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Tudo o que há na natureza, seja o homem, um minúsculo inseto, uma
molécula, ou até mesmo as grandiosas galáxias que brilham na noite, são
considerados todos, em relação às suas partes constituintes, mas também
são partes de todos maiores. E tudo isso, todos e partes, estão interligados,
são interdependentes, numa totalidade harmônica e funcional, numa
perpétua oscilação onde os todos e as partes se esclarecem mutuamente.
Essa concepção holística do Universo mostra a existência viva de uma
relação dialética entre os fenômenos e sua essência, entre o particular e o
universal, entre a base material e a consciência, entre a imaginação e a
razão.
128
O termo holismo é originário do grego holos, que significa “todo”. Os novos
paradigmas procuram se centrar na totalidade. De acordo com Rafael Yus, precursor
da introdução de temas transversais no currículo, a educação do século XXI deve
ser integral e englobar as dimensões física, mental, emocional e espiritual das
pessoas. Deve ser, portanto, holística.
Os paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do sujeito,
valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade, valorizando o micro, a
complementaridade, a convergência e a complexidade. Para eles, os
paradigmas clássicos sustentam o sonho milenarista de uma sociedade
plena, sem arestas, em que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao
aceitar como fundamento da educação uma antropologia que concebe o
homem como um ser essencialmente contraditorial, os paradigmas
holonômicos pretendem manter, sem pretender superar, todos os elementos
da complexidade da vida.
129
Nesse aspecto, engloba as ideias Morin, que critica a razão produtivista e a
racionalização moderna, propondo uma coerência da vivência humana. Esse modelo
sustenta um princípio unificador do saber e do conhecimento em torno do ser
humano, valorizando seu cotidiano, seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno,
o acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído, ambiguidade, finitude,
escolha, síntese, vínculo e totalidade. “Mais do que a ideologia, seria a utopia que
teria essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade perdida”.
130
Segundo Gadotti, os defensores da educação holística sustentam que o
imaginário e a utopia são os grandes fatores determinantes da sociedade e
consideram com menor importância o modelo positivista racionalista que aniquila o
desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os referenciais do modelo clássico, segundo
eles, desconsideram essas dimensões da vida porque supervalorizam os fatores
externos sociais econômicos e políticos da macroestrutura do sistema, em que tudo
128
GADOTTI, 2000b, p. 20.
129
YUS apud GADOTTI, 2000b, p. 21.
130
MORIN apud GADOTTI, 2000b, p. 22.