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uma sexualidade mal resolvida. Uma vez tive uma professora, que ela é até muito católica,
entre aspas, eu também sou, é... colocou assim, mas se a gente ficar falando dessa maneira, de
certa forma a gente está estimulando eles, não o estímulo vem da própria, do próprio corpo né,
e da própria sociedade que a gente tá vivendo no momento, cada vez mais as crianças são
adultizadas, cada vez mais os adolescentes têm que se virar sozinhos, né, então é ignorando as
coisas, ignorando que as coisas existem que a gente é aqui nesse, nessa atenção básica que eu
trabalho, a gente tem conseguido boa aderência dos adolescentes, eles vem sabe, eles
conversam sozinhos.
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Uma vez eu tive uma palestra é... até foi recente num encontro da
SOGIMIG lá em Juiz de Fora agora, num encontro de ginecologistas e obstetras e aí o pessoal
tava lá falando da questão jurídica de se atender o menor sem acompanhante sabe, e eu achei
assim muito estranho esse tipo de coisa interferir, né, na conduta do profissional da saúde, não
só o médico, como também os outros profissionais, o próprio agente de saúde, o enfermeiro, a
técnica, né, a nutricionista que trabalha com a gente e tudo mais, a dentista que trabalha com a
gente, porque eu acho que a questão da saúde, ela tem que ser é...de uma certa forma vista
sem esses é...preconceitos
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. Então eu, quando a adolescente vem né, que ela tenha doze anos,
como eu já tive casos de adolescentes de doze anos que engravidaram, se ela tem doze anos e
ela me coloca ou eu fico sabendo porque a gente trabalha no bairro o tempo todo, que ela tá
tendo uma vida sexual ativa, eu converso com ela numa boa, eu vou falando assim como
quem não quer nada e coloco pra ela as possibilidades
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que ela tem né, a gente ainda brinca
que tem que usar o cinto e o suspensório, o cinto seria a pílula né, poderia ser pílula injetável
ou a ... a pílula oral
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que para o adolescente é mais complicado, e o suspensório, que é a
camisinha né, porque para proteger das doenças sexualmente transmissíveis
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, isso em relação
ao problema maior que a gente tem com os adolescentes que é a questão da sexualidade
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. Eu
acho que por eu ser ginecologista, por eu ter feito psicologia, eu tenho uma abordagem um
pouco melhor, mas é difícil, realmente é difícil, porque eles estão na defensiva, os pais
ignoram né muita coisa e a gente ainda fica com aquele medo né, de tá invadindo um espaço
que a gente não tem certeza se é nosso
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. Eu acho que você promover a saúde está acima né, de
qualquer tipo de é...julgamento, do ponto de vista religioso, ético, moral
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né, não me interessa,
eu também não estou aqui para julgar
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. Igual, hoje em dia, os adolescentes são diferentes dos
adolescentes da minha época, que na minha época a gente quando beijava né, beijava quando
já tinha saído com o cara umas dez vezes né, hoje em dia eu vejo as adolescentes falarem que
nas festas, elas beijam assim, juntam uma turma de amiguinhas e todas vão lá e beijam o
mesmo cara na mesma noite, nem conhece o camarada, quer dizer estão na fase do beijo né, e
o resto né. Então fica assim, é... uma situação meio que liberada, mas ao mesmo tempo
confusa na cabeça do adolescente né. Com relação aos outros problemas de saúde é... eu tenho
com eles a questão da acne
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né, a acne também é uma questão que a gente tem que cuidar, é...
outras vezes a depressão né, a acne eu costumo é... tentar medicamentos tópicos mais
tranquilos, quando eu não consigo com os medicamentos tópicos, eu encaminho para um
dermatologista, que é meu amigo né, o que facilita também né, do um jeitinho brasileiro e ele
passa istretinoína que graças a Deus o SUS está fornecendo, que vai evitar várias faces
mutiladas no futuro, né. Com relação a depressão
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, a gente tenta ao máximo né, evitar de
entrar com medicação, mas tem hora que não tem jeito, aí a gente tem que entrar mesmo. No
meu caso eu começo, geralmente é a síndrome do pânico
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que a gente mais vê, chega aqui
falando que vai morrer, que está sentindo isso, que está sentindo aquilo, então eu faço a
seguinte abordagem, faço os exames para ter algo concreto
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, porque eles ainda tem muito de
criança né, ele ainda tem muito que ver pra crer né, ainda são meio São Tomé, então eu faço
os exames, falo assim ó seu exame está normal, mostro pra eles que o fato deles terem um
problema emocional não significa que eles estão fingindo, eles estão realmente sentindo mal,
só que é um sentimento ruim
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que não está vindo daquele órgão que ele está se referindo, mas
está vindo do cérebro, do lado emocional
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, muitas vezes eu coloco que está faltando