representações, imagens de valores que têm se espalhado mundialmente e, como
não poderia deixar de ser, atingem também países periféricos como o Brasil, e na
periferia do Brasil, ―o sertão goiano‖. Assim, a representação de ―sertão civilizado‖,
em contraposição à de ―sertão inculto e selvagem‖, é uma constante nos discursos
não só dos leitores entrevistados, mas também de muitos historiadores e
escritores, contemporâneos ou não, da mudança da capital, que aderem ao
discurso mudancista dos governos estaduais e federais da época. Representações
múltiplas do atraso da Cidade de Goiás começam a ser gestadas já no período do
declínio do ouro, criando estigmas que, desde então, passa, a fazer parte do
imaginário goiano. (MELO, 2007, p. 31).
Ao longo do tempo, muitos significados foram atribuídos ao termo sertão. De
acordo com Sena (2003, p. 117), desde o período colonial do Brasil, era costumeiramente
utilizado pelos navegadores portugueses para ―designar o interior do Brasil, em oposição
ao litoral‖, e continha a ideia de um ―lugar distante, vazio, isolado, inóspito, desconhecido
e, consequentemente, rude, atrasado, decadente e inferior‖.
O espaço físico do sertão é imaginado como terras do interior, longínquas, ermas,
isoladas, amplas, vazias, desérticas, pouco povoadas, áridas, selvagens, cheias
de mato e de gado, terras sem fim. O seu povo é imaginado como pobre,
miserável, forte, bravo, macho, subdesenvolvido, ignorante, violento, inquieto,
resoluto, sem-lei, livre, sábio, criativo, supersticioso, religioso, devoto, resignado,
respeitador, austero e móvel. A sociedade que esse povo compõe é tradicional,
anacrônica, rural, latifundiária, autoritária e mística. Imagina-se a cultura desse
povo como rústica, simples, popular, regional, rural, tradicional, folclórica e rica.
(SCHETTINO, 1995, p. 5).
Inserida nesse contexto, a modernização em Jataí, segundo França (1979),
começou a ser sentida em 1918 com a chegada do primeiro automóvel na cidade. Por
não se beneficiar diretamente da montagem da ferrovia, a região da qual Jataí fazia parte
investiu na construção de rodovias que a interligariam a outras partes do estado goiano.
O veículo automotor — um Ford modelo T de 1916 (figura 9) —, foi atração da
viagem de propaganda feita pelos pioneiros do rodoviarismo do sudoeste goiano, Ronan
Rodrigues Borges e Sidney Pereira de Almeida, sócios na construção da Rodovia Sul
Goiana (atual BR-452). Acompanhados do chofer José Sabino de Oliveira, eles saíram de
Santa Rita do Paranaíba, seguindo estradas carreiras, passaram em Rio Verde e
chegaram em Jataí, após seis dias de viagem, para divulgar a rodovia que seria
construída, interligando a região a Minas Gerais e ao sudeste do país. No mesmo ano, foi
criada a Companhia de Auto-viação Sul-Goyana S/A.