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aparições em minha clínica. Alguns casos viraram artigos, outros seminários clínicos
e palestras. Nesse sentido acabei me tornando um colecionador de ―fragmentos
musicais na clínica‖, ou ―aspectos psíquicos‖ de tais fragmentos que pautavam a fala
de alguns desses pacientes.
Após concluir minha dissertação de mestrado no ano de 2003,
talvez por
uma questão apenas da necessidade de desacelerar a corrida pela produção do
texto, instaurada até momentos que antecederam a defesa, passei a consumir uma
vasta literatura exclusivamente musical, que chamei de descomprometida com a
vida acadêmica. Ainda que, originalmente, não estivesse na contramão dos meus
estudos anteriores ou que se seguiram, tinha intencionalmente o propósito de
promover meu descanso.
Leituras indubitavelmente enriquecedoras, suscitando questões de toda a
ordem: desde a ideia da música como mercadoria à identificação com os intérpretes.
Todavia serviriam apenas para estimular novas perguntas que ajudariam a criar a
configuração principal da tese. Ou seja, pensar como a vida psíquica de um sujeito é
afetada musicalmente.
Nesta tese, iniciada três anos depois, relato casos nos quais a presença da
música é muito evidente. São três situações clínicas que ilustram algumas
dimensões de ações e efeitos provocados pela música, ou melhor, pela
Vitrola Psicanalítica: Canções que tocam na análise no qual, ―além de trazer reflexões sobre a
natureza de nossas relações com as várias facetas do fenômeno musical (timbres, ritmos, melodias)
e de discutir os processos associativos e o papel do conceito de ‗terceiro analítico‘ – que dá sentido à
experiência psicanalítica, o autor nos apresenta vinhetas clínicas. Com elas, busca ilustrar como, pela
música e especialmente pelas associações evocadas por canções que marcam nossa história, é
possível infiltrar-se pelos meandros e capilaridades das sensações indizíveis dos nascedouros por
onde as marcas, as memórias arcaicas, se manifestam, desentocaiando desejos e propiciando
insights, ressignificando ideias ou simplesmente expondo afetos e aproximando o sujeito de sua
própria verdade‖. (Luiz Alberto Hanns – na apresentação do texto quando publicado em livro).
Os livros eram, em sua maioria, biografias de compositores, cantores, relatos de épocas históricas e
respectiva produção musical; reportagens, entrevistas, crônicas, ensaios e tudo mais que se possa
imaginar, que as editoras publicaram ou reeditaram no período que durou até o ano de 2006.
Passaram pela minha estante e cabeceira biografias como as de Mario Reis, Luiz Gonzaga, Lupicínio
Rodrigues, Araci de Almeida, Baden Powell, Adoniran Barbosa, Dorival Caymmi, Cazuza, Chico
Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, Sepultura, Os Mutantes, Novos
Baianos, dos mineiros do ―Clube da Esquina‖, entre outras. Frequentaram, ainda, minhas horas de
lazer, livros a respeito de movimentos e estilos musicais, como a Bossa Nova, Tropicália, Jovem
Guarda, A Era dos Festivais, Manguebeat, Funk, Choro, Rock, Blues, Reggae, Jazz, Música
Sertaneja/Caipira, Heavy Metal, Punk, Frevo, Música Eletrônica, entre outros temas, fossem
nacionais ou estrangeiros. Grande parte da publicação que possibilitou tais leituras, por vezes,
extremamente interessantes e bem escritas, sobre alguns dos nomes e movimentos citados, é
oriunda da Coleção Todos os Cantos (anteriormente chamada de Coleção Ouvido Musical) lançada
pela Editora 34. [Cf. Ref. Bibliográficas]