Em todas as fazendas por onde vai passando, vai tomando referências com os
fazendeiros e demais habitantes, mas o que mais surpreende Bigg Wither é o sertão
fechado, florestas abundantes, onde ele enxerga possibilidades de transformação,
inerentes à própria existência das mesmas. Ele avalia então a capacidade de
transformação (hoje diríamos de regeneração) desse meio natural:
O fazendeiro nos deu algumas informações interessantes acerca destes
campos, principalmente sobre os de sua propriedade, que pareciam
estar aumentando continuamente. Como se sabe, há um ponto
controvertido sobre como se formaram originalmente estes campos sul-
americanos. Alguns dizem que eles sempre foram assim, descobertos e
sem arborização desde o dia em que surgiram das águas do dilúvio.
Sem pretender dar opinião sobre esse grande assunto geral, posso,
contudo, registrar um fato interessante, já talvez bastante conhecido, de
que a operação de transformar terras de florestas ( de certa qualidade)
em terras de campo é continuamente aumentada pela simples atuação
do fogo e, além disso, – e este é talvez ponto pouco conhecido – tal
terra, quando transformada em campo, não tende a voltar à sua
condição primitiva. Este é forte argumento a favor dos que sustentam a
opinião de que os campos já foram cobertos de florestas. No entanto, eu
disse que a floresta devia ser de certa espécie. Uma das características
da floreta propriamente dita é que quando qualquer porção dela é limpa
a machado, a fogo, ou então por ambos sempre tende a voltar ao estado
primitivo e, de fato, voltará se for abandonada por um número
suficiente para isso. Assim é a terra do Vale do Ivaí, onde as cidades e
as aldeias, fundadas pelos espanhóis e jesuítas no século XVI, e
abandonadas, depois de cinqüenta anos de habitadas ou mesmo mais,
estão novamente coberta por matas.
Durante toda a expedição em que vai destacando as especificidades da natureza,
cada detalhe que chama a sua atenção. Um dos pontos mais importantes é sobre a
riqueza presente nos vales dos rios Ivaí e Tibagi, com relação à quantidade de espécies
diferentes que ele encontra, sempre procurando capturar uma amostra de cada uma,
sejam aves, plantas ou até borboletas, com um olhar do naturalista:
Ainda sobre a natureza, sobre a divisão dos rios Ivaí e Tibagi: Cada um
desses riachos era o retiro de miríades de borboletas, de todas as
variedades, tamanho e cor, cobrindo inteiramente o solo e, à nossa
aproximação, escurecendo o ar com seus vôos. Muitas variedades
tinham rabos parecidos com os das andorinhas e outras o tinham
espesso como as aves do paraíso. Havia também uma pequena
borboleta linda que, mais tarde batizamos de “oitenta e oito”, em vista
de mostrar esse número em algarismo, bem nítido, no lado interno das
duas asas inferiores... Descrevo esta borboleta, não como sendo uma
raridade, mas ao contrário, por ser a mais comum na província do
Paraná. Encontrei-a em três de cada quatro nos principais vales da
Idem, ibidem, p.117.