proximidades de cada uma das comunidades, sendo abordados aspectos
da captura de animais selvagens e uso de recursos vegetais. Os resultados da
caracterização das variáveis específicas desse grupo estão apresentados na Tabela 6.
Aspectos visuais relacionados a esse grupo de variáveis podem ser observados da Figura
43 à Figura 54.
Tabela 6: Características do Uso de Recursos Naturais nas comunidades do Superagui e
do Ararapira.
Presença de evidências da captura de animais*
Superagui
Ararapira
Alta
Indícios da captura de aves bastante
frequentes e dispersos em diferentes
áreas. Indícios esporádicos e dispersos
da captura de mamíferos de médio porte.
Baixa
Indícios esporádicos e localizados de
captura de mamíferos de médio porte.
Uso de recursos madeireiros e outros extrativismos vegetais*
Superagui
Ararapira
Alto
Indícios frequentes de extração de
madeira de baixo (10 cm) e médio
diâmetro (20 cm).
Baixo
Indícios esparsos da extração de
madeira de baixo (10 cm) e médio
diâmetro (20 cm) e extração de folhas de
Cataia (Drimys brasiliensis).
Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta**
Superagui
Ararapira
Alta
Presença de trilhas concentradas
principalmente a leste da comunidade,
com uma presença menos marcante de
Baixa
Presença de trilhas, concentradas a
oeste da comunidade e na sua maioria
adentrando em sentido oeste para a
94
trilhas na porção norte e noroeste da
comunidade.
Trilhas de acesso às áreas naturais***:
Trilha tipo A: 17 em direção à floresta;
Trilha tipo A: 6 em direção ao canal;
Trilha tipo B: 11 em direção à floresta;
Trilha tipo B: 13 em direção ao canal;
Trilha tipo C: 4 em direção à floresta;
Trilha tipo C: 6 em direção ao canal.
Trilhas específicas pra captura de aves
+
:
Trilhas com 30 metros: 2
Trilhas com 40 metros: 1
Trilhas com 50 metros: 2
Trilhas com 100 metros: 2
Trilhas com 300 metros: 1
floresta.
Presença de áreas abertas para
estabelecimento de pequenas roças,
algumas com cultivos em
desenvolvimento, e outras abandonadas.
Trilhas de acesso às áreas naturais***:
Trilhas tipo A: mais de 10 em dirão à
floresta (utilizadas para coleta de folhas de
Cataia -Drimys brasiliensis);
Trilhas tipo B: 1 paralela ao canal em
sentido sul;
Trilhas tipo C: 4 em direção à floresta (uma
destas utilizada para manutenção da
tubulação de água).
* Caracterização do uso de recursos extrativistas obedecendo a uma escala entre:
Nula: Indícios de uso de recursos extrativistas inexistente;
Baixo: Até cinco indícios de uso dos recursos por campanha amostral;
Médio: Entre seis e dez indícios de uso dos recursos por campanha amostral;
Alto: Mais do que dez indícios de uso dos recursos por campanha amostral.
** Caracterização da presença de trilhas para deslocamento na floresta obedecendo a uma escala entre:
Nula: Trilhas inexistentes
Baixa: Até cinco trilhas tipo C e/ou B no raio de 300 metros da comunidade;
Média: Entre seis e dez trilhas do tipo C e/ou B no raio de 300 metros da comunidade;
Alta: Mais do que dez trilhas do tipo C e/ou B no raio de 300 metros da comunidade.
*** Caracterização dos tipos de trilhas para deslocamento na floresta:
Trilha tipo A: menor que um metro largura, sem exposição do solo, pouca definição de trajeto;
Trilha tipo B: maior que um metro largura, exposição parcial e pontual do solo, trajeto bem definido;
Trilha tipo C: maior que um metro largura, exposição do solo, trajeto bem definido.
+
Trilha em área de vegetação florestal, com dois a três metros de largura e aberta em linha reta, caracterizada também pela supressão da
vegetação dos extratos arbustivos e arbóreos, com eliminação do dossel sobre essa faixa. Difere também de trilhas de deslocamento pela
permanência no solo de galhos e troncos cortados durante o processo de abertura.
Figura 43: Área de roça abandonada no
Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul).
95
Figura 44: Área de roça de mandioca no
Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul)
Figura 45: Área de roça no Ararapira.
(Imagem: Ricardo Krul).
96
Figura 46: Exemplo de trilhas do tipo ―A‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
Figura 47: Exemplo de trilhas do tipo ―B‖. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
97
Figura 48: Exemplo de trilhas do tipo ―C. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
Figura 49: Exemplo de trilhas do tipo ―C. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
98
Figura 50: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
Figura 51: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
99
Figura 52: Cavidade no solo (linha
tracejada) produzida como consequência
da atividade de caça tendo como objetivo
espécies de tatu. (Superagui / Imagem:
Ricardo Krul).
Figura 53: Exemplo de extrativismo de recursos madeireiros. (Esquerda Superagui;
Direita Ararapira / Imagens: Ricardo Krul).
100
Figura 54: Exemplo de extrativismo de
recursos vegetais, corte de exemplar de
Palmito Euterpes edulis. (Ararapira /
Imagem: Ricardo Krul).
5.1.4 Frota Pesqueira
A avaliação do grupo de variáveis denominado Frota pesqueira resultou em
dados qualitativos e quantitativos sobre as embarcações utilizadas em cada comunidade,
como instrumento para pesca e meio de locomoção. Os resultados da caracterização das
variáveis específicas desse grupo estão apresentados na Tabela 7. Aspectos visuais
relacionados a esse grupo de varveis podem ser observados da Figura 55 à Figura 56.
Tabela 7: Característica da frota pesqueira nas duas comunidades em estudo.
Características da frota pesqueira
Superagui
Ararapira
Tamanho da frota: 71 embarcações
motorizadas
Embarcações de tábua caracterizadas
predominantemente por botes,
aproximadamente 70%, bateiras 29%, e
Tamanho da frota: 9 embarcações
motorizadas
Embarcações de tábua caracterizadas
por botes 55,5%, e canoas 44,5%.
Em quase sua totalidade a frota
101
canoas 1%
Potência dos motores é representada em
50% da frota por 18 hp e em 20% por 11
hp, o restante da frota possui motores
variando entre 9 e 60 hp.
Todas as embarcações com menos de
10 TAB (tonelagem de arqueação bruta)
Com presença de poucas canoas a remo
em atividade de pesca.
motorizada de canoas e botes do
Ararapira possui motores com potência
de 18 hp, apenas uma embarcação
possui motor de 27 hp.
Todas as embarcações com menos de
10 TAB (tonelagem de arqueação bruta)
Grande presença de canoas a remo em
atividade de pesca.
Figura 55: Embarcações de tábua da
frota pesqueira da comunidade do
Superagui (Imagem: Ricardo Krul)
Figura 56: Canoas da frota pesqueira
da comunidade do Ararapira (Imagem:
Paulo R Mangini)
102
5.2 Pesca
As comunidades estudadas são profundamente distintas, tanto em relação ao
número de embarcações quanto à representatividade dos principais recursos explotados,
as artes de pesca praticadas e ao destino do pescado.
5.2.1 Artes de Pesca
Foram registradas seis artes de pesca direcionadas aos peixes, das quais o caceio,
o lanço, a rede de espera e a tarrafa foram comuns às duas vilas, ao passo que o picaré
foi exclusivo da comunidade de Superagui e a fisga foi detectada apenas no Ararapira. Na
pesca de camarão foram reconhecidas cinco artes de pesca, sendo o arrasto, o lanço-
caracol, o caceio e o gerival registrados na comunidade de Superagui, ao passo que o
lanço a partir da margem do canal e o arrasto foram as duas artes registradas em
Ararapira.
5.2.1.1 Artes de Pesca Direcionadas aos Peixes
Com base no monitoramento de 2.370 eventos de pesca realizados pelos
pescadores das duas comunidades estudadas se destacou o lanço como a arte de pesca
mais utilizada, representando isoladamente 67% das pescarias em uma avaliação geral.
Desse percentual, 74,89% foi referente à pesca realizada em ambiente protegido de
Ararapira. A pesca em mar aberto praticada na comunidade do Superagui representou
18,37% daquele percentual e pesca em mar aberto de Ararapira 6,73%. Outras artes de
pesca que se destacaram foram o caceio, representando aproximadamente 15% dos
eventos e de forma similar em ambas as comunidades. O uso de redes de espera, arte
praticamente exclusiva da comunidade de Ararapira, contribuiu de uma forma geral com
14,39% dos eventos de pesca. As artes de pesca picaré, tarrafa e fisga, contribuíram em
conjunto com menos de 3% do total de eventos (Tabela 8).
103
Tabela 8: Artes de pesca direcionadas aos peixes e registradas nas vilas de Superagui e
Ararapira no ano de 2009.
Comunidades
Caceio
Lanço
Rede de espera
Tarrafa
Picaré
Fisga
Superagui Rio
______
_____
______
12
_____
____
Superagui Mar
205
292
1
_____
21
_____
Ararapira Rio
7
1190
240
30
_____
2
Ararapira Mar
161
107
102
_____
_____
_____
Total
373
1.589
343
42
21
2
Considerando-se 1.638 eventos de pesca, o tamanho das malhas das redes
utilizadas pelos pescadores da comunidade do Ararapira variou de três centímetros, entre
nós opostos, até 26 centímetros. Na comunidade de Superagui, considerando uma
amostra de 502 eventos de pesca monitorados, a amplitude foi menor e esteve restrita
entre as malhas de cinco e de 12 centímetros entre nós. A rede de pesca malha seis foi a
mais utilizada nas duas comunidades e esteve presente em 53,17% dos eventos de
pesca avaliados no Ararapira e 64,34% dos eventos no Superagui. No entanto, ao se
considerar apenas a pescaria efetuada em mar aberto pelos pescadores de Ararapira, o
índice de utilização da rede malha seis cai para apenas 13,09%. De uma maneira geral,
os pescadores da comunidade de Ararapira utilizam redes com malhas maiores, condição
mais acentuada ainda quando se avalia a pesca realizada em mar aberto, onde
predominaram redes malha 11 e malha 18 (Figura 57).
104
Figura 57: Representações das porcentagens de utilização de tamanhos de
malhas de redes de pesca nas comunidades de Ararapira, em uma
avalião geral e em mar aberto, e de Superagui.
5.2.1.2 Artes de Pesca Direcionadas ao Camarão
Foram monitorados 1.615 eventos de pesca direcionados às espéceis de camarão
nas duas comunidades, entre estes 97,03% foram realizados pelos pescadores do
Superagui. Constatou-se domínio absoluto da arte de pesca de arrasto, que representou
mais de 80% das pescarias, seguidas pelo lanço-caracol com 15%. Outras artes de pesca
somaram menos de 5% dos eventos de pesca direcionados ao camarão (Tabela 9). A
representatividade das artes de pesca direcionadas ao camarão específicas da
comunidade do Superagui segue o mesmo padrão da caracterização geral, devido ao fato
desta comunidade responder por mais de 97% dos eventos de pesca totais. No entanto, é
importante destacar que os pescadores de Superagui utilizaram três artes de pesca que
foram exclusivas desta comunidade: o lanço-caracol, o caceio e o gerival. Da mesma
forma, o lanço a partir da margem do canal foi uma arte de pesca praticada
exclusivamente no Ararapira, e localmente representou mais 90% dos eventos de pesca
de camarão (Tabela 9).
105
Tabela 9: Artes de pesca direcionadas aos camarões registradas nas vilas de Superagui
e Ararapira no ano de 2009.
Comunidades
Arrasto
Lanço-Caracol
Lanço de praia
Caceio
Gerival
Superagui Rio
0
0
0
0
2
Superagui Mar
1289
243
0
33
0
Ararapira Rio
0
0
44
0
0
Ararapira Mar
4
0
0
0
0
Total
1293
243
44
33
2
5.2.2 Recursos Utilizados
5.2.2.1 Riqueza e Abundância Captura de peixes
No conjunto das espécies explotadas nas duas comunidades estudadas foi
registrada a presença de 27 espécies, ou categorias de pescado, com destaque para a
comunidade de Ararapira onde se observou a contribuição de 25 espécies, das quais 13
foram exclusivas. Por outro lado, na comunidade de Superagui foi detectada a captura de
14 espécies, ou categorias de pescado das quais apenas duas foram exclusivas (Tabela
10).
106
Tabela 10: Espécies, ou categorias, de peixes explotados nas comunidades do Ararapira
e do Superagui.
Recurso
Táxon
Ararapira
Superagui
1. Anchova
Pomatomus saltatrix
______
X
2. Bagre
Ariidae
X
______
3. Betara
Menticirrhus spp.
X
X
4. Cação
Carcharhinidae
X
X
5. Cangulo
Balistes spp.
X
X
6. Rabadejo
Carangidae
X
______
7. Corvina
Micropogonias furnieri
X
X
8. Espada
Trichiurus lepturus
X
______
9. Galo
Selene spp.
X
______
10. Iriko
Engraulidae
X
______
11. Linguado
Paralichthys spp.
X
X
12. Mangona
Carcharias taurus
X
______
13. Palombeta
Chloroscombrus crysurus
X
______
14. Parati
Mugil spp
X
X
15. Paru
Chaetodipterus faber
X
______
16. Pescada Amarela
Cynoscion acoupa
X
______
17. Pescada Banana
Nebris microps
______
X
18. Pescada Cambucu
Cynoscion virescens
X
______
19. Pescada Membeca
Macrodon ancylodon
X
X
20. Pescada Galheteira
Cynoscion microlepidotus
X
X
21. Robalão
Centropomus undecimalis
X
X
22. Robalo
Centropomus parallelus
X
______
23. Salteira
Oligoplites spp.
X
X
24. Sororoca
Scomberomorus spp.
X
X
25. Tainha
Mugil liza
X
X
26. Virote (Juvenil de tainha)
Mugil spp.
X
______
27. Vivoca/caratinga
Eugerres brasilianus
X
______
Na comunidade de Superagui mais de 99% da captura de peixes foi efetuada em
águas de mar aberto e a membeca foi o recurso ictíaco mais representativo em relação ao
peso, respondendo por 51,95% do total dos capturado. A sororoca e o cação
representaram, respectivamente, 20,21% e 14,12%, a betara 7,42% e a tainha 2,58%. As
demais nove espécies contribuíram com índices de captura muito baixos (Figura 58). Na
comunidade pesqueira de Ararapira a pesca de peixe tem importância similar tanto em
mar aberto, 48,16% da produção, quanto em águas protegidas, 51,83% do total
107
capturado. No caso da pesca em mar aberto, nove espécies, ou categorias de pescado
foram as mais importantes, com destaque para a sororoca que representou 32,27% do
total. Outras espécies com altos índices de contribuição foram a tainha, 21,81%, a
membeca com 12,90%, a pescada com 7,40% e o robalão com 5,57% (Figura 59). A
avalião das pescarias de peixe conduzida em ambiente protegido revelou maior
importância quantitativa em kg para duas espécies, ou categorias de recurso, o iriko e o
parati que responderam, respectivamente, por 37,67% e 36,82% do total pescado. Além
destes, a tainha contribuiu com 20,82% e secundariamente se destacaram o robalão, a
vivoca e a corvina, todos com menos de 2% de contribuição (Figura 60).
Figura 58: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de
Superagui no ano de 2009 e a contribuição destes para o total pescado.
108
Figura 59: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de
Ararapira no ano de 2009 em mar aberto e a contribuição destes para
o total pescado.
Figura 60: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de
Ararapira no ano de 2009 em águas protegidas e a contribuição destes
para o total pescado.
109
Avaliando os dados de captura dos recursos ictíacos, efetuados pelos pescadores
das duas vilas, por meio de um diagrama de dispersão do escalonamento
multidimensional (MDS), se observa agrupamentos bem definidos (Figura 61 e Tabela
11). Nesse sentido, as espécies, ou categorias de pescado, que mais contribram para a
definição dos grupos apresentam características particulares. Nas pescarias efetuadas no
Canal de Ararapira predominaram pescados pertencentes à base das cadeias tróficas,
representados principalmente pelo parati, pela tainha e pelo iriko. Por outro lado, nas
pescarias de mar aberto foram mais importantes os predadores representados pelas
pescadas e pela sororoca, especialmente no caso de Ararapira, ao passo que em
Superagui, tamm se destacou a betara.
Figura 61: Análise de proximidade (n-MDS) com base nas espécies de
peixes capturadas mensalmente nas Vilas Ararapira (Rio e Mar) e
Superagui, durante 2009. Os dois pontos outliers (Superagui)
apresentaram captura muito baixa (em Abril e Maio) quando
comparada aos outros meses.
110
Tabela 11: Contribuição relativa e contribuição acumulada das espécies de peixe mais
importantes na formação dos grupos Ararapira Rio, Ararapira Mar e Superagui.
Local
Espécies
Contribuição
Contribuição acumulada
Ararapira Rio
Parati
45,14
45,14
Tainha
17,11
62,26
Iriko
13,55
75,80
Corvina
6,82
82,63
Robalo
4,49
87,12
Robalão
3,82
90,94
Ararapira Mar
Pescada membeca
26,87
26,87
Corvina
19,31
46,18
Pescada
18,53
64,71
Sororoca
16,42
81,13
Robalo
8,44
89,57
Salteira
4,67
94,24
Superagui Mar
Pescada membeca
53,43
53,43
Betara
24,79
78,22
Sororoca
5,52
83,74
Corvina
4,38
88,12
Galheteira
4,17
92,29
5.2.2.2 Sazonalidade Captura de peixes
Avaliando-se o número de espécies de peixes, ou categorias de pescado,
explotadas mensalmente verificou-se na comunidade de Ararapira maior riqueza de
espécies durante nove meses do ano, com três picos de riqueza: um acentuado em
fevereiro e dois menos pronunciados em maio e setembro. Por outro lado, na comunidade
de Superagui se observa um pico mais definido em janeiro e outros dois mais discretos,
sendo um destes nos meses de junho e julho e outro em novembro (Figura 62).
111
Figura 62: Variação do número de espécies de peixes explotadas ao
longo do ano de 2009 pelos pescadores das comunidades pesqueiras de
Superagui e Ararapira.
Em relação à contribuição em peso do recurso peixe, se observou dois picos bem
definidos na comunidade de Superagui, sendo o primeiro durante o mês de fevereiro e o
segundo entre junho e agosto. Na comunidade de Ararapira se detectou apenas um pico
com maior produção, entre os meses de abril e junho (Figura 63).
112
Figura 63: Representações da captura de peixes, em porcentagens do
peso, ao longo do ano de 2009 nas comunidades pesqueiras de Superagui
e Ararapira.
Ao se avaliar os índices de captura mensais referentes à frota de Superagui, a
partir do total pescado de cada recurso ao longo do ano, se observou que a membeca foi
mais capturada em dois períodos, um deles em fevereiro e março e outro no trimestre
junho a agosto. Por outro lado, outros recursos se destacaram pontualmente, caso da
tainha em junho e do cação em fevereiro. A sororoca teve um pico de captura em agosto
e ainda foi representativa em julho. A betara se destacou em fevereiro e janeiro e tamm
no período entre junho e agosto (Figura 64). Ressalta-se que ao se avaliar os índices
individuais de captura mensais dos recursos frente aos demais pescados no mesmo
período, se observa em várias situações marcada diferença dos percentuais. Nesse
sentido, se observa que a membeca apresentou significativa contribuição em peso de
setembro a dezembro frente aos demais recursos, apesar dos índices individuais de
captura deste peixe ser os mais baixos para este período. Da mesma forma, a tainha, em
uma avaliação individual, foi mais capturada durante o mês de junho (Figura 64), no
entanto a sua maior importância mensal frente aos demais pescados foi em maio (Figura
65). A maior diferença nos índices individuais e do conjunto de recursos capturados
sazonalmente é favorecida em situações em que baixa captura de uma forma geral
dos pescados, condição verificada durante os meses de março a maio e de setembro a
dezembro.
113
Figura 64: Representação gráfica da porcentagem mensal do total das capturas anuais
referente aos cinco principais recursos ictíacos capturados pelos pescadores da
comunidade de Superagui no ano de 2009.
Figura 65: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictíacos em relação à captura total mensal de peixes pela comunidade
de Superagui no ano de 2009.
114
Na comunidade de Ararapira nenhum recurso ictíaco apresentou domínio absoluto
ao longo do ano. Nas pescarias de mar aberto a sororoca foi mais representativa de maio
a agosto, ocorrendo outro pico em janeiro. A tainha se destacou apenas no mês junho, ao
passo que o robalão foi capturado nos meses de novembro e dezembro. A pescada
apresentou um pico de captura em março, mas também se destacou em fevereiro, abril e
outubro. A membeca apresentou um pico definido em maio, com capturas significativas
também em julho e agosto, assim como em outubro, novembro e dezembro (Figura 66).
De uma maneira geral, o padrão de captura anual, avaliando-se o recurso
individualmente, também foi observado ao se avaliar a importância mensal de um
determinado pescado frente aos demais. Apenas a importância da membeca, em uma
avalião mensal conjunta com os demais recursos, apresentou um comportamento
diferente, com maior destaque em setembro e outubro (Figura 67).
Figura 66: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictíacos capturados mensalmente pelos pescadores da comunidade de
Ararapira em mar aberto no ano de 2009.
115
Figura 67: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos seis
principais recursos ictíacos em relação à captura total mensal dos recursos pela
comunidade de Ararapira no ano de 2009.
Nas pescarias em águas protegidas um dos destaques foi o iriko, que contribuiu
com os maiores índices individuais de captura em abril e maio. A tainha apresentou um
pico de captura bem definido em junho e o robalão nos meses de novembro, dezembro e
janeiro. Em contraste, os índices de captura do parati foram bem distribuídos ao longo do
ano, apesar das menores capturas durante o inverno e durante o mês de dezembro
(Figura 68). De uma maneira geral, se observou um padrão semelhante em relação aos
índices de captura individual do recurso ao longo do ano e a sua contribuição ao se
avaliar a participação dos demais pescados (Figura 69).
116
Figura 68: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictíacos do ambiente protegido em relão à captura individual do
recurso ao longo do ano pela comunidade de Ararapira no ano de 2009.
Figura 69: Representação gráfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictíacos de ambiente protegido em relação à captura total mensal dos
recursos pela comunidade de Ararapira no ano de 2009.
Analisando-se a captura de peixes efetuada pelas frotas das duas vilas em mar
aberto, tanto em relação à variação ao longo do ano quanto à importância mensal frente
117
aos recursos, observaram-se os seguintes agrupamentos: 1) Recursos com destaque no
primeiro semestre, principalmente nos meses mais frios, representados pela tainha, pela
sororoca e pela salteira; 2) Recurso com destaque nos meses mais quentes, caso do
cação e 3) Recurso com importância de captura distribuída de forma indefinida ao longo
de todo o ano, representado pela membeca, embora esta apresente menores índices de
captura anual e importância mensal frente aos demais pescados particulares a cada
comunidade pesqueira (Figura 70 à Figura 74).
Figura 70: Representação gráfica dos percentuais de captura da tainha nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses (A; B; C) e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês (D;
E; F) ao longo do ano de 2009.
118
Figura 71: Representação gráfica dos percentuais de captura da sororoca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009.
Figura 72: Representação gráfica dos percentuais de captura da salteira nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009.
119
Figura 73: Representação gráfica dos percentuais de captura do cação nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009.
Figura 74: Representação gráfica dos percentuais de captura da membeca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variação na captura da espécie nos diferentes
meses e a sua importância mensal frente aos demais recursos em cada mês ao longo do
ano de 2009.
120
5.2.2.3 Riqueza, Abundância e Sazonalidade Captura de Camarão
Neste estudo foram consideradas duas categorias de recurso camarão que são, o
camarão-sete-barbas, Xiphopenaeus kroyeri, e o camarão-branco, Litopenaeus schmitti.
Do total de recursos pesqueiros explotados pelos pescadores da comunidade de
Superagui, os camarões representaram 80,46% do peso total capturado e, dentre estes, o
camarão-sete-barbas, foi responsável por 95,81%. Atividades pesqueiras direcionadas
aos camarões representaram 75% dos eventos pesqueiros na comunidade de Superagui,
sendo que a arte de pesca arrasto dominou com 82,25%, seguido pelo lanço-caracol com
15,52%, o caceio com 2,10% e apenas discretamente o gerival, com 0,12%, sendo esta
última restrita ao ambiente marinho protegido. Situação oposta à descrita acima foi
verificada em Ararapira onde a pesca de camarão é modesta e respondeu por menos de
3% dos eventos pesqueiros desta localidade, com destaque para a captura de camarão
vivo por meio de lanço a partir da margem do canal que, entre as pescarias direcionadas
ao camarão nesta vila, representou 91,67%. Camarões vivos foram pescados
praticamente o ano todo, com maior esforço nos meses de janeiro e agosto,
respectivamente nove e oito eventos; em abril e dezembro não foi detectada pescaria de
camarão e nos demais meses o número de eventos variou entre três e cinco eventos.
As considerações a seguir se referem à comunidade de Superagui, onde a pesca
de camarão foi mais representativa e possibilidades de avaliações mais refinadas. Os
pescadores de Superagui utilizaram quatro artes de pesca para capturar o camarão. A
mais importante foi o arrasto responsável pela captura de 97,58% do peso total, com as
demais artes de pesca contribuindo apenas discretamente (Figura 75). A pesca de arrasto
foi efetuada ao longo de todo o ano, e que apresentou dois picos, com maior número de
eventos, sendo um em junho e outro em agosto, inclusive, se verificou pesca de arrasto
durante o peodo de defeso. As outras artes apresentaram nítido padrão mensal, com o
caceio sendo praticado apenas durante o mês de março, o gerival apenas em abril e o
lanço-caracol durante os meses de março a junho (Figura 76).
121
Figura 75: Representação gráfica dos percentuais de captura
de camarão pelas diferentes artes de pesca utilizadas pelos
pescadores da comunidade de Superagui durante o ano de
2009.
Figura 76: Representação gráfica da distribuição mensal dos percentuais dos eventos de
pesca conduzidos pelas artes de pesca de arrasto, lanço, gerival e caceio direcionados ao
camarão pelos pescadores da comunidade de Superagui ao longo do ano de 2009.
A sazonalidade de captura do camarão-sete-barbas apresentou acentuada
variação mensal, mas com picos definidos em junho, agosto e janeiro, contrastando com
o cenário da pesca do camarão-branco, restrito aos meses de março a junho (Figura 77).
122
Figura 77: Representação gráfica da distribuição mensal dos percentuais de captura do
camarão-sete-barbas e do camarão-branco durante o ano de 2009 na comunidade de
Superagui.
5.2.2.4 Destino da Produção
Os objetivos dos eventos de pesca, em relação ao destino do produto pescado, são
marcadamente diferentes nas duas comunidades estudadas. Os dados indicam que os
pescadores de Superagui sempre realizam as campanhas de pesca buscando produto
para comercialização, ao passo que em Ararapira marcado investimento em pesca
para consumo próprio. Nesse sentido, ao se avaliar os eventos de pesca realizados pelos
pescadores de Ararapira, em águas abrigadas, se obtém o índice de 69,44% das
pescarias direcionadas exclusivamente para o consumo familiar. Por outro lado, as
incursões de pesca no mar aberto têm por objetivo a captura de pescado para a venda,
condição verificada em 79,07% dos casos, sem levar em conta que em 11,14% destes
eventos de pesca não houve produção e, caso houvesse captura, certamente o índice de
comercialização seria maior.
Em relação à comercialização do pescado se observam situações diferentes nas
duas comunidades avaliadas. Em Superagui a venda do pescado é predominantemente
realizada para compradores da própria comunidade, situação verificada em 88,82% do
peso de camarão e 77,25% do peso de peixe comercializados. Em Ararapira a situação é
inversa em relação à venda de camarão, apesar da baixa representatividade deste
123
recurso localmente, que é destinada aos compradores de fora da comunidade, que
adquiriram 97,83% do total, ao passo que a venda de peixes assume maior importância
para compradores da própria vila, com índice de 69,59%.
5.2.2.5 Esforço de Pesca / Produtividade
Na comunidade de Superagui foi registrada a atuação de 71 embarcações
motorizadas que empreenderam 2.054 viagens de pesca ao longo do ano de 2009. Em
adição se registraram três eventos de pesca a partir de canoas a remo, 12 pela utilização
de tarrafa e 21 eventos de picaré. Em uma avaliação geral das pescarias desenvolvidas
na comunidade de Superagui, ao longo de todo o ano, foram monitorados 2.090 eventos
de pesca. Na comunidade de Ararapira foram registradas nove embarcações motorizadas
que efetuaram 354 viagens de pesca, 1.459 eventos de pesca foram realizados com
canoas a remo e 24 pescarias foram realizadas desembarcadas utilizando tarrafa. Dessa
forma, na comunidade de Ararapira, ao longo do ano de 2009, foram monitorados 1.837
eventos de pesca.
Avaliando-se os eventos de pesca efetuados individualmente por cada embarcação
motorizada nas duas comunidades estudas, se observou acentuada amplitude de valores.
No caso da frota de Ararapira durante, o ano de 2009, a amplitude do esforço por
embarcação foi de oito a 72 eventos de pesca (Figura 78). Em Superagui a frota
camaroeira apresentou valores entre um e 102 eventos de pesca e a frota direcionada
aos peixes entre um e 35 eventos, por embarcação (Figura 79).
124
Figura 78: Número de eventos pesqueiros empreendidos pela frota
pesqueira motorizada da comunidade de Ararapira no ano de 2009.
Eventos de pesca
0
20
40
60
80
100
120
Embarcações
Pesca de camarão
Pesca de peixe
Figura 79: Número de eventos pesqueiros empreendidos por cada
embarcação da frota pesqueira da comunidade de Superagui direcionados
aos camarões e aos peixes no ano de 2009.
125
5.2.2.5.1 Esforço de Pesca / Produtividade Captura de Peixes
Em uma avaliação geral, os pescadores de Superagui capturaram 36.472 kg de
peixe, ao passo que a produtividade de Ararapira foi de 28.384 kg ao longo do ano de
2009. Atividades pesqueiras direcionadas aos peixes representaram 25% dos eventos de
pesca na comunidade de Superagui, ao passo que em Ararapira este índice foi de
97,43%. Em relação à frota motorizada, na comunidade de Superagui atuaram 42
embarcações na captura de peixes, das quais apenas cinco trabalham exclusivamente
nesta categoria de recurso. Na comunidade de Ararapira a frota esteve composta por
nove embarcações motorizadas, das quais sete atuaram exclusivamente na pesca de
peixes e as outras duas, além do recurso ictíaco, tamm pescaram camarão, embora
apenas discretamente. Em Ararapira, embora não se tenha o número exato de canoas em
atividade, pois não é comum se dar nome a estas embarcações, é notável a atividade das
canoas a remo, as quais foram responsáveis pela maioria das pescarias.
Avaliando-se o número de dias trabalhados mensalmente na pesca de peixes pelos
pescadores da comunidade de Superagui, se obteve a média de 7,25 6,12). Valores
extremos foram observados nos meses de abril, maio e dezembro, quando se trabalhou
apenas um dia, e no mês de agosto, quando se observou o maior número de dias
trabalhados, 22 no total. O número de dias trabalhados pelos pescadores de Ararapira em
mar aberto é próximo do observado em Superagui, com média de 11,16 6,13), valores
muito diferentes dos observado nas pescarias de ambiente protegido, onde a média foi de
27,58 3,47) (Figura 80). Em uma avaliação mensal do mero de dias trabalhados em
mar aberto, pelos pescadores de Ararapira, se observou valores extremos nos meses de
setembro e outubro, apenas três dias em cada mês, e novembro e dezembro, quando se
trabalhou mais dias, 23 e 19 respectivamente. Por outro lado, nas pescarias conduzidas
em ambiente protegido, se observou uma amplitude entre 19 e 31 dias de trabalho, sendo
que se percebeu uma tendência de menor número de dias trabalhados apenas nos meses
de agosto e de dezembro, 19 e 23 dias respectivamente, sendo que nos demais meses
do ano houve sempre 27 ou mais dias trabalhados na pesca em ambiente protegido.
126
Dias trabalhados
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
Superagui Ararapira Mar Ararapira Rio
Min-Max
25%-75%
Valor médio
Figura 80: Amplitude, valor médio e intervalo onde se concentram 50%
dos valores dos dias trabalhados por mês pelos pescadores da
comunidade de Superagui e Ararapira durante o ano de 2009.
Em relação ao total de eventos mensais de pesca realizados pelos pescadores da
comunidade de Superagui, se obteve a média de 41,50 43,67). Assim como na
avalião do número de dias trabalhados, a média de eventos de pesca efetuados pelos
pescadores de Ararapira em mar aberto esteve relativamente próxima ao valor observado
em Superagui e foi de 29,69 (± 20,37), índices que diferem muito da média calculada para
os eventos de pesca realizados em ambiente protegido, onde se obteve o valor de 124,91
(±33,74) (Figura 81). O número de eventos de pesca conduzidos mensalmente pelos
pescadores de Superagui seguiu o padrão observado para o número de dias trabalhados,
com menor investimento durante os meses de abril, maio e dezembro, quando se
registrou apenas um evento em cada mês. O que contrasta com o mês de agosto, quando
se realizou 129 pescarias. No caso das pescarias em mar aberto conduzidas pelos
pescadores de Ararapira se observaram menores investimentos durante os meses de
abril, setembro e outubro, ao passo que menos eventos de pesca em ambiente protegido
foram característicos do mês de agosto e dezembro.
127
Eventos de pesca
-20
20
60
100
140
180
Superagui Ararapira Mar Ararapira Rio
Min-Max
25%-75%
Valor médio
Figura 81: Amplitude, valor médio e intervalo onde se concentraram 50%
dos eventos de pesca efetuados pelos pescadores da comunidade de
Superagui e Ararapira durante o ano de 2009.
5.2.2.5.2 Esforço de Pesca / Produtividade Captura de Camarões
A frota da comunidade de Superagui capturou 150.224,5 kg de camarão, dos quais
143.944 kg foram de camarão-sete-barbas e 6.280,5kg de camarão-branco. Por outro
lado, somente duas embarcações de Ararapira realizaram arrasto, o que rendeu apenas
186 kg de camarão-sete-barbas a partir de quatro eventos de pesca. Em adição, foram
pescadas 10.758 unidades de camarão vivo pela realização de 43 lanços de pesca a
partir da margem do canal. Camarões vivos foram pescados praticamente o ano todo,
com maior esforço nos meses de janeiro e agosto, respectivamente nove e oito eventos.
Em abril e dezembro não foi detectada esta pescaria e nos demais meses o número de
eventos variou entre três e cinco. Na comunidade de Superagui a pesca de camarão foi
realizada por 66 embarcações, das quais 29 atuaram exclusivamente nesta pescaria. Do
total de recursos pesqueiros explotados pelos pescadores da comunidade de Superagui,
os camarões representaram 80,46% do peso total capturado e, dentre estes, o camarão-
sete-barbas, foi responsável por 95,81%.
Avaliando-se o número de dias trabalhados mensalmente pelos camaroeiros da
comunidade de Superagui, se obteve a média de 10 4,71). Os valores extremos se
referem ao mês de agosto, quando se observou o maior número de dias trabalhados, 24
128
no total, e ao mês de setembro, quando se trabalhou apenas cinco dias (Figura 82). De
uma maneira geral, se obteve a média de 4,28 (± 7,37) eventos de pesca por dia ao longo
do ano, com destaques para os meses de agosto e junho, quando se obteve as maiores
médias, 9,32 e 7,00, respectivamente, contrastando com o valor obtido em Julho, apenas
1,90. As demais médias oscilaram ao redor de três e quatro eventos de pesca diários nos
outros meses (Figura 83). De uma maneira geral, os números de eventos de pesca
mensais tendem a seguir o padrão de dias trabalhados por mês no segundo semestre.
Por outro lado, no primeiro semestre há dois cenários distintos: de janeiro a março se
verificou menor número de eventos de pesca em relação aos dias trabalhados, ocorrendo
o contrário nos três meses seguintes, principalmente em junho, quando se registrou a
maior diferença (Figura 84).
Figura 82: Distribuição mensal dos dias trabalhados na pesca de camarão na
comunidade do Superagui no ano de 2009.
129
Eventos de pesca
-6
-2
2
6
10
14
18
22
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Desvio padrão
Erro padrão
Média
Figura 83: Média diária, desvio padrão e erro padrão dos eventos de pesca realizados
pelos pescadores da comunidade de Superagui de acordo com os meses de 2009.
Figura 84: Dias trabalhados e viagens de pesca mensais realizadas pela frota da
comunidade de Superagui na pesca de camarão no ano de 2009.
130
5.2.3 Rejeitos
5.2.3.1 Produção de Rejeitos de Peixes na Pesca de Arrasto
Dados referentes à captura de peixes nos arrastos de pequena escala/artesanais
direcionados aos camarões na costa paranaense apontam uma riqueza de 145 táxons
capturados (Tabela 12).
Tabela 12: Riqueza de espécies de peixes capturadas na pesca de arrasto no Paraná
Espécie
Krul
(1999)
Rickli
(2001)
Santos
(2006)
Schuartz
(2008)
Carniel
(2008)
Pina
(2009)
Cattani
(2010)
1. Achirus achirus
X
2. Achirus declivis
X
X
X
X
3. Achirus lineatus
X
X
X
X
X
X
4. Aluterus monoceros
X
5. Anchoa filifera
X
X
X
6. Anchoa januaria
X
7. Anchoa lyolepis
X
X
X
8. Anchoa parva
X
9. Anchoa spinifer
X
X
X
X
X
X
10. Anchoa tricolor
X
X
X
X
X
11. Anchovia clupeoides
X
12. Anchoviella lepidentostole
X
X
13. Anisotremus surinamensis
X
X
14. Anisotremus virginicus
X
15. Aspistor luniscutis
X
X
16. Astroscopus y-graecum
x
X
17. Bagre bagre
X
X
X
18. Bairdiella ronchus
X
X
X
X
X
19. Bathygobius soporator
X
20. Carangoides bartholomaei
X
X
21. Caranx crysos
X
22. Caranx latus
X
23. Cathorops spixii
X
X
X
X
X
X
X
24. Centropomus parallelus
X
25. Centropomus undecimalis
X
26. Cetengraulis edentulus
X
X
X
X
X
X
27. Chaetodipterus faber
X
X
X
X
X
X
X
28. Chilomycterus spinosus
X
X
29. Chirocentrodon bleekerianus
X
X
X
X
X
X
X
30. Chloroscombrus chrysurus
X
X
X
X
X
X
31. Citharichthys arenaceus
X
X
X
32. Citharichthys macrops
X
X
33. Citharichthys spilopterus
x
X
X
X
131
34. Conodon nobilis
X
X
X
X
X
X
35. Ctenosciaena gracilicirrhus
X
X
X
X
X
36. Cyclichthys spinosus
X
X
X
X
37. Cynoscion acoupa
X
X
X
X
38. Cynoscion jamaicensis
X
X
X
X
39. Cynoscion leiarchus
X
X
X
X
X
40. Cynoscion microlepidotus
X
X
X
X
41. Cynoscion virescens
X
X
X
X
42. Dactylopterus volitans
X
X
X
X
43. Dasyatis guttata
X
44. Diapterus rhombeus
X
X
X
45. Diplectrum formosum
X
46. Diplectrum radiale
X
X
X
X
47. Dules auriga
x
48. Engraulis anchoita
x
X
49. Epinephelus morio
X
50. Epinephelus nigritus
X
51. Etropus crossotus
X
X
X
X
X
X
52. Eucinostomus argenteus
X
X
X
X
53. Eucinostomus gula
X
X
54. Eucinostomus melanopterus
X
X
X
55. Eugerres brasilianus
X
56. Gempylus serpens
X
57. Genidens barbus
X
X
X
X
X
X
58. Genidens genidens
X
X
X
X
59. Genyatremus luteus
X
60. Genyatremus luteus
X
61. Gymnothorax ocellatus
x
X
X
X
62. Gymnura altavela
X
63. Harengula clupeola
X
X
X
X
X
X
64. Hemicaranx amblyrhynchus
X
X
X
X
65. Hippocampus erectus
X
66. Hypleurochilus fissicornis
X
67. Isopisthus parvipinnis
X
X
X
X
X
X
X
68. Lagocephalus laevigatus
X
X
X
X
X
X
69. Larimus breviceps
X
X
X
X
X
X
X
70. Lobotes surinamensis
X
71. Lycengraulis grossidens
X
X
X
X
X
X
72. Macrodon ancylodon
X
X
X
X
X
X
73. Menticirrhus americanus
X
X
X
X
X
X
X
74. Menticirrhus littoralis
X
X
X
X
X
X
75. Microgobius meeki
x
76. Micropogonias furnieri
X
X
X
X
X
X
X
77. Mullus argentinae
X
X
78. Mycteroperca acutirostris
x
79. Narcine brasiliensis
X
X
X
X
X
X
X
80. Nebris microps
X
X
x
X
X
X
X
81. Notarius grandicassis
X
82. Ogcocephalus vespertilio
x
X
83. Oligoplites palometa
X
132
84. Oligoplites saliens
X
X
X
X
X
85. Oligoplites saurus
X
X
X
X
86. Oncopterus darwinii
x
87. Ophichthus gomesii
X
X
X
X
X
88. Ophidion holbrookii
X
89. Ophioscion punctatissimus
X
X
X
90. Ophistonema oglinum
X
x
X
91. Orthopristis ruber
X
X
X
X
X
92. Paralichthys orbignyanus
X
X
93. Paralichthys patagonicus
x
94. Paralonchurus brasiliensis
X
X
X
X
X
X
X
95. Pellona harroweri
X
X
X
X
X
X
X
96. Peprilus paru
X
X
X
X
X
X
X
97. Platanichthys platana
X
98. Pogonias cromis
X
99. Polydactylus oligodon
X
X
100. Polydactylus virginicus
X
X
X
X
101. Pomadasys corvinaeformis
X
X
X
X
X
X
102. Pomatomus saltatrix
X
X
X
X
103. Porichthys porosissimus
X
X
X
X
X
X
104. Priacanthus arenatus
X
105. Prionotus nudigula
X
X
106. Prionotus punctatus
X
X
X
X
X
X
X
107. Prionotus sp.
X
108. Rhinobatos percellens
X
X
X
X
109. Rhinoptera bonasus
X
110. Rhizoprionodon lalandii
X
111. Rypticus randalli
X
X
X
X
X
112. Sardinella janeiro
X
X
X
X
113. Scomberomorus brasiliensis
X
114. Scomberomorus cavalla
X
115. Scorpaena isthimensis
x
116. Selene setapinnis
X
X
X
X
X
X
117. Selene vomer
X
X
X
X
X
X
118. Seriola dumerili
x
119. Serranus phoebe
X
120. Sphoeroides greeleyi
X
X
X
121. Sphoeroides spengleri
X
X
122. Sphoeroides testudineus
X
X
X
X
X
X
X
123. Sphyraena guachancho
X
X
X
124. Sphyraena sp.
X
125. Sphyraena tome
x
126. Sphyrna lewini
x
127. Stellifer brasiliensis
X
X
X
X
X
X
X
128. Stellifer rastrifer
X
X
X
X
X
X
X
129. Stellifer stellifer
X
X
X
X
X
130. Stephanolepis hispidus
X
X
131. Syacium micrurum
X
132. Syacium papillosum
X
X
X
133. Symphurus plagusia
X
133
134. Symphurus tesselatus
X
X
X
X
X
X
135. Syngnathus dunckeri
X
136. Syngnathus folleti
X
137. Synodus foetens
X
138. Thalassophyrne nattereri
X
139. Trachinotus carolinus
X
X
140. Trichiurus lepturus
X
X
X
X
X
X
X
141. Trinectes microphtalmus
X
X
X
X
X
X
X
142. Trinectes paulistanus
X
X
X
X
X
X
143. Umbrina coroides
X
144. Urophycis brasiliensis
X
X
X
X
X
X
145. Zapteryx brevirostris
X
X
X
X
Ao se avaliar as 10 espécies de peixes que mais contribuíram quantitativamente
para o total capturado, em cada um dos sete estudos analisados, se reconheceram 24
táxons importantes. Deste total, se destacaram três conjuntos de espécies com índices
gerais de captura característicos. O primeiro conjunto é formado por S. rastrifer que
individualmente respondeu por 25,84% do total geral. O segundo conjunto é formado por
P. brasiliensis que respondeu por 12,23%. O terceiro conjunto agrega oito espécies, com
índices de captura entre 5,56 e 2,21%, e são: Isopistus parvipinnis (5,56%), S. brasiliensis
(5,55%), L. breviceps (5,39%), C. spixii (3,03%), S. setapinnis (2,80%), P. harroweri
(2,59%), M. americanus (2,275) e P. corvinaeformis (2,21). Em média, as 10 espécies
mais abundantes contribuíram com 79,83% do total capturado, com valores extremos de
68,08% (Rickli, 2001) e 87,54% (Catani, 2010) (Tabela 13).
134
Tabela 13: Lista das 24 espécies de peixes com maiores índices de captura em peso em
arrastos direcionados ao camarão no litoral paranaense.
Espécies
Krul
1999
Rickli
2001
Santos
2006
Schwarz
2009
Pina
2009*
Catani
2010
% Todos
estudos
1. S. rastrifer
31,00
19,17
_____
27,42
51,00
26,46
25,84
2. P. brasiliensis
20,90
13,00
12,12
8,08
8,00
11,3
12,23
3. I. parvipinnis
13,36
4,76
5,29
3,69
3,00
3,28
5,56
4. S. brasiliensis
1,86
9,83
_____
6,9
7,00
7,71
5,55
5. L. breviceps
4,14
8,73
_____
7,28
3,00
9,22
5,39
6. C. spixii
_____
_____
3,04
4,96
_____
10,26
3,03
7. S. setapinnis
2,02
_____
_____
_____
1,78
13,04
2,80
8. P. harroweri
4,45
_____
_____
5,21
4,00
1,88
2,59
9. M. americanus
2,35
_____
11,34
_____
_____
_____
2,27
10. P. corvinaeformis
_____
_____
9,24
4,08
_____
_____
2,21
11. C. gracilicirrhus
_____
_____
4,64
8,56
_____
_____
2,19
12. Z. brevirostris
_____
_____
10,62
_____
_____
_____
1,76
13. C. chrysurus
_____
_____
10,53
_____
_____
_____
1,75
14. S. stellifer
3,62
_____
_____
_____
4,00
_____
1,27
15. C. jamaicensis
_____
1,55
_____
3,72
_____
_____
0,87
16. T. lepturus
_____
3,16
_____
_____
_____
1,89
0,84
17. C.nobilis
_____
4,10
_____
_____
_____
_____
0,68
18. S. tessellatus
_____
2,34
_____
_____
1,48
_____
0,63
19. R. percellens
_____
_____
2,93
_____
_____
_____
0,48
20. C. bleekerianus
_____
_____
2,82
_____
_____
_____
0,46
21. C. leiarchus
2,74
_____
_____
_____
_____
_____
0,45
22. T. paulistanus
_____
_____
_____
_____
_____
2,5
0,41
23. L. laevigatus
_____
_____
_____
_____
2,00
_____
0,33
24. U. brasiliensis
_____
1,44
_____
_____
_____
_____
0,24
Total
86,44
68,08
72,57
79,90
85,26
87,54
79,83
* Número de indivíduos
5.2.3.2 Produção de Rejeitos Dados de Massa e Comprimento Corporal das
Capturas
Apesar das diferenças nas embarcações e potências dos motores envolvidos em
cinco estudos avaliados, as informações referentes às medidas de comprimento e massa
135
dos peixes capturados nos arrastos conduzidos na plataforma interna da costa
paranaense apresentam certa homogeneidade, especialmente em relação às médias de
comprimento. O comprimento dos peixes descartados nesses estudos demonstrou uma
amplitude limitada, com valores de média entre 86,08 mm (PINA, 2009) e 97,75 mm
(SCHWARZ JUNIOR, 2009). No entanto, entre as médias disponíveis das massas dos
peixes rejeitados se verificou que uma delas, 16,39 g, se distanciou das demais, que
estiveram restritas entre 09,95 g e 11,67 g (Tabela 14).
Tabela 14: Resultados de cinco estudos sobre peixes capturados nos arrastos
direcionados aos camarões na costa paranaense.
Estudo
Comprimento (mm)
Massa (g)
Krul, 1999
C.T = 97,40
09,95
Santos, 2006
C.P = 93,40
16,39
Schwarz Junior, 2009
C.T = 97,75
11,67
Pina, 2009
C.T = 86,08
_____
Cattani, 2010
C.T = 94,59
10,77
5.2.3.1 Impactos decorrentes da produção de rejeitos
Ao se comparar a captura de peixes por unidade de esforço (CPUE) obtidas nos
arrastos conduzidos no litoral do Paraná, a partir de vários estudos, se observa
significativa variação. De uma maneira geral, os estudos apontam para um valor em torno
de 5 kg de captura de peixes por hora de arrasto, tendo por base a produção de apenas
uma rede. No entanto há marcada amplitude nestes índices, com o menor valor, 3.780 kg,
registrado no estudo de Rickli (2001) e o maior, 7.730 kg, no trabalho de Santos (2006)
(Tabela 15). Da mesma forma, há marcada variação nos índices de captura ao se
comparar os diferentes estudos distribuídos temporalmente ao longo de aproximadamente
uma cada. De uma maneira geral, a CPUE apresenta tendência de aumento no
primeiro semestre, especialmente nos meses de março e abril, mas é importante destacar
que estes dados refletem índices provenientes de estudos que não levam em conta a
atuação da frota como um todo, e sim de embarcações específicas. Outra questão na
comparação dos estudos é a variável período em que estes foram realizados, nesse
sentido as informações provenientes dos anos 1995/96 (Krul, 1999) apontam maiores
índices de captura no segundo semestre. Este mesmo autor calculou a produção de
136
rejeitos a partir da atuação da frota de arrasteiros que atuou entre os balneários de Pontal
do Sul e Praia de Leste e detectou maior volume de peixes entre os meses de dezembro
e maio, com um pico no verão (Figura 85). Neste caso, um cenário com maior produção
de rejeitos nos meses mais quentes do ano, é um reflexo da maior quantidade de barcos
atuando e não do índice de CPUE.
Tabela 15: Índices de captura de peixe por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vários estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paraná.
Estudos
Captura de Peixe por rede em uma hora de arrasto
Krul (1999)
4.359 kg
Rickli (2001)
3.780 kg
Santos (2006)
7.730 kg
Schwarz Junior (2009)
5.584 kg
Cattani (2010)
3.063 kg
Figura 85: Representação gráfica da distribuição mensal da porcentagem de captura de
peixes em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010.
Ao se comparar as capturas de camarão por unidade de esforço (CPUE) obtidas
nos arrastos conduzidos no litoral do Paraná, a partir de vários estudos, se observa
significativa variação (Tabela 16). Assim como a captura de peixes, os estudos apontam
para um valor de captura de camarão por hora de arrasto em torno de 5 kg, tendo por
137
base a produção de apenas uma rede. No entanto marcada amplitude destes índices,
com o menor valor de 3.316 kg, registrado no estudo de Krul (1999) e o maior de 6.609
kg, no trabalho de Natividade (2006). Com base nos quatro estudos consultados sobre a
captura de camarões na costa do Paraná, se observa um padrão consistente em relação
à maior produtividade mensal concentrada entre os meses de fevereiro e maio, com picos
secundários no bimestre agosto/setembro (KRUL, 1999) e em dezembro (CATTANI,
2010). No entanto, ao se avaliar os índices de captura mensais calculados para a frota de
Superagui se obtêm um cenário completamente diferente. Neste caso uma correlação
negativa com os demais estudos: a menor produção ocorre justamente durante os meses
de março a maio e há três picos bem definidos, um em junho, outro em agosto e mais um
em janeiro, caracterizando forte irregularidade produtiva (Figura 86).
Tabela 16: Índices de captura de camarão por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vários estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paraná.
Estudos
Captura de camarão por rede em uma hora de arrasto
Krul (1999)
3.316
Rickli (2001)
4.245
Natividade (2006)
6.609
Cattani (2010)
5.395
Figura 86: Representação gráfica da distribuição mensal da porcentagem de captura de
camarão em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010.
138
5.2.3.1.1 Relação de Captura Entre Peixes e Camarões
A avaliação da proporção de captura entre peixes e camarões indicou marcada
variação, tanto entre os meses do ano, quanto nas variações médias entre estudos
diferentes, ou inclusive dentro de um mesmo estudo (Figura 87). Os estudos consultados
apresentaram proporção média entre a captura de peixe e camarão, com amplitude entre
570 g para 1.000 g (Cattani, 2010) e 1.300 g para 1.000 g (Krul, 1999), contudo a média
entre os estudos foi de aproximadamente 1:1 g (Tabela 17).
Figura 87: Representação gráfica da proporção de captura entre camarão e peixe nos
diferentes meses do ano de acordo com Krul, 1999 e Cattani, 2010.
Tabela 17: Relação de captura entre peixe e camarão-sete-barbas em gramas.
Estudos
Peixe (g)
Camarão (g)
Paiva-Filho e Schmiegelow, 1986
1.100
1.000
Krul, 1999
1.300
1.000
Rickli, 2001
900
1.000
Lopes, 1996
865
1.000
Cattani, 2010
570
1.000
De uma maneira geral, como visto acima, a proporção de captura entre peixe e
camarão é de aproximadamente 1:1. Da mesma forma, ao se avaliar as médias de
139
captura de camarões e de peixes por hora de arrasto, os índices o idênticos e apontam
para aproximadamente 5 kg por hora de arrasto por rede, ressaltando-se que as
embarcações arrasteiras utilizam duas redes simultaneamente. No entanto, em uma
avalião mensal marcada diferença nas proporções de captura destes dois grupos
animais.
Analisando-se a produção de rejeitos da frota arrasteira da comunidade de
Superagui, com base na produção de camarão desta vila calculada para o ano de 2009,
associada à relação média de 1:1 (captura de camarão e de peixe), se obtêm o valor de
150.224,5 kg de peixes sem valor comercial que foram descartados. Realizando-se esta
estimativa com base nas horas trabalhadas na atividade de arrasto pelos pescadores de
Superagui, que somaram 9.402 horas, associadas à captura média de peixes por hora de
arrasto (5 kg/h/rede), se obtém o valor de aproximadamente 94.000 kg de peixes
descartados como rejeitos, o que está abaixo da estimativa anterior, levando em conta o
valor apurado para a produção de camarão. No entanto, com base nos dados de
Natividade (2006) obtém-se 8,75 kg/h/rede como índice específico de produtividade de
captura de camarão para a região norte do litoral do Paraná, utilizando-se as horas
trabalhadas no arrasto e a razão de 1:1 de captura de peixe e camarão esse índice
resultaria na estimativa de 164.535 kg de peixes rejeitados comercialmente e descartados
no ambiente pela comunidade do Superagui. Considerando-se o índice obtido com os
dados de Natividade (2006) como base para o lculo do volume de camarão capturado e
rejeitos produzidos, os valores estimados anteriormente podem ser considerados
próximos da realidade, tendo em vista que foi contabilizada na comunidade do Superagui
a captura de 150.224,5 kg de camarão em 9.402 horas de arrasto, resultando em um
índice de captura de 7,98 kg de camarão por hora de arrasto para cada rede. Em relação
à captura de peixes por hora de arrasto, os dados coletados por Santos (2006) também
indicam maiores índices de captura para a porção norte do litoral. Portanto, tanto com
base na produção de camarão quanto no esforço de pesca associados aos índices
específicos de produtividade, a estimativa de captura de pequenos peixes pela frota
arrasteira de Superagui se confirma.
A estimativa da produção total de rejeitos, para o Estado do Paraná, a partir do
esforço de pesca direcionado aos camarões se revela uma tarefa desafiadora. Com base
nos dados de desembarque controlado de camarões no Estado do Paraná, que apontam
um valor médio em torno de 1.200 toneladas por ano para o período entre 1997 e 2000
(ANDRIGUETTO FILHO et al., 2006), se esperaria então, no mínimo, um volume de
140
captura semelhante de pequenos peixes. Contudo, esta extrapolação se baseia nos
índices de captura da frota de pequena escala e leva em conta apenas a fração declarada
da captura. Porém há discrepâncias importantes nas fontes de dados referentes ao
desembarque e captura de camarão no estado. A informação oficial disponível sobre o
tamanho da frota paranaense, que atua na pesca do camarão-sete-barbas, indica 323
embarcações em atividade (IBAMA, 2006). Considerando-se um esforço de pesca mensal
em torno de 15 dias e com atividade de arrasto diária de aproximadamente seis horas
(MALHEIROS, 2008; KRUL, 1999), a captura de pequenos peixes seria da ordem de
3.527.160 kg anuais. Uma estimativa de produção de quase três vezes maior de rejeitos
do que aquela baseada em Andriguetto Filho et al. (2006). Adicionalmente, dados
produzidos pela EMATER (1998, apud RICHTER, 2000) indicam uma produção de 4.904
toneladas por ano. Extrapolando os índices associados à relação de captura
peixes/camarão e peixes capturados por hora de arrasto seria de se esperar no mínimo
uma produção próxima a 5.000 toneladas de rejeitos por ano, para toda a frota arrasteira
paranaense. No entanto, os dados oficiais de produção de camarão e do tamanho da frota
arrasteira devem ser vistos com ressalvas, pois por um lado importante parcela da
produção que não é declarada, por outro lado se constata a existência de atividade pesca
de arrasto por embarcações não autorizadas e, em relação às regularizadas, não se sabe
o número exato daquelas que estão realmente atuando (IBAMA, 2006; ANDRIGUETTO
FILHO et al., 2006). Diante disso, a captura de peixes de pequeno tamanho na pesca de
arrasto dirigida aos camarões na costa paranaense deve ser muito maior que as
estimativas efetuadas acima, inclusive, ampliadas pelo fato de pescadores de São Paulo
e de Santa Catarina tamm atuarem neste litoral.
5.2.4 Destino do pescado
Os objetivos dos eventos de pesca, em relação ao destino do produto pescado, são
marcadamente diferentes nas duas comunidades estudadas. Os dados indicam que os
pescadores de Superagui sempre realizam as campanhas de pesca buscando produto
para comercialização, ao passo que em Ararapira marcado investimento em pesca
para consumo próprio. Nesse sentido, ao se avaliar os eventos de pesca realizados pelos
pescadores de Ararapira, em águas abrigadas, se obtém o índice de 69,44% das
pescarias direcionadas exclusivamente para o consumo familiar. Por outro lado, as
incursões de pesca no mar aberto têm por objetivo a captura de pescado para a venda,
141
condição verificada em 79,07% dos casos, sem levar em conta que em 11,14% destes
eventos de pesca não houve produção e, caso houvesse captura, certamente o índice de
comercialização seria ainda maior.
Em relação à comercialização do pescado se observam situações diferentes nas
duas comunidades avaliadas. Em Superagui a venda do pescado é predominantemente
realizada para compradores da própria comunidade, situação verificada em 88,82% do
peso de camarão e 77,25% do peso de peixe. Com relação à venda de camarão, em
Ararapira a situação é distinta, apesar da baixa representatividade deste recurso
localmente esta produção é destinada predominantemente a compradores de fora da
comunidade, que adquiriram 97,83% do total pescado. Ao passo que a venda de peixes
assume maior importância para compradores da própria vila, com índice de 69,59%.
Ao se avaliar o preço dos recursos pesqueiros explotados pelas duas comunidades
pesqueiras, obtido na primeira comercialização, se observa a formação de categorias
distintas. No caso de Ararapira, três recursos pesqueiros são os mais valorizados: o iriko
com preço em torno de R$ 30,00/kg; o camarão vendido para pescadores esportivos a R$
25,00 o cento; e o robalão, com média de R$ 12,80/kg. Ainda nesta mesma comunidade,
outras categorias de pescado foram comercializadas com valores médios entre R$ 5,00 e
R$ 7,00 o quilograma, representada pelo robalo-peva, o linguado e pelas pescadas,
exceto a pescada-membeca. Com valores médios entre R$ 3,00 e R$ 4,00 o quilograma,
se destacaram a tainha, a sororoca, a mangona e o cação. Finalmente, um grupo
representado por várias espécies de peixes foi comercializado por valores entre R$ 1,00 e
R$ 2,00 o quilograma (Tabela 18). Da mesma forma, em Superagui também foram
reconhecidas categorias de preço, com destaque para o robalão, o linguado e o camarão-
branco, vendidos por um preço médio entre R$ 11,00 e R$ 12,00 o quilograma. Na
categoria entre R$ 5,00 e R$ 7,00 foram agrupadas a pescada-galheteira e o cação. A
categoria de preço entre R$ 3,00 e R$ 4,00 foi representada pela pescada-membeca, pela
sororoca e pela tainha. A última categoria, com preços médios entre R$ 1,00 e R$ 2,00 o
quilograma, foi representada por várias espécies, inclusive o camarão-sete-barbas
(Tabela 18).
142
Tabela 18: Preços dos recursos pesqueiros na primeira comercialização durante o ano
de 2009 nas comunidades pesqueiras de Ararapira e Superagui.
Recurso
Táxon
Ararapira (R$)
Superagui (R$)
Iriko
Engraulidae
> 30,00
______
Camarão para isca
_______________
25,00*
_____
Robalão
Centropomus undecimalis
12,80
12,00
Linguado
Paralichthys spp.
5,16
11,50
Camarão-branco
Litopenaeus schimitti
______
10,88
Pescada-galheteira
Cynoscion microlepidotus
______
7,60
Pescada-amarela
Cynoscion acoupa
7,37
______
Robalo
Centropomus parallelus
5,33
______
Pescada-cambucu
Cynoscion virescens
5,0
______
Cação
Carcharhinidae
3,16
5,00
Pescada-membeca
Macrodon ancylodon
3,97
4,00
Sororoca
Scomberomorus spp.
3,23
3,89
Tainha
Mugil liza
3,50
3,00
Mangona
Carcharias taurus
3,0
______
Chupeta
______________
2,36
______
Camarão-sete-barbas
Xiphopenaeus kroyeri
3,00
1,78
Corvina
Micropogonias furnieri
1,16
2,55
Pescada-banana
Nebris microps
______
2,50
Parati
Mugil spp
1,18
2,35
Vivoca/caratinga
Eugerres brasilianus
2,20
______
Anchova
Pomatomus saltatrix
______
2,0
Betara
Menticirrhus spp.
1,22
1,80
Bagre
Ariidae
1,85
______
Virote (Juvenil de tainha)
Mugil spp.
1,70
______
Salteira
Oligoplites spp.
1,00
1,62
Espada
Trichiurus lepturus
1,00
______
Galo
Selene spp.
1,00
______
Palombeta
Chloroscombrus crysurus
1,0
______
Paru
Chaetodipterus faber
1,0
______
Cangulo
Balistes spp.
0,80
1,0
* 100 indivíduos
143
5.3 Biodiversidade
5.3.1 Aves Associadas aos Ecossistemas Florestais
5.3.1.1 Abundância e Riqueza das Espécies de Aves Florestais
Com base nos censos conduzidos nas duas comunidades estudadas e mais uma
área controle, denominada Penedo, foram identificadas 115 espécies de aves. A área
controle abrigou maior riqueza de espécies, 83 no total, das quais 43 tamm foram
registradas nas comunidades pesqueiras. Em relação às aves registradas nas duas
comunidades verificou-se que 38 delas foram comuns às duas vilas, ao passo que 20
foram exclusivas da comunidade de Ararapira e 18 da comunidade de Superagui (Tabela
19).
Tabela 19: Lista das espécies de aves registradas e ocorrência destas na área controle,
Penedo, e nas comunidades do Ararapira e do Superagui.
Espécie
Penedo (n=83)
Ararapira (n=58)
Superagui (n=56)
1. Agelasticus cyanopus
______
X
X
2. Amazilia versicolor
X
______
X
3. Amazona brasiliensis
X
X
X
4. Anthracothorax nigricollis
______
______
X
5. Aphantochroa cirrochloris
X
X
______
6. Attila rufus
X
X
______
7. Basileuterus culicivorus
X
X
X
8. Basileuterus rivularis
X
______
X
9. Brotogeris tirica
______
X
X
10. Rupornis magnirostris
X
______
X
11. Cacicus haemorrhous
______
______
X
12. Camptostoma obsoletum
X
X
X
13. Cathartes aura
______
X
______
14. Celeus flavescens
X
______
X
15. Certhiaxis cinnamomeus
______
X
______
16. Megaceryle torquata
X
______
X
17. Chiroxiphia caudata
X
X
X
18. Cyanocorax caeruleus
______
______
X
19. Chloroceryle americana
______
______
X
20. Coereba flaveola
X
X
______
21. Patagioenas cayennensis
X
X
X
22. Coragyps atratus
______
X
X
144
23. Crotophaga ani
______
X
X
24. Dysithamnus stictothorax
X
X
X
25. Elaenia flavogaster
______
X
______
26. Elaenia sp.
______
X
X
27. Empidomonus varius
X
X
X
28. Euphonia violacea
______
X
______
29. Fluvicola nengeta
______
______
X
30. Forpus xanthopterygius
X
X
31. Geothlypis aequinoctialis
X
X
X
32. Guira guira
______
______
X
33. Hylophilus poicilotis
X
X
______
34. Xiphorhynchus fuscus
X
X
______
35. Machetornis rixosa
______
______
X
36. Florisuga fusca
X
X
X
37. Milvalgo chimachima
______
X
X
38. Molothrus bonariensis
______
X
X
39. Myiarchus swainsoni
X
______
X
40. Myiarchus ferox
______
X
______
41. Myiodynastes maculatus
X
______
X
42. Parula pitiayumi
X
X
X
43. Phylloscartes kronei
X
X
______
44. Picumnus cirratus
X
X
X
45. Pitangus sulphuratus
X
X
X
46. Porzana albicollis
______
X
X
47. Procnias nudicollis
X
X
X
48. Pyriglena leucoptera
X
X
X
49. Pyrocephalus rubinus
______
X
______
50. Ramphocelus bresilius
X
X
X
51. Saltator similis
X
X
______
52. Schiffornis virescens
X
______
X
53. Sicalis flaveola
______
X
X
54. Sporophila caerulescens
______
X
X
55. Synallaxis cinneracens
______
X
______
56. Synallaxis spixi
______
X
X
57. Tangara peruviana
X
X
X
58. Tangara seledon
______
X
______
59. Tangara sp
______
X
______
60. Tersina viridis
______
X
X
61. Tachyphonus coronatus
X
X
______
62. Thalurania glaucopis
______
X
______
63. Thamnophilus caerulescens
X
X
X
64. Thraupis palmarum
______
X
X
65. Thraupis sayaca
X
X
X
66. Thryotorus longirostris
X
X
X
67. Troglodytes musculus
X
X
X
68. Turdus albicollis
X
______
X
69. Turdus amaurochalinus
X
X
X
145
70. Turdus rufiventris
X
X
X
71. Tyrannus melancholicus
X
X
X
72. Tyrannus savana
______
______
X
73. Vanellus chilensis
______
______
X
74. Vireo olivaceus
X
X
X
75. Xenops
X
X
______
76. Zonotrichia capensis
X
X
X
77. Aramides cajanea
X
______
______
78. Aramides saracura
X
______
______
79. Automolus leucophthalmus
X
______
______
80. Chloroceryle aenea
X
______
______
81. Cnemotriccus fuscatus
X
______
______
82. Conopophaga melanops
X
______
______
83. Crypturellus obsoletus
X
______
______
84. Dacnis cayana
X
______
______
85. Dendrocincla fuliginosa
X
______
______
86. Drymophila squamata
X
______
______
87. Eleoscytalopus indigoticus
X
______
______
88. Euphonia pectoralis
X
______
______
89. Formicarius colma
X
______
______
90. Habia rubica
X
______
______
91. Herpsilochmus rufimarginatus
X
______
______
92. Hypoedaleus guttatus
X
______
______
93. Lathrotriccus euleri
X
______
______
94. Legatus leucophaius
X
______
______
95. Malacoptila striata
X
______
______
96. Megascops choliba
X
______
______
97. Micrastur semitorquatus
X
______
______
98. Mionectes rufiventris
X
______
______
99. Myiozetetes similis
X
______
______
100. Myrmeciza squamosa
X
______
______
101. Penelope obscura
X
______
______
102. Phaethornis squalidus
X
______
______
103. Piaya cayana
X
______
______
104. Piculus flavigula
X
______
______
105. Pionus maximiliani
X
______
______
106. Ramphastos vitellinus
X
______
______
107. Ramphodon naevius
X
______
______
108. Selenidera maculirostris
X
______
______
109. Sirystes sibilator
X
______
______
110. Sittasomus griseicapillus
X
______
______
111. Tityra cayana
X
______
______
112. Tolmomyias sulphurescens
X
______
______
113. Trogon viridis
X
______
______
114. Veniliornis spilogaster
X
______
______
115. Xiphocolaptes albicollis
X
______
______
146
Em relação à riqueza de espécies nas três áreas estudadas se observou tendência
de estabilização das Curvas de Rarefação, indicando que o esforço amostral foi eficiente
para estimar este parâmetro (Figura 88 a Figura 90).
Figura 88: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva
cumulativa de espécies a partir da curva de rarefação para a comunidade
de Ararapira.
Figura 89: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva
cumulativa de espécies a partir da curva de rarefação para a comunidade
de Superagui.
147
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Amostras (pontos de contagem)
Número de Espécies
Estimativa do observado
Intervalo de Confiança de 95%
Figura 90: Estimativa do observado e intervalo de confiança da curva
cumulativa de espécies a partir da curva de rarefação para a área
controle.
Em uma avaliação geral da média de espécies de aves por censo se registrou um
gradiente bem definido, com valores significativamente (p<0,05) diferentes ao se
comparar as três localidades estudadas. A menor média, 7,40 (±2,90), se refere à
comunidade da Vila de Superagui e a maior, 11,82 (±2,49), foi obtida na área controle,
que representa uma porção de floresta sem influência direta de comunidades humanas
(Figura 91).
148
±1.96 e
±1.00 e
Média
Espécies
6
7
8
9
10
11
12
13
14
Superagui Ararapira Penedo (controle)
Figura 91: Média e erros padrões do número de espécies de aves
registradas nos censos conduzidos nas três áreas estudadas.
Em relação à média de indivíduos presentes nos censos se detectou o menor valor,
10,28 (±4,27), na comunidade de Superagui, que é significativamente (p<0,05) diferente
das outras duas médias obtidas na área controle e Ararapira, que são similares (Figura
92).
±1.96 e
±1.00 e
Média
Indivíduos
8
10
12
14
16
18
20
Superagui Ararapira Penedo (controle)
Figura 92: Média e erros padrões das estimativas do número de
indivíduos registrados nos censos conduzidos nas três áreas avaliadas.
149
Avaliando-se a contribuição das 12 espécies de aves mais abundantes nos censos
realizados em cada área estudada se obteve os índices de 58,59% e 66,30% para as
comunidades pesqueiras de Ararapira e Superagui, respectivamente, e 54,25% para a
área controle (Figura 93).
Figura 93: Contribuição das 12 espécies de aves com os maiores índices
de abundância relativa nas três áreas estudadas.
Os dois grupos de aves com os maiores índices de abundância relativa nas vilas
foram similares, com oito espécies participando em ambos, contrastando com o
observado na área controle, que teve 10 espécies exclusivas (Tabela 20).
150
Tabela 20: Lista das espécies de aves 11 espécies com maiores índices de abundância
relativa durante as contagens por ponto conduzidas nas comunidades do Ararapira e
Superagui.
Espécie
Penedo
Ararapira
Superagui
1. Troglodytes musculus
_____
3,49
5,64
2. Amazona brasiliensis
3,83
3,69
_____
3. Pitangus sulphuratus
_____
4,07
_____
4. Geothlypis aequinoctialis
_____
4,66
3,69
5. Molothrus bonariensis
_____
4,66
4,08
6. Coragyps atratus
_____
5,24
7,97
7. Turdus amaurochalinus
_____
5,24
_____
8. Zonotrichia capensis
_____
5,43
4,67
9. Vireo olivaceus
_____
5,82
4,86
10. Ramphocelus bresilius
_____
6,40
6,22
11. Thraupis sayaca
_____
6,79
7,78
12. Cantorchilus longirostris
3,40
_____
4,28
13. Tyrannus melancholicus
_____
3,10
10,11
14. Sicalis flaveola
_____
_____
3,50
15. Parula pitiayumi
_____
_____
3,50
16. Myrmeciza squamosa
6,80
_____
_____
17. Basileuterus culicivorus
6,17
_____
_____
18. Herpsilochmus rufimarginatus
5,74
_____
_____
19. Chiroxiphia caudata
4,89
_____
_____
20. Vireo olivaceus
4,68
_____
_____
21. Xiphorhynchus fuscus
4,25
_____
_____
22. Schiffornis virescens
4,04
_____
_____
23. Turdus albicollis
3,61
_____
_____
24. Thamnophilus caerulescens
3,40
_____
_____
25. Picumnus cirratus
3,40
_____
_____
TOTAL
54,25%
58,59%
66.30 %
5.3.1.1 Guilda das Espécies de Aves Florestais
Foram reconhecidas 13 categorias alimentares e 12 estratos que associadas
formaram as guildas onde se inderiram as 115 espécies de aves registradas nas três
áreas estudas (Tabela 21).
151
Tabela 21: Lista das espécies de aves, suas categorias alimentares e estratos
associados, nas comunidades do Ararapira e Superagui.
TÁXON
ESTRATO
ITENS ALIMENTARES
1. Chloroceryle americana
Do corpo aquoso
Predadores de peixes
2. Megaceryle torquata
Do corpo aquoso
Predadores de peixes
3. Chloroceryle aenea
Do corpo aquoso
Predadores de peixes
4. Pitangus sulphuratus
Em todos os estratos
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
5. Turdus albicollis
Em todos os estratos
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
6. Turdus amaurochalinus
Em todos os estratos
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
7. Turdus rufiventris
Em todos os estratos
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
8. Megascops choliba
Em todos os estratos
Predadores de invertebrados e
pequenos vertebrados
9. Penelope obscura
Em todos os estratos
Consumidores de frutos e sementes
10. Fluvicola nengeta
Em vôo no espaço aéreo e/ou solo
Predadores de insetos
11. Machetornis rixosus
Em vôo no espaço aéreo e/ou solo
Predadores de insetos
12. Pyrocephalus rubinus
Em vôo no espaço aéreo e/ou solo
Predadores de insetos
13. Synallaxis cinerascens
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
14. Synallaxis spixi
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
15. Certhiaxis cinnamomeus
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
16. Geothlypis aequinoctialis
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
17. Cantorchilus longirostris
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de invertebrados
18. Troglodytes musculus
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de invertebrados
19. Phaeothlypis rivularis
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
20. Automolus leucophthalmus
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
21. Conopophaga melanops
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de invertebrados
22. Formicarius colma
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
23. Malacoptila striata
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
24. Myrmeciza squamosa
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
25. Agelasticus cyanopus
Estrato inferior ou herbáceo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
26. Eleoscytalopus indigoticus
Estrato inferior ou herbáceo
Predadores de insetos
27. Elaenia flavogaster
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
28. Elaenia sp.
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
29. Attila rufus
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de invertebrados
30. Schiffornis virescens
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
31. Tachyphonus coronatus
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
32. Coereba flaveola
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de néctar
33. Thamnophilus caerulescens
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
152
34. Myiarchus ferox
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
35. Myiarchus swainsoni
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
36. Camptostoma obsoletum
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
37. Phylloscartes kronei
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
38. Basileuterus culicivorus
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
39. Lathrotriccus euleri
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
40. Cnemotriccus fuscatus
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
41. Drymophila squamata
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
42. Habia rubica
Estrato médio ou arbustivo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
43. Hypoedaleus guttatus
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
44. Micrastur semitorquatus
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de invertebrados e
pequenos vertebrados
45. Saltator similis
Estratos médio e arbustivo
Consumidores de frutos e sementes
46. Mionectes rufiventris
Estrato médio ou arbustivo
Predadores de insetos
47. Tyrannus savana
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
48. Anthracothorax nigricollis
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
49. Aphantochroa cirrochloris
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
50. Thalurania glaucopis
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
51. Amazilia versicolor
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
52. Phaethornis squalidus
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
53. Ramphodon naevius
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
54. Dacnis cayana
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
55. Florisuga fusca
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de néctar
56. Chiroxiphia caudata
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
57. Parula pitiayumi
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
58. Ramphocelus bresilius
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
59. Tangara peruviana
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
60. Thraupis sayaca
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
61. Tyrannus melancholicus
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
62. Vireo olivaceus
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
63. Dysithamnus stictothorax
Estratos inferior, médio e superior
Predadores de insetos
64. Empidonomus varius
Estratos inferior, médio e superior
Predadores de insetos
65. Euphonia pectoralis
Estratos inferior, médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
66. Herpsilochmus rufimarginatus
Estratos inferior, médio e superior
Predadores de insetos
67. Brotogeris tirica
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos e sementes
68. Tangara sp
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
69. Thraupis palmarum
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
70. Tangara seledon
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
153
insetos
71. Cacicus haemorrhous
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
72. Euphonia violacea
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
73. Tersina viridis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
74. Amazona brasiliensis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos e sementes
75. Patagioenas cayennensis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos e sementes
76. Forpus xanthopterygius
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos e sementes
77. Hylophilus poicilotis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
78. Procnias nudicollis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
79. Myiodynastes maculatus
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
80. Legatus leucophaius
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
81. Myiozetetes similis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
82. Piaya cayana
Estratos médio e superior
Consumidores generalistas
83. Pionus maximiliani
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos e sementes
84. Ramphastos vitellinus
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes,
invertebrados e pequenos vertebrados
85. Selenidera maculirostris
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes,
invertebrados e pequenos vertebrados
86. Sirystes sibilator
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
87. Tityra cayana
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
invertebrados
88. Tolmomyias sulphurescens
Estratos médio e superior
Predadores de insetos
89. Trogon viridis
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
90. Xenops rutilans
Estrato superior ou arbóreo
Predadores de insetos
91. Cyanocorax caeruleus
Estratos médio e superior
Consumidores de frutos, sementes e
invertebrados
92. Picumnus cirratus
Galhada das árvores
Predadores de insetos
93. Sporophila caerulescens
Estrato herbáceo e solo
Consumidores de sementes
94. Sicalis flaveola
Estrato herbáceo e solo
Consumidores de sementes
95. Zonotrichia capensis
Estrato herbáceo e solo
Consumidores de sementes
96. Molothrus bonariensis
Estrato herbáceo e solo
Consumidores de sementes
97. Coragyps atratus
Solo
Consumidores de matéria orgânica em
decomposição
98. Cathartes aura
Solo
Consumidores generalistas
99. Milvago chimachima
Solo
Consumidores generalistas
100. Crotophaga ani
Solo
Consumidores generalistas
101. Guira guira
Solo
Consumidores generalistas
102. Vanellus chilensis
Solo
Predadores de invertebrados
103. Rupornis magnirostris
Solo
Predadores de pequenos vertebrados
104. Aramides cajanea
Solo
Consumidores generalistas
154
105. Aramides saracura
Solo
Consumidores generalistas
106. Crypturellus obsoletus
Solo
Consumidores de frutos, sementes e
insetos
107. Porzana albicollis
Solo
Consumidores generalistas
108. Pyriglena leucoptera
Solo e estratos arbustivo e médio
Predadores de invertebrados e
pequenos vertebrados
109. Xiphorhynchus fuscus
Troncos das árvores
Predadores de insetos
110. Celeus flavescens
Troncos das árvores
Predadores de insetos
111. Dendrocincla fuliginosa
Troncos das árvores
Predadores de insetos
112. Piculus flavigula
Troncos das árvores
Predadores de insetos
113. Sittasomus griseicapillus
Troncos das árvores
Predadores de insetos
114. Veniliornis spilogaster
Troncos das árvores
Predadores de insetos
115. Xiphocolaptes albicollis
Troncos das árvores
Predadores de insetos
Avaliando-se o número de espécies presentes em cada guilda se destacaram
aquelas que abrigam espécies predadoras de insetos e tamm as consumidoras de
frutos, sementes e insetos, com 37 e 33 táxons, respectivamente (Tabela 22).
Tabela 22: Lista das guildas identificadas e número de espécies de aves classificadas em
cada uma delas.
Categorias alimentares
Número de Espécies
Predadores de insetos
37
Consumidores de frutos, sementes e insetos
33
Consumidores de néctar
09
Consumidores generalistas
08
Consumidores de frutos e sementes
07
Predadores de invertebrados
05
Consumidores de sementes e/ou insetos
04
Predadores de invertebrados e pequenos vertebrados
03
Predadores de peixes
03
Consumidores de frutos, sementes e invertebrados
02
Consumidores de frutos, sementes, invertebrados e pequenos vertebrados
02
Predadores de pequenos vertebrados
01
Consumidores de matéria orgânica em decomposição
01
Total
115
Em relação aos estratos de obtenção de alimento se destacaram três grupos de
espécies de aves: 1) Aves com hábitos associados ao estrato médio e superior, formado
por 25 espécies; 2) Aves com espécies típicas dos estratos médios e inferiores, com 20
táxons; e 3) Aves com distribuição mais ampla, desde o estrato inferior até o superior,
também com 20 táxons (Tabela 23).
155
Tabela 23: Lista dos estratos de obtenção de alimento e número de espécies de aves
classificadas em cada um deles.
Estratos de obtenção de alimento
Número de Espécies
Estratos médio e superior
25
Estratos inferior, médio e superior
20
Estrato médio ou inferior
20
Estrato inferior ou herbáceo
14
Solo
11
Em todos os estratos
06
Estrato herbáceo e solo
04
Em vôo no espaço aéreo e/ou solo
03
Do corpo aquoso
03
Troncos das árvores
07
Solo e estratos arbustivo e médio
01
Galhada das árvores
01
Em uma avaliação geral, as aves consumidoras de frutos, sementes e insetos,
tanto nos estratos médio e superior quanto nos estratos inferior, médio e superior, foram
as mais representativas em relação ao número de espécies, com índices similares nas
três áreas estudadas. Outras três guildas associadas a estratos específicos se
destacaram, mas neste caso apenas na área controle. Nesse sentido, citam-se os grupos
que agregam as aves predadoras de insetos nos estratos médio/arbustivo, estrato
inferior/herbáceo e as aves predadoras de insetos em troncos, com especial atenção para
estas últimas que são representadas pelos pica-paus e arapaçus, reconhecidamente
espécies indicadoras de ambientes menos perturbados (Tabela 24).
156
Tabela 24: Número de espécies de aves registradas nas guildas e estratos preferenciais
de ocorrência nas áreas Penedo (controle), Ararapira e Superagui.
Guildas
Penedo
Ararapira
Superagui
Consumidores de frutos, sementes e insetos nos estratos inferior, médio e
superior
8
7
8
Consumidores de frutos, sementes e insetos nos estratos médio e superior
7
7
5
Consumidores de frutos, sementes e insetos em todos os estratos
4
3
4
Consumidores de frutos e sementes nos estratos médio e superior
4
4
3
Predadores de invertebrados no estrato inferior ou herbáceo
3
2
2
Predadores de insetos nos estratos inferior, médio e superior
3
2
2
Predadores de insetos nos troncos das árvores
7
1
1
Predadores de insetos no estrato médio ou arbustivo
10
5
4
Predadores de insetos no estrato inferior ou herbáceo
7
4
3
Consumidores de néctar nos estratos inferior, médio e superior
6
3
3
Consumidores de frutos, sementes, invertebrados e pequenos vertebrados nos
estratos médio e superior
2
0
0
Consumidores de sementes no estrato herbáceo e solo
1
4
4
Consumidores generalistas no solo
2
4
4
Predadores de invertebrados e pequenos vertebrados em todos os estratos
1
0
0
Predadores de insetos em vôo no espaço aéreo e/ou solo
0
0
1
Predadores de peixes no corpo aquoso
2
0
2
Consumidores de frutos e sementes em todos os estratos
1
0
0
Predadores de insetos em vôo no espaço aéreo e/ou solo
0
1
1
Consumidores de frutos, sementes e insetos no estrato inferior ou herbáceo
0
1
1
Consumidores de frutos, sementes e insetos no estrato médio ou arbustivo
1
2
1
Consumidores de néctar no estrato médio ou arbustivo
1
1
0
Predadores de invertebrados no estrato médio ou arbustivo
1
1
0
Predadores de invertebrados e pequenos vertebrados no estrato médio ou
arbustivo
1
0
0
Consumidores de frutos, sementes e insetos no estrato médio ou arbustivo
2
1
1
Predadores de insetos no estrato superior ou arbóreo
1
1
0
Consumidores de frutos e sementes no estrato médio e arbustivo
1
1
0
Consumidores de frutos, sementes e invertebrados nos estratos médio e superior
1
0
1
Consumidores generalistas nos estratos médio e superior
1
0
0
Predadores de insetos nos estratos médio e superior
1
0
0
Predadores de insetos na galhada das árvores
1
1
1
Consumidores de frutos, sementes e insetos no solo
1
0
0
Consumidores de matéria orgânica em decomposição no solo
0
1
1
Predadores de invertebrados no solo
0
0
1
Predadores de pequenos vertebrados no solo
1
0
1
Predadores de invertebrados e pequenos vertebrados no solo e estratos arbustivo
e médio
1
1
1
TOTAL
83
58
56
157
5.3.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos
5.3.2.1 Abundância e Riqueza de Espécies de Aves Marinhas
Em uma avaliação geral do ambiente aquático marinho, da plataforma continental
interna, são encontradas frequentemente 13 espécies de aves que incluem peixes em
suas dietas e potencialmente são consumidoras de rejeitos da pesca (Tabela 25). Deste
grupo de espécies algumas podem ser encontradas ao longo de todo o ano, por exemplo,
o atobá, S. leucogaster, e o tesoureiro, F. magnificens, e a gaivota, L. dominicanus,
espécies que tamm são as mais frequentes e comuns entre as aves costeiras do
Paraná (MORAES e KRUL, 1995). Por outro lado, outras espécies são encontradas
apenas durante certo período do ano, caso das gaivotas-rapineiras, Stercorarius spp., que
se reproduzem em regiões antárticas e sub-antárticas durante a primavera e verão e se
deslocam para latitudes menores durante os meses frios.
Tabela 25: Lista das espécies de aves do ambiente aquático marinho da plataforma
continental interna a partir de informações do banco de dados coletados pelos
pesquisadores do Laboratório de Ornitologia do CEM/UFPR.
Espécies
Nome comum
Status
1. Sula leucogaster
Atobá
Residente
2. Phalacrocorax brasilianus
Biguá
Residente
3. Fregata magnificens
Tesourão
Residente
4. Stercorarius maccormicki
Gaivota-rapineira
Migrador
5. Stercorarius antarcticus
Gaivota-rapineira
Migrador
6. Larus dominicanus
Gaivota
Residente
7. Chroicocephalus cirrocephalus
Gaivota-cabeça-cinza
Migrador
8. Chroicocephalus maculipennis
Gaivota-maria-velha
Migrador
9. Sterna hirundinacea
Tinta-réis-bico-vermelho
Migrador
10. Sternula superciliaris
Trinta-réis-anão
Residente
11. Thalasseus maximus
Trinta-réis-real
Migrador
12. Thalasseus sandvicensis
Trinta-réis-bico-amarelo
Migrador
13. Rynchops niger
Talha-mar
Residente
No ambiente de praia a riqueza de aves com potencial de consumir descartes de
pesca foi avaliada em 17 espécies, incluindo a região de desembocadura da Baía de
Paranaguá e praias voltadas ao mar aberto, nos balneários de Barrancos e Shangri
(Tabela 26).
158
Tabela 26: Lista das espécies de aves com potencial de consumir rejeitos da pesca no
ambiente de praia do litoral do Paraná, com base em Carniel (2008).
Espécies
Nome comum
Status
1. Ceryle torquata
Martim-pescador-grande
Residente
2. Chloroceryle amazona
Martim-pescador
Residente
3. Chloroceryle americana
Martim-pescador-pequeno
Residente
4. Bubulcus íbis
Garça-vaqueira
Migrador
5. Ardea alba
Garça-branca-grande
Residente
6. Egretta caerulea
Garça-azul
Residente
7. Egretta thula
Garça-branca-pequena
Residente
8. Cathartes aura
Urubu-de-cabeça-vermelha
Residente
9. Coragyps atratus
Urubu-de-cabeça-preta
Residente
10. Fregata magnificens
Fragata
Residente
11. Larus dominicanus
Gaivota
Residente
12. Sterna eurygnatha
Trinta-réis-de-bico-amarelo
Migrador
13. Sterna hirundinacea
Trinta-réis-bico-vermelho
Migrador
14. Sterna maxima
Trinta-réis-real
Migrador
15. Phalacrocorax brasilianus
Biguá
Residente
16. Rhynchops niger
Talha-mar
Residente
17. Sula leucogaster
Atobá
Residente
5.3.2.2 Interação das Espécies de Aves Marinhas com a Pesca
Na costa paranaense registro de 12 espécies de aves que consomem rejeitos
da pesca, tanto no ambiente aquático da plataforma continental interna quanto no
ambiente de praia. Em relação à frequência relativa durante as triagens com lançamento
de descartes no ambiente aquático, Sula leucogaster e Fregata magnificens estiveram
associadas em 93,33% das triagens, seguidas por Sterna eurygnatha com 40%, mas, no
período de permanência desta última na área de estudo, fevereiro a setembro, foi de
100%. As três espécies citadas acima tamm são as mais abundantes durante as
interações com lançamento dos rejeitos, somando 88,33% de todos os contatos (KRUL,
2004). No caso das interações no entremarés se detecta domínio absoluto da gaivota, L.
dominicanus, com frequência de 98,05% e 89,15% do número de contatos totais
(CARNIEL, 2008) (Tabela 27).
159
Tabela 27: Lista das espécies de aves consumidoras de rejeitos da pesca na costa
paranaense e frequência (F) e abundância relativa (A. R.) destas durante eventos de
descarte, com base em Krul (2004) para o ambiente aquático e Carniel (2008) para o
ambiente de entremarés.
Espécies
Ambiente aquático
Entremarés
F (%)
A.R. (%)
F (%)
A. R. (%)
1. Sula leucogaster
93,33
54,04
____
____
2. Sterna eurygnatha
40,00
19,36
0,65
0,04
3. Fregata magnificens
93,33
14,93
14,94
1,06
4. Phalacrocorax brasilianus
33,33
11,07
7,14
0,24
5. Egretta alba
____
____
11,03
0,22
6. Egretta thula
____
____
61,03
6,29
7. Egretta caerulea
____
____
0,65
0,09
8. Coragyps atratus
____
____
14,94
2,89
9. Cathartes aura
____
____
1,94
0,10
10. Larus dominicanus
26,66
0,38
98,05
89,15
11. Sterna hirundinacea
6,66
0,0009
____
____
12. Sterna maxima
6,66
0,0009
____
____
Com base nos dados de frequência e abundância relativa das espécies de aves
que interagem com a pesca, tanto no ambiente aquático da plataforma continental interna,
quanto no ambiente de praia, foram selecionadas as três espécies mais representativas,
entre as consumidoras de rejeitos: 1) atobá (S. leucogaster); 2) tesoureiro (F.
magnificens); e 3) gaivota (L. dominicanus). Além de estas espécies apresentarem
frequência de interação com a pesca acima de 90%, nesse grupo havia maior abundância
de dados secundários disponíveis para aprofundar as análises referentes às variáveis
específicas: ―Diversidade da Dieta das Aves Marinhas‖ e Dinâmicas da Reprodução de
Aves Marinhas‖. Adicionalmente, as três espécies de aves marinhas selecionadas
reproduzem em ilhas localizadas na plataforma continental interna do Paraná,
principalmente no Arquilago de Currais, estando mais sujeitas às variações da
produtividade pesqueira local. Finalmente, dados cedidos pelo Laboratório de Ornitologia
do CEM-UFPR indicaram que o atobá (S. leucogaster) e o tesoureiro (F. magnificens)
foram as espécies de aves marinhas mais frequentes e abundantes na plataforma
continental interna do Estado do Paraná.
160
5.3.2.3 Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
As informações disponíveis sobre a dieta de aves associadas aos ecossistemas
marinhos no litoral paranaense revelam para Sula leucogaster a ocorrência de 32
espécies de peixes e um Cephalopoda e para Fregata magnificens ocorreram 20 espécies
de peixes e um Cephalopoda, totalizando 42 espécies de peixes e um Cephalopoda,
como componentes da dieta dessas espécies de aves (Tabela 28). Detectou-se um
elevado índice de peixes de hábitos associados ao fundo marinho na dieta de ambas as
espécies de aves, para S. leucogaster este índice foi de 75,37% e para F. magnificens o
índice chegou a 91,50%.
Tabela 28: Espécies de peixes presentes na dieta de Sula leucogaster e Fregata
magnificens e sua contribuição (%) na dieta de ambas as espécies com base em Krul
(2004).
Espécies consumidas por ambas as espécies de aves
Sula leucogaster
Fregata magnificens
Espécie consumida
(%)
(%)
Espécie consumida
1. Paralonchurus brasiliensis
13,97
29,39
1. Paralonchurus brasiliensis
2. Synodus foetens
13,54
10,99
2. Synodus foetens
3. Stellifer rastrifer
9,50
2,42
3. Stellifer rastrifer
4. Eucinostomus gula
9,32
0,65
4. Eucinostomus gula
5. Larimus breviceps
0,06
3,98
5. Larimus breviceps
6. Eucinostomus argentatus
1,27
0,94
6. Eucinostomus argentatus
7. Micropogonias furnieri
0,32
1,54
7. Micropogonias furnieri
8. Cynoscion leiarchus
0,87
0,95
8. Cynoscion leiarchus
9. Bardiella ronchus
1,00
0,76
9. Bardiella ronchus
10. Pellona harroweri
1,09
0,37
10. Pellona harroweri
11. Loligo sp. (Cephalopoda)
Ocasional
Ocasional
11. Loligo sp. (Cephalopoda)
Total (%)
51,00%
52,03%
Peixes exclusivos na dieta de uma das espécies de aves
Sula leucogaster
Fregata magnificens
Espécie consumida
(%)
(%)
Espécie consumida
1. Sardinella brasiliensis
15,08
17,42
1. Orthopristes rubber
2. Trachurus lathami
13,35
8,49
2. Trichiurus lepturus
3. Anisotremus surinamensis
2,83
5,45
3. Eucinostomus melapterus
161
4. Scomberomorus maculatus
2,78
4,28
4. Poricthys porossisimus
5. Ophisthonema oglinum
1,73
3,59
5. Archosargus sp
6. Harengula clupeola
1,65
2,50
6. Netuma barba
7. Chirocentrodon bleekenianus
1,58
2,21
7. Diplectrum radiale
8. Cynoscion microlepidotus
1,48
1,88
8. Eugenes brasilianus
9. Anchoviella lepidentostole
1,31
1,67
9. Isophistus parvipinnis
10. Stellifer brasiliensis
1,28
0,71
10. Pomadasys corvinaeiformis
11. Lycengraulis grossidens
1,11
__
__
12. Cetengraulis gracilicirrhus
1,05
__
__
13. Cynoscion striatus
0,84
__
__
14. Macrodon ancylodon
0,53
__
__
15. Selene vomer
0,46
__
__
16. Menticirrhus littoralis
0,46
__
__
17. Symphurus diomedanus
0,42
__
__
18. Stellifer stellifer
0,39
__
__
19. Selene setapinnis
0,31
__
__
20. Anchoa filifera
5,44
__
__
21. Anchoa tricolor
0,14
__
__
22. Anchoa spinifer
0,04
__
__
Total (%)
49,00%
47,96%
A análise dos peixes que constituíram os regurgitos das duas espécies de aves
marinhas revelou que as médias do comprimento padrão dos peixes consumidos por F.
magnificens e S. leucogaster foram expressiva e significativamente diferentes (p<0,05),
sendo 151,95 (±37,19) para a primeira e 83, 72 53,30) para a segunda (Figura 94). A
massa corporal dos peixes consumidos também foi significativamente diferente (p<0,05),
com média de 65,99 (±43,88)g para F. magnificens e 19,02 (±29,19)g para S. leucogaster
(Figura 95).
162
±1.96* e
±1.00* e
Média
Comprimento total (mm)
70
90
110
130
150
170
F. magnificens S. leucogaster
Figura 94: Médias do comprimento padrão dos peixes consumidos por F.
magnificens e S. leucogaster
±1.96* e
±1.00* e
Média
Massa (g)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
F. magnificens S. leucogaster
Figura 95: Médias da massa corporal dos peixes consumidos por F.
magnificens e S. leucogaster
5.3.2.4 Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
5.3.2.4.1 Reprodução de Sula leucogaster
A população de atobás, S. leucogaster, se mantém reprodutivamente ativa o ano
todo, embora se observe maior quantidade de ninhos durante os meses de fevereiro a
163
maio com média de aproximadamente 1.400 ninhos, é notável o número de indivíduos
reproduzindo nos demais meses, quando se observa entre 600 e 900 ninhos (KRUL,
1999) (Figura 96). Desse padrão de nidificação resulta, entre os meses de junho e
setembro, o pico de recrutamento de indivíduos jovens da espécie para a população local
de aves marinhas em atividade de forrageamento. Ainda quanto à reprodução da espécie
dados secundários do Laboratório de Ornitologia do CEM-UFPR indicaram um média de
tamanho dos ovos de Sula leucogaster de 61,19 (±3,37) mm de comprimento e 41,90
(±1,9)mm de largura (n = 212).
Figura 96: Variação do mero de ninhos de Sula leucogaster na Ilha
Grapirá, no Arquipélago de Currais, no período de agosto de 1995 a
julho de 1996 (adaptado de Krul, 1999).
5.3.2.4.2 Reprodução de Fregata magnificens
A população do tesoureiro, Fregata magnificens, também se mantém
reprodutivamente ativa ao longo de todo o ano, porém acentuada variação no número
de ninhos ao longo do ano. Durante o pico da atividade reprodutiva, de abril a setembro,
pode-se encontrar entre 2.400 a 3.000 ninhos, contrastando com o período de verão,
especialmente nos meses de dezembro e janeiro, quando se observa o menor número de
ninhos, em torno de 140 (Figura 97). Desse padrão de nidificação, resulta nos meses
outubro e novembro, o pico de recrutamento de indivíduos jovens da espécie para a
164
população local de aves marinhas em atividade de forrageamento. Ainda quanto à
reprodução da espécie dados secundários do Laboratório de Ornitologia do CEM-UFPR
indicaram um média de tamanho dos ovos de F. magnificens de 71,33 (±3,32) mm de
comprimento e 41,90 (±1,90)mm de largura (n = 186).
Figura 97: Variação do número de ninhos de Fregata magnificens
na Ilha Grapirá, no Arquipélago de Currais, no período de agosto
de 1995 a julho de 1996 (adaptado de Krul, 1999).
5.3.2.4.3 Reprodução de Larus dominicanus
Dados secundários do Laboratório de Ornitologia do CEM-UFPR indicam que
Larus dominicanus está presente durante todo o ano no Arquipélago de Currais, porém o
número de indivíduos varia ao longo das estações. De abril a dezembro, peodo
reprodutivo, seu contingente populacional aumenta atingindo aproximadamente 150
indivíduos nidificando. Nos demais meses, janeiro a março, esse número é reduzido para
uma dezena ou menos.
165
5.4 Saúde
Os resultados do componente Saúde relativos aos grupos de variáveis ―Acesso aos
Serviços de Saúde‖ e ―Condições de Saúde e Manejo Animais Domésticos‖ apresentaram
como característica comum um caráter qualitativo. Esses dados abordaram
principalmente aspectos referentes às práticas materiais que podem, direta ou
indiretamente, contribuir com o cenário geral da saúde nas duas comunidades em estudo.
O grupo de variáveis denominado ―Estado Físico-Clínico e o Perfil Parasitário das Aves
Selvagens‖ teve como resultado principalmente dados de caráter qualitativo. Trazendo
informações mais específicas sobre a saúde geral de aves nas áreas adjacentes as
comunidades em estudo, e dados referentes à saúde de aves marinhas que interagem
com a pesca na plataforma continental interna.
5.4.1 Acesso aos Serviços de Saúde
O grupo de variáveis denominado ―Acesso aos Serviços de Saúde‖ produziu
informações diretamente relacionadas a alguns aspectos de saúde pública. Informações
que caracterizam, de uma maneira geral, como os moradores das comunidades em
estudo suprem parte das demandas referentes à saúde pessoal. Os resultados da
caracterização das variáveis específicas desse grupo estão apresentados na Tabela 29.
Tabela 29: Caracterização dos aspectos do Acesso aos Serviços de Saúde nas
comunidades do Superagui e do Ararapira.
Presença de serviço de saúde
Superagui
Ararapira
A comunidade possui um posto de
saúde com duas auxiliares de
enfermagem, moradoras locais, e um
enfermeiro residente na sede do
município de Guaraqueçaba, o qual
passa a semana na vila do Superagui.
Em geral, para consultas e
atendimentos fora das capacidades do
posto de saúde os moradores buscam
atendimento por conta própria em
Um morador natural da comunidade é
responsável pela manutenção do posto
de saúde, este recebeu um treinamento
básico no Hospital de Guaraqueçaba.
Problemas mais complexos, onde o
responsável pelo posto não possa
resolver são encaminhados para
Guaraqueçaba ou Cananéia.
A escolha do destino dos pacientes é
também determinada pelas condições
166
Paranaguá. Quando os atendentes do
posto providenciam a condução e o
atendimento pode ser suprido pelo
hospital do município, o paciente é
encaminhado para Guaraqueçaba.
climáticas e período do dia em que o
enfermo precisa ser conduzido para
atendimento.
Quando a necessidade de
deslocamento ocorre no período
noturno os pacientes são
encaminhados para Cananéia, devido à
distância menor, e o maior risco de
encalhe para chegar à sede do
município de Guaraqueçaba, devido à
passagem pelo Canal do Furado.
Nesses casos a associação de
moradores providencia o transporte, em
uma embarcação rápida, e cobre os
gastos com combustível.
Quando a condução para o enfermo é
providenciada pela municipalidade, e o
atendimento pode ser suprido pelo
hospital do município, o paciente é
encaminhado para Guaraqueçaba.
Estrutura e serviços disponíveis regularmente
Superagui
Ararapira
O posto possui estrutura com
aproximadamente 48 m
2
para
atendimento básico.
Serviços básicos: 1) assistência básica
à gestante e assistência básica
pediátrica; 2) aferição da pressão
arterial; 3) aplicação de medicamentos
injetáveis; 4) curativos; 5) repasse de
medicamentos aos pacientes da
comunidade, acometidos por doenças
crônicas; 6) contato com o hospital de
Guaraqueçaba para buscar orientações
e dar encaminhamento quando
necessário; 7) recomendações
terapêuticas básicas.
A comunidade recebe, com
periodicidade indeterminada, médicos
de Guaraqueçaba para consultas de
clínica geral e especialidades.
O posto atende de segunda a sexta-
feira das 08h00min as 17h00min,
porém com diversas irregularidades de
O posto possui estrutura com
aproximadamente 24 m
2
para
atendimento básico.
Serviços muito básicos: 1) aferição da
pressão arterial; 2) aplicação de
medicamentos injetáveis; 3) curativos
básicos; 4) repasse de medicamentos
aos pacientes da comunidade
acometidos por bronquite, diabete e
hipertensão; 5) contato com o hospital
de Guaraqueçaba para buscar
orientações e dar encaminhamento
quando necessário.
A comunidade recebe três a quatro
vezes por ano uma missão de médicos,
dentistas e enfermeiros de uma Missão
Evangélica de Atendimento aos
Pescadores (MEAP), promovida por
uma Congregação Batista do Estado de
São Paulo, que tamm fornecer
medicamentos à comunidade.
O posto é mantido fechado.
167
atendimento.
As auxiliares de enfermagem residentes
na comunidade se dispõem a atender
os moradores em emergências
diariamente em qualquer horário.
O responsável pelo posto é morador da
comunidade e está disponível para
orientar e atender diariamente em
qualquer horário. Os médicos da
congregação Batista não têm datas
regulares de visitas, porém assistem a
comunidade cerca de quatro vezes ao
ano.
5.4.2 Condições de Saúde e Manejo Animais Domésticos
A avalião do grupo de variáveis denominado ―Condições de Saúde e Manejo
Animais Domésticos‖ resultou em dados sobre alguns aspectos da saúde dos animais
domésticos, relacionados às condições de manutenção e manejo desses animais. Esses
dados caracterizam, de uma maneira geral, as práticas que os moradores utilizam e que
influenciam na saúde dos animais domésticos mantidos nas comunidades. Os resultados
da caracterização das variáveis específicas desse grupo estão apresentados na Tabela
30. Aspectos visuais relacionados a esse grupo de variáveis podem ser observados da
Figura 98 à Figura 108.
Tabela 30: Caracterização de aspectos das Condições de Saúde e Manejo Animais
Domésticos nas comunidades do Superagui e do Ararapira.
Censo de animais domésticos
Superagui
Ararapira
Canis familiaris = 60
Felis catus = 45
Oryctolagus cuniculus = 10
Equus caballus = 15
Bos taurus = 5
Gallus gallus = 160
Cairina moschata = 5
Canis familiaris = 15
Felis catus = 20
Oryctolagus cuniculus = 10
Gallus gallus = 50
Parâmetros de manutenção dos animais domésticos
Superagui
Ararapira
A ampla maioria dos animais domésticos
tem proprietários, porém em geral podem
A ampla maioria dos animais domésticos
tem proprietários, porém em geral podem
168
se movimentar livremente pela
comunidade, podendo ser toda a fauna
doméstica considerada como
semidomiciliada.
Poucas moradias apresentam estruturas
para restrição e manutenção de
galiformes, canídeos ou equídeos.
Alguns dos felídeos domésticos
presentes na comunidade não têm
proprietários.
A maior parte dos coelhos domésticos
(Oryctolagus cuniculus) é mantida em
cativeiro, porém alguns circulam pela
comunidade.
Bovinos e alguns equídeos também têm
liberdade de circulação pela
comunidade, em geral se mantém
restritos a algumas áreas da vila, porém
utilizam amplamente áreas adjacentes à
comunidade.
se movimentar livremente pela
comunidade.
Os felinos domésticos não têm
proprietários, sendo tolerados na
comunidade e, algumas vezes, vistos
pelos moradores como um problema, por
serem associados ao surgimento de
doenças ou pela invasão nos domicílios
em busca de alimento.
A ampla maioria das moradias não
apresenta estruturas para restrição ou
manutenção dos animais domésticos.
A maior parte dos coelhos domésticos
(Oryctolagus cuniculus) é mantida em
cativeiro, porém alguns circulam pela
comunidade.
Práticas relacionadas à saúde dos animais domésticos
Superagui
Ararapira
Alguns moradores oferecem aos animais
de companhia, sobretudo para os
canídeos, suporte terapêutico como
vacinas, antiparasitários e medicações
contraceptivas. Em algumas situações,
os canídeos são encaminhados para
cuidados veterinários em Paranaguá.
Os demais grupos de animais
domésticos não recebem o mesmo grau
de atenção à saúde.
Canídeos e felídeos recebem em alguns
casos alimentos industrializados
Não foram relatadas práticas específicas
para manutenção da saúde dos animais,
ou técnicas contraceptivas. O manejo
empregado consiste basicamente em
alimentação.
Na maioria dos casos todas as espécies
de animais domésticos mantidos
recebem alimentos provenientes das
sobras alimentares dos proprietários, ou
sobras da pesca.
Para Oryctolagus cuniculus os
proprietários providenciam os alimentos
169
específicos. Na maioria dos casos os
animais domésticos recebem alimentos
provenientes das sobras alimentares dos
proprietários, ou sobras da pesca.
Para as espécies herbívoras
(Oryctolagus cuniculus ; Equus caballus ;
Bos taurus) os proprietários
providenciam os alimentos a partir de
fontes locais de gramíneas, ou mantém
os animais em liberdade, em tempo
integral ou parcial, para o que estes
busquem pelos alimentos.
a partir de fontes locais de gramíneas, ou
mantém os animais em liberdade, em
tempo integral ou parcial, para o que
estes busquem pelos alimentos.
Identificação de problemas de saúde animal
Superagui
Ararapira
Problemas Dermatológicos em
Mamíferos: 1) Áreas de alopecia de
origem parasitária [Acari] e/ou fúngica; 2)
Infestações por Tunga penetrans e
outras pulgas [Siphonaptera]; 3)
Infestações por carrapatos [Acari:
Ixodidae]; 4) Infestações cutâneas por
larvas de moscas [Dipteras miíase
nodular]; 5) Lacerações cutâneas.
Animais com baixo escore corporal e
dietas não totalmente adequadas às
espécies.
Problemas Dermatológicos em
Mamíferos: 1) Infestações por Tunga
penetrans e outras pulgas
[Siphonaptera]; 2) Infestações por
carrapatos [Acari:Ixodidae]; 3)
Infestações cutâneas por larvas de
moscas [Dipteras miíase nodular]; 4)
Lacerações cutâneas.
Problemas Dermatológicos em
Galiformes: 1) Infestações por sarna
[Acari:Knemidokoptidae]; 2) Infestação
por Lipeurus caponis; Pterolichus sp; e
Menopon gallinae
Animais com baixo escore corporal e
dietas não totalmente adequadas às
espécies.
170
Figura 98: Exemplar de Equus caballus
apresentando sinais de déficit nutricional,
com exposição evidente dos arcos
costais (Superagui / Imagem: Paulo R.
Mangini).
Figura 99: Exemplares de Equus
caballus, mantidos em área cercada com
pastagem, apresentando bons escores
corporais (Superagui / Imagem: Ricardo
Krul).
Figura 100: Estrutura utilizada para
restrição de um exemplar de Equus
caballus. Notadamente a estrutura
apresenta condições inadequadas para
manutenção satisfatória do conforto
térmico do animal (Superagui / Imagem:
Paulo R. Mangini).
Figura 101: Exemplar de Equus caballus,
apresentando bom escore corporal,
circulando livremente pela comunidade
(Superagui / Imagem: Ricardo Krul).
171
Figura 102: Rastro de Equus caballus,
observado em um das trilhas localizadas
nas áreas florestadas adjacentes à
comunidade, evidenciando a
possibilidade de circulação e a
capacidade de impacto da espécie
nessas áreas (as setas indicam a marca
da margem da úngula do animal no
terreno arenoso; Superagui / Imagem:
Ricardo Krul).
Figura 103: Exemplar de Canis familiaris,
apresentando bom escore corporal e sem
sinais evidentes de problemas clínicos,
esse indivíduo como a ampla maioria dos
animais desta espécie circulam
livremente pela comunidade do
Superagui, e áreas adjacentes (Imagem:
Paulo R. Mangini).
Figura 104: Exemplar de Canis familiaris,
apresentando bom escore corporal e sem
sinais evidentes de problemas clínicos,
esse indivíduo como a ampla maioria dos
animais desta espécie circulam
livremente pela comunidade do Ararapira
e áreas adjacentes (Imagem: Paulo R.
Mangini).
Figura 105: Exemplares de Gallus gallus,
em atividade de forrageamento no
entremarés às margens do Canal do
Ararapira (Imagem: Paulo R. Mangini).
172
Figura 106: Exemplares de Gallus gallus,
retidos em galinheiro rudimentar.
Situação incomum onde o proprietário
dos animais mantém um sistema de
confinamento para as aves domésticas.
Nessa estrutura a totalidade dos animais
avaliados apresentava escore corporal
inadequado (Ararapira / Imagem: Paulo
R. Mangini).
Figura 107: Exemplares de Gallus gallus,
circulando livremente pela comunidade.
Situação mais comumente observada na
Vila da Barra do Ararapira, onde as
hortas e cultivos peridomiciliares são
protegidos contra a invasão das aves
domésticas (Imagem: Paulo R. Mangini).
Figura 108: Evento de interação entre
Gallus gallus, Felis catus e Coragyps
atratus (urubu-de-cabeça-preta) durante
alimentação. O grupo de animais se
reuniu para consumo de recursos
alimentares provenientes de rejeitos da
atividade de pesca (Ararapira / Imagem:
Paulo R. Mangini).
5.4.3 Estado Físico-Clínico e Perfil Parasitário das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais
A avaliação do grupo de variáveis denominado ―Estado Físico-Clínico e o Perfil
Parasitário das Aves Selvagens‖ abordou aspectos de saúde de aves associadas aos
ambientes florestais, sobretudo passeriforme, que utilizam áreas adjacentes as
comunidades avaliadas.
173
5.4.3.1 Condições clínicas gerais: Condição corporal; Parâmetros respiratórios;
Inspeção dermatológica, oftálmica e oral; e Parâmetros hematológicos.
Os dados obtidos a partir das aves capturadas nas áreas adjacentes às
comunidades em estudo resultaram em dados de prevalência de problemas clínicos e
caracterização da fauna de ectoparasitos associada a estas aves. Nenhuma das aves
avaliadas apresentou alterações oftálmicas ou da cavidade oral. Qualquer animal que
apresentou alterões em um ou mais dos parâmetros avaliados foi considerado como
portador de problemas clínicos. As aves amostradas na comunidade do Ararapira
apresentaram uma maior prevalência de sinais clínicos indicativos de anormalidade
(52,94%; n=17), quando comparadas àquelas capturadas na comunidade do Superagui
(43,14%; n=51), contudo essa diferença não foi significativa (p<0,05) (Tabela 31).
Tabela 31: Condições clínicas gerais de aves associadas aos ecossistemas florestais
amostradas nas comunidades do Ararapira e do Superagui.
Superagui
Ararapira
Indivíduos amostrados = 51
Indivíduos amostrados = 17
Problemas Clínicos = 43,14%
Saudáveis = 56,86%
Problemas Clínicos = 52,94%
Saudáveis = 47,06%
Aves amostradas no Ararapira
Espécie
Ausculta
Ex.Musc.Esq
Ex.Abdom
Ex.Cutâneo
Aval.Hematol.
1. Aphantochroa cirrohchloris
_____
Magro
_____
_____
_____
2. Empidomax euleri
_____
_____
_____
_____
_____
3. Pitangus sulfuratus
_____
_____
_____
Cicatriz de
miíase nodular
Alterado
Hemoparasito
4. Columba cayanensis
_____
_____
_____
_____
_____
5. Drymophyla squamata
_____
_____
_____
_____
_____
6. Manachus manachus
_____
_____
_____
_____
_____
7. Traupis sayaca
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
8. Ramphocelius bresilius
_____
_____
_____
_____
_____
9. Haplospiza unicolo
_____
Deformidade
MTE
_____
Cicatriz de
miíase nodular
_____
10. Virio chivi
_____
_____
_____
_____
_____
11. Zonotrichia capensis
_____
Magro
_____
_____
_____
12. Zonotrichia capensis
_____
_____
_____
_____
_____
13. Conopophaga melenops
_____
_____
_____
_____
_____
14. Pyriclena leucoptera
_____
_____
_____
Abscesso
parasitário
_____
15. Lepdocolaptes fuscus
_____
_____
_____
Abscesso
parasitário
_____
16. Turdus rufiventris
_____
Mod. Magro
_____
Início de
abscesso
parasitário
_____
174
17. Tyrannus melancholicus
_____
Magro
_____
_____
_____
Total amostrado = 17
Total de aves com problemas = 9 (52,94%)
Aves amostradas no Superagui
Espécie
Ausculta
Ex.Musc.Esq
Ex.Abdom
Ex.Cutâneo
Aval.Hematol
1. Phaethornes esqualidus
_____
_____
_____
_____
_____
2. Turdus amaurochalinus
_____
_____
_____
Lesão dérmica
causada por
ectoparasitos
_____
3. Thaluraria glaucops
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
4. Thaluraria glaucops
_____
_____
_____
_____
_____
5. Schiffornis virescens
_____
_____
_____
_____
_____
6. Empidomax euleri
_____
_____
_____
_____
_____
7. Leptotila rufaxilla
_____
Mod. Magro
_____
_____
Alterado
8. Turdus rufiventris
_____
_____
_____
_____
_____
9. Turdus rufiventris
Estertor leve
Saco Aéreo
Abdominal
Direito
_____
_____
Muitas penas
roídas
Alterado
10. Traupis sayaca
_____
_____
_____
_____
_____
11. Turdus amaurochalinus
_____
_____
_____
_____
_____
12. Steogidopterix ruficolis
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
13. Triotorus longirostris
Estertor leve
Saco Aéreo
Abdominal
Esquerdo
_____
_____
_____
Alterado
14. Leptotila rufaxilla
_____
Lesão MPD,
digito caudal
_____
_____
Alterado
15. Thaluraria glaucops
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
16. Virio chivi
_____
_____
_____
_____
_____
17. Manachus manachus
Estertor leve
Sacos Aéreos
Abdominais
_____
_____
_____
_____
18. Empidomax euleri
_____
_____
_____
_____
_____
19. Turdus rufiventris
Estertor leve
Sacos Aéreos
Abdominais
_____
_____
_____
Alterado
20. Ramphocelius bresilius
_____
_____
_____
_____
_____
21. Turdus amaurochalinus
_____
_____
_____
_____
_____
22. Ramphocelius bresilius
_____
_____
_____
_____
_____
23. Steogidopterix ruficolis
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
24. Virio chivi
_____
_____
_____
_____
_____
25. Geothlyps aequinoctialis
_____
_____
_____
_____
_____
26. Amazilia versicolor
_____
_____
_____
_____
_____
27. Amazilia versicolor
_____
_____
_____
_____
_____
28. Sporophila caerulenses
_____
_____
_____
_____
_____
29. Turdus rufiventris
_____
_____
_____
_____
_____
30. Empidomax euleri
_____
_____
_____
_____
_____
31. Camptostoma obsoletum
_____
_____
_____
_____
_____
32. Amazilia versicolor
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
33. Geothlyps aequinoctialis
_____
_____
_____
_____
_____
175
34. Tyrannus melancholicus
Estertor leve
Saco Aéreo
Abdominal
Esquerdo
_____
_____
_____
Alterado
Hemoparasito
35. Tyrannus melancholicus
_____
Mod. Magro
_____
_____
_____
36. Basileuteros culicivorus
_____
_____
Abdome dilatado
_____
_____
37. Tyrannus melancholicus
_____
Mod. Magro
_____
_____
Alterado
38. Empidomax euleri
_____
_____
_____
_____
_____
39. Picumnus cirratus
_____
_____
_____
MPE, MPD
crostas de
queratina
_____
40. Picumnus cirratus
_____
_____
_____
_____
_____
41. Hydropsalis brasiliana
_____
_____
_____
_____
_____
42. Turdus amaurochalinus
_____
_____
*Em postura
_____
_____
43. Ramphocelius bresilius
_____
_____
_____
_____
_____
44. Ramphocelius bresilius
_____
_____
_____
_____
_____
45. Schistochlamys ruficapillus
_____
_____
_____
_____
_____
46. Manachus manachus
_____
_____
*Em postura
_____
Alterado
Hemoparasito
47. Turdus rufiventris
_____
_____
*Em postura
_____
Alterado
Hemoparasito
48. Turdus rufiventris
_____
Magro
_____
_____
Alterado
Hemoparasito
49. Thrythorus longirostris
_____
_____
_____
_____
_____
50. Amazilia versicolor
_____
Magro
_____
_____
_____
51. Pitangus sulfuratus
_____
Mod. Magro
_____
_____
Alterado
Hemoparasito
Total amostrado = 51
Total de aves com problemas = 22 (43,14%)
* não considerado como problema clínico.
MPD = Membro Pélvico Direito; MPE = Membro Pélvico Esquerdo; MTD = Membro Torácico Direito; MTE = Membro Torácico Esquerdo
5.4.3.2 Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos
A carga parasitária das aves capturadas foi aferida de forma semiquantitativa,
comparando-se a comunidade do Ararapira e do Superagui. Um grau de infestação por
ectoparasitos foi considerado baixo em 39,2% das aves avaliadas no Superagui e na
comunidade do Ararapira 41,2% das aves manipuladas tamm apresentaram baixo grau
de infestação. Contudo, quando se considera apenas a presença ou ausência de
ectoparasitos, pode se observar que na comunidade do Ararapira 17,7% das aves
amostradas estavam livres de ectoparasitos, ao passo que na comunidade do Superagui
apenas 11,8% das aves não se encontravam parasitadas (Tabela 32 e Figura 109).
176
Tabela 32: Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos em aves selvagens nas
comunidades do Ararapira e do Superagui.
Superagui (n=51)
Ararapira (n=17)
Nula = 11,8%
Sinais = 29,4%
Baixa = 39,2%
Média = 19,2%
Alta = 2,0%
Nula = 17,7%
Sinais = 5,9%
Baixa = 41,2%
Média = 29,4%
Alta = 5,9%
1) Nulo sem presença ou sinais de ectoparasitos; 2) Sinais presença de lesões nas penas ocasionadas por piolhos mastigadores, contudo
sem a presença dos parasitos; 3) Baixo presença de até dez indivíduos de uma ou mais escies de ectoparasitos; 4) Médio presença de
dez a vinte indivíduos de uma ou mais espécies de ectoparasitos; e 5) Alto presença de mais de vinte indiduos de uma ou mais escies de
ectoparasitos.
Figura 109: Prevalência do grau de infestação por ectoparasitos em aves
nas comunidades do Superagui e Ararapira.
O grau de infestação por ectoparasitos observado nessas aves não diferiu
significativamente entre as comunidades de Superagui e Ararapira (p<0,05) (Figura 110).
Porém, apresentou uma tendência em manter-se mais baixo na comunidade do
Superagui, onde 75% das amostras foram classificadas como infestações ―baixas‖ ou
inferiores a esse patamar, ao passo que na comunidade do Ararapira as amostras se
mantiveram 75% acima desse patamar (Figura 111).
177
Média
Média±SE
Média±SD
Ararapira Superagui
Grau de Infestação
Nulo Sinais Baixo Médio Alto
Figura 110: Média do grau de infestação por ectoparasitos em aves nas
comunidades do Superagui e Ararapira.
Mediana
25%-75%
Min-Max
Ararapira Superagui
Grau de Infestação
Nulo Sinais Baixo Médio Alto
Figura 111: Mediana do grau de infestação por ectoparasitos em aves nas
comunidades do Superagui e Ararapira.
178
No conjunto total das amostras avaliadas no Ararapira e no Superagui não houve
uma correlação significativa entre grau de infestação e estado clínico das aves (p<0,05)
(Figura 112). Porém, há diferenças significativas quando as aves classificadas como
normais, ou com alterações clínicas, foram comparados entre as duas comunidades
estudadas. As aves capturadas na comunidade do Ararapira que não apresentaram sinais
de anormalidade clínica tiveram grau de infestação por ectoparasitos significativamente
menor (p<0,05). Entretanto na comunidade do Superagui a diferença no grau de
infestação por ectoparasitos entre aves com status de saúde normal e alterado não foi
significativa (Figura 113).
Est. Clinico / Gr Infestação
dia
dia±SE
dia±SD Normal Alterado
Estado Clínico
Grau de Infestação
Nula Sinais Baixa Média Alta
Figura 112: Grau de infestação por ectoparasitos segundo o estado clínico das
aves nas comunidades do Ararapira e do Superagui.
179
Figura 113: Grau de infestação por ectoparasitos e do estado clínico de aves
conforme sítio amostral.
5.4.3.3 Morfotipos de hemoparasitos e ectoparasitos observados
Os hemoparasitos e ectoparasitos coletados das aves capturadas formam
submetidos à identificação morfológica, e foram representados por 16 morfotipos de
ectoparasitos no Superagui e seis no Ararapira, além de três morfotipos de hemoparasitos
no Superagui e uma no Ararapira (Tabela 33). Os esfregaços sanguíneos obtidos foram
avaliados, revelando apenas um caso positivo nas amostras obtidas no Ararapira
(prevalência de 5,88%) e cinco casos positivos no Superagui (prevancia de 9,80%).
Aspectos visuais relacionados a esse grupo de variáveis podem ser observados das
Figura 114 à Figura 121.
180
Tabela 33: Morfotipos de hemoparasitos e ectoparasitos observados em aves capturadas
nas comunidades de Ararapira e Superagui.
Morfotipos de hemoparasitos observados
Superagui
Ararapira
1. Plasmodium sp./ Hemoproteus sp.*
2. Leucocytozoon sp.
3. Microfilárias
1. Plasmodium sp./ Hemoproteus sp. *
Morfotipos de ectoparasitos observados
Superagui
Ararapira
1. Argasidae (sp. tipo I)
2. Analgidae (sp. tipo I)
3. Epidermoptes bilobatus
4. Macronyssidae (sp. tipo I)
5. Malófago não identificado (sp. tipo I)
6. Menoponidae (sp. tipo I)
7. Proctophyllodidae (sp. tipo I)
8. Pterodectes sp. (tipo I)
9. Pterodectinae (sp. tipo I)
10. Pteronyssus sp. (tipo I)
11. Sarna não identificada (tipo I)
12. Trombiculidae (sp. tipo I)
13. Trouessartia mangaratibensis
14. Trouessartia rosterii
15. Trouessartia sp. (tipo I)
16. Trouessartia sp. (tipo II)
1. Alloptinae (tipo Brephosceles.)
2. Pterodectes sp. (tipo I)
3. Pterodectes sp. (tipo II)
4. Pterodectes turdinus
5. Trombiculidae (sp. tipo I)
6. Trouessartia sp. (tipo I)
O Índice de similaridade de Jaccard** (Magurran 1988) aplicado ao perfil de tipos morfológicos de ectoparasitos e de hemoparasitos
observados nos passeriformes nos dois sítios amostrais foi respectivamente de 0,16 e 0,33 ***.
* Plasmodium sp./ Hemoproteus sp. são dois gêneros pertencentes a um grupo de protozoários hemáticos (Apicomplexa) onde a diferenciação
morfológica entre eles é imprecisa. Dessa forma, aqui se adotou a classificação acima, referenciando os dois gêneros para qualquer
hematozoário pertencente a esse grupo.
** Índice de similaridade de Jaccard (Sj) é obtido por [Sj = j/(a+b-j)], onde: j = número de espécies comuns nos ambientes “a e “b”; a = número
de espécies no ambientea; b = número de espécies no ambiente “b.
*** O mesmo perfil de parasitos nas duas áreas seria representado pelo valor 1,0.
181
Figura 114: Microfilária observada em
esfregaço sanguíneo de Turdus
amaurochalinus, capturado na
comunidade do Ararapira (Imagem: Paula
B. Mangini).
Figura 115: Plasmodium/Haemoproteus
observado em esfregaço sanguíneo de
Turdus rufiventris, capturado na
comunidade do Superagui (Imagem:
Paula B. Mangini).
Figura 116: Trouessartia sp. (tipo I)
morfotipo com alta prevalência nas
comunidades do Superagui e do
Ararapira (coletado de um exemplar de
Turdus rufiventris) (Imagem: Paula B.
Mangini).
Figura 117: Pterodectes sp. (tipo I)
morfotipo com alta prevalência nas
comunidades do Superagui e do
Ararapira (coletado de um exemplar de
Turdus amaurochalinus) (Imagem: Paula
B. Mangini).
182
Figura 118: Trombiculidae (sp. tipo I)
morfotipo com alta prevalência nas
comunidades do Superagui e do
Ararapira (coletado de um exemplar de
Zonotrichia capensis) (Imagem: Valéria N.
Teixeira).
Figura 119: Colônia de ectoparasitos da
família Argaridae, em um exemplar de
Turdus amaurochalinus, capturado na
comunidade do Superagui (imagem:
Juliana Rechetelo).
Figura 120: Detalhe da implantação
cutânea da colônia de ectoparasitos da
família Argasidae, em um exemplar de
Turdus amaurochalinus, capturado na
comunidade do Superagui. Notar a
formação de uma borda elevada de pele
ao redor da colônia (imagem: Juliana
Rechetelo).
Figura 121: Detalhe de um abscesso
cutâneo decorrente da implantação de
uma colônia de ectoparasitos, de hábitos
semelhantes à Argasidae, em um
exemplar de Lepdocolaptes fuscus,
capturado na comunidade do Ararapira.
(imagem: Ana L.M. Gomes).
183
A curva cumulativa de espécies de ectoparasitos coletadas demonstrou se
estabilizar em ambos os sítios amostrais (Figura 122), a diversidade de ectoparasitos foi
significativamente maior na comunidade do Superagui (p=0,01) (Figura 123).
Adicionalmente, o modelo de análise por diagrama de dispersão de escalonamento
multidimensional (MDS), mostrou uma maior tendência ao agrupamento do perfil de
ectoparasitos observado no Ararapira (similaridade média 14,06) que foi um pouco mais
uniforme que o observado no Superagui (similaridade média 10,63), com uma área de
sobreposição entre os dois grupos de amostras. Apesar do grau de agrupamento dentro
de cada comunidade ser relativamente baixo, as comunidades do Ararapira e do
Superagui apresentaram entre si dissimilaridade de 90,05% (Figura 124).
Curva de Rarefação para Ectoparasitos
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52
N Aves Capturadas
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Espécies de Ectoparasitos
N Ecto/Captura: Ararap
Spp Ectos Acum: Ararap
N Ecto/Captura: Sgui
Spp Ectos Acum: Sgui
Figura 122: Curva de rarefação de coleta para espécies de ectoparasitos
de passeriformes nas comunidades de Superagui e Ararapira.
184
Div Ectop / Local
F = 5,90; p = 0,01; n = 99; Bar. = 0,95 int.conf.
Ararapira Superagui
Div. Ectop.
1 16
Figura 123: Diversidade de ectoparasitos em passeriformes nas
comunidades do Ararapira e do Superagui.
Figura 124: Dissimilaridade e agrupamento de ectoparasitos em
passeriformes nas comunidades do Ararapira e do Superagui.
A avaliação da prevalência de ectoparasitos conforme nos sítios de amostragem
revelou que os morfotipos representados por: 1) Trombiculidae (sp. tipo I); 2) Pterodectes
sp. (tipo I); e 3) Trouessartia sp. (tipo I), foram responsáveis por 82,35% dos ectoparasitos
observados no Ararapira e 61,82% das observações no Superagui (Tabela 34).
Considerando as guildas das aves capturadas, Pterodectes sp. (tipo I); e 3) Trouessartia
185
sp. (tipo I), foram prevalentes na maioria das guildas em Superagui. Por outro lado a
distribuição das prevalências foi mais equilibrada na comunidade do Ararapira. O
morfotipo Trombiculidae (sp. tipo I) aparece como prevalente em quatro guildas e com
peso similar a Pterodectes turdinus em uma. Ao passo que Pterodectes sp. (tipo I) ainda
figurou como um morfotipo importante, porém foi prevalente em apenas duas guildas
nessa localidade (Tabela 35).
Tabela 34: Prevalência de morfotipos de ectoparasitos observados nas comunidades do
Ararapira e Superagui, considerando apenas aves parasitadas.
Morfotipos de ectoparasitos
Ararapira
Prevalência (%)
Superagui
Prevalência (%)
1. Argasidae (sp. tipo I)
___
1,82
2. Alloptinae (tipo Brephosceles.)
5,88
___
3. Analgidae (sp. tipo I)
___
1,82
4. Epidermoptes bilobatus
___
1,82
5. Macronyssidae (sp. tipo I)
___
1,82
6. Malófago não identificado (sp. tipo I)
___
1,82
7. Menoponidae (sp. tipo I)
___
5,45
8. Proctophyllodidae (sp. tipo I)
___
5,45
9. Pterodectes sp. (tipo I)
29,41
32,73
10. Pterodectes sp. (tipo II)
5,88
___
11. Pterodectes turdinus
5,88
___
12. Pterodectinae (sp. tipo I)
___
1,82
13. Pteronyssus sp. (tipo I)
___
5,45
14. Sarna não identificada (tipo I)
___
1,82
15. Trombiculidae (sp. tipo I)
35,29
5,45
16. Trouessartia mangaratibensis
___
3,64
17. Trouessartia rosterii
___
3,64
18. Trouessartia sp. (tipo I)
17,65
23,64
19. Trouessartia sp. (tipo II)
___
1,82
TOTAL (%)
100,00
100,00
Prevalência dos morfotipos: 9; 15 e 18
82,35
61,82
186
Tabela 35: Prevalência de morfotipos e ectoparasitos observados nas aves de acordo
com as guildas, considerando apenas aves parasitadas, nas comunidades do Ararapira e
Superagui.
Guildas Comuns aos Dois Locais
(Ararapira)
Guildas Exclusivas
Ararapira
Morfotipos de ectoparasitos observados
no Ararapira (amostra n=17)
CNTE
CFSITE
CIEIH
CSFIEIMS
CIET
CSSEH
PIEMA
PIPVSEAM
Prevalência
total (%)
Brephoscelinae
5,88
_____
_____
_____
_____
_____
_____
_____
5,88
Pterodectes
_____
11,76
_____
11,76
_____
_____
5,88
_____
29,41
Pterodectes tipo 2
_____
5,88
_____
_____
_____
_____
_____
_____
5,88
Pterodectes turdinus
_____
_____
5,88
_____
_____
_____
_____
_____
5,88
Trombiculidae
_____
_____
5,88
11,76
5,88
5,88
_____
5,88
35,29
Trouessartia tipo 1
_____
5,88
_____
5,88
_____
_____
5,88
_____
17,65
Prevalência de infestação por guilda no
Ararapira (%)
5,88
23,53
11,76
29,41
5,88
5,88
11,76
5,88
100,00
Guildas Comuns aos Dois Locais
(Superagui)
Guildas Exclusivas
Superagui
Morfotipos de ectoparasitos observados
no Superagui (amostra n=52)
CNTE
CFSITE
CIEIH
CSFIEIMS
__________
CFSIEMS
PIEIH
PIGA
Prevalência
total (%)
Argasidae
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
Macronyssidae
1,92
_____
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
Malófago não identificado
_____
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
Menoponidae
_____
5,77
_____
_____
_____
_____
_____
_____
5,77
Proctophyllodidae
3,85
_____
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
5,77
Pterodectes
3,85
15,38
1,92
5,77
_____
1,92
3,85
_____
32,69
Pterodectinae (sp. tipo I)
1,92
_____
_____
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
Pteronyssus
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
_____
3,85
5,77
Sarna não ID
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
_____
_____
1,92
Trombiculidae
1,92
1,92
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
5,76
Trouessartia mangaratibensis
3,85
_____
_____
_____
_____
_____
_____
_____
3,85
Trouessartia rosterii
_____
1,92
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
3,84
Trouessartia tipo 1
3,85
13,46
1,92
_____
_____
3,85
1,92
_____
25,00
Trouessartia tipo 2
_____
_____
_____
1,92
_____
_____
_____
_____
1,92
Prevalência de infestação por guilda no
Superagui (%)
21,16
42,29
5,76
13,45
_____
7,69
5,77
3,85
100,00
CNTE - Consumidores de néctar de todos os estratos; CFSITE - Consumidores de frutos, sementes e invertebrados em todos os estratos;
CIEIH - Consumidores de invertebrados do estrato inferior ou herbáceo; CSFIEIMS - Consumidores de frutos, sementes e invertebrados dos
estratos inferior, médio e superior; CIET - Consumidores de invertebrados e escalador de tronco; CSSEH - Consumidores sementes do solo e
extrato herbáceo; PIEMA - Predadores de invertebrados do estrato médio ou arbustivo; PIPVSEAM - Predadores de invertebrados e pequenos
vertebrados do solo e estrato arbustivo e médio; CFSIEMS - Consumidor de frutos, sementes e insetos dos estratos médio e superior; PIEIH -
Predadores de invertebrados do estrato inferior ou herbáceo; PIGA - Predadores de invertebrados da galhada das árvores.
OBS: Nessa tabela não aparecem os morfotipos de ectoparasitos Epidermoptes bilobatus e família Analgidae, em Superagui, pois esses foram
obtidos de um indivíduo de Steogidopterix ruficolis (Andorinha-do-barranco), espécie de ave que não entrou na avaliação da diversidade das
guildas.
187
Avaliando as espécies de ectoparasitos, observados nas aves nas duas áreas em
estudo, e considerando sua distribuição de acordo com as guildas é possível observar
que o número de espécies desses parasitos por categoria é maior na comunidade do
Superagui, ressaltando-se a diferença mais expressiva entre as guildas dos consumidores
de ctar de todos os estratos e para os consumidores de frutos, sementes e
invertebrados em todos os estratos. (Figura 125).
(CNTE - Consumidores de néctar de todos os estratos; CFSITE - Consumidores de frutos, sementes e
invertebrados em todos os estratos; CIEIH - Consumidores de invertebrados do estrato inferior ou herbáceo;
CSFIEIMS - Consumidores de frutos, sementes e invertebrados dos estratos inferior, médio e superior).
Figura 125: Diversidade de ectoparasitos de passeriformes distribuída de
acordo com as guildas de aves observadas nas comunidades do
Ararapira e do Superagui.
5.4.4 Estado Físico-Clínico das aves Associadas aos Ecossistemas
Marinhos
5.4.4.1 Massa dos ovos de Larus dominicanus, Sula leucogaster e Fregata
magnificens
A massa dos ovos das três espécies avaliadas apresentou ampla variação ao longo
do período de abrangência dos dados fornecidos pelo Laboratório de Ornitologia do CEM-
UFPR. Os ovos de Sula leucogaster apresentaram uma média de 56,03 6,31)g (n =
212). Avaliando-se a distribuição sazonal, verificou-se que as médias da massa dos ovos
188
avaliados durante o período de primavera e verão foram significativamente diferentes
(p<0,05) daquelas do inverno, ao passo que houve forte variação destas nos meses de
maio (Figura 126).
±1.96* e
±1.00* e
Média
Massa (g)
46
48
50
52
54
56
58
60
62
Outubro/1998
Dezembro/1998
Janeiro/1999
Junho/2006
Julho/2008
Janeiro/2010
Maio/1997
Maio/1998
MAIO 99
Figura 126: Variação da massa dos ovos de Sula leucogaster, no
arquipélago de Currais.
A massa média dos ovos de Fregata magnificens foi de 84,76 8,57)g (n = 186).
Avaliando-se toda a série de dados verifica-se que acentuada variação na massa dos
ovos, com a maior média nos meses de primavera e verão, registrada em janeiro, e forte
oscilação nos meses de maio, que responderam pela maior média geral e tamm por
uma das menores (Figura 127).
189
±1.96 e
±1.00* e
Média
Massa (g)
74
78
82
86
90
94
98
Outubro/1998
Dezembro/1998
Janeiro/1999
Junho/2006
Julho/2008
Maio/1997
Maio/1998
Maio/1999
Figura 127: Variação da massa dos ovos de Fregata magnificens, no
arquipélago de Currais.
Em relação à massa dos ovos de Larus dominicanus, avaliando-se os dados
provenientes dos três eventos de coleta, realizados sempre nos meses de julho e agosto,
onde ocorre o período de postura e incubação. Destas amostragens obteve-se a média de
87,03 (±8,08)g (n = 145). No entanto, ao se comparar as médias obtidas em períodos
específicos de reprodução se detectou diferença significativa (p<0,05) entre o menor valor
proveniente da estação reprodutiva de 2006 e os outros dois valores obtidos em 1999 e
2009 (Figura 128).
190
±1.96* e
±1.00* e
Média
Massa (g)
80
82
84
86
88
90
92
94
96
1999 2006 2009
Figura 128: Variação da massa dos ovos de L. dominicanus, em três
períodos reprodutivos distintos no Arquipélago de Currais.
5.4.4.2 Massa corporal e Parâmetros Clínicos de Sula leucogaster capturados em
Currais
A avaliação das condições de saúde de 33 exemplares de Sula leucogaster
capturados no arquipélago de Currais demonstrou que a maioria dos animais (61%)
apresentava alguma condição clínica indesejável. A massa corporal média foi de 1.308,5
± 198,0 g, contudo na sua maioria os indivíduos amostrados (60,61%) apresentavam
escore corporal classificado como Magro e Extremamente Magro (Tabela 36).
Tabela 36: Massa corporal e Parâmetros Clínicos de Sula leucogaster capturados no
Arquipélago de Currais.
Sula leucogaster Currais
Indivíduos amostrados = 33
Problemas Clínicos = 61%
Saudáveis = 39%
Bom Escore Corporal: 15,15%
Moderadamente Magro: 24,24%
Magro e Extremamente Magro: 60,61%
Massa corporal média: 1.308,5 ± 198,0 g
Em uma avaliação comparativa entre os dois eventos de captura de exemplares de
Sula leucogaster (n=33) no arquipélago de Currais foi possível observar uma diferença
191
significativa (p=0,01) na massa corporal entre os indivíduos amostrados no mês de agosto
de 2009 (1.411,5 ± 199,1 g) e de janeiro de 2010 (1.241,6 ± 170,3 g) (Figura 129 e Figura
130).
Massa de Sula leucogaster / Mês
dia
dia±SE
dia±0,95 Int.Conf
agosto janeiro
1100
1150
1200
1250
1300
1350
1400
1450
1500
1550
Massa (g)
Figura 129: Variação da massa corporal de exemplares de Sula
leucogaster capturados em Currais, nos meses de agosto de 2009 e
janeiro de 2010.
Figura 130: Distribuição da massa corporal de exemplares de Sula
leucogaster capturados em Currais, nos meses de agosto de 2009 e
janeiro de 2010.
192
5.4.4.3 Perfil geral dos registros de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus
dominicanus no PROAMAR (CEM UFPR).
A totalidade dos exemplares de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus
dominicanus (n=208) recebida pelo Programa de Reabilitação de Aves, Mamíferos e
Répteis Marinhos PROAMAR entre 1992 e 2009 foi classificada como apresentando
escores corporais insatisfatórios ou portadores de algum problema relacionado à saúde.
Essas aves foram categorizadas como animais apáticos, exaustos, magros, portadores de
fraturas e lesões, ou outros problemas (Figura 131). Uma definição mais refinada sobre a
condição física e clínica desses animais não foi possível devido ao formato do banco de
dados disponível para a análise. Cabe ressaltar, entretanto, que dentro das categorias
que puderam ser definidas 82% dos animais foram registrados com sinais que podem ser
interpretados como indicativos de déficit alimentar ou nutricional, que pode gerar quadros
de apatia, exaustão e perda de massa corporal.
Figura 131: Distribuição percentual de
registros de sinais e problemas clínicos de
Sula leucogaster, Fregata magnificens e
Larus dominicanus (n=208) no PROAMAR
UFPR.
Apenas uma parcela dos registros disponíveis possuía dados sobre a massa
corporal dessas aves quando da sua chegada ao PROAMAR (Tabela 37). Quando
avaliados de forma comparativa os dados de massa corporal não mostraram variações
significativas entre os diferentes meses do ano, ou entre os diferentes anos (p<0,05) em
que foram recebidos no CEM. Da mesma forma, não houve tamm variação significativa
na massa desses animais (p<0,05) quando comparados àqueles indivíduos recebidos
dentro ou fora dos períodos de defeso do camarão. Entre os registros das aves recebidas
193
no PROAMAR, apenas os dados relativos à massa corporal de Sula leucogaster,
puderam ser avaliados de forma comparativa com as aves capturadas em Currais. Os
animais capturados em Currais apresentaram em média 1.308,5 ± 198,0 g, enquanto a
massa corporal média obtida das aves dessa espécie recebidas no PROAMAR foi de
977,3 ± 175,0 g, demonstrando uma diferença fortemente significativa (p=0,01).
Tabela 37: Perfil geral da massa corporal dos registros de Sula leucogaster, Larus
dominicanus e Fregata magnificens no PROAMAR UFPR.
Sula leucogaster
Larus dominicanus
Fregata magnificens
N amostral total
148
43
17
Média±Desv.Padrão
977,39 ± 175,01 g
744,76 ± 142,99 g
1.257,22 ± 201,57 g
N amostral da Média
79
21
08
Massa corporal Máxima
1.440,00 g
1.040,00 g
1.450,00 g
Massa corporal Mínima
660,00 g
540,00 g
900,00 g
Quando se avaliou os registros das aves recebidas no PROAMAR, distribuídos
dentro da série histórica de 1992 a 2009, de acordo com a vigência ou não de períodos de
defeso do camarão foi possível perceber que mais de 35% dos exemplares de Sula
leucogaster e Larus dominicanus foram registrados durante os períodos de defeso do
camarão, os quais em geral ocorreram entre nos meses de março a maio. Um pouco
acima do esperado, pois um período de três meses dentro de uma distribuição anual
normal deveria corresponder a 25% dos registros. Apenas Fregata magnificens
apresentou uma tendência diferenciada revelando apenas 17% de registros com dentro
do período de defeso (Figura 132).
194
Figura 132: Distribuição percentual de registros de Sula leucogaster,
Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR, dentro
e fora do período de defeso do camarão.
A avalião da frequência de recebimento das três espécies de aves marinhas no
PROAMAR demonstrou uma irregularidade de registros entre os diferentes anos incluídos
pela série histórica das observações, sendo possível verificar menor número de registros
nos anos de 1992, 1997, 1998 e 2002. Ainda assim, a série de registros apresentou
tendência de oscilação definida, tanto em uma avalião global dos registros (Figura 133),
quanto em uma avaliação de acordo com as espécies recebidas. Com exceção dos
registros de 2008 e 2009, verificou-se ainda uma tendência à oscilação semelhante no
número de registros de S. leucogaster e L. dominicanus. Contudo foi possível observar
também outra exceção a essa concorncia para F. magnificens, que demonstrou uma
tendência inversa as duas espécies anteriores (Figura 134).
195
Figura 133: Distribuição anual e linha de tendência dos registros de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR
UFPR.
Figura 134: Distribuição anual e linha de tendência dos registros por
espécies de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus
no PROAMAR UFPR.
Quando se avaliou a frequência de recebimento dessas aves, de acordo com os
meses do ano, foi possível observar uma tendência a um menor número de registros
entre os meses de maio e outubro. Essa diminuição foi observada tanto em uma
avalião global do recebimento dos animais (Figura 135), quanto em uma avaliação
conforme as espécies recebidas, nesse último caso novamente houve uma exceção para
196
F. magnificens, que não demonstrou tendência definida para alguma sazonalidade,
apresentando, porém uma leve inversão na tendência de registros nos meses entre julho
e outubro (Figura 136).
Figura 135: Distribuição mensal e linha de tendência dos registros
conjuntos de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus
no PROAMAR UFPR.
Figura 136: Distribuição mensal e linha de tendência dos registros por
espécies de Sula leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus
no PROAMAR UFPR.
197
6 DISCUSSÃO
Os resultados obtidos foram analisados em busca das relações entre as variáveis
selecionadas para o estudo. Para tanto, consideraram-se dados de prevalência,
frequência e a significância das diferenças apontadas pelas análises estatísticas. Bem
como informações de caráter qualitativo que indicassem relação entre diferentes
variáveis. A intensidade dessas relações foi determinada, considerando apenas os dados
obtidos nesse estudo, e foram conferidos valores a cada relação identificada. As médias
dos valores compuseram as matrizes de variáveis, as quais por sua vez deram a
orientação necessária para discutir os temas mais relevantes dentro do modelo.
6.1 Matrizes de Variáveis
Com base nos resultados referentes à atribuição de valores as 45 variáveis
pertencentes aos quatro componentes do modelo de estudo (Paisagem, Pesca,
Biodiversidade e Saúde), foi preenchida uma matriz que refletiu o grau de interação ou
influência destas variáveis entre si e destas sobre os componentes do modelo, permitindo
a observação da maior ou menor relevância das variáveis como indicadoras do estado do
sistema (Tabela 38 à Tabela 40).
198
Tabela 38: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas no componente Paisagem com as variáveis dos componentes Pesca e
Biodiversidade.
Artes de pesca
Riqueza e abundância
Sazonalidade
Esforço de pesca / produtividade
Destino da Produção
Produção de rejeitos
Impactos decorrentes da produção de rejeitos
PESCA
Abundância, Riqueza de Aves Florestais.
Guilda de Aves Florestais.
Abundância e Riqueza de Aves Marinhas
Interação de Aves Marinhas com a Pesca
Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
BIODIVERSIDADE
Tamanho das comunidades
3
3
3
3
3
3
3
3,00
3
3
2
3
3
3
2,83
Características gerais das moradias
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Densidade e distribuição das moradias
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Vias de acesso, tempo médio e distâncias para os
centros urbanos de referência
1
1
1
1
1
1
1
1,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Características da vegetação
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Outras características físico-geográficas
1
1
1
1
1
1
1
1,00
1
1
0
0
0
0
0,33
Meios Locais de transporte disponíveis
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Sistemas de comunicação
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Fluxo de Visitantes / Turistas
0
0
0
1
1
0
0
0,29
0
0
0
0
0
0
0,00
Serviços disponíveis na comunidade
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Destino de resíduos sólidos
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Destino de resíduos provenientes de atividades de
pesca
3
3
3
0
0
3
2
2,00
1
1
0
0
0
0
0,33
Origem e qualidade da água
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Estrutura de saneamento e destino de efluentes
residenciais e outros
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Evidências de impactos de efluentes no ecossistema
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Presença de evidências da captura de animais
0
0
0
0
0
0
0
0,00
2
2
0
0
0
0
0,67
Uso de recursos madeireiros e outros extrativismos
vegetais
1
0
0
0
0
0
0
0,14
1
1
0
0
0
0
0,33
Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta
1
0
0
0
0
0
0
0,14
1
1
0
0
0
0
0,33
Características da frota de cada comunidade
3
3
3
3
0
3
3
2,57
0
0
1
3
3
3
1,67
PAISAGEM
0,68
0,58
0,58
0,47
0,32
0,58
0,53
___
0,79
0,79
0,16
0,32
0,32
0,32
___
a) Interação nula = valor Zero; b) Interação baixa = valor Um; c) Interação média = valor Dois; d) Interação alta = valor Três.
199
Tabela 39: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas no componente Paisagem com as variáveis do componente Saúde.
Presença de serviço de saúde
Estrutura e serviços disponíveis regularmente
Censo de animais domésticos
Parâmetros de manutenção dos animais domésticos
Práticas de saúde dos animais domésticos
Identificação de problemas de saúde animal
Condições clínicas gerais: Condição corporal
Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos
Morfotipos de hemoparasitos observados
Morfotipos de ectoparasitos observados
Massa dos ovos de aves marinhas
Massa corporal de S.leucogaster capturados em Currais
Perfil geral dos registros de aves no CEM UFPR
SAÚDE
Tamanho das comunidades
3
3
3
1
2
1
3
3
3
3
3
3
1
2,46
Características gerais das moradias
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0,08
Densidade e distribuição das moradias
0
0
0
0
0
0
2
2
2
2
0
0
0
0,62
Vias de acesso, tempo médio e distâncias para os
centros urbanos de referência
1
1
0
0
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0,31
Características da vegetação
0
0
0
0
0
0
2
2
2
2
0
0
0
0,62
Outras características físico-geográficas
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,00
Meios Locais de transporte disponíveis
0
1
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,31
Sistemas de comunicação
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,15
Fluxo de Visitantes / Turistas
2
2
1
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0,54
Serviços disponíveis na comunidade
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,00
Destino de resíduos sólidos
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0,08
Destino de resíduos provenientes de atividades de
pesca
0
0
3
2
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0,46
Origem e qualidade da água
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,00
Estrutura de saneamento e destino de efluentes
residenciais e outros
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0,08
Evidências de impactos de efluentes no ecossistema
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0,08
Presença de evidências da captura de animais
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,00
Uso de recursos madeireiros e outros extrativismos
vegetais
0
0
0
0
0
0
2
2
2
2
0
0
0
0,62
Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta
0
0
0
1
0
0
1
1
1
1
0
0
0
0,38
Características da frota de cada comunidade
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
3
3
2
0,69
PAISAGEM
0,37
0,47
0,53
0,26
0,26
0,32
0,53
0,53
0,53
0,53
0,32
0,32
0,16
___
a) Interação nula = valor Zero; b) Interação baixa = valor Um; c) Interação média = valor Dois; d) Interação alta = valor Três.
200
Tabela 40: Matriz de valores indicadores do grau de interação entre as variáveis
analisadas nos componentes Pesca, Biodiversidade e Saúde, com as variáveis dos
componentes Pesca e Biodiversidade.
Artes de pesca
Riqueza e abundância
Sazonalidade
Esforço de pesca / produtividade
Destino da Produção
Produção de rejeitos
Impactos decorrentes da produção de rejeitos
PESCA
Abundância, Riqueza de Aves Florestais.
Guilda de Aves Florestais.
Abundância e Riqueza de Aves Marinhas
Interação de Aves Marinhas com a Pesca
Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
BIODIVERSIDADE
Abundância e Riqueza de Aves Florestais.
0
0
0
0
0
0
0
0,00
___
___
___
___
___
___
___
Guilda de Aves Florestais.
0
0
0
0
0
0
0
0,00
___
___
___
___
___
___
___
Abundância e Riqueza de Aves Marinhas
3
3
2
3
0
3
3
2,43
___
___
___
___
___
___
___
Interação de Aves Marinhas com a Pesca
3
3
3
3
0
3
3
2,57
___
___
___
___
___
___
___
Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
3
3
3
3
0
3
3
2,57
___
___
___
___
___
___
___
Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
3
3
3
3
0
3
3
2,57
___
___
___
___
___
___
___
BIODIVERSIDADE
2,00
2,00
1,83
2,00
0,00
2,00
2,00
___
___
___
___
___
___
___
Presença de serviço de saúde
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Estrutura e serviços disponíveis regularmente
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Censo de animais domésticos
0
0
0
0
0
2
2
0,57
1
1
0
0
0
0
0,33
Parâmetros de manutenção dos animais
domésticos
0
0
0
0
0
1
1
0,29
2
2
0
0
0
0
0,67
Práticas de saúde dos animais domésticos
0
0
0
0
0
0
0
0,00
0
0
0
0
0
0
0,00
Identificação de problemas de saúde animal
0
0
0
0
0
1
1
0,29
0
0
0
0
0
0
0,00
Condições clínicas gerais: Condição corporal
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Prevalência do Grau de Infestação por
ectoparasitos
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Morfotipos de hemoparasitos observados
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Morfotipos de ectoparasitos observados
0
0
0
0
0
0
0
0,00
3
3
0
0
0
0
1,00
Massa dos ovos de aves marinhas
3
3
3
3
0
3
3
2,57
0
0
0
3
3
1
1,17
Massa corporal de S. leucogaster capturados em
Currais
3
3
3
3
0
3
3
2,57
0
0
0
3
3
2
1,33
Perfil geral dos registros de aves no CEM UFPR
2
2
2
2
0
2
2
1,71
0
0
1
3
3
0
1,17
SAÚDE
0,62
0,62
0,62
0,62
0,00
0,92
0,92
1,15
1,15
0,08
0,69
0,69
0,23
a) Interação nula = valor Zero; b) Interação baixa = valor Um; c) Interação média = valor Dois; d) Interação alta = valor Três.
A integração dos índices resultantes do cruzamento das variáveis pertencentes aos
diferentes componentes do modelo resultou em valores médios que variaram entre 2,76
para a variável específica ―tamanho das comunidades‖, até zero no caso das variáveis
―origem e qualidade da água‖ e ―serviços disponíveis na comunidade‖ (Quadro 4).
201
Quadro 4: Matriz das médias dos valores que indicam grau de interação entre as
variáveis com os componentes do modelo.
Variáveis Específicas
Paisagem
Pesca
Biodiversidade
Saúde
Média
PAISAGEM
1. Tamanho das comunidades
___
3,00
2,83
2,46
2,76
2. Características gerais das moradias
___
0,00
0,00
0,08
0,03
3. Densidade e distribuição das moradias
___
0,00
1,00
0,62
0,54
4. Vias de acesso, tempo médio e distâncias para os centros urbanos
de referência
___
1,00
0,00
0,31
0,44
5. Características da vegetação
___
0,00
1,00
0,62
0,54
6. Outras características físico-geográficas
___
1,00
0,33
0,00
0,44
7. Meios Locais de transporte disponíveis
___
0,00
0,00
0,31
0,10
8. Sistemas de comunicação
___
0,00
0,00
0,15
0,05
9. Fluxo de Visitantes / Turistas
___
0,29
0,00
0,54
0,28
10. Serviços disponíveis na comunidade
___
0,00
0,00
0,00
0,00
11. Destino de resíduos sólidos
___
0,00
0,00
0,08
0,03
12. Destino de resíduos provenientes de atividades de pesca
___
2,00
0,33
0,46
0,93
13. Origem e qualidade da água
___
0,00
0,00
0,00
0,00
14. Estrutura de saneamento e destino de efluentes residenciais e
outros
___
0,00
0,00
0,08
0,03
15. Evidências de impactos de efluentes no ecossistema
___
0,00
0,00
0,08
0,03
16. Presença de evidências da captura de animais
___
0,00
0,67
0,00
0,22
17. Uso de recursos madeireiros e outros extrativismos vegetais
___
0,14
0,33
0,62
0,36
18. Presença e uso de trilhas nas áreas de floresta
___
0,14
0,33
0,38
0,28
19. Características da frota de cada comunidade
___
2,57
1,67
0,69
1,64
PESCA
20. Artes de pesca
0,68
___
2,00
0,62
1,10
21. Riqueza e abundância
0,58
___
2,00
0,62
1,07
22. Sazonalidade
0,58
___
1,83
0,62
1,01
23. Esforço de pesca / produtividade
0,47
___
2,00
0,62
1,03
24. Destino da Produção
0,32
___
0,00
0,00
0,11
25. Produção de rejeitos
0,58
___
2,00
0,92
1,17
26. Impactos decorrentes da produção de rejeitos
0,53
___
2,00
0,92
1,15
BIODIVERSIDADE
27. Abundância, Riqueza de Aves Florestais
0,79
0,00
___
1,15
0,65
28. Guilda de Aves Florestais
0,79
0,00
___
1,15
0,65
29. Abundância e Riqueza de Aves Marinhas
0,16
2,43
___
0,08
0,89
30. Interação de Aves Marinhas com a Pesca
0,32
2,57
___
0,69
1,19
31. Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
0,32
2,57
___
0,69
1,19
32. Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
0,32
2,57
___
0,23
1,04
SAÚDE
33. Presença de serviço de saúde
0,37
0,00
0,00
___
0,12
34. Estrutura e serviços disponíveis regularmente
0,47
0,00
0,00
___
0,16
35. Censo de animais domésticos
0,53
0,57
0,33
___
0,48
36. Parâmetros de manutenção dos animais domésticos
0,26
0,29
0,67
___
0,41
37. Práticas de sde dos animais domésticos
0,26
0,00
0,00
___
0,09
38. Identificação de problemas de saúde em animais domésticos
0,32
0,29
0,00
___
0,20
39. Condições clínicas gerais em aves florestais
0,53
0,00
1,00
___
0,51
40. Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos
0,53
0,00
1,00
___
0,51
41. Morfotipos de hemoparasitos observados
0,53
0,00
1,00
___
0,51
42. Morfotipos de ectoparasitos observados
0,53
0,00
1,00
___
0,51
43. Massa dos ovos de aves marinhas
0,32
2,57
1,17
___
1,35
44. Massa corporal de S. leucogaster capturados em Currais
0,32
2,57
1,33
___
1,41
45. Perfil geral dos registros de aves no CEM UFPR
0,16
1,71
1,17
___
1,01
Média
0,50
0,81
0,81
0,54
___
Avaliando-se as 45 variáveis do modelo identificou-se um conjunto formado por 10
delas, que responderam por 50% do valor total, ou seja, foram as variáveis que
contribuíram de maneira mais forte para indicar as interações entre os quatro
202
componentes que formaram o modelo de estudo (Quadro 5). Estas variáveis que no
conjunto se revelaram indicadores mais fortes contribuíram de formas distintas quando se
avaliou o valor que estas tiveram dentro de cada componente específico. Nesse sentido,
verificou-se para o componente ―Pesca‖ que as 10 variáveis mais importantes no conjunto
foram responsáveis por 56% do valor total das variáveis dentro deste componente. Por
outro lado, para ―Paisagem esse valor representou apenas 32% do valor total das
variáveis dentro do componente. Para ―Biodiversidade‖ essas variáveis foram
responsáveis por 52% do valor total e para o componente ―Saúde‖ foi de 48% do total.
Quadro 5: Matriz das 10 variáveis que obtiveram maiores médias nos valores que
indicam interação entre os componentes do modelo.
Variáveis Específicas
Paisagem
Pesca
Biodiversidade
Saúde
Média
PAISAGEM
1. Tamanho das comunidades
___
3,00
2,83
2,46
2,76
2. Características da frota de cada comunidade
___
2,57
1,67
0,69
1,64
PESCA
3. Artes de pesca
0,68
___
2,00
0,62
1,10
4. Riqueza e abundância
0,58
___
2,00
0,62
1,07
5. Produção de rejeitos
0,58
___
2,00
0,92
1,17
6. Impactos decorrentes da produção de rejeitos
0,53
___
2,00
0,92
1,15
BIODIVERSIDADE
7. Interação de Aves Marinhas com a Pesca
0,32
2,57
___
0,69
1,19
8. Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
0,32
2,57
___
0,69
1,19
SAÚDE
9. Massa dos ovos de aves marinhas
0,32
2,57
1,17
___
1,35
10. Massa corporal de S. leucogaster capturados em Currais
0,32
2,57
1,33
___
1,41
Média
0,46
2,64
1,88
0,95
14,03
Média dos componentes em %
32,00%
56,00%
52,00%
48,00%
50,00%
Analisando-se os quatro componentes do modelo, de forma independente, foram
selecionadas 10 variáveis que representaram os maiores índices dentro de cada
componente. Esta avaliação destacou 24 variáveis ao todo. Deve-se ressaltar que 12
destas variáveis apareceram como boas indicadoras de interações em dois ou três
componentes do modelo. Por outro lado, o componente ―Paisagem‖ abrigou cinco
variáveis exclusivas, que foram fortes indicadoras apenas do estado deste componente.
Da mesma forma, o componente ―Biodiversidade‖ apresentou quatro variáveis exclusivas,
e o componente ―Pesca‖ três variáveis exclusivas. O componente ―Saúde‖ não apresentou
qualquer variável exclusiva, estando as variávies mais relevantes para este componente
sempre presentes entre as dez mais relevantes em outro componente do modelo (Quadro
6).
203
Quadro 6: Matriz que apresenta as 10 variáveis que obtiveram os maiores valores dentro
de cada componente do modelo.
Variáveis Específicas
Paisagem
Pesca
Biodiversidade
Saúde
Abundância, Riqueza de Aves Florestais
0,79
____
____
1,15
Guilda de Aves Florestais
0,79
____
____
1,15
Descrição das artes de pesca
0,68
____
____
0,62
Riqueza e Diversidade
0,58
____
____
____
Sazonalidade
0,58
____
____
____
Produção de rejeitos
0,58
____
2,00
0,92
Impactos decorrentes da produção de rejeitos
0,53
____
2,00
0,92
Censo de animais domésticos
0,53
____
____
____
Condições clínicas gerais: Condição corporal
0,53
____
____
____
Prevalência do Grau de Infestação por ectoparasitos
0,53
____
____
____
Tamanho das comunidades
____
3,00
2,83
2,46
Interação de Aves Marinhas com a Pesca
____
2,57
____
0,69
Diversidade da Dieta das Aves Marinhas
____
2,57
____
0,69
Dinâmicas da Reprodução de Aves Marinhas
____
2,57
____
Características da frota de cada comunidade
____
2,57
1,67
0,69
Massa dos ovos de aves marinhas
____
2,57
1,17
____
Massa corporal das capturadas em Currais
____
2,57
1,33
____
Abundância e Riqueza de Aves Marinhas
____
2,43
____
____
Destino de resíduos provenientes de atividades de pesca
____
2,00
____
____
Perfil geral dos registros de aves no Proamar UFPR
____
1,71
____
____
Descrição das artes de pesca
____
____
2,00
____
Riqueza e Diversidade
____
____
2,00
0,62
Esforço/produtividade direcionado a cada recurso
____
____
2,00
____
Sazonalidade
____
____
1,83
____
Média dos componentes
0,61
2,46
1,89
1,00
A avaliação dos valores obtidos pelas variáveis e a influência desses valores sobre
os componentes do modelo permitiu elaborar-se uma discussão mais específica sobre os
nexos e as conexões observadas entre as variáveis que foram mais indicativas das
relações entre saúde, diversidade, pesca e paisagem. Avaliando-se as duas matrizes
acima é possível identificar dois grandes grupos de interações que se mostram relevantes
dentro do estudo. O primeiro, e mais expressivo, ressalta as relações entre as artes de
pesca e as práticas dos pescadores diretamente ligadas à atividade pesqueira. As
relações evidenciadas por esse grupo de variáveis se iniciam com a marca que a
comunidade deixa na paisagem, decorrente do perfil demográfico da comunidade
pesqueira e da sua frota, gerando reflexos sobre as práticas de pesca e a diversidade
pesqueira, a fauna de aves marinhas, e a saúde da população dessas aves. O segundo
grupo de variáveis importantes relacionou-se, sobretudo, com a inserção das
comunidades no meio terrestre e as práticas materiais relacionadas com uso do espaço,
vegetação e outros recursos naturais extrativistas. As relações evidenciadas por esse
grupo de variáveis iniciam-se também no perfil demográfico das comunidades, gerando
204
reflexos na paisagem física das vilas de pescadores, na diversidade e na saúde da fauna
de aves associadas aos ecossistemas florestais.
6.1.1 A Saúde e a Diversidade de Aves Marinhas, a Paisagem e as
Atividades Pesqueiras
O grupo de 10 variáveis que apresentou os maiores valores de interação nos
diferentes componentes deste estudo foi composto por: 1) o tamanho da comunidade
pesqueira; 2) as características da frota; 3) as artes de pesca; 4) a riqueza e abundância
de pescados; 5) a produção de rejeitos; 6) o impacto da produção de rejeitos; 7) a
interação de aves com a pesca; 8) a dieta das aves marinhas; 9) a massa corporal de
aves marinhas; e 10) a massa dos ovos de aves marinhas. A interação entre estas
variáveis permitiu abordagens que integraram temas disciplinares e interdisciplinares, que
se complementaram. O trânsito de conceitos entre disciplinas forneceu avaliações dos
diferentes níveis da complexidade dos sistemas socioambientais estudados, gerando
enriquecimento recíproco entre as disciplinas o que auxiliou o entendimento das relações
entre os quatro componentes deste estudo. Segundo Raynaut (2004), o desafio
fundamental ao adotar tal enfoque de pesquisa está em restituir, ainda que de maneira
parcial, a complexidade do mundo real, dentro do qual e sobre o qual se pretende atuar.
Segundo Odum e Barrett (2007) o que realmente constitui o desafio na pesquisa
ambiental dos tempos atuais é aprender a ver o ambiente e a sociedade como um
sistema único. Para tanto, se faz necessário aplicar abordagens que permitam observar
vários aspectos constituintes desses sistemas socioambientais, empregando conceitos de
diferentes disciplinas.
Por se tratar de um estudo que enfocou comunidades pesqueiras era esperado que
o modelo indicasse o meio marinho como o principal campo das interações, pois é no mar
que deveria ocorrer a maior parte das atividades, ou práticas materiais, que se refletiriam
com maior intensidade nos componentes Pesca, Biodiversidade, Paisagem e Saúde. O
tamanho da comunidade foi a variável com o maior valor, e se revelou capaz de
influenciar fortemente os componentes Pesca, Biodiversidade e Saúde. Em relação ao
Componente Pesca, o tamanho da comunidade influenciou o dimensionamento da frota, o
esforço de pesca, os locais de pesca, as artes de pesca, os recursos explotados, a
sazonalidade e o destino do pescado. Considerando os dados obtidos neste trabalho,
apesar da geografia e da disponibilidade natural de recursos pesqueiros não
205
apresentarem acentuada diferença entre as comunidades de Superagui e de Ararapira, as
diferenças relacionadas à pesca foram marcantes.
De maneira geral, é esperado que a disponibilidade temporal dos recursos
pesqueiros associada aos interesses dos pescadores influencie o padrão de utilização
das artes de pesca e dos tipos específicos de redes ao longo do ano. A sazonalidade na
utilização de recursos e artes de pesca é uma característica amplamente observada,
sendo relacionada tanto com o perfil da frota quanto com características particulares das
comunidades pesqueiras (MENDONÇA e KATSURAGAWA, 2001; BOFFO e REIS, 2003;
VIANNA e VALENTINI, 2004), inclusive na costa paranaense (ANDRIGUETTO FILHO et
al., 2006; ROBERT e CHAVES, 2006). Quando o produto da pesca é destinado ao
abastecimento de centros consumidores nos arredores das comunidades pesqueiras
maior esforço direcionado a recursos mais valorizados comercialmente (CUNHA,
ROUGEULLE, e VON BEHR, 2004). Esta afirmação se aplica apenas parcialmente às
comunidades pesqueiras de Superagui e de Ararapira, pois se verificou investimento em
pesca de peixes mais valorizados em Ararapira, mas aconteceu o contrário em Superagui.
Nas comunidades pesqueiras avaliadas neste estudo, as lógicas que norteiam o
investimento em pesca parecem estar mais associadas ao volume de produção e às
possibilidades de comercialização.
Nesse sentido, na comunidade de Superagui apenas dois recursos pesqueiros
foram os mais importantes, o camarão-sete-barbas responsável por aproximadamente
75% de todas as capturas e a pescada-membeca, que contribuiu com um valor em torno
de 10%. Essa dominância de apenas dois recursos difere do cenário geralmente descrito
para a pesca artesanal, amplamente caracterizada por atuar sobre um grande número de
espécies. Adicionalmente, nestas condições de isolamento geográfico das comunidades
em estudo, que limitam as possibilidades de venda, é notável o baixo preço conseguido
na primeira comercialização, especialmente no caso do camarão que foi vendido por um
preço médio de R$ 1,70 no ano de 2009 na comunidade do Superagui. Aparentemente, a
explotação do camarão realizada pelos pescadores dessa localidade está atrelada ao
significativo volume de produção que viabiliza a comercialização e, apesar do baixo valor
na primeira venda, supre as necessidades dos pescadores. A frota de arrasteiros local,
representada por 71 embarcações, capturou em torno de 150 toneladas de camarão no
ano de 2009, o que gera significativo volume de pescado, que por sua vez compensa os
deslocamentos regulares dos atravessadores para escoar a produção.
206
Na comunidade de Superagui a energia elétrica está disponível, o que tamm
favorece o armazenamento temporário do produto. Apesar disso, o baixo rendimento da
pesca e a situação de descapitalização do pescador, projeta uma situação preocupante
em caso de necessidade de alguma manutenção mais onerosa da embarcação. Esse fato
foi constatado in loco representado pela inatividade de uma embarcação, e de seu
proprietário, devido à falta de recurso financeiro para a realização de um conserto de
ordem mecânica.
Pode se considerar que há certa insegurança quanto à viabilidade futura da
atividade pesqueira na comunidade Superagui, pois naquele local a pesca depende quase
que exclusivamente do camarão-sete-barbas e da pescada-membeca, sendo que nos
últimos anos se verificou acentuada queda na produção nacional de ambos os recursos,
estando estes caracterizados por estoques plenamente explotados ou até sobrepescados
(IBAMA, 2006).
Na comunidade do Ararapira por mais que haja interesse na pesca e no comércio
do camarão, e haja disponibilidade de redes de arrasto, a prática parece inviabilizada pela
falta de comprador, em função do pequeno tamanho da frota local e a consequente baixa
produção, o que não compensa os gastos, tanto da pescaria quanto do escoamento do
pescado. Condição semelhante foi observada por Cunha, Rougeulle, e Von Behr (2004)
ao avaliar a performance do pescador artesanal, que na maioria das vezes não tem
produção suficiente nem condições de entregar diretamente a produção mais perto do
consumidor final, mas neste caso a justificativa foi para a dependência do atravessador.
Em Ararapira mais espécies, ou grupos de espécies, entre os pescados
comercializados e, de uma maneira geral, o preço na primeira venda é mais alto. Nesse
sentido, destacam-se os recursos iriko e robalão, que são os mais valorizados e vendidos
à aproximadamente R$ 30,00 e R$ 12,00 o quilograma, respectivamente. Um grupo
intermediário é representado pelas pescadas, pela tainha e pela sororoca, com valores
médios entre R$ 3,00 e R$ 5,00 por quilograma. Como recursos menos valiosos
também a comercialização de paratis e corvinas com preço em torno de R$ 1,00 o
quilograma, porém esses são vendidos em pequenas quantidades representando uma
parcela discreta da comercialização local.
Ao contrário do Superagui, onde a pesca está alicerçada em apenas dois recursos,
em Ararapira há contribuição de um maior número de pescados e, de uma maneira geral,
representados por produtos mais valorizados pelo comércio. No entanto, em Ararapira é
207
notável a falta de estrutura para o armazenamento e escoamento da produção, que
acarreta com certa frequência inatividade pesqueira com fins de comercialização.
O cenário da pesca verificado nas duas comunidades estudadas indica que
condições econômicas e de comércio não permitem aos pescadores investir na
diversificação de redes de pesca adaptadas à captura de outros recursos, condição
observada no Superagui, ou quando o fazem, o poder de pesca proveniente da
diversificação dos apetrechos é modesto, situação do Ararapira. Cunha, Rougeulle, e Von
Behr (2004), apontam situação parecida para uma parcela dos pescadores para a região
de Guaraqueçaba, tamm no Paraná.
Uma das maiores diferenças entre as duas comunidades pesqueiras observadas
nesse estudo é a atividade de pesca direcionada aos camarões. Por um lado, na
comunidade de Ararapira o recurso camarão assume alguma importância apenas como
isca-viva, ao passo que em Superagui os camarões representam o principal recurso
explorado e o arrasto a principal arte de pesca praticada. A pesca de camarão é
potencialmente geradora de fortes impactos sobre o ambiente, pois captura muitos
organismos que não são o alvo da pescaria e tamm promove impactos sobre o
ambiente físico (LOKKEBORG, 2005). Portanto, as externalidades relacionadas à pesca
se manifestam mais intensamente na comunidade pesqueira de Superagui, onde
predomina a pesca de camarão realizada pela arte arrasto, a qual é realizada com redes
de ―malha 6‖, fato que também acentua a captura de peixes que não são o alvo da
pescaria (CARNIEL, 2008).
É amplamente documentado que parte das capturas realizadas pela pesca não é
aproveitada como produto comercial (SAILA, 1983; ALVERSON et al., 1994; KELLEHER,
2004) vindo a compor os rejeitos pesqueiros. Esta parcela da captura, que é rejeitada, é
usualmente excluída das estatísticas pesqueiras, que estão centralizadas nos trabalhos
de coleta de dados em portos onde desembarque da produção (BATISTA, 2003). De
uma maneira geral, a composição dos rejeitos é dominada por peixes, mas também com
destaque para crustáceos, moluscos e equinodermos (BERGMANN et al., 2002;
SÁNCHEZ, DEMESTRE e MARTÍN, 2004, HARRINGTON et al., 2005; CARNIEL, 2008).
No caso dos peixes, a dominância pode chegar a 80%, como observado por Carniel
(2008) em Pontal do Sul - PR, confirmando o padrão geral encontrado em outros locais
(ORO e RUIZ, 1997; ARCOS et al., 2001; ZEVALLOS e YORIO, 2006; WALMSLEY et al.,
2007). No entanto, em alguns casos essa relação pode ser menor, com índices entre 36%
e 69% (HILL e WASSEMBERG, 2000; SÁNCHEZ, DEMESTRE e MARTÍN, 2004;
208
ROCHET et al., 2002; BERGMANN et al., 2003). Os peixes capturados junto ao camarão
compreendem principalmente indivíduos jovens os quais, praticamente na sua totalidade,
são rejeitados (SCHWARZ, 2009, ROBERT, 2008; GRAÇA-LOPES et al., 2002; VIANNA
e ALMEIDA, 2005; HAIMOVICI e MENDONÇA, 1996). Além do impacto biológico
associado às atividades pesqueiras também ocorrem danos físicos, em especial
relacionados com as atividades de arrasto, representados pela alteração da estrutura do
ambiente, principalmente pela destruição de micro-hábitats e homogeneização do fundo
marinho (LOKKEBORG, 2005; SCHWINGHAMER, et al., 1998). Portanto, entre as
pescarias atualmente permitidas, a pesca de arrasto é considerada ambientalmente a
menos aceitável (ALVERSON et al., 1994).
A avaliação da atividade pesqueira de arrasto aponta para impactos decorrentes da
captura de outros organismos, que o são o alvo da pescaria, com destaque para os
peixes. É sabido que em uma avaliação geral as frotas pesqueiras são heterogêneas,
com características particulares das embarcações e das rotinas de pesca, mas a geração
de rejeitos é uma característica comum a todas. Nesse sentido, as informações
disponíveis apontam a produção anual de rejeitos no cenário mundial estimada em
aproximadamente 25 a 30 milhões de toneladas de peixes, seus derivados e outros
organismos (ALVERSON et al., 1994; CNISO, 1998, MOORE e JENNINGS, 2000). No
Brasil os dados sobre a produção anual de rejeitos são refletidos pela qualidade das
estatísticas pesqueiras, ou seja, são precários, mas mesmo assim revelam a importância
destes. Para as regiões sul e sudeste Conolly (1986) estimou em 308.231 toneladas a
produção de rejeitos a partir da atuão da frota camaroeira, mas Coelho et al., (1988)
afirmam que este valor pode ser o dobro da estimativa acima. Além disso, profundo
desconhecimento da frota pesqueira brasileira, do esforço de pesca, do tamanho das
embarcações, da potência dos motores utilizados e dos índices de captura, características
que em conjunto determinam a produtividade das pescarias e produção de rejeitos.
Regionalmente estimativas de produção anual de rejeitos de aproximadamente 10
milhões de kg pela frota de arrasteiros do município de Rio Grande RS (VOOREN e
FERNANDES, 1989); cerca de 3,5 milhões de kg pela frota arrasteira paranaense (KRUL,
2004) e 5 milhões de kg considerando apenas a pesca do camarão-sete-barbas no litoral
paulista (PAIVA-FILHO e SCHMIEGELOW, 1986). Valor mais expressivo de rejeitos foi
calculado por Branco (2001) na Armação do Itapocoroy SC, onde a frota composta por
76 embarcações de pequeno porte produziu 1,124 miles de kg de rejeitos ao longo de
um ano.
209
Tendo por base apenas a atuação da frota camaroeira de Superagui, composta por
71 embarcações, se estimou em 150.224,5 kg de peixes capturados junto com o camarão
e, por não apresentarem valor de mercado, certamente foram devolvidos ao mar na forma
de rejeitos. Valor similar de rejeitos foi estimado por Carniel (2008) ao analisar a atuação
de uma frota composta por 32 canoas e um barco tangoneiro em Pontal do Paraná PR,
onde o valor total de rejeitos foi de 176.985 kg, mas neste caso, computando também a
produção da arte de pesca caceio, que representou 18,35% do total e tem uma
produtividade de rejeitos diferenciada do arrasto. Esta mesma autora, considerando a
atuação de apenas 31 canoas e avaliando apenas a arte de pesca arrasto, calculou em
aproximadamente 30.000 kg a quantidade anual de peixes descartada em mar aberto.
Assim, se observa elevada produção de descartes no litoral do estado, mesmo
tomando por base os índices obtidos a partir da atividade de pesca das embarcações de
tábua de Superagui e as canoas de Pontal do Paraná, que representam o menor poder de
pesca da frota motorizada na costa paranaense. Da mesma forma, apesar das fortes
evidências de subavaliação, ao se extrapolar os índices de captura de peixes para todo o
litoral, tanto considerando o esforço pesqueiro da frota quanto o volume de camarão
capturado, se obtêm valores de rejeitos elevadíssimos. Nesse sentido, salientam-se as
informações obtidas no Censo Estrutural da Pesca referente à frota de arrasteiros do
Paraná, que apontam um grande número de embarcações atuando sem licença. Da
mesma forma, a estatística do desembarque do camarão é apenas parcial, não sendo
levada em conta a produção de várias comunidades pesqueiras (NATIVIDADE et al.,
2004, ANDRIGUETTO FILHO et al., 2006).
A pesca de camarão, especialmente a do sete-barbas, é a principal atividade
pesqueira desenvolvida na plataforma continental interna do Paraná (PAIVA, 1997;
ANGRIGUETTO et al., 2006) e, apesar da estatística pesqueira local ser precária, foi
possível estimar alguns índices. Na costa paranaense, a relação entre a captura de
peixes e de camarão-sete-barbas é de aproximadamente 1:1 e a captura de peixes por
hora de arrasto é em torno de cinco quilogramas, embora índices pontuais, como é o caso
do litoral norte do Paraná (NATIVIDADE, 2007), apontem valores relativamente maiores.
Com base nesses índices, uma estimativa conservadora da produção anual de rejeitos a
partir da frota arrasteira paranaense reconhecida no Censo Estrutural da Pesca (IBAMA,
2006) aponta 3.527.160 kg de peixes, valor extremamente similar ao calculado por Krul
(1999) a partir da frota oficialmente licenciada, que foi de 3.496.822,90 kg. Por outro lado,
com base em dados de desembarque de camarão monitorados pelo IBAMA
210
(ANDRIGUETTO FILHO et al, 2006) a média anual informada está em torno de 1.200.000
kg. No entanto, este valor provavelmente está subestimado, pois além das estimativas
acima, a informação levantada pela EMATER em 1998 que aponta 4.904.000 kg,
produzidos no estado, dos quais, 3.400.000 kg dizem respeito apenas a produção anual
da frota de Guaratuba (RICHTER, 2000). Apesar das informações referentes à prodão
de camarão e ao dimensionamento da frota arrasteira serem pouco precisas e, neste
caso, niveladas por baixo, é notável a captura de peixes que o são alvo da pescaria.
Diante disso, assim como mencionado por Pezzuto (2001) e Andriguetto Filho (1999), fica
evidente que a pesca considerada artesanal possui, apesar de pouco conhecido, um
elevado poder de pesca que sustenta cadeias produtivas geralmente informais e não
dimensionadas.
Com base nos estudos consultados foram identificadas 143 espécies de peixes
capturadas em arrastos na costa paranaense, as quais apresentam diferentes respostas
em relação à pressão de pesca. Um grupo reduzido de espécies, com altos índices de
captura nos arrastos, é recorrente nas listagens de diferentes autores (RUFFINO e
CASTELLO, 1992; MORAIS et al., 1995; HAIMOVICI e MENDONÇA, 1996; KOTAS,
1998; ROCHA e ROSSI-WONGTSCHOWSKI, 1998; GRAÇA-LOPES et al., 2002). As
espécies de peixes que apresentam os maiores índices de captura estão submetidas a
uma constante e intensa retirada de indivíduos das suas populações, o que desorganiza a
estrutura da comunidade ictíaca e impõe pressão seletiva favorecendo a reprodução de
exemplares mais jovens. Nesse sentido, Santos (2006) encontrou evidência de redução
de tamanho de peixes para a primeira maturação associado à pressão de captura em
arrastos direcionados ao camarão na costa paranaense, bem como comprometimento
moderado da estrutura da comunidade da plataforma interna. Por outro lado, Branco e
Verani (2006) relatam que apesar da pressão dos arrasteiros, as espécies de peixes que
constituem os rejeitos na porção norte do litoral catarinense estão respondendo
satisfatoriamente ao esforço de pesca.
Apesar dos fortes indicativos da pressão exercida, a partir da década de 80, pela
pesca de arrasto sobre a estrutura da comunidade de peixes no litoral paranaense não há
informações adequadas sobre essa comunidade biológica antes da intensificação dessa
atividade. Assim, devido à precariedade dos dados científicos disponíveis a recuperação
destas informações depende da memória dos pescadores mais velhos e as
considerações são limitadas. Apesar disso, com base em conversas informais com
pescadores das comunidades estudadas e de Pontal do Paraná se obteve informações
211
relevantes. Algumas espécies de peixes capturadas no início da pesca de arrasto, nos
anos 80, atualmente contribuem menos ou até desapareceram da composição dos
rejeitos. Nesse sentido tiveram destaque espécies como pescada-cambucu, pescada-
bicuda, pescada-goete, cação-viola, prejereva, caranha e linguado, dentre outras.
Cabe salientar que além do impacto da captura de indivíduos jovens destas
espécies nos arrastos, estas quando em maior tamanho representam alvo de pesca tanto
da frota artesanal quanto da industrial, fato que, aliado às características de reprodução
dessas espécies, determina um quadro preocupante em relão à conservação desses
organismos.
Considerando apenas o cenário de rejeitos estabelecido para a costa paranaense,
que inclui 143 espécies de peixes, também se projetam importantes consequências
econômicas para os pescadores. Nesse sentido, Andriguetto Filho et al., (2006)
apresentaram uma lista composta por 68 espécies de peixes reconhecidas como tipos
comuns nos desembarques pesqueiros na costa paranaense, sendo que destas,
aproximadamente 60% são tamm capturadas nos arrastos direcionados ao camarão.
No caso específico das comunidades avaliadas neste estudo, aproximadamente 70% dos
peixes explotados também fazem parte das capturas da pesca de arrasto, mas neste caso
os indivíduos o de pequeno tamanho e, como discutido anteriormente, em sua maior
parte não apresentam valor comercial. Em estudo realizado no litoral sul paranaense,
Gomes e Chaves (2006) registraram que 35% de espécies de peixes, entre as 61
capturadas em arrastos efetuados localmente, possuíam valor comercial quando em
tamanho adequado. A captura de organismos que não são o alvo da pescaria é um
problema generalizado em escala global, e está associado, principalmente, às pescarias
efetuadas pelo sistema de arrasto de fundo (HAIMOVICI e MENDONÇA, 1996;
ALVERSON, 1997; CATCHPOLE, FRID e GRAY, 2006). No caso específico do litoral do
Paraná, atualmente a maioria das espécies de peixe capturadas nos arrastos como
indivíduos jovens e que tamm apresentam valor de mercado quando adultas, não
apresentam altos índices de captura, apesar disso o real impacto ainda está por ser
dimensionado, mas sem dúvida existe.
Alguns estudos apontam a possibilidade de aproveitamento de uma parcela
variável dos peixes capturados nos arrastos direcionados ao camarão-sete-barbas
(PIKITCH, 1991; LOPES, 1996), mas no caso específico de Superagui tal fato o foi
observado, possivelmente devido às dificuldades de comercialização deste subproduto.
Na frota arrasteira industrial, que apresenta maiores índices de captura, assim como
212
exemplares de peixes de maior porte, o aproveitamento destes é prática comum, e o
índice de desembarque está relacionado à produtividade da espécie alvo (LOPES, 1996).
Assim, deve-se considerar que a captura de peixes que não são o alvo da pescaria
causa impactos negativos sobre a comunidade ictíaca, sobre a economia da pesca e
interfere fortemente nos padrões de alimentação, de reprodução e do tamanho de
populações de aves marinhas que utilizam os rejeitos da pesca como fonte alternativa de
alimento (ORO et al., 2004; TAVECCHIA et al., 2007; FURNESS, EDWARDS e ORO,
2007; BARTUMEUS et al, 2010).
Outra variável que nesse estudo se revelou como importante indicadora das
relações entre os diferentes componentes dos sistemas estudados diz respeito ao
consumo de rejeitos da pesca por aves marinhas, fato atualmente observado em rios
continentes, com destaque para certas regiões da Europa (GARTHE, 1996; FURNESS,
2003; VALEIRAS, 2003). A interação de aves marinhas com a pesca é um tema que tem
sido foco de muitos estudos, principalmente em relação à produção de rejeitos pela frota
pesqueira industrial (FURNESS, ENSOR e HUDSON, 1992, ORO et al., 1996,
GIACCARDI e YORIO, 2004). No Brasil é um assunto que vem sendo explorado com
mais intensidade apenas nos últimos 10 anos (KRUL, 1999; BRANCO, 2001; BRANCO,
2004; KRUL, 2004; CARNIEL, 2008). De uma maneira geral, as estimativas de produção
de rejeitos indicam que esta fonte alternativa de alimento é suficiente para alimentar todas
as aves que consomem peixe em uma determinada região (CAMPHUYSEN e GARTHE,
2000; MARTÍNEZ-ABRAÍN, MAESTRE e ORO, 2002; CATCHPOLE, FRID e GRAY, 2006;
KRUL, 2004). O acesso a uma fonte de alimento previsível, abundante e de baixo
investimento de energia para sua obtenção tem influenciado fortemente algumas
populações de aves marinhas, alterando significativamente a dieta, o comportamento
relacionado à obtenção de alimento, a distribuição e a abundância de algumas espécies
(FURNESS, 1982; YORIO e CAILLE, 2004).
Aqui cabe ressaltar que duas das variáveis que se incluem na discusão referente à
Interação das Aves Marinhas com a Pesca não figuraram entre as dez variáveis mais
representativas do modelo, porém aparecem como elementos importantes para
esclarecer as relações entre as práticas de pesca e sua interação com a biodiversidade e
a saúde. Adicionalmente, estas mesmas variáveis (Dinâmicas da Reprodução de Aves
Marinhas; Perfil geral dos registros de aves no Proamar UFPR) aparecem como
213
relevantes dentro do conjunto de variáveis com maiores valores dentro do componente
pesca (apresentadas anteriormente no Quadro 6).
Assim, os dados do presente estudo também indicaram um forte impacto da oferta
extraordinária de alimento, representada pelos pequenos peixes que são rejeitados a
partir da pesca de arrasto. Atualmente, na costa paranaense pelo menos 13 espécies de
aves incluem rejeitos da pesca em suas dietas, com destaque para ts delas, o atobá
(Sula leucogastar), o tesoureiro (Fregata magnificens) e a gaivota (Larus dominicanus). O
acompanhamento de eventos de descartes na plataforma continental interna paranaense,
produzidos por arrasteiros de pequena escala, revelou que tanto o atobá quanto o
tesoureiro estiveram associados em mais de 90% destes eventos (KRUL, 1999). Da
mesma forma, Carniel (2008) obteve índice superior a 90% de frequência da gaivota
associada ao lançamento de descartes no ambiente de praia na região de Pontal do
Paraná PR. A importância do alimento provido pelos arrasteiros foi quantificada a partir
da coleta e análise de material regurgitado pelas aves, em estudos conduzidos no
arquipélago de Currais e revelou importância surpreendente. Para o atobá o índice de
alimentos provenientes dos rejeitos foi próximo de 75% e para o tesoureiro foi ainda
maior, e representa aproximadamente 90%. Na Austrália, Blaber et al. (1995) estimaram
em aproximadamente 40% a contribuição dos rejeitos da pesca na dieta de trinta-réis-de-
crista (Sterna bergii) e Oro (1996) verificou que a gaivota Larus fuscus obteve 63% da sua
dieta a partir de rejeitos da pesca. A importância do consumo dos rejeitos produzidos em
uma determinada área varia em função do tamanho das populações de aves que
interagem com a pesca, em relação ao tamanho das aves, que influencia o tamanho dos
peixes consumidos, e em relão a adaptações que permitem utilizar com maior ou menor
sucesso o rejeito (GARTHE e HUPPOP, 1998; HILL, 2000; KRUL, 2004).
Devido ao fato da maioria das aves costeiras ingerirem as presas inteiras, a
inclusão dos peixes provenientes do rejeito, especialmente da pesca de arrasto, na dieta
das aves marinhas é favorecida pelo tamanho médio desses rejeitos, de
aproximadamente 10 cm, medida que foi constatada emrios estudos (KRUL, 1999; HILL
e WASSENBERG, 2000; MARTINEZ-ABRAÍN et al., 2002; SÁNCHEZ, DEMESTRE e
MARTÍN, 2004; SANTOS, 2006; SCHWARZ JUNIOR, 2009; PINA, 2009; CATTANI, 2010).
Devido ao fato das aves contarem com uma oferta previsível e abundante de
alimento representada pelos rejeitos, como apresentado acima, é esperado impacto nos
padrões de reprodução destas, e isso foi amplamente detectado em populações que
interagem com a pesca (PIEROTTI e BELLROSE; 1986; ORO, 1996; YORIO e CAILLE,
214
2004). Esse fato foi detectado em populações de aves que interagem com a pesca no
Paraná, sendo observado que o atobá (espécie mais eficiente na captura de rejeitos,
quando estes são disponibilizados em grande volume, como na pesca de arrasto) tende a
investir em reprodução acompanhando a variação sazonal da disponibilidade deste
alimento (KRUL, 1999). Destacando-se que a maior quantidade de aves nidificando em
Currais ocorre entre os meses de fevereiro e maio, com um segundo pico de atividade
entre junho e setembro. O que é coincidente com padrão de captura de camarão
apresentado no mesmo período por KRUL (1999).
Pode-se considerar que atualmente a saúde da população local do atobá está
dependente da disponibilidade de rejeitos, o que se evidencia de forma intensa durante o
período de defeso, onde a oferta de alimentos está reduzida, o que resulta na diminuição
da massa dos ovos e na massa corporal das aves adultas. Durante o período de
inatividade da frota arrasteira se detectou, no Arquipélago de Currais, tamanho
significativamente menor dos ovos do atobá (KRUL, 1999), o que também foi identificado
pelos dados avaliados nesse estudo. Condição semelhante foi detectada na Espanha por
Oro (1996), que observou que o tamanho de ovos de gaivotas, Larus fuscus, foi
significativamente menor durante o defeso, bem como o sucesso reprodutivo da espécie.
Por outro lado, na costa do Paraná, o tesoureiro, F. magnificens, respondeu de
forma diferenciada à inatividade dos arrasteiros, produzindo ovos de tamanho
significativamente maior durante o período de defeso, apesar do alto índice de peixes
provenientes da pesca de arrasto consumidos pela espécie, em torno de 90%. Para
explicar este fato Krul (1999) utilizou a pesca de camarão realizada pela arte de pesca
denominada caceio, direcionada ao camarão-branco e que utiliza rede de ―malha 5‖. Esta
pesca, apesar de ser praticada há mais de 10 anos na região só recentemente foi
regulamentada pela Portaria n°12, de 20 de março de 2003 que permitiu esta pescaria
durante o período em que vigora o defeso.
A pesca de camarão pela arte do caceio tamm gera rejeitos (CARNIEL, 2008),
mas os peixes presentes nestes rejeitos têm tamanho corporal relativamente maior do
que aqueles capturados no arrasto, adicionalmente, a rotina de lançamento dos rejeitos
ao mar é significativamente diferente daquela observada na arte de arrasto, o que acaba
se configurando em uma situação ideal para o tesoureiro. No caso do caceio, o rejeito é
devolvido ao mar em intervalos mais longos e sempre é composto por poucos peixes.
Fato que favorece o tesoureiro, que apresenta um padrão de vôo alto conferindo à
espécie vantagem, em relação ao atobá, na observação desses rejeitos, possibilitando
215
que o tesoureiro chegue antes até a fonte de alimento. Em adição, essa espécie é
considerada como uma das aves de menor peso por unidade de superfície de asa (SICK,
1997), que lhe habilita forragear eficientemente, mesmo em uma área de baixa
produtividade, característica que facilita a adaptação do tesoureiro ao regime de produção
dos rejeitos originados pela pesca por caceio. Por outro lado, o atobá apresenta alto custo
energético para manter o vôo e depende de áreas mais produtivas, o que é similar à
disponibilização concentrada dos rejeitos ao redor das embarcações arrasteiras,
(BALLANCE, PITMAN e REILLY, 1997). Os demais dados reprodutivos de Fregata
magnificens também parecem apontar para uma maior flexibilidade adaptativa da espécie
em relação à oferta de rejeitos da pesca, uma vez que, de acordo com os dados de Krull
(1999), os picos de reprodução observados e de recrutamento de indivíduos jovens da
espécie não apresentaram uma dependência marcada em relação à produção de rejeitos
da pesca de arrasto.
Outra consideração que deve ser feita, quanto à dependência do atobá, Sula
leucogaster, frente à disponibilidade de rejeitos da pesca, refere-se aos dados obtidos no
presente estudo, que demonstram que atos adultos, em reprodução no Arquipélago de
Currais, apresentaram variações na condição corporal, estando essa diferença
positivamente correlacionada à atuação da frota na pesca de arrasto. Nessa espécie se
registrou uma massa corporal média menor (1.241,6 ± 170,3 g) no início do mês de
janeiro, o que provavelmente está relacionado à menor atividade da frota arrasteira entre
outubro e dezembro. Por outro lado, uma massa corporal média significativamente maior
(1.411,5 ± 199,1 g) foi observada em agosto. Quando confrontamos esses dados com a
produção de camarão na comunidade do Superagui no ano de 2009, destaca-se que a
maior captura de camarão e produção de rejeitos ocorreu exatamente nos meses de
junho e agosto, o que em uma estimativa conservadora pode ter gerado nesses três
meses uma produção total de rejeitos na ordem de 70 toneladas. Em outros estudos, o
maior investimento em pesca de arrasto nesse período tem sido considerado uma
resposta ao período de inatividade da frota entre março e maio, por conta do defeso
(SCHWARZ JUNIOR, 2009).
A alta produtividade de rejeitos no período justifica a maior massa corporal das
aves capturadas em Currais no mês de agosto de 2009, tendo em vista que os dados
indicam que a espécie consome em torno de 75% de alimentos provenientes dos rejeitos.
Por outro lado, entre outubro e dezembro de 2009, a produção de rejeitos na comunidade
do Superagui foi de aproximadamente 30 toneladas para o período. Tendo em vista que
216
os atobás avaliados nesse estudo foram capturados no início de janeiro de 2010, a menor
massa corporal das aves nessa amostragem pode ser interpretada como um reflexo da
menor oferta de rejeitos da pesca na costa paranaense ao final de 2009. Para essa
avalião, em particular, os dados de produtividade referentes à pesca de camarão
realizada pelos pescadores de Superagui servem perfeitamente como uma aproximação
ilustrativa da atividade e da produtividade de toda a frota camaroeira artesanal em
atividade na costa paranaense, isso por que o perfil sazonal de atividade dessa frota é
regido, basicamente, pelo período de defeso e por condições climáticas.
Outros estudos utilizaram dados morfológicos de aves marinhas, incluindo massa e
condição corporal, como indicadores da saúde da população e do ecossistema, avaliando
tamm dessa forma o impacto de contaminantes e outras alterações no ambiente, que
podem levar à alteração da dieta produzindo efeitos sobre as condições corporais das
aves (MALLORY et al., 2010; ROBERTSON, REED E GILCHRIST, 2001; WAYLAND,
2002). A composição da dieta também tem sido indicada como outro fator importante,
que pode afetar a saúde dos indivíduos bem como sustentabilidade das populações,
principalmente produzindo impactos na reprodução e na sobrevivência de adultos
(HEBERT et al., 2002, HEBERT et al. 2008; BRETON, FOX, E CHARDINE, 2008).
Assim, é possível afirmar que as mudanças artificiais na composição na dieta, bem
como as flutuações na oferta de alimentos decorrentes da atividade da frota pesqueira,
podem se manifestar de forma significante nos índices de sobrevivência de adultos e
filhotes. Bem como do sucesso reprodutivo e na saúde populacional de algumas espécies
de aves marinhas no litoral do Paraná, sobretudo aquelas que incluem altos índices de
peixes provenientes dos rejeitos da pesca nas suas dietas.
Entre as variáveis que serviram como indicadoras das interações entre atividade
pesqueira, interações das aves com a pesca e saúde das aves marinhas, ressaltam-se
finalmente os dados resultantes da avaliação do perfil de registros de recebimento de
Sula leucogaster, Larus dominicanus e Fregata magnificens no Centro de Estudos do Mar
(CEM), disponibilizados pelo Proamar Projeto de estudos e recuperação de aves,
mamíferos e répteis, que abordaram o período entre 1992 e 2009.
Inicialmente, devem-se ressaltar os dados referentes à distribuição dos registros de
entradas das três espécies no Proamar. Durante os períodos de defeso, compreendidos
pela série histórica de dados, o projeto recebeu aproximadamente 37% do total de atobás
atendidos, o que representa 12% a mais do que o esperado para uma distribuição anual
normal, considerando-se que o peodo de inatividade da pesca de arrasto durou no
217
máximo três meses a cada ano. Nesse conjunto de dados, deve-se ressaltar a massa
corporal média dos atobás recebidos no Proamar, que foi de 977,39 175,01) g, ao
passo que a massa média da população amostrada em Currais foi de 1.308,5 (± 198,0) g,
o que significa que os animais recebidos no CEM, na sua maioria, apresentavam-se
extremamente magros ou magros. Adicionalmente, 82% dos animais recebidos no
Proamar foram registradas como em estado de apatia, exaustão, ou com perda de massa
corporal, sinais que podem ser interpretados como indicativos de déficit alimentar.
Por outro lado, apenas 17% dos tesoureiros foram recebidos durante o período de
defeso, o que é mais um indicativo da associação desta ave com a pesca de camarão-
branco pela arte caceio. Do mesmo modo, o número total de tesoureiros recebidos pelo
Proamar representou apenas 11% da quantidade total de atobás recebidos pelo projeto,
embora o tamanho local das duas populações seja equivalente. Novamente
demonstrando que as adaptações particulares do tesoureiro, representadas pela
morfologia altamente adaptada ao vôo planado com mínimo gasto de energia,
provavelmente conferem vantagens de sobrevivência à espécie em condições em que a
oferta artificial de alimento é reduzida.
A gaivota, Larus dominicanus, é reconhecidamente generalista e oportunista,
obtendo vantagens de fontes de alimento resultantes de atividades antrópicas, como os
descartes de pesca (YORIO et al., 1998). No entanto, apesar da plasticidade relacionada
à obtenção de alimento, o Proamar recebeu 37% do total de gaivotas durante o período
de defeso, tamm acima do esperado para uma distribuição anual normal. Esse fato
pode estar relacionado, com uma menor oferta de rejeitos na praia onde a gaivota obtém
a maior parte do seu alimento (CARNIEL, 2008), ou tamm a alteração na rotina de
tratamento desses rejeitos. Nos meses de alta temporada, de dezembro a fevereiro, os
pescadores não lançam os rejeitos da separação e limpeza do pescado diretamente na
praia, devido à presença de veranistas, o que deve reduzir a oferta alimentar no
entremarés e influenciar a condição corpórea destas aves neste período pré-defeso.
Dessa forma, os dados obtidos permitem considerar que houve um aumento no
recebimento dessas três espécies de aves marinhas no Proamar, durante a vigência dos
períodos de defeso, o que seria de se esperar, pois a oferta de rejeitos apresenta-se
reduzida nesses períodos.
Contudo, a observação mais expressiva que se refere ao impacto direto das
práticas de pesca sobre a saúde dos indivíduos, e por extensão da saúde da população
local de aves marinhas, pode ser identificada ao se confrontar os dados sazonais da
218
produção de camarão e rejeitos, tendo como base a produtividade aferida na comunidade
de Superagui, com os dados referentes à sazonalidade dos registros de aves recebidas
pelo Proamar (Figura 137). A observação conjunta dos dados destas duas variáveis
demonstra uma associação inversa bem definida, entre produtividade do camarão e a
saúde de gaivotas e atobás. Os períodos de menor produção de rejeitos, em decorrência
do defeso, se sobrepõem perfeitamente aos períodos onde maiores quantidades de
indivíduos, dessas duas espécies, apresentaram problemas de saúde e foram
encaminhados ao Proamar.
Figura 137: Linha de tendência do recebimento sazonal de aves no CEM, entre os anos
de 1992 e 2009 e linha de tendência de captura sazonal de camarão-sete-barbas com
base nos dados de Superagui 2009.
Adicionalmente, deve considerar-se que o menor número de encaminhamentos de
indivíduos ao Proamar ocorreu entre os meses de maio e outubro, período que se
sobrepõe ao pico de recrutamento de indivíduos jovens de S. leucogaster, que ocorre
entre junho e setembro. Isso pode indicar que mesmo a grande quantidade de indivíduos
mais jovens, os quais representam a parcela da população mais suscetível à mortalidade,
não gerou um desvio na curva de indivíduos recebidos. Essa constatação reforça as
considerações sobre a influência da disponibilidade de rejeitos sobre a população local do
atobá, indicando uma grande suscetibilidade e dependência em relação a essa fonte
alternativa de alimento. O que leva a considerar que a espécie está mais dependente ou
219
suscetível às oscilões na produtividade pesqueira, do que às condições de clima e
sazonalidade, ou outros fatores naturais que deveriam definir as oscilações populacionais
da espécie.
Em última instância, os dados sobre o recebimento de aves no Centro de Estudos
do Mar da UFPR representam a finalização de uma cadeia de interações entre práticas
materiais, aplicadas sobre os recursos naturais, que geram respostas ecológicas e
consequências para saúde das populações de aves marinhas. Deve-se ainda considerar
que essa interação representa a finalização de uma cadeia de eventos, principalmente
porque o perfil clínico geral das aves recebidas pelo Proamar indica que aqueles
indivíduos, sem apoio terapêutico e nutricional fornecido durante o processo de
reabilitação, certamente não teriam condições de sobrevivência no ambiente.
Dessa forma, ao se analisar a distribuição das dez variáveis que melhor
expressaram as relações entre os componentes do modelo, levando em consideração a
discussão apresentada acima, é possível determinar um padrão entre essas relações,
onde se observa uma sequência de interações que se inicia com a variável ―Tamanho da
paisagem. Esta variável produz influência direta sobre três outras variáveis: A frota; As
artes de Pesca e A riqueza e abundância de produtos pescados (Figura 138). Estas por
sua vez apresentam uma sequência de influência linear entre elas, onde a frota influencia
as artes de pesca, que por sua vez influenciam a abundância e riqueza dos produtos
pescados. Adicionalmente, estas três variáveis influenciam mutuamente outra sequência
de três variáveis: A produção de rejeitos; Os impactos desses rejeitos sobre o sistema; e
A interação das aves marinhas com a pesca. Nesse grupo as variáveis se relacionam
entre si da mesma forma que o grupo anterior apresentando tamm da mesma maneira
inter-relações mútuas com as últimas três variáveis: Diversidade da dieta das aves
marinhas; Massa corporal das aves marinhas; e Massa dos ovos das aves marinhas. As
quais, finalmente apresentam a mesma relação linear observada entre as variáveis
anteriores.
220
Figura 138: Diagrama das inter-relações observadas entre as dez variáveis
mais expressivas dentro do modelo de estudo.
O grau de inter-relações observado acima demonstra grande consistência entre os
dados levantados, bem como a capacidade do modelo identificar as inter-relações entre
Saúde, Biodiversidade, Pesca e Paisagem, providenciando uma expressão ordenada dos
mecanismos que geram as relações de influência e resposta a partir das práticas
materiais observadas nos sistemas socioambientais em que foi aplicado.
6.1.2 A Saúde e a Diversidade de Aves Florestais, a Paisagem Terrestre e o
Extrativismo
Avaliando-se as variáveis que tiveram maior influência dentro de cada um dos
quatro componentes do modelo foram identificadas 24 variáveis que se mostraram como
mais relevantes na identificação das relações entre os diferentes componentes em
estudo. Entre estas, 12 variáveis apareceram como boas indicadoras do estado de dois
ou três componentes do modelo, indicando tamm a interação entre eles. Como
esperado, as 10 variáveis que se destacaram anteriormente, como aquelas com maiores
221
valores na interação entre todos os componentes do estudo, apareceram novamente
nesse conjunto de variáveis.
No componente Paisagem houve equilíbrio entre as variáveis que se destacaram
tanto no meio terrestre quanto aquático, condição esperada devido ao fato deste
componente estar intimamente relacionado ao espaço físico onde se estabelecem os
sistemas socioambientais em estudo. Dentro do componente paisagem as duas variáveis
com os maiores valores estão associadas às aves florestais e se referem à riqueza, à
abundância relativa e à ocupação de guildas. Dentro do componente saúde essas
mesmas variáveis assumem tamm valores relevantes.
Foram detectadas variações significativas e um gradiente definido em relação à
riqueza de aves nas três áreas avaliadas, com a maior média do número de espécies por
censo obtida na área controle e a menor na comunidade de Superagui. Da mesma forma,
de uma maneira geral, o número médio de indivíduos por censo nas três áreas seguiu o
mesmo padrão do número de espécies. Considerando apenas as duas comunidades
pesqueiras avaliadas, algumas das características da paisagem foram marcadamente
diferentes, assim como os índices de riqueza, de abundância relativa e de ocupação de
guildas evidenciam diferenças bem definidas.
Os menores índices de riqueza e abundância relativa das aves nessas
comunidades se mostraram fortemente associadas a cinco variáveis: 1) o maior tamanho
das comunidades; 2) a maior densidade de moradias; 3) a menor expressão do sub-
bosque; 4) a maior presença de trilhas na floresta e evidências de captura de animais; e
5) maior população de animais domésticos, que foram condições predominantes na
comunidade de Superagui, quando comparada ao Ararapira. Cabe ressaltar que algumas
das variáveis acima não se destacaram nas duas matrizes que evidenciaram os principais
indicadores das interações entre os componentes do modelo. Isso por se tratarem de
variáveis relacionadas diretamente com a biodiversidade de aves do ecossistema
florestal, as quais tiveram seus valores finais diluídos entre outras que demonstraram
maior grau de interação. Contudo, a inclusão delas nessa discussão se faz necessária,
pois algumas representam um elo importante nas inter-relações identificadas pelo estudo.
A biota nativa da área de influência das comunidades sofreu pressão decorrente
das práticas materiais executadas pelos seus moradores, o que foi mais evidente em
Superagui. As variáveis relativas ao uso de recursos naturais e a densidade populacional
de animais domésticos, podem ser discutidas em um conjunto, pois indicaram
perturbações que não puderam ser quantificadas quanto a sua intensidade. Nesse estudo
222
não se observou qualquer impacto direto de animais domésticos sobre a biodiversidade.
Da mesma forma, a amostragem nesse trabalho não foi direcionada para quantificar o
impacto do corte de vegetação e da presença de trilhas, ou ainda da presença dos
animais domésticos e captura de animais selvagens, sobre a população de aves
associadas aos ecossistemas florestais.
Assim, apesar da presença de sinais da captura de aves e do uso das trilhas ser
bastante expressiva na comunidade do Superagui, estes dados devem ser observados,
dentro do modelo de estudo, apenas como indícios da atividade de caça ou extrativismo e
foram utilizados apenas para caracterizar e comparar as duas localidades. Impactos
negativos associados a processos de urbanização são documentados, tanto sobre aves
quanto sobre invertebrados (POSA e SODHI, 2006), assim como foram observas
correlações negativas, em escala local, entre altas densidades populacionais de humanos
e mero de espécies e de indivíduos de aves (PAUTASSO, 2007; LUCK, 2007). No
entanto, de acordo com estes mesmos autores, em maior escala, considerando uma
nação ou na esfera global, a correlação entre densidade populacional humana e
biodiversidade pode ser positiva, devido à tendência de agregação das sociedades
humanas em ecossistemas mais produtivos, onde em geral também maior
biodiversidade. Da mesma forma, a heterogeneidade ambiental é um fator que influencia
positivamente a biodiversidade de uma forma geral num determinado local (CONNOR e
McCOY, 1979; CONNOR e SIMBERLOFF, 1983).
Os ecossistemas naturais m sofrido perturbações causadas por espécies
exóticas e ferais, incluindo cães, gatos, cavalos, porcos e outros vertebrados domésticos
(GALETTI e SAZIMA, 2006; BUTLERA, TOIT e BINGHAMC, 2004). Embora os gatos e
cães ferais tenham sido registrados em muitas unidades de conservação do Brasil, seus
efeitos sobre a vida selvagem nativa não são avaliados, e o impacto dos gatos e cães
ferais não tem sido avaliado cientificamente (GALETTI e SAZIMA, 2006). Os gatos ferais
são reconhecidamente uma fonte importante de impacto sobre as populações de aves e
foram apontados como a causa principal do declínio de espécies em diferentes locais no
mundo (GALETTI e SAZIMA, 2006; COLEMAN e TEMPLE, 1993; LIBERG, 1984). Porém,
não há dados publicados sobre o impacto dos cães e gatos ferais sobre os vertebrados
das florestas neotropicais, mas sabe-se que cães e gatos têm um alto impacto,
capturando diversos grupos de vertebrados. (GALETTI e SAZIMA, 2006). No oeste da
Austrália, uma população de gatos ferais foi responsável pela captura de 700 répteis, 150
aves e 50 mamíferos nativos por km
2
ao ano (READ e BOWEN, 2001). Em um fragmento
223
florestal em Campinas SP, Galetti e Sazima (2006), observaram que cães ferais
abateram 46 indivíduos, de 12 espécies de vertebrados, em um intervalo de 44 meses, o
que significou o captura de uma biomassa estimada de 98,39 kg, o que indica que os
cães ferais abateram daquele ambiente em torno de 26,83 kg de animais ao ano.
Dessa forma, apesar de o ser observado durante as atividades de campo deste
estudo nenhum indício de impacto direto de animais domésticos sobre a fauna selvagem,
é certo que esse impacto ocorre. Levando em consideração que o perfil da fauna
doméstica é diferenciada entre as duas comunidades, tendo Superagui uma maior
densidade animal, é possível também afirmar que o impacto da fauna doméstica sobre os
animais selvagens é diferente entre as áreas de estudo, sendo provavelmente menor no
Ararapira. Da mesma forma, os indícios de captura de aves, que estiveram presentes
apenas no Superagui, e do uso de outros recursos da fauna e da flora foi menos intenso
no Ararapira, Isso indica pressões desiguais sobre o uso desses recursos nas duas
comunidades, estando a biodiversidade dos arredores do Superagui sob maior pressão
de atividades extrativista e dos animais domésticos.
Sobre a diversidade de aves florestais deve-se ressaltar inicialmente que o
entendimento dos efeitos das modificações ambientais sobre a biota pode ser facilitado ao
se avaliar a guilda das espécies envolvidas, pois este procedimento agrupa espécies que
apresentam adaptações semelhantes e se configura num tema amplamente estudado
(WILLIS 1974, 1979, KARR 1982, FAABORG 1985, ANJOS e LAROCA 1989,
BIERREGAARD e LOVEJOY 1989, BIERREGAARD 1990, ANJOS 1992, 1994, ALEIXO e
VIELLIARD 1995, MORAES, 1998). No presente estudo foi marcante a diferença em
relação à composição de cinco guildas, onde se detectou um gradiente bem definido, com
maior número de espécies por guilda na área controle e o menor na comunidade de
Superagui. Essa diferença foi representada por quatro guildas que incluíram os
predadores de invertebrados em troncos; predadores de invertebrados no estrato médio
ou inferior; predadores de invertebrados no estrato inferior ou herbáceo; e consumidores
de néctar em todos os estratos. As aves que compõem essas quatro guildas são
reconhecidamente mais sensíveis às perturbações em seus bitat e efeitos similares
foram detectados em outros estudos (WILLIS, 1979; ALEIXO e VIELLIARD, 1995;
SOARES E ANJOS, 1999). Por outro lado, a quinta guilda que demonstrou a diferença
entre os locais de estudo, foi representada pelos consumidores de sementes no solo e
estrato herbáceo, e foi observada somente nas comunidades pesqueiras, o estando
224
presente na área controle. Essa guilda agrega espécies granívoras oportunistas e as
alterações antrópicas sobre a paisagem beneficiam esse grupo de aves, pois a presea
de gramíneas diversas, inclusive exóticas, promove uma farta oferta de alimento, assim
como verificado por ANJOS (1998) no norte do Paraná.
No presente estudo, a representatividade de aves consumidoras de frutos,
sementes e insetos em todos os estratos foi similar em todas as áreas estudadas. Esse
fato está associado ao menor porte da maioria destas aves que apresentam facilidade em
obter recursos, tanto em áreas perturbadas quanto em pequenos fragmentos (ANJOS,
1998). Aves consumidoras de frutos e sementes nos estratos médio e superior da floresta
estiveram representadas nas três áreas, com discreta dominância na área controle. Esse
resultado contrasta com os obtidos por outros autores em pequenas áreas de floresta,
nesse sentido, Bierregaard e Lovejoy (1988) mencionam a falta de frugívoros em
fragmentos florestais muito pequenos isolados na Amazônia. Entretanto, Willis (1979) e
Anjos (1998), apontam a grande capacidade de deslocamento apresentada por estas
aves, que podem procurar alimento por uma extensa área, e dessa forma explorar
fragmentos que não estejam muito distantes uns dos outros. No presente estudo as
condições de vegetação, dentro das vilas avaliadas, podem ser consideradas como um
mosaico de pequenos fragmentos e árvores isoladas, contudo estes não se distanciam
demasiadamente entre si, ou das áreas florestadas adjacentes, possibilitando que estas
aves transitem pela paisagem, de forma similar entre as duas comunidades. De uma
maneira geral, a composição da comunidade biótica em determinada área é dependente
da variação da extensão e da intensidade dos distúrbios provocados no ambiente, bem
como de interações sinérgicas entre essas alterações. Contudo, a capacidade das
espécies em se adaptar e utilizar o mosaico de hábitat criados pelo homem, tamm é
determinante na definição do perfil biótico em áreas antrópicas (WELTY e BAPTISTAL,
1962; LAWTON et al., 1998). Portanto, são esperadas diferentes respostas das diferentes
espécies. Porém, com base nas considerões efetuadas acima, e nos dados obtidos
nesse estudo, é certo que o incremento da pressão demográfica sobre os hábitat
florestais pressiona as espécies mais especializadas, favorece aquelas generalistas e
leva à significativa perda de biodiversidade em decorrência das alterações antrópicas nas
duas comunidades em estudo, tanto quando estas são comparadas entre si como quando
comparadas à área controle.
225
Outras inferências podem ser feitas com base nos dados da diversidade de aves
quando se avaliam estes em conjunto com os dados de saúde animal. Inicialmente, não
se observou diferença significativa entre o número de aves consideradas saudáveis ou
com problemas clínicos nas duas comunidades em estudo. No entanto, deve se ressaltar
a possibilidade desse resultado não ter se mostrado significativo devido ao número de
aves amostrado no Ararapira, que foi baixo. Contudo, as aves avaliadas no Ararapira
apresentaram como principais problemas de saúde, basicamente, baixo escore corporal e
lesões cutâneas decorrentes de processos parasitários. Por outro lado na comunidade do
Superagui as aves avaliadas demonstraram uma diversidade maior de problemas clínicos,
apresentaram problemas não observados nas aves no Ararapira, como por exemplo, uma
alta prevalência de estertores respiratórios, com diferentes graus de comprometimento
dos sacos aéreos. Adicionalmente, no Superagui as alterações do perfil hematológico
foram expressivamente maiores do que no Ararapira e indicaram a presença de
processos inflamatórios ou infecciosos, bem como a presença de uma maior diversidade
e abundância de hemoparasitos.
Outra variável que se mostrou relevante na avaliação da saúde das aves
capturadas nas duas comunidades refere-se ao grau de infestação por ectoparasitos, que
teve como prevalência uma baixa infestação em ambos os locais. Porém, deve
considerar-se que na comunidade do Ararapira 17,7% das aves amostradas estavam
livres de ectoparasitos, ao passo que na comunidade do Superagui apenas 11,8% das
aves não se apresentavam parasitadas.
Cabe aqui ressaltar que, no modelo empregado neste estudo, a presença e a carga
de ectoparasitos, ou ácaros, não foi considerada como um problema clínico nas aves
avaliadas. Nas observações de campo houve situações onde alguns indivíduos, mesmo
com altas cargas de ácaros nas penas, ou mesmo outros com baixo grau de infestação,
não apresentaram quaisquer sinais de alteração durante a inspeção físico-clínica. Na
ausência de sinais de comprometimento da normalidade orgânica, frente aos parâmetros
de avaliação dermatológica, oftálmica, oral, respiratória e da condição corporal, fortes
indicadores de sanidade, esses pacientes foram considerados saudáveis.
Essa opção se justifica amplamente tamm com base em dados de literatura que
corroboram o fato de que a presença desses ectoparasitos nas aves, apesar de
potencialmente patogênica, não é necessariamente causa de doença. De fato, muitas
espécies de parasitos coexistem com as aves hospedeiras sem causar alterações
patológicas, processo dado por relações de longa duração entre espécies de parasitos e
226
hospedeiros, que geralmente causam infecções benignas (GREINER e RITCHIE, 1994).
Outro fator relevante é que nem todas as espécies de ácaros observadas nas aves
podem ser consideradas como parasitos, pois ocorrem espécies que são parasitos
ocasionais, outras são saprófitas, mutualistas, simbióticas e algumas podem até ser vistas
como competidoras por alimento. Como é o caso dos ácaros, dos gêneros Proctolaelaps
e Rhinoseius, associados ao trato respiratório dos beija-flores, que não podem ser
classificados como parasitos, pois apenas usam essas aves como meio de deslocamento
entre flores, alimentando-se tamm de néctar (PROCTOR e OWENS, 2000).
Adicionalmente, outros estudos indicam que pode não haver uma boa correlação entre a
condição corporal de passeriformes de vida livre e sua carga de ectoparasitos (MARINI et
al. 1996; HARPER, 1999). Existem tamm muitos indícios de que os ectoparasitos, ou
ácaros, de aves de vida livre correspondem a um grupo que apresenta alto grau de
adaptação ao hospedeiro e que estas adaptações se desenvolveram em processos de
coevolução, o que leva a considerar que os processos de interação entre parasitos e
hospedeiros tendem a relações pouco espoliativas, sendo que parasitos obrigatórios,
ou ocasionais, pertencentes a grupos taxonômicos muito próximos de ácaros simbióticos
(PROCTOR E OWENS, 2000; FAIN, 1994; BEHNKE et al. 1995). Finalmente, pouco
entendimento sobre a ecologia das espécies, e da dependência desses parasitos frente
às condições ambientais e climáticas, o que pode ser o fator de mudança nas taxas de
infestação em diferentes períodos do ano, ou ainda sobre as inter-relações específicas
entre ácaros, parasitos propriamente ditos, e seus hospedeiros (MARINI et al. 1996;
PROCTOR E OWENS, 2000; FAIN, 1994; BEHNKE et al. 1995; OWEN et al. 2009;
HARPER, 1999), o que impossibilita até mesmo utilizar um padrão taxonômico para
considerar determinados parasitos como certamente patogênicos para determinados
hospedeiros.
Por outro lado, apesar da relação entre ectoparasitos e aves não ser
necessariamente patogênica, deve-se ressaltar que nesse estudo, em algumas situações
de campo se observou ácaros causando alterações clínicas como problemas dérmicos,
lesões inflamatórias e até mesmo abscessos cutâneos. Nessas situações, a confirmação
do dano parasitário se fez evidente. Contudo, as aves que apresentaram esses sinais
foram classificadas como portadoras de problemas clínicos não pela presença dos ácaros
parasitos, mas sim pelas lesões de pele.
Cabe ainda ressaltar que ampla literatura apresentando uma grande variedade
de problemas clínicos associados aos ectoparasitos, em aves de vida livre, ou em
227
cativeiro. Incluindo problemas como anemia, paralisia, transmissão de agentes
patogênicos como vírus, riquétsias e protozoários, sinusite, óbito por obstrução
respiratória, prurido, alterações de comportamento, formação de abscesso cutâneo e do
folículo da pena, danos à integridade da plumagem, perda de penas, dermatite,
hipercetarose e fissuras cuneas, redução de capacidade reprodutiva, parada no
processo de incubação dos ovos ou criação dos filhotes, retardo no desenvolvimento de
filhotes, perda de peso, aumento da mortalidade em populações, bem como podem estar
associados com eventos de declínio populacional em algumas espécies (GREINER E
RITCHIE, 1994; MARINI et al. 1996; HARPER, 1999; PROCTOR e OWENS, 2000;
OWEN et al. 2009). Assim, pode se considerar que as manifestações de quadros
patogênicos, em decorrência de infestações parasitárias, são mais prováveis de ocorrer
quando uma espécie de ectoparasito consegue infectar uma ave imunologicamente
despreparada (como, por exemplo, uma nova espécie hospedeira), o que possibilita o
desenvolvimento de quadros patogicos crônicos, ou até agudos (GREINER e RITCHIE,
1994.).
Diante de tais observações sobre a amplitude e complexidade das relações entre
parasitos e hospedeiros deve-se considerar que dentro do modelo proposto de estudo, a
avalião do grau de infestação por ectoparasitos serviu como um parâmetro comparativo
entre as duas áreas de estudo. Da mesma forma, o parâmetro não serve como base de
inferências sobre as relações ecológicas entre espécies ou da patogenicidade do parasito
sobre o hospedeiro, e deve ser observado apenas como um parâmetro dentro do
componente saúde, o qual se relaciona estreitamente com os dados de diversidade
biológica.
Ao se avaliar os resultados referentes ao grau de infestação e o estado clínico das
aves, observa-se diferenças entre as duas comunidades. As aves capturadas na
comunidade do Ararapira que não apresentaram sinais de anormalidade clínica tiveram
grau de infestação por ectoparasitos significativamente menor. Porém, na comunidade do
Superagui a diferença no grau de infestação por ectoparasitos entre aves com estado de
saúde normal e aquelas com alterações clínicas não foi significativa. Assim, pode-se
considerar que na comunidade do Superagui o maior ou menor grau de parasitismo não
influenciou de forma significativa o estado geral de saúde dos indivíduos amostrados. Ao
passo que na comunidade do Ararapira houve uma diferea significativa, onde as aves
mais saudáveis possuíam menores graus de infestação por ectoparasitos. O que pode ser
resumido como uma relação mais forte entre parasitismo e doença no Ararapira e uma
228
relação menos evidente dessa interação no Superagui. Cabe ainda ressaltar que, como
foi descrito anteriormente, tais relações não se evidenciam pela carga parasitária das
aves ou pela diversidade de parasitos presentes em cada um dos locais amostrados, mas
apenas quando se observa o perfil das alterações clínicas nas aves dos dois locais.
Essas diferenças podem ser dadas, sobretudo, por alterações no perfil das
relações de patogenicidade entre parasito e hospedeiro nas duas áreas de estudo, o que
poderia ser decorrente tamm das mudanças na distribuição de aves dentro das guildas,
bem como da sua riqueza e abundância, mudanças ecológicas originadas principalmente
das alterações na paisagem.
Outro aspecto que foi significativamente diferente entre as áreas de estudo é a
diversidade de ectoparasitos observada nas duas comunidades de aves. Os parasitos
prevalentes encontrados nesse estudo pertenceram aos gêneros Pterodectes e
Trouessartia e a família Trombiculidae, os mesmos morfotipos observados em outros
estudos sobre o perfil de ectoparasitos de aves na Floresta Atlântica (RODA e FARIAS,
1999; MARINI et al. 1996). No Superagui observou-se uma maior diversidade de
parasitos, representados por 16 grupos taxonômicos distintos de ectoparasitos e três de
hemoparasitos. Ao passo que na comunidade do Ararapira, apesar da maior diversidade,
abundância e número de guildas de aves, o número de espécies de parasitos foi
significativamente menor, estando presentes apenas seis espécies de ectoparasitos e
uma de hemoparasito.
Esse resultado pode ser aparentemente contraditório, pois um maior número de
espécies de aves deveria representar uma maior diversidade de parasitos, considerando
as relações de especificidade entre parasitos e hospedeiros apresentadas por alguns
autores (PROCTOR E OWENS, 2000; MARINI, et al. 1996; FAIN, 1994; BEHNKE et al.
1995).
Contudo, o aumento do mero de espécies de ectoparasitos não significou maior
grau de infestação nas aves do Superagui, e sim um efeito de diluição e redistribuição dos
parasitos entre as guildas de hospedeiros. O que pode ser evidenciado pelo morfotipo
Trombiculidae que teve prevalência relevante em seis guildas de aves capturadas no
Ararapira, representando 35,29 % dos ectoparasitos coletados naquela localidade. Por
outro lado, o mesmo morfotipo teve prevalência muito pouco expressiva representando
somente 5,67% dos ectoparasitos coletados no Superagui, estando presente em apenas
três guildas. Acentuando as diferenças entre as localidades, observa-se a guilda dos
―consumidores de néctar de todos os estratos‖ que abrigou apenas 5,88 % dos parasitos
229
observados no Ararapira, ao passo que no Superagui esta guilda respondeu por 21,16%
dos ectoparasitos coletados. A situação inversa foi evidenciada na guilda dos ―predadores
de invertebrados no estrato inferior ou herbáceo‖, que abrigou 11,76 % dos parasitos
observados no Ararapira, ao passo que no Superagui esta guilda respondeu apenas por
5,76% dos ectoparasitos observados. As duas guildas citadas aqui também se
destacaram dentro do conjunto das cinco guildas que foram mais significativas para
demonstrar as diferenças no perfil das aves entre as áreas de estudo.
Cabe ainda ressaltar que am do menor número de espécies de parasitos no
Ararapira foi possível tamm observar, naquele local, uma correlação mais forte entre a
presença de parasitismo e doença. Essa relação não foi significativa no Superagui, e
pode representar uma diferenciação do perfil das relações de patogenicidade entre
parasito e hospedeiro nas duas áreas de estudo, o que poderia estar relacionado com
mudanças nos nichos ecológicos desses parasitos, ocorridas em decorrência da
redistribuição das guildas, da riqueza e da abundância das aves, mudanças promovidas
pelas alterações da paisagem.
Em linhas gerais, o conjunto dos resultados de Paisagem, Biodiversidade e Saúde
demonstrou que o maior tamanho da comunidade pesqueira esteve associado a maiores
níveis de fragmentação da vegetação e de supressão do sub-bosque, o que por sua vez
influenciou negativamente com a riqueza de espécies e a representatividade das guildas
de aves, na comunidade do Superagui. Essa diminuição na riqueza de aves foi
acompanhada pelo aumento na diversidade de ectoparasitos, por um ligeiro aumento na
prevalência de aves parasitadas e, também, por uma mudança nas relações que
determinam a prevalência dos táxons de parasitos entre as guildas de aves amostradas
no Superagui.
Essa relação inversa entre a diversidade de parasitos e de aves só pode ser
esclarecida frente à observação conjunta de algumas variáveis discutidas acima. As
condições de distribuição da vegetação, aliadas à pressão sobre as áreas adjacentes às
vilas, a captura de aves e, até mesmo, o perfil da fauna doméstica contribuem para alterar
o perfil da comunidade de aves nas duas áreas, promovendo uma nova distribuição das
espécies de aves e suas guildas. Essa nova distribuição de aves é possivelmente o fator
que gerou condições ecológicas que permitiram que um maior número de táxons de
parasitos se estabelecesse na área da comunidade do Superagui. Esse realce na
comunidade de parasitos pode estar presente em consequência direta de interações
230
ecológicas resultantes de mudanças nas relações de competição por recursos entre
espécies de aves e/ou parasitos; diferentes graus de estresse ambiental; efeitos de
hospedeiros amplificadores
2
; pela adaptação dos parasitos a novos hospedeiros (spill-
over
2
). Adicionalmente, corroborando as observações feitas acima, Epstein (2002) cita
como causa para o surgimento de doenças, principalmente entre as populações de aves,
uma dominância de espécies generalistas sobre as especialistas, o que pode elevar a
prevalência e a dispersão de patógenos, pois em geral as espécies generalistas são mais
tolerantes as infecções.
Considerando que o ambiente na comunidade do Ararapira também sofre pressões
antrópicas, porém em menor grau, é possível ponderar, ainda que de forma especulativa,
que as relações entre biodiversidade e saúde se encontram em diferentes estágios de
mudança em cada localidade. Assim, poderia se considerar que Superagui encontra-se
em um estágio mais avançado, ou de mudança mais intensas, decorrente principalmente
das diferenças na qualidade e intensidade das alterações produzidas na paisagem, que
por sua vez ocorrem em razão do tamanho das comunidades e do perfil das práticas
relacionadas ao ambiente, no interior da vila e suas adjacências.
Em síntese, o conjunto de variáveis expostas acima indicou que as espécies de
aves, seu estado de saúde e os parasitos presentes nessas aves, sofreram um rearranjo
significativo entre as duas comunidades estudadas, o que foi representado principalmente
por mudanças na diversidade e abundância relativa desses dois grupos biológicos.
Contudo, essa mudança acarretou uma relação inversa onde a menor diversidade de
aves foi acompanhada por uma maior diversidade de parasitos e um pior estado geral de
saúde da população de aves. Essas mudanças em diversidade, abundância e saúde de
grupos biológicos foi também acompanhada por uma intensa mudança na forma como as
comunidades de pescadores expressam suas práticas na paisagem terrestre, sobretudo
no uso do espaço e dos recursos naturais.
Finalmente, uma análise dos dados apresentados possibilita afirmar que a
população de aves na comunidade do Ararapira apresentou maior diversidade e estava
mais saudável do que no Superagui. Porém, essa afirmação pode ser feita quando se
observa o conjunto das variáveis, levando em conta, perfil do uso da paisagem;
2
O processo denominado na literatura inglesa comospill-over refere-se à situação onde um agente etiológico infecta um novo
hospedeiro e tornar-se adaptado a esse, sobretudo em decorrência de epidemia que amplifica a população de agentes infectantes.
Mudanças nas condões ambientais podem facilitar o trânsito e a capacidade de adaptação dos microorganismos a novos
hospedeiros, e até mesmo o aumento da capacidade patogênica para um antigo hospedeiro. A quebra de barreiras ambientais
naturais, proporcionando maior proximidade entre diferentes hospedeiros, pode ser considerada como um dos fatores predisponentes
a adaptação do agente infeccioso a um novo nicho. O termo pode ser traduzido como ―derramamento do patógeno‖, referindo-se à
situação onde uma população de hospedeiros altamente suscetíveis ao agente patogênico (hospedeiros amplificadores) sofre uma
epidemia, amplificando a população do agente patogênico, facilitando que esse agente infecte novas espécies de hospedeiros
(DASZAK, CUNNINGHAM E HYATT, 2000; AGUIRRE et al. 2002 passim; MANGINI e SILVA, 2007)
231
abundância e riqueza de espécies; distribuição das guildas; grau de infestação parasitária;
prevalência e tipos de problemas clínicos, bem como o perfil de ectoparasitos e
hemoparasitos observados nos dois locais.
Dessa forma, ao se analisar as interações enter as variáveis observadas e
discutidas acima é possível determinar um padrão entre essas relações, onde se observa
uma sequência de interações que se inicia novamente com a variável ―Tamanho da
comunidade‖. Esta apresenta influência direta sobre três conjuntos de variáveis: 1)
características gerais das moradias‖, ―densidade e distribuição das moradias e
características da vegetação; 2) uso de recursos madereiros e outros extrativismos
vegetais‖, ―presença e uso de trilhas nas áreas de floresta‖ e presença de evidência da
captura de animais; e 3) presença de animais domésticos (Figura 139). Estes três
conjuntos de variáveis influenciam, de forma direta ou indireta uma sequência de duas
variáveis: 1) abundância e riqueza de aves florestais‖; e 2) guildas de aves florestais.
Nesse nível das interações as variáveis se relacionam entre si mutuamente, apresentando
também da mesma maneira inter-relações mútuas com as últimas duas variáveis: 1)
diversidade de ecto e hemoparasitos; e saúde das aves florestais. Finalmente, estas
últimas apresentam entre si a mesma relação de influência mútua, observada nas duas
variáveis anteriores.
232
Caixas de texto escuras representam variáveis que se destacam apenas como mecanismo para explicar relações que foram
identificadas pelo modelo; Setas pontilhadas indicam relações indiretas ou não observadas nesse estudo.
Figura 139: Diagrama das inter-relações observadas entre as variáveis
relacionadas à saúde e à diversidade de aves dos ecossistemas
florestais.
Novamente, o grau de inter-relações observado nesse conjunto de variáveis
demonstra forte conexão entre os dados levantados. Contudo, a capacidade do modelo
identificar as variáveis mais importantes para revelar os nexos entre a Saúde, a
Biodiversidade, a Pesca e a Paisagem, no ambiente terrestre, foi menos robusta que no
ambiente marinho. As variáveis que mais se destacaram, frente aos padrões utilizados
nesse estudo não evidenciaram os grupos importantes de variáveis relativas à paisagem,
como densidade de moradias, perfil da vegetação nas vilas e atividades extrativistas.
Entretanto, o fato destas variáveis não se destacarem entre as de maiores valores,
não significa que essas sejam menos relevantes na explicação de algumas das relações
evidenciadas pelo modelo. Cabe novamente salientar que, por se tratar de comunidades
de pescadores, era esperada a maior relevância nas relações que se referiram à pesca,
bem como concentração dos maiores valores nas variáveis diretamente relacionadas a
essa atividade. Assim, algumas das variáveis relacionadas ao ambiente florestal não
foram altamente expressivas, o que foi devido apenas aos parâmetros utilizados para
categorizar as variáveis mais relevantes no modelo.
233
Em síntese, devido ao padrão de seleção empregado, algumas das variáveis
necessárias à discussão não apareceram como altamente relevantes no conjunto. Ainda
assim, o modelo foi capaz de identificar as relações entre estas e outras variáveis que
explicam as conexões entre Saúde, Biodiversidade e Paisagem no ambiente terrestre.
Sendo capaz de providenciar uma visão sistêmica dos mecanismos que geram as
relações de influência e resposta, dadas por algumas das práticas materiais observadas
nos sistemas socioambientais em que foi realizado o estudo.
7 CONCLUSÕES
1. O modelo de estudo desenvolvido demonstrou ser capaz de determinar a relevância
de diferentes variáveis selecionadas como indicadoras do estado das comunidades
de pescadores artesanais e de relações que são mediadas por práticas materiais,
abordando temas relacionados ao meio ambiente e desenvolvimento de forma
interdisciplinar.
2. O conjunto dos resultados obtidos a partir das variáveis selecionadas foi capaz de
gerar um diagnóstico das comunidades avaliadas, além de ressaltar as relações
entre diferentes componentes dos sistemas socioambientais em estudo, permitindo
elaborar modelos que refletem sequências de inter-relações entre os diferentes
componentes deste estudo, tendo por base as práticas materiais de comunidades
pesqueiras artesanais.
3. O modelo possibilitou determinar as 10 variáveis mais indicativas das interações
entre Saúde, Biodiversidade, Pesca e Paisagem em duas comunidades de
pescadores artesanais, permitindo observar a estrutura das relações entre os
componentes do modelo. Essas variáveis foram: 1) Tamanho da comunidade
pesqueira; 2) Características da frota; 3) Artes de pesca; 4) Riqueza e abundância
de recursos explotados; 5) Produção de rejeitos; 6) Impacto da produção de rejeitos;
7) Interação de aves com a pesca; 8) Dieta das aves marinhas; 9) Massa corporal de
aves marinhas e 10) Massa dos ovos de aves marinhas.
4. O modelo de estudo ressaltou, para as comunidades avaliadas, o meio marinho e às
atividades pesqueiras como responsáveis pelas interões mais fortes entre
234
natureza e sociedade tendo por um lado as práticas pesqueiras e por outro a
biodiversidade e a saúde, como elementos estreitamente relacionados.
5. O modelo demonstrou a arte de pesca de arrasto do camarão como uma variável
extremamente relevante, com interações fortes com o meio biológico marinho,
gerando impacto negativo sobre a biota associada ao fundo marinho, e tamm
sobre espécies de pescados com valor comercial.
6. O modelo gerado a partir das interações das variáveis ressaltou tamm as fortes
implicações da produção de rejeitos a partir da pesca de camarão pela arte de
arrasto, a qual influência fortemente a reprodução e a saúde das populações de
aves marinhas da plataforma continental interna da costa do Paraná.
7. Os dados recolhidos indicam que as práticas de pesca, principalmente a de pesca
de arrasto, tiveram uma influência positiva sobre a saúde das aves marinhas,
sobretudo para atobás (Sula leucogaster) e gaivotas (Larus dominicanus), e levou
também um maior sucesso reprodutivo para os atobás. Contudo os períodos de
defeso se apresentaram como períodos críticos para estas espécies. O que indica
alterações profundas na dinâmica das populações dessas aves, promovidas pela
pesca de arrasto e os rejeitos gerados por ela, o que pode levar a uma severa
depressão na população dessas aves, caso ocorram mudanças significativas dos
sistemas socioambientais que sustentam esse tipo de pesca de camarão.
8. Quando os componentes do modelo foram analisados individualmente, para
destacar as variáveis mais representativas dentro de cada componente, as dez
variáveis mais fortes, associadas ao meio marinho, se repetem como importantes e
além destas o modelo destaca outras cinco variáveis, as quais indicam relações
entre a Paisagem a Biodiversidade de a Saúde no meio terrestre.
9. As variáveis com maior valor e que determinaram a estrutura das relações dentro do
componente Paisagem no meio terrestre, foram: 1) Riqueza e Abunncia Relativa
de Aves Florestais; 2) Guilda das Aves; 3) Censo de Animais Domésticos; 4)
Condições Clínicas Gerais das Aves e 5) Prevalência do Grau de Infestação por
ectoparasitos. Além dessas, outras variáveis quatro relativas a Paisagem se
235
destacaram como relevantes para esclarecer as relações entre os componentes do
modelo, sendo elas: 1) Tamanho da comunidade; 2) Padrão de distribuição das
moradias; 3) Padrão de distribuição da vegetação na área da vila; e 4) pressão de
extrativismo sobre os recursos naturais provenientes do ambiente florestal.
10. O perfil de distribuição espacial das moradias dentro das vilas de pescadores e os
aspectos demográficos da comunidade demonstraram uma forte relação com a
saúde e a diversidade de aves associadas aos ecossistemas florestais nessas
áreas.
11. Os impactos das comunidades de pescadores e de seus animais domésticos, sobre
a paisagem local, influenciam de forma negativa a saúde das aves nos ecossistemas
florestais. Essa influência es intimamente relacionada com impactos sobre a
diversidade e distribuição ecológica dessas aves dentro das suas guildas. O que
serve como indicativo de que o perfil de saúde das aves está fortemente relacionado
com dinâmicas ecológicas, sobretudo à estabilidade dos nichos ambientais onde se
inserem as aves e seus parasitos, bem como a dinâmica de ocupação do espaço
pelas sociedades humanas.
12. O uso de parâmetros clínicos das aves selvagens demonstrou ser um bom indicador
da saúde do ecossistema, indicando também o grau de impacto das práticas
materiais relacionadas à paisagem sobre a saúde nos sistemas socioambientais em
estudo.
13. O conjunto de resultados e o modelo de estudo demonstraram que as comunidades
pesqueiras avaliadas influenciam, significativamente, e em diferentes graus a Saúde,
a Biodiversidade, a Pesca e a Paisagem nas áreas onde se estabelecem.
14. Tanto o modelo gerado a partir das interações das variáveis nos quatro
componentes do estudo, quanto às avaliações dentro dos componentes específicos,
ressaltaram as fortes implicações geradas pelo tamanho da comunidade pesqueira,
que foi a variável de maior valor. Sendo o tamanho da comunidade o ponto comum a
partir da qual se desencadeiam importantes processos que afetam a Paisagem, a
Pesca, a Biodiversidade e a Saúde, bem como as relações entre estes.
236
15. O modelo indicou que o conjunto atual de práticas associadas às atividades de
pesca, extrativismo, e uso do espaço sico influencia a Saúde e a Biodiversidade.
Atuando de forma positiva sobre as aves associadas ao ecossistema marinho e de
forma negativa sobre as aves associadas ao ecossistema florestal.
16. Os modelos ressaltaram a comunidade de Superagui, a partir da qual se
estabelecem práticas materiais que se diferenciam fortemente nas relações entre
Sociedade e Natureza e imprimem significativos impactos sobre os ecossistemas
locais.
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