22
com isso sendo evitados os atos de violência.
34
Por outro lado, existem divergências
quanto a essa afirmação, como é o caso da filósofa Hannah Arendt, que diz ser:
[...] muito perigoso se deixar levar por essas metáforas biológicas, pois,
dentro dessa forma de pensamento, a ação coletiva violenta torna-se pré-
requisito, um fato natural, para a vida em sociedade, do mesmo modo que
entre os animais a agressividade está presente na luta pela sobrevivência
para garantir a manutenção da espécie.
35
A descrição de violência, conforme é conceituada ou pensada, acaba por
induzir comportamentos ou ideologias, principalmente entre jovens; nesse caso o
risco de que se internalize a violência como luta pela sobrevivência será muito
maior.
Com isso a violência demonstra atingir aspectos que vão além dos que se
apresentam e são visíveis, por esse motivo que, independente de qual seja sua
origem e como seja definida, está presente no cotidiano da maioria da população.
De acordo com Rosário:
A violência é uma marca constante nas relações sociais e individuais,
considerando desde a perda da qualidade de vida material e privações
impostas pelo desemprego e concentração de renda, até os sentimentos e
imposições culturais na relação entre pessoas, nas quais seres humanos
são condenados à vida em sacrifício e humilhação.
36
A definição apresentada faz parte da realidade vivida por inúmeras famílias
brasileiras. A violência doméstica, entre suas várias faces, faz com que pessoas,
principalmente menores, vivam nessa situação de submissão e falta de respeito à
dignidade humana. O que se apresenta são pessoas “coisificando”
37
umas às outras,
inclusive crianças e adolescentes. Os sentimentos de sofrimento e angústia já não
têm mais importância; o colocar-se no lugar do outro foi esquecido e junto os
desejos de uma convivência de cumplicidade e felicidade.
Segundo Dimenstein, a pobreza é apresentada como uma das causas que
provoca a “desintegração familiar”
38
e junto com isso vem a violência. A afirmativa do
autor não significa que nas famílias de outras classes sociais não exista violência,
até mesmo porque há várias formas de agressão e em todos os casos o agressor
34
LORENZ, Konrad. apud COSTA, Regina da Costa. PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. A violência:
natural ou sociocultural? São Paulo: Paulus, 2006. p. 12.
35
ARENDT, Hanna. 1994, apud COSTA, Regina da Costa. PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. A
violência: natural ou sociocultural? São Paulo: Paulus, 2006. p. 12.
36
ROSÁRIO, Maria do. In: Violência doméstica. Brasília: UNICEF, 2000. p. 12-17.
37
ROSÁRIO, Maria do. In: Violência doméstica. Brasília: UNICEF, 2000. p. 12-17.
38
DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel. A infância, a adolescência e os direitos humanos
no Brasil. São Paulo: Ática, 2005. p.24.