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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
ÁGUA AOS CÂNTAROS – OS RESERVATÓRIOS DA
CANTAREIRA: UM ESTUDO DE ARQUEOLOGIA
INDUSTRIAL
Dalmo Dippold Vilar
São Paulo
2007
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
ÁGUA AOS CÂNTAROS – OS RESERVATÓRIOS DA
CANTAREIRA: UM ESTUDO DE ARQUEOLOGIA
INDUSTRIAL
Dalmo Dippold Vilar
Tese apresentada ao Programa de
Doutorado em Arqueologia do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade
de São Paulo para obtenção do título de
Doutor em Arqueologia
.
Orientador: Profª Drª Dorath Pinto Uchôa
Co-orientador: Profº Dr José Manuel Lopes Cordeiro
Linha de Pesquisa: 5 – Espaço e Organização Social.
São Paulo
2007
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I
Esta Tese é dedicada ao meu filho Yuri, à Solange de Cássia e ao Marcelo,
cuja compreensão e apoio, tornaram possível a realização do meu trabalho.
Aos meus pais Jeorge e Eliza, minha gratidão.
II
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª Dorath Pinto Uchôa, cujo apoio, estímulo e confiança,
sempre incentivaram este trabalho.
Ao co-orientador, Profº Drº José Manuel Lopes Cordeiro, da Universidade do
Minho, que nos permitiu o acesso aos mais atualizados estudos de arqueologia
industrial, que as bibliotecas acadêmicas possuíam.
Ao CAPES, cujo apoio institucional ao compreender a importância da pesquisa
nesse ramo da ciência arqueológica, nos contemplando com uma bolsa de
estudos, que nos possibilitou realizar plenamente os objetivos da pesquisa na
Universidade do Minho, em Braga.
Ao profº Drº José Luiz de Morais, com suas sugestões e conselhos, sempre bem
vindos, e sobretudo com sua amizade com a qual sempre podemos contar.
À Profª Drª Sílvia Maranca, pelas sugestões, que sem dúvida, contribuíram para o
término desta pesquisa.
Ao Eduardo Rodrigues da Cruz, que ao longo do mestrado e do doutorado, foi
incansável em conceder toda a infra-estrutura de sua organização e, acima de
tudo, com sua compreensão e amizade, tão importantes para a realização serena
dessas fases da minha vida.
Aos amigos do Instituto Florestal, em especial ao Fernando Déscio, Diretor do
Parque Estadual da Cantareira, guarda-parques e a toda equipe, que sempre
atenderam, com a maior solicitude, e deram toda ajuda para o trabalho de campo.
A Sara Cristina Alves dos Santos e Diego Romeiro pela força e ajuda tão
indispensáveis para a realização de minha pesquisa.
III
RESUMO
Nessa pesquisa, a metodologia da Arqueologia Industrial permitiu a
análise da cultura material, da ordem urbana implantada no final do século XIX,
na cidade de São Paulo, que proporcionou, uma nova configuração da vida aos
seus cidadãos, com mudanças de comportamento, decorrentes da introdução
de estruturas de saneamento, com a adoção de novos materiais construtivos e
a conseqüente melhoria das condições de higiene e saúde, que atenderam as
aspirações da elite dirigente.
É fundamental a compreensão da atuação das empresas que chamaram
a si, a importante tarefa da captação e distribuição de água para sua
população, a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, fundada em 1877, de
capital privado, encampada, em 1893, pela Repartição de Águas e Esgotos,
com diretrizes diversas na tentativa de solucionar o problema, que já se tornava
endêmico na capital paulistana.
Nesse esforço concentrado, foram construídos na Serra da Cantareira,
obras consideradas verdadeiros desafios para a engenharia da época, como
reservatórios de acumulação, represas, aquedutos, e linhas adutoras, que
chegavam à rede distribuidora, formando uma verdadeira artéria ao longo da
cidade.
Para o resgate dessa “herança da água”, hoje praticamente
abandonada, foi necessária a elaboração de um inventário, onde se registrou, a
localização, o estado atual, suas alterações ao longo do tempo, que resultaram
na proposição de medidas de proteção e salvaguarda desse patrimônio.
Nesse contexto, é possível compreender até onde a São Paulo daquela
época, que ocupava uma posição de dependência tecnológica em relação às
outras metrópoles, com a importação de equipamentos hidráulicos, começa a
esboçar uma reação, que incentiva a indústria paulista a fabricar esses
materiais, processo esse, embrião da transformação da cidade tradicional em
cidade capitalista.
Palavras Chave: Arqueologia Industrial. Cantareira. Inventário. Herança da
água. Equipamentos hidráulicos.
IV
ABSTRACT
This research project used Industrial Archeology to analyze the material
urban culture that existed in the city of São Paulo at the end of the 19
th
Century,
which changed the configuration of the lives of those living in the city and
changed the behavior of its citizens by implementing city sanitation systems and
using new materials of construction that improved health and hygiene
conditions, thus meeting the aspirations of the ruling elite.
In order to understand this process we must first understand the role of
the company that took it upon itself to develop a water collection and distribution
system to serve the city. Companhia Cantareira de Águas e Esgotos was a
private company established in 1877. In 1893 the Water and Sewer
Department took over the company and instituted numerous guidelines in order
to try and solve a problem that was already endemic in the capital city of São
Paulo.
As part of this focused effort, a number of structures were built in the
Cantareira Mountains, such as reservoirs, aqueducts and pipelines reaching the
distribution network. These were true engineering challenges at the time and
the result was a network of arteries covering much of the city.
In order to recover this “water heritage”, practically abandoned today, we
had to first conduct an inventory that recorded the existing remnants of this
structure, including its location, current state of repair, and changes over time.
The end product is a list of protection measures to safeguard this heritage.
Within this context it is possible to understand when São Paulo, which
had been technologically dependent on other major cities and imported all of its
hydraulic equipment, started to react and encourage local industry to
manufacture such goods. This process was the seed that helped transform São
Paulo from a traditional to a capitalist city.
Keywords: Industrial Archeology. Cantareira. Inventory. Water Heritage.
Hydraulic Equipment.
V
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA I
AGRADECIMENTOS II
RESUMO III
ABSTRACT IV
1 INTRODUÇÃO 08
1.1 Objetos de Estudo 12
1.2 Problemas 13
1.3 Objetivos Gerais 13
1.4 Operacionais 14
1.5 Justificativas 14
2 METODOLOGIA 17
2.1 Origem 20
2.2 Conceitos 23
2.3 Questões de Método 25
3 GESTÃO DAS ÁGUAS NA SERRA DA CANTAREIRA NO SÉC. XIX 34
3.1Companhia Cantareira 46
3.2 A Capital do Capital: privado ao estatal 53
3.2.1Repartição de Águas e Esgotos – ERA 61
3.3 Mudanças no abastecimento 63
3.4 A cidade se transforma 68
3.5 Equipamentos de Distribuição 71
3.5.1 Torneiras Públicas e Hidrômetros 71
3.5.2 Reservatório da Liberdade ou da Avenida 74
3.5.3 Reservatório da Consolação
78
VI
4 NOVA CONFIGURAÇÃO DA VIDA 82
4.1 A cidade salubre 83
4.2 A cidade industrial 93
4.3 Tramway da Cantareira 101
4.4 Captação - Obras Urbanas 119
5 CONVERGINDO PARA A ARQUEOLOGIA DA SERRA DA
CANTAREIRA 123
5.1 Um Arquivo do passado 124
5.2. Traduzindo o modelo em inventário 126
5.2.1Patrimônio Industrial 126
5.2.2 Haverá futuro para o passado? 128
5.2.3 Metodologia do inventário 131
5.2.4 Ficha de inventário arqueológico industrial da Herança
da Água 136
5.3 Herança da Água 138
5.3.1Represa da Cantareira: Antigos Reservatórios de Acumulação 139
5.3.2 Parque Estadual da Cantareira 144
5.3.2.1 Represa da Cuca 145
5.3.2.2 Represa do Canivete 147
5.3.2.3 Represa da Divisa 149
5.3.2.4 Represa do Depósito 150
5.3.2.5 Represa do Manino 152
5.3.2.6 Represa do Ytaguassu 153
5.3.2.7 Represa do Bispo 155
5.3.2.8 Represa do Guaraú 157
5.3.2.9 Represa do Cassununga 160
5.3.2.10 Represa do Engordador 166
5.3.2.11 Aqueduto do Matheus 170
5.4 Caixa de Junção do Guapira 173
CONSIDERAÇÕES FINAIS
177
VII
BIBLIOGRAFIA CITADA 193
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 207
8
INTRODUÇÃO
Esta tese: “Água aos cântaros Os Reservatórios da Cantareira: Um Estudo
de Arqueologia Industrial”, versará sobre o levantamento, compreensão e analise da
infra-estrutura do abastecimento de água instalado na Serra da Cantareira, como
barragens, represas, reservatórios de acumulação e de distribuição, aquedutos,
adutoras, tubulações, introduzida por duas companhias distintas, uma de capital
privado, Companhia Cantareira de Águas e Esgotos e outra estatal, a Repartição de
Águas e Esgotos, conhecida como RAE .
1
A metodologia para esse estudo será a da Arqueologia Industrial cujo objeto
de pesquisa deve ser contextualizado de forma diacrônica e espacial, sem que um
pensamento analítico fragmentário seja um redutor da realidade a ser estudada, por
se tratar da análise da cultura material numa perspectiva histórica, econômica e
sociológica e no que concerne à sucessão dos períodos, e no que se refere a cada
um deles. Ou seja, a compreensão desta realidade no tempo e no espaço não deve
ser vista como camadas sucessivas ou superpostas de fatos, de fenômenos, mas de
modos de pensamento, de ação, de opções de um determinado grupo social, dentro
do seu contexto.
A cidade de São Paulo até a metade do século XIX, era composta por um
núcleo bem pouco expressivo pobre e introspectivo, possuindo o município inteiro
cerca de 25 mil habitantes. Entretanto, mesmo assim era possível detectar sinais de
um ânimo renovado na vida da Capital, que passaria lentamente por transformações
materiais.
A marcha ascendente do progresso paulista pode-se precisamente assinalar,
por quatro grandes fatores que valem por outras tantas épocas memoráveis nesse
período de prosperidade: a cultura do café, em larga escala, a construção da
1
Dando continuidade à dissertação de mestrado, concluímos que sem um inventário não seria
possível o conhecimento da herança da água, que nos foi legada e que está correndo sério risco de
desaparecer. Realizado com a metodologia da Arqueologia Industrial, foi desenvolvido a partir de
estudos efetuados em nosso estágio em Portugal, onde analisamos diversos tipos de inventários
arqueológico-industriais, que adaptamos à realidade paulistana e aplicamos ao caso específico do
fornecimento de água implantado em finais do século XIX.
9
primeira estrada de ferro, a São Paulo Railway, a colonização ou imigração e a
autonomia na República.
Conforme tese da história econômica, uma nova forma de capitalismo – agora
fundamentada no capital produtivo – havia surgido nos cafezais do Oeste paulista ao
término da Guerra do Paraguai, em 1870. Os reflexos dessa nova ordem
econômica, contudo, demoraram a dar frutos na capital da Província.
2
Ainda em 1872, o relatório do governo provincial dizia que a Capital era
paupérrima, carente de equipamentos necessários à sua posição.
3
As famílias ricas viviam confinadas em chácaras ou sobrados, relegando as
ruas ao domínio de escravos que se concentravam nos chafarizes, assim como
outros tipos populares como quitandeiros e tropeiros, que eram vistos como
perigosos à nova ordem burguesa. Para afastá-los das áreas de maior circulação
seria necessário empreender uma remodelação da própria cidade, vista, a partir de
então, como o espaço da reforma dos costumes.
A capital incluiu-se na modernidade com o fim do escravismo e o
desaparecimento de um dos primeiros fatores de diferenciação na sociedade, a
posse da liberdade, o aumento do número de trabalhadores remunerados e o
desenvolvimento de uma elite empresarial que passou a comandar a economia e a
política e pretendia articular uma mudança urbana, numa concepção de cidade
moderna, com novos equipamentos coletivos, como a introdução de um eficiente
sistema de abastecimento de água.
2
CAMPOS, Eudes. o Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império.In História da
Cidade de São Paulo: a Cidade na Primeira Metade do Século XX: 1890-1954.Editora Paz e Terra.
São Paulo, 2004, p.214.
3
Relatório Apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Presidente da
Província o Exmo Sr. Dr José Fernandes da Costa Pereira Júnior em 2 de fevereiro de 1872, p.44: “A
Capital é paupérrima de melhoramentos materiais e muito mais de melhoramentos condignos de sua
categoria e importância. Falta-lhe até edifícios para o regular serviço de administração. Funciona a
Assembléia Legislativa Provincial em mesquinho recinto, fora das próprias condições que a decência
exige, quanto mais das que exige a representação dos que nela desempenham o honroso mandato
popular.
Não existe edifício que sirva de quartel de polícia.
Não sequer uma biblioteca pública, nem casas apropriadas para o ensino primário. A cadeia está
situada em um prédio, de proporções menos vastas do que se faz mister, velho, mal dividido e
pessimamente situado. Falta à cidade regular abastecimento de água potável. Nem ao menos se tem
melhorado os terrenos adjacentes ao povoado, onde as águas estagnadas infectam a atmosphera e
prejudicam a salubridade pública.”
10
Um sopro de vida renovador e benéfico domina São Paulo por
inteiro. A Capital transforma-se rapidamente. E como por encanto as
suas planícies, ermas e sem valor em outro tempo, cobrem-se de
edificações inúmeras animam-se, povoam-se e passam a valer
milhões.
4
(SAMPAIO, 1978)
As tradicionais construções de taipa aos poucos cedem lugar ao tijolo. Surge
um outro “saber fazer”, com a introdução da técnica de alvenaria, o que obrigava a
importação dos novos materiais, facilitada, desde 1865, com a implantação da São
Paulo Railway.
Chegavam à Capital, equipamentos hidráulicos, azulejos, e louças sanitárias
da França, Inglaterra e Escócia, encanamentos da Inglaterra e da Bélgica, cimento
da Alemanha e telhas de Marselha.
Estabeleciam-se em o Paulo, filiais de grandes empresas importadoras
estrangeiras como a Hopkins, Causer & Hopkins e a Zerrenner Bülow & Com e
simultaneamente as nacionais, como a Companhia Mecânica e Importadora, que
também passou a fabricar maquinário para o setor cafeeiro e equipamentos para as
novas obras que começavam a despontar.
Entretanto, a cidade crescia à revelia do poder público, sem controle e sem
infra-estrutura, embora no âmbito da organização urbana paulistana setores
considerados “progressistas” das elites insistissem em implementar um modelo de
cidade eficiente. Esse fato explica porque o centro tradicional, que dispunha, a
partir de 1881, de equipamentos coletivos, água, gás e coleta de esgotos, foi-se
renovando, dando lugar a construções maiores, de caráter comercial, bancário e de
serviços.
Como toda cidade que se desenvolve rapidamente, São Paulo apresentava
diferenças flagrantes entre o seu cleo central e seu entorno: desigualdades nas
edificações, nos arruamentos, nas construções realizadas sem planejamento, e na
ausência de infra-estrutura de saneamento básico, como é o caso do abastecimento
de água, aliado a um crescimento demográfico impressionante de aproximadamente
64.934 habitantes em 1890 para 239.434 em 1900.
5
4
SAMPAIO, Teodoro. São Paulo no Século XIX e outros ciclos históricos. Ed. Vozes. Petrópolis, Rio
de Janeiro, 1978, p.99.
5
MATOS, Odilon Nogueira. São Paulo no século XIX in A cidade de São Paulo - Estudos de
Geografia urbana, Cia Editora Nacional, São Paulo, [19--], p.82.
11
Os graves problemas enfrentados por uma São Paulo no final do século XIX,
se acentuariam ao longo do tempo. Cabia, portanto, aos protagonistas da recém
implantada República, equacioná-los e resolvê-los, tudo isso acontecendo,
logicamente, dentro da perspectiva proporcionada pelos estreitos limites de sua
visão de classe.
Quanto aos serviços de utilidade pública, em especial o saneamento sico,
até 1877, com a fundação de uma empresa particular, a Companhia Cantareira de
Águas e Esgotos, poucas providências tinham sido tomadas pelo governo provincial,
com relação à distribuição de águas e tratamento de esgotos. Até então, esse
sistema consistia na construção de chafarizes e colocação de torneiras públicas
onde os escravos e os aguadeiros buscavam água para as residências, sendo
inexistente qualquer tipo de coleta pública de esgotos.
O fornecimento de água é o que está mais ligado às condições de vida da
população, que dele não pode prescindir, para suas primordiais necessidades de
existência.
Desde 1877, a água que abastecia a paulicéia, provinha dos mananciais da
Serra da Cantareira, porém, mesmo após a encampação da citada Companhia e as
novas obras de ampliação implementadas em 1894, pela sua sucessora a
Repartição de Águas e Esgotos, a São Paulo daquela época, infelizmente, não tinha
um serviço de água adequado à curva de crescimento da cidade e de sua
população.
Em se tratando desta pesquisa, uma das questões que se coloca é como
recuperar o processo de introdução e difusão da gestão da água na Serra da
Cantareira no final do século XIX, não retratando como isso ocorreu, mas
buscando, sobretudo, compreender a sua dinâmica, determinando os agentes e
fatores mais importantes desse processo, assim como a forma e o porquê de sua
ineficiente atuação.
Nesta perspectiva serão contemplados os desdobramentos que uma obra de
tal porte implica em tecnologias, que deixaram seus vestígios materiais muitas vezes
visíveis, inseridos na paisagem que merecem ser resgatados e preservados.
O poder público, na esteira das transformações econômicas ocorridas no final
do século XIX, aos poucos foi racionalizando os usos sociais das modernas infra-
estruturas e da própria esfera do privado, obrigando a mudanças de hábitos de
12
higiene através da promulgação do Código Sanitário de 1894
6
, que entre outras
providências, alterava a técnica construtiva das habitações com a introdução de
novos materiais que pudessem atender aos ditames dos preceitos higienistas de
então.
Pretendeu-se identificar, as empresas nacionais e estrangeiras que tiveram
participação decisiva nessa nova configuração da vida urbana, fornecendo materiais
para a implantação do serviço de saneamento, quais foram as obras construídas
para viabilizá-lo, e que mudanças geraram no cotidiano da população paulistana.
1.1 Objetos de Estudo
As obras de infra-estrutura do abastecimento de água implantadas na Serra
da Cantareira no século XIX, como reservatórios de acumulação e de distribuição,
represas, aquedutos, sistemas de adução e as tubulações, que formaram uma
verdadeira artéria ao longo da cidade, naquele que foi o século de ouro do
encanamento, gerando mudanças de hábitos de higiene, e o desenvolvimento de
empresas ligadas às novas técnicas de saneamento, então empregadas.
As alterações que essas construções sofreram ao longo dos últimos cem
anos.
O resgate da memória dos sistemas tecnológicos desenvolvidos no processo
de captação e adução de água, ou seja, da conquista de um equipamento coletivo
essencial ao bem estar da comunidade.
Elaborar, com a metodologia da Arqueologia Industrial, um modelo de
inventário dessas obras como instrumento de análise com a finalidade de localizar,
identificar e interpretar sua função inicial e atual, registrando e propondo medidas de
proteção, salvaguarda e reabilitação.
6
São Paulo, Leis e Decretos. Decreto nº 233 de 2 de Março de 1894. O Presidente do Estado, para a
execução do artigo 3º da Lei nº 240 de 4 de Setembro de 1893, estabelece o Código Sanitário.
13
1.2 Problemas
A gestão da água na Serra da Cantareira, coordenada pela Companhia
Cantareira de Águas e Esgotos e sua sucessora a Repartição de Águas e Esgotos,
possibilitou que a área fosse preservada, dando origem a um dos maiores parques
urbanos do mundo, com 7.900 ha.
No contexto capitalista do século XIX, São Paulo ocupava uma posição
periférica com grande dependência tecnológica, e a implantação das obras de
abastecimento na Serra da Cantareira, se por um lado, implicaram na importação de
equipamento hidráulico, e de novos materiais, por outro, funcionaram como vetores
de pressão para novos empreendimentos, na fabricação e aperfeiçoamento destes
produtos.
Sendo a R.A.E. uma repartição do Estado, as obras exigiam
autorização de outros órgãos ligados à burocracia estatal, o que possibilita através
de uma Arqueologia da fonte secundária, encontrar catálogos, material de
propaganda e certificados de garantia dos fabricantes, literatura geralmente
negligenciada e pouco preservada pelas empresas e bibliotecas, sendo rara fonte de
consulta, fundamental para a Arqueologia Industrial, permitindo muitas vezes, o
resgate do processo de fabricação desses produtos.
7
1.3 Objetivos Gerais
Com o estudo desses vestígios materiais e sua contextualização, com a
metodologia da arqueologia industrial, pretende-se levantar informações que
possibilitarão a compreensão das mudanças nas habitações, nos hábitos e
costumes da população paulistana com a introdução da água encanada no
cotidiano, uma vez que segundo Pinard, um dos objetivos da Arqueologia Industrial
é:
7
Este tipo de fonte faz parte do Patrimônio Industrial e segundo PANNEL, J.P.M. The Techniques of
Industrial Archaeology, editado por J. Kenneth Major, Great Britain, 1974, p. 119,120, é importante a
busca deste tipo de material uma vez que os fabricantes europeus tiveram parte de seus arquivos
destruídos durante as duas grandes guerras mundiais.
O autor mostra a dificuldade em encontrar catálogos e folhetos de propaganda do século XIX, nas
bibliotecas européias, porém, sendo o capitalismo um modo de produção em escala mundial, países
dependentes de produtos importados podem involuntariamente ter preservado esse patrimônio.
14
(...) tentar encontrar as circunstâncias materiais e técnicas que
estiveram na origem da produção de um determinado produto, da
montagem de uma fábrica ou de um equipamento coletivo, como é o
caso do abastecimento água, que tenha marcado a vida dos seus
contemporâneos, e em seguida procurar as conseqüências que estes
acontecimentos tiveram sobre os aspectos que rodeiam uma
população ou um grupo social”.
8
(MADEIRA, 1989)
O resultado dessa pesquisa, serviu de base a um modelo de inventário elaborado
com a metodologia da Arqueologia Industrial, que funcionará como um instrumento
de identificação e gestão patrimonial, de divulgação, conhecimento e intervenção,
para o manejo e a administração do Parque Estadual da Cantareira, criado pelo
Decreto 41.626/1963.
9
1.4 Operacionais
Com o método arqueológico “in situ”, e o complexo das operações de
localização, identificação, descrição, análise, interpretação, leitura crítica dos dados
fornecidos e sua sistematização, foi feita a base do inventário arqueológico
industrial.
Consultando os relatórios da Cia. Cantareira e da Repartição de Águas e
Esgotos, a bibliografia especializada, os documentos iconográficos e tendo como
suporte os métodos históricos, contextualizou-se a gestão da água no século XIX, na
cidade São Paulo e suas repercussões na moradia e no próprio comportamento da
população.
1.5 Justificativas
A década de 1870 apresentou-se como um marco no grande progresso pelo
qual passou a cidade de São Paulo.
10
Foram introduzidos nas edificações
paulistanas os avanços tecnológicos que possibilitaram o conforto da água corrente,
8
MADEIRA, A. Apud Uma vila industrializada: tortozendo, centro produtor de lanifícios, na área da
Serra da Estrela, in I Encontro Nacional sobre o Património Industrial, ed Coimbra, Portugal, 1989
p.397.
9
São Paulo, Leis e Decretos. Decreto 41.626 de 30 de janeiro de 1963. Regulamenta a execução
da Lei 6884 de 29 de agosto de 1961, que dispõe sobre os Parques, Florestas e Monumentos
naturais.
10
Será tratado com maiores detalhes, no Capítulo III.
15
mudando a própria dinâmica de funcionamento das casas e dos prédios públicos. A
partir desse momento, ou adaptavam-se os cômodos em função dos encanamentos,
como era o caso do banheiro, ou construíam-se outros para usufruir desse bem-
estar material.
A tecnologia da época apresentava diferentes invenções, principalmente
inglesas, como foi o caso da torneira de rosca e outros equipamentos industriais
importados e introduzidos na infra-estrutura do saneamento da cidade.
Justifica-se este trabalho pelo resgate e salvaguarda que se pretende fazer
desta cultura material praticamente negligenciada pelos órgãos de preservação do
patrimônio cultural, uma vez que as análises detalhadas das mudanças tecnológicas
no abastecimento de água, foram raramente registradas e a sua importância muitas
vezes passou despercebida.
Justifica-se ainda, pela preocupação em preservar aqueles vestígios que
ainda não foram destruídos e que podem ser inventariados e posteriormente
tombados sob pena de serem irremediavelmente perdidos. Infelizmente, a apatia e o
silêncio muitas vezes se deparam na questão da preservação das obras públicas
vistas como utilitárias sem o conteúdo de imponência artística que justifique seu
tombamento.
De acordo com o item 10 da Carta de Campinas:
"Todas as instalações e estruturas das edificações utilitárias protegidas devem ser
respeitadas, incluindo-se pisos, calçadas, bases de máquinas, paredes, tabiques,
escadarias, dutos e aquedutos, (grifo nosso), trilhos, canaletas e outras, ainda que a
maquinaria e equipamentos tenham desaparecido."
11
Há, portanto, uma necessidade urgente de se registrar essas obras, através
da pesquisa e do inventário arqueológico, uma vez que correm o risco de serem
deixadas no esquecimento, sendo passíveis de destruição.
11
DECLARAÇÃO DO GEHT, em defesa das construções e instalações utilitárias ("Carta de
Campinas") - UNICAMP, 1998. Os membros do Grupo de Estudos de História da Técnica-GEHT,
(ligado ao Centro de Memória-CMU, da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, Estado de
São Paulo), reunidos em 19 de junho de 1997, 24 de julho, 18 de setembro, 13 de novembro e 11 de
dezembro do mesmo ano, discutiram sobre a conservação dos bens culturais designados por
“construções e instalações utilitárias”, ligadas aos ofícios, às profissões, e às indústrias. Em 29 de
janeiro de 1998 na última reunião do grupo resolveram elaborar uma Declaração do GEHT em defesa
das construções e instalações utilitárias, que passou a ser conhecida como a “Carta de Campinas”.
Com esta Declaração, os membros do grupo de estudo da história da técnica, esperavam sensibilizar
os profissionais ligados à conservação e pesquisa de bens culturais com relação à necessidade de se
preservar a memória da produção industrial e seus testemunhos materiais.
16
Iniciar um trabalho deste tipo no Brasil, é, antes de tudo, mostrar a
abrangência e a importância da ciência arqueológica inclusive na
recuperação de passado próximo, que apesar da pouca distância
cronológica, está desaparecendo na Memória Nacional...
12
(LOTUFO, [19--])
12
LOTUFO, C. L. Os Primórdios da industrialização no Município de Engenheiro Frontin, RJ, Munda,
nº 22, Coimbra, Portugal, [19--], p. 107.
17
2. METODOLOGIA
13
As sociedades modernas usufruem benefícios e um progresso material
inegáveis, ambos resultantes da Revolução Industrial que, a partir de 1750, foi a
responsável por um encadeamento de profundas mudanças na estrutura sócio-
econômica mundial, em praticamente todas as áreas da vida social de quase todos
os indivíduos, acarretadas pelo desenvolvimento da tecnologia.
O progresso industrial transformou, sem dúvida, o modus vivendi e o padrão
de vida do homem ao longo dos últimos dois séculos. A enorme quantidade de bens
produzidos alterou radicalmente o ambiente físico dos lares, a natureza das
instituições políticas, o lazer e a recreação, o vestuário e, amesmo, as normas de
comportamento.
Embora constituindo apenas uma parte da complexa sociedade
contemporânea, a indústria é, por certo, seu sistema de produção mais importante,
assim como em outras épocas predominaram as corporações de ofício ou a
escravatura. Por tudo isso os cientistas sociais chamam as sociedades modernas
de “industriais”.
Um dos traços mais marcantes do nosso sistema industrial, que contrasta
essencialmente com outras estruturas de produção, é a invenção constante de
novas quinas, novos processos físicos ou químicos e novos princípios
organizacionais.
Os impulsos desse extraordinário desenvolvimento surgem da busca
empresarial de lucro e das conquistas tecnológicas: uma invenção conduz a uma
outra, um novo princípio de organização desencadeia um outro e a introdução de um
moderno processo químico pode sugerir um novo produto.
A procura constante por uma melhoria técnica não é recente, pois se perde
nos tempos imemoriais, no cotidiano da humanidade, intervindo em sua vida cultural,
social e econômica. Porém foi somente a partir da chamada Revolução Industrial
que a técnica adquiriu a tonalidade mais forte de um dos agentes centrais do
13
Esta metodologia foi desenvolvida em conjunto com Filomena Pugliese Fonseca, com base em
nossos estudos de Arqueologia Industrial, na Universidade do Minho, em Portugal, sob a co-
orientação do Professor Dr José Manuel Lopes Cordeiro, tendo sido também aplicada em sua tese:
As águas do passado e os reservatórios do Guaraú, Engordador e Cabuçu:
Um estudo de arqueologia industrial.
18
processo sócio-econômico moderno. Nesse movimento de âmbito internacional,
ocorrido principalmente nas últimas décadas do culo XIX e XX este considerado
o século da chamada Terceira Revolução Industrial cada vez mais os
conhecimentos científicos passaram a ser aplicados ao sistema produtivo, bem
como foram estabelecidas novas interações entre suas áreas. Associada à ciência,
na forma de tecnologia, a Revolução transformou-se em um trunfo decisivo da
competição industrial, da disseminação de novos produtos e de novas formas de
comportamento.
As pequenas oficinas dos artesãos foram sendo substituídas pelas fábricas,
as ferramentas simples, trocadas pelos novos equipamentos que haviam surgido. As
tradicionais fontes de energia (água, vento e força muscular) foram superadas pelas
máquinas a vapor e pela eletricidade. Houve um grande desenvolvimento dos meios
de transporte e comunicação e um considerável acréscimo do controle capitalista
sobre quase todos os ramos da indústria. A velha Europa agrária foi se tornando
uma região com cidades populosas e industrializadas e esse modelo, cujas
transformações implicaram uma nova organização social, expandiu-se por inúmeras
regiões do mundo.
Portanto, nos últimos duzentos anos, assistimos a um avanço tecnológico
sem precedentes na história da humanidade. Dessa forma, os vestígios materiais
das fábricas, maquinários, sistemas de transporte e de abastecimento de água, entre
outros, foram relegados na avançada marcha do progresso, havendo a necessidade
de preservar-se esse passado onde seja possível, tornando-se fundamental que se
estude e pesquise essa herança industrial para que futuras gerações compreendam
de que forma chegou até nós e quais são seus similares.
Conforme CORDEIRO, 1994, as diferentes fases pelas quais passou o
processo de industrialização proporcionaram à humanidade um importante legado
patrimonial, que se materializa numa enorme diversidade de vestígios.
14
Por outro lado, a rápida evolução tecnológica dos últimos decênios gera uma
grande transformação industrial em um processo que, segundo Schumpeter,
revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo de
14
CORDEIRO, J.M.L. Arqueologia Industrial. Uma vertente fundamental da Arqueologia Urbana. In
Encontro de Arqueologia Urbana, Braga, 1994, p.170.
19
maneira contínua o antigo, criando elementos novos, “a destruição criadora”
15
, que,
aliada aos dois conflitos mundiais e a uma atitude cultural de indiferença, contribuiu
para uma acentuada dilapidação do patrimônio industrial, que possui um valor social
como parte do registro de vidas de homens e mulheres e, como tal, proporciona um
importante sentimento de identidade. Ao conteúdo universal dessa evidência,
agregam-se também valores tecnológicos e científicos na história da produção, da
engenharia, da construção e aqueles de caráter estético, determinados pela
qualidade de sua arquitetura, desenho ou planificação.
Antigas instalações industriais, minas desativadas, moinhos, construções,
canais para navegação, infra-estruturas de abastecimento de água, ferrovias, barcos
e outros atualmente despertam interesse cultural e turístico, tornando-se
profundamente significativos para um grande número de pessoas que os consideram
como parte integrante de seu patrimônio cultural.
Ao longo dos últimos anos, em numerosos países industrializados, aumenta o
interesse pela preservação dos vestígios de seu passado industrial. Dessa
conscientização nasce igualmente uma reflexão sobre sua natureza, sobre quais
desses vestígios devem ser conservados, sobre a importância de seus estudos e a
sensibilização do público para sua preservação.
A salvaguarda das primeiras quinas, a restauração e a reabilitação dos
edifícios que as abrigam, o inventário da documentação social, econômica e técnica
pertencem ao patrimônio coletivo de cada país, uma vez que ilustram uma grande
parte de sua história nos últimos séculos.
As destruições muito numerosas e cotidianas dos produtos industriais, sítios,
edifícios e demais estruturas, objetos, máquinas, manuais, catálogos, arquivos
públicos e empresariais fazem com que desapareçam muito rapidamente os
vestígios do passado industrial de um país.
A valorização dessa herança industrial pode ser traduzida de diferentes
maneiras: pesquisas, levantamento e interpretação dos documentos arquivados,
conservação, reciclagem e criação de museus, ecomuseus, museus de Ciência e
Tecnologia e de Arqueologia Industrial.
A conservação do aludido patrimônio representa uma escolha da sociedade,
cujo efeito repercutirá sobre as gerações vindouras, uma vez que implica uma
15
SCHUMPETER, J.A. Capitalismo, Socialismo e Democracia, Ed. Fundo de Cultura, Rio de Janeiro,
1961, p.106.
20
conscientização de indivíduos ou de grupos sociais que vivem as contradições dos
avanços tecnológicos do culo XXI, o que dependerá de muitos fatores como, por
exemplo, da importância histórica, arqueológica e arquitetural do monumento ou
sítio, do seu estado de conservação, do potencial de sua manutenção e reuso, bem
como da disponibilidade de fundos e do impacto econômico e social de sua
valorização.
Segundo BUCHANAN, 1985, a ciência que tem um campo de estudo
concernente a pesquisa, exame, levantamento, registro e, em certos casos,
preservação dos monumentos industriais é a Arqueologia Industrial que visa, entre
outros objetivos, evidenciar a importância desse patrimônio dentro do contexto da
história social e da tecnologia.
16
2.1 Origem
O termo Arqueologia Industrial foi empregado pela primeira vez em 1876, na
França, pelo Barão de Verneilh, para propor o estudo arqueológico das forjas do
Perigord e de Limoges, dos séculos XV ao XVIII, sem qualquer ligação necessária
com a Revolução Industrial Inglesa.
Oliveira Martins, em 1884, quando diretor do Museu Industrial e Comercial
da cidade do Porto, defendeu que nos Museus Industriais se expusessem objetos
arqueológicos industriais, porém VITERBO, 1896, propõe a criação da Arqueologia
Industrial para o estudo do passado fabril de Portugal, na tentativa de salvaguardar
seu patrimônio quando enfatizava: “antes que tudo se perca irremediavelmente,
salvemos pela descrição e pela estampa o que ainda resta, dilacerado e partido, dos
antigos documentos da laboriosidade portuguesa”.
17
Entretanto as pesquisas nesse campo científico não tiveram
prosseguimento. Após a Segunda Guerra Mundial, com a reconstrução e a
substituição de indústrias consideradas obsoletas, houve uma conscientização de
que edifícios, maquinário e arquivos deveriam ser preservados como testemunhos
16
BUCHANAN, A. The Definition of Industrial Archaeology, In ”L’étude et la Mise en Valeur du
Patrimoine Industriel. Confèrence internationale.Lyon-Grenoble, Septembre, 1981. Ed.du Centre
National de La Recherche Scientifique, Paris, 1985, p.104.
17
VITERBO, Souza Francisco. “Arqueologia Industrial Portuguesa; os moinhos. In O Arqueólogo
Português, Vol II, nº 8 e 9, 1896, p. 68 a 72.
21
da era industrial, inclusive aquelas unidades fabris ainda em fase de implantação
nos primeiros anos do século XX, desaparecidas com os conflitos bélicos.
Somente nacada de 1950, a expressão Industrial Archaeology foi
empregada por Donald Dudley, professor da Universidade de Birmingham, e
publicada pela primeira vez por Michael Rix, em 1955.
Este, em seu artigo The Amateur Historian, relaciona como campo de
estudo, a aquele momento não explorado, uma série de monumentos
pertencentes ao século XVIII e ao começo do século XIX: fábricas, máquinas a
vapor, locomotivas, os primeiros edifícios com estrutura de metal, aquedutos e
pontes de ferro fundido, os pioneiros empreendimentos em ferrovias, canais e
eclusas. Faz então um alerta, para que sejam preservados em razão de estarem
muitos deles ameaçados de destruição, conservando-se, se possível, a
documentação ainda existente.
18
A constituição da Arqueologia Industrial como ciência dos vestígios deixados
pelas sociedades industriais surgiu paralelamente às primeiras ações e medidas de
proteção e preservação do patrimônio industrial, após a destruição do Palácio de
Cristal do Porto, da gare de Euston Station, em 1962, dos pavilhões Halles Centrales
de Baltard, em Paris, e a destruição parcial da antiga escola industrial Marquês de
Pombal, em Alcântara, Portugal.
Ainda nessa década, introduzida por Angus Buchanan, essa nova disciplina
passa a fazer parte da grade curricular da Universidade de Bath, concomitantemente
com as primeiras sociedades conservacionistas, preocupadas com o patrimônio da
indústria de mineração.
Esse movimento teve conotações diversas em vários países: na Inglaterra,
ocorre um forte associativismo, com a Newcomen Society, centrada na história da
engenharia e da tecnologia, que lança, em 1964, o Journal of Industrial Archaeology;
e, em 1976, a Association for Industrial Archaeology, fundada três anos antes, inicia
a publicação da Industrial Archaeology Review.
Em 1963, o poder público britânico, através do Conselho Britânico de
Arqueologia e do Ministério de Obras Públicas, inicia um levantamento dos
monumentos industriais, estabelecendo o NRIM, National Record of Industrial
18
HUDSON, Kenneth. Industrial Archaeology, an Introduction”. 2ª ed. John Baker Publishers, London,
1966, p.11.
22
Monuments, que faz parte, desde 1981, da Real Comissão de Monumentos
Históricos da Inglaterra.
CORDEIRO, 1994,
19
anotou que os movimentos de defesa do patrimônio em
Portugal tiveram início no final da década de 1970. Em 1980, nesse país, surgiram
vários projetos de investigação na área da manufatura do vidro e, em 1985, realizou-
se a Exposição de Arqueologia Industrial da Central do Tejo, marcante para a
divulgação dos trabalhos desse novo campo científico.
Na França, o movimento teve início na década de 1960, quando os poderes
públicos e a imprensa começaram a se preocupar com a preservação das ferrovias
turísticas como a de Meyzieu, perto de Lyon. Foi o primeiro museu ferroviário da
França acolhendo materiais antigos, salvaguardando-os e preservando-os, em
funcionamento.
Em 1977, a Universidade Sorbonne, em Paris, criou um Centro de
Arqueologia do Mundo Moderno, sob a direção de Philippe Bruneau, divulgando os
trabalhos em andamento na área, através de uma revista anual.
20
O museólogo Georges-Henri-Rivière contribuiu, com planos teóricos e
práticos, para a criação dos primeiros ecomuseus, que promovem o encontro entre
as ciências do homem e as da natureza, procurando popularizar a ciência e a
tecnologia, em prol do desenvolvimento local. Ao lado deles, a fundação de museus
específicos, como o “Museu do Ferro”, criado em Jarville, perto de Nancy, em 1966,
foi mais um dos esforços efetuados para apresentar os vestígios industriais ao
público.
A inserção da Arqueologia Industrial na Alemanha deu-se em um contexto
universitário no fim dos anos sessenta, passando a fazer parte dos currículos dos
cursos de tecnologia, cuja preocupação com os monumentos, parte visível da
herança industrial, permite reconstituir a atividade das forças produtivas na
sociedade, bem como as condições sociais nas quais essas forças nasceram.
Em 1977, na Itália, nasceu o debate sobre Arqueologia Industrial, a
denominação da disciplina, seu significado e a delimitação de seu campo de
19
CORDEIRO,José Manoel Lopes. Arqueologia Industrial, uma vertente fundamental da Arqueologia
Urbana. Encontro de Arqueologia Urbana, Braga, 1994, p.169.
20
BARRAL I ALTET, Xavier. Archéologie de l´age industriel, Archéologie et Industrie. In: Les
Dossiers de L´Archéologie. Dijon: Faton, 1986.
23
pesquisa, culminado, um ano depois, com a publicação de Introduzione alla
archeologia industriale, por Franco Borsi.
21
Nesse mesmo ano, a revista Abitare
22
, em seu artigo Archeologia Industriale:
Che Cos’è, um caso vivo da discutere: il Villaggio Leumann marca o início dos
debates sobre a segregação espacial dos trabalhadores nas vilas operárias, sob a
ótica dessa nova disciplina.
Nos Estados Unidos, a Sociedade de Arqueologia Industrial surgiu em 1971,
iniciando em 1975 a publicação do Journal of the Society for Industrial Archeology.
Ao longo dos anos, o campo de pesquisa da Arqueologia Industrial tornou-se
mais abrangente estudando os vestígios materiais e imateriais do período da
Revolução Industrial, embora existam grandes diferenças entre formas e períodos de
implantação nos vários países.
Segundo BUCHANAN, 1972, para efeitos de periodização, a data de 1776
pode ser considerada como um marco da Revolução Industrial, ano de três grandes
acontecimentos: a construção da ponte de ferro de Ironbridge,
23
da publicação de A
Riqueza da Nações, de Adam Smith, e da Independência das Colônias Inglesas na
América do Norte.
24
2.2 Conceitos
Em sentido amplo, “Arqueologia Industrial é o estudo das causas,
características e conseqüências da industrialização, baseado na
identificação, registro, preservação e interpretação dos vestígios da
indústria em seu contexto cultural e histórico”.
25
(ORSER, 2002)
21
BARBIERI, Franco. “Archologia industriale e storia dell’arte”. In Archeologia Industriale. Indagini sul
território in Lombardia e Veneto. Edizioni Unicolpli., Milano, 1989, p.7.
22
ABITARE, nº 158, Milano, Ottobre 1977, p.76 a 95.
23
Condado de Shropshire, centro da Inglaterra, é o lugar onde a Revolução Industrial teve origem,
com Abraham Darby, que em 1755 substituiu a utilização do carvão vegetal pelo coque, derivado do
carvão mineral, na fundição de Coalbrookdale. Em Ironbridge, também foi construída a primeira ponte
de ferro fundido do mundo, revolucionando o sistema construtivo empregado até então, com alvenaria
ou madeira.
24
KÜHL, Beatriz Mugayar. Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São Paulo: Reflexões
sobre a sua preservação. São Paulo: Ateliê FAPESP, Secretaria da Cultura, São Paulo, 1998, p.225.
25
ORSER JR, Charles. Encyclopedia of historical archaeology, Ed.Charles, New York, Routledge,
2002, p.286.
24
R
amo especializado da Arqueologia, seu estudo procura abarcar as
evidências tangíveis do desenvolvimento social, econômico e tecnológico do período
que se inicia com a Revolução Industrial, para transcender em importância, o papel
que desempenhou na sociedade, como testemunho histórico de um sistema que
transformou a humanidade.
Para PALMER, 1990, o arqueólogo industrial pode considerar-se como o
arqueólogo da sociedade industrial, não estudando seqüências de mudanças ao
longo de um extenso período de tempo, como geralmente é realizado nas
arqueologias de períodos mais remotos, o que é, no entanto, compensado pelo ritmo
de desenvolvimento tecnológico extraordinariamente rápido desses dois últimos
séculos, em comparação com o ocorrido em qualquer outro período do passado.
26
O objeto das pesquisas da Arqueologia Industrial situa-se, cronologicamente,
a partir da segunda metade do século XVIII; conseqüentemente, trabalha com um
espaço de tempo mais exíguo, no qual existe, porém, uma enorme gama de
documentos escritos e iconográficos, que são válidos, mas complementares, nunca
substituindo as evidências arqueológicas na interpretação da cultura material das
sociedades que passaram pelo processo da industrialização.
HUDSON, 1998, um dos importantes teóricos da Arqueologia Industrial,
apresenta uma definição concisa do que seria a disciplina: a descoberta, registro e
estudo dos resíduos físicos da indústria e meios de comunicação do passado.
27
A arqueologia industrial deve investigar todos os vestígios ou
remanescentes do passado, que o aproximem ao máximo das
atividades e das técnicas desenvolvidas pelo e para o homem,
utilizando vários métodos para situá-las no tempo e no espaço.
28
(PRADAYROL, 1985)
26
PALMER, Marilyn. Industrial archaeology: a thematic or a period discipline? In Antiquity, Cambridge,
64 (243), 1990, p.281.
27
HUDSON Keneth, Apud KÜHL, B.N. Arquitetura do ferro e Arquitetura Ferroviária em São Paulo:
Reflexões sobre a sua preservação. São Paulo, Ed. Ateliê, 1998.
28
PRADAYROL, Jacques. Les Chemins de Fer Touristiques Pionniers de L’Árchéologie Industrielle en
France. In Cenférence Internationale de Lyon-Grenoble, Éditions du Centre National de La
Recherche Scientifique, Paris, 1985, p.79.
29
PINARD, Jacques. L’archéologie industrielle. Presses Universitaires de France, Paris, 1985, p.6.
25
Portanto, não busca apenas retratar a história econômica e social de toda
uma região ou de um país, a partir de documentos materiais descobertos através de
pesquisas de exploração em superfície ou de escavações, mas, reencontrar as
circunstâncias materiais e técnicas que estão na origem de uma fábrica, na
montagem de uma máquina ou na construção de um estabelecimento, dos
equipamentos coletivos, que marcaram a vida de seus contemporâneos e, em
seguida, pesquisar as conseqüências que esses “acontecimentos” tiveram sobre
todos os dados do ambiente de uma população ou grupo social.
29
O abastecimento de água e toda sua estrutura como, por exemplo, açudes,
comportas, barragens, aquedutos, adutoras, tubulações estão na categoria dos
chamados equipamentos coletivos.
Segundo Mendes, dessa vasta área também fazem parte o abastecimento e
distribuição de energia, estruturas relativas ao fornecimento de gêneros alimentícios
como mercados, armazéns e entrepostos; estabelecimentos das áreas de ensino e
da saúde e estruturas de lazer, como cinemas, teatros, parques de diversão,
estádios e outros.
30
Mais que uma história das ciências e das técnicas, a Arqueologia Industrial
procura reconstituir, a partir de elementos concretos, o espaço material e humano
que envolve uma sociedade, seu patrimônio industrial, que merece ser estudado e
preservado.
2.3 Questões de método
O objetivo da Arqueologia Industrial é a aproximação, em uma
dimensão mais concreta, dos estudos de história econômica, social,
das ciências e da tecnologia, baseia-se, sobretudo, nos artefatos,
documentos de arquivos escritos e iconográficos e, da mesma forma,
nos relevos topográficos e arquiteturais. Fundamentada sobre a
multidisciplinaridade, utiliza as ciências do homem, como a
arquitetura e a engenharia, incluindo expressamente todos os
documentos e testemunhos pertencentes a essas disciplinas.
31
(TROTTIER, 1987)
30
MENDES, José M. Amado. Património Industrial: um bem da comunidade ao alcance da escola. In
Revista Munda nº 16, EditoraGAAC, Coimbra, 1988.
31
TROTTIER, Louise. patrimoine Industriel au Québec. Éd. Commission des biens cullturels du
Québec, Canadá, 1987, p.15.
26
A Arqueologia Industrial, no estudo da cultura material, proporciona uma visão
mais abrangente dos aspectos da produção, reprodução, distribuição e consumo de
bens do sistema capitalista e as condições em que foram realizadas; portanto, com
sua metodologia, analisa e interpreta, a partir dessas evidências materiais, as
mudanças sociais, econômicas e culturais decorrentes do crescimento da
organização capitalista na indústria.
Essa evolução, aumenta o número de temáticas a serem investigadas,
ampliam-se as questões, fazem-se novas interrogações no campo da cultura
material, definida por GLASSIE, 1998, “como aqueles segmentos da aprendizagem
humana que proporcionam ao indivíduo planos, métodos e razões para produzir
coisas que se podem ver e tocar”
32
, e que vem sendo progressivamente
investigados e valorizados pela pesquisa, em vários domínios.
Para BRAUDEL, 1998, nossa sociedade pode ser definida, como a sociedade
da “civilização material.”
33
“Escusado será dizer que no estudo destas, como de outras temáticas, a
arqueologia industrial pode prestar um excelente auxílio, especialmente no que toca
à utilização de fontes materiais, com as quais está inteiramente relacionada”.
34
Através de técnicas arqueológicas de resgate e documentação da cultura
material, é que se pode pensar em salvaguardar e valorizar a herança industrial.
Para JORGE, 1987, a unidade informativa básica da Arqueologia advirá do
estudo de áreas pesquisadas segundo seus dois vetores principais: diacrônico e
espacial.
35
Seu objeto de estudo deve ser contextualizado no campo da História Social e
da Tecnologia, definindo-se a Arqueologia Industrial, segundo BUCHANAN, “como
matéria de equilíbrio entre a teoria e a prática das pesquisas que são ou deveriam
ser complementares e não opostas entre teóricos ou historiadores e práticos ou
32
MENDES, J. Amado. Apud, Construção Civil e Patrimônio Industrial. Revista Mundo, Editora
Tipografia Comercial Coimbra, Coimbra, 1983, p.35.
33
BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo. Ed.Martins Fontes, São Paulo,
1998.
34
MENDES, José Amado. A Arqueologia Industrial ao serviço da história local. In Revista de
Guimarães, nº 105, Guimarães, 1995, p.236.
35
JORGE, Vitor Oliveira. Projectar o Passado. Ensaios sobre Arqueologia e Pré-História. Ed.
Presença, Lisboa, 1987, p.75.
27
arqueólogos”.
36
Hodder, corrobora com essa assertiva, quando afirma que a
Arqueologia deveria restabelecer seus laços tradicionais com a História.
37
Segundo Pradayrol, 1985, l’archéologie industrielle doit préserver un mélange
indissociable de techniques, de méthodes, et de matériels, faits par l’homme et pour
l’homme.
38
A Arqueologia Industrial no estudo de toda evidência, material ou imaterial, de
documentos, artefatos, estratigrafia e estruturas, assentamentos humanos em
terrenos naturais e urbanos, criados por processos industriais ou para eles, faz uso
dos métodos de investigação/pesquisa mais adequados para melhor entender o
passado e o presente industriais.
39
Por outro lado, sua metodologia não adota a escavação, como técnica de
investigação, seus estudos se baseiam em pesquisas de superfície, em fontes
documentais, vestígios de antigos maquinários, imóveis fabrís e nos equipamentos
coletivos das sociedades industrializadas.
Sua variante metodológica aplicada a um tema específico, a indústria, utiliza
como fontes essenciais e primárias os vestígios materiais que a história não
pesquisa. Portanto, respaldada nos métodos arqueológicos de levantamento em
campo, analisa o patrimônio industrial, em seu sentido lato, suas características
funcionais desde sua origem e todas as transformações por ele sofridas. Pesquisa o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de processos tecnológicos, inserindo-os em seu
contexto espaço-tempo, ao estudar as estruturas fabris, às vezes desaparecidas,
ampliações e reduções da edificação, segundo a necessidade de cada época,
materiais empregados, instrumentos, ferramentas e técnicas utilizadas.
36
BUCHANAN, Robert Angus. The Definition of Industrial Archeology in L'Étude et la Mise en valeur
du Patrimoine Industriel. Conférence internationale Lyon, Grenoble, Ed. du Centre National de la
Recherche Scientifique , Paris, 1985, p.87.
37
HODDER, Ian. Interpretación En Arqueología.Corrientes Acutales. Ed. Crítica, Barcelona, 1994,
p.93.
38
PRADAYROL, Jacques.”Les chemins de Fer Touristiques”. Pionniers de L’Archéologie Industrielle
en France. In L'Étude et la Mise en valeur du Patrimoine Industriel. 4º Conférence internationale Lyon,
Grenoble, Ed. du Centre National de la Recherche Scientifique , Paris, 1985, p.79.
39
Carta de Nizhny Tagil de 2003, sobre o Patrimônio Industrial, elaborada pelo TICCIH (The
International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage, O TICCIH, é a organização
mundial encarregada do patrimônio industrial, e assessor especial de ICOMOS nessas questões. O
texto desta carta foi aprovado pelos delegados reunidos na Assembléia Nacional do TICCIH, de
caráter trienal, que teve lugar em Moscou a 17 de julho de 2003. No Brasil, a seção nacional deste
Comitê, foi inaugurada em Novembro de 2004, na UNICAMP – Campinas - São Paulo.
28
Uma vez que a Arqueologia Industrial é o estudo dos vestígios
remanescentes do passado industrial, the fieldwork is essentially an outdoor activity,
can comprise locating, inspection, interpreting, surveying and measuring, and
photographing or sketching industrial sites and structures. It is complementary to
documentary work which in some cases might precede fieldwork, or in other
instances follow it.
40
A muldisciplinaridade de que faz uso a Arqueologia Industrial se imbrica e
realiza sua síntese utilizando, portanto, o aporte de outras ciências como a geografia
física e econômica, a química, a física, o direito, a história social, econômica, do
trabalho, das ciências, da cnica, da engenharia, da arte, da arquitetura, das
cidades e outras e, por esse motivo, o estudo do mecanismo de interpretação de
disciplinas, algumas vezes afastadas umas das outras, se restringe ao ponto de vista
prático e metodológico da investigação.
Complementa-se o trabalho de campo, com a consulta a outras fontes, como
documentos escritos e iconográficos que incluem: atos oficiais, decretos e leis,
relatórios de órgãos públicos do poder Executivo, catálogos, correspondência interna
das empresas, atas de assembléia, manuscritos, projetos de invenções, anuários
estatísticos, propagandas, estatutos societários (contratos), solicitação e registro de
patentes, plantas, mapas, croquis, desenhos, telas, fotografias, e outros.
Tais fontes podem ser encontradas nos arquivos públicos, porém, parte dessa
documentação ainda está em mãos de particulares, cujo acesso depende da postura
dos proprietários com relação à sua salvaguarda.
Completa-se o estudo, com a pesquisa em jornais, revistas técnicas,
microfilmagens, biografias, teses, visitas a museus, cujo acervo preserva
ferramentas, antigas máquinas, veículos, moldes de artefatos industriais, desenhos,
artes e ofícios, filmes e vídeos, que documentam um processo ou uma técnica de
produção já desaparecidos, além do inquérito oral.
41
A metodologia compreende a investigação e a análise de tipo do monumento
ou estrutura em uma perspectiva regional e nacional, diacrônica e espacial e o
estudo de seus aspectos tecnológicos, econômicos ou humanos. Ambas as
estratégias metodológicas envolvem pesquisas em vários tipos de fontes, que se
40
JONES, William. Dictionary of Industrial Archaeology. 2ºed., Sutton Publishing. London, U.K., 2006,
p.136.
41
PANNELL, J.P.M. The Techniques of Industrial Archaeology. Ed. by J.Kenneth Major. Great Britain.,
1974.
29
complementam, mas cujo resultado final está relacionado com o exame, estudo,
observação e avaliação dos vestígios materiais.
O arqueólogo industrial trabalha, como qualquer outro arqueólogo,
com evidências de campo e, para efeito desta tese, respaldados nos
autores anteriormente citados, conciliou-se o método arqueológico de
campo - pesquisa, estudo e registro, com a vertente histórica da
interpretação das fontes materiais e documentais que se
encontravam disponíveis, de forma a reconstituir uma visão
panorâmica da infra-estrutura do abastecimento de água na cidade
de São Paulo, no final do século XIX e início do XX.
42
(BUCHANAN,
1985)
Por intervenção arqueológica não deve se entender apenas a prospecção no
subsolo.
(...) a arqueologia não tem um único método, mas vários; e a
arqueologia industrial, como arqueologia que é, tem apenas a marcá-
la a diferença de muitos dos seus vestígios se encontrarem à
superfície, dispensando assim, na maioria dos casos, a utilização de
técnicas de escavação.
43
(RIBEIRO, 1990)
A investigação arqueológica dos tios se processou em três níveis: o
construído, o lugar e o território, com a análise e avaliação do patrimônio para o
esclarecimento e a compreensão desses equipamentos coletivos industriais do
passado, consistindo na pesquisa dos vestígios de superfície que, ao serem
investigados, permitiram extrair informação elucidativa acerca dos tipos de materiais
empregados e sua evolução à luz da seqüência lógica do devir temporal.
44
Ao contrário de vestígios arqueológicos de estruturas menos visíveis, o
conjunto das edificações, objeto deste estudo, inserido na paisagem, não exigiu
42
BUCHANAN, Robert Angus. The Definition of Industrial Archeology in L'Étude et la Mise en valeur
du Patrimoine Industriel. Conférence internationale Lyon, Grenoble, Ed. du Centre National de la
Recherche Scientifique , Paris, 1985, p.86.
43
RIBEIRO, Isabel e SANTOS, Luísa. A indústria do papel na perspectiva da Arqueologia Industrial.
In I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Editora Coimbra, Coimbra, 1990, p. 485.
44
Segundo Engels “para a dialética não nada de definitivo, de absoluto, de sagrado; apresenta a
caducidade de todas as coisas e em todas as coisas e, para ela, nada existe além do processo
ininterrupto do devir e do transitório. Nada é sagrado significa que nada é imutável, que nada escapa
ao movimento, à mudança. Devir expressa que tudo tem uma ‘história’”. ENGELS, Friedrich apud
LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica, São Paulo, ed Atlas, 1991, p.103.
30
trabalho de escavação. Para descrição e localização geográfica do sítio industrial,
utilizou-se cartas topográficas, hidrográficas antigas e atuais, fotografias de satélite e
aéreas para georeferenciá-lo. Foram feitas, também em campo, medições nas
construções, levantamento fotográfico do sistema construtivo e a análise de seu
estado atual, de materiais e tecnologia utilizados em sua construção, acréscimos e
modificações que sofreram por ações antrópicas ou não, e também, comparações
com outras estruturas similares.
Portanto, é no trabalho de campo que reside a grande força das técnicas de
investigação da Arqueologia Industrial. A análise do vestígio material deverá ser a
mais detalhada e minuciosa possível, com a elaboração de fichas de inventário com
vista ao estabelecimento de um diagnóstico para a compreensão de sua situação
atual, fornecendo as bases que possibilitem avaliar o objeto de estudo durante seu
período de vida.
Equipamento coletivo, o abastecimento de água, é também considerado obra
pública e, segundo Ordónez, 1990, “desde tiempo immemorial, por medio de las
Obras Públicas, el hombre configura el espacio y se apropía de él, lo señala y
significa creando um lugar em sentido heideggeriano. Em effecto, las Obras
Públicas no son solo monnumentos aislados em la naturaleza, sino que forman um
tejido que soporta y hace posibles las relaciones sociales, y tienen um valor
arqueológico, simbólico, estético, histórico, tecnológico y funcional que nos obligan a
uma preservación inteligente”.
45
Para a interpretação dos vestígios do abastecimento de água, foi necessário
um levantamento dos arquivos blicos e privados, a fim de que o estudo pudesse
ser elaborado de forma mais precisa e sistemática possível, para sua
contextualização no espaço e no tempo, o que permitiu um maior conhecimento das
técnicas, processos e métodos de trabalho empregados.
45
ORDÓNEZ, José Antonio Fernández. “Informe sobre la situación de la Arqueología Industrial y el
Patrimonio de Obras Públicas en los países europeos del Mediterráneo y propuestas de acciojnes a
emprender para su conservación y reutilización”, In Mercedes Lopez Garcia. La Obra Publica,
Investigacion y Practica. I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Vol.II, Ed. Coimbra,
Coimbra, 1990, p.281.
31
A arqueologia industrial deve seguir os preceitos do pós-
processualismo, exercitando constantemente a compreensão da
interação do passado no presente entre indivíduos e sociedades e a
cultura material que as produziu e as envolve, de acordo com Ian
Hodder.
46
(JAUME, 2004)
Portanto, sendo sua maior interface com a História, no estudo da cultura
material das sociedades industrializadas, associa os métodos arqueológicos aos
históricos regressivo, progressivo e comparativo.
O método regressivo, importante auxiliar na Arqueologia Industrial, assenta
suas bases no procedimento regressivo que havia sido aplicado às presenças
agrárias na França por Marc Bloch, em 1935.
47
Segundo Custódio, utilizando este
método, “o arqueólogo industrial tem apenas que saber interpretar os dados
fornecidos pelas presenças físicas que se encontram no terreno e delas fazer o
instrumento de clarificação do lugar”.
48
O método regressivo, partindo de um presente que se oferece para um
passado pouco conhecido, constitui um tipo de investigação que se processa no
sentido inverso do tempo, ou seja, tal como nos diz MARCH BLOCH, 1935, (...) “só
está intacta a última película. Para reconstruir os vestígios apagados dos restantes é
forçoso primeiro desbobinar a película no sentido inverso das filmagens.”
49
Utilizando o método regressivo na análise dos vestígios industriais legados
durante esses últimos duzentos anos, partimos do presente para o passado,
estudando simultaneamente os gestos e os hábitos inerentes à atual sociedade
capitalista.
Percebemos a interligação com a Revolução Industrial, ou seja, a
mecanização dos nossos hábitos e a medição individual do tempo ligada ao modo
de produção, com a banalização dos bens e com a necessidade de substituição
46
JAUME, Valentines Alvarez. Arqueologia Industrial I Ecomuseografia a Les Universitats. El Cãs de
L’ETSEIB, In Quaderns d’Història de L’Enginyeria. Vol. VI, Barcelona, 2004, p.140.
47
BLOCH, Marc. Caractéres Originaux de L’Histoire Rurale Française. Paris, 1935, p.86.
48
CUSTÓDIO, Jorge. Método Comparativo e Método Regressivo na Detecção do Moinho Gigante do
Barão do Sobral erigido no Barreiro. In I Encontro Nacional sobre o Património Industrial, Editora
Coimbra, vol. II, 1990, p.744.
49
HENRIQUES, Isabel. A Fábrica da Companhia de Cerâmica de Telheiras. Algumas questões de
método. In I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Ed.Coimbra, Coimbra, 1990, p.211.
32
constante dos produtos, cada vez mais diversos e condicionantes da mutação do
nosso cotidiano.
50
O método comparativo, de larga aplicação nas vários ramos das ciências,
realiza analogias, tendentes a apontar as similitudes e explicar as divergências.
Permite, uma análise das técnicas, e da tecnologia empregadas em outras
realidades, e em outros momentos históricos, estudando os meios que o homem
descobriu e utilizou para melhorar as condições de sua existência: as circunstâncias
da invenção, sua transmissão coletiva e as relações entre ciência e técnica.
51
Esse método, segundo Custódio
52
, deve ser utilizado para se estabelecerem
os paralelos tecnológicos do objeto em estudo, sendo possível levar mais longe o
diagnóstico, no sentido de proporcionar uma maior compreensão das relações que
se estabelecem entre história, indústria, técnica e cultura.
A aplicação simultânea dos métodos comparativo e regressivo deve ser
acompanhada da pesquisa e do estudo de documentos escritos e iconográficos.
Quanto maior for o leque de informações que se possa recolher sobre o objeto em
análise, tanto mais acurada poderá ser sua interpretação.
A partir desse momento, propõe-se a utilização do método progressivo,
53
isto
é, volta-se ao presente, a partir do passado decifrado, compreendendo-se, enfim,
o tempo em que se altera a própria história, nesse espaço em transformação, que é
a cidade de São Paulo do final do século XIX e começo do XX, despontando para
uma metrópole industrial onde, de acordo com o método de Lefebvre, existem três
espacialidades: a primeira, da localidade (rural); a segunda, do bairro (industrial) e a
terceira, da porção imersa na metrópole (serviços).
54
Portanto, nessa trialética, passado, presente e futuro, se delineiam os
caminhos da mudança, atribuindo-se à industrialização fator de importância capital
nas reformulações tecnológica, econômica, social e filosófica das sociedades
modernas.
50
FOLGADO, Deolinda. Instituto Português do Património Arquitectónico: Inventário do Património
Industrial. In Património Edificado.Novas Tecnologias.Inventários.Editora do Instituto Açoriano de
Cultura. Angra do Heroísmo, 2002, p.215.
51
DUMAS, Maurice, apud ANDRIEUX, Jean-Ýves. Que sais-je? Le Patrimoine Industriel. Presses.
Universitaires de France, Paris, France, 1992, p.105.
52
CUSTÓDIO, Jorge. Método Comparativo e Método Regressivo na detecção do Moinho Gigante do
Barão do Sobral, erigido no Barreiro. In I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Vol II,
Editora Coimbra, Coimbra, 1990, p.745.
53
LEFÈBVRE, Henry. De lo Rural a lo Urbano. Ed. Península, Barcelona, 1978, p.2.
54
LEFÉBVRE, Henry. A Revolução Urbana. Ed. UFMG, Belo Horizonte, 2004, p.44/445.
33
Podemos entender a Arqueologia Industrial como um elo que nos liga ao
passado e, simultaneamente, nos projeta no futuro, tornando o arqueólogo industrial
um personagem interveniente, com papel ativo a desempenhar nos quadros da
sociedade atual.
55
55
RIBEIRO, Isabel e SANTOS, Luísa. A indústria do papel na perspectiva da Arqueologia Industrial.
In I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Editora Coimbra, Coimbra, 1990, p. 485.
34
3. GESTÃO DAS ÁGUAS NA SERRA DA CANTAREIRA NO SÉCULO XIX
Áreas desapropriadas para o abastecimento de água, com destaque em verde.
No mapa acima: Serra da Cantareira, origem do Parque Estadual da Cantareira e,
abaixo, a Bacia hidrográfica do Ypiranga, atual Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.
35
Atualmente a Gestão das Águas é definida como o:
Conjunto de procedimentos organizados no sentido de solucionar os
problemas referentes ao uso e ao controle dos recursos hídricos. O
objetivo da gestão é atender, dentro das limitações econômicas e
ambientais e respeitando os princípios de justiça social, à demanda
de água pela sociedade com uma disponibilidade limitada”.
56
(CAMPOS, 2003)
Porém, o modelo da “gestão das águas” vigente no século XIX, se por um
lado se preocupava com a preservação ambiental, desapropriando os terrenos onde
se situavam as nascentes a serem captadas, por outro, não estava baseado em
justiça social e não contava com a participação popular nas decisões, dentro da
visão de uma sociedade autoritária, elitista, ainda agro-exportadora, cujos
acanhados horizontes políticos, o permitiam alcançar a extensão da importância
que a água representava, como um bem que deveria ser garantido, a todos os
habitantes da Paulicéia.
A pesquisa, procurou relatar as funções que foram desempenhadas pela
administração pública, com sua forte intervenção, no desenvolvimento e
gerenciamento dos recursos hídricos na Serra da Cantareira, justificada pelas
características das atividades de um setor que lidava com um bem público, a água.
Para tanto, foi necessário o resgate histórico dos instrumentos utilizados na
demanda da água, as medidas conjunturais, e as intervenções diretas realizadas
com a atuação de outros segmentos da sociedade paulistana, como era o caso da
Companhia Cantareira, os aspectos técnicos, os condicionantes políticos e
econômicos que foram de fundamental importância para a estrutura do
abastecimento de água daquele período.
Até a segunda metade do século XIX, a capital paulista apresentava um
aspecto de cidadezinha provinciana, e uma precária situação financeira, que
obrigava a edilidade a recorrer aos cofres do governo provincial
57
para a realização
das necessárias e urgentes obras de infra-estrutura, de uma cidade em busca do
surto de progresso político, econômico, cultural, social, demográfico e urbano,
56
CAMPOS, Nilson et all. Gestão das Águas.Princípios e Práticas. Ed. da Associação Brasileira de
Recursos Hídricos. Porto Alegre, 2003, p.45.
57
Nessa época o Presidente da Província era o responsável pela capital. Não havia o cargo de
prefeito, criado apenas em 1898, sendo seu primeiro ocupante o Conselheiro Antonio da Silva Prado;
separam-se, então,a esfera Estadual da Municipal.
36
incentivada pelos adventos do complexo cafeeiro, da construção da estrada de ferro
Santos-Jundiaí (1867) e do afluxo de imigrantes europeus.
Com relação ao saneamento, o auxílio das rendas da Província, tornou
possível a multiplicação de tanques e chafarizes, sua contribuição, porém, sempre
foi insuficiente, para amenizar o grave problema do abastecimento de água, a uma
população que com seu natural crescimento, sentia, em proporção equivalente, a
escassez do quido, sendo obrigada, para dessedentar-se, a recorrer às
suspeitíssimas águas do Tamanduateí, oferecidas pelos “aguadeiros”, de porta em
porta, em pipas puxadas por burros, por preços que variavam de 40 a 80 réis o barril
de 20 litros. O alvo, de tão próspero comércio, eram as famílias que não possuíam
escravos para buscar água nas fontes.
Em 1852, o Presidente da Província de São Paulo, encarregou uma comissão
de engenheiros para procurar novos mananciais de água ao redor da cidade. Os
estudos apontaram as fontes do Pacaembu, e as águas na Serra da Cantareira,
como solução para o abastecimento.
58
Em abril desse ano, a comissão concluiu que
embora mais próximas, a pequena quantidade de água inviabilizava as fontes do
Pacaembu. Porém, as águas potáveis que nascem nas vertentes da Cantareira, com
regime fluvial intermitente, devido a sua abundância, seriam a solução definitiva para
a cidade.
59
“O Conselho d’Engenheiros commetteu aos engenheiros Porfirio de Lima, e
C. A. Bresser os exames necessários para se reconhecer a possibilidade de se
encanar as agoas da Cantareira.”
60
Em 1855, José Antonio Saraiva, chefe do Executivo paulista, propõe que as
obras sejam feitas por uma empresa privada: “Se com essa despeza se podesse
conseguir trazer a Capital, as águas da Cantareira certamente vos aconselharia, que
58
Relatório referente ao discurso do Sr José Thomaz Nabuco d’Araujo, Presidente da Provincia de
São Paulo abrindo a Assembléia Legislativa Provincial no dia de maio de 1852. Typ.do Governo
arrendada or Antonio Louzada Antunes.São Paulo, p. 2 e p.52
59
Relatório referente ao discurso do Sr José Antonio Saraiva, Presidente da Província de São Paulo,
na Assembleia Provincial no dia 15 de fevereiro de 1855.Typographia 2 de Dezembro de Antonio
Louzada Antunes, São Paulo,p. 32,33
60
Relatório geral das obras publicas apresentado pelo Conselho d’Engenheiros, em 20 de março de
1852 em cumprimento ao § do Art do Regulamento de 04 de Outubro de 1851. Acervo do
Arquivo do Estado de São Paulo, Setor de Manuscritos Obras Publicas, Anos de 1850 a 1855, Caixa
14, Ordem 5151, Doc C14 P3 93 A. A Comissão era formada por Henrique de Beaurefair Rohan, Luiz
José Monteiro, José Jacques da Costa Ourique, José Porfirio de Lima, H Bastide, Carlos Abraão
Bresser e Mariano Gonçalves Gomide
37
tratasseis de auxiliar a organisação de uma companhia, que fizesse desse
encanamento uma empresa particular.”
61
Com base nos pareceres da Comissão de Engenheiros, a Assembléia
Legislativa promulga a Lei 29 de 08 de abril de 1857, autorizando o Governo a
contratar com Achilles Martin d’Estadens
62
o encanamento das águas dos ribeirões
na Serra da Cantareira com a condição de fornecer cem mil medidas de água por dia
para um reservatório que deveria ser construído na Consolação, com encanamentos
de ferro laminados, revestidos com betume, com duas polegadas de diâmetro. As
autoridades ficariam com os encargos da desapropriação dos terrenos particulares
por onde passaria a canalização.
63
Porém, como as obras o tiveram início, o Presidente da Província
sancionou a Lei 27 de 11 de maio de 1859, que alterava o artigo da Lei
29/1857:
“Artigo 25 ……………………………………………………………………….
§ O Governo contractará o encanamento das agoas da Cantareira com
quem melhores vantagens offerecer, autorizando a ampliar o systema n’essa lei
approvado.”
64
Todavia, a maior polêmica se estabeleceu com relação ao inciso 2º, que
determinava que as obras ficariam sob a inspeção do governo provincial, e que a
Câmara Municipal deveria arcar com dois terços dos recursos e a província com um
terço, mas, permitia que a edilidade pudesse contrair empréstimos e ainda vender
antecipadamente as penas d’água aos interessados. O que chama a atenção nessa
documentação
65
, é que o debate fica circunscrito apenas ao inciso primeiro,
61
Relatório referente ao discurso do Sr José Antonio Saraiva, Presidente da Província de São Paulo,
na Assembleia Provincial no dia 15 de fevereiro de 1855.Typographia 2 de Dezembro de Antonio
Louzada Antunes, São Paulo,p. 32,33
62
Na documentação legal é tratado apenas como contratador. O francês Achille Martin d’Estadens é
citado por Eudes Campos, como empreiteiro de obras públicas, no artigo “São Paulo:
desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império” in História da Cidade de São Paulo A cidade
no Império 1823 – 1889, Ed Paz e Terra, São Paulo, p. 206.
63
SÃO PAULO. Collecção de Leis da Assembléia Legislativa Provincial do ano de 1857, Typografia
Dous de Dezembro de Antonio Louzada Antunes, 1857, p.17.
64
SÃO PAULO. Colecção de Leis da Assembléia Legislativa Provincial do ano de 1859, Typografia
Dous de Dezembro de Antonio Louzada Antunes, 1859, p.80.
65
A documentação está arquivada no Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São
Paulo. Foram consultadas as Atas da Câmara Municipal e a coleção de Leis e Decretos onde se pode
observar acirrados debates entre os dois poderes, o provincial e o municipal.
38
passando despercebido o 7º: “Depois de concluída a obra, os lucros que houverem
das pennas vendidas serão divididos entre a Província e a Câmara Municipal”.
66
O custo para implantação de uma inovação técnica, exerce uma influência no
sentido inversamente proporcional à sua introdução. Em geral, quanto maior o seu
custo, maior a dificuldade para sua inserção.
Um ano depois, a Câmara Municipal, ainda reclamando do inciso primeiro do
artigo 25 da Lei 27 de 11 de Maio de 1859, resolve angariar recursos vendendo
antecipadamente a instalação de penas d’água, concluindo que não seria possível
obter o capital necessário para as obras.
Desde 1857, a edilidade acreditava que o único sistema confiável para a
adução das águas, seria o emprego de encanamentos revestidos internamente com
uma camada de porcelana vitrificada, para impedir a oxidação e vedar o contato das
águas com o ferro, sistema conhecido como Chameroy
67
o que elevava o custo do
empreendimento.
O Secretário de Obras Públicas, no relatório enviado em 1862, critica essa
exigência, argumentando que não tinham consistência os projetos apresentados,
pela ausência de uma planta topográfica da cidade, que orientasse os engenheiros
para os tipos de encanamentos que deveriam ser empregados, e os recursos
necessários para que tal investimento desse bons resultados.
“Bem avizadas andarão as Provincias de Pernambuco e Alagoas, que fizerão
ir as respectivas localidades estudar todos os accidentes do terreno e todas as
condições da obra os distintos engenheiros, e só depois de levantada a planta e feito
o competente orçamento, emprehenderão e levarão a effeito com o melhor successo
o encanamento de agoas para as suas respectivas Capitáes.
Penso que deveis proceder com igual prudencia, autorisando o contracto com
um Engenheiro, reconhecidamente habilitado, que venha a Provincia fazer estes
estudos previos”.
68
Enquanto os debates prosseguiam, o jornal Correio Paulistano de 28 de
fevereiro de 1863, alertava que o quadro de carência permanecia inalterado:
66
SÃO PAULO. Colecção de Leis da Assembléia Legislativa Provincial do ano de 1859, Typografia
Dous de Dezembro de Antonio Louzada Antunes, 1859, p.80.
67
Relatório com que o Conselheiro Antonio José Henriques, Presidente da Província de São Paulo
abriu a Assembléia Legistiva Provincial no ano de 1861. Tip Imparcial, p.16
68
Relatório apresentado a Assembléia Legislativa da Província de São Paulo na Sessão da 14ª
Legislatura pelo Presidente da Província Dr João Jacintho de Mendonça,Typographia Imparcial, 1862,
p. 41.
39
“Todos os dias sentem-se mais a falta de agua nesta cidade.O actual
encanamento, além de defeituoso, o tem a capacidade precisa para conduzir as
aguas fornecidas pelas vertentes; os tubos, em si pequenos, tendem
continuadamente a obstruir-se pela argila que dissolvida na agua, vae-se
acumulando no interior delles, e d’aqui resulta que os chafarizes da cidade são cada
vez menos bem alimentados, e isto ao passo que o crescimento da população
desenvolve-se com extraordinaria rapidez”.
69
Ainda na mesma notícia temos:
“Várias propostas forão offerecidas à Presidencia para o encanamento das
aguas da Cantareira; estas propostas, mais ou menos onerosas à Província, forão-
vos todas apresentadas, e ainda não tiverão solução”
70
Nessa época, a população urbana era de aproximadamente vinte mil
habitantes e dispunha, a cada 24 horas, de 17.000 canadas
71
de água que
equivalem a 45.254 litros, cerca de um pouco mais de 2 litros per capta.
72
Entre as duas décadas de 1850 e 1870, pode-se notar os primeiros sintomas
de mudança na mentalidade paulistana, conservadora, que se obrigada a aceitar
os desafios, daqueles que tentavam fazer de o Paulo uma “urbe eficiente”. Tem
início a preparação da cidade capitalista: setores de sua elite, impregnados agora
pela visão mecanicista, própria do progressismo burguês, com empenho
reivindicavam melhorias urbanas. Procuravam entronizar em seu mundo, uma ordem
geral, que correspondia à lógica da mercadoria, realizada em escala mundial pelo
capitalismo e pela burguesia.
As autoridades, catalisando esses anseios e desconsiderando a “tecnologia
implícita”
73
de nossos técnicos, decidem entrar em contato com o Superintendente
69
Correio Paulistano, nº2335, de 28 de Fevereiro de 1864, p.02
70
Ibidem p.02
71
Uma canada é igual a 2,662 litros.O sistema de pesos e medidas usado naquele período foi
substituído pelo sistema métrico francês pela Lei 1157 de 26 de junho de 1862.in Brasil, Leis e
Decretos, Lei 1.157 de 26 de junho de 1862. Substitue em todo o Imperio o actaual systema de
pesos e medidas pelo systema metrico francez.
72
JORGE, Clóvis de Athayde. Consolação uma reportagem histórica, Departamento do Patrimônio
Histórico. Divisão do Arquivo histórico, Divisão Gráfica Municipal, São Paulo, s/data, pp 98.
73
Termo usado por Milton Vargas ao discutir o conceito de tecnologia de Victor Freire, que foi
professor, em 1893, do Curso de Engenharia Civil da Politécnica, quando este chama a atenção para
o fato de que a obra de engenharia deveria subordinar-se às condições de ser “resistente” e
“duradoura”, o que se conseguiria pela obediência, por parte do empreiteiro, às “especificações da
obra”, as quais deveriam compreender sete itens por ele enumerados. Os dois primeiros
correspondem a conhecimentos adquiridos pelo engenheiro nas escolas de engenharia. Diz ele: “a
técnica especial e a respectiva tecnologia constitui o assunto de cadeiras separadas, que figuram no
programa das escolas de engenharia”. Para Vargas, aqui aparece o que ele chama de “tecnologia
40
da Companhia de Estradas de Ferro, para que mandasse vir de Londres um
engenheiro capaz de executar um plano de obras.
Em 1863, foi indicado o inglês, James Brunless, presidente do Instituto de
Engenheiros Civis de Londres, que também seria contratado para a construção da
estrada de ferro da São Paulo Railway, tendo sido o autor em 1865, do viaduto da
Grota Funda na Serra do Mar, uma das obras mais brilhantes do complexo
ferroviário paulista, sendo executada totalmente em ferro, uma revolução para a
provinciana São Paulo daquela época.
A instalação da ferrovia, ligando o interior da Província ao porto de Santos,
passando pela capital paulistana, solucionou o problema do escoamento da
produção cafeeira. Sua construção atraiu grande número de engenheiros
estrangeiros e vários desses profissionais acabaram se envolvendo em outras obras
realizadas na cidade.
Em 1864, Brunless, auxiliado por seus colegas Hooper e Daniel
Mackinson Fox, funcionários da São Paulo Railway, apresentaram
um relatório favorável à adução das águas do ribeirão da Pedra
Branca, na Serra da Cantareira, uma vez que satisfazia os requisitos
de qualidade e quantidade
74
. (FREITAS, 1929)
Sem os recursos financeiros necessários, esse projeto, assim como os
anteriores apresentados em outras ocasiões, foi abandonado e o fornecimento
continuou calamitoso, no momento em que a explosão demográfica começava a
atingir um ritmo vertiginoso.
Em 1866, o Poder Executivo sanciona outra lei, a de 72 de 20 de maio,
onde o coronel Joaquim Floriano de Toledo, que assinava como Oficial da Ordem da
Rosa, Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro e de Cristo, fazia saber aos habitantes:
“Artigo O governo fica autorizado à contractar, com quem mais vantagens
offerecer, o encanamento das agoas da Cantareira, sob as condições seguintes:
implícita” nos ensinamentos de engenharia se referindo às aplicações da ciência que são ensinadas
aos alunos das escolas de engenharia, com relação ao projeto e à construção dos vários ramos
dessa profissão.(grifo nosso). Os cinco itens seguintes que devem constituir as “especificações
incluem: qualidade de materiais, processos de construção da obra, ensaios de materiais da própria
obra e condições de preço, prazo e processos de litígio. Isso seria, segundo ele, a “esfera de ação
que se denomina tecnologia geral” in VARGAS, Milton.Org. O início da pesquisa tecnológica no
Brasil. In História da Técnica e da Tecnologia no Brasil. São Paulo, Editora UNESP, 1994, p. 214.
74
FREITAS, Affonso A. de. Diccionario Historico, Topographico, Ethnographico Illustrado do
Município de São Paulo. Tomo I. SP: Graphica Paulista, 1929.p. 59.
41
§ O governo Provincial solicitará do geral, privilégio até cincoenta anno, em
favor da Companhia ou indivíduo com quem fizer contracto.
§ 2º ……………………………………………………………………………..
§ O Governo fica autorizado a comprar para os estabelecimentos públicos
da companhia ou contractador, a goa que precisar.
§ Fica igualmente autorizada a Câmara Municipal da Capital à comprar
agoa que precisar para os chafarizes públicos.
§ A Companhia ou contractador obrigar-se-há à dar gratuitamente, quatro
chafarizes, sendo dous para a Freguesia da Sé, e um para cada um das Freguesias
do Braz e Santa Ephigênia, maarcando os logares onde deverão elles ser postos.
Art. O governo não garante juros, e nem se compromette à dar subvenção
algum à Companhia ou Contractador.
Art. 3º Feito o contracto, pela forma marcada, o governo fica autorizado à
rescindir qualquer contracto existente segundo as condições de direito”.
75
Não
apareceu nenhum interessado.
O Conselheiro Saldanha Marinho, relata em 1868 com certo preconceito:
“Desde que me acho na administração desta Provincia recebo reclamações
para providenciar em bem deste melhoramento que é o abastecimento de agua
potável à Capital.
Na verdade os habitantes da Capital estão pessima e escassamente servidos
de agua.
Os mais ricos podem abastecer as suas casas empregando em tal serviço
escravos que assim distrahem quasi completamente de outras ocupações. Os outros
compram-na e por preço elevado; todos se queixam com razão de que não tem
agua, nem sufficiente, nem perfeitamente potável para seu uso.”
76
O Presidente da Província, Antonio Cândido da Rocha, em 1869, suspende
os recursos públicos destinados ao Inspetor de Obras que persistia na ampliação do
antigo tanque Municipal, de onde provinham as águas para a cidade.
Para ele, somente as águas do ribeirão da Pedra Branca, na Cantareira
poderiam solucionar a escassez no abastecimento, e propunha uma singularidade: a
75
SÃO PAULO. Collecção de leis da Assembléia Legislativa Provincial promulgadas no ano de 1866
e dos regulamentos expedidos para execução das mesmas. Typ. Imparcial de Azevedo Marques,
1866, pp 174,175.
76
Relatório apresentado a Assembléa Legislativa Provincial de São Paulo no dia 2 de Fevereiro de
1868 pelo Presidente da mesma Província o Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho.Typographia do
Ypiranga, 1868, p.81.
42
captação das águas do rio Tamanduateí, elevadas por meio de bombas a vapor,
para um reservatório com altura suficiente para que chegassem com pressão à rede
distribuidora.
77
Este projeto foi logo abandonado devido à impureza do rio e ao custo
da importação e manutenção dos equipamentos.
A Lei 102 de 30 de abril de 1870, que revogou a de nº72/1866 definia em seu
Art. “O governo da Provincia poderá, para levar a effeito tão importante
melhoramento, contrahir um empréstimo, ou emitir tíitulos no valor de 650:000$000
ao juro de 7 por cento ao anno.
Art. 3º …………………………………………………………………………….
Art. 4º …………………………………………………………………………….
Art 5º Fica outrossim creado um imposto predial de 5 por cento sobre o
aluguel das casas.
78
§ As casas que forem habitadas pelos proprietários, será arbitrado um
aluguel.
Art. 6º O governo poderá conceder licenças para a venda de água em
carroças ou por outro qualquer meio, mediante uma taxa anual de 50$000, não
podendo os concessionários cobrar mais de 40 is por 26 litros. Fica subentendido
que ninguém poderá vender água sem prévia licença, sob pena de incorrer numa
multa de 100$000, e o dobro na reincidência, devendo tais inspeções ser
processadas como as de posturas municipais.”
79
Essa lei, autorizava o governo a abrir concorrência para o abastecimento com
os mananciais da Cantareira e apresentava algumas novidades, como a criação de
um imposto para subsidiar essas obras, e deixava claro que o governo detinha o
monopólio das águas paulistanas, inclusive tabelando as águas fornecidas pelos
aguadeiros.
O Estado passa a atuar com mais rigor e intervencionismo nas relações com
os seus cidadãos, porém, de forma esparsa, mostrando a falta de uma visão mais
ousada e integral da cidade. As críticas a esse descompasso, vinham muitas vezes
da própria administração pública, como a do engenheiro João da Silva Coutinho e a
77
Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Povincial de São Paulo pelo Presidente da
Província Dr Antonio Candido da Rocha no dia 2 de fevereiro de 1870. Typographia Americana, 1870,
p. 49.
78
Esse imposto criado para auxiliar na captação de recursos para o abastecimento de água
continuou a ser cobrado mesmo quando as obras passaram para a iniciativa privada.
79
SÃO PAULO. Collecção de Leis e Posturas Municipaes promulgadas pela Assembléia Legislativa
Provincial, Typographia Americana, 1871, pp195,196.
43
do Inspetor Geral de Obras Públicas que alegavam não terem sido feitos estudos
profundos sobre os projetos de canalização, e que mesmo Brunless, contratado em
1864, nunca havia medido a capacidade do riacho da Pedra Branca, e mesmo
assim, prometia 60 litros diários por pessoa, para uma cidade de 50.000 habitantes.
80
Do ponto de vista tecnológico, deveriam ser vencidos mais de catorze
quilômetros de encanamentos, para trazer a água até o centro, e depois distribuí-la
aos usuários.
Durante o governo de João Teodoro, citado pelo historiador Eurípedes
Simões de Paula
81
, como sendo o responsável pela “segunda fundação da cidade
de São Paulo”, nada foi feito para resolver o grave problema de abastecimento de
água.
O seu sucessor, o Presidente da Província, Sebastião José Pereira, premido
entre a urgência das providências e a alegando escassez de recursos,
desconsidera a letra da lei, e sem concorrência pública ou parecer da Inspetoria de
Obras, assina em 09 de outubro de 1875, com o Coronel Antonio Prost Rodovalho, o
engenheiro Macckinson Fox e com o maior empreendedor imobiliário da Cidade, o
major Benedito Antônio da Silva, um contrato, com força de privilégio para abastecer
a cidade, utilizando-se de um sistema de canalização de água captada na Serra da
Cantareira.
Segundo Eudes Campos
82
, uma mentalidade burguesa valorizadora da
racionalidade, competência e eficiência passou a predominar nas obras
públicas provinciais a partir da administração de Sebastião José Pereira, com a
reorganização da Diretoria de Obras Públicas, e com a nomeação, para o cargo de
diretor, do engenheiro Elias Fausto Pacheco Jordão, primeiro paulista a se formar e
doutorar em Cornell (EUA).
Apesar da aura de eficiência que o cercava, e de não confundir o público com
o privado, tão comum em seus antecessores, sua escolha não recaiu em parâmetros
80
Assim como Milton Vargas, em História da Técnica e da Tecnologia no Brasil,ed Unesp, 1994,
podemos afirmar que essa discussão era característica da retórica que dominava os projetos daquela
época.
81
PAULA, Eurípides Simões de. A segunda fundação de São Paulo; da pequena cidade à grande
metrópole de hoje. São Paulo, Revista de História, ano V, nº 17, 1954, p.167.
82
CAMPOS, Eudes, São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império” in História da
cidade de São Paulo - A cidade no Império 1823-1889, Paz e Terra, São Paulo, 2004, p.215.
44
de competência, e sim porque, “são cavalheiros bem conhecidos como incapazes de
faltarem à palavra compromettida.”
83
No Relatório apresentado à Assembléia Legislativa, Sebastião JoPereira,
afirmava que seria utopia esperar que alguma empresa despendesse dinheiro para
distribuir gratuitamente água pelas ruas e praças da Capital e que “forçoso era
proporcionar-lhe meios de amortizar o capital dentro de certo período, de auferir
lucros razoáveis”.
84
Para ele, era indispensável tornar obrigatório o fornecimento de
água a todas as casas mediante cobrança, ou garantir direito exclusivo de vender
água a todos que tivessem necessidade de comprá-la.
“Na 1ª hipótese havia ônus para toda a população.
Na 2ª, limita-se a indústria de alguns indivíduos em benefício da sociedade;
os aguadeiros serão prejudicados; lucrava, porém, toda a população”.
85
A proposta correspondia a uma ideologia liberal, que aceitava a necessidade
da intervenção pública em algumas matérias específicas, porém, ainda, sem alterar
substancialmente o cotidiano da sociedade.
No entanto, as decisões que incidiam sobre as alterações na infra-estrutura,
dependiam da existência de um centro de poder, de hierarquias sociais eficazes, em
suma, de capacidade de coerção.
Percebemos a preocupação do Presidente da Província, em explicar que a
população teria acesso aos mananciais do entorno da cidade, aos poços, aos rios e
tanques existentes, porém, estava proibida de negociar água, deixando explícito
que não seriam mais admitidos os aguadeiros. Na época, circulavam denúncias de
que alguns vereadores eram os verdadeiros donos das carroças dos aguadeiros e
que por isso inviabilizavam qualquer medida que restringisse esta atividade.
A notícia do jornal Diário de São Paulo ilustra a afirmação anterior:
“… Acreditamos que não será para manter a pipa a “cento e vinte”, que dizem
ser do Sr. Capitão reintegrado, ex tenente coronel Osório, Presidente da Câmara e
outros que, além de venderem por bom preço, a 60 rs cada barril de seis medidas,
vendem espuma de sabão e infusão de todas as coisas que infectam o
83
Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Presidente
da Província Sr. Sebastião José Pereira, em 2 de Fevereiro de 1876,Typographia do
Diário,p.05.
84
Ibidem, p. 06
85
Ibidem, p. 06
45
Tamanduateí, onde a maior parte vai encher as pipas (!), segundo corre. E viva a
câmara! Um munícipe”.
86
As transformações pelas quais, em breve, passaria a cidade quando se
intensificasse a industrialização, não eram sentidas nesse momento, as autoridades
procuravam remediar cada problema em particular, seguindo os habituais caminhos
administrativos e imediatistas.
Observamos que as obras implicavam em recursos financeiros de que a
municipalidade ainda não dispunha, embora as rendas do município que entre 01 de
julho de 1863 a 30 de junho de 1864 eram de 27:504$000, tivessem aumentado
para 131:381$000 entre 01 de julho de 1877 a 30 de junho de 1878.
87
O Poder blico assinou vários contratos com distribuição de concessões e
privilégios, onde novos empresários se mostraram dispostos a explorar os rendosos
serviços urbanos, numa Capital quase desprovida de infraestrutura.
Os três capitalistas, citados, quando da assinatura do contrato, teriam o
monopólio da venda de água por um período de 70 anos e isenção nas taxas de
importação e de transporte dos materiais hidráulicos, em contrapartida, eram
obrigados a construir seis chafarizes públicos onde as águas seriam distribuídas
gratuitamente.
Para as condições da época, com um capitalismo ainda incipiente, uma obra
de grande vulto, como esta, nas mãos de particulares, exigia a contribuição de
outros investidores que se dispusessem a fundar uma empresa, com subscrição de
ações. O aumento do capital social era definido por um procedimento estatutário. Em
25 de junho de 1877, com a finalidade de colocar em prática o contrato de 1875, e
solucionar a questão do abastecimento, ou seja, 25 anos depois do primeiro projeto,
fundou-se a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos.
88
86
JORNAL DIÁRIO DE SÃO PAULO. São Paulo, 15/12/1868, nº 992, p.03.
87
AGUIRRA, João B. C. Vida Orçamentária de São Paulo, durante um século. In Revista do Arquivo
Municipal, São Paulo, 1934, vol II p 31.
88
Antônio Proost Rodovalho comprou a parte da sociedade que pertencia a Macckinson Fox e ao
Major Benedito Antônio da Silva. O presidente da Companhia era o Dr Clemente Falcão de Souza
Filho (também diretor da Estrada de Ferro Mogiana), e da diretoria faziam parte: o Barão de Três Rios
(Joaquim de Souza Aranha) e o Dr Raphael Aguiar Paes de Barros.
O capital da Companhia era de 2.200:000$000, divididos em 11.000 ações no valor de 200$000 rs
cada uma. O capital da empresa era quase a renda total da Província de São Paulo que entre 1876 e
1877 chegou a 2.070:721$000 e de 1877 a 1878 a 3.326:446$692. Com quase esta quantia foi
fundado em 1887 o Banco Comercial de São Paulo que tinha Capital de 2.000:000$000 e 10.000
ações, ainda a título de comparação, no mesmo ano foi fundado o Banco da Lavoura com
1.000:000$000 e 5.000 ações, segundo, PAULA, Eurípides Simões de. A segunda fundação de São
46
3.1 Companhia Cantareira
A empresa, em um de seus primeiros anúncios, divulgava:
(...) Constando água em abundância nas fraldas da serra
próxima, para as bandas do norte rumo ao Jaraguá, e dispondo-se a
recém-constituída sociedade a captar essa água dispersa, que rola
abaixo e vem desaguar, segundo parece, no Rio Tietê, denominemos
de COMPANHIA CANTAREIRA, isso porque a água deverá ser
primeiramente reunida nos grotões da serra a fim de que, canalizada,
seja trazida para a cidade. E como toda captação de qualquer
líquido, especialmente a água, se faz em cântaros, a sociedade
construirá tantas cantareiras ou reservatórios, quantos necessários
ao consumo da população.
89
(BRITTO, 1999)
No acordo bilateral, firmado ainda em 1875, entre o Governo da Província e a
Companhia, esta se obrigou a fazer o abastecimento como segue: “Tomando por
centro o largo da Sé seriam pontos da circunferência, para o lado da Luz, a vertente
da Cantareira; para o do Arouche, a Capella de Santa Cecília; para o da Consolação
o portão da chácara do major Benedicto Antonio da Silva, onde posteriormente foi
localizado o Reservatório chamado da Consolação; para o de Santo Amaro, a casa
de residência de João Antonio de Borba, na rua de Santo Amaro; para o lado da
Liberdade, 300 metros adeante do largo desse nome; para o da Gloria a ponte sobre
o rio do Lavapés; para o da Glória, a Ponte do Lavapés; para o da Tabatinguera, a
porteira da Estrada de Ferro Ingleza, no ponto em que ainda hoje a estrada
atravessa a rua da Moóca, e para o do Braz, a Estação da Estrada de Ferro do
Norte”.
90
Paulo; da pequena cidade à grande metrópole de hoje. São Paulo, Revista de História, ano V, 17,
1954, p.174.
89
BRITTO, E. São Paulo Tramway Tremembé, Ed. Prancom, São Paulo, 1999, p. 25.
90
Contrato celebrado entre o Governo da Província e o Coronel Antonio Proost Rodovalho; Major
Benedicto Antonio da Silva e o Engenheiro Daniel Mackinson Fox, para o encanamento das águas da
Cantareira e sua distribuição pelas ruas e praças desta Capital.
47
Planta cidade de São Paulo
48
Em 5 de novembro de 1878, a Companhia Cantareira contratou o engenheiro
inglês Henry Batson Joyner como superintendente técnico para o levantamento da
planta-cadastral da Cidade de São Paulo (1881); e para a construção de uma caixa
d’água coberta
91
, na Consolação (localizada na então chácara do Capão),
inaugurada em 12 de maio de 1881.
Este reservatório, destinado a abastecer diariamente a rede de encanamentos
distribuidores, estava dividido em dois compartimentos iguais, de 3.000 metros
cúbicos que deviam funcionar um, como reservatório de acumulação, e o outro de
distribuição.
Segundo Relatório de 1881, “As muralhas são construídas de alvenaria de
tijolo e se acham levantadas à altura de cerca de 1m,20 em todo o perímetro da
obra. Logo que esteja concluído o serviço de alvenaria, projeta-se revestir a face
interna das muralhas com uma camada de asfalto que será applicada em chapas de
0,m127 de espessura sobre 0,m60 de comprimento e 0,m 30 de largura.
Actualmente executa-se o revestimento do fundo, sendo espalhada a primeira
camada de concreto com a espessura de 0,m30 acima do qual deverá ser lançada
uma outra idêntica, e sobre estas ainda duas camadas de asphalto de 0,m127 cada
uma, formando-se assim um leito com todas as condições de resistência às accções
que está destinado a supportar.
O encanamento abastecedor estende-se desde as presas d’água, na serra da
Cantareira, até o reservatório de distribuição na Consolação. Este encanamento
apresenta um desenvolvimento de 14k,470 kilometros. Os canos empregados tem
sido revestidos por dentro e por fora com pixe.
92
“Sendo o diâmetro deste encanamento de 0,m305, terá elle capacidade para
um volume d’água de 3.000.000 de litros em 24 horas, o que conforma-se
exactamente com a capacidade de cada um dos dois compartimentos de que se
compõe o reservatório geral de distribuição.”
93
91
Em 1881 foi considerado como uma das principais obras da Capital, com técnica construtiva nunca
vista na cidade, em apenas 13 anos, estava superado, tendo sido destruído para a construção de
outro, no mesmo local, pela Repartição de Águas e Esgotos em 1894.
92
SÃO PAULO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 13 de janeiro de 1881. Typ. à vapor do
Diário de Santos, p. 71,72,73.
93
SÃO PAULO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 13 de janeiro de 1881. Typ. à vapor do
Diário de Santos, p.72.
49
A influência inglesa vai além da participação dos engenheiros na formulação
do projeto de abastecimento, e a importação maciça de materiais para a viabilização
das obras, vincula aos poucos, a cidade de São Paulo, aos processos
internacionais de reprodução de capital.
“A companhia já encomendou todo o seu material na Inglaterra.
chegaram 45 toneladas de chumbo para as juntas dos tubos, meia
tonelada de estopa para o mesmo fim, 750 barricas de cimento, 3.180 tubos para
encanamento com 0,m305 de diâmetro. O peso total de ferro recebido é de 1.137
toneladas”.
94
Foi construído um reservatório de acumulação na Serra da Cantareira para
onde foram canalizados, além do córrego Barro Branco, os ribeirões Toucinho e
Guatemy.
Joyner, desdobrou a rede de distribuição pela zona urbana da cidade,
abrangendo a área que se estende da Ponte Grande (onde hoje se localiza a Ponte
das Bandeiras) ao Largo da Liberdade, e do meio da encosta da rua da Consolação
até a Igreja do Brás, com encanamentos de diâmetros diversos, e uma extensão de
35.660 metros.
“O systema geral dos encanamentos de distribuição, compõe-se de dois
ramais principais, partindo dos reservatórios da Consolação: um pela travessa da
Consolação, ruas 7 de abril, Aurora, Episcopal e Alegre; e outro pela rua da
Consolação, largo da Memória, ruas da Princeza, do Imperador, de Santa Tereza e
ladeira do Carmo.
Destes encanamentos partem à esquerda e à direita as ramificações que se
estendem por todas as ruas da Cidade.
Os canos que partem dos reservatórios tem 0,m381 de diâmetro e vão
progressivamente diminuindo para os districtos mais distantes até 0,m076.”
95
A implementação da infra-estrutura de captação a partir dos mananciais
situados na serra, estava relacionada com a quantidade e a possibilidade de
ampliação futura do sistema.
“Calcula-se o volume d’água obtido na Serra da Cantareira em 2.970,07 litros
em 24 horas, que distribuído por uma população de 30.870 habitantes,como a que
94
Ibidem, p. 73.
95
SÃO PAULO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 13 de janeiro de 1881. Typ. à vapor do
Diário de Santos, p.73.
50
actualmente existe nesta capital, dará a quantidade de 95 litros por habitante e por
dia; quantidade esta que ficará muito abaixo dos principaes misteres domésticos, se
attender-mos que os especialistas em taes materias marcão como limite mínimo
para os usos domésticos e lavagem dos esgotos, 100 litros por pessoa e por dia.”
96
A dificuldade em conseguir acionistas e ampliar o capital, fez com que a
empresa levantasse em Londres, um empréstimo de 1.200:000$000, contando com
apoio do governo.
Nessa época, o Conde de Três Rios, Joaquim de Souza Aranha, era
Presidente da Província, e também diretor da Companhia Cantareira, e no relatório
provincial explicava:
“Fazendo parte da Diretoria da Companhia tive escrupulos em despachar
como Presidente da Província”.
97
Em setembro de 1882, mesmo com algumas críticas quanto à quantidade, a
água começou a ser oferecida aos paulistanos; as ruas passaram a ser irrigadas
diariamente e as casas e prédios foram ligados à rede distribuidora.
Ainda neste ano, a Companhia reconstruiu alguns chafarizes públicos de
fornecimento gratuito de água, conforme exigência contratual, colocando-os nos
Largos da Luz, de São Bento, 7 de Setembro (atual Praça Antonio Prado), do Brás,
dos Guaianazes (Praça Princesa Isabel) e 7 de Abril (Praça da República).
O abastecimento foi gratuito até março de 1883, quando a Companhia
começou a cobrar taxas pelo consumo. A esta altura, existiam 133 prédios
abastecidos pela rede geral. Em 1883, o número de ligações era de 745; em
1884, 1.508; em 1885, 2.776; em 1886, 3.459; em 1887, 4.278 e em 1888, 5.008.
“O preço da água, em 1885, era o seguinte:
1ª dezena de 1.000 litros mensais, 500rs/1.000 litros;
2ª dezena de 1.000 litros mensais, 400rs/ 1.000 litros;
3ª dezena de 1.000 litros mensais, 300rs/ 1.000 litros;
4ª dezena de 1.000 litros mensais, 200rs/ 1.000 litros;
5ª e seguintes……………………..., 150rs/ 1.000 litros.”
98
96
SÃO PAULO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 05 de fevereiro de 1880. Typ. à vapor do
Diário de Santos, p.136.
97
SÃO PAULO. Relatório dirigido à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Vice-
Presidente da Província Conde de Três Rios e apresentado no acto da instalação da mesma
Assembléia pelo Vice-Presidente Dr Manoel Marcondes de Moura e Costa, Typgraphia a vapor do
Diário de Santos.1882, p.43.
51
No acordo firmado entre a Companhia e as autoridades governamentais,
estimava-se que até o final do século XIX, a população chegaria a 60.000
habitantes, porém em 1892, o censo apontou um crescimento desmesurado,
atingindo a 120.000.
Esse fato, foi fundamental para inviabilizar o cumprimento contratual entre o
Governo e a Empresa, possuidora de capital limitado para a continuação da
empreitada, que exigia mudanças tecnológicas na captação, adução e distribuição.
Afinal, a Companhia tinha se proposto a abastecer uma pequena cidade, e não
aquela que estava no limiar de tornar-se uma grande metrópole.
99
Marc Bloch assinalava que a adoção de determinadas cnicas, não é uma
conquista social. Na maioria das vezes a introdução de uma nova técnica é feita
através de um grupo ou uma instituição restrita, aprofundando diferenças e acirrando
antagonismos.
100
Em 1892, os empreendedores haviam adquirido na Serra da Cantareira os
terrenos dos mananciais do Cassununga, no intuito de ampliar a captação, porém o
Governo resolveu intervir, tomando a seu cargo as obras de adução e encampando
a Companhia em 28 de novembro deste ano. Em janeiro de 1893, foi criada a
Repartição Técnica de Águas e Esgotos, transferindo-se para a esfera pública os
problemas do saneamento urbano.
O Poder Público substituiu os antigos encanamentos da Cia. Cantareira por
outros de diâmetro maior e remodelou a Caixa d’água da Consolação, ampliando
assim, sua capacidade de armazenamento.
A partir dessa data, as autoridades constituídas, desapropriaram
aproximadamente 5.000 hectares na Serra da Cantareira, para construção dos
reservatórios da Cuca, Canivete, Manino, Olaria, Itaguassu, Bispo e Guarau
101
.
98
JORGE, Clóvis de Athayde. Consolação uma reportagem histórica, Departamento do Patrimônio
Histórico. Divisão do Arquivo histórico, Divisão Gráfica Municipal, São Paulo, s/data, pp 98,99.
99
A Companhia já alertava ainda em 1880, “Calculada a quantidade d’água no reservatório de
distribuição em 3.000.000 de litros, dará por cabeça em uma população de 30.000 almas, como a que
se computa esta Capital, 100 litros, o que é sufficiente para as necessidades da vida, mas não
abundante, e não bastará de futuro.” (grifo nosso) in Relatório apresentado à Assembléia Legislativa
Provincial de São Paulo pelo Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 13 de janeiro
de 1881. Typ. à vapor do Diário de Santos,1881, p. 73.
100
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História das Paisagens, in domínios da História - Ensaios de
Teoria e Metodologia CARDOSO, Ciro Flamarion org. São Paulo, Editora Campus, 1997, p. 214.
101
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Decreto no 195 de 18 de agosto de 1893. Declara de utilidade
publica, para desapropriação, os terrenos do sítio Campo Redondo, na Serra da Cantareira,
pertencentes a Antonio Rodrigues de Almeida, Companhia Territorial e Estanislau José de Oliveira
Queiroz, precisos para as obras de desenvolvimento do abastecimento de água à capital.
52
Decreto 177, de 19 de Maio de 1893, relativo a um terreno pertencente à
Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil com área de 12.697m2, necessário
para a construção de um reservatório de distribuição em um dos pontos mais
elevados da serra, para a captação do ribeirão do Cassununga e outros da bacia
hidrográfica do Guapira;
Decreto 183 de 28 de Junho de 1893, referente ao sítio Cachoeiro,
pertencente a Augusto Giuliano, com área de 507,16 m2 compreendendo as águas
do Guapira.
Decreto 195 de 18 de Agosto de 1893, relativo ao sítio do Campo
Redondo, de Antônio Rodrigues de Almeida, da Companhia Territorial e Estanislau
José de Oliveira Queiroz, com área total de 2.553,35 m2, para a reunião das águas
da bacia do Guapira às do Cachoeiro e do Cassununga;
Decreto 214, de 04 de Novembro de 1893, referente aos terrenos
pertencentes a José Estanislau de Queiroz (sítio do Miguel), Pedro Antônio Borges
(sítio da Pedra Branca), Joaquim Rodrigues dos Santos Sobrinho (sítio Chapada),
Gertrudes Maria Penteado, herdeirosPrudente Barbosa, Martinho Barbosa, José
Barbosa, Francisco Barbosa e Cândido Barbosa; Seminário Episcopal e Jesuíno
Franco de Oliveira, com área total de 14.278, 20 m para aproveitamento das águas
dos córregos do Marmeleiro ou Pedra Branca, Tanque, Guaraú, Bispo, Matheus,
Itaguassú e Manino.
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Decreto no 214 de 04 de novembro de 1893. Declara de utilidade
pública, para serem desapropriados pelo Estado, necessários para o aumento dos mananciais do
abastecimento da capital, as águas dos córregos das Sobras, Marmeleiro ou Pedra Branca, Tanque,
Guarahú, Bispo, Matheus, Itaguassú e Manino, situados à esquerda dos reservatórios de
accumulação, na serra da Cantareira.
53
Planta da Cidade de São Paulo dos terrenos desapropriados para o seu
abastecimento d’água – Escala 1:50.000 – 1900 – Repartição de Águas e Esgotos
(detalhe)
3.2 A CapitaL do Capital: privado ao estatal
O arqueólogo industrial ao analisar a cultura material da sociedade
industrializada, não pode menosprezar a conjuntura ideológica da época, para não
correr o risco de reduzir o seu objeto de estudo a uma sucessão de eventos
encadeados de maneira determinista, como se a evolução tecnológica e industrial
fosse um resultado previsível.
A encampação da Companhia Cantareira pelo Governo do Estado, e as
mudanças operadas pelas autoridades no sistema de abastecimento de água,
devem ser compreendidas também no seu contexto social, econômico e ideológico,
senão vejamos:
A economia paulistana estava em processo de expansão, alicerçada na
produção e comércio do café, e o seu resultado era visível na capital do Estado, com
a diversificação das atividades comerciais, criação de instituições bancárias,
54
aumento do número de indústrias e o incremento populacional, que evidenciavam
as transformações por que passava a cidade.
No plano ideológico, o final do século XIX é marcado pela corrente filosófica
do positivismo, que contava com inúmeros adeptos na elite paulistana, que
encontraram nessa filosofia uma conciliação entre o liberalismo e o cientificismo, que
norteou um esforço para o planejamento social, inspirado no lema “O Amor por
princípio e a Ordem por base, o Progresso por fim”.
Sob esta ótica, o progresso seria alcançado através de uma planificação que
organizasse de maneira lógica e mais funcional a administração pública, conferindo
à ciência, nesse desideratum,um papel fundamental.
Como a Monarquia, recém derrubada, era vista como retrógrada, entre outros
fatores, devido ao seu centralismo, o novo regime a partir de novembro de 1889
empreende uma descentralização no âmbito federal.
Assim, São Paulo passa a ter a sua própria Constituição, promulgada em 14
de julho de 1891. O agora estado federado, passa a ser governado por um
Presidente auxiliado por Secretários de Estado e um Congresso.
Naquele momento, as forças de produção convergiam para uma
racionalização da produção cafeeira, uma vez que se delineava no horizonte uma
crise mundial no setor.
De acordo com os positivistas, devia haver uma ordem lógica na hierarquia
dos órgãos estaduais, assim a secretaria que passava a ter o maior poder
econômico, e como conseqüência o político, era a que cuidava dos interesses dos
cafeicultores, a Secretaria de Agricultura Comércio e Obras Públicas.
O Decreto nº 28 de 1º de março de 1892
102
, organiza e o Decreto nº 58, de 02
de maio de 1892
103
, regulamenta a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas que tinha sob sua responsabilidade os assuntos relativos à agricultura,
terras públicas e particulares, serviço cadastral, colonização, núcleos coloniais,
imigração, aldeamento e adaptação de índios, jardins e passeios públicos, engenhos
centrais, navegação fluvial e marítima, canais, Comissão Geográfica e Geológica,
estradas de ferro, caminhos comuns e de rodagem, mineração, comércio, indústria,
sistema de pesos e medidas, serviço astronômico e meteorológico, iluminação,
102
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Decreto 28 de de maio de 1892. nova organização a
Secretaria da Agricultura, Comércio de Obras Públicas.
103
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Decreto 58 de 02 de maio de 1892. Regulamenta a Secretaria da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas e dá outras providências.
55
obras públicas, trabalhos hidráulicos, correios e telégrafos e abastecimento de água
e esgotos.
Além de sua estrutura formal, teve parte de suas atribuições executadas por
repartições que lhe ficaram anexas e que realizavam serviços específicos, como a
Superintendência de Obras Públicas cuja criação em 27 de dezembro de 1889,
antecedia a da própria Secretaria.
104
A Superintendência foi criada a partir da Repartição de Obras, originada da
Inspetoria Geral de Obras Públicas de 1868, e sob a direção e inspeção deste
órgão, estavam todas as obras públicas, sendo chefiada desde sua fundação, pelo
engenheiro JoPereira Rebouças que reclamava da dificuldade no andamento dos
serviços devido a “… falta de idoneidade, do abandono e da tendência à fraude na
execução das obras que muitas vezes trouxeram a necessidade de rescisão dos
contractos.”
105
Desde a Proclamação da República, os processos de infra-estrutura e
urbanização que incluíam o saneamento, adquiriam uma urgência e importância
estratégica, que se tratava da inserção do Estado de São Paulo, na economia
mundial da assim chamada Segunda Revolução Industrial.
O planejamento urbano da cidade de São Paulo não era antecedente
e sim consequência do plano político territorial. Nessa perspectiva, a
cidade de São Paulo era o centro das atividades econômicas,
políticas, administrativas e culturais dessa sociedade. A capital era o
espaço de reprodução do capital concentrado, por meio da
produção do espaço construído (entre outros processos).
106
(COSTA,
2003)
No entanto, o saneamento básico estava a cargo da Companhia Cantareira
de Águas e Esgotos, uma empresa de capital privado, que nem sempre cumpria no
prazo as obras acertadas com o Governo e, o mais grave, não se mostrava em
104
SIMÕES JÚNIOR, José Geraldo, O Setor de Obras Pública e as origens do urbanismo na Cidade
de São Paulo. Tese apresentada como requisito para a obtenção do título de mestre em
Administração Pública pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio
Vargas, 1990, p. 57.
105
SÃO PAULO. Relatório apresentado ao Dr Presidente do Estado de São Paulo pelo Dr Jorge
Tibiriçá, Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, Typ G
Leuzinger, Rio de Janeiro, 1893, p 14.
106
COSTA, Luiz Augusto Maia. O ideário urbano paulista na virada do século. Rima Ed. São Paulo,
2003, p. 310
56
condições de realizá-las com a rapidez e com o direcionamento que propugnava a
Superintendência.
Em 1877, conforme projeto proposto pela Cia Cantareira seriam captadas as
águas dos ribeirões Toucinho, Guatemy e Pedra Branca para um Reservatório de
Acumulação, onde seriam enviadas por gravidade para uma caixa d’água situada na
Consolação e daí seguiriam para o consumidor final.
Além das águas da Serra, a empresa adquiriu propriedades nas nascentes
do rio Ipiranga, e iniciou de maneira precária, a captação destes mananciais para os
bairros do Cambuci e da Mooca aproveitando um projeto de 1866:
“Foi-me apresentada uma proposta feita pelo cidadão João Ribeiro dos
Santos Camargo, e engenheiro D. M. Fox, para fornecer agua à Capital, conduzindo-
a dos ribeiros do Cambucy e Ypiranga…”
107
A Companhia desde sua fundação, não realizava todas as obras contratadas,
e a partir de 1891, a Superintendência intensifica as críticas aos seus serviços, e
propõe ao Governo várias providências, para obrigá-la ao cumprimento de seus
contratos.
Entre essas medidas, a que representou um verdadeiro golpe de misericórdia,
foi a que determinava a suspensão do pagamento da taxa de esgotos, enquanto ela
não cumprisse os prazos de entrega destas obras.
Esta, por sua vez, por meio de incessante correspondência oficial e
publicação nos jornais, foi obrigada a recorrer à justiça.
A empresa não conseguia honrar os seus compromissos, e a fragilidade do
sistema residia, principalmente, no material básico para as construções, que era, em
sua quase totalidade, importado e dependente da evolução e aperfeiçoamento que
sofresse fora do país, além disso, a Companhia ficava à mercê dos agentes
internacionais, do transporte marítimo, das flutuações do câmbio, das tarifas
alfandegárias e dos fretes cobrados pela São Paulo Railway que controlava toda
exportação e importação que dependesse do Porto de Santos.
Em 30 de Dezembro de 1891, as autoridades foram informadas da existência
de um requerimento da Companhia, pleiteando a interferência do governo para que
tivesse preferência na descarga, despacho e expedição na Alfândega, Porto de
107
SÃO PAULO. Relatório apresentado a Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo na
Primeira Sessão da Decima Oitava Legislatura no dia 3 de Fevereiro de 1866, pelo
Presidente da Província Dr João da Silva Carrão, Typographia Imparcial, São Paulo, 1866,
p. 21.
57
Santos e junto a São Paulo Railway dos materiais para os serviços ao seu encargo,
justificando o por quê de não ter ainda iniciado as obras acertadas em maio. Como
resposta recebeu uma multa de 2:000$000.
Nos dias 19 e 20 de Janeiro de 1892, a cidade ficou completamente sem
água, e uma comissão de engenheiros enviados a Serra da Cantareira, verificou
que o reservatório de Acumulação estava com a metade de sua capacidade, uma
vez que devido a estiagem, os riachos do Toucinho, Guatemy e Barro Branco
estavam fornecendo apenas 1.500.000 litros diários, ou seja, metade do que enviava
normalmente. Para remediar a escassez, os técnicos fizeram a proposta de captar o
mais rápido possível as águas do Cassununga para o leito do Barro Branco.
Para facilitar as obras a cargo da Companhia, as autoridades desapropriaram
alguns terrenos na Serra, na região do Cassununga, e ainda declararam de
utilidade pública áreas adjacentes ao ribeirão Ipiranga.
Como a imprensa da época cobrava maior eficiência na questão do
saneamento, e reconhecendo a necessidade de aumentar o suprimento de água e
de estender a rede de esgotos, o Governo do Estado resolve intervir promulgando o
Decreto nº 69 de 28 de Maio de 1892, que o autoriza a assinar um contrato
provisório com a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, como forma de
pressioná-la a executar os serviços mais urgentes:
1. O prolongamento da canalização do rio Ipiranga no intuito de dar maior
pressão à rede de encanamentos servida por esse manancial;
2. A canalização do córrego Cassununga para o reservatório de acumulação,
na Serra da Cantareira, com a finalidade de evitar que o volume de água
recebido no reservatório fosse inferior à capacidade do encanamento mestre;
3. Construção da galeria principal de esgotos de Santa Cecília, Campos Elíseos
e Bom Retiro.
Até o final de Agosto as obras não tinham sido executadas; na canalização do
Ipiranga, limitaram-se ao levantamento de plantas e nivelamento; nos serviços do
Cassununga, além dos trabalhos de reconhecimento, haviam transportado 229
tubos, abriram algumas valas para os canos e construíram uma estrada de serviço
que devido a declividade foi abandonada. Na construção das galerias de esgotos
dos bairros de Santa Cecília, Bom Retiro e Campos Elíseos tinham realizado apenas
153 metros de alvenaria.
58
A crise instalada no Rio de Janeiro com a Revolta da Armada, obrigou as
instituições bancárias a limitarem o crédito e a Companhia não consegue
empréstimos, ficando em situação crítica.
108
O jornal Diário Popular, propõe que o governo auxilie a empresa, tomando
momentaneamente a seu cargo as obras que precisam ser terminadas, a título de
empréstimo, que seria pago assim que a companhia superasse a crise. Dessa
maneira o orçamento do governo o ficaria comprometido caso ocorresse a
encampação.
109
As autoridades têm pressa, e o Congresso do Estado, resolve em 17 de
Agosto, autorizar o poder Executivo a rescindir o contrato em vigor desde 29 de
Novembro de 1890, encampar a Companhia, e mandar executar as obras de
abastecimento de águas e desenvolvimento da rede de esgotos.
O Poder Executivo sanciona a Lei nº 62 de 17 de Agosto de 1892:
“Artigo Fica o governo autorizado a rescindir e declarar de nenhum efeito o
contracto celebrado com a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, em data de
29 de Novembro de 1890, em vista da impossibilidade, confirmada pela Companhia,
de realizar os das contractadas.
Art. O governo realizará a encampação do serviço de águas e esgotos, a
cargo daquella Companhia, por meio de acordo, arbitramento ou desapropriação
judicial, segundo a lei 38 de 13/03/1836.
§ Na hypotese de accôrdo, o governo poderá atingir ao máximo de
6.000.000$000 para pagamento do material e bens da Companhia, tomando a seu
cargo a dívida hypothecaria.
§ 2º ……………………………………………………………………………….
108
Revolta da Armada ocorreu na presidência do Marechal Floriano Peixoto 1891 1894 e opôs o
Presidente e a Marinha, o conflito que começou na Capital Federal se estendeu pelo território
nacional.
Durante o governo de Floriano, uma ampliação do jacobinismo e antiestrangeirismo. Apesar de
tratar-se de um militar, os Rothschilds apóiam a posse de Floriano, pois tinham sido contrários ao
golpe de 3 de novembro executado por Deodoro da Fonseca, logo os títulos brasileiros sobem em
Londres, mas depois que o governo federal resolveu autorizar a emissão de 100 mil contos
destinados ao empréstimo concedido à indústria brasileira, os ingleses forçam a baixa dos títulos
brasileiros. Mais grave e radical, porém, são as medidas de Floriano contra os estrangeiros, o que
explica em grande parte a desconfiança e conseqüente fuga de capitais: a guerra civil e o jacobinismo
militar levam os europeus a desacreditarem o governo Floriano e a boicotarem todas as medidas de
ajuda financeira. Quanto aos empréstimos estrangeiros, o inglês por exemplo, volta a ser feito
quando um civil, Prudente de Moraes, retoma as rédeas do governo.In CARONE, Edgar. A República
Velha (Instituições e Classes Sociais), São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1972, p. 131.
109
DIÁRIO POPULAR, São Paulo, de 16 de agosto de 1892.
59
§ O governo tomará a seu cargo a dívida hypothecaria da Companhia
contrahida em Londres, pela realização dos dous empréstimos, calculando-se o seu
valor em moeda nacional, ao câmbio que for determinado pelos árbitros, valor esse
que será deduzido do preço arbitrado ao patrimônio da Companhia.”
Art. 3º …………………………………………………………………………….
Art. 4º …………………………………………………………………………….
Art. 5º …………………………………………………………………………….
Art. O governo criará repartição especial para a direcção do Serviço de
Águas e Esgotos, dando-lhe a organização que julgar conveniente.”
110
A aplicação de recursos blicos nos projetos de infra-estrutura e a
constatação da ineficiência da empresa em conseguir um cenário desejável em curto
prazo geravam debates na imprensa da época.
“A impossibilidade, que se diz confessada pela Companhia as obras,
indispensáveis de realizar as obras contratadas não nos parece, entretando
absoluta.
Ela se explica pelas notórias dificuldades da Praça, por circunstâncias
especiais do momento, independentes e alheias à vontade da Companhia, que
assim se privada de lançar o dos recursos compatíveis com os elementos da
vida de que dispõe.
Se estes não podem ser contestados; se a crise que atravessamos constitue,
de facto, um caso de força maior para o não cumprimento do contracto; se o auxilio
por parte do governo, neste caso, encontra cabal justificação e remove todos os
embaraços; vejamos se não é ele preferível à medida extrema e mais ou menos
violenta da encampação.
Antes de entrarmos na questão, devemos declarar que não somos accionistas
da Companhia, nem a ela nos ligam interesses de qualquer natureza, a não ser os
do bem público, que lhe são connexos.
(…) A Companhia tem para fiscalizá-la os próprios accionistas, o poder
público e neste caso, o povo que seus serviços utiliza; enquanto que uma empresa
110
SÃO PAULO. Actos do Poder Legislativo do Estado, Typ. do Diário Oficial, São Paulo, 1892, pp.
38,39.
60
do Estado poderá ter o clamor dos consumidores ao qual, não raro, se opõe a
indifferença , a desattenção do Poder que, entre nós, é o
poder
.”
111
Em 03 de Setembro os empreiteiros se recusaram a prosseguir com as obras,
que passariam para a esfera de responsabilidade do Governo. A vista dessa
manifestação, o responsável pela Companhia, oficiou ao Secretário da Agricultura,
pedindo que esta Secretaria assumisse a direção dos trabalhos e, fizesse a medição
dos serviços já executados.
Em 13 de Setembro, o presidente da empresa envia ofício ao Secretário da
Agricultura comunicando que não podia prosseguir os serviços contratados e solicita
que a Superintendência assuma essas obras.
Ainda no mesmo mês, a Companhia é obrigada a remeter boletins diários
para a Superintendência, informando como era realizada a limpeza dos
reservatórios, a ligação dos encanamentos dos prédios com o das ruas, como e
quando se procedia à lavagem dos esgotos, o tempo decorrido entre os pedidos de
desobstrução, e detalhes do funcionamento dos hidrômetros que geravam
constantes reclamações e críticas por parte dos usuários.
O impasse aumentou quando a empresa comunicou que não entregaria
nenhum boletim diário, e, que desconsiderava qualquer ato do governo que fosse
visto como ingerência nos seus negócios enquanto não fosse definida a forma da
encampação.
O recrudescimento da falta de água e o evidente desequilíbrio de poder entre
os interesses em conflito, tornaram explícita a defasagem entre a natureza dos
problemas e os instrumentos institucionais. A estrutura da administração pública
precisava de reformas urgentes, capazes de incorporar as demandas sociais pela
maior distribuição de água encanada.
É neste momento, que se começa a escrever o enredo da modernização da
Superintendência de Obras Públicas, que resultaria na criação da Repartição
Técnica de Águas e Esgotos, posteriormente reorganizada como Repartição de
Águas e Esgotos, em substituição à Companhia Cantareira.
111
DIÁRIO POPULAR. São Paulo, Questões de Actualidade. Saneamento de S. Paulo,
Capítulo X, Companhia Cantareira. Pp.35,36, Acervo do Arquivo do Estado, 1892.
61
3.2.1 Repartição de Águas e Esgotos - RAE
O paradigma emergente será o controle público no gerenciamento dos
recursos hídricos, de forma autoritária, com caráter institucional e tecnológico. A
constituição da estrutura de planejamento será feita com a participação exclusiva de
engenheiros, excluindo qualquer mecanismo democrático de participação dos
usuários nas decisões. A complexidade técnica era instrumentalizada para legitimar
a ausência do debate público, e simultaneamente manter fechadas as portas do
poder decisório técnico e burocrático.
A construção dessa hegemonia, relaciona-se com a história da transformação
da água, ainda de forma difusa, em mercadoria valiosa.
A antiga Companhia tinha aceitado construir chafarizes públicos, sem nenhum
custo para o Estado fornecendo nesses locais águas gratuitamente, um claro
retrocesso, em termos empresariais, ao disposto na Lei 72 de 20 de maio de
1866, (revogada pela Lei 102 de 30 de abril de 1870), que autorizava a Câmara
Municipal a comprar e pagar por essa água. Outro detalhe comprometedor para
suas finanças, era o fato de que somente o governo poderia estabelecer o valor a
ser cobrado dos particulares, envolvendo constantemente a empresa em
negociações desgastantes com as autoridades, o que muitas vezes a impedia de
repassar os custos da manutenção do sistema aos consumidores.
O longo caminho percorrido entre a captação e a distribuição, faz da água
uma mercadoria, um objeto de compra e venda.
Assim como o ar, a água é fundamental para o desenvolvimento e a
continuidade da vida, mas ao contrário do ar, a água que consumimos tem preço:
afinal ela resulta do trabalho humano.
No momento em que a RAE, tem legalmente o monopólio do aproveitamento
das águas, uma de suas primeiras medidas será a destruição desses mesmos
chafarizes, acabando com a noção de águas livres e gratuitas para a população;
pelo menos os custos das obras de infra-estrutura teriam que ser democratizados.
A cidade em ritmo acelerado de transformação e modernidade não podia
esperar, e finalmente a 11 de Outubro, foi assinado o termo de compromisso lavrado
entre o Governo do Estado e a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, para
arbitrar o valor da indenização que teria que ser pago à Empresa, pela encampação
62
de seus serviços e direitos. Um mês depois, para o ajuste definitivo, os peritos
estabeleceram o valor: 6,814:549$663. Embora a indenização fosse maior do que a
estipulada na Lei nº 62/1892, foi aceita pelo governo.
A falta de acesso da população à informação, encarada pelos técnicos da
RAE, dentro de uma visão de racionalidade científica e tecnológica, e portanto
elitista, impediu que a sociedade tivesse acesso aos parâmetros que nortearam a
distribuição de água. Afinal, quais os reais motivos de se preocuparem com o
fornecimento de água da Cantareira para a Zona Alta, Vila Mariana, região citada
como de pouca densidade populacional, em detrimento da Zona Baixa, Brás,
Belenzinho e arrabaldes, com demanda sempre crescente?
O antigo modelo de gestão ficava restrito à esfera técnica, despolitizando a
opinião pública. Este viés positivista e autoritário das instituições estatais, em que as
decisões são tomadas a portas fechadas, abre um precedente perigoso no limiar do
próximo século, quando o capital internacional começar a ampliar os seus
tentáculos, para os recursos hídricos de economias periféricas como a brasileira.
Apesar disso, os serviços de águas e esgotos, sob a competência do Poder
Público sofreram uma incontestável remodelação, procurando acompanhar o
surpreendente crescimento populacional pelo qual São Paulo vinha passando,
devido sobretudo à potica de imigração subsidiada:
1872……………….31.000
1886……………….47.697
1890……………… 64.934
1892……………...120.000
1900………………239.934
112
“Em verdade, é fundamental o cruzamento dos dados de população com a
tecnologia disponível pelo grupo social para se estabelecer se há, ou não, uma
relação positiva com a produção necessária de bens.”
113
Quando em 1882, a Cantareira começou o fornecimento, tínhamos 3.000.000
de litros para 30.870 pessoas com média diária de 95 litros. Em 1892, ano de sua
encampação, a cidade atingia 120.000 habitantes e a quantidade de água distribuída
112
MATOS, Odilon Nogueira. São Paulo no século XIX in A cidade de São Paulo - Estudos de
Geografia urbana, Cia Editora Nacional, São Paulo, [19--], p.82.
113
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História das Paisagens, in domínios da História - Ensaios de
Teoria e Metodologia CARDOSO, Ciro Flamarion org. São Paulo, Editora Campus, 1997, p.215.
63
permanecia a mesma, com 25 litros per capta, o que tornava a situação
desesperadora.
No ano de sua encampação, a empresa conseguia suprir 8.102 prédios, de
um total de 17.348; para isso, contava com o Reservatório de Acumulação da
Cantareira para a captação dos Córregos, do Toucinho e do Guatemy, e com a
Caixa d`água da Consolação para o sistema de distribuição.
O desenvolvimento industrial e urbano verificado durante o século
XIX, e o concomitante crescimento demográfico, são geralmente
apontados como as principais razões justificativas da necessidade
então formulada de se resolver, de uma forma satisfatória, o
abastecimento de água às cidades”.
114
(CORDEIRO, 1993)
3.3 Mudanças no abastecimento
Placa afixada no Reservatório Liberdade
A documentação referente à gestão da água desse período é esparsa e está
espalhada por vários órgãos estaduais. Foram necessárias “escavações” nesses
documentos para que se obtivessem respostas a questões e a dúvidas que surgiram
no decorrer da intervenção arqueológica, em si, ao esclarecer o plano de captação e
distribuição de água, ou explicar opções tecnológicas, e decisões que a
administração da Companhia Cantareira e sua sucessora a Repartição de Águas e
Esgotos, no contexto da São Paulo do século XIX, consideravam como as que mais
se adequavam à administração das respectivas empresas.
114
CORDEIRO, José Manoel Lopes Cordeiro, Um serviço centenário: o abastecimento
domiciliário de água à cidade do Porto (1887 1987), Separata de Arqueologia Industrial II
série, Vol. I, nº 1/2 1993, p.11.
64
A trajetória de implantação do sistema de abastecimento, e do tipo de cnica
utilizada pela Companhia Cantareira, suas rotinas decisórias e de construção,
criadas a partir dessas opções, influenciaram as novas decisões.
Até 1892, houve pouco questionamento sobre aspectos técnicos ou
econômicos, relativas a essas obras. Não havia o que se discutir porque, pode-se
dizer, que até a fundação da Cantareira, esses modernos melhoramentos, eram
desconhecidos quase que por completo.
Forçaram a discussão desses problemas, os erros e defeitos que foram
aparecendo nos resultados negativos da distribuição, quando houve necessidade
de ampliação do sistema, bem como a situação pré-falimentar da empresa que
inviabilizava quaisquer investimentos no setor.
Os planejadores urbanos do século XIX responderam a uma
demanda de melhoramentos sanitários e estéticos, dentro de um
ambiente político e econômico em transformação do qual fizeram
parte. Houve incremento de investimentos urbanos relacionados ao
desenvolvimento tecnológico da infra-estruturação, dentro de um
mercado de capitais mais sofisticado e institucionalizado, em que a
maximização do lucro e a atuação dos governos resultaram em
grandes investimentos.
115
(BERNARDINI, 2005)
Para o Poder Público, foi necessário um planejamento que buscasse conciliar
um roteiro de intervenções com ações emergenciais e mais abrangentes, mudando
um cenário tendencioso, para outro mais desejável e imparcial.
Segundo Dror, planejamento “é o processo que consiste em preparar um
conjunto de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir determinados
objetivos”.
116
O plano para viabiliza-lo é um documento que se materializa em textos, e,
também, possibilita sua materialização em termos de ações.
Nesse contexto, o novo ordenamento exigiria uma lógica de investimentos em
larga escala, na tentativa de superar as dificuldades técnicas de transformação do
sistema implantado pela Companhia Cantareira, que em apenas 15 anos, estava
obsoleto e saturado.
115
BERNARDINI, Sydney P. O engenheiro Estevan A. Fuertes e seu plano sanitário para Santos
(1892 1895) in GITAHY (org) Desenhando a Cidade do Século XIX, São Paulo, editora Rima, 2005,
p. 47
116
DROR, V. In ANDERSON, C.A. Le contexte social de la planificacion de l’education. Paris,
UNESCO, 1968, p. 10.
65
A partir do processo de encampação, com os debates na imprensa, a equipe
de engenharia da Superintendência de Obras Públicas, em consenso, toma algumas
medidas preliminares: conseguir imediatamente encanamentos que estivessem a
disposição em outras repartições; melhorar o sistema de transporte com a
construção de uma linha de tramway ao custo de Rs. 382:611$900, entre a Capital e
a Serra da Cantareira, para levar os materiais destinados às obras de abastecimento
de água, acabando com outro entrave que era o carregamento em carros de boi e
carroças puxadas por burros.
Procede a abertura de uma estrada, para facilitar o transporte dos
equipamentos e para estender os encanamentos, ampliando assim a captação do rio
Ipiranga e um dos seus afluentes, na tentativa de aumentar a pressão na parte baixa
da cidade que fosse abastecida por esse manancial.
Nessas nascentes, a Superintendência encontrou em dias normais, um
volume de 5.200.000 litros em 24 horas, enquanto sua antecessora declarava
apenas 4.000.000, no entanto, quando resolveram empregar encanamentos de
300mm acabaram comprometendo a distribuição nos mesmos 4.000.000 de litros.
Os materiais foram adquiridos da Empresa de Obras Públicas da Capital
Federal e tinham sido importados para o abastecimento da cidade de Niterói. Pagos
pelo câmbio do dia, tinham a vantagem da isenção das taxas alfandegárias, uma vez
que se tratava de aquisição para um órgão público.
O transporte foi feito dentro dos padrões de excelência para a época. Para
evitar a fratura dos tubos de ferro fundido decidiu-se que a estiva, a bordo dos
navios Formica, Akerhnjelm e Godeffroy fosse feita com carvão de pedra,
comprado no Rio de Janeiro e vendido para a Zerrenner Bülow & Cia, fornecedora
de materiais para o Governo do Estado, assim que desembarcassem os
encanamentos no porto de Santos.
66
Planta Geral do Encanamento do Ypiranga Indicando a linha de tubos existente e os
serviços feitos pela Repartição durante o anno de 1895
Com relação aos esgotos, a R.A.E amplia a galeria principal em 3.300m de
extensão, sendo os primeiros 580 metros de forma circular, com 800mm de diâmetro
e o restante em forma ovóide, idêntica aos esgotos de Paris, com 1,70m de altura.
No trecho em forma circular foram usados tijolos cuneiformes fabricados pela
Companhia Melhoramentos de São Paulo, e na seção ovóide, devido ao ritmo
acelerado que os empreiteiros imprimiram aos trabalhos, foram usados tijolos de
outros fabricantes.
Devido à urgência na captação do Cassununga e em sua canalização para o
vale do Barro Branco, e não havendo disponibilidade de canos de ferro, foi
construído um aqueduto com 500mm de diâmetro constituído na parte inferior de
uma camada de concreto, e antes mesmo da conclusão da parte superior (que seria
em arco de alvenaria com o uso de tijolos), as águas chegaram ao Reservatório de
Acumulação, e daí seguiram até a Caixa da Consolação em encanamentos 600mm.
Aproveitando o volume destes mananciais, foi proposta outra canalização que
não servisse ao Reservatório de Acumulação, mas que trouxesse a água direto para
a cidade. Os estudos demonstraram que seriam necessários vinte quilômetros de
67
encanamentos, porém, as condições ainda precárias de transporte, uma vez que
ainda não havia sido implantado o tramway, levaram à aquisição dos tubos da tubos
da Mannesmann com 300 mm de diâmetro.
117
A Superintendência de Obras Públicas, assinou contrato com o agente da
Fábrica Deutcsh Mannesmann-Röhren Wek de Berlim, para o fornecimento de vinte
quilômetros ou 784 toneladas (comprimento variando entre 3,50m e 5m), de tubos
de aço superior, fabricados pelo processo Mannesman, tendo um diâmetro interno
de 300 milímetros, e uma espessura de 5 milímetros, calculando-se o peso médio
por metro corrente à razão de 39,2 kg.
Os testes dos tubos foram realizados por instituição de reconhecida
competência, aceita pelo governo brasileiro em Berlim. As despesas para esse fim
correram por conta dos fabricantes.
Segundo a documentação escrita, com exceção do encanamento comprado
da Mannesman e que viria da Alemanha, os materiais hidráulicos para as obras da
Serra da Cantareira, foram adquiridos com os negociantes da antiga Companhia
Cantareira, Hopkins, Causer & Hopkins e procediam de Birminghan, Inglaterra.
118
Os hidrômetros eram da marca Kent’s Uniform Positive Water Metter, e seus
acessórios e demais equipamentos para a distribuição de água na zona urbana,
foram adquiridos da empresa Zerrenner Bülow & Com., da cidade inglesa de
Manchester, que tinha filial no bairro de Santa Ifigênia.
Com relação ao cimento, a quantidade a ser utilizada inviabilizava a sua
aquisição nas casas comerciais da cidade. Neste primeiro momento a
Superintendência resolveu comprá-lo diretamente dos navios ancorados no Porto de
Santos, em barricas de 180 quilos, provenientes de diversos países.
117
O uso desse material foi um pioneirismo para a época, a fabricação de tubos de aço sem costura,
através da laminação de um bloco maciço tinha sido inventado dois anos antes, em 1890, pelos
irmãos Max e Reinhard Mannesmann.
118
SÃO PAULO. Relatório da Secretaria dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas
do Estado de o Paulo apresentado em 03 de Março de 1895 ao Dr Bernardino de Campos,
Presidente do Estado pelo Dr Jorge Tibiriça,Typ Paulista, São Paulo, 1895.
68
3.4 A cidade se transforma
Pelo Decreto 152–A de 31 de Janeiro de 1893
119
, regulamentado pelo
Decreto nº 154 de 08 de Fevereiro de 1893
120
, subordinada à Diretoria da
Superintendência de Obras Públicas, foi instituída a Repartição dos Serviços
Técnicos de Águas e Esgotos, criada com a missão de executar o custeio e o
desenvolvimento do abastecimento de águas e da rede de esgotos da Capital,
assumidos pelo Estado com a encampação da Companhia Cantareira.
Em 1893, a RAE manda retirar todos os chafarizes da cidade, para obrigar a
população a pagar pela água encanada,
O desenvolvimento econômico começa a se impor como política e anseio de
uma parcela da sociedade e do Estado, em meio à realidade de uma população
crescente, que vai se concentrando no centro urbano.
O Estado procura se preparar para um desenvolvimento que está
ocorrendo, a população se multiplica, fábricas se instalam na cidade e arredores, e
as atividades econômicas se diversificam. O problema com relação à água não se
limita à multiplicação de seus usos, estendendo-se aos conflitos gerados por
políticas que priorizam determinado uso, em detrimento dos demais.
Em Janeiro de 1893, o engenheiro José Pereira Rebouças, ainda contanto
apenas com as águas do Reservatório de Acumulação e do Ipiranga, concebe um
novo planejamento para a infra-estrutura do abastecimento de água; a cidade de
São Paulo é dividida em zonas de distribuição:
Zona Alta: Liberdade, Glória, Cambuci, Bela Vista, Consolação e Higienópolis
a serem abastecidos pelo Reservatório da Liberdade em fase de construção.
Zona Média: Largo Municipal e da Sé, Vila Buarque, Luz, Santa Efigénia, Bom
Retiro, Santa Cecília, Campo Elíseos, servidos pelo Reservatório da Consolação,
Zona Baixa: Brás, com as águas dos tanques do Ypiranga.
Para solucionar o fornecimento da zona alta os engenheiros realizaram várias
medições, em diferentes épocas do ano, organizando um projeto que compreendeu:
Construção das represas nos mananciais situados entre o Cassununga e o
Engordador;
119
SÃO PAULO. Leis, Decretos, Decreto no 152-A de 31 de janeiro de 1893. Cria as Repartições dos
serviços de águas e exgottos e da arrecadação das taxas de água da capital.
120
SÃO PAULO. Leis, Decretos, Decreto no 154 de 08 de Fevereiro de 1893. Cria e organiza a
repartição dos serviços technicos de águas e exgottos da capital
69
Canalização destas nascentes até uma caixa de junção (denominada de
Guapira)
Assentamento da linha de tubos de 300mm entre essa caixa e o
reservatório de distribuição da Liberdade, iniciado em 1893;
Ficou definido que, uma vez adotadas as três zonas distintas de distribuição,
cada uma delas deveria ser alimentada com mananciais cujas cotas de captação e
volumes fornecidos estivessem de acordo com os pontos de maior altura da
respectiva zona, ou com as necessidades relativas à sua área e população.
A parte mais alta da cidade abrangia os bairros da Liberdade, Bela Vista,
Consolação, Cambuci e Vila Mariana, cujos pontos máximos exigiam o
abastecimento com as águas dos ribeirões: Cassununga, Cachoeira, Campo
Redondo e Engordador, os de mais elevada captação na Serra da Cantareira e cujo
volume total era superior a 8.000.000 de litros em 24 horas, fornecendo água em
abundância, para estes bairros que tinham pouca densidade demográfica.
No final do ano, a distribuição sofreria novas modificações:
Zona Central e Comercial: Bairros do Bom Retiro, Luz, Santa Efigênia, Santa
Cecília, Campos Elíseos, Bela Vista e Vila Buarque, servidos pela canalização de
600mm e o Reservatório da Consolação;
Zona Alta da Cidade: Começando nas proximidades do Largo da
compreendendo os bairros da Liberdade, Glória, Cambuci, Bela Vista, Consolação e
Higienópolis, servidos pelo novo Reservatório da Liberdade (ainda em fase de
construção) e diretamente pelo encanamento adutor dos rregos do Cassununga,
Cachoeira e Campo Redondo.
Bairro do Brás: servido pela canalização do Ipiranga com auxílio das águas da
Serra da Cantareira.
Nessas obras foram usados os tubos de 300mm fornecidos ao Estado pela
firma Zerrebber Bülow & Company, e os da marca H.C.H. pela Hopkins, Causer &
Hopkins, de Birmingham.
121
Foram assentados os encanamentos que estiveram a cargo dos empreiteiros,
José Tangari e Antônio Galerio que utilizaram 75 trabalhadores. Os serviços de
locação da linha de canalização foram efetuados pelos engenheiros João Baptista
121
SÃO PAULO. Relatório da Secretaria dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas
do Estado de o Paulo apresentado em 03 de Março de 1895 ao Dr Bernardino de Campos,
Presidente do Estado pelo Dr Jorge Tibiriça,Typ Paulista, São Paulo, 1895, pp 217/218
70
Garolfi e César Castiglioli, que também dirigiram o assentamento desde a serra até o
rio Tietê. Desse ponto ao reservatório os trabalhos foram executados sob a
fiscalização de Manoel da Rosa Martins. O custo médio aproximado por metro foi de
Rs 6$200, incluindo todas as despesas, porém, o custo subiu para Rs$ 10$000 o
metro linear, devido às dificuldades do trecho de 1.400 m na várzea do rio Tietê.
Em 12 de Outubro de 1894, as águas chegaram ao Reservatório da
Liberdade e no dia 23, aos moradores das zonas altas.
No final desse ano, a cidade contava com o total de 15 quilômetros de
canalização projetada, locada e construída com um total de 27.000.000 de litros em
24 horas, e no ano seguinte, 31.200.000 litros.
Em 1894, tomando como população da Capital, aproximadamente 140.000
habitantes, vê-se que correspondia a cada um destes o suprimento de água
disponível de aproximadamente 223 litros por dia, quando três anos antes, a antiga
canalização fornecia pouco mais de 23 litros diários por habitante.
122
A paisagem urbana é transformada pela industrialização e pela submissão
dos recursos hídricos aos novos e diferentes usos. Aos poucos, desaparece a
memória das bicas e fontes de água, que agora se escondem atrás de canos que
levam suas águas às caixas de distribuição; os chafarizes desativados são
recolhidos ao depósito municipal, e somem dos estoques e da papelada burocrática;
o rio Tamanduateí é retificado e o Anhangabaú, no limiar do novo século é
canalizado; o cidadão afasta-se da água como elemento que tem movimento e ritmo
naturais.
Concomitantemente com as obras implantadas ao longo da serra, o tramway
que transportava os materiais provoca a valorização dos terrenos situados próximos
aos seus trilhos, facilitando a ocupação da zona Norte da capital e a conseqüente
especulação imobiliária.
No ano de 1896, ocorre, através de um elenco de diplomas legais, uma
reorganização marcada pela descentralização dos serviços atinentes a obras,
transportes e saneamento. A Repartição Técnica de Águas e Esgotos da Capital
passa a denominar-se Repartição de Águas e Esgotos, ficando desvinculada da
Superintendência de Obras Públicas.
O Governo resolve classificar as obras públicas em duas categorias:
122
SÃO PAULO. Relatório de 1895 da Secretaria da Agricultura Comércio e Obras Públicas
apresentado ao Presidente do Estado de São Paulo, p.165/166.
71
1. Ordinárias: as de caráter permanente como construção, reconstrução,
reparos, melhoramentos e conservação de estradas, pontes e edifícios
estaduais a cargo da Superintendência, a quem também caberia o
serviço de passagens de rios em balsas e canoas.
2. Extraordinárias: as de caráter não permanente e que exigiam uma
comissão de técnicos especializados para projetá-las, sem vínculo
empregatício com o governo. Faziam parte desse processo os serviços
de abastecimento de água e esgotos, e demais obras do plano geral de
saneamento, a cargo de pessoal comissionado fiscalizado pelo Estado.
Uma vez concluídas passavam a categoria de permanentes.
3.5 Equipamentos de distribuição
3.5.1 Torneiras públicas e hidrômetros
Desde que assumiu a coordenação do sistema de abastecimento de água, a
Superintendência mostrava-se contrária aos chafarizes e à distribuição gratuita à
população.
Taunay ao descrever uma casa paulistana do início do século XVIII, cita os
quintais exíguos com o indefectível e contaminável poço.
123
Quase na virada do
século XIX alguns hábitos ainda permaneciam, mas teriam que se adaptar aos
novos tempos.
Em 1893, devido a uma epidemia de cólera mórbus, a Repartição de Higiene
proíbe os poços domésticos, mandando assorear os existentes. A medida embora
polêmica teve que ser respeitada, e para minimizar o sofrimento daqueles que não
podiam pagar pela água encanada, as autoridades provisoriamente colocaram
torneiras públicas em alguns pontos da cidade, nos cruzamentos das ruas do
Triunfo, Andradas, Santa Efigênia, Rio Branco, Guaianases, Duque de Caxias,
General Osório, Gusmões, Vitória e Aurora e na região de Santa Cecília. A mesma
providência foi adotada no bairro operário do Brás, nos quarteirões próximos da
123
TAUNAY, A. de E. História da Cidade de São Paulo sob o Império. Vol. VI. São Paulo: Secr. Mun.
Cultura, 1977.
72
Hospedaria dos Imigrantes, onde teriam aparecido os primeiros casos suspeitos da
doença.
Para Rebouças, a divisão da cidade em Zonas de abastecimento para
racionalizar o sistema de distribuição, seria possível com o emprego de
hidrômetros, “procurando obtê-los dos mais aperfeiçoados e, por escrupulosa
observação, conseguir equitativa e liberal cobrança ainda que a preço reduzido”
124
Justificava que o Governo Federal teria adotado este equipamento para o Rio
de Janeiro, acrescentando que o Congresso Internacional de Higiene reunido em
Budapeste, um ano antes, havia sugerido o seu emprego para cidades com grandes
consumos de água.
Para São Paulo foram adotados hidrômetros da marca Kent’s, tendo sido
solicitado que o contrato de fornecimento com os representantes da empresa em
Manchester, Inglaterra, fosse prorrogado por mais quatro anos.
“Em terreno acidentado como aquele em que escolocado a cidade de São
Paulo, consideramos o uso do hidrômetro elemento precioso e de adoção
imprescindível para regular a perfeita distribuição de água.
No decurso de 1893 nos foi dado conhecer, experimentar e importar o Kent’s
Uniform Absolute Water Meter, em relação ao qual pouco mais a desejar,
indicando com precisão as menores quantidades d’água sob pequena pressão, o
que levou a estabelecer-se as novas ligações com esses aparelhos.
Mudados os relógios de velocidade, deixados pela Companhia Cantareira,
assentados aparelhos convenientes nas casas em que faltam, que são em grande
número, regularizadas suas observações, é de supor que com o volume que é certo
poder conseguir-se, o abastecimento d’água desta Capital será rendoso, não pesado
ónus para o Estado e animador para outros cometimentos”.
125
Para ele, a estreita correspondência entre volume gasto e conta de água,
induziria os consumidores a limitar seu uso estritamente às reais necessidades, e a
corrigir os defeitos de instalação, que sempre provocavam através de vazamentos,
marcações elevadas de consumo. Dessa forma, o sistema medido contribuiria
eficazmente para a redução de fugas e desperdícios, dando oportunidade a que
maior número de usuários gozassem do benefício.
124
SÃO PAULO. Relatório apresentado pela Superintendência de Obras Públicas do Estado de São
Paulo em 31 de Março de 1892 ao Dr Alfredo Maia Secretário da Agricultura Comércio e Obras
Pública do Estado, 1893, p.213
125
Ibidem p.213
73
A aplicação deste princípio requer que o consumo de água seja medido, que
a cobrança seja proporcional à quantidade consumida e que o cálculo dos custos do
suprimento de água seja razoavelmente preciso.
Até então, a cidade tinha fornecimento de água sem medição, com as
torneiras livres e chafarizes, e o sistema de penas, que limitava o consumo por meio
de uma estrutura apropriada.
Os limitadores de vazão eram peças ou dispositivos intercalados, entre o
ramal e a instalação predial, e tinham a finalidade de dificultar o livre e excessivo
escoamento da água para o interior da habitação, geralmente os cortiços do centro
da cidade.
Na época, esses limitadores, eram chamados “penas de água”, peças
dotadas de passagens estreitas formando ângulos, capazes de provocar perdas de
carga consideráveis e dessa forma restringir a vazão.
Como não havia marcação do volume escoado em qualquer desses
dispositivos, e com a agravante que eram facilmente alterados, dificultando a
fiscalização, principalmente nos cortiços, a cobrança de taxas não poderia basear-se
no volume fornecido, logo, a forma de taxação era sempre irracional, prejudicando
todo o sistema.
Com os chafarizes e as torneiras livres não havia restrição alguma ao
consumo e nem ao controle da água fornecida. Era precário, e dava margem a
perdas enormes.
A obrigatoriedade do uso de hidrômetros em substituição a esses sistemas,
gerou protestos entre os consumidores porém, a Superintendência e a Repartição
de Águas e Esgotos não recuaram.
O Decreto 233 de 02 de Março de 1894 que instituiu o Código Sanitário, em
seu artigo 329 consagrou o emprego dos hidrômetros em todo o Estado.
Atualmente, a utilização sistemática de medidores é uma prática defendida
pela moderna técnica de abastecimento de água, que se apóia no princípio de que a
cobrança deverá ser feita pela quantidade fornecida, e que pelo menos as despesas
de manutenção e operação dos sistemas, sejam cobertas com recursos
provenientes da venda de água.
Com essa premissa, o serviço medido, assegurando o registro do volume de
água consumido, permite estabelecer um sistema de cobrança proporcional ao
consumo.
74
3.5.2 Reservatório da Liberdade ou da Avenida
Colocação de lampiões próximos ao Reservatório da Liberdade - Cia de Gás – 1894
Foi inaugurado em 12 de Outubro de 1894, situado em uma área de 12.697
metros quadrados, adquiridos pelo Governo do Estado, da Empresa de
Melhoramentos do Brasil
126
.
As fundações dos alicerces das paredes e dos pilares mereceram todo o
cuidado, uma vez que, a homogeneidade do terreno, em diversos pontos estava
comprometida pela grande quantidade de formigueiros, o que obrigou que a
alvenaria de pedra fosse assentada sobre larga e espessa camada de concreto, em
profundidade correspondente à consistência do solo.
Tinha capacidade para 6.000.000 de litros, sendo dividido em duas caixas,
concluídas com arcos transversais apoiados em abóbadas longitudinais, de tijolos,
com espessura de 450mm e revestidas externamente por uma camada de 20mm de
126
SÃO PAULO. Leis e Decretos. Decreto no 177 de 19 de maio de 1893. Declara de utilidade
publica, para desapropriação, um terreno pertencente à Empresa Industrial de Melhoramentos no
Brazil, afim de nelle ser construído um reservatório de distribuição no ponto mais elevado desta
capital.
75
cimento e areia, tornando-as estanques. Todo o reservatório foi nivelado com terra,
sendo este espaço destinado ao ajardinamento projetado e executado pelos
respectivos empreiteiros.
Caixa de Distribuição da Liberdade 1894 Acervo Arquivo do Estado
76
Reservatório da Liberdade Foto P. Doumet 1894 Acervo Escola Politécnica - USP
Para os dois torreões, de manobras de entrada e saída das águas, foram
fabricados dois portões de ferro batido pela Companhia Mechanica e Importadora.
Com o fim de manter conveniente a aeração nos dois compartimentos, foram
construídos seis ventiladores de alvenaria com tijolos a uma altura de 0,40 m.
Recebia as águas dos mananciais do Cassununga e do Engordador depois
de passarem pela caixa de junção do Guapira, na Serra da Cantareira.
77
Mapa referente as Represas situadas na Serra da Cantareira
Perfil do encanamento de distribuição
As sobras desse reservatório eram conduzidas para o da Consolação, por
um encanamento com 2.300 metros de extensão, e diâmetros de 300mm e 200mm,
fornecendo aproximadamente quatro milhões de litros diários, enquanto a zona alta
tivesse poucos consumidores.
78
A caixa d’água da Consolação era constantemente socorrida pelo
Reservatório da Liberdade, devido aos rompimentos dos encanamentos de 600 mm
que vinham da Serra. Implantados em 1892, no auge da crise de encampação da
Cantareira, não passaram por testes de capacidade de pressão e devido à urgência,
foram mal colocados.
Para minimizar o problema foi reduzido o volume de água neste tipo de
canalização, para isso estabeleceram no ponto de ligação de 600 mm com a rede de
distribuição (rua Bento Freitas, esquina com a Major Sertório) um regulador
automático, que despejava as águas do encanamento para o coletor principal de
esgotos, no vale do Arouche, mas como o equipamento não funcionava muito bem,
tiveram que manter no local um funcionário de guarda dia e noite observando um
manômetro.
3.5.3 Reservatório da Consolação
Reservatório da Consolação em 1900 Foto tirada da Rua Vasco da Gama (atual Dona
Antônia de Queirós). Ao fundo o Centro da Cidade
127
127
A CIDADE DA LIGTH 1899 – 1930, Editora Três Ltda, São Paulo, p.143
79
Planta da Cidade de São Paulo Com indicação dos principais edifícios públicos e
casas comerciais.(detalhe) . Escala: 1:10.000 - ed. Hugo Bonvicini – 1895
O relatório de 1894, da Repartição Técnica de Abastecimento, alertava que a
caixa de água da Consolação inaugurada em 1881, pela antecessora, nunca ficava
inteiramente cheia, devido às rachaduras e infiltrações. Mesmo depois das reformas
na edificação, no início de 1893, que sanaram esses problemas, continuava sem
condições de segurança e estabilidade, tornando imprescindível um outro
reservatório, com capacidade de aproximadamente 20.000.000 de litros, para
receber as águas das novas captações na Serra da Cantareira. O Governo acatou a
proposta e adquiriu os terrenos do entorno através do Decreto 174 de 06 de maio
de 1893
128
.
Foram projetadas as obras necessárias para um reservatório com capacidade
de 18.000.000 de litros. O orçamento aprovado e que serviu de base à concorrência
pública foi o seguinte:
128
SÃO PAULO. Leis e Decretos, Decreto no 174 de 06 de maio de 1893. Declara de utilidade
publica, para desapropriação, um terreno de 14.993,90 metros quadrados, annexo ao actual
reservatório da Consolação, pertencente ao cidadão tenente Francisco Augusto de Azevedo, para
construcção de novos reservatórios e dependências
80
Tabela de Orçamento da Obra
NATUREZA DO
SERVIÇO
VOLUMES PREÇOS TOTAL
Movimento de terra
41.812,680m3
1$200 50:175$216
Alvenaria de concreto 4.875,453m3 52$800 257:423$917
“ “ pedra
8.333,504m3 48$000 400:408$192
“ tijolos
3.391,360m3 55$000 186:524$800
2$000 15:366$832
909:398$957
129
Para as obras de alvenaria o cimento seria fornecido pelo Estado.
Dos 33 proponentes ganhou a licitação o engenheiro Urbano de Vasconcellos
com a proposta de Rs 773:214$955.
Em Novembro de 1897, as obras foram concluídas ao custo de R$
833.895$317.
Mapa de localização do Reservatório de Acumulação ou Represa Cantareira
129
SÃO PAULO. Relatório da Secretaria da Agricultura, 1894, p.231.
81
A nova caixa d’água da Consolação, além do Reservatório de Acumulação
(Represa da Cantareira), passaria a receber as águas dos riachos da Cuca,
Canivete, Divisa, Depósito, Manino, Ytaguassu, Olaria e Bispo que seguiam por
aqueduto até o Guaraú, e a partir daí, diretamente ao Reservatório, em
encanamentos de 600mm.
Perfil de distribuição do encanamento de 600mm entre o Guaraú e a Consolação
82
4. NOVA CONFIGURAÇÃO DA VIDA
No final do século XIX, com a proclamação da República, abre-se para o
governo do Estado de São Paulo, uma conjuntura favorável à realização de obras de
infra-estrutura, que mudarão o espaço urbano, e que serão fundamentais, não
apenas para melhor articular elite paulistana ao mercado internacional, mas também
para garantir a inserção do Brasil na “nova” divisão internacional do trabalho, como
“parceiro aceitável no rol das nações civilizadas”.
130
Trata-se de um dos períodos mais efervescentes de nossa história, quando se
inicia a diversificação da economia nacional, que começava a industrializar-se, e a
sociedade em vias de modernização, tinha na indústria seu principal processo de
aceleração.
Quando a produção cafeeira paulista atingiu o apogeu, alargando as
fronteiras econômicas do Estado, urbanizando transações e negócios,
desenvolvendo o transporte ferroviário e atraindo a imigração européia, criou
condições propícias para o aparecimento, expansão e montagem de fábricas que
até então se diligenciavam, personificadas nos esforços dos pioneiros da época.
Progressivamente, começaram a se delinear, o arcabouço ideológico das
indústrias e sua mentalidade civilizatória, na estruturação do novo contexto urbano,
alterando a paisagem, em suas coordenadas no tempo, nos móveis e imóveis, como
suporte de suas atividades.
A partir da segunda metade do século XIX, as atividades industriais aos
poucos passam a compor a paisagem paulistana. Os elementos integrantes do
espaço físico condicionaram o aparecimento de certos tipos de infra-estruturas
industriais e de serviços, constituindo-se no fator primordial para a escolha dos
mananciais da Serra da Cantareira, como fontes de captação de água para o
abastecimento da cidade de São Paulo.
Dessas premissas, concluí-se ser, da máxima relevância, a exploração de
algumas variáveis, considerando-se que as mesmas diferem, conforme o tipo da
atuação industrial que se pretende estudar. No caso da infra-estrutura implantada
130
HARDMAN, Francisco F. Trem Fantasma. A modernidade na selva. São Paulo. Companhia das
Letras, 1988, p.16.
83
pela Companhia Cantareira, e sua sucessora a Repartição de Águas e Esgotos
RAE, deve-se levar em conta:
As mudanças no cotidiano dos paulistanos, com a introdução de um sistema
regular de abastecimento de água.
As relações entre o fenômeno da construção e o do conceito de uma cidade
moderna e burguesa, a partir de 1877, com repercussões nos setores
produtivos, que poderiam se beneficiar com essas infra-estruturas.
As alterações provocadas nas redes de transportes, destinadas à entrada e
saída de materiais para as obras, que nesse caso levaram à implantação de
uma ferrovia urbana conhecida como tramway da Cantareira.
4.1 A cidade salubre
131
O desenvolvimento industrial realizava-se no bojo do complexo agrário-
exportador
132
, que propiciou a criação de instituições financeiras e bancárias. A
Capital paulistana teve uma filial do Banco do Brasil, somente em 1855, funcionando
na Rua Direita, com quatro funcionários; em 1859 fundava-se o Banco de São
Paulo, e em 1875 surgia a Caixa Econômica.
No entanto, em 1887, no auge da produção cafeeira, a situação mudou:
Banco do Brasil com 33.000:000$000 de capital e 165.000 ações,
Crédito Real de São Paulo, 5.000:000$000 e 100.000 ações;
London and Brazilian Bank, Libras 1.000.000 e 50 ações;
English Bank of Rio de Janeiro, com Libras 1.000.000 e 50.000 ações;
Banco Comercial de São Paulo, com 2.000:000$000 e 10.000 ações,
Banco da Lavoura, com 1.000:000$000 de capital e 5.000 ações.
133
O incremento do capital financeiro e industrial, aliado a uma oferta de mão-de-
obra proporcionada pelo incentivo do Estado à imigração, fez com que também
aumentassem as atividades ligadas ao comércio.
131
Termo usado pelo professor Victor da Silva Freire na Conferência realizada em 13 de março de
1914, no Grêmio Politécnico in Revista Polytechnica Typographia Brazil Rothschild & Co. São Paulo,
1914 p. 219 a p. 254
132
NADAI, Elza. Ideologia do Progresso e Ensino Superior. São Paulo. Ed. Loyola, 1987, p. 94.
133
PAULA, Eurípides Simões de. A segunda fundação de São Paulo; da pequena cidade à grande
metrópole de hoje. São Paulo, Revista de História, ano V, nº 17, 1954, p176.
84
Aos poucos, aquele velho panorama de armazéns de secos e
molhados, lojas de panos de algodão e hospedarias rústicas, vai
sendo transformado pela presença das importadoras, das casas de
moda, de vinhos, de materiais de construção, e dos hotéis de porte, a
isso correspondendo novas conformações urbanísticas.
134
(BARBUY,
2006)
No século XIX, a oligarquia cafeeira, inspirada nos ingleses e franceses, teve
a perspicácia de confirmar as teorias, segundas as quais, existia uma estreita
relação entre os problemas de saúde pública, e as condições físicas do ambiente,
que poderiam gerar convulsões sociais, na Capital paulistana que estava se
industrializando. Para evitar esses conflitos, que alteram a rotina do sistema
produtivo, uma nova ordenação do espaço urbano, com a promulgação de leis
sanitárias e de edificações, principalmente para as habitações populares,
procurando acomodar os interesses da nascente burguesia, em detrimento das
camadas menos favorecidas da população.
Em São Paulo, o Código Sanitário, Lei
233
de 02 de Março de 1894, tinha
um capítulo dedicado à regulamentação da higiene nas edificações, obrigando os
donos dos imóveis de aluguel, a introduzirem itens básicos de salubridade nas
construções. Esse instrumento legal, procurava dar ordenamento às questões de
saneamento, porém, feria costumes arraigados, desde o período colonial.
Os viajantes do começo do século XIX relatavam as condições das casas
paulistanas:
Insetos como mosquitos, baratas, pulgas, bichos-de-pé, entre
outros, picos de países tropicais, estão presentes em muitas
descrições associados à sujeira e à falta de cuidados com o lar. …
o artifício de queimar ervas aromáticas como a alfazema,
trazia às casas um aspecto de limpeza, já que esses odores
invadiam o ar, e em muitas vezes, despistavam os cheiros
desagradáveis.
135
(SIMÕES, 2001)
Naquela época, o asseio através dos banhos, as necessidades fisiológicas e
o destino dos dejetos, eram questões tratadas separadamente. A higiene pessoal
era pontual, e efetuada em banhos de rios, ou pela maioria das pessoas nos
134
BARBUY, Heloísa. A Cidade-Exposição Comércio e Cosmopolitismo em São Paulo,
160 – 1915. São Paulo, EDUSP, 2006, p. 28
135
SIMÕES,R. (org) Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira, vol. 3. Costumes,
Museu da Casa Brasileira.São Paulo, 2001, p.18.
85
quartos, usando-se bacias de metal ou gamelas de madeira. A importância da água
resumia-se principalmente no preparo dos alimentos, e para matar a sede.
“Não é necessário esforço de imaginação para entender como se tomava
banho sem água encanada. Basta lembrar uma banhista de Degas, acocorada sobre
uma bacia de metal.”
136
As necessidades fisiológicas se resolviam, na maioria das vezes, no quintal
das casas, onde havia a “casinha” ou a mesmo no mato mais próximo. As
mulheres utilizavam os urinóis e os pequenos cômodos das latrinas, que muitas
vezes eram construídas sobre buracos, que de tempos em tempos, eram
esvaziados, levando-se os resíduos para serem jogados nas várzeas do
Tamanduateí ou do Tietê.
O banho, ao longo da história, foi quase sempre de imersão, e somente no
começo do século XIX surgiu na Europa uma grande novidade, o chuveiro. Para
LANDI:
(...) aqui se associam o problema dos costumes com os
recursos tecnológicos. As banheiras das famílias abastadas eram
construídas em pedra ou mármore. As banheiras populares eram em
madeira, seguindo o mesmo princípio dos tonéis. No século passado,
estas últimas passaram a receber um revestimento em folha de zinco
ou chumbo para melhorar a impermeabilidade.
137
(LANDI, 1991)
Em 1865, com a inauguração do primeiro estabelecimento de banhos da
cidade, o “Serea Paulista, os paulistanos:
(...) se depararam pela primeira vez com chuveiros manuais e
com banheiras de zinco, em que se podia tomar banhos de imersão,
chegando, os ricos, a encomendar vastas banheiras talhadas em
blocos de fino mármore, como é o caso do exemplar que dizem ter
pertencido à Marquesa de Santos, hoje exposto na chamada Casa
da Marquesa.
138
136
PERROT, Michelle (org). História da Vida Privada. Da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Vol
4, São Paulo, ed Schwarcz, 1991, p. 444.
137
LANDI, Francisco R. A Evolução histórica das instalações hidráulicas. São Paulo, Boletim Técnico
da Escola Politécnica, no 100, 1991, p. 20.
138
CAMPOS,Eudes, São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o império, In História da
cidade de São Paulo, Paz e Terra, 2004, p. 198.
86
A partir de 1881, com a água encanada e as dificuldades em adquirir os
equipamentos importados para equipar as casas, foi adotado o sistema que poupava
o uso de material hidráulico, juntando no mesmo ambiente o banheiro e a “casa de
banho”. As residências de luxo destinaram-lhe um cômodo exclusivo. As peças
apropriadas para esse tipo de ambiente deixaram de ser portáteis, e passaram a ser
fixada, e os banhos aos poucos, se tornaram regulares.
A água corrente possibilitava o aperfeiçoamento dos hábitos higiênicos. Ao
aumento das possibilidades financeiras dos proprietários mais abastados,
correspondia um refinamento técnico, uma integração crescente nos benefícios da
civilização industrial e, conseqüentemente, um refinamento de usos, até então
desconhecidos.
139
Proposta de sanitário masculino com os novos equipamentos hidráulicos e
higiênicos
140
139
REIS FILHO, N.G. Quadro da Arquitetura no Brasil, Ed Perspectiva,1970, p.50.
140
POUPARD, Aîné, La Plomberie au Point de vue de La Salubrité des Maison par S. Stevens Hellyer
(Traduit de L’Anglais, Paris, Librairie Génélarle de L’Architecture et des Travaux Publics, 1886, p.377.
87
Nos banheiros dissemina-se o autoclismo inglês, e assim como em algumas
cidades européias, a capital paulistana entra na idade de ouro da canalização. As
casas situadas nos bairros centrais, passaram a ter água constante e em grande
quantidade. Os novos hábitos de higiene teriam que se adaptar aos novos
equipamentos, e estes aos novos costumes. Os aparelhos hidráulicos vieram ao
encontro da revalorização do asseio pessoal, e de uma nova noção de conforto e
salubridade, preconizada pelas teorias sanitárias, que muito tardiamente chegou às
classes mais populares.
Com relação à essa população, quem não dispusesse de uma casa de pau-a-
pique, para morar no centro da cidade, era obrigada a se instalar e pagar aluguel
em um cortiço, segundo Relatório do Intendente Municipal, esta se constituía em
moradia-padrão dos despossuídos, abrigando várias famílias.
141
Portanto, “o cortiço, a fábrica e a estrada de ferro, constituíram-se nos
principais elementos do novo complexo urbano.
142
As instalações prediais deveriam contar com instalações hidráulicas, e
sanitárias, e sua exigência a partir do Código Sanitário, Decreto 233/1894, gerou
protestos entre os construtores, e os proprietários de casas de aluguel e de cortiços,
que estavam preocupados apenas com os seus lucros, e não com o bem estar de
seus locatários.
O Poder Público já havia aplicado outras disposições, como a Lei no 13 de 27
de março de 1886, que determinava em seu artigo 1
o
inciso 4
o
: “os cortiços deverão
ter em todos eles portas e janelas, sendo a largura definida em 90cm de largura e
1,80m de altura, porém, a situação continuava inalterada”.
143
“O primeiro inquilino pede umas alterações; dividem-se as alcovas porque tem
muita família; vão se fazendo melhoramentos; mais contrafeitos para outros
inquilinos; mais accomodações; com os annos mais e mais remendos; tudo
141
SÃO PAULO. Relatório apresentado à Câmara Municipal de São Paulo pelo Intendente Municipal
Cesário Ramalho da Silva em 1893, São Paulo, 1894, Acervo Biblioteca Mário de Andrade, Setor de
Obras Raras.
142
MUMFORD, L. A Cidade na História, usas origens, transformações e perspectivas. São Paulo,
Editora Martins Fontes, 1998, p.496.
143
SÃO PAULO. Leis e Decretos, Lei 13 de 27 de março de 1886. Dispõe sobre habitações
populares e dá outras providências.
88
baratinho; o “indispensável” para que sempre 8 por cento. A casa fica um
agglomerado de gaiolas sem luz, de pardieiros sem ar, sem aceio.”
144
Um cortiço típico, segundo pesquisa realizada em 1893, ocupava o interior de
um quarteirão, onde o terreno era geralmente baixo e úmido, e sua salubridade
ficava na dependência dos recursos financeiros de seu proprietário.
Era formado por uma série de pequenas moradias em torno de um
pátio exíguo ao qual vinha ter, da rua, um corredor longo e estreito. A
moradia média abrigava de 4 a 6 pessoas, embora suas dimensões
raramente excedessem 3 metros por 5 ou 6, com uma altura de 3 a
3,5 metros. Os móveis existentes ocupavam um terço do espaço. O
cubículo de dormir não tinha luz nem ventilação; superlotado, à noite
era ”hermeticamente fechado”. Exceto nos cômodos de pessoas
naturais do norte da Europa, o soalho ficava tão incrustado de lama,
que não se viam as tábuas; a umidade do solo onde elas
repousavam fazia descascar o papel ordinário e liso das paredes.
Estes e os tetos eram pretos de sujeira de moscas e da fumaça do
fogão que a chaminé mal feita e mal conservada não eliminava
convenientemente.
O pátio principal fornecia às moradias que o rodeavam
uma torneira recalcitrante, um lugar para lavar roupa e uma
privada mal instalada. Ladrilhos e calhas geralmente não
existiam. Eram variações do cortiço: um prédio único s vezes
um sobrado modificado), excessivamente subdividido; o hotel-
cortiço de tipo dormitório; e barracões improvisados no fundo
de estábulos e armazéns. Todos se caracterizavam por falta de
ar, luz, espaço, limpeza, esgotos e solidez de construção.
145
(MORSE, 1954)
Para aumentar a intervenção, e disciplinar esse tipo de residência, o governo
aprovou o Decreto no 233 de 02 de março de 1894:
“(...) Artigo 112: Todas as habitações collectivas deverão dispor de abundante
abastecimento de agua potável proporcional ao numero dos domicílios.
Artigo 113: São imprescindíveis banheiros para os moradores.
Artigo 114: As latrinas e todas as installações hygienicas deverão obedecer aos
princípios estabelecidos para as habitações em geral.
Artigo 115: Devera haver uma latrina para cada grupo de 20 moradores”.
146
144
FRICK, John. Ar Puro. Rio de Janeiro ed Leuzinger, 1889.
145
MORSE, Richard M. De Comunidade a Metrópole - Biografia de São Paulo. São Paulo, 1954,
Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954, p. 210.
146
SÃO PAULO. Leis e Decretos. Decreto 233 de 2 de Março de 1894. O Presidente do Estado,
para a execução do artigo 3º da Lei nº 240 de 4 de Setembro de 1893, estabelece o Código Sanitário.
89
No mesmo Diploma Legal, o artigo 104, define que, todos os edifícios
destinados a conter permanentemente grande número de habitantes, deverão ser
construídos fora da aglomeração urbana, ou seja, as autoridades, acabam proibindo
este tipo de habitação, e a população mais pobre, aos poucos, é afastada do centro
da capital paulistana, ou seja é segregada.
Os autores do digo de 1894, foram influenciados pelos princípios da teoria
miasmática, e acreditavam que tudo que estava parado ou estagnado, o ar, a água,
os dejetos, o lixo e os próprios homens, eram fatores de doenças. Os vapores
emanados dos processos de putrefação da matéria animal ou vegetal, os miasmas,
seriam os causadores das epidemias. Portanto, segundo essa teoria, era mister a
adoção de preceitos de higiene, medidas de saneamento, que resultassem em uma
intensa assepsia do meio físico e social, pois onde imperava a sujeira, a
concentração e o amontoamento, criava-se um ambiente propício à formação de
miasmas e de doenças.
Surge, a “teoria social da doença”, que afirmava serem as ssimas
condições de trabalho, e de moradia dos trabalhadores, a alimentação, os
ambientes insalubres, a extrema pobreza, os fatores que identificavam a doença
como fenômeno social.
147
Pelo exposto, à medida que a cidade capitalista se expande “com a crescente
atuação da iniciativa privada, o Estado vai deixando de ser o agente da produção do
espaço na Cidade, interferindo normativamente, ou no momento em que é
necessário estabelecer a interligação entre os vários loteamentos esparsos, na
procura de conferir alguma coesão à colcha de retalhos a que se vai reduzir a
estrutura urbana paulistana”.
148
Desde os últimos anos do século XIX, eram plenamente visíveis os novos
padrões de vida na urbe paulistana; sua “transformação gradual”, envolvia o
alargamento de ruas que estavam atravancadas, com excesso de veículos de tração
animal, pedestres e vendedores, e foi uma das desculpas para alijar da Capital, as
classes populares por meio da demolição dos cortiços
No caso de São Paulo, a solução “vanguardista” para o princípio do caos da
nova aglomeração urbana, seria a derrubada das antigas construções, inspirando-
147
URTEAGA, Luiz. Miseria, miasmas y microbios. Las topografías medicas y el estudio del medio
ambiente en el siglo XIX. Barcelona: Revista Geo Critica, no 29, 1980, p. 35.
148
CAMPOS, E. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In História da
Cidade de São Paulo, vol. III, São Paulo, Editora Paz e Terra, 2004, p.224
90
se, ainda que, de modo difuso, no modelo de cidade implantado em Paris, pelo
Barão Haussmann
149
, procurando transformar a paulicéia no lugar da realização
plena da vida moderna.
Artigo publicado no Diário Popular de 1892, ilustra a afirmação anterior:
“Sabe-se o que foi o velho Paris, o Pais de la Cite, antihygiênico, com o seu
dédalo de ruas estreitas, em que se acotovelava uma população anémica e
rachitica. Entretanto, um prefeito empreendedor sem ousar tocar-lhe fogo, como o
fizera Nero aos velhos quarteirões de Roma em um dia de capricho, applicou-lhe a
picareta e os empréstimos, operando em vinte anos essa prodigiosa transformação,
de que por muito tempo se ressentiram talvez as nossas finanças, mas que faz
exultar a higiene.
Sem a pretensão de realizar o arrojado commetimento do Barão de
Haussmann, e menos imitar os caprichos de Nero, é tempo de cuidar-se seriamente
da transformação gradual desta Capital, subordinando-a a um plano de antemão
assentado.
É certo que não nos é lícito reclamarmos a demolição de uma cidade, para
reconstruí-la de acordo com as exigências hygienicas; mas, à proporção que se vae
ella estendendo, taes exigências podem e devem ser strictamente attendidas; por
outro lado, os prédios, os edifícios, como os homens envelhecem, mas com o
privilegio, que a estes não assiste, de renascerem; dando ensejo, nessa ocasião, de
observarem-se as prescripções higienicas”.
150
Delineava-se assim, de forma explícita, uma expansão urbana sob a égide do
conceito de remodelação ditado pelo saneamento. Por outro lado, o excesso de
população para a falta de espaço disponível, tornou necessário que o meio tropical
fosse saneado, o que evitava a proliferação de moléstias vindas do exterior, criando
ambiente salubre, com o objetivo de atrair mão-de-obra e investimentos
estrangeiros.
O adensamento populacional, muito acentuado a partir da imigração
subvencionada, que tinha o objetivo de suprir a cafeicultura e a industrialização que
149
Barão Haussmann foi prefeito de Paris de 1852 a 1870. Neste período remodelou completamente
a capital francesa à revelia das populações pobres, gerando uma especulação imobiliária e um
modelo de cidade considerada moderna.
150
DIÁRIO POPULAR - Série de artigos publicados no ano de 1892, com o título de Questões de
Actualidade. Saneamento de S. Paulo, Capítulo X, Companhia Cantareira.O articulista usa o
pseudônimo de A…, p.p. 35,36 Acervo do Arquivo do Estado.
91
se iniciava, traz consigo uma mudança de postura do poder público, com as áreas
urbanas marginais, dos rios e córregos, consideradas as mais desfavoráveis e
menos valorizadas da cidade, e destinada às camadas sociais inferiores, como a
região do Brás e da Mooca, que eram vistas como focos de moléstias epidêmicas e
toda sorte de distúrbios sociais.
Com essas preocupação, em abril de 1892, o governo estadual criou a
Comissão de saneamento, que foi responsável pelo estudo e implantação da
retificação dos rios Tamanduateí e Tietê.
Nessa mesma época, em função do avanço dos conhecimentos científicos,
que abandonando, em parte, a teoria miasmática, nos estudos das relações entre os
microorganismos presentes na água, os hábitos de higiene, a disponibilidade de
tratamento de esgotos, e a propagação de doenças, será exigida a presença cada
vez maior do Estado, no desenvolvimento de projetos, para a instalação de
eficientes sistemas de saneamento, de abastecimento e controle das águas.
“A água irá adquirir valor depois das descobertas de Pasteur
151
: estas
farão da lavagem das mãos uma nova obrigação social.”
152
Suas pesquisas
semeiam o medo dos micróbios na opinião pública.
Será ao longo do século XIX, que a captação e a distribuição de água,
atingirá seu auge entre os britânicos. A Europa seguirá a escola inglesa, e a obra de
Hellyer uma vez traduzida na França por Poupard
153
e a de Humber
154
serão
fundamentais para os engenheiros envolvidos no moderno sistema de
abastecimento paulistano.
151
Químico e biólogo francês, Louis Pasteur 1822 1895. Em 1862, formulou a teoria dos germes
como causadores das doenças, mudando a história da medicina. Muitas doenças inexplicáveis
passaram a ser compreendidas.
152
GUERRAND, Roger-Henri. Espaços Privados in PERROT, Michelle (org) História da Vida Privada
Da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo, Cia das Letras, 1991, p. 337.
153
POUPARD, Aîné, La Plomberie au Point de vue de La Salubrité des Maison par S. Stevens
Hellyer, Traduit de L’Anglais, Paris, Librairie Génélarle de L’Architecture et des Travaux Publics, 1886.
Obs: Poupard, empresário parisiense que enviou seu filho para um estágio com Stevens Hellyer e
traduziu sua obra.Publicada sob o patrocínio da Chambre Syndicale des Entrepeneurs de Plomberie
de la Ville de Paris.
154
HUMBER, William.A Comprehensive Treatise on the Water Supply of Cities and Towns, London,
Crosby Lockwood and Co, 1876.
92
Novos equipamentos hidráulicos, proposta de sua introdução nas residências
modernas
155
O poder econômico e o aumento populacional definiam os tipos de habitação.
Num extremo, passaram a existir as chamadas casas populares e os cortiços e, no
outro, o palacete.
Tal era, pois, em algumas pinceladas, a divisão das classes
em 1890. Em termos de bem estar material, seus extremos estavam
à maior distância do que em tempos mais antigos. Entretanto, a
complexidade e o anonimato da metrópole tinham levado à
desintegração muito dos antigos determinantes de classe. Por esta
razão a disparidade entre o palacete e o cortiço constituía uma ironia
e deu lugar a um mal-estar que a coexistência do sobrado e da
choça de pau-a-pique não tinham comportado.
156
(MORSE, 1954)
155
HUMBER, William. A Comprehensive Treatise on the Water Supply of Cities and Towns, London,
Crosby Lockwood and Co, 1876, p.217.
156
MORSE, Richard M. De Comunidade a Metrópole - Biografia de São Paulo. São Paulo, 1954,
Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954, p.210.
93
A maior densidade demográfica com a conseqüente ocupação do espaço,
precisava de melhoria nos meios de transporte, no abastecimento de produtos
alimentícios, na quantidade de vestimentas a um preço acessível, na mudança
dos materiais de construção mais duráveis, e na separação entre trabalho e vida
privada.
4.2 A cidade industrial
A industrialização, acaba sendo também uma resposta possível ao aumento
populacional, dependendo da capacidade de suprir o mercado consumidor,
adaptando-se às novas exigências da sociedade em expansão.
A obrigatoriedade da instalação de equipamentos exigidos nas residências,
com o Código Sanitário de 1894, como torneiras, sifões, ralos, caixas de água, vasos
sanitários, e banheiras, poderia ter gerado, naquele momento, uma oportunidade
para o surgimento de uma indústria paulistana neste setor, mas parece que não foi o
que aconteceu.
A dificuldade de quantificar as habitações que possuíam equipamentos
exigidos pela lei, esbarra na esfera do particular, uma vez que o Poder Público não
tinha uma fiscalização adequada.
Os relatórios da Repartição de Águas e Esgotos, relacionam a quantidade de
prédios ligados à rede de distribuição, mas se omite a respeito dos equipamentos
privados usados nas moradias.
Porém, quando o Estado resolveu equacionar os problemas suscitados com
descumprimento dos artigos do Decreto no 233 de 2 de março de 1894
157
, que
obrigava a instalação desses materiais, viu-se compelido a fornecê-los.
157
SÃO PAULO. Leis e Decretos. Decreto 233 de 2 de Março de 1894. O Presidente do Estado,
para a execução do artigo 3º da Lei nº 240 de 4 de Setembro de 1893, estabelece o Código Sanitário.
(.....) Artigo 51: A bacia de águas servidas deverá ser feita com material impermeável de superfície
lisa e sem guarnições de madeira.
Artigo 52: Os encanamentos que exgottam estas bacias deverão ter o syphão hidráulico interceptor,
munido de ralo e caixa de graxa.
(.....)
Artigo 54: Todos os edifícios e habitações deverão ter canalização especial de conducção das aguas
pluviaes directamente para os exgottos ou sargetas das ruas, nas localidades onde não houver
exgottos, devendo ser prohibido exgottamento das aguas para as calçadas dos passeios.
(.....)
94
Em 1902, o relatório da RAE revelava que depois das fortes chuvas ocorridas
em Novembro de 1901, a empresa resolveu reduzir a capacidade da rede de
drenagem e passou a instalar ralos, nos quintais das casas situadas na zona baixa
da cidade, como era o caso do Cambuci e da região do Brás, numa tentativa de
evitar o refluxo de esgoto, quando ocorria o transbordamento dos rios Tamanduateí
e Tietê.
O exame dessa fonte, atesta o aprofundamento do emprego de bacias
sanitárias, fornecidas pela empresa, sem explicitar as zonas da cidade que se
beneficiavam desse serviço. A documentação, por outro lado, não permite
compreender os motivos dessa escolha. Sem indicadores precisos, a análise fica
comprometida, e sem resposta: seria uma deficiência de fabricação, de importação,
ou de falta desses produtos nas lojas especializadas?
Contudo, a RAE, procurando o cumprimento de uma maior eficiência na área
sanitária, foi obrigada a interferir de maneira direta no espaço urbano, e no
doméstico. E ao assumir a colocação de ralos e vasos sanitários, fica evidente que
se dependesse dos proprietários dos imóveis, esses equipamentos não seriam
instalados.
Um sistema apropriado de captação e distribuição de água dependia também
do progresso da indústria hidráulica que poderia proporcionar maior eficiência no
represamento e nos encanamentos de distribuição de água.
Artigo 56: Não deverá ser permittida latrina, destinada ao uso commum dos moradores, unida aos
aposentos de dormir. Não estão neste caso as dependências de toilette.
(.....)
Artigo 59: Deverão ser prohidas as caixas de madeiras para revestimento dos apparelhos hygienicos.
Artigo 60: A bacia ou receptáculo das latrinas deverá ser de material impermeável sólido, polido
interiormente, sem relevos nem ornatos. Os apparelhos munidos de fundos moveis de válvulas
deverão ser condemnados nas habitações a construir de ora avante.
(.....)
Artigo 62: Todas as latrinas deverão ter syphão simples em–S, com interceptor hydraulico.
.....
Artigo 70: As caixas deverão dar descargas provocadas ou automáticas intermittentes,
convenientemente calculadas.
(.....)
Artigo 74: Os encanamentos das aguas servidas de cozinha, banheiros e lavatórios deverão ser
separados dos exgottos por meio de interceptor hydraulico.
(.....)
Artigo 112: Todas as habitações collectivas deverão dispor de abundante abastecimento de agua
potável proporcional ao numero dos domicílios.
Artigo 113: São imprescindíveis banheiros para os moradores.
Artigo 114: As latrinas e todas as installações hygienicas deverão obedecer aos princípios
estabelecidos para as habitações em geral.
Artigo 115: Devera haver uma latrina para cada grupo de 20 moradores.
95
As obras de saneamento funcionaram como vetores de pressão para novos
empreendimentos, na execução dos serviços, na importação, na fabricação, e
aperfeiçoamento de materiais de construção.
Ao lado dos empresários do café, começavam a despontar os industriais
estrangeiros.
O fazendeiro de café, transformado no ”coronel” e no homem
de negócios, ocupava os postos-chave da estrutura econômica,
política e social. Era o principal agente da passagem do capitalismo
comercial e financeiro externo para o interno. O imigrante, por sua
vez, colocava-se nas funções emergentes desse processo, desde
assalariado a homem de negócios.
158
(HOMEM, 1996)
Foi o caso de Alexandre Siciliano, nascido em S. Nicola Arcela, na Calábria,
Itália, fundador de uma das primeiras empresas paulistanas a ser atraída para as
novas oportunidades, a Companhia Mechanica Importadora, que se fundiu com as
firmas Lacerda Camargo & Comp. E Engelberg, Siciliano & Comp, sendo fundada
em 6 de Setembro de 1890. Em pouco tempo se tornou um dos empreendimentos
mais importantes da urbe paulistana, e sua presença passa a ser assinalada nas
plantas da cidade.
Em seus estatutos constava que tinha por fim:
Negociar em tudo que possa ser comprehendido na classe de
machinismos, fabricação, construcção e importação de machinas,
materiaes para estradas de ferro, para abastecimento de água, para
illuminação e dependências; importação em geral e empreitadas,
exploração de privilégios, concessões e contractos para
fornecimentos de construcções civis, navaes, hydraulicas, etc.
159
(PINTO, 1979) (grifo nosso)
Suas instalações, ocupavam uma área de trinta mil metros quadrados entre
as ruas Monsenhor Andrade, e Américo Brasiliense, (no mapa indicadas com o
158
HOMEM, Maria Cecília Naclério, O Palacete Paulistano e Outras Formas Urbanas de Morar da
Elite Cafeeira. 1867 – 1918. São Paulo. Martins Fontes. 1996. p. 117.
159
PINTO, Alfredo Moreira, A Cidade de São Paulo em 1900. Coleção Paulística vol. XIV, São Paulo.
Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 215.
96
número 46), próximas aos armazéns do Pari, no bairro do Brás, e ao edifício da
Alfândega em São Paulo.
Segundo relato da época, em 1900, possuía várias oficinas, sendo a fundição,
onde trabalhavam oitenta operários, com uma produção de oitenta toneladas por
mês de material fundido, era uma das maiores da cidade, com dois fornos e
máquinas, alimentadas por motor a vapor de 16 hp, da firma inglesa Robey, da qual
a Cia Mechanica, era a representante em São Paulo.
Tinha ainda uma carpintaria com máquinas a vapor, e um setor onde
fabricavam máquinas para beneficiamento de café, como descascadores,
ventiladores para o grão descascado, despolpadores, e separadores, telas de
arames e diversos motores hidráulicos.
Junto à fábrica, estava o armazém de produtos importados, principalmente
aqueles referentes ao ramo mecânico. No setor de matéria prima, o destaque era
para o depósito de madeiras nacionais. Nesse ramo de atividade, se encontravam as
fábricas mais numerosas, uma vez que, “correspondem às necessidades sempre em
augmento da cidade, que cresce de dia para dia: ocupam 502 operários e força
motriz de 330 cavallos.”
160
Em outro prédio, situado na Rua do Triunfo, no primeiro andar, (no mapa
indicado com o 45), com a oficina mecânica, a administração, com 60
funcionários, e 4 engenheiros mecânicos, os ateliês de desenhos, e o depósito e
mostruário de móveis de madeira, produzidos pela empresa.
160
SÃO PAULO. Relatório da Repartição de Estatística e Archivo apresentado ao Secretário dos
Negócios do Interior do Estado de S. Paulo, em 30 de setembro de 1895. São Paulo Typographia da
Companhia Industrial de S. Paulo. 1896. p.192.
97
Planta da Cidade de São Paulo com referenciaes e indicação do principaes edifícios
públicos e de Casas Commerciaes e Industriaes Escala 1:10.000 1895 Editor Hugo
Bonvicini
No térreo, estava a caldearia, a ferraria, a tornearia, com máquinas movidas
por motor Robey de 90 hp.
Entre os maiores compradores de seus produtos, além do Estado de São
Paulo, estavam o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.
Conforme relatório da Repartição de Estatística, em 1895, a Cia tinha 250
operários, todos homens, aos quais pagava em média 6$000 por dia de trabalho,
pouco, para a sobrevivência dos trabalhadores, porém, acima do que pagava o
mercado.
161
Salário Mensal: 180$000.
A título de comparação, no mesmo ano, a São Paulo Railway Company, de
capital inglês, possuía 300 operários, aos quais pagava 4$700 por dia. Salário
Mensal: 141$000.
161
SÃO PAULO. Relatório da Repartição de Estatística e Archivo apresentado ao Secretário dos
Negócios do Interior do Estado de S. Paulo, em 30 de setembro de 1895. São Paulo Typographia da
Companhia Industrial de S. Paulo. 1896. p.191.
98
A Estrada de Ferro Central do Brasil, tinha 288 empregados, sendo 5
técnicos, 247 homens e 36 meninos, com salários entre 1$500 a 4$500 por dia.
Salários: 45$000 e 135$000.
Uma das maiores fábricas de tecidos, a Santa Maria, situada no Brás,
empregava 40 homens, 360 mulheres e 40 crianças, com ordenados de 1$000,
2$500 e 4$000 por dia. Salários mensais: 30$000, 75$000 e 120$000.
A Companhia de Gás, ocupava 289 pessoas, todos homens e pagava em
média, o mesmo salário da Cia Mechanica, 6$000 por dia. Salário mensal:
180$000.
162
Em 1892, ou seja, 3 anos antes, com esses rendimentos os trabalhadores
viviam em situação desesperadora, afinal, para um operário ser considerado de
classe média, precisava receber pelo menos R$ 500$000 por mês.
Segundo o jornal Diário Popular, uma família pequena não podia mais viver
com esse valor por mês, pois era vítima :
“(...) do excessivo preço dos gêneros de primeira necessidade, a carestia do
vestuário, a quase impossibilidade de pagar-se o serviço domestico, o collegio de educação,
o medico, a botica, o combustível escasso e sobretudo, o conjucto enorme de necessidades
que creamos e que não mais se póde deixar de satisfazer, tudo isso unido a falta de
previdência, a ausência de sociedades cooperativas de consumo, aos desastres do jogo da
bolsa no período vertiginoso da expansão do crédito (...)
163
Em 1900, a companhia tinha dobrado o número de operários, 500, em sua
maioria imigrantes, que trabalhavam 54 horas por semana, com salários de 450 a
1$000 por hora de serviço, perfazendo R$ 97$200 a R$ 216$000, por mês
164
.
Considerando esses dados, em cinco anos a empresa teve um crescimento
impressionante, e embora os valores dos salários tivessem melhorado, ainda assim,
esse funcionário estava longe de ser considerado como classe média.
Essa mão-de-obra, através de suas oficinas, executou
162
Os salários constam do Relatório da Repartição de Estatística e Archivo apresentado ao
Secretário dos Negócios do Interior do Estado de S. Paulo, em 30 de setembro de 1895. São Paulo
Typographia da Companhia Industrial de S. Paulo.1896
163
DIÁRIO POPULAR,12 de março de 1892, p.02.
164
PINTO, Alfredo Moreira, A Cidade de São Paulo em 1900. Coleção Paulística vol. XIV, São Paulo.
Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 211 a 215.
99
(...) artigos com acabamento finos, como candelabros que
ornamentam os jardins do Teatro Municipal de São Paulo, as colunas
de iluminação das avenidas Rio Branco e Beira Mar no Rio de
Janeiro, as colunas do Palacete Martinica, além de várias pontes
para a Companhia Araraquarense de Estadas de Ferro, telhados
mecânicos para a Companhia Mogiana, algumas máquinas do
Moinho Matarazzo, a superestrutura metálica da Casa Alemã, dos
teatros São José e Sant’Anna. Além disso, é responsável por parte
do suprimento de ferramentas e máquinas para a indústria, como
serras, prensas, turbinas, moinhos para arroz e milho, engenhos pra
açúcar, guindastes, reservatórios, elevadores, carrosséis para
automóveis, engrenagens de toda espécie etc.
165
(CARONE, 2000)
Em 1893, quando o Estado assume as obras de saneamento, os
investimentos públicos se voltaram também para o aumento da rede de esgotos, em
razão dessa assertiva, um ramo de atividade que passa a ter importância no
mercado interno, é o da fabricação de tubos de barro vidrados, as manilhas.
Independentemente das diversas seções que formam as
oficinas e os armazéns do Pari, possui a Companhia uma
unidade produtiva destinada à cerâmica, no bairro da Água
Branca, onde se fabricam em larga escala materiais de
saneamento urbano.
166
(
CARONE, 2000)
Para a instalação dessa rede de serviços, a R.A.E., passa a adquirir material
da Cia. Mechânica, que se une através de contrato, com as concorrentes, a
cerâmica Sensaud de Lavaud & Cia, e a Companhia Progresso Paulista, para a
fabricação desse tipo de tubos, formando o primeiro “looby” industrial brasileiro. O
grupo, se tornou o fornecedor exclusivo desse produto em todo o Estado de São
Paulo. As três empresas formaram um cartel no setor cerâmico, não sendo possível
produzir-se mais barato, os produtos que somente elas forneciam.
Outro industrial de destaque, é o paulista Antonio Proost Rodovalho,
proprietário da Companhia Cantareira de Águas e Esgotos. Em 1877, mesmo ano da
fundação da empresa, resolve construir em uma de suas propriedades, dois fornos
para a produção de cal, na fazenda Caieiras, às margens do rio Juquery. Em 1889,
contratou técnicos da Alemanha, para montar na mesma região, uma fábrica de
produção de papel, a Companhia Melhoramentos de São Paulo, que atuaria também
165
CARONE, Edgard. A Evolução Industrial de São Paulo. 1889 – 1930. Ed Senac. 2000. p. 132
166
CARONE, Edgard. A Evolução Industrial de São Paulo. 1889 – 1930. Ed Senac. 2000. p. 132
100
no ramo de materiais de construção, e na importação de equipamentos. Com uma
produção de seis toneladas de papel por dia, seu maior desafio residia no transporte
dos produtos, que ainda era feito em carroças.
Apesar de todos os contatos com empresários e a elite cafeeira, o
conseguia dos ingleses, donos da ferrovia, que passava próxima de sua
propriedade, a autorização para a construção de um ramal, e além disso, não tinha,
como acontecia com os produtores de café, qualquer desconto nos valores dos
fretes.
Em 1894, fundou a Associação Comercial de São Paulo, e um ano depois,
enfrentou a maior crise em um de seus investimentos, perdeu 310 toneladas de
papel em uma enchente, e foi afetado pela crise do setor cafeeiro, onde tinha vários
sócios. Rodovalho, se viu obrigado a fazer empréstimos junto aos Bancos do Rio de
Janeiro.
Somente em 1897, quando se tornou acionista da São Paulo Railway,
implantou um ramal ferroviário para escoar a produção, mas era tarde demais, para
saldar as vultuosas dívidas junto aos banqueiros, viu-se coagido a vender o
empreendimento.
Em 1893, em sociedade com seu filho, fundou a Rodovalho Júnior & Cia,
dedicada ao setor de transportes, com aluguel de carruagens e carros para ocasiões
especiais. Em seguida, assina contrato com a Santa Casa de Misericórdia, que
cuidava dos sepultamentos na cidade e consegue a concessão municipal para
administrar o serviço funerário, que ficou com a família até 1941.
Em 1897, na Fazenda Santo Antônio, nas proximidades do Município de São
Roque, instalou a primeira fábrica de cimento portland do país, a partir da mistura
de calcário e argila, calcinadas em fornos. No início do século XX, a usina conhecida
como Rodovalho, foi comprada pela A. R. Pereira & Cia que, ampliando o negócio,
construiu outra fábrica de cimento no bairro de Santa Helena, em Votorantin,
passando a se chamar “Cimento Votorantin”, denominação que mantém até hoje.
167
Na realidade, o embrião que originou os primórdios da industrialização em
São Paulo, e o desenvolvimento de uma tecnologia própria, está vinculado ao
saneamento da cidade, e toda a indústria que está por trás desse equipamento
coletivo.
167
KAHTOUNI, Saide. Cidade das águas. São Paulo. Ed Rima. 2004. p.73.
101
4.3 Tramway da Cantareira
168
Embora algumas circunstâncias, consagradas pelos estudiosos,
favoreceram a economia da cidade de São Paulo, na segunda metade do século
XIX, existem opiniões divergentes, a exemplo de Celso Furtado
169
, Wilson Cano
170
e
Warren Dean
171
, que explicam de maneira diversa, o início da industrialização
paulistana, como por exemplo, a substituição da importação, como já se disse
acima, a habilidade empresarial dos importadores, o capital gerado pelo complexo
cafeicultor, e a substituição da produção artesanal, diante de um mercado
consumidor, sempre crescente; todos esses fatores reunidos, foram, talvez, vetores
do processo da industrialização.
Não obstante, esse período foi marcado pela construção em 1867, da ferrovia
entre São Paulo e Santos, pertencente a São Paulo Railway Co., que deu novo
impulso às exportações do café, e a vinda de produtos estrangeiros que fariam parte
do quotidiano da elite paulistana de então.
Além dessa empresa, outras passaram a trafegar com seus vagões que
transportavam pelo território paulista uma expressiva quantidade de pessoas e,
principalmente de mercadorias.
172
No começo desta estrada férrea, do Planalto, rumo à baixada,
desciam café (44% do total faturado po peso transportado), algodão
(10%), açúcar (3%), toucinho (1%) e tabaco (0,7%); por sua vez, no
sentido da Capital, era o sal que ocupava a posição de destaque,
com uma participação da ordem de 17%. A importância da rubiácea
viu-se aumentada nos anos seguintes, em função do prolongamento
da malha ferroviária em direção a áreas cafeeiras, bem como do
declínio das nossas exportações de algodão.
173
(NOZOE, 2004)
168
O Tramway foi instalado em 1893, e funcionou até 1965, ficando conhecido como “trenzinho da
Cantareira”, será usado, como baliza temporal, apenas o ano de 1894, início de suas atividades, uma
vez que foi implantado com a finalidade de levar os materiais necessários para viabilizar a construção
das represas e do aqueduto na Serra da Cantareira, seu estudo estará limitado ao nosso objeto de
pesquisa. Em São Paulo, a palavra tramway designava uma ferrovia urbana com locomotivas.
169
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo. Cia Ed. Nacional, 2003
170
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Campinas, UNICAMP, 1998.
171
DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo 1880 – 1945. São Paulo. DIFEL, 1971.
172
SAES, Flávio Azevedo Marques de. As ferrovias de São Paulo, 1870 1950: expansão e declínio
do transporte ferroviário em São Paulo, Hucitec, 1981, p.73.
173
NOZOE, Nelson. Vida econômica e finanças municipais da Capital paulista na época imperial, in
História da Cidade de São Paulo A cidade no império 1823 1889, São Paulo, Paz e Terra, 2004,
pp113,114.
102
Com o tempo, o trem facilitou a vinda de produtos industrializados, e o
comércio que até 1860, se caracterizava pelos gêneros de primeira necessidade,
passa a contar com uma maior quantidade de produtos importados, voltados para o
modo de vida burguês de modelo europeu.
O Poder Público, logo percebe as vantagens desse meio de transporte,
estabelecendo os trens de subúrbio, que deveriam conduzir a população à periferia,
induzindo a ocupação das áreas fora dos limites da cidade.
As exigências técnicas, e as facilidades de transporte, influenciaram as
decisões na localização das unidades fabris e dos serviços. No caso do
abastecimento de água, os empreendedores não tiveram escolha, teriam que captar
os mananciais onde quer que eles estivessem. Situados a aproximadamente, quinze
quilômetros do centro da cidade, estavam em uma região de difícil acesso.
Para facilitar a remessa de materiais às obras de captação de água, a
administração pública, evocou a si a solução do problema, implantando uma via
férrea, interligada aos galpões da São Paulo Railway, e a Serra da Cantareira
174
, o
que exigiu várias desapropriações
175
, e a mudança de traçado de antigos caminhos.
174
Segundo PANNEL, em grandes obras de construção como as de abastecimento de água é
necessário que o arqueólogo industrial pesquise de que forma os materiais foram transportados, uma
vez que geralmente envolvem novas vias de acesso e equipamentos especiais de transporte. In
PANNEL; J.P.M. The Techniques of Industrial Archaeology,Great Britain, edited by J. Kenneth Major,
1984, p. 151 a 153.
O mesmo autor recomenda que se consulte o tipo de material empregado pois alguns podem
representar inovação na técnica construtiva. Nesse caso, a presença de tijolos e equipamentos
hidráulicos. Obra cit. p. 154.
175
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Decreto no 184 de 13 de julho de 1893. Declara de utilidade pública,
para desapropriação nos termos legais, os terrenos a atravessar pela linha do tramway que se dirige
à Serra da Cantareira, constituindo os referidos terrenos uma facha de vinte metros de largo, na
extensão da mesma linha, ou de dez metros de cada lado na mesma extensão.
103
Reservatorio de Accumulação, com o ponto final do Tramway. Foto P. Doumet 1894.
Acervo Museu da SABESP Obs. À esquerda o trem parado na Estação.
De acordo ainda com Pannel
176
, a implantação de ferrovias na Inglaterra, teve
como conseqüência a substituição, e ou o reforço, das pontes ao longo do trajeto, o
que também ocorreu na linha do tramway.
A instabilidade dos antigos pontilhões, obrigou à construção de estrutura, que
teriam de ser adaptadas ao novo delineamento da via férrea, em fase de
implantação, e às novas exigências, daí decorrentes.
176
PANNEL, J.P.M. The Techniques of Industrial Archaeology,Great Britain, edited by J.
Kenneth Major, 1984.
104
Ilustração da construção da Rua São Caetano
Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo. Relatório Annual apresentado
ao Exmo Sr Dr Jorge Tibiriçá pelo Engenheiro João Pereira Ferraz em 1894 p. 84
“Consistiram os trabalhos da secção nos projetos de pontes para o canal do
Tamanduatehy e para o canal supplementar do Tieté, assim como para aquelas
necessárias à linha do Tramway da Cantareira.”
177
O primeiro trecho foi, entre a Avenida Tiradentes, e o pátio da estação do
Pari, onde um acordo firmado com a São Paulo Railway, permitiu fazer a carga e a
descarga dos materiais, para a construção da ponte da Avenida Tiradentes, e
177
SÃO PAULO. Relatório Annual da Commissão de Saneamento do Estado de São Paulo
apresentado ao Sr Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira
Ferraz referente ao anno de 1893, São Paulo, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894, p.05.
105
daquelas destinadas à serra. A maior dificuldade de execução, foi na região da
várzea entre Santana e Pari, que exigiu grande quantidade de aterro.
Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo. Relatório Annual apresentado
ao Exmo Sr Dr Jorge Tibiriçá pelo Engenheiro João Pereira Ferraz em 1894
178
178
COMISSÃO DE SANEAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Relatório Annual apresentado ao
Exmo Sr Dr Jorge Tibiriçá pelo Engenheiro João Pereira Ferraz. São Paulo. Comissão de
Saneamento. 1894. p.82.
106
Mapa da linha do tramway, com as estações de Santana, Mandaqui, Tremembé e
Cantareira.
Comissão Geográfica e Geológica Publicação Especial para a Secretaria da
Justiça e Segurança Pública Folha do Município da Capital. Escala 1:100.000 Acervo do
Instituto Geográfico e Cartográfico.1904. Obs. No detalhe, linha do tramway, com as
estações de Santana, Mandaqui, Tremembé e Cantareira.
O estudo da estrada de ferro, deve defini-la como uma estrutura histórica,
capaz de informar o desenvolvimento e progresso tecnológico, alcançado por uma
cidade, através dela.
179
179
GARCIA, Mercedes Lopez, “La obra Publica, Investigacion y Practica in I Encontro Nacional sobre
o Património Industrial, vol I Coimbra editora Ltda, Coimbra, 1989, p. 290.
107
A análise deste microcosmo, que constitui a implantação da linha férrea, inclui
entre outros fatores, o material de sua construção e a infraestrutura urbana,
necessários para viabilizá-la, o que acarreta mudanças na fabricação de vários
produtos, como os tijolos que precisavam ser mais resistentes para este tipo de
obra, gerando uma demanda que é acompanhada pelos empresários do setor.
Assim se exprime o chefe da seção da Comissão de Saneamento, em
relatório apresentado a 19 de julho:
“Quanto aos tijolos devo dizer que foi adoptada para as obras a melhor classe
deste material que existia no mercado proximamente igual ao estrangeiro de melhor
fabrico e incontestavelmente superior ao material geralmente empregado nesta
Capital.
(...) Posteriormente obteve-se excellente tijolo provinda da fabrica “Vaturantin”
de Sorocaba pertencente e mantida pelo Banco União. Ali o producto é de primeira
qualidade e houve-se de vencer as difficuldades de transporte o que foi conseguido.
Tem sido abundante o fornecimento dessa procedencia e o producto tem sempre
melhorado, sob o ponto de vista industrial de forma a apresentar nos ultimos tempos
material que se pode reputar sem competidor.
… De varias propostas apresentadas foi preferida a da Companhia Mechanica
e Importadora de S. Paulo, com a qual foi lavrado o contracto”.
180
A construção de equipamentos urbanos, ligados a infra-estrutura, contou com
a utilização de novos materiais, que o desenvolvimento científico, tecnológico e
industrial, do final do século XIX, colocara a disposição das sociedades.
Essas obras, que assumiam cada vez mais seu caráter utilitário, tinham no
ferro o elemento construtivo de grande significado. Os engenheiros da Comissão de
Saneamento, defenderam sua utilização e conceberam pontes, em que o caráter
estético, foi determinado por esse material.
O pioneirismo no uso do ferro, causou alguns embaraços, segundo relatório
de 1894, no trecho do Tamanduateí, para assentar os três encanamentos de água
de ferro fundido de 32m de extensão, foi necessária a construção de andaimes de
madeira, que os engenheiros não tinham previsto nos custos da obra. Os canos de
180
SÃO PAULO. Relatório Annual da Commissão de Saneamento do Estado de São Paulo
apresentado ao Sr Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira
Ferraz referente ao anno de 1893, São Paulo, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894, p.06.
108
600mm, tiveram que ser colocados sobre alças de ferro batido, presas por meio de
parafusos às chapas do estrado da ponte.
COMISSÃO DE SANEAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Relatório Annual
apresentado ao Exmo Sr Dr Jorge Tibiriçá pelo Engenheiro João Pereira Ferraz em 1894
181
Outro problema, ocorreu assim que a ponte foi aberta ao trânsito; o
rebaixamento de 80 cm nos pilares de ferro, obrigou sua interdição, e a revisão de
todo o projeto. Os técnicos responsáveis, atribuíram o acidente, à vibração dos
veículos, e para refazer parte da obra, tiveram que deslocar os encanamentos de
água. Essa intervenção teve que ser feita com a maior cautela, de modo a evitar,
quanto possível, o corte no suprimento à cidade.
Foi projetada uma armação especial de metal, e para fabricá-la, contrataram a
Companhia Mechanica
182
, que também tinha sob sua responsabilidade, a montagem
da ponte sobre o rio Tietê.
181
COMISSÃO DE SANEAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Relatório Annual apresentado ao
Exmo Sr Dr Jorge Tibiriçá pelo Engenheiro João Pereira Ferraz. São Paulo. Comissão de
Saneamento. 1894. p.81.
182
Fundada em 6 de setembro de 1890, a Companhia Mechanica e Importadora se fundiu com as
antigas firmas Lacerda Camargo & Comp. e Engelberg, Siciliano & Comp, com capital sócia,l de
5.000 contos de réis, em 25.000 ações de 200$ cada. Em 1900, divulgava que “tem sempre
109
Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
Acervo do Arquivo do Estado
distribuído dividendos aos seus accionistas e, no balanço de 31 de dezembro ultimo, tinha
1.371:142$223 contos de fundo de reserva e lucros suspensos.”
110
Acervo Arquivo do Estado
111
Ponte sobre o rio Tietê foto P. Doumet 1894
Uma vez construídas as pontes, a linha do Tramway, “custeada pelo Governo
do Estado e construída tendo por principal objectivo auxiliar as obras de
abastecimento de água da Capital, está a prestar, como o tem feito, serviços de
muito valor não para outras importantes obras públicas como para impulsionar o
desenvolvimento da indústria particular e o povoamento de uma grande zona às
portas desta cidade.”
183
Em 1894, ano de sua implantação, a despesa foi da ordem de 144:699$790 e
a receita foi de 7:550$700, em 1899 os gastos foram de 260:509$306 com uma
arrecadação de 110:713$400, com um déficit de 149:795$906, esta via férrea jamais
deu lucro, porém, segundo o responsável pela administração, “O tramway da
Cantareira é, como se vê, um gravame para as despesas públicas; mas, attendendo-
se ao fim para que foi construído, que é o de servir ao abastecimento de água da
cidade, e aos benefícios indirectos que traz à riqueza publica, fornecendo materiais
183
RELATÓRIO DA SECRETARIA DA AGRICULTURA COMMERCIO E OBRAS PUBLICAS. 1896,
p.124.
112
de construcção para a cidade e abastecendo os seus mercados de consumo, o seu
agravame é mais aparente do que real.”
184
A exigência de melhor via de comunicação, e de transporte mais moderno,
gera maior permuta de pessoas e bens, evolução das técnicas e meios de produção,
implícita na afirmação do responsável pela Comissão de Saneamento da Cidade,
citado acima, e que pode ser constatada no fluxo sempre crescente de passageiros
e de produtos.
Em janeiro de 1894, efetuou-se a montagem da primeira locomotiva inglesa, a
4, que no mesmo mês começou a fazer o trajeto entre a Serra da Cantareira e a
cidade.
Segundo parecer de 1895
185
, o chefe da Comissão de Saneamento, propõe
que os trens de transporte de materiais, fossem adaptados com vagões de
passageiros, e passassem a circular, a partir de setembro de 1894, nos domingos e
feriados, como opção de lazer para a população paulistana.
Dessa data em diante, os habitantes da região reivindicaram que o serviço se
estendesse aos outros dias da semana, e assim foi feito, a linha passou a contar
com dois trens para o tráfego público, um de manhã, e outro a tarde.
O equipamento que inicialmente foi implantado para carregar materiais de
construção para a captação e distribuição de água, acaba sendo incorporado, como
via de comunicação, por excelência, estreitando os laços entre a zona rural e a
urbana.
Com o passar do tempo, e a ocupação da Zona Norte, o tramway se
transformou em meio de transporte para milhares de pessoas, expandindo a malha
urbana, anexando novas áreas à ocupação inicial da cidade, embora continuasse
com bitola de 0,60m, ficando em funcionamento até 1965, quando foi desativado e
substituído, em parte de seu trajeto, pelo metrô, no início da década seguinte.
No primeiro semestre de 1894, a lista de materiais transportados pelo
tramway, para a construção dos reservatórios foi a seguinte:
184
SÃO PAULO. Relatório correspondente ao ano de 1899, apresentado ao Presidente do Estado
Coronel Fernando Prestes de Albuquerque pelo Alfredo Guedes Secretário da Agricultura, São Paulo,
Typographia do Diário Official, 1900, p.139.
185
O PAULO. Relatório Anual Apresentado ao Exmo Snr Dr Jorge Tibiriça M. D. Secretário da
Agricultura pelo engenheiro chefe João Pereira Ferraz, 1894, pp 44 a 47.
113
6.325
Barricas de cimento de Santana ao Ramal do Bispo
100
Barras de chumbo da Ponte Pequena a Cantareira
6
Barras de chumbo de Santana ao Ramal do Bispo
1.470
Barricas de cimento da Ponte Pequena a Cantareira
883
Barricas de cimento da Ponte Pequena ao Ramal do Bispo
2.213
Barricas de cimento da rua João Teodoro à Ponte Pequena
3.636
Barricas de cimento de Santana a Cantareira
3.636
Barricas de cimento de Santana a Cantareira
4
Canos de 200 mm da Ponte Pequena a Cantareira
26
Canos de 200 mm de Santana ao Ramal do Bispo
1.140
Canos de 300 mm da Ponte Pequena a Cantareira
259
Canos de 300 mm da Ponte Pequena ao Mandaqui
394
Canos de 300 mm da Ponte Pequena ao Ramal do Bispo
549
Canos de 300 mm de Santana a Cantareira
188
Canos de 300 mm de Santana ao Ramal do Bispo
23
Canos de 600 mm de Santana a Cantareira
97
Canos de 600 mm de Santana ao Ramal do Bispo
180
Canos de barro de 200 mm de Santana a Cantareira
3
Curvas de barro de 300 mm de Santana a Cantareira
16.300
Metros cúbicos de pedra de Tremembé à Ponte Pequena
222
Metros cúbicos de terra de Santana à Ponte Pequena.
2
Registros ed de 300 mm da Ponte Pequena a Cantareira
168.083
Tijolos de Santana ao Ramal do Bispo
94.840
Tijolos do Ramal do Bispo a Cantareira
3
Virolas
186
de Santana a Cantareira
3
Virolas de Santana ao Ramal do Bispo
186
Aro metálico que reforça um objeto e às vezes serve também como ornamento.
114
No segundo semestre:
Tijolos 277.964
Telhas 1.900
Canos de ferro 1.739
Ditos de barro 20.048
Cimento barricas 6.306
Além destes materiais, foram transportados outros, que puderam ser
classificados pelo peso:
Carvão 9.000 kilos
Areia 63.000 kilos
Madeira 51.000 kilos
Mudança de ranchos 12.000 kilos
Trens facultativos 2.922.000 kilos
Trens especiais 572.000 kilos
Pessoal de trabalhadores 450 kilos
Neste primeiro ano a renda bruta chegou a 2:135$200, sendo:
Viajantes 1:369$900
Mercadorias 235$800
Bagagem 153$500
Passes livres 376$000
Foram transportados 1577 passageiros, além de 51, que transitaram a serviço
do próprio tramway.
Constava como material rodante: 4 locomotivas:
1 Locomotiva americana de 13 toneladas com um tender
2 Locomotivas inglesas de 13 toneladas com tender
1 Locomotiva de 8 toneladas inglesa com tender
2 Vagões americanos com compartimento fechado e envidraçado no centro
115
2 Vagões abertos para passageiros
3 Vagões para bagagem
5 Vagões plataformas para condução de tubos
3 Vagões com taipais para lastro
6 Vagões tipo plataformas
6 Vagões americanos para 8.000 quilos de carga
6 Troles para o serviço de linha
Segundo o responsável pelo tramway, com relação ao material rodante, os
que apresentaram melhor resultado, com relação a segurança, comodidade e
economia na manutenção, foram os dois carros de passageiros com compartimento
no centro e a locomotiva americana.
Não consta o carregamento de pedras com destino à serra, porém, este
material, é a base de construção de todos os reservatórios de 1894
187
. As rochas para
as obras foram retiradas do próprio local, como pode ser visto no detalhe nas fotos
abaixo:
187
Por ato de 09 de Abril de 1893, foi permitido que na tabela das tarifas do tramway o transporte de
pedras tinha o abatimento de 25% de frete estipulado para as forragens produzidas no Estado. No
entanto, como o desconto foi solicitado pelo Chefe da Comissão de Saneamento e o pelo Pereira
Rebouças, talvez esse material fosse apenas para as obras de aterro da várzea do Tamanduatei e do
Tietê. Segundo o …….. O serviço de transporte de materiais para as obras de canalização na serra,
iniciado a 9 de Novembro de 1893, continuou com regularidade durante o anno próximo pretérito.
Para melhor attender o transporte desses materiais e da pedra que se havia de empregar na ponde
da Avenida Tiradentes, construiu se o ramal de cerca de 400 m de extensão, que ao mesmo tempo
serviu para o transporte dos materiais destinados a serra. In Relatório da Secretaria dos Negócios da
Agricultura, Commercio e Obras Publicas do Estado de São Paulo apresentado em 3 de Março de
1895 ao Dr Bernardino de Campos Presidente do Estado de São Paulo pelo Jorge Tibiriça, Secretario
de Estado, São Paulo, Typ. Paulista, 1895
116
Construcção da Represa do Ytaguassu Foto: P. Doumet 1893 Acervo Arquivo do
Estado de São Paulo. Obs. à esquerda o engenheiro José Pereira Rebouças,
responsável pela obra.
Quebramento de pedras para o concreto Foto P. Doumet 1893 Acervo Arquivo do
Estado de São Paulo
117
Confirmando essa assertiva, em 1894, a Comissão de Saneamento mandou
construir um ramal provisório de 400m de extensão, para trazer pedras da
Cantareira para as obras das pontes sobre os rios Tietê e Tamanduateí.
Em 1965, com a desativação do tramway, as edificações ferroviárias ao longo
do seu leito, foram demolidas, restando apenas, a Estação do Reservatório de
Acumulação.
Parte integrante da nova configuração da vida, e do imaginário da população
paulistana, deixou traços indeléveis na paisagem urbana, na cultura popular, nos
nomes das ruas e praças, estabelecimentos comerciais e nas constantes exposições
de fotografias daquela época, onde carinhosamente ainda é lembrado como o
trenzinho da Cantareira.
Estação terminal do Tramway Outubro de 2007
118
O trem parado na mesma estação, em 1894.
188
188
CORREA, Dora, ALVIM, Zuleika. M. F. A água no olhar da História, São Paulo, Secretaria do Meio
Ambiente, 1999, p. 117.
119
4.4 Captação - Obras urbanas
Em verde: 1877 a 1892 - abastecimento de água pela Companhia Cantareira
Em destaque: 1893 e 1894 – ampliação da rede pela RAE
120
Em 1898, as águas que abasteciam a cidade vinham de dois locais, da Serra
da Cantareira e do ribeirão Ipiranga.
Da serra desciam três linhas adutoras para os reservatórios de distribuição no
alto da cidade. Da região do Campo Redondo e do Engordador, chegavam à cidade
duas linhas de 280 e 300 milímetros de diâmetro, conduzindo sete milhões de litros
para o reservatório da Liberdade e para o abastecimento direto da zona alta da
cidade.
Do Reservatório de Acumulação e da região do Guaraú saia o encanamento
de 600 milímetros, transportando vinte milhões de litros para o Caixa d’Água da
Consolação.
Em condições normais, os reservatórios da cidade armazenavam trinta
milhões de litros, e os encanamentos adutores podiam distribuir água diretamente,
lançando na rede geral, trinta e um milhões diários, somando-se com a quantidade
armazenada, poderia chegar a sessenta e um milhões a capacidade de água, a ser
distribuída, somente da Serra da Cantareira.
Na época das chuvas, esse volume ganhava a contribuição de quatro milhões
diários do ribeirão Ipiranga, elevando o suprimento a 65 milhões em 24 horas, sendo
o provimento em dias normais de aproximadamente trinta e quatro milhões. Deve-se
ressaltar que o Ipiranga chegava a ter vinte e quatro milhões de litros nos períodos
chuvosos, mas somente a sexta parte podia ser aproveitada, uma vez que, além da
canalização de 300 milímetros limitar a sua distribuição, as represas não
desaguavam em um reservatório de acumulação.
Tabela de Capacidade de Distribuição
Condições
Normais
Estiagem
Período de
Chuvas
Capacidade do
Encanamento
Sistema
Cantareira
27.000.000 15.000.000 53.000.000 31.000.000
Ypiranga
4.000.000 347.000 24.000.000 4.000.000
Os mananciais na serra sofriam com problema semelhante, embora com
encanamento de 600 milímetros, este restringia a distribuição, uma vez que, nos
121
meses chuvosos o volume podia atingir 53.000.000 mas 40%, não eram
aproveitados.
Nos períodos de estiagem essas condições sofriam um revés. Os mananciais
da Cantareira desciam a 15 milhões de litros diários. O abastecimento pelo Ipiranga
chegava ao mínimo de 347.000 litros.
Os reservatórios da cidade amanheciam com menos da metade de sua
capacidade, e muitas vezes chegavam a 3.000.000 de litros, ou seja, apenas um
décimo de sua real capacidade.
De Julho a Agosto e até mesmo em Setembro, o abastecimento da cidade
ficava reduzido ao extremo limite de 18.000.000 de litros, ou menos de um terço do
volume ordinário acusado nos períodos de chuvas.
Abastecimento de água em 24 horas
Ano
Órgão
Responsável
Captação
Abastecimento
(L)
População
Litro
(Per
capta)
1870
Poder
Público
Estadual e
Municipal
Tanque Reúno
Tanque Municipal
109.780 30.000 3,5
1881
Cia.
Cantareira
Serra da
Cantareira:Reservatórios
de Acumulação
3.000.000 30.870 97
1892
Cia.
Cantareira
Serra da Cantareira:
Reservatórios de
Acumulação
3.000.000 120.000 25
1893/4
RAE –
Repartição
de Águas e
Esgotos
Serra da Cantareira:
Reservatórios de
Acumulação e Represas
da Cuca ao Engordador
e
Ribeirão Ypiranga
27.000.000
4.000.000
140.000 223
Para solucionar o problema, os engenheiros da então Repartição de Águas e
Esgotos não quiseram modificar os encanamentos, preferindo o que parecia ser uma
solução mais fácil, isto é, abrir três poços artesianos na margem direita do rio
Tamanduateí, o que foi feito pela RAE em Abril de 1894.
Em Outubro daquele ano depois de adquirir o material necessário procederam
à escavação do primeiro poço. Em Dezembro já haviam perfurado 80 metros, porém,
quando atingiram a profundidade de 100 metros encontraram uma camada rochosa
que impedia a continuação dos trabalhos, e os gastos inviabilizaram o segundo
122
poço, projetado para ser aberto na rua do Gasômetro em solo que à primeira vista
parecia ser mais promissor .
Em 1897 a cidade atingia 230.000 habitantes exigindo um suprimento diário
de trinta milhões de litros, ou 130 litros por habitante. Neste ano a estiagem reduziu
os mananciais da Serra da Cantareira em 15.000.000 de litros, tendo o ribeirão
Ipiranga atingido o mínimo de 347.000 litros, ou seja, uma redução de 50%, o que
causou uma grave crise no abastecimento.
Para resolver a situação, foi necessário recorrer a várias medidas visando
garantir maior fornecimento ao bairro do Brás, que por sua posição topográfica e
dependência da rede distribuidora, se constituía em elemento desestabilizador do
sistema.
Em caráter experimental, resolveram captar as águas do rio Tietê na altura do
Belenzinho, onde o rio corria rápido sobre leito arenoso. Para isso, instalaram 701
metros de encanamento de ferro de 300mm, desde o extremo da rede de
distribuição, aa margem do rio e para elevar as águas, instalaram uma bomba a
vapor. Foi implantada uma galeria filtrante, em forma de túnel, de 8 metros abaixo
do leito do rio, com a capacidade para filtrar mais de dois milhões de litros. Após o
término das obras, chuvas torrenciais adiaram o abastecimento com esse sistema.
De acordo com a documentação, do período até o ano de 1900 estas águas não
tinham sido utilizadas.
123
5 CONVERGINDO PARA A ARQUEOLOGIA DA SERRA DA CANTAREIRA
5.1 Um arquivo do passado
Rede de drenagem em 1904, com o rio Tietê sem retificação.Comissão Geográfica e
Geológica – Publicação Especial para a Secretaria da Justiça e Segurança Pública –
Folha do Município da Capital. Escala 1:100.000 Acervo do Instituto Geográfico e
Cartográfico.
124
5.1 Um arquivo do passado
O Parque Estadual da Cantareira, está situado praticamente a 14 Km em
linha reta do centro da cidade, na Zona Norte da Capital paulistana, de maneira que
é facilmente acessível através de transporte coletivo. Sua área é cortada por quatro
estradas asfaltadas, a BR 381, Fernão Dias, ligando São Paulo a Belo Horizonte; a
Avenida Coronel Sezefredo Fagundes; a Estrada de Santa Inês e a Avenida
Senador José Ermírio de Moraes.
A rede de drenagem é em padrão dentrítico, com orientação
sul, no inverno um rebaixamento no nível de água. Os
cursos o perfeitamente estabilizados, margeados por
vegetação arbórea, apresentando, todavia, poucas quedas
d’água (cachoeiras).
189
(NEGREIROS, 1974)
Segundo Mendes, por mais abundante que seja a informação em outras
fontes, nada deve substituir a observação direta, “in loco”, do sítio, das estruturas,
tecnologia, etc
Para esse autor, a Arqueologia Industrial deve, ao pesquisar obras de
construção civil, como é o caso do abastecimento de água, ampliar o:
(...) objecto de estudo, contemplando as suas múltiplas
vertentes. Assim, perante determinada estrutura, além de uma
análise cuidada do que ela ainda apresenta de forma visível,
procura responder:
A quem deveu a decisão de efectuar a obra, quais os
objectivos? Autor do projecto e/ou empresa, construtor,
materiais utilizados, características, origem, transporte e a
técnica utilizada na construção. Partindo sempre dos vestígios
materiais com a complementaridade das fontes escritas e
iconográficas.
190
(MENDES, 1996)
189
NEGREIROS, Osmar C. de et al, Plano de Manejo para o Parque Estadual da Cantareira. São
Paulo, Boletim Técnico do Instituto Florestal no 10, 1974, p. 12.
190
MENDES, J. Amado. Construção Civil e Patrimônio Industrial. In Revista Munda no 31, Coimbra,
1996, p 34,35.
125
Para os historiadores da cultura material, incluídos os
arqueólogos que investigam sociedades históricas (tal é o caso, por
exemplo, da arqueologia industrial), sobre as quais existem inúmeros
outros elementos além daquelas coisas materiais que nos chegaram,
tais coisas não são abordadas naquele aspecto de evidências de que
houve uma dada cultura em algum tempo e lugar, pois não é a
constatação dessa existência que está em questão, já que sobre isso
não dúvidas. O valor dessas expressões materiais está em
permitir a compreensão de fenômenos culturais dos quais elas são
os vetores mais eloqüentes.
191
(BARBUY, 2006)
A rede de distribuição de água para uso público e residencial é a parte menos
visível dos equipamentos coletivos de uma cidade. No caso de São Paulo, com
exceção dos reservatórios da Consolação e da Liberdade, que estão inseridos na
paisagem urbana, a infra-estrutura que envolve todo esse sistema, como, represas,
pontes aquedutos e reservatório de Acumulação, se encontra a catorze quilômetros
da urbe, na então distante Serra da Cantareira.
Os Reservatórios de Acumulação foram construídos logo após a fundação da
Companhia Cantareira, em 1877. Em 1893, quando a empresa foi encampada pelo
governo, a Superintendência de Obras reformou os antigos reservatórios e no
mesmo ano, captou as águas do manancial do Cassununga, e, em seguida, ampliou
a infraestrutura com a construção das represas da, Cuca, Canivete, Depósito,
Manino, Ytaguassu, Olaria, Guaraú e Engordador, segundo projeto do engenheiro
José Pereira Rebouças.
A partir de 1973, todo esse complexo foi sendo desativado, quando entrou em
operação, o moderno sistema de abastecimento de água da Cantareira.
As matas do Parque Estadual da Cantareira em virtude de sua função protetora de
mananciais e do solo, são consideradas de Preservação Permanente por efeito do
artigo 2
o
do Código Florestal. Por outro lado, são consideradas como de domínio do
próprio Instituto Florestal, a vista do item III, do artigo 2
o
, Seção I, do Decreto
Estadual no 52.370, de 26 de janeiro de 1970, que estabelece que o Instituto
Florestal deve “intervir no setor florestal, detendo o domínio das florestas de
preservação permanente”.
192
191
BARBUY, Heloisa, A Cidade-Exposição Comércio e Cosmopolitismo em São Paulo, 1860
– 1914. São Paulo, EDUSP, 2006, p. 24.
192
NEGREIROS, Osmar C. de et al, Plano de Manejo para o Parque Estadual da
Cantareira. São Paulo, Boletim Técnico do Instituto Florestal no. 10, 1974, p.22.
126
Em 04 de agosto de 1983, a Resolução 18, o CONDEPHAAT, através da Secretaria
da Cultura em seu artigo 1
o
: “Fica tombada a área da Reserva Estadual da
Cantareira (...)”
193
Em 1994, o Programa MaB Man and Biosphere da UNESCO, declarou o Parque
Estadual da Cantareira “como área integrante da Reserva da Biosfera do Cinturão
Verde da Cidade de São Paulo, com status de Patrimônio da Humanidade.
5.2 Traduzindo o modelo em inventário
5.2.1 Patrimônio Industrial
(…) se pode conservar aquilo que se conhece …”.
194
“(...) podemos acrescentar
que, se conserva ou pode conservar aquilo que se quer, ou melhor, aquilo que o
poder instituído, conhece e quer”...
195
Constituem o patrimônio industrial os chamados monumentos industriais.
Segundo MENDES
196
: podemos distribui-los em três grandes grupos:
Vestígios referentes à produção artesanal e industrial, entre os quais se
incluem: oficinas, estruturas fabris e habitacionais como os bairros operários;
ferramentas e utensílios, maquinário,moldes, produtos,catálogos, meios de
transmissão de energia e de iluminação.Essa cultura material deve ser estudada em
interligação com os fatores humanos e sociais, os ritmos de produção, concentração
e condições de trabalho, sindicalismo, cultura operária, associações culturais e sua
atuação.
Transportes e comunicações cujo elemento mais significativo foram, sem
dúvida, as estradas de ferro, que no caso específico da capital paulistana, a partir de
1864, com a inauguração da São Paulo Railway, a teve uma ocupação espacial e
habitacional sem precedentes;
193
SÃO PAULO. Leis e Decretos, Resolução 18, de 04 de agosto de 1983. O Secretário
Extraordinário da Cultura, nos termos do artigo 1
o
do Decreto-lei 149, de 15 de agosto de 1969 e do
Decreto 13.426, de 16 de março de 1979, resolve: Fica tombada a área da Reserva Estadual da
Cantareira e Parque Estadual da Capital (Horto Florestal), gerenciada pelo Instituto Florestal.
194
MARQUES, T. O conceito de carta arqueológica a partir da experiência portuguesa, Vipasca,
nº02,1993, p.118.
195
QUINTEIRA, A. J. F. Breve comentário sobre o património, Revista Munda 33, Coimbra,
Portugal, 1997, p.56.
196
MENDES,J. A. Património Industrial: um bem da comunidade ao alcance da escola in Revista
Munda nº 20, Coimbra, Portugal, 1990, p. 68-69.
127
Os equipamentos coletivos referentes ao abastecimento e distribuição de
energia, hidráulica, eólica, a gás e elétrica; estruturas relativas ao abastecimento de
bens, mercados, armazéns, saneamento e abastecimento de água.
CUSTÓDIO afirma: “Durante o século XIX, a constante subversão dos ritmos
econômicos sociais e tecnológicos estendia-se ao mundo urbano, aos equipamentos
coletivos e à própria vida quotidiana.”
197
Assim, o patrimônio industrial abrange além das fábricas e oficinas, com tudo
o que as caracteriza, instalações, tecnologia,localização, área do entorno, incluindo
as técnicas, matérias primas e produtos industrializados; registros escritos, orais,
iconográficos; meios de comunicação e de transporte; fontes e distribuição de
energia; paisagens industriais e obras públicas.
198
Como os diversos componentes do patrimônio industrial fazem parte do nosso
cotidiano, estão em permanente processo de renovação.
A rápida transformação tecnológica que se verifica nos últimos anos,
se por um lado aumenta o número de elementos do patrimônio
industrial, por outro, contribui para a destruição e o desaparecimento
de parte considerável do mencionado patrimônio”.
199
(DELAUNAY,
1987)
Urge que se tome medidas para refrear esta destruição, chamando a atenção
para as potencialidades da nossa herança industrial, cabendo à Arqueologia
industrial, o seu estudo e salvaguarda.
A história passa também pelo cotidiano: pelos encanamentos, por pontes e
aquedutos, reservatórios de água, pelas habitações simples, pelos veículos de
serviço, pelas quinas e utensílios e não somente pelo que pertenceu e foi
concebido por uma elite restrita, isto é, fortes, pelourinhos e igrejas barrocas. O
patrimônio cultural integra muitas outras realidades, cuja salvaguarda e preservação
é de nossa responsabilidade para que sejamos dignos do legado cultural que
herdamos e simultaneamente, para podermos transmitir esse patrimônio para as
futuras gerações.
197
CUSTODIO, J. Arqueologia Indústria e Patrimônio in História e Crítica, Lisboa, nº5, maio de 1980.
198
MENDES, A. Inventariação do Património Industrial in Revista Munda 16 Coimbra, Portugal,
1988, p. 45
199
DELAUNAY, C. Aspects of Council of Europe Action,. The Industrial Heritage: What Policies?,
Council of Europe, Architectural Heritage and Studies, º 06, Estraburgo, 1987, p. 7
128
Segundo a Carta de Nizhny Tagil : “O Patrimônio Industrial compreende os
vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social,
arquitetônico e científico.”
200
5.2.2 Haverá futuro para o passado?
201
Para se estudar o patrimônio industrial deve-se considerar os equipamentos
coletivos criados em função da indústria e de uma lógica de sociedade em processo
de industrialização como é o caso da São Paulo do final do século XIX. Implantados
pelo Estado numa imagem idealmente utópica de cidade e divulgados com uma
visão falsamente paternalista de bem comum que favoreceria a todos os paulistanos.
Este tipo de patrimônio é ainda mais difícil de ser estudado do que as
unidades de produção, não devido à sua especificidade construtiva, mas também
porque integram um conjunto de equipamentos que são vistos principalmente como
economicamente improdutivos. Esses vestígios industriais constituem um patrimônio
de alto risco, na medida que são mais vulneráveis às demolições.
Enquanto as fábricas tiveram, de uma maneira geral, um crescimento
organizacional definido em padrões de proximidade, por razões que se prendem
com a própria produção, como as vias para escoar seus produtos ou a facilidade de
acesso dos operários, instalando-se nas antigas periferias.As diversas obras
públicas, como é o caso do abastecimento de água, encontram-se disseminadas na
área urbana e rural. Justamente essa diversidade revela o nível de complexidade em
contextualizá-los.
A urgência e a primazia em realizar um programa de inventário relacionam-se
diretamente com o grau efêmero ou perene do próprio patrimônio.
202
O estudo e a
identificação deste tipo de vestígio arqueológico principalmente na área urbana é
ainda mais difícil de se efetuar uma vez que muitas das ameaças que geralmente
200
Carta de Nizhny Tagil sobre o Património Industrial. The International Committee for the
Conservation of the Industrial Heritage TICCIH. Tradução de José Manuel Lopes Cordeiro, 2003
201
QUINTEIRA, A. J. F. Breve comentário sobre o património, Munda, nº 33, Coimbra, Portugal, 1997,
p. 51
202
TROTTIER, Rapport (org) Le patrimoine industriel au Québec État de la Situation et
Recommandations Commission des biens culturels du Québec, 1987 p17
129
afligem o equipamento coletivo quando desativado ocorreram, tornando
improrrogável um inventário desta natureza.
203
A implantação de um projeto científico que analise questões
envolvidas com a Arqueologia Industrial, requer, em um primeiro
momento, a elaboração de um inventário, com localização e o estado
de conservação dos pólos e dos momentos industriais, a fim de que
se possa proceder ao seguinte, que é a catalogação destes sítios e
seus componentes, através de técnicas arqueológicas de resgate e
documentação da cultura material. Somente a partir daí, é que
poderemos falar em salvaguarda e valorização deste patrimônio,
transformando-o em objeto de estudo a ser inserido no contexto da
História Local.”
204
(LOTUFO, 1991)
Como esse tipo de inventário ainda é inédito em São Paulo, na medida do
possível, foi procurada orientação metodológica em outros modelos realizados em
outras cidades, aplicando critérios de análise respeitando as especificidades
inerentes a cada realidade.
Quase todas as experiências de inventários industriais consultados utilizam
fichas de levantamento diferenciadas, de acordo com o entendimento da noção de
patrimônio, existente no momento de sua elaboração, com exigências mais
direcionadas para uma ou outra temática ou para um tipo de indústria específica,
porém, não contemplando os equipamentos coletivos.
205
A análise de toda esta
produção estará patente no modelo realizado de inventário da herança da água no
final do século XIX.
No âmbito deste estudo, entende-se por inventário do patrimônio industrial da
infraestrutura do abastecimento de água, a seleção, a identificação, a caracterização
e a contextualização dos vestígios que reúnem em si os atributos que justifiquem a
sua inventariação. uma pretensão sublimada no ato de seleção e registro: a sua
proteção.
A elaboração de um conjunto de fichas, instrumento fundamental para a tarefa
proposta tem algumas preocupações subjacentes.Um dos objetivos estabelecido
prende-se com a criação de um documento de registro o mais universal possível,
203
LES INVENTAIRES DU PATRIMOINE INDUSTRIEL Industrial Heritage Inventories, Actes des
colloques de la Direction du Patrimoine, França, 1986.
204
LOTUFO, C. L. Os Primórdios da industrialização no Município de Engenheiro Frontin RJ,
Munda, nº 22, Coimbra, Portugal, p. 107.
205
L’ÉTUDE ET LA MISE EN VALEUR DU PATRIMOINE INDUSTRIEL Conférence internationale
Lyon – Grenoble, 1985. p 28.
130
tendo em conta as diversidades que o objeto de análise encerra, de modo a
viabilizar sua utilização por outros pesquisadores em outros modelos de inventários.
Em 1992, a preocupação com a diversidade de modelos, levou os
especialistas em patrimônio a se reunirem, na cidade de Nantes em colóquio
organizado pelo Conselho da Europa e o Ministério Francês da Educação e Cultura,
para discutirem um mecanismo que possibilitasse um intercâmbio de dados.
Decidiu-se que os inventários deverão ter uma ficha de conteúdo mínimo e
independentemente dos objetivos, critérios e métodos, deverão responder:
1. Designação
2. Localização
3. Função original
4. Uso atual
5. Data da Construção
6. Materiais utilizados
7. Tipo de proteção legal
A Carta de Nizhny Tagil sobre o Patrimônio Industrial elaborada em 2003,
pelo The International Comittee for the Conservation of the Industrial Heritage
TICCIH, entidade vinculada ao ICOMOS em seu capítulo III da importâcia da
identificação, do inventário e da investigação recomenda:
“1. Todas as coletividades territoriais deveriam identificar, inventariar e
proteger os vestígios industriais que pretendem preservar para as futuras gerações;
2. Os levantamentos de campo e a elaboração de tipologias industriais
deveriam permitir conhecer a amplitude do patrimônio. Utilizando estas informações,
deveriam ser realizados inventários de todos os sítios identificados, os quais
deveriam ser concebidos de forma a proporcionarem uma pesquisa fácil e acesso
por parte do público.
3. O inventário se constitui em componente fundamental do estudo do
patrimônio industrial. …
…Os inventários deverão incluir descrições, desenhos, fotografias e, se
possível, um registro em vídeo do referido sítio industrial ainda em funcionamento,
com as referências das fontes documentais.”
206
206
Carta de Nizhny Tagil sobre o Património Industrial. The International Committee for the
Conservation of the Industrial Heritage TICCIH. Tradução de José Manuel Lopes Cordeiro, 2003.
131
5.2.3 Metodologia do inventário
A escolha dos bens a serem inventariados foi feita em campo, in loco,
utilizando o método regressivo, na análise de vestígios de superfície, a partir de um
levantamento prévio em fontes escritas e nas iconográficas.
O objeto dessa pesquisa, pode ser definido na categoria de obras de
captação, entendido como o conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou
montados junto a um manancial, para a tomada de água destinada ao sistema de
abastecimento. São considerados mananciais de superfície, os ribeirões, represas e
reservatórios artificialmente formados. Estes últimos foram construídos como parte
integrante do sistema de captação, visando assegurar a obtenção de uma vazão
necessária.
Para localizá-los foi necessário percorrer as trilhas e os córregos junto aos
quais se encontram as represas, procurando detectar as estruturas e os vestígios
ainda existentes, assim como verificar a tecnologia empregada. Somente após a
conclusão do trabalho em campo, é que as fichas de diagnóstico foram preenchidas.
A leitura e a análise deste material, apoiada na cartografia e nas fontes
escritas, auxiliaram na classificação tipológica e cronológica das obras, fornecendo
informações complementares, associando-se os registros fotográficos aos elementos
digitalizados.
A fotografia permite ampliar, reter e fundar uma memória, individual e coletiva,
de novo tipo, sem dúvida mais vasto e preciso.
A produção fotográfica pode ser objeto de estudo da Arqueologia Industrial,
enquanto ramo produtivo específico com desenvolvimentos diversos em cada país,
com a possibilidade da existência de uma Arqueologia Industrial da fotografia,
porém, isto não é objeto desta tese.
Na medida em que o conjunto de procedimentos interdisciplinares da
Arqueologia Industrial, incide sobre vestígios de natureza extremamente variável e,
por vezes altamente complexo, a fotografia pode se constituir em instrumento
fundamental para compreensão do passado.
É fonte imprescindível pela riqueza informativa do seu conteúdo, suscetível de
ser ampliado para além do nível aparente imediato, devido à versatilidade própria da
imagem fotográfica, funcionando como auxiliar precioso de pesquisa diacrônica e
espacial de um mesmo objeto de estudo. Permite e facilita o estudo comparativo.
132
“Se no campo estritamente informativo a fotografia possui os seus próprios
limites, se fenômenos inacessíveis à imagem fotográfica, em contrapartida,
”esclarecimentos” específicos, que só ela nos pode fornecer.”
207
No caso específico desse inventário, foi fonte indispensável de consulta, uma
vez que as obras de captação foram registradas na época de sua construção pelo
atelier de P. Doumet, contratado pela Repartição de Águas e Esgotos RAE, entre os
anos de 1893 e 1894.
O cenário econômico promissor despertou o interesse de
profissionais e artífices urbanos de vários setores; atraiu também
estabelecimentos fotográficos. Na esteira de Militão
208
vieram outros
fotógrafos que se interessaram em documentar a implantação das
obras de infra-estrutura que se processava na Cidade. Entre eles
lembramos de P. Doumet”...
209
Algumas fotografias fazem parte do
álbum fotográfico das Obras da Serra da Cantareira, que segundo
Kossoy, “são produtos realizados com finalidades promocionais:
políticas, comerciais, institucionais, comemorativas etc. Prestam-se
para construir uma identidade visual para a Cidade; prestam-se
também para veicular a imagem de uma Cidade “fotogênica” ao
gosto das elites”.
210
(KOSSOY, 2004)
“A foto, essencial para estudos de Arqueologia Industrial, é um documento
social por excelência, embora haja certas distorções no caso das fotos posadas, tão
comuns em tempos passados”.
211
No caso das fotografias encomendadas pela RAE, pode-se notar que foram
tomadas com uma finalidade científica, onde se destaca a preocupação em registrar
os avanços das obras após a encampação da Companhia Cantareira, se revelando
em documento ímpar para a sua contextualização. Afinal, conforme o mesmo autor:
207
SILVA, Armando Jorge. Fotografia, Arqueologia e Património Industriais, in I Encontro sobre
Património Industrial, vol I, Coimbra Editora, Coimbra, 1989, p. 249
208
Referência a Militão Augusto de Azevedo, um dos mais famosos fotógrafos que atuaram em São
Paulo no século XIX, era natural do Rio de Janeiro.
209
KOSSOY. Boris, Luzes e sombras da metrópole: um século de fotografias em São Paulo (1850-
1950) in História da Cidade de São Paulo na Primeira Metade do Século XX 1890 –1954.São Paulo,
Paz e Terra, 2004, p. 399.
210
KOSSOY. Boris, Luzes e sombras da metrópole: um século de fotografias em São Paulo (1850-
1950) in História da Cidade de São Paulo na Primeira Metade do Século XX 1890 –1954.São Paulo,
Paz e Terra, 2004, p.405.
211
SOUZA de Sara Regina, Estrada de Ferro “Donna Thereza Christina in Revista de Arqueologia
Industrial vol I n 1-2 Portugal 1993 p. 78.
133
É importante que no exame das imagens fotográficas do passado,
imagens que gravaram informações de um tempo pretérito, possa o
pesquisador nelas ver um caminho a mais para a compreensão, uma
possibilidade ainda virgem para a descoberta.
212
(KOSSOY, 1988)
Neste capítulo, traduzindo o modelo em inventário, as fotografias antigas e as
atuais foram auxiliares fundamentais para a compreensão das modificações
ocorridas nas edificações e no seu entorno.
A identificação de cada bem foi feita em ficha própria suficientemente
detalhada com os elementos que foram considerados adequados ao seu
reconhecimento, nesta premissa o modelo de ficha de inventário contém:
Nome:
Identifica o nome como o bem é conhecido cientificamente
Localização:
Onde estão situados, com o acesso.
Núcleo:
O Parque Estadual da Cantareira está subdivido em núcleos.
Categoria e grupo tipológico
Identifica o tipo de infra-estrutura da construção utilitária.
Proteção existente:
Apresenta o tipo de proteção legal, nomeadamente se é classificada como Parque
Estadual; da Biosfera; Área tombada ou imóvel de interesse público.
Legislação:
Especifica o diploma legal que assegura o tipo de proteção.
Visão do bem industrial no imaginário popular
212
KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica. Introdução à pesquisa e interpretação das
imagens do passado. Coleção Museu e Técnicas, São Paulo, Museu da Indústria, Comércio e
Tecnologia de São Paulo, 1980, p. 46.
134
Como o patrimônio é conhecido pela população do entorno.
Descrição Geral:
Descreve as características e aspectos que justificam o interesse para a
inventariação.
Elementos notáveis:
Elementos que se destacam em sua construção. Exemplo: a colocação de uma
placa comemorativa.
Época de Construção inicial:
Data da introdução dos elementos mais antigos da construção. Caso ocorra a
inexistência de elementos concretos e indicadores exatos que permitam a
identificação da época com precisão será feita a partir do conjunto de características
visíveis: materiais e técnicas construtivas utilizadas.
Elementos datados:
Quaisquer datas afixadas. Por exemplo: ano de fabricação ou construção.
Utilização inicial:
Aproveitamento inicial do bem ou equipamento.
Utilização atual:
Qual a reutilização.
Proprietário:
Caso não se encontre em área de domínio do Estado deve ser identificado o nome
do proprietário.
Construtor/Empreiteiro:
As empresas que a edificaram.
Cliente/Destinatário:
135
O órgão público responsável pela contratação da empreiteira.
Elementos isolados ou pontuais:
Exemplo: uma cruz e outras peças soltas que o se inserem no espaço envolvente
com valor ou significado especial.
Encanamento
Parte da barragem da represa para a caixa de registro e deste para o conduto
principal.
Represa:
Elemento estrutural construído em um curso de água, transversalmente a direção de
escoamento, e destinada à criação de um reservatório artificial, ou seja, represando
o líquido para a regularização do consumo, em períodos de estiagem.
Caixas de registro de descarga
Encontrada em algumas represas situadas na Cantareira, abriga o registro, também
conhecido como válvula, é um dispositivo que permite regular ou interromper o fluxo
de água. Neste caso, era empregado principalmente quando se pretendia
estabelecer uma vedação no meio do trecho que ligava ao aqueduto.
Documentação de referência:
Indica as referências bibliográficas e documentais de registros que aludem ao bem
inventariado, situando o Órgão Público que possui este acervo.
136
5.2.4 Ficha de inventário arqueológico industrial da herança da água
NOME
CATEGORIA/GRUPO TIPOLÓGICO
Represa [ ]
Reservatório [ ]
Encanamento [ ]
Adutora [ ]
Estrada [ ]
Outros [ ]
LOCALIZAÇÃO
S:
W:
Altitude:
Núcleo
Bairro
Meio de acesso
Dimensões Gerais
Capacidade de distribuição em 24h:
Atual:
Materiais da estrutura
Pedra [ ] tijolo [ ] concreto [ ] cimento [ ] ferro batido [ ] ferro fundido [ ]
Outros:
DENOMINAÇÃO NO IMAGINÁRIO POPULAR
DESCRIÇÃO GERAL
ELEMENTOS NOTÁVEIS
NOTA HISTÓRICA
Época da construção inicial
Séc. XIX [ ] Séc. XX [ ] Séc. XXI [ ]
Data
Fabricante
País de origem
Inventor
Arquiteto/Engenheiro
Construtor
Destinatário/Cliente
Capacidade de armazenamento:
Inicial:
Elementos datados:
UTILIZAÇÃO
Uso inicial
Uso atual
PROPRIETÁRIO
PROTEÇÃO EXISTENTE
Parque Estadual [ ]
137
Área tombada [ ]
Federal [ ] Estadual [ ] Municipal [ ]
Bem tombado [ ]
Federal [ ] Estadual [ ] Municipal [ ]
Reserva da Biosfera [ ]
Outra:
Legislação
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Em funcionamento……………………………..Sim [ ] Não [ ]
Desativado mas operacional………………….Sim [ ] Não [ ]
BOM [ ] REGULAR [ ] RUIM [ ]
Retocado [ ] Transformado [ ]
Elementos incorporados:
Risco de destruição……. Iminente [ ] A médio Prazo [ ]
Tratamentos efetuados e datas:
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento ( ) limpeza da
vegetação ( ) Maior fiscalização ( ) Restauro ( )
Observações:
DETALHAMENTO
Barragem
Deterioração : Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo ( )
Elementos que faltam :
Consequência:
Encanamento
Diâmetro.
Espessura:
Material:
Deterioração : Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo ( )
Elementos que faltam:
Consequência
Caixa de Registro de descarga
Deterioração : Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo ( )
Elementos que faltam :
Consequência:
DOCUMENTAÇÃO DE REFERÊNCIA/LOCALIZAÇÃO DO ACERVO
BIBLIOGRAFIA
ICONOGRAFIA
OBSERVAÇÕES
138
5.3 Herança da água
213
Mapa da Cantareira com Áreas de pesquisa
213
Water Heritage - Expressão consagrada pela Water Authorities Association, Inglaterra.
139
5.3.1 Represa Cantareira: antigos reservatórios de acumulação
Localização: 23
o
26’30.87”S 46
o
37’21”W
Está fora dos limites do Parque Estadual da Cantareira, na Rua Luís Carlos
Gentile de Laet, no 2500, bairro da Vila Rosa, entre a Estrada da Chapada e a
Avenida Cantareira.
Altitude: 815,50m
Meio de acesso: Facilitado, é o ponto final da linha de ônibus Vila Rosa.
Capacidade de distribuição em 24: 3.000.000 de litros
Planta dos Reservatórios de Accumulação Escala 1:500 RAE Acervo do Arquivo do
Estado de São Paulo
140
Reservatório A Reservatório B
Material da estrutura: Pedra, tijolo e concreto
Construtor: Companhia Cantareira e Repartição de Águas e Esgotos.
Elementos datados: Consta a data de 1882, na antiga casa de registro, atual
capela de Nossa Senhora Aparecida.
Não foram autorizadas pesquisas no seu interior
Casa de registro Placa afixada na entrada
Nota Histórica:
Os Reservatórios de Acumulação são estruturas ligadas ao
armazenamento de água, para Martins, este tipo de obra, é um lago
artificial criado em um curso de água com a construção de uma
barragem, com a finalidade de represar a água para resolver um ou
diversos problemas de engenharia hidráulica ou sanitária.
214
(MARTINS, 1987)
214
MARTINS, J. A. Reservatórios de Acumulação e Barragens” in Técnica de Abastecimento e
tratamento de água, CETESB, São Paulo,1987 p.255.
141
Construído pela Companhia Cantareira entre 1877 e 1881, recebia as águas
dos ribeirões Toucinho, Guatemy e Barro Branco, porém, não cumpria alguns
princípios básicos para esse tipo de obra onde as vazões disponíveis nos cursos de
água tem que ter médias superiores às necessidades de consumo, e por outro lado,
o líquido disponível deve ser acumulado durante os períodos chuvosos, para que se
tenha uma reserva suficiente, durante os períodos de estiagens, com o intuito de
cobrir o deficit entre a demanda e as vazões mínimas.
Essa deficiência não foi notada no início do abastecimento, mas à medida que
aumentava a população e ocorria um desenvolvimento da cidade aliada a uma maior
demanda industrial e comercial, faltava água nas torneiras paulistanas, nos períodos
não chuvosos.
Atenção particular tinha que ser dada as condições que facilitassem a
construção das obras de captação e adução, com acesso fácil, principalmente, aos
materiais de construção e a mão de obra, e isto também parece que não foi levado
em conta pela empresa.
Na época da encampação, os engenheiros da Superintendência de Obras
Públicas, constataram o estado lastimável de conservação do local, sendo obrigados
a realizar reparos em caráter de urgência. Tiveram que reconstruir as represas do
Toucinho e Guatemy, colocando registros de descarga para realizar a limpeza, que
segundo os relatórios da época, nunca tinha sido feita.
Represa do Guatemy:
1893 P. Doumet 1894 P. Doumet 2007
Em setembro de 2007, se pode observar que sofreu modificações, o lado
esquerdo foi aterrado e a cerca de proteção retirada.
As fotos de 1893 foram tiradas, assim que a Superintendência de obras
chegou ao local. Em 1894, quando foi reconstruída pela RAE.
142
Represa do Toucinho:
1893 P. Doumet 1894 P. Doumet 2007
Em 1893, o reservatório B, passou a receber as águas de um dos afluentes
do Cassununga, suas sobras foram enviadas para a caixa de junção do Guapira,
que alimentava o reservatório da Consolação.
Reservatório de Acumulação – Entrada B do afluente, setembro de 2007 do
Cassununga – 1893 – Acervo Museu da SABESP
UTILIZAÇÃO DO CONJUNTO
Uso inicial
Armazenamento de água para o Reservatório da Consolação.
Uso atual
Área de pesca, a entrada é permitida pagando uma taxa na portaria. O entorno do
reservatório é de acesso restrito, podendo freqüentá-lo, somente, os sócios do Clube
de Campo da Associação SABESP.
Proprietário: SABESP
143
Diagnóstico do Conjunto
Está em bom estado de conservação, porém, foi descaracterizado de sua
função original. No local funciona um “pesque e pague”.
Entrada do Clube da SABESP. Reservatórios de Acumulação A e B
Detalhamento e observações:
Encanamento entre a represa do
Guatemy e o Reservatório A - Setembro
de 2007
Ligação da Represa do Toucinho e o
Reservatório B - Setembro de 2007
144
Os encanamentos encontrados vieram da Inglaterra, através da importadora,
Causer Hopkins, que possuía uma filial na cidade de São Paulo.
Bibliografia: Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria de
Agricultura.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo.
Iconografia
Álbum fotográfico P. Doumet – 1893 – Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
Fotos P. Doumet – 1894 Acervo particular.
5.3.2 Parque estadual da Cantareira
Represas situadas à esquerda da Avenida Santa Inês, sentido Mairiporã.
As construções hidráulicas encontradas ao longo da divisa do Parque
Estadual da Cantareira, são de pequenas dimensões, e foram construídas para a
captação, o armazenamento e a distribuição das águas dos ribeirões e dos
mananciais da Serra.
Datadas do final do século XIX, estas estruturas foram arquitetadas com a
finalidade de suprir as necessidades de consumo de água da população paulistana.
O Poder Público tomou o cuidado de desapropriar toda a área procurando impedir
possíveis contaminações antrópicas.
Nos primeiros meses de 1893, surgiram dificuldades no recebimento dos
tubos de aço Mannesmann, a empresa com sede em Berlim comunicou o atraso na
remessa do material alegando a ruptura dos laminadores, o que inviabilizava a sua
entrega imediata.
A Superintendência de Obras logo percebeu que deveria usar os tubos de
600mm que existiam no estoque do depósito, mas que não tinham ainda sido
utilizados devido ao seu peso.
Como a maior dificuldade para o assentamento desses canos consistia no
respectivo transporte, procurou-se aumentar o número de carretões, que tinham sido
preparados para as obras de canalização do Cassununga.
A Companhia Viação Paulista, auxiliou levando o encanamento da Estação da
Luz até Santana, e daí vinte e sete carroças carregadas diariamente transportaram o
material para o local das obras, o que foi considerado uma façanha para a época,
145
uma vez que para a opinião pública era impossível fazer esse tipo de transporte sem
a via rrea, que ainda não tinha sido inaugurada. O tramway transportou o restante
de todo o aparato para a continuidade das obras.
5.3.2.1 Represa da Cuca
Foto 2000 Foto 2007
Localização: S 23
o
26’10.6” W 46
o
42’01.04”
Altitude: 839m
Bairro: Taipas
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais: 8,70m de frente com 2,70 de lateral
Reservatório da CUCA
146
Materiais da estrutura: pedra.
Descrição Geral: Constituída por uma barragem de alvenaria com 650mm de
espessura, com um vertedouro de 1,00m de vão com 600mm de altura.
O duto de ferro fundido tem 300mm de diâmetro com 18mm de espessura.
Em frente ao muro está a caixa de registro de descarga de 1,30 m por 1,40.
Nota histórica:
Data: 1894
UTILIZAÇÃO
Uso inicial: Represamento
Uso atual: Desativada
PROPRIETÁRIO: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Desativado mas operacional
Risco de destruição: A médio prazo .
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento; limpeza da
vegetação; Maior fiscalização; Restauro.
DETALHAMENTO
Barragem
Vista: Reservatório da CUCA
Deterioração : Ação do tempo (x) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam : Encanamento
147
Conseqüência: não tem mais ligação com a caixa de registro
Encanamento
Diâmetro: 300 mm
Espessura: 18mm
Material: Ferro fundido
Deterioração: Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo (x )
Bibliografia:
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria de Agricultura.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo
Iconografia
Fotos Acervo particular
5.3.2.2 Represa do Canivete
Represa do Canivete 2006
LOCALIZAÇÃO: S23o26’22.8” W46o 41’35.8”
Altitude: 847m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais
148
Represa do Canivete
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x] concreto [ ] cimento [x ]
Descrição Geral: Pequena estrutura constituída por uma barragem de alvenaria.
Data: 1894.
Proprietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
Estado de conservação: Ruim [ x ]
Em funcionamento: Sim [ ] Não [ x ]
Risco de destruição: Iminente [ x ]
Medida de proteção que deve ser tomada: Impedir o acesso e efetuar restauro.
Observações: Os tijolos estão aparentes devido a atos de vandalismo.
DETALHAMENTO
Barragem
Deterioração : Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos e parte do revestimento
Encanamento
Diâmetro. 200mm
Espessura: 15 mm
Material: Ferro fundido
Deterioração: Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo (X)
149
5.3.2.3 Represa da Divisa
Foto P. Doumet 1894 Foto 2006
Localização: S 23
o
26’33.1”W 46
o
41’13.6”
Altitude: 834 m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x] concreto [x ] cimento [x]
Data: 1894.
Proprietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
Estado de Conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x ]
Ruim [ x ] Incompleto (x)
Risco de destruição: Iminente [x]
Natureza da deterioração: Assoreamento, destruição de aproximadamente 2,70m
da barragem. Foi constatada a presença de lixo doméstico, e de criação de suíno,
provocando um odor desagradável.
Presença de estranhos, com ameaça a integridade física dos pesquisadores.
Medida de proteção que deve ser tomada: Impedir o acesso, vigilância constante,
efetuar restauro e limpeza da vegetação e do lixo doméstico.
Observações: Os tijolos estão aparentes.
DETALHAMENTO
Barragem : 15m de comprimento, com 1,60m de altura
Deterioração : Ação do tempo (x) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos e parte do revestimento
Encanamento
Diâmetro: 420mm
Espessura: 35mm
Material: Concreto
Deterioração : Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo (X)
150
Bibliografia
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria de Agricultura.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo
Iconografia
Álbum fotográfico P. Doumet de 1894 - Acervo Escola Politécnica - USP
5.3.2.4 Represa do Depósito
Foto Represa do Depósito 2006
Localização: S 23
o
26’22.2” W 46
O
40’47.0”
Altitude: 837 m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais
151
Materiais da estrutura: tijolo [x] cimento [x]
Descrição Geral
Pequena estrutura constituída por uma barragem de alvenaria.
Parte superior destruída provavelmente na tentativa de retirar o registro de descarga
do encanamento.
É a única represa em que o acesso é feito por uma escada de 4 degraus.
Foto 2006
Data: 1894.
Proprietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Em funcionamento Sim [ ] Não [x ]
Ruim [ x ] Incompleto (x)
Risco de destruição: Iminente [x]
Natureza da deterioração: Atos de vandalismo
Elementos que faltam: Registro de descarga
Medida de proteção que deve ser tomada: Impedir o acesso, efetuar restauro e
maior fiscalização
Observações: Os tijolos estão aparentes.
DETALHAMENTO
Barragem
Deterioração: Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos e parte do revestimento
Encanamento:
Diâmetro: 85mm
Espessura: 3mm
Material: Ferro fundido
Deterioração: Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo (X)
152
5.3.2.5 Represa do Manino
Foto P. Doumet 1894 Foto 2006
Localização: S 23
o
26’22.8” W 46
O
40’32.6”
Altitude: 831m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais
Capacidade de distribuição em 24 h:1.600.000 litros
Materiais da estrutura: tijolo [x] cimento [x] concreto(X) pedra (X)
Data: 1894.
PROPRIETÁRIO: Próprio Estadual
153
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x ]
Ruim [ x ] Incompleto (x)
Risco de destruição: Iminente [x]
Natureza da deterioração: Atos de vandalismo
Elementos que faltam: parte da barragem
Medida de proteção que deve ser tomada: Impedir o acesso, efetuar restauro e
maior fiscalização
Observações: Parte da barragem está destruída não permitindo inferir as medidas
do vertedouro
DETALHAMENTO
Barragem: 16,70 m de comprimento, por 1m de largura e 1,25 de altura.
Deterioração : Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos, blocos de granito e parte do revestimento
Encanamento:
Diâmetro: 800mm
Espessura: 25 mm
Material: Ferro batido
Deterioração : Ação do tempo ( ) Atos de vandalismo ( )
Iconografia: Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos – 1
a
Divisão – Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de
1894 – Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
OBS. Grafia conforme o original
Álbum fotográfico P. Doumet de 1894 - Acervo Escola Politécnica - USP
5.3.2.6 Represa do Ytaguassu
Foto P. Doumet 1894 Foto 2006
Localização: S 23
o
26’18.6” W 46
O
40’11.8”
Altitude: 830m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
154
Dimensões Gerais
Capacidade de distribuição em 24 h: 5.000.000 litros
Materiais da estrutura: tijolo [x] cimento [x] concreto(X) pedra (X)
Data: 1893.
Propietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
Estado de Conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x ]
Ruim [ x ] Incompleto (x)
Risco de destruição: Iminente [x]
Natureza da deterioração: Atos de vandalismo
Elementos que faltam: parte da barragem
Medida de proteção que deve ser tomada: Impedir o acesso, efetuar restauro e
maior fiscalização.
Observações:
Detalhamento:
Barragem
155
Deterioração: Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos e parte do revestimento
Encanamento: O escoamento da água ocorre por uma abertura inferior uma vez
que o encanamento que o ligava ao aqueduto foi destruído
Diâmetro: 300 mm
Espessura: 25mm
Material: O encanamento de ferro está revestido com uma camada de 170mm de
concreto
Deterioração : Ação do tempo (X) Atos de vandalismo (X)
Elementos que faltam: parte da canalização
Iconografia: Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos – 1
a
Divisão – Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de
1894 – Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
OBS. Grafia conforme o original
Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
5.3.2.7 Represa do Bispo
Foto P. Doumet 1894 Foto 2006
Localização: S 23
o
26’37” W 46
O
39’25.8”
Altitude: 826 m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais: 17,50 m de frente com 17,60 m de parede lateral.
156
Represa do Bispo
Capacidade de distribuição em 24 h: 1.200.000 litros
Materiais da estrutura: cimento [x] concreto(X) pedra (X)
Denominação do imaginário popular: piscinão
Descrição Geral: Barragem formada por blocos de granito de 950 mm de largura
por 1m de comprimento, cortados simetricamente, arrumados e dispostos em
alinhamento horizontal.
Data: 1893.
Capacidade de distribuição em 24 h: 1.200.000 litros
Propietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
Estado de conservação: Bom
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x ]
Desativado mas operacional
Risco de destruição: A médio prazo
Natureza da deterioração: Atos de vandalismo
Elementos que faltam: parte da barragem
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento, limpeza da
vegetação, impedir o acesso, efetuar restauro e maior fiscalização
Observações:
Detalhamento:
157
Barragem
Deterioração: Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo (x)
Elementos que faltam: tijolos e parte do revestimento
Encanamento: O escoamento da água ocorre por uma abertura inferior uma vez
que o encanamento que o ligava ao aqueduto foi destruído
Diâmetro: A represa estava cheia impedindo que as medidas fossem feitas
Deterioração : Ação do tempo (X) Atos de vandalismo (X)
Iconografia: Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos 1
a
Divisão Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de
1894 – Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
OBS. Grafia conforme o original
Álbum fotográfico P. Doumet de 1894 - Acervo Escola Politécnica - USP
Represas situadas à direita da Avenida Santa Inês, sentido Mairiporã.
5.3.2.8 Represa do Guaraú
Foto P. Doumet 1893 Acervo Arquivo do Estado
158
Foto P. Doumet 1894 Acervo Escola Politécnica
Localização: S 23
o
26’20.03” W 46
o
38’51.15”
Altitude: 820 m
Bairro: Pedra Branca
Meio de acesso: Estrada de Santa Inês
Dimensões Gerais:
Planta original da Represa do Guaraú
Nota histórica
Até Agosto de 1893, a Superintendência de Obras, projetava levar um
encanamento de 600 mm ao reservatório de Acumulação, onde convergiam as
águas captadas do Toucinho, Guatemy e do Cassununga, destinadas ao
abastecimento da cidade. Porém, naquele mês o engenheiro Bernardino Salomé de
Queiroga, resolveu que a canalização somente seria implantada até o Guaraú,
conseguindo com o acréscimo de apenas 500 metros de tubos, eliminar sete
159
quilômetros de aqueduto, o que seria um desperdício uma vez que até o
Reservatório de Acumulação, não existia mais nenhum manancial.
O encanamento de 600 mm de diâmetro, que conduzia as águas da represa
do Guaraú onde se reuniam com as deste manancial as do Manino, Itaguassu,
Olaria, Bispo e Tanque, total de 11.600.0000 litros, entroncavam-se por uma linha de
tubos de 300 mm que dele derivava, indo aa rua Bento Freitas, esquina da Rua
Major Sertório, na linha de distribuição geral que atravessava a Sete de Abril,
espalhando-se em toda a rede que abastecia a zona comercial e central da cidade,
até pouco acima do Largo da Sé, os bairros da Consolação e parte de Santa
Efigência, Luz e Bom Retiro.
No final de 1893, estava pronta a represa do Guaraú, ponto de partida da
canalização de 600mm, que transportava para a Capital as águas dos seguintes
mananciais:
Guaraú com volume de 2.500.000 litros:
Tanque 700.000 “
Bispo 1.200.000 “
Olaria 600.000
Itaguassú 5.000.000 “
Manino 1.600.000 “
Volume total 11.600.000 “
No início de 1894 achavam-se captados os mananciais do Guaraú e do Bispo,
fornecendo o volume de 3.700.000 litros, e estavam em construção o aqueduto
principal em direção ao Itaguassú e a represa do Tanque.
A 24 de Abril foi inaugurada toda a extensão do conduto principal até o
Itaguassu, começando as águas deste manancial a serem aproveitadas no
abastecimento da cidade, juntando-se às dos córregos da Olaria, Bispo, Tanque e
Guaraú, de onde saia o cano de 600 mm para a Capital.
A represa do Guaraú sofreu várias modificações ao longo do tempo. Em
1904, foi aproveitada para a instalação de um clarificador, e numa cota acima,
instalaram uma nova represa. Todo o complexo foi destruído na década de 1970,
com a construção da atual ETA, Estação de Tratamento de Água do Guaraú.
160
Bibliografia
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria de Agricultura.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo
Iconografia
Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos – 1
a
Divisão –
Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de 1894
Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
OBS. Grafia conforme o original
Álbum fotográfico P. Doumet 1893 – Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
Álbum fotográfico P. Doumet de 1894 - Acervo Escola Politécnica - USP
Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
5.3.2.9 Represa do Cassununga
Localização: S 23
o
25’43.73” W 46
o
36’32.23”
Altitude: 791m
Bairro: Cachoeirinha
Meio de acesso: Subindo a Avenida Nova Cantareira em direção a Mairiporã, fica à
direita, assim que se entra na Avenida Senador José Ermírio de Moraes
Dimensões Gerais:
Capacidade de distribuição em 24h: 2.000.000 litros
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x ] concreto [x ] cimento [x ] ferro
Outros:
Descrição geral:
Foto P. Doumet 1894 Foto 2007 A represa está encoberta
pela vegetação
Nota histórica
Segundo Relatório de 1893, 229 tubos de ferro fundido, parte do material para
as obras tinham sido levados pela Companhia Cantareira que não terminou o serviço
alegando dificuldade para transportá-los.
161
No entanto, a urgência em executar a canalização do Cassununga até o
Reservatório de Acumulação exigiu um aqueduto em forma circular com 500mm de
diâmetro constituído internamente por uma camada de concreto e superiormente,
por alvenaria de tijolos cuneiformes.
Foto 2007 aqueduto em alvenaria 500mm de diâmetro
Da represa, parte um aqueduto com declividade de 1cm e extensão de 304
metros, para a travessia do Cassununga, um sifão de 88 metros de canos de ferro
com 300 mm de diâmetro que conduze as águas até uma caixa.
Daí, para atravessar uma grota foram utilizados 80 m de canos de 400 mm dispostos
sobre pilares de alvenaria com tubos de 400 mm servindo de colunas.
Foto P. Doumet 1894 Aqueduto em tubos de ferro
As águas do Cassununga, Campo Redondo e Engordador, transportadas por
uma canalização de 300 mm para os bairros altos eram distribuídos de dois modos:
Diretamente, isto é, partindo do próprio encanamento condutor das águas
162
mencionadas e Indiretamente, quando recolhidas ao reservatório da Liberdade,
depois de atravessar um regulador automático.
A distribuição direta era limitada aos pontos de altitude superior a 800 metros
seguindo pela Avenida Paulista, Rua da Consolação com ramificações para as ruas
de Santo Amaro, Bela Cintra, Paraíso, Vergueiro e aos bairros próximos da Vila
Mariana e Saúde.
Da distribuição indireta faziam parte os bairros da Liberdade, Cambuci, Bela
Vista, Consolação, Higienópolis e Pacaembu.
A linha principal com 300 mm de diâmetro, saindo do Reservatório da
Liberdade, seguia pelas ruas Vergueiro, o Joaquim, Humaitá, Tamandaré, Pires
da Mota e Galvão Bueno.
Proprietário: Próprio Estadual
DIAGNÓSTICO DO CONJUNTO
Estado de conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x]
Desativado mas operacional: Sim [ ] Não [x]
REGULAR [x ]
Risco de destruição: A médio Prazo [x ]
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento (x ) limpeza da
vegetação (x ) Maior fiscalização (x ) Restauro (x)
Observações:
Detalhamento:
Caixa do Sifão
Em 10 de outubro de 2007, devido à vegetação, não é possível visualizar o
aqueduto. A porta de proteção foi retirada.
163
Segunda Caixa do Sifão
Ao lado, residência do Guarda Parque. Logo abaixo, ficam os encanamentos que
saem da Caixa e conduzem as águas do Cassununga através de aqueduto até o
Reservatório de Acumulação. Outubro de 2007.
Sifão (Vista interna)
Segunda Caixa do Sifão do Cassununga. Vista do interior a partir dos fundos.
10 de outubro de 2007. Pode-se ver a porta que na outra caixa foi retirada.
Aqueduto em ferro fundido:
164
P. Doumet 1894 Acervo Particular. O encanamento parte da Segunda Caixa do
Sifão, atravessa uma grota, e se encontra com a outra Caixa, onde recebe a
contribuição das águas de um pequeno riacho, e daí segue para o Reservatório de
Acumulação.
Foto 2007 - Detalhe de uma das
pilastras
Foto 2007 - Aqueduto encoberto pela
Vegetação
165
Foto 2007 com a inscrição do fabricante
Foto 2007
Aqueduto aéreo
Em todo o percurso o encanamento apresenta o nome do fabricante: Causer
Hopkins
Deterioração: Ação do tempo (x ) Atos de vandalismo ( )
Obs: Com relação ao aqueduto, está parcialmente coberto pela vegetação e sofre
ameaça constante, pois está em área de fácil acesso, e o seu material, ferro, pode
ser vendido facilmente no mercado. Reforçando esta preocupação, em inquérito oral
realizado com o Sr Elói, guarda parque do local, este relatou que no começo deste
ano, autuou marginais que tentavam retirar o encanamento durante a madrugada.
Comparando as fotos recentes com as de 1893 e 1894 pode ser observado a
presença de um novo aqueduto em paralelo, provavelmente construído na década
de sessenta, não foi encontrado qualquer sinal do fabricante constando, a data de
fabricação:1961. Em outra área do Cassununga o encanamento foi furtado, restando
apenas, os pilares de sustentação.
166
Foto 2007 aqueduto em paralelo Foto 2007 Pilastra de sustentação
Documentação de referência:
Bibliografia:
Relatório apresentado ao Presidente do Estado de São Paulo pelo Dr Jorge
Tibiriçá, Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas em, 04 de abril de 1893, Rio de Janeiro, G. Leuzinger & Filhos, 1893.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo
Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
5.3.2.10 Represas do Engordador
Foto P. Doumet 1894 Foto P. Doumet 1894 Foto P. Doumet 1894
Localização: 23
o
23”36.92S 46
o
35’37.13”
Altitude: 905m
167
Núcleo: Engordador
Meio de acesso: Avenida Sezefredo Fagundes no
Dimensões Gerais
Capacidade de distribuição em 24h: 3.800.000 litros
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x ] concreto [x] cimento [x ]
Nota histórica
A partir de 1893 começaram a ser construídos pequenos tanques de
captação, que um ano depois, mandavam suas águas para a Caixa do Gonçalves e
daí seguiam para o Cassununga.
Em 1904, logo abaixo dessas represas, foi construída uma barragem para
armazenar aproximadamente 500.000 metros cúbicos, e instalado-se uma estação
de recalque com uma bomba inglesa a vapor.
Em campo foram encontrados equipamentos importados provavelmente da
Bélgica e da Inglaterra.
Diagnóstico do conjunto
Estado de conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x ]
Desativado mas operacional: Sim [ ] Não [ ]
BOM [ ] REGULAR [x ] RUIM [ ]
Risco de destruição iminente: [ ] A médio Prazo [x ]
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento (x) limpeza da
vegetação (x ) Maior fiscalização ( ) Restauro (x )
Observações: A maior parte da infra-estrutura de 1894 está encoberta pela
vegetação.
Detalhamento:
Foto 2007 represa encoberta pela
vegetação
Foto 2007 represa encoberta
pela vegetação
168
Foto 2007 tanque de 1894
Represa do Engordador
169
Encanamentos:
Foto 2007 Foto 2007
Foto 2007 Placa de registro da válvula de encanamento
Diâmetro: 300 mm
Material: ferro fundido
Documentação de referencia/localização do acervo:
Bibliografia:
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria de Agricultura.
Documentação do Arquivo do Estado de São Paulo
Iconografia:
Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos 1
a
Divisão
Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de
1894 – Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
Obs.: Grafia conforme o original.
Álbum fotográfico P. Doumet de 1894 - Acervo Escola Politécnica - USP
Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
170
5.3.2.11 Aqueduto do Matheus
Foto P. doumet 1894
Localização: S:23
o
26’48.1” W: 46
o
40’04.2” Entre a represa do Ytaguassu e a do
Bispo.
Altitude: 838m
Meio de acesso: Estrada da Vista Alegre
Dimensões Gerais: Possui uma extensão de 60m de extensão com 7, 5 m de altura
e 5m de largura.
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x ] concreto [ ] cimento [x ]
Nota Histórica:
Os aquedutos partem de um ponto central dos mananciais, recolhem as
águas e as transportam livremente para os reservatórios, diretamente, pela ação da
gravidade.
No século XIX, eram preferidos quando os engenheiros consideravam
pequena a diferença de nível entre os pontos de partida e de chegada em relação à
distância horizontal, sendo o sistema mais econômico quando queriam reduzir os
custos com acabamento em alvenaria, tendo sido adotado para transportar as águas
dos reservatórios da Cuca ao Guaraú passando pelo córrego do Bispo.
Em Abril de 1893, estava concluída a primeira etapa de instalação do
aqueduto com 3.500 m de extensão, com diâmetro de 600 mm entre o manancial do
Bispo e o córrego do Itaguassu. Foi construído em alvenaria de concreto no radier,
em meia seção, sendo a parte superior feita de tijolos com cimento, revestido
171
externamente com uma camada de argamassa de cimento e areia, de dois
centímetros de espessura.
Normalmente a travessia desses vales era feita com sifão, que é um conduto
forçado, mas como no trecho compreendido entre a Cuca e o Guaraú, havia
pequena carga disponível de uma extremidade a outra da derivação, com exceção
do trecho do Itaguassu, essa solução seria impraticável.
Surgiu a necessidade da construção de pilares de alvenaria de pedra e
“ponte-aqueduto” ou arcadas que se eleva a ao nível da linha de carga, com
declive que descia até 10 cm a cada quilômetro de sua extensão.
São poucos os ribeirões situados na Cantareira que se encontram
identificados em cartas hidrográficas. Somente foi localizado o trecho que atravessa
a grota do Matheus, uma vez que em inquérito oral com antigos guarda-parques,
mostramos as fotos de 1894, e obtivemos a informação que estaria situado entre o
Ytaguassu e o Bispo.
Descrição Geral
Planta original do aqueduto do Matheus 1894
Nota histórica:
Os aquedutos partem de um ponto central dos mananciais, recolhem as
águas e as transportam livremente para os reservatórios, diretamente, pela ação da
gravidade.
No século XIX, eram preferidos quando os engenheiros consideravam
pequena a diferença de nível entre os pontos de partida e de chegada em relação à
distância horizontal, sendo o sistema mais econômico, quando queriam reduzir os
172
custos com acabamento em alvenaria, tendo sido adotado para transportar as águas
dos reservatórios da Cuca ao Guaraú, passando pelo córrego do Bispo.
Em Abril de 1893, estava concluída a primeira etapa de instalação do
aqueduto com 3.500 m de extensão, com diâmetro de 600 mm entre o manancial do
Bispo e o córrego do Itaguassu. Foi construído em alvenaria de concreto no radier,
em meia seção, sendo a parte superior feita de tijolos com cimento, revestido
externamente com uma camada de argamassa de cimento e areia, de dois
centímetros de espessura.
Normalmente a travessia desses vales era feita com sifão, que é um conduto
forçado, mas como no trecho compreendido entre a Cuca e o Guaraú, havia
pequena carga disponível, de uma extremidade a outra da derivação, com exceção
do trecho do Itaguassu, essa solução seria impraticável.
Surgiu a necessidade da construção de pilares de alvenaria e “ponte-
aqueduto” ou arcada, que se eleva até ao nível da linha de carga, com declive que
descia a 10 cm a cada quilômetro de sua extensão.
São poucos os ribeirões situados na Cantareira que se encontram
identificados em cartas hidrográficas. Somente foi localizado o trecho que atravessa
a grota do Matheus, que estava encoberto pela vegetação, uma vez que em
inquérito oral com antigos guarda-parques, mostramos as fotos de 1894, e
obtivemos a informação que estaria situado entre o Ytaguassu e o Bispo.
Diagnóstico do conjunto:
Estado de conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x]
Desativado mas operacional: Sim [x ] Não [ ]
BOM [ ] REGULAR [ x ] RUIM [ ]
Risco de destruição Iminente: [ ] A médio Prazo [x]
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento ( ) limpeza da
vegetação (x ) Maior fiscalização (x ) Restauro (x )
173
Foto 2006 A vegetação que encobria o aqueduto foi parcialmente retirada para a definição
das divisas do parque.
Documentação de referência/localização do acervo:
Bibliografia:
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria da Agricultura
anos 1893, 1894 e 1895.
Iconografia:
Detalhes da Planta da Repartição Técnica de Águas e Esgotos 1
a
Divisão
Serviços de captação realizados na Serra da Cantareira durante o ano de
1894 – Escala 1:200 Acervo Arquivo do Estado de São Paulo
Obs.: Grafia conforme o original.
Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
5.4 Caixa de Junção do Guapira
Foto P. Doumet 1894 Foto 2007
174
Localização: 23
o
26’29.42”S 46
o
36’58.62”W
Está situado fora dos limites do Parque Estadual da Cantareira
Altitude: 873,20
Bairro: Cachoeirinha
Meio de acesso: Avenida Nova Cantareira com a Avenida Senador José Ermiírio de
Moraes
Materiais da estrutura: Pedra [x ] tijolo [x ] concreto [x ] cimento [x ]
Descrição geral:
Nota histórica:
Foto P. Doumet 1893 Foto P. Doumet 1893
Concluído em Agosto de 1894, deste reservatório partia uma canalização,
com 300mm de diâmetro, para os bairros altos da Capital, com capacidade para
armazenar até 500.000 litros, está situado a 600 metros de distância dos
Reservatórios de Acumulação, e recebia as águas do aqueduto de 500mm condutor
do Cassununga e Engordador.
Segundo Relatório de 1894, foi construído pelo empreiteiro Miguel Prota, e
compreende dois compartimentos, cada um com as dimensões 20mX4m e 45X2,85
constituindo dois vasos comunicantes, ligados individualmente por um encanamento
de derivação e ao conduto mestre da distribuição. Os dois segmentos concorriam
para o abastecimento diário da cidade, mas se um deles tivesse que ser esvaziado
para a limpeza ou consertos, o outro fazia o serviço de distribuição. As paredes
foram feitas de alvenaria de pedra com argamassa de cimento e fundo de concreto,
porém, essa informação não pode ser confirmada em trabalho de campo, uma vez
que atualmente se encontra totalmente lacrada.
Uso atual: Está desativada.
175
Diagnóstico do conjunto:
Estado de conservação:
Em funcionamento: Sim [ ] Não [x]
Desativado mas operacional: Sim [ ] Não [x]
BOM [ ] REGULAR [x ] RUIM [ ]
Elementos incorporados: Escada e corrimão externos
Tratamentos efetuados e datas: Em 2007, Foi completamente lacrado para evitar
invasões.
Medida de proteção que deve ser tomada: Desassoreamento ( ) limpeza da
vegetação ( ) Maior fiscalização (x ) Restauro ( )
Detalhamento:
Foto 2007
Encanamentos - Foto 2007
Na parede é possível verificar, que os dutos foram cortados, da esquerda
para a direita, o encanamento de ferro de 600mm, com espessura de 20mm,
instalado após a inauguração, em 1908, da Represa do Engordador, que passou a
enviar diretamente grande volume de água; no meio, parte do aqueduto de 500mm
de tijolos, com espessura de 100mm, que recebia as águas dos mananciais do
176
Cassununga e quase aterrada, à direita, a tubulação de concreto com 450 mm de
diâmetro, e 50mm de espessura, das sobras dos Reservatórios de Acumulação.
Documentação de referência/localização do acervo
Bibliografia:
Relatórios da Repartição de Águas e Esgotos e da Secretaria da Agricultura
anos 1893, 1894 e 1895.
Iconografia:
Álbum fotográfico P. Doumet de 1893 - Acervo Arquivo do Estado de São
Paulo; Fotos P. Doumet de 1894 - Acervo Particular
Observações:
A Caixa do Guapira e os Reservatórios de Acumulação exigem das
autoridades medida urgente de tombamento pelos órgãos responsáveis.
Para os equipamentos situados no Parque Estadual da Cantareira são
necessárias ações de conservação e restauro, que pressupõem a salvaguarda
definitiva das estruturas, mediante a sua classificação no Plano Diretor ou de
Manejo, como Zona Histórica e Arqueológica.
177
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Lefebvre, um duplo movimento impõe-se ao tema estudado, desde
que existam tempo e historicidade: regressivo, do virtual ao atual, do atual ao
passado, e progressivo, do superado e do finito, ao movimento que declara esse fim,
que anuncia e faz nascer algo novo.
215
O uso desse método, possibilitou verificar ao longo da pesquisa, que os
vestígios materiais do antigo sistema de abastecimento de água localizados na
Serra da Cantareira, vistos na época de sua implantação, como a solução definitiva
para a cidade, estava superado na virada do século.
Todavia, no período entre 1882, ano em que as águas da Cantareira
chegaram canalizadas à cidade, e as novas obras realizadas pela RAE, em 1894, a
sociedade paulistana passou por uma dinâmica de desencontro de temporalidades,
o tradicional em confronto com o novo, o antigo insistindo em se fazer presente.
Como exemplo de antigas atividades sociais, podemos salientar, o transporte
de operários e materiais para a construção de reservatórios, com tração animal,
carros de boi e burros, bem como, a compra de água através de aguadeiros, ou
colhida com vasilhas nos chafarizes. A lavagem de roupas e a higiene pessoal,
eram ainda feitas nos rios da cidade.
Como demonstrado, o salto para a modernidade, começa a se esboçar nas
mais singelas atividades sociais, agora os materiais e trabalhadores, usam como
meio de transporte a ferrovia urbana o tramway da Cantareira. A água que jorra
das torneiras, passa a ter um valor econômico, é paga mensalmente, e exige a
introdução nas residências de equipamentos hidráulicos, como chuveiros, pias,
banheiras e vasos sanitários, com sistema de esgoto, o que transforma hábitos e
costumes arraigados no cotidiano dos paulistanos, na busca da cidade eficiente que
era o desejo de uma elite.
Contudo, a superação do antigo pelo novo torna-se imensurável, no eixo
espaço-temporal, quando verificamos que a cidade de 30.870 habitantes em 1882,
dez anos depois, na época da encampação da Companhia Cantareira, atingia
120.000 moradores, e na virada do século, chegava a incrível marca de 239.934
almas.
215
LEFEBRE Henri, A Revolução Urbana. Minas Gerais, Editora UFMG,2004, P. 33.
178
Como vimos, e bem enfatiza Braudel,
216
os grandes equilíbrios econômicos e
os circuitos de trocas, fabricavam e transformavam a trama da vida biológica e
social. Os comportamentos se integravam ao gosto de uma classe social, que
procurava transformar a inovação em hábito.
O poder público, na esteira das transformações econômicas ocorridas no final
do século XIX, aos poucos foi racionalizando os usos sociais das novas infra-
estruturas.
A coexistência, na vida social, de tempos históricos diversos numa mesma
época histórica, ficou visível em 1893, com a destruição dos chafarizes do centro da
cidade. Essa medida impopular, anunciava a visão capitalista de mercado, e
ironicamente não foi feita por uma empresa privada, mas por uma estatal.
As manifestações de insatisfação não eram apenas sintomas de
descontentamento, mas talvez uma forma popular de exprimir sua revolta, com
essas e outras medidas tomadas sem qualquer consulta aos seus interesses.
A interação às novas formas de tecnologia muitas vezes camufla outras
formas de resistência, como foi a alteração clandestina da calibragem dos orifícios
das penas, obrigando o governo a substituí-lo por hidrômetros
Conclui-se que nesse momento, várias lógicas se interligam e por vezes se
chocam: a da mercadoria, a do Estado, a da organização espacial, a do objeto, e a
da vida cotidiana.
“Rejeitando as particularidades, a racionalidade industrial devasta, pura e
simplesmente, a natureza e tudo o que é do domínio da naturalidade”.
Uma vez que a regra é o desenraizamento generalizado e as separações, um
mal-estar geral acompanha a satisfação vinda da ideologia, do consumo, do
predomínio do racional. Tudo se torna calculável e previsível, quantificável e
determinável. Tudo deve integrar-se numa ordem fortalecida pelas coações. Tudo,
salvo um resíduo de desordem e de liberdade, às vezes tolerado, ás vezes
perseguido. Trata-se, então, do período no qual a “história” se precipita, pondo a nu
as particularidades e entrando em conflito com o quê ou com quem tinha o
privilégio.”
217
216
BRAUDEL, Fernand, apud PRIORE, Mary Del, História do Cotidiano e da Vida Privada in
Domínios da História Ensaios de Teoria e Metodologia. São Paulo, Editora Campus, 1997, p. 266.
217
LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Minas Gerais, Editora UFMG, 2004.p.44.
179
Com relação à pesquisa tecnológica
218
,Milton Vargas
219
, afirma que seu início se deu
efetivamente com três instituições, no século XIX: o Serviço Geológico e Mineralógico do
Brasil, no Rio de Janeiro, o Gabinete de Resistência de Materiais da Escola Politécnica de
São Paulo
220
e o Instituto Agronômico de Campinas. Porém, o autor assegura que é possível
que tenha acontecido em outros locais, onde “a nosso ver, isso se efetivamente
quando se alia a experimentação de laboratório e de campo, feitas em consonância com
métodos de pesquisa científicos, com a necessidade de resolver um problema técnico”.
221
(VARGAS, 1994)
O conhecimento e aplicação de novos materiais, estiveram diretamente
ligados com os laboratórios de investigação química e mecânica, onde se estudava
e melhorava a composição desses materiais, e se testava a sua resistência.
Como foi demonstrado, conclui-se que os engenheiros responsáveis pelo
saneamento da cidade, realizavam testes de resistência nos materiais importados,
no porto de Santos, antes mesmo que esses ensaios fossem sistematizados em
disciplina acadêmica específica. Para tanto, José P. S. Pereira de Sampaio,
enquanto dirigiu a Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo, procurou
dotar seu laboratório, dos meios necessários para responder às solicitações de que
o departamento era alvo, e prosseguir nas investigações dos novos materiais.
Essa assertiva pode ser comprovada, conforme as afirmações do Relatório
Anual de 1894:
“As amostras de cimento oferecido, de várias procedências, têm continuado a
ser submettidas a experiências de tracção, na machina “Adie”, de que dispomos por
enquanto. Chegou-se à conclusão de que os resultados obtidos aqui são sempre
inferiores
aos que accusam os attestados, que acompanham o material apresentado;
218
Segundo o autor, tecnologia se entenda: o estudo ou tratado das aplicações de métodos, teorias,
experiências e conclusões das ciências ao conhecimento dos materiais e processos utilizados pela
técnica. A função da engenharia, da arquitetura, da indústria e da agronomia não se confunde com a
da tecnologia, embora existia uma tecnologia implícita nessas profissões, pois nelas aparece,
também, a arte de construir obras, fabricar produtos ou cultivar a natureza pra obter produtos
específicos. Enfim, a visão tecnológica é ampla e não visa a nada de especificamente particular,
enquando a do engenheiro industrial ou agrônomo visa particularmente a uma determinada obra ou
produto. Ibidem p. 213.
219
VARGAS, Milton.Organ. O início da pesquisa tecnológica no Brasil. In História da Técnica e da
Tecnologia no Brasil. São Paulo, Editora UNESP, 1994, p. 214.
220
Segundo NAGAMINI, A criação da Escola Politécnica de São Paulo em 1893, e outros cursos de
engenharia no país, está relacionada com a necessidade de modernizar os sistemas de transportes e
instalar novos serviços de utilidade pública, como eletricidade e redes de abastecimento de água e de
tratamento de esgotos. NAGAMINI, Marilda, 1889 1930: Ciência e Tecnlogia nos processos de
urbanização e industrialização. In MOTOYAMA, SHOZO (Org). Prelúdio para uma História Ciência e
Tecnologia no Brasil.São Paulo, Edusp, 2004, p. 196.
221
VARGAS, Milton. Obra cit. p. 214.
180
explicação cabal do facto póde-se encontrar na circunstância de achar-se o cimento
sensivelmente hydratado, quando nos chega aqui, depois de longa viagem por mar e
de longo depósito em logares pouco apropriados.
Melhores e mais positivos resultados iremos, por certo, colher das
experiências que hão de ser feitas pela máquina da casa H. Morin, que se acha
encomendada e que é dos aparelhos mais perfeitos para experiências desse
gênero.”
222
“(...) Com a machina Adie tem sido feito algumas experiencias de cimento e
outros materiais, experiências que devem prosseguir porque são dados de grande
valia para conhecimento perfeito dos materiaes que são offerecidos para os serviços
a cargo desta commissão e de qualquer outra.”
223
Conforme citado, além do cimento, outros materiais como tijolos e ferro,
passaram pelos testes de resistência, podendo-se inferir que tal medida de
precaução, foi fundamental para garantir a segurança das obras, gerando o
desenvolvimento de novas técnicas construtivas, relativas aos equipamentos
coletivos, como pontes no caminho do tramway, aquedutos, represas, e os
reservatórios da Consolação e da Liberdade.
“Vencidas as difficuldades que se tem encontrado para obtenção de bom tijolo
devido principalmente as s condições da industria nacional, o supprimento ao
mercado importará em relevante serviço prestado pela Commissão em benefício
particular para as obras de Saneamento, e geral para todas as construcções nesta
Capital.”
224
Segundo DAUMAS
225
, os engenheiros foram os primeiros a estudar as
alterações que os novos materiais produziam nas construções, e tentaram definir a
relação entre técnica construtiva, e estética arquitetônica, dando origem a uma
“arquitetura de engenheiros”, em grande parte associada à arquitetura industrial.
Entretanto, PICON, generaliza ao afirmar: “A apologia da funcionalidade da
construção, da sua adequação aos fins a que se destinavam remeteu a
222
SÃO PAULO. Relatório annual apresentado ao Exmo Snr Dr Jorge Tibiriça M. D. Secretário da
Agricultura pelo engenheiro chefe João Pereira Ferraz, 1894, pp 6, 7.
223
SÃO PAULO. Relatório Annual da Commissão de Saneamento do Estado de São Paulo
apresentado ao Sr Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira
Ferraz referente ao anno de 1893, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894, p. 07.
224
SÃO PAULO. Relatório Annual da Commissão de Saneamento do Estado de São Paulo
apresentado ao Sr Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira
Ferraz referente ao anno de 1893, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894, p. 06.
225
DAUMAS, Maurice. L”Archéologie Industrielle en France. Paris, ed Robert Laffont, 1980, p. 32.
181
ornamentação arquitetural para um lugar secundário, chegando mesmo a ser
considerada por muitos como supérflua.”
226
No entanto, quando se analisou os aquedutos, as represas e os reservatórios,
ficou evidente que esses conceitos não são válidos para a realidade paulistana, uma
vez que os profissionais envolvidos, estavam também preocupados com a questão
estética.
No caso dos aquedutos, no trecho entre a Cuca e o Bispo, os arcos foram
artisticamente trabalhados, e até os encanamentos de ferro do Cassununga,
utilizados como colunas, e que servem de suporte à tubulação, estão associados a
outros materiais, de forma a obter-se um efeito decorativo, que se estendia às
fachadas das edificações, como foi o caso do Reservatório da Liberdade, onde em
seu entorno foram incluídas várias figuras mitológicas.
Nesse reservatório, a preocupação estética predominou sobre a da
funcionalidade, os engenheiros, procurando dar maior monumentalidade,
construíram dois torreões com traçados medievais, e os empreiteiros por conta
própria, agregaram um jardim, chamando a atenção para a importância crescente do
lazer, e do usufruto do espaço público.
Situada em área urbana, esta edificação talvez, seja a mais emblemática de
um imaginário de eficiência, funcionando como uma forma de simbolizar o
progresso econômico paulistano, ostentando em sua fachada a frase Pro S. Paulo
Fiat Eximium”, para S. Paulo, faça perfeito. .
Pelo exposto, para a Arqueologia Industrial, a documentação escrita e
iconográfica não deve ser vista apenas como instrumento de consulta e sim como
um conjunto que faz parte da memória da empresa, ou seja, como testemunho
material e parte integrante do patrimônio cultural, constituindo-se, muitas vezes, nos
únicos vestígios materiais que sobraram de uma indústria, um bem coletivo ou de
um processo de produção desaparecido.
Para SMITH, “(...) os arquivos representam um produto maior da civilização,
uma fonte cultural, um elemento essencial do patrimônio da humanidade.”
227
226
PICON, Antoine. L”Invention de l’Ingènieur Moderne. L’École des Ponts et Chaussées 1747 – 1851.
Paris, Presses de l’École National dês Ponts et Cahusées, 1992, p. 529.
227
SMITH, W.I. Les archives et la culture. In Techniques modernes d’adiministration des archives et
de gestion des documents: recueil de texts. Paris, Unesco, 1985, p 471.
182
No arquivo público do Estado de São Paulo está conservada a documentação
oficial. Como a Companhia Cantareira prestava serviços para o Governo, embora
fosse uma entidade privada, parte de sua correspondência foi preservada,
principalmente aquela referente aos pedidos de isenção de tarifas de importação, e
à cobrança de água e esgotos.
Através da documentação produzida e recebida pela empresa, no decorrer de
sua rotina administrativa, a informação dos documentos de arquivo, desvenda a
vida do coletivo, facultando o conhecimento que permite determinar os momentos de
sua expansão e estagnação, fornecendo elementos que habilitam conhecer as
ações que acabaram determinando o seu destino.
228
Seus arquivos, constituem um universo documental importantíssimo, para o
estudo e o conhecimento do nosso passado mais recente, no entanto, são os
testemunhos da história da industrialização que primeiro desaparecem, quando uma
empresa abre falência ou é encampada, como constatamos, no caso da Companhia
Cantareira. Infelizmente, ao longo do tempo desapareceram os livros manuscritos de
atas das assembléias, de reuniões de diretoria, do Conselho Fiscal, diários e livros
de contabilidade, folhas de pagamento, fichas de operários, assim como as cartas
trocadas com representantes de empresas, fornecedores e decisões relativas a
investimentos, essencial para a compreensão do seu funcionamento.
Esta lacuna prejudica uma comparação entre a Companhia Cantareira de
capital privado, e a Repartição de Águas e Esgotos, pública, uma vez que embora
atuassem na mesma área, sua visão administrativa era diferente.
Os agentes econômicos privados, buscam incessantemente a reprodução do
capital, ou seja, a constante obtenção de lucros. A diferença fundamental é que uma
empresa particular que opera com dificuldades pode ir à falência, ao passo que uma
estatal recebe subsídios do governo para manter-se.
Sendo a RAE, uma empresa de serviço público, com monopólio e recursos
governamentais, sua margem de competitividade era inexistente, e não havia
preocupação com lucro. Esses fatores, talvez, expliquem os vultuosos investimentos
e a rapidez da implementação da infra-estrutura no abastecimento de água, a partir
de 1893.
228
CORDEIRO, José Lopes. A investigação em Arqueologia Industrial” in O Porto Manufactureiro e
Fabril. Porto: Seção Norte da Ordem dos Engenheiros, 1986, p. 15. (dat)
183
Para reconstituir a expansão implementada pela RAE, a técnica empregada e
o processo de trabalho utilizado, além da pesquisa de campo, efetuada, também
foram fundamentais, em nosso estudo, a consulta aos relatórios e as fotografias da
época.
Nos projetos de 1864, 1875 e 1877, constatamos a necessidade de se trazer
engenheiros ingleses, devido à falta de formação superior técnica ligada à
necessidade de domínio tecnológico específico, porém, dessa data em diante, seria
cada vez maior a participação brasileira nos estudos e nas construções.
Em 1893, quando a Superintendência de Obras, e posteriormente, a R.A.E.,
assumiram os serviços de abastecimento de águas e esgotos, que eram chefiados
por José Pereira Rebouças, contavam com equipes de engenheiros brasileiros
formados principalmente no Rio de Janeiro.
Verificou-se que a importância dessas atividades no contexto urbano, com a
diversificação de frentes de ação, a abertura de estradas de ferro, construção de
pontes e edifícios públicos, fez com que fosse estruturado um curso de engenharia
em São Paulo, a Escola Politécnica.
Quando foi realizada a pesquisa de campo não se confirmou, pelo menos nas
obras realizadas entre 1893 e 1894, a presença de material hidráulico de fabricação
nacional. Ou seja, desde o início das obras em 1877, pela Companhia Cantareira,
até a Repartição de Águas e Esgotos, em 1893/4, o Estado continuava dependente
das importações.
Observou-se que no trecho compreendido entre a represa da Cuca e a do
Cassununga, os encanamentos foram fabricados pela empresa Hopkins, Causer &
Hopkins, que mantinham seus representantes em São Paulo, conforme fotos
apresentadas no capítulo, Convergindo para a Arqueologia da Serra da Cantareira.
Esta informação foi ratificada pela documentação escrita.
Porém, no caso específico das primeiras represas do Engordador, não foi
encontrado material desta empresa, e sim da CieGle Liege, provavelmente de
origem belga, que não foi mencionada em nenhum relatório da RAE, ou da
Secretaria da Agricultura. Nesse caso, a fonte escrita, principal auxiliar da
Arqueologia Industrial, o confirma o que foi encontrado na pesquisa arqueológica
de campo.
184
Todos os equipamentos hidráulicos eram importados, e, ao contrário de
nossa premissa, de que o material empregado nas obras de abastecimento de água,
seria aos poucos substituído por similar de fabricação nacional, isso o se
confirmou.
Com relação aos outros serviços de saneamento, houve um incentivo às
empresas paulistanas, os empreiteiros eram brasileiros, assim como a Companhia
Mechanica e Importadora, que vendia materiais trazidos principalmente da
Inglaterra, e que fabricou os dois portões de ferro batido do Reservatório da
Liberdade, a armação especial de metal da ponte sobre o Tamanduateí, e parte da
estrutura da ponte sobre o Rio Tietê.
Embora os relatórios da Secretaria da Agricultura, mencionem que no
Cassununga foram usados tubos da empresa alemã Mannesman, isto não foi
comprovado, no trabalho de campo, o material empregado é da Hopkins, Causer &
Hopkins, o mesmo fabricante das outras obras de captação na Serra da Cantareira.
Essas obras não reduziram as importações; ao contrário, provocaram
aumento considerável na demanda por artigos estrangeiros, usados nessas
construções.
A implementação da infra-estrutura de abastecimento de água no final do
século XIX, beneficiou o estabelecimento de representantes de empresas inglesas,
comum em regiões de capitalismo tardio como era o caso paulistano.
A subordinação tecnológica fica evidente nos vestígios encontrados e, mesmo
o material que em campo é difícil apurar a procedência, como é o caso do cimento
empregado, de acordo com a documentação escrita, também era importado. Nas
obras emergenciais como a do Cassununga e do Reservatório de Acumulação, o
cimento vinha de várias regiões da Europa, em navios de bandeira alemã. Porém, a
partir de 1894, com a ampliação dos serviços, os folhetos de propaganda e as notas
fiscais apontam novamente para a dependência inglesa.
Em função do rigor dos técnicos da Comissão de Saneamento e da
Superintendência, na aquisição dos materiais, junto aos pedidos de licitação, eram
anexados, prospectos, cartas de referência e panfletos dos fabricantes.
Os Catálogos daquele período, se constituem em patrimônio documental
importante, para o resgate das cnicas de manufatura de alguns artigos. De acordo
185
com Pannel,
229
este tipo de registro impresso é difícil de ser encontrado, quando se
trata de empresa européia, devido aos dois conflitos mundiais, e ao fato de ser até
há pouco tempo, negligenciada em prol de uma literatura considerada mais técnica.
Para o arqueólogo industrial, sua consulta é indispensável, uma vez que ao
comprovar as qualidades de seu produto, as empresas procuravam detalhar o
processo de fabricação, como se pode ver nas ilustrações do catálogo de 1894
230
.
Catálogo de Propaganda da Época
229
PANNEL; J.P.M. The Techniques of Industrial Archaeology,Great Britain, edited by J.
Kenneth Major, 1984.
230
Catálogo da Francis & Co. Portlant Cement Acervo Arquivo do Estado, 1894, Secretaria
da Agricultura, Cx 118, ordem CO 4212.
186
Ilustrações do catálogo
187
Ilustrações do catálogo
Adquirido através de representantes autorizados, o valor era pago à vista em
libras esterlinas, todo o material vinha em embarcação estrangeira, chegava ao
Porto de Santos e era transportado pela estrada de ferro da São Paulo Railway até o
Pari, seguindo em locomotivas norte-americanas Baldwin ou inglesas, até o
Reservatório de Acumulação, de onde em carros de boi, chegavam ao seu destino.
188
Naquele momento, a industrialização por meio de substituição de
importações, talvez por não exigir o emprego intensivo de capital, ou pela facilidade
do acesso à matéria prima, resumia-se aos produtos de olaria
231
:
No trecho em forma circular foram usados tijolos cuneiformes fabricados pela
Companhia Melhoramentos de São Paulo; na secção ovóide além dos especiais fabricados
por esta Companhia, tem sido usados tijolos de boa qualidade, com forma e dimensões
ordinárias, tendo sido isto preciso para attender a marcha acelerada que imprimiram os
empreiteiros aos seus serviços.
232
No entanto, os dados evidenciam que em relação à fabricação de tijolos o
setor ainda estava em processo de estruturação, modesto mas efetivo:
“Quanto aos tijolos devo dizer que foi adoptada para as obras a melhor classe deste
material que existia no mercado proximamente igual ao estrangeiro de melhor fabrico e
incontestavelmente superior ao material geralmente empregado nesta Capital. São taes
tijolos fornecidos, mediante contracto, por Corbett & Cia actuaes proprietarios da antiga
fabrica Ceramica situada no Ypiranga. A resistencia desse tijolo é de cerca de 90
kilogrammas por centimetro quadrado e a capacidade de absorpção varia pelas
experiencias feitas, entre 11% e 18% de peso.
Vencidas as difficuldades que se tem encontrado para obtenção de bons
tijolos devidas principalmente as más condições da industria nacional, o supprimento ao
mercado importará em relevante serviço prestado pela Commissão em benefício particular
para as obras de Saneamento, e geral para todas as construcções nesta Capital.”
233
Constata-se que, parte da infra-estrutura do sistema de abastecimento de
água do final do século XIX, foi destruída, encontrando-se em ruínas, no entanto,
está praticamente preservada aquelas que se encontram no perímetro do Parque
Estadual da Cantareira, o que não ocorreu com o sistema de distribuição, situado na
área urbana, com duas exceções: a Caixa da Consolação, e a da Liberdade que
ainda estão em uso.
231
Outro fator que pode explicar essa participação é a tradição deste setor na cidade. Pode-se
encontrar em dados estatísticos na obra de Daniel Pedro Muller que a fabricação de telhas, 80.000
unidades, aparece como a principal produção do Município de São Paulo em 1836. MÜLLER Daniel
Pedro. Ensaio d’um quadro estatístico da Província de São Paulo. 3 ed. Facsimilada. São Paulo.
Imprensa Oficial, 1978, p. XXIII.
232
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado ao Presidente do Estado de São Paulo pelo Secretário
de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, em 4 de abril de 183, Rio de
Janeiro, Typ. G. Leuzinger e Filhos, 1893, p. 86.
233
SÃO PAULO. Relatório Annual da Commissão de Saneamento do Estado de São Paulo
apresentado ao Sr Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira
Ferraz referente ao anno de 1893, São Paulo, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894, p.
05.
189
No entanto, observou-se que as represas localizadas nas divisas do Parque,
sofrem constantemente com as depredações, pois estão em local de fácil acesso
aos moradores do entorno, o que dificulta a fiscalização por parte da administração
do Próprio Estadual.
Com relação aos aquedutos, no trecho entre a Cuca e o Bispo, o problema
de se registrar sua exata localização reside, como foi visto, no fato de existirem
poucas fontes de consulta, o que seria resolvido,com trabalho de campo, caso o
pesquisador pudesse acompanhar toda sua extensão, situada na linha divisória do
parque, porém o que inviabiliza o procedimento é a constante ameaça de invasores
que ocupam indevidamente, o entorno da Unidade de Conservação.
No final do século XIX, acreditava-se que a captação de águas, naturalmente
puras, para o abastecimento das cidades, seriam aquelas das nascentes e
cabeceiras dos rios localizadas fora dos centros habitacionais.
Para que isso fosse possível, seria fundamental a manutenção de florestas no
entorno dos mananciais, sem a presença humana na bacia hidrográfica.
O próprio Código Sanitário Decreto 233/1894 determinava em seu artigo
Capítulo 15, sobre o abastecimento de água:
“Artigo 311: a água destinada aos usos domésticos deverá ser potável e
inteiramente suspeita de poluição.
Artigo 312. provirá de manancial sempre que for possível com origem na
serra.
Artigo 324: para o suprimento à população deverá ser preferido o sistema de
condução de água por gravidade.”
234
Quando encampou a Companhia Cantareira o Governo do Estado adquiriu
todo o seu patrimônio que incluía o Reservatório de Acumulação. Logo os técnicos
da Superintendência, concluíram, que seria necessário a desapropriação de grande
extensão de terras, se quisessem ampliar a captação das águas na Serra da
Cantareira.
Foi aberto um crédito especial, e o Estado passou a comprar todas as
propriedades particulares, situadas nas proximidades dos mananciais protegendo
essas águas superficiais:
234
SÃO PAULO. Coleção de Leis e Decretos do Estado de , Decreto 233 de 02 de Março de 1894.
Institui o Código Sanitário do Estado e dá outras providências, 1895.
190
Esses terrenos desapropriados pelo Estado, e outros adquiridos ao longo do
século XX, formam a área do Parque Estadual da Cantareira.
A partir de 1911, a Repartição de Águas e Esgotos contou com o apoio do
então Serviço Florestal na vigilância e preservação das matas.
Conforme as represas foram sendo desativadas, a administração da área foi
sendo transferida para o Instituto Florestal, culminando em 1963 com a criação do
Parque Estadual da Cantareira.
As florestas em virtude de sua função protetora de mananciais, da topografia
e declividade do solo, são consideradas de Preservação Permanente de acordo com
o artigo 2º do Código Florestal brasileiro.
235
Com a Resolução 18 de 04 de Agosto de 1983 o Secretário da Cultura
tombou a área do Parque e definiu em seu Artigo 3º:
“ 01…
02. As instalações públicas preexistentes na área, como torres de alta
tensão, atalhos, trilhas, estradas, reservatórios, equipamentos, edificações,
236
etc,
serão mantidas na íntegra com suas funções originais…”
237
Um Parque Estadual é uma área de domínio público, destinada à
conservação e preservação dos seus ecossistemas.
Segundo o Decreto nº 25.341 de 04 de Junho de 1986 que aprova o
Regulamento dos Parques Estaduais Paulistas, a fim de compatibilizar a
preservação desses ecossistemas protegidos, com a utilização dos benefícios deles
advindos, serão elaborados estudos de diretrizes, visando a um manejo ecológico
adequado, e que constituirão o Plano de Manejo.
No caso específico da Cantareira, quase uma década antes desse diploma
legal, a equipe do Instituto Florestal havia elaborado um Plano de Manejo para o
parque.
Nele, as represas do século XIX estão inseridas na Zona de Uso Extensivo,
que visa:
235
SÃO PAULO. Leis, Decretos. Lei 4.771, de 15 de Setembro de 1965, Institui o Código Florestal
Brasileiro e dá outras providências.
236
Grifo nosso.
237
SÃO PAULO. Leis, Decretos, Resolução 18 de 04 de Agosto de 1983 Fica tombada a área da
reserva estadual da Cantareira e Parque Estadual da Capital (Horto Florestal)
191
Manter o ambiente natural, mas proporcionar melhorias para facilitar
o uso recreativo disperso e educação sobre o meio ambiente, tais
como: estradas secundárias, atalhos (picadas), sinais indicativos e
pequenos grupos de melhoras rústicas espalhadas, incluindo
sanitários.
238
(NEGREIROS, 1974)
Observarmos que a herança do abastecimento de água e sua importância
histórica, eram completamente ignoradas: as represas, as caixas de captação,
pequenos lagos e córregos que percorrem ou se encontram nas áreas, não se
prestam muito à pesca esportiva, visto contar com espécies introduzidas de pouco
valor (tilápias, carpas e blackbass) e outros nativos de valor ainda menor, como
traíras, pequenos bagres, lambarís e guarus…”
239
O Manejo está desatualizado, com as novas diretrizes de gerenciamento de
uma Unidade de Conservação, visto que o Decreto 25.341/1986 define como Zona
Extensiva. “Aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo
apresentar alguma alteração humana…”
240
O que se pode deduzir, e que mostra a falta de conscientização da opinião
pública, e dos poderes constituídos, é que, três décadas depois da elaboração do
Plano de Manejo do Parque Estadual da Cantareira, esta visão ainda persiste. A
área sob a responsabilidade da sucessora da antiga Repartição de Águas e
Esgotos, se encontra fora do Parque, e é administrada como se fosse propriedade
particular da Associação dos Funcionários da Superintendência de Abastecimento
Público do Estado de São Paulo, SABESP, não permitindo o acesso aos
pesquisadores.
Neste local, histórico e arqueológico, onde está localizado o primeiro
Reservatório de Acumulação, da cidade de São Paulo, assim como as represas do
Guatemy, Toucinho, e Barro Branco, virou um …”Pesque e Pague”.
As obras situadas na Serra da Cantareira, constituem um conjunto importante
que testemunha a evolução da infra-estrutura do abastecimento de água. A
percepção da importância dessas instalações, permitirá a sua preservação e a
transmissão desse patrimônio para as gerações futuras, permitindo a comparação
com as novas tecnologias, que estão permanentemente em evolução.
238
NEGREIROS, O.C. et elli Plano de Manejo para o Parque Estadual da Cantareira. Boletim Técnico
do Instituto Florestal nº 10, São Paulo, 1974,p.19.
239
Ibidem p.11.
240
SÃO PAULO. Leis, Decretos etc. Decreto 25.341, de 04 de Junho de 1986: Aprova o
Regulamento dos Parques Estaduais Paulistas.
192
Acreditamos que esta pesquisa arqueológica industrial, com seu respectivo
inventário, fornece subsídios para a proposta de um novo zoneamento para o
Parque Estadual da Cantareira, incluindo todo o conjunto de captação de água em
uma área de visitação pública, denominada Zona Histórico Cultural, prevista no
Decreto 25.341/1986, como “aquela onde são encontradas manifestações históricas
e culturais ou arqueológicas, que serão preservadas, estudadas e interpretadas para
o público, servindo à pesquisa, educação e uso científico. O objetivo geral do
manejo é o de proteger sítios históricos ou arqueológicos em harmonia com o meio
ambiente”.
193
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__________. Relatório referente ao discurso do Sr José Thomaz Nabuco d’Araujo,
Presidente da Provincia de São Paulo abrindo a Assembléia Legislativa Provincial no
dia 1º de maio de 1852. Typ.do Governo arrendada or Antonio Louzada Antunes.São
Paulo.
__________. Relatório referente ao discurso do Sr JoAntonio Saraiva, Presidente
da Província, na Assembleia Provincial no dia 15 de fevereiro de 1855.Typographia
2 de Dezembro de Antonio Louzada Antunes, São Paulo.
__________. Relatório com que o Conselheiro Antonio José Henriques, Presidente
da Província abriu a Assembléia Legistiva Provincial no ano de 1861. Tip Imparcial.
__________. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa da Província, na 1ª
Sessão da 14ª Legislatura pelo Presidente da Província Dr João Jacintho de
Mendonça,Typographia Imparcial, 1862.
__________. Relatório apresentado a Assembleia Legislativa Provincial, na Primeira
Sessão da Decima Oitava Legislatura no dia 3 de Fevereiro de 1866, pelo
Presidente da Província Dr João da Silva Carrão, Typographia Imparcial, 1866.
__________. Relatório apresentado a Assembléa Legislativa Provincial, no dia 2 de
Fevereiro de 1868 pelo Presidente da mesma Província o Conselheiro Joaquim
Saldanha Marinho.Typographia do Ypiranga, 1868.
__________. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Povincial, pelo
Presidente da Província Dr Antonio Candido da Rocha no dia 2 de fevereiro de 1870.
Typographia Americana, 1870.
203
__________.
Relatório Apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, pelo Presidente
da Província o Exmo Sr. Dr José Fernandes da Costa Pereira Júnior em 2 de
fevereiro de 1872.
__________. Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial, de São
Paulo pelo Presidente da Proncia Sr. Sebastião José Pereira, em 2 de Fevereiro
de 1876,Typographia do Diário.
__________. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 05 de fevereiro de 1880.
Typ. à vapor do Diário de Santos.
__________.Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, pelo
Presidente da Província Laurindo Abelardo de Brito no dia 13 de janeiro de 1881.
Typ. à vapor do Diário de Santos,
__________. Relatório dirigido à Assembléia Legislativa Provincial, pelo Vice-
Presidente da Província Conde de Três Rios e apresentado no acto da instalação da
mesma Assembléia pelo Vice-Presidente Dr Manoel Marcondes de Moura e
Costa, Typgraphia a vapor do Diário de Santos.1882.
__________. Relatório Annual da Commissão de Saneamento, apresentado ao Sr
Jorge Tibiriça, Secretario da Agricultura pelo Engenheiro Chefe João Pereira Ferraz
referente ao anno de 1893, Typographia à vapor de Vanorden e Comp, 1894.
__________. Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Intendente Municipal
Cesário Ramalho da Silva em 1893, 1894.
__________. Relatório da Secretaria dos Negócios da Agricultura, Commercio e
Obras Publicas, apresentado em 03 de Março de 1895 ao Dr Bernardino de
Campos, Presidente do Estado pelo Dr Jorge Tibiriça,Typ Paulista, 1895.
__________. Relatório correspondente ao ano de 1899, apresentado ao Presidente
do Estado Coronel Fernando Prestes de Albuquerque pelo Alfredo Guedes
Secretário da Agricultura,Typographia do Diário Official, 1900.
204
__________. Actos do Poder Legislativo do Estado, Typ. do Diário Oficial, 1892.
__________., LEIS E DECRETOS ETC. Decreto nº 58 de 02 de maio de 1892
Regulamenta a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e outras
providências.
__________. Leis e Decretos. Decreto nº 233 de 2 de Março de 1894. O Presidente
do Estado, para a execução do artigo da Lei 240 de 4 de Setembro de 1893,
estabelece o Código Sanitário.
__________. Leis, Decretos, Decreto no 152-A de 31 de janeiro de 1893 Cria as
Repartições dos serviços de águas e exgottos e da arrecadação das taxas de água
da capital.
__________. Leis, Decretos, Decreto no 154 de 08 de Fevereiro de 1893. Cria e
organiza a repartição dos serviços technicos de águas e exgottos da capital
_________. Colecção de Leis da Assembléia Legislativa Provincial do ano de 1859,
Typografia Dous de Dezembro de Antonio Louzada Antunes, 1859.
_________. Collecção de leis da Assembléia Legislativa Provincial promulgadas no
ano de 1866 e dos regulamentos expedidos para execução das mesmas. Typ.
Imparcial de Azevedo Marques, 1866.
__________.Collecção de Leis e Posturas Municipaes promulgadas pela
Assembléia Legislativa Provincial, Typographia Americana, 1871
__________.Leis e Decretos, Lei 13 de 27 de março de 1886. Dispõe sobre
habitações populares e dá outras providências.
__________.Leis e Decretos. Decreto 41.626 de 30 de janeiro de 1963.
Regulamenta a execução da Lei nº 6884 de 29 de agosto de 1961, que dispõe sobre
os Parques, Florestas e Monumentos naturais.
205
__________.Leis e Decretos. Decreto 233 de 2 de Março de 1894. O Presidente
do Estado, para a execução do artigo da Lei 240 de 4 de Setembro de 1893,
estabelece o Código Sanitário.
__________.LEIS, DECRETOS ETC Decreto 28 de de maio de 1892 nova
organização a Secretaria da Agricultura, Comércio de Obras Públicas.
__________.Leis, Decretos. Decreto no 195 de 18 de agosto de 1893. Declara de
utilidade publica, para desapropriação, os terrenos do sítio Campo Redondo, na
Serra da Cantareira, pertencentes a Antonio Rodrigues de Almeida, Companhia
Territorial e Estanislau José de Oliveira Queiroz, precisos para as obras de
desenvolvimento do abastecimento de água à capital.
__________.Leis, Decretos. Decreto no 214 de 04 de novembro de 1893. Declara
de utilidade blica, para serem desapropriados pelo Estado, necessários para o
aumento dos mananciais do abastecimento da capital, as águas dos rregos das
Sobras, Marmeleiro ou Pedra Branca, Tanque, Guarahú, Bispo, Matheus, Itaguassú
e Manino, situados à esquerda dos reservatórios de accumulação, na serra da
Cantareira.
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