Download PDF
ads:
0
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Paisagem, Cultura e Identidade: Os poloneses em Rio Claro do Sul,
Mallet - PR
Dissertação de Mestrado
ALCIMARA APARECIDA FOETSCH
CURITIBA
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
ALCIMARA APARECIDA FOETSCH
Paisagem, Cultura e Identidade: Os poloneses em Rio Claro do Sul,
Mallet - PR
Dissertação de Mestrado apresentada ao programa
de pós-graduação em Geografia, Curso de
Mestrado, Setor de Ciências da Terra da
Universidade Federal do Paraná, como requisito
para obtenção do título de Mestre em Geografia.
Orientação: Profª Drª Cicilian Luiza Löwen Sahr.
CURITIBA
2006
ads:
2
Foetsch, Alcimara Aparecida
Paisagem, cultura e identidade: os poloneses em Rio Claro
do Sul –
Mallet – PR / Alcimara Aparecida Foetsch. - Curitiba, 2007.
110 f.: il., tabs, grafs.
Orientadora: Profa. Dra. Cicilian Luiza Lowen Sahr
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná,
Setor
de Ciências da Terra, Curso de Pós-Graduação em Geografia.
Inclui Bibliografia.
1. Poloneses – Mallet (PR). 2. Paisagens – Mallet (PR). 3.
Identidade etnica. 4. Identidade cultural. 5. Imigrantes
poloneses. I. Sahr, Cicilian Luiza Lowen II. Título. III.
Universidade Federal do Paraná.
CDD 918
3
4
Dedicatória...
Dedicatória...Dedicatória...
Dedicatória...
Dedico essa pesquisa a: Ana Levandowski Foetsch, minha mãe.
Obrigada minha mãe polaca, por nunca me dizer que a vida era fácil,
mas por sempre me ensinar a encarar, com Deus, de frente os meus problemas.
Por me fazer entender (tantas e tantas vezes) que os meus valores são o que de
mais especial eu tenho...
Agradecimentos...
Agradecimentos...Agradecimentos...
Agradecimentos...
*Agradeço a Deus... pela vida, pelas possibilidades, pelos horizontes;
Agradeço a FAFI/UFPR... pela oportunidade;
*Agradeço a professora Cicilian... pela atenção sem limites, pela valiosa
contribuição e pelo grande carinho com o
qual sempre me atendeu;
*Agradeço ao meu pai e ao meu irmão... por serem meu
alicerce, minha sustentação;
*Agradeço a querida amiga Kelly... pelo ombro
amigo e pelas sábias palavras;
*Obrigada Dallan... pelo carinho, companheirismo e presença, adoro você...;
*Obrigada aos amigos e companheiros do curso de Mestrado, em
especial à você Mello;
*Agradeço a toda comunidade de Rio Claro do Sul... poloneses ou não,
não importa, acredito sim,
que este “lugar” será para sempre um pedacinho da Polônia,
um pedacinho abençoado pela Czenstochowa...
Dedicatória e Agradecimentos___________________________________________________________iii
5
“Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de
sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza.
Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso:
‘Não era bem isto o que queria dizer’”.
Erico Veríssimo: “O escritor diante do espelho” (1966).
Epígrafe______________________________________________________________________________iv
6
LISTA DE IMAGENS...................................................................................................... vii
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................... viii
LISTA DE QUADROS.................................................................................................... viii
LISTA DE TABELAS..................................................................................................... viii
LISTA DE ESQUEMAS.................................................................................................. viii
RESUMO........................................................................................................................ ix
ABSTRACT.................................................................................................................... x
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 11
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-
CONCEITUAIS............................................................................................................... 12
1.1 A ABORDAGEM HUMANISTA E FENOMENOLÓGICA NA GEOGRAFIA
........................................................................................................................................ 13
1.2 REFLETINDO SOBRE AS IDENTIDADES CULTURAIS, A “RAÇA” E A
ETNICIDADE..................................................................................................................
18
1.3 A INFLUÊNCIA DOS FATORES CULTURAIS LOCAIS NA IDENTIDADE E NO
IMAGINÁRIO...................................................................................................................
28
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR............................................. 34
2.1 RIO CLARO DO SUL, MALLET/PARANÁ: BREVE CARACTERIZAÇÃO DO
LUGAR............................................................................................................................
35
2.2 A ETNICIDADE POLONESA EM RIO CLARO DO SUL...........................................
41
2.3 UMA METODOLOGIA PARA A PESQUISA DE CAMPO.........................................
45
2.3.1 Definindo a metodologia para estudo da dinâmica da paisagem
cultural.............................................................................................................................
46
2.3.2 Sociedade, Tempo e Contexto: elementos para a análise da relação dos
habitantes com seu lugar................................................................................................ 47
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E
SUA DINÂMICA..............................................................................................................
53
3.1 A DINÂMICA DOS ELEMENTOS RELIGIOSOS NA PAISAGEM ........................... 54
3.2 A DINÂMICA DOS ELEMENTOS SOCIAIS NA PAISAGEM ................................... 62
3.3 A INTEGRAÇÃO DOS NOVOS ELEMENTOS NA PAISAGEM .............................. 67
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA
PAISAGEM..................................................................................................................... 72
4.1 OS POLONESES DO LUGAR.................................................................................. 74
Sumário____________________________________________________________________________v
7
4.2 A PERCEPÇÃO DOS ELEMENTOS RELIGIOSOS NA PAISAGEM....................... 78
4.3 A PERCEPÇÃO DOS ELEMENTOS SOCIAIS NA PAISAGEM............................... 82
4.4 A PERCEPÇÃO DOS NOVOS ELEMENTOS NA PAISAGEM................................ 86
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................
90
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.................................................................................... 100
ANEXOS......................................................................................................................... 107
Sumário____________________________________________________________________________vi
8
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM 01 – Nossa Senhora de Monte Claro......................................................................56
IMAGEM 02 – Altar principal da Igreja Nossa Senhora do Rosário.......................................56
IMAGEM 03 – Igreja Nossa Senhora do Rosário na década de 1930...................................57
IMAGEM 04 – Igreja Nossa Senhora do Rosário em 2006....................................................57
IMAGEM 05 – Gruta Nossa Senhora de Lourdes..................................................................58
IMAGEM 06 – Primeiro hospital de Rio Claro do Sul.............................................................60
IMAGEM 07 – Imagem do local onde existia o primeiro hospital...........................................60
IMAGEM 08 – Atual Colégio das Irmãs..................................................................................60
IMAGEM 09 – Fundos do Colégio, ao lado da Igreja.............................................................60
IMAGEM 10 – Sede de Encontros da Igreja Assembléia de Deus.........................................61
IMAGEM 11 – Antiga residência que atualmente serve de sede de Encontros de uma
instituição não católica, na Avenida João Pessoa, S/N...................................61
IMAGEM 12 – Inauguração do Grupo Escolar de Rio Claro do Sul, em 1952.......................62
IMAGEM 13 – Atual Escola Estadual Adão Sobocinski.........................................................62
IMAGEM 14 – Atual escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro - E.I.E.F..................63
IMAGEM 15 – Inauguração da Casa do Povo (21 de junho de 1958)...................................64
IMAGEM 16 – Sociedade “Casa do Povo” atualmente..........................................................64
IMAGEM 17 – Abertura do Natal na “Casa do Povo” em Rio Claro do Sul. O brasão da
Polônia, as bandeiras do Brasil, da Polônia e do Paraná, a Nossa
Senhora Negra de Czenstochowa e a Nossa Senhora Aparecida.................65
IMAGEM 17.1 – Abertura do Natal, no Clube Casa do Povo, em Rio Claro do Sul...............65
IMAGEM 18 – Selaria: indústria doméstica para curtir o couro e confecção de arreios
para cavalos....................................................................................................66
IMAGEM 19 – Bar e lanchonete “Charrete’s lanches”, na rua Adolfo Rehbein, S/N..............68
IMAGEM 20 – Conjunto Habitacional “Vila Feliz”, também conhecido como Padre
Zigmund, na Rua Adolfo Rehbein, S/N............................................................68
IMAGEM 21 – Moradia comum que por algum tempo serviu também de Cartório
de Registro Civil e que hoje inexiste, em seu lugar foi construído
o Posto de Gasolina........................................................................................69
IMAGEM 21.1 – Posto de Gasolina construído no lugar do antigo Cartório de
Registro Civil....................................................................................................69
IMAGEM 22 – Imagem de um bar, na Rua Adolfo Rehbein, S/N. Uma construção
que serve de moradia e bar conjugados.........................................................70
IMAGEM 23 – Antigo comércio, na Rua Adolfo Rehbein, S/N...............................................70
IMAGEM 24 – Antiga construção, datada de 1928................................................................71
Lista de Imagens _____________________________________________________________________vii
9
IMAGEM 25 – Ampliação da construção anterior datada de 1928.........................................71
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – Localização da região mais atingida pela Febre Brasileira em 1890...............37
FIGURA 02 – Localização de Rio Claro do Sul, no Município de Mallet/PR..........................39
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 – Sobre o poder simbólico – Instrumentos Simbólicos.....................................19
QUADRO 02 – Sociedades pré modernas e as sociedades modernas.................................24
QUADRO 03 – Entrada de imigrantes poloneses no Brasil...................................................36
QUADRO 04 – Habitantes e domicílios no distrito de Rio Claro do Sul.................................40
QUADRO 05 – Primeiras famílias a chegarem em Rio Claro do Sul.....................................75
QUADRO 06 – Relação atual das famílias moradoras de Rio Claro do Sul..........................76
QUADRO 07 – Trecho do Hino Nacional da Polônia.............................................................84
QUADRO 08 – Letra do canto “Parabéns a você” (Sto lat)....................................................84
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 – Características físicas das três “raças” principais da espécie humana...........21
TABELA 02 – Principais comemorações e celebrações polonesas em Rio Claro do Sul......79
LISTA DE ESQUEMAS
ESQUEMA 01 – Metodologia adotada para análise empírica em Rio Claro do Sul...............51
Lista de imagens, figuras, quadros, tabelas e esquema s_______________________________________viii
10
Paisagem, Cultura e Identidade: Os poloneses em Rio Claro do Sul, Mallet - PR
RESUMO
A presente pesquisa parte de uma abordagem humanístico-cultural - a fenomenologia, com
contribuições específicas da arquitetura e da sociologia para analisar as ações, as relações,
os significados e decodificar as simbologias que transformam os “espaços” em “lugares”.
Apresenta-se uma discussão sobre paisagem, identidade cultural, “raça” e etnicidade tendo
como pano de fundo a comunidade do distrito de Rio Claro do Sul, Mallet PR, de onde
inicialmente foram destacados elementos arquitetônicos intimamente relacionados com a
identidade étnica dos que habitam o lugar, marcadamente os poloneses, para em seguida
traçar considerações sobre as imagens como portadoras de simbolismo e como fonte de
dados para o despertar do imaginário, partindo finalmente para uma proposta de
caracterização do que vem a ser a identidade étnica polonesa no distrito. Percebeu-se
inicialmente uma perda e alteração de elementos arquitetônicos na paisagem, além da
inserção de novos, de onde se procurou demonstrar as relações entre a imagem ambiental
(dado) e sua contribuição para o imaginário (processo). Utilizou-se da história oral, de
entrevistas, depoimentos e de metodologias adequadas para o estudo da etnografia, o que
permitiu acreditar que a identidade étnica polonesa no distrito é formada por três elementos
principais: as marcas arquitetônicas na paisagem cultural e dois elementos estruturantes
básicos de uma sociedade homogênea: a língua e a religião. Concluiu-se assim, que a
população pioneira, a polonesa, não sofreu uma descaracterização de identidade, apenas
se inseriu em uma dinâmica cultural. Notou-se também, ao contrário do que se pensava
num primeiro momento, que os poloneses ao passo que vêm buscando manter suas
características próprias (língua, ritos religiosos, hábitos, costumes, tradições, patriotismo)
têm abandonando seu conservadorismo tradicional e buscado construir boas relações com
os novos moradores que chegam ao local, isso para que estes últimos contribuam para uma
reafirmação da identidade étnica polonesa em Rio Claro do Sul e não contribuam para sua
descaracterização.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade cultural; paisagem; poloneses; Rio Claro do Sul.
Resumo e palavras-chave_____________________________________________________________ix
11
Landscape, culture and identity: The Polish in Rio Claro do Sul, Mallet-PR
ABSTRACT
The present research comes from a humanistic-cultural approach – the phenomenology, with
specific contributions of the architecture and sociology to analyze the actions, the relations,
the meanings and decode the symbolism that change the spaces” into “places”. There is a
discussion about the landscape, cultural identity, “race” and ethnicity with the community of
the district of Rio Claro do Sul, Mallet as the setting, from where firstly architectonic elements
intimately related with the ethnic identity from the ones who live there were pointed out,
mainly the Polish, and then to trace the final considerations about the images as beares of
symbolism and as data source to the arousing of the imagination, straight finally to a
proposal of characterization of what is the Polish ethnic identity in the district. It could be
firstly realized a loss and alteration of the architectonic elements in the landscape, as well as
the insertion of new ones, from where it was demonstrated by the relations between the
environmental image (data) and its contribution to the imagination (process). Many elements
were used such as oral history, interviews, statements and right methodologies to the study
of the ethnography, what allowed to believe that the Polish ethnic identity in the district is
formed by three main elements: the architectonic points in the cultural landscape and two
other basic structuring elements of a homogeneous society: the language and the religion. It
could be concluded that the pioneering population, the Polish, did not suffer any
mischaracterization of the identity, it has only been inserted in a cultural dynamics. It was
also realized that, in opposition of what was thought in a first moment, that the Polish are
trying to maintain their own characteristics (language, religious rites, habits, traditions,
patriotism) as well as abandoning their traditional conservatism and searching for good
relations with the new residents that arrive there, this is to have their contribution to the
reaffirmation of the Polish ethnic identity in Rio Claro do Sul and that they do not contribute
for its mischaracterization.
KEY-WORDS: cultural identity, landscape, Polish, Rio Claro do Sul.
Abstract e key-words_____________________________________________________________________x
12
INTRODUÇÃO
Ao lançar um olhar sobre a constituição de uma sociedade e as características que
esta imprime no lugar em que habita, percebe-se que o espaço, visto como algo abstrato,
passa gradativamente a tomar uma conotação de lugar. Isso se deve principalmente ao fato
de que são nas relações banais do cotidiano que se constroem laços afetivos e vastas
associações com os mais variados pontos do lugar vivido.
Admitem-se inicialmente as controvérsias existentes na adoção e utilização dos
conceitos de identidade cultural, “raça” e etnicidade, bem como o estabelecer de períodos
modernos e pós-modernos; no entanto, sua utilização corriqueira sugere justamente uma
rica e contemporânea discussão, sobretudo se há a possibilidade de situá-lo em uma porção
do espaço transformada em lugar para uma comunidade que sugere as particularidades
para tal abordagem.
Assim sendo, acreditando que cada grupo social, ou melhor, cada grupo étnico,
busca manter incólume seu tradicional e cotidiano modo de vida, se torna interessante
observar como determinados povos, no decorrer da história, após se depararem com a
necessidade de uma mudança de nacionalidade passam a encarar um novo espaço e de
que maneira tentam transformar esse novo espaço novamente em lugar. Enfocam-se nesta
perspectiva, os imigrantes provindos da Polônia que se instalaram no distrito de Rio Claro
do Sul, Mallet/PR.
Partindo da fenomenologia como aporte metodológico e do balizamento oferecido
pela história, pela arquitetura e pela sociologia é que se pode, no âmbito da ciência
geográfica, valorizar os estudos de ordem cultural sob a óptica do lugar.
A arquitetura contribui fornecendo os subsídios necessários para um entendimento
da dinâmica espacial dos elementos materiais e móveis na paisagem cultural do ponto de
vista da forma e da função. A sociologia permite o construir de um alicerce conceitual de
cunho científico referente às sociedades, à nação, ao povo e à identidade. A história torna
viável o estabelecer de uma cronologia espaço-temporal e o desvendar de acontecimentos
fundamentais para o trabalho em questão. A geografia, por sua vez, através da vertente
humanista e fenomenológica, abarca estas considerações e sugestiona uma aplicação
prática nas relações construídas entre os moradores e sua “porção do espaço” transformada
em lugar.
Nesta valorização dos estudos culturais, as marcas identitárias se apresentam como
fontes promissoras para análises. Assim sendo, tendo como pano de fundo o núcleo central
do distrito de Rio Claro do Sul, Mallet/PR, cujas características étnicas polonesas são
relevantes, discute-se a paisagem como portadora de simbolismo e sua contribuição para o
13
despertar do imaginário evidenciado no trabalho empírico; a identidade cultural, tomada
como identidade étnico-cultural, sua descaracterização ou retomada; e, as relações dos
moradores para com seu espaço vivido.
Ressalta-se que as comunidades polonesas que se formaram no Brasil durante todo
o período de imigração certamente trouxeram consigo um profundo sentimento de
patriotismo, fortes laços de religiosidade e uma necessidade constante de preservar sua
identidade. Destes núcleos, alguns assimilaram os modos de vida da nova nação e
“despolonizaram-se”, sobretudo devido à dispersão populacional, o que contribuiu para a
limitação dos laços comuns, para estas a Polônia passou a ser um país distante não
geograficamente.
Outras, vivendo mais no interior, no meio rural, como estavam acostumadas em seu
próprio país, longe da correria urbana, em condições de certo isolamento, conseguiram
manter as peculiaridades que as caracterizam como um grupo étnico distinto. Acredita-se
que isto tenha acontecido com a colônia de poloneses em Rio Claro do Sul.
Nesta localidade os poloneses foram os primeiros a fixar residência, num sistema
considerado rural em virtude da própria característica camponesa. Objetivando observar as
relações com o espaço vivido, apreendido e incorporado, valorizando os aspectos culturais
étnicos abordou-se inicialmente alguns elementos que compõe a paisagem cultural, partindo
num segundo momento para o discutir as associações entre os moradores, estes elementos
delimitados e o despertar do imaginário. Isto para que se tornasse finalmente possível, uma
discussão acerca do que vem a ser a identidade étnica polonesa no distrito e se esta foi
sendo descaracterizada ou retomada, enfim, discutindo sua inserção na dinâmica cultural.
Introdução______________________________________________________________________
____
14
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E
IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS
Imagem da atual Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do Sul.
Fonte: FOETSCH, 2006.
No transcorrer da febre brasileira, o nome do Paraná foi envolvido numa
lenda criada pelas aldeias polonesas:
Diz a lenda que o Paraná até então estava coberto por névoas e que
ninguém sabia de sua existência. Era a terra em que corria leite e mel.
Então a Virgem Maria, madrinha e protetora da Polônia, ouvindo os apelos
que o sofrido camponês polonês lhe dirigia, dispersou o nevoeiro e
predestinou-lhe o Paraná. (WACHOWICZ, 1971, p.45).
15
Capítulo I PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-
CONCEITUAIS
Neste primeiro momento realizam-se algumas reflexões teórico conceituais acerca
da geografia humanista e dos aspectos de ordem cultural, valendo-se da fenomenologia
com o intuito de destacar o papel da abordagem humanista na geografia, bem como de que
maneira o aporte fenomenológico fornece os subsídios necessários para um estudo
operacional dos valores afetivos e culturais numa dada porção do espaço.
Em seguida, discute-se a paisagem como portadora de simbolismos culturais,
atribuindo ao homem o papel de agente transformador da natureza e valorizando a interação
entre elementos naturais e culturais. Para tanto, se faz também necessário refletir sobre as
identidades no tempo, nos lugares, na história, analisando os processos de desvincular,
afirmar, descaracterizar ou até desalojar estas identidades frente à dinâmica cultural,
questionando tamm alguns conceitos de raça e etnicidade.
Busca-se, portanto, tecer considerações acerca das imagens ambientais e de como
estas contribuem para a construção do imaginário, através do que se convenciona chamar
“imagens públicas”. Estas permitem o avaliar do que mais se destaca topofílica e
topofóbicamente na paisagem e no imaginário dos habitantes do lugar.
1.1 A ABORDAGEM HUMANISTA E FENOMENOLÓGICA NA GEOGRAFIA
Na evolução do pensamento geográfico, inúmeras foram as vertentes que surgiram e
nortearam análises e pesquisas, algumas encontraram seu lugar e deram frutos, outras
acabaram perdendo seu espaço. A incorporação da filosofia humanista em seu paradigma
cultural pela geografia viabilizou o estudo das subjetividades, do simbolismo e das
significações, onde a fenomenologia, ao abarcar o conceito de "mundo vivido", tornou
possível estudos acerca da alma dos lugares.
Ao contrário do que se pensa, a geografia humanista possuí raízes antigas de onde
se pode destacar as contribuições dos princípios orientadores da chamada Escola Francesa
Tradicional por sua ênfase na necessidade e importância de contatos prolongados e até de
vivencia do geógrafo com os lugares e as paisagens.
Esse horizonte humanista, considerado como um movimento integrado e coerente ao
buscar estabelecer uma ponte entre o passado clássico e as novas tendências, encontrou
no arcabouço da geografia um alicerce. A redescoberta da obra de Eric Dardel emergiu
como "libertadora", uma manifestação claramente humanista nos tempos modernos, uma
piéce de resistance” ao cientificismo racionalista, rebatendo as visões tecnocráticas e
16
quantitativas ao procurar analisar também as relações empáticas do ser (GOMES, 2000, p.
313).
Geógrafo, Dardel destacou-se pelas pesquisas realizadas acerca dos lugares. Era
um professor de Liceu que em 1952 publicou uma obra intitulada "L'Homme et la Terre -
Nature de la Realité Géographique", na qual as interpretações variam de acordo com o
gênero do humanismo que se pretende valorizar, uma vez que certos geógrafos encontram
raízes de uma perspectiva semilógica na proposição de Dardel ao decifrar a terra com uma
escrita; ao passo que outros sublinham a influência de Heidegger e da fenomenologia;
outros ainda indicam uma "geopoética" em sua obra, um encontro entre geografia e arte.
Indiscutivelmente, tais diferenças de interpretação destacam cada vez mais a diversidade de
ópticas do humanismo na geografia (ibid., p. 314).
Somente em 1976, Yi-Fu Tuan propõe falar claramente de uma abordagem
humanista na geografia. Esta corrente surge como um componente indispensável de toda a
démarche” geográfica que a proposta insiste sobre a importância do vivido, sobre o
sentido dos lugares, o peso das representações religiosas; enfim, é necessário conhecer a
lógica profunda das idéias, das ideologias ou das religiões para ver como elas modelam a
experiência que as pessoas m do mundo e como influem sobre a sua ação e percepção
(CLAVAL, 1999, p.52). Neste sentido, Merleau-Ponty (1999) acrescenta que “a percepção
não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição
deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por
eles” (p.6).
Em um livro intitulado “Fenomenologia da Percepção”, Maurice Merleau-Ponty
discute o que é a fenomenologia. É uma ciência, mas é também uma filosofia que repõe as
essências na existência, é também um relato do espaço, do tempo, do mundo vividos”,
onde:
Retornar às coisas mesmas é retornar a este mundo anterior ao conhecimento do
qual o conhecimento sempre fala, e em relação ao qual toda determinação científica
é abstrata, significativa e dependente, como a geografia em relação à paisagem -
primeiramente nós apreendemos o que é uma floresta, um prado ou um riacho. Esse
movimento é absolutamente distinto do retorno idealista à consciência, e a
existência de uma descrição pura exclui tanto o procedimento da análise reflexiva
quanto o da explicação científica (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 4).
Descartes e, sobretudo, Kant desligaram o sujeito da consciência, demonstrando que
não se pode aprender coisa alguma como existente, se primeiro não se experimentasse
existente no ato de aprendê-la, fazendo assim aparecer a consciência.
Entrikin (1980) entende e classifica a fenomenologia como um termo freqüentemente
utilizado pelos geógrafos humanistas em sua abordagem e que começou a se destacar em
dois artigos na revista The Canadian Geographer, sendo um de Edward Relph e outro de Yi-
Fu Tuan e a partir daí tantos outros geógrafos sugeriram e aplicaram esta perspectiva
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
17
fenomenológica para os estudos na geografia. Teixeira (2001, p.35) também destaca que a
grande ênfase gerada pelos efeitos da vertente fenomenológica ocorreu inicialmente nos
Estados Unidos e Canadá com Yi-Fu Tuan e também com Edward Relph, uma vez que os
trabalhos destes salientavam a importância dos lugares, dos significados e das
representações, ressaltando as relações entre fenomenologia e geografia.
Anne Buttimer (1985) em um artigo intitulado “Aprendendo o dinamismo do mundo
vivido” dirige a atenção do geógrafo para o conceito de mundo vivido onde o positivismo é
rejeitado como método porque separa o observador daquilo que ele está estudando,
gerando uma falha ao apreciar a experiência humana; da mesma forma o idealismo é
rejeitado porque aceita a existência de um mundo real fora da consciência individual.
No entanto, a fenomenologia consiste em um caminho para a compreensão em uma
análise do mundo vivido, uma vez que ajuda a elucidar como os significados em
experiências pretéritas podem influenciar e modelar o presente, resultando numa
compreensão das ações do homem tais como ele as entende e não através de modelos e
teorias abstratos. Neste sentido, conhecer o mundo é conhecer a si mesmo, e o estudo das
paisagens é o estudo das essências das sociedades que a modelaram (BUTTIMER, 1985).
Oliveira e Del Rio (1999, p.125) ressaltam a importância das considerações de Collot
(1986)
1
para os estudos do mundo vivido, onde o referido autor acredita que não se pode
falar em paisagem a o ser a partir de sua percepção. Collot acredita que a paisagem se
define como espaço percebido onde o sujeito não se limita a receber passivamente os
dados sensoriais, mas os organiza e confere-lhes sentido. Sugere uma interligação entre
três elementos essenciais para uma definição de paisagem percebida: o ponto de vista, a
parte e, a unidade ou conjunto.
Essas interligações sugerem o fato de que na paisagem o sujeito e o objeto são
inseparáveis, portanto, a paisagem deve ser considerada não somente em função de onde
ela é observada, pois se chegaria a uma definição simplista de que é “tudo o que se vê”,
seria incompleta e falha por se limitar ao espaço que “os olhos podem perceber”, mas deve
ser visualizada como um “conjunto” onde as lacunas são preenchidas pela percepção que
ultrapassa o simples dado sensorial. A noção de escala é, portanto, para Collot, inseparável
da noção de paisagem.
Com notória importância atribuída à cultura, Paul Claval (1999) acredita que "não
compreensão possível das formas de organização do espaço contemporâneo e das tensões
que lhes afetam sem levar em consideração os dinamismos culturais” (p.420), isto porque
estes explicam a nova atenção dedicada à preservação das lembranças do passado e a
conservação das paisagens. Ele atribui ao homem o papel de agente transformador da
1
Referência completa e original da obra: COLLOT, M. Points de vue sur la representacion des paysages. In:
L'Espace Géographique, n.3. Doin, 8, plce de lÓdéon, Paris-Vi
e
, 1986.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
18
paisagem, pois diferentes grupos culturais provocam transformações diferenciadas, criando
assim, uma preocupação maior com os sistemas culturais do que com os próprios
elementos físicos da paisagem.
Assim sendo, na presente pesquisa se utiliza de uma abordagem de integração entre
a Geografia, a Arquitetura e a Sociologia por acreditar que estas ciências abarcam os
conceitos fundamentais para a realização da mesma:
ESQUEMA 1 – PROPOSTA DE ABORDAGEM: INTEGRAÇÃO
Org: FOETSCH, 2006.
Com relação aos estudos acerca da paisagem, sabe-se que apesar deste conceito
estar bastante assimilado pela geografia, os significados do termo se diversificam e se
tornam mais complexos conforme a necessidade de quem o elabora e aplica. No entanto, há
certos parâmetros comuns, como a afirmação de que a existência humana deve ser
considerada, mantidos nas definições. Porém, muito embora o paradigma cultural seja
admitido como consenso, alguns estudos sobre paisagem, em ênfases diferenciadas, nem
sempre consideram as sociedades humanas no mesmo nível que as outras variáveis.
Georges Bertrand (1971), geógrafo francês, apesar de apresentar uma perspectiva
física, não privilegia nem a esfera natural nem a humana, acredita que sociedade e natureza
estão relacionadas entre elas formando uma "entidade" de um mesmo espaço
geográfico.
RIO CLARO DO SUL
PAISAGEM IDENTIDADE
CULTURA
ARQUITETURA
GEOGRAFIA
SOCIOLOGIA
ESPAÇO E LUGAR
IMAGEM E IMAGINÁRIO
TOPOFILIA E TOPOFOBIA
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
IDENTIDADE
RAÇA/ETNICIDADE
NACIONALIDADE E
NAÇÃO
FORMA E FUNÇÃO
IMAGENS PÚBLICAS
MARCOS E
MONUMENTOS
19
Ele traz que:
[...] a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É
uma determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto
instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente
uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em
perpétua evolução (BERTRAND, 1971, p. 02).
Para este autor, as diferenças de abordagem podem ser questão de método,
envolvendo a análise e a classificação das paisagens, onde o interesse definirá o assunto, e
o método os objetivos, sendo que a escala utilizada permitirá detalhes ou imporá os limites
de mapeamento e análise.
Roberto Lobato Correa (1997) ao retratar as trajetórias geográficas propõe alguns
temas para a análise da dimensão cultural do espaço. Nesta temática apresenta a paisagem
cultural como sendo “um conjunto de formas materiais dispostas e articuladas entre si tanto
no espaço como nos campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa, entre outras, com seus
estilos e cores, resultante da ação transformadora do homem sobre a natureza” (p.289).
Nesta perspectiva, a paisagem emerge como resultado de uma dada cultura que a modelou,
expressando-a em seus diversos aspectos funcionais e simbólicos.
No que concerne à percepção ambiental e cultura, o citado autor contribui ao
acrescentar que “a percepção do ambiente tem uma base eminentemente cultural” (ibid.,
p.292), sendo que esse ambiente geográfico é constituído pela natureza e pelo espaço
socialmente produzido, do qual o homem é parte integrante. No entanto, o ambiente
geográfico não é percebido e vivenciado pelos diferentes grupos sociais de uma maneira
igualitária, abrindo assim um leque viável de estudos locais diferenciados e também
possibilitando o estabelecer de comparações.
Dessa forma, valendo-se das contribuições oferecidas pelo humanismo e pela
fenomenologia ao abarcar os estudos sobre o mundo vivido é que se pode discutir as
questões de ordem cultural valorizando a intervenção humana na paisagem de modo a
construir um reflexo material e imaginário de quem a modelou. Abre-se um parênteses para
ressaltar que os grupos étnicos, os quais exaltam seu simbolismo característico buscam
expressar visual e cotidianamente suas peculiaridades transformando uma porção do
espaço em “lugar”.
No entanto, para decodificar tais simbologias e retratar um lugar fruto da cultura de
um povo, torna-se necessário uma discussão teórica acerca dos conceitos de identidade
cultural, raça, etnicidade, povo e nação, para que estes não acabem por serem tomados
como sinônimos. Assim, somente após o entendimento destas conceituações é que se pode
buscar entender de que maneira a paisagem vista como algo construído culturalmente pode
despertar o imaginário e aprofundar as relações dos moradores para com seu lugar.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
20
1.2 REFLETINDO SOBRE AS IDENTIDADES CULTURAIS, A “RAÇA” E A ETNICIDADE
Com vistas nas peculiaridades que os diferentes povos buscam manter em seu lugar,
percebe-se que os sistemas de comunicação globalmente interligados, as imagens e
influências da mídia, a busca pela inserção no mercado mundial de estilos e a velocidade
das informações contribuem para desvincular, descaracterizar e até desalojar as identidades
culturais no tempo e nos lugares. Esta compressão de distâncias e das escalas temporais
possibilita a exposição das culturas locais a influências externas, tornando difícil conservar
as identidades culturais intactas ou impedir seu enfraquecimento em virtude do
bombardeamento e infiltração de outras culturas.
Frente a estas considerações, torna-se difícil conceber a existência de sociedades
auto-suficientes, ou seja, fechadas ao mundo exterior. No entanto, percebe-se que algumas
comunidades tendem a se retrair até o instante em que se torne impossível o afastamento
das outras sociedades. É neste sentido que o capitalismo e a globalização contribuem para
a mitigação das fronteiras culturais e a homogenização das relações sociais, fazendo com
que as crenças e hábitos, ou seja, o professar de simbolismos seja descaracterizado no
tempo e no espaço por algumas comunidades, ao passo que, outras, podem vir a retomar
tais características, consideradas por estas como seus símbolos.
Pierre Bordieu (2003) ao se referir ao poder simbólico (Quadro 01), o caracteriza
como sendo invisível, só podendo ser exercido “com a cumplicidade daqueles que não
querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (p.07). Nesta óptica,
apresenta algumas classificações, dentre elas: os sistemas simbólicos considerando a arte,
a religião, a língua, como estruturas estruturantes; e por outro lado, os sistemas simbólicos
como estruturas estruturadas, ou seja, passíveis de uma análise estrutural.
como como
estruturas estruturas
estruturantes estruturadas
Instrumentos de conhecimento
Meios de comunicação (língua ou
e da construção do mundo subjetivo culturas, vs. discurso ou conduta)
Formas simbólicas
Objetos simbólicos
Estruturas subjectivas
Estruturas objectivas
(modus operandi) (opus operatum)
Kant-Cassirer
Hegel-Seassure
Significação: objectividade como con-
Significação: sentido objectivo como
cordância dos sujeitos (consenso).
produto da comunicação.
QUADRO 01: SOBRE O PODER SIMBÓLICO – Instrumentos Simbólicos.
Fonte: BORDIEU (2003, p.16) adaptado por FOETSCH (2006).
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
21
Os sistemas simbólicos, entendidos como estruturas estruturantes (mito, língua,
arte, ciência) provindos da tradição neo-kantiana, são vistos como instrumentos do
conhecimento e da construção do mundo dos objetos, como “formas simbólicas” que na
inscrição de Durkheim tomam os fundamentos de uma sociologia das formas simbólicas
para se tornarem “formas sociais, quer dizer, arbitrárias (relativas a um grupo particular) e
socialmente determinadas” (ibid., p.08).
Nesta abertura e considerando os sistemas simbólicos, entendidos como estruturas,
percebe-se que se tratam de particularidades que distinguem o grupo dos demais e fazem
parte de um sistema particular e característico socialmente. Sabe-se que, natural, biológica
e culturalmente, cada comunidade busca manter suas características, seus hábitos e
costumes, enfim o que se poderia chamar de sua “identidade”, com a intenção de evitar a
exposição e a descaracterização do que se poderia chamar de sua “cultura”.
Tais estruturas estruturadas são passíveis de uma análise, o que se constitui num
instrumento metodológico que torna possível apreender a lógica específica de cada uma das
formas simbólicas, uma análise que tem em vista isolar a estrutura imanente a cada
produção simbólica. Dessa forma, acredita-se que os sistemas simbólicos, como
instrumentos de conhecimento e de comunicação, podem exercer um poder estruturante
porque são estruturados.
O poder simbólico, visto como uma estrutura estruturante, vale-se das formas
simbólicas e das estruturas subjetivas, valorizando assim a significação, neste caso a
objetividade como um consenso entre os sujeitos, ao passo que a estrutura estruturada
pressupõe a significação como produto da comunicação em uma estrutura objetiva.
Nessa discussão sobre simbolismo, Bordieu (2003) ao trabalhar a questão da
identidade e da representação, acredita que a procura de critérios objetivos tanto para
identidade regional, quanto étnica deve estar pautada no fato de que na prática social esses
critérios são objetos de representações “mentais” (como ngua, sotaque), e de
representações “objectuais (como emblemas, bandeiras, construções), ou seja,
estruturantes e estruturadas, onde “por outras palavras, as características que os etnólogos
e os sociólogos objectivistas arrolam funcionam como sinais, emblemas ou estigmas, logo
que são percebidas e apreciadas como o são na prática” (p. 112).
Giddens (2005) acrescenta que “o conceito de raça é um dos mais complexos da
Sociologia, principalmente devido à contradição entre seu uso cotidiano e sua base científica
(ou inexistência desta)” (p.205) o que ocorre é que as pessoas passam a acreditar que os
seres humanos podem ser separados em diferentes raças biologicamente, isso se prova nos
estudos de alguns autores que distinguem quatro ou cinco raças principais ao passo que
outros chegam a reconhecer três dúzias.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
22
O início dos estudos sobre a raça se deu no final do culo XVIII e início do século
XIX com o intuito de justificar a ordem social emergente à medida que a Inglaterra e outras
nações da Europa tornavam-se potências imperiais e submetiam outros territórios e povos a
seu domínio. Nesta época, o conde Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) propôs a
existência de três raças, sendo os brancos, negros e amarelos (que mais tarde
influenciariam Adolf Hitler e sua ideologia nazista).
Nos estudos sobre raça”, a cor da pele se mantém como a diferença mais óbvia na
qual pode se basear uma classificação. Anderson e Parker (1971) apresentam em destaque
algumas das características das três raças mais reconhecidas:
TABELA 01: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS TRÊS RAÇAS PRINCIPAIS DA
ESPÉCIE HUMANA
Traço
Caucasóide Mongolóide Negróide
Cor da pele
Do branco ligeiramente
avermelhado ao moreno
claro; às vezes, moreno
escuro.
Do amarelo claro ao
amarelo tendendo para o
moreno; às vezes,
moreno avermelhado.
Do moreno ao preto; às
vezes, moreno
amarelado.
Estatura
Média para alta Média-alta a média-baixa Alta a muito baixa
Formato do
crânio
Longo a largo e baixo:
meio alto a muito alto.
Predominantemente
largo; altura mediana.
Predominantemente
longo; altura baixa a
média.
Rosto
Estreito a meio largo;
maxilar não é saliente.
Meio largo a muito largo;
maças do rosto salientes
e achatadas.
Meio largo a estreito;
maxilar frequentemente
saliente.
Cabelo
Da cabeça: cor, louro
claro a castanho escuro;
textura média a boa;
forma, lisos a ondulados.
Do corpo: moderado a
confuso.
Da cabeça: cor,
castanho a castanho-
preto; textura, comum;
forma, lisos. Do corpo:
esparso.
Da cabeça: cor,
castanho-preto; textura,
comum; forma,
ligeiramente
encaracolado ou
encarapinhado. Do
corpo: tênue.
Olhos
Cor: azuis claros a
castanhos escuros; vez
por outra do tipo
rasgado.
Cor: castanhos a
castanhos escuros;
muito comum a tipo
rasgado com o canto
interno volumoso.
Cor: castanhos a
castanho-pretos; comum
o tipo vertical.
Nariz
Corpo geralmente
pronunciado; forma de
estreita a meia larga.
Corpo geralmente
achatado a médio; forma
meio larga.
Corpo geralmente
achatado; forma de meio
larga a meio larga.
Compleição Franzino o corpulento;
esbelto a abrutalhado.
Tende para ser
corpulento;
ocasionalmente para
franzino.
Tende para ser
corpulento e musculoso,
mas ocasionalmente é
franzino.
Fonte: ANDERSON e PARKER (1971, p.577). Adaptado por FOETSCH (2006)
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
23
Para uma análise do ponto de vista da Sociologia, os cientistas sociais sustentam a
raça como um conceito vital, ainda que altamente contestado, a ser utilizando entre aspas
para refletir seu uso enganoso, mas corriqueiro. Então, a raça pode ser entendida “como um
conjunto de relações sociais que permitem situar os indivíduos e os grupos e determinar
vários atributos ou competências com base em aspectos biologicamente fundamentados
(GIDDENS, 2005, p.205).
Ao clarificar a noção de raça, cuja idéia implica a noção de algo definitivo e biológico,
Giddens (2005) apresenta também o conceito de etnicidade, com um significado puramente
social, onde “a etnicidade refere-se às práticas e às visões culturais de determinada
comunidade de pessoas e que as distingue das outras” (p.206). Ou seja, diferentes
características podem servir para distinguir um grupo étnico de outro, dentre eles a língua,
história ou linhagem, religião, os estilos de roupas, adornos e hábitos.
No entanto, os mais modernos antropologistas físicos levantam sérias vidas a
respeito da validade dos conceitos tradicionais, aferições e classificações sobre raça.
Anderson e Parker (1971) acrescentam que “já foi até mesmo sugerido que o termo ‘raça’
seja definitivamente abandonado” (p.584), ainda para eles “raça, como conceito científico,
aplica-se unicamente aos agrupamentos biológicos de tipos humanos” (ibid., p.576), isto se
refere aos grupamentos de pessoas que tem em comum certo conjunto de características
físicas inatas e uma origem geográfica dentro de uma determinada área.
Portanto, ao passo que o conceito de raça implica a noção de algo definitivo e
biológico, sendo baseado nos atributos biologicamente fundamentados, o conceito de
etnicidade não pressupõe nada inato, trata-se de um fenômeno puramente social, produzido
e reproduzido ao longo do tempo, onde através da socialização o indivíduo assimila os
estilos de vida, normas e crenças de suas comunidades. Ressalta-se que a etnicidade pode
ser central para a identidade do indivíduo e do grupo oferecendo uma linha de continuidade
com o passado, mantida viva através das práticas das tradições culturais, não sendo
estática nem imutável, mas variável e adaptável.
Mas o que vem a ser identidade cultural? Talvez deva-se falar de identidade “étnico-
cultural”, pois, ao se retratar de identidade de uma cultura, deve-se localizá-la num
determinado tempo e espaço e no interior de um grupo. Por sua vez, essa identidade estaria
articulada a uma identidade nacional, determinada também historicamente.
Essa discussão sobre identidade étnica ou regional, no que diz respeito a
propriedades ligadas à origem ou ao lugar de origem, Bordieu (2003) classifica como um
caso popular das lutas de classificações, de dar e se fazer conhecer, de fazer ou desfazer
grupos, ou “a conservação ou a transformação das leis de formação dos preços materiais ou
simbólicos ligados às manifestações simbólicas (objectivas e intencionais) da identidade
social” (p.124).
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
24
Essa questão simbólica envolve também certa dominação, ou melhor, a intimidação
quando o que está em jogo não é a conquista nem a re-conquista de uma identidade, mas a
“reapropriação colectiva deste poder sobre os princípios de construção e de avaliação de
sua própria identidade de que o dominado abdica em proveito do dominante enquanto aceita
ser negado ou nega-se” (p.125).
Nestas concepções de construção, avaliação, descaracterização ou retomada de
identidades, insere-se o lugar, que focado sob objeto de análise pode ser trabalhado por
variados ângulos: como um conjunto de imagens, como unidade espacial, ou ainda na
relação íntima com seus habitantes, uma relação de identidade. Nesta discussão sobre
identidade, Mela (1999) aponta que para o indivíduo que opera num sistema social a
identidade se apresenta como resultado de um confronto com os outros, o que o leva a
construir uma representação de si próprio, de sua unidade pessoal, do papel desempenhado
na sociedade. E como esse processo se desenrola através da relação com os outros, existe
uma interação contínua entre a construção de sua própria identidade, conseguida pelo
indivíduo na primeira pessoa e o reconhecimento dela por parte dos outros.
Em um capítulo intitulado “Identidades culturais: Uma discussão em andamento”,
Escosteguy (2001) acredita que esse debate tornou-se um problema teórico a partir da
modernidade, que foi quando a identidade passou a ser encarada como algo sujeito a
mudanças e inovações, tema esse relacionado a sua inserção no mundo, sobre os
indivíduos e suas identidades pessoais.
A mesma autora acredita que antes de adentrar no debate da constituição, retomada
ou descaracterização das identidades culturais é preciso fazer referência ao contexto desta
temática: modernidade ou pós-modernidade? Para Escosteguy (2001) “a primeira condição
é reconhecer a desestabilização gerada pela modernidade nessa discussão, assim como as
implicações da problemática da pós-modernidade e seu interesse na (re)construção das
identidades” (p. 141); no entanto, acredita que não há a necessidade de discutir, mesmo que
de forma genérica, as definições propriamente ditas de modernidade e pós-modernidade.
Muitos teóricos tratam do assunto do ponto de vista da filosofia, sociologia, arquitetura e
outros ramos da ciência, e diante da polêmica instaurada em torno do rumo destas relações,
qualquer definição apresentada neste momento poderia ser contraditória.
Para Giddens (2002) a modernidade rompe o referencial protetor da pequena
comunidade e da tradição, “substituindo-as por organizações muito maiores e impessoais. O
indivíduo se sente privado e só num mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido
de segurança oferecidos em ambientes mais tradicionais (p.38), ao passo que a “pós-
modernidade se refere a algo diferente, uma trajetória de desenvolvimento social rumo a um
novo e diferente tipo de ordem social” (id., 1991, p. 52); no entanto, acha que pós-
modernidade é mais apropriado para se referir a estilos ou movimentos na literatura, artes
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
25
plásticas e arquitetura, dizendo respeito à aspectos da reflexão estética sobre a natureza da
modernidade. E acrescenta: “Não vivemos ainda num universo pós-moderno, mas podemos
ver mais do que uns poucos relances da emergência de modos de vida e formas de
organização social que divergem daquelas criadas pelas instituições modernas” (id., 2002,
p.58).
Ele coloca um ponto final na discussão entre modernidade e pós-modernidade ao
afirmar:
Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos
alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão se
tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Além da modernidade,
devo argumentar, podermos perceber os contornos de uma ordem nova e diferente,
que é pós-moderna”; mas isto é bem diferente do que é atualmente chamado por
muitos de “pós-modernidade”. (GIDDENS, 1991, p.12)
Assim sendo, pode-se considerar o período atual como moderno e não como pós-
moderno. Giddens (1991) ainda contribui estabelecendo um paralelo entre a antiga
sociedade pré moderna e a atual sociedade moderna, onde acredita que modernidade
solapa a confiança fundada nos valores tradicionais e pressupõe um novo ambiente em que
possa se desenvolver a “segurança ontológica
2
” (ser no mundo). Essa segurança é o
sentimento que se vincula à rotina e à influência do hábito produzindo um novo ambiente de
confiança, como se pode observar no Quadro 2.
PRÉ-MODERNAS MODERNAS
Contexto geral: importância
excessiva na confiança localizada
Contexto geral: relações de confiança
em sistemas abstratos
AMBIENTE
de
CONFIAA
1. Relações de parentesco: como um
dispositivo de organização para
estabilizar laços sociais através do
tempo-espaço.
2. A comunidade local como um lugar,
fornecendo um meio familiar.
3. Cosmologias religiosas como modos
de crenças e práticas rituais fornecendo
uma interpretação providencial da vida e
humana e da natureza.
4. Tradição como um meio de conectar
presente e futuro; orientada para o
passado em tempo reversível.
1. Relações pessoais de amizade ou
intimidade sexual como meios de
estabilizar laços sociais.
2. Sistemas abstratos como meios de
estabilizar relações através de
extensões indefinidas de tempo-espaço.
3. Pensamento orientado para o futuro
como um modo de conectar passado e
presente.
2
A segurança ontológica “se refere à crença que a maioria das pessoas têm na continuidade de sua auto-
identidade e na constância dos ambientes de ação social e material circundantes”. (GIDDENS, 1991, p. 95).
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
26
AMBIENTE
de RISCO
1. Ameaças e perigos emanando da
natureza, como a prevalência de
doenças infecciosas, insegurança
climática, inundações ou outros
desastres naturais.
2. A ameaça de violência humana por
parte de exércitos pilhadores, senhores
de guerras locais, bandidos ou
salteadores.
3. Risco de uma perda da graça
religiosa ou de influência mágica
maligna.
1. Ameaças e perigos emanado da
reflexividade da modernidade.
2. A ameaça de violência humana a
partir da industrialização da guerra.
3. A ameaça de falta de sentido pessoal
derivada da reflexividade da
modernidade enquanto aplicada ao eu.
QUADRO 02: SOCIEDADES PRÉ MODERNAS E SOCIEDADES MODERNAS.
Fonte: GIDDENS (1991, p. 104). Adaptado por FOETSCH (2006).
Como se pode perceber, tanto nas sociedades pré-modernas como nas sociedades
modernas existiam os ambientes de confiança e os ambientes de risco. Os primeiros
estabeleciam condições sociais básicas para a sobrevivência como relações de parentesco,
meio familiar, orientação de pensamento e tradições. Os segundos relatam e explicam as
condicionantes impostas à sobrevivência como os perigos emanados da natureza, a
violência, a perda da religiosidade e a falta de sentido pessoal.
Convém ressaltar as preocupações de Stuart Hall (2005) ao analisar a questão da
identidade cultural na pós-modernidade. Este acredita que o final do século XX introduz uma
discussão acerca de uma possível crise de identidade do sujeito em face de uma mudança
estrutural que fragmenta e desloca as identidades culturais de classe, sexualidade, etnia,
raça e nacionalidade. Ao abordar este tema, Hall (2005) acredita que as velhas identidades,
“que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas
identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado"
(p.07), partindo do pressuposto que as identidades estão sendo descentradas, deslocadas e
fragmentadas gerando identidades híbridas e impuras.
Tratar-se-á nesta pesquisa do reconhecimento da diversidade cultural na
“contemporaneidade”, termo enunciado por Stuart Hall e adotado por Escosteguy (2001, p.
148) e escolhido justamente pelo impasse encontrado ao se definir critérios para
estabelecimento do fim da modernidade ou do início da pós-modernidade e até das
contradições existentes nesta última. Assim, o termo contemporaneidade sugere a
atualidade dispensando o estabelecer de períodos modernos e/ou pós-modernos.
Hall (2005) ressalta a dificuldade de conceituar identidade, uma vez que se trata de
um termo "demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco
compreendido na ciência social contemporânea para ser definitivamente posto à prova"
(p.08). Com vistas a suprir essa necessidade conceitual, apresenta três concepções de
identidade de uma forma simplificada, mas fundamental para o desenrolar do discurso.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
27
Em primeiro, o sujeito do Iluminismo, sujeito totalmente centrado, unificado, de
concepções individualistas e masculinas; em segundo, a noção de sujeito Sociológico, que
remete ao fato do sujeito não ser mais autônomo e auto-suficiente, e sim formando na sua
relação com outras pessoas, que significavam para estes valores e simbologias no mundo
no qual habitava, prevalecia uma concepção interativa; e por terceiro e último, o sujeito Pós-
moderno, conceptualizado por não ter uma identidade fixa, essencial ou permanente, é
“formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam" (p.13).
Nestas concepções, o sujeito assume identidades diferentes em diferentes
momentos. Portanto, a identidade é definida histórica e não biologicamente. A modernidade
faz surgir uma forma nova e decisiva de "individualismo" com certa ruptura com o passado,
onde até então se acreditava que as tradições e estruturas eram estabelecidas divinamente
e, portanto não estavam sujeitas a mudanças e/ou contradições.
A identidade é, assim, "[...] realmente algo formado, ao longo do tempo, através de
processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do
nascimento. Existe sempre algo 'imaginário' ou fantasiado sobre sua unidade” (HALL, 2005,
p.38), ela permanece sempre incompleta, está sempre em processo, sempre sendo
formada. O autor sugere, desta forma, em vez de falar em identidade acabada, falar em
identificação, e vê-la como um processo em andamento.
Definir-se como sendo português, inglês ou indiano é falar metaforicamente, uma vez
que essas "identidades" não estão literalmente impressas em nossos genes. No entanto, as
culturas nacionais representam uma das principais fontes de identidade cultural. Nesta
óptica, a nação não é apenas a entidade política, mas sim algo que produz sentidos, como
um sistema de representação cultural.
Para Hall (2005), "uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu
'poder de gerar um sentimento de identidade e lealdade'" (p.49). Percebe-se então, que se
criou um teto-político onde as diferenças regionais e étnicas foram sendo colocadas, se
tornando uma fonte poderosa de significados para uma cultura diversificada, pois ao
produzir sentidos, constroem identidades heterogêneas, de forma que “os sentidos estão
contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu
presente com seu passado e imagens que dela são construídas" (ibid., p.51).
Na mesma óptica, Anderson e Parker (1971) apresenta a nacionalidade como “um
conjunto de pessoas geralmente vivendo em um território comum e unidas por traços
culturais comuns: língua, religião, tradições e costumes” (p.599). Além disso, vigoram
padrões institucionais comuns e um forte sentimento de unidade conseqüente do tipo
comum de vida, onde os indivíduos se esforçam para manter sua herança cultural, sua
identidade.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
28
Ressaltando também que:
As nacionalidades estranhas tendem a segregar-se em áreas residenciais comuns
para preservar, com maior facilidade, sua forma de vida. Assim, podem-se defender
melhor das intrusões externas. Foi assim que Pequenas Itálias”, Pequenas
Polônias”, “Pequenas Alemanhas” e outros enclaves surgiram (ANDERSON e
PARKER, 1971, p.600)
Ao retratar o poder da identidade, Castells (2000) destaca que esta é a fonte de
significado e experiência de um povo, baseados em atributos culturais relacionados que
prevalecem sobre outras fontes, no entanto não deve ser confundida como papéis, pois
estes determinam funções e a identidade organiza significados. Assim, a construção da
identidade depende da matéria prima proveniente da cultura, processada e organizada de
acordo com a sociedade.
Castells (2000) apresenta três formas e origens de construção de identidades, sendo
as identidades legitimadoras introduzidas pelos dominantes para expandir e racionalizar sua
dominação em relação aos atores sociais; as identidades de resistência criadas por atores
contrários a dominação atual, criando resistências com princípios diferentes ou opostos a
sociedade; e as identidades de projeto quando os atores, usando a comunicação, constroem
uma nova identidade para redefinir sua situação na sociedade.
O que é fundamental acrescentar, é que as identidades, em relação a como foram
construídas, devem ser vistas dependentes do contexto social. Este exercendo fundamental
papel na consolidação destas identidades que constituem fontes de significado para os
próprios atores, por eles originadas, e constituídas por meio de um processo de
individualização, uma organização que se mantém ao longo do tempo, em um determinado
espaço e contexto social e político fortemente marcado por relações de poder.
Na Sociologia, Giddens acredita que o conceito de identidade é multifacetado,
podendo ser abordado de inúmeras formas, no entanto, de um modo geral, “a identidade se
relaciona ao conjunto de compreensões que as pessoas mantêm sobre quem elas são e
sobre o que é significativo para elas” (2005, p.43), sendo que algumas principais fontes de
identidade incluem gênero, nacionalidade ou etnicidade.
Para os sociólogos há dois tipos de identidade freqüentemente mencionados: a
identidade social e a auto-identidade (identidade pessoal). A primeira refere-se às
características que são atribuídas a um indivíduo pelos outros, indicam basicamente quem
essa pessoa é socialmente, envolve uma dimensão coletiva; em contrapartida, a auto-
identidade refere-se a um processo de auto-desenvolvimento, separa os indivíduos de uma
forma distinta, própria e particular.
O norte americano Jeffrey Lesser (2001) ao discutir a negociação da identidade
nacional - focalizando os imigrantes, as minorias e a luta pela etnicidade no Brasil - levanta
uma indagação sobre o que vem a significar ser hoje um brasileiro. Embasado em uma
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
29
pesquisa realizada no Brasil, Lesser amplia as possibilidades de interpretação das questões
da etnicidade e da identidade abrindo discussões acerca do surgimento de uma nova
identidade nacional brasileira que concilia todas aquelas que a formaram.
Apesar de focalizar seus estudos nos imigrantes vindos da Ásia e do Oriente Médio,
o autor demonstra como foi se dando a construção desta identidade entre os diferentes
grupos étnicos que no Brasil se instalaram, discutindo a miscigenação no Brasil a ponto de
afirmar que uma “identidade nacional única ou estática jamais existiu: a própria fluidez do
conceito fez com que ele se abrisse à pressões” (ibid., p.20).
No atual contexto social e político, marcado tão fortemente por relações de poder,
Escosteguy (2001, p.149) acredita que duas questões passam a ser cruciais: a disposição
de viver com a diferença e por outro lado, a etnicidade. O primeiro termo evoca a
multiplicidade de diferenças que operam na representação da identidade em um lugar, ao
passo que etnicidade admite o entendimento de que um espaço pode ser “um lugar”, é o
reconhecimento a partir de uma história, de uma experiência, de uma cultura particular.
Sendo assim, a etnicidade pode ser situada e esta é fundamental para o senso subjetivo do
que se é realmente. Nesta perspectiva, acrescenta-se que...
identidade é um espaço onde um conjunto de novos discursos teóricos se
interseccionam e onde um novo grupo de práticas culturais emerge. Trata-se de uma
categoria política e culturalmente construída em que a diferença e a etnicidade são
seus elementos constituintes [...] e a fluidez da identidade torna-se ainda mais
complexa pelo entrelaçamento de outras categorias socialmente construídas, além
das de classe, raça, nação e gênero (ESCOSTEGUY, 2001, p. 150).
Quanto à etnicidade, Castells (2000) acredita que a etnia e a raça são questões
fulcrais e sua forma de manifestação é alterada pela tendência social, sendo também uma
forma de identidade.
Frente a estas considerações, percebe-se que a identidade cultural pode ser
entendida como um processo de incorporação de conhecimentos e da cultura do local de
onde se vive. A raça, por sua vez, é algo definitivo e biológico. A etnicidade, com um
significado puramente social, refere-se às práticas e às visões culturais de determinada
comunidade de pessoas e que as distingue das outras como a ngua, história ou linhagem,
religião, estilos de roupas, adornos e hábitos.
Neste sentido, tomam-se novamente os hábitos culturais como pontos centrais na
definição de tais conceitos, se fazendo necessária uma reflexão acerca destes fatores tão
influentes no cotidiano dos indivíduos a ponto de orientar suas ações e despertar
sentimentos.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
30
1.3 A INFLUÊNCIA DOS FATORES CULTURAIS LOCAIS NA IDENTIDADE E NO
IMAGINÁRIO
A identidade de um lugar pressupõe a relação das características físicas com a sua
história, uma vez que as pessoas fazem uso dele como recurso e como memória do
passado. Nesta dimensão cultural as relações pessoais com o espaço vivido vão para além
do teto político que as envolve permeando as relações banais do cotidiano, relações estas
que geram apego a uma porção do espaço, um sentimento de pertença e compromisso,
onde a paisagem, por refletir em seus elementos as marcas culturais dos que a vêm
modelando, é fonte rica de informações e significâncias pelas quais o imaginário é
construído e pode ser analisado.
Nesta discussão Richard Johnson (2000) destaca que existem importantes pressões
para que se defina realmente o que vêm a ser os Estudos Culturais. Para ele, diversos
e diferentes pontos de partida, eles podem ser definidos como “uma tradição intelectual e
política; ou em suas relações com as disciplinas acadêmicas, ou em termos de paradigmas
teóricos; ou ainda, por seus objetos característicos de estudo” (p.20); no entanto, um
parâmetro comum encontra-se no fato de que “os Estudos Culturais devem ser
interdisciplinares (e algumas vezes antidisciplinares) em sua tendência” (p.22).
Escosteguy (2000) ao ressaltar que os Estudos Culturais preocupam-se, em primeira
mão, com os produtos da cultura popular e enfatizar o uso de paradigmas teórico-
metodológicos, acrescenta que “deixou-se de lado o funcionalismo estrutural norte-
americano, pois este não dava conta de compreender as temáticas propostas [...] foram
sendo recuperadas [..] as perspectivas da fenomenologia, da etnometodologia e do
interacionismo simbólico” (p.143). Mais tarde, do ponto de vista metodológico a ênfase
recaiu sobre os estudos etnográficos, onde o interesse incide nos valores e sentidos vividos,
ou seja, “acentua a importância dos modos pelos quais os atores sociais definem, por si
mesmos, as condições em que vivem” (p.143).
Frente a toda miscelânea de conceituações e enfoques, uma grande divisão teórica e
metodológica percorre todo o campo dos Estudos Culturais. No entanto, acredita-se que as
culturas devem ser estudadas como um todo, in situ, localizadas, também em seu contexto
material, onde se enfatizam as recriações socio-históricas de culturas ou de movimentos
culturais por descrições etnográficas que sejam capazes de recriar experiências”
socialmente localizadas.
Roberto Lobato Corrêa (1997) ao analisar as "Trajetórias Geográficas" considera a
cultura como sendo "o conjunto daquilo que é transmitido e inventado”, enfatizando que se
conheça a dinâmica da inovação e da difusão das técnicas, atitudes, idéias, valores, bem
como as condições de transmissão. Para ele a cultura é caracterizada por “componentes
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
31
materiais, sociais, intelectuais e simbólicos”, não sendo constituída pela justaposição de
traços independentes". Seus componentes formam sistemas de relações mais ou menos
coerentes, jamais estando “presente da mesma maneira entre todos os representantes da
sociedade”. Aponta ainda que a cultura é "vivida individualmente" (CORRÊA, 1997, p.288-
289).
Anderson e Parker (1971) consideram a cultura como modo característico de vida de
um povo numa sociedade, “é construída por intervenção e descoberta, acumulação, seleção
e difusão. As culturas variam de sociedade para sociedade por causa das diferenças” (p.61),
essas diferenças dizem respeito aos seus respectivos ambientes, seu isolamento, sua base
cultural e posição tecnológica, seus temas dominantes e etnocentrismo. Portanto, para eles,
a cultura de uma sociedade é o conjunto total dos universos psicossociais, biossociais e
físico-sociais
3
que o homem produziu e dos mecanismos socialmente criados através dos
quais esses produtos sociais operam.
Considerando estas questões, tem-se que a construção da identidade depende dos
fatores de ordem cultural que os atores cultivaram e que vêm sendo constantemente
colocados à prova em todos os lugares.
Quanto aos sentimentos e idéias frente aos espaços e aos lugares, Anthony Giddens
(1991) ressalta que é importante distinguir as noções entre espaço e lugar uma vez que são
freqüentemente utilizados como sinônimos. Para ele “lugar é melhor conceituado por meio
da idéia de localidade, que se refere ao cenário físico da atividade social como situado
geograficamente” (p.26), destacando que nas sociedades pós-modernas entender
contemporâneas espaço e lugar coincidem na medida em que a dimensão da vida social
é definida pela presença, isto é:
Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto
é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências
sociais bem distantes deles. O que estrutura o local não é simplesmente o que está
presente na cena; a “forma visível” do local oculta as relações distanciadas que
determinam sua natureza (GIDDENS, 1991, p.27).
Dessa forma, o lugar depende da ação da sociedade que produz e utiliza esta porção
do espaço configurando nele uma espécie de retrato, um espelho no qual a própria
sociedade é refletida, onde a dimensão simbólica surge não como um fato estranho à vida
social e à experiência cotidiana de seus habitantes, mas como ponto de referência, como
algo que define identidade singular e/ou coletiva, mas também por outro lado como algo que
3
Os ajustamentos de homens em grupos aos ambientes naturais resultam na criação por eles de ambientes
físico-sociais, biossociais, psicossociais ou institucionais. (ANDERSON e PARKER, 1971, p.61) onde os objetos
que o homem cria a partir de materiais inanimados constituem a divisão físico-social; os que ele cria a partir de
matérias vivas formam a divisão biossocial do meio social e as relações entre ambiente e sociedade constituem
o meio físico-social (ibid., p. 69).
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
32
face às heterogeneidades próprias busca impor seus valores, uma dualidade simultânea.
Neste sentido, para Anderson e Parker (1971) qualquer sociedade está vinculada à sua
herança cultural e a “organização e dinâmica de uma determinada sociedade podem,
portanto, ser melhor compreendidas se conhecermos, pelo menos, as linhas gerais de seus
antecedentes culturais” (p.35).
Nesta perspectiva e por ser uma referência a valores e sentimentos, o lugar lembra
as experiências e aspirações dos seres humanos, sendo assim fundamental para a sua
identidade. Giddens (1989, p.96) refere-se também ao conceito de “local” (do inglês locale
que significa localidade) entendendo-o como cenários de interação construídos e
constituídos por funções sociais e propriedades específicas, podendo abranger desde
pequenos pontos no espaço até grandes extensões. Podendo este local ou lugar ser a casa,
o bairro, a cidade, enfim, qualquer ponto de referência, carregado de valores simbólicos.
Então, o lugar assume a forma de um ponto no espaço onde todas as significações
culturais e individuais se concentram, ou seja, é recortado nas experiências cotidianas
emocionalmente, ao contrário do espaço, que é amplo, desconhecido, temido e rejeitado.
Para Ferrara (2000) o lugar se faz representar e se a conhecer concretamente
pelas suas imagens, que são seus signos e atuam como mediadoras do conhecimento, uma
inteligibilidade da imagem abarcando seus significados e possibilidades de se manifestar.
Na relação que se estabelece entre imagem e imaginário, a autora atenta para uma
questão valiosa: “a postura descritiva de registro da imagem nos leva, freqüentemente, a
confundir imagem e imaginário, tomando-os como termos sinônimos, indistintos nas suas
manifestações e significados” (ibid., p.118); no entanto, certa parcimônia deve ser adotada
nesta distinção quando objetiva-se o estudo da imagem como categoria de análise em uma
porção do espaço.
Neste sentido, imagem e imaginário se distinguem: “A imagem é um dado e
corresponde a uma concreta intervenção construída na cidade, o imaginário é um processo
que acumula imagens e é estimulado ou desencadeado por um elemento construído ou não
(ibid., p.118 – grifo nosso), porém, claramente identificado com o meio e o cotidiano.
Portanto acredita-se que a imagem decorre de um referencial contextualizado, o
imaginário refere-se à capacidade associativa de produzir imagens a partir de uma imagem
concreta, corresponde a um jogo relacional entre significados despertados a partir de uma
imagem base, ressaltando que o caráter apelativo da imagem dirige-se ao próprio imaginário
porque, se de um lado ela tende a “permanecer diluída no cotidiano e no hábito de ver a
cidade, de outro ela depende do imaginário para revelar a identidade dos lugares e superar
o hábito na leitura da cidade, um exercício do imaginário” (ibid., p.123).
A imagem é, portanto um dado; o imaginário, um processo. Ambos contribuem para
a decodificação da paisagem e o traçar de considerações acerca da identidade cultural dos
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
33
moradores, isso porque ao se visualizar uma imagem se desperta para o imaginário, e este
sendo um processo, é cumulativo e considera também as relações pessoais para com esta
porção do espaço vivenciada cotidianamente.
Sob esta perspectiva Kevin Lynch (1997) trabalha a construção da imagem como
resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente, sendo que este
sugere especificidades e aquele seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê.
Desta forma, uma imagem pode ser esmiuçada em três componentes: identidade, estrutura
e significado, podendo ser tanto individual quanto pública a imagem individual é única e a
pública é a sobreposição de muitas imagens individuais.
Lamas (2000) referencia o trabalho de Lynch (1997) no que tange às imagens
públicas, afirmando que o grande interesse neste repousa no regresso à leitura ou
experiência coletiva, a imagem coletiva como média das imagens apercebidas por cada
indivíduo, e ainda na importância do ambiente visual para o bem estar do cidadão, onde a
visão é que determina a orientação e as seqüências visuais que são essenciais para o
conhecimento da forma do lugar, “[...] Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor
um importante sentimento de segurança emocional” (LYNCH, 1997, p.05), e neste sentido
as idéias se relacionam ao passo que emerge uma categoria denominada imagem coletiva
ou imagens públicas para agrupar as imagens comuns a um grande contingente de
habitantes.
Portanto, a imagem como resultado de um processo bilateral entre o observador e
seu ambiente pode variar significativamente entre observadores diferentes, uma vez que
cada indivíduo cria e assume sua própria imagem. É no sentido agrupado que Lynch (1997)
propõe que se chame de “imagens públicas” as imagens comuns a contingentes de
habitantes.
O autor ressalta que imagens de grupo são necessárias sempre que se espera que
um indivíduo atue com sucesso em seu ambiente e coopere com seus concidadãos. Oliveira
e Del Rio (1999) referenciam as obras de Kevin Lynch e também de Gordon Cullen como
sendo as pioneiras a desenvolver metodologias projetuais baseando-se em estudos de
percepção ambiental, uma vez que admitiam que os atributos do meio ambiente influenciam
no processo perceptivo da população, sobretudo o visual, contribuindo para a formação de
imagens compartilhadas pela população.
Nesta discussão sobre a construção das imagens públicas, a consciência do
passado emerge como um elemento importante no apego pelo lugar. Bachelard (1957, apud
BETTANINI, 1982, p. 120) trabalhava com o conceito de espaço como topo-análise” ao
buscar examinar as imagens do chamado espaço feliz. Ele propõe o termo topofilia que
visava determinar o valor dos espaços possuídos, amados, somando-se também os valores
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
34
imaginados, o espaço vivido não sem sua positividade, mas em todas as parcialidades da
imaginação.
Mais tarde, Tuan (1980) se utiliza deste neologismo definido como “topofilia” que
pressupõe o sentimento de lugar valorizado afetivamente para o sujeito, incluindo as
experiências deleitáveis de lugares; e também de “topofobia” que conduz à noção de
paisagem do medo, representa experiências negativas, amargas, desagradáveis. Para
Relph (1979) “a completa feiúra da paisagem e a depressão de seus habitantes
presumivelmente reforçam um ao outro num ciclo vicioso” (p.20), evidencia-se a topofobia
(AMORIM FILHO, 1999).
Percebe-se nestas considerações que a imagem contribui para a geração de
sentimentos de apego quando agradável, podendo, por outro lado, fazer aflorar sentimentos
negativos quando se apresenta de uma maneira desagradável aos olhos humanos. A
“topofilia” a qual exprime os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente
natural entende que: “a retórica patriótica sempre tem dado ênfase às raízes de um povo.
Para intensificar a lealdade se torna a história visível com monumentos na paisagem e as
batalhas passadas são lembradas, na crença de que o sangue dos heróis santificou o solo”
(TUAN, 1980, p. 114).
Assim, a afeição ao lugar e a lealdade para com ele é tamm explicada pelos laços
criados com a natureza estabelecidos no decorrer da história e que se evidenciam na
apreciação da imagem e nas significâncias traçadas. Este lugar, fruto de contextos sociais
diferenciados, porta em sua paisagem um grande simbolismo evidenciado em elementos
remanescentes de um passado mais ou menos remoto, convivendo com elementos
contemporâneos.
Neste sentido, Giddens (1989) afirma que “nas culturas tradicionais, o passado é
honrado e os símbolos valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações.
A tradição é um modo de integrar a monitoração da ação com a organização tempo-espacial
da comunidade” (p.44), desse modo, ela não é inteiramente estática, uma vez que
naturalmente é reinventada a cada nova geração conforme essa assume sua herança
cultural dos precedentes, emergindo como reveladora das práticas sociais dos grupos que a
vêm modelando.
Ponto relevante nos estudos de ordem cultural repousa na consideração de
Anderson e Parker (1971) ao afirmar que “deve ficar claro que as culturas também se
constroem por empréstimo” (p.98), ou seja, pela incorporação de traços de outra cultura,
onde uma análise do conteúdo cultural de uma sociedade em uma determinada época pode
revelar que parte deste conteúdo não teve origem nessa sociedade, mas foi trazido de
outras por difusão, como no caso dos imigrantes.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
35
Enfim, a fenomenologia como aporte metodológico - através do estudo dos lugares
por estes evidenciarem uma multiplicidade de relações explícitas - fornece subsídios para
um operacional estudo dos valores afetivos e culturais, uma vez que o homem se apresenta
como sujeito ativo e criador de uma linguagem simbólica, a qual decodificada contribui para
o desvendar e/ou estabelecer de relações entre as identidades culturais e a paisagem.
Acredita-se, portanto, que desmistificar as imagens é indispensável para reconhecer
os lugares e suas histórias, pois estas permitem identificar as percepções acionadas pelo
lugar e os significados que ele é capaz de sugerir uma vez que se tratam de signos,
representações e mediações de formas de relação do homem com o espaço. Da mesma
maneira, considerar o imaginário dos habitantes permite avaliar, pela definição de imagens
públicas o que mais se destaca topofílica e topofóbicamente na paisagem e a própria
relação desta com a identidade cultural.
Capítulo I – PAISAGEM, CULTURA E IDENTIDADE: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS _________
36
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR
Artesanato polonês.
Fonte: Inventário Turístico Municipal de Mallet, 2002.
[...] “qualquer sociedade está vinculada à sua herança cultural. A organização e
dinâmica de uma determinada sociedade podem, portanto, ser melhor
compreendidas se conhecermos, pelo menos, as linhas gerais de seus
antecedentes culturais” (JOHNSON, 1971, p.35).
37
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR
Partindo do interesse de avaliar o processo pelo qual a paisagem explicita em seus
elementos a dinâmica cultural e como se pode proceder numa porção do espaço a
descaracterização ou retomada de uma identidade , discutindo noções de “raça”, etnia e
povo, delimitou-se como foco de estudo o distrito político-administrativo de Rio Claro do Sul,
no Município de Mallet/PR, por acreditar que este pode apresentar os subsídios necessários
para a referida discussão.
Este distrito foi escolhido por apresentar, tanto moradores descendentes dos
primeiros imigrantes de origem polonesa, como outros não poloneses que foram sendo
gradativamente incorporados, e também por apresentar em sua paisagem elementos
remanescentes de outros tempos convivendo concomitantemente com elementos atuais. A
paisagem peculiar, com características materiais polonesas ainda fortemente preservadas,
proporciona também possibilidades de um estudo acerca da relação dos moradores do local
e sua porção do espaço.
Para tanto, parte-se de uma caracterização do lugar destacando os marcos principais
da colonização e também apresentando a configuração social contemporânea: os agentes
econômicos, sociais, técnicos e culturais. Na seqüência, busca-se resgatar e definir
elementos para análise, com vistas a valorizar a relação sociedade, tempo e contexto. Por
fim, delineia-se uma metodologia para a pesquisa de campo.
2.1 RIO CLARO DO SUL, MALLET/PARANÁ: BREVE CARACTERIZAÇÃO DO LUGAR
Como afirmam Anderson e Parker (1971) “a história do homem está delineada por
suas migrações por este planeta e por seu cruzamento com populações já estabelecidas em
áreas habitáveis” (p.583), gerando assim uma miscigenação, um cruzamento de culturas.
Porém, qual a conseqüência destes cruzamentos?
Sob uma ordem biológica, acredita-se que não são gerados efeitos desfavoráveis,
nem física, nem mentalmente. No entanto, do ponto de vista cultural, esse cruzamento de
características distintas pode ser tanto naturalmente assimilado ocorrendo de uma maneira
fluente como também pode gerar uma série de conflitos entre as sociedades envolvidas.
Nesta perspectiva, se torna relevante uma análise de como veio a ocorrer a inserção
de uma cultura imigrante em um determinado local como ocorreu em Rio Claro do Sul,
Mallet/PR.
Entretanto, não se pode examinar as questões da emigração polonesa para o Brasil
e a configuração dos meios brasileiros de descendência polonesa em separado do contexto
38
mais amplo das relações polono-brasileiras. Essas podem ser divididas nos seguinte
períodos, de acordo com Andrzej Dembicz
4
,:
até 1820 – contatos esporádicos e ínfimo conhecimento mútuo;
1820-1870 imigração pouco numerosa da inteligência e de profissionais, bem
como início do interesse científico da parte dos pesquisadores poloneses;
1870-1914 primeira fase da imigração maciça, de caráter econômico,
principalmente rural; o início do interesse pelo Brasil por parte dos intelectuais,
políticos e empresários;
1914-1918 período de retenção da imigração em função do resultado da I
Guerra Mundial; mobilização patriótica entre os imigrantes poloneses e seus
descendentes, em favor do apoio à pátria em renascimento;
1918-1939 encetamento das relações diplomáticas e econômicas; período da
política emigracional estatal da Polônia independente; emigração permanente,
emigração temporal por motivos econômicos e criação das estruturas polônicas sob
o patrocínio do governo polonês;
1939-1945 período da II Guerra Mundial: detenção da imigração maciça;
movimento patriótico em favor da cooperação com o país ocupado e o governo
polonês na emigração; imigração seletiva, sobretudo dos intelectuais e artistas;
1945-1989 período dos governos comunistas na Polônia; a primeira afluência
do pós-guerra de uma pequena massa de imigrantes políticos, principalmente
oriundos do desmobilizado Exército Polonês no Ocidente, e de suas famílias;
tentativas da utilização instrumental e ideológica dos meios polônicos para fins da
política estatal polonesa;
1989 nova fase das relações entre a Polônia e o Brasil, bem como entre a
Polônia e a Comunidade Polônica brasileira.
Acredita-se que, a maior onda da imigração polonesa para o Brasil ocorreu no
período de 1870 a 1914. Segundo as estimativas do início dos anos vinte, chegaram então
ao Brasil 102.196 poloneses, distribuídos pela seguinte estrutura temporal:
ANOS 1871-1889 1890-1894 1895-1900 1901-1914
NÚMERO DE IMIGRANTES 8.080 62.786 6.600 24.730
Total: 102.196
QUADRO 03: ENTRADA DE IMIGRANTES POLONESES NO BRASIL. Fonte: DEMBICZ, A. Disponível em:
www.tchr.org/braz/socctba/br/histempo.htm, acesso em 09/10/2006. Adaptado por: FOETSCH (2006).
4
Disponível em http://www.tchr.org/braz/socctba/br/histempo.htm, acesso em 09/10/2006 e também na
referência: DEMBICZ, A.; KIENIEWICZ, J. Polônia e Polono-Brasileiros: História e Identidades. Traduação
Ademir Gonçalves Warszawa: Centro de Estudos Latino Americanos: Universidade de Varsóvia:CESLA, 2001.
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
39
Wachowicz (1981) destaca que a imigração polonesa no Brasil caracterizou-se por
ser constituída de agricultores (daí os poloneses passarem a se vistos e nomeados como
camponeses) retirados de condições semi-feudais de vida, cultivavam a terra e criavam
animais em um sistema rural.
Não satisfeitos com as condições que a Polônia se encontrava, dividida entre as
grandes potências européias, e seduzidos pelas propagandas que o governo brasileiro
empreendia na tentativa de atrair imigrantes, os poloneses decidiram imigrar para o Brasil.
Na Polônia, não estavam acostumados ao comércio, o colono polonês trouxe, de sua
terra de origem, estereótipos medievais contrários a esse tipo de atividade, onde o comércio
no entendimento do colono “era considerado como uma atividade não muito recomendável.
Seus preconceitos anti-mercantilistas provinham do fato de o comércio, em suas aldeias de
origem, estar quase todo ele nas mãos dos judeus e alemães” (p.125), esse fato explica a
opção dos imigrantes poloneses em continuarem sendo camponeses.
O mero de imigrantes poloneses para o Brasil foi tão significativo no período de
1890 a 1891 que chegou a ser nomeado de “febre brasileira”, como se pode perceber:
FIGURA 01: Polônia ocupada em 1890 e localização da região mais atingida pela “Febre Brasileira”. Fonte:
WACHOWICZ (1981, p.18). Adaptado por FOETSCH (2006).
Neste processo imigratório da Polônia para o Brasil, muitos sobrenomes foram
alterados, Wachowicz (1997, p.12) complementa afirmando que sabe-se que no período
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
40
chamado Goroncka Imigracy(febre migratória) para o Brasil, a Polônia não existia como
país livre, daí a dificuldade de documentação”.
Além disso, os poloneses e também alguns ucranianos tinham que se deslocar até a
Áustria para embarcar no navio a vapor com destino ao Brasil e depois de mais ou menos
três meses de viagem, ao desembarcar nos portos brasileiros e relatar que provinham de
navio da Áustria, assim foram registrados como Austríacos –, desconsiderando a
nacionalidade de origem, ou seja, polonesa ou ucraniana.
Ainda nesse período, o nome do Paraná foi envolvido numa lenda criada pelas
aldeias polonesas:
Diz a lenda que o Paraná até então estava coberto por névoas e que ninguém sabia
de sua existência. Era a terra em que corria leite e mel. Então a Virgem Maria,
madrinha e protetora da Polônia, ouvindo os apelos que o sofrido camponês polonês
lhe dirigia, dispersou o nevoeiro e predestinou-lhe o Paraná. Tal decisão da Virgem
Maria havia sido comunicada ao Papa, o qual, sensibilizado pelo destino da
cristandade polonesa, convocou todos os reis e imperadores da terra, para sortear a
posse de tal território. Por três vezes consecutivas foi tirada a sorte, e sempre o
Papa era o contemplado. Então o Papa solicitou ao Imperador brasileiro que
distribuísse essas terras aos poloneses, para que a tivessem à fartura e ali
pudessem viver felizes, expandindo seu cristianismo (WACHOWICZ, 1981, p.45).
A sociedade brasileira, na época da imigração vivia a abolição da escravidão africana
em 1888, o que “veio tornar crucial a problemática da mão de obra agrária no país [...] a
solução encontrada foi promover a importação de mão de obra agrícola européia” (ibid.,
p.42), sobretudo para atender as fazendas de café, uma vez que era o principal produto de
exportação, e ainda a imigração auxiliaria na criação de dezenas de núcleos coloniais nos
Estados meridionais do Brasil com o objetivo de garantir o fornecimento de produtos de
subsistência.
Portanto o contexto social da “chegada dos primeiros grupos de imigrantes
poloneses ao Paraná, a partir de 1871, o sistema de trabalho existente ainda era o da
escravidão africana” (ibid., p.85).
A colonização do Distrito de Rio Claro do Sul, por sua vez, deu-se a partir de 1884,
quando se iniciavam as medições de terras para formações de núcleos coloniais da região
sul do Paraná. Um grupo de famílias provindas de Campo Largo da Piedade (PR) ao passar
por Palmeira (PR) encontrou-se com lavradores procedentes de Ponta Grossa (PR) se
agruparam e formaram assim quinze famílias que seguindo antigos caminhos de tropeiros
fundaram um povoado que denominaram Rio Claro em virtude da limpidez das águas do rio
que circundava o local.
Estes primeiros moradores das terras da futura Colônia de Mallet não faziam parte
do plano de colonização da província, mas dedicaram-se a agricultura e a pecuária. Tinham
um elevado espírito de religiosidade e construíram no topo da colina uma capela feita de
bambus dedicada a Nossa Senhora do Rosário (SIEKLICKI e GRENTESKI, 2002, p.07).
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
41
Construíram inicialmente moradias provisórias para fixar residência. Entre os chefes
de famílias estavam: Frederico Carlos Franco de Souza, João Teixeira de Lima e Antônio
Rodrigues de Lima. Estas famílias não eram de origem polonesa e os mesmos se
autodenominam brasileiros de origem, desconhecendo suas raízes genealógicas (ibid.,
p.07). Apesar de fundarem uma pequena vila às margens do Rio Claro, não fixaram
residência no local, poucos anos mais tarde se transferiram para onde hoje se encontra a
localidade de “Bairro dos Lima”, distante seis quilômetros da atual sede do distrito, ficando
em Rio Claro somente os poloneses.
Em 1891 foi criada legalmente a Colônia de Rio Claro, juntamente com outras três no
Vale do Iguaçu: Palmira, Água Branca e Eufrosina. A Colônia de Rio Claro foi a de maior
extensão, com 1.371 lotes, dos quais 79 formavam a sede, sendo os demais distribuídos por
9 linhas principais e 18 vicinais. Nesta Colônia os imigrantes que chegaram eram poloneses
(ibid., 2002, p.07).
De acordo com dados do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social, disponível em: www.ipardes.com.br, acesso em 23/01/06) referentes ao
ano de 2005, sabe-se que o Município de Mallet foi desmembrado do Município de São
Mateus do Sul e teve sua instalação na data de 21/09/1912. Sieklicki e Grenteski (2002)
destacam que o Distrito Administrativo de Rio Claro do Sul somente foi criado pela Lei
7.573 de 20 de outubro de 1938, fazendo parte do município de Mallet no centro sul do
estado do Paraná, como se pode perceber na gravura seguinte:
ANTIGA ESTRADA DE FERRO
LOCALIDADE RURAL
ESTRADA SECUNDÁRIA
RODOVIA
PERÍMETRO URBANO
RIO CLARO DO SUL
FIGURA 02: LOCALIZAÇÃO DE RIO CLARO DO SUL EM MALLET/PR
Fonte: Sieklicki e Grenteski, 2002.
ESTADO DO PARA
Localização de Mallet
MUNICÍPIO DE MALLET
LEGENDA
RIO CLARO DO SUL
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
42
Nesta pesquisa, Rio Claro do Sul será tratado como comunidade, ressaltando que as
comunidades não são estáticas, uma vez que se modificam com as forças variáveis que
sobre elas se exercem. Algumas crescem, atingem um ponto culminante, depois declinam,
ao passo que outras continuam crescendo e podem finalmente converter-se numa cidade ou
região composta por numerosas comunidades, assim sendo:
é a área local em que a maioria das pessoas atua do modo mais completo e direto.
É que o nosso lar está localizado, que os nossos filhos nasceram, que
freqüentamos a escola, que realizamos nossos negócios ou trabalhamos, que ocorre
a nossa participação nas questões públicas e se manifestam os ideais primários da
nossa sociedade. É também que obtemos as nossas maiores satisfações, graças
à associação íntima com amigos e vizinhos (ANDERSON e PARKER , 1971, p.188).
O município de Mallet conta atualmente com uma área terrestre de 724,480 Km
2
e
um total de 3.871 domicílios. Dista 209,15 Km da capital Curitiba e pertence à Mesorregião
do Sudeste Paranaense. Possuí uma população estimada
5
pelo IBGE para o ano de 2006
de 13.099 habitantes, sendo que destes, 6.300 constituem a população economicamente
ativa. Como se pode notar no Quadro 01, o distrito de Rio Claro do Sul possui 1.899
habitantes, 71,5% destes são moradores da área rural. O universo de análise deste trabalho
focaliza somente a sede do distrito que compreende 543 habitantes, ou seja, 28,2% dos
habitantes do distrito. Na sede existe um montante de 551 domicílios (dentre os quais os
ocupados efetivamente como moradia, os vagos, e os de uso ocasional), além das 27
edificações não residências que compreendem os comércios, indústrias, igrejas e galpões,
como se pode perceber no Quadro 04:
ÁREA URBANA ÁREA RURAL TOTAL
Número de Habitantes 543 1356 1899
Domicílios ocupados 149 342 491
Domicílios vagos 04 09 13
Domicílios de uso ocasional 09 38 47
Domicílios não residenciais 27 80 107
QUADRO 04: HABITANTES E DOMICÍLIOS NO DISTRITO DE RIO CLARO DO SUL.
Org: FOETSCH (2006). Fonte: IBGE - Caderneta do Recenseador do Censo Demográfico de 2002.
(Consulta na Agência do IBGE de Irati – PR, na data de 05/05/06).
Quanto à hidrografia malletense, os rios que alimentam o município são: o Rio Braço
do Potinga, o Rio Charqueada, o Rio Água Fria e o rio Rio Claro. O Rio Claro é o maior em
extensão do município, nasce na localidade do Cerro Só, na propriedade do Sr. Ademar
Lebelein, mas adiante recebe o entroncamento com outro rio que nasce na Fazenda Fuck,
seguindo por uma distância não calculada, passando pelos distritos de Dorizon e Rio Claro
5
Ressalta-se que, os dados utilizados no trabalho referem-se à população “estimada” para o ano de 2006 pelo
IBGE. Os dados do censo demográfico de 2002 revelam que 12.602 pessoas residiam no município. Fonte:
www.ibge.gov.br, acesso em 23 de janeiro de 2006.
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
43
do Sul e desaguando no rio Iguaçu. Convém ressaltar que foi às margens deste rio que os
imigrantes poloneses fundaram o povoado, que hoje corresponde ao distrito político-
administrativo de Rio Claro do Sul (SIEKLICKI e GRENTESKI, 2002).
Referente ao clima, o município de Mallet situa-se na zona de abrangência do clima
Cfb, ou seja, um clima mesotérmico (temperatura média do mês mais frio abaixo de 18ºC);
subtropical úmido sem estação seca e com verões quentes (temperatura do mês mais
quente abaixo de 22ºC), com ocorrência de geadas severas e freqüentes, com índices de
umidade relativa do ar variando entre 80% e 85% e uma média pluviométrica variando entre
1600 e 1700 mm/ano.
Quanto à vegetação, Mallet destaca-se pela presença da floresta ombrófila mista
com a presença destacada do pinheiro (Araucária Angustifólia), erva-mate, imbuia, canela,
bracatinga, bromélias, dentre outras; bem como algumas espécies exóticas como o pinus e
palmeiras. Na fauna, destaca-se a presença de tatus, pacas, cutias, capivaras, da gralha
azul, tucanos, sabiás, pombos, dentre outros animais. (ibid., p.17).
Do ponto de vista da agricultura, Mallet dispõe de terras férteis e agricultáveis,
destacando-se a produção de milho, feijão, soja, arroz, batata, fumo; e também da
fruticultura: kiwi, uva, ameixa, pêssegos, laranja dentre os principais.
A mineração também já vem sendo desenvolvida, uma vez que no município
vestígios da existência de petróleo na localidade da Colônia Uma, distante três quilômetros
do distrito de Rio Claro do Sul, onde agricultores retiram uma substancia pastosa para
lubrificar implementos agrícolas de tração animal. A Petrobrás perfurou e lacrou alguns
desses poços. Além destas considerações, ressalta-se também a existência e exploração de
fontes de Água Mineral Sulfurosa no município de Mallet, fontes tais que dotam de
propriedades terapêuticas (ibid.).
Em Rio Claro do Sul, existe uma fonte de água sulfurosa, entretanto, atualmente
encontra-se abandonada, servindo apenas para matar a sede dos animais que circundam o
local. Sua proximidade com o cemitério faz com que algumas pessoas evitem o uso dessa
água, por julgá-la contaminada e imprópria para o consumo.
2.2 A ETNICIDADE POLONESA EM RIO CLARO DO SUL
A etnicidade é fundamental para o entendimento da história, da linguagem, da
cultura, enfim da identidade de um povo. Assim, acredita-se possível falar do
reconhecimento desta a partir de um lugar, de uma história e de experiências comuns de
uma cultura particular. Nesse sentido, todos os indivíduos são etnicamente situados e as
identidades étnicas são cruciais para o despertar do senso subjetivo.
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
44
Na presente pesquisa, a etnia polonesa em Rio Claro do Sul se apresenta como foco
de um estudo por valorizar a identidade étnica e as relações com a paisagem de um lugar
carregado de simbolismo, onde a religiosidade, a paisagem e a língua se destacam entre os
demais. Trata-se de uma comunidade que por muito tempo procurou segregar-se para
preservar com maior facilidade sua forma de vida, se defendendo das intrusões externas,
mas que gradativamente foi se inserindo, de uma maneira peculiar, numa dinâmica cultural.
Um povo, para ser reconhecido como tal, deve manter seu modo de ser, costumes,
idiomas, música, comida, enfim, suas manifestações culturais, que são as atividades que o
identificam. Mesmo sofrendo na Polônia, com todas as influências externas, o polaco não
deixou de conservar e cultivar cotidianamente suas características. Nos países da América,
onde foi acolhido, continuou a preservar sua identidade polono-eslava. Nestes países é
reconhecido pelas suas características peculiares.
Wachowicz (1981) aponta que no processo de imigração o polonês “teve
oportunidade de entrar em contato e concorrer com imigrantes alemães, italianos,
espanhóis, etc. todos estes, mais adaptados às exigências da sociedade capitalista,
venciam os poloneses na concorrência de atividades urbanas” (p.139), o que contribuiu para
que os poloneses, em sua grande maioria, simplesmente optassem por continuar
camponeses, modelando uma paisagem rural, como a encontrada em Rio Claro do Sul.
No caso das aglomerações polônicas, o interessante é, sobretudo, analisar quais
dentre as soluções locais foram trazidas, juntamente com a bagagem dos emigrantes do
país materno, quais foram apanhadas pelo caminho (principalmente, no caso das migrações
por etapa), quais, por fim, na nova terra.
Ao se interessar pela determinante histórica da identidade do grupo, Kula (2000)
acredita que vale indagar sobre os portadores da memória coletiva que funcionam em sua
esfera. O passado encontra ressonância, literalmente, em tudo, a começar pelos nossos
nomes e costumes, terminando nos textos e construções antigas (p.17).
Kersten (2000) ressalta que os imigrantes poloneses, que se acomodaram nos
arredores das cidades em área de cultivo, “profundamente religiosos e católicos, marcaram
a região com sua cultura cristã, seu idioma, usos, costumes e dedicação ao trabalho.
Introduziram a carroça puxada por cavalos e o cultivo de diversos cereais, as casas de
troncos e as de tábuas” (p.74).
Foi assim que ocorreu também a acomodação dos poloneses em Rio Claro do Sul.
Preferiram ficar ao lado de um rio de águas claras, erguer uma capela no lugar mais alto
para assim professar sua fé, conservaram e ainda conservam sua língua materna, usos e
costumes, introduziram e ainda utilizam muito a carroça e o cultivo de cereais, e ainda
encontram-se as casas construídas de troncos e tábuas. Aprenderam a conviver com os
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
45
caboclos, mantendo inicialmente certa distância, mas respeitando também seus modos de
vida.
Sob o ponto de vista da identidade cultural, Anderson e Parker (1971) acreditam que
o resultado final da experiência dos grupos de nacionalidades distintas geralmente “é uma
assimilação pela cultura nativa. [...] O abandono das características nacionais e a adoção de
novas se processa quase sempre de forma gradual, muito embora as acomodações
normalmente se façam com razoável rapidez” (p.602). Entretanto, essa assimilação envolve
a mudança de valores, sentimentos e lealdades, traz reflexos mais profundos, uma vez que
as modificações destas atitudes é vagarosa, processa-se gradativamente e pode ser
retratada por marcantes diferenças de idioma e fortes preconceitos recíprocos.
O que ocorreu em Rio Claro do Sul, todavia, foi uma mútua incorporação de traços
culturais. Entretanto, embora tenha havido incorporação de traços da cultura dos caboclos
pelos poloneses; a cultura polonesa se impôs. Os caboclos passaram, de forma mais
marcante, a incorporar em suas práticas diárias características polonesas.
Gradativamente passaram a freqüentar a Igreja, causando inicialmente certa revolta
nos poloneses pela julgada “falta de respeito” dos caboclos que permitiam que o cachorro os
acompanhasse até as celebrações religiosas; depois passaram a sepultar seus mortos no
cemitério da localidade; a freqüentar as festas, a catequese, os bailes, o “Junak”, a se
envolver na banda musical e cantar, dançar e se divertir com os poloneses; valendo-se
também da carroça, dos grãos, e da rica gastronomia polonesa.
Para que um grupo étnico possa sobreviver mantendo suas características, algumas
comunidades buscam retornar a um passado através de narrativas de suas histórias
distantes e ao mesmo tempo presentes, como forma de transmitir sua identidade,
principalmente, através dos fatos que estão presentes na memória. Nota-se que cada grupo
social herda o passado e é configurado, entre outras coisas, pelas reminiscências históricas.
Inúmeros grupos, incluindo, sobretudo os grupos étnicos, referem-se, de certa maneira, à
história (ibid., p.16).
Dembicz (2000) acredita que “no caso dos polono-brasileiros, assim como também
da maior parte dos grupos étnicos que habitam a região sudeste do Brasil, observa-se
claramente a tendência ao renascimento da identidade étnica” (p.34) e acrescenta que a
identidade deve ser tratada em duas dimensões, de um lado valorizando o sentimento de
laço territorial polônico” que consiste no efeito da consciência das raízes polonesas ou da
posse da identidade polonesa; e de outro lado, uma dimensão cultural mais plena,
“enraizada na brasilidade ou em outra identidade nacional latino americana, constituindo
nesse caso plano básico de referência” (p.35).
Bento Munhoz da Rocha Netto, em uma Conferência intitulada “Poloneses no
Paraná” atesta que “a colônia polonesa faz parte da paisagem, com sua apresentação
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
46
típica. Com a igreja [...] a casa do vigário, centro não apenas religioso mas, também social
de toda a vida comunitária” (s.p.), destacando que os alemães também vieram para o
Paraná, mas em maior número foram para Santa Catarina e Rio Grande, houve, assim, uma
identificação do polonês com nosso Estado, mantendo o Paraná o monopólio dessa
imigração, e “de fato, o Paraná ficou dono do polaco. Podemos dizer aqui: o polaco é nosso”
(s.p.) e acrescenta ainda que:
Por ser o Paraná, dos três Estados do sul, a região que atraiu, em maior número, o
imigrante polonês, quando nosso estado amanhecia e se expandia, esboçando e
fazendo adivinhar a realidade futura, ainda longínqua, a colônia polonesa plantou um
marco em sua evolução. Não se pode pensar o Paraná, a sua paisagem, o seu
passado, a sua explicação, sem a figura do imigrante polonês e as contribuições que
ele trouxe (NETTO, 1971, s.p.).
Entretanto, o mesmo autor acredita ainda que o mundo dia-a-dia diminui de tamanho
pelas comunicações e pela convivência dos descendentes de colono que buscam outras
atividades em centros urbanos e trazem, de retorno, em visitas periódicas, outras normas e
amostras dos comportamentos vigentes num meio de enorme mobilidade social,
contribuindo para o descaracterizar da identidade local, trazendo uma importante
preocupação sobre o polonês:
Um dia ele desaparecerá, como tipo característico, como tipo regional, engolido pela
sociedade tecnicista, absorvido pela crescente unidade cultural de uma grande
Nação, que, entretanto, não extinguirá o pluralismo brasileiro. E no pluralismo
brasileiro o Paraná há de sempre valorizar a contribuição cultural do polonês
(NETTO, 1971, s.p.).
Percebeu-se em Rio Claro do Sul, que os descendentes de imigrantes poloneses
iniciaram, timidamente, uma busca por resgatar seus valores culturais e por perpetuar a
língua de seus antepassados. Este grupo étnico está residindo na localidade desde 1890,
mas recentemente, está divulgando e resgatando sua cultura étnica através da
gastronomia, das festas típicas, e dos ritos na Igreja, os quais vem sendo professados na
língua materna, o polonês.
Na localidade de Rio Claro do Sul, alguns jovens buscam outras oportunidades em
lugares maiores, ao passo que outros, se casaram, estão empregados seja na
agricultura, seja na madeireira – e pretendem aí passar o resto de sua vida. Os mais idosos,
na sua grande maioria, não pensam em abandonar o lugar, criaram para com ele um laço
afetivo tão grande que não conseguem imaginar sua vida em uma outra localidade. Estes
ainda reverenciam histórias dos “heróis” passados que vieram da Polônia e muito têm a
contribuir para os estudos da história oral de Rio Claro do Sul.
Para a grande maioria, mais especificamente para os descendentes de poloneses, o
distrito passou a ser visto como um pedaço da Polônia. Um lugar, onde todas as lembranças
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
47
podem ser reverenciadas com qualquer membro da sociedade, pois todos sabem da “Saga
dos Polacos”.
O imaginário é alimentado pelo simbolismo, o rio de águas claras que deu o nome à
localidade, o cemitério onde muitos dos antepassados encontram-se enterrados, a
majestosa Czenstochowa no lugar mais alto do povoado, a língua conhecida e professada
por grande parte da população como hábito comum, e os encontros religiosos nos quais os
santos, tão importantes para o povo polonês, o exaltados, contribuem para dar ao lugar
um ar tipicamente polonês.
Na paisagem, tais marcas são também perceptíveis, sobretudo nos conjuntos
arquitetônicos que sobrevivem ao tempo e contribuem para manter viva a memória dos
moradores, dentre estes se pode destacar o Colégio das Irmãs, a Igreja Nossa Senhora do
Rosário, a Gruta Nossa Senhora de Lourdes e a construção antiga pertencente ao Sr.
Ervino Kovalski. Todas estas, habilmente arrematadas despertam nos poloneses um
sentimento de nostalgia.
Ser polaco ou polonês parece significar morar no interior, longe da correria urbana,
andar de carroça, plantar grãos, cuidar dos animais (como porcos, galinhas, vacas e
cavalos), usar o arado, o radnik, ser cristão praticante, cantar cânticos poloneses, falar a
língua polonesa, construir casas com tonalidades de cores diferentes, ornamentar as cercas
imprimindo elementos decorativos e, sobretudo, manter vivo o imaginário alimentando-o
pelo simbolismo material da paisagem.
2.3 UMA METODOLOGIA PARA A PESQUISA DE CAMPO
A pesquisa de campo busca investigar como a sede do distrito de Rio Claro do Sul
teve sua paisagem modificada em seus elementos. O objetivo é levantar como o espaço é
percebido, apreendido e incorporado pelos moradores do lugar, com ênfase nos moradores
de descendência polonesa, justamente por terem sido os primeiros a realmente colonizar o
lugar e se dispor a fixar residência.
Optou-se pelos poloneses, por se objetivar o estabelecimento de uma possível e
provável relação entre a identidade deste povo e a paisagem cultural deste distrito. Acredita-
se que a dinâmica cultural contribui para o deslocamento e a fragmentação das identidades
culturais, dessa maneira se torna viável entender de que forma o processo de dinâmica
cultural afetou a identidade polonesa do distrito e se essa identidade foi descaracterizada ou
apenas inserida em novos contextos.
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
48
2.2.1 Definindo a metodologia para estudo da dinâmica da paisagem cultural
Para descrever e analisar a forma física de um lugar pressupõe-se a existência de
um instrumento que permita organizar os elementos através de um arranjo do ambiente
estudado. Essa estrutura, obtida pela análise da obra de Mário Deina (1990), permite
representar os elementos tipicamente de origem polonesa. A apreciação/observação da
paisagem contemporânea permite definir quais foram os novos elementos incorporados.
Busca-se apreender ambas estruturas, entretanto, não dicotomizando as relações entre
poloneses e não poloneses, mas, pelo contrário, demonstrando a fluidez entre ambas.
Portanto, objetivando inicialmente o estudo dos elementos visíveis, a paisagem como
produto da cultura passa a representar uma via de relação temporal por explicitar essa
dinâmica através do traçado e, principalmente, da arquitetura. Neste contexto arquitetônico,
Lamas (2000) contribui afirmando que a morfologia urbana como ciência, estuda as formas
de uma maneira a interliga-las com os fenômenos que lhes deram origem e tais fenômenos
podem ser de cunho cultural quando analisados sob a perspectiva de ocupação espacial por
uma comunidade típica, de características próprias e que busca manter sua identidade.
Dessa forma, acredita-se que ao selecionar elementos da paisagem de uma dada
porção do espaço se obtém um leque viável para avaliar o seu processo de ocupação e
evolução com ênfase no aspecto cultural como modelador da paisagem e assim viabilizar
uma discussão acerca da dinâmica cultural e da descaracterização de identidades locais.
Na primeira parte da pesquisa empírica, busca-se apreender a dinâmica da
paisagem considerando a forma e a função dos elementos arquitetônicos que a compõem e
como estes contribuem para geração do imaginário dos moradores. Tais elementos foram
selecionados da obra de Mario Deina (1990) "Colônia Rio Claro. Esta Terra tem História",
publicada em 1990 e que retrata um lapso temporal de história deste lugar, mesmo que
sinteticamente, no período compreendido entre 1891 e 1990.
A escolha por esta obra se justifica no fato de que a documentação de Rio Claro do
Sul, em termos fotográficos e escritos, perdeu-se. Estas fontes foram agrupadas e
pertenciam ao grupo de Irmãs Vicentinas que residiam neste distrito e que ao irem embora
as levaram consigo. Apesar de todos os esforços para recuperação destas não se m
notícias quanto ao paradeiro. Por isso, torna-se difícil encontrar alguma fonte segura da qual
se considere veracidade nos dados. A obra de Mario Deina se destaca como a mais
seqüencial e apresenta uma lógica coerente entre acontecimentos, datas e personagens.
Mario Sérgio Deina era escritor, poeta, contabilista e comerciante. Filho de Pedro e
Iracema Deina, neto de Miguel Deina e bisneto de Wawrzyniec Dejna, que foi um dos
primeiros imigrantes a chegar da Polônia, tendo se estabelecido na localidade de Barra
Feia, que naquela época pertencia ao núcleo de Rio Claro do Sul e atualmente pertence ao
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
49
município de São Mateus do Sul. O relato de rio Deina foi incentivado pelo vigário
Estanislau Gogulski, publicado pela diretoria da Braspol
6
legando assim para a comunidade
um livro que retrata a história da antiga colônia, hoje distrito de Mallet/PR.
Em Rio Claro do Sul, alguns elementos se destacam na paisagem e na arquitetura
possibilitando a contraposição com elementos do passado. Estes foram agrupados de modo
a contribuir para uma análise do processo de dinâmica cultural e/ou descaracterização da
identidade com vistas na imagem do lugar, além de viabilizar o tecer de algumas
considerações acerca da relação entre paisagem e identidade cultural. A paisagem neste
caso é de extrema importância uma vez que se trata de elementos representáveis e visíveis
cotidianamente.
Da obra de Mário Deina (1990) foram retirados alguns elementos religiosos de
origem polonesa. Também foram retirados elementos como: hospital, biblioteca, escola e
clube. Os elementos mais recentes foram delimitados a partir do particular propósito da
dissertação e considerando o seu aparecimento após a publicação da obra de Deina (1990);
são eles: os bares e lanchonetes, o conjunto habitacional, o posto de gasolina e mercados.
Destaque se a uma construção datada de 1928 que vem sendo ampliada pelo
proprietário, descendente de poloneses, com o objetivo de manter, na medida do possível
as características da arquitetura original.
2.2.2 Sociedade, Tempo e Contexto: elementos para a análise da relação dos habitantes
com seu lugar
Potencialmente, qualquer lugar é em si o símbolo poderoso de uma sociedade
complexa. O que se percebe, é que nos lugares persistem elementos de vários tempos,
onde as edificações e configurações de seu assentamento primitivo convivem com
elementos de um passado mais ou menos próximo e construções contemporâneas,
refletindo a história dos grupos sociais que sucessivamente emolduraram essa porção do
espaço.
Nesta modelagem, as questões étnicas contribuem para construir um aspecto
peculiar, ou seja, cada grupo social, cada etnia procura expressar entre outras formas
visualmente suas características. A etnia polonesa simpatizante dos lambrequins, casas
6
Representação central da comunidade brasileiro-polonesa no Brasil. Compare: www.braspol.com.br, acesso
em 23 de janeiro de 2006. Rizio Wachowicz (2000) apresenta um breve comentário sobre a BRASPOL:
Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa no Brasil. Criada no dia 27 de janeiro de 1990, tem
por objetivo ximo criar maiores laços de solidariedade entre as Comunidades Polônicas em nosso país;
preservar tradições e costumes, bem como todo o acervo cultural dos seus antepassados; incentivar o
intercâmbio cultural e científico com a Polônia e promover a valorização dos descendentes em todas as formas
(p.122).
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
50
com varandas, tonalidades de cores vibrantes e contrastantes, busca também expor suas
peculiaridades na paisagem de Rio Claro do Sul, onde além da arquitetura, o simbolismo
das construções erigidas contribui para tornar o espaço em lugar para esta comunidade.
Sob o ponto de vista da arquitetura, com o intuito de avaliar o papel dos elementos
construídos na sociedade, Kevin Lynch (1997) em sua obra "A imagem da cidade", apesar
de apresentar uma perspectiva urbana, contribui para o estudo dos lugares na medida em
que acredita que o lugar não é apenas um objeto percebido e desfrutado, mas é também
produto de muitos construtores que nunca deixam de modificar a sua estrutura.
Esta estrutura pode ser estável por algum tempo, mas está sempre se modificando
nos detalhes, assim, não um resultado final, apenas uma contínua sucessão de fases,
onde os cidadãos (ou seja, a comunidade) têm vastas associações com alguma parte de
seu lugar e a percepção subjetiva de cada um está impregnada de lembranças e
significados. Os cidadãos são os elementos dinâmicos de um local, não apenas meros
observadores do espetáculo, mas parte dele, onde quase todos os sentidos estão em
operação e a imagem é uma combinação destes.
Da mesma forma Lamas (2000) enuncia a questão da morfologia e do desenho da
cidade sob a perspectiva da arquitetura para definir e explicar a paisagem e sua estrutura.
Propõe e se utiliza de um objeto: a forma e suas correlações com o contexto, a função,
dentre outros aspectos. Também aqui pode-se fazer uma transposição do urbano para o
estudo dos lugares. Nesta perspectiva, a forma física, que abrange as construções, bem
como, a forma natural de um lugar, é a materialização no espaço da resposta a um contexto
preciso, onde os cidadãos ao pertencerem a uma dada etnia buscarão expressar suas
características.
Este contexto se exprime em um conjunto de critérios funcionais e estéticos, onde
sua variação origina diferentes propostas de desenho espacial, mesmo utilizando elementos
morfológicos idênticos, uma vez que as diferenças resultam do modo como esses elementos
se posicionam, se organizam e se articulam frente a uma identidade étnica.
Assim, dependendo do contexto e das necessidades socioeconômicas de um lugar,
sua paisagem se modifica e entre os critérios do contexto, as funções têm uma importância
particular, pois a forma terá ou não uma relação direta com a função. Portanto, os elementos
da paisagem revelam as relações existentes entre forma e função, contribuindo também
para uma desmistificação do simbolismo que estes elementos portam, cujas alterações,
incorporações e desaparecimento despertam nos moradores os mais variados sentimentos
de nostalgia.
Retratadas as questões arquitetônicas da paisagem cultural, toma-se emprestado de
Giddens (2005) uma metodologia para a etnografia, ou seja, para o estudo de pessoas e de
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
51
grupos, durante certo período de tempo, utilizando a observação participante ou entrevistas
para desvendar o comportamento social.
Tal tipo de pesquisa procura revelar os significados que sustentam as ações sociais
e, quando bem sucedida, oferece uma riqueza maior de informações a respeito da vida
social. Trata-se de um tipo de pesquisa qualitativa, se interessando mais por interpretações
subjetivas culturais do que por dados numéricos. No entanto, apresenta a limitação de que
“apenas grupos ou comunidades razoavelmente pequenas podem ser estudadas” (p.515).
Giddens (2005) acredita que como os estudos etnográficos envolvem um pequeno
número de pessoas não se pode ter a certeza de que o que for descoberto em um contexto
específico também se aplicará a outras situações, ou ainda que outros pesquisadores
chegariam às mesmas conclusões ao estudar o mesmo grupo.
Nesta perspectiva, uma óptica baseada nos estudos etnográficos de Giddens
aplicada à comunidade de Rio Claro do Sul pode trazer um grande número de informações
acerca da vida social valorizando os aspectos de ordem cultural da sociedade em questão,
não batendo de frente com a limitação espacial uma vez que a comunidade é pequena, ou
seja, em torno de seiscentos habitantes sendo possível seu enfoque através desta
metodologia.
Inicialmente, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. Para estas,
contribuíram 25 moradores da localidade de Rio Claro do Sul, todos com residência de no
mínimo de dez anos, com idade superior a 55 anos e que possuem o pai ou a mãe com
sobrenome polonês. A pesquisa foi realizada num período de dois meses (27/02/06 a
28/04/06) nos domicílios, no posto de saúde, no grupo da terceira idade e em encontros de
visitas ocasionais.
O objetivo consistiu em buscar compreender de que maneira a dinâmica dos
elementos da paisagem interfere na percepção dos moradores do local. Para tanto, alguns
elementos da paisagem cultural foram salientados com vistas a obter os dados satisfatórios
para a pesquisa, porém de uma forma a não direcionar as respostas, deixando os
entrevistados livres para responderem de acordo com o que realmente percebem. Esse
contato inicial contribuiu para a delimitação do horizonte da pesquisa, mas ao mesmo tempo
se percebeu que somente esta metodologia não daria conta de responder aos
questionamentos instigados pelo trabalho.
Como era a Polônia no período da imigração? Qual era a visão dos poloneses sobre
o Brasil naquela época e por que decidiram imigrar? Que tipo de adversidades aqui
encontraram? Como e quando chegaram a Rio Claro do Sul, como foi essa chegada e o que
encontraram? Quais são os aspectos de ordem cultural que procuram manter nos dias
atuais? Qual a relação da paisagem com a identidade cultural dos poloneses? Como
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
52
ocorreram inicialmente as relações entre os caboclos e os poloneses? É possível definir
uma identidade cultural polonesa atualmente no distrito?
Em busca destas respostas, outras metodologias foram empregadas na pesquisa de
campo. Nos estudos etnográficos foram utilizados os levantamentos, que tem por objetivo a
coleta de dados que possam ser analisados estatisticamente para revelar padrões ou
regularidades próprias do grupo, porém tendem a gerar informações menos detalhadas. Os
questionários, com conjuntos fechados com séries definidas de respostas possíveis ou
abertos de questões onde os entrevistados têm mais oportunidades de expressarem seus
pontos de vista. A amostragem que surge como solução na impossibilidade de se estudar
todas as pessoas diretamente, uma vez que seleciona uma porção do grupo total, podendo-
se ter a segurança de que os resultados da amostragem populacional podem ser
generalizados para a população total desde que escolhidos adequadamente (GIDDENS,
2005, p.516).
Na pesquisa em Rio Claro do Sul, os levantamentos de dados puderam contribuir no
sentido de que se necessita conhecer o mero preciso dos habitantes atuais, os aspectos
históricos relatados precisam de uma comprovação de veracidade. Da mesma forma, a
documentação fotográfica mais antiga necessita ser levantada para que seja comparada
com as imagens ambientais atuais, possibilitando um maior entendimento da dinâmica
cultural dos elementos. Nesta mesma perspectiva, os questionários tanto abertos quanto
fechados contribuirão para o direcionamento e delimitação das informações que se
necessita para o presente trabalho, impedindo uma fuga da problemática central bem como
viabilizando o acesso a dados fundamentais para o trabalho, somente conseguidos com o
direcionamento das questões.
Mesmo considerando o universo estudado núcleo central do distrito de Rio Claro
do Sul uma porção do espaço razoavelmente pequena, se depara com a impossibilidade
de aplicação dos levantamentos, questionários e entrevistas a todos os moradores. No
entanto, tal fato não ofusca o mérito do trabalho, uma vez que se pode delimitar para a
aplicação dos métodos de pesquisa somente os indivíduos que possam realmente contribuir
para o desenrolar do mesmo, ou seja, os mais idosos, os que são descendentes das
primeiras famílias, o pároco e a fonte de consulta encontrada na Igreja bem como a
Prefeitura Municipal de Mallet/PR.
Além disso, Giddens (2005) complementa destacando a importância do que chama
de histórias de vida”, as quais consistem em “um material biográfico reunido sobre
indivíduos específicos geralmente na forma de lembranças dos próprios indivíduos”
(p.517). Nesta metodologia se destacam as crenças e as atitudes ao longo do tempo, de
onde fontes como cartas, informações e descrições são também utilizadas para um maior
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
53
detalhamento, bem como, em alguns casos, para verificar a validade científica daquilo que
os indivíduos informam.
Por último, Giddens destaca a relevância de uma análise histórica, ou seja, o
considerar de um panorama histórico frente à necessidade de uma perspectiva temporal
para dar sentido e cronologia ao material coletado; assim, pesquisar a história oral significa
entrevistar pessoas a respeito dos acontecimentos que testemunharam em algum momento
de seu passado.
Ressaltando que, a tradição oral constitui um patrimônio predominante junto ao seio
de qualquer comunidade, uma vez que permite conhecer melhor o conjunto de valores
sociais, religiosos e educacionais veiculados por ela, os dados significativos da trajetória
histórica, bem como, a sua cadeia de transmissão, e principalmente como esse patrimônio
foi bem utilizado para construir, manter e ressignificar a identidade étnica.
Portanto, valorizar as histórias de vida dos moradores de Rio Claro do Sul, significa
enriquecer a pesquisa e sanar algumas dúvidas quanto a datas. São também partes da
história, são narrativas carregadas de nostalgia, um sentimento de ligação com o passado,
de recordação dos antepassados, um retorno às raízes onde a referência ao passado vem a
se apresentar como exaltação aos imigrantes.
Ao passo que as histórias de vida enriquecem as pesquisas, é necessário o cuidado
com a validade científica das informações colhidas, exigindo do pesquisador certa
perspicácia para identificar se os “contos” são realmente verídicos ou fruto da imaginação
dos que o alimentam. Neste sentido, a análise histórica se torna fundamental. Se apresenta
como forma de gerar uma perspectiva temporal com um sentido cronológico e
fundamentado.
A riqueza de dados que se pode obter na coleta das histórias de vida em Rio Claro
do Sul, portanto, na mesma medida que pode contribuir para o esclarecer de pontos chave
no trabalho, pode também gerar um impasse na veracidade dos dados, porém, procurar-se-
á se valer de uma análise histórica para tentar, na medida do possível, comprovar e situar
numa escala temporal as histórias coletadas.
ESQUEMA 01: METOLOGIA ADOTADA PARA ANÁLISE EMPÍRICA EM RIO CLARO DO SUL.
Fonte de consulta: GIDDENS (2005). Adaptado por FOETSCH (2006).
ENTREVISTA INICIAL – Primeiro Contato
Levantamentos Questionários Amostragens Histórias de Vida Análise Histórica
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
54
Dessa forma, através de levantamentos, questionários, amostragens, histórias de
vida e análise histórica, acredita-se que se possa analisar um lugar enquanto porção do
espaço que apresenta características étnicas marcantes, um simbolismo próprio do grupo
social que o habita e uma identidade cultural que vem se inserindo na dinâmica cultural,
enfatizando o papel da paisagem como espelho de cultura, geradora de sentimentos de
apego ou aversão e que contribui para o imaginário dos que ali residem.
Capítulo II – EM BUSCA DA APREENSÃO DO LUGAR_______________________________________
55
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL:
ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA
Imagem de uma casa que por muito tempo serviu de Cartório de Registro
Civil de Rio Claro do Sul, hoje inexistente.
Em seu lugar foi construído um Posto de Gasolina.
Fonte: Acervo particular de Nereu Stasiak.
"A forma terá de se relacionar com a função de modo a permitir o
desenvolvimento eficaz das actividades que nela se processam"
(LAMAS, 2000, p.48).
56
Capítulo III RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA
DINÂMICA
Valendo-se da caracterização da área de estudo, parte-se para o resgate e a
definição dos elementos a serem utilizados para analisar a paisagem cultural e sua
dinâmica. Ressalta-se que a reflexão parte inicialmente de um relato descritivo dos
elementos para uma posterior análise discursiva sobre as relações entre forma e função,
valorizando os aspectos étnicos que contribuem para a geração do imaginário.
3.1 A DINÂMICA DOS ELEMENTOS RELIGIOSOS NA PAISAGEM
Tendo em vista a religiosidade da comunidade de Rio Claro do Sul em todos os seus
mais de cem anos (1896-1996 Centenário da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de
Rio Claro do Sul), se torna relevante examinar a evolução do aspecto religioso católico para
avaliar se houve um processo de perda, alteração ou retomada das características do
mesmo com o passar do tempo.
Para tanto, inicialmente retrata-se a Paróquia de Rio Claro do Sul, um elemento de
considerável abrangência territorial, uma vez que envolve todo o distrito foco desta
pesquisa. Atualmente, além deste distrito, a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de
Rio Claro do Sul atende mais dezesseis comunidades de Mallet e São Mateus do Sul
município vizinho podendo ser considerado, portanto, o maior elemento representável
espacialmente, mas que por sua vez apresenta a condicionante de ser específico por
retratar a religião católica, a mais professada pelos poloneses.
Pertencente à Diocese de União da Vitória, a Paróquia de Rio Claro do Sul é uma
das mais antigas da região. Em se tratando de sua história, sabe-se que em 1896, o
pequeno povoado existente exercia sua função religiosa; no entanto, foi somente em 16
de dezembro de 1911 que o bispo diocesano de Curitiba, João Francisco Braga, assinou o
decreto da criação do Curato de Rio Claro, como consta no Livro Tombo I da Paróquia de
Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do Sul (p. 91, verso): "Determinamos que
desmembrado fique do Curato de São João do Triunpho todo este território que até o
presente a elle pertenceu, e elevado a curato independente, tendo por sede o núcleo
principal de Rio Claro".
A criação desta instituição religiosa proporcionou aos moradores do local a
possibilidade de exercer sua índole católica amplamente pelas missas, grupos de reflexões,
novenas, catequese, organização de eventos, entre outros.
57
Desde a sua reconhecida criação em 1911, este elemento religioso tem despertado
nos moradores a necessidade de preservá-lo (e se possível amplia-lo), tanto no sentido da
profecia da quanto no sentido territorial (espacial) de abrangência. A assistência espiritual
é dada pelo padre Zdislaw Nabialczyk
7
encarregado de organizar as celebrações religiosas,
ensaiar o coral e difundir o catolicismo.
Percebe-se na comunidade uma busca incessante pela Igreja Católica, apesar de
atualmente existirem também templos de outras religiões e seitas. Grande parte das
pessoas freqüenta a tradicional Igreja de Nossa Senhora do Rosário, pertencendo assim à
Paróquia. Dessa maneira, acredita-se que apesar de outras religiões e ritos terem se
instalado na localidade com o passar dos anos, a comunidade católica sempre se manteve
muito forte e ativa, participando das solenidades de caráter religioso celebradas.
De grande destaque na Paróquia, é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. De
índole católica, os primeiros poloneses preocupados em manter os ritos religiosos próprios
de sua cultura construíram inicialmente uma capela no lugar mais alto da localidade. A data
desta construção segundo os arquivos paroquiais é 12 de dezembro de 1886 (LIVRO
TOMBO I, p.8).
Com uma torre de aproximadamente 50 metros de altura e toda de madeira
edificaram uma cópia da famosa "Czestochowa"
8
do Santuário Nacional da Polônia Católica
para que pudessem se reunir para orar e reverenciar Nossa Senhora do Rosário.
Clarificando que, no alto de uma das colinas da Polônia, encontra-se a cidade de
Czestochowa com o célebre Santuário (ou mosteiro) de Jasna Gora (que significa Monte
Claro) no qual se venera a Virgem Negra. É o lugar mais santo da Polônia e um dos centros
de peregrinação mais importantes do mundo, destacando que em 1382, foi fundado por
Wladyslaw Opalczyk, o mosteiro de Jasna Góra recebeu dois anos depois a pintura da Mãe
Santificada e o Jesus Criança. A pintura, foi obra de São Lucas, ficou conhecida como
Madona Preta (IAROCHINSKI, 2000, p.49).
7
Compare: http://www.tchr.org/braz/rioclaro/rioclaro.htm , acesso em 23 de janeiro de 2006.
8
Acredita-se que o evangelista São Lucas pintou a imagem da Virgem Negra sobre uma tábua da mesa usada
por Maria de Nazaré, encontrada por Santa Helena, em Jerusalém, foi ofertada ao imperador Constantino.
Depois de muito tempo, a imagem chegou ao Castelo de Belz e em 1382, o príncipe Wladyslaw de Opole foi
obrigado a deixá-lo em Czestochowa pela impossibilidade de transportá-lo ao seu Castelo. Este é o primeiro mito
que cerca a Virgem Negra da Polônia. O segundo surgiu em 1430, quando ladrões tentaram destruir o quadro, o
chefe dos Hussitas ao desferir sua espada no rosto da Santa, caiu fulminado por um raio no terceiro golpe,
irritados os ladrões cortaram o quadro e os cortes começaram a sangrar. Os fiéis então, enviaram a pintura para
conserto em Cracóvia, mas apesar de muitos retoques, as cicatrizes não sumiram. Outro mito refere-se ao
século XVII, quando o cerco sueco chegou à Polônia, nesta ocasião, as fortificações e os muros da cidade foram
destruídos pelo exército inimigo e a batalha travou dentro dos muros. A benção da Santa teria ajudado cerca de
200 soldados polacos a derrotar 17 mil soldados suecos. Era o dia 18 de novembro de 1655. Como
reconhecimento, o rei Jan Kazimierz coroou em Lwów, a Virgem como Rainha da Polônia. Ressalta-se que a
ascensão de Karol Wojtyla (Papa polonês) ao trono de São Pedro tornou mundial sua adoração (IAROCHINSKI,
2000, p.49).
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
58
Na comunidade de Rio Claro do Sul em homenagem à Virgem Negra, foi nomeada a
Escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro – E.I.E.F., no início do ano letivo de 1992.
Percebe-se, a intensidade da religiosidade no distrito e os traços trazidos da Polônia.
Outra imagem existente no altar principal da Igreja do distrito, ou seja, a de Nossa
Senhora do Rosário, têm um significado importante para os poloneses. Acredita-se que
enquanto se travava a batalha dos cristãos contra os turcos em águas de Lepanto, o Papa
São Pio V rogava o auxílio da Rainha do Santíssimo Rosário. Em memória da estupenda
intervenção de Maria Santíssima, o Papa dirigiu-se em procissão à Basílica de São Pedro,
onde cantou o Te Deum Laudamus” e introduziu a invocação Auxílio dos Cristãos na
Ladainha de Nossa Senhora. E para perpetuar essa extraordinária vitória da Cristandade, foi
instituída a festa de Nossa Senhora da Vitória, que, mais tarde, tomou a denominação de
festa de Nossa Senhora do Rosário
9
, comemorada pela Igreja católica no dia 7 de outubro
de cada ano (IAROCHINSKI, 2000).
Logo abaixo, na imagem 01 podem-se notar as características do quadro de Nossa
Senhora de Monte Claro, a Virgem Negra, encontrada no altar lateral da Igreja; e na imagem
02 evidencia-se o altar principal da Igreja, logo ao centro tem-se a Imagem de Nossa
Senhora do Rosário com o menino Jesus no colo:
IMAGEM 01 – Nossa Senhora de Monte Claro.
Fonte: www.czestochowa.us, acesso 28/09/06.
*Note-se os cortes no rosto da Santa (face direita).
IMAGEM 02 – Altar principal da Igreja Nossa Senhora
do Rosário, em Rio Claro do Sul
Fonte: Arquivo particular da autora, 2006.
Referindo-se à arquitetura da Igreja, percebeu-se que com o passar dos anos surgiu
a necessidade de reconstruir a fachada e o interior. A planta final foi elaborada pelo
engenheiro José Kfliecinski, filho de imigrantes poloneses e residente em Curitiba, tendo
esse trabalho se iniciado no ano de 1952 com o pároco José Grzelinski. Depois desta época
9
Com o mesmo objetivo, de deixar gravado para sempre na História que a Vitória de Lepanto se deveu à
intercessão da Senhora do Rosário, o senado veneziano mandou pintar um quadro representando a batalha
naval com a seguinte inscrição: “Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit”. (Nem as
tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória)
(IAROCHINSKI, 2000).
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
59
foram realizados somente retoques na estrutura original, como pintura e reavivamento das
cores (DEINA, 1990, p.52).
Algumas das alterações neste elemento podem ser visualizadas nas imagens 03 e
04, onde na primeira notam-se as características da Igreja em 1930 e na segunda um
contraste com a imagem atual, em 2006:
IMAGEM 03 – Igreja Nossa Senhora do Rosário na
década de 1930. Fonte: Acervo da Paróquia de Rio
Claro do Sul.
IMAGEM 04 – Igreja Nossa Senhora do Rosário no
ano de 2006. Fonte: FOETSCH, 2006.
Neste elemento religioso, percebe-se claramente que a forma alterou-se com o passar
do tempo e as condições da edificação, porém a Igreja de Nossa Senhora do Rosário
sempre manteve a função de instituição religiosa, freqüentada por fiéis que buscam auxílio
espiritual e também como um lugar para professar ritos católicos (por exemplo: o batismo e
o casamento, entre outros).
Neste sentido, Lamas (2000, p.48) atesta que "A forma terá de se relacionar com a
função de modo a permitir o desenvolvimento eficaz das actividades que nela se
processam". Nestas considerações devem-se levar em conta as necessidades da função e
as condições da forma de uma maneira integrada.
A estrutura original de madeira não suportou as intempéries do tempo e desgastou-
se, porém a fé da comunidade urgia e a reconstrução da Igreja iniciou-se novamente, desta
vez em alvenaria e valendo-se dos materiais mais modernos que os da época da
colonização. Conclui-se que a atual forma da Igreja condiz com sua função, abriga os
freqüentadores e oferece uma estrutura suficiente para os que a utilizam.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário pode também, de acordo com a classificação de
Lynch (1997, p.88), ser considerada um “marco” para a comunidade, sendo que estes são
vistos como “pontos de referência considerados externos ao observador, são apenas
elementos físicos cuja escala pode ser bastante variável”. Seu uso implica na escolha de um
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
60
elemento num conjunto de possibilidades onde a característica principal é a singularidade,
um aspecto que o torne único ou memorável no contexto.
Esta Igreja representa um contraste entre a figura e o pano de fundo pela
proeminência em sua localização espacial, por sua forma e função únicas, e por possuir as
características da reconhecibilidade e da importância simbólica.
A imagem deste elemento referencial desperta o imaginário, este último que
“corresponde à necessidade do homem de produzir conhecimento pela multiplicação dos
significados, atribuir significados a significados” (FERRARA, 2000, p.118). Dessa maneira, a
Igreja cuja função e forma o condizentes, é um marco diferencial na paisagem, cuja
imagem desperta o imaginário dos moradores pelo simbolismo que este elemento porta.
Esta Igreja encontra-se catalogada no Inventário Turístico do Município de Mallet
(2000) e faz parte do “Circuito Polonês-Ucraniano de Turismo Rural”. Assim, a igreja passa
a agregar também a função turística.
Menciona-se também a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, um local bastante
freqüentado. Segundo a sabedoria popular, em tempo de seca foi encontrada pelo padre
Estanislau Piasecki uma vertente próxima a Igreja. Aproveitando-se desta oferta natural e da
ajuda da comunidade o vigário propôs a construção de uma gruta, todos apoiaram a
iniciativa e a obra foi realizada. O pároco trouxe diretamente da França um vidro de água
benta para benzer a nascente e no dia 13 de maio de 1940 foi inaugurada a Gruta de Nossa
Senhora de Lourdes (LIVRO TOMBO I - 1940).
IMAGEM 05 – Gruta Nossa Senhora de Lourdes em
2006. Fonte: FOETSCH, 2006
Uma menina, uma fonte invisível e uma água milagrosa: com esses ingredientes
criou-se a devoção a Nossa Senhora de Lourdes. Ela se apresentou a uma garota chamada
Bernadete Soubirous, em Lourdes (França), em 1858. Numa das 18 vezes em que esteve
com a garota, mandou-a beber da água de uma fonte que não existia. Depois de cavar com
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
61
os dedos o local indicado, Bernadete viu jorrar a água. Então, perguntou à mulher quem era
ela e ouviu a seguinte resposta: "Eu sou a Imaculada Conceição".
No início, Bernardete foi considerada impostora e chegou a ser interrogada pela
polícia, mas como a água da fonte que ela descobriu revelou-se milagrosa, as autoridades
acabaram cedendo. Assim, a pequena vila de Lourdes virou uma cidade-santuário, visitada
por doentes de todo o mundo. Oficialmente, a igreja já catalogou mais de 10 mil curas nesse
lugar abençoado na região dos Pirineus. Essa crença é a aceita por todos os moradores de
Rio Claro do Sul.
Em devoção à Imaculada Conceição, imagem da santa existente na gruta, são
rezados terços, missas, procissões e romarias que atraem um grande número de pessoas
de outras cidades interessadas em conhecer e solicitar milagres a Nossa Senhora. Em 1997
a gruta foi elevada à categoria de "Santuário Mariano Diocesano de Nossa Senhora de
Lourdes
10
" com a obrigação de acolher os peregrinos e romeiros, oferecendo um
atendimento espiritual e pastoral.
A forma do local, de acordo com as proposições de Lamas (2000), pouco se alterou,
com exceção do alastramento da cobertura vegetal e a construção de um fosso para
canalizar a água que se origina na vertente. A função continua a mesma, a de ser uma
gruta, tendo agora, porém uma maior obrigação para com os romeiros e turistas que a ela
se destinam.
No entanto, uma grande preocupação tem tomado conta da comunidade. Um laudo
da Universidade Federal de Ponta Grossa (Anexo 01), ao analisar a água que escoa da
vertente acusou a presença de coliformes fecais, a caracterizando assim imprópria para o
consumo, porém providências já estão sendo tomadas pela Administração da Paróquia, e
mesmo assim, muitos ainda buscam água na Gruta todo fim de tarde.
Preocupados com a educação dos seus filhos os poloneses construíram um grande
número de escolas às suas próprias custas, pagando inclusive os professores. Em Rio Claro
do Sul foi criado um dos maiores colégios de língua polonesa no Brasil, o "Kolegium Sw.
Klary" (Colégio Santa Clara).
Este era comandado pelas Irmãs de Caridade São Vicente, que ministravam as aulas
e organizavam cursos de bordado, costura, culinária, entre outros. Possuía uma biblioteca
rica e valiosa e funcionava também como hospital e internato masculino e feminino. Ainda
hoje, ouvem-se relatos de pessoas que sentem a falta das Irmãs de Caridade que moravam
no colégio, e também de pessoas que aprenderam a bordar, costurar, rezar, ler e escrever
com as irmãs do colégio.
10
A Imagem da Santa existente na gruta em Rio Claro do Sul é Imaculada Conceição, mas a gruta possui o
nome de Nossa Senhora de Lourdes, local, em que segundo a crença Nossa Senhora da Imaculada Conceição
apareceu a Bernadete Soubirous, na França, em 1858.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
62
Na cada de 1920, aproximadamente, houve a mudança do Kolegium para o lado
da Igreja, com uma apreciável arquitetura. Atualmente, o local onde era o hospital, a
biblioteca e o primeiro colégio das Irmãs transformou-se em uma residência comum
(Imagem 07).
O colégio que foi construído ao lado da Igreja ainda se encontra com sua estrutura
original, abrigando atualmente encontros de catequese, da Terceira Idade, palestras e
reuniões de cunho católico, não é habitado, mas apresenta uma estrutura razoável quanto a
acomodações e instalações, como se pode perceber nas imagens 08 e 09:
IMAGEM 06 – Imagem do primeiro hospital de Rio Claro
do Sul, hoje inexistente. Fonte: DEINA, 1990.
IMAGEM 07 – Imagem do local onde existia o primeiro
hospital. Fonte: FOETSCH, 2006.
IMAGEM 08 – Imagem do atual Colégio das Irmãs.
Fonte: FOETSCH, 2006.
IMAGEM 09 – Imagem dos fundos do Colégio, ao
lado da Igreja. Fonte: FOETSCH, 2006.
Nestas colocações, percebe-se a mudança tanto da forma quanto das funções. O
hospital, a biblioteca e o primeiro colégio cederam lugar a uma residência de madeira;
mudou-se a forma e a função desapareceu.
A segunda construção do colégio se mantém em sua forma, mas a função também
se modificou, as irmãs de caridade partiram e o local passou a ser utilizado com outros fins
religiosos.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
63
"Despolonizar" é o termo utilizado por Mario Deina para se referir a perda das
características principais da cultura polonesa. Segundo ele, uma das principais formas de se
manter o vínculo com as tradições polonesas é através do rito religioso, salienta ainda que
"mesmo com a miscigenação aqui no Brasil, mesmo com a influência de outras culturas
européias e dos próprios brasileiros, as principais celebrações e comemorações religiosas
tradicionais foram preservadas através dos anos" (DEINA, 1990, p.31).
Percebe-se ainda hoje a forte tentativa de manter acesa a chama religiosa pelos ritos
católicos. No entanto, com a chegada de habitantes de origens distintas da polonesa, pela
"miscigenação" como chama Mario Deina (1990, p.31), torna difícil manter exclusivamente
uma única vertente religiosa, isso se comprova com a instalação de novas igrejas e
instituições não-católicas, como a Assembléia de Deus, que apesar de não contar com a
adesão da maioria da população, mantém-se presente com duas estruturas físicas na
comunidade, como se pode notar nas imagens 10 e 11:
IMAGEM 10 – Antiga venda, atual residência e sede
dos Encontros da Igreja Assembléia de Deus, situada
a rua Adolfo Rehbein, S/N. Fonte: FOETSCH, 2006
IMAGEM 11 – Antiga residência que serve atualmente
de sede para Encontros de uma instituição não-
católica, na avenida João Pessoa, S/N. Fonte:
FOETSCH, 2006.
Trata-se praticamente de um elemento itinerante do ponto de vista de fixação a um
determinado espaço, isso porque ocupou diversas construções. Atualmente, uma das
instalações está assentada em uma casa comum (Imagem 11), ou seja, a função da casa
mudou para uma função de templo; e a outra ocupa as instalações de um antigo comércio,
ou seja, a forma estrutural que era de comércio, cedeu lugar a função de templo (Imagem
10).
Pode-se notar que os elementos religiosos destacados na paisagem do local
representam para a comunidade as vias necessárias para a construção de uma identificação
com o lugar. A imagem do ambiente construído reforça e solidificação do imaginário onde a
religiosidade é realmente considerada como uma das principais formas de se manter o
vínculo com as tradições, caracterizando a identidade, e que apesar da chegada e influência
de pessoas de outras etnias, as celebrações e comemorações religiosas tradicionais
polonesas estão sendo preservadas.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
64
3.2 A DINÂMICA DOS ELEMENTOS SOCIAIS NA PAISAGEM
Outros elementos importantes são aqueles que possuem íntima ligação com a
sociedade do lugar. Nestas proposições apresentam-se para discussão as escolas que
atenderam às necessidades educacionais dos alunos; as bibliotecas que serviram de auxílio
teórico para os interessados; a “Casa do Povo” que representou uma instituição de
entretenimento; as indústrias, que atenderam e empregaram uma parcela significativa dos
moradores; e o hospital que, no pouco tempo que existiu, tratou das enfermidades que
ocorreram.
A primeira escola da localidade era polonesa, o "Kolegium Sw. Klary" (mencionado
anteriormente) comandado pelas Irmãs de Caridade São Vicente, fundado no ano letivo de
1912 contando com 150 alunos. Mudou-se na década de 1920 para o lado da Igreja, onde
atualmente encontra-se o Colégio das Irmãs inabitado e sem funções educacionais (DEINA,
1990, p. 21). Nesta escola polonesa, que também funcionava como internato, os alunos
estudavam o ensino regular e também tinham aulas extras de bordado, culinária, crochê,
entre outros.
Em 15 de novembro de 1952 foi então inaugurado o “Grupo Escolar de Rio Claro do
Sul” que oferecia todo o primeiro grau na época. Atualmente, abriga somente o ensino
fundamental de 5ª a 8ª série sob a denominação de “Escola Estadual Adão Sobocinski”.
No ano letivo de 1992 foi municipalizado o Ensino Fundamental de a série com
a criação da “Escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro - Educação Infantil e Ensino
Fundamental”, utilizando a mesma edificação, que é cedida pela Secretaria de Educação do
Estado do Paraná, e uma outra que pertence ao município, ou seja, duas estruturas físicas
para a Escola municipal, uma do Estado do Paraná e outra do Município de Mallet, como se
pode notar nas imagens 12, 13 e 14:
IMAGEM 12 – Inauguração do Grupo Escolar de Rio Claro do
Sul, em 1952. Fonte: Escola Estadual Adão Sobocinski
(Acervo Fotográfico).
IMAGEM 13 – Atual Escola Estadual Adão
Sobocinski – 5ª a 8ª Séries, que abriga também
algumas turmas de 1ª a 4ª Série. Fonte:
FOETSCH, 2006.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
65
IMAGEM 14 – Imagem da atual escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro - E.I.E.F.
Fonte: FOETSCH, 2006.
Como se pode notar, a educação sempre foi muito valorizada pelos colonos
poloneses e se manteve com o passar dos anos. No entanto, a forma das escolas alterou-se
algumas vezes. O primeiro Colégio na sua estrutura original não existe mais; o Colégio que
funcionava ao lado da Igreja ainda encontra-se em sua arquitetura pioneira, porém sem
manter sua função.
Atualmente existem duas instituições educacionais: o Colégio de a Séries que
não apresenta características polonesas na sua forma, mas seu nome é uma homenagem
ao polonês Adão Sobocinski
11
, e a Escola Municipal de a Séries que foi denominada
Nossa Senhora de Monte Claro em função da veneração desta Santa pelos moradores
poloneses que buscam prestar a esta uma homenagem.
De acordo com Mário Deina (1990, p.51), três bibliotecas serviam a comunidade de
Rio Claro do Sul, oferecendo lazer, cultura e informação: a do Kolegium Sw. Klary, a da
Casa do Povo e a São Vicente e Paulo, de propriedade da Paróquia e que contava com
mais de 3000 livros. Infelizmente, nos dias atuais, a comunidade não conta mais com
nenhuma destas bibliotecas. A primeira, cujo acervo pertencia às Irmãs de Caridade foi
levada com estas religiosas quando se deixaram a Paróquia e se mudaram para Curitiba e
outras localidades.
Quanto à segunda, da Casa do Povo, nada se sabe quanto ao seu paradeiro, no
entanto, quem diga que foi repartido o acervo entre algumas das pessoas da
comunidade. A biblioteca que pertencia à Paróquia encontra-se defasada, a atual
administração da Paróquia de Rio Claro do Sul desconhece o paradeiro das obras antigas,
dispõe somente de alguns livros e relatos, muitos em idioma polonês.
11
O deputado Tadeu Sobocinski, filho de Adão Sobocinski, ao contribuir financeiramente com a construção do
prédio da Escola Estadual, bem como com a implantação do Curso de Ensino Fundamental, em homenagem ao
seu genitor assim definiu o nome da instituição: Escola Estadual Adão Sobocinski.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
66
Trata-se, portanto, de um elemento que desapareceu na sua forma e função e que
realmente fez falta na comunidade, que não pode contar com o rico acervo que estas
continham quanto a fotos, relatos, livros e revistas.
Visando o entretenimento da comunidade foi criada a "Sociedade Casa do Povo"
(Imagens 15 e 16) com o objetivo de propiciar lazer e diversão aos habitantes da
comunidade, servindo como ponto de encontro e entretenimento das famílias polonesas.
Trata-se de uma estrutura de madeira, com banheiros, salão de dança, mesas e um palco,
onde eram e são também realizadas as peças teatrais para a comunidade.
IMAGEM 15 – Inauguração da Casa do Povo (21 de junho
de 1958). Fonte: DEINA, 1990.
IMAGEM 16 – Casa do povo atualmente. Fonte:
FOETSCH, 2005.
Neste ponto de encontro, não só os jovens como toda a comunidade local e vizinha,
reúnem-se para se divertir com bailes, exposições, apresentações e até reuniões. Sob a
administração de membros da Paróquia, o clube é freqüentado e está sempre aberto a
novas ocasiões, nas quais de certa maneira sempre se busca referenciar a imigração
polonesa.
Um exemplo dessa menção pôde se perceber no Natal de 2005, quando uma
cerimônia, que contou com a participação de autoridades e foi organizada pela Escola
Municipal Nossa Senhora de Monte Claro, homenageou os imigrantes poloneses e
demonstrou através de uma encenação que o Brasil recebeu os poloneses de braços
abertos e da mesma forma hoje os poloneses recebem a todos de braços abertos.
Na Imagem 17 pode-se notar o Brasão da Polônia, os quadros de Nossa Senhora de
Monte Claro a Virgem Negra, considerada Rainha da Polônia –, a Imagem de Nossa
Senhora Aparecida Padroeira do Brasil , as bandeiras: Polônia, Brasil e Paraná, e logo
ao lado o casal: Lídia e Zigmund Koslowski representando os poloneses.
Na Imagem 17.1, apresentam-se um jovem e uma criança, com a bandeira do Brasil
e a Imagem de Nossa Senhora Aparecida, que durante a encenação representavam a
integração de outras etnias, que não a polonesa, à sociedade de Rio Claro do Sul.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
67
IMAGEM 17 – Abertura do Natal, no Clube Casa do
Povo, em Rio Claro do Sul. Note-se: o brasão da
Polônia, as bandeiras do Brasil, da Polônia e do
Paraná. Fonte: FOETSCH, 2006.
IMAGEM 17.1 – Abertura do Natal, no Clube Casa do
Povo, em Rio Claro do Sul. Note-se: a nossa Senhora
negra de Czenstochowa e a Nossa Senhora
Aparecida. Fonte: FOETSCH, 2006.
Enfatizando que esta encenação procurou demonstrar que a comunidade polonesa
de Rio Claro do Sul recebe de braços abertos todos os que chegam à localidade.
Nesta ocasião foram expostos objetos antigos de tecnologia da época da
colonização. Houve também a repartição do "Oplatek", o pão celeste repartido entre as
pessoas como forma de união mútua, de compromisso com o próximo.
Desde sua construção, pouco se modificou na estrutura da Casa do Povo. Foram
reconstruídos os assoalhos apodrecidos, um pequeno aumento lateral na construção,
realizada a pintura da fachada e do interior e também pequenos reparos nas instalações
elétricas. Sua forma se manteve com o passar do tempo, mas à sua função foram
acrescidas inúmeras outras. O lugar serve também para a realização de eventos sociais,
como bailes, reuniões e encontros de caridade.
Quanto às indústrias, sabe-se que os primeiros produtos que foram industrializados
na localidade atendiam não só as necessidades primordiais dos habitantes, como também
as supérfluas. Durante alguns anos funcionou uma cervejaria que atendia a região, porém
atualmente nada de sua estrutura existe.
Fato curioso é que em virtude da utilização pela comunidade em larga escala da
"carroça", sempre existiu em Rio Claro do Sul a atividade voltada para o curtume, na
fabricação de arreios para os cavalos, e as ferrarias, para a construção de carroças e
ferraduras, entre outras finalidades.
Estas atividades ainda encontram-se em evidência no distrito, justamente para
atender a demanda que ainda é grande conta-se atualmente com duas ferrarias e com seis
curtumes.
Na Imagem 18, percebe-se em amarelo, uma pequena construção na lateral da casa
do proprietário que serve para curtir o couro:
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
68
IMAGEM 18 – Selaria: indústria doméstica para curtir o
couro e confecção de arreios para cavalos.
Fonte: FOETSCH, 2006.
As madeireiras e ervateiras sempre tiveram papel fundamental na economia do local.
Existem atualmente ainda três indústrias madeireiras, pertencentes a Alexandre Kovalski
(distante três quilômentos da sede da localidade, mas que emprega muitos trabalhadores do
local), a de Bruno Alberto Panek e a de Julio Wronski Sobrinho (in memorian) - esta última
administrada pelo filho do dono: Wilson Wronski.
Existem também duas ervateiras pertencentes a Wilson Wronski e Alexandre
Kovalski, indústrias estas que empregam quase que a totalidade dos moradores do distrito.
Convém ressaltar que tanto as indústrias quanto as ervateiras pertencem a famílias de
origem polonesa, que se destacaram na localidade pela administração e bom funcionamento
destas. O primeiro hospital de Rio Claro do Sul funcionava no "Kolegium Sw. Klary". Era
bem equipado para atender os casos de maior urgência da região. No entanto, com a
construção do novo colégio ao lado da Igreja e a conseqüente mudança de endereço, o
hospital acabou abandonado.
É um típico exemplo de um elemento que se fez presente no início da colonização,
mas que acabou perdendo ao mesmo tempo a forma e a função, cedendo lugar a uma
residência comum. Nos dias atuais, a comunidade de Rio Claro do Sul não conta com um
hospital propriamente dito, o que existe é um Centro Social Rural, que atende as
necessidades básicas e superficiais da população do local. Os casos mais urgentes
necessitam ser encaminhados para o Hospital de Caridade São Pedro, na sede do
Município, distante 24 quilômetros da localidade. Trata-se então de um elemento que
desapareceu na sede do distrito e que realmente faz falta para a comunidade.
Todos estes elementos, por possuírem uma íntima ligação com os moradores, são
fundamentais para o despertar do imaginário e sua configuração espacial, uma vez alterada,
causa um impacto visual exigindo do observador uma nova adequação à paisagem.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
69
3.3 A INTEGRAÇÃO DOS NOVOS ELEMENTOS NA PAISAGEM
Cabe apontar também os novos elementos que foram sendo incorporados na
paisagem, ocupando o lugar de antigas construções ou ainda, que serviram para alargar
espacialmente a sede do distrito. Neste caso, destacam-se os bares e lanchonetes, o posto
de gasolina, o conjunto habitacional, o mercado e uma construção típica restaurada e
ampliada, que merece ser considerada não apenas pela beleza, mas também por poder
apontar uma nova tendência no espaço de Rio Claro do Sul que retoma elementos do
passado num processo de releitura.
Para atender as necessidades materiais do povoado sempre existiram bares para
comercializar produtos industrializados e/ou diferentes daqueles que os moradores
dispunham. Estes, com o passar dos anos foram surgindo, se desenvolvendo e até
desaparecendo.
Desconhecem-se as datas precisas, mas sabe-se que as primeiras “vendas” eram de
propriedade da Senhora Tecla Tyski e do Sr. Júlio Wronski Sobrinho; destes, nenhuma mais
se encontra em atividade, restando do primeiro somente a antiga construção pertencente à
família, que apesar da forma de bar tem hoje a função de depósito; e do último também
resta a construção que hoje serve para abrigar o escritório da madeireira da família, ambos
localizados na rua Adolfo Rehbein, da sede da localidade.
Além destes, outros foram sendo instalados, como o “Bar do Nentio”, anexo à casa
do proprietário, que ainda encontra-se em funcionamento; o Bar do Edgar; a loja da Balbina;
o Bar do Zarichen (que atualmente encontra-se desativado, servindo o espaço de moradia
para a família); e duas lojinhas de R$ 1,99 pertencentes a Dirce Dolennei e Ivo Kozlowski,
ambas instaladas na residência das proprietárias.
Como se pode ver, o desejo de se tornar proprietário de uma loja vai além da falta de
espaço físico, uma vez que algumas lojas são instaladas na própria residência das pessoas,
gerando uma grande disparidade nas relações entre forma e função.
Um impacto diferenciado na paisagem da localidade foi percebido com a construção
de uma lanchonete Charretes Lanches”, na qual o proprietário buscou uma arquitetura e
uma decoração country”, fugindo totalmente da cultura do local. Trata-se de uma estrutura
aprazível sob o ponto de vista dos moradores, mas que em nada retrata a cultura polonesa,
muito pelo contrário, ocupa hoje um local que antigamente era o de uma construção para
habitação tipicamente polonesa.
No interior da construção, se encontra um museu particular, com alguns objetos
antigos, muitos deles de características polonesas, como os morcegos” (antigos lampiões
utilizados quando não se tinha energia elétrica), ferros antigos de passar roupa, dividindo
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
70
espaço com objetos como rodas de carroça, lampiões, roupas de couro, enfim, objetos de
decoração “country”. Na Imagem 19, pode-se perceber a arquitetura da construção:
IMAGEM 19 – Bar e lanchonete “Charrete’s lanches”, na
rua Adolfo Rehbein, S/N.
Fonte: FOETSCH, 2006.
Por incentivo e auxílio da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), foram
construídas na sede da localidade de Rio Claro do Sul, um conjunto de casas conhecidas
como “populares” e que recebem a denominação de Conjunto Habitacional Vila Feliz,
também conhecidas popularmente por “Casas Populares Padre Zigmund”. Tal construção
modificou consideravelmente a paisagem do distrito, uma vez que passou a ocupar um local
que antes era ocupado por uma cobertura vegetal bastante densa, causando um impacto
nas pessoas que se deparam pela primeira vez com este conjunto.
A Imagem 20 retrata a placa principal do Conjunto Habitacional e algumas casas:
IMAGEM 20 – Conjunto Habitacional “Vila Feliz”,
também conhecido como Padre Zigmund, na rua
Adolfo Rehbein, S/N. Fonte: FOETSCH, 2006.
Com a construção desta obra inúmeras famílias foram, de certa forma, privilegiadas
com uma moradia mais digna. Muitos deixaram suas propriedades ou casas alugadas em
outro local e mudaram-se para o distrito, aumentando assim o número de moradores. O
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
71
estilo “industrial” das construções “em série”, entretanto, foge totalmente ao das
características habitacionais encontradas no local.
O Conjunto Habitacional foi denominado “Vila Feliz” pela construtora, no entanto,
ficou tamm conhecido como “Casas Populares Padre Zigmund” padre polonês que
durante muito tempo atendeu à localidade – nomenclatura dada pelos moradores do local.
Um elemento bastante significativo, atualmente presente na paisagem da localidade,
é o Posto de Gasolina pertencente ao Sr. Nereu Stasiak. Este foi construído na rua principal
da localidade, e passou a ocupar um espaço que anteriormente era ocupado por uma
construção de madeira com lambrequins, que durante muito tempo serviu de moradia e
sede do Cartório de Registro Civil, até sua demolição para construção do Posto. Percebe-se
nas imagens 21 e 21.1 a diferença entre as duas construções:
IMAGEM 21 – Antigo Cartório de Registro Civil, hoje
inexistente. Fonte: NEREU STASIAK (Acervo particular).
IMAGEM 21.1 – Posto de Gasolina construído no
lugar do antigo Cartório de Registro Civil. Fonte:
FOETSCH, 2006.
Inegavelmente, as características modernas desta última edificação alteraram a
paisagem do lugar. A primeira construção em madeira, rica em detalhes, de coloração suave
cedeu lugar a uma outra que pelo seu caráter mercadológico chama atenção para si pelas
suas características arquitetônicas e coloração forte.
A população local, que outrora utilizava como meio de transporte a carroça, adquire
uma nova necessidade, combustível para abastecer os veículos automotores. Na paisagem
atual é comum a coexistência de meios de transporte do passado, que se mantém ainda
hoje em uso, com veículos modernos. Carroças, carros, tratores agrícolas dividem o mesmo
espaço transitando pelas ruas do distrito.
Outra grande disfunção entre forma e função pode ser visualizada nas imagens
seguintes. Na Imagem 22, percebe-se um dos bares que atende a comunidade, que
funciona na casa do proprietário; e na Imagem 23, uma antiga mercearia, hoje servindo de
depósito de mercadorias:
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
72
IMAGEM 22 – Bar situado na Rua Adolfo Rehbein,
S/N. Moradia e bar conjugados. Fonte: FOETSCH,
2000.
IMAGEM 23 – Antigo Comércio na Rua Adolfo
Rehbein, S/N. Fonte: FOETSCH, 2000.
Nos dias atuais, o distrito de Rio Claro do Sul conta com três mercados em sua sede:
o mercado Stasiak, o mercado Wronski e o mercado São José. É interessante notar a
trajetória espacial destas construções.
O primeiro – Mercado Stasiak – que hoje ocupa um lugar próprio e com mais espaço
mostra o crescimento do investimento dos proprietários. Antigamente contava com uma
pequena construção de alvenaria que mais parecia um bar do que um mercado em si.
O segundo – Mercado Wronski – é mais recente, no entanto, construído numa
localização que anteriormente dava espaço para uma moradia muito antiga. Da mesma
maneira que o posto de gasolina foi construído para atender as necessidades da população
ao preço da demolição de uma estrutura em madeira antiga e de muito valor arquitetônico.
O terceiro e último Mercado São José construído também mais recentemente, já
foi projetado para este fim, estando a casa da proprietária localizada no segundo piso do
mesmo. A construção em dois pisos, combinando funções, destaca-se na paisagem.
Convém destacar que todos estes mercados são de propriedade de poloneses radicados há
muito tempo na localidade.
Além das construções mencionadas, uma merece destaque especial. Trata-se de
uma obra datada de 1928 pertencente ao Sr. Ervino Kovalski e localizada na Rua Adolfo
Rehbein esquina com a Rua Ladislau Kasprzak. Foi construída em alvenaria pelo avô do
dono atual para servir de venda.
Atualmente, possui várias funções, a parte superior da construção antiga serve de
depósito e a parte inferior mantém a função comercial, mas ao invés de venda de produtos
primários é hoje uma Agropecuária”. Quanto à ampliação da construção, ainda se
desconhece sua futura função, no entanto, em virtude dos detalhes arquitetônicos e da
disposição das portas e janelas, acredita-se que será também utilizada para a função
comercial.
Sua estrutura original ainda é mantida e mesmo maltratada pelas intempéries do
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
73
tempo, sua fachada continua a mesma, rica em detalhes arquitetônicos. O que merece
destaque nesta construção de esquina é a manifestação de seu proprietário em ampliar esta
construção mantendo as mesmas características do núcleo original, logicamente dispondo
de materiais e tecnologias mais modernas do que as da época, mas com o intuito de chegar
a uma proximidade máxima entre as duas.
IMAGEM 24 – Antiga construção, datada de 1928.
Fonte: FOETSCH, 2006.
IMAGEM 25 – Ampliação da construção anterior.
Fonte: FOETSCH, 2006.
Tal manifestação revela materialmente o desejo de algumas pessoas em manter,
através da arquitetura, uma ligação com os antepassados. Com estas considerações,
percebeu-se a importância de destacar alguns lugares que representam os pontos ou
elementos centrais da paisagem percebida pelos moradores, uma vez que para a formação
e firmação da identidade dos lugares, a relação entre a comunidade e o meio é fundamental
e são os laços de afetividade que ligam o homem abstrata ou concretamente ao lugar
vivido, que despertam os sentimentos e constroem o imaginário, considerado como
construtor e revelador de identidades.
Esta relação das pessoas da comunidade com seu ambiente vivido transborda
afeição e sentimento de apego, de enraizamento. Dentre os inúmeros elementos que
compõe a paisagem da sede do distrito, muitos infelizmente não puderam ser destacados
neste trabalho por não apresentarem a mesma relevância dos que foram abordados visando
o objetivo desta pesquisa.
Assim após a apresentação dos elementos e de uma caracterização de sua
dinâmica, parte-se para uma abordagem acerca das relações dos moradores para com
estes elementos físicos da paisagem, bem como uma discussão acerca da maneira com
que estes elementos influem no imaginário dos habitantes do lugar, sejam eles poloneses
ou não.
Capítulo III – RIO CLARO DO SUL: ELEMENTOS DA PAISAGEM CULTURAL E SUA DINÂMICA_______
74
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL:
A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM
Imagem da Gruta Nossa Senhora de Lourdes de Rio Claro do Sul.
Fonte: FOETSCH, 2006.
“cabe ao historiador oral obter memórias de pessoas vivas que sirvam de documento para o
futuro; documentos que, em forma de memórias, se não forem extraídos rapidamente, se
perderão definitivamente” (CORRÊA, 1978, p.15)
75
Capítulo IV RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA
PAISAGEM
“Um povo é reconhecido como tal, através de suas
manifestações culturais, do seu modo de ser, dos
costumes, do idioma, da música, da comida e de outras
tantas atividades que o identificam” (IAROCHISNKI,
2000, p.48).
Considerando a paisagem como um reflexo que inclui todas as modificações
culturais modeladas pelo homem, esta pode explicitar tais marcas e receber assim uma
identidade típica num conjunto único e indissociável. Acredita-se que este ambiente material
modificado para atender as necessidades humanas possui uma íntima ligação com o
imaginário dos habitantes – modeladores desta porção do espaço. Esta perspectiva material
e física alimenta os fatores de ordem simbólica, uma vez que os ajustamentos do homem ao
ambiente natural resultam na criação de ambientes físico-sociais.
A fenomenologia como aporte metodológico fornece um balizamento para os estudos
de ordem cultural que valorizam o lugar como fruto de diferentes contextos em que a
paisagem explicita também marcas identitárias. Essas marcas são reflexos da sociedade
que habita esse lugar, uma vez que esta busca expressar também visualmente suas
características culturais.
No sentido visual, a arquitetura contribuiu até o momento para uma análise da
dinâmica dos elementos da paisagem cultural de Rio Claro do Sul, onde o arquiteto
americano Kevin Lynch (1997) ao apresentar o lugar como fruto de muitos construtores,
colaborou ressaltando que este lugar passa sempre por uma contínua sucessão de fases,
não chegando a um resultado final.
Lynch (1997) destaca também a importância de se valorizar os cidadãos, uma vez
que cada um destes possui várias associações com alguma parte do lugar e esta percepção
subjetiva está impregnada de lembranças e significados, o que está diretamente ligado à
paisagem, à imagem ambiental e à construção do imaginário.
Nesta perspectiva, realizou-se uma análise das edificações que desapareceram, das
que surgiram e das que se alteraram no distrito, isso para que se pudesse apresentar o
lugar justamente nesta sucessão de fases, estabelecendo uma cronologia espaço-temporal
e dando sentido à pesquisa.
Dessa maneira, logo após retratar a dinâmica espacial dos elementos, se torna
interessante avaliar de que maneira essa alteração é percebida pelos moradores de origem
polonesa no local, bem como, de que maneira essa dinâmica da imagem ambiental se
relaciona com o imaginário destes moradores, sobretudo os mais idosos (entenda-se: os
76
moradores mais antigos do local), que são aqueles que mais presenciaram efetivamente
essas alterações na paisagem.
4.1 OS POLONESES DO LUGAR
Rio Claro do Sul passa a ser visto como uma porção do espaço, transformada em
lugar para a comunidade de origem polonesa que neste reside. As formas de vida, a
paisagem esculpida e o rico imaginário contribuem para um grato estudo das relações entre
este povo e seu lugar.
Alguns depoimentos colhidos, juntamente com as entrevistas realizadas, retrataram
como foi a chegada a Rio Claro do Sul, ressaltando que as histórias orais, ou as “histórias
de vida” como nomeia Giddens (2005), se apresentam como parte da cultura de um povo,
um legado transmitido, algo valorizado e que deve ser evidenciado. Acredita-se que a
identidade tem uma história, e é tamm pelos atos narrativos que um grupo étnico se
identifica.
Curiosamente, e contrariando o que se pensava inicialmente, percebeu-se pela
busca de informações nos arquivos paroquiais, nos livros e, sobretudo na pesquisa de
campo, pelas entrevistas e reconstrução de parte da história oral dos moradores, que os
poloneses não foram os primeiros a chegar à atual localidade de Rio Claro do Sul.
Anteriormente a esta chegada, viviam no local os índios e os caboclos.
Dos índios, pouco se sabe, apenas foram encontrados resquícios remanescentes de
sua presença ou passagem, como pontas de lança, utensílios de barro, arcos e também
descrições e relatos dos caboclos que chegaram à localidade antes dos poloneses.
Os poloneses
12
por sua vez, na Europa, tinham um contato muito íntimo com os
ucranianos, por habitarem regiões vizinhas. Entre estes, na época da imigração existia certa
sintonia, pois provinham de um continente onde o clima, o relevo e as condições sociais
eram parecidas.
A presença de alguns ucranianos no distrito, por sua vez, se confirma no registro de
óbitos da Paróquia de Rio Claro do Sul, onde nos Arquivos Paroquiais (Livro Tombo I, p.01)
encontra-se que “a primeira leva dos imigrantes [poloneses e ucranianos] fixou-se na região
a partir do ano de 1890”, além disso, sabe-se, de acordo com dados do Livro de Registro de
Óbitos I da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em sua folha 001, rubricado pelo padre
capelão Ludovico Przytarski na data de 08 de novembro de 1896, que foi sepultada no
12
Por que partiram? Parte das respostas encontra-se na obra de Romão Wachowicz (1997), intitulada “Homens
da Terra”, de onde se nota que eram impingidos pela injustiça social, pela falta de terra, pela pobreza. Eram
atraídos pelas perspectivas de uma vida melhor, pela lenda de terras sem fim, pela liberdade: A utopia da
América.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
77
cemitério da localidade a Srª Elisabeth Kucharuk, de origem ucraniana. Interessante
ressaltar e deixar registrado as primeiras famílias que chegaram ao distrito de Rio Claro do
Sul. Os registros demonstram que as primeiras famílias (organizado a partir dos nomes dos
chefes das famílias, em ordem alfabética) a chegarem foram:
001 Franciszek Selner 018 Stanislaw Kozminski
002 ... Pietrasik 019 Antoni Socha
003 Elias Ribas 020 Piotr Czarny
004 Felix Baziewicz 021 Piotr Bialecki
005 Franciszek Dumanski 022 Roman Paul
006 Henryque Dugueme 023 Teodor Konart
007 Hieronim Baminski 024 Michal Trojan
008 Jan Buczek 025 Josef Grembecki
009 Jan Sadowski 026 Andrzej Cymbalista
010 João Manoel de Quadros 027 Bazyli Szymanski
011 Josef Przymus 028 Antoni Stefan
012 Julian Buczek 029 Michal Klosowski
013 Manoel José Miranda 030 Stanislaw Lesinski
014 Piotr Dumanski 031 Antoni Babisz
015 Tomasz Koslowski 032 Josef Gicre
016 Waclaw Muskala 033 Jersy Festenbury
017 Waclaw Muskala
QUADRO 05 – PRIMEIRAS FAMÍLIAS A CHEGAREM EM RIO CLARO DO SUL.
Fonte: DEINA (1990, p. 81). Adaptado por FOETSCH (2006).
Importante destacar que nesta relação somente foram nomeadas as famílias que se
fixaram no núcleo central da localidade de Rio Claro do Sul, outras famílias polonesas se
dispersaram formando outros núcleos, denominados colônias, como por exemplo: Colônia I,
II, III..., Colônia Iguaçu, Estrada de Palmas, Barra Feia, entre outras.
No entanto, com o passar do tempo, algumas famílias do interior fixaram sua
residência no núcleo central de Rio Claro, enquanto que algumas famílias de Rio Claro
foram para o interior. A listagem completa das famílias polonesas que inicialmente fixaram
residência no município de Mallet pode ser encontrada no livro de Mario Deina.
Em virtude da necessidade de comparar as famílias que chegaram inicialmente em
Rio Claro do Sul, já apresentadas no Quadro 05, realizou-se um levantamento com o
objetivo de comprovar quantas famílias polonesas se encontram atualmente residindo na
localidade, destacando os sobrenomes poloneses encontrados no local. Os dados
encontram-se no Quadro 06 sendo fundamentais para a compreensão da escolha dos que
contribuíram para a presente pesquisa, comprovando realmente que a comunidade de Rio
Claro do Sul é composta na sua grande maioria por poloneses.
Capítulo IV– RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
78
087
Davi Zwierzykowski
125
Severo Wolaniuk
088
Marcos Wolaniuk
126
Constante Temcheszen
089
Wilson Zwierzykowski
127
Zenon Kasprzak
090
Mauro Ferreira de Lima
128
Noemia Hermes
091
Lídia Wardinski
129
Paulo Raimundo Tyski
092
Edvirges Blasczyk
130
Sérgio Stavicki
093
Aloise Kaczoroski
131
Victorio Argenta
094
Marcos José de Paula
132
Máurio Ferreira de Lima
095
Romualdo Kocinski
133
Tomas Stasiak
096
Paulo Borges
134
Julio Turquevicz
097
João Luiz Rutkowski
135
Gilberto Gural
098
Paulo Blasczuk
136
Roberto Guraleski
099
Daniel Wolaniuk
137
Valter Luis Foetsch
100
Emilia Stavicki
138
Eva Kurzydlowski
101
Catarina Kasczuk
139
Carlos Daczkowski
102
Amilton Perussi
140
Luis Stavicki
103
Lino Mário Zarichen
141
Luis Rusinek
104
Mário Dolennei
142
Roberto Stanczyk
105
Dionísio Loginski
143
Julia Royko
106
Jair Adrianczyk
144
Edgar Von Gilsa
107
Fernando Zwierzykowski
145
Gabriel Drewnowski
108
Luis Jaczkowski
146
Irio Vitor Stasiak
109
Eugenia Jaczkowski
147
Darci Wronski
110
Acir de Oliveira Lima
148
João Nereu Stasiak
111
Odair José Boroski
149
Floriano Panek
112
Aloise Cieslak
150
Margarida Zaboroski
113
Sebastião Cieslak
151
Eugenia Kozlowski
114
Adão Drewnowski
152
Rosa Stasiak
115
Valdir Elias Mendrzycki
153
Edvino Glus
116
Vanda Panek
154
Verônica Skreczkowski
117
Edvirges Schadai
155
Walter Baranek
118
Gerson Hermes
156
Marta Kolassa
119
Edvino Panek
157
Osni Gonçalves Batista
120
Jaime Panek
158
Helio Franco Ferreira
121
Regina Myrzynski
159
Valdomiro Diduch
122
João Novakoski
160
Valdomiro Zadereski
123
Romão Stanczyk
161
Renato Stanczyk
124
Sérgio Zielinski
162
Dirceu Gibowski
LEGENDA:
Famílias com sobrenome polonês
Famílias não-polonesas
Famílias com a esposa ou marido de origem polonesa
001
Augusto Tarniovicz
044
Paulo César Guimarães
Maria Kovalczuk
045
Valdir Zwierzykowski
003
Natália Kosloski
046
Vicente Boroski
004
Alexandre Marczak
047
Ambrósio Kozlowski
005
Roberto Marczak
048
Edvirges Daczkowski
006
Hélio Fonseca
049
Zigmundo Kozlowski
007
Lauro Gonçalves
050
Eva de lima Vitacki
008
Carlos Sniadowski
051
Venceslau Koslowski
009
Ezilina Marczak
052
Ana de Paula
010
Juares Scolari
053
Vitor Kurzydlowski
011
José Maia Bruz
054
Júlio de Paula
012
João Maria Fonseca
055
Helena Correa de Mello
013
Eurico Dolizeti Baranek
056
Sebastião do Rosário
014
Damiano Koslovski
057
Maria Drewnowski
015
Osmir Szymkoviak
058
José Rybarczak
016
Leopoldo Osinski
059
Clara Koslowski
017
Nelson Daczkoski
060
Valdomiro Soika
018
Sebastião Baranek
061
Miguel Kovalczuk
019
Sbigner Stasiak
062
Adão Kozlowski
020
Alberto Oliveira
063
Nelson Maernik
021
Isidoro Sniadowski
064
Estanislau Kozlowski
022
Darci Oliveira Lima
065
Alceu Foetsch
023
Antonio Guimarães
066
José Ivo Rodrigues
024
Jorge Cichocki
067
Milton Kazmierczak
025
Luis Fernando Myszynski
068
Tereza Panek
026
Floriano Marczak
069
Floriano Koslowski
027
Mauro Sérgio Guimarães
070
Paulo Loginski
028
Judith Guimarães
071
Benjamin Kurzydlowski
029
Alexandre Zwierzykowski
072
Isidoro Zawadski
030
Antonio dos Santos
073
Marta Sobieranski
031
Tadeu Koslowski
074
Januário Schadai
032
Sonia de Candido
075
Olivir Gonçalves
033
Jorge Sniadowski
076
Pelágia Karvoski
034
José Jefferson Maernik
077
Júlio Adalberto Karvoski
035
Cláudio Sobieranski
078
Irio J. Kurzydlowski
036
Ivo José Kozloski
079
Jorge Koslowski
037
Mariano Stadnik
080
João de Paula
038
Dirceu Kurzydlowski
081
Pedro Skrzypa
039
Zeno Marciniak
082
Luis Guimarães
040
Tertuliano de Lima
083
Laura Foetsch
041
Janina Kruk
084
Mário João Drewnowski
042
Raimundo Koslovski
085
Jorge Borges
043
Paulo Osinski
086
Juvêncio Wolaniuk
QUADRO 06 – RELAÇÃO ATUAL DAS FAMÍLIAS MORADORAS DO NÚCLEO CENTRAL DE RIO CLARO DO SUL.
Fonte: PSF – Programa Saúde da Família, Secretaria Municipal de Saúde de Mallet/PR, 2001. Org: FOETSCH, 2006.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
78
Interpretando o Quadro 06, pode-se perceber que, das 162 famílias moradoras do
núcleo central do distrito de Rio Claro do Sul, apenas 32 famílias não possuem nenhuma
ligação direta com os poloneses. Assim sendo, evidencia-se claramente que a localidade se
apresenta como um lugar onde as marcas identitárias são moldadas pelos poloneses. A
maior parte das famílias que não são de origem polonesa encontram-se no Conjunto
Habitacional Vila Feliz.
A cultura, como modo característico de vida de um povo numa sociedade, é
construída por intervenção e descoberta, acumulação, seleção e difusão. Para analisar uma
porção do espaço, a amostragem surge como solução na impossibilidade de se estudar
todas as pessoas diretamente. Sendo assim, foram realizadas entrevistas qualitativas (ver
Formulário no Anexo 03) com 25 moradores da localidade de Rio Claro do Sul, todos com
residência de no mínimo de dez anos, com idade superior a 55 anos e que possuem o pai
ou a mãe com sobrenome polonês.
As entrevistas foram realizadas num período de dois meses (27/02 a 28/04/2006)
nos domicílios, no posto de saúde, no grupo da terceira idade e em encontros de visitas
ocasionais. Contou-se com o auxílio de fotos antigas e atuais (já destacadas no capítulo
anterior), utensílios antigos, com o objetivo de envolver e despertar o imaginário,
contrapondo visivelmente, o antes e o depois da paisagem, o que se utilizava e o que foi
sendo abandonado.
Deparou-se com ricos depoimentos orais, os quais também foram destacados, isso
porque, de acordo com Corrêa (1978) é importante “obter memórias de pessoas vivas que
sirvam de documento para o futuro; documentos que, em forma de memórias, se não forem
extraídos rapidamente, se perderão definitivamente” (p.15). Acredita-se que a valorização da
memória e do imaginário deve ser constante, para que tais “documentos” não acabem por
se perderem.
Os objetivos das entrevistas realizadas em Rio Claro do Sul, constituíram em buscar
compreender de que maneira as dinâmicas dos elementos da paisagem cultural interferem
nas relações dos moradores do local, bem como, valorizar as histórias de vida dos
moradores.
Para tanto, os elementos da paisagem cultural, já definidos anteriormente no trabalho
de campo, foram salientados, com vistas a obter os dados satisfatórios para a pesquisa,
porém de uma forma a não direcionar as respostas, deixando os entrevistados livres para
contribuir de acordo com o que realmente percebem.
A coleta de informações se deu num primeiro contato informalmente, justamente
para que o universo de entrevistados pudesse ser escolhido de uma maneira satisfatória e
condizente, e as entrevistas e coletas de depoimentos ocorreram através de conversas
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
79
particulares, com o auxílio de fotos antigas e atuais, com o objetivo de despertar o interesse
na conversa e também direcionar os temas.
Portanto, a escolha das pessoas que contribuíram com relatos foi dirigida, partindo
do particular propósito da dissertação, que visa o estabelecer de relações entre a identidade
étnica polonesa, a paisagem construída e o imaginário.
Assim sendo, apresenta-se neste momento os dados colhidos e algumas
considerações acerca da percepção dos moradores de Rio Claro do Sul, sobretudo os mais
idosos, quanto aos elementos religiosos, sociais e também aos novos elementos que foram
sendo incorporados na paisagem do local.
4.2 A PERCEPÇÃO DOS ELEMENTOS RELIGIOSOS NA PAISAGEM
Os elementos religiosos são aqueles que possuem uma íntima ligação com a vida
cotidiana dos moradores sob o ponto de vista espiritual. São edificações presentes na
paisagem, que pelo simples contato visual dos moradores despertam o imaginário pelo
simbolismo que portam. São estes os mais referenciados: a Igreja Nossa Senhora do
Rosário, a Gruta Nossa Senhora de Lourdes e o Colégio Santa Clara.
Com relação a estes elementos religiosos da localidade e baseando-se na entrevista,
na história oral dos moradores e nos depoimentos colhidos, percebe-se claramente a
relevante índole católica dos moradores de origem polonesa. Os mesmos ressaltam que
desde o início da colonização do distrito a religiosidade teve papel fundamental.
Em unanimidade, afirmam que a Igreja é o elemento mais destacável, vista como
objeto material, palpável e visível, relembram fatos que ouviram quanto à sua construção e
reformas. Esta Igreja Nossa Senhora do Rosário é o local onde os moradores da localidade
e isso não exclui os de origem não polonesa – se encontram atualmente para professar o
catolicismo.
Sobre esta, sabe-se que logo na chegada dos imigrantes à localidade, no ponto mais
alto do povoado iniciou-se sua construção, que ao longo do tempo foi sendo remodelada,
mas sua localização permaneceu. Mário Deina (1990) retrata um pouco de sua história:
...a importante e majestosa “Czestochowa Paranska” tinha uma torre de cinqüenta
metros de altura e era uma cópia da famosa “Czestochowa” (Santuário Nacional da
Polônia Católica). Foi construída pelo lendário Pe. Ludovico Przytarski e deu lugar a
atual igreja matriz, toda em alvenaria e habilmente arrematada pelo Pe. Wenderlin
Swierczek (DEINA, 1990, p.52).
A imagem da Igreja na década de 1930 em contraponto com a imagem da Igreja
atualmente, afirma o simbolismo que esta porta. Percebe-se que sua forma é de extrema
importância para os poloneses.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
80
Nota-se também uma grande referência ao cerimonial religioso da missa, a forma
como o coral composto por pessoas da comunidade, maior parte poloneses anima e
atraí as pessoas para a celebração (também com cantos poloneses):
“O que mais me atraí durante a missa é o coral, principalmente
quando cantam cantos em polonês” (WRONSKI, 2006),
Um grande destaque é dado as romarias que freqüentemente ocorrem no Santuário
Mariano Diocesano de Nossa Senhora de Lourdes:
“Gosto muito de ir nas romarias, rezar e agradecer a Nossa Senhora
da Imaculada Conceição” (TYSKI, 2006).
As imagens expostas no altar da Igreja também são muito relatadas, sendo
portadoras de muito simbolismo.
Certamente, a religiosidade do povo polonês é uma característica marcante, os
centros religiosos foram sempre a defesa espiritual. Na Polônia, o mosteiro de Jasna Gora
(Monte Claro), que recebeu em 1384 a pintura da Mãe Santificada e o Jesus Criança é um
dos locais mais santos para os poloneses. A imagem, conhecida como Madona Preta foi
obra de São Lucas, a esta Santa, os polacos
13
sempre recorreram como auxílio divino para
resolver seus problemas.
Na Igreja Nossa Senhora do Rosário, no altar lateral, encontra-se o quadro da Nossa
Senhora de Monte Claro - Madona Preta. Toda quarta-feira a comunidade se reúne às três
horas da tarde para uma novena dedicada a esta santa. No altar principal, encontra-se a
imagem de Santo Antônio. Ambos são muito reverenciados pelos moradores da
comunidade. Mário Deina retrata que:
Em Rio Claro encontra-se a milagrosa estampa de Nossa Senhora de Monte Claro
(Matka Boska Czestochowska). Foi pintada pelo “Kustosz” (conservador, tudor) de
Czestochowa, senhor Pisarek, que a ofereceu de presente ao Pe. Sigmunt Kilijanek
(DEINA, 1990, p.55).
Nos depoimentos, percebeu-se que a devoção aos santos é algo muito antigo. Os
Anais da Comunidade Brasileiro polonesa trazem uma carta de um missivista de
Florianópolis à esposa e filhos que ficaram na Polônia, escrevia ele: “Leve consigo [...] os
quadros de Nossa Senhora do Monte Claro, Sto. Antônio e coloque-os no meio dos
pertences para não se quebrarem” (CARTA Nº24, p.97). Esses fragmentos de carta são
fundamentais para definir uma identidade polonesa, uma vez que retratam a religiosidade e
o simbolismo, muitos dos moradores poloneses de Rio Claro do Sul, possuem entre seus
13
Referente à discussão sobre as nomenclaturas “polonês” e “polaco”, Iarochinski (2003) ao escrever um livro
sobre à imigração polonesa no Brasil, percebendo que ao pronunciar o termo polaco causava profundo mal-estar
entre os descendentes mais idosos desta etnia, decidiu investigar por que, quando e quem começou a mudar o
significado do termo “polaco” no Brasil, as considerações encontram-se em seu livro: “Saga dos Polacos”.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
81
pertences imagens de Nossa Senhora de Monte Claro e Santo Antônio trazidos da Polônia
por seus antepassados.
“Tenho bem guardadinho em casa, quadros de Nossa Senhora de
Monte Claro, que minha avó trouxe escondido da Polônia” (STASIAK,
2006).
Cultos religiosos também foram mencionados, como a benção dos alimentos e a
Semana Pascal; a celebração do Nascimento de Jesus quando ocorre a partilha do pão
celeste entre os presentes, simbolizando a fraternidade; a procissão de Corpus Christi nas
casas dos moradores, entre outros.
Cultivando um costume que provém dos antepassados, praticamente em todas as
casas polonesas, são encontradas as letras “K M B” (abreviaturas dos reis magos),
acompanhadas do ano corrente: “KMB 2006” inscritas na parte de dentro e superior da porta
principal da casa simboliza a acolhida aos três magos e uma referência ao Nascimento de
Jesus Cristo no ano de 2006.
Wachowicz (1981) acredita que o nculo demonstrado entre religião e a polonidade
representa um vínculo entre fé e patriotismo onde as conotações históricas da nação
polonesa levariam a uma compreensão do que chama de polonesa, ou seja, a linguagem,
o rito, os dias santificados existentes na terra natal e que continuam a ser respeitados
(p.95). Neste sentido, é importante destacar os ritos e rituais religiosos ainda presentes em
Rio Claro do Sul, de acordo com Mário Deina (1990), pode-se citar:
TABELA 02 – PRINCIPAIS COMEMORAÇÕES E CELEBRAÇÕES POLONESAS EM RIO
CLARO DO SUL, MALLET/PR
No.
Data Comemoração Tradução
01 06 de janeiro Trzech Króli (giz e incenso)
02 02 de fevereiro M. B. Gromnicznej (velas)
03 * Piatek (Via-sacra sexta-feira/Quaresma)
04 * Rezurekcja (Páscoa dos Cristãos)
05 * Dwa dni Swiat Wielkanocnych (2º Dia da Páscoa)
06 19 de março Swiety Jósef (São José)
07 25 de março Zwiastowanie N. M. Panny (Anunciação de N. Srª)
08 03 de maio Królowei Polski (N. Srª Rainha da Polônia)
09 29 de junho Swietego Piotra i Pawla (São Pedro e São Paulo)
10 06 de agosto Przemienienie Panskie (Transfiguração do Senhor)
11 15 de agosto M. B. Zielnej (N. Srª das Flores e Plantas)
12 08 de setembro Narodzenie N. M. Panny (Natividade de N. Srª)
13 07 de outubro M. B. Rozancowej (N. Srª do Rosário)
14 01 de novembro Wszystkich Swietych (Todos os Santos)
15 08 de dezembro N. Poczecie N. M. Panny (Imaculada Conceição)
16 * Pasterka (Missa do Galo)
17 * Dwa dni Swiat Bozego Narodzenia (2º dia do Natal)
* Datas variáveis no calendário.
Fonte: DEINA (1990, p.33-34). Adaptado por FOETSCH (2006).
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
82
Todas essas considerações tomam vida no momento em que passam a ser
lembradas pelos moradores do local. Estes hábitos contribuem para a afirmação de uma
identidade polonesa e os simbolismos provenientes destes ritos alimentam o imaginário,
fazendo com que o simples observar da Igreja traga à memória todas estas lembranças.
Percebe-se que a comunidade atribuí à forma física visível da Igreja a função de
ponto de encontro onde a é processada, havendo, portanto, uma relação direta e
coerente entre forma e função. A forma da Igreja, majestosa e localizada no ponto mais alto
do povoado, possui uma estrutura capaz de satisfazer as necessidades dos que a procuram
para manifestar sua religião.
Os moradores, por sua vez, criaram com esta forma um laço de afetividade baseado
no apego construído com o passar do tempo, nos batizados, casamentos, cultos religiosos
em geral, sendo, portanto, um elemento peculiar e extremamente simbólico para a
comunidade. Mesmo com as variações sofridas pela forma física da Igreja, esta sempre se
manteve ligada à função religiosa, como se pode perceber quanto discutido sobre o
elemento religioso que mais chama a atenção em Rio Claro do Sul:
“Igreja. Por ser o local de encontro dos habitantes daqui. Também
por trazer muitas lembranças: batismo, casamento, batismo dos
filhos e netos”.(KOSLOWSKI, 2006).
A elevação da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes à categoria de Santuário
Mariano Diocesano de Rio Claro do Sul, afirmou ainda mais o simbolismo deste elemento
religioso para os moradores da comunidade. Durante a pesquisa de campo, no íntimo
contato com os poloneses mais idosos, pôde-se notar que este elemento também é de
extrema importância espiritual:
“Gosto muito de ir na Gruta, tomar água e rezar, me sinto muito bem
naquele lugar, a floresta verde e os passarinhos cantando, é muito
bom” (WITASKI, 2006).
Nota-se assim, o quanto um elemento físico pode através da sua edificação material
e do simbolismo particular que porta, despertar os mais variados sentimentos nas pessoas.
Cullen (1974) acredita que “... la visión resulta no solemente útil, sino que, ademais, tiene la
virtud de evocar nuestros recuerdos y experiencias, todas aquellas emociones intimas que
tienem el poder de conturbar la mente encuanto se manifiestam” (p.9). Essa “perturbação da
mente” como trata Cullen, pelo menos no que diz respeito aos elementos materiais da
paisagem cultural de Rio Claro do Sul é uma referência ao simbolismo e ao imaginário dos
poloneses.
O Colégio Santa Clara, ou Colégio das Irmãs, como também é conhecido pelos
moradores, também é muito referenciado. De apreciável e destacável arquitetura, o Colégio
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
83
chama a atenção dos que passam por perto. Mas para os poloneses, o Colégio traz também
lembranças. Era o lugar onde muitos destes estudaram, aprenderam a bordar, a fazer
crochê, a cozinhar, alguns até moraram por muito tempo, entre tantas outras coisas, como
se pode perceber no seguinte depoimento:
“Parei por algum tempo no Colégio com as irmãs, estudei parte do
primário. Nós ajudávamos na limpeza, cozinhávamos, aprendíamos a
bordar, fazer crochê, e íamos também na missa. Sinto muitas
saudades das irmãs que foram embora, sempre que passo na frente
do Colégio me lembro delas” (KOZLOWSKI DOS SANTOS, 2006).
E assim, considerando a imagem como resultado de um processo bilateral entre o
observador e o ambiente e todas as entrevistas realizadas, pode-se apontar - baseando-se
na imagem pública, que é a sobreposição de muitas imagens individuais -, que a Igreja é a
que mais se destaca em Rio Claro do Sul do ponto de vista religioso e na perspectiva dos
entrevistados.
É a imagem deste elemento a responsável pelo imaginário religioso e afetivo dos
moradores, em seus cultos, crenças, no coral, na arquitetura majestosa, na figura dos
padres, enfim, é um elemento material, cuja imagem destaca-se, consideravelmente, na
paisagem a ponto de gerar um sentimento de apego e afetividade para com o lugar vivido.
Assim, novamente se recai sobre a importância da religião.
4.3 A PERCEPÇÃO DOS ELEMENTOS SOCIAIS NA PAISAGEM
Os elementos sociais são aqueles que materialmente dão suporte e abrigo, servindo
como pontos de encontro para a comunidade, são neles que as pessoas da localidade se
divertem, conversam, trabalham, enfim se socializam. Entre eles se destaca a Sociedade
Casa do Povo, como um local para encontros dos mais variados fins, sejam eles religiosos,
culturais, ecumênicos; as escolas que atenderam às necessidades educacionais dos alunos;
as bibliotecas que serviram auxílio teórico para os interessados; as indústrias que apesar de
não serem públicas atendem e empregam uma parcela significativa dos moradores; e o
hospital que, no pouco tempo que existiu, tratou das enfermidades que ocorreram.
A “Sociedade Casa do Povo”, criada com o objetivo de proporcionar lazer e diversão,
é bastante destacada entre os entrevistados, no entanto, estes ressaltam o estado físico da
construção, que se encontra um tanto quanto abandonada, mas que mesmo assim é
utilizada com freqüência para atividades comunitárias. São os elementos que, presentes na
paisagem, representam um envolvimento com os moradores gerando sentimentos.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
84
Um ponto relevante nessa construção é a arquitetura rica em detalhes e projetada
para fins teatrais e de apresentações artísticas, fato este que desperta nos moradores,
sobretudo os poloneses (ou descendentes) que a fundaram, um sentimento de afeição e
carinho para com este elemento pelo simbolismo subjetivo que porta. Nas respostas quando
indagados sobre o elemento sócio-cultural que mais impressiona na paisagem do distrito
esta aparece com freqüência:
“A Casa do Povo que está abandonada, pois foi construída pelos
nossos pais e avós e deveria ser conservada” (KOVALSKI, 2006)
Como se pode perceber nas imagens anteriormente apresentadas e nas entrevistas,
a arquitetura é bastante rica e apesar de não se apresentar bem mantida, a construção em
si, sua localização e arredores são: “um colírio para os olhos” (idem).
Um elemento que desapareceu da paisagem e que faz muita falta, segundo os
entrevistados, é o hospital, que funcionava no antigo colégio das Irmãs (que atualmente
inexiste) e era o modelo da região, mas que com a mudança das Irmãs de Caridade para o
lado da Igreja perdeu sua sede e sua função. Desde então, a mais de setenta anos a
localidade não dispõe de serviços hospitalares. No local deste antigo colégio hoje se
encontra uma moradia comum.
Além destes dois últimos elementos a Casa do Povo, ainda em funcionamento, e
do hospital, que deixou de existir outras considerações foram feitas pelos entrevistados,
considerações estas que permeiam o imaginário e que os ligam ao seu lugar de uma forma
especial. Um exemplo é o apego aos falecidos enterrados no cemitério, principalmente as
figuras dos sacerdotes religiosos católicos que faleceram, da antiga banda musical
14
composta por jovens e que se desfez, das reuniões do grupo de jovens “Junak
15
”. Pode-se
perceber, por com tudo isso, que os elementos materiais realmente alimentam o imaginário
dos moradores e mesmo com sua dissolução no espaço, sempre se fazem presentes na
memória dos moradores.
Quanto às escolas na localidade, ainda se percebe uma grande referência dos
moradores poloneses mais antigos ao Colégio Santa Clara, por ter sido o primeiro colégio
14
De acordo com Deina (1990, p.50) a Banda Musical cuidava da preservação dos valores musicais, se
apresentava em festas, procissões e recepções, era composta em média por quinze ou vinte pessoas e os
ensaios eram realizados uma vez por semana na Casa do Povo. No entanto, segundo Mário Deina com o
passar do tempo, foram surgindo os meios de comunicação de massas, como o rádio e a televisão, e com isso o
grupo foi se desligando até desaparecer” (1990, p.50).
15
O JUNAK” ou Sociedade de Educação Física Juventus, era uma associação esportiva resultante da
transformação do Comitê Provisório das Entidades Polonesas no Brasil. Tinha a finalidade de educar através do
esporte e eliminar do seu meio as intrigas e as dissensões que há muito tempo existiam entre as várias
organizações polonesas no Brasil. Em 1937, somente no Paraná, existiam sessenta filiais do JUNAK, em Rio
Claro do Sul, a primeira reunião realizou-se no dia 28 de agosto de 1931, criando a entidade “JUNAK de número
23” (DEINA, 1990, p. 49-50).
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
85
da localidade e por ter sido onde muitos destes estudaram. Neste Colégio existia a mais rica
e valiosa biblioteca da localidade, mas com a mudança das Irmãs que atendiam o local,
acredita-se que alguns livros foram distribuídos entre os moradores e outros foram levados
pelas irmãs.
“Eu estudei no Santa Clara, fiz algumas das séries iniciais. As
irmãs eram as professoras, tínhamos boletins e tudo. Mas muitos dos
livros e documentos as irmãs levaram quando foram embora de Rio
Claro. ( WRONSKI, 2006).
Nesta escola polonesa ensinava-se a ler e escrever a língua portuguesa, no entanto,
sem abandonar por completo o polonês. Isto porque, o contato com a população de língua
portuguesa exigia certa adaptação para que atividades como o comércio, a convocação
para o serviço militar ou a profissão, quando exercidos fora da colônia, pudessem ocorrer.
A adaptação à escola brasileira e aos moldes educacionais do governo do Brasil
forçaram as escolas polonesas a utilizarem cada vez mais o português no cotidiano,
abandonando gradativamente o idioma polonês. A expansão do rádio e da televisão também
contribuiu para uma maior assimilação da língua portuguesa.
Kawka (2000) atenta para o fato de que nas últimas décadas “têm sido tomadas
algumas iniciativas para a promoção do ensino do polonês no Brasil. Um grande problema
tem sido a falta de pessoas habilitadas e de recursos didáticos” (p.113).
Em Rio Claro do Sul, algumas iniciativas neste sentido são notáveis. Os alunos das
Escolas da localidade contam com aulas de polonês ministradas pela Srª Guizélia Wronski
pelo menos uma vez por semana em contra-turno escolar. A comunidade em geral pode
contar com o coral da Igreja, o qual anima as missas com muitos cantos e rituais na língua
polonesa, muito incentivados pelo Padre Zdislaw Nabialczyk.
O Colégio Santa Clara não exerce mais a função educacional, apenas alguns
encontros de catequese. Atualmente a localidade conta com a Escola Municipal Nossa
Senhora de Monte Claro Educação Infantil e Ensino Fundamental de a Série, e com
a Escola Estadual Adão Sobocinksi – Ensino Fundamental de 5ª a 8ª Série.
Muitos dos entrevistados relatam que foi no Colégio Santa Clara que aprenderam a
maioria dos cantos poloneses que não foram abandonados. Ao se passar pelo lado da
Igreja, e se apreciar tanto esta última quanto o Colégio, parece ser como uma volta ao
passado, onde o elemento material visível “perturba a mente” e traz a tona lembranças de
acontecimentos que envolvem esta estrutura.
Muitas pessoas na comunidade, entre elas principalmente as crianças e
adolescentes, conhecem e cantam com facilidade o Hino Nacional da Polônia o Polski
Hymn Narodowy”, segue um pequeno trecho com tradução:
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
86
QUADRO 07 – TRECHO DO HINO NACIONAL DA POLÔNIA
(“POLSKI HYMN NARODOWY”)
MAZUREK DABROWSKIEGO
MAZURCA DE DOMBRÓVISKI
Jeszcze Polska nie zginela
Kiedy my zyjemy
Co nam obca przemoc wziela,
Szabla odbierzemy.
Marsz, marsz, Dabrowski,
Z ziemi wloskiej do Polski!
Za twoim przewodem
Zlaczym sie narodem.
A Polônia não desaparecerá
Enquanto nós estivermos vivos.
O que os estrangeiros nos tiraram
Com sabre reaveremos.
Marche, Marche Dombróviski
Das terras italianas para a Polônia!
Sob teu comando
Nós nos uniremos com a nação.
Fonte: IAROCHINSKI (2000, p.52).
Outra maneira, encontrada pela comunidade de Rio Claro do Sul para preservar a
língua cotidianamente, foi através da substituição do canto Parabéns a você” pelo canto
sinônimo polonês do “Sto lat”:
QUADRO 08 – LETRA DO CANTO PARABENS A VOCÊ (“STO LAT”)
STO LAT CEM ANOS
Sto lat sto lat
Niech zyje zyje nam
Sto lat sto lat
Niech zyje zyje nam
Jeszcze raz jeszcze raz
Niech zyje nam
Cem anos cem anos
Que viva que viva para nós
Cem anos cem anos
Que viva que viva para nós
Mais uma vez mais uma vez
Que viva viva para nós
Fonte: IAROCHINSKI (2000, p.50).
Em se tratando de empresas, atualmente se destacam em Rio Claro do Sul as
madeireiras e ervateiras que sempre desempenharam papel fundamental na economia do
local. Conta-se com três indústrias madeireiras, pertencentes a Alexandre Kovalski (distante
três quilômentos da sede da localidade, mas que emprega muitos trabalhadores do local), a
Bruno Alberto Panek e a Wilson Wronski. Conta também com duas ervateiras, pertencentes
a Wilson Wronski e Alexandre Kovalski, indústrias estas que empregam quase que a
totalidade dos moradores do distrito.
Convém ressaltar que tanto as indústrias madeireiras quanto as ervateiras
pertencem a famílias de origem polonesa, que se destacaram na localidade pela
administração e bom funcionamento.
Entre os aspectos de ordem religiosa e cultural até agora destacados, a perspectiva
dos moradores poloneses prevaleceu, uma vez que se trata de elementos antigos e
destacados da obra de Mário Deina (1990), sendo interessante notar que apesar da
mudança da forma física e espacial, o imaginário construído pela apreciação da paisagem
em união com a identidade cultural dos que a habitam prevalece.
À medida que se muda o contexto histórico e surgem novas tecnologias, a paisagem
se modifica em seus elementos e revela características mais modernas e condizentes com a
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
87
contemporaneidade concomitantemente com elementos remanescentes de um passado
mais ou menos remoto.
4.4 A PERCEPÇÃO DOS NOVOS ELEMENTOS NA PAISAGEM
À medida que se muda o contexto histórico e surgem novas tecnologias, a paisagem
se modifica em seus elementos e revela características mais modernas, condizentes com a
contemporaneidade, dividindo espaço concomitantemente com elementos remanescentes
de um passado mais ou menos remoto.
Neta de imigrantes poloneses, Ana Kovalski Panek relata que seu avô faleceu ainda
em Curitiba logo após ter chegado ao Brasil, seu corpo foi sepultado mesmo e sua avó
veio com a filha (mãe de Ana) até Rio Claro juntamente com o engenheiro Sebastian
Edmund Wós-Zaporski que foi quem demarcou e dividiu os lotes entre as famílias
polonesas, ainda segundo ela, em Rio Claro do Sul:
as primeiras casas era de barro e bracatinga, se plantava pés de
fruta e sementes trazidas da Polônia, logo depois de tirar a mata, o
que era muito difícil” (PANEK, 2006).
Nota-se pelo depoimento que realmente as condições, durante a instalação dos
imigrantes em Rio Claro do Sul, não foram muito favoráveis e também que as casas que
existem hoje diferem muito das casas da época da colonização. Inicialmente eram poucas
as famílias polonesas que colonizaram Rio Claro. Acredita-se que na atual sede do distrito
na época (por volta de 1890) viviam apenas quinze famílias, juntamente com alguns
caboclos.
Tempski (1971) ao fazer uma avaliação do que vem a ser o polonês, relaciona sua
identidade com a paisagem, destacando algumas características e peculiaridades deste
povo que podem ser visualizadas numa porção do espaço. Entre elas:
Celeiro (Stodola) “sua edificação se realizava comumente em uma área própria, e
o seu estilo arquitetônico seguia o modelo da habitação do camponês” (p.338).
Destaca também que no seu interior o calor era prejudicial e a ventilação era
necessária, quase sempre tinha a forma quadrangular e servia para guardar grãos.
Chiqueiro (Chlew) “a sua construção e o material empregado para tal fim era muito
simples [...] se abrigavam na maioria das vezes os porcos de engorda” (338-339), no
entanto, também servia para o carneiro, o bezerro, as aves domésticas, etc.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
88
Estrebarias (Stajnia) “se situavam em áreas próprias, eram separadas, em seu
conjunto, com a residência do camponês” (339). Era delimitado um pátio de forma
quadrangular, cercado – em algumas vezes – de tábuas ou arame.
Cercado (Plot) – “a habitação e as demais edificações geralmente eram emolduradas
por uma cerca” (340), confeccionada de tábuas, ripões, ou ripas mais delicadas,
estas graciosamente recortadas em sua extremidade superior, imprimindo ao
conjunto singelos elementos decorativos.
Poço (Studnia) “Cada estabelecimento dispunha de seu poço de água” (340). A
água era retirada de maneira diversa: com o auxílio de uma longa vara ou ainda pela
roldana, munida de uma corda ou corrente, em cuja extremidade era amarrado o
balde.
Mobiliário Interessante característica polonesa são os bancos, mesas e cadeiras
feitos de tronco de árvore ou tábuas habilmente confeccionados e comumente
encontrados principalmente na cozinha ou na varanda das casas.
Todas estas características apontadas por Tempski (1971) podem ser encontradas
em Rio Claro do Sul, principalmente nas edificações mais antigas. Por se tratar de uma
localidade de características rurais, o celeiro, o chiqueiro e as estrebarias se fazem muito
presente. Estas características são comuns a outros povos, mas foram consideradas
tipicamente polonesas pelo fato de que este povo, desde sua chegada ao Brasil, passou a
ser visto como camponês, e o é até os dias que correm.
Marcante em Rio Claro do Sul é a ornamentação das cercas. Feitas de tábuas, elas
são recortadas na parte superior dando graça à habitação. Os lambrequins também se
fazem muito presente, em grande parte das casas são encontrados e dão um ar especial à
construção.
Considerando, entretanto, que a paisagem não é estática, está sempre em evolução,
devem-se avaliar também os elementos que nela foram sendo gradativamente incorporados,
bem como, de que maneira esta incorporação vem sendo percebida pelos moradores
poloneses mais antigos de Rio Claro do Sul. Entre as novas edificações que passaram a
fazer parte da paisagem do distrito estão: bares e lanchonetes, conjunto habitacional, posto
de gasolina, mercados e a ampliação de uma construção datada de 1928.
Um elemento da paisagem que foi bastante destacado é o Conjunto Habitacional Vila
Feliz, localizado na Rua Adolfo Rehbein e que abriga um grande número de famílias. Os
entrevistados destacaram a importância deste elemento pelo fato de proporcionar às
pessoas de baixa renda uma moradia mais digna apesar dos problemas de proximidade
entre as casas.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
89
“Eu acho que as casas são muito pequenas, mas todos têm direito a
uma moradia digna, muita gente veio do interior para morar agora em
Rio Claro” (PANEK, 2006).
Este conjunto habitacional também foi denominado popularmente como Vila Padre
Zigmund, o que despertou nas pessoas um sentimento de satisfação e reconhecimento a
um religioso que, segundo os entrevistados, muito fez pelo distrito. Isto pode ser notado no
depoimento referente ao elemento material novo incorporado a paisagem:
“As casas populares com o nome do Pe. Zigmund que foi vigário
durante 14 anos aqui em Rio Claro” (KOZLOWSKI, 2006).
Os bares, lanchonetes e mercados tamm foram mencionados, no entanto, apenas
como construções para satisfazer as necessidades materiais e alimentares das pessoas. O
posto de gasolina foi apresentado como elemento necessário, mas que tomou o lugar de
uma construção residencial, que também exerceu a função de Cartório, da qual se destaca
a qualidade da pintura e dos lambrequins, bem como as camélias e características
polonesas:
“Eu gostava mais do antigo Cartório, era rosa e bonito, tinha flores e
madeira recortada no beiral, era bem agradável. Agora é estranho
passar pela rua e ver o posto de gasolina” (KASPRZAK, 2006).
Interessante é notar como essas características da modernidade vêm sendo aceitas
e incorporadas pelos moradores. Na entrevista realizada, um elemento físico e material que
se destaca é a ampliação da construção que servia de moradia e venda, datada de 1928,
pertencente ao Sr. Ervino Kovalski, polonês de origem, o qual atualmente está buscando,
através de uma nova construção, anexa a antiga, a preservação das características
arquitetônicas originais, logicamente dispondo de materiais de construção bem mais
sofisticados. A relevância repousa no fato da busca pela preservação de sua identidade
étnica através da arquitetura.
Tal iniciativa vem sendo muito bem aceita pelos descendentes de poloneses da
localidade, como se pode perceber na resposta à indagação sobre qual o elemento
arquitetônico contemporâneo de Rio Claro do Sul que mais lhe chama a atenção:
“A construção da agropecuária do Sr. Ervino Kovalski, por ele
conservar o estilo dos imigrantes, [...] que está na memória do povo
de Rio Claro” (TYSKI, 2006).
Novamente se percebe a íntima relação da paisagem com o imaginário das pessoas
e com as memórias do passado que geram um sentimento topofílico. Os lambrequins, tão
presentes na paisagem do distrito também foram ressaltados. Kersten (2000) clarifica que
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
90
os lambrequins, ou “pingadeiras de polaco” como também são conhecidos, são “elementos
recortados em madeira que dão um acabamento rendado aos beirais, são encontrados em
habitações de diferentes grupos étnicos, mas constantemente nas casas polonesas” (p.74).
Percebe-se em Rio Claro do Sul que os valores topofílicos são muito mais
numerosos e mais fáceis de se identificar do que os topofóbicos. Na relação das pessoas da
comunidade com seu ambiente vivido transborda afeição e sentimento de apego, de
enraizamento. Dentre os inúmeros elementos que compõe a paisagem da sede do distrito
muitos infelizmente não puderam ser destacados neste trabalho por não representarem a
mesma relevância dos que foram abordados visando o objetivo central do trabalho, o que
não vem de forma alguma desmerecer sua importância para alguns habitantes.
Como se pode perceber, a população se insere em uma dinâmica cultural dos
elementos da paisagem de uma maneira suave, com um sentimento de saudosismo por
algumas edificações significativas, e recebem as novas com certa parcimônia, sempre tendo
vivo no imaginário as antigas construções e guardando consigo todas as significâncias
traçadas com o lugar pelo decorrer da vida.
Capítulo IV – RIO CLARO DO SUL: A PERCEPÇÃO LOCAL DA DINÂMICA DA PAISAGEM___________
91
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Imagem aérea da localidade de Rio Claro do Sul, Mallet/PR.
Fonte: Acervo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do Sul.
92
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Talvez uma das maiores controvérsias na busca por definições de padrões sociais
comuns está na tentativa de estabelecer modelos culturais teóricos aplicáveis a todas as
sociedades pluralistas existentes no mundo. As peculiaridades encontradas em cada uma
destas sociedades as fazem únicas e sua herança cultural se apresenta moldada
historicamente e diretamente ligada ao lugar geográfico no qual está inserida. Assim sendo,
a relevância nesses estudos repousa nas análises das identidades locais, onde se percebe
um gênero de identidade uniforme, onde se professam os mesmos princípios e se observam
os mesmos valores culturais.
Neste sentido, utilizando-se de um aporte fenomenológico depara-se com a
possibilidade de encontrar um caminho para a compreensão de uma sociedade portadora
de valores comuns, em uma análise do mundo vivido, com uma metodologia voltada para o
estudo dos significados das experiências pretéritas e de como estas podem influenciar e
modelar o presente, resultando numa abordagem das ações do homem tais como ele as
entende e não através de teorias e modelos abstratos.
Nesta óptica, a paisagem surge como um conjunto indissociável e em perpétua
evolução, como fruto dos construtores sociais que a vem moldando, estabelecendo assim
uma relação visual entre o grupo social étnico e o lugar em que este habita. Essas
interligações sugerem o fato de que na paisagem o sujeito e o objeto são inseparáveis,
portanto, a paisagem deve ser considerada não somente em função de onde ela é
observada, pois se chegaria a uma definição simplista de que “é tudo o que se vê” e
incompleta e falha por se limitar ao espaço que os olhos podem perceber”. Nesta
perspectiva, a paisagem deve emergir como resultado de uma dada cultura que a modelou,
expressando-a em seus diversos aspectos funcionais e simbólicos.
Tendo considerado toda dimensão teórico-conceitual, delimitou-se o distrito de Rio
Claro do Sul, no município de Mallet/PR para um estudo enfatizando a discussão entre
paisagem e identidade cultural, tendo como pano de fundo os conceitos de raça, etnicidade,
povo e nação. A escolha do lugar se justifica no fato de que até hoje a maior parte da
população do local é composta por poloneses; além disso, o lugar apresenta uma paisagem
peculiar, com características materiais polonesas ainda fortemente preservadas, embora
famílias não-polonesas partilhem o mesmo espaço. Tudo isto possibilitou uma rica
discussão sobre os aspectos de ordem identitária e étnica.
No Brasil, em geral, as comunidades polonesas que se formaram tentaram
permanecer fechadas a influências externas, em virtude da busca por manter as tradições;
porém outras perderam seu caráter polônico assimilando outros modos de vida onde a
dispersão populacional enfrentada por algumas dessas comunidades contribuiu para a
93
limitação dos laços étnicos. Para estes, a Polônia é um país bem distante, não
geograficamente.
Dessa maneira, percebe-se que vivendo no interior, em condições de certo
isolamento, é mais fácil conservar os costumes, preservar a língua, a consciência de sua
origem, enfim sua identidade étnica. Acredita-se que foi isso que ocorreu com a colônia de
poloneses em Rio Claro do Sul.
Sabe-se que não foram os poloneses os primeiros a chegar à localidade. Antes
destes, existiam os caboclos, com os quais os imigrantes teriam que aprender a se
relacionar. Os primeiros poloneses chegaram a Rio Claro do Sul por volta de 1884,
provindos de Campo Largo da Piedade (PR) e Ponta Grossa (PR) seguindo antigos
caminhos de tropeiros, fixaram residência próximo a um rio de águas claras e límpidas, que
deu nome á localidade: Rio Claro do Sul, tornado distrito político administrativo em 1938,
fazendo parte do município de Mallet no centro sul do estado do Paraná.
O objetivo central deste trabalho foi levantar como o espaço vivenciado é percebido,
apreendido e incorporado pelos moradores do lugar, com ênfase nos moradores de
descendência polonesa, justamente por terem sido os primeiros a realmente colonizar o
lugar e se dispor a fixar residência.
Frente a todas estas considerações, pode-se concluir que a identidade étnica
polonesa não se manifesta apenas na paisagem, embora tenha sido este o recorte
estabelecido nesta pesquisa, e sim que em Rio Claro do Sul a identidade polonesa se
caracteriza por três elementos fundamentais: a paisagem, a religião e a língua.
A etnia polonesa simpatizante dos lambrequins, casas com varandas, tonalidades de
cores vibrantes, busca também expor suas peculiaridades na paisagem de Rio Claro do Sul,
onde além da arquitetura, o simbolismo das construções erigidas contribuem para tornar o
espaço em “lugar” para esta comunidade.
Analisou-se num primeiro momento, utilizando-se da arquitetura para enfocar a
paisagem, a forma e suas correlações com o contexto e a função, onde a forma física é a
materialização no espaço da resposta a um contexto preciso, isto considerando que os
cidadãos ao pertencerem a uma dada etnia buscam expressar suas características
visualmente.
Evidenciou-se que os elementos da paisagem revelam as relações existentes entre
forma e função, contribuindo para uma desmistificação do simbolismo que estes elementos
portam, cujas alterações, incorporações e desaparecimento despertam nos moradores os
mais variados sentimentos de nostalgia.
No sentido das relações entre forma e função com vistas na paisagem, destacou-se
a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do Sul como um elemento de
considerável abrangência territorial e de extrema importância para os poloneses católicos do
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________________
94
lugar e também a Igreja Nossa Senhora do Rosário como cópia da famosa "Czestochowa"
do Santuário Nacional da Polônia Católica, um marco para toda comunidade.
Ainda sob o ponto de vista religioso católico, destacou-se a Gruta Nossa Senhora de
Lourdes, inaugurada em 1940, atual Santuário Mariano Diocesano de Rio Claro do Sul,
fundada por religiosos poloneses e grande orgulho da comunidade. Este lugar, visto como
milagroso, pelos moradores conta com inúmeras histórias santas, é visto como um lugar
santo, onde o imaginário religioso é alimentado.
Ressaltou-se também o "Kolegium Sw. Klary" (Colégio Santa Clara), que inicialmente
funcionava onde atualmente é a residência do Sr. Sebastião do Rosário, e que na década
de 1920 foi mudado para o lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Muitos são os relatos
sobre este colégio, nele se ministravam as aulas e organizavam cursos de bordado, costura,
culinária, entre outros.
A construção da década de 1920 ainda faz parte da paisagem e é muito
reverenciada pelos moradores, pois neste local funcionava uma biblioteca rica e valiosa, um
hospital e um internato masculino e feminino; atualmente abriga encontros de catequese, da
Terceira Idade, palestras e reuniões de cunho católico, não é habitado, mas apresenta uma
estrutura razoável quanto a acomodações e instalações.
Pode-se notar que os elementos religiosos destacados na paisagem do local
representam para a comunidade as vias necessárias para a construção de uma identificação
com o lugar, onde a imagem do ambiente construído reforça a solidificação do imaginário
onde a religiosidade é realmente considerada como uma das principais formas de se manter
o vínculo com as tradições caracterizando a identidade.
Discutiu-se também o papel das escolas que atenderam às necessidades
educacionais dos alunos; as bibliotecas que serviram de fonte de consulta para os
interessados e que hoje inexistem no local; a “Casa do Povo” que representa uma instituição
de entretenimento e que atualmente ainda procura divulgar as características polonesas; as
indústrias que apesar de não serem públicas como os outros elementos, atendem e
empregam uma parcela significativa dos moradores desempenhando seu papel econômico;
e o hospital que, no pouco tempo que existiu, tratou das enfermidades que ocorreram, e que
hoje faz muita falta na localidade.
Dessa maneira, procurou-se demonstrar a realidade das alterações que a paisagem
cultural do local sofreu e vem sofrendo, destacando as construções de origem polonesa que
fizeram e fazem parte da paisagem, por acreditar que estas contribuem para o despertar do
imaginário dos que ali residem, sendo este imaginário intimamente ligado com a
caracterização da sua própria identidade étnica polonesa.
Abordou-se somente alguns dos elementos que compõe a paisagem do distrito, isso
porque os que foram destacados são os que mais possuem relevância para o trabalho
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________________
95
respondendo o objetivo central. Após a abordagem espacial destes elementos, partiu-se
para uma reflexão sobre as relações dos moradores para com estes elementos físicos da
paisagem, bem como uma discussão acerca da maneira com que estes elementos influem
na formação de uma identidade étnica polonesa no distrito.
A fim de se analisar a atual paisagem e formação identitária em Rio Claro do Sul,
fez-se necessário se reportar às características que os poloneses trouxeram de seu lugar de
origem, as quais buscam preservar na localidade onde residem. Percebeu-se que os
imigrantes viviam na Europa em condições semi-feudais de vida, cultivavam a terra e
criavam animais em um sistema rural, não estavam acostumados ao comércio e a opressão
sofrida fez com que temessem o urbano e buscassem continuar a viver como camponeses,
fato este que contribui para que o polaco seja logo associado com o rural.
Ao se ouvir as histórias de vida dos moradores, coletar depoimentos e entrevistar
pessoas, sobretudos os mais idosos, foi possível reconstruir parte da história da localidade.
No processo de integração com o novo lugar, os modos de vida trazidos da Polônia foram
preservados. Na agricultura, instrumentos como o arado, a grade, a gadanha, o picador de
palha, o mongoal, o radnik, a alfange, e, sobretudo a carroça polonesa inda são largamente
utilizados. Encontram-se ainda os lampiões “morcegos”, os “carijos”, os “barbaquás”,
celeiros, chiqueiros, estrebarias, cercados artesanalmente recortados, bancos e mesas de
troncos de árvores, entre outros. Todos estes elementos contribuem para fazer de Rio Claro
do Sul, um lugar onde se preserva a identidade polonesa na paisagem e também no
imaginário dos moradores.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário, o cerimonial religioso, a Gruta Nossa Senhora
de Lourdes (Santuário Mariano Diocesano de Nossa Senhora de Lourdes), a “Sociedade
Casa do Povo”, as casas com lambrequins, a ampliação das construções, são os elementos
que mais se destacam na paisagem de Rio Claro, sob o ponto de vista dos moradores
poloneses. Tais elementos contribuem para uma relação de afeição com o lugar, não visto
como um pedaço da Polônia no Brasil, mas evidenciado como uma “porção do espaço” no
qual foram preservadas características de grande significado emocional, uma identidade
única diretamente ligada à etnia polonesa.
Quanto à religiosidade, a igreja era um centro espiritual onde o camponês satisfazia
sua necessidade de comunicação com o próximo e com uma entidade superior, professando
o catolicismo. No Brasil e em Rio Claro do Sul, essa necessidade acentuava-se ainda mais,
devido ao isolamento em que passavam a viver. Logo na chegada à localidade de Rio Claro
do Sul, os polacos escolheram o lugar mais alto do povoado para construir uma capela que
ficou conhecida como “Czestochowa Paranska” e tinha uma torre de cinqüenta metros de
altura e era uma cópia da famosa “Czestochowa” do Santuário Nacional da Polônia Católica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________________
96
Concluiu-se que a religião é fundamental na formação da identidade cultural do
polonês, pois se trata de um fenômeno cultural, um elemento estruturador da sociedade, o
qual com o passar do tempo se manteve e vem sendo constantemente exaltado. Fato
interessante foi perceber que os moradores que não são de origem polonesa participam das
celebrações e fazem as mesmas reverencias ao catolicismo que os polacos. Dessa forma,
nota-se que a identidade polonesa católica não desapareceu, muito pelo contrário, se
manteve viva ao ponto de fazer com que outros povos dela participassem.
Uma íntima relação com o interior, a carroça, os grãos, os animais, a religiosidade
cristã, a língua polonesa as casas com tonalidades marcantes e os lambrequins, são marcas
polonesas muito presentes em Rio Claro do Sul.
Essa consideração merece uma ressalva especial. Além dos poloneses de Rio Claro
do Sul manter sua identidade étnica, estes acabam por conquistar a simpatia dos que vêm
morar na localidade e não são de origem polonesa, construindo assim relações culturais
íntimas de uma forma sutil para com os novos moradores. Essa atitude pode ser
considerada relevante já que o polaco é bastante conservador, percebe-se uma abertura,
que a dinâmica cultural é inevitável, que pelo menos ela se processe de uma maneira a não
descaracterizar ou desalojar os modos de vida poloneses, pelo contrário, que essa dinâmica
contribua para reafirmar os hábitos culturais étnicos desta etnia em Rio Claro do Sul.
Finalmente, notou-se na localidade, que as características peculiares que conferem
ao polonês sua identidade, nunca foram abandonadas, foram sim se adaptando à dinâmica
cultural, ou seja, se modernizando, mas sempre referenciando suas características próprias,
seja visualmente através da paisagem, seja socialmente através da língua, seja no
imaginário através da religião.
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________________
97
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMORIM FILHO, O. B. Topofilia, Topofobia e Topocídio em Minas Gerais. In: OLIVEIRA,
L. e DEL RIO, V. (Org.) Percepção Ambiental. A Experiência Brasileira. 2. ed. São Paulo:
Studio Nobel, 1999. p.139-152.
ANDERSON, W. A.; PARKER, F. B. Uma introdução à Sociologia. Tradução de Álvaro
Cabral e revisão técnica de Vera Borda. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971. 752p.
ANDRADE, M. M. de. Introdução à Metodologia do trabalho científico: elaboração de
trabalhos na graduação. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Cadernos de
Ciências da Terra, São Paulo, n. 13, 1971.
BETTANINI, T. Espaço e ciências humanas. Tradução de Liliana Lananá Fernandes;
revisão técnica de Moacyr Marques. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. Coleção Geografia e
Sociedade; v.2. 157p.
BÍBLIA SAGRADA. Livro do Êxodo (16, 2-4; 12-15). Tradução do Padre Antônio Pereira de
Figueiredo. Organizado sob a direção de Jesus Ruescas. São Paulo: Savadi Editorial Ltda,
1979. p. 47-83.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz (português de Portugal) – 6
ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 322p.
BUTTIMER, A. Aprendendo o dinamismo do mundo vivido. In: CHRISTOFOLETTI, A.
Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1985. p.165-193.
CASTELLS, M. O poder da identidade. Tradução Klauss Brandini Gerhardt. 2.ed. Coleção:
A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol 2. São Paulo, Editora: Paz e
Terra, 2000. 530p.
CERTEAU, M. de. A cultura no plural. Tradução Enid Abreu Dobránszky. 2. ed. Campinas:
Papirus, 1995.
_____. (2000) et. all.. A invenção do cotidiano: 2. morar, cozinhar. Tradução de Ephraim
F. Alves e Lúcia E. Orth.. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes.
_____. (2001) A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Tradução de Ephraim F. Alves.
6. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes.
98
CLAVAL, P. A Geografia Cultural. Tradução: Luiz Fugazzola Pimenta e Margareth de
Castro Afeche Pimenta. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.
COLLOT, M. Points de vue sur la representacion des paysages. In: L'Espace
Géographique, n.3. Doin, 8, plce de lÓdéon, Paris-Vie , 1986
CORRÊA, C. H. P. História Oral; teoria e técnica. Florianópolis: UFSC, 1978.
CORRÊA, R. L. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. 304p.
CULLEN, G. El paisaje urbano. Barcelona: Editora Blume, 1974.
DEINA, M. S. Colônia Rio Claro: Esta Terra Tem História. BRASPOL, Curitiba: Gráfica
Vicentina, 1990.
DEMBICZ, A.; KIENIEWICZ, J. Polônia e Polono-brasileiros: História e Identidades.
Tradução: Almir Gonçalves. Warszawa. Centro de Estudos Latino-Americanos: Universidade
de Varsóvia: CESLA, 2001.
ENTRIKIN, J. N. O Humanismo Contemporâneo em Geografia. In: Boletim de Geografia
Teóretica, Rio Claro, 1980, v.10, nº 19, p.5-30.
ESCOSTEGUY, A. C. D. Estudos Culturais: uma introdução. In: SILVA, T. T. da. O que é,
afinal, Estudos Culturais?. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p.133-166.
______. (2001) Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino americana. Belo
Horizonte: Autêntica.
FERRARA, L. D’A. Os significados urbanos. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo: Fapesp, 2000.
GERARDI, L. e SILVA, B. Quantificação em geografia. São Paulo: Difel, 1981. p.03-20;
GIDDENS, A. A Constituição da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
______. (1991) A. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São
Paulo: Editora da UNESP – Biblioteca Básica.
______. (1997) A. Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social
moderna. São Paulo: UNESP.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA___________________________________________________________
99
_______. (2002) Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
______. (2005) A Sociologia. Tradução Sandra Regina Netz. 4. ed. Porto Alegre: Artmed.
600 p.
GOMES, P. C. da C. Geografia e Modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2000.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva,
Guaracira Lopes Touro.10.ed. Rio de Janeiro:DP&A, 2005.
________. (2003) Da diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Liv Sovik (org);
Tradução Adelaine La guardia Resende. Belo Horizonte: Ed. UFMG.
IAROCHINSKI, U. Saga dos polacos. A Polônia e seus emigrantes no Brasil. 20.ed.
Curitiba: [s.l.], 2000. 150p.: il., ret.; 23 cm.
JOHNSON, R. O que é, afinal, Estudos Culturais? In: SILVA, T. T. da. (Org) O que é,
afinal, Estudos Culturais?. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p.07-132.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. 2. ed., [S.l.:s.n], 2000.
LEMINSKI, P. Distraídos venceremos. 5.ed. São Paulo: Brasiliense, 2002. 133p.
LANDIN, P. da C. Desenho de paisagem urbana. As cidades do interior paulista. São
Paulo:Ed. da UNESP, 2004;
LESSER, J. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela
etnicidade no Brasil. Tradução de Patrícia de Queiroz C. Zimbres. São Paulo: Editora da
UNESP, 2001. 344p.
LYNCH, K. A imagem da cidade. Tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de Pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas,
1990.
______. (2001) Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa
bibliográfica, projeto e relatório, publicação e trabalhos científicos. 6. ed. São Paulo:
Atlas.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA___________________________________________________________
100
MELA, A. A sociologia das cidades. Tradução Eduardo Saló. Lisboa:Editorial Estampa,
1999.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de
Moura. 2.ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1999. – (Tópicos).
OLIVEIRA, L. e DEL RIO, V. (Org.) Percepção Ambiental. A Experiência Brasileira. 2. ed.
São Paulo: Studio Nobel, 1999.
OLIVEIRA, P. S. Introdução à Sociologia. 22. ed. São Paulo: Editora Ática, 1999.
PARANÁ (Estado). Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. Instituto de Terras,
Cartografia e Florestas. Atlas do Estado do Paraná. Curitiba, 1987, 73p. ilust.;
RELPH, E. C. As bases fenomenológicas da Geografia. In: Geografia, 4(7). Rio Claro:
[s.n.], 1979.
SIEKLICKI, M. A.; GRENTESKI, F. Inventário Turístico Municipal de Mallet. Prefeitura
Municipal de Mallet, 2002.
SPOSITO, E. S. A questão do método e a crítica do conhecimento. Geografia e
Filosofia. Contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Ed. da
UNESP, 2004. p.23-72;
TEIXEIRA, S. K. Imagens e linguagens do Geográfico. Curitiba Capital Ecológica. São
Paulo: FFLCH-USP. 2001 (Tese de doutorado).
TEMPSKI, E. D. Quem é polonês. In: Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense. Curitiba, 1971. (Comemorativo ao Centenário da Imigração
Polonesa do Paraná).
TUAN, Y. F. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do Meio Ambiente.
Tradução: Lívia de Oliveira, São Paulo: Difel, 1980.
______. (1982) A Geografia Humanística. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas
da Geografia. São Paulo: Difel. Cap. 7, p. 143-164.
______. (1983) Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel.
WACHOWICZ, R. Homens da Terra. Curitiba: [S.L.],1997. 337 p.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA___________________________________________________________
101
WACHOWICZ, R. C. O camponês polonês no Brasil. Curitiba: Fundação Cultural, Casa
Romário Martins, 1981. 152p.
PERIÓDICOS CONSULTADOS
CARTA NÚMERO 24. Anais da Comunidade Brasileiro-polonesa.Superintendência do
centenário da imigração polonesa ao Paraná. Vol III. Curitiba, 1977.
DEMBICZ, A. Comunidade polônica latino-americana. Identidade continental, regional,
local, perspectiva brasileira. In: PROJEÇÕES: Revista de estudos polono-brasileiros.
Ano 2, 1 (2000). Curitiba/PR: BRASPOL Representação Central da Comunidade
Brasileiro Polonesa no Brasil: Congregação Sociedade de Cristo – Província Sul-Americana:
Centro de Estudos Latino Americanos da Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm.
Semestral ISSN 1517-3143. p.31-39.
DYLLA, Pe. Hugo. Missões dos padres missionários poloneses no Brasil. Anais da
Comunidade brasileiro polonesa. Curitiba, 1971. Vol V. p.88-123.
IAROCHINSKI, U. Porque Polaco!. In: PROJEÇÕES: Revista de estudos polono-
brasileiros. Ano 5, 2 (2003). – Curitiba/PR: BRASPOL Representação Central da
Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil: Congregação Sociedade de Cristo Província
Sul-Americana: Centro de Estudos Latino Americanos da Universidade de Varsóvia, 2003.
v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143.(p.111-124). p.111-124.
KAWKA, M. A língua polonesa no Brasil: Estágio de uso e competência. In:
PROJEÇÕES: Revista de estudos polono-brasileiros. Ano 2, 1 (2000). Curitiba/PR:
BRASPOL Representação Central da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil:
Congregação Sociedade de Cristo Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino
Americanos da Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p.
104-114.
______. (2003) Panorama histórico da língua e da literatura polonesa. In: PROJEÇÕES:
Revista de estudos polono-brasileiros. Ano 5, 2 (2003). Curitiba/PR: BRASPOL
Representação Central da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil: Congregação
Sociedade de Cristo Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino Americanos da
Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p.37-55.
______. (2005) O polonês como língua estrangeira para os brasileiros. In: Projeções:
revista de estudos polono-brasileiros. Ano 7, n.1 (2005). Curitiba: BRASPOL
Representação Central da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil: Congregação
Sociedade de Cristo Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino Americanos da
Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p.64-81.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA / PERÍODICOS_______________________________________________
102
KERSTEN, M. S. de A. Troncos, ‘tabuinhas’, tábuas, memória polonesa no Paraná. In:
PROJEÇÕES: Revista de estudos polono-brasileiros. Ano 2, 1 (2000). Curitiba/PR:
BRASPOL Representação Central da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil:
Congregação Sociedade de Cristo Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino
Americanos da Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p.72-
82.
KULA, M. Referências à História como uma das dimensões da identidade. In:
PROJEÇÕES: Revista de estudos polono-brasileiros. Ano 2, 1 (2000). Curitiba/PR:
BRASPOL Representação Central da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil:
Congregação Sociedade de Cristo Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino
Americanos da Universidade de Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p.
16-22.
NETTO, B. M. da R. Poloneses no Paraná. (Conferência). Publicado por: INSTITUTO
HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E ETNOGRÁFICO PARANAENSE. Boletim Especial,
Comemorativo ao Centenário da Imigração Polonesa para o Paraná. Volume XIV. Curitiba,
1971.
WACHOWICZ, Rizio. Histórico da BRASPOL. In: PROJEÇÕES: Revista de estudos
polono-brasileiros. Ano 2, 1 (2000). Curitiba/PR: BRASPOL Representação Central
da Comunidade Brasileiro Polonesa no Brasil: Congregação Sociedade de Cristo
Província Sul-Americana: Centro de Estudos Latino Americanos da Universidade de
Varsóvia, 2003. v.;23 cm. Semestral ISSN 1517-3143. p. 122-125.
FONTES PRIMÁRIAS UTILIZADAS
ACERVO FOTOGRÁFICO DA ESCOLA ESTADUAL ADÃO SOBOCINSKI – Mallet/PR.
IBGE - Caderneta do Recenseador do Censo Demográfico de 2002. (Consulta da autora na
Agência do IBGE de Irati – PR, na data de 05/05/06).
INVENTÁRIO TURÍSTICO DO MUNICÍPIO DE MALLET – PR. Prefeitura Municipal de
Mallet/PR, 2000.
LIVRO DE REGISTRO DE ÓBITOS I. Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do
Sul, Mallet/PR.
LIVRO TOMBO I. Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Claro do Sul, Mallet/PR.
PSF. Programa Saúde da Família. Secretaria Municipal da Saúde de Mallet/PR. Caderneta
do Agente Comunitário, 2006.
PERÍODICOS E FONTESPRIMÁRIAS________________________________________________________
103
MEIOS ELETRÔNICOS DE CONSULTA
www.tchr.org/braz/socctba/br/histempo.htm, acesso em 09 de outubro de 2006.
www.ipardes.gov.br, acesso em 23 de janeiro de 2006.
www.ibge.gov.br, acesso em 23 de janeiro de 2006.
www.braspol.com.br , acesso em 23 de janeiro de 2006.
http://www.tchr.org/braz/rioclaro/rioclaro.htm, acesso em 23 de janeiro de 2006.
www.czestochowa.us, acesso em 28 de setembro de 2006.
MEIOS ELETRÔNICOS DE CONSULTA_____________________________________________________
104
ANEXOS
105
LISTAGEM DE ANEXOS
ANEXO A pia do laudo referente à análise da água da Gruta de Rio Claro do Sul.
ANEXO B Formulário da Entrevista semi-estruturada.
ANEXO C Decreto: Erigindo um Santuário Mariano Diocesano em Rio Claro do Sul.
ANEXO D Formulário da coleta de Depoimentos e Histórias de Vida
106
ANEXO A pia do laudo referente à análise da água da Gruta de Rio Claro do Sul.
107
ANEXO B Formulário da Entrevista semi-estruturada.
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Tema: Paisagem e Identidade Cultural.
1. Do ponto de vista religioso, o que mais lhe chama a atenção em Rio Claro do Sul, Mallet/PR. Por que escolheu
esse elemento?
2. Do ponto de vista sócio-cultural, considerando elementos que existem ou que já desapareceram da paisagem,
o que mais lhe impressiona ou impressionou em Rio Claro do Sul, Mallet/PR. Por que escolheu este elemento?
3. Considerando a arquitetura presente na paisagem da sede do distrito, como: os bares e lanchonetes, as
“casas populares”, o posto de gasolina, os mercados, e as construções de arquitetura típica, o que mais lhe
chama a atenção? Por quê?
4. Qual a sua relação com os imigrantes poloneses que colonizaram a localidade do atual distrito de Rio Claro do
Sul, Mallet/PR e há quanto tempo mora na localidade?
5. O que mais aprecia na paisagem de Rio Claro do Sul, Mallet/PR e o que mais lhe incomoda na paisagem?
APRECIA: _____________________________________________________________________
NÃO APRECIA: ________________________________________________________________.
6. Que elemento componente da paisagem do distrito que desapareceu com o passar do tempo e mais lhe deixa
saudades? Por quê?
7. Em sua opinião, o que falta na paisagem de Rio Claro do Sul, Mallet/PR? Por quê?
Nome ou ass. ______________________________ Data: ___/___/______.
108
ANEXO C Decreto: Erigindo um Santuário Mariano Diocesano em Rio Claro do Sul.
DECRETO: ERIGINDO UM SANTUÁRIO MARIANO DIOCESANO EM RIO CLARO DO SUL
A Igreja Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem pertencemos pela fé operante e pelo batismo, se encontra
implantada há vários séculos na região sul do Estado do Paraná. Entretanto, há muito tempo que os Pastores
da Igreja no Paraná sentiram a necessidade premente de fomentar a manifesta unidade histórica, cultural,
econômica e religiosa dos municípios que foram surgindo. Sua pertença, porém, a várias dioceses impediu o
desenvolvimento de sua identidade religiosa. deixando marcas e lacunas que se fazem sentir até hoje.
Após vinte anos da criação e instalação da novel Diocese de União da Vitória, ainda não tínhamos um centro ou
santuário mariano diocesano, para focalizar e dinamizar o ingente culto filial de nossos fiéis para com Maria, Mãe
de Jesus.
Ressentindo-se dessa grave lacuna, os delegados das comunidades, durante a V Assembléia Diocesana e a VIII
Assembléia Diocesana do Conselho dos Leigos de União da Vitória (CL-UV), como que por inspiração ou instinto
divino, sugeriram a criação de um santuário mariano entre nós, como de um eixo irradiador de nossa filial
devoção para com Maria de Nazaré, chamada por sua Santidade, o Papa João Paulo II, "a Estrela da primeira e
da nova Evangelização" (Sto. Domingo, em 1992).
A reação favorável espontânea e entusiasta, comprovou o acerto e a urgência da medida adotada. A indicação
do local e daquela Comunidade Centenária a ser elevada à categoria de "Santuário Mariano Diocesano”,
recebeu o aval de todos os delegados presentes.
Passados alguns meses, e após consultar o atual pároco da paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Rio Claro
do Sul, o Reverendíssimo Padre Gerard Pilich, da Sociedade de Cristo, e o Reverendíssimo Superior Provincial
da Mesma Sociedade, Padre Zdzislaw Malczewski, ambos mostrando-se de acordo. havemos por bem proceder
ao ato canônico da criação desse santuário mariano.
PORTANTO, EM VIRTUDE DE NOSSO OFÍCIO EPISCOPAL, E APÓS AMPLA CONSULTA E
CONCORDÂNCIA EM PLENA ASSEMBLÉIA DIOCESANA, DECLARAMOS E PUBLICAMOS, QUE A IGREJA
MATRIZ NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, SITA NA VILA DE RIO CLARO DO SUL, NO MUNICÍPIO DE
MALLET, ESTADO DO PARANÁ, FICA, POR ESTE ATO PÚBLICO E PERPÉTUO, ERIGIDA.
CANONICAMENTE EM SANTUÁRIO MARIANO DIOCESANO, SOB O MESMO TÍTULO DE NOSSA SENHORA
DO ROSÁRIO, GOZANDO DOS PRIVILÉGIOS E DAS OBRIGAÇÕES CONCOMITANTES A DIGNIDADE
CONCEDIDA; EM NOME DO PAI E DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO. AMÉM!
Caberá ao Bispo Diocesano organizar, ao menos uma peregrinação diocesana por ano, e zelar pelo crescimento
espiritual e missionário do povo fiei e devoto, para que Maria, Mãe do Redentor, seja "para os cristãos a caminho
do grande Jubileu do terceiro milênio, a Estrela que lhes guia os passos com segurança ao encontro do Senhor"
(TMA 59.3)_
Caberá ao pároco atual e a seus sucessores, proverem para que o novo Santuário seja acolhedor aos peregrinos
e romeiros, propiciando-lhes, até com a colaboração das autoridades diocesanas e da própria família religiosa,
um atendimento espiritual e pastoral à altura, por meio da partilha organizada da Palavra de Deus, da
administração dos Sacramentos da Fé e do envolvente misticismo marial que leva mais facilmente a Jesus. E no
conhecimento e no amor da Mãe de Jesus, que ficarão mais salientes os autênticos traços da
humanidade salvadora de seu Filho, Jesus Cristo.
Enfim, caberá a todos fomentar peregrinações paroquiais, ou de outros grupos qualificados, ao novo Santuário
Mariano Diocesano, incrementando a devoção do Santo Rosário, como instrumento de intercessão e de
aprofundada meditação dos Mistérios Salvíficos da Encarnação e Redenção Pascal de Jesus Cristo: Aquele que
é "a Luz verdadeira que todo homem ilumina" (Jo 1,9).
Outras disposições canônicas e Pastorais serão publicadas em tempo oportuno.
SALVE-MARIA
Dado e passado em nossa Cúria Diocesana, sob o nosso sinal e selo de armas, aos vinte e três do mês
de fevereiro do ano de mil novecentos e noventa e sete (23102197).
- União da Vitória. PR.
Walter Michael Ebejer, O.P. Padre José Chipanski Rose Maria Burzynski
(Decreto da criação do Santuário Mariano Diocesano. Fonte: Jornal Malletense, 17 de março de 1997)
109
ANEXO D Formulário da coleta de Depoimentos e Histórias de Vida
DEPOIMENTOS E HISTÓRIAS DE VIDA
Tema: Paisagem e Identidade Cultural.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_______.
AUTORIZAÇÃO:
Eu_______________________________________________, portador do
RG____________________, autorizo a publicação e impressão, total ou em partes, em
qualquer meio (eletrônico, jornal, revista, entre outros) do presente depoimento.
_____________________________________________
Assinatura
________/_______/_________
Data
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo