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ARQUITETURA DA INDÚSTRIA
ESTUDO DA ABRANGÊNCIA DO TRABALHO DO
ARQUITETO NO PROJETO DE EDIFICÃO
INDUSTRIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de
Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, como
requisito para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura
e Urbanismo.
Área de Concentração: Projeto de Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Jesus Rodrigues
SÃO PAULO
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
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2
Projeto de Arquitetura
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO
E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Padin, Pablo Aleksitch.
Projeto de Arquitetura: Indústrias. Estudo da
abrangência do trabalho do arquiteto no projeto de
edificação industrial / Pablo Aleksitch Padin ;
orientador Professor Doutor Eduardo de Jesus
Rodrigues. –- São Paulo, 2009.
Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-graduação
em Arquitetura e Urbanismo. Àrea de Concentração:
Projeto de Arquitetura — Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2009.
1.Arquitetura Industrial 2. Fábricas 3.História da
Indústria 4. Tipologia industrial 5. Pré-
fabricação de edifícios industriais 6. Centro de
Tecnologia da Rede Sarah I. Título.
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Arquitetura da Indústria
3
DEDICATÓRIA
Dedico todo o esforço concentrado neste trabalho a minha família,
principalmente meus pais, Pablo e Vânia, que me estimularam e
apoiaram antes e durante todo o percurso.
A Thais, minha esposa, decisiva no estímulo à entrada para a
academia, pelo apoio, paciência e companheirismo.
A todos os amigos e colegas que estiveram ao lado durante este
período.
4
Projeto de Arquitetura
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agrado a Eduardo Jesus Rodrigues pela
orientação do trabalho, marcada pelo constante apoio e estímulo,
amizade, responsabilidade e sabedoria.
Agradeço ao arquiteto João Filgueiras Lima pelo cordial recebimento
no Centro de Tecnologia da Rede Sarah, onde estive durante 8 dias
no mês de fevereiro de 2008. Agradecimentos a toda equipe do CTRS:
Arquiteta Denise Menicucci (Responsável pela Manutenção do
CTRS), Eufêmia Ferrari (Secretária de Lelé), Jurandir Amorim
(Gerente das Oficinas de Marcenaria e Plásticos), Waldir Almeida
(Gerente da Oficina de Metalurgia Pesada) ,Hurandy Matos (Gerente
da Oficina de Metalurgia Leve) , Tomaz Bacelar (Gerente Oficina
de Pré-moldados de concreto), Inês Alves (Gerente da Oficina de
Comunicação Visual), Nadson (encarregado na Oficina de Plásticos
e Fibra de Vidro),arquitetos André, Ana Amélia, Neuton Bacelar
(Responsável pela Manutenção do Hospital Sarah de Salvador), e
ao supervisor Francisco A. N. Filho, que dispuseram de seu tempo
precioso em conversas e visitas às oficinas de produção.
A Cristiane Ikedo Bardese e Wayne Sousa pela cooperação, auxílio
nos desenhos e discussões.
Arquitetura da Indústria
5
RESUMO
PADIN, Pablo Aleksitch (2009). Projeto de Arquitetura: Indústria.
Estudo da abranncia do trabalho do arquiteto no projeto de
edificação industrial.
O arquiteto deve ser o primeiro profissional a ser chamado ao se
pensar em edificar uma fábrica. Dotado de visão humanista e cnica, possui
ferramentas para coordenar a equipe interdisciplinar que é necessária na
maior parte dos casos desse tipo de projeto. Quando corretamente
estabelecidas as competências de cada profissional, o trabalho resultará
não somente em um edifício funcional, que atenda ao programa, mas também
em uma arquitetura com adequada inserção histórica, espacial, e
adaptabilidade a situações futuras.
O projeto da fábrica envolve questões diversas e complexas que
devem ser estudadas em cada caso, com o devido embasamento técnico e
teórico pertinentes em cada tipologia. Tal esforço pode se tornar dificultoso,
que a fábrica destina-se a múltiplos propósitos, tal é a pertinência de um
trabalho de sistematização do processo de projeto industrial.
Para tal, o arquiteto deve conhecer os problemas específicos deste
ramo da Arquitetura: sua história e evolão, novos requisitos de
desempenho, novos materiais e as novas correntes de estudo da humanização
dos espaços de trabalho.
Algumas questões, como por exemplo, a flexibilidade e a
expansibilidade, não muito presentes em outros tipos de projeto, vêm à
tona com toda a força na arquitetura industrial. Geram um contexto que faz
com que o edifício seja, na maior parte dos casos, indissociável de um alto
grau de pré-fabricação dos elementos.
A Arquitetura Industrial é um dos principais campos para novas
soluções estruturais e formais na Arquitetura, e o arquiteto deverá ser um
profissional generalista para conhecer a fundo cada um dos métodos de
produção.
O intuito deste trabalho, assim, é a apresentação da problemática
que envolve o projeto industrial, com a perspectiva da sistematização dos
elementos comuns a esse tipo de tema, nas suas mais variadas aplicações.
6
Projeto de Arquitetura
ABSRACT
The architect must be the first professional to be called as for the
intent of building an Industry. Because of his humanist and technical
knowledge, he is prepared with important tools to deal with the
multidisciplinary context, which is necessary in most cases. When each
professional task is properly established, the result is not only a simple
functional architectural building, but a construction with its historical and
spatial relations well defined, as well as its sustainability.
Projecting an Industry involves various and complex questions,
which must be analyzed in each case, with the proper technical basis,
concerning each destination. Such effort can be exhaustive, since the industry
can respond to multiple purposes, that is why an organization of procedures
in industrial projects proves to be pertinent.
For this work, the architect must know the specific problems of
this Field in Architecture: its History and Development; the new performance
requirements; new materials; and the recent studies of humanization of
workplaces.
Some themes like, for instance, flexibility and expansibility, not
much present in other kind of projects in Architecture, are of extreme
importance in industrial architecture, producing a context where
prefabrication is absolute required.
The Industry is one of the most motivating fields for new structural
and formal solutions in architecture, and the architect must be a generalist
professional to know in detail each method of production.
The goal of this work is the presentation of the industry case in
architecture, with the perspective of a systematization of the elements that
compose this kind of project, and its multiple applications.
Arquitetura da Indústria
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
PRIMEIRA PARTE: HISTÓRIA
1. BREVE HISTÓRIA DA ARQUITETURA INDUSTRIAL 11
1.1. Atividades pré-industriais 11
1.2. Desenvolvimento Construtivo 12
1.3. Primeira fase da arquitetura industrial 14
1.4. Segunda fase da arquitetura industrial 16
1.5. Terceira fase da arquitetura industrial 18
1.6. Segunda Revolução Industrial 25
1.7. Arquitetura Industrial no século XX 30
1.8. Indústria e cidade 41
2. BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA NO BRASIL 47
SEGUNDA PARTE: PRINCÍPIOS PARA PROJETO DE EDIFICAÇÕES
INDUSTRIAIS
3. TIPOLOGIA DOS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS 69
3.1. Tipo industrial 69
3.2. Papel do Arquiteto e Atividades de Projeto 81
4. ARRANJO SICO DOS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS 98
4.1. Arranjo físico da produção 98
4.2. Novos tipos de arranjos 102
5. FORMA DO EDIFÍCIO INDUSTRIAL 111
5.1. Sistemas Aditivos 112
5.2. Sistema Integrativos 119
6. A FÁBRICA EM CORTE 121
6.1. Edifícios Verticais 121
6.2. Edifícios Horizontais 124
6.3. Galpões 125
7. ELEMENTOS DA ARQUITETURA INDUSTRIAL 131
7.1. Pisos 131
7.2. Vêdos 133
7.3. Tetos 133
7.4. Coberturas 134
8
Projeto de Arquitetura
8. INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 139
8.1. Ar condicionado e salas limpas 139
8.2. Suprimentos e distribuição 146
8.3. Fontes alternativas de energia 146
9. CONFORTO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO VISUAL 149
9.1. Iluminação, cor e comunicaçãoi visual no edifício industrial 149
9.2. Conforto acústico 156
9.3. Conforto térmico 157
TERCEIRA PARTE: SISTEMAS CONSTRUTIVOS INDUSTRIALIZADOS PARA
EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS
10. SISTEMAS CONSTRUTIVOS INDUSTRIALIZADOS
PARA A INDÚSTRIA 161
11. PROJETO DE EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS COM SISTEMAS PRÉ-
FABRICADOS 183
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS 206
QUARTA PARTE: APÊNDICES
13. ESTUDO DE CASO 01: CTRS -
CENTRO DE TECNOLOGIA DA REDE SARAH 211
14. ENTREVISTA COM O ARQUITETO JOÃO FILGUEIRAS LIMA 243
15. ESTUDO DE CASO 02: PROJETO DE FÁBRICA RAMO ALIMENTÍCIO 254
BIBLIOGRAFIA 271
Arquitetura da Indústria
9
INTRODUÇÃO
O sucesso de uma cidade está quase sempre determinado pelo sucesso do
local de trabalho, a “habilidade” em promover empregos, assim como descreve
TTNER (2004, p.17). A indústria, por sua vez, é um dos meios de se absorver a
mão-de-obra local de maneira eficiente. Por sua vez, o edicio industrial vem, de
forma crescente, sendo marcado pela construção industrializada, grandes espaços,
qualidade das instalações, flexibilidade e cuidados com a imagem corporativa.
Esta pesquisa busca fazer uma análise crítica do estado da arte da Arquitetura
Industrial, principalmente sob o ponto de vista construtivo e tipológico, passando
brevemente pela história da Arquitetura Industrial. Pretende ser fonte de
conhecimento básico aos arquitetos que tenham que se defrontar com o projeto de
um edifício industrial. Não será aprofundado o tema do Distrito Industrial e de suas
implicações urbanas, pois, entende-se que deva ser versado em trabalhos específicos.
Por se tratar de uma pesquisa dentro da área de concentração de Projeto de
Arquitetura, o campo de abrangência se restringirá às questões diretamente ligadas
à edificação. Em alguns casos, serão apenas brevemente citados fatores externos ao
controle por parte do arquiteto projetista, como por exemplo, o que diz respeito ao
estudo de mercado, faixa de concorrência, ou até mesmo, orçamento da obra, ainda
que relacionado à atividade de projeto.
O material da presente dissertação de mestrado é fruto de pesquisa realizada
entre 2006 e início de 2009, por meio de levantamento e análise bibliográfica e
visitas a indústrias, primordialmente. O trabalho resultante tem caráter aberto e de
visão abrangente, sendo necessária a pesquisa de bibliografias espeficas para estudo
de questões de forma mais aprofundada. Bibliografia esta que, na medida do possível,
é apresentada e consta da listagem bibliográfica localizada no final do volume.
A edificação industrial em si representa uma parcela significativa dos
investimentos na implantação de uma nova indústria, sendo assim, é necessário
critério no projeto, com cuidados especiais de concepção e detalhamento. Assim,
ainda serão apresentadas, de forma breve, análises a respeito dos custos das decisões
arquitetônicas.
“O objetivo da Arquitetura sempre é de demarcar, abrigar uma parte
do espaço que nos envolve em um local particular, no intuito de criar
condições para o desenvolvimento de tarefas específicas, nesse caso,
edifícios para a indústria. O arquiteto consciente deverá saber a função
de cada espaço que seconstruído e o local onde será implantado,
para melhor atender às várias funções necessárias e tomar proveito do
que oferece o local. O programa sempre deve ser levado como um
prognóstico. Nele, conhecimento, experiência, imaginação, desejo,
esperanças, e visões se manifestam. (...)” (ADAM, In. TTNER,
2004, p.21)
INTRODUÇÃO
10
Projeto de Arquitetura
A Arquitetura Industrial fascina pela amplitude do tema a ser tratado, que é
infinito. A complexidade dos projetos e das instalações é crescente e necessitam de
metodologias de estudo específicas para solucionar problemas que são bastante
diferentes daqueles encontrados na arquitetura em geral. A evolução de sistemas e
tecnologias industriais e da construção exige revisão dos títulos, que no caso
brasileiro, em sua maior parte, foram desenvolvidos durante a cada de oitenta do
culo passado.
A Primeira Parte da dissertação es dedicada ao estudo da história da
indústria. De forma breve, destacam-se os aspectos tipológicos, a relação da atividade
e dos projetistas com a tecnologia disponível e características formais de cada
período. Com base nesta análise, podemos avaliar a posição dos projetos atuais,
dentro de um panorama geral da arquitetura industrial realizada principalmente
durante o culo XX.
Na Segunda Parte, em posse das informações históricas a respeito da atividade
industrial, foi realizada uma análise do edifício industrial sob aspectos de projeto e
construtivos. Seguindo o raciocínio, foram apresentadas algumas tentativas de
sistematizar os tipos de arranjos de produção e edifícios industriais, instrumento de
interesse para arquitetos que trabalharão com o projeto de fábrica. Finalmente, estão
listados, brevemente, os componentes construtivos, espaciais e ambientais
relacionados aos edifícios industriais.
A Terceira Parte destina-se ao estudo das características de sistemas
construtivos industrializados para a execução de fábricas. O edifício industrial
relaciona-se diretamente com a construção industrializada.
O Apêndice é composto por dois estudos de caso. O primeiro, trata-se de
uma análise a respeito da obra do arquiteto João Filgueiras Lima (Le), com enfoque
para atividade do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), localizado em
Salvador, Bahia. O interesse deste estudo está na complexidade das relações entre o
projeto de uma fábrica, produção de elementos pré-fabricados para a construção
civil e o projeto e execução de edifícios pré-fabricados padronizados. Torna-se ainda
mais interessante por estar perfeitamente adaptado ao contexto sócio-econômico-
cultural brasileiro. No segundo estudo de caso, apresentarei um projeto pessoal de
indústria de alimentos, colocando algumas questões espeficas a este ramo industrial,
seguindo os aspectos listados durante a segunda parte do trabalho e demonstrando a
necessidade de pesquisa específica para cada atividade.
Arquitetura da Indústria
11
primeira parte
1.1. AtividAdes Pré-industriAis
A determinação precisa do nascimento da Indústria varia
de autor para autor. No entanto, se nos balizarmos pela descrição
apresentada anteriormente, pode-se identificar o início da produção
em massa, muito antes da Revolução Industrial, no Oriente, mais
precisamente na China. Durante a Idade Média Ocidental, no
período da Dinastia Song (960-1279 d.C.), a população chinesa
ultrapassava 100 milhões de pessoas. A necessidade de bens de
consumo aumentava junto ao crescimento exponencial da
população da região. Exemplos são uma das três casas de moeda
existentes no império, que empregava mais de mil pessoas
diariamente, e a indústria de ferro, que produzia 125.000
toneladas, no ano de 1076 d.C
1
.
O Mundo Islâmico também desenvolveu a produção em
massa e realizou importantes bricas de vidro e cemica, a partir
do século VIII. No mesmo século, no Ocidente, podemos identificar
como um dos primeiros edifícios industriais de porte, o Arsenal de
Veneza, que no culo XVI, produzia quase um navio mercante por
dia e empregava cerca de 16.000 pessoas, por meio do uso de peças
padronizadas dentro de uma escie de linha de produção que se
difundiu apenas após a Revolução Industrial do século XVIII. Outro
impulso para a produção em rie, séculos antes do surgimento deste
termo, parece ter ocorrido com a invenção da imprensa de caracteres
móveis, que tem como uma das hipóteses de seu surgimento. No
início da era moderna. A atividade industrial, no entanto, evoluiu
lentamente e só culminou na Revolução Industrial em meados do
culo XVIII.
1
A China ainda hoje é a líder em produção de aço com 489 milhões de
toneladas produzidas por ano (representando 40% da produção global). O
Brasil ocupa a nona posição com 33,8 milhões de toneladas.
1. BREVE HISTÓRIA DA ARQUITETURA INDUSTRIAL
Figura 1- Entrada do Arsenal de Veneza,
Itália. Fonte: http://www.oddiy.aminus3.com/image/
2007-08-28.html acesso 17.01.09 às 11:44:50 h.
PRIMEIRA PARTE: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
12
Projeto de Arquitetura
Um dos fatores que pode explicar esse longo percurso é a
existência, desde o princípio, de uma aversão ao produto produzido
mecanicamente, em relação ao produto dos talentosos artesãos. De
pronto se percebeu que esse tipo de atividade poderia significar a
extinção do trabalho do artesão e fim de sua fonte de renda. PAGANO
(MAZZOCHI, 1957, p.335) destaca:
“(...) Razão essa bastante compreensível, visto que ainda hoje
considerações político-sociais fazem proibir o uso de máquinas em
determinados trabalhos nos quais podem ser empregadas massas
de trabalhadores que, sem tais providências, ficariam desocupados.
Poderemos citar Isabel da Inglaterra que se recusou a favorecer
uma das mais importantes invenções de sua época, a máquina de
meias W. Lee, afirmando não poder arruinar a pobre gente. Também
Eduardo VI e Carlos I proibiram, pelas mesmas razões, máquinas
para acabamento de tecidos, assim como Jaime I proibiu outra para
fabricação de agulhas.”
Havia um preconceito em relação à máquina e à chamada
“civilização da máquina”, no entanto, devemos atentar ao fato de
que a produção em série permitiu o acesso a bens e satisfação de
necessidades a um maior número de pessoas. Fato que antes atingia
a poucas pessoas.
Ao mesmo tempo, o florescimento industrial, dependia de
melhoramentos das comunicações e novos meios de transporte que
ocorreram efetivamente, como é o caso das ferrovias, a partir do
culo XVIII. Abriram-se eno, novos mercados dentro da própria
Europa, como também na América e África. Soma-se a isto o
desenvolvimento de organizações de crédito e condições monerias
melhoradas. MAZZOCHI (1957, p.335)
Figura 3 - Fábrica de Tabacos de Sevilha, ESP.
Atual Reitoria e Escola de Direito da
Universidade de Sevilha. Foto do autor, 2003.
Figura 2 - Antiga sede das Corporações de
Ofício, Bruxelas, Bélgica. Foto do Autor, 2003.
Arquitetura da Indústria
13
1.2. Desenvolvimento Construtivo
“As origens do desenho e construção do edifício
industrial coincide com o desenho de edifícios
industrializados. Começa no final do século XVIII com o
desenvolvimento das máquinas, como é o caso da máquina
a vapor de James Watt em 1784. No entanto, o aparecimento
destas máquinas não é o único fator para a emerncia da
construção de edifícios industriais, mas também, o rápido
crescimento populacional da Europa nesse período
alcançado por meio dos contemporâneos avaos na
medicina desde o século XVII, uma crescente demanda de
bens e de capital. Em particular, a expansão da indústria do
algodão no condado de Lancashire, na Inglaterra, deu um
impulso à “fábrica”
2
mecanizada, que existiu inicialmente
em paralelo com a tradicional, produção pré-industrial. No
curso do tempo, oficinas
3
deram lugar às pequenas
fábricasque, por sua vez, deram lugar às indústria.
(JUETTNER, 2004, p.11, traduzido pelo autor)
2
Do inglês Mill”– uma fábrica de tipos específicos de manufatura, como por
exemplo, papel, aço ou têxteis. A palavra em português parece ter significado um
pouco diferente, no entanto, não impede a compreensão do texto.
3
Do inglês “workshops” uma sala, uma área ou um pequeno estabelecimento
onde se realiza o trabalho manual ou industrial leve.
Figura 4 - Ponte sobre o Rio Severn. A.
Darby, ING, 1775-1779. Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Iron_Bridge.JPG
Acesso 26.01.09 às 16:30:25h.
Figura 5 - Máquina a Vapor de James Watt.
Fonte: http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/
TEXrota.jpg Acesso 30.01.09 às 10:27:55h.
14
Projeto de Arquitetura
1.3. Primeira Fase da arquitetura industrial
A primeira fase do desenvolvimento industrial ocorre no início
da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, quando a
máquina de manufatura chegou para ocupar o espaço da tradicional
produção artesanal e a força era gerada pela transmissão menica
direta
4
. Este fato guiou a execução de edifícios compactos de várias
plantas e grande profundidade, baseados em uma fonte central de
energia como uma máquina a vapor ou uma roda d’água. As primeiras
fábricas não podiam estabelecer-se longe de cursos dágua
suficientemente pidos e capazes de mover suas máquinas. Entende-
se a importância dos vales da cadeia do Pennine para a indústria
Britânica do culo XVIII, descrito por MUNCE (1960, p.13).
A partir de meados do século XVIII, com o desenvolvimento
promovido por James Watt à máquina a vapor
5
e surgimento da
energia elétrica, realizaram-se progressos de maior importância
dentro do desenvolvimento da indústria. A primeira tecelagem a
vapor estabeleceu-se em 1785, mas, até pelo menos 1850, a roda
d’água não deixou de desempenhar importante papel na indústria
britânica. Somente onde não havia energia hidráulica foi adotada
rapidamente a máquina a vapor; as fábricas e armazéns continuavam
sendo construídos ao longo dos rios em função das facilidades,
inclusive de transporte. As quinas a vapor transformaram
primeiramente as indústrias têxteis em atividades mecanizadas e
após seguiu-se o desenvolvimento de indústrias mecânicas e o
surgimento das indústrias pesadas.
Com o desenvolvimento do tear autotico tornou-se
necessária a construção de salas de produção mais longas e com
menor número de interferências. Um dos exemplos mais notáveis é
o moinho de algodão de sete andares de Salford, de 1801, projetado
e construído por Matthew Boulton
6
e James Watt.
“Boulton e Watt desenharam e construíram o
edifício, usando uma estrutura em ferro fundido não
apenas para as vigas como também pilares, montados
dentro de uma estrutura em alvenaria. As vigas eram
em seção I e atravessavam o edifício no sentido
transversal com apenas dois apoios intermediários.
As colunas eram em ferro fundido, com o diâmetro de
nove polegadas e ocas, e todos elementos eram unidos
4
Exemplo dos moinhos ou atividade semi-industrial brasileira dos engenhos de
cana-de-açúcar.
Figura 6 - “A fábrica como Palácio”. Fábrica
Real de Sal em Chaux, Claude-Nicolas
Ledoux, FRA, 1776. Fonte: Roux, 2000, p.135.
Figura 7 - Representação da transmissão
mecânica direta no moinho de Lanark,
Escócia, Inglaterra. Redesenho a partir de
http://www.aboutscotland.co.uk/water/
clydenl.html Acesso em 07.01.09 às 17:36:22 h.
Arquitetura da Indústria
15
com a meticulosidade característica do projeto de
quinas e de sua constrão. Os pisos foram
executados em arcos de tijolos, e as colunas do piso
térreo foram instaladas sobre fundações especiais.
Assim como é um espécime avaado de uma estrutura
armada, proporciona um exemplar de primeira classe
de construção à prova de fogo e é sem dúvida
precursor e inspiração dos edicios de estrutura
metálica.” (MUNCE, 1960, p.3, Traduzido pelo autor)
Este edifício era tão avançado para a época que significou o
estado da arte na arquitetura industrial a30 anos depois de sua
finalização. Os armazéns industriais tinham suas coberturas
executadas em madeira e estavam extremamente sujeitos ao fogo.
5
O mais importante desenvolvimento promovido por James Watt foi a patente
da separação do condensador e sua conexão ao cilindro por meio do uso de uma
válvula, o que permitia que o condensador mantivesse baixa temperatura enquanto
que o cilindro estivesse quente, registrada em 1769. Watt tinha certas dúvidas em
relação à difusão do uso da máquina a vapor pelas moinhos ingleses, em função da
necessidade de maior especialização e instalações para a indústria que se baseava
na obtenção de energia motora por meio de recursos naturais, como a água e o
vento. No entanto, MUNCE (1960, p.2) descreve que ele deve ter revisto seus
conceitos uma vez que esta aparente dificuldade possibilitava a execução de moinhos
em qualquer que fosse o local.
6
(1728-1809) Industrial, proprietário da Soho Manufacturing”, de 1761, em
Birmingham, Inglaterra. Produzia pequenos artigos metálicos como brinquedos,
vasos, dentre outros. Contratou Watt, em 1767, para melhorar as fontes de energia
de sua produção que ficou interessado nas condições que esta fábrica poderia
proporcionar para melhorar a tecnologia da máquina a vapor. Três anos depois
comaram uma parceria que difundiu o uso da máquina a vapor. Os dois
estabeleceram juntos a Fundição Soho, em Smethwick, no ano de 1795. (http://
en.wikipedia.org/wiki/Matthew_Boulton acesso 22.09.2008 às 15:44h)
16
Projeto de Arquitetura
1.4. Segunda FaSe da arquitetura induStrial
Em meados do século XIX, o edifício industrial foi influenciado
por novas idéias, dado a importância adquirida nos anos anteriores.
Os trabalhos de produção, agora, localizavam-se próximos à água
para garantir melhores condões hignicas e dispersão de emises
e não mais em relação à necessidade de uma foa motriz. De fato,
os rios ingleses possuíam pequena vazão e o era possível que
fossem bem aproveitados. Evitavam-se áreas onde o vento pudesse
conduzir resíduos às cidades. Foram melhorados os meios de
obtenção de energia como eletricidade ou sistemas hidráulicos, e
conseqüentemente permitiu-se a descentralização da geração de
força, assim, as várias funções passaram a ser acomodadas em
edicios diferentes. Esta fase coincide com o nascimento das
máquinas genéricas ou polivalentes
7
, que marcam o momento em
que o empreendimento industrial passa de um único edifício, sem
possibilidade de adequado tratamento ambiental, para vários
edifícios divididos, segundo a sua função.
Em 1960, MUNCE (p.4) observa, a respeito da história da
arquitetura industrial, que nos primeiros anos de desenvolvimento
da indústria inglesa, o arquiteto o foi chamado. Os edifícios
industriais eram fruto do diálogo entre os industriais e os
construtores. Nos poucos casos em que os arquitetos eram
consultados, o trabalho se restringia às decorações de fachada por
vontade do industrial proprietário. O autor alerta para o fato de que
isso ainda era freqüente quando escreveu seu manual sobre a
arquitetura industrial. O desenho de fábricas era considerado abaixo
da dignidade do arquiteto a não ser que fosse mascarado por uma
alvenaria acabada ou tijolo aparente, com desenhos específicos de
uma produção artesanal, artística. Como resultado, os arquitetos não
receberam nem experiência, nem treinamento para defrontar esse
tipo de tarefa, e a iniciativa foi passada aos engenheiros. Com pontes
e canais, os seus halls de exibições e imaginativos usos de novos
elementos estruturais, os engenheiros conseguiram forjar um local
próprio na vida industrial do seu país. (MUNCE, 1960, p.1) O
Edifício Industrial ainda não caracterizava uma forma de edificação
onde, apesar das limitações de economia, o arquiteto pudesse
expressar seus ideais artísticos. Faltava nesse momento, um volume
de obras construídas para que se notasse o tipo. Mais do que isso,
podia se pensar que a produção de bens caracterizava-se como
Arquitetura da Indústria
17
atividade de menor valor simbólico perante as Igrejas, Palácios,
Galerias e até mesmo moradias.
Até meados do século XIX, os trabalhos de produção
localizaram-se próximos à água. Evitavam-se áreas onde o vento
pudesse conduzir resíduos às cidades. As cidades perdiam, ao mesmo
tempo, suas áreas verdes ao longo dos rios, pois era conveniente
que estes edifícios fossem construídos próximos a assentamentos
humanos estabelecidos - em função da facilidade de obtenção de
mão-de-obra. A indústria deveria ser planejada com a completa
separação das funções: habitação, lazer, circulão e produção. Esta
última estava localizada na direção do vento predominante, em área
separada, próxima a um rio. Basicamente, setorizou-se a cidade em
áreas de moradia e de trabalho. Em relação às cidades, assim com
descreve BENEVOLO (In. RICHARZ,2004, p.27), esse crescimento
conjunto da cidade e indústria, sem planejamento específico criou
um caos social e de infra-estrutura urbana, que significou a
paralisação de um crescimento adicional da atividade produtiva e
criou freios ao desenvolvimento industrial. Seguindo este raciocínio,
mais tarde, despontam projetos exemplares e esforços de arquitetos
como Robert Owen, Ebenezer Howard, Tony Garnier
8
.
O crescimento do tamanho e peso de produtos como as
locomotivas, as turbinas e o novo maquinário, exigiam galpões
industriais térreos e extensos. O sistema americano de produção
com esteiras de transporte também ditou galpões compridos e
iluminados zenitalmente. Assim, as estruturas de ltiplos
pavimentos gradualmente iam perdendo a sua importância, diante
da disponibilidade de áreas para produção no “Novo Mundo”. Am
desses fatores, a constante evolução dos sistemas produtivos era
incompatível com a falta de flexibilidade dos edifícios em vários
pavimentos.
7
Dentre as mais conhecidas estão a retificadora de John Wilkinson de 1775, o
torno paralelo de Henry Mudslay de 1800, a planta mecânica de Richard Roberts
de 1817 ou a fresadora do americano Eli Whitney de 1818.
8
O prefácio do projeto de Tony Garnier para a Cidade Industrial, de 1917, ainda
demonstra a importância central da proximidade à fonte de energia, no caso, o
afluente de um rio, que seria represado, de forma que a criação de uma usina
hidrelétrica distribuísse energia, luz e calor para a fábrica e para toda a cidade.
18
Projeto de Arquitetura
1.5. Terceira fase da arquiTeTura indusTrial
Não foi apenas o desenvolvimento de máquinas que criou o
imaginário do edifício industrial, mas, também o desenvolvimento
de materiais construtivos, como o ferro e vidro.
“A própria evolução tipológica destes edifícios está
intimamente ligada à evolução da instria da
construção e das possibilidades criadas com o uso de
novos materiais como é o caso do ferro fundido e
vidro, que permitiram, em certo momento, impulsionar
o uso crescente de máquinas maiores e para isso,
maiores vãos. O ferro e o vidro não são materiais
novos, pois, tem sua origem muitos séculos antes, mas,
até então não haviam sido produzidos na escala que
começaram a ser produzidos no século XIX
(BRUNA, 1976).
O ferro e o vidro eram os únicos materiais que poderiam
fazer frente às novas necessidades e exigências estruturais que eram
colocadas neste período. A importância do desenvolvimento da
fundição do ferro com o uso do coque inaugurou um novo método
de construção do edifício industrial, na Inglaterra. O ferro fundido e
o vidro foram tratados como materiais novos o que na verdade é
uma referência ao uso destes materiais de forma nova, por meio do
desenvolvimento de novas tecnologias.
Na Inglaterra, comavam a se difundir as estruturas em
ferro. O Moinho em Glasgow projetado pelo arquiteto Henry
Houldsworth, de 1805, constituiu um novo uso do ferro fundido,
que tinha o seu conhecimento baseado nas pontes que haviam sido
construídas pelo país para as estradas de ferro. Nesse novo caso, a
estrutura metálica estava encapada por paredes de tijolos, que
formavam uma espécie de moldura estrutural para a unidade
industrial de tipologia de pavimentos múltiplos.
São marcos dessa arquitetura de novos materiais os
Grandes Armans de Paris, de 1830-1840, o Palácio de Cristal,
projetado por Sir Joseph Paxton para a Exposição Universal de 1851,
em Londres, no Hyde Park e a Galeria das quinas (“Gallerie des
Machines”) projetadas pelos arquitetos Victor Contamin e Ferdinand
Dutert para a Exposição Universal de Paris de 1889. No caso do
Figura 8 - Igreja de Santa Genoveva ,
J.G.Soufflot , Paris, FRA, 1775. Foto do autor,
2005.
O ferro é usado inicialmente apenas para
tarefas acessórias: para correntes, para tirantes
e para ligar entre si as pedras nas construções
em pedra de corte. Por exemplo, na pré-nave
construída por Rondelet para o Panthéon de
Soufflot, em 1770, a estabilidade real da cornija
é assegurada graças a uma fina rede de barras
metálicas, dispostas racionalmente de acordo
com as várias solicitações, quase como a
armação de uma obra moderna em concreto.
(BENEVOLO, 1998 , p.46)
Figura 9 - Moinho de Glasgow, Henry
Houldsworth, 1805.
Arquitetura da Indústria
19
9
O Palácio de Cristal, por se tratar de um edifício pré-fabricado, foi desmontado
e remontado em Sydenham, em 1854. Em 1936, o edifício de grande interesse
histórico foi destruído pelo fogo. A constrão p-fabricada em estrutura metálica
tornou-se usual dentro da arquitetura ferroviária.
10
Foram arquitetos como Auguste Perret (1874-1954) e seu discípulo Le Corbusier
(1887-1951), sobre influência de Choisy, que legitimaram o uso do concreto armado
como material construtivo esteticamente lido. Nos projetos de Hilberseimer e
Le Corbusier utilizou-se este material, assim como na constrão do edifício
fabril da “United Shoe Machinery Company” de Ernst Ransome, em 1903. Em
1905, Albert Kahn utilizou-se do mesmo material na construção da “Packard Motor
Company”, em Detroit.
Palácio de Cristal
9
, o edifício possuía comprimento de 564m, 124m
de largura e altura de 34m. As Exposições Universais tinham o
objetivo de expor a produção industrial de cada país, pós Revolução.
Esse edifício desponta como o marco de uma evolução tipogica,
possibilitada pelo novo uso dos materiais e evolução construtiva.
Por sua vez, este desenvolvimento permitiu a criação de maiores
espaços que podiam albergar quinas maiores e atividades
produtivas de maior porte.
Essas novas construções em ferro fundido e com naves
únicas de grandes os difundiram-se pelas estradas de ferro inglesas
e posteriormente por toda a Europa. Marcam o início da estética
Maquinista ou Fabril. Algumas destas edificações são existentes no
Brasil, vindas na maior parte dos casos, para compor a rede
ferroviária implantada por companhias inglesas. É o caso da Estação
da Luz em o Paulo ou da Estação Ferrovria de Bananal e do
mercado São José.
O uso difundido do aço propiciou uma nova busca tipológica
e formal da arquitetura. A ruptura, apesar de ter ocorrido de forma
imediata, não impediu a criação de curiosos edifícios, com suas
características formais emprestadas de edifícios para outros fins,
como a arquitetura religiosa. Auguste Choisy
10
(1841-1909),
professor da “École Nationale des Ponts et Chaussées realizou uma
História da Arquitetura, baseando-se na reflexão sobre o ensino desta
disciplina desde a vertente dos métodos construtivos. Sempre
sustentou que a forma seria uma conseqüência da gica e técnica.
(PHILLIPS, p. 8). Apesar dessa teoria, não se nota tal objetividade
nos primeiros edifícios em arquitetura metálica. O conceito de
estrutura como base formal da arquitetura ganhou força com os
arquitetos a partir de Choisy.
Figura 10 - Pont des Arts, Paris, de Cessart
e Dilion, 1803. Foto do Autor, 2005.
Figura 11 - Galerie des Machines, Paris, FRA.
Fonte: http://en.structurae.de/photos/
index.cfm?JS=55 acesso 29.09.08 às 19:23h
Figura 12 Pavilhão de Cristal, Joseph
Paxton, Londres, ING, 1851.
Fonte: http://www.lmc.ep.usp.br/people/valdir/wp-
content/uploads/2008/02/cristal.jpg Acesso
29.01.09 às 11:30:25h.
20
Projeto de Arquitetura
“Assim como o fervor religioso da Idade Média havia
desafiado os arquitetos medievais a punçar os céus da
Europa Ocidental com suas agulhas góticas, levando
as estruturas de pedra aos seus limites, a demanda de
enormes naves industriais para albergar os processos
mecanizados de fabricão e as grandes máquinas de
comércio fez com que os arquitetos e engenheiros
investigassem e desenvolvessem as técnicas do ferro,
aço e vidro, os únicos materiais que podiam satisfazer
as exigências estruturais que eram colocadas.
(PHILLIPS, p. 6)
O uso destes materiais é descrito com cuidado por Friedrich
Schinkel
11
em visita à Inglaterra, no ano de 1826. A viagem coma
em Londres onde Schinkel já se depara com as colunas de ferro
fundido utilizadas no “British Museum”. Tratava-se de uma solução
muito nova para a época. As colunas ocas em ferro fundido permitiam
avanços técnicos como a drenagem de água pluvial pelo interior das
mesmas. Schinkel ficou impressionado com as novas possibilidades
alcançadas com o avanço tecnológico no uso do ferro e realizou
inúmeros desenhos de estruturas e moinhos. Notou em sua visita a
importância do uso dos “novos materiais” e as possibilidades técnicas
que se adaptavam muito bem às necessidades de novos programas
arquitetônicos. A arquitetura passara de uma atividade empírica para
uma atividade baseada no conhecimento científico, relacionada a
uma função específica que convinha ser corretamente
dimensionada
12
.
11
(1781-1841) Foi o mais notável arquiteto e urbanista do Classicismo na
Prússia.
12
Na “Bauakademie” de Schinkel em Berlim, sob influência de sua viagem à Inglaterra,
nota-se a legibilidade dos elementos estruturais. O edifício foi projetado junto
com o engenheiro Peter Beuth, seu amigo e companheiro na viagem à Inglaterra.
Figura 13 - Bauakademie de Schinkel, ALE,
1826. Pintura de Eduard Gaertner.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Bauakadm1.jpg Acesso em 26.01.09 às
16:56:50h.
Arquitetura da Indústria
21
A mudança das propriedades dos materiais disponíveis e
possibilidades tipológicas criadas demonstravam que os edifícios
metálicos significavam a arquitetura do Futuro. Os materiais
tradicionais, como pedra e tijolos, resistiam muito bem aos esforços
de compressão, no entanto, como é conhecido, não resistem bem à
tração. O ferro, por sua vez resistia à compressão e mais importante
do que isso, muito bem à tração e, baseados nas estruturas de pontes
metálicas, os edifícios industriais passaram a ser construídos com
esse material. Outro importante desenvolvimento foi o aumento das
folhas de vidro que passaram, no início do século XIX, ser produzidas
em tamanhos de 1,75 x 2,50m, assim como descreve JUTTNER
(2004, p.11).
A relação entre a arquitetura religiosa e a arquitetura
industrial não ficou apenas dentro do campo da demonstração da
evolução da tecnologia dos materiais e das possibilidades
construtivas. Na obra de arquitetos, como é o caso de Karl Ludwig
Althans, em seu projeto Sayner Huette em Bendford, Alemanha, de
1818-1830, que utilizou a estrutura em ferro fundido, podemos notar
que naquele momento ainda não se apresentava claro um estilo que
devesse ser utilizado nas construções industriais. A arquitetura
religiosa serviu-lhe de inspiração. Mais do que a ornamentação, o
seu edifício possui planta de Basílica de três naves. Nas obras
anteriormente citadas, de Sir Joseph Paxton, o Palácio de Cristal de
1851 e as Galleries des Machines” de Contamin e Dutert de 1889
também podemos notar essas relações.
Figura 14 - gina da caderneta de Schinkel
com vista das construções industriais inglesas,
1826. Notam-se que as edificações industriais
eram verticalizadas. É possível observar também
as chaminés localizadas entre e sobre os
edifícios. Ao lado direito das fábricas compõem-
se as típicas vilas operárias inglesas, que foram
reproduzidas na cidade de São Paulo. Fonte:
BENEVOLO, 1998, p.77.
Figura 15 - Interior da Biblioteca de Santa
Genoveva, Paris, Henri Labrouste, 1843. Fonte:
BENEVOLO, 1998, p.123.
“(…) com uma estrutura metálica em abóbadas,
estabeleceu muitos precedentes para os futuros
edifícios de nave simples e estrutura do mesmo
material.(PHILLIPS, 1993, p.8, traduzido pelo
autor)
22
Projeto de Arquitetura
A possibilidade da produção em massa do aço veio com o
aprimoramento da produção do material, com o uso do ferro gusa
fundido, em patente de 1855 de Henry Bessemer. O processo
industrial de Bessemer era muito mais econômico que os antes
utilizados, em relação ao uso do coque. O princípio em si era o
mesmo utilizado na China desde aproximadamente 200 d.C. A
remoção das impurezas do ferro era realizada por meio da oxidação
provocada pelo ar soprado sobre do ferro fundido. A redução no uso
do coque e no tempo de fundição se dava pelo fato de que o
insuflamento de ar aumentava a temperatura da massa de ferro e a
mantinha por mais tempo no estado fundido.
Figura 16 - Palácio de Cristal, Hyde Park,
Londres, 1851. Sir Joseph Paxton. Ilustração
de Dickinson. Fonte: Wikipedia.
Figura 17 - Conversor de Bessemer. Fonte:
Wikipedia.
Arquitetura da Indústria
23
Um dos primeiros edifícios franceses realizados em estrutura
metálica e considerado o primeiro edifício do mundo em que esta é
aparente é a brica de Chocolates Menier em Noisiel-sur-Marne,
de Jules Saulnier, 1871-1873, perto de Paris. A estrutura é de
múltiplos pavimentos, com a fachada desenhada pela estrutura
metálica aparente e vedação entre os pilares e vigas era constituída
por paredes de alvenaria. O edifício foi construído sobre fundações
maciças, localizadas dentro do Rio. Três turbinas localizadas entre
esses blocos de fundação geram a energia necessária para a produção.
Choisy, previamente citado, Labrouste, Gaudet, Perret, Tony
Garnier (1869-1948) e Le Corbusier abriram espaço para o
entusiasmo alemão pelo desenvolvimento de uma arquitetura que
harmonizasse a estética e a engenharia. Os alemães buscavam estas
inovações desde a visita de Schinkel à Inglaterra.
Em “Por uma arquitetura” Le Corbusier discorre sobre a
forma em função da cnica:
“Nossos olhos são feitos para ver as formas sob a luz.
As formas primárias são as formas belas porque se lêem
claramente.
Os arquitetos de hoje não realizam mais as formas
simples.
Operando com o cálculo, os engenheiros usam formas
geométricas, que satisfazem nossos olhos pela
geometria e nosso espírito pela matemática; suas obras
estão no caminho da grande arte. (...) (LE
CORBUSIER,1928 , p.12)
Os edifícios em vista, neste trecho, eram os silos de grãos
dos Estados Unidos e do Canadá, formados por esferas, cones e
cilindros.
Le Corbusier (1928, p. 13) defendia as formas simples e
atacava os estilos:
“A arquitetura gótica não é, no seu fundamento, à
base de esferas, cones e cilindros. Somente a nave exprime
uma forma simples, porém de uma geometria complexa de
segunda ordem (cruzamento de ogivas). É por isso que uma
catedral não é o bela e que nela buscamos compensações
de ordem subjetiva, fora da plástica. Uma catedral nos
Figura 18 - Fábricas de Chocolates Menier
(1871-1873), Noisiel-sur-Marne. Arquiteto
Jules Saulnier. Fonte: Wikipedia.
Figura 19 - Edifício Residencial à Rua
Franklin, Paris. Auguste Perret, 1902. Foto
Thais B. R. Bortolato, 2008.
Sua obra, precursora no uso do concreto
armado, se executou sob as influências das
teorias de Choisy e foi desenvolvida por um
aluno de Perret chamado Le Corbusier. O
engenheiro civil Joseph Monier, em torno a
1880, descobriu este material mais econômico
e versátil que o aço, muito associado ao que se
conhecia com Estética Maquinista.(PHILLIPS,
1993, p.9, traduzido pelo autor)
24
Projeto de Arquitetura
interessa como a engenhosa solução de um problema difícil,
mas cujos dados foram mal colocados porque não procedem
das grandes formas primárias. A catedral não é uma obra
plástica; é um drama: a luta contra a gravidade, sensação
de ordem sentimental.
Os silos que foram apresentados como exemplo de jogo de
volumes simples por Le Corbusier, haviam sido apontados por
Walter Gropius no livro do ano da Deutsche Werkbund, em 1913.
Eram considerados como os exemplos visuais do desenvolvimento
da arquitetura industrial moderna. Gropius e Le Corbusier viram
nesses edifícios a base para uma nova forma de construir.
Figura 20 - - Silo de grãos Lago Cherry,
Toronto, CA, sem ano. Fonte: http://
wvs.topleftpixel.com/archives/photos_cityscape/
040831_808.shtml Acesso em 26.01.09 às
17:21:15 h.
Arquitetura da Indústria
25
1.6. Segunda Revolução InduStRIal
Corresponde ao momento histórico em que ainda ocorria a
hegemonia inglesa na indústria, no entanto, países com a Alemanha
e EUA já a seguiam de perto. Este período está compreendido entre
as duas últimas décadas do século XIX até o ano de 1945. (Santos,
2006, p.26)
A estabilidade proporcionada pela unificação alemã sob a
liderança de Otto Von Bismark estimulou o desenvolvimento
industrial do país, a partir de 1870. A renúncia de Bismarck em
1890 provocou um contexto de grandes transformações e
exacerbação de um impulso nacionalista industrial. Herman
Muthesius (1861-1927) foi o arquiteto alemão convocado à
embaixada de seu país em Londres com a missão de estudar a
originalidade da arquitetura inglesa da época, mesmo trabalho que
foi realizado antes por Schinkel. O momento artístico era
representado pelo “Arts and Crafts”
13
. Muthesius, após sua viagem,
fundou em 1907 a “Deutscher Werkbund
14
, uma organização sem
par, cuja fuão era prosseguir com a mecanização da produção
alee sua subseqüente economia, com a colaboração de artistas,
desenhistas industriais e arquitetos”. (Phillips, p. 10). No entanto,
passou-se a exaltar ainda mais a produção arte. Segundo Frampton
(1997, p. 131):
Os membros da Werkbund dedicaram-se ao
aperfeiçoamento da formação artesanal e ao estabelecimento
de um centro que fomentasse os objetivos de sua instituição.
Como seria de imaginar, dada a natureza heterogênea do
grupo fundador, a Werkbund não estava totalmente
comprometida com o design normativo para a produção
industrial. É significativo que o local inicialmente proposto
para a cerimônia de fundação do Werkbund fosse Nuremburg
o cenário de Die Meistersinger (Os mestres cantores), ópera
de Wagner em que o compositor aborda o tema das guildas
artesãs.”
13
O “Arts and Crafts” foi um movimento que surgiu na Inglaterra, na segunda
metade do culo XIX. Propunha a exaltação do artesanato como alternativa à
crescente mecanização e produção em massa dos produtos. Defendia entre outras
idéias o fim da distinção entre o artesão e o artista. Foi influenciado por idéias de
Karl Marx. Apesar de ter perdurado por pouco tempo, influenciou o importante
movimento frans do Art Nouveau. Nilkolaus Pevsner aponta o movimento como
uma das raízes do movimento moderno (desenho gráfico, industrial e arquitetura).
14
Na exposição da Werkbund de 1914, por meio de discurso de Muthesius, fica
clara uma nova condição da produção industrial: uma precondição para a
exportação é a existência de empresas grandes e eficientes, cujo gosto seja
impecável. Os objetos individuais criados por artistas
o cobririam nem mesmo a demanda na Alemanha.Nota-se no momento uma
busca formal e estrutural do novo envelope para o edifício industrial. A arte para
exportação demonstrava a busca por uma estética industrial universal, seja no
campo dos produtos ou da arquitetura. Essa posão de foi combatida por
arquitetoscomo Henry van de Velde e pelo pprio Peter Beherens, que
conseguiram que Muthesius repensasse o trecho para: “o caminho que leva do
individualismo à criação de tipos é o caminho orgânico do desenvolvimento”.
Figura 21 - Fábrica Nauen, Hermann
Muthesius, ALE. Fonte: http://
blog.uncovering.org/archives/2004/12/
equavocos_da_ar_1.html Acesso em 26.01.09 às
17:29:10h.
Figura 22 - Poster da Exposição da DW
em Colônia, ALE, 1914. Fonte: http://
www.saplei.eesc.usp.br/sap612/
Semin%E1rio_2006_entrega/BERLIM/
SITE%20BERLIM/imagens_contexto/
deutscher%20werkbund.jpg Acesso 29.01.09 às
11:41:30h.
26
Projeto de Arquitetura
Apesar da posição da Werkbund, no mesmo ano, Peter
Behrens, que participara do grupo, projeta e constrói em 1911-1914,
para a AEG (“Allgemeine Elektricitäts Gesellschaft”), um novo
edifício industrial que propunha a construção como forma, como se
fosse um objeto de desenho industrial. As fábricas passariam então
a obedecer critérios de funcionalismo. O edifício da AEG possui
Figura 23 - Fábrica AEG de Turbinas, Berlin. Arq. Peter Behrens, 1911. Fonte:
CULTURA E INDUSTRIA, 1979, p.25.
Arquitetura da Indústria
27
grande apelo simlico pela suas formas simples de fachada,
desenhadas individualmente, um templo dedicado ao poder da
indústria”. Behrens não só o desenhou, como tamm o logotipo da
empresa, os produtos, a publicidade, dentre outras coisas, seguindo
preceitos do Arts and Crafts e da Werkbund e, por isso, é
considerado por muitos o primeiro desenhista industrial da história.
Os produtos da fábrica, de rigoroso cuidado em todos os aspectos,
espalharam-se pelo mundo todo. A arquitetura alemã, o desenho
gfico e desenho industrial alcançam novo status, estando à frente
da modernização da indústria.
Figura 24 - Elementos produzidos pelas
Fábricas AEG e comunicação visual, todos
projeto de Peter Behrens, ALE, 1908-1910.
Fonte: CULTURA E INDUSTRIA, 1979.
28
Projeto de Arquitetura
Em 1911, depois de trabalhar para Behrens, Walter Gropius
desenha o edifício dabrica Fagus. Em contraposição à linguagem
simlica das colunas utilizadas por Behrens na fábrica da AEG,
Gropius dispensa o uso das mesmas. Assim como Behrens fez na
Turbinenhalle e nas outras construções da AEG, Gropius dissolve o
canto dos edifícios, que desta vez troca a alvenaria pelo vidro.
15
“Acima do material eso espiritual, acima das
funções, dos materiais e da técnica se encontra a
forma. Estes três aspectos materiais podem ser
manejados com perfeição, mas viveamos, no
entanto, em um mundo simplesmente tonto. Por
conseguinte, temos um objetivo perante nós mesmos,
um trabalho mais elevado e importante: despertar
o conhecimento da forma e o renascer das
sensibilidades arquitetônicas.” (Phillips, 1992,
p.12)
Hans Poelzig, outro mestre alemão, em 1911 e 1912, constrói
uma indústria química em Luban, Polônia, ligada aos preceitos e
trabalhos de Behrens e Gropius. A construção em alvenaria de tijolos
de barro cozidos seguia a linha de produção da brica. A forma do
edifício nasceu meramente da linha produtiva, sem buscar
características ornamentais específicas. A forma segue a função.”
Vale lembrar que o ano de 1912 corresponde à criação da linha de
montagem por Henry Ford.
15
O edifício de Gropius não tem sua estrutura em concreto armado ou metálica
como pode parecer à primeira vista. Basicamente, o porão foi feito em paredes de
concreto não reforçado, misturado a pedra de rio. Desde o porão para cima o
edifício é construído em alvenarias de tijolos de barro travadas por pavimentos
em estrutura de madeira. Nota-se o discurso estético-formal arquitetônico entre
os arquitetos por meio da obra construída.
Nasce, portanto, uma inovadora estética da indústria, não mais baseada na
transfencia das características formais e funcionais de tipologias clássicas.
Figura 25 - brica Fagus, Walter Gropius e
Adolf Meyer, Alfeld, ALE, 1910. Fonte: Phillips,
1992, p.12.
Figura 26 - Fábrica Química, Arq. Hans
Poelzig, Luban, POL, 1911-1914. Fonte: http://
www.mimarizm.com/KentinTozu/
Makale.aspx?id=422&sid=408
Arquitetura da Indústria
29
“(…) a incorporão dos conhecimentos
científicos à gestão e à produção fabril provocaram
profundas transformações na produção industrial,
exigindo o maior desempenho do espaço fabril. Era
necessária a horizontalidade para abrigar máquinas
e linhas de montagens, extensas e seqüenciais devido
à racionalização, que implica a economia de
deslocamentos. Necessitava também de vastas
construções para armazenagem (matéria-prima e
produtos), controle e administração. A mecanização
e o uso da eletricidade incrementam os sistemas
produtivos e o condicionamento interno dos edifícios,
possibilitando romper com a tipologia tradicional, a
fábrica de naves com cobertura em shed. Afirmou-se
o vidro, o concreto e o aço. A fábrica de desenho
racionalista, rrea ou em pisos, de cobertura plana,
transparente ou mesmo totalmente fechada com
iluminação, umidade e temperatura controladas
artificialmente se estabelece. Foi ampliado o setor
administrativo, que, a exemplo das novas utilidades
(matérias-primas sintéticas e equipamentos para
acondicionamento), exigiu instalações espeficas,
bem como os serviços de caráter social (as
facilidades), tais como a assistência médica,
habitação, saúde e lazer dos funciorios. (...)”
(SOBRINO, In. SANTOS, 2006, p.26)
No final da Primeira Guerra, Erich Mendelson
16
, projetou
uma “fechada, estereométrica, cristalina formapara a Fábrica
Steinberg de chapéus, na Alemanha, 1921-1923. A nova arquitetura,
proveniente desse sistema em ebulição, foi chamada de Estilo
Internacional, o “International Style” em inglês. De forma simples,
baseava-se na busca de um desenho que respondesse à
estandartização, mecanização e produção em massa, que, assim como
descreve Phillips (1992, p.12), correspondia à bula rasa sobre onde
se começaria a construir a nova arquitetura.
16
Mendelsohn ficou conhecido pela Torre Einstein em Potsdam, projetada em
1917, com influências diretas do Teatro Werkbund de Van de Velde para a Exposição
de 1914, em Colônia. Em 1924, além de participar de uma nova revista mensal de
arquitetura, fundou junto com Ludwig Mies van der Rohe e Walter Gropius o
grupo de arquitetura Der Ring”. O grupo progressista propunha uma arquitetura
baseada no expressionismo sem abrir mão da funcionalidade. Mendelsohn chegou
a ter um escritório com aproximadamente quarenta arquitetos, tendo consolidado
o seu trabalho na República Weimar. Devido ao consumismo gerado pela nova
República Liberal Democrática, muitas de suas obras do período são centros de
comércio e lojas de departamento, tipologias industriais. Por outro lado, interessava-
se pelos experimentos socialistas da União Soviética, onde projetou a brica
têxtil “Red Flag”, em São Petersburgo. Mendelsohn trabalhou em diversos países e
no final de sua vida lecionou na “Berkeley University”, nos Estados Unidos. Do
ponto de vista filosófico, a obra de Mendelsohn entra em contradição, mas sua
obra continua a ser apreciada.
Figura 27 Jahrhunderthalle (Sala do
Centenário) , Breslau, 1913, Max Berg. Fonte:
http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Wroclaw_hala_ludowa6.jpg Acesso 07.01.09
às 17:25:15 h.
() radicalizou o emprego do concreto
armado. A capacidade em se conquistar grandes
os com secções relativamente pequenas
conduziu esse material a um papel capital na
história da arquitetura industrial.(Phillips, 1993,
p.12, traduzido pelo autor)
Figura 28 - Fábrica de Chapéus, Arq. Erich
Mendelsohn, Luckenwalde, ALE, 1921-1923.
Fonte: http://www.irbdirekt.de/daten/monudoc/
bild/2020742a.jpg
Figura 29 Antigo Abatedor La Mouche,
atual Halle Tony Garnier, Tony Garnier, Lyon,
FRA, 1917. Fonte: Roux, 2000, p.17.
É também um importante exemplo de
edificação fabril que foi reabilitado, alterando-
se o uso. O projeto de Philippe Robert e
Bernard Reichen transformou o espaço em uma
sala de exposições.
Figura 30 - Planta de Caminhões Crysler-
Dodge, Michigan, Estados Unidos, 1938.
30
Projeto de Arquitetura
1.7. ArquiteturA industriAl noculo XX
O escritório norte-americano Albert Kahn Inc. foi um dos
grandes responveis pelo desenvolvimento formal da arquitetura
de bricas, de fato, foi responsável pela transformação do termo
“edifício de fábrica” para “arquitetura industrial”
17
. A empresa de
projetos foi estabelecida em 1895 e ainda se encontra em atividades.
No livro sobre a Firma, entitulado “Industrial Architecture of Albert
Kahn Inc.”, escrito por George Nelson em 1938, este descreve que
no ano de 1937, o volume de trabalhos impressionante de Albert
Kahn correspondia a 19 por cento de todos os edifícios industriais
desenhados por arquitetos nos Estados Unidos da América,
empregando aproximadamente 400 funcionários. A organização do
ato projetual criou uma corrente de trabalho que propiciou aos
Estados Unidos rias fábricas adaptadas integralmente às
finalidades industriais, com o equilíbrio perfeito de todos os
elementos componentes, visando fornecer a cada instria os
edifícios e instalações mais adequados para a sua produção, assim
como descreve Kozlowsky (1953, p.366).
Na primeira metade dos anos 20, do século XX, van der
Rohe pregava que o futuro estaria na industrialização da construção.
Isso modificaria todo o ramo da construção, com a chegada das partes
do edifício apenas para serem montadas no local de uso. Nos edifícios
do Instituto de Tecnologia de Ilinois, Pesquisas Minerais e Metais e
“Crown Hall”, Mies refoa, em território norte americano, a sua
“monumentalização da técnica como forma”. É visível a atitude de
desenvolvimento do detalhe arquitetônico, no sentido de prover ao
edifício uma característica universal e atemporal, por meio do uso
17
Dentre os mais notáveis edifícios estão a Fábrica da Ford, em Dearborn, Michigan,
a Fábrica da General Motors Company (maior edifício do Mundo na época de sua
construção), em Indianapolis, a Fábrica da Chevrolet, em Rochester, Nova Iorque,
a Fábrica da Chrysler, em Detroit, Michigan. Apesar de todas as fábricas citadas
serem indústrias automobilísticas, executam obras de qualquer tipo de indústria.
18
Le Corbusier, em visita à brica descreveu: “A estrada que leva à fábrica é
plana e uniforme, ladeada por calçadas de lajotas marrons, é tão limpa e luminosa
quanto um salão de baile. As fachadas do edifício, de vidro brilhante e metal cinzento,
erguem-se (...) contra o céu. (...) A serenidade do lugar é total. Tudo se abre para
o exterior. E isto tem uma importância enorme para todos os que trabalham nos
oito andares internos deste edifício. (...) A fábrica de tabacos Van Nelle de Roterdã,
uma criação da era moderna, eliminou por completo todas as conotações
anteriormente associadas à palavra proletário”. E esse desvio do instinto egoísta
de propriedade, que ali caminha para um sentido de ão coletiva, leva a um
resultado extremamente feliz: o fenômeno da participação pessoal em cada etapa
do empreendimento humano.
(FRAMPTON, 1997, p.162)
Arquiteto Albert Kahn. Fonte: BERGERON,
2000, p.199
Figura 31 - Neue Nationalgalerie, Mies van
der Rohe, Berlim, 1968. Fotos do autor, 2004.
Os edicios mais importantes do arquiteto
fazem uso de materiais representativos da era
industrial, como o aço e vidro. A preocupação
com os detalhes, o minimalismo” faz com que
estes edifícios resultem em formas elegantes e
cosmopolitas. É do mesmo arquiteto a frase
em alemão “Weniger is mehr” que se traduz :
menos é mais, ou, no inglês, sua versão mais
conhecida, “less is more”.
Figura 32 - Fábrica de Tabacos Van Nelle,
Arqs. Brinkman e Van der Flugt, Roterdam,
Arquitetura da Indústria
31
correto e reticular dos materiais. Nesse contexto, executou-se a
Fábrica Van Nelle
18
de Roterdam, dos arquitetos Brinkman e Van
der Vlugt, em 1926 - 1930. Os volumes da fábrica em múltiplos
pavimentos, a divisão das funções em edifícios colocados lado a
lado e a regularidade das divisões das fachadas de vidro, são
características do “Estilo Internacional”.
19
1. Pilotis Uso de colunas para levantar a massa do chão;
2. Teto Jardim – O uso da laje plana da cobertura com jardim, de forma a conectar
o edifício com o exterior e reintroduzir a natureza;
3. Pavimento Livre Uso de colunas para dividir os espaços ao invés de paredes;
4.Fachada Livre A possibilidade das aberturas serem de qualquer tamanho e
espessura, compondo com o pavimento livre; 5.Janelas Horizontais longas janelas
horizontais que criam um aspecto horizontal do edifício.
HOL, 1926-1930. Fonte: wikipedia. Corte Redesenho a partir de FRAMPTON, 1997, p.173.
Figura 33 - Fábria Farmacêutica Boots, Arq. Owen Williams, Beeston, ING. Fonte: Phillips, 1992, p.19.
Figura 34 - Fábrica Red Flag, Arq. Erich
Mendelsohn. Fonte: Wikipedia.
A estrutura dos pavimentos era em concreto armado, sendo
os pilares em forma de cogumelo (ver corte acima). O mesmo
princípio estrutural foi usado na fábrica farmautica Boots”, em
Nottingham, Reino Unido, do engenheiro Sir Owen Williams, outro
importante arquiteto industrial, de 1932. As fachadas o todas em
vidro. O edifício da brica Boots lembra estruturalmente a
“Maison Domino” (1915-19) de Le Corbusier e os cinco pontos da
Arquitetura Moderna
19
. Esta fábrica quase não foi realizada devido
à posição reacionária nazista a tudo que fosse o Estilo
Internacional”.
32
Projeto de Arquitetura
Em 1925, quando a Bauhaus, que nesse momento passou a
ser dirigida por Walter Gropius, se transladou a Dessau, ocorre um
importante momento histórico de síntese entre arquitetura, arte,
engenharia e prodão, muito influentes sobre o culo vinte e sob
esse contexto de estética fabril. No entanto, o Nazismo fechou a
Bauhaus em 1933. Mies van der Rohe foi para os Estados Unidos
da América e Gropius, Eric Mendelsohn e Macel Breuer foram para
a Inglaterra onde a “Nova Arquiteturagozava de prestígio
20
.
“As obras de Gropius para a brica
Deutzer para a exposição de Colônia em 1914, os
de Adolfo Abel para as sistematizações hidráulicas
do Neckar, os de Behrens para a A.E.G., os de
Brinkmann e Van der Flugt para as oficinas Van
Nelle na Holanda, os de Mattè-Trucco para o
grande conjunto da FIAT-Lingotto nasceram desse
entusiasmo total e são justamente considerados
entre as mais significativas obras de arte da história
da arquitetura moderna européia.” (PAGANO, In.
MAZZOCHI, 1956-7, p.415)
20
Durante a generalização do perigo nazista, o Movimento Moderno e a diáspora
de arquitetos afins se converteram ao Estilo Internacional e à sua correspondente
teoria. O grande arquiteto finlans Alvar Aalto predicou em seu país o recente
evangelho suíço do CIAM, com o propósito de influenciar os mestres escandinavos
Sven Markelius e Gunnar Asplund; enquanto que o georgiano Berthold Lubetkin
se mudou para Paris e formou a equipe inglesa Tecton.
(PHILLIPS, p. 18)
21
O problema da arquitetura moderna não é um problema de reorganização
linear. Não se trata de encontrar novos perfis, novas esquadrias para janelas e
portas, substituir colunas, as pilastras, as mísulas por cariátides, por moscões, por
rãs; o se trata de deixar as fachadas em tijolos nus ou de rebocá-la ou de
revesti-la de pedra;o se trata, em uma palavra, de determinar diferenças formais
entre o edifício novo e o velho, mas sim de criar totalmente a casa nova, constr
da reunindo todos os recursos da ciência e da técnica, satisfazendo senhorialmente
toda exigência de nossos costumes e de nosso espírito,... determinando novas
formas, novas linhas, uma nova razão de ser somente nas condições especiais da
vida moderna... Essa arquitetura não pode, naturalmente, estar sujeita a nenhuma
Figura 35 - FIAT Lingotto, Mattè-
Truco,Turim , ITA. A fábrica contava com uma
pista de testes de automóveis na sua
cobertura. Fonte: http://
www.istitutopontevaltellina.it/alunni/automa/
html/il_lingotto.htm Acesso em 27.01.09 às
11:09:30h.
A fábrica apresenta características do futurismo
italiano. Conta com uma célebre pista de testes
implantada sobre a vasta área resultante na
cobertura do edifício.
Figura 36 - Desenhos de Sant´Elia. Fonte:
Wikipedia.
Arquitetura da Indústria
33
Uma contraposição à gica cartesiana da Bauhaus ocorreu
por meio do trabalho do jovem arquiteto italiano Antonio Sant’Elia
21
(1888-1916), provavelmente influenciado pela obra de Giacomo
Mattè-Trucco, por meio do movimento que foi chamado de
Futurismo. Essa nova corrente, por sua vez, buscava o movimento,
a velocidade e a desordem, quase como um relato sobre a indústria
automobilística, assim como descreve Phillips (1992, p.14). A
industrialização impunha uma nova ordem mundial de mudanças e
movimentação. Sant’Elia, no catálogo da exposição do grupo “Nuove
Tendenze” estabeleceu princípios fundamentais que regeram a
arquitetura industrial do século XX. Infelizmente o existem
exemplares construídos da obra de Sant’Elia, devido à sua morte
prematura. Existem desenhos, muitos deles perspectivas “dramáticas”
dos edifícios e pouquíssimas plantas e cortes. Em alguns trechos do
manifesto do grupoNuove Tendenze”, as idéias são extremas, mas o
texto possui coerência de quem conseguiu ver além de seu tempo,
mesmo assim, suas prerrogativas foram experimentadas de forma
concreta por Le Corbusier e Theo van Doesburg, na exposição De
Stijl, de 1923, publicada no “L’Effort Moderne”.
“Não transcorreram muitos anos após o
tempo em que um edifício realizado para o uso
industrial o era considerado obra arquitetônica
no sentido nobre da palavra, ou somente o era
quando seu organismo vinha revestido de
“arquitetura”, como a escala acadêmica do século
passado havia ensinado.
Viam-se, de fato, estações ferroviárias de
aparência mais de acordo com entradas de
cemitérios, centrais elétricas em forma de pagodes
ou templos. Eram essas as primeiras expressões de
organismos totalmente novos e para elas
procuravam-se formas que exprimissem
monumentalidade volumétrica.” (Mazzochi, 1956-
7, p.333)
lei de continuidade histórica. Ela deve ser nova, como são novos o nosso estado
de espírito e as contingências de nosso momento histórico. A arte de construir
pôde envolver no tempo e passar de um estilo ao outro mantendo inalterados os
caracteres gerais da arquitetura porque, na história, são freqüentes as mudanças
de moda e as determinadas pelas ocorncias de convicções religiosas e pela
suceso dos ordenamentos políticos; mas são raríssimas aquelas causas de
profundas mudanças nas condições do ambiente que põem fora de uso e renovam,
tal como a descoberta das leis naturais, o aperfeiçoamento dos meios mecânicos,
o uso racional e científico do material. Na vida moderna, o processo conseente
de desenvolvimento estilístico da arquitetura é detido. A arquitetura destaca-se
da tradição; começa-se forçosamente do início. Sant’Elia, catálogo da mostra do
“Blau Reier” de 1913. (BENEVOLO, 1976, p.388)
Figura 37 - Fábrica de Papel Burgos, 1963,
Mantova. Arquiteto Pier Luigi Nervi. Fonte:
34
Projeto de Arquitetura
Nos anos 40 e 50, a estrutura caracterizou a essência do
edifício industrial. Nessas cadas surge uma estética organicista e
tectônica, no sentido de que as construções seguem naturalmente as
características construtivas, diagramas de esforços, quase que como
a exaltação das forças da Natureza. No Pavilhão de Exposições de
Turim (1948), o engenheiro Pier Luigi Nervi conseguiu alcançar o
importante vão de 60 metros com o uso de pequenas peças pré-
fabricadas em argamassa armada. Nervi desenvolveu as estruturas
em casca que foram difundidas por muitas edificações industriais,
como por exemplo, a fábrica de papel Burgos de 1962, erguida em
Mantua, Itália. A necessidade de uma grande sala para a instalação
das grandes máquinas fez com que Nervi trabalhasse com uma
cobertura atirantada a dois grandes pórticos de concreto armado,
assim como ocorre nas pontes pênseis.
Nos anos 50, na brica Goldzackwerke, na Suíça, dos
arquitetos Danzeisen e Voser, o engenheiro Heinz Hossdorf
desenvolveu um sistema de suporte metálico, baseado em vigas
curvas, que sustentava cascas em concreto, sistema que foi utilizado
no Brasil. A disposição das vigas nos sheds de iluminação
possibilitou que a espessura das cascas fosse minimizada.
http://en.structurae.de/photos/
index.cfm?JS=51645 Acesso em 24.09.08 às
14:47h) Fotógrafo Yoshito Isono.
Figura 38 - Fábrica de Rum Bacardi, Cidade
do México, Arquiteto Felix Candela. Fonte:
Arquitetura da Indústria
35
Alguns arquitetos latinos trabalharam com as cascas, como
é o caso do mexicano Felix Candela, em 1969-70, para a fábrica da
Bacardi, ou do engenheiro-arquiteto Eladio Dieste, no Uruguai, onde
construiu um enorme número de diferentes estruturas em cascas de
tijolos de barro cozidos. Dentre essas estruturas encontram-se silos
para gos, sheds fabris, mercados e igrejas, todos com elegância e
técnica excepcional. Apesar do desenvolvimento tecnológico e
complexidade das formas, os sistemas possuíam simplicidade
construtiva quase que intuitiva e economia de materiais
22
, situação
ideal para o contexto latino-americano da época. Foi durante estas
duas décadas que apareceu a noção de preservação dos edifícios
industriais. Notou-se que a tipologia industrial está relacionada
intimamente com a cultura de cada país, sua história social,
econômica e da técnica
23
.
22
Na maior parte dos casos, as constrões se dão por meio de parábolas
catenárias. A estrutura trata-se de abobadas catenárias que se cruzam. As catenárias
de Candela contém as idéias de desenho estrutural baseado na direção das foas
atuantes, fazendo com que se usem os materiais de forma econômica.
23
Nos últimos anos vem se ressaltando a importância da “Arqueologia Industrial“,
termo criado provavelmente por Donald Dudley nos anos 50 (KÜHL, 1998, p.222).
“Seu aparecimento pela primeira vez em uma publicação data de 1955, quando
Michael Rix, em artigo em “The Amateur Historian”, clama pela documentação e
preservação dos testemunhos da industrialização, muitos deles ameaçados de
destruição. No Brasil, por exemplo, podemos notar os primórdios de uma
industrialização na Época Colonial, com os Engenhos de Açúcar. Assim como, na
Europa, são mais notáveis os primitivos moinhos têxteis e as fundições. De fato,
devem ser preservados não apenas monumentos arquitetônicos, mas sim, os
edifícios que são representativos de uma fase social, cultural e econômica de cada
país. HL(1998, p.221) aponta para a dificuldade da manutenção desses
edifícios:“O patrimônio histórico que concerne à instria é especialmente sensível
por ocupar, geralmente, vastas áreas em centros urbanos e sua obsolescência e
falta de rentabilidade tornam bastante delicada a questão de sua preservação.
Desaparecem não apenas os edifícios industriais em si, mas também os vestígios
dos produtos ali fabricados, dos métodos de produção, das condições de trabalho
e moradia do operariado, das relações sociais e espaciais em uma cidade ou região.
www.mexicoreis2008.nl/.../Mexico-Stad.html
Acesso em 22.01.09 às 10:40:10 h.
Figura 39 - Oceanário de Valencia, Arq. Felix
Candela, ESP. Foto do autor, 2004.
A cobertura deste edifício foi realizada em
cascas de concreto armado, tecnologia
importada dos projetos fabris do mesmo
arquiteto.
Figura 40 - Silo Cadyl, Eladio Dieste, Young,
URU, 1978. Fonte: JÜTTNER, 2004, p. 62.
A figura acima apresenta uma casca finalizada,
executada com em alvenaria armada de tijolos
de barro cozidos maciços argamassados. Á
direita, por sua vez, podemos visualizar a precisa
forma realizada em madeira com a posição de
cada um dos tijolos. Nota-se a escala da
construção pela comparação com a dimensão
dos operários.
O silo horizontal de Eladio Dieste apresentava-
se particularmente econômico em relação aos
silos verticais na relação custo por tonelada de
grãos armazenados.
36
Projeto de Arquitetura
Em 1958, a arquitetura industrial retoma novamente os
rumos dos aspectos formais de componentes industriais. A
experiência do arquiteto Myron Goldsmith que projetou os hangares
de manutenção da United Airlines” em São Francisco, Estados
Unidos, é um dos exemplos. O edifício possui pilares em concreto
armado e as vigas de cobertura melicas. A vantagem do sistema
era a possibilidade da exteno para as duas direções, seguindo as,
cada vez mais importantes, características de expansão e flexibilidade
industrial.
Os sistemas construtivos pré-fabricados e flexíveis foram
aprimorados com o trabalho do arquiteto Fritz Haller, que projetou,
na cada de 60, um sistema aberto para a fábrica em Münsigen,
Suiça, baseado em estudos tipogicos das atividades das indústrias
sintetizados num apuro ímpar pelo detalhe das peças, assim como
ocorrera na obra de Mies van der Rohe. O edifício para uma fábrica
de esquadrias melicas foi pensado em modulação até mesmo com
o design do mobiliário. Hoje em dia, é interessante que a produção
da brica da USM “Modular Furniture Systemvoltou-se totalmente
para o mobiliário, que é o mesmo desde a cada de 60, e já é
considerado um clássico do design, participando inclusive da
exposição permanente do MOMA, Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque. O museu utiliza-se do mobiliário em sua parte administrativa.
A clareza das atividades, demonstradas pelo todo
construtivo pré-fabricado ou não, demonstra a vontade em se
observar o processo produtivo em andamento, o que influenciou
alguns edifícios da época. O prédio da faculdade de engenharia da
Universidade de Leicester, na Inglaterra, de 1959, projetado pelos
arquitetos James Stirling e James Gowan, é composto por diversos
volumes diferentes e prismáticos justapostos, que apresentam, em
fácil leitura, as diversas atividades como os ateliers, laboratórios e
escritórios. Combinaram “formas canônicas do movimento moderno
com elementos extraídos do vernáculo industrial e comercial da
Liverpool de Stirling.” (Frampton, 1997, p. 325)
A partir da década de 60 surgiram edifícios que já o
buscavam a “verdade” estrutural que era pregada anteriormente. Um
caso interessante é o da Fábrica Farmacêutica em Nova Iorque
Figura 41 Fábrica e mobiliário USM, Arq.
Fritz Haller, SUI. Foto: T.B.R. Bortolato, 2008.
Arquitetura da Indústria
37
projetada pelo arquiteto Paul Rudolph, em 1964. O edicio
privilegiou a aparência volumétrica sobre a estrutura. Podemos
inserir este edifício dentro do “Brutalismo”. A alta tecnologia e a
cultura pop foram os dois femenos que marcaram o discurso
arquitetural internacional dos anos 60.” (BIERMANN et al., 2003,
p.770)
Figura 42 - Fábrica Farmacêutica Bristol-
Myers, Nova Iorque, EUA, 1964. Fonte: http://
ww1.prweb.com/prfiles/2005/08/25/277119/
1000StewartAve.jpg
Figura 43 - Desenhos Archigram. Fonte:
www.skyscrapercity.com
O High-tech”, tipicamente inglês, surgiu neste período.
Dentre os grupos que propunham essa nova vio, o mais importante
foi o Archigram”. Esse grupo, composto por jovens arquitetos
britânicos, propunha projetos futuristas, cidades utópicas,
misturando o rio com o divertido, para uma civilização globalizada
e altamente tecnicizada.(BIERMANN et al., 2003, p.770)
38
Projeto de Arquitetura
A partir dos anos setenta, desenvolveram-se muitos edifícios
e sistemas construtivos que permitiam a expansão, flexibilidade e
mudaas de usos. A malha construtiva ganhou importância. É o
caso, por exemplo, da brica de componentes eletrônicos em
Swindon, Reino Unido, projetada pelo TEAM 4 do qual faziam parte
os arquitetos Norman Foster e Richard Rogers. Na mesma cidade
está outro importante projeto industrial de Norman Foster e Ove
Arup, a Central de Distribuição da Renault, um pouco mais tardio,
de 1981-1983, que se baseia nos mesmos princípios de lógica
construtiva modular e flexibilidade. O edifício é composto por
quarenta e duas unidades de um sistema construtivo específico, de
24 metros de lado, em estrutura metálica, montadas lado a lado. O
sistema baseia-se em mastros de 16 metros de altura, localizados na
grelha de 24x24 metros, que atirantam as vigas metálicas e
conseqüentemente a cobertura do edifício. Os espaços funcionais,
como por exemplo, a central de distribuição, o centro de logística, a
sala de exposições, o centro de formação e o restaurante, beneficiam-
se da totalidade do -direito. A fachada é independente.
Figura 44 - Centro de Distribuição da
Renault, Arq. Norman Foster, Swindon, ING.
Fonte: Phillips, 1992, p.66.
Figura 45 Seção Genérica do Edifício da
Renault, Norman Foster, Fonte: http://
www.fosterandpartners.com Acesso 12.02.09
às 17:06:30h.
Arquitetura da Indústria
39
Apesar destes exemplos específicos:
a arquitetura industrial dos anos cinqüenta, sessenta
e setenta era indiferenciada, dava a impressão que as
empresas de manufatura e as indústrias de serviço
estavam satisfeitas com a vulgaridade de uma nave
simples, barata, com boas instalões, e de que
tendiam a considerar a “arquiteturauma arte
superior reservada às universidades e edifícios
públicos, à religião e ao comércio. (Phillips, 1993,
p. 22)
Figura 46 e 47 - brica Inmos -Planta de
Serviços, Cobertura e Perspectiva módulo
estrutural. Fonte Richard Rogers.
Figura 48 Foto da Fábrica de
microprocessadores Inmos, Arq. Richard
Rogers, Newport, ING, 1982. Fonte: Phillips,
1992, p.97.
40
Projeto de Arquitetura
Em 1971, anunciou-se o ganhador para o Centro Cultural
Georges Pompidou de Paris. O projeto vencedor foi elaborado por
Richard Rogers e Renzo Piano, para a região do Beauburg, entre
Les Halles e o Marais, em Paris. Apesar de ser um centro histórico
Hausmaniano, o edifício buscava uma estética contrária ao contexto
do centro histórico de Paris, novecentista, baseado no que, na época,
podia se entender pelo “High-tech”. O edifício tem sua construção
dominada pela sua ossatura aparente. Em 2007, quando Richard
Rogers ganhou o Prêmio Pritzker, o jornal novaiorquino “New York
Times apresentou o edifício como um projeto que colocou a
arquitetura mundial de cabeça para baixo, no bom sentido. O edifício
apresenta-se como um ícone do High-Tech.
As a construção do Centro Georges Pompidou, o arquiteto
Richard Rogers projetou a sede do Lloyds Bank no centro financeiro
de Londres, utilizando-se da mesma linguagem high-tech” que
remete a componentes retirados diretamente de processos industriais.
Dentro do conceito de flexibilidade das instalações industriais, todos
os dutos são aparentes, bem como instalações de elevadores e
circulação vertical por escadas. As janelas seguem formas circulares
encontradas nos visores de laboratórios. O edifício tem estrutura
metálica e diversos revestimentos, destacando-se o aço inox,
freqüentemente utilizado nas tubulações industriais, em função de
sua durabilidade. A estética é de um ambiente de produção e não de
um edifício de escritórios.
Esse processo culminou na brica de microprocessadores
Inmos, de Richard Rogers, 1982, onde são muito claras as soluções
estruturais e formais do edifício em função de suas características
funcionais. Seguindo um prinpio muito parecido, está a o Centro
Tecnológico PA, de 1985, em Princeton, Nova Jersey, Estados
Unidos. Outro exemplo é do Laboratório de Pesquisas
Schulemberger de Michael Hopkins. Localizado em Cambridge,
Inglaterra, e construído em 1984, o edifício inova pela ginástica
estrutural, de cabos, mastros e coberturas têxteis, calculada pelo
escritório Ove Arup & Partners, e pelo fato de ser voltado para o
usuário, propondo o intercâmbio entre os diversos laboratórios, num
jardim coberto no centro do conjunto, onde também se localizam a
biblioteca e o restaurante.
Figura 49 - Lloyds Bank, Richard Rogers,
ING. Fotos do autor, 2004.
Arquitetura da Indústria
41
1.8. IndústrIa e CIdade
A indústria e seu desenvolvimento são responsáveis pelas
cidades como as conhecemos hoje em dia. Foi o surgimento das
fábricas que abriu novas questões em relação à produção de bens de
consumo em grande quantidade e as novas relações destas atividades
com as cidades. As indústrias mecanizadas de grande porte
suplantaram as atividades artesanais e Corporações de Ofícios que
se localizavam nos centros das cidades. Assim, a comunicação entre
as cidades e áreas distantes sofreu grande desenvolvimento, as
cidades necessariamente teriam que ser planejadas. Arquitetos que
refletiram sobre estas questões urbanísticas, como Tony Garnier,
Frank Lloyd Wright, Richard Neutra e Walter Gropius influenciaram
fortemente o pensamento arquitetônico de suas gerações. Todos eles
viam a cidade industrial moderna e essas relações como uma “utopia
predileta”. A cidade industrial nascia pelo problema econômico e
filosófico, da organização do trabalho e da vida dos trabalhadores.
A arte, segundo Giuseppe Pagano (Mazzochi, 1956-7, p.337), estaria
ligada à produção de uma fábrica moderna, utilizando-se de uma
retórica utilitária e racional, e não apenas rebuscamentos estilísticos.
Figura 50 Cidade Industrial (“Cité Industrielle”), Tony Garnier, FRA, 1917.
42
Projeto de Arquitetura
Em 1898, no campo do Urbanismo, Ebenezer Howard
apresentou uma evolução à cidade projetada por Tony Garnier,
composta por habitações operárias em repetição infinita e dispostas
de forma insalubre. O modelo das “Cidades Jardins” de Ebenezer
Howard se apresentava bem melhor. Propunha a vida urbana com
trabalho e entretenimento e também uma saudável configuração da
área rural, com os cinturões verdes. Trinta anos depois, a Carta de
Atenas de 1933, apresentou a necessidade da luz, ar e insolação
como demandas essenciais para o desenho do meio-ambiente urbano.
Nos projetos urbanos de Arturo Soria y Mata para a Cidade
Linear de Madrid, de Garnier, de Ludwig Hilberseimer e de Le
Corbusier a indústria é colocada de forma segregada em relação à
cidade.
A partir de meados do século XX, a indústria pesada foi
complementada e posteriormente trocada por processos produtivos
que requeriam menos espaço e causavam menor poluição.
Flexibilidade e possibilidade de expansão tornaram-se cada vez mais
importantes e tornou-se possível, novamente, integrar a indústria
com o seu contexto urbano, com o trabalho e a habitação localizados
um próximo ao outro. Fato fundamental, uma vez que a sociedade
transforma-se neste momento, de tipicamente agrária para uma
sociedade urbana
24
. Por esse motivo, mais do que uma indústria em
um Distrito Industrial afastado do centro urbano, como ocorreu por
muitos anos após a Revolução Industrial, é necessário se repensar
uma indústria urbana sustentável. A evasão das Indústrias das áreas
urbanas elimina relações interessantes com o aspecto de vida das
cidades que vem cada vez mais se transformando em locais
tipicamente voltados ao setor terciário. Isso pode ter relação com a
saída das pessoas do centro antigo da cidade e sua crescente
degradação, no entanto, não é objetivo deste trabalho estudar estes
temas de forma aprofundada. Graças às tecnologias mais limpas e
compactas, maior controle da produção e normalização, pode-se
pensar numa reorientação a respeito do urbanismo e da presença
das indústrias nas cidades. A essência da cidade, entendida como
fenômeno coletivo no qual se reflete a história da humanidade, é
questionada fundamentalmente ao serem excluídas as edificações
industriais.”
(DETAIL 9)
24
O Brasil passa no presente ano de 2007, pelo primeiro momento histórico
onde a população urbana ultrapassou em número de pessoas a população rural,
segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Arquitetura da Indústria
43
Muitas plantas industriais, hoje em dia, têm reduzido
drasticamente as suas emissões. Desta forma, nada mais se apresenta
como obstáculo à sua presença dentro do meio urbano. Em Paris, na
rego do Ourcq, podemos citar iniciativas nesse sentido por meio
do projeto dos arquitetos Paul Chemetoff e Borja Huidobro. A região
do Ourcq fazia parte de uma ZAC (Zone dAnagement
Concerté”, em português, Zona de Urbanização Específica), que
consistia em um instrumento do direito urbanístico francês
estabelecido pela Lei de Orientação fundiária de 1967. Este
instrumento foi modificado inúmeras vezes, não existindo hoje
como tal. A preocupação dos arquitetos e da Administração pública
estava em criar, dentro da mancha urbana de Paris, áreas para
produção e desenvolvimento tecnológico. Nasce de uma preocupação
em se manter viável a manutenção dos empregos da cidade, bem
como, utilizar-se de uma vasta rede de transportes urbanos
instalados e ociosos em algumas regiões. No século XIX,
estabeleceu-se no local um distrito industrial em função da
localização às margens do Rio Ourcq, beneficiada pelo transporte
fluvial. O envelhecimento das indústrias fez com que a zona em
questão entrasse em declive, apesar de estar num local paralelo a
pidos e modernos servos de transporte. Para um adequado futuro
da cidade de Paris, notou-se que é importante que os subúrbios como
a zona do L’Ourcq voltem a ser partes vitais da cidade. No local
construíram-se grandes praças, vias internas e equipamentos. A
decio foi a criação, no local, de um centro plurifuncional para
pequenas empresas que pudessem absorver a mão-de-obra da região
e impedir o espraiamento da mancha urbana. Essa condição de
expulsão da indústria dos centros das cidades relaciona-se com o
saneamento básico das cidades dos culos XVIII e XIX. No entanto,
hoje existem atividades com baixo impacto ambiental que podem
voltar a ocupar essas áreas degradadas, como é o caso das empresas
de tecnologia de ponta.
25
Hoje em dia, vem sendo mais comum a criação de indústrias
em zonas urbanas, pois, assim com descreveu Seluainov, em
1961(p.13):
Figura 51 - Centro de Atividades da Região
da ZAC do Ourcq, Arqs. Paul Chemetoff e
Borja Huidobro, Paris, FRA. Fonte: Phillips,
1992, p.71.
25
Num esforço de reintegração da indústria não poluente à cidade, alguns destes
edifíciosdestinados a abrigar pequenas indústrias, retomam uma rmula já adotada no
passado. A solução não é tão nova quanto parece. exemplos de vários países como
aqueles da “rue des immeubles Industriels”, de 1980, a cidade “Clementel”, de 1937,ambos
em Paris França, e em São Paulo Brasil, no bairro do Bom Retiro os conjuntos que
abrigam pequenas indústrias de confecção. (BITTAR, 2000, p. 112)
44
Projeto de Arquitetura
“(…) Situando-se as empresas dos ramos industriais
antes indicados em zonas urbanas, diminui-se
notavelmente os custos e se encurtam os prazos da
sua construção. Assim deixam de ser necessários
alguns trabalhos custosos, tais como: rodovias de
acesso e condução de água em zonas extra-urbanas,
canalizações com as suas respectivas construções,
redes elétricas, etc. Além disso, diminui-se o volume
de construções para habitação e não há necessidade
de instalações para o transporte, já que as empresas
se prestam, tanto durante o período da construção
como no período de seu serviço, do sistema
centralizado de transportes coletivos da cidade.
O fato de localizar-se em zona urbana facilita a atração das
pessoas ao trabalho. O prazo de construção reduzido diminui o tempo
de amortização dos custos despendidos com a construção do edifício
industrial, pois, com a redução em tempo, que chega a duas ou três
vezes o prazo da construção tradicional, a produção tem antecipado
seu início.
“Na conexão das edificações industriais com outros
aspectos da vida da cidade poderiam resolver-se mais
problemas que os surgidos por falhas nesta
reciprocidade. Graças a tecnologias muito mais
limpas e compactas, a indústria cria por ela mesma
requisitos para uma reorientação. A essência da
cidade, entendida como fenômeno coletivo em que se
reflexa a história da humanidade, é questionada
fundamentalmente ao serem excldas edificações
industriais.” (DETAIL 9) (Tradução do autor)
Assim como em Paris, descrita anteriormente, muitas outras
cidades ao redor do mundo vêm sofrendo, nos últimos anos,
mudaas nas áreas industriais, que entram em decadência devido a
diversos fatores urbanos e mudanças de mercado. Em São Paulo, o
sucateamento da rede ferroviária, implantada por empresas inglesas
no século XIX, fez com que degringolassem os edifícios industriais
de bairros típicos como é o caso da Mooca. Estas regiões, uma vez
centrais, ainda apresentam-se com diversos galpões obsoletos, sendo
absorvidas por serviços e edifícios residenciais.
Mais do que questões relativas à infra-estrutura urbana, os
edifícios industriais ainda colocam novas questões que farão com
que essa tipologia modifique-se radicalmente no futuro. RICHARZ
Arquitetura da Indústria
45
(In. JÜTTNER, 2004, p. 29) expõe que o desenvolvimento, e a
manufatura de protótipos serão elaborados por trabalhadores
extremamente qualificados, que tamm terão grandes expectativas
relativas ao desenvolvimento de seus locais de trabalho.
O projeto Genesis, na cidade inglesa de Warrington, de
autoria de Hugh Cannings, David Birchell, Peter Standing e David
Gilbert, está entre essas tentativas de se propor atividades que possam
se localizar nos centros urbanos. Nasceu de uma pesquisa que
acusou a necessidade de implantar um espaço para abrigar pequenas
indústrias com atividades científicas avançadas, atividades
administrativas, de pesquisa e comerciais, voltadas à exportação de
produtos”. (BITTAR, 2000, p.112). Os parques científicos se
proliferaram por toda a Inglaterra. As autoridades locais,
universidades e setor público britânico estão estimulando esse tipo
de iniciativa. O intuito principal é que estes centros tecnológicos
garantam a prosperidade industrial do país, estando sempre entre os
países de ponta no desenvolvimento de produtos de alta tecnologia
e alto valor agregado.
No entanto, o problema atualna cidade de São Paulo é o
baixo estoque de terrenos vagos para utilização e seu custo elevado.
o Paulo poderia utilizar-se de áreas degradadas localizadas no
centro urbano mais antigo ou bairros como o caso da Mooca, região
onde se concentrava grande parte das indústrias de São Paulo no
culo XIX, que é dotado de todas as redes de infra-estrutura urbana.
Estes edifícios, por sua vez, tenderiam a ser verticais em função dos
custos mais altos da propriedade do que eventuais custos a serem
despendidos com o acesso vertical. Áreas como estacionamentos
poderiam ser reduzidas a um mínimo viável devido à proximidade
com as áreas residenciais, gerando impactos positivos no tráfego
urbano de automóveis e na qualidade de vida dos trabalhadores.
Este meio urbano, diferente do segregacionista da Carta de Atenas
de 1933, oferece a densidade e a variedade urbana necessárias a um
ambiente de vivência de qualidade e uma cidade viva”. A Carta
formulava como requerimentos para cidades saudáveis, a divio
46
Projeto de Arquitetura
em três setores: moradia, recreação e trabalho. Propunha estas
divisões entre outros motivos para manter as áreas residenciais
protegidas como por barreiras verdes das emises nocivas fabris, é
muito razoável naquele momento. Hoje em dia, pode ser questionado
em função dos avanços tecnológicos que permitam menor emissão
de efluentes.
Arquitetura da Indústria
47
2. BREVE HISTÓRIA DA ARQUITEURA INDUSTRIAL NO
BRASIL
“As grandes fábricas estão desaparecendo da paisagem da
cidade. Em bairros como o Brás e Lapa, pavilhões industriais
imensos estão abandonados ou com novas formas de
utilização. Foram transformados em depósitos de
mercadorias e até em locais de estacionamento. Mas durante
100 anos, os grandes pavilhões industriais foram um traço
característico de São Paulo. Suas paredes de tijolos
aparentes deram à cidade uma fisionomia de centro industrial
da Europa do Norte ou dos Estados Unidos. É interessante
procurar saber como surgiram essas indústrias, quem foram
seus criadores, de onde vieram e como viveram seus
trabalhadores.” (REIS FILHO, 1990, p.6)
O objetivo deste sub-capítulo não é desenvolver uma análise
completa a respeito do Desenvolvimento da Indústria Brasileira, mas
sim, apresentar, de forma sucinta, as condões que levaram à forma
da edificação industrial no país. Para isso, foi realizado levantamento
bibliogfico em livros, dissertações, teses e revistas, sob o enfoque
principal da Industrialização do Estado de São Paulo. As principais
características construtivas analisadas serão: material empregado,
cnica construtiva, relação com o espaço urbano, uso e área.
A condição de Colônia de exploração do Brasil, fez com
que a industrialização do país acontecesse de forma tardia em relação
aos países pioneiros como é o caso de alguns países europeus
Inglaterra, França, Alemanhae na América, os Estados Unidos. A
primeira fase da indústria no Brasil é a fase de sua ausência ou
negação, quando outros países já desenvolviam atividades de
produção em massa. Essa fase deu-se entre o descobrimento em
1500 e a chegada da família real em 1808, fugida das tropas de
Napoleão Bonaparte. Esse período é conhecido como da “Proibição”
e eram permitidas apenas instrias pequenas para atender o
comércio interno exemplo, calçados, vasilhames -, atividades
praticamente artesanais. Os engenhos foram a primeira forma de
manufatura e eram controlados pela Metrópole e dominados por
portugueses e holandeses. As construções em madeira, taipa e pedra,
conforme a disponibilidade no local, eram projetadas em geral por
engenheiros militares europeus, enviados à colônia para criação de
edifícios de defesa e organismos blicos das primeiras vilas.
Figura 52 - A Indústria no século XV,
pintura de Oscar Pereira da Silva, 1903. Vila
Penteado. Fonte: FAU-USP, 2002.
Figura 53 - A Indústria do século XVI ao
século XVIII, pintura de Oscar Pereira da
Silva, 1903. Vila Penteado. Fonte: FAU-USP,
2002.
48
Projeto de Arquitetura
As indústrias do ferro e têxtil começaram a aparecer por
aqui somente a partir de meados do século XVIII e XIX, o que
desagradava a Metrópole uma vez que a independência financeira
podia levar à independência política. Em 5 de janeiro de 1785, D.
Maria I assinou um alvará, extinguindo todas as manufaturas têxteis
da colônia, exceto a dos panos grossos para uso dos escravos e
trabalhadores.
Em 1808, D. João VI, recém chegado ao Brasil declarou a
abertura dos portos, fixando taxas alfandegárias aos produtos
importados de 24% em geral e 16% para os produtos potugueses.
Em 1810 um contrato comercial reduziu para os mesmos 16% as
taxas para os produtos ingleses o que foi extendido a todos os países
em 1828. Essas taxas impediam o desenvolvimento de uma instria
nacional. A primeira lei contra o protecionismo econômico e a favor
da indústria do país ocorreu apenas em 1844, decretada pelo então
Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco Lei Alves Branco –,
que determinava que os produtos importados com similares
brasileiros pagassem impostos de 60%, enquanto que os que o
tivessem similares por aqui pagariam apenas 30%. De fato, essa lei
o foi suficiente para que a indústria brasileira pudesse se
desenvolver com tamanha defasagem que possuía em relão à
indútria européia.
Os primeiros edifícios industriais europeus são considerados
as fundões de aço do início do século XVI. No Brasil, a primeira
fábrica de ferro data da segunda metade do culo XIX. Esta fábrica
estava localizada na mata cerrada do Morro de Araçoyaba, atual
Floresta Nacional (Flona) de Ipanema, no município de Iperó, região
de Sorocaba, São Paulo. Europeus, sobretudo espanis e
portugueses, à frente de indígenas e mamelucos, retiravam de fornos
uma massa pastosa e incandescente que era levada para o malho e
transformada em barras” (TOMAZELA, 2007, A29). A Real Fábrica
de Ferro Ipanema foi criada por uma Carta Régia de 1810 e produziu
ferro e aço de 1811 a 1895.
No final do século XIX, quando já ocorria a Segunda
Revolução Industrial, marcada pela presença da tecnologia, ou seja,
incorporação dos conhecimentos científicos às cnicas industriais
(Santos, 2006, p.26), o Brasil ainda se apresentava um século em
atraso em relação aos países desenvolvidos.
Em 1846 a indústria têxtil recebeu incentivos fiscais e no
ano seguinte, matérias-primas em geral, necessárias à indústria do
país. No entanto, a indústria ainda não tinha como se desenvolver
Figura 54 Fornos e Real Fábrica de Ferro
Ipanema, Iperó, SP. Fotos de AndBonacin e
Ricardo Koracsony. Fonte: http://
www.panoramio.com/photo/2728744 e http:/
/www.panoramio.com/photo/10674699
Acesso 26.01.09.
Arquitetura da Indústria
49
uma vez que o país ainda apresentava um regime escravocrata, sendo
pequena a disponibilidade de mão-de-obra de trabalhadores livres e
assalariados e portanto, pequeno o mercado consumidor.
O ano de 1850 é fundamental para a indústria brasileira. A
Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos trouxe
conseqüencias importantes: o capital empregado na compra de
escravos foi destinado ao desenvolvimento industrial, e a cafeicultura
em desenvolvimento crescente incentivou a imigração ao país em
grande escala, constituindo-se assim, uma nova classe de
trabalhadores assalariados e, portanto, pela primeira vez, um mercado
consumidor efetivo. A entrada do Brasil na era industrial e o
desenvolvimento industrial de proporções significativas, no entanto,
ocorrem apenas nos anos cinqüenta do século XX. Vale lembrar
que fora da Grã-Bretanha, a Revolução Industrial estava longe de
ser completa, mesmo em 1880; a Alemanha entrou no estágio
industrial em 1870 e os Estados Unidos durante os anos seguintes a
1860, embora não tenha conseguido uma estrutura firme até o final
do século
26
.
A Industrialização de São Paulo, especificamente, foi
provocada pelo corcio do café e os lucros obtidos com a venda
desse produto no mercado externo. WARREN (1971, p.10) destaca
que o café proporcionava o pré-requisito elementar de um sistema
industrial a economia monetária. Foi o excedente de dinheiro
advindo da exportão do café que custeou, inclusive, melhorias
fundamentais para a industrialização, dentre elas as ferrovias, a Rede
de Energia elétrica, a rede de gás, os bondes e o mais importante, a
transformação social. O mesmo autor cita que as linhas ferrovrias
foram construídas, em grande parte, com dinheiro particular dos
plantadores, seduzidos pela perspectiva do frete do café. Em 1830,
foi fundada a escola de Direito e antes mesmo da Primeira Guerra
Mundial, as escolas de Engenharia, Comércio, Medicina e Biologia,
custeadas pelo café.
Nestor Goulart Reis Filho (1990, p.6) descreve como a época
da implantação das primeiras grandes bricas do Estado de São
Paulo, o período compreendido entre as cadas de 1860 e 1890.
Isso ocorreu, portanto, antes das grandes correntes migratórias,
alterando a noção de que os imigrantes foram os responsáveis e
merecem honra pelos primeiros passos na industrialização de o
Figura 55 - Estação do Valongo, Santos, São
Paulo. o Paulo Railway Company, Localiza-se
ao lado dos antigos aramazéns de café do Porto
de Santos e próximo ao edifício da Bolsa do
Café. Foi também porta de entrada de
emigrantes embarcados para a cidade e interior
do Estado de São Paulo. Mão-de-obra
estrangeira que significou por muitos anos a
quase totalidade dos operios das instrias
paulistas. Foto do autor, 2005.
26
A Energia até1850. In A Invenção da Máquina a Vapor, op. cit. pp.73.
50
Projeto de Arquitetura
Paulo. Esta idéia vem do fato de entre 1890 e 1900 a cidade de São
Paulo ter a sua população composta por 50% de imigrantes e em
algumas fábricas 90% dos operários serem europeus. Nas primeiras
décadas, no entanto, as bricas foram criadas pelas famílias mais
ricas, ligadas às atividades mercantis e à produção de ca. Dentre
os nomes mais importantes estão: Silva Prado, Aguiar de Barros,
Penteado ou Lacerda Franco, Rodovalho ou Pacheco Jordão, Souza
Queiroz e Souza Aranha. Os primeiros imigrantes de peso
equivalente apareceram então no final doculo: Matarazzo, Crespi,
Scarpa e Siciliano.
Nestor (1990, p.6) observa ainda que:
“(...) Foi depois de 1889, com a implantação da República,
que se tornou mais simples a criação de empresas e se
multiplicaram as oficinas e instalações industriais. A partir
desse momento, ganharam importância as empresas de
pequeno porte, fundadas por imigrantes.”
MAFFEI (1982, p.13-4) por sua vez, aponta como 1870 o
ano do início da implantação da indústria no Estado de o Paulo e
dividiu as fases de expansão Industrial deo Paulo em 5 períodos,
compreendidos, respectivamente, a a década onde se insere a sua
pesquisa: Primeiro Período, de 1870 a 1920, Segundo Período, 1920
a 1940, Terceiro Período, de 1940 a 1955, Quarto Período, de 1955
a 1965 e Quinto Período, de 1965 a 1980.
O primeiro período constituiu-se dos seguintes tipos de
indústria: têxtil, couros e peles, madeira, metalurgia, cerâmica,
produtos químicos, alimentação, vestuários e mobiliário. As fábricas
eram pequenas e muito rudimentares, configuravam-se como
pequenas oficinas.
“Como a exigência de espaço devido aos equipamentos
era pequena, e não tinham problemas de poluição ou
ruído excessivo, funcionavam em casarões, que eram
edificões de 2 andares com a mesma solução usada
para as casas comerciais, ou seja, no nível da rua
funcionavam as oficinas e no andar superior, o
escritório e às vezes, a casa do proprietário, como é o
caso da Fábrica Nacional de Chapéus na rua onde hoje
é a Ladeira do Ouvidor, no centro histórico de São
Paulo, e da Fábrica de Chapéus Scritzmayer e Cia., na
Arquitetura da Indústria
51
rua Quirino de Andrade, que começou a sua atividade
em 1853. (MAFFEI, 1982, p. 28)
A Guerra Civil nos Estados Unidos estimulou, desde a
década de 1860 a produção algodoeira na província de São Paulo.
A abundância desta matéria-prima, por sua vez, estimulou a
indústria, sendo que no final da cada já se instalavam na província
as primeiras fábricas têxteis e nos anos seguintes na capital. A
primeira fábrica têxtil da capital chamava-se Companhia Industrial.
Foi fundada, em 1874, pelo major Diogo de Barros. Possuía cerca
de 150 teares e 400 operários, mas, o mais interessante foi a
instalação, em 1880, de um gerador que permitia iluminação etrica
em seu interior. Solução que passou a ser adotada por todas as
grandes fábricas de São Paulo, pois permitia o trabalho noturno.
(Reis Filho, 1990, p.6)
O grande surto de industrialização que acontece em o
Paulo a partir de 1900 tem relação com as condições econômicas
favoráveis por meio da expansão da cultura cafeeira. O valor atingido
pelo produto no mercado externo propiciou ao Estado de São Paulo
investimentos ligados à sua rede ferroviária e Porto de Santos
27
.
Am desses avanços ocorreram melhorias nos sistemas de energia
etrica, segundo RUFINONI (2004, p.33). A autora cita ainda que
a disponibilidade de o-de-obra foi fundamental para o
desenvolvimento industrial. o Paulo absorveu grande fluxo de
imigrantes em busca de melhores condões de vida no Mundo Novo,
fugidos, na sua maior parte, da Europa, em tempos de instabilidade
política.
Até 1880, a cidade de São Paulo contava com dezesseis
fábricas, número que passou a 39 entre 1895 e 1901. (RUFINONI,
2004, p.34) Estas fábricas em sua maior parte pertenciam a
estrangeiros que acreditavam no lucro vinculado à economia
cafeeira. A indústria de tecidos de algodão se destacava sendo a
principal atividade da cidade nas primeiras cadas do século XX.
Em São Paulo a indústria se implantou ao longo das ferrovias, pois
além de facilitar o escoamento da produção, era por meio das
ferrovias que os imigrantes se estabeleciam em São Paulo, tornando
as regiões próximas em bairros operios e industriais. Veremos a
seguir que a política de implantação rodoviarista a partir da cada
de 50 fez com que muitas destas indústrias fossem abandonadas.
Figura 56 - Flieg, Hans Gunter.brica de
calçados Clark. Rua da Mooca. São Paulo.
O PAULO / Brasil. 1954. Acervo Instituto
Moreira Sales.
“A fábrica da Clark, instalada em 1904 no bairro
da Mooca, São Paulo, foi a mais moderna do
Brasil, com aproximadamente 200 máquinas e
uma produção de 20.000 pares de calçados por
s. A maior parte da venda era de calçados
para homens, e algumas das maiores vendas
foram para o exército nacional, assim como para
o Corpo de Bombeiros de São Paulo. A loja
mais elegante, em 1910, situava-se na esquina
da Rua do Ouvidor com a travessa do Ouvidor,
no Rio de Janeiro,com grandes vitrines,
confortáveis cadeiras e bem dispostas
prateleiras. Uma nova fábrica de calçados para
senhoras foi construída em 1949 na rua da
Mooca, em São Paulo, assim como outra fábrica
inaugurada em 1953 no bairro do Ipiranga,
também em São Paulo. Na foto, a Fábrica de
calçados Clark, onde hoje é o edifício da
Imprensa Oficial do Estado, na rua da Mooca.
(Instituto Moreira Sales)
27
No ano de 1867 foi inaugurada a estrada de ferro Santos-Jundiaí na sua
extensão de 139 km.
52
Projeto de Arquitetura
Do ponto de vista construtivo RUFINONI (2004, p.43)
destaca que as fábricas paulistanas não variavam muito. “Os grandes
edifícios que chegavam a ocupar um quarteirão inteiro geralmente
eram construídos em alvenaria de tijolos aparentes e estrutura de
ferro fundido ou aço”. Algumas vezes a alvenaria tinha papel
estrutural e os pilares em aço fundido possuíam apenas a função de
suportar parte da estrutura da cobertura. A solução em tijolos induzia,
provavelmente, a soluções de vãos de portas e janelas altas em arcos
abatidos, com espaço reduzido de verga. A maior parte destes
edifícios era realizada em pavimentos simples, no entanto, existem
ainda hoje, exemplares de edifícios verticalizados como o Cotonifício
Crespi, de 1897, autoria de Giovanni Batista Bianchi
28
, por exemplo.
A estrutura metálica de muitos dos galpões foi importada. Muitas
destas estruturas eram em shed vedados por vidros que permitiam a
iluminação zenital e podiam, em certos casos, serem abertos para
propiciar a ventilação. As tesouras e teas eram metálicas, na maior
parte dos casos, e caibros e ripas eram de madeira. Utilizavam-se
telhas cerâmicas importadas da França. Os caixilhos em geral eram
executados em ferro, poucas vezes em madeira. Ornamentos eram
realizados mediante aparelhagem cautelosa dos tijolos. Em relação
à implantação urbana, RUFINONI classifica estes edifícios como
lotes-quarteirão. Em geral eram blocos contínuos e compactos de
massa edificada, alinhada à calçada pública, sem jardins ou quintais
no seu interior. Nota-se que o existiam diversas preocupações
relativas ao urbanismo e condições de salubridade.
28
Os pé-direitos deste edifício variam entre 4,00 e 5,00 metros de altura. Os pilares
estão dispostos em malha quadrangular de 7,00 x 7,00 metros.
Figura 57 - . Lanifício Ítalo –Paulista
(Galpões Industriais), 1912 ,localizado à Rua
João Bohemer, no Brás. Fonte: BAYEUX, 19-?.
Arquitetura da Indústria
53
As ferrovias foram implantadas pelas margens dos rios, em
regiões mais baixas, de forma a minimizar as dificuldades
proporcionadas pelo relevo do planalto, sobre o qual está a cidade
de São Paulo. Por esse motivo, muito dos terrenos onde foram
instaladas as edificações industriais pertencem a zonas com solo
úmido. Em muitos casos, como por exemplo, nos galpões das
Indústrias Matarazzo, localizados no bairro do Jaguaré, em São
Paulo, as fundações foram executadas com estacas de pinho. A
madeira constantemente umedecida não apodrece e nem perde suas
propriedades de resistência mecânica.
Sob o ponto de vista construtivo, todos os edifícios
industriais paulistas desse período apresentam as mesmas
características. Todos constituem simples invólucros em tijolo,
madeira e ferro. As produções internamente desenvolvem-se em
função de sua melhor racionalidade e produtividade, no entanto,
nessa época ainda definem pouco o edifício. De fato, o sistema
construtivo utilizado era baseado no conhecimento construtivo da
época e na disponibilidade de materiais. A diferea em relação à
profusão de elementos decorativos nos edifícios ecléticos do mesmo
período está no fato de que estes tinham muitos de seus componentes
e materiais construtivos importados, o que encarecia a construção,
e não era interessante no caso da arquitetura industrial.
Dentre importantes arquitetos do período estão: Julio
Michele
29
Galpão da São Paulo Alpargatas, 1907; Giovanni Batista
Bianchi Cotonifício Crespi, 1897; Ramos Azevedo e Ricardo
Severo Armazéns Ernesto de Castro e Victor Dubugras Armans
Gerais Piratininga.
A implantação industrial ocorreu junto com a criação das
vilas operárias, com loteamento urbano bem distinto daquele da
ocupação das indústrias. Os pequenos lotes, geralmente
unifamiliares, eram concedidos aos trabalhadores pelos industriais,
na tentativa de obter benefícios, como a fidelidade do trabalhador à
brica.
O Segundo período, segundo MAFFEI, constituiu-se dos
seguintes tipos de indústrias: extração de produtos minerais, de
produtos vegetais, metalúrgicas, mecânicas, transformação de
minérios não-metálicos, madeiras e produtos afins, papel e papelão,
borracha, óleos e graxas vegetais, couros e peles, químicas-
Figura 58 - Lanifício Ítalo –Paulista, Via
Central e Chaminé. Fonte: BAYEUX, 19-?.
29
Arquiteto italiano, autor de importantes projetos na cidade de o Paulo como é o
caso do Viaduto Santa Ifigênia. (RUFINONI, 2004, p.89)
54
Projeto de Arquitetura
farmacêuticas, pêlos e penas, xteis, vestuário e calçados, produtos
alimentares, bebidas e estimulantes, construção civil, produtos de
eletricidade, editoras e gráficas.” (MAFFEI, 1982, p.14) A expansão
da indústria deu-se principalmente em função de que as nações,
envolvidas na Primeira Guerra Mundial, deixaram de cumprir os
contratos de exportação para o Brasil. A falta dos produtos
impulsionou o desenvolvimento industrial para atender o mercado
interno. RUFINONI (2004, p.38) destaca que o aumento da produção
industrial alcançou, em 1920, cifras que a equiparavam com a da
produção agrícola, despertando assim maior interesse das autoridades
governamentais em relação às possibilidades econômicas da indústria
nacional.
“(...) De acordo com o levantamento realizado pelo
Centro Industrial do Brasil em 1907, o Estado de
São Paulo possuía pouco mais de 300
estabelecimentos industriais e ocupava o segundo
lugar no país, logo atrás do então Distrito Federal,
com aproximadamente 800 estabelecimentos. A
partir de 1910, no entanto, São Paulo assume a
primeira posição, centrando sua produção
principalmente na indústria de transformação. No
recenseamento de 1920, logo as a Primeira
Guerra Mundial, observamos um aumento
considerável no número de indústrias, mais de 4000;
destaca-se também uma maior diversificação dos
artigos produzidos. No levantamento de 1940,
novamente outro salto quantitativo totalizando mais
de 14 mil estabelecimentos industriais no Estado.
(...)” (RUFINONI, 2004, p.39)
De fato o crescimento significativo da indústria se dá a partir
da cada de 1920. É nessa época que se estabelecem os distritos
industriais, implantados fora da cidade, em bairros afastados, que
hoje em dia podemos considerar bairros centrais da cidade de São
Paulo. É neste período que são construídas as primeiras edificações,
que tinham o intuito de abrigar quinas maiores. Utilizava-se,
também, maior número de operários, mais de 200. Estes edifícios
possuíam vão de 15,00 metros e -direito com mais de 6,00 metros.
DIAS (1993, p.9) observa que a partir da cada de 20,
constituiram-se em o Paulo execelentes fábricas de estruturas
metálicas, como a Companhia Brasileira de Construção Fichet
Schawartz-Hautmont, de 1923, a Pierre Saby, de 1935, e
posteriormente a Construtora Metálica Nacional e a União dos
Construtores Melicos.
Arquitetura da Indústria
55
“Eram todas de escola européia e operavam no mercado
com estruturas do tipo filigrana, isto é, com estruturas leves,
de um modo geral constituídas por elementos em formas
de treliças.” (DIAS, 1993, p.9)
Em 1930, a Revolução e ditadura de Getúlio Vargas
propiciaram novas condições favoráveis, apesar das condições
políticas e ideológicas conservadoras. Houve neste momento a
criação do Ministério da Indústria e Comércio e Ministério do
Trabalho, situação que culminou na criação da legislação trabalhista
e mais tarde a Consolidação das Leis do Trabalho. Durante esses
anos ocorreu um processo de expulsão das oligarquias, que
defendiam a posição agrário-comercial, do poder do Estado. Vargas
adotou uma potica de industrialização e substituição da mão-de-
obra migrante pela mão-de-obra nacional, que em grande parte veio
da cafeicultura que não passava por momentos o prósperos.
Alguns autores consideram este período como a Revolução
Industrial do Brasil”.
“Em fins da década de 20 e na década de 30, com a
importação dos equipamentos para as indústrias de
material elétrico, metalúrgicas, e tecelagem, e com a
penetração do capital inglês, surgem as estruturas
metálicas importadas
30
, e que constitam a parte
principal dos galpões industriais. Eram estruturas de
pilares em perfil laminado, tipo I ou pilares em treliça
de perfil de ferro de 2”, soldados ou aparafusados. A
estrutura da cobertura era em tesouras metálicas, em
perfil de ferro soldados ou aparafusados, tipo shed,
com cobertura de telhas de ardósia importadas. Em
algumas coberturas, como no caso das indústrias
metalúrgicas, era usado um tipo de ventilação com
uma defasagem na cobertura, formando um lanternim.
O fechamento lateral era feito com parede de tijolo
até a cobertura, acompanhando o desenho do telhado.
Foi nesta época que surgiram as grandes chaminés
de tijolo, formando um conjunto muito semelhante aos
conjuntos ingleses do século passado. (...)
(MAFFEI, 1982, p.29-30)
Durante essas duas cadas a capital de São Paulo possuía
mais indústria do que todas as outras cidades de São Paulo. Segundo
MAFFEI (1982, p.16), em 1939, o valor da produção industrial
ultrapassou o da agricultura em 30%.
30
MUNCE (1960, p.4) descreve sendo os primeiros anos do século XIX o início
do uso de ferro fundido em estruturas industriais. Esse avanço tecnológico deve-
se ao fato de que as estruturas de madeira para as coberturas estavam mais
sujeitas a propagar o fogo, destruindo assim o edifício por inteiro. Havia também a
vantagem em se pode realizar estruturas de os maiores, necessárias para proteger
o número crescentes de máquinas dentro dos edifícios fabris.
56
Projeto de Arquitetura
O Terceiro Período, compreendido entre 1940 e 1955, foi
marcado pelas dificuldades geradas pela Segunda Guerra Mundial.
Nesse período a produção voltou-se principalmente para o mercado
interno, que passava por fase de expansão. MAFFEI (18982, p.18)
destaca a taxa cambial baixa durante o período, que possibilitou a
compra de maquinário e equipamentos em condições vantajosas,
seguido de Leis de controle de importão que resguardaram os
produtos nacionais. No entanto, até este período, a produção fabril
brasileira constituía-se somente pela produção de bens de consumo.
Vargas, atento a este fato, investiu na criação da infra-estrutura
nacional: indústria de base e energia. Um importante passo na
industrialização do Brasil começa em 9 de abril de 1941, com a
criação da Companhia Siderúrgica Nacional CSN, com sede em Volta
Redonda, Rio de Janeiro. O passo seguinte foi a criação da
Companhia Vale do Rio Doce, em 1943 e Companhia Hidretrica
do Rioo Francisco, em 1945. A criação destas indústrias de base
e infra-estrutura foi possível por meio do Acordo de Washington,
entre o governo dos Estados Unidos da Arica e do Brasil, com
intuito de tornar o país um fornecedor de aço para os aliados, durante
a Segunda Guerra.
31
Surgiram, então, as estruturas metálicas
nacionais.
“Desde o icio seguiram as norma de cálculo e
projeto americanos, e as montadoras de estruturas
metálicas copiavam desenhos americanos ou
ingleses, repetindo aqui, estruturas que eram feitas
na Inglaterra mais de 50 anos, sem nenhuma
alteração.” (MAFFEI, 1982, p.30)
DIAS (1993, p.9) comenta a respeito da dificuldade
encontrada pela CSN, na cada de 50 para a comercialização dos
produtos da linha de perfis pesados, a o ser trilhos e perfis
laminados utilizados na Indústria de Transformação, que comavam
a ser implantadas no país. Esta dificuldade vinha da tradição no uso
de treliças conforme os projetos europeus. A solução proposta à
CSN pela USX (United States Steel) foi a fabricação de estruturas
pela Siderúrgica para consumir a produção de laminados e incentivar
o uso.
31
Apesar de hoje em dia o Brasil ser um dos maiores produtores de aço do mundo, ainda sofremos com a falta de cultura em relação
ao uso disseminado do material. A legislação de incêndio encarece demasiadamente as edificações realizadas em aço. Novos perfis
tubulares, permitem melhores respostas a incêndios, quando preenchidos com concreto, formando estruturas mistas. Estes perfis, em
ampla utilização na Europa e Estados Unidos, ainda são pouco difundidos no país. A superfície dos perfis tubulares tamm é menor do
que a dos perfis abertos, facilitando a proteção contra a corrosão. A estrutura dos hospitais da Rede Sarah e da brica do Centro de
Tecnologia da Rede Sarah, de autoria do arquiteto João Filgueiras Lima, objeto de estudo de caso anexo, é realizada em perfis tubulares
que funcionam inclusive como condutores de água pluvial. Estes perfis também são utilizados pelo Arquiteto Santiago Calatrava, criando-
se novas soluções para coberturas de grandes áreas.
Figura 59 - Fábrica / Oficinas, Alcides da
Rocha Miranda, Capela, Petrópolis, RJ, 1948.
O Edifício, de pequenas dimensões, com planta
em forma da letra H foi projetado
originalmente para abrigar uma fábrica de
relógios, o que nunca ocorreu, Instalou-se então
no edifício um escritório de aerofotogrametria.
Destacam-se neste projeto o uso, pelo
arquiteto, de características modernistas das
primeiras fábricas internacionais. Na entrada, a
marquise em sucessivas abóbadas, por sua vez,
remete ao aspecto lúdico do modernismo
brasileiro, assim como descreve CAVALCANTI
(2000, p.62-63)
Arquitetura da Indústria
57
Pouco depois da criação da CSN, em 1946, o engenheiro
Paulo Lorena fundou a SOBRAF (Sociedade Brasileira de
Fundações), em vista da necessidade de execução das fundações da
siderúrgica. Esta empresa permitiu a implantação de diversas
indústrias e mais tarde tornou-se uma das maiores empresas de pré-
fabricação em concreto armado do país, a CONSID. Lorena não
importava know-how” de outros países e é reconhecido pelas
pesquisas no campo dos pré-fabricados em concreto armado.
Foi durante esse período que se estabeleceu o
desenvolvimento industrial nos Estados de São Paulo, Rio de janeiro,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que ainda hoje definem a
concentração Industrial do país.
A década de 50 marca, ao mesmo tempo, a dificuldade de
expansão da indústria do Brasil, devido a problemas como, falta de
energia etrica, baixa produção de petróleo e transporte deficiente,
e por outro lado, a vinda de montadoras americanas e alemãs para o
Brasil. As montadoras estabeleceram-se principalmente ao longo
da Rodovia Presidente Dutra
32
e da Via Anchieta. Seus edifícios
eram grandes galpões metálicos com fechamento lateral e coberturas
em fibrocimento ou chapas metálicas onduladas. As fachadas
voltadas para as Rodovias eram executadas em tijolo cerâmico
vermelho. Segundo MAFFEI (1982, p.30), tinham o objetivo de
esconder a cobertura e dar forma retinea e horizontal ao edifício.
É importante destacarmos esta forma construtiva, pois passou a ser
utilizada pelas indústrias de capital nacional, de forma a obter o
mesmo status de grupos multinacionais.
Nesta mesma década, começam a ser publicados os projetos
em revistas especializadas de arquitetura, como por exemplo:
Acrópole e Habitat. Por meio destes artigos, podemos fazer um
panorama da condição do edifício industrial, uso de métodos e
sistemas construtivos e características formais e perceber que no
Brasil, apenas quarenta anos após as experiências funcionalistas
alemãs, o edifício industrial se desvencilhou de formalismos de
fachada e passou a obedecer aos critérios de funcionalismo. As obras
mais notáveis desse período, de arquitetos como os irmãos Roberto,
Oscar Niemeyer, Rino Levi, criam uma rie de novas formas a partir
da plástica da estrutura. Podem ser citados como exemplos,
respectivamente a brica da Caterpillar”, da “Duchen” e da “Arno”.
Figura 60 - Bombas Weise, Construtora
Cristesen Ltda., década de 1950. Localizada na
Via Anchieta, km 14,5 , no município de São
Bernardo do Campo.
32
Em 1934 apresentou-se o Plano Geral de Viação Nacional, no qual figurava a
Rodovia BR-2, iniciada na década de 1940 e inaugurada em 19 de janeiro de 1951
pelo então Presidente General Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), denominada
depois como BR-116. As obras de duplicação começaram de modo pontual em
1959, foram aceleradas a partir de 1965 e concluídas em 15 de novembro de
1967, no governo militar do General Arthur da Costa e Silva. Passou a ser
denominada então como Rodovia Presidente Dutra.(Santos, 2006, p.27)
58
Projeto de Arquitetura
A fábrica Duchen apresenta uma linha de pesquisa formal,
dentro da obra de Niemeyer, uma vez que foi construída com uma
estrutura semelhante à que havia sido utilizada no Laboratório de
Estruturas do ITA (CTA) no município de São José dos Campos, SP
e que também foi explorada no ano de 1950 no Clube de Diamantina,
em Minas Gerais. Infelizmente, esta fábrica que surpreendeu o júri
da Primeira Bienal de São Paulo, recebendo o primeiro prêmio para
construções industriais, foi demolida durante a cada de 1980. A
brica apresentava possibilidades arrojadas no uso do concreto
armado, aplicadas a um programa que usualmente se resolvia de
forma restrita, seguindo características funcionais simples. O júri
era presidido então por Siegfried Giedion, autor do célebre livro
“Espaço, Tempo e Arquitetura”.
Na fábrica da Ericsson do Brasil, os arquitetos Oscar
Niemeyer e Hélio Uchôa, inovaram no uso de novas peças pré-
fabricadas de concreto. A fábrica, de volume mais simples do que a
Duchen, construída no munipio de o José dos Campos, possui
uma estrutura mista de peças pré-moldadas de concreto e peças
moldadas in-loco. Neste caso, os arquitetos apenas projetaram um
envelope industrial para uma linha de produção que havia sido
determinada pelos projetistas internacionais da multinacional,
situação típica da época, quando os projetos integravam o “pacote
da compra do equipamento do exterior (SANTOS, 2004, p.150). As
fundações foram realizadas através de estacas pré-moldadas de
Figura 61 - Planta de Situão à Rodovia Presidente Dutra, km 45, Parque
Novo Mundo, São Paulo, SP. Corte e Planta de um dos blocos da fábrica
Figura 62 - Fábrica Duchen, Arq. Oscar
Niemeyer e lio Uchôa, Guarulhos, SP,1950.
Foto: Hans Gunter Flieg, 1955. Acervo Instituto
Moreira Sales.
Arquitetura da Indústria
59
concreto de 10 metros de comprimento, sobre a qual foram
concretados in-loco, os pilares. Após esta etapa ergueram-se vigas
de ligação e posteriormente lajotas de concreto de 5 centímetros de
espessura. A impermeabilização contra os vazamentos foi feita
atras da aplicação de feltro asfáltico. Em algumas características
da brica, no entanto, vemos o traço dos arquitetos como é o caso
das vias curvilíneas ou da escultórica marquise de entrada que
apresenta os potenciais do concreto armado e do cálculo estrutural.
A fábrica foi ampliada seguindo o mesmo sistema estrutural
até não poder mais atender à demanda em expano. A Ericsson
transladou-se para outro Distrito Industrial. Na fábrica antiga, que
foi descaracterizada totalmente, funciona um centro de compras.
Figura 63 - Planta baixa da Ericsson do Brasil,
O. Niemeyer e H. Uchôa, São José dos Campos,
SP, 1950. Redesenho Fonte: Revista Acrópole, 205,
10, novembro, 1955.
Figura 64 - Ericsson do Brasil. Oscar Niemeyer
e Hélio Uchoa Arquitetos. Os arquitetos
fizeram uso de inúmeros elementos pré-
fabricados. Notam-se, na figura abaixo, os planos
de caixilhos e sua modulação além da cobertura
de dupla casca em peças pré-moldadas leves.
Fonte: Revista Acrópole, 205, 10, novembro, 1955.
60
Projeto de Arquitetura
Um notável exemplo de arquitetura industrial brasileira neste
período é o conjunto de edifícios que formam o complexo industrial
Fontoura S.A., localizado na via Anchieta, em São Bernardo do
Campo, projeto de Lucjan Korngold
33
. Os edifícios, de 1955, constam
de três unidades principais, sendo elas, a brica de penicilina, a
fábrica de produtos químicos e a fábrica de embalagens metálicas
para produtos farmacêuticos. A tecnologia avançada dos processos
de produção exigiu que antes da elaboração do projeto o arquiteto
viajasse aos Estados Unidos, para visitar alguns estabelecimentos
industriais dos mesmos produtos. A fábrica, com seu programa muito
complexo tiveram sua organização produtiva e estudos preliminares
elaborados nos Estados Unidos, no entanto, as condições brasileiras
exigiram uma rie de modificações. O arquiteto soube criar uma
solução adequada e durante a inauguração, o inventor da penicilina,
Alexander Fleming, chegou a considerá-la indubitavelmente a mais
moderna do mundo. O interesse construtivo das fábricas reside no
fato de que as estruturas de concreto foram executadas independentes
em relação às alvenarias, que possuíam como única função ser o
elemento de vedação das unidades. Utilizou-se de tijolos vermelhos
tratados para resistir às intempéries. A fábrica de penicilina utilizou-
se de engenhosa solução: o forro foi executado em laje de concreto
e sobre esse forro, deixou-se um intervalo de 1,70m que voltou a ser
coberto com telhas brasilit”. Esse intervalo foi utilizado para a
passagem das tubulações de água fria, quente, ionizada, vapor, ar-
comprimido e distribuição de força. Os cabos elétricos corriam
subterrâneos, em condutos em concreto armado.
33
“Arquiteto. Forma-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica de Varsóvia entre
1921 e 1922. Obm menção honrosa na 5ªTrienal de Milão, em 1933,com o projeto de
uma residência em Varsóvia realizado com Henryk Blum (1897 - 1943). Participa da Exposição
Internacional de Artes ecnicas na Vida Moderna, apresentada emParis em 1937. Em
1939 é chamado para integrar o Exército polonês. Nesse ano, a Alemanha invade a Polônia
e inicia uma onda de perseguições aos judeus, que leva o arquiteto a fugir para Bucareste
ese exilar no Brasil. A família do arquiteto, junto com 900 refugiados judeus, consegue a
permissão de exílio graças às negociações estabelecidas entre o Vaticano e o Itamaraty. No
navio em que viaja estabelece contatos importantes para o desenvolvimento de sua carreira
como arquiteto em o Paulo. Trabalha no Escritório Técnico Francisco Matarazzo Neto
entre 1940 e 1943. Associa-se ao arquiteto ngaro Francisco Beck (1901 - 1990) em
1944 e dois anos depoisdesfaz essa sociedade, e monta o Escritório Técnico Lucjan Korngold
Engenharia e Construções. Naturaliza-se brasileiro em 1949, e em 1953 recebeo registro
do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - Crea, podendo, então, assinar e se
responsabilizar tecnicamente pelos projetos e obras do escritório. Em 1960, associa-se ao
arquiteto brasileiro Abelardo Gomes de Abreu (1929), que, inspirado pelo modelo norte-
americano, sugere a separação entre as atividades de projeto e construção, que passam a
serdesenvolvidas pelo Escritório Técnico Lucjan Korngold Engenharia e Construções Ltda.
e o escritório Lucjan Korngold e Abelardo Gomes de Abreu, respectivamente. Os projetos
de Korngoldno Brasil são divulgados a partir dos anos 1940 pela LArchitecture D’Aujourd’hui;
na exposão Arquitetura Latinoamericana desde 1945, organizada pelo historiador da
arquitetura Henry-Russell Hitchcock (1903 - 1987) no Museum of Modern Art of New
York - MoMA [Museu de Arte Moderna de Nova York]; e pelo livro Arquitetura Moderna no
Brasil de Henrique E. Mindlin (1911 - 1971).”Fonte: www.itaucultural.com.br Acesso 29.01.09
às 12:02:40h.
Figura 65 Complexo Indusrial Fontoura
S.A., Arq. Lucjan Korngold, o Bernardo do
Campo, BRA, 1955. Fonte: Revista Habitat (21),
1955
Arquitetura da Indústria
61
Na fábrica da “Arno”, em São Paulo, o arquiteto Rino Levi,
com intuito de criar uma solução leve para a cobertura do edifício,
de dimensões de aproximadamente 81x75m (na verdade possui forma
de trazio), utilizou-se de uma estrutura leve em treliças metálicas
espaciais, criando elementos planos no galpão e elementos em arco
no trecho de dois andares, destinado ao vestrio de operários e
creche.
Essa solução foi repetida em inúmeras outra fábricas, de
menores exigências de controle dos ambientes realizadas pela mesma
empresa, a MEM Modernas Estruturas Metálicas”.
As estruturas pré-fabricadas para a Arquitetura Industrial
passaram a uma nova fase de evolução. A este respeito escreveu
VICARI (1959, p.319):
“Em geral, uma indústria necessita ser organizada,
e conseqüentemente projetada, com uma certa
elasticidade de soluções e de deslocação previsíveis,
de maneira que as estruturas possam ser
desmontáveis e sua recuperão integralmente
possível em relação à evolução e articulação de
programas futuros.”
Figura 66 - Fábrica Arno S/A Indústria e
Comércio, Rino Levi, 1950. Redesenho a partir
da Revista Habitat, 10, 1953.
A fábrica destaca-se pelo uso de treliças
estruturais melicas onduladas, o que
empresta uma leveza incrível para a
cobertura e despontava como uma
novidade para a época. O aço utilizado era
do tipo comum, igual àquele que utilizado
nas estruturas em concreto armado. Todos
os elementos construtivos, a o ser os
pilares em alvenaria foram realizados com
o uso destes vergalhões soldados,
transformando-se em peças aramadas e
incrivelmente transparentes.
62
Projeto de Arquitetura
Foram desenvolvidos novos elementos estruturais para as
construções industriais. A Edibrás, responsável por obras como a da
Pirelli S.A. Cia. Ind. Brasileira, no Rio de Janeiro, utilizou-se de
estruturas pré-fabricadas em concreto vibrado, que, assim como
VICARI (1959, p.319) descreve, já tinham largo aproveitamento na
Itália e Argentina. No caso das coberturas, o sistema em concreto
pré-moldado apresentava-se mais dispendioso do que as tesouras
em madeira, no entanto, era uma alternativa mais barata em relação
às estruturas de tesouras em ferro. O uso destes sistemas difundiu-
se, pois, além do fator econômico, oferecia melhor resistência ao
fogo e seguros mais baratos que aqueles para estruturas em outros
materiais. As vantagens, em relação à resistência ao fogo, da estrutura
em concreto armado monotica são as mesmas das estruturas em
concreto pré-fabricado, muito superiores à resistência das estruturas
metálicas, o que havia sido comprovado em situações na Argentina
e durante a guerra na Europa.
Figura 67 - Fábrica PIRELLI, 1950. Fonte: Revista
ACRÓPOLE 218, 1956.
Figura 68 - Fábrica Pirelli, Edibrás - Construções Gerais Ltda., Santo André, SP,
1950. A interessante solução estrutural em concreto armado vibrado foi possível
graças à colaboração entre industriais, projetistas e construtores. A indústria, apesar
de compacta tem sua estrutura dividida em seis blocos que o estaticamente
independentes. O sistema estrutural diferenciado propiciou benecios em
problemas, como por exemplo, a iluminação natural, que é especifica em cada
ponto da construção, em qualquer um dos dois andares.
Arquitetura da Indústria
63
No Quarto Período, entre 1955 e 1965, inicia-se uma nova e
importante fase da indústria brasileira, marcada pelo início da
fabricação de bens de produção, ou bens de capital, ou seja,
máquinas, veículos, equipamentos. A Eletrobrás fora fundada em
1951 e a Petrobrás em 1953-54, junto com a inauguração de várias
refinarias estatais de petróleo (SANTOS, 2006, p.27). Esse
desenvolvimento industrial propicia a criação em maior quantidade
de empregos com maior grau de qualificação, trabalhadores com
ensino superior. Destacam-se nesse período a indústria
automobilística, de plásticos, de química pesada, de derivados de
petróleo, de petroquímica, de máquinas e ferramentas, caldeiraria
pesada e equipamentos eletrônicos. Os lucros e crescimento
provenientes da Segunda Guerra que o Brasil obteve por meio das
exportações possibilitaram que Juscelino Kubitschek, aplicasse o
Plano de Metas que dedicava mais de 2/3 de suas verbas para os
setores de energia e transporte. A indústria de bens de produção
cresceu 37% contra 63% da indústria de bens de consumo. Este é o
período da Internacionalização” da Indústria brasileira, que
podemos considerar vir aos nossos dias.
Em 1957, o projeto do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro para
a Gastal S.A., no Rio de Janeiro, inaugura uma nova tipologia do
edifício industrial, o chamado “show-builidng”. O edifício para a
venda e manuteão de automóveis era composto por escritórios,
oficinas, e exposição e vendas. A natureza do necio e localização
do terreno exigia que o edifício possuísse características formais
atrativas. A estrutura plástica foi realizada em colunas inclinadas
em concreto armado que sustentavam os diversos arcos da cobertura
realizados no mesmo material. O fechamento da cobertura se deu
por meio de telhas de alumínio e sob esta foi realizado um forro
para tratamento acústico.
Figura 69 - Pirelli, Edibrás, Rio de Janeiro,
cada de 1950. Uso de peças de concreto
armado pré-fabricadas especiais.
Figura 70 Gastal S.A., Arq. Paulo Antunes
Ribeiro, Rio de Janeiro, BRA, 1957. Revista
Acrópole (219): 1957.
64
Projeto de Arquitetura
O Quinto Período, segundo divisão de MAFFEI, de 1965 a
1980, caracterizou-se pela expansão industrial e diversificação da
produção, sendo que o Brasil entrou na produção de bens
sofisticados, como é o caso de aviões, computadores, calculadoras,
produtos químicos. Nesse período, o Brasil estava totalmente aberto
a investimentos estrangeiros, despertando interesse de multinacionais
de diversos países. Os governos militares, após 1964, retomaram e
aceleraram o crescimento econômico e industrial brasileiro. O Estado
brasileiro assumiu certos empreendimentos como é o caso da
produção de energia elétrica, do aço, indústria petroquímica, abertura
de rodovias, dentre outros. Isso assegurou condições de expansão
para a indústria privada.
Esse período corresponde à Terceira Revolução Industrial
Global, que comou com o final da Segunda Guerra Mundial em
1945 e encerrou-se em 1970, nos países mais desenvolvidos da
Europa, Japão e Estados Unidos. Neste momento as modificações
foram ditadas por um constante aperfeiçoamento técnico da
produção, e da organização e administração do trabalho. Houve uma
rápida evolução das máquinas através dos avanços da
microeletrônica e mecânica fina e posteriormente da Informática. A
informática passou a permitir que os diversos setores das fábricas
como Administração, Projeto e Produção o precisassem estar
contidos necessariamente dentro de um mesmo espaço. Ainda é
importante destacar que estas fábricas passaram a ser atores globais,
associando mercados, matéria-prima e mão-de-obra por diversas
partes do planeta. Nasce também, a brica de baixo impacto
ambiental, apesar de serem plantas de grandes proporções. não
são mais executados distritos industriais insalubres como as cidades
industriais da Primeira Revolução Industrial. (Santos, 2006, p.33)
Em 1967, segundo VASCONCELOS (2002, p. 28), começou
a implantação do Centro Industrial de Aracatu (CIA), na Bahia,
momento em que foram instaladas várias indústrias. A demanda de
estruturas industriais, portanto, incentivava a inovação, apesar das
dificuldades frente à falta de técnicos especializados e ainda presente
escassez de materiais como o ferro e o aço. Apesar das dificuldades,
foi fundada a firma ESPREC (Estruturas Pré-fabricadas de
Concreto). Dentre as principais pas pré-fabricadas para a
Arquitetura Industrial que esta empresa começou a executar
destacam-se estacas, terças de telhados, tesouras, pilares e vigas de
ponte.
A empresa de pré-fabricados de concreto Oxford Ltda.,
estritamente brasileira e criada em 1951 como uma construtora de
pequeno porte, em 1968, venceu uma concorrência internacional,
consorciada com a francesa “Fives-Little-Cail”, obtendo o contrato
Arquitetura da Indústria
65
para a constrão do Terminal ucareiro do Recife. Segundo
VASCONCELOS (2002, p. 54), utilizou-se de uma solução original,
própria de arcos e lajes pré-fabricados, executados a partir de junta
úmida, com dispensa de escoramento fixo e emprego de andaimes
móveis, que resultou em galpões geminados de 78 metros de vão,
30 metros de altura e comprimento de 180 metros. Esta obra foi
recorde mundial de vão livre, 78 metros.
A cada de 70 caracteriza-se pelo espraiamento industrial,
por meio de eixos rodoviários e municípios do interior e
principalmente do Vale do Paraíba, caminho para outro importante
centro urbano, o Rio de Janeiro. Segundo MAFFEI (1982, p.1), na
década de 70, as universidades e empresas de consultoria começaram
a formar cnicos de gabarito, voltados para a engenharia de processo.
Foi nesse momento que ocorreu o grande salto relativo ao
detalhamento dos projetos industriais. Assim tornou-se possível, num
primeiro momento de evolução, passar a se receber apenas o projeto
básico que era detalhado e especificado dentro do país. Dentro do
projeto sico, porém, vinham definidas as diretrizes de projeto
quanto à tecnologia de produção (Processo), unidades de produção
e estocagem, área a ser ocupada e desenho de implantação do
empreendimento. Cabia então ao Brasil detalhar aquilo que era
imposto pelo projeto básico, que na maioria das vezes era um projeto
feito na Europa ou nos Estados Unidos, e destinado a um país da
África ou Ásia, inadequado, portanto, à nossa realidade.
Em 1975, instalou-se a empresa alemã de pré-fabricados
Munte, que imprimiu às peças para as edificações industriais,
aceitas pelo mercado, as qualidades da produção alemã. Apesar de
ser uma multinacional, o optou por utilizar pas como as
desenvolvidas na Alemanha, de normatização mais restritiva. Apesar
disso, a qualidade era assegurada e seguiam-se os padrões do CEB
(Comi Euro-International Du Béton) levados em consideração nas
normas brasileiras.
Os primeiros projetos básicos começaram a ser
desenvolvidos no Brasil na década de 80, por empresas de
consultoria. Segundo MAFFEI (1982, p.2), isso ocorreu pelo fato
do país contar com 10 anos de formação de quadros cnicos e
pelo desenvolvimento de equipamentos nacionais. A partir da
segunda metade da década de 80, com a abertura da política brasileira
empreendida pelo governo militar, passou-se a redefinir a
participação do Estado na economia, considerada excessiva. Esta
nova ordem Neoliberal promoveu a criação de conglomerados
empresariais e os interesses do setor financeiro passaram a prevalecer
sobre os demais setores da econômica, no caso, à agricultura e
indústria. (Santos, 2006, p.33)
66
Projeto de Arquitetura
Figura 71 - Hangar da Varig, Aatual VEM,
Aeroporto Antonio Carlos Jobim, Rio de
Janeiros, BRA, 1980 . Fotos atuais. Fonte:
http://www.daniduarte.com/wp-content/
uploads/2008/09/hangar_gig.jpg
Em 1980, a construção pré-fabricada em aço já se
apresentava bastante desenvolvida. Marco deste tipo de estrutura é
o Hangar da Varig, executado no Rio de Janeiro, dentro da área do
Aeroporto Internacional do Galeão, hoje, Antonio Carlos Jobim. A
edificação possui dimenes externas de 43,5 metros de altura, 160
metros de comprimento e 115 de largura. As dimensões
impressionantes do hangar possibilitam acolher simultaneamente
atrês aviões Douglas DC-10, (já aposentados da frota) e dois
Boeing 737.
Nos anos 80, a Indústria Brasileira foi protegida pelo modelo
de substituição de importações. Os anos 90, por sua vez, marcaram
profundas alterações na indústria nacional em função de mudanças
na economia do país, como a chegada da nova moeda, o Real. Ao
mesmo tempo, a globalização e a liberalização do mercado brasileiro
fizeram com que as indústrias buscassem a modernização para não
perder áreas de trabalho. Não escolha para a indústria a não ser
alcançar uma classe mundial. A competição em mercados globais
colocou a indústria brasileira dentro do conceito de produção
modular, sendo assim, participa, de forma crescente, em cadeias de
produção integradas. Começaram então a serem preparadas para a
globalização e novos modos de organização da produção.
“Na segunda metade da cada de 90, depois das
privatizações e da reestruturação imposta pela
competitividade internacional, verificou-se a retomada
industrial, mas em outros moldes. Multiplicam-se as
pequenas indústrias, organizadas por ex-funcionários das
grandes empresas. Eram as prestadoras de serviços ou
empresas terceirizadas que realizam tarefas intermediárias
que antes faziam parte da estrutura funcional das grandes
plantas fabris. As empresas que resistiram tiveram que se
adaptar, atualizando as máquinas, reduzindo o número de
funcionários com a automação e a informatização,
redundando na ociosidade de espaços anteriormente
produtivos. Muitas terceirizaram a própria produção ou
alugaram parte de suas instalações para outras empresas,
transformando-se numa espécie de condomínio fabril. Por
outro lado, algumas fábricas foram fechadas para dar lugar
a investimentos imobiliários, comerciais e habitacionais,
considerados mais lucrativos. (SANTOS, 2006, p.34)
O Brasil, nos próximos anos, terá que não desenvolver
suas indústrias dentro de uma classe global, como serão necessárias
reformas de infra-estrutura e no sistema tributário deficiente. O
sucesso da atividade industrial está no seu desenvolvimento pautado
pela produtividade e eficiência. O arquiteto, por sua vez, deverá
conhecer os novos todos de organização do trabalho e ferramentas
de projeto adequadas. No entanto, para que isso ocorra deverá haver
incentivos para inovação tecnológica e o desenvolvimento de uma
cultura de responsabilidade cio-ambiental.
Arquitetura da Indústria
67
LINHA DO TEMPO
68
Projeto de Arquitetura
LINHA DO TEMPO
Arquitetura da Indústria
69
SEGUNDA PARTE
3. TIPOLOGIA DOS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS
3.1. TIPO INDUSTRIAL
Uma antiga visão da atividade fabril apresenta as fábricas
como o local onde se realiza uma produção, baseada em uma
atividade preparatória conceitual de caráter organizativo, dirigida
para o planejamento do produto e em seguida para a sua
industrialização, fabricação e mercantilização. Assim sendo, do
ponto de vista tipológico, o empreendimento industrial não
corresponde apenas à planta de produção industrial, mas também,
inclui as plantas de geração de energia, calor, armazéns de matéria-
prima e de produtos acabados, administração, pesquisa e
desenvolvimento (P&D, ou em inglês R&D Research and
Development), centros de distribuição (CD), estações de
reciclagem, edifícios de translado e edifícios de transporte. No
entanto, a evolução tipológica destes edifícios está intimamente
relacionada à planta de produção, evolução do maquinário e das
cnicas e materiais construtivos, fazendo com que eles pertençam
ao grupo de edificações industriais.
Figura 72 - Campus Industrial
Flextronics, Sidonio Porto,
Sorocaba, o Paulo, 2001. Desenho
do Autor.
SEGUNDA PARTE: PRINCÍPIOS PARA PROJETO DE EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS
70
Projeto de Arquitetura
Hoje em dia, vêm se tornando cada vez mais comuns os
centros de distribuição, ou seja, edifícios industriais com a função
apenas de estoque e não de produção. São destinados à guarda segura
e ordenada de produtos acabados. Diferentemente do armazém usual,
estes centros não se localizam adjacentes à fábrica e não estocam
apenas produtos daquela unidade. O CD está instalado em algum
ponto da malha logística, estocando produtos de diversas bricas
do mesmo grupo ou empresas fornecedoras. Visando uma maior
economia de escala, a tendência atual das empresas é centralizar
suas operações logísticas em um único CD, estrategicamente
localizado no país. Existem atividades que se baseiam no conceito
Just in time”, ou seja, as matérias-primas chegam à fábrica no
momento de seu uso, reduzindo a necessidade de grandes estoques,
o que significa capital imobilizado.
Para multinacionais com fábricas de produtos distintos em
vários Estados, o CDI (Centro de Distribuição Integrado) significa
a possibilidade de abastecimento dos clientes com mix de produtos
a preço mais baixo, que em casos reais, estima-se a redução de
6% sobre os custos de transporte. O transporte para coletar produtos
em diversas cidades possuía custo muito alto e o cliente era atendido
com menor rapidez. Além desses fatores, o espaço pode ser
sublocado, utilizando-se mais de uma empresa da estrutura.
Figura 73 - CD Casas Bahia, São Bernardo
do Campo. Fonte: Revista Construção
Metálica, no.86, p.35.
Figura 74 - CD Fulwood, Perspectiva e
Planta, Marcos Vieira, Fonte: perspectiva
eletrônica. do autor, 2006.
Arquitetura da Indústria
71
Tipologicamente são, geralmente, em pavimento único. O
layout deve favorecer grandes espos livres, possibilitando um
adequado fluxo de materiais e pessoas, e otimização dos percursos
com distâncias menores. É importante avaliar o tipo de transporte
dos produtos, tanto na área interna, paletadeiras a gás ou elétricas
(as primeiras necessitam de corredores mais largos e pioram a
qualidade do ar substancialmente) e área de expedição, utilizando-
se esteiras rolantes, ou, se possível, docas com piso a 0,90-1,10m da
via dos caminhões, o que significa operação de carga e descarga
mais eficiente. Daí vem o formato quadrado ou levemente retangular
desses edifícios. As modulações mais comuns para os CD são
derivadas de 8,0 metros, sendo muito utilizados 16x16 metros, 16x24,
24x24, e 16x32 metros, provavelmente decorrentes do sistema ings.
Devido aos grandes os, essa tipologia industrial vem sendo
construída com o predomínio das estruturas metálicas. Para os
fechamentos e coberturas são utilizados, no geral, telhas com
isolamento térmico. Outra solução viável para os fechamentos
laterais são os pré-moldados de concreto. Os corredores,
preferencialmente, devem estar mobiliados com estruturas porta-
pallets, com veis adequados ao projeto, de forma a garantir uma
densidade máxima de produtos.
Quatremère de Quincy (In ARGAN, 2001, p.66), descreveu
o tipo
34
como um objeto que não deve ser reproduzido tal qual é,
assim como ocorre no modelo, mas sim, uma série de conceitos
vagos que permitam com que as pessoas possam conceber obras
que nada se assemelharão entre si. Por sua vez, para ARGAN (2001;
p.66), o tipo não é formulado antecipadamente, mas, é sempre
“deduzidode uma rie de exemplares. O nascimento do tipo é,
portanto, condicionado ao fato de já existir uma série de edifícios
que tem entre si uma evidente analogia formal e funcional: em outros
termos, quando um tipo se fixa na prática ou na teoria arquitetônica
ele já existe, numa determinada condição hisrica da cultura, como
resposta a um conjunto de exigências da sociedade. COMAS (p.127)
a respeito do conceito vago a que se refere Quincy, propõe que ele
parte de um esquema metal complexo, que é:
34
O tipo classificado sob funções práticas como escolas, bancos, hotéis, tem sua
origem no século XIX. Foi nesse momento que ocorreu a criação de novos tipos
arquitetônicos como é o caso das estões ferroviárias com grandes vãos,
representando alguns dos maiores e melhores exemplos de construção em ferro
e vidro”: os galpões das Exposições Universais e a Arquitetura de Indústrias. Isso
tudo surge a partir do final do século XVIII e início do século XIX e pode ser
classificado como o ciclo experimental da nova técnica construtiva, cuja contribuição
para a arquitetura sefundamental. Vale destacar, no entanto, que o papel da
Arquitetura foi muito pequeno durante a primeira Revolução Industrial.
72
Projeto de Arquitetura
“culturalmente codificado por intermédio de uma prática
social, que associa determinadas configurações sicas
a um problema usual de projeto do ambiente construído.
Pode-se vê-lo como veículo de informações
condensadas, onde a definição gerica da natureza
das finalidades, disponibilidades e limitações que
caracterizam o problema é dada simultaneamente com
a definição genérica das características geométricas,
técnico-construtivas e figurativas de sua solução
arquitetônica.”
Os processos funcionais que o abrangidos pelo edifício
industrial são mais extensos do que aqueles abrigados por qualquer
outra forma de construção. Convém estudar a tipologia como um
instrumento de classificação posterior, assim como observa COMAS
(p.127), que ressalta as características comuns de obras
arquitetônicas já executadas, funcionando como um instrumento de
projeto, uma vez que apresenta princípios normativos comuns em
realizações arquitetônicas fisicamente similares, ainda que não sejam
idênticas.
“(...) o tipo é suscetível de variantes, considera-se
também que os conteúdos ideológicos da forma têm
um fundamento constante, mas que eles podem e
devem assumir, no presente, uma acentuação ou
caráter particular.” (ARGAN, 1997, p. 68)
Outro objetivo em se estudar a tipologia arquitetônica
industrial reside justamente no fato de se tratar de referência
fundamental para o Arquiteto, que projetará uma instria
comprometida com os valores estilísticos, culturais e econômicos
de seu meio.
“Em todo projeto arquitetônico há, portanto, um
aspecto tipológico, seja no sentido de que o arquiteto
busca conscientemente aproximar-se de um tipo ou
afastar-se dele, seja no sentido de que toda obra
arquitetônica visa, definitivamente, a colocar-se como
um tipo”. (ARGAN, 1997, p.65-70)
Voltando ao objeto de pesquisa, basicamente, a construção
industrial envolve a construção de edicios de produção que
diretamente ou indiretamente abrigam a manufatura mecanizada de
bens. Comunicação, fornecimento e abrigo são, provavelmente, seus
requisitos principais.
Arquitetura da Indústria
73
“Edificações industriais são complexos construídos,
compostos por centros de produção e de pesquisa como
seus correspondentes edicios administrativos e
sociais, armazéns, grandes edifícios técnicos como
alto-fornos, chaminés, torres de extração, silos e
depósitos.” (KOPP, 2003, p.932-998)
Estas definições nos levam a estudar edificações, como a
mesmo o pavilhão de conferências de Tadao Ando no complexo
Vitra, que se convertem em um edifício industrial, por se tratarem
de edifícios destinados à busca pela inovação e pesquisas no ramo
industrial. O complexo Vitra conta, além da obra de Ando, de outros
edifícios projetados por arquitetos de renome internacional, como é
o caso de Zaha Hadid ou Álvaro Siza (figuras abaixo). Poderiam
ainda ser citados inúmeros outros edifícios como, por exemplo, a
contemporânea Feira de Milão, onde são apresentados ao mercado
os produtos industriais; projeto do arquiteto italiano Massimiliano
Fuksas. De fato, se voltarmos um culo na história, não quem
não diga que a Galeria das Máquinas, construída para ser o Pavilhão
de Exposições da Exposição Universal de Paris, de 1889, autoria de
Victor Contamin y Ferdinand Dutert, não era um edicio industrial.
Apesar da multiplicidade de objetos que podem ser estudados e estão
ligados ao tronco principal da Arquitetura Industrial, adiante
analisaremos basicamente os edifícios produtivos e edifícios de
armazenagem, à medida que estes possam influir na produção.
Figura 75 - Feira de Milão, Massimiliano
Fuksas, ITA, 2005. Fonte: http://
www.fuksas.it/#/progetti/0703/ Acesso
02.02.09 às 10:54:30h.
Figura 76 - Vitra International Fábrica de
móveis de metal, Álvaro Siza, Weil-am-Rhein,
ALE, 1991-1994. Planta baixa e Detalhe da
cobertura de ligação entre os blocos
edificados do complexo fabril. Redesenho
fonte: TESTA, 1998, p. 172.
74
Projeto de Arquitetura
A tipologia possui uma relação íntima com a estrutura da
cidade. Em muitos casos, como na cidade de São Paulo, não podemos
estudar a vasta e alargada expansão da cidade sem observarmos o
padrão das implantações industriais, num primeiro momento, durante
o século XIX, espraiando-se por meio das ferrovias, fundamentais
para o recebimento de matéria-prima, acesso da mão-de-obra e
escoamento do produto manufaturado. BROOS (1989, p.89), que
projetou o emblemático edifício da Sede da Hering, em Blumenau,
Santa Catarina, descreve a construção industrial:
“As obras industriais pertencem ao grupo das
construções representativas da nossa época; nelas
se encontram materializados os desafios
tecnológico, social e humanitário da nossa
civilização. São construídas visando durabilidade,
solidez e segurança, valores decorrentes do sistema
artesanal de execução, praticado na Idade Média,
cuja metodologia vale até nossos dias.
Cada época criou, durante o percurso do seu
desenvolvimento, construções-tipo, concentrando
nelas as características mais expressivas da sua
cultura: no Egito, os templos e túmulos; na Grécia,
os templos e anfiteatros; no Império Romano, as
arenas, aquedutos e pontes; na Idade Média, as
catedrais; na atualidade, as construções industriais
e os centros administrativos.”
Diversos autores buscaram classificar as edificações
industriais. A seguir, apresentarei alguns deles, de importância
segundo o aspecto de instrumento de projeto de arquitetura e não
de classificação histórica.
O primeiro autor, PHILLIPS, em seu livro sobre Arquitetura
Industrial, de 1992, divide as edificações industriais em sete
categorias: Edifícios para fabricação e engenharia; Armazéns,
Laboratórios, Arquitetura municipal, Instrias de alimentos,
Linguagem transferível e bricas naturais. Divisão que tem seu
valor na classificação da edificação industrial por meio de uma
análise baseada no uso, em função dos volumes construídos. De
forma mais aprofundada, o primeiro tipo, edifícios para fabricação
e engenharia compreende, de certa forma, edifícios executados sem
a base nos prinpios que regem a arquitetura industrial em geral,
como por exemplo, flexibilidade, estandardizão, economia e
espaços flexíveis, capazes de albergar mudaas produtivas. o os
edicios para, por exemplo, a fabricação de carros, motores,
mobiliário, veículos militares, gráficas para impressão de jornais e
Arquitetura da Indústria
75
periódicos, que apresentam problemas específicos de pesquisa e
análise, exigindo uma experiência arquitetônica muito específica,
não existindo solões sistematizadas para o caso. Estes edifícios
industriais caracterizam-se pela tecnologia de ponta. O processo de
fabricação deve ser conhecido a fundo. Na maior parte dos casos, o
invólucro do edifício segue apenas essas características técnicas,
limitando o trabalho do arquiteto, que poderá ser útil na escolha dos
materiais de construção e projetando os espaços anexos,
administrativos, etc.
O segundo tipo engloba os armans e edificações industriais
que não tem relação intrínseca com a produção. A função do edifício,
na maioria dos casos é acessada visualmente pelo público por meio
do desenho de fachadas e símbolos que nela estão dispostos. Trata-
se do “pato” que Robert Venturi apresenta no livro Complexidade
e Contradição em Arquitetura
35
. Esses edifícios aparecem nos
condomínios industriais, incubadoras de laboratórios e pequenas
empresas, centros de distribuição, em geral, fábricas leves.
Os Laboratórios, por sua vez, são os edifícios industriais que
mais se aproximam da frase de Louis Henry Sullivan
36
de que “a forma
segue a função”. São complexos destinados à experimentação,
pesquisa e desenvolvimento. Geralmente são os edicios de primeiro
lugar na inovaçãocnica contemporânea. No Brasil, pode-se destacar
como exemplo o CENPES (Centro de Pesquisas da Petrobrás), em
construção, projeto de Siegbert Zanettini ou o edifício anterior de
autoria do arquiteto rgio Bernardes. A inovação cnica é notável.
O edifício busca novas soluções de sustentabilidade, com o uso
racional projetado dos recursos como água e clima do Rio de Janeiro.
A Arquitetura Municipal compreende as edificações que
são destinadas ao funcionamento das cidades. Possuem uma
interessante história, sendo sempre um desafio para a engenharia.
Dentre essas edificações estão as fábricas para obras públicas
(exemplo o CTRS ou a extinta FAEC, dirigidas pelo arquiteto João
Filgueiras Lima), controle de água e luz, estações de tratamento de
água e esgotos, estações de s, depuradoras de gás, plantas de
reciclagem de lixo, estações ferroviárias, museus e centros de
pesquisa, estações de bombeamento e elevação de águas, plantas de
incineração, centrais energéticas, hospitais e centros de pesquisa,
dentre outras. A forma do edifício é ambígua. Podem ser muito
35
VENTURI, Robert. Complexidade e Contradição em Arquitetura”. São Paulo:
Martins Fontes, 1995.
36
Arquiteto norte-americano (1856-1924), conhecido como o pai do
modernismo”, e por muitos como o criador dos arranha-céus. Foi um crítico da
Escola de Chicago e mentor de arquitetos como o norte-americano Frank Lloyd
Wright. Dentre seus edifícios mais importantes podemos destacar o “Guaranty
Building” de Nova Iorque, 1894, um símbolo dos primeiros arranha-céus.
76
Projeto de Arquitetura
trabalhados, em função de uma necessidade simbólica e uso de
cnicas e materiais mais avançados ou podem ser muito simples,
apenas cumprindo a necessidade técnica. No caso de São Paulo, por
exemplo, insere-se a Usina Elevatória do Rio Pinheiros, Traição,
inaugurada em 1940.
As Indústrias de Alimentos compreendem uma das maiores
redes e mais poderosas da indústria mundial. Por sua vez, segundo
PHILLIPS (1992, p.168), os industriais desse ramo não se preocupam
com uma boa arquitetura, apenas com a solução de engenharia, que
apura ao máximo a função. Nesse ramo acredita-se que a arquitetura
preocupada com conceitos de estética possa supor perdas
econômicas, no entanto, essas bricas possuem enorme potencial
arquitetônico, em função dos diversos processos produtivos, que
podem ser arranjados de maneira mais ou menos adequada. As
matérias-primas e processos utilizados para a produção de alimentos
são campo vasto para resoluções no sentido de se aproximar arte-
arquitetura. Um interessante exemplo é o dos Supermercados BEST
dos arquitetos americanos do escritório SITE, que se tornaram
atrativos ao público e conhecidos mundialmente os armazéns
insólitos dos supermercados com alterações pontuais e instigantes
nas fachadas. Estão dentre estas edificações as indústrias cervejeiras,
lácteas, vinícolas, dentre outras.
Figura 77 - Usina Elevatória de Traição, São
Paulo, BRA. Fonte: www.emae.com.br.
Figura 78 - BEST Shopping Center”, SITE
Projects Inc., Sacramento, Califórnia, EUA,
1977. Fonte: GASSEL, p.405.
Arquitetura da Indústria
77
No grupo Linguagem Transferível, estão os edifícios de
outras tipologias, como por exemplo, habitação, esportes, aeroportos,
que tiveram suas características de sistemas construtivos e formais
emprestadas e inspiradas nitidamente nas edificações industriais.
Podemos citar como exemplo o Centro Georges Pompidou, no
Beaubourg, em Paris, dos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers,
que foi finalizado em 1977.
Figura 79 - Aeroporto de Stanstead,
Norman Foster, RU. Foto do autor, 2004.
Figura 80 (esquerda) - Centro de Arte
Beaubourg, Renzo Piano e Richard Rogers,
FRA, 1977. Foto do autor, 2005.
Dentre as bricas Naturais eso os parques de energia
eólica, as hidrelétricas, os locais de extração madeireira, as “bateas”
de criação de mariscos, dentre outras atividades que simbolizam o
que o arquiteto Frank Lloyd Wright apresentava como o “grau zero
da arquitetura, ou seja, intervenções humanas que modificam
minimamente o ambiente natural, de maneira quase sempre
econômica, para tirar proveito das características naturais.
Outra classificação usual está descrita no Manual de
Desenho de Indústrias de Katharina Hausmann e Frank Jüttner,
publicado em 2004, as edificações industriais e suas partes o
divididas, tipologicamente, de maneira mais simples
37
, baseadas em
7 grandes grupos de fuões recorrentes: Estoque, Montagem,
Produção, Suprimentos, Manutenção, Exibição e Administração.
Esta divisão está baseada nas funções principais de cada edificação,
quase que uma classificação em função dos nomes dos ambientes
principais.
37
No entanto, muito útil para o trabalho projetual.
78
Projeto de Arquitetura
MAFFEI (1982, p.70), em sua dissertação de mestrado,
apresentada a esta Faculdade, propõe a divisão da indústria de acordo
com suas características sicas e de produção, como por exemplo,
necessidades de uso, espaços e tipologia das edificações em 3 grandes
grupos, citados abaixo. A principal diferença nestes três grupos está
no setor de produção.
Tipo 01 - Indústrias de Transformação - de produtos minerais
não metálicos, qmicas, petroqmicas e usinas de combusveis. São
formadas por: Unidades de Processo, estocagem de matéria-prima,
estocagem de produto acabado, utilidades, apoio ao pessoal da produção,
Administração. Nesse caso (…) a produção é desenvolvida nas
unidades de processo, que o edicios verticais, com equipamentos,
vasos e tubulões controladas por uma casa de controle.”
Tipo 02 - Indústrias de Transformação - Manufatureiras,
montadoras e de fabricação de componentes, é formado por Edifício
da produção e estocagem de maria-prima, estocagem do produto
acabado e carregamento, utilidades e administração. “(…) a produção
se desenvolve em um ou mais edifícios horizontais, tipo galpão,
com linha de montagem ou fluxo linear de trabalho, tendo na maioria
delas, grande quantidade de operios.”
Tipo 03 Indústrias Extrativas - Extração, estocagem e
carregamento, utilidades, apoio ao pessoal da produção,
administração. “(…) a produção é caracterizada pela jazida ou mina,
e a edificação é acoplada ao conjunto de equipamentos de extração
e carregamento.”
O IBGE e a ONU, por sua vez, distribuem as atividades
industriais em 4 grandes classes: indústrias extrativas, indústrias de
transformação, indústria da construção civil e serviços industriais
de utilidade pública enquanto que a classificação própria, adotada
pelo Ministério do Trabalho e constante do anexo ao artigo 577 da
Consolidação das Leis do Trabalho, agrupa as indústrias quanto às
condições de trabalho.
Estas classificações, no entanto, não levam em consideração
mudaas importantes que vem ocorrendo no edifício industrial que
foi, no século XX, profundamente alterado em função dos novos
processos produtivos. O arquiteto deve estar atento a estas questões
que influirão sobre a estrutura do edifício. É freqüente que os campi
industriais possuam edifícios voltados apenas a atividades de
pesquisa e desenvolvimento. A força menica dos métodos de
produção dos anos e séculos anteriores comou a se tornar menos
importante do que os problemas industriais resolvidos de forma
intelectualizada, buscando converter processos complexos em
sequências eletrônicas. RICHARZ (In. JÜTTNER, 2004, p.27) cita
o texto de Frank Ogden em “Die Zeit”:
Arquitetura da Indústria
79
“O que se esconde atrás do termo trabalho tem modificado tanto que
alguém apenas raramente escutará este termo passar pelos meus lábios.
Para muitos, o trabalho já é uma combinação entre aprender, produzir e
jogar. Caso as pessoas ainda não tenham se dado conta disso, estarão
prestes a receber uma grande surpresa.” (Traduzido pelo autor)
Os novos locais de trabalho para a Indústria, assim como
descreve RICHARZ (In. JÜTTNER, 2004, p. 27) podem ser uma
casa-barco em um porto, um “cyber”-cubículo, ou outras formas
estranhas de ambientes destinados a novos estilos de vida. Na Fábrica
de Cosméticos da Natura, em Cajamar, São Paulo, projeto de 1996
do arquiteto Roberto Loeb. A brica, concluída em 2001, em função
de preocupações do cliente deveria promover o respeito à natureza
e foco humano, assim como descreve o próprio autor do projeto.
Para proporcionar tal efeito, a brica foi dividida em 12 edifícios
menores, interligados por passarelas e varandas ao longo dos
edifícios, com fachadas abertas ao entorno natural e que
representassem cada uma das diferentes funções, dentre elas:
pavilhão industrial, pesquisa, desenvolvimento, treinamento, bloco
de apoio, dentre outros.
Figura 81 - Eden Project, Nicholas Grimshaw, Cornwall, RU, 2001. Contratado
pelo British Millenium Committee, o edifício funciona como um biotério onde
podem ser observadas a fauna e flora de regiões quentes como as florestas
tropicais e Mediterrânea, apesar de estar localizado dentro do Reino Unido. A
estrutura imita as estruturas de colméias, encontradas na natureza, solução
adotada pela inexistência de apoios intermediários dos grandes domos. Faz uma
referência explícita aos domos geodésicos de Buckminster Füller. A quebra da
estrutura em pequenas peças que funcionam de maneira conjunta reduz o peso
total do edifício. Fonte: http://www.cornwalls.co.uk/photos/data/media/3/eden-pan.jpg
Acesso 02.02.09 às 17:14:43h.
80
Projeto de Arquitetura
BROOS (1989, p.92) identifica 4 fases da construção industrial:
“Inicialmente resolveu, pelo planejamento de suas
construções, os problemas funcionais e de criação
dos espaços para a produção. Prosseguiu,
gradativamente, com a inclusão do problema social
e posteriormente dos assuntos humanitários,
chegando à concepção das fábricas com a inclusão
do aspecto cultural em sentido de um planejamento
integral. As fases conceituais pelas quais passou
podem ser assim definidas: 1. Fase funcional; 2.
Fase funcional + social; 3. Fase funcional + social
+ humana; 4. Fase funcional + social + humana +
cultural.
Cada uma dessas fases representa uma época na
história da construção industrial e correspondente
à seqüencia com que o ângulo de visão se abriu em
relação aos problemas da época, à massa do
operariado e às condições para sua formação. Hoje,
as indústrias mais progressistas do Brasil
encontram-se na terceira fase. A evolução na área
social e humana se deu gradativamente, sempre
limitada a efeitos contábeis.”
As preocupações com sustentabilidade também passaram a
ser uma pauta discutida mundialmente, pelos Estados e pelas grandes
Corporações. Estas preocupações passaram a ser cada vez mais
correntes na primeira década do século XXI. O edifício do Centro
de Pesquisas da Petrobrás, atualmente em construção, de autoria do
Escritório do Arquiteto Siegbert Zanettini é um exemplo de
arquitetura sustentável e de atividade interdisciplinar. Segundo dados
do escritório, trabalharam 250 pessoas de diversas áreas neste
projeto. O projeto tem seu partido definido o só pelos anseios
arquitetônicos correntes como também por inúmeras simulações
computadorizadas a respeito de fatores, como aproveitamento do
clima e uso racional e reutilização de insumos. Esse projeto segue
uma tendência de grandes escritórios de Arquitetura do exterior,
como é o caso do escritório do Arquiteto ings Norman Foster. Tais
profissionais buscam obter certificações internacionais que o
importantes pontos da imagem corporativa das empresas. Dentre os
selos mais conhecidos estão o “Haute QualiEnvironnementale”
HQE (Alta Qualidade Ambiental), francês; e o norte americano
“Leadership in Energy and Environmental DesignLeed, (Lideraa
em Energia e Desenho Ambiental).
Arquitetura da Indústria
81
3.2. PAPEL DO ARQUITETO, ATIVIDADES DE PROJETO
De todas as pessoas chamadas para
organizar o desenvolvimento de um estado
industrial, ninguém é mais importante que o
arquiteto. Treinado como tal em pensamento e
planejamento tridimensional, é a pessoa certa para
coordenar os esfoos de todos os consultores
especialistas envolvidos.” (MUNCE, 1960, p.83)
Apresento o artigo apresentado por Jean Fayeton para o
Primeiro Seminário Internacional de Arquitetura Industrial, realizado
em 1960, em Varsóvia, promovido pela União Internacional dos
Arquitetos (UIA).
No início do século (XX) a obra industrial não era
entendida por poder destacar-se, pelos artistas, como objeto
da criação plástica coletiva.
Na criação artesanal, as obras não eram somente
objetos funcionais, mas eram dotadas de valores humanos.
Demonstravam a longa familiaridade do artesão com
a matéria e sua preocupação de fabricar objetos únicos e
belos, em harmonia com o modo de viver.
Pode-se afirmar também que a sociedade tradicional
possuía um estilo, expressão de sua cultura.
Em todas as obras de arquitetura ou de artesanato, a
técnica e a vontade plástica eram muito bem integradas e
não era possível, então, encontrar a linha de divisão entre
esses dois conceitos.
O útil e o belo se fundiam de forma harmoniosa.
Com o advento da era industrial, busca-se claramente
colocar em evidência a separação da técnica e da plástica.
O engenheiro prevalece sobre o artista e assume a
construção de obras industriais – sejam elas o edifício ou
maquinário guiado somente pelo que ele acredita ser a
única necessidade: funcionamento mecânico associado à lei
de economia. Disto nasce um caos horrendo e desumano.
Nossas paisagens foram deturpadas, os subúrbios industriais
tornaram-se áreas desoladas.
Os trabalhadores o eram objeto de qualquer
atenção, seja no local de trabalho, ou na concessão de
moradia.
Os engenheiros da primeira geração da era industrial
eram absorvidos demasiadamente pelo aspecto funcional e
técnico de suas obras e não se ocupavam do que
consideravam manifestões fúteis como é o caso dos
problemas de forma, cor, proporção, harmonia e conforto.
Quando os industriais chamavam os arquitetos a
colaborar com a construção de suas fábricas, limitavam a
intervenção destes profissionais à sistematizão dos
ornamentos sobrepostos ao edifício, do qual o haviam
participado do projeto.
Desenhar um complexo industrial o a sistematização
de um complexo de quinas era uma operação que os
82
Projeto de Arquitetura
técnicos consideraram por muito tempo como sua tarefa
exclusiva.
Não pensaram que podiam, com vantagens, apelar
aos especialistas das composições, habituados a criar e a
unir as formas sem perder de vista o objetivo funcional, para
a redação dos projeto da mesma maneira como se consultam
os especialistas para a preparação do que hoje chama-se
<<engineering>>.
Tardou cerca de meio século até que fosse admitido
por todos, assim como proclamavam os pioneiros da
arquitetura moderna Behrens, Gropius, Perret, Le Corbusier,
etc., que nada do que pertence ao domínio da organização
do espaço é estranho à Arquitetura.
No entanto, os proprietários de indústrias, que
reconhecem, hoje em dia, que o arquiteto pode intervir no
projeto de fábricas, não sabem quais são os limites desta
intervenção no tempo e na extensão dessa missão.
É necessário partir desta definição da Arquitetura:
<< A arte da composição ao servo de todas as obras
humanas>>; para isso afirmamos que, no grupo dos técnicos
que colaboram com o estudo de uma fábrica, o arquiteto,
que é melhor qualificado para a composição, deve intervir
desde a origem.
O plano geral da fábrica, a disposição de cada
laboratório, a construção de cada edifício, são obras de
composição para as quais os engenheiros nãoo
particularmente dotados.
A Composição esta disciplina da imaginação – não
é para o engenheiro um atributo ocasional.
Seria insensato descartar que tem como profissão
projetar. Caso o arquiteto não seja um técnico, sua
contribuição será débil. O arquiteto ademais do
funcionalismo da disciplina que o esquece, pois se
encontra a base de sua pesquisa, caminha em dirão a um
38
PAGANO observa (In. MAZZOCHI, 1957, p.413):O problema
prático da arquitetura, encarada como arte, nos leva também, neste caso,
o a superar dificuldades econômicas nem a persuadir um industrial sobre
a necessidade de estudar racionalmente a estrutura da sua produção, mas
a batermo-nos freqüentemente contra idéias preconcebidas, contra resíduos
de anacronismos culturais, contra a pouca compreensão do problema
encarado em toda sua unidade: social, moral, artística e não somente
econômica. Quando essas barreiras se tornam insuperáveis, o industrial,
que poderia fazer-se um mecenas e pioneiro das artes no seu próprio
interesse e no interesse superior do próprio país, abdica seus deveres e se
mostra somente um pequeno homem laborioso, ignorante, ávido de dinheiro
e surdo aos problemas do espírito
Figura 82 - Fonte: FAYETON, In. FORTI,
1964, p.138.
“O projeto arquitetônico é obtido através da
combinação harmoniosa de três elementos:
função (resultante dos requisitos de produção),
estrutura (relacionada aos requisitos materiais
e da economia da construção) e forma. Na idéia
do autor a última noção inclui am da
composição tridimensional também a
preocupação do arquiteto em relação ao
homem e suas necessidades materiais e morais.
A prevancia de um destes três elementos
sobre um dos outros será danosa, porque
rompe a harmonia do todo. O percurso de
pensamento do arquiteto, enquanto concebe
um projeto, deve passar da função à forma por
meio da estrutura.
Arquitetura da Indústria
83
componente de harmonia que não se coloca em nenhuma
equação. Quando o engenheiro utiliza-se de seu recurso de
cálculo, o artista, com o seu instinto, acrescenta o mais pelo
qual a construção se torna arquitetura. O homem se identifica
no espaço arquitetônico: percebe uma mensagem endereçada
à sua sensibilidade
38
.
No entanto, o arquiteto o é somente um artista
plástico. Como projetista coloca ao posto orgânico todas as
partes da obra. Ele <<compõe>> e não <<sobrepõe>>.Na
fábrica radiosa, a qual revela Le Corbusier nos seus
primeiros documentos escritos, os trabalhadores podem
encontrar o sentimento de sua liberdade frente à força
material.
A fábrica dos dias de hoje não é mais uma prisão,
necessita de esforço para atenuar a pena sica e diminuir
as conseqüências mentais maléficas a seus operários.
o é em vão que os psicólogos denunciaram a
atenção danosa do trabalho industrial sobre os operários
quando são obrigados a passar suas jornadas em um local
onde o barulho, a sujeira, a pouca luz, a atmosfera
contaminada, tornam a vida insuportável.
Compete aos arquitetos impor aos técnicos que o bem-
estar dos trabalhadores da fábrica seja considerado como
uma finalidade imperativa.”
Para o arquiteto, a arquitetura industrial é uma área de
atuação com pametros específicos, que requer do arquiteto um
estudo e aprofundamento da tecnologia industrial e das outras áreas
do conhecimento que atuam na implantação de um empreendimento
industrial, assim, como descreve MAFFEI. (1982, pp.3) “É preciso
estudar o programa e as exigências da unidade produtiva com
precisão e metodologia, para que nenhuma necessidade seja
esquecida”, afirma Erica Yoshioka, professora do Departamento de
Tecnologia das Edificações da FAU-USP. (in AU 151 - Outubro/
2006) O projeto industrial, no entanto, por princípio é
interdisciplinar. O arquiteto trabalha em conjunto com todas as áreas,
e deve estar à frente da equipe coordenando tecnicamente e dando
as diretrizes gerais de ocupação do espaço, fluxos, circulações e
características das edificações em geral.
Assim como já descreveu Giuseppe Pagano (In
MAZZOCHI, 1957, p.337), em 1939, um dos graves problemas da
Arquitetura Industrial é considerá-la como uma subespécie da
arquitetura, uma coisa para ser construída rapidamente, sem nenhuma
pretensão. E se atentarmos, de fato, a arquitetura que ainda hoje
ilustra a maior parte das publicações especializadas está baseada
em soluções formalistas, de moda. Fica a questão de porque as
edificações mais representativas de nossos tempos acabam relegadas
a poucos textos específicos. RICHARZ (In JÜTTNER, 2004, p.27),
falando sobre o futuro, comenta o fato de que os novos edicios
84
Projeto de Arquitetura
para a arquitetura industrial o pareceo ser tratados de forma
superficial, mas, teo sua aparência relacionada ao seu conteúdo,
por exemplo, em relação a características que demonstrem o baixo
uso de recursos ou um grande grau de flexibilidade estrutural.
“A Arquitetura Industrial e a Estética Fabril
sempre tiveram um papel: comemorar a mudança,
estimular a inovação e ser permanentemente
novas.” (PHILLIPS, 1993, p.23)
O projeto, por sua vez, é completamente dependente do
processo de fabricação desde a matéria-prima, o sistema e todo
de produção do produto acabado. Caracteriza-se pela grande
quantidade de parâmetros, dados e informações inerentes à matéria-
prima, sistemas e métodos de produção ao produto, mão-de-obra e a
região onde deve ser implantado, que influem diretamente na
definão do partido arquitetônico e no detalhamento. Assim sendo,
cada etapa do projeto tem que ser cuidadosamente analisada com
contínua troca de informações entre as diversas áreas envolvidas no
projeto. Geralmente começamos o trabalho conversando com o
engenheiro de produção, que entende de fluxos e processos, mas
não de espaço.” (DALL’AGNESE, In MEDEIROS, 2003, p.42). As
áreas envolvidas, a parte da arquitetura, geralmente são: engenharia
de processo, engenharia de segurança, engenharia de equipamentos,
engenharia de eletricidade, engenharia de instrumentação,
engenharia de sistemas e todos de produção, engenharia de
estruturas e engenharia hidráulica, e muitas outras disciplinas. Vale
destacar: o arquiteto é o primeiro controlador do projeto completo.
Em geral, começa-se o projeto pelo estudo dos fluxos
produtivos, acessos de trabalhadores, marias-primas, escoamento
da produção, que são resolvidos em planta, por meio de, num
primeiro momento da execução de diagramas. Como parte dos
primeiros estudos, está a eleição de um módulo estrutural básico
que organizará todos estes caminhamentos. Certamente, cada
arquiteto te seu modo pessoal e único de trabalho, seguindo suas
intuições e desejos estilísticos, no entanto, cabe ao profissional
realizar pesquisas anteriores à etapa de desenvolvimento do projeto
para definição da funcionalidade dos espaços. Mais a frente, seo
apresentadas as formas usuais de arranjo espacial das prodões.
Dentre os principais fluxos em um edifício fabril convém citar:
matérias-primas, produtos em fabricação, produtos acabados,
operários, utilidades e pessoal administrativo.
Arquitetura da Indústria
85
“Cada fluxo tem sua própria lógica, seu espaço
necessário preferencial e seu custo de movimentação.
Assim, por exemplo, as matérias-primas quidas a
granel são estocadas em tanques externos e
transportadas por tubulações, geralmente aéreas, em
pipe-racks. As matérias-primas sólidas em pequenas
quantidades são descarregadas em docas e
transportadas por empilhadeiras em pallets. As
matérias-primas geram espaços específicos dentro de
uma fábrica: recebimento e controle, pátio de
caminhões, pátio de tanques, docas, pipe-racks,
elevadores, silos, esteiras rolantes, etc. A
movimentação dos produtos em fabricação dentro de
uma indústria tem recebido uma atenção constante,
visando sua racionalização e otimização. Assim, por
exemplo, a verticalização de determinados processos
de fabricação, de forma a aproveitar as vantagens da
força da gravidade, a robotização das transferências,
a proximidade sica das linhas de fabricação são
preocupações constantes da engenharia de produção.
Freqüentemente, os edifícios devem responder a
exigências, abrindo vazios e passagens para que as
transferências ocorram eficientemente. Os produtos
acabados devem ser estocados e expedidos de acordo
com a sua ppria natureza, gerando armazéns
paletizados, silos e docas especiais. O fluxo das
utilidades, como água, energia, vapor, ar comprimido,
gases etc., é gerado e transportado aos locais de
utilização, de forma a haver a menor perda possível.
Normalmente, as utilidades são transportadas em
tubulações apoiadas em suportes elevados, para não
haver conflito de circulações. Finalmente, o fluxo das
pessoas que trabalham numa usina deve ser
organizado de modo a unir vestiários, local de
trabalho, sanitários, refeitórios, acesso a conduções
e de forma simples, curta, abrigada das intempéries
e livre de acidentes.” (BRUNA, 1989, p.63)
O caminho de projeto usual de estudo do processo, da
organização produtiva, o estudo do conceito a ser utilizado e por
último o estudo da estrutura (edificação em si) será realizado na
maior parte dos casos industriais uma vez que não existe uma única
solução e sim grandes diferenças no sentido de arranjo físico e forma
da edificação. No caso da indústria leve, de galpões para incubadoras
de empresas o processo pode ser realizado sobre dimensões correntes
das edificações industriais, quando o intuito for a criação de espaços
flexíveis, que possam abranger distintas organizações da produção.
Os equipamentos para as atividades industriais seo dispostos da
melhor forma possível, tentando aproveitar ao máximo os espaços
do edifício já construído, tornando-se uma solução indesejável desde
o princípio.
86
Projeto de Arquitetura
A seguir, ou concomitantemente, o arquiteto deve verificar o
atendimento de muitas adequações legais. A legislação a ser
respeitada dentro das indústrias, principalmente de alimentos, é cada
vez mais restritiva e não existem parâmetros claros e resumidos em
relação ao projeto arquitetônico. Sobre estas construções incidem o
Código de Edificações e, em Municípios que não possuam o código,
o Código Estadual de Engenharia Sanitária. Devem passar por
requisitos, no caso de São Paulo, da Secretaria do Meio Ambiente
Companhia de Saneamento Ambiental CETESB, Instituto de
Pesquisas Tecnológicas, Ancia Nacional de Vigilância Sanitária
ANVISA, Normas Regulamentadoras da Consolidação das Leis do
Trabalho (decretadas pelo Congresso Nacional), Corpos de
Bombeiros e mais alguma que possa incidir sobre o tipo de produção.
São, no total, mais de 30 leis e 20 portarias que incidem sobre a
atividade industrial em geral. Regulam principalmente sobre a
segurança do trabalho, condições de conforto e higiene e meio-
ambiente.
O projeto poderá ser contratado para execução em terreno
específico, de propriedade do empreendedor ou ser contratado para
localizar um terreno adequado para a implantação da fábrica. Neste
caso deverá, junto aos empreendedores, colocar na balança muitos
fatores pelos quais se definirá a seleção de uma localidade a
proximidade dos mercados e fontes de matéria prima, e a
possibilidade de tal área ser utilizada com cunho industrial segundo
a legislação e zoneamento existente, reforçando-se a imporncia
da questão legal, e a existência de força de trabalho capacitada no
local. Vastos tipos de materiais de construção devem ser facilmente
obtidos no entorno.
A natureza do terreno e condição do subsolo são de primeira
importância. É indispensável que se chame um especialista em
mecânica dos solos para desenvolver um completo estudo das
camadas do solo, produzindo estudos sobre a capacidade de
sustentação do mesmo, a profundidade do lençol freático, a
composição das várias camadas, e a possibilidade de uso do local
para a edificação pretendida e infiltração de resíduos industriais.
Passa-se então para a investigação se a infra-estrutura local
suporta sistema o complexo. Suprimento de água e tratamento do
esgoto, doméstico e industrial, com especial previsão de lixo tóxico
produzido, podem ser essenciais. Nas indústrias de alimentos, que
podem gerar resíduos de a2/3 da quantidade de matéria-prima, é
Arquitetura da Indústria
87
muito importante verificar os destinos destes dejetos. Na maior parte
dos casos o se pode deixá-los ao ar livre, pois podem trazer
conseqüências desagradáveis como o caso de presea de insetos e
roedores. Deve-se, portanto, construir depósitos de lixo para
armazenar os resíduos sólidos a serem coletados por empresas
especializadas. Diversos tipos de efluentes podem ser gerados por:
limpeza de equipamentos, processo produtivo, limpeza da fábrica,
esgoto comum, dentre outros. Neste caso é importante levar em
consideração a legislação local. Para se estabelecer a necessidade
de um pré-tratamento antes dos efluentes serem despejados, deve
ser levado em conta a quantidade e qualidade dos mesmos. A
qualidade abrange fatores como composição, temperatura,
propriedades físicas e químicas, concentração de sólidos, dentre
outros. Com base nesses fatores será definido o seu destino, esgoto
público, sumidouros ou rios. No caso do Estado de São Paulo, existem
limites estabelecidos por lei para os efluentes industriais. Estes
limites estão definidos segundo o Decreto no. 47.397, de 4 de
dezembro de 2002. As tabelas mais importantes, a serem consultadas,
neste caso são:
1. Condições dos efluentes em função dos locais de lançamento.
2. Parâmetros ou valores da qualidade dos corpos de água que
não podem ser alterados pelo lançamento de efluentes.
Linhas de s e encanamentos de ar comprimido podem ser
necessárias. Eletricidade, tanto para energia como iluminação, é uma
condão vital. Os sistemas informatizados de dados e Tecnologia
da Informação, que trouxeram grande quantidade de inovações para
a maior parte dos ramos industriais, devem ser contemplados e
dependerão, por exemplo, dos serviços de telefonia e lógica. O
arquiteto deverá estar atento à contínua e rápida evolução destes
sistemas que tem como funções principais o controle da produção,
montagem, estoque e logística, apesar destes projetos
complementares serem necessariamente executados por especialistas.
Quando bem concebidos, fazem com que a fábrica não apenas
comunique-se corretamente internamente, mas, permite que decisões
por meio da rede global, com auxílio de programas de desenho
assistido por computador, CAD (“Computer Aided Design”).
88
Projeto de Arquitetura
Transporte é a chave para o sucesso funcional ou falha do distrito
industrial. O transporte relaciona-se diretamente aos acessos e
segurança. Talvez seja o primeiro elemento com o qual o arquiteto
se defrontará, o planejamento dos acessos. Mas, antes de se
estabelecer as questões de circulação internas e do edifício industrial
em seus limites mais próximos, deve se estabelecer os prinpios do
distrito industrial que influenciarão as arquiteturas das fábricas. O
projeto de circulação deve evitar ao máximo que tráfego de pessoas
e de mercadorias se cruze. Por sua vez, na maioria das vezes convém
separar a entrada de mercadorias e a expedição; isso torna-se mais
simples na medida que se utiliza o percurso natural de produção
para tal fim, no entanto, deve-se ter em vista o possível aumento do
número de funcionários e sua necessidade ou o. o necessários
cuidados com a circulação da matéria-prima, operários, e produtos
finalizados de forma que esta seja o mais simples e ininterrupta
possível. Tráfego cruzado deve ser reduzido ao nimo. Na
arquitetura industrial é muito presente a frase: A forma segue a
função.” Exigências funcionais, condicionantes técnicas rigorosas
e objetivos determinados são levados ao extremo. É necessário que
se evite também o cruzamento de vias industriais com vias públicas.
Neste sentido, convém dispor-se de vias locais ao lado das estradas
que possuam suas margens ocupadas por indústrias e parques
industriais. São necessários estudos dos possíveis métodos de
transporte de matéria-prima e produtos acabados de um local para
outro por terra (caminhões e trens), pelo ar, ou pela água.
Uma previo adequada deve ser feita para os elevadores
de bens e pessoal, quando um edifício vertical é planejado. O espaço
requerido por caminhões, paletadeiras, tambores e outros materiais
esperando ser transportados de piso a piso. Este espaço deve ser
mais amplo do que esperado primeiramente, pois, os elementos antes
citados tendem a acumular-se. A posição de monta-cargas será ditada
pelo layout da planta e do processo de circulação. Devem, no entanto,
ser implantados longe das caixas de escadas, pelo fato de que
materiais acumulados podem impedir uma rápida evacuação no caso
de incêndio ou outro tipo de emergência. As escadas de inndio,
por sua vez, devem obedecer às distâncias máximas previstas na
legislação do local e estarem construídas em materiais
incombustíveis.
Arquitetura da Indústria
89
Não os produtos devem ser transportados. O transporte de
trabalhadores de e para o distrito industrial é também de suma
importância. Transporte público de diversos tipos é a resposta ideal,
mas hoje em dia, em todo o Mundo, um mero importante e
crescente de trabalhadores vai para a empresa com carros particulares
ou de ônibus fretado. Conseqüentemente, são necessárias áreas
maiores para estacionamentos - às vezes, é necessário se acolher
cem por cento do pessoal por turno. Um esforço positivo é encorajar
os trabalhadores a ir até o trabalho a pé, uma efetiva diretiva para o
arquiteto do distrito é que este esteja o mais adjacente possível dos
centros de população.
O canteiro de obras deve passar por um projeto assim como o
edifício industrial. As grandes dimensões dos edifícios e as
dificuldades espaciais que podem aparecer durante a construção e
uso de grandes máquinas devem ser previstas. Muitas estruturas
necessariamente devem ser erguidas até mesmo por dois guindastes
simultaneamente. Na Fábrica Ipel, de autoria do arquiteto Sidonio
Porto, em Cajamar, São Paulo, parte de sua estrutura melica foi
erguida por dois guindastes com capacidade de 25 toneladas, por
exemplo.
Resumidamente, os pontos mais importantes em relação ao local,
ao encargo do arquiteto são citados na tabela a seguir:
90
Projeto de Arquitetura
1. Área disponível;
2. Conformação do
terreno;
3. Insolação, Regime anual;
de chuvas, poluição do ar;
4. Acessos rodoviário,
reo, ferroviário e
hidroviário, Porto
matimo;
5. Características
planialtimétricas;
6. Suprimento de água
(potável e não potável);
7. Destino de resíduos
sólidos;
8. Destino de resíduos
líquidos, ou efluentes;
9. Destino de águas
servidas;
10. Suprimento de energia
Elétrica;
11. Suprimento de gás;
12. Focos de insetos e
roedores na vizinhança
(aplica-se principalmente
na indústria alimentícia);
13. Natureza do terreno;
14. Transporte;
15. Fornecimento de
materiais para obra;
16. Organização do
canteiro de obras e
Planejamento das Etapas de
Construção;
17. Legislação vigente;
18. Processo de produção;
proximidade a indústria ou centros urbanos
poluidores
proximidade de aeroportos
Em alguns casos é necessário um grande
movimento de terra, que pode exigir, a
mesmo, o rebaixamento do nível do leito da
estrada marginal ao terreno, respeitando-se a
concordância com as curvas de vel do local
registro do posicionamento das
canalizações
pressão na rede, existência ou o de
reservatório elevado
possibilidades de captação própria
existência ou não de poços artesianos
serviço público de coleta de lixo
(periodicidade)
serviço contratado para coleta de lixo
especial
possibilidade de uso de detritos como
combustível
legislação específica para lançamento de
efluentes industriais
tensão de fornecimento, existência ou o
de cortes freqüentes no fornecimento de
energia
alimentação aérea ou subterrânea
tipo de gás
perigo de inundação
vel do lençol freáticovariação do lençol
freático em épocas de cheias e de seca
materiais disponíveis
fornecedores
Código de Obras e Edificações do
Município, Planos diretores regionais e locais,
Normas das Concessionárias, Corpo de
Bombeiros, etc.
zona industrial regulamentada
volumes fechados ou não, presença de
filtros especiais
menor altura da edificação, limitação para
reservatórios elevados, limitação de número
de pavimentos
restrições a possíveis expansões
dificuldades de acessos
necessidade de se projetar a indústria em
volumes separados, setorizando áreas
produtivas e de funcionamento
liberdade ou não de implantação do
edifício, custos para alteração de
caminhamentos
independência em relação ao sistema
blico, previsão de reservatórios para
épocas de seca
dimensões de abrigos para resíduos,
dimensionamento dos mesmos
instalações para produção de energia
sumidouros, poços de infiltração, rede de
esgoto
Tipo de captação
presença de subestação e dimensões da
mesma
necessidade de instalação de casa para
geradores
mecanismos para eliminação de insetos
estratégias como implantação elevada do
térreo
possibilidade ou não de execução de
porões, galerias, equipamentos fixos no piso
dimensionamento dos estacionamentos,
garagens especiais, espaço para frota de
veículos
edifício para manutenção da frota de
veículos
definirá os métodos e sistemas
construtivos de possível uso
definicronograma de obra e orçamento
possibilidade ou não da utilização de
quinas pesadas, previsão de caminhos, o
que influirá diretamente sobre os métodos e
sistemas construtivos a serem utilizados.
dimensionamento dos espaços, condições
de acessibilidade, recuos, gabaritos ximos,
dentre outros.
arranjo da produção, envelope do edifício
industrial
 materiais construtivos
questões relacionadas à localidade
influência sobre a edificação
Arquitetura da Indústria
91
Quando falamos em grandes complexos industriais, a
divisão do empreendimento do distrito em quadrículas é favorável
em muitos sentidos, sendo um deles a proteção contra incêndio,
podendo-se em cada quadra alternar-se produções mais o menos
perigosas. Por outro lado, facilita a numeração e a identificação das
edificações, boa organização do tráfego interior e do sistema de
canalizações e pontes de tubulações (pipe-racks”) nas ruas. O
estabelecimento em quadras regulares facilita as ampliações
industriais.
Mesmo com um programa muito claro, e ajuda de vários
especialistas, não é uma tarefa cil. Planejar com o máximo de
flexibilidade, para permitir mudanças rápidas realizadas para
acomodar uma planta de tamanho e concepção diferente daquela
originalmente observada, e para permitir eventual expansão é
essencial. As constantes alterações de maquinário e automatização
das fábricas exigem que os edifícios industriais sejam flexíveis ao
máximo. Devem prever muitas alterações, pois, quando cessa a
possibilidade delas acontecerem, estes, na sua maioria grandes
edifícios tornam-se obsoletos e o abandonados pela indústria
38
.
O conceito de flexibilidade, junto com a necessidade de rapidez
de execução dos edifícios, faz com que a maior parte das indústrias
sejam resolvidas modularmente, fator essencial inclusive para a pré-
fabricação da construção. Os edifícios industriais devem ser, no
máximo possível, funcionais, econômicos e flexíveis
39
. A construção
de edifícios industriais pede que se proponha ou se utilize de sistemas
construtivos padronizados.
A modulação determinará os vãos dentro dos quais se
desenvolveo as tarefas produtivas, mais do que isso, dará dicas a
respeito do sistema construtivo a ser utilizado, em geral
industrializado. Então, por se tratar de um sistema construtivo
industrial, a modulação ainda se torna mais imperativa. As
construções industriais normalmente ocorrem em etapas, no entanto,
é interessante que os edifícios e principalmente as circulações
contemplem, desde o projeto inicial, as possíveis expansões, tendo
a nova circulação prevista, construída integralmente no momento
inicial, ou, dependendo das inversões realizadas, constrda em
etapas.
38
Isso ocorreu em diversas cidades pelo mundo inteiro, inclusive com São Paulo.
A instria do bairro da Mooca, dependente do sistema ferroviário para chegada
de matéria-prima e escoamento de produtos entrou em decadência com o estímulo
ao rodoviarismo e a obsolescência das ferrovias. Alguns edifícios tiveram suas
fachadas ecléticas alteradas e abertas para a criação de Docas e entradas de
caminhões.
39
Como descreve Herman Hertzberger, em Lições de Arquitetura (1999, p.146),
esta flexibilidade deverá ser tal que não torne o edifício adaptável a qualquer uso,
o que significa não ser ideal para nenhum uso.
92
Projeto de Arquitetura
Na Fábrica da Unilever, de autoria do professor e arquiteto Paulo
Valentino Bruna, em Vinhedo, o Paulo, as expansões ocorrem
desde o ano de 1976. Na época, Bruna era diretor do escritório Rino
Levi Arquitetos Associados. Como sistemas construtivos, Bruna
utilizou-se de estruturas de concreto armado pré-moldado e estruturas
metálicas
40
. A independência das estruturas permitiu ampliações e a
substituição de materiais de construção, como por exemplo, as telhas
corrugadas de fibrocimento por telhas metálicas do tipo sanduíche
(com de rocha interna), o que melhora as condições térmicas
internas dos edifícios.
Figura 83 - Unilerver, Rino Levi Arquitetos
Associados.
40
Nota-se em muitos projetos brasileiros estruturas mistas em concreto armado
pré-moldado e o. Em geral, os pilares são executados em concreto e as treliças
das coberturas, que vencem grandes vãos, em estrutura metálica, por serem mais
leves, diminuindo os esforços sobre a estrutura.
Arquitetura da Indústria
93
O último servo prestado pelo arquiteto é a preparação de
desenhos de memória que irão indicar a capacidade e posicionamento
da infra-estrutura e permitir a cil operação e manutenção do
empreendimento. Os desenhos básicos necessários serão
apresentados a seguir.
Apesar dos parâmetros observados, a metodologia aplicada
na elaboração de um projeto de Arquitetura Industrial pode assumir
formas diversas, variando em função de necessidades específicas
das bricas. Em muitos casos o arquiteto trabalha de forma linear e
o projeto é viabilizado pelos complementares de estruturas e todas
instalações, ou, dependendo de vários fatores como complexidade
do projeto pode ser realizado desde o princípio pelas diversas equipes
simultaneamente. A estruturação clara do projeto, no entanto, é fator
fundamental para que se alcancem os objetivos propostos. É
fundamental que o arquiteto visite e estude outras fábricas do mesmo
gênero antes de começar a projetar a fábrica em questão. Muitas
vezes, em função de sigilo industrial isto o é possível, sendo
necessário um levantamento bibliográfico. Antes de começar a
analisar a forma da edificação é necessário que o arquiteto tenha se
aprofundado no conhecimento do processo produtivo adotado e suas
linhas de produção presentes e futuras.
Kozlowsky (1953, p.366-7) descreve:
A arquitetura industrial tem a função
primordial de coordenar todos os elementos do
maquinismo, transporte, ventilação, iluminação e
outros, com a estrutura e parte arquitetônica
propriamente dita. Para obter-se bom resultado é
necessário, portanto, começar pela distribuição das
seções e das máquinas da fábrica, obedecendo-se
ao melhor modo de fabricação, seqüencia das
operões, facilidades de transporte, fazendo o
assim chamado layout”.
O arquiteto deverá estar ciente das características formais e
de marketing que deverão ser atingidas. O desenho corporativo,
projetado de forma interdisciplinar pelos setores de marketing,
Recursos humanos, produção e arquitetura, estabelecido anos na
construção administrativa se integra cada vez mais à constrão
industrial. Refere-se à imagem empresarial, perante a sociedade e
funcionários. Abrange, por exemplo, estudos de cores, forma e
materiais da arquitetura, filosofia de humanização e sustentabilidade
94
Projeto de Arquitetura
das instalações. As empresas em a necessidade de apresentar-se
perante o público mediante a arquitetura de seus locais de produção,
posto que não é somente o produto em publicidade que é objeto de
crítica, mas também, a sua procedência. O cliente deve estar
convencido da sólida qualidade dos produtos, assim como da atitude
política das condições de produção e emprego.
“A arquitetura dos locais de trabalho e principalmente
das fábricas, está em vias de passar por uma evolução
sem precedentes. A procura de uma melhor
produtividade, a passagem para a informática e a
robotização, e a melhoria das condições de trabalho,
trouxeram a reformulação dos conceitos de espaço
industrial. As fábricas se humanizaram e passaram a
ser também ferramentas de produção, de desempenho
até hoje inigualável. Abertas para o exterior,
coloridas, providas de equipamentos sofisticados, as
construções industriais deixaram de ser os parentes
pobres da arquitetura. Uma melhor consideração pelo
arquiteto dos valores sociais, psicológicos e
simbólicos, adequado ao conjunto dos trabalhadores,
iria ao encontro do conceito de enriquecer os locais
de trabalho, a fim de criar não simples espaços de
produção, mas indústrias para os homens.
(HOYET, 1982 in BITTAR, 2000, p.57)
A edificação industrial o pode, no entanto, ser apenas
estimulada por correntes arquitetônicas passageiras, como foi o caso
de muitas das fábricas de alta tecnologia dos anos 70 e 80, ou entrar
no campo da arte e deixar de lado quesitos de funcionalidade.
“Edifícios industriais são mais do que a velha
imagem dos galpões da virada do século 20.
Mudaram, por exemplo, na aplicação de materiais
que garantem isolamento termo-acústico, limpeza e
segurança, na transparência de todo o processo
produtivo, na relão do blico com a linha de
montagem. O design formas que ultrapassam os
limites do tão conhecido galpão para unir programa
de uso a resultados estéticos positivos.
(GERROLLA, AU 151 Out. 2006)
As fábricas, atualmente, apresentam-se abertas ao público. Um
exemplo nesse sentido é o edifício central da brica da BMW em
Leipzig, na Alemanha, de autoria da arquiteta Zaha Hadid. O hall
principal, público é o contato da linha produtiva, na parte em que os
veículos estão semi-montados e as atividades de inovação,
administração e recepção ao público externo. O edicio central é o
rebro de toda atividade do complexo industrial.
Arquitetura da Indústria
95
Atualmente, o aspecto da sustentabilidade é o “estado da
artena edificação industrial, isolamento rmico, refrigeração de
elementos construtivos e casa de máquinas descentralizadas tamm
devem ser dimensionados cautelosamente. Dentre os selos mais
conhecidos de arquitetura sustentável, estão o Haute Qualité
EnvironnementaleHQE (Alta Qualidade Ambiental), francês; e o
norte americano “Leadership in Energy and Environmental Design
LEED, (Liderança em Energia e Desenho Ambiental). Segundo
dados do HQE, o setor dos edifícios consome 50% dos recursos
naturais e 40% da energia mundial. O selo é, ainda hoje, uma
iniciativa voluntária por parte dos construtores a respeito da
“qualidadeambiental de seus edifícios. Aplica-se a todos os tipos
de edificações, como por exemplo, imóveis de escritório, parque
industrial, hotel, espaços de lazer, etc.
Figura 84 - brica Ipel, Sidonio Porto
Arquitetos Associados, Cajamar, São Paulo,
1999. Redesenho do autor.
96
Projeto de Arquitetura
Como tendência que deverá perdurar daqui para frente,
segue uma descrição de alguns pontos que devem ser atingidos a
respeito da sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável possui
três componentes principais: o social, o econômico e o ambiental.
Para nortear as atitudes de projeto, estabeleceram-se 14 alvos
principais:
Arquitetura da Indústria
97
O Leed, por sua vez, trata-se de um sistema de classificação
de edificações por meio de critérios de sustentabilidade, por meio
de classificação dos edifícios em diferentes categorias. Foi
desenvolvido pelo U.S. Building Council. Pode ser aplicado em
edifícios em construção ou em edifícios construídos.
98
Projeto de Arquitetura
4. ARRANJO FÍSICO DOS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS
A primeira etapa do projeto de um edifício industrial,
conforme apresentado anteriormente, é o estudo dos diversos fluxos,
que, por sua vez, seo diretamente influenciados pela organização
produtiva específica da atividade para a qual se projetará o edifício
industrial. O arranjo sico dará bases projetuais para a constituição
da espacialidade da fábrica.
Utilizarei o termo em português arranjo e o termo ings
“layout” como sinônimos.
4.1. ARRANJO FÍSICO DA PRODUÇÃO
O arranjo físico não determina o fluxo produtivo, como
tem inflncia direta sobre a forma e aparência dos locais de trabalho
e custo de instalações. Os três tipos clássicos de arranjos o: 1.
Layout posicional ou arranjo de posição fixa (Layout Combinado);
2. Layout Funcional, Departamental ou de Processo (“Job Shop”);
e 3. Layout Linear ou por Produto (“transfer line”).
Figura 85 Fábrica de motores, 1912.
Fonte: CULTURA E INDUSTRIA, 1979, p.18.
Arquitetura da Indústria
99
No arranjo de posão fixa, assim como diz o nome, o
material a ser trabalhado permanece parado enquanto que os
operários e equipamentos se movimentam ao seu redor. Hoje em
dia não é tão comum quanto quando o trabalho artesanal
predominava. Na Indústria moderna é utilizado apenas quando
grande dificuldade em se movimentar o produto, maior do que em
movimentar maquinário e operios. Exemplos deste arranjo o os
estaleiros e hangares aeronáuticos. Todos os operários, máquinas e
ferramentas se movimentam ao redor do navio em construção. Outro
exemplo, relacionado à Arquitetura é a construção de edifícios.
39
Surgiu com a divisão do trabalho visando aumentar a quantidade produzida,
pois se acreditava que as tarefas realizadas de modo repetitivo ocasionariam
uma economia de tempo.
O projetista deve atentar apenas ao fato de impedir que os
itens em produção e maquinário bloqueiem a expedão de produtos
acabados e vice-versa. (Valle, 1975, p.66)
O Arranjo Funcional, por sua vez, é aquele onde as operações
do mesmo tipo são agrupadas no mesmo local, como por exemplo,
numa área de tornos, prensas ou fornos; e Linear, descrito e criado
por Adam Smith
39
. Diferente do arranjo anterior, neste, o produto é
movimentado entre os postos de trabalho, que são organizados
segundo a similaridade da função. É muito comum em marcenarias,
fábricas xteis e ferramentarias. A área de produção é dividida em
setores geralmente que tem seu nome associado à sua atividade.
Figura 86 - Arranjo de Posição Fixa. Fonte:
autor, 2008.
Figura 87 - Esquema funcional da fábrica de
registradoras Rena S.A., Rino Levi, 1955.
Fonte: Revista Acrópole.
100
Projeto de Arquitetura
Figura 88 - Plantas da fábrica de registradoras Rena S.A., Rino Levi, 1955.
Redesenho a partir da Revista Acrópole.
Organização Funcional. Os
pavimentos estão divididos
em oficinas com funções
específicas.
Arquitetura da Indústria
101
40
A idéia de que os edifícios industriais eram complexos imensos perdurou por muito
tempo, ainda estando hoje no nosso imagirio. Pevsner no seu texto History of the
Building Types”, no capítulo dedicado às fábricas imbuído da não de grandes edifícios,
resgata amplos “edifícios industriais” doculo XVIII e XVII, por exemplo, para demonstrar
que a atividade industrial exigia grandes espaços antes mesmo da Idade Moderna.
Figura 89 Linha de produção do Ford modelo T. Fonte:http://
www.motortrend.com/features/auto_news/2008/
112_0807_ford_model_t_100_year_celebration/photo_02.html Acesso 02.02.08 às
12:10:34h.
O terceiro tipo, o arranjo linear, é o sistema de Produção em
massa desenvolvido por Frederick Taylor e Henry Ford no início do
culo XX, mais precisamente em 1912, tendo sido completamente
instalado em 1914, que predominou no mundo até a década de 90. A
idéia básica por trás desse tipo de organizalção era buscar reduzir
os custos unitários dos produtos por meio da produção em larga
escala, especialização e divisão do trabalho. O sistema de produção
era linear, onde o produto se movimentava através de esteiras. Cada
trabalhador estava apto a desenvolver uma única etapa da linha
produtiva, reduzindo-se o tempo de aprendizado para desempenho
de apenas uma tarefa. Este sistema tinha que operar com estoques e
lotes de produção elevados, encarecendo os custos de produção por
capital imobilizado e aumentando significativamente a área
necessária para a implantação de edifícios industriais e,
conseqüentemente, a dimensão dos mesmos
40
. A baixa flexibilidade
e dificuldade de mudanças nos produtos é característica negativa
do Layout Linear.
102
Projeto de Arquitetura
4.2. NOVOS TIPOS DE ARRANJOS
A partir da cada de 50, com o início da Era da Informação
e em sua conseqüência o momento conhecido como Segunda
Revolução Industrial, novos tipos de organização do trabalho m
sendo introduzidos à indústria o que resulta em novas tipologias
dos edifícios industriais, pelas profundas alterações causadas no
espaço produtivo.
“A era da informação, que teve seu início nos anos
50 e se instalou definitivamente nas duas últimas
décadas do século XX, gerou um novo paradigma
tecnológico. Este paradigma tecnológico se
organiza em torno da tecnologia da informação que,
segundo Castells, é a convergência das tecnologias
da micro eletrônica, da computação, da
telecomunicação, da opto eletrônica e da
engenharia genética e seus desdobramentos.
(Castells, In Ventura, 2002)
Camarotto (1998, p.125) descreve como as novas tenncias da
fabricação de produtos:
1. Aumento da automação do processo de produção;
2. Uso de mão-de-obra multifuncional;
3. Agrupamento de máquinas por similaridades geométricas e
de função dos componentes;
4. Trabalho em grupo (tanto de máquinas como de pessoas);
5. Mudaa para Layout Celular (ou grupo de máquinas);
6. Diminuição dos espaços entre os postos de trabalho pela
diminuição dos estoques intermediários e integração da
produção.
Dentre as modificações sofridas pela indústria, uma das
principais, é a capacidade em produzir bens otimizados para o cliente
específico. Em muitos casos não se adapta a produção assim como
proposta por Henry Ford, (...) muitos aperfeiçoamentos foram
introduzidos com o objetivo de melhorar a produtividade e a
eficiência da produção em rie criada por Ford, como por exemplo:
“Just in Time”, Gestão de um Momento, Qualidade Total, Análise
de Valores e Re-engenharia.” (ROSA, 2006, p.28). Os todos novos
de produção foram estabelecidos por empresas ao redor do mundo,
Arquitetura da Indústria
103
sendo chamados de Produção Enxuta ou “Lean Factory” Processos
como o Kanban” e Poka-Yoke”, por exemplo, o creditados à
fábrica de carros da Toyota Motor Company, sendo “Kanbanuma
palavra japonesa que significa etiqueta. Em um kanban” estão as
informações como a referência da peça fabricada e indicações do
posto de trabalho. Serve para controlar o fluxo de materiais e
aumentar a produtividade. (MEDEIROS, Téchne no.79, p.41).
Estes conceitos evitam que as indústrias percam a competitividade
no mercado, pela baixa capacidade de atender a novas demandas de
mercado, em função da baixa flexibilidade à variações nos produtos
(CAMAROTTO, 1998, p. 125).
O Sistema Toyota trabalha com pequenos lotes de produção o
que permite maior variedade nos produtos. Um exemplo: em vez de
produzir um lote de 50 sedans brancos, produz-se 10 lotes com 5
veículos cada, com cores e modelos variados. Os trabalhadores
desenvolvem mais do que uma única tarefa e operam mais que uma
única máquina.
Os novos arranjos, provenientes desta evolução dos todos
produtivos são, brevemente: 1. Layout em “Gaiola de ssaros”; 2.
Layout em Ilhas Separadas”; 3. Layout em Linha; 4. Layout em
Grupo; 5.Layout Celular ou Célula de Manufatura; 6. Layout
Posicional Flevel; 7. Layout Modular, Projeto Modular ou Mini-
brica.
No layout em “Gaiola de ssaros “(...) um operador opera
várias máquinas iguais, com tempo alocado de trabalho em cada
máquina a partir de um diagrama homem-máquina. Neste sistema
um acúmulo de materiais estocados em cada máquina, muito
tempo para transporte e sistemas pesados de movimentação (grandes
quantidades por viagem)(...)” (CAMAROTTO, 1998, p.127).
No layout em Ilhas Separadas (...)cada operador é
responsável por um conjunto de máquinas diferentes que operam
seqüencialmente partes de um mesmo produto ou produtos
semelhantes, porém mantendo um trabalho individualizado com a
prescrição de seu tempo de trabalho em cada máquina a partir da
distribuição estabelecida pelo diagrama homem-máquina.(...)
(CAMAROTTO, 1998, p.127). Em relação a influência sobre a
espacialidade do edicio industrial, estes métodos exigem espaços
livres ao redor das gaiolas ou ilhas, pois os estoques
intermediários o altos. Dependerão do ritmo do operador da linha
para serem liberados. Os espaços devem, portanto, ser projetados
Figura 90 - Layout em gaiola de pássaros”.
Redesenho a partir de CORIAT, 1994,p.63 In,
CAMAROTTO, 1998, p.127.
104
Projeto de Arquitetura
com áreas residuais.
No caso do Layout em Linha, os equipamentos diferentes
o dispostos linearmente, assim como diz o nome, na ordem do
processamento do produto. O operador percorre cada um dos
equipamentos. A vantagem deste layout é o pequeno estoque
necessário na produção, no entanto, os estoques nos finais das ilhas
são elevados. Um marco na utilização deste processo é a brica da
Volvo em Kalmar. (CAMAROTTO, 1998, p.129)
Solução contra o trabalho individualizado surge o Layout
em Grupo, cujo nome provém de Tecnologia de Grupo”, que
significa agrupar os produtos por famílias definidas principalmente
por similaridades geométricas e de processos. A idéia é que grupos
de máquinas com funções e processos diferenciados realizem em
menor tempo uma maior quantidade de produtos. Este layout
funciona com a divisão da produção em células, que serão
apresentadas adiante. Esse tipo de organização produtiva surge,
segundo CAMAROTTO (1998, p.132), em decorrência do
movimento de humanização do trabalho com os princípios do
trabalho em grupo. A idéia principal era modificar o sistema de
trabalhos altamente repetitivos, que tem conseqüências negativas
na saúde e segurança no trabalho, por exemplo, estresse, problemas
de foro músculo-esqueléticos, insatisfação, baixa por doença, dentre
outros. As linhas de montagem mais clássicas, baseadas no modelo
tayloriano-fordiano, tendem, inclusive, a negar aos trabalhadores
oportunidades de promoção do seu desenvolvimento pessoal, de
controle sobre o seu trabalho, de autonomia na tomada de decio e
de resolução de problemas e de participação efetiva e concreta nas
tarefas
41
.
Figura 91 - Layout em “ilhas”. Redesenho a
partir de CORIAT, 1994,p.64 In. CAMAROTTO,
1998, 127.
Figura 92 - Layout em linha. Redesenho a
partir de CORIAT, 1994,p.64 In. CAMAROTTO,
1998, 128.
Arquitetura da Indústria
105
Sabemos que os grupos têm características
específicas que são distintas das características dos
indivíduos que os compõem. O grupo é maior do
que a soma dos indivíduos que o compõem. (...) Uma
idéia-chave no conceito de trabalho de equipe é a
relação igualitária, não subordinada, não
hierárquica. Não basta a ação concertada de duas
ou mais pessoas, trabalhando na solução de um
problema, em conjunto e de maneira concertada, é
necessário que essa relação seja estabelecida numa
base de relativa igualdade, fora portanto da relação
hierárquica. Essa relação traduz-se no espírito de
equipe. (GRAÇA, 2002)
É importante notar que estes novos métodos de produção,
em geral, exigem áreas internas à produção destinadas ao estoque
de produtos em processo, diferentemente da produção linear, onde
o estoque dividia-se basicamente em entrada e saída, podendo ser
um único estoque. Convém salientar que estes estoques
intermediários, em geral, tipologicamente são muito distintos dos
estoques principais de entrada e saída de produtos, podendo a
mesmo o serem identificados como tal e sim consistirem em
espaços determinados apenas pela posição das máquinas.
Uma forma de se diminuírem os estoques pode ser realizada
atras do Layout celular que, por sua vez, é utilizado em fábricas
com grande variedade de produtos, que o divididos em famílias.
As células são dois ou mais postos de trabalhos distintos localizados
proximamente, nos quais um número limitado de peças ou modelos
é processado utilizando-se fluxos lineares. Neste caso os materiais
se movimentam pouco. A desvantagem é a dificuldade em se
balancear a produção de cada uma das lulas.
Avançando ainda mais no conceito do produto movimentar-
se o nimo possível está o Layout Posicional Flexível os
equipamentos são rearranjados rapidamente dependendo do produto
e da quantidade a ser produzida. A área física deve ser projetada de
forma a ter facilidade de rearranjo e os equipamentos o móveis.
Esta produção se linearmente. É um misto de Layout Posicional
e Layout Linear.
41
(...) Historicamente, e desde a sua criação em 1913, a produção em linha de
montagem (mecanizada) foi cnica e organizacionalmente viável graças aos
razoáveis salários oferecidos pela instria automóvel em troca de duríssimas
condições de trabalho.(...)Tratava-se de dar resposta aos constrangimentos e
especificidades do mercado de trabalho e da gestão de recursos humanos (alto
índice de turnover, excessiva taxa de absentismo, dificuldades de recrutamento e,
em 1971, greves selvagens esporádicas, fora do controlo sindical e do tradicional
clima de concertação social reinante na Suécia desde os anos 30).(...)”(GRAÇA,
2002)
106
Projeto de Arquitetura
O Sistema mais contemporâneo, no entanto, é a Produção
Modular”.
Os conceitos da Produção Modular são
originários da evolução tecnológica dos
computadores. A palavra “módulo”, no universo da
computação, tem um significado completamente
diferente dos anteriormente apresentados e é
resultado da evolão lógica dos processos de
pensar e conceber o “hardware” e o “software” da
informática.
Esses novos conceitos o tem as medidas dos
componentes como parâmetro, mas a possibilidade
de inter-relacionar suas performances e a lógica da
sua produção.
São conceitos ainda em estudo para implantação e
sistematização na construção civil, embora já
desenvolvidos em outros setores industriais.
(ROSA, 2006, p.65)
O Layout Modular surgiu na década de 80 no Canadá,
Estados Unidos e Japão. É uma tentativa de se combater os custos
elevados das instalações e equipamentos de bricas de produtos e
do encurtamento da vida útil dos mesmos (em função do veloz avanço
tecnológico, principalmente produtos eletrônicos). Os produtos o
realizados individualmente, em unidades fabris menores (módulos),
que podem estar interligadas ou não (em muitos casos cada
componente é produzido em um país ou continente diferente) sendo
que a obrigação apenas de que a interface entre os produtos
permana operativa. Os diversos componentes, dessa forma,
desenvolvem-se ainda de maneira mais eficiente, por meio da
especialização das fábricas. Esse conceito faz necessárias bricas
apenas de montagem dos componentes para transformação no
produto final.
Conceito semelhante é utilizado na brica de edifícios, o
Centro de Tecnologia da Rede Sarah, em Salvador, um dos estudos
de caso a serem apresentados neste trabalho.
Os diferentes tipos de arranjo físico determinarão
características espaciais do edifício industrial e permitirão ou não a
sua flexibilidade para futuras expansões. No layout em linha ou por
produto, o planejamento do edifício torna-se mais simples, pois, o
fluxo é muito claro e previsível. Neste caso o existe grande
dificuldade em se controlar as áreas necessárias para a produção e
estoques, que funcionam perto do limite da capacidade. Cada
elemento do edifício, como por exemplo, o estoque, a área de
produção, e os escritórios da administração, apresentam-se bem
determinados. o a necessidade de estoques intermediários
durante a produção. A organização dos fluxogramas para o projeto
Arquitetura da Indústria
107
arquitetônico determinará a forma da linha e, portanto, do espaço
construído. Os tipos de linha mais comuns se aproximam das formas
das letras L, O, S ou U.
No caso do layout funcional, existirá maior variedade de
produtos, portanto, sedifícil definir o edifício sem a presença de
áreas residuais para que este se adapte a diversas produções. Neste
caso conm que o edifício possa se expandir para todas as direções
e que o maquinário possa ter sua posição modificada. Um grelha de
grandes vãos e intercolúnio regular facilitará as modificações ao
longo do tempo. Espaços sob áreas administrativas em mezaninos
poderão funcionar como estoques intermediários ou áreas especiais
da produção. Situações semelhantes ocorrem nas células de
manufaturas.
1. Fluxos excessivamente longos
2. Estocagem desnecessária
3. Formação de filas e gargalos”
4. Aumento de custos de produção
Edifícios custosos, necessidade de grandes planos de vedações.
Superdimensionamento desnecessário dos edifícios industriais destinados a estoque de
matéria-prima e produtos.
Diminuão da capacidade produtiva, necessidade de alterações ao projeto original durante
a vida útil.
um correto arranjo determina
problemas relacionados à falta de planejamento do layout
1. Segurança
2. Minimiza distâncias
3. Conforto para os operadores
4. Facilidade de Coordenação
(Gerência)
5. Facilidade de Acesso aos
equipamentos
6. Otimiza e melhora o uso do espaço
7. Mudanças de operações caso
necessário
Ajuda a planejar o fluxo de pessoas, bem como marcações, limitações e possíveis
cruzamentos de pessoal e mercadorias.
Menores distâncias significam ganhos em tempo de produção e edifícios mais compactos,
com melhor aproveitamento dos recursos dispensados à construção e terreno.
É possível planejar com melhores resultados as questões relativas à iluminação, ruídos
industriais, vibrações, temperatura dos ambientes, dentre outros.
Os espaços destinados à gerência e proximidade com as diversas atividades da produção
podem ser planejados de forma que estas atividades se complementem satisfatoriamente.
Facilita o planejamento de fluxos de manutenção e acessos específicos.
O edifício aproveita melhor os espaços, são executados espaços ociosos em menor
quantidade. Estes espaços, assim como o restante da fábrica, apesar de desnecessários
devem ser mantidos segundo os critérios adotados o que agrega custos desnecessários
à produção.
Permite o planejamento prévio de seqüências produtivas diversas dentro de um mesmo
edifício, sem que para isso o envelope industrial necessite ser desmontado.
108
Projeto de Arquitetura
Segundo VALLE (1975, p.66), para se estabelecerem os
critérios de determinação do arranjo adequado para cada atividade,
existem três fases essenciais a serem seguidas: 1.Alise do
Problema; 2. Pesquisa da solução ou das soluções possíveis; e
3.Escolha da Solução a adotar. As ferramentas disponíveis para
tal efeito são basicamente: desenhos, gabaritos bi-dimensionais,
maquetes, meios computadorizados, simulação de produção e
experiência do arquiteto quando tiver conhecimento absorvido
da execução de outras plantas semelhantes.
A análise engloba a movimentação de materiais, pessoas e
equipamento, características do produto, características de
equipamentos previstos, localizão de instalações existentes
(subestações, vias de acesso, etc.), ou seja, todos os fluxos, como
descrito anteriormente. O arranjo físico não se dará apenas nas áreas
de produção, mas também, nas áreas de armazenagem e escritórios.
Deve prever a relação entre todas as partes constituintes da fábrica.
É importante salientar que o arquiteto deve estar atento às
novas tecnologias de produção e prever certa flexibilidade para que
a indústria não se torne obsoleta por uma mudança tecnológica. É
fundamental, portanto, para criar diretrizes para a forma do edifício
industrial.
A resolução, de um problema de organização o complexo,
podeser facilitada por alguns todos de estudos para tal fim, no
entanto, o bom senso e intuição do arquiteto serão fundamentais.
Os três mais comuns, segundo VALLE (1975, p. 69) são: 1. Método
dos Elos, 2. Método das Seqüências Fictícias e 3. Método dos
Torques. O Primeiro deles, o método dos Elos, consiste basicamente
no estudo de todas as inter-relações possíveis entre as várias unidades
que compõem o edifício industrial. Com base na repetição das
relações pode se estabelecer um critério de prioridade na localização
das unidades. Utiliza-se, portanto, para a definição da organização
o tráfego entre as unidades, que podem ser os diversos equipamentos.
Podem ser produzidas tabelas de intensidade de tráfego ou número
de peças deslocadas. Utiliza-se deste método principalmente em
Arquitetura da Indústria
109
casos onde o número de máquinas não é grande, não são longos os
ciclos de fabricação e a produção não é muito diversificada.
O todo das Seqüências Fictícias (...) consiste em
determinar entre vários ciclos de fabricação, a seqüência mais geral
de operações na qual as unidades operacionais podem ser repetidas
ou desmembradas. Esta seqüência geral, assim obtida, assumirá,
normalmente, um caráter fictício, pelo desmembramento ou repetição
das unidades reais. Ela o será inteiramente seguida por cada
produto, e talvez mesmo por nenhum deles, pois em cada linha de
produção apenas as operações requeridas pelo seu produto serão
executadas. (VALLE, 1975, p.72) Esse método propõe o
encurtamento das linhas de produção. Permite planejar a fabricação
de elementos que o transportados para outras unidades fabris,
sendo assim, adapta-se ao todo de produção modular.
O terceirotodo, dos Torques, “(...) baseia-se este método
na formação de uma matriz, onde nas colunas são registrados os
pontos de destino dos materiais e nas linhas os pontos de origem
destes materiais. Esses pontos de origem e de destinoo geralmente
postos de trabalho, equipamentos ou, no caso de grandes instalações,
poderão mesmo representar seções inteiras (seção de usinagem, de
expedição etc.).(...) O método dos momentos é particularmente
recomendado para se avaliar, entre dois ou mais arranjos físicos
alternativos, qual o mais atraente do ponto de vista de economia de
transportes.(VALLE, 1975, p.76-80)
110
Projeto de Arquitetura
Fonte: VALLE (1975, p.57)
Arquitetura da Indústria
111
5. FORMA DO EDIFÍCIO INDUSTRIAL
O Edifício Industrial deverá ser projetado após o estudo do
arranjo sico da produção. Basicamente, a forma do edifício deve
seguir o fluxo de produção. O título do texto do arquiteto Gunther
Henn
41
, expoente da arquitetura industrial européia contemporânea,
alerta para este fato, quando ele altera a frase de Sullivan “A forma
segue a função” (form follows function) para “a forma segue o fluxo
(form follows flow). Como resultado deste trabalho anterior será
definida a área necessária para o estabelecimento das atividades e
conseqüentemente as indicações para a forma mais adequada para o
edifício. Poderão se determinar, portanto, as necessidades de
iluminação, ventilação, instalações, condicionamento de ar e
maquinário necessário. É o momento de projetar o invólucro dos
equipamentos industriais. O intuito neste caso é ordenar as diferentes
edificações os espaços que compõem uma fábrica, como
Administração, Estoque, dentre outros, sendo o ambiente produtivo
uma destas partes. A forma do edifício, por sua vez, influi diretamente
em seus custos.
Basicamente, podemos dividir as estruturas em planta em
aditivas ou integrativas:
45
Henn Architekten Principais obras: Skoda Modular Factory, Reblica Tcheca; Gläsern
Manufaktur Production Volkswagen AGF, Dresden; Bugatti Automobiles S.A.S., Molsheim
112
Projeto de Arquitetura
1.1.1. SISTEMAS ADITIVOS
No caso dos sistemas aditivos, os rios componentes
funcionais serão mais ou menos independentes. Os acessos e volumes
de circulação geralmente conectam as diferentes partes do edifício
e funcionam como uma espécie de “coluna vertebral”. As vantagens
deste tipo estão na flexibilidade e expansividade, sendo muito
utilizada na indústria de alimentos, que requer espaços interligados
para diversas atividades distintas, como por exemplo, produção,
estoque, laboratórios de controle de qualidade, escritórios, sala de
desenvolvimento de produtos. A produção se dá por meio de lulas
fechadas, independentes e servidas pelas utilidades necessárias
especificamente para cada etapa do processo produtivo.
Existe, a possibilidade de se executarem os elementos
individuais segundo o requerimento. As fachadas deste tipo de
fábrica sofrem, portanto, uma constante mutação e há maior
dificuldade em se estabelecer uma fachada principal. De fato, o
conteúdo determinaas soluções volumétricas. As unidades mais
ou menos independentes podeo ser executadas segundo distintos
sistemas construtivos, ideais para cada caso, mantendo apenas a
conexão pelo acesso comum. Podemos dividir os sistemas aditivos
em estruturas lineares e de superfície.
Há necessidade de cuidados específicos em relação a
possíveis incêndios, já que em muitos casos há dificuldade de acesso
de equipamentos de bombeiros e pelo fato de por serem conectadas
as diversas partes, um incêndio podem comprometer o todo.
.
Arquitetura da Indústria
113
Muito utilizado em fábricas de componentes eletrônicos que
trabalham sob o conceito de Layout Modular. Expansões podem
ocorrer facilmente. No caso de grandes extensões do corredor central
que possam se tornar proibitivas, este pode assumir a forma das
letras T” ou X”, ou polígonos diversos. CAMAROTTO (1998,
p.142) alerta ao fato de que “o aumento da complexidade das formas
dos módulos aumenta a dificuldade construtiva e pode diminuir
possibilidades de expano”, que se facilmente no sentido
longitudinal dos acessos e corredores.
No caso da brica Inmos, a idéia básica é a criação de um
interior amplo e flexível e totalmente livre de apoios internos. A
estrutura e instalações foram tratadas como um exoesqueleto que
cobre as áreas de pesquisa e produção com uma estética maquinista.
Estruturas Aditivas Lineares (Uni-dimensionais)
Legenda:
Figura 93 - Estrutura Linear de Espinha
Fábrica de Semicondutores Inmos em Newport
(1982)
Arquitetos: Richard Rogers + Norman Foster and Partners
Figura 94 - Interior da Fábrica Inmos. Fonte:
www.richardrogers.co.uk Acesso 24.02.09 às
09:46:53h.
114
Projeto de Arquitetura
Os espaços residuais entre as unidades podem configurar
áreas abertas onde será possível a instalação de maquinário para
diversos tipos de utilidades fabris, como geradores, compressores
de ar, alguns deles que exigem, inclusive, em função de otimização
de recursos a proximidade com o local atendido. Pode abranger,
portanto, atividades produtivas muito distintas em um único edifício.
É muito utilizado em atividades industriais de fabricação e montagem
de componentes de séries pequenas e médias. Em séries sempre
iguais, é possível ser mais conveniente que os edifícios de produção
se dividam e o complexo industrial seja permeado por vias de acesso
gerais.
Legenda:
Figura 95 - Estrutura em pente
Fábrica Leybold AG, Alzenau
Arquiteto: Günther Behnisch
Figura 96 - Vista externa Leybold AG. Fonte:
http://www.bda-bund.de/render/image/jpg/700/500/
0/Bauten_Alzenau_01.jpg Acesso 24.02.09 às
09:59:30h.
Arquitetura da Indústria
115
Este tipo de edifício é muito comum em edificações
industriais no Brasil. É bastante flexível em uma direção,
principalmente no que diz respeito à área produtiva que em geral
realiza-se em galpão com altura de dois pavimentos. A administração
e outros usos dividem-se em dois pavimentos simples. Pode-se
trabalhar um dos lados como a fachada principal da brica,
diferentemente do que ocorre com estruturas em espinha ou pente.
Sendo assim, define-se áreas para revestimentos nobres” e áreas
para vedações comuns às construções industriais.
A repetição estrutural pode resultar em facilidade de cálculo
e economia de tipo de peças.
A grande vantagem deste sistema é a possibilidade de
expansão nos dois sentidos e a regularidade estrutural, que permite
acoplamento estrutural e viabiliza os caminhamentos das instalões.
Este tipo de edifício é muito interessante para utilização em
produções que passem constantemente por grandes modificações
tecnológicas. Os espaços podem ser realocados para qualquer um
dos lados sem perder as suas características. Em geral, neste caso
existe uma maior padronização das peças que seguem desenhos
geométricos regulares. Outra vantagem é a integração de todas as
áreas da fábrica e a possibilidade de modificação do desenho da
linha de produção, sem a necessidade de seguir um acesso rígido, o
que poderia resultar em grandes perdas de áreas e quebra dos fluxos.
Estruturas Aditivas de Superfície (Bi-dimensionais)
Figura 97 - Estrutura de Base (Head
Structure)
“Mors System Ceilings”, Opmeer
Arquitetos: Benthem Crouwel
Figura 100 - Estrutura Aditiva de Superfície do Tipo Grelha
Fábrica USM, Munsigen (1964)
“Modular Furniture Systems”
Arquiteto: Fritz Haller
Figuras 98 e 99 - Fotos Fábrica Mors. Fonte:
http://www.benthemcrouwel.nl/
portal_presentation/offices/mors Acesso 24.02.09
às 10:09:34h.
Figura 101 e 102 - USM, Münsigen. Fotos
T.B.R. Bortolato, 2008.
116
Projeto de Arquitetura
Em geral são estruturas leves, realizadas mediante a
utilização de fundações simples que podem ser sapatas pré-fabricadas
ou moldadas in-loco. Em geral são utilizadas sapatas isoladas,
realizadas à medida que a fábrica sofre expansões.
O exemplo de interesse para as estruturas aditivas bi-
dimensionais do tipo grelha é o Sistema U.S.M (MEYER-BOHE,
1969, p. 199) (SCHIMID, 1969, p. 142-143) (JUTTNER, 2004,
p.XX) , que foi desenvolvido para a fabricão da indústria de
esquadrias Schärer & hne, pelo arquiteto suíço Fritz Haller. Junto
ao sistema construtivo fabril desenvolveu-se a linha de mobilrio,
que, curiosamente, passou a ser o produto da brica, ao ins das
esquadrias que o são mais fabricadas, o que demonstra de
princípio a flexibilidade de sistema. O sistema divide-se em três
tipologias, Maxi, mini e midi. O conceito do sistema construtivo é
estar aberto a diferentes usos, mudanças, melhoramentos e
desenvolvimento futuro. Na verdade, segundo o próprio autor, mais
do que de um sistema construtivo, é uma tentativa de se encontrar
uma forma de sistematizar a construção. As peças componentes
foram trabalhadas de forma individual, levando-se em consideração
como poderiam se relacionar modularmente. Ainda segundo Fritz
Haller (JÜTTNER, 2004, p.31) segue a idéia da solução gerica,
que absorveu as pesquisas de toda a sua vida. O edifício é pensado
genericamente, mas, o detalhamento mais elementar das suas
conectividades até o último nível.O sistema MAXI compreende
edifícios de planta simples e com os largos.O sistema MIDI
compreende edifícios de pavimentos múltiplos.O sistema MINI
compreende edicios de um ou dois pavimentos com vãos de até
8,40m.
“As naves de fabricação ou de arma-
zenamento são constituídos fundamentalmente por
elementos metálicos quadrados, desde 14,40m até
22 metros. Tamm existe a possibilidade de
construir com vãos maiores, e nesse caso se formam
os elementos básicos fundamentais, em forma
retangular.
Foram realizados estudos e pesquisas
para achar o módulo mais apropriado, chegando
à tipificão da nave industrial em estrutura
metálica com vão de 14,40 metros. A grande maioria
de instalações industriais não necessitam de vãos
maiores, e a dimensão citada anteriormente entra
completamente dentro do tipo de edificações econo-
micamente mais apropriadas.
Arquitetura da Indústria
117
Nas construções padronizadas ante-
riormente citadas existe a possibilidade da
instalação de carros para gruas atirantadas de 2
toneladas de carga fixa, as quais podem suportar
sem construções suplementares uma carga móvel
de 1 tonelada em qualquer ponto do percurso. A
grua atirantada tem a vantagem de permitir a
instalação de vias transversais e ramais que não
são possíveis no caso das pontes rolantes.
(MEYER-BOHE, 1969, p.199) (Traduzido
pelo autor)
Recentemente, realizou-se nova expansão da fábrica de
mobiliário USM Schäerer & Sohne com o uso do mesmo sistema,
que não é fabricado de maneira comercial. As pesquisas atuais, no
entanto, conduziram este arquiteto a desenvolver um sistema
informatizado, chamado de “ARMILLA” no Instituto de Edificações
Industriais da Universidade de Karlsruhe. A idéia desse sistema era
auxiliar no desenho de todas as complexas instalações de um edifício
industrial de forma que não existissem conflitos entre os sistemas e
que se racionalizasse a montagem e alteração dos mesmos. Os autores
da pesquisa apontam que o desenvolvimento do sistema levou não
à resolução de questões de instalações, como também, pode
auxiliar em questões de movimentação da produção e funcionalidade
dos espaços.
118
Projeto de Arquitetura
A vantagem principal deste tipo de edifício é o controle da
produção e a redução em quantidade de sistemas de utilidades
industriais. Todos os sistemas de utilidades ou estoque de produtos
localizam-se no centro das atividades, numa escie de “coração”
da brica. De fato, expansões em extensão da linha produtiva o
mais complicadas, no entanto, expansões de número de linhas se
dão facilmente. Neste caso, para que as expansões sejam possíveis
o único porém é que o edifício siga uma regularidade geométrica.
A fábrica da Volvo em Kalmar, além de interessante exemplo
de uma estrutura em forma de anel é um exemplo das relações entre
organização do trabalho e produção industrial, sendo conhecida
mundialmente pelo seu pioneirismo.
Figura 104 - Volvo Kalmar,
XXXXXXXx,XXXXXXXXXx
Figura 103 - Estrutura Aditiva de Superfície em
Forma de Anel
Planta de Montagem da Volvo em
Kalmar (1974)
Arquiteto: Kurylovicz
Arquitetura da Indústria
119
5.2. SISTEMAS INTEGRATIVOS
Com os sistemas integrativos, as rias funções de um
processo industrial são incorporadas em um único edifício. Uma
das vantagens desta tipologia é a proximidade das várias zonas, uma
com a outra, e a conseqüente diminuição das áreas de circulação.
Na indústria automobilística, por exemplo, existe uma tenncia
em integrar as funções administrativas nas áreas de manufatura com
o objetivo de melhorar a comunicação. Uma casca neutra e unificada
permite um layout independente dos processos produtivos.
Construção e produção podem ser desassociados. Extensões podem
ser feitas inserindo-se estruturas, como galerias, tomando espaço
de outros usos ou adicionando-se módulos externamente. Tanto nos
Sistemas Aditivos como nos Sistemas Integrativos é comum que
escritórios destinados à direção técnica, controle de produção e a
contabilidade sejam considerados parte integrante do pavilo de
produção. As áreas de administração e vendas podem ou não estar
separadas do pavilhão da brica. É adequado para o caso de
indústrias que devam ser construídas segundo o limite máximo de
produção. Nestes casos, a ampliação se através da construção de
novas unidades autônomas. Essa falta de flexibilidade pode ocorrer
em função de um limite de produção em função de um modo de
transporte dos produtos, como é o caso de um limite de carga em
ferrovias. Em geral, a produção deste tipo de fábrica é escoada
imediatamente após a produção, podendo em muitos casos, eliminar
estoque de saída de produto manufaturado.
No caso da Fábrica Skoda, de autoria do arquiteto Gunther
Henn, a estrutura da fábrica pode se assemelhar a uma estrutura
aditiva em forma de pente uma vez que as atividades se dão entorno
de um circuito central produtivo que forma um eixo principal da
fábrica, no entanto, neste eixo estão dispostas diversas funções como
salas de administração, reunião, e todas as funções de comando da
fábrica. Am disso, as funções que são acopladas ao redor da linha
produtiva constituem um único invólucro que é erguido de forma
Figura 105 - Skoda Modular Factory, Henn
Architekten, República Tcheca, 1996. Fonte:
www.henn.com Acesso 18.02.09 às 16:39:25h.
120
Projeto de Arquitetura
em planta irregular, no entanto, segue a modulação estrutural. A
idéia é diminuir a defasagem de comunicação entre a produção e os
escritórios administrativos e funcionais. Estão todos dispostos num
mesmo pavimento, de maneira fractal, propiciando o incremento
das atividades e trabalhos realizados em grupo.
As instrias ainda podem divididas em dois tipos segundo
sua organização espacial no terreno: edificações em um único volume
e edificações em vários volumes. No primeiro caso, todos os setores
industriais se dividem sob uma mesma cobertura, que funciona como
um enlucro de toda a fábrica (tipo “enclosure” ou “boite-close”).
Quando construída em vários blocos, os setores serão divididos em
edifícios separados.
Arquitetura da Indústria
121
6. A FÁBRICA EM CORTE
Do ponto de vista do número de pavimentos podemos analisar a
Indústria tipologicamente:
6.1. Edifícios VErticais
Edifícios verticais o mais econômicos que os horizontais
em locais onde o valor do solo é alto e a área do empreendimento
limitada. Um planejamento mais compacto é possível, e o
planejamento de tubulações, ventilação, comunicações e serviços
em geral, podem ser mais ecomicos, e a supervisão e comunicação
com os acessos é mais fácil. As maiores desvantagens são: perda de
espaço pelos elevadores, escadas, esteiras verticais, e a necessidade
de escadas de fuga de incêndio.
Em edifícios em pavimentos múltiplos, convém colocar as
áreas de utilidades na cobertura, de forma a impedir o contato direto
entre os serviços e as áreas produtivas. O suprimento e efluentes são
levados e retirados dos pavimentos através de “shaftsverticais. Dentro
dos pavimentos, as tubulações passam pelos pisos (que podem ser
elevados), pelo teto (aparentes) ou dentro de forro falso. Há
necessidade de se preverem áreas adicionais de utilidades no rreo,
para medidores, tratamento de efluentes, transformadores, dentre
outros. Assim, a centralizão das utilidades exige menor espaço e
menor áreas deshaft”, sendo que não são necessárias áreas externas
abertas e fachadas livres para a exaustão de ar. No entanto, existem
desvantagem para essas configurações. Uma delas é o maior peso
sobre a cobertura, que deve ser previsto em projeto e cálculo de
estruturas, outra, facilmente identificável, é a dificuldade de expansão
em altura do edifício. Por esse motivo, pode ser interessante que as
instalações localizem-se em porões de utilidades. Mesmo assim,
algumas áreas na cobertura são necessárias para exaustão de ar.
A largura das fábricas é determinada pela área da janela,
que, para permitir uma adequada penetração da luz natural, deve ter
122
Projeto de Arquitetura
ao menos 30-35% da área do piso, segundo SELUIANOV (1961).
Pisos iluminados por todos os lados são geralmente mais
convenientes para os propósitos de trabalho humano. Por esse
motivo, tradicionalmente, assim como descreve MUNCE (1960,
p.113), estes edifícios o longos e estreitos o que os torna menos
adaptáveis a diversos layouts de produção. As pequenas áreas de
trabalho, por sua vez, dificultam o andamento da produção que tem
que ser dividido em diversas fases.
Para muitas categorias de edifícios industriais, a mistura de
partes verticais e horizontais será a solução mais satisfatória.
Trabalhos leves com maquinário leve como encapsulamento ou
embalagem, podem ser realizados satisfatoriamente em andares,
máquinas pesadas devem ser dispostas em planos térreos. Para
bricas com carga de 1000 a 1500 kg/m2 existem vantagens na
construção em pavimentos: reduz-se a supercie edificada sem
onerar demasiadamente a estrutura (o que é muito interessante
principalmente quando nos referimos a uma área urbana),
simultaneamente, são reduzidas as extensões de todas as redes
externas e de comunicações, a superfície de caminhos pavimentados,
a dimensões das cercas, etc. Fatores que tem importante influência
sobre o custo final da obra. Além disso, reduzem-se os pontos de
fundações, no entanto, esta redução pode não ser significativa uma
vez que, as diversas cargas e sobrecargas estruturais deste tipo de
edificação exigem que se trabalhe com os menores, variando
geralmente entre 7x7m e 7x14m. De fato, o edifício industrial tem
seus primeiros exemplares históricos em múltiplos pavimentos, em
função da necessidade de se aproximar as atividades de uma fonte
de energia motora, muitas vezes localizada abaixo do edifício, como
é o caso de rodas d´água, situação descrita em outros capítulos
anteriores.
Arquitetura da Indústria
123
Torna-se, também, cada vez mais importante o problema
dos recursos (CO
2
, emissões diversas, diminuição de recursos), que
o o apenas soluções locais, nacionais, mas sim, devem se
estender ao plano global, assim como descreve RICHARZ (In.
TTNER, 2004, p.27), de forma a se evitar crises em um futuro
próximo. Nesse sentido, a densidade alcançada em implantões
fabris de pavimentos múltiplos é um requisito sico para edifícios
que conservam recursos. Ressalta que por meio da ereção de edifícios
em verticais, aperfeiçoam-se os consumos de recursos em sistemas
de ar-condicionado, tráfego entre unidades e, portanto, emissões
tóxicas provenientes do uso destes sistemas. Sendo assim, nota-se
hoje em dia a volta da popularidade dos edifícios industriais
verticalizados, principalmente no cenário Europeu.
Figura 106 - Fluxo produtivo linear em
edifícios de diferentes configurações em
corte. Fonte: Mills, Edward D. “The Modern
Factory
Adaptado pelo autor.
124
Projeto de Arquitetura
6.2. Edifícios Horizontais
Edifícios de único pavimento o geralmente planejados
onde bens pesados ou máquinas pesadas estão envolvidas. Até
recentemente, o edifício de única planta era praticamente universal
para todos os propósitos de manufatura, mas com o desenvolvimento
dos elevadores de alta velocidade, esteiras, empilhadeiras, e
transportes baseados na gravidade, o edifício vertical cada vez se
torna mais comum. Os edifícios de único pavimento, naturalmente,
exigem um sítio muito maior em área do que os edifícios verticais,
e apesar disso, o mais ecomicos nos locais em que o custo da
terra é baixo e existe abundância de área. Mesmo em um país com
dimensões continentais, como é o caso do Brasil, se torna alto o
investimento em grandes áreas vazias para o estabelecimento de
grandes edificações industriais com possibilidade de expansão. São,
também, geralmente mais caros no que diz respeito à construção,
resfriamento ou aquecimento e ventilação.
Mesmo em edifícios de planta simples, o maquinário pode
ser previsto suspenso na estrutura principal portante do edifício. A
não ser que a fábrica possua arranjos especiais, é interessante que
sua planta produtiva (maquinário) não seja suspensa ou conectada
ao edifício. Suportes especiais, independentes da estrutura principal,
devem ser instalados para carregar a planta, sendo assim, o edifício
atua apenas como uma casca para operários e para a planta contra o
clima e as condições externas. Caso essa regra seja seguida, as
paredes externas podem ser construídas com o uso de vasto número
de materiais leves de resistência suficiente para o transporte do
próprio peso e no caso de carga adicional, o o suficiente para
carregar a planta ou maquinário. Quando as vedações externas da
fábrica são consideradas leves, são possíveis paredes contínuas de
vidro e as suas vantagens inerentes podem ser apreciadas. Isso ainda
possibilita maior flexibilidade da fábrica a novos usos e instalações.
Assim como descreve VALLE (1975, p. 91), os arranjos
sicos em edificões de um pavimento seo sempre mais fleveis
que nas edificações verticalizadas, portanto, recomenda-se perseguir,
na indústria, o conceito de horizontalidade na distribuição das áreas
de produção.
Arquitetura da Indústria
125
6.3. Galpões
São edifícios que se caracterizam por apresentar pavimento
único, com grandes vãos livres e que por isso permitem ocupações
internas muito diversas. Normalmente o possuem pavimentos
intermediários, podendo ocorrer de forma parcial em alguns casos,
quase sempre ligados a atividades de controle das atividades
industriais.
Os pilares estão, normalmente, sujeitos a grandes esforços de
momento fletor e a baixa carga vertical. Em geral a cobertura é
realizada em materiais leves como é o caso das telhas metálicas, e
na maioria dos casos utiliza-se de iluminação zenital, por meio do
uso de telhas translúcidas.
O piso destes edifícios deve, na maior parte dos casos, suportar
altas cargas pontuais, seja pelo maquinário e produto pesados, seja
por ser usado como estoque de matérias-primas ou produtos
acabados. Em alguns casos os pilares devem prever pontes rolantes
para auxiliar no deslocamento de cargas.
Esse é o tipo de edificação mais comum nos condomínios
industriais, sendo que, na maior parte dos casos sobre as docas que
se organizam voltadas para uma via interna central, constróem-se
pavimentos simples para os escritórios e administração. Um pé-
direito corrente para esse tipo de edificação é de 7 metros.
Não convém, economicamente, a não ser que seja
determinado pela linha produtiva, que os galpões sejam muito longos
e estreitos, assim como descrito no exemplo de VALLE (1975, p.64).
O autor apresenta a comparação entre dois gales de mesma
metragem quadrada, mas de comprimentos diferentes, sendo um
deles de forma mais retangular e alongada e outro de forma mais
próxima ao quadrado, tendo as dimensões de, respectivamente,
120x20m e 60x40m (área=2400m2). As distâncias percorridas pelo
material em uma linha produtiva nos dois galpões tamm se
equivalem, sendo o primeiro em linha reta e o segundo em linha em
formato de letra U”, tendo comprimento de 120m cada uma delas.
Sendo assim, a primeira análise a ser observada é que o galpão A
(retangular) exigirá 40% a mais de tapamentos laterais que o galpão
B. As tubulações e cabos elétricos de distribuição também serão
mais longos no galpão A, que assim como o autor descreve,
significarão maiores perdas de carga e maiores quedas de tensão.
126
Projeto de Arquitetura
“Possivelmente, ao se adotar a solução A, deverão as
bombas se mais potentes e talvez seja necessária a
instalação de um maior número de centros de carga,
com maiores investimentos em transformadores e
quadros elétricos.
Ainda no exemplo citado, o número de colunas de
sustentação da cobertura para a solução A se
aproximadamente 25% superior ao da solão B,
mantidos os mesmos vãos e espaçamentos entre pilares
(para vãos de 20 m e espaçamentos de 6 m entre colunas
consecutivas, o galpão A requer 50 colunas, enquanto
que o galpão B requer apenas 39).
A solução A traz uma vantagem, que é a simplificão
do diagrama de fluxo (flow-chart), aqui reduzido a uma
reta, o que poderá significar economia nos transportes
internos (mediante a instalação, talvez, de uma única
ponte rolante).”
No caso da necessidade interna de maior metragem de
paredes para apoio de máquinas, bancadas e equipamentos conm
a utilização de formas retangulares.
Dependendo da finalidade ou processo industrial a que um
1. Dimensão do -direito
2. Locação e dimensões das aberturas
3. Necessidade de Lanternim
4. Necessidade de ventilação natural
5. Necessidade de calha
Tipo de produção, existência ou não de jirau
Necessidade de ventilação e iluminação natural. Segurança.
Iluminação Zenital, tipo de lanternim
Localização das aberturas.
Escoamento das águas pluviais.
GALPÕES - ÍTENS A SEREM OBSERVADOS
galpão se destina, devem ser analisados:
Em geral, os sistemas construtivos padronizados são galpões
de apenas um pavimento:
“A padronização dos edifícios industriais de vários
pavimentos é um problema mais complexo,
comparado com o de edifícios de um pavimento ou
ainda com os edifícios de habitação, devido à
existência de uma grande quantidade de fatores
variáveis e interdependentes que influem na
determinação das caractesticas desse tipo de
Arquitetura da Indústria
127
construção. A superfície e a forma da planta, sua
largura, quantidade e dimenes dos tramos, a
separação entre as colunas, o número de pavimentos,
a altura livre dos locais (a que pode ser variável nos
distintos pavimentos de um mesmo edifício), a
capacidade portante, o material e a estrutura dos
entrepisos”, a dimensão e a disposição em planta das
caixas de circulação vertical, a existência de monta-
cargas, são uma enumeração muito completa dos
parâmetros variáveis mutualmente relacionados, que
dificultam a padronização dos edifícios industriais
de pavimentos múltiplos.”
(SELUIANOV, 1961, p.15)
Existem diversos sistemas de galpões em estruturas de
concreto armado pré-fabricado. Alguns deles preem a execução
de todas as peças no mesmo material, como fundações, pilares, vigas,
vigas para pontes rolantes, lajes intermediárias e cobertura. Os
diferentes desenhos dependerão da empresa produtora contratada.
Mais adiante neste trabalho serão apresentadas maiores
características a respeito do material.
Os Galpões metálicos em pórticos podem ser de dois tipos
principais de estrutura no sentido transversal: pórticos de alma cheia
e pórticos treliçados. Esses dois tipos de construção podem se
desenvolver em vãos simples ou vãos múltiplos. Como vantagem
do sistema treliçado, está a economia de material, no entanto, exige
maior quantidade de serviços de montagem e tem um custo mais
alto de manutenção. Por sua vez, os pórticos de alma cheia
consomem mais material, mais possuem montagem facilitada e
menores custos de manutenção.
Quando se projeta um galpão metálico, deve-se ainda
analisar a distância entre os pórticos. Maiores distâncias significam
economia de fundações, no entanto, menores distâncias podem
diminuir o uso de estruturas secundárias para a cobertura, como
por exemplo, as terças em perfis I, conforme analisa PINHO (2005).
Também deve ser verificada a inclinação da cobertura. Coberturas
mais planas o ideais para grandes calhas, no entanto, reduzem a
eficiência do pórtico, fazendo com que sejam necessárias maiores
seções para as colunas e vigas.
128
Projeto de Arquitetura
As maiores solicitações ocorrem nas ligações entre colunas
e vigas, podendo-se utilizar mísulas para aumentar a seção destes
pontos. As bases podem ser rotuladas (mais conveniente para as
fundações) ou engastadas (favorecem a rigidez e estabilidade da
estrutura).
Tipos de galpões em rticos, conforme artigo de Fernando Ottoboni
Pinho, Engenheiro consultor da Gerdau Açominas:
6.3. Sem Ponte Rolante
A carga predominante é o vento, utilizam-se coberturas leves.
o são contempladas vigas de rolamento para as pontes
rolantes.
6.3.1. Pórtico simPles de alma cheia
Uma estrutura simples e simétrica com cobertura
inclinada que tem vão livre de 15m a 45m e altura de 5m a
12m. A inclinão da cobertura fica entre 5
o
e 20
o
e o
espaçamento entre os pórticos entre 6m e 12m. É comum a
utilização de mísulas nas ligações das vigas com as colunas
e na cumeeira.”
O arquiteto deverá observar, em todos os casos, o
espaçamento entre os pórticos, que será fundamental para a
escolha do sistema de vedação lateral. Senecessário tamm
atentar para a cobertura, segundo sua inclinação e portanto,
tipo de telhas e posibilidade ou o de aberturas para
iluminação e/ou ventilação natural.
6.3.2. Pórtico com viga castelada ou celular
“A mesma estrutura do pórtico simples, mas utilizando
para as vigas inclinadas os perfis laminados formando vigas
casteladas ou celulares. Como os perfis podem aumentar a
altura em aproximadamente 50%, sem aumentar a massa
linear, consegue-se vencer vãos maiores, de até 60m.”
A viga castelada ou celular é uma forma de com a mesma
quantidade de material, atras, do recorte geométrico de uma viga
metálica, produzir-se um elemento de maior seção estrutural.
Arquitetura da Indústria
129
6.3.3. Pórtico com tirantes
“Com a colocação de tirantes, consegue-se reduzir os
deslocamentos horizontais e os momentos nas colunas. São
indicados para inclinações maiores que 15
o
. Observar, que
para algumas atividades os tirantes podem ser um obstáculo
indesejável.”
Grandes inclinações dos telhados podem eliminar
possibilidades de galpões com águas muito largas, dificultando o
escoamento das águas pluviais. Esse tipo de galpão, quando acoplado
a outro edifício industrial pode exigir, sob o ponto de vista formal,
grandes alturas de platibandas.
6.3.4. Pórtico com escora central
“Para grandes vãos (maiores que 30m), e sem a necessidade de
vão livre, o pórtico com escora central, pode reduzir as vigas, gerando
uma estrutura mais econômica.”
6.3.5. Pórtico com cobertura em Poligonal
“O pórtico com cobertura em poligonal pode ser usado para
grandes vãos onde a altura total do galpão deve ser reduzida. A utilização
de tirantes horizontais pode tornar a solução mais econômica.
6.3.6. Pórtico com cobertura em arco
“Os pórticos com cobertura em arco são utilizados principalmente
em função de necessidades arquitetônicas. As vigas laminadas o curvadas
por calandragem a frio. Para vãos grandes, serão necessárias ligações
nas vigas, que devem ser cuidadosamente detalhadas.”
130
Projeto de Arquitetura
6.4.Com Ponte Rolante
“Os galpões com ponte rolante são mais complexos porque exigem
apoio para o caminho de rolamento das pontes rolantes, normalmente
empregados para instalações industriais pequenas ou grandes. Quase todas
as tipologias empregadas nos galpões sem ponte rolante podem ser usadas
também para os galpões com ponte rolante. A carconstrução ga
predominante agora é a da ponte rolante, introduzindo esforços verticais,
horizontais e impactos que devem ser resistidos pelos pórticos, mantendo
sempre as deformações máximas dentro dos limites para a operação da
ponte. As tipologias abaixo são as mais utilizadas para as colunas dos
pórticos com perfis laminados ou soldados.”
6.4.1. Pórtico com console
“Para galpões com pontes rolantes leves, operadas com controles
pendentes, as vigas de rolamento podem se apoiar em consoles soldados
nas colunas de seção única, respeitando os afastamentos mínimos exigidos
para a movimentação da ponte.
6.4.2. Pórtico com coluna escalonada
“Para galpões com pontes rolantes dias ou com caminho de
rolamento de maior altura, será necessário utilizar perfis diferentes para
os segmentos abaixo e acima do apoio das vigas de rolamento para obter
um conjunto ecomico, respeitando as folgas necessárias para a
movimentação da ponte rolante.
6.4.3. Pórtico com coluna duPla
“Para galpões com pontes rolantes pesadas ou de grandes vãos
livres, a utilização de uma segunda coluna, apenas para o apoio das vigas
de rolamento tornará o conjunto bastante eficiente, desde que se trave
uma coluna na outra formando um conjunto treliçado, dando a rigidez
necessária para resistir às cargas horizontais da ponte rolante.”
Arquitetura da Indústria
131
7. ELEMENTOS DA ARQUITETURA INDUSTRIAL
A seguir, durante o projeto do edifício industrial, existem
uma rie de fatores a serem analisados. A diferença da Arquitetura
Industrial com a arquitetura comum reside justamente na necessidade
em se coordenar uma grande quantidade de sistemas e resquisitos
cnicos que não estão presentes em outras tipologias arquitetônicas.
Os elementos contemplados vão do maquinismo, transporte,
iluminação natural e artificial, estrutura aas considerações de
conforto para um ambiente onde trabalharão grande quantidade de
pessoas durante toda uma jornada laboral. A funcionalidade da
brica dependerá dos estudos de todos estes sistemas e do seu
funcionamento simultâneo. Estes elementos são, em paralelo,
fundamentais para a obteão de licenças de construção e
funcionamento dos edifícios industriais perante os órgãos federais,
estaduais e municipais. Aqui serão apresentados apenas os elementos
principais constituintes do edifício industrial. VALLE (1975, p.260)
apresenta como objetivos básicos dos edifícios industriais:
“1. Proteger as instalações e seus operadores contra
os efeitos dos agentes da natureza (sol, vento chuva,
granizo, etc.), assegurando nos locais industriais um
ambiente tecnicamente adequado ao trabalho e à
produção;
2. sustentar, transferindo para o solo, as cargas
decorrentes dos equipamentos, materiais e operadores,
constituindo um conjunto integrado com as instalações
da indústria.”
7.1. PISOS
Os pisos industriais devem ser resistentes aos materiais
utilizados dentro do espaço construído, bem como o peso dos
equipamentos instalados, e à movimentação de pessoas e
equipamentos auxiliares, como por exemplo, carros, caçambas,
dentre outros.
132
Projeto de Arquitetura
Na maioria dos casos, convém que seja o mais liso possível,
impermeável, o escorregadio e com drenagem corretamente
dimensionada (com caimento de no mínimo 1% para os ralos, nunca
em direção das paredes, ou, utilização de canaletas em áreas muito
úmidas), para que se mantenha sempre seco e seja de fácil limpeza,
fatores essenciais nas indústrias alimentícias, uma vez que, a umidade
pode provocar o desenvolvimento de fungos e bacrias. No caso
destas indústrias, vale destacar que o material que era mais utilizado
há alguns anos, o ladrilho cerâmico, vem perdendo seu espaço, uma
vez que as juntas preenchidas por rejuntes em argamassa favorecem
o desenvolvimento de microorganismos maléficos à produção.
Os pisos m sendo realizados em resinas furanosídicas,
exi e poliéster, preparadas para adequada resistência a substâncias
ácidas ou alcalinas. Esse tipo de resina funciona como
impermeabilização do contrapiso e estrutura do edifício, no que diz
respeito à umidade. No caso do ladrilho cerâmico, convém
impermeabilizar o contrapiso sobre o qual será assentado. Nas
junções com as paredes ou grandes equipamentos devem ser
utilizadas cantoneiras de perfil curvo (iguais às usadas nos hospitais)
ou mesmo os cantos devem ser realizados em argamassa na mesma
forma, sendo depois revestidos (esta última opção gera dificuldades
no uso de estruturas pré-fabricadas).
Em suma, o piso deve atender:
Arquitetura da Indústria
133
7.2. VÊDOS
Assim como o piso, devem possuir superfície lisa, contínua,
lavável, impermeável e de fácil manutenção. As pinturas ou resinas
são aplicadas sobre paredes tratadas com massa fina. Muitas vezes
em locais de alta umidade - estas pinturas possuem efeito fungicida,
para evitar o aparecimentos deste microorganismos indesejáveis.
Convém, por sua vez, que as paredes sejam executadas em materiais
claros, segundo especificado no artigo 174 do Decreto Estadual
12.342/78. O uso de cores claras favorece a radião luminosa.
Em locais de grande movimentação de pessoas e
equipamentos, é fundamental proteger partes das paredes atras
da instalação de barras metálicas horizontais ou chapas de metal.
Este tipo de medida auxilia a manuteão dos espaços uma vez que
os revestimentos o protegidos, garantindo maior vida útil aos
espaços fabris. Utiliza-se dos mesmos sistemas nas portas e próximo
a equipamentos industriais fixos.
Nas paredes, conm que os cantos sejam arredondados,
assim com descrito anteriormente no item sobre pisos industriais.
Outro cuidado na especificação dosdos industriais refere-
se às questões de compartimentação para protão contra a
propagação de fogo para fora destes ambientes. Podem ser
executadas paredes corta-fogo em pontos específicos do
empreendimento. Para isso, deverão ser desenhados corretamente
as ventilações horizontais e verticais, os peitoris e paredes.
7.3. TETOS
O teto, elemento aparentemente de menor importância, influi
diretamente nas condições de operação e higiene da planta industrial.
A sua altura relaciona-se com a altura dos equipamentos de produção,
ventilação e iluminação dos ambientes. O Código de Obras do
Município de São Paulo, estabelece a altura mínima de 4 metros de
-direito para os estabelecimentos industriais, aceitando-se redução
134
Projeto de Arquitetura
até 2,70m em casos específicos, de pequenas atividades produtivas.
Os tetos falsos, muito utilizados em diversos tipos de
constrões, devem ser evitados nos edifícios industriais, pois,
promovem espaços para o desenvolvimento de insetos e até mesmo
roedores. Outra desvantagem é o impedimento de uma fácil
manutenção das instalações – como por exemplo, de ar condicionado
e exaustores - que, no caso de salas limpas, convém que sejam
periodicamente desmontadas para lavagem.
Locais úmidos devem estar dotados de aberturas
corretamente dimensionadas para evitar a condensação no teto do
vapor de água, que procova o aparecimento de mofo e bolores. A
água de condensação pode pingar sobre a produção, carregando
grande quantidade de microorganismos indesejados. Esse tipo de
problema pode se tornar causa de difícil diagnóstico de perda
permanente de parte da produção de uma fábrica de alimentos, por
exemplo.
d. COBERTURAS
A edificação industrial deve ser pensada planimetricamente
de forma cautelosa, no entanto, o pode deixar de lado o projeto
das coberturas, que são essenciais para a qualidade final e
desempenho da edificação. As coberturas são, nas edificações
industriais atuais (que ainda privilegiam a horizontalidade), o
somatório da área de todos os espaços em planta. Nesse sentido,o
importante elemento do orçamento do edifício e estão diretamente
relacionadas a características de manuteão, conforto rmico, de
iluminação e acústica dos espaços internos.
Os ritos do aço e do concreto reforçado, como materiais
construtivos, passa pelo uso de ambos em alternativas para as velhas
coberturas com clarabóias voltadas para o sul (Hemisfério Sul), as
quais antes de serem completamente ultrapassadas, por utilizarem-
se de uma luz difusa de péssima qualidade, foram utilizadas
vastamente na construção. O tipo exato de estrutura de um edifício
poderá ser decidido depois de estudos cuidadosos a respeito de
sua função, realizados pelo arquiteto. As coberturas podem ser
autoportantes ou com apoios intermediários. O desejo em se construir
locais grandes, sem apoios intermediários, plantas de forma e
traçados flexíveis e suscetíveis a ampliações para a indústria pode
realizar-se com a ajuda da construção de armaduras ou tesouras de
Arquitetura da Indústria
135
diversas classes. O fato de que tais construções resultem ou não
econômicas depende da eleição do sistema estático e da separação
ou distância entre as vigas. Encontrar a separação ótima e a luz mais
conveniente é a primeira questão que deve ser resolvida pelo
projetista (a distância econômica entre vigas oscila entre um quarto
e um terço do o). A grelha industrial típica tem dimensões que
variam de 14,40x14,40m a 24,00x24,00m. Dimensões maiores não
são econômicas e por esse motivo o utilizadas apenas em casos
especiais. Por outro lado, dimensões inferiores podem conflitar com
o conceito de flexibilidade dos espaços.
Por se tratarem, na sua maioria, de grandes planos
horizontais, quase sempre sem carregamentos superiores e realizadas
com materiais leves, deve levar-se em conta a sucção causada pelos
ventos tanto quanto as cargas verticais na direção do solo. As telhas
metálicas são encontradas em perfis ondulados e trapezoidais
(geralmente são a solução mais econômica, uma vez que são
facilmente instaladas e possuem uma alta capacidade autoportante
ao mesmo tempo que o muito leves), com diferentes espessuras e
em rias ligas e acabamentos, podendo ser sobrepostas ou zipadas
(dobradas e apertadas in loco por máquinas especiais, reduzindo-se
o desperdício de material com a sobreposição, o caimento pode se
de apenas 0,5% para telhas contínuas inteiriças). Apresentam ainda
dimensões variadas (podem chegar em bobinas à obra, onde são
cortadas e preparadas de acordo com a necessidade do projeto) e
cores naturais ou pintadas (pré-pintadas ou pós-pintadas). No caso
de grandes vãos, aumenta-se a necessidade de apoios intermediários,
portanto novas vigas. Por serem leves (apresentam grande resistência
mecânica, as telhas podem ser fabricadas com chapas finas, o que
as torna econômicas e seguras), as telhas metálicas reduzem o peso
das coberturas, com vantagem no dimensionamento de terças e
tesouras e no manuseio para transporte e montagem. A elevada
resistência à corrosão atmosférica (principalmente as de alumínio)
garante ao produto longa vida útil.
O mesmo sistema de telhas zipadas é usado também para os
fechamentos laterais. Caso a proteção termoacústica seja requerida,
pode ser feita no local, com o material especificado pelo arquiteto -
de vidro ou poliuretano -, protegido internamente por uma segunda
chapa melica lisa, ou por telhas do tipo sanduíche, com material
rmico instalado em brica.
136
Projeto de Arquitetura
A telha autoportante é usada para cobrir grandes vãos sem
necessitar de apoios. Para estruturas menores, há vários outros tipos
de telhas metálicas - com isolamento termoacústico, sanduíche com
poliuretano injetável, de forma trapezoidal de um lado e liso do
outro.
as coberturas e fechamentos em peças de concreto pré-
moldadas, mais pesadas (vencem vãos de 12 m a 15 m), o usadas
em ambientes ocupados por máquinas de grande porte. Em geral, os
pré-moldados são mais utilizados na execução da infra-estrutura e
dos mezaninos de prédios industriais. Nos fechamentos e coberturas
são empregadas telhas metálicas, por serem mais leves, práticas e
reduzirem em 30% o tempo de entrega da obra.
7.5.1. Coberturas em “sheds”
O shed” é um elemento característico da arquitetura
industrial. Suas funções principais são iluminar e ventilar
zenitalmente espaços internos de grandes dimensões. A escolha dos
tipos de cobertura industrial iluminada e ventilada tem, obviamente,
relação direta com a iluminão do ambiente fabril, produtivo ou
estocagem, ou seja, para isso deverão ser observadas as
características de iluminação (curva de intensidade luminosa) de
cada forma de cobertura em relação aos trabalhos produtivos e
maquinários, evitando-se situações indesejadas como sombras em
locais de necessidade de acuidade visual por parte dos operários.
BRUNA (1989, p.64) atenta ao fato de que: (...) Os sheds
tradicionais, largamente utilizados pela indústria brasileira, desde
esse ponto de vista são muito desfavoráveis, pois distribuem a luz
natural de forma muito desigual sobre o plano de trabalho.” e ainda,
“(...) As estruturas de cobertura em concreto protendido disponíveis
no mercado brasileiro implicam, na sua grande maioria, a iluminação
zenital, por meio de faixas contínuas cobertas com material
translúcido, seja Policarbonato ou Fiberglass. Essa solução é
inconveniente, seja porque implica uma distribuição excessiva em
alguns pontos e insuficiente em outros, seja porque permite a entrada
excessiva de calor.”
Alguns processos produtivos, por sua vez, não se dão
corretamente sem uma adequada e constante ventilação, não só para
tornar habitável o ambiente de produção, como para certos processos
produtivos, que exigem reação do produto com o oxigênio da
atmosfera.
Arquitetura da Indústria
137
a. “Shed”, Dente de Serra
(retos ou em arco);
b. Duas águas;
c. Lanternim;
d. Cascas em tijolos
armados, concreto
armado, moldadas in-
loco;
e. Sistemas de ventilação por
convecção.
tipos de coberturas industriais
1. Treliçada com banzo inferior
horizontal
2. Treliçada com banzos paralelos
3. Vigas de alma cheia
1. Treliçada com banzo inferior
horizontal
2. Treliçada com banzos paralelos
3. Vigas de alma cheia
1. Treliçada com banzo inferior
horizontal
2. Vigas de Alma cheia
3. Arco treliçado
Em geral, as terças treliçadas o aplicadas para
vãos entre pórticos com distâncias superiores a
10 metros. Essas treliças também o conhecidas
como “joists”. Para vãos menores utilizam-se os
perfis de chapa dobrada que atendem bastante
bem às solicitações de cargas.
A divisão de vãos maiores em maior números
de sheds permite uma melhor iluminação natural.
Os lanternins duplos configuram-se como uma
solução interessante sob o ponto de vista da
iluminação e da ventilação natural. Distribuem
de forma mais uniforme a luz natural sobre o
plano de trabalho e facilitam a exaustão
natural.
138
Projeto de Arquitetura
Arquitetura da Indústria
139
8. INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS
A edificação industrial exige diversos cuidados no detalhamento
interno da edificação dependendo da atividade produtiva. A
manutenção, a segurança de uso, proteção contra incêndio, salas
limpas, ruído e cor são alguns dos itens mais analisados. Existem
Normas nacionais e internacionais que regem esses cuidados. Nas
indústrias necessidade de requerimentos de instalações especiais
em função da produção ali executada e das condições ambientais
para os operios.
8.1. Ar condicionAdo e SAlAS limpAS
O condicionamento do ar está entre os principais
requerimentos. Não vale somente para a manutenção de uma
temperatura adequada para os trabalhadores e maquinários como
para a manutenção do vel de umidade dos ambientes, (muitas vezes
dentro de limites bastante rigorosos), controle da preso do ar
interna dos ambientes de produção (podem ser negativas ou positivas
em relação ao meio externo), grau de pureza do ar, definição das
correntes de ar em sua velocidade e direção e impedimento de
correntes de ar indesejáveis entre distintos ambientes da fábrica
(aplica-se principalmente no caso das salas limpas, termo que se
aprofundado adiante).
É importante ressaltar que o condicionamento do ar por meio
de um sistema de ar condicionado otimizado ao máximo possível
está entre os três principais fatores na busca de conceito de edifício
sustentável atras de certificações como por exemplo o LEED,
dentro de uma das duas aproximações propostas pelo sistema (neste
caso contemplando a construção do edifício), anteriormente
apresentado. Os outros dois pontos principais são a utilização nos
edifícios de materiais com alto teor de componentes reciclados e a
minimização de produção de entulho durante a construção.
As salas limpas, exigidas em algumas atividades industriais,
o áreas de trabalho onde a qualidade do ar, a temperatura e a
umidade estão rigorosamente reguladas para proteger o ambiente
de possíveis contaminações, de ordem sólida, líquida, gasosa ou
organismos aéreos vivos (como por exemplo, vírus, bacrias,
esporos ou pólen). Dentro destes ambientes são manufaturados
produtos sensíveis, sendo os mais comuns a fabricação de
equipamentos eletrônicos e informáticos e produtos farmacêuticos,
140
Projeto de Arquitetura
principalmente do tipo injevel (exigem maior qualidade ambiental que
os produtos tópicos, aplicados sobre a pele, ou de uso oral), porém, a origem
histórica destes ambientes nasceu nos hospitais, nas salas de cirurgia,
quando se perceberam os inconvenientes da infecção bacteriana, tendo
Pasteur como um dos pioneiros deste campo. No final do século XIX, já se
aplicavam detergentes e anti-sépticos nos instrumentos e no ar da sala,
porém, o grande salto de qualidade destes ambientes nasce com o controle
do ar e a pressão positiva e uso do ar exterior.
Os contaminantes são, na maioria dos casos, gerados pelas pessoas,
pelo processo em si, pelos ambientes construídos e pelo equipamento
utilizado. No caso de edifícios pré-fabricados, eventualmente, nessas áreas
são realizadas alvenarias e pisos monolíticos moldados “in loco”, de modo
a evitar a permeabilidade dos sistemas pré. Deve-se procurar eliminar todas
as fontes de partículas, no entanto, fica claro que tais partículas devem ser
continuamente removidas do ar, com o uso de equipamentos espeficos,
que serão, por exemplo, ambientes necessariamente habitados pelo
homem. Qualquer um destes elementos pode ser o causador da quebra de
um circuito produtivo, e se tratado de forma incompleta, pode ser difícil
ser posteriormente identificado. A indústria de micro-eletrônica é a mais
exigente, visto que seu produto tende a aproximar-se do tamanho destas
minúsculas partículas. O ar destes ambientes é filtrado inúmeras vezes e
continuamente, em corrente de fluxo não unidirecional/convencional ou
direcional ou laminar, sendo a última projetada para evitar o carregamento
de maior quantidade de partículas indesejáveis, considerada sala ultra-
limpa (fluxo horizontal ou vertical com velocidades mais comuns de 0,3 a
0,45m/s). O menos popular é o horizontal devido ao fato que durante as
limpezas (varredura) as partículas ainda são arrastadas contaminando todo
resto do processo, enquanto que o de fluxo vertical as partículas
rapidamente são retiradas do ambiente. O movimento turbulento do ar
causa a movimentação indesejada de partículas. Existe ainda o sistema
misto, o mais comum, onde as áreas críticas o tratadas independentemente
para forçar um fluxo laminar adequado. A seleção adequada dos filtros e
outros tipos de equipamentos de purificação do ar garantirão o grau de
limpeza do ar. Os filtros mais eficientes utilizados em Salas Limpas o o
HEPA (“High Efficiency Particulate Air”) e o ULPA (“Ultra Low Particulate
Air”), que, respectivamente removem 99,97% de partículas menores até
que 0,3 microns e 99,998%, são os chamados filtros absolutos. Além destes
filtros, que provém o efetivo controle da contaminação nas salas limpas,
há a presença de outras cadeias de filtros para o ar e para líquidos.
Os seres humanos são as maiores fontes de contaminação das salas
limpas, devem vestir roupas especiais, e devem passar por ante-câmaras
dotadas de equipamentos que impeçam a entrada de contaminantes. O corpo
humano apresenta-se em constante estado de regeneração da pele, cabelo,
unhas, transpirão, oleosidade, dentre outros. As pessoas devem estar
Arquitetura da Indústria
141
preparadas não apenas sica, mas, psicologicamente, pois, sabemos que
uma maior movimentação produz um alto número de partículas. Uma pessoa
de ou sentada sem movimentação gera uma quantidade de 100.000
partículas por minuto maiores ou iguais a 0,3 microns; esse número passa
para 10.000.000 se estiver andando a aproximadamente 7 km/h. Lembremos
que este é o tamanho das partículas filtradas pelos sistemas HEPA e ULPA.
Alguns tipos de ambientes exigem que as pessoas não estejam usando
cosméticos, pois estes contém substâncias como sódio, magnésio, silício,
cálcio, potássio ou ferro. Existem manufaturas que devem ser investigadas
antes da elaboração das salas. Os micro-circuitos, por exemplo, são
danificados pela descarga de eletricidade estática que forma-se
simplesmente pelo atrito de duas supercies rugosas, pelo simples
movimento do ar, ou pelo atrito causado pelo andar das pessoas. É
importante que o pessoal que fará a limpeza programada, seja treinado
como os operários.
Determina-se, por meio de diversos tipos de controle, a
concentração de partículas transportadas pelo ar. Para isso, estabeleceram-
se normas específicas em relação à quantidade de partículas limite por
volume de ar para os diferentes tipos de produção. Para realização do
presente artigo serão levadas em conta as normas Federal Standard 209
E” dos Estados Unidos, ISO 14644.1/2, ISO 14698.1/2/3(International
Standard Organisation), NBR 13700 (Normas de Salas Limpas), NBR-
13413(1995), RDC-210 (04/08/2003) da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. O grau de limpeza do ar apresenta-se como conceito relativo,
pois, o ar adequado para uma produção espefica pode ser considerado
contaminado para outra. Assim sendo, o termo Sala Limpa, refere-se, de
forma concreta, a um ambiente com controle de partículas no ar dentro de
recomendações das Normas existentes, de acordo com a produção a ser
realizada no ambiente. A “Federal Standard 209” classifica as salas como
Classe 10.000, onde não devem existir mais de 10.000 partículas maiores
do que 0.5 microns por pé cúbico de ar. Respectivamente, as Classes 1000
e 100, não podem conter mais do que 1000 e 100 partículas por pé cúbico.
A produção de discos rígidos requer um ambiente Classe 100. Notamos
claramente a diferença da Sala Limpa a uma atmosfera comum comparando-
as a típicos edifícios de escritório que possuem de 50.000 a 1.000.000 de
partículas iguais ou maiores que 0.5 microns em cada pé cúbico.
Interessante que o cabelo humano possui diâmetro de 75-100 microns, ou
seja, cerca de 200 vezes maior em diâmetro do que o tamanho a de controle
das partículas. As partículas de 0,1 a 1 cron possuem velocidade de
deposição que pode ser calculada, são pequenas e normalmente
desprezíveis, e a corrente de ar tende a neutralizar a tendência à deposição.
as partículas de 1 a 10 microns caem com velocidade apreciável e
constante, sendo que as correntes de ar normais tendem a mantê-las em
suspensão por um considerável período de tempo.
142
Projeto de Arquitetura
ópticos
uno
Arquitetura da Indústria
143
A única forma de controlar a contaminação da prodão é
por meio do controle de todo o ambiente produtivo. Assim, a
arquitetura demonstra o seu papel. Existem, hoje em dia, inúmeras
empresas que criaram sistemas construtivos pré-fabricados
patenteados para montagem deste tipo de salas controladas. Os
sistemas, por serem bastante flexíveis, devem ser executados
mediante a orientação de um profissional habilitado, mais
precisamente um arquiteto, preocupado com as questões dos fluxos
funcionais e produtivos, flexibilidade da planta de prodão e
possibilidades de rearranjo, estética e qualidade ambiental para os
trabalhadores. A vantagem do uso de tais sistemas é que possuem
execução rápida e possuem todos os seus componentes previamente
elaborados até a exaustão. Todos os elementos devem possuir
características de desempenho adequadas, previamente ensaiadas;
por exemplo, desde os principais componentes das paredes ao
tipo de pintura utilizado, que não deve ser favorável ao
desenvolvimento bacteriano. Ainda tomando como exemplo a
pintura, esta deve tamm suportar freqüentes limpezas com água e
detergentes apropriados. O mobiliário deve ser cautelosamente
planejado, evitando-se ao máximo peças que possam desprender-
se, e com o uso de materiais inertes como é o caso do o inox, que
é resistente à oxidação. Os equipamentos, na maioria dos casos, são
construídos em aço inox, alumínio, aço carbono e titânio.
O mais importante, no entanto, é que as regras estritas sejam
seguidas durante a manufatura para prevenir a contaminação dos
produtos e que os processos sejam seguidos por controles
permanentes e relatórios de procedimentos. Uma vez que a sala é
construída, deve ser mantida e limpa mediante os mesmos padrões
elevados. Uma limpeza incorreta da Sala pode, indesejadamente,
levar para dentro do ambiente muitos contaminantes. É necessário
haver um estudo e programação da limpeza, tomando-se em conta o
padrão de qualidade e as substâncias existentes nos equipamentos e
produtos utilizados.
Existem, hoje em dia, no mercado, muitos sistemas
construtivos prontos no mercado para a instalação deste tipo de sala.
Na maioria dos casos baseiam-se em painéis lisos modulados que
podem ser simples ou compostos fixados mediante perfis de
acabamento e fixação geralmente em alumínio. Na maior parte dos
casos não o estruturais, suportando apenas o peso próprio, ou seja,
devem ser instalados dentro de uma supra estrutura.
144
Projeto de Arquitetura
Na Indústria de Penincilina de Olavo Fontoura, da década
de 50, com projeto de Lucjan Korngold, já existia a preocupação
em relação às salas limpas. “A disposição das salas foi estudada de
tal maneira que as instalações mais simples de tratamento de ar
ficassem na periferia do laboratório. As salas já de certa importância
foram localizadas mais para o centro e finalmente as salas com
condições muito rigorosas não possuem contato direto com nenhuma
das primeiras”. (KORNGOLD , p.21)
“Pressão estática do ar, pressão relativa de um ambiente para
outro e deste para um terceiro. Este último ponto é importante, pois,
certos recintos correm o risco de contaminação, sendo que outros
de umidade baixa podem sofrer infiltração de umidade. Outros ainda
correm o risco de explosão devido aos gases que ali são
manipulados.(KORNGOLD, p.21).
A Fábrica Inmos, projeto do Arquiteto Richard Rogers,
finalizada em 1982, e citada no primeiro capítulo e no sub-capítulo
sobre a forma da edificação industrial, é um interessante exemplo
de Sala Limpa. A interessante solução formal que valoriza os aspectos
construtivos da arquitetura metálica e permite que todas as treliças,
tirantes, dutos e equipamentos diversos sejam vistos e facilmente
acessados pelo exterior. As salas resultantes são prismas muito
simples e com presença de nenhum pilar interno e vão no sentido
transversal de 40 metros, o que resulta na facilidade de resolução
dos detalhes de juntas entre elementos e materiais.
Arquitetura da Indústria
145
Os módulos dispostos longitudinalmente tem 8 metros cada
e na primeira fase deste edicio 20 deles foram executados. Este
caráter maquinista” permite extrema flexibilidade uma vez que as
instalações externas podem ser modificadas sem alterar o conceito
formal do edifício. O sucesso do sistema estrutural e de infra-
estrutura culminou no desenho dos laboratórios do Centro
Tecnológico PA (PATcentre), nos Estados Unidos, finalizado em
1985. Apesar da semelhança, existem grandes diferenças estruturais,
uma vez que o vão tranversal dos dois blocos dispostos ao lado do
eixo vertebral possuem 26 metros cada um.
Figura 107 - Fábrica Inmos, Sala Limpa.
Fonte: www.richardrogers.com Acesso 19.02.09 às
19:33:50h.
Figura 108 - Fábrica Inmos, Perspectiva
seccionada. Fonte: www.richardrogers.com
Acesso 19.02.09 às 19:30:20h.
146
Projeto de Arquitetura
8.2. SuprimentoS e DiStribuição
Os requerimentos de suprimentos e distribuição resultam
diretamente dos requerimentos de produção, podendo existir ou não,
dependendo da atividade a ser desenvolvida. Exigem, muitas vezes,
construções espeficas para albergar maquinário, em alguns casos,
dispostas distantes das edificações principais da fábrica para limitar
o risco da propagação de incêndios, contaminação do ar, dentre
outros.
Os primeiros elementos a serem considerados são o
suprimento de água e de eletricidade. No caso da água, deve-se
considerar diversos tipos de situações, que podem significar redes
de instalações independentes, dentre elas: água relacionada à
produção, água para consumo das pessoas, água para viabilização
de processos, água purificada e tratada para atividades específicas,
água fervente (vapor, implica na construção de caldeiras que podem
ser basicamente elétricas ou a gás), água fria, água para limpeza de
equipamentos, água para limpeza da edificação. É muito comum,
também, o uso de instalações de ar comprimido ou vácuo e diversos
tipos de gases.
No caso da eletricidade, deve-se levar em conta o suprimento
proveniente da rede etrica instalada do distrito industrial, a energia
etrica de emerncia (por meio do uso de geradores, por exemplo),
ou até mesmo, em casos de grande porte e muito específicos, a
geração própria por meio de barragens particulares.
8.3. Fontes AlternAtivAs de energiA
A energia é fundamental para que possam ocorrer os
processos industriais. No entanto, a grande variedade de tipos de
produções requerem diferentes tipos de energia, dentre elas, a energia
etrica ou a energia rmica. Podem ser obtidas atras de processos
renováveis que vêm sendo aprimorados nos útltimos anos. Algumas
indústrias investem no uso de energias renováveis geralmente em
Arquitetura da Indústria
147
função de necessidades financeiras e segurança de fornecimento
contínuo. Esses sistemas influenciarão diretamente o edifício ou
complexo industrial.
Esses sistemas apresentam ainda o atrativo de gerarem
impactos positivos para a sociedade e meio-ambiente, uma vez que
utilizam-se de recursos renováveis, possuem longa vida útil e o
construídos com aparelhos que podem ser recicláveis. A escolha do
sistema ideal deverá fazer parte de um planejamento integrado com
a concepção do edifício, e não mais, tratado como simplesmente a
adequação básica à entrada de energia elétrica por uma rede
estabelecida. Em geral, o custo de implantação desses sistemas é
superior, em primeiro momento, aos sistemas de energia elétrica
tradicionais.
Figura 109 - Dispersão da Energia Solar
Fonte:Centre de la technologie de l´energie de
CANMET, Canada.
148
Projeto de Arquitetura
e em veículos.
produzido através da fermentação
,
,
,
para o mar
Arquitetura da Indústria
149
9. CONFORTO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO VISUAL
9.1. IlumInação, Cor e ComunICação VIsual no
Edifício industrial
Assim como, a principal constante sobre o projeto de
edifícios industriais, que é o fato de não existir uma solução básica
ideal para todos os casos, está o problema da cor. Uma solução
adequada depende de um bom planejamento, não da cartela de
cores a ser utilizada, como também, da consideração do entorno,
método de manufatura, tipo de máquinas. Depende, ao mesmo tempo
de boa iluminação, correto planejamento, e graduação de contrastes
de cor e luz. Existem casos em que o desconforto do ambiente
industrial era causado por reflexões especulares e o pela cor
utilizada. “Luz e cor, por sua vez, podem ser considerados gêmeos
siameses”. (ARCHITECTURAL RECORD)
A localização dos edifícios no terreno deve ser pensada de
modo a propiciar o máximo de luz natural a todos os ambientes de
trabalho e sem permitir a entrada de Sol direto.
Figura 110 - Curvas de nível de iluminação
interna. Fonte: BRUNA, XXXXX. Redesenho.
No caso da Iluminação Artificial, deverão ser observados
alguns itens principais:
Os cortes A, B e C apresentam três
soluções de coberturas com iluminação
zenital e a curva de luminância resultante.
As coberturas, para cada fim de atividade
deverão ser analisadas sob o aspecto de
luz proporcionada e sombras.
150
Projeto de Arquitetura
Fonte: ALUCCI (1998, p.5), adaptado e ampliado pelo autor.
Arquitetura da Indústria
151
O uso adequado das cores proporciona resultados desejáveis
e é elemento essencial em plantas de manufatura onde a acuidade
visual é requerida, pois, a cor, nestes casos, funciona como um auxílio
à visão.
A o século XIX não era aparente a necessidade da cor na
Arquitetura Industrial e era vista como inútil ou mal uso de recursos
financeiros. A legislação inglesa da época pedia que as indústrias
“lavassemas paredes de branco, como uma forma de aumentar a
reflexibilidade das paredes e, portanto, realçar a iluminação natural.
Com o passar dos anos percebeu-se a necessidade de uma
correta especificação das cores, até mesmo de forma a utilizá-las
como códigos para os tipos de instalações, algumas cores de
tubulações industriais e de Laboratórios são padronizadas de forma
Universal.
Os novos conceitos de tratamento sociotécnico das áreas de
produção atenta para o cuidado no uso das cores. Segue uma
descrão revisada apresentada na Revista Architectural Review. A
visão é mais importante para o bem-estar do ser humano do que
qualquer outro dos cinco sentidos. Os olhos o responveis por
75 90% da realização das atividades humanas e 87% de todas as
impressões sensoriais são recebidas por meio deste órgão. Condições
que prejudicam a visão podem afetar todo o organismo humano
causando dores de cabeça, fraqueza, useas e indigestões. Até
Figura 111 - Exemplo de Carta Solar para
Estudo da Insolação, Brasmotor, Charles
Bosworth, São Bernardo do Campo. Fonte:
Revista Acrópole 205, 1955.
Figura 112 - Petersschule, Hannes Meyer e
Hans Wittwer, Basiléia, Suíça.
Este projeto de 1928 é emblemático pois,
apresenta uma das primeiras pesquisas a
respeito de iluminação de edifícios da Era
Moderna. Os arquitetos chegaram ao extremo
de colocar as seções de distribuição lumínica
na prancha do projeto.
Fonte: http://www.tu-cottbus.de/theo/D_A_T_A/
Architektur/20.Jhdt/MeyerHannes/
SchriftenDerZwanzigerJahre/
DiePetersschuleBasel/PetersschuleBasel7_2.gif
Acesso dia 25.01.2009 às 18:41:30h.
152
Projeto de Arquitetura
mesmo a freqüência cardíaca permanece dentro de valores mais
normais quando o indivíduo apresenta-se sob boas condões visuais.
Os olhos não vêem cor em seu campo de visão com um valor
fixo, mas modificados pela simultaneidade da percepção de cores
adjacentes, o que chama-se Contraste Simultâneo. A cor pode ser
modificada no seu matiz, tom, brilho e intensidade. Como matiz,
cada cor tenderá a dar um toque de sua cor complementar sobre a
cor adjacente. Como brilho: cores escuras farão com que suas cores
adjacentes pareçam mais claras e vice-versa. Como intensidade: cores
forte enfraquecerão as cores adjacentes. Possivelmente este
fenômeno de visão é o que é mais percebido na prática arquitenica.
Materiais que deverão ser colocados contiguamente em edifícios
são freqüentemente escolhidos de forma separada, sem a
preocupação com a sua interação, às vezes chegando-se a resultados
finais surpreendentes.
Nos edifícios industriais, as preocupações neste sentido são
evidenciadas. Por meio do planejamento das cores, enfatiza-se o
trabalho nas mãos, separando-se as máquinas do seu fundo e o
esquema geral de cores promove um efeito psicológico sobre os
trabalhadores. Por exemplo, um fundo queimado de pouca reflexão
irá reforçar o geralmente azulado matiz de peças metálicas e acentuar
sua forma para uma mais rápida compreeno, enquanto que, objetos
de cobre ou bronze, geralmente próximos do laranja em matiz, serão
mais facilmente vistos contra um cinza verde azulado. Colunas e
máquinas em verde dio revelarão seus contornos, se isto for
desejado, contra um fundo em um cinza rosado claro. Nas paredes,
pinturas cinzas pálidas, para não perder sua refletância, deverão vir
ao lado de bandas coloridas, colunas, ou qualquer coisa, em matizes
complementares apenas um pouco mais ricos.
Os olhos fatigam-se rapidamente de qualquer cor sobre a qual
são focados e tendem a recordá-la”, imediatamente depois, a cor
complementar da cor focada. Caso algm foque intencionalmente
em uma mancha laranja e imediatamente após, olhe um papel branco,
ve uma imagem posterior (“after-image”) em um azul lido. Deste
fenômeno de visão podem resultar três efeitos distintos: a segunda
Figura 113 - Contraste Simultâneo. Fonte:
Architectural Review XX.
Arquitetura da Indústria
153
cor vista poderá ser acentuada pela imagem posterior deixada pela
primeira cor (como vermelho visto depois do verde), poderá ser
enfraquecida (como rosa visto depois do vermelho) ou poderá ser
influenciada em direção de uma cor diferente, mas não
necessariamente desagradável (como o amarelo visto após a cor
laranja).
O fato de cirurgiões utilizarem roupas em um verde
acinzentado faz com que a cor do sangue não apresente um vermelho
vivo fresco, mas sim, um tom vermelho escuro púrpura, o que alivia
a impressão do trabalho por tornar uma cor artificial. Existe outro
caso clássico, relacionado à arquitetura hospitalar, quando foram
pintados os quartos da enfermaria em tom amarelo vivo, o que, por
reflexão das cores, levava os médicos a diagnosticar doenças
equivocadas em muitos pacientes pela coloração da pele
aparentemente amarelada.
Todos já perceberam que cores que contém uma
predominância de vermelho sentem-se quentes e cores com muito
azul, frias; e que o primeiro parece mais próximo e o segundo mais
distante do que a distância real em relação aos olhos. Vermelhos-
laranja em forte intensidade avançam mais, e azul em leve brilho e
fraca intensidade retrocedem o máximo. Talvez, poucas pessoas
apenas tenham percebido que apenas o amarelo e o roxo aparentam
manter a posição real no espaço. Este femeno permanece
verdadeiro, não apenas em cores puras, mas tamm, nas relações
delicadas em matizes, sombras e tonalidades. Por exemplo, um quarto
longo e estreito pode parecer menos alongado pintando-se a parede
Figura 114 - Mapa de Cores. Fonte:
Wikipedia.
154
Projeto de Arquitetura
da extremidade oposta no lado maior em um tom escuro de uma cor
que avança, como um laranja queimado ou um marrom. Pelo outro
lado, salas pequenas podem parecer maiores, e fazer com que as
pessoas não se sintam aglomeradas, se utilizarmos um matiz claro
de uma cor fria turquesa pálido, aquamarina, verde e folhagens
nas parede e talvez até mesmo no teto. Mais do que isso, ilusões de
temperaturas baixas e altas podem ser criadas da mesma forma.
Am do fenômeno visual descrito acima, o arquiteto deve
atentar a certas associações psicológicas das cores que o o
visuais, mas, mentais. Em hospitais, o uso terapêutico da cor é
procedimento padrão, e os mesmos princípios que ajudam a cura
das pessoas doentes pode ser utilizado para influenciar a saúde dos
operários. Movendo-se pelo espectro percebemos que o amarelo, a
cor da luz do Sol, traz alegria; verde tem pouco efeito sobre as
emoções humanas; azul é definitivamente relaxante; roxo é
depressivo; vermelho excita um comportamento corajoso; e laranja
é o mais forte estimulante de todas as cores. Variações em brilho e
intensidade, fornecem material para induzir qualquer reação
psicológica desejada.
Neste sentido é interessante dizer que o número de cores
existentes tende ao infinito. No entanto, o ser humano é capaz de
identificar aproximadamente 150 cores sob o espectro da luz do sol.
Essas 150 cores são multiplicadas por 10 variações de valor em
matiz e por 10 variações de intensidade em cada valor, o que figura
15.000 cores possíveis de se alcançar visualmente. No entanto, na
prática, um total de 1.000 cores é provavelmente o máximo que
pode requerer um arquiteto para se alcançar algum efeito. Neste
ponto, apesar de anteriormente ter descartado a discussão sobre a
iluminação, é interessante dizer que o planejamento da cor deve
estar relacionado ao índice de reprodução de cor da lâmpada quando
utilizarmos iluminação artificial. As lâmpadas incandescentes, menos
econômicas possuem um índice de reprodução de cor de 100%.
Existem, hoje em dia, diversos sistemas de cores para garantir a
fidelidade das cores escolhidas, dentre os mais conhecidos está o
PANTONE.
No caso industrial, o arquiteto é o responsável pela escolha
das cores das paredes, tetos e pisos. Um pouco de teoria é necessária
para a adequada especificação de cor, referências devem ser
realizadas em relação à mecânica da visão, do homem que trabalha
nas máquinas, por meio do homem nas redondezas para as superfícies
mais distantes.
Arquitetura da Indústria
155
A primeira consideração é o conforto visual do trabalho na
máquina. Os princípios básicos o: (1) contrastes de brilho devem
ser maiores nos limites do trabalho na mão, (2) constrastes de brilho
devem ser menores entre os trabalhos manuais e o fundo, (3) não
devem ser permitidas outras relações de contraste que interfiram
nas duas primeiras demonstradas. Em outros termos, a iluminação
brilhante sobre o objeto de trabalho é essencial, um pouco menor
em relação ao fundo sobre o qual o objeto é visto e sucessivos
menores contrastes em relação ao piso, paredes e outras superfícies.
Sendo dependentes a cor e a iluminação, a cor contribui para realçar
o efeito de brilho de contraste, apesar da iluminação ser o fator
predominante. É o claro-escuro das cores que promove ou não o
correto estabelecimento do contraste nos brilhos. Para uma
prolongada concentração visual a proporção de brilho entre a tarefa
e os arredores deve ser de 5 para 1, proporções maiores que 10 para
1 devem ser evitadas quando possível e proporções na região de
100 para 1 não devem ser contempladas.
O piso que é freqüentemente vislumbrado abaixo da área de
trabalho da máquina deve ser obviamente suave em brilho para
minimizar o contraste. O fato de menos luz recair sobre o piso do
que sobre as máquinas permite a especificação de cores mais leves
daquelas que normalmente o pensadas como apropriadas e essas
cores encorajarão uma melhor manutenção da limpeza do ambiente.
A cor do piso deverá se aproximar do neutro como ajuda à
manutenção, e com um denominador comum entre as outras cores.
A radiação solar é a energia gerada pelo sol por meio das
reações de fusão nuclear. Essa energia afeta todos os objetos e seres
vivos ao ar livre durante o dia, desde que o Sol desponta no horizonte
até o ocaso. A incidência da radiação aquece a temperatura do ar e
de todas as coisas, podendo tornar-se inconveniente em climas
quentes e essencial em climas mais frios. As coberturas dos edifícios
industriais, por se tratarem de grandes planos, em sua maioria, devem
ser cuidadosamente estudadas em relação à cor para que tenham um
correto comportamento em relação à radiação solar e características
de manutenção. Pintadas de cores claras, as telhas metálicas
aumentam o poder de reflexão dos raios solares incidentes e reduzem
a temperatura dos ambientes onde são utilizadas. Esta solução é
utilizada por Lelé, nos hospitais. Por outro lado, telhas de cor escura
podem reter o calor.
156
Projeto de Arquitetura
9.2. Conforto ACústiCo
Assim como o uso da cor adequada no ambiente industrial
pode incrementar a sua eficiência, a redução do ruído pode melhorar
a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores industriais. Quando
do desenho de um edifício industrial a questão do ruído deve ser
considerada pelo arquiteto, e deve nascer durante os primeiros
estágios do desenvolvimento do projeto. E não apenas em relação
ao ruído externo que poderá atingir a edificação industrial, mas
também, o ruído interno que será emanado no meio ambiente. Neste
caso, ruídos de baixa freqüência, exigirão componentes pesados na
construção do edifício. Freqüências altas deverão ser tratadas pela
combinação de diferentes superfícies, porosas ou com pequenas
aberturas ou cavidades. Existe uma contradição, uma vez que,
convém que os recobrimentos internos sejam tão lisos quanto
possível para evitar a acumulação de poeira e dificuldades na limpeza
das paredes.
Em relação ao ruído ambiente, podemos relacionar como
aspectos a serem observados:
Arquitetura da Indústria
157
Alguns pontos podem ser resolvidos de maneira geral
ajudando a reduzir o incômodo auditivo do maquinário industrial.
Alguns métodos de redução de ruído (SELUIANOV, 1961, p.87):
a. Alguns fabricantes prestam atenção especial para a redução do ruído no
desenho e na manufatura do maquinário. Antes que qualquer equipamento
seja comprado, este problema deve ser investigado junto com o fabricante
e com o engenheiro industrial.
b. Alguns tipos de maquinário que são albergados em salas de máquinas,
como exemplo, ventilação, bombas de cuo, compressores de ar,
transmitem o som através da própria estrutura do edifício. Isso pode ser
consideravelmente reduzido incrementando-se a proteção sonora das janelas,
portas, paredes, cos e tetos da sala de quinas por meio do uso de
materiais acústicos. A importância da descontinuidade estrutural não deve
ser relevada.
c. Algumas máquinas como geradores e outros equipamentos elétricos
podem ser cobertos individualmente, totalmente ou parcialmente, por
protões sonoras.
d. Uma considerável quantidade de máquinas causa ruído por meio da
vibração. Essa vibração pode inclusive causar danos estruturais ao edifício.
Tal maquinário pode ser usualmente isolado pela fixação sobre uma base
elástica; alternativas como insufladores de ar especialmente desenhados,
isolamento em placas de borracha, feltro ou cortiça e coxins especiais,
podem ser usados de acordo com o maquinário a ser tratado e a natureza
das vibrações e a construção do edifício.
e. O uso de um absorvente sonoro adequado como revestimento de paredes
e tetos de um local ruidoso reduzirá o som reverberante. Materiais como
placas acústicas, painéis de parede, fibra de vidro, placas de madeira
vazadas, asbestos jateados e muitos outros estão à disposição.
a. Conforto térmiCo
As edificações industriais, em geral, apresentam grandes
fachadas e coberturas. Estes dois elementos o uma fonte de calor
ao edifício, devido à radiação solar incidente durante o dia (em
períodos quentes) e elementos de perda de calor (para períodos frios).
Existem métodos que convém observar para a identificação da
geometria ótima” da edificação, para melhorar as condições de
conforto térmico no interior dos edifícios, minimizando o uso de
equipamentos de condicionamento de ar.
O Brasil apresenta vantagens por ter um clima tropical-
temperado. As legislações o costumam especificar níveis de
isolamento rmico, por exemplo, e, além disso, na maior parte dos
casos, estratégias passivas
46
podem conduzir a bons resultados de
conforto ambiental nos edifícios.
46
Entenda-se por estratégias passivas como soluções
arquitetônicas não mecanizadas que buscam garantir
o conforto térmico, astico e de iluminação dos
ambientes construídos, por exemplo, a utilização de
“brises soleil projetados de forma adequada a
impedir a penetração de luz solar direta nas
edificações nos horários mais quentes do dia. Alguns
países, como é o caso de Liechtenstein possuem
legislação que, em função do inverno rigoroso, não
possibilitam vedações externas que tenham
espessura menor de 30 cm.
158
Projeto de Arquitetura
laminado
Arquitetura da Indústria
159
Fluorescentes
160
Projeto de Arquitetura
Arquitetura da Indústria
161
TERCEIRa paRTE: SISTEMaS CONSTRUTIVOS
INDUSTRIALIZADOS PARA EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS
10. SISTEMAS CONSTRUTIVOS
INDUSTRIALIZADOS PARA A INDÚSTRIA
A arquitetura de edifícios industriais é freqüentemente
concomitante à construção industrializada, assim como apresentado
na primeira parte deste trabalho. Nessa conexão, Constrão
Industrializada” significa um elevado grau de pré-fabricação dos
componentes individuais. De fato, hoje em dia já não se pode pensar
em um edifício sem qualquer forma de pré-fabricação; aí estão ao
menos as janelas, as portas e as instalações. O que talvez seja pouco
estudado a respeito do tema é o grau de pré-fabricação ótimo para
cada caso. Em alguns momentos históricos, a pré-fabricação era
buscada utopicamente na totalidade do edifício, de forma a todas as
peças serem apenas apoiadas sobre o terreno. No entanto, devemos
considerar que o grau de pré-fabricação pode variar de cerca de
20% dos elementos a 95% dos elementos da construção. O grau de
pré-fabricação será determinado, dentre outros fatores, pelo tipo de
sistema a ser utilizado. De forma simplificada, podemos classificar
a pré-fabricação em aberta ou fechada.
“A industrialização de componentes destinados ao
mercado, e não exclusivamente às necessidades de
uma só empresa, é hoje conhecida como
industrialização aberta, ou de CICLO ABERTO, por
oposição à fechada, que consiste em pré-fabricar
elementos em função do pprio consumo, nas
próprias obras. Retorna-se assim à primitiva divisão
do trabalho que, sem dúvida, oferece as melhores
possibilidades de especialização e conseqüentemente
estandartização e produção em massa. Os elementos
assim produzidos poderão ser combinados entre si
numa grande variedade de modos, gerando os mais
diversos edifícios e satisfazendo uma larga escala de
exigências funcionais e estéticas. É também conhecida
como a industrialização de catálogo, pois obriga o
fabricante a estabelecer um catálogo, e possivelmente
um estoque, que contenha as características dos
elementos, definidos seja pelas suas qualidades físicas
de resistência, insolão, peso, etc., seja pelas
dimensões e tolerâncias de fabricação. A
industrialização aberta não é uma idéia nova, pois
fazia parte das propostas para a habitação mínima
discutida pelos arquitetos de vanguarda nos anos
TERCEIRA PARTE
162
Projeto de Arquitetura
cruciais do primeiro as-guerra. Nesse período
constatou-se a necessidade de retomar a pesquisa
arquitetônica nos seus aspectos mais simples com o
objetivo de enquadrar o problema da composição com
a necesria racionalidade. Assim, a casa foi
subdividida em uma série de componentes elementares
e o projeto numa sucessão de etapas: inicialmente,
estudaram-se as partes, e, em seguida, suas
combinações. As células de habitações foram
agrupadas formando unidades de residência e
unidades de vizinhança e a cidade foi concebida como
um agregado de unidades de vizinhança reunidas em
grupos segundo a hierarquia das funções.
(BRUNA,1976, p.60).
Por outro lado, no sistema fechado, todas as peças são
produzidas para se relacionarem apenas entre si, não havendo uma
busca por uma universalidade da solução. As peças individualmente
não se encontram no mercado. Os elementos deverão ser adquiridos
de forma global. Esse tipo de sistema pode resolver principalmente
problemas específicos como escolas, habitação. No entanto,
apresenta-se indesejável para soluções que exijam maior
flexibilidade como é o caso das edificações industriais. Busca-se
neste caso a economia de escala através da construção civil vista
como desenho de objeto, concebido em todas as suas partes. Em
geral estes sistemas estão protegidos por patentes pelas empresas
que os desenvolvem e comercializam. Os sistemas de pré-fabricados
ainda podem ser classificados segundo a dimeno das pas, sendo
pesados ou leves. Na fabricação leve, as peças o de tamanho
reduzido, como por exemplo, sistemas em peças de argamassa
armada, ou, as portas e janelas pré-fabricadas encontradas hoje em
dia em praticamente todas as obras. No caso da pré-fabricação
pesada, am de grandes elementos como vigas e pilares, que
necessitam o uso, por exemplo, de guindastes e gruas para serem
elevados e colocados em posição de uso, existem peças que são
colocadas no local de uso com todas as suas funções e partes
acessórias montadas, como é o caso das emblemáticas células
habitacionais dos projetos do arquiteto japos Kisho Kurokawa.
A pré-fabricação pressupõe o contato entre o local de
produção das peças e o canteiro de obras, que as dimensões devem
ser observadas para que o transporte e montagem ocorram de forma
adequada e resulte no edifício anteriormente planejado. A pré-
fabricação é a forma encontrada para se inclinar a construção em
Arquitetura da Indústria
163
direção à industrialização. O conceito de Industrialização possui
inúmeras definições, segundo BLACHÈRE (1975, p.09) nada mais
é do que a utilização de tecnologias que substituem a habilidade
do artesão pelo uso da máquina”. O mesmo autor demonstra que
são errôneas algumas definições comuns. É comum dizer-se que o
termo industrialização é sinônimo de trabalho em fábrica e de que o
trabalho em obra não pode ser industrial. Isto não é correto, pois a
tecnologia para ser industrial o depende do local onde ela é
aplicada. o exemplo do artesão que faz o tapete à mão; se o faz
em casa se considera artesanato, mas, se o faz segundo a mesma
cnica dentro de uma oficina dotada de calefação e bem iluminada
se considera indústria. Não é o local onde se trabalha que determina
ser ou não industrialização, mas sim, a tecnologia que se emprega
48
.
Outra idéia errada a respeito da industrialização é que ela
o existe se o produção em série, ou que a rie faz a
industrialização. Outro exemplo seria muitos trabalhadores fazendo
tapetes idênticos que também o configura a industrialização.
Fayeton define o termo como: “existe industrialização quando se
ultrapassa o limite do erro não calculado, para chegar ao estudo
sistemático das tolerâncias de elaboração e das uniões.” Assim, a
mão artesanal não esmais presente no processo como elemento
definidor da qualidade de um produto. No entanto, a tecnologia
mecanizada está quase sempre vinculada à série, pois são necessárias
quantidades muito grandes da mesma peça para que o processo se
torne renvel. Adentramos ao campo da racionalização na produção
industrial.
A racionalização é indispensável na industrialização, e
identifica-se com a mesma.
“Racionalizar a produção quer dizer estudar os
métodos de produção, a fim de reduzir o tempo de
trabalho, reduzir os tempos-máquina, em vista de se
conseguir a melhor produtividade e a melhor
rentabilidade (Blachère, pp.09, 1975).
48
É fato que seja comum que a industrialização ocorra em lugares cobertos, mas,
apenas porque existem máquinas que o podem ser instaladas ao ar livre, pois
estragariam rapidamente. No caso da construção civil, podemos executar as peças
em planta industrial ou ao da obra. O passo da construção artesanal para a
construção industrializada se inicia com a separação e divisão do trabalho entre a
produção e a montagem.
164
Projeto de Arquitetura
A preocupação de racionalização, no entanto, é independente
da industrialização. Pode existir no artesanato ou até mesmo na
constrão civil realizada in loco. João Filgueiras Lima, em
entrevista, atentou para o fato de que as obras, realizadas segundo a
construção convencional, da cidade de Brasília, teve que ser
racionalizada para que se atendesse à construção de uma cidade em
apenas três anos:
“(...) Brasília devia ser construída em 3 anos. Em 1957
não havia nada e ela tinha que ser inaugurada em 1960.
Então, nós tivemos que improvisar muitos, vamos dizer,
sistemas de racionalizão, não pré-fabricão, que
naquela época não se fazia, mas, a racionalização da
construção, repetição de fôrmas, o uso de fôrmas várias
vezes sim; para voganhar tempo na construção. O
objetivo principal era esse. Ao mesmo tempo os canteiros
de obra eram verdadeiras pequenas cidades; tinham que
ter tudo, lá (Brasília) não tinha nada, tinha que ter
refeitório, alojamento para todos os operios, tinha que
ter lavanderia, enfim, todas as coisas necessárias para
o dia-a-dia você tinha que “subir” dentro do canteiro de
obras. E foi nesses canteiros que eu utilizei muito a pré-
fabricação em madeira, mas o objetivo era sempre ganhar
tempo.(...)”
A racionalização acompanha a industrialização, no entanto,
também existe o caso de se encontrar produções industrializadas
muito mal organizadas. Na construção, a industrialização se associa
com a necessidade de integração, para a elaboração de uma
arquitetura de interesse do ponto de vista funcional, estico,
econômico e social. Com freqüência os agentes da construção se
relacionam mal entre eles: o que projeta, o que calcula, os que
realizam; existe incompreensão, falta de comunicação, falta de
informação, e outros mal-entendidos, todos eles geradores de perdas
de tempo, erros e repetições.
“A essência da industrialização é produzir um objeto
sem a mão-de-obra artesanal, com máquinas
comandadas por trabalhadores apenas
especializados, não qualificados, ou melhor, por
máquinas automáticas. Esta é a base da
industrialização.” (BLACHÈRE, 1975, p.11).
O problema da industrialização passa pelo conceito de que,
necessariamente, para se realizar um objeto industrializado este deve
ser fundamentalmente diferente daqueles que se produzia por meio
de métodos artesanais. Um exemplo clássico é dos artesãos que fazem
Arquitetura da Indústria
165
as carruagens e dos industriais que fazem os automóveis; caso não
tivesse sido inventado o motor a explosão seriam feitas carruagens
de modo industrializado. Existe, portanto, uma base gica para isso.
Quando se industrializa, por definição, altera-se o método de
produção e se chega muito comumente a objetos distintos da
produção artesanal. Isso deverá ocorrer em um futuro próximo com
as edificações que habitamos. Em muitos casos, não se muda a
utilidade ou conceito de certo objeto, no entanto, a matéria e sua
execução. As construções nãoo ou deixam de ser industrializadas
apenas porque não se transformou a sua função.
Existem vários preconceitos em relação à industrialização
da constrão especificamente, dentre eles, assim como observa
ROSA (2006, p.18):
“- A industrialização da construção limita a criação,
deixando todos os edifícios homogêneos, uniformes
e monótonos?
-Qual a estética possível da arquitetura
industrializada?
possível industrializar a construção de qualquer
edifício?
-Qual o grau de industrialização que é possível se
alcançar, sem prejudicar a qualidade arquitetônica?
-Quem serão os agentes que poderão investir num
setor que exige tão elevados recursos financeiros?
-Qual o volume de recursos financeiros necessário
para industrializar a construção de alguns setores?”
Por esses motivos, no Brasil, as unidades industriais são
pioneiras no uso de pré-fabricados. Os industriais buscam esse
sistema em função de flexibilidade e rapidez de execução, que
significa retorno mais rápido dos investimentos. São poucos, no
entanto, os avanços relacionados a edificação industrial
desenvolvidos no país em vista às nossas necessidades. Os sistemas
em sua grande maioria são importados e, por preferência dos
empresários, o edifícios de formas geométricas simples, de rápida
execução e melhor custo-benecio. Os projetistas, em geral, optam
por edifícios compactos em função da tentativa em se reduzirem os
custos das construções.
Na construção civil do nosso país não existem artífices
nem o de obra educada. Tamm não existe a
pirâmide tradicional de eficiência, na execução de
obras, pela qual todos os envolvidos participam com
sua parcela de responsabilidade. Existe apenas um
166
Projeto de Arquitetura
único responsável, que é o engenheiro; cabe a ele a
obrigação de orientar, controlar, organizar e
coordenar o serviço dos empregados, no sentido de
produção e no de qualidade de mão-de-obra. O
engenheiro o espreparado para essa tarefa e,
mesmo que fosse conhecedor de todos os ofícios, seria
sobrecarregado no sentido físico e de
responsabilidade” (BROOS, 1989, p.92)
Apesar da multiplicidade de experimentos no sentido da
industrialização da construção, parece que os sistemas construtivos
industrializados ainda não estão perto do estado que alcançaram
outras atividades industriais, faltando muito a se desenvolver. Não
só no Brasil, mas em todo o mundo, se a indústria da construção
como o setor menos desenvolvido do ramo industrial. A indústria
brasileira, em momento de expansão, por sua vez, utiliza-se sempre
dos mesmos sistemas construtivos ou importa modelos do exterior.
A pré-fabricação destes edicios ainda é pensada como forma de se
conseguir ganhos ecomicos em edificações que foram projetadas
em forma convencional e convertidas em edifícios pré-fabricados,
o que demonstra o quanto atrasados estamos nesta questão e o motivo
de que a pré-fabricação deve ser uma disciplina autônoma.
Atualmente, a construção pré-fabricada no Brasil parece esperar um
momento de crise para que volte a avançar, ou ser forçada pelo
incremento do número de novas construções dentro do período pelo
qual passamos atualmente. A conexão dos processos de manufatura
que vem acontecendo de forma global, deve conduzir os edifícios
à sua pré-fabricação em inúmeras partes individuais, que serão
apenas montadas no canteiro de obras.
O esforço contínuo no sentido de se industrializar a
construção é necessário, pois não existem resultados definitivos nem
mesmo modelos gerais dentro da construção industrial, realizada de
maneira industrializada. Assim, ressalta-se a importância dos estudos
sistemáticos dentro da área. A fast construction (do inglês,
construção pida), assim como se conhecem hoje em dia as obras
que possuem prazo extremamente reduzido para o seu projeto e
execução, não estão ligadas a apenas um todo construtivo em
especial, mas sim, dependem da busca de uma solução adequada
para o problema arquitetônico proposto aos projetistas, dentre eles
arquitetos, engenheiros e economistas. O estágio de desenvolvimento
e integração de sistemas de fast construction” em alguns países
desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos da América,
permite que o projeto ocorra ao mesmo tempo da construção.
Arquitetura da Indústria
167
Na arquitetura industrial há alguns requisitos como a
execução de grandes construções em tempo reduzido, flexibilidade
e expansibilidade, registro de processos, instalações de qualidade
industrial, facilidade de manutenção e só podem ser alcançados por
meio de sistemas construtivos pré-fabricados, seja qual for a tipologia
ou ramo industrial, desde as indústrias pesadas a as indústrias leves.
Dentre as principais vantagens no uso de elementos pré-fabricados
na arquitetura industrial encontram-se:
a. Rapidez da execução da obra, pois, na obra, a estrutura pré-
fabricada é apenas montada. Existe, em geral, a possibilidade em se
erigir a superestrutura e cobertura da edificação logo no início da
obra, permitindo-se trabalhos abrigados durante quase toda a
execão e menores atrasos de execução provocados por, por
exemplo, dias chuvosos ou muito quentes.
Por sua vez, as construções tradicionais ou convencionais
exigem, na maioria dos casos, longos processos de execução, e
descontrole do orçamento, por meio dos atrasos de execução,
desperdício de materiais e mão-de-obra, falta de planejamento prévio
e baixo controle. Essas características, não seguem os princípios
industriais. Em geral, as construções industriais exigem prazos curtos
de execução para acelerar o início do retorno dos investimentos.
Representa, portanto, diminuição no intervalo entre a decisão em se
começar uma produção e a introdução no mercado, o que quase
sempre é um fator decisivo no sucesso ecomico de um produto.
Construções rápidas são, portanto, de grande importância. Dá-se
assim, a preferência pela pré-fabricação.
Am disso, “Projetistas, fornecedores e construtores o
m tempo hábil para corrigir falhas, quando falamos de dois, três
meses (projeto e obra).” (YAGIU, In MEDEIROS, 2003, p.40) As
próprias edificações devem ser conduzidas a novas experncias que
o cometam o erro de apenas industrializar o que se produziu
durante muitos séculos de forma artesanal. Nesse sentido, é por meio
da industrialização que se poderá aportar novos materiais à
construção, ramo dos mais importantes na economia global. Vale
destacar que a “fast construction” já aparece como nova modalidade
econômica e conceito construtivo. A industrialização da construção
dá-se, sobretudo, por meio dos componentes a serem montados,
gerando inúmeras formas de expressão do edicio construído. Os
arquitetos devem saber trabalhar com os sistemas pré-fabricados,
mais do que isso, conhecer o método de conceão destes sistemas
168
Projeto de Arquitetura
e especificá-los de maneira correta.
b. Controle mais preciso de orçamento. Existe maior precisão no
controle dos custos das peças, que fazem parte de controles precisos
baseados na atividade de produção industrial. Os orçamentos são
realizados de forma mais rápida e possuem margem de erro
percentualmente muito mais baixas. Podem ser realizados estudos
mais ágeis a respeito de custo-benefício das questões estruturais,
como otimização de tamanhos de vãos.
c. Flexibilidade. “Em geral, uma indústria necessita ser organizada,
e conseqüentemente projetada, com uma certa elasticidade de
soluções e de deslocação previsíveis, de maneira que as estruturas
possam ser desmontáveis e sua recuperação integralmente possível
em relação à evolução e articulação de problemas futuros.” (VICARI,
1959, p.319)
Como o uso de edifícios de produção pode modificar ao
passar do tempo, convém desenvolver os elementos como módulos,
determinados nas primeiras etapas do projeto, com base nas
necessidades produtivas. Desta forma, cria-se a possibilidade de que
estes elementos sejam facilmente substituídos e ampliados sem uma
quebra significante da produção no co-de-brica. O uso de
sistemas construtivos pré-fabricados, corretamente ajustados às
necessidades atuais e futuras das empresas pode significar mudaas
que necessitem de relativamente baixos esforços, em relação aos
sistemas tradicionais.
HENN (In. FORTI, 1964, p.139) observa que a flexibilidade
e expansibilidade de uma brica o características edicias que
poderão gerar questões particulares de país para país. Por exemplo,
nos Estados Unidos, a necessidade da flexibilidade fez com que
praticamente fossem construídos edifícios industriais em um único
pavimento, am disso, o menor emprego de mão-de-obra faz com
que o material aço seja competitivo com o concreto armado. Cada
país, portanto, terá um tipo de pré-fabricação das edificações com
diferenças principais nos usos de materiais, dimensões das peças e
desenho das mesmas, que resultarão em edifícios industriais
tipologicamente distintos.
Um método de construção modular pré-fabricado pode gerar
um alto grau de flexibilidade, assim como visto na obra de João
Filgueiras Lima, tema do estudo de caso que seapresentado no
capítulo subseqüente. Também poderá garantir facilidades de
Arquitetura da Indústria
169
manutenção do edifício e compra de componentes industrializados,
caso sejam seguidos módulos dimensionais consagrados. A
coordenação modular pode ser considerada como o estímulo para o
início da produção industrial. Trata-se de um dos instrumentos chave
para o sucesso de uma produção em rie que pretenda alcançar o
máximo de possibilidades de relações entre os componentes. A
maioria dos sistemas existentes no mercado tem o seu módulo
dimensional como sendo 3M (onde M=100mm), 12m é uma medida
muito usada. Vale destacar que a modulação o é impositiva, na
maioria dos casos, no entanto, influencia no custo da edificação.
Cada sistema construtivo pré-fabricado deve possuir a padronização
de seus detalhes, por exemplo, encaixes, seções (principalmente
quando se tratam de objetos extrudados). As peças, no entanto,
podem variar suas dimensões, mantendo o padrão principal.
A flexibilidade do sistema é, portanto, imperativa. Sistemas
industrializados diversos, existentes para outras tipologias
arquitetônicas como, por exemplo, arquitetura habitacional ou
escolas, não podem ser utilizados, em função de pouca flexibilidade
ou outras características, como a impossibilidade em vencer grandes
vãos com poucos apoios. Os sistemas construtivos para arquitetura
industrial tendem, para estruturas independentes de vedações, que
funcionem como uma espécie de exoesqueleto. Os requerimentos
de grandes alturas e grandes larguras de vãos podem levar a uma
dominação do conjunto pelos elementos estruturais. O envelope,
sendo ele, a cobertura ou a fachada, torna-se então subordinado e se
torna o preenchimento da estrutura de suporte. A grelha modular é
rigidamente pré-determinada. Um sistema construtivo de grande
flexibilidade
49
, portanto, deverá ser de custo mais elevado, por
possuir maior quantidade de componentes.
Na visão antiga e mais difundida da pré-fabricação de
edificações, descrita por OLIVERI (1972, p.15), os sistemas seriam
um todo de construção para o qual todos os processos relativos à
sua fabricação e montagem dos componentes fossem resguardados
por patentes e compreendessem: a programação do ciclo produtivo
em todos os seus aspectos (técnico, econômico, financeiro,
temporal,etc.); o Projeto do edifício de forma integral em todas as
suas partes, segundo um método que preveja a decomposição em
49
O conceito de flexibilidade não está ligado apenas ao projeto de indústria, no
qual é mais freqüente, mas a todas as edificações e se aplica, inclusive, muito bem
em uma nova maneira de construir que cada dia vem ficando mais comum no
Brasil, o “build to suit”, do inglês, construir sob medida.
170
Projeto de Arquitetura
elementos geométricos repetíveis em série analógica diferenciada
apenas pelas funções, e a produção industrial dos distintos
componentes na quantidade e qualidade previstas, limitando ao
nimo as operações de montagem, de selado de juntas, de
terminação e, em geral, de tudo que suponha o uso de mão-de-obra
em uma oficina. Isso representa a visão de sistema fechado, que
parece ser metodologia em desuso devido à falta de flexibilidade.
Hoje em dia, a construção civil industrializada ocorre, em geral,
através de sistemas abertos classificados basicamente em duas
formas, segundo a sua complexidade: Sistemas de simples integração
e Sistemas de integração diferenciada. No primeiro tipo, as mudanças
dos subsistemas influenciarão a totalidade do edifício. Já no segundo
tipo, a hierarquização dos sistemas possui uma camada a mais, o
que permite que subsistemas sejam modificados sem que causem
um efeito negativo na eficiência funcional do sistema como um todo.
Os elementos hierarquizados até o nível de sua função principal,
permitem a industrialização por completo das edificações, devendo-
se seguir apenas o prinpio do todo organizacional da indústria
conhecido como produção modular, dentro do qual, as partes são
fabricadas e desenvolvem-se individualmente, tendo como limitante
apenas questões de conexão para formar o todo, que devem ser
padronizados. Esse tipo de construção permitirá que partes, como
as partições internas, sejam alteradas sem que sejam necesrias
interveões estruturais, mantendo o edicio atualizado com
questões de sustentabilidade e tecnológicas.
d. As vantagens da industrialização o melhores percebidas na
realizada em brica fixa. Nela é notável o aumento da produtividade,
pois, usufrui de equipamentos melhores e maior controle e
racionalização da produção. O produto, por sua vez, é dotado de
qualidade constante. Podem ser determinados os tempos e custos
com exatidão, sendo que absoluta independência dos fatores
climáticos o que representa um maior empecilho nos países de clima
frio visto que a cura do concreto, por exemplo, não se corretamente
com temperaturas abaixo de 5 graus Celsius. A mão-de-obra, por
sua vez, além de especializada em parte do processo, possui o
trabalho contínuo assegurado, dentro das mesmas condições de um
operário industrial. As partes do edifício podem ser rastreadas por
meio de registros da produção, permitindo a identificação de
problemas e a evolução do sistema.
Arquitetura da Indústria
171
A industrialização está intimamente ligada ao custo da obra.
A produção embrica fixa deverá atender a grandes demandas que
por sua vez representarão produções de grandes séries de
componentes e conseqüentemente economia de escala. Espera-se
que o preço das construções industrializadas possa ser reduzido assim
como o aconteceu com os aviões, automóveis e amesmo com a
eletrônica. Um sistema construtivo que associe a rapidez do processo
industrializado com as características de desempenho de uma obra
convencional possivelmente, em pouco tempo, traz para si boa parte
do mercado da construção.
e. Menores desperdícios em relação à construção tradicional.
Os valores relacionados a desperdício de materiais em obras
convencionais são, em muitos casos, da ordem de 20% da quantidade
de material utilizado. Segundo a Prefeitura do Município de São
Paulo, a construção dentro da área Metropolitana gera um volume
de 17.000 toneladas de entulho por dia. Trata-se de uma quantidade
que em poucos anos o poderemos mais absorver, criando não
apenas problemas de sustentabilidade e meio ambiente como tamm
onerando a construção civil. A estrutura pré-fabricada, na sua maior
parte, permite adaptações e modificações posteriores, o que faz com
que seja muito menor o número de demolições de edifícios inteiros.
Podemos imaginar que, com a rápida evolução tecnológica atual,
caso não avancemos para novas soluções construtivas em poucos
anos estaremos habitando edicios obsoletos, de difícil adaptação e
transformação.
Numerosos estudos sobre o aproveitamento do entulho - ou
resíduos da construção e demolição, RCD - gerado pela construção
civil vêm sendo realizados, levando-se em conta fatores como
conceitos de prodão enxuta, ciclo de vida útil, desenho ambiental
e reciclagem. Podemos dizer que a construção industrializada pode
atender perfeitamente a todos estes requisitos. As construções do
tipo convencional, por sua vez, não possuem registro das atividades
e da forma com que foram constrdas, causando problemas e
novamente desperdício de materiais quando necessidade de
alterações no decorrer do uso da edificação. A falta de uma
coordenação modular também é responsável por perdas no uso dos
materiais. A importância em se edificarem edifícios pré-fabricados
o está apenas na rapidez de execução de soluções, mas, na
possibilidade de intercambialidade e reuso dos componentes, que
172
Projeto de Arquitetura
não seo descartados assim como ocorre hoje em dia, representando
um grande ônus global.
A pré-fabricação contribui também, com a existência de
canteiros mais limpos e a organização da construção é mais eficaz.
As peças a serem erguidas são dispostas perto do local de uso.
f. Desempenho mais preciso da edificação no que diz respeito ao
controle de projeto e execução. Um dos mais importantes benefícios
da construção industrializada, em geral, está no fato de que os
sistemas são continuamente experimentados. Sendo assim, as
fraquezas e defeitos podem ser corrigidos em futuros projetos.
Diminui portanto os reparos em fuão de mal funcionamento
decorrentes de erros de projetos básicos e de execão. A precisão de
esquadrejamentos minimiza, por sua vez, os custos com desperdícios
de revestimentos.
g. Maior facilidade de controle e qualidade de acabamentos.
Projetos modulados (Coordenação modular) facilitam o uso de
componentes padronizados, fabricados previamente e montados na
obra (pré-fabricados). Os elementos de preenchimento da super-
estrutura dependerão das necessidades internas de conforto
ambiental. Ao contato com o ambiente externo somam-se outros
elementos pré-fabricados, que determinarão aspectos do contato com o
exterior como é o caso das fachadas envidraçadas e de possíveis
proteções solares, como brise-soleil. Desde que tratados modularmente,
em relão à estrutura, estes elementos podem ser propostos com o uso
de materiais e veis tecnológicos que possam ser executado em várias
regiões do país.
h. Melhorias das condões de trabalho dos operários da
construção civil. É comum imaginar que a construção
industrializada é viável apenas nos países mais ricos e
industrializados, no entanto, é uma solução para todos os países
onde haja falta de o-de-obra qualificada, ou, nos países em
desenvolvimento que possuem abundância de mão-de-obra, porém,
esta não está precisamente qualificada. No passado, o custo de uma
obra dava-se essencialmente pela quantidade e qualidade dos
materiais nela empregados. Hoje em dia, cada vez mais, existe um
importante aspecto relacionado ao custo da o-de-obra, que,
diferentemente de um acréscimo natural de custos da matéria-prima,
sofre uma forte alta provocada por rios fatores da economia,
Arquitetura da Indústria
173
inclusive uma melhora do vel de vida da população, que se sente
de forma muito mais novel nos países desenvolvidos.
A produção realizada embrica fixa, agrega benefícios aos
trabalhadores da construção, como registro trabalhista, planos de
saúde, rotina produtiva e aperfeiçoamento técnico, deslocamentos
constantes, espaços de trabalho com melhores condões de conforto,
dentre outros.
A construção industrializada, no país, no entanto, não recebe
investimentos governamentais no sentido de seu desenvolvimento
técnico e tecnológico, o que pode ser entendido pela hipótese de
que o setor é o que mais absorve a mão-de-obra não qualificada
abundante no país, junto com o setor de Produtos Alimentícios. O
Estado a atividade tradicional como uma forma oportuna de
absorção de mão-de-obra desqualificada, gerada pelo ciclo vicioso
da falta de investimentos na educação da população. Porém, a mesma
indústria da construção, que gera muitos empregos, desemprega com
a mesma facilidade. Isso poderia não ocorrer com a transferência da
construção para a fábrica.
“No Brasil, quando o assunto é o desenvolvimento ou ações
de governo para o desenvolvimento, a construção civil é considerada
como um dos setores de maior importância, tanto na absorção de
mão-de-obra quanto na medição de crescimento econômico, tal o
significado e dimensão de seus números no cálculo do PIB.
No entanto, pela importância dos bens que produz e pelo
número de pessoas que envolve, o setor da Construção é ineficiente
no processo construtivo pois interesses econômicos em vigor e a
falta de políticas públicas não promovem o aprimoramento
tecnológico necessário para melhorar a qualidade final dos produtos,
das condições gerais de trabalho, do vel cultural da mão-de-obra
e, por final, para diminuir o ficit habitacional nas áreas urbanas
brasileiras.(ROSA, 2006, p. 13)
trinta anos, BRUNA (1976, p.13) já destacava o problema
das construções realizadas segundo o método tradicional, destinadas
à habitação, no entanto, podendo ser expandida a todas as áreas da
construção:
“() A construção tradicional justamente por ser
uma somatória de atividades artesanais requer
um extenso contingente de mão-de-obra
especializada. O emprego de operários não
qualificados é teoricamente limitado; na prática,
porém, altíssimo, a ponto de o padrão atual das
construções, nos grandes centros urbanos,
174
Projeto de Arquitetura
principalmente o Paulo e Guanabara, estar
comprometido, pois está sujeito a ineficncias
de toda ordem, a desperdícios de materiais e
homens-hora, o atraso nos prazos e, em
conseqüência, a apresentar um altíssimo custo,
apesar dos salários pagos à mão-de-obra serem
irririos. A solução proposta no sentido de
promover a formação de operários
especializados, além de ser longa, é cara,
correndo-se o risco de formar uma mão-de-obra
anacrônica, porque de baixa produtividade e
porque significa manter uma estrutura de
trabalho artesanal. A racionalização e a
mecanização dos todos construtivos parece
ser o caminho para integrar extensos
contingentes de mão-de-obra não qualificada;
a máquina pode ser operada por trabalhadores
cujo treinamento é muito curto, e a economia
de escala pela produção em massa é o único
meio para baratear o custo final da
habitação.(...)”
i. Desenvolvimento tecnológico e aplicação de tecnologias de
ponta. O edifício industrial do futuro deverá estar totalmente
relacionado a sistemas estruturais pré-fabricados. A indústria, como
atividade que busca a excelência tecnológica, hoje em dia, representa
o ramo dentro da construção civil responsável por muitas das novas
experiências em relação aos sistemas construtivos industrializados.
A maior parte de novos materiais e sistemas, que vem sendo
desenvolvida para a aplicação na Arquitetura, tem sua porta de
entrada no mercado por meio de seu uso nos edifícios industriais.
As novas tecnologias, materiais e métodos construtivos passam por
uma fase de desenvolvimento acelerado e influirão definitivamente
sobre os edifícios industriais a serem constrdos. O setor da
construção civil abrange uma multiplicidade de materiais que são
utilizados e está constantemente aberta ao desenvolvimento de novos
produtos.
Dentre os novos materiais podemos citar, basicamente, 7
classes que passam por grande desenvolvimento: cemicas, vidros,
tecidos, semicondutores, materiais compósitos, metais e pomeros.
A condição tecnológica de grande quantidade de laboratórios de
desenvolvimento de materiais, permite que os pesquisadores
coloquem em prática a idéia do físico norte americano Richard
Feynman (prêmio Nobel de Física em 1965), de 1950 que aponta
para que no futuro os engenheiros poderiam pegar átomos, colocá-
los onde bem entendessem e, desta forma criariam materiais com
propriedades inteiramente novas. De fato, a nanotecnologia permite
Arquitetura da Indústria
175
que se manipule, crie e avalie materiais um bilionésimo menores do
que um metro. Nesta dimensão, os materiais possuem
comportamentos especiais e maior eficiência nas suas propriedades.
Para garantir o desempenho desejado destes novos produtos, é pré-
requisito essencial que sejam consultados os respectivos
especialistas. No Brasil, são poucas as pesquisas privadas neste
sentido, sendo que os desenvolvimentos, em sua maioria, são
creditados a laboratórios de universidades. Citando em parte ADAM
(2004, p. 21), podemos observar desenvolvimentos atuais neste
sentido, como por exemplo:
i. O desenvolvimento de fontes luminosas como é o caso do LED
(diodo emissor de luz, ou, em ings, Light Emitting Diode) que
vem se demonstrando uma potente fonte de iluminação, com baixo
consumo etrico e pouca geração e desperdício de calor, além de
possuir vida útil de até 100.000 horas em operação. Apesar dos custos
ainda elevados, seu uso vem sendo difundido.
ii. A instria do vidro, por sua vez, é responsável por progresso
significativo. Hoje em dia, encontra-se disponível no mercado um
amplo leque de novos tipos de vidro, com características específicas
de desempenho, dentre elas: melhor resistência térmica, fatores mais
elevados de proteção solar e até mesmo vidros com capacidade
surpreendente de suportar cargas.
iii. A tecnologia de colas e adesivos passa por grande evolão e
vem criando novas possibilidades com o advento de novos materiais
compósitos, como por exemplo, as telhas do tipo “sanduíche”, que
possuem desempenho térmico e acústico.
iv. Materiais leves novos, sendo alguns deles desenvolvidos pela
indústria aero-espacial.
Os novos desenvolvimentos relacionados à aplicação de
placas de gesso acartonado substitui em alguns casos a presença de
alvenarias pesadas e de uso de concreto. Possui a vantagem da pré-
fabricação, maior flexibilidade e obra seca. É utilizado amplamente
em divisórias sob a forma conhecida como dry-wall”, que são placas
de gesso estruturadas por aramado em perfis leves de zinco. Vem
sendo desenvolvido, por outro lado, materiais à base de gesso que
possuam elevada resistência menica e que possam ser utilizados
para resolver problemas estruturais. Estas peças, segundo os
176
Projeto de Arquitetura
fabricantes,o conseguidas atras da adição mínima de água para
satisfazer a reação de hidratação, resultando em peças mais densas,
e portanto, de maior resitência menica. Quando em forma de
material compósito: gesso-fibras (de papel, coco, bananeira, dentre
outras), o material passa a ter desempenho como isolante acústico e
térmico.
Segundo Di Giulio (19-?, p.41-2), o material ainda possui
vantagens de ser não combustível, 100% reciclável, de baixo custo,
não causador de poluição no seu processo de fabricação e seu uso
na construção ajuda a reduzir o emprego indiscriminado de madeira.
O pesquisador da USP de São Carlos, Milton de Souza (Di Giulio,
19-?, p.44) observa ainda que duas formas conhecidas de gesso:
o mineral e o fosfogesso, ou sulfato de lcio hidratado, resultante
da produção de fertilizantes fosfatados. Esse material é encontrado
facilmente na região Sudeste do país em montanhas de rejeito
industrial. O problema é o tamanho das partículas que o demasiado
grandes para a aplicação em placas. Pesquisas desenvolveram
esse material para uso como reboco.
v. A tecnologia da informática permite a adaptação dos
edifícios ao ambiente externo, controlando as condições internas,
durante o curso dos dias e épocas do ano, com base em valores pré-
determinados, mas tamm, o controle individualizado do ambiente
de trabalho.
vi. Novos materiais cerâmicos e vitrocerâmica utilizados para
revestimento arquitetônico, que imitam materiais como o granito e
mármore, por exemplo, em extinção. O nome vitrocerâmica vem do
fato que o material utilizado, no caso das pesquisas do LaMav, da
Universidade Federal de Santa Catarina, não é vidro puro, pois este
possui estrutura molecular desorganizada. As propriedades do
de vidro são melhoradas a partir da cristalização e passam a
apresentar maior resistência mecânica.
vii. Metais de memória. As ligas melicas com memória de
forma (SMA “Shape Memory Alloys”) o materiais que podem
ter sua forma recuperada mesmo depois de severamente deformados.
Isso o ocorre apenas com metais, mas também com polímeros,
materiais cemicos e biológicos, como é o caso do cabelo humano.
No entanto, os metais encontram interessante aplicação na
construção civil. Acredita-se que, no futuro, estruturas inteiras
Arquitetura da Indústria
177
possam ser transportadas “amassadas”, de maneira a reduzir seu
volume, e terem sua forma recuperada no local de instalação, através,
por exemplo do aquecimento da liga até certa temperatura.
Existem, no entanto, problemas relacionados aos sistemas
construtivos pré-fabricados:
a. Custos elevados de desenvolvimento e instalação de
bricas. As empresas construtoras, por sua vez, investem com
desconfiança em tecnologias de pré-fabricação total”, uma vez que,
para poderem entrar em contratos de financiamento devem ter sido
bastante experimentadas, para conseguir a homologação perante aos
organismos de crédito bancário. Os sistemas pré-fabricados para a
habitação esbarram, também, nas questões das legislações
municipais, regionais e claro, entre os diferentes países. Em muitos
casos, os sistemas construtivos pré-fabricados disponíveis o se
adaptam aos planos diretores de uso do solo de certas localidades,
geralmente em função do atraso desses mecanismos de planejamento
urbano em relação ao estado da arte da construção.
Existem riscos de desenvolvimento industrial provocados
pelo conhecimento insuficiente da disciplina por parte de
engenheiros e arquitetos. SCHIMID e TESTA (1969, 232) ilustram,
por exemplo, o desuso de alguns sistemas construtivos
industrializados com o caso das pesquisas com plásticos dos anos
cinqüenta. O material, utilizado em alguns protótipos, demonstrava-
se como o material do futuro na arquitetura. No entanto, tempos
depois se demonstraram insuficientemente resistentes ao clima, ao
fogo e possuíam características muito falhas em relação ao suporte
de cargas. Semelhante problema aconteceu na cada de 60, com a
intenção de se difundir o uso do alumínio. Nesse caso, tudo era
produzido com o mesmo material, ao ins de se utilizarem materiais
mais adequados para certos usos. Algumas tentativas, nos mesmos
anos de se executarem casas em estrutura metálica de aço foram um
fracasso, sendo que grandes empresas da construção chegaram a
falir. A razão do insucesso foram as poucas pesquisas de mercado,
falta de qualidade por parte dos desenhistas, e a quase que tentativa
de imposição de uma arquitetura que não era culturalmente aceita.
Nota-se aqui, portanto, a necessidade do treinamento dos arquitetos
e desenhistas industriais a respeito da disciplina específica que é o
desenho de sistemas construtivos industrializados e toda a
complexidade que esta atividade pode trazer.
178
Projeto de Arquitetura
“A indústria resolveu o problema dos custos,
introduzindo o trabalho em cadeia como um
primeiro passo em dirão à automação total do
processo construtivo. Na construção de edifícios
se utiliza apenas uma pequena parte dos recursos
científicos disponíveis e se avança muito
lentamente pelo caminho em direção ao
progresso. Impõe-se uma renovação dos métodos
operativos e de projeto.”
(OLIVERI, 1972, p. 2)
SCHIMID e TESTA (1969, p.234) propõem como novo passo
um esforço por parte dos arquitetos para unirem-se ao
desenvolvimento da construção industrializada e para que isso ocorra
é necessária uma aproximação de estudo dos arquitetos aos sistemas
industrializados, e um elo mais próximo entre as escolas de
arquitetura e a indústria da construção.
“Os gastos ocasionados pelas pesquisas experimentais
e a aceitação dos resultados adquiriram dimensões
sempre maiores e de tal magnitude que justificam a
crião das marcas de fábrica’: nasceram assim os
sistemas de pré-fabricação e com eles o mito da
industrialização (...) (OLIVERI, 1972, p.38)
b. Custos iniciais mais elevados em relação aos custos de construções
tradicionais. Em geral, sistemas construtivos para o uso em
arquitetura industrial exigem investimentos iniciais altos, o que
deveser estudado pelo proprietário, que decidipelos sistemas
ou o. Quase sempre, o futuro das empresas tem um componente
importante de incerteza. O difícil então será identificar um sistema
que seja economicamente viável, dentro do melhor custo benefício.
Deve-se apontar ao fato de que cada caso deve ser estudado de
forma meticulosa.
c. Sistema Tributário brasileiro que penaliza o uso de peças
industrializadas em usina fixa. Deve-se levar em conta, em relação
a sistemas construtivos pré-fabricados, tanto concreto pré-moldado
como estruturas metálicas, a incidência de impostos para produtos
industrializados, o que não ocorre em estruturas moldadas in loco.
Neste último caso, os impostos incidem apenas sobre o valor de
alguns dos materiais utilizados, como por exemplo, o cimento.
d. A pré-fabricação em brica fixa, dependendo da distância
do local de montagem, pode significar uma contradição do ponto
Arquitetura da Indústria
179
de vista energético, ou, como está em voga, do ponto de vista de
sustentabilidade. Por outro lado, dependendo do solo e das cargas,
as fundações necessitam ser moldadas in loco. Ainda é muito difícil
que a pré-fabricação se por completo, tendo que coexistir com
trabalhos convencionais, o que dificulta a manutenção de equipes
filosoficamente o distintas dentro das empresas construtoras.
e. Necessidade de produção de grandes séries para ser viável
economicamente. SCHIMID e TESTA (1969, 232) no seu livro
intitulado “System Buildings” apresentam algumas hipóteses em
relação às falhas contidas nesses sistemas. Um dos primeiros
problemas apresentados remete-se à produção maciça de
componentes para unidades de edificação semelhantes. O mercado
norte-americano demonstrou a falta de interesse por unidades sempre
iguais, pelo contrário, esperavam processos produtivos que se
transformassem numa quantidade de desenhos distintos o maior
possível.
f. Os componentes pré-fabricados precisam ser manuseados com
cuidado, o transporte define inclusive o projeto. No caso de
edificações industriais distantes, deve se levar em consideração o
tamanho ximo das peças, de forma que estes possam ser
transportados pelos meios de transporte disponíveis e possam passar
por trecho da linha de transportes que passem por obstáculos naturais
como é o caso de pontes e túneis.
g. Deve se atentar ao projeto das junções, verificando-se a
resistência à corroo. Vazamentos são comuns em junções mal
projetadas ou mal executadas na montagem das obras. Uma das
maiores dificuldades da pré-fabricação diz respeito à qualidade de
detalhamento das juntas. Por esse motivo, muitas vezes, torna-se
inviável a execução de fábricas que requerem ambientes limpos com
esse tipo de sistema, optando-se por estruturas moldadas in loco e
com menor quantidade de juntas, resumindo-as apenas àquelas que
se destinam a combater os esforços de dilatação estrutural.
h. Transporte pode ser muito mais custoso para componentes
volumosos do que para componentes mais simples, que podem
ser transportados de forma mais compacta.
180
Projeto de Arquitetura
i. Componentes muito grandes e pesados exigem equipamentos
grandes e custosos com precisão para posicionar as peças no
local adequado. Tolerâncias dimensionais devem ser maiores.
Deve-se analisar a possibilidade de entrada de equipamentos de
grande porte no canteiro de obras. Grandes estruturas pré-fabricadas
o erguidas com o uso de um ou amesmo dois guindastes de
grande porte, simultaneamente. Essa dificuldade inviabiliza
principalmente execução de edificações industrias em áreas urbanas.
Os profissionais do setor da construção, mais
especificamente relacionados ao projeto, também esbarram em
problemas quando pretendem especificar os sistemas construtivos
industrializados que são entre eles:
j. Pouco se conhece ou o se tem informações suficientes sobre
os sistemas construtivos disponíveis. O Brasil, especificamente o
Estado de São Paulo, teve em distintas épocas, iniciativas
relacionadas à industrialização da construção, um dos temas centrais
da arte de construir nos nossos dias. O impulso neste sentido vem
sendo dado desde a década de 80 (presença muito forte dos pré-
fabricados de concreto) com a, cada vez maior, internacionalização
da economia e chegada de empreendedores estrangeiros habituados
com a utilização de pré-fabricados e com as obras rápidas. O mercado,
ainda muito ligado às robustas peças de concreto armado pré-
moldado, deverá, nos próximos anos, exigir mudanças no sentido
do que vem se produzindo ao redor do mundo: novo desenho, novos
materiais, e novas composições dos materiais existentes.
“Os pré-fabricados de concreto, por outro lado,
deixaram de ser “commodities”, peças prontas de
prateleira à espera de compradores. Os fabricantes
adaptam-se a cada projeto, fornecendo o sistema mais
adequado às necessidades de cada obra. Essa
customização mostra que o foco mudou em direção
ao cliente. Numa analogia com a indústria
automobilística, a construção pré-fabricada, antes,
seguia a linha fordista: hoje é kanban, com uma
concepção flexibilizada, voltada para o usuário.”
(YAGIU, In MEDEIROS, 2003, p.40)
h. As informações existentes disponíveis em catálogos quase
sempre são insuficientes para o profissional se certificar da
qualidade do produto em relação ao convencional. A construção
industrializada requer uma nova metodologia que, por sua vez, requer
uma adaptação mental e técnica para que possa gerar resultados de
Arquitetura da Indústria
181
interesse. Essa nova metodologia requer inserção de novos campos
para a atuação do arquiteto como o planejamento do Canteiro de
Obras. Nas próximas décadas espera-se que os métodos tradicionais
da construção, baseados nas habilidades artesanais dos operios,
sejam substituídos pela industrialização e automação, como ocorre
em outros ramos de atividades que já se encontram mais similarizados
à Era da Informação.
Assim como descreve CAMPOS
50
, a respeito do caso do
concreto pré-moldado, a falta de informações acarreta a o
exploração da potencialidade do concreto pré-fabricado, o que gera
um círculo vicioso.
Ou seja, não se constrói porque não insumos
tecnogicos (conhecimentos, experncia, equipamentos
e dispositivos auxiliares) e não há insumos tecnogicos
porque não se empregam em larga escala, nas
construções, os pré-fabricados de concreto, como
comenta o prof. Mounir Khalil El Debs.”
k. Acredita-se que as construções industrializadas determinem
sempre as mesmas soluções formais. No entanto, os sistemas
construtivos industrializados permitem soluções muito diversas,
ocorre porém, que quase sempre o serão espécimes únicos.
l. Mesmo contando com informações quanto aos sistemas, os
profissionais nem sempre dispõem de método eficiente que lhes
permita comparar e decidir com firmeza sobre o mais adequado,
à solução do seu projeto. Foram poucos os esforços nacionais de
classificação dos sistemas construtivos pré-fabricados. De fato,
ocorreram apenas com o concreto pré-moldado, no entanto, de forma
não contínua, limitando os projetistas a trabalharem com peças de
desenho de meados da década de oitenta, quando os lculos e
materiais apresentavam estágio de desenvolvimento tecnológico
muito inferior ao encontrado hoje em dia.
m. Esclarecer se as vantagens de utilizar um determinado
sistema construtivo estão no custo ou no desempenho. Procura-
se as estruturas pré-fabricadas com o intuito de se reduzirem os
custos de execução do edifício, o que nem sempre ocorrerá. Em
50
http://www.abcic.com.br, acesso em 07.11.2008 às 14:48:30 h.
182
Projeto de Arquitetura
alguns casos, no entanto, convém escolher por esses sistemas em
função de sua flexibilidade e desempenho dos elementos. Caberá
ao projetista apresentar aos proprietários de indústrias, de forma
mais clara possível, os benefícios da industrialização da construção
e ser cauteloso a respeito dos custos em relação a edificações
construídas segundo todos tradicionais.
e. Saber por que, como e onde usar sistemas construtivos
industrializados e quanto eles atendem as necessidades de um
determinado projeto. Assim como descrito anteriormente, alguns
edifícios industriais teo dificuldades em ser executados de forma
pré-fabricada, principalmente no que diz respeito a juntas e materiais
utilizados. O projetista deveser o responsável por levantar todos
os benecios e desvantagens advindos da pré-fabricação caso a caso.
Alguns dos elementos para essa análise seo descritos a seguir.
Arquitetura da Indústria
183
11. PROJETO DE EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS COM
SISTEMAS PRÉ-FABRICADOS
Conhecem-se sistemas construtivos muito completos para
as construções industriais, desenvolvidos durante todo o século XX,
sendo que apenas alguns deles ainda encontram-se disponíveis no
mercado. As diferenças principais entre eles estão nos materiais,
sistemas estruturais e tecnologia que define a sua integração. A busca
por essas soluções tem seu incentivo na sistematização da construção,
utilizando-se como base a organização modular, a iia e desenvolver
ao ximo as partes da edificação e integrá-las de forma que
funcionem como um conjunto.
O prinpio atual da pré-fabricação não é desenvolver um
único produto ou sistema fechado que possa solucionar todas as
questões programáticas do edifício industrial, mas, criar ferramentas
e diretrizes para a solução de diversos problemas. Acredito, no
entanto, que as soluções gericas” poderão conduzir a edifícios
de interesse e que respondam com qualidade às características
funcionais am de provocarem interesse sob o aspecto formal.
O desenvolvimento de softwares” será fundamental dentro deste
campo de atuação. Os CAD permitem a resolução de problemas
complexos de compatibilidade de instalações e modulação dos
sistemas. Um interessante exemplo neste sentido é o trabalho do
Professor Fritz Haller na Universidade de Karlsruhe, na Alemanha.
Haller foi o arquiteto da fábrica da USM, referência da pré-fabricação
do edifício e mobiliário na Arquitetura Industrial, apresentado
brevemente. O sistema ARMILLA, como ficou conhecido, utiliza-
se dos “softwares” CAD para a resolução de problemas de integração
de infraestrutura e estrutura portante do edifício. Todo o
planejamento se de maneira tridimensional. O tipo de estrutura
utilizado no sistema MAXI-MINI-MIDI, resultante desse
planejamento, é metálico. Percebe-se, no entanto, limitações formais
em relação a este sistema que se apresenta como o “estado da arte”
em relação ao nível de pré-fabricação e controle da execução de
edifícios industriais em todos os seus componentes. Será difícil
atender à multiplicidade de configurações de construções industriais,
sendo assim, não podemos deixar de lado nenhum tipo de material
disponível para esse fim. Encontram-se exemplos muito interessantes
a respeito de soluções estruturais. De fato, se percebeu as
184
Projeto de Arquitetura
Figura 115 - Planta esquemática USM, Fritz
Haller, Münsigen, SUI.
Pode-se verificar as diversas fases de
expansão da fábrica.
vantagens advindas de edificações industriais realizadas de forma
mista, muitas delas em pilares de concreto pré-moldado e coberturas
metálicas, conforme se apresentado a seguir.
O Brasil ainda se apresenta muito aquém de iniciativas de
tal ordem dentro da construção industrializada. A tradição construtiva
brasileira e as empresas aqui instaladas fazem com que o concreto
armado seja o mais utilizado, seguido pelo aço, que vem ganhando
força nos últimos anos apesar do alto valor deste material no mercado
internacional, e por último, em menor importância dentro da
arquitetura industrial, encontramos a madeira.
Na maioria dos exemplos práticos, a pré-fabricação é
trabalhada apenas na estrutura e os vêdos e instalações continuam a
ser realizados segundo os métodos tradicionais. A maior parte dos
sistemas foi importado cadas e permanecem tal como eram,
com pequenos desenvolvimentos no sentido de cálculo de estruturas
e desenvolvimento do conhecimento a respeito dos materiais. A falta
de normatização do setor é um dos maiores adversários ao
crescimento. Obras com inovações tecnológicas encontram
dificuldade na obtenção de financiamento junto aos bancos públicos,
o que deverá ser atentado, uma vez que as edificações industriais
exigem vultuosos investimentos.
A eleão do sistema pré-fabricado a ser utilizado dependerá de
diversos fatores, dentre os quais a disponibilidade no mercado e do
Arquitetura da Indústria
185
preço dos materiais no momento da construção, características cnicas
(modulação, dimensão dos maiores os, suporte de cargas). Os
mateiriais de construção e estruturais devem seguir princípios do
planejamento do processo de produção, descritos em capítulo anterior.
A forma construtiva das naves industriais deve acoplar-se sempre ao
tipo de maquinário que se pretende albergar, sendo determinante a
previo de pontes rolantes, cadeias de produção, etc.
“Todos os sistemas – o concreto convencional,
o pré-fabricado, a estrutura metálica são típicas
respostas de planejamento, cabendo aos planejadores
determinar a estabilidade, a segurança, a durabilidade,
o processo de execução e o resultado arquitetônico
artístico.” (BROOS, 1989, p.93)
As propriedades a serem observadas na escolha dos
materiais estão descritas abaixo:
186
Projeto de Arquitetura
11. 1. Materiais
a. ConCreto armado
O uso, no Brasil, dos pré-fabricados em concreto armado é
o mais freqüente. No entanto, apesar da grande quantidade de usinas
fabricantes de peças em concreto armado encontrada hoje em dia, o
detalhamento destas peças ainda é pouco desenvolvido, o que gera
problemas de junções e tolerâncias dimensionais nos sistemas
existentes.
51
As estruturas funcionam, em geral, em pórtico, pórtico com
vigas de cobertura em grandes os (galpões), em esqueleto (com
cleo de rigidez moldado in loco ou pré-moldado), estrutura
formada por paredes (sistema “envelope”), estruturas de baixa altura
com pilares interiços engastados na fundação, estruturas mistas. Não
limites técnicos em relação ao número de pavimentos da
edificação. Executam-se edifícios de grande altura, por exemplo,
20 pavimentos (com núcelo de rigidez e algumas paredes moldadas
in loco e com armadura reforçada para resistir aos esforços de
cisalhamento).
Os elementos construtivos usuais são pilares, vigas (terças,
vigas retangulares invertidas, vigas retangulares para pisos, vigas
invertidas, vigas “I” retas, vigas “I” com inclinação, vigas principais
de cobertura), lajes (alveolares, duplo “T”, Pi, pré-lajes treliçadas,
“steel deck”), telhas, cálices para fundação e escadas. Podem ser
executados elementos especiais, como calhas de água pluvial,
eletrodutos, outras instalações, mantas impermeabilizantes e
revestimentos, todos realizados em fábrica. Além destes, vigas
platibanda, vigas de cobertura, vigas calha, viga de peitoril, insertes
metálicos, ligações parafusadas, consolos metálicos, paredes planas
compostas ou não. Dependerá do calogo de elementos de cada
fabricante, em função das fôrmas disponíveis. Atras de fôrmas
especiais podem, inclusive serem executadas peças para seção de
abóbadas ou cascas, sendo que é viável a execução a mesmo de
pas que geometricamente configurem-se como parabolóides
hiperbólicos. Convém que os detalhes das peças sejam simples.
Ligações complexas, justificáveis apenas em áreas sujeitas a
terremotos.
51
CAMPOS, Paulo Eduardo F. de, Capitulo II , Manual de Pre-fabricação. Publicação da
Associação Brasileira da Construção Industrializada ABCIC.
Arquitetura da Indústria
187
O material possui alta condutividade térmica uma vez que,
para que se adapte ao nosso clima tropical, deveria haver um maior
cuidado no detalhamento das peças, principalmente de vedação de
coberturas e fachadas. Essas soluções tecnológicas, apesar de não
disponíveis no mercado brasileiro, nasceram junto com os primeiros
sistemas de pré-fabricação em concreto armado para os edifícios
industriais desenvolvidos em continente europeu. O Sistema Imbau,
do fabricante aleo Imbau Spannbeton GmBG & Co., de
Leverkusen, utilizado na cada de 50, possuía placas de fachada
executadas em três capas, sendo as duas capas externas de concreto
armado e a camada interna em material isolante térmico. No mais, o
sistema consistia em galpões executados com pilares engastados às
fundações e vigas de cobertura protendidas apoiadas sobre vigas de
borde conectadas livremente aos pilares. Foi projetado para módulos
de galpão de 40,00x60,00 metros, que podiam ser em um único
pavimento ou verticalizados, e o módulo estrutural era de 5,00
metros. O módulo básico, utilizado ainda hoje, tanto para o concreto
pré-moldado quanto para o aço, no entanto, é de 300mm (3m), porém
trata-se de Sistema padronizado, ou seja, podem se utilizar diversas
seções e comprimentos, apenas ajustando-se as rmas em fábrica.
A modulação não é impositiva, mas influi no custo. A modulação
baseada na largura e comprimento da laje é a ideal.
No caso do sistema DYWIDAG-MONTAGEBAU, do
fabricante Dyckerhoff & Widmann KG, de Munique, os painéis de
fechamento de fachadas em duas camadas eram executados
inteiramente em concreto pré-moldado, sendo que utilizava-se
exteriormente o concreto pesado e interiormente o concreto leve,
formando-se uma camada intermediária de ar, que propiciava alto
índice de desempenho térmico.
Em geral, estruturalmente, os edicios industriais em
concreto pré-moldado apresentam formas e elementos semelhantes.
Os diversos sistemas patenteados, buscavam, no entanto,
diferenciação nas juntas e formas das peças. O sistema Normko, de
Essen, da década de 50 do culo passado, tinha como diferenciação
as vigas de cobertura executadas como cascas autoportantes com
seção semicircular. Am de conferir aspecto formal interessante às
edificações em dente de serra, adequavam-se perfeitamente à
execução de sheds de ventilação e iluminação das áreas produtivas.
Outros sistemas, como o aleo S.T.F. (Stahlbeton
Fertigbau), um pouco mais completos, ainda previam peças especiais
188
Projeto de Arquitetura
e mais leves para a construção de diversos pavimentos e peças
especiais para pontes rolantes, com vigas de vão luz de até 30 metros
de comprimento sem apoios intermediários. Neste caso, as placas
das coberturas, também eram executadas em placas planas em
concreto especial. O sistema alemão Rostan, por sua vez, tamm
previa a cobertura executada em elementos de concreto, neste caso
vigas calha de até 3,00 metros de largura e comprimento de a 24,00
metros. Este sistema o destinava-se apenas à construção de
edifícios industriais como tinha a qualidade de poder ser utilizado
para a execução de edifícios de escritórios. Neste caso, permitia
pavimentos livres com fachada livre e janelas corridas, segundo os
princípios da Maison Domino de Le Corbusier.
Segundo VASCONCELOS (2002, p. 13), parece que a
primeira utilização em larga escala de elementos pré-moldados em
concreto ocorreu na execução do hipódromo da Gávea, no Rio de
Janeiro, realizada pela empresa dinamarquesa, com filial no Brasil,
Christiani-Nilsen, no ano de 1926. Na arquitetura industrial, no
entanto, ocorreu tempos depois através da construtora Ma,
especializada em bricas. Apesar do grande hiato entre 1926 e a
década de 50, este parece ser o segundo capítulo da pré-fabricação
em concreto armado no Brasil. Executaram-se então vários galpões,
com destaque para a tecnologia utilizada em alguns deles de pré-
fabricação no canteiro de obra, onde as peças eram executadas
deitadas, uma sobre as outras, sendo separadas apenas por meio de
um papel parafinado. A interessante técnica permitia a execução de
até 10 peças, uma sobre as outras.o era necessário esperar que o
concreto endurecesse totalmente. São importantes exemplos de obras
desta construtora a fábrica ELCLOR, em Rio Grande da Serra, o
Curtume Franco-Brasileiro, em Barueri, a brica da AEG, em
Jundiaí, a ampliação do edifício da fábrica da Ideal Standard, em
Jundiaí e a cobertura pré-moldada do Pavilhão da Atlas –Copco, em
São Paulo. No caso do Curtume Franco-brasileiro as tesouras da
cobertura foram executadas em forma de viga Vierendeel curva, o
que demonstra mais uma vez a ampla gama de possibilidade de
execução de peças diferenciadas.
Cada uma das empresas, mesmo no Brasil, caracterizava-se
por um produtopico. No caso, por exemplo, da CONSID, uma das
maiores empresas de pré-fabricados do país, esta peça era a telha
protendida leve de seção W, que surgiu em 1969, para a brica de
Papel Simão, em Suzano, com vão de 21,8m (VASCONCELOS,
2002, p.45).
Um dos primeiros sistemas em concreto armado para
Arquitetura da Indústria
189
edificações industriais foi publicado no Brasil, na Revista Acrópole,
durante a década de 50, tendo sido utilizado na brica da Pirelli
S.A. Cia. Ind. Brasileira, no Rio de Janeiro, brevemente descrito no
capítulo a respeito da História da Edificação Industrial. O sistema
utilizado na época chama-se Toschi (criado pelo engenheiro Luis
Toschi).
As premissas principais deste sistema, que se baseava em
elementos construtivos em peças pré-fabricadas de concreto armado
vibrado, eram a elasticidade de soluções estruturais e a possível
desmontagem das estruturas para que estas pudessem ser
integralmente reintegradas em outro local ou que simplesmente
pudessem responder à evolução e articulação de problemas futuros.
Os pilares eram em concreto armado pré-moldado comum e as peças
da cobertura em concreto protendido. Descrevem que nessa época a
solução maios econômica seria a madeira, no entanto, o concreto
pré-moldado, de custo inferior ao aço oferecia garantias ao material
armazenado contra o perigo de incêndios, e oferecia a vantagem de
um menor prêmio de seguro em relação às estruturas em outro
material.
São, portanto, vantagens do material uma boa resistência
mecânica, grande ircia, resistência prolongada a inndios e baixos
custos de manutenção. O concreto protendido, por sua vez, é utilizado
para estruturas que devam vencer grandes vãos. Utilizam-se
geralmente as peças com tamanho padrão para a construção de
edifícios industriais, mesmo que causem áreas desnecessárias tanto
Figura 116 - Ancio Edibrás. Fonte: Revista
Acrópole 208.
190
Projeto de Arquitetura
em planta como altura dos pavimentos. O programa de produção
normal é o que prevê naves com luz de 7 a 15 metros. Vãos maiores
não são muito comuns e exigem projetos especiais. As peças com
dimensões especiais podem ser produzidas sem que sejam gerados
problemas técnicos e de execução, no entanto, significarão custos
adicionais à obra, o que fará com que a relação entre o custo ainda
mais baixo da construção convencional com a construção pré-
fabricada dispare e coloque em risco a relação custo-benefício.
No caso de vigas em concreto-armado o protendido,
podemos falar em os de até 24 metros, e no caso de vigas
protendidas, em os que giram em torno de 40 metros. Em função
da dimensão das peças os canteiros de obras, devem ser projetados,
de forma a não haver inconsistências entre o maquinário necessário
e espaço para execução da obra. Isso fica mais evidente em casos de
obras urbanas.
O material, no entanto, possui desvantagens em relação ao
seu peso próprio, que onera os custos com fundações e transportes,
principalmente. No caso das estruturas em concreto armado pré-
moldado, em brica fixa, é necessário que as peças possuam
armaduras extras e seções superdimensionadas para resistir aos
esforços de transporte e manuseio. Não é recomendado para locais
sujeitos a temperaturas elevadas e à projeção de metais em fusão,
segundo VALLE (1975, p.262).
As estruturas em concreto pré-fabricado são indicadas
principalmente para obras onde exista grande repetição de elementos
estruturais. Edifícios de pequeno e médio porte com variações
estruturais freqüentes podem ser mais econômicos em estruturas
metálicas.
O material vem sendo desenvolvido em novas formas de
uso, podendo ser mesclado com agregados diversos que modificam
sua resistência e seu peso. No caso das estruturas pré-moldadas
sempre é necessário se observar o dimensionamento das peças em
função do transporte disponível e das áreas necessárias para a
montagem.
Pode ser reciclado, apesar de no país não se conhecerem
muitos casos.
VALLE (1975, p.260) observa que instrias com a
possibilidade de serem ampliadas ou que possam sofrer alterações
freqüentes nos sistemas de transporte interno e na instalação de dutos
e de tubulações, que se utilizam da estrutura como apoio, têm
desaconselhado o uso do concreto, a o ser que os apêndices
estruturais e reforços necessários sejam antecipadamente previstos
e incorporados ao projeto.
Arquitetura da Indústria
191
A respeito do concreto armado pré-moldado para edificações
industriais, Campos observa:
“Normalmente, as construções industriais requerem
vãos maiores e soluções simples para coberturas e fachadas.
As construções são normalmente projetadas com sistemas
com traves aporticadas, onde a estabilidade é conseguida
pelo engastamento dos pilares nas fundações. Pisos
intermedrios (mezaninos) podem aparecer em toda a
construção ou em partes da mesma. Neste caso, os vãos
variam entre 8/12 m e 15 m ou mais, onde a sobrecarga
varia entre 5 kN/m2 até 1.5/2 kN/m2. Para a combinação
para os maiores vãos e sobrecargas, os elementos de painéis
nervurados protendidos em duplo T são a única solução.
Para outros casos, tamm utiliza-se elementos de laje
alveolar protendida.
Os sistemas para cobertura podem ser em concreto,
concreto celular ou materiais leves como telhas corrugadas
de cimento com fibras ou metálicas. A escolha para o tipo
de cobertura depende basicamente das condições climáticas.
Em regiões frias, predominam os painéis nervurados de
concreto, principalmente devido à sobrecarga de neve, mas
também por requisitos de durabilidade. Por outro lado, em
países quentes a cobertura de concreto é mais interessante
do que a metálica devido à sua capacidade térmica.
Uma solão alternativa para o sistema de trave
aporticada consiste em empregar um elemento de laje
nervurada em duplo T com mesa em duplo caimento para
telhado duas águas, sendo que este elemento apoiado
diretamente em painéis estruturais na fachada (Figura 2.11).
Essa solução oferece grandes espaços internos abertos, com
vãos de até 32 m, com comprimento modulado em 2,4 m. O
direito pode alcançar a8 m. Os pisos intermediários
podem ser utilizados em partes ou em toda a planta da
construção. Os painéis nervurados protendidos em duplo T
são caracterizados por sua leveza e por vencerem grandes
os.(Manual Técnico de Pré-fabricados de Concreto,
1986, ABCI)
Nas construções em concreto armado pré-fabricado, as
rmas, são executadas em aço, e o de diversos tipos, conforme
exemplos, ou mais sofisticadas. Os pilares ou pés-direitos costumam
ser embutidos. Existem também patentes para moldes de alturas
variáveis assim como inclinações graduais de forma que se possa
concretar qualquer tipo de viga. A maioria das empresas brasileiras
trabalha com catálogos de peças muito parecidos, desenvolvidos
em esforço conjunto na década de 80, mas que deveriam ser revistas.
A norma brasileira NBR-9062 Projeto e Execução de Estruturas
de Concreto Pré-moldado - data de setembro 1985 e a publicação
anteriormente citada do ano posterior, 1986, pela ABCI Associação
Brasileira da Construção Industrializada, com o título de “Manual
Técnico de Pré-fabricados de Concreto”.
192
Projeto de Arquitetura
Os edifícios resultam em estrutura pesada, pouco flexível a
modificações simples, o que faz com que em poucos anos muitas
destas edificações se tornem obsoletas ou exijam grandes obras para
modificações de uso. As juntas entre os componentes requerem em
muitos casos o engaste atras de esperas em o solidarizadas
mediante a concretagem dos s após a implantação das peças na
sua posição de uso. Este tipo de solução impede modificações
posteriores sem prejuízos estruturais e das peças. Os países
desenvolvidos atualmente vem buscando sistemas abertos que através
do desenho estrutural permitam o maior flexibilidade de uso e
possuam qualidades de responder a queses ambientais e de
funcionalidade em diversas localidades buscando que as partes fixas
que tenham que se manter inalteradas (estrutura, instalações cnicas)
sejam mínimas como o possível. Para que isso seja possível, os
elementos constituintes do edifício como estrutura de suporte, vêdos
externos, divisórias internas, e instalações, devem ser desenhados
de forma independente mantendo-se apenas condições adequadas
de coneo. Os componentes são separados e classificados segundo
características funcionais e o escolhidos e integrados com base
em um planejamento global da edificação. Cada um dos elementos
pode ser escolhido e modificado sem alteração das outras partes.
Segundo CAMPOS
52
:
“(...) é preciso vislumbrar o futuro: as novas tecnologias à base de cimento,
tais como o CAD e os compósitos; as inovações tecnológicas a-plicadas
na execução de obras recentes consideradas emblemáticas; e
principalmente a contribuição do setor à superação dos enormes déficits
quantitativos e das cancias qualitativas existentes nos países em
desenvolvimento. Estes são alguns dos temas que podem apontar para a
visão de futuro do segmento de pré-fabricados de concreto no Brasil,
lançando metas e visões propositivas que venham a fundamentar a opção
por esta ferramenta tecnológica, a partir da apresentação detalhada de
obras nacionais e internacionais que sirvam de modelos ou efeitos
demonstrativos do potencial da pré-fabricação.
52
http://www.abcic.com.br, acesso em 07.11.2008 às 14:48:30 h.
Figura 117 - O desenho representa o gráfico
de momento fletor sobre uma estrutura de
concreto armado pré-moldado. O projeto em
questão é a Fábrica da Permetal, projeto do
escritório Rino Levi Arquitetos Associados.
Fonte: BRUNA, 1989, p.63 In. Revista Projeto
no.121.
Esta solução específica nasceu de uma
insatisfação com a solução proposta pelso
sistemas pré-fabricados existentes, nos quais
o pequeno espaço disponível na cabeça dos
pilares não resolve, convenientemente, a
transmissão dos esfoos, sobretudo quando
provenientes de pontes rolantes de grande
capacidade. A solução foi executar um
engastamento rígido entre pilar e viga,
transferindo a junta para um ponto próximo
do momento fletor nulo(...).(BRUNA, 1989,
p.63)
Arquitetura da Indústria
193
b. aço
“O uso do aço laminado nas estruturas industriais oferece
como principais vantagens a leveza, no caso de grandes vãos, se
comparada à estrutura de concreto, a facilidade e a rapidez de
montagem e a possibilidade de futuras alterações, de reforços e
mesmo de desmontagem e transferência de local.” (VALLE, 1975,
p.263)
De fato, executam-se estruturas em aço em função da rapidez
de execução, facilidade de transporte, que geram menores custos de
construção (em alguns casos, não levando em conta o preço do
material), obra de simples montagem e menores tolerâncias
dimensionais.
Como apresentado anteriormente, a pré-fabricação melica
exige menor padronização dos elementos do que as estruturas em
concreto pré-moldado. De fato, os edifícios em estrutura melica
seo sempre considerados pré-fabricados uma vez que a estrutura
principal é formada por componentes que serão aparafusados e
soldados em obra, no entanto, que já chegam ao canteiro fabricados
em usina para montagem. Podemos comar a falar em peças, tanto
neste material como em concreto armada, produzidas e desenvolvidas
no Brasil somente após a cada de 40 com a criação da CSN
(Companhia Siderúrgica Nacional). Antes desse período as treliças
metálicas, muito utilizadas nos galpões industriais eram importadas
de países como Escócia e Inglaterra.
A apresentada, no capítulo da História da Edificação
Industrial, fábrica da Arno, de autoria do Arquiteto Rino Levi, foi
projetada com a utilização de vergales cindricos do mesmo tipo
utilizado nas armaduras de estruturas de concreto armado, que foram
soldados constituindo treliças espaciais de seção triangular, solução
que foi seguida em outros projetos realizados pela mesma empresa
de estruturas metálicas, a Sociedade de Moderna Estruturas
Melicas, “Mem” Ltda., de São Paulo.
Os sistemas estruturais mais comuns para as edificações
industriais em estrutura metálica o as grelhas contraventadas,
formado-se elementos estruturais triangulares ou, como apresentado
no capítulo anterior, os pórticos, para os galpões. O primeiro caso
ainda é mais comum em função da economia de material. A
resistência elevada à trão, conseguida com o uso do aço, permite
ainda a execução de interessantes estruturas atirantadas, que podem
194
Projeto de Arquitetura
funcionar como apoios intermediários em vigas e criar imensos vãos
livres de pilares. Sob ponto de vista econômico deverá ser observada
pelo projetista e calculista a disponibilidade de perfis soldados ou
laminados, o fato da base da coluna ser engastada ou rotulada e a
opção em estrutura de alma cheia ou treliçada.
Outra forma de se conseguir grandes os, com casos
conhecidos da ordem de 210m de o, em hangares para aviões é a
utilização de arcos. Os arcos funcionam principalmente a compressão
e a não exincia a suportar esforços de tração os permite ser muito
leves. Estruturas apenas tensionadas podem ser mais leves que as
estruturas em arco, no entanto, exigirão ancoragens mais resistentes.
Estruturas em treliças espaciais tamm são amplamente utilizadas
em construções industriais, no entanto, funcionam adequadamente
apenas para casos onde a função é simples proteção e cobertura dos
espaços. Estas estruturas em geral, não deverão suportar elementos
pendurados, a não ser que sejam uniformemente carregadas, segundo
criterioso projeto estrutural. O detalhamento deste tipo de estrutura
é fundamental, pois a resistência pode variar decisivamente
dependendo do tipo de elemento de união dos tramos. No Brasil, é
muito comum encontrar este tipo de estrutura com os tramos em
tubos amassados nas pontas, Este tipo de detalhamento gera grandes
problemas estruturais, uma vez que se modifica a resistência do metal
no amasse e problemas em momentos de manuteão, uma vez que
a retirada de um único tramo pode significar a desmontagem quase
que total de um pano inteiro da estrutura.
Figura 119 - New South Wales
Government Stores”, Harry Seidler &
Associates, Sydney, AUS,1968. Fonte: JÜTTNER,
2004, p.67.
Figura 118 - Hangar Cargolifter, SIAT GmbH, Brand,
ALE, 2000.
Consiste em um hangar para grandes aeronaves de
carga e dirigíveis. A estrutura possui 107 metros de
altura, 210 metros de largura e 360 metros de
comprimento, o que a torna uma das maiores
estruturas do Mundo sem apoios intermediários. A
estrutura foi resolvida em treliças metálicas em arco,
e fundação em concreto armado. A leveza do material
e resistência à compressão e tração fazem com que
seja possível a construção de um edicio destas
dimensões.
Arquitetura da Indústria
195
Dentre sistemas antecedentes para a arquitetura industrial
podemos citar o sistema USM, suíço, projeto do Arquiteto Fritz
Haller, que será melhor descrito a seguir, ou o Sistema Hoesch, de
Dortmund, que tinha como premissa a execução dos elementos
estruturais da forma mais semelhante possível, simplificando-se a
produção e a montagem das peças, o que de fato pode ser conseguido
devido às características de resistência do material e à leveza
estrutural. Os fechamentos destas estruturas se davam através da
utilização de placas ISO, que podiam ser facilmente instaladas com
a utilização de parafusos especiais. Este sistema buscava a facilidade
de manutenção estrutural e de instalações, uma vez que a
desmontagem de elementos era muito simples e as peças
apresentavam peso reduzido.
Dentre as desvantagens do material podemos destacar a
corrosão e baixa resistência ao fogo. No caso de escolha por
estruturas revestidas, conm escolher as pré-pintadas, ou pintadas
em fábrica, que resultam em maior durabilidade do revestimento,
garantia de qualidade, maior aderência, maior cobertura e economia
de tempo em mão-de-obra. O usual é utilizar sistemas de revestimento
triplo das peças, realizado em brica, que garante ao aço uma
resistência de 15 a 20 anos até que comece a ocorrer a corrosão.
Quanto à resistência ao fogo, o aço pode ser deformado facilmente.
Isso exige tratamentos especiais da estrutura que podem significar
grande desvantagem econômica em relação a outros materiais. Dias
(p. 149, 1998) observa que existe a NBR 5627 Exigências
particulares das obras de concreto armado e protendido em relação
à resistência ao fogo”, no entanto, não norma para estruturas
metálicas em situação de inndio. O cálculo é realizado, portanto,
com base em duas horas de resistência ao fogo. Assim, “o cobrimento
das peças sem revestimento deve ser de 45mm, para os pilares, de
20 a 45mm, para as lajes e de 40 a 65mm, para as vigas”.
As vigas metálicas suportam maior carga que as vigas em
concreto, se considerarmos a mesma seção. Isto permite os
maiores e otimização dos pilares. Em geral, se utiliza a estrutura
metálica no Brasil para vencer grandes vãos de coberturas industriais,
por meio de treliças ou perfis laminados, mas, dispostas sobre pilares
pré-fabricados em concreto.
Utilizam-se, na maior parte dos casos, perfis H, I, U e
cantoneiras de abas iguais ou desiguais. As estruturas executadas
com o uso destes perfis facilitam a fixação de tubulações, calhas,
dutos e sistemas de pontes rolantes.
196
Projeto de Arquitetura
No caso de estruturas em ambientes industriais não muito
agressivos e distantes mais de 600m da orla marítima, podem ser
utilizados aços patináveis que formam uma camada de óxido
protetor (pátina) ao ar livre. A vantagem é não necessitarem pintura.
No caso de ambientes agressivos, este aço, sem estar revestido, ainda
possui maior resistência do que o aço carbono, no entanto, o correto
é que seja revestido por pintura. Nestes casos ainda convém que se
utilizem os aços patináveis, uma vez que o desempenho em relação
à aderência dos revestimentos é no mínimo duas vezes superior ao
mesmo revestimento quando aplicado sobre aço-carbono comum,
conforme observa Dias (p.33, 1998).
Muitas empresas inclusive Siderúrgicas - possuem sistemas
próprios para a fabricação de vigas de todo o tipo para a construção
de galpões padronizados, em diversos vãos livres entre os suportes,
com ou sem iluminação zenital, com ou sem pontes rolantes, naves
laterais, etc. Uma das vantagens deste tipo de sistema é que podem
ser facilmente desmontados e transportados para outras localidades
ou alterados, em função principalmente de modificações exigidas
pela prodão da indústria. O Palácio de Cristal, apresentando na
primeira parte deste trabalho, é um interessante exemplo dessa
transitoriedade alcançada com as estruturas metálicas. Construído
para permanecer apenas por um ano no local para o qual foi projetado,
após a exposição Universal foi desmontado e reerguido em outro
local, no qual permaneceu mais 84 anos, até passar pelo incêndio
que o destruiu.
As vantagens desse material ainda são facilmente percebidas
em construções industriais, como é o caso das plataformas
petroleiras. As necessidades de leveza e facilidade de transporte,
comprimento das peças e montagem fazem com que o único sistema
viável seja a estrutura metálica.
Assim como descreve PINHO (2005), no mercado brasileiro
da construção em aço predominam as estruturas em pavimento único
destinadas ao uso comercial e industrial. “Com a introdução no
mercado brasileiro dos perfis laminados de abas paralelas do tipo
W os galpões em pórtico (descritos no capítulo sobre tipologia)
ampliaram a sua competitividade com soluções simples, limpas,
pidas e ecomicas.
Arquitetura da Indústria
197
b. Madeira
A madeira perdeu lugar de utilização para as estruturas de
aço e de concreto. Sua utilização limita-se a ambientes industriais
altamente corrosivos de indústrias químicas, onde o concreto e aço
não podem ser utilizados. VALLE (1975, p. 264) ainda cita o caso
de certos laboratórios de pesquisa onde o é admitida a influência
de forças magnéticas em seu interior. Possui a grande desvantagem
em relação aos materiais anteriormente citados no que se refere à
sua resistência ao fogo.
No caso do uso deste material, podemos considerar vãos de
até 35 metros. É, no entanto, uma alternativa viável para diversos
usos, além dos usos descritos acima. Podem ser utilizados vigas ou
arcos em laminados de madeira colados, que formarão elementos a
serem montado em canteiro, assim como ocorre no concreto pré-
moldado e aço. Os arcos para as coberturas em estrutura de madeira
até o chão, significam economias significativas em vedações e outros
elementos. Aproximam-se das formas econômicas de ocas e iglus.
Figura 120 e 121 - Estaleiro em Morges, Bois
Consult Natterer, SUI, 1995. Fonte: JÜTTNER,
2004, p.98 e 99.
A construção deste galpão nasceu de um
projeto para construção de uma galera, comum
na região, do século XIII ao século XVII.
Utilizou-se, portanto, da mesma mão-de-obra
para as duas atividades, existindo semelhanças
estruturais e tecnológicas, apesar da
contemporaneidade do edifício abrigar a
atividade principal, que tem caráter transitório.
198
Projeto de Arquitetura
No uso de cada um destes materiais, a principais diferenças
de desenho estarão na juntas que responderão a características
específicas de resistência de cada um dos materiais. No caso da
madeira, conexões de três elementos na juntas serão mais comuns
para que se reduza a ação do momento nos cantos. As estruturas em
madeira adquirem importante resistência natural ao fogo assim
como ocorre com o concreto pré-moldado apenas sendo
sobredimensionadas. O principio é que após o tempo de segurança
ao fogo determinado em projeto, a estrutura permaneça com seção
não queimada suficiente para o suporte das cargas da cobertura do
edifício. As estruturas em madeira, no entanto, devem ser desenhadas
de forma que a madeira o fique exposta diretamente à umidade e
chuvas.
A madeira o tratada pode ser molhada, contanto que se
criem detalhes arquitetônicos que permitam o pido escoamento
da água. Utilizam-se em geral, perfis de zinco em forma de S”
entre os pavimentos e vigas para escoar a água. Da mesma forma, a
estrutura em madeira não entra em contato direto com o solo ou
com os pilares de fundação, separadas por parafusos ajustáveis. As
fundações são realizadas in loco por meio de sapatas isoladas ou
contínuas, geralmente em concreto armado.
Em áreas alagadas permanentemente, as fundações podem
ser realizadas em estacas de madeira, assim como por exemplo, nos
galpões da Companhia Matarazzo, localizados ao lado do Rio
Pinheiros, no Jaguaré, em São Paulo. Vale reiterar que o
encharcamento do terreno deve ser perene, uma vez que seca e
alagamentos aceleram o processo de apodrecimento da madeira.
Arquitetura da Indústria
199
Figura 122 - Edifício de Montagem indústria de mobiliário Tobias Grau, Bothe
Richter Teherani Architekten, Hamburg-Rellingen, ALE, 1998. Fonte: JÜTTNER,
2004, p.120 e 121.
200
Projeto de Arquitetura
c. OutrOs Materiais
Alguns novos materiais compósitos o realidade dentro
da construção civil. Dentre os mais comuns, podemos destacar as
telhas metálicas do tipo sanduíche”, com camada interna isolante
rmica, apresentada anteriormente e os painéis do tipo GFRC, que
são fabricados em concreto armado com fibra de vidro o que resulta
em peças mais leves e conseqüentemente menor carga da estrutura.
O uso de painéis de fachada, como é o caso do GFRC,
reforça-se uma vez que a precisão na execução das peças reduz
retrabalhos nas esquadrias e perdas de materiais. Além disso, chegam
à obra revestidos de acabamento externo ou o próprio concreto
tingido, de maior resistência e controle tecnogico do que os
revestimentos realizados in loco. Não existem limitações do tamanho
das peças, neste caso deverá ser levado em conta o transporte e os
guindastes e gruas utilizados na obra para amento das peças.
Existem também painéis autoportantes para fachadas, que são
produzidos com função estrutural, com sua resistência determinada
em projeto e fabricados conforme as especificações determinadas.
No caso de divisórias internas e alguns usos externos, é cada
vez mais comum o uso de placas de gesso acartonado de diversos
tipos. Utilizado mais de cem anos, em países como os Estados
Unidos, permitiram a execução dos maiores arranha us do mundo,
em função de seu baixo peso. Podem ser resistentes ou não à umidade.
Possuem ainda a vantagem de estarem normatizados.
Arquitetura da Indústria
201
1. Resistência
a. Mecânica: Esforços (tração, fleo, etc.), Erosão e
Abrasão.
b. Física: Calor ou Frio, dissolução pelo produto,
transformações.
c. Química: Corrosão devida ao ambiente atmosférico,
corrosão devida ao ambiente da fábrica, corrosão devida
ao processo.
Os carregamentos diversos aos quais estão submetidas as
edificações industriais são: 1.Cargas dinâmicas e atrito (desgaste),
2.Cargas concentradas (efeito de punção), 3. quinas Operatrizes
(peso próprio + peso de materiais em processo + impactos +
vibração), 4. Maquinários pesados podem requerer amplo
estaqueamento da estrutura e do piso principal da fábrica e 5. Pisos
intermediários, escadas, plataformas, mobilrio, arquivos etc.
As estruturas industriais pré-fabricadas podem ter diversos
tipos de fundação, que, em geral, são em parte moldadas in loco. O
esqueleto estrutural pode ser portante ou não e é mais comum que o
seja. Em geral, os grandes planos de fechamento de fachadas e
coberturas são executados com peças leves com a única função de
vedação.
Figura 123 - Carregamentos e Esforços
diversos a que são submetidas as edificações
industriais. Redesenho a partir de VALLE, 1974,
p.261.
202
Projeto de Arquitetura
Ideal que se tenha em mente, no momento de se projetar
um edifício industrial, as modulações de produção dos materiais,
como forma de se reduzir o retrabalho e perdas durante a fabricação.
No caso, por exemplo, das estruturas metálicas, o uso de os
padronizados em 10, 12, 15, 18, 20, 25 e 30m pode reduzir o prazo
de obtenção e possuir um custo unitário em relação a estruturas com
vãos especiais, assim como descreve VALLE (1975, p.268). No caso
da Arquitetura Industrial, vãos muito utilizados em função da
capacidade de carga dos materiais, modulação de produção dos
mesmos, transporte e até mesmo maquinário a ser albergado.
Tomando como base a análise de HUB (In. JÜTTNER, 2004, p. 37),
as modulações picas para edifícios industriais desenvolvem-se
dentro da faixa de 14,40x14,40m a24x24 m.
VALLE (1975, p.268) propõe a respeito dos custos das
estruturas:
“- as estruturas em arco são as que melhor
atendem as necessidades de grandes vãos e sua faixa
mais econômica se situa acima dos 20m de vão, com
afastamento entre arcos usualmente de 5 a 8m;
- as estruturas em duas águas atendem com
vantagem à faixa de 10 a 25m de o, com o
afastamento mais usado de 6m entre pórticos ou
quadros;
- as estruturas em shed são utilizadas para vãos
que não excedam 20m, permitindo, entretanto,
grandes afastamentos entre pilares no sentido
longitudinal, originando normalmente dulos
quadrados (vãos idênticos entre pilares nos dois
eixos ortogonais), o que facilita a elaboração do
arranjo físico para instalações que incluam grande
número de equipamentos e postos de trabalho;
- as estruturas em concreto, mais pesadas e mais
volumosas, não o indicadas para grandes os,
salvo no caso de peças protendidas. Como solução
mista, no caso de grandes vãos, pode-se adotar uma
estrutura com pilares e vigas de concreto e com
tesouras metálicas.
HENN (p.43, 1960) apresenta breves estimativas para
estimar os custos de construção de edificações industriais em relação
à quantidade de material a ser utilizado, para auxiliar nas decisões
ainda em fase de anteprojeto. Estas estimativas baseiam-se em normas
alemãs (DIN 277). É claro que os valores podem variar em função
de sobrecargas, os, características de concretagem e condições
especiais de trabalho. Ainda devemos atentar para o fato deste
levantamento ter sido realizado na cada de 60. HENN ainda cita
que no caso de edifícios em concreto armado, o uso de materiais
depende principalmente de cargas e os, e menos da altura dos
Arquitetura da Indústria
203
pavimentos e qualidade dos materiais. No caso do concreto
protendido, reduz-se sensivelmente o consumo de aço, no entanto,
este deve ser de qualidade superior, e portanto, mais caro. O consumo
de fôrmas varia pouco em construções verticalizadas; mas o
reaproveitamento das fôrmas influi muito em plantas únicas. Uma
maneira de se economizar em rmas é utilizar-se de peças de
concreto pré-fabricadas.
No caso do aço, HENN atenta novamente para o fato de
que o uso do aço é determinado pelas cargas e vãos, principalmente.
Além disso, existe grande influência dependendo do tipo de
contraventamento da estrutura (por triangulações, pórticos de rigidez,
etc.). Quando se constroem núcleos de rigidez para escadas e
elevadores, pisos e paredes em concreto armado, pode-se reduzir
notavelmente o consumo de aço.
Tomando como base as características de custo relativas
à questão de sustentabilidade, o necessários estudos aprimorados
dos sistemas em concreto armado ou em estrutura metálica. Hewitt
(p.01, 2003) comenta um estudo de caso realizado pela associação
americana Eco balance. Foram comparados edicios similares em
estrutura de concreto armado e estrutura metálica. O resultado final,
a respeito da energia empregada no processo de produção,
demonstrou que, no caso do edifício em estrutura metálica possuindo
87% do material utilizado sendo reciclado, o sistema seria mais
eficiente, no entanto, com índice menor de reciclagem o concreto se
tornaria mais interessante.
Outra importante inflncia no custo da edificão é provocada
pelas instalações. Os edifícios industriais, em geral, requerem uma
grande quantidade de infra-estrutura. No caso de produções em plantas
picas, aproximadamente dois teos dos custos são para os acabamentos
e infra-estrutura, enquanto que a estrutura portante da construção
significam apenas um teo do total. HUB (In. TTNER, 2004, p.
37).
A estrutura deve se espaçosa, para permitir a instalação das
rotas de infra-estrutura que excedem as necessidades reconhecidas
hoje em dia e não devem impedir a manutenção e reparação desta
infra-estrutura, evitando-se situações de manutenção e instalação
dispendiosas. Soluções verticais podem ser desejáveis para se reduzir
os custos com instalações e com a manutenção do uso das instalações
após o início das atividades produtivas.
No edifício industrial os espaços projetados e equipamentos
necessários para que o edifício cumpra a sua função possuem uma
relação muito próxima. Por exemplo, assim como descreve
MASCARÓ (1985, p.4) em relação aos edifícios residenciais, o custo
da circulação vertical varia fundamentalmente se o projeto prevê
(ou não) o uso de elevadores.
204
Projeto de Arquitetura
CONSUMO DE MATERIAIS NOS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS
- em concreto armado:
Estrutura em concreto armado, incluindo-se contrapisos
(vãos comuns, sobrecargas de 500-1500 kg/m
2
) = 0,08 a 0,10 m
3
/m
3
edificado
Fundações e contrapiso= 0,05 a 0,08 m
3
/m
3
edificado
Porão e teto do porão= 0,3 a 0,6 m
3
/m
3
edificado
Galpões e oficinas= 7 a 11 kg/m
2
1 m2 de solo, dependendo da sobrecarga e vão requer, um consumo de o= 5 a 15 kg
Caso a quantidade de aço se refere à superfície de pavimentos e não ao volume construído,
deduz-se o consumo de aço= 20 a 60 kg/m
2
de área
-em estrutura metálica:
Consumo de aço para vãos normais, sobrecarga de 500-1000 kg/m
2=
= 10 a 25kg/m
3
Consumo de aço para edifícios de escritórios, sobrecarga de 300-500 kg/m
3
= 8 a 20 kg/m
3
Adicionam-se a estes valores consumo de aço para os pisos em concreto armado,
que ainda que pequenos representam de= 2 a 4 kg por m
3
de volume edificado.
Grandes Galpões, Armazéns e Oficinas
Edifícios Verticais
- em concreto:
Estrutura em pórticos de construção normal, vãos de 15 a 25m,
-direito de 7 a 15m ; incluindo-se a cobertura,
no entanto, sem as vigas de pontes rolantes e nem mesmo as fundações= 0,01 a 0,02 m
3
/m
3
edificado
Ou= 0,08 a 0,2 m
3
/m
2
de superfície edificada
Em concreto protendido, luzes de 35 a 60 m, altura de pé-direito de 5 a 10 m,
incluso a cobertura, no entanto, sem as vigas de pontes rolantes e fundações= 0,02 a 0,035 m
3
/m
3
de volume edificado
Ou= 0,16 a 0,25m
2
/m
2
de superfície edificada
Consumo de aço em concreto convencional= 12 a 25 kg/m
3
de superfície edificada
Consumo de aço em concreto Protendido= 30 a 50 kg/m
2
de superfície edificada
-em estrutura metálica: (Vão das estruturas de cobertura de 10 a 30m, distância entre as vigas de 5 a 25m,-direito de 10 a
20m. Peso de toda a construção do galpão (sem o revestimento da cobertura), por m
2
de superfície edificada)
Galpões de construção leve (com pontes rolantes de 2 a 10 t, sem passarelas)= 40 a 100 kg/m
2
Galpões de constrão de peso médio
(com pontes rolantes de 25 a 75 t e passarelas de a1000 kg/m
2
de sobrecarga)= 100 a 200 kg/m
2
Galpões pesados (com pontes rolantes de 150 a 250 t)= 200 a 400 kg/m
2
Pesos de alguns elementos do edifício:
Estrutura de cobertura, ou seja, vigas, terças, contraventamentos,
lanternins; sem contar apoios, vigas baldrame, trilhos de pontes rolantes,
nem passarelas= 20 a 40kg/m
2
de superfície edificada
Terças= 8 a 15 kg/m
2
de área de piso
Estrutura das paredes= 12 a 25 kg/m
2
de parede
Arquitetura da Indústria
205
-de madeira:(Quantidade de madeira, sem revestimentos e sem levar em conta as perdas)
Armazéns em várias naves para mercadorias empilhadas,
sem instalações de transporte,
vão das naves de 6 a 20m e pé-direito de 5 a 10m= 0,03 a 0,07 m
3
/m
2
de superfície edificada
quantidade de aço necessária = 15 a 30 kg/m
3
de madeira
Galpões de armazém para mercadorias a granel, com instalação de transporte,
vãos de 20 a 35m, altura de pé-direito de 12 a 30m= 0,08 a 0,13 m
3
/m
2
de superfície edificada
quantidade de o necessária= 20 a 50 kg/m
3
de madeira
Galpões para oficinas,os de 20 a 40m= 0,04 a0,03 m
3
/m
2
de superfície edificada
quantidade de aço= 20 a 60 kg/m
3
de madeira
Pequenos Galpões
-em concreto armado
Consumo de concreto em construção normal, vãos de 8 a 20m,
altura média de 4 a 6m , inclusa a cobertura= 0,15 a 0,25m
3
/m
2
de superfície edificada
Consumo de concreto em construção emmina, vãos de 10 x 24m= 0,10 a 0,15 m
3
/m
2
de superfície
edificada
Consumo de aço em galpões com vãos de 8 a 20m, altura média de 4 a 6m,
incluindo a cobertura = 8 a 20 kg/m
2
de superfície edificada
Consumo de aço em construções com peças pré-fabricadas protendida=s 8 a 18 kg/m
2
de superfície edificada
Consumo de aço em galpões com shed, vão de 6 x 15m= 17 a 20 kg/m
2
Consumo de aço em coberturas laminares ou em dente de serra, vãos de 10 x 24m= 15 a 22 kg/m
2
Exclusivamente o shed= 8,5 a 12,5 kg/m
2
de superfície edificada
-em estrutura metálica: os das treliças das coberturas de 10 a 16m, distância entre elas de 5 a 11m e altura de pé-direito de
5 a 10m. Peso de toda a construção (sem o revestimento da cobertura):
Distribuição de aço necessário por m
2
de superfície edificada:,(A imporncia de outros elementos como passarelas,
mezaninos, pode ser muito grande, representando consumo de o de mais de 30kg por m2).
Cobertura= 20 a 40 kg/m
2
Apoios= 5 a 20 kg/m
2
Paredes= 4 a 8 kg/m
2
Vigas de pontes rolantes= 100 a 400kg/m
Galpões em shed: Vãos de 10 x10m e 6 x 12m= 25 a 50 kg/m2
Vãos de 10 x 20m= 45 a 65 kg/m2
Vãos de 16 x 20m= 60 a 70 kg/m3
-de madeira: (Edifícios em várias naves)
Tipo shed, com vãos de (7 a 10m) X (14 a 20m)= 0,05 a 0,10 m
3
/m
2
de superfície
edificada
Consumo de o= 40 a 90 kg/m3 de madeira
Fonte: HENN (1960, p.43), Adaptado pelo autor.
206
Projeto de Arquitetura
12. CONSIDERÕES FINAIS
A moderna arquitetura industrial no Brasil, desde o plano
desenvolvimentista aplicado no governo JK, vem contemplando o projeto
do edifício industrial aplicado às necessidades funcionais da “planta” de
produção. Desde então, o incremento no parque industrial tem sido
significativos, em várias áreas dessa atividade como indústria
automobilística, petroquímica, alimentação, entre tantas outras. Verificou-
se, a partir daí, a tendência para a adoção do projeto racional dos edifícios
industriais, em larga escala, mesmo nas indústrias de pequeno porte, em
função da produtividade que processos modernos trouxeram.
Assim, a forte industrialização centrada em grandes cidades
sobretudo a indústria da construção civil promoveu o êxodo das
populações rurais para o ambiente urbano, até o ponto que, em 2007, as
populações urbanas superaram as rurais. (IBGE). Mesmo antes desse
momento, grandes metrópoles, como São Paulo, sob ameaça de um colapso
logístico, expurgaram as grandes indústrias para sua periferia imediata, ou
para outros centros regionais, priorizando as atividades terciárias.
Até o culo XX, o arquiteto não participava efetivamente do projeto
do edifício industrial. Autores como James F. Munce observam que o
arquiteto era apenas um decorador de fachadas. Assim como descreveu
Fayeton (ver página 85) no artigo para o Primeiro Seminário Internacional
de Arquitetura Industrial, realizado em 1960, em Varsóvia, o advento da
era industrial colocou claramente em evidência a separação da técnica e da
plástica. O engenheiro passou a ter o papel de resolver o problema das
edificações industriais edifício e maquinário pautado pelo funcionamento
mecânico e lei de economia. O arquiteto, responsável pelo caráter artístico
das edificações, não se encaixou neste processo. Nasceram cidades
industriais fadadas ao fracasso, gerando paisagens onde até hoje podemos
notar a falta de atenção com a qualidade de vida dos operários, que tinham
suas moradias em locais próximos, com condições totalmente insalubres.
Estas cidades espalharam-se por todo o mundo.
O desenvolvimento posterior, a partir de meados do século XX, na
Europa e em países como os Estados Unidos ou Japão, foi responsável
pela importância atribuída ao arquiteto nestas construções. Ele será o
profissional com visão global para coordenar as equipes interdisciplinares
e auxiliar na busca de solões para os aspectos formais, espaciais e cnicos.
O repertório de obras e aprofundamento sociológico deste profissional será
útil para conferir ainda, em alguns casos, um caráter subjetivo de obra de
arte. Alguns dos edifícios mais importantes da história da arquitetura foram
realizados por nomes como Behrens, Gropius, Mies van der Rohe, Le
Arquitetura da Indústria
207
Corbusier, nos princípios do culo XX. Esta nova tipologia para edifícios
industriais estabeleceu bases e questionamentos para uma nova tectônica.
Influenciou o pensamento dos arquitetos permitindo que outras tipologias
arquitetônicas alheias ao edifício industrial importassem componentes
formais e funcionais desses edifícios, resultando numa visão moderna de
fazer arquitetura, que ainda praticamos. Este processo estimulou o
surgimento do Movimento Moderno, que entre outras coisas, aboliu o uso
de ornamentações excessivas.
O próprio padrão arquitetônico industrial expandiu-se, uma vez que
a indústria passou a se confundir com a cidade, fazendo com que o corcio,
os centros de exposição e de desenvolvimento fizessem um elo entre o
setor de serviços e de produção. Os arquitetos, no entanto, ainda hoje, nem
sempre o chamados para contribuir no processo de projeto destas
edificações. O caráter funcional conduz a soluções apenas técnicas, por
profissionais relacionados ao processo produtivo relativo à instalação do
maquinário. No percurso desta dissertação pude notar que no Brasil, grande
contribuinte para o agravamento deste cenário, há falta de cultura quanto
ao trabalho que pode e deve ser realizado pelo arquiteto e pelo urbanista.
No Brasil, a construção indústrial era executada, em sua grande parte, até
meados da década de 1980, por projetos do tipo “pacote” importados do
exterior, onde todas as definições do edifício e produção vinham prontas.
O desenvolvimento econômico desta década e a necessidade de execução
de maior número de edificações fizeram com que o arquiteto fosse chamado
ao local que, de fato, deveria lhe pertencer. Questões específicas do país
como clima, sociedade, métodos construtivos, dentre outros foram
valorizadas e passaram a ser dados do projeto.
A evolução histórica do edifício industrial e sua preservação são
dados fundamentais e instrumentos para que penssemos as indústrias do
futuro. A fonte de energia, questão primordial, seja ela mecânica ou elétrica,
ou a estrutura da fábrica, não são as únicas questões a serem contempladas.
A evolução construtiva nos abre um vasto leque para a resolução de
problemas espaciais, funcionais e estruturais, todos com a mesma
importância. A evolução social propõe, por sua vez, que sejam acrescentados
conceitos de sustentabilidade, transparência, condições adequadas de
habitabilidade do local de trabalho, etc. A sociedade de consumo exige,
por sua vez, que as empresas passem a investir em sua imagem corporativa
e instalações como demonstração de solidez e qualidade dos produtos.
Por sua vez, o arquiteto nem sempre está familiarizado com questões
específicas. De um determinado processo de fabricação. Não conhece os
tipos de arranjos produtivos, etapas de um do projeto industrial, padrões
de organização dos volumes edificados, dentre outras questões inerentes.
Deve ser sublinhado que cada projeto industrial exigirá pesquisa específica
208
Projeto de Arquitetura
do processo produtivo em questão. Mais do que em qualquer outro tipo de
construção, é importante a consideração das relações econômicas,
fundamentais, uma vez que o objetivo destes edifícios é a melhor relação
entre o investimento e o lucro posterior, com a venda dos bens de consumo
produzidos. De forma breve, buscou-se analisar todas estas questões nesta
dissertação. O arquiteto deve ter acesso a informações eficientes que possam
esclarecer questões relativas aos métodos construtivos e suas vantagens ou
desvantagens na utilização de lay-outs e materiais, cuja escolha vai incidir
no custo ou desempenho do empreendimento.
Há uma vasta quantidade de publicações, que procuramos inserir na
bibliografia desta dissertação, sobre o tema “Arquitetura da Indústria”.
Apesar disso, o mero é pouco significativo, se comparado com outras
tipologias, como habitação, escolas, hospitais, e até mesmo museus.
Publicações a propósito do edicio industrial surgiram de maneira
significativa, a partir da década de 1960. É o caráter de desenvolvimento
da indústria, lado a lado com o desenvolvimento tecnológico, que definirá
as características da produção industrial e do edifício, exigindo que o
conhecimento pertinente seja constantemente revisto. A tecnologia vem se
desenvolvendo rapidamente nos últimos anos com as redes de trabalho,
novas matérias primas e novos meios, como a mecatrônica, a tecnologia da
informação e a nanotecnologia, entre outros. É impossível englobar todos
esses fatores numa única publicação, num único trabalho acadêmico. Seria
desejável, como importante contribuição à causa da Arquitetura Industrial,
a abertura de linhas de pesquisa e cadeiras específicas, a nível de graduação
e pós graduação, sobre essa temática, nas escolas de arquitetura brasileiras.
A arquitetura industrial, no seu cerne, é marcada pela flexibilidade,
expansibilidade e rapidez de execução. É, portanto, indissociável da
construção pré-fabricada.
A pré-fabricação na construção de fábricas, no entanto, apresenta
algumas diferenças em relação à pré-fabricação nos edifícios residenciais.
Esta resultou das necessidades de execução de novas moradias nos dois
s-guerras mundiais. Consiste em edifícios, em geral, pouco flexíveis
quando ocupados e com utilização de pas de dimensões pequenas e
médias, em sistemas que podem ser abertos ou fechados. Por sua vez, os
edicios industriais são realizados com uso de sistemas menos padronizados
e com maior número de peças componentes. Em geral pertencem aos
sistemas abertos, com algumas exceções. As experiências são inúmeras em
ambos os casos. Na década de 1980, ocorreu um esforço notável para
padronizar as peças pré-fabricadas em concreto armado, no Brasil. De certa
maneira, o mercado assimilou esta idéia e pouco se desenvolveu em relação
Arquitetura da Indústria
209
ao que ocorreu internacionalmente. Atualmente, inicia-se um novo estágio
de desenvolvimento, marcado pela necessidade de maior integração.
Ainda não se estabeleceram prinpios de integração entre os
diversos seria sistemas construtivos o que faz com que cada obra se torne
um caso único, especial e os custos de execução alcancem valores
demasiadamente altos. O arquiteto, com sua visão global do todo de uma
obra, poderá contribuir no sentido de guiar a indústria para que se alcance
um patamar onde estas partes mantenham uma unidade entre si. O trabalho
de Lelé, apresentado como estudo de caso, é um exemplo desta integração
e unidade. Suas obras, apesar de terem coerência técnica e formal, são
distintas uma a uma, pois seus componentes são projetados individualmente
para as diversas formas de utilização. O exemplo demonstra que as soluções
industrializadas nem sempre significam soluções formais padronizadas.
Além disso, Lelé não importa formalismos de outras obras e estilos. Cria
edificações totalmente novas, sem a necessidade de pré-fabricar o que é
produzido por sistemas construtivos convencionais. Este procedimento
representa o trabalho de pelo menos quatro décadas desse arquiteto. A
importância de seu trabalho exige a sua continuidade e investimentos
maciços para que estes sistemas continuem a ser pesquisados e
desenvolvidos. Contudo, é necessária a produção de grandes séries para
que o sistema se torne viável. A instalação das fábricas e ferramentaria
especializada faz com que as edificações nelas produzidas tenham custos
iniciais mais elevados em relação à construção tradicional, acrescidos ainda
de impostos sobre as peças executadas de maneira industrial. Custos que
são absorvidos, considerando os retrabalhos necessários nos métodos
convencionais. É lamentável que seja uma experiência única, sem paralelo
dentro da arquitetura contemporânea brasileira.
O estudo e caso da brica de Alimentos, trata de um projeto
realizado pelo autor da dissertação em época concomitante à pesquisa. É
uma demonstração, tentativa de aplicar na prática as questões abordadas
no percurso deste trabalho e assim, abrir o leque de discussões para as
especificidades pertinentes ao tema, levantadas no trajeto.
A conclusão final é que o arquiteto é o profissional apto para pensar,
ou repensar os novos cenários da arquitetura industrial. irá protagonizar
seu papel fundamental, no progresso do país.
210
Projeto de Arquitetura
Quarta PartE: aPÊNDICES
Arquitetura da Indústria
211
ESTUDOS DE CASO
1. CTRS - CenTRo de TeCnologia da Rede SaRah,
salvador, bahia
Contextualização HistóriCa
O estudo da obra de João Filgueiras Lima é fundamental
para a compreensão das possibilidades da pré-fabricação e da
arquitetura no Brasil. O arquiteto possui uma sólida carreira, baseada
sempre na invenção arquitetônica, no uso da indústria como forma
de executar uma arquitetura social, voltada para o homem, e no
interesse pelo desempenho ótimo das construções em relação ao
conforto ambiental e à funcionalidade. Atua há cerca de 50 anos no
ramo da construção industrializada, sendo responsável pela
implantação de diversas fábricas de elementos pré-fabricados,
perfeitamente adaptadas o contexto sócio-econômico brasileiro, o
que se objeto de interesse deste capítulo.
A pré-fabricação no Brasil tem um de seus primeiros
impulsos na obra do arquiteto Eduardo Kneese de Mello (1906-
1994), atuante arquiteto paulista do Movimento Moderno, em
princípios da cada de 1950. Ele foi contratado como arquiteto da
UNISECO do Brasil S.A., empresa que industrializava habitações
com o uso de painéis de fibrocimento e estrutura de madeira. A
patente era inglesa, onde o sistema tinha sido amplamente utilizado
dentro de planos de expansão das habitações no país e após a perda
de vigor, em construções escolares, ambulatórios, etc. No Brasil, a
empresa teve suas atividades encerradas devido a problemas com
os materiais e à falta de aceitação do produto. Kneese descreveu a
deficiência das placas de fibrocimento produzidas no Brasil, que
diferentemente das inglesas, fissuravam quando secavam por não
possuir a elasticidade necessária para esse tipo de aplicação. O país
não estava adaptado tecnologicamente para produzir tais elementos.
O arquiteto, apesar dos problemas gerados nesta tentativa, sempre
atuou como incentivador da pré-fabricação na construção. Havia,
portanto, dois problemas com o sistema: um de cunho técnico e
outro de cunho cultural. Por meio de entrevistas feitas com o
arquiteto, podemos notar que estava convencido da necessidade da
pré-fabricação para se fazer frente ao déficit habitacional no Brasil.
212
Projeto de Arquitetura
Na mesma cada, Kneese trabalhou com Niemeyer na NovaCap,
na construção de Brasília entre 1957 e 1960.
“Havia problemas com os materiais disponíveis e uma total
falta de receptividade, gerando um final prematuro para esta
tentativa, talvez pioneira no país. (...) No entanto, não se pode negar
o aprendizado do arquiteto diante do conhecimento adquirido com
os pré-fabricados. Conhecimento este, demonstrado nas obras
projetadas posteriormente, como o Conjunto Residencial para os
estudantes da Universidade de São Paulo (CRUSP, 1961) e a
Faculdade de Arquitetura Farias Brito (1981), assim como os projetos
para os Postos de Assistência Médica - INPS da Várzea do Carmo
(1968) e Tatuapé (1976).
Ainda na cada de 1950, trabalhou com Oscar Niemeyer
em duas grandes obras. Foi seu parceiro, juntamente com Hélio
Uchoa e Zenon Lotufo, contando com a colaboração dos arquitetos
Carlos Lemos e Gauss Estelita, na construção do Parque Ibirapuera
(1954). Participou, também, de sua equipe na construção de Brasília,
sendo um dos arquitetos da NovaCap (Nova Capital)
53
, entre 1957 e
1960.” (REGINO, 2006, p.82,83)
A partir da década de 50, o Brasil experimenta avanços muito
importantes na tecnologia do uso do concreto armado, sendo um
dos países de ponta no uso dessa tecnologia.
João Filgueiras Lima, também trabalhou nas obras da nova
Capital, nos mesmos anos. Foi nas obras de Brasília que Lelé teve
os primeiros contatos com a racionalização da construção civil, que
o levaram a pensar na pré-fabricação dos elementos construtivos.
Como um dos pioneiros dos sistemas pré-fabricados no Brasil,
começa e introduzir as questões relativas à pré-fabricação na
Universidade de Brasília, em 1962, tendo Darcy Ribeiro
54
como
Figura 124- Palácio do Congresso de Brasília,
Construção. Fonte: Arquivo do Distrito Federal
Figura 125 - Foto Atual do Palácio do
Congresso. Fonte: wikipedia
As cúpulas e edifício de suporte dos plenários
da Câmara dos Deputados e Senado da
República foram realizados em concreto
moldado in loco. Os dois edifícios dos gabinetes,
no entanto, foram realizados em estrutura
metálica, possível, na época pelas suas linhas
perfeitamente ortogonais.
53
A Novacap (nome fantasia de Companhia Urbanizadora da Nova Capital) foi uma
empresa criada com o objetivo de construir a nova capital federal do Brasil. A
empresa foi criada pela Lei n° 2874, sancionada pelo então presidente da República
Juscelino Kubitschek em 19 de setembro de 1956. A Novacap foi a responsável por
realizar as obras de construção da cidade de Brasília, e também foi o nome do
projeto de Brasília durante sua construção. Mais do que realizar essas obras, a
Novacap foi responsável pela urbanização e infra-estrutura da cidade, especialmente
nos primeiros dez anos que sucederam a inauguração de Brasília. Foi a Novacap
quem elaborou, desenvolveu e administrou os primeiros planos habitacionais,
educacionais e de saúde no Distrito Federal.
54
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi antropólogo e político brasileiro. Sua obra mais
importante é O Povo Brasileiro”, uma síntese sobre a formação da sociedade
brasileira. Foi Ministro da Educação do Brasil entre 1961 e 1964. É também o
fundador da Universidade de Brasília e o seu primeiro Reitor.
Arquitetura da Indústria
213
incentivador e co-mentor. Darcy, segundo o próprio Lelé, queria
que a Universidade de Brasília (UnB) se transformasse em um
canteiro de projetos e obras.
Nesta época foi fundado o CEPLAN, Centro de
Planejamento dos Edicios da Universidade. Ledesenvolveu para
a UnB edifícios em concreto armado, como por exemplo, os galpões
de serviços da Universidade e o edifício de habitação para
professores. Antes destas experiências Lelé havia trabalhado com
pré-fabricado nas edificações do canteiro de obras da cidade de
Brasília. Neste caso, utilizou a madeira como maria prima, devido
à necessidade de construções provisórias de todo o tipo para um
local que se configurava como uma cidade. Vale lembrar que a
construção da cidade ocorreu em 3 anos, sendo que, desde o início
tiveram que ser levantadas habitações e refeitórios para todos os
operários, engenheiros e arquitetos. As obras da Capital, no geral
não eram pré-fabricadas, mas em concreto moldado in loco; apenas
alguns edifícios tiveram sua estrutura construída em aço, em grande
parte, importada dos Estados Unidos, vista a falta de infra-estrutura
e de cultura da utilização desse tipo de estruturas no país. A opção
do aço deu-se em alguns edifícios de forma a diminuir os prazos de
construção. Isso ocorreu em edifícios de muitas lajes, como é o caso
do edifício de gabinetes do Pacio do Congresso e dos edifícios
dos ministérios, o que pode ser visto por meio das fotos constantes
deste trabalho. As construções tinham, porém, grande preocupação
com a racionalização devido aos curtos prazos de execução.
Em 1968, realizou, com base nas orientações fixadas pela
Secretaria de Saúde do Distrito Federal e pelo arquiteto Oscar
Niemeyer, o projeto e obra do Hospital de Taguatinga, próximo a
Brasília. A construção visava a flexibilidade e extensibilidade. A
execução do hospital utilizou a técnica da pré-moldagem de
elementos pesados como lajes (7,0x2,2 m), caixões das fachadas e
rticos estruturais. Em 1973, realizou as obras pré-fabricadas das
Secretarias do Centro Administrativo da Bahia e no ano seguinte,
edifícios de escritórios pré-fabricados para a Construtora Camargo
Corrêa, uma das maiores empresas construtoras do país.
A respeito da experiência do arquiteto, descreve HANAI
(1992, p.57):
Figura 126 - Esplanada dos Ministérios durante
a construção. Nota-se a estrutura metálica
utilizada nos Edifícios dos Ministérios. Fonte:
Arquivo do Distrito Federal
Figura 127 - Esplanada dos Ministérios e Palácio
do Congresso nos dias de hoje.
Fonte: Wikipedia
Figura 128 - Apartamentos de professores para
a UnB. Fonte: LATORRACA, 1999, p.36
214
Projeto de Arquitetura
“Depois de alguns trabalhos com o emprego da argamassa
armada em Bralia, Ledesenvolveu por volta de 1980 o
sistema construtivo para a urbanização do Vale do Camurujipe,
em Salvador, Bahia, dirigindo a equipe da Renurb Companhia
de Renovação Urbana de Salvador, com consultoria inicial de
Frederico Schiel, da Escola Politécnica da USP de São Carlos,
em São Paulo, no dimensionamento das peças.
Desenvolveu posteriormente um amplo trabalho no município
de Abadiânia, Goiás, sendo que um dos resultados obtidos foi o
sistema construtivo para a “Escola Transitória”, destinado às
zonas rurais, testado em protótipos.
No final de 1983, projetou, instalou e dirigiu a Fábrica de
Escolas do Rio de Janeiro, que chegou a produzir componentes
pré-fabricados para até 600m
2
/dia de área construída.
Em seguida, tendo retornado a Salvador, dedicou-se
intensivamente ao projeto e à produção de equipamentos junto
à Prefeitura Municipal, instalando a Faec brica de
Equipamentos Comunitários.”
Lelé começou então a desenvolver unidades fabris para
produção dos elementos pré-fabricados.
A REBURB foi criada em 1878 e permaneceu em atividade
até 1982, tendo sido criada pelo prefeito de Salvador, rio Kertész.
O objetivo principal era criar as condições para a implantação do
novo sistema de transportes coletivos urbanos da cidade. Um plano
tão complexo, coordenado pelo trabalho de arquitetos e urbanistas
determinou a criação de um grande escritório de projetos. O escritório
adotou projetos padronizados realizados com peças pré-fabricadas,
o que fez com que a prefeitura implantasse uma brica de pré-
fabricados. As peças fabricadas pela usina se estenderam a outros
elementos urbanísticos, no entanto, as peças em concreto armado se
demonstraram inadequadas para as condões específicas encontradas
nas áreas de ocupação irregular do município de Salvador, de relevo
difícil. Foi nessa época que Lelé entrou em contato com Schiel, e
juntos propuseram peças mais leves e mais complexas, executadas
em argamassa armada, realizadas por meio de formas melicas
elaboradas. A experncia teve fim com a saída de rio Kertész da
Prefeitura do Munipio. Foram essas as experiências iniciais que
resultaram na instalação, em 1994, do Centro de Tecnologia da Rede
Sarah.
Na cada de 1980, Le realiza o hospital Sarah Kubitschek
de Brasília, um centro de referência na formação de profissionais e
tratamento, com base na medicina especializada para sistema
locomotor.
A constrão foi realizada com uso de pré-moldados em
concreto, prevendo a flexibilidade e extensibilidade da construção
Figura 129 - Hospital de Taguatinga. Fonte:
LATORRACA, 1999, p.48
Figura 130 - Edifício do Centro Administrativo
da Bahia. Foto do Autor
Os dois edifícios apresentam configuração e tipo
de pré-fabricação semelhantes. O fato de serem
escalonados permite um acréscimo futuro, bem
como, criam terraços-jardins para os escritórios
e solários para os hospitais.
Arquitetura da Indústria
215
assim como ocorrera no Hospital de Taguatinga. A flexibilidade
necessária, pelo desenvolvimento dos equipamentos, deveria prever
uma expansão que não sacrificasse as circulações internas. O módulo
básico utilizado foi de 11,5x11,5 m, relacionado ao estudo das peças,
equipamentos e materiais apropriados. O hospital ainda buscava
como conceitos: criação de espaços verdes, flexibilidade das
instalações, iluminação natural e conforto térmico dos ambientes e
padronização dos elementos da construção.
Após o SARAH, realiza as escolas transitórias, primeiro
em madeira e posteriormente em argamassa armada. A propósito
das escolas, Lelé descreve:
“A instabilidade da política agrícola, aliada
ao uso predatório da terra, determina a transitoriedade
do domicílio familiar do trabalhador do campo e o
funcionamento efêmero das escolas rurais.
O testemunho desse fato é a existência de
escolas desativadas e abandonadas, o que representa
um desgaste econômico para municípios carentes que
sequer conseguem manter a rede mínima de prédios
para atendimento escolar.” (LIMA, 1984, p.19)
Muitas cidades arcavam com as despesas geradas por
edifícios arcaicos e não podiam fazer frente às novas necessidades
para suprir o déficit de instalações para a educação.
A Fábrica de Escolas do Rio de Janeiro, de 1984-1986,
realizou projetos baseados nas experiências de Abadnia, com
algumas modificações sugeridas, dentre outros, por Darcy Ribeiro.
A Faec, anteriormente citada, localizava-se em terreno à
frente do local ocupado pelo CTRS – Centro de Tecnologia da Rede
Sarah, em Salvador. Foi instalada em 1985 e durou apenas três anos.
Apesar disso foi uma experiência extremamente rica e proporcionou
inúmeros benefícios à população e à cidade. Alguns dos projetos,
como é o caso das passarelas que vencem os de 40 metros,
continuam, ainda hoje, sendo produzidos por empresas contratadas
pela prefeitura de Salvador, segundo o projeto original. Estas
passarelas são construídas em apenas 12 dias, o havendo a
necessidade de se bloquearem as vias onde são instaladas, a não ser
em pequenos períodos noturnos. Os trechos da passarela são
suspensos e fixados a pilares em forma de cálice, concretados no
local e com esperas produzidas industrialmente.
Figura 131 - Construção de Passarela em
Pernambués, Salvador. Foto do autor, 2008
A passarela segue o projeto de Lelé, apesar de
não ser mais executada sob a coordenação do
arquiteto.
216
Projeto de Arquitetura
O conhecimento adquirido, por Lelé, na implantação de
fábricas voltadas à construção civil provém, em parte, da experncia
assimilada nas fábricas que visitou na Europa do segundo pós-guerra
pela Universidade de Bralia (UnB). Na Europa eram fabricadas
peças para reduzir o ficit de moradias decorrente da destruição
causada pelas duas guerras mundiais. A mão-de-obra artesanal não
poderia fazer frente à demanda das construções necessárias, a serem
realizadas. Nestes países, sob o ponto de vista dos sistemas
construtivos utilizados, no entanto, predominantemente se realizaram
construções em paredes portantes, sendo um dos sistemas mais
conhecidos o Camus
55
. A preocupação no Brasil, no entanto,
sempre foi a de se adaptar estas bricas às características sociais
do país. Ao contrário da Europa, no Brasil, a oferta de mão-de-obra
era abundante, principalmente a o qualificada. Não havia urgência
na produção de uma quantidade significativa de edificações,
sobretudo para a habitação, como ocorria na Europa. Assim, a
viabilidade dos sistemas pré-fabricados se realizaria na redução nos
custos da constrão, por meio do uso racional dos materiais e
facilidade de montagem dos edifícios no local de sua implantação.
Nesse processo, era utilizada a mão-de-obra local e sem a presença
de maquinário pesado.
O CTRS, portanto, é resultado de um aprimoramento
desenvolvido durante todos estes anos de trabalho e pesquisas por
Lelé.
Hospitais da Rede saRaH
O arquiteto João Filgueiras Lima e o Centro de Tecnologia
da Rede Sarah, no entanto, na contrao do que se produz
atualmente, projeta, fabrica e edifica hospitais e equipamentos
utilizando-se das tecnologias atuais de construção pré-fabricada
industrializada e dos avanços na área da medicina.
“(...) Porque não aproveitar aquilo que tínhamos de melhor? O sol,
a luz e, principalmente a bela visão horizontal de uma Brasília que
nos emocionava a cada r de sol? Muito dessas conversas se
concretizaram na primeira experiência: hospital de Taguatinga, com
seus terraços, em uma colina escolhida para tal.(...)” (Aloysio
Campos da Paz Júnior, Cirurgião Chefe da Rede Sarah, Presidente
da Associão das Pioneiras Sociais).
Os edifícios são de concepção de pré-fabricação sofisticada,
no entanto de execução industrial simples. Resultam em espaços
que não são rígidos, mas flexíveis e voltados para a escala humana,
conforto térmico e atividades e relacionamento entre médicos,
pacientes e acompanhantes. Para se alcançar o conforto rmico e
Figura 132 - Sistema Camus. Fonte: MEYER-
BOHE.
55
O Sistema Raymond Camus, muito utilizado
na Europa do pós-guerra, foi desenvolvido pela
Central de Planejamento de Pré-fabricados
Camus e era produzido pela Indústria Raymond
Camus e por uma grande quantidade de
empresas licenciadas. A idéia estrutural consiste
em painéis portantes que são montados na obra
como se formassem um castelo de cartas de
baralho. A limitação para as placas de piso era
de 24m2 de superfície. Os elementos eram de
concretos fundidos em cadeia e tinham sua cura
acelerada com o aquecimento. Visto que os
painéis eram portantes, produzidos com a
armadura metálica, não se necessitava de pilares,
vigas, forros. Os edifícios terminados eram
compactos e bastante rígidos. Este sistema
proporciona pouca flexibilidade após a execução.
Arquitetura da Indústria
217
bem estar dos pacientes, com problemas relacionados ao sistema
locomotor, os hospitais desenvolvem seu programa hospitalar em
praticamente um único pavimento, existindo exceções.
“A concepção horizontal desse hospital facilita a integração
das áreas de tratamento a terraços ajardinados, o que constitui fator
importante para o desenvolvimento das técnicas de terapia adotadas
pela rede SARAH.” (LIMA, 1999, p.25)
O hospital de Salvador, o primeiro realizado com o sistema
construtivo atual do Centro de Tecnologia da Rede Sarah, foi
implantado no alto de uma cumeada pica da cidade. Possui dois
níveis principais, determinados pelo terreno. O nível superior foi
destinado ao hospital em si e o vel inferior às atividades de infra-
estrutura, como por exemplo, refeitórios, almoxarifados,
manutenção, lavanderias, corredores de serviços, acesso às galerias
subterrâneas, dentre outros.
Os conceitos de economia e sustentabilidade o aplicados
em todos os projetos, atendendo às exigências climáticas do local
de implantação dos edifícios. Os hospitais da Rede Sarah voltavam-
se, inicialmente, apenas à Região Norte/Nordeste do Brasil, região
tropical de clima rigoroso, com inverno quente e chuvoso e um verão
quente com chuvas mais esparsas. A quase inexistência de
temperaturas baixas nestes locais permitiu a criação de espaços
intensamente ventilados. O Sarah de Salvador é o primeiro hospital
da rede onde se aplicaram as galerias de instalações como, ao mesmo
tempo, galerias de tomada de ar para a renovação de As
preocupões com o conforto térmico o evidentes em todas as
obras de Le, mas é na Rede de Hospitais Sarah que elas se ilustram
melhor, em função da filosofia do hospital, da estrutura de trabalho
do CTRS e da constante inovação tecnogica e criativa do
arquiteto.” (PÉREN, 2006 p.29)
Figura 133 - Diagrama desenhado por Lelé.
Demonstra as intenções na resolução dos
problemas de Conforto Ambiental. Fonte: Arquivo
CTRS, 2008.
Figuras 134, 135 e 136 - Hospital Sarah Rio,
Jacarepaguá. Foto da Construção - Auditório
Principal. Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
218
Projeto de Arquitetura
CTRSCentro de Tecnologia da Rede Sarah
O CTRS (Centro de Tecnologia da Rede Sarah) localiza-se
no mesmo terreno do Hospital Sarah, estando separado do hospital
por uma encosta onde se desenvolve uma mata bastante densa. Está
implantado num grande campus, composto pela fábrica, hospital,
vias, reserva de mata, acessos e concha acústica.
“(...) A construção do Sarah Salvador tornou-se o embrião
de um centro tecnológico cujos principais objetivos eram os
seguintes:
- Projetar e executar as obras destinadas à implantação da
rede, como base em princípios de industrialização, visando
economia, rapidez na construção e criação de conveniente
unidade construtiva entre todas as edificações da associação.
- Projetar e executar, interagindo com as equipes médicas e
paramédicas da associação, os equipamentos necessários ao
desenvolvimento de novas técnicas de tratamento introduzidas
nos hospitais da rede.
- Projetar e executar equipamentos hospitalares convencionais,
sempre que fosse constatada vantagem econômica e de
qualidade em relão aos oferecidos pelo mercado.
- Executar a manutenção dos prédios, equipamentos e
instalações de todas as unidades da rede.
- Manter cursos de treinamento em sua área de atuação por
meio de de convênios com as universidades e outras instituições
do gênero.
- Promover a divulgação dos trabalhos realizados e manter
intercâmbio tecnológico com outras instituições que atuassem
no mesmo campo de pesquisas. (LATORRACA, 1999,
p.199)
Figura 137 - Situação do Hospital Sarah de
Salvador e Centro de Tecnologia da Rede Sarah
desenhados por Lelé. Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
Figura 138 - Foto Aérea do Hospital e CTRS,
Salvador. Respectivamente os edifícios da
esquerda para a direita. Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
Arquitetura da Indústria
219
CTRS – Pavimento Térreo
Legenda
1 Estacionamento
2 Oficina de Metalurgia Leve
3 Oficina de Metalurgia Pesada
4 Pré-moldados em Argamassa
Armada
5 Oficina de Marcenaria
6 Oficina de Plásticos
7 Expansão
CTRS – Pavimento Superior
Legenda
1 Vazio Metalurgia Leve
2 Administração Metalurgia
Leve
3 Administração Metalurgia
Pesada
4 Vazio Metalurgia Pesada
5 Refeitório e Cozinha
6 Vazio Pré-moldados
7 Vazio Marcenaria
8 Vazio Plásticos
9 Adminstração Marcenaria e
Plásticos – Manutenção –
Comunicação Visual -
220
Projeto de Arquitetura
Figura 139 - Oficinas de Metalurgia pesada e
P-moldados em Argamassa Armada. Fonte:
Arquivo CTRS, 2008.
Funciona por meio da Associação das Pioneiras Sociais,
serviço social autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos,
instituído pela Lei no. 8246 de 22 de outubro de 1991. Administra
dinheiro da União para a construção, pesquisa e intercâmbio
tecnológico de hospitais, dentro de todo o território nacional, com o
objetivo de “retornar o imposto pago pelo cidadão prestando-lhe
assistência médica qualificada e gratuita, formando e qualificando
profissionais da saúde, desenvolvendo pesquisa científica e gerando
tecnologia
56
. O uso de dinheiro público exige a organização e uma
grande responsabilidade de todo o pessoal envolvido no CTRS. O
centro produziu, durante alguns anos, outros tipos de obra como os
Tribunais de Contas da União em rias cidades, prefeituras e
edifícios religiosos. Por decisão do TCU, hoje em dia, produz apenas
edifícios e equipamentos para a rede de Hospitais Sarah, entretanto,
o arquiteto ainda desenvolve projetos para essas instituições sem se
utilizar do CTRS. A flexibilidade do sistema construtivo, e o
constante desenho de peças novas, permitem a execução de obras
variadas, tanto em porte como em fuão. Uma das principais
características das obras, sob o punho firme de Lelé, é a humanização
dos espaços que se dá por meio de um projeto realizado, sobretudo
para acolher o homem. A pré-fabricação que é vista, em muitos casos,
como redutora, no CTRS e nos hospitais da rede, mostra-se eficiente,
considerando a viabilidade ecomica e a funcionalidade dos
hospitais, justamente na flexibilidade e adequação a programas
diversos, onde a demanda dos espaços é ditada pelo desenvolvimento
tecnológico dos equipamentos. O sistema possibilita ser modificado
durante a obra, fato importante, porque, de outro modo, ficariam
56
“(...) O caráter autônomo da gestão desse tipo de serviço público de saúde faz
da APS a primeira instituição pública não estatal brasileira.(...)” (LIMA, 10, 1999)
Arquitetura da Indústria
221
sujeitas a interrupções por períodos indeterminados. A programação
da obra pode ser realizada com grande precisão.
A brica em si possui área de 17.000 m
2
e divide-se em
cinco oficinas principais especializadas: Metalurgia Leve, Metalurgia
Pesada, Pré-moldados em Argamassa Armada, Plásticos e Fibra de
Vidro e Marcenaria. Há ainda: refeitório, cozinha e auditório.
Somam-se a estas atividades os escritórios de projeto, escritórios de
desenhos de produção, coordenadorias das oficinas, oficina de
maquetes, oficina de comunicação visual, manutenção, salas de
pintura, arquivo de projetos, departamento de fotografia, depósitos
de materiais ermas e um corredor de ligação de todas as atividades
em dois diferentes níveis.
A estrutura é de pente duplo. O eixo central, com dois
pavimentos regulariza a ocupação. No primeiro pavimento existe
um grande corredor de serviços e instalações das oficinas. No
segundo pavimento, no mezanino, localizam-se todas as atividades
de administração e projeto, bem como o refeitório e sala de descanso
para os operários. O corredor de acesso a todas as diferentes oficinas
sedia uma exposição de projetos e obras do CTRS que é o contato
dos funciorios com as obras realizadas e com as obras em
andamento. Nesse local, os funcionários conhecem o todo das obras
nas quais participam parcialmente, às vezes, construindo pequenos
elementos que dissociados não o dimeno do conjunto. No
primeiro contato que tive com o arquiteto, João Filgueiras Lima
ressaltou a importância de que na área de pré-fabricados, assim como
na arquitetura em geral, o projeto é um processo coletivo, e por isso
envolve no próprio centro profissionais das diversas áreas da
construção, como arquitetos, engenheiros, calculistas e paisagistas.
Essa convivência é intensificada pela organização da brica em
pente, sendo o eixo estruturador destinado à circulação e escritórios
de projeto e administrativos. Eventualmente existem colaboradores
em projetos especiais.
o realizados desenhos em escala, um para um de cada
elemento que fabrica. Os desenhos de arquitetura, após aprovados
pelo arquiteto são encaminhados para a gerência da oficina
específica. Estes desenhos são “explodidos” e planificados para a
execução dos componentes, no chão da fábrica. O funcionamento é
muito dinâmico. Isso requer um processo cuidadoso, baseado na
experiência dos arquitetos engenheiros e técnicos. É comum que
desenho na prancheta dos arquitetos seja fabricado no dia seguinte,
nas oficinas, em milhares de repetições. A única maneira para que
isso ocorra é através de um projeto do envelope industrial que
propicie a interação entre todas as partes da indústria.
Figuras 140 e 141 - TRE - Tribunal Regional
Eleitoral e TCU-Tribunal de Contas da União,
Salvador, Bahia. Fotos do autor, 2008.
222
Projeto de Arquitetura
No CTRS, se produz o máximo possível de componentes
da edificação. É difícil encontrarmos uma peça de mobiliário, uma
luminária, um ventilador, um exaustor que não tenha sido produzido
no local. Isso garante qualidade de desenho e facilita o controle das
obras. A qualidade de desenho refere-se ao atendimento a novas
necessidades, como destaca o arquiteto. Um exemplo citado por Lelé
é que hoje em dia, ainda se utilizam cadeiras para auditórios com
braços removíveis adequados ao uso de anotações a punho livre, no
entanto, é crescente o uso de computadores porteis. Ora, os
hospitais são de alta tecnologia e as pessoas nos congressos apóiam
seus computadores sobre as pernas!Parece que o mercado está
engessado; ainda não se deu conta de tais questões. Destacam-se na
produção do CTRS as macas e outros utensílios hospitalares, que
pelo seu desenho único, sempre em aprimoramento, refletem o desejo
arquitetônico e a filosofia do projeto dos hospitais.
Figuras 142 e 143 - Foto da Maquete e Foto
da Construção do Hospital Sarah do Rio de
Janeiro, em Jacarepaguá. Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
Arquitetura da Indústria
223
Legenda
1 Espera
2 Ambulatório
3 Radiologia
4 Laboratório
5 Centro Cirúrgico
6 Central de Materiais
7 Arquivo Médico
8 Oficina Ortopédica
9 Internação e Alta
10 Fisioterapia / Hidroterapia
11 Primeiro Estágio
12 Internação - Enfermarias
13 Internação - Apartamentos
14 Solário
15 Cozinha / Refeitório
16 Lavanderia
17 Almoxarifado / Bioengenharia
18 Manutenção
19 Administração
20 Vestiário Funcionários
21 Manutenção Predial
22 Caldeiras / AC / Subestação
23 Proj. Centro de Estudos
24 Espelho D’água
224
Projeto de Arquitetura
O SiStema COnStrutivO – PadrãO CtrS
O sistema construtivo desenvolvido no CTRS é de
industrialização simples. Apesar desse fato, foi desenvolvido
especificamente para tipologias que absorvam os custos mais altos
em relação à pré-fabricação, que leva em conta um alto grau de
flexibilidade. Possui menor padronização e maior mero de
componentes, ideal para tipologias hospitalares, administrativas ou
industriais, que podem absorver o custo de fabricação de peças
especiais. “Chega a ser irracional o uso dos materiais de construção
tal qual encontramos no mercado brasileiro para esse tipo de
edificação. Elementos diversos, como blocos cerâmicos, divisórias,
pisos,telhas, o possuem nenhuma relação métrica entre si,
obrigando a que, nas obras, sejam feitas as mais diversas adaptações,
adotando-se sistemas construtivos artesanais.” (CARVALHO, p.01)
Fatores já citados, como as necessidades de alterações durante a
vida de um edifício hospitalar, fazem com que seja ainda mais
complicado o uso dos métodos construtivos tradicionais.
Lelé elaborou soluções que aproveitam o clima e a insolação
dos diversos locais do país. Os espaços resultantes deste conjunto
de componentes possuem estratégias de busca de conforto térmico
e acústico. Pesquisas sobre a sua obra, como o trabalho de Jorge
Péren, m contribuindo para o desenvolvimento de soluções de
conforto ambiental, de forma científica. Um dos exemplos mais
notáveis nesse sentido é a evolução das galerias de renovação de ar
dos hospitais e a forma das aberturas zenitais. Hospitais em geral
possuem pouca eficiência na ventilão por convecção, como é o
caso do hospital de Salvador. Podemos dizer que a maior parte das
estratégias de conforto ambiental é passiva, sendo que, na maioria
dos hospitais, restringe-se o uso de estratégias mecânicas como é o
caso do ar-condicionado apenas para áreas cirúrgicas ou salas de
equipamentos delicados.
Figuras 144 e 145 - Corte Sistema
Construtivo executado pelo CTRS. Fonte:
Arquivo do CTRS, 2008.
Arquitetura da Indústria
225
Podemos classificar o sistema construtivo como aberto. Os
edifícios não são projetados com o uso de componentes de catálogo.
São produzidas peças especiais para cada obra, baseadas num sistema
construtivo, de modulação e características estruturais recorrentes
e, utiliza-se ainda, de elementos e materiais produzidos pelo parque
industrial. Assim, como no caso das estruturas mais usuais em aço
ou madeira, a estrutura do sistema do CTRS é pensada de forma
independente dos vedos. Permite que os fechamentos sejam
realizados em divisórias pré-fabricadas ou alvenarias executadas in
loco, dependendo de fatores econômicos. O CTRS, localizado em
Salvador, es em ponto estratégico em relação à localização das
unidades hospitalares. A modulação básica de todo o sistema é de
0,625m, no caso do edifício do CTRS, em grelha de modulação
estrutural sica de 7,5mX10,00m e 6m de -direito, divididos em
dois pavimentos no eixo estrutural. O sistema proposto não possui
viabilidade econômica para outras tipologias, como é o caso da
habitação. A habitação exige menor flexibilidade dos espaços as
executada e necessita de peças padronizadas para que se alcance a
economia de escala, exemplo do Steel Frame”, no qual as pas
metálicas que compõem todo o edifício são basicamente as mesmas,
montadas como uma gaiola”. As peças nestes sistemas devem ser
mais simples, assim como as suas juntas, de forma a o tornar o
sistema inviável economicamente.
No caso de obras hospitalares ou industriais, amesmo de
edifícios escolares, as peças possuem uniões mais complexas, que
permitem que estas edificações sejam facilmente desmontadas ou
tenham novos espaços acoplados. Podemos dizer que possuem um
caráter transitório, flexível. Assim como nos hospitais, as indústrias
têm suas edificações definidas pelos equipamentos que devem
albergar. Estes equipamentos seguem constantes evoluções, que
modificam as suas características dimensionais.
Na figura, vemos um desenho de Lelé sintetizando o sistema
construtivo. A fundação, neste caso, é realizada mediante uma laje
do tiporadier” de concreto com esperas para a inserção dos pilares
tubulares metálicos. Os pilares são, ao mesmo tempo, condutores
de água pluvial; possuem tubulação de PVC interna, pois, notou-se
que utilizá-lo como duto, mesmo sendo aço do tipo SAC-50
(evolução do aço cortén), significava problemas de corrosão com o
passar dos anos. O vigamento é duplo, formado por perfis “U” (perfis
dobrados) que suportam as lajes Pi” com larguras de 2,50m, 3,125m
e 3,75m. As vigas duplas possibilitam a instalação de forro e
Figura 146 - Detalhe Genérico do Sistema
Construtivo executado pelo CTRS. Fonte: Arquivo
do CTRS, 2008.
226
Projeto de Arquitetura
passagem de instalações etricas sobre a mesa inferior. Neste caso,
o contrapiso é concretado no local. A cobertura é realizada,
novamente, com duas vigas de perfil “U” que, permitem a instalação
do capitel” do pilar e da calha de condução de águas pluviais. As
calhas foram realizadas em aço galvanizado. Hoje em dia, são
produzidas apenas em aço inox. O aço galvanizado sofre ferrugem
“branca” nas linhas de solda. Através das vigas, passa-se a fiação de
elétrica, telefonia e lógica. As luminárias e ventiladores foram
projetados para se acoplarem às vigas: braços metálicos direcionam
as peças e as centralizam nos ambientes. A estrutura curva da
cobertura é realizada utilizando-se treliças metálicas curvas,
construídas em perfis chatos, calandrados e soldados em
equipamentos simples. Sob essas treliças instalam-se as telhas
galvanizadas pintadas na cor branca, através da instalação de
canaletas, com a função de forro. O vão entre as treliças é de 2,50m.
A cobertura é realizada em telha ondulada de alumínio, calandrada
no CTRS com ou sem o uso de uma manta de bidim” na parte
interna para isolamento termo-acústico - apoiada sobre terças
metálicas em tubos de seção retangular, apenas cortados e pintados.
Figura 147 - Seção Genérica do sistema de
troca de ar. Fonte: Arquivo do CTRS, 2008.
Arquitetura da Indústria
227
O SiStema COnStrutivO Sarah-riO
O Sarah Rio representa o sistema mais desenvolvido
tecnologicamente executado no CTRS, simplesmente pelo fato de
ser a última obra, ainda em execução.
“A estrutura do piso técnico é constituída de lajes pré-
moldadas de argamassa armada com 2,50m, 3,125m e 3,75
apoiadas em vigamento metálico vencendo vãos máximos
de 5m, descarregando sobre uma trama de pilares
metálicos engastados nas sapatas de concreto.
A estrutura dos “shed” das coberturas é constituída
de vigamento duplo em chapa de aço, apoiado em pilares
também metálicos e vencendo vãos variáveis de até 15m.
O arcabouço da cobertura dos “sheds” e das abóbadas é
formado por treliças metálicas a cada 2,50m que se
apóiam no vigamento duplo.
A estrutura do auditório é constituída de vigamento
metálico radial apoiado em anel metálico superior com
12m de diâmetro e em um anel de concreto armado inferior,
ao longo do perímetro do prédio. A cobertura esférica do
anel superior, em aço inoxidável é móvel permitindo a
abertura total do vão circular. É constituída de setores
meridianos que se superpõem ao girar mecanicamente em
torno dos eixos situados nos respectivos pólos.
O sistema de ar-condicionado é constituído de uma
central frigorígena única que distribui água gelada para
as unidades “fan-coil distribuídas no piso técnico e
localizadas na projeção da respectiva área de utilização.”
(Fonte: Painéis CTRS)
Figuras 148, 149 e 150 - Construção
do Hospital Sarah do Rio de Janeiro, em
Jacarepaguá. Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
228
Projeto de Arquitetura
A economia é questão central da industrialização, no entanto,
as exigências das características dos edifícios podem diferir,
dependendo da tipologia onde o sistema será empregado. A estrutura
metálica é executada dentro da oficina de metalurgia pesada e não
exige grande padronização das peças, como é o caso de estruturas
em concreto armado, que dependem da fundão em formas metálicas
especiais, de custo bastante elevado. Isso permite que o sistema
estrutural possa ser alterado constantemente, executando-se obras
de arte, como apresentadas nas figuras ao lado.
As peças pré-fabricadas em argamassa, na maior parte das
vezes, são elementos planos, sem função estrutural, fabricados com
o cuidado de serem elementos leves, decil transporte e montagem.
As paredes, em função de exigências climáticas e asticas, o
duplas, compostas por duas divisórias com colchão de ar interno.
Dependendo do caso, a área vazia entre os dois painéis pode ser
preenchida com materiais isolantes, como por exemplo, o poliuretano
expandido, sendo assim, o desenho ainda é bastante flexível no que
diz respeito ao conforto termo/acústico. No seu conjunto, as
edificações são leves, o que também significa um ganho nas obras
em relação às questões de fundação, sendo, na maioria das vezes,
simples lajes do tipo “radier” e painéis pré-moldados de arrimo para
os corredores das galerias subterrâneas. Em alguns hospitais, a terra
retirada das valas, onde foram instaladas as galerias, significava peso
equivalente à constrão sobreposta, reduzindo a fundação a um
“radierutilizado como piso das galerias.
As peças, em geral, o leves”
57
devido à preocupação
advinda do transporte e da própria montagem. Muitas delas o
colocadas em posição por apenas dois operários, outras com ajuda
do próprio guindaste de camines, do tipo “Munk”. Nesse sentido,
são interessantes as intervenções de Le nas favelas, realizadas com
pas de argamassa armada. A impossibilidade da entrada de
equipamentos pesados nestes locais, ou até mesmo dos caminhões
para o transporte dos componentes, por vielas estreitas a ponto de
permitirem a passagem apenas de pessoas, fez com que fossem
desenhadas peças que pudessem ser transportas pelas mãos de dois
operários ou moradores, que executariam a montagem ainda
manualmente.
Diferentemente das obras convencionais, na produção em
brica fixa não existem fatores acidentais ou, o reduzidos ao
máximo. Lelé destacou que em uma obra tradicional não há registro
Figura 151 - Foto da Construção do Solário
do Hospital Sarah do Rio de Janeiro, em
Jacarepaguá. Fonte: Arquivo CTRS.
O sistema construtivo e o tipo de pré-fabricação
dos edifícios desenvolvidos por Lelé no Centro
de Tecnologia da Rede Sarah permitem a
execução de soluções específicas para cada
unidade, dependendo das necessidades
envolvidas.
57
Como exemplo, a peça diviria tipo do
Hospital de Fortaleza, pesa no total 125Kg, sendo
5,6kg o peso da armadura metálica, 34kg o
consumo de cimento, 67kg o consumo de
agregado (areia de brita).
Arquitetura da Indústria
229
das atividades e das soluções in loco, podendo incorrer na ignorância
a respeito de como está construída, mesmo que esta seja racionalizada
e atenda padrões de produção semelhantes aos estabelecidos
industrialmente, sem configurar a pré-fabricação. Uma obra
convencional pode ser racionalizada. Um exemplo disto, vivido pelo
próprio arquiteto, são as obras da construção de edifícios de
Niemeyer em Brasília, em apenas três anos.
Figura 152 - Desenho do Sorio do Hospital Sarah do Rio de Janeiro, em
Jacarepaguá. Fonte: Arquivo CTRS.
230
Projeto de Arquitetura
Figura 153 - Oficina de Marcenaria. Foto do
autor, 2008.
OFICINAS
Oficina de Marcenaria
Hoje em dia, em função da escassez de madeiras de “leie
das preocupações ecogicas neste sentido, a equipe de marcenaria
do CTRS vem cada vez mais produzindo os móveis, divisórias e
elementos especiais por meio do uso de MDF, aglomerados (em
menor quantidade), laminados melamínicos (estruturais ou o),
madeira precomposta, PVC e acrílicos. A marcenaria divide-se em
três ambientes principais: a área de produção, o almoxarifado e uma
área menor, para reparo de ferramentas. Possui os equipamentos
básicos de uma marcenaria, no entanto, assim como em todo o CTRS,
o projeto não é automatizado ou linear, o que acarretaria numa menor
absorção de o-de-obra e desvantagem econômica, que se
executam peças díspares e muitas vezes em quantidade que não
justificaria tal investimento.
Nessa oficina o produzidos móveis (estantes, gaveteiros,
arrios, tampos e laterais de mesas, dentre outros), portas,
divisórias, fôrmas, protótipos e estruturas em madeira e embalagem
para transporte de peças. A mão-de-obra é específica para cada
oficina especializada na atividade.
Oficina de PlásticOs e fibra de VidrO
A oficina de plásticos e fibra de vidro executa desde simples
espadores para a armadura das peças em argamassa armada,
coletores para exames utilizados nos hospitais amecanismos
hidráulicos mais complexos que compõem as camas-maca dos
hospitais. Verifiquei em minha visita, a produção de cadeiras em
fibra de vidro, lixeiras para os hospitais e peças de acabamento de
equipamentos para tratamento dos pacientes com dificuldade de
locomoção. A oficina divide-se em três ambientes principais, uma
sala de fibra de vidro, laminação a vácuo e manual e em uma sala
mais ampla, injeção de plásticos e usinagem de peças metálicas,
além de um almoxarifado. A oficina conta também com espaço
contíguo aberto onde se beneficiam manualmente as peças e alguns
elementos secam ao ar livre.
Nestas fotos vemos os moldes do tipo macho-fêmea para os
assentos das cadeiras de audirios, refeitórios e sala de espera, assim
como a utilização destes assentos no centro de tecnologia. As peças
Figura 154 - Mobiliário executado pela oficina
de marcenaira e pela oficina de Metalurgia Leve.
Fonte: Arquivo CTRS, 2008.
Figuras 155 e 156 - Molde e Cadeiras em
Fibra de Vidro. Fotos do autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
231
de base de painéis divisórios são executadas com uma mistura de
resina plástica com borra de ferro, oriunda da oficina de metalurgia
pesada (do corte de chapas metálicas), que garantem o peso das
peças de base dos painéis. A fôrma destes pés é executada em
laminação a vácuo em duas peças macho e fêmea, mas, existem
rmas mais antigas para laminação manual, do tipo mecânicas, ou
seja, em mais de duas partes, unidas por meio de parafusos. A oficina
de plásticos também produz a carcaça em fibra de vidro dos “troleys”
utilizados para o transporte dos pacientes entre as alas dos extensos
hospitais horizontais.
Oficina de Metalurgia Pesada
O sistema construtivo desenvolvido pelo arquiteto Jo
Filgueiras Lima e pelo CTRS baseia-se na estrutura metálica
independente. Esta oficina, portanto, desponta como o coração do
Centro, sendo responsável pelas estruturas e por todas as peças em
serralheria pesada. Na foto ao lado, vemos a produção dos quebra-
sóis internos, tipo asa de avião”, do hospital Sarah do Rio de Janeiro,
criados para vedar os espaços em épocas de uso intensivo do ar-
condicionado. A primeira linha de máquinas, localizada à esquerda
do galpão, tem a finalidade de corte e dobra das chapas metálicas
em seu estado bruto, como são compradas pelo Centro das
Siderúrgicas. Na parte central da oficina realizam-se os trabalhos
de montagem e na parte direita, os trabalhos de solda. Existe uma
oficina de usinagem, equipada com tornos na parte frontal da área
de produção, localizada no pavimento inferior à área administrativa.
Oficina de Metalurgia leve
A Oficina de Metalurgia Leve é responsável pela
execução dos equipamentos hospitalares, bem como a automação
dos mesmos. Executam-se aí, ainda, as luminárias, ventiladores e
mecanismos para abertura e fechamento de janelas. Os componentes
plásticos o executados na oficina de plásticos e fibra de vidro.
Nessa oficina executam-se, também, os sistemas de mecanização
dos troleys”, planos inclinados , etc.
Figuras 159 e 160 - Oficina de Metalurgia
Leve, Protótipo de Maca Hidulica (Foto do
Autor) e “Troley” produzido na mesma oficina e
na Oficina de Plásticos e Fibra de Vidro. Fonte:
Arquivo CTR, 2008.
Figuras 157 e 158 - Oficina de Metalurgia,
Galpão e Pátio de Estocagem. Fotos do autor, 2008.
232
Projeto de Arquitetura
Oficina de Pré-MOldadOs eM argaMassa arMada
Lelé é reconhecido pelo seu trabalho de muitos anos,
desenvolvendo a tecnologia da argamassa armada. O início do uso
deste material data de 1848. Segundo HANAI (1992, p.19):
“Historicamente as origens da argamassa armada
remontam a 1848, quando Joseph Luis Lambot desenvolvia
na França o que chamava de um aperfeiçoado material de
construção a ser usado como substituto da madeira em
construções navais e arquitetônicas e também para
finalidades domésticas, onde a umidade deve ser evitada”,
como definiria na patente requerida em 1856.
Lambot dava a esse material o nome de “fer-
ciment”, que descrevia como uma rede ou conjunto de
arames ou barras metálicas cimentadas junto com cimento
hidráulico, de tal maneira a formar vigas e pranchas de
qualquer tamanho desejado.
Sediado em Miraval, no sul da França, Lambot
construiu vasos para plantas, reservatórios de água e
surpreendentemente -, pequenos barcos, um dos quais seria
exposto na Feira Mundial de Paris em 1855. Um desses
barcos ainda flutuava no lago de sua fazenda, 50 anos após
sua construção, fato documentado fotograficamente por
Gassier Bastide.
(...) Curiosamente, o material desenvolvido por
Lambot teria ascendência direta sobre a moderna argamassa
armada mais ainda, sobre toda a família dos concretos
estruturais.”
A respeito dos potenciais da tecnologia, citando ainda
HANAI (1992, p.67):
“Lambot via no material por ele inventado e
patenteado um grande potencial de utilização, com base em
pelo menos duas características primordiais:
-o material prestava-se à moldagem de pas de
qualquer forma e tamanho, permitindo assim a execução de
vigas e pranchas pressupondo-se desde então a possibilidade
de pré-moldagem -, e de peças monolíticas, de formas
complexas, como os barcos que viria a construir;
-esse material tinha também excelente desempenho
na presença de umidade, o que permitia, de início, a
substituição da madeira em construções navais e
arquitetônicas.”
Foi com o uso deste material que Pier Luigi Nervi construiu
suas magníficas obras a partir de 1943. Nervi demonstrou as
possibilidades cnicas e formais da argamassa armada em grandes
obras, como ginásio de esportes, palácios de exposão, etc,
Figura 161 - Barco em “fer-ciment”, hoje em
dia a argamassa armada, realizado por Lambot.
Museu de Brignoles, França Fonte:
www.arch.mcgill.ca/prof/sijpkes/abc-structures-2005/
concrete/timeline.html.
Figura 162 e 163 - Palácio de Exposições,
Turim. Lanifício Gatti, Roma. Ambos projetados
por Pier Luigi Nervi. Fonte: www.hit.nl/images/
content.
(...) esse edifício industrial tem lajes cujas
nervuras seguem a direção das isostáticas de
transfencia de carga para os pilares. Os
elementos pré-moldados de argamassa armada
serviram de rmas, racionalizando o processo
construtivo e propiciando um excelente
acabamento.(HANAI, 1999, p.135)
Arquitetura da Indústria
233
realizados principalmente na Itália. Suas obras impressionam pela
leveza. O Palácio de Exposições de Turim, realizado por meio de
peças solidarizadas nesse material, vence um vão total de 95,10 m,
realizado em forma de arco. Uma de suas obras mais conhecidas é o
Palácio do Esporte de Roma, realizado para as Olimpíadas de Roma.
Possui uma cúpula esférica com 60 m de diâmetro, composta por
1.620 elementos pré-moldados, que serviram de fôrma e se
incorporaram a estrutura resistente em concreto armado.
A argamassa armada é composta por cimento mesclado com
agregado miúdo e armado com tela metálica difusa, disposta na
posição longitudinal. A vantagem deste material é a obtenção de
peças de pequena espessura que podem ser realizadas e, em
conseqüência, a leveza de peças finas. A argamassa armada é utilizada
em diversos tipos de componentes, dentre eles componentes
estruturais, devido às suas interessantes características de resistência
aos esforços, por ser composta do aço e concreto, com resistência à
tração e à compressão.
A respeito da obra de Le, segundo HANAI (1992, p. 57):
“Lelé, apelido pelo qual é carinhosamente conhecido,
em contato com Frederico Schiel por intermédio do filho
deste, arquiteto Kristian, soube compreender, como poucos
o saberiam fazer, o potencial da argamassa armada na
construção civil.
O seu trabalho com argamassa armada tem um
significado muito especial, pela qualidade arquitetônica,
pelas inovões tecnológicas introduzidas, pelo alcance
social das obras, e, sobretudo, pelo tratamento dado às
relações humanas com a construção, tanto no seu uso quanto
durante a produção e montagem.
Se Nervi era um engenheiro que tinha a visão estética
do arquiteto, e a beleza de suas obras – que segundo ele
decorria da lógica estrutural e construtiva, Lelé é um
arquiteto que domina os conhecimentos de Engenharia, nas
suas concepções de estabilidade das estruturas, de processos
de prodão e montagem, das instalações elétricas e
hidráulicas e tudo o mais.
É possível perceber, nos menores objetos e detalhes
aparentemente secundários, desenhados por Lelé, o domínio
quase absoluto das técnicas e, sobretudo, o profundo respeito
pelo ser humano que em algum momento interage com a
obra.”
As fábricas fundadas por Le utilizaram-se da argamassa
armada com o intuito de produzir componentes para a urbanização
de cidades, como Rio de Janeiro - RJ, Ribeio Preto - SP, Abadiânia
Figura 164 - Vista interna da cobertura do
Palácio dos Esporte, Roma. Arquiteto Pier Luigi
Nervi. Fonte: www.hit.nl/images/content.
Figuras 165, 166 e 167 - Escola Transitória
Protótipo. Fonte: LIMA, 1984, p.98.
234
Projeto de Arquitetura
GO, Salvador BA. Na introdução de seu livro sobre as escolas
transitórias, Lelé descreve:
“Os grandes investimentos realizados durante as três
últimas cadas nos principais centros urbanos do país,
especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília
possibilitaram, sem dúvida, um grande desenvolvimento da
indústria da construção civil. Além disso, as importantes
obras de arte realizadas no programa de expano de
rodovias e barragens colocaram o Brasil entre os países mais
adiantados do mundo na tecnologia do concreto armado
aplicada na execução de pontes e grandes estruturas.
Não obstante esse aprimoramento tecnológico específico,
pouco se tem caminhado na solução dos problemas de infra-
estrutura das áreas de baixa renda da periferia dos grandes
centros urbanos. A complexidade das intervenções nessas
áreas envolvendo aspectos econômicos, sociais, fundiários
e exige um posicionamento independente e desvinculado da
ortodoxia cnica consagrada. No plano físico das favelas,
por exemplo, a precariedade e singularidade na organização
dos assentamentos e a peculiaridade geográfica e
topográfica de cada local inviabilizam a priori a aplicação
de métodos tradicionais de drenagem e saneamento básico
quer pelos altos custos econômicos, quer pelos problemas
sociais gerados pelo próprio trânsito de equipamentos
pesados que determina a remoção de um grande número de
habitações.
Outra face da mesma questão ocorre no campo e em
cleos rurais do interior, quando os custos indiretos
decorrentes do transporte de pessoal técnico, materiais e
equipamentos são de tal ordem que se tornam imcompatíveis
com a natureza e o valor dos investimentos.” (LIMA, 1984,
p.11)
De forma a resolver os problemas apresentados na citação
anterior, Lelé desenvolveu sistemas construtivos em argamassa
armada com peças de até 100 kg, de forma que pudessem ser
montadas e transportadas manualmente para áreas de difícil acesso,
como é o caso das favelas de Salvador. Le ainda realizou pontes
em argamassa nas áreas rurais. O sistema de industrialização
rudimentar proposto previa a utilização de materiais e mão-de-obra
abundantes dessas regiões, seguindo duas principais etapas ligadas
ao processo construtivo. A primeira delas previa a pré-fabricação
em local adequado, com mínima infra-estrutura e mão-de-obra mais
qualificada. A segunda etapa consistia na montagem, que deveria
ser o mais simples possível, e uso de mão-de-obra local, pouco ou
nada qualificada. As fundações poderiam ser executadas moldadas
in loco simultaneamente à produção das peças pré-fabricadas,
reduzindo-se consideravelmente o tempo de construção.
Figura 168 - Banco em duas peças de
argamassa armada, projetado por Lelé. Foto do
Autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
235
No Prefácio do livro “Construções de Argamassa Armadade HANAI
(1992, p.11), Lelé destaca:
“Embora conhecida desde o século passado e empregada com
total domínio na década de 40 pelo genial Pier Luigi Nervi, a
tecnologia da argamassa armada tem tido pouca divulgação
e, de um modo geral, restrita ao registro das experiências mais
conhecidas, sem o indispensável aprofundamento nos métodos
de produção do material e até mesmo de suas verdadeiras
características mecânicas. A desinformação vem sendo de tal
ordem que, freqüentemente, competentes colegas, influenciados
pela semelhança na composição básica desse material e a do
concreto armado, persistem no equívoco de não fazer qualquer
distinção tecnológica entre eles. Evidentemente, sem levar em
conta a presença da malha de ferro difusa e o alto teor de
cimento na argamassa armada, que possibilitam a produção
de peças com apenas 2 cm de espessura, criando para ela um
campo próprio de utilização que absolutamente não é atingido
pelo concreto armado. As características de leveza,
proporcionadas por essas pequenas espessuras, determinam
um fator decisivo para a especulação das potencialidades desse
material no momento em que temos consciência da necessidade
urgente de se reduzir os altos custos de energia e os desperdícios
de matéria-prima que envolvem, em geral, os todos
convencionais da construção civil.
E:
Infelizmente, o desenvolvimento de sistemas
industrializados de produção de argamassa armada,
envolvendo a criação de desenhos específicos e apropriados
a cada tipo de intervenção que permitam atender demandas
sociais na escala exigida, implica sempre investimentos
significativos com os quais a iniciativa privada não está
disposta a arcar sem que haja não a garantia de mercado,
mas, sobretudo, maior segurança no sucesso de aplicação
de tecnologia.
A argamassa armada constitui uma tecnologia muito
interessante quando falamos em industrialização da construção. As
peças leve e finas podem ser utilizadas com muita facilidade pelo
país de clima tropical. Na escola transitória” de Abadiânia, o sistema
construtivo em argamassa armada baseia-se em componentes lineares
estruturais (que formam o esqueleto), complementados por painéis
de fechamento em argamassa armada e telhas no mesmo material.
Descreve Lelé:
236
Projeto de Arquitetura
“(...) aproveitando sobretudo as características de
leveza e flexibilidade do material, o que facilita seu
transporte manual ou mecânico temos orientado o seu
emprego na p-fabricação e industrializão, a
exemplo das aplicações realizadas na União Soviética.
Acreditamos, tamm, que a execução em usina
possibilita a utilização de tecnologia de seleção de
agregado, de controle do fator água-cimento e de cura
mais aperfeiçoadas reduzindo em conseqüência os
efeitos da forte retração que se verifica nas argamassas
com alto teor de cimento. (LIMA, 1984, p.23)
Os sistemas em argamassa armada ainda demonstram-se
interessantes pela baixa necessidade de manutenção dos edifícios,
maior resistência, utilização em maior escala de mão-de-obra não
qualificada, baixa necessidade de produtos advindos das regiões mais
industrializadas do país, e sistema construtivo de melhor desempenho
termo-acústico, devido a um desenho mais elaborado da pas
(comparou-se ao protipo de mesmas características realizado em
madeira). O protótipo realizado em Abadiânia GO tem área de
285 m2, foi realizado em 45 dias. E por coincincia, incluindo a
pavimentação, pesa menos de 45 toneladas, possuindo vãos menores
que 5 metros, o que viabiliza seu transporte a distâncias consideráveis
e custos acessíveis. Os camines mais comuns podem transportar
de 4 a 26 toneladas de material.
Os materiais constituintes dessa tecnologia são basicamente
a argamassa, os agregados miúdos e as armaduras metálicas. A
argamassa pode ser constituída por cimentos de vários tipos, mais
comuns ou especiais, aditivados (que não o utilizados no CTRS),
e agregados que podem ser areias retiradas da margem de rios ou
areias produzidas por meio de brita. Na argamassa, ainda podem ser
adicionadas fibras, como por exemplo, de nylon, silício ou fibras
metálicas. Nas armaduras utilizam-se, dependendo do caso, telas de
várias ordens: de malha tecida quadrada, de malha tecida hexagonal
(tela de galinheiro), telas soldadas. Para o correto recobrimento da
peça são utilizados espaçadores plásticos, de borracha dura ou em
alguns casos, pequenas e simples placas de fibrocimento. A
argamassagem pode ser realizada manualmente técnica muito
utilizada na construção de reservatórios de água cilíndricos,
esculturas e embarcações ou, por meio da fundição em usina, como
é o caso da fábrica de componentes de argamassa armada do CTRS.
No caso da produção em fábrica as rmas podem ser executadas
em alvenaria, sobre a qual se apoiam as peças ou metálicas, assim
como ocorre no CTRS. Sob o ponto de vista estrutural, a tecnologia
Arquitetura da Indústria
237
pode ser utilizada no projeto de cascas em geral, folhas poliédricas,
perfis estruturais lineares, treliças e ainda fazer parte de outros
sistemas estruturais com elementos secundários. As placas de
argamassa armada podem ser as formas para obras de concretagem,
sendo até mesmo deixadas após a capa superior de concreto moldado
in loco como acabamento.
O trabalho da produção das pas em argamassa armada
consiste em 8 atividades principais. o elas: confecção de armaduras
metálicas, produção e distribuição da argamassa, fundição, cura,
desmoldagem, montagem dos moldes metálicos, controle de
qualidade e estocagem. A produção é bastante racionalizada e linear,
de modo a utilizar menor quantidade de mão-de-obra na oficina do
CTRS, que trabalha de forma mais intermitente. Reduções na
produção poderiam significar o-de-obra ociosa. A fábrica
funciona, hoje em dia, com 25 operários. É responsável pela produção
de peças como:
1. Anel de caixa água - São peças cilíndricas que sobrepostas
formam as torres de caixa d’água. São formadas por dois anéis unidos
de diâmetros diferentes.
2. Arremate de divisória - Constituem peças de acabamento de
divisórias quando estas não terminam nos pilares metálicos.
3. Calha pilar de galeria - Peça para encaixe dos pilares das galerias.
4. Divisória tipo e pilar - As vedações, tanto internas quanto
externas, são compostas por duas divisórias, de forma a garantir
qualidades acústicas e térmicas aos ambientes. Ao mesmo tempo,
permitem a passagem de instalações de elétrica e hidráulica. São
peças planas com duas abas, recortadas para parafusos de fixação e
rejunte. o instaladas manualmente sobre um rodapé em argamassa
pré-moldada ou moldada in loco.
Existem divisórias tipo e de divisórias encontro com pilar. Ambas
possuem 620 mm de largura. As divisórias tipo tem o peso de 125
kg. São compostas por 5,6 kg de ferragem, 34 kg de cimento e 67 kg
de agregado miúdo.
5. Forro Tipo - É uma peça plana, leve, destinada a esconder
instalações e peças estruturais de lajes. No caso da cobertura em
“shedmetálico, o forro é realizado com placas galvanizadas.
6. Forro Seccionado
7. Lateral de Galeria
8. Lateral de Canto de Galeria
9. Meio-fio
Anel de Caixa D’água
Figura 169 - Desenhos de alguns dos
componentes em argamassa armada
realizados pelo CTRS. Realizados pelo Autor,
2008.
Arremate de Divisória
Calha Pilar de Galeria
Divisória Tipo
238
Projeto de Arquitetura
Figura 170 - Muro de Athos Bulcão. Foto do
autor, 2008.
10. Muro do artista plástico Athos Bulcão - É uma peça plana,
vazada, utilizada como muro, sem perda total da visão. São instaladas
sobre sapatas, também constituintes desta lista de componentes.
11. Placa de Piso Tipo - As placas de piso possuem 57x57 cm e são
assentadas com junta de 2,5 mm. Possuem 3,5 cm de espessura e
podem ou não receber polimento.
12. Placa de Piso de Extremo
13. Rufo do Forro
14. Piso Pi”
15. Rodapé Tipo e Extremo
16. Rufo Concha Acústica
17. Sapata de Galeria
18. Sapata do Muro de Athos
19. Tampo Tipo
20. Tampo Pilar de Galeria
21. Viga Concha Acústica
Fonte dos nomes das peças: Caderno de Componentes em
Argamassa-Armada do CTRS.
Arquitetura da Indústria
239
Legenda
1 Confecção das armaduras metálicas
2 Produção e Distribuição da Argamassa
3 Fundição
4 Cura
5 Desmoldagem
6 Montagem dos Moldes Metálicos
7 Controle de Qualidade
ETAPAS DE PRODUÇÃO DOS
PRÉ-MOLDADOS EM ARGAMASSA ARMADA
Figura 171 - Perspectiva Eletrônica da Oficina
de Pré-moldados em Argamassa Armada.
Desenho do autor, 2008.
Figura 172 - Diagrama de Produção da Usina
de Pré-moldados em Argamassa Armada do
CTRS. Realizado pelo autor, 2008.
240
Projeto de Arquitetura
1. ConfeCção das armaduras metáliCas
Para a confecção das armaduras melicas o utilizadas telas
de o, vergalhões de aço (para combater esforços específicos) e
Dramix, nome comercial de fibras de aço produzidas pela Companhia
Belgo Mineira Esse material tem a função de reduzir o uso das telas
melicas, diminuindo o custo da armadura em cerca de 50% e
facilitando sua execução. Essas fibras são adicionadas ao concreto
e misturadas de forma homonea, facilitando o preenchimento de
formas menores. As fibras rígidas e lisas possuem os extremos
dobrados para melhorar a ancoragem no concreto. Os vergalhões
que são utilizados principalmente para combater a quebra das bordas
e esforços de transporte e são amarrados por meio de pontos de
solda, o que proporciona agilidade ao processo. Os reforços o
necessários devido às condições em que se encontram as estradas
brasileiras, que exigem resistência das peças para que cheguem
inteiras ao sítio de implantação do edifício. As malhas, menos
resistentes ao eletrodo de solda, o amarradas manualmente por
meio de arame próprio para este fim. São utilizados espaçadores
fabricados nas injetoras da oficina de plásticos do CTRS. Estes
espaçadores m duas alturas principais para recobrimento de cinco
ou dez milímetros.
2. Produção e distribuição da argamassa
A argamassa é produzida com cimento e areia artificial de brita em
diversas granulações. O traço da argamassa utilizada segue a
dimensão da padiola, utilizada que é de 0,0875m3. Para cada padiola
de agregado, acrescenta-se um saco de cimento de 50kg. A redução
com o acréscimo de água é de 1,21, sendo assim, resulta em 0,0723m3
de argamassa pronta por saco de cimento. Utilizam-se cerca de 13,8
sacos de cimento por metro cúbico, sendo o consumo de cimento de
691kg por metro cúbico. Utiliza-se areia de brita em função da
escassez de areia de boa qualidade e preocupação ecogica, segundo
o pessoal técnico do CTRS. Ocorre, ao mesmo tempo, que a areia
costuma ser muito desigual dependendo da jazida e pode conter altos
teores de salitre, que ataca a armadura metálica. A argamassa é
produzida em duas grandes argamassadeiras que o misturadores
horizontais de fita (tipo ribbon blender). Esse tipo de misturador
possui um eixo interno longitudinal com hastes desalinhadas que
são unidas por fitas ou pás metálicas. O cimento é dosado por balança
eletrônica em silo, as embalagens de cimento em lona possuem
conteúdo de aproximadamente um metro cúbico. Não são utilizados
Figura 173 - Produção das Armaduras
Metálicas para as Divisórias Tipo. Foto do autor,
2008.
Figura 174 - Silo de cimento e
Argamassadeiras. Foto do Autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
241
aditivos de cura ao cimento, pois estes em geral agridem a armadura
metálica.
3. Fundição
As a mistura, a argamassa é recolhida por recipientes metálicos
que são alçados e despejados em 4 funis, correspondentes às quatro
linhas de produção existentes. As diferentes linhas de prodão
dependem da fôrma de cura das peças nos tanques. As divisórias
tem sua cura realizada na posição vertical e placas de piso e laje, ao
contrário, na posão horizontal. O tanque da primeira linha
produtiva, destinada à produção de divisórias, possui divisões
internas de maneira a se organizarem as formas adequadamente,
otimizando o espaço de cura, possibilitando a cura de diversas peças
ao mesmo tempo. O número de rmas das divisórias chega a 40
peças. Mangueiras nas bocas destes funis permitem que os moldes
sejam preenchidos apenas pela gravidade. A abertura e fechamento
do sistema é manual, por meio de mecanismo que corta o fluxo do
concreto. Esse pequeno detalhe significou alguns estágios de
desenvolvimento, pois, nas primeiras iniciativas fechava-se a boca
com uma tampa, o que constitui uma dificuldade para os operários,
devida ao peso do concreto de agregado miúdo.
Nesta etapa os moldes já foram limpos, revestidos com cera
desmoldante especial, foi inserida a armadura metálica e estão
fechados. O fechamento dá-se por meio de pinos metálicos em forma
de cone colocados nas abas das fôrmas. Na etapa de preenchimento
dos moldes, o acoplados vibradores às fôrmas, garantindo que a
argamassa preencha todos os espaços e que as bolhas de ar sejam
eliminadas quase totalmente.
4. Cura
Os moldes são transportados por pórticos veis - não o pontes
rolantes - e imersos em tanques de água aquecida à temperatura
entre 60-70 graus Celsius. Isso exige uma caldeira perto da área de
produção. A temperatura não pode passar de 70 graus Celsius, o que
cozinharia a argamassa. Os tanques possuem três metros de
profundidade e o construídos em concreto, moldado in loco. O
fechamento dos tanques é feito com tampas de policarbonato com
estrutura de alumínio. Estes tanques são lavados a cada três meses
aproximadamente, dependendo do volume de produção no período.
Figura 175 - Mergulho dos Moldes
argamassados nos tanques de cura. Fonte: Arquivo
CTRS, 2008.
242
Projeto de Arquitetura
5. DesmolDagem
As quatro horas de cura os moldes são transferidos para
um sistema mecânico de translação ao longo do qual se realiza a
desforma manualmente. Após esta etapa os moldes seguem no
sistema de translação para serem limpos e recomeçar o processo. O
sistema de translação consiste em um trilho preso à cobertura com
rodízios, correntes e roldanas. As peças prontas são transferidas por
meio de rticos móveis para o controle de qualidade.
6. MontageM dos Moldes Metálicos
Os moldes são transladados e no sistema de translação,
limpos e encerados para entrar em novo processo de fundão. o
constituídos por duas peças, que unidas, rmas envolventes ou
rmas duplas - dão forma à argamassa. Cada um destes moldes é
suspenso em ganchos, que caminham presos a rodízios, pelos trilhos
de translão. Por sua vez, a armadura metálica possuí conectores
metálicos, executados com os mesmos vergalhões que são utilizados
nos reforços de bordas, tambémo suportados por ganchos, com o
mesmo sistema, para possibilitar a desforma na linha de translação.
Os conectores poderão ser utilizados para a suspensão das peças em
obra.
7. Controle de qualidade
As peças desformadas são transladadas mecanicamente para
área onde são colocadas em posição adequada para limpeza, reparos
e beneficiamento manual. Os pequenos poros existentes são
estucados com cimento e água. Hoje, as divisórias produzidas são
pintadas na cor branca, com tinta lavável, mais adequada ao uso em
ambientes hospitalares. A pintura branca reflete a radiação solar
constituindo mais uma estratégia passiva de conforto ambiental. Para
a execução dos pisos, há uma lixadeira industrial, que permite que a
face exposta seja bastante lisa e regular. As fôrmas de piso possuem
apenas um lado, e são curadas na posição horizontal, sendo chamadas
de fôrmas parciais ou fôrmas simples.
8. EstocagEm
As controle de qualidade, as peças são armazenadas e paletizadas
em estruturas metálicas, com espaçadores de madeira.
Posteriormente são carregadas em caminhões por meio de uma
terceira linha de pórticos com guinchos. Os caminhões levam as
peças para as obras Brasil afora.
Figura 176 - Moldes Metálicos, Controle de
Qualidade. Fotos do Autor, 2008.
Figura 177 - Montagem e estocagem dos
“Palets” para transporte. Foto do Autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
243
14. ENTREVISTA COM LELÉ
PABLO - Como foi o começo do trabalho de pré-fabricação na
sua carreira?
LELÉ - O problema foi gerado pela minha ida a Bralia. Bralia
devia ser construída em 3 anos. Em 1957 não havia nada e ela tinha
que ser inaugurada em 1960. Então, s tivemos que improvisar
muitos, vamos dizer, sistemas de racionalização, não pré-fabricação,
que naquela época não se fazia, mas, a racionalização da construção,
repetição de fôrmas, o uso de fôrmas várias vezes sim; para vo
ganhar tempo na construção. O objetivo principal era esse. Ao mesmo
tempo os canteiros de obra eram verdadeiras pequenas cidades;
tinham que ter tudo, (Brasília) o tinha nada, tinha que ter
refeitório, alojamento para todos os operários, tinha que ter
lavanderia, enfim, todas as coisas necessárias para o dia-a-dia vo
tinha que “subir” dentro do canteiro de obras. E foi nesses canteiros
que eu utilizei muito a pré-fabricação em madeira, mas o objetivo
era sempre ganhar tempo. Naquela época utilizávamos muito o pinho
do Paraná, que era uma madeira considerada vil, era usada para
rmas de construção, etc. O custo desta madeira era muito baixo
comparado com o retorno que dava que eram os moldes de concreto.
Foi inclusive uma madeira que se extinguiu, até devido ao mal uso
que houve. Hoje é muito raro vo encontrar um pinheiro do Para
com três metros de diâmetro, como tinha antigamente, por causa
justamente da construção civil que foi extremamente predatória neste
período. Mas de qualquer maneira, os primeiros exercícios que s
fizemos quando as pessoas foram para Brasília no sentido de
industrializar foram justamente com a madeira.
E a madeira evidentemente que é um material diferente do
concreto porque ela é desbastada. A perda de madeira é muito grande.
Você pega uma tora e vai tirando, tirando, tira as partes podres e o
que sobra é muito pouco, e o desbaste sempre te conduz a uma perda
enorme. Depois, a perda maior ainda ocorre porque os moldes de
concreto o são reaproveitáveis. Ou melhor, o eram naquela
época. Hoje em dia sim porque a madeira possui um custo proibitivo.
Mas eu diria isso, que os primeiros exercícios da pré-fabricação foram
com a madeira, e com o concreto no sentido de racionalizar mais a
construção, o de fazer pré-fabricação. Mas houve algumas
iniciativas na época, eu me lembro a de uma ocasião que o Oscar
Niemeyer me convocou para discutir os prédios, já no fim da
construção de Brasília, quase na sua inauguração, para fazer uns
prédios pré-fabricados para ver se conseguia fazer mais habitação...
P - Os prédios dos ministérios foram pré-fabricados em aço,
o?
L - Os ministérios o em aço. Em aço tem que ser industrializado
porque as vigas, inclusive, muitas delas vieram dos Estados
Unidos.Grande parte da estrutura foi importada como foi a do
Figuras 178, 179 e 180 - Fotos da Construção
de Brasília
-“Marco Zerono ano de 1957. Em primeiro
plano a plataforma da Rodoviário. Ao fundo o
local onde foi instalada a Esplanada dos
Ministérios e ao centro local da implantação do
Palácio do Congresso.
-Vista aérea da Esplanada dos Ministérios. Ao
fundo o local da implantação da Rodoviária e
Hospital de Base.
- O Congresso Nacional e à direita o Palácio do
Supremo Tribunal de Justiça. Fonte: Arquivo do
Distrito Federal.
244
Projeto de Arquitetura
Congresso Nacional que foi toda importada dos Estados Unidos. Os
ministérios não, muita coisa foi produzida por Volta Redonda. Mas,
a estrutura metálica tem que ser montada, não é como ocorre no
concreto, exige um sistema de racionalização um pouco maior
em função do canteiro de obras. Mas foi muito pouco, né, muito
pouco. De um modo geral as estruturas eram em concreto. Eu não
vejo nenhuma iniciativa no sentido de pré-fabricação. Eu acho que
as primeiras iniciativas ocorreram na Universidade de Brasília; em
1962, depois da construção de Brasília. sim, s montamos o
Centro de Planejamento, eu era secretário executivo, Oscar
(Niemeyer) era o coordenador dos cursos de arquitetura. Esse centro
se chamava CEPLAN, Centro de Planejamento. E foi que nós
iniciamos a pré-fabricação.
P - Podemos considerar 62 como marco para o início da pré-
fabricação no Brasil?
L - É, nessa época houve projetos de Oscar, houve projetos meus
como o da Colina, os Serviços Gerais também foi meu projeto.
P - Oscar Niemeyer é o mestre do concreto armado moldado in loco...
L - O problema é o seguinte, o Oscar explora principalmente a
plasticidade do concreto que exige moldes diferentes, nada
industrializado e nem pré-fabricado...
P - Foi Oscar quem deu este impulso em direção da pré-fabricação?
L - O impulso para a pré-fabricação foi na Universidade de Brasília
onde Darcy Ribeiro, ele tinha idéias assim sensacionais em relação
que a Universidade fosse o canteiro onde se projetasse e se produzisse
os prédios, essas coisas. A idéia propriamente de montar uma fábrica
de pré-fabricados, era uma coisa que Darcy queria. No pós-guerra a
Europa usou muito a pré-fabricação, principalmente sistemas como
o “Camus” que era de paredes portantes. Houve muita pré-fabricação
lá. Eu inclusive visitei as fábricas de um modo geral da Europa,
pela Universidade.
P - As condições européias tinham semelhança ao panorama
brasileiro?
L - Não, é que na Europa vo estava no pós-guerra e a destruão
foi terrível. Então eles precisavam reconstruir com muita urgência,
principalmente na Rússia, nos países do Leste; onde a destruição
foi maior. eles precisavam construir apartamentos e habitações,
principalmente habitações. De forma que nós também vivenciamos
essas experncias lá. s viajamos para com essa finalidade de
ver o que eles estavam fazendo. E tínhamos a inteão de aprimorar
isso justamente para praticar isso no Brasil. Para fazer a nossa fábrica
na Universidade de Brasília.
Figura 181 - Escola em Argamassa Armada no
Centro Administrativo da Bahia, Salvador. Obra
produzida pela FAEC em 1988. Foto do Autor,
2008.
Arquitetura da Indústria
245P - O senhor através desse conhecimento construiu várias fábricas
de pré-fabricados no Brasil...
L - É, mas as fábricas que eu propus aqui no Brasil eram fábricas de
pré-moldados de argamassa armada. Na verdade foram feitas para a
prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo, também para o Estado.
O objetivo era fazer principalmente escolas, não foi para produzir
habitação. Era para produzir equipamentos para a área social.
Escolas, postos de saúde, creches...
P - E qual é o porquê da opção pela argamassa armada?
L - Para ficar mais leve. Nessa época, no Rio de Janeiro, se produziam
muitas escolas, depois se começou a produzir em Salvador. No Rio
de Janeiro chegamos a produzir 200 escolas e depois muitos postos
de saúde, casas da criança, que eram pequenas creches. No Rio de
Janeiro usávamos esse tipo de tecnologia nas favelas. Eu acho,
principalmente levando-se em conta o sítio onde elas eram
implantadas, era uma constrão que a gente pensa quase que
transitória, porque tinham que se ajustar em condições muito difíceis
até de local, de topografia, de espaço físico, o que sobra naquelas
áreas muito adensadas das favelas.
P - As peças podiam ser transportadas por duas pessoas, não é?
L - É, eram transportadas a mão por duas pessoas; não dava para
pensar em guindastes. Mesmo aqui em Salvador também. As nossas
escolas nós montamos nas favelas. Para isso elas tinham que ter
uma tecnologia que permitisse... e a argamassa armada favorece pelo
próprio peso, as peças são finas o que permite o transporte por apenas
duas pessoas.
P - Essa tecnologia tamm se relaciona com as tipologias nas quais
era empregada. A necessidade em relação à modulação, vãos...
L - É, a gente desenvolveu muita coisa em argamassa armada para
as cidades; saneamento básico também. Muitas coisas foram feitas,
não foi na área de escolas, não. Fizemos muitas coisas, sanitários
públicos, um repertório enorme.
P - Os sanitários o particularmente engenhosos.
L - É, nossa idéia nos sanitários é que depois, quando a gente quisesse
automatizá-los... mas, tudo nesse período – a gente imaginava – que
tinha que usar a mão de obra intensamente, era preciso dar emprego
às pessoas, né? Hoje o mundo globalizado ta pouco se lixando com
o desemprego. As coisas são produzidas a qualquer custo. De forma
que o conceito que a gente tinha de sociedade é muito diferente do
conceito de hoje. Quando a gente fez as bricas, a fábrica do Rio, a
246
Projeto de Arquitetura
brica de Abadiânia, a idéia era sempre se usar um contingente
grande de mão-de-obra. Era produzir uma obra racionalizada em
que se economizasse nos materiais, mas não desprezasse a mão-de-
obra. Se você comprasse equipamentos e equipamentos para a
automatização, significaria desemprego, o que a gente não queria.
s desenvolvemos uma tecnologia que permitisse o uso da mão-
de-obra, que não reduzisse a mão-de-obra, pelo contrário, até crescia
a necessidade de mão-de-obra. No entanto, ao mesmo tempo vo
tinha uma rapidez muito grande nas construções, se fazia uma escola
dessas em quinze dias, coisa que não poderia ocorrer numa
construção convencional.
P - O trabalho do senhor tem uma forte relação com o pós-ocupação,
sempre evoluindo a partir de sistemas construtivos básicos na sua
obra. O senhor acredita que isso seja possível numa construção
convencional?
L - É possível, mas numa construção convencional além do problema
da velocidade tem o fato de que você não consegue qualificar bem
as pessoas, os pedreiros, por exemplo. Porque construção
convencional está apoiada na mão de obra artesanal. Vo tem que
ter uma pessoa qualificada que saiba fazer uma parede de tijolos,
essas coisas mínimas que tem que saber fazer... Quando chegam os
acabamentos, mais ainda. Agora, uma construção dessas que é
quase que um jogo de armar, vo consegue treinar qualquer pessoa
rapidamente. s tentamos usar mão-de-obra, inclusive, dos locais
da construção. Eram contratados ali no local mesmo e não havia
nenhuma dificuldade por parte deles em aprender como armar. É
uma coisa até lúdica de encaixar as coisas. Quando nós produzimos
as escolas em argamassa armada os objetivos isso foi na época
principalmente em que o Brasil estava saindo do regime de ditadura,
tava havendo a abertura potica e nós estávamos pensando que
atras de um sistema desse tipo s conseguiríamos resolver pelo
menos esses problemas sociais, de saúde, de educação, com
equipamentos nessa área. Construindo no interior, em cidades mais
isoladas; cidades que tem mais dificuldade em se apropriar dessas
técnicas. Então nosso objetivo era esse, um objetivo social. o
abríamos o de jeito nenhum da questão do emprego. Então,
procurávamos bloquear as questões de automação. Tudo que era
muito automatizado a gente não usava porque significava menos
empregos. Agora veja! Eu acho que a automação é uma questão
complexa, mas que na verdade ela o exige assim uma grande
criatividade por parte do Arquiteto. O objetivo realmente é se reduzir
a mão-de-obra. Eu gosto de automação... veja aqui, por exemplo, a
nossa fábrica de argamassa armada. Ela tem um nível de automação
razoável. Veja, não é nenhum absurdo, mas é um nível razoável.
Figura 182 - Junção aparafusada entre duas
peças em argamassa armada com função de viga.
Foto do Autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
247
P - é diferente das outras oficinas, tem uma produção mais linear...
L – É claro. Por que a gente fez isso? Porque aqui, como a produção
dessa fábrica de argamassa armada ia ser intermitente, com um fluxo
contínuo, devido aos hospitais poderem estar em fases de construção
diferentes, então o que tínhamos que fazer era reduzir a mão-de-
obra. Se tivéssemos uma o-de-obra que ficasse ociosa sem
sabermos o que fazer com ela, obviamente os custos subiriam muito.
Eno podemos operar essa oficina , com o vel de automação que
temos, com pouca gente. Então ela está sempre criando um certo
prejuízo quando fica ociosa, mas o tanto como criaria se fosse
baseada na mão-de-obra e com pouca automação.
P - Na sua pré-fabricação, notamos a presença de uma pré-fabricação
muito diferente da usual, com sistemas muito flexíveis, e sem ser
redutória...
L - o, por causa do problema dos hospitais que te estimulam a ter
soluções diferentes, os programas vão mudando, e a evolução da
parte terapêutica é muito rápida.
P - Não se trata de um sistema fechado, não?
L - Não, é completamente aberto. Eu acho que os sistemas fechados
podem e devem ser usados na questão da habitação. Porque na
questão da habitação votem programas mais ou menos rígidos
eno vo pode realmente estabelecer uma pré-fabricação em um
sistema mais rigoroso, fechado. Num programa como hospital...
mesmo em escolas nós éramos obrigados a ter um sistema
completamente aberto em fuão das diferentes implantações.
P - Como o senhor faz um balanço da pré-fabricação? Ainda no
mesmo tema, assim como aconteceu na Europa do pós-guerra, o
senhor acredita que a pré-fabricação tem que ter relação com o
Estado?
L - É, nesses países que foram bem sucedidos na pré-fabricação,
quase toda a produção era estatal. Eu acho que, gico, isso facilita.
Agora, eu acho que seria possível na industrialização da construção
você ter, vamos dizer, a pré-fabricação muito mais desenvolvida do
que ela é hoje se você não estivesse, primeiro, num país
subdesenvolvido como o nosso. A nossa situação é paradoxal; s
temos a demanda, isso significaria industrialização ou justificaria,
conduziria à industrialização, em função da grande economia de
escala quando se industrializa. Mas, por outro lado, você absorve
na construção civil no Brasil uma mão-de-obra desqualificada que
trabalha ocasionalmente em construção, depois os surtos de
construção diminuem então ela fica desempregada. Então precisa
248
Projeto de Arquitetura
ser uma construção que absorva esse tipo de mão-de-obra. Você não
pode treinar as pessoas. Então para você ter um processo
industrializado mais bem organizado, claro que vo teria que ter
pessoas treinadas, claro que não precisa ser todo mundo. Como na
fábrica tem um bom contingente de pessoas que foram treinadas,
senão vo não faz... é muito difícil. As pessoas acham, supõem que
você tendo determinados equipamentos, se vo tiver esse edifício
aqui, que você faz industrialização, não faz, não faz; se não tiver as
pessoas que estão aqui dentro o faz. É a mesma coisa que vo
pensar: ah, é muito bom esse violão, para vo que toca violão, se
você não souber tocar, não toca. Não adianta nada. Eno não existe
essa coisa de resolver tendo o instrumento, mas as pessoas ainda
acham que em constrão civil você tendo o instrumento você
resolve.
P - então, por outro lado, também é muito difícil formar o artesão
necessário para as construções convencionais, não é?
L - Ah, esse aí é impossível, é impossível porque ele já se perdeu no
tempo. Por isso que a construção civil é muito mal qualificada; vo
tem produtos industrializados de alta qualidade, mas quando chega
na hora de integrá-los é um caos, uma tragédia. A construção é uma
tradia... o canteiro é uma tragédia, agora os produtos não. Vo
tem pisos que evoluíram muito bem, hoje você tem pavimentações
muito boas, aliás esquadrias bem feitas, tecnologia da
industrialização, provinda do desenvolvimento de outros parques
industriais como o automobilístico ele coma a criar facilidades
para você aplicar em várias coisas. Hoje, por exemplo, todos os
nossos motores que usamos nos processos de mecanização e
motorização das esquadrias o todos da indústria automobilística.
Usamos toda hora produtos da indústria automobilística,
motorizações. Existe um parque industrial para esse tipo de
necessidade que você pode usar, mas o é esse o problema da
construção civil. O problema da construção civil é fazer paredes,
portas, janelas, e isso é completamente desintegrado. Vo não tem
integração, então você não tem um sistema industrializado. Você
tem um sistema que é barato baseado numa mão-de-obra que recebe
muito pouco dinheiro para sobreviver.
P - o CTRS trabalha no sentido de se utilizar desse potencial instalado
industrial...
L - Ah, é, nós estamos toda hora fuçando porque a gente tem muito
esse problema na construção. Existe uma indústria instalada. Hoje,
por exemplo,o indústrias afins, não chegam a ser específicas para
a construção civil, mas como a nossa atividade é bastante abrangente
você acaba usando. Nesse sentido, eu acho que todos os dias s
estamos procurando uma coisa ou outra para mudar as técnicas de
construção. Chega-se ao absurdo, absurdo entre aspas, de vo de
repente estar fazendo coisas que o parque industrial faz. Até, por
Arquitetura da Indústria
249
exemplo, a poltrona do auditório (Sarah Rio) que nós estamos
fazendo aqui. Parece um absurdo, mas o é um absurdo. Você vai
ver... o evoluiu essa questão. Hoje em dia você vai para um
congresso e vo tem que ter o lugar para colocar o computador e as
poltronas continuam com aquele bracinho à direita que você não
pode colocar um laptop; passando a ser uma coisa sem solução. Ou
você deixa o cara colocar o laptop na perna, ou então... Isso é uma
incongrncia num hospital tão sofisticado. Você chega lá, ta tudo
funcionando... aí quando vo chega no auditório, põe o computador
na perna; não parece uma coisa inteligente. Então a gente acaba
tendo que desenhar uma poltrona. Mas é um caso especial. Desenhar
a poltrona não significa que a gente vai fazer tudo, não, muitas coisas
a gente vai aproveitando o que está disponível aí na indústria. Outra
coisa também é essa questão do estofamento, devido à indústria
automobilística principalmente, evoluiu muito. Hoje em dia você
pode fazer um estofamento de boa qualidade e tem pequenas oficinas
por que fazem muito bem estofamentos. Certas coisas mudam o
perfil com a industrialização. E a construção civil, o que falta a ela
é a integração. Integração desses vários fazeres e saberes. É preciso
saber integrar todas essas formas; integrar com inteligência. A
construção civil é meio “Frankenstein”, você vai juntando as partes
de qualquer maneira. A forma de juntá-las... vo o Frankenstein
com aqueles pontos, aquelas coisas grudadas... a construção civil
me lembra muito aquilo, , tudo é assim, mal juntado. o coisas
que não são feitas umas com as outras. Eu acho que é preciso integrar.
Para isso acho que era fundamental a presea do arquiteto, agora
não o arquiteto que fica desenhando... fica fora do ambiente da obra,
mas sim o arquiteto retomar essa posição na obra, pra ele como
projetista, vamos dizer, a pessoa mais importante na concepção desse
todo, consiga articular todas essas formas, para fazer alguma coisa
com que tenha uma unidade.
P - o existe arquiteto que não tenha relação com a obra?
L - Eu acho que é impossível, mas no Brasil todos não tem (risos).
No momento não, ninguém se interessa. O arquiteto vai à obra
para ver como é que ficou... Ah, ficou bom, bom!... não para ver
como é que se está fazendo.
P - Aqui no CTRS, o arquiteto evolui com o contato com as
especialidades das oficinas?
L - Ah, gico. Eu acho que o arquiteto, dentro dessa questão da
recorrência, é forçado, até por um lado exótico da profissão, é
obrigado a estar sempre criando novas formas. Essa questão da
originalidade é muito estimulada na nossa profissão, mas eu acho
que a recorncia garante uma sedimentação maior das experiências.
Você faz uma obra que vopróprio testou no fim da obra e vo
consegue fazer uma nova, corrigindo aqueles problemas, recorrendo
ao mesmo sistema, eu acho que você está aprimorando o ato de
250
Projeto de Arquitetura
construir, o que é importante. Cada vez que você aprimora mais o
ato de construir, voestá criando um repertório maior para vo
ser mais criativo; vo não está criando uma limitação, vo está
testando. É um laboratório onde você testa novas experncias, mas
usando a recorrência. Por exemplo, na Arquitetura Grega o mesmo
templo grego foi reproduzido n vezes; ele caminhou, evoluiu do
dórico pro jônico, pro coríntio, com formas diferentes dos capitéis,
mas basicamente era a mesma... se você for ver os antecedentes, por
exemplo do Parthenon, que talvez seja um dos prédios mais bem
proporcionados da arquitetura grega, ele evoluiu de outras
construções muito semelhantes, de outros templos muito
semelhantes. Se você for ver o primeiro templo dórico que foi feito
você vai ver que é uma coisa pesadíssima, eles não dominavam muito
a técnica.
P - Esses templos tem origem em madeira, não é?
L - Sim, vieram da madeira. Quando vo Vitrúvio tem uma parte
muito interessante que ele fala sobre o intercolúnio, que quando
maior, quando você pudesse passar duas pessoas lado a lado,
proporcionava uma construção mais elegante, mais bonita. Mas, tinha
a limitação da arquitrave, da viga que era de pedra e tinha que vencer
o o, que trabalha péssimamente à flexão. Nesse capítulo ele
chegava à conclusão de que para conseguir um intercolúnio maior
era melhor voltar à madeira, quer dizer, abandonar a pedra, que não
é a tecnologia adequada para isso.
P - A arquitetura é um processo coletivo...
L - Coletivo...as pessoas estão trabalhando. Você a minha presença
aqui (no CTRS). Claro que eu estou aqui dispovel e tomo
conhecimento de tudo que está se fazendo aqui. Eu tenho
conhecimento aqui de tudo que está se fazendo na oficina, em todos
os lugares. Tudo passa por mim, mas eu não estou comprimindo
ninguém e impedindo ninguém de ser criativo. Eu, como
coordenador, sou obrigado, até, a exercer essa função de controlar
as coisas; como responsável máximo técnico por essas coisas. O
que interessa é o trabalho de equipe; todas as pessoas estão sentadas
produzindo. Você não ningm aqui não produzindo. Você teve a
oportunidade de passar alguns dias aqui e todo mundo estava
produzindo, da sua maneira. Então, é um trabalho integrado.
P - Aqui também se valoriza, de forma não muito comum hoje em
dia, a proficncia do profissional de projeto. Isso se perde um pouco
em função das novas ferramentas.
L - Lógico. Bom, eu acho que é importante trabalhar integrado.
Você tem facilidades de integração com as novas tecnologias, mas
eu acho que nada substitui a presença das pessoas. Hoje vo pode
Figura 183 - Parthenon, Atenas, Grécia, séc. IV
a.C. Fídias. Foto do Autor, 2007.
Figura 184 - Diagrama de Ventilação de autoria
do Arquiteto João Filgueiras Lima. Fonte: Arquivo
CTRS, 2008.
Arquitetura da Indústria
251
produzir uma música um cara tocando aqui um lá, grava aqui, grava
lá... mas isso não é a mesma coisa que você ter uma Jam Session ao
vivo em que as pessoas estão interagindo umas com as outras. Eu
não sei como substituir essa integração.
P - Aqui interação entre projeto, chão de fábrica... tudo junto.
L - Eu acho que nós deamos procurar essa união. Para fazermos a
arquitetura do dia-a-dia, do cotidiano, escolas, hospitais. Veja, o
que ocorre é que quando hoje em dia se decide fazer arquitetura os
modelos são sempre as arquiteturas grandiloentes que são
especiais! Elas não são feitas no dia-a-dia porque não se pode. Você
imagina se toda uma cidade fosse feita com palácios ou com museus,
ninguém aprendia, ninguém comia, ninguém fazia mais nada. Então
a cidade tem outras coisas que tem que ser resolvidas, tem o esgoto,
tem uma porção de coisas que tem que ser resolvidas com inteligência
e o arquiteto deveria estar contribuindo para isso. Mas, para isso ele
não pode querer fazer obras-primas, originais, uma coisa que
acontece raramente na vida de um profissional.
P - Obrigado pela conversa.
L - Nós temos o maior interesse. Nos isolamos um pouco aqui até
por contingência da nossa situação administrativa oficial. Uma
situação meio esquisita, somos proibidos de fazer convênios com as
instituições, afinal de contas nós mexemos com o dinheiro público.
É importante que esse investimento que foi feito aqui desse um
retorno grande, e eu reconheço que ele está dando um retorno
limitado porque estamos produzindo muito menos do que deamos.
Nosso potencial produtivo essendo subutilizado. Existem muitas
razões aí que acabam deixando a gente meio constrangidos, mas eu
acho, por outro lado, que essa experiência que está aqui é uma
experncia que tinha que ser estudada melhor. Tinha que ser avaliada
melhor. o por nós que iniciamos ela, por outras pessoas que
estejam interessadas; que vissem o que isso podia significar em
termos do profissional arquiteto. Como pode se ajustar o perfil do
arquiteto a este modelo que está aqui e vice-versa. É claro que nós
estamos aqui na contramão de tudo que se faz em arquitetura.
P - E parece ser a linha certa.
L - Não sei, não digo isso, mas eu acho que pelo menos tinha que ser
avaliado. Por que estamos na contramão de tudo que está se fazendo?
(...)Na minha arquitetura, em relação à questão de sustentabilidade...
A globalização tem como função criar modelos que sirvam para o
mundo inteiro, modelos arquitetônicos. s estamos vivendo essa
coisa de ter sempre ar-condicionado, de ter iluminação artificial.
São modelos que vem sendo impostos a partir da globalização como
modelos ideais para que se tenha conforto ambiental, e não mais a
252
Projeto de Arquitetura
utilização de recursos naturais. De forma que eu acho que é um
choque, no mundo desenvolvido estão procurando a sustentabilidade,
nós aqui estamos reproduzindo gestos deles. E copiando com uma
certa burrice pretensiosa; a burrice é sempre pretensiosa. Mas,
estamos copiando modelos e estamos achando que estamos
globalizados, enquanto eles estão discutindo outros problemas.
P - Sim, sua arquitetura abrange estas questões desde o partido,
apropriação do local.
L - É, eu fiz um projeto agora, que a maquete vão entregar hoje, que
são uns prédios que vão ficar num buraco, que ficam praticamente
pousados sobre a vegetação que existe , como se tivessem descido
de para-quedas e pousado, mantendo a vegetação. Acho que essa
questão da sustentabilidade passa por isso. A coisa vem de dentro,
não pode ser uma questão superposta ao problema dado. Acho que
ou o projeto é concebido pensando na sustentabilidade do planeta,
pensando na sobrevida do planeta, pensando em preservar as coisas
que a gente acha importante, ou então não adianta esse discurso
fútil da sustentabilidade, que é uma coisa para a mídia; do tipo:
Olha, eu coloquei um aquecimento solar aqui e estou esquentando a
água da minha piscina... não adianta nada, isso é uma bobagem.
P - O arquiteto consciente sempre buscou utilizar bem os recursos
naturais?
L - Sim. Acho que todos esses modismos que ocorrem na arquitetura
tem que ser vistos com uma certa reserva. Essa questão da
sustentabilidade é uma coisa que agora está na moda e depois passa.
Claro, toda vida eu sempre pensei na questão da sustentabilidade.
Eu acho que a base da nossa ação é a economia, ou seja, tudo na
natureza é feito de uma forma econômica, então, a sustentabilidade
passa por uma economia, se não houver economia não há
sustentabilidade. Economia que eu digo é o uso inteligente dos
recursos naturais, não é que a gente deixar de usar. Eu digo, a
gente precisa do oxigênio para respirar, então vamos respirar o
oxigênio, agora eu uso o oxigênio que o meu pulmão precisa, não
vou desperdiçar o oxigênio. Felizmente isso não é possível, pois o
pulmão que determina. No entanto, existem outras coisas que
estamos desperdiçando como é o caso da água e outros recursos
naturais que a gente simplesmente joga fora. Veja a indústria da
alimentação; que desperdício que existe nas grandes produções!
Analisando o ser humano, veremos que ele sempre desperdiça coisas.
Eno, sempre quando eu falo sobre a tecnologia eu cito o caso da
abelha que faz os hexágonos, porque não há forma mais econômica
dela fazer aquelas cápsulas. Caso fossem feitas em forma redonda,
se perderia uma porção de material entre as tangentes das
circunferências; como o cupim faz com a terra, que está disponível,
é outra coisa. A abelha tem consciência, ela se desenvolveu tendo o
sentido da imporncia de uma matéria-prima que ela usa que é
Arquitetura da Indústria
253
dificílima; que ela tem que trazer da flor, colocar nas perninhas. Ela
tem que economizar aquilo, é um material super-nobre para ela,
essencial. Nós vamos aprender com a abelha a fazer o honey comb.
A Natureza nos oferece uma porção de lições de economia para o
dia-a-dia. O que é preciso é isso, a base é economia, o resto é
decorrência. Eu tinha feito um outro projeto aqui para o TRE
(Tribunal Regional de Contas no Centro Administrativo do Estado
da Bahia) que eu tinha previsto um intercolúnio de trinta metros
que inicialmente eu achei que ficava melhor, mas o custo das vigas
ia ficar tão alto que achei depois que não ia ficar bom. Depois eu fiz
com um intercolúnio menor, de quinze metros, e achei que como
implantação ficou melhor. Então, o grande vão é uma coisa que
tecnologicamente a gente enaltece, acha que é uma grande conquista,
tudo bem, eu não sou contra isso, mas nem sempre é o grande vão
que tem que existir. Se o grande vão for necessário, se vo tem que
fazer uma ponte tipo a Golden Gate para atravessar a baía de São
Francisco, acho que a tecnologia está excelente, um vão de 1200
metros. Mas ele tem que ser colocado com inteligência, não num
exercício que você faz por obrigação, ele vem na medida que é
necessário. Existe uma nuance nessas coisas que é preciso a gente
estar sempre atento.
254
Projeto de Arquitetura
15. FÁBRICA DE ALIMENTOS
Projeto de IndústrIa de alImentos
Apresentarei a seguir o Projeto de Indústria de Alimentos,
realizado concomitantemente à pesquisa sobre o tema da Arquitetura
Industrial. Nesse sentido, serão colocadas de forma discursiva as
metodologias de projeto que encaminharam a cada uma das soluções.
Serão apresentados desenhos técnicos, perspectivas, diagramas e
referências. O intuito deste trabalho é apresentar de forma prática
as questões do edifício industrial de alimentos, em geral. Isso se
realizado através da aplicação dos conceitos apresentados nos outros
Capítulos, bem como novas situações específicas.
Ainda não é possível serem feitas avaliações pós-ocupação, mas,
podemos buscar referências em outras indústrias para suprir tal
deficiência. Apesar de ser uma alise com intuito acadêmico, o
projeto é real. Existe um cliente e intenção da execução, o que torna
mais preciso o estudo.
Vale destacar que a Dissertação busca estudar o Edicio Industrial
primordialmente sob o enfoque da construção Industrializada.
Considerações iniCiais
Os produtos desta fábrica visam atender a necessidades
orgânicas, por isso é imperativo que o projeto garanta a segurança e
a qualidade dos mesmos. Conhecer o produto, suas características,
seus possíveis contaminantes é fundamental. O manuseio dos
produtos, o processamento e a armazenagem requerem cuidados
específicos.
A edificação aprovada pela prefeitura do município no qual
será instalada, passou por 4 terrenos diferentes, 5 estudos
preliminares e 2 ante-projetos. Esses estudos preliminares são úteis
como uma forma de aproximação de questões produtivas
específicas da fábrica. O valor do projeto está justamente na
experimentação, nos desenhos, no diálogo arquitetônico entre cada
uma das soluções. É comum em arquitetura que o arquiteto se
depare com problemas específicos, tendo que buscar conhecimento
em outras áreas para justamente coordenar a ocupação global e
atividades. Nesse sentido, o arquiteto de prancheta acaba sendo
justamente o contrário do especialista.
Arquitetura da Indústria
255
A unidade industrial está composta por duas plantas produtivas,
que estão impedidas de contato. As legislações vigentes para as duas
atividades exigem diferentes graus de segurança, no entanto, com o
constante aumento do rigor do controle dessas atividades pela
ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) convém se
adotar nos dois casos a Legislação mais restritiva. No caso das
indústrias de Alimentos aplicam-se principalmente as Resoluções:
RDC 275 de 21/10/2002, Portaria nº 518 de 25/03/2004, RDC nº
273 de 22/09/2005 (Misturas para o preparo de alimentos). A RDC
275 inclui uma Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação
em Estabelecimentos Produtores e/ou Industrializadores de
Alimentos”, que verifica, inclusive, a qualidade da edificação e
características fundamentais.
Produto
ConCeituação da atividade
A seguir apresentarei, de forma sucinta, as características da
produção e mercado alvo, fatores essenciais para se estabelecerem
questões da imagem industrial perante a sociedade. A necessidade
de uma Fábrica de Enriquecimento de Alimentos e Aromas surge
com a constante industrialização dos alimentos e a perda dos
nutrientes através de processos industriais de confecção dos
produtos. o é uma idéia nova, sendo muito mais freqüente do
que possamos imaginar.
A idéia do incremento nutricional de um alimento pela adição
de um nutriente, naturalmente presente no alimento ou não, deve-se
ao francês Jean Baptiste Boussingault (1802-1887) que recomendou
a adição de iodo ao sal de mesa em 1833. Trata-se de uma atividade
tão arraigada na nossa cultura que é inconcebível pensarmos em
sal sem a adição de iodo.
Outro programa pioneiro no aperfeiçoamento da qualidade
nutricional dos alimentos foi a adição das vitaminas Tiamina,
Riboflavina, Niacina e Ferro à farinha e ao pão, em 1941 nos Estados
Unidos, adotada como “Encomenda nº 1 de Alimentos para a Guerra”.
As razões que levaram os Estados Unidos a enriquecer o pão tamm
estão presentes entre s:
256
Projeto de Arquitetura
“Na ocasião (1º. de março de 1983) eu examinei
os dados estatísticos do serviço militar em todo o país
e constatei que apenas 53% dos jovens de 18 anos são
considerados aptos no exame médico. Os outros 47%,
ou seja, 360.000 jovens, no ano passado, foram
considerados incapazes por problemas como
subnutrição, deficiência de peso e altura, diminuição
da acuidade visual e alterações congênitas dos
membros inferiores e da coluna”. (VASCONCELLOS,
In. Revista Vitae. Ano V – no.14 – agosto de 1997)
Segundo o Dr. Jack Bauernfeind, PhD em Bioquímica de
Nutrição e Fisiologia:
“uma das coisas boas da nutrificação (neologismo
referente à, podemos dizer, fortificação de quantidade de
nutrientes nos alimentos) é que as pessoas podem continuar
comendo tudo o que comem, com o mesmo sabor, com a
diferença que eso comendo melhor, do ponto de vista
nutricional”
O direito à alimentação é um dos princípios proclamados em
1948, pela “Declaração universal dos direitos do homem”. No Brasil,
desde meados dos anos noventa vem se avaando em relação a este
problema. Alguns governos estaduais procuram enriquecer seus
produtos, como é o caso do leite ou pão (gratuitamente distribuídos)
e de merendas escolares, com misturas de vitaminas e minerais que
segundo pesquisas tem resultado em muitos benecios à população
que os consome. Por sua vez, o investimento neste tipo de atividade
é baixíssimo do ponto de vista econômico.
“(...) De fato, os custos são tão baixos que a maioria
do universo-alvo pode, por si mesmo, pagar pelos alimentos
e pelas fontes farmacêuticas de nutrientes que necessita.(...)
(Revista Vitae, ano V no.14 agosto de 1997)
. No entanto, falta uma política pública que preveja a instalação
ou incentivo a este ramo industrial. Nos Estados Unidos, pesquisas
demonstram que cerca de 40% da população sofre de anemia
ferropriva, ou seja, anemia causada pela baixa absorção de ferro
atras dos alimentos.
Apesar de existirem estudos e pesquisas do ramo específico
nesta área de atuação industrial, have a necessidade de desenvolver
estudos mais aprofundados sobre a questão, à luz de dados
atualizados. Por esta contingência, durante o decorrer do trabalho,
as diretrizes neste momento pretendidas sofrerão fatalmente corrão
Arquitetura da Indústria
257
de rumo. O objetivo é que não se feche o projeto sobre ele mesmo,
mas que suas diretrizes possam vir a ser usadas em outras indústrias
do ramo, como por exemplo, laticínios, bricas de alimentos ao
consumidor, entre outros.
A Unidade de Aromas, por sua vez, criará e fornecearomas
quidos, em pó, emulsões, para diversos segmentos da indústria de
alimentos e de bebidas.
Organização Industrial – Estudo Preliminar
Seleção do Local de Implantação da Indústria
Abrica em projeto se localizará no município de João Pessoa,
Paraíba. As características da localidade exigem soluções de
iluminação, ventilação e posição no terreno. Uma das primeiras
questões a respeito da viabilidade do empreendimento tem relação
com a escolha do local de implantação que foi escolhido em fuão
de estar em posição estragica no ainda pouco atendido mercado
da Região Norte-Nordeste do país por essa tipologia industrial. Está
situado próximo aos portos de Suape, PE e de Cabedelo, PB,
condição fundamental para o uso de matérias-primas parcialmente
importadas do mercado Europeu e Chinês. Localiza-se ainda à
margem da Rodovia Federal BR-101, ligação com as cidades de
Recife, PE e Natal, RN.
A importância crescente da região no panorama industrial pode
ser demonstrada com o Complexo Industrial Portuário de Suape,
com 13,5 mil hectares de área total, abriga mais de 70 empresas
instaladas ou em fase de implantação, sendo considerado um dos
maiores do país. O projeto desse porto foi iniciado na década de 70,
com base no conceito de integração porto-indústria, a exemplo do
que existem em países como o Japão e a França.
Suprimento de água potável e não povel
Depósito de resíduos sólidos
A brica de Misturas para Enriquecimento de Alimentos
gera baixíssima quantidade de resíduos sólidos, sendo, na sua maior
parte provenientes de atividades anexas, como é o caso do refeitório
e cozinha. A produção é controlada por meio de balanças de precisão
e os equipamentos desenhados de forma a reter a menor quantidade
258
Projeto de Arquitetura
possível de partículas. O processamento conta com exaustores
industriais que captam as partículas suspensas no ar, que são
depositadas em mangotes de feltro. O projeto pre edificação para
lixeiras, disposta distante dos volumes edificados da indústria, e
com acesso independente para retirada dos resíduos pelo exterior
da Fábrica.
Resíduos líquidos
Os resíduos líquidos da indústria prom da limpeza dos
ambientes, equipamentos e instalações sanitárias (águas servidas).
Para se estabelecer a necessidade de um pré-tratamento antes de
serem despejados, deve ser levado em conta a quantidade e qualidade
dos mesmos. A qualidade abrange fatores como composão,
temperatura, propriedades sicas e químicas, concentração de
sólidos, dentre outros. Com base nesses fatores será definido o seu
destino, esgoto público ou rios.
A brica gera efluentes em maior quantidade em função
da limpeza dos equipamentos. A grande diluição dos poucos resíduos
de nutrientes o interfere na qualidade da água, que pode ser
despejada em rios ou na rede de esgotos local. Perfeitamente poderia
estar localizada próxima a rios, mas o é o caso.
No caso do Estado de São Paulo, existem limites
estabelecidos por lei para os efluentes industriais. Estes limites estão
definidos segundo o Decreto no. 47.397, de 4 de dezembro de 2002.
As tabelas mais importantes neste caso são:
1. Condições dos efluentes em função dos locais de
lançamento.
2. Parâmetros ou valores da qualidade dos corpos de água que
não podem ser alterados pelo lançamento de efluentes.
Focos potenciais de insetos e roedores na vizinhança
É essencial se conhecer as espécies específicas atraídas pelo
tipo de alimento, segundo a sua morfologia, ciclo de vida, fisiologia,
anatomia, local de abrigo, bitos, etc. Após estes estudos, a
eliminação dos insetos pode ser feita por dois meios: químicos ou
sicos. Para a prevenção é interessante seguir os itens a seguir:
Arquitetura da Indústria
259
1. Usar telas em janelas, portas, entradas de ar, etc.
2. Eliminação de todas a frestas, cavidades e buracos na estrutura
dos pdios industriais.
3. Não guardar lixo em recipientes abertos. Os recipientes para lixo
devem ser limpos e sanitizados periodicamente.
4. Evitar materiais em decomposição na área ao redor da indústria.
5. O tratamento de resíduos industriais deve estar localizado longe
da área de processamento de forma que o vento não leve seus
odores à planta.
6. Evitar mato e capim alto ao redor da indústria.
7. Sanear lagoas e pântanos próximos à indústria.
8. Inspecionar periodicamente forros, tetos, paredes, vãos de
escadas, poços de elevador e lugares de pouca movimentação de
pessoas.
9. No caso de matérias-primas que geralmente já são recebidas na
indústria com infestações, a área para a sua limpeza deve ficar
separada do restante da área de processo. Esta separação deve
ser de tal forma que impeça a locomoção dos insetos (retirados
da matéria-prima).
10. Usar dedetização com efeito residual, porém somente nos locais
aonde não exista o perigo de contanto com o alimento e
complementos de produção.
11. Utilizar-se de pressão do ar positiva nas áreas de produção para
dificultar a entrada de insetos voadores, bem como parculas de
sujeira do ar externo.
Fonte: KEHR, p. 37, complementado e adaptado pelo autor.
Prédios Industriais
Espacialmente, esta tipologia industrial, constitui indústria
de pequeno porte, ou atividade semi-industrial. Na brica de
enriquecimento de alimentos são produzidas rmulas (por isso o
de suma importância as edificações dos laboratórios, escritórios e
salas de desenvolvimento), sendo que os componentes chegam
prontos à linha de produção e são apenas misturados. O produto
dessa brica é matéria-prima para diversas outras bricas de
alimentos (inclui bebidas), Farmacêuticas, Cosméticos e Nutrição
Animal.
As fábricas compram as fórmulas que o criadas em função
dos processos produtivos das indústrias finais, levando-se em
consideração os métodos produtivos, resistência do produto,
diluições, dentre outros. A produção, portanto, o é constante, mas
feita segundo as necessidades espeficas dos clientes, inserindo-se
260
Projeto de Arquitetura
dentro do conceito Kanban. Por se tratarem de produtos segundo
etiqueta, deve se estabelecer soluções que impeçam a
contaminação cruzada dos produtos, mesmo estes não sendo de forma
alguma prejudiciais à saúde humana, mas sim favoráveis. Nesse caso
se necessária a previsão de sistemas de limpeza dos equipamentos
e laboratórios para controle de contaminações, químicos e
microbiológicos.
Assim como a maior parte das fábricas, deve prever expansões
para atender ao aumento do mercado consumidor, em franca
expansão. A escala do edifício para esse tipo de atividade industrial
permite maior liberdade de escolha das soluções construtivas, e dos
lay-out de produção. Este edifício em si não constitui um desafio
estrutural, mas, organizacional. Os equipamentos necessários para
o processo de produção o misturadores de piso, do tipo “V” ou
horizontais de fita.
O programa necessário compreende diversos tipos de
ambientes totalmente distintos, sendo assim, podeo ser estudados
diversos tipos construtivos como é o caso, por exemplo, de galpões,
laboratórios, salas de produção, estoque e expedição.
Abaixo veremos um diagrama de indústria linear, ou seja,
várias estações ou postos de trabalho ordenados de acordo com a
seqüência dos processos sofridos pelo produto, demonstrando as
unidades sicas fabris de uma indústria de pré-misturas. Será
necessário estudar as dimensões espaciais de cada atividade.
Recomendações sanitáRias:
Os prédios destinados ao processamento ou
armazenamento de alimentos devem ser os primeiros a serem
tocados pelos ventos. Em outras palavras, o vento não deve
levar, para a área de processamento, os odores de
contaminação de locais como estábulo, estação de
tratamento de resíduos, currais, lagoas de fermentação,
graxaria, depósito de lixo, et. Além disto, do lado que vem
os ventos o deve existir terra nua, a fim de se evitar a
poeira. (...)
Deve existir proximidade entre os vestiários e a planta
de processamento, sem haver, entretanto, comunicação
direta.
As oficinas e garagens não devem ficar próximas às
áreas de processamento ou dos depósitos de matérias-primas
e produto final.
As estações de tratamento de água, currais,
estábulos, graxaria, lagoas de fermentão e outros locais
que ofereçam riscos à higiene da fábrica devem estar
completamente isolados da área de processo de produtos
alimencios.”(KEHR, 19-?, p.7-8)
Arquitetura da Indústria
261
Distribuição Geral Dos PréDios inDustriais
Estrutura Em Planta
Nesta fábrica de alimentos seguiu-se a tipologia industrial
de Sistema aditivo linear de “pente duploem função das diversas
necessidades e características dos espaços necessários que funcionam
independentemente, mas, não podem estar completamente isolados.
Uma referência deste tipo de organização em planta é o complexo
de oficinas do Centro de Tecnologia da Rede Sarah, apresentado no
Estudo de Caso anterior.
A escolha pelo sistema aditivo linear tem relação com o
aproveitamento da forma retangular do terreno, sendo a expansão
condicionada para os dois lados da edificação existente.
O partido arquitetônico baseou-se em passarelas cobertas
em dois veis que fazem a coneo da todas as atividades da fábrica,
não havendo a necessidade em sair do edifício para qualquer situação
relacionada ao trabalho. A passarela central que unirá todas as
atividades setrabalhada de forma a aproveitar-se do clima do local,
quente durante todo o ano, privilegiando a entrada de brisas
marítimas nos locais que o estão diretamente relacionados à
produção.
Itens a serem contemplados:
1. Via principal
2. Cerca de contorno
3. Arruamento interno
O único acesso de veículos está disposto de tal forma que não
haja tráfego desnecessário e demorado de camines e automóveis
dentro da indústria. Em alguns casos, os requerimentos sanitários
em relação à entrada e saída de produtos podem ser diferentes, sendo
importante evitar o cruzamento entre a matéria-prima que entra e o
produto acabado que sai. o é o caso da indústria em questão. Os
estoques das duas unidades produtivas são independentes, sendo
comunicados através das Docas cobertas. Existe um pátio de
manobras para camines de até 20 metros de comprimento.
Para reduzir custos com portarias a entrada foi centralizada.
O fluxo de automóveis e caminhões neste tipo de atividade o é
constante, o que permite esta decisão arquitetônica. A centralização
numa única lateral do terreno permite o ganho de espaços na outra
262
Projeto de Arquitetura
lateral e a distância de instalações que requerem segurança especial
como é o caso da sala de caldeiras, central de gás e energia elétrica.
Ainda podem ser previstas balanças no piso da via por onde
passarão os caminhões para tornar mais rigoroso o controle de
quantidade de produto entregue ou produto em expedição. Essas
balanças servem melhor no caso de produtos que o entregues em
caminhões pipa ou caçamba, sem controle preciso.
4. Curvas de nível
5. Platôs e taludes de corte e aterro
6. Utilidades
7. Tubovias
8. Áreas de reserva e expansão
9. Canais de drenagem
10.Linhas de alta tensão
11. Áreas com tratamento paisagístico
12.Passeios e circulação de pedestres
13.Equipamentos externos aos edificios
“A construção saniria, facilidades, arranjo
físico (lay-out) e manutenção dos edifícios são de vital
interesse para a indústria de produtos alimentícios. O
manuseio, preparação, processamento e armazenagem
de alimentos requerem cuidados especiais, por tratar-
se de um produto facilmente danificável. Os
requerimentos sanitários para a construção civil dos
prédios industriais devem ser levados em conta a fim
de se obter um produto final em boas condições de
higiene e que, ao mesmo tempo, tenha-se baixo custo e
simplicidade de limpeza e manutenção das instalações
industriais” (KEHR, 19-?, p 1)
Figura 185 - Fluxograma funcionamento.
Gráfico do autor, 2008.
Arquitetura da Indústria
263
Programa de necessidades básico
(respectivamente segundo diagrama):
1. Recebimento e Expedição
2. Controle Logístico
3. Estoque
4. Troca de Embalagens
5. Salas de Dosimetria
6. Salas de Mistura
7. Estoque Saída
Deverão ser compreendidos
também:
8. Salas Administrativas
9. Auditório
10. Sala de Reuniões
11. Salas de Direção da Indústria
12. Vestiários
13. Salas de Estar
14. Cozinha
15. Salas para troca de vestimenta
para ambiente limpo
16. Laboratórios de Controle de
Qualidade
17. Ambulatório
18. Salas de Utilidades (Elétrica, Ar-
condicionado, sendo este último
essencial para garantir a pressão do
ar positiva dentro dos recintos de
prodão)
19. Salas de limpeza de
materiais e equipamentos
20. Salas de Repouso
21. Sala de Manutenção
22.Circulações horizontais e
verticais mecanizadas ou não
23. Portaria
24. Área de estacionamentos
Utilidades:
1. Àgua Potável
2. Água Quente
3. Água Refrigerada
4. Água Destilada
5. Água Industrial
6. Vapor
7. Vácuo
8. Ar comprimido
9. Ar quente
10. Aspiração de
11. Geradores de Energia
Elétrica
12. Subestação Circulações
horizontais e verticais
mecanizadas ou não
Estrutura Em CortE
A qualidade da edificação também responderá por maior
produtividade dos trabalhadores de produção. Seus ambientes serão,
ao máximo, tratados de forma flexível, sem desconsiderar o fato
descrito por HERZBERGER (1999) de que uma formulação flexível
embora se adapte a cada mudaa que surja, o pode ser nunca a
melhor e mais adequada solão para nenhum problema; pode fornecer
qualquer solução em qualquer momento, mas nunca a melhor solução.
Deve-se, no entanto, prever a evolução dos meios de produção. É
desejável que a estrutura seja modulada, que consiga liberar grandes
vãos, e ainda, que estas qualidades não onerem excessivamente a obra.
O empreendimento industrial requer, na maior parte dos casos, um
sistema construtivo pré-fabricado, permitindo a pida instalação, em
diversos locais, sem perder suas caractesticas funcionais.
Figura 186 - Diagrama linear da prodão.
Desenho do autor, 2008.
264
Projeto de Arquitetura
Podemos classificar este edicio com horizontal, as atividades
de produção e armazenagem ocorrem todas em um único pavimento.
No entanto, existem indústrias do mesmo setor que são estabelecidas
em vários pavimentos, em função da escolha dos equipamentos.
Nesse caso, o acesso dos produtos aos misturadores do tipo
“NAUTA” se em um pavimento superior, na boca do funil e a
retirada das misturas se no pavimento rreo.
Para se reduzir a área em planta dos Estoques optou-se por
empilhar os produtos em porta-pallets, que o estantes metálicas
acessadas por paletadeiras mecânicas.
Cobertura
A cobertura deverá ser executada em laje de concreto, pré-
fabricado ou não, na área de produção, para garantir as condições
de estanqueidade das salas limpas. No projeto, no entanto, optou-se
que a laje funcionará como uma subcobertura. Para facilitar a
manuteão e evitar impermeabilizações feitas em obra, deverá haver
uma cobertura em telhas de aço galvanizadas do tipo sanduíche. O
colchão de ar entre as telhas e a laje ainda funciona como um colchão
rmico, auxiliando na manutenção da temperatura controlada das
salas de produção, que deve permanecer a15
o
Celsius, uma vez
que esta é a recomendação de temperatura máxima para produtos
como é o caso de caroteides, dentre os quais o Beta-caroteno e a
Vitamina A.
Nos estoques optou-se por coberturas em telhas de aço
galvanizadas do tipo sanduíche zipadas. O caimento desse tipo de
telhas é de apenas 0,5%, o que resulta em menores alturas totais da
edificação, facilitando eventuais manutenções. A iluminação natural
e ventilação se darão através de domus de iluminação e ventilação
(convecção) industriais.
Figura 187 - Perspectiva seccionada da área
produtiva. Desenho do autor, 2007.
Arquitetura da Indústria
265
Nos pavimentos superiores, onde se localizarão o refeitório e
escritórios optou-se pelo mesmo material de cobertura, facilitando
a instalação no conjunto. Nesses ambientes, o forro será feito através
de forro de gesso acartonado. Essa diferenciação entre os prédios
destinados e o destinados ao processamento de alimentos
(administração, refeitório, ambulatório, oficinas, depósitos de peças
e equipamentos, vestiários, lavanderias e outros) se faz necessária
pelo aspecto econômico e pelo aspecto sanitário, porque os requisitos
para a área de processamento são mais rigorosos que para as demais.
É desnecessário gastar mais dinheiro para construir áreas com alto
requisito sanitário se as mesmas não serão utilizadas para o
processamento de alimentos.
O sistema construtivo escolhido deverá, portanto, obedecer a
veis de requerimentos distintos, levando-se em conta o uso
característico da área.
SiStema ConStrutivo
A unidade produtiva de alimentos deve, sobretudo, estar
instalada em edificação onde se garanta boa higiene, para garantir a
qualidade do produto final. Uma construção adequada propiciará
uma produção com menos perdas. Isso facilitará, por sua vez, que
sejam evitadas as presenças de insetos e roedores. Serão consideradas
as necessidades de conforto tais como nível de ruído, ventilação,
temperatura e iluminação para cada estágio do processo produtivo,
que são mais onerosas e ineficientes as adaptações posteriores ao
projeto. Ainda em relação ao processo, é imprescindível que se
conheça de forma aprofundada os equipamentos usados. A seleção
correta dos equipamentos proporciona menores custos de
manutenção.
Assim, como boa parte das cidades brasileiras, João Pessoa é
uma cidade costeira. Por esse motivo, devem ser levados em conta
os fatores relativos à corrosão dos metais acentuada pela maresia.
No caso das obras do arquiteto João Filgueiras Lima, em sua maior
parte na mesma situação, utiliza-se o aço SAC-50, uma evolução do
aço cortén. Nesse caso, em princípio a solução de um sistema
construtivo em concreto armado pré-moldado parece necessitar de
menor manuteão e ser mais adequado para atividades de produção,
que utilizam constantemente água para limpeza dos equipamentos e
ambientes.
266
Projeto de Arquitetura
Figura 188 - Plantas da fábrica. Desenho do autor,
2009.
Arquitetura da Indústria
267
Em relação à fatores que devem ser observados na seleção do
sistema construtivo do edifício de processamento estão:
1
o
. Evitar grande número de colunas de
sustentação. As que existirem devem estar bem
espaçadas.
2º. O número de dependências deve atender as
condições do processo, sendo que as dependências
mínimas estão estabelecidas pela legislação vigente
no local, para cada tipo de indústria alimentícia.
3º. Mesmo que não especificado na legislação,
a indústria deve ter as seguintes dependências: seção
de recepção, seção de manipulação, seção de
embalagem; são de armazenamento e seção de
expedição. Estas dependências devem ser separadas
por paredes e preferivelmente isoladas com portas ou
cortinas de ar.
4º. Devem ser evitadas as dependências de área
muito pequena.
5º. Evitar muitas portas, mas ao mesmo tempo,
garantir 4 entradas/saídas distintas: matéria-prima,
produto final, funcionários e complementos de
produção (embalagens, etc).
6
o
. Os funcionários que manipulam a matéria-
prima não devem manipular o produto final e vice-
versa. A construção deve estabelecer uma separação
física entre eles.
7
o
. Acesso de funcionários deve ser diretamente
no seu setor de trabalho evitando que passem por outros
setores.
8
o
. Os pavimentos superiores devem ser
utilizados para operações a seco e os inferiores para
operações úmidas.
9
o
. Eliminar os espaços inacessíveis e
desnecessários, tais como: topo de colunas, vãos de
escadas e outros.(KEHR, p.33)
No Estado de São Paulo, existem Decretos (exemplo, Decreto
Estadual 12.342/78) que determinam a compartimentação mínima
de segmentos da indústria de Alimentos.
No caso dos Estoques, o piso deve estar calculado para resistir
a cargas pontuais (punção), provocadas pelos montantes verticais
das estantes porta-pallets e caragas dinâmicas da movimentação de
carros, caçambas, etc. Dependendo da qualidade do solo, recomenda-
se o estaqueamento do piso. Deverão ser previstas juntas de dilatação
a cada, no máximo, 10,00x10,00 metros.
Tanto na área de armazenagem como nas áreas de produção o
piso deveser liso, impermeável e não escorregadio e ter drenagem
suficiente para mantê-lo sempre seco. A umidade propicia o
268
Projeto de Arquitetura
desenvolvimento de microorganismos nocivos à saúde humana. A
inclinação do piso conm ser igual ou superior a 1% na direção
dos ralos ou canaletas.
Nas áreas de prodão o piso deverá ser realizado em concreto
moldado-in loco com capa de resina epóxi autonivelante e anti-
estática, sendo estes totalmente planos e à prova de . Os rodapés
e cantos das paredes deverão ser arredondados, evitando-se assim o
acúmulo de material nessas partes. A resina epóxi deverásubir” na
parede até altura de, no mínimo, 30cm. A drenagem se dará atras
de ralos, sempre sifonados, localizados nos corredores de acesso às
salas de produção, e nunca dentro das mesmas.
No caso de áreas úmidas com a presença de susbstâncias
alcalinas ou ácidas é necessário a impermeabilização da laje abaixo
do piso acabado, ou então, o cimento do contrapiso deve ser
misturado com epóxi ou poliester.
Devem ser tomados cuidados semelhantes com as paredes,
que terão de ser de fácil higienização.
SiStemaS Pré-fabricadoS
Dentre os sistemas construtivos pré-fabricados existentes no
mercado brasileiro podemos elencar as estruturas em concreto
armado pré-moldado, as estruturas melicas e os sistemas mistos.
A Fábrica de Enriquecimento deverá ser executada em
estrutura de concreto armado pré-moldado, sendo a cobertura dos
estoques suspensa por treliças metálicas.
As áreas limpas exigem, no entanto, total vedação e limitam
as estruturas independentes pré-fabricadas pela qualidade dos
tratamentos das juntas. Poderão ser utilizados revestimentos duplos,
formados internamente por cápsulas para salas limpas instaladas
dentro da superestrutura em concreto pré-moldado. A vantagem desse
sistema em relação à construção convencional está na flexibilidade
dos ambientes. As compartimentações trabalham independentemente
da estrutura que pode ser realizada em grandes vãos. O espaço entre
a estrutura portante e as Salas poderá ser utilizado como passagem
de instalações variadas, inclusive de controle da qualidade do ar.
As junções entre painéis e entre painéis e estrutura é um dos
temas mais importantes no que se refere às pesquisas relacionadas à
constrão pré-fabricada. Esses problemas ainda são de maior
importância quando estamos tratando de edificações industriais para
a indústria de alimentos. As juntas são focos de sujeira e, portanto,
Arquitetura da Indústria
269
de contaminações. Por esse motivo deve ser minuciosa a escolha do
sistema construtivo pré-fabricado ou, utilizar de um misto com
estruturas convencionais. Mesmo nas estruturas convencionais em
concreto armado, por exemplo, é importante que se prevejam as
juntas de dilatação. No caso industrial torna-se mais freqüente esta
necessidade pelas dimensões dos edifícios de produção.
Existem diversos tipos de juntas com diferentes
comportamentos perante a ação da água. Alguns sistemas utilizam-
se de gaxetas de borracha, neoprene, e outros materiais, que impedem
por completo a entrada da água, mas, configuram-se como elemento
de constante e difícil manutenção. Existem sistemas que utilizam-
se do desenho das juntas para criar espécies de canais e dutos para
conduzir a água até drenos ou elementos como pingadeiras. Nesse
caso a vedação não é total.
As juntas dependerão do material em que são confeccionadas
e também das tolerâncias de execução da estrutura e a maior ou
menor precisão da execução das peças. As placas de vedação podem
ser compostos metálicos (painéis sanduíche), em concreto armado
ou em materiais desenvolvidos nos últimos anos como é o caso do
GFRC (Concreto reforçado com fibra de vidro).
Nas obras de João Filgueiras Lima, as placas de vedação
possuem rebaixos que permitem que sejam travadas de quatro em
quatro peças através de porcas e barras roscadas. O rebaixo permite
que a vedação ocorra com argamassa comum. Os rodapés onde se
encaixam as divisórias podem ser executados no local ou serem pré-
fabricados. Nesse caso a obra não é totalmente seca, mas, reduz-se
a grau muito baixo as argamassas executadas in loco.
Níveis de coNtrole saNitário
Assim como descrito anteriormente, se faz necessária a
diferenciação construtiva entre a área de processamentos dos
produtos e as áreas não destinadas ao processamento, em virtude de
fatores ecomicos. O sistema construtivo, portanto, deve
possibilitar diferentes níveis de cuidado sanitário.
270
Projeto de Arquitetura
Edifícios não dEstinados ao procEssamEnto
O projeto e a constrão dos edifícios o destinados ao
processamento devem atentar a dois aspectos principais:
1.Detalhes Construtivos Gerais;
2.Detalhes Construtivos Específicos, levando-se em conta o uso
característico da área;
O primeiro aspecto compreende especificações a respeito da
construção, instalações, iluminação, insolação e ventilação. Devem
seguir as considerações que se aplicam a todas as edificações, como
é o caso dos Códigos de Obras e Edificações dos Municípios. Essas
considerações também incidem sobre o edifício de processamento.
O segundo aspecto abrange as dependências de uso
específico: laboratórios, salas de caldeiras, salas de geradores,
que possuem recomendações próprias.
No caso dos Laboratórios da Fábrica de Enriquecimento de
Alimentos e Aromas, serão seguidos padrões muito próximos ao
das salas de processamento. Devem ser previstas salas especiais para
estoque de reagentes químicos e a temperatura deve se manter
constante a 19º C, para evitar danos aos equipamentos sensíveis.
Assim como na área de produção a limpeza deve ser constante e
para isso seo especificados detalhes que impeçam a acumulação
de partículas.
Edifícios dEstinados ao procEssamEnto E armazEnagEm
de alimentos
Neste caso o controle sanitário é mais rigoroso, devem ser
alcançadas condições higiênicas para o processamento e a
armazenagem dos alimentos. Estado deo Paulo, estabelecimentos
industriais de neros alimentícios: Decreto Estadual 12.342/78
(Cap. XXIV), Decreto Estadual 12.486/78.
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