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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOLOGIA
MARÍLIA ARAÚJO TITTONI BRANDÃO
A FORMAÇÃO DE SUJEITOS LEITORES
São Leopoldo
2009
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MARÍLIA ARAÚJO TITTONI BRANDÃO
FORMAÇÃO DE SUJEITOS LEITORES
Trabalho Final de
Mestrado Profissional
Para obtenção do Grau de
Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação
Linha de Pesquisa: Educação
Comunitária com Infância e Juventude
Orientador: Nelson Kilpp
Segunda Avaliadora: Gisela Isolde Waechter Streck
São Leopoldo
2009
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha elaborada pela Biblioteca da EST
B817f
Brandão, Marília Araújo Tittoni
Formação de sujeitos leitores / Marília Araújo Tittoni
Brandão ; orientador Nelson Kilpp ; co-orientadora Gisela
Isolde Waechter Streck – São Leopoldo: EST/PPG, 2009.
86 f. : il.
Dissertação (mestrado) – Escola Superior de Teologia.
Programa de Pós-Graduação. Mestrado em Teologia.
São Leopoldo, 2009.
1. Leitura – Desenvolvimento. 2. Educação de crianças.
3. Crianças – Livros de leitura. I. Kilpp, Nelson. II. Streck,
Gisela Isolde Waechter. III. Título.
MARÍLIA ARAÚJO TITTONI BRANDÃO
FORMAÇÃO DE SUJEITOS LEITORES
Trabalho Final de
Mestrado Profissional
Para obtenção do Grau de
Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação
Linha de Pesquisa: Educação
Comunitária com Infância e Juventude
Data:
Nelson Kilpp - Doutor em Teologia - Faculdades EST
______________________________________________________________________
Gisela Isolde Waechter Streck - Doutora em Teologia - Faculdades EST
______________________________________________________________________
Dedico esta pesquisa ao meu marido, Jorge,
aos meus filhos, Victor Igor e Bruno Rafael,
pelo apoio, pelo incentivo, pela compreensão e pela ajuda na realização desse trabalho,
e também aos meus alunos, que usufruirão dos resultados aqui alcançados.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me ter dado vida e saúde, por todas as maravilhas
que tem feito em minha vida e por ter me permitido chegar até aqui.
À minha família, presença constante. Em especial ao meu marido, a pessoa mais importante,
que me incentivou e me acompanhou para realizar este curso.
Aos meus queridos filhos, pela compreensão e por terem suportado a minha ausência.
Ao meu primo-amigo Ulysses, que me indicou este curso.
Aos colegas de turma, pelo companheirismo, pela convivência e pelos desafios que marcaram
o período de caminhada.
Aos meus professores da EST, pela amizade, pelo carinho, pela humildade e pelo respeito.
Aos meus alunos da quinta série e aos professores do Colégio Pedro Calmon, por
participarem dessa pesquisa.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma proposta de atividades desenvolvidas no Colégio Estadual Pedro
Calmon, município de Salvador-BA, com a quinta série do Ensino Fundamental, a qual
aborda a formação de indivíduos mais críticos, mais conscientes e mais comprometidos com a
leitura. Este trabalho objetivou: a) destacar a importância da leitura como ato pedagógico,
considerando a relação pedagógica: professor-aluno; b) analisar os determinantes que
impedem a formação de sujeitos leitores, como também caracterizar atitudes, hábitos e
sentimentos em relação à leitura. Para esclarecimento destas determinantes, foi realizada uma
pesquisa de campo com os alunos da quinta série do Ensino Fundamental. A pesquisa de
campo teve como instrumento o questionário com doze perguntas e a observação em sala de
aula. Foi utilizada a metodologia qualitativa para a coleta dos dados. A amostra constou de
uma turma da quinta série com 26 alunos. Este estudo reconhece as dificuldades para o acesso
à leitura nas classes menos abastadas e o mito que o prazer pela leitura não supre a
necessidade de luta pela sobrevivência, contudo é mister que se valorize o ato de ler não
apenas para atender às exigências curriculares, mas para poder refletir sobre o papel de cada
um na busca do próprio conhecimento e na formação da consciência crítica da sociedade.
Palavras-chave: Leitura. Conscientização. Formação do leitor.
ABSTRACT
This study presents a proposal for activities carried out with students attending the fifth grade
of the Elementary Cycle at the Pedro Calmon State School, Salvador-BA, addressing the
formation of citizens bearing increased critical reasoning, awareness and reading habits. The
objective of this study was to highlight the importance of reading as a pedagogical act, taking
into consideration the teacher/student interaction. In order to reach the objective proposed, the
author analyzed variables impairing the formation of individuals fond of reading; the author
also characterized attitudes, habits and feelings related to reading. A field survey was applied
among students attending the fifth grade of the Elementary Cycle, in order to achieve a better
understanding of those variables (attitudes and feelings). A questionnaire with 12 questions
and in-class observations composed the tool used in the field survey. The methodology used
for data collection was qualitative. The sample was composed of a whole fifth grade, i.e. 26
students. The study recognizes the difficulties faced by the low-income students to reading
and the myth stating that the pleasure derived from reading does not supply the goods needed
for survival, however it is extremely recommended to valuate the reading habits not just to
meet the school curricula requirements, but rather to reflect about the role of every individual
in the search for his/her own knowledge and in the formation of a critical awareness within
the civil society.
Key-words: Reading. Awareness. Formation. Reader.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................9
1 LER PARA AQUISIÇÃO DO SABER.................................................................... 10
1.1 Como ler?.......................................................................................................... 11
1.2 A leitura e a família........................................................................................... 16
2 A ESCOLA COMO FORMADORA DE LEITORES .............................................. 19
2.1 A importância da leitura e do uso do livro como ato pedagógico na escola ........ 22
2.2 Literatura e a formação do aluno-leitor.............................................................. 26
2.3 O prazer da leitura............................................................................................. 31
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS.......................................... 35
3.1 O pensamento dos alunos sobre a leitura............................................................ 36
3.2 Análise e discussão dos dados ........................................................................... 42
3.3 Interesse e motivação para o ato de ler............................................................... 49
CONCLUSÃO............................................................................................................ 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53
ANEXO A: Entrevista com alunos.............................................................................. 56
ANEXO B: Entrevista com professores....................................................................... 82
INTRODUÇÃO
Tendo em vista a complexidade dos fatores envolvidos no ato de ler, é possível
verificar uma série de circunstâncias que interferem de forma favorável ou desfavorável no
desenvolvimento de habilidades e competências de leitura. Alguns aspectos individuais
também podem ser identificados como facilitadores - ou não - da aprendizagem da leitura e da
formação de leitores.
Estes aspectos correspondem às características pessoais do aluno como, por exemplo,
o interesse que ele tenha por obter informações, o conhecimento sobre o tema lido, as suas
condições sócio-econômicas e a forma como a escola organiza o processo de ensino e
aprendizagem.
Portanto, considerando a importância da formação de leitores nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, esse trabalho teve como objetivo analisar as determinantes que
impedem a formação de sujeitos leitores, caracterizando atitudes, bitos e sentimentos em
relação à leitura. Em função da necessidade de esclarecer as variáveis que interferem nesta
formação, este estudo debruçou-se sobre a escola - metodologia das professoras - e a família -
o acompanhamento aos jovens. A partir desta finalidade, levantou-se o problema: que fatores
interferem na formação de crianças leitoras nas séries iniciais do Ensino Fundamental?
Este trabalho é composto de três capítulos, versando sobre a formação dos alunos
leitores. No primeiro capítulo, apresentamos as teorias que embasam esta investigação, a
forma como se o desenvolvimento do gosto pela leitura através de sua prática constante,
bem como a interdisciplinaridade como proposta de mudança e o incentivo que a família pode
dar à leitura.
No segundo capítulo, analisamos a importância da leitura e do livro para formação
do leitor. Nesse sentido, a escola mantém seu papel estratégico, proporcionando ao aluno o
acesso ao livro.
No terceiro capítulo, discutimos as novas formas de trabalhar a leitura, a partir das
entrevistas realizadas em uma turma da quinta série do Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Pedro Calmon. Por fim, procura-se identificar novas formas de trabalhar a leitura,
despertando no aluno o gosto pela mesma.
1 LER PARA AQUISIÇÃO DO SABER
Ler é uma atividade que se realiza individualmente ou coletivamente, mas que se
insere em um contexto social, envolvendo disposições atitudinais que vão desde a
decodificação do sistema de escrita até a apreensão e a produção de sentido para o texto lido.
Abarca desde competências desenvolvidas no processo de alfabetização até a capacidade que
habilita ao aluno a participação ativa nas práticas sociais letradas.
Dessa forma, a cada reflexão de um texto lido em sala de aula o professor possibilita
a interação dos conhecimentos lingüísticos, como também, a redução ou ampliação de leitura
de mundo.
Os alunos consideram a leitura um dos elementos importantes para a possibilidade de
inserção e participação nas diversas práticas sociais. Portanto, o domínio dessa linguagem
pode favorecer o aprendizado dos significados culturais, os modos pelos quais definem suas
ações, entendem e interagem em seu meio.
Mais do que um jogo de letras, ler é conhecer o mundo e interpretar a realidade,
buscando transformá-la com instrumentos que tornem mais práticas as formas de
comunicação.
A relação que constitui a leitura não se reduz a um simples ato de decodificação de
texto. Certamente aprende-se a ler a partir de uma leitura significativa que vai além de uma
simples leitura visual. Levando em consideração que todo processo se forma individualmente
por parte do leitor, embora se desencadeie e se desenvolva na coletividade, a importância da
leitura para a formação crítica e social do indivíduo está ligada diretamente à forma como a
escola desenvolve o trabalho de incentivo à leitura.
O ato de ler faz parte de um processo que visa interagir com o aluno através de
informações significativas que poderão servir como base de sustentação para toda sua vida
escolar e social. Quando o aluno tem a oportunidade de ultrapassar o limite da leitura visual,
levando em consideração suas representações, cresce o desejo de participar da construção do
conhecimento de forma ativa.
A criança que com desenvoltura se interessa pela leitura e aprenderá mais
facilmente, e a criança interessada em aprender se transformará numa leitora capaz, pois ler é
ver o que está escrito, interpretar por meio da leitura, “decifrar” e compreender o que está
11
escondido; é descobrir e tomar conhecimento do conteúdo de um texto pela leitura. Por isso,
para saber o que é ler, a criança precisa saber, antes de mais nada, o que é um texto. E para
isso, conhecer os diversos tipos de escritos, de textos.
A leitura precisa utilizada como instrumento prioritário dentro do processo de
ensino-aprendizagem, considerada um ato de puro prazer, com a finalidade de formar leitores
competentes e, conseqüentemente, pessoas capazes de escrever com eficácia, pois a
capacidade de escrever com eficácia têm sua origem na prática da leitura. Não se trata apenas
de decifrar letras ou palavras, trata-se de uma atividade, que implica a compreensão do texto.
1.1 Como ler?
O caráter do uso do livro e as formas como este é utilizado em sala de aula tendem a
contribuir para a falsa crença da leitura. Neste caso, a leitura mecânica torna o lugar do
conhecimento, da discussão e da crítica em informação fragmentada, impedindo que o aluno-
leitor seja autônomo diante daquilo que lê. Isto faz lembrar o que Paulo Freire chamava de
“educação bancária”, isto é, o conhecimento que é transmitido pelo professor ao aluno, que
passivamente internaliza as informações.
A leitura tomada como fim em si mesmo, como papel da manifestação daquilo que
está estrito, assinala outra conseqüência para a formação do leitor, qual seja, a de aniquilar a
própria estrutura do processo de leitura. Se um texto trabalhado em sala de aula não propicia
ao leitor a compreensão do seu conteúdo, esta leitura perde a sua validade.
Perde a sua validade porque as palavras do autor ficam sem sentido real para a
história e a experiência do leitor. Com isso, não acontece a apreensão ou compreensão de
idéias, mas apenas a reprodução de palavras ou frases escritas pelo autor do texto.
Com isso, privilegia-se a quantidade dos textos e não a discussão das idéias e a
partilha das experiências advindas da leitura dos textos. A busca de conhecimento precisa ser
mediada pela leitura, porém, a prática pedagógica vai exigir muito mais do que isso. Entre as
exigências, coloca-se o diálogo para a aproximação dos sujeitos, para a organização do
conhecimento sobre determinadas questões e para as tomadas de decisões sobre as
necessidades de aprendizagem do grupo.
12
Sem a prática do diálogo, sem uma discussão coletiva e sem que se organizem tais
conhecimentos, uma concepção livresca no ato educativo. Essa concepção, por sua vez,
será autoritária e geradora de individualismo, oriundo da própria situação.
Outro aspecto que merece destaque refere-se à utilização da biblioteca e acervos
existentes na escola. É evidente que nessa faixa etária os alunos das séries iniciais do Ensino
Fundamental precisam ser mediados pelo adulto. Com uma boa seleção de livros, o adulto
ajudará esses alunos no progresso em termos de autonomia.
É interessante, pois, criar um acervo de livros que funcione como um referencial
coletivo para a vivência literária das crianças.
Se ler é atribuir significado, coloca em relevância o papel particularmente ativo do
sujeito que lê: é possível dar significado a algo escrito à medida que se possa reconhecer
experiências vividas ou conhecimentos que possuímos por informações não apenas visuais.
Para ler, o é necessário decifrar a ortografia, embora a leitura leve ao progresso da
escrita. É possível ler bem, ainda que o se consiga escrever corretamente as palavras,
porque as estratégias usadas na leitura estão muito além da identificação de letras ou palavras.
Torna-se fundamental tratar em sala de aula da leitura no sentido amplo, e revesti-la
de significado em uma relação discursiva, um processo que permite uma relação dinâmica
entre o professor e o aluno, para o estabelecimento de trocas e enriquecimento mútuo. É trazer
para a escola o ler criticamente, admitindo a pluralidade de compreensão, desvelando
significados, lendo e estabelecendo uma relação dialética com o mundo.
Segundo Marisa Lajolo,
O professor deve escolher textos à altura do repertório dos alunos para que o diálogo
com a leitura seja produtivo, mas também outros de leitura complexa, mediadas pelo
professor permitem tornar o diálogo possível. Ativar o conhecimento prévio dos
alunos, ensinando a fazer perguntas sobre o texto, para aumentar as inferências
necessárias para atingir seu objetivo. Fazer hipóteses e previsões sobre o texto a ser
lido. E ensinar a estabelecer previsões, baseando-se no gênero, no título, no
subtítulo, nas ilustrações etc. Favorecer a participação do aluno por meio de
perguntas e situações em que ele tenha de fazer uso de estratégias que lhe facilitem a
compreensão.
1
Cabe à escola propor oportunidades para que as crianças possam lidar com diferentes
suportes de textos. Sem dúvida diferentes tipos de textos exigem compromissos diferentes por
1
LAJOLO, Marisa. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1997. p. 115.
13
parte dos leitores: ler para buscar informações, para inteirar-se de algo, por prazer, para
concordar, discordar e avaliar criticamente as próprias interpretações.
Mostrar o valor da leitura ao aluno, se produzido em uma trajetória de experiências
bem sucedidas para o sujeito leitor, significa a possibilidade de repensar o real pela
compreensão crítica. A leitura e a escrita são consideradas práticas complementares,
fortemente relacionadas, as quais modificam mutuamente o processo do letramento.
São as práticas de leitura que permitem aos alunos construir conhecimentos sobre os
diversos gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as
circunstâncias do uso da leitura. Considerando que o ensino deve ter como meta formar
leitores que sejam capazes também de produzir textos coerentes, coesos e adequados à
situação comunicativa, essas atividades devem ser compreendidas em sua relação.
A leitura fornece a matéria-prima para a escrita: o conteúdo (o que escreve) e a forma
(como escreve). A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
construção do significado do texto com base em seus objetivos, em seu conhecimento sobre o
assunto, sobre o autor, em tudo que sabe sobre a língua: características do gênero, do suporte
textual, do sistema da escrita e outros.
Ler é, sobretudo, ser capaz de compreender o que não está escrito. Portanto, a
decodificação é apenas um dos procedimentos que se utiliza quando se lê. A leitura envolve
uma série de outras estratégias, sem as quais não se constrói o sentido do texto.
Para resolver um problema prático, informar-se, divertir-se, estudar, escrever ou
revisar o próprio texto, se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes
textos com os quais se defrontam, é necessário organizar um trabalho educativo para que
experimentem e aprendam isso na escola. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e cada
qual, por sua vez, exige uma modalidade de leitura. Sem a diversidade, pode-se até ensinar a
ler, mas certamente leitores competentes não são formados trabalhando-se com fragmentos de
textos.
Para formar bons leitores é necessário desenvolver muito mais do que a capacidade
de ler: é preciso estimular o gosto e o compromisso com a leitura, pois aprender a ler é
também ler para aprender e isso requer esforço. A leitura precisa ser vista como algo
desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência, gerando
autoconfiança.
14
Desenvolver na criança, mesmo antes de freqüentar a escola, o gosto pela leitura é
tarefa importante e necessária, se quisermos formar estudantes que têm interesse em buscar,
conhecer e aprender. É fundamental que o educador indique bons livros, de bons autores, que
sejam audaciosos e trabalhem a linguagem em busca da beleza, da simplicidade e da clareza.
Nesse esforço, que deve começar desde os primeiros anos e continuar sem jamais parar,
transformaremos a leitura em fonte de alegria, de prazer e de conhecimento.
Para o desenvolvimento da leitura, alguns conhecimentos são fundamentais: a) busca
de informação localizada no texto; b) identificação de elementos de uma mesma natureza; c)
identificação de uma afirmação implícita; d) estabelecimento de relação entre duas
informações; e) reconhecimento central do texto; f) recuperação de uma informação
anteriormente oferecida no texto para continuar a leitura; g) inferência no sentido de uma
palavra ou expressão com base no contexto imediato; h) utilização de informações oferecidas
em um glossário para resolver um problema localizado de leitura; i) utilização de informações
oferecidas num pequeno texto informativo para resolver um problema localizado de leitura; j)
articulação na compreensão de uma passagem do texto, das informações textuais, com
conhecimentos prévios de senso comum; k) utilização de desenho ou foto para o
entendimento de uma passagem do texto; l) utilização da diagramação, forma e tipo de letras
para organizar a leitura; m) antecipação do conteúdo do texto com base na forma, no título,
em um trecho, ou em outras informações já oferecidas.
É o leitor, com seu conhecimento extra-leitura, o maior responsável pela atribuição
de significado, muito mais que o texto em si, desde que este tenha relação com as
experiências de vida de quem lê.
Se o texto a ser trabalhado com a classe se refere, de alguma forma, às experiências
significativas vividas pelas crianças, então é possível atribuir significado a qualquer tipo de
texto, mesmo os mais complexos.
Isto significa que diferentes propósitos originam diferentes tipos de textos que
requerem, por sua vez, diferentes modos de compreensão. Assim, estar alfabetizado significa
ter um repertório de conhecimentos e habilidades para selecionar o procedimento adequado
quando nos defrontamos com distintos tipos de textos.
Nesse sentido, a linguagem escrita inclui diferentes tipos de discursos historicamente
vinculados às funções que a escrita tem assumido em diferentes culturas e sociedades.
15
Assim, desde os primeiros dias de aula, é importante aproveitar todos os espaços
possíveis para a leitura de cartas, notícias de jornais, livros de histórias, leitura de embalagens
de produtos conhecidos, anúncios de produtos mais familiares às crianças, vinhetas de TV,
textos produzidos coletivamente pela classe, dentre outros.
O que se espera das crianças, nestes momentos, não é que decifrem adequadamente
todas as palavras do texto, mas que consigam localizar o conteúdo aproximado do texto lido.
Em níveis iniciais de leitura, não é óbvio para a criança a relação entre a fala e a
escrita. É importante que estes alunos possam assistir e participar de atos de leitura que os
ajudem a descobrir que escrita e fala se relacionam.
É mais provável que isso ocorra quando as crianças conhecerem previamente o
sentido do texto a ser lido. O professor pode transcrever, em papel manilha, de forma a expor
para a classe ou fotocopiar em cópias individuais: a) músicas conhecidas; b) quadras e rimas;
c) parlendas e brincadeiras faladas; d) embalagens e rótulos; e) dizeres de “out-doors”; f)
“jingles” e aberturas de programas de TV; g) logotipos, etc.
As crianças são convidadas a “ler” sobre todo o material impresso usado em sala de
aula e se, ocorrerem discordâncias entre as próprias crianças, as discussões devem ser
estimuladas para a comparação de hipóteses diferentes quanto ao significado do material.
Assim, a leitura deve ser encarada como a solução de uma situação problema, com o
levantamento de hipóteses possíveis para resolvê-la. Portanto, o erro é perfeitamente
previsível como possibilidade, pois estamos falando de hipóteses. Sem a chance de erro, o
se pode falar em hipóteses.
Além de ler sobre o material de conhecimento prévio, o professor pode ser o
mediador do modelo de leitura para a criança.
Sempre que possível, intercalando atividades da classe enquanto grupo, o professor
deverá ler histórias de acordo com a idade e o tipo de interesse de seus alunos. Segundo
Ezequiel T. Silva,
Não se forma um leitor com uma ou duas cirandas e nem com uma ou duas sacolas
de livros, se as condições sociais e escolares, subjacentes à leitura, não forem
consideradas e transformadas. Em nossa intimidade, todos nós sabemos que ao nos
confrontarmos com textos densos e inusitados ou até mesmo textos anteriormente
lidos, estamos aprendendo a ler, isto vem demonstrar que o ato de ler, se
16
devidamente enraizado na vida do sujeito, não pode ser saciado nos limites fechados
de acervos paternalmente doados às escolas.
2
As políticas públicas de formação de leitores têm indicado que mais importante do
que ensinar a ler é formar leitores. Acredita-se que algumas escolas venham realizando bem
essa “tarefa de casa”. Diante dessa constatação, é importante o questionamento acerca do que
tem feito de fato para que, além de ensinar os alunos a ler, se desenvolva o tão ambicioso
gosto pela leitura.
Esse questionamento pode contribuir para a organização de um grupo de pesquisa e a
busca dessa resposta, a fim de explicar como a criança constrói os numerosos conhecimentos
envolvidos e necessários ao aprendizado da leitura, identificando as hipóteses/idéias
levantadas nesse sentido.
O interesse em investigar o aprendizado da leitura na formação de alunos leitores do
Ensino Fundamental se deve ao fato de ver a escola como espaço de atendimento às
necessidades cognitivas, sociais e afetivas das crianças, possibilitando-lhes a apropriação das
práticas culturais, dentre as quais a leitura.
Portanto, condições de se sistematizar atividades de leitura a partir de
experiências, contribuindo para que elas construam os numerosos conhecimentos envolvidos e
necessários ao aprendizado dessa prática.
1.2 A leitura e a família
A leitura é o meio mais importante para aquisição de saberes, é um instrumento
básico para todo o sistema educativo. Entretanto, a atividade pedagógica não pode se limitar a
ensinar a ler. É necessário que incentive o aluno a criar o hábito pela leitura. Este ato deve
começar a ser estimulado desde cedo pela família, dando oportunidade para a criança
manipular livros infantis e, a partir daí, familiarizar-se com sua forma e linguagem.
Nas falas dos alunos, ficou evidenciado que em casa eles tinham acesso a materiais
de leitura. As variações acontecem em relação aos suportes de leitura e aos seus usos e
funções sociais. Na maioria das famílias, a escrita é usada como interação social, na
circulação de cartas ou bilhetes.
2
SILVA, Ezequiel T. da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. p. 21.
17
A leitura de livros não aparece como prática. E isto não está restrito a algum tipo de
família. O livro aparece em poucas famílias que encontram algum significado para a sua
leitura, seja por obrigação, seja por prazer.
Nos dias de hoje, a maioria dos pais trabalha fora de casa. Portanto, o
acompanhamento dos filhos fica restrito à “simples olhada dos deveres de casa”. Essa
afirmação foi feita por um aluno.
Os filhos valorizam o trabalho dos pais e a sua dedicação à família. O seu exemplo é
decisivo para ajudá-los a ser bons trabalhadores e estudantes: é o melhor estímulo para os
filhos. Sobretudo no caso dos alunos do Ensino Fundamental, não faz sentido que um pai
trabalhe muitas horas fora de casa se, ao chegar, não realiza tarefa alguma para interagir com
a família, porque "está muito cansado".
Existem pais que se preocupam com a obtenção de boas notas por parte de seus
filhos, pois reduzem a educação ao êxito escolar, como primeiro passo do futuro êxito social.
Estes pais esperam pelo resultado e se esquecem da educação como processo necessário à
mudança do filho através do tempo, não vêem os filhos como seres pensantes. Assim, a
educação converte-se em treino, pois não se conta com os motivos, os desejos e as
preferências dos filhos.
Para que o estudo seja um trabalho educativo, deve colocar limites pessoais, isto é:
deve ser livre, mas realizado intencionalmente e com responsabilidade.
Depois, para que o estudo tenha um objetivo e possa servir como meio de educação,
deve dar prioridade ao projeto de vida pessoal, e não apenas no resultado final. Por
conseqüência, é preciso dialogar com os filhos sobre a importância da escola e
conseqüentemente do ato de ler, sem reduzir o horizonte das tarefas escolares ao cumprimento
de uma obrigação penosa que o haveria mais remédio senão fazer enquanto o chega o
tempo das férias.
Nos lares, a tarefa de reforço do que se aprende na escola constitui um complemento
importante, desde que os pais se sintam parte do processo. Aliás, a educação escolar de
qualidade é um dever das instituições de ensino, compartilhado com os pais, e co-
responsabilidade dos que operam com os saberes sistemáticos, envolvendo a sociedade como
um todo.
18
O livro e a leitura devem se transformar em aliados para a cultura e a transformação
da sociedade. Foi com esta compreensão que foi sancionada no Brasil, em 2003, a Lei do
Livro de autoria do ex-presidente, hoje senador José Sarney.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva colocou como meta até 2010 duplicar o
número de leitores em todo o país. Com isso, há algumas alternativas, como a distribuição de
livros em todas as escolas da rede pública. Porém, não basta distribuir o livro nas escolas para
resolver a situação da leitura, é necessário que o professor também faça a sua parte, assim
como os pais. Cabe assinalar que a leitura, vista de forma mais ampla, independente do
contexto escolar, e para além do texto escrito, permite compreender e valorizar melhor o
aprendizado de tudo que o cerca e de cada experiência. Essa perspectiva para o ato de ler
permite a descoberta de características comuns e as diferenças entre as pessoas, grupos
sociais, culturas, e incentiva tanto a imaginação como a consciência da realidade, criando
condições para uma postura crítica e cidadã.
2 A ESCOLA COMO FORMADORA DE LEITORES
O acesso à leitura das experiências de outrem pode conferir o sucesso a um povo, a
uma sociedade ou a um indivíduo. A escola aparece, neste contexto, como veículo de
aproximação do leitor com acervo científico-cultural da humanidade. Portanto, a escola o
pode estar centrada apenas na transmissão do conhecimento do passado. Ela precisa abrir
horizontes, pois cabe a ela servir de espaço ao educando para a descoberta” do mundo. Por
meio da leitura, um universo de emoções e informações se desvendará ao leitor, que poderá
redimensionar seus valores e questionar o que lhe é percebido. Porém, Rubem Alves adverte:
Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinarem o que o passado legou e
ensinarem bem – fazem os alunos se esquecerem de que seu destino não é o passado
cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um não-saber, que
somente pode ser explorado com as asas do pensamento.
3
A escola o pode ser a única responsável pela aprendizagem do indivíduo, uma vez
que outras nuances sociais são consideradas em sua formação: ambiente, núcleo familiar,
experiências de mundo, etc. Entretanto, se a escola não possui um caráter único, ela é, no
mínimo, em primeira instância, a principal responsável pela inserção do sujeito em um
aprendizado consciente.
A escola possui o compromisso de proporcionar ao sujeito o desenvolvimento da sua
capacidade de leitura do mundo. Qualquer educação que pretenda ser libertadora,
humanizante e transformadora deve passar, obrigatoriamente, por este caminho. Da mesma
forma, para o alcance de uma sociedade mais justa e mais democrática, é imprescindível
oportunizar o acesso à leitura.
A escola é um dos fatores que influenciam na formação do leitor. Através dela, a
criança é iniciada no processo de alfabetização e de aperfeiçoamento da leitura, de modo a
garantir-lhe o domínio de uma prática cuja finalidade não se esgota em si mesma. A função da
escola é mais do que alfabetizar: cabe a ela despertar o gosto pela leitura.
Na dialética entre palavra e mundo, os educadores são os mediadores da leitura
ampliada da palavra e da leitura aprofundada do mundo. A leitura e a escola compartilham a
natureza formativa. Tanto as diferenciadas abordagens de leitura quanto as instituições de
ensino devem estar voltadas à formação do sujeito. Para Ezequiel Silva,
3
ALVES, Rubem. Ao professor, com o meu carinho. São Paulo: Versus, 2004. p. 62.
20
A leitura não é uma função que nasce e se desenvolve devido a um dom, vocação ou
talento de um indivíduo. A leitura é uma prática social, que para ser efetivada,
depende de determinadas condições objetivas presente na sociedade como um todo.
Ninguém é avesso à leitura por natureza. A pessoa pode, isto sim, ser levada a
detestar a leitura.
4
Para alcançar uma filosofia realmente libertadora, a escola deve identificar seu
modelo pedagógico com a realidade da coletividade, reintroduzindo o sujeito no presente e
fazendo com que ele exerça papel ativo e crítico no meio social.
No processo pedagógico, é de fundamental importância a escolha do material a ser
trabalhado. É necessário que a escolha textual possa ser direcionada à formação integral do
sujeito. Essa adequação diz respeito ao grau de abertura para a realidade vivenciada pelo
receptor do texto, seja ela de natureza íntima ou social, e apresenta-se como elemento
propulsor que levará a escola à ruptura com a educação tradicional. Nessa perspectiva, a
educação se torna promotora de mudanças na sociedade.
Cabe à sociedade, por intermédio de instituições como a família e a escola, propiciar
experiências, trocas interpessoais e conteúdos culturais que, interagindo com o processo de
maturação, permitam ao indivíduo atingir cada vez mais a sua autonomia como cidadão
participante de uma coletividade.
Para falar em um ensino libertador e emancipatório, é preciso perpassar,
necessariamente, o caminho da leitura, mas, primeiramente, dialogar com o educando sobre a
sua leitura, ou seja, sobre o sentido que ele ao que eslendo. Precisamos oferecer aos
alunos inúmeras oportunidades para aprenderem “a ler”. Capacitá-los à antecipação, à
inferência e à analogia. É a partir dessas habilidades e da atividade reflexiva que formaremos
leitores críticos.
Desenvolver a criticidade como parte integrante na formação do sujeito faz com que
ele se desenvolva reflexivamente e não aceite todas as injustiças sociais que lhe se
apresentam. Por sua vez, isso faz com que o sujeito se torne cada vez mais leitor, não somente
decodificador lingüístico que faz as suas leituras pura e simplesmente por fazê-las. Temos
reais possibilidades de agir em nosso meio a partir das leituras que fazemos.
4
SILVA, 1985, p. 120.
21
Entretanto, para que isso realmente possa ser alcançado, é fundamental que se
escolham boas obras literárias. Estas deverão ir ao encontro do desenvolvimento individual
dos seres num contexto fruitivo, para que, cada vez mais, as singularidades dos seres possam
ser evidenciadas, e auxiliar os mesmos, em um maior desenvolvimento da sua autonomia,
buscando a inteireza do seu desenvolvimento.
A linguagem possibilita ao ser humano reconhecer-se como humano. Daí advém a
comunicação, a interação e a troca de experiências. Existe, contudo, uma condição prévia para
a manifestação da linguagem: é preciso haver um grupo humano, no qual o sujeito se
confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo. É, portanto, na convivência social que
nascem as linguagens, conforme as necessidades de intercâmbio.
Nas trocas lingüísticas, o sujeito se certifica de seu conhecimento de mundo e das
outras pessoas, assim como de si mesmo, e participa das transformações da sociedade em
todas as suas esferas. É por meio da palavra que o ser humano expressa seus pensamentos e
sentimentos.
O leitor é um interpretador que sofre as influências da sua realidade física e social.
Ler é desvendar e desvendar-se, integrar e integrar-se em novos mundos de possibilidades, é
ampliar perspectivas.
O educador necessita estar atento às transformações de seu tempo, reavaliar sua
consciência de mundo, orientado por três dimensões: da literatura (ser um leitor atento); do
mundo que o cerca (como ser consciente das ideologias que oprimem e de suas causas) e do
exercício da docência (como profissional competente).
O que é então ser educador? Ser agente social? Ser leitor e motivador de leitura? Ser
mediador da leitura entre o ser humano e o mundo? Somos e estamos capazes de formar uma
geração de educandos dispostos a serem mais solidários, mais humanos com as questões de
seu tempo, dispostos, enfim, a alargar a sua consciência de mundo?
Ao colocarmos em questionamento a nossa postura como cidadãos formadores de
opinião modelos a serem, muitas vezes, seguidos e como pesquisadores em relação à
nossa prática docente, à sociedade e à nossa comunidade na qual estamos inseridos e da qual
fazemos parte, discutimos uma questão social. Em nossa análise, a leitura é uma questão
social: um direito ao qual todo e qualquer indivíduo deveria ter acesso. Portanto, ela é um
componente de atividade social, uma ação que, em princípio, aspira ao benefício de todos.
22
Devido à importância da leitura, não é possível atribuir apenas à escola ou à disciplina de
Língua Portuguesa a tarefa de formar leitores. Segundo Ângela Kleiman e Sílvia Moraes,
Deixar a responsabilidade do ensino da leitura ao professor de Língua Portuguesa
equivale a negar o valor social da leitura. O papel do professor de Português é
propiciar as condições para que o aluno descubra como esse objeto é construído e
articular a leitura do texto ao objeto cultural do qual ele é uma manifestação (aos
gêneros), mas ajudar o aluno a entender o texto e apreciar e valorizar a leitura é
trabalho de todos.
5
A escola, no entanto, não é a única instância que interfere no processo de formação
do leitor, sendo necessário considerar outros fatores conjunturais. Entre vários, citamos como
primordiais, além da escola, o professor, a família, a situação sócio-econômica do aluno e os
meios de comunicação de massa.
Dessa forma, entendemos que o Estado deve garantir a todos a possibilidade de
usufruir da leitura, como um bem comunitário cujos objetivos são a informação, a
comunicação e, principalmente, a educação e a emancipação social.
2.1 A importância da leitura e do uso do livro como ato pedagógico na escola
Em estudos sobre as variações dos hábitos de leitura ficou claro que o livro ocupa
lugar de destaque na escala de valores dos leitores responsáveis pela sua própria promoção.
Independente do país ou região, autoridades do Estado, da comunidade, da escola
professores, pais e pedagogos estão convencidos da importância da leitura e dos livros na
vida social e cultural e na sociedade como um todo. Essa convicção, por sua vez, é transmitida
de geração em geração.
Segundo Paulo Freire, “ler o é apenas um ato mecânico. A sua leitura do real,
contudo, não pode ser a repetição mecanicamente memorizada da nossa maneira de ler o
real”.
6
Aprender a ler não é apenas a aquisição de um novo código: é ter acesso a um mundo
diferente daquele em que a oralidade se instala e se organiza. O mundo da escrita institui, para
os falantes de uma mesma comunidade, territórios privilegiados.
5
KLEIMAN, Ângela B.; MORAES, Sílvia E. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da
escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999. p. 127.
6
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 28. ed. São Paulo: Cortez,
1993. p. 28.
23
Portanto, saber ler é colocar em prática esse ato libertador da consciência e da
vontade, freqüentemente, é possuir elementos necessários para pensar sobre a realidade e até
mesmo sobre as condições de vida, enquanto indivíduos que vivem em sociedade. Esta é,
pois, uma habilidade, exclusivamente humana que permite, no caso, o acesso do aluno aos
bens culturais já produzidos e registrados pela escrita.
Antes, porém, da invenção da imprensa, a leitura não tinha tamanha importância,
sendo privilégio apenas da elite culta. Somente nas últimas décadas, e com o desenvolvimento
da economia e das novas tecnologias, exigindo a colaboração contínua de intelectuais, houve
uma preocupação em expandir o direito à leitura a todos os indivíduos. Compreende-se que o
direito de ler significa igualmente o desenvolvimento de potencialidades intelectuais, e a
aprendizagem para avançar na sua vida cotidiana.
A boa leitura é uma confrontação crítica com o texto com as idéias do autor. Num
nível mais elevado e com textos mais longos, tornam-se mais significativas a compreensão
das relações da construção, ou da estruturação, e a interpretação do contexto.
Ler é quase comentar um texto; é sublinhar, com voz alta, as palavras essenciais. É
ainda se colocar em harmonia com os sentimentos que o autor exprime, entregá-los e
comunicá-los em torno de si: um sorriso, uma voz emocionada, olhos em que lágrimas podem
ser vistas despontando: tudo isso é um comentário que dura longamente. Uma fisionomia fala
tanto quanto a voz.
A ação educativa do professor, por ser sempre intencional, reflete sua visão do que
seja a leitura e de seu papel como um dos meios mais eficazes do desenvolvimento
sistemático da linguagem e da personalidade. Cabe ao professor trabalhar com a linguagem e
isto é, por sua vez, trabalhar com o ser humano. É sabido que a leitura iniciada precocemente
deve ser considerada, também, do ponto de vista de sua influência para contrabalançar a
deformação e o empobrecimento lingüístico. Isso quer dizer que antes de ter acesso às
histórias em quadrinhos, às revistas ilustradas, e às torrentes de imagens veiculadas pelos
meios de comunicação de massa, a criança deve ter uma experiência positiva com a
linguagem, para não permitir que estas leituras causem a deformação e o empobrecimento
lingüístico, contribuindo assim para a promoção de seu desenvolvimento como ser humano.
No Brasil, é cultural as crianças terem contato com a leitura apenas quando entram
na escola. O hábito de ler, que deveria ser um prazer torna-se uma obrigação. O ato
24
pedagógico da leitura acaba sendo rejeitado pela criança. O Dicionário Aurélio define hábito
como uso; costume; disposição duradoura, adquirida pela repetição freqüente de um ato
[...]”. A palavra “adquirida” tem grande valor nessa definição. Nela, porém, fica claro que não
existe o “gene” da leitura, por isso não devemos esperar que o sujeito nasça com o dom de ler.
Esse hábito, contudo, deve ser criado quanto mais cedo melhor, principalmente, com o
trabalho sistemático do professor em sala de aula.
Se, por um lado, a leitura favorece a remoção das barreiras educacionais de que tanto
se fala, concedendo oportunidades de educação, principalmente através da promoção do
desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual, aumentando a possibilidade de
normalização da situação pessoal do indivíduo, por outro lado, o livro tem sido séculos
portador do conhecimento de uma geração para outra, pedra angular da vida intelectual e
emocional. Para os alunos leitores, os bons livros correspondem às suas necessidades internas
de modelos e ideais, de amor, de segurança e de convicção. Eles ajudam a dominar os
problemas éticos, morais e sociopolíticos da criança, proporcionando-lhe casos exemplares,
auxiliando na formação de perguntas e respostas correspondentes. O livro é um auxílio na
tarefa de atingir uma meta educacional: desenvolver a personalidade dos estudantes e
possibilitar a construção de conceitos sobre a vida o mundo, o ser humano e a sociedade.
A sociedade do momento não raro tem sido descrita como a “sociedade do
aprendizado”, uma vez que estamos na era da informação e do conhecimento. Dentro deste
contexto de sociedade atual, o desenvolvimento econômico tem sido a tônica, acompanhado
da poluição ambiental e da crise de energia. Diante desses problemas, talvez se maior
importância à proteção da vida. Não obstante, subsiste a tarefa de aprender, reaprender e
integrar-se à realidade que está sempre mudando, principalmente com o desenvolvimento
tecnológico que continua a determinar a transferência do trabalho manual para o intelectual.
Neste contexto, a leitura e os livros têm um novo significado. não basta a uma
pessoa considerar sua educação escolar como completa. O avanço da ciência e da tecnologia
se processa num ritmo tal que a instrução que hoje ministramos será considerada insuficiente
amanhã. A tarefa do professor se configura como desafio permanente, na medida em que,
primeiro, ele seja capaz de orientar a necessidade de satisfazer os interesses, as necessidades e
as aspirações de seus alunos, através de seleção individual do material de leitura. Todo aluno
pode ser ajudado pelos livros a se desenvolver à sua maneira, podendo aumentar a sua
25
capacidade crítica e aprender a fazer a escolha entre a massa da produção geral dos meios de
comunicação.
Se os meios de comunicação oferecem um estímulo mais forte, os livros o
indispensáveis no sentido de aprofundar essa noção de promover o aluno no processo escolar.
O ato de ler faz parte de um processo que visa interagir com o aluno através de
informações significativas que poderá servir como base de tentação para toda sua vida escolar
e social. Quando o aluno tem oportunidade de ultrapassar o limite da leitura visual, levando
em consideração suas representações, cresce o desejo de participar da construção do
conhecimento de forma ativa.
Ler não pode ser apenas a mera decodificação de sinais gráficos. Outras coisas são
aprendidas através da leitura. É somente através da leitura que qualquer pessoa pode aprender
a escrever. A única maneira possível de se aprender todas as convenções de ortografia,
pontuação, letras maiúsculas e minúsculas, parágrafos e até mesmo gramática e estilo, é
através da leitura. Os autores ensinam como escrever aos leitores.
E, finalmente, existem concomitâncias emocionais e conseqüências da leitura. A
leitura, como tudo mais, envolve, inevitavelmente, as emoções. No lado positivo, a leitura
pode proporcionar interesse e excitação, pode estimular e aliviar a curiosidade, proporcionar
consolo, encorajar, fazer surgir paixões, aliviar a solidão, o tédio e a ansiedade, servir de
paliativo à tristeza e, ocasionalmente, como anestesia. Pelo lado negativo, a leitura pode ser
um aborrecimento, gerando ressentimento. A resposta emocional à leitura é tratada
insuficientemente na maioria dos livros sobre alfabetização, embora esta seja a razão primária
pela qual a maioria dos leitores e, provavelmente, a razão primária pela qual a maioria dos
não leitores não lê.
Aprender a ler significa, também, ler o mundo e lê-lo de muitas formas. Não apenas
a reprodução mecânica de informações, a partir de respostas e estímulos pré-elaborados,
formando um leitor passivo, sem criatividade de reconstruir o texto lido.
O ato de ler tem um sentido muito mais profundo do que apenas as expressões
formais que são usadas para a sua definição. O verdadeiro ato de ler envolve a compreensão e
a dedicação. Ele busca mais do que simplesmente a reprodução de sons. Ele provoca uma
verdadeira viagem com o texto.
26
Segundo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
7
quem é capaz
de ler de forma contínua o mundo, e nele consegue atuar e interferir, sente-se motivado pela
leitura da palavra. E para ler o mundo é preciso sentir-se sujeito da história e tomar
consciência dos processos que interferem na sua forma de viver dentro da sociedade. Dessa
forma, a leitura da palavra escrita se realiza quando relacionada ao meio em que o ser
sente-se sujeito da história.
Portanto, o processo de leitura do mundo deve acontecer de forma aberta, livre e
voltada para a vida, a preservação e a capacidade de servir um ao outro. Para Paulo Freire, “a
educação é um processo de diálogo através do qual o educador e o educando constantemente
problematizam seu estar no mundo e sua ação sobre o mundo.”
8
Destaca-se, na aprendizagem
de leitura do mundo, a consciência de que não se vive sozinho e de que se é resultado da
contribuição de todos. De acordo com Carlos Brandão,
Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores,
algumas delas como se fossem gente, tal intimidade entre nós [...]. Na verdade,
aquele mundo especial se dava a mim, como o mundo da minha atividade
perceptiva, por isso mesmo como o mundo das minhas leituras [...].
9
Devemos partir de um levantamento participativo dos saberes, construindo um
processo educativo baseado na realidade. Assim, todo o conhecimento deve partir das
experiências e vivências do educando numa ação conjunta e participativa de todos os
envolvidos na construção dos saberes dessa prática educativa.
2.2 Literatura e a formação do aluno-leitor
Favorecer a formação do gosto literário dos alunos constitui importante tarefa do
professor. Naturalmente, a condição primordial para a obtenção de resultados satisfatórios
será ter o professor, ele próprio, boa formação literária. A capacidade de apreciação de um
professor de língua pode, a princípio, ser limitada, e depois desenvolver-se com o contato
mais íntimo com as belezas da língua, da literatura e da arte em geral.
7
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo: Cortez,
1988. p. 11.
8
STRECK, 1994, p. 34.
9
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. História do menino que lia o mundo. 2. ed. Veranópolis: ITERRA, 2001. p.
10.
27
As diferenças individuais, em se tratando de possibilidades estéticas, são bem
acentuadas, levando-se em conta: aptidão natural, meio familiar, meio escolar, meio social.
Embora as diferenças nem sempre favoreçam o trabalho de desenvolvimento do gosto
literário, os recursos e que dispõe um bom professor podem superar as dificuldades.
A literatura oferece um campo variado de beleza, desde as mais simples e acessíveis
até as mais requintadas. Dentre esse material rico, cabe ao mestre selecionar e dosar o que
pretende apresentar ou sugerir aos alunos.
A preocupação da formação estética deve estar presente desde o primeiro dia de aula
e acompanhar todo o desenvolvimento das aquisições, quer lingüísticas, quer propriamente
literárias. O caminho da arte não é um passeio domingueiro que leva os jovens até um
formoso parque, mas uma peregrinação de todos os dias.
A capacidade de perceber o belo, amar o belo, tem de ser adquirida na convivência
com o belo. Daí concluirmos pela necessidade de dar ao aluno muita literatura selecionada. A
orientação, durante o período escolar, na escolha de bons livros, preserva o aluno em sua
integridade estética e ética.
O bom gosto é muitas vezes inato, a capacidade de apreciação parece até espontânea,
natural. Há pessoas, entretanto, que são uma verdadeira negação de possibilidades estéticas,
passam pela vida alheias às manifestações do belo, quer na arte, quer na natureza. Se existe
em gérmen a tendência para sentir a beleza, essa força latente pode ser solicitada e
amadurecida pela cultura.
Convém lembrar que o professor, mesmo apenas professor de Língua Portuguesa,
deve preparar o aluno não para a leitura, a que chamamos literária, mas para a leitura de
um modo geral, em livros de Ciências, História, por exemplo, livros que informam, livros que
satisfazem mais a inteligência do que a sensibilidade, livros que visam mais ao conhecimento
do que à beleza propriamente dita. Nesse sentido, Lilian Zieger entende que
queremos leitores reais, com plena capacidade de atribuir sentidos aos textos com
que se encontram e que busquem a compreensão da malha em que tecem os textos e
as leituras. Essa malha é o contexto dos textos. Um contexto globalizado e com o
qual se interage através de diferenciados elos. Literatura, assim conceituada, dá-se
28
através de um movimento interdisciplinar que não se dissocia da sociedade e da
história.
10
Se a leitura mecânica deve ser cuidada, se a higiene da leitura deve ser considerada
de importância, maior cuidado merece a leitura que se chama de semântica ou de sentido ou
de compreensão; ler é entender, recriar, reconstruir o pensamento ou o sentimento do autor, é
realmente uma renovação do ato criador. Faz-se mister a integração do leitor com o
pensamento expresso do escritor. O aluno aprende a respeitar o pensamento de outrem por
honestidade intelectual. Esse respeito significa assimilação daquilo que se lê tal qual se
apresente, reservado o direito de crítica e de combate às idéias expostas.
Consideramos na leitura silenciosa: a compreensão da leitura como um todo; a
compreensão da idéia principal; a compreensão dos elementos subsidiários; o conhecimento
do vocabulário; a rapidez. E como coroamento, a apreciação ou julgamento do texto. Para
muitos, o livro é uma forma de desenvolver uma ação educativa, mas, para uma educação
integral, o aluno não precisa ler somente “obras literárias” que servem para “saber mais”. Ele
precisa do texto literário arte, desafiante, que exige sua intervenção como leitor que levanta
questões vivenciadas e abre novas perspectivas.
O trabalho com livros literários tem por fim desenvolver as capacidades de ler e
escrever, de transformar os alunos em leitores críticos, em espíritos atuantes, capazes de
participar e mudar a sociedade em que vivemos. A literatura faz viajar no tempo, preencher a
necessidade de ficção que todos temos, recriando e reinventando o mundo no caminho do
conhecimento, do gosto, não importa a idade do leitor.
Os livros de não-ficção como opção de leitura são utilizados, durante o ano letivo,
principalmente, como complemento ao trabalho do professor, intensificando o interesse por
determinado assunto. Os novos e inúmeros recursos que a tecnologia e a informática
trouxeram criaram novas possibilidades nos últimos anos, colocando nas os do professor
novas possibilidades, mas a utilização do livro didático ainda continua sendo imprescindível
no processo ensino-aprendizagem.
A inclusão de livros de não-ficção na escola favorece o desenvolvimento de aptidões
e interesses permanentes e a construção de conhecimento, sendo também um meio de
desenvolver o caráter do aluno.
10
ZIEGER, Lilian. Escola: um lugar para ser feliz. Canoas: Ulbra, 1999. p. 31.
29
Bons autores de obras de não-ficção, além de despertar interesse por certa área e
apresentar informações sobre elas, o capazes de estabelecer relações entre ficções e o-
ficções. A abordagem da literatura de não-ficção pelo professor, tendo em mente o
aprendizado independente, é fator importante para que os alunos aprendam noções e
processem seu próprio conhecimento. No entanto, a leitura de livros de o-ficção pode
acarretar alguns problemas: resultar num conhecimento superficial, ou mesmo não passar de
um encontro com a matéria, minando o respeito pelo saber arduamente construído. Por este
motivo, a seleção deste tipo de literatura e a habilidade, na sua utilização assumem uma
importância especial. Não se pode negar que, na maior parte dos casos, a dificuldade em usar
os livros sejam eles bons ou ruins, próprios ou impróprios – nasce da postura dos docentes,
que muitas vezes estudaram pouco, no seu período de formação e ainda atuam em escolas mal
preparadas ou em condições inadequadas. Há, porém, um elemento subaproveitado nessa
equação: o livro didático que o professor utiliza poderia ser uma ferramenta de formação
pedagógica, mas é negligenciado por autores e por editoras.
Utilizada de forma correta a obra de não-ficção ocupa papel de destaque na transição
entre a educação geral na escola e educação popular viva. Os valores que se podem adquirir
através dos livros de leitura só serão acessíveis, é claro, a quem tiver dominado as habilidades
técnicas da leitura e possuir capacidade para ler.
A leitura torna-se uma atividade de múltiplas funções, para poder partilhar com aluno
o prazer e a necessidade de ler. Se não se tem esse prazer e a necessidade, é possível recuperá-
los junto com os alunos, lendo com eles, lendo para eles, enfim, descobrindo junto com eles o
instigante mundo da leitura.
A aquisição do conhecimento depende em sociedades desenvolvidas ou
subdesenvolvidas do livro e da habilidade do leitor, pois é ele que faz o intermédio para a
aquisição da cultura, ao permitir que esta se amplie a partir do que já é conhecido e fixado nos
textos escritos. Nas sociedades em desenvolvimento, esta situação é mais evidente, pois a
circulação do livro é para poucos, cujo poder econômico favorece a sua aquisição e que,
conseqüentemente, dominam a grande maioria da população.
O livro tem uma função democrática que os poderosos tentaram, por muito tempo,
suprimir. A análise histórica da literatura deixa claro o evidente poder do livro nas diversas
épocas, desde a Idade Média, quando os livros foram restritos aos mosteiros; o absolutismo no
30
séc. XVII, que proibiu a instalação das gráficas e, nos tempos modernos, um incentivo à
literatura que apóia a ideologia dominante. Em conseqüência, os jovens e crianças que não
lêem, são alijados do processo histórico, visto que não possuem o conhecimento acumulado
por escrito, o qual se esgota à medida que satisfaz as necessidades imediatas.
O livro é um veículo do saber de influência da classe dominante aspirado pelas
classes dominadas, para que possam atuar efetivamente na sociedade em que estão inseridas.
Nos países pobres, pesquisas alertam que a leitura de qualidade é desprezada, e a
maioria da população não consegue compreender uma manchete jornalística ou um noticiário.
Este dado revela que a resolução do problema vai além dos muros da escola, como
redistribuição de renda e bem estar social da população para que esta seja incentivada a
procurar se aperfeiçoar nas diversas formas de leitura (cartas, anúncios, jornais, etc.). Há
também a necessidade de um maior investimento na educação escolar: professores,
equipamentos, implementação de bibliotecas com livros paradidáticos. O que fazer para
formar um leitor crítico? De acordo com Maria da Glória Bordini e Vera Aguiar,
Nesse sentido, é importante que as classes menos favorecidas tenham acesso à
cultura letrada, sob pena de se manterem as diferenças sociais [...] O que se propõe é
abrir-lhes o leque de opções de modo a atuar efetivamente na vida social e não
apenas como massa de manobra, uma vez que elas passam a ser capazes de jogar
com as mesmas armas.
11
No Brasil, a literatura tem perdido o seu valor lúdico. Na escola é, normalmente,
utilizada para apreensão de conteúdo de disciplinas: para aprender gramática, história, redigir
melhor, etc. A leitura deveria ser vista como um ato de descoberta, de compreensão e
transformação do mundo e do ser humano.
Além disso, a literatura é desvalorizada nas classes populares, seja pela crença de que
não supre a necessidade de sobrevivência, sendo um luxo, algo supérfluo; seja pelo simples
fato da ausência de material de leitura nesses lares, ocasionando uma privação prematura de
contato com a leitura.
A falta de incentivo doméstico ao hábito da leitura dificulta o trabalho porventura
desenvolvido pela escola, visto que o aluno é mais propenso a imitar os valores familiares, o
que ocasiona o “fracasso” da tentativa escolar.
11
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor: alternativas
metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. p. 12.
31
Aliado a este fato, a literatura infanto-juvenil destoa da destinada a adultos, pois
normalmente pobre de conscientização social, acrítica e utópica. Pais e professores os
colocariam, ao valorizar e orientar a leitura dos jovens, na condição de criticidade em relação
aos livros, discutindo as interpretações feitas a partir de texto e contextos. Para Richard
Bamberger,
[...] a formação do leitor não pode restringir-se aos processos escolares, devendo
assentar-se sobre uma política cultural, embora, de fato para muitas pessoas, a
experiência de ler, como prática cultural habitual, se reduz a seus hábitos escolares;
usos geralmente restritos, acadêmicos, poucos gratificantes.
12
É importante que haja uma reflexão sobre os múltiplos leitores e, conseqüentemente,
sobre as variadas leituras que implicam seleção por parte dos leitores e dos mediadores, para
se perceber a demanda que se coloca por parte dos professores de todo o país, no sentido de
indicações bibliográficas que subsidiem sua prática e por cursos que possam contribuir em sua
formação. Além disso, que conhecimentos o necessários para que se pratique e ensine a
leitura? Um ponto-chave desta é tornar, efetivamente, a leitura uma atividade significativa.
Formar o leitor é também formá-lo dentro das naturezas diferentes da linguagem
escrita e da linguagem (áudio) visual; agregar ao ato pedagógico da leitura do texto escrito o
movimento de luz e sons da leitura (áudio) visual; animar sua leitura no movimento atual de
nossa sociedade urbana.
2.3 O prazer da leitura
Vivendo em uma sociedade letrada, o indivíduo que dela participa reconhece o valor
dos conhecimentos e das experiências expressas pela palavra escrita. Suzana Vargas afirma
que
A leitura traz prazer, quando o indivíduo descobre que ela lhe dá o poder do
conhecimento e a capacidade de associar idéias, planos, elementos aparentemente
díspares ou dissociados no tempo e no espaço. A leitura agiliza nossa inteligência
objetiva e subjetiva.
13
Nessa situação, ser analfabeto ou não-leitor significa marginalização cultural e
privação de direitos. Apropriar-se da palavra impressa corresponde a alcançar um grau mais
12
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 3.
13
VARGAS, Suzana. O prazer da leitura. Mundo Jovem. Porto Alegre, ano 38, n. 304, 2000, p. 6.
32
abstrato de pensamento e, com isso, apossar-se do saber que a experiência empírica não
consegue, aquele que se cria e veicula pela linguagem verbal e transcende a passagem do
tempo pelo registro.
O indivíduo, ao fazer-se leitor, não só compreende a sua sociedade com maior
alcance intelectual, mas pode ampliar a sua visão do mundo como um todo, se ele perceber,
no texto escrito, o que está além da letra e constitui o legado da história humana.
Compreende-se que a leitura deve ser percebida como um processo que abrange várias fases
do desenvolvimento, em qualquer tipo de leitura científica ou literária. As dificuldades quanto
às habilidades do leitor decorrem da falta de domínio suficiente para a leitura. Segundo Eliane
Lopes,
Quando procuramos o belo, algo que seja capaz de nos fazer conceber aquilo que
estávamos prenhes muito tempo e sobre o que nada sabíamos. Dá-se o amor pela
leitura. Opera-se em nós também uma criação do pensamento e das demais virtudes.
Dá-se o engate.
14
Um texto, uma leitura, é capaz de despertar qualquer coisa: amar, odiar, pensar, criar.
No entanto, por mais paradoxal que possa parecer, a palavra de ordem que se impõe ao
navegante que aporta nessa praia é que seja excluída toda ilusão de um objetivo e de uma
destinação.
Se a leitura precisa ser um hábito, ela precisa ser também fonte de prazer, e nunca
uma atividade obrigatória, cercada de ameaças e castigos e encarada como uma imposição do
mundo adulto. Para ler, é preciso gostar de ler.
É preciso que a criança descubra primeiramente o prazer de ler, para que possa
desenvolver outras aprendizagens do domínio lingüístico com boa vontade, pois é através da
leitura que ele os reconhece e aprende com maior facilidade a aplicá-los na construção do
texto.
Um bom leitor não somente encontra maior prazer nos livros, mas pode pensar e
aprender melhor. As pessoas que em palavra por palavra, fragmentadamente, não
compreendem as histórias nem as idéias. Com a prática, pode-se aprender: a ler de uma só vez
cada grupo de palavras que não podem ser separadas; a ler depressa sem apressar-se; e a
compreender melhor o que se lê:
14
LOPES, Eliane M. T. Leitura: prazer e saber. Belo Horizonte: UFMG, 1998. p. 54.
33
No ponto de vista da forma, o iniciante é desestimulado quando não há uma
extensão média nas frases e/ou palavras e quando estas o são freqüentemente
repetidas. Do ponto de vista do conteúdo, ocorrem problemas quando o
adequação à fase de escolarização do leitor. Do ponto de vista do efeito, prejuízo
se faltam fatores que suscitem atração emocional ou identificação de aspectos
humanos comuns entre obra e leitor.
15
Contudo, os casos de jovens que, apesar de terem adquirido habilidades
necessárias para a leitura, se recusam a pô-las em prática, devido à falta de motivação, o que
deve ser resolvido através de estímulos da família e da escola.
Na escola, o professor precisa selecionar material de leitura que possa ativar o gosto
pelo livro e superar as dificuldades inerentes aos textos. Para tal, deve partir da premissa que,
sendo a obra literária o domínio do lúdico e da integração do intelecto e da afetividade, é ela o
ponto de partida privilegiado para a conquista do leitor relutante.
Além do cuidado com a seleção de livros que atendam as preferências do leitor, o
professor precisa ficar atento para não afastá-lo do prazer da leitura com a realização de
dinâmicos trabalhos escolares. “Ler é essa sensação prazerosa do mistério e da surpresa que
cada história nos traz. É a magia que nos cativa e nos envolve. É a busca do conhecimento
através do esforço e dedicação. Uma força capaz de transformar a realidade”.
16
Entende-se que a relação com o livro deve ser envolvente e cativante, a fim de que o
aluno sinta na leitura a sensibilidade para viver o humor, a brincadeira, o mistério, a alegria, a
aventura e o desafio.
Um outro aspecto que dificulta o prazer da leitura no jovem ou criança é a falta de
domínio de estratégias construtivas das obras literárias, isto é, quando o consegue
vislumbrar o fio condutor da obra, seja ela narrativa ou poética, pois perpassa pela formação
do professor que não discute com o aluno o tema a ser tratado em determinadas leituras, ora
por não ter conhecimento suficiente para tal, ora por não ter compromisso na seleção desta,
fazendo-a aleatoriamente, sem ao menos pensar no leitor final seu aluno se este terá
condições de compreender sozinho o que lê e se é capaz de fazer relação com a vida real.
Além disso, sabemos que o livro didático serviu, ao longo do tempo, como veículo
da ideologia dominante, dos valores nacionais, preso a preceitos éticos, morais, sociais,
15
CENTRO DE PESQUISAS LITERÁRIAS, PUCRS. Guia de leitura para alunos de I e II graus. São Paulo:
Cortez; Brasília – DF: INEP/MEC; Porto Alegre: CPL, 1989. p. 29.
16
ZIEGER, 1999, p. 27.
34
políticos e econômicos que foram estabelecidos pela classe detentora do poder. Ele é também
um produto que envolve altos valores econômicos, representando lucro para quem os
comercializa. Por isto, os livros, normalmente, são produzidos para atender às demandas
comerciais e não se levando em consideração o zelo pela qualidade e a formação de cidadãos
criativos e críticos.
A leitura que prazer não pode ser a mera decodificação de sinais, da reprodução
mecânica de informações a partir de respostas e estímulos pré-elaborados. Encaminhada dessa
forma, formará um leitor passivo de discursos, sem criatividade de reconstruir o texto lido e
impossibilitando-o de se tornar um sujeito de seus atos. Segundo L. Suassuna,
Se o aluno lê sem prazer, sem o exercício da crítica, sem imaginação; se ele e não
faz disso uma descoberta ou um ato de conhecimento; se ele só reproduz, nos
exercícios, a palavra lida do outro, o há nisso nada que lhe possibilite uma
intervenção sobre aquilo que historicamente está exposto.
17
que se questionar como as instituições responsáveis pela formação de leitores
desempenham sua função. É preciso refletir sobre a maneira como os educadores têm se
relacionado com a leitura e o modo como estão incentivando o aluno a ler. O trabalho sobre a
leitura deverá ser reestruturado para oportunizar mudanças na relação texto/aluno, a partir da
prática do professor em sala de aula.
17
SUASSUNA, Lívia. Ensino da Língua Portuguesa: uma abordagem pragmática. Campinas: Papirus, 1995. p.
68.
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
A escolha deste tema deveu-se à preocupação com o descaso com leitura na escola
estadual na qual estou inserida oito anos. É uma escola de grande porte localizada na orla
de Salvador que atende à clientela do bairro e dos bairros vizinhos. A clientela é de classe
média baixa. A escola funciona durante os três turnos: no turno matutino atende ao Ensino
Fundamental e Médio, no turno vespertino atende ao Ensino Médio e no turno noturno atende
ao Tempo Formativo I, II, III e Ensino Médio.
Primeiramente, foi feita uma consulta junto aos professores de Língua Portuguesa em
exercício com o objetivo de conhecer mais profundamente o processo de leitura desenvolvido
com a série em inserção. Aproveitei uma reunião de professores e os perguntei se
aceitariam participar de uma pesquisa. Diante de seu consentimento, foi entregue a cada
professor de Língua Portuguesa um formulário de pesquisa, que foi respondido
individualmente. No formulário aplicado aos professores, constavam as seguintes perguntas:
1) Como você vê a prática da leitura hoje?
2) E a leitura, na escola, como se realiza?
3) Na sua opinião, como os alunos lêem?
4) Qual é o papel da família na formação leitora?
5) O que você sugere para despertar o gosto pela leitura nos alunos da 5ª série?
À primeira pergunta, os professores responderam
18
que a leitura deveria ser
melhorada e que necessitava de mais freqüência, principalmente pelos jovens que devem ter
uma leitura melhorada; lamentavelmente, utilizada de forma insuficiente em sala de aula. Não
motivação por parte dos docentes para a prática da leitura e, conseqüentemente, a sua
efetivação; que apesar de vivermos imersos em textos, a prática da leitura não flui de forma
natural e prazerosa. A leitura tem se tornado uma coisa imposta, utilizada de forma
insuficiente em sala de aula, não flui de forma natural e prazerosa.
Respondendo à segunda pergunta, os professores disseram que a leitura na escola é
realizada através do texto no livro didático. Felizmente, a série por ser uma série inicial,
consegue, ainda, formar” bons leitores, sem imposição, utilizando os paradidáticos; que
ainda é muito carente, necessitando mais estímulo e incentivo por parte dos docentes; que
depende muito da metodologia utilizada pelo docente, porém, na maioria das vezes, é
18
As respostas encontram-se no Anexo B.
36
trabalhada a partir de um diagnóstico feito em sala de aula para descobrir a realidade da
prática da leitura dos alunos. O importante é começar a ler “aquilo” que é prazeroso.
Em relação à terceira pergunta, os professores responderam que alguns alunos lêem
por prazer, e lêem bem. Quando se fala em ler bem, está se referindo àquela leitura em que o
aluno consegue ler o texto inferindo, indo além do texto; infelizmente de forma inadequada, já
que não houve no momento da base escolar (início da escolarização) um trabalho pedagógico
correto; que vêem com certa dificuldade, vontade, necessitando ter mais iniciativa e fazer
da leitura algo prazeroso, tendo um direcionamento melhor, pois o jovem gosta de ler só o que
lhe interessa.
À quarta pergunta, os professores responderam que a família tem um papel
importante na formação leitora, mas que não considera primordial. famílias em que todos
os membros são leitores apaixonados e dentre eles surge sempre um filho ou filha que detesta
ler. Acredita que o meio escolar influencia mais que a família; que os pais devem incentivar
seus filhos a ler, prática que os próprios pais não mais executam, portanto, a formação
leitora fica cada vez mais difícil.
Respondendo à quinta pergunta, os professores afirmaram que se deve iniciar o
trabalho pedagógico com estes alunos, mostrando a importância da leitura para que haja
comunicação de fato. Depois, fazer pesquisas com eles para descobrir que tipos de leitura eles
preferem e iniciar na sala de aula oficinas de leitura e/ou chamar estas oficinas de “momentos
de prazer para o conhecimento”; que deve começar com a leitura que prazer, incentivando
a leitura sem algo obrigatório; que sugere livros, revistas, filmes, tudo isso em grande
quantidade e com a maior diversidade possível. Um espaço leitor em que o aluno ou aluna
possa escolher, manusear, deliciar-se com livros dos mais diversos possíveis e compatíveis
com a sua idade.
3.1 O pensamento dos alunos sobre a leitura
Com o objetivo de conhecer mais profundamente o processo de leitura desenvolvido
por alunos da série, um questionário foi aplicado a vinte e seis alunos. Inicialmente, os
Termos de Compromisso assinados pelos pais e responsáveis foram enviados ao Comitê de
Ética para aprovação, tendo em vista que os alunos eram menores de idade. Com a devida
aprovação do Conselho de Ética da Escola Superior de Teologia, foi iniciado o trabalho. Foi
entregue a cada aluno, em sala de aula, um questionário com doze perguntas a respeito da
37
leitura, pois dessa forma, conheceria a realidade deles diante da leitura. Para os alunos,
aplicou-se o seguinte questionário:
1) Você sabe ler?
2) Você gosta de ler?
3) Para você o que é ler?
4) Você lê na escola, por prazer, por quê?
5) Você lê em casa, por prazer, por quê?
6) O que você acha que desperta o gosto pela leitura?
7) Qual o seu sentimento em relação à leitura?
8) O que você lê?
9) Que tipo de texto é mais difícil de entender?
10) Preferência de livros?
11) Porque você prefere livros com gravuras?
12) Quem lê na sua casa?
Objetivando identificar semelhanças e diferenças entre as respostas dos alunos,
sobretudo em relação às metodologias dos docentes e ao incentivo dos pais em relação à
leitura, as respostas dos alunos foram transcritas de forma literal a seguir.
19
“Eu sei ler e gosto de ler, pois ler é uma coisa muito interessante, não leio em casa,
pois trabalho, mas quando leio sinto alegria. As leituras que gosto de ler são revistas e
poesias. O tipo de texto interpretativo é mais difícil de entender. Minha preferência é por
livros de poesias e livros com gravuras por serem mais divertidos. Quem na minha casa é
meu irmão.” Adrielle – 11 anos.
20
“Eu sei ler e gosto de ler mais ou menos, pois ler é um treinamento da mente. Eu leio
na escola porque é necessário ler para passar de ano. Leio em casa, às vezes, porque eu não
sou muito interessada em leitura. Tenho vontade de ler e leio quando estou sem fazer nada.
Meu sentimento em relação à leitura é o de aprender mais. Leio revistas, enunciados de
jornais etc. Acho mais difícil o texto interpretativo. Tenho preferência por poemas e outros e
prefiro livros com gravuras. Em minha casa, minha mãe, avó, avô, pai, eu e minha irmã
lêem”. Bruna – 12 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler, pois ler é aprender alguma coisa. Eu leio na escola para
aprender mais um pouco. Eu leio em casa apenas as atividades. Meu sentimento em relação à
leitura é para aprender mais um pouco. Leio revistas em quadrinhos e acho a interpretação de
19
As respostas encontram-se no Anexo A.
20
Nomes fictícios.
38
texto o mais difícil de entender. Minha preferência é por livros de história e prefiro os livros
com gravuras porque entendo mais. Todos lêem na minha casa”. William – 11 anos.
“Eu sei e amo ler. Ler para mim é um prazer. Gosto de ler na escola porque é muito
importante. Leio muito em casa e tenho prazer de ler nas horas vagas. Sinto o gosto pela
leitura quando leio porque quanto mais leio mais bate a vontade de ler. Fico feliz quando leio,
pois vejo coisas novas nos livros. Leio um pouco de cada coisa. Tenho dificuldades de
entender palavras difíceis e tenho preferência por romances. o tenho preferência por livros
com gravuras e na minha casa todos lêem”. Rafaela – 13 anos.
“Eu sei ler e gosto muito de ler. Para mim ler é aprofundar mais no conhecimento.
Tenho prazer de ler na escola e em casa para aprender e saber mais. A descoberta de novos
conhecimentos me desperta o gosto pela leitura e me alegria. Leio romances. E acho mais
difícil de entender os livros didáticos. Tenho preferência por livros com gravuras, pois
entendo mais e ficam mais interessantes. Em casa meu pai, minha mãe e minha irmã lêem”.
Najiana – 12 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler. Ler é um instrumento da mente. Leio por prazer na escola
porque leio toda hora. E em casa leio por prazer porque eu passo quase meu tempo lendo na
escola. O que desperta o gosto pela leitura é quando estou assistindo televisão. Meu
sentimento em relação à leitura é de alegria. Eu leio jornais, histórias, livros, revistas, etc., o
texto sobre poesia e poema é o mais difícil de entender. Tenho preferência por enciclopédias.
Tenho preferência por livros com gravuras porque são bons para a mente. Todos lêem em
minha casa”. Paula – 12 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler mais ou menos. Ler é uma coisa muito boa. Tenho prazer
em ler na escola. Leio em casa de vez em quando. O que desperta o gosto pela leitura é
porque distrai a mente. O meu sentimento em relação à leitura é que fica inteligente. Leio
poesia. Interpretação de texto é o mais difícil de entender. Tenho preferência por livros em
quadrinhos e com gravuras porque fica mais divertido. Quem em minha casa é minha
irmã”. Graziela – 12 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler. Ler é tudo na vida. Leio porque, às vezes, quando tenho
provas, tenho que ler com prazer para entender. Leio em casa para estudar e para conhecer as
coisas. As letras dos textos e poesias me despertam o gosto pela leitura. Meu sentimento em
relação à leitura é sentir estudioso. Leio poesias, textos, etc. Textos bem grandes são difíceis
de entender. Tenho preferência por livros como Peter Pan e outros. Prefiro livros com
39
gravuras porque é muito bom ler e ver a imagem. Todo mundo na minha casa”. Hélio 11
anos.
“Eu sei ler. Gosto de ler coisas do meu interesse. Ler é ter conhecimento, se
atualizar. Leio na escola por prazer porque é para meu benefício. Leio em casa por prazer
porque leio os deveres de casa. A criatividade desperta o gosto pela leitura. A aprendizagem é
meu sentimento em relação à leitura. Leio livro de estudo, folhetos, jornais, etc. Texto de
suspense é mais difícil de entender. Prefiro livros de romance. Prefiro livros com gravuras
porque é mais fácil de entender. Todos lêem na minha casa”. Gabriela – 12 anos.
“Sei ler. Gosto mais ou menos de ler. Ler é um jeito de estudar. Leio na escola
porque distrai a mente. Leio em casa também, para me distrair. A curiosidade desperta o gosto
pela leitura. O agrado é meu sentimento em relação à leitura. Leio revistas, livros e outras
coisas. Texto de livro é mais difícil de entender. Prefiro livros da Turma da Mônica. Prefiro
livros com gravuras porque eu entendo melhor. Minha mãe, minha irmã e meu irmão lêem na
minha casa”. Emerson – 11 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Tenho prazer em ler. Leio na escola porque eu preciso
aprender. Leio em casa porque faz bem para todos nós. Meu sentimento em relação à leitura é
muito bom. Leio poesia. Nenhum texto é difícil de entender. Prefiro livros de amor e
felicidade, etc. Prefiro livros com gravuras porque é bom demais. Eu, meus dois irmãos e
meus primos lemos na minha casa”. Eriléia – 12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Leio porque quando lemos as pessoas despertam a mente e
viajam no tempo. Leio na escola porque eu gosto. Leio em casa porque quando o tenho o
que fazer fico lendo. Os estudos me despertam o gosto pela leitura porque as pessoas, às
vezes, as pessoas querem sair, mas não sabem ler. Meu sentimento em relação à leitura é
aprender, querer saber as coisas para virar professora. Leio livros, história. Interpretação de
texto é mais difícil de entender. Prefiro livros de Geografia. Prefiro livros com gravuras
porque mostram alguns detalhes da leitura que estou lendo. Minha irmã, meu irmão e eu
lemos na minha casa”. Daniele – 12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é absorver conhecimento. Leio na escola para responder às
atividades. Leio em casa por prazer e para aprender mais. A curiosidade do que o livro diz me
desperta o gosto pela leitura. Tenho um sentimento de aprendizagem que a pessoa adquire
através da leitura. Leio livros românticos, poesias e a Bíblia. O texto mais difícil de entender é
40
poesia. Não tenho preferência de livros. Tanto faz, livros com ou sem gravuras. Todos lêem
na minha casa”. – Denis 11 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é viajar no tempo. Leio na escola porque gosto. Leio em
casa porque não estou fazendo nada. Distrair a mente desperta o gosto pela leitura. Meu
sentimento em relação à leitura é quando não estou calma. Leio tudo. O texto mais difícil de
entender é livro de história. Prefiro história em quadrinhos. Prefiro livros com gravura porque
gosto de ficar relaxando. Minha prima lê na minha casa”. Simone – 11 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é a descoberta de novos conhecimentos. Leio na escola e
em casa por prazer porque eu gosto e aprendo várias coisas diferentes. O que me desperta o
gosto pela leitura é que eu posso viajar, conhecer culturas de outros países sem sair do meu
lugar, apenas com os livros. Meu sentimento em relação à leitura é interesse, alegria e
aprendizagem. Leio livros de romance, aventuras e também textos em que eu respondo as
perguntas (didáticos). Os textos didáticos são mais difíceis de entender, porém eu fico com
mais vontade de descobrir e responder as perguntas. Prefiro os livros românticos e livros
pequenos. Prefiro livro com gravuras porque fica mais interessante e com vontade de
desvendar. Eu leio na minha casa”. Gabriela – 12 anos.
“Sei ler. Claro que gosto de ler. Ler é um modo de se informar. Leio na escola, na
biblioteca da escola e em casa por grande prazer, porque é interessante. O que me desperta o
gosto pela leitura é o termo da leitura. Meu sentimento em relação à leitura é bom porque é
muito interessante e fico calma. Leio livros e história geral. O texto romance é mais fácil de
entender. Prefiro os livros de aventura. Eu não prefiro os livros de gravura. Eu, meu pai e meu
irmão lemos na minha casa”. Manuela – 11 anos.
“Sei ler. Gosto muito de ler. Ler é prazer. Leio na escola por prazer porque eu
estudo. Não leio em casa por prazer porque faço os exercícios. A violência desperta o gosto
pela leitura. Meu sentimento em relação à leitura é muito bom. Leio livros de figurinhas. Não
sei que tipo de texto é mais difícil. Prefiro livros de ação e com gravuras porque é
interessante. Minha prima lê na minha casa”. Andreza – 12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é imaginar e ter conhecimentos. Leio na escola por prazer
porque tenho mais conhecimento. Leio em casa por prazer porque imagino. O interesse de
saber o que vai acontecer nos livros desperta o gosto pela leitura. Meu sentimento em relação
à leitura é a curiosidade e a sabedoria. Leio livros de romance, aventura, jornais e revistas. Os
textos da escola o os mais difíceis de entender, mas se prestar atenção, consegue aprender.
41
Prefiro ler romance. Para mim tanto faz livros com gravuras. Eu, minha mãe e minha irmã
lemos na minha casa”. Joyce – 12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é aprender mais coisas. Leio na escola por prazer porque
às vezes não tem aula. Leio em casa por prazer porque gosto. Me sentir melhor desperta o
gosto pela leitura. Meu sentimento em relação à leitura é de carinho. Leio vários tipos de
livros de história. Romance é mais difícil de entender. Prefiro qualquer tipo de livro. Prefiro
livros com gravuras porque é bom. Meu pai, meu e eu lemos na minha casa”. Victor 12
anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é aprender coisas novas. Leio na escola por prazer porque
é bom. Leio em casa por prazer, porque não tenho nada para fazer e porque gosto. O interesse
é o que me desperta o gosto pela leitura. Tenho um sentimento de felicidade em relação à
leitura. Leio livros com ilustrações porque viajamos mais. O texto grande e complicado são
mais difícil de entender. Prefiro livros com gravuras, pois viajamos mais. Minha irmã Paula lê
na minha casa”. – Joseane – 11 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler. Ler é coisa boa. Leio na escola porque amo ler. Leio em
casa porque não faço nada e é minha diversão. Os livros de aventura e em quadrinhos me
despertam o gosto pela leitura. Meu sentimento em relação à leitura é muito bom. Leio todo
tipo de livros e mais em quadrinhos. Textos bem grandes e antigos são difíceis de entender.
Tenho preferência por livros de aventura. Prefiro livros com gravuras porque são mais fáceis
de entender. Meu pai, minha mãe e meu irmão lêem na minha casa”. Bruno – 11 anos.
“Eu sei ler e gosto de ler mais ou menos. Não sei o que é ler. Não leio na escola. e
nem em casa. Não sei qual o meu sentimento em relação à leitura. Eu leio revistas, e não sei
qual é o tipo de texto mais difícil de entender. Tenho preferência por qualquer um tipo de
livro. Não tenho preferência por livros com gravuras. Ninguém lê em minha casa”. Marta – 12
anos.
“Eu sei ler e gosto um pouco de ler. Ler é aprender. Tenho prazer em ler na escola
para aprender. Leio em casa porque gosto. O que desperta o gosto pela leitura é o aprender. O
meu sentimento em relação à leitura é a expressão legal. Leio livros de Matemática e
Geografia. Matemática é mais difícil de entender. Tenho preferência por livros de aventura e
com gravuras porque é legal. Eu e minha irmã lemos em minha casa”. Adriana – 12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Leio porque ler é aprender coisas novas. Às vezes leio na
escola por prazer, mas às vezes não tenho vontade. Leio em casa porque gosto de ler. O
42
interesse em aprender me desperta o gosto pela leitura. Meu sentimento em relação à leitura é
aprender. Leio romances. Os livros de ação são mais difíceis de entender. Prefiro romance
Marly e Eu e os livros com gravuras por entender mais. Todos lêem na minha casa”. Ismael
12 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é uma coisa boa. Leio na escola por prazer porque é bom.
Leio em casa por prazer e para aprender coisas novas. O prazer me desperta o gosto pela
leitura. Tenho um sentimento de arte em relação à leitura. Leio livros de aventura. O texto em
Inglês é mais difícil de entender. Prefiro os livros de aventura. Os livros com gravuras são
melhores de entender. Eu e meu irmão lemos na minha casa”. – Sofia - 11 anos.
“Sei ler. Gosto de ler. Ler é se expressar. Não leio na escola por prazer, leio porque a
professora manda. Leio em casa por prazer porque gosto de livros da escola. Aprender mais
desperta o gosto pela leitura. Meu sentimento em relação à leitura é que dá prazer. Leio livros,
revistas e internet. O livro técnico é mais difícil de entender. Prefiro livro de aventura e ão.
Prefiro livros com gravuras. Todos lêem na minha casa”. Izabele – 11 anos.
As respostas às perguntas diferiram entre os alunos conforme se pode observar. Essas
diferenças podem ser devido às metodologias dos docentes, ao incentivo dos pais e à cultura
dos estudantes. Através das respostas dadas pelos alunos, pude perceber que todos consideram
a leitura importante: por ser um treinamento da mente; por aprender alguma coisa; por prazer;
para se aprofundar mais nos conhecimentos; por ser um instrumento da mente; por ser uma
coisa muito boa; por ser tudo na vida; por se atualizar; adquirir conhecimentos; por ser um
jeito de estudar; por viajar no tempo; por despertar a mente. Pelo exposto, torna-se evidente
que a maioria dos educandos possui uma noção de leitura mais eclética, real e relacionada aos
aspectos pedagógicos e sociais. Eles sabem que ler transforma o ser humano.
3.2 Análise e discussão dos dados
Considerando as dificuldades de leitura de acordo com o tipo de texto, pode-se
observar que as revistas em quadrinhos foram consideradas de mais fácil entendimento. Isso
se deve possivelmente ao fato de tais revistas serem direcionadas para um público que está
iniciando na vida escolar, até porque utiliza ilustrações, cores e gírias.
Em relação aos sentimentos concernentes à leitura, pode-se observar que as respostas
não diferiram, pois esta pergunta foi de natureza objetiva. Mais uma vez pode-se conjecturar
que a maioria dos alunos apresenta maior afinidade com a leitura.
43
Com relação aos documentos lidos, pode-se observar que a maioria dos alunos
outros documentos, como poesias. E, que a minoria apenas textos escolares, revistas em
quadrinhos, romances e jornais.
Sobre a preferência de livros, observa-se de forma unânime, todos estudantes
preferem livros com gravuras; tais recursos pedagógicos prendem a atenção do estudante,
estimulam a imaginação e a criatividade, tornando-se uma leitura significativa, prazerosa e
agradável.
Nota-se que a maioria dos alunos não gosta de interpretação de textos. Acredita-se
que por se tratar dos livros didáticos cujos textos saem do contexto e interesse dos alunos.
Quando abordados sobre “Quem na sua casa?”, poucos mencionaram que era o
pai. Este resultado permite inferir que o pai pode não ter tempo disponível para tal prática,
pois se dedica ao trabalho para o sustento familiar, ou não está alfabetizado, entre outras
explicações.
Algumas marcas afetivas frente ao ato de ler ficaram pontuadas nos questionamentos
feitos aos alunos durante a realização desta pesquisa. Nota-se uma diferença entre os alunos
que responderam não gostar de ler, como é o caso de Bruna, 12 anos. Um dos primeiros
comentários dos professores em relação à leitura na escola é que “meus alunos não gostam de
ler”. Esta é uma frase rotineira. Porém, o que se observa é que a maioria dos professores
também não lê.
Vários fatores influenciam para essa situação: o incentivo para iniciar a leitura e o
despertar o gosto de ler e a formação ainda precária dos professores que não são leitores. Para
formar leitores, é preciso ter paixão e prazer pela leitura. A leitura se fundamenta no desejo e
no prazer e, para isso, é preciso despertar esse desejo, esse prazer, desde cedo nas crianças.
Na verdade, é o uso constante da leitura que vai despertar o sentimento de prazer e
hábito favorável ao leitor. O leitor é aquele que lê, infere e responde ao texto. No ato de ler,
os leitores deliberam as suas leituras, mudando a cada leitura realizada com o mesmo texto.
Na abordagem do ato de ler, os textos são otimizados pelos leitores em uma interação
entre leitor e texto, assim como entre leitor e autor, em uma relação tríade derivada da forma
pela qual os alunos se ajustam e fazem relações com a leitura.
Neste ínterim, a leitura é uma prática social constitutiva de sujeitos leitores, capazes
de ler o mundo que os cerca. Pensando assim, a leitura é uma atividade que permite ao leitor
44
entrar no texto de formar organizada e o possibilita a compreender que ler não é somente a
recepção do sentido do texto, mas um processo de construção de significados.
Desta forma, pretende-se formar um leitor proficiente, ou seja, aquele que é capaz de
identificar os vários tipos de leitura, seus objetivos e as estratégias utilizadas para o
estabelecimento do significado do texto. Para tanto, é necessário motivá-lo à leitura prazerosa,
que lhe desperte significação e interesse. Geralmente, é significante para o leitor aquilo que se
relaciona com a sua vida, que desperta a curiosidade, que o faz compreender o mundo ou ir
além da imaginação, descobrindo novas possibilidades de agir sobre ele e melhor viver e
conviver.
Esta compreensão depende de fatores referentes ao conhecimento que o sujeito tem
sobre o conteúdo lido e de habilidades lingüísticas em nível lexical e sintático. Neste sentido,
quando os alunos foram inquiridos sobre os tipos de textos mais difíceis, esta questão remete
a algumas reflexões quanto à metodologia aplicada em sala de aula. A maioria das crianças
acha que as leituras da escola, isto é, os textos escolares apresentam “fatos difíceis de
entender”.
Segundo Mary Kato, “o insucesso do ensino da leitura pode estar na falta de
objetivos claros para com esta, pois o leitor não tem objetivo prévio para aquele texto
dificilmente colocará em ação as estratégias de compreensão”.
21
Nesse caso, o texto é utilizado com atividades mecânicas (leituras silenciosas e ou
oral e respostas aos exercícios do livro). Na maioria das vezes, as atividades do livro
constavam de perguntas como: qual o título do texto? Ou então: Quais as personagens?
Questionamentos para copiar literalmente o texto. Em suma, era uma proposta didática que
não favorecia a compreensão e criticidade do que é lido. Por conta desta concepção
equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de ‘leitores’ capazes de decodificar
qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler”.
22
Uma questão fundamental que se coloca nessa perspectiva é a preferência dos alunos
por livros que contenham gravuras. Segundo eles, é de fácil compreensão. A escola enfatiza a
leitura apenas como um objetivo de ensino, não se constituindo também como objeto de
aprendizagem.
21
KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática, 1986.
22
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa.
Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997. p. 42. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf >. Acesso em: 02 fev. 2009.
45
É preciso que a leitura se construa de significado e resolva os problemas práticos do
cotidiano: estudar, divertir, informar, escrever. A leitura é um meio necessário à
aprendizagem na escola, visto que o processo de escolarização, especialmente o da aquisição
da escrita, se por uma interação entre o autor e o leitor. Com isso, percebe-se a
complexidade da questão, pois o aluno encontra no texto escrito um instrumento fundamental
para o processo de compreensão do texto para que, de fato, a aprendizagem aconteça.
Ler e compreender o que se lê tem sido um assunto complicado no cotidiano escolar.
As observações de campo mostraram que os alunos tinham contato com livros, mas quase
sempre para cumprir uma suposta “aula de leitura”, sem que houvesse uma discussão ou
orientação e/ou apresentação do livro ou do texto.
Outro aspecto que tende a contribuir para a leitura compreensiva é favorecer ao aluno
o contato com tipologias diversas de textos. Segundo Ângela Kleiman,
O conhecimento lingüístico, o conhecimento textual, o conhecimento de mundo
devem ser ativados durante a leitura para poder chegar ao momento da compreensão,
momento esse que passa desapercebido, em que as partes discretas se juntam para
fazer um significado.
23
A prática da leitura sem orientação o prepara o aluno para facilitar a compreensão
do texto. No contato com o texto, é necessário que o leitor estabeleça seus próprios códigos e
o seu conhecimento prévio àquela leitura. Segundo Emília Ferreiro e Margarita Palácio, “toda
leitura é interpretação, e o que o leitor é capaz de compreender e de aprender através da
leitura depende fortemente daquilo que o leitor conhece e acredita a priori, ou seja, antes da
leitura”.
24
A compreensão de um texto implica entendimento do que lê. Segundo Eni Orlandi,
“o texto original é uma ficção ou melhor é uma função de historicidade, num processo
retroativo [...] o texto em sua materialidade, como suas articulações, todas elas relevantes para
a construção do ou dos sentidos”.
25
A dificuldade com a leitura não está somente na aquisição e domínio de um sistema
de notação e de transformação do oral, mas também na forma como a fala e a escrita estão
relacionadas ao fator sócio-econômico e como esta é no espaço escolar.
23
KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4. ed. Campinas: Pontes, 1995. p. 26.
24
FERREIRO, Emília; PALÁCIO, Margarita Gómez. Os processos de leitura e escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987. p. 15.
25
ORLANDI, Eni Puccinelli. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes,
1996. p. 14.
46
Dessa forma a leitura será vista como habilidade lingüística, percebendo a relação
existente entre a fala, a leitura e a escrita, e seus variados fatores que intervêm no processo da
aquisição do conhecimento, do desenvolvimento emocional da criança e da interação social:
Para compreender o processo de leitura, devemos compreender de que maneira o
leitor, o escritor e o texto contribuem para ele. Uma vez que [...] a leitura implica
uma transação entre o leitor e o texto, as características do leitor são tão importantes
para a leitura como as características do texto.
26
A leitura é, assim, uma atividade de busca pelo leitor, no seu passado, de lembranças
e conhecimentos relevantes à compreensão do texto, fornecendo pistas e sugerindo caminhos,
mas que certamente não esclarece tudo o que seria possível esclarecer.
O grande desafio das escolas, hoje, é explorar a leitura em todas as áreas do
conhecimento, delineando objetivos específicos para sua exploração. Segundo Ângela
Kleiman, “as atividades de leitura desenvolvidas são, muitas vezes, difusas e confusas, [...] se
constituindo apenas em pretexto para cópias, resumos análise sintática e outras tarefas de
ensino de linguagem”.
27
Ela defende a determinação de objetivos para que sejam realizadas
tarefas interessantes e significativas. Sendo assim, o aluno com interesse e prazer.
Indiretamente, ele estará desenvolvendo estratégias metacognitivas necessárias e adequadas
ao ato de ler.
Ao se explorar os objetivos da leitura, outro aspecto vem contribuir à compreensão: a
formulação de hipóteses, pois favorece
o reconhecimento global e instantâneo de palavras e frases relacionadas ao tópico,
bem como inferências sobre palavras não percebidas durante a “sacada” [...] material
que os nossos olhos, muito rapidamente, continuam a trazer para o cérebro
processar.
28
As hipóteses também predizem conteúdos, estruturas textuais. Ao confrontar
informações, o leitor estará exercendo a reflexão para o processo de compreensão. À medida
que o leitor tem a confirmação das hipóteses, vai adquirindo mais confiança em suas
estratégias para resolver suas dificuldades de leitura.
26
FERREIRO; PALÁCIO, 1987, p. 15.
27
KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 2. ed. Campinas: Pontes, 1989. p. 37.
28
KLEIMAN, 1989, p. 37.
47
A competência do leitor é fundamental para o seu êxito no processo de ler,
compreender e escrever. Os exemplos abaixo assinalam que os alunos não sabem cifrar as
palavras, embora demonstrem o desejo de ler.
Segundo os PCNs, uma prática intensa de leitura na escola é, sobretudo, necessária,
porque ler ensina a ler e escrever”.
29
Nisso se revela o propósito, a cultura social, o
conhecimento prévio, o controle lingüístico, as atitudes e os esquemas conceituais que devem
ser considerados e trabalhados sistematicamente pelo professor. O que o leitor é capaz de
compreender e de aprender depende fortemente do que conhece e acredita. O conhecimento
de mundo, fruto das experiências e do convívio social, é ativado no momento oportuno, sendo
também essencial à compreensão de um texto.
A produção escrita que se encontra disponível não é um produto isolado, o ocorre
no vazio, mas é resultante da integração de um complexo mundo sócio-econômico. Segundo
Josette Jolibert,
escritos complexos, padronizados, característicos de uma sociedade e de uma época
determinadas e em geral constituídos por muitos textos diferentes: jornais, revistas,
livros, catálogos, dicionários, disquetes de informática, etc. [...] indícios do contexto
textual e contexto de situação, são indispensáveis à compreensão dos escritos. [...] A
observação e a análise desses índices devem ser incorporadas à leitura para que o
aluno-leitor "enxergue" que a produção escrita é uma atividade comunicativa, dotada
de uma função social, realizada em uma determinada situação, que abrange tanto o
conjunto de enunciados que lhe deu origem quanto as condições em que foi
produzido.
30
Na verdade, o discurso se associa ao contexto, valorizando as informações para que
se construa o sentido do texto. As atividades de leitura em sala de aula devem ser planejadas
com essa intenção, com o compromisso de formar leitores críticos, capazes de refletir sobre os
discursos e se posicionar diante deles, produzindo outros.
O que se defende é que a pré-determinação de objetivos não é maléfica. Ela deve ser
trabalhada de forma artificial, ou seja, realizar tarefas interessantes e significativas para o
desenvolvimento do aluno, sem que ele perceba que está decidindo por si mesmo, sobre
aquilo que lê. Indiretamente, estará desenvolvendo estratégias metacognitivas necessárias e
adequadas ao ato de ler, como a elaboração de hipóteses.
As predições são baseadas no seu conhecimento de mundo. Quanto mais tiver
conhecimento sobre o assunto, mais acertos terá de sua predição. As hipóteses levantadas pelo
29
BRASIL, 1997, p. 47.
30
JOLIBERT, Josette et al. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. p. 25.
48
leitor devem ser testadas através das marcas textuais deixadas no texto pelo autor. A tarefa do
leitor proficiente é refutar ou confirmar as suas hipóteses. Segundo Isabel Solé,
[...] quando levantamos hipóteses e vamos lendo, vamos compreendendo e, se o
compreendemos, nos damos conta e podemos empreender as ações necessárias para
resolver a situação. Por isso a leitura pode ser considerada um processo constante de
elaboração e verificação de previsões que levam à construção de uma
interpretação.
31
Esse mecanismo de natureza metacognitiva se opõe às práticas automativas e
mecânicas de leitura, muitas vezes vivenciadas na escola. Favorece a proposição de atividades
nas quais a definição de objetivos, a predição, a auto-indagação sejam priorizados, criando
espaços para desenvolver e aprimorar estratégias metacognitivas da leitura.
Na vida escolar, a leitura ocupa um lugar de grande destaque, caracterizando-se nos
atos de educar-se e de ler, que são, em essência, atos de conhecimento e curiosidade. Dessa
forma, é fácil constatar a presença da leitura em sala de aula e as condições reais de produção
da leitura nesse espaço.
Nas observações em sala de aula e nas entrevistas com as professoras, o discurso da
escola pública reflete a imagem de um leitor na perspectiva da dificuldade cultural,
responsabilizando-o por sua deficiência. Neste caso, a escola tende a atribuir a carência do
meio familiar e social às dificuldades e à falta do ensino de leitura.
A Língua Portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades de dialetais. Identificam-
se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos
preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes
modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades lingüísticas de menor
prestígio como inferiores ou erradas.
32
No ambiente escolar, o importante é respeitar as diferenças e saber utiliza-las para se
obter uma boa aprendizagem, transformando em uma aprendizagem significativa.
Um texto dramatizado em sala de aula, além de desenvolver habilidades de leitura,
serve fundamentalmente para desenvolver habilidades de linguagem oral, permitindo que os
alunos vivenciem papéis diferentes, adequação da fala a diferentes padrões, de acordo com o
lugar, o tipo de pessoa, a classe, o grupo social a que pertence o personagem.
31
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p. 27.
32
BRASIL, 1997, p. 26.
49
O aluno deve ser estimulado a desenvolver seus próprios conceitos e opiniões em
relação a determinados assuntos, pois não se têm dúvidas que a ausência de conhecimentos se
revela no momento em que a criança é trabalhada de maneira homogênea na escola, sendo
submetida aos livros didáticos que contêm um programa educativo praticamente pronto.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, “uma prática constante de leitura na
escola deve admitir várias leituras, pois outra concepção que deve ser superada é a do mito da
interpretação única, fruto do pressuposto de que o significado está dado no texto”.
33
Também
as atividades elaboradas de maneira homogeneizadora se revelam como um grande
instrumento que não respeita as fases diferenciadas das crianças em relação ao seu estágio de
desenvolvimento.
É preciso que a escola ensine aos alunos como se processam o conhecimento da
linguagem e a informação lingüística. E isso serve tanto para o ensino da língua materna
quanto para as demais disciplinas escolares.
As crianças precisam aprender e apreender essas informações da linguagem, da
leitura, da escrita e do cálculo com clareza e de forma prazerosa e lúdica. A escola precisa
levar as crianças ao reino da contemplação do conhecimento. Vale também o inverso: a escola
deve levar o reino do saber às crianças. Nas ruas, as crianças não aprenderão informações
lingüísticas. Criarão hipóteses extraídas, quase sempre, da fala espontânea. Dessa forma,
reitera-se que são necessárias quatro grandes ações para o êxito efetivo do processo de
alfabetização, ou seja, da leitura: 1) encaminhar muita leitura oral, coral, individual e
silenciosa de todo tipo de texto; 2) propor diariamente a produção coletiva, inclusive nas
outras áreas do conhecimento; 3) analisar lingüisticamente bons textos que circulam na
sociedade; 4) reescrever coletivamente os textos produzidos individualmente pelos/as
alunos/as. É na escola, com bons professores, que os alunos aprenderão que essas informações
lhes darão habilidades para a leitura e para a vida fora da escola.
3.3 Interesse e motivação para o ato de ler
Os dados coletados indicam que poucos alunos têm a postura ou o hábito de,
sistematicamente, solicitar material para leitura ou ir a algum lugar com o objetivo de ler.
Nessa perspectiva, o problema da qualidade da leitura deve ser enfrentado com propostas de
intervenção que possam atuar sobre esses fatores na escola. Este quantitativo negativo merece
33
BRASIL, 1997, p. 43.
50
destaque e um enfoque especial. Visto que inúmeras pesquisas apontam um número elevado
de alunos, apesar de alfabetizados e às vezes com o Ensino Fundamental concluído, não se
tornam leitores.
Existe a necessidade de a escola criar espaços dedicados à leitura para que o aluno
tenha o interesse e sinta-se motivado a ler. Os cantos de leitura o indispensáveis no espaço
escolar por serem dinâmicos e socializadores no processo de ensino e de aprendizagem,
proporcionando aos alunos oportunidade de crescimento e enriquecimento cultural, social e
cognitivo, como também momentos de prazer.
Estes dados revelam que, embora os alunos tenham assinalado a importância do ato
de ler e a interferência dos pais em casa, deixam dúvidas se realmente existe o hábito e o
prazer de ler nessas crianças, pois a leitura é uma atividade permanente do ser humano. Lê–se
para conhecer, para entender, para sonhar, para viajar na imaginação, por curiosidade, por
prazer. Lê-se para aprender e ficar informado, para questionar e resolver problemas.
A motivação para a leitura é um processo interno, um impulso pelo qual o aluno é
instigado à ação, mas pode também ser provocada por fatores externos, como a sala de leitura,
biblioteca, bancas de jornal e revistas, e, de forma mais ousada, transformar a escola em um
lugar onde o indivíduo possa experimentar, desenvolver e conferir suas habilidades de leitor
sendo capaz de atribuir significado ao que lê.
De fato, é preciso insistir na qualidade da escolarização básica. A todo momento, a
imprensa veicula os altos índices de exclusão, de evasão e de repetência dos alunos das séries
iniciais do Ensino Fundamental.
Esta qualidade é quase sempre analisada com o enfoque da leitura e da escrita. O
grande problema da escola é que todos aprendam a ler e a escrever, que todos possam fazer
uso da escrita e da leitura.
Por outro lado, o desafio de todo professor deve ser ajudar o aluno a ter bons motivos
para ler. E isso se faz, principalmente, através da convicção, do valor que atribui à leitura, do
entusiasmo em declarar-se um leitor. O professor, iniciando ou dando continuidade ao
processo de leitura dos seus alunos, tem uma real responsabilidade nesta aprendizagem. Ele
cada vez mais, tem de se conscientizar disto e pôr em prática estratégias variadas de leitura
para que seus alunos consigam interiorizar o prazer que o texto proporciona e incorporem em
suas vidas estes ensinamentos.
CONCLUSÃO
O propósito norteador da presente pesquisa foi a formação de leitores da rie do
Ensino Fundamental. Através dos questionários respondidos pelos alunos e professores e as
observações realizadas em sala de aula, ficou constatado que:
1) Os alunos concebem a leitura como um instrumento de aquisição de conhecimentos,
retratam que a sua função é facilitar a aprendizagem, porém não conseguem fazer do ato de
ler uma constante em suas vidas. Ainda continuam distantes de serem considerados bons
leitores e lêem por prazer;
2) A história dos alunos pesquisados em relação à leitura é marcada por contatos com o
mundo dos livros, embora a escola só trabalhe basicamente com o livro didático;
3) As professoras, embora exijam a leitura, não proporcionam momentos prazerosos para os
alunos adquirirem o hábito de ler, ensinando-lhes a função da leitura e, assim,
transformando-os em bons leitores;
4) A escola costuma explorar os textos com o propósito de responder questões previamente
formuladas a título de interpretação. Essa metodologia sempre esteve presente nas aulas de
Língua Portuguesa. Nesse sentido, a leitura é tida como finalidade, como busca de
informações, desperta maior interesse do professor e do aluno em explorá-la;
5) A escola continua utilizando a leitura como uma atividade a cumprir, uma obrigação, tendo
em vista uma avaliação de resultados. Não a concebe como processo em construção;
6) Os pais mesmo ajudando nas tarefas escolares e colocando que ler é importante, precisam
encontrar tempo para fazer leituras junto com seus filhos, pois o exemplo ajudará na
formação do cidadão leitor.
Mediante essa realidade, proponho alguns caminhos para que o ato de ler seja
vivenciado como uma atividade simples e prazerosa, a fim de que os professores os utilizem
em diferentes práticas escolares, fazendo da leitura um exercício fundamental à formação de
leitores cidadãos e críticos:
1) Transformar a escola no espaço do prazer de ler, realizando campanhas em prol da
valorização da biblioteca da escola ou do cantinho de leitura, ampliando o seu acervo e
promovendo intercâmbios de leitura no meio escolar entre professores e alunos de todas as
séries, para que possam trocar informações e sugestões;
2) Trabalhar projetos interdisciplinares envolvendo os pais, em que as leituras vivenciadas
possam aflorar a expressão artística dos alunos, nas artes literárias (contos, poesia, cordel)
no teatro, na dança, na música... Enfim, que se incorpore à leitura no dia a dia do espaço
escolar, valorizando suas produções culturais de forma prazerosa;
3) Explorar o aluno para a leitura e à produção textual com os recursos tecnológicos existentes
na escola: vídeos, som, computador e internet.
Então, é o professor o grande estimulador para despertar no aluno o gosto pela leitura
e o prazer de ler. Desde a entonação que ao texto, dando vida às palavras, até os
52
depoimentos dos livros que leu e que recomenda. E são os livros seu maior instrumento de
trabalho para que se efetivem práticas condizentes com as necessidades da formação de um
leitor crítico, dentro e fora da escola.
Portanto, o livro é um auxílio na tarefa de atingir uma meta educacional, de
desenvolver a personalidade dos estudantes e de possibilitar construção de conceitos sobre a
vida, o mundo, o ser humano e a sociedade.
REFERÊNCIAS
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BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Cultrix, 1977.
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para uma cidadania mundial. São Paulo, set. 1996. Disponível em: <http://base.d-p-
h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3576.html>. Acesso em: 02 fev. 2009.
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Leopoldo: Sinodal, 2004.
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Portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997. p. 42. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf >. Acesso em: 02 fev. 2009.
CALLEGARI-JACQUES, Sidia M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre:
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CARON, Lurdes. Educação religiosa escolar em Santa Catarina: conquista e concessão:
uma experiência ecumênica com enfoque na formação de professores. Tese (Doutorado)
Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 1995.
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graus. São Paulo: Cortez; Brasília – DF: INEP/MEC; Porto Alegre: CPL, 1989.
DUMONT, Lígia Maria Moreira. Os múltiplos aspectos e interfaces da leitura.
DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, v. 3, n. 6, dez. 2002. Artigo n. 5.
FERREIRO, Emília; PALÁCIO, Margarita Gómez. Os processos de leitura e escrita. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1987.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 28. ed. São
Paulo: Cortez, 1993.
______. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo:
Cortez, 1988.
______. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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JOLIBERT, Josette et al. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática,
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nos projetos da escola. Campinas-SP: Mercado de Letras, 1999.
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LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1983.
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LERNER, Délia. É impossível ler na escola? Lectura y Vida, São Paulo, ano 17, n. 1, mar.
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LOPES, Eliane M. T. Leitura: prazer e saber. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
MACHADO, José Nilson. Cidadania e educação. São Paulo: Escrituras, 1997.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico.
Petrópolis: Vozes, 1996.
PAULY, Evaldo Luiz. Ética, educação e cidadania: questões de fundamentação teológica e
filosófica da ética na educação. São Leopoldo: Sinodal, 2002.
PIAGET, Jean. O raciocínio na criança. Rio de Janeiro: Record, 1967.
55
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394 de 20 dez. 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 02 fev. 2009.
______. Nova redação ao Art. 33 da Lei n. 9.394. Lei n. 9.475, de 22 jul. 1997. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9475.htm>. Acesso em: 02 fev. 2009.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo:
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SILVA, Ezequiel T. da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
STRECK, Danilo. Correntes pedagógicas: aproximações com a teologia. Petrópolis: Vozes,
1994.
SUASSUNA, Lívia. Ensino da Língua Portuguesa: uma abordagem pragmática. Campinas:
Papirus, 1995.
VARGAS, Suzana. O prazer da leitura. Mundo Jovem. Porto Alegre, ano 38, n. 304, 2000.
ZIEGER, Lilian. Escola: um lugar para ser feliz. Canoas: Ulbra, 1999.
ANEXO A: Entrevista com alunos
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
57
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
58
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
59
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
60
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
61
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
62
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
63
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
64
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
65
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
66
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
67
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
68
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
69
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
70
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
71
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
72
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
73
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
74
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
75
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
76
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
77
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
78
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
79
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
80
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
81
Colégio Estadual Pedro Calmon
Aluno: ................................... Série: ..................................... Turma: ......................
ANEXO B: Entrevista com professores
Colégio Estadual Pedro Calmon
Professor (a): ............................................................
Disciplina que leciona: Língua Portuguesa, Série Ensino Fundamental
83
Colégio Estadual Pedro Calmon
Professor (a): ............................................................
Disciplina que leciona: Língua Portuguesa, Redação, 7ª e 8ª Séries Ensino Fundamental e 2º
ano Ensino Médio
84
Colégio Estadual Pedro Calmon
Professor (a): ............................................................
Disciplina que leciona: Literatura e Português, 6ª Série Ensino Fundamental e 1º ano Ensino
Médio
85
Colégio Estadual Pedro Calmon
Professor (a): ............................................................
Disciplina que leciona: Língua Portuguesa, 1º, 2º e 3º ano Ensino Médio
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