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do Instituto Nacional do Livro – INL – e escritor da Introdução da primeira edição d‟A
Demanda
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de Magne (a de 1944); Heitor Megale, pessoa responsável não só por três edições
defesa de nobre causa, inspirada no mais puro idealismo” (ibidem, p. XII). No prefácio da sua edição de 1955-
70, Magne não trata dos aspectos cavaleiresco e religioso d‟A Demanda. Vale ressaltar que Augusto Magne
não problematizou esses dois aspectos do Amadis de Gaula, nos prefácios que escreveu para as suas edições
d‟A Demanda do Santo Graal. Aliás, o Amadis de Gaula sequer foi mencionado nesses prefácios.
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Na Introdução da primeira edição d‟A Demanda do Santo Graal de Augusto Magne, publicada em 1944 pelo
Instituto Nacional do Livro – INL –, Américo Facó, chefe da Seção da Enciclopédia e do Dicionário do
referido instituto, assim se refere ao caráter religioso da novela em questão, quando pensa naquele que teria
tomado para si o trabalho da tradução ducentista d‟A Demanda em terras portuguesas: “A quem atribuir a
versão? Obra acaso do gosto e vagares de um monge, que a tivesse cumprido zelosamente na paz do seu
eremitério? É esta hipótese a que primeiro nos salteia à reflexão de que a narrativa pertence ao grupo dos
romances arturianos mais penetrados do influxo, então soberano, do pensamento e fervor católicos; depressa,
porem, nós nos advertimos de outra. Como a cultura eclesiástica foi a predominante na formação do século
XIII, o tradutor da Demanda do Santo Graal bem podia ser um clérigo, isto é, um excelente letrado, homem
do mundo e não propriamente homem de Deus, embora a diferença de condição não o fizesse muito
discordante, pelo espírito, de um monge autorizado em belas letras, que obedecesse às práticas e regras de um
mosteiro. Mas, hipótese por hipótese, ambas se valem” (MAGNE, op. cit., p. 25). É possível perceber, por essa
citação, que Américo Facó chega a pensar que o tradutor da versão portuguesa d‟A Demanda do Santo Graal
pudesse estar ligado à Igreja Católica (ser monge ou clérigo), pelo fato d‟A Demanda portuguesa trazer em seu
bojo, como já se viu, muito dos preceitos católicos que orientaram a vida da Europa (e, especificamente, de
Portugal) na Baixa Idade Média (do século XI ao XV). O aspecto religioso (cristão) d‟A Demanda do Santo
Graal também foi observado por Américo Facó com base da natureza do próprio objeto procurado: “Que
origem ou natureza tinha entretanto o Graal para o próprio Chrétien? Onde estava o mistério? Qual o símbolo
da cousa irrevelada? A dúvida, se não ignorância dos que tomaram ao poeta por modelo, era talvez completa, e
as suas interpretações ou divergiam, e tanto mais quanto queriam ser mais precisas, ou se perdiam por muito
abstratas. Isso mesmo explica em parte por que o problema do Graal permanece extremamente complexo para
os investigadores modernos. Segundo estes, a idéia estava talvez originariamente ligada a um vaso cristão, a
que a imaginação popular tivesse conferido atributos sobrenaturais; ou era uma criação da mítica céltica,
modificada por influência cristã; ou, nova hipótese, a fusão de duas formas primitivas, uma céltica e uma
cristã, em nova forma popular, que já existisse antes do romance arturiano. Entre as diferentes interpretações
dadas pelos continuadores de Chrétien, tornou-se predominante a que reconhecia o Graal como um vaso ou
cálice da Última Ceia; ora teria servido a José de Arimatéia para recolher nele o sangue que fluia das chagas
do Crucificado; ora o teria Jesus confiado ao mesmo José de Arimatéia, que o transmitira mais tarde a um
parente, avô de Persival; ou ainda, como vagamente o insinuou Mennessier meio século depois de Chrétien, o
Graal seguira a José de Arimatéia até a Grã-Bretanha...” (ibidem, p. 18). Quanto ao caráter cavaleiresco d‟A
Demanda, Américo Facó – como Lênia Márcia de Medeiros Mongelli, Maria do Amparo Tavares Maleval e
Yara Frateschi Vieira disseram n‟A Literatura Portuguesa em Perspectiva. Vol. I – assinala o seu
aparecimento, dentro do ciclo arturiano, já a partir dos escritos de Nennius, que datam, aproximadamente, do
ano 1000 d.C.. Américo Facó também lembra que as primeiras histórias em torno do Rei Artur já remontam,
ao que tudo indica, ao século VI, como se pode ver a partir destas citações: “O que se afigura incontestável é
que jamais houve um Rei Artur para inspirar a ficção poética e romanesca, mas que existiu muito
provavelmente um guerreiro Artur, que lutou com vantagem contra os invasores saxões da antiga Britânia, no
século VI. Os factos, que um moderno medievalista inglês aponta as a historical nucleus para todo o romance
arturiano, são pelo mesmo prosaicamente reduzidos a este simples esquema: houve um chefe guerreiro que
enfrentou e bateu os invasores, foi traìdo pela esposa e um parente muito chegado, e morreu em combate”
(MAGNE, op. cit., p. 14.) e “Para maior precisão, convem notar que antes de Chrétien a tradição de Artur
ocupara alguns escritores. A Historia Britonum, dita de Nennius, cópia ou compilação de autor ou autores
mais antigos, data das proximidades do ano 1000, e conta lendas relativas às vitórias de Artur, na luta contra
os invasores vindos do norte da Alemanha. Outra, a Historia Regum Britanniae, de Geoffrey of Monmouth
que por singularidade assinava Geoffrey Arturus, divulgou-se pouco antes de 1150. Esta última, com a sua
cronologia extravagante, e os elementos feéricos que lhe entraram na composição com aparência de coisas
reais, foi muito tempo a fonte onde beberam cronistas e poetas. Uma e outra, escritas em latim, e àquele tempo
aceitas como verdadeiras, influiram decisivamente no advento do ciclo arturiano” (ibidem, p. 15). Américo
Facó, no seu texto sobre A Demanda do Santo Graal, não trata dos aspectos cavaleiresco e religioso do
Amadis de Gaula; entretanto, deixa claro que o ciclo arturiano, do qual faz parte A Demanda portuguesa,