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medida, o ser humano dirige-se para um sentido que vai sempre à sua frente, como um guia:
“ser homem significa ser para além de si mesmo” (FRANKL, 1989, p.45).
Frankl descreve que é no inconsciente espiritual que se encontra o fundamento
ontológico da existência. Desse modo, o espírito contém a totalidade do humano do ponto de
vista biológico, psíquico e existencial do homem. É impossível a uma análise-existencial
fragmentar o psíquico, o biológico ou o espiritual. Assim Frankl expressa estes conceitos:
da mesma forma que a logoterapia, como aplicação clínica da análise existencial,
acrescentou o espiritual ao psicológico (que era até então praticamente o único
objeto da psicoterapia), ela passou a aprender e ensinar a ver o espiritual também
dentro do inconsciente, algo como um “logos” inconsciente; ao id, como
inconsciente instintivo, foi acrescentado, como nova descoberta, o inconsciente
espiritual. Com esta espiritualidade inconsciente do homem, que qualificamos como
inteiramente pertencente ao eu, descobrimos aquela profundeza inconsciente, onde
são tomadas as grandes decisões existencialmente autênticas (...) a análise
existencial descobriu, dentro da espiritualidade inconsciente do homem, algo como
uma religiosidade inconsciente no sentido de um relacionamento inconsciente com
Deus, de uma relação com o transcendente que, pelo visto, é imanente no homem,
embora muitas vezes permaneça latente nele. (FRANKL, 1992, p.47)
Frankl (1999) situa o ser humano na qualidade de um ser que anseia por encontrar um
sentido que oriente sua existência. Sendo assim, sua análise existencial apresenta o ser
humano como um ser autotranscendente, uma vez que este busca o sentido para sua vida
sempre em direção ao exterior de si mesmo, em busca do que ele denomina “Deus
inconsciente”:
Deste modo, enquanto que a descoberta da espiritualidade inconsciente aparece o eu
(espiritual) por detrás do isso (inconsciente) com a descoberta da religiosidade
inconsciente se torna visível ainda por detrás do eu imanente o tu transcendente. Se
antes o eu se mostrava a nós como „também inconsciente‟, agora este inconsciente
espiritual se descobre como algo „também transcendente‟[...]“Nossa formulação de
um Deus inconsciente, não significa, porém, que Deus em si mesmo e por si mesmo
seja inconsciente; significa, antes que Deus às vezes não é inconsciente, que nossa
relação com ele pode ser inconsciente, isto é, reprimida e, portanto oculta para nós
mesmos”. (FRANKL, 1992, p. 47-48).
Ao propor a tese de um “Deus inconsciente”, Frankl (1992, p. 48), chama a atenção
para três interpretações errôneas que podem ser feitas a partir deste conceito. Primeiramente, é
importante ressaltar, que a presença inconsciente de Deus não significa que o inconsciente
seja divino, ou que Deus esteja dentro de nós preenchendo nosso inconsciente. Para Frankl,
teses como estas fazem parte de uma “teologia diletante”. Um segundo engano que a teoria do