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Conseguirei sementes e, com os touros, ararei e semearei a terra, enquanto
que as vacas me estarão dando leite e crias; e, assim, antes de
transcorrerem outros cinco anos, terei acumulado uma grande fortuna.
Construirei, então, uma suntuosa mansão, adquirirei vestimentas, móveis e
escravos; casar-me-ei com uma formosa mulher de nobre linhagem, que me
dará um filho provido de todos os dons, em cuja formação porei todo
empenho; e, se vir que é ingrato, descarregar-lhe-ei um golpe na cabeça
com esta vara, assim...”E, erguendo a vara para mostrar o que faria,
golpeou a jarra e quebrou-a, e todo o conteúdo se despejou sobre sua
cabeça, e todos os seus planos e esperanças foram frustrados.
– Contei esta história, prosseguiu a esposa, para que te abstenhas de dizer
o que ignoras e que depende somente do destino. Aproveita, pois, a
experiência daquele asceta.
Pouco tempo depois, a mulher deu à luz a um filho formoso, que causou
grande alegria a seu pai. E, passados alguns dias, disse ela ao esposo:
“Fica ao lado do menino e cuida dele enquanto vou tomar banho e volto
logo.
Assim que a mulher saiu, porém, apresentou-se um emissário do soberano
e levou o asceta. Antes de sair, chamou um mangusto que tinha em casa, e
que tratava como a um filho, e encarregou-o de cuidar do recém-nascido.
Pouco depois, uma cobra, que tinha seu ninho naquela morada, lançou-se
sobre o menino. Mas o mangusto fez-lhe frente e a despedaçou.
Quando o asceta regressou à casa, o mangusto saltou a recebê-lo como
querendo contar-lhe sua façanha. O asceta, ao vê-lo coberto de sangue,
pensou, ao contrário, que ele havia matado o menino, e, perdendo a
cabeça, sem nada verificar, descarregou um golpe na cabeça do mangusto,
e matou-o. Entrou, em seguida, no aposento e viu seu filho e a cobra em
pedaços, e compreendeu. Transtornado de arrependimento, pôs-se a
golpear o próprio peito, a arrancar os cabelos, repetindo: “Teria preferido
que este menino não tivesse nascido para que eu não houvesse cometido
esse ato de ingratidão e ignomínia!”
Nesse momento chegou, a esposa e, vendo o marido chorando, disse-lhe:
“Por que choras e quem matou esta cobre e o mangusto?” O marido contou-
lhe a história e concluiu: “Essas são as consequências da precipitação.”
Este, ó rei soberano, concluiu dizendo Báidaba o filósofo ao rei da Índia, é o
caso do homem que age precipitadamente, sem antes refletir nem verificar.
(CHALLITA 1975. p. 126 a 128).
“Os Dois Irmãos” é mais um conto assinalado por Coelho (1987, p. 20) que
reaparece em diversas partes do mundo. Bettelheim (1985, p. 115) revela que a
referida narrativa foi encontrada em um papiro egípcio de 1250 a. C. A partir de
então se modificou. Uma pesquisa relaciona setecentos e setenta variantes. O
significado assume diferentes posições e relevância de acordo um o lugar para o