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CRESCIMENTO DE CRISTAIS DE CORÍNDON E ESMERALDA PELO
MÉTODO DE EVAPORAÇÃO POR FLUXO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Reitor
Maria Lúcia Cavalli Neder
Vice Reitor
Francisco José Dutra Souto
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Leny Caselli Anzai
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
Diretor
Ednaldo de Castro e Silva
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
Chefe
Jackson Douglas Paes
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geociências
Márcia Aparecida de Sant’Ana Barros
iv
v
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
10
CRESCIMENTO DE CRISTAIS DE CORÍNDON E ESMERALDA PELO
MÉTODO DE EVAPORAÇÃO POR FLUXO
Gislene da Silva Ribeiro
Orientador
Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Geociências do
Departamento de Recursos Minerais da Faculdade de Geologia da Universidade Federal de Mato
Grosso como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Geologia,
Área de concentração: Geoquímica.
CUIABÁ
2010
vi
Universidade Federal de Mato Grosso http://www.ufmt.br
Instituto de Ciências Exatas e da Terra http://www.ufmt.br
Curso de Geologia http://www.ufmt.br
Departamento de Recursos Minerais - http://www.ufmt.br
Programa de Pós-Graduação em Geociências ppgec@cpd.ufmt.br
Campus Cuiabá Avenida Fernando Corrêa, s/n° - Coxipó
78.060-900 Cuiabá, Mato Grosso
Fone: (65) 3615-8000 Fax: (65) 63281219 Email: - http://www.ufmt.br
Os direitos de tradução e reprodução são reservados.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada ou
reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos, ou utilizada sem a observância das normas de direito
autoral.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1ª
Catalogação elaborada pela Biblioteca Central do Sistema de Bibliotecas e Informação SISBIB
Universidade Federal de Mato Grosso
Ribeiro, Gislene da Silva
Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo.
[manuscrito]./Gislene da Silva Ribeiro 2010
xvi, 119f.; Color. (Contribuições ás Ciências da Terra, série 1, vol. 1, n.10).
Orientador: Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado.
Dissertação de (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Ciências Exatas
e da Terra. Faculdade de Geologia. Departamento de Recursos Minerais. Programa de Pós-
Graduação em Geociências. Área de Concentração: Geoquímica.
1. Apresentação do Trabalho Dissertação. 2 . Revisão Bibliográfica: Coríndon e
Esmeralda Dissertação. 3. Métodos de Síntese Dissertação. 4. Técnicas de
Caracterização - Dissertação. 5. Resultados e Discussões Dissertação. 6. Conclusões
Dissertação. I.Universidade Federal de Mato Grosso. Departamento de Recursos
Minerais. II.Título.
C.D.U: ....
vii
Dedico este trabalho à minha família
que está sempre presente em meus
pensamentos, e a todos os amigos e parentes
que, direta ou indiretamente, me auxiliaram.
viii
Agradecimentos
_________________________________________________________
Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado esta oportunidade.
Aos meus pais, Giovani e Rosinete, aos meus irmãos Giselle e Ronilson, ao meu sobrinho Cauã e
ao meu noivo Júlio César, agradeço todo o amor, carinho, compreensão e respeito.
Ao Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado meu orientador, pela competência do ofício de orientar,
pela disponibilidade e, sobretudo pela generosidade em transmitir seus conhecimentos, sempre me dando
apoio e motivação. Meu respeito e muito obrigada!
Ao Profs. Drs. Ailton Terezo e Fernando Pelegrini pelas sugestões, ensinamentos e facilidade no
uso dos equipamentos de seus respectivos laboratórios.
À Prof
a
. Dra. Rúbia Ribeiro Viana pelo cadinho gentilmente cedido e por ter aceito participar da
banca examinadora.
Ao Prof. Dr Denis Lima Guerra pelas sugestões, apoio e amizade.
Ao secretário e amigo Paulo Fernando Chmik pela incrível paciência em me atender sempre com
boa vontade.
Aos meus antigos professores do Departamento de Química, que me ensinaram com prazer e
dedicação parte do que sei. Todos os meus atuais professores do Departamento de Geologia, com quais
tive a oportunidade, o prazer e o desafio de aprender uma nova linguagem.
Ao Laboratório Multiusuário de Técnicas Analíticas (LAMUTA/UFMT), onde as análises e
sínteses foram realizadas, e aos órgãos de fomento FINEP, CNPq e FAPEMAT, que de diversas maneiras
vêm financiando a implantação e melhoria da infra-estrutura de pesquisa da UFMT, o que por sua vez
possibilitou o desenvolvimento deste trabalho.
Não queria deixar também de mencionar o espírito colaborativo de muitos colegas, com quem tive
todo prazer em trocar experiências e saberes. Para as pessoas que fizeram a diferença em minha vida. Para
as pessoas que quando olho pra trás, sinto muitas saudades. Para as pessoas que me aconselharam. Para as
pessoas que me deram uma força quando eu não estava muito animada. Meus sinceros agradecimentos a
todos os que de uma forma ou outra contribuíram para além da realização deste trabalho, meu conseqüente
término desta etapa da minha vida.
A todos, muito obrigada!
ix
Sumário
_________________________________________________________
Sumário......................................................................................................................
ix
Lista de Figuras........................................................................................................
xi
Lista de Tabelas........................................................................................................
xiv
Resumo......................................................................................................................
xv
Abstract.....................................................................................................................
xvi
Capítulo 1
Introdução, Objetivo e Justificativa...................................................................
1
Apresentação do tema........................................................................................
1
Objetivo.............................................................................................................
5
Justificativa........................................................................................................
5
Capítulo 2
Revisão Bibliográfica: Coríndon e Esmeralda..................................................
7
Coríndon............................................................................................................
7
Berilo.................................................................................................................
13
Capítulo 3
Métodos de Síntese...............................................................................................
24
(a) Método de Gelificação Combustão..............................................................
24
Síntese do Material Precursor Nanoestruturado (Al
2
O
3
) dopado com
Cromo..........................................................................................................
27
(b) Síntese das Gemas pelo método do fluxo....................................................
28
Síntese de Rubis, Safiras e Esmeraldas.......................................................
29
Capítulo 4
Técnicas de Caracterização.................................................................................
34
4.1 Raios X........................................................................................................
34
A produção de raios X.................................................................................
35
x
4.2 Caracterização Química por Fluorescência de Raios X (EDX)...................
38
Equação Fundamental da Fluorescência de Raios X..................................
44
Análise.........................................................................................................
46
Limite de detecção......................................................................................
46
Preparação das Amostras para Análise e Condições Experimentais...........
47
4.3 Caracterização da Estrutura Cristalina por Difração de Raios X.................
49
O difratômetro de raios X............................................................................
51
Preparação das Amostras para Análise e Condições Experimentais...........
56
4.4 Ressonância de Spin Eletrônico...................................................................
56
Princípio Básico da Ressonância de Spin Eletrônico (ESR).......................
58
O Espectrômetro de ESR Típico.................................................................
62
O Hamiltoniano de Spin, Fator g e Desdobramento de Campo Zero.........
64
O Hamiltoniano de Spin para um sítio de simetria axial.............................
67
Montagem Experimental utilizada neste trabalho.......................................
69
Capítulo 5
Resultados e Discussões.........................................................................................
72
Capítulo 6
Conclusões.............................................................................................................
94
Referências Bibliográficas.......................................................................................
98
Ficha de Aprovação..................................................................................................
103
xi
Lista de Figuras
________________________________________________________
12
16
20
23
24
26
27
27
28
29
32
33
33
33
33
34
36
37
40
41
42
xii
43
43
44
48
49
50
52
53
54
55
55
56
60
62
63
70
71
71
72
73
73
74
74
xiii
74
75
76
76
77
77
77
78
79
84
86
87
88
89
90
93
xiv
Lista de Tabelas
2
3
4
10
11
12
17
19
22
27
31
31
31
32
36
80
80
81
91
xv
Resumo
Este trabalho relata o crescimento de cristais de coríndon e berilo pelo método de fluxo. O
objetivo principal foi o de avaliar a versatilidade, eficácia e reais possibilidades do método de fluxo para a
síntese e dopagem de monocristais. Neste trabalho foram escolhidas as impurezas i) Cr ii) Fe e Ti iii) Cr,
visando a síntese de rubis, safiras e esmeraldas, respectivamente. Os referidos cristais foram crescidos
pelo aquecimento de uma mistura de Al
2
O
3
:Cr, Al
2
O
3
:Fe:Ti, Al
2
O
3
:BeO:SiO
2
:Cr num fluxo de MoO
3
(para coríndon) e MoO
3
-K
2
CO
3
(para berilo). O tamanho máximo dos cristais obtidos foi de 1,0 mm,
apresentando faces bem desenvolvidas e formas bipiramidal hexagonal ou pinacoidal (rubi e safira) e
prismático hexagonal (esmeraldas). As amostras apresentaram uma típica coloração vermelha (rubi), azul
claro (safira) e verde claro (esmeraldas). As gemas foram caracterizadas por fluorescência de raios X por
dispersão em energia (EDX), difração de raios X (XRD) e ressonância de spin eletrônico (ESR). Os dados
de análises químicas por EDX indicam que as amostras de rubi apresentaram composições muito similares
a aquela da mistura inicial dos reagentes, mas o mesmo não acontece com as safiras, ou seja, a
incorporação dos íons Cr nos cristais de rubi sintetizados (~0,4 wt.%) se mostrou mais eficiente que a
incorporação de Fe e Ti nos cristais de safira (~0,04 wt.%), que foi pelo menos uma ordem de grandeza
inferior à quantidade disponível dos mesmos no soluto. Os dados de XRD obtidos atestam a obtenção de
rubis, safiras e esmeraldas sintéticas e mostram o alto grau de cristalinidade obtido. Os resultados obtidos
das análises de ESR para o íon Cr em rubis e esmeraldas sintetizadas neste trabalho estão de acordo com
os dados da literatura para gemas naturais, mostrando que o sítio de incorporação do Cr nas gemas
sintetizadas é idêntico ao das gemas naturais. Alguns dos parâmetros do Hamiltoniano de Spin do íon Cr
nos rubis e esmeraldas sintetizados foram também determinados.
xvi
Abstract
This work reports the growth of corundum and beryl crystals by the flux method. The main
objective was to evaluate the versatility, effectiveness and real possibilities of the flux method to the
synthesis and doping of monocrystals. In this work the chosen impurities were i) Cr, ii) Fe and Ti, and iii)
Cr, aiming the synthesis of rubies, sapphires and emeralds, respectively. The crystals were grown by
heating a mixture of Al
2
O
3
:Cr, Al
2
O
3
:Fe:Ti or Al
2
O
3
:BeO:SiO
2
:Cr in a flux of MoO
3
(for corundum) and
MoO
3
-K
2
CO
3
(for beryl). The maximum size of the crystals was 1.0 mm, with well developed faces,
bipiramidal hexagonal and pinacoidal shapes, for ruby and sapphire, and hexagonal prismatic shape for
emeralds. The samples presented a typical staining red (ruby), blue (sapphire) and green (emerald). The
synthetic gems were characterized by energy dispersive X-ray fluorescence (EDX), X-ray diffraction
(XRD) and electron spin resonance (ESR). Data from chemical analysis by EDX indicated that the ruby
samples have compositions very similar to that of the initial mixture of reagents, but the same is not true
to the sapphire samples, that is, the incorporation of Cr ions in ruby crystals synthesized (~0.4 wt.%) was
more efficient than the incorporation of Fe and Ti in the sapphire crystals (~0.04 wt.%), concentration at
least one order of magnitude lower than that available in the solute. The XRD data confirm the synthesis
of rubies, sapphires and emeralds crystals and show the high degree of crystallinity obtained. The ESR
analysis of the Cr
3+
spectra obtained for the synthetic rubies and emeralds in this work are in total
agreement with the literature data for natural gems, showing that Cr incorporation site in these synthetic
gems is identical to that found in the natural ones. Some of the Spin Hamiltonian parameters of the Cr ion
in rubies and emeralds synthesized in this work were also determined.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Capítulo 1
Introdução, Objetivos e Justificativa
Apresentação do tema
As gemas, por sua própria natureza, expressam simbolicamente valores e significados dentro do
repertório de costumes da vida urbana, sendo conhecidas desde os tempos do Império Romano
(Guimarães, 2002). A maioria das gemas pertence ao reino mineral e embora não sejam tão abundantes,
podem ser também conseguidas através de processos de ntese (Schumann, 1982). vários anos muita
atenção tem sido dada às gemas, sendo crescente a utilização de gemas sintéticas no mercado de jóias e
semijóias, pois com elas os resultados são mais reprodutíveis, suas composições são consistentemente
uniformes, e impurezas desnecessárias ou indesejadas são cuidadosamente evitadas, sendo ainda as
concentrações otimizadas para uma melhor aparência (Nassau, 1994).
Nos últimos anos, graças à iniciativa de pesquisadores de universidades e centros de pesquisas
(Oishi et al., 2004), diversos processos de síntese de gemas têm sido cientificamente desenvolvidos.
Apesar de, no caso da cristalização de pedras preciosas, a bibliografia não ser suficientemente explícita, já
que as empresas dedicadas a isso guardam sigilosamente os detalhes relativos aos métodos que empregam,
várias técnicas (Nassau, 1976; Nassau, 1979; Nassau et al, 1980; Pamplin, 1975) estão disponíveis na
literatura e podem ser empregadas para o crescimento de gemas sintéticas, tais como o método de fusão na
chama (processo ou modificação de Verneuil), processo vapor-líquido-sólido, método Czochralski,
método hidrotermal e método do fluxo (Jayaraman, 2000).
A Tabela 1.1 mostra alguns dos métodos atualmente utilizados para a síntese de gemas, os quais
se inserem em duas categorias gerais: cristalização a partir de um fluído de composição diferente (como
um fluxo hidrotermal ou solução aquosa), e cristalização por fusão a partir de um fluxo com a mesma
composição química desejada para o crescimento de cristal (Shigley, 2000).
Nesta tabela estão os principais tipos de gemas sintéticas disponíveis no comércio, bem como seu
grau de ocorrência em relação a outros tipos de produtos também sintéticos: ocorrência comum (C) ou
ocorrência rara (R). Embora granada, jade, topázio e turmalina sejam sintetizados no laboratório, o
material produzido não é adequado para fins de jóias (Shigley, 2000).
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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2
Tabela 1.1: Métodos utilizados para a obtenção de gemas sintéticas.
Materiais Gemas(Gemas Variedades)
Legenda
1-Diamante; 2 -
Berilo (esmeralda,
água-marinha, berilo
vermelho); 3-
Coríndon (Safira,
Rubi); 4- Opala
5- Quartzo (cristal
rocha, ametista,
citrino); 6- Espinélio
1
2
3
4
5
6
Métodos de Solução
Baixa-temperatura aquoso
C
Alta-temperatura hidrotermal
C
C
C
Alta-temperatura fluxo
C
R
C
Alta-temperatura/pressão fluxo
R
Métodos de Fusão
Solidificação
R
Fusão na Chama
C
Crescimento por Zona
R
C
Muitos pesquisadores têm relatado sobre o crescimento de cristais por fluxo em sistemas de
molibdatos (Oishi et al., 1996; Oishi et al., 2004). Atualmente, este método tem sido preferido porque
permite o crescimento de cristais em temperaturas abaixo do ponto de fusão do soluto, e possui algumas
vantagens importantes sobre outros métodos, tais como a obtenção de cristais homogêneos, para os quais
são exigidos estados de supersaturação que podem ser obtidos por um processo lento de resfriamento ou
fluxo de evaporação (Jayaraman, 2000).
A diferença entre o preço de uma gema natural pode ser significativamente maior do que uma
gema sintética. O valor de uma pedra preciosa em particular depende da raridade e de alguns fatores
como:
- tamanho: uma gema de 1 quilate (200 mg), por exemplo, sempre valerá mais que duas de meio
quilate com a mesma qualidade;
- cor: em princípio, quanto mais intensa a cor, mais valiosa a gema. É importante também que a
cor seja uniforme;
- pureza: a ausência de inclusões, impurezas e fraturas é sempre desejável. Esmeraldas, porém, só
se mostram puras em gemas muito pequenas, pois é normal que sejam cheias de fraturas, preenchidas por
impurezas;
- lapidação: gema de boa cor e boa pureza pode ter seu preço reduzido se não for bem lapidada.
Isso é particularmente importante no caso do diamante pois, sendo na grande maioria das vezes incolor,
tem no brilho uma característica importante. E bom brilho depende muito de uma boa lapidação.
Tudo isso torna bastante difícil elaborar uma lista das gemas mais valiosas, a menos que se
considere puramente o valor de mercado. Aí, basta ver a cotação atual em empresas especializadas. Deve
ser lembrado, porém, que os valores mudam de acordo não somente com as variáveis acima, mas também
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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3
dependem de várias outras previsíveis em maior ou menor grau, levando-se em conta critérios técnicos e
mercadológicos e usando o maior preço médio por quilate (1 quilate = 200 mg) pago no mercado
internacional (Branco, 2008).
Por exemplo, os valores apresentados na Tabela 1.2 são preços de um diamante e dos três tipos de
gemas estudadas nesse trabalho, obtidos em um boletim de preços de periodicidade anual, atualizado com
qualquer modificação significativa nos valores de gemas ocorridas no período. Os preços indicados pelos
boletins de preços representam a média dos valores praticados pelo mercado atacadista e exportador. O
valor final, como foi dito, depende da influência isolada e/ou do conjunto de fatores intrínsecos e
extrínsecos, tais como: tipo de gema, propriedades físico-químicas da gema, raridade e outros atrativos da
gema ou da peça em si. A cor desempenha um papel fundamental quanto à beleza, tradição do mercado e
avaliação de uma gema.
Tabela 1.2: Exemplos de valores de gemas naturais (IBGM, 2005)
*
Foto: Diamante
Foto: Rubi / Safira
Foto: Esmeralda
Até US$ 63.000 por quilate. Valor
passível de influência pela
presença crescente de diamantes
sintéticos no mercado.
Até US$ 12.000 por quilate. Rubi e
Safira são diferentes variedades de
um mesmo mineral, o coríndon.
Até US$ 9.000 por quilate. O preço
da esmeralda é muito variável.
(*) Valores médios estimados em cotações no atacado para exportação.
A cor pode ser considerada como a característica óptica mais importante das gemas (Schumann,
1990), desempenhando uma parte extremamente importante na beleza e popularidade de cada uma delas
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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4
(Anderson, 1993), tais como o vermelho carmesim do rubi, o azul da safira e o verde-grama das
esmeraldas.
A maior parte dos mecanismos que produzem cor são produtos da interação de ondas luminosas
com elétrons (Batista, 2007). As cores são perceptíveis somente acima de determinada intensidade
luminosa. A luz, quando atravessa um corpo sólido transparente, é refratada de acordo com seu
comprimento de onda, sendo os raios correspondentes à cor vermelha, de maior comprimento de onda e
menos desviados, e os de comprimento de onda curta, de cor violeta, os mais desviados. As gemas
aparecem coloridas simplesmente porque absorvem parte da luz branca, sendo que alguns comprimentos
de onda (cores) são mais intensamente absorvidos que outros (Anderson, 1993). Isto é o que se conhece
com a denominação de absorção seletiva da luz. Os comprimentos de onda que não são absorvidas
chegam ao olho do observador, e seu conjunto forma o que chamamos cor da gema. Para cada cor
resultante que está sendo transmitida, existe uma cor complementar absorvida (Tabela 1.3; Skoog & West,
1982).
Tabela 1.3: Faixas espectrais visíveis e suas respectivas cores complementares (Skoog & West, 1982).
Faixa espectral
Cor Cor complementar
(nm) (cm
-1
) (eV)
400-435
25.000 22.988
3.097 2.848
Violeta
verde-amarelado
435-480
22.988 20.833
2.848 2.581
Azul
Amarelo
480-490
20.833 20.408
2.581 2.528
azul-esverdeado
Laranja
490-500
20.408 20.000
2.528 2.478
verde-azulado
Vermelho
500-560
20.000 17.857
2.478 2.212
Verde
Púrpura
560-580
17.857 17.241
2.212 2.136
verde-amarelado
Violeta
580-595
17.241 16.807
2.136 2.082
Amarelo
Azul
595-650
16.807 15.384
2.082 1.906
Laranja
azul-amarelado
650-750
15.384 13.333
1.906 1.652
Vermelho
verde-azulado
Então a origem da cor em minerais está ligada a várias razões, tais como a presença de íons
metálicos, em especial metais de transição como Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni e Cu, fenômenos de
transferência de carga, efeitos de radiação ionizante, entre outros. Para muitos minerais a cor é uma
característica diagnóstica fundamental, enquanto para outros ela é tão variável que não pode ser usada
como um critério de identificação. Os metais de transição podem estar presentes nos minerais em
quantidades importantes (como constituintes principais), ou em quantidades muito pequenas (como
impurezas). Em ambos os casos, uma grande variedade de cores pode ocorrer em um mineral cuja
composição global é essencialmente constante (Batista, 2007). Devido à possibilidade de alteração de
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
______________________________________________________________________________________________
5
muitos minerais por contato com o ar, água etc, a cor deve ser preferencialmente observada em uma
fratura recente do mineral.
Objetivos
O presente estudo tem como proposta principal avaliar a versatilidade, eficácia e reais
possibilidades do método de fluxo para a síntese e dopagem de monocristais com impurezas. Para
atingir este objetivo se propôs:
O desenvolvimento de estudos bibliográficos e laboratoriais que visaram reunir
informações tecnicas e científicas sobre o tema proposto;
Avaliar a composição química das gemas sintetizadas;
Obter informações sobre as fases cristalinas das gemas produzidas;
Obter informações a respeito do estado de valência e estrutura local dos íons cromóforos
nas gemas sintéticas;
Verificar a possível utilização do método de gel-combustão para a produção de material
de partida para a síntese das gemas, comparando os resultados obtidos utilizando-se material de partida
convencional.
Para isso foram empregadas as técnicas de Difração de Raios X (XRD), Fluorescência de Raios X
(EDX) e Ressonância de Spin Eletrônico (ESR), com o intuito de avaliar as características estruturais e
químicas (componentes principais e impurezas) das gemas obtidas. A revisão da literatura mostra que, no
caso das sínteses, pouco é conhecido sobre a síntese de gemas (rubi, safira e esmeralda), existindo,
portanto um amplo campo de pesquisa. Além disso, espera-se contribuir para a discussão de aspectos
básicos relacionados à teoria das sínteses de gemas pelo método do fluxo.
Justificativa
Quanto à motivação para a execução deste trabalho, podemos citar que nossos estudos visam à
realização de uma análise metodológica de uma área pouco abordada nos meios acadêmicos, trazendo
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
6
inovação ao Departamento de Recursos Minerais (DRM) do Instituto de Ciências Exatas e da Terra
(ICET/UFMT), contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento científico regional em
síntese de materiais de interesse geológico.
Lembramos ainda que o desenvolvimento deste trabalho, nos quais crescemos e caracterizamos
rubis, safiras e esmeraldas, foi possível graças a toda uma equipe, formada pela Profª Drª. Rúbia Ribeiro
Viana (DRM/ICET/UFMT), Prof. Dr. Ailton José Terezo (DQ/ICET/UFMT) e Dr. Gustavo Enrique
Lascalea (LYSAMEN/CONICET/Mendoza-Argentina).
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Capítulo 2
Revisão Bibliográfica: Coríndon e Esmeralda
Coríndon
O nome coríndon tem sua origem na palavra proveniente do tâmil Kurudam (uma das línguas
dravídicas faladas no sul da Índia) cujo significado é Rubi. O coríndon foi pela primeira vez identificado
na Índia (Cunha, 2008), é conhecido desde o início dos tempos, e sua presença sempre foi marcante em
todas as civilizações, seja pela utilização como gema ou por seu uso industrial, podendo ser encontrado
em diferentes tipos de depósitos como, por exemplo, nos calcários cristalinos, micaxistos e gnaisses (Deer
et al,. 1966).
Algumas rochas magmáticas possuem coríndon como um de seus minerais primários, e estes
podem também existir em quantidades razoáveis nos pegmatitos e em outras rochas associadas com
sienitos nefelínicos. Os coríndons podem ocorrer em formações rochosas e nos aluviões dos rios, como é o
caso do Brasil, com ocorrências no Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Minas Gerais, São Paulo e Rio
de Janeiro (Cunha, 2008).
Segundo Deer, um aumento de 2% em Al
2
O
3
para além da composição eutética do sistema K
2
O-
Al
2
O
3
-SiO
2
eleva a temperatura do fundido em 180 ºC, deste modo parece que uma pequena elevação do
teor em coríndon normativo num magma produzirá uma elevação considerável da temperatura do fundido.
Isto significa que mesmo nos magmas mais quentes de composição granítica não parece existir muita
alumina em excesso, relativamente à necessária para a formação dos feldspatos e que, portanto, os
magmas são assim limitados na quantidade potencial de coríndon. As rochas filonianas que contêm
coríndon tais como os plumasitos e plagioclasitos com coríndon, devem resultar da dessilicificação de
uma rocha eruptiva ácida no contacto com material mais básico, ou então podem ter uma origem
hidrotermal.
O coríndon pode ser produzido artificialmente por aquecimento do gel Al
2
O
3
ou de gibsita,
boemita e/ou diásporo, de que o coríndon constitui a fase estável acima de aproximadamente 450 ºC (Deer
et al, 1966). O coríndon artificial possui a mesma composição química, estrutura cristalina e as mesmas
propriedades do natural (Cunha, 2008). Safiras e rubis sintéticos têm sido reproduzidos desde 1902 pelo
processo de Verneuil e, posteriormente, por processos hidrotermais ou por fusão e fluxos (Cornejo, 2004).
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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8
Em 1960 um rubi sintético de Verneuil foi utilizado na fabricação do primeiro laser (Ruedlinger,
2000). O laser de rubi tornou-se muito importante para numerosas aplicações, tais como remoção de
tatuagens (Kupermanbeade et al, 2001; Grattan et al, 2001), confecção de fibras sensoras de temperatura
(Seat et al, 2002; Moore et al, 2009) e na medicina (Oishi et al., 2004).
Esses materiais possuem ainda várias aplicações industriais, comerciais e/ou tecnológicas. Rubis e
safiras podem ser utilizados na decoração de esferográficas, óculos, relógios e outros objetos sofisticados,
na confecção de equipamentos elétricos e óticos bem como em janelas de fornalhas de alta temperatura.
Além disso, a safira é um dos poucos materiais isolantes com capacidade de suportar baixíssimas
temperaturas (4 K, a temperatura do He-líquido, por exemplo), sendo por isso muito utilizada em
laboratórios de pesquisa. Além do que, safiras com impurezas de titânio (Ti) são usadas em lasers de
impulsos ultracurtos. Portanto, a produção de coríndon em escala comercial alcança um grande número de
aplicações, motivo pelo qual o domínio de seus processos de síntese é interessante.
Foram os mineralogistas franceses do século XIX que sistematizaram e estabeleceram, pela
primeira vez, os procedimentos de síntese para a maioria das gemas naturais, se interessando de maneira
muito especial pela cristalização de coríndon. As memórias destas investigações foram apresentadas em
diferentes sessões de “L’Academie des Sciences” e publicadas nos “Comptes Rendus” correspondentes,
ao longo daquele século. Entre elas destacam as de Marc Antoine Gaudin, Jacques Joseph Ebelman,
Edmond Fremy e Auguste Verneuil (Cornejo, 2004).
A autobiografia apresentada por Marc Antoine Gaudin, em 1837, inclui a primeira referência clara
sobre a obtenção artificial do coríndon realizada a partir da fusão de alumínio em com um maçarico
oxídrico. Este procedimento o situa como um dos precursores na utilização da fusão como técnica de
síntese (Cornejo, 2004).
Seu contemporâneo, Jacques Joseph Ebelman, descreveu em 1849 um segundo método, baseado
na preparação de dissolução de óxidos e silicatos metálicos em diversas substâncias, em temperaturas
elevadas e que posteriormente cristalizam ao se evaporar lentamente o solvente no interior de um forno,
tendo este o mesmo papel que a água em temperatura mais moderadas que é capaz de dissolver muitos
sólidos que também cristalizam à medida que esta se evapora. Assim, Ebelman obteve cristais perfeitos de
onze minerais, o rubi entre eles, utilizando para este último uma mistura de alumina, óxido de cromo e
bórax (Schwarz, 1987).
Estas misturas foram colocadas em cadinhos de platina. Graças a estes valiosos precursores, os
processos de síntese são conservados até o dia de hoje e aprimorados cada vez mais. O método de
Ebelman foi de suma importância e, graças à sua simplicidade, serviu como ponto de partida para o
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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9
desenvolvimento da segunda técnica mais importante na síntese de gemas, comumente conhecida pela
palavra inglesa “flux”. Esta técnica foi descrita em 1877, quase nos mesmos termos que conhecemos hoje,
por E. Fremy e um conhecido vidraceiro da época, M. Feil. Sua contribuição mais importante consistiu em
utilizar fornos industriais de grande poder calorífico e capacidade térmica, que possibilitavam produzir e
manter temperaturas elevadas durante longo tempo, assim como trabalhar com grandes quantidades de
material e testar novos solventes e corantes, entre os quais destacam-se o Pb
3
O
4
e o KCrO
4
. Foram
descritos processos de síntese nos quais utilizaram-se misturas de 30 Kg aquecidas continuamente durante
20 dias, obtendo grande quantidade de pequenos rubis (Cornejo, 2004).
Auguste Verneuil foi ajudante de Edmond Fremy durante os últimos anos da vida deste,
participando com ele em seus trabalhos acerca das condições de cristalização da alumina. Os resultados
desta colaboração foram de grande importância, já que possibilitaram a obtenção de cristais de rubi de
tamanho e qualidade suficiente para que fossem cortados e utilizados em relógios e jóias (Cornejo, 2004).
Em 1891, projetou um método para produzir rubis sintéticos. A técnica chamada de “fusão na
chama”, que leva seu nome, foi publicada em 1902. Esta data marca o início da síntese de gemas em
escala comercial. A técnica de Verneuil é, com algumas modificações, a mais importante utilizada
atualmente para a produção de materiais gemológicos sintéticos. O procedimento para a obtenção de rubis
consiste em fundir de alumina (Al
2
O
3
) com algum contaminante incorporado, através da chama de um
maçarico oxídrico. As gotas fundidas caem e se cristalizam sobre uma “gota semente” de coríndon que
tem a função de dirigir o crescimento. A temperatura do processo é determinada pelo ponto de fusão da
alumina, 2015 ± 15 ºC (Cornejo, 2004).
Esta técnica apresenta grande capacidade de formar rubis e safiras, mas é ineficiente na formação
de esmeraldas. A explicação está nos diferentes pontos de fusão dos componentes da mistura, isto é, não
acontece a fusão simultânea dos componentes, sendo que alguns se vaporizam antes dos demais se
fundirem, interferindo diretamente no processo de cristalização do mineral e impedindo a obtenção de
esmeraldas de qualidade (Nass, 2002).
Tratando-se de esmeraldas, além das amostras naturais, são conhecidos dois métodos de ntese
para a sua produção em laboratório, o método do fluxo e o método hidrotermal (Guimarães, 2002) que
serão descritos no tópico sobre o berilo.
Rubi e Safira pertencem à mesma classe mineralógica chamada coríndon, que consiste
essencialmente em óxido de alumínio (Al
2
O
3
), com valores aproximados de Al = 52,9% e O = 47,1% em
massa. Embora o coríndon consista em Al
2
O
3
puro, pode conter pequenas quantidades de outros íons,
sobretudo Fe
+3
.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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10
A cor vermelha do rubi natural é devida a conteúdos de Cr
+3
de até 1%. o rubi sintético contém
de 2 a 3% de admissão de cromo que depende das condições de crescimento cristalinas. Por outro lado, o
azul profundo da safira está relacionada à presença de ferro (Fe
+2
) e titânio (Ti
+4
) em sua estrutura
cristalina, que contém traços de Fe
+2
, Fe
+3
, Ti
+3
, Ti
+4
, V
3+
e Cr
2+
inerentes ao seu meio de formação
(Hankin, 1998). Se a safira contém, somente, Ti ou Fe a cor azul não é obtida (Jayaraman, 2000).
Tabela 2.1: Análises de Coríndon (Deer et al, 1966).
1 Coríndon azul escuro, mármore alterado no contacto, Urais.
2 Coríndon verde, pegmatito sienítico, Urais.
3 Rubi natural (gema), de cor clara.
4 Rubi natural (gema), de cor escura.
5 Coríndon de ferro amarelo, litomarga metamorfizada (porcelanito) em colo de dolerito, Tievebulliagh, Irlanda do Norte.
O mecanismo responsável pela cor azul da safira é a transferência da carga de valência, um
processo que ocorre em compostos que tenham pelo menos dois elementos com estados de oxidação
diferentes e variáveis. A transferência de um elétron de um átomo ao outro envolve a absorção de energia,
muitas vezes de um comprimento de onda definido, e pode produzir cores intensas em minerais e gemas
(Jayaraman, 2000). No caso específico da safira azul ocorre uma transferência de elétrons do Fe
+2
ao Ti
+4
segundo a equação 2.1:
Fe
+2
+ Ti
+4
→ Fe
+3
+ Ti
+3
2.1
Este processo envolve a absorção da luz amarela, tendo por resultado a transmissão da cor azul
complementar (Jayaraman, 2000). Portanto, rubi e safira possuem propriedades semelhantes, ambos são
Análises
1
2
3
4
5
SiO
2
0,20
0,68
0,137
0,542
0,94
TiO
2
0,32
vest.
0,00
0,00
0,37
Al
2
O
3
98,84
96,72
98,8
97,5
89,40
Cr
2
O
3
Vest.
0,00
0,945
1,81
----
Fe
2
O
3
0,14
0,00
0,0147
0,0252
9,17
FeO
0,06
0,18
----
----
----
V
2
O
5
0,00
vest.
0,0320
0,0582
----
NiO
vest.
0,09
0,00
0,00
----
MnO
vest.
vest.
0,00
0,00
----
MgO
0,04
0,96
0,0226
0,0328
----
CaO
0,34
1,16
----
----
----
CuO
----
----
0,0023
0,0016
----
CdO
----
----
0,0168
0,0351
----
MoO
2
----
----
0,0044
0,0117
----
Total
99,94
99,79
99,97
100,02
99,88
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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facilmente sintetizados pelos mesmos métodos (variando-se apenas os componentes responsáveis pela cor
características do mineral) e podem ter sua cor melhorada através de tratamento hidrotermal e/ou térmico
(O’Donoghue et al, 2003).
O estado de valência de um íon exerce uma forte influência junto à intensidade da cor. Embora um
certo número de estados de valência sejam possíveis para cada elemento, somente alguns são importantes
na gemologia (Fritsch & Rossman, 1987). O ferro, por exemplo, é conhecido em estados de valências de
Fe
0
até Fe
3+
, mas geralmente ocorrem em gemas como Fe
+2
e Fe
+3
(Tabela 2.2); outros íons responsáveis
pela coloração de gemas são cromo e titânio.
Tabela 2.2: Configurações eletrônicas de ferro, cromo e titânio, conforme seus estados de oxidação.
Elemento Químico
Peso Atômico (Z)
Configurações
Ferro
26
Fe → 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
3d
6
Fe
2+
→1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
3d
2
Fe
3+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
3d
3
Cromo
24
Cr
2+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
3d
2
Cr
3+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
3d
1
Cr
6+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
Titânio
22
Ti
2+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
2
Ti
3+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
4s
1
Ti
4+
→ 1s
2
2s
2
2p
6
3s
2
3p
6
A cor vermelha foi utilizada para o número de oxidação mais comum.
A estrutura cristalina do coríndon é constituída por íons de oxigênio que estão dispostos em
arranjo espacial aproximadamente hexagonal (Figura 2.1). Entre essas camadas de oxigênio localizam-se
cátions ligados a seis íons de oxigênio em coordenação octaédrica, mas, no caso do coríndon apenas dois
terços das posições disponíveis estão ocupados por cátions. Cada face comum a dois octaedros vizinhos é
formada por grupos de três íons de oxigênio, de tal maneira que estes grupos estão ligados a um par de
íons Al (Deer et al., 1966).
Segundo Deer, as dimensões da malha do coríndon sintético ou rubi aumentam linearmente com o
aumento do teor em Cr. A tabela 2.3 apresenta valores da literatura para os parâmetros de cela unitária do
coríndon.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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Tabela 2.3: Dados estruturais para o coríndon Al
2
O
3
(Ishizawa et al., 1980).
Al
2
O
3
Cela unitária
a (Å)
4,754
c (Å)
12,99
V (Å
3
)
254,25
(g/cm
3
)
3,99
Grupo espacial
P6(3)/mmc
Posições atômicas
z (Al)
0,3523
x (O)
0,3064
Figura 2.1: Estrutura Atômica do Coríndon segundo dados de Ishizawa et al. (1980).
Embora a forma alfa-alumina -Al
2
O
3
) seja a única encontrada na Natureza, conhecem-se
modificações produzidas a partir de trabalhos experimentais e de síntese, estas compreendem a forma beta
alumina -Al
2
O
3
) que é hexagonal e pode conter álcalis e Ca, e a gama alumina -Al
2
O
3
) que é cúbica,
todas estas formas se convertem em coríndon por aquecimento (Deer et al., 1966).
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Berilo
Esmeralda é uma variedade do grupo berilo. Dentre as variedades gemológicas deste grupo ela é a
de maior importância do ponto de vista econômico, considerada preciosa desde o início dos tempos,
apresentando presença marcante em todas as civilizações seja pela sua utilização como gema ou por seu
uso industrial (Polli, 2006). Seu nome tem origem no grego smaragdos”, cujo significado está
relacionado à coloração deste mineral, o verde (Sauer, 1982).
Historicamente as primeiras minas a serem exploradas foram as do Egito. Atualmente os
principais produtores de esmeraldas no mundo são: Colômbia, Brasil (Bahia, Minas Gerais e Goiás),
Zâmbia, Zimbábue, África do Sul, Moçambique, Rússia, Tanzânia, Gana, Índia, Paquistão, Afeganistão,
Austrália e Estados Unidos. No Brasil os primeiros depósitos de importância comercial desta nobre gema
foram localizados na Bahia, em julho de 1963, quando foram descobertos no povoado chamado Salininha,
nas proximidades do rio São Francisco, belos exemplares de esmeraldas de um verde muito intenso. Em
princípio esta descoberta foi altamente discutida e contestada devido ao seu agente cromóforo, o vanádio,
que na ocasião ainda não era conhecido como um dos elementos responsáveis pela cor em esmeraldas
(Baião, 2009).
As primeiras referências históricas do berilo e sua utilização em jóias primitivas remontam ao
paleolítico (Polli, 2006). Para Sinkankas (1981), as primeiras informações mineralógicas foram
apresentadas por R.J. Haüy em 1801 e J.B.R. Lisle em 1872, que descreveram, respectivamente, as
variações das formas cristalográficas e sua representação por meio de um conjunto de letras. Porém,
somente no século XX, com estudos mais avançados de sua estrutura interna, como os de Bragg & West
(1926), é que a disposição dos átomos na rede cristalina do mineral foi determinada e sua estrutura
definitivamente reconhecida como pertencente ao sistema cristalino hexagonal.
O berilo pode ser encontrado em diferentes tipos de depósitos. Comumente es associado a
pegmatitos graníticos, mas ocorre também em micaxistos nos Montes Urais, estando muitas vezes
associados a depósitos de minérios de estanho e tungstênio.
Além de muitas ocorrências na Europa como na Alemanha, Irlanda, Portugal entre outros, é
encontrado também em várias regiões da África, como Madagascar (especialmente a morganita) e
Trasvaal (esmeraldas), e também na América do Sul. Particularmente, o Brasil é um dos maiores
produtores mundiais, tanto das variedades gemológicas quanto do berilo industrial. Por exemplo, em
Minas Gerais são extraídas esmeraldas, as mais imponentes águas-marinhas (símbolo gemológico do
Brasil), heliodoro e morganita (Cunha, 2008).
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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O berilo industrial é comum na zona gráfica ou mural dos pegmatitos, enquanto que a zona
intermediária pode ser portadora tanto de cristais de berilo industrial quanto de qualidade gemológica,
embora em dimensões menores (Cameron et al, 1949).
Os antigos escoceses a chamavam de pedra do poder. As primeiras bolas de cristais eram feitas de
berilo, mais tarde foram substituídas por cristal de rocha (Cunha, 2008). A esmeralda é freqüentemente
submetida a tratamentos que têm como principal objetivo disfarçar suas imperfeições e melhorar sua cor.
Dentre os tratamentos mais comuns estão o térmico (entre 400 e 450 ºC, muito utilizado para eliminar
traços amarelos), o preenchimento de fraturas ou cavidades, a impregnação com óleos, ceras, resinas ou
plásticos, e o tingimento com substâncias corantes (Baião, 2009).
Assim como o rubi e a safira, a esmeralda sintética existe desde 1848, produzida essencialmente
para uso em joalheria, e fabricadas por dois processos, o método de fluxo e o método hidrotermal, que
simulam artificialmente as condições naturais de crescimento (Guimarães, 2002).
A síntese de esmeralda iniciou-se na França em 1848, quando Jacques Joseph Ebelman
recristalizou esmeraldas em em um fluxo com óxido de boro (Schmetzer, 2002). O método de fluxo,
realizado a temperaturas próximas a 1300 ºC em um cadinho de platina e utilizando um solvente de alta
temperatura (fluxo), faz cristalizar sobre uma pequena semente (que serve como orientador ótico), a sílica
e os óxidos de alumínio e berílio, além do óxido de cromo, que dará cor à gema. Por serem geradas em
altas temperaturas, as esmeraldas deste tipo não possuem moléculas de água em sua estrutura (Guimarães,
2002).
Por outro lado, o método hidrotermal é o que melhor representa as condições naturais de gênese
de uma esmeralda, sendo similar à síntese pelo método de fluxo, porém realizado a temperaturas bem mais
baixas (em torno de 700 ºC) e pressões entre 500 e 1500 atm (Guimarães, 2002).
O primeiro crescimento de esmeraldas em condições de laboratório foi feito por Ebelman em 1848
quando dissolveu de esmeralda natural em ácido bórico e conseguiu recristalizar pequenas placas
hexagonais de esmeralda. Em 1888, Hautefeuille e Perrey obtiveram esmeraldas sintéticas usando
solventes como o molibdato de lítio, Li
2
Mo
2
O
7
. Em 14 dias trabalhando a 800 ºC, obtiveram pequenos
cristais de 1 mm de esmeralda sintética e também descobriu que em temperaturas mais altas se forma a
fenaquita, Be
2
SiO
4
(Schwarz, 1987).
Em 1911, Espig começou a trabalhar na obtenção da esmeralda sintética para a IG-
Farbenindustrie. Sua primeira constatação foi que o método de recristalização de esmeralda não fornecia
bons resultados, já que não podia controlar a nucleação. Neste método os componentes eram dissolvidos
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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em várias zonas do cadinho, para que ao se espalharem, fosse encontrada uma zona adequada na qual se
pudesse cristalizar a esmeralda (Tendero, 2006).
O fundente utilizado foi o molibdato de lítio, com uma densidade de 2,9 g/cm
3
, para que os
componentes pesados (como o óxido de alumínio e óxido de berílio) ficassem no fundo do cadinho e os
componentes leves (como a lica) ficassem flutuando na superfície do mesmo. O cromato de lítio foi o
responsável pela coloração, e a temperatura do processo era de 800 ºC (Tendero, 2006). No interior do
cadinho foi colocada uma platina móvel em uma posição determinada visto que os cristais que cresciam
tendiam a ficar na superfície do fundido deformado e desta maneira ficavam limitados em uma zona na
qual podiam crescer livremente. Para poder realizar o crescimento do material durante longos períodos de
tempo adaptou um tubo de platina que chegava ao fundo do cadinho pelo qual podia adicionar os óxidos
metálicos (Tendero, 2006).
Os tamanhos dos cristais obtidos por este método superavam os 2 cm em um ano, porém estavam
tão cheios de inclusões que resultavam em cristais opacos. As esmeraldas obtidas foram comercializadas
com o nome de “Igmerald” (Tendero, 2006).
Espig não deve ter publicado seus trabalhos até 1960, já que seus estudos não tiveram influência
sobre os trabalhos desenvolvidos em outros laboratórios dedicados à fabricação de esmeralda: Carrol
Chathan e Pierre Gilson chegaram a conclusões parecidas para a metodologia a ser aplicada na obtenção
deste mineral (Tendero, 2006).
Hacken, em 1916, também obteve esmeraldas sintéticas. Este pesquisador havia trabalhado com
solventes conhecidos utilizados na obtenção de quartzo hidrotermal, supôs-se assim que as esmeraldas
obtidas eram fabricadas pelo mesmo procedimento. Porém, modernamente, Nassau demonstrou por
espectroscopia no infravermelho que não existia água no interior destas esmeraldas, confirmando ao
mesmo tempo em que estas haviam sido obtidas por fase fundida com molibdato de lítio (Tendero, 2006).
A família do berilo pertence a mais alta classe simétrica do sistema cristalino hexagonal, a classe
dihexagonal-dipiramidal, D6
h
6/mmm (Hochleitner, 2002). O berilo possui 4 eixos cristalográficos dos
quais 3 são coplanares formando ângulos de 120º entre si. O quarto eixo posiciona-se ortogonalmente aos
demais. As principais propriedades e características cristalográficas, mineralógicas e geológicas
encontram-se resumidas na Tabela 2.4. Seu hábito pode ser prismático longo ou curto, adquirindo um
aspecto tabular. É comum apresentar-se em cristais individuais, euédricos perfeitos e, raramente, em
agregados. Em geral, apresenta predominância das faces do prisma (1010) em combinação com as do
pinacóide basal (0001), sendo menos comuns as faces das pirâmides (1211) e (1011) e do prisma
dihexagonal (1120). As faces dos prismas são, normalmente, estriadas verticalmente. Às vezes, cristais
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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16
gemológicos oriundos de corpos de substituição em pegmatitos exibem prismas dihexagonais e
terminação complexa com várias faces da pirâmide. As geminações raramente ocorrem no berilo segundo
os planos (3141) e (1120) (Polli, 2006).
Em sua forma ideal, o berilo pode exibir hábitos que vão do acicular ao tabular fino e prismático,
que constitui o tipo mais comum encontrado, com prismas de seis a doze faces, em geral com terminações
basais (Figura 2.2).
Figura 2.2: Algumas variedades de cristais de berilo, de atlas de cristalografia
de Goldschimd (1913) in Hochleitner (2002).
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Tabela 2.4: Sumário das principais propriedades e características cristalográficas, mineralógicas e geológicas do
berilo (Roberts et al,. 1974; Mauriño, 1976; Dana & Hurlbur Jr, 1976; Betejtin, 1977; Tröger, 1979; Webster, 1983;
Deer et al,. 1966; Klein & Hurlbut Jr, 1993; Schumann, 1995; Gandini et al., 2001; De Carvalho, 2004) (Polli,
2006).
Simetria
Sistema hexagonal
Classe 6mmm ou 6/m2/m2/m
Grupo espacial
P6/mcc
Ângulos axiais
α = 90º
β = 90º
γ = 120º
Cela unitária
a = 9,200 a 9,230
Å
c = 9,187 a 9,249 Å
relação axial a:c
= 1:0,996
Hábito
prismático com terminações multifacetadas, algumas vezes exibindo 12
lados em seção transversal, com estrias ao longo do eixo c. Também
com hábito tabular
Principais reflexões
RX
2,867 Å (100)
3,254 Å (95)
7,980 Å (90)
Fórmula
Be
3
Al
2
Si
6
O
18
Impurezas
álcalis: Li, Na, k, Rb, Cs
H
2
O, Ca, Mg, Fe
+2
, Fe
+3
, Cr, V, CO
2
, He,
Ar, Ti, P, Ba, Zr, Sr, SC, Zn
Calcinação
calcinado libera água e/ou voláteis
Solubilidade
insolúvel na maioria dos ácidos, exceto ácido fluorídrico
Tenacidade
quebradiço; pulveriza-se facilmente ao choque mecânico
Fratura
Assimétrica de irregular a conchoidal
Clivagem
pinacoidal basal imperfeita {0001}
Traço
branco
Dureza relativa
7 ½ - 8,0 (Escala de Möhs)
Densidade relativa
2,62 a 2,67 quando puro, podendo chegar a 2,91 em álcali-berilo
Brilho
vítreo
Diafaneidade
transparente a translúcido
Cores
Amarelo, amarelo-ouro, azul, azul-esverdeado, incolor, rosa, verde e
vermelho
Dados ópticos
n
ω
= 1,557 a 1,599 uniaxial negativo dispersão = 0,014
n
ε
= 1,560 a 1,602 b = 0,004 a 0,009 2 V
z
de 0 a 17º biaxilidade
anômala
Pleocroísmo
água-marinha azul (distinto) incolor a azul, azul-claro, azul-celeste
água-marinha azul/verde (distinto) verde-amarelo a incolor, verde-
azulado
bixbita (distinto) púrpura, incolor
esmeralda natural (distinto) verde, verde-azulado e verde-
amarelado
esmeralda sintética (distinto) verde-amarelo, verde-azulado
heliodoro (fraco) amarelo-dourado, amarelo-limão
morganita (distinto) rosa-pálido e rosa-azulado
Espectro de Absorção
não há um definido; os espectros são diferentes para cada variedade
Fluorescência
morganita: rosa-fraco a violeta
Ocorrência
jazidas primárias
drusas em granitos e pegmatitos graníticos, sienitos
nefelínicos, mica xistos, mármores, greisen, veios
hidrotermais e pneumatolílicos ou como acessório
em rochas ígneas ácidas
jazidas
secundárias
Aluviões e colúvios
Paragênese
quartzo, cassiterita, turmalina, feldspato, micas, topázio, crisoberilo,
fenaquita, fluorita, espodumênio, ferrocolumbita, tantalita, trifilita, etc.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
18
Trata-se de um material uniaxial negativo, mas pode desenvolver cristais ortorrômbicos biaxiais,
com ângulo 2 V de até 17º. Essa biaxiliadade é anômala, sendo, provavelmente, resultante do aumento de
tensões internas, causadas por substituições químicas e/ou defeitos surgidos durante o crescimento do
cristal, por diminuição rápida da temperatura ou da pressão, ou ainda por deformação mecânica sofrida
pelo material em decorrência da entrada de álcalis em sua estrutura (Dana & Hurlbut Jr., 1976).
As orientações das inclusões minerais aciculares ou das cavidades de inclusões fluidas podem
proporcionar ao berilo os fenômenos de asterismo, com seis ou doze pontas e acatassolamento (berilo
olho-de-gato), realçados pela lapidação em forma de cabochão (Bauer, 1968; Schumann, 1995).
A cor do berilo é geralmente branca e verde pálida ou verde amarelada, e é freqüentemente opaco.
As variedades límpidas e transparentes são classificadas como água-marinha quando têm cor verde pálida,
verde amarelada ou verde azulada, enquanto que a variedade esmeralda tem uma cor verde clorofila muito
viva. O berilo gema, amarelo dourado ou âmbar, é por vezes conhecido como heliodoro e a variedade cor-
de-rosa foi denominada morganita (Deer et al., 1966). A grande variedade de cores em berilo (amarelo,
azul, incolor, rosa, verde, vermelho) está relacionada principalmente à presença de certos metais de
transição, tais como, Fe
+2
, Fe
+3
, Mn
2+
, Mn
3+
, Cr
3+
e V
3+
, que podem substituir o Al
3+
, o Be
2+
, ou ambos.
Deficiência em Al
3+
resulta na substituição e incorporação de íons mono e bivalentes (Gaines et al, 1997).
O berilo pertence à classe dos silicatos, subclasse ciclossilicatos e grupo do berilo que inclui os
aluminossilicatos de Be, Mg e Fe: sekaninaita (Fe
2+
, Mg)
2
Al
3
(AlSi
5
O
18
), bazzita Be
3
(Sc, Fe)
2
Si
6
O
18
,
indialita Mg
2
Al
3
(AlSi
5
O
18
) e cordierita (Mg, Fe
2+
)
2
Al
3
AlSi
5
O
10
.H
2
O (Polli, 2006).
As espécies minerais do grupo do berilo são silicatos de berilo e alumínio, representados pela
fórmula cristaloquímica geral Be
3
Al
2
Si
6
O
18
, com valores aproximados de BeO 14%, Al
2
O
3
19% e
SiO
2
67% (Deer et al.,1966) ou R
1+
Be
3
R
3+
R
2+
Si
6
O
18
, onde R
1+
= Na, K, Cs; R
3+
= Al, Fe, Cr, Sc e R
2+
=
Fe, Mn, Mg (Schaller et al., 1962). Nenhuma análise, porém, resultados que correspondem exatamente
a esta fórmula (Correia-Neves et al., 1984). O berilo, embora seja normalmente considerado como
Be
3
Al
2
Si
6
O
18
, possui uma grande quantidade de outros elementos secundários em sua estrutura principal,
que aparecem em substituição ao alumínio ou dentro dos canais estruturais. As impurezas usuais, que
compõem uma parte substancial da maioria das variedades de berilo, são álcalis (Na, Li, Cs, Rb, K) e em
menor abundância H
2
O, Ca, Mg, Mn, Fe
2+
, Fe
3+
, Cr, CO
2
, He e Ar (Beus, 1966).
O teor total de álcalis pode atingir cerca de 5 a 8 %. Além do Na e Li, também se encontram os
íons de maior raio iônico, K e Cs, enquanto que o Rb é o menos freqüente. Nestes berilos com álcalis, o Li
substitui o Al nas posições octaédricas e o Al substitui algum Be nas posições tetraédricas. A carga
positiva adicional é, então, fornecida pelos cátions alcalinos de maior raio iônico, situados nos canais da
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
______________________________________________________________________________________________
19
estrutura. Desta maneira pode-se considerar o berilo como uma série isomorfa entre o Be
3
.Al
2
.Si
6
.O
18
e o
(Na, Cs) Be
2
AlLi.Si
6
O
18
(Schaller et al, 1962). Estes últimos autores postularam também a existência de
um terceiro termo extremo, o berilo <femag>, de composição (Na,K,Cs).Be
3
.R
+3
R
+2
.Si
6
O
18
, tendo em
conta o ferro, magnésio, etc., encontrados em algumas análises de berilos cuidadosamente purificados (por
exemplo a tabela 2.5): desta maneira o R
+3
seria o Al, Fe
+3
, Cr e Sc, e o R
+2
o Fe
+2
, Mn e Mg (Schaller et
al, 1962). A cor verde da variedade esmeralda está geralmente associada com o Cr.
As variações na composição química do berilo, particularmente o conteúdo em álcalis e H
2
O,
estão intimamente correlacionadas com as características geoquímicas e paramagnéticas dos sistemas
geológicos onde as variedades de berilo são geradas (Beus, 1966). Mesmo os berilos com qualidades de
gemas podem conter apreciável quantidade de H
2
O
+
. Embora tenha sido sugerido que algum Si possa ser
substituído pelo (OH), como na hidrogrossularita, é mais provável que a água seja de natureza zeolítica e
esteja armazenada nos canais da estrutura (Deer et al., 1966).
Tabela 2.5: Análises de berilo (Deer et al., 1966).
1. Berilo verde pálido, Nova Zelândia.
2. Berilo límpido vítreo, pegmatito de Varuträsk, Suécia.
3. Berilo róseo, zona mais interna de um granito pegmatítico.
4. Berilo azulado alcalino, pegmatito, Condado de Mohave, Arizona Schaller.
Estruturalmente é definido por anéis planos de Si
6
O
18
empilhados um sobre o outro ao longo do
eixo c. De acordo com Hochleitner (2002), cada anel de Si
6
O
18
é constituído de seis tetraedros de SiO
4
e
rotacionados 30º em relação aos anéis abaixo e acima dele. Estes anéis estão conectados a dois octaedros
Análises
1
2
3
4
SiO
2
65,14
64,16
61,88
59,52
TiO
2
0,06
----
0,01
0,05
Al
2
O
3
18,20
18,73
17,10
10,63
Cr
2
O
3
----
----
----
0,09
Fe
2
O
3
0,65
0,28
0,08
2,08
FeO
0,28
----
----
2,24
BeO
12,82
12,98
10,54
12,49
MnO
----
----
----
0,29
MgO
0,50
----
0,22
2,16
CaO
vest.
----
0,44
0,11
Na
2
O
0,40
1,27
2,50
1,16
K
2
O
0,05
0,39
----
0,16
Li
2
O
----
0,08
0,60
0,23
Cs
2
O
----
0,42
4,13
6,68
H
2
O
+
1,98
1,44
2,26
1,62
H
2
O
0,23
0,02
0,16
----
Total
100,31
99,77
99,92
99,88
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
20
de alumínio e três tetraedros irregulares de berílio para criar a estrutura 3D (Figura 2.3), sendo que os íons
de Al
3+
são coordenados por seis íons de O
2-
, e os íons de Be
2+
por quatro íons de O
2-
.
Figura 2.3: Estrutura do berilo vista de um ângulo oblíquo, Hochleitner (2002).
A característica principal na estrutura (a ≈ 9,21 Ǻ c ≈ 9,20 Ǻ, Z=2 ) do berilo (Figura 2.3) consiste
na presença de anéis hexagonais compostos de seis tetraedros de Si-O (Deer et al, 1966), formando canais
contínuos paralelos ao eixo c do cristal e que podem estar preenchidos por íons (Aurisicchio et al.,1994)
e/ou moléculas (água, por exemplo). Para Deer et al. (1966), no interior dos anéis de cada grupo SiO
4
,
dois átomos de oxigênio são compartilhados por dois outros tetraedros de SiO
4
adjacentes, de modo que o
radical dos anéis seja representado por [Si
6
O
18
]
12-
, com uma relação Si:O igual a 1:3. Os átomos de
alumínio (Al
3+
) e berílio (Be
2+
) estão posicionados, alternadamente, entre os anéis, sendo cada átomo de
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
______________________________________________________________________________________________
21
alumínio coordenado por um grupo octaédrico de seis átomos de oxigênio [AlO
6
]
9-
e cada átomo de berílio
coordenado por quatro átomos de oxigênio [BeO
4
]
6-
, formando um tetraedro distorcido. Os oxigênios dos
anéis [Si
6
O
18
]
12-
vizinhos se unem tanto lateral como verticalmente pelo alumínio e berílio.
A estrutura é, portanto, semelhante a um favo e, de acordo com esta configuração, o berilo deixa
canais na estrutura do cristal de poucos angstrons de diâmetro. Outros elementos podem aparecer
substituindo o alumínio em posição octaédrica, ou acomodado dentro dos canais estruturais. Em Schaller
et al. (1962) é sugerido que o berilo poderia ser considerado uma rie isomórfica entre Be
3
Al
2
Si
6
O
18
e
(Na, Cs) Be
2
AlLi.Si
6
O
18
e um terceiro membro ferromagnesiano de composição
(Na,K,Cs)Be
3
R
3+
R
2+
Si
6
O
18
, onde R
3+
seria Al, Fe
3+
, Cr e Sc e R
2+
incluiria Fe
2+
, Mn e Mg (Viana, 1997).
Segundo Deer et al. (1992), a presença de álcalis (R
2
O) pode chegar até 7% em berilo ígneo; e em
variedades hidrotermal pode ultrapassar 14% (Evans e Mrose, 1968).
Devido à sua complexidade química e estrutural, existe um número expressivo de trabalhos
envolvendo a fórmula estrutural, os elementos usualmente incorporados e localizações. Os principais
trabalhos estão resumidos na Tabela 2.6, onde se pode observar que há controvérsias em relação à posição
estrutural dos íons, principalmente dos metais alcalinos.
Em certas variedades do berilo, além do Na
+
e Li
+
podem ser encontrados também íons de raio
iônico maior, como K
+
e Ca
+
, mas, no entanto, o Rb
+
é menos freqüente. Nos casos de berilo com álcalis,
o Li
+
substitui o Al
+3
nas posições octaédricas e o Al
+3
substitui algum Be
2+
nas posições tetraédricas. A
carga positiva adicional é, então, fornecida pelos cátions alcalinos de raios iônicos maiores situados nos
canais da estrutura. Desta maneira, Schaller et al. (1962), consideram o berilo como uma série isomorfa
entre o Be
3
Al
2
Si
6
O
18
e (Na, Cs)Be
2
AlLiSi
6
O
18
(Polli, 2006).
Wood & Nassau (1968) e Aurisicchio et al. (1994) identificaram, por intermédio de
espectroscopia de absorção no infravermelho, dois tipos de arranjos das moléculas de água nos canais
estruturais de berilo. Água tipo I quando o eixo do dipolo H-H está posicionado paralelo ao eixo c do
berilo e água do tipo II quando o eixo do dipolo H-H é perpendicular ao eixo c (Figura 2.4).
Este fato implica na presença de álcalis como impureza nos canais, produzindo a atração
eletrostática que provoca a rotação da molécula de água, de forma que o íon O
-2
fique ao lado do álcali
(Polli, 2006).
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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22
Tabela 2.6: Dados da literatura sobre fórmulas estruturais e elementos usualmente incorporados (Polli, 2006).
Fórmula estrutural
Elementos usualmente incorporados (localização)
Referências
Be
3
Al
2
Si
6
O
18
.nH
2
O
pode ocorrer até 15% de substituição Li
+
→ Be
2+
Belov (1958)
substituição Li
+
→ Be
2+
Na
+
e Cs
+
(canais)
Bakakin & Belov (1962)
n varia de 0 a 1, correspondendo a 4% em peso
H
2
O → sítios 2a (0,0,¼) e 2b (0,0,0)
Bakakin & Belov (1962)
Deer etal. (1966)
substituição Li
+
→ Al
3+
substituição Al
3+
→ Be
2+
OH
-
(canais)
Beus (1966)
Evans & Mrose (1968)
H
2
O, Cs
+
, K
+
e Rb
+
(sítio 2a)
OH
-
e Na
+
(sítio 2b)
Sherriff et al. (1991)
H
2
O (sítio 2b)
Na
+
(sítio 2a)
Aurisicchio et al. (1994)
R
+1
Be
3
R
3+
R
2+
Si
6
O
18
R
1+
= Na, K, Cs
R
3+
= Al, Fe, Cr, Sc
R
2+
= Fe, Mn, MG
Schaller et al.(1962)
Be
3
Al
2
Si
6
O
18
(Na, Cs) Be
2
Al (Al, Li) Si
6
O
18
(Na, K, Cs) Be
3
R
3+
R
2+
Si
6
O
18
série isomórfica
R
3+
= Al, Fe, Cr, SC
R
2+
= Fe, Mn, MG
Schaller et al. (1962)
Be
3
Al
2
Si
6
O
18
álcalis (Na, Li, Cs, Rb, K)
Ca, Mg, Mn, Fe
2+
, Fe
3+
, Cr, H
2
O
,
CO
2
, He, Ar
Beus (1966)
álcalis (Li, Na, Cs, Rb, K) e H
2
O
Fe
2+
, Fe
3+
, Mg, Mn, Ti, V, Cr, P, Ba, Zr, Sr, SC, Zn, Ca
Deer etal. (1966)
A
2-3
B
2
[Si
5
(Si, Al)]O
18
metais alcalinos e de transição podem localizar-se
intersticialmente entre dois Be
2+
ou dois Al
3+
Feklichev (1963)
Bakakin et al. (1970)
H
2
O e Cs
+
(sítio 2b)
Na
+
(sítio 2a)
Hawthome & Černý
(1977)
as insuficiências dos íons Be
2+
, Al
3+
e Si
4+
são
preenchidas por H
2
O e metais alcalinos
Schwarz (1987)
A = Be, Mg, Fe
B= Al, SC, Fe
Gaines et al. (1997)
[A] X
3
Y
2
T
6
O
18
A= vacâncias e canais:
H
2
O
,
OH
-
, Na
+
, Ca
2+
, Fe
2+
, K
+
, Cs
+
, Rb
+
, Li
+
(?)
X= sítio tetraédrico:
Be
2+
, Al
3+
, Li
+
, Si
4+
Y= sítio octaédrico:
Al
3+
, Fe
2+
, Mg
2+
, Fe
3+
, Ca
2+
, Mn
2+
, Cr
3+
, V
3+
, Te
4+
, Sc
3+
T= sítio tetraédrico
Si
4+
Gaines et al. (1997)
Al
2
Be
3
Si
6
O
18
.zH
2
O
R
f
Al
2
Be
2
LiSi
6
O
18
.zH
2
O
R
f
AlMe
2+
Be
3
Si
6
O
18
.zH
2
O
berilo “normal”, tipo I solução sólida de sistema
ternário
berilo “tetraédrico”, tipo II R
f
= Cs, Rb, K, Na
berilo “octaédrico”, tipo III Me
2+
=Fe
2+
, Mg
2+
, Mn
2+
,
Cr
3+
, Fe
3+
, Ti
4+
Aurisicchio et al. (1988)
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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23
Figura 2.4: Representação de um cristal de berilo paralelo ao eixo c apresentado o posicionamento espacial das
moléculas de H
2
O tipo I e H
2
O tipo II na estrutura do berilo (Gandini, 1999; modificado de Aurisicchio et al., 1994).
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Capítulo 3
Métodos de Síntese
Neste capítulo serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para a síntese de
coríndon e berilo, conforme os objetivos propostos neste trabalho. O fluxograma da Figura 3.1 resume as
etapas desenvolvidas nos experimentos de síntese das gemas e do material de partida.
SÍNTESE DE RUBI
SÍNTESE DE SAFIRA
SÍNTESE DE ESMERALDA
Figura 3.1: Fluxograma representativo das atividades de síntese realizadas neste trabalho.
(a) Método de Gelificação Combustão
Todo cristal é um sólido que pode ser classificado como sendo perfeitamente ordenado. Os átomos
de um cristal estão dispostos de maneira regular e respeitam um determinado padrão, chamado cela
cristalina, que se repete periodicamente em qualquer direção dentro do domínio do cristal. O diamante,
quartzo e o rubi são exemplos de cristais encontrados na natureza (Christman, 1988).
Técnicas artificiais de obtenção de sólidos cristalinos geralmente não nos fornecem como produto
final um único cristal, mas vários deles. Nesse caso, esses materiais, chamados de sólidos policristalinos,
podem ser parcialmente classificados conforme o tamanho médio dos cristais, ou grãos, que o formam
(Christman, 1988).
Síntese de Gemas:
Método do Fluxo
Síntese do Material Precursor
Método de Gelificação-Combustão:
Al
2
O
3
Nanoestruturado
Material Precursor Convencional
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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25
Um material policristalino pode ter diversos tamanhos de grão, no caso deste trabalho o material
apresenta grãos nanométricos (da ordem de 10
-9
m), dessa forma chamam-se tais materiais de
nanoestruturados.
Materiais nanoestruturados é objeto de pesquisa em todo o mundo. Em particular, óxidos
nanoestruturados têm sido muito estudados durante as últimas duas décadas, pois a diminuição do
tamanho do grão proporciona mudanças que, muitas vezes, melhoram diversas propriedades desses
materiais. Logo, esses novos materiais nanoestruturados com características que não eram antes
encontradas na natureza estão possibilitando um grande número de aplicações tecnológicas que eram
inviáveis há pouco tempo (Lascalea, 2004).
Materiais a base de alumínio desempenham um papel fundamental em muitas tecnologias devido
às suas notáveis propriedades físicas, tais como alto ponto de fusão, alto módulo elástico, alta
transparência óptica, alto índice de refração (1,76 para o comprimento de onda 632,8 nm), estabilidade
térmica e química, baixa superfície ácida e características altamente dielétricas. O Al
2
O
3
pode funcionar
como uma barreira de tunelamento para novos sensores magnéticos e para transistores orgânicos. O
alumínio pode ser um potencial revestimento a ser empregado em alta temperatura com capacidade e
resistência, que tem várias aplicações tecnológicas, como por exemplo no espaço e para a produção de
energia (Abal, 2007). Ligas de alumínio transformam-se em refratários, revestimentos cerâmicos,
abrasivos, vidros, porcelanas, massas de polimento, isoladores elétricos, pastilhas de freio, tintas e
corantes, entre outros produtos. Neste trabalho de investigação Al
2
O
3
é utilizado como material de partida
para a síntese de gemas pelo método do fluxo.
Existem vários métodos para a obtenção de materiais nanoestruturados, todos eles bem descritos
na literatura. Os principais são coprecipitação, sol-gel, processo dos citratos amorfos, processo do
complexo polimerizado (ou de Pechini), spray-spirólise e gelificação combustão (Lascalea, 2004). Nesta
pesquisa adotou-se o método de gelificação combustão para sintetizar óxido de alumínio nanoestruturado,
utilizando o aminoácido glicina como combustível.
O método de gelificação combustão é muito versátil que se pode sintetizar vários tipos
diferentes de óxidos como, por exemplo: ZrO
2
, SnO
2
, Al
2
O
3
, CeO
2
e manganitas de lantânio e estrôncio.
Além disso, é possível também sintetizar sistemas mistos de óxidos, os quais são especialmente estudados
pelas suas propriedades, melhoradas em relação aos óxidos puros, que permitem muitas aplicações
tecnológicas. Sistemas de óxidos mistos permitem estabilizar, em temperatura ambiente, fases cristalinas
de maior interesse, entretanto esses sistemas não foram estudados aqui.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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26
Esse processo é muito versátil, por não ser pré-fixada nenhuma quantidade estequiométrica dos
reagentes, e os caminhos da síntese podem ser adaptados conforme as peculiaridades do material que se
deseja estudar. Dessa maneira é possível encontrar rotas individuais otimizadas para cada óxido desejado e
assim manter o tamanho nanocristalino do material.
Na síntese por gelificação combustão, parte-se de uma solução dos cátions do material de
interesse, preferivelmente nitratos, adicionando a esta solução o combustível escolhido. A solução obtida
deve ser homogênea e ter o pH ajustado conforme a rota de síntese escolhida. A solução é então
concentrada sobre uma placa aquecedora até que se forme um gel que, em seguida, espumifica e entra em
combustão, dando origem ao óxido nanoestruturado ainda com cinzas (restos de carbono e nitrato de
amônio), que podem ser eliminadas através de calcinação posterior. Em nenhum caso se produziu
precipitado algum durante a etapa de gelificação por concentração térmica e durante todo o processo de
gelificação a homogeneidade do sistema em estudo se manteve inalterada.
A combustão final é rápida e intensa, provocada por um processo redox altamente exotérmico
entre os íons nitrato (fortemente oxidantes) e o combustível orgânico escolhido (redutor) que atua como
combustível. Esta combustão se inicia nas zonas inferiores da massa do gel espumificado adjacentes à
placa aquecedora aonde o conteúdo de água é baixo, liberando um grande volume de gases que causam a
desintegração do gel que então dá lugar ao material sólido (cinzas).
Os pós obtidos por gel-combustão apresentam, em geral, grande área específica e baixo grau de
aglomeração. Também se pode ter o controle sobre a morfologia e quantidade de nanoporos no material
utilizando diferentes tipos e/ou quantidades de combustíveis. O fluxograma na figura 3.2 ilustra as etapas
de síntese em um processo de gelificação combustão:
Figura 3.2: Seqüência que ilustra as etapas de síntese por gelificação combustão, empregando glicina como
combustível.
Al
0
HNO
3 (conc)
H
2
O
Sem Agitação/Com Aquecimento
Glicina
Solução ácida de nitrato
Ajuste de pH
com NH
4
OH
Solução branca viscosa / Solução Azul
Gelificação
Combustão
Calcinação
a 600 até 800 ºC
Dopante
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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27
As reações que ocorrem durante todo o processo estão descritas na Tabela abaixo:
Tabela 3.1: Reações estequiométricas dos reagentes utilizados no método de gelificação combustão.
Al
(s)
+ 6 HNO
3(aq)
→ Al(NO
3
)
3(aq)
+ 3NO
2(g)
+ 3H
2
O
(g)
2Al(NO
3
)
3(aq)
+ 2 C
2
H
5
O
2
N
(s)
→ Al
2
O
3(s)
+ + 5 H
2
O
(g)
+ 4 CO
2(g)
+ 4 N
2(g)
Síntese do Material Precursor Nanoestruturado (Al
2
O
3
) dopado com Cromo
Pesa-se 0,05 mol de alumínio metálico (Al
0
), 5% molar de cloreto de cromo hexahidratado
(CrCl
3
.6H
2
O) e dissolve em ácido nítrico concentrado num béquer de 500/1000 mL colocado sobre uma
placa aquecedora. Após a dissolução de todo o alumínio metálico observa-se se partículas em
suspensão. Havendo partículas filtra-se a solução e, com a solução já filtrada se elevar a solução a 200 mL
com água destilada. Deixando a solução evaporar até um pequeno volume ( ≈ 30 mL). Após este
procedimento, 7,5 g de glicina (combustível) são adicionados à solução que foi então neutralizada com
hidróxido de amônio (verificando com papel indicador universal o pH da solução). Com o pH ajustado, a
solução é colocada novamente sobre a placa aquecedora até a formação de um gel viscoso que espumifica
e entra em combustão, liberando grande quantidade de gases. Ao cessar a combustão, as cinzas originadas
foram analisadas por Difração de Raios X (XRD) e Espectrometria de Raios X por Dispersão em Energia
(EDX), e depois tratadas termicamente, para a eliminação da matéria orgânica ainda existente.
Nas figuras 3.3 e 3.4 são exibidas, respectivamente, fotos das cinzas obtidas em uma síntese por
gelificação combustão de Al
2
O
3
dopada com cromo, e das mesmas amostras após a calcinação:
Figura 3.3: Pós nanocristalinos obtidos em uma síntese
por gelificação combustão de Al
2
O
3
dopada com Cr
2
O
3
(empregando glicina como combustível).
Figura 3.4: Pós nanocristalinos de Al
2
O
3
-
Cr
2
O
3
(empregando glicina como combustível) obtido após a
calcinação das cinzas a 800 ºC durante 2 horas.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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28
(b) Síntese das gemas pelo método do fluxo
O processo utilizado para a ntese dos cristais foi o método do fluxo, no qual a nucleação e
crescimento dos cristais durante a evaporação do fluxo causada pelo aquecimento de uma mistura
contendo material precursor e fundente (Teshima et al, 2007), ou seja, o método baseia-se em dissolver o
material que se pretende cristalizar (a alumina nos casos da síntese de rubis e safiras) em um composto
fundido que atua como solvente. Para isso, a mistura de alumina, dopante e solvente é introduzida em um
cadinho de platina e este em um forno que opere em temperatura adequada.
A metodologia empregada para a síntese da gemas utilizadas neste trabalho é sintetizada no
fluxograma da figura 3.5.
Figura 3.5: Seqüência que ilustra a etapa de síntese de gemas em um processo de fluxo em sistemas de molibdatos.
O problema deste método é que o processo de cristalização, que ocorre com a redução da
temperatura de dissolução, não pode ser observado diretamente (Cornejo, 2004). Neste sentido, a escolha
do solvente pode ser crucial. Um cristal pode ser obtido através da utilização, como um fluxo, de óxido de
lítio-chumbo, óxido (flúor), fluoreto de alumínio/sódio, bórax, lítio, óxido de tungstênio, óxido de
bismuto, óxido de chumbo, óxido de lantânio, e precipitando/crescendo um cristal enquanto a solução
fundida é resfriada (Teshima et al, 2007).
Considere como exemplo uma tigela de água com açúcar, na qual a quantidade de açúcar que se
pode dissolver depende da temperatura. Quanto maior a temperatura, também maior é a quantidade de
Fluxo - MoO
3
Cadinho de platina
1100 ºC / 5 h
Forno elétrico
45 ºC h
-1
até 1100 ºC
Soluto
Resfriamento lento
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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29
açúcar que conseguimos dissolver na solução. Partindo do pressuposto de que a água em alta
temperatura esteja “saturada” de açúcar, ao se diminuir a temperatura esta passará a estar “sobresaturada”,
ou seja, com mais açúcar em solução do que a quantidade de água poderia suportar para aquela
temperatura. Este excesso será o responsável pela formação de pequenos cristais depositados no fundo do
recipiente. Se a temperatura continuar a baixar haverá ainda mais açúcar em excesso, que poderá originar
novos cristais ou mesmo aumentar o volume dos primeiros cristais formados (Cornejo, 2004). Além disso,
a interação de ambos os compostos em solução modifica suas respectivas características, ou seja, a
solução não ferve a 100 ºC e nem congela a 0 ºC, como seria para a água pura, enquanto que o açúcar
cristaliza a temperaturas muito inferiores ao seu ponto de fusão (Cornejo, 2004).
Este comportamento e estas características são conhecidos em detalhes para a mistura de açúcar e
água, sendo fácil prever o resultado de um determinado experimento a fim de obter um resultado exato.
No entanto, isso não é verdade para todas as soluções e muito menos para aquelas utilizadas na técnica de
“fluxo”, salvo algumas exceções (Cornejo, 2004).
Síntese de Rubis, Safiras e Esmeraldas
No processo de síntese de um cristal, a primeira etapa realizada é a de preparação da amostra
precursora, onde um fluxo e a matéria-prima são misturados em gral de ágata para preparar a amostra. Nas
sínteses realizadas neste trabalho utilizou-se, preferencialmente, óxido de molibdênio (MoO
3
) como fluxo.
Neste caso não é possível produzir cristais tabulares, mas sim cristais hexagonais bipiramidais, pinacoidal
e prismáticos (Figura 3.6).
Figura 3.6: Forma hexagonal bipiramidal e pinacoidal do condon (rubi e safira), esmeralda prismática.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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30
Similarmente, podem ser usados também outros compostos que, quando aquecidos, gerem o óxido
de molibdênio através da vaporização de algum de seus componentes, como o carbonato, sulfato, nitrato
e/ou hidróxido de molibdênio.
Para a obtenção de cristais de coríndon vermelho e da esmeralda verde podem ser adicionados
íons cromo ao material de partida (soluto), que passa a apresentar uma composição representada por
Al
2
O
3
:Cr. Esse material de partida pode ser uma mistura de alumina e óxido de cromo. O composto de
cromo não precisa ser limitado a um composto que se funde na etapa de aquecimento/vaporização, mas
que quando aquecido gere íons cromo, como por exemplo, óxido, hidróxido, sulfato, carbonato e nitrato
de cromo. Destes, o óxido de cromo foi o material utilizado neste trabalho para a preparação do material
precursor convencional (adquirido comercialmente). A quantidade de óxido de cromo utilizada na mistura
foi de 0,5 % em massa do total da mistura do rubi e de 1% massa do total da mistura da esmeralda.
Quando dopamos o cristal de coríndon com íons ferro e íons titânio temos a formação de safiras.
Alguns exemplos de compostos que geram os íons de Fe quando aquecidos são: óxido de ferro, hidróxido
de ferro, sulfato de ferro, carbonato de ferro, nitrato de ferro, cloreto de ferro, citrato de ferro, fosfato de
ferro, iodeto de ferro, fluoreto de ferro e oxalato de ferro. Neste caso, a valência do ferro no óxido pode
ser bivalente ou trivalente. Ferro bivalente e ferro trivalente podem ser também misturados. os
exemplos de compostos que geram íons titânio quando aquecidos são: óxido de titânio, nitreto de titânio,
tetraisopropóxido de titânio, oxalato de titânio, sulfureto de titânio, brometo de titânio, cloreto de titânio e
hidratos. Neste caso a valência do titânio em óxido de titânio inclui bivalente, trivalente, tetravalente e
também uma única valência do titânio ou misturas de valências é admissível no material de partida.
No caso das safiras produzidas neste trabalho, o material precursor foi formado por alumina, e
como íons cromóforos o óxido de ferro trivalente e dióxido de titânio. Utilizou-se uma mistura com igual
quantidade em massa dos íons cromóforos, que por sua vez correspondeu a 0,5 % da massa total do soluto.
A quantidade de material precursor utilizado deve ser de 10 % do número total de mols da amostra ou
menor, de maneira a facilitar a fusão do mesmo e sua posterior cristalização.
Os parágrafos a seguir descrevem as etapas de preparação da amostra, aquecimento, vaporização e
resfriamento utilizadas para a produção de cristais de coríndon e ilustrada pelas Figuras 3.8 a 3.11.
Na etapa de preparação, o material precursor e o fluxo foram pesados, misturados com almofariz
(durante 20 minutos) (Figura 3.8) e colocados em um cadinho, que foi então coberto com uma tampa e
levado a um forno ainda em temperatura ambiente (Figura 3.9). No caso dos rubis, foram utilizados 1,004
g de óxido de alumínio, 0,005 g de óxido de cromo e 19,00 g de óxido de molibdênio. Para a síntese de
safiras, utilizou-se 1,004 g de óxido de alumínio, 0,002 g de óxido de ferro, 0,002 g de óxido de titânio e
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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19,00 g de óxido de molibdênio. E na síntese de esmeralda, a mistura berílio (Be
3
Al
2
Si
6
O
18
) foi preparada
a partir do reagente grau 0,4826 g de óxido de alumínio, 0,3556 g de óxido de berílio, 1,7018 g de óxido
de silício, 0,0254 g de óxido de cromo, 19,00 g de óxido de molibdênio e 1,00 g de carbonato de potássio.
As condições de crescimento dos cristais obtidos neste trabalho e os parâmetros de controle do
forno foram definidos, para todas as sínteses da seguinte maneira descritas na Tabela 3.2 a 3.5.
Tabela 3.2: Condições de Crescimento dos Cristais de Rubi.
Amostras
Conteúdo Soluto/g
Fluxo/g
Tempo*
Al
2
O
3
Cr
2
O
3
MoO
3
Horas
R01
1,00495
0,00505
19,00
5
R02
1,0089
0,0051
19,00
5
*Tempo realizado para temperatura máxima de 1100ºC.
Tabela 3.3: Condições de Crescimento dos Cristais de Safira.
Amostras
Conteúdo Soluto/g
Fluxo/g
Tempo*
Al
2
O
3
TiO
2
Fe
2
O
3
MoO
3
Horas
S01
1,5048
0,0076
0,0076
19,00
5
S02
0,9999
0,00505
0,00505
19,00
5
*Tempo realizado para temperatura máxima de 1100ºC.
Tabela 3.4: Condições de Crescimento dos Cristais de Esmeralda.
*Tempo realizado para temperatura máxima de 1100ºC.
Durante o aquecimento, a temperatura foi elevada a uma taxa de 45
o
C/h até que a câmara do
forno atingisse 1100
o
C, e a amostra foi então mantida nesta temperatura durante 5 horas, vaporizando o
fluxo e promovendo o crescimento dos cristais de rubi e safira. as esmeraldas a temperatura ideal para
formação de cristais é de 2 dias a 1100º C. Durante esta etapa a temperatura máxima deve estar,
preferencialmente, entre 1000 e 1200 ºC (Tabela 3.5).
Amostras
Conteúdo Soluto/g
Fluxo/g
Tempo*
Al
2
O
3
BeO
SiO
2
Cr
2
O
3
MoO
3
K
2
CO
3
Horas
E01
0,4826
0,3556
1,7018
0,0254
19,00
1,00
24
E02
0,4826
0,3556
1,7018
0,0254
19,00
1,00
48
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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32
O cadinho utilizado deve ser resistente o suficiente para suportar as temperaturas de processo, bem
como de um material que não reaja durante o mesmo, evitando assim a contaminação das gemas.
Geralmente utiliza-se um cadinho de platina.
Após o aquecimento e vaporização, vem a etapa de resfriamento. Nesta etapa, o cadinho com a
amostra é resfriado dentro do próprio forno até atingir a temperatura de 40ºC.
O forno MUFLA AN1406 possui câmara horizontal aquecida por quatro elementos resistivos de
carbeto de silício. A carcaça metálica é formada por uma caixa interna bipartida, e duas tampas laterais
que formam uma segunda caixa externa. O aquecimento é elétrico e o isolamento feito por placas de fibras
de alumina de baixa densidade (Analógica, 2005).
Figura 3.7: Esquema do forno utilizado na cristalização das gemas (rubis, safiras e esmeraldas) pelo método do
fluxo.
Tabela 3.5: Parâmetros do Forno utilizado na síntese das gemas estudadas.
Amostras
Parâmetros
Aquecimento/
Vaporização
Resfriamento
1_r
ºC
1_f
ºC
2_t
hs
3_r
ºC
3_f
ºC
4_r
ºC
4_f
ºC
5_r
ºC
5_f
ºC
6 end
R01
45
1100
5
150
600
50
550
100
40
final
R02
45
1100
5
30
600
40
40
final
-----
-----
S01
45
1100
5
150
600
50
550
100
40
final
S02
45
1100
5
150
600
50
550
100
40
final
E01
45
1100
24
150
600
50
550
100
40
final
E02
45
1100
48
150
600
50
550
100
40
final
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Na última etapa, a de separação, dissolve-se a amostra restante em água morna com o intuito de
separar os cristais formados do restante do material não cristalizado. Os cristais resultantes apresentaram
forma hexagonal bipiramidal, pinacoidal e prismático, boa transparência e coloração vermelho escuro
(rubi), azul claro (safira) e verde claro (esmeraldas).
Figura 3.8: Ilustração do almofariz com a amostra e o fluxo.
Figura 3.9: Ilustração do cadinho dentro do forno de alta temperatura.
Figura 3.10: Ilustração do cadinho no forno com o cristal em fase de formação.
Figura 3.11: Ilustração do cadinho no forno com cristais formados na parede do cadinho.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Capítulo 4
Técnicas de Caracterização
Este capítulo será dedicado à descrição das técnicas de caracterização utilizadas para o estudo da
estrutura cristalina, estrutura local ao redor dos íons e composição química das gemas. Para isso, foram
utilizadas as técnicas de difração de raios X (XRD), espectroscopia de raios X por dispersão em energia
(EDX) e Ressonância de Spin Eletrônico (ESR).
Figura 4.1: Diagrama dos métodos de caracterização realizados neste trabalho.
4.1 Raios X
Raios X o radiações eletromagnéticas que, como tais, podem ser polarizadas, difratadas,
refratadas e refletidas. Os raios X foram descobertos pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen em 8 de
novembro de 1895, no laboratório do Instituto de Física da Universidade Julius Maximilians, de Wüzburg,
na Bavária. Röntgen tinha interesse na condução elétrica através de gases, e estava investigando o
fenômeno causado pela passagem de uma descarga elétrica em tubos de vidro contendo gases rarefeitos.
Observou que um papel écran, coberto com material fluorescente de platinocianureto de bário, tornava-se
iluminado mesmo quando o tubo era coberto com papel preto e o experimento realizado em um quarto
totalmente escuro.
Essa fluorescência não poderia ser causada pelos raios catódicos, pois os mesmos teriam sido
absorvidos pelo vidro que envolvia o tubo, pela caixa de papelão e pelo ar da sala. Experimentos
posteriores mostraram que a radiação responsável por esta fluorescência era emitida pela parte do vidro
Espectrometria
de Raios X por
Dispersão em
Energia
Ressonância de
Spin Eletrônico
MÉTODO DE CARACTERIZAÇÃO
Difração de
Raios X
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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35
que envolvia o tubo e, também, que os raios viajavam em linha reta e eram absorvidos pela matéria,
contudo, muito menos que os raios catódicos. Röntgen chamou esses misteriosos raios de raios X.
Logo em seguida, Röntgen demonstrou que os raios X têm mais facilidade em atravessar a carne
do que os ossos, mostrando uma radiografia da mão de sua esposa. Röntgen também mostrou que os raios
X podiam ser produzidos com mais eficiência se os raios catódicos atingissem um alvo de metal no lugar
de um tubo de vidro. As novas descobertas de Röntgen rapidamente se espalharam na comunidade
científica, e logo em seguida surgiram várias aplicações para os raios X. A primeira foi a radiografia,
utilizada na medicina e posteriormente na indústria (Rosa, 2004).
Röntgen continuou suas pesquisas e descobriu que um ânodo feito de um elemento pesado, como
a platina, emite raios X mais intensos do que aquelas emitidas por um feito de um metal leve, como o
alumínio. Descobriu também que os raios X sensibilizavam filmes fotográficos e ionizavam um gás se o
atravessasse, e ainda que a penetrabilidade dos raios X aumentava com o aumento da tensão no tubo, entre
outras coisas.
A produção de raios X
Os raios X são produzidos, em geral, com a utilização de tubos de raios X (Figura 4.2). Os tubos
convencionais de raios X devem conter essencialmente dois eletrodos, um ânodo (alvo metálico) e um
cátodo (geralmente um filamento de tungstênio emissor de elétrons). Comercialmente, vários materiais
distintos podem ser utilizados como ânodo, sendo Cu, Cr, Fe e Mo os mais utilizados. Da mesma forma,
geometrias diferentes podem ser empregadas acarretando em feixe de raios X com diferentes formas e
intensidades por unidade de área (Cullity, 1978).
A seleção do tipo de ânodo está relacionada principalmente com a natureza do material a ser
analisado, buscando-se sempre a conjugação ânodo/amostra que apresente o menor coeficiente de
absorção de massa, além de se melhorar o produto resolução x intensidade dos picos do difratograma. Já a
seleção do tipo de tubo e do foco a ser empregado (linha ou ponto) está relacionada à aplicação a ser
efetuada.
Para que o tubo funcione adequadamente é necessária a utilização de uma alta tensão que pode ser
de 50 kV ou mais. O alvo metálico deve ser continuamente resfriado para não se fundir, pois cerca de 99%
da energia cinética dos elétrons incidentes é transformada em calor no alvo e somente 1% em raios X.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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36
Figura 4.2: Esquema de um tubo de raios X
Tabela 4.1: Características do tubo de raios X
Tubo
Foco (mm)
Focal (mm
2
)
Foco ponto (mm)
Foco linha (mm)
Foco normal
1,0x10
10,0
1,0x10
0,10x10
Ânodo
Z
K
(Å)
E de excitação (keV)
(kV)
Cu
29
1,5405
8,98
45
O espectro de radiação gerado a partir do tubo de raios X não é monocromático, apresentando
tanto radiações características do material empregado como ânodo (K
, K
, etc) como também do espectro
contínuo (como mostrado na figura 4.3).
O espectro contínuo é gerado quando os elétrons incidentes interagem com o campo elétrico dos
átomos constituintes do alvo. Este processo envolve elétrons passando bem próximo dos núcleos atômicos
do alvo. A atração entre o elétron e o núcleo faz com que o primeiro seja desviado de sua trajetória,
perdendo parte de sua energia cinética, que é re-emitida na forma de raios X. Esta radiação policromática
é conhecida como "bremsstrahlung", "braking radiation", radiação de freiamento, radiação branca ou
ainda espectro contínuo. Dependendo da distância entre a trajetória do elétron incidente e o núcleo, o
elétron pode perder parte ou toda sua energia. Isto faz com que os raios X de freiamento tenham diferentes
energias, desde valores baixos até a energia máxima igual à energia cinética do elétron incidente.
Quando, por outro lado, um elétron altamente energético proveniente do filamento colide com um
elétron do alvo metálico, ejetando-o, ocorre a formação de uma vacância (por exemplo, na camada K), e
um elétron de uma camada superior dará um salto quântico e ocupará o lugar do elétron ejetado, liberando
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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37
um fóton de raios X característico (de energia bem definida e igual à diferença de energia dos níveis
envolvidos na transição).
Este processo de preenchimento do orbital vazio pode acarretar numa única onda eletromagnética
emitida ou em transições múltiplas (emissão de vários fótons de raios X de menor energia). Como os
níveis de energia dos elétrons para cada elemento apresentam energias muito bem definidas, os raios X
decorrentes deste processo o característicos de cada elemento. Por exemplo, o Cobre emite radiação de
comprimento de onda igual a 1,54Å. Portanto, os raios X que deixam o alvo têm comprimentos de onda
específicos sobrepostos à radiação branca (Lara, 1986; Giacovazzo et al, 1994; Azároff, 1968; Cullity,
1978; Albinati, 1982).
Existem várias linhas de emissão de raios X que são produzidas pelas diferentes transições
eletrônicas permitidas. Quando um elétron da camada K é ejetado, outro elétron de uma camada mais
externa como a L, M ou N, poderá ocupar essa vacância, produzindo uma rie de linhas de emissão de
raios X designadas por K
, K
β
ou K
, que são denominadas de espectro característico. Sendo mais
provável que ocorra a transição de um elétron da camada L, a radiação mais intensa emitida será das
linhas K
. Quando um elétron ocupar a camada K procedente da camada L, que consiste de três níveis de
energia L
I
, L
II
e L
III
, ele poderá ser um elétron do nível II ou III (pelas regras de seleção para as
transições atômicas), produzindo as linhas K
1
e K
2
. Abaixo são mostrados os níveis atômicos de energia
e as emissões de radiação referentes a cada transição.
Figura 4.3: Transições eletrônicas permitidas para o cobre. A diferença de energia entre os níveis corresponde à
energia dos fótons de raios X emitidos.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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38
A seguir descreveremos os métodos de caracterização de Fluorescência de Raios X , Difração de
Raios X realizados no Laboratório de Multiusuário (LAMUTA) e Ressonância Paramagnética de Spin
Eletrônico, realizado no Instituto de Física Universidade Federal de Goiás. Também serão descritas as
montagens em que realizamos as medidas.
4.2 Caracterização Química por Fluorescência de Raios X (EDX)
A técnica de espectrometria de raios X por dispersão em energia (EDX) é muito versátil,
permitindo a identificação e quantificação dos elementos químicos presentes nos mais variados tipos de
amostras. Esta técnica é utilizada em pesquisas na área de materiais (Gitzen, 1970), geociências
(Simabuco, 1993; Simabuco, 1994; Campos, 1999; Dahanayake et al, 1980; Haralyi et al, 1982; Liccardo,
et al 1999), química (Zucchi, 1994; Zucchi et al, 1995), física (Jenkins, 1991; Tertian, 1982), biologia
(Katsanos, 1980) e medicina (IAEA, 1970), e também na indústria (Katsanos, 1980), para o controle da
qualidade de processos e produtos em geral (petroquímicos, farmacêuticos, metalúrgicos e de mineração,
entre outros). A técnica oferece ainda a vantagem de ser (dependendo do processo de preparação das
amostras) um método analítico não destrutivo, permitindo que uma mesma amostra seja analisada também
por outras técnicas (Jenkins, 1999).
Com o desenvolvimento do detector semicondutor de Si(Li), capaz de identificar raios X de
energias próximas, foi possível o surgimento da espectrometria de raios X por dispersão em energia
(energy dispersive X-ray spectrometry, EDX, ou energy dispersive X-ray fluorescence, ED-XRF), com
instrumentação mais simples e barata, além de um emprego mais prático (Bertin, 1975; IAEA, 1970;
Katsanos, 1980; Siegbahn, 1965). Por exemplo, os equipamentos de EDX apresentam uma alta velocidade
para análise quantitativa de amostras.
Assim, de modo resumido, a análise por fluorescência de raios X consiste de três etapas:
Excitação dos elementos que constituem a amostra;
Emissão de raios X característicos pelos elementos químicos presentes na amostra;
Detecção e análise dos raios X característicos emitidos pela amostra.
Na espectrometria de raios X por dispersão de energia (EDX), emprega-se um detector de alta
resolução, capaz de produzir pulsos eletrônicos proporcionais as energia dos fótons de raios X incidentes.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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39
Nesse caso, o mais empregado é o detector de silício ativado com tio, Si(Li), sendo empregado na
detecção de raios X K
emitidos pelos elementos de número atômico na faixa de Na (Z =11) a Sn (Z =50)
e raios X da camada L dos elementos pesados. Devido a sua baixa eficiência para raios X de baixa energia,
não são aconselháveis na detecção dos raios X emitidos por elementos extremamente leves, ou seja, de
número atômico menor que 11.
As análises quantitativas por EDX requerem o uso de métodos para correção dos efeitos de matriz,
como absorção e reforço dos raios X característicos, devido às interações entre os elementos componentes
da amostra (Simabuco, 1993; Simabuco et al, 1994; Zucchi, 1994; Zucchi et al, 1995), e pode atingir
limites de detecção da ordem de 1 a 20 ppm, para amostras sólidas, e de 1 a 20 ppb, para amostras líquidas
(Tertian et al, 1982).
A análise por fluorescência de raios X é um método qualitativo e/ou quantitativo baseado na
medida das intensidades (número de fótons de raios X detectados por unidade de tempo) das radiações
características emitidas pelos elementos presentes na amostra (Bertin, 1975; IAEA, 1970). Um feixe de
raios X incidente excita os elementos presentes na amostra, os quais, por sua vez, emitem raios X com
linhas espectrais características cujas intensidades estão relacionadas à concentração de cada elemento no
material.
Quando um elemento da amostra é excitado (absorve um fóton de raios X), este tende a ejetar os
elétrons de níveis eletrônicos internos e, como conseqüência, elétrons de níveis de maior energia realizam
um salto quântico para preencher a lacuna gerada. Cada transição eletrônica exige a perda de energia por
parte do elétron, que é liberada na forma de um fóton de raios X, de energia característica e bem definida
para cada elemento, cujo valor depende da diferença da energia de ligação do elétron nos dois níveis
quânticos. Conseqüentemente, a energia dos raios X também é diretamente proporcional ao quadrado do
número atômico Z do elemento excitado, quando se considera o mesmo salto quântico.
Para haver produção de raios X característicos há necessidade de se retirar elétrons localizados nas
camadas mais internas dos átomos, por exemplo, camada K, e para isto a energia mínima deve ser superior
à energia de ligação do elétron nessa camada, denominada energia de ligação eletrônica. Esta energia de
ligação eletrônica pode ser calculada de modo aproximado, aplicando-se a teoria atômica de Bohr para o
átomo de hidrogênio e, posteriormente, fazendo-se algumas considerações sobre as experiências de
Moseley. Desse modo, a equação 4.1 permite o cálculo aproximado dessa energia para os elétrons das
camadas K e L dos átomos de um elemento.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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40
222
2
4
8 nh
bZme
E
o
4.1
Nesta equação, E é a energia de ligação eletrônica, m é a massa de repouso do elétron, e é a carga
elétrica elementar do elétron, Z é o número atômico do elemento emissor dos raios X, b é a constante de
Moseley,
o
é a permissividade elétrica no vácuo, h representa a constante de Planck e n é o número
quântico principal do nível eletrônico (n = 1 para camada K, n = 2 para camada L).
nfnix
EEE
4.2
Acima, E
x
é a energia do fóton de raios X característico emitido, enquanto E
ni
e E
nf
representam
as energias do elétron nos níveis inicial e final, respectivamente. Em equipamentos de fluorescência de
raios X que fazem uso de detectores semicondutores para a detecção dos fótons de raios X emitidos, esta
equação é fundamental para se entender a proporcionalidade entre a energia (ou amplitude do pulso
eletrônico produzido no detector) e o elemento a ser analisado.
Os elétrons de um átomo se distribuem em subníveis com energias próximas, conforme pode ser
visualizado na Figura 4.4 para o ferro.
Figura 4.4: Diagrama dos níveis energéticos e intensidades relativas de emissão dos raios X característicos emitidos
pelo ferro.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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41
Percebe-se que, para um elétron do átomo de ferro saltando do subnível L
2
para uma vacância na
camada K, emissão da radiação K

de 6,391 keV, enquanto que no salto do subnível L
3
para a camada
K a radiação emitida é a K
1
, de 6,404 keV. Devido às regras de seleção, a transição do subnível L
1
para a
camada K não ocorre, sendo chamada de transição proibida.
As transições abaixo citadas têm energias muito próximas, não sendo possível separar as radiações
X geradas, mesmo utilizando um detector de alta resolução, como Si(Li). Assim, essas duas transições são
normalmente englobadas em um único pico chamado K
, com energia média de 6,40 keV. O mesmo
acontece com as transições dos subníveis da camada M para a camada K, sendo englobados com a
denominação genérica de raios X K
, conforme pode ser visualizado na figura 4.3.
Para elementos mais pesados (números atômicos mais elevados), a existência de outros subníveis
torna o assunto ainda mais complexo. Devido a isso, a necessidade de uma notação especial, e a mais
utilizada é a de Siegbahn (Liccardo et al, 2000), de 1965, apesar da IUPAC (Liccardo et al, 1999)
recomendar a notação direta (nível final - nível inicial), ou seja, representar os raios X K

, K
1
e K
da
notação de Siegbahn por K-L
2
, K-L
3
e K-L, respectivamente.
Pode-se definir o rendimento de fluorescência como o número de fótons de raios X efetivamente
emitidos em relação ao número de vacâncias produzidas em uma dada camada.
Algumas vezes os raios X característicos interagem com elétrons mais externos do próprio átomo
e, desse modo, são emitidos elétrons Auger de energias também características, conforme esquematizado
na Figura 4.5.
Figura 4.5: Representação esquemática do efeito Auger.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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42
Esse efeito é o responsável pelo baixo rendimento de fluorescência da camada K para os
elementos leves (de número atômico abaixo de 20), da camada L até para os elementos de número atômico
inferiores a 60, e da camada M para praticamente todos os elementos (Figura 4.6).
Figura 4.6: Rendimento de fluorescência das camadas K, L e M em função do número atômico.
A medida da energia de um fóton identifica o elemento químico que o gerou. Quando a amostra é
bombardeada por um feixe de raios X, os vários comprimentos de onda da radiação emitida pela amostra
são separados com base nas suas energias utilizando um detector de Si(Li) (cristal de silício dopado com
lítio) e um analisador multicanal de amplitude (MCA). Este detector produz pulsos com amplitudes
proporcionais à energia do feixe incidente, que são então classificados pelo MCA e utilizados para
determinar os elementos presentes na amostra. Na Figura 4.7 tem-se a representação de um esquema de
medida e dos elementos que compõem um equipamento de EDX.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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43
Figura 4.7: Esquema simplificado do princípio de funcionamento de um espectrômetro de EDX.
A Figura 4.8 apresenta um gráfico de eficiência de detecção desse detector semicondutor em
função da energia dos raios X. A principal desvantagem encontrada nesse detector é a alta mobilidade do
lítio à temperatura ambiente, causando a deterioração de suas características. Conseqüentemente estes
detectores devem ser mantidos permanentemente à temperatura do nitrogênio líquido (- 194
o
C).
Figura 4.8: Eficiência relativa de detecção para o detector semicondutor de Si(Li) de 3 mm de espessura, em função
da energia ou comprimento de onda do raio X, para diferentes espessuras de janela de berílio (25 a 250 m).
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44
Equação Fundamental da Fluorescência de Raios X
Na EDX é de fundamental importância o conhecimento e aplicação da equação básica dos
parâmetros fundamentais quando se utiliza na excitação um feixe de radiação eletromagnética
monoenergética incidindo sobre uma amostra a ser analisada (Jenkis, 1999; Tertian et al, 1982), como a
representada na Figura 4.9.
Figura 4.9: Representação esquemática do feixe de raios X monocromático incidente e policromático emergente
numa amostra de espessura D
Tem-se que
I = c.S.A
4.3
onde: I representa a intensidade líquida dos raios X característicos (cps), c é a concentração
(g.cm
-2
), S a sensibilidade elementar (cps.g
-1
.cm
2
) e A é o fator de absorção (adimensional) para o
elemento de interesse. A sensibilidade elementar S é dada pela equação
.
1
1.. G
j
fwtS
4.4
Aqui, t representa o coeficiente de absorção do elemento para o efeito fotoelétrico na energia da
radiação incidente (cm
2
g
-1
), w o rendimento da fluorescência para raios X da camada K, f a fração dos
fótons emitidos como raios X K
, (1-1/j) a razão do salto na borda de absorção K, G o fator geométrico e ε
é a eficiência do detector para o raio X característico emitido pelo material.
Por sua vez, o fator de absorção A é descrito por:
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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45
D..
1
A
D..
0
o
e
4.5
sendo
0
a densidade (g.cm
-3
), D a espessura da amostra (cm), e
o coeficiente de absorção total
da amostra (cm
2
.g
-1
), dado pela equação
sensen
0
0
4.6
onde: μ
0
e μ são os coeficientes de absorção da matriz (cm
2
.g
-1
) para as energias das radiações
incidentes e dos raios X característicos, respectivamente, e
0
e
o os ângulos das radiações incidente e
emergente, respectivamente, em relação à superfície da amostra.
Multiplicando a equação 4.3 por (
o
.D) no numerador e no denominador, tem-se que
D
D
AScI
0
0
...
4.7
Se considerarmos que
D
c
C
0
4.8
e
DAA ..
0
*
4.9
tem-se que C também representa uma concentração adimensional e A
o fator de absorção,
dimensional (g.cm
-2
). Com isto, pode-se reescrever a equação 4.3 na forma
I = C.S.A
4.10
Para amostras consideradas finas, o fator de absorção na equação 4.5 tem o valor unitário (A
*
= 1)
e para amostras espessas,
D
A
o
..
1
*
4.11
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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46
Análise
Na EDX tradicional, a determinação da sensibilidade elementar é normalmente realizada pela
medida da intensidade dos raios X característicos emitidos pelos elementos de interesse contidos em uma
amostra padrão contendo esse único elemento, onde os efeitos de absorção o desprezíveis. Desse modo
são necessários vários padrões. Pode-se também, a partir de compostos com a menor quantidade de
impureza possível, confeccionar padrões de espessura e concentração conhecidas em laboratório (Jenkins,
1999).
pi
p
i
i
Cs
I
I
C ..
4.12
Aqui, i representa o elemento de interesse, p o elemento utilizado como padrão interno, C a
concentração (em ppm), s a sensibilidade relativa elementar (sem unidade; em relação ao elemento
utilizado como padrão interno) e I a intensidade dos raios X característicos (cps).
Vale a pena ressaltar que existe uma alta correlação matemática entre a sensibilidade elementar e
o número atômico dos elementos. Assim, com base nas sensibilidades elementares dos elementos contidos
na solução padrão multielementar, pode-se estimar a sensibilidade para um elemento detectado na amostra
não contido na solução padrão e conseqüentemente estimar a sua concentração na amostra de interesse. De
maneira análoga, as mesmas equações podem ser utilizadas para a linha K
e outras, como L e M, onde
logicamente as sensibilidades elementares terão outros valores.
Limite de detecção
Em cada pico de um espectro de fluorescência de raios X há uma área devida em parte à
intensidade dos raios X característicos (denominada intensidade líquida) de um elemento i e em parte à
radiação de fundo ou background (BG) naquela região i. Portanto, o limite de detecção LD
i
(cps) para cada
elemento i está diretamente relacionado com a intensidade do background BG
i
(cps) sob o pico desse
elemento (Cortezão, 2001) de acordo com a equação
ii
BGLD .3
4.13
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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47
Este limite pode ser expresso como uma concentração elementar (em ppm) que resulta em uma
intensidade líquida igual a 3 vezes a raiz quadrada da intensidade do BG.
O limite de detecção é mais complicado para os elementos de número atômico abaixo de 13
(Alumínio), pois estes são afetados pelo baixo rendimento de fluorescência e outras limitações bem
conhecidas em energia dispersiva, como o baixo valor para o efeito fotoelétrico, a absorção dos raios X
característicos pela janela de Berílio do detector e pelo meio (ar) entre a amostra e o detector. Trabalhando
sob vácuo e com detector sem janela de Berílio é possível obter bons limites de detecção para elementos
de número atômico mais baixo, como por exemplo, 10 ng para O e 0,8 ng para Mg (Buhrke et al, 1998).
Preparação da Amostras e Condições Experimentais
A técnica de EDX foi utilizada para se determinar a concentração dos elementos químicos
presentes nas diferentes amostras sintetizadas neste trabalho. Sabe-se que as cores das gemas são devidas
a incorporação de elementos químicos ou íons que normalmente estão localizados em ambientes
substitucionais, intersticiais ou sítios estruturais vazios que se localizam nos canais e vacâncias, tais como
o Cr
+3
no rubi, o Fe
+3
e Ti
+4
na safira azul e o Cr
+3
e/ou V
+3
nos berilos.
As impurezas, responsáveis ou não pela cor, normalmente estão presentes em quantidades
variáveis e, quanto ao seu conteúdo, são denominados de elementos maiores, menores e traço. Os
elementos maiores são, por definição, aqueles com concentrações acima de 1,0% em peso, ao passo que
elementos menores são aqueles entre 0,1 e 1,0% (Caravaca, 1999). Abaixo de 0,1%, entra-se no domínio
dos elementos-traço (Rollinson, 1993), sendo que a concentração desses elementos é preferencialmente
expressa em termos de ppm. Além disso, elementos de teor menor em certas amostras podem atingir
proporções de elementos maiores em outras e vice-versa.
Vejamos primeiramente os efeitos da preparação das amostras na análise (Young et al, 1982).
Uma substância que contamine a amostra pode ser fortemente excitada e gerar boa quantidade de fótons
de raios X fluorescentes, ocasionando erros de análise, por isso as mesmas devem ser preparadas com o
máximo cuidado.
A rugosidade e as ranhuras nas superfícies das amostras são fortes causadores de erros. Amostras
que apresentam segregação podem causar erros em análises quantitativas pela diferença de composição
entre a superfície e o interior da amostra.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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48
Amostras de maior diâmetro são mais sensíveis, e por isso são desejáveis. A amostra a ser
analisada deve ser “briquetada” na forma de disco, de superfície plana e área constante, pois será irradiada
com um feixe de raios X, proveniente de uma fonte altamente estabilizada. As leituras das contagens de
cada pico são realizadas segundo um período de tempo fixado, e a radiação de fundo ou Background,
registrado para os cálculos subseqüentes.
Na prática, porém os resultados sofrem a influência de vários fatores, tais como (James, 1950;
Young et al, 1989):
Granulometria da amostra;
Natureza da superfície;
Espessura da amostra;
Efeitos de absorção de massa.
As amostras de síntese estudadas neste trabalho foram inicialmente pulverizadas com almofariz e
pistilo de ágata até que o tato fosse insensível à granulometria da amostra, e posteriormente colocadas em
porta amostra com filme fino de mylar© utilizado nas análises por EDX, como mostrado na Figura 4.10.
Figura 4.10: Porta amostras das gemas sintéticas (esmeralda e safira) para ser medidas por EDX .
A figura 4.11 mostra o Espectrômetro de Fluorescência Shimadzu EDX-700 HS, utilizado nos
experimentos.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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49
Figura 4.11: Equipamento Shimadzu EDX-700HS.
A caracterização química dos elementos foi realizada pela técnica de Fluorescência de raios X por
Dispersão em Energia (EDX), para isso foi utilizado o equipamento de fluorescência de raios X do
Laboratório Multiusuário de Técnicas Analíticas (LAMUTA) localizado no Departamento de Recursos
Minerais/ICET/UFMT. Esse equipamento é da marca Shimadzu, modelo EDX-700HS (Figura 4.11)
equipado com tubo de Rh, feixe de 10 mm de diâmetro e detector de Si(Li). As medidas foram feitas em
vácuo com tempo de aquisição de 200 s por canal analítico. O gerador de tensão do equipamento
possibilita um arranjo de correntes e tensão que variam de 1 a 1000 mA e 10 a 50 keV, respectivamente.
Os espectros foram interpretados através do programa EDX-Software da Shimadzu.
4.3 Caracterização da Estrutura Cristalina por Difração de Raios X
A teoria que define o estudo de materiais cristalinos por difração de raios X baseia-se no fato de
que as distribuições espaciais dos átomos no material definem diferentes planos atômicos que espalham os
raios X, causando interferências construtivas e destrutivas, as quais se manifestam no padrão de difração
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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de raios X como máximos e mínimos. Usando o postulado de Planck (E = hν), Bragg estabeleceu uma
relação entre o ângulo no qual os raios X são difratados e o comprimento de onda desses raios X.
Se considerarmos um cristal como sendo constituído por planos paralelos de átomos
periodicamente espaçados por uma distância d um dos outros, então a estrutura de um cristal pode ser
imaginada ao longo de planos como mostrado na Figura 4.12.
Considere três feixes que incidam na superfície de uma amostra, cada um num plano atômico com
índices de Miller (hkl) formando um ângulo θ com um plano cristalino de espaçamento d. Suponha que
cada feixe seja difratado por um plano diferente. Como estamos supondo reflexão especular, os feixes
difratados formam um ângulo θ com seu plano difratante, e todos saem paralelos. ainda a inversão da
fase de cada feixe difratado, mas é desnecessário levar em conta esta mudança na abordagem matemática
do fenômeno já que é comum a todos os feixes.
Para que haja interferência construtiva, é preciso que a diferença entre os caminhos percorridos
pelos feixes de raios X difratados por dois planos sucessivos seja um múltiplo inteiro do comprimento de
onda, ou seja, Δ = n.λ (onde n = 1, 2, 3, ...).
Figura 4.12: A difração de raios X na visão Bragg.
Analisando a Figura 4.12, concluímos pela geometria da mesma que:
=2dsen
.
4.14
Assim, temos que
n
=2dsenθ.
4.15
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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51
Nesta equação,
é o comprimento de onda dos raios X incidentes, d é a distância entre dois
planos cristalográficos,
é o ângulo de Bragg relacionado ao ângulo de difração 2
. Esta equação é
conhecida como Lei de Bragg, e nos fornece a relação entre o comprimento de onda da radiação incidente,
distância entre planos cristalinos sucessivos dos cristais e ângulo de difração.
O difratômetro de raios X
As amostras a serem analisadas por difração de raios X podem estar na forma de monocristais ou
policristais. As amostras policristalinas são utilizadas na técnica conhecida como método do pó, onde se
utiliza um fino constituído por cristalitos orientados aleatoriamente. As primeiras técnicas para
aplicação do método do foram desenvolvidas a partir de 1920. Os equipamentos mais conhecidos que
se utilizam dessas técnicas são a câmara de Debye-Scherrer e os difratômetros de raios X de pó.
Os difratômetros de raios X foram desenvolvidos um pouco mais tarde, entre 1950 e 1960, sendo
automatizados em 1980. O difratômetro é constituído basicamente por um tubo de raios X, um porta-
amostra onde incide a radiação e um detector móvel, geralmente de cintilação. O uso deste tipo de
equipamento possibilitou melhoras como, por exemplo, rapidez e precisão na coleta de dados por um
detector de raios X e facilidade na preparação e posicionamento das amostras.
O perfil de difração obtido por um difratômetro (ou difratograma de raios X) é um gráfico da
intensidade, medida pelo detector em contagens por segundo, em função do ângulo (direção) na qual a
intensidade é medida. A posição angular do feixe difratado, de acordo com a Lei de Bragg, depende dos
espaçamentos entre os planos de átomos na amostra e do comprimento de onda da radiação. A posição das
linhas de difração possibilitam, entre outras coisas, a identificação de fases cristalinas, a determinação dos
parâmetros de cela unitária dessas fases, bem como a verificação e estudo de mudanças de fase em
materiais cristalinos.
A substituição de filmes por detectores de fótons levou ao desenvolvimento de vários tipos de
geometrias para os difratômetros. A geometria mais utilizada é a de Bragg-Brentano. Nessa geometria, um
feixe de radiação monocromática incide sobre uma amostra de pó (colocada num porta-amostra planar). O
arranjo é tal que quando o porta-amostra faz um ângulo
com o feixe incidente, o detector mede a
intensidade do feixe difratado num ângulo 2
com relação ao feixe incidente, mantendo sempre a
condição de difração. Este acoplamento, denominado de condição de parafoco, assegura que o ângulo de
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52
incidência e o de reflexão sejam iguais à metade do ângulo de difração. A Figura 4.13 mostra de maneira
esquemática a geometria de Bragg-Brentano (Cullity, 1978).
Figura 4.13: Geometria Bragg-Brentano.
Na figura acima, (A) é o Tubo de raios X; (B e I) são Fendas Soller; (C) o Circulo focal; (D)
Fenda de divergência; (E) Amostra; (F) Eixo de rotação da amostra; (G) Círculo do goniômetro; (H)
Fenda antiespalhamento; (J) Fenda de recepção; (K) Detector.
A fonte A gera o feixe de raios X que incide na amostra E após passar pelo colimador de placas
paralelas B (fendas Soller) e pela fenda de divergência D. A amostra sofre uma rotação sobre o eixo F,
perpendicular ao plano da figura.
A função da fenda B é limitar a divergência lateral do feixe de raios X (Figura 4.14), de modo que
a superfície da amostra receba o máximo possível da radiação, mas evitando a irradiação do porta amostra,
que aumentaria a radiação de fundo e diminuiria a razão sinal/ruído.
O feixe difratado passa pela fenda H, pelo colimador I e em seguida pela fenda de recepção J,
sendo detectados pelo detector de radiação K. A superfície da amostra permanece tangenciando o círculo
focal C.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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53
Figura 4.14: Detalhes do feixe de Raios X atravessando a fenda Soller.
O centro da superfície da amostra deve estar no eixo do goniômetro. O eixo do goniômetro deve
estar paralelo ao eixo do foco linear, fenda de divergência e fenda de recepção. Os eixos do foco linear e
da fenda de recepção estão a distâncias iguais do eixo do goniômetro.
No alinhamento do difratômetro deve-se ter atenção especial na determinação dos movimentos do
zero do goniômetro (de
e 2
). Os erros nestes ajustes podem levar a erros nos valores observados de 2
.
Pequenos desvios em
, 2
e da posição da amostra E, podem ser corrigidos pelo método de Rietveld,
porém não realizados neste trabalho, mas a existência desses desvios não é aconselhável (Lara, 1986;
Azároff, 1968; Cullity, 1978; Hill et al, 1987).
A radiação que atinge a amostra pode ser difratada, espalhada ou produzir fluorescência. A maior
contribuição para o surgimento de linhas adicionais no difratograma é a natureza da fonte. A emissão de
CuK
é o tipo de radiação mais utilizada. Os métodos para se obter radiação monocromática (na realidade
dicromática, pois geralmente o dubleto K
1
/ K
2
é utilizado) são:
Utilização de um filtro para a radiação
Utilização de um monocromador no feixe difratado.
O filtro é utilizado principalmente para modificar a razão CuK
e CuK
. Para isso se escolhe um
material para o filtro que possua borda de absorção ("K-edge") entre a radiação K
e K
do elemento do
alvo do tubo, aumentando a razão K
/K
. A figura 4.15 mostra o exemplo do filtro de Ni sobre a emissão
de um alvo de Cu.
Um monocromador consiste de um monocristal, e pode ser colocado entre a fonte e a amostra
(feixe incidente), ou entre a amostra e o detector (feixe difratado). A configuração de feixe difratado é
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mais utilizada porque remove tanto a fluorescência quanto as radiações espalhadas inelasticamente pela
amostra que poderiam atingir o detector, causando o aumento da radiação de fundo e, em geral,
dificultando a análise de dados.
Figura 4.15: (A) espectro de emissão de raios X do Cu mostrando as linha K
e K
e a borda de absorção do Ni. (B)
espectro obtido com o emprego do filtro de Ni (remoção da linha K
e redução do espectro contínuo).
A função do detector de raios X é converter fótons de raios X individuais em pulsos de tensão, que
são contados e/ou integrados pelo equipamento de contagem. Os detectores utilizados em difratômetros
convencionais são geralmente de dois tipos: contador de cintilação e/ou contadores proporcionais a gás.
Destes sistemas o mais utilizado é o contador de cintilação, no qual a conversão dos fótons de
raios X em pulsos de tensão é um processo de dois estágios. No primeiro, o fóton de raios X é convertido
em luz visível, por meio de um cintilador (substância que tem a propriedade de absorver radiação de um
certo comprimento de onda e depois reemitir fótons com comprimento de onda maior. A substância
utilizada é, geralmente, iodeto de sódio dopado com tálio). No segundo estágio, os fótons de luz são
direcionados para um fotocátodo de césio-antimônio, produzindo um grupo de elétrons que são focados
para uma cadeia de dez fotosuperfícies denominadas dinodos. Cada dinodo tem um potencial
sucessivamente maior, e os elétrons produzidos em cada dinodo são acelerados em direção ao seguinte, de
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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modo que em cada dinodo mais elétrons são produzidos com a energia cinética da aceleração. Após o
último dinodo, os elétrons são coletados pelo ânodo e um pulso de tensão é formado.
Os Difratogramas experimentais das gemas sintetizadas neste trabalho foram obtidas utilizando-se
do Equipamento XRD 6000 da Shimadzu pertencente ao Laboratório Multiusuário (LAMUTA/UFMT)
Figura 4.16 e 4.17.
Figura 4.16: Difratômetro de raios X XRD 6000 da Shimadzu.
Figura 4.17: Vista interna do difratômetro de raios X XRD 6000 da Shimadzu.
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Preparação das Amostras para Análise e Condições Experimentais
Para o preparo das amostras foi utilizado o método do pó. As amostras foram pulverizadas em
gral de ágata até alcançarem uma granulometria adequada, e montada em lâminas de vidro, como
mostrado na Figura 4.18.
Figura 4.18: Porta amostra com amostras de Rubi, Safira e Esmeralda sintética respectivamente, para ser medido em
DRX.
As amostras foram analisadas com radiação Cu- (1,5418 Å) monocromatizada por um
monocromador de grafite, tensão e corrente para a aquisição de dados foram de 40 kV e 30 mA, o que
caracteriza potência de 1,2 kW. O difratômetro trabalha com geometria θ - 2θ. Foi feita uma varredura de
10º a 140º, com um passo de 0,01º, e tempo de exposição de 120 minutos por difratograma. Foram
utilizadas fendas de divergência e espalhamento de 0,5º e fenda de recepção de 0,15mm. As medidas
foram realizadas em temperatura ambiente.
4.4 Ressonância de Spin Eletrônico
A Ressonância de Spin Eletrônico (Electron Spin Resonance ou ESR) é uma técnica que permite
detectar e caracterizar átomos que contenham elétrons desemparelhados (espécies paramagnéticas) em
moléculas ou sólidos, sem alterar ou destruir a amostra (Nagano et al, 2002). Alguns exemplos destas
espécies são: radicais livres, biradicais, defeitos pontuais em sólidos ou imperfeições cristalinas. Regulla e
Deffner (1982) definem o fenômeno de ESR como sendo a absorção ressonante de energia
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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eletromagnética em substâncias paramagnéticas pela transição do spin de um elétron desemparelhado
entre diferentes níveis de energia, na presença de um campo magnético.
As primeiras observações experimentais da ressonância paramagnética eletrônica foram
reportadas em 1945 por Zavoisky medindo a potência absorvida na faixa de radiofreqüência, na cidade de
Kazan, antiga URSS. Seus estudos iniciais tratavam da absorção de radiofreqüência em ressonância em
sais de íons de ferro. Este novo método desenvolvido por Zavoisky era mais eficiente, pois ao invés de
observar a quantidade de calor liberado pela substância paramagnética, como fez Gorter (relaxação), ele
começou a medir a redução diminuição da energia do campo de alta freqüência como resultado da
absorção. Com o intuito de obter curvas de ressonância bem resolvidas, ele utilizou uma faixa de
freqüência de 3 GHz, valor acima dos utilizados para a época. Ele não descobriu o fenômeno da ESR
como também investigou algumas de suas propriedades, abrangendo o leque de estudos de relaxação
paramagnética. Cummerow e Halliday, em 1946, também realizaram medições de ESR, mas na região das
micro-ondas.
Atualmente esta técnica é uma das mais populares na caracterização de sistemas magnéticos. Um
dos papéis fundamentais de qualquer técnica de espectroscopia é a identificação da espécie química sob
estudo. Nos casos onde duas ou mais espécies paramagnéticas existem, o espectro das linhas de ESR pode
ser observado simultaneamente a partir de cada uma. Além disso, a ESR é capaz de fornecer detalhes de
estruturas atômicas ou moleculares inacessíveis por outras técnicas.
Umas das muitas aplicações da técnica de ESR é a sua utilização para determinar a concentração
de spins de uma amostra. Para efetuar tal cálculo é necessário que se utilize uma amostra padrão, cuja
concentração de spins seja conhecida. Os padrões mais utilizados são o Strong Pitch e o DPPH.
ESR tem sido aplicada com sucesso em diversas áreas, como Física, Biologia, Química, Geologia,
Ciência Médicas, Ciência de Materiais, entre outras. Tanto sólidos como gases e líquidos são acessíveis a
esta técnica de espectroscopia, e com a utilização de uma variedade de técnicas especializadas junto com a
ESR, pesquisadores são capazes de obter informações detalhadas acerca de muitos tópicos de interesse
científico. Por exemplo, cinética química, interações entre dipolos magnéticos, reações de catálise e
polimerização, etc, todos estudados com grande sucesso.
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Princípio Básico da Ressonância de Spin Eletrônico (ESR)
Se considerarmos a existência de um único elétron desemparelhado em um determinado átomo,
existe associado ao mesmo um momento angular total J (incluindo os momentos angulares orbitais e de
spin) e associado a este um momento magnético total μ
T
. O momento angular total J pode ser escrito
como:
4.16
Enquanto que:
L o momento angular orbital e S o momento angular de spin. O momento magnético total
associado é:
4.17
sendo β o magnéton de Bohr, definido por:
4.18
e g um fator espectroscópico, que é um parâmetro experimental adimensional.
O fator g indica o quanto o momento angular orbital contribui para o momento magnético total do
elétron. De fato, o valor de g é dado pela fórmula de Landè (Eisberg & Resnick, 1979):
4.19
Para um elétron livre (L = 0, J = S) esta relação implica em g = 2, corrigido relativisticamente para
2,00232.
No caso de S = 0 tem-se g = 1.
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Em muitos átomos os efeitos dos momentos magnéticos dos elétrons se anulam e o conjunto se
comporta como diamagnético. em outros átomos e íons os efeitos magnéticos dos elétrons não se
anulam e o conjunto passa a ter um momento magnético resultante μ
T
.
Quando uma amostra, contendo um momento magnético resultante, é colocada na presença de um
campo magnético, os momentos magnéticos dos dipolos atômicos elementares precessionam em torno do
campo aplicado. A freqüência desta precessão é conhecida como freqüência de Larmor. A precessão é tal
que a componente do momento magnético na direção do campo aplicado pode estar orientado
paralelamente ou anti-paralelamente a este campo.
A energia de interação clássica entre o momento magnético e um campo aplicado externamente é
dado por:
4.20
Para um campo externo aplicado ao longo da direção z esta equação implica em:
4.21
onde, H
z
é a intensidade do campo aplicado e μ
Tz
é a componente do momento magnético ao longo da
direção do campo aplicado.
Para o caso do elétron livre, a componente do momento magnético na direção z (direção do campo
aplicado) é dada por:
4.22
e a energia de interação entre μ
Tz
e o campo magnético H
z
é descrita desta forma por:
4.23
Como S
z
é dado por S
z
= m
s
ħ, onde m
s
é o número quântico de spin e para o caso do elétron livre
m
s
= ± ½ , a energia fica dada então por:
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4.24
A diferença de energia entre esses dois estados é dado por:
4.25
Logo a diferença de energia entre os dois níveis é diretamente proporcional ao campo aplicado.
Isto está ilustrado na Figura 4.19.
Figura 4.19: Níveis de energia de um elétron desemparelhado em um campo magnético externo.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Quanto às populações dos dois níveis de energia, sabendo-se que no equilíbrio termodinâmico a
razão entre elas é dada pela distribuição de Boltzmann, temos que:
4.26
sendo, N
+
e N
-
as populações de spins dos estados de maior e menor energia, respectivamente; K é a
constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta.
A eq. 4.26 estabelece que pode haver diferença entre as populações de elétrons dos níveis de
energia superior e inferior. Isto abre a possibilidade de se promover transições eletrônicas entre os veis,
às custas da absorção de fótons com quantum de energia igual a diferença de energia entre os níveis,
isto é:
4.27
A eq. 4.27 é comumente conhecida como condição de ressonância, sendo que toda vez que ela se
cumprir haverá transições entre os níveis de energia e absorção de fótons da radiação incidente.
Em ESR a radiação utilizada para promover as transições são as micro-ondas e as freqüências
mais comumente utilizadas são 9,5 GHz (Banda - X) e 35 GHz (Banda - Q).
Nos espectros de ESR, o que se obtém efetivamente são gráficos da derivada da absorção de
micro-ondas em função do campo magnético aplicado. No experimento o campo magnético é variado de
tal maneira que dentro desta faixa de variação, em algum momento a diferença de energia entre os dois
estados [gβH] seja igual à energia [] dos fótons de micro-ondas utilizados (banda Q ou X, por exemplo)
e se verifique a absorção. O campo onde a absorção ocorre é denominado campo de ressonância.
Um espectro simples de Ressonância de Spin Eletrônico é apresentado na Figura 4.20. Nele, a
absorção de energia de micro-ondas ocorre para valores de um campo magnético efetivo que satisfaz a
condição de ressonância. Por razões técnicas, o campo magnético H é modulação por um campo variável,
acarretando na obtenção não do espectro de absorção, mas da derivada deste sinal (Wertz & Bolton, 1986;
Azevedo, 1995).
As formas de linhas típicas dos sinais ESR são Gaussianas e Lorentzianas. A Figura 4.20 ilustra as
características do tipo de linha Gaussiana, em termos da (a) absorção normalizada e (b) de sua primeira
derivada.
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Figura 4.20: Espectro de ressonância paramagnética eletrônica. (a) Espectro de absorção. A absorção de energia
ocorre para valores do campo magnético aplicado que implicam em campo efetivo que satisfaz a condição de
ressonância. (b) Derivada primeira da linha de absorção das micro-ondas.
Um espectro de ESR pode fornecer várias informações sobre as propriedades físicas de um
sistema através da análise das intensidades e largura das linhas, dos campos de ressonância e das variações
angulares do campo de ressonância, no caso de dependência do espectro com a orientação da amostra no
campo magnético.
O Espectrômetro de ESR Típico
A absorção ressonante de micro-ondas por uma amostra submetida a um campo magnético
externo, que caracteriza o experimento de ESR, necessita de um aparato experimental sofisticado. A
Figura 4.21 mostra um diagrama de blocos simplificado de um espectrômetro de ESR. Basicamente ele
consiste de uma fonte de microondas (contendo a Klystron), um circulador que direciona a microonda
para a amostra e depois para o sistema de detecção. A onda eletromagnética (microonda) produzida pela
fonte é conduzida por meio de uma guia de onda. O sistema de detecção é sensível a fase e utiliza um
diodo detector para medir a intensidade da microonda. A amostra é colocada dentro de uma cavidade
ressonante que consiste de uma caixa metálica, normalmente com o interior banhado a ouro, com
dimensões que permitem obter um valor mínimo para o componente do campo elétrico da radiação
eletromagnética incidente na amostra, e um valor máximo para a componente magnética (Wertz & Bolton,
1986; Azevedo, 1995).
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A cavidade encontra-se entre duas bobinas, geradoras de campo de modulação (com freqüência de
100 KHz). O eletroímã produz o campo magnético e a varredura de campo. Todo o sistema de detecção
está interligado a um computador que permite ao usuário monitorar as condições operacionais do
equipamento e a gravação do espectro.
Figura 4.21: Diagrama de blocos de um espectrômetro de ESR.
O sistema de microondas é o responsável pela geração e transmissão das micro-ondas utilizadas
durante um experimento de ESR. Os espectrômetros comerciais trabalham geralmente em três faixas de
freqüência, banda-X = 9,5 GHz), banda-K = 24 GHz), banda-Q = 35 GHz). Existem vários tipos
de fontes de micro-ondas, como os magnetrons, klytrons, e geradores de estado sólido tais como varactors,
e osciladores de efeito Gunn. O gerador de micro-ondas mais usado no momento é o gerador de diodo
Gunn. Para entendermos o mecanismo de geração de micro-ondas vamos utilizar a klystron. A klystron
gera potência de micro-ondas na faixa de freqüência de 500 até 35000 MHz, e alguns produzem potência
de onda continua (CW) de até 25 kW. Outros produzem potência pulsada de até 10
4
W mas, em
espectrômetros de ressonância de spin eletrônico, o klystron proporciona saída de CW com potências
inferiores a 1W.
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O klystron é uma válvula formada por um cátodo aquecido por corrente contínua, um ânodo e um
eletrodo refletor. O ânodo é uma cavidade adjacente a uma caixa cujas paredes frente ao todo e ao
refletor são grelhas metálicas. A cavidade está formada pelo corpo da válvula de tal forma que o ânodo
está ao potencial de terra.
Para aumentar o nível de absorção na amostra é necessário que se coloque a mesma em um coletor
de potência de micro-ondas, geralmente uma caixa retangular ou cilíndrica, denominada cavidade
ressonante. A cavidade ressonante aumenta a densidade de micro-ondas sobre a amostra. Isto quando a
freqüência é tal que as dimensões da cavidade são múltiplas de meio comprimento de onda da radiação de
micro-ondas utilizada, o que implica em ondas estacionárias. Tal sistema é de fundamental importância
para o experimento de ESR, pois amplia a sensibilidade do espectrômetro.
Um dos fatores que mais influenciam a experiência de ESR é o campo magnético estático: para
conseguir espectro bem resolvido é necessário que se tenha um campo magnético estável. Para geração do
campo magnético usa-se um eletromagneto no qual circula uma corrente elétrica contínua, de modo a criar
um campo estático uniforme na região central onde está colocada a cavidade. O eletromagneto do
espectrômetro (BRUKER ESP - 300) usado neste trabalho permite a geração de campos de até 20000
Gauss. O monitoramento do campo magnético, por meio de uma ponta Hall (efeito Hall), requer recursos
eletrônicos sofisticados.
Os espectrômetros usam geralmente como detector um pequeno cristal de silício ou ainda um
semicondutor chamado “back diode”. Os dois tipos de detectores funcionam de forma que quando a
amostra absorve radiação de micro-ondas surge uma corrente contínua no detector. A amplificação de tal
sinal é muito difícil por se tratar de um sinal contínuo. Para contornar este problema colocam-se duas
bobinas em torno da cavidade ressonante. A função destas bobinas é criar na região um campo magnético
oscilante com freqüência υ
m
, de modo a modular o campo estático com esta freqüência. Procedendo desta
forma o sinal obtido torna-se modulado, possibilitando sua amplificação. Isto implica também em registro
de fato da derivada do sinal de absorção. Recursos computacionais permitem a análise e manipulação do
espectro assim obtido.
O Hamiltoniano de Spin, Fator g e Desdobramento de Campo Zero
As interações a que um íon paramagnético está submetido podem tornar o espectro de ESR deste
íon bastante complexo, uma vez que este pode apresentar muitas linhas referentes a diferentes transições
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entre níveis de energia distintos. Além disso, a anisotropia do sistema pode fazer com que a posição das
linhas (valor do campo de ressonância) varie de acordo com a orientação da amostra em relação ao campo
aplicado. Estes fatores podem levar a uma maior complexidade do espectro, dificultando muito a análise
do mesmo, mas ao mesmo tempo abrem a possibilidade da análise dessas propriedades físicas de muito
interesse (Azevedo, 1995).
Para facilitar o estudo faz-se necessário a utilização do operador Hamiltoniano de Spin”, no qual
são levados em consideração a simetria do sítio onde o íon paramagnético está localizado, além das
interações a que este íon está submetido e que possam vir a influenciar no desdobramento dos níveis de
energia do íon paramagnético na presença de campo magnético externo.
De uma forma geral, o Hamiltoniano de Spin é bastante complexo. Abragham & Price (1993),
sugerem que o Hamiltoniano de Spin contenha os seguintes termos:
4.28
sendo
Ze
a interação Zeeman eletrônica,
F
a interação fina,
HF
a interação hiperfina do elétron com o
núcleo central,
ZN
a interação Zeeman nuclear,
Q
a interação quadrupolar ,
SHF
a interação hiperfina
dos elétrons com os N núcleos vizinhos,
SO
a interação spin órbita e
SS
a interação spin spin.
O Hamiltoniano de Spin descreve de fato as várias contribuições para a energia total do íon no
cristal. Essas contribuições possuem ordens de grandeza diferentes, sendo as mais significativas no estudo
por ESR as interações fina, Zeeman eletrônica, hiperfina e Zeeman Nuclear (Tabela 4.2). (Wertz &
Bolton, 1986).
Tabela 4.2: Ordem de grandeza das interações fina, Zeeman eletrônica, hiperfina e Zeeman Nuclear.
NATUREZA DA INTERAÇÃO
ORDEM DE GRANDEZA (cm
-1
)
FINA
10
4
ZEEMAN ELETRÔNICA
1
HIPERFINA
10
-2
ZEEMAN NUCLEAR
10
-3
Conhecendo agora a forma geral do Hamiltoniano de Spin, deve-se fazer considerações com
respeito à simetria do sítio do íon estudado e sobre as interações que têm relevância no estudo; afinal, nem
todas as interações ocorrem para todos os sistemas. Isto permite simplificar a forma deste operador. Antes
de fazer tais considerações para o Cr
+3
na esmeralda e no rubi, é necessário considerar alguns outros
fatores que serão tratados a seguir.
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Por exemplo, desde que as primeiras interações não sejam importantes para o sistema analisado, o
Hamiltoniano da expressão 4.28 pode ser escrito da seguinte forma:
4.29
S é o operador de spin efetivo, g é o tensor g e D é o tensor de desdobramento de campo zero.
A expressão 4.29, de certa forma, leva em consideração somente as interações cuja ordem de
grandeza são relevantes para o estudo do Cr
+3
na esmeralda. Entretanto, a grande vantagem de expressar
as interações combinadas desta forma é que assim todas as propriedades magnéticas do sistema ficam
relacionadas com seu spin efetivo, através do Hamiltoniano de Spin Efetivo. O primeiro termo da
expressão 4.29 envolve o tensor g, enquanto que o segundo envolve o tensor D. Nos parágrafos seguintes
obter-se-á a forma destes tensores para um Hamiltoniano de Spin efetivo de um íon paramagnético em
sítio de simetria axial, como é o caso do Cr
+3
na esmeralda.
O fator g, determinado pela fórmula de Landé, é uma constante característica do íon
paramagnético. Quando um campo magnético externo é aplicado sobre uma amostra paramagnética,
geralmente um campo local irá subtrair ou somar ao campo magnético externo. Como H
r
na condição de
ressonância é o campo magnético externo, qualquer campo magnético local irá acarretar numa variação no
valor do fator g de forma que:
4.30
O fator g pode então ser encarado como uma quantidade característica do ambiente onde o íon
paramagnético está localizado. Assim a determinação do fator g é uma valiosa contribuição para a
identificação do sinal.
Para muitos cristais a mistura dos estados de energia não é isotrópica e sim anisotrópica. Isto faz
com que o campo local dependa da orientação da amostra com respeito ao campo externo. Isto pode ser
verificado na linha de ressonância (intensidade de absorção X campo magnético) do íon Cr
+3
na
esmeralda, que varia de posição à medida que a amostra é girada no campo magnético externo. Vide, por
exemplo, os resultados experimentais obtidos nesta dissertação.
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O Hamiltoniano de Spin para um sítio de simetria axial
Já foi dito anteriormente que o Hamiltoniano de Spin pode ser bastante simplificado quando se faz
considerações sobre a simetria onde se encontra o íon paramagnético em estudo, e conseqüentemente
sobre a simetria do campo cristalino local. Para a simetria axial, a expressão 4.29 assume uma forma
razoavelmente simples. Isto leva a uma relativa facilidade na obtenção do desdobramento dos níveis de
energia para o íon em presença de campo magnético externo. O conhecimento do Hamiltoniano de Spin
para a simetria em questão levará a informações sobre o desdobramento de níveis de energia e, portanto
sobre as características do espectro de RPE do íon considerado (Wertz & Bolton, 1986; Azevedo, 1995).
O primeiro termo da expressão 4.29 para a simetria axial é obtido pela substituição dos níveis dos
vetores H, S e o tensor g dado pela expressão 4.32. Procedendo desta forma obtém-se:
4.31
Com: g
XX
= g
yy
= g
e g
zz
= g
, tem-se
4.32
Para obter o segundo termo da expressão 4.29 deve-se substituir o tensor dado pela expressão 4.36
combinado com as condições 4.37. Procedendo desta forma obtém-se:
4.33
Logo o Hamiltoniano de Spin será dado por:
4.34
Para um sítio de simetria axial o parâmetro E se anula e o Hamiltoniano de Spin toma a forma:
4.35
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O parâmetro D é denominado parâmetro de desdobramento de campo zero e tem influência nos
níveis de energia do íon Cr
+3
. Na expressão 4.35 pode-se notar que a determinação dos parâmetros g
//
, g
e D leva ao conhecimento do Hamiltoniano de Spin. Com o uso dos operadores de spin, e o conhecimento
experimental dos campos de ressonância de cada linha, o desdobramento de campo zero para esse tipo de
sistema pode ser obtido com certa facilidade.
Segundo Chang et al. (1978) a equação secular obtida do Hamiltoniano acima pode ser fatorada
manualmente para = e = 90º de tal maneira que as energias de transição podem ser expressas de
forma analítica, o que nos dá três equações para = 0º e mais três para = 90º.
Para a transição (3/2,1/2), a 6ª linha do espectro para esta orientação, temos
h = +2D + g
//
B
H
4.36
para a transição (1/2,-1/2), a 4ª linha do espectro para esta orientação, obtêm-se que
h = g
//
B
H
4.37
e para a transição (-1/2, -3/2), a 2ª linha do espectro para esta orientação, encontra-se que
h = -2D + g
//
B
H
4.38
Dessas equações podemos definir os valores de g
//
e D. Resulta da equação 4.38 que, se a
freqüência de micro-ondas é menor que a separação de campo zero, -2D/h, a transição (-1/2,-
3/2 ) não pode ser observada para esta orientação.
Para 90º, a equação secular também pode ser fatorada, mas a expressão para a energia de
transição é um pouco mais complicada que a 0º. Neste caso, temos que
h = g
B
H + (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
4.37
para a linha do espectro (ordem determinada para H//c, ou seja, = 0º), referente a transição
(3/2,1/2),
h = - g
B
H + (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
4.38
para a 1ª e/ou 5ª linha do espectro (ordem determinada para H//c, ou seja, = 0º), e
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69
h = g
B
H (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
4.39
para a 3ª linha do espectro (ordem determinada para H//c, ou seja, = 0º)
O valor para g
pode ser obtido por montagem dados experimental para estas equações
usando o valor anteriormente determinado de D. De acordo com dados da literatura (Chang et al.,
1978) obtidos na banda X (9.5 GHz), valores típicos para g
ll
, g
e 2D/h seriam de, respectivamente,
1,9817(4), 1,9819(6) e 11,493(4).
Montagem Experimental utilizada neste trabalho
Nas medidas de ESR foi utilizado um espectrômetro BRUKER ESP 300, localizado no Instituto
de Física da Universidade Federal de Goiás (Figura 4.22) operando na banda X (9.54 GHz) de micro-
ondas, com potência de 5 mW em um intervalo de campo magnético de 0 a 20 kGauss.
A aquisição de dados pode ser feita de forma convencional, com o espectrômetro sob controle
manual, ou automática, usando o computador com o sistema operacional OS-9. Neste caso, os parâmetros
e espectros acumulados podem ser gravados em disco rígido e transferidos para outro computador
acoplado ao console. A manipulação e análise de espectros pode ser feita usando os programas WIN-EPR
e Simfonia, instalados nos computadores do Laboratório.
Para que possamos fazer uma melhor análise dos espectros de ESR obtidos em nossos
experimentos observemos a Figura 4.23 e 4.24. Em ambas figuras o cristal é girado nos planos yz e xz,
que são magneticamente equivalentes, devido à simetria do cristal. As amostras investigadas foram
orientadas e posicionadas em suporte fixo colocado entre os pólos do eletromagneto com goniômetro,
permitindo assim uma orientação precisa (±0.1º) do campo magnético, de paralela a perpendicular, em
relação ao eixo c da amostra.
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Figura 4.22: Espectrômetro BRUKER ESP 300. À esquerda vista geral mostrando os componentes. Vê-se
à direita acima a cavidade ressonante e abaixo o controlador do sistema.
Nas estruturas cristalinas do rubi, da safira e da esmeralda existe um eixo principal de simetria, o
eixo c. Os espectros foram então obtidos inicialmente com o campo magnético paralelo ao eixo c; a partir
daí o ângulo entre o eixo c e o campo magnético foi variado de 0 a 180º, com intervalos de 5 e 10º. Para
cada orientação foi registrado um espectro. Fizemos medições com as amostras: rubi (R02) e esmeralda
(E02), na situação descritas nas figuras 4.23 e 4.24 e os resultados serão apresentados no capítulo 5.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Figura 4.23: Orientação da amostra de rubi com relação à direção do campo magnético.
Figura 4.24: Orientação da amostra de esmeralda com relação à direção do campo magnético.
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Capítulo 5
Resultados e Discussões
Fotos típicas dos cristais de rubi, safira e esmeralda sintetizados neste trabalho são mostradas nas
Figuras 5.1 a 5.8.
Foram obtidos cristais de rubi e safira transparentes, com tamanho máximo de 1 mm, e que
apresentaram coloração vermelha clara (rubis) e azul claro (safiras), faces bem desenvolvidas e forma
hexagonal bipiramidal, que segundo a literatura é atribuída a uma maior adsorção de cadeias epitaxiais de
MoO
3
pelas faces {11
2
3} dos cristais (Oishi et al, 2004), e pinacoidal, ilustradas nas Figuras 5.9 a 5.11.
Figura 5.1: Foto com zoom da amostra de rubi (R01).
Cristais de esmeralda de comprimento de 1 mm foram crescidos isotermalmente a partir de fluxo
de óxido de molibdênio e carbonato de potássio. Os cristais crescidos eram prismáticos hexagonais
(Figuras 5.8 e 5.11) e exibiram a típica coloração verde das esmeraldas.
Não houve formação de cristais nos primeiros experimentos realizados para a síntese de
esmeralda, quando se utilizou uma taxa de aquecimento de 45º C h
-1
a1100 ºC e o forno foi mantido
nesta temperatura por 5 horas, similarmente às condições utilizadas para a síntese de coríndon. Constatou-
se que o tempo era insuficiente para formação dos cristais, tendo em vista a grande quantidade de fundente
ainda presente no cadinho após o processo. Um novo experimento foi então realizado mantendo-se o forno
durante 24 horas na temperatura de 1100 ºC, tendo sido então observada à formação de um único pequeno
cristal de esmeralda verde claro envolto em massa de fluxo (Figura 5.7).
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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73
Figura 5.2: Foto Microscópica de vários rubis sintetizados.
Figura 5.3: Foto Microscópicada amostra safira (S01) sintetizada.
1 mm
1 mm
1 mm
1 mm
1 mm
1 mm
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74
Figura 5.4: Fotos Microscópica de cristais formados durante a síntese de safira (S01).
Figura 5.5: Fotos Microscópica de cristais obtidos de uma das sínteses de safira (S02).
Figura 5.6: Foto Microscópica dos cristais de esmeralda (E02), safira (S02) e rubi (R02) crescidos por fluxo de
óxido de molibdênio e/ou carbonato de potássio, com tamanho aproximado de 1,0 mm.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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75
Figura 5.7: Foto Microscópica de esmeralda (E01) sintetizada com taxa de aquecimento do forno de 45 ºC h
-1
até
1100ºC e mantido nesta temperatura por 24 horas.
Quando aumentado o tempo de permanência na temperatura de 1100
o
C para 2 dias, observou-se a
formação de vários cristais (ver Figura 5.8), porém ao final da síntese ainda havia no cadinho uma massa
importante de fluxo (óxido de molibdênio + carbonato de potássio), como foi constatado visualmente
(Figura 5.8 e por EDX). Apesar de ter sido verificado durante a síntese de rubis e safira que cerca de 99%
da massa do fluxo de óxido de molibdênio se evaporava ao longo de um período de até 5 horas a 1100ºC,
devido a sua alta volatilidade, o mesmo não ocorreu durante as sínteses de esmeralda. Verificou-se que a
perda de óxido de molibdênio por evaporação diminuiu com a presença de um segundo fluxo o carbonato
e potássio (que em alta temperatura elimina gás carbônico e se transforma em óxido de potássio), pela
interação entre um óxido básico (óxido de potássio), um óxido ácido (óxido de molibdênio), e a formação
de um complexo óxido de potássio óxido de molibdênio.
Na formação das esmeraldas adiciona-se o íon Cr
+3
para que se obtenha a tonalidade verde-escuro.
Ainda no Capítulo 2 foi citado que as esmeraldas apresentam uma grande variedade de tons de verde,
sendo que a cor das mesmas varia desde verde escuro até azul claro. Desta forma, a concentração de
cromo na esmeralda pode vir a influenciar na tonalidade de verde que caracteriza a cor da mesma. Logo,
amostras com maior concentração de cromo devem apresentar tons de verde mais intenso, porém, não era
um objetivo deste trabalho verificar a variação da cor com relação à concentração do íon cromóforo. Este
tópico, todavia, deverá ser abordado numa possível seqüência deste trabalho.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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76
Figura 5.8: Fotos tiradas de dentro do cadinho com uma câmera com zoom, após uma síntese de esmeraldas (E02),
mostrando os cristais crescidos em fluxo de óxido de molibdênio carbonato de potássio.
Figura 5.9: Forma Cristalina (bipirâmide hexagonal) dos cristais de Rubi (R02) e Safira (S02) sintetizados neste
trabalho.
0,5 mm
0,5 mm
1 mm
1 mm
1 mm
1 mm
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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77
Figura 5.10: Foto Microscópica mostrando cristais de safira (S02) crescidos em fluxo de óxido de molibdênio com
formato aproximadamente pinacoidal.
Figura 5.11: Foto Microscópica mostrando cristais de esmeralda (E02) crescidos em fluxo de óxido de molibdênio
carbonato de potássio.
Figura 5.12: Ilustração de uma das faces da safira (S02) formada pelo método do fluxo.
O método de gelificação combustão foi utilizado para sintetizar parte do material de partida
(Al
2
O
3
) utilizado para várias das sínteses de rubi e esmeralda, se mostrando eficiente para a produção de
óxido de alumínio nanoestruturado dopado com o íon cromóforo característico dessas gemas (Cr). Sua
versatilidade, rapidez, controle da morfologia e a pouca infra-estrutura necessária para a realização das
0,2 mm
0,2 mm
0,3 mm
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
78
sínteses fazem com que este método seja muito eficiente e barato para a obtenção de óxidos
nanoestruturados com alto grau de pureza. Porém, ao utilizar este material de partida na síntese de rubis,
verificou-se a formação de uma grande quantidade de pequenos cristais na superfície interna do cadinho e
com alta homogeneidade, tendo sido bem difícil sua retirada (Figura 5.13). Essa questão, da utilização de
material de partida nanoestruturado, pode ser interessante, pois permitiria uma dopagem mais homogênea
das gemas sintetizadas, bem como a dopagem com praticamente qualquer tipo de elemento químico.
Como veremos mais a diante, dificuldade em se realizar a dopagem com determinados elementos
químicos utilizando a síntese de gemas pelo método do fluxo convencional, onde se coloca no cadinho
todos os materiais de partida (no caso do coríndon, alumina e dopantes) na forma de juntamente com o
fluxo.
Figura 5.13: Cristais de rubi formados na superfície interna do cadinho após utilizar como material de partida o
Al
2
O
3
nanoestruturado sintetizado pelo método de gelificação combustão.
Neste trabalho, todos os difratogramas obtidos para os cristais de rubi e safira sintetizados foram
compatíveis com o perfil esperado para a estrutura cristalina da α-alumina, disponível na base de dados do
ICSD (Inorganic Crystal Structure Database), cartões número #10425 ou #92629 (Ishizawa, 1980; ICSD,
2008). Portanto, se existem outras fases além da própria alumina nas amostras, suas proporções, com
relação à fase majoritária, estão abaixo da sensibilidade da técnica de XRD.
Os difratogramas obtidos atestam o alto grau de cristalinidade das amostras sintetizadas, através
do pequeno valor obtido para a largura a meia altura, da ordem de 0,10 a 0,14
graus em 2, exatamente na
mesma faixa de valores obtidos para a largura a meia altura dos picos de difração de monocristais de
silício cristalino e quartzo cristalino pulverizados com gral de ágata, quando utilizadas as mesmas
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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79
condições de medida experimentais. A largura a meia altura de alguns dos picos de difração das safiras e
rubis sintetizados era, inclusive, menor que a de picos dos cristais de referência na mesma faixa angular.
A Figura 5.14 mostra o difratograma da amostra R02 analisada durante o trabalho, juntamente
com o difratograma teórico esperado para a estrutura número #10425 do ICSD (Ishizawa, 1980). Além
dos picos da α-alumina nota-se, apenas, um pequeno pico em aproximadamente 26,6 graus em 2,
referente ao plano [101] do quartzo, e proveniente de contaminação das amostras durante moagem em
almorariz de ágata.
Figura 5.14: Difratograma obtido para a amostra de rubi (R02) sintetizada pelo método do fluxo.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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80
As intensidades normalizadas de alguns dos planos cristalinos, juntamente com seus respectivos
índices de Miller e as distâncias interplanares obtidas para os rubis e safiras sintetizados são dados nas
tabelas 5.1 e 5.2, respectivamente.
Tabela 5.1: Espaçamento interplanar, índice de Miller e intensidades dos picos de difração do rubi (Al
2
O
3
:Cr),
juntamente com dados comparativos da literatura (ICSD, estrutura #10425).
2θ(º)
2θ
lit
(º)
d(nm)
d
lit
(nm)
(hkl)
I/I
0
(I/I
0
)
lit.
25,618
25,596
0,34745
0,34773
1 0 -2
64
58,6
35,181
35,167
0,25488
0,25498
1 0 4
70
95,2
37,805
37,817
0,23778
0,2377
1 1 0
32
44,5
43,389
43,391
0,20838
0,20837
1 1 3
100
96,1
52,593
52,595
0,17388
0,17387
2 0 -4
41
50,1
57,526
57,533
0,16008
0,16006
1 1 6
59
100
66,541
66,583
0,14041
0,14033
2 1 4
25
40,8
68,229
68,289
0,13735
0,13724
3 0 0
33
62,8
Tabela 5.2: Espaçamento interplanar, índice de Miller e intensidades dos picos de difração da safira (Al
2
O
3
:Fe:Ti)
juntamente com dados comparativos da literatura (ICSD, estrutura #10425).
2θ(º)
2θ
lit
(º)
d(nm)
d
lit
(nm)
(hkl)
I/I
0
(I/I
0
)
lit.
25,634
25,596
0,34723
0,34773
1 0 -2
37
58,6
35,214
35,167
0,25466
0,25498
1 0 4
56
95,2
37,833
37,817
0,23761
0,2377
1 1 0
24
44,5
43,414
43,391
0,20827
0,20837
1 1 3
100
96,1
52,605
52,595
0,17384
0,17387
2 0 -4
35
50,1
57,566
57,533
0,15998
0,16006
1 1 6
73
100
66,570
66,583
0,14036
0,14033
2 1 4
28
40,8
68,254
68,289
0,13730
0,13724
3 0 0
30
62,8
Os dados de XRD obtidos, por si só, atestam a obtenção de rubis e safiras de alto grau de
cristalinidade. Esta informação é também corroborada pelo formato bipiramidal hexagonal dos respectivos
cristais e pela análise de espectrometria de raios X por dispersão em energia (EDX) dos mesmos (Tabela
5.3), o que não deixa dúvidas com relação à sua composição química.
A tabela 5.3 exibe os dados de EDX (em porcentagem de massa, wt.%) obtidos para algumas das
amostras de rubi e safira sintetizadas. Observa-se que as amostras de rubi e safira -alumina) analisadas
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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81
apresentaram ótimos índices de pureza, todos superiores a 99 wt.% (para o conteúdo de óxido de alumínio
+ óxido de cromo), atestando assim o alto grau de qualidade dos compostos utilizados neste trabalho.
Tabela 5.3: Composição química dos rubis e safiras sintetizadas neste trabalho, obtida por EDX.
R01
R02
R03
S01
wt.%
wt.%
wt.%
wt%
Al
2
O
3
99,16
99,00
98,84
99,92
Cr
2
O
3
0,35
0,43
0,40
----
TiO
2
----
0,01
----
0,02
Fe
2
O
3
0,03
0,04
0,06
0,02
MoO
3
0,06
0,32
0,51
0,03
CaO
----
0,08
0,06
0,004
P
2
O
5
0,07
----
----
----
K
2
O
----
0,07
0,09
0,008
ZnO
0,003
0,005
----
<0,001
NbO
0,004
----
----
----
V
2
O
5
----
0,02
----
----
PtO
2
0,03
----
----
----
CeO
2
0,3
----
----
----
WO
3
----
0,03
0,04
0,01
Ga
2
O
3
----
0,007
0,007
----
Os rubis R02 e R03 apresentaram ainda quantidades razoáveis de molibdênio (entre 0,3 e 0,5
wt.%). Todavia, as outras duas amostras apresentaram concentrações praticamente desprezíveis, menores
que 0,1 wt.%. Deve ser ressaltado que, devido à necessidade de boa quantidade de amostra em para a
realização das análises de XRD, não somente alguns dos maiores e mais perfeitos cristais foram
pulverizados, mas também vários dos menores cristais formados. Se apenas os maiores cristais tivessem
sido pulverizados, é possível que uma concentração mais uniforme e menor de Mo fosse determinada para
cada amostra. Isso porquê os maiores cristais aparentaram, por microscopia óptica, uma maior pureza e
homogeneidade.
Os elementos Cr, Fe e Ti foram incorporados ao soluto de maneira proposital, para que se
incorporassem às amostras sintetizadas com a finalidade de dar cor às mesmas. Processo similar poderia,
supostamente, ser facilmente realizado com outros elementos químicos, com a finalidade de dopar os
cristais sintetizados com as devidas impurezas, de tal maneira a modificar alguma das características
físicas do cristal (magnéticas, ópticas, etc.). Apesar de colocados em quantidades similares (de 0,5 wt.%
do soluto) a incorporação dos íons Cr nos cristais de rubi sintetizados (~0,4 wt.%) se mostrou mais
eficiente que a incorporação de Fe e Ti nos cristais de safira (~0,04 wt.%), que foi pelo menos uma ordem
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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82
de grandeza inferior à quantidade disponível dos mesmos no soluto. Não foram encontradas indicações
deste fato em trabalhos anteriores da literatura, sendo que, em geral, se supôs que as impurezas se
incorporassem nos cristais com as mesmas concentrações nas quais estavam presentes no soluto.
Há, aparentemente, uma maior compatibilidade cristalo-química do sítio octaédrico do Al
3+
por
Cr
3+
, provavelmente devido não somente ao estado de oxidação idêntico (o que não ocorre com o Ti
4+
, por
exemplo), mas também devido a seus raios iônicos (1,82Å e 1,85Å, para o Al e Cr, respectivamente).
Ferro e titânio têm raios iônicos de 1,72Å e 2,00Å, respectivamente, bem diferentes do valor apresentado
pelo alumínio. Assim, temos que o cromo possui mesmo estado de oxidação e raio iônico praticamente
idêntico ao do alumínio, facilitando a sua incorporação de maneira substitucional no cristal de coríndon.
Por outro lado, o titânio tem raio iônico e estado de oxidação diferentes daqueles do Al, o que dificulta sua
incorporação durante o crescimento do cristal, a não ser quando este se incorpora vizinho a um átomo de
ferro, que por sua vez possui raio iônico menor que o do Al, facilitando a incorporação de um átomo
maior em um octaedro vizinho, bem como a transferência de carga e conseqüente mudança no estado de
oxidação desses íons.
A dificuldade em se substituir o Al por Fe e Ti através da adição pura e simples de Fe
2
O
3
e TiO
2
na solução de partida fica evidente, não apenas na baixa concentração destes óxidos nas safiras
sintetizadas analisadas por EDX, mas também na fraca coloração obtida para essas mesmas amostras,
evidenciando essa baixa concentração de elementos cromóforos através da pouca transferência de carga
entre átomos de Fe e Ti em octaedros vizinhos. Testes envolvendo a síntese de material precursor
(Al
2
O
3
:Fe:Ti) por gelificação-combustão deverão ser futuramente realizados com o intuito de se analisar a
eficiência de dopagem da alumina. O método de gelificação-combustão poderia facilitar a incorporação de
Fe e Ti no material, e conseqüentemente nas gemas sintetizadas. Esse tema deverá ser abordado numa
continuidade deste trabalho. Também é necessário determinar condições mais propícias de nucleação e
crescimento durante a síntese das gemas com o material de partida obtido por gelificação combustão, de
tal maneira que seja otimizado o número e tamanho dos cristais formados durante o processo, para que
não ocorra, ou se reduza o efeito mostrado na figura 5.13.
Átomos de Pt e Mo eram esperados em baixa concentração, uma vez que parte do molibdênio do
fluxo pode não evaporar completamente, permanecendo nas amostras sintetizadas, que também podem se
contaminar com a platina do cadinho, como experimentalmente verificado por EDX. Como as amostras de
rubi e safira foram pulverizadas com almofariz e pistilo de ágata para a realização das análises de EDX e
XRD, a contaminação com Si encontrada nas mesmas, decorrente da pulverização, foi desconsiderada
durante a análise dos dados de EDX.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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83
Esta pequena contaminação pode ser também observada no difratograma, como mostra o pico em
26,68
o
em 2, referente ao plano [101] do quartzo presente na amostra (contaminação proveniente do gral
de ágata, durante o processo de pulverização). Com relação a este fato, uma amostra de rubi sintetizada foi
triturada e fundida em tetraborato de lítio, e a pérola vítrea proveniente desta análise não apresentou
contaminação por silício.
A análise por EDX também detectou outros elementos químicos (impurezas) nos cristais
sintetizados, como Ca, K, Zn, Nb, V, W, Ga e Ce, mas em concentrações praticamente desprezíveis
(<0,1%). Vale ressaltar que as linhas características utilizadas para a identificação e quantificação dessas
impurezas não podem ser geradas pelos componentes principais dos sistemas estudados (Al, O, Fe, Ti e
Cr). O fluxo (MoO
3
) e os precursores utilizados (Al
2
O
3
, Cr
2
O
3
, TiO
2
e Fe
2
O
3
) foram também analisados
por EDX, e não apresentaram traços dos elementos acima citados, comprovando que os materiais de
partida não são a fonte de contaminação dos cristais sintetizados por estes elementos.
Esta pequena contaminação é, muito provavelmente, proveniente do refratário do forno mufla
utilizado, que um desprendimento contínuo de do mesmo sob altas temperaturas e, apesar de as
sínteses terem sido realizadas com a utilização de uma tampa de platina para o cadinho, esta todavia não o
protegia completamente, deixando frestas pelas quais a poeira do refratário pode ter contaminado a
mistura fundida. Além disso, é possível que o óxido de molibdênio evaporado reaja com o refratário do
cadinho, atacando-o quimicamente, fazendo com que a contaminação durante o processo de síntese seja
maior que durante um tratamento térmico convencional.
Interessante também que as concentrações de Fe e são maiores nas amostras de rubi, nas quais não
foi utilizado esse elemento durante a síntese, do que nas amostras de safira. Provavelmente, a presença de
Cr na mistura acaba por facilitar também a incorporação de Fe, presente em baixa concentração no óxido
de cromo utilizado como dopante, ou mesmo como resultado de alguma contaminação, visto que a
incorporação de Fe durante a síntese de safiras foi muito menos importante.
A figura 5.15 mostra o espectro de ESR do Cr
3+
para θ = 0
o
, isto é, com H//c , apresentando as 6
linhas características da interação fina do íon Cr
3+
, posicionadas entre 326,2 e 6828 G.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
84
0 2000 4000 6000 8000
-10000
-8000
-6000
-4000
-2000
0
2000
4000
6000
8000
10000
Derivada da Absorção (a.u.)
Campo Magnético (Gauss)
R02
Figura 5.15: Espectro de ESR da amostra de rubi (R01) para orientação H
c.
Para a banda X utilizada para a obtenção do espectro acima (frequência medida de 9,6197
GHz), a transição (1/2,-1/2) aparece como 4ª linha do espectro em 3.011,7 G, a transição (3/2,1/2)
aparece como linha do espectro em 6.828 G, e a transição (-1/2,-3/2) como a linha do
espectro, em 750,3 G.
Se utilizamos esses dados experimentais, e as equações 4.43 e 4.44 para se determinar os
valores de g
//
e 2D/h, obtemos os valores de -12,190 GHz e 2,282, respectivamente. Esses valores são
muito diferentes dos reportados pela literatura (-11,493 GHz e 1,9817, de acordo com Chang et al., 1978).
Acreditamos que possa ter havido um erro de orientação durante o posicionamento da amostra no
suporte fixo do goniômetro do equipamento de ESR utilizado. A orientação da projeção do eixo c no
plano horizontal em relação ao campo magnético (também horizontal) pode ser facilmente corrigida,
levando-se em conta que a separação entre as linhas é a maior possível para a orientação com H//c.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
______________________________________________________________________________________________
85
No nosso caso a orientação no plano horizontal do cristal de rubi analisado foi corrigida de 10
o
.
Todavia, orientar o eixo c do cristal inteiramente no plano horizontal não é uma tarefa trivial sem a
utilização de um porta-amostra adequado. Imaginamos que o erro de orientação perpendicularmente ao
plano horizontal seja também desta ordem de grandeza (10
o
).
Outro indicativo de um erro de orientação é que, segundo a equação 4.45, e utilizando-se os
valores da literatura (Chang et al., 1978) a linha referente a transição (-1/2,-3/2) não seria visível numa
orientação perfeita onde H//c, visto que 2D/h > v.
Por outro lado, este erro de orientação perpendicularmente ao plano horizontal não influencia
sobre o espectro para H┴c (θ = 90
o
). Neste caso, utilizamos os dados da figura 5.17, que mostra a variação
angular das linhas do íon Cr
3+
no rubi, onde o ângulo θ é o ângulo entre o campo magnético e o eixo-c do
cristal.
Para θ = 90º, para a 6ª linha em 1.989,4 G temos que
h = g
B
H + (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
para a 1ª e/ou 5ª linha em 1.105,5 G
h = - g
B
H + (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
e para a 3ª linha em 5.456,8 G que
h = g
B
H (D
2
Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
(D
2
+ Dg
B
H + g
2
2
B
H
2
)
1/2
Logo, podemos utilizar as equações acima, substituindo os valores de H, h, v e
B
e fazer variar os
valores de g
e D para determiná-los. Para isso, as equações foram montadas no programa Origin, e os
valores de g
e D foram variados de tal maneira que as três retas se cruzassem num ponto onde o valor da
soma dos termos a direita fosse igual ao da energia do fóton de rf (hv) utilizado no experimento (Figura
5.16).
Os resultados obtidos com esta metodologia foram
g
= 1,974(10)
e
2D/h = -11,50(3) GHz.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
______________________________________________________________________________________________
86
Os erros foram estimados a partir da figura abaixo, utilizando-se a máxima diferença entre os
pontos de cruzamento das retas nos eixos x e y.
Esses dados estão de acordo com os dados da literatura (Chang et al., 1978), que eram,
respectivamente, 1,9817(4) e -11,493(4) GHz, mas apresentam um erro maior. Como no caso dos dados
da literatura para o rubi temos que g
//
= g
(dentro do erro experimental estimado), podemos também
utilizar o valor de g
calculado neste trabalho como g//. Novas medidas, todavia, se fazem necessário, de
maneira a minimizar os erros de orientação do cristal no espectrômetro e, conseqüentemente, melhorar a
qualidade dos valores obtidos para g
//
, g
e 2D/h.
Figura 5.16: Gráfico mostrando a diferença entre o lado direito das equações 4.46, 4.47 e 4.48 e hv para a orientação
H┴c (θ = 90
o
), utilizando banda X de 9,6261 GHz.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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87
A figura 5.17 mostra a variação angular das linhas do íon Cr
3+
no coríndon, onde o ângulo θ é o
ângulo entre o campo magnético e o eixo-c do cristal. Podemos notar que os dados são coerentes com os
relatados na literatura (Chang et al., 1978), e mostram que o íon Cr
3+
ocupa substitucionalmente o sítio
do Al nos cristais sintetizados, visto que este padrão para a variação angular das linhas de ressonância é
característico deste sitio para a orientação do cristal utilizada. A figura 5.18 exibe dados similares obtidos
da literatura.
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Campo Magnético (Gauss)
Ângulo (
o
)
Figura 5.17: Gráfico da dependência angular das transições eletrônicas do íon Cr
3+
na amostra de rubi (R02)
observada em banda X (~9,5 GHz).
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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88
Figura 5.18: Variação angular do campo de ressonância para um cristal de coríndon apresentado por Chang et al.
(1978).
Com relação às esmeraldas sintetizadas, o difratograma da amostra E02 (Figura 5.19) foi
analisado e é compatível com uma mistura de várias fases cristalinas, sendo a principal delas a de
esmeralda, disponível no banco de dados da CAPES CRYSMET, cartão de número 502009. Além da
fase esmeralda (berilo), também foram identificadas no difratograma de a possível presença de outras
fases cristalinas em menor quantidade, como a fenaquita, cianita, bromelita (BeO) e molibdita (MoO
3
).
Apesar da presença de outras fases, foram sintetizados cristais prismáticos, semitransparentes e
hexagonais, que estão de acordo com a estrutura esperada de cristais de berilo (esmeralda).
Deve ser esclarecido que os cristais utilizados para os estudos de XRD da esmeralda não foram os
melhores cristais obtidos.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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89
Por outro lado, os cristais utilizados nos estudos de ESR apresentaram características claramente
relacionadas a monocristais, e espectro típico do íon Cr
3+
em esmeralda, como veremos mais adiante.
Figura 5.19: Difratograma obtido para a amostra de esmeralda (E02) e as posições dos picos de outras fases
cristalinas possivelmente presentes.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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Figura 5.20: Difratograma obtido para a amostra de esmeralda (E02) e o difratograma esperado para o berilo (cartão
ICSD # 502009).
Até aqui, não foi determinada a concentração dos elementos constituintes dos cristais de
esmeralda sintetizados neste trabalho pela técnica de EDX, devido à pequena quantidade de amostras
sintetizadas e seu pequeno tamanho. Também contribuiu para isso a grande quantidade de fases cristalinas
encontradas nas amostras sintetizadas até aqui, o que por si indica que a análise química não trará
grande contribuição ao trabalho, e a falta de reagentes para a realização de várias nteses para se obter
uma quantidade maior e mais apropriada de material. Foi possível, todavia, analisar por EDX o material
encontrado no fundo do cadinho de platina após cada síntese de esmeralda. Esses dados, não mostrados
aqui, confirmam uma grande presença de MoO
3
e K
2
O no material encontrado, totalizando mais de 50%
deste (desconsiderando o elemento Be, ao qual o equipamento não é sensível). Este fato indica que
poderíamos ter deixado o cadinho no forno mufla um tempo ainda maior que os 2 dias utilizados, a uma
temperatura de 1100 ºC, o que não foi feito simplesmente devido aos limites operacionais para a utilização
do mesmo.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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A presença do elemento berílio não pôde ser determinada diretamente neste estudo devido à baixa
eficiência da técnica de EDX para este elemento.
O equipamento utilizado é sensível aos raios X emitidos por elementos de número atômico
maiores que 10 (do elemento sódio em diante). Foram realizadas análises de EDX nas amostras do
material de partida sintetizado pelo método de gelificação-combustão, sendo observado que o pó de
alumina dopado com cromo (Tabela 5.4) apresenta concentrações de Al
2
O
3
da ordem de 99,5%.
Esses resultados mostram, portanto, a eficiência do método de gelificação-combustão para
fornecer óxidos com alto grau de pureza e com incorporação de Cr
2
O
3
, neste caso de cerca de 0,2%, e
ilustram a real possibilidade de se utilizar o método para a dopagem da alumina com outros íons de
interesse. A presença de átomos de ferro em concentração de 0,25 % em massa é vista como
contaminação, todavia, não foi possível a determinar a origem do mesmo. Isso deverá, todavia, ser
analisado com mais atenção na seqüência deste trabalho.
Tabela 5.4: Composição química (em porcentagem de massa e ppm) obtida por EDX da
alumina dopada com cromo obtida por gelificação-combustão.
Elementos
wt.%
Al
2
O
3
99,50
Fe
2
O
3
0,25
Cr
2
O
3
0,20
Ga
2
O
3
0,013
ZnO
0,012
CuO
0,010
ZrO
2
0,001
Outras impurezas como Ga, Zn e Cu foram detectadas em quantidades muito pequenas e próximas
a 0,01 % em massa (dentro do erro experimental) para todas as amostras. Foi também identificada a
presença de zircônia, com concentração aproximada de 0,001 % em massa.
As medidas de ESR foram obtidas utilizando a montagem e condições informadas no capítulo
anterior e os resultados obtidos levaram a conclusões sobre alguns aspectos importantes das gemas
sintetizadas. O principal diz respeito às características dos espectros obtidos.
Os íons paramagnéticos predominantes na esmeralda são, em geral, os íons Cr
+3
e Fe
+3
. Para as
esmeraldas sintetizadas neste trabalho foram observadas linhas de ressonância bem definidas para o íon de
Cr
+3
, exibidas na figura 5.21.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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Apesar dos íons Cr e Fe estarem presentes em concentrações parecidas (tabela 5.5) nas esmeraldas
sintetizadas (os íons Fe foram produto de contaminação), somente os íons Cr apresentaram linhas de
ressonância bem visíveis.
Na figura 5.21 é apresentada a variação angular do espectro de ESR do íon Cr para uma das
amostras de esmeralda (E02). A orientação entre o eixo principal (eixo c) do cristal e campo magnético foi
variada entre 8
o
e 178
o
.
Foi observado que o campo de ressonância para a linha do íon Cr
+3
também varia de posição à
medida que o cristal é girado no campo magnético, como efeito do campo cristalino. Tal comportamento
da linha de ressonância é condizente com a simetria axial esperada para o sítio do Cr nas esmeraldas, e
também está de acordo com dados anteriores apresentados na literatura, mostrando novamente que a
incorporação dos íons Cr se deram no sítio esperado, idêntico ao das gemas naturais (Isotani et al 1987,
Azevedo, 1995).
No caso do cristal de esmeralda, também houve um erro de orientação durante o posicionamento
da amostra no suporte fixo do goniômetro do equipamento de ESR, de cerca de 8
o
, que foi corrigido
utilizando-se o fato de que o menor campo de ressonância para a linha observada do Cr se para a
orientação H┴c, e o maior campo de ressonância para H//c.
A característica axial do sítio de simetria do íon Cr
+3
permitiria a determinação do Hamiltoniano
de Spin para tal simetria, conforme ilustrado no capítulo 4. Todavia, devido à magnitude do parâmetro D,
somente a transição (-1/2,+1/2) pode ser observada, o que impossibilita o cálculo dos parâmetros g
e D
diretamente do espectro. Somente o parâmetro g
//
pode ser diretamente obtido. Para os demais parâmetros
seria necessário a utilização de programas específicos, no momento indisponíveis, e este não era a priori
um dos objetivos deste trabalho, visto que o principal motivo de se utilizar a técnica de ESR era a
identificação dos sítios ocupados pelos íons de cromo na esmeralda e rubi, e esses objetivos foram
perfeitamente alcançados.
Utilizando a equação 4.44 para o espectro da amostra de esmeralda E02 com orientação H//c
(A178), no qual o pico aparece na posição 3451,2 G e freqüência de rf foi de 9,6162 GHz, temos que
g
//
= 1,993(3)
Como no caso da amostra de rubi, g
//
maior que o valor esperado da literatura (Azevedo, 1995;
Geusic et al., 1959), que seria da ordem de 1,970, indica uma orientação do cristal, ou seja, uma
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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inclinação do eixo c do cristal com relação ao plano horizontal (plano de giro da amostra durante o
experimento), ou mesmo devido ao fato de estarmos 2
o
desalinhados com o campo magnético aplicado.
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
-20
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Derivada do Espectro de Absorção (a.u.)
Campo Magnético (Gauss)
A178
A168
A158
A148
A138
A128
A118
A108
A98
A88
A78
A68
A58
A48
A38
A28
A23
A18
A13
A8
Figura 5.21: Gráfico da dependência angular do campo de ressonância para a amostra de esmeralda (E02) em
função do ângulo paralelo até perpendicular.
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Capítulo 6
Conclusões
Cristais de rubi e safira apresentando faces bem desenvolvidas e forma hexagonal bipiramidal
foram sintetizados com sucesso através do método do fluxo utilizando trióxido de molibdênio como
solvente.
Todas as amostras de rubis analisadas apresentaram concentrações de Al
2
O
3
de pelo menos 99,0
wt.% e de Cr
2
O
3
entre 0,35 e 0,43 wt.%. Nota-se então que a quantidade de Cr foi incorporada na estrutura
de uma forma significativa, e em quantidade similar à utilizada no soluto. O mesmo não aconteceu para o
Fe e Ti utilizado como dopante nas safiras, que se incorporaram nos cristais em quantidade
aproximadamente 10 vezes menor que a utilizada no soluto, indicando que nem todas as impurezas serão
incorporadas no cristal sintetizado nas proporções que estão presentes no soluto.
Além da composição característica dos rubis e safiras sintetizados, formada principalmente de
Al
2
O
3
, a técnica de EDX possibilitou a identificação e quantificação de impurezas presentes em pequenas
quantidades (< 0,1 % em massa), como Ca, K, Zn, Nb, V, W, Ga e Ce, provenientes do refratário do forno
utilizado no processo de síntese.
Os difratogramas de raios X obtidos dos cristais de rubi e safira sintetizados neste trabalho atestam
o alto grau de cristalinidade obtido para essas amostras, sendo que todos os difratogramas foram
identificados como -Al
2
O
3
pelo software de busca presente no difratômetro (ICSD, cartões número
#10425 ou #92629).
Com relação às características principais dos espectros obtidos por ESR, como já discutido no
capítulo 5, os resultados mostram que a linha referente ao íon Cr
+3
sofre variação angular simétrica em
relação ao eixo c, à medida que o cristal é girado no campo magnético desde a orientação H//c até H
c.
Estes resultados são compatíveis com os da literatura, e mostram com clareza que o íon Cr
+3
se encontra
em um sítio de simetria com características axiais, idêntico ao encontrado em rubis naturais, indicando a
presença dos íons Cr
+3
substitucionalmente aos íons de Al
+3
na estrutura do rubi. Também determinou-se
os parâmetros g
= 1,974(10) e 2D/h = -11,50(3) GHz, menos precisos mas compatíveis com os valores da
literatura.
Os elementos Cr, Fe e Ti foram incorporados ao soluto de maneira proposital, para que se
incorporassem às amostras sintetizadas com a finalidade de dar cor às mesmas. Processo similar poderia,
supostamente, ser facilmente realizado com outros elementos químicos, com a finalidade de dopar os
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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cristais sintetizados com as devidas impurezas, de tal maneira a modificar alguma das características
físicas do cristal (magnéticas, ópticas, etc.). Apesar de colocados em quantidades similares (de 0,5 wt.%
do soluto) a incorporação dos íons Cr nos cristais de rubi sintetizados (~0,4 wt.%) se mostrou mais
eficiente que a incorporação de Fe e Ti nos cristais de safira (~0,04 wt.%), que foi pelo menos uma ordem
de grandeza inferior à quantidade disponível dos mesmos no soluto.
Aparentemente, este fato se deve a uma maior compatibilidade cristalo-química do sítio octaédrico
do Al
3+
por Cr
3+
, provavelmente devido não somente ao estado de oxidação idêntico (o que não ocorre
com o Ti
4+
, por exemplo), mas também devido a seus raios iônicos (1,82Å e 1,85Å, para o Al e Cr,
respectivamente). Ferro e titânio m raios iônicos de 1,72Å e 2,00Å, respectivamente, bem diferentes do
valor apresentado pelo alumínio. Assim, temos que o cromo possui mesmo estado de oxidação e raio
iônico praticamente idêntico ao do alumínio, facilitando a sua incorporação de maneira substitucional no
cristal de coríndon. Por outro lado, o titânio tem raio iônico e estado de oxidação diferentes daqueles do
Al, o que dificulta sua incorporação durante o crescimento do cristal, que por sua vez pode ser facilitada
quando este se incorpora vizinho a um átomo de ferro, que possui raio iônico menor que o do Al,
facilitando a incorporação de um átomo maior em um octaedro vizinho, bem como a transferência de
carga e conseqüente mudança no estado de oxidação desses íons.
A dificuldade em se substituir o Al por Fe e Ti através da adição pura e simples de Fe
2
O
3
e TiO
2
na solução de partida fica evidente, não apenas na baixa concentração destes óxidos nas safiras
sintetizadas analisadas por EDX, mas também na fraca coloração obtida para essas mesmas amostras,
evidenciando essa baixa concentração de elementos cromóforos através da pouca transferência de carga
entre átomos de Fe e Ti em octaedros vizinhos. Testes envolvendo a síntese de material precursor
(Al
2
O
3
:Fe:Ti) por gelificação-combustão deverão ser futuramente realizados com o intuito de se analisar a
eficiência de dopagem da alumina. O método de gelificação-combustão poderia facilitar a incorporação de
Fe e Ti no material, e conseqüentemente nas gemas sintetizadas. Esse tema deverá ser abordado numa
continuidade deste trabalho. Também é necessário determinar condições mais propícias de nucleação e
crescimento durante a síntese das gemas com o material de partida obtido por gelificação-combustão, de
tal maneira que seja otimizado o número e tamanho dos cristais formados durante o processo.
Com relação às esmeraldas sintetizadas neste trabalho, o difratograma da amostra E02 (Figura
5.19) indica uma mistura de várias fases cristalinas, sendo a principal delas a do berilo (esmeralda),
disponível no banco de dados da CAPES CRYSMET, cartão de número 502009. Além da fase berilo,
também foram identificadas no difratograma de a possível presença de fenaquita, cianita, bromelita
(BeO) e molibdita (MoO
3
). Apesar da presença de outras fases cristalinas além do berilo, foram
sintetizados cristais prismáticos, semitransparentes e hexagonais, que estão de acordo com a estrutura
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esperada de cristais de berilo (esmeralda). Deve ser esclarecido que os cristais utilizados para os estudos
de XRD da esmeralda não foram os melhores cristais obtidos. Por outro lado, os cristais utilizados nos
estudos de ESR apresentaram características claramente relacionadas a monocristais, e espectro típico do
íon Cr
3+
em esmeralda.
A variação angular do espectro de ESR do íon Cr para uma das amostras de esmeralda (E02) é
condizente com a simetria axial esperada para o sítio do Cr nas esmeraldas, e também está de acordo com
dados anteriores apresentados na literatura, mostrando novamente que a incorporação dos íons Cr se
deram no sítio esperado, idêntico ao das gemas naturais (Isotani et al 1987, Azevedo, 1995).
Esses resultados mostram que a síntese de cristais pelo método do fluxo é muito eficiente para a
produção de monocristais dopados. Além de elementos tipicamente cromóforos, poderiam ser utilizadas
outras impurezas com o intuito de se modificar as propriedades magnéticas ou ópticas, por exemplo, com
o intuito de se estudar a ordem local ao redor da impureza, bem como a influência dessas impurezas nas
características físicas do material sintetizado.
Devido à facilidade de implementação do método, mesmo em laboratórios que tenham apenas
uma pequena quantidade de recursos disponíveis, e sua versatilidade, que permite a produção de uma
grande quantidade de cristais com os mais diferentes constituintes, esse método se mostra ideal para a
produção de amostras cristalinas de interesse científico.
Essa questão, da utilização de material de partida nanoestruturado, pode ser interessante, pois
permitiria uma dopagem mais homogênea das gemas sintetizadas, bem como a dopagem com
praticamente qualquer tipo de elemento químico, e poderia contornar dificuldades inclusive encontradas
neste trabalho, como a dopagem pouco eficiente das safiras com Fe e Ti utilizando a síntese de gemas pelo
método do fluxo convencional, onde se coloca no cadinho todos os materiais de partida (no caso do
coríndon, alumina e dopantes) na forma de pó juntamente com o fluxo.
Como continuidade do estudo da síntese de gemas, sugerimos:
Determinar com exatidão a origem de cada impureza encontrada nas gemas sintetizadas;
Variar as condições de síntese com o intuito de se aumentar o tamanho dos cristais obtidos
bem como melhorar sua qualidade gemológica e propriedades químicas e ópticas (cor);
Buscar métodos para se melhorar a eficiência de dopagem das safiras com Fe e Ti;
Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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Determinar com precisão os parâmetros de campo cristalino para os cristais sintetizados;
Uso de outras técnicas espectroscópicas para auxiliar na determinação precisa do sítio que
o íon Fe
3+
fica alojado na safira;
Caracterizações mineralógicas como a medida do índice de refração e microscopia
gemológica;
Avaliação das propriedades físico-químicas e ópticas do mineral como sintetizado e
tratado termicamente, bem como sua comparação com as respectivas propriedades de gemas naturais.
Ribeiro, G.S., 2010 Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de Evaporação por Fluxo
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Geoquímica de Minerais e Rochas, Vol. 1, 119p
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103
Ficha de Aprovação
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO:
TÍTULO: Crescimento de Cristais de Coríndon e Esmeralda pelo Método de
Evaporação por Fluxo.
AUTOR: Gislene da Silva Ribeiro
ORIENTADOR: Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado
Aprovada em: 22/02/2010
PRESIDENTE: Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado
Prof
a
Dra. Rúbia Ribeiro Viana
Prof. Dr. Fernando Pelegrini
Cuiabá, 22/02/2010.
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