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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
AMANDA THAIS ESCUDEIRO VATRAS
DESIGN COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO:
A IMPORTÂNCIA DO DESIGNER DE MODA
PARA AS EMPRESAS DO VESTUÁRIO DE CIANORTE
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
São Paulo, março/ 2010
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
AMANDA THAIS ESCUDEIRO VATRAS
DESIGN COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO:
A IMPORTÂNCIA DO DESIGNER DE MODA
PARA AS EMPRESAS DO VESTUÁRIO DE CIANORTE
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design.
Orientadora: Profa. Dra. Kathia Castilho
São Paulo, março/ 2010
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
AMANDA THAIS ESCUDEIRO VATRAS
DESIGN COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO:
A IMPORTÂNCIA DO DESIGNER DE MODA
PARA AS EMPRESAS DO VESTUÁRIO DE CIANORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da
Universidade Anhembi Morumbi, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Design,
aprovada pela seguinte Banca Examinadora:
Profa. Dra. Kathia Castilho
Orientadora
Mestrado em Design Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Cyntia Malaguti
Examinadora Externa
Centro Universitário Senac São Paulo
Profa. Dra. Márcia Merlo
Examinadora Interna
Universidade Anhembi Morumbi
São Paulo, março/ 2010
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do
orientador.
AMANDA THAIS ESCUDEIRO VATRAS
Graduada em Gestão de Moda e Estilo (2004) e Especialista em
Cultura de Moda (2007). Atualmente, é professora da Universidade
Paranaense – Unipar. Tem experiência na área de planejamento
empresarial e de coleção no segmento do vestuário.
Ficha Catalográfica
V48d Vatras, Amanda Thais Escudeiro
Design como estratégia de gestão: a importância do
designer
de moda para as empresas do vestuário de Cianorte / Amanda
Thais Escudeiro Vatras. – 2010.
147f.: il.; 30 cm.
Orientador: Profa. Dra. Kathia Castilho
Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f.117-123
1. Design. 2. Designer de moda. 3. Estratégia de gestão.
I. Título.
CDD 741.6
Dedico este trabalho aos meus pais, Jorge e Marina, ao
meu irmão, Vinícius, e ao meu amor, Maurício.
As conquistas só possuem valor quando se pode dividi-
las com pessoas especiais, amorosas e, indispensáveis
como vocês.
Agradeço a Deus pelas inúmeras bênçãos alcançadas no decorrer desta caminhada.
Agradeço aos meus pais por possibilitarem e viabilizarem estes anos de
conhecimento. Obrigada pelo amparo, carinho, amor incondicional, conselhos, suporte
emocional e incentivos, infinitos incentivos. Sem vocês, definitivamente, não seria
possível e, não teria o mesmo sabor. Eu os amo!
Agradeço ao meu irmão pelo carinho neste tempo, incentivo e disponibilidade.
Realmente, não poderia ter escolhido um melhor “assessor”. Você foi maravilhoso e
indispensável, o que só fez aumentar o meu amor por você.
Agradeço ao meu amor Maurício, que surgiu juntamente com este desafio e foi
imprescindível. Não tenho como agradecê-lo por tudo o que fez. Eu sei o quanto você
se esforçou e o quanto fez para podermos permanecer juntos quando possível, mas,
acima de tudo, felizes. Mesmo na ausência, uma presença constante, nas flores,
cartões, mensagens, telefonemas. Guardo esta constância com muito amor em minha
memória e com a certeza de que tudo valeu e valerá à pena.
Agradeço à D. Inês pelas sábias e carinhosas palavras, seja nos momentos de tensão,
medo ou alegrias. Obrigada por compartilhar de sua experiência e ter proporcionado o
exercício de minhas reflexões como pessoa.
Agradeço à Kathia Castilho por ter sido a primeira incentivadora quando, em uma
banca de especialização, docemente disse a respeito do programa de Mestrado.
Obrigada por ter sido minha orientadora, por ter desempenhado o exercício da
compreensão quando precisei e por guiar-me pelos caminhos que desejava trilhar.
Saiba que seu sorriso, sua humildade e sua atenção fizeram toda a diferença. Você é
realmente especial e, por isso, espero cultivar estes laços por muitos e muitos anos.
Agradeço à Antonia, pelo empenho e competência implacáveis, desempenhados com
voz mansa, porém, firme, gestos delicados, porém, certeiros, e bom humor inabalável.
Obrigada por tudo, Totonha! Você é um exemplo de mulher, uma guerreira.
Agradeço aos amigos de Mestrado e agora da vida, Valéria e Cláudio. Obrigada, Léka,
pelos infinitos bons momentos. Desde o início, uma parceria implacável. Agradeço por
sua confiança, carinho, disponibilidade, teto, incontáveis ajudas, risadas e pela leveza
das palavras. Que possamos continuar cultivando esta amizade eternamente.
Obrigada, Cláudio, por compartilhar sem egoísmo seus conhecimentos, por ter sido
parceiro nos mais diversos momentos e oferecido ajuda quando solicitado. Você é
mais uma daquelas pessoas das quais se tem orgulho em dizer: este é meu amigo!
Agradeço aos empresários que disponibilizaram tempo e ideias quando solicitados
para a pesquisa deste trabalho.
Agradeço aos professores Cláudia Marinho, Gizela Belluzzo, Rosane Preciosa, Ana
Mae e Jofre Silva. Obrigada pelos inúmeros despertares.
Obrigada à Mônica Moura e Cyntia Malaguti, por terem proporcionado novas reflexões
e o aprimoramento desde trabalho pelo processo de Qualificação da Dissertação.
Agradeço à Lílian Tozatto por ter dividido suas aulas para o desenvolvimento do
estágio em docência. Obrigada pela disponibilidade e compreensão.
Agradeço à Universidade Anhembi Morumbi por ter sido mediadora de todas estas
experiências e descobertas por meio de sua estrutura.
Agradeço à CAPES por ter viabilizado, por meio de uma bolsa de estudo, a
concretização deste Mestrado.
RESUMO
Esta pesquisa se propõe a estudar o design como uma das possíveis
estratégias de gestão. Ao abordar temáticas variadas a respeito da
moda e seu sistema, assim como do design atrelado à gestão
empresarial, criatividade, empreendedorismo e inovação, dentre
outras, tentou-se explicitar a complexidade do design de moda nas
suas mais diversas facetas e aplicações. Por fim, a realização da
pesquisa de campo com alguns empresários de Cianorte colocada
em confronto com uma pesquisa realizada anteriormente com
acadêmicos de moda e design (2007) serviu como um termômetro na
compreensão de como anda este mercado local, reconhecido como
“A Capital do Vestuário” do Sul do país.
Palavras-chave: Design. Moda. Estratégia. Gestão
ABSTRACT
This study proposes to research design as one possible management
strategy, among others. After an approach to diversified topics on
fashion subject and its systems, as well as design linked to business
management, creativity, entrepreneurship, and innovation, etc., I tried
to clarify the fashion design complexity in its more diverse facets and
applications. At last, the field research accomplishment with some
Cianorte city business men, in comparision with a research previously
accomplished with fashion and design universitarian students (2007)
worked as a thermometer to understand how this local market was
operating, designed as “The capital city of clothing” in Brazilian South
Region.
Key-words: Design. Fashion. Strategy. Management.
Introdução....................................................................................................................10
Capítulo 1 – Sistema da Moda: compreendendo a cadeia produtiva de Cianorte-
PR..................................................................................................................................12
1.1. A moda...................................................................................................12
1.2. A moda como sistema............................................................................15
1.3. Obsolescência programada...................................................................20
1.4. A indústria do vestuário no Brasil: alguns dados...................................22
1.4.1. Indústria do vestuário do Paraná................................................24
1.4.2. Cianorte-PR: a capital do vestuário............................................24
1.4.2.1. O olhar do acadêmico de moda enquanto jovem
profissional para o mercado de Cianorte – PR...........................29
1.5. Entendendo o fluxo de produção. Processos de uma empresa de
confecção do vestuário: etapas do projeto de desenvolvimento para a
criação de moda.....................................................................................32
1.5.1. Cronograma de coleção............................................................34
1.5.2. Pesquisa de tendências e definição do tema da coleção..........35
1.5.3. Mix de produtos.........................................................................37
1.5.4. Escolha de tecidos, aviamentos e controle de estoque.............37
1.5.5. Desenho de estilo e desenho técnico........................................38
1.5.6. Reunião para aprovação dos croquis........................................39
1.5.7. Modelagem e prototipagem.......................................................40
1.5.8. Reunião de aprovação dos protótipos.......................................40
1.5.9. Alteração nos modelos, graduação e encaixe...........................41
1.5.10. Ficha técnica..............................................................................42
1.5.11. Formação do preço de venda....................................................42
1.5.12. Confecção do mostruário...........................................................43
1.5.13. Lançamento de coleção.............................................................43
1.5.14. Produção, controle de qualidade e vendas................................44
1.5.15. Arremate, etiquetagem, armazenamento e expedição..............46
Capítulo 2 – Compreendendo o design como estratégia de gestão......................47
2.1. Design, design de moda e o designer........................................................48
2.2. Gestão estratégica empresarial..................................................................52
2.3. Design como estratégia de gestão: características e vantagens................55
2.3.1. Planejando e desenvolvendo o produto.......................................62
2.3.1.1. Prazo e disciplina...........................................................65
2.3.1.2. Gestão da variabilidade.................................................66
2.3.2. O designer como líder para a interdisciplinaridade
empresarial........................................................................................................67
2.3.3. Empreendedorismo, criatividade e inovação versus cultura da
cópia..................................................................................................................68
2.3.4. Gerência de riscos.......................................................................75
2.4. Responsabilidade Social Empresarial........................................................77
2.5. Responsabilidade socioambiental e sustentabilidade................................81
Capítulo 3 – Aspectos metodológicos e os resultados da pesquisa de
campo...........................................................................................................................88
3.1. Especificação do problema.........................................................................88
3.2. Objetivos da pesquisa.................................................................................89
3.3. Tipologia de pesquisa.................................................................................90
3.4. Etapas da pesquisa empírica......................................................................91
3.5. Resultados identificados.............................................................................92
3.5.1. Algumas considerações a respeito das análises.......................107
3.5.2. Confrontando as pesquisas........................................................110
Considerações finais................................................................................................114
Referências bibliográficas...........................................................................................117
Referências eletrônicas...............................................................................................119
Anexo 1 – Investigação quantitativa realizada em 2007 com os estudantes dos últimos
anos dos cursos de graduação em Moda e Design da cidade de Cianorte-PR..........123
Anexo 2 – Questionário aplicado aos empresários de moda de Cianorte-PR............143
10
Introdução
O anseio em desenvolver um trabalho que tratasse do design como uma das possíveis
estratégias de gestão para as empresas do vestuário, aliado a um estudo de campo
que pudesse retratar, a partir de uma pequena amostragem, qual a importância dada
aos designers pelos empresários de moda, se deu mediante uma pesquisa realizada
no ano de 2007, que revelou a insatisfação dos alunos dos últimos anos das
graduações existentes em Cianorte - PR quanto à receptividade no mercado de
trabalho e à desvalorização como jovens sem experiência profissional.
Para uma melhor compreensão do estudo proposto, o primeiro capítulo recebeu o
título de “Sistema da Moda: compreendendo a cadeia produtiva de Cianorte – PR”. Por
meio de temáticas como: a moda como sistema; a obsolescência programada; a
indústria do vestuário no Brasil, no Paraná e em Cianorte - PR; além da sequência
aplicada ao fluxo de produção de uma empresa por meio do projeto de
desenvolvimento para a criação de moda. Procuramos explicitar o funcionamento da
cadeia produtiva da cidade, utilizando, como complemento para este objetivo, dados
relevantes da pesquisa realizada em 2007.
“Compreendendo o design como estratégia de gestão” é o título do segundo capítulo,
em que houve a tentativa de explicitar a relevância do design para as empresas de
moda enquanto possibilidade estratégica. Para isso, foram abordados assuntos
pertinentes às atividades do designer como: a gestão estratégica empresarial, as
características do design como uma atividade estratégica de gestão e suas vantagens,
além de questões referentes à responsabilidade social empresarial, responsabilidade
socioambiental e sustentabilidade.
O terceiro e último capítulo: “Aspectos metodológicos e resultados da pesquisa de
campo”, é composto por dados relevantes e resultados da pesquisa realizada. Neste
momento, explicitaram-se os problemas, os objetivos e a tipologia referentes à
pesquisa desenvolvida, além das etapas realizadas para o desenvolvimento da
pesquisa e os resultados identificados.
Levantar questionamentos e apontamentos pela análise dos questionamentos
aplicados a alguns empresários de moda da cidade e, pelo confronto da pesquisa
11
desenvolvida em 2007, certamente foi um caminho encontrado para viabilizar o
surgimento de novas discussões e, até mesmo, o anseio de planos de ações que
proporcionem a maximização deste mercado de moda que conforme veremos, por
meio da pesquisa de campo, ainda possui muito caminho para trilhar.
12
Capítulo 1 – Sistema da Moda:
compreendendo a cadeia
produtiva de Cianorte - PR
Por abordarmos um polo de moda
regional, torna-se pertinente tocar
em temáticas que explicitem e
exemplifiquem a dinâmica da moda
como fenômeno e sistema, além de
dados pertinentes quanto aos
setores nacional, estadual e
regional, e as numerosas atividades
envolvidas na produção de artigos
deste segmento, o do vestuário.
1.1. A moda
O termo moda tem origem na
palavra latina modus e, em seu
significado de maior amplitude, quer
dizer escolha; esta, por sua vez, é
estabelecida perante um gosto
pessoal, significando “modo”. Falar
em moda nos remete, na maioria
das vezes, ao vestuário, foco do
estudo em questão. Mas: “moda é
modo, é maneira, é
comportamento” (Braga, 2005:15).
Portanto, tem um caráter muito
mais abrangente, incluindo a
arquitetura, as indústrias
automobilística e moveleira, a
decoração. Existe ainda o cabelo
13
da moda, o celular da moda e até mesmo o nome de batismo da moda, dentre outros
usos, que caracterizam principalmente a diferenciação com a adoção da novidade em
detrimento daquilo que existe e que, de certa forma, tornou-se corriqueiro. “Ainda
podemos entendê-la como um processo de regulamentação social no qual o gosto
individual se ajusta ao social, que dita regras, as quais se deve fazer referimento;
essas determinam periodicamente o que, em cada época, está na moda” (Conti in
Pires, 2008: 223).
Muitos fatores são indicados como possíveis propulsores para o uso da vestimenta,
dentre eles: adorno, proteção, pudor e diferenciação. O processo de civilização teve
início em regiões mais quentes e as formas de vestimentas caracterizavam-se como
decorativas por meio do uso de prezas, garras, ossos, peles, penas, pedras e
conchas. Já neste momento, era possível perceber a vestimenta como forma de
distinção pessoal, pois, ao exibir uma grande preza, o homem era reconhecido como
um bom caçador, além do credo de que, por exemplo, “vestindo a pele de animais
anteriormente caçados, ele adquiria a força daquele animal” (Treptow, 2005: 24). A
vestimenta como caráter de proteção se justifica pela existência das intempéries,
como frio, chuva, neve, sol, além de elementos imprevistos como insetos e possíveis
ataques de agressores. Já o ato de vestir-se por pudor possui caráter bíblico e traz
consigo as concepções de pecado e de vergonha.
Inicialmente, a roupa era estabelecida mediante recursos e tecnologias disponíveis.
Exemplo disso são as civilizações antigas: os assírios, povo guerreiro e nômade,
usavam roupas de lã, pois podiam facilmente deslocar seus rebanhos conforme a
conquista de uma nova terra. Os egípcios, por sua vez, faziam o uso de roupas
confeccionadas com fibras de linho cultivado às margens do rio Nilo, onde fixaram
morada. As vestimentas são capazes de exemplificar uma época, delimitar períodos,
retratar um povo, assim como sua cultura e seus hábitos.
Mas quando, de fato, surgiu a moda? Tratar da história da indumentária, do vestuário
e da moda não caracteriza aqui o nosso objetivo, mas Liporvetsky nos ajuda a
compreender quando e como essa atividade tão presente em nossa
contemporaneidade se iniciou:
Durante dezenas de milênios, a vida coletiva se desenvolveu sem culto das
fantasias e das novidades, sem a instabilidade e a temporalidade efêmera da
14
moda, o que certamente não quer dizer sem mudança nem curiosidade ou gosto
pelas realidades do exterior. Só a partir do final da Idade Média é possível
reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas
metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias. A
renovação das formas se torna um valor mundano, a fantasia exibe seus artifícios
e seus exageros na alta sociedade, a inconstância em matéria de formas e
ornamentações já não é exceção, mas regra: a moda nasceu (Lipovetsky, 1989:
23).
Roupa pode significar proteção, cultura, identidade e, até mesmo, linguagem, mas,
como afirma Filipecki (in Feghali e Schmid, 2008: 9-10), roupa “é também, desde a
primeira Revolução Industrial, mercado de trabalho. Um mercado que se tornou
complexo, envolve inúmeros tipos de profissionais e exige uma qualificação cada vez
maior de seus pares, premissa fundamental na atividade criadora”. A moda não só tem
seus significados, como também é negócio: gera emprego, movimenta o mercado
desde os fornecedores de matéria-prima aos vendedores e vem alcançando
patamares cada vez mais elevados de notoriedade na mídia e na própria sociedade.
Conforme constatamos no decorrer da história, apesar da existência da indumentária,
é somente no final da Idade Média que começa a se falar em moda no sentido que
conhecemos hoje: “movimento cíclico, mudança permanente na forma de trajar”
(Castilho e Martins, 2005: 32). A moda passa a ser aceita, propagada e abandonada
para então ter seu ciclo reiniciado e, conforme retrata Filipecki, a moda dita tendências
e procura, por todos os meios, que elas sejam seguidas (in Feghali e Schmid, 2008:
10). “Este processo, independentemente de seu objetivo, possui duas facetas
singulares: a busca pela individualidade e a necessidade de integração social, sendo
assim compreendida como fenômeno psicossocial” (Miranda, 2008: 17).
Transitória, efêmera e passageira é a moda. Premissa para a moda é a novidade. Mas
o que seria realmente novo em nossa contemporaneidade? O passado sempre nos
serve de inspiração para releituras, outros países acabam ditando algumas
tendências, a tecnologia de ponta está sempre a favor da moda, customizamos e, até
mesmo, buscamos peças antigas. As pessoas se vestem para elas mesmas e para o
outro, buscando a diferenciação e o reconhecimento. Paradoxal moda: “Queremos
estar na moda para sermos diferentes, contudo, ficamos iguais entre aqueles que se
acham diferentes” (Braga, 2006b: 36).
A moda precisa sempre encontrar maneiras de se reinventar; nasce e renasce a
cada novo pensamento, na velocidade da informação, alimentando-se dos
15
acontecimentos, dos comportamentos do aqui e agora, propondo-se,
democraticamente, a servir a todos (Filipecki in Feghali e Schmid, 2008: 10).
Talvez, o maior desafio para a moda seja convencer o consumidor a comprar novos
itens, que, na verdade, não são tão novos assim, pois se assemelham aos numerosos
já adquiridos e que, certamente, abarrotam guarda-roupas. “O ciclo de moda é um
processo no qual o que era “in” agora é “out”, o que era atrativo ontem agora é cafona”
(Miranda, 2008: 67) e é esse tipo de imposição que pratica a obsolescência
programada
1
dos bens. A indústria da moda é uma verdadeira máquina de persuasão
que motiva os consumidores por meio de sonhos e desejos, pois “a busca está no que
não está. A ausência, a falta é que impulsiona o desejo” (Miranda, 2008: 49).
1.2. A moda como sistema
No início do século XX, Georg Simmel, falava da moda como a imitação de um modelo
pré-estabelecido que objetivava se consolidar como uma moda de classe. A moda
seria, então, um indicador de diferenciação entre as pessoas, de acordo com seu
posicionamento social, fazendo com que as classes altas se distinguissem das
inferiores até que estas últimas iniciassem um processo de imitação na tentativa de se
igualar à elite que, por sua vez, abandonava o alvo de imitação para adotar novas
modas. Fica claro que “a moda tem ligação com o prazer de ver, mas também com o
prazer de ser visto, de exibir-se ao olhar do outro” (Lipovetsky, 1989 apud Castilho e
Martins, 2005: 35) e que o “ato de consumir está além do de possuir” (Miranda, 2008:
14). A moda está além da funcionalidade, pois proporciona comunicação por meio de
símbolos. Apresenta-se como um mecanismo que nos possibilita demonstrar para o
outro, por meio de signos
2
, não só aquilo que somos, mas o que gostaríamos de ser,
caracterizando assim, um consumo simbólico
3
.
O consumo simbólico indica que os produtos não são mais adquiridos somente por
sua utilidade funcional, mas por seu significado social. Solomon (1983) aponta que
esta nova faceta do consumismo possui três características fundamentais: “o conceito
1
Abordada a seguir, no tópico 1.3
2
“O signo é, pois, composto de um significante e um significado. O plano dos significantes constitui o plano de
expressão e dos significados o plano de conteúdo” (Barthes, 1997: 43).
3
Ver: Miranda, 2008: 21-43.
16
do eu baseado no que os outros pensam; o conceito que o próprio indivíduo tem de si
e que direciona o seu comportamento e; a percepção que o indivíduo tem das
respostas dos outros” (apud Miranda, 2008: 36).
As pessoas abandonam uma determinada moda para não correrem o risco de ser
ridicularizadas e, até mesmo, para não sofrerem algum tipo de exclusão social. Estas
desejam ser reconhecidas por estarem antenadas ao que há de mais inovador no
mercado; querem seduzir, demonstrar status e poder, sendo este tipo de
reconhecimento, fonte de prazer.
Todo o conjunto de objetos que estiver unido por relações funcionais pode ser
considerado um sistema (A. Moles, 1971: 114). (...) A Coleção é um sistema
particular (diferente de outros campos), tanto pela lógica de montagem, que
apresenta princípios de complementaridade entre diferentes produtos que serão
utilizados sobre o corpo, quanto por sua projeção temporal e seu caráter efêmero
(Fiorini in Pires, 2008: 108).
A moda só pode ser reconhecida como um sistema, pois é de tempos em tempos
reinventada por um restrito grupo que provoca o desejo de compra do novo na massa
de consumidores. Este característico fenômeno da moda é um tanto quanto complexo,
pois trata de uma evolução desenfreada de hábitos e costumes impostos a uma
coletividade que é convencida a adotá-los como se fosse algo quase que exclusivo.
“Estruturalmente o signo da moda é arbitrário: não é o efeito nem uma evolução
progressiva, nem um sentido coletivo; nasce bruscamente por decreto” (cf. Barthes,
1970: 45 apud Conti in Pires, 2008: 224).
Para que haja moda, Blumer (1969) expõe seis condições essenciais:
”A área na qual a moda opera deve estar envolvida em movimento de mudança,
com pessoas prontas para revisar ou descartar velhas práticas, crenças e
afinidades, e adotar novas formas sociais.
A área deve estar aberta para a apresentação de modelos ou propostas de novas
formas sociais.
Deve haver oportunidade para exercer liberdade de escolha entre os modelos.
A moda não é guiada por considerações utilitárias ou racionais.
A percepção de figuras de prestígio que compartilhem de um ou outro modelo.
17
A área deve estar aberta para emergir novos interesses e disposição em reposta
ao impacto de eventos externos, a introdução de novos participante na área e
mudanças na própria interação social” (apud Miranda, 2008: 65-66).
O sistema da moda provocou profundas modificações nas organizações no decorrer
dos anos e, apesar de sua complexidade, demonstrou-se, ao mesmo tempo,
extremamente organizado, mantendo uma contínua relação entre vida, gosto social,
exigências individuais e mercadológicas. Conforme Abruzzese (2001: 216), este
sistema pode ser destacado em três fases distintas:
Sistema moda tradicional: a alta-costura, de 1858
4
a 1968.
Sistema moda reformado: o acontecimento do prêt-à-porter
5
, de 1968 a 1994.
Post-fashion: o prêt-à-porter a partir de 1994 (apud Conti in Pires, 2008: 225).
O ciclo da moda diz respeito ao tempo de duração de uma determinada moda que se
limita entre o momento de sua adoção até o seu abandono. “Em resumo, a moda é um
fenômeno social de caráter temporário que descreve a aceitação e a disseminação de
um padrão ou estilo pelo mercado consumidor até sua massificação e consequente
obsolescência como diferenciador social” (Treptow, 2005: 26).
Consultando alguns autores como Treptow (2005: 27), Davis (1992 apud Miranda,
2008: 66-67) e Sproles (1981 apud Garcia e Miranda, 2007: 70), podemos dizer que
este ciclo segue a seguinte ordem: Invenção / Introdução / Lançamento Liderança
de Moda Incremento da visibilidade social Conformidade / Consenso / Consumo
Massificação Saturação social / Desgaste / Declínio / Obsolescência.
A invenção é, na verdade, o momento de criação de determinada peça e/ ou coleção
de moda; momento este repleto de referências e tendências, no qual ocorre uma
busca de itens de moda pelo designer que deseja algo inovador para ser inserido no
mercado.
4
Foi neste ano que Charles Frederick Worth introduziu o conceito de estações (primavera/ verão; outono/ inverno)
para os trajes, o que significou uma verdadeira revolução, pois, pela primeira vez, podia-se mudar frequentemente as
roupas e o estilo após o término de um tempo estabelecido. Worth ainda inova ao ‘assinar’ sua ‘obra’, originando o
conceito de marca que temos hoje, com suas etiquetas de identificação.
5
O sistema da moda evoluiu: o surgimento do prêt-à-porter, isto é, da produção industrial e da distribuição em larga
escala, ampliou ao máximo a formalização das
estratégias comerciais e estéticas, bem como o grau de consciência na
manipulação das representações (Giusti in Sorcinelli, 2008: 121).
18
A liderança de moda é representada por uma pequena parcela de consumidores
conscientes e ávidos por novidade e que, geralmente, são compradores de lojas de
varejo, membros da imprensa de moda, fashionistas
6
e celebridades. Graças aos
líderes de moda, ocorre o incremento da visibilidade social, ou seja, a moda em
questão é divulgada por meio de campanhas publicitárias e pela própria imprensa,
promovendo a visibilidade social e o desejo de compra e, assim, outros consumidores
passam a aderir a essas novidades, tornando-as legítimas pelas forças de
conformidade, de comunicação e de marketing de massa que propagam sua adoção
7
.
Simultaneamente ao início da massificação, a moda se satura, pois já se tornou
cotidiana e comum. A moda já foi fadada ao declínio, pois seus líderes
8
já adotaram
outras novidades e estão influenciando o recuo dos antigos hábitos. O ciclo acima
descrito é extramente rápido, e é por isso que as estratégias devem ser voltadas para
diminuir ao máximo o tempo de adoção, pois o grupo que está acima procura
monitorar os que estão abaixo dele para fugir do que estiver sendo imitado: “por isso
há busca incessante de novas modas, que perpetuam o ciclo de mudança da moda,
(...) ao mesmo tempo em que une membros de um determinado grupo, segrega um
grupo em relação a outros” (Miranda, 2008: 61).
O sistema da moda não é composto apenas por motivações sociais, comportamentos
individuais e por seguidores. É importante lembrarmos que estas interações só são
possíveis devido a uma outra rede de relacionamento que cria, desenvolve e abastece
todo o sistema com produtos que serão visualizados, desejados, adquiridos e
utilizados, ou seja, as empresas de vestuário.
O designer tem aqui papel fundamental para que este ciclo seja completado com êxito
e a empresa adquira estabilidade no mercado. Para Giusti, o que permaneceu
constante e consegue distinguir a indústria da moda das outras, até hoje, “é a
capacidade de pré-estabelecer, criar e impor conjuntos de representações de produtos
6
Termo utilizado para designar pessoas de vanguarda que criam um visual próprio com muita criatividade, atitude e
até mesmo irreverência. Podem, num primeiro instante, causar estranhamento, mas, muitas vezes, acabam
influenciando uma moda ou um comportamento.
7
Vale lembrar que este modelo de disseminação da moda é conhecido como trickle-down: camadas privilegiadas
iniciam a adoção de determinada moda, que será seguida por grupos subordinados. Há que se levar em conta que, em
contrapartida e menos frequentemente existe o trickle-up: tendência de moda gerada nas camadas sociais mais baixas,
a chamada moda de rua que, para ser adotada como moda, acaba tendo que receber uma espécie de ‘aval’ da classe
alta, para só então ser adotada pelos outros extratos sociais.
8
Miranda (2008: 63) enfatiza ainda mais a complexidade da moda ao salientar que os consumidores tendem a ser
mais influenciados pela opinião de líderes que são seus similares, podendo cada grupo social ter os seus próprios
inovadores de moda, que determinam as tendências.
19
que fazem da moda um código estético dominante por meio da coordenação da
demanda e da oferta com o mínimo de incerteza empresarial” (in Sorcinelli, 2008:
123). Esta dinâmica demonstrou-se tão eficiente que a indústria automobilística tem
feito apropriações de algumas dessas estratégias para gerar uma maior rotatividade
de veículos novos, que vão muito além do inesquecível modelo T da Ford
9
e da
pretensão de Henry Ford ao dizer, no ano de 1926, que o freguês poderia escolher
qualquer cor para o seu carro Ford, desde que fosse preto. Quanta mudança, não?
Hoje, o cliente não só tem à sua disposição uma cartela de cores, como pode optar
por uma infinidade de acessórios a serem incorporados em seu veículo.
Muitas empresas de moda possuem uma estratégia de desenvolvimento e
comercialização voltada para o produto. Essas empresas são, em sua maioria, muito
criativas e desenvolvem produtos com design e matéria-prima de ótima qualidade. O
problema consiste em como comercializar um produto que não foi desenvolvido a
partir de uma pesquisa mercadológica.
O marketing apresenta-se à empresa como um modo de enfrentar a competição,
partindo não do produto, mas do mercado. Certamente uma inversão da
perspectiva gerencial como a que propõe o marketing nem sempre tem fácil
acolhida entre as empresas habituadas a criar produtos e só depois resolver o
problema de como comercializá-los (Manaresi in Sorcinelli, 2008: 134).
É importante que as empresas tenham a consciência de que o desenvolvimento de um
determinado produto deve estar de acordo com a identidade empresarial e com as
tendências de mercado que devem ser direcionadas ao público-alvo. Há que se tentar
estabelecer um estilo e, consequentemente, uma identidade.
As empresas que se orientam apenas para o produto podem ser menos lucrativas,
pois a formação de preço é feita exclusivamente com base nos custos de produção,
que nada mais é do que o levantamento de todos os custos somado a uma margem
que representará a lucratividade da empresa. Manaresi defende que a determinação
do preço não deve ser apenas um processo contábil interno:
Mas sim um procedimento complexo, fruto da racionalização dos dados de
mercado e da competição conforme o critério da estratégia com a qual a empresa
decide competir. As análises de mercado (consumidores, distribuidores) e da
9
A Ford pretendia que o modelo T fosse uma espécie de carro universal: forte, durável, econômico. Ou seja, um
veículo essencialmente utilitário. Durante muitos anos, o próprio Ford alardeou que o modelo T seria o carro
definitivo, o único modelo que sua empresa produziria para todo o sempre, acrescido apenas de mudanças técnicas
eventuais (Cardoso, 2004: 103).
20
concorrência, efetuadas com o objetivo de escolhas capazes de garantir a
rentabilidade do investimento na empresa (in Sorcinelli, 2008: 136).
Podemos afirmar que a moda como sistema trata-se de uma complexa relação entre
empresa, criadores, mercado e consumidores, em que um é dependente e inexiste
sem o outro. Os designers, por exemplo, só concretizam seu trabalho por meio da
produção nas empresas, da aceitabilidade no mercado e da interferência dos
consumidores, que exaltam e aderem ao novo com a mesma rapidez que o descartam
e o ridicularizam, e vice versa. Por estes motivos é que dizemos: mutante, paradoxa e
inconstante moda...
1.3. Obsolescência programada
A obsolescência
10
é a principal característica que permite a atuação da moda como
sistema. Na verdade, o que existe é uma obsolescência programada, ou seja,
provocada, pois é por meio da alternância da moda que as organizações se mantêm
ativas no mercado mediante estratégias que geram o desejo de compra nos
consumidores, e este é o motivo por termos “modas” cada vez menos duráveis e mais
transitórias.
A indústria da moda orienta-se segundo o princípio de obsolescência planejada,
processo ideológico que imerge a propriocepção dos consumidores nos
significados culturais e ideais sociais, promovendo estado perpétuo de insatisfação
com o estilo de vida e com a aparência física do momento. Sendo assim, a análise
do ciclo de vida da moda e dos movimentos de adoção dos diferentes estilos de
vestir é fundamental para o desenho das estratégias mercadológicas e de
comunicação, pois visa a determinar a duração de uma tendência e prever a
introdução de novos estilos (Garcia e Miranda, 2007: 71).
Como vimos anteriormente, busca-se diferenciação com a moda. A obsolescência
programada faz uso desta característica para agir, pois, ao passo que a moda começa
a perder seu valor devido ao grande número de adeptos, a indústria se ocupa de
lançar novidades para que a elite
11
possa se diferenciar da não-elite. Podemos dizer
que a dinâmica da mudança da moda ocorre com a diferenciação e da imitação
12
.
10
Envelhecimento moral: promove renovação e rejuvenescimento iminentes, novas aventuras, novas sensações e
novas alegrias (Bauman, 2008: 112).
11
Falamos aqui da elite como um grupo de liderança na moda, seguido pelos demais, pois é o grupo com maior
notoriedade nos meios de comunicação e representam um importante e ágil disseminador de informações e
21
A vida e a morte das tendências, lembradas por Erner, não se limitam apenas às
nossas roupas: “a alimentação, o turismo e o automóvel são alguns dos diversos
setores atualmente submetidos à sua vontade. Em cada um deles, novas tendências
nascem, se divulgam e morrem” (in Bueno e Camargo, 2008: 215). Mas, com tamanha
transitoriedade, o que realmente está na moda? Podemos desenvolver uma análise
sob duas perspectivas diferentes. Como vimos, a moda caracteriza-se como sistema
quando é aderida pela massa. Acontece que, quando uma moda é massificada, os
líderes deste sistema já lançaram outras. Portanto, o que estaria na moda: o que se
massificou e foi abandonado pela elite ou a novidade adotada pelo grupo superior?
Não se distingue mais o que é velho e ultrapassado. Resta apenas vestir o atual,
que não cessa de nascer, morrer e passar. Esse funcionamento institucional que
financia o circo de representações e criações permanentes não impede que roupas
genuinamente originais e novas sejam criadas, mas elas sempre cairão,
obrigatoriamente, na obsolescência (Feghali in Feghali e Schmid, 2008: 45).
Esta é uma discussão um tanto quanto complexa, pois o que outrora foi lançado e
aceito, num segundo momento é renegado pelos próprios autores para se reiniciar o
ciclo, demonstrando que é preciso haver a “morte” de uma moda para que outra possa
reinar com seu caráter de novidade.
Mas moda é isso mesmo: uma satisfação momentânea, ou seja, uma eterna
insatisfação da satisfação. Sendo assim, continuamos a ser escravos daquilo que
nos diferencia, nos estiliza e nos confere status, portanto, agradável aos olhos da
condição humana (Braga, 2005: 23).
Fica claro que somos instigados a comprar o tempo todo produtos que, na verdade,
não são necessários para nossa existência, e é por isso que Baudrillard (1997 apud
Miranda, 2008: 41) rejeita a ideia de que o consumo esteja atrelado às nossas
necessidades, mas acredita que todos nós somos manipulados pelas campanhas
publicitárias, pois buscamos ser exatamente aquilo que compramos, ou seja,
compramos uma ideia, um significado.
A obsolescência pode representar uma faca de dois gumes para as organizações, pois
ao mesmo tempo em que instiga as vendas, exige muito do designer, que, por sua
vez, precisa anteceder tendências que ainda nem se manifestaram e dar conta de
tendências. Mas, como já salientamos, uma moda pode surgir de qualquer lugar: da elite, do subúrbio ou com artistas.
O que é certo é que se trata de um triângulo, em que uma pequena parcela propaga a nova ideia ao todo.
12
O indivíduo possui tendência psicológica à imitação, esta proporciona a satisfação de não estar sozinho em suas
ações. (...) A necessidade de imitação vem da necessidade de similaridade (Miranda, 2008: 25).
22
coleções com ciclos de vida cada vez menores. É por estas características que
Bauman afirma que “a vida de consumo é uma vida de aprendizado rápido e
esquecimento veloz” (2008: 124).
Numerosas outras questões envolvem o ato de consumir, conforme a indústria da
moda nos instiga por meio da obsolescência programada. O excesso é uma das mais
polêmicas questões quando pensamos em meio ambiente e sustentabilidade. Não
poderíamos deixar de tocar no assunto, que será tratado posteriormente, porém não é
o objetivo desta dissertação esgotar estes temas, mesmo porque isso não seria
possível, e, sim, incentivar a reflexão e, quem sabe, futuras pesquisas.
1.4. A indústria do vestuário no Brasil: alguns dados
O Brasil é um país multicultural por essência, possui uma significativa extensão
territorial que promove a biodiversidade e uma expressiva variedade cultural que
refletem na produção e no tratamento de artigos têxteis, assim como na criação de
moda. Sabemos que, por muito tempo, a moda brasileira foi quase que inteiramente
fruto da cultura da cópia. Hoje, porém, temos uma moda genuinamente nacional que
desponta não só em nosso país como em âmbito internacional com nomes como:
Alexandre Herchcovitch, Carlos Miele, Ellus, Havaianas, Iódice, Melissa, Osklen e,
Rosa Chá
13
, dentre outros.
A ABIT, Associação Brasileira da Indústria Têxtil
14
, representa a força produtiva de
mais de 30 mil empresas de todos os portes instaladas por todo o território nacional
que geram cerca de 1,7 milhões de empregos em toda a sua cadeia: das fibras, fios e
tecelagem, à confecção, que juntas somam anualmente 9,8 bilhões de peças de
vestuário, com R$ 43 bilhões de faturamento. Segundo a ABIT, o Brasil é considerado
a sexta maior indústria têxtil do mundo, com autossuficiência na produção de algodão,
e é o segundo principal fornecedor de índigo e o terceiro de malha. O país representa
hoje um dos oito grandes mercados de fios, filamentos e tecidos do mundo. Quando
13
Ver: http://herchcovitch.uol.com.br; http://www.carlosmiele.com.br; http://www.ellus.com.br;
http://www.havaianas.com
; http://www.iodice.com.br; http://www.melissa.com.br; http://www.osklen.com;
http://www.rosacha.com.br
14
Ver: http://www.abit.org.br
23
se refere ao público-alvo, a Associação revela que as mulheres são as grandes
consumidoras de moda do país, sendo a moda feminina representada por 41% da
produção total, a masculina por 35%, a moda infantil por 18%, e a chamada moda
bebê por 5%.
Para auxiliar as empresas brasileiras a crescerem nacional e internacionalmente, a
ABIT, com parceria da ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportação e
Investimentos -, criou, em 2001 o Programa Texbrasil – Programa Estratégico da
Cadeia Têxtil Brasileira
15
. Este programa visa a apoiar e preparar as empresas do
setor para apresentarem, de maneira organizada, os produtos brasileiros no mercado
internacional.
E é neste cenário de incentivos que, em 2003, nasceu a ABEST – Associação
Brasileira de Estilistas
16
-, com o objetivo de fortalecer e promover o design e a moda
por meio do auxílio no desenvolvimento de marcas brasileiras de alcance
internacional, garantindo a sua autenticidade e criatividade, além, é claro, de divulgar o
Brasil. Isso contribui para o crescimento de todos os segmentos vinculados à moda.
A ABEST iniciou suas atividades com apenas cinco integrantes
17
e US$ 600 mil em
exportações. Esses números foram aumentando ano a ano e, em 2008, a Associação,
em parceria com a ApexBrasil, investiu R$11 milhões em novos projetos que renderam
US$ 20 milhões em exportações. Atualmente, a Associação conta com 53 marcas
associadas de todo o Brasil, exportando produtos para 48 países.
Apesar de todos estes incentivos e amparos para a exportação, a grande maioria das
indústrias de moda brasileiras é formada por pequenas empresas, que veem nos 200
milhões de consumidores uma certa estabilidade financeira para os negócios. Não é
nosso intuito fazer apologia à exportação, mas apenas relatar algumas possibilidades
para a moda de nosso país que, por mais que tenha melhorado, ainda enfrenta
problemas pontuais quanto ao investimento em pesquisas, planejamento de produto,
qualidade e divulgação.
15
Ver: http://www.abit.org.br/site/texbrasil
16
Ver: http://www.abest.com.br
17
Alexandre Herchcovitch, Amir Slama, Lino Villaventura, Serpui Marie, Walter Rodrigues
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/moda8/mo1212200314.shtml
24
1.4.1. Indústria do vestuário do Paraná
Segundo dados do Departamento Econômico da FIEP – Federação das Indústrias do
Estado do Paraná
18
-, o setor têxtil é o segundo que mais emprega entre toda a
indústria do estado. O Paraná conta com 5.400 indústrias, sendo a maioria micro e
pequenas empresas que somam cerca de 89 mil trabalhadores, o que representa
6,8% de todos os empregos do setor no país e lhe dá a segunda posição de maior
polo de confecção brasileiro, perdendo apenas para Santa Catarina, com destaque
para as regiões de Blumenau e Itajaí.
Um dos pontos positivos da indústria têxtil paranaense é a descentralização da
produção, já que existem indústrias por todas as regiões do estado. A região central
detém 42% das indústrias do setor, seguida pela região noroeste e metropolitana de
Curitiba, com 18,17% e 13,13% respectivamente, produzindo ao todo cerca de 150
milhões de peças anuais. Isso rende uma média de R$ 4 bilhões. Kolovski afirma que
“o Paraná tem um potencial gigantesco no cenário nacional da moda. Além de
inovação e preocupação com a qualidade, o que diferencia os empresários
paranaenses é a união entre os sindicatos do setor para o fortalecimento da
indústria”
19
.
O Sistema FIEP apoia o desenvolvimento do setor de confecção e vestuário por meio
dos APLs – Arranjos Produtivos Locais. Em todo o estado, são seis APLs ligados ao
setor, englobando cerca de 2.000 empresas que empregam diretamente quase 30 mil
pessoas na produção do vestuário
20
.
1.4.2. Cianorte - PR: a capital do vestuário
O município de Cianorte, localizado no noroeste do estado do Paraná, com área de
802.500 quilômetros quadrados e aproximadamente setenta mil habitantes, é
conhecido nacionalmente como “A Capital do Vestuário” e possui um APL – Arranjo
18
Ver: http://www.fiepr.org.br
19
Dados coletados em: http://www.parana-online.com.br/colunistas/56/66188/?postagem=A+FORCA+DO
20
Dados coletados em: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=75502&t=estado-fatura-r-4-bi-com-150-mi-de-
pecas-de-roupa
25
Produtivo Local - composto por 14 municípios
21
. Na década de 1940, a notícia que
chegava ao interior paulista, mineiro e outras regiões do país era a da promessa de
prosperidade no norte do Paraná, onde o solo era roxo e fértil. Atraídos pela promessa
de riqueza, famílias chegavam à região e ficavam maravilhadas com a perspectiva de
um futuro melhor.
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, colonizadora e fundada por ingleses,
era responsável pela venda de lotes de terra aos desbravadores que chegavam a
Cianorte e região. Isso fazia com que toda a economia fosse baseada na agricultura,
principalmente na cafeicultura, crescendo e prosperando até meados de 1970. No final
desta mesma década, a situação mudou em consequência das geadas e da política
econômica do setor. Com a decadência do café, surgiram o desemprego e o êxodo
rural. Em meio à crise que castigava toda a região, Cianorte buscou uma alternativa
para reverter o quadro, apostando na industrialização. Empresários, comerciantes e
antigos produtores rurais adquiriram máquinas e investiram no setor de confecção do
vestuário, empregando e qualificando mão-de-obra em parceria com o Poder Público
Municipal, entidades representativas de classes, técnicos e instrutores e, já na década
de 1980, Cianorte se apresentava como um modesto polo de pequenas empresas
22
.
A grande prova de que Cianorte é referência nacional da indústria do vestuário é a
Expovest – Feira Exposição do Vestuário
23
-, criada em 1989 durante a festa do
aniversário da cidade por um grupo de cinquenta empresários ligados ao setor de
confecção. A primeira edição ocorreu sob barracões de lona, com a participação de
noventa expositores. Nos anos seguintes, o evento seguia o mesmo formato, porém,
com números cada vez mais elevados e satisfatórios, mesmo com a competição dos
produtos importados da China e da Coreia devido à abertura comercial promovida pelo
governo Collor. Isso provocou a falência de algumas empresas.
21
Cianorte, Cidade Gaúcha, Guaporema, Indianópolis, Japurá, Jussara, Rondon, São Manoel do Paraná, São Tomé,
Tapejara, Tuneiras do Oeste, Nova Olímpia, Tapira Terra Boa.
22
Ver: homenagem aos 56 anos de Cianorte feita pela RPC-TV em que registra um pouco de sua história e seu
pioneirismo na confecção. Disponível em: http://www.rpctv.com.br/imagem/video.phtml?Video_ID=53181
23
Realizada atualmente pelo Arranjo Produtivo Local – APL de Cianorte e pela Asconvest – Associação das
Indústrias de Cianorte, junto com a Prefeitura e a Câmara Municipal de Cianorte e a Asamoda – Associação dos
Shoppings Atacadistas de Moda de Cianorte. Dentre os apoiadores e patrocinadores, a feira sempre conta com o
Governo do Paraná, Federação das Indústrias do Paraná, SEBRAE/ PR, Banco Regional do Desenvolvimento do
Extremo Sul, Fecomércio/ PR, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ABIT – Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção, Rede APL do Paraná, Rede RPC-TV, Têxtil Canatiba e Sinveste. Dados coletados
em: http://www.ielpr.org.br/apl/News3208content54333.shtml
26
No decorrer dos anos, a feira sofreu reformulações e, em 1999, passou a ser realizada
exclusivamente para comerciantes, industriais e técnicos do setor fabril e têxtil, sendo
agora um evento profissional de moda. Nos anos 2000, a exposição passou a ser
realizada no interior dos cinco shoppings atacadistas de confecção de Cianorte
existentes na época. O objetivo foi oferecer maior comodidade, tranquilidade e
conforto para expositores e visitantes. Em 2003, o evento, que possuía apenas uma
edição anual, a de primavera/ verão no início de agosto, passa a ter uma segunda, a
de outono/ inverno, realizada no final de março.
São atualmente seis shoppings atacadistas: Cianorte Moda Shopping
24
, Shopping
CIAVEST Mercosul
25
, Dallas Moda Shopping
26
, Nabhan Cia Fashion
27
, Uninvep
Atacado de Confecções
28
, All Shopping Center Atacadista
29
, além da Rua da Moda
30
que, juntos comercializam peças dos mais variados segmentos: artigos em jeans,
“modinha”
31
, camisaria, malhas, lingerie, moda social masculina e feminina, moda
infantil e infantojuvenil, linha para bebês, moda praia e calçados. Os artigos são
reconhecidos pela qualidade dos materiais, confecção e acabamento, além de preços
satisfatórios.
Este complexo de lojas, exceto as que compõem o Nabhan Cia Fashion
32
, faz parte da
Asamoda – Associação dos Lojistas de Moda e Similares
33
-, criada nos anos 2000
com o propósito de gerar a união entre os atacadistas de pronta-entrega. Esta
associação é a intermediária das atividades de turismo de compras desenvolvido pelos
agentes de moda
34
que chegam a Cianorte trazendo compradores de diversos estados
do Brasil
35
. A Asamoda possui um sistema de comunicação on line com seus
cadastrados, que permite verificar o quanto cada cliente compra, onde e como paga, e
também o quanto deve. Este programa, desenvolvido especialmente para a
24
Ver: http://www.cianortemoda.com.br
25
Ver: http://www.shoppingciavest.com.br
26
Ver: http://www.shoppingdallas.com.br
27
Ver: http://www.shoppingnabhan.com.br/site/home.php
28
Ver: http://www.uninvep.com.br
29
Ver: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=125248&t=novo-shopping-em-cianorte
30
Ver: http://www.expovest.com.br/rua-da-moda.php
31
Termo utilizado para designar uma moda jovem feminina que fabrica a partir de tendências bem estabelecidas. É
aquela que retrata a moda da novela, a moda de um artista, a moda de um grupo de expressão.
32
Todos os lojistas, um total de 110, fundaram uma associação com estrutura similar a da Asamoda, organizando-se
para cadastrar seus próprios guias.
33
Ver: http://www.asamoda.com.br
34
Conhecidos também como guias. São cerca de 280, com uma média de 40 mil clientes cadastrados. Ver: PDF
35
Principalmente do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul.
27
Associação, representou um investimento de R$ 600 mil, foi rateado pelos
empresários do APL. A Asamoda possui um planejamento estratégico que cobra um
percentual sobre as vendas, além de taxas para adesão. Isso lhe permite oferecer um
respaldo aos seus associados como, por exemplo, no caso de alguma inadimplência
com um valor limite pré-estabelecido, o que acaba gerando uma maior segurança aos
atacadistas. Ela ainda garante aos compradores acomodações e translado gratuito e
seguro por uma rota de aproximadamente dois quilômetros, durante oito horas diárias
consecutivas. Certamente, esta união proporcionou uma maior solidificação do
mercado confeccionista de atacado cianortense.
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Cianorte, a economia eminentemente rural
de outrora representa hoje apenas 17,40% do PIB – Produto Interno Bruto do
município. O restante é dividido entre os setores da indústria e de serviços, na
proporção de 44,30% e 38,30%, respectivamente
36
. Ainda segundo dados da
Prefeitura Municipal, a cidade de Cianorte se destaca em nível nacional como o maior
polo atacadista de confecções do Sul do país, com cerca de 450 empresas e 600
grifes que empregam mais de 15 mil pessoas, produzindo umaa média de 5 milhões
de peças por mês
37
. A confecção, propriamente dita, movimenta uma série de setores
paralelos, como corte, costura, bordados, lavagem de jeans e cursos de moda.
O IEL/ PR – Instituto Evaldo Lodi do Paraná -, revela que Cianorte é responsável por
20% de todo o jeans comercializado no Brasil
38
, sendo que a cidade conta ainda com
a segunda maior empresa de lavagem e beneficiamento de artigos em jeans da
América Latina, a Lavinorte, em que as empresas mais conceituadas do país chegam
a agregar até doze procedimentos diferentes em cada peça beneficiada. Isso pode
custar até trinta reais, conforme vemos em reportagem exibida pela RPC-TV
Paranaense
39
.
Quanto ao porte das empresas de Cianorte, registramos aqui a dificuldade em
chegarmos a um consenso a partir das informações fornecidas pelos órgãos
competentes. É sabido que a grande maioria das empresas é formada por empresas
36
Dados coletados em: http://www.cianorte.pr.gov.br/pagina.php?codigo=2
37
Dados coletados em:
http://www.abit.org.br/site/noticia_detalhe.asp?controle=2&id_menu=20&idioma=PT&id_noticia=1047&
38
Dados coletados em: http://www.ielpr.org.br/apl/News3208content54333.shtml
39
Reportagem especial sobre o beneficiamento de artigos em jeans na cidade de Cianorte. Disponível em:
http://www.rpctv.com.br/paranaense/video.phtml?Video_ID=58023
28
de micro e pequeno porte. Estas se dividem entre as que desenvolvem produtos para
marca própria ou que são terceirizadas para a confecção de produtos,
desenvolvimento de acabamento ou algum tipo de beneficiamento
40
de outras
empresas. Existem as médias e também as grandes empresas, sendo que as últimas
não aparecem, por exemplo, nos cadastros do Rais – Relação Anual de Informações
Sociais
41
. Este fato se justifica devido ao cadastro ser efetuado por meio de cada
CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - e as grandes empresas de Cianorte
representarem, na verdade, grupos, ou seja, um grupo de marcas composto por vários
CNPJs. Já que alguns sites de órgãos públicos ou instituições municipais e estaduais
tratam de quantificar os percentuais produtivos do segmento de confecção, eles
poderiam também explicitar como anda o quadro empresarial com referência ao
tamanho das empresas, podendo utilizar para isto o referencial de quantidade de
funcionários conforme sugere o Sebrae e que será utilizado neste estudo para
caracterizar o porte das empresas pesquisadas.
Cianorte possui ainda centros de formação e qualificação para a área de moda e
design: a UEM – Universidade Estadual de Maringá -,que oferece graduação em
Design
42
e em Moda
43
, a Unipar – Universidade Paranaense -,que oferece graduação
em Tecnologia em Design de Moda
44
, além do Senai – Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial
45
e do Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas
46
, que oferecem cursos técnicos e de treinamento para as mais
diversas áreas do segmento. Esta parece ser uma realidade satisfatória: a qualificação
de mão-de-obra para o setor de maior expressão do APL de Cianorte. Porém, uma
pesquisa realizada por nós, no final de 2007 possibilitou a constatação da dificuldade e
insatisfação dos novos profissionais no mercado de trabalho de Cianorte devido à
resistência dos empresários na contratação de jovens sem experiência prática, como
podemos ver nos dados revelados a seguir.
40
Estampa, bordados, processos de lavagem ou de acabamento (arremate, etiquetagem, inserção de alguns
aviamentos como botões, rebites e taxas, passadoria e embalagem).
41
Ver: http://www.rais.gov.br
42
Implantado em 2002, confere habilitação em Projeto de Produto. Disponível em:
http://www.pen.uem.br/html/pen/graduacao/cursos/dsg.pdf
43
Implantado em 2006, confere bacharelado em Moda. Disponível em:
http://www.pen.uem.br/html/pen/graduacao/cursos/mod.pdf
44
Em 2003, foi implantado o curso de Tecnologia em Gestão de Moda e Estilo que, em 2007, foi reformulado e agora
confere habilitação em Tecnólogo em Design de moda. Disponíveis em:
http://www.unipar.br/inside/campi_cia.php?desc=HistoricodaUnidade
http://www.unipar.br/inside/campi_cia.php?desc=cursos_view&curso=48unidade=6
?
45
Ver: http://www.pr.senai.br
46
Ver: http://www.Sebraepr.com.br
29
1.4.2.1. O olhar do acadêmico de moda enquanto jovem
profissional para o mercado de moda de Cianorte - PR
A pesquisa realizada no ano de 2007 para a Monografia de Conclusão do Curso de
Pós-graduação lato sensu: Especialização em Cultura de Moda, tinha como objetivo,
explicitar a importância do design de moda nas empresas de confecção do vestuário
de Cianorte mediante a opinião dos estudantes de moda que iriam concluir a
graduação ainda naquele ano e, por isso, foi intitulada “A importância do design de
moda nas empresas de confecção do vestuário de Cianorte, sob a ótica dos
estudantes de moda”
47
.
Almejava-se, na ocasião, tomar conhecimento quanto às impressões que os
estudantes de moda estavam tendo a respeito do mercado de trabalho da cidade,
assim como seus anseios e perspectivas futuras. Por isso, os estudantes dos últimos
anos dos cursos de moda e design da UEM - Universidade Estadual de Maringá e, da
Unipar - Universidade Paranaense, ambas, situadas na cidade de Cianorte, foram
escolhidos para o estudo.
Por meio desta pesquisa
48
, tentou-se coletar qual era o conhecimento destes
estudantes quanto a temáticas como: design, designer e responsabilidade social, além
de investigar, por meio de relatos, se as empresas de Cianorte estavam lançando
moda ou se apoiando em cópias. Procurou-se, ainda, saber se os empresários
possuíam conhecimento, aceitabilidade e valorização a respeito da criação de moda
embasada no design, assim como quanto à contratação de novos profissionais em
suas empresas.
Ao longo dessa pesquisa foi possível detectar algumas características no mercado de
moda de Cianorte consideradas como positivas para o panorama local, como: amplo
setor confeccionista, instituições que capacitam profissionais na área de moda e
diversidade cultural por meio da busca de pessoas de diversas localidades do país
para a formação acadêmica na cidade. Já as negativas foram representadas por meio
dos seguintes fatores: falta de conhecimento e interesse dos empresários aliada à
gerência familiar, incansável exigência por experiência profissional, desvalorização da
47
Ver: Vatras, 2007.
48
A aplicação do questionário aos selecionados para a pesquisa de 2007, assim como seus gráficos de análises das
respostas, seguem na íntegra nos anexos desta dissertação.
30
mão-de-obra qualificada, cultura da cópia, falta de conhecimento quanto à
responsabilidade social empresarial e socioambiental.
Ao analisar as resposta dos questionários, observamos que a grande maioria dos
atuantes no mercado da moda encontrava-se em microempresas e empresas de
pequeno porte. Muitos estudantes ainda não estavam engajados no mercado de moda
devido aos mais variados motivos: falta de oportunidade para um estágio ou emprego
efetivo, falta de reconhecimento profissional e baixa remuneração. Abaixo seguem os
dados de maior relevância da pesquisa realizada no ano de 2007 que, posteriormente,
serão comparados com os coletados na pesquisa com os empresários do setor do
vestuário de Cianorte.
Através do relato de 11% dos acadêmicos foi possível diagnosticar que, nas empresas
em que trabalhavam, um só profissional desenvolvia todas ou grande parte das etapas
de criação, ou seja, um profissional sobrecarregado de funções sem uma
segmentação adequada de trabalho, o conhecido “faz tudo”.
Cerca de 35% dos entrevistados revelaram que as empresas nas quais
desempenhavam alguma atividade faziam uso de estratégias defensivas, ou seja,
esperavam as grandes empresas arcaram com gastos em pesquisas e então as
seguiam, mas salientaram que, muitas vezes, isso gerava a cultura da cópia, pois não
existia a preocupação em fazer a apropriação apenas da ideia ou do conceito, mas
dos modelos propriamente ditos.
9% dos informantes acreditavam que suas empresas não investiam em design e, 6%,
que o design não interferia no resultado das vendas e, quando questionados se o
proprietário da empresa em que trabalhavam aceitava as propostas de inovação,
valorizava e detinha conhecimento sobre o design, pouco mais da metade respondeu
negativamente. Podemos avaliar através destas informações que, a cultura do design
era nesta ocasião algo pouco disseminado, sendo a figura do criador, representada
pelo estilista. Sendo assim, após cerca de três anos, tentaremos averiguar se esta
distância do criador enquanto um designer de moda ainda permanece.
Na ocasião, 58% dos acadêmicos admitiram dificuldades em ingressar no mercado de
trabalho devido à exigência de experiência no ramo. Sabemos que a experiência é
31
uma das características com maior relevância em um processo seletivo nos mais
diversos campos de atuação profissional e, certamente, para a moda na é diferente,
sendo assim, buscaremos identificar a opinião dos empresários a respeito de novos
profissionais no segmento, ou seja, os recém-graduados.
Frente a diversas questões sobre responsabilidade social empresarial, os informantes
puderam expressar suas opiniões e uma grande parte dos pesquisados sabia o que
representa a RSE, mas, em contrapartida, também se confundiu com seus mitos.
Mesmo estando no término de uma graduação, alguns expressaram algumas
respostas intrigantes como: o design é a espécie de um “nome” atribuído à moda das
grandes marcas para valorizá-las e encarecê-las, o design surge somente em
momentos de espontaneidade e inspiração e, o design está presente em produtos com
aspecto “limpo”, linhas mais retas, sem grandes detalhes, tampouco misturas de
materiais e cores.
As respostas que nos chamou mais a atenção assumindo a posição de questão
campeã de insatisfação foram quanto à remuneração dos pesquisados: 26% alegaram
a falta de valorização do estagiário, a sobrecarga de funções e a falta de
reconhecimento por parte do empresário. Mesmo com muitas reclamações de falta de
reconhecimento, 42% dos acadêmicos pesquisados manifestaram o desejo de dar
continuidade aos estudos, o que comprova a busca de aperfeiçoamento e nos deixa
otimista ao perceber que existe o anseio de melhoria contínua, mesmo que o
reconhecimento em forma de admiração e valorização profissional por meio de boas
remunerações ainda não alcance os patamares almejados.
E foi devido a esta análise que surgiu o anseio de reconhecer a opinião dos
empresários do setor, com o propósito de confrontar os resultados quanto ao real
significado do designer para os proprietários destas organizações, além de levantar a
hipótese de fazer uso das atividades do design como uma possível ferramenta
estratégica para a gestão. Por isso, prosseguiremos com investigações que retratam o
setor da moda como um todo, assim como a gestão do design para fundamentarmos o
estudo de campo com os empresários que, por sua vez, será analisado
posteriormente.
32
1.5. Entendendo o fluxo de produção. Processos de uma empresa de
confecção do vestuário: etapas do projeto de desenvolvimento
para a criação de moda
O processo da moda refere-se a todas as atividades e pessoas que viabilizam ou
cooperam de alguma forma para a realização de um dado projeto do início ao fim, que,
por sua vez, é representado aqui por uma coleção de moda: um conjunto de produtos
constituído harmonicamente a partir de uma característica estética pré-estabelecida
por determinado tempo. Numerosas empresas não possuem essa noção de coleção e
acabam desenvolvendo “produtos baseados em cópia ou adaptação de tendências
internacionais, porém sem qualquer coerência” (Treptow, 2005: 43). Isso provoca um
amontoado de peças que dificilmente poderão ser combinadas entre si para uma
adequada apresentação ao cliente, seja em desfiles, vitrinas ou catálogos. É por isso
que uma coleção deve “contemplar os seguintes aspectos: perfil do consumidor,
identidade ou imagem da marca, tema da coleção, proposta de cores e materiais”
(Treptow, 2005: 43).
Uma nova coleção precisa levar em conta o histórico da anterior: como foi o
desempenho das vendas, qual o modelo mais vendido e o menos vendido, como foi a
aceitação da cartela de cores e dos tecidos, além de avaliar o resultado da campanha
publicitária desenvolvida, dentre outros dados pertinentes. Esse tipo de avaliação
possibilitará ao designer coordenar sua equipe de maneira eficiente, adequando as
coleções ao gosto de seu público-alvo, proporcionando uma maior satisfação, o
aumento de vendas e a fidelização da marca.
O sucesso de uma empresa de moda é o resultado de uma equipe de projetos
multidisciplinar e integrada. Para Meredith Belbin, a equipe ideal é aquela que mistura
diversas habilidades e tipos de personalidades:
Líder
Calmo,
autoconfiante,
controlado
Capacidade de
receber
igualmente bem
todas as
contribuições.
Forte senso de
objetividade.
Não precisa ter
inteligência
ou criatividade
excepcionais.
33
Trabalhador
da empresa
Conservador,
obediente,
tranquilo.
Capacidade de
organizar, senso
prático,
disciplinado,
trabalhador.
Falta de flexibilidade,
irresponsabilidade
diante de novas
ideias.
Modelista
Muito sensível,
saliente,
dinâmico.
Disposição para
enfrentar a
inércia,
complacência.
Propenso a
provocações,
irritação e
impaciência.
Desenhista/
Projetista
Individualista,
temperamento
sério, não-
ortodoxo
Genioso,
intelectual,
imaginativo, tem
conhecimento
Cabeça nas nuvens,
despreza detalhes
práticos ou
protocolos.
Pesquisador/
Busca de
informações
Extrovertido,
entusiasta,
curioso,
comunicativo.
Capacidade de
contatar pessoas
e descobrir coisas
novas.
Perde interesse após
a fascinação inicial.
Avaliador/
Responsável pelo
acompanhamento
Sóbrio,
desapaixonado,
prudente.
Capacidade de
julgar, discrição.
Sem inspiração ou
capacidade de
motivar os outros.
Participantes do
grupo
Socialmente
orientado,
tolerante, sensível
Habilidade para
responder a
pessoas e
situações. Espírito
de equipe.
Indeciso em
momentos de
conflito.
Responsável pelo
acabamento
Meticuloso,
metódico,
consciente,
ansioso.
Capacidade de
persistir,
perfeccionista.
Preocupação com
pequenos detalhes.
(apud Baxter, 1998: 120)
É essa equipe que viabiliza a coleção mediante numerosas atividades como:
desenvolvimento do cronograma de coleção, pesquisa de tendências, definição do
tema de coleção, estabelecimento do mix de produto, compra e controle de estoque de
tecidos e aviamentos, criação de moda, desenvolvimento de desenhos técnicos,
34
modelagem, prototipagem, aprovação de modelos, graduação e encaixe dos moldes,
desenvolvimento de fichas técnicas e preços de venda, fabricação de mostruários para
venda programada, lançamento da coleção, produção, controle de qualidade,
acabamento, armazenamento e expedição.
É importante lembrar que esta equipe trabalha em três coleções simultaneamente,
pois enquanto está desenvolvendo uma coleção, controla o final das vendas da
vigente e já desenvolve cronogramas e pesquisas para uma próxima. Fica claro a
pressão sofrida e a responsabilidade destinada a estes profissionais.
Por meio de nossa experiência profissional no setor de planejamento e
desenvolvimento de coleção em uma empresa do vestuário, junto ao estudo de
autores como Treptow (2005) e Baxter (1998) quanto ao planejamento de coleção e ao
projeto de produto, respectivamente, é que foi possível especificar todas as etapas
seguintes, do estabelecimento de um cronograma de coleção à expedição dos
produtos aos clientes.
1.5.1. Cronograma de coleção
O tempo se faz primordial e decisivo para uma empresa de moda. Qualidade, custo e
prazos são as principais exigências dos consumidores atuais e, por isso, fica para os
designers a difícil tarefa de fazer com que este trinômio seja alcançado ao mesmo
tempo, pois “conseguir cumprir o prazo às custas de baixa qualidade e alto custo, ou
conseguir qualidade às custas de alto custo e longo prazo, são atitudes impensáveis
para as organizações líderes de mercado” (Santos, 2000: 42).
Barcaro (2008) alerta quanto a dois compromissos nos quais o atraso não é permitido:
o lançamento da coleção e a entrega ao cliente. Diria então que as etapas do
desenvolvimento da coleção precisam ser concretizadas dentro de espaços de tempo
estabelecidos até o lançamento, assim como a produção realizada também no prazo
para a entrega ao cliente. Tempo, tempo, impiedoso tempo!
O respeito aos prazos de entrega tornou-se, já há alguns anos, o elemento mais
importante do setor, e o nível dos serviços ao cliente, em consequência, representa a
nova arena da competição, na qual as empresas disputam o verdadeiro sucesso: a
permanência no mercado (Barcaro in Sorcinelli, 2008: 148).
35
Desenvolver um cronograma de coleção significa planejar o desenvolvimento de todas
as etapas da mesma, fazendo com que o tempo disponível seja otimizado e que
pequenos e corriqueiros imprevistos não atrasem demasiadamente a conclusão das
peças. “Independente dos prazos de produção e distribuição, o designer deve atentar
para que a coleção esteja disponível ao varejo no período certo” (Treptow, 2005: 97).
1.5.2. Pesquisa de tendências e definição do tema da coleção
O designer de moda é um profissional que depende de pesquisas para nortear seu
trabalho. Estar atendo às inovações do setor têxtil, assim como no que aparece nas
ruas, feiras do setor, vitrinas, desfiles e nos meios de comunicação como revistas,
televisão e sites, permite ter uma visão do todo para então focar no que possivelmente
seria o desejo de seu público-alvo, pois “o cliente é seduzido, antes de tudo, pelo
novo” (Sílvio Chaddad, 2002 apud Treptow, 2005: 73). Este novo muitas vezes provém
de tendências que revivem o passado.
A comum prática da releitura
49
é bastante polêmica, pois, ao mesmo tempo em que
pratica a repetição, promove a diferença:
Sempre estamos relendo, revendo, reinterpretando formas, volumes, texturas e
cores. (...) são finitas e limitadas as formas de nossos trajes. São as combinações
que nos trazem a ideia do novo. Quanto mais distante buscarmos referências, mais
inverteremos a combinação de uso, mais estaremos apresentando propostas que
nos parecerão novas (Kathia Castilho apud Lima in Feghali e Schmid, 2008: 78).
Ter sensibilidade para antecipar os desejos de seus consumidores não é tudo para o
sucesso de um designer. O mesmo precisa avaliar do que sua empresa é capaz, qual
o seu poder de investimento em matéria-prima, sua capacidade de produção, se
possui mão-de-obra qualificada para determinado processo e quais as tecnologias
disponíveis. Estes são aspectos primordiais para a eficaz realização de um projeto.
A partir das referências coletadas, os designers elaboram cartelas de cores,
estabelecem formas para a silhueta e optam por determinados detalhes que irão dar
49
Foi a partir dos anos de 1960 que a moda deixa de ser imposta literalmente como regra e passa a revisitar períodos
históricos e diferentes culturas para inovar constantemente.
36
personalidade à coleção, porém, como o mercado da moda é global, não é surpresa
alguma encontrar certa familiaridade entre coleções de marcas distintas.
Foi na década de 1930 que a estilista Elza Schiaparelli inovou ao estabelecer temas
específicos para suas coleções, escolhidos conforme seus anseios e afinidades. O
estilo de Schiaparelli era mantido em todas as coleções que ganhavam graça com a
alternância do tema central, referenciado, por sua vez, por meio de estampas,
bordados, botões, recortes, etc. “Criava-se, assim, uma unidade visual. Várias peças
inspiradas no mesmo tema tornaram-se a base de criação dos estilistas até os dias
atuais” (Treptow, 2005: 42).
A definição do tema da coleção pode surgir a qualquer momento, antes ou após a
pesquisa de tendências. O tema da coleção é algo livre que depende quase que
exclusivamente da sensibilidade do designer e de sua equipe de desenvolvimento.
Jones (2002:147) diz que não se deve buscar inspiração nos temas relacionados às
tendências atuais, mas posicionar-se à frente do seu tempo e tentar prever desejos
futuros.
O tema de uma coleção pode ser estabelecido a partir de vídeos, arquivos
fotográficos, revistas, anotações de viagens, filmes, músicas, dentre muitos outros.
Nakao narra o início da coleção que deu origem ao inesquecível e muito comentado
desfile “A costura do invisível”
50
na São Paulo Fashion Week de 2004:
Era hora de buscar novos ares, de ir além do hermético mundo da moda, respirar,
conversar com os amigos, ver filmes em casa, ir ao cinema, ler livros, folhear
revistas, visitar exposições, conhecer pessoas, estar sensível e atento, reaprender
a se surpreender com o mundo, a se perder pelos mapas antigos que se confinam
e encontrar novos sentidos: numa tela de computador, num filme trash, na vida
cotidiana, nas coisas mais banais. Era tempo de reflexão, de encontrar o silêncio,
de parar e formular as perguntas certas para as nossas inquietudes. Descobrir que
há inúmeros caminhos possíveis e que quanto mais se sabe mais se descobre que
nada se sabe, que falta algo dentro da gente, que muito precisa ser questionado
(2005: 11).
A escolha de uma temática se faz importante, pois irá nomear, caracterizar e
diferenciar uma coleção dentre tantas desenvolvidas simultaneamente com tendências
familiares aos concorrentes. Cabe ao designer a difícil tarefa de correlacionar tema
com tendências, criando algo único, inovador e desejável.
50
Ver: http://www.jumnakao.com.br/cstrdnvsvl.html
37
Uma coleção não se deve limitar a reproduzir as tendências pesquisadas no
exterior. Ela deve ir além, apresentando uma proposta de estilo do seu criador,
uma ‘cara’ própria. Para isso, o designer deve pesquisar o tema escolhido,
buscando elementos de inspiração que possam ser transportados para as roupas
(Treptow, 2005: 89).
Certamente, no momento de pesquisa e escolha do tema, irão surgir ideias para a
locação das fotos para publicidade, referências para produção de acessórios, cabelos
e maquiagem, definição de cores e formas de letras para o material que divulgará a
coleção, músicas para os desfiles, etc. O arquivamento de todas estas ideias irá
facilitar o trabalho do designer quando for o momento oportuno de desenvolvê-las,
afinal, o fator tempo é imprescindível para a moda.
1.5.3. Mix de produtos
Deve-se estabelecer o número de peças que determinada coleção terá e dentre estas,
quantas serão bottons
51
, tops
52
, vestidos ou macacões, dentre outras peças, além de
determinar a quantidade de modelos em cada tipo, assim como qual tecido será
utilizado para uma peça e outra, e quantas terão algum tipo de beneficiamento, como,
por exemplo, bordados ou estampas.
Essa divisão permite uma segura compra de matéria-prima e o equilíbrio das formas
que facilitarão a combinação para as fotos dos catálogos e, consequentemente, as
vendas. Estabelecer um mix para a coleção garante o controle de custos da mesma
por meio do desenvolvimento de algumas peças mais elaboradas do que outras.
1.5.4. Escolha de tecidos, aviamentos e controle de estoque
A escolha dos tecidos, assim como dos acessórios, é muito importante no
desenvolvimento da coleção, pois antes mesmo de esboçá-la é necessário tê-la em
mente para que os mesmos se adeqúem ao que se pretende desenvolver.
51
Peças usadas na parte inferior do corpo com todas as suas variações de modelos e comprimentos: calças, bermudas,
shorts, saias.
52
Peças usadas na parte superior do corpo com todas as suas variações de modelos e comprimentos: blusas,
camisetas, coletes, camisas, camisetes.
38
Tecidos de custo elevado ou que não tenham relação com o público-alvo podem
comprometer a coleção e prejudicar financeiramente a organização. Um outro cuidado
que deve ser tido pelo designer diz respeito a um prognóstico de quanto será
necessário comprar de determinado tecido para confeccionar as primeiras peças, ou
seja, os protótipos, pois somente mediante aprovação é que se irá programar a
compra para produção conforme necessário. Há ainda que se informar quanto à
disponibilidade do tecido escolhido, pois existem alguns modelos que possuem um
determinado estoque e não serão mais fabricados.
Já os acessórios devem também respeitar um equilíbrio nos preços para que não
comprometam determinada peça na coleção. A forma com que os aviamentos serão
utilizados confere à coleção um caráter único em relação aos concorrentes, ainda mais
se tratarem de um bordado, uma estampa ou ainda um transfer
53
, desenvolvido pela
própria equipe de criação. Desenvolver materiais exclusivos representa um maior
custo, mas, em contrapartida, agrega valor às peças. O importante é que este tipo de
investimento seja previamente calculado.
1.5.5. Desenho de estilo e desenho técnico
Pesquisa de tendência desenvolvida, tema de coleção estabelecido e mix de produto
definido, surge o momento de dar asas à criatividade. Os croquis são também
conhecidos como desenhos de estilo ou esboços, não possuem um compromisso
estético, pois precisam apenas permitir a visualização da roupa com seus volumes e
movimentos em um corpo fictício. Esta prática é bastante pessoal, não possui regras,
tampouco técnicas específicas; pelo contrário, o designer ou estilista vai criando
infinitas propostas para a coleção, as quais serão revisitadas para seu aprimoramento
e pré-seleção.
As peças de uma coleção precisam manter uma sintonia, pois “uma peça não funciona
isolada, faz parte de um elo necessário dentro do conjunto visual” (Fiorini in Pires,
2008: 111). É neste momento que os aviamentos, os tecidos, as cores e suas
variações disponíveis para cada modelo vão sendo estabelecidas, sendo que se faz
53
Desenhos, arabescos, logomarca ou nome da marca, desenvolvidos em materiais de relevo, geralmente taxas ou
cristais, termocolantes.
39
importante a “intercambialidade dos componentes, ou seja, que uma mesma peça
possa compor vários looks
54
” (Treptow, 2005: 140).
O desenho técnico, por sua vez, é mais criterioso, pois irá representar a comunicação
entre o designer e os setores que desenvolvem modelagem e prototipagem. Este tipo
de representação aparece sem a figura do corpo humano, até mesmo para evitar
distorções características do desenho de estilo. São informações precisas de
comprimento, tipo de tecido, aviamento, tipo de costuras e acabamentos, ilustrados
frente e costas. Todo este trabalho representa agilidade no desenvolvimento dos
moldes e das peças-piloto, pois, se um profissional ficar dependendo da presença do
outro para explicitar ideias, certamente a coleção não ficará pronta no tempo
determinado.
1.5.6. Reunião para aprovação dos croquis
Durante esta reunião, tudo o que foi pesquisado e desenvolvido é apresentado para
uma equipe de aprovação, geralmente composta pela alta cúpula da empresa, para
que avaliem custos, viabilidade de produção e possível impacto no mercado-alvo. Este
é o momento de rever, alterar e até mesmo, eliminar modelos para que não
desenvolvam protótipos desnecessariamente gerando desperdício de tempo e de
matéria-prima.
Baxter diz que “de modo geral, de cada 10 ideias sobre novos produtos, 3 serão
desenvolvidas, 1,3 serão lançadas no mercado e apenas uma será lucrativa. Portanto,
é uma corrida em que apenas 10% conseguem chegar ao destino” (1998: 2). Talvez
este seja o segredo para produtos de design consagrados, mas na moda isso não é
possível, tampouco viável. Para dizer a verdade, a grande maioria das empresas não
consegue desenvolver e cumprir um cronograma de trabalho, sendo as reuniões de
aprovação ignoradas para a tentativa de respeitar prazos. O resultado disto são peças
com defeitos, falta de qualidade, problemas ergonômicos dentre outros, pois “o
desenvolvimento completo de um produto, por si só não garante seu sucesso” (Baxter,
1998: 2)
54
Do inglês, significando “olhar, contemplar, observar”. Palavra utilizada pelos profissionais de moda para nomear o
resultado obtido com a combinação de peças do vestuário e acessórios em geral. Se uma peça pode compor vários
looks ela pode compor várias combinações.
40
É certo que, em empresas estruturadas, quando a equipe de criação tem a confiança
de seus superiores e demonstra estar engajadas com os mesmos e capazes de
desenvolver uma coleção que seja compatível com o que a alta cúpula já estabeleceu,
esta reunião vai se tornando desnecessária. Para que isso ocorra, entretanto, a
organização deve ter excelência em qualidade e cumprimento de prazos.
1.5.7. Modelagem e prototipagem
Os modelos selecionados são encaminhados em forma de desenhos técnicos para o
setor de modelagem e prototipagem, para a confecção das peças-piloto. Os moldes
nada mais são do que o desenvolvimento de cada parte da peça em tamanho real,
geralmente em tamanho mediano próprio para a posterior prova.
A modelagem pode ser desenvolvida por meio de duas técnicas, modelagem plana ou
moulage. A primeira diz respeito à adaptação do modelo a partir de um molde-base,
cabendo à modelista estabelecer recortes, detalhes, acrescer margens de costura, tipo
de barra e outros detalhes explícitos no desenho técnico. A moulage, por sua vez,
cabe aos modelos de maior complexidade, em que a modelista usa um manequim de
tamanho natural para ir montando a peça. Esta técnica permite criar volumes
dificilmente possíveis na modelagem plana. “A modelagem está para o design de
moda, assim como a engenharia está para a arquitetura” (Treptow, 2005: 156).
O protótipo ou peça-piloto é a primeira peça desenvolvida de dado modelo por uma
costureira experiente chamada de pilotista que, a partir de suas dificuldades, pode
propor alguma alteração, além de inserir anotações junto ao desenho técnico, as quais
comporão a ficha técnica e facilitarão a produção em série. A pilotista pode detectar
um possível problema de modelagem ou ainda uma dificuldade quanto ao tecido que
deve ser também anotado para futuras correções e cuidados especiais. Após
costurados, os protótipos devem ser finalizados para que sejam apresentados em
suas versões finais.
1.5.8. Reunião de aprovação dos protótipos
41
Os protótipos devem ser apresentados em modelos reais para que questões estéticas
e ergonômicas possam ser analisadas. O designer deve comentar cada peça: seus
detalhes, aviamentos, tecido e variação da cartela de cores. Geralmente, este
momento envolve a equipe de criação, a diretoria e o setor de vendas, que avaliarão
as peças, podendo sugerir alterações ou até mesmo o descarte de algum modelo.
Treptow (2005: 159) alerta para o não descarte imediato das peças não aprovadas,
pois a espionagem industrial utiliza as peças descartadas na etapa de confecção de
protótipos para copiar ideias e, por isso, só deverão ser vendidas como peças de
segunda qualidade quando a coleção já estiver em produção e não for mais
necessário manter o sigilo.
1.5.9. Alterações nos moldes, graduação e encaixe
Com base na reunião de aprovação, os moldes de algumas peças deverão ser
alterados ou revistos para pequenos ajustes, pois “não raras vezes, é preciso rever o
molde após confecção do protótipo” (Treptow, 2005: 158).e, então, graduados, ou
seja, oferecidos nos tamanhos estabelecidos pela organização, sejam os que estamos
acostumados a ver, classificados como PP, P, M, G, GG ou 36, 38, 40, 42, 44, ou
ainda aqueles de tamanhos especiais, característica de algumas empresas.
Já o encaixe dos moldes será efetuado conforme a demanda ou estudo de
probabilidade de venda, sendo a segunda menos viável para que se evite o acúmulo
de estoques. O encaixe nada mais é do que a melhor maneira de posicionar os
moldes para o corte, desperdiçando a menor quantidade de matéria-prima possível.
Conforme Treptow (2005: 163), “o encaixe pode ser realizado de três maneiras:
disposição dos moldes diretamente sobre a folha de risco, estudo por meio de
miniaturas confeccionadas por pantógrafo e pelo sistema CAD/ CAM”
55
.
É neste momento que a modelista irá rever todos os detalhes do molde, como os
piques, caracterizados como elementos de grande importância para a confecção de
55
O sistema CAD/ CAM - Computer Aided Design/ Computer Aided Manufacturing – Projeto Assistido por
Computador/ Fabricação Assistida por Computador apresenta as maiores vantagens, economizando tempo e matéria-
prima. Os mais avançados oferecem ferramentas de encaixe automático ou interativo (ajustado pelo operador).
Quando o processo é concluído, o sistema informa o consumo total de tecido no encaixe, o consumo médio por peça
e o índice de aproveitamento (cf. Treptow, 2005: 164).
42
uma peça, pois determinam pontos estratégicos de união entre uma parte e outra,
além de detalhes e posicionamento de etiquetas internas, etc.
1.5.10. Ficha técnica
Após a correção das peças avaliadas, e simultaneamente ao processo de graduação,
é desenvolvida a ficha técnica de cada peça. Este é um documento que contém o
desenho técnico da peça com todas as suas informações, desde o tipo de tecido,
cores, aviamentos decorativos e funcionais, como zíperes e elásticos, com suas
respectivas quantidades ou medidas, até o tipo e o tamanho de ponto para costura e a
melhor maneira de iniciar a peça e de executar procedimentos de maior dificuldade.
A ficha técnica é geralmente preenchida por assistentes, mas deve ter a supervisão do
designer, pois, além de orientar a confecção das peças, ele permite que o
departamento comercial avalie o custo de cada produto e calcule a quantidade de
matéria-prima estimada para a fabricação, conforme a demanda.
1.5.11. Formação do preço de venda
Existem vários tipos de custos que fazem parte da fabricação e da venda de uma
coleção, sendo eles: “custo fixo
56
, custo variável, despesa de comercialização e custo
financeiro” (Treptow, 2005: 173). Atualmente, busca-se controlar custos de forma que
desperdícios ou falha de utilização de recursos não prejudiquem a lucratividade do
produto.
Em um dado momento, o custo somado ao lucro gerava o preço de venda. Treptow
(2005: 172) defende que, a partir do preço de venda estabelecido, reduz-se o custo
para então obter-se o lucro. Esta metodologia caracteriza o custo desejado e permite à
56
O cálculo do custo fixo corresponde à soma das despesas mensais (considerando fração proporcional de despesas
anuais, como IPTU e seguros), dividida pelo número de horas trabalhadas no mês ou, como ocorre com maior
frequência, pelo número de peças produzidas ao mês. Se, por exemplo, uma empresa possui um custo fixo mensal de
R$20 mil e produz 100 mil peças/ mês, sua fração proporcional do custo fixo será correspondente a R$ 0,20 por peça
(cf. Treptow, 2005: 175).
43
organização estabelecer seu preço de venda mediante a análise de seu mercado e
seu público-alvo.
A margem de lucro por produto é conhecida pela subtração dos custos com base o
preço de venda. As leis de mercado (oferta, procura, concorrência e
posicionamento) são os determinantes do preço de venda a ser praticado. Uma
estratégia de análise é estipular margens de lucro desejáveis para cada categoria
de produto (básico, “fashion” ou vanguarda) verificando, na planilha de custos, se a
margem desejada pode ser obtida (Treptow, 2005: 180).
1.5.12. Confecção do mostruário
O mostruário é composto por réplicas de cada modelo disponível na coleção com sua
variação de cores, códigos de referências para pedido e tamanhos disponíveis. É,
geralmente, desenvolvido quando a empresa pratica venda por atacado por meio de
representação comercial, ou seja, venda programada, na qual, representantes
comerciais, com suas regiões estabelecidas, visitam clientes e praticam as vendas por
meio de apresentação do mostruário. Neste momento, o cliente avalia, peça por peça,
qualidade de acabamento e de materiais, adequação do tecido ao corpo, cartela de
cores e possibilidade de combinação entre as peças, que se faz importante para o
incentivo de venda, pois o cliente, ao perceber a conectividade entre a coleção e as
numerosas possibilidades ofertadas, certamente sua compra será mais expressiva.
1.5.13. Lançamento de coleção
O lançamento de uma coleção destina-se a apresentá-la para a equipe de vendas e,
em alguns casos, para os clientes. Comumente, o lançamento de uma coleção ocorre
nas chamadas convenções de vendedores ou representantes. Este tipo de evento é
muito importante, pois, além de avaliar o desempenho da coleção anterior, envolve
treinamento de vendas e confraternização.
Uma convenção, como qualquer outra atividade relacionada à coleção, precisa ser
planejada. O designer irá apresentar toda a temática e as tendências que a
originaram, proporcionando um maior entendimento e aceitabilidade do novo, visto
que, na maioria das vezes, os representantes comerciais não têm uma ligação muito
expressiva com a moda, devido a seu histórico de trabalho e até mesmo pela falta de
44
tempo para pesquisas. Esses profissionais acabam tendo certa dificuldade, em um
primeiro momento, de assimilar tendências tão destoantes das utilizadas na coleção
passada, e é justamente por isso que cada peça é explicada detalhadamente por meio
de um desfile técnico para o esclarecimento de dúvidas.
O desfile técnico acontece na convenção de vendedores e sua produção é mais
discreta. Nesse, o designer descreve as peças, comentando sobre a cor, tecido ou
elemento de estilo utilizado. Visa motivar a equipe de vendas para a
comercialização dos novos produtos e provê-la de informações sobre a coleção
(Treptow, 2005: 192).
Quando as convenções são agendadas, todo o material de publicidade previamente
planejado deve estar disponível. Cabe a empresa, analisar suas metas e suas
condições financeiras para traçar um plano de marketing. Catálogos, sites, postais e
outdoors são as mídias de divulgação mais utilizadas, pois servem de suporte para os
clientes/ lojistas, além de representarem um menor custo do que campanhas
publicitárias em revistas de moda ou televisionadas.
1.5.14. Produção, controle de qualidade e vendas
Um grande número de empresas opta pela produção em facções, que são espécies de
oficinas de costura terceirizadas. Neste sistema de produção, os cortes são enviados
com todas suas discriminações, além da peça-piloto e da ficha técnica, sendo de
grande valia que um responsável visite a empresa faccionista e esgote todas suas
dúvidas. É conveniente para as organizações manter este tipo de produção, pois, além
de não gerar vínculo empregatício e diminuir custos com mão-de-obra
57
, não obriga o
investimento com maquinário e depende exclusivamente da demanda. Alguns dos
pontos negativos são a respeito do controle de qualidade do serviço solicitado e do
cumprimento dos prazos de entrega, mas nada que um bom relacionamento ou até
mesmo o desenvolvimento de um contrato de prestação de serviço não possam
amenizar.
57
Werner constatou, em 2008, que o custo médio por hora de um trabalhador têxtil brasileiro é de apenas US$ 3,41,
correspondendo a uma fração de 20% do registrado nos EUA. Disponível em:
http://www.fashionbubbles.com/tag/moda-exportacao/
45
O sistema de produção é de responsabilidade do setor de Planejamento e Controle da
Produção – PCP -, e está correlacionado ao tipo de venda que se deseja empregar:
mediante pedidos ou pronta-entrega, geralmente no atacado.
As vendas efetuadas por meio de pedidos
58
são, geralmente, executadas por
representação comercial, em que a fabricação será dada mediante os pedidos
enviados pelos representantes junto ao cadastro do cliente para a aprovação da
equipe do setor comercial. Este tipo de venda proporciona uma maior segurança à
empresa quanto a excedentes, pois o pedido de matéria-prima é programado para
várias remessas durante a coleção, podendo ser canceladas caso ocorra alguma
alteração no que havia sido previsto, além de fabricar apenas o que já foi solicitado,
evitando estoques de peças prontas. “A produção mediante pedidos é a mais segura
para o empresário, pois ele sabe que os produtos em processo estão previamente
vendidos” (Treptow, 2005: 199).
As empresas que trabalham com a venda em pronta-entrega
59
geralmente dispõem de
loja própria em centros atacadistas. Estas dependem de novidades e, para isso,
minicoleções devem abastecer os pontos de venda toda semana, porém, com muito
cuidado para não estocar demasiadamente as lojas. Por isso, há que se ter
planejamento, estudo do histórico de venda e uma relação estreita com o público-alvo
para proporcionar a rotatividade necessária.
Durante o processo de produção, o cuidado com a matéria-prima se faz muito
importante para que não haja um grande desperdício por uso indevido ou falta de
cuidado com o manuseio. Sobras excessivas nos cortes, tecidos sujos, riscados ou
muito amassados podem representar prejuízo para a organização. É por isso que o
setor de controle de qualidade deve esporadicamente vistoriar o ambiente de
produção, além de inspecionar algumas peças de forma aleatória para se certificar do
que está sendo enviado ao cliente. Baxter (1998: 17) alerta que um eficiente controle
58
Este tipo de venda possui a seguinte dinâmica: venda aos clientes; compra de matérias-primas; produção sob
encomenda; armazenamento; remessa aos clientes (Barcaro in Sorcinelli, 2008: 154).
59
Este tipo de venda possui a seguinte dinâmica: compra de matérias-primas; produção; estoque; vendas aos clientes;
remessa aos clientes (Barcaro in Sorcinelli, 2008: 153-154).
O maior centro de comércio de pronta-entrega do Brasil está em São Paulo, que recebe diariamente milhares de
compradores atacadistas de todo o país. Polos regionais de confecção obtêm bom resultado de vendas,
especializando-se no atendimento do turismo de compras, como, por exemplo: Farroupilha, Brusque, Cianorte,
Divinópolis, Goiânia. (cf. Treptow, 2005: 195 e 196).
46
de qualidade depende do planejamento inicial, da execução e conferência do produto
pronto e, se necessário, a correção dos erros.
Como podemos perceber, cada etapa de desenvolvimento do projeto de uma coleção
de moda se faz primordial para o êxito final. Um processo é interdependente do outro,
sendo que um deslize não devidamente corrigido em qualquer uma das etapas pode
representar o fracasso de uma determinada peça, quiçá da coleção.
1.5.15. Arremate, etiquetagem, armazenamento e expedição
Peças inspecionadas e aprovadas passam para a fase de arremate final em que
pequenos resíduos de linhas serão removidos. O próximo passo corresponde à
etiquetagem das peças com o tag
60
da empresa e etiquetas de papel que fornecem
orientação quanto ao tamanho, cor, código numérico de referência do modelo e código
de barras para cadastro e controle de estoque.
Ao serem armazenadas em sacos plásticos individuais, as peças são embaladas em
fardos previamente estipulados e encaminhadas ao seu destino: loja de pronta-entrega
ou clientes nas mais diversas localidades do país, que compraram por meio de
representação comercial.
60
Etiqueta de papel encorpado, tecido ou outros materiais que levam o nome ou a logomarca da empresa. Esta
etiqueta pode ser alterada a cada coleção, seguindo sua temática. A mesma fica à mostra nas peças e são removidas
pelos clientes para o uso da roupa.
47
Capítulo 2 – Compreendendo
o design como estratégia de
gestão
Visto que no capítulo anterior
abordamos o sistema da moda
levando em consideração a cadeia
produtiva de Cianorte por meio da
explicitação de todas as suas fases,
faz-se necessário abordar o mote
inicial para o desenvolvimento
deste trabalho, o design. É por isso
que neste capítulo, embora tenha
havido dificuldade em encontrar
bibliografia específica sobre o
design como estratégia de gestão,
traremos temáticas que
possibilitarão compreender melhor
a atividade profissional do designer,
cuja importância maior é a de
ressaltar toda a complexidade que
o norteia. Nesta complexidade, o
design não está associado apenas
à forma e à estética dos produtos,
mas se caracteriza como uma
espécie de ferramenta estratégica
que representa uma expressiva
competitividade entre as
organizações.
Como se trata de uma cadeia
produtiva do vestuário, falaremos
também do design de moda, assim
como da gestão estratégica nas
empresas, do planejamento e
48
desenvolvimento de produtos, da criatividade e inovação, do empreendedorismo, da
gerência de riscos, da cultura da cópia, dentre outros, para que possamos admitir o
design como uma das possíveis estratégias de gestão pela maximização dos
processos e planos que podem viabilizar toda a cadeia produtiva.
2.1. Design, design de moda e o designer
O termo design tem sua origem na língua inglesa e é polissêmico, dando a noção de
“designar”, “ordenar” e “planejar”. Projeto, plano, desenho, croqui, modelo, esboço,
configuração e construção são algumas definições dadas ao mesmo, e é devido a
estas terminações que Löbach (2001) diz que podemos deduzir que o design é uma
ideia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado problema. O autor
exemplifica ainda que, já que apenas a linguagem não é capaz de se fazer
visivelmente perceptível para a resolução de determinado problema, o design
consistiria então na corporificação de ideias por meio da confecção de croquis,
projetos, amostras ou modelos. Assim, “o conceito de design compreende a
concretização de uma ideia (...) mediante construção e configuração, resultando em
um projeto industrial passível de produção em série” (Löbach 2001: 16).
Design é metodologia
61
e diz respeito a tudo o que depende de estudo e
desenvolvimento de projeto
62
para ser produzido ou realizado. Bonsiepe é enfático ao
dizer que “design não é desenho”, e que “estas opiniões que ligam o design ao mundo
superficial, do pouco importante, do pouco rigoroso, continuam presentes numa
concepção de design que considera a forma e o visual como o mais importante” (1997:
11). Além disso, conforme relatam Bürdek (2006) e Löbach (2001), cada objeto de
design é o resultado de um processo de desenvolvimento e deve sempre ter como
questionamento a importância que determinado projeto terá para a sociedade, assim
como seu impacto junto à mesma e seus impactos em médio e longo prazos.
Podemos afirmar que é por este motivo que o desenvolvimento de determinado
61
(...) abordagem; caminho programado; detalhamento; estratégia; formulação; objetividade; objetivos; ordem;
ordenação; organização; planejamento; previsão de concretização; programação; projetação; proposta/ processo/
objetivo; sistematização, voo programado. Entende-se por metodologia o conjunto de métodos utilizados em
determinado trabalho (Coelho, 2008: 254).
62
Trataremos o design sob o viés de uma atividade ligada ao vestuário, foco deste trabalho, constituída a partir de
estudo e planejamento para a realização de projetos.
49
produto não pode ocorrer em um ambiente permissivo em que o designer
simplesmente brincará com formas, cores, materiais e volumes. Toda e qualquer
questão que permeie a realidade da empresa, da sociedade ou do meio ambiente no
desenvolvimento de um novo produto precisa ser levada em conta, pois “lidar com
design significa sempre refletir as condições sob as quais ele foi estabelecido e
visualizá-las em seus produtos” (Bürdek 2006: 225).
Em cada projeto devemos questionar em primeiro lugar a importância que ele terá
para a sociedade, se o resultado do processo de planejamento e de configuração é
sensato, se há aspectos negativos a considerar. Não deverão ser consideradas
somente as vantagens econômicas e sim os possíveis efeitos sobre a comunidade.
(...) Os lucros a curto prazo devem ser confrontados com os efeitos sociais a médio
e longo prazos (Löbach, 2001: 21-22).
O design implica as escolhas que o projetista fez para desenvolver determinado bem.
Caracteriza-se, principalmente, pelo processo de execução do projeto e não
propriamente pelo resultado do mesmo. “O design não reside nos produtos acabados,
mas no ato de fazê-los. Não no resultado, mas no processo” (Branzi in Manu, 1995:
61). É por isso que o designer
63
precisa buscar o equilíbrio entre inovação, tecnologia
e tendências, com a realidade de sua empresa, apoiando-se em planos estratégicos,
tentando prever e evitar problemas futuros. Na verdade, o designer precisa ter uma
ótima ideia, desenvolver um excelente projeto e conseguir materializá-lo com êxito;
agindo como parte integrante da empresa e de suas ações e não apenas um termo
utilizado indiscriminadamente para valorizá-la.
O verdadeiro design não surge somente no universo da espontaneidade, o mesmo
necessita de disciplina, método e muita pesquisa para então dar asas à criatividade. É
preciso estar sempre com os pés na realidade e em constante processo de renovação,
acompanhar as novidades tecnológicas, o mercado e as oscilações da moda em uma
constante tentativa de prever os anseios dos consumidores. Para Gady (in Fiell, 2001:
62), o designer tem que ser um observador atento para que possa acumular
experiência suficiente para prever novos padrões de consumo.
Há tempos o uso do design passou a promover diferenciações entre os produtos,
diferenciações estas que, outrora, eram estabelecidas principalmente pelos valores de
venda, seguidos da durabilidade, qualidade e outras características relevantes. Na
63
As atribuições mais comuns ao termo designer conforme Peruzzi são: “desenhista, esboçador, programador, aquele
que tem iniciativas, projetista” (1998:11 apud Treptow, 2005: 45).
50
contemporaneidade, as pessoas almejam que um produto tenha qualidade e seja
durável, não veem mais o baixo custo como essencial, pois almejam atributos
agregados aos bens de consumo e aceitam pagar para tê-los simplesmente por uma
questão de custo-benefício; portanto, introduzir diferenças que sejam percebidas pelos
consumidores como benefícios e valores agregados passa a ser primordial. “O design
deve ser planejado estrategicamente com um objetivo determinado: a qualidade do
produto com relação à sua adequação ao uso” (Santos, 2000: 28).
Esta nova postura dos consumidores se justifica quando Moraes (1996: 115 apud
Rech)
64
faz referência aos países em desenvolvimento como o Brasil, ao afirma que se
considerarmos o design como um instrumento capaz de contribuir para a indústria
como elemento diferenciador na qualidade dos produtos industriais, não podemos ter
nesta atividade uma referência unicamente regional ou periférica, mas um instrumento
capaz de alargar a competitividade das empresas em nível internacional.
O design é uma atividade de grande complexidade que implica uma busca constante
de conhecimentos capazes de gerar subsídios para a criatividade e para a inovação,
por isso, o projetista precisa estar inteiramente comprometido com a empresa, assim
como com suas reais necessidades e prioridades para que possa optar pelas
melhores escolhas que tragam os melhores resultados.
O design é uma forma de definir qualidade dos produtos e da comunicação da
empresa, ativando o gerenciamento de seus recursos criativos e competências. É
tipicamente o design como agente da interface que coloca, de um lado, os
produtos e organizações e, do outro, os consumidores, usuários e mercado em
geral (Jens Bernsen,1987 apud Santos, 2000: 20).
O design nos acompanha durante todo o dia nas mais diversas situações, de bens de
consumo a serviços, sendo o bom design certamente aquele que consegue comunicar
uma ideia e, por meio dela, chamar a atenção do consumidor, seja por sua utilização,
seja para o consumo. Segundo Mozota, o design é um processo e possui quatro
características essenciais: “Criatividade, Complexidade, Compromisso e Escolha”
(2002 apud Martins e Merino, 2008: 65). Podemos dizer que o design é criativo, pois é
capaz de criar e reinventar artefatos ainda não pensados; ele tem por característica a
complexidade devido ao grande número de variáveis que suas decisões podem tomar;
ao buscar equilíbrio entre os objetivos da organização e as necessidades dos clientes
64
Disponível em: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/actas_diseno/art
iculos_pdf/A030.pdf
51
assume um compromisso com tais partes; e, por fim, é construído por escolhas, sejam
elas de maior ou menor impacto.
Já o design de moda, foco deste trabalho, é de grande complexidade nas empresas de
confecção do vestuário, representando todo o desenvolvimento de um ciclo de
produção, ou seja, do sistema da moda. Com dados no que representa o design e o
designer para nosso estudo, podemos afirmar que o design de moda implica as
escolhas que o projetista faz para desenvolver coleções, caracterizando-se
principalmente pelo desenvolvimento de um meticuloso projeto e pela execução do
mesmo, tendo como intuito na realização dessa metodologia de trabalho, o alcance da
excelência dos processos e produtos confeccionados.
Conforme Rech (2002) explicita, um bom designer de moda é aquele que reune
algumas habilidades que, na verdade, são indispensáveis para um bom desempenho
final, como: capacidade para pesquisar, organizar e inovar; habilidade para
desenvolver respostas apropriadas para problemas novos; aptidão para testar essas
respostas, por meio de peças-piloto; treinamento para comunicar esses
desenvolvimentos mediante croquis, modelos, modelagem e pilotagem; talento para
combinar forma, técnica, condições humanas, condições sociais e arrebatamento
ético; sabedoria para prever consequências ecológicas, econômicas, sociais e
políticas da interferência do design; e compreensão para trabalhar em equipes
multidisciplinares
65
.
A atividade do design de produtos atinge níveis e diversas áreas de atuação dentro
de uma organização, o que a caracteriza como um macroprocesso, ou seja, é um
processo que interfere em diversos outros processos menores, maiores e/ ou de
mesmo porte. Assim, fica difícil imaginar essa atividade sendo executada por uma
única pessoa, por um único designer. Na verdade, o design é uma atividade
integradora e compatibilizadora de diversos tipos de informações que são
necessários para se desenvolver e lançar um produto no mercado (Santos, 2000:
24).
O grande desafio para o designer de moda é assumir um caráter cambiante, pois a
todo momento as indústrias do vestuário abandonam aquilo que já se tornou obsoleto
para iniciar um novo ciclo de produção por meio da novidade e da inovação. E quando
o design passa a ser abordado como uma atividade que vai além da superfície dos
65
No subitem: “Entendendo o fluxo de produção. Processos de uma empresa de confecção do vestuário: etapas do
projeto de desenvolvimento para a criação de moda” do Capítulo 1, intitulado “Sistema da moda”, podemos verificar
todas estas habilidades descritas aqui por Rech como sendo indispensáveis para o planejamento, criação e
desenvolvimento de uma coleção de vestuário.
52
produtos é que demonstra toda sua complexidade e potencialidade como atividade
estratégica, representando o desenvolvimento consciente de projetos de curto, médio
e longo prazos, cuidando de todas as fases de desenvolvimento de produtos e
propondo a integração dos setores fabris para um melhor desempenho final. “Tudo isto
já nos leva a percebê-lo como um elemento dinamizador para os administradores,
diferenciador para os concorrentes, peça chave nas vendas e fundamental ao avanço
tecnológico” (Martins e Merino, 2008: 14).
2.2. Gestão estratégica empresarial
A gestão empresarial implica o controle de tudo o que acontece em uma organização,
do início de uma atividade, seu acompanhamento e correções necessárias ao término
e inserção no mercado. Representa as variadas formas de articulação que a empresa
desempenha, sendo a estratégia representada pelo direcionamento mais adequado
das ações para se alcançar determinado objetivo ou meta. Assim, a gestão da
estratégia empresarial diz respeito ao “estabelecimento de metas, regras de decisão e
diretrizes voltadas à definição do campo de atuação. Traça diagnósticos, mensura
desempenhos e exerce ações corretivas” (Auriani, 2004: 33; Martins e Merino, 2008:
99-100).
A estratégia representa para a gestão uma forte arma para o alcance de vantagens
competitivas em relação à qualidade de processos e, consequentemente, de produtos,
além de capacidade produtiva, obtenção de novas tecnologias, cumprimento de
prazos e redução de estoques. Conforme Fusco (et al. 2003 apud Auriani, 2004: 33)
afirma, só podem ser caracterizadas como ações estratégicas aquelas que possuem
efeito abrangente, pois surtem resultados significativos nas organizações; as que
definem a posição da organização em relação ao seu ambiente e aquelas que
possibilitam que a organização se aproxime de seus principais objetivos em longo
prazo.
O desenvolvimento estratégico de uma empresa trata da formulação do modo
como deve atuar e competir, segundo seus objetivos e meios de alcançá-los. Para
isso é necessário elaborar um método ou modelo que relacione o perfil da empresa
ao ambiente de cada segmento de mercado, de maneira a permitir que ela
53
concorra de forma mais eficaz, o que significa um planejamento estratégico
(Silveira in Sant’Anna e Quirino, 2002: 27-28).
O design pode agir em nível estratégico, tático e operacional
66
. Quando falamos em
design como estratégia de gestão, nos referimos à sua atuação nestes três níveis. O
nível estratégico é de responsabilidade da alta gerência e diz respeito às seguintes
atividades:
1. Garantir a eficácia do processo de design.
2. Assegurar treinamento dos gerentes e equipes de design.
3. Contratar consultores em design.
4. Proporcionar um ambiente organizacional adequado ao processo de design
estratégico.
5. Avaliar o processo de design dos produtos.
6. Estabelecer incentivos e planos de carreira para as equipes de design.
7. Avaliar o desempenho dos produtos.
8. Gerenciar processos de certificação dos produtos.
9. Assegurar a eficácia dos processos ligados à qualidade dos produtos.
10. Definir a estratégia e a política de design.
As atividades que representam o nível tático acontecem por meio da gerência de
produtos e são:
1. Assegurar se o produto desenvolvido é compatível com o planejamento
estratégico da organização.
2. Organizar a preparação do briefing
67
do processo de design.
3. Alocar os recursos, controlar os gastos e organizar o fluxo de caixa.
4. Garantir a integração dos esforços das equipes envolvidas, monitorar os
progressos e tomar ações corretivas, quando necessário.
5. Assegurar que os recursos oferecidos às equipes de projeto serão adequados.
6. Controlar as vias de comunicação e troca de informações.
7. Manter a alta gerência informada sobre os avanços e cronograma de projeto.
8. Organizar a avaliação do produto e gerenciar os projetos.
Já o nível operacional é de responsabilidade da gerência da equipe de design, que,
por sua vez, precisa:
66
Ver: Santos, 2000: 89-91.
67
O briefing de design será referenciado no tópico 2.3.1., “Planejando e desenvolvendo o produto”.
54
1. Participar da elaboração do briefing do design para garantir que ele será
adequadamente definido e de aplicação prática.
2. Prover adequados recursos de design para que o programa definido seja
atingido.
3. Garantir que as equipes de design tenham as habilidades necessárias para a
execução das etapas do processo de design e que o treinamento adequado
seja ministrado;.
4. Assegurar que a organização, procedimentos e serviços de informação
relativos aos projetos serão adequados e atualizados periodicamente;
5. Dividir as tarefas entre os designers garantindo que os requisitos definidos no
briefing fiquem claros e entendidos.
6. Manter as equipes motivadas.
7. Monitorar em que medida está se obtendo sucesso em atingir os requisitos do
briefing pela análise crítica do processo de design (design review) e negociar
as modificações, quando necessárias.
8. Monitorar os ganhos e perdas com relação ao cronograma.
9. Contribuir para a avaliação do produto.
10. Avaliar os procedimentos relativos ao processo de design e à qualidade do
produto, implementando melhorias, quando necessário.
Mesmo quando se trata da alta gerência, é importante salientar que, se o processo de
design não estiver presente neste cotidiano e não representar nenhuma diferença na
maneira de pensar e gerir da organização, certamente não haverá condições primárias
para que se desenvolva de forma adequada uma cultura de design pelo restante da
empresa.
Quando esses três níveis gerenciais encontram-se envolvidos com a filosofia da
gestão em que o processo de design é um elemento estratégico fica mais fácil para
que o resto da organização participe de todo esse processo, fazendo com que os
produtos desenvolvidos e produzidos sejam, realmente, de alta qualidade e
adequados aos mais diversos usos aos quais serão submetidas durante o seu ciclo
de vida (Santos, 2000: 91).
A gestão de ações estratégicas permite o controle e a avaliação do desempenho da
organização como um todo, envolvendo seus mais distintos setores, dos funcionários
e/ ou colaboradores aos fornecedores, clientes e demais envolvidos. A utilização da
gestão estratégica permite que as decisões e ações empresariais sejam obtidas com
55
segurança, maior êxito e integração, proporcionando maiores oportunidades no
acirrado mercado.
2.3. Design como estratégia de gestão: características e vantagens
Conforme relata Bürdek (2006), com o desenvolvimento da metodologia do design nos
anos 60, desenvolveram-se nos países anglo-saxônicos as primeiras tendências à
valorização do design como uma ferramenta estratégica no auxílio das atividades
empresariais. Estava instaurado o design management, ou seja, a gestão do design.
Mas foi o britânico Michael Farr “o primeiro a fazer algumas reflexões básicas tiradas
da teoria dos sistemas e da gestão de projetos, das quais estabeleceu estruturas de
como o design pode ser manuseado ao nível empresarial” (Bürdek, 2006: 358).
Após os anos 90, as atividades inerentes ao design vêm tomando força junto às
questões administrativas nas empresas, sendo o designer responsável por
desempenhar papéis que atrelem planejamento, projeto e economia. Fala-se, hoje, em
design corporativo, cultura corporativa e, por isso, “o papel especial do design nesta
conexão é o de visualizar os respectivos conceitos e ilustrar as estratégias de
produtos, produzir imagens que se comuniquem de forma não verbal” (Bürdek, 2006:
363).
Acredita-se que a principal vantagem que a implantação de um programa de gestão do
design pode trazer é o resultado que a empresa pode obter com sua imagem no
mercado: alta qualidade de matéria-prima, fabricação e acabamento; propostas
inovadoras a partir das tendências; preços condizentes com o que é oferecido e pelo
desejo de compra. É importante esclarecermos que isto é independente do porte da
empresa, pois, para a mesma, “os produtos são peças, mecanismos, materiais ou
produtos acabados, mas para os consumidores e utilizadores são promessas de
satisfação” (Auriani 2004: 44).
Como vimos há pouco, somente depois de muitos anos de industrialização é que o
design passou a fazer parte das abordagens administrativas e gestoras das empresas,
mas acreditamos que ainda há muito para ser feito, compreendido e disseminado.
Num primeiro momento, há que se avaliar e reinterpretar o design por uma perspectiva
56
que não se limite à estética, e é este o propósito de Bonsiepe (1997: 15) ao propor
uma reavaliação da abordagem do design por meio de sete caracterizações:
“1) Design é um domínio que pode se manifestar em qualquer área do
conhecimento e práxis humana.
2) O design é orientado ao futuro.
3) O design está relacionado à inovação. O ato projetual introduz algo novo
no mundo.
4) O design está ligado ao corpo e ao espaço, particularmente ao espaço
retinal, porém, não se limitando a ele.
5) O design visa à ação efetiva.
6) O design está linguisticamente ancorado no campo dos juízos.
7) O design se orienta à interação entre usuário e artefato. O domínio do
design é o domínio da interface”
68
.
Dentre estas reinterpretações apontadas por Bonsiepe, podemos dizer que quatro
delas estão diretamente ligadas ao design como ferramenta estratégica em uma
empresa de confecção do vestuário, ou seja, são questões facilmente identificadas
durantes os numerosos processos como: o design é orientado ao futuro; o design está
relacionado à inovação; está ligado ao corpo e ao espaço e se orienta à interação
entre usuário e artefato. Podemos dizer que, as empresas de confecção do vestuário
desenvolvem pesquisa de tendências e produzem uma nova coleção enquanto a
anterior ainda está sendo comercializada, ou seja, o desenvolvimento de uma nova
coleção sempre se dá com considerável antecedência. Além disso, a busca pela
novidade ocorre pela inovação que, por sua vez, se caracteriza como importante força
motriz no estímulo do consumo e satisfação dos clientes por meio de uma perfeita
interação entre usuário e/ ou corpo, espaço e artefato.
Para que o design seja reconhecido como uma forma de estratégia dentro da
organização, os designers precisam, de fato, atuar estrategicamente junto às demais
funções e cargos de relevância presentes na mesma, além de “dominar as técnicas de
planejamento, programação e acompanhamento das atividades” (Powell apud Phillips,
2008: 112). É preciso conhecer os setores e suas funções, pois esse profissional não
pode agir “somente como um taxista, como fornecedor de serviço ou como um artista
talentoso” (Phillips, 2008: 24). Os designers precisam ter conhecimentos técnicos dos
processos, além de estar atentos ao que o mercado pode aceitar como novidade a ser
68
A ideia básica de interface sugere uma superfície limítrofe entre dois corpos ou espaços. A interface, no entanto,
vai além de uma simples separação; indica a possibilidade de adaptação, de interconexão, de comunicação entre dois
ou mais sistemas, equipamentos, unidades, etc., que, de alguma forma, apresentem diferenças ou incompatibilidades
funcionais (Lima in Coelho, 2008: 208).
57
consumida. Coordenar as mais diversas equipes existentes em uma empresa não é
tarefa fácil, por isso, esse profissional deve agir como integrador de setores,
possibilitando uma melhor comunicação entre os mesmos, pois um setor é
dependente do outro. Quando há uma conectividade entre o desejo dos consumidores
e a excelência nos processos de desenvolvimento e fabricação, possivelmente o
sucesso será a consequência de um novo produto, de uma nova coleção inserida no
mercado.
Pressupondo que os designers possuem sensibilidade estético-formal e conhecimento
satisfatório quanto a materiais e processos, Bonsiepe enumera algumas das principais
contribuições que uma empresa pode esperar de um gestor de design, dentre as quais
estão:
”Observar e analisar tendências de mercado em termos de design.
Formular as especificações de uso de um produto – funcionalidade de uso.
Elaborar cenários de uso para novos produtos e sistemas de produtos.
Interpretar as contribuições do marketing e traduzi-las para uma realidade
tangível.
Elaborar conceitos básicos – anteprojetos.
Elaborar detalhes técnicos e formais.
Elaborar propostas para acabamento, cores, texturas e gráfica do produto.
Participar na seleção dos materiais e processos de fabricação e de montagem
design for assembly.
Interpretar testes de usuários.
Contribuir para criar a identidade pública da empresa.
Avaliar a compatibilidade ambiental da proposta” (1997: 27).
Poderíamos dizer que estas contribuições são esperadas também para o gestor de
design de moda e, por isso, estabelecemos a relação comparativa que segue:
1. O designer de moda precisa observar o mercado e conseguir prever o que
os consumidores irão desejar vestir, ou seja, desenvolver produtos que
possam provocar o desejo de compra.
2. As roupas precisam ser desenvolvidas de maneira que o consumidor veja
vantagens que o impulsione na aquisição de um novo produto, como, por
exemplo, por meio de características funcionais.
58
3. É preciso articular diálogos que despertem a necessidade de compra, que
convençam o cliente a adquirir uma determinada peça, mesmo que ele já
tenha outras similares.
4. O marketing ajuda nas previsões mercadológicas de que falamos há pouco
e pode ser um importante aliado na tarefa de proporcionar e satisfazer o
desejo dos consumidores.
5. Projetar possibilita a visualização da coleção como um todo, especificando
cada elemento utilizado na criação, assim como o desenvolvimento de cada
peça existente na mesma.
6. A fabricação das peças de uma coleção exige o conhecimento de variadas
técnicas e processos que possibilitarão o bom desenvolvimento técnico e
formal.
7. Todas as propostas que dizem respeito a um produto de moda é parte
integrante do momento de criação, no qual o designer deve fazer uso da
criatividade para diferenciar seus produtos.
8. A participação do designer em todos os momentos de escolha e fabricação
de uma coleção possibilita equilíbrio de custos e tipos das matérias-primas
utilizadas, assim como a otimização dos processos de desenvolvimento das
peças.
9. Efetuar a prova de um protótipo, conhecido como peça-piloto, garante que
questões ergonômicas e possíveis defeitos sejam sanados.
10. Por meio da excelência dos produtos, é possível criar um vínculo entre a
empresa e os consumidores, estabelecendo uma identidade junto ao
público-alvo por meio do desejo e da admiração pelo que é desenvolvido.
11. E, por fim, as empresas de moda precisam estar atentas ao impacto
ambiental de suas produções, assim como às questões de
responsabilidade social empresarial e de sustentabilidade.
Como podemos notar nos parágrafos acima, as atividades que permeiam o universo
do designer são bastante diversificadas e, por isso, espera-se que este profissional
articule pessoas e processos de maneira que haja espaço para a criatividade, embora
esses processos tenham de ser sistematizados e obedientes aos cronogramas
estabelecidos. Acreditamos, dessa forma, que o designer, quando é capaz de
demonstrar conhecimento e segurança naquilo que propõe, passa a ser merecedor do
respeito e da confiança de sua equipe de trabalho, dos seus superiores e demais
59
envolvidos na organização, o que certamente acarretará em um maior empenho de
todos para a concretização de uma tarefa estipulada.
A gestão do design, conforme Santos (2000), pode ser dividida como gestão funcional
do design (relativa apenas a algumas etapas do projeto do produto) e gestão
estratégica do design (integração e plena utilização dos conceitos de design), que
passa a ser um real objetivo da organização. Ao optar por uma dessas duas formas, a
organização deve ter plena consciência das consequências que essa escolha poderá
trazer. A seguir, podemos analisar, por meio do contraponto entre design operacional
e design estratégico, quais as vantagens e desvantagens ao fazer uso de um ou outro:
DESIGN OPERACIONAL DESIGN ESTRATÉGICO
Ação a partir de uma proposta
inicial dada.
Ação desde o início do desenvolvimento do produto,
participando da conceituação do produto, junto com as
demais áreas envolvidas neste processo.
Ação isolada de outras áreas,
buscando uma habilitação
específica.
Ação catalisadora de conhecimentos envolvidos no processo,
assimilando sua interdisciplinaridade.
Pensamento fracionado. Pensamento global.
Eficiência do design =
desenvolver corretamente o
produto.
Eficácia do design (além da eficiência) = desenvolver o
produto correto.
Ênfase nas necessidades do
usuário do produto.
Ênfase nas necessidades e desejos do beneficiário do
produto (incluindo consumidor, usuário, fabricante e
sociedade), tendo os concorrentes como referência.
Ênfase na solução de
problemas.
Monitoramento dos problemas e prospecção das
oportunidades.
Processo de dentro para fora
do produto = a forma segue a
função.
Processo de fora para dentro do produto = a forma segue a
mensagem
Solução de problemas físicos
dos produtos.
Posicionamento psicológico dos produtos por meio da
especificação de atributos físicos.
Tabela 2: Contraponto entre design operacional e design estratégico. (Magalhães, 1995 apud
Santos, 2000: 76).
O design como estratégia de gestão está relacionado à estratégia e à missão da
organização, bem como à identificação dos problemas existentes, à prevenção de
possíveis problemas, à identificação de oportunidades, à análise das necessidades
dos consumidores, à identificação dos concorrentes, ao desenvolvimento e
cumprimento de cronogramas, ao apontamento de recursos necessários, ao
desenvolvimento de projetos, à organização dos processos produtivos, ao controle de
matéria-prima, à seleção de equipes de trabalho, à integração de setores, dentre
outros. Bahiana aponta que a principal conquista que podemos obter ao participarmos
da gestão do design, desde a concepção da própria estratégia até a missão da
60
empresa, permeando toda a concepção do produto e as fases do seu ciclo de vida, se
dá com a capacidade de promover a integração de diversas áreas. Ou seja, “possibilita
o diálogo entre todas as partes interessadas da organização privilegiando as reais
necessidades da mesma” (1998 apud Martins e Merino, 2008: 149-150).
O design como estratégia de gestão busca posicionar satisfatoriamente a empresa,
assim como a marca e seus bens de consumo em seu mercado-alvo por meio de
estratégias competitivas conquistadas ao menor custo possível e com otimização dos
processos. Esta forma de abordagem do design trata da formulação e administração
de todas as atividades que possam trazer melhorias para a empresa em curto, médio
ou longo prazo, mediante o eficaz desenvolvimento de produtos que estejam de
acordo com o desejo dos consumidores, cumprindo prazos e eliminando custos
excessivos. A gestão do design “auxilia a organização a aumentar sua eficiência,
manter-se competitiva e diferenciar seus produtos e serviços. (...) É uma atividade
articuladora e multidisciplinar que atua nos planos estratégicos e operacionais de
acordo com a visão e missão da empresa” (Martins e Merino, 2008: 24-25).
O investimento em design é algo que preocupa os empresários, pois uma grande parte
deles acredita que implementar estratégias de design em suas organizações exige um
montante elevado de recursos financeiros. Há que se saber, conforme a Confederação
da Indústria (Programa Brasileiro de Design, 1999 apud Auriani, 2004: 192) que, na
comercialização, cada dólar investido em design é capaz de trazer cinco dólares de
retorno; na produção, 15% do custo final de um produto são referentes ao
desenvolvimento do projeto de design, sendo os demais 85% consumidos com a
produção propriamente dita. Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
em 500 empresas brasileiras de diversos setores revelou que 75% delas obtiveram
aumento de vendas em função da utilização do design, sendo que 41% das mesmas
reduziram seus custos de produção” (cf. Auriani, 2004: 29).
Como afirma o MIT - Massachussetts Institute of Technology (Auriani, 2004: 29), “os
consumidores se dispõem a pagar um pouco mais por um produto ou serviço
diferenciado”. Isto significa que o design está longe de ser um gasto supérfluo nas
organizações, mas, sim, um fator estratégico para agregar valor e competitividade. É
imprescindível que os empresários abandonem velhos paradigmas como “design custa
caro” ou “design é estética”, para que possam comprovar o custo-benefício em
61
implantar o design em suas organizações. Quando as mesmas fazem uso das
estratégias de design, são capazes de extinguir a cultura da cópia
69
por meio do
desenvolvimento de produtos diferenciados.
É importante lembrar que a gestão de design vai além da concepção do projeto, da
produção, do lançamento e da distribuição dos bens de consumo, pois, como consta
no Manual de Gestão do Design (1997 apud Martins e Merino, 2008: 159), por tratar-
se exatamente de uma ação estratégica, é indispensável a avaliação da eficiência e
eficácia dos produtos com o pós-venda, assim como seu descarte ou re-uso
70
, para
que seja possível pensar novas estratégias ou alterações, se necessário.
É certo que analisar se os produtos de moda estão sendo reutilizados ou ainda
reciclados para outra finalidade é algo extremamente complexo e praticamente
impossível de se quantificar. Fica aqui, somente o questionamento a respeito das
inúmeras intervenções que as criações desenvolvidas pelos designers de moda
podem sofrer. Se analisarmos o nosso próprio guarda-roupa iremos perceber que
algumas peças possuem mais valor do que outras, sendo que este valor nem sempre
é representado pelo montante empregado na compra. É o valor expresso pela alta
qualidade do produto? É o valor sentimental que envolve fatores psíquicos? É o valor
criado pelo momento da compra? O que realmente faz com que valorizemos uma peça
do vestuário entre tantas similares em nossos armários? Sendo assim, os criadores
mais atentos ao mercado e suas preferências certamente irão sair à frente na corrida
pela geração de desejos, afinidades e fidelidade.
O ideal é que a participação do gestor se faça presente em todas as etapas do
processo, nas quais o bem de consumo se insere: no processo de fabricação deve
controlar todas as atividades para que possa atingir ou até mesmo superar os padrões
pré-estabelecidos; quanto aos recursos, deve-se selecionar a ação adaptada a cada
tarefa para garantir sua melhor execução, incluindo treinamento dos operadores e, por
meio da base técnica, buscar ações apoiadas em procedimentos científicos e não em
critérios específicos ou confiados no improviso de certos recursos
71
.
69
Abordaremos este assunto no tópico 2.3.4., “Empreendedorismo, criatividade e inovação versus cultura da cópia”.
70
Após um produto de moda ser descartado pelo usuário, ele pode seguir diferentes percursos, como “incineração,
compostagem, reciclagem ou ainda refabricação e reutilização (do produto inteiro ou de alguns de seus
componentes)” (Vezzoli in Pires, 2008: 198).
71
Ver: Martins e Merino, 2008: 93.
62
Santos afirma que não existe, na história recente do nosso tempo, nenhum período
mais favorável ao desenvolvimento e efetiva consolidação do design, como esse atual:
Enquanto sistema processador de informação, o design nunca teve tantos recursos
tecnológicos à sua disposição como agora. E se levarmos em consideração que os
aspectos tecnológicos se disseminam com uma velocidade incrível e que,
teoricamente, em um curto período de tempo qualquer empresa poderá tê-los à
disposição, produzindo produtos semelhantes aos seus concorrentes em pontos
distintos do globo, podemos concluir que o fator irá permitir um efetivo diferencial
competitivo entre os produtos – cada vez mais tecnologicamente iguais – será a
forma como eles serão pensados e desenvolvidos e os valores a eles agregados
(Santos, 2000: 82-83).
Acreditamos que, quando as empresas de moda investem em acompanhamento e
administração das etapas e nos recursos citados anteriormente, é possível obter maior
agilidade na produção por meio de funcionários qualificados, além de controlar com
eficácia a qualidade e proporcionar economia de matéria-prima, podendo chegar ao
principal objetivo das organizações: despertar desejo de compra e, posteriormente,
satisfazer seus consumidores, obtendo sucesso no acirrado e competitivo mercado da
moda. Assim, o designer, como estrategista, pode representar uma importante
ferramenta competitiva para este mercado, pois, quando se tem um olhar familiar e
crítico do assunto, certamente a agilidade em obter novas estratégias e a sensibilidade
em antecipar os anseios dos consumidores pode fazer toda a diferença.
2.3.1. Planejando e desenvolvendo o produto
Antes de iniciar o desenvolvimento de um produto, é necessário ter em mãos um
briefing de design, conhecido também como briefing criativo, briefing da inovação,
briefing de marketing, briefing do projeto, especificação do projeto ou descrição da
tarefa, dentre outras terminologias. “Todas elas referem-se a uma descrição de um
projeto envolvendo aplicação do design” (Phillips, 2008: 1).
O briefing funciona como uma espécie de documento que reúne todas as informações
pertinentes a um projeto, as quais podem ser relevantes a todos os envolvidos no
mesmo. É exatamente por isso que o briefing não pode ser verbal, precisa ser
documentado de maneira escrita para estar disponível a todos e a qualquer momento.
O briefing tem diversos usos. Serve como acordo ou contrato formal entre as
partes envolvidas no projeto. Serve também como roteiro a ser seguido durante o
desenvolvimento do projeto. Assim, serve para elaborar um cronograma,
63
estabelecendo os prazos para cada uma dessas etapas. Os briefings de design
devem incluir também informações sobre a estratégia da empresa e estratégia do
design. De fato, é útil considerar o briefing de design como parte do planejamento
estratégico da empresa (Phillips, 2008: 14).
A tarefa de desenvolver um produto não é simples, pois depende de atitudes
cuidadosas e meticulosas no desenvolvimento de pesquisa, planejamento, controle e
métodos sistemáticos. Estes implicam a aplicação de conhecimento sobre estética e
estilo, engenharias de métodos e métodos de marketing. O profissional designado a
projetar novos produtos deve ser criativo, capaz de reciclar sempre seus
conhecimentos, desenhar e construir produtos que encantem não somente por sua
forma visual, pois, para obter sucesso em uma venda, é preciso agregar valores e
diferenciais que conquistem o consumidor. Projetar leva em conta todos os sentidos e,
mesmo que à primeira vista o objeto possa agradar, se não agradar também aos
outros sentidos será desprezado em favor de outro, que tenha a mesma utilidade mas
que, “além de adequado na forma, é também agradável ao tato, tem peso correto, é
feito em material adequado, etc.” (cf. Munari, 1998: 374).
Além de desenvolver produtos de alta qualidade e que transmitam as promessas da
marca, os designers precisam se preocupar com outras questões que o mercado
consumidor começa a impor como, por exemplo, oferecer aos clientes bens que
supram suas necessidades mais pessoais, além de levar em conta questões postas
em evidência, como a escassez dos recursos naturais, a degradação do meio
ambiente, a responsabilidade social, dentre outras. Tais questões representam
temáticas emergentes em estudos científicos e junto aos veículos de comunicação,
embora saiba-se pouco quanto às empresas sustentáveis no Brasil. De um fato
estamos certos: o consumidor, ao realizar uma compra, não está adquirindo apenas o
produto físico, mas uma série de promessas, benefícios e atributos associados ao
mesmo.
No mercado atual, podemos encontrar diversas estratégias para o desenvolvimento de
produtos: estratégias de liderança, defensivas, tradicionais ou dependentes (cf. Baxter,
1998: 92-94). Existem empresas que almejam liderar o mercado e sempre buscam
estar à frente de seus concorrentes com estratégias de inovação e, para isso,
dependem de altos investimentos que supostamente retornarão em longo prazo. Há
aquelas que adotam estratégia defensiva seguindo as empresas líderes, ou seja,
deixam que outras empresas arquem com os altos custos de desenvolvimento e
64
corram os riscos para abrir novos mercados para, então, seguir algumas tendências.
Empresas que atuam em mercados estáveis com uma linha de produtos estáticos,
onde existe pouca ou nenhuma demanda de mercado para mudanças, trabalham com
as estratégias tradicionais, ou seja, as inovações são pouco relevantes, limitando-se a
mudanças mínimas no produto para reduzir custos, facilitar a produção e aumentar a
confiabilidade do produto. Existem também aquelas empresas que não possuem
autonomia para lançar os seus próprios produtos, pois dependem de suas matrizes ou
de seus clientes para a introdução de inovações, estas empresas são subsidiárias de
outras ou trabalham sob encomenda, possuindo estratégias dependentes.
Com “um planejamento adequado evita-se que a equipe de projeto fique dando voltas
sem sair do lugar ou que etapas importantes sejam preteridas. Dessa forma, todos
saberão o que fazer, quando fazer e como fazer diminuindo as incertezas comuns em
projetos de design” (Santos, 2000: 104). Quando executamos atividades que foram
previamente planejadas, a possibilidade de alcançar o sucesso em suas realizações é
praticamente a consequência de um trabalho desempenhado por meio do controle das
ações. Pesquisas, estudos, comparações, análise de viabilidade, planejamento, dentre
outras ações, permitem a elaboração de uma estratégia empresarial calcada na
realidade da organização, de seus fornecedores, colaboradores e clientes. Não é
aconselhável, por exemplo, que se desenvolva uma coleção composta por peças com
um custo de produção demasiadamente alto, pois esta poderá comprometer o
orçamento da empresa, assim como não trará equilíbrio à coleção. Outro detalhe ao
qual o designer deve estar atento é quanto às matérias-primas, como tecidos ou
aviamentos, que terão uma fabricação limitada para que não encerrem as vendas de
terminada peça por falta de fornecimento de determinado material.
Desenvolver um planejamento estratégico é fundamental para o sucesso de uma
organização, pois o mesmo permite que haja o controle dos recursos, objetivos,
etapas e processos, assim como das possíveis adversidades que possam ocorrer.
Para Maximiano (1995 apud Martins e Merino, 2008: 99), um bom planejamento “visa
garantir a eficiência e a eficácia de um sistema”, o sistema da moda e, como aponta
Santos (2000: 74), o que realmente passa a ter importância é a eficácia do processo
de design, ou seja, do desenvolvimento do produto certo; e não o conceito
ultrapassado de eficiência do processo de design, que se dá ao desenvolver
certamente o produto.
65
2.3.1.1. Prazo e disciplina
Um fator que pode colocar a perder um produto, ainda em sua fase de
desenvolvimento, é o atraso. Se o tempo previsto para o desenvolvimento de
determinado bem for superado, os gastos podem tomar grandes proporções e
comprometer os lucros previstos, além de que o atraso no lançamento do produto
compromete todo o fluxo de capital da empresa. Alguns estudiosos, como Baxter
(1998), acreditam que o maior prejuízo causado pelo atraso é a perda de oportunidade
no mercado, embora isto seja difícil de quantificar. É chamado de custo de
oportunidade, que não é propriamente um custo, mas aquilo que a empresa deixou de
faturar, por ter desperdiçado a oportunidade.
Compensa investir recursos extras no desenvolvimento de produtos para manter
os prazos e os custos de desenvolvimento dentro dos limites previstos. Porém,
quanto mais dispendioso for o desenvolvimento do produto, mais detalhado deve
ser o seu planejamento, para justificar o seu investimento, sendo que começar o
desenvolvimento sem ter um planejamento bem feito é como sair por aí,
navegando às cegas, sem ter um destino certo (cf. Baxter, 1998: 91, 122, 123).
Todo planejamento deve ser acompanhado de perto pelo designer e ter seu
fechamento no desenvolvimento de um cronograma que estabeleça prazos para a
execução das tarefas e lançamento dos produtos. Para isso, são estabelecidas as
etapas de desenvolvimento do produto, a fim de estimar o tempo necessário para cada
uma delas, determinando os pontos para realizar controles de qualidade e supervisão
de tarefas, extinguindo possíveis falhas. Somente com um planejamento completo e
bem definido de determinado bem de consumo é possível que algumas estratégias ou
características sejam alteradas, se preciso, sem que o mesmo se descaracterize em
relação ao que foi anteriormente projetado.
O planejamento de produto exige autodisciplina. É imprescindível que se cumpra bem
essa tarefa para que possíveis aborrecimentos sejam evitados durante o
desenvolvimento e haja o aumento das chances de sucesso no mercado, pois as
“falhas de planejamento irão ter reflexos no desempenho do produto final que é o
responsável direto pelo trinômio vendas/faturamento/lucro da organização” (Santos,
2000: 37). É certo que quanto melhor for o planejamento do produto, maiores serão
suas chances de sucesso comercial, sendo que quanto mais tempo for empregado no
planejamento do produto, mais tempo será economizado nas etapas de seu
desenvolvimento.
66
2.3.1.2. A gestão de variabilidade
Conseguir enxergar lacunas em tempo hábil de mudança e ter maleabilidade para a
realização das mesmas pode significar vantagem competitiva em relação aos
concorrentes. Esta dinâmica é chamada de gestão de variabilidade
72
e, diz respeito à
capacidade de reconhecer as falhas e não temer por ajustes ou mudanças por parte
dos evolvidos nos processos organizacionais, sendo crucial na maximização das
formas de articulação em busca da realização dos objetivos. O designer, juntamente
com sua equipe de trabalho, deve ser capaz de discernir quando há a necessidade de
alterar esses planos, pois essas alterações são absolutamente normais e
fundamentais para o bom andamento do design na organização.
Rever caminhos e alterá-los, se necessário, de forma alguma é sinônimo de erro,
tampouco fraqueza. Em um mercado, principalmente o de moda, no qual as relações
estabelecidas mudam constantemente em um ritmo frenético, os imprevistos,
mudanças e readequações representam, na maioria das vezes, controle
organizacional, visão empreendedora e confiança na equipe de trabalho. Permanecer
estagnado pode, por um curto momento, até gerar segurança, mas dificilmente irá
culminar em êxito. É preciso estar vigilante e ter “cartas na manga”, por isso, dentro da
gestão estratégica é indispensável que o planejamento, juntamente com todos os seus
componentes como, por exemplo, os cronogramas, permitam adequações quanto a
questões de variabilidade mercadológicas e organizacionais que não comprometam o
desenvolvimento do produto e seu impacto junto ao consumidor final.
A variabilidade é algo constante no cotidiano das empresas, mas nem sempre é vista
e administrada com a devida importância. Martins e Merino (2008: 205-206) alertam
para a possibilidade de nos depararmos com variáveis independentes e dependentes
em relação ao universo das organizações. As independentes pertencem ao contexto
externo da empresa, como a economia do setor, o setor de atuação e o plano
estratégico dos concorrentes que “são incontroláveis, pois já ocorrem anteriormente ou
independentemente da intervenção”, por isso, é necessário o acompanhamento
constante do mercado e suas ocorrências para que não haja surpresas desagradáveis
e danos irreversíveis. Já as variáveis dependentes dizem respeito ao organograma, à
72
Ver: Rocha in Barbará e Freitas, 2007: 35-52.
67
maneira de gerenciar, à cultura organizacional e ao poder de competitividade, que
devem constantemente ser revistas e controladas.
2.3.2. O designer como líder para a interdisciplinaridade
empresarial
Na contemporaneidade, as organizações precisam ser cada vez mais flexíveis,
ampliando seus ambientes de relação e sua capacidade de integração. Chiavenatto
(1987) esclarece que “a flexibilidade organizacional permite o predomínio de uma
interação lateral sobre a vertical, mas que a mesma só é possível em ambientes que
permitam uma integração setorial” (apud Auriani, 2004: 40). A partir desta afirmação,
podemos dizer que o designer que eventualmente for responsável por uma equipe de
trabalho, ou seja, uma equipe de desenvolvimento de produto, poderá deixar de
assumir uma postura de chefia para assumir uma de liderança. Dessa forma, não há
mais a hierarquia por meio de uma organização vertical, mas sim uma horizontal que
permite as mais variadas intersecções e consequentemente, diferenciadas formas de
trabalho que através da integração atingem a otimização dos projetos e processos.
Pode-se afirmar que o gestor de design possui a responsabilidade de atuar como
elemento motivador, capaz de viabilizar processos e tarefas organizacionais por meio
de planejamentos e equipes de execução. É muito comum encontrarmos no Brasil, por
exemplo, empresas que confeccionam vestuário sob uma estrutura rigorosamente
hierarquizada, ou seja, que possuem uma estrutura padrão formada por unidades que
trabalham separadamente e com funções distintas: a alta cúpula caracterizada pela
administração propõe um novo produto que terá sua parte técnica desenvolvida pelo
setor responsável, sendo os designers responsáveis apenas pelas características
estéticas e o pessoal de marketing pelo lançamento do produto no mercado. Esta
forma isolada de trabalho com uma departamentalização rígida diminui as chances de
sucesso desse novo produto, que provavelmente terá seu desempenho comprometido
por fragilidades que irão surgir. Martins e Merino (2008: 32 e 229) apontam neste
exemplo que um problema de funcionalidade poderia ter sido percebido pelo designer,
e um problema de logística poderia ter sido percebido pela unidade de vendas; ou
seja, ao manter essas estruturas de trabalho isoladamente, corre-se o risco de acabar
perdendo de vista os reais objetivos da organização e até mesmo agir somente a favor
68
dos objetivos do próprio setor. Assim, a gestão de design harmonizando ações,
integrando áreas por meio de uma coordenação dosada e coerente pode contribuir
significativamente com as organizações que desejam melhorar seu desempenho
durante a criação, o desenvolvimento e a fabricação de seus produtos.
Acredita-se que o designer de moda possa atuar como um líder e não somente como
um desenhista. Na verdade, o designer como líder teria a função de coordenar
processos e equipes, inclusive equipes de criação, mediante projetos, planejamentos e
cronogramas de ação. Este profissional deixa de ser um estilista para ser um gestor de
projetos por meio de uma estratégia que visa a maximizar os processos mediante seus
melhores desempenhos. “Pessoas chefiadas tendem a cumprir uma rotina, enquanto
aquelas lideradas apresentam mais iniciativa e criatividade” (Powell apud Phillips,
2008: 108-109).
Estabelecer essas numerosas formas de relacionamento entre os setores da empresa,
ou seja, relações interdisciplinares, não é tarefa fácil, pois demanda muito tempo,
dedicação, tato e paciência. É preciso estar alerta o tempo todo para coletar
informações e dados pertinentes, para que seja possível, aos poucos, realizar ações
promissoras que refletirão confiabilidade e credibilidade para a solução e prevenção
de possíveis desencontros organizacionais. Se as empresas forem omissas em
pesquisas, planejamento e acompanhamento constante dos setores, assim como em
suas atividades e inter-relações, permitindo que estes se desvinculem, possivelmente
haverá uma concorrência setorial dentro da própria organização. Isso,
impreterivelmente, ocasionará insatisfação no desenvolvimento das atividades.
Quando nos referimos às empresas do vestuário, a falta dos suportes citados acima e
a cobrança por resultados imediatos geram uma produção indiscriminada de bens de
consumo que podem acarretar relevantes consequências, como a má qualidade
ergonômica e de material, além da cultura da cópia e do desperdício de matéria-prima
e força de trabalho.
2.3.3. Empreendedorismo, criatividade e inovação versus cultura
da cópia
69
O bom designer é aquele que possui espírito empreendedor e facilidade para criar e
inovar. Ser empreendedor pode às vezes causar um pouco de repulsa no sentido de
parecer um tanto quanto despreocupado com consequências, principalmente por, na
maioria das vezes, se tratar de projetos com um considerável grau de risco financeiro.
Conforme José Dornelas
73
, um estudo recente desenvolvido pela Fundação
Kauffman
74
, nos EUA, revela conclusões que poderiam ser facilmente entendidas
como um retrato do empreendedor brasileiro, em que os entrevistados afirmam que o
fato de ser empreendedor está muito mais relacionado à atitude de cada um do que ao
seu local ou país de procedência. Tanto os participantes deste estudo americano
quanto os brasileiros pesquisados por Dornelas apresentaram as mesmas respostas
para o que supostamente impediria que um candidato chegasse ao sucesso como
empreendedor, dentre elas:
Aversão ao risco.
Necessidade de muita dedicação, esforço e disponibilidade de tempo.
Dificuldade de obter recursos e financiamento.
Falta de habilidade em gestão de negócios.
Falta de conhecimento sobre como começar um negócio.
Falta de conhecimento sobre o setor e o mercado no qual quer atuar.
Pressões da família para manter o emprego e evitar os riscos do próprio
negócio
75
.
No caso específico deste estudo, tratamos o designer de moda como um profissional
que possui conhecimento tanto parar iniciar um novo negócio, quanto para atuar em
um já existente, sendo o mesmo detentor de conhecimentos sobre o setor e de
habilidades para gerir negócios, o que o faz um profissional empreendedor. Estas
características mencionadas, juntamente com as questões de riscos - necessidade de
dedicação, esforço e disponibilidade de tempo, facilidade para obter recursos
financeiros e a existência de pressão familiar -, determinarão se o proprietário de uma
dada empresa possui ou não caráter empreendedor.
73
Ver: http://www.josedornelas.com.br; http://wwwplanodenegocios.com.br
74
Disponível em: http://www.josedornelas.com.br/wp-content/uploads/2009/12/making-of-a-successful-entrepreneur.
pdf
75
Dados coletados em: http://www.josedornelas.com.br/artigos/o-que-faz-um-empreendedor-ter-sucesso-2/
70
Drucker afirma que “a inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o
meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio
diferente ou um serviço diferente” (2008: 25). E é exatamente neste sentido,
juntamente aos já tratados, que o designer de moda se caracteriza como
empreendedor neste momento. Inovar é, para a moda, trazer algo novo, mas, em
contrapartida, é relativamente difícil introduzir um novo produto no mercado que tenha
um maior grau de inovação, pois “alguns consumidores apresentam tendência
conservadora e só estão dispostos a mudar de hábito se tiverem uma boa razão para
isso” (Baxter, 1998: 21).
O designer não precisa radicalizar nas diferenças, pois isso poderia até prejudicar a
empresa. “O segredo de uma inovação bem sucedida é a gerência do risco
76
” (Baxter,
1998: 2). Durante o processo criativo, muitos fatores são levados em consideração,
sendo os mais decisivos aqueles caracterizados pelos problemas com os quais o
designer tem de lidar. Em alguns casos, o problema não é solucionado de imediato,
mas o fato de associá-lo e combiná-lo com o que se espera do projeto e conseguir
visualizar suas verdadeiras proporções faz com que haja uma preparação para a
extinção do mesmo. Todo esse processo permite que o cérebro continue trabalhando
inconscientemente em busca de possíveis soluções. “O antigo alquimista Rosarium
sugere: procurastes com afinco e não achastes nada, deixastes de procurar e
achastes. Souriau diz que é necessário afastar-se do problema central, procurando
inspiração nas vizinhanças: para inventar, é necessário pensar lateralmente” (cf.
Baxter, 1998: 56).
Ser criativo é o ponto principal da atividade do designer. Qualquer que seja a fase do
desenvolvimento do projeto, ela será desafiadora se realmente partir de algo inovador.
Sabemos que o design exige disciplina e método, e isso às vezes bloqueia a
criatividade de alguns profissionais que se sentem limitados, quando, na verdade,
deveriam se sentir amparados. Munari (1998) exemplifica que há pessoas que, ao
terem de observar regras para fazer um projeto, sentem-se bloqueadas na sua
criatividade. Criatividade não significa improvisação sem método, e está longe de se
resumir em uma liberdade desassistida.
76
A gerência de risco será tratada a seguir no tópico 2.3.4.
71
Ser criativo não é algo tão simples quanto parece, e exige muito esforço. A criatividade
pode ser estimulada primeiramente por meio da inspiração que, é formada por meio
das numerosas referências coletadas e caracterizada como o primeiro sinal que surge
na mente para uma descoberta criativa. Segundo Munari (1998: 44), enquanto a ideia
ligada à fantasia pode chegar a propor soluções irrealizáveis por razões técnicas,
materiais ou econômicas, a criatividade mantém-se nos limites do problema, limites
que resultam da análise dos dados e dos subproblemas.
A inspiração raramente surge do nada, caracteriza-se como resposta a uma
necessidade de solucionar um determinado problema e revela-se àquele que está
preparado para recebê-la. “A fortuna favorece as mentes preparadas” (Louis Pasteur
apud Baxter, 1998: 54). O designer deve manter o equilíbrio entre o subjetivo e o
objetivo e este equilíbrio só ocorre quando o profissional consegue ser criativo, sem
tirar os pés da realidade. Pensi (in Fiell, 2001: 134) aponta que o designer vive entre
dois mundos: o subjetivo e o objetivo, sendo que o primeiro baseia-se em símbolos,
originalidade, relativa imutabilidade e natureza intrínseca dos objetos, está ligado à
magia da criatividade, à influência da história e da memória e aos grandes mestres e
visionários do design. O segundo mundo é o mundo real, ligado aos mercados,
investimentos, custos, fabricantes e prazos de produção. Dessa forma, percebemos
que um mundo representa o desejo e o outro, a realidade, sendo que, quanto mais
próximo estiverem os desejos da realidade, melhor será o desempenho do designer.
Para que haja o processo de preparação no momento da criação, é necessário que o
cérebro assimile todos os fatos e ideias existentes, para serem incubados e
processados. É primordial descobrir e descartar tudo o que está impedindo o
surgimento de ideias para então mergulhar no problema, tornando-o familiar, a fim de
estimular o cérebro a pensar lateralmente, iniciando o processo criativo. Na maioria
das vezes, quando menos se espera, a solução pode surgir repentinamente, mas
lembre-se: isso só acontece quando há um grau de preparação no qual todos os
elementos essenciais para a solução do problema se encontram alojados na mente.
Baxter (1998: 53) acredita que a criatividade geralmente resulta de associações,
combinações, expansões ou visão, sob um novo ângulo, de ideias existentes, onde a
preparação é o processo pelo qual a mente fica mergulhada nessas ideias e mesmo
quando não se trabalha no nível consciente, a mente continua a processá-las.
Podemos dizer que o designer age como problematizador das adversidades
72
encontradas ao desenvolver um planejamento, um novo projeto e um novo bem de
consumo.
A criatividade pode e deve ser estimulada, mas, para que isso ocorra, é necessário
que haja concentração, persistência e muito esforço. A criatividade, conforme Baxter
(1998: 45), é uma das mais misteriosas habilidades humanas e vem sendo altamente
estimulada nas últimas décadas, a fim de desbloquear as mais obstruídas pessoas e
organizações. Assim, acredita-se que a criatividade pode ser estimulada e todos
podem ser criativos, desde que se esforcem para isso.
Parece um tanto quanto metódico este esforço para se alcançar um patamar desejável
de criatividade, por isso nos perguntamos: como isso acontece na moda? Há a
disponibilidade de todo este tempo de preparação? Existe uma ordem para gerar algo
criativo? Sabemos que na moda o tempo é impiedoso e o desejo por novidades é
constante, portanto criar uma coleção após a outra que tragam elementos criativos é,
sem dúvida alguma, o grande desafio para o designer de moda. Talvez as novidades
para uma nova coleção surjam no momento que outra ainda é desenvolvida em uma
sobreposição de tarefas e percepções. O grande desafio para o criador de moda é
manter-se atento a tudo e a todos em busca de elementos de inovação para o
desenvolvimento de uma nova coleção.
“Sob a ótica industrial, o Brasil precisa encontrar e valorizar a qualidade no design de
moda que o identifique e o projete internacionalmente; ter um design próprio é
perceber o valor do produto de moda” (Braga, 2006: 49). Nosso país, porém, em
termos de design, está longe de atingir toda sua potencialidade. A indústria do
imediatismo faz com que os profissionais sempre tenham que correr atrás das
tendências, ou seja, na maioria das vezes não há um investimento em pesquisas,
projetos e estudos de viabilidade na confecção dos artigos de moda, fazendo com que
os objetivos almejados sejam conquistados apenas superficialmente. Essa busca
desordenada pelo que “está na moda” acabou por gerar uma cultura da cópia em
nosso país. Young (in Fiell, 2001:186) acredita que proteger uma inovação em técnica
de fabrico ou ideia deveria ser um fato de primeira importância para o design do futuro.
A nossa aspiração de design é surpresa, beleza, invenção, curiosidade, inteligência e
divertimento (Pearson & Lloyd in Fiell, 2001: 130). Mas, infelizmente, circulamos em
73
períodos em que o trabalho de toda gente parece igual (cf. Mays in Fiell, 2001: 114).
Isaac Newton (apud Baxter, 1998: 54) profere belas e sábias palavras como um
excelente exemplo de que é necessário estar atento ao que acontece e se desenvolve
à nossa volta, com o intuito de ampliar horizontes e até mesmo fazer das boas ideias
já existentes espécies de catapultas para se alçar voos ainda mais altos: “se fui capaz
de enxergar mais que os outros, é porque me apoiei nos ombros de gigantes”.
A cultura da cópia não é algo recente e sempre causou incômodo naqueles que
tiveram suas ideias imitadas. Talvez, na tentativa de reprimir os copiadores, é que,
desde o ano de 1977, existe em Hannover, na Alemanha, uma feira que concede o
Prêmio Plagiarius
77
ao país participante que copiou o maior número de produtos de
origem alemã. Em Berlim, há o Museu Plagiarius, dedicado aos plágios industriais,
piratarias, dentre outras definições que retratam o limite entre o original e a cópia.
Palomino (2003: 92) acredita que devemos ser íntegros, verdadeiros e criativos; sendo
que o mais importante hoje é ficar atento às mudanças de mercado, trabalhar um
marketing eficiente, investir na qualidade e no design autoral.
Pesquisas realizadas pelo Sebrae apontam as qualidades da cultura brasileira dentro
dos processos de confecção de bens, sendo caracterizados como pontos fortes:
“Pluralismo racial e cultural.
Elementos culturais provenientes de tradições e experiências de vida
autenticamente populares.
Alegria e otimismo.
Características pluralistas e sincréticas da cultura.
Ênfase nos relacionamentos pessoais.
Hospitalidade e cordialidade.
Criatividade” (Morelli, 2002: 43-44).
Podemos constatar que a criatividade aparece na última colocação das qualidades da
cultura brasileira dentro dos processos de fabricação de bens de consumo. Talvez, a
mesma esteja nessa colocação não por ser uma deficiência dos designers, mas por,
muitas vezes, estes profissionais serem pressionados a desenvolver coleções em
curto espaço de tempo. Por isso, acabam por copiar ou fazer pequenas mudanças em
peças coletadas de editorias, catálogos, sites, revistas ou quaisquer que sejam os
77
Ver: http://www.plagiarius.com
74
veículos de publicidade que ofereçam esse tipo de informação. Essas atitudes, além
de extinguir todo o potencial de criatividade, fazem com que esses profissionais
deixem de lado importantes questões, como a adequação ao uso, ou seja, o conforto,
a praticidade e a ergonomia que as peças precisam oferecer ao consumidor. Essas
fontes deveriam ser utilizadas com a finalidade de atualizar os conhecimentos, fazer
uso de novas tecnologias, conceitos e tendências, com o propósito de estimular a
criatividade.
Seria este tipo de cópia a tal imitação criativa
78
a que se refere Drucker? Como o
próprio autor retrata, a imitação criativa representa uma certa divergência de termos,
pois supõe-se que o que é criativo é, por consequência, original. O autor ainda diz
que, algo que uma imitação não apresenta é originalidade. No entanto, Drucker (2008)
explica que esta se trata de uma estratégia empreendedora que consiste na imitação
em sua substância, ou seja, o empreendedor faz algo que alguém já fez, porém, de
maneira criativa. Por meio de uma melhor compreensão do objeto a ser copiado, ele
consegue avaliar seus déficits, maximizando suas qualidades e aperfeiçoando o
produto por meio de algum grau de informação.
“A imitação criativa é uma estratégia que almeja a liderança do mercado ou do setor,
se não a dominação do mercado ou indústria. Mas é muito menos arriscada. Quando o
imitador criativo se movimenta, o mercado já está estabelecido e o novo
empreendimento já aceito” (Drucker, 2008: 304).
A chance que se tem de não haver este tipo de imitação ocorre somente quando o
inovador “original” fez tudo corretamente da primeira vez e, portanto, não dá margem
às melhorias, pois “o imitador criativo vê os produtos ou serviços sob o ponto de vista
do cliente” (Drucker, 2008: 306) e, por isso, identifica suas falhas para um possível
aperfeiçoamento.
Seria este o caminho que a moda vem percorrendo? Seria a imitação criativa o mesmo
que a estratégia defensiva
79
a que se refere Baxter (1998)? Estas indagações podem
nos levar ou não a algumas conclusões, porém, o que importa é que nos levem a
refletir o caminho que a moda vem trilhando, pois, ao se falar em cópia é certo que se
78
O termo foi abordado inicialmente por Theodore Levitt, da Harvard Business Scholl.Ver: Drucker, 2008: 301-302.
79
Tratamos dos tipos de estratégias no tópico 2.3.1. Planejando e desenvolvendo o produto.
75
crie uma repulsa. Mas, qual é a impressão ao abordarmos a “imitação criativa” ou
ainda uma “estratégia defensiva” em nossas realidades?
O fato é que existem organizações que, com o intuito de economizarem recursos
financeiros, acabam prejudicando o seu próprio sucesso, pois desejam pagar pouco
por um profissional da espécie “faz tudo”. Sabemos que esse tipo de atitude o
desgasta. Ele, por sua vez, por ser continuamente pressionado, não desenvolve um
bom trabalho embasado em estudos, pesquisas e testes. “O design é um processo de
transformação das ideias das pessoas em formas” (Ekuan, 1995: 61). “A minha
esperança é de que o design não se torne simplesmente um chavão comercial, mas
que venha a definir algo que implique qualidade e melhoria” (Newson in Fiell, 2001:
126). Acredita-se que o design e sua coerente aplicação nas empresas de moda pode
representar uma significativa melhoria para o setor, sendo de responsabilidade do
designer o seu constante aprimoramento que, certamente, o tornará ainda mais
criativo a ponto de deixar adormecida a tão presente cultura da cópia.
2.3.4. Gerência de riscos
Um dos momentos mais difíceis no trabalho do designer é o de ter discernimento em
conciliar várias soluções com o projeto global. Para solucionar o problema geral, o
designer precisa coordenar de forma criativa as soluções dos subproblemas. Neste
momento, a criatividade se faz muito importante, ocupando o lugar da ideia e se
direcionando de acordo com seu método. O profissional não deve sair à procura de
uma ideia geral que possa resolver de imediato esse problema, pois, num primeiro
momento, pode até surtir um efeito razoável e aceitável, mas que, com o passar do
tempo, culminará em produtos carentes de qualidades e de novidades. É por isso que
“o designer precisa, primeiramente, definir o problema como um todo, para então,
definir os limites para o projetista trabalhar” (Munari, 1998: 32).
É muito importante saber distinguir se um problema tem solução ou não, além de ter
muito claro um parâmetro de solução que se pretende atingir, pois uma solução pode
ter um caráter provisório quando é preciso, por exemplo, que esta seja definitiva.
Assim, quanto maior for a incerteza para a tomada de uma decisão, mais cautelosas
devem ser as atitudes e, conforme Cooper diz: “é somente quando a incerteza começa
76
a diminuir que podemos aumentar o valor das apostas” (apud Baxter, 1998: 8). Uma
maneira de visualizar as variações de risco e incerteza durante todo o processo de
desenvolvimento de produto é através do funil das decisões
80
, que representa o
processo de tomada de decisões em que os retângulos são as alternativas possíveis e
as formas arredondadas são as decisões propriamente ditas durante a seleção de
alternativas que reduzem gradativamente os riscos.
Usando o funil das decisões, percebemos as vantagens em ir de fato ‘afunilando’ todo
o processo de desenvolvimento do produto por meio dos acertos nas tomadas de
decisão. Afunilar é simplificar, e este é um difícil trabalho que exige muita criatividade.
“Simplificar quer dizer, reduzir custos e diminuir o tempo de trabalho, de montagem, de
acabamento, ou seja, resolver problemas ao mesmo tempo com a mesma solução”
(Munari, 1998: 126).
O futuro será simplista, e é indispensável que seja se queremos consumir tecnologia,
onde a ilustração da complexidade não tem importância, mas apenas o resultado.(...)
Quanto maior for a complexidade de um projeto, mais ressonante tem de ser a
verdade (Hecht in Fiell, 2001: 74).
Figura 1 – Funil das decisões, mostrando o processo convergente da tomada de decisões com a redução
progressiva dos riscos (Baxter, 1998: 9).
80
O funil de decisões apresenta a tomada de decisões sequenciais durante o desenvolvimento de novos produtos,
mostrando as alternativas disponíveis e as decisões tomadas ao longo do processo de desenvolvimento, reduzindo
progressivamente o risco ao longo do processo de desenvolvimento (cf. Baxter, 1998: 9-11).
77
É impotante salientarmos que Baxter apresenta o funil das decisões em uma
abordagem de produtos que, por sua vez, possuem características de criação,
efemeridade e produção que, passam longe das peças do vestuário de que tratamos
neste estudo. Sendo assim, o intuito principal em trazer este conceito se justifica
devido ao momento de desenvolver do projeto de uma nova coleção, ou até mesmo, o
desenvolvimento de uma nova marca de moda, em que ambos necessitam de análise
criteriosa dos possíveis caminhos a seguir, buscando por meio de estudos, a seleção
do melhor deles.
Abordar análises como as do funil das decisões na criação de cada modelos de uma
determinada coleção de moda seria relativamente impossível devido ao tempo
disponível e, além do mais, acabaria não surtindo o efeito desejado devido a falta de
possibilidade em avaliar peça a peça como se cada uma delas fosse um produto como
um carro ou um eletrodoméstico. Neste caso, conforme dito, a avaliação refere-se ao
início do desenvolvimento da coleção, quando se está desenvolvendo o seu briefing.
É indiscutível que a prática do design requer um remodelamento constante das nossas
ideias, já que precisa se adaptar às numerosas e novas possibilidades que surgem a
todo o momento. Simplificar talvez seja um caminho acertado para a solução dos
problemas, já que se pode eliminar tudo o que não serve e que atrapalha a realização
dos projetos.
2.4. Responsabilidade Social Empresarial
Desde o ano de 1990, o movimento de Responsabilidade Social Empresaria – RSE
vem ganhando força e evoluindo, tendo como prioridades a ética e a transparência nos
negócios, sendo que “a ética nos negócios ocorre quando as decisões de interesse de
determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de todos
aqueles que, de uma forma ou de outra, são por elas afetados” (Istituto Ethos, 2003:
9).
Podemos dizer que responsabilidade social trata-se do compromisso da empresa com
a ética e com o desenvolvimento econômico, gerando melhorias na qualidade de vida
78
de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade.
Infelizmente, muitos desavisados confundem o conceito de RSE com filantropia, mas
as razões por trás deste paradigma, conforme o portal Responsabilidade.com
81
, não
interessam somente ao bem-estar social, mas também envolvem melhor performance
nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade. O portal aponta, ainda, que a
busca pela responsabilidade social corporativa tem, grosso modo, as características
de ser plural, distributiva, sustentável e transparente.
O fato de ser plural significa que as empresas não devem satisfações apenas aos
seus acionistas, mas têm de prestar contas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao
setor não-governamental e ambiental e, por fim, às comunidades com quem opera.
Esta dinâmica empresarial de inclusão de novos parceiros sociais em seus processos
decisórios faz com que as organizações só tenham a ganhar, pois um diálogo mais
participativo não apenas representa uma mudança de comportamento da empresa,
mas também significa maior legitimidade social.
Ter característica distributiva quer dizer que a responsabilidade social nos negócios é
um conceito que se aplica a toda a cadeia produtiva, em que não só o produto final
deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse
comum. Portanto, ele deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo
produtivo. Assim como os consumidores, as empresas também são responsáveis por
seus fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços
usados ao longo de seus processos produtivos.
A responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de desenvolvimento
sustentável. Esta postura diz respeito a uma atitude responsável em relação ao
ambiente e à sociedade. Não só garante a não escassez de recursos, mas também
amplia o conceito para uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não se
refere apenas ao ambiente, mas por meio do fortalecimento de parcerias duráveis,
promove a imagem da empresa como um todo e, por fim, leva ao crescimento
orientado. Ser sustentável é possuir uma natureza preventiva que possibilita a
prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais.
81
Disponível em: http://www.responsabilidadesocial.com/institucional/institucional_view.php?id=1
79
A globalização traz consigo demandas por transparência. Empresas são gradualmente
obrigadas a divulgar sua performance social e ambiental, os impactos de suas
atividades e as medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes.
Nesse sentido, certamente as empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais,
onde sua atuação poderá ser aferida nas mais diferentes modalidades possíveis.
Muitas empresas já o fazem em caráter voluntário, mas muitos preveem que relatórios
socioambientais serão compulsórios num futuro próximo.
Sabemos que, em um passado não muito distante, o que identificava uma empresa
competitiva era basicamente o preço de seus produtos e, posteriormente, a qualidade
que os mesmos eram capazes de oferecer. Hoje, porém, as empresas precisam estar
constantemente em processo de aperfeiçoamento não só de seus produtos, mas
também, como afirmam os estudos realizados pelo Instituto Ethos, “devem investir no
aperfeiçoamento de suas relações com todos os públicos dos quais dependem e com
os quais se relacionam: seus clientes, fornecedores, empregados, parceiros,
colaboradores, além da comunidade em que atua e o governo” (2003: 6). Assim,
podemos afirmar que a RSE é, sem sombra de dúvidas, um importante fator de
sucesso para os negócios.
As empresas precisam estar atentas a tudo o que acontece à sua volta e,
principalmente, ter consciência do impacto que sua produtibilidade, assim como todas
suas ações, representarão para a sociedade e o ambiente em que atuam. Montana e
Charnow (2000: 39) acreditam que as empresas precisam se antecipar aos problemas
sociais do futuro e agir agora em resposta a eles.
A RSE pode ser definida como um conjunto de iniciativas:
Que preconizam o desenvolvimento de negócios sustentáveis, tanto do ponto de
vista econômico, quanto do ponto de vista social e ambiental.
De caráter voluntário.
Voltadas aos seus diferentes públicos ou partes interessadas.
Focalizadas na dimensão ética de suas relações com esses públicos, bem como,
na qualidade dos impactos dos impostos da empresa sobre a sociedade e o meio
ambiente (CNI, 2006: 9).
As organizações que se rendem à RSE, além de cumprir com suas obrigações legais,
possibilitam a melhoria no relacionamento com seus fornecedores, clientes, governo e
80
sociedade e, ainda, proporcionam ambiente de trabalho adequado aos seus
funcionários. Tudo isso faz com que, principalmente no caso das micro e pequenas
empresas, haja crescimento com redução do risco de falência, que costuma ser
corriqueira entre os novos empreendimentos. Dessa forma, as empresas socialmente
responsáveis podem contribuir consideravelmente para o futuro do país, alcançando
reconhecimento e prestígio no mercado.
A responsabilidade social vem se tornando cada vez mais importante nas decisões
dos consumidores, pois muitos têm o desejo de contribuir, mesmo que indiretamente,
com a preservação do meio ambiente, ajudar instituições de apoio, promover a
inserção social e a valorização do trabalho daqueles que confeccionam os produtos
adquiridos.
O Instituto Ethos (cf. 2003: 12) trata da ser, dividindo-a em sete temas que acabam se
tornando sete diretrizes; estas últimas estão indicadas entre parênteses: Valores e
Transparência (adote valores e trabalho com transparência); Público Interno (valorize
os empregados e colaboradores); Meio Ambiente (faça sempre mais pelo meio
ambiente); Fornecedores, Consumidores e Clientes (envolva parceiros e
fornecedores); Comunidade (proteja clientes e consumidores); Governo (promova sua
comunidade); Sociedade (comprometa-se com o bem comum).
É espantoso saber que muitos conhecem a RSE mais por seus mitos do que por sua
verdadeira importância para a sociedade como um todo. Este é um dos principais
problemas que impedem os empreendedores de serem, com maior entusiasmo,
socialmente responsáveis. Os mitos de que falamos são, conforme o CNI (2006: 21-
23): custa caro ser uma empresa socialmente responsável; para ser socialmente
responsável é necessário ser uma grande empresa; para que as empresas sejam
socialmente responsáveis é necessário que elas constituam institutos ou fundações e;
a empresa socialmente responsável está assumindo um papel que é do governo.
Há que se ter o discernimento que as empresas socialmente responsáveis devem
adotar a ética e a transparência em todas as suas relações. Estas, por sua vez, não
dependem de custos financeiros e, sim, de confiança mútua e respeito. Podemos
seguramente afirmar que a ética, a transparência e a preocupação com o bem comum
são qualidades que estão ao alcance de qualquer empresa, independentemente de
81
seu porte, podendo significar um diferencial que agrega valor junto ao mercado,
solidificando as organizações no decorrer dos anos por meio de ações responsáveis e
sustentáveis, ainda mais que, segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística
82
, as pequenas e médias empresas representam cerca de 80%
da economia brasileira, ou seja, a grande maioria em nosso país.
É primordial que as empresas socialmente responsáveis sejam rentáveis e que a ética
e a transparência se façam presentes em todas as suas áreas e departamentos, pois
institutos ou fundações geralmente são criados quando existe interesse em realizar
Investimento Social Privado. Já o papel do governo é o de estabelecer e fazer cumprir
as leis, além de manter um clima propício ao desenvolvimento econômico e social,
investir no bem-estar dos indivíduos e oferecer educação, saúde e cidadania. As
ações sociais voluntárias das empresas complementam as ações do governo, mas
não devem se confundir.
Por meio destas justificativas, fica explícita a importância da quebra destes
paradigmas em forma de mitos, pois uma empresa que procurar agir com
responsabilidade certamente só terá a ganhar. Os consumidores, cada vez mais
atentos e exigentes, estão interessados em avaliar a consequência de suas compras,
sendo que as organizações que demonstrarem um maior cuidado em suas múltiplas
relações e interferências, certamente terão maiores chances de prosperar.
2.5. Responsabilidade socioambiental e sustentabilidade
Alguns estudos históricos apontam que as preocupações com o impacto ecológico
negativo causado pelo industrialismo data, pelo menos, do século XIX. Cardoso,
porém, diz que foi somente no final da década de 1960 que o movimento ambientalista
começou a tomar as feições que hoje conhecemos.
Em 1969, o ICSID
83
aconselhou os designers a darem prioridade à qualidade de
vida sobre a quantidade de produção. Pelo seu envolvimento estreito com o
processo de produção industrial, os designers têm demonstrado um nível elevado
de consciência com relação a questões ecológicas (design ambiental ou eco-
82
Ver: www.ibge.gov.br
83
International Council of Societies of Industrial Design. Ver: http://www.icsid.org/
82
design) e as soluções adotadas pela categoria refletem uma boa disposição para
acompanhar as rápidas mudanças de pensamento em uma área que exige uma
constante abertura para o novo e muita flexibilidade em termos de metodologia de
projeto (Cardoso, 2004: 215).
Pela primeira vez na história, em nosso dia a dia, nas escolas, nos meios de
comunicação, são discutidos os efeitos prejudiciais da industrialização. As pessoas
reconhecem que a destruição das florestas, a poluição das águas e o alto índice de
resíduos são caracterizados pela produção exacerbada e inconsciente de bens. Isso
vem motivando novas atitudes como o racionamento de água e energia, além de criar
desafios, oportunidades e influenciar o mundo dos negócios.
Os designers de hoje têm uma grande responsabilidade. Eles têm que criar
produtos que comuniquem as promessas da marca, que sejam fabricados de forma
eficaz e com elevado nível de qualidade e que se liguem intimamente com as
pessoas que os irão comprar e usar. Os produtos do futuro também terão de ser
mais ecológicos particularmente devido às restrições de recursos naturais nos
mercados de consumo nos países em vias de desenvolvimento (Lunar Design in
Fiell, 2001: 106).
Os dissabores provenientes da relação consumo e meio ambiente há tempos não são
meras suposições e alardes, se é que um dia assim o foi. Não nos resta dúvida
alguma de que a busca incessante pelo novo e a produção indiscriminada de bens se
tornam insustentáveis em longo prazo, colaborando com o esgotamento dos recursos
naturais, atingindo, assim, os limites do equilíbrio ambiental. “A transitoriedade, o
caráter passageiro e a efemeridade, são o cerne da noção de Moda: hábito ou estilo
variável no tempo. Moda passa! Sempre passa, por definição” (Mesquita, 2004: 25).
Nossa sociedade extinguiu totalmente o ideal de permanência dos bens, na qual a
efemeridade governa a produção e o consumo, fazendo com que a durabilidade
desses bens se torne um sério problema ambiental. “Os dilemas ambientais colocam a
durabilidade do produto não como uma vantagem, mas como um problema a ser
superado através do aperfeiçoamento de tecnologias de desmonte, reciclagem e
substituição de materiais” (Cardoso, 2004: 97). O grande desafio é fazer com que o
governo e os empreendedores se conscientizem da realidade em que nos
encontramos e que comecem a ponderar os meios que utilizam para alcançar o
crescimento industrial e econômico em prol do bem-estar coletivo.
O design de sistemas e a gestão da qualidade estão sendo cada vez mais eficazes
para projetar o uso de recursos de maneira eficiente, planejando o consumo e
83
eliminando o desperdício. Cardoso (2004) alerta que, se é verdade que as ameaças
ambientais mais graves advêm do consumo indiscriminado de matérias-primas e do
acúmulo de materiais não degradáveis descartados, como lixo, então o
aperfeiçoamento de sistemas de reciclagem e de reaproveitamento deve se tornar
uma prioridade para o design em nível industrial.
O designer possui papel fundamental nas questões ambientais e precisa pensar cada
vez mais no ciclo de vida do produto a ser fabricado, buscando soluções que, para
Malaguti e Oliveira (2000 apud Cardoso, 2004: 218), devem aperfeiçoar três fatores:
1. Uso de materiais não poluentes e de baixo consumo de energia;
2. Eficiência de operação e facilidade de manutenção do produto;
3. Potencial de reutilização e reciclagem após o descarte.
As empresas “demonstrarão toda sua eficiência quando transformarem seus insumos
em produtos com o mínimo de perda de energia e de materiais” (CNI 2006: 20). É
preciso que a gestão ambiental estimule as organizações a reverem seus padrões de
eficiência na utilização de energia, bem como na reutilização e reciclagem de
materiais, contribuindo, assim, de forma fundamental para o controle e a redução de
custos e, consequentemente, para os níveis de produtividade e competitividade das
empresas.
Os consumidores também podem cooperar com o equilíbrio ambiental policiando seus
hábitos de consumo, pois, apesar de toda consciência adquirida ao longo
principalmente das quatro últimas décadas, cultuamos o excesso como uma
vantagem, como uma necessidade. “O consumidor quer sempre o mais novo, o mais
rápido, o mais avançado por definição, sem perguntar se existe necessidade real de
se manter na crista do progresso tecnológico” (Cardoso, 2004: 218-219).
As empresas não podem agir como organizações isoladas, pois as mesmas interagem
constantemente com outras empresas, com o governo e, principalmente, com
pessoas. Conforme afirma a CNI (2006), para viabilizar essas interações, elas
estabelecem relações contratuais em que as partes se obrigam a cumprir o que foi
combinado entre elas, sob determinadas condições. Assim, para garantir a
sobrevivência desta complexa rede de interações, é fundamental que as empresas
sejam legalmente responsáveis. É necessário que todas as suas relações contratuais
84
sejam estabelecidas em conformidade com a lei, e que esses contratos sejam
rigorosamente cumpridos.
Por mais bem elaborados que sejam os contratos, é difícil que consigam prever tudo o
que é possível quando se trata de legislação trabalhista, ambiental e o código de
defesa do consumidor. Mesmo os mais abrangentes são incapazes de estabelecer
regras e padrões para as relações diárias entre empresa e colaborador, empresa e
clientes, empresa e consumidores, empresa e concorrentes, e, ainda, empresa e
outras empresas. Assim, os empreendedores são obrigados a decidir “o que fazer” e
“como fazer”, embasados em seus valores e convicções éticas. “A partir desse ponto,
o que conta, não são mais os controles externos, mas sim a liberdade e a
responsabilidade, a partir das quais a empresa decide fazer o que é certo e o que é
justo” (CNI, 2006: 12).
Questões ligadas à sustentabilidade surgiram no final do século XX devido aos
problemas em consequência da industrialização. Dentre as mais variadas definições,
podemos dizer que o termo implica manter o estoque de recursos ambientais
utilizando as matérias-primas conscientemente, de forma que as mesmas não se
extingam no futuro. “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991: 46 apud Afonso, 2006: 11).
A sustentabilidade se apresenta como uma proposta extremamente complexa, pois,
para atingir níveis satisfatórios de mudança nas formas de fabricação e utilização de
recursos naturais, a transformação estrutural do sistema em que vivemos teria que
ocorrer com a participação de todos os setores da sociedade. Temos, como exemplo,
questões quanto à redução nos níveis de poluição do ar, em que tal esforço “demanda
modificações no setor produtivo, nas políticas de transporte, nas estratégias de
planejamento urbano e regional, nos hábitos dos cidadãos, e requer incentivo ao
desenvolvimento das ciências e tecnologias” (Afonso, 2006: 8).
Mas o que, na verdade, faz com que uma empresa pratique a sustentabilidade? Ao
adotar o design, as organizações tendem a observar todos os setores e processos dos
quais fazem parte. Assim, o início da prática da sustentabilidade é norteada pela ética,
compromisso, respeito e responsabilidade. Implica o êxito em suprir as necessidades
do presente, sem colocar como prioridade seus próprios anseios e tampouco
85
comprometer as gerações futuras, além de colaborar com o crescimento econômico,
com a justiça social e com o meio ambiente. A empresa sustentável precisa, antes de
tudo, ser economicamente responsável, zelar por sua eficiência, produtividade e
rentabilidade.
Afonso (2006: 12-13) lista uma série de transformações necessárias para que haja a
sustentabilidade:
Todos tenham suas necessidades básicas atendidas e lhes sejam
proporcionadas oportunidades de concretizar seu desejo de uma vida melhor.
Os padrões de consumo sejam mantidos dentro do limite de interferência que o
meio natural pode suportar.
As necessidades humanas sejam atendidas de modo igualitário, assegurado a
todos as mesmas oportunidades.
A evolução demográfica esteja em equilíbrio com o potencial produtivo dos
ecossistemas.
Os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra – atmosfera, água, solo e
seres vivos – não sejam degradados.
O acesso equitativo aos recursos ameaçados seja garantido, reorientando-se
os avanços tecnológicos no sentido de aliviar as pressões de sobre-utilização
dos recursos.
Os recursos renováveis sejam usados dentro de limites que permitam sua
regeneração natural.
Os recursos não-renováveis sejam utilizados de modo racional, com ênfase na
reciclagem e no uso eficiente, de modo que não se esgotem antes de haver
substitutos adequados.
Os impactos negativos sobre a qualidade do ar, da água e dos demais
elementos naturais sejam minimizados, a fim de manter a integridade global do
sistema.
Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos nos
processos decisórios.
Um sistema econômico que produza excedentes em bases confiáveis e
constantes.
Um sistema social que resolva as tensões provenientes da distribuição
desigual de renda e benefícios.
86
Um sistema de produção que respeite a necessidade de conservar a base de
recursos naturais.
Um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções.
Um sistema internacional que estimule a interdependência entre economia e
conservação dos recursos ambientais na formulação de regras para comércio e
financiamentos.
Um sistema administrativo flexível, que tenha a capacidade de modificar as
estruturas legais e institucionais visando o bem-comum.
Mediante tais considerações, podemos perceber que questões relacionadas à
redistribuição de renda também integram a busca pela sustentabilidade. Mas como
isso seria possível em um mundo capitalista, o qual aplica métodos para lucratividade
máxima no menor tempo possível? O capitalismo é totalmente destoante das
propostas de uso consciente dos recursos naturais, seja aguardando sua
recomposição natural ou promovendo sua substituição, no caso dos recursos não-
renováveis. São por estes e outros motivos que as críticas mais frequentes quanto às
propostas para a sustentabilidade “estão relacionadas ao fato de que a ação no
sentido recomendado implica numa reforma estrutural mundial muito radical e pouco
provável (Afonso, 2006: 24).
Quando pensamos na realidade de nosso país, concluímos que existe muito a ser feito
e que esta situação perdura por anos a fio, sem melhoras expressivas. Nossa
distribuição de renda se mostra extremamente desigual, o que provoca a deficiência
de setores básicos, como os de saúde, moradia e educação, revelados pela
subnutrição, más condições de moradia, doenças, analfabetismo e criminalidade. Será
que isso significa que nunca seremos um país sustentável?
É claro que medidas com este porte de reestruturação certamente é o que todos
almejamos, mas há que se ter o mínimo de senso de realidade e reconhecer que
estamos significativamente distantes destas propostas. A Agenda 21 Brasileira
84
traça
algumas estratégias e ações a partir de seis temáticas que são: Gestão dos Recursos
Naturais, Agricultura Sustentável; Cidades Sustentáveis; Infraestrutura e Integração
Regional e Redução das Desigualdades Sociais
85
. A Agenda prega que o
84
Ver: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=908
85
Ver: Afonso, 2006: 49-56.
87
desenvolvimento das estratégias propostas mediante ações de prevenção, reposição,
incentivo, implementação, transparência, geração de oportunidades, alterações e
reestruturações necessárias, dentre outros, dentro das temáticas citadas, seria o
caminho para o desenvolvimento de estratégias de integração, pois, como afirma
Afonso (2006: 7), “o novo conceito mostrou que soluções isoladas são apenas
paliativas e que será necessário transformar nosso modo de vida para recuperar a
qualidade dos ambientes”.
Mediante todas as considerações relatadas neste tópico, podemos afirmar “a
existência de uma possível visão de negócios diante do novo quadro ambiental
através do cumprimento de desafios que irão gerar oportunidades” (Instituto Ethos,
2003: 54). Os grandes desafios se caracterizam por redesenhar processos para
melhorar o uso dos recursos naturais; rever as atuais condições sociais, educacionais
e econômicas; conhecer melhor a origem e o destino do material usado e processado
e entender as particularidades desses aspectos no seu negócio. Dessa forma,
certamente surgirão novas e significativas oportunidades, como a redução de gastos,
em função da melhor administração dos recursos, além do desenvolvimento de
produtos e serviços elaborados com maiores cuidados em relação ao impacto
ambiental e que, certamente, atenderão aos consumidores mais atenciosos e
exigentes.
88
Capítulo 3 – Aspectos
metodológicos e resultados da
pesquisa de campo
Com base nas considerações
apresentadas no referencial teórico,
é apresentada a problemática de
estudo que foi analisada nesta
investigação. Assim, a partir do
problema de pesquisa e destes
conhecimentos adquiridos através
da pesquisa bibliográfica foi
possível elaborar o seguinte
procedimento metodológico, que
permitiu a análise do problema
proposto.
3.1. Especificação do problema
Com o objetivo de alcançar a
compreensão de um determinado
fenômeno, partiu-se de um quadro
teórico que subsidia o ordenamento
das ideias que são o norte da
pesquisa. Esta pesquisa foi
orientada para o design como
estratégia de gestão, com seu foco
direcionado para o seguinte
problema: qual é a importância do
designer de moda nas empresas do
vestuário de Cianorte?
As perguntas de pesquisa
89
subjacentes ao problema em exame e que orientaram o estudo, foram as seguintes:
Quais as opiniões e as impressões dos empresários atuantes no ramo do
vestuário quanto aos profissionais de moda da cidade?
O que esses empresários pensam a respeito da responsabilidade social
empresarial, das atividades de design e sobre o designer de moda?
As empresas de Cianorte são lançadoras de moda ou se apoiam na cultura da
cópia?
Que impressão os empresários têm para com os estagiários ou novos
profissionais em suas empresas?
Os empresários detêm conhecimento, aceitam e valorizam a criação de moda
embasada no design?
A procura e a demanda de profissionais de moda têm sido compatíveis?
Existe a integração entre empresas de vestuário, comunidade acadêmica,
instituições de ensino e profissionais de design?
3.2. Objetivos da pesquisa
Objetivo geral: explicitar a importância do design para as empresas de moda de
Cianorte, assim como o nível de relevância dada ao designer pelos empresários da
região.
Objetivos específicos:
Tomar conhecimento das impressões que os empresários de moda estão
tendo quanto à oferta de profissionais no mercado de trabalho de Cianorte.
Procurar saber se os empresários possuem conhecimento, aceitabilidade e
valorização a respeito da criação de moda embasada no design, assim como a
respeito da contratação de novos profissionais em suas empresas.
Saber a opinião destes empresários quanto a temáticas como responsabilidade
social empresarial, design e designer.
Investigar, por meio dos relatos dos empresários, o tipo de estratégia utilizada
para ingressar no mercado e se suas empresas lançam moda ou se apoiam
em cópias.
90
Detectar se há integração entre empresas do vestuário, comunidade
acadêmica, instituições de ensino e profissionais de design, assim como as
atitudes que o mercado de Cianorte precisa tomar para melhorar, no ponto de
vista dos empresários.
E por fim, após medir a utilização do design de moda dentro de algumas
empresas de Cianorte e, posteriormente em forma de considerações finais,
levantar reflexões a respeito do design como uma das possíveis ferramentas
estratégicas para a gestão.
3.3. Tipologia de pesquisa
Para avaliar as diversas situações e relações decorrentes da vida social, econômica e,
demais aspectos do comportamento humano do grupo de pesquisa, foi definido, como
método para o desenvolvimento deste trabalho, a pesquisa descritiva. Essa, por sua
vez, visou observar, registrar, analisar e correlacionar fenômenos ou fatos, sem
interferir no ambiente analisado, caracterizando-se como o tipo de pesquisa mais
usado nas ciências sociais, que por sua vez, pode assumir a forma de estudo
exploratório, descritivo, de caso e, ainda, de opinião.
Utilizou-se o estudo descritivo que, conforme Selltiz, Wrightsman e Cook (1975: 59):
Consiste em analisar e descrever características ou propriedades, ou ainda, nas
relações entre estas propriedades em determinado fenômeno. Apresenta
precisamente as características de uma situação, um grupo ou, um indivíduo
específico, além de, verificar a frequência com que algo ocorre ou, com o que está
correlacionado.
Para que a coleta de dados ocorresse de maneira ordenada e controlada, criando um
ambiente consistente para análises e averiguações (Lê Coadic, 1996: 9), a fim de
atingir os objetivos expostos neste trabalho, foi selecionado o questionário como
técnica e instrumento de utilização com análise qualitativa.
O questionário é a técnica mais adequada para a revelação de informações sobre
assuntos complexos, emocionalmente carregados ou, para verificar sentimentos
subjacentes a determinada opinião apresentada. A possibilidade de se refazer as
perguntas, a fim de, torná-las mais inteligíveis para o entrevistado, além de poder
91
solicitar maiores esclarecimentos acerca das respostas obtidas, são outras
vantagens desse tipo de pesquisa (Selltiz, Wrightsman e Cook, 1975: 271-272).
O questionário
86
aplicado aos empresários de moda era composto por três questões
dissertativas que coletaram opiniões pessoais e vinte e três questões objetivas com
questões para serem assinaladas, sendo que quatro delas solicitaram justificativas por
parte do pesquisado. Esta dinâmica explica a possível coincidência de similaridade de
algumas respostas. É importante salientar que todas as indagações tiveram o
propósito de guiar o informante sem o intuito de forçá-lo a alguma resposta.
Como parte do universo desta pesquisa estão os empresários do setor de confecção
do vestuário de Cianorte, mas como este número é bastante elevado, a amostra
constitui-se da seguinte forma: a partir de um conhecimento pessoal de maior ou
menor intensidade efetuou-se o contato com cerca de vinte empresas formalizadas por
meio de telefonemas, e-mails ou visitas in loco. Estas organizações se dividiam da
seguinte maneira: 13 microempresas, 3 empresas de pequeno porte, 1 média empresa
e 3 grandes empresas
87
. Podemos notar que a procura maior foi pelas microempresas,
que, conforme já vimos, representam a maioria do mercado cianortense. Destes
contatos, oito aceitaram participar da pesquisa, sendo 4 microempresas, 2 empresas
de pequeno porte e 2 de grande porte. Cada questionário foi entregue em mãos pela
pesquisadora, a fim de esclarecer mais uma vez do que se tratava a pesquisa, além
de tirar eventuais dúvidas. O estudo priorizou angariar informações e impressões dos
empresários de moda quanto às vertentes pertencentes ao design de moda, sendo os
mesmos nomeados por letras conforme ordem de entrega da pesquisa.
3.4. Etapas da pesquisa empírica
A pesquisa empírica se concluiu pelo cumprimento de algumas etapas:
Passo 1 – Revisão bibliográfica. Foram pesquisadas literaturas coerentes com o tema
da pesquisa e relevantes para a coleta de informações.
Passo 2 – Delineamento do público a ser pesquisado e procedimentos cabíveis. Ao
escolher os empresários de moda como informantes, foi necessário desenvolver o
86
Disponível como anexo 2.
87
O porte de cada empresa foi identificado pelo número de funcionário, tendo como parâmetros os dados do Sebrae,
conforme consta no questionário disponível como anexo 2.
92
questionário a partir dos dados que pretendíamos angariar e convencer os
empresários a respondê-lo.
Passo 3 – Aplicação do questionário aos empresários. Com visita previamente
agendada nas organizações, deixou-se claro aos empresários qual era o intuito da
pesquisa. Explicitou-se que não se tratava de um teste, pois tinha-se somente o
anseio em saber como os informantes se sentiam frente a algumas questões
pertencentes ao mercado de trabalho de Cianorte, sendo que a única maneira de
chegar a essas respostas seria perguntando.
Passo 4 – Análise das respostas obtidas com os questionários. Todos os questionários
foram revisitados para que todos os dados pertinentes à pesquisa fossem explicitados
por meio de relatos. Com o intuito de preservar a integridade dos informantes e de
suas empresas, não citamos nomes tampouco marcas, a fim de evitar comparações e
até mesmo, a intimidação dos empresários em suas respostas.
Passo 5 – Considerações obtidas com a pesquisa. Por meio do confronto das
pesquisas bibliográficas, da pesquisa de campo realizada em 2007 e da pesquisa de
campo realizada no início do ano de 2010, levantamos questões de implicações
gerenciais e sugestões para futuras pesquisas.
3.5. Resultados identificados
Todos os informantes, conforme solicitado, são proprietários ou sócios proprietários de
empresas de moda formais. Foi desenvolvida uma análise para cada questionário a
partir da divisão e junção de questões afins, que se deu da seguinte forma:
Em um primeiro momento, os empresários foram identificados por meio das questões
de 1 a 9. As questões de número 10 e 11 serviram para apontar a forma com que o
setor de criação é constituído. Já relatos quanto aos investimentos e atribuições
quanto ao design e ao designer foram coletados por meio das questões de número 13,
14, 16 e 17. Para saber a opinião a respeito da oferta de profissionais no mercado de
Cianorte, assim como a qualidade do ensino, utilizamos as respostas das questões de
18 a 22. A análise das respostas obtidas nas questões de número 23, 24 e 26 aponta
quais as preferências e expectativas do empresário quanto ao estilista e ao designer.
A questão de número 25 permitiu ao empresário opinar a respeito de melhorias
93
necessárias aos profissionais do mercado da cidade. E, para finalizar, as questões de
número 12 e 15 revelaram o que os empresários pensam sobre a responsabilidade
social e, ainda, se possuem alguma norma de excelência. É importante salientar que,
embora se apresente as resposta de forma descritiva, a essência das mesmas foram
mantidas, assim como a sequência de raciocínio empregada pelos pesquisados.
Empresário A
Identificação:
Sexo feminino, 26 anos, sócia proprietária de uma microempresa há quatro anos. Atua
como coordenadora de estilo de duas marcas femininas, sendo uma delas com venda
pronta-entrega em uma loja própria no atacado e a outra por meio de representação
comercial por pedidos em seis estados brasileiros. Sua especialidade é o
desenvolvimento de camisarias, vestidos e calças em tecidos planos, tipo alfaiataria,
para mulheres independentes financeiramente.
A criação:
Os trabalhos de pesquisador e designer são acumulados pela estilista, sendo que a
empresa busca realizar investimentos em pesquisas e desenvolvimento para inovar e
incrementar seus produtos, mas, em contrapartida, fica atenta ao que ocorre no
mercado para absorver e fazer melhorias no que está sendo criado pelos
concorrentes, pois, segundo a empresária, a empresa fabrica em cima de tendências.
Design e o designer:
Segundo a empresária, do montante total empregado no desenvolvimento de produto,
15% a 20% é destinado ao investimento em design, o que chega a representar para a
empresa algo em torno de 32% a 48% do resultado final das vendas. Para ela, não se
deve projetar sem método, pois o design implica estudo consciente para o
desenvolvimento de produtos em que é preferível se gastar maior tempo em pesquisas
para economizar tempo e investimentos futuros. A mesma acredita que o designer
deve ser capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e
expectativas do consumidor.
Os profissionais de Cianorte:
94
A empresária alega que ter um estagiário em sua empresa seria bom, pois
possibilitaria a troca de informações, além da melhoria e da inovação dos produtos.
São três as áreas de maior dificuldade em encontrar um estagiário: comercial, estilo e
pesquisas. Quando falamos em profissionais efetivados, a maior oferta de
profissionais são para os setores de acabamento, financeiro e costura. A modelagem
representa, para esta empresa, a maior dificuldade de contratação. A respeito das
Universidades que oferecem graduação em Moda e Design, a entrevistada avalia a
preparação dos novos profissionais como boa, dizendo que os conteúdos poderiam
ser mais aprofundados e a prática deveria ser passada mais detalhadamente para que
o profissional chegasse ao chão-de-fábrica com menos dificuldades e mais
experiência. A mesma declara que ter profissionais recém-graduados é bom, pois eles
são mais motivados, inovadores e se diferenciam no estilo e nas pesquisas,
concluindo melhor um trabalho.
Preferências e expectativas:
A empresária revela que busca, para contratação, profissionais com formação
acadêmica e experiência profissional em outras empresas. Quando indagada a
manifestar sua preferência entre a contratação de um estilista ou de um designer, ela
diz que, diante das atuais necessidades, prefere um estilista devido à sua prática de
desenho para criar uma coleção. Porém, ela alerta que, se já existisse esse estilista
dentro da empresa, com certeza contrataria um designer para melhorar a pesquisa
para a criação da coleção, além de desenvolver um bom planejamento, buscando
errar cada vez menos. A mesma espera que um designer desenvolva o planejamento
de uma coleção, muita pesquisa e acompanhamento da concorrência para a melhoria
das peças.
Existe algo a ser melhorado?
A empresária acredita que os profissionais deveriam ter uma melhor preparação por
meio de cursos, palestras, pesquisas, leituras, dentre outros, salientando que este tipo
de atitude deveria partir do próprio profissional que, por sua vez, poderia buscar apoio
da empresa em que trabalha para se atualizar, ter condições de inovar e amadurecer
em seu respectivo cargo.
Responsabilidade social e normas de excelência:
95
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para a empresária,
as empresas socialmente responsáveis precisam ser éticas e transparentes nas
relações com clientes, fornecedores, colaboradores, governo e comunidade.
Empresário B
Identificação:
Sexo feminino, 45 anos, proprietária de uma empresa de pequeno porte há dezesseis
anos. É responsável pela administração como um todo de uma marca masculina com
venda pronta-entrega em três lojas próprias no atacado. Desenvolve camisetas e
acessórios, além de calças e bermudas em jeans para homens pertencentes às
classes B e C.
A criação:
Não existe na empresa a função de pesquisador, sendo as de designer e estilista
acumuladas por um só profissional. Segundo a entrevistada, a empresa mescla
estratégias de liderança e defensivas, ou seja, investe para colocar-se à frente, mas
também adere ao que seus concorrentes ou marcas conceituadas do segmento estão
desenvolvendo.
Design e o designer:
Segundo a empresária, do montante total empregado no desenvolvimento de produto,
cerca de 5% a 7% é destinado ao investimento em design, o que chega a representar
para a empresa algo em torno de 32% a 48% do resultado final das vendas. Para ela,
não se deve projetar sem método, pois o design implica estudo consciente para o
desenvolvimento de produtos em que é preferível se gastar maior tempo em pesquisas
para economizar tempo e investimentos futuros. A mesma acredita que o designer é
um desenhista, esboçador, programador que possui características de inovação,
confiabilidade e ética, além de sabedoria para prever consequências ecológicas,
econômicas, sociais e políticas. Este profissional, na opinião da entrevistada, deve ser
capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e
expectativas do consumidor.
Os profissionais de Cianorte:
96
A empresária alega que nunca encontrou dificuldade em conseguir um estagiário e
que ter este tipo de profissional é bom, pois ele possui conhecimento teórico, e na
fábrica pode aprender a prática. Quando falamos em profissionais efetivados, a
dificuldade é presente em todas as áreas, principalmente na costura. A respeito das
universidades que oferecem graduação em Cianorte, a entrevistada avalia a
preparação dos novos profissionais como boa, mas os considera desinteressados e
imaturos para o mercado de trabalho.
Preferências e expectativas:
A empresária revela que busca para contratação profissionais mais maduros, com
muita experiência profissional, pois acredita que nem sempre a formação acadêmica é
necessária, afinal, existem ótimos profissionais no mercado sem formação. Quando
indagada a manifestar sua preferência entre a contratação de um estilista ou de um
designer, manifesta sua preferência pelo estilista, pois alega que as empresas
procuradas para trabalhos terceirizados, como lavanderias, bordados e estamparias já
contam com seus designers. A mesma espera que um designer esteja sempre
atualizado no mundo da moda e das tendências para que possa desenvolver o produto
certo para o público-alvo.
Existe algo a ser melhorado?
A empresária aponta que a pouca experiência precisa ser melhorada por meio de
cursos profissionalizantes oferecidos pela prefeitura, sindicatos e instituições de
ensino.
Responsabilidade social e normas de excelência:
Embora a empresa não tenha nenhuma norma de excelência, possui licença ambiental
para sua atuação, além de planos de segurança e saúde no trabalho desenvolvidos
em parceria com o Senai e fiscalizados pelo Ministério do Trabalho. Para a
empresária, custa caro ser uma empresa socialmente responsável, mas a
responsabilidade social depende também da ética transparente nas relações com
clientes, fornecedores, colaboradores, governo e comunidade, ou seja, em todas as
suas áreas e departamentos, assim como em todas as suas interações com as partes
interessadas.
97
Empresário C
Identificação:
Sexo masculino, 36 anos, proprietário de uma microempresa há dezesseis anos. É
responsável pela administração como um todo, além de desenvolver os moldes das
coleções de uma marca feminina com venda em pronta-entrega em uma loja própria
no atacado, além de vendas por meio de representação comercial também no sistema
de pronta-entrega em algumas regiões próximas ao estado do Paraná.
A criação:
A empresa terceiriza grande parte de suas criações, sendo as funções de pesquisador
e designer acumuladas pelo estilista contratado. Após as primeiras vendas, as peças
de maior sucesso vão tendo seus modelos alterados na própria empresa para uma
reedição. Segundo o empresário, a empresa acompanha o mercado, ou seja, procura
absorver rapidamente as informações e inovações disponíveis fazendo, se necessário,
melhorias nos produtos pioneiros.
Design e o designer:
Segundo o empresário, do montante total empregado no desenvolvimento de produto,
cerca de 30% a 35% são destinados ao investimento em design, o que chega a
representar para a empresa algo em torno de 68% a 75% do resultado final das
vendas. Para ele, não se deve projetar sem método e o design é uma atividade
complexa, semelhante a um jogo de estratégias que implica um estudo consciente
para o desenvolvimento de produtos em que é preferível gastar maior tempo em
pesquisas para economizar tempo e investimentos futuros. O mesmo acredita que o
designer é um desenhista, esboçador, programador, que possui características de
inovação, confiabilidade e ética, além de sabedoria para prever consequências
ecológicas, econômicas, sociais e políticas. Este profissional, na opinião do
entrevistado, deve ser capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores,
desejos e expectativas do consumidor. Este empresário sinalizou também que o
design surge apenas em um momento de espontaneidade e inovação e que é a
espécie de um nome atribuído à moda das grandes marcas para valorizá-las e
encarecê-las, sendo o designer um nome dado aos novos estilistas, necessariamente
graduados ou pós-graduados para valorizar a categoria, fazendo com que os
desenhistas sejam mais valorizados.
98
Os profissionais de Cianorte:
O empresário alega que ter um estagiário em sua empresa seria bom, pois poderia
gerar novas ideias, mas esclarece que no momento não deseja ter um estagiário, mas,
sim, no futuro. Quando falamos em profissionais efetivados, a maior oferta de nesta
empresa é no setor de costura, sendo a dificuldade representada pela falta de
profissionais com qualidade de trabalho. Ao ser indagado a respeito das Universidades
que oferecem graduação em Cianorte, o entrevistado avalia a preparação dos novos
profissionais como boa, pois proporciona a geração de novas ideias, sendo boa
também a possibilidade de contratação de um profissional recém-graduado, pois
possibilitaria a partir do trabalho em conjunto, dar vida as criações por meio de
inovação.
Preferências e expectativas:
O empresário revela que busca para contratação, principalmente, jovens profissionais
com formação acadêmica, pois acredita que, unindo inovação e experiência, podem
juntos chegar a grandes ideias. Quando indagado a manifestar sua preferência entre a
contratação de um estilista ou de um designer, diz que, em sua opinião, ambos têm
quase a mesma função, ou melhor, são dependentes e se completam. Porém, ele diz
que, se tivesse de optar, contrataria um estilista. O mesmo espera que um designer
esteja sempre atualizado na área de estilo, principalmente nas tendências.
Existe algo a ser melhorado?
O empresário acredita que a área da produção está sendo esquecida e que as
empresas sofrem com a falta de costureiras no mercado.
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para o empresário,
responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade, ou seja, em todas as suas áreas
e departamentos, assim como em todas as suas interações com as partes
interessadas.
Empresário D
99
Identificação:
Sexo feminino, 52 anos, proprietária de uma microempresa há vinte anos. É
responsável pelo setor financeiro de duas marcas femininas, sendo uma delas com
venda em pronta-entrega em uma loja própria no atacado, e a outra por meio de
representação comercial por pedidos em seis estados brasileiros. Ela desenvolve
roupas para o perfil das jovens mulheres.
A criação:
Os trabalhos de pesquisador e designer são acumulados pela estilista. A empresária
quer manter a liderança no mercado e, por isso, utiliza estratégias de inovação,
investe em pesquisas para o retorno em longo prazo e procura lançar tendências, mas
em contrapartida, alega que fabrica em cima das tendências.
Design e o designer:
Segundo a empresária, do montante total empregado no desenvolvimento de produto,
de 15% a 20%, é destinado ao investimento em design, o que chega a representar
para a empresa algo em torno de 68% a 75% do resultado final das vendas. Para ela,
não se deve projetar sem método, pois o design implica estudo consciente para o
desenvolvimento de produtos em que é preferível gastar maior tempo em pesquisas
para se economizar tempo e investimentos futuros. A mesma acredita que o designer
é um desenhista, esboçador, programador, que possui características de inovação,
confiabilidade e ética, além de ser capaz de interpretar as necessidades, anseios,
sonhos, valores, desejos e expectativas do consumidor e, ainda, ter habilidade para
desenvolver respostas apropriadas para problemas novos testando-as por meio de
protótipos. A empresária sinalizou também que o designer é uma nomenclatura
atribuída aos novos estilistas para valorizar a categoria, a fim de fazer com que os
desenhistas sejam mais respeitados no concorrido mundo da moda.
Os profissionais de Cianorte:
A empresária alega nunca ter tido dificuldade em conseguir um estagiário para a
empresa e que tê-los é excelente, pois acredita na importância de ofertar
oportunidades, sendo que a empresa só tem a ganhar ao passar seus conhecimentos.
Quando falamos em profissionais efetivados, a maior oferta é para o cargo de estilista,
sendo a função de modelagem com domínio de programas computadorizados
100
caracterizada como a maior dificuldade de contratação. Indagada a respeito das
universidades que oferecem graduação em Cianorte, a entrevistada avalia a
preparação dos novos profissionais como boa, desde que aliada à prática para o seu
desenvolvimento dentro de uma empresa. A mesma declara que ter um profissional
recém-graduado é excelente, pois o jovem profissional começa seu trabalho na
empresa com o estilo que a marca precisa para os seus segmentos.
Preferências e expectativas:
A empresária revela que busca para contratação principalmente profissionais mais
maduros, com muita experiência profissional, pois acredita que este tipo se faz
indispensável na organização para dar suporte no acompanhamento dos jovens
profissionais. Quando indagada a manifestar sua preferência entre a contratação de
um estilista ou de um designer, diz que ambos os profissionais são importantes. A
mesma acredita que o designer seja uma necessidade nas empresas.
Existe algo a ser melhorado?
A empresária acredita que, apesar de existirem muitos bons profissionais, os mesmos
precisam buscar novos caminhos, procurar ajuda com os mais experientes e por meio
de cursos para valorizar cada vez mais sua profissão.
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para a empresária,
responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade, ou seja, em todas as suas áreas
e departamentos, assim como em todas as suas interações com as partes
interessadas.
Empresário E
Identificação:
Sexo masculino, 55 anos, sócio proprietário de uma empresa de grande porte que se
iniciou há vinte anos. Atua como diretor comercial de uma marca que tem como carro-
chefe artigos em jeans para homens e mulheres com faixa etária entre 16 e 45 anos
por meio de uma moda jovem que atinge também jovens senhoras, com venda
101
mediante representação comercial por pedidos em todo o Brasil. Trata-se, na verdade,
de um complexo que abrange, além da marca que desenvolve artigos em jeans para
homens e mulheres acima citada e, uma unidade de produção que supre as
necessidades da própria empresa e serve como possibilidade de terceirização de
produção para outras.
A criação:
O trabalho de designer, segundo o empresário, é o único a não ser desenvolvido por
um profissional específico, sendo o mesmo acumulado pelo estilista. A empresa
deseja manter a liderança no mercado colocando-se à frente de seus concorrentes e,
para isso, segue as empresas líderes e fabrica em cima de tendências.
Design e o designer:
O empresário salientou nesta questão que as atividades de design são desenvolvidas
pelos estilistas da marca e, do montante total empregado no desenvolvimento de
produto, cerca de 1% é destinado ao investimento em design, o que chega a
representar para a empresa algo em torno de 68% a 75% do resultado final das
vendas. Para ele, o design implica estudo consciente para o desenvolvimento de
produtos em que é preferível gastar maior tempo em pesquisas para economizar
tempo e investimentos futuros, sendo que o designer, que neste caso é o estilista,
deve ser capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e
expectativas do consumidor.
Os profissionais de Cianorte:
O empresário alega que ter um estagiário em sua empresa é excelente, mas não
justifica sua resposta, destacando que as áreas de maior dificuldade para consegui-los
são a administrativa e a de marketing. Quando falamos em profissionais efetivados, a
maior oferta é para o setor de vendas na função de representante comercial, sendo a
maior dificuldade representada no setor de costura. Ao ser indagado a respeito das
universidades que oferecem graduação em Cianorte, o entrevistado avalia a
preparação dos novos profissionais como boa, dizendo que estes cursos vieram
agregar muito nas confecções por meio da união entre prática e teoria, alcançando
resultados positivos para todas as indústrias e profissionais da área. O mesmo declara
que ter um profissional recém-graduado é excelente, pois o mesmo inicia uma vida
102
profissional sem vícios e vai crescendo juntamente com a empresa, tanto na execução
de seu trabalho quanto nos ganhos de sua remuneração.
Preferências e expectativas:
O empresário revela que busca, para contratação, principalmente jovens profissionais
com formação acadêmica, pois, hoje em dia, quando o acadêmico cursa uma boa
faculdade, acaba trazendo novas ideias, trocando experiências, inovando e
alcançando bons resultados. Quando indagado a manifestar sua preferência entre a
contratação de um estilista ou de um designer, diz que a empresa não possui a função
de designer e que normalmente é desenvolvida pelo estilista, mas reconhece que, com
o crescimento, talvez devesse contratar um profissional exclusivo para esta área. O
mesmo espera que um designer saiba balancear, com coerência, o produto, a marca e
o mercado em que a grife deseja atuar, lembrando-se, ainda, da produção e da busca
por atualização de pesquisa e mercado.
Existe algo a ser melhorado?
O empresário relata que, por terem duas faculdades de moda na cidade, já existem
muitos profissionais na área de estilismo disponíveis no mercado e que estão no
caminho correto.
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para o empresário,
a responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade. Ele observa que toda a empresa
deve se comprometer com a responsabilidade social e fazer a sua parte.
Empresário F
Identificação:
Sexo masculino, 44 anos, proprietário de uma empresa de pequeno porte há nove
anos. É responsável pelo financeiro e pela administração, além de desenvolver o
acompanhamento de todos os setores da empresa, a qual atua no mercado com duas
marcas femininas para um público-alvo de 25 a 40 anos. Uma das marcas efetua suas
vendas por meio de pronta-entrega no atacado em três lojas próprias, sendo a outra
103
marca oferecida por meio de representação comercial por pedidos em 10 estados
brasileiros.
A criação:
O empresário alega que cada função apontada no questionário - pesquisador,
designer, estilista, modelista e pilotista - é desenvolvida por um profissional qualificado
para tal atividade. A empresa deseja seguir as empresas líderes e, por isso, absorve
rapidamente as informações e inovações, fazendo melhorias no que julgar necessário
para fabricar em cima de tendência, ou seja, esta empresa utiliza, claramente,
estratégias defensivas.
Design e o designer:
Segundo o empresário, do montante total empregado no desenvolvimento de produto,
cerca de 30% a 35% é destinado ao investimento em design, mas não apontou uma
resposta referindo-se a quanto o design pode representar no resultado final de suas
vendas. Para ele, não se deve projetar sem método, pois o design implica em estudo
consciente para o desenvolvimento de produtos em que é preferível gastar maior
tempo em pesquisas para economizar tempo e investimentos futuros. O mesmo
acredita que o designer é um desenhista, esboçador, programador que possui
características de inovação, confiabilidade e ética, além de sabedoria para prever
consequências ecológicas, econômicas, sociais e políticas. Para ele, este profissional
deve ser capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e
expectativas do consumidor. O empresário acredita que os designers são profissionais
necessariamente graduados ou pós-graduados em design.
Os profissionais de Cianorte:
O empresário alega nunca ter tido dificuldade em encontrar estagiários e que tê-los é
excelente por quesitos motivacionais, pois, hoje, possui funcionários que iniciaram
suas carreiras como estagiários. Quando falamos em profissionais efetivados, a maior
oferta é para a produção, sendo a maior dificuldade representada pelo setor de
vendas. Ao ser indagado a respeito das universidades que oferecem graduação na
cidade, o entrevistado avalia a preparação dos novos profissionais como boa, dizendo
que seria necessário melhorar os estágios para uma preparação prática adequada,
além de uma visão da teoria estudada. O mesmo declara que ter um profissional
recém-graduado é excelente, pois, apesar de todo começo requerer atenção e
104
paciência de ambas as partes, a empresa toda ganha ao rever ou aprender coisas
novas.
Preferências e expectativas:
O empresário revela que busca para contratação, principalmente, jovens profissionais
com formação acadêmica, pois explica que sua empresa já possui vida própria e
experiência, sendo que precisa de profissionais que tragam inovações sem que o perfil
se altere. Quando indagado a manifestar sua preferência entre a contratação de um
estilista ou de um designer, diz que, por terem funções distintas, se fazem muito
importantes. O mesmo espera que um designer desenvolva tudo o que aprendeu com
maturidade e profundo conhecimento quanto aos objetivos de sua empresa e de seu
público.
Existe algo a ser melhorado?
O empresário acredita que tanto as empresas quanto os órgãos públicos e os
profissionais de Cianorte podem colaborar para a melhoria do mercado de trabalho.
Para ele, as empresas deveriam oferecer maiores oportunidades, os órgãos públicos
poderiam gerar novos cursos e criar centros de apoio, e os profissionais se
especializarem por meio de cursos que embasem o conhecimento da empresa como
um todo, e não somente em um setor.
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para o empresário,
responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade.
Empresário G
Identificação:
Sexo masculino, 25 anos, proprietário de uma microempresa há quatro anos. É
responsável pela administração como um todo de uma marca que tem como carro-
chefe artigos em jeans para os públicos masculino e feminino com faixa etária entre 15
e 30 anos, pertencentes às classes sociais AB e B. Suas vendas são desenvolvidas
por meio de representação comercial por pedidos em dezoito estados brasileiros.
105
A criação:
A empresa não conta com o trabalho de um designer, sendo que as demais funções
apontadas são desenvolvidas, cada uma delas, por um profissional qualificado. A
organização deseja seguir as empresas líderes.
Design e o designer:
Segundo o empresário, a empresa não investe em design, mas o mesmo acredita que
design significa o desenvolvimento de um estudo consciente para o desenvolvimento
de produtos em que é preferível gastar maior tempo em pesquisas para economizar
tempo e investimentos futuros. O mesmo acredita que o designer é um profissional
necessariamente graduado ou pós-graduado em design.
Os profissionais de Cianorte:
O empresário alega que ter um estagiário em sua empresa é bom devido ao seu
constante contato com estudos e atualização, podendo gerar inovação. Mas, apesar
disso, a empresa nunca cogitou ter um estagiário. Quando falamos em profissionais
efetivados, a maior oferta se dá para serviços gerais, sendo os cargos de chefe de
expedição e almoxarifado os responsáveis pela maior dificuldade de contratação. Ao
ser indagado a respeito das universidades que oferecem graduação em Cianorte, o
entrevistado revelou nunca ter contratado ninguém com formação nestas instituições.
O mesmo declara que ter um profissional recém-graduado é bom, pois está com “gás”
e disposto a executar tarefas. Mas existe o lado ruim, representado, neste caso, pela
falta de experiência.
Preferências e expectativas:
O empresário revela que busca para contratação principalmente profissionais com
formação acadêmica e experiência profissional em outras empresas. Quando
indagado a manifestar sua preferência entre a contratação de um estilista ou de um
designer, aponta o estilista, pois acredita e espera que um designer desenvolva a
mesma função.
Existe algo a ser melhorado?
O empresário diz que, por Cianorte ser uma cidade com polo industrial, os
profissionais deveriam ter uma melhor qualificação. Acredita que cursos de
especialização seriam importantes para a capacitação destes profissionais.
106
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para o empresário,
a responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade; mas em contrapartida, acredita
que as empresas socialmente responsáveis são somente aquelas que possuem
institutos ou fundações que promovem trabalhos sociais, educacionais e ambientais,
cooperando com o desenvolvimento do município, estado ou país.
Empresário H
Identificação:
Sexo masculino, 50 anos, proprietário de uma grande empresa que se iniciou há
dezessete anos. Atua como presidente nesta organização composta por quatro
marcas, sendo elas: infantil, feminino e masculino; jovem/ adolescente feminino e
masculino, feminino para a faixa etária entre 18 e 35 anos e feminino para a faixa
etária entre 20 e 45 anos. O sistema de vendas é caracterizado por representação
comercial por pedidos em todo o Brasil.
A criação:
O empresário revela que cada função apontada no questionário é desempenhada por
um profissional qualificado. O mesmo diz que mantém a liderança do mercado por
meio de um posicionamento que utiliza as estratégias de inovação para superar os
concorrentes.
Design e o designer:
Segundo o empresário, a empresa certamente investe acima da média em design,
porém, não mensura percentuais que representem seus investimentos na área. Para
ele, o design é uma estratégia criativa, um investimento financeiro que pode resultar
no atendimento das expectativas dos consumidores quanto ao produto oferecido,
sendo o designer aquele capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos,
valores, desejos e expectativas desses consumidores.
Os profissionais de Cianorte:
107
O empresário alega que ter um estagiário em sua empresa é excelente, pois
representa a formação de recursos humanos para a mesma, sendo a maior dificuldade
representada pela área de publicidade. Quando falamos em profissionais efetivados, a
maior oferta é para o setor de administração; já os setores comercial, de marketing e
de estilo são os de maior dificuldade para contratação. Ao ser indagado a respeito das
universidades que oferecem graduação em Cianorte, o entrevistado avalia a
preparação dos novos profissionais como boa, dizendo que os funcionários oriundos
destas instituições estão em nível de igualdade a outros profissionais formados pelas
principais instituições do país e, por isso, contratar um profissional recém-graduado é
excelente.
Preferências e expectativas:
O empresário revela que busca para contratação jovens profissionais com formação
acadêmica, além de profissionais com formação acadêmica e experiência profissional
em outras empresas, além de profissionais mais maduros com muita experiência
profissional, pois declara que há oportunidade para todos, dependendo do cargo e do
setor. Quando indagado a manifestar sua preferência entre a contratação de um
estilista ou de um designer, ele diz que não faz distinção por formação, mas que
analisa o desempenho individual de cada profissional. O mesmo espera que um
designer desenvolva um trabalho criativo com viabilidade econômica e que atenda às
necessidades do consumidor.
Existe algo a ser melhorado?
O empresário relata que há falta de mão-de-obra qualificada e, por isso, o jovem
precisa buscar sua formação profissional.
Responsabilidade social e normas de excelência:
A empresa pesquisada não possui nenhuma norma de excelência. Para o empresário,
responsabilidade social depende da ética e transparência nas relações com clientes,
fornecedores, colaboradores, governo e comunidade.
3.5.1. Algumas considerações a respeito das análises
108
Como podemos perceber, a maioria dos empresários pesquisados é do sexo
masculino. Apenas dois entrevistados estão na faixa etária dos 25 anos, sendo todo o
restante pertencente a uma faixa etária, que varia de 36 a 55 anos. Das empresas
pertencentes a este estudo, metade delas trabalha simultaneamente com venda no
atacado mediante o sistema de pronta-entrega em loja própria e venda no atacado por
meio de representação comercial. Apenas uma das empresas atua somente como
atacadista com loja de pronta-entrega e as outras três apenas com vendas no atacado
por meio de representação comercial. Detectamos que a maioria das empresas
encontra-se na atividade há mais de dezesseis anos, o que nos faz acreditar que já
estão consolidadas, dando-nos ainda mais credibilidade quanto às respostas e
opiniões. Ao verificarmos os questionários, algumas análises foram retomadas, pois se
mostram pertinentes para possíveis discussões neste momento.
A respeito do que significa a atividade do design e o próprio designer para o
empresário C, observamos alguns equívocos, em nosso ponto de vista. O empresário
tem a noção de que a atividade implica método, estudo e estratégias, e também
acredita que o designer deve interpretar as necessidades dos consumidores e estar
atento a tudo o que pode ser de sua interferência - inclusive o meio ambiente. Apesar
disso, o mesmo sinalizou que a atividade surge apenas em um momento de
espontaneidade e inovação, acreditando que o termo é a espécie de um nome
atribuído à moda das grandes marcas para valorizá-las, encarecê-las e, para enfatizar
os novos estilistas ou desenhistas que entram no mercado de moda.
Conforme já tratamos neste trabalho, o desenho é apenas uma das muitas habilidades
do designer. O design pode e deve ser utilizado por todas as empresas,
independentemente de seu porte, com a finalidade de baratear custos, cumprir prazos,
maximizar processos e oferecer um melhor produto ao consumidor.
O empresário D afirma que as estratégias utilizadas por sua organização são as de
liderança, como: o desejo de se manter líder, de lançar tendências e o investimento
em inovação para perspectivas em longo prazo. Mesmo apontando estas estratégias,
ele revelou que fabrica em cima de tendências. Pode-se afirmar que existe aqui uma
contradição, afinal, se uma organização deseja se manter na crista do
desenvolvimento, ela deve, por sua vez, lançar e não seguir as tendências impostas.
Entendemos que há que se refletir quanto a estas questões, pois acreditamos que os
lançadores são seguidos e, não seguidores.
109
Em um outro caso, o empresário E demonstra traços do anseio por uma estratégia de
liderança, pois almeja colocar-se à frente dos concorrentes, mas continua fazendo uso
das estratégias defensivas. Ele revela seguir as empresas líderes e fabricar em cima
de tendências. Esta empresa certamente seria uma forte candidata a assumir, de fato,
a liderança no mercado, pois já possui um quadro de divisão de funções satisfatório na
área de criação e se encontra em um bom grau de desenvolvimento, estruturação,
organização e solidificação, sem contar que reconhece que talvez esteja no momento
de contratar um designer de moda para ampliar seus horizontes e renovar suas
estratégias.
Quanto à hipótese de ter um estagiário em suas empresas, os entrevistados se
dividiram entre uma alternativa boa e excelente, mas apenas dois deles disseram que
esta atitude representa a oportunidade de formar o quadro de funcionários para a
própria empresa e que isto já vem acontecendo. Outros dois empresários
demonstraram a falta de interesse em empregá-los, mesmo achando que isso seria
bom, pois acreditam na capacidade desses jovens. A grande parte das respostas diz
que um estagiário representa conhecimentos teóricos, inovação, motivação para a
empresa, mas que a falta de experiência é um fator bastante relevante. Talvez seja
por isso que muitos sugerem que as universidades deem mais atenção aos estágios e
ofereçam profissionais recém-graduados com um pouco mais de experiência real de
uma indústria de confecção.
Muitos empresários sugeriram que os novos profissionais precisam buscar
aperfeiçoamento em cursos, palestras, leituras e especializações. Caracterizou-se
como muito pertinente a resposta do empresário H, quando ele disse que, em sua
empresa, há lugar para profissionais recém-formados com e sem experiência
profissional, além de profissionais com muita experiência e sem formação. Se
analisarmos sob esta perspectiva, certamente todas as empresas, na prática, agem
dessa maneira, porque a contratação irá depender única e exclusivamente do trabalho
desempenhado. Ou seja, dependerá do cargo ocupado, mesmo porque a excelência
no desempenho das ações é indispensável para uma empresa de moda, seja na área
de administração, no planejamento, na criação, no desenvolvimento ou no setor de
acabamento. Isso nem sempre implica uma formação acadêmica específica. É
importante salientarmos a importância de um profissional qualificado, mas, em
110
contrapartida, não desqualificarmos os que não possuem uma formação
documentada.
3.5.2. Confrontando as pesquisas
Dentre as diversas questões levantadas na pesquisa realizada no ano de 2007, a qual
já foi devidamente referenciada anteriormente, citaremos as mais relevantes neste
momento, desenvolvendo, a partir disso, um comparativo com a pesquisa realizada
com os empresários analisada há pouco.
Pesquisa realizada em 2007 com os
acadêmicos de moda e design
Pesquisa realizada com os
empresários de moda
11% dos acadêmicos informaram que,
em suas empresas, um só profissional
desenvolvia todas ou grande parte das
etapas de criação.
Notamos que, em algumas empresas, o
estilista acumula a função de designer ou
ainda as funções de pesquisador e
designer. Não tivemos nenhum relato a
respeito de um só profissional da
“espécie faz tudo”, ou seja, aquele que
pesquisa, planeja, cria, pilota e modela.
35% revelaram que as empresas faziam
uso de estratégias defensivas, mas que,
muitas vezes, isso gerava a cultura da
cópia, pois não existia a preocupação em
fazer a apropriação apenas da ideia ou
do conceito.
A maioria dos empresários entrevistados
continua utilizando estratégias
defensivas. Embora já citado, alguns
tentam desenvolver algumas atitudes
características das estratégias de
liderança. Há que se ter cuidado, pois,
em alguns casos, os estratégias
defensivas podem acarretar em cópias de
modelos e não somente de conceitos e
tendências.
111
9% dos informantes acreditavam que
suas empresas não investiam em design
e, 6%, que o design não interferia no
resultado das vendas.
Vimos que a maioria dos empresários
tem muito claro o que significa a atividade
de design e em que implica ter um
designer em suas organizações, mas
ainda esta figura está presente,
efetivamente, em uma minoria.
Quando questionados se o proprietário
da empresa em que trabalhavam
aceitava as propostas de inovação,
valorizava e detinha conhecimento sobre
o design, pouco mais da metade
respondeu negativamente.
Parece que os empresários estão
interessados na inovação que um jovem
profissional pode gerar para suas
empresas, mas, em contrapartida,
quando nos deparamos com respostas
que alegam que estes novos profissionais
devem ser guiados por outros mais
experientes, notamos uma insegurança
em dar credibilidade sem antes testá-los.
Embora a inovação seja algo almejado,
se alguém que já está na empresa
acompanhar um jovem profissional para
ditar exatamente o ritmo da organização
a ser seguido, certamente a inovação
será podada neste momento, pois não
haverá liberdade e sim uma receita de “o
que fazer” e “como fazer”.
58% dos informantes admitiram
dificuldades em ingressar no mercado de
trabalho devido à exigência de
experiência no ramo.
Realmente, a experiência é algo que
todos entrevistados almejam para suas
empresas, o que, na verdade, é
compreensível de certa maneira, pois
dificilmente haverá uma segunda chance
para uma micro ou pequena empresa que
errar totalmente uma coleção.
112
Frente a diversas questões sobre
responsabilidade social empresarial, os
informantes puderam expressar suas
opiniões e uma grande parte dos
pesquisados sabia o que representa
RSE, mas, em contrapartida, também se
confundiu com seus mitos.
Os empresários possuem grande
conhecimento quanto ao que implica
responsabilidade social empresarial,
embora alguns também tenham se
confundido com os mitos que cercam
este assunto, como: custa caro ser
socialmente responsável e apenas
grandes empresas são socialmente
responsáveis, pois podem constituir
institutos.
Após estes pesquisados estarem no
término de uma graduação, ainda foi
possível obter algumas respostas
intrigantes: 10% dos informantes
apontaram o design como uma espécie
de um “nome” atribuído à moda das
grandes marcas para valorizá-las e
encarecê-las, e cerca de 4% que o
design surge somente em momentos de
espontaneidade e inspiração, e que está
presente em produtos com aspecto
“limpo”, linhas mais retas, sem grandes
detalhes, tampouco misturas de materiais
e cores.
Estas também foram as respostas de
alguns empresários, o que demonstra a
necessidade de maior conhecimento de
ambas as partes. Não é a intenção tomar
partido de nenhuma das partes, mas
supõe-se que pessoas formadas têm
mais obrigação de saber sobre suas
profissões do que um empresário que
não detêm formação específica da área.
Uma das questões campeãs de
discussão foi quanto à remuneração dos
pesquisados: 26% alegaram a falta de
valorização do estagiário, a sobrecarga
de funções e a falta de reconhecimento
por parte do empresário.
Os empresários demonstraram empatia
pelos estagiários, mas, em contrapartida,
sugeriram que as universidades dessem
uma maior ênfase aos trabalhos práticos.
Talvez este seja o caminho para o início
de um maior reconhecimento destes
113
jovens profissionais.
Mesmo com muitas reclamações de falta
de reconhecimento, 42% dos acadêmicos
pesquisados manifestaram o desejo de
dar continuidade aos estudos, o que
comprova a busca de aperfeiçoamento.
A maioria dos empresários afirmou que
os profissionais, embora graduados,
precisam continuar estudando, seja por
meio de cursos, palestras, leituras,
especializações, inclusive em áreas
distintas de seu cargo, para atingirem
uma visão geral da empresa e
entenderam as reais necessidades da
mesma.
114
Considerações finais
O desenvolvimento da pesquisa de campo com os empresários, assim como o
confronto com a pesquisa realizada anteriormente com os acadêmicos, tinham como
objetivo detectar alguns pontos críticos quanto à área do design e o emprego de
jovens profissionais.
Ao analisarmos os relatos dos informantes, acreditamos na necessidade da
conscientização quanto às vantagens que um recém-graduado ou um estagiário de
moda podem trazer, assim como, os ótimos resultados alcançados, em longo prazo,
quando há investimento em pesquisa, planejamento e design. O problema é que,
quando falamos em investimento e contratação de novos funcionários, na maioria das
vezes assimilamos isso a custos exorbitantes, quando, na verdade, tudo pode
significar pequenas ações. Os estagiários, por exemplo, podem inicialmente trabalhar
de forma não remunerada ou com remunerações consideravelmente menores do que
as de profissionais com maiores vivências.
Sugerimos que, como um primeiro passo, as instituições se unam em um projeto que
busque esta conscientização, mas se esforcem para oferecer profissionais
qualificados. Há que se ter a consciência que, mesmo tratando-se de um estagiário, o
mesmo precisa dominar a área a que será submetido, pois é importante que não só
aprenda, mas tenha o que oferecer para as organizações. O ideal seria que as
universidades investissem em um ensino com qualidade teórica e qualidade prática.
Seria verdadeiramente maravilhoso um recém-graduado chegar a uma empresa tendo
a noção da importância do adequado desenvolvimento de um mix de produto, assim
como do desenvolvimento de um cronograma de trabalho que tenha coerência e que
funcione na produção.
Durante a preparação dos profissionais de moda e design, é preciso deixar claro a
importância em não se limitar somente à criação, pois o processo envolve muitas
outras áreas. Existe, por exemplo, todo o desenvolvimento administrativo, financeiro e
de marketing. Não estamos sugerindo que um designer tenha que ser atuante nestas
áreas, mas que este criador tenha muito claro o tipo de público-alvo ao qual destina
seu trabalho, o que pode ou não ser investido, como chamar a atenção destes
consumidores, o que está tendo ou não sucesso nas coleções, dentre outros fatores
115
pertencentes a setores que atuam separadamente do processo criativo em si. Além
disso, os designers de moda devem ser preparados para um mercado que tem como
cerne o fator tempo, pois há que se ter a agilidade em desenvolver produtos
desejáveis e rentáveis em um espaço curto de tempo, estando, ainda, preparados
para abandonar tudo isso para o início de um novo ciclo.
O que nos surpreendeu positivamente foi o fato de, embora a maioria das empresas
pesquisadas ser constituída a partir de núcleos familiares, seja por ser uma micro ou
pequena empresa, seja por já ter atingido um patamar de grande empresa iniciada
familiarmente, os empresários têm ao menos o desejo de permanecer à frente, se não
do mercado, pelo menos de seus concorrentes diretos. Isso já demonstra o interesse
em desenvolver atividades que promovam esta diferenciação por meio de estratégias
pré-estabelecidas. Vemos aqui o início do desenvolvimento da prática de estudos e de
planejamento, algo que até pouco tempo era totalmente desconhecido para a
realidade deste perfil de empresa.
É claro que a amostragem deste estudo se define significativamente reduzida
mediante o número de empresas existentes no mercado de moda de Cianorte, mas
pode funcionar como um termômetro da realidade do setor. O que nos deixou
otimistas foi o fato de, nesta pesquisa, não termos encontrado o tipo de profissional de
criação da ”espécie faz tudo”, que identificamos como muito presentes na pesquisa
realizada anteriormente, em 2007, com os acadêmicos. Talvez tenha-se entendido
que, quando um profissional tem sua função claramente definida e não precisa gotejar
em outras áreas, mesmo porque não há como desenvolver todas as etapas que
envolvem a criação de moda de maneira satisfatória e, sim, por meio de pequenos
índices de dedicação, certamente ele terá um desempenho maior do que o esperado
anteriormente. Isso faz com que a correta divisão de funções seja priorizada por se
tratar de um custo que, certamente, irá gerar um sem-número de benefícios.
Podemos afirmar que, questionar os empresários a respeito do design como estratégia
de gestão para um setor no qual a própria figura do designer ainda persiste como nova
e pouco utilizada, seria neste momento, algo em vão. O designer enquanto gestor de
projetos e processos é algo relativamente novo até mesmo na cultura de nosso país,
quem dirá em uma pequena cidade, sendo assim, deixamos registrado aqui a
116
dificuldade em identificar marcas, empresas ou organizações de moda que atuam
nestes moldes, pois esta cultura ainda é pouco disseminada.
Esta pesquisa, portanto, teve como intuito levantar algumas questões inerentes ao
setor de moda local que, conforme abordado, possui grande significância para a renda
do município, mas que ainda pode crescer muito mais, principalmente quando falamos
em projetos que buscam diferenciais competitivos para os produtos.
Fica aqui o registro do desejo de que o setor continue crescendo além da ânsia em
prosseguir este estudo pela ótica do design como uma das possíveis estratégias de
gestão, além da expectativa de que novas pesquisas surjam para verificar, desvendar,
polemizar ou apenas levantar outras questões que dizem respeito às dificuldades
inerentes ao mercado de moda. Esperamos que este estudo desperte, em outros
estudiosos, o anseio de prosperar por meio de novas pesquisas e projetos que tragam
melhorias, não só para o polo de confecção de Cianorte, mas para outros tantos polos
distribuídos pelo Brasil. E também melhorias para as empresas do setor de moda,
para a comunidade acadêmica e todos os seus envolvidos.
117
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124
Anexo 1 – Investigação quantitativa realizada em 2007 com os estudantes dos
últimos anos dos cursos de graduação em Moda e Design da cidade de Cianorte-
PR
Como universo dessa pesquisa, compreende-se os estudantes de moda da UNIPAR –
Universidade Paranaense e, da UEM – Universidade Estadual de Maringá, ambas,
situadas na cidade de Cianorte-PR. Levando em consideração todos os anos do curso
de moda, essas Universidades possuem uma média de duzentos e oitenta alunos. A
amostra constitui-se, levando em consideração, apenas os últimos anos de cada
curso, ou seja, o 3º ano de Tecnologia em Gestão de Moda e Estilo da UNIPAR e, o 4º
ano de Moda da UEM, totalizando cinqüenta informantes. A prioridade da pesquisa era
angariar informações e impressões dos estudantes de moda, quanto ao mercado de
trabalho da cidade; sendo assim, ao constatarmos junto aos coordenadores dos
cursos que, o índice dos estudantes que cursavam outros anos e, simultaneamente,
trabalhavam ou desenvolviam estágios eram irrisórios, optamos por excluí-los dessa
amostragem.
Resultados identificados
A maior parte dos informantes desempenha funções nas empresas de moda com
registro em carteira de trabalho. Podemos observar um equilíbrio entre o percentual
dos que somente estudam, dos que fazem estágios remunerado e não remunerado e,
dos que trabalham nos mais variados setores como: banco, prefeitura, escola primária,
salão de beleza e decoração de festas. O esperado seria encontrar todos os
estudantes engajados no mercado de moda, seja como estagiários ou efetivados,
mas, muitas vezes, por falta de oportunidade, reconhecimento profissional, baixa
remuneração e tempo hábil, alguns se submetem, a outros empregos.
Gráfico 1 – atividades dos estudantes
125
16%
11%
13%
5%
40%
15%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
somente estuda
faz esgio não
remunerado
faz esgio
remunerado
trabalha sem registro
trabalha com registro
outros
Levando em consideração apenas os alunos que atualmente trabalham ou
desenvolvem estágios nas áreas de moda, verificamos que, a maioria encontra-se em
microempresas e empresas de pequeno porte que, de fato, são as de maior número
em Cianorte-PR.
Gráfico 2: porte da empresa em que os estudantes trabalham ou fazem estágio
30%
40%
15% 15%
0%
10%
20%
30%
40%
microempresa
pequena empresa
média empresa
grande empresa
Apenas 3% dos informantes trabalham em empresas que prestam serviços e,
portanto, não estarão no gráfico que representa o sistema de venda e distribuição das
empresas do vestuário. A maioria das organizações trabalha simultaneamente com
pronta entrega em loja própria de atacado e representação comercial com pedidos.
Podemos notar um equilíbrio entre os percentuais das que trabalham com pronta
entrega em loja própria somente no atacado, pronta entrega em loja própria no
atacado e no varejo e, representação comercial com pedidos. Uma minoria atua com o
sistema de pronta entrega em loja própria somente no varejo.
Gráfico 3: sistema de vendas e distribuição que as empresas operam
126
38%
17%
19%
16%
10%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
pronta entrega em loja
própria no atacado.
Representação comercial
com pedido
pronta entrega em loja
própria no atacado
representão comercial
com pedidos
pronta entrega em loja
própria no atacado e varejo
loja própria no varejo
Ao serem questionados quanto ao quadro de funcionários da empresa, menos
da metade dos informantes revelaram que as instituições em que trabalham possuem
um profissional para desenvolver as pesquisas, um outro responsável pelo design e,
ainda, um estilista. A grande maioria aponta as funções de modelista e pilotista como
sendo as desempenhadas por profissionais distintos.
Aproximadamente 11% dos informantes relataram que as empresas em que
trabalham, possuem apenas um profissional para desenvolver todas ou grande parte
das etapas de criação. Esse tipo de atitude pode representar certa lucratividade para a
organização com a economia nos salários, mas sabemos que esse tipo de atitude,
além de desgastar o profissional, pode prejudicar a empresa no quesito tempo e limitar
seu poder de persuasão.
Gráfico 4: quadro de funcionários no departamento de criação de moda das empresas
35%
43%
49%
57%
60%
11%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
possui pesquisador
possui designer
possui estilista
possui modelista
possui pilotista
um profissional
desenvolve várias
funções
127
Quando o assunto é o tipo de estratégia utilizada no desenvolvimento de produtos,
mais de 70% dos informantes se dividiram de forma equilibrada, ao afirmar que as
empresas em que trabalham, operam com estratégias de liderança e defensiva; sendo
a primeira, seguida por empresas que querem se manter a frente de seus
concorrentes, investindo em pesquisas, testes e principalmente arriscando nas
inovações; e a estratégia defensiva, utilizada por empresas que esperam as líderes
desenvolverem todo o trabalho de pesquisa, arcarem com custos e riscos, para então
segui-las, a fim de, pegar uma ‘carona’ no sucesso de vendas.
Temos que levar em consideração que talvez, as empresas que ‘seguem’ as líderes
não estejam utilizando a estratégia defensiva, visto que a mesma, diz respeito ao
aguardo do êxito de uma determinada tendência no mercado, para então aderir a
mesma sem correr riscos; e não a cópia de modelos que estão sendo comercializados.
Cianorte enfrenta um sério problema quanto às cópias. Muitas lojas localizadas nos
shoppings atacadistas da cidade, na tentativa de entrar na disputa pelo mercado,
utilizam o baixo custo como estratégia competitiva; ou seja, fazem cópias e não
primam pela utilização de profissionais qualificados, além de qualidade dos materiais e
fabrico, a fim de, atrair os clientes com o barateamento das peças. Esse tipo de atitude
pode acabar desvalorizando o mercado confeccionista da cidade que é conhecida
nacionalmente pela excelente qualidade dos produtos desenvolvidos.
Gráfico 5: estratégia utilizada pelas empresas para desenvolver seus produtos
35%
38%
20%
7%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
querem manter a
liderança
querem seguir as
deres
mercados estáveis
não possuem
autonomia para lançar
produtos
Questionados sobre as possíveis normas existentes nas empresas como: gestão da
qualidade (ISO 9000), gestão do meio ambiente (ISO 14000), gerenciamento dos
direitos humanos e do trabalho (SA 8000), saúde e segurança do trabalhador (OHSAS
128
18001) e, sistema eficaz da Responsabilidade Social (NBR 160001); apenas 3% dos
informantes citaram algumas normas de suas empresas, sendo que essas, não se
relacionam com moda, pois são agências bancárias. Todos os funcionários de micro,
pequenas, médias e grandes empresas de moda de Cianorte – PR, afirmaram que as
mesmas não possuem nenhum tipo de norma ou, que as desconhecem.
Algumas grandes empresas da cidade já têm inúmeros projetos destinados a
qualidade de seus produtos, assim como ao meio ambiente, entre outros, que
conferem as mesmas, algumas ‘normas’. Mediante o que os funcionários
responderam, acreditamos que, essas empresas divulgam para a sociedade o que têm
feito para cooperar com os funcionários, com a cidade, com o meio ambiente, mas
esquecem de participar seus próprios funcionários nessas questões. A organização
deve ser como uma família, e seus membros devem se orgulhar de fazer parte dela.
Gráfico 6: normas existentes nas empresas
3%
46%
51%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
ISO 9000, SA 8000,
OHSAS 18001
não possuem normas
desconhecem
Ao solicitarmos a opinião dos informantes quanto ao percentual investido em design
pela empresa em que trabalham e, o que esse investimento pode significar no
resultado final das vendas; obtivemos como maioria das respostas que, um
investimento em torno de 15% a 20% em design, pode representar de 68% a 75% do
sucesso das vendas. 9% dos informantes acreditam que suas empresas não investem
em design e, 6%, que o design não interfere no resultado das vendas.
Uma minoria, representada por 2%, diz que o design pode representar muito mais que
75% das vendas, talvez 90%, como enfatiza uma web designer. “Acredito que o design
representa 90% do sucesso de nossas vendas, sendo os outros 10%, mérito do
capricho da produção”.
129
Gráfico 7: percentual do montante investido em desenvolvimento de produto que é
destinado ao design
30%
35%
26%
9%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
5% a 7%
15% a 20%
30% a 35%
não investe em design
Gráfico 8: percentual que produtos desenvolvidos através do design representam nas
vendas
26%
21%
45%
6%
2%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
10% a 15%
32% a 48%
68% a 75%
o design não interfere nas
vendas
outros
Houve equilíbrio por parte dos informantes, quando questionados se o proprietário da
empresa em que trabalham aceita propostas de inovação, valoriza e tem
conhecimento sobre design. Pouco mais da metade respondeu negativamente:
“Não tem conhecimento, pois não se interessa por uma renovação, acreditando que o
que tem já está bom, já é o suficiente”.
“Apesar do proprietário da empresa em que trabalho aceitar novas idéias, não procura
investir nas mesmas. Não reconhece que o investimento no design pode interferir
diretamente no aumento das vendas”.
“Meu patrão não possui informações sobre design. Só quer vender”.
“Trabalho em uma grande empresa, cujo proprietário é, de fato, apenas dono e
administrador, não entende nada de moda”.
130
Cerca de 48% dos informantes responderam de maneira positiva:
“O proprietário da empresa em que trabalho, sempre analisa o que será mais
adequado para atingir seu público-alvo, sem medo de investir”.
“Mesmo tendo uma empresa de pequeno porte, meu patrão busca inovações em feiras
e congressos; investe em maquinário e matéria-prima. O design o diferencia de seus
concorrentes”.
“A empresa em que trabalho investe no profissional, a fim de capacitá-lo a produzir
bons produtos, com design diferenciado”.
Neste momento nos deparamos com uma contradição: segundo a maioria dos
informantes, os proprietários das empresas não têm conhecimento quanto ao design;
sendo assim, porque investem no design, cerca de 20% do montante total empregado
no desenvolvimento de produto? Através de estudos, constatamos que as
organizações investem apenas, cerca de 6% em design, e que esse percentual já é o
suficiente para representar 70% do sucesso das vendas. Não estamos propondo que
os funcionários saibam das finanças da empresa, apenas acreditamos que
funcionários e patrões precisam sempre renovar seus conhecimentos, estudar
possibilidades de melhorias, ser mutuamente participativos e não somente distribuir
críticas.
Gráfico 9: opiniões sobre a aceitação, valorização e, conhecimento dos empresários
quanto ao design
48%
52%
46%
47%
48%
49%
50%
51%
52%
sim
não
Novamente as opiniões se dividem, mas, dessa vez, quanto à dificuldade em
conseguir um estágio ou trabalho nas empresas de confecção de Cianorte-PR. 58%
131
dos informantes admitiram dificuldades em ingressar no mercado de trabalho. Os que,
atualmente, trabalham em áreas não relacionadas a moda, disseram:
“A disponibilidade de horários das empresas e a própria recusa em empregar
estagiários são os maiores desafios encontrados”.
“Quando se trata de trabalho, os empresários pedem experiência. Mas como exigir
experiência se eles não dão oportunidade”.
Os que somente estudam, relataram:
“Na cidade em que moro, há muitos trabalhos na área de moda, mas os empresários
de confecção ainda se encontram receosos em contratar novos funcionários, pois
preferem os que possuem experiência”.
“O estágio está cada vez mais concorrido devido a existência de dois cursos de moda
na cidade, além de poucas empresas que dão oportunidades para os estudantes”.
“A dificuldade não está em conseguir um trabalho, mas em ser reconhecido como um
profissional de moda e ser valorizado por isso”.
Muitos estagiários também encontraram dificuldades na tentativa de ingressar no
mercado de trabalho da cidade:
“As empresas de Cianorte não investem em estagiários, pois querem profissionais
prontos”.
“Poucas empresas reconhecem e valorizam o papel do designer de moda. Elas
querem experiência e, um profissional completo, pagando muito pouco”.
“Geralmente as empresas buscam profissionais com experiência, o que estagiários
não têm”.
Os que são efetivados em empresas de moda, também expressaram suas opiniões:
“É difícil conseguir um trabalho, devido a resistência que existe em contratar um novo
profissional”.
“Normalmente os empresários são desconfiados e não querem gastar mais dinheiro
com estagiários”.
“Tive dificuldade por querer um emprego que me trouxesse mais conhecimento e que
me valorizasse. Os salários são baixos demais”.
132
Cerca de 42% dos informantes, não encontraram dificuldades para se firmarem com
um estágio ou um emprego efetivo nas empresas de Cianorte. Os estagiários
alegaram que:
“Cianorte é considerada pólo do vestuário, possui inúmeras empresas e, portanto, há
uma grande procura por mão-de-obra especializada”.
“Na verdade, são muitas empresas de confecção na cidade e pouca mão-de-obra
qualificada. O que falta não são oportunidades, mas pessoas empenhadas em
aprender e crescer junto com a empresa”.
Aqueles que são efetivados, também expressaram suas experiências ao buscar um
emprego:
“Consegui ingressar como modelista em uma empresa conhecida nacionalmente,
através da indicação de um professor”.
“Foi fácil conseguir um trabalho, por ter contato com vários empresários da região”.
“O mercado está carente de profissionais, pois mesmo estando empregada, muitas
propostas surgem constantemente”.
“Apesar de ser da cidade e possuir vários contatos, fiz estágio em uma empresa em
que não conhecia os donos. Eu creio que o diálogo, o empenho e a capacidade,
contam muito na hora de ganhar o estágio”.
“Não tive dificuldades, pelo contrário, fui bem orientada pela dona da fábrica. Além de
ver o interesse da mesma em ouvir minhas opiniões sobre a forma de trabalho da
empresa, trocamos muitas experiências, que, com certeza, nos fizeram crescer”.
“As empresas de Cianorte estão aptas a receberem profissionais capacitados e, em
sua maioria, abertas às informações trazidas por esses profissionais”.
Gráfico 10: opiniões quanto à dificuldade em conseguir um estágio ou trabalho nas
empresas de confecção de Cianorte – PR
42%
58%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
não
sim
133
Frente a diversas questões sobre Responsabilidade Social, os informantes puderam
expressar suas opiniões. A grande maioria, cerca de 72%, acredita que, as empresas
socialmente responsáveis são aquelas que agem com ética e transparência nas
relações com clientes, fornecedores, colaboradores, governo e comunidade. Quase a
metade dos informantes, pensa que, o essencial mesmo, é que as empresas sejam
rentáveis e, novamente, que a ética e a transparência se façam presentes em todas as
suas áreas e departamentos, assim como em todas as interações com as partes
interessadas. 20% disseram que o papel fundamental das empresas é gerar riqueza e,
que o desempenho eficaz desse papel é essencial para o desenvolvimento econômico
e social de qualquer sociedade. Existem aqueles que conhecem a RSE através de
seus mitos, como 36% dos informantes que acreditam que, ser socialmente
responsável custa muito caro às empresas, pois essas devem possuir institutos ou
fundações de apoio à comunidade. Além de 4% e 6%, que pensam que, apenas
grandes empresas podem ser socialmente responsáveis e, que essas empresas estão
assumindo um papel que é do governo, respectivamente.
Gráfico 11: opiniões sobre Responsabilidade Social
36%
72%
4%
24%
46%
6%
20%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
custa caro
empresas éticas e transparentes com seus
envolvidos
apenas em grandes empresas
empresas que possuem institutos/fundações
empresas rentáveis, éticas e transparentes com
seus envolvidos
papel do governo
empresas responsáveis precisam gerar riquezas
Quando questionados sobre o design, a maioria dos informantes disseram que o
mesmo, é caracterizado pelo estudo consciente para desenvolver produtos, onde é
preferível disponibilizar maior tempo em pesquisa para economizar tempo e
investimentos futuros; acreditam ainda que, não se deve planejar sem método e
pensar de forma artística para encontrar uma solução. 24% consideram o design como
134
sendo uma atividade complexa, semelhante a um jogo de estratégias que têm,
constantemente, suas regras alteradas para buscar aprimoramento e melhorias. 10%
dos informantes acreditam que é a espécie de um ‘nome’ atribuído à moda das
grandes marcas para valorizá-las e encarecê-las. Cerca de 4% das respostas
apontaram que o design surge somente em momentos de espontaneidade e
inspiração e, que está presente em produtos com aspecto ‘limpo’, linhas mais retas,
sem grandes detalhes, tampouco misturas de materiais e cores.
Gráfico 12: opiniões sobre design
4%
58%
10%
24%
4%
42%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
aspecto limpo, linhas
retas, sem detalhes,
sem misturas
estudo para
desenvolver produtos.
moda das grandes
marcas
jogo de estratégias
suge com
espontaneidade e
inspiração
não se deve projetar
sem método
Cerca de, 66% dos informantes consideram o designer um desenhista, esboçador,
programador; que possui como qualidades, a inovação, a confiabilidade e a ética.
Alegam que o mesmo deve ter sabedoria para prever conseqüências ecológicas,
econômicas, sociais e políticas de interferência do design e que, precisa ainda,
interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e expectativas do
consumidor, desenvolvendo respostas apropriadas para problemas e as testando por
meio de peças-pilotos. Uma quantidade expressiva, equivalente a 36% dos
informantes, acredita que, para ser um designer, o profissional precisa
necessariamente, ser graduado e/ou pós-graduado em design e, apenas 8%, acredita
que o título de designer é atribuído a novos estilistas para valorizá-los e, fazer com
que os desenhistas sejam mais respeitados no concorrido mundo da moda.
Para alguns intérpretes da história do design, só é digno da apelidação
designer o profissional formado em nível superior, mas essa interpretação
ocorre devido as questões ideológicas de alguns e, portanto, não possui
nenhum fundamento empírico. Sugerir que o design e o designer sejam
termos exclusivos de uma ou outra escola do movimento modernista não
135
faz sentido algum quando confrontado com as fontes históricas disponíveis
(cf. Cardoso 2004: 16).
Gráfico 13: opiniões sobre designer
36%
42%
54%
66%
8%
48%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
graduado em design
desenhista, esboçador,
programador
deve prever
consequências da
inferência do design
deve interpretar as
expectativas do
consumidor
nome que valoriza os
estilistas
deve solucionar
problemas
O Guia de Emprego Aprendiz, apresenta a média salarial de algumas funções
relacionadas a moda. O responsável pelo desenvolvimento de produto, no início de
sua carreira, pode ganhar por volta de R$ 1.000,00 e, depois de algum tempo de
experiência pode ganhar mais de R$ 8.000,00. Um estilista tem um salário inicial entre
R$ 800,00 e R$ 1.500,00, sendo que um profissional de renome pode receber mais R$
10.000,00 por seus serviços. O cargo de modelista no início rende um salário entre R$
800,00 e R$ 1.000,00, mas pode atingir R$ 2.500,00. A FAMOPA – Faculdade de
Moda de Passos apresenta alguns valores aproximados de remunerações com base
no mercado de São Paulo: estagiários recebem cerca de R$ 500,00, estilistas
possuem salários entre R$ 1.500,00 e R$ 2.500,00, gerentes de desenvolvimento de
produto entre R$ 5.000,00 e R$ 8.000,00.
Ao serem questionados quanto suas remunerações, 26% dos informantes
consideraram seus salários ruins, esses variam de R$ 270,00 a R$ 400,00 para os
estagiários e, de R$ 450,00 a 1.000,00 para os efetivados. Eles alegam:
“Estagiário não é valorizado”.
“Desenvolvo várias funções e não sou devidamente valorizada por isso”.
“O pesquisador é mal remunerado por falta de conhecimento dos empresários. Eles
acham que essa parte do desenvolvimento do produto não é importante, quando na
verdade, é o primeiro passo para o possível sucesso da coleção”.
136
“Meu salário é ruim, pois tenho uma carga horária de serviço que dura nove horas
diárias, que apesar de compensar o sábado, mas é desgastante”.
“Devido meu empenho em sempre estar adquirindo conhecimentos, considero minha
remuneração ruim, mas em certo ponto, é compreensível por estar trabalhando há
pouco tempo na empresa. Espero que meu salário aumente com o passar dos meses”.
“Recebo pelos serviços que presto na área de design, mas desenvolvo outros, pelos
quais não recebo nenhuma remuneração, sendo assim, considero que ganho muito
pouco”.
37% dos informantes consideram seus salários razoáveis, que vão de R$ 350,00 a R$
400,00 para os estagiários e, de R$ 540,00 a R$ 1.800,00 para os efetivados. Eles se
justificam:
“Sou quase uma bacharela e, responsável por mais três designers. Acho o salário
razoável, mas deveria ganhar um pouco mais”.
“Penso que deveria ganhar mais devido ao trabalho que realizo e, pela média salarial
da categoria ser mais alta no mercado”.
“Para uma estagiária, minha remuneração está razoável, mas pode ser melhor”.
“Minha remuneração é razoável. Aqui em Cianorte é complicado, pois R$ 1.800,00 é a
faixa salarial para um estilista”.
O percentual de 16% dos informantes não quiseram revelar suas remunerações. Já,
21% dos informantes, todos efetivados, disseram ter um bom salário que, corresponde
de R$ 850,00 a R$ 2.000,00.
“Considero minha remuneração condizente com meu trabalho. Possuo um horário
flexível e, por causa da faculdade trabalho seis horas por dia”.
“Sou modelista de uma grande empresa. Minha remuneração é boa e, vai muito além
do que se costuma pagar nas empresas de Cianorte. Isso se justifica mediante a
sobrecarga de responsabilidade e a importância de minha função para a empresa”.
“Existem muitas pessoas com mais experiência no mercado que ganham menos que
eu. Acredito que, faço por merecer o meu salário”.
Gráfico 14: opiniões sobre remuneração/salário
137
26%
37%
21%
16%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
ruim
razoável
bom
não revelaram
Ao serem indagados, em uma questão aberta, sobre o mercado de trabalho de
Cianorte, as respostas foram as mais diversas. 28% dos informantes decidiram não
opinar se há algo a ser melhorado, assim como que atitude deveria ser tomada. 18%
disseram que é preciso conscientizar os empresários para o atual quadro de Cianorte:
“O mercado de trabalho está ruim. A primeira coisa a ser melhorada é a respeito da
conscientização dos proprietários das empresas, quanto aos benefícios em investir em
novos profissionais”.
“O mercado de moda em Cianorte é promissor, mas depende da conscientização das
empresas para contratarem profissionais da moda com mérito devido”.
“É necessário que as empresas se conscientizem de que, novos profissionais estão
entrando no mercado e trazem consigo informações para ajudar no progresso das
empresas. É necessário que os proprietários façam uma reciclagem intelectual e
deixem de lado todos os seus preconceitos”.
“O grande problema está no fato da empresa só contratar funcionários com
experiência e, com isso, muitas pessoas, com grande talento, perdem a oportunidade
de realizarem parte de seus sonhos. O ideal seria que as empresas se
conscientizassem de que ninguém nasceu sabendo e que, dar uma chance a essas
pessoas pode significar uma importante troca de conhecimento”.
“Apesar de o mercado Cianortense estar se abrindo para novos profissionais em suas
empresas, é preciso que elas estejam abertas, também, às inovações trazidas por
esses profissionais. A mentalidade empresarial da cidade ainda tem medo de investir
em pesquisas e inovações”.
15% dos informantes acreditam que, todas as dificuldades encontradas são
provenientes de um sistema de trabalho em formato familiar:
138
“Muitas empresas ainda permanecem do tipo familiar; elas precisam se desvincular
desse tipo de conceito organizacional, assim como, acreditar e valorizar os novos
profissionais”.
“Eu odeio gente sem formação e acredito que, pessoas assim deveriam ser proibidas
de atuar. Muita coisa tem que ser melhorada em Cianorte, começando pela cultura de
gestão familiar”.
“A base das empresas de Cianorte é familiar, por isso, existe grande dificuldade na
aceitação de uma reestruturação por parte dos novos designers de moda que entram
anualmente no mercado de trabalho”.
“Os proprietários precisam se desvincular da gestão familiar e entender que os novos
profissionais possuem uma boa bagagem vinda da faculdade e, principalmente, muita
vontade de trabalhar”.
13% dos informantes revelaram que, o incentivo e a confiança nos novos profissionais
devem ser o primeiro passo para melhorar o mercado de moda de Cianorte:
“Vivemos em uma cidade considerada um importante pólo de moda no Paraná. O que
deveria haver é a confiança dos empresários para com os novos profissionais, a fim de
deixá-los passar tudo o que aprenderam nos anos de estudo”.
“O mercado de trabalho de Cianorte poderia crescer ainda mais, mas há muitos
patrões que não incentivam seus funcionários no aprendizado, tampouco aceitam
estagiários em suas empresas”.
“Há muito em que melhorar, principalmente com relação aos acadêmicos de moda,
que necessitam e merecem maior incentivo das empresas. Os empresários precisam
investir mais em design para a criação de um verdadeiro pólo de moda”.
A cultura da cópia foi apontada por 12% dos informantes, por ser um agravante no
setor confeccionista de Cianorte:
“Em Cianorte convivemos com a cópia. No segmento de ‘modinha’, por exemplo, todos
se copiam, não existe a preocupação em diferenciar uma vitrine, investir em
pesquisas, etc. e isso acaba prejudicando os novos profissionais”.
“Os empresários precisam investir em pesquisa e criação, para evitar tantas cópias”.
“O mercado de trabalho de Cianorte vem encontrando problemas por não ter força e
coragem de apostar no novo, optando pela cópia do que já ‘está dando certo’ ao
arriscar no inovador”.
139
“O atacado não está dando o retorno de antigamente, pois está perdendo campo para
a representação comercial. As empresas precisam investir na criação e deixar a cópia,
para permanecer no mercado atacadista ou migrar para a venda programada”.
“Cianorte deve tentar lançar produtos novos, originais e, não só viver na indústria da
cópia”.
Cerca de 8% dos informantes afirmaram que o profissional de moda não é valorizado
pelos empresários e que, isso é um dos fatos a serem sanados:
“Cianorte detém um bom mercado de trabalho, mas os proprietários precisam valorizar
mais os profissionais, pois as remunerações deixam muito a desejar”.
“Temos um mercado que está começando a ser explorado. Os empresários estão
iniciando a absorção de novos profissionais, no entanto, acredito que falta valorização
para com os mesmos que, ainda, não são tratados como merecem”.
A falta de união entre os empresários de Cianorte é considerada por 6% dos
informantes, como sendo uma das principais causas da diminuição das visitas nos
shoppings de atacado:
“Tínhamos cinco shoppings atacadistas, agora temos somente quatro e, as
expectativas não são as melhores. Os empresários precisam se unir para melhorar a
situação do mercado de Cianorte”.
“Talvez estejamos em crise por culpa dos próprios empresários que, poderiam ter se
unido a ingressar em mercados de cidades próximas como Maringá. Por falta de visão
empresarial de alguns, Cianorte pode se definhar”.
Gráfico 15: opiniões a cerca do que é preciso para melhorar o mercado de trabalho de
Cianorte-PR
18%
15%
13%
12%
8%
6%
28%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
conscientizão dos
proprietários
empresas com gestão
familiar
incentivo e confiança nos
profissionais
cultura da cópia
valorizão do profissional
união entre os empresários
não opinaram
140
Para o futuro, 42% dos informantes revelaram o anseio de continuar estudando.
Alguns almejam fazer pós-graduação, outros mestrado. Há, também, os que sonham
com uma especialização no exterior, cursos específicos, entre outros. Eles pretendem
atuar nos mais distintos segmentos, como eventos, publicidade, home wear, fotografia,
design e, até lecionar em universidades de moda.
“Desejo continuar estudando, a fim de aprimorar meus conhecimentos, para então,
trabalhar com moda. A prática contribui fundamentalmente para o desenvolvimento
profissional”.
“Pretendo aprimorar ainda mais meus conhecimentos e colocar em prática tudo o que
foi apreendido”.
“Quero aprender outra língua, fazer uma especialização e desenvolver projetos
distintos dos que encontramos no mercado atualmente”.
Conseguir um bom trabalho é o que 16% dos informantes esperam, ao terminar a
graduação:
“Sonho em trabalhar em uma empresa que me dê perspectivas futuras,
reconhecimento profissional e financeiro”.
Cerca de 10% dos informantes desejam sair de Cianorte, pois acreditam que em
outros centros, terão maiores oportunidades:
“Para falar a verdade, esperava muito mais da faculdade. Pretendo ir em busca de
aprendizagem em outros lugares, pois Cianorte já está saturado de estilistas. Estou a
procura de um novo foco, talvez publicidade de moda”.
“Quero sumir de Cianorte (risos). A cidade é muito pequena e sem cultura acadêmica”.
“Tenho medo de, em um futuro próximo, ter que enfrentar empresários tão
desinformados, com a cabeça tão fechada e acabar desistindo de Cianorte por não
conseguir me adaptar”.
8% dos informantes se dividiram igualmente ao afirmar que esperam, no futuro, serem
mais valorizados e melhor remunerados:
“Gostaria de ingressar no mercado de trabalho e ser verdadeiramente valorizada”.
“Quero continuar estudando para valorizar a pretensão salarial, mesmo sabendo que
corro o risco de não ser valorizada pelos empresários e continuar ganhando pouco”.
141
“Almejo reconhecimento profissional, retorno financeiro e abertura para a realização de
um bom trabalho”.
Gráfico 16: anseios dos estudantes ao terminarem a faculdade
42%
16%
10%
4% 4% 4%
20%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
continuar estudando
conseguir um bom trabalho
ir para outras cidades
ser valorizado como
profissional
ser melhor remunerado
ainda têm dúvidas quanto
ao futuro
não opinaram
Ao longo desse estudo, detectamos como sendo ‘pontos fortes’ no mercado de moda
de Cianorte-PR, as seguintes características: amplo setor confeccionista; Instituições
que capacitam profissionais na área de moda; diversidade cultural através dos jovens
das mais variadas localidades da região e até mesmo do Brasil, vêm à Cianorte para
estudar.
Assimilamos como sendo ‘pontos fracos’ no mercado de moda de Cianorte-PR, os
seguintes fatores: falta de conhecimento e interesse dos empresários; incansável
exigência por experiência; desvalorização da mão-de-obra qualificada; cultura da cópia
falta de interesse e conhecimento quanto a Responsabilidade Social.
Existem organizações que com o intuito de economizarem recursos financeiros,
acabam prejudicando o seu próprio sucesso, pois desejam pagar pouco, por um
profissional da espécie ‘faz tudo’. Sabemos que esse tipo de atitude desgasta o
mesmo, que, por ser continuamente pressionado, não desenvolve um bom trabalho,
embasado em estudos, pesquisas e, testes de viabilidade; o que acaba culminando no
não cumprimento dos prazos de entrega e, gerando a ‘Cultura da Cópia’.
“Inovação, confiabilidade, racionalização, evolução tecnológica, padrão
estético, rápida percepção da função-uso de produtos, adequação às
características socioeconômicas e culturais do usuário” são características
de um bom design e, portanto, essenciais em um produto (Peruzzi, 1998:11
apud Treptow, 2005: 45).
142
Novas idéias que partem de novos profissionais podem gerar inovações e muitos
benefícios às organizações. Não podemos nos manter alheios às mudanças no
mercado de moda, pois, as mesmas são freqüentes desde os primórdios da
industrialização. É preciso estar sempre com os ‘pés’ na realidade e em constante
processo de renovação, acompanhando as novidades tecnológicas, o mercado e as
oscilações da moda, numa constante tentativa de prever os anseios dos
consumidores.
Sabemos que desenvolver novos produtos é extremamente complexo e envolve
diversos interesses e habilidades:
Os consumidores desejam novidades, melhores produtos, a preços
razoáveis.
Os vendedores desejam diferenciações e vantagens competitivas.
Os engenheiros de produção desejam simplicidade na fabricação e
facilidade de montagem.
Os designers gostariam de experimentar novos materiais, processos e
soluções formais.
Os empresários querem poucos investimentos e retorno rápido do capital
(Baxter, 1998: 2).
É imprescindível inovar para não estagnar e não defasar, pois o mundo continuará
mudando e, nós estaremos eternamente condenados a acompanhá-lo através de
nossas maneiras de ver, sentir, julgar e, principalmente, agir. Precisamos nos atentar
ao mercado mundial como um todo, pois enquanto nós ainda lutamos pela inserção de
profissionais capacitados nas empresas de vestuário, outros países já propõem a
esses profissionais, discussões sobre qual será o fim das peças confeccionadas a
cada coleção. Sabemos que cada passo deve ser galgado de forma consciente e
coerente com cada realidade, porém, é preciso dar o primeiro passo e, esse é o nosso
propósito.
Ao adotar o tema: Importância do design de moda nas empresas de confecção do
vestuário de Cianorte-PR, sob a ótica dos estudantes de moda; pretendeu-se expor a
relevância da cidade como pólo de moda do país, mas principalmente, alertar os
estudantes de moda, os profissionais recém-graduados e, principalmente os
empresários, quanto ao potencial que ainda podemos alcançar se, todos os subsídios
disponíveis na cidade, forem melhor aproveitados.
143
Anexo 2 – Questionário aplicado aos empresários de moda de Cianorte-PR
Este questionário deve ser respondido preferencialmente pelo proprietário da empresa e faz
parte da pesquisa de campo do meu Mestrado em Design de Moda pela Universidade Anhembi
Morumbi, com o objetivo de fazer uma análise de questões quanto ao design e ao designer de
moda nas empresas de confecção do vestuário de Cianorte-PR. O estudo se justifica em função
das consequências em fazer uso ou não do design nas organizações. Trata-se de um estudo de
caráter acadêmico e garante-se o sigilo de todos os dados informados. Atenciosamente, Amanda
Vatras.
1. Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
2. Idade: _____________________________________________________________________
3. Qual seu cargo/função na empresa? ______________________________________________
4. Assinale uma das alternativas. Qual o porte da empresa?
( ) Microempresa: até 19 funcionários
( ) Empresa de Pequeno Porte: de 20 a 99 funcionários
( ) Empresa de Médio Porte: de 100 a 499 funcionários
( ) Empresa de Grande Porte: acima de 499 funcionários
Fonte: SEBRAE (www.sebrae.com.br)
5. A empresa atua no mercado há quantos anos? ______________________________________
6. Com quantos segmentos/marcas a empresa trabalha? ________________________________
7. Para empresas com mais de um segmento: existe uma equipe de profissionais para cada um
deles?
( ) Sim
( ) Não
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
8. A empresa trabalha com que público-alvo? Desenvolve que tipo de roupa?_______________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
9. Assinale quantas alternativas for necessário. Qual sistema de distribuição/vendas que a
empresa opera?
( ) Pronta entrega em loja própria no atacado. Possui quantas lojas? ___________________
( ) Pronta entrega em loja própria no varejo. Possui quantas lojas? ____________________
( ) Representação comercial/pedidos. Em quantos estados?___________________________
( ) Representação comercial/pronta entrega. Em quantos estados? _____________________
10. Assinale quantas alternativas for necessário. No quadro de funcionários da empresa
podemos encontrar os seguintes profissionais:
( ) Pesquisador
( ) Designer
144
( ) Estilista
( ) Modelista
( ) Pilotista
( ) Uma só pessoa desenvolve todas ou grande parte das funções acima. Se esta alternativa
for assinalada, informar qual é a formação deste profissional______________________
_______________________________________________________________________
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11. Assinale quantas alternativas for necessário. Que estratégia a empresa utiliza para
desenvolver seus produtos?
( ) Quer sempre manter a liderança no mercado está sempre se colocando à frente das
concorrentes com estratégias de inovação.
( ) Disponibiliza altos investimentos em pesquisas e desenvolvimento para introduzir
inovações radicais ou incrementais em seus produtos.
( ) Trabalha com perspectiva a longo prazo para o retorno dos investimentos.
( ) É uma empresa lançadora de tendências.
( ) Quer seguir as empresas líderes.
( ) Utiliza estratégias defensivas, ou seja, deixa que outras empresas arquem com os altos
custos de desenvolvimento e corram os riscos para abrir novos mercados.
( ) Absorve rapidamente as informações e inovações e, se preciso, fazem melhorias
naqueles produtos pioneiros.
( ) É uma empresa que fabrica em cima das tendências.
( ) Atua em mercados estáveis, com uma linha de produtos estáticos, onde existe pouca ou
nenhuma demanda de mercado para mudanças, trabalhando com as estratégias
tradicionais.
( ) As inovações são pouco relevantes, limitando-se a mudanças mínimas no produto para
reduzir custos, facilitar a produção e aumentar a confiabilidade do produto.
( ) Não possuem autonomia para lançar os seus próprios produtos, pois depende de suas
matrizes ou de seus clientes para a introdução de inovações que se enquadram nas
estratégias dependentes.
( ) É uma empresa subsidiária de outra empresa e/ou que trabalha sob encomenda.
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
12. Assinale quantas alternativas for necessário. A empresa possui alguma das normas abaixo?
( ) ISO 9000 – gestão da qualidade
( ) ISO 14000 – gestão do meio ambiente
( ) SA 8000 – gerenciamento dos direitos humanos e do trabalho
( ) OHSAS 18001 – Saúde e segurança do trabalhador
( ) NBR 160001 – sistema eficaz da gestão da Responsabilidade Social
( ) A empresa não possui nenhuma dessas normas
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
13. Assinale uma das alternativas. Do montante total investido em desenvolvimento de produto,
quanto, aproximadamente, você acredita que a empresa investe em design?
( ) 5% a 7%
( ) 15% a 20%
( ) 30% a 35%
( ) A empresa não investe em design
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
145
14. Assinale uma das alternativas. Produtos desenvolvidos através do design podem representar
que percentual no resultado final das vendas na empresa?
( ) 10% a 15%
( ) 32% a 48%
( ) 68% a 75%
( ) Acredito que o design não interfere nas vendas da empresa
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
15. Assinale quantas alternativas for necessário. O que é para você a Responsabilidade Social:
( ) Custa caro ser uma empresa socialmente responsável.
( ) As empresas socialmente responsáveis precisam ser éticas e transparentes nas relações
com clientes, fornecedores, colaboradores, governo e comunidade.
( ) Para ser socialmente responsável é necessário ser uma grande empresa.
( ) Empresas socialmente responsáveis são somente aquelas que possuem institutos ou
fundações que promovem trabalhos sociais, educacionais e ambientais, cooperando com
o desenvolvimento do município, estado ou país.
( ) O essencial é que as empresas sejam rentáveis, e que a ética e a transparência se façam
presentes em todas as suas áreas e departamentos, assim como em todas as suas
interações com suas partes interessadas.
( ) A empresa que investe em responsabilidade social está assumindo um papel que, na
verdade, é do governo.
( ) O papel fundamental das empresas é gerar riqueza. O desempenho eficaz desse papel é
essencial para o desenvolvimento econômico e social de qualquer sociedade.
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
16. Assinale quantas alternativas for necessário. Design:
( ) Está presente apenas em produtos com aspecto “limpo”, com linhas menos sinuosas,
sem grandes detalhes, sem misturas de materiais e cores.
( ) Implica no estudo consciente para desenvolver produtos, sendo preferível gastar maior
tempo em pesquisa a fim de economizar tempo e investimentos futuros.
( ) Nome atribuído à moda de grandes marcas para valorizá-las e encarecê-las.
( ) Atividade complexa semelhante a um jogo de estratégias, que, estranhamente tem suas
regras alteradas constantemente.
( ) Surge apenas em um momento de espontaneidade e inspiração.
( ) Não se deve projetar sem método, pensar de forma artística procurando logo a solução.
Este método pode e deve ser modificado para alcançar melhorias, e aqui, entra em
questão a criatividade do projetista.
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
17. Assinale quantas alternativas for necessário. Designer:
( ) Profissional necessariamente graduado e/ou pós-graduado em design.
( ) Desenhista, esboçador, programador. Tem como algumas de suas características a
inovação, a confiabilidade e a ética.
( ) Deve ter sabedoria para prever conseqüências ecológicas, econômicas, sociais e
políticas da interferência do design.
( ) Deve ser capaz de interpretar as necessidades, anseios, sonhos, valores, desejos e
expectativas do consumidor.
( ) Nome dado aos novos estilistas para valorizar a categoria, a fim de fazer com que os
desenhistas sejam mais respeitados no concorrido mundo da moda.
146
( ) Deve ter habilidade para desenvolver respostas apropriadas para problemas novos,
assim como aptidão para testar essas respostas por meio, principalmente, de peças-
pilotos.
( ) Outros: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
18. Assinale uma das alternativas. Ter um estagiário em sua empresa é:
( ) Ruim
( ) Razoável
( ) Bom
( ) Excelente
Justifique a resposta acima: ______________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
19. Assinale uma das alternativas. Você já encontrou dificuldade em conseguir um estagiário
para a empresa?
( ) Sim. Na área/função: _______________________________________________________
( ) Não. Na área/função: _______________________________________________________
( ) Nunca cogitamos ter um estagiário.
( ) A empresa não deseja ter um estagiário pelo seguinte motivo: ______________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
20. A maior oferta de profissionais que buscam emprego em sua empresa atualmente é na
área/função: __________________________________________________________________
A maior dificuldade em encontrar profissionais para sua empresa é na área/função:
_____________________________________________________________________________
21. Assinale uma das alternativas. Temos dois centros educacionais em Cianorte – PR (UEM e
UNIPAR) que graduam profissionais em Design e Moda. Como você avalia a preparação desses
novos profissionais para o mercado de trabalho?
( ) Ruim
( ) Razoável
( ) Bom
( ) Excelente
Justifique a resposta acima: ______________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
22. Assinale uma das alternativas. Admitir na empresa os jovens profissionais recém-graduados
é:
( ) Ruim
( ) Razoável
( ) Bom
( ) Excelente
Justifique a resposta acima: ______________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
23. Assinale uma das alternativas. A empresa busca o seguinte perfil para a contratação de seus
funcionários:
147
( ) Jovens profissionais com formação acadêmica.
( ) Profissionais com formação acadêmica e experiência profissional em outras empresas.
( ) Profissionais mais maduros, com muita experiência profissional.
Justifique a resposta acima: ______________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
24. Você prefere contratar em sua empresa um designer ou um estilista? Por quê?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
25. Qual sua opinião quanto aos profissionais disponíveis no mercado de trabalho de Cianorte?
Existe algo a ser melhorado? Se sim, que tipo de atitude deve ser tomada e por parte de quem?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
26. O que você espera de um Designer? ____________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________________
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