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Bruno David Henriques
ANÁLISE COMPREENSIVA DO SIGNIFICADO DO ATENDIMENTO
AO ADOLESCENTE REALIZADO PELOS PROFISSIONAIS DE
SAÚDE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG
Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde:
Saúde da Criança e do Adolescente
Belo Horizonte-MG
2009
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Bruno David Henriques
ANÁLISE COMPREENSIVA DO SIGNIFICADO DO ATENDIMENTO
AO ADOLESCENTE REALIZADO PELOS PROFISSIONAIS DE
SAÚDE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG
Belo Horizonte-MG
2009
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde da
Faculdade de Medicina, da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Saúde, área de concentração
em Saúde da Criança e do Adolescente.
Orientadora: Profa. Dra. Regina Lunardi Rocha
Co-orientadora: Profa. Dra. Anézia Moreira Faria Madeira
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iii
Henriques, Bruno David.
H519a Análise compreensiva do significado do atendimento ao
adolescente realizado pelos profissionais de saúde da atenção primária do
município de Viçosa-MG [manuscrito]. / Bruno David Henriques. - - Belo
Horizonte: 2009.
102f.
Orientadora: Regina Lunardi Rocha.
Co-orientadora: Anézia Moreira Faria Madeira
Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente.
Dissertação (mestrado): Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Medicina.
1. Atenção Primaria à Saúde. 2. Saúde do Adolescente. 3. Relação
Profissional-Paciente. 4. Pesquisa Qualitativa. 5. Dissertações
Acadêmicas.
I. Rocha, Regina Lunardi. II. Madeira, Anézia Moreira Faria. III.
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina. IV. Título
NLM: WS 460
iv
v
vi
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor: Ronaldo Tadêu Pena
Vice-Reitora: Heloisa Maria Murgel Starling
Pró-Reitora de Pós-graduação: Profª. Elizabeth Ribeiro da Silva
Pró-Reitor de Pesquisa: Prof. Carlos Alberto Pereira Tavares
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor: Francisco José Penna
Vice-Diretor: Tarcizo Afonso Nunes
Coordenador do Centro de Pós-Graduação: Prof. Carlos Faria Santos Amaral
Subcoordenador do Centro de Pós-Graduação: Joel Alves Lamounier
Chefe do Departamento de Pediatria: Profª. Maria Aparecida Martins
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – ÁREA DE
CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Coordenador: Prof. Joel Alves Lamounier
Subcoordenador: Profª. Ana Cristina Simões e Silva
Colegiado
Profª. Ivani Novato Silva
Prof. Jorge Andrade Pinto
Profª. Lúcia Maria Horta Figueiredo Goulart
Profª. Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana
Prof. Marco Antônio Duarte
Profª. Regina Lunardi Rocha
Gustavo Sena Sousa (Representante Discente)
vii
Tudo isto quero dedicar a pessoas especiais...
À minha mãe e à minha Irmã, que em momento algum deixaram
de confiar em meu potencial, e estiveram ao meu lado em todo
meu o meu caminhar. Ao meu pai, que está sempre presente e,
tenho certeza, muito feliz com esta conquista.
À minha família e à minha namorada que sempre me apoiaram
nesta caminhada.
viii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, pela vida, pelas oportunidades e por estar ao meu lado em
todo o meu caminhar.
À minha orientadora, Professora Dra. Regina Lunardi Rocha, pela amizade, pelo apoio e pela
confiança durante esta trajetória, sempre presente nos momentos de alegrias e dificuldades.
À minha co-orientadora, Professora Dra. Anézia Maria Faria Madeira, por me amparar em
todos os momentos de dificuldades e por me fazer entender o quanto é importante
compreender e respeitar os anseios e significados da vida para as pessoas.
À Secretaria de Saúde de Viçosa pelo apoio, em especial a todos os profissionais que me
atenderam e participaram desta pesquisa.
Aos meus professores e amigos Alisson Araújo, Rosemary e Amanda, pelo incentivo e apoio
nesta caminhada.
A todos da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde-FACISA/UNIVIÇOSA, que em
todos os momentos foram solidários nesta trajetória.
Aos meus amigos do mestrado, em especial ao Paulo, Luciana, Mariana e Liliane que foram
pessoas colocadas por Deus em meu caminho, que me ajudaram muito a crescer como
profissional e como pessoa.
Aos meus grandes amigos de Canaã, pessoas muito especiais que estão presentes em todos os
momentos da minha vida
Não poderia deixar de agradecer aos funcionários e amigos da Secretaria de Saúde de Canaã,
meu primeiro emprego, momento de muita importância para mim.
ix
“É melhor tentar e falhar,
que preocupar-se e ver a vida passar;
é melhor tentar, ainda que em vão,
que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar,
que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco,
que em conformidade viver ..."
Martin Luther King
x
RESUMO
O presente trabalho é um estudo de natureza qualitativa, com abordagem fenomenológica, que
teve como objetivo compreender o significado do atendimento a adolescentes realizado pelos
profissionais da atenção básica do município de Viçosa-MG. A pesquisa foi realizada com
profissionais de nível superior, médicos e enfermeiros, que trabalhavam nas Equipes da
Estratégia Saúde da Família. Os dados foram colhidos nos meses de fevereiro e março de
2009, por meio de uma entrevista individual com os profissionais que aceitaram participar da
pesquisa. A entrevista foi aberta, guiada por uma questão norteadora: “O que é para você,
atender o adolescente na atenção primária?”. Através do critério de repetição das falas
chegou-se a doze entrevistados, cujos discursos foram avaliados segundo a análise ideográfica
proposta por Martins e Bicudo (1989), o que possibilitou construir doze unidades temáticas.
Estas unidades confluíram para três grandes categorias de análise, que elucidam o
atendimento ao adolescente: “Atendimento ao adolescente: os desafios da atenção primária”,
“Atendimento ao adolescente na atenção primária: características da prática assistencial”,
“Atender o adolescente: uma necessidade da atenção primária. Para os profissionais que
participaram da pesquisa o atendimento ao adolescente ainda é um grande desafio, com
muitos obstáculos. Nesse contexto destacam-se questões relacionadas à dificuldade em lidar
com essa população, à falta de capacitação, à sobrecarga de trabalho, dentre outros elementos.
Outros pontos evidenciados estão relacionados ao atendimento realizado pelos profissionais
nas equipes, muitas vezes direcionados para as características, os riscos e os agravos da
adolescência. Os participantes colocam também que é necessário atender o adolescente e que
o serviço de saúde deve se organizar para esta finalidade. O desocultamento do fenômeno
indica que existem questões importantes para serem discutidas e melhoradas com relação ao
atendimento ao adolescente na atenção primária. Neste contexto vários atores devem ser
envolvidos, dentre eles o profissional e o adolescente, que são as peças fundamentais dessa
organização.
xi
ABSTRACT
This work is a study of qualitative nature, with phenomenological approach, which had as
objective to understand the meaning of assistance to adolescents conducted by primary care
professionals in the municipality of Viçosa-MG. The research was realized with graduated
professionals, doctors and nurses, working in teams of the Family Health Strategy. Data were
collected in February and March 2009, through an open individual interview with
professionals who accepted to participate in the study. It was an open interview, conducted by
a guiding question: "What does it mean for you to assist the teenager in primary care? " By
the criterion of repetition of words, it was possible to get to twelve interviewees, whose
speeches were evaluated according to ideographic analysis proposed by Martins and Bicudo
(1989), which allowed us to build twelve thematic units. These units converged to three large
categories of analysis that clarify the care to adolescents: "Assistance to adolescents: the
challenges of primary care", "Assistance to adolescents in primary care: characteristics of the
practice care", "Answering the adolescent: a need of primary care". For the professionals who
participated in the search, the assistance to adolescents is still a major challenge, which has
many obstacles. In this context there are issues related to the difficulty in dealing with this
population, the lack of training, the overload of work, among other elements. Other points that
were highlighted are related to the work developed by the professionals in teams, often
directed to the characteristics, risks and problems of adolescence. Participants also say that it
is necessary to assist the adolescent and the health service should be organized to perform this
job. The identification of the phenomenon indicates that we have important issues to discuss
and improve, related to attendance in primary care to adolescents. This context various
elements should be involved, among them are the professional and the adolescent, which are
the key components of this organization.
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
COEP- Comitê de Ética em Pesquisa
DSTs- Doenças Sexualmente Transmissíveis
CRISP- Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública
ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente
ESF- Estratégia Saúde da Família
FACISA- Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LILACS- Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde
OMS- Organização Mundial de Saúde
ONG- Organização Não Governamental
OPAS- Organização Pan-Americana de Saúde
PACS- Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PEAS- Programa Educacional de Atenção ao Jovem
PROERD- Programa Educacional de Resistência às drogas e à Violência
PROSAD- Programa Saúde do Adolescente
PSF- Programa Saúde da Família
SCIELO- Scientific Electronic Library Online
SUS- Sistema Único de Saúde
TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais
UFVJM- Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
xiii
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO....................................................................................................................14
2-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (Artigo 1)....................................................................20
3-PERCURSO METODOLÓGICO......................................................................................33
3.1-Pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológica.......................................................34
3.2-Pressupostos e Fundamentos da Fenomenologia................................................................35
3.3-O Cenário do estudo...........................................................................................................38
3.4-O encontro com os sujeitos.................................................................................................40
3-5-O momento da entrevista....................................................................................................40
3.6-Compreendendo o fenômeno através da análise dos discursos..........................................42
3.7-Referências bibliográficas..................................................................................................48
4- RESULTADOS (Artigo 2).................................................................................................50
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................69
6-ANEXO.................................................................................................................................73
Anexo 1.....................................................................................................................................74
7- APÊNDICES.......................................................................................................................75
Apêndice 1................................................................................................................................76
Apêndice 2................................................................................................................................77
Apêndice 3................................................................................................................................76
14
1 - INTRODUÇÃO
_____________________________
15
1-Introdução
A adolescência, rito de passagem da infância para o mundo adulto, ocupou em todo o
meu caminhar como acadêmico de enfermagem e enfermeiro lugar de tamanho apreço e
distinto interesse. Tudo começou quando me ingressei no curso de graduação em Enfermagem
na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na cidade de
Diamantina, onde no quinto período cursei a disciplina Saúde da Criança e do Adolescente.
Ao iniciar o conteúdo, o professor explicou o cronograma das atividades e relatou que as
aulas práticas seriam desenvolvidas em Unidades da Estratégia Saúde da Família e em uma
escola do município. Neste contexto destaco as atividades realizadas na escola, pois foi o meu
primeiro contato com os adolescentes. Passei então a buscar conhecimentos e práticas a
respeito dessa população. Por ser uma fase peculiar, desejava conhecer seus anseios, suas
dúvidas e seus conflitos, como também adquirir conhecimento prático para realizar um
atendimento de qualidade.
Com o início das atividades percebi que o tempo que iríamos passar naquela escola
seria muito pouco, pois aplicaríamos uma dinâmica relacionada a um tema determinado pelo
grupo e em seguida deveríamos deixar o campo. Alguns questionamentos começaram à
surgir, uma vez que dentro da disciplina possuíamos uma carga horária muito grande
direcionada a atenção ao recém-nascido e à criança, e quando falávamos nos adolescentes o
período para desenvolvimento das atividades acadêmicas era significativamente menor, o que
deixava uma lacuna na grade curricular.
Outro ponto importante a ser destacado nessa experiência é o planejamento das
atividades realizadas com os adolescentes. Em momento algum os participantes foram
inseridos na organização, execução e avaliação das atividades, não se levando em
consideração os anseios do grupo, elementos importantes que não deveriam ser
negligenciados.
16
Na área em que se localizava a escola onde o estágio foi realizado havia uma Equipe
da Estratégia Saúde da Família (ESF), responsável por realizar ações de prevenção e
promoção da população acompanhada, no entanto nessa escola não era realizado nenhum tipo
de atividade, mesmo existindo uma demanda urgente com relação à abordagem dos
adolescentes com temas relacionados à gravidez na adolescência e sexualidade, pois os casos
de gestação precoce estavam aumentando entre os alunos. Conversando com os profissionais
dessa equipe, constatei que as atividades propostas eram desenvolvidas, mas de forma
esporádica, utilizando sempre a metodologia de palestras, e que os profissionais não se
sentiam motivados a realizá-las.
A partir desse relato comecei a refletir sobre o acompanhamento dos adolescentes,
principalmente em nível primário, pois as campanhas educativas são realizadas, mas ainda
encontramos um quadro de aumento dos casos das Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DSTs)/AIDS e gravidez na adolescência, aumento no consumo de drogas lícitas e ilícita,
aumento dos casos de violência nessa faixa etária, dentre outros.
Com o desenvolvimento das atividades do estágio, percebi que os adolescentes
possuíam muitas dúvidas quando se falava em saúde. Observei que a cada atividade realizada
existia uma surpresa, sejam com ideias, valores, dúvidas ou experiências de vida. Com isso,
constatei que era possível criar estratégias que, de alguma forma, melhorariam a assistência a
essa população, rompendo com metologias tradicionais, que na maioria das vezes não têm
resultados positivos. Percebi que a criação de vínculos com os adolescentes também era
fundamental, pois assim conseguiria efetivar e melhorar a qualidade das ações
desenvolvidas.
Quando conclui a graduação, em 2005, ingressei na vida profissional como
enfermeiro. Trabalhando na Equipe de Saúde da Família do município de Canaã MG,
observei que as ações relacionadas à atenção à saúde do adolescente não eram prioridade
17
dentro da organização do atendimento. Verifiquei que na maioria das vezes os profissionais
das Equipes de Saúde da Família do município não se envolviam com os adolescentes e não
se mostram motivados para atendê-los de forma integral. Reconheço não ser fácil lidar com
questões relacionadas à atenção a essa população, mas é necessário que se desenvolvam
programas de saúde, principalmente na atenção primária, que tenham a capacidade de atender
aos anseios individuais e coletivos dos adolescentes.
Com o passar do tempo, verifiquei que um dos grandes problemas relacionados a essa
assistência estava nos profissionais de saúde, que em sua maioria não se sentiam preparados
para atuar com esse público. Este fato foi confirmado por colegas médicos e enfermeiros que
compunham as equipes do município, que afirmaram ser muito difícil trabalhar com
adolescentes e que não se sentiam preparados.
Observei em minha prática como enfermeiro da Estratégia Saúde da Família que as
atividades realizadas também eram esporádicas e isoladas e que na maioria das vezes os temas
abordados se repetiam, destacando o uso de álcool e outras drogas e as doenças sexualmente
transmissíveis. Com relação à metodologia, os recursos eram sempre os mesmos, exposição
oral para um grande número de pessoas e sempre realizada na escola, com isso percebi que os
adolescentes que não estudavam eram excluídos.
A partir do quadro relatado interessei-me ainda mais pelo tema e queria de alguma
forma contribuir para melhoria da assistência prestada aos adolescentes em nível primário.
Outro ponto que considero muito importante para minha estreita relação com a saúde
do adolescente foi trabalhar a Disciplina de Educação em Saúde no curso de graduação em
Enfermagem, na Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde (FACISA/UNIVIÇOSA), na
cidade de Viçosa, Minas Gerais, momento em que deixei de atuar na atenção primária para
ingressar na carreira de docente.
18
Quando comecei lecionar a disciplina Educação em Saúde, para alunos do quinto
período do curso de Enfermagem, verifiquei que o conteúdo era dividido em parte prática e
parte teórica. Na escolha dos conteúdos práticos a serem desenvolvidos, a saúde do
adolescente se tornou prioridade. Vi a possibilidade de pesquisar metodologias e estratégias
para se trabalhar a educação com foco na saúde dessa população.
Para realização das atividades do estágio selecionei uma unidade da ESF, em um
bairro de periferia. Em discussão com o grupo, escolhemos uma escola para desenvolver as
atividades. Nesse contexto, encontrei as mesmas dificuldades relatadas na graduação e
durante a vida profissional. Percebi, então, que essa era a oportunidade de contribuir
significativamente para a melhoria na formação dos futuros enfermeiros e da assistência da
Equipe de Saúde da Família, no que tange à saúde do adolescente.
Primeiramente foi feito o levantamento das necessidades da escola, por meio de
conversa com a direção, com os professores e com os alunos. Após identificar as prioridades,
os funcionários foram sensibilizados em relação à necessidade de implantar um programa de
atividades de educação em saúde que atendesse às necessidades dos adolescentes. Assim,
foram planejadas atividades em grupos, levando-se em consideração aspectos da literatura que
fundamentam essa metodologia. Foram inseridos os alunos de graduação, membros da equipe
da ESF e funcionários da escola. Constatei que essa parceria foi fundamental no sucesso das
atividades, mas ressalto que os membros das equipes da ESF não conseguiram se integrar ao
grupo e participar das atividades.
Mais uma vez pude observar a resistência dos profissionais em realizar atividades
voltadas para os adolescentes. Passei então a buscar na literatura temas relacionados ao
atendimento dessa população pelos profissionais da atenção primária, mas a carência desses
estudos era grande.
19
Sendo assim, comecei a questionar por que os profissionais da atenção primária têm
tantas dificuldades para atender os adolescentes. Percebi que, na maioria das vezes, os
profissionais que atuam diretamente na assistência não eram ouvidos durante a elaboração dos
programas direcionados a essa população. Destaco também a deficiência do curso de
graduação em formar profissionais capacitados para o atendimento aos adolescentes,
associado à falta de um processo de educação permanente para quem atua na atenção primária
a saúde. Portanto, constatei que esses fatos são relevantes e devem ser considerados na
tentativa de explicitar essas dificuldades.
Na busca de significados que os profissionais dão ao atendimento aos adolescentes
ingressei em 2008 no Curso de Mestrado em Ciências da Saúde, com ênfase em Saúde da
Criança e do Adolescente, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais. Decidi realizar esta pesquisa, indo diretamente ao encontro dos profissionais que
fazem esse atendimento. Este estudo teve como objetivo compreender o significado do
atendimento aos adolescentes realizado pelos profissionais da atenção primária do município
de Viçosa-MG.
A realização desta pesquisa me possibilitou ter conhecimento mais amplo sobre o
atendimento aos adolescentes realizado pelos profissionais da atenção primária, além de
fornecer subsídios para reorganização dos serviços que atendem essa população, melhorando
a qualidade da assistência prestada a ela.
Para tanto, o presente trabalho é apresentado no formato de artigos, sendo a
fundamentação teórica constituída de um artigo de revisão de literatura e o outro é referente
aos resultados da pesquisa. Sua formatação está de acordo com as normas de publicação das
revistas a que serão submetidos.
20
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
(Artigo 1)
____________________________________________
21
O atendimento e acompanhamento de adolescentes na Atenção Primária à Saúde: uma
revisão de literatura.
1
The care and monitoring of adolescents in primary health care: a literature review.
La atención y acompañamiento de adolescentes en el Cuidado Básico a la Salud: una
revisión de literatura
Bruno David Henriques
2
Regina Lunardi Rocha
3
Anézia Moreira Faria Madeira
4
__________________________________________________________________________________________
1
Texto extraído da dissertação de mestrado em ciências da saúde realizado na Faculdade de Medicina da UFMG.
2
Enfermeiro, mestrando em Ciências da Saúde: Saúde da Criança e do Adolescente na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Professor do Departamento de Enfermagem da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde, FACISA – UNIVICOSA.
3
Médica Pediatra, Doutora em Medicina Tropical, Professora Associada do Departamento de Pediatria da
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
4
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal
de Minas Gerais – UFMG.
Endereço para correspondência: Rua Dr. Juarez Souza Carmo 199, bairro centro, Canaã-MG, CEP 36592-000.
E-mail: [email protected]m.br
22
O atendimento e acompanhamento de adolescentes na Atenção Primária à Saúde: uma
revisão de literatura
RESUMO
A elaboração de políticas públicas voltadas para o atendimento aos adolescentes vem se
tornando prioridade no Brasil. Este fato pode ser explicado pelo aumento dessa população e
também pela ineficiência dos programas implantados na realização de atividades de promoção
de saúde e prevenção de agravos. O presente estudo é uma revisão de literatura sobre o
atendimento aos adolescentes em nível primário, tendo como objetivo conhecer a organização
e características desse acompanhamento. Na maioria das vezes, a atenção ao adolescente está
voltada para problemas específicos de causas orgânicas, não levando em consideração as
características relacionadas ao desenvolvimento psicossocial, o que tem resultado no fracasso
das políticas de saúde. Dentro deste contexto, a Estratégia Saúde da Família, associada à
capacitação profissional, estrutura física adequada e inserção dos adolescentes no
planejamento das ações, passa a serem elementos-chave no processo de reformulação da
atenção primária ao adolescente, no sentido de melhorar a assistência prestada a esse
segmento social.
Palavras-chave: Atenção Primária, Saúde da Família, Saúde do Adolescente, Adolescência
ABSTRACT
The development of public policies for the care of adolescents is becoming a priority in
Brazil. This fact can be explained by the increase of population and also by the inefficiency of
the installed programs in carrying out activities to promote health and prevent diseases. This
study is a literature review on the care of adolescents at primary level, with the objective to
know the organization and characteristics of this monitoring. In most cases, attention to the
adolescent is focused on specific problems with organic causes, not being considered the
characteristics related to psychosocial development, which has resulted in the failure of health
policies. Within this context, the Family Health Strategy, associated with professional
training, appropriate infrastructure and adolescents’ inclusion in the planning of actions are
determinant in the reform of primary care to adolescents, in order to improve the support to
this social segment.
Keywords: Adolescence, Primary Care, Family Health, the Adolescent Health.
RESUMEN
La elaboración de políticas públicas que están dirigidas hacia la atención de los adolescentes
viene tornándose prioridad en Brasil. Este hecho puede explicarse por el aumento de esta
población y también por la ineficiencia de los programas implantados en la realización de
actividades de promoción de la salud y prevención de agravamientos. El presente estudio es
una revisión de literatura sobre la atención a los adolescentes a nivel básico, teniendo como
objetivo conocer la organización y características de este acompañamiento. La mayoría de las
veces, la atención al adolescente enfoca problemas específicos de causas orgánicas sin llevar
en consideración las características relacionadas al desarrollo psicosocial, lo que ha resultado
en el fracaso de las políticas de la salud. Dentro de este contexto, la Estrategia Salud de la
Familia, asociada a la capacitación profesional, estructura física adecuada e inserción de los
adolescentes en la planificación de las acciones, pasan a ser elementos clave en el proceso de
reformulación del cuidado básico al adolescente, en el sentido de mejorar la asistencia
ofrecida a este segmento social.
Palabras clave: Adolescencia, Cuidado Básico, Salud de la Familia, Salud del Adolescente.
23
O atendimento e acompanhamento de adolescentes na Atenção Primária à Saúde: uma
revisão de literatura
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a saúde do adolescente vem se tornando uma das prioridades de
atenção dentro das políticas de saúde pública no Brasil. Tal fato pode ser explicado por dados
quantitativos, uma vez que temos uma grande população nessa faixa etária. Outro ponto a ser
destacado é que a maioria dos problemas de saúde que acomete essa população está
diretamente relacionada a questões que podem ser prevenidas em nível primário, como
gravidez na adolescência, aumento do consumo de álcool e outras drogas, causas externas,
como acidentes automobilísticos, homicídios e suicídios, doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs) / AIDS, dentre outros.
Vários critérios podem ser usados para delimitar a adolescência, dentre eles a idade
cronológica, as fases do desenvolvimento físico e as características psicológicas e sociais.
Mas deve-se ressaltar que a adolescência não pode ser analisada com ênfase em um
aspecto, pois todos são fundamentais nesse ciclo da vida.
1
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
2
, a adolescência é uma etapa
evolutiva caracterizada pelo desenvolvimento biopsicossocial, que em geral se inicia com as
mudanças corporais na puberdade e termina com a inserção social e econômica desse
indivíduo. Quando delimitamos uma faixa etária para classificação dos adolescentes
encontramos diferentes definições: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) delimita a
adolescência entre 12 e 18 anos, a OMS e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS)
destacam que a adolescência é uma etapa compreendida entre 10 e 19 anos, classificação esta
adotada pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
3
Etimologicamente, o termo adolescência vem do latim adolescere, em que ad significa
para e olescere significa crescer, estando implícito que é um processo de desenvolvimento e
crescimento que envolve mudanças.
4
. Com as grandes transformações ocorridas nessa fase,
surgem diversas características e peculiaridades, como alterações na relação de dependência
com a família, escolha de um projeto de vida, inserção no mercado de trabalho, além de
importantes mudanças físicas e mentais, articuladas a uma reorganização de identidade e
papéis sociais. Em decorrência dessas características, que podem acarretar grandes mudanças
no comportamento dos adolescentes, percebe-se o quanto essa fase deve ser valorizada e
24
tratada de modo especial, pois é um grupo de grande vulnerabilidade, com distinta exposição
a fatores de risco, que podem resultar em algum tipo de problema.
5
Assim, com o objetivo de prevenir agravos, reduzir a exposição a fatores de risco e
promover a saúde do adolescente, devemos realizar ações em nível primário, principalmente
de cunho educativo, que fortaleçam a autonomia dos sujeitos envolvidos, para que eles sejam
inseridos como protagonistas no planejamento, na execução e na avaliação dessas atividades.
Com isso, será estabelecida uma relação de vínculos sólidos entre os adolescentes e as equipes
envolvidas na assistência, o que facilitará o acompanhamento dessa população.
Para que tenhamos uma assistência primária de qualidade, alguns elementos devem ser
destacados, como estrutura física adequada, equipamentos básicos e, principalmente, recursos
humanos capacitados. Observa-se atualmente que grande parte das dificuldades na atenção à
saúde do adolescente está diretamente ligada à falta de preparo das equipes em promover
ações que atendam esse público. Nesse contexto surgem alguns questionamentos que
merecem reflexão. O que leva o profissional de saúde a ter tantas dificuldades para atender os
adolescentes? Durante a graduação esse profissional foi preparado para atuar na saúde do
adolescente? Após a graduação existiu algum tipo de capacitação para se trabalhar a saúde do
adolescente? Portanto, surge a necessidade de levantarmos pontos que levem os profissionais
a pensar e analisar como está sendo realizada e organizada a rede de atenção ao adolescente
em sua área de atuação, para que possamos buscar estratégias de trabalho que venham a
contribuir para a eficiência desse acompanhamento.
Com o objetivo de verificar como está sendo o atendimento aos adolescentes na
atenção primária à saúde, realizou-se uma revisão teórica sobre o assunto, buscando conhecer
a organização e as características desse acompanhamento.
METODOLOGIA
Realizou-se pesquisa bibliográfica em artigos e periódicos nacionais, em manuais do
Ministério da Saúde e em livros, considerando a relevância e o valor informativo dos
materiais para a elaboração deste estudo.
Na busca dos artigos utilizados na revisão de literatura, foram feitas pesquisas nas
bases de dados do SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e do LILACS (Centro
Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde). Os artigos publicados
no período de 2000 a 2009 foram selecionados de acordo com a relevância do tema. Foram
25
utilizados os seguintes descritores para a seleção do material: atenção básica, saúde da
família, adolescente e saúde do adolescente.
A partir da leitura minuciosa dos artigos, buscou-se identificar questões relacionadas
ao atendimento aos adolescentes na Atenção Primária à Saúde, identificando dificuldades e
sugerindo mudanças para melhoria da qualidade dos serviços.
DESENVOLVIMENTO
Quando se discute a saúde do adolescente, um fator considerado relevante e que pode
explicar questões relacionadas ao comportamento dessa população é o desenvolvimento
psicológico-emocional. Algumas características são consideradas comuns a esse grupo,
principalmente aquelas relacionadas à busca de uma nova identidade. Quando o adolescente
sai da condição de criança, ele busca uma nova identidade, processo este que é lento e
doloroso e construído de forma consciente ou inconsciente, com relação direta na convivência
com os pais.
6
Neste contexto, destaca-se várias pesquisas e estudos desenvolvidos por Maurício
Knobel, que através da evolução psíquica enfatiza
um conjunto de características
consideradas normais para essa faixa etária, denominadas Síndrome da Adolescência
Normal.
7
A partir do entendimento dessas características, destacadas a seguir, teremos subsídios
importantes para compreensão do desenvolvimento dessa população.
- Busca de si e da identidade.
- Tendência grupal.
- Desenvolvimento do pensamento abstrato, necessidade de intelectualizar e fantasiar, crises
religiosas (do ateísmo ao misticismo).
- Deslocação temporal, quando o pensamento adquire características do pensamento primário.
- Evolução sexual manifesta da desde o autoerotismo à heterossexualidade genital adulta.
- Contradição sucessiva em todas as manifestações de conduta.
- Separação progressiva dos pais.
- Constantes flutuações de humor e estado de ânimo.
Constata-se que temos uma gama de elementos que exercem influência direta no
comportamento e desenvolvimento dos adolescentes, os quais devem ser considerados em
qualquer pesquisa ou discussão sobre o tema. Deve-se destacar também que a adolescência é
uma fase do desenvolvimento humano tão importante como qualquer outra.
26
A compreensão do desenvolvimento psicológico-emocional dos adolescentes é de
grande relevância para os profissionais de saúde, pois dará subsídio para o entendimento do
comportamento dessa população, que mesmo sendo um grupo heterogêneo e multifacetado
possui características em comuns que devem ser levadas em consideração. Outro ponto
importante é que a partir da compreensão dessas características, além de melhorar a qualidade
do atendimento individual, podemos orientar os familiares, que também sofrem com essas
mudanças.
Ao fazer uma análise crítica da literatura, constata-se que quando se fala em saúde do
adolescente o cuidado está sempre focado nos denominados problemas orgânicos,
negligenciando as questões do desenvolvimento psicossocial e a formação intelectual, moral e
espiritual, associadas aos processos de identidade, sexualidade e autonomia. O que se observa
é a implementação de programas verticais com ações dirigidas para atacar problemas
específicos, os quais não são programas integrais dirigidos a promover o desenvolvimento
humano e atender à saúde integral dos adolescentes.
8
Com as mudanças demográficas ocorridas no Brasil, nas últimas décadas, verificamos
a redução da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, com isso temos o
aumento da população de jovens e adultos. Em consequência deste fato e com o aumento dos
agravos que afetam os adolescentes, viu-se a necessidade de implantação de políticas públicas
de atenção ao adolescente que promovam a melhoria da qualidade de vida e a redução dos
índices de morbimortalidade que afetam essa população, além de estimular o seu
desenvolvimento.
9
Atualmente encontramos leis e programas que buscam a melhoria das ações
direcionadas à saúde do adolescente. Os direitos da criança e do adolescente estão
fundamentados na Lei n
o
8.069 de 13 de julho de 1990, quando entrou em vigor o Estatuto da
Criança e do Adolescente, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.
10
Ao analisar os programas relacionados à atenção à saúde do adolescente, destacamos
aquelas que mais contribuíram para a melhoria da assistência prestada a essa população.
Nesse contexto temos o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD), que tem como objetivos
promover, integrar, apoiar e incentivar atividades no sentido de promoção da saúde,
identificar grupos de risco e fazer a detecção precoce de agravos, além de tratamento e
reabilitação dos indivíduos, sempre fundamentado na integralidade, multissetorialidade e
interdisciplinaridade.
11
Outro programa a ser destacado é o Projeto Acolher, uma parceria do
Ministério da Saúde com a Associação Brasileira de Enfermagem. Esse projeto busca
27
estimular a produção científica e divulgar ações e práticas bem-sucedidas, além de estimular a
reflexão sobre a saúde do adolescente.
12
No Estado de Minas Gerais, podemos destacar outros programas relacionados à saúde
do adolescente: o Programa Educacional de Atenção ao Jovem (PEAS) e o Programa Saúde
na Escola, ambos vinculados à Secretaria Estadual de Educação. O primeiro tem como
objetivo discutir temas atuais e questões relacionadas à sexualidade em escolas estaduais e
municipais. o Saúde na Escola, implantado em 2005, objetiva que os jovens sejam capazes
de entender questões de saúde, sexualidade e violência.
13
Destaca-se também o Programa Fica-Vivo, criado no Estado de Minas Gerais e
vinculado ao Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP), que tem
como objetivo desenvolver ações de repressão contra a criminalidade e busca a inserção social
de jovens com passado de violência.
14
Mesmo com a implantação dos programas citados, o que se observa na prática é a
ausência de atividades relacionadas à atenção básica ao adolescente. Não se pode generalizar,
mas não são comuns os serviços de saúde que dispõem de atividades, que levem em
consideração as peculiaridades do adolescente, focadas nas dimensões social e coletiva.
Traverso-Yepéz (2002) destaca que embora se fale em atenção integral, de um modelo
de atendimento biopsicossocial de caráter preventivo e que promova a saúde, o que
encontramos na prática é um modelo centrado na doença, com uma proposta curativa. Mais
do que qualquer outro grupo, os adolescentes são diretamente afetados, uma vez que fica
evidente a fragilidade do sistema de saúde, que ao partir de uma visão unidimensional
desconsidera a diversidade de problemas não orgânicos que ameaçam a vida de crianças e
adolescentes.
4
Nesse sentido, percebemos a necessidade de implantar políticas públicas de qualidade
que atendam essa população. Entretanto, formular uma política pública eficaz para os
adolescentes tornou-se um desafio, pois se trata de um grupo com características muito
diversificadas. Mas, ao mesmo tempo, verificamos que recursos humanos capacitados,
adequação dos serviços de saúde às necessidades específicas dos adolescentes, respeito às
características individuais e sua inserção no planejamento, associados ao desenvolvimento e à
avaliação dos programas, podem se tornar instrumentos importantes para a execução de
ações que visem a promoção da saúde e a qualidade de vida dessa população.
15, 16
Na perspectiva de buscar uma assistência que previna os agravos e promova a saúde
dos adolescentes, destaca-se que os Programas de Saúde Pública devem realizar um
28
atendimento que fortaleça sua autonomia, oferecendo apoio sem prejulgamentos ou sem
emitir juízos de valor.
15
Historicamente a atenção à saúde no Brasil vinha se desenvolvendo com base na
prestação de serviços com enfoque curativo, a partir de demanda espontânea. Na tentativa de
reverter essa tendência e amparado na Constituição de 1988, com a Criação do Sistema Único
de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde ampliou o conceito de saúde com o intuito de reverter
esse modelo assistencial, e isso vem norteando as mudanças progressivas dos serviços, que
passam do modelo de assistência centrada na doença para uma assistência integral que
incorpora ações progressivas de prevenção, promoção e reabilitação.
17
Com a criação do SUS e a responsabilização pela saúde compartilhada pelas três
esferas de governo (federal, estadual e municipal), adota-se o conceito de atenção básica,
atualmente Atenção Primária à Saúde, definida como sendo um nível de um sistema que é
caracterizado por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que
abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde.
18
Nesse cenário, o Ministério da Saúde criou o Programa de Saúde da Família (PSF),
atualmente Estratégia de Saúde da Família (ESF), que se tornou o configurador da
organização dos serviços de saúde e principal estratégia para viabilização da atenção primária,
tendo como objetivo a reorganização da prática assistencial com novos alicerces e critérios,
substituindo o modelo assistencial vigente.
19
A Estratégia de Saúde da Família, desenvolvida nos últimos anos, é um marco
indiscutível do avanço da política do SUS. O programa foi iniciado em 1991, quando o
Ministério da Saúde, com o objetivo de reduzir a taxa de mortalidade infantil e materna nas
Regiões Norte e Nordeste, institui o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS),
ampliando a cobertura dos serviços para áreas mais pobres e com difícil acesso. O
compromisso do programa é com a atenção centrada na família, com as medidas voltadas para
prevenção de doenças e com a promoção da saúde da população, tendo alcançado resultados
importantes para a saúde coletiva. A estratégia propõe mudanças na racionalidade da
assistência, valorizando o trabalho em equipe, a integralidade das práticas e a formação de
vínculo com a população. Devemos buscar a promoção da saúde e o fortalecimento de ações
intersetoriais, como também estimular a participação comunitária e, por sua vez, o
fortalecendo do SUS.
20
Nesse contexto, observamos que a ESF apresenta-se
como instrumento de grande
potencial para elaboração, implantação e execução de ações de saúde pública que atendam aos
29
anseios e às necessidades dos adolescentes, fundamentando intervenções que tenham caráter
social e coletivo. Portanto, consideramos que o PSF tem potencialidade e pode redirecionar as
ações programáticas até então vigentes e instituídas para atender os adolescentes.
21
Mesmo com a metodologia proposta pela ESF, considerada um elemento de grande
relevância na reorganização da assistência, o que se observa na prática é uma total
desarticulação da equipe quando falamos em atenção aos adolescentes. Muitas vezes a menor
ou maior efetividade dessas atividades está relacionada a questões como acessibilidade,
objetivos propostos, metodologias utilizadas e preparo da equipe, fatores relevantes para que
tenhamos sucesso nas atividades propostas e maior efetividade das ações.
Nesse sentido, em função das dificuldades em atender o adolescente em nível
primário, o Ministério da Saúde lançou, em 2005, o Manual sobre Saúde Integral de
Adolescentes e Jovens, contendo orientações para organização dos serviços de saúde para o
atendimento dessa clientela.
22
Com o objetivo de nortear as ações das Equipes de Saúde da Família e buscar um
atendimento integral e resolutivo aos adolescentes, devemos refletir sobre alguns pontos
relevantes nesse processo: nessa
reflexão não podemos deixar de considerar que cada
atividade que planejamos para os adolescentes deve ser fundamentada e organizada de acordo
com a realidade em que eles estão inseridos, e que algumas diretrizes devem ser tomadas
como referência.
23
Portanto, algumas questões são de grande relevância para a organização dos serviços
da Atenção Básica que acompanham adolescentes e jovens. De acordo com o Ministério da
Saúde, alguns aspectos devem ser levados em consideração, como
22
:
- Diagnóstico e planejamento das atividades de promoção e atenção à saúde do adolescente,
em que se recomenda realizar o levantamento de aspectos importantes dos sujeitos da área,
como: características dos adolescentes e jovens que residem na área de abrangência da
Unidade (informações socioeconômicas e culturais, dados epidemiológicos, questões
subjetivas relacionadas aos adolescentes, características das famílias, recursos comunitários e
condições de atendimento aos adolescentes nas Unidades de Saúde.
- Recursos humanos capacitados: devemos sempre buscar recursos humanos capacitados e
que trabalhem dentro dos princípios da interdisciplinaridade. A promoção da educação
permanente é de grande relevância e deve ter por objetivo mais do que um simples domínio
de conhecimentos e habilidades técnicas, mas sim à transformação da prática profissional e da
qualidade dos serviços.
30
- Estrutura física adequada: devemos otimizar a estrutura existente nas unidades. É importante
criar ambientes acolhedores, agradáveis, limpos e ventilados, onde os adolescentes se sintam à
vontade, sempre respeitando a privacidade das atividades.
- Equipamentos, instrumentos e insumos básicos adquiridos com antecedência e de acordo
com as atividades executadas pela equipe. Alguns insumos também são importantes, como
preservativos, impressos adequados para o atendimento e materiais educativos disponíveis.
Outras ações realizadas pela unidade de saúde também devem ser destacadas no
atendimento aos adolescentes, uma vez que devemos desenvolver atividades que atenderão às
necessidades locais e às especificidades da atenção integral aos adolescentes de ambos os
sexos. As estratégias utilizadas são visitas domiciliares, atendimento individual, atividades em
grupo para adolescentes, jovens e familiares, ações educativas e de promoção da saúde,
participação juvenil e atividades intersetoriais.
Após a análise de vários aspectos relacionados ao desenvolvimento dos adolescentes e
às características do sistema de saúde, especificamente relacionadas à atenção básica com o
PSF, verificamos que há a necessidade de melhoria na qualidade da assistência prestada aos
adolescentes, fazendo com que essa população tenha participação ativa no planejamento, no
desenvolvimento, na divulgação e na avaliação das ações. O atendimento deve fortalecer a
autonomia dos sujeitos, considerando os aspectos físicos e o desenvolvimento psicossocial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verifica-se que atualmente, no contexto da saúde pública, existe uma deficiência
muito grande na assistência aos adolescentes. Constatamos que há programas específicos para
atender essa população, mas que na grande maioria das vezes eles não são executados. Vários
fatores foram identificados como preponderantes para a ineficiência dessas práticas, entre os
quais destacamos a falta de preparo, capacitação e formação acadêmica dos profissionais e a
deficiência física das unidades para acolhimento dos adolescentes, associada à não inserção
do adolescente no planejamento, na execução e na avaliação das atividades. Devemos
repensar as práticas atualmente utilizadas, visto que os resultados obtidos não estão sendo
satisfatórios.
O foco de atenção não deve estar voltado somente para problemas orgânicos, devemos
sim compreender o desenvolvimento psicossocial dessa população, pois encontraremos
subsídios científicos que ajudará a entender essa fase, e assim tomar decisões fundamentadas
para que as atividades desenvolvidas em nível primário tenham os resultados esperados.
31
Ressaltamos que alguns pontos são relevantes no processo de reestruturação e revisão
das práticas de atenção aos adolescentes. Neste contexto destacamos a ESF, que veio para
reestruturar a atenção primária no País, onde os cuidados não são focados somente na
patologia. Buscamos com esse modelo uma atenção centrada na família, em que o que se
destaca é a proximidade dos profissionais com o núcleo familiar, criando vínculos para ali
atuar na redução dos agravos à saúde.
Na atualidade, mais do que oferecer atenção à saúde em programas pré-estabelecidos,
a ESF vem se deparando com novos desafios e com a necessidade de oferecer uma atenção
mais abrangente. Portanto, este campo torna-se fértil para a afirmação deste novo modo de
pensar em fazer saúde para jovens e adolescentes. Conclui-se que esta estratégia, considerada
núcleo da Atenção Primária à Saúde, se coloca como um recurso relevante para a resolução de
vários e importantes problemas relacionados à saúde desse público. Sendo assim, devemos
buscar a consolidação de ações que atendam essa população de forma integral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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análise compreensiva [dissertação]. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem da UFMG; 2006
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32
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23- Brasil. Ministério da Saúde. Programa Saúde da Família: ampliando a cobertura para
consolidar a mudança do modelo de atenção básica. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2003;
3(1). p. 113 – 25.
33
3-PERCURSO METODOLÓGICO
_____________________________________________
34
3-Percurso Metodológico
3.1-Pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológica
Na escolha da metodologia, se qualitativa ou quantitativa, mais importante que o
método é identificar o objeto a ser estudado e decidir qual modelo será aplicado para o que se
propõem a estudar. Destacamos que ambas as abordagens são importantes para a pesquisa em
saúde, pois estão diretamente ligadas e presentes em nível individual ou coletivo, nos
processos saúde-doença (BRUGGEMANN; PARPINELLI, 2008).
Para elaboração e execução deste trabalho foi proposto uma abordagem qualitativa,
uma vez que observei nos relatos de colegas um emaranhado de questões subjetivas com
relação ao atendimento ao adolescente. Portanto, o objetivo não foi procurar explicações
causais dessas dificuldades, nem mesmo a quantificação desses sentimentos. Busquei, sim, a
difícil e esclarecedora compreensão dos significados do atendimento ao adolescente dado
pelos profissionais de saúde.
Esta pesquisa se preocupa com o nível de realidade não possível de quantificação
.
Enquanto a abordagem quantitativa trabalha com o que é visível, morfológico e concreto, o
estudo qualitativo trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que ocorre no espaço mais profundo das relações, não podendo ser
reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2006).
A pesquisa qualitativa busca atributos, o que é próprio de um ser, não se inquieta com
generalizações, princípios e leis, e não busca estudar somente o fenômeno; devemos entender
o significado que as pessoas, em nível individual ou coletivo, dão para a sua vida. A sua
atenção é focalizada no sujeito, no particular, visando sempre a compreensão, entendida como
35
um atributo próprio do homem, e não a explicação dos fenômenos estudados (TURATO,
2005).
A metodologia qualitativa é caracterizada pela amplitude e profundidade, em que nas
relações de vínculo busca-se extrair do indivíduo questões que não podem ser quantificadas
ou medidas. O que sustenta e garante a validade desses estudos é o rigor metodológico da
coleta das informações e interpretações teóricas, associada à fundamentação teórica para
desenvolvimento do trabalho (LAPERRIÈRE, 1997, apud
MARTINS, 2004).
Entre as abordagens qualitativas, escolhi a fenomenologia como caminhar
metodológico, uma vez que esta possibilita compreender um fenômeno em estudo através da
vivência e das experiências dos sujeitos.
3.2-Pressupostos e fundamentos da fenomenologia
Quando assumimos a fenomenologia como referencial, não devemos compreendê-la
como uma maneira de pesquisar, mas sim compreendê-la como o pensar que fundamenta um
“ver” o mundo; pensar este que necessariamente tem que fazer sentido para o pesquisador,
não se tratando apenas de um entendimento intelectual (HORTA, 2006).
Conforme mencionado por Spíndola (1997), a palavra fenomenologia deriva do grego:
phainomenon (fenômeno) significa aquilo que se mostra por si mesmo, e logos o discurso que
esclarece.
Edmund Husserl, considerado o verdadeiro iniciador da Fenomenologia, foi o
responsável pela utilização de um conteúdo novo em uma palavra antiga. Para o melhor
entendimento da evolução histórica da fenomenologia, podemos fazer um paralelo entre Kant,
Hegel e Husserl. A fenomenologia kantiana concebe o ser como o elemento que limita a
pretensão do fenômeno, ao mesmo tempo que ele próprio permanece fora do alcance. Em
36
contrapartida, na fenomenologia hegeliana o fenômeno é reabsorvido em um conhecimento
sistemático do ser. Husserl a define como “ciências do fenômeno”, sendo o fenômeno
compreendido como o que é imediatamente dado em si mesmo à consciência, assim se
solidificando como uma corrente de pensamento (DARTIGUES, 2000).
A fenomenologia de Husserl veio em reação e oposição ao idealismo e ao positivismo,
uma vez que este considerava válido apenas o fenômeno empiricamente pesquisado. Assim é
tentada a superação das tendências racionalistas e empiristas, pretendendo a fenomenologia
superar a dicotomia razão-existência no processo de conhecimento (CORRÊA, 1997).
A fenomenologia é, portanto, um pensar a realidade de modo rigoroso. É um
movimento cujo objetivo principal é a descrição de fenômenos que são experienciados de
forma consciente pelo sujeito (BICUDO; ESPÓSITO, 1994).
Para Capalbo (1998, p.417), “a fenomenologia mostra, explicita, aclara, desvela as
estruturas cotidianas do mundo-vida onde a experiência se verifica, deixando transparecer na
descrição desta experiência vivida as suas estruturas universais. É considerada um método de
investigação do concreto, e os conceitos que são utilizados estão sempre afetados por valores
compreensivos”.
Como modalidade de pesquisa qualitativa, a fenomenologia busca a compreensão do
fenômeno interrogado, não se preocupando com explicações e generalizações. O pesquisador
não parte de um problema específico ou está preocupado com a natureza do que vai
investigar; ele conduz sua pesquisa a partir de uma interrogação acerca do fenômeno que
precisa ser situado, ou seja, que está sendo vivenciado pelo sujeito. Este fato nos mostra que o
pesquisador não conhece as características essenciais do fenômeno que pretende estudar
(MARTINS; BICUDO, 1989).
37
Para Bicudo e Espósito (1989), a essência do fenômeno é mostrada através de uma
pesquisa rigorosa que busca as raízes, os primeiros fundamentos do que é compreendido e o
cuidado com cada passo dado em direção à verdade (mostração da essência).
O que se busca na pesquisa fenomenológica são os significados que os sujeitos
atribuem à sua experiência vivida, significados estes que se revelam a partir das descrições
desses sujeitos, as quais são expressas pelo próprio sujeito que as percebe (SILVA et al.,
2008).
O alvo da investigação fenomenológica é chegar aos significados que são atribuídos
pelos sujeitos à situação que está sendo estudada. Os dados obtidos nas pesquisas são
situações vividas que foram, de forma consciente, tematizadas pelo sujeito. Já os significados
são aspectos do evento que o sujeito tematizou de forma consciente, com o objetivo de
sistematizar o que é vivido de forma mais rápida (MARTINS, BICUDO, 1989).
Essa forma de conduzir a pesquisa traz em si a questão da subjetividade. Os sujeitos
participam das experiências e partilham compreensões, interpretações e comunicações,
estabelecendo-se a esfera da intersubjetividade. Para a fenomenologia nada é objetivo antes de
ter sido subjetivo, ou seja, é a subjetividade que permite alcançar graus da objetividade
(CORRÊA, 1997).
Na fenomenologia, o fenômeno é a essência em seu aspecto puro, é o ser da questão e
o que não muda em todas as variações. Essa essência é mostrada por uma pesquisa rigorosa
que envolve um caminhar gradativo, com três momentos que, com o desenvolver do trabalho,
se fundem em um movimento circular, passo fundamental para a apreensão da essência do
fenômeno (HORTA, 2006).
Para compreensão do fenômeno, adotamos como referência a análise da trajetória
fenomenológica proposta por Martins e Bicudo (1989), ou seja, no primeiro momento o
38
pesquisador tem a tarefa de descrever de forma ingênua, espontânea e irrefletida as
experiências do sujeito, procurando a essência a partir daquilo que lhe é mostrado. Essa
descrição é possível pela observação e pela entrevista que se “configura pelo relato de alguém
que sabe alguma coisa para alguém que não sabe”. O pesquisador nessa etapa, ao mesmo
tempo em que escuta atentamente o sujeito, envolve-se na entrevista, se abstendo de suas pré-
concepções, o que possibilita o desvelar do fenômeno a partir do que é colocado pelo
entrevistado.
Segue, então, o segundo momento, a redução fenomenológica ou “epoché”, que por
sua vez é o momento em que se selecionam partes da descrição que são consideradas
essenciais das que não o são. É preciso purificar o fenômeno de tudo o que ele tem de
contingente para fazer aparecer a sua essência. O pesquisador deve deixar de lado tudo que
ele conhece sobre o fenômeno; isso se faz necessário para que não ocorra influência ou
interferência por parte do pesquisador no que foi vivenciado pelo sujeito. Em seguida são
feitas novas leituras das descrições, buscando destacar as unidades de significado, que podem
levar às respostas dos questionamentos.
Por fim, no terceiro momento, busca-se a compreensão fenomenológica, fato que se dá
em conjunto com a interpretação. A reflexão sobre o não-refletido possibilita clarificar e
trazer à tona o que antes estava velado, oculto. A compreensão é alcançada por meio do
diálogo com autores do tema, dos pressupostos da fenomenologia, como também pela própria
vivência do pesquisador. A iluminação do fenômeno se em perspectivas, ou seja, a cada
olhar que o inquira é possível o desvelamento de aspectos genuínos, condizentes com a
experiência do investigador (CAPALBO, 1996).
3.3- O cenário do estudo
O estudo foi realizado nas Unidades da Estratégia Saúde da Família do município de
Viçosa, Minas Gerais. A escolha deste local se justifica pelo contato com os profissionais de
39
saúde, a partir do acompanhamento de alunos do Curso de Enfermagem da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde na Disciplina de Estágio Supervisionado I. O município de
Viçosa está localizado na Zona da Mata do Estado de Gerais, a 220 km de Belo Horizonte.
Possui uma população aproximada de 70.404 habitantes, sendo 15.470 pessoas na faixa etária
de 10 a 19 anos. Outro ponto a ser ressaltado é que a cidade se destaca na área de educação,
pois possui uma universidade pública, três instituições de ensino superior privadas, além de
colégios públicos e particulares que são referência para toda a região. Assim, toda a
população que busca o município para estudar é considerada flutuante, não sendo incluída no
censo (IBGE, 2007).
Atualmente o município tem doze unidades de Saúde da Família, mas apenas dez
possuem profissionais com mais de um ano de atuação. Verificamos que a grande maioria da
população de responsabilidade das unidades é considerada de risco, com grandes
vulnerabilidades relacionadas à saúde.
O município está se organizando para implantação de
outras equipes, com o objetivo de aumentar a área de cobertura e melhorar a qualidade e
resolutividade da atenção primária.
Em nenhuma das unidades que participaram do estudo existem ações direcionadas
especificamente para a população de adolescentes. Encontramos movimentos isolados de
Organizações Não-Governamentais (ONGs), de entidades religiosas e do Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência PROERD, de iniciativa da Polícia Militar,
em parceria com as escolas, direcionado para crianças e adolescentes.
Para o encaminhamento do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, foi
solicitada ao Secretário Municipal de Saúde a autorização para desenvolvimento da pesquisa
no município (Apêndice 1).
40
3.4-O encontro com os sujeitos...
Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa foram os profissionais pertencentes às equipes
da ESF no município de Viçosa: médicos e enfermeiros. A escolha da ESF se deu em função
das estratégias utilizadas pelo PSF, que tem como foco a atenção integral, centrada na família
e nas condições em que o indivíduo está inserido, valorizando a prevenção e promoção da
saúde, com um enfoque multiprofissional.
Para serem incluídos no estudo, os sujeitos deveriam ter, no mínimo, um ano de
atuação na ESF, e em sua rotina de trabalho deveriam prestar atendimento ao adolescente.
Este fato se justifica pelo objetivo do trabalho, que pretendia compreender o significado
que eles atribuem ao atendimento realizado com adolescentes da sua área de abrangência.
Os profissionais que fizeram parte deste estudo foram escolhidos aleatoriamente
através de sorteio, separados pelas categorias profissionais. Em função do bom convívio e da
proximidade com todos os profissionais das equipes, não tive nenhum tipo de dificuldade para
convidar, explicar e executar minha pesquisa.
A participação dos sujeitos envolvidos na pesquisa foi voluntária. Após a aprovação
do Projeto no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos-COEP, da Universidade
Federal de Minas Gerais (Anexo 1), fui ao encontro dos sujeitos. No primeiro momento me
apresentei, expliquei os objetivos da pesquisa e como eles participariam do projeto. Após
aceite do profissional, foi lido pelo pesquisador o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido-TCLE (Apêndice 2) e, em seguida, foi solicitada assinatura dos participantes,
procurando assim cumprir as exigências contempladas na Resolução n
o
196/96, do Conselho
Nacional de Saúde, sobre pesquisa que envolve seres humanos (BRASIL, 1996).
3.5- O momento da entrevista...
41
Para iniciar a coleta dos dados, as entrevistas foram agendadas de acordo com a
disponibilidade de local e horário de cada profissional, de forma que eles não necessitassem
alterar sua rotina de trabalho
Inicialmente foi necessário explicar novamente os objetivos do projeto. Ressaltei que o
participante teria a liberdade de deixar a pesquisa em qualquer hora, sem que isso
representasse algum problema para ele. Esclareci sobre a garantia de sigilo das informações e
que ele em momento algum seria exposto.
Dos participantes do projeto, dez realizaram a entrevista em seu local de trabalho, ou
seja, na própria unidade da Estratégia Saúde da Família. os outros dois foram entrevistados
fora do local de trabalho. Em ambos os contextos, procurei utilizar uma sala reservada e
tranquila, capaz de garantir a privacidade e evitar interrupções ou outras influências externas.
Uma informação que considerei importante antes de iniciar as entrevistas, foi reforçar
com os profissionais que suas falas seriam gravadas, explicando a necessidade de realizar esse
procedimento. Esse cuidado foi
necessário para reduzir a ansiedade causada pelo gravador.
As entrevistas com os profissionais de saúde envolvidos na pesquisa foram orientadas
e norteadas por uma única pergunta, aberta, sobre o atendimento ao adolescente: “o que é,
para você, atender o adolescente na atenção primária.”
Nas primeiras entrevistas, sempre mantendo uma postura fenomenológica, passei por
desafios grandes e emocionantes. Naquele momento tive que deixar de lado toda a minha pré-
concepção sobre o tema, fiquei ansioso e inseguro diante das questões que poderiam aparecer.
Mas com o caminhar da coleta comecei a ganhar mais segurança e me senti mais confortável
para condução desse processo.
A cada palavra que os profissionais explanavam me sentia emocionado, pois estava
começando a entender a concepção de cada um sobre o tema, de uma forma simples e
42
ingênua. Verifiquei que nessa relação o sujeito fazia uma reflexão sobre o questionamento e o
que era realmente vivido por ele.
Após a realização de cada entrevista, fiz a transcrição do conteúdo das falas. Nessa
etapa a concentração e a tranquilidade foram muito importantes. Escutei cada parte da
gravação, transcrevendo na íntegra o discurso de cada sujeito. Em seguida, ouvia-a
novamente, a gravação, fazendo uma leitura atenta do texto transcrito, conferindo todos os
detalhes.
De acordo com a metodologia utilizada, não foi possível identificar inicialmente o
número de sujeitos participantes, uma vez que o critério para término da coleta dos dados foi à
saturação. Essa fase é caracterizada pela repetição das falas nos discursos dos participantes,
com repetição de conteúdos e vivências, mostrando o desvelamento do fenômeno. Nesse
sentido, comecei a perceber que, a partir da nona entrevista, as falas estavam se repetindo e
era redundante persistir na coleta. Entretanto, optei por realizar mais três entrevistas para me
assegurar de que os dados já estavam saturados
.
Para garantir o sigilo dos profissionais, os depoimentos foram organizados e
caracterizados por uma sigla, contendo as iniciais da profissão e um número.
3.6-Compreendendo o fenômeno através da análise dos discursos
Para que o fenômeno se mostre, não basta vivê-lo. A compreensão exige transcender
esta perspectiva, observar as diferentes possibilidades através da visão e do sentir do outro.
Quando falamos no significado dado pelos profissionais da atenção primária ao atendimento
aos adolescentes, buscamos compreender o vivido e transcender o empiricamente dado, não
temos como objetivo explicar o objeto de estudo (MACHADO, 1994).
43
Para realizar a análise compreensiva dos depoimentos, segui os passos propostos por
Martins e Bicudo (1989), nos quais me fundamentei para a análise ideográfica. Esta análise
refere-se ao emprego de ideogramas ou representação de ideias por meio de símbolos. Busca
tornar visível a ideologia que permeia as descrições ingênuas do sujeito. Devemos produzir o
desocultamento das ideias articuladas no discurso (MACHADO, 1994).
Nesse sentido, após a transcrição de todas as entrevistas, iniciei a análise
compreensiva. Primeiramente fiz uma leitura de cada entrevista, procurando me familiarizar
com o texto e as experiências vividas pelos participantes, sem buscar atributos ou significados
em suas falas.
Em seguida, reli novamente cada entrevista, com o intuito de identificar as unidades
de significado por meio da redução fenomenológica. Essas unidades são parte da descrição
cujas frases se relacionam umas com as outras, indicando momentos distinguíveis no todo da
descrição (MARTINS E BICUDO, 1989).
As unidades de significados foram destacadas (grifadas), numeradas e organizadas na
ordem que aparecia na descrição. Os números repetidos mostravam o que foi dito pelos
profissionais e possuíam sentidos semelhantes. As partes que não tinham relação com o
fenômeno (atender o adolescente na atenção primária) foram descartadas. A apreensão das
unidades de significados estão descritas no apêndice 3 deste trabalho.
A seguir, apresento a análise ideográfica de um discurso, mostrando como procedi na
apreensão dos aspectos essenciais do fenômeno. Inicialmente destaquei as unidades de
significado presentes no discurso, e em seguida transformei a fala ingênua do sujeito em uma
linguagem mais elaborada e reflexiva, dando a ela uma nova configuração, porém sem
modificar a originalidade do discurso (MARTINS, 1990).
44
Entrevista 01 – ENF. 01
Profissão: Enfermeiro
Idade: 42 anos
Estado civil: Casado
Naturalidade: Dionísio-MG
Tempo de atuação na ESF: 8 anos
O que é para você, atender o adolescente na atenção primária?
Bom, é
... pensando no cuidado do ser humano né, no cuidado integral, dando toda a
garantia de acessibilidade e acolhimento dentro de uma normatização, dentro do que é
preconizado né, pelo Ministério da Saúde pelo SUS
1
. Cuidar do adolescente, que é uma fase
do crescimento, uma fase do ser humano, né, talvez uma das fases, reconhecidamente uma das
fases mais polêmicas
2
, seja a oportunidade de no momento em que o cidadão começa a se
reconhecer como um integrante da sociedade e como um cidadão, seja o momento oportuno
para que a saúde da família possa levar esses, esses adolescentes né, esses seres humanos
nessa faixa etária, a possibilidade de crescimento. É levando informação, trocando informação
com eles, utilizando o processo de ensino aprendizagem
3
, né, porque a gente tem muito a
aprender com as pessoas também, e nesse processo pedagógico de ensinar e aprender
3
simultaneamente. O que a gente pode tentar a fazer é com que esses adolescentes entendam
3
o
que que é a ética, o que
que são valores morais
3
, deixar muito claro que a ética é uma ciência,
mas o que compõem essa ciência são exatamente os valores morais né, e a gente tentar
valorizar sempre esses valores morais positivos, a solidariedade, a amizade, a cooperação, o
bem-estar, boa convivência, a cultura de paz, a não violência
3
, e, dessa forma, que eles se
tornem, se eles não tiveram uma boa influência da família, que o que a gente muito ouve, que
a gente possa a partir deles, que eles se tornem pilares de famílias que, que se tornem
famílias com propostas de promover uma boa, um bom relacionamento entre as pessoas, um
bom relacionamento interfamiliar, um bom relacionamento intrafamiliar. É uma fase que eles
têm de muita descoberta
2
, então a gente começa e pode estimular esses adolescentes a buscar
educação, a buscar informação, a buscar escola, a buscar conhecimento para que eles se
tornem cidadãos dignos de uma vida social digna também
3
. Silêncio...
45
O que é essa fase polêmica para você?
Talvez seja a fase onde o universo das informações elas chegam simultaneamente de
todos os lados, né. É a família, é a escola, são os amigos, então são várias informações que
acontecem simultaneamente e muitos grupos distintos com pensamentos diferentes, até pela
própria característica da idade né, da busca da liberdade
2
, da busca da auto-afirmação
2
né, da
busca da ocupação do espaço perante grupos distintos
2
, perante a ocupação, perante a
família
2
, a ocupação perante o grupo de amigos
2
, a ocupação perante o grupo da escola
2
.
certo, então juntamente com todo aquele processo de mudança hormonal que faz todo o
desenvolvimento, é característico da idade também e a influência do meio ela passa a ser mais
exacerbada, né, ela passa a ser mais determinante na construção daquilo que ele herdou de
casa, se ele vai promover uma boa índole, uma índole, se ele vai desenvolver um bom
caráter, um mal caráter e nessa fase que ela se torna polêmica exatamente pela forma
que ele está inserido na sociedade. É um momento diferente que ele está ali deixando a parte
de infanto... a parte infantil, né, o momento de criança e se afirmando como um meio ser
adulto naquela fase de transição onde ele ainda não tem uma identidade própria, ele busca
essa identidade
2
. Mas, muitas vezes, ela é espelhada por um grupo de amigos, seja dentro de
casa, seja, com um grupo de pessoas, seja, amigos, sejam pais, sejam familiares e talvez o
espelho dessa sua convivência, ele pode adotar isso como sua identidade própria e ele pode
recebendo um certo, uma certa pressão dessa fase. É o conflito interno
2
, talvez seja o
grande momento polêmico da vida dele, é a autocobrança, o autocuidado, auto-informação, o
fato de ser auto..., ter que aprender as coisas sem saber de onde as informações, são as mais
é... precisa, são as mais importantes. Silêncio... é isso.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Bom, e aí registrar que a saúde da família, a Estratégia Saúde da Família, a unidade de
trabalho, os profissionais que estão envolvidos nessa estratégia eles tem uma excelente
oportunidade em promover ações focadas nesse grupo, que um grupo que bem trabalhado, ele
pode no futuro render muitos bons frutos, né. Você pode ensinando não a questão da
formação cidadã, mas também a possibilidade de..., dele estar se sentindo comprometido, né.
Na verdade é uma, é um, consolidação da estratégia mesmo, é ele como um ser social capaz
de transformar, né, a vida dele e das pessoas para uma qualidade de vida melhor e a Estratégia
Saúde da Família nesse ponto serviria como um, o que a gente chama de QG, seria o quartel
ali, a base para que vopudesse acolher esses adolescentes
2
, para que você pudesse passar
46
para eles todos esses valores morais positivos, para que ele viva dentro de uma, de um
comportamento ético, né, digno aí de um... de uma vida humana, de uma vida com qualidade.
Obrigado!
Por nada.
DISCURSO DO SUJEITO (ENF. 01) DISCURSO ARTICULADO
1-[...] pensando no cuidado do ser humano,
no cuidado integral, dando toda a garantia
de acessibilidade e acolhimento dentro de
uma normatização, do que é preconizado
pelo Ministério da Saúde e pelo SUS [...]
US1.
Descreve que o atendimento ao adolescente
deve ser feito de forma integral, conforme
preconizado pelo SUS.
2-[...] acolher o adolescente [...] cuidar do
adolescente, que é uma fase do crescimento,
uma fase do ser humano, reconhecidamente
uma das mais polêmicas [...] de muita
descoberta [...] busca da identidade [...]
conflito interno [...] US2.
Descreve sobre o atendimento ao adolescente
voltado para suas características.
3 - [...] levando informação, trocando
informação, utilizando o processo de ensini-
aprendizagem com os adolescentes [...]
nesse processo pedagógico de ensinar e
aprender [...] fazer com que esses entendam
o que é ética, o que são valores morais [...] a
solidariedade, a amizade, a cooperação, o
bem-estar, a boa convivência, a cultura de
paz, a não violência [...] buscar educação,
buscar informação, buscar escola, buscar
conhecimento, para que eles se tornem
cidadãos dignos, de uma vida social digna
[...] US3.
Afirma que o atendimento ao adolescente
deve se respaldar em um processo de ensino-
aprendizagem que possibilite se discutir
questões éticas, valores morais e cidadania
na formação do adolescente.
Após o agrupamento das unidades de significado dos discursos, conforme
semelhanças e divergências cheguei a doze subcategorias ou temas de análise, que identificam
a estrutura geral do fenômeno:
Atenção conforme normas instituídas.
Atendimento direcionado para as características da adolescência.
47
Atendimento integral ao adolescente.
O desafio em atender o adolescente.
As limitações no atendimento ao adolescente.
Atenção ao adolescente na ESF.
Atendimento voltado para riscos e agravos da adolescência.
Atendimento centrado na queixa do adolescente.
Dificuldade em atender o adolescente em companhia de outras pessoas.
Ausência de atendimento voltado para adolescente.
A necessidade de realizar o atendimento ao adolescente.
Necessidade de organização do serviço para atender o adolescente.
A imersão atenta e criteriosa nos temas de análise, em um movimento de idas e vindas,
característico da fenomenologia, possibilitou a construção de três grandes categorias de
análise, mostrando com isso o desvelamento do fenômeno:
1-Atendimento ao adolescente: os desafios na atenção primária.
2-Atendimento ao adolescente na atenção primária: características da prática assistencial.
3-Atender o adolescente: uma necessidade da atenção primária.
Por fim, organizei as categorias com seus respectivos temas de análise:
1-ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE: OS DESAFIOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
O desafio em atender o adolescente.
As limitações no atendimento ao adolescente.
Dificuldades em atender o adolescente em companhia de outras pessoas.
Ausência de atendimento voltado para o adolescente.
48
2-ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:
CARACTERÍSTICAS DA PRÁTICA ASSISTENCIAL
Atenção ao adolescente na ESF.
Atenção conforme normas instituídas.
Atendimento centrado na queixa do adolescente.
Atendimento direcionado para as características da adolescência.
Atendimento voltado para riscos e agravos na adolescência.
Atendimento integral ao adolescente.
3-ATENDER O ADOLESCENTE: UMA NECESSIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
A necessidade de realizar o atendimento aos adolescentes.
Necessidade de organização do serviço para atender o adolescente.
Após elaborar as categorias de análise, dei início à compreensão e interpretação do
fenômeno. Nesse momento, busquei novamente os conhecimentos, as teorias e os
pressupostos pertinentes ao tema. Com isso, busquei realizar uma análise coerente e rigorosa
dos discursos dos sujeitos sobre os significados que eles dão ao atendimento ao adolescente.
3.7-Referências Bibliográficas
BICUDO, M. A. V.; ESPÓSITO, V. H. C. Pesquisa qualitativa em educação. Piracicaba:
UNIMEP, 1994.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº196/1996 de sobre
pesquisa envolvendo seres humanos, 1996.
BRÜGGEMANN, O. M.; PARPINELLI, M. A. Utilizando as abordagens quantitativa e
qualitativa na produção do conhecimento. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 42, n. 3, p.
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CAPALBO, C. A fenomenologia a partir de Edmund Hussert e sua repercussão na área da
saúde. Rev. Enf . UERJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 415-419, dez., 1998.
CAPALBO, C. Fenomenologia e ciências humanas. 3
o
ed. Londrina: Ed. UEL, 1996. 133p.
49
CORRÊA, A. K. Fenomenologia: uma alternativa para pesquisa em Enfermagem. Rev.
Latino-am. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, p. 83-88, jan., 1997.
DARTINGUES, A. O que é a fenomenologia. São Paulo: Moraes, 7
o
ed. 2000.
HORTA, N. C. O significado do atendimento ao adolescente na atenção básica à saúde: uma
análise compreensiva. Belo Horizonte, 2006. 147p. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.
IBGE. Censo Demográfico-Contagem populacional 2007. Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 2007
MACHADO, O. V. M. Pesquisa qualitativa: Modalidade fenômeno situado. In: BICUDO, M.
A.V.; ESPÓSITO, V. H. C. Pesquisa Qualitativa em Educação. Piracicaba: UNIMEP, 1994. p.
35-45.
MARTINS, H. T. S. M. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 30, n. 2, p. 289 – 300, 2004.
MARTINS, J.; BOEMER, M. R.: FERRAZ, C. A. A. A fenomenologia como alternativa
metodológica para pesquisa: algumas considerações. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, v. 24, n.
1, p.139-147, abr., 1990.
MARTINS, J; BICUDO, M. A. V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e
recursos básicos. São Paulo: Moraes, 1
a
ed. 1989. 110p.
MINAYO, M. S. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo:
Hucitec, 2006.
SILVA, J. M. O.; LOPES, R. L. M.; DINIZ, N. M. F. Fenomenologia. Rev Bras Enferm,
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SPÍNDOLA, T. A fenomenologia e a enfermagem: algumas reflexões. Rev. Esc. Enf. USP,
São Paulo, v. 31, n. 3, p.403-409, dez., 1997.
TURATO, E. R. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças
e seus objetos de pesquisa. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 507 – 14, 2005.
50
4-RESULTADOS
(Artigo 02)
_________________________________________
51
ARTIGO ORIGINAL
Saúde do adolescente: o significado do atendimento para os profissionais da atenção
primária do município de Viçosa – MG
1
Health of adolescents: the meaning of assistance for primary care professionals in the
municipality of Viçosa - MG
Bruno David Henriques
2
; Regina Lunardi Rocha
3
; Anézia Moreira Faria Madeira
4
___________________________________________________________________________
1
Texto extraído da dissertação de mestrado em ciências da saúde realizado na Faculdade de Medicina da UFMG.
2
Enfermeiro, mestrando em Ciências da Saúde: Saúde da Criança e do Adolescente na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Professor do Departamento de Enfermagem da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde, FACISA – UNIVICOSA.
3
Médica Pediatra, doutora em Medicina Tropical. Professora Associada do Departamento de Pediatria da
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
4
Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal
de Minas Gerais – UFMG.
Endereço para correspondência
Bruno David Henriques, Rua Dr. Juarez Souza Carmo 199, Bairro: Centro, Canaã-MG, CEP: 36592-000
E-mail: [email protected]m.br
52
Saúde do adolescente: o significado do atendimento para os profissionais da atenção
primária do município de Viçosa – MG
Health of adolescents: the meaning of assistance for primary care professionals in the
municipality of Viçosa - MG
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo conhecer o significado que os profissionais da atenção
primária do município de Viçosa dão ao atendimento do adolescente. Foi realizado por meio
de uma metodologia qualitativa com enfoque fenomenológico, para coleta e análise dos
dados. Com os depoimentos dos profissionais foi possível construir três grandes categorias
que desvelam a essência do significado que os profissionais dão ao atendimento:
“Atendimento ao adolescente: os desafios da atenção primária”; “Atendimento ao adolescente
na atenção primária: características da prática assistencial; “Atender o adolescente: uma
necessidade da atenção primária”. A busca pela compreensão desses significados nos
demonstrou que os profissionais sentem dificuldades em atender o adolescente. Quando
realizada, a atenção é focada em características, riscos e agravos que afetam essa população.
Mas os discursos também nos mostram que eles consideram importante atender essa
população e os serviços de saúde devem se preparar para isso. O estudo permitiu perceber que
temos muito a avançar na atenção aos adolescentes em nível primário, pois as ações de
prevenção de agravos e promoção da saúde são fundamentais para qualidade de vida dessa
população.
Palavras-chave: Atenção primária, saúde do adolescente, pesquisa qualitativa, fenomenologia.
ABSTRACT
This study aimed to know the sense given by the primary care professionals in the
municipality of Viçosa to the care of adolescents. It was conducted through a qualitative
methodology with phenomenological approach, to gathering and analyzing data. The
testimony of professionals made possible to build three major categories that reveal the
essence of the meaning that professionals give to the care: "Assistance to adolescent: the
challenges of primary care"; "Assistance to adolescents in primary care: characteristics of the
care practice"; "Assisting the adolescent: a need for primary care."The search for
understanding these meanings showed that the professionals have difficulty in answering the
adolescent. When the attention is fulfilled, it is focused on features, risks and diseases that
affect this population. But the speeches also show us that they consider important to assist this
population and the health service must be prepared for that. The study allowed me to realize
that we have a lot to improve in the attention to adolescents in primary stage, because the
actions for prevention of diseases and health promotion are fundamental to quality of
population’s life.
Keywords: Primary care, health of adolescents, qualitative research, phenomenology.
53
INTRODUÇÃO
A adolescência sempre ocupou lugar de destaque em minha trajetória acadêmica e
profissional. Meu contato com os adolescentes iniciou-se durante o curso de graduação em
enfermagem na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, na disciplina de
Saúde da Criança e do Adolescente. Esse contato aconteceu durante a realização dos estágios
curriculares referentes à disciplina, quando passamos a trabalhar diretamente com esse
público. O estágio foi desenvolvido nas Unidades de Saúde da Família e em uma escola
pública do município de Diamantina. Nesses ambientes busquei conhecer e compreender
como eram realizadas as atividades de prevenção, promoção e reabilitação da saúde dos
adolescentes.
Com o avançar dos conteúdos curriculares percebi que as atividades realizadas com os
adolescentes nas Unidades de Saúde da Família eram limitadas, pois o enfoque principal eram
os problemas orgânicos, com a realização de atividades pontuais, utilizando palestras como
metodologia principal. Deve ser ressaltado que em momento algum os adolescentes eram
inseridos no planejamento, na organização e na execução dessas propostas. Já na escola não
foi encontrada nenhuma ação direcionada para os alunos, ponto que favoreceu a implantação
de um programa de educação em saúde que atendesse às necessidades desse público. Nesse
contexto, observei o distanciamento entre os profissionais de saúde e os adolescentes, e
percebi a necessidade de implantar ações voltadas para essa fase da vida, o que aumentou
ainda mais o meu interesse em trabalhar com essa população.
Quando me formei, fui trabalhar em uma Equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF)
no município de Canaã-MG. Em minha vivência como enfermeiro, observei que o enfoque
dado aos adolescentes não era prioridade para o município. Via a necessidade de implantar
um programa de atenção a essa população que levasse em consideração suas necessidades
físicas, psicológicas e sociais, mas o que se observava na prática eram profissionais que não
se envolviam com os adolescentes e não tinham interesse em atendê-los.
Nessa perspectiva, um dos grandes obstáculos para a organização e implementação de
programas que atendam os adolescentes de forma integral está diretamente relacionado às
dificuldades que os profissionais da atenção primária têm para atender os adolescentes.
Reconheço que não é simples lidar com questões relacionadas à saúde do adolescente, mas é
preciso buscar estratégias públicas que atendam esse público e que tenham a capacidade de
levar em consideração suas características individuais e coletivas.
54
A adolescência é uma etapa evolutiva caracterizada pelo desenvolvimento
biopsicossocial e delimitada pela faixa etária entre 10 e 19 anos. Ela se inicia com a
puberdade e termina com a inserção social e profissional e econômica do indivíduo
1
.
Definição esta, utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
2
e pelo
Ministério da Saúde. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera como
adolescente, o indivíduo que possui idade entre 12 e 18 anos
3
.
Sabe-se que as mudanças sofridas pelos adolescentes são intensas. Eles constituem um
grupo heterogêneo que possui características individuais, que não são cobertas pelos critérios
técnicos. Portanto, a adolescência é uma fase de importantes transformações biológicas e
mentais, articuladas a um redimensionamento de papéis sociais, como mudanças na relação
com a família e escolha de um projeto de vida. Diante dessas características, percebe-se o
quanto essa fase deve ser valorizada, pois é um período de grande vulnerabilidade e exposição
a fatores de risco
4
.
O enfoque dado a esses fatores são relevantes, uma vez que se constata um quadro
preocupante, com o aumento do número de casos de gravidez na adolescência, do consumo de
drogas lícitas e ilícitas e do número de casos de DSTs/AIDS, associados a um significativo
número de óbitos relacionados às causas externas, destacando-se os acidentes de trânsito, a
violência e o suicídio
5
.
Nesta perspectiva, verificou-se que as principais causas de morbi-mortalidade dos
adolescentes estão diretamente relacionadas a problemas que podem ser prevenidos em nível
primário. Portanto, deve-se buscar estratégias que atendam às necessidades dessa população,
melhorem a qualidade da assistência prestada e reduzam o número de óbitos e agravos
previníveis.
Quando se fala em políticas públicas relacionadas à saúde do adolescente, deve-se
destacar o Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), criado pelo Ministério da Saúde
em 1988. O programa elegeu como áreas prioritárias de atuação o crescimento e o
desenvolvimento, a sexualidade, a saúde bucal, a saúde mental, a saúde reprodutiva, a saúde
do escolar adolescente e a prevenção de acidentes, fundamentadas nos princípios da
integralidade, multidisciplinaridade e intersetorialidade, associada a uma política de promoção
da saúde, desenvolvimento de práticas educativas, identificação de grupos de riscos, detecção
precoce dos agravos, tratamento e reabilitação
6
.
Mesmo com a implantação do PROSAD, ainda são encontradas grandes dificuldades
para a atenção primária. Neste contexto destacamos que a atenção integral, a adequação dos
serviços de saúde, a criação de vínculos e fortalecimento da relação com a família e a
55
comunidade e a inserção dos adolescentes nas atividades realizadas são elementos essenciais
para melhoria da qualidade da assistência a esse grupo
7
. Assim, a necessidade da existência de
serviços de saúde organizados tem sido colocada como um dos grandes desafios para o
alcance de melhores condições de saúde e vida dos adolescentes e jovens brasileiros.
Costa (2002)
8
, destaca que a organização de programas voltados à saúde do
adolescente requer uma abordagem interdisciplinar, envolvendo aspectos que interagem no
cotidiano dos adolescentes e no contexto em que estão inseridos, procurando adaptar os
conteúdos desses programas às diferentes modalidades de demanda individual e coletiva.
A organização dos serviços de saúde também é um fator importante para garantir o
acesso dos adolescentes às ações de promoção à saúde, de prevenção de agravos e doenças,
bem como a reabilitação. Para essa organização alguns elementos importantes devem ser
destacados, como a formação e a educação permanente dos recursos humanos, a estrutura
física, os equipamentos e materiais que devem ser fornecidos de acordo com a realidade e a
necessidade de cada serviço
9
.
Em face desse contexto, deve-se ressaltar que a Estratégia Saúde da Família (ESF),
uma política de saúde considerada um novo modelo de assistência à saúde da população
brasileira, fundamentada em novas práticas profissionais, contribui significativamente para a
melhoria da assistência prestada aos adolescentes, redirecionando as ações prestadas com foco
na realidade sociocultural e na família em que o indivíduo está inserido, promovendo a
atenção integral ao adolescente e a prevenção das situações de riscos a que estão expostos
10
.
A Estratégia de Saúde da Família, desenvolvida nos últimos anos, é um marco
indiscutível no avanço da política do Sistema Único de Saúde (SUS). Iniciada na década de
1990, como Programa de Saúde da Família, atende ao compromisso da integralidade da
atenção à saúde e vem investindo na prevenção de doenças e na promoção da saúde da
população, tendo alcançado resultados importantes para a saúde coletiva. A estratégia propõe
mudanças na racionalidade da assistência, valorizando o trabalho em equipe, a integralidade
das práticas e a formação de vínculo com a população. Deve-se buscar a promoção da saúde e
das ações intersetoriais, estimulando a participação comunitária, promovendo, assim, o
fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
11
Considerada núcleo da atenção primária, a ESF constituiu um elo entre família,
profissionais e comunidade, e na maioria das vezes é a porta de entrada dos usuários que
procuram os serviços públicos de saúde
12
. Nesse contexto destaca-se que a organização desses
serviços para o atendimento aos adolescentes é fundamental, assim tornam-se necessários o
56
acolhimento, a escuta e a atenção integral, superando a assistência fragmentada dirigida às
queixas e aos problemas orgânicos.
Apesar dos esforços para melhorar a qualidade da assistência prestada aos
adolescentes na atenção primária, através da Estratégia Saúde da Família, as ações
desenvolvidas pelos profissionais ainda são fragmentadas, partindo de uma visão
unidimensional da saúde, desconsiderando as causas não orgânicas dos problemas que
ameaçam crianças e adolescentes
13
. É importante que os profissionais de saúde se envolvam
na assistência ao adolescente, com a implementação de ações relacionadas a programas
existentes, ou a criação e busca de novas estratégias que venham melhorar o atendimento,
valorizando características individuais e coletivas.
Constatou-se que poucos profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família
possuem capacidade e se sentem motivados para trabalhar com os adolescentes, fase em que
se vive um momento peculiar da vida, com muitos questionamentos, conflitos e
ambiguidades
14
.
Ao consultar a literatura na busca de trabalhos relacionados ao adolescente na atenção
primária, encontrou-se uma carência na produção bibliográfica que buscasse estabelecer a
relação adolescente e profissional de saúde. Sendo assim, com o desenvolvimento deste
trabalho, buscou-se ir ao encontro dos profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família
que atendem os adolescentes.
Este estudo teve como objetivo conhecer o significado que os profissionais da atenção
primária do município de Viçosa-MG dão para o atendimento ao adolescente.
TRAJETÓRIA METOLÓGICA
Para compreender o significado que os profissionais da atenção primária dão ao
atendimento dos adolescentes, optou-se por uma abordagem qualitativa, pois estava-se diante
de um emaranhado de questões subjetivas, e não se tinha como objetivos evidenciar causas,
dar explicações, nem se prender a generalizações ou quantificações
15
.
Segundo Turato (2005)
16
, a pesquisa qualitativa não busca estudar o fenômeno em si,
mas entender seu significado individual ou coletivo para a vida das pessoas.
Portanto, a pesquisa qualitativa busca a compreensão particular do que se estuda, em
que a organização e a construção do pensamento científico têm enfoque na subjetividade, sem
ter como alvo chegar a princípios explicativos e a generalizações sobre o estudado
17
.
57
Entre as abordagens qualitativas elegi a fenomenologia como percurso metodológico
,
pois gostaria de compreender a experiência vivida pelos sujeitos no atendimento aos
adolescentes em seu contexto, buscando chegar à essência desse fenômeno.
A fenomenologia é uma corrente filosófica que tem como objetivos a investigação
direta e a descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teoria sobre
sua explicação causal e livre de pressupostos e preconceitos. O fenômeno é algo que se
mostra, que se manifesta para uma consciência, mas precisa ser desvelado
18
.
Segundo Bicudo e Espósito (1994)
19
, para adotar o modo fenomenológico de conduzir
pesquisa deve-se estar atento à perspectiva básica dessa corrente, pois seu objetivo será
descrever fenômenos e não explicá-los, não se preocupando em buscar relações causais. O
fenômeno pesquisado não pode ser tratado como objeto físico com existência própria, ele
surge da consciência e se manifesta para essa consciência como resultado de uma
interrogação.
A pesquisa contou com a participação de doze profissionais de saúde que atuam nas
equipes da Estratégia Saúde da Família no município de Viçosa, Minas Gerais. Para as
entrevistas foram selecionados médicos e enfermeiros que atuam nas equipes mais de um
ano e atendiam o adolescente em sua rotina de trabalho. Do total de entrevistados, cinco eram
médicos e sete enfermeiros.
Como foi utilizada a metodologia qualitativa, não foi possível, inicialmente, colocar o
número de sujeitos participantes, pois utilizou-se a saturação como critério para o
encerramento da coleta de dados. Essa fase é caracterizada pela repetição das falas nos
discursos dos participantes, e as informações obtidas se tornam redundantes, não sendo
considerado relevante persistir na coleta de dados
16
.
Assim, a coleta de dados foi encerrada
quando a repetição nas falas foi percebida, o que ocorreu com a realização da nona entrevista.
Foram realizadas mais três, para garantir o critério da saturação.
A coleta de dados da pesquisa foi realizada após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e a autorização do Secretário Municipal de
Saúde da Cidade de Viçosa. Antes desse processo, foi explicado aos participantes o objetivo
da pesquisa, relatando informações referentes à sua participação no trabalho. Após o aceite,
eles assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, obedecendo às normas
de pesquisas que envolvem seres humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde
20
.
Os dados foram obtidos por meio de entrevista, utilizando uma única pergunta
norteadora: O que é para você, atender o adolescente na atenção primária?”. Ao final de
58
cada entrevista os dados foram transcritos, e em seguida o conteúdo foi novamente
comparado com a gravação.
Na busca da compreensão do significado que os profissionais dão ao atendimento dos
adolescentes, fundamentou-se a análise em três momentos, sugeridos por Martins e Bicudo
(1989)
17
: descrição, redução fenomenológica e, por fim, compreensão fenomenológica. Após
a análise dos dados dentro da linha descrita anteriormente, foram construídas três grandes
categorias de análise, que configuram a essência do atendimento aos adolescentes na atenção
primária, realizado pelos profissionais da Estratégia Saúde da Família do município de
Viçosa: Atendimento ao adolescente: desafios na atenção primária; Atendimento ao
adolescente na atenção primária: características da prática assistencial; e Atender o
adolescente: uma necessidade da atenção primária.
A CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOS
Categoria 1-Atendimento ao adolescente: os desafios da atenção primária
Para construção dessa categoria, embasei-me em discursos que caracterizaram as
dificuldades e barreiras encontradas na assistência ao adolescente. Os profissionais
descreveram os fatores que limitavam o atendimento e que tornavam sua abordagem um
desafio.
[...] Tenho uma abordagem melhor, mas realmente é difícil atender o adolescente, eles estão na
defensiva, os pais ignoram muita coisa, ficamos com medo de estar invadindo um espaço que
não é nosso [...] ele tem medo de ser rejeitado [...] quer muito se incluir [...] não entendem as
questões da liberdade, responsabilidade e respeito com ele e com os outros [...] chega aqui todo
armado [...] a gente tenta atender dentro das limitações [...] o adolescente está em uma situação
de muita crítica e pouca ajuda [...] (MED. 03).
[...] Atender o adolescente é um pouco complicado [...] pela questão da idade [...] muitas vezes
não sabe expressar o que está sentindo [...] não sabe muito o que está acontecendo com ele [...]
não sabe relatar vidas ou o que ele tem [...] fica muito acanhado em estar perguntando [...]
nessa parte eu acho complicado [...] (ENF. 06).
Os profissionais consideram o atendimento aos adolescentes uma tarefa difícil. Este
quadro está relacionado a algumas situações vivenciadas pelo adolescente. Muitas vezes os
profissionais não sabem lidar com essa situação, e colocam o próprio adolescente como
obstáculo ao atendimento.
Capalbo (2000)
21
destaca que é necessária uma comunicação efetiva entre os atores,
uma vez que o modo pelo qual os homens se comunicam e se entendem é de grande
59
relevância no processo de entendimento. Portanto, a comunicação é elemento fundamental na
relação profissional-adolescente.
Outra questão a ser evidenciada é que na relação existente entre os profissionais e o
adolescente o encontro desses atores é permeado por conflitos e questionamentos. Em seus
discursos os profissionais relataram que não conseguem ter um bom relacionamento com os
adolescentes e não são aceitos por ele. Os profissionais consideram, que por ser um sujeito
em transformação, o seu atendimento é complicado.
[...] acho muito complicado, porque são cabeças em formação [...] não conseguimos chegar até
eles, não vem ao posto e a gente tem que ir atrás tem que buscar [...] muitas vezes não somos
aceitos [...] não conseguimos ter um bom relacionamento com eles, para que sejam atendidos
[...] difícil [...] conquistar a confiança deles [...] (ENF. 12)
[...] os adolescentes são muito arredios, muito difíceis [...] não valorizam, acham que as
reuniões não estão com nada, [...] é um ser em transição, está saindo da vida de criança e
entrando na vida de adulto, não sabe o que ele é [...] hora é criança, hora é mais maduro [...] é
uma fase de muito conflito [...] difícil para os profissionais de saúde [...]
(MED. 08)
A interação entre o profissional e o adolescente deve ser alicerçada, principalmente, na
criação de vínculos, estabelecendo relações de confiança pautadas na relação de troca e
respeito, consolidada com o diálogo. Para isso devemos estar abertos, prontos para escutar
suas necessidades sem nenhum preconceito, e os julgamentos prévios sobre o que caracteriza
todo e qualquer adolescente devem ser suprimidos
22
.
Outro ponto levantado pelos entrevistados, que também é colocado como um
obstáculo na atenção ao adolescente, está relacionado à formação dos profissionais e
disponibilização de suporte bibliográfico por parte do Ministério da Saúde sobre a temática.
Eles enfatizaram a necessidade de capacitação para que se tenha um atendimento de
qualidade. Muitas vezes os profissionais se sentem despreparados para lidar com essa
população, fato corroborado pelo depoimento a seguir:
[...] Acho complicado, difícil [...] o ministério não tem um protocolo específico para atender o
adolescente [...] que possamos seguir e nos orientar [...] a gente não tem base para desenvolver
o trabalho [...] o profissional fica perdido [...] temos dificuldade porque é uma faixa etária
difícil de lidar [...] envolve outras questões sociais como drogas, sexo na adolescência [...]
muitas meninas grávidas [...] não temos um contato com a assistência social [...] o serviço de
psicologia para os adolescentes não tem contato com a gente [...] a gente não tem contato com
a escola [...] maioria dos nossos adolescentes mora em outro bairro [...] assim o trabalho
educativo se torna mais difícil [...] o atendimento é muito precário [...] (ENF. 07).
Segundo Horta (2006)
14
, na formação do profissional de saúde pouco se discute sobre
as singularidades e particularidades da juventude. Os currículos dos cursos de Medicina e
60
Enfermagem estão focados basicamente no modelo biologista/reducionista, suprimindo
questões oriundas da subjetividade do sujeito. Outro ponto colocado pela autora é o processo
de trabalho desgastante vivenciado pelos profissionais, associado à falta de capacitação e
treinamento. O que observo na prática é que os profissionais não sabem o que fazer com os
adolescentes. Nesse sentido são imprescindíveis maiores investimentos na educação
permanente dos profissionais nos serviços de saúde, para que se tenha uma assistência integral
e de qualidade para os adolescentes
23
.
Para suporte bibliográfico, o Ministério da Saúde criou, em 1989, o PROSAD
(Programa de Saúde do Adolescente), fundamentado em uma política de promoção da saúde,
identificação de grupo de risco e detecção precoce de agravos e tratamento adequado
24
.
Muitos profissionais desconhecem a existência desse material, que é de grande relevância no
campo teórico de atenção ao adolescente. Outra publicação importante é a Linha Guia de
Atenção ao Adolescente, desenvolvida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, cujo
objetivo é dar suporte aos profissionais, para que se tenham avanços na assistência
direcionada para a adolescência
10
.
Outro ponto extraído dos discursos dos profissionais, colocado como um obstáculo no
atendimento ao adolescente, está relacionado ao seu acompanhamento nas unidades de Saúde
da Família, que não é considerada prioridade. O fato é justificado pela não obrigatoriedade de
se atender o adolescente e pela inexistência de um programa específico de atendimento a essa
população. A sobrecarga de atividades também é colocada como um fator que impede a
realização de atividades programadas de promoção da saúde e prevenção de agravos voltados
para a adolescência.
[...] Devido ao HIPERDIA*, puericultura, preventivo, atendimento dos pacientes internos,
visitas domiciliares, reunião e atividades do plano diretor, da burocracia, muita documentação,
muitas coisas para você fazer, então tenho que priorizar [...] a população adolescente não tem
uma doença crônica que faça com que busquem a unidade [...] um grupo marcado, um dia
específico a gente não tem [...] (ENF. 04).
Dificuldade técnica [...] questão de horário [...] não tenho disponibilidade para fazer mais um
grupo[...] tenho outros programas que são obrigatórios [...] (MED. 05).
Nesse contexto, ressalto a importância de realizar atividades para os adolescentes na
atenção primária, uma vez que é um grupo muito vulnerável e necessita de um
acompanhamento.
______________________________
*HIPERDIA: Sistema de cadastramento e acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos em Unidades Ambulatoriais do SUS.
61
Muitas vezes atender o adolescente acompanhado por outra pessoa também pode se
tornar um problema, pois é complicado estabelecer um diálogo com os adolescentes na
presença de uma terceira pessoa, visto que o adolescente não expressa suas necessidades,
talvez por vergonha, medo, timidez ou insegurança.
[...] por ser menor de idade e ter um acompanhante o adolescente não se expressa bem [...] fica
inseguro [...]a mãe, às vezes, quer saber alguma coisa e por questões éticas não podemos estar
falando [...] quando ele está sozinho, ele se abre mais, fala o que está acontecendo [...]
dependendo do tema que a gente vai abordar [...] alguns pais ficam resistentes em estar
deixando o filho participar de atividades em grupos, achando que ele está muito novo [...]
(ENF. 06).
A Linha Guia de Atenção à Saúde do Adolescente (2006)
10
, coloca que o atendimento
individual ao adolescente pode ser pautado em dois momentos: o primeiro o adolescente é
atendido em companhia de um familiar e no segundo é o atendimento dele sozinho. A
presença dos pais em determinado momento é importante, uma vez que necessitamos de
informações relacionadas ao motivo da consulta, sobre a história do adolescente e
informações relacionadas ao grupo familiar. Mas ressaltamos que a atenção principal da
consulta deve ser sempre dirigida ao adolescente.
Um ponto crucial extraído dos discursos dos participantes, que mostra como a atenção
ao adolescente está precária, é a ausência de atividades voltadas para eles nas Unidades de
Saúde da Família. Ele é atendido quando tem uma necessidade incluída em outros grupos
de atenção, exemplo, o pré-natal.
[...] Não temos nenhum grupo específico de atendimento ao adolescente, já trabalhamos alguns
grupos de orientação sexual junto com a escola e com uma ONG [...] nenhum é constante [...]
fixo para adolescentes [...] já se trabalhou o uso de drogas, prevenção de DST’s, uso de
métodos anticoncepcionais [...] Amadurecimento do corpo [...] basicamente [...] (ENF. 06).
[...] não temos atendimento voltado para o adolescente [...] só quando ele se encaixa em um
grupo [...] como pré-natal, atenção à gestante, quando tem alguma adolescente [...] voltado só
para adolescente não tem um grupo [...] (ENF. 10).
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (1990)
3
, toda criança e
adolescente tem garantido no Sistema Único de Saúde o atendimento com ações de promoção
e prevenção de agravos. O direito à saúde constitui um direito humano fundamental
concebido em uma perspectiva integradora e harmônica.
O acesso dos adolescentes às ações de promoção à saúde, prevenção, atenção a
agravos e doenças, bem como para reabilitação, depende da organização dos serviços para
realizar esse atendimento. Necessitamos de um atendimento de qualidade que supram as
necessidades específicas dos adolescentes, respeitando características psicológicas, sociais e
62
econômicas
5
. Nesse contexto, para que se desenvolvam atividades de atenção ao adolescente,
é fundamental a sua inserção no planejamento, na execução e avaliação das ações realizadas.
Categoria 2 – Atendimento ao adolescente na atenção primária: Características da
prática assistencial
A prática assistencial é um fator muito importante na atenção ao adolescente. Os
discursos que confluíram para a construção dessa categoria refletem a relação existente entre
os serviços de saúde, na figura da Estratégia Saúde da Família, com o adolescente.
Atender o adolescente na ESF é extremamente importante, sendo assim os
profissionais colocam como deve ser esse atendimento:
[...] Na unidade em que trabalho estamos conseguindo uma boa aderência dos adolescentes [...]
eles vem, conversam sozinhos [...] devemos conseguir que eles cheguem devagar [...]faço
exames para ter algo concreto [...] mostro que por eles terem um problema emocional não
significa que eles estão fingindo, eles realmente estão se sentindo mal, um sentimento ruim [...]
do emocional [...] na Estratégia Saúde da Família temos um tempo maior e ele começa a se
soltar [...] querem ter intimidade [...] peço aos pais para pedirem para os filhos virem
conversar, para podermos atendê-los de maneira solta e descontraída, para que eles possam
colocar questões de sua sexualidade [...] não deixo a mãe entrar no atendimento [...] o
adolescente muda tudo com a presença dos pais [...] ele entra sozinho [...] converso com eles e
falo como quem não quer nada, colocando possibilidades para ele [...] não estou aqui para
julgar questões éticas, morais e religiosas [...] procuro atender as necessidades de saúde deles
[...]atender da melhor forma possível e evitar ficar encaminhando [...] muitas vezes o
adolescente se recusa e não vai [...]quando necessário encaminhamos para o CAPS* ou
hospital [...] o acesso para os adolescentes ao serviço está melhorando [...] (MED. 03)
Nos falas são relatadas condutas que foram bem-sucedidas na atenção ao adolescente.
É ressaltada a importância de trazê-lo para a unidade e trabalhar ações preventivas. Os
discursos expressam a necessidade de evitar encaminhar o adolescente para serviços
especializados; este procedimento só deve ser realizado quando for extremamente necessário.
Formigli (2000)
25
ressalta que para atender o adolescente em nível primário, os
conteúdos dos programas devem abranger as demandas individuais e coletivas dessa
população. Os princípios da ética, privacidade, confidencialidade e sigilo devem ser
valorizados. Portanto, o atendimento deve fortalecer sua autonomia, sem emitir juízo de valor.
Pode-se perceber também que os profissionais consideram que o atendimento aos
adolescentes deve ser realizado em conformidade com a legislação do Sistema Único de
Saúde.
[...] Pensando no cuidado do ser humano, no cuidado integral, dando toda a garantia de
acessibilidade e acolhimento dentro de uma normatização, do que é preconizado pelo
ministério da saúde e pelo SUS [...] (ENF. 01).
______________________________
*CAPS: Centro de Atenção Psicossocial para atendimento de portadores de sofrimento mental
.
63
As ações integradas na adolescência fazem parte dos Serviços de Saúde, buscam
acompanhar continuamente o cidadão que entra no SUS pela Unidade Básica ou pelo
Programa de Saúde da Família e vão preencher o vazio existente nos cuidados que são
dispensados aos nossos jovens
10
.
Para que se tenha uma atenção adequada aos adolescentes, Formigli (2000)
25
coloca
que as ações de saúde destinadas a essa população devem extrapolar os aspectos orgânico-
biológicos. Nesse sentido, a apreensão de características psicossociais da adolescência pode
instrumentalizar intervenções com maior potencial de efetividade.
Com a realização desta pesquisa, os discursos apontam que o atendimento ao
adolescente é realizado por demanda, com foco na queixa, fato evidenciado nas falas a seguir:
[...] A gente não tem nenhum programa em relação aos adolescentes [...] não existe nenhum
grupo específico [...] os adolescentes que nos procuram são por demanda [...] por algum
problema de saúde [...] não tem um programa específico em nosso PSF [...] a gente aproveita a
consulta [...] exemplo: o paciente chega com um machucado no pé, aproveito a brecha da
consulta e pergunto se ele tem namorada, se usa preservativo [...] muitos não procuram a
unidade[...] mas tem demandas [...] (MED. 05).
[...] Faço o atendimento dos adolescentes por demanda [...] quando trazem um problema
tentamos resolver na medida do possível [...] as agentes também vão às casas e trazem alguma
coisa [...] mas, eles não vêm muito [...] as meninas procuram por anticoncepção [...] são mais
fácies de se trabalhar [...] os rapazes consultam pouco [...] é difícil trazê-los à unidade [...] eles
procuram muito a unidade para pegar preservativo [...] não trabalhamos grupos de adolescentes
[...] estamos com dificuldade pela falta do enfermeiro, estamos esperando a chegada do
enfermeiro para se trabalhar o grupo [...] mas temos que tentar, tem que começar [...] não tenho
a fórmula pronta [...] isso vai aparecendo à medida que o trabalho vai evoluindo [...] (MED.
08).
[...] os adolescentes procuram pouco a unidade [...] muitos deles nem procuram [...] vem
quando aparece algum problema [...] aleatório [...] a gente também não vai até eles [...] não
temos um atendimento programado [...] (MED. 11).
Segundo Capalbo (1994)
26
, o binômio saúde-doença não pode ser analisado de forma
isolada da pessoa que vive concretamente esse fenômeno na totalidade de sua existência,
devemos avaliar o indivíduo de forma holística para dar conta dessa totalidade existencial.
Com a análise das falas, pode-se perceber também que a atenção ao adolescente na
atenção primária é voltada para as características dessa fase.
[...] acolher o adolescente [...] cuidar do adolescente, que é uma fase do crescimento, uma fase
do ser humano, reconhecidamente uma das mais polêmicas [...] de muita descoberta [...] busca
da identidade [...] conflito interno [...] (ENF. 01)
É colocado que a adolescência é uma fase peculiar, que possui várias faces, e os
profissionais que atendem essa clientela devem estar atentos a essas características. Traverso-
Yépez e Pinheiro (2002)
13
relatam que a adolescência é uma fase de importantes
64
transformações biológicas e mentais, articulada a um redimensionamento de identidades de
papéis sociais.
Com a análise dos discursos pode-se afirmar que existe algum tipo de atendimento
ao adolescente. As atividades são esporádicas e voltadas para riscos e agravos dessa fase, mas
são importantes para ampliar o campo de atenção e cuidado, visto que temos a possibilidade
de contemplar o adolescente nas agendas dos serviços, além de favorecer o aumento da
procura e da disponibilidade de serviços nas áreas de abrangência das unidades de Saúde da
Família.
[...] Aqui no PSF tentamos atender o máximo possível de questões relacionadas ao adolescente
[...] sexualidade [...] para as meninas, métodos contraceptivos [...] para os meninos, uso de
drogas [...] (ENF. 07).
[...] Faz parte do atendimento pediátrico, atendimento de rotina, com esclarecimento sobre uso
e abuso de drogas licitas e ilícitas, prevenção de doenças, acidentes [...] gravidez na
adolescência e sexualidade [...] é um grupo de risco [...] (MED. 05).
Burak (2001)
27
ressalta que a atenção ao adolescente também não pode ter foco
somente em problemas orgânicos, como gravidez, doenças sexualmente transmissíveis ou
dependência química. Devem-se implementar programas que tenham como objetivos
promover o desenvolvimento humano e atender à sua saúde de forma integral.
É apontado, também, que o atendimento ao adolescente deve se respaldar em um
processo de ensino-aprendizagem, que possibilite discutir questões éticas, valores morais e
cidadania na formação do adolescente. O atendimento deve ir além das questões biológicas,
extrapolando as características dessa fase.
[...] Atender o adolescente é dar abertura, dar espaço para que ele tenha confiança e demonstre
que compreendemos sua situação. É um atendimento integral [...] conversarmos [...] aceitar sua
condição [...] criar um elo com eles [...] atender suas necessidades [...] colocar-se paritário com
eles, como o pessoas que está atendendo [...] estar junto, não impor sua verdade e aceitar a
verdade deles, mostrando o benefício das coisas [...] (MED. 03).
[...] Acho que é principalmente educação, estar disponível [...] ser mais ativo [...] acolher [...]
não focar na queixa [...] ter tempo, conversar, estar aberto [...] ele tem que sentir o interesse
do profissional [...] deixar ele falar o que está incomodando [...] o que está realmente
acontecendo com ele [...] realizar atividades de promoção de saúde [...] evitar que eles fiquem
doentes, é
prevenir, é informar [...] atividades educativas [...] orientar [...] da gravidez, doenças
sexualmente transmissíveis [...] métodos anticoncepcionais associado ao uso da camisinha [...]
atendê-lo de modo integral, verificar como ele está, se vai à escola, se trabalha [...] deixar as
portas abertas para ele [...] estar atento para os determinantes de saúde [...] nem sempre ele tem
um problema específico [...] precisa de um remédio [...] devemos realizar atividades em grupo
[...] para eles é melhor, se sentem mais à vontade e participam mais [...] tiram dúvidas,
conversam [...] comportam bem, tiram proveito e aprendem com a pergunta, questionamentos e
vivência do outro [...] o adolescente pode ser força na comunidade para mudar hábitos [...]
(MED. 11).
65
[...] Levando informação, trocando informação, utilizando o processo de ensini-aprendizagem
com os adolescentes [...] nesse processo pedagógico de ensinar e aprender [...] fazer com que
esses entendam o que é ética, o que são valores morais [...] a solidariedade, a amizade, a
cooperação, o bem-estar, a boa convivência, a cultura de paz, a não violência [...] buscar
educação, buscar informação, buscar escola, buscar conhecimento, para que eles se tornem
cidadãos dignos, de uma vida social digna [...] (ENF. 01).
É colocada a necessidade de realizar ações de prevenção e promoção da saúde, com
participação dos adolescentes em seu planejamento. Deve-se estar disponível para ouvir e
aberto para acolhê-lo. Os sujeitos destacam que a atividade em grupo é um elemento
importante para melhoria da qualidade da assistência e troca de experiência entre os
participantes.
A viabilização desses fatores contribui para a melhor relação cliente-profissional,
favorecendo as descrições dos problemas e dúvidas. Pode, também, aumentar a capacidade do
profissional no atendimento das necessidades necessárias e favorecer o vínculo dessa clientela
com o serviço.
9
Nesse sentido, Traverso-Yépez e Pinheiros (2002)
13
reforçam a necessidade de se
atender o adolescente de forma integral, levando em consideração fatores psicossociais
associados a uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, com uma abordagem que
envolva diferentes aspectos que interagem no cotidiano do adolescente e no contexto que ele
está inserido, atendendo às suas demandas sociais e coletivas.
Categoria 3-Atender o adolescente: uma necessidade da atenção primária
Mesmo que existam dificuldades e obstáculos na atenção ao adolescente em nível
primário, os discursos dos médicos e enfermeiros apontam para a necessidade de atenção a
essa clientela nas unidades de Saúde da Família, mas alertam que o serviço deve estar
organizado para esse atendimento.
[...] É importante está trabalhando com os adolescentes [...] tentar evitar gravidez na
adolescência [...] principalmente na menina [...] a gente não pode deixar de fazer as orientações
[...] se necessário a gente marca um retorno ou encaminha para um especialista [...] um pediatra
[...] acho muito importante nosso trabalho na atenção básica [...] (ENF 06).
[...] Se não tiver programação e organização da equipe é mais fácil eles não virem [...] é difícil
ter tempo, deixar aberto, com essa procura grande por atendimento [...] muitos deixam de vir,
não porque querem, mas porque o profissional é da região e vão perguntar o que eles m [...]
no PSF estávamos simplesmente fazendo consultas [...] (MED. 11).
66
Nesse contexto, o Ministério da Saúde (2005)
9
reforça a necessidade de se realizar o
atendimento aos adolescentes, respeitando os princípios e as doutrinas do Sistema Único de
Saúde, e coloca a necessidade de organizar os serviços, para garantir o acesso de adolescentes
e jovens. Portanto, algumas ações são consideradas relevantes para essa organização. Devem
ser levadas em consideração a disponibilidade, a formação e a educação permanente dos
recursos humanos, a estrutura física, os equipamentos, os insumos e os sistemas de
informação. Essas condições devem ser organizadas de acordo com o grau de complexidade
da atenção prestada.
É fundamental que a atenção primária seja organizada e tenha atividades voltadas para
os adolescentes, pois é um grupo de grande vulnerabilidade, que está exposto a vários fatores
de risco. Além disso, é uma fase que se caracteriza por ser fecunda e receptiva ao
desenvolvimento de atividades relacionadas à sua saúde, portanto devemos organizar o
atendimento e estar preparado para receber essa clientela
13
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho possibilitou compreender o significado do atendimento aos
adolescentes realizado pelos profissionais na atenção primária. Essa compreensão possibilita a
identificação de características do atendimento que são relevantes e podem contribuir para a
melhoria da atenção prestada aos adolescentes em nível primário.
O desocultamento do fenômeno nos permite refletir e rever questões importantes que
permeiam a relação entre os profissionais e os adolescentes. Os profissionais mostraram, por
meio de seus discursos, que atender o adolescente é desafiante, mas em contrapartida os
resultados deste estudo permitiram constatar que os entrevistados, mesmo que de forma
limitada, realizam algum tipo de atividade para os adolescentes, mas sabe-se que essa atenção
deve ser ampliada e realizada de forma integral.
A partir dessa compreensão dos significados atribuídos pelos profissionais ao
atendimento dos adolescentes, creio que este estudo poderá estimular reflexões sobre a
temática e trazer novos conhecimentos que contribuirão de forma significativa para a
elaboração de futuras ações que envolvam os profissionais e adolescentes.
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p. 113-124.
69
5-CONSIDERAÇÕES FINAIS
______________________________________________
70
5-Considerações Finais
Com a realização deste trabalho, pude mergulhar e aprofundar nos discursos dos
sujeitos e abstrair o significado atribuído pelos profissionais da atenção primária, no
município de Viçosa, ao atendimento do adolescente. Em um movimento de idas e vindas na
busca desse significado, foi possível perceber as experiências vividas por médicos e
enfermeiros na atenção à saúde do adolescente. Nesse sentido, empenhei-me em retomar
algumas peculiaridades que foram essenciais no desvelamento do fenômeno, processo que
foi possível com respaldo da literatura sobre a temática.
Adotar a pesquisa qualitativa com enfoque fenomenológico foi crucial neste caminho
pela busca de significados, pois a fenomenologia reúne qualidades importantes para entender
o emaranhado de questões subjetivas existentes nos discursos dos profissionais. Pude inserir-
me no fenômeno e buscar sua essência, compreendendo o que não era mensurável ou
quantificável.
O estudo permitiu entender as experiências e vivências dos profissionais no
atendimento aos adolescentes. Foi possível construir categorias de análise que clarificaram as
faces do fenômeno.
Com a análise das falas percebe-se que o atendimento ao adolescente ainda é um
grande desafio. Essa população carrega consigo várias contradições e vivências que são
determinadas pelo próprio meio em que vivem, e que os profissionais, muitas vezes, não
conseguem abordar.
Nesse processo, não se consegue estabelecer uma relação sólida com os adolescentes.
Esse encontro é permeado por questionamentos, dúvidas e incertezas, o que torna o
atendimento complicado e limitado. Sendo assim, considero importante que os profissionais
71
construam uma relação sólida, transparente e harmoniosa com os adolescentes, criando
vínculos que fortaleçam essa convivência.
Outros fatores também podem afetar essa relação, como a presença de uma terceira
pessoa no momento da abordagem. Nesse sentido, destaco que o atendimento deve ser
individual, de forma que ele expresse suas angústias e necessidades. Considero importante
que em determinado momento os pais ou responsáveis sejam ouvidos, pois eles podem ter
informações importantes e necessárias ao atendimento.
Os resultados deste estudo permitiram-me constatar que os profissionais sentem
dificuldades em atender o adolescente por falta de capacitação e referencial teórico para isso.
Portanto, evidencio a necessidade de promover atividades de educação permanente, que
abordem o tema e dê subsídios para que esse problema seja superado. Com relação ao
referencial teórico, atualmente encontramos materiais que podem dar suporte a esse
atendimento. Outro ponto ressaltado, que exerce influência no atendimento aos adolescentes,
está relacionado à sobrecarga de trabalho imposta pelo atual modelo assistencial, e muitas
vezes o acompanhamento a esse público não é priorizado pela equipe, por não ser um
programa obrigatório. Ressaltou-se, também, a ausência de atividades voltadas para essa
população. Sendo assim, vejo que é fundamental que os profissionais se organizem e
desenvolvam estratégias de prevenção e promoção de saúde, pois os adolescentes são um
grupo que possui vulnerabilidades e necessita de acompanhamento.
Com a realização desta pesquisa, foi possível evidenciar algumas características da
prática assistencial que envolvem adolescentes na atenção primária. Nesse sentido, encontrei
relatos sobre experiências que foram bem-sucedidas nesse atendimento. Os profissionais
enfatizaram que as ações devem ser pautadas nos princípios do Sistema Único de Saúde, com
o desenvolvimento de atividades que promovam um atendimento de qualidade a essa
população. O estudo mostrou também que esse atendimento é realizado de acordo com a
72
demanda e voltado para os riscos e agravos da adolescência, com foco direcionado para
queixa. Considero que essa atenção deva ser holística, e que os profissionais sejam capazes de
transcender os riscos aos quais os adolescentes estão expostos. Devem-se considerar suas
dimensões sociais e coletivas, com um acompanhamento que extrapole as características
dessa fase e seja fundamentado nos princípios da ética e da integralidade.
Mesmo com o relato de obstáculos no atendimento ao adolescente, o estudo
demonstrou que os profissionais consideram muito importante a realização desse atendimento
e ressaltaram que o serviço deverá estar preparado e organizado para atender a essa demanda.
Estar com os profissionais durante a realização deste estudo foi um momento de
grande importância e reflexão para mim. Foi possível compartilhar vivências e experiências
que muito me acrescentaram profissional e pessoalmente. Elas reforçaram em minha vida a
necessidade de saber ouvir e respeitar as percepções dos outros em contextos diferentes, que
com os relatos se tornavam muito próximos.
Creio que o desenvolvimento desta pesquisa pode contribuir de forma efetiva para a
melhoria da qualidade da assistência prestada ao adolescente em nível primário. Considero
que nesse processo o profissional de saúde é peça fundamental.
73
6-ANEXOS
______________________________
74
Anexo 1
COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS –
COEP/UFMG
75
7-APÊNDICES
______________________________
76
Apêndice 1
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE VIÇOSA - MG
SOLICITAÇÃO
Viçosa, 27 de Outubro de 2008.
Ilmo. Sr.
José de Arimathéa Silveira Marques
Secretario Municipal de Saúde de Viçosa – MG
Prezado Senhor,
Venho por meio deste, solicitar autorização para desenvolver a pesquisa
provisoriamente intitulada: Análise Compreensiva do significado do atendimento aos
adolescentes realizado pelos profissionais de saúde da atenção básica do município de Viçosa
MG. Esta pesquisa tem como objetivo compreender o significado dado pelos profissionais
de saúde atenção básica do município de Viçosa, ao atendimento dos adolescentes.
Os participantes dessa pesquisa serão todos os profissionais de nível superior que
compõem as equipes nimas da Estratégia Saúde da Família e que queiram participar da
pesquisa voluntariamente, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. Utilizarei
para a coleta de dados, a entrevista aberta gravada na íntegra.
Os participantes terão garantido a proteção de sua identidade, sigilo das informações
coletadas, assim como o atendimento às demais normas estabelecidas pela Resolução CNS
196/96- diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos.
Diante do exposto acima, venho solicitar-lhe autorização para realizar a pesquisa neste
município, durante a coleta de dados.
Sem mais, aproveito o ensejo para agradecê-la antecipadamente pela atenção, quando
reitero os votos de elevada consideração.
Atenciosamente,
Bruno David Henriques
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o Sr José de Arimathéa
Silveira Marques, representante da instituição, após a leitura da Carta de solicitação à
Secretaria Municipal d Saúde de Viçosa, ciente dos procedimentos propostos, não restando
quaisquer dúvidas a respeito do que foi lido e explicado, firma seu CONSENTIMENTO
LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a
instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da
pesquisa e fica ciente de que todo o trabalho realizado torna-se informação confidencial,
guardada por força do sigilo profissional.
Viçosa, 27 de outubro de 2008
_________________________________________
José de Arimathéa Silveira Marques
Secretário Municipal de Saúde de Viçosa
CPF: 197385956 - 49
C. Identidade: M – 317850
77
Apêndice 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada provisoriamente
como: ANÁLISE COMPREENSIVA DO SIGNIFICADO DO ATENDIMENTO AOS
ADOLESCENTES REALIZADO PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA – MG, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UFMG, para a qual você foi escolhido por trabalhar nas Equipes da Estratégia
Saúde da Família ESF, do município de Viçosa. Sua participação não é obrigatória. Você
também poderá desistir de participar a qualquer momento e retirar seu consentimento. Sua
recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação aos pesquisadores bem como aos demais
profissionais da ESF. O objetivo deste estudo é compreender o significado dado pelos
profissionais de saúde, inseridos na atenção básica do município de Viçosa, ao atendimento de
adolescentes. As entrevistas serão gravadas e orientadas por uma única pergunta norteadora
acerca do atendimento aos adolescentes. Posteriormente serão transcritas e seus conteúdos
utilizados para confecção de material científico, que venha contribuir para a melhoria da
qualidade da assistência prestada aos adolescentes. Não haverá riscos ou custos na sua
participação, uma vez que serão analisados seus depoimentos. Serão resguardados seus
nomes, e as entrevistas serão identificadas por meio de números. Dentre os benefícios
relacionados com a sua participação está o de permitir que esta pesquisa seja desenvolvida,
podendo possibilitar o reconhecimento que a população tem sobre esse serviço. Você receberá
uma cópia deste termo onde constam o telefone e o endereço do pesquisador principal,
podendo esclarecer dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou durante o
desenvolvimento do trabalho.
Bruno David Henriques
Rua Dr. Juarez Souza Carmo, 199
B. Canaã Tel: 31 – 38921158 ou 31 – 83095051
Orientação:
Profa. Profa. Dra. Regina Lunardi Rocha
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Área de Concentração em Saúde da
Criança e do Adolescente
Deptº. de Pediatria – Fac. de Medicina da UFMG - Tel. 3409-9773
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG - COEP
Av. Antônio Carlos, 6627, B. Pampulha
Unidade Administrativa II, 2° andar, sala 2005
Belo Horizonte-MG
(31)3409-4592 – c[email protected]
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação
na pesquisa, e concordo em participar.
Nome:
___________________________________________________________________________
78
Apêndice 3
Entrevistas/Observações dos profissionais
Entrevista 01-ENF. 01
Profissão: Enfermeiro
Idade: 42 anos
Estado civil: Casado
Naturalidade: Dionísio-MG
Tempo de atuação na ESF: 8 anos
O que é para você, atender o adolescente na atenção primária?
Bom, é
... pensando no cuidado do ser humano né, no cuidado integral, dando toda a
garantia de acessibilidade e acolhimento dentro de uma normatização, dentro do que é
preconizado né, pelo Ministério da Saúde pelo SUS
1
. Cuidar do adolescente, que é uma fase
do crescimento, uma fase do ser humano, né, talvez uma das fases, reconhecidamente uma das
fases mais polêmicas
2
, seja a oportunidade de no momento em que o cidadão começa a se
reconhecer como um integrante da sociedade e como um cidadão, seja o momento oportuno
para que a saúde da família possa levar esses, esses adolescentes né, esses seres humanos
nessa faixa etária, a possibilidade de crescimento. É levando informação, trocando informação
com eles, utilizando o processo de ensino aprendizagem
3
, né, porque a gente tem muito a
aprender com as pessoas também, e nesse processo pedagógico de ensinar e aprender
3
simultaneamente. O que a gente pode tentar a fazer é com que esses adolescentes entendam
3
o
que que é a ética, o que que são valores morais
3
, deixar muito claro que a ética é uma ciência,
mas o que compõem essa ciência são exatamente os valores morais né, e a gente tentar
valorizar sempre esses valores morais positivos, a solidariedade, a amizade, a cooperação, o
bem-estar, boa convivência, a cultura de paz, a não violência
3
, e, dessa forma, que eles se
tornem, se eles não tiveram uma boa influência da família, que o que a gente muito ouve, que
a gente possa a partir deles, que eles se tornem pilares de famílias que, que se tornem
famílias com propostas de promover uma boa, um bom relacionamento entre as pessoas, um
bom relacionamento interfamiliar, um bom relacionamento intrafamiliar. É uma fase que eles
têm de muita descoberta
2
, então a gente começa e pode estimular esses adolescentes a buscar
educação, a buscar informação, a buscar escola, a buscar conhecimento para que eles se
tornem cidadãos dignos de uma vida social digna também
3
. Silêncio...
O que é essa fase polêmica para você?
Talvez seja a fase onde o universo das informações elas chegam simultaneamente de
todos os lados, né. É a família, é a escola, são os amigos, então são várias informações que
acontecem simultaneamente e muitos grupos distintos com pensamentos diferentes, até pela
própria característica da idade né, da busca da liberdade
2
, da busca da auto-afirmação
2
né, da
busca da ocupação do espaço perante grupos distintos
2
, perante a ocupação, perante a
família
2
, a ocupação perante o grupo de amigos
2
, a ocupação perante o grupo da escola
2
.
certo, então juntamente com todo aquele processo de mudança hormonal que faz todo o
desenvolvimento, é característico da idade também e a influência do meio ela passa a ser mais
exacerbada, né, ela passa a ser mais determinante na construção daquilo que ele herdou de
casa, se ele vai promover uma boa índole, uma índole, se ele vai desenvolver um bom
79
caráter, um mal caráter e nessa fase que ela se torna polêmica exatamente pela forma
que ele está inserido na sociedade. É um momento diferente que ele está ali deixando a parte
de infanto... a parte infantil, né, o momento de criança e se afirmando como um meio ser
adulto naquela fase de transição onde ele ainda não tem uma identidade própria, ele busca
essa identidade
2
. Mas, muitas vezes, ela é espelhada por um grupo de amigos, seja dentro de
casa, seja, com um grupo de pessoas, seja, amigos, sejam pais, sejam familiares e talvez o
espelho dessa sua convivência, ele pode adotar isso como sua identidade própria e ele pode
recebendo um certo, uma certa pressão dessa fase. É o conflito interno
2
, talvez seja o
grande momento polêmico da vida dele, é a autocobrança, o autocuidado, auto-informação, o
fato de ser auto..., ter que aprender as coisas sem saber de onde as informações, são as mais
é... precisa, são as mais importantes. Silêncio... é isso.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Bom, e aí registrar que a saúde da família, a Estratégia Saúde da Família, a unidade de
trabalho, os profissionais que estão envolvidos nessa estratégia eles tem uma excelente
oportunidade em promover ações focadas nesse grupo, que um grupo que bem trabalhado, ele
pode no futuro render muitos bons frutos, né. Você pode ensinando não a questão da
formação cidadã, mas também a possibilidade de..., dele estar se sentindo comprometido, né.
Na verdade é uma, é um, consolidação da estratégia mesmo, é ele como um ser social capaz
de transformar, né, a vida dele e das pessoas para uma qualidade de vida melhor e a Estratégia
Saúde da Família nesse ponto serviria como um, o que a gente chama de QG, seria o quartel
ali, a base para que vopudesse acolher esses adolescentes
2
, para que você pudesse passar
para eles todos esses valores morais positivos, para que ele viva dentro de uma, de um
comportamento ético, né, digno aí de um... de uma vida humana, de uma vida com qualidade.
Obrigado!
Por nada.
80
Entrevista 02-ENF. 02
Profissão: Enfermeira
Idade: 34 anos
Estado civil: Casada
Naturalidade: São João Del Rey
Tempo de atuação na ESF: 11 anos 9 meses
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Na verdade, atender o adolescente na atenção primária seria mais uma orientação
1
né,
conforme essa questão de mudanças
1
, dentro do contexto né, que a questão do corpo, dos
hormônios
1
né, dessas diferenças, dessa transição da criança para o adulto
1
né, que é muito
complicada. A gente tem as dificuldades também por, pelo adolescente não ser aquele público
que vem muito ao PSF
2
, inclusive a gente tem tentado fazer algumas atividades mais
direcionadas para eles. Quando eu estava até em nova Viçosa, a gente estava tendo uma
parceria junto com a escola e até mesmo com o pessoal da ABB comunidade
1
, que atendia
esses adolescentes, porque a gente vê que no decorrer do ano eles eram as pessoas que menos
eram atendidas, então a gente tinha uma dificuldade de abordar
2
porque eles não vem é...
assim, eles não estão tão abertos
2
para estarem procurando, ao mesmo também tem coisas que
eles não gostam
2
. Os próprios pais acompanham
2
eles, então a gente tem aquela dificuldade
de estar atendendo e que eles tenham a privacidade
2
, mas que eles é... também não tem como
você ficar atendendo sem que os pais tenham conhecimento
2
é... desse atendimento. Então
eu achava assim, muitas vezes você abordava, eles tem uma dificuldade para estar aceitando
muitas coisas
2
eu acho que eles é uma... um fator grupo
1
inclusive você tem que ter uma
atenção redobrada né, por causa da questão de drogas, é... da sexualidade
1
, desse
entendimento que é muito... é... principalmente às vezes dependendo. Igual a gente tinha lá
uma área que era, como que eu falo, é... muito promíscua né, a promiscuidade era muito
grande, a questão de até prostituição
1
mesmo, então já existia na própria comunidade algumas
coisas que eram feitas né, para ajudar. Mas a gente tinha essa questão, a gente entende que
tem essa importância muito grande, entendeu e a gente acredita de fazer algumas coisas aqui
no bairro, até mesmo para eles, porque a gente que é um grupo que precisa de uma
atenção
2
né, talvez mais, como que seria..., da gente ser mais atento a esse grupo né, mas que
eu acho que é..., eu não tive assim aquele contato muito direto, apesar da gente ter tentado
começar fazer. Igual eu estou te falando, a gente não deu continuidade né, porque eu saí de lá,
então era...a gente queria estar fazendo, trabalhando melhor essas coisas com eles, com
relação ao planejamento é... familiar
1
, porque muitas adolescentes grávidas, a gente aqui
mesmo no bairro tem uma com treze anos né, que acabou de ser mãe, ela relatou que é uma
segunda gravidez. Então a gente que precisa mesmo estar fazendo essa abordagem,
entendeu, mas eu acho que é um grupo ainda que a gente precisa..., que eu não acho tão fácil
né, gostaria até que a gente tivesse um treinamento
3
, alguma coisa assim melhor para tá
conseguindo abordá-los
3
de uma forma mais.... é, eu falo assim, que a gente conseguisse
abordar mesmo de uma forma mais efetiva
3
, porque a gente não consegue né, de uma forma
tão boa sensibilizá-los né, para os problemas, para as questões sociais
2
mesmo, que tem
muitos outros problemas, eu acho que é isso, eu não sei... entendeu, contemplou a sua
pergunta? Risos.
Fala um pouco para mim dessa sua dificuldade de abordagem.
81
A dificuldade é porque eu acho que eles não é...eu não sei se eles tem tanta segurança
2
,
entendeu, porque eles o sempre assim meios desconfiados
2
né. Então às vezes você está
querendo abordar algumas coisas e eles ficam assim é...eu não sei se eles mesmo ficam
tímidos, ficam receosos né, não conseguem ainda terem essa abertura
2
. Por isso que eu acho
que tem que ser um trabalho que a gente consiga fazer né, durante mais tempo, para que a
gente consiga ter essa relação com eles de segurança
2
, entendeu, então essa dificuldade que eu
tenho, assim, deles realmente, quando a gente fala assim, quais são as dúvidas
2
, que vocês
querem saber né, para que eles abram pra gente realmente, para eles quererem é...
compartilhando os problemas
1
deles com a gente. Eu não sinto assim, muitas vezes eu acho
que eles ficam rindo
2
sabe, ficam meio receosos mesmo, né, de estar expondo pra gente
todos os problemas
2
, porque não adianta a gente falar para eles, eu acho que tem quer ter o
feedback deles também com os profissionais
2
. Então eu percebo que eles ficam
2
sempre
assim, com medo
2
de...que a gente
2
mesmo...é, recrimine
2
, né, porque essa fase é muito
difícil
2
mesmo. Às vezes eles começam a falar na questão da sexualidade, de atividade sexual,
às vezes na própria escola os outros recriminam né, a questão mesmo da prevenção com
relação às doenças, DSTs
1
, as drogas que também estão aí. Então eu queria que eles
tivessem mais essa segurança com relação aos profissionais
1
, mas que você tem que ter um
tempo maior pra tá fazendo esse contato, né, para que eles sintam essa segurança nos
profissionais
2
.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Não, acho que é isso.
Obrigado!
Por nada.
82
Entrevista 03-MED.03
Profissão: Médica / Psicóloga
Idade: 47 anos
Estado civil: Divorciada
Naturalidade: Luz - MG
Tempo de atuação na ESF: 13 anos
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
É, principalmente, dá uma abertura para ele, sabe, deixar um espaço para que ele tome
confiança, que ele note que a gente disposto a compreender a situação dele, atendimento
integral
1
. O adolescente, na minha opinião, ele tem muito medo de ser rejeitado
2
como todos
os grupos, ele quer muito se incluir
2
, então ele chega aqui todo armado
2
, na medida que a
gente vai conversando
1
, vai colocando as circunstâncias, vai falando que a gente aceita
1
,
principalmente em relação a sexualidade, que ele tem direito a uma sexualidade
1
, mas
mostrando para ele que ele tem que ter responsabilidade
1
, não na sexualidade. Mas em
todas as circunstâncias, parece que a gente tem uma certa abertura, é interessante o seguinte
eu não costumo deixar a mãe entrar
3
com o adolescente na.. no primeiro momento não,
porque é complicado, quando a mãe entra, ou ela fala pro adolescente ou então o adolescente
muda tudo
3
, não te dá nada da realidade. Mas aí é...quando ele entra sozinho
3
e fica um tempo
razoável aqui na atenção básica, na Estratégia Saúde da Família a gente tem um tempo maior,
ele começa a se soltar
3
em tudo e, principalmente, ele quer ter a intimidade
3
dele. Muitas
vezes, ele fala minha mãe é legal, meu pai é legal e tudo, mas eu tenho vergonha de expor, de
mostrar para ele as coisas, não dá, então a gente coloca a abertura, porque o principal na
situação do adolescente é evitar que ele mesmo chegue a conclusões que podem não ser as
conclusões melhores para aquele momento da vida dele
1
. Então, muitas vezes a gente o
pessoal falando que é...tem que cuidar né, tem que prevenir a gravidez na adolescência, mas
como se o adolescente fosse uma pessoa assexuada né, eu lembro quando eu estudei Freud,
que eu também fiz psicologia, é...antes de Freud as crianças eram assexuadas né, ninguém
aceitava a sexualidade das crianças e Freud mostrou isso tudo, então infelizmente a tradição,
talvez a tradição até latina mesmo mostra que a gente tem mania de olhar pro adolescente
como se ele fosse um ser assexuado
4
, como se a menina engravidasse de uma forma meio que
mágica e não é por né. Eu lembro que quando eu trabalhava em uma cidadezinha aqui
perto, não teve jeito eu perguntei na frente da mãe mesmo, quando é que tinha sido a
menstruação e tal e ela acabou se enrolando toda e no final ela estava grávida mesmo, a
mãe estava muito chateada, porque ela dava permissão pra menina namorar dentro de casa,
então ela tinha a ilusão né, que estando perto da menina fisicamente, ela estaria de alguma
forma interferindo nas condutas da menina. Mas as coisas não são dessa forma, nós pais não
temos essa idéia. Então, eu sempre coloco e até incentivo muito os pais a pedirem os
adolescentes pra virem aqui conversar e quandos eles é... vem aqui, que a gente possa atendê-
los de uma maneira bem é... solta né, bem descontraída, pra eles poderem realmente colocar a
situação que eles estão em relação a sexualidade deles
3
. Uma vez eu fiz uma palestra numa
escola, que era para falar sobre a gravidez na adolescência, eu peguei e pedi para mudar o
título para sexualidade na adolescência, então o pessoal começou a ouvir né, e eu ainda
coloquei assim, vocês são professores, vocês acham que vocês colocam pros alunos de vocês,
adolescentes, eles fazem igualzinho, eles falaram assim, não, então não adianta. Na realidade,
convencer o adolescente que ele não é... acima do bem e do mal e que as coisas só acontecem
com os outros e que Deus protege é bobagem e não adianta a gente mexer depois que a
situação está resolvida, ou seja, pra mim a gravidez na adolescência é uma resolução de
83
uma sexualidade mal resolvida. Uma vez tive uma professora, que ela é até muito católica,
entre aspas, eu também sou, é... colocou assim, mas se a gente ficar falando dessa maneira, de
certa forma a gente está estimulando eles, não o estímulo vem da própria, do próprio corpo né,
e da própria sociedade que a gente vivendo no momento, cada vez mais as crianças são
adultizadas, cada vez mais os adolescentes têm que se virar sozinhos, né, então é ignorando as
coisas, ignorando que as coisas existem que a gente é aqui nesse, nessa atenção básica que eu
trabalho, a gente tem conseguido boa aderência dos adolescentes, eles vem sabe, eles
conversam sozinhos.
3
Uma vez eu tive uma palestra é... até foi recente num encontro da
SOGIMIG lá em Juiz de Fora agora, num encontro de ginecologistas e obstetras e aí o pessoal
tava falando da questão jurídica de se atender o menor sem acompanhante sabe, e eu achei
assim muito estranho esse tipo de coisa interferir, né, na conduta do profissional da saúde, não
só o médico, como também os outros profissionais, o próprio agente de saúde, o enfermeiro, a
técnica, né, a nutricionista que trabalha com a gente e tudo mais, a dentista que trabalha com a
gente, porque eu acho que a questão da saúde, ela tem que ser é...de uma certa forma vista
sem esses é...preconceitos
4
. Então eu, quando a adolescente vem né, que ela tenha doze anos,
como eu tive casos de adolescentes de doze anos que engravidaram, se ela tem doze anos e
ela me coloca ou eu fico sabendo porque a gente trabalha no bairro o tempo todo, que ela
tendo uma vida sexual ativa, eu converso com ela numa boa, eu vou falando assim como
quem não quer nada e coloco pra ela as possibilidades
3
que ela tem né, a gente ainda brinca
que tem que usar o cinto e o suspensório, o cinto seria a pílula né, poderia ser lula injetável
ou a ... a pílula oral
4
que para o adolescente é mais complicado, e o suspensório, que é a
camisinha né, porque para proteger das doenças sexualmente transmissíveis
4
, isso em relação
ao problema maior que a gente tem com os adolescentes que é a questão da sexualidade
4
. Eu
acho que por eu ser ginecologista, por eu ter feito psicologia, eu tenho uma abordagem um
pouco melhor, mas é difícil, realmente é difícil, porque eles estão na defensiva, os pais
ignoram muita coisa e a gente ainda fica com aquele medo né, de invadindo um espaço
que a gente não tem certeza se é nosso
2
. Eu acho que você promover a saúde está acima né, de
qualquer tipo de é...julgamento, do ponto de vista religioso, ético, moral
3
né, não me interessa,
eu também não estou aqui para julgar
3
. Igual, hoje em dia, os adolescentes são diferentes dos
adolescentes da minha época, que na minha época a gente quando beijava né, beijava quando
tinha saído com o cara umas dez vezes né, hoje em dia eu vejo as adolescentes falarem que
nas festas, elas beijam assim, juntam uma turma de amiguinhas e todas vão e beijam o
mesmo cara na mesma noite, nem conhece o camarada, quer dizer estão na fase do beijo né, e
o resto né. Então fica assim, é... uma situação meio que liberada, mas ao mesmo tempo
confusa na cabeça do adolescente né. Com relação aos outros problemas de saúde é... eu tenho
com eles a questão da acne
4
né, a acne também é uma questão que a gente tem que cuidar, é...
outras vezes a depressão né, a acne eu costumo é... tentar medicamentos tópicos mais
tranquilos, quando eu não consigo com os medicamentos tópicos, eu encaminho para um
dermatologista, que é meu amigo né, o que facilita também né, do um jeitinho brasileiro e ele
passa istretinoína que graças a Deus o SUS está fornecendo, que vai evitar várias faces
mutiladas no futuro, né. Com relação a depressão
4
, a gente tenta ao máximo né, evitar de
entrar com medicação, mas tem hora que não tem jeito, a gente tem que entrar mesmo. No
meu caso eu começo, geralmente é a síndrome do pânico
4
que a gente mais vê, chega aqui
falando que vai morrer, que está sentindo isso, que está sentindo aquilo, então eu faço a
seguinte abordagem, faço os exames para ter algo concreto
3
, porque eles ainda tem muito de
criança né, ele ainda tem muito que ver pra crer né, ainda são meio São Tomé, então eu faço
os exames, falo assim ó seu exame está normal, mostro pra eles que o fato deles terem um
problema emocional não significa que eles estão fingindo, eles estão realmente sentindo mal,
só que é um sentimento ruim
3
que não está vindo daquele órgão que ele está se referindo, mas
está vindo do cérebro, do lado emocional
4
, muitas vezes eu coloco que está faltando
84
neurohormônio pra ficar uma coisa assim mais material, pra não ficar uma coisa tão subjetiva,
pra não ficar... tipo assim... no nível da mentira né, porque é muito comum os pais encararem
assim, não eles não estão querendo irem para a aula, eles estão querendo ganhar um pedaço
maior das coisas, por isso que eles tão dando essa de depressivos. E aqui na área que eu
trabalho existem várias histórias de suicídio
4
, de adultos jovens e adolescentes sabe e...
inclusive a gente tem uma ponte aqui no bairro, pertinho daqui onde a gente está, que o
pessoal pula de lá e morre mesmo sabe, então de repente tem hora que a gente quer ser até um
pouquinho mais agressivo, encaminhar pro CAPS
3
, as vezes a gente não consegue esse
encaminhamento né, houve vezes que a pessoa tava tão agitada que eu tive que mandar para o
hospital
3
pra fazer um Haldol mais Fenergan naquele momento, então é... o adolescente que a
gente lida nessa nossa área aqui, a problemática dele é inclusão
4
, doença mesmo a gente tem,
doenças graves a gente praticamente não tem. Então, seria mesmo a questão da gravidez
4
, a
questão da acne, a questão da depressão né, dificuldade escolar
4
também, que as vezes os pais
colocam que com dificuldade, mas, muitas vezes, você que é falta de motivação
4
sabe,
outras vezes tem uma evasão porque quer trabalhar, quer ter dinheiro
4
. A questão da droga
aqui no bairro ela é bem localizada sabe, a gente sabe quem é que usa, quem é que não usa,
como é que é, como é que não é, e o que a gente muito né, na cidade pequena é prender e
soltar, prender e soltar, prender e soltar sabe, até que o cara comete um delito maior e vai para
uma penitenciária e tal. Mas aqui neste bairro que a gente trabalha até que é bem tranquilo
sabe, agora eu acho que, a não ser a questão da sexualidade que para nós tá sendo muito séria,
os outros pontos da saúde dos nossos adolescentes não está tão grave não sabe, ele...
adolescente obeso
4
nem sempre a agente encontra aqui né, tem um clube aqui perto, eles
fazem muita atividade física é... futebol, bicicleta é... adolescente com anorexia
4
eu não tenho
nenhum sabe, então é... problema de visão
4
a gente tem o oftalmologista a disposição, dentista
a gente também tem, mas hoje em dia as cáries estão diminuindo bastante, então a gente tenta
né, dentro das limitações
2
que a gente tem né, é... atender da melhor forma possível e
principalmente evitar ficar encaminhando
3
, porque quando a agente encaminha muito, muitas
vezes perde o paciente, porque muitas vezes o paciente, o paciente adolescente ele não vai, ele
se recusa
3
, então é preferível que votenha esse elo com eles aqui e cuide dele
1
né, muitas
vezes você se inteira de alguma forma melhor, procure um colega né, exponha o caso, do que
você mandar de rotina né, ser um... é... exportador de paciente, porque o que que acontece é...
você acaba realmente não fazendo seu papel de atenção básica né, e, às vezes, a gente alguns
adolescentes que chegam aqui, a porque eu quero ir no Dr. Fulano, principalmente no
dermatologista (risos), eu quero ir em Dr. Fulano, porque eu estou assim, assim, assado, a
gente coloca, não, vamos tentar e tal, e de vez em quando eu mando sabe, agora nós temos
dificuldades né, várias, e tudo, mas eu acho que é... comparando a minha adolescência com a
adolescência das minhas filhas e a adolescência dos meninos aqui do bairro, dos adolescentes
aqui do bairro, eu acho que se a gente conseguir colocar para eles que a sexualidade,
principalmente a sexualidade feminina né, é um direito
4
inalienável, não é vergonhoso
4
, ou
não é um meio de você ser aceito no grupo
4
né, e administrar isso, eu acho que os nossos
adolescentes tão tendo mais acesso
3
né, do que antigamente se tinha.
O que é para você, esse atendimento descontraído?
Atendimento descontraído? É você se colocar, assim, como uma pessoa que está
entendendo, está se colocando meio paritário com, com, com o adolescente
1
. É... colocar pra
ele, por exemplo, muitas vezes eu coloco, dependendo das pessoas, que eu também tenho
filhas, que as minhas filhas são assim, são assado, pra ele se sentir de certa forma seguro aqui
né, não pensar que ele está em outro planeta, e que eu sou uma extraterrestre, (risos), que
eu fizer alguma forma de violação ao direito dele, a liberdade dele. Assim, a gente tem
85
conseguido sabe, conseguido que eles vão chegando devagarzinho
3
. Por exemplo, a questão
do preventivo né, ah, não posso fazer não, porque a minha mãe não sabe de nada e se eu for
fazer um preventivo ela vai descobrir que eu tive relação, você fala, virgem também tem
condição de fazer preventivo, a gente faz preventivo de virgem, sua mãe não sabe disso não?
Não, mas então eu faço assim, eu faço o pedido e coloco, eu não me preocupo com a verdade
real nessas horas entendeu, eu procuro estar atendendo a necessidade de saúde daquele
adolescente
3
, porque se eu criar um conflito dentro da casa dele eu poço perder o adolescente
e a família dele inteira né, então eu evito isso, então, muitas vezes, eu entro naquela situação
né, e tudo mais e eu coloco sempre pro adolescente: olha é... não tem nada de errado você
viver sua sexualidade, o que errado é você não ter responsabilidade, mas isso até, ainda
brinco assim, você pensou quando você casar se você não tomar suas precauções, vovai
ter doze filhos, você quer ter doze filhos? (risos) a adolescente fala: não, de jeito nenhum,
no máximo dois. Então você tem que tomar este cuidado a partir de agora, você quer estudar?
Aqui em Viçosa tem tanta faculdade e tal, você quer? Agora eles vão ter mais acesso, tem
o Prouni, tem o ENEM, aí como eu tenho adolescente em casa eu estou por dentro de todos os
baratos, todas as festas e tal, eles falam que querem e tal, colocam pra mim os ideais deles,
então assim, paritário é como é... você estar junto, chegar junto mesmo como eles mesmos
dizem né, e não ficar tentando impor sua verdade, aceitar a verdade deles né, e colocar pra
eles o benefício das coisas
1
né, porque, muitas vezes, eles não conseguem vislumbrar. Por
exemplo, um grande medo do adolescente, da adolescente né, é... engordar né, ela tem medo
de engordar, a gente, muitas vezes, passa um remédio que não seje um anticoncepcional,
vamos supor está com uma amigdalite e vem a gente olha, a gente passa um antibiótico,
não vai engordar não? Aí a gente tenta da uma ideia, olha engordar é assim que é, tem que ter
calorias, aqui não tem caloria nenhuma, o que que é caloria, aquele negócio que a gente tem
que energia pra gente, igual a gasolina do carro né, e tentar fazer analogia para eles
entenderem melhor as coisas e geralmente a gente consegue.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Assim, eu acho que o adolescente, ele ainda numa situação de muita crítica e pouca ajuda
2
,
então eu acho que o seu trabalho, e aqui a gente também está tentando fazer um trabalho no
sentido de ajudar, porque esse problema, ele não é um problema, igual eu atendo em zona
rural, eu tenho gestantes na zona rural adolescentes, eu atendo no centro da cidade, eu tenho
gestantes no centro da cidade adolescentes, eu tenho aqui também entendeu? Então eu... a
gente tem que tentar fazer pra esses adolescentes é... a ideia de que tudo tem seu tempo, qual
seria o tempo dele né, e, principalmente, mostrar pra eles que é... essa ansiedade deles, esse
desejo deles de abraçar o mundo com as mãos é super aceitável, super justo, super legítimo
né, mas que o principal nessa vida é você ter a liberdade com responsabilidade, que o que,
muitas vezes, eles não entendem né, a questão da liberdade, a questão da responsabilidade, a
questão do respeito né, o respeito consigo mesmo, o respeito com o outro
2
, mais, assim eu
acho que é uma evolução social né e os adolescentes vão juntos nessa marcha.
Mais alguma coisa?
Não
Obrigado!
86
Entrevista 04-ENF. 04
Profissão: Enfermeiro
Idade: 33 anos
Estado civil: Solteiro
Naturalidade: Juiz de Fora
Tempo de atuação na ESF: 8 anos.
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Atender o adolescente na atenção primária (silêncio). É meio difícil conceituar isso porque
aqui a gente não trabalha, assim, atendimento específico com adolescente
1
, o atendimento que
a gente faz do adolescente aqui, é o atendimento de demanda, de rotina
1
, normalmente assim,
alguns casos de adolescentes para orientação de preservativo, anticoncepcional, rapazinho
com doença
1
, essas coisas assim. A gente não tem um atendimento muito específico não, eu
pelo menos nunca trabalhei
1
com atendimento específico com o adolescente na atenção
primária, é difícil
1
, a gente faz mais a atenção curativa
1
, vamos dizer assim, o trabalho
curativo. Então, o trabalho de prevenção a gente até tentou implementar
1
, já é... uma atividade
de... de métodos contraceptivos voltados para adolescentes
1
, mas a gente não conseguiu
1
implantar, pensamos, mas não discutimos, montamos oficinas
1
, não deu para implantar,
seria assim a atividade preventiva que a gente teria começado a desenvolver, mas em termo de
atendimento específico, um grupo marcado, um dia específico a gente não tem
2
né, a atenção
é feita por demanda mesmo
1
.
Por que você tem essa dificuldade?
Não é... de repente não seje uma dificuldade em trabalhar com o adolescente. Por exemplo,
logo quando a gente começou a trabalhar com, quando eu comecei a trabalhar aqui a gente fez
um, uma palestra legal na escola
1
, até depois... é... sobre DST
1
pra escola onde a gente foi tem
oitava série, primeiro e segundo ano. Nesse período muitos adolescentes procuraram o posto,
pra buscar preservativo, algumas meninas para conversar alguma coisa, nessa época a gente
fez um trabalho assim, um início de um trabalho legal. Hoje, o porque que não tem esse
trabalho
1
, não é que seja dificuldade, é... por causa de quê? Por causa do HIPERDIA, é por
causa da puericultura, é por causa do preventivo, por causa do atendimento dos pacientes
internos, é por causa das VDs, é por causa da burocracia, é por causa da reunião do plano
diretor que tem, é por causa das atividades do plano diretor, é tanta atividade, tanto relatório,
tanta documentação, tanto paciente pra voatender, tantas coisas de fazer, que voacaba
dando prioridade a determinados trabalhos
2
. Se a população de adolescentes, é uma
população, que vamos dizer assim, não tem uma doença crônica que façam eles chegarem até
o posto constantemente
2
, que cause um problema de saúde a população, acaba ficando
prejudicado
1
mesmo, é um dos grupos deixados de lado, a gente acaba optando por não
trabalhar com esse grupo
1
. A gente sabe que existe para o Estado de Minas
1
, me parece que
tem um, tem a... linha diretriz
1
do adolescente, da atenção ao adolescente, mas a gente não
implementa, não trabalha
1
porque, por falta de tempo também, a gente vai buscar um grupo
novo de trabalho se tiver tempo para trabalhar, a gente mal da conta do que a gente tem. Então
assim é complicado você implementar um trabalho novo preventivo
1
, de trabalhar com o
adolescente, tem que trabalhar a prevenção, se eu na minha sala com seis pastas ali e seis
aqui do lado do HIPERDIA que eu preciso checar essas pastas, conferir as necessidades do
HIPERDIA, e eu três meses com isso, não tive tempo para fazer isso ainda. Então, a
situação não é nem problema de lidar com adolescente, nenhum impedimento
3
de lidar com o
87
adolescente, porque assim, treinamento o enfermeiro teve, eu tenho
3
, a médica tem, lida muito
bem também. A gente trabalhar na área preventiva, é uma área até fácil
3
de trabalhar, um
serviço fácil de implementar
3
, você pode trabalhar com palestras
3
de... sobre drogas, sobre
sexualidade, métodos contraceptivos, que são assim uma parte bem básica e interessante
3
trabalhar, que começaria a aproximar os adolescentes da unidade
3
, mais é falta de tempo
mesmo.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Não, que eu lembre não.
Obrigado!
Por nada.
88
Entrevista 05-MED. 05
Profissão: Médica
Idade: 35 anos
Estado civil: Casada
Naturalidade: Boa Esperança - MG
Tempo de atuação na ESF: 4 anos.
O que é para você, atender o adolescente na atenção primária?
Faz parte do atendimento pediátrico
1
, é... durante o atendimento de rotina,
esclarecimento sobre é... uso de drogas, prevenção de doenças, de acidentes, abuso de drogas
lícitas e ilícitas também e em relação a questão da sexualidade, gravidez na adolescência
1
,
prevenção, basicamente.
Fale um pouco mais desse atendimento realizado.
A gente não tem um grupo de adolescente direcionado
2
, como tem na puericultura, que
as crianças vão todos os meses para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento.
É... os adolescentes que nos procuram são por demanda
2
deles né, por algum problema de
saúde
2
né, por algum motivo, não tem um programa específico em nosso PSF
2
. Então a gente
aproveita a consulta para orientar
1
em relação a esses, a essa abordagem , em relação a
gravidez, sexualidade, uso de drogas né, essas coisas a gente aproveita a consulta (silêncio).
Por exemplo o paciente chega com um machucado no pé, ai eu vo aproveitar e e vo falar, e
você tem namorada? Usa preservativo? Entendeu, aproveito a brecha da consulta
2
, e muitos
não procuram a unidade
2
.
Fale um pouco mais desses adolescentes que não procuram a unidade.
A gente não tem nenhum programa em relação a esses adolescentes
2
. No ano passado
os agentes de saúde fizeram um bate papo com os adolescentes, mas foi essa vez, depois a
gente não repetiu, apesar deles insistirem, pedirem pra gente, mas foi um programa único só,
foi só... foram quatro encontros com grupos de adolescentes, mas a gente não manteve esse
programa não.
Para você o que levou a não-manutenção desse programa.
Dificuldade técnica
3
mesmo, assim, questão de horário
3
é... de outros programas que
são obrigatórios
3
, porque a gente faz, desenvolve muitas atividades e que se eu for fazer tudo
eu não do conta. Então assim, eu preciso de alguém para me ajudar a fazer, os agentes se
dispuseram a fazer e tal, a gente apoiou, então foi uma iniciativa deles, mas não foi pra frente
por isso, porque eu não tenho disponibilidade de horário de fazer mais um grupo, no caso um
grupo específico de adolescentes
3
, mas demanda tem com certeza
2
. Tem região ali no bairro
muito carente né, então é um grupo de risco
1
, seria interessante fazer.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Não
Obrigada.
89
Entrevista 06-ENF. 06
Profissão: Enfermeiro
Idade: 29 anos
Estado civil: Casado
Naturalidade: Rio Pomba - MG
Tempo de atuação na ESF: 4 anos e 6 meses.
O que, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Bom, atender o adolescente, a princípio, é um pouco complicado
1
né, pela questão
1
às
vezes, muitas vezes da idade
1
, que a mãe às vezes quer saber alguma coisa e tem a questão da
ética, que a agente não poder, às vezes falando
2
e, às vezes, também por ser menor de
idade, ter, às vezes, um acompanhante e o adolescente não se expressar, às vezes, bem
2
quando tá junto com o acompanhante, né. Quando ele está sozinho, ele até se abre mais com a
gente, fala mais o que está acontecendo
4
, mesmo, às vezes junto com o acompanhante, o
adolescente fica mais é...inseguro
2
né, de tá, às vezes falando para a mãe, às vezes que já teve
uma relação sexual ou que está grávida. O que acontece muito aqui, às vezes adolescentes de
quinze, quatorze anos, aparece grávida e não quer que às vezes os pais descubram né, então
isso acaba dificultando um pouco pra gente, pela questão da ética né, mais o atendimento...
assim...a gente não pode deixar de fazer né, as orientações.
4
E...(silêncio) a... me perdi um
pouco ai (silêncio), assim a gente acaba né, marcando um retorno ou encaminhando às vezes
para um especialista
4
né, se esse adolescentes ainda estiver na faixa etária de às vezes está
sendo atendido por um pediatra
4
.
O que é esse atendimento complicado para você?
É complicado porque às vezes, é... a gente não...o adolescente não sabe é... expressar
muito o que ele está sentindo.
1
Como, não sabe, às vezes ainda relatar o que que ele tem
1
, o
que ele está sentindo, dúvidas
1
, às vezes é... fica muito acanhado em estar perguntando
1
né. A
gente teve um caso aqui de adolescente de quinze anos que estava grávida, que era o
namorado que falava as coisas para ela durante a consulta, no lugar dela durante a consulta.
Então os adolescentes, eu acho que ele fica assim, meio que ainda não sabe muito o que está
acontecendo com ele
1
, no caso de uma gestação de uma gravidez né, de adolescente, então
isso, às vezes, eu acho... nessa parte eu acho complicado.
1
Fala mais um pouco do acompanhamento realizado na unidade.
Olha não tem nem um grupo assim específico pra adolescente não né, a gente
trabalhou com alguns grupos assim de orientação sexual, junto com a escola, com a ONG
3
né,
aqui do bairro, mas são grupos esporádicos
3
, não tem nenhum grupo
3
assim, é... constante
3
né,
pro adolescente, fixo para o adolescente não
3
. A gente já trabalhou a questão do uso de drogas
né, prevenção de algumas doenças sexualmente transmissíveis, uso de alguns métodos
anticoncepcionais
3
né, trabalhamos já... a... o amadurecimento mesmo do corpo
3
passando
da fase de criança para o adolescente, de adolescente para adulto né, que às vezes tem muitas
dúvidas nessa hora né, é basicamente
3
isso aí.
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
90
Uai eu acho que é importante né, a gente está trabalhando com o adolescente
4
, apesar
de, igual isso que eu te falei, ser complicado, um pouco, às vezes o tema que a gente vai
abordar
2
. Muitos pais às vezes, quando a gente falou que iria abordar é... métodos
anticoncepcionais no grupo de adolescentes, alguns pais ficaram resistentes em estar deixando
o filho participar né, achando que o filho ainda estava muito novo para ter aquelas
informações
2
. Na verdade não está novo, a gente hoje em dia que os adolescentes sabe
muito bem o que fazer para evitar filho, como que faz para ter o filho também né, a relação
sexual, o adolescente está muito por dentro disso. Mas eu acho que é importante a gente
está é... sempre batendo em cima deste ponto porque é uma fase que às vezes a criança ainda
não, o adolescente ainda não com o corpo completamente desenvolvido para uma gestação
no caso né. Eu acho muito importante o nosso trabalho aqui da atenção básica
4
em cima disso
aí, tentar evitar né a gravidez na adolescência
4
, até pra que esse adolescente possa ter um nível
de vida melhor no futuro né, que, às vezes uma gravidez agora, principalmente na menina
4
,
ela vai ter que parar de estudar, não vai ter uma, um futuro às vezes muito bom, que às vezes,
nem sempre consegue voltar a estudar, nem terminar os estudos, às vezes acaba parando.
Então eu acho muito importante a gente estar trabalhando nisso na atenção básica.
Obrigado!
Que isso.
91
Entrevista 07-ENF. 07
Profissão: Enfermeira
Idade: 26 anos
Estado civil: Solteira
Naturalidade: Santos - SP
Tempo de atuação na ESF: 3 anos
O que, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Pra mim eu acho um pouco complicado, difícil
1
né. Uma porque o ministério não tem
um protocolo específico pra adolescente né, então é...às vezes a gente tem uma certa
dificuldade pra atender essa faixa etária, porque é uma faixa etária difícil de se lidar
1
né, é... a
gente envolve outras questões sociais referente ao uso de drogas né, sexo na adolescência
1
, e
o profissional fica um pouco meio perdido porque a gente não tem um protocolo que a
gente possa seguir, nos orientar
1
né. Então pra mim ainda é um pouco difícil atender é... essa
demanda de... pacientes nessa faixa etária. É...a gente, pelo menos a gente aqui na unidade do
PSF
2
, a gente tenta atender um máximo possível essas questões relacionadas a... essa fase
2
da
adolescência, mais voltada para a sexualidade
2
né, é... referente as meninas a gente tem um
atendimento específico para métodos contraceptivos, mas para os meninos a gente fala
bastante do uso de drogas
2
né, mas eu... a gente sente uma certa dificuldade de atender essa
faixa etária.
Fala pra mim mais um pouco sobre essas dificuldades.
Bom... é... (silêncio), bom a dificuldade que a gente mais enfrenta aqui é... a gente tem
aqui na unidade muitas meninas grávidas
1
né, na faixa de 15 anos, idade de 19 anos, tem
adolescente de quatorze, a gente já teve uma adolescente de quatorze anos, quinze anos. É... a
secretaria de saúde não essa, a gente não tem um contato específico com o pessoal da
assistência social
1
, por exemplo né, o pessoal da psicologia
1
que poderia fazer esse
atendimento é... a gente não tem o contato com a escola
1
né. Então, o nosso bairro aqui em si,
a gente não tem escola, então a maioria dos nossos adolescentes estão em outros bairros
1
,
estão mais distantes, pra gente poder fazer um trabalho educativo
1
né, voltado para essa faixa
etária se torna mais difícil
1
é... A própria prefeitura, ela tem um atendimento de psicologia
para adolescentes
1
na secretaria de educação mas, eles não entram em contato com a
gente
1
. Então a gente não tem esse contato com eles
1
, a gente recebe assim muitas mães
3
que
vem com uma dificuldade, vem querendo conversar, para orientar, mas a gente não consegue
chegar até o adolescente
3
né, então aquele adolescente que tem um problema. Muitas vezes
ele não chega até a gente né, então o atendimento eu acho que ainda é muito precário
1
né, não
por parte do profissional, mas eu acho que a estrutura né, a gente não tem né a base para poder
desenvolver o trabalho
1
. Uma porque eu acho que o adolescente
3
, ele... ele sente a vergonha
de vir até a unidade
3
né, o fato de vim aqui querer conversar com o profissional
3
né, eu ainda
tenho um, uma... os adolescentes tem um certo receio da questão da idade né, eu tenho vinte e
seis anos
3
, então é muito novo, eu, eles pensam que a gente não tem a experiência não é, é
imaturo
3
né, e eles se identificam muito né, então eles tem um certo receio e medo de chegar,
conversar
3
né. Outra pelo fato da gente o dia a dia aqui, a gente tem a... a maioria dos
profissionais que trabalham na equipe são moradores dos bairros
4
, então, de vim aqui
conversar, o medo da gente chegar e contar para um agente comunitário
4
que é do bairro e
eles ficarem sabendo e passar para a mãe né, então é.. para um pai ou para um vizinho. Então
eu acho que tem esse preconceito ainda
4
né, o adolescente ainda tem o medo, o receio de
92
chegar e vir conversar. É...eles escondem mesmo da família né, então é... se é uma menina
que está fazendo uma coleta de preventivo tem que fazer escondido, eu não posso entregar é...
a... a receita de um remédio pra ela ou um anticoncepcional que a mãe vai ver, vai tomar
escondido, então ela não vem a unidade porque a mãe frequenta a unidade, quando ela vem,
ela vem escondido, ela vem com uma amiga, então muitas vezes eles preferem procurar esse
atendimento fora do bairro né, porque é um ambiente onde não tem vizinho, não tem pessoas
conhecidas, então eles tem esse certo receio
4
.
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa
Não, não, no momento não me lembro de mais nada
Obrigado!
93
Entrevista 08-MED. 08
Profissão: Médica
Idade: 45 anos
Estado civil: casada
Naturalidade: Rio de Janeiro – RJ
Tempo de atuação na ESF: 11 anos.
O que, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Ó eu acho que o atendimento ao adolescente é importante muito na questão
preventiva
1
né. A gente tem que voltado pra, pra essa questão da anticoncepção
1
né, que
a gente que o início da atividade sexual é cada vez mais precoce né, e...na questão que
envolve também a transmissão das doenças sexualmente transmissíveis
1
e também na questão
do uso de drogas
1
, a gente tem que está sempre pensando nisso né. Então eu acho importante
o atendimento é... em grupo
1
, tentar fazer alguma coisa que atraia esses adolescentes para
unidade de saúde né, pra essas reuniões
1
, pra esses atendimentos em grupos
1
. O que eu acho
difícil
1
até de conseguir, a gente vê na prática
1
, isso não é muito, muito fácil de fazer, aqui na
unidade a gente ainda não começou a trabalhar com esse, com esse paciente em grupo
2
. Eu
faço atendimento deles por livre demanda
2
né, a medida que eles procuram a unidade e...
as agentes também sempre tão indo nas casas, elas trazem algumas coisas quando elas
percebem algum problema e a gente tenta resolver na medida do possível
2
, mas por enquanto
é pela demanda deles mesmo né, e eles realmente não vem muito
2
né. As meninas, as
adolescentes elas procuram por anticoncepção
2
mesmo e os rapazes eles consultam muito
pouco
2
e uma vez ou outra, uma vez ou outra por questões mais simples, eles procuram muito
a unidade pra pegar
2
, alguns procuram pra pegar camisinha
2
né, que já é uma grande coisa que
ajuda aí na prevenção das DSTs e da, das, da gravidez
1
também né, anticoncepção. Mas é... eu
acho que não é o ideal né, ficar atendendo por livre demanda, a gente tendo uma
dificuldade aqui por falta de enfermeiro
2
, nós estamos sem enfermeiro desde janeiro e pra
montar esses grupos é um pouco difícil sem esse profissional na equipe, então nós estamos
esperando chegar um enfermeiro pra gente começar também a trabalhar o grupo dos
adolescentes
2
né. E é como eu falei não acho que é uma clientela fácil de mexer, porque eles
são arredios né, é muito difícil
3
conseguir trazê-los pra cá, mas a gente tem que tentar
algumas formas de atraí-los e lidar com o adolescente não é fácil mesmo. A gente tem que
tentar falar um pouco a língua deles, tentar entrar um pouco no mundo deles
1
pra você poder
trazê-los e tentar fazer alguma coisa na, nessa área da prevenção que eu acho o mais
importante, que é nessa fase que se começa a usar bebida alcoólica, usar o cigarro, daí
também outras drogas
1
. Então, eu acho que são os três pontos principais pra trabalhar com o
adolescente é o uso de drogas lícitas e ilícitas
1
, anticoncepção e a transmissão de doenças
sexualmente transmissíveis
1
.
Fala mais um pouco pra mim dessa dificuldade no atendimento?
Com o adolescente? Diretamente com o adolescente? É o adolescente é um ser em
transição né, ele tá saindo da infância e entrando na idade adulta, não sabe ainda direito o que
que ele é
3
, tem hora que ele é criança, tem hora que ele é mais maduro
3
. Mas de qualquer
forma é uma fase muito de conflito
3
né, e é difícil pra nós também profissionais de saúde
3
trabalhar com o adolescente. O que eu acho difícil é como eu te falei é... trazê-los é tornar o
grupo atrativo
1
, é... tem que ter alguma forma de conquistá-los
1
, porque eles são muito
arredios, eles não valorizam, às vezes acham que isso não com nada, vim aqui para se
94
reunir
3
né. Então a gente tem que entrar um pouco no mundo deles mesmo, vê o que que é que
eles estão buscando, o que que é que pode estar atraindo eles e tentar, tentar trabalhar
1
né, eu
acho que... quando a gente assim é... alguma tarefa pra eles, a gente tem que saber um
valor pra que eles se sintam valorizados e eles se sintam importantes
1
. Então, isso é uma
forma às vezes de, de cativá-los né, eu acho que essa é a palavra, tem que cativar o
adolescente pra poder conseguir trabalhar com ele
1
, não é fácil eu acho que a gente não
consegue trazer todos os adolescentes né, principalmente o adolescente. Eu acho que o
adolescente do sexo masculino é mais difícil de trazer, as meninas eu acho até um pouco
mais, mais fácil conseguir trabalhar com elas
2
, mas os rapazes é... são um pouco, são mais
arredios. Então tem essas questões que dificultam o trabalho né, mas a gente tem que tentar
né, tem que começar
2
e eu acho que a criatividade
1
né, da equipe também pra poder está
cativando eles é que vai contar na hora que a gente começar a montar esses grupos, acho que
as coisas vão surgindo, vão surgindo ideias e a gente vai vendo qual é o melhor caminho pra
podendo trazer eles pra e a gente poder trabalhar com eles né, eu não tenho ainda assim
essa fórmula pronta
2
na minha cabeça de o que fazer pra trazer o adolescente não, eu acho que
isso vai muito aparecendo assim de acordo como que o trabalho vai evoluindo
2
, como que o
grupo vai evoluindo depois que a gente montar.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Não, acho que não, se você quiser perguntar.
Obrigado!
Por nada, traz um retorno disso depois e boa sorte.
95
Entrevista 09-MED. 09
Profissão: Médico
Idade: 36 anos
Estado civil: Casado
Naturalidade: Desterro do Melo - MG
Tempo de atuação na ESF: 1 ano.
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Atender
1
um adolescente na atenção primária é
1
, primeiro, estar disponível para ouvi-
lo
1
, segundo, conhecer a linguagem que ele conhece, que ele aborda e que ele utiliza no dia-
dia
1
, terceiro, entender o que que ele está falando, conhecer o mundo deles, interpretar e tentar
esclarecer a eles, na linguagem também deles. Ficar atento às transformações do corpo, ficar
atento às questões emocionais, entender a revolta natural do adolescente, a necessidade de se
tornar independente
1
. Então atender o adolescente nessa, no PSF é você estar atento a isso
2
.
Posso abordar também que não nenhuma preocupação com eles, é... pena que embora a
gente entenda que essa deveria ser a forma de atender adolescente, que a gente acaba não
fazendo isso na prática
2
né. Não há ainda uma política de atendimento ao adolescente,
orientações para isso
2
, a gente deveria estar fazendo grupos
2
de adolescentes, até para treinar
mais para atendê-los, que isso fica a desejar na nossa formação
2
, entendeu, e...,
basicamente é isso, entendeu? É está atento é... às transformações do corpo, da sexualidade,
emocionais
1
, entendeu, e trabalhar em cima disso
2
, entendeu, basicamente é isso.
Fala um pouco mais sobre esse atendimento.
Na nossa unidade
2
, na verdade não nenhuma referência específica sobre o atendimento
2
do
adolescente não, ele não tem um grupo
2
, ele não tem uma preocupação
2
entendeu, na verdade
a gente atende eles quando eles tem uma demanda
2
, na maioria das vezes são demandas
infecciosas, uma gripe, uma infecção de garganta, uma tosse
2
. Na verdade, não ainda
nenhum trabalho, nenhuma preocupação em fazer essa abordagem do crescimento do
adolescente, do físico, quanto emocional
2
, aquilo que eu falei no início é o que deveria ser,
mas na prática a gente não aborda, na prática o atendimento do adolescente hoje é feito
basicamente de acordo com a demanda da necessidade
2
deles só, aqueles exames quando a
mãe pede
2
, é... alguma queixa específica que ele tenha
2
, raramente a gente tem oportunidade
de abordar essas questões, mais específicas dele, raramente.
Deseja acrescentar mais alguma coisa?
Não, acho que não.
Obrigado!
Por nada.
96
Entrevista 10-ENF. 10
Profissão: Enfermeira
Idade: 27 anos
Estado civil: solteira
Naturalidade: Itaperuna- RJ
Tempo de atuação na ESF: 1 ano 5 meses
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Olha, o adolescente, eles não procuram muito a unidade
1
não né, assim, normalmente
alguma orientação às vezes que eles querem
1
. Normalmente mais é menina
1
né, mulher, que
procuram alguma coisa, orientação de anticoncepcional
1
essas coisas, é... preventivo
1
normalmente, quando elas iniciam a atividade sexual, que elas começam a fazer né, mas
também eu acredito que não sejam todas não, é difícil aparecer uma ou outra
1
entendeu, e até
atendimento médico é muito difícil aparecer adolescente aqui pra... pra consulta médica, essas
coisas. A gente sempre tem alguma gestante né, na fase da adolescência, acho que duas, a
gente está com duas gestantes uma com dezessete a outra tem... acho que as duas têm
dezessete, mas não é muito comum não entendeu, do sexo masculino então, muito difícil
1
,
muito difícil mesmo aparecer. A gente ia até fazer uma palestra, que a gente deixou pra
frente, marcou um dia e não teve como fazer, foi deixando, deixando pra fazer na escola
sobre método contraceptivo, educação sexual, né, até a médica que estava aqui iria fazer, ela
já tinha uma palestra pronta, já tinha trabalhado com essa parte, só que acabou que ela se foi e
a gente não fez, mas a gente não tem muita procura de adolescente aqui não.
Tem mais alguma coisa que você queria colocar sobre o que é atender o adolescente?
Não temos atendimento voltado para o adolescente, é só, às vezes, quando ele se
encaixa num grupo
2
tipo é... pré natal, , atenção à gestante quando tem alguma
adolescente
2
, ou, então, preventivo quando aparece alguma pra... que iniciou a atividade
sexual pra tá realizando o exame, mas assim por enquanto voltado pro adolescente não
tem não (silêncio). Aqui, assim, é muito difícil é... o que eu até falo com outras pessoas, às
vezes perguntam questão de palestras, de... dessa parte educativa, a gente tem uma dificuldade
que o pessoal aqui, eles não são muito de... de participar dessas coisas da comunidade aqui,
entendeu, a gente às vezes, teve uma vez na semana da mulher, do dia internacional da
mulher, a gente fez uma série de palestra, até as estagiárias da UNIVIÇOSA, cada dia uma
iria fazer uma palestra diferente, sobre algum tema voltado para a mulher e apareceu uma
só, teve um dia que veio uma só, outro dia veio duas, entendeu, às vezes a gente faz alguma
coisa
1
para as gestantes, não vai, vem uma, duas, entendeu, às vezes a gente fica até um pouco
desanimada de fazer por causa disso, a gente prepara o material, prepara tudo e aí não aparece
ninguém e o público adolescente então principalmente
1
, eles... até aqui no posto a gente nunca
fez não, já foi na escola, teve vez de... das agentes comunitárias, quando elas estavam
fazendo um trabalho, um curso pra agente, elas foram na escola, entendeu, você indo na
escola porque eles estão la
1
, entendeu, então essa parte normalmente quando a gente faz
aqui no posto pra eles virem não tem muita procura não
1
Você deseja acrescentar mais alguma coisa?
Não (risos). Tem adolescentes, às vezes uma turminha, um grupinho, sai da escola e
vem: fala você... fala você... eles ficam morrendo de vergonha, querendo preservativo, mas
97
é...muito difícil, muito difícil a procura mesmo e por enquanto voltado para adolescente
não tem um grupo
2
, nada disso não.
Mais alguma coisa?
Não.
Obrigado!
98
Entrevista 11 – MED. 11
Profissão: Médico
Idade: 32 anos
Estado civil: Casado
Naturalidade: Juiz de fora - MG
Tempo de atuação na ESF: 5 anos
.
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
Eu acho que, principalmente, é a questão de educação é... está disponível
1
, porque é
uma faixa de idade que eles não entendem muito bem às vezes a questão, como que o serviço
funciona
2
, procura muito pouco o serviço
4
, e por causa disso, geralmente quando eles vem, às
vezes eles não vem muito agendado, eles vem é... procurando de uma forma às vezes
aleatória
4
, se a gente não souber acolher
1
às vezes nesse momento, eles podem não voltar mais
no serviço e, muitas vezes, é questão de informação que às vezes eles não tem
3
, ou então é...
alguns comportamentos de risco
3
que... ou às vezes já começaram ou estão pensando em
começar a fazer e, geralmente, a gente tem que aproveitar essa consulta e não focar só na
queixa
1
e também tentar ampliar para isso. Mas, é verdade que no dia-dia também é... se a
gente não fizesse de uma forma programada
4
às vezes a gente não tem muito tempo para
poder fazer isso é... o que que pode acontecer, a gente... como não programa às vezes o
atendimento ao adolescente muitos deles nem procuram a unidade de saúde
2
e vão tendo as
suas práticas, que seja sexual, seja uso de alguma droga, é... ou mesmo algum outro problema
alimentar, por exemplo, de sedentarismo
3
e às vezes eles não procuram a gente também não
vai até eles
4
e fica por assim. É... acho que eles tem que ser... a gente tem da Secretaria
Estadual de Saúde uma... um direcionamento para pelo menos uma vez ao ano está fazendo
consulta com o adolescente, pelo menos uma, a gente ainda não conseguiu fazer isso e
também atividades educativas que na nossa equipe nós ainda não estamos fazendo
2
. Mas, eu
acho que o adolescente, assim, essa vamos dizer... tem que ter tempo, tem que conversar, tem
que deixar aberto para fazer perguntas
1
e tal, eu acho que resumindo talvez seria isso. É... que
eu observo, igual hoje por exemplo, hoje teve um caso interessante, veio uma menina de 14
anos, acabou de fazer 14 anos, ela veio sozinha à consulta, que a mãe dela orientou que ela
viesse, porque? Porque ela começou a ter atividade sexual, a mãe orientou, mas não pode vir
com ela, tem médicos que não atendem eu atendi ela sozinha, e ela veio preocupada com
gravidez e tal e a gente conversou, ampliamos a questão que além da gravidez existem as
doenças sexualmente transmissíveis
1
, para ela também estar preocupando com isso, foi
prescrito o método anticoncepcional, mas associado ao uso da camisinha
1
, que ela usasse
sempre a camisinha e utilizasse esse outro método também, que no caso foi até a injeção
trimestral para que ela tivesse essa... orientação, mas você ela vem sozinha muitas vezes
3
ou é... às vezes outros adolescentes nessa mesma situação, às vezes nem vem porque não
querem que, às vezes, o próprio profissional de saúde ou agente comunitário que é da região,
não sabem que tá vindo pra cá... pra procurar às vezes interrogar o que está te trazendo pra
5
, então existem estas barreiras.
2
Também, os adolescentes às vezes são muito arredios
3
em
relação a isso. Se não tiver uma programação, uma organização da equipe de saúde pra poder
recebê-los é muito mais fácil eles não virem
5
, que geralmente eles não são doentes
3
, mas eles
não estão, assim... adoecidos, não... não sentem, quando eles sentem algum problema eles
vem
4
, mas geralmente o que eles precisam mais é de uma orientação, então se eles não
tiverem essa porta aberta a eles
1
não vão voltar de novo não e geralmente eu costumo
observar isso. É... acho que seria isso, não sei se você gostaria de saber essas coisas com mais
99
detalhes do nosso atendimento aqui ou se você realmente estava pensando de saber a questão
mais geral como que é atender um adolescente, eu não sei o que que vocês estão pensando.
Fale mais um pouco sobre o que é para você atender o adolescente?
É... pra mim seria isso, é... estar atento para essas questões amplas né, da... dos
determinantes da saúde
1
é...está muito disponível para ele, se depender mais da saúde, não
para o adolescente, mas principalmente para ele. Por exemplo, às vezes o meio de vida que ele
vivendo, dentro de casa, ele pode está tendo é... conflitos familiares e isso pode gerar aí...
usar alguma substância ou então procurar uma pessoa com quem ele possa se sentir à
vontade e o adolescente nessa fase, que ele precisa ser reconhecido pelo grupo, então muitas
vezes ele faz coisas para ser reconhecido, eu acho que assim, quando a gente fala atender,
quando você pergunta atender um adolescente para um médico, o médico geralmente ele
tende a pensar no doente, alguma coisa que ele possa estar tendo que resolver, algum
problema e o que vou te dizer, às vezes o adolescente nem sempre ele tem um problema muito
específico
1
, é... às vezes não é um problema específico, mas ele não tem uma condição de
saúde que precisa às vezes de remédios
1
, às vezes ele precisa de orientações e tempo para
poder falar o que está incomodando eles, ele precisa se sentir que o profissional está
interessado
1
geralmente no que está realmente acontecendo com ele
1
. Então eu acho que o
adolescente, ele tem algumas características diferentes, às vezes nesse sentido, que ele é um
futuro adulto e ele é um ex criança, ainda não é adulto mas já deixou de ser criança
3
, então ele
está nesse meio do caminho e dependendo de como que for a questão de cultura dele na
família, as tradições familiares dele
1
, pode ter um modo de vida que vai proporcionar ele a ter
algum problemas de saúde ou não. E também o fato como ele encara os profissionais do
serviço de saúde, dependendo da família dele pode ser considerado isso como uma coisa de
segundo plano. Ele vai procurar quando tiver uma doença por exemplo, ou quando
tiver a gravidez é... e na... aqui na comunidade, que é de pessoas de baixa renda, baixa
instrução, uma pequena escolaridade eu acho que é muito comum isto, as pessoas não
procuram pra prevenção, pra orientações, elas procuram quando tem o problema, ainda não
tem essa cultura, aqui nessa comunidade, nesse sentido de evitar o problema para evitar ter
que tratar né, apesar de todo mundo saber que é melhor é... remédio é a prevenção, mas as
pessoas não fazem isso no seu dia-dia não, então eu acho que talvez para atender, seja vê-lo
de um modo integral, é... que ele vem de uma família, é... vê se... com é que está a questão
dele, se ele vai para escola, se trabalha ou não, é... pra deixar o mais aberto possível para
ele sentir a vontade, para ele realmente falar o que está incomodando ele, ao invés de
direcionar, às vezes, a consulta para a queixa que ele venha
1
, o que eu confesso que às vezes é
difícil a gente fazer, deixar aberto, ter bastante tempo, com essa procura muito grande, muitas
pessoas procurando a unidade
5
. Às vezes a gente tem que atender a todos e nem sempre o
tempo é suficiente, então a gente às vezes acaba focando numa queixa e deixa de lado outras
questões que podem auxiliá-lo para que ele não venha a ter problemas no futuro, eu acho que
talvez seja mais isso, e isso não é um problema do adolescente não. Se a gente for tentar
ampliar, os serviços de saúde hoje em dia está muito sobrecarregado, as equipes de saúde tem
sempre muitas pessoas para atender e... para atender de qualidade a gente infelizmente não
consegue não, a gente até consegue atender é... conversa naquele dia, vê o que aconteceu, mas
para você atender mesmo a fundo com mais qualidade, acho que deveria ser menos pessoas
para cada equipe de saúde responsável, é... se essa equipe de saúde mantiver com esse mesmo
número de profissionais, mas acho que tem que ser menos pessoa para essa área. Por
exemplo: a nossa maior população aqui, 42% são menores de 20 anos, 43 % da nossa
população aqui, então nós tínhamos que ter muitas atividades voltadas para esse grupo
2
,
adolescentes, crianças e infelizmente a gente não ta tendo
2
, se a gente for ver pelo menos nos
100
procedimentos, o que a gente tem mais é consultas médicas e são mais para idosos, isso é
normal de acontecer mas a gente está deixando de lado essa população e daqui a pouco eles
vão estar nessa idade e eles vão ficar doentes, ao invés da gente evitar com que eles venham a
ficar doentes, então eu acho que é prevenir, é informar, é conversar
1
, é poder fazer tudo isso.
Mas eu te confesso que isso é uma coisa... o ideal é se a gente for ver bem no nosso dia-dia, o
que é colocado para os profissionais e pra comunidade, o número de pessoas que a gente tem
que estar dando conta, isso, muitas vezes, a gente não consegue fazer, a gente vai apagando
incêndios cada dia, ao invés de está preparando a população para que ela evite aparecer nos
incêndios né, e está tendo sempre que recorrer aqui a gente pra isso, acho que a gente perde
isso, o adolescente é fundamental pra isso. Além dessa questão individual do adolescente ele
também é, como ele é um futuro adulto, pode ser força na comunidade para mudar hábitos
1
,
por exemplo de não fumar, de fazer atividade física, não comer sal em excesso, não comer
doce em excesso, nos adolescente é mais fácil a gente conseguir incutir esses hábitos, esses
comportamentos, do que em pessoas adultas e que seria também atividades de promoção da
saúde
1
, mas a gente também não tem conseguido fazer isso aqui. Eu tenho muita esperança
agora com a nova enfermeira, que a gente possa mudar, que a gente teve alguns problemas
aqui de caráter assim, pessoal de alguns outros profissionais que foram complicados aqui, e o
posto ele não foi uma Estratégia Saúde da Família, a gente estava simplesmente fazendo
consultas
5
, que a gente pretende agora mudar isso, direcionar também para as atividades
educativas
1
, observar esses grupos, porque às vezes esses adolescentes podem ser um grupo
de risco
3
nesse sentido de ter pouca informação
3
, de está começando a vida e ter todos é...
hormônios e questões culturais e sociais, estímulos que ele na televisão, na família, para
estar começando às vezes uma vida sexual ou uma vida adulta e às vezes sem uma orientação
adequada
3
. Então a gente pretende retomar isso, as atividades educativas, ser mais ativo
1
ou
então tentar ir nas pessoas antes delas virem até nós, procurar marcar uma consulta com todos
os adolescentes mesmo, não uma consulta, fazer também atividades em grupo
1
para que
eles possa estar tirando dúvidas, conversando
1
, eu acho também que o adolescente, ele
também... esse atendimento de grupo para ele é melhor, porque ele se sente mais a vontade,
eles geralmente participam mais nos grupos
1
, pelo fato de na escola convivendo, eu acho
que eles tem essa questão mais... mais fácil pra eles, então grupos com adolescentes, apesar
de... às vezes também terem os temas tabus difíceis de serem tratados
3
. Mas eu acho que eles
comportam muito bem nos grupos, eles tiram muito proveito disso, eles aprendem muito com
a pergunta do outro, com o questionamento do outro, com a vivência do outro
1
, então eu acho
que isso também pode ser positivo no sentido de estar atendendo esse adolescente dessa
forma, atividades em grupo com eles, eu acho também que pode ser positiva. Eu acho que eu
pensaria assim.
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
É ... eu acho que se fosse para eu acrescentar mais alguma coisa, seria de... de dizer até de
uma angústia minha como profissional, é... e essa pesquisa né, você deve estar ouvindo vários
outros, mas é de que... a gente percebe que... o profissional de saúde da família hoje em dia,
ele é... muito exigido e tem uma contrapartida muito pouca, por exemplo: a maioria dos
profissionais que trabalha nessa unidade são todos contratados temporariamente, são raros os
que são concursados, então isso da uma insegurança para o profissional, principalmente para
aqueles que são... que tem uma quantidade muito grande de profissionais tentando a vaga,
como o agente de saúde, às vezes o técnico de enfermagem, tem muitas pessoas tentando essa
vaga. Então isso gera uma insegurança muito grande, é... além da cobrança da população,
cobrança dos gestores também, para que o atendimento seja de qualidade e a gente tendo...
que eu acho que é... para o total de pessoas que a gente tem que atender de forma deficiente.
101
No caso aqui eu até questiono porque a gente tem 2700 pessoas e para o governo o mínimo de
uma equipe é de 2500, só que a nossa população aqui, é uma população muito carente e todos
praticamente dependem realmente da gente, então a conclusão que eu chego aqui é que
esse 2500 também pode estar furado dependendo da população que estiver sendo atendida, e
falando dos adolescentes isso influencia diretamente neles, porque, se a gente tem uma
população que procura muito e pra gente saber, os adolescentes geralmente não procuram.
Eles procuram geralmente quando aparecem o problema, eles raramente procuram para
orientação. Esse caso que eu contei para voda menina de 14 anos, 3 anos e meio que eu
estou aqui, que a mãe mandou vir, essa foi a única, não teve outro caso, coincidentemente foi
hoje. Então, assim, numa população que procura muito e que a gente tem é... essa quantidade
de profissionais que a gente tem, nós aqui uma equipe mínima e geralmente aqui nossa
equipe é mínima mesmo, a gente tem médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, 5 agentes
de saúde, um dentista e um... uma auxiliar de consultório dentário, para atender essas 2700
pessoas com qualidade, a gente só vai ficar apagando incêndio, não vamos conseguir às vezes
chegar aos adolescentes, orientá-los às vezes para que eles evitem de ter problemas no futuro.
Se eu fosse acrescentar alguma coisa seria isso. Eu acho que a equipe é insuficiente para esse
número de pessoa para essa população que a gente atende, para essa característica né, dessa
população, acho que isso deveria ser revisto para que exatamente a gente tenha realmente
mais tempo, para além de estar resolvendo os problemas de todos os dias, acontecem com
certeza, mas estar podendo realmente fazer promoção de saúde, que isso é uma coisa que
depende muito tempo, as pessoas não têm essa cultura e prevenir doenças também. Acho que
é uma angústia muito grande dos profissionais, a gente não consegue fazer isso por estar
apagando esses incêndios todos os dias, se eu fosse acrescentar alguma coisa seria isso.
Mais alguma coisa?
Não.
Obrigado!
Obrigado a você Bruno.
102
Entrevista 12 – ENF. 12
Profissão: Enfermeira
Idade: 50 anos
Estado civil: casada
Naturalidade: Ubá - MG
Tempo de atuação na ESF: 4 anos e 6 meses
O que é, para você, atender o adolescente na atenção primária?
A... eu acho muito complicado, porque são cabeças
1
né, que estão em formação
1
e...
Muitas das vezes, a gente não consegue chegar
1
é... até eles
1
né, eles não vem ao posto e a
gente tem que ir atrás, tem que buscar
1
, e agora com... advento das drogas se torna ainda
mais difícil
2
a gente conquistar a confiança deles
2
para estarem vindo a serem atendidos
aqui.
Fala mais um pouco para mm desse atendimento complicado.
A... complicado (silêncio). Bem... atendimento complicado... ó em primeiro lugar eles
não vem até o posto, então fica complicado, porque é... como eles não vem até a gente, a
gente vai até eles e muitas das vezes nós não somos aceitos
2
. Eles não conseguem ter..., não
sei se por questões é... educativas, familiar, alguma coisa assim eles não consegue ter, a gente
não consegue ter um bom relacionamento com eles para que eles sejam atendidos
2
e bem
atendidos (silêncio) é só.
Tem mais alguma coisa que você queria colocar sobre o que é atender o adolescente?
Com o adolescente, o único atendimento, eu tenho pouco tempo que eu vim pra cá, o
único atendimento que eu consegui fazer
2
até agora é a questão de orientação
2
é... de DSTs
2
e
orientação de contraceptivos
2
né, o tem ainda um grupo formado, que possa estar
atendendo é... usuário de drogas a gente ainda não atende
2
, porque não tem um grupo
formado. Nesse sentido e que um adolescente muito complicado para a gente poder estar
chegando
2
e... até mesmo questões de segurança da equipe, porque são pessoas que estão
mais marginalizadas
2
que os outros, nós ainda não conseguimos montar esse grupo. Eu
acredito, é um sonho né, meu quando eu trabalhava no CAPS, de estar implantando o CAPS
AD, para poder ver se auxilia a equipe, as equipes do PSF está conseguindo atender melhor
esses usuários, mas infelizmente isso não aconteceu né, e vamos ver se eu...se agente
consegue estar montando esse grupo aqui para poder estar atendendo esse pessoal, mas de
atendimento a adolescentes mesmo, praticamente mais do sexo feminino
2
que é a...
prevenção
2
de DSTs e gravidez na adolescência
2
, só.
Você deseja acrescentar mais alguma coisa?
Não (risos).
Obrigado!
Que isso.
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