lares” para nos referir a este tipo de teoria.
O problema da não validade da matriz Hessiana foi primeiramente tratado por Dirac
[1], em paralelo com trabalhos de Bergmann [2], que elaboraram um formalismo Hamiltoni-
ano para sistemas singulares. Este método, conhecido como formalismo de Dirac-Bergmann,
aplica-se a encontrar um sub-espaço do espaço de fase no qual a condição Hessiana seja válida
e as equações canônicas sejam equivalentes às equações de Euler-Lagrange. Sob este ponto de
vista, a singularidade da matriz Hessiana implica em vínculos algébricos entre as variáveis
canônicas. No caminho para a construção da equivalência entre este formalismo Hamiltoni-
ano e o de Euler-Lagrange há que se impor condições de consistência sobre os vínculos, sua
separação entre vínculos em primeira e segunda classe, a possível definição dos parênteses de
Dirac e, como resultado mais importante, a correspondência entre vínculos de primeira classe
e simetrias. Além dos artigos originais, um estudo bastante completo do formalismo de Dirac
pode ser encontrado nas referências [3, 4, 5].
Em razão desta motivação, a generalização do formalismo que desenvolvemos até aqui,
de modo a englobar sistemas que não obedecem a condição Hessiana, torna-se um caminho
natural. A primeira (e também mais séria) consequência que vem desta violação é a impos-
sibilidade de se definir um campo geodésico que contenha imersa uma configuração mínima
da integral fundamental. A nível Lagrangiano, tampouco é possível garantir que soluções das
equações de Euler-Lagrange sejam extremos locais. Este problema se reflete, como já vimos,
na própria construção do formalismo canônico: a construção do espaço de fase pode ser feita
através de uma transformação do tipo (2.30), mas esta não consistirá em uma transformação
de Legendre, tal que entre os momentos e os campos tangentes não poderá existir uma re-
lação biunívoca. Portanto, não se pode estabelecer um isomorfismo canônico entre os espaços
tangentes e cotangentes de
¯
Q.
No entanto, como vimos também no capítulo 2, as teorias de campos nas quais estamos in-
teressados na Física possuem um requerimento vindo da relatividade geral: a integral funda-
mental que as descreve deve ser invariante por reparametrizações. Especialmente nas teorias
de campos que descrevem interações fundamentais na natureza, a densidade Lagrangiana é
explicitamente independente do ponto do espaço-tempo e, como consequência imediata, o ten-
sor densidade de energia-momento canônico (1.25) dessas teorias é identicamente nulo. Isso
também ocorre com todas as suas contrações e projeções, particularmente com a densidade
Hamiltoniana canônica (2.47). Neste caso, o programa que descrevemos no capítulo 2 sofre
um colapso: a equação de Hamilton-Jacobi torna-se uma identidade, não uma equação, fato
que frustra a implementação do formalismo canônico subsequente.
Uma tentativa de resolver este problema de forma a manter o formalismo covariante é
feita, com certo sucesso, em [6]. O procedimento consiste em redefinir a transformação de
Legendre para generalizar a definição dos momentos conjugados. Contudo, essa tentativa
depende de condições que tornam impraticável a utilização em sistemas físicos de interesse.
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