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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
ROBERVAL BRÁZ PADOVAN
O BAMBU NA ARQUITETURA:
DESIGN DE CONEXÕES ESTRUTURAIS
Bauru
2010
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ROBERVAL BRÁZ PADOVAN
O BAMBU NA ARQUITETURA:
DESIGN DE CONEXÕES ESTRUTURAIS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Design da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
campus de Bauru, como exigência para obtenção
do título de Mestre em Design.
Área de concentração: Planejamento de Produto
Orientação: Prof. Dr. Marco Antônio dos Reis
Pereira
Co-orientação: Prof.ª Dr.ª Paula da Cruz Landim
Bauru
2010
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DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO
Padovan, Roberval Bráz.
O bambu na arquitetura: design de conexões estruturais / Roberval Bráz
Padovan. - Bauru, 2010.
183f. : il.
Orientador: Marco Antônio dos Reis Pereira
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2010
1.Design. 2. Bambu. 3. Conexões. I. Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título
Dedico esta dissertação
à minha esposa, FERNANDA,
e ao meu filho, BRUNO PADOVAN
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, de Quem aprendi a me dedicar
a buscar a felicidade, não somente minha, mas também, a de meus
semelhantes, o que verdadeiramente nos torna irmãos.
Ao meu orientador, Prof. Dr. MARCO ANTONIO DOS REIS PEREIRA.
À minha co-orientadora, Profª. Drª. PAULA DA CRUZ LANDIM.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Design, da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP.
Aos meus irmãos e sócios, ANA MARIA e ANGELO Padovan.
R
ESUMO
O bambu é considerado um dos mais antigos materiais para habitações,
porém, o desenvolvimento de tecnologia própria, como material de construção de
qualidade, vem acontecendo somente nas últimas três décadas, quando surgiu uma
discussão mundial sobre sustentabilidade. A variável ambiental passou, então, a ser
considerada em qualquer projeto de desenvolvimento, uma vez que influencia tanto
na disponibilidade futura de matérias-primas e energia, quanto na qualidade de vida
das populações. Uma das maiores dificuldades no pleno emprego do bambu na
construção civil são as conexões estruturais entre seus elementos, que não
permitem o uso de tecnologia de ligações aplicada a outros materiais, como o aço e
a madeira maciça, para efetuar com eficiência a transferência de esforços,
inviabilizando toda potencialidade estrutural oferecida pelo bambu. Este trabalho faz
uma ampla revisão dos principais aspectos da arquitetura com bambu, bem como
das técnicas de construção e conexões utilizadas. A partir de uma estratégia geral
de inovação, baseada no processo de desenvolvimento de produtos, foi proposto o
design de uma nova conexão estrutural, com execução de protótipo e projeto
arquitetônico para ilustração de sua aplicação. Esta nova ligação visou contribuir
com a viabilização da utilização do bambu na construção civil, pelo incremento
tecnológico do material.
Palavras-chave: Design, Bambu, Conexões.
ABSTRACT
Bamboo is considered one of the oldest materials for housing, but the development
of technology as quality construction material is happening only in the last three
decades when a worldwide discussion about sustainability, where the environmental
variable is to be considered in any development project, since it affects the future
availability of raw materials and energy, as in the quality of life of people with
improved environmental conditions. One of the biggest difficulties in full employment
in the construction of bamboo are structural connections between its elements, which
do not allow the use of executable technology of other materials such as steel and
timber, for theirs efficiently transfer efforts, using all structural offered by bamboo
creditworthiness. This work is a comprehensive review of the main aspects of the
bamboo culture, as well as construction techniques and connections used. From an
overall strategy of innovation, based on the product development process to design a
new connection is proposed. This rebonding aims to serve as a contribution to the
process of enabling the use of bamboo in construction, by technological increment of
the material
Keywords: Design, Bamboo, Connections
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Partes do bambu 22
Figura 2 - Rizoma paquimorfo 23
Figura 3 - Rizoma do tipo leptomorfo ou alastrante 24
Figura 4 - Variação da fração volumétrica das fibras na espessura do colmo
do bambu Guadua angustifolia
25
Figura 5 - Detalhe dos conjuntos vasculares do bambu
26
Figura 6 - Retirada de mudas a partir de ramos laterais 27
Figura 7 - Viveiro de mudas de bambus 28
Figura 8 -
Esquerda: Dinoderus minutus, caruncho do bambu; direita: corte
transversal das células parenquimaticas dos colmos, com grãos
de amido 30
Figura 9 - Método de tratamento pelo fogo 31
Figura 10 - Tratamento pelo método Boucherie 33
Figura 11 - Armazenamento correto das varas de bambu 33
Figura 12 - Compressão paralela às fibras 39
Figura 13 - Resistência à compressão em seção retangular 41
Figura 14 - Corte feito na direção longitudinal às fibras 44
Figura 15 - Representação de um sistema contínuo de tensões 45
Figura 16 - Representação de um sistema descontínuo de tensões 45
Figura 17 - Distribuição geográfica do bambu 46
Figura 18 -
Guadua angustifolia
47
Figura 19 -
Guadua chacoensis
47
Figura 20 - Região do Estado do Acre com áreas nativas Guadua weberwarii 48
Figura 21 - Plantio da empresa Itapajé de Bambusa vulgaris 49
Figura 22 - Jardim com bambu Mossô 49
Figura 23 -
Dendrocalamus asper
50
Figura 24 -
Dendrocalamus giganteus
50
Figura 25 - Casa feita de bambu pelos antepassados na Costa do Equador 54
Figura 26 - Corte boca-de-peixe 55
Figura 27 - Corte boca-de-peixe com flange e corte reto 56
Figura 28 - Corte para obtenção de ripas de bambu 57
Figura 29 - Corte com uso de barra metálica 57
Figura 30 - Tramas confeccionadas com tiras de bambu 58
Figura 31 - Confecção de cordas de tiras de bambu 58
Figura 32 - Elementos de fundação apoiados diretamente no solo 59
Figura 33 - Detalhe das amarrações de uma estrutura vernacular de paredes e
vigas 60
Figura 34 - Piso de ripas de bambu 61
Figura 35 - Parede de colmos inteiros de bambu e de colmos cortados ao
meio 62
Figura 36 - Painel de bambus roliços 62
Figura 37 - Painel tipo Quincha com ripas verticais 63
Figura 38 - Painel tipo Quincha com ripas horizontais 63
Figura 39 - Painel tipo Bahareque 64
Figura 40 - Janela com grade de bambu 64
Figura 41 - Porta com estrutura e fechamento de bambu 65
Figura 42 - Evolução das estruturas de cobertura Japonesas com bambu 66
Figura 43 - Estruturas de cobertura das casas de Toradja na Tailândia 66
Figura 44 - Telhas tipo capa canal 67
Figura 45 - Telhas de bambu com entalhe para fixação 67
Figura 46 - Telhas de bambu das construções tradicionais chinesas 68
Figura 47 - Casa tradicional Chenca na Etiópia 68
Figura 48 - Casa de Toradja, na Indonésia 69
Figura 49 - Palácio Taj Mahal 70
Figura 50 - Tradicional casa chinesa de bambu 71
Figura 51 - Casa de pau-a-pique 71
Figura 52 - Plaina específica para ripas de bambu 73
Figura 53 - Fundações em forma de sapatas de concreto 74
Figura 54 - Sistema de apoio com incorporação do pilar à sapata de concreto 75
Figura 55 - Sequência de construção de residência com painéis pré-moldados
de bambu no Equador
76
Figura 56 - Painel de bambu com janelas de vidro temperado 76
Figura 57 - Forro com tecido de bambu do aeroporto Barajá de Madri, Espanha 77
Figura 58 - Estrutura de cobertura do Centro Cultural Max Feffer, na cidade de
Pardinho, SP 78
Figura 59 - Edifícios históricos de Manizales, construídos com a técnica de
bahareque, com detalhes da arquitetura Francesa
79
Figura 60 - Palácio Viceroy Amat, em Lima no Peru 79
Figura 61 - Residências do Projeto Nacional de Bambu 80
Figura 62 - Corte esquemático do projeto e residências do Projeto Malabar 81
Figura 63 - Casa de bambu do programa Viviendas Hogar de Cristo, Equador 81
Figura 64 - Igreja Nuestra Señora de La Pobreza em Pereira, Colômbia 82
Figura 65 - Hotel do Frade & Golf Resort, Rio de Janeiro 82
Figura 66 - Residência, Rio de Janeiro 83
Figura 67 - Pavilhão Zeri, construído como modelo em escala real, para Expo-
Hannover 83
Figura 68 - Gratting Shell 84
Figura 69 - A “Casa das Culturas” do Mundo 84
Figura 70 - Model house, de Jules Janssen, Costa Rica 85
Figura 71 - Ponte na Universidad Tecnológica de Pereira, Colômbia 85
Figura 72 - Restaurante (esquerda) e Creche Pública em Popayán, Colômbia 86
Figura 73 - Casa da arvore 86
Figura 74 - Residência de bambu e madeira em Guadalupe, México 87
Figura 75 - Bamboo Super Circle, Exposição de Hannover 2000 87
Figura 76 - Museu Nacional de Arte em Osaka, Japão 88
Figura 77 - Tjibaou Centro Cultural 89
Figura 78 - Cobertura para parque Olímpico de Montreal 89
Figura 79 - Chalé em Mauí – EUA 90
Figura 80 - Protótipo de residência em São Carlos 91
Figura 81 - Atelier do artista plástico José Joaquim Sansano 91
Figura 82 - Casa de Campo em Bauru-SP 92
Figura 83 - Centro Cultural Max Feffer 92
Figura 84 - Bamboo Watch Tower 93
Figura 85 - Gazebo de Dois Andares 93
Figura 86 - Pavilhão Roberto Guimarães no Rio de Janeiro 94
Figura 87 - Protótipos desenvolvidos no Laboratório de Experimentação com
Bambu da Unesp-Bauru
95
Figura 88 - Bambu laminado colado utilizado em estrutura de madeira para
cobertura 96
Figura 89 - Bambu laminado colado
97
Figura 90 - Amostras de esteiras de bambu moldado sob pressão 97
Figura 91 - Inserção do bambu particulado na forma 98
Figura 92 - Painéis de partículas de bambu sem revestimento 98
Figura 93 - Painel de MDF revestido com ripas de bambu e pó de coco colado 99
Figura 94 - Ripas de bambu para reforço de concreto em Bali, Indonésia 100
Figura 95 - Blocos de Biokreto 102
Figura 96 - Corte tipo boca-de-peixe, realizado com ferramental moderno 104
Figura 97 - Derivações do corte boca-de-peixe 105
Figura 98 - Corte tipo flange 105
Figura 99 - Corte tipo flange para encaixe em perfurações 106
Figura 100 - Corte diagonal e diagonal parcial 106
Figura 101 - Conexão com pino e amarração para travamento de conexão 107
Figura 102 - Conexão por sobreposição dos colmos 108
Figura 103 - Conexão de sobreposição de meio colmo 109
Figura 104 - Conexões a topo com talas de bambu 109
Figura 105 - Conexão a topo com luvas ou tarugos de bambu 110
Figura 106 - Conexão a topo com tarugo de bambu 110
Figura 107 - Conexão a topo 111
Figura 108 - Conexão a topo com adição de amarração 111
Figura 109 - Conexão a topo com amarração e bandagem 112
Figura 110 - Foto de uma conexão com bandagem 112
Figura 111 - Conexão a topo com amarração e bandagem e pino de madeira 113
Figura 112 - Conexão a topo com entalhe reto 113
Figura 113 - Conexão a topo com entalhe reto e perfuração para cavilhas 114
Figura 114 - Conexão a topo com ripas laterais 114
Figura 115 - Conexão a topo com extensão em forma de tira 115
Figura 116 - Conexão lateral simples com acréscimo de atadura no elemento
116
vertical 116
Figura 117 - Conexão lateral simples com sistema de chave 117
Figura 118 - Tarugamento para ligações laterais 117
Figura 119 - Tarugamento de conexão lateral com amarrações 118
Figura 120 - Conexão lateral simples com uso de cunha de madeira 118
Figura 121 - Conexão lateral dupla em ângulo reto 119
Figura 122 - Conexão lateral dupla com dobra em ângulo reto 119
Figura 123 - Conexão ortogonal lateral dupla em linha entalhe boca-de-peixe 120
Figura 124 - Conexão ortogonal lateral dupla em linha, entalhe com corte reto 120
Figura 125 - Conexão sobreposta tradicional Asiática 121
Figura 126 - Execução de console para apoio do elemento horizontal 121
Figura 127 - Conexões por sobreposição inclinadas 122
Figura 128 - Conexões diagonais 122
Figura 129 - Conexão diagonal com elemento horizontal 123
Figura 130 - Conexão diagonal com dois elementos horizontais 123
Figura 131 - Conexão diagonal com elemento horizontal em cumeeiras
Figura 132 - Conexão diagonal com elemento horizontal em cumeeiras com
124
cavilha
Figura 133 - Conexão diagonal com elementos verticais e horizontais em flexal 124
de estrutura de cobertura 125
Figura 134 - Conexão por transpasse 126
Figura 135 - Localização das conexões próximas aos nós e uso de tarugamento 157
Figura 136 - Conexões envolvendo a seção transversal completa 128
Figura 137 - Conexões internas de elemento paralelo 128
Figura 138 - Conexões da seção transversal para elemento paralelo 129
Figura 139 - Conexões da seção transversal para elemento perpendicular 130
Figura 140 - Conexões do exterior para elemento paralelo 130
Figura 141 - Chapas de Gusset 131
Figura 142 - Chapas de ligação metálica 131
Figura 143 - Chapas de ligação metálica de Mark Mortimer 132
Figura 144 - Conexão ITCR 132
Figura 145 - Conexão de Renzo Piano 133
Figura 146 - Conexão Arce
116
Figura 147 - Inserção de peças metálicas em tarugos de madeira 133
Figura 148 - Conexão Bambutec 134
Figura 149 - Conexão de Morisco e Mardjono 135
Figura 150 - Conexão por abraçadeiras metálicas 135
Figura 151 - Conexão por rebites Herbert 136
Figura 152 - Conexão de Gutierrez 136
Figura 153 - Conexão por inserção de conectores de aço ou plástico 137
Figura 154 - Conexão por encamisamento dos conectores de plástico 137
Figura 155 - Conexão de Shoei Yoh 138
Figura 156 - Treliça espacial de dupla camada 138
Figura 157 - Teste de tração na Conexão de Trujillo 139
Figura 158 - Conexão de Tönges 140
Figura 159 - Esquema de conexão com parafuso extensor 140
Figura 160 - Conexão com parafuso extensor 141
Figura 161 - Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo, ou por
chapa metálica laterais com parafusos passantes 142
Figura 162 - Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo por
chapa metálica com parafusos passantes
142
Figura 163 - Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo por barra
e arruelas
143
Figura 164 - Importância estrutural do diafragma em colmos injetados de
argamassa 146
Figura 165 - Utilização de funil para injeção de argamassa no colmo
146
Figura 166 - Vazio ocasionado pela retração da argamassa 147
Figura 167 - Alinhamento das furações nos colmos 147
Figura 168 - Utilização de pino metálico e amarração de nylon 148
Figura 169 - Conexão de Velez e conexão de Tönges 154
Figura 170 - Conexão de Vélez 155
Figura 171 - Terminações sem afunilamento das extremidades com extensão das
esperas
156
Figura 172 - Terminações de Tönges com afunilamento das extremidades
156
Figura 173 - Teste de tração da conexão de Tönges 157
Figura 174 - Arruela para fechamento da extremidade da ligação 158
Figura 175 - Ancoragem das paredes do bambu na arruela de fechamento 159
Figura 176 - Espera metálica em forma de tubo 160
Figura 177 - Instalação de grapas na espera metálica 161
Figura 178 - Projeto da nova conexão 162
Figura 179 - Detalhe da extremidade da nova conexão 163
Figura 180 - Esfera metálica para ancoragem das conexões 164
Figura 181 - Sistema de união com utilização de tarugo esférico de alumínio 164
Figura 182 - Corte em serra de bancada, próximo ao nó 165
Figura 183 - Tratamento da peça por imersão 166
Figura 184 - Limpeza do interior do colmo 166
Figura 185 - Cortes para afunilamento da extremidade da ligação 167
Figura 186 - Tubos metálicos com esfera de ligação 167
Figura 187 - Instalação de presilhas metálicas 168
Figura 188 - Conexão com o funil posicionado 169
Figura 189 - Grauteamento com utilização de funil 169
Figura 190 - Protótipo montado 170
Figura 191 - Detalhe da montagem da treliça 171
Figura 192 - Corte longitudinal do anfiteatro 172
Figura 193 - Vista lateral do anfiteatro 173
Figura 194 -
Vista frontal do anfiteatro 173
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dimensão das fibras celulósicas de várias espécies de bambu 26
Tabela 2 - Custo do plantio, crescimento e ciclo de produção do eucalipto e
bambu 29
Tabela 3 - Resistência do bambu inteiro à compressão, módulo de elasti-
cidade e coeficiente de Poisson em diversas partes do colmo 40
Tabela 4 - Resistência do bambu inteiro à tração, módulo de elasticidade e
coeficiente de Poisson em diversas partes do colmo 41
Tabela 5 - Resistência ao cisalhamento do bambu inteiro Guadua angustifolia 44
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Espécies prioritárias de bambu de acordo com o INBAR
51
Quadro 2 - Características das principais espécies de bambu para construção
e produção de componentes
52
Quadro 3 - Características das principais espécies de bambu para construção
e produção de componentes
53
Quadro 4 - Testes de tensão em conexões de bambu para o Pavilhão Zeri
144
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16
2 REVISÃO DA LITERATURA 21
2.1 Aspectos botânicos 21
2.1.1 Classificação 21
2.1.2 Constituição 21
2.1.3 Estrutura anatômica do colmo 24
2.2 Cultivo 27
2.2.1 Propagação 27
2.2.2 Plantio 28
2.2.3 Colheita 28
2.3 Tratamentos 30
2.3.1 Métodos tradicionais 31
2.3.2 Métodos químicos 32
2.3.3 Tratamento sob pressão 32
2.4 Armazenamento 33
2.5 Secagem 34
2.6 Propriedades físicas 34
2.6.1 Massa específica aparente 36
2.6.2 Teor de umidade 37
2.6.3 Variação dimensional 37
2.7 Propriedades mecânicas 38
2.7.1 Compressão simples 38
2.7.2 Tração paralela 41
2.7.3 Flexão estática 42
2.7.4 Cisalhamento 43
2.7.5 Torção 45
2.8 Distribuição geográfica 46
2.9 Espécies prioritárias 46
2.9.1 Espécies para uso na construção no Brasil 52
2.10 Métodos de construção com bambu 53
2.10.1 Método vernacular e tradicional 54
2.10.2 Método contemporâneo 72
2.10.3 Método de substituição de materiais 94
2.10.3.1 Painéis de bambu 94
2.10.3.2 Compósitos de bambu 99
2.11 Conexões estruturais com bambu 102
2.11.1 Conexões tradicionais 103
2.11.2 Conexões contemporâneas 126
2.11.3 Conexões tradicionais versus conexões contemporâneas 149
2.12 Design das conexões estruturais com bambu 149
2.12.1 Design de novos produtos 149
2.12.2 Design de conexões de bambu 151
3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 158
3.1 Proposta de uma nova conexão 158
3.2 Anteprojeto de uma nova conexão 162
3.3 Protótipo 165
4 PROJETO DE UM ANFITEATRO 171
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 174
REFERÊNCIAS 176
ANEXOS 182
1 INTRODUÇÃO
As pesquisas para desenvolvimento tecnológico de materiais e processos
de construções sustentáveis receberam nas últimas décadas investimentos
crescentes, estimulados por agências governamentais, instituições de pesquisa e
pelo setor privado de diversos países, como estratégia para minimização do uso de
recursos não renováveis, economia de energia e redução de perdas, visto que a
indústria da construção civil – particularmente construção, operação e demolição de
edifícios – é a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente
(INTERNATIONAL CONFERENCE BUILDINGS AND THE ENVIRONMENT, 1997).
De acordo com Sobral et al. (2002), mais de 50% da madeira produzida
na Amazônia, destinada para a construção civil no Brasil, é utilizada exclusivamente
em estruturas de cobertura – principalmente nas construções horizontais, ou seja,
casas e pequenas edificações – e a outra metade para os demais usos, como em
formas para concreto, andaimes e escoramentos (33%), portas, janelas, forros e
pisos (13%) e nas casas pré-fabricadas (4%).
Durante décadas, para atender a demanda nas estruturas de madeira
para coberturas, os principais centros de madeira serrada, localizados nas Regiões
Sul e Sudeste, forneceram o pinho-do-paraná e a peroba-rosa, explorados nas
florestas nativas dessas regiões. Com a exaustão dessas florestas, o suprimento de
madeiras nativas passou a ser realizado, em parte, por países limítrofes, como o
Paraguai, porém, de forma mais significativa, pela Região Amazônica (FERREIRA,
2003).
A atividade madeireira ilegal e predatória, assim como as queimadas e o
desmatamento ilegal, tem provocado a destruição da Amazônia. Em menos de 50
anos, quase 20% da cobertura florestal da região já desapareceu. Até 2008, mais de
720.000 km² da Amazônia já tinham sido desmatados, uma área equivalente a
quase três vezes o tamanho do Estado de São Paulo. O desmatamento da
Amazônia, além de colocar em risco sua sobrevivência, contribui para fazer do país
o quarto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, já que 75% das
emissões são provenientes do uso do solo e do desmatamento de florestas
brasileiras.
17
A utilização do bambu como material de construção, substituindo integral
ou parcialmente os materiais convencionais, como a madeira, pode contribuir para a
diminuição dos desmatamentos de florestas nativas. O incremento no número de
espécies de plantio para uso industrial, com inserção da cultura do plantio de
bambu, pode diminuir o atual sistema da monocultura no país.
O plantio do bambu possui ainda grandes potencialidades, com ciclo mais
curto do que o da madeira; alta produtividade por hectare; rapidez de crescimento;
baixo custo de plantio; facilidade de cultivo, com utilização de ferramentas simples
para seu manuseio; e pode ainda auxiliar na revitalização de áreas degradadas e
incrementar o sistema de reflorestamentos no Brasil, país que reúne grande
quantidade de espécies desta planta e clima propício para seu pleno
desenvolvimento.
Tradicionalmente, os países asiáticos são ligados à ampla cultura de
utilização do bambu, com belos exemplos de edificações vernaculares, utilizando o
material em sua forma natural. Mais recentemente, na America Latina, em países
como a Colômbia, Costa Rica e Equador, observam-se projetos bem sucedidos –
desde habitações populares com fins de interesse social, até prédios de grande
porte como pavilhões de exposições, hotéis e edifícios verticais multi-familiares.
O objetivo brasileiro para redução da emissão dos gases do efeito estufa,
oficializado no encontro de Copenhagen, em dezembro de 2009, é o de reduzir entre
36,1% e 38,9% dos 2,7 bilhões de toneladas de gás carbônico que o país lançaria
na atmosfera até em 2020, caso não se tomasse nenhuma medida de redução nas
emissões durante o período. Essa proposta deixa claro que atitudes devem ser
tomadas, não somente pelo governo, mas por toda sociedade organizada, na qual
se inserem as universidades e seus pesquisadores.
O desenvolvimento de tecnologias para construções sustentáveis, pela
inserção de materiais renováveis, pode colaborar com a redução dos gases do efeito
estufa, diminuindo a utilização de recursos que prejudiquem o meio ambiente, como
as matas nativas e todo o ecossistema nelas envolvido. O caminho para a
sustentabilidade ambiental é um objetivo a ser atingido – e não como hoje é muitas
vezes entendido, uma direção a ser seguida (MANZINI; VEZZOLI, 2002).
Segundo pesquisas realizadas na Costa Rica, onde 75% das habitações
econômicas foram construídas com emprego do bambu, 98% dos moradores das
casas do Projeto Nacional de Bambu relatam que suas casas construídas com
18
bambu são de igual ou melhor qualidade, em comparação com aquelas construídas
com outros materiais (ADAMSON; LÓPEZ, 2001).
De acordo com Cardoso Jr. (2000), Hidalgo-López (2003) e Obermann e
Laude (2008), uma das maiores dificuldades do pleno emprego do bambu, em sua
forma natural, como material de construção, é a ligação entre seus elementos.
Atualmente, existem vários novos ensaios e técnicas de conexões estruturais com
bambu, todavia, em grande escala, nenhuma delas se estabeleceu como padrão de
referência em eficiência, de modo a aproveitar plenamente toda capacidade de
resistência mecânica do bambu.
A função objetiva de uma boa conexão consiste em obter uma
continuidade estrutural entre elementos. Isto significa que as forças devem ser
transmitidas de modo seguro e prescrito e que as deformações podem ser mantidas
sob controle. Para tanto e para um bom design de uma nova proposta de conexão
estrutural de bambu, é necessário superar as restrições internas e externas.
Restrições internas lidam com propriedades dos materiais e sua forma (o bambu é
um material ortotrópico, oco, variável no tamanho e espessura) e as restrições
externas, com as dificuldades de maximização, necessidade de simplicidade de
construção, boa durabilidade, adaptabilidade para um sistema modular, previsão de
resistência mecânica mínima e eficácia de custos.
A ausência de uma conexão padronizada e eficiente, que garanta
estabilidade às edificações remonta à carência e ao desenvolvimento de pesquisas
na área, visto que as conexões tipo Vélez, mais utilizadas atualmente, possuem
resistência às forças admissíveis menores que alcançam o potencial do bambu.
A busca do bem-estar humano, em um ambiente com edificações
sustentáveis, é um objetivo que, para ser plenamente implantado, carece de
qualidade nos materiais e métodos de construção, resultado obtido principalmente
pelas pesquisas e experimentações para obter-se domínio tecnológico, incentivadas
e divulgadas com a confiabilidade inerente às universidades brasileiras.
Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa foi incrementar novas
tecnologias de utilização do bambu como material de construção de qualidade, por
meio do exercício de design de uma nova conexão estrutural para ligações eficientes
de peças de bambu para uso na construção civil.
Para tal, definiu-se como objetivos específicos:
19
9 contribuir com a viabilização da utilização do bambu na construção
civil, pelo incremento tecnológico do material.
9 desenvolver um projeto e um protótipo de uma nova conexão;
9 realizar um projeto arquitetônico, ilustrando a aplicação da nova
conexão em uma estrutura de cobertura.
Para atingir os objetivos da presente dissertação, adotou-se a
metodologia de pesquisa experimental, com a proposta de design de uma conexão
que pudesse potencializar soluções para suprir as deficiências das atuais ligações
entre peças de bambu em sua forma natural.
Para tanto, realizou-se uma revisão minuciosa da literatura, com ênfase
no conhecimento das conexões vernaculares ou tradicionais e das conexões
contemporâneas, avaliando-se suas virtudes e limitações para apresentar-se uma
proposta inovadora.
Com base nesses conhecimentos adquiridos, traçou-se o planejamento
do produto, que culminou com a elaboração de um projeto de uma nova conexão.
Na seleção de materiais e na confecção do protótipo, utilizaram-se colmos
de bambu da espécie Dendrocalamus giganteus, da coleção existente no
Laboratório de Experimentação com Bambu, do Departamento de Engenharia
Mecânica da UNESP de Bauru.
Neste trabalho, com base em princípios de desenvolvimento de novos
produtos, utilizou-se a técnica MESCRAI, sigla para “Modifique, Elimine, Substitua,
Combine, Rearranje, Adapte, Inverta”, que busca conhecer as restrições,
deficiências e virtudes do objeto de pesquisa, que neste estudo são as conexões
estruturais existentes. Nesse procedimento, o mais importante é a seleção das
ideias que possam elencar todas as possíveis soluções e então escolher a melhor
delas.
Para melhor entendimento do tema, a estrutura da dissertação foi dividida
em capítulos, organizados da seguinte maneira:
A delimitação do objeto de estudo, contextualização e definição dos
objetivos da pesquisa, nesta Introdução.
A seguir, apresenta-se uma revisão da literatura que abrange
considerações sobre os aspectos botânicos da planta, suas propriedades físicas e
mecânicas, com exemplos de sua utilização na arquitetura. Também efetuou-se um
20
levantamento minucioso das conexões tradicionais e contemporâneas, com análises
de suas virtudes e defeitos, visando elucidar o estado da arte em que se encontram
as tecnologias de construção que utilizam essas ligações. Esse capítulo ainda
descreve os procedimentos para desenvolvimento de novos produtos.
No capítulo seguinte, apresenta-se a parte experimental da pesquisa:
desenvolvimento do projeto da nova ligação, ilustrado por desenhos com
dimensionamentos sugeridos para a construção do protótipo e realização de um
projeto arquitetônico ilustrativo da aplicação da conexão, em uma estrutura de
cobertura em arcos treliçados.
Finalmente, apresenta-se as considerações finais e recomendações para
futuros trabalhos, relacionados ao tema desta dissertação.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Aspectos botânicos
2.1.1 Classificação
Bambu é o nome que se dá às plantas da subfamília Bambusoideae, da
família das gramíneas. Essa subfamília se subdivide em duas tribos, a Bambuseae
que são os bambus chamados de lenhosos e a Olyrae, os bambus chamados de
herbáceos (HIDALGO-LÓPEZ, 2003). Trata-se, portanto, de uma gramínea gigante,
tal como o milho, a cevada, o trigo, a cana-de-açúcar, entre outras, não sendo uma
árvore, como é comumente caracterizada pela maioria das pessoas.
Pelas características de seu colmo, é considerada uma planta lenhosa,
classificada como angiosperma, pois tem as sementes protegidas e produz frutos, e
monocotiledôneas, que são as plantas que possuem raízes fasciculadas.
2.1.2 Constituição
Embora seja uma gramínea, os bambus, da mesma forma que as árvores,
são constituídos por uma parte aérea – colmo, folhas e ramificações – e outra
subterrânea, composta pelo rizoma e raiz. Porém, pela estrutura do tecido celular
lignificado e propriedades tecnológicas similares às da madeira, o bambu pode ser
chamado também de madeira (DUNKELBERG, 1996).
Os colmos apresentam forma muito próxima à cilíndrica e suas dimensões
variam muito de acordo com a espécie: alguns podem ter alguns centímetros de
comprimento e poucos milímetros de diâmetro, como os do gênero Arundinaria e
outros como o Dendrocalamus giganteus, que alcançam até 40 metros de altura e
diâmetro de 30 centímetros em média. O colmo é dividido por diafragmas que
conferem grande rigidez, flexibilidade e resistência, aparecendo externamente como
nós, de onde saem os ramos e folhas (Figura 1).
22
Figura 1- Partes do bambu
Fonte: NMBA (2004, p. 24)
Pereira e Beraldo (2007) comentaram que os bambus nascem com o
diâmetro que terão por toda a sua vida. Este diâmetro é maior perto da base e vai
diminuindo, com a altura, em direção à ponta (ou seja, o bambu é geometricamente
um tronco de cone), mas nunca aumenta com o passar dos anos, o que ocorre
normalmente com as espécies arbóreas. Atinge o seu diâmetro máximo por volta do
quarto ou quinto ano após o plantio: maior perto da base, diminuindo com a altura
em direção à ponta. O comprimento de seus internós aumenta da base até o meio
do colmo, diminuindo daí em direção ao topo, tendo em média de 20 a 35 cm, na
maioria das espécies.
Segundo Koichiro Ueda (citado por HIDALGO-LÓPEZ, 2003), o período
de crescimento de um colmo, desde o momento em que emerge do solo até adquirir
sua altura total, é de 80 a 110 dias nas espécies do grupo paquimorfo e de 30 a 80
dias nas espécies do grupo leptomorfo. Em condições normais e na época de maior
desenvolvimento, o crescimento médio, em 24 horas, é de 8 a 10 cm e, em alguns
casos, de 38 a 40 centímetros, com recordes observados de até 121 cm
(Phyllostachys reticulata), relatados em Kyoto, Japão, em 1955.
Após o período inicial de crescimento, o colmo começa o período de
amadurecimento, que dura cerca de três a quatro anos para a maioria das espécies,
quando então suas propriedades de resistência mecânica se estabilizam (PEREIRA;
BERALDO, 2007). A vida útil dos colmos varia de acordo com a espécie; aos 12
anos, em média, o colmo morre, ficando seco e esbranquiçado como, por exemplo,
a espécie Guadua angustifolia, que inicia sua diminuição de resistência mecânica no
23
período entre sete e oito anos, recomendando-se assim, que não seja usada a partir
do sexto ano (HIDALGO-LÓPEZ, 2003).
O rizoma é um caule subterrâneo, que se desenvolve paralelamente à
superfície do solo, muitas vezes confundido com raízes. Possui como funções a
armazenagem de nutrientes para a planta e a propagação por ramificações, de
forma assexuada. Existem basicamente dois tipos de formação dos rizomas:
a) Grupo paquimorfo, simpodial ou entouceirantes, que se desenvolve
no espaço de forma aglutinada, formando moitas, com raízes na parte
inferior. Denominam-se paquimorfos, por serem curtos e grossos;
possuem gemas laterais que se desenvolvem em novos rizomas ou
novos colmos (Figura 2). São espécies de zonas tropicais,
compreendendo, entre outros, os gêneros Bambusa, Dendrocalamus,
Gigantochloa e Guadua;
Figura 2 – Rizoma paquimorfo
Fonte: HIDALGO-LÓPEZ (2003)
b) Grupo leptomorfo, monopodial ou alastrante, se desenvolve no
espaço de forma isolada e difusa, por rizomas cilíndricos, com uma
gema em seus nós que, uma vez ativada, produz um novo colmo ou
um novo rizoma. Ramificam-se lateralmente, percorrendo distâncias
consideráveis e formando espessas redes que, segundo Pereira e
Beraldo (2007), chegam a percorrer uma distância de um a seis metros
em um ano, formando uma teia que pode atingir de 50 a 100 mil
metros lineares por hectare. Desenvolvem-se melhor em zonas
24
temperadas, compreendendo, entre outros, os gêneros Arundinaria,
Phyllostachys, Sasa, Semi-arundinaria, Shibatae e Sinobambusa
(Figura 3).
Figura 3 – Rizoma do tipo leptomorfo ou alastrante
Fonte: HIDALGO-LÓPEZ (2003)
2.1.3 Estrutura anatômica do colmo
A estrutura anatômica do colmo é a base do entendimento das
propriedades físicas e mecânicas do bambu e de seu comportamento estrutural
(HIDALGO-LÓPEZ, 2003). O colmo é constituído externamente por duas camadas
de células epidermes, cobertas por uma camada cutinizada, com concentração de
sílica, material que confere muita resistência ao colmo e lhe serve de proteção, na
natureza, contra os ataques de animais e exposição mecânica. Isso, porém, é
prejudicial a ferramentas de corte, por desgastá-las com facilidade (JANSSEN,
2000).
Externamente, o bambu possui uma camada de cera e, internamente,
possui uma camada espessa lignificada – com numerosas células
esclerenquimáticas (feixes de fibras), dispostas na direção longitudinal – que impede
a movimentação de fluídos lateralmente, assim constituída:
a) Parênquima: é o tecido básico do colmo; representa de 40% a 60% de
sua composição e sua distribuição, no eixo do colmo, tem
concentrações diferentes: 60% encontram-se na base e 40% na parte
25
apical, com função de estocar nutrientes e água, podendo armazenar
quantidades significativas de amido.
b) Fibras: são as principais responsáveis pela resistência mecânica dos
colmos; nos internós, estão orientadas axialmente, paralelas ao eixo de
crescimento, e representam de 40% a 50% do tecido total do colmo e
60% a 70% de sua massa. Na direção vertical, a quantidade de fibras
aumenta da base ao topo.
Na Figura 4, observa-se a disposição dos feixes de fibras na cor escura,
concentradas transversalmente – mais na parte externa da parede do colmo – na
região da casca, conferindo maior resistência a esta área; e, na cor clara, as células
de parênquima, mais próximas ao centro do colmo, proporcionando menor
resistência. Segundo Janssen (2000), na maioria das espécies, as fibras
concentram-se na proporção de 60% na região próxima à casca e 10% na área
interna do colmo.
Figura 4 – Variação da fração volumétrica das fibras na espessura do colmo do bambu Guadua
angustifolia
Fonte: Ghavami e Marinho (2005)
Geralmente, o comprimento das fibras aumenta da periferia para o centro
do colmo e diminui daí até a parte interna, estando as mais curtas situadas sempre
perto dos nós e as mais longas no meio dos internós. Portanto, quando o colmo é
submetido a esforços de tração paralela, a área dos nós tende a romper-se mais
facilmente que a dos internós. O comprimento médio das fibras varia entre 1,65 mm
a 3,43 mm, conforme Tabela 1, ocupando uma posição intermediária entre as fibras
de eucalipto, com 1 mm, consideradas curtas, e as do pinus, com 3 a 4 mm,
consideradas longas (PEREIRA; BERALDO, 2007).
26
Tabela 1 – Dimensão das fibras celulósicas de várias espécies de bambu
Dimensões das fibras
Comprimento Largura/lúmen Espessura
Espécies
(mm) (mícron*) (mícron*)
Bambusa vulgaris
3,43 15,41 3,73
B. vulgaris v. vitatta
2,98 16,21 3,43
B. oldhami
1,92 16,97 3,17
B. nutans
2,29 16,97 2,77
B. tulda
2,15 17,33 2,34
B.beecheyana
1,93 17,2 3,58
B. stenostachya
2,23 15,49 2,9
B. tuldoides
1,89 18,21 3,83
B. textilis
2,04 16,78 3,02
B. ventricosa
1,90 14,38 3,31
B. maligensis
2,07 14,79 3,45
B. dissimulator
2,32 15,89 3,38
Dendrocalamus asper
2,32 17,89 3,97
D. strictus
2,44 17,06 3,44
D. latiflorus
2,22 18,17 4,33
D. giganteus
3,08 19,10 5,66
Guadua amplexifolia
1,69 14,47 3,28
G. superba
1,94 14,22 2,14
G. spinosa
1,65 14,57 3,10
G. andustifolia
1,93 16,04 2,12
Fonte: Pereira e Beraldo (2007, p. 66)
c) Vasos condutores ou feixes vasculares: são os principais vazios,
portanto, tornam-se pontos de menor resistência mecânica dos colmos,
representando aproximadamente 10%. Encontram-se em maior
quantidade na parte interna do colmo, seu numero diminui da base
para o topo do colmo, porém, sua densidade aumenta. A Figura 5
mostra imagens dos conjuntos vasculares dos bambus, adquiridas num
microscópio eletrônico de varredura (MEV), obtidas por Liese (1980).
Figura 5 – Detalhe dos conjuntos vasculares do bambu
Fonte: Ghavami e Marinho (2005)
27
2.2 Cultivo
2.2.1 Propagação
Segundo Hidalgo-López (2003), a propagação do bambu pode ser
realizada por dois métodos: de maneira assexuada e/ou sexuada, esta sendo pouco
utilizada, devido às dificuldades de obtenção de sementes produzidas em
florescimentos dos tipos esporádicos (irregulares) e gregários (periódicos), o que
geralmente ocorre em intervalos muito longos, de acordo com a espécie, podendo
variar de 4 a 120 anos nas espécies Phyllostachys bambusoides e Phyllostachys
nigra henonis, nativas da China e Japão.
De acordo com Pereira e Beraldo (2007), os métodos utilizados na
propagação assexuada do grupo paquimorfos são: o transplante total; transplante
parcial da planta, constituído por parte do colmo com raízes e rizomas; por pedaços
de colmo, contendo gemas brotadas (presença de ramos) ou não brotadas (gemas
solitárias); por pedaços de rizoma, contendo raízes; e, por ramos laterais que
contenham duas ou três gemas, conforme Figura 6. A propagação assexuada dos
grupos leptomorfos é feita por transplante total ou parcial ou por enraizamento de
rizomas.
Figura 6 – Retirada de mudas a partir de ramos laterais
A formação das mudas se desenvolve melhor em abrigos da insolação
direta, de preferência em viveiros cobertos por sombrite, que permita passagem
parcial de luz, exigindo regas frequentes (Figura 7).
28
Figura 7 – Viveiro de mudas de bambus
Fonte: Gielis e Oprins (2008)
2.2.2 Plantio
O espaçamento médio para o plantio de bambus de grande porte – como
Dendrocalamus, Guadua, Bambusa vulgaris e Phyllostachys bambusoides – é de
10 m x 5 m; para bambus de menor porte, como Bambusa tuldoides, usam-se
espaçamentos menores, de 5 m x 3 m. Após o plantio, inicia-se o manejo: as moitas
devem estar sempre limpas, arejadas e sadias, os colmos defeituosos devem ser
retirados, promovendo-se a adubação anual com correções do pH e irrigações
quando necessário.
De acordo com Cussack (1999 citado por PEREIRA; BERALDO, 2007), a
planta está desenvolvida entre cinco e sete anos, isto é, quando o bambu atinge as
dimensões características de sua espécie, como diâmetro, espessura da parede e
altura do colmo.
2.2.3 Colheita
Normalmente, a primeira colheita de colmos de espécies de grande porte
inicia-se no quarto ano após o estabelecimento da plantação, com a retirada dos
colmos nascidos no primeiro ano; no quinto ano retiram-se os nascidos no segundo
ano e assim sucessivamente, portanto, em intervalos de dois a quatro anos,
29
aproximadamente 30% dos colmos maduros serão colhidos da touceira
(DUNKELBERG, 1996).
Para uso na construção civil, os colmos devem estar maduros, isto é,
possuir sua máxima resistência. A identificação das idades dos colmos na plantação
deverá ser efetuada por meio de marcações, visto se realizada de forma visual, que
a diferenciação das idades é muito imprecisa.
O corte deverá ser efetuado à altura do segundo nó, logo acima do
diafragma, para evitar o acúmulo de água, o que acarretaria apodrecimento da raiz.
As melhores épocas para o corte, nas regiões tropicais, são as estações secas e o
inverno nas regiões subtropicais, épocas com menores concentrações de água e
amido nos colmos, o que reduz o ataque de insetos e fungos, além da menor
deformação das peças quando estas forem processadas.
De acordo com Dunkelberg (1996), após três anos de rotatividade, a
produtividade alcançada pelo bambu fica entre 3.000 e 15.000 colmos por hectare, o
que corresponderia entre 7,5 t/ha a 38 t/ha, de acordo com a espécie e de
características diversas, como solo, chuvas, temperatura, entre outros. Na
Alemanha, o abate anual de madeira tem uma produtividade de somente 3,5 m³/ha o
que corresponde a 1,4 t/ha após a secagem.
No Brasil, os valores observados para a espécie Bambusa vulgaris,
seriam da ordem de 10 t/ha (GOMIDE et al., 1988). Hidalgo-López (1974)
apresentou dados da ordem de 31 t/ha para o Guadua angustifolia, obtidos na
Colômbia.
Quanto ao custo de plantio, crescimento e ciclo de produção do bambu,
comparando-se com a madeira de eucalipto, segundo Migliari (2000 citado por
KAMEGASAWA, 2004), o bambu apresenta uma excelente relação com benefícios
em todos os aspectos estudados de custo de plantio, crescimento e rendimento pelo
período, conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Custo do plantio, crescimento e ciclo de produção do eucalipto e bambu
Material Custo do plantio por hectare Rendimento Período de produção
Eucalipto
US$ 300-400
12 a 16 t/ha/ano
umidade de 6%
20 anos
(aprox. 3 cortes)
Bambu
US$ 200-250 20 a 30 t/ha/ano 60 a 120 anos
Fonte: Kamegasawa (2004)
30
2.3 Tratamentos
A necessidade de investimentos em tratamentos é uma questão técnica
comum a diversos outros materiais naturais utilizados na construção civil, como as
madeiras, com sistemas apropriados de secagem e preservação; o aço, que
necessita de uma camada protetora superficial para evitar sua oxidação; o concreto,
com sua impermeabilização, evitando a exposição às intempéries que quimicamente
o agridem, entre outros materiais que, em sua forma natural, teriam uma vida útil
muito limitada.
De acordo com Liese (1998), uma parte das células denominadas de
parênquima possui como fonte de reserva, polímero de amido, que se torna um
grande atrativo ao caruncho e aos fungos após o corte do colmo, como mostra a
Figura 8. O tratamento do bambu é, portanto, fundamental para garantir sua
durabilidade e prolongar sua vida útil.
Segundo Janssen (2000), o bambu não tratado pode apresentar uma vida
útil entre um e três anos quando utilizado em áreas abertas; em contato com o solo,
de quatro a seis anos quando em áreas cobertas e de livre de contato com solo; e
entre 10 e 15 anos, quando utilizado em áreas cobertas em excelentes condições.
Quando os bambus são tratados, a vida útil pode se estender por vários anos, como
ocorre com as madeiras de reflorestamento.
Figura 8 – Esquerda: Dinoderus minutus, caruncho do bambu; direita: corte transversal das
células parenquimáticas dos colmos, com grãos de amido em seu interior
Fonte: Liese (1998)
Logo após a colheita, os colmos de bambu devem ser submetidos a
algum tipo de tratamento, com objetivo de torná-los menos vulneráveis ao ataque de
fungos e insetos. Os métodos de tratamentos preservativos mais comuns são:
31
2.3.1 Métodos tradicionais
a) Cura na touceira: após o corte, deixa-se o bambu na própria moita,
afastado do solo por quatro semanas, com suas ramas e folhas. Esse
processo permite uma diminuição do teor de amido, pela assimilação
da seiva pelas folhas. Após esse período, cortam-se as folhas e ramas
e efetua-se a secagem em área coberta e ventilada.
b) Cura pela imersão em água: em contato com a água, procura-se
reduzir ou eliminar o amido, por meio da fermentação biológica
anaeróbica (ausência de ar), por um período de quatro a sete
semanas, preferencialmente submergindo os colmos em água corrente.
c) Cura pela ação do fogo: consiste em submeter os colmos
recém-cortados ao aquecimento direto pelo fogo, para eliminar a seiva
por exsudação e alterar quimicamente o amido, tornando-o menos
atrativo aos insetos. Neste processo, ocorre o derretimento da cera
existente na camada superficial do bambu, criando uma coloração
marrom característica nos móveis e varas de pesca em bambu (Figura
9).
Figura 9 – Método de tratamento pelo fogo
Fonte: Morán (2003)
d) Cura pela ação da fumaça: pela ação da fumaça, ocorre a
degradação do amido, culminando por tornar os colmos menos
atraentes ao caruncho; possui a desvantagem de ocorrerem
rachaduras no colmo, além de tornar a superfície enegrecida e
provavelmente tóxica.
32
2.3.2 Métodos químicos
a) Imersão em solução de sais hidrossolúveis: deve-se imergir
totalmente os colmos secos na solução preservativa, a qual poderá ser
composta por um dois ou mais sais hidrossolúveis. Uma formulação
recomendada (kg de sal/litro de solução) é: sulfato de cobre (1%) +
dicromato de sódio (1%) + acido bórico (1%). Após o tratamento, as
peças devem ser armazenadas em local protegido, por vários dias,
para que ocorra a dispersão do produto, em duas a quatro semanas
em temperatura ambiente.
b) Substituição da seiva por sais hidrossolúveis através da
transpiração: Colocam-se os colmos com dimensões não maiores que
2,50 m, dispostos verticalmente em um tambor, submersos 0,80 m em
uma solução que pode ter a mesma formulação descrita acima, por um
período aproximado de sete dias; logo após, devem ser invertidos,
permanecendo por igual período. Após o tratamento, os colmos devem
ser empilhados à sombra durante 30 dias, protegidos da chuva.
2.3.3 Tratamento sob pressão
a) Autoclave: utiliza-se o mesmo equipamento para tratamento de
madeiras usuais; no caso do bambu, deverá estar previamente tratado
para evitar o ataque de insetos durante a secagem, assim como
perfurado em seus internós para saída do ar durante a execução do
vácuo. Esse método tem sido utilizado com grande sucesso em ripas e
taliscas de bambus.
b) Método Boucherie modificado: é considerado o método mais
eficiente para tratamento de colmos de bambu. A seiva ainda líquida
do colmo recém-colhido é retirada por pressão (de 7 mca) e em seu
lugar é colocado um produto preservativo, CCB (borato de cobre
cromatado), por exemplo, na concentração de 6%, que apresenta ação
inseticida e fungicida (Figura 10).
33
Figura 10 – Tratamento pelo método Boucherie
2.4 Armazenamento
O armazenamento do bambu deverá ocorrer em local preferencialmente
coberto, protegido do sol e da chuva, com as varas dispostas em camadas, com
espaçamentos que permitam a circulação de ar entre as peças, colocadas afastadas
do solo aproximadamente 15 cm, para que não tenham contato com a umidade
(Figura 11).
Figura 11 – Armazenamento correto das varas de bambu
Fonte: Dunkelberg (1996).
34
2.5 Secagem
A secagem dos colmos, dependendo da utilização a que se destina, é um
aspecto relevante na qualidade do produto final. Conforme Hidalgo-López (2003), o
uso de peças de bambu nas estruturas e construções, sem a devida secagem,
acarreta retração das peças após as montagens, ocasionando a falha da estrutura.
A secagem após a cura pode ser realizada de duas maneiras:
a) Secagem ao ar: os colmos são empilhados horizontalmente, em local
coberto e bem ventilado, por 2 meses ou mais, conforme a umidade
relativa do ar, variando assim de uma região a outra. Na espécie
Bambusa arundinacea foram constatados teores de umidade, quando
verde, na ordem de 48,5%, 38,5%, 31,6%, na base, meio e topo
respectivamente, e após secos ao ar foram obtidos 15,7%, 15,6% e
15,2%, respectivamente, demonstrando a eficácia do sistema
(HIDALGO-LÓPEZ, 2003);
b) Secagem em estufa: pode-se utilizar os mesmos equipamentos
empregados para madeiras convencionais, controlando-se a
temperatura, umidade e velocidade do ar em contato com o bambu.
Recomenda-se, porém, utilizar somente em réguas de bambu ou
taliscas, pois a rápida secagem dos colmos ocasiona fissuras e até o
colapso da peça. Este sistema resulta em melhor qualidade e rapidez
de secagem, porém necessita de maiores investimentos em
instalações, energia e equipamento.
2.6 Propriedades físicas
Os bambus têm diminuição gradual, na direção da base para o topo, do
diâmetro do colmo e da espessura da parede, variáveis nas diversas espécies,
características que devem ser previamente conhecidas pelos usuários da construção
civil, como engenheiros e arquitetos, com objetivo de selecionar os bambus com as
dimensões necessárias para um determinado projeto (GHAVAMI; MARINHO, 2005).
35
O que diferencia o bambu de outros materiais vegetais estruturais é sua
alta produtividade. Dois anos e meio após ter brotado do solo, o bambu possui
resistência mecânica elevada, não havendo, portanto, neste aspecto, nenhum
concorrente no reino vegetal. Somam-se às características favoráveis, uma forma
tubular acabada e estruturalmente estável, baixo peso específico, uma geometria
circular oca, resultando em uma excelente relação entre o peso específico e a
resistência à tração.
A combinação dessas características resulta em baixo custo de produção,
facilidade de transporte e trabalhabilidade, aspectos que se revertem em diminuição
nos custos das construções (GHAVAMI, 1989; MOREIRA; GHAVAMI, 1995 citados
por PEREIRA; BERALDO, 2007).
Uma das maiores dificuldades para a utilização do bambu na construção
civil é a falta de normatização do material. Na maioria dos casos, os ensaios são
efetuados utilizando-se diferentes metodologias, muitas vezes análogas às de
madeiras maciças, dificultando a comparação de resultados e tornando difícil
extrapolar os dados e a sua utilização para diferentes localidades e espécies. A
idade do colmo é o principal fator de distorção nos resultados (OBERMANN; LAUDE,
2008).
Com base em resultados obtidos com pesquisas sobre bambu durante as
duas últimas décadas, em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, foi possível
criar as primeiras normas para sua utilização. Sabendo que o conhecimento das
normas é importante não apenas para o uso seguro, mas também para a divulgação
de um material, o International Network for Bamboo and Rattan – INBAR (1999)
usou os resultados dessas pesquisas mundiais e propôs normas para os ensaios de
caracterização das propriedades físicas e mecânicas dos bambus.
As normas propostas foram analisadas pela International Conference of
Building Officials (ICBO) e publicadas no relatório AC 162: Acceptance Criteria for
Structural Bamboo, em março de 2000 (ICBO, 2000). No entanto, ultimamente, para
ensaios com bambu na sua forma natural (cilíndrica), tem sido recomendada a
utilização das normas ISO N 313 (Bamboo Structural Design), ISO 314 (Physical and
Mechanical Properties) e ISO 315 (Testing Material) (GHAVAMI; MARINHO, 2005).
Hidalgo-López (2003), comentou que os pesquisadores fazem menção às
diferenças de resistência mecânica nas diversas partes do colmo, as quais devem
ser consideradas em qualquer estudo.
36
a) Resistência no colmo inteiro: as propriedades mecânicas variam da
base para ao topo do colmo. Se a altura útil do colmo for dividida em
três partes, na maioria dos casos a parte superior é a mais resistente
em compressão e flexão do que a mediana e a inferior. A parte central,
onde ocorrem os internós mais longos, é a mais resistente em tração,
enquanto que a parte inferior do colmo apresenta, geralmente,
menores valores de resistência mecânica.
b) Resistência nos internós: nos internós, as fibras situadas próximas
aos nós são mais curtas e, no centro, mais longas, consequentemente,
o centro do internó é mais resistente.
c) Resistência na parede do colmo: a resistência da parede, em tração
e em compressão, aumenta da parte interna para a parte externa, em
razão da maior quantidade de fibras.
d) Resistência nos nós: a densidade nos nós, devido a menor
ocorrência de células parenquimatosas, é mais elevada do que aquela
obtida nos internós, porém, sua resistência à tração, flexão,
compressão e cisalhamento são menores, devido à descontinuidade da
seção e aos desvios dos feixes de fibras.
As propriedades físicas do bambu, de grande interesse na engenharia de
estruturas, são: massa específica, umidade natural, absorção de água, variações
dimensionais e coeficiente de dilatação. Estas propriedades alcançam melhores
condições de resistência quando utilizados colmos maduros e secos.
2.6.1 Massa específica aparente
A massa específica aparente é importante para se avaliar o peso próprio
das estruturas de bambu. Dentre as muitas qualidades estruturais do bambu, a
relação entre sua massa específica aparente pela resistência e a massa específica
aparente pela dureza demonstra as inúmeras possibilidades de aplicação desse
material na construção civil - integralmente ou em conjunto com outros materiais já
comumente utilizados, como concreto - tornando-os mais leves, sem perder a
resistência necessária final pretendida.
37
Janssen (2000) afirmou que a mais importante propriedade mecânica do
bambu é sua massa específica pela unidade de volume, ou a densidade, expressa
em kg/m³, que varia entre 700 kg/m³ e 800 kg/m³, de acordo com a qualidade do
solo, a espécie, posição no colmo, etc. O autor demonstrou que o bambu, na relação
resistência e dureza com relação à massa específica, é inferior apenas ao aço.
O tamanho, a quantidade e a distribuição dos feixes de fibras ao redor
dos vasos determinam também a massa específica aparente do bambu, que é mais
pesado perto da casca, pelo fato de existirem feixes vasculares menores e mais
densos, com menor quantidade de células parenquimáticas e maior quantidade de
fibras.
A massa específica varia também na direção do comprimento do colmo,
aumentando da base para o topo. Em estudos com a espécie Dendrocalus Strictus,
Liese (1961 citado DUNKELBERG, 1996) obteve resultados de densidades de 570
kg/m³ na base e 760 kg/m³ no topo.
2.6.2 Teor de umidade
Segundo Vijay Raj (1991 citado por FERREIRA, 2002), o teor de umidade
do colmo recém-cortado é de cerca de 80%; após o corte, torna-se necessário um
período de um a quatro meses de secagem ao ar para que o colmo atinja uma
umidade entre 12% a 20%. Colmos de bambu da espécie Dendrocalamus strictus,
com 2,5 anos de idade, podem absorver entre 51 e 55% de água depois de quatro
dias de imersão em água e entre 57 e 64%, depois de sete dias de imersão.
Quando em contato com a água, o bambu demonstra grande fragilidade,
tanto na questão da conservação quanto na sua resistência, merecendo cuidados na
associação com outros materiais como o concreto, ou na exposição à chuva e à
umidade.
2.6.3 Variação dimensional
Por ser um material higroscópico, ocorrem variações dimensionais no
bambu, devido à rápida absorção e posterior liberação de água. O bambu pode se
38
contrair aproximadamente 12% de seu diâmetro e 16% de sua espessura, quando
tem seis meses de idade, porém, na idade adulta, reduz sua contração para 4% a
7% do diâmetro e 3% a 7% na espessura da parede do colmo (VIJAY RAY, 1991
citado por FERREIRA, 2002).
Segundo Lima Jr et al. (1995), esta propriedade faz com que o bambu,
quando em contato com o concreto fresco, absorva parte da água de amassamento
e aumente suas dimensões. Após o endurecimento do concreto, o bambu vai
liberando gradativamente a água absorvida e retorna às suas dimensões iniciais.
Com isso, a interação entre os dois materiais fica comprometida.
Quando os corpos-de-prova são cilíndricos, pode-se considerar apenas
duas variações lineares.
a) Variação linear longitudinal axial: ocorre na direção do eixo vertical
do colmo de bambu; a exemplo das madeiras, essas variações são
desprezíveis, na casa de 0,5%.
b) Variação radial: refere-se à movimentação na direção interior-casca.
Geymayer e Cox (1970 citados por FERREIRA, 2002), verificaram que
a variação dimensional linear no colmo nessa direção é de
aproximadamente 5%.
Pereira e Beraldo (2007) constataram que, de maneira semelhante às
madeiras, as ripas de bambu têm uma variação dimensional linear no sentido radial
na ordem de 3%; na direção tangencial, de 5 a 6%; praticamente desprezível na
direção axial, e uma variação volumétrica média da ordem de 9%.
2.7 Propriedades mecânicas
2.7.1 Compressão paralela às fibras do bambu
As características mecânicas do bambu são influenciadas por diversos
fatores: espécie, idade, tipo de solo, condições climáticas, época de colheita, teor de
umidade das amostras e sua localização em relação ao comprimento do colmo,
presença ou ausência de nós nas amostras testadas e tipo de teste aplicado
39
(GHAVAMI, 1989 citado por GHAVAMI; MARINHO, 2005). Deve-se considerar
também, sua secção circular e cônica com dimensões irregulares e a direção das
forças que serão aplicadas, se paralelas ou perpendiculares às fibras
(DULKELBERG, 1996).
Segundo Pereira e Beraldo (2007), normalmente os testes de compressão
em colmos de seção circular utilizam as normas de estudo das argamassas e
concreto: a medida da altura dos corpos-de-prova confeccionados tem o dobro da
medida do diâmetro (Figura 12). Porém, quando são utilizados colmos de pequeno
diâmetro, as dificuldades obrigam a realização de teste com amostras contendo
mais de dois nós, quando o ideal é utilizar corpos-de-prova com um nó em cada
extremidade. Outra dificuldade encontrada para a realização de ensaios com o
bambu é a heterogeneidade entre as espécies e as variações das espessuras das
paredes das amostras, aspectos que afetam os resultados dos ensaios.
Figura 12 – Compressão paralela às fibras
Fonte: COMBAM (2009)
Nos testes de compressão, os nós têm influência maior quando as cargas
são concentradas na direção perpendicular às fibras do colmo, ampliando a
resistência em 45%, em relação às seções sem nós. Se uma carga de compressão
é aplicada paralelamente à fibra, os valores da resistência das seções do colmo,
incorporando os nós, são cerca de 8% superiores às seções sem os nós
(DULKELBERG, 1996).
Ghavami e Marinho (2005) realizaram testes com colmos inteiros, da
espécie Guadua angustifolia, obtendo resultados para resistência à compressão,
40
módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson, das partes basal, central e topo
(Tabela 3). Observaram que a resistência à compressão é, em geral, três vezes
menor que a resistência à tração. A resistência média foi de 29,48 MPa,
aumentando da base para o topo. O valor máximo da tensão ocorreu na parte do
topo, sendo igual a 34,52 MPa para o corpo-de-prova sem nó e de 29,62 MPa com
nó. Na base, este valor caiu para 25,27 MPa no corpo-de-prova com nó e 28,36 MPa
sem nó. A média do módulo de elasticidade longitudinal às fibras foi de 12,58 GPa,
variando de 9,00 GPa na base a 15,80 GPa na região do topo, ambos em corpos-
de-prova com nó. O coeficiente de Poisson médio obtido no ensaio de resistência à
compressão foi de 0,34.
Tabela 3 – Resistência do bambu inteiro à compressão, módulo de elasticidade e coeficiente
de Poisson em diversas partes do colmo
Resistência à
compressão
Módulo
elasticidade-E
Coef.
Parte do
bambu
σ
t
(MPa)
(GPa) Poisson µ
Base sem nó 28,36 14,65 0,27
Base com nó 25,27 9,00 0,56
Centro sem nó 31,77 12,25 0,36
Centro com nó 28,36 12,15 0,18
Topo sem nó 25,27 11,65 0,36
Topo com nó 31,77 15,80 0,33
Valor médio 29,48 12,58 0,34
Variação 25,27-34,52 9,00-16,80 0,18-0,56
Fonte: Ghavami e Marinho (2005)
Beraldo (1987) encontrou valores de 55 MPa e 65 MPa para amostras
cilíndricas das espécies Phyllostachys sp e Phyllostachys purpuratta, resultado que,
segundo Pereira e Beraldo (2007), apesar de muito variável, em função das
espécies estudadas pelos diferentes autores, são muito superiores ao concreto
convencional, da ordem de 15 a 20 MPa.
Testes de compressão em amostras de seção retangular apresentaram,
conforme Pereira e Beraldo (2007), uma resistência à compressão situada na faixa
de 20 a 120 MPa e o módulo de elasticidade variou entre 2,6 e 20 GPa, ambas as
resistências determinadas conforme a espécie e teor de umidade e região do colmo
analisada. Apresenta-se, na Figura 13, a relação da resistência à compressão com a
espécie de bambu e posição do teste no colmo.
41
Figura 13 Resistência a compressão em seção retangular
Fonte: Techne (2006)
2.7.2 Tração paralela
Ghavami e Marinho (2005), em ensaios realizados com colmos inteiros,
obtiveram resultados de resistência à tração, módulo de elasticidade e coeficiente de
Poisson da parede do colmo do bambu Guadua angustifolia (Tabela 4). Observaram
que o bambu atinge uma resistência média à tração de 86,96 MPa e que, no geral, a
parte central apresenta maior resistência; 95,80 MPa no corpo-de-prova sem nó e
82,62 MPa no corpo-de-prova com nó.
Tabela 4 – Resistência do bambu inteiro à tração, módulo de elasticidade e coeficiente de
Poisson em diversas partes do colmo
Resistência à tração
Módulo
Elasticidade-E
Coef.
Parte do
bambu
σ
t
(MPa)
(GPa) Poisson µ
Base sem nó 93,38 16,25 0,19
Base com nó 69,88 15,70 -
Centro sem nó 95,80 18,10 0,25
Centro com nó 82,62 11,10 -
Topo sem nó 115,84 18,36 0,33
Topo com nó 64,26 8,0 -
Valor médio 86,26 14,59 0,26
Variação 64,26-115,84 8,0-18,36 0,19-0,33
Fonte: Ghavami e Marinho (2005)
DG=Dendrocalamus giganteus GV=Gigantoclhoa verticillata GA = Guadua angustifolia
42
Conforme o referido autor, nas regiões com nó, a resistência diminui
devido à descontinuidade das fibras nesses pontos, seguindo a direção do nó. Como
ocorrido também em outros ensaios, os corpos-de-prova sempre rompem no nó ou
bem próximo a ele. A região do topo, sem nó, apresentou maior resistência à tração,
115,84 MPa; porém, no corpo-de-prova com nó, obteve-se menor resistência, 64,26
MPa.
No bambu em estudo, o módulo de elasticidade longitudinal às fibras
variou de 8,0 GPa a 18,36 GPa, com valor médio de 15,11 GPa e com os maiores
valores obtido sempre nos corpos-de-prova sem nó. O coeficiente de Poisson médio
foi de 0,26, aumentando da base para o topo.
A resistência à tração na espécie Guadua angustifolia Kunth, em
experimentações com réguas de bambu, alcançou o valor máximo de 350 MPa e
mínimo de180 MPa. Sua resistência à tração é considerada como sendo da ordem
de quatro vezes aquela obtida em ensaios de compressão. Isso torna o uso do
bambu atrativo como substituto do aço, especialmente se for considerada a razão
entre sua resistência à tração e sua massa específica aparente (PEREIRA;
BERALDO, 2007).
O módulo de elasticidade do bambu, também em réguas, apresentou um
valor máximo de 31 GPa e mínimo de 14 GPa em pesquisas com a espécie Guadua
angustifolia Kunth (GARZON; DÍAZ, 2007), valores muito próximos àqueles citados
por Pereira e Beraldo (2007), que apresentam o módulo de elasticidade raramente
superior a 20 GPa.
Tal fato indica que, quando muito, esse uso particular do bambu poderia
substituir o aço CA 25 (tensão de ruptura de 250 MPa), porém, obviamente, os
resultados se encontram muito distantes daqueles obtidos com aços convencionais
de uso da construção civil (CA 50 e CA 60).
2.7.3 Flexão Estática
Beraldo (2003 citado por PEREIRA; BERALDO, 2007), comentou que o
comportamento à flexão do bambu inteiro ou de seus segmentos é muito importante
para efetuar a análise estrutural. Destacou também, que vários trabalhos
experimentais estão sendo desenvolvidos para estabelecer este tipo de resistência e
43
que, embora seja um ensaio de execução mais simples para o caso das madeiras,
quando se trata do bambu encontram-se inconvenientes, principalmente se o
objetivo for ensaiar diretamente um colmo.
Os resultados dos testes à flexão estática são muito variáveis, em razão
de diversos fatores: a posição dos corpos-de-prova para ensaios; sua forma irregular
próxima a troncos de cone; a espessura não uniforme das paredes; a variação na
orientação das fibras na região dos nós; a presença do diafragma, atuando como
estribos em uma armação de ferragem; o esmagamento prematuro das paredes do
colmo pela compressão do cutelo, antes do rompimento da peça como um todo, e a
metodologia aplicada aos testes.
Janssen (2000) comentou que, em colmos inteiros, foram encontrados
valores oscilando entre 170 MPa e 62 MPa e o módulo de elasticidade variou entre 6
GPa e 14 GPa.
2.7.4 Cisalhamento
O bambu apresenta limitada resistência ao cisalhamento na direção
paralela. Isso se deve ao fato de as fibras serem unidas umas às outras unicamente
por elementos naturais colantes e o descolamento das fibras iniciar-se mesmo com
baixos valores de tensão.
O aparecimento de fissuras, que surgem pelo cisalhamento, pode ser um
problema sério em estruturas de bambu. Além de surgirem preocupações quanto à
queda de resistência da estrutura, o aparecimento de fissuras também serve de local
de entrada de água e penetração de insetos, fatores que podem diminuir a vida útil
do bambu.
Usando-se apenas um facão e um martelo, é possível dividir um bambu
perfeitamente ao meio, colocando-se o facão paralelo às fibras e aplicando-lhe
golpes com o martelo: as fibras se separam sem muito esforço. Este é um conceito
importante, pois tal procedimento facilita muito a confecção de algumas conexões
que precisam de corte paralelo às fibras (Figura 14).
44
Figura 14 – Corte feito na direção longitudinal às fibras
Fonte: Marçal (2008)
Os resultados médios da resistência ao cisalhamento interlaminar,
encontrados por Ghavami e Marinho (2005), para os corpos-de-prova localizados na
base, centro e topo do bambu Guadua angustifolia, são apresentados na Tabela 5.
Os valores foram obtidos a partir da média de três ensaios. Observa-se que eles
aumentam da base para o topo e, no topo, a resistência ao cisalhamento foi de 2,42
MPa para o corpo-de-prova sem nó e 2,11 MPa para o corpo-de-prova com nó. Na
base, esses valores foram 2,20 MPa sem nó e 1,67 MPa com nó, respectivamente.
Observa-se que, nos corpos-de-prova sem nó, a resistência é maior e se mantém
quase uniforme nas três partes do comprimento do colmo; já nas partes com nó, a
resistência é menor e os valores variam muito.
Tabela 5 – Resistência ao cisalhamento do bambu inteiro Guadua angustifolia
Parte do colmo
Tensão de cisalhamento
τ (MPa)
sem nó 1,67
Base
com nó 2,20
sem nó 1,43
Centro
com nó 2,27
sem nó 2,11
Topo
com nó 2,42
Valor médio 2,02
Fonte: Ghavami e Marinho (2005)
Beraldo et al. (2003) afirmaram que a resistência ao cisalhamento
transversal às fibras do bambu situa-se em torno de 30% de sua resistência à flexão,
45
ou seja, em torno de 32 MPa (variação entre 20 MPa e 65 MPa), e sua resistência
ao cisalhamento longitudinal às fibras situa-se em torno de 15% de sua resistência à
compressão, ou seja, em torno de 6 MPa, com variação de 4 MPa a 10 MPa.
2.7.5 Torção
A seção circular é a única seção ou arranjo geométrico possível, capaz de
abarcar o máximo de conteúdo com o mínimo de perímetro ou superfície. Devido ao
seu formato cilíndrico, o bambu possui boas propriedades quando submetido a
forças de torção. Fazendo-se uma analogia com uma fila de pessoas, em formato
circular, a força que uma pessoa exerce sobre a outra é passada adiante, já que não
existe espaço para onde a força se desloque (Figuras 15 e 16).
Figura 15 – Representação de um sistema contínuo de tensões
Fonte: Marçal (2008)
Contudo, as fibras do bambu são facilmente descoladas e esse
deslocamento pode ser muito prejudicial ao sistema de tensão, causando-lhe uma
descontinuidade, que tende a diminuir as resistências à torção da vara.
Figura 16 - Representação de um sistema descontínuo de tensões
Fonte: Marçal (2008)
46
2.8 Distribuição geográfica
Geograficamente, as espécies de bambus nativos estão distribuídas nas
regiões tropicais e subtropicais do planeta, com exceção da Europa, na proporção
aproximada de: 67% na Ásia e Oceania, 30% nas Américas e 3% na África
(HIDALGO-LÓPEZ, 2003).
A Figura 17 apresenta a distribuição geográfica da incidência de bambus,
nas 1.250 espécies classificadas botanicamente.
Figura 17 - Distribuição geográfica do bambu
Fonte: Hidalgo-López (2003)
2.9 Espécies prioritárias
No Brasil, de acordo com Filgueiras e Gonçalves (2004), as espécies
nativas são, em sua maioria, enquadradas na categoria ornamental e estão
associadas a um meio ambiente específico – como a Floresta Atlântica, com 65%;
Amazônia, com 26% e 9% nos Cerrados – possuindo 34 gêneros e 232 espécies de
bambus nativos (174 espécies são consideradas endêmicas).
Dentre os bambus lenhosos, o Brasil possui seis gêneros com 129
espécies endêmicas, destacando-se os gêneros: Merostachys, com 53 espécies;
Chusquea, com 40 espécies; e, Guadua, com 16 espécies (Figuras 18 e 19). Entre
as espécies introduzidas, destacam-se aquelas pertencentes aos gêneros: Bambusa
47
(espécies: blumeana, dissimilator, multiplex, tulda, tuldoides, ventricosa, vulgaris,
beecheyana), Dendrocalamus (espécies: giganteus, asper, latiflorus, strictus),
Gigantochoa, Guadua, Phyllostachys (espécies: áurea, purpuratta, bambusoides,
nigra, pubescens), Pseudosasa, Sasa e Sinoarundinaria.
Figura 18 - Guadua angustifolia
Figura 19 - Guadua chacoensis
A maioria das espécies plantadas no Brasil é originária dos países
orientais, com exceção do gênero Guadua, que tem sua origem na América,
possuindo várias espécies nativas no Brasil, com existência de aproximadamente
sete milhões de hectares, no Estado do Acre, da espécie Guadua weberwarii,
indicadas em vermelho na Figura 20.
48
Figura 20 - Região do Estado do Acre com áreas nativas de Guadua weberwarii
Fonte: Berndsen (2007)
Comercialmente, no Brasil, o Grupo Industrial João Santos, por meio da
Indústria Itapagé, produz sacos para embalagem de cimento Portland com celulose
de bambu. Sabe-se de dois plantios de grande porte da espécie Bambusa vulgaris,
para fabricação de papel: um no Maranhão, no município de Coelho Neto, com
20.000ha e outro em Pernambuco, no município de Palmares com 16.000ha (Figura
21).
Pequenos plantios da espécie Phylostachys aurea (cana-da-índia),
utilizados para construção de móveis e varas de pescar, são frequentes no sul da
Bahia, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e no interior de São Paulo. A espécie
Phylostachys pubescens (bambu mossô), trazida ao Brasil pelos imigrantes
japoneses, no princípio do século passado, é muito encontrada no interior do Estado
de São Paulo, onde se instalaram suas colônias. É dessa espécie que são retirados
os brotos de bambu, muito utilizados na culinária japonesa e também plantas para
paisagismo (Figura 22).
49
Figura 21 – Plantio Itapagé de Bambusa vulgaris
Fonte: Pereira e Beraldo (2007)
Figura 22 – Jardim com bambu Mossô
Originário da Ásia, o Dendrocalamus asper (Figura 23) é encontrado no
Rio de Janeiro (RJ) e em Campo Grande (MS). Esta espécie costuma ser chamada
de "bambu-balde", pela grande diâmetro do colmo, podendo chegar a 25 cm de
diâmetro e cerca de 25 m de altura. Seus brotos são comestíveis e, quando jovens,
apresentam penugem áspera, marrom, quase dourada.
50
O maior bambu de todos é o da espécie Dendrocalamus giganteus
(Figura 24), que pode chegar a uma altura superior a 35 m e diâmetro de até 35 cm.
Figura 23 - Dendrocalamus asper
Figura 24 - Dendrocalamus giganteus
Segundo Pereira e Beraldo (2007), organismos internacionais ligados à
cultura do bambu (INBAR, 1994) recomendaram a introdução e a experimentação de
19 espécies, consideradas como prioritárias, com base em critérios relacionados à
51
sua utilização, cultivo, processamento e produtos, recursos genéticos e
características edafoclimáticas (Quadro 1). Muitas das espécies de bambu já foram
introduzidas no Brasil e encontram-se adaptadas às condições locais de clima e
solo.
Quadro 1 – Espécies prioritárias de bambu de acordo com o INBAR
Fonte: Pereira e Pereira Neto (1996)
52
2.9.1 Espécies para uso nas construções no Brasil
De acordo com Toledo Filho e Barbosa (1990), no Brasil, as espécies de
bambu mais encontradas e adequadas para construção são: Bambusa vulgaris (de
maior ocorrência, mas muito susceptível ao ataque de insetos); Dendrocalamus
giganteus (bambu gigante); Bambusa tuldoides e Bambusa arundinacea. A espécie
Gradua angustifolia, apesar de ser praticamente desconhecida no Brasil (maior
ocorrência na região Norte do país), representa um dos maiores potenciais para uso
na construção (Quadros 2 e 3).
Quadro 2 – Características das principais espécies de bambu para construção e produção de
componentes
Fonte: Toledo Filho e Barbosa (1990)
53
Quadro 3 – Características das principais espécies de bambu para construção e
produção de componentes
Fonte: Toledo Filho e Barbosa (1990)
2.10 Métodos de construção com bambu
A classificação por métodos de construção é uma forma de análise das
edificações, sob o prisma de como se pode construir com bambu, e não do tipo de
construção – como casas, pontes, escolas, etc. Método é constituído por uma série
54
de passos codificados que se tem de tomar, de forma mais ou menos esquemática,
para atingir um determinado objetivo (WIDYOWIJATNOKO; TRAUTZ, 2008).
Nesta ótica, neste trabalho, classificou-se os métodos de construção com
bambu em: vernacular ou tradicional, contemporâneo e substitutivos parcial ou
integral dos materiais de construção usuais pelo bambu em suas diversas formas.
2.10.1 Método vernacular e tradicional
Denomina-se construção vernacular todo tipo de arquitetura em que se
empregam materiais e recursos do próprio ambiente onde a edificação é construída;
refere-se às estruturas feitas pelos construtores de modo empírico, sem a
intervenção dos engenheiros ou arquitetos profissionais. É a maneira mais simples e
generalizada para construir (Figura 25). Desse modo, ela apresenta caráter local ou
regional (ARBOLEDA, 2006 citado por WIDYOWIJATNOKO; TRAUTZ, 2008).
Figura 25 - Casa feita de bambu pelos antepassados na costa do Equador
Fonte: Hidalgo-López (2003)
Construções vernaculares e tradicionais têm estreita ligação: as
construções tradicionais também podem incluir edifícios que ostentam elementos de
design requintado; templos e palácios, por exemplo, que normalmente não seriam
incluídos sob o título de "vernáculo" (BRUNSKILL, 2000).
Suas construções descrevem métodos originais não escritos, estipulados
e acordados, geralmente, em uma comunidade, com materiais locais, de fácil
55
utilização e reposição, cujos tipos de construções não se limitam apenas a
residências, mas a todo tipo de edificações necessárias à convivência dessa
comunidade.
Em regiões onde o bambu cresce naturalmente, ele foi o primeiro material
de construção usado desde os primórdios da humanidade, em razão da
disponibilidade e facilidade de uso.
Nas construções tradicionais, o bambu é utilizado em sua maneira mais
simples de aplicação, com utilização de colmos inteiros, réguas sem
aparelhamentos, bambu trançado, cordas de bambu e argamassa adicionada de
fibras naturais, utilizando-se métodos e ferramentas muito simples e acessíveis até
mesmo para os jovens e para os não qualificados (JAYANETTI; FOLLET, 1998).
Os materiais utilizados em construções tradicionais são:
a) Colmos inteiros de bambu
Remontam das construções empíricas e são, até hoje, a base da maioria
das construções com bambu; possuem a especificidade do uso material, com
carpintaria particular, não repetida com outros materiais, como os encaixes de boca-
de-peixe (Figura 26), boca-de-peixe com flanges dobradas e corte reto com abas
(Figura 27).
Figura 26– Corte boca-de-peixe
56
Figura 27 – Corte boca-de-peixe com flange e corte reto
As peças de bambu são cortadas nas proximidades das construções,
geralmente com facão ou machadinha, com imediata utilização para as diversas
finalidades, sem prévio tratamento, recebendo, em alguns casos, apenas limpeza
superficial e lixamento dos colmos, o que caracteriza sua baixa durabilidade, pela
ausência de acabamento superficial.
b) Ripas de bambu
É obtido de maneira tradicional, por meio da divisão dos colmos, com uso
de ferramentas simples como um facão. O corte é comumente iniciado com este
instrumento, para depois introduzir-se uma madeira rígida ou cunha (Figura 28); é
possível utilizar também uma barra metálica ou de madeira para essa função, após a
prévia abertura do colmo (Figura 29). Após a obtenção das ripas, retira-se a parte
branca interna, para evitar o ataque de insetos, assim como as partes do diafragma.
57
Figura 28 – Corte para obtenção de ripas de bambu
Fonte: Hidalgo-López (2003)
Figura 29 – Corte com uso de barra metálica
Fonte: Hidalgo-López (2003)
A facilidade com que o bambu pode ser dividido ao longo do seu eixo
longitudinal oferece vantagens, se comparada ao uso de serrotes, pois, durante a
divisão, os feixes das fibras são apenas separados uns dos outros axialmente,
enquanto o serrote vai cortar muitas fibras (DUNKELBERG, 1996).
c) Tiras
Utilizadas para confecção das diversas tramas, (Figura 30); são retiradas
pela divisão tangencial das ripas de bambu, com auxílio de ferramentas manuais,
como facas largas, separando-se para uso somente a casca do colmo. A resistência
destas tiras é proporcionada pela direção longitudinal das fibras na casca do bambu.
58
Figura 30 – Tramas confeccionadas com tiras de bambu
Fonte: Hidalgo-López (2003, p. 243)
d) Cordas com fibras de bambu
São consideradas as mais antigas formas de realizar as conexões de
bambu; circulam e atravessam as junções, criando atrito entre as partes. São
obtidas pela subdivisão da casca de bambu em tiras finas, posteriormente trançadas
(Figura 31). Na maioria dos casos, para fazer uma conexão forte de corda, as peças
de bambu têm de ser previamente encaixadas e, em seguida, amarradas de
diversas maneiras, diferenciadas pelas culturas que utilizaram essa técnica.
Normalmente, as construções evitam as conexões submetidas à tração, pois
amarrações não oferecem resistência a este tipo de esforço (DUNKELBERG, 1996).
Figura 31 – Confecção de cordas de tiras de bambu
Fonte: López (2003,)
59
e) Argamassas
Servem para vedação dos painéis de ripas ou de tecidos de bambu e
enchimento dos vãos, quando utilizado o sistema de paredes duplas. Possui como
componente principal o barro, adicionado de diversos materiais naturais para dar
liga, como estrume de animais, palha de fibras naturais, entre outros.
Apresenta-se a seguir, os métodos que tradicionalmente utilizam o bambu
em todos os componentes de uma edificação:
a) Fundações
As fundações são o fator determinante para o curto prazo de utilização
das edificações construídas pelo método tradicional: quando não são tomadas as
medidas preventivas contra a umidade proveniente do contato do bambu com o solo,
ocorre rápida deterioração e falência estrutural da edificação. Segundo Jayanetti e
Follett (1998), a durabilidade dessas fundações varia de seis meses a dois anos.
Na Ásia, as fundações das construções vernaculares são apoiadas
diretamente no solo (Figura 32); quando muito, utilizam-se rochas sob os pilares de
sustentação, característica que determinava o uso temporário da edificação,
desvalorizando-a. Segundo Hidalgo-López (2003), alguns países do sudeste da
Ásia não utilizam o bambu em suas estruturas por causa da cultura remanescente
da baixa durabilidade do material.
Figura 32 – Elementos de fundação apoiados diretamente no solo
Fonte: Dunkelberg (1996)
60
b) Estrutura
Basicamente, as estruturas das edificações tradicionais utilizam colmos
de bambu com diversos tipos de entalhes ou cortes e encaixes. Estas conexões,
geralmente, são somente encaixadas ou amarradas por cordas de bambu, tornando
o sistema estrutural muito flexível e leve com grande absorção de energia sísmica
(DUNKELBERG, 1996).
As estruturas de apoio para os pisos são elevadas do solo sobre pilotis,
em uma altura média de 50 cm, distanciando, desta forma, a edificação da umidade
e do ataque de insetos rasteiros e animais, permitindo também a manutenção e
limpeza (JAYANETTI; FOLLET, 1998). Esta estrutura é formada por colmos
robustos e, sobre estes pilares, desenvolve-se um tablado, montado com colmos
inteiros amarrados com cordas de tiras de bambu, para receber os pisos (Figura 33).
Os quadros de sustentação das edificações são formados por vigas e
pilares de colmos inteiros de bambu, que apóiam as paredes e a estrutura de
cobertura, distribuindo as cargas na estrutura dos pisos e estes nos pilares de
sustentação, respectivamente. Em alguns casos, utilizam-se peças diagonais ou
cordas, com função de contraventamento, para uma melhor estabilidade do sistema
estrutural.
Figura 33 – Detalhe das amarrações de uma estrutura vernacular de paredes e vigas
Fonte: Dunkelberg (1996)
61
c) Pisos
Nas construções mais rudimentares, os pisos das residências são de terra
compactada, o que acarreta problemas de higiene, saúde e segurança. Como
solução, na Ásia, as residências elevaram-se, para proteção dos moradores contra
animais, insetos, água proveniente das chuvas e umidade natural do solo
(DUNKELBERG, 1996).
Os pisos podem ser compostos por colmos de bambu inteiros, colmos
cortados ao meio, ripas de bambu (Figura 34), tiras de bambu trançadas ou
pranchas de madeiras locais. Em todos os exemplos, os elementos que compõem a
estrutura e a superfície dos pisos são simplesmente amarrados com cordas de tiras
de bambu.
Figura 34 – Piso de ripas de bambu
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
d) Paredes
O clima nas diversas regiões onde são construídas as edificações é um
fator muito importante na escolha do tipo de fechamento escolhido. Nos trópicos, as
residências possuem paredes com características que proporcionam, além da
proteção contra animais e insetos, chuvas e insolação, uma boa ventilação frente às
altas temperaturas na região (DUNKELBERG, 1996).
Na Ásia, são utilizadas paredes compostas de colmos inteiros –dispostos
verticalmente, lado a lado – painéis de bambus cortados ao meio (Figura 35), painéis
de ripas de bambu trançadas e painéis de tiras de bambu trançadas (tecidos), todos
amarrados com cordas de bambu. Estes dois últimos exemplos podem receber uma
argamassa de revestimento para vedação, utilizada comumente em altitudes cujas
62
temperaturas são mais baixas, compostas de barro e fibras vegetais, como palha de
arroz, sem alisamentos no acabamento da superfície externa e interna.
Figura 35 – Parede de colmos inteiros de bambu e de colmos cortados ao meio
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
No Japão, em construções de habitação de alto padrão, ainda se utiliza o
sistema tradicional de taipa de mão, composto basicamente de bambus em tiras e
roliços de pequenas dimensões, com estrutura principal em madeira. A interface da
taipa com estrutura de madeira é executada com o auxílio de um tecido de juta
fixado por um baguete de madeira, para se evitar fissuras entre a madeira e o barro
(Figura 36).
Figura 36 – Painel de bambus roliços
Fonte: Cortez (1986)
Muito comum no Peru, Chile e partes da Índia, as paredes denominadas
Quincha (Figuras 37 e 38) caracterizam-se pelos trançados de ripas de bambu na
direção horizontal ou vertical, entre colmos de pequeno calibre. Estes painéis são
63
montados em quadros de colmos robustos e amarrados, com posterior aplicação de
argamassa, constituída de barro com adição de fibras vegetais, preenchendo os
vazios. O acabamento das superfícies pode ser realizado na própria argamassa de
preenchimento ou com argamassa de regularização aplicada sobre a primeira
camada.
Figura 37 – Painel tipo Quincha com ripas verticais
Fonte: López (2003)
Figura 38 – Painel tipo Quincha com ripas horizontais
Fonte: Hidalgo-López (2003)
O tipo de parede Bahareque é comumente utilizado em diversos países
da America Latina e a Colômbia é o principal expoente nesta técnica, que consiste
de bambus cortados ao meio (ou meia cana), dispostos horizontalmente em duas
camadas, envolvendo a estrutura de sustentação. O vão é preenchido com barro e
fibras vegetais, revestidos e alisados com o mesmo material (Figura 39).
64
Figura 39 – Painel tipo Bahareque
Fonte: Hidalgo-López (2003)
e) Portas e janelas
Nas edificações tradicionais, as portas e janelas são construídas de
maneira muito simples, com a montagem de colmos de pequeno diâmetro
amarrados, formando painéis revestidos de tecidos de tramas de tiras de bambu. Em
algumas culturas, esses painéis podem possuir uma grade paralela, para proteção
contra animais e invasores, ou tramas com pequenas aberturas para que, mesmo
fechadas, impeçam a entrada de insetos e permitam a circulação de ar (Figuras 40 e
41).
Figura 40 – Janela com grade de bambu
Fonte: Cortez (1986)
65
Figura 41 – Porta com estrutura e fechamento de bambu
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
f) Forros
A instalação de forros de bambu melhora a temperatura ambiente, criando
um colchão térmico entre as telhas de cobertura e o ambiente. Este colchão
geralmente possui fechamentos nas laterais, com trançados de ripas de bambu para
circulação de ar e troca de calor. São confeccionados com tiras de bambu
trançadas, formando tecidos com os mais variados desenhos, apoiados em
semi-estrutura quadriculada de bambus de pequeno diâmetro, fixados na estrutura
das paredes ou do teto por meio de cordas.
g) Estruturas de cobertura
As estruturas de cobertura são o elemento determinante das formas
arquitetônicas nas diversas culturas de construção com bambu. A forma básica de
cobertura, precursora das tecnologias que se sucederam, é o simples empilhamento,
em forma cônica, de varas de bambu ou madeira, com prolongamento da cobertura
até o solo, criando um fechamento lateral utilizado como parede, que remonta às
cabanas de tribos indígenas em diversas regiões do planeta.
Historicamente, os japoneses iniciaram suas primeiras estruturas de
coberturas de bambu com formas cônicas apoiadas em troncos de madeira, que
evoluíram para a forma conhecida atualmente de suas construções tradicionais
(Figura 42).
66
Figura 42 – Evolução das estruturas de cobertura Japonesas com bambu
Fonte: Hidalgo-López (2003)
A cultura local influi diretamente no modo de se construir com o bambu.
Segundo Hidalgo-López (2003), em diversos países e ilhas do sudoeste da Ásia,
algumas edificações podiam ser construídas também em madeira, com sua estrutura
de cobertura realizada em bambu. Como exemplo desta característica, o autor cita
as coberturas tradicionais da Indonésia, com exemplo da casa Toradja (Figura 43),
que tinham forte influência, na carpintaria de sua cobertura, das tradições navais da
região, resultando em um aspecto arquitetônico original.
Figura 43 – Estruturas de cobertura das casas de Toradja na Tailândia
Fonte: Dunkelberg (1996)
67
h) Cobertura
O telhado de um edifício é indiscutivelmente o componente mais
importante de uma edificação, caracterizando a edificação como um abrigo. Deve
oferecer proteção contra intempéries, como chuva, sol e vento. Os modelos mais
comumente utilizados nas coberturas tradicionais na Ásia são os que utilizam
colmos inteiros cortados ao meio, dispostos da maneira capa-canal (Figura 44), ou
os que utilizam peças formadas pela retirada da casca de bambu (Shingle Tiles),
com aproximadamente 3 cm de largura por 40 cm de comprimento, com um entalhe
na parte posterior para fixação nas ripas de bambu, espaçadas, no máximo, 15 cm
(Figura 45) (JAYANETTI; FOLLETT, 1998).
Figura 44 – Telhas tipo capa canal
Fonte: bambubrasileiro.com
Figura 45 – Telhas de bambu com entalhe para fixação
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
68
Na China, as construções tradicionais utilizavam colmos de grandes
diâmetros cortados ao meio, com o comprimento de um internó como telhas tipo
capa-canal (Figura 46), determinando o aspecto visual tradicional das coberturas
chinesas. Seu design é repetido nos dias de hoje, com as telhas de barro nas
mesmas proporções das telhas de bambu (HIDALGO-LÓPEZ, 2003).
Figura 46 – Telhas de bambu das construções tradicionais chinesas
Fonte: Hidalgo-López (2003)
Algumas coberturas tradicionais utilizam tramas de tecidos de bambu
sobre estrutura de colmos em duas camadas sobrepostas, que se desenvolvem
desde a cobertura até as laterais, formando paredes, como nas comunidades tribais
da África, com o método de construção denominado de Chenca ou Sidamo. Pelo
trançado extremamente estreito, este tipo de cobertura torna-se impermeável, não
necessitando de nenhum tipo de vedação extra para garantia de estanqueidade
(Figura 47).
Figura 47 – Casa tradicional Chenca na Etiópia
Fonte: Stamm (2007)
69
As construções tradicionais com bambu possuem vários exemplos de
edificações que serviram de base e inspirações para o desenvolvimento tecnológico
de construções contemporâneas, utilizando o bambu como material de construção.
Na Indonésia, 35% das casas são construídas de maneira tradicional,
exclusivamente com bambu, e 35% com bambu e madeiras nativas, como os belos
exemplos das casas Toradja (Figura 48). Em Bangladesh e Burma, 60% das
construções são feitas com bambu e, nas Filipinas, 90%, em sua maioria no meio
rural, em razão da grande disponibilidade do material (DUNKELBERG, 1996).
Figura 48 – Casa de Toradja, na Indonésia
Fonte: calphotos.berkeley.edu
Na Índia, as raízes da arquitetura atual são baseadas na civilização dos
Vedas, que se estendeu de 1500 a.C. até 600 a.C.. Apesar de ser uma cultura rural,
possuíam casas muito bem acabadas; foram os pioneiros na construção de pórticos
de bambu em suas casas – com coberturas em forma de arcos e abóbodas de
diferentes desenhos – e na utilização de vigas duplas, denominadas posteriormente
de Vierendel.
O Palácio Taj Mahal tem sua cúpula, em forma de bulbo da flor de lótus,
de grande simbologia na Índia, construída originalmente em estrutura de bambu,
curvado com a tecnologia herdada dos arcos da civilização Veda (Figura 49).
70
Figura 49 – Palácio Taj Mahal
Fonte: Dunkeberg (1996)
Segundo Hidalgo-López (2003), os chineses ostentam uma arquitetura
tradicional requintada, em edificações com diversas divisões de cômodos, utilizando
ripas de bambu para composição de painéis trançados para paredes externas e
tecidos de tramas de tiras de bambu nas paredes internas, com diversos desenhos.
Diferentemente das habitações de bambu das Américas, ficam expostas, exibindo
toda a complexidade das estruturas e dos tecidos dos trançados das paredes
(Figura 50).
As estruturas são compostas de colmos inteiros de bambu gigante,
apoiadas em fundações de pedras, e as sofisticadas estruturas de cobertura,
também de colmos inteiros, vencem grandes vãos. De acordo com o mesmo autor,
os chineses são considerados os inventores das vigas duplas tipo Vierendel e das
estruturas espaciais.
71
Figura 50 – Tradicional casa chinesa de bambu
Fonte: Liu (2009)
Os chineses desenvolveram, além de uma arquitetura própria com
bambu, as melhores técnicas de construção de pontes tradicionais, com vãos de até
100 m, utilizando cordas trançadas de bambu de até 30 cm de diâmetro para
sustentação de pontes suspensas.
No Brasil, as construções vernaculares e tradicionais com bambu, pela
ligação direta com os povos indígenas e as populações mais pobres, geralmente
nativos, carregaram o símbolo de miséria e escravidão, com exemplos de
construções recentes que remontam à mesma tecnologia de construção, materiais e
deficiências dos tempos da escravidão.
Conhecido como a madeira dos pobres, discriminado culturalmente
durante décadas – não somente pela população de leigos, mas também pelos
técnicos da área de construção civil – como material sem valor econômico, o bambu
no Brasil tem estreita ligação cultural com as casas de pau-a-pique dos usuários do
meio rural (Figura 51).
Figura 51 – Casa de pau-a-pique
Fonte: Dunkeberg (1996)
72
A técnica vernacular de construção do pau-a-pique constitui-se em barro
aplicado sobre uma trama de bambu, que utiliza como estrutura peças maiores de
bambu ou madeira, postas verticalmente nos vértices e, horizontalmente, formando
grandes quadrados. É recomendado que a fundação seja de tijolo ou de pedra e que
suba pelo menos a 30 cm do solo para evitar umidade. Peças de madeiras bem
dimensionadas permitem a construção de um segundo pavimento.
2.10.2 Método contemporâneo
Atualmente, em razão dos desmatamentos e da redução na oferta de
madeiras, o bambu vem assumindo um novo valor no mercado dos materiais
alternativos sustentáveis para construção civil. Sua utilização em edificações de uso
simples, como casas populares, ou de alta tecnologia, como grandes estruturas de
cobertura, requerem pesquisas como base de avaliação do material em seus
diversos usos.
O método contemporâneo de construção com bambu é baseado nos
métodos tradicionais, com acréscimo da tecnologia dos novos materiais e técnicas,
fundamentadas em cálculos e normas científicas para construção civil, criadas e
implantadas por profissionais como engenheiros e arquitetos.
As pesquisas científicas possibilitaram o acréscimo de novas tecnologias
aos materiais tradicionais, que adquiriram novas características de uso, novos
requisitos de resistência e de durabilidade, ampliando as possibilidades de utilização
do bambu nas construções. Os principais materiais utilizados nas construções
convencionais modernas são:
a) Colmos de bambu inteiros
Os tratamentos contra o ataque de fungos e insetos, secagem, e
armazenamento com métodos aprovados cientificamente, ampliaram a vida útil
deste material básico para as construções com bambu. A injeção de argamassas
nos internós dos colmos, melhorando sua resistência ao esmagamento e tração à
compressão perpendicular, utilização de esperas metálicas nas extremidades de
ligação e o uso de modernas máquinas e equipamentos para confecção de cortes e
encaixes precisos resultaram em melhorias da qualidade dos projetos, facilidade de
73
execução e ampliação das possibilidades de utilização do colmos de bambu para
uso na construção.
b) Ripas de bambu
A utilização de máquinas modernas para a obtenção de ripas proporciona
grande uniformidade às peças, possibilitando padronização, rapidez de
processamento e maiores volumes de produção, fatores necessários nos diferentes
usos das ripas para composição de diversos materiais, como painéis e chapas
(Figura 52).
Figura 52 – Plaina específica para ripas de bambu
c) Tiras
A cultura dos teares, com utilização de tramas tradicionais, é mantida e
pode ser realizada de forma artesanal ou mecanizada, com acréscimo de
tratamentos contra fungos e insetos nas tiras e nos painéis já tecidos.
d) Argamassas
O grande diferencial das argamassas nas construções tradicionais foi a
utilização do cimento Portland e da cal adicionados à areia, em substituição às fibras
naturais, melhorando o aspecto final, com acabamento alisado, além de
proporcionar a aderência e resistência às réguas de bambu, quando aplicado nas
paredes tipo bahareque ou quincha modernizadas.
74
Com a utilização dos modernos materiais de construção baseados no
bambu, os elementos das construções tradicionais foram incrementados pelos
técnicos, arquitetos e engenheiros, com finalidade de atender os usuários com
construções de qualidade estrutural e estética.
Os componentes das construções convencionais modernas são:
a) Fundações
Nas construções modernas, geralmente as fundações passaram a ser
realizadas em concreto armado, na forma de blocos salientes do solo, para um
distanciamento da estrutura de bambu da umidade proveniente do solo ou das
chuvas (Figura 53).
Figura 53 – Fundações em forma de sapatas de concreto
Fonte : Koolbambu (2009)
b) Estrutura
Segundo Jayanetti e Follett (1998), as estruturas de apoio nas fundações
de concreto podem ser realizadas de acordo com as necessidades projetuais,
podendo ser simplesmente apoiadas, permitindo a movimentação do sistema –
muito utilizado em países com histórico de abalos sísmicos – ou incorporadas ao
concreto, conferindo rigidez à estrutura (Figura 54).
75
Figura 54 – Sistema de apoio com incorporação do pilar a sapata de concreto
Fonte: Marçal (2008)
As estruturas dos pilares e vigas de bambu receberam novas conexões,
permitindo uma melhor transferência de esforços, com usos de argamassa de
grauteamento, parafusos de fixação e esperas metálicas que fazem ligações por
diversas técnicas.
c) Pisos
Os materiais para utilização nos pisos tradicionais receberam alteração
em seu método de fixação, utilizando atualmente, parafusos, pregos e amarrações
com arames. A superfície final, em muitos tipos destes pisos, compreensivelmente,
não é satisfatória para as atuais necessidades de salubridade, com dificuldade de
limpeza. As aplicações de uma camada de argamassa de cimento e areia melhoram
as condições de higiene e conforto (JAYANETTI; FOLLETT, 1998).
d) Paredes
O sistema contemporâneo de construção de paredes de bambu é
baseado nas formas tradicionais – como o Bahareque Colombiano e a Quincha
Peruana – incrementado tecnologicamente pela montagem de painéis pré-moldados,
realizados por meio de projetos de engenheiros e arquitetos e produzidos
industrialmente de maneira seriada, largamente utilizado nas construções de
conjuntos de habitações populares na Costa Rica, Colômbia e Equador.
Outro salto tecnológico na construção de paredes de bambu deu-se com
o uso do cimento Portland e cal nas argamassas de revestimento, uso de réguas
aparelhadas, parafusos, pregos e arames nas amarrações, assim como a adição de
pinturas, resultando em um acabamento similar às edificações convencionais de
76
alvenaria. Segundo Hidalgo-López (2003), por questões culturais, os ocidentais –
diferentemente dos asiáticos – não gostam de ver expostas as estruturas de bambu,
pois somente as populações mais pobres não possuem suas casas rebocadas
(Figura 55).
Figura 55 – Sequência de construção de residência com painéis pré-moldados de bambu no
Equador
Fonte: Botero (2005)
e) Portas e janelas
As portas e janelas tiveram seu acabamento melhorado em razão do
aperfeiçoamento das máquinas e equipamentos de processamento do bambu,
uniformizando e aparelhando as peças de bambu, bem como pela utilização de
projetos mais sofisticados, com novos encaixes e colocação de ferragens e vidros. O
emprego de vernizes e tintas finaliza o acabamento e proporciona maior durabilidade
às esquadrias (Figura 56).
Figura 56 – Painel de bambu com janelas de vidro temperado
Fonte: Koolbambu (2009)
77
f) Forros
Nos forros, utilizam-se painéis pré-fabricados de tecidos de bambu, que
podem ser estruturados com réguas de madeira ou metal e fixados com fios de
arame de aço. Como proteção e melhores efeitos estéticos, recebem camadas de
verniz impermeabilizante (Figura 57).
Os painéis trançados com máquinas já eram realizados em 1972 e
indicavam possibilidades de produção em série, aplicando-se resinas a quente, em
média a 140 ºC, sob pressão de aproximadamente 30 kgf/cm
2
, com
fenol-formaldeido e melamina-formaldeido, contendo 15% de resina. Também se
utilizam colas de caseína e uréia-formaldeido. Este processo fornece ao bambu uma
considerável resistência a insetos e às intempéries (NAÇÕES UNIDAS, 1972, citado
por CORTEZ, 2003, p.61).
Figura 57 – Forro com tecido de bambu do aeroporto Baraja de Madri, Espanha
Fonte: Hoepers (2007)
g) Estruturas de cobertura
A evolução e aplicação da engenharia nas estruturas de cobertura com
bambu ampliaram suas possibilidades de aplicação, sendo utilizadas até mesmo em
grandes vãos, com a segurança necessária a qualquer estrutura das edificações
atuais. As inúmeras possibilidades de formas criadas por arquitetos e engenheiros
dão margem à criação de uma arquitetura própria para o material.
As novas tecnologias de cobertura com bambu deixam em evidência a
preocupação com a utilização de beirais de grandes dimensões, recurso utilizado
78
para o afastamento das estruturas de bambu das chuvas e sol, os quais acarretam
deterioração do material (Figura 58).
Figura 58 – Estrutura de cobertura do Centro cultural Max Feffer, na cidade de Pardinho, SP
h) Coberturas
As coberturas das edificações com materiais modernos são geralmente
utilizadas em construções de bambu – com aplicação de telhas muito leves, como as
de aço galvanizado, alumínio, policarbonato ou mesmo com telhas mais pesadas
como as cerâmicas ou fibras – visto que a exposição direta das telhas de bambu, em
sua forma natural ou tratada, não resiste às intempéries, excluindo o bambu desta
categoria de materiais para construção no método moderno.
Uma das maiores demonstrações de incremento tecnológico se realizou
na Colômbia, com a reconstrução da cidade de Manizales – exemplo de construção
moderna e contemporânea de bambu – após o grande incêndio em 1926,
aproveitando a prosperidade e o auge econômico que vivia com o comércio e
exportação do café (VÉLEZ, 2002).
A miscigenação das culturas indígenas de construção com bambu e as
novas tecnologias, com influências européias trazidas pelos arquitetos e
engenheiros que retornaram de seus estudos no exterior, criaram uma bela
arquitetura com bambu em diversos edifícios de usos variados. Entre as novas
tecnologias, destaca-se a argamassa de cimento Portland no revestimento das
paredes de réguas duplas de bambu, batizado de Bahareque Modificado, e nas
ornamentações das molduras, que remontam às edificações francesas (Figura 59).
79
Figura 59 – Edifícios históricos de Manizales, construídos com a técnica de bahareque, com detalhes da
arquitetura Francesa
Fonte: Vélez (2002)
No Peru, este tipo de desenvolvimento tecnológico pode ser observado no
Palácio de Viceroy Amat, em Lima, construído em 1938, com a utilização da técnica
de construção de paredes denominada Quincha Moderna, que utiliza argamassa de
cimento Portland no fechamento das paredes de tramas de bambu, assim como no
reboco de acabamento nas molduras e ornamentações. Segundo Hidalgo-López
(2003), todas as paredes, forros e estruturas de cobertura do Palácio são feitos em
bambu (Figura 60).
Figura 60 – Palácio Viceroy Amat, em Lima no Peru
Fonte: Lucius (2003)
A utilização do bambu em programas de habitação popular é um exemplo
de aplicação das técnicas modernas para fins de diminuição do déficit habitacional,
80
em diversos países da America Latina, com diversas tecnologias construtivas e
resultados satisfatórios relatados pelos usuários.
Pesquisas realizadas na Costa Rica indicam que 98% dos consumidores
de habitação em bambu consideram que suas casas são de igual ou melhor
qualidade em comparação com as construídas com outros materiais. Quando
questionados sobre o preço e vida útil, 100% dos consumidores relataram que era
de menor preço, com igual ou maior vida útil. E, ainda, 100% dos consumidores
acreditam que a casa tem a mesma aparência ou ainda melhor que as casas
convencionais (ADAMSON; LOPÉZ, 2001, citado por DANTAS et al., 2005).
Entre os exemplos de programas de habitação popular cita-se o Projeto
Nacional de Bambu, na Costa Rica, ao qual se refere a pesquisa referida
anteriormente. Patrocinado pelas Nações Unidas, iniciou-se em 1986, sob a direção
da arquiteta Ana Cecília Chaves, com a construção de 400 unidades habitacionais
com área de 45 m², construídas com painéis pré-fabricados de madeira, com
estrutura interna de colmos de bambu inteiros e fechamento duplo de ripas de
bambu, revestidas com argamassa de cimento e areia em ambos os lados da
parede (Figura 61). Realizada a primeira etapa e comprovada a viabilidade deste
material para as comunidades, a demanda foi aumentada para 1.500 casas por ano
(CARDOSO JR., 2000).
Figura 61 – Residências do Projeto Nacional de Bambu
Fonte: Funbambu (1992)
Outro exemplo de programa habitacional é o Projeto Malabar (Figura 62),
na cidade de Manizales, Colômbia, de autoria dos arquitetos Jorge Humberto Arcila
81
e Gustavo Gusmán, com unidades de até 59 m², construídas também com sistema
pré-fabricado de Bahareque moderno (CARDOSO JR, 2000). No Equador, na cidade
de Guayaquil, visando diminuir o grande déficit habitacional no país, realizou-se a
construção de residências de 36 m², também em construção pré-fabricada, o que
ofereceu grande rapidez de execução, utilizando-se painéis de bambu montados
pelos próprios moradores, após prévio treinamento.
Figura 62 – Corte esquemático do projeto e residências do Projeto Malabar
Fonte: Hidalgo-López (2003)
Com sede na cidade de Guayaquil, Equador, o projeto Viviendas del
Hogar de Cristo construiu, nos últimos 28 anos, casas para 270.000 famílias, com
oferecimento de casas modulares, com estrutura de madeira e fechamento de
bambu, normalmente de 4,8 m x 4,9 m (INBAR, 2001) (Figura 63).
Figura 63 – Casa de bambu do programa Viviendas Hogar de Cristo, Equador
Fonte: INBAR (2001)
82
A partir dos anos 1980, a arquitetura com bambu teve grande
desenvolvimento com as obras do arquiteto colombiano Simón Vélez, que utilizava o
concreto armado e madeiras para suportar enormes estruturas de cobertura em
bambu, com belos exemplos em diversas edificações espalhadas pelo mundo. Entre
as mais significativas cita-se a igreja de Pereira, na Colômbia (Figura 64), uma obra
provisória, que já foi desfeita; o complexo hoteleiro, em Guang-Zhou, na China;
algumas pontes na China e Colômbia e diversas residências e hotéis nos Estados
Unidos e no Brasil (Figuras 65 e 66).
Figura 64 – Igreja Nuestra Señora de la Pobreza, em Pereira, Colômbia
Fonte: Téchne (2006)
Figura 65 - Hotel do Frade & Golf Resort, Rio de Janeiro
Fonte: Marquez (2006)
83
Figura 66 – Residência, Rio de Janeiro
Fonte: Marquez (2006)
O Pavilhão Zeri, uma das maiores e mais importantes obras de Simón
Vélez, possui estrutura de cobertura de bambu em forma de polígono decágono,
com 30,50 m de vão, montada inicialmente na Colômbia para testes estruturais
realizados por técnicos da Universidade de Stuttgart, da Alemanha, que após sua
aprovação foi finalmente construído para a Exposição de Hannover, em 2000 (Figura
67), posteriormente desmontado.
Figura 67 – Pavilhão Zeri, construído como modelo em escala real, para Expo-Hannover
Fonte: Teixeira (2006)
Outro expoente colombiano na construção moderna com bambu é o
professor de arquitetura da Universidad del Valle, em Cali, o arquiteto Carlos
Vergara, projetista da grande sala de jantar do Cañas Gordas Country Club de Cali,
em 1987, com dimensões de 25 m x 25 m em vão livre, a maior área construída de
84
cobertura com bambu da Colômbia até os dias atuais.
Shoei Yoh, professor da Graduate School of Keio University, na cidade de
Keio, Japão, tem como especialidade os projetos de coberturas espaciais com
bambu, com obras como a Geodesic Cupola e a Gratting Shell Construction (Figura
68), inspiradas no artesanato local de cestarias de bambu, consistindo basicamente
em trançados de tiras de bambu revestido com argamassa de cimento. Localizados
na cidade de Chikuho Fukuota, no Japão, estes dois centros comunitários foram
construídos pela população local, com bambu nativo da região.
Figura 68 – Grating Shell
Fonte: Yoh (1994)
O arquiteto chinês Rocco Yim possui diversos trabalhos com estruturas de
bambu e sua obra de maior expressão internacional é o pavilhão intitulado “A casa
das culturas do mundo”, apresentada no Festival of Vision, no verão de 2000, em
Berlim, Alemanha, que consiste em uma grande estrutura de bambus inteiros, sem
revestimentos, ligados por encaixes, amarrações e pinos metálicos (Figura 69).
Figura 69 – A “Casa das Culturas” do Mundo
Fonte: Rocco Design Architects (2009)
85
Jules J. A. Janssen é engenheiro e perito conhecido por utilizar o bambu
como um material de construção e engenharia. Também já atuou como membro das
comissões de doutorado e de estudos em diversas universidades e foi o supervisor
do Projeto Nacional de Bambu na Costa Rica, a partir de 1987 até 1995 (Figura 70).
Figura 70 – Model house, de Jules Janssen, Costa Rica
Fonte: RWTH Aachen (2009)
Jörg Stamm nasceu em Drohlshagen, na Alemanha, é um carpinteiro
conhecido por suas impressionantes pontes de Guadua, com vãos de até 52 m. Em
agosto de 2000, ele organizou um workshop de técnicas de construção de pontes
para arquitetos, engenheiros e artesãos, em cooperação com o Deutsche
Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ). Este seminário mostrou que
também trabalhadores sem prática alguma em construções com bambu podem
produzir uma ponte em apenas três dias (Figura 71). Stamm possui também belos
exemplos de arquitetura com bambu, entre eles a Creche Pública e o Restaurante,
ambos em Popayán, na Colômbia, com estrutura das paredes e cobertura
totalmente em bambu (Figura 72).
Figura 71 – Ponte na Universidad Tecnológica de Pereira, Colômbia
Fonte: CONBAM (2009)
86
Figura 72 – Restaurante (esquerda) e Creche Pública em Popayán, Colômbia
Fonte: CONBAM (2009)
Darrel DeBoer é um arquiteto do norte da Califórnia, nomeado como um
dos 100 mais influentes designers e um dos 10 principais arquitetos verdes. Possui
vários projetos de arquitetura com bambu nos Estados Unidos e escreveu seis livros
sobre a arte da construção natural, com exemplos de diversas tecnologias de
construção de residências sustentáveis, como a Casa da Árvore, um chalé suspenso
construído em bambu para um resort no Havaí (Figura 73).
Figura 73 – Casa da Árvore
Fonte: CONBAM (2009)
Arquiteto colombiano, Marcelo Villegas é autor de vários livros sobre
arquitetura com bambu. Trabalhou juntamente com Simón Vélez no projeto do
Pavilhão Zeri; atualmente possui escritório em Manizales na Colômbia, atuando com
arquitetura sustentável (Figura 74, projetos de mobiliário e de objetos de madeira e
bambu.
87
Figura 74 – Residência de bambu e madeira em Guadalupe, México
Fonte: Villegas (2009)
O arquiteto e artista visual Antoon Versteegde frequentou escola de arte e
arquitetura na cidade de Hertogenbosch na Alemanha, especializando-se na
concepção monumental. Desde então, ele visa principalmente sua liberdade
artística, fora das paredes dos espaços de exposição, em locais públicos com
acesso livre para todos. Sua técnica de autoconstrução, conectando varas de bambu
com faixas elásticas, é facilmente passada para pessoas que desejam colaborar
espontaneamente (Figura 75). Seus projetos surgiram na França (1989), Suíça
(1992), Bélgica (1996), Dinamarca (1997), Alemanha (1997) e um grande número de
locais nos Países Baixos. A maioria das obras da Versteegde é temporária e,
consequentemente, desapareceram.
Figura 75 – Bamboo Super Circle, Exposição de Hannover 2000
Fonte: Expo (2000)
88
Arata Isozaki nasceu no Japão, em 1931, formou-se na Universidade de
Tóquio, em 1954. Após a criação de edifícios para bancos e a biblioteca em sua
cidade natal, Oita, foi selecionado para criar grandes estruturas civis pelo Japão,
como museus e estádios esportivos. Hoje, sua obra pode ser encontrada em todo o
mundo. Provavelmente, o melhor exemplo do bambu em seu design marcante é a
entrada para o Museu Nacional de Arte em Osaka, Japão (Figura 76).
Figura 76 – Museu Nacional de Arte em Osaka, Japão
Fonte: Kurozumi (2004)
Nascido em uma família de construtores, em Gênova, Itália, em 1937,
Renzo Piano estudou arquitetura e formou-se pela Faculdade de Arquitetura de
Milão. Juntamente com o arquiteto inglês Richard Rogers, ganhou o concurso
internacional para o Centro Georges Pompidou, em Paris. Desde então, seus
projetos têm sido construídos em todo o mundo, como o inovador Air Terminal, de
Kansai, em Osaka, Japão (construído em uma ilha artificial na baía). Piano continua
a ser uma fonte de inspiração e inovação para arquitetos de todo o mundo;
provavelmente, o melhor exemplo da influência do bambu em sua arquitetura é a
Tjibaou Centro Cultural, na ilha de Nova Caledônia, no Pacífico Sul, Ilhas da
Melanésia (Figura 77).
89
Figura 77 - Tjibaou Centro Cultural
Fonte: Oliveira (2005)
Frei Otto nasceu na Alemanha, em 1925; cursou arquitetura em Berlim,
lecionou arquitetura nos Estados Unidos e fundou o Instituto de Estruturas Leves da
Universidade de Stuttgart, quando escreveu seu primeiro livro sobre a utilização do
bambu na construção, intitulado “IL 31 – Building With Vegetal Rodsan overview”.
Ganhou a atenção internacional por projetar o Pavilhão da Alemanha Ocidental, na
Expo'67, em Montreal, e o Parque Olímpico para os Jogos Olímpicos de Verão de
1972, em Munique (Figura 78). Otto foi impulsionado pelas possibilidades de
utilização de materiais leves, como o bambu, em projetos de construção e foi
pioneiro nos novos métodos de concepção estrutural para pavilhões e estruturas de
todos os tipos.
Figura 78 – Cobertura para Parque Olímpico de Montreal
Fonte: http://www.arch.mcgill.ca
90
Residências e chalés com arquitetura e acabamentos requintados, de
tecnologia pré-moldada, totalmente construídas em bambu, são comercializadas
com êxito nos Estados Unidos, por empresas especializadas na área de construções
com bambu. Entre essas empresas, a americana Bamboo Technologies, presidida
pelo arquiteto Jeffree Trudeau, apresenta belos exemplos em suas edificações da
funcionalidade construtiva, rapidez de execução, beleza e qualidade do produto final
(Figura 79).
Figura 79 – Chalé em Mauí – EUA
Fonte: www.bambootechnologies.com (2010)
Poucos são os exemplos de edificações contemporâneas com bambu
construídas por arquitetos brasileiros. Em sua maioria, são protótipos desenvolvidos
em pesquisas, como a residência popular projetada e construída pelo engenheiro
Valentin Mamani Cordeiro, da Universidade de São Paulo, campus de São Carlos,
no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira, em 1989, com painéis de
bambu estruturados em quadros de madeira com revestimento de argamassa de
cimento e areia (Figura 80).
91
Figura 80 – Protótipo de residência em São Carlos
Fonte: Cortez (2003)
O atelier construído pelo artista plástico José Joaquim Sansano, em
Pindorama, São Paulo, em 1994, é um belo exemplo de edificação particular:
construído com 14 peças de bambu gigante (Dendrocalamus giganteus) de 8,50 m
de comprimento, o sistema construtivo foi formado com peças de 15 a 20 cm de
diâmetro, compondo dois triângulos invertidos de base de aproximadamente 5,00 m.
Como sistema de fechamento utilizou-se argamassa armada e chapas de madeira.
A edificação possui 42 m², distribuídos em dois pavimentos (Figura 81).
Figura 81 – Atelier do artista plástico José Joaquim Sansano
Fonte: Salgado et al. (1994)
O pioneiro em construção residencial no Brasil é o engenheiro e professor
da UNESP, campus de Bauru, Marco Antonio dos Reis Pereira, que em 1995 iniciou
92
a construção de uma casa de campo pelo sistema bahareque, com revestimento de
argamassa nas faces externas das paredes, visualizando-se internamente as tramas
de bambu, o que confere um ambiente esteticamente muito agradável e
termicamente confortável (Figura 82).
Figura 82 – Casa de Campo em Bauru-SP
O centro cultural Max Feffer, na cidade de Pardinho, interior do Estado de
São Paulo, é a maior edificação do Brasil com estrutura em bambu. Projetado pela
arquiteta Leiko Motomura, inaugurado em 2008, consiste basicamente em uma
estrutura de concreto armado de dois pavimentos, com estrutura de cobertura de
colmos inteiros de bambu, de aproximadamente 800 m², apoiados em pilares e vigas
de eucalipto, que se desenvolvem independentes da estrutura de concreto do prédio
(Figura 83).
Figura 83 – Centro Cultural Max Feffer
93
James Elkis é engenheiro civil e dedica atenção especial ao bambu,
associando o design contemporâneo ao tradicional, com beleza, qualidade e
racionalidade. Usa em seus projetos, além do bambu, também materiais como
piaçava, grama e madeira. Entre seus trabalhos estão o Bamboo Wach Tower, um
mirante em Taboão da Serra (Figura 83) e o Gazebo de Dois Andares, na Granja
Viana, ambos construídos em 2005, no Estado de São Paulo (Figura 84).
Figura 84 – Bamboo Watch Tower
Fonte: http//:www.bamboocraft.net (2009)
Figura 85 – Gazebo de Dois Andares
Fonte: http//:www.bamboocraft.net, 2009
O Pavilhão Roberto Magalhães, construído em 2003 (Figura 86), na
cidade do Rio de Janeiro, é uma das obras mais significativas da arquiteta Celina
Llerena, sócio-fundadora da Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa
Tecnológica Experimental em Bambu (EBIOBAMBU), fundada em 2002, no Rio de
Janeiro.
94
Figura 86 – Pavilhão Roberto Guimarães no Rio de Janeiro
Fonte: Ebiobambu (2007)
2.10.3 Método de substituição de materiais
De acordo com Widyowijatnoko e Trautz (2008), a sustentabilidade e a
flexibilidade do bambu são as principais razões de sua utilização como material de
substituição. Nesta categoria, o bambu é transformado, combinado ou conectado
com outros materiais, para se ajustar com o tipo de material convencional existente
de construção. Apresenta-se, a seguir, as formas de materiais de construção
substitutivas baseada em bambu.
2.10.3.1 Painéis de bambu
A utilização do bambu em forma de painéis teve início na China, durante a
Primeira Guerra Mundial, porém, na Ásia, só recentemente recebeu
desenvolvimento tecnológico, com fabricação de 28 tipos diferentes. Pode ser
utilizado como elemento estrutural ou simplesmente como fechamento não
estrutural, em edificações pequenas ou grandes, em diversas áreas como portas,
paredes, pisos, coberturas, forros, entre outras, de forma durável e com a
significativa vantagem de utilizar uma fibra natural sustentável (JAYANETTI;
FOLLET, 1998).
Moizés (2007) e Barelli (2009) desenvolveram pesquisas utilizando o
método de substituição de materiais, especificamente em painéis de bambu,
elaborando diversos projetos e confeccionando seus respectivos protótipos. O
estudo de Moizés (2007) promoveu uma interação entre os alunos dos cursos de
95
Desenho Industrial, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e de Design de
Interiores, do Instituto Ensino Superior de Bauru (IESB), na cidade de Bauru (São
Paulo), que pesquisaram e projetaram, em sala de aula e nos laboratórios
apropriados, protótipos de vários objetos, utilizando painéis de bambu. O estudo de
Barelli (2009) estruturou um modelo para a cadeia produtiva do bambu laminado
colado (BLC). Por meio de estudo de casos, o autor identificou os aspectos positivos
e negativos da cadeia produtiva do BLC, observando a sua utilização pelos
agricultores do assentamento “Terra Nossa” e pelos estudantes de Design da
UNESP-Bauru, que desenvolveram cinco projetos e um protótipo de móveis com o
produto.
Figura 87 – Protótipos desenvolvidos no Laboratório de Experimentação com Bambu da
Unesp-Bauru
Fonte: Barelli (2008)
Os painéis de bambu podem se dividir, conforme o material, da seguinte
forma:
ripas de bambu;
tiras finas de bambu;
partículas.
96
Através dessa divisão, os autores classificam as chapas de bambu
processado em:
Painéis de ripas de bambu
9 Compensado de bambu (Plyboo): a concepção das chapas
compensadas de bambu é baseada nas tecnologias de laminação das
madeiras convencionais. As ripas de bambu, após serem aparelhadas,
são coladas lateralmente, formando painéis que posteriormente serão
colados e sobrepostos. A colagem das camadas de painéis de bambu
se realiza transversalmente à direção das fibras, geralmente em
camadas impares. A sua utilização se dá nos mesmos moldes das
chapas de compensado de madeira convencionais, substituindo-as de
maneira integral nas construções, como formas para concreto armado,
vigas, montagem de estruturas, paredes, pisos entre outras (Figura
88). Os custos de produção das chapas de compensados de bambu,
em relação às madeiras convencionais brutas ou aparelhadas, são
ainda muito elevados para sua utilização plena na construção civil,
porém, se comparados às chapas compensadas convencionais,
oferecem vantagens econômicas pelo custo de produção do bambu e
sua rápida utilização após o plantio.
Figura 88 – Ripas de bambu coladas, utilizadas em estrutura de madeira para cobertura
Fonte: Widyowijatnoko e Trautz (2009)
97
9 Bambu Laminado Colado (BLC): é produzido por meio de colagem de
ripas de bambu a 90°, lateralmente, na direção longitudinal, utilizando
adesivos à base de água (Figura 89) (MOIZÉS, 2007).
Figura 89 – Bambu laminado colado
Fonte: Moizés (2007, p. 51).
Painéis de tiras de bambu trançado colado (bamboo strip board)
Na produção das chapas de esteira de bambu entrelaçado (Figura 90), as
tiras finas são classificadas quanto à qualidade, depois organizadas e trançadas,
posteriormente mergulhadas em adesivo e prensadas a quente, podendo ser
utilizadas diferentes fôrmas para moldar.
Esses produtos possibilitam diversas aplicações em interiores, como
revestimentos, mobiliário, tetos (forros), divisórias, entre outras aplicações. São
desenvolvidos na Índia desde 1956 e possuem características como rigidez e
flexibilidade, podendo ser prensado em temperaturas de 130 ºC.
Figura 90 – Amostras de esteiras de bambu moldado sob pressão
Fonte: Moizés (2007)
Painéis de bambu particulado
São produzidos com o mesmo processo utilizado para a madeira. O
colmo do bambu é moído ou triturado em partículas e seco em estufas; em seguida,
é misturado com um adesivo à base de resinas orgânicas ou de origem vegetal (óleo
98
de mamona), na proporção média de 10% da massa de partículas e, então, disposto
em formas (Figura 91) e prensado a quente. Esses materiais, mostrados na Figura
92, podem receber revestimento de lâminas de bambu ou mesmo de madeira, nos
dois lados da chapa.
Sua aplicação é destinada principalmente para divisória, portas ocas,
preenchimento de paredes, forros rebaixados e na fabricação de tampos para
mobiliário (MOIZÉS, 2007).
Figura 91 – Inserção do bambu particulado na forma
Figura 92 – Painéis de partículas de bambu sem revestimento
Fonte: Moizés (2007, p.57).
A variação deste painel é o composto de partículas ou flocos de bambu,
OSB (Oriented Strand Board of Bamboo), no qual as fibras de maior dimensão são
orientadas alternadamente e prensadas em colchão específico para essa finalidade.
São fabricados com a mesma tecnologia dos painéis de madeira. A sua aplicação é
destinada à estruturação de paredes, pilares e vigas de casas, divisórias para
interiores e edificações em geral.
Em investigações das propriedades físicas e mecânicas das chapas
prensadas de partículas de bambu, Pereira e José (2006 citados por PEREIRA;
BERALDO, 2007) concluíram que as chapas apresentam bom comportamento no
99
tocante ao inchamento. No entanto, o comportamento mecânico mostrou-se
insatisfatório, sobretudo em comparação com as chapas de aglomerados
convencionais.
Painéis ou Chapas compostas de bambu
Os painéis são fabricados utilizando-se o bambu como matéria-prima
básica e, dependendo da aplicação, são determinados os acabamentos superficiais.
Geralmente são fabricados de acordo com recursos de cada região e, na maioria
das vezes, são utilizados adesivos pouco agressivos ao meio ambiente e agregados
com outros materiais como resinas, madeiras, fibras. Como exemplos, pode-se citar:
painel de MDF revestido com ripas de bambu e pó de coco colado (Figura 93) e
painel com aplicação de tiras de bambu sobre papel de parede, muito utilizado
internamente como forro.
Figura 93 – Painel de MDF revestido com ripas de bambu e pó de coco colado
Fonte: Moizés (2007)
2.10.3.2 Compósitos de bambu
Outra forma de substituição dos materiais convencionais de construção é
a combinação do bambu, em suas diversas formas, com outros materiais, para se
tornar um compósito de bambu. Como exemplos, entre as diversas pesquisas com
materiais compostos cita-se:
Reforço do concreto com bambu – Bambucreto (Figura 94)
Até o momento, bambu tem sido a fibra natural mais utilizada
experimentalmente como reforço para concreto, devido a sua alta resistência à
tração (HIDALGO-LÓPEZ, 2003). A vantagem do uso de bambu como material de
reforço no concreto é a sua alta resistência à tração e o baixo preço. A resistência à
100
tração comum no reforço com aço é de 160 MPa e, em bambu, 20 MPa, uma
proporção de 1:8. A massa por volume do aço é 7850 kg/m
3
e a do bambu é de
cerca de 500-600 kg/m
3
, uma proporção de 1:16. Evidentemente, bambu será mais
barato porque o seu preço em relação ao peso próprio será menos da metade do
aço (JANSSEN, 2000).
De acordo com Pereira e Beraldo (2007), o uso do bambu em composição
com concreto é conhecido há muito tempo; segundo alguns relatos, anteriormente à
Segunda Guerra Mundial. Os autores ressaltam ainda, que se trata de um material
higroscópico, desse modo o envolvimento do colmo ou taliscas por soluções
impermeabilizantes e aspergidos de areia grossa, para melhor aderência, é
recomendável.
Beraldo (1990 citado por PEREIRA; BERALDO, 2007), construiu um
galpão agrícola em um terreiro para secagem, com placas de concreto armado com
varas de bambu da espécie Phyllostachys purpuratta. Desde 1990, efetua-se o
acompanhamento dessa construção, não tendo sido observadas a presença de
patologias ou defeitos importantes nas peças (PEREIRA; BERALDO, 2007).
Ferreira (2002), em estudos de vigas de concreto armado com ripas de
bambu, realizados na Universidade Estadual de Campinas, verificou que a utilização
de bambu como armadura longitudinal nas vigas de concreto é viável do ponto de
vista estrutural, pois é possível aplicar a mesma hipótese de cálculo utilizada no
concreto armado com aço, desde que se adotem coeficientes de segurança maiores.
Segundo a autora, o bambu terá um bom desempenho apenas se forem garantidas
a aderência entre o bambu e o concreto, utilizando-se algum tipo de tratamento,
como verniz com anéis de arame farpado.
Figura 94 - Ripas de bambu para reforço de concreto em Bali, Indonésia
Fonte: Widyowijatnoko e Trautz (2009)
101
Cimento e bambu particulado – Biokreto
Batizado no Brasil como Biokreto, trata-se de um concreto leve,
constituído pela mistura de pasta de cimento e pela substituição do agregado graúdo
(pedras ou pedregulhos), por partículas vegetais. Em certos casos, pode-se eliminar
o agregado miúdo (areia), diminuindo sua resistência mecânica.
A aplicação das partículas de bambu dá-se após a trituração e
peneiramento, com posterior lavagem em água quente ou imersão em solução
diluída de substancias alcalinas, como soda ou cal, para obter-se a eliminação
parcial do amido, que inibe a pega com o cimento. Em seguida, essas partículas são
secas e tratadas para serem adicionadas de cimento e água, dispostas em formas
que darão o formato final das peças.
Segundo Pereira e Beraldo (2007), este material compósito pode ser
utilizado sem reforço mineral na confecção de peças decorativas, em substituição de
argila expandida ou placas prensadas. No caso da matriz com reforço mineral
(areia), pode-se obter pisos sextavados, telhas de ótima resistência, com carga
máxima superior à exigida pelas normas suíças (450 N), assim como blocos
vazados, com resistência de tensão mínima dentro das normas vigentes obtidas pela
Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade de Campinas, FEAGRI,
utilizando-se máquinas vibro-compressoras no processo.
Segundo o professor Antonio Ludovico Beraldo, que atua no Laboratório
de Materiais e Estruturas da FEAGRI, desde 1994, o Biokreto apresenta algumas
vantagens em comparação com o concreto comum. A primeira delas é a questão
econômica, pois a matéria-prima é natural, portanto, disponível. Segundo, por
apresentar de 25% a 50% do peso do concreto comum, garante leveza aos
elementos, possui boa resistência ao fogo e é um excelente isolante térmico e
acústico.
A alcalinidade do cimento, segundo Beraldo, protege as partículas
vegetais contra o ataque de fungos e insetos, além disso, o material é fácil de ser
moldado, cortado, parafusado e pregado (Figura 95).
102
Figura 95 – Blocos de Biokreto
Fonte: http://www.redetec.org.br/inventabrasil/biokreto.htm
2.11 Conexões estruturais com bambu
As tecnologias das construções convencionais tiveram grande avanço
após a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, criando e aperfeiçoando
materiais, máquinas, equipamentos e mão-de-obra própria para cada metodologia
de construção desenvolvida.
Apesar da antiguidade das construções com bambu, o desenvolvimento
de tecnologia própria para o material vem acontecendo apenas nos últimos trinta
anos, carecendo de pesquisas para seu pleno emprego como material de
construção de qualidade.
Atualmente, em razão da escassez de recursos naturais e as questões de
sustentabilidade que envolvem materiais de construção e os altos custos em
decorrência destes aspectos, abriram caminho para novas tecnologias sustentáveis,
com uso de materiais renováveis de rápido crescimento, como o bambu.
De acordo com diversos autores, uma das maiores dificuldades do
emprego do bambu como material de construção são suas conexões. Por causa da
sua forma não perfeitamente circular, cônica, oca, com diversas dimensões em seu
comprimento, diâmetro e espessura de paredes, as conexões entre duas ou mais
peças de bambu requerem um tratamento diferente dos materiais sólidos ou ocos
com paredes resistentes, como as madeiras ou os tubos de aço, respectivamente,
que possuem tecnologia avançada para sua utilização.
103
Segundo Jayanetti e Follett (1998), as conexões entre as peças que
formam uma estrutura são fundamentais para a sua integridade, necessitando de
uma perfeita adequação dos materiais que nela serão utilizados.
Apesar da alta resistência à tração, o bambu é altamente suscetível ao
cisalhamento, principalmente em suas extremidades sem os nós, quando submetido
à compressão paralela ou perpendicular às fibras.
As limitações de utilização das conexões com bambu em suas estruturas
não encontram grandes obstáculos nas construções vernaculares e tradicionais,
visto que estas utilizam materiais muito leves em suas coberturas, pisos e painéis de
fechamento, resultando em um sistema no qual as solicitações, em diversos pontos
de sua estrutura, são relativamente baixas.
Porém, em edificações modernas, são necessárias maiores resistências
estruturais visto que os projetos possuem maiores dimensões, cargas e vãos,
atuando muitas vezes em conjunto com materiais usuais. Além das exigências dos
usuários por melhor qualidade de acabamento e durabilidade, aspectos que
direcionam para o desenvolvimento tecnológico nas construções com bambu e suas
conexões, são elementos primordiais para a estabilidade estrutural.
2.11.1 Conexões tradicionais
Denominam-se conexões tradicionais os diversos tipos de conexões
empregadas nas construções vernaculares e tradicionais (relatadas nesta
dissertação, no item Construções com bambu).
As diversas experimentações práticas das conexões determinaram suas
diferentes características, aperfeiçoadas com o decorrer dos anos, de maneiras
próprias nas diversas culturas. Segundo Janssen (2000), os critérios de
confiabilidade para usos das conexões tradicionais são de que seu conteúdo deve
conhecido e aceito; este conhecimento deve ser considerado tradicional, antigo e
puro; deve ser de conhecimento geral dos construtores daquela cultura; e, possuir
uma estrutura social sem perturbação com um padrão social bem reconhecido.
Os relatórios técnicos são fonte de informações sobre a eficiência das
estruturas de bambu tradicionais, com avaliações do desempenho de algum tipo
particular de edificação. Esses relatórios, quando efetuados após algum tipo de
104
desastre, como tempestades de vento, fortes chuvas, terremotos, entre outras,
podem descrever a reação destas estruturas, escolhendo as que melhor se
comportam em diferentes situações, aplicando-se esse conhecimento no futuro.
Os critérios de confiabilidade desses relatórios estabelecem que eles
sejam efetuados por engenheiros reconhecidos, com experiência adequada no
campo das estruturas e que devem conter informações detalhadas dos métodos
envolvidos no processo construtivo das estruturas tradicionais.
As conexões tradicionais são baseadas principalmente em encaixes
adicionados ou não de amarrações com cordas, perfurações para passagem de
amarrações, pinos de bambu ou madeira para apoio de amarrações e cavilhas para
travamentos.
Os principais entalhes para encaixe das conexões são os seguintes:
a) Corte boca-de-peixe
Característico das construções com bambu, esse tipo de corte é o
precursor dos entalhes em estruturas tubulares de outros materiais, como o aço.
Sua execução é simples, podendo ser realizada com ferramentas manuais, como
serrote ou facão, com o entalhe sempre próximo ao nó, em média de cinco a sete
centímetros distantes deste, independentemente do diâmetro do colmo, com
posterior retirada da camada mole do interior do corte e acerto de arestas com lima,
para um perfeito encaixe (Figura 96).
Figura 96 – Corte tipo boca-de-peixe, realizado com ferramental moderno
105
As variações do entalhe boca-de-peixe são a boca-de-cayman e
boca-de-tubarão, diferenciadas pelo ângulo de corte aprofundado em uma das
laterais do entalhe, para o perfeito encaixe das peças, de acordo com seu
posicionamento na estrutura (Figura 97).
Figura 97 - Derivações do corte boca-de-peixe
Fonte: Ebiobambu (2007)
b) Corte tipo flange
As confecções de entalhes com flanges criam abas laterais retas,
utilizadas como anteparos para os elementos sobrepostos, evitando o deslocamento
por rolamento quando submetidos a esforços laterais (Figura 98). Estas abas podem
também ser encaixadas em furações no elemento ao qual irá se conectar, podendo
receber, posteriormente, amarrações, pinos e cavilhas, para melhor estabilidade
(Figura 99).
Figura 98 – Corte tipo flange
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003)
106
Figura 99 – Corte tipo flange para encaixe em perfurações
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003)
c) Corte diagonal e diagonal parcial
São muito utilizados em estruturas de cobertura, nas quais a presença de
conexões diagonais é muito comum. O ângulo de corte dos entalhes diagonais deve
ser previamente simulado, utilizando-se as peças que comporão a conexão, em
virtude da grande variação de diâmetros dos colmos de bambu (Figura 100).
Figura 100 – Corte diagonal e diagonal parcial
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003)
As amarrações utilizam fibras vegetais – como tiras de bambu, sisal e
cipós ou até mesmo tiras da casca de cana de açúcar, muito utilizada na Indonésia.
Uma forte conexão é obtida quando as amarras são passadas em torno de cada
membro, pelo menos duas vezes, em forma de atadura e, posteriormente, faz-se a
ligação dos membros em pelo menos três vezes. As voltas em torno de cada colmo,
em forma de atadura, resistem às forças de divisão e as amarrações seguram a
montagem firmemente na posição (CUSAK, 1999).
As perfurações para apoio das amarrações podem ser efetuadas com a
107
utilização de ferramentas manuais – como peça metálica pontiaguda ou perfuratriz
manual tipo arco de pua. Tradicionalmente, os asiáticos utilizam o método de
perfuração por queima da parede do colmo com uso de ponta metálica aquecida em
brasas.
Os pinos têm a função de fazer a ancoragem das amarrações que
efetuam as ligações, transferindo os esforços para as paredes do colmo (Figura
101). Possuem dimensão de 8 a 12 mm de diâmetro, para colmos de
aproximadamente 70 mm de diâmetro, inseridos em perfurações realizadas
manualmente. Os pinos, quando forem de bambu, devem ser secos, pois a retração
do material verde ocasiona o afrouxamento e a separação da peça (CUSACK,
1999).
Figura 101 – Conexão com pino e amarração para travamento de conexão
Fonte: Cusack (1999)
A utilização de cavilhas para ligação de elementos é também muito
utilizada nas construções tradicionais, podendo ser de madeira dura ou de taliscas
de bambu seco. Suas dimensões variam de acordo com o tipo de ligação efetuada,
não devendo possuir grandes dimensões para evitar rachaduras nos colmos,
quando submetidas a solicitações de esforços.
Segundo Jayanetti e Follett (1998), as conexões tradicionais podem ser
classificadas de acordo com a disposição dos elementos que realizam as ligações:
Grupo 1: conexões de elementos na mesma direção
Grupo 2: conexões de elementos ortogonais
Grupo 3: conexões de elementos diagonais
Grupo 4: conexões de elementos passantes
108
Grupo 1 – conexões de elementos na mesma direção
Em alguns projetos estruturais, existem peças que possuem grandes
dimensões e, apesar de algumas varas de bambu chegarem a ter mais de 30 m de
altura, encontram-se algumas características que dificultam o uso de uma única
vara, como o transporte de peças muito longas, a perda das características
mecânicas entre o topo e a base, a diferença do diâmetro entre o topo e a base e o
aparecimento de ramos na ponta da vara. A solução mais adequada é juntar os
colmos de diferentes varas com as características necessárias e uni-las formando
um único elemento.
As conexões de mesma direção realizam-se quando dois ou mais colmos
de bambu se ligam em linha para formar uma única peça estrutural, podendo ser
realizadas de quatro maneiras diferentes:
a) Conexões de mesma direção, sobrepostas de colmos inteiros
A sobreposição deve possuir transpasse de, pelo menos, um internó;
posteriormente, são amarrados com cordas de tiras de bambu e travados com
utilização de cavilhas, que neste tipo de ligação melhora sua resistência, já que a
amarração não impede o escorregamento dos elementos quando submetidos a
esforços de tração (Figura 102).
Figura 102 – Conexão por sobreposição dos colmos
Fonte: Jayanetti e Follett (1998, p. 64)
b) Conexões de mesma direção sobrepostas de colmos cortados ao
meio
A sobreposição deve se realizar com o transpasse de, no mínimo, um
internó, com encaixe de colmos cortados ao meio, de diâmetros aproximados,
109
amarrados com cordas de tiras de bambu, para a estabilidade do sistema, e
utilizando cavilhas de transpasse das peças, para proporcionar resistência aos
esforços de tração (Figura 103).
Figura 103 – Conexão de sobreposição de meio colmo
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
c) Conexões de mesma direção a topo com talas de bambu
Colmos cortados em forma de talas com diâmetros similares; as peças
que serão unidas a topo são sobrepostas aos colmos em uma extensão de pelo
menos dois internós, posteriormente amarradas e adicionadas de cavilhas (Figura
104).
Figura 104 - Conexões a topo com talas de bambu
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
d) Conexão de mesma direção a topo com luvas ou tarugos de
bambu
Colmos de bambu de diâmetro aproximado às peças que serão ligadas;
são cortados em forma de luva, posteriormente conectados externamente a dois
110
colmos unidos a topo ou em forma de enchimento (tarugamento), unindo-os
internamente (Figura 105).
Figura 105 – Conexão a topo com luvas ou tarugos de bambu
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
Deve-se cortar o enchimento de união com o mesmo tamanho do
espaçamento entre os nós das duas varas que receberam o corte, fazendo com que
o nó central do tarugo se situe o mais centralizado possível na junção das duas
peças (Figura 106).
Figura 106 – Conexão a topo com tarugo de bambu
Fonte: Marçal (2008)
Grupo 2 - Conexões de elementos ortogonais
É o tipo de conexão que liga elementos horizontais aos verticais em
ângulo reto. Os tipos de conexões mais comuns utilizados nas ligações de
elementos ortogonais, em construções tradicionais são:
111
a) Conexões ortogonais a topo
É a ligação de um elemento horizontal diretamente sobre um elemento
vertical. O típico exemplo desta conexão são as cumeeiras de coberturas, nas quais
um entalhe tipo boca-de-peixe no colmo vertical garante um bom apoio ao colmo
horizontal. Este entalhe deve ser realizado sempre próximo ao nó, para diminuir o
risco de cisalhamento.
As conexões simplesmente apoiadas não garantem, porém, resistência à
sucção ocasionada por ventos e o efeito de rolamento, por causa das cargas laterais
(Figura 107).
Figura 107 – Conexão a topo
Fonte: Dunkelberg (1996)
A execução de amarrações que unem os elementos com passagem por
perfurações no colmo vertical garante a estabilidade do sistema contra os efeitos de
sucção e rolamento lateral (Figura 108).
Figura 108 – Conexão a topo com adição de amarração
Fonte: Dunkelberg (1996)
112
Quando o diâmetro dos elementos deste tipo de conexão é parecido, a
possibilidade de rolamento lateral é maior, necessitando – além das amarrações de
união dos elementos – uma atadura ou bandagem no colmo vertical, para reforço de
suas abas laterais, suscetíveis a rachaduras (Figura 109 e 110).
Figura 109 – Conexão a topo com amarração e bandagem
Fonte: Dunkelberg, 1996).
Figura 110 – Foto de uma conexão com bandagem
Fonte: RWTH Aachen (2009)
113
As colocações de pinos passantes no elemento vertical evitam o corte por
atrito das amarrações nas paredes dos furos e proporcionam uma boa ancoragem
para as cordas, melhorando o sistema de fixação. Estes pinos podem ser de
madeira dura ou de taliscas de bambu (Figura 111).
Figura 111 - Conexão a topo com amarração e bandagem e pino de madeira
Fonte: Dunkelberg (1996)
O corte boca-de-peixe pode ser substituído por outros modelos – como o
entalhe reto, realizado no topo do elemento vertical, preservando duas abas laterais
que servirão de anteparo para o elemento horizontal ou, em outro exemplo, estas
abas podem transpassar perfurações realizadas no elemento horizontal (Figuras 112
e 113).
Figura 112 – Conexão a topo com entalhe reto
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
114
Figura 113 - Conexão a topo com entalhe reto e perfuração para cavilhas
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
Outra maneira de criar abas para melhor estabilidade do sistema é a
utilização de duas ripas de bambu ou de madeira dura, amarradas lateralmente ao
colmo vertical. A utilização de pinos para fixação das amarrações é recomendada
nas conexões a topo (Figura 114).
Figura 114 – Conexão a topo com ripas laterais
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003)
A variação deste método, muito utilizado na Ásia por sua leveza e
facilidade de construção, é efetuada com a extensão em uma das paredes do
entalhe boca-de-peixe, formando uma tira que durante a montagem da ligação
envolve o elemento vertical, posteriormente amarrada com cordas de fibras naturais
(Figura 115).
115
A melhor execução dessa ligação é em colmos de paredes finas, com a
retirada superficial do parênquima, preservando uma fina tira da casca do bambu. O
entalhe deve ser executado próximo ao nó, evitando a quebra durante a dobra e
amarração (DUNKELBERG, 1996).
Figura 115 -Conexão a topo com extensão em forma de tira
Fonte: Dunkelberg (1996, p. 146)
b) Conexões ortogonais laterais simples em ângulo reto
São as ligações em que apenas um colmo horizontal é apoiado
lateralmente a um colmo vertical em ângulo reto. Neste tipo de ligação, as forças do
elemento horizontal, por atrito entre as partes, são transferidas ao elemento vertical,
auxiliados por amarrações e cavilhas, com a finalidade de evitar o escorregamento
do colmo horizontal (JAYANETTI; FOLLET, 1998).
Esta ligação pode utilizar o entalhe boca-de-peixe e perfuração no
elemento vertical, seguido de amarração com cordas de tiras de bambu entre os
elementos para estabilização do sistema.
Dunkelberg (1996) citou que o acréscimo de uma amarração em forma de
atadura, no elemento vertical, evita que o colmo rache e sua localização, próxima ao
nó do colmo, impede seu escorregamento. Observou também que a corda de
ligação pode sofrer danos na furação, por atrito com a parede do colmo (Figura 116).
116
Figura 116 – Conexão lateral simples com acréscimo de atadura no elemento vertical
Fonte: Dunkelberg (1996)
Para maior rigidez do encaixe simples, pode-se utilizar o sistema de
travamento com uma peça de madeira dura e perfuração em uma de suas
extremidades, a qual, após atravessar o colmo vertical, é travada com uma cunha,
também de madeira, inserida no elemento horizontal. Este sistema é usualmente
conhecido como conexão de chave ou cupilha (Figura 117).
Esta conexão oferece travamento em todas as direções dos esforços
solicitantes, porém, necessita de grande quantidade de furos, o que favorece as
rachaduras nos colmos. Perfurações cilíndricas na chave, assim como na cupilha,
melhoram o rendimento esta deficiência, entretanto, este sistema é mais
recomendado para colmos de grande diâmetro (DUNKELBERG, 1996).
Figura 117 - Conexão lateral simples com sistema de chave
Fonte: Dunkelberg (1996)
117
A utilização de tarugamento com peças de bambu ou madeira nas
ligações laterais também pode ser usada. Este sistema de encaixe não permite que
o elemento horizontal deslize quando submetido aos esforços (Figura 118).
Figura 118 – Tarugamento para ligações laterais
Fonte: Jayanetti e Follett (1998, p. 56).
Esta ligação, porém, diminui a resistência do elemento vertical, pelo
diâmetro da perfuração necessária para o encaixe, podendo causar o rompimento
por cisalhamento da peça. É aconselhável que a perfuração, bem como o elemento
horizontal, possuam nós próximos à ligação, podendo ser utilizadas amarrações
para melhor fixação das peças, assim como ataduras, para evitar rachaduras nos
colmos (DUNKELBERG, 1996) (Figura 119).
Figura 119 – Tarugamento de conexão lateral com amarrações
Fonte: Dunkelberg (1996)
118
Outra variação de conexão lateral simples é a utilização do corte
boca-de-peixe acrescido de entalhes retos em suas laterais, travados com uso de
cunha de madeira dura ou bambu. Este tipo de encaixe possui um corte de difícil
execução, além de ser muito frágil às quebras durante a execução da montagem,
com baixa eficiência, necessitando de amarrações para estabilidade estrutural
(Figura 120).
Figura 120 – Conexão lateral simples com uso de cunha de madeira
Fonte: Dunkelberg (1996)
c) Conexões ortogonais laterais duplas em ângulo reto
São as ligações dos elementos horizontais, realizadas lateralmente aos
elementos verticais, em que dois colmos são apoiados no elemento vertical, em
ângulo reto. Podem ser realizadas com as mesmas técnicas das ligações simples,
com diferenciações em suas amarrações (Figura 121).
Figura 121 – Conexão lateral dupla em ângulo reto
Fonte: Dunkelberg (1996)
119
O entalhe característico desta ligação, comum na cultura asiática, é a
preservação apenas da casca lateral de um internó, dobrado em torno do elemento
vertical para realização dos cantos. Utiliza-se, normalmente, espécies de paredes
finas com amarrações, furações e cavilhas sempre próximas aos nós (Figura 122).
Figura 122 – Conexão lateral dupla com dobra em ângulo reto
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
d) Conexões ortogonais laterais duplas em linha
São as ligações dos elementos horizontais, realizadas lateralmente aos
elementos verticais, em que dois colmos são apoiados no elemento vertical em
linha.
O modo tradicional asiático consiste no entalhe de boca-de-peixe, furação
nos elementos verticais e posterior amarração com cordas de bambu. As
extremidades dos elementos verticais devem possuir nós próximos aos encaixes,
podendo ser acrescida uma atadura para reforço, caso não haja esta coincidência
(Figura 123).
Figura 123 – Conexão ortogonal lateral dupla em linha, entalhe boca-de-peixe
Fonte: Dunkelberg (1996)
120
Em substituição ao encaixe boca-de-peixe, o entalhe com corte reto no
elemento horizontal pode ser simplesmente encaixado em orifícios no elemento
vertical, podendo receber amarrações para melhor estabilidade. Perfurações para
amarrações e utilização de pinos para sua ancoragem, podem ser executados neste
tipo de conexão (Figura 124).
Figura 124 – Conexão ortogonal lateral dupla em linha, entalhe com corte reto
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
e) Conexões ortogonais sobrepostas
São formadas quando duas ou mais peças se cruzam ortogonalmente, de
maneira sobreposta. O escorregamento entre as partes é um dos maiores
problemas neste tipo de conexão, visto que a área de contato entre as peças é muito
pequena e as amarrações, mesmo com utilização de pinos, são pouco eficientes
quando sujeitas a maiores cargas.
A maneira tradicional, muito utilizada pelos asiáticos, é a de apoiar o
elemento horizontal em uma ramificação lateral do colmo, porém, este sistema
possui pouca eficiência estrutural em função da pequena área de contato entre as
partes e a necessidade de coincidência da ramificação no lugar necessário à
conexão (Figura 125).
Figura 125 – Conexão sobreposta tradicional Asiática
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
121
A execução de consoles em bambu, para apoio dos elementos
horizontais, reduz as fissuras nas vigas de bambu e melhora a estabilidade do
sistema. Cavilhas podem ser utilizadas para transmitir os esforços do console para o
elemento vertical, auxiliadas por amarrações com cordas de fibras vegetais (Figura
126).
Figura 126 - Execução de console para apoio do elemento horizontal
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
Vários tipos de conexões sobrepostas inclinadas são utilizados em
estruturas de cobertura tradicionais, com uso de amarrações, pinos, cavilhas
passantes de madeira e consoles de apoio às vigas e terças (Figura 127).
Figura 127 - Conexões por sobreposição inclinadas
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
Grupo 3 - Conexões de elementos diagonais
Muito utilizadas em coberturas para transmissão de esforços por meio de
treliças, as conexões diagonais utilizam-se de encaixes tipo boca-de-peixe, nas
122
quais o maior obstáculo é a diferença de diâmetros dos diversos elementos que
compõem a estrutura, além da obtenção do ângulo exato para o corte, necessitando
de ferramentas mais precisas que as utilizadas nas construções tradicionais (Figura
128).
Figura 128 – Conexões diagonais
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
As conexões entre elementos diagonais utilizam os mesmos métodos das
demais conexões tradicionais, com uso de simples encaixe, amarrações simples,
amarrações utilizando perfurações e uso de pinos para travamentos destas.
a) Conexões diagonais com elementos horizontais
Este tipo de conexão é muito comum em estruturas de coberturas
tradicionais, no apoio das longarinas diagonais ou banzo superior, sobre as vigas
horizontais. As amarrações são necessárias para combater o efeito de sucção do
vento, porém, tem baixa eficiência ao escorregamento do elemento diagonal e ao
esmagamento por compressão do elemento horizontal (Figura 129).
Figura 129 – Conexão diagonal com elemento horizontal
Fonte: Dunkelberg (1996)
123
Outro exemplo deste tipo de ligação encontra-se nas cumeeiras das
coberturas tradicionais, nas quais dois elementos diagonais são apoiados em um
elemento horizontal, que deverá receber enchimento de madeira ou bambu para
evitar seu esmagamento por esforços de compressão perpendicular às fibras (Figura
130).
Figura 130 – Conexão diagonal com dois elementos horizontais
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003)
A montagem da estrutura de cumeeira em construções asiáticas possui
uma solução muito simples, com o corte do colmo preservando apenas da casca do
bambu, que efetua o contorno do elemento horizontal (Figura 131).
Figura 131 – Conexão diagonal com elemento horizontal em cumeeiras
Fonte: Dunkelberg (1996)
Cavilhas, pinos para ancoragem de amarrações e entalhes tradicionais da
cultura asiática são também utilizados nesta região das coberturas (Figura 132).
124
Figura 132– Conexão diagonal com elemento horizontal em cumeeiras com cavilha
Fonte: Dunkelberg (1996)
b) Conexões diagonais com elementos verticais e horizontais
Usualmente, este tipo de conexão encontra-se em coberturas, na ligação
do pilar (elemento vertical), da viga ou flexal (elemento horizontal) e banzo superior
(elemento diagonal). As amarrações, com auxílio de pinos para ancoragem, das
cordas aos pilares são fundamentais para evitar a sucção por ventos, do elemento
diagonal e vertical. Os esforços perpendiculares aos pilares, ocasionados pela
compressão diagonal da cobertura, devem ser travados com cavilhas de madeira,
evitando o escorregamento, realizando a ligação dos três elementos (Figura 133).
Figura 133 - Conexão diagonal com elementos verticais e horizontais em flexal de estrutura de
cobertura
Fonte: Dunkelberg (1996)
125
Grupo 4 – Conexões por transpasses dos elementos
Os elementos podem conectar-se com o transpasse de colmos de menor
diâmetro pelos colmos de maior diâmetro, sendo possível utilizar travamentos de
cavilhas, pinos e amarrações. Muito utilizado em cercas, peitoris e confecção de
portas e janelas, apresentam excelente aspecto estético, porém oferecem pouca
resistência estrutural, mesmo em construções tradicionais (Figura 134).
Figura 134 – Conexão por transpasse
Fonte: Hidalgo-Lopéz (2003, p. 230)
Jayanetti e Follet (1998), Janssen (2000) e Hidalgo-López (2003) listaram
uma série de aspectos para melhoria do desempenho das conexões tradicionais:
a) Utilizar colmos de bambu maduros
, com pelo menos três anos de idade
e dimensões apropriadas para estruturas; os mais recomendados são os das
espécies gigantes, com paredes com espessuras superiores a 9 mm (HIDALGO-
LÓPEZ, 2003).
b) Realizar as conexões próximas aos nós: a presença dos nós nas
ligações aumenta em 50% a resistência ao cisalhamento ao longo das fibras; caso
contrário, as cargas verticais transmitidas neste apoio podem causar um
esmagamento das peças, comprometendo as ligações (Figura 135). Contudo, se
não for possível a coincidência dos nós em cada extremidade das peças, pode-se
126
optar pela utilização de um segmento de madeira ou mesmo um nó de bambu, de
mesmo diâmetro, em seu interior.
Figura 135 - Localização das conexões próximas aos nós e uso de tarugamento
Fonte: Lopéz (2003)
c) Reduzir a quantidade de furos: as furações, cortes e entalhes diminuem
consideravelmente a resistência do bambu, devendo ser realizadas também
próximas aos nós, com atenção à direção dos esforços, evitando-se o alinhamento
destas intervenções. O formato das furações deve ser arredondado, evitando-se as
quinas, que quando solicitadas tendem a fissurar facilmente.
d) Utilizar colmos de bambu secos: o uso do bambu seco é recomendado,
por possuir maior resistência aos esforços e menor tendência de retração do que
quando utilizado verde, o que causaria a falência da conexão.
e) Melhorar a durabilidade: os tratamentos preservativos tradicionais dos
colmos de bambu melhoram as características mecânicas das conexões estruturais
e prolongam a vida útil das edificações.
2.11.2 Conexões contemporâneas
O bambu é um material tradicional e muito ainda precisa ser feito antes
que seja reconhecido como um material moderno e confiável como o aço, madeira e
concreto. Um esforço total é necessário para desenvolver padrões internacionais,
regras de utilização e de cálculos, porém, o bambu pode ter a vantagem do
desenvolvimento tardio. Para madeira e aço, por exemplo, diferentes regras de
cálculos são usadas em todo o mundo e nunca haverá um único sistema aceito. O
bambu definitivamente irá escapar a este destino (JANSSEN, 2000).
127
Janssen (2000) adotou a análise do conjunto de esforços a que são
submetidas as ligações com o bambu como princípio orientador para classificação
das conexões estruturais contemporâneas, seguindo as seguintes disposições:
a conexão entre colmos de bambu pode se realizar por meio do
contato entre a secção transversal completa ou pelas forças
provenientes da secção transversal para um elemento de adesão;
os esforços podem ocorrer interna ou externamente ao colmo;
os esforços podem ser paralelos ou perpendiculares às fibras.
Com base nesses critérios, pôde organizar os tipos de articulações,
dividido-os nos seguintes grupos:
Grupo 1 - Secção transversal completa
Na prática, a junção mais prevalente é a que é feita com conexões
envolvendo a secção transversal completa do colmo. A utilização de amarrações
para manter os bambus posicionados é a mais tradicional conexão desta categoria
(Figura 136).
Figura 136 – Conexões envolvendo a seção transversal completa
Fonte: Janssen (2000)
128
Grupo 2 – Conexões do interior para um elemento paralelo
Neste caso, os esforços são transmitidos por um elemento paralelo
interno ao colmo. Enchimentos com argamassa de cimento, epóxi e tarugos de
madeira para fixação de esperas metálicas são exemplos desta categoria (Figura
137).
Figura 137 - Conexões internas de elemento paralelo
Fonte: Janssen (2000)
Grupo 3 - Conexões da seção transversal para um elemento paralelo
Neste grupo, existem conexões com pinos de aço ou madeira, paralelas
ao eixo do colmo de bambu. No entanto, na maioria dos casos, esses pinos são
mantidos no lugar por outros pinos ou parafusos, ligados axialmente nas paredes da
seção do colmo, que realizam a transferência de esforços (Figura 138).
Figura 138 – Conexões da seção transversal para elemento paralelo
Fonte: Janssen (2000)
129
Grupo 4 – Conexões da seção transversal para elemento
perpendicular
Neste grupo, os esforços são transferidos para as paredes da seção
transversal do colmo por elementos perpendiculares à direção do colmo, em forma
de pinos e parafusos metálicos. Chapas de madeira ou plybamboo são também
utilizadas neste caso (Figura 139).
Figura 139 – Conexões da seção transversal para elemento perpendicular
Fonte: Janssen (2000)
Grupo 5 – Conexões do exterior para o elemento paralelo
Neste grupo, os esforços são transferidos aos elementos paralelos pelas
paredes externas do colmo. Como exemplos, pode-se citar as amarrações por
cordas ou cabos de aço e, mais recentemente, a utilização de presilhas metálicas
(Figura 140).
130
Figura 140 – Conexões do exterior para elemento paralelo
Fonte: Janssen (2000)
Segundo Jayanetti e Follett (1998), baseados nos métodos tradicionais e
explorando a resistência e as vantagens do bambu, um grande número de conexões
modernas vem sendo desenvolvido para oferecer eficientes soluções estruturais nos
problemas das conexões com bambu. No entanto, sua adoção e a adequação
dependerão em grande medida do custo e disponibilidade de materiais,
equipamentos e mão-de-obra qualificada.
Exemplos recentes incluem:
a) Chapas de Gusset
Placas de madeira compensada ou de madeira simples são fixadas
lateralmente aos colmos, em ambos os lados, com parafusos ou cavilhas de bambu,
oferecendo maior rigidez e resistência quando comparado ao sistema de conexão
tradicional por amarrações. Estas placas podem servir também de apoio tipo console
para elementos transversais, como mostrado na Figura 141.
Figura 141 – Chapas de Gusset
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
131
As chapas metálicas, em substituição às chapas de madeira, são um
recurso para estruturas que exigem maiores resistências e flexibilidade no desenho
das ligações. Utilizam parafusos e porcas para fixação das conexões aos colmos,
podendo ainda receber enchimentos com argamassa, para maior eficiência do
conjunto, possibilitando o aperto dos parafusos sem o comprometimento dos
colmos, tornando o sistema ideal para construção de estruturas espaciais (Figuras
142 e 143).
Figura 142 – Chapas de ligação metálica
Fonte: Cusack (1999)
Figura 143 – Chapas de ligação metálica de Mark Mortimer
Fonte: http://www.bamboocraft.net
b) Conexão ITCR
Desenvolvida pelo Instituto Tecnológico, na Costa Rica, é uma variação
da conexão de Gusset. Consiste na inserção de chapas de compensados coladas
em entalhes serrados nas terminações dos colmos (Figura 144). Durante a cura da
132
cola, a montagem pode ser mantida com auxílio de presilhas de fixação. A
desvantagem deste método é que as terminações dos colmos permanecem abertas,
o que diminui sua resistência, além da dificuldade de confecção e colagem no
campo ou canteiro de obras.
Figura 144 – Conexão ITCR
Fonte: Janssen (2000, p. 105)
Piano (citado por RWTH AACHEN, 2009), arquiteto italiano, desenvolveu
uma moderna conexão utilizando uma derivação da conexão ITCR, apresentada no
Building Workshop, em 1997, em Nova Iorque; substituiu as chapas de madeira por
esbeltos perfis de aço inoxidável, que ligados entre si formam uma base para
utilização em estruturas espaciais de cobertura (Figura 145).
Figura 145 – Conexão de Renzo Piano
Fonte: RWTH Aachen (2009)
133
c) Conexão Arce: esta técnica foi desenvolvida por Oscar Antonio
Arce-Villalobos, também no ITCR, em 1993. Baseia-se na inserção de madeira nas
terminações dos colmos, que recebem pequenos cortes longitudinais para
acomodação dos enchimentos, fixados com cola. Parafusos, pregos e chapas de
aço convencional, de utilização em estruturas de madeira, podem ser utilizados para
realização das ligações, depois de efetuado o enchimento (Figura 146).
Esta técnica, apesar de utilizar elementos simples como madeira e
bambu, é de difícil execução, em razão da grande variação de diâmetros dos
colmos, necessitando realizar-se um enchimento específico para cada colmo.
Figura 146 – Conexão Arce
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
O incremento da ligação de Arce é realizado pela inserção e colagem com
epóxi de peças metálicas delgadas (C, D e E), indicadas na Figura 147, em ranhuras
nos tarugos de madeira (B), que servirão de ponto de ligação por meio de soldas e
parafusos, utilizados em estruturas metálicas convencionais.
Figura 147 – Inserção de peças metálicas em tarugos de madeira
Fonte: Arce-Villalobos (1993)
134
d) Conexão Bambutec: Bambutec é uma empresa alemã que fabrica e
comercializa um sistema patenteado que utiliza peças de madeira para conexão de
colmos de bambu. As peças de madeira, assim como os colmos, recebem usinagem
característica do encaixe, que se estabiliza e transmite os esforços com uso de cola
e pinos passantes (Figura 148).
Figura 148 – Conexão Bambutec
Fonte: http://www.bambutec.org, 2009
e) Conexão de Morisco e Mardjono: esta é também uma alteração da
conexão Arce, desenvolvida por Morisco e Mardjono, em 1995. O interior das
superfícies dos colmos a serem unidas é limpo com uma escova de aço e logo após,
por uma perfuração lateral, é aplicada resina para ligação do enchimento de madeira
com as paredes do colmo. Furos podem ser realizados e parafusos podem ser
instalados após a cura do adesivo.
A inserção de cola deve ser realizada por bomba manual, em perfurações
nas laterais dos internós ou pelo topo, quando permitido, retirando-se o diafragma.
Pequenos orifícios para a saída do ar de dentro da câmara devem ser efetuados,
para que o adesivo ocupe todos os vazios, proporcionando boa aderência ao
conjunto.
Segundo Cusack (1999), o melhor adesivo para ligações de tarugamento
de madeira é o epóxi. O resultado da aplicação deste material, segundo pesquisa de
Morisco e Mardjono (1995), indica que este recurso melhora em cerca de 60% a
resistência final das ligações de bambu, quando submetidos a esforços de tração,
em comparação com ligações com colmos vazios, porém o alto custo do produto
inviabiliza sua utilização em larga escala.
A argamassa de cimento pode ser utilizada no lugar do enchimento com
madeira, caso em que os parafusos são colocados antes desta ser derramada.
135
Posteriormente à cura, qualquer sistema de conexão de madeiras convencionais
pode ser utilizado, como chapas de união externas de aço ou madeira (Figura 149).
Figura 149 – Conexão de Morisco e Mardjono
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
f) Conexão por abraçadeiras metálicas
Abraçadeiras de aço com parafuso integral passante são posicionadas
em torno das seções de bambu. A ação de aparafusar aperta os grampos em torno
dos colmos (Figura 150). Cintas de aço adicionais podem ser usadas, se necessário.
Esse método foi concebido pelo Bhagalpur College de Engenharia, na Índia, com
boa aplicação em treliças de cobertura.
Figura 150 – Conexão por abraçadeiras metálicas
g) Conexão por rebites Herbert
Este método, desenvolvido no Reino Unido pela Building Research
Establishment, utiliza luvas de aço fixadas nas paredes na seção do colmo por uma
136
série de rebites de pequeno diâmetro, mais eficazes que parafusos e pregos, pois
atuam para transferir a carga para o bambu (Figura 151). Apesar de resistente, o
conjunto é volumoso e instável.
Figura 151 – Conexão por rebites Herbert
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
h) Conexão de Gutierrez
Esta técnica é interessante porque explora a compressão e flexão do
bambu, mas não permite tensões de tração ou cisalhamento. Isso é conseguido
passando-se uma barra de aço no centro do elemento e realizando-se a soldagem
desta com placas de aços em ambas as extremidades do colmo (Figura 152). As
extremidades das barras de aço salientes podem ser soldadas e unidas para
fazerem um conjunto.
Figura 152 – Conexão de Gutierrez
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
i) Conexão por inserção ou encamisamento de peças pré-moldadas
Elementos pré-moldados de forma tubular são encaixados, por inserção
137
ou encamisamento, nas extremidades dos colmos que realizarão as conexões; em
seguida, essas ligações podem receber presilhas, pinos ou parafusos, para
estabilidade e transmissão de esforços no sistema. Os materiais mais comuns para
esta ligação são os tubos de aço, plásticos e fibra de vidro. Conexões em diversas
angulações podem ser realizadas por este sistema, sendo muito utilizadas em
estruturas espaciais de cobertura como as geodésicas (Figuras 153 e 154). Alguns
modelos de ligações permitem a expansão em linha reta, sendo utilizados como
luvas de união para prolongamento das peças.
Figura 153 – Conexão por inserção de conectores de aço ou plástico
Fonte: Jayanetti e Follett (1998)
Figura 154 - Conexão por encamisamento dos conectores de plástico
Shoei Yoh, arquiteto japonês, desenvolveu uma moderna conexão,
utilizando a inserção de tubos de aço inoxidável nas extremidades dos colmos de
bambu que realizam as ligações, fixando-os com parafusos e porcas.
Esta ligação, porém, pela grande quantidade de perfurações, oferece
baixa resistência aos esforços de tração e compressão, o que diminui a resistência
138
final do sistema, ocasionando o rompimento do colmo por cisalhamento na região
dos parafusos. Outra desvantagem da ligação é a diferença de diâmetro dos colmos
e dos tubos de aço, geralmente criando vazios entre ambos, e quando apertados
com os parafusos, acabam por trincar os colmos (Figura 155).
Figura 155 – Conexão de Shoei Yoh
Fonte: RWTH Aachen (2009)
Albermani (2006) realizou testes experimentais em conexões constituídas
de peças de PVC, unidas aos colmos de bambu por uma massa adesiva, num
sistema de treliças espaciais em dupla camada (Figura 156). O autor relatou
dificuldade na situação de tração, pois, na realização do ensaio, a fixação entre o
colmo e a peça de PVC se soltou bem antes do limite de resistência à tração para as
espécies utilizadas . A colagem entre o bambu e a peça de PVC suportou 13 kN e,
na situação de lixamento da superfície externa do bambu, chegou a 19 kN.
Figura 156 – Treliça espacial de dupla camada
Fonte: Albermani (2006)
139
j) Conexão de David Trujillo
Esse engenheiro civil trabalhou em conjunto com Simon Vélez em
diversos projetos. Desenvolveu seu primeiro projeto de conexão estrutural com
bambu em 2000, em seu trabalho de graduação. Em uma segunda fase – em 2001,
já atuando como profissional de engenharia – projetou uma nova conexão, que
consiste no enchimento com argamassa do internó da extremidade que realizara a
conexão, após a passagem de diversos parafusos sobre uma atadura ou presilha
metálica. Esta conexão, porém, após testes de resistência à tração paralela,
realizados na Universid Nacional de Colômbia, em Manizales, demonstrou
fragilidade na área de contato interno da argamassa com os parafusos,
rompendo-se nessa região (Figura 157).
Figura 157 - Teste de tração na Conexão de Trujillo
Fonte: CONBAM (2009)
k) Conexão de Tönges
Christoph Tönges é engenheiro na Alemanha e possui uma empresa que
comercializa colmos de diversas espécies de bambu na Europa, assim como
desenvolve projetos utilizando bambu. Desenvolveu uma conexão que utiliza cortes
nas extremidades dos colmos que realizarão a conexão, presos por presilha
metálica formando um fechamento cônico que, após inserida uma barra de ferro com
mossas, é preenchido com concreto pela extremidade (Figura 158).
140
Figura 158 – Conexão de Tönges
Fonte: CONBAM (2009)
l) Conexão de elemento lateral com uso de parafuso extensor
Esta conexão é uma ilustração da transmissão de conhecimento primitivo
da utilização de cavilhas de madeira tipo chave, ilustrada em conexões tradicionais,
adaptado às novas tecnologias de construção com bambu.
A inserção de um parafuso extensor, em substituição a peça de madeira,
realiza com eficiência o travamento do elemento horizontal na lateral do colmo
vertical, com recurso de ajustes no aperto, além da diminuição no diâmetro das
perfurações nos colmos. Esta conexão pode utilizar o enchimento com argamassa
após sua instalação e ajustes (Figuras 159 e 160).
Figura 159 – Esquema de conexão com parafuso extensor
Fonte: Dunkelberg (1996)
141
Figura 160 – Conexão com parafuso extensor
Fonte: Janssen (2000, p. 114)
m) Conexão Velez:
Na grande maioria dos projetos do arquiteto colombiano Simon Vélez, a
utilização de enchimentos com concreto é amplamente utilizada como recurso para
melhoria da qualidade das conexões. O aperfeiçoamento da técnica – com ensaios
de laboratório, utilização de ferragens sofisticadas e diversos traços de concreto,
inclusive com adição de aditivos – possibilitou a estas articulações uma maior
capacidade de resistir à falha nos esforços de cisalhamento, esmagamento ou
divisão do colmo a partir dos orifícios para introdução dos parafusos (CUSACK,
1999).
Variações desta tecnologia utilizam concreto para enchimento dos colmos
em diversos modelos de conexões, basicamente subdivididos em dois grupos, em
razão dos pontos de transferência dos esforços. Na primeira, os esforços são
transferidos longitudinalmente, pelo centro do colmo, por meio de uma barra de aço
ou por uma chapa metálica (Figura 161). No segundo tipo, os esforços utilizam
chapas laterais ao eixo longitudinal do colmo, ligadas por parafusos passantes
similares à conexão de Morisco e Mardjono (1995).
142
Figura 161 – Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo, ou por chapa metálica
laterais com parafusos passantes
Fonte: RWTH Aachen (2009)
Como exemplo de transferência de esforços pelo centro do colmo no eixo
longitudinal, a conexão básica de Velez pode ser realizada também pela inserção de
uma chapa de aço perfurada na extremidade do colmo, entre dois nós, com
colocação de dois parafusos passantes e preenchimento com concreto fluido pelo
topo. A espera de aço poderá realizar a ligação com outras chapas ou diretamente
nos apoios por parafusos, soldagem, encaixes entre outras. Esta conexão transmite
muito bem os esforços de tensão e compressão, além de permitir o apoio de outros
elementos sobre a conexão, sem o esmagamento da peça (Figura 162).
Figura 162 – Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo por chapa metálica
com parafusos passantes
Fonte: Cusack (1999)
143
Quando houver impossibilidade de enchimento pelo topo, realiza-se
perfurações para injeção de concreto – com diâmetros variáveis em função da
fluidez da mistura e da dimensão dos agregados graúdos – utilizando-se um funil.
Equipamentos vibratórios podem ser utilizados para o perfeito preenchimento dos
vazios, com intuito de utilizar o menor diâmetro de perfuração possível e evitar a
diminuição de resistência da peça.
Outro exemplo de transferência de esforços pelo eixo longitudinal é a
utilização de uma barra de aço com arruelas ou porcas, inserida no centro do colmo,
passando por no mínimo dois internós, que serão posteriormente cheios de concreto
por meio da perfuração realizada na parede do colmo. A função das arruelas ou das
porcas é a de ampliar a área de contato da barra, melhorando sua ancoragem
(Figura 163).
Figura 163 – Transferência de esforços pelo eixo longitudinal do colmo por barra e arruelas
Fonte: Hidalgo-Lopez (2003)
Segundo Hidalgo-Lopez (2003), na construção do Pavilhão Zeri, projeto
de Simón Vélez para a exposição de Hannover 2000, Garzon e F. Díaz, engenheiros
calculistas da estrutura, realizaram testes em dois modelos básicos de conexões
com transferência de esforços pelo centro do colmo e por barras laterais fixadas com
parafusos passantes. Ambas utilizaram a espécie Guadua angustifolia e, nos testes
A, C e E, o enchimento de concreto vibrado, inserido por perfurações laterais aos
colmos.
144
Quadro 4 – Testes de tensão em conexões de bambu para o Pavilhão Zeri
Fonte: Lopez (2003, p. 392)
145
As conclusões desses ensaios elucidaram as características da conexão
quando submetidas a esforços, servindo de parâmetros para futuros projetos de uma
nova conexão. De acordo com os testes:
ambos os sistemas de juntas são confiáveis se elas são feitas com
cuidado;
as articulações em que foram usados parafusos e chapas de aço
são mais resistentes (cerca de 50%) que aquelas feitas com
parafusos longos longitudinais;
a força aumenta proporcionalmente em relação ao número de
internós preenchidos com concreto;
em conexões com parafusos, a carga permitida para o internó é de
900 kgf e, para cada internó adicional, aumenta em 30%;
colmos de bambu com internós curtos e diâmetros entre 10 a
14 cm são mais resistentes;
as conexões ficam fragilizadas quando são removidas partes das
paredes do bambu para execução das uniões – por exemplo
quando são furadas ou recebem cortes longitudinais;
o bambu foi mais resistente do que qualquer um dos fixadores ou
conectores usados.
Hidalgo-Lopez (2003) fez também algumas recomendações para a
utilização de concreto injetado nos internós de colmos de bambu:
os colmos de bambu que terão seus internós preenchidos com
argamassa de cimento devem ser maduros e previamente secos.
Se os colmos são jovens e imaturos, uma vez que se tornem
secos, irão encolher e se soltar quando comprimidos;
o diafragma consiste de uma parede fina que suporta o concreto
injetado no internó. Na colocação da barra longitudinal com as
porcas, o diâmetro das perfurações deverá ser apenas um pouco
maior do que elas. Se o diafragma é totalmente destruído na
operação, a resistência à tração a que é submetido o sistema se
reduz, ocasionando o descolamento do cilindro de argamassa
(Figura 164).
146
Figura 164 – Importância estrutural do diafragma em colmos injetados de argamassa
Fonte: Hidalgo-Lopez (2003)
é recomendável o uso de colmos de bambu de espécies de maior
resistência, como o Guadua angustifolia, com três anos de idade
ou mais, anteriormente tratados com produtos químicos
apropriados;
a argamassa de cimento com apenas a quantidade necessária de
água, na razão de 1:2 (cimento-areia), em volume, é recomendada.
Os orifícios para injeção de argamassa devem ter 2,5 cm de
diâmetro. Nunca se deve fazer buracos quadrados para esta
finalidade, pois suas quinas são suscetíveis a fissuras;
a utilização de um funil adequado é necessária para a injeção da
argamassa no internó de bambu (Figura 165).
Figura 165 – Utilização de funil para injeção de argamassa no colmo
Fonte: Hidalgo-Lopez (2003)
147
uma vez que a mistura de argamassa esteja seca, ocorre uma
redução de seu volume, ocorrendo uma pequena separação entre
as paredes do colmo e o cilindro de argamassa, ocasionando a
perda de adesão entre os elementos e, por conseguinte, o
destacamento do internó. Esta é a razão da importância da
preservação dos diafragmas, pois estes atuarão como contenção
dos cilindros de cimento (Figura 166);
Figura 166 – Vazio ocasionado pela retração da argamassa
Fonte: Lopez (2003)
Quando parafusos de metal são utilizados como elementos de
fixação de placas no interior ou exterior do colmo, eles não devem
estar localizados no mesmo eixo do orifício utilizado para a injeção
da argamassa, para evitar uma possível linha de ruptura do colmo
(Figura 167).
Figura 167 – Alinhamento das furações nos colmos
Fonte: Lopez (2003)
148
Os métodos de união seguinte não se constituem, de fato, em novos
desenvolvimentos, contudo, devem ser observados:
a) pregos e parafusos: a fixação de pequenos elementos em elementos
maiores pode ser realizada em locais de pouca exigência mecânica
(por exemplo, pisos de meia cana em vigas), desde que ocorra uma
pré-perfuração, devido à tendência do bambu se dividir. Conexões
pregadas têm também uma tendência a afrouxar, fazendo a
transferência de carga de forma ineficiente;
b) cintas de aço
: para ajudar a resistir às forças de sucção do vento, tiras
de aço podem ser usadas em conjunto com os encaixes para ancorar
componentes principais, como por exemplo, os pilares e as treliças de
cobertura;
c) amarrações
: novos materiais proporcionaram melhores resultados do
que as fibras naturais nas amarrações, que podem ser efetuadas em
conjunto com os demais sistemas, utilizando fibras sintéticas, cabos de
aço, arame galvanizado, entre outros tipos de cabos com resistência e
flexibilidade (CUSACK, 1999). A passagem de cabos diretamente nas
furações em colmos de bambu não é recomendada, pois a borda
afiada do furo, em contato com o cabo, acaba por trincar a peça a
partir desta furação, quando submetidos a esforços, além de permitir a
entrada de água e insetos nocivos à durabilidade do bambu;
d) pinos de aço: são utilizados em substituição aos pinos e cavilhas de
madeira ou bambu, oferecendo maior resistência, durabilidade e
padronização de dimensões (Figura 168).
Figura 168 – Utilização de pino metálico e amarração de nylon
149
2.11.3 Conexões tradicionais versus conexões contemporâneas
A beleza das conexões tradicionais, sua simplicidade e funcionalidade
são fatores que não descartam sua utilização em construções modernas. A escolha
de pontos de menores solicitações de esforços indicam sua utilização pelo baixo
custo, leveza estrutural, facilidade de montagem, utilização de ferramentas simples,
valorização cultural e facilidade de treinamento de mão-de-obra
Segundo Cussak (1999), em locais onde é permitido o uso de conexões
tradicionais, em muitos casos a utilização de parafusos e conexões complexas
acaba por causar maiores danos aos colmos de bambu mais finos, fato que não
ocorre com o uso de amarrações artesanais.
O arquiteto de estruturas de bambu, o colombiano Simón Vélez, usa
quase que exclusivamente o moderno sistema de parafusos em suas construções.
Ele afirma que articulações tradicionais não são confiáveis para estruturas
duradouras. O arquiteto Darrel DeBoer comenta que cordas orgânicas não podem
ser apertadas quando o bambu encolhe ou após dois anos, quando a umidade
apodrece a corda .
Em estruturas que concentram maiores cargas, assim como maior
exposição às intempéries, necessita-se utilizar conexões estruturais modernas, nas
quais as tecnologias dos materiais sintéticos conferem as exigências da qualidade
estrutural das edificações, justificando maiores investimentos em materiais,
mão-de-obra e projetos.
2.12 Design das conexões estruturais com bambu
2.12.1 Design de novos produtos
A necessidade de inovação no design das conexões estruturais com
bambu, aliado ao desenvolvimento de novos produtos, requer soluções
comprometidas com a sociedade, mais pontualmente com os consumidores. O papel
dos designers, mesmo em consultorias externas, é o de conhecer e utilizar métodos
150
básicos nas áreas de marketing, engenharia e desenho industrial, buscando sempre
capacitar-se e desenvolver uma visão global sobre o desenvolvimento de novos
produtos, com responsabilidade perante a sociedade.
Segundo Baxter (2000), a preparação, exploração, expansão e definição
do problema, com levantamento das soluções existentes, são elementos-chave das
fases do processo criativo, tornando possível o desenvolvimento de novas soluções
para um problema que necessita de aprimoramentos. Esta abordagem utiliza a
análise paramétrica, baseada em variáveis, chamadas parâmetros comparativos.
Estes parâmetros podem ser quantitativos, expressos numericamente, ou
qualitativos, que servem para comparação, mas não apresentam medidas absolutas,
que servirão de base para geração de novas idéias. A técnica MESCRAI sigla para
“Modifique, Elimine, Substitua, Combine, Rearranje, Adapte, Inverta”, é de grande
utilidade para a melhoria de produtos que possuem antecedentes de qualidade,
porém, não cumprem toda a gama de necessidades deles exigida, no caso as atuais
conexões estruturais com bambu.
Assim, o conhecimento prévio das conexões vernaculares ou tradicionais
e das conexões modernas servirão de base para geração de novas idéias, cujo
conhecimento gera inovação, fruto de novas soluções geradas com base em
combinações de informação. É possível afirmar que conhecimentos adquiridos são
sempre utilizados no processo de geração de novas idéias e de soluções, que
poderão tornar-se inovações, revelando a característica construtivista do processo
evolutivo humano.
A seleção de ideias deverá considerar tanto os bons quanto os maus
aspectos das novas ideias, combinando-as e aproveitando as boas características
de cada uma, com posterior análise do conceito escolhido de nova conexão e suas
possibilidades de falhas e seus efeitos. A configuração do projeto, com a introdução
de diversos instrumentos de testes e avaliação do produto, deve incluir decisões
sobre sua arquitetura, isto é, como o produto é organizado em blocos e
componentes para ser montados, a forma e função de cada componente, o processo
de montagem e os tipos de materiais e processos de manufatura a serem usados na
produção.
Estas considerações devem estar contidas em memoriais descritivos do
projeto, desenhos técnicos e protótipos, assim como na análise das falhas e
resultados dos testes com os protótipos.
151
2.12.2 Design de conexões de bambu
A tarefa de desenvolver conexões estruturais de qualidade com bambu,
não é uma tarefa fácil, em razão das características do material. Embora os
exemplos de conexões tradicionais e a prática das construções vernaculares sirvam
de inspiração para novos projetos, estes exemplos não permitem a exploração de
toda a capacidade de resistência das estruturas de bambu (JANSSEN, 2000).
O desenvolvimento de uma tecnologia própria para o material tem como
grande precursor as pesquisas científicas, baseadas em diversos aspectos do
material, como testes de resistência, impermeabilizações, tratamentos, plantio entre
outras. O estudo das conexões é de vital importância para o uso do bambu em
estruturas de confiabilidade, qualidade e segurança.
Segundo Arce-Villalobos (1993), a função objetiva de uma boa conexão
consiste em obter uma continuidade estrutural entre elementos. Isso significa que as
forças devem ser transmitidas de modo seguro e prescrito e as deformações devem
ser mantidas sob controle, durante o processo de design, atendendo às restrições
internas e externas.
Restrições internas lidam com propriedades dos materiais e sua forma:
o bambu é um material ortotrópico, distantes na direção
longitudinal, completamente diferentes da direção transversal. Na
direção longitudinal há fibras de celulose, que são fortes e duras;
na direção transversal há lignina, que é maleável e frágil. Por
conseguinte, o bambu é um compósito reforçado unidirecional, com
capacidade tangencial comparativamente pequena, com tendência
ao cisalhamento;
a forma do bambu é oca e variável em suas dimensões. As
extremidades dos internós podem abrir e serem esmagadas
facilmente; o melhor é colocar as conexões próximas aos nós.
Estes, no entanto, ocorrem a distâncias variáveis;
as paredes dos colmos são duras e extremamente lisas,
dificultando a aderência de elementos por atrito, como as cordas
nas amarrações.
152
As restrições externas são as seguintes:
como qualquer material de construção, há que se olhar para a
maximização de sua utilização. O bambu, como os demais
materiais de construção, possui propriedades boas e más. Deve-se
aproveitar ao máximo suas boas propriedades;
o material deve possuir simplicidade de construção quando
utilizado basicamente para a solução de infra-estrutura e de
problemas em áreas onde equipamentos sofisticados e a
capacidade técnica não são prontamente disponíveis. Portanto, um
bom design deve ser simples, em termos de habilidade e
equipamentos envolvidos na sua produção. Isso é especialmente
importante no caso de atendimentos de projetos de construções
emergenciais (Haiti, por exemplo);
durabilidade: as conexões devem ser estáveis em relação ao
tempo, devendo ser de mesma magnitude que a vida útil projetada
para a edificação;
adaptabilidade das dimensões de um sistema modular. Nas
construções tradicionais este aspecto parece ser desnecessário,
mas, nas edificações modernas, o design modular é uma
necessidade. O design modular abre a possibilidade de produção
em escala e pode utilizar mão-de-obra não qualificada na
construção das edificações;
previsão de resistência mínima das conexões é algo quase
inexistente na literatura sobre articulações. São necessárias regras
de design para extrapolação, predição de força e estimativa de
segurança. Modelos mecânicos plausíveis com dados
experimentais devem ser acompanhados de propostas para juntas;
eficácia de custo das conexões e a sua influência no custo global
das estruturas e desta, no valor final da obra.
Os principais aspectos no processo de design das conexões com bambu,
segundo Jayanetti e Follett (1998), são os seguintes:
ter uma visão clara do problema e estudá-lo completamente;
153
esboçar soluções possíveis no papel, sem tentar fazer seleções no
início do processo de estudos. Aceitar as propostas mais
duvidosas; nunca se sabe o que uma ideia duvidosa poderá
realizar;
tentar melhorar ainda mais a solução que parece muito boa;
guardar os esboços em uma “pilha de rejeitos”; se a idéia atual
parece errada, não hesitar em retornar para a pilha à procura de
outra ideia;
discutir aberta e francamente, com todas as pessoas envolvidas,
os prós e contras de cada desenho;
construir protótipos internos, de preferência, com as próprias mãos;
manter contato com o empreiteiro de construção e todas as outras
partes envolvidas durante o processo;
finalmente, aplicar um processo de análise, seguido de um
processo de síntese.
3.2.1 Análise das conexões estruturais
Muitos profissionais e pesquisadores, entre eles: arquitetos, engenheiros
e designers, trabalham no desenvolvimento de soluções para conexões estruturais
com colmos de bambu, apresentando várias soluções de uniões com amarrações de
cordas, enchimentos com tarugos de madeira, inserção de argamassa com esperas
metálicas, instalação de parafusos passantes, presilhas metálicas, luvas de diversos
materiais e várias combinações destas e outras tecnologias para transmissão de
cargas.
Para a construção de uma união que seja compatível com a grande
resistência à tração do bambu, deve-se conhecer as características físicas do
material, observando-se a posição das fibras mais resistentes nas extremidades das
paredes do colmo, assim como a sua disposição na direção longitudinal do colmo,
além da influência dos nós, idade da planta, entre outras características citadas no
capítulo sobre as propriedades físicas, neste trabalho.
154
Para análise das conexões, elegeu-se os modelos mais usuais, que são
também os que oferecem maiores resistências a esforços de tração, as conexões de
Velez e Conexão Tönges (Figura 169), não se descartando, porém, os pontos
positivos das demais conexões estudadas. Estes dois exemplos são conexões que
utilizam enchimentos com argamassa que preenchem todos os vazios, pois
comprovadamente o aperto de parafusos, presilhas e demais elementos acabam por
romper os colmos ocos de bambu.
Figura 169 – Conexão de Velez e conexão de Tönges
Fonte: CONBAM (2009)
Peças pré-moldadas para encamisamento ou tarugamento também têm
histórico de ineficiência estrutural, pois as diversas dimensões dos diâmetros dos
colmos de bambu acabam por criar uma infinidade de dimensões e, quando
inseridas ou sobrepostas, não o fazem de maneira justa e perfeita, deixando, em
muitos casos, pequenos vazios que, quando submetidos a esforços de compressão,
acabam ocasionando a falência do conjunto.
Os tipos de conexão desenvolvidos por Simón Vélez, nas provas de
resistência realizadas pelo laboratório FPMPA de Stuttgart, para a construção do
Pavilhão Zeri, apresentaram as seguintes falhas: rompimento por tração paralela às
fibras ocasionado pelos parafusos passantes ligados diretamente ou sobre chapas
metálicas; destacamento do concreto das paredes internas do colmo de bambu,
ocasionado pela falta de aderência entre os elementos; retração das argamassas,
que cria vazios, ocasionando também o seu rompimento quando realizados os
apertos dos parafusos.
155
A execução do sistema, com injeção de argamassa fluida por pequenos
orifícios, além de diminuir a área das paredes do colmo, é uma tarefa de difícil
realização, pois o aumento da fluidez para melhor passagem e acomodação dentro
do colmo diminui a resistência da argamassa, por causa do aumento da relação
água/cimento. Além disso, a possibilidade da realização dessa tarefa é possível
apenas em solo, carecendo ainda de um período de tempo para cura. A retirada do
diafragma para enchimento de mais de um internó também diminui a resistência;
isso somado à impossibilidade de retirada do amido destes internós amplia as
possibilidades de destacamento do concreto do interior do colmo.
Assim como a perfuração para a aplicação da argamassa, as perfurações
realizadas para passagem dos parafusos, também diminuem a área de paredes dos
colmos. Na execução da passagem dos parafusos por chapas perfuradas inseridas
no interior do colmo, em substituição ao parafuso roscável, os encaixes se tornam
tarefa de profissionais especializados em carpintaria, com marcações de pontos
para perfurações e encaixes eqüidistantes, em formas cilíndricas pré-moldadas
(Figura 170).
Figura 170 – Conexão de Vélez
Outro aspecto relevante são as formas das terminações que realizarão a
conexão, geralmente sem afunilamento, que impedem a concentração de vários
elementos em um mesmo ponto de ancoragem. Diversas soluções não
padronizadas de terminações – em muitos casos, o simples prolongamento da
156
espera metálica – não oferecem resistência a esforços de compressão,
cisalhamento e torção (Figura 171).
Figura 171 – Terminações sem afunilamento das extremidades com extensão das esperas
O sistema utilizado por Tönges, com diminuição do diâmetro da
extremidade e enchimento de argamassa no último internó, após inserção de barra
de aço com mossas, não utiliza parafusos passantes, que comprovadamente
diminuem sua resistência, e sim uma presilha metálica, que mantém a forma cônica
da extremidade do colmo, impedindo seu destacamento total, mesmo após a cura,
com diminuição da aderência do concreto com as paredes do bambu (Figura 172).
Figura 172 – Terminações de Tönges com afunilamento das extremidades
157
Em testes realizados na Universidad Nacional de Colombia, em
Manizales, concluiu-se que a conexão oferece boa resistência à tração, com
rompimento no cilindro de concreto na região de menor diâmetro, isto é, na
extremidade, destacando-se parcialmente do colmo (Figura 173). Segundo Tonges
(citado por CONBAM, 2009), a melhoria da resistência do concreto de
preenchimento, utilizando-se cimento e aditivos específicos com traços
diferenciados, proporcionaria melhores resultados nos testes.
Figura 173 – Teste de tração da conexão de Tönges
Fonte:
CONBAM (2009)
Como demonstrado nos testes realizados, o rompimento do concreto se
realizou na extremidade de menor diâmetro, isto é, na ponta da conexão, em razão
de não haver ali uma barreira travada que impedisse o destacamento do concreto,
mesmo que parcial.
Para a retirada do parênquima do interior do colmo, a conexão de Tönges
utiliza somente o último internó aberto da extremidade, que quando ampliada para
dois ou mais internós impossibilitaria esta retirada, ocasionando a diminuição da
área de contato da parede do colmo com a argamassa, ampliando as possibilidades
de destacamento do concreto.
158
3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
3.1 Proposta de uma nova conexão
Após a análise das conexões existentes, pôde-se observar que nenhuma
conexão estrutural, quando submetida a esforços de tração, permite utilizar a
plenitude da resistência oferecida pelo bambu, rompendo-se antes.
A idealização desta nova conexão baseou-se na análise das estruturas de
diversas edificações – estudadas na revisão da literatura e em visitas técnicas –
observando-se as características das conexões mais usuais, com melhorias em suas
deficiências, citadas na análise dessas ligações.
O objetivo da nova união foi transmitir o máximo de esforços, utilizando
toda potencialidade do bambu, com leveza e alto nível de pré-fabricação, permitindo
rápida e fácil montagem e desmontagem, mesmo em condições adversas, fora do
canteiro de obras.
Como precursores para o desenvolvimento do projeto de uma nova
conexão, é preciso evidenciar os seguintes aspectos:
tamponamento da extremidade do colmo com elemento metálico
Para não permitir a saída do concreto pela extremidade da ligação,
quando efetuado o preenchimento e após a cura, quando a conexão estiver
submetida a esforços de tração, foi criada uma peça que estabilizasse o sistema em
sua extremidade, com uma arruela presa à espera metálica. Esta arruela foi soldada
à espera, tamponando a abertura da conexão (Figura 174).
Figura 174 – Arruela para fechamento da extremidade da ligação
159
Esta peça tinha 5 cm de diâmetro, aproximadamente 50% do diâmetro médio
dos colmos de bambu escolhidos para montagem de estruturas.
não utilização de parafusos passantes
A utilização de parafusos passantes diminui a resistência do colmo de
bambu e, para uma boa resistência, há necessidade de vários parafusos, o que
acaba diminuindo a resistência da peça.
utilização de um só internó para limpeza do interior do colmo
Utilizar somente o último internó permite realizar a limpeza, com retirada
da camada superficial da camada de parênquima e realizar a lavagem com cal,
melhorando o contato entre a parede do colmo e a argamassa de preenchimento.
afunilamento da extremidade que realizará a ligação
O afunilamento da extremidade do colmo foi feito por cortes longitudinais,
realizados com serra, obtendo-se a forma cônica, por meio de presilhas ou cabos de
aço, que garantirão a estabilidade do sistema quando este for submetido a esforços
(Figura 175). Serviu também como contenção da argamassa de grauteamento,
durante a sua aplicação e após a cura, quando solicitados os esforços, evitando-se o
destacamento do conjunto.
A forma resultante, com extremidade afunilada, permitiu a ancoragem de
várias peças de bambu em um único ponto, de pequeno diâmetro, necessidade
requerida em estruturas espaciais, quando usualmente são chamados de nós.
Figura 175 – Ancoragem das paredes do bambu na arruela de fechamento
160
ampliação da área de contato da espera com a argamassa de
grauteamento
Para aumentar a área de contato da espera metálica com a argamassa de
grauteamento, o diâmetro do tubo de aço, de 6 cm, foi similar ao da arruela de
fechamento. O tipo de espera ampliou o atrito e, consequentemente, a resistência à
tração entre os elementos aço-argamassa de grauteamento. Este tubo de paredes
grossas, com 3 mm, permitiu também a ampliação da área de contato, para
soldagem com a arruela de tamponamento (Figura 176).
Figura 176 – Espera metálica em forma de tubo
Tubos de aço com medidas comerciais, encontrados facilmente no
mercado, foram utilizados como forma de reduzir custos. O de 2” tinha medida
próxima à sugerida, com metade do diâmetro médio dos colmos. Para melhoria da
resistência ao arrancamento, foram adicionadas grapas na extremidade embutida da
espera, por meio de solda ou rosca. Esta melhoria evitou utilizar mais que um
internó de enchimento com argamassa, o que aumentaria o peso da conexão, além
de tornar desnecessária a retirada do diafragma do bambu, o que diminuiria a
resistência do colmo (Figura 177).
161
Figura 177 – Instalação de grapas na espera metálica
uso de matérias primas usuais no mercado de materiais de
construção
rapidez e facilidade para execução da montagem da estrutura
A utilização de peças pré-moldadas para a montagem da estrutura
permitiu grande agilização do processo de execução, barateando os custos de mão-
de-obra e de materiais, além de permitir uma possível industrialização na montagem
das peças.
utilização de mão-de-obra usual para confecção da conexão
Os serviços de montagem da parte metálica da conexão foram
executados em serralherias convencionais, com mão-de-obra usual, sem a
necessidade de equipamentos sofisticados.
diminuição de furações e respectivo diâmetro para enchimento
com argamassa
A existência de muitos furos para colocação de argamassa fragiliza a
peça, assim, evitou-se diâmetros grandes de furação e o aumento no número de
furos.
especificação de uma argamassa com baixa retração, boa fluidez
e alta resistência
Como solução para o problema de destacamento da argamassa das
paredes dos colmos, por retração da argamassa, e uma perfeita aderência da
162
espera, foi utilizada uma argamassa expansível, de menor retração que as
argamassas convencionais e com altas resistências iniciais e finais, tipo Grauth V-1,
da Otto Baumgart, para grauteamentos no preenchimento do colmo no qual se
realizou a conexão.
Os custos atuais deste material se equipararam às argamassas
convencionais, com ganhos na diminuição da retração e dos vazios entre a parede
de bambu e a espera, visto que apresenta grande fluidez, podendo ser inclusive,
autonivelante. Além disso, houve uma melhoria considerável na resistência final,
pela diminuição da proporção de água ao cimento. O fator água/cimento indicado
pelo fabricante é de 0,12, para uma resistência à compressão inicial (24 h) de
20 MPa e final (28 dias) de 70 MPa.
3.2 Projeto de uma nova conexão
Como parte integrante do desenvolvimento de uma nova conexão, o
projeto foi delineado com o detalhamento dos encaixes e de seu dimensionamento,
para montagem de um protótipo (Figura 178).
Figura 178 – Projeto da nova conexão
163
Esta união constitui-se de um tubo metálico oco, inserido e grauteado no
último internó do colmo que realizará a conexão; possui uma grapa soldada em sua
extremidade posterior e parafuso com porca e pivô na extremidade que faz a ligação
com outros elementos, por meio de uma esfera metálica.
A montagem da peça de ligação exigiu a confecção da espera, por
serralheiro. Para tal, foi utilizado um tubo metálico de aço carbono, de seção circular
para usos estruturais, de 30 cm de comprimento e 2” de diâmetro, classe E.
efetuando-se a soldagem de uma grapa metálica, de 8 cm de diâmetro, em uma de
suas extremidades e uma arruela de fechamento, de 6 cm, em outra. A peça
recebeu pintura prévia, com fundo antioxidante.
Para a ligação da espera com o nó, foi utilizado um parafuso de 1” de
diâmetro, pivô e porca, com elemento de vedação de borracha, para evitar a
infiltração de água para dentro do tubo da espera, conforme Figura 179.
Figura 179 – Detalhe da extremidade da nova conexão
A extremidade do colmo de bambu que recebeu a espera foi limpa,
utilizando-se espátula manual, e foram feitos cortes longitudinais, que permitiram o
seu afunilamento. Esse tipo de intervenção é simples de ser feita e pode ser
realizada em oficinas, no canteiro de obras ou mesmo no campo.
A espera metálica, depois de posicionada no interior do colmo, com sua
extremidade alinhada com a terminação do colmo, foi mantida pelo afunilamento das
paredes do bambu, por meio de presilhas ou amarrações com cabos de aço.
164
A perfuração para preenchimento do colmo teve um diâmetro de 2 cm,
necessário para injeção de argamassa de grauteamento fluida, sem necessidade de
vibração manual ou mecânica. Após o período de cura indicado pelo fabricante, de
24 h, ela pode ser utilizada estruturalmente.
As esferas metálicas, com furações para receber as extremidades das
peças de ligação, podem ser fabricadas em tornos mecânicos ou eletrônicos (CMC),
e devem ser de alumínio, para garantir a leveza dos projetos estruturais. Por razões
práticas e econômicas, as esferas metálicas utilizadas na confecção do protótipo (12
cm) foram fabricadas em tornos mecânicos, em aço, com furações para receberem
parafusos de ½” nas extremidades das peças de ligação, com possibilidade de
fixação das esperas em vários ângulos diferentes, de acordo com a necessidade dos
projetos estruturais (Figuras 180 e 181).
Figura 180 – Esfera metálica para ancoragem das conexões
Figura 181– Sistema de união com utilização de tarugo esférico de alumínio
165
3.3 Protótipo
Foi confeccionado um protótipo, para averiguação do processo de
confecção da conexão e conformação final do sistema de ligação, assim como para
a análise do comportamento da argamassa de grauteamento quanto ao perfeito
preenchimento do colmo e a retração após a cura.
Os colmos de bambu utilizados eram da espécie Dendrocalamus
giganteus, colhidos da coleção de bambus do Campus da UNESP de Bauru,
maduros, com no mínimo quatro anos de idade (para evitar defeitos causados por
colapso durante a secagem de colmos jovens), com corte mecânico em serra de
bancada, realizado próximo ao nó, resultando em uma peça de aproximadamente
70 cm (Figura 182).
Figura 182 – Corte em serra de bancada, próximo ao nó
Estas peças foram tratadas previamente, com imersão em octaborato de
sódio, por 40 minutos, seguindo-se a secagem em local abrigado, por duas semanas
(Figura 183).
166
Figura 183 – Tratamento da peça por imersão
A limpeza do colmo, com a retirada camada interna superficial, foi
realizada manualmente, com espátula, no interior do internó que recebeu a espera
metálica, aspecto importante para uma boa aderência da argamassa de
grauteamento às paredes internas do colmo (Figura 184).
Figura 184 – Limpeza do interior do colmo
Após a limpeza, foram efetuados quatro cortes longitudinais na
extremidade do colmo, com 8 cm de comprimento, utilizando-se serra elétrica de
bancada, para afunilamento e perfeita ancoragem na espera metálica (Figura 185.
167
Figura 185– Cortes para afunilamento da extremidade da ligação
Os elementos metálicos fixados eram tubos de aços, especificados no
projeto da conexão, grauteados nas extremidades do internó dos colmos de bambu
que farão a ligação (Figura 186).
Figura 186 – Tubos metálicos com esfera de ligação
168
Após a inserção do tubo metálico no interior do colmo, na extremidade de
ligação, foram instaladas presilhas metálicas para a fixação da espera e o
afunilamento da extremidade do colmo (Figura 187).
Figura 187 – Instalação de presilhas metálicas
A aplicação da argamassa foi feita com auxílio de funil, através de um
orifício com diâmetro de 2 cm, efetuado com perfuratriz elétrica manual. As normas
de aplicação, preparo do substrato, uso de equipamentos de proteção individual e
tempo de cura seguiram o manual do fabricante nas determinações para uso em
grauteamentos convencionais. A aplicação provisória de uma fita plástica, nos
cortes para afunilamento, evitaram o derramamento de argamassa fluida (Figuras
188 189).
169
Figura 188 – Conexão com o funil posicionado
Figura 189 – Grauteamento com utilização de funil
As pesquisas tiveram como base de apoio logístico, para fornecimento de
insumos materiais e técnicos para seu desenvolvimento, o Laboratório de
Experimentação com Bambu do Departamento de Engenharia Mecânica da UNESP,
Campus Bauru (Figura 190).
170
Figura 190 – Protótipo montado
4 PROJETO DE UM ANFITEATRO
A proposta do projeto de um anfiteatro, utilizando a nova conexão na
estrutura de cobertura, teve como objetivo demonstrar a praticidade, resistência,
leveza e aspecto estético do sistema, assim como evidenciar a facilidade de
execução da montagem pré-moldada e os baixos custos de execução da edificação.
O anfiteatro de médio porte foi projetado para atender a um público
aproximado de 80 a 100 pessoas, em apresentações de menor porte, que são
atualmente realizadas no grande Anfiteatro Guilherme R. Ferraz.
Sua localização está prevista para ser realizada na área do Campus da
UNESP de Bauru, em local a ser definido pela Instituição, com área total de
408,00 m². É composto, basicamente, de palco, arquibancada em forma de degraus,
rampas de acessibilidade e área de concentração ou Foyer.
A estrutura de cobertura, em arco treliçado, será composta de duas peças
longitudinais ou banzo inferiores e uma peça longitudinal ou banzo superior, ligadas
entre si por diagonais, compondo uma treliça de grande resistência. Serão utilizadas
na sua construção, exclusivamente, peças pré-moldadas de bambu tratado e com
acabamento envernizado (ou utilizando-se cera de abelha ou carnaúba, aplicados a
fogo), ligadas pela nova conexão por meio das esferas metálicas de alumínio (Figura
191).
Figura 191 – Detalhe da montagem da treliça
172
Os arcos treliçados serão apoiados no solo, em consoles de concreto
armado, em uma extremidade, e em coluna tipo árvore, composta de colmos de
bambu sobre pilar de concreto armado, em outra extremidade. Terão distanciamento
de 4,00 m entre seus eixos, em número de quatro unidades por arco (Figura 192).
Figura 192 – Corte longitudinal do anfiteatro
Sobre os arcos, com distanciamento de 1,60 m, serão dispostas terças
metálicas de perfil retangular, de 2
1/2
” x 1”, sempre apoiadas sobre os nós, vencendo
os vãos entre as treliças. As treliças serão revestidas de fundo antioxidante e pintura
preto-fosco.
A cobertura será feita com telhas tipo Onduline, na cor verde, que têm
uma composição revolucionária: uma monocamada de fibras vegetais, que são
impregnadas de betume, pigmentadas para se obter a cor desejada, e revestidas por
uma resina especial. Essa resina oferece proteção contra os raios UV, preservando
a cor do produto, e impede a escamação da superfície, tão comum nas telhas
multicamadas.
As arquibancadas, foyer, palco e rampas de acessibilidade receberão
lastro de concreto sobre malha de aço e acabamento desempenado, como
revestimento de pisos. As instalações elétricas utilizarão conduletes externos, as
estruturas para passagem de fiações e as luminárias serão fixadas com presilhas
metálicas, sempre próximas aos nós estruturais (Figuras 193 e 194).
173
Figura 193 – Vista lateral do anfiteatro
Figura 194 – Vista frontal do anfiteatro
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresenta-se, a seguir, as considerações finais sobre a dissertação e as
sugestões de trabalhos futuros, para potencialização da utilização do bambu na
arquitetura e nas conexões de suas peças, com função estrutural.
Como aspectos positivos da utilização do bambu na arquitetura, concluiu-
se que o bambu:
9 é um material para construções sustentáveis e renováveis, com baixo
consumo de energia para produção e gerando poucos resíduos;
9 é obtido de uma cultura anual, cujas características são a grande
rapidez de crescimento e a alta produtividade por hectare, plenamente
adaptada aos variados tipos de solo e clima brasileiros;
9 é uma cultura que permite a preservação do meio ambiente, pois
protege o solo de erosões e sequestram eficazmente o gás carbônico,
presente na atmosfera;
9 possui excelentes características físicas e mecânicas com capacidade
estrutural;
9 possibilita a diminuição do consumo de madeiras nativas,
especificamente nas estruturas de coberturas, que consomem,
atualmente, 50% das madeiras nativas da região amazônica,
destinadas à construção civil;
9 tem resultado estético muito agradável e grande leveza, quando
utilizado em sua forma natural;
9 possui inúmeras possibilidades de aplicação nas construções,
exemplificadas pelos diferentes métodos estudados nesta dissertação:
método tradicional, contemporâneo e de substituição parcial ou total
dos materiais tradicionais.
Como aspectos positivos na utilização da nova conexão, é possível citar:
9 facilidade e rapidez de montagem das conexões e da estrutura de
cobertura, com alto nível de pré-fabricação;
175
9 facilidade de treinamento da mão-de-obra para montagem das peças e
da estrutura;
9 utilização de ferramentas simples para confecção das conexões e da
montagem da estrutura;
9 baixo custo da estrutura por metro quadrado, em regiões com
disponibilidade de fornecimento de bambu;
9 aspecto estético agradável do bambu e do sistema de ligação;
9 leveza do conjunto, se comparado a um mesmo sistema composto de
tubos de aços estruturais;
9 facilidade de adaptação do sistema a diferentes dimensões de colmos.
Como cuidados especiais na utilização da conexão proposta, é preciso
atentar para:
9 a execução de projetos estruturais específicos para as diferentes
utilizações, com determinação dos dimensionamentos dos colmos de
bambu, das conexões e dos demais elementos que compõem a
estrutura, como terças, fundações, pilares, entre outros;
9 os projetos que assegurem proteção, das peças de bambu, da água
(afastamento do solo, utilização de cobertura das peças e utilização de
grandes beiras) e do sol (cobertura das peças e aplicação de
revestimento protetor, como verniz com filtro solar);
9 o tratamento das peças de bambu com métodos comprovadamente
eficientes, como o sistema Boucherie;
9 a manutenção preventiva, com substituição de eventuais peças
danificadas.
Como sugestão para trabalhos futuros, relacionados ao tema desta
dissertação, cita-se os seguintes exemplos:
9 ensaios para determinação de valores de resistência da conexão, para
utilização em estruturas;
9 normas de projetos, para utilização da conexão em estruturas de
cobertura.
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