[137]
“textual”. A produção poética de Ariano Suassuna é pouco conhecida
do público, mesmo nos dias de hoje
372
. Embora seja mais conhecido
do público por suas peças em que o cômico prevalece, ou sua
produção como prosador, principalmente através d’O Romance da
Pedra do Reino, foi com um poema – “Noturno”, publicado no Jornal
do Commercio (Recife, 7/10/1945)
373
– que Ariano começou sua
carreira literária, então com 18 anos de idade. Inclusive, Suassuna já
disse, “inúmeras vezes, em entrevistas e artigos, que sua poesia é a
fonte profunda de tudo o que ele escreve”
374
. Também na sua
produção poética, como em todos os seus demais trabalhos,
podemos observar referências ao universo mítico e simbólico
construído pelo autor, sempre tendo o Sertão nordestino como
tema
375
. A sua obra poética está impregnada dessa simbologia, ao
ponto de considerarem essa parte de sua produção como demasiada
hermética, requerendo “para ser melhor compreendida, alguma
familiaridade com o universo literário do autor”
376
.
372
Um dos poucos escritos sobre a poesia de Ariano Suassuna trata-se do livro O pai, o
exílio e o reino: a poesia armorial de Ariano Suassuna, do professor Carlos Newton Júnior.
Escrito originalmente sob a forma de dissertação de mestrado, apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), o ensaio permanece como uma das poucas referências sobre a poesia de
Suassuna.
373
NEWTON JÚNIOR, Carlos. O pasto iluminado ou A sagração do poeta brasileiro
desconhecido. Cadernos de Literatura Brasileira, Instituto Moreira Salles, São Paulo, n.10,
nov.2000. p.129.
374
NEWTON JÚNIOR, Carlos. O pasto iluminado ou A sagração do poeta brasileiro
desconhecido. p.130.
375
Foi o geógrafo sino-americano Yi-Fu Tuan, que em seu livro, Topofilia: um estudo da
percepção, atitudes e valores do meio ambiente, publicado em 1974, cunhou a expressão
topofilia, que pode ser atribuída a essa relação que vemos estabelecida entre Ariano
Suassuna e o Sertão nordestino. Um dos objetivos do geógrafo no referido livro, era
estudar os sentimentos de apego das pessoas ao ambiente natural ou construído, pois
“topus” é uma palavra grega que significa “lugar”, enquanto “filo” significa amor, amizade,
afinidade. Segundo Yi-Fu Tuan: “A palavra topofilia é um neologismo, útil quando pode
ser definida num sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com
o meio ambiente material. [...] A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética
[...]. A topofilia não é a emoção humana mais forte. Quando é irresistível, podemos estar
certos de que o lugar ou o meio ambiente é percebido como um símbolo”. In: TUAN, Yi-Fu.
Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Trad. Lívia de
Oliveira. São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, 1980. p.107.
376
NEWTON JÚNIOR, Carlos. O pasto iluminado ou A sagração do poeta brasileiro
desconhecido. p.130.