Download PDF
ads:
Ministério da Educação
Universidade Federal de Goiás
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública
SUELI LEMES DE ÁVILA ALVES
ANÁLISE DAS BASES MOLECULARES DA RESISTÊNCIA À ISONIAZIDA
E RIFAMPICINA DE ISOLADOS DE MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS
OBTIDOS DE PACIENTES COM TUBERCULOSE NO ESTADO DE GOIÁS.
Orientador: Prof. Dr. André Kipnis
Dissertação de Mestrado
Goiânia -GO
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Termo de Ciência e de Autorização para Disponibilizar as Teses e
Dissertações Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de
Goiás–UFG a disponibilizar gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei 9610/98, o
documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou
download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.
1. Identificação do material bibliográfico: [ X] Dissertação [ ] Tese
2. Identificação da Tese ou Dissertação
Autor(a): Sueli Lemes de Ávila Alves
CPF: 263789141-68 E-mail: [email protected]
Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ X]Sim [ ] Não
Vínculo Empregatício do autor Secretaria de Saúde do Estado de Goiás
Agência de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico.
Sigla: CNPq
País: Brasil UF:GO CNPJ:
33.654.831/0001-36
Título: ANÁLISE DAS BASES MOLECULARES DA RESISTÊNCIA À ISONIAZIDA E RIFAMPICINA DE
ISOLADOS DE Mycobacterium tuberculosis OBTIDOS DE PACIENTES COM TUBERCULOSE NO
ESTADO DE GOIÁS.
Palavras-chave: TBMDR, Rifampicina, Isoniazida, genes katG e rpoB
Título em outra
língua:
ANALYSIS OF THE MOLECULAR BASIS OF RESISTANCE TO ISONIAZID and
RIFAMPICIN IN Mycobacterium tuberculosis ISOLATES OBTAINED FROM PATIENTS
WITH TUBERCULOSIS IN THE STATE OF GOIÁS.
Palavras-chave em outra língua: MDR-TB, Rifampicin, Isoniazid, katG and rpoB genes.
Área de concentração: Microbiologia
Data defesa: (11/03/2010)
Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical e Saúde Pública
Orientador(a): Dr. André Kipnis
CPF: 07596549802 E-mail: akipnis@iptsp.ufg.br
3. Informações de acesso ao documento:
Liberação para disponibilização?
1
[ X ] total [ ] parcial
Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões:
[ ] Capítulos. Especifique: __________________________________________________
[ ] Outras restrições: _____________________________________________________
Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o
envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.
O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos
contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão
procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo,
permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat.
________________________________________ Data: ____ / ____ / _____
Assinatura do(a) autor(a)
1
Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste
prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre
disponibilizados.
ads:
Ministério da Educação
Universidade Federal de Goiás
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública
SUELI LEMES DE ÁVILA ALVES
ANÁLISE DAS BASES MOLECULARES DA RESISTÊNCIA À ISONIAZIDA
E RIFAMPICINA DE ISOLADOS DE MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS
OBTIDOS DE PACIENTES COM TUBERCULOSE NO ESTADO DE GOIÁS.
Orientador: Prof. Dr. André Kipnis
Dissertação apresentada ao
PPGMT/IPTSP/UFG como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
Medicina Tropical, área de
concentração de Microbiologia.
Goiânia-GO
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)
GPT/BC/UFG
Alves, Sueli Lemes de Ávila.
Estudo de isolados de Mycobacterium tuberculosis
resistentes à isoniazida e rifampicina. Sueli Lemes de Ávila
Alves 2010.
ix, 80 f.: il., figs, tabs.
Orientador: Prof. Dr. André Kipnis
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Bibliografia.
Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas.
Apêndices.
1. TBMDR; 2.Rifampicina; 3. Isonizida; 4 Genes katG e
rpoB I. Análise das bases moleculares da resistência à
isoniazida e rifampicina de isolados de Mycobacterium
tuberculosis obtidos de pacientes com tuberculose no estado
de Goiás
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais Victória e Emílio Lemes,
aos meus filhos, Sonahra, Kim e Dylan,
e à minha netinha Clara Borges Ávila
como exemplo de luta, perseverança e força de vontade.
Deve-se sempre seguir em frente
Ainda que as pernas estejam trêmulas.
Robin Robers
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter me dado fé para acreditar
que seria capaz, forças para resistir diante das dificuldades, e esperanças para
seguir em frente.
Ao meu amor, amigo e companheiro Reinaldo Honório Porto, por confiar
em mim, estar ao meu lado nos momentos difíceis e incentivar-me a não
desistir.
Ao meu orientador, Dr. André Kipnis por se disponibilizar a me orientar,
mesmo sabendo das dificuldades que eu lhe causaria em função dos vários
anos afastada da academia, da pouca disponibilidade de tempo e da quase
ausência de conhecimento na área de Biologia Molecular.
À Dra. Ana Paula Junqueira Kipnis pela colaboração nas correções da
dissertação.
À direção e colegas do Laboratório de Saúde Pública Dr Giovanni
Cysneiros/LACEN/GO com agradecimento especial aos profissionais da Seção
de Micobactérias, Ivanísio Gomes de Santana, Héberson Alves de Oliveira e
Maria Gasparina de Carvalho pela amizade e apoio na recuperação dos
isolados utilizados neste estudo.
À responsável pelo setor de Ensino e Pesquisa/LACEN-GO, MSc.
Myriam de Almeida Franco Campos por incentivar-me a buscar novos
conhecimentos.
Aos colegas da VISA/DPCISS/SMS/Goiânia, em especial à MSc. Zilah
Cândida Pereira das Neves por compreender que o tempo gasto com a
educação retorna ao serviço como trabalho de melhor qualidade.
Á coordenadora Dra. Ana Lúcia Sampaio Sgambatti Andrade e demais
colegas do projeto Vigipneumo (Vigilância Epidemiológica Multinacional Latino
Americana para a Doença Pneumocócica Invasiva), pelo carinho e amizade a
mim dispensados neste período que estivemos juntos.
Ao Dr. João Alves de Araújo Filho pela disponibilidade em cooperar
com meu estudo e aos demais componentes da minha banca de qualificação e
da defesa pública, Dr. Paulo Sérgio Sucasas da Costa, Dr. Luiz Artur
Mendes Bataus e Dr. Albenones José de Mesquita pelas correções e
preciosas sugestões para melhoria do meu trabalho.
Aos colegas do laboratório de Bacteriologia Molecular pelo acolhimento,
amizade e colaboração.
A todos os professores e funcionários do Instituto de Patologia Tropical
e Saúde Pública que de uma forma ou outra contribuíram para este estudo.
Ministério da Educação
Universidade Federal de Goiás
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública
SUELI LEMES DE ÁVILA ALVES
ANÁLISE DAS BASES MOLECULARES DA RESISTÊNCIA À
ISONIAZIDA E RIFAMPICINA DE ISOLADOS DE MYCOBACTERIUM
TUBERCULOSIS OBTIDOS DE PACIENTES COM TUBERCULOSE NO
ESTADO DE GOIÁS.
Orientador: Prof. Dr. André Kipnis
Dissertação apresentada ao
PPGMT/IPTSP/UFG como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
Medicina Tropical, área de
concentração de Microbiologia.
Goiânia-GO
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)
GPT/BC/UFG
Alves, Sueli Lemes de Ávila.
Estudo de isolados de Mycobacterium tuberculosis
resistentes à isoniazida e rifampicina. Sueli Lemes de Ávila
Alves 2010.
ix, 80 f.: il., figs, tabs.
Orientador: Prof. Dr. André Kipnis
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Bibliografia.
Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas.
Apêndices.
1. TBMDR; 2.Rifampicina; 3. Isonizida; 4 Genes katG e
rpoB I. Análise das bases moleculares da resistência à
isoniazida e rifampicina de isolados de Mycobacterium
tuberculosis obtidos de pacientes com tuberculose no estado
de Goiás
i
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1. Esquemas de tratamento para tuberculose utilizados
no Brasil de 1979 a 2009.
14
QUADRO 2. Esquema básico para adultos e adolescentes utilizado
a partir de 2009.
15
QUADRO 3. Esquema para multirresistência.
15
QUADRO 4. Mecanismos de ação e genes envolvidos com a
resistência à H e R em M. tuberculosis.
19
QUADRO 5. Causas potenciais de resistência a drogas em M.
tuberculosis.
22
QUADRO 6. Critérios de resistência do M. tuberculosis em meio de
LJ com drogas.
36
ii
LISTA DE TABELAS
TABELA I. Características dos pacientes portadores de TBMDR e com
monorresistência a uma das duas drogas (H ou R).
44
TABELA II. Status para HIV, outras comorbidades e desfecho da
doença nos pacientes portadores de TBMDR e monorresistentes.
46
TABELA III. Correlação do motivo de retratamento com tipo de
tuberculose e esquemas utilizados para tratamento no momento da
coleta da amostra clínica.
47
TABELA IV. Correlação dos esquemas de tratamento utilizados no
momento da coleta da amostra clínica e tipo de TB.
49
TABELA V. Correlação da data da coleta, amostras clínicas,
resistência fenotípica à H e R e mutações observadas nos genes
katG e rpoB de isolados de M. tuberculosis.
52
iii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA1. Organização do gene rpoB ressaltando as regiões e
códons com mutações já descritas pela literatura.
17
FIGURA 2. Esquema ilustrativo do TS pelo método das proporções.
37
FIGURA 3. Eletroferograma ilustrativo do sequenciamento do gene
rpoB.
50
FIGURA 4. Sequência do gene katG.
53
FIGURA 5. Sequência do gene katG.
54
FIGURA 6. Sequência do gene rpoB.
55
FIGURA 7. Sequência do gene rpoB.
56
iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A - Adenina
Asn - Asparagina
Arg - Arginina
AIDS - Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida
ATCC - American Tipical Clinical Collection
BAAR - Bacilos Álcool Ácido Resistente
BCG - Bacilo Calmette Guerin
C - Citosina
CNCT - Centro Nacional de Controle da Tuberculose
CMTB - Complexo Mycobacterium tuberculosis
CTAB - Brometo de Cetiltrimetilamino
DFC - Dose Fixa Combinada
DNA - Ácido desoxirribonucleico
dNTPs - desoxirribonucleotídeo trifosfato
DOTS - Directly Observed Treatment Strategy
DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
EA - Esquema Alternativo
E. coli - Escherichia coli
EDTA - Ácido etilenodiamino tetra-acético
E I - Esquema I
E IR - Esquema IR
E III - Esquema III
E - Etambutol
Et - Etionamida
G - Guanina
G - Aceleração da gravidade
GC - Guanina-Citosina
Gly - Glicina
His - Histidina
HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana
H37Rv - Cepa padrão de Mycobacterium tuberculosis
H - Isoniazida
IS - Sequência de inserção
Kb - Kilobases
L - Levofloxacina
LAM - Latino Americana Mediterrâneo
LPS - Longa Sequência de Polimorfismo
LCR - Líquido Céfalo Raquidiano
LJ - Löwenstein-Jensen
M - Molar
MB - Milhões de Bases
MDR - Multidroga Resistente
MIRU - Mycobacterial Interpersal Repetitive Units
MNT - Micobactérias Não Tuberculosas
v
MOTT - Mycobacterium Other Than Tuberculosis
Ng - Nanogramas
P - Ácido Para-aminosalicílico
Pb - Pares de Bases
PCR - Reação da polimerase em cadeia
PCT – Programa de Controle da Tuberculose
PNB - Ácido p-nitrobenzóico
PNCT - Programa Nacional de Controle da Tuberculose
Pro - Prolina
PQT - Poliquimioterapia
R - Rifampicina
RD - Região Diferenciadora
RNA - Ácido Ribonucleico
RFLP - Polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição
rpm - rotações por minuto
rRNA - Ácido ribonucleico ribossômico
RRDR - Região de Determinação da Resistência à Rifampicina
S - Estreptomicina
SDS - Dodecil Sulfato de Sódio
Ser - serina
T - Timina
TB - Tuberculose
TBE - Tris-Borato-EDTA
TBMDR - Tuberculose multidrogas resistente
TBXDR - Tuberculose extensivamente drogas resistente
TCH - Hidrazida do ácido tiofeno 2 carboxílico
TE - Tris - EDTA
Thr - Treonina
tRNA - RNA transportador
TS - Teste de Suscetibilidade
Tyr - Tirosina
VNTR – Repetições em tandem de números variáveis
Z - Pirazinamida
vi
RESUMO
A tuberculose multidroga resistente representa um desafio em escala
mundial. O diagnóstico rápido através de técnicas moleculares é capaz de
proporcionar uma terapêutica inicial mais agressiva e adequada. Este trabalho
teve como objetivo analisar as bases moleculares da resistência à isoniazida (H)
e rifampicina (R) de cepas de Mycobacterium tuberculosis isoladas de casos de
tuberculose em Goiás e determinar geneticamente as causas destas
resistências. Do total de 4.607 culturas para micobactérias realizadas no período
de setembro 2005 a dezembro de 2007, foram analisados 24 isolados de 16
pacientes resistentes a H e/ou R. Os resultados obtidos dos testes fenotípicos de
sensibilidade aos antimicrobianos foram comparados às mutações observadas
nos principais genes responsáveis pelo desenvolvimento de resistência a estas
drogas, gene rpoB para isolados resistentes à R e gene katG para os isolados
resistentes à H. Dentre os 24 isolados, 71% eram fenotipicamente resistentes a
H e as únicas mutações envolvidas com resistência foram observadas no códon
315 (41%). Dos isolados resistentes a R (71%), foram observadas mutações nos
códons 456 (76,5%), 451 (17,6%) e 447 (5,9%). Nossos achados estão em
concordância com as principais mutações observadas nos isolados resistentes a
R e/ou H descritos na literatura. O percentual de concordância entre os testes
fenotípicos e genotípicos foi de 41% para H e 94% para R considerando o
número de isolados e de 40% e 91% respectivamente considerando-se o número
de pacientes.
Palavras Chaves: TBMDR, Rifampicina, Isoniazida, genes katG e rpoB.
vii
SUMMARY
Multidrug-resistant tuberculosis is a challenge worldwide. Rapid
diagnosis by molecular techniques can provide a more aggressive and
appropriate initial therapy. This study aimed to analyze the molecular basis of
resistance to isoniazid (INH) and rifampin (R) of Mycobacterium tuberculosis
strains isolated from cases of human tuberculosis in Goiás and to genetically
determine the causes of the observed resistances. Of the 4.607 cultures for
mycobacteria processed in the period of September of 2005 and December of
2007, 24 isolates from 16 patients resistant to at least H and/or R were
analyzed. We compared the results obtained by phenotypic tests with mutations
in key genes responsible for the development of resistance to these drugs, the
rpoB gene for isolates resistant to R and katG gene for strains resistant to H.
Seventy one percent of the isolates were resistant to H, and the mutations
involved with resistance observed in the katG gene were in codon 315 (41%).
The most frequent mutations observed in the rpoB gene of the R resistant
isolates (71%) were in codons 456 (76.5%) and 451 (17.6%). Our findings are
similar to those reported in the literature. We conclude that the percentage of
agreement between genotypic and phenotypic tests was 41% for H and 94% for
R considering the number of isolates and 40% and 91%, respectively
considering the number of patients.
Keywords: MDR-TB, Rifampicin, Isoniazid, katG and rpoB genes.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS i
LISTA DE TABELAS ii
LISTA DE FIGURAS iii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS iv
RESUMO vi
ABSTRACT vii
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Histórico 1
1.2. Características das micobactérias 4
1.3. Patogenia 6
1.4. Epidemiologia 9
1.5. Tratamento 10
1.5.1 Rifampicina 16
1.5.2 Isoniazida 18
1.6. Resistência aos agentes antimicobacterianos 19
1.6.1 Resistência primária 21
1.6.2 Resistência adquirida 21
1.6.3 Tuberculose multidroga resistente 21
1.6.4 Tuberculose extensivamente droga resistente 24
1.7. Epidemiologia molecular 25
2. JUSTIFICATIVA 30
3. OBJETIVOS 33
ix
3.1 Objetivo geral 33
3.2 Objetivos específicos 33
4. MATERIAL E MÉTODOS 34
4.1 Amostragem 34
4.2 Coleta e processamento das amostras 35
4.2.1 Culturas 35
4.2.2 Testes de suscetibilidade aos antimicrobianos 35
4.2.3 Extração do DNA cromossomal 37
4.2.4 Reação em Cadeia da Polimerase 39
4.3 Purificação e sequenciamento dos produtos de PCR 40
4.3.1 Purificação 40
4.3.2 Sequenciamento dos produtos de PCR 40
5. RESULTADOS 42
6. DISCUSSÃO 57
7. CONCLUSÕES 64
8. PERSPECTIVAS 65
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 66
10. ANEXOS 75
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 HISTÓRICO
A tuberculose (TB) é uma doença crônica que existe desde os tempos
de Hipócrates, denominada também de tísica, palavra de origem grega que
significa definhar. Conhecida também como Peste Branca e intitulada por John
Bunyan na metade do século XVII como “Capitã da Morte Humana” (Ducati et
al. 2006). A observação do nível de conservação dos genes de Mycobacterium
tuberculosis, a pobreza de mutações e dados de análise de deleção do
genoma levam à hipótese de que os modernos organismos de M. tuberculosis
provêm de uma evolução de 15.000 a 20.000 anos (Mathema et al. 2006,
Sreevatsan et al. 1997, Brosch et al. 2002).
A doença é causada por bactérias do complexo Mycobacterium
tuberculosis (CMTB) e sua apresentação clínica é caracterizada principalmente
pelo comprometimento dos pulmões (forma pulmonar) podendo atingir também
outros sítios anatômicos (extrapulmonar) ou ocorrer de maneira disseminada que
é denominada de tuberculose miliar (Ducati et al. 2006, Pandolfi et al. 2007).
Embora o microrganismo possa se instalar em qualquer órgão ou tecido
do corpo humano, a forma pulmonar é a única com importância epidemiológica,
por ser responsável pela manutenção da cadeia de transmissão (Silva & Boechat
2004).
Atualmente, ainda permanece como um sério problema de saúde pública
em todo o mundo, com altas taxas de morbidade e mortalidade, principalmente
2
em países em desenvolvimento. Acomete preferencialmente pessoas na faixa
etária mais produtiva da vida, compreendida entre 15 e 49 anos (van Soolingen
2001).
A doença ativa se desenvolve a partir de uma infecção primária ou por
reativação endógena de uma infecção antiga podendo ocorrer também re-
infecção exógena (Warren et al. 2004).
Nos últimos anos, além do aumento no número de casos nos países
pobres de recursos, também re-emergiu em nações desenvolvidas, como
consequência do aumento na imigração, sinergismo com a epidemia do vírus da
imunodeficiência adquirida (HIV) e falta de priorização dos programas de controle
em saúde pública (Lazzarini et al. 2007).
Apesar de existirem recursos tecnológicos capazes de promover seu
controle, ainda não perspectiva de obter-se, em futuro próximo, sua
erradicação, a não ser que novas vacinas ou tratamentos sejam descobertos.
Além disso, a associação da tuberculose com a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) representa um novo desafio em escala mundial (Boffo et al.
2004).
Após o desenvolvimento de quimioterápicos específicos para a
tuberculose, acreditou-se que a doença seria erradicada, contudo, houve
redução nos investimentos em pesquisas e programas de controle, além de
outros fatores como o advento da SIDA/AIDS, movimentos populacionais e o
surgimento de linhagens multidroga resistentes, fazendo com que a doença
atingisse proporções alarmantes e hoje consiste em umas das principais
causas de mortes por doença infecciosa por um único agente no mundo
3
(Raviglione et al. 1995). Na tentativa de conter o problema a Organização
Mundial de Saúde (OMS) tem lançado estratégias como DOTS (Directly
Observed Treatment Strategy), DOTS Plus e STOP TB que têm por objetivo
padronizar ações e promover parcerias que contribuam para o fortalecimento
dos profissionais e sistemas de saúde além de permitir que países em
desenvolvimento com altas taxas da doença tenham acesso aos medicamentos
de boa qualidade, com baixo custo, inclusive para a tuberculose multidroga
resistente/TBMDR (Johnson et al. 2006, Fu & Shinnick 2007, Amukoye 2008).
A Organização Mundial de Saúde, através da estratégia STOP TB e
baseado nas Metas de Desenvolvimento do Milênio, espera reduzir à metade a
incidência e a mortalidade por TB até 2015, em relação ao ano de 1990 e, como
meta de longo prazo, eliminar a doença como problema de saúde pública até o
ano 2050. Para isso foram propostas metas mais rigorosas para avaliação do
impacto da estratégia DOTS que é composta de cinco elementos para o controle
da TB: a) compromisso político b) detecção de casos por baciloscopia c)
tratamentos diretamente observados com esquemas padronizados d) sistema
regular e ininterrupto de suprimento de drogas e) sistema de registro de
notificações (Dye et al. 2005, Johnson et al. 2006).
A tipagem molecular, baseada em marcadores genéticos, permite a rápida
detecção e identificação de micobactérias em nível de espécie dentro do
complexo M. tuberculosis (CMTB), bem como fornece ferramentas úteis para
analisar a transmissão e a evolução destes microrganismos. Através de análises
do genoma está sendo possível organizar a estrutura da população mundial de
M. tuberculosis (Lazzarini et al. 2008). Os avanços na área de diagnóstico
4
laboratorial permitiram a realização de teste de suscetibilidade a drogas de
segunda linha, caracterização e tipagem molecular de membros do complexo M.
tuberculosis atualmente utilizadas na maioria dos laboratórios de micobactérias.
Nos últimos anos tem sido desenvolvidas uma grande variedade de ferramentas
para a tipagem genética molecular destes isolados (Diguimbaye et al. 2006).
1.2 CARACTERÍSTICAS DAS MICOBACTÉRIAS
As micobactérias estão posicionadas taxonomicamente na Ordem
Actinomycetales, família Mycobacteriaceae, Gênero Mycobacterium que
compreende as espécies do Complexo Mycobacterium tuberculosis (CMTB),
responsáveis pela doença em humanos e animais e Mycobacterium Other Than
Tuberculosis (MOTT), atualmente designadas como Micobactérias Não
Tuberculosas (MNT) que contam com mais de 125 espécies descritas (Brosch et
al. 2002). Pertencem ao CMTB as espécies M. tuberculosis, (principal
responsável pela tuberculose em humanos), M. bovis (responsável pela doença
em bovinos e humanos) e M. africanum responsável pela tuberculose em
humanos, encontrada no leste e oeste da África (Koneman et al. 2001, Brosch et
al. 2002). Alguns autores citam também M. microti, M. caprae e M. pinnipedii
como pertencentes ao CMTB. A espécie M. Canetti citada por alguns autores
como pertencente ao complexo (Arnold 2006), foi descrita inicialmente por
Canetti em 1969 e de acordo com Euzeby ainda não foi oficialmente reconhecida
como membro do CMTB (Euzeby, 2009). Segundo Brosch (2002), M. canetti é
uma variante lisa de M. tuberculosis, muito rara, geralmente isolada de pacientes
5
africanos ou que tenham contato com esta região. Embora apresente sequência
16S rRNA idêntica a outros membros do complexo difere em muitos aspectos
incluindo polimorfismo genético, número de cópias de IS1081, morfologia da
colônia e conteúdo lipídico da parede celular.
De acordo com a edição de 1986 do Bergey’s Manual as cepas clássicas
do CMTB podem ser diferenciadas fenotipicamente das demais espécies do
complexo, porém, vários parâmetros como análise de extratos antigênicos e
estudos de homologia antigênica indicam que todas as espécies do complexo
representam uma única espécie (Wayn & Kubica 1986). Geneticamente, todos os
membros deste complexo são extremamente similares apresentando 99,9% de
identidade do rRNA 16S (Chimara et al. 2004). Embora os estudos evidenciem
que os membros deste complexo constituam de fato uma única espécie, por
razões ligadas à importância médica e veterinária do grupo, tais como poder
patogênico e espectro de hospedeiros de cada espécie, a nomenclatura
permanece (Niero & Leão 2004).
São bactérias aeróbias, imóveis, não esporuladas, não encapsuladas, em
forma de bastonetes curvos ou retos, medem de 1 a 10 µm de comprimento por
0,2 a 0,6 µm de largura. Possuem alto conteúdo lipídico na sua parede celular
(cerca de 60% do seu peso seco) constituídos de ácidos graxos de cadeia longa,
denominados de ácidos micólicos que lhes confere a propriedade morfotintorial
da álcool-ácido resistência que é a característica mais importante deste gênero.
Devido à capacidade de resistir à descoloração pelo álcool e ácido são
designados de bacilos álcool-ácido resistentes, ou BAAR (Jawetz et al. 2000;
Adekambi & Drancourt 2004).
6
O M. tuberculosis, principal espécie do gênero, tem tempo de geração de
18 horas em meio de Löweinstein-Jensen (LJ), ou seja, requer mais de sete dias
para produzir colônias visíveis em meios de cultura sólidos como LJ que é
composto por glicerol e asparagina como principais fontes de carbono e
nitrogênio, respectivamente (Pandolfi et al. 2007). Em meio de LJ desenvolvem-
se como colônias não pigmentadas que ao microscópio óptico e coloração de
Ziehl-Neelsen apresentam-se na forma de ramos alongados e tortuosos
conhecidos como cordas. A presença de cordas na baciloscopia é indicativa de
virulência, ou seja, CMTB (Hunter et al. 2006).
1.3 PATOGENIA
Em 1722, Benjamin Marten levantou a hipótese de que a doença era
transmitida de um indivíduo a outro, através da tosse de uma pessoa doente e
inalação por outra pessoa saudável. Em 1865 Jean-Antoine Villemin demonstrou
formalmente através de experimentos com coelhos que a tuberculose era uma
doença contagiosa. Em 1882, Robert Koch isolou e cultivou o M. tuberculosis
extraído de tubérculos triturados (Ducati et al. 2006).
A patogenicidade do M. tuberculosis depende de sua capacidade de
sobreviver e crescer dentro das células do hospedeiro. O bacilo não produz
toxinas demonstráveis, porém, quando envolvido pelos macrófagos, inibe a fusão
das vesículas fagocíticas com os lisossomos (Pandolfi et al. 2007).
7
A tuberculose é uma doença que afeta principalmente os pulmões e tem
início com uma reação inflamatória inespecífica progredindo para uma reação
granulomatosa que limita a disseminação dos bacilos. Na maioria dos casos de
infecção primária estas lesões evoluem favoravelmente embora alguns bacilos
possam persistir viáveis nos tecidos por meses ou décadas. Uma vez que a
resposta imune não consegue erradicar definitivamente o patógeno, é
estabelecida uma infecção crônica com um complexo mecanismo de regulação
da resposta imunológica decorrente da interação entre hospedeiro e patógeno,
nesta situação (Botasso et al. 2007).
O sistema imune é capaz de conter a evolução de infecção para doença
em 90% dos indivíduos. Apenas dez por cento (10%) dos indivíduos vão
desenvolver tuberculose ativa após um período de latência que pode variar de
semanas a muitas décadas e de um modo geral com várias apresentações
clínicas variando de subclínica a potencialmente fatal, podendo envolver
qualquer órgão (Pandolfi et al. 2007). A patogenicidade exata do bacilo e os
fatores que determinam a grande variabilidade no curso da infecção
permanecem apenas parcialmente esclarecidos (Dormans et al. 2004). Acredita-
se que os bacilos possam permanecer vivos no interior dos granulomas durante
toda a vida do indivíduo reativando-se diante de condições favoráveis ao seu
desenvolvimento sendo que o risco de desenvolver a doença é maior nos dois
primeiros anos após a infecção (Pandolfi et al. 2007). O indivíduo portador pode
sofrer uma redução de sua capacidade em responder à infecção sob algumas
condições como por exemplo o uso de corticóides e outras drogas
imunossupressoras, o desenvolvimento de certas doenças como diabetes
8
mellitus e a infecção pelo vírus HIV favorecendo o desenvolvimento de doença
ativa (American Thoracic Society, 2000). Indivíduos com infecção latente, ou
seja, que não apresentam a doença em sua forma ativa, não transmitem os
bacilos (Pandolfi et al. 2007).
TB recorrente é a nova ocorrência da doença após um prévio episódio que
tenha sido considerado clinicamente curado. Em geral a tuberculose ativa pode
ocorrer devido a uma infecção recente ou reativação endógena de uma infecção
prévia (Mathema et al. 2006).
A progressão de infecção para doença ou cura é regulada pela integridade
do sistema imunológico através do qual pode ocorrer a eliminação imediata do
microrganismo e/ou a condição de latência ou falência destes mecanismos e
desenvolvimento de doença ativa (Ducati et al. 2006).
Existem acentuadas diferenças na capacidade das várias espécies de
micobactérias de causar lesões em hospedeiros diferentes. Tanto o M. bovis
como o M. tuberculosis são igualmente patogênicos para os humanos e a via de
infecção (respiratória versus intestinal por exemplo), vai determinar o padrão das
lesões e sintomatologia (Jawetz et al. 2000).
9
1.4 EPIDEMIOLOGIA
Estima-se que 1/3 da população mundial esteja infectada com o bacilo da
tuberculose resultando em dois milhões de mortes anualmente e oito milhões de
casos novos por ano (Anthony et al. 2005).
A OMS alerta que se a efetividade dos programas de controle da doença
não obtiver melhoras substanciais, o número de casos passará de 200 milhões
em 2001 para perto de 1 (um) bilhão em 2020 (Kanduma et al. 2003).
Dois dos grandes problemas no controle da doença são a co-infecção com
o vírus HIV e a resistência às drogas usadas atualmente para o tratamento (van
Soolingen et al. 2001).
De acordo com o décimo terceiro relato anual da OMS sobre tuberculose,
em 2007 havia no mundo todo, 9,27 milhões de casos de tuberculose com uma
taxa de incidência de 139/100.000 habitantes (Donald & van Helden 2009). O
Brasil apresenta o maior número de casos da América Latina, com taxa de
incidência de 48 novos casos/100.000 habitantes e taxa de prevalência de
60/100.000 obtendo nos últimos anos uma melhoria no ranking dos 22 países
prioritários em programas de controle da OMS passando do 16º lugar em 2006
para o 18º em 2007 (OMS 2008).
Segundo informações do Ministério da Saúde, no Brasil, 70% dos casos
estão concentrados em 315 dos 5.565 municípios existentes no país.
Na distribuição de casos por unidade federada, os estados do Rio de
Janeiro e Amazonas possuem as maiores taxas de incidência com
71,7/100.000 habitantes e 66,9/100.000 habitantes, respectivamente.
10
Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Acre, Alagoas e
Maranhão possuem taxas de incidência superiores a 38,2 casos por 100.000
habitantes. Goiás (8,6), Distrito Federal (12,0) e Tocantins (15,5) são os
estados com os menores valores de incidência no país (Brasil 2009)
1
.
Considerando-se por regiões a que apresenta maior incidência é a Norte com
48,2/100.000 habitantes, seguida pela Sudeste, com 45,5/100.000, a Nordeste,
com 43,1/100.000, a Sul, com 30,4/100.000, e por último, a região Centro-
Oeste, com 27,9/100.000 (Brasil 2009)
1
.
De acordo com estudo de Brito e colaboradores (2004), no estado do Rio
de Janeiro a maior notificação é feita pela capital, município do Rio de Janeiro
sendo que 30% dos casos diagnosticados têm origem em hospitais (Brito et al.
2004).
1.5 TRATAMENTO
As drogas usadas no tratamento da tuberculose destroem as
micobactérias patogênicas, mas paradoxalmente, podem selecionar os
microrganismos resistentes para os quais as drogas tornam-se ineficientes
(Johnson et al. 2006). Antes da descoberta de antibióticos específicos para o
tratamento da tuberculose, a doença não tinha cura e a mortalidade era de 50 a
60%. Naquela época o tratamento era realizado em unidades hospitalares,
denominadas de sanatórios e constituía-se de repouso, ar fresco, banhos de sol
e dieta saudável (Ducati et al. 2006). Com a introdução de drogas específicas, na
década de 50 e desenvolvimento de novas drogas acompanhadas da
11
implantação de regimes específicos na década de 80, a chance de cura passou a
ser de 98%, acreditando-se a partir daí em uma possível erradicação da doença
(Brasil 2002).
Logo após a introdução das primeiras drogas para o tratamento da
tuberculose, (estreptomicina, ácido para-aminosalicílico e isoniazida), foram
observadas resistências clínicas nos isolados de M. tuberculosis (Crofton &
Mitchison 1948, Siddiqi et al. 2007). Estudos sobre resistência às drogas em
vários países na década de 1960 demonstraram que os países em
desenvolvimento apresentavam maior incidência de resistência a drogas do que
países desenvolvidos (Espinal 2003). A resistência aos tuberculostáticos é
conhecida desde a descoberta da primeira droga anti-TB, a estreptomicina, em
1944, e a presença de mutantes resistentes em populações selvagens têm sido
bastante documentadas. A vigilância da resistência primária (quando o paciente
se infecta com um microrganismo resistente) e adquirida (quando a resistência
surge após o início do tratamento) é importante para o conhecimento da
qualidade dos programas, da quimioterapia empregada e detecção de erros nos
respectivos tratamentos anteriores (Bostanadab et al. 2007).
Estudos in vitro mostraram que no M. tuberculosis a mutação espontânea,
(que ocorre independente do contato prévio com a droga), é a principal causa do
desenvolvimento da resistência, enquanto que a pressão seletiva aos
antimicrobianos pode estar à frente do aumento acentuado de mutantes
resistentes às drogas (Mathema et al. 2006). Mutantes resistentes a qualquer
droga estão presentes naturalmente em qualquer grande população bacteriana,
independente de exposição prévia a drogas (Johnsons et al. 2006, Paramasivan
12
& Venkataraman 2004). A cronicidade da doença e longo tempo necessário para
seu tratamento com antibióticos leva ao aparecimento de bacilos resistentes a
drogas. A utilização de pelo menos três drogas no tratamento da tuberculose
minimiza o risco de desenvolvimento destas cepas resistentes, e garante o
sucesso da cura.
O tratamento inconsistente ou parcial da doença favorece o surgimento
de cepas multirresistentes. As mutações que conferem resistência são processos
espontâneos cujas frequências ocorrem na taxa de 1x10
8
. Em estudos
epidemiológicos observa-se uma proporção entre bacilos resistentes e sensíveis
da ordem de 1x10
6
para isoniazida e 1x10
8
para rifampicina e menos do que
1x10
14
para ambas simultaneamente (Sharma et al. 2006, Siddiqi et al. 2007).
A terapia combinada com várias drogas é essencial para diminuir a
incidência de resistência durante o tratamento. A seleção de mutantes
resistentes pode ocorrer quando os pacientes são tratados inadequadamente ou
são expostos, mesmo que transitoriamente a doses sub-terapêuticas levando à
pressão seletiva para emergência e manutenção de microrganismos resistentes
(Mathema et al. 2006). Nos casos de TBMDR o tratamento é realizado com
drogas denominadas de “segunda linha” que são mais caras, mais xicas e
menos eficazes que as de primeira linha. O tempo mínimo de tratamento para
TBMDR é de 18 meses e deve ser feito sob monitoramento e supervisão. Os
pacientes devem receber aconselhamento no sentido de que o desenvolvimento
de resistência a estas drogas esgota as possibilidades de tratamento (Raviglione
et al. 2007, Chan et al. 2004).
13
No Brasil, a estreptomicina era usada como a única droga no
tratamento da tuberculose até a descoberta do ácido para-aminosalicílico em
1946 quando o tratamento passou a ser a associação das duas drogas para
evitar a emergência da resistência observada nos esquemas monoterápicos.
Em 1952, a isoniazida passou a fazer parte da politerapia, porque, naquele
ano foi descoberta a sua eficácia contra o bacilo da tuberculose (Hijjar et al.
2007). No final da década de cinquenta, Fraga e colaboradores realizaram
estudo no Laboratório Central de Tuberculose do Rio de Janeiro
demonstrando alta frequência de resistência a pelo menos duas das drogas
usadas nos pacientes com tuberculose. Esta situação levou o CNCT (Centro
Nacional de Controle da Tuberculose), em 1964, a padronizar os esquemas de
tratamento, isto é, seleção dos medicamentos, tempo de uso e dosagens de
acordo com o histórico clínico/quimioterápico dos pacientes (Hijjar et al. 2007,
Brasil 2002).
Em 1979 ocorreu nova modificação do esquema quimioterápico passando
a ser composto pela R, H e pirazinamida (Z), com duração de seis meses
(esquema 2RHZ/4RH) para os pacientes sem tratamento anterior. O esquema de
seis meses usado atualmente e mostrado no Quadro 1 é eficaz e menos tóxico.
O Ministério da Saúde está propondo uma mudança de tratamento com a
introdução do etambutol como quarto fármaco na fase intensiva do tratamento
(dois primeiros meses) do esquema básico (Quadro 2).
A introdução do etambutol é justificada pelos aumentos da resistência
primária à isoniazida de 4,4% para 6,0% e resistência primária à isoniazida
associada à rifampicina de 1,1 para 1,4%, observados nos dados preliminares do
14
II Inquérito Nacional de resistência aos fármacos anti TB do qual participaram 6
estados (BA, MG, SP, SC, RS, RJ) além do Distrito Federal, conduzido em 2007
e 2008, em comparação com os resultados do I Inquérito Nacional, realizado no
período de 1995 a 1997 (Brasil 2009)
2
. Estas três drogas mais o etambutol (E)
são consideradas drogas de 1ª linha, as quais são usadas no tratamento da TB e
capazes de produzir uma atividade esterilizante em tratamento de curto prazo
(Johnson et al. 2006).
Quadro 1. Esquemas de tratamento para TB utilizados no Brasil de 1979 a 2009.
Situação Tempo/Tratamento
Sem tratamento anterior: Esquema I 2 R H Z / 4 R H
Com tratamento anterior:
Esq. IR
Reci
divante ou retorno após abandono:
2 R H Z E / 4 R H E
Meningite Tuberculosa: Esquema II 2 R H Z / 7R H
Falência dos Esquemas I ou IR: Esquema III 3 S Et E Z / 9 Et E
Fonte: Brasil 2004.
Siglas adotadas pela OMS: (R) rifampicina; (H) isoniazida; (Z) pirazinamida; (E)
etambutol; (S) estreptomicina; (Et) etionamida.
Assim, em 2010 deverá ser lançada no Brasil a nova apresentação do
fármaco, DFC (dose fixa combinada) também conhecido como “quatro em um”
para ser utilizado na fase intensiva do tratamento. A vantagem dessa terapia é
que ela aumenta a efetividade e a eficácia do tratamento com a inclusão de
uma quarta droga em um mesmo comprimido, o que reduz o abandono e
melhora a adesão ao tratamento além da queda no valor do tratamento por
paciente de US$ 40 para US$ 30. Cada comprimido do novo esquema de
15
tratamento contém rifampicina 150mg, isoniazida 75mg, pirazinamida 400mg e
etambutol 275mg. O novo esquema terapêutico será usado nos dois primeiros
meses dos novos tratamentos e o restante da terapia, que dura mais quatro
meses, será feita com as drogas usadas atualmente (Quadro 2). Dessa forma,
continuarão em uso duas das quatro drogas em um mesmo comprimido,
conhecido como “dois em um”. Portanto, tanto os pacientes novos quanto os
antigos cumprirão o mesmo esquema terapêutico nos últimos quatro meses de
tratamento. Foi proposto também o esquema de tratamento padronizado para
casos de TBMDR, conforme quadro 3 (Brasil 2009)
2
.
Quadro 2. Esquema Básico (EB - 2RHZE/4RH) para adultos e adolescentes,
utilizado a partir de 2009.
Regime Fármacos/Concentração Duração
2 RHZE
Fase intensiva
RHZE -150/75/400/275 mg
Comprimido em DFC
2 meses
4 RH
Fase de manutenção
RH – 300/200 ou 150/100mg
Cápsula ou comprimido
4 meses
Fonte: Brasil 2009
2
. Siglas: DFC (Dose fixa combinada); R (rifampicina); H
(isoniazida); Z (pirazinamida); E (etambutol).
Quadro 3. Esquema para multirresistência (EMR – 2S5ELZT/4S3ELZT/12ELT).
Regime Fármaco Duração
2S5ELZT
Fase intensiva
1ª etapa
Estreptomicina, etambutol,
levofloxacina, pirazinamida,
terizidona.
2 meses
4S3ELZT
Fase intensiva
2ª etapa
Estreptomicina, etambutol,
levofloxacina, pirazinamida,
terizidona.
4 meses
12 ELT
Fase de manutenção.
Etambutol, levofloxacina,
terizidona.
12 meses
Fonte: Brasil 2009
2
.
Siglas: S (estreptomicina); E (etambutol); L (levofloxacina); Z (pirazinamida); T
(terizidona).
16
A detecção precoce da resistência a drogas em isolados clínicos de
Mycobacterium tuberculosis é imprescindível não apenas para o tratamento
adequado, como também para prevenir a disseminação de microrganismos
resistentes (Amukoye 2008).
1.5.1 Rifampicina
A rifampicina é um fármaco lipofílico, altamente ativo contra micobactérias
que foi introduzido para tratamento da tuberculose em 1970 (Cunha e Frota
2005). Pode ser considerada como um marcador para a multirresistência aos
fármacos porque raramente observa-se monorresistência a ela o que sugere que
a mesma leve à rápida seleção de mutantes resistentes a outras drogas do
esquema de curta duração
(Campos 1999, Miotto et al. 2006). A resistência à R
tem sido atribuída a mudanças estruturais da RNA polimerase, produto da
expressão do gene rpoB o que leva a ligação pouco eficiente do fármaco ao seu
alvo (Carvalho et al. 2007, Rosseti et al. 2002).
Estudos de sequenciamento de DNA m demonstrado que mais de 95%
dos isolados resistentes à R apresentam mutação na região de 81 pb, entre as
bases 1276 e 1356 (códons 432 a 458 no gene rpoB de M. tuberculosis
correspondentes aos códons 507 a 534 no gene rpoB de Escherichia coli), da
subunidade β da RNA polimerase. Esta região denominada de RRDR (Região de
Determinação de Resistência à Rifampicina) é sabidamente a região
determinante para a resistência à R e usada como ponto alvo para todos de
17
sondas e sequenciamento (Rigouts et al. 2007, Bostanadab et al. 2007). Como
foram descritas também mutações fora desta região (como por exemplo, nos
códons 176, 486, 496 e 497, 558 e 598 (Figura 1), é recomendado que, quando
os estudos genéticos da região I visando à detecção da resistência à R falharem,
o gene rpoB deve ser sequenciado inteiro para prevenir demoras desnecessárias
no diagnóstico da TBMDR (Heep et al. 2001, Jenkins et al. 2005).
Figura 1. Organização do gene rpoB ressaltando as regiões e códons com
mutações já descritas pela literatura.
É importante determinar a distribuição das mutações que levam às
resistências em cada país através da introdução de rotinas diagnósticas de
testes moleculares a fim de controlar a disseminação da doença, incluindo a
investigação apropriada de casos através de diagnósticos rápidos e início
imediato da quimioterapia efetiva (Bostanadab et al. 2007).
Várias técnicas foram desenvolvidas para detectar a resistência à R
como: teste de suscetibilidade, bioluminescência, citometria de fluxo e
identificação molecular através de pesquisa de alterações no gene rpoB,
responsável por esta resistência (Sachan et al. 2002).
496 598 497 486 558 432 458 176
Região I ou RRDR
Região 2
18
1.5.2 Isoniazida.
A isoniazida é o mais antigo rmaco sintético efetivo contra a tuberculose
e reconhecido desde 1952 como potente agente contra o M. tuberculosis. A
droga tem uma estrutura química simples e modo de ação bastante complexo.
A sua elevada potência pode ser justificada devido à droga possuir vários alvos
dentro da célula micobacteriana. O fármaco entra na lula por difusão passiva
e inicialmente o é tóxico para a célula micobacteriana porque funciona como
uma pró-droga. Posteriormente é ativado pela enzima catalase peroxidase
codificada pelo gene katG da micobactéria, passando então a inibir a
biossíntese dos ácidos micólicos que compõem a parede celular, tornando a
bactéria suscetível aos radicais de oxigênio e outros fatores do meio (Timmins
et al. 2006, Cunha & Frota 2005, Ramaswamy et al. 2003).
Mutações no gene katG podem resultar na incapacidade de ativação da
pró-droga resultando em resistência (Fu & Shinnick 2007). De acordo com Rinder
e colaboradores (1999), a maioria das mutações no gene katG responsáveis por
resistência a H ocorre no códon 315 deste gene. Vários estudos relataram que
além do gene katG outras mutações que afetam os alvos da droga estão
envolvidas com a resistência à H (Quadro 4). A proteína carreadora de enoyl acyl
redutase, codificada pelo gene inhA e uma β Ketoacyl sintase (ACP) codificada
pelo gene kasA são dois potenciais alvos de inibição da H. Estas duas enzimas
estão envolvidas na biossíntese de ácidos micólicos. A enzima alkyl hidróxido
peróxido redutase, codificada pelo gene ahpC também está envolvida com a
19
resistência à H. (Rosseti et al. 2002, Timmins et al. 2006, Cunha & Frota 2005,
Ramaswamy et al. 2003).
Quadro 4. Mecanismos de ação e genes envolvidos com a resistência à H e R
em M. tuberculosis.
Drogas
Mecanismos
de ação
Genes envolvidos
com a resistência
Função Frequência de
mutações em M. TB
resistentes.
katG - Catalase
peroxidase
Conversão
da
pró-droga
42 a 58%
inhA - enzima
enoyl acp
redutase
Alvo do
fármaco
21 a 34%
kasA - β ketoacyl
ACP syntase
Alvo do
fármaco
Não estabelecido
H
Inibição da
biossíntese
dos ácidos
micólicos
ahpC - alkyl
hidroperóxido
redutase
Marcador
de
resistência
10 a 15 %
R Inibição da
transcrição
rpoB - subunidade
β da RNA
polimerase
Alvo do
fármaco
96 a 100%
Adaptado de Rosseti et al. 2002.
1.6 RESISTÊNCIA AOS AGENTES ANTIMICOBACTERIANOS
Embora a cura para a doença tenha sido descoberta anos, a epidemia
global é crescente, concomitante com a co-infecção com o vírus HIV e aumento
da prevalência de linhagens resistentes à R e H, as duas principais drogas
utilizadas no tratamento da doença (Timmins et al. 2006).
Em M. tuberculosis são produzidas mutações espontâneas no
cromossoma numa taxa de 1x10
8
células por geração que podem conferir
resistência aos antimicrobianos em situações que levam a seleção de
20
microrganismos resistentes, como tratamento inadequado, não aderência ao
tratamento, programas mal administrados, compra e distribuição de drogas
inadequadas, não realização de testes de biodisponibilidade de drogas e
descontinuação dos programas (Jain & Dixit 2008).
O teste de suscetibilidade (TS) é o exame laboratorial realizado para
detectar o perfil de resistência/sensibilidade dos isolados de M. tuberculosis.
Existe uma controvérsia sobre a utilização dos TS no manejo do tratamento
individual de pacientes. Os países que dispõem de recursos financeiros
recomendam a realização do TS para todos os pacientes no momento do
diagnóstico. Nos países com escassez de recursos financeiros os TS o
indicados apenas em ocasiões especiais (Brasil 2008). De acordo com a
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, no II Consenso Brasileiro de
Tuberculose o TS é indicado em situações de: a) retratamento após falência
bacteriológica do esquema I b) casos de recidiva da doença c) reinício de
tratamento após abandono d) pacientes suspeitos de resistência primária e)
contatos de casos de tuberculose resistente f) vigilância epidemiológica (Brasil
2004).
Os testes de suscetibilidade para drogas de 2ª linha são menos
reprodutivos do que os utilizados para H e R e exigem melhores metodologias
(Jain & Dixit 2008).
21
1.6.1 Resistência primária
Ocorre em pacientes que nunca tiveram a doença ou que foram curados
com sucesso de uma tuberculose anterior mas se re-infectaram com um novo
organismo resistente (Amukoye 2008, Bergval et al. 2009).
1.6.2 Resistência adquirida
Surge de organismos infecciosos inicialmente sensíveis às drogas, mas
que adquirem resistência através de mutações durante o processo infeccioso de
um indivíduo. Este fenômeno é fomentado por sistemas de saúde que
prescrevem antimicrobianos inadequadamente, falta de adesão do paciente ao
tratamento ou, em alguns casos, por razões desconhecidas (Bergval et al. 2009,
Johnson et al. 2006).
1.6.3 Tuberculose Multidroga Resistente
De acordo com a OMS considera-se multirresistência quando uma
linhagem apresenta resistência à no mínimo, H e R, as duas principais drogas
em qualquer regime de tratamento (Di Pierre et al. 2004, Chan et al. 2004).
Como as mutações que causam resistência à H ocorrem numa proporção
aproximada de 1 X 10
6
replicações da bactéria e as mutações que causam
22
resistência à R ocorrem em 1 X10
8
replicações, a probabilidade de mutações
espontâneas causarem resistência concomitantemente a H e R é de 1 em 10
14
replicações. Considerando-se que esse número de bacilos não é encontrado
com frequência mesmo em indivíduos com extensa tuberculose pulmonar
cavitária, a chance de desenvolvimento de resistência espontânea à H e R é
praticamente nula, podendo ser observado no Quadro 5 as causas potenciais da
resistência (Sharma et al. 2006, Sachan et al. 2002).
Quadro 5. Causas potenciais de resistência a drogas em M. tuberculosis.
Fatores relacionados a
tratamentos prévios
Tratamento inadequado.
Tratamento incompleto.
Manejo dos pacientes
Monoterapia.
Esquema de tratamento inicial inadequado.
Adição de uma única droga ao esquema de falência.
Falhas na identificação precoce da resistência.
Outras causas Não aderência ao tratamento.
Profilaxia com H inadequada.
Variações na biodisponibilidade da droga.
Adaptado de OMS 2000.
Em contraste, ao que ocorre na maioria das bactérias com relação à
resistência as drogas, em M. tuberculosis esta resistência não é resultante da
transferência horizontal de genes (por elementos genéticos) mas como
consequência da substituição de nucleotídeos, inserções ou deleções em
determinadas regiões alvos específicas para aquisição de resistência ou seus
promotores ou ativação de enzimas de agentes quimioterápicos anti-tuberculose,
devido à pressão seletiva vantajosa que favorece o crescimento de fenótipos
23
resistentes os quais acabam predominando mesmo em pessoas infectadas com
cepas que eram originariamente sensíveis às drogas (Post et al. 2004).
Os regimes atuais de tratamento para TBMDR são complexos, de alto
custo, utilizados por longos períodos, associados a altas taxas de efeitos
colaterais e baixa resposta, relacionados com alta morbidade e mortalidade
(Araújo - Filho et al. 2008, Jain & Dixit 2008). Alguns estudos relatam que a taxa
de falência às drogas de linha pode chegar a 27,8% restando como única
opção a ressecção cirúrgica de um dos pulmões (pneumonectomia) ou mais
comumente a lobectomia que é a ressecção de apenas um lobo (Kim et al.
2006). Um estudo realizado em Shangai - China, relata que a taxa de cura entre
os casos de TBMDR primária foram maiores que as taxas de cura nos pacientes
com TBMDR adquirida (Zhao et al. 2009).
Como a resistência às drogas em M. tuberculosis ocorre apenas no
cromossoma os estudos de resistência às drogas através da biologia molecular,
são considerados ideais para a investigação epidemiológica (Mathema et al.
2006).
Um recente estudo de meta-análise mostrou que em comunidades com
altas taxas de resistência primária, o regime de tratamento iniciado apenas com
abordagens baseadas na história de tratamento prévio do paciente pode
aumentar a taxa de resistência a drogas (Zhao et al. 2009).
24
1.6.4 Tuberculose Extensivamente Droga Resistente.
TBXDR foi primeiramente definida em novembro de 2005 como
resistências a H e R e mais 3 (três) das 6 (seis) classes de drogas de segunda
linha usadas no tratamento da doença: aminoglicosídeos, polipeptídios,
fluoroquinolonas, thioamidas, ciclosserina e ácido para-aminosalicílico (Jain &
Dixit 2008). Em 2006 em uma força tarefa realizada em Genova estabeleceu-se
um novo conceito, mais facilmente aplicável à realidade mundial devido às
dificuldades dos laboratórios em realizar teste de suscetibilidade a todas as
drogas de linha e definiu-se TBXDR como a tuberculose resistente à H e R e
também a no mínimo uma fluoroquinolona (mofloxacina, ofloxacina, gatifloxacina,
levofloxacina, sparfloxacina ou ciprofloxacina) e mais uma das 03 drogas
injetáveis de segunda linha (capreomicina, kanamicina ou amicacina). Foi
lançado também o termo TB PXDR que é a doença causada por organismos
resistentes às duas principais drogas de primeira linha (H e R) e também a uma
fluoroquinolona ou a uma das drogas injetáveis de segunda linha, mas não a
ambas (Zhao et al. 2009).
Após a divulgação desta nova forma de resistência às drogas (TBXDR),
vários países retestaram suas cepas de TBMDR que estavam congeladas e
constatou-se que várias cepas eram na realidade XDR. O percentual de TB
XDR entre os pacientes TBMDR variou de 3% nos EUA a 19% em Latvia
(Zhao et al. 2009).
Ambas as formas de resistência (MDR e XDR) o causadas pelo uso
inapropriado de drogas de e linha e falha no diagnóstico dos pacientes
25
aumentando a disseminação dos microrganismos resistentes (Amukoye 2008).
Segundo Raviglione e colaboradores (2007), uma série de erros tem contribuído
para o desenvolvimento da TBXDR e, para interromper este ciclo, as
necessidades básicas são: a) infraestrutura para controle efetivo da doença
começando por reforçar a capacidade laboratorial b) diagnóstico baseado na
baciloscopia de escarro seguido de métodos rápidos de cultura em meios
líquidos c) suporte apropriado aos pacientes com tratamento supervisionado até
a confirmação da cura. A detecção imediata através de TS é necessária para
assegurar que os pacientes recebam o diagnóstico e o tratamento adequado
precocemente interrompendo assim a transmissão da doença.
1.7 EPIDEMIOLOGIA MOLECULAR
A epidemiologia molecular utiliza conjuntamente as técnicas de biologia
molecular que caracterizam o conteúdo de nucleotídeos dos microrganismos
com a epidemiologia clássica que estuda a distribuição e os fatores
determinantes da doença nas populações humanas (Pandolfi et al. 2007).
Designa os vários métodos moleculares como arma para agrupar dados
relevantes através da identificação de patógenos envolvidos em doenças
transmissíveis, em nível de espécies, subespécies, organismos, clones e genes
de interesse (Tibayrenc 2005).
É um campo que possibilita a integração da biologia molecular, medicina
clínica, estatística e epidemiologia, ou seja, concentra-se no modelo da genética
e fatores de risco ambientais, em níveis moleculares, celulares ou bioquímicos,
26
na etiologia e distribuição das doenças nas populações. Principalmente nas
doenças infecciosas a epidemiologia molecular atenta para utilizar uma
multidisciplinaridade aproximada para identificar fatores que determinam a causa
da doença, propagação, disseminação e distribuição no tempo e espaço
(Mathema et al. 2006).
Em 1998 foi publicada a sequência completa do genoma do M.
tuberculosis através de uma cepa de referência, H37Rv (ATCC 27294) o que
permitiu a identificação de características exclusivas deste patógeno que
apresenta cromossoma circular com 4.411.529 pb (4,4 MB) com 65,6% de
conteúdo G+C (Brasil 2002).
Uma das características que mais diferencia este microrganismo de outras
bactérias é a presença de aproximadamente 4000 genes, a maioria codificando
para enzimas envolvidas em lipólise e lipogênese. Este microrganismo tem
aproximadamente 250 enzimas envolvidas no metabolismo de ácidos graxos. O
genoma é rico em repetições de DNA, essencialmente sequência de inserção
(IS), que são sequências repetidas de famílias conservadas de multigenes,
insertos em intergenes ou regiões não codificadas, frequentemente fechadas
para genes tRNA. Estes são geralmente agrupados, indicando a existência de
regiões de alta frequência (do inglês “hotspots”) de inserção (Ducati et al. 2006).
A existência de elementos de repetição e o seu uso potencial para discriminar
isolados de M. tuberculosis foi reconhecido por vários autores. A sequência do
elemento de inserção IS 6110, foi primeiramente reportada por Thierry e
colaboradores em 1990. Outros pesquisadores sequenciaram outros elementos
de inserção como o IS 986 e o IS 987 de M. bovis BCG. Como as três
27
sequências diferiram apenas em poucos pares de base, elas podem ser
consideradas essencialmente o mesmo elemento e para evitar confusão foi
recomendada a designação de IS 6110 para esses elementos, exceto quando
fosse de interesse uma cópia específica (van Embden et al.1993).
O genoma do M. tuberculosis apresentou-se homogêneo em todo o
mundo. Parece que a maioria das recombinações ocorre através de transposons
que são elementos instáveis com capacidade de causar muitos tipos de
transposição, deleção, inversão e duplicação. Os transposons simples são
sequência de inserção IS e aproximadamente 14 diferentes tipos de sequência
de inserção foram identificados no genoma. Estas sequências de inserção
conferem a variação no polimorfismo genético e são frequentemente usadas
para a diferenciação entre espécies. A sequência de inserção IS 6110 está
presente no CMTB com número de cópias variável (0 a 25 cópias) e está
integrada a vários sítios cromossomais altamente polimórficos, mas bastante
estáveis para investigações epidemiológicas (Moström et al. 2002).
Em estudos realizados anteriormente, todos os isolados de M. tuberculosis
não relacionados epidemiológicamente mostraram um diferente padrão de
bandas quando a IS 6110 foi usada como sonda. Geralmente são encontradas
várias cópias de IS em M. tuberculosis enquanto que M. bovis BCG apresenta
um baixo número de cópias (van Soolingen et al.1991).
A principal meta dos estudos epidemiológicos de base populacional para
tuberculose baseado em técnicas moleculares é poder distinguir entre reativação
da doença e transmissão recente (Murray & Alland 2002), o que pode ser melhor
explicado através de estudos em que se assume que um indivíduo doente vai
28
transmitir a doença para um número de indivíduos contatados e que os padrões
de DNA mudam ao longo do tempo através de mutações randômicas, pode se
assim afirmar que padrões semelhantes de fingerprints provêem de infecção
recente (contatantes) enquanto que aqueles não agrupados em clusters são
assumidos como reativação da doença (infecção antiga). Deve ser observada
também a idade do paciente uma vez que a doença entre os jovens é mais
provável de ser atribuída à transmissão recente (Vynnycky et al. 2001).
Quando IS6110 é usado como sonda para DNA de Mycobacterium
tuberculosis, digerido com endonuclease de restrição, cada microrganismo
apresenta um único padrão de banda particular. Como regra geral dois
organismos que apresentem algumas poucas cópias de IS 6110 não devem ter o
mesmo padrão de bandas a não ser que estejam epidemiologicamente
vinculados (Cave et al. 1994). Atualmente, RFLP- IS 6110 é o padrão de
referência para tipagem de organismos de M. tuberculosis (Moström et al. 2002).
Os estudos de epidemiologia molecular de vários isolados de pacientes de
coorte permitem uma refinada aproximação da classificação das falências de
tratamento. Se um isolado inicial e os subsequentes têm o mesmo padrão
genotípico, pode se concluir que a resistência foi adquirida. Por outro lado se o
genótipo diferir, pode-se inferir que o paciente desenvolveu tuberculose como
consequência de re-infecção exógena com um organismo de M. tuberculosis
diferente, denominada de resistência primária. A correta diferenciação entre
estes dois mecanismos de falência clínica é fundamental para a escolha do
tratamento mais apropriado, assim como para orientação das medidas de
prevenção da transmissão (Rosemberg et al. 2003).
29
Através de técnicas de biologia molecular foram descritas várias linhagens
como, por exemplo, a cepa Beijing, que contribuiu para o ressurgimento da
tuberculose em Nova York em 1990 a qual é altamente virulenta e
está associada com surtos de TBMDR. Foram descritas também a família LAM
(Latino Americana Mediterrâneo) que contribui com 15% da carga global da
doença, embora pouco se conheça sobre a epidemiologia, comportamento
biológico e atributos clínicos da doença causada por cepas da família LAM.
Isolados de M. tuberculosis da família LAM foram inicialmente descritos como
ramos de uma mesma árvore filogenética mas, posteriormente, devido à
heterogeneidade genética desta família ficou evidente que haviam diferentes
grupos LAM distribuídos em várias regiões geográficas (Dubiley et al. 2007).
Os microrganismos foram agrupados de acordo com alterações como
deleções, inversões, inserções, duplicações em regiões diferenciadoras
denominadas de RD (Lazzarini et al. 2008). No Brasil sabe-se que o genótipo
RD
Rio
é um clone originário da família LAM pertencente ao grupo 9 (LAM 9) e
caracteriza-se por uma longa sequência de polimorfismo (LPS), através de
deleções observadas no genótipo RD
Rio
(Lazzarini et al. 2008).
30
2. JUSTIFICATIVA
Segundo informações do Ministério da Saúde, no Brasil, 70% dos casos
de tuberculose estão concentrados em 315 dos 5.565 municípios existentes no
país, e estes são considerados como municípios prioritários pelo Programa
Nacional de Controle da Tuberculose do Brasil. No estado de Goiás os
municípios prioritários são a capital, Goiânia, e o município de Aparecida de
Goiânia.
O estado de Goiás possui uma área de 341.289,5 Km
2
e população de
5.840.650 habitantes com densidade de 14,65 habitantes por Km
2
. A região
metropolitana de Goiânia possui 2.012.929 habitantes. O estado possui 242
municípios sendo que 44% (105 municípios) possuem programa de tuberculose
implantado e realizam baciloscopias para diagnóstico e controle de tratamento da
tuberculose.
No ano de 2009, no estado todo, a incidência da tuberculose de todas as
formas foi de 13,9/100.000 habitantes (822 casos), e, 7,9/100.000 habitantes
(467 casos) quando analisados apenas os pulmonares bacilíferos.
Considerando-se as metas propostas pelo Ministério da Saúde, o PCT estadual
atingiu em 2009, 95,0% de detecção de pulmonares bacilíferos e 94,4% de todas
as formas. A taxa de cura atingiu 76,8% e o percentual de abandono de
tratamento caiu para 7,5%. Ambas as taxas não atingiram as metas propostas
pelo PNCT que é de 85% de cura e abandono menor que 5%.
A cada ano que passa são relatados no mundo todo cada vez mais casos
de tuberculose causados por organismos resistentes aos antimicrobianos. A
31
emergência e disseminação destes bacilos resistentes têm alertado para a
necessidade de mais pesquisas sobre os mecanismos de resistência às drogas
assim como de novas drogas efetivas contra a tuberculose (Ramaswamy et al.
2003).
A detecção de M. tuberculosis resistente é geralmente realizada por testes
de suscetibilidade convencionais, os quais requerem o isolamento do
microrganismo a partir do espécime clínico, seguido do cultivo dos isolados, na
presença de diferentes drogas. O tempo transcorrido entre a coleta do material e
o resultado do TS varia de 50 a 90 dias. As técnicas moleculares permitem a
identificação e perfil de suscetibilidade do microrganismo em poucos dias.
Análises moleculares de bacilos resistentes sugerem que a resistência é
adquirida por alterações no alvo do fármaco como conseqüência de mutações no
gene que codifica esse alvo.
A resistência à H está associada a uma variedade de mutações que
afetam vários genes como os que codificam para a catalase peroxidase (gene
katG), enzima enoyl-ACP redutase (gene inhA), alkyl hidroperóxido redutase,
envolvida na resposta celular ao estresse oxidativo (ahpC) e a enzima–ketoacyl
ACP syntase (gene kasA).
A rifampicina interage com a subunidade β da RNA polimerase e
mutações em determinadas regiões do gene rpoB (que codifica para esta
subunidade da polimerase) impedem a ligação eficiente do fármaco e
consequentemente levam à resistência. A rápida detecção de microrganismos
resistentes a esta droga é de grande importância na vigilância da TBMDR porque
raramente observa-se resistência apenas a esta droga, motivo pelo qual a R é
32
considerada como marcador de TBMDR (Bostanadab et al. 2007). As técnicas
moleculares podem ser muito úteis para verificar as mutações no gene rpoB
responsável pela resistência à R e também para avaliação dos múltiplos locus
envolvidos na resistência à H (Johnson et al. 2006).
33
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Analisar as bases moleculares da resistência à H e/ou R de cepas de
Mycobacterium tuberculosis isoladas de casos de tuberculose humana em Goiás.
3.2. Objetivos específicos
- Testar a sensibilidade de M. tuberculosis isolados de casos humanos em
Goiás frente aos antimicobacterianos rifampicina e isoniazida.
- Amplificar os genes rpoB e katG por meio do emprego da técnica de
PCR.
- Sequenciar as regiões gênicas de alta frequência de mutação dos genes
rpoB e katG.
- Determinar as frequências de mutações observadas nos genes rpoB e
katG.
- Comparar características fenotípicas e genotípicas destes isolados.
34
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. AMOSTRAGEM
Foram analisados 24 isolados de M. tuberculosis oriundos de 16 pacientes
no município de Goiânia, estado de Goiás, região Centro Oeste do Brasil, no
período de 1º de setembro de 2005 a 31 de dezembro de 2007.
Os pacientes de todo o estado de Goiás que apresentaram recidiva da
tuberculose ou falência de tratamento foram encaminhados ao hospital de
referência para doenças infecto-contagiosas e TBMDR no estado de Goiás,
Hospital de Doenças Tropicais (HDT/HAA), e os exames laboratoriais foram
realizados pelo LACEN-GO, laboratório de referência no estado para análises de
média e alta complexidade. Portanto, pode-se afirmar que a população estudada
(resistentes a H e/ou R) reflete a grande maioria de casos de resistência a estas
drogas no Estado de Goiás. Os isolados de M. tuberculosis foram obtidos de
amostras clínicas (escarro, líquido céfalo-raquidiano e secreção de linfonodo),
cultivadas em meio de weintein–Jensen (LJ), no Laboratório Central de Saúde
Pública (LACEN-GO).
Os isolados obtidos através de cultura em L.J foram identificados como
pertencentes ao CMTB, através de crescimento em meio LJ acrescido de PNB e
TCH e verificação da sensibilidade a estas drogas e análise complementar com a
prova de niacina. Os isolados de M. tuberculosis foram identificados a partir da
resistência ao TCH, sensibilidade ao PNB e produção de niacina. Realizou-se o
teste de suscetibilidade a antimicrobianos para os isolados pertencentes ao
35
CMTB. Os tubos foram incubados por 28 a 42 dias em estufa 36º C ± C e
após as leituras e liberação dos resultados para os profissionais com
especialidade em clínica médica os isolados foram congelados em meio de
Sauton com 10% de glicerol em freezer -20º C, conforme descrito no Manual
Nacional de Vigilância Laboratorial da Tuberculose e outras Micobactérias (Brasil
2008).
4.2 COLETA E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS
4.2.1 Culturas
As amostras de escarro foram descontaminadas pelo método de Petroff
modificado (Brasil 2008), e semeadas em meio de Löwenstein Jensen. As
amostras consideradas estéreis, como líquor, foram semeadas diretamente no
meio de Löwentein Jensen sem nenhum tratamento prévio. Após a semeadura
foram incubadas em estufa 36º C ± 1ºC e observadas por um período de 30 a 60
dias (Brasil 2008).
4.2.2 Testes de suscetibilidade a antimicrobianos.
Os testes de suscetibilidade para drogas de primeira linha quantificam a
proporção de mutantes resistentes a cada uma das drogas em um determinado
isolado bacteriano. Esses métodos são muito precisos alcançando uma eficiência
de 97% a 99% para determinar a atividade da isoniazida e rifampicina e de 92 %
36
para etambutol e estreptomicina (Brasil 2008). Os testes foram realizados de
acordo com a metodologia descrita por Canetti e colaboradores (1969). A
metodologia consiste em detectar a proporção de bacilos resistentes frente a
uma concentração crítica da droga capaz de inibir o desenvolvimento das células
sensíveis, mas não o das resistentes (Aziz et al. 2003, Woods 2000).
Quadro 6. Critérios de resistência do M. tuberculosis em meio de LJ com drogas.
Drogas Concentração crítica (µg/mL) Proporção crítica
Isoniazida 0,2 1%
Rifampicina 40 1%
Etambutol 2 1%
Estreptomicina 4 1%
Brasil 2008.
Os testes foram realizados a partir de cultura pura de M. tuberculosis em
meio LJ, do qual foi preparada uma suspensão bacteriana em água destilada
esterilizada ajustada para a concentração correspondente a escala 1 de
McFarland. A partir desta suspensão, foram realizadas 5 diluições seriadas em
escala decimal e utilizadas para a semeadura em meios de LJ as diluições 10
-3
e
10
-5
(Figura 2). Após a semeadura, os tubos foram incubados em estufa a 36ºC e
lidos após 28 dias (1ª leitura) e 42 dias (2ª leitura) para os casos que tenham
sido sensíveis na primeira leitura, com o objetivo de assegurar o aparecimento
tardio de colônias mutantes resistentes.
37
Figura 2: Esquema ilustrativo do TS pelo método das proporções segundo
Canetti et al. 1969.
4.2.3 Extração de DNA cromossomal
Os isolados selecionados para participar deste estudo foram
recuperados em meio de LJ e após o crescimento das colônias os tubos foram
aquecidos a 80ºC por 20 minutos para inativação das micobactérias por
questões de biossegurança, ainda no LACEN-GO e então transportados para o
Laboratório de Bacteriologia Molecular do Instituto de Patologia Tropical e Saúde
Cultura em LJ
Tubo com
pérolas de vidro
Agitar
Turvação nº 1 da
Escala de Mc Farland
Etapa 1 – Suspensão bacteriana
Etapa 2 Diluições seriadas
Diluição 1 de McFarland
1mL
1mL 1mL 1mL 1mL 1mL
10
-
1
10
-
2
10
-
3
10
-
4
10
-
5
10
-
6
Etapa 3 Semeadura em meio de LJ
LJ+H
LJ+R
LJ+S
LJ+E
PNB
TCH
LJ
Diluição 10
-
3
Diluição 10
-
5
LJ+H LJ+R LJ+S LJ+E LJ
9mL de água destilada estéril
0,1mL 0,1mL
38
Pública da Universidade Federal de Goiás onde foram submetidos às técnicas
moleculares.
Para extração do DNA cromossomal utilizou-se uma adaptação técnica
descrita por van Soolingen e colaboradores (1994). O equivalente a duas alçadas
de cada cultura foram ressuspendidas em 400 µLde tampão TE por agitação. À
suspensão foram adicionados 50 µL de lisozima (20mg/mL) e incubados por 1
hora a 37ºC. Ao sistema de digestão foram acrescentados 70 µL de SDS a 10%
e 12 µL de proteinase K (20mg/mL) e o sistema foi incubado a 56ºC por 10
minutos. Após incubação, 100 µL de NaCl a 5M foram adicionados seguidos de
80 µL de solução CTAB/NaCl (10%CTAB, 0,73M NaCl) e a solução foi agitada
até se tornar leitosa e incubada por mais 10 minutos a 65ºC.
Adicionou-se um volume 650µL de clorofil (clorofórmio: álcool isoamílico
24:1) seguido de agitação por 30 segundos e centrifugação por 5 minutos a
18.000g. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo e precipitado
através da adição de 400µL de isopropanol gelado seguido de incubação a
-20ºC por 24 horas. O ácido nucléico foi coletado por centrifugação a 12.000g
a C por 20 minutos, lavado com 1 mL de etanol a 70%. Após secagem, o
DNA foi ressuspendido em 50 µL de água milliQ. Os DNAs extraídos foram
armazenados em freezer -20ºC.
39
4.2.4 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
A partir dos DNAs cromossomais extraídos, dois microlitros de cada
amostra diluída em água na proporção de 1:10 foram submetidos à reação de
polimerase em cadeia (PCR).
O gene rpoB amplificado compreendeu a uma região de 332 nucleotídeos
os quais foram amplificados pela PCR com os seguintes oligonucleotídeos
iniciadores: rpoB1 (foward) 5’- GGGAGCGGATGACCACCC - 3rpoB2 (reverse)
5’- GCGGTACGACGGCGTTTCGATGAA C - 3’ (Siddiqi et al. 2002).
O gene katG amplificado compreendeu a uma região de 209 nucleotídeos
que foram amplificados pela PCR com os seguintes oligonucleotídeos iniciadores:
katG1 (foward) 5’-GAAACAGCGGCGCTGATCGT -3’ katG2 (reverse) 5’-
GTTGTCCCATTTCGTCGGGG -3’ (Martilla et al. 1996).
A reação de PCR foi processada em um volume final de 30µL contendo
além do DNA molde, 0,1 ηmol de cada um dos oligonucleotídeos iniciadores
para os genes katG ou rpoB, 0,2 µM dNTPs; e 1U da enzima Taq DNA
polimerase (invitrogen). A reação de PCR foi realizada com os seguintes
parâmetros: desnaturação inicial a 95ºC por 3 minutos, seguido de 35 ciclos de
incubação a 92ºC por 40 segundos, incubação a 56ºC por 40 segundos, e
incubação a 37ºC por 1 minuto, um último ciclo de 37º por 7 minutos para que
a enzima completasse a polimerização das fitas. Cinco microlitros da reação
de PCR foram analisados em gel de agarose a 1,5% contendo 0,5 µg/mL de
brometo de etídeo. Como controle positivo da reação de PCR foi usado DNA
40
cromossomal da cepa padrão H37Rv de M. tuberculosis (Gentilmente cedida
pelo Dr John Belisle, Colorado State University, EUA).
4.3 PURIFICAÇÃO E SEQUENCIAMENTO DOS PRODUTOS DE PCR
4.3.1 Purificação
Os DNAs foram purificados utilizando-se uma metodologia alternativa
desenvolvida pelo Laboratório de Bacteriologia Molecular da UFG, (Silva et al.
2008) conforme descrito a seguir. O volume dos tubos que continham os DNAs
amplificados por PCR foi aumentado para 300 µL com água, adicionou-se 180 µL
de isopropanol e após homogeinização e incubação à temperatura ambiente por
10 minutos, o material foi centrifugado a 12.000g por 5 minutos. Desprezou-se o
sobrenadante e o sedimento foi lavado com 1 mL de etanol a 70% gelado. Os
produtos de PCRs precipitados foram ressuspendidos em 20 µL de água Milli Q.
4.3.2 Sequenciamento dos produtos de PCR
Após a purificação os produtos foram sequenciados utilizando-se um dos
oligonucleotídeos usados como iniciadores para as reações de PCR, com kit Big
Dye Terminator (Applied Biosystems) e a leitura das sequencias realizadas no
aparelho ABI3130 (Applied Biosystems). Reações de sequenciamento com os
oligonucleotídeos iniciadores foward e reverse foram analisados através do
programa DNASTAR versão 5.1, (licenced to Fields Center for Diseases Control)
41
para a montagem dos “contigs”. As sequências consensos foram alinhadas em
relação às sequências dos respectivos genes depositadas no Gene BanK (rpoB
ncbi 888164, katG ncbi 885638) do microrganismo de referência H37Rv no
programa clustalX (Larkin et al. 2007). As mutações observadas foram
comparadas com as principais mutações descritas na literatura para os genes
katG e rpoB.
42
5. RESULTADOS
No período de setembro de 2005 a 31 de dezembro de 2007 foram
realizadas quatro mil seiscentos e sete (4607) culturas para micobactérias no
laboratório de Saúde blica Dr. Giovanni Cysneiros, LACEN-GO, referência
para cultura de micobactérias no estado de Goiás. Destas, três mil oitocentos e
cinquenta e nove (83,8%) resultaram negativas, quinhentos e trinta e três
(11,6%) positivas para o gênero Mycobacterium e duzentos e quatorze (4,6%)
apresentaram-se contaminadas. Dentre as positivas, quatrocentos e dez (77%)
foram identificadas como M. tuberculosis, cento e dezenove (22,2%) como
Micobactérias Não Tuberculosas, duas (0,4%) como M. bovis e duas (0,4%)
ficaram inconclusivas em nível de espécie.
Dentre as 410 culturas positivas para M. tuberculosis, cento e vinte e
quatro (30%) foram submetidas ao teste de suscetibilidade atendendo solicitação
médica. Destas, foram selecionados vinte e quatro isolados (19%), recuperados
de dezesseis pacientes que apresentaram resistência à pelo menos uma das
duas principais drogas usadas no tratamento da tuberculose (H e/ou R). Dos 16
pacientes, 5 (31,2%) tiveram mais de um isolado analisado. A seleção dos
isolados múltiplos foi baseada na positividade em diferentes espécimes clínicos e
alteração nos perfis de resistência após introdução da terapia com anti-
micobacterianos.
Dos vinte e quatro isolados selecionados, vinte e um (87,5%) eram
provenientes de escarro, dois (8,3%) de secreção de linfonodo pertencentes a
um mesmo paciente e um (4,2%) de LCR. Foram realizadas 77 culturas dos 16
43
pacientes com média de 5 culturas por paciente sendo que o maior número de
procedimentos por paciente foi 11 (14,3% do total) e o menor foi 1 (1,3%) de um
único paciente.
A média de idade observada entre os pacientes incluídos no estudo foi de
43 anos: mínima 22 anos e a máxima de 63 anos.
Dos 16 pacientes, cinco (31,3%) eram do gênero feminino e onze (68,7%)
do gênero masculino.
Na análise comparativa entre portadores de TBMDR e monorresistentes
observa-se que nos dois grupos o sexo masculino foi o mais prevalente
contribuindo com aproximadamente o dobro de casos em relação ao sexo
feminino. A cor parda e baixo nível de escolaridade foram prevalentes nos dois
grupos (MDR X monorresistentes à H ou R). Todos os isolados dos portadores
de TBMDR com informações sobre o uso de tabaco declararam ser tabagistas ou
ter abandonado o vício após o primeiro episódio de TB, diferente do grupo de
monorresistentes em que o número de não fumantes foi o dobro do de fumantes.
Dentre os portadores de HIV nenhum desenvolveu TBMDR (Tabela I).
Com relação ao desenvolvimento da doença, observamos que a evolução
para óbito foi maior entre os portadores de TBMDR. Neste grupo de pacientes
dois (20%) foram a óbito, dois (20%) permaneciam em tratamento até o final de
2009, dois (20%) abandonaram tratamento e quatro (40%) receberam alta por
cura comprovada laboratorialmente. Entre os pacientes portadores de TB
monorresistentes, cinco (83,3%) evoluíram para cura, um (16,7%) evoluiu para
óbito, mas, por ser portador de HIV, não podemos afirmar que a TB tenha sido a
causa do óbito.
44
Tabela I. Características dos pacientes portadores de TBMDR e
monorresistência a uma das duas drogas (H ou R).
Características
1
Pacientes MDR (%)
2
Número de Pacientes
monorresistentes (%)
3
Gênero
Feminino
Masculino
n =10 (100)
3 (30)
7 (70)
n = 6 (100)
2 (33,3)
4 (66,7)
Cor
Branca
Negra
Parda
n = 5 (100)
1 (20)
1 (20)
3 (60)
n = 5(100)
2 (40)
--------
3 (60)
Escolaridade
1º Grau Incomp.
2º Grau Incomp.
2ºGrau Completo
Superior
n = 10 (100)
8 (80)
1 (10)
1 (10)
--------
n = 6 (100)
3 (50)
2 (33,3)
--------
1 (16,7)
Tabagismo
Sim
Não
n = 8 (100)
8 (100)
---------
n = 3 (100)
1 (33,3)
2 (66,7)
Etilismo
Sim
Não
n = 6 (100)
3 (50)
3 (50)
n = 3 (100)
2 (66,7)
1 (33,3)
Drogas ilícitas
Sim
Não
n = 3 (100)
2 (66,6)
1 (33,4)
n = 1(100)
1 (100)
--------
Status para HIV
Positivo
Negativo
Não Realizado
n = 9 (100)
0 (00)
8 (89)
1 (11)
n = 5 (100)
2 (40)
3(60)
---------
Evolução
Óbito
Cura
Em tratamento
Abandono
n = 10 (100)
2 (20)
3 (30)
3 (30)
2 (20)
n =5 (100)
1 (20)
4(80)
--------
--------
TB anteriores
Sim
Não
n = 9 (100)
8 (89)
1 (11)
n =5 (100)
2 (40)
3 (60)
DOTS
Sim
Não Informado
n = 10 (100)
1 (10)
9 (90)
n =6 (100)
--------
6(100)
1. Variáveis analisadas através de prontuários dos pacientes arrolados no estudo.
2. Número e percentual de pacientes portadores de TBMDR frente às variáveis
analisadas.
3. Número absoluto e percentual de pacientes portadores de resistência a apenas uma
das duas drogas analisadas (H ou R), frente às variáveis analisadas.
45
Dentre as comorbidades observadas no grupo dos MDR, dois (20%)
apresentavam diabetes mellitus, dois (20%) eram usuários de drogas ilícitas, um
(10%) era portador de hepatite C, quatro (40%) não apresentavam comorbidades
associadas e de um (10%) não foi possível resgatar esta informação. No grupo
dos monorresistentes apenas 1 (17%) não apresentava nenhuma comorbidade
(Tabela II).
Dentre as causas de retratamento observadas entre os pacientes com
TBMDR, um paciente (10%) era sabidamente por contato com TBMDR,
apresentando, portanto, resistência primária, quatro (40%) afirmaram ter
completado tratamento e recebido alta por cura de suas tuberculoses iniciais
retornando posteriormente ao serviço por recidiva da doença, quatro (40%)
retornaram após o abandono do tratamento e de um (10%) não foi possível
determinar a causa. Dentre os portadores de TB monorresistente, dois (33,3%)
não eram portadores de TB anteriores, três (50%) eram recidivantes e de um
(16,7%) não foi possível recuperar esta informação (Tabela III).
Dos 10 pacientes portadores de TBMDR onze isolados com resistência à
H e R (TBMDR) foram recuperados e feita a análise comparativa do tratamento
utilizado no momento da coleta das amostras clínicas. Observou-se que cinco
(45,4%) encontravam-se em tratamento com esquemas alternativos: (terizidona,
claritromicina, amicacina, etionamida, etambutol, ofloxacina, rifabutina,
clofazimina, entre outros); quatro (36,4%) encontravam-se em tratamento com o
E III (3 S Et E Z / 9 Et E) no momento da coleta e dois ficaram sem informação
por terem migrado para outras unidades de saúde.
46
Tabela II. Status para HIV, outras comorbidades e desfecho da doença nos
pacientes portadores de TBMDR e monorresistentes.
1
Status
HIV
2
Outras
comorbidades
3
Tipo e ano da
primeira TB
4
Desfecho
5
01 Neg. Não MDR - 2002 Lobectomia seguida de
alta em 2008.
02 NI DM MDR - 2003 Em tratamento até 2009.
03 Pos. Histoplasmose
disseminada
Mono - 2007 Alta por cura em 2008.
04 Neg. Uso de drogas ilícitas MDR - 2001 Alta por cura em 2009.
05 NI NI Mono - 2004 Alta por cura em 2006.
06 Pos. Hepatite B + Retinite
por citomegalovírus
Mono - 2006 Óbito em 2008.
07 Neg. Uso de drogas ilícitas MDR - NI Abandono de tratamento.
08 Neg. Não MDR - 2001 Óbito em 2008.
09 NI DM + DPOC Mono - 1995 Alta por cura em 2007.
10 Neg. Hepatite C MDR - 2004 Abandono de tratamento.
11 NI Uso de drogas ilícitas MDR - NI Alta por cura em 2007.
12 Neg. Hanseníase Mono - 2002 Alta por cura em 2007.
13 Neg. DM MDR - 1997 Em tratamento até 2009.
14 Neg. Não MDR - 2005 Alta por cura em 2008.
15 Neg. Não MDR - 1998 Óbito em 2007.
16 Neg. Não Mono - 2000 Alta por cura em 2009.
1. Número de identificação dos pacientes no estudo.
2. Status para HIV: pos – positivo; neg – negativo; NR - Não realizado; NI - Não
informado.
3. Outras comorbidades: NI - Não informado; DPOC - Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica; DM -Diabetes mellitus.
4. Tipo de TB e ano de manifestação do primeiro episódio de TB: MDR - resistência à H
e R; mono - resistência à H ou R; NI - Não informado.
5. Desfecho da doença.
47
Tabela III. Correlação do motivo de retratamento com tipo de tuberculose e
esquemas utilizados para tratamento no momento da coleta da amostra clínica.
1
Status HIV
2
Retratamento
3
Motivo
4
Tipo de TB
5
1 Neg. Sim Contato TBMDR MDR
2 NI Sim Recidiva MDR
3 Pos. Não NA Resistente a H
4 Neg. Sim Recidiva MDR
5 Neg. NI NI Resistente a H
6 Pos. Sim Recidiva Resistente a R
7 NR Sim Recidiva MDR
8 Neg. Sim Abandono MDR
9 Neg. Sim Recidiva Resistente a H
10 Neg. Sim Abandono MDR
11 Neg. NI NI MDR
12 Neg. Não NA Resistente a H
13 Neg. Sim Abandono MDR
14 Neg. Sim Abandono MDR
15 Neg. Sim Recidiva MDR
16 NI Sim Recidiva Resistente a H
1. Numero de designação do paciente no estudo.
2. Status para HIV no momento do desenvolvimento da TB: Neg - Negativo; Pos
- positivo; NI - Não informado.
3. Se o caso é de retorno do paciente ao serviço: NI - Não informado.
4. Motivo do retorno. NI - Não informado; NA - não se aplica.
5. Tipo de TB no momento da coleta da amostra: MDR - Tuberculose multidrogas
resistente; H - Isoniazida; R - Rifampicina.
Dos 6 pacientes portadores de TB monorresistentes, foram recuperados
treze (13) isolados em diferentes momentos da doença sendo que quatro (31%),
mesmo apresentando resistência a apenas uma das duas drogas (H ou R),
encontravam-se em tratamento com esquema alternativo, dois (15,4%)
utilizavam o esquema IR (2 R H Z E / 4 R H E) três (23%) utilizavam R + Z no
momento da coleta da amostra, três (23%) utilizavam R + E + claritromicina e de
um (7,7%) não foi possível recuperar esta informação (Tabela IV).
Pela análise comparativa do percentual de concordância entre os testes
fenotípicos e genotípicos pode-se afirmar que a resistência à isoniazida foi
concordante em 41% dos isolados (7 de 17) e 40% dos pacientes (6 de 15). O
48
paciente de número 5 apresentou apenas uma mutação silenciosa no códon 297
e o paciente número 3 apresentou duas mutações, uma silenciosa no códon 297
e outra no códon 315 que confere resistência à H.
A análise genotípica confirmou a mutação no gene rpoB em dezesseis
(94%) dos isolados (16 de 17) correspondente a 91% dos pacientes (10 de 11)
com resistência fenotípica à R.
Pela análise comparativa entre os diversos isolados de um mesmo
paciente pode observar-se que os isolados 13 A e 13 B apresentaram resistência
fenotípica diferentes, ou seja, desenvolvimento de resistência fenotípica à R, oito
meses após o início do tratamento com esquema IR, o que pôde ser observado
após a coleta de nova amostra e realização de novo TS (Tabelas IV e V). Os
padrões de resistência fenotípica foram confirmados através do sequenciamento
(Figuras 3, 4 e 6). Pela análise de prontuário foi constatado que o referido
paciente teve o primeiro caso de TB no ano de 1997 recebendo tratamento com
o esquema I de medicamentos por apenas um mês. Ao retornar ao serviço por
recidiva da doença foi introduzido o esquema IR (Tabela II).
49
Tabela IV. Correlação dos esquemas de tratamento utilizados no momento da
coleta da amostra clínica e tipo de TB.
1
Tratamento no momento da coleta
2
Tipo de TB
3
1 EA MDR
2 E IR até o resultado do TS E III MDR
3 R + Z Resistente à H
4 A E III MDR
4 B E III MDR
4 C EA Resistente à R
4 D EA Resistente à R
5 NI Resistente à H
6 A R + E+ Claritromicina Resistente à R
6 B R + E+ Claritromicina Resistente à R
6 C R + E+ Claritromicina Resistente à R
7 NI MDR
8 A EA MDR
8 B EA Resistente à R
9 E IR Resistente à H
10 EA MDR
11 NI MDR
12 A R + Z + PQT Resistente à H
12 B R + Z + PQT TS não realizado
13 A E IR Resistente à H
13 B E III MDR
14 EA MDR
15 EA MDR
16 EA Resistente à H
1. Número de designação do paciente no estudo. As letras referem-se às diferentes
amostras de um mesmo paciente, coletadas em diferentes momentos, com diferentes
esquemas de tratamento.
2. Tratamento utilizado no momento da coleta da amostra que foi selecionada para este
estudo. EA - Esquema Alternativo; NI - Não Informado; E I - Esquema I; E IR - Esquema
I Reforçado; E III - Esquema III; TS - Teste de Suscetibilidade; R - Rifampicina; Z -
Pirazinamida; E - Etambutol; PQT - Poliquimioterapia.
3. Tipo de TB no momento da coleta da amostra: MDR - Tuberculose Multidrogas
Resistente; TS - Teste de Suscetibilidade; H - Isoniazida; R - Rifampicina.
50
Figura 3: Eletroferograma ilustrativo do sequenciamento do gene rpoB de
dois isolados: A – Sem mutação no códon 456 (ser TCG). B – Substituição no
códon 456 (ser TCG leu TTG).
O paciente 12 contribuiu com dois isolados e, destes, apenas no isolado
recuperado de LCR (12 A) foi realizado TS por métodos fenotípicos. Pela análise
de prontuários detectou-se que o referido paciente encontrava-se em tratamento
com poliquimioterapia (PQT) para hanseníase quando foi diagnosticado como
portador de meningite tuberculosa, através do isolamento de M. tuberculosis em
amostra de LCR e classificado clinicamente como portador de TB miliar. O
primeiro espécime enviado para cultura (LCR) foi positivo para TB com
resistência fenotípica à H (Tabela V). A análise da sequência parcial do gene
katG não revelou nenhuma mutação nesta região. Quarenta e sete dias depois
foi coletada nova amostra (escarro), que também resultou em cultura positiva
embora sem a realização do TS naquele momento. Extraiu-se o DNA para
análises moleculares posteriores realizadas neste trabalho, porém, não foi
possível reativar a cultura criopreservada para novos testes de suscetibilidade. O
51
sequenciamento do DNA extraído da cultura de escarro foi realizado
evidenciando mutação no gene rpoB, que confere resistência à R conforme
observado na Figura 6.
Os isolados dos pacientes 4 e 8 apresentaram padrões de resistência
fenotípica compatíveis com populações mistas porque os TS apresentaram
resultados diferentes passando de padrões resistentes para sensíveis o que é
incompatível com uma única estirpe (Tabela V). A confirmação genotípica da
resistência à H nestes isolados não foi possível em virtude dos isolados
fenotípicamente resistentes à H não terem apresentado mutações no fragmento
do gene katG sequenciado (Figuras 4 e 5).
52
Tabela V: Correlação da data da coleta, amostras clínicas, resistência
fenotípica à H e R e mutações observadas nos genes
katG e rpoB de isolados de
M. tuberculosis.
1
Data da
coleta
Am
2
TS
3
Sequência katG
4
Sequência rpoB
01 29/12/2006 Esc H e R 315 ser (AGC) thr (ACC) 456 ser (TCG) leu (TTG)
02 02/01/2006 Esc H e R 315 ser (AGC) thr (ACC) 456 ser (TCG) leu (TTG)
03 23/01/2007 Esc H 315 ser (AGC) thr (ACC)
297 gly (GGC) gly (GGT)
NA
4 A 30/08/2005 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
4 B 10/03/2006 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
4 C 17/11/2006 Esc R NA 456 ser (TCG) leu (TTG)
4 D 12/04/2007 Esc R NA 456 ser (TCG) leu (TTG)
5 02/04/2007 Esc H 297gly (GGC) gly (GGT) NA
6 A 03/06/2007 Linf R NA 451 his (CAC) tyr (TAC)
6 B 19/06/2007 Linf R NA 451 his (CAC) tyr (TAC)
6 C 13/12/2007 Esc R NA 451 his (CAC) tyr (TAC)
7 13/07/2006 Esc H e R 315 ser (AGC) thr (ACC) 447 ser (TCG) leu (TTG)
8 A 31/07/2006 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
8 B 31/08/2006 Esc R NA 456 ser (TCG) leu (TTG)
9 23/08/2006 Esc H SM NA
10 28/10/2007 Esc H e R SM SM
11 28/09/2006 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
12 A 06/10/2006 LCR H SM NA
12 B 23/11/2006 Esc NR SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
13 A 10/02/2006 Esc H 315 ser (AGC) asn (AAC) NA
13 B 04/10/2006 Esc H e R 315 ser (AGC) asn (AAC) 456 ser (TCG) leu (TTG)
14 17/11/2006 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
15 28/11/2006 Esc H e R SM 456 ser (TCG) leu (TTG)
16 08/12/2006 Esc H 315 ser (AGC) asn (AAC) NA
1. Cada número corresponde a um paciente e as letras correspondem aos
diferentes isolados de um mesmo paciente.
2. Amostra clínica da qual foi isolado o microrganismo: Esc - escarro; LCR -
Líquido Céfalo Raquidiano; Linf - Secreção de linfonodo.
3. Resistência a drogas: H - isoniazida; R - rifampicina; NR - não realizado;
4. ser - serina; thr - threonina; gly - glicina; asn - asparagina; leu - leucina; tyr -
tyrosina; his - histidina; SM - Sem mutações; NA - Não se aplica.
53
Isolado Sequência do gene katG
H37RV ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
1 ATCACCACCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
2 ATCACCACCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
3 ATCACCACCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
4A ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
4B ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
4C ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
4D ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
5 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
6A ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
6B ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
6C ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
7 ATCACCACCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
8A ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
8B ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
9 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
10 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACAAAATGGG
11 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
12A ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
12B ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
13A ATCACCAACGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
13B ATCACCAACGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
14 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
15 ATCACCAGCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
16 ATCACCACCGGCATCGAGGTCGTATGGACGAACACCCCGACGAAATGGG
*******.*****************************************
Figura 4: Mutações observadas no códon 315 do gene katG ser (AGC) thr
(ACC) e ser (AGC) asn (AAC) observados em 7 dos 17 isolados
fenotípicamente resistentes à isoniazida.
54
Isolado Sequência do gene katG
H37Rv GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
1 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
2 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
3 GCAGATGGGTTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
4A GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
4B GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
4C GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
4D GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
5 GCAGATGGGTTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
6A GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
6B GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
6C GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
7 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
8A GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
8B GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
9 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
10 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
11 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
12A GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
12B GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
13A GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
13B GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
14 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
15 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
16 GCAGATGGGCTTGGGCTGGAAGAGCTCGTATGGCACCGGAACCGGTAAG
*********.***************************************
Figura 5: Mutações silenciosas observadas no códon 297 gly (GGC) gly
(GGT) do gene katG observados em 2 dos 17 isolados fenotípicamente
resistentes à isoniazida.
55
Isolado Sequência do gene rpoB
H37Rv CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
1 CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
2 CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
3 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
4A CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
4B CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
4C CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
4D CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
5 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
6A CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
6B CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
6C CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
7 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
8A CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
8B CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
9 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
10 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
11 CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
12A CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
12B CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
13A CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
13B CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
14 CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
15 CCGACTGTTGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
16 CCGACTGTCGGCGCTGGGGCCCGGCGGTCTGTCACGTGAGCGTG
********.***********************************
Figura 6: Mutações observadas no códon 456 ser (TCG) leu (TTG) do gene
rpoB observados em 12 dos 17 isolados fenotípicamente resistentes à
rifampicina. O isolado 12 B apresentou o mesmo padrão de mutação embora não
tenha sido confirmado fenotípicamente.
56
Isolado Sequência do gene rpoB
H37 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
1 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
2 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
3 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
4A GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
4B GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
4C GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
4D GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
5 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
6A GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCTACAAGCG
6B GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCTACAAGCG
6C GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCTACAAGCG
7 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTTGGGGTTGACCCACAAGCG
8A GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
8B GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
9 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
10 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
11 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
12A GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
12B GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
13A GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
13B GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
14 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
15 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
16 GCCAATTCATGGACCAGAACAACCCGCTGTCGGGGTTGACCCACAAGCG
******************************.**********.*******
Figura 7: Mutações no gene rpoB observadas no códon 447 ser (TCG) leu
(TTG) de 1 isolado e no códon 451 his (CAC) tyr (TAC) em 3 dos 17 isolados
fenotípicamente resistentes à rifampicina.
57
6. DISCUSSÃO.
A análise laboratorial do perfil de resistência às drogas usadas no
tratamento da tuberculose é de grande importância para direcionamento da
terapia mais apropriada, o mais precocemente possível, bem como, adoção de
medidas preventivas contra a disseminação de microrganismos resistentes.
Dos 16 pacientes analisados, dez (62,5%) eram portadores de TBMDR,
resistentes, portanto à R e H, cinco (31,2%) eram monorresistentes à H e um
(6,3%) era monorresistente à R. Estes achados estão respaldados pela literatura
em relação à rifampicina que pode ser considerada como um marcador para a
multirresistência aos rmacos porque, raramente, observa-se monorresistência
a ela (Miotto et al. 2006, Rosseti et al.2002, Bahrmand et al. 2009).
Como foram analisados mais de um isolado por paciente, nota-se na
Tabela V que dois pacientes (4 e 8) apresentaram monorresistência à R em
determinado momento da doença, mas que os TS anteriores demonstraram ser
compatíveis com TBMDR. Portanto, estes achados o compatíveis com
populações bacterianas mistas, discutidas adiante e não enquadradas nesta
análise como monorresistentes à R.
Dos 15 pacientes com resistência fenotípica à isoniazida, sete, (47%)
apresentaram algum tipo de mutação no fragmento do gene katG sequenciado,
descrito pela literatura como a região mais envolvida em mutações. Destes, cinco
(71,4%) tiveram mutação apenas no códon 315 (figura 4), um (14,3%)
apresentou mutação apenas no códon 297 (figura 5) e um (14,3%) apresentou
duas mutações: códon 297 e 315 (Figuras 4 e 5).
58
Foram observados dois padrões de mutação no códon 315: ser (AGC)
thr (ACC) em 4 (67%) e ser (AGC) asn (AAC) em dois (33%) dos pacientes. A
mutação do códon 315 mais frequente, ser (AGC) thr (ACC), observada nesse
estudo está em acordo com o descrito na literatura para mutações no gene katG
(Bostanadab et al. 2006, Silva et al. 2003) (Figura 4). Vários estudos relatam
outras substituições no códon 315 como: ser (AGC) 315 arg (AGG), ser (AGC)
315 ile (ATC) (Bostanadab et. al 2006, Haas et al. 1997), porém não foram
encontradas nos isolados estudados. Dentre os pacientes que apresentaram
mutações no códon 315 do gene katG, a maioria (66%) era constituída por
pacientes portadores de TBMDR. Miotto e colaboradores (2006) fizeram a
mesma constatação ao analisar 206 isolados clínicos de M.tuberculosis
procedentes da Itália no período de janeiro de 2002 a junho de 2005.
Embora estudos de resistência às drogas levantem a possibilidade de que
substituições sinônimas ou silenciosas (que não se expressam fenotípicamente)
sejam limitadas (Sreevatsan et al. 1997), no presente estudo foram encontradas
mutações silenciosas no don 297 gly (GGC) gly (GGT), em dois isolados,
ambos fenotípicamente resistentes à H sendo que o isolado 3 apresentou
substituição concomitante no códon 315. O isolado 5 apresentou apenas a
mutação silenciosa (figura 5) que não tem nenhum efeito sobre a resistência
fenotipica detectada. Neste caso específico a mutação responsável pela
expressão da resistência observada clínica e fenotípicamente encontra-se
provavelmente em algum outro ponto do gene katG, não analisado neste estudo,
ou em outros genes como ahpC, inhA, kasA que podem conferir este tipo de
resistência e que foram descritos em outros trabalhos (Ramaswamy et al.
59
2003, Silva et al. 2003). O mesmo raciocínio deve ser aplicado aos demais
isolados (53%) que não tiveram confirmação genotípica da resistência
apresentada nos testes fenotípicos.
Dos 11 pacientes com resistência fenotípica à R, dez (91%) apresentaram
mutações entre as bases 1276 e 1356 correspondentes aos códons 432 a 458
do gene rpoB de M. tuberculosis. Esta alta frequência de mutação observada
dentre os isolados resistentes a R, está em acordo com a literatura (Heep et al.
2001, Rigouts et al. 2007) e confirma a utilidade da análise desta região do gene
rpoB na procura das mutações que conferem resistência a R.
Dentre os 11 pacientes que apresentaram mutação no gene rpoB, oito
(72,7%) apresentaram a mutação ser (TCG) leu (TTG) no códon 456, um
paciente (9,1%) sofreu mutação ser (TCG) leu (TTG), no códon 447, um
paciente (9,1%) apresentou a mutação his (CAC) tyr (TAC) no códon 451 e
um (9,1%) paciente, (isolado 12 B), apresentou mutação no códon 456 serleu
embora não tenha sido confirmado fenotípicamente.
De acordo com estudo realizado por Bahrmand e colaboradores (2009),
analisando 286 cepas de M. tuberculosis obtidos de escarro de pacientes com
TB pulmonar ativa, coletados em uma província na fronteira do I com
Afeganistão, foram observadas mutações nos códons 432, 433, 436, 441, 444,
445, 448, 451, 452 e 456. Os autores afirmam que os dons 436, 441, 451 e
456 de M. tuberculosis são reportados mundialmente como sendo os mais
envolvidos em mutações e salientam que ocorrem variações dependendo da
região geográfica. Nossos achados o equivalentes a estudos realizados por
pesquisadores que relatam a mutação no gene rpoB como a mais frequente no
60
códon 456 (TCGTTG) conforme descrito por Heep e colaboradores (2001) que
encontraram 65% de mutações no códon 456 em 93 isolados resistentes à R
obtidos de pacientes na Alemanha.
Os estudos feitos com isolados de diferentes regiões do Brasil reportam
frequências de mutações no gene rpoB semelhantes às encontradas em nosso
estudo. Valim e colaboradores (2000) analisaram 100 isolados de M. tuberculosis
provenientes de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e detectaram 21
diferentes tipos de mutações em 82 isolados resistentes à R. As mutações mais
frequentes foram nos códons 456 (54%), 451 (21%) e 441(7%). Em um outro
estudo realizado com isolados de São Paulo e Rio de Janeiro, Miranda e
colaboradores (2001) analisaram as bases moleculares de 18 isolados
resistentes à R e observaram uma frequência de 52,9% de mutação no códon
456, seguido de mutações nos códons 451 (14,7%) e 438 (11,8%).
Neste estudo encontramos mutação no códon 447 de um paciente (nº 7)
que codifica para ser (TCG) leu (TTG) (figura 7). A substituição neste códon
também foi encontrada por Valim e colaboradores (2000) em 2 isolados do Rio
Grande do Sul.
O isolado do paciente 10 não apresentou nenhuma mutação no fragmento
do gene rpoB sequenciado. Como relatado por outros autores a não
observação de mutação nas regiões mais frequentemente envolvidas com a
resistência a drogas demonstra a necessidade de se analisar outras partes do
gene à procura das bases moleculares referentes à resistência observada
fenotípicamente (Valim et al 2000, Miranda et al. 2001. Bahrmand et al. 2009,
Rigouts et al. 2007, Heep et al. 2001).
61
Nos pacientes 4, 6, 8, 12 e 13 que contribuíram com mais de um isolado,
foi possível observar que dentre os MDR, dois (20%) apresentaram padrão
fenotípico de infecções mistas (pacientes 4 e 8) devido a diferentes perfis de
resistência das amostras coletadas em tempos e espécimes clínicos diferentes.
Os isolados das primeiras amostras coletadas apresentaram-se como TBMDR e
os posteriores apresentaram resistência apenas à H. Populações mistas são
discutidas por vários autores (Warren et al. 2004, Shamputa et al. 2004, Hilleman
et al. 2005) e necessitam ser melhor estudadas em nosso estado.
Com relação aos isolados com padrão de resistência fenotípico
característico de populações bacterianas heterogêneas, pode-se afirmar que,
infecções mistas são causadas simultaneamente por duas ou mais estirpes de
M. tuberculosis e que podem ser confirmadas por DNA fingerprints (Shamputa et
al. 2004). Na Tabela V pode-se observar que os dois primeiros isolados do
paciente 4, coletados em agosto de 2005 e março de 2006 apresentaram padrão
de resistência de TBMDR e os isolados posteriores, novembro de 2006 e abril de
2007 foram resistentes apenas à R. O mesmo aconteceu com isolados do
paciente 8, onde a amostra coletada em julho de 2006 apresentou resistência à
R e H, e a amostra coletada em agosto de 2006 apresentou resistência apenas à
R. Sabe-se que um isolado, inicialmente resistente, não se sensibiliza após o
início do tratamento, então pode-se inferir que se trata de infecções mistas
(Warren et. al 2004, Shamputa et al. 2004, Hillemann et al. 2005).
De acordo com trabalho realizado por Li e colaboradores (2007), a
resistência a uma segunda droga pode resultar tanto do desenvolvimento de
resistência por tratamento irregular ou terapia inadequada como em
62
consequência de uma re-infecção exógena por um novo microrganismo
resistente. Nos isolados 13 A e 13 B as análises fenotípicas e moleculares
comprovaram sem sombra de dúvida o desenvolvimento de TBMDR por falha na
adesão ao esquema quimioterápico (Figura 6).
O paciente 12 que contribuiu com dois isolados, LCR e escarro,
apresentou mutação no códon 456 ser (TCG) leu (TTG) da amostra de
escarro cujo TS não foi realizado devido a não recuperação do isolado. Como o
primeiro isolado, recuperado da amostra de LCR foi fenotípicamente resistente
apenas à H e o segundo isolado, de escarro, não teve o TS realizado, pode-se
afirmar, baseado na técnica de sequenciamento, que houve desenvolvimento da
resistência à R posteriormente à realização do TS na amostra de LCR. Este
achado pode ser observado na Figura 6 (isolados 12 A e 12B) e explicado por
Viedma e colaboradores (2005) ao afirmarem que as análises de clusters de
infecções por M. tuberculosis m mostrado que em certas circunstâncias a TB é
uma situação muito mais complexa do que aquela visão esquemática de uma
estirpe infectando um hospedeiro.
As situações complexas encontradas na TB incluem recorrências
causadas por re-infecção exógena; co-infecções simultâneas por mais de uma
estirpe de M. tuberculosis; compartimentalização de infecção; diferentes estirpes
infectando diferentes órgãos e o fenômeno da micro evolução levando ao
aparecimento de variantes clonais dentro de um hospedeiro.
Unidades repetitivas espaçadoras e tipagem do número de variáveis in
tandem MIRU/VNTR é uma ferramenta para confirmar a compartimentalização,
isto é, infecções policlonais onde são encontradas diferentes estirpes infectando
63
diferentes órgãos. De acordo com Post e colaboradores (2004) a excisão de
pulmão humano de paciente com tuberculose recém-falecido demonstrou
resistência adquirida em locais físicos diversos do mesmo pulmão sugerindo a
ocorrência de evoluções paralelas, isto é, emergência de resistência
independente, em compartimentos separados do mesmo órgão sugerindo que
amostras de escarro obtidos de um mesmo paciente pode conter subpopulações
com mistura de bacilos resistentes e sensíveis concluindo que a observação de
subpopulações mistas de organismos sensíveis e resistentes pode sugerir
mutação adquirida recentemente. Esta explicação pode ser aplicada ao caso
específico deste paciente (12) que além do Mycobacterium tuberculosis
apresentava concomitantemente o Mycobacterium leprae.
A aplicação de testes moleculares na detecção de resistência pode nos
fornecer informações surpreendentes sobre a origem e disseminação dos
microrganismos na comunidade, contribuir com as análises epidemiológicas e
favorecer a introdução da terapia correta mais precocemente.
64
7. CONCLUSÕES.
- O percentual de concordância entre os testes fenotípicos e genotípicos foi de
41% para H e 94% para R considerando-se o número de isolados, e de 40% e
91% considerando-se o número de pacientes.
- Foram observadas resistências fenotípicas à isoniazida em 71% dos isolados,
correspondentes a 93,7% dos pacientes incluídos no estudo.
- A mutação no códon 315 do gene katG foi a única observada dentre as cepas
resistentes a H (7/17).
- A frequência de substituições no códon 315 do gene katG foi de 57% para ser
(AGC) thr (ACC) e de 43% para ser (AGC) asn (AAC).
- Foram observadas resistências fenotípicas à rifampicina em 71% dos isolados,
representando 68,7% dos pacientes incluídos no estudo.
- As frequências de mutações observadas no gene rpoB foram de 76,5% para o
códon 456 ser (TCG) leu (TTG), 17,6% no don 451 his(CAC) tyr (TTG) e
5,9% no códon 447 ser (TCG) leu (TTG).
- Dentre os isolados analisados, 46% eram de TBMDR correspondentes a 10
(62,5%) dos pacientes.
65
PERSPECTIVAS
A continuidade deste trabalho envolve análises moleculares para se
estabelecer a relação genética entre as cepas isoladas, quer sejam elas de um
mesmo paciente, ou de diferentes pacientes, mas com perfis de resistência a
antibióticos semelhantes. Estas análises serão fundamentais para evidenciar a
presença de mais de uma estirpe em um mesmo paciente. Igualmente, um
melhor entendimento do desenvolvimento e/ou transmissão de cepas resistentes
a antibióticos poderão ser obtidas com análises de isolados de diferentes
pacientes, com perfis de resistência semelhante. Técnicas como RFLP-IS6110,
VNTR/MIRU, são as mais utilizadas para essas análises e poderão ser aplicadas
aos isolados nestes estudos futuros.
Esperamos a médio prazo poder implantar no laboratório de referência
estadual para tuberculose, LACEN-GO, as técnicas de sequenciamento dos
principais genes envolvidos no desenvolvimento da resistência às duas principais
drogas usadas no tratamento da tuberculose.
66
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adékambi T, Drancourt M 2004. Dissection of phylogenetic relationships among
19 rapidly growing Mycobacterium species by 16S rRNA, hsp 65, sod A, rec
A and rpo B gene sequencing. Int J Syst Evol Microbiol 54: 2095-2105.
American Thoracic Society. Diagnostic 2000. Standards and classification of
tuberculosis in adults and children. Am Resp Crit Care Med 161: 1376-1395.
Amukoye E 2008. Multi drug resistant tuberculosis: a challenge in the
management of tuberculosis. African Journal of Health Sciences 15: 6-13.
Anthony RM, Schuitema ARJ, Bergval IL, Brown TJ, Oskam l, Klatser PR 2005.
Acquisition of rifabutin resistance by a rifampicin resistant mutant of
Mycobacterium tuberculosis involves an unusual spectrum of mutations and
elevated frequency. Annals of Clinical Microbiology and Antimicrobials.
http://www.ann-clinmicrob.com/content/4/1/9.
Araújo-Filho JA, Vasconcelos Jr AC, Sousa EM, Silveira C, Sousa PTP, Severo
KA, Vieira LF, Kipnis A, Kipnis APJ 2008. Multidrug-Resistant Tuberculosis:
Case Reports Study in a Central State of Brazil. BJID 2008, 12: 94-98.
Arnold C 2006. Molecular evolution of Mycobacterium tuberculosis. Clinical
Microbiol Inf 13: 120-128.
Aziz MA, Laszlo A, Raviglione M, Rieder H, Espinal M, Wright A 2003. Guidelines
for surveillance of drug resistance in tuberculosis. The World Health
Organization/International Union against Tuberculosis and Lung Disease
Global Project on Surveillance for AntiTuberculosis Drug Resistance.
Second edition.
Bahrmand AR, Titov LP, Tasbiti AH, Yari S, Graviss EA 2009. High-Level
Rifampin Resistance Correlates with Multiple Mutations in the rpoB Gene of
Pulmonary Tuberculosis Isolates from the Afghanistan Border of Iran. J Clin
Microbiol 47: 2744-2750.
Bergval IL, Schuitema ARJ, Klatser PR, Anthony RM 2009. Resistant mutants of
Mycobacterium tuberculosis selected in vitro do not reflect the in vivo
mechanism of Isoniazid resistance. J Antimicrob Chemother 64: 515-523.
Boffo MMS, Mattos IG, Ribeiro MO, Neto ICO 2004. Tuberculosis associated to
AIDS: demographic, clínical and laboratory characteristics of patients cared
for at a reference center in the south of Brasil. J bras pneumol. 30:140-146.
67
Bostanadab SZ, Velayati AA, Masjedi MR, Titov LP, Taghikhani M, Khazaei HA,
Aghamohammadi A, Bahrmand AR 2006. KatG Mutation of Isoniazid-
Resistant Isolated from Tuberculosis Patients. Tanaffos 5: 31-36.
Bostanadab SZ; Bahrmand A; Titov L.P; Tagnikhani M 2007. Identification of
mutations in the rpoB enconding the RNA polymerase beta subunit in
rifampicine-resistant Mycobacterium tuberculosis strains from Iran.
Tuberküloz ve Toraks Dergisi 55: 370-377.
Botasso O, Bay ML, Besedovsky H, del Rey A 2007. The Immuno-endocrine
Component in the Pathogenesis of Tuberculosis. Scandinavium Journal of
Immunology 66: 166-175.
Brasil 2002. MS/FUNASA/CRPHF/SBPT. Controle da tuberculose: uma proposta
de integração ensino-serviço, 5ª edição-Rio de Janeiro.
Brasil 2004. II Consenso Brasileiro de Tuberculose Diretrizes Brasileiras para
Tuberculose. Jornal da SBPT 30: 24-38.
Brasil 2008. MS/SVS/DEVEP, 1ª edição, Brasília, DF. Manual Nacional de
Vigilância Laboratorial da Tuberculose e outras Micobactérias.
BRASIL
2009
1
. SVS ano 9 2, julho de 2009. Boletim Epidemiológico
eletrônico. Avaliado em http://portal.saude.gov.br
BRASIL
2009
2
. Comissão de Tuberculose da SBPT, Grupo de Trabalho das
Diretrizes para Tuberculose da SBPT. III Diretrizes para Tuberculose da
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. J Bras Pneumol 35:1018-
1048.
Brito RC, Gounder C, Lima DB, Siqueira H, Cavalcante HR, Pereira MM, Kritski
AL 2004. Drug-resistant Mycobacterium tuberculosis strains isolated at an
AIDS reference center general in Rio de janeiro. J Bras Pneumol 30: 425-
432.
Brosch R, Gordon SV, Marmiesse M, Brodin P, Buchrieser C, Eigimeier
K,Garnieri T, Gutierrez C, Hewinson G, Kremer K, Parsons LM, Pym AS,
Samper S, van Soolingen D, Cole ST 2002. A new evolutionary scenario for
the Mycobacterium tuberculosis Complex, PNAS USA 99: 3684-3689.
Campos HS 1999. De onde vem a resistência. Boletim de Pneumologia Sanitária
7. Nº 1 - jan/jun 1999.
Canetti G, Fox W, Khomenko A, Mahler HT, Menon NK, Mitchison DA, Rist N,
68
Smelev NA 1969. Advances in techniques of testing mycobacterial drug
sensitivity and use of sensitivity tests in tuberculosis control programmes.
Bulletion of the World Health Organization 4: 21-43.
Carvalho WS, Miranda SS, Pesquero JL, Gomes MA 2007. Diagnóstico de
resistência do Mycobacterium tuberculosis à rifampicina utilizando-se da
reação em cadeia da polimerase. RBCF 43: 31-38.
Cave MD, Eisenach KD, Templeton G, Salfinger GM, Bates JH, Crawford JT
1994. Stability of DNA fingerprint Pattern produced with IS 6110 in Strains of
Mycobacterium tuberculosis. J Clin Microbiol 32: 262-266.
Chan ED, Laurel V, Strand MJ, Chan JF, Huynh NML, Goble M, Iseman MD
2004. Treatment and Outcome Analysis of 205 Patients with Multidrug-
resistant Tuberculosis. Am J Resp Care Med 169: 1103-1109.
Chimara E, Ferrazoli L, Leão SC 2004. Mycobacterium tuberculosis complex
differentiation using gyr B restriction fragment length polymorphism analysis.
Mem Inst Oswaldo Cruz 99: 45-48.
Crofton J, Mitchison D 1948. Streptomicyn resistance in pulmonary tuberculosis.
British Medical Journal 2:1009-1015.
Cunha AF, Frota CC 2005. Bases Moleculares da Resistência do Mycobacterium
tuberculosis às Drogas Usadas no Tratamento da Tuberculose. RBAC 37:
157-161.
Diguimbaye C, Hilty M, Ngandolo R, Mahamat HH, Pfyffer GE, Baggi F, Tanner
M, Schelling E, Zinsstag
J 2006. Molecular Characterization and Drug
Resistance Testing of M. tuberculosis Isolates from Chad. J Clin Microbiol
44: 1575-1577.
Di Pierre G, Bonara S 2004. Which agents should we use for the treatment of
multidrug resistant M. tuberculosis? JAC 54: 593- 602.
Donald PR, van Helder PD 2009. The Global Burden of Tuberculosis Combating
Drug Resistance in Difficult Times. NEJM 360: 2393-2395.
Dormans J, Burger M, Aguilar D, Hernandez R, Pando K, Kremer K, Roholl P,
Arend SM, Van Soolingen D 2004. Correlation of virulence, lung pathology,
bacterial load and delayed type hypersensitivity responses after infection
with different Mycobacterium tuberculosis genotypes in a BALB/c mouse
model. Clin Exp Immunol 137: 460-468.
69
Dubiley S, Kirillov E, Ignatova A, Stepanshina V, Shemyakin I 2007. Molecular
Characteristics of the Mycobacterium tuberculosis LAM-RUS Family
Prevalent in Central Russia. J Clinical Microbiol 45: 4036-4038.
Ducati RG, Netto AR, Basso LA, Santos DS 2006. The Resumption of
Consumption A review on tuberculosis. Mem Inst Oswaldo Cruz 101: 697-
714.
Dye C, Watt CJ, Bleed DM, Hosseini SM, Raviglione MC 2005. Evolution of
tuberculosis control and prospects for reducing tuberculosis incidence,
prevalence, and deaths globally. JAMA 22: 2767-2775.
Espinal MA 2003. The global situation of MDR TB. Tuberculosis 83: 44-51
Euzeby JP. List of bacterial names with Standing in Nomenclature. Societé de
Bacteriologie Systematique et Véterinaire France. Disponível em:
http://www.bacterio.cict.fr/m/mycobacterium.htm). Acesso em 24 julho 2009.
Fu LM, Shinnick TM 2007. Understanding the action of INH on a highly INH
resistant Mycobacterium tuberculosis strain using Genechips. Tuberculosis
87: 63-70 journal homepage: http://intl.elsevierhealth.com/journals/tube.
Haas WH, Schilke K, Brand J, Amthor B, Weyer K, Fourie PB, Bretzel G, Sticht-
Groh V, Bremer HJ 1997. Molecular Analysis of katG Gene Mutations in
Strains of Mycobacterium tuberculosis Complex from Africa. Antimicrob
Agents Chemother 41: 1601-1603.
Heep M, Brandstätter B, Rieger U, Lehn N, Richter E, Gerdes SR, Niemann S
2001. Frequency of rpoB Mutations Inside and Outside the Cluster I Region
on Rifampin-Resistant Clinical Mycobacterium tuberculosis Isolates. J Clin
Microbiol 39:107-110.
Hillemann D, Kubica T, Agzamova R, Venera B, Rüsch-Gerdes S, Niemann S
2005 Rifampicin and isoniazid resistance mutations in Mycobacterium
tuberculosis strains isolated from patients in Kazakhstan. Int J Tuberc Lung
Dis 10: 1161-1167.
Hijjar MA, Gerhardt G, Teixeira GM, Procópio MJ 2007. Retrospecto do controle
da tuberculose no Brasil. Rev Saúde Pública 41: 50-58.
Hunter RL, Olsen MR, Jagannath C, Actor JK 2006. Review: Multiple Roles of
Cord Factor in the Pathogenesis of Primary, Secondary, and Cavitary
Tuberculosis, Including a Revised Description of the Pathology of Secondary
Disease. Annals of Clinical and Laboratory Science 36: 371-386. Available
online at www.annclinlabsci.org.
70
Jain A, Dixit P 2008. Multidrug resistant to extensively drug resistant
tuberculosis: What is next? Journal Biosc 33: 605-616.
Jawetz, Melnick & Adelberg 2000. Microbiologia Médica, 21ª edição.
Jenkins C, Claxton AP, Shorten RJ, McHugh TD, Gillespie SH 2005. Rifampicin
Resistance in Tuberculosis Outbreak, London, England. Emerg Infect Dis.
[serial on the internet]. Available from
http//www.cdc.gov.ncidod/EID/vol11no06/04-1262.htm.
Johnson R, Streicher EM, Louw GE, Warrewn M, Helden Pdvan, Victor TC 2006.
Drug Resistance in Mycobacterium tuberculosis. Curr Issues Mol Biol 8: 97-
112.
Kanduma EE, McHugh TD, Gillespie SH 2003. Molecular Methods for
Mycobacterium tuberculosis strain typing: a users guide. J Appl Microbiol 94:
781-791.
Kim HJ, Kang CH, Kim YT, Sung SW, Kim JH, Lee SM, Yoo CG, Lee CT, Kim
YW, Han SK, Shim YS, Yim JJ 2006. Prognostic factors for surgical
ressection in patients with multidrug-resistant tuberculosis. Eur Respir J 28:
576-580.
Koneman EW, Allen SD, Janda WM, Schreckenberger CP, Winn Jr WC 2001.
Diagnóstico Microbiológico - Texto e atlas colorido. 5ª ed. Rio de Janeiro.
Translation of: AE Cury.
Larkin MA, Blackshields G, Brown NP, Chenna R, Mcgettigan PA, McWilliam NP,
Valentim F, Wallace IM, Wilm A, Lopez R, Thompson JD, Gibson TJ, Higgins
DG 2007. Clustal W and Clustal X version 2.0. Bioinformatics 23: 2947-2948.
Lazzarini LCO, Huard RC, Boechat NL, Gomes HM, Oelemann MC, Kurepina N,
Shashkina E, Mello FCQ, Gibson AL, Virgínio MJ, Marsico AG, Butler WR,
Kreiswirth BN, Suffys PN, Lapa e Silva JR, Ho JL 2007. Discovery a Novel
Mycobacterium tuberculosis Lineage That is a Major Cause of Tuberculosis
In Rio de Janeiro, Brazil. J Clin Microbiol 45: 3891-3902.
Lazzarini LCO, Spindola SM, Bang H, Gibson AL, Weisenberg S, Carvalho WS,
Augusto CJ, Huard RC, Kristki AL, Ho JL 2008. RD
Rio
Mycobacterium
tuberculosis Infection Is Associated with a Higher Frequency of Cavitary
Pulmonary Disease. J Clin Microbiol 46: 2175-2183.
Marttila HJ, Soini H, Huovinen P, Viljanen MK. 1996 KatG mutations in isoniazid
resistant Mycobacterium tuberculosis isolates recovered from finnish
patients. Antimicrob Agents Chemother 40: 2187-2189.
71
Mathema B, Kurepina NE, Bifani PJ, Kreiswirth BN 2006. Molecular Epidemiology
of Tuberculosis: Current Insights. Microbiology Reviews. J Inf Dis Clin 19:
658-685.
Miranda SS, Kristki AL, Filliol I, Mabilat C, Panteix G, Drouet E 2001. Mutations in
the rpoB Gene of Rifampicin-resistant Mycobacterium tuberculosis Strains
Isolated in Brazil and France. Mem Inst Oswaldo Cruz 96: 247-250.
Miotto P, Piana F, Penati V, Canducci F, Migliori GB, Cirillo DM 2006. Rifampin
and Isoniazid Resistance in Mycobacterium tuberculosis Clinical Strains
Isolated in Italy. Journal Clin Microbiol 44: 2485-2491.
Mitchison DA 1998. How drug resistance emerges as a result of poor compliance
during short course chemotherapy for tuberculosis. Int J Tuberculosis Lung
Diseases 2: 10-15.
Moström P, Gordan M, Sola C, Ridell M, Rastogi N 2002. Methods used in the
molecular epidemiology of tuberculosis. Clin Microbiol Infect 8: 694-704.
Murray M, Alland D 2002. Methodological Problems in the Molecular
Epidemiology of Tuberculosis. Am J Epidemiol 155: 565-571.
Niero CV, Leão SC 2004. Limitações do uso do fragmento mtp 40 como
marcador de diferenciação entre Mycobacterium tuberculosis e M. bovis.
Braz J Pulmonology 30: 496-500.
OMS 2000. Anti–tuberculosis Drug Resistance in the World, report 2.
Prevalence and Trends.
OMS 2008. Global tuberculosis control - Surveillance, planning, financing. Who
report 2008.
Pandolfi JR, Malaspina AC, Santos ACB, Suffys PN, Oellemann MAC, Valentini
SR, Leite CQF 2007. Tuberculose e o estudo molecular da sua
epidemiologia. Rev Ciênc Farm Básica Apl 28: 251-257.
Paramasivan CN, Venkataraman P 2004. Review Article. Drug resistance in
tuberculosis in India. Indian J Med Res 120: 377-386.
72
Post FA, Willcox PA, Mathema B, Steyn LM, Shean K, Ramaswamy SV, Graviss
EA, Shashkina E, Kreiswirth BN, Kaplan G 2004. Genetic Polymorphism in
Mycobacterium tuberculosis Isolates from Patients with Chronic Multidrug-
Resistant Tuberculosis. J Infec Dis 190: 99-106.
Ramaswamy SV, Reich R, Jou SJ, Jasperse L, Pan X, Wanger A, Quitugua T,
Graviss EA 2003. Single Nucleotide polymorphisms in Genes Associated
with Isoniazid Resistance in Mycobacterium tuberculosis. Antimic Agents
and Chem 47:1241-1250.
Raviglione MC, Snider DE, Jr Kochi A 1995. Global epidemiology of
tuberculosis: Morbidity and mortality of a worldwide epidemic. JAMA 273:
220-226.
Raviglione MC, Smith IM 2007. XDR tuberculosis – Implications for Global
Public Health. NEJM 356: 656-659.
Rigouts L, Nolasco O, Rijl P, Nduwamahoro E, Deun AV, Ramsay A, Arevalo J,
Portaels F 2007. Newly Developed Primers for Comprehensive Amplification
of the rpoB Gene and Detection of Rifampin Resistance in Mycobacterium
tuberculosis. J Clin Microbiol 45: 252-254.
Rinder H, Feldmann K, Tortoli E, Grosset J, Casal M, Ritcher E, Rifai M, Jarlier V,
Vaquero M, Rüsch-Gerder S, Cambau E, Gutierrez J, Löscher T 1999.
Culture-Independente Prediction of Isoniazid Resistance in Mycobacterium
tuberculosis by katG Gene Analysis Directly From Sputum Samples. JMD 4:
145-152.
Rosenberg NA, Tsolaki AG, Tanaka MM 2003. Estimating change rates of
genetic markers using serial samoles: applications to the transposon IS
6110 in Mycobacterium tuberculosis. Theor Popul Biol 63: 347-363.
Rossetti ML, Valim ARM, Silva MSN, Rodrigues VS 2002. Resistant tuberculosis:
molecular review. Rev Saúde Publica 36: 525-532.
Sachan AS, Gupta RK, Katoch VM, Mishra K, Jakhmola P 2002. Detection of
Rifampicin Resistant Mutant Gene in Mycobacterium tuberculosis by line
Probe Assay. Ind J Tub 49: 209-211.
Shamputa IC, Rigouts L, Eyongeta LA, Aila NAE, van Deun A, Salim AH, Willery
E, Locht C, Supply P, Portaels F 2004. Genotypic and phenotypic
heterogeneity among Mycobacterium tuberculosis isolates from Pulmonary
Tuberculosis Patients. J Clin Microbiol 42: 5528-5536.
73
Sharma SK, Mohan A 2006. Multidrug-resistant tuberculosis: a menace that
threatens to desestabilize tuberculosis control. Chest 130: 261-272.
Siddiqi N, Shamim M, Hussain S, Choudhary RK, Ahmed N, Prachee, Banerjee
S, Savithri GR, Alam M, Pathak N, Amin A, Hanief M, Katoch VM, Sharma
SK, Hasnain SE 2002. Molecular characterization of multidrug-resistant
isolates of Mycobacterium tuberculosis from patients in North India. Antimic
Agents and Chem 46: 443-450.
Siddiqi S, Takhar P, Baldeviano C, Glover W, Zhang Y 2007. Isoniazid Induces
Its Own Resistance in Nonreplicating Mycobacterium tuberculosis. Antimic
Agents and Chem 51: 2100-2104.
Silva MSN, Senna SG, Ribeiro MO, Valim ARM, Telles MA, Kritski A, Morlock
GP, Cooksey RC, Zaha A, Rossetti MLR 2003. Mutations in katG, inhA, and
ahpC Genes of Brazilian Isoniazid-Resistant Isolates of Mycobacterium
tuberculosis. J Clin Microbiol 41: 4471-4474.
Silva JRL, Boechat N 2004. The ressurgence of tuberculosis and the impact of
the study of pulmonary immunopathogenesis. J Bras Pneumol 30: 478-484.
Silva NA, Villela PMS, Boschiero C, Andrade JLF, Coutinho LL. Método
alternativo de purificação de produto de PCR para sequenciamento2008.
Resumos do 54º Congresso Brasileiro de Genética. 16 a 19 de setembro de
2008. Disponível em: tuberculosis: http://web2.sbg.org.br. Visualização em:
20 de fev. 2009.
Sreevatsan S, Pan X, Stockbauer KE, Connell ND, Kreiswirth BN, Whittam TS,
Musser JM 1997. Restricted structural gene polymorphism in the
Mycobacterium tuberculosis complex indicates evolutionarily recent global
dissemination. Proc Natl Acad Sci USA 94: 9869-9874.
Thierry D, Noel AB, Frébault VVL, Nguyen S, Guesdon JL, Gicquel B 1990.
Characterization of a Mycobacterium tuberculosis insertion sequence, IS
6110, and its application in diagnosis. J Clin Microbiol 28: 2668-2673.
Tibayrenc M 2005. Brinding up the gap between molecular epidemiologists and
evolutionists. Trends Microbiol 13: 575-580.
Timmins GS, Deretic V 2006. Mechanisms of action of isoniazid. Micro review.
Mol Microbiol 62: 1220-1227.
Valim ARM, Rossetti MLR, Ribeiro MO, Zaha A 2000. Mutations in the rpoB Gene
of Multidrug-Resistant Mycobacterium tuberculosis Isolates from Brazil. J
Clin Microbiol 38: 3119-3122.
74
van Embden JD, Cave MD, Crawford JT, Dale JW, Eisenach KD, Gicquel B,
Hermans P, Martin C, MacAdam R, Shinnick TM 1993. Strain Identification
of Mycobacterium tuberculosis by DNA Fingerprinting: Recommendations for
a Standardized Methodology. J Clin Microbiol 31: 406-409.
van Soolingen D, Hermans PW, Haas PE, Soll DR, van Embden JD 1991.
Occurrence and Stability of Insertion Sequences in Mycobacterium
tuberculosis Complex Strains: Evaluation of an Insertion Sequence-
Dependent DNA Polymorphism as a Tool in the Epidemiology of
Tuberculosis. J Clin Microbiol 29: 2578-2586.
van Soolingen D, Haas PE, Hermans PW, van Emden JD 1994. DNA
fingerprinting of Mycobacterium tuberculosis. Methods Enzymol 235:196-
205.
van Soolingen D 2001. Molecular epidemiology of tuberculosis and other
mycobacterial infections: main methodologies and achievements. J Intern
Med 249: 1-26.
Viedma DG; Rodriguez NA, Andrés S, Serrano MJR, Bouza E 2005
Characterization of Clonal Complexity in Tuberculosis by Mycobacterial
Interspesed Repetitive Unit Variable Number Tandem Repeat Typing. J Clin
Microbiol 43: 5660-5664.
Vynnycky E, Nagelkerke N, Borgdorff MW, van Soolingen D, Van Embden JDA,
Fine PEM 2001. The effect of age and study duration on the relationship
between ”clustering” of DNA fingerprint patterns and the proportion of
tuberculosis disease attributable to recent transmission. Epidemiol Infect
126: 43-62.
Warren RM, Victor TC, Streicher EM, Richardson M, Beyers N, van Pittius, van
Helden PD 2004. Patients with Active Tuberculosis often Have Different
Strains in the Same Sputum Specimen. Am J Respir Crit Care Med 169:
610-614.
Wayn LG, Kubica GP 1986. Genus Mycobacterium. Bergey’s Manual of
Systematic Bacteriology 2: 1436-1457.
Woods GL 2000. Susceptibility Testing for Mycobacteria. CID 31: 1209-1215.
Zhao M, Li X, Xu P, Shen X, Gui X, Wang L, DiRiemer K, Mei J, Gao Q 2009.
Transmission of MDR and XDR Tuberculosis in Shangai, China. PloS ONE
journal. Pone.0004370www.plosone.org, Vol 4 Issue 2.
75
76
77
78
79
80
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo