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ALÉIA FAUSTINA CAMPOS
A influência do vírus da hepatite G (GBV-C) na evolução
da infecção pelo HIV em mulheres
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Programa de Doenças Infecciosas e
Parasitárias
Orientador: Dr. José Eduardo Levi
São Paulo
2010
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Aos meus queridos pais, meus irmãos, meus amigos
e a Deus por tornar tudo isso possível
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Jo Eduardo Levi, por acreditar e confiar à mim esse
importante estudo.
À Prof. Dra. Fátima Mitiko Tengan, pela contribuição ímpar na elaboração do
banco de dados e sugestões apresentadas durante o exame de qualificação.
À Dra. Maria Cássia Jacintho Mendes Correa e Dr. Celso Granato, pela
importante contribuição durante o exame de qualificação.
Ao Prof. Dr. Ronaldo César Borges Gryschek, pela grande amizade e participação
constante em minha carreira e no processo de aprendizado dessa dissertação.
Aos amigos do Laboratório de Virologia pela ajuda na análise do material e coleta
dos dados.
Aos amigos do serviço de arquivo médico do SEAP – HIV/aids.
Ao serviço de arquivo médico do Hospital Emílio Ribas.
À Luíza, pelo empenho em recuperar artigos científicos utilizados nesta
dissertação.
Ao Rogério, pela ajuda na análise estatística dos dados coletados.
Ao amigo Gaspar, pelo companheirismo e grande colega de trabalho.
Aos amigos do Ambulatório de Moléstias Infecciosas.
Aos meus amigos por entenderem alguns momentos de ausência.
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, pelos
recursos disponibilizados nessa dissertação.
Às pacientes , principal motivação desta pesquisa.
SUMÁRIO
Lista de tabelas
Lista de gráficos e figuras
Lista de abreviaturas e siglas
Resumo
Summary
INTRODUÇÃO
1- Histórico ......................................................................................................... 1
2- Epidemiologia da infecção pelo GBV-C ......................................................... 8
3- Epidemiologia da infecção pelo HIV-1............................................................10
4- Vias de transmissão do GBV-C .................................................................... 13
5- Virologia do GBV-C ...................................................................................... 14
6- Diagnóstico laboratorial da infecção pelo GBV-C ........................................ 16
7- A interação GBV-C e HIV ............................................................................. 19
JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ........................................................................ 27
OBJETIVOS ..................................................................................................... 28
CASUÍSTICA E MÉTODOS
1- Desenho do estudo ...................................................................................... 29
2- Característica da população do estudo e casuística .................................... 29
3- Alocação das pacientes em grupos ............................................................. 32
4- Testes laboratoriais para determinação da infecção pelo GBV-C
4.1- Determinação qualitativa de anticorpos anti-E2 ............................. 33
4.2- Extração de GBV-C RNA da amostra ............................................. 34
4.3- Reação de transcrição reversa ....................................................... 34
4.4- Reação PCR GBV-C convencional................................................. 34
4.5- Reação de Nested PCR GBV-C ..................................................... 35
4.6- Reação PCR GBV-C em tempo real .............................................. 36
4.6- Calibração do ensaio e curva-padrão ............................................. 37
4.7- Determinação da contagem de carga viral do HIV ......................... 38
4.8- Determinação da contagem de linfócitos T CD4 ............................ 41
5- Análise dos dados coletados ........................................................................ 42
6- Aspectos éticos.............................................................................................. 44
7- Revisão bibliográfica...................................................................................... 44
RESULTADOS ................................................................................................. 45
DISCUSSÃO .................................................................................................... 66
CONCLUSÕES ................................................................................................ 80
ANEXOS .......................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 85
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1- Reagentes, volumes e concentrações utilizados na reação da PCR
GBV- C convencional ............................................................................... 35
Quadro 2- Reagentes, volumes e concentrações utilizados na reação
NESTED PCR GBV-C ............................................................................. 36
Quadro 3- Reagentes, volumes e concentrações utilizados na reação da
PCR em tempo real ................................................................................. 37
Tabela 1- Características gerais da população no início do estudo estratificada
pelo perfil GBV-C – SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ......................... 49
Tabela 2- Frequência de doenças oportunísticas na população durante
o acompanhamento estratificada pelo perfil GBV-C – SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ............................................................................... 50
Tabela 3- Freqüência de co-infecção na população durante
o acompanhamento estratificada pelo perfil GBV-C – SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ............................................................................... 51
Tabela 4- Média e mediana dos valores de CD4, carga viral do HIV, CD4 nadir e
carga viral Zênite na população durante o acompanhamento
estratificada pelo perfil GBV-C - SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ............................................................................... 52
Tabela 5- Média e mediana de esquemas antirretrovirais utilizados no
tratamento do HIV na população durante o acompanhamento
estratificada pelo perfil GBV-C - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ...... 53
Tabela 6- Freqüência de troca de esquemas ARV’s e do motivo da troca
na população durante o acompanhamento estratificada pelo perfil
do GBV-C – SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas .................................... 54
Tabela 7- Risco relativo de óbito estratificado pelo perfil do GBV-C –
SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ......................................................... 57
Tabela 8- Análise de regressão múltipla de Cox ajustado por variáveis em
248 pacientes. Modelo parcial. SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ....... 59
Tabela 9- Análise de regressão múltipla de Cox ajustado por variáveis em
248 pacientes. Modelo final. SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas............ 60
Tabela 10- Resultados dos testes laboratoriais para GBV-C RNA em 57
novas amostras colhidas em 2006-2008 – SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ............................................................................... 60
Tabela 11- Resultado das variáveis CD4 e carga viral do HIV do GBV-C das 57
pacientes - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas....................................... 63
Tabela 12- Comparação entre a variação CD4, carga viral do HIV basal e
final dos grupos PN, PP, C/I/S/II - SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas .............................................................................. 64
Tabela 13- Comparação entre a variação CD4, carga viral do HIV basal e
final dos grupos PN, PP - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ............... 65
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Prevalência do GBV-C em 248 pacientes - SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ..................................................................... 47
Gráfico 2- Análise de sobrevida entre pacientes expostas e não
expostas ao GBV-C - Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas ...................................................................... 56
Gráfico 3 - Análise de sobrevida entre pacientes GBV-C RNA-/anti-E2 - ;
GBV-C RNA+/antiE2- e GBV-C RNA-/antiE2+ -
Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas....... 56
Gráfico 4 - Análise de sobrevida entre categorias de CD4.
Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas ......... 58
Gráfico 5 - Análise de sobrevida entre categorias de carga viral do HIV.
Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas....... 58
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Hepatotropismo do GBV-C................................................................05
Figura 2- Prevalência do GBV-C em doadores de sangue de diversas
regiões do mundo..............................................................................08
Figura 3- Esquema comparativo da organização do genoma do
GBV-C e VHC mostrando as fases de leitura abertas e
as regiões 5’ e 3’UTR ...................................................................... 16
Figura 4- Mecanismos propostos para explicar a ação do GBV-C
nos pacientes co-infectados com HIV ............................................. 26
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
GBV
-
C
Vírus da hepatite G
HGV
Vírus da hepatite G
VHC
Vírus da hepatite C
VHB
Vírus da hepatite B
HTLV1/2
Vírus humano linfotrópico ½
HIV
-
1
CHC
Virus da imunodeficiência humana adquirida tipo 1
Hepatocarcinoma
FDA
Food and Drugs Administration
Terapia de Alta Atividade Antirretroviral
CCR5
Receptor 5 de quimiocinas (C-C)
CXCR4
Receptor 4 de quimiocinas (CXC)
MIP
Proteína inflamatória de macrófagos - 1α
RANTES
Regulated on Activation Normal T Cell-Expressed and Secreted
IL
Interleucina
INFγ
Interferon Gama
SDF
-
1
Fator derivado de estroma
ELISA
Ensaio imunoenzimático
cDNA
Ácido desoxirribonucléico complementar
RNA
Ácido ribonucléico
PBMC
Células linfomononucleares de sangue periférico
NS
Região não-estrutural
CTL
Linfócito T citotóxico
PCR
Reação em Cadeia de Polimerase
RESUMO
Campos A F. A Influência do vírus da hepatite G (GBV-C) na evolução da
infecção pelo HIV em mulheres [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo; 2010, 96p
INTRODUÇÃO: O vírus da hepatite G (GBV-C) foi descoberto simultaneamente
por dois grupos de pesquisa que buscavam identificar um agente causador de
hepatite pós-transfusional não-A, não-B e não-C. Trata-se de um vírus linfotrópico
que replica primariamente em células mononucleares do sangue periférico
(PBMC), baço e medula óssea, sendo a replicação hepática menos importante.
Sabe-se que, após um período de viremia assintomática, a maioria dos
carreadores virais clareia o vírus ao longo do tempo havendo surgimento do
anticorpo contra a glicoproteína do envelope viral, anti-E2. Uma vez que,
provavelmente, não exista nenhuma associação entre o GBV-C e qualquer
doença identificada até o momento, o mesmo tem sido considerado um vírus
humano não patogênico. Entretanto, alguns estudos demonstraram haver uma
interação benéfica entre o GBV-C e HIV a ponto de retardar a progressão da
infecção pelo HIV para aids. OBJETIVOS: Avaliar a prevalência da viremia e de
anticorpos contra a glicoproteína anti-E2 e estudar o efeito da interação GBV-C e
HIV ao longo do acompanhamento de pacientes femininas baseado em valores
da média e mediana de linfócitos T CD4+ , da carga viral do HIV e da carga viral
quantitativa do GBV-C RNA. MÉTODOS: Foram estudas 248 pacientes femininas
portadoras da infecção pelo HIV acompanhadas por um período de cerca de 10
anos, tendo como término de estudo a data limite de 01/01/2008, ou a data da
última consulta no ambulatório ou a data do óbito. RESULTADOS: Das 115
pacientes expostas, 57 eram GBV-C RNA positivas (23%) e 58 eram anti-E2
positivas (23%). Não houve achado da presença concomitante do GBV-C RNA e
do anticorpo anti-E2 nas pacientes estudas. Com relação à contagem de
linfócitos T CD4+ e de carga viral basal do HIV no início do estudo, não
observamos diferença estatística entre os valores em relação aos grupos (GBV-C
RNA-/anti-E2- , GBV-C RNA+/anti-E2 - e GBV-C RNA -/anti-E2+), sendo o p=0,36
e 0,713, respectivamente. O risco relativo de óbito para o grupo GBV-C+/anti-E2-
foi 63% menor do que para o grupo GBV-C-/anti-E2-. CONCLUSÃO: A
prevalência da viremia por GBV-C RNA e a do anticorpo anti-E2 foi de 23%,
perfazendo uma frequência de exposição ao GBV-C de 46%. Em análise multi-
variada, apenas a carga viral do HIV, maior que 100.000 cópias/mL, e
manifestação de doença oportunística ao longo do acompanhamento das
pacientes estiveram associadas à melhora da sobrevida. Provavelmente, o uso
da terapia antirretroviral para o HIV foi fator limitante na análise de efeito protetor
do GBV-C RNA em nossa casuística.
Descritores: 1. Vírus GBV-C 2. Prevalência 3. HIV 4. Co-infecção GBV-C/HIV
5. Terapia antirretroviral
SUMMARY
Campos A F. Hepatitis G (GBV-C) influence in the prognosis of HIV- infected
women [Dissertation]. São Paulo: University of São Paulo Medical School; 2010,
96p
INTRODUCTION: GB virus C (GBV-C) was discovered by two research groups
that aimed to identify a possible agent responsible for a non-A, non-B and non-C
pos-transfusion hepatitis. There is remarkable evidence that GBV-C is a
lymphotropic virus that primarily replicates in PBMCs, spleen and bone marrow.
This virus does not appear to be hepatotropic and does not replicate effectively in
hepatocytes. After an asymptomatic viremia period, most subjetcs clear the virus
over time with the development of antibody against a viral envelope glycoptrotein
(anti-E2). Since there is probably no association between GBV-C and any identify
disease, this virus has been considered not pathogenic. However, according to
some studies, GBV-C co-infection in HIV seropositive patients is associated with a
slower disease progression and longer survival after AIDS development in HIV
infected patients. Objective: To evaluate the prevalence of GBV-C viremia, anti-
E2 antibody and assess the effect of the interaction of GBV-C and HIV in an
exclusive female cohort, in a follow up period of up to 10 years. Methodos: Two
hundred forty-eight HIV infected women were enrolled in the study. Follow-up
sample was obtained from 248 patients. Laboratorial variables as mean and
median of values of CD4, HIV and GBV-C quantitative viral load, and clinical
parameters as HAART use, OIs influence on survival were investigated. Results:
One hundred and fifteen subjects were exposed to GBV-C: 57 were GBV-C RNA
positive (23%) and 58 were anti-E2 antibody positive (23%). Viral RNA with
concomitant anti-E2 antibodies was not found in any patient. There was no
statistical difference among three studied groups (GBV-C RNA-/anti-E2 - , GBV-C
RNA+/anti-E2- and GBV-C RNA -/anti-E2+), regarding CD4+ and viral load
baselines (p=0,360 and 0,713, respectively). Relative risk of death for GBV-C
RNA+/anti-E2- group was 63% lower than the GBV-C-/anti-E2 group.
Conclusion: Forty-six percent of the enrolled individuals were exposed to GBV-C
virus. Multivariate analysis demonstrated that only HIV load higher than 100.000
copies/mL and opportunistic disease during the follow-up period were associated
to longer survival after AIDS development. Probably, antiretroviral therapy for HIV
in our study blurred the observation of a putative protective effect related to GBV-
C RNA.
Descriptors: 1. GB virus C 2. Prevalence 3. HIV 4. Co-infection GB virus C
and HIV 5. Antiretroviral therapy
1
Introdução
1 – Histórico
As pesquisas científicas que culminaram com a descoberta do vírus GBV-
C ou vírus da hepatite G tiveram início nos anos de 1960. Em 1967, Deinhardt e
colaboradores, durante pesquisa para isolar o vírus da hepatite A, descobriram
um novo vírus a partir do soro de um cirurgião de nome G. Barker (GB) que
apresentava quadro clínico típico de hepatite aguda manifestado por aumento de
enzimas hepáticas e um período de icterícia de três semanas. O sangue desse
paciente foi inoculado em primatas não humanos e a hepatite manifestada em
todos os animais experimentados. Os achados sugeriram que a causa dessa
hepatite era de um agente viral não identificado, assim nomeado GBV
1
.
Contudo, somente em meados dos anos 90, dois grupos de pesquisa, nos
Estados Unidos da América
2,3,4,5
- procurando um novo vírus que poderia ser o
agente etiológico para casos considerados de hepatite não A, não B, não C e não
E - isolaram um vírus RNA da família Flaviviridae nomeado GBV-C/HGV (GB
vírus C ou vírus da hepatite G). Com os dados das pesquisas disponíveis entre
estes dois grupos de pesquisadores foi possível averiguar que o GBV-C e o HGV
possuíam 96% de homologia entre seus genomas, indicando que de fato tratava-
se de duas denominações diferentes do mesmo agente viral. Desde então ambas
as nomenclaturas passaram a ser adotadas na literatura (GBV-C/HGV)
3,4,6,7
.
Assim, devido ao fato do GBV-C ter sido encontrado durante investigações que
procuravam um novo vírus causador de hepatite e porque os clones virais
2
provinham de pacientes ou animais com sinais e sintomas de hepatite, este rus
ficou conhecido equivocadamente como um agente causador de hepatite
8
.
Logo após sua descoberta, o GBV-C foi intensamente estudado em
diferentes populações, procurando-se determinar sua história natural. Uma vez
adquirida, a infecção pelo GBV-C geralmente tende a persistir por vários anos em
imunocompetentes e imunossuprimidos. Após esse período de viremia
assintomática, a maioria dos carreadores virais clareiam o vírus ao longo do
tempo havendo surgimento do anticorpo contra uma glicoproteína do envelope
viral, o anti-E2
9
.
Trata-se de um vírus linfotrópico, que se replica primariamente em células
mononucleares do sangue periférico (PBMC) incluindo linfócitos T CD4 e
linfócitos B, medula óssea e baço, sendo a replicação hepática menos importante
10,11
. De fato, a demonstração de que o GBV-C não sofre replicação
primariamente no fígado foi feita em um estudo realizado em chimpanzés após
inoculação endovenosa do vírus e não se encontrando qualquer manifestação de
doença hepática
12
. Apesar da presença do GBV-C em hepatócitos a análise
histológica do fígado com o vírus mostrou-se normal na maioria dos indivíduos
estudados
13
.
Uma vez que, provavelmente, não exista nenhuma associação entre o
GBV-C e qualquer doença identificada até o momento, o mesmo tem sido
considerado um vírus humano não patogênico. Esse vírus não é identificado mais
frequentemente em hepatites criptogências ou em hepatites pós-transfusionais
não-A, não-E
14,15,16,17,18
. Tampouco os níveis de transaminases se correlacionam
com a viremia pelo GBV-C em doadores e receptores de sangue, pacientes em
diálise, hemofílicos e usuários de drogas
19
. Não foi encontrada associação entre
3
o GBV-C e hepatite fulminante
16,17,18
ou entre viremia pelo GBV-C e cirrose com
insuficiência hepática terminal
14
. Sabe-se ainda que o GBV-C não influencia a
gravidade da hepatite pós-transplante ou a sobrevida do enxerto
14,15,20,21,22
.
Outros estudos não lograram êxito em demonstrar qualquer associação entre o
GBV-C e carcinoma hepatocelular, linfoma não-Hodgkin
23,24
, porfiria cutânea
tarda
25
, líquen plano oral, crioglobulinemia, doença de Sjögren
26
ou carcinoma
oral
27
.
A co-infecção do VHC parece ser mais comum que a do VHB
provavelmente por ser a via de transmissão parenteral mais importante na
aquisição da hepatite C. Estudos demonstram que a prevalência da viremia do
GBV-C em indivíduos co-infectados VHC é de aproximadamente 20 a 30%
28
.
A presença do GBV-C parece não alterar o curso da evolução de uma
infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) e da hepatite B (VHB)
28
, ou seja,
provavelmente, não existe relação de um pior desfecho ou maior risco de
desenvolvimento de doença crônica na co-infecção do GBV-C/HBV e ou GBV-
C/VHC. Entretanto, no que se refere à co-infecção GBV-C/VHC, o
desenvolvimento de CHC tem sido investigado e os resultados dos estudos
publicados ainda são conflitantes
29,30,31,32,33,34
. Lightfoot e colaboradores
29
compararam a frequência do GBV-C RNA entre pacientes sabidamente VHC
positivos negros sul-africanos com CHC e grupo sem o câncer e não
demonstraram diferença estatisticamente significante entre os mesmos quanto ao
maior risco desse câncer. Com resultados semelhantes, um estudo brasileiro
realizado por Strauss e colaboradores
30
e outro por Leão-Filho e colaboradores
31
concluíram que a co-infecção GBV-C/VHC não induziu o surgimento de lesão
hepática mais grave, favorecendo a hipótese de que o GBV-C não pareça ser um
4
fator relevante na etiologia do CHC. Em contrapartida, Tagger e colaboradores
32
estudando 170 pacientes com hepatite C crônica e CHC e 306 pacientes no
grupo controle (hepatite C crônica e sem CHC) observaram um risco relativo 7,3
vezes maior de detecção do GBV-C RNA em pacientes com o diagnóstico de
CHC. Moriyama e colaboradores
33
concluíram que a co-infecção pelo GBV-C
não altera o perfil sorológico da hepatite C crônica entretanto, os resultados
demonstraram que a presença do GBV-C esteve associada a piora dos
parâmetros histopalógicos nos indivíduos com hepatite C crônica, sugerindo que
o GBV-C possa ser um risco para o desenvolvimento de CHC nessa população.
Resultados semelhantes foram reportados por Yuan e colaboradores
34
que
estudaram 144 pacientes com hepatite C crônica e CHC e 252 pacientes no
grupo controle (hepatite C crônica e sem CHC), observando uma chance 5,4
vezes maior da presença da infecção pelo GBV-C RNA entre os pacientes com
CHC.
Assim diante de todos os resultados conflitantes a cerca da real
patogenicidade desse vírus, tem sido consenso na literatura que o GBV-C muito
provavelmente não seja um organismo virulento, não causa doença hepática ou
piora uma doença hepática instalada e que, nem mesmo, tem o fígado o sítio
primário de infecção
28
. A maioria dos pacientes com a infecção apresenta o
GBV-C RNA detectado por longo período, mas nenhum deles apresentará
marcadores bioquímicos de hepatite crônica
12
. Em conclusão, nem a replicação
no fígado nem a associação com hepatite (ou outra doença associada) têm sido
convincentemente definidas na infecção pelo vírus GBV-C
35
. A Figura 1
confronta algumas conclusões de estudos publicados que demonstram haver
ou não um hepatotropismo do GBV-C
36
.
5
Fig 1: Hepatotropismo do GBV-C
Hepatotropismo
Não hepatotropismo
Detecção do GBV
-
C RNA no soro de
pacientes com hepatite aguda não- A não-
E
Igual detecção da taxa de GBV
-
C RNA
em doadores com enzima alanina
aminotransferase normal ou elevada
(1,7% e 1,5%, respectivamente)
Modelo histológico de hepatite na
infecção pelo GBV-C
Valores normais das aminotransferases
na presença do GBV-C RNA
Detecção do GBV
-
C RNA e antígeno NS5
no tecido hepático
Nenhuma correlação entre o nível do
GBV-C RNA e da enzima alanina
aminotransferase
Redução significativa do nível sérico do
GBV-C RNA após transplante hepático
Nível do GBV
-
C RNA no tecido hepático
menor que no sangue
Fonte: Adaptado Reshetnyak e colaboradores
36
. World J Gastroenterol. 2008; 14(30): 4725-
34
Em função dessa falta de relação causa-efeito GBV-C e hepatite, uma
tendência na literatura em abolir a nomenclatura “vírus da hepatite G(HGV) e
manter apenas “vírus GB-C” (GBV-C)
5
. Também por isso, a agência americana
FDA (Food and Drugs Administration) nunca estabeleceu triagem para estes
vírus em doadores de sangue dos EUA
37
sendo que, aproximadamente uma em
70 unidades de hemoderivados nos Estados Unidos, contém o RNA do vírus
GBV-C
5
.
Compreensivelmente, o interesse pelo GBV-C diminuiu após os primeiros
anos de sua descoberta, uma vez que ele não parecia ter maior impacto clínico
nos diferentes grupos de pacientes. Um trabalho brasileiro visando o estudo da
prevalência do GBV-C RNA em 200 amostras de doadores sadios de bancos de
sangue em São Paulo ressalta a possibilidade de que a alta prevalência desse
vírus nessa população (18 doadores GBV-C RNA positivos, prevalência de 9%),
6
possa contribuir para a hipótese de que o GBV-C seja um agente viral benigno
59
.
Além disso, as taxas de prevalência do vírus descritas em pacientes sadios
levantavam questões não quanto à significância clínica do GBV-C, mas
também quanto a outras possíveis rotas de transmissão - tais como a sexual e
vertical – como importantes para a ampla distribuição do vírus
38
. Ainda no que se
refere à prevalência desse rus, sabe-se que apesar da viremia poder persistir
positiva por até 16 anos em indivíduos saudáveis, parece que grande parte
dessas infecções agudas são clareadas, com a produção de um anticorpo
neutralizante detectado no plasma. Desta forma, a infecção pelo GBV-C pode ser
mais comum do que sugerem os estudos de prevalência baseados apenas na
detecção do RNA do vírus
35,39
.
Entretanto, o mundo voltou sua atenção novamente para este vírus a partir
de 1998, quando estudos de Toyoda e Heringlake propuseram que a interação
entre o HIV e o GBV-C seria benéfica a ponto de retardar a progressão da
infecção pelo HIV para aids
40,41
.
Posteriormente outras publicações
42,43,44,45,46,47,48
, demonstraram que os
indivíduos infectados pelo HIV e co-infectados pelo GBV-C, apresentaram queda
da mortalidade ou melhora nas condições clínicas (como maior nível de linfócitos
T CD4 e menor uso de antirretrovirais, por exemplo).
De fato, alguns estudos epidemiológicos sugerem fortemente uma
associação entre a infecção pelo GBV-C e o prolongamento da sobrevida em
indivíduos com o HIV
10,49
, não estando, contudo, comprovada a existência de
causalidade entre estes dois eventos
50,51
.
7
De qualquer forma, pelo fato do GBV-C e o HIV se replicarem em lulas
linfócitos T CD4+ é razoável especular que uma interferência viral entre esses
dois vírus possa ocorrer
11
.
8
2 - Epidemiologia da infecção pelo GBV-C
Dados epidemiológicos indicam que o GBV-C é altamente prevalente em
populações de todo o mundo. Essa prevalência é estimada em 1 a 4% na Europa
e América do Norte e 8 a 15% na América do Sul, África e Ásia
13,26,52,62
.
A Figura 2 mostra as taxas de prevalência do GBV-C em doadores de
sangue de diversas regiões do mundo. O mapa representa as taxas de
prevalência do GBV-C em 11.391 doadores de sangue compilados de 50 estudos
publicados. A detecção do GBV-C foi realizada através do método da reação em
cadeia da polimerase (PCR). Nota-se que em países desenvolvidos, a
prevalência do GBV-C entre doadores de sangue variou de 0,5% a 5%, e nos em
desenvolvimento, de 5% a 18,9%
53
.
Fig 2: Prevalência do GBV-C em doadores de sangue de diversas regiões do
mundo
Fonte: Stapleton e colaboradores
53
. Journal of Viral Hepatitis. 2009; 16: 757-768
9
A análise filogenética de sequências genômicas do GBV-C isoladas de
amostras obtidas em diversas regiões revelaram a existência de seis genótipos
principais com 12% de divergência genômica entre eles e estreitamente
relacionados com a região geográfica, sugerindo que o GBV-C é um vírus antigo,
que acompanhou as migrações populacionais ao longo do tempo
54
. O genótipo 1,
com os subtipos 1a e 1b, é predominante na África Ocidental; o genótipo 2, com
os subtipos 2a e 2b, na Europa e EUA; o genótipo 3 na Ásia, o genótipo 4 no
Sudeste Asiático, o genótipo 5 na África do Sul e o novo genótipo 6 na Indonésia
55
.
A prevalência de viremia pelo GBV-C/HGV no Brasil entre doadores de
sangue e voluntários sadios está situada entre 5% a 10%. O estudo de Levi e
colaboradores, publicado em 2003, revelou prevalência de 9,7% de positividade
para o GBV-C RNA entre 545 doadores de sangue de São Paulo
56
.
Uma pesquisa conduzida pelo grupo de Ribeiro-dos-Santos em São Paulo,
publicada em 2002, demonstrou uma prevalência de 5,1% de GVB-C/HGV entre
1.039 amostras de indivíduos sadios maiores de dois anos
38
. No mesmo ano,
Oliveira e colaboradores
57
demonstraram uma frequência de viremia pelo GBV-
C/HGV de 7,1% entre 241 indivíduos doadores voluntários da região central do
Brasil, ou seja, uma endemicidade intermediária da infecção, sendo a via de
transmissão parenteral presente em cerca de 1/3 dos casos e com maior
freqüência entre doadores na quarta década de vida. Nesse estudo, os
pesquisadores determinaram, ainda, o genótipo do GBV-C dos 17 pacientes
GBV-C RNA positivos. Foi encontrado três (17,6%) pacientes com genótipo 1 e
14 pacientes (82,4%) com o genótipo 2. Desses, quatro eram pertencentes ao
10
subtipo 2a e 10 ao subtipo 2b. O trabalho conclui que no Brasil, circulação
simultânea dos genótipos 1 e 2 com maior prevalência do subtipo 2b do GBV-C
57.
Outro trabalho publicado por Nishiya e colaboradores
58
estudaram a
distribuição genotípica do GBV-C em 24 pacientes residentes em São Paulo por
meio de uma análise filogenética de sequenciamento do fragmento de 728 pares
de base da região 5” não-codificadora (5’NCR) do genoma viral sendo
identificados os genótipos 1, 2a e 2b nas respectivas freqüências: 8,3% (2/24),
50% (12/24) e 41,7% (10/24).
No que se refere à co-infecção GBV-C e HIV, parece que a aquisição do
GBV-C usualmente precede a infecção pelo o HIV sendo, infrequentemente,
adquirida depois que a infecção pelo HIV se encontra estabelecida
60
. De
qualquer forma, a taxa de infecção do GBV-C nesse grupo tem se mostrado
extremamente alta, com taxa de até 39% de viremia positiva e 46% anti-E2
positivo em um grupo americano multicêntrico de coorte masculina
42
.
No Brasil a prevalência de co-infecção HIV e GBV-C foi estudada por
Souza e colaboradores sendo encontrada uma positividade de 24% para o RNA
do GBV-C em uma coorte de 175 pacientes portadores de HIV em São Paulo
61
.
3 - Epidemiologia da infecção pelo HIV
Embora inicialmente vinculado aos homens que fazem sexo com homens
(HSH), particularmente nos países industrializados e na América Latina, o HIV se
disseminou rapidamente entre diversos segmentos da sociedade, alcançando
paulatinamente mulheres, crianças e homens com prática heterossexual
63
.
11
Assim, no começo da cada de 80, a aids atingia inicialmente, e de
forma bastante intensa, os usuários de drogas ilícitas endovenosas, homens que
fazem sexo com homens e os indivíduos que receberam transfusão de sangue e
hemoderivados. Desde então, a epidemiologia da infecção no Brasil vem
sofrendo significativa transformação, caracterizada por “heterossexualização,
feminilização, pauperização e interiorização”, ou seja, tem havido persistente
tendência de crescimento de casos entre heterossexuais, mulheres, populações
menos favorecidas socioeconomicamente e em cidades do interior do país
63
.
De fato, o perfil epidemiológico do HIV vem mudando e o número de casos
de portadores desse vírus está aumentando entre os heterossexuais, entre as
mulheres, entre pessoas de baixa renda e saindo de grandes centros para
pequenas cidades. Dados atuais da organização mundial de saúde (OMS)
estimam que aproximadamente 30 milhões de pessoas vivam com a infecção
pelo HIV no mundo. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da
Saúde, até Junho 2008 foram identificados 506.499 casos de aids no Brasil, com
um total de óbitos acumulados até 2007 de 205.409. O número de casos vem
aumentando no país, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste,
em especial entre as mulheres
64
.
Foram identificados até junho de 2008 um total de 333.485 casos de aids
no sexo masculino e 172.995 no sexo feminino. Observou-se também que a
razão de sexo (M:F) no Brasil diminuiu bastante ao longo do tempo, passando de
15,1: 1 em 1986 para 1,5:1 em 2006
64
.
Não resta dúvida de que a epidemia de aids é hoje um grande problema
de saúde pública no Brasil e, embora até a atualidade haja muito mais casos
notificados em indivíduos do sexo masculino, a velocidade de crescimento da
12
epidemia é, como em outros países, muito maior entre as mulheres do que entre
os homens
63
.
Em 1999 e 2000, a aids foi a segunda causa de morte para as mulheres
entre 15 e 49 anos, no Estado de São Paulo, sendo a primeira causa, as doenças
cérebro-vasculares. De fato, o decréscimo da razão masculino/feminino de casos
e de óbitos e o fato da aids figurar entre as principais causas de mortalidade nas
mulheres em idade fértil demonstram, inequivocamente, a magnitude com que a
aids tem atingido nossa população feminina
63
.
Em 1996, o Brasil desenvolveu um projeto que dava a todos os portadores
do HIV, acesso ao tratamento ao adotar uma política de distribuição gratuita de
antirretrovirais aos portadores de HIV/aids. A partir deste ano, houve respeitável
redução das complicações decorrentes da infecção pelo HIV e aumento da
expectativa de vida entre os indivíduos infectados. Dados do Ministério da Saúde
informam que o coeficiente de mortalidade deste ano foi de 6,0 óbitos por 100 mil
habitantes
64
.
Assim desde 1996, quando a terapia antirretroviral eficaz tornou-se viável,
o prognóstico da infecção pelo HIV tem melhorado e os benefícios clínicos do seu
uso refletem sobremaneira em menor progressão para morte em pacientes
infectados. Vale ressaltar que o início dessa terapia é considerado uma das
estratégias mais importantes no que se refere à mudança da história natural da
progressão da infecção pelo HIV no mundo. No Brasil, um estudo realizado por
Marins e colaboradores mostrou que os pacientes com diagnóstico em 1995
tiveram sobrevida mediana de 16 meses e os de 1996, 58 meses
64
.
13
4 - Vias de transmissão do GBV-C
A ubiquidade da presença do GBV-C pode ser atribuída aos diferentes
modos de transmissão que lhe tem sido associados. A forma de transmissão
mais bem documentada tem sido a via parenteral, especialmente por transfusões
sangüíneas e ou hemoderivados. Devida a eficiente forma de transmissão
parenteral, o vírus possui alta prevalência entre usuários de droga endovenosa,
em poli-transfundidos, hemofílicos e hemodialisados
49,52
.
A prevalência do GBV-C varia de acordo com a população estudada, mas
é certo que ela tende a ser maior em grupos de risco de transmissão sexual e
parenteral. Em um estudo de indivíduos sadios sem fatores de risco para o GBV-
C e níveis de transaminases normais, a viremia esteve presente em 1,9% casos,
entretanto, o GBV-C RNA foi reportado em 6,8% de pacientes sob hemodiálise,
em 18,2% de pacientes co-infectados com o vírus HIV, em 24,4% dos pacientes
co-infectados com o VHC, em 21,1% entre pacientes com história de ltiplas
transfusões sanguíneas, em 28,8% dos pacientes usuários de droga endovenosa
e em 35,2% de pacientes hemofílicos
26
.
A transmissão intra-familial do GBV-C também tem sido relatada e
análises de sequências gênicas sugerem que a transmissão vertical (mãe-filho)
também possa ocorrer
26
. Em um estudo realizado em crianças com menos de 10
anos de idade no Oeste da África, demonstrou que quase 10 a 15%
apresentavam o GBV-C RNA positivo no plasma
52
.
Existem várias evidências demonstrando que o GBV-C é transmitido por
via sexual e percutânea tão bem quanto na transmissão da infecção por HIV,
sendo que o grupo de risco no qual a transmissão é mais importante são os
14
homens que fazem sexo com homens
26
. Assim, devido às formas de
transmissão similar do HIV e do GBV-C (sexual, vertical e parenteral) a
prevalência do último entre os pacientes sabidamente HIV positivos é maior que
nos indivíduos negativos para o retrovírus.
Em 2002, Ribeiro-dos-Santos e colaboradores
38
, estudando a prevalência
da infecção pelo GBV-C e fatores de risco associados em uma população de
1.039 indivíduos residentes em São Paulo, demonstraram que a transmissão da
infecção por via sexual é importante para disseminação do vírus, haja vista haver
um aumento da viremia do GBV-C com a idade, uma maior prevalência da
infecção em grupos sexualmente ativos e, principalmente, por haver uma
associação direta de viremia do GBV-C com certas práticas sexuais de risco
(maior número de parceiros sexuais e homens que fazem sexo com homens).
A transmissão intra-familiar do GBV-C também tem sido descrita e
análises de sequências gênicas sugerem que ambas as formas de transmissão,
vertical e horizontal, podem ocorrer
26,52
.
5 – Virologia do GBV-C
O GBV é um vírus RNA da família Flaviviridae, com três subtipos
nomeados GBV-A, GBV-B e GBV-C, sendo os dois primeiros capazes de
infectarem somente símios e o GBV-C o homem
3,8
.
O genoma do GBV-C é composto por RNA de fita simples de polaridade
positiva e cerca de 9.400 nucleotídeos contendo uma única fase aberta de leitura,
ORF (Open Reading Frame) que codifica uma grande poliproteína precursora
(3.000 aminoácidos) que, clivada por peptidases do hospedeiro, origem a
15
duas proteínas do envelope viral: E1 e E2
65,66
. Essa fase aberta de leitura se
localiza entre regiões não traduzidas (UTR) nas extremidades 5’ e 3’ do genoma
viral. Uma característica marcante do GBV-C é a ausência da poliproteína
codificadora do nucleocapsídeo ou core viral
26,67
. Alguns trabalhos especulam se
a ausência desse nucleocapsídeo possa ser o responsável pela menor
patogenicidade desse agente viral.
Estudos do genoma do GBV-C demonstram que a região do envelope viral
codifica duas proteínas estruturais E1 e E2, sendo esta, uma glicoproteína que se
localiza na superfície do rus. ainda produção de duas proteases codificadas
na regiões NS2 e NS3 e uma helicase codificada na região NS3 do genoma viral
13,67
.
Baseado em comparações da organização e de sequências homólogas do
genoma viral, o GBV-C é o vírus humano mais relacionado com o VHC, outro
membro da família Flaviviridae, existindo uma homologia de cerca de 30% dos
aminoácidos entre o genoma desses dois vírus
5,26,68
. As similaridades entre os
dois vírus geralmente são limitadas às regiões gênicas específicas NS3 e NS5B,
havendo pouca ou nenhuma semelhança em porções gênicas que codificam
proteínas do envelope viral, E1 e E2
26
.
O esquema comparativo da organização do genoma do GBV-C e VHC,
assim como as diferenças potenciais e as várias funções dos genes são
mostradas na Figura 3.
Outra característica interessante do vírus GBV-C é a de apresentar pouca
variabilidade em genes que codificam certas glicoproteínas do envelope,
diferente do que ocorre com outros dois vírus RNA, HIV e VHC, em que tal
variabilidade está relacionada com mecanismos de persistência viral
26
.
16
Fig 3: Esquema comparativo da organização do genoma do GBV-C e VHC
mostrando as fases de leitura abertas e as regiões 5’e 3’UTR
Fonte: Barzsenyi e colaboradores
26.
Journal of Clinical Virology. 2005; 33: 257-266
6 – Diagnóstico laboratorial da infecção pelo GBV-C
Inúmeras pesquisas que visaram o encontro de um marcador sorológico
do GBV-C focaram regiões de homologia com o VHC. Para este, um dos mais
importantes marcadores sorológicos envolve a proteína do core. Entretanto, no
GBV-C essa proteína está ausente ou truncada, o que explica em parte a grande
dificuldade de desenvolver marcadores sorológicos sensíveis e específicos para
o mesmo
69
. Para detecção molecular do vírus são utilizados rotineiramente
“primers” alvos de uma região muito conservada do genoma do GBV-C, a 5’ não
codificadora.
A detecção do RNA do GBV-C no sangue é indicativa de viremia positiva,
ou seja, de infecção viral ativa. a detecção do anticorpo da glicoproteína do
envelope viral, o anti-E2, indica soroconversão, estando, portanto, usualmente
17
associada à infecção pregressa
5
. Assim, em estudos que objetivem determinar a
exposição de uma população ao GBV-C, tanto a detecção do RNA do GBV-C
como do anticorpo anti-E2 devem ser realizadas
70
.
Apesar de a viremia do GBV-C poder persistir por muitos anos, 60 a 70%
dos indivíduos imunocompetentes evoluem com clareamento espontâneo do
vírus com concomitante desenvolvimento do anticorpo anti-E2
13,35,71
.
Especificamente, a relação entre a detecção do anticorpo anti-E2 e a viremia do
GBV-C em doadores de sangue imunocompetentes é de 6:1
53
. Sabe-se que, a
maioria das pessoas depura o vírus e desenvolve anticorpos, sugerindo
fortemente que a resposta imunológica humoral contra a glicoproteína E2 está
associada ao controle da viremia. Esse anticorpo é detectado nos ensaios
imunoenzimáticos (p.ex.: ELISA), utilizados para o diagnóstico sorológico da
infecção pregressa pelo
GBV-C.
Em 1997, um estudo realizado por Thomas e colaboradores
35
, comprovou
que a detecção do anti-E2 pode ser definidora não de clareamento do vírus
GBV-C, mas também um marcador de resistência a re-infecções. Ou seja, os
anticorpos anti-E2, uma vez formados, parecem neutralizar a infectividade do
GBV-C sugerindo que, uma nova infecção deva ser um evento muito raro
69
.
Portanto, indivíduos virêmicos para o GBV-C usualmente não apresentam
coexistência de anticorpos anti-E2. Em estudos longitudinais envolvendo
indivíduos imunocompetentes, o aparecimento desse anticorpo esteve
temporalmente relacionado com a perda do RNA do GBV-C no soro, e a
concomitância de viremia e de anti-E2 esteve presente em menos de 1% dos
casos estudados. Assim, parece que a presença do anti-E2 pode neutralizar a
infectividade do GBV-C, com consequente clareamento da viremia
60
.
18
Entretanto, a taxa de clareamento espontâneo do GBV-C RNA e
consequente produção do anti-E2 em co-infectados HIV/GBV-C ocorre em menor
proporção do que em indivíduos imunocompetentes
26
. Entre os indivíduos
infectados pelo HIV, a relação entre a detecção do anticorpo anti-E2 e a viremia
do GBV-C é geralmente menor que 2:1, sugerindo que o clareamento da viremia
do GBV-C é reduzida em indivíduos com déficit da imunidade celular
53
. Além
disso, é sabido que o anticorpo pode não ser mais detectado no plasma ao longo
do tempo em 5% e 29% dos casos de pacientes HIV negativos e positivos,
respectivamente
60
. Rey e colaboradores sugeriram que o déficit imune resultante
da infecção por HIV poderia induzir a essa perda específica de anticorpos anti-E2
72
.
Em alguns casos, o GBV-C RNA pode desaparecer sem haver
desenvolvimento concomitante do anticorpo anti-E2 por mecanismo ainda não
explicado
60,26
. Stapleton em trabalho publicado em 2003 ressaltou ainda a
possibilidade de a taxa de depuração espontânea do GBV-C RNA e o
aparecimento de anticorpos anti-E2 em pacientes co-infectados GBV-C/HIV
acontecer de forma mais lenta do que em indivíduos não infectados pelo HIV,
bem como a possibilidade de haver depuração da viremia sem o
desenvolvimento de anticorpos anti-E2 nesses pacientes
60
.
19
7 - A interação GBV - C e HIV
Em 1998, Toyoda e colaboradores
40
, ao estudarem a infecção pelo GBV-
C em pacientes hemofílicos infectados pelo HIV no Japão, notaram que os co-
infectados (27%) apresentavam cargas virais menores de HIV, embora não
houvesse diferença na progressão para aids e mortalidade entre os dois grupos.
No mesmo ano, o grupo de Heringlake
41
demonstrou que entre 197
alemães portadores de HIV, aqueles com viremia pelo GBV-C, cerca de 17% da
amostra, tinham contagens de linfócitos T CD4 significativamente maiores,
progressão para aids mais lenta e melhora da sobrevida.
No ano seguinte, Sabin e colaboradores
45
relataram que a mortalidade de
94 ingleses hemofílicos infectados pelo HIV não foi influenciada pelo GBV-C,
sugerindo que não havia efeito da infecção por este vírus na mortalidade
relacionada ao HIV. Porém nesse estudo, os autores não fizeram distinção entre
os pacientes com viremia pelo GBV-C e aqueles com apenas anticorpos anti-E2,
considerando todos como expostos ao vírus GBV-C.
Ainda em 1999, a equipe de Lefrève
49
publicou trabalho que confirmou os
achados de Toyoda e Heringlake. Amostras de sangue de 97 franceses
portadores de HIV acompanhados por cinco anos foram analisadas para a
presença de GBV-C RNA. Nesse trabalho, o grupo GBV-C RNA positivo
apresentou contagens de linfócitos T CD4 maiores, menor progressão para aids e
melhora da sobrevida. Além disso, um menor número de pacientes do grupo com
viremia positiva necessitou iniciar a terapia anti-retroviral: 39%, comparados a
68% do grupo mono-infectado pelo HIV.
20
Tillmann e colaboradores
44
em 2001
demonstraram em uma análise
restrita ao período de s-tratamento para o HIV, ou seja, após os pacientes
terem desenvolvido aids e estarem sob terapia antirretroviral, que a viremia pelo
GBV-C permaneceu como fator preditivo de maior sobrevida. Neste estudo 197
pacientes foram acompanhados prospectivamente e os autores se propuseram a
avaliar a hipótese de que se a viremia pelo GBV-C induz a um efeito benéfico na
infecção pelo HIV, então a carga viral do GBV-C deveria associar-se a um
aumento da contagem de linfócitos TCD4 ou a uma redução da carga viral do HIV.
Os autores demonstram que a carga viral do HIV foi menor nos pacientes
virêmicos para o GBV-C e que houve, ainda, uma correlação inversa entre a
carga viral do GBV-C e a do HIV. O estudo, contudo, não demonstrou nenhuma
correlação entre a viremia do GBV-C e a contagem de linfócitos T CD4.
Nunnari e colaboradores
47
não conseguiram provar que a viremia do
GBV-C esteve associada à maior sobrevida mesmo após a introdução do HAART,
mas também foram capazes de demonstrar que a co-infecção GBV-C/HIV
melhorou a eficácia e aumentou a taxa de resposta à terapia antirretroviral.
Em 2003, Polgreen e colaboradores
73
publicaram um estudo que
envolveu 362 indivíduos infectados pelo HIV, em diversas faixas etárias, de
ambos os sexos e sob vários fatores de risco de exposição ao GBV-C e HIV.
Encontraram viremia pelo GBV-C em 39,8%, sendo que não houve diferença
estatisticamente significativa entre a contagem de linfócitos T CD4 basal dos
grupos positivo e negativo para o GBV-C. Porém, após análise pela regressão de
Cox, foi encontrada mortalidade expressivamente maior no grupo negativo para o
vírus GBV-C (Risco Relativo de 3.7 IC95% de 2.5-5.4), mesmo quando a análise
foi corrigida para o uso de terapia antirretroviral.
21
Em 2004, Williams e colaboradores
42
demonstraram que a infecção pelo
GBV-C não exerce efeito protetor logo após os primeiros 12 a 18 meses da
soroconversão para o HIV. Entretanto, identificaram uma sobrevida
significativamente maior no grupo co-infectado após cinco a seis anos de história
de infecção por HIV e que o fim da viremia pelo GBV-C afetava adversamente o
curso da infecção pelo HIV. Os autores concluíram que a dependência do tempo
de infecção pelo HIV pode explicar os resultados contraditórios de outros estudos
quanto ao efeito protetor do GBV-C. Vale ressaltar que nessa coorte os autores
tiveram cuidado de excluir o fator de confusão relacionado ao uso de terapia
antirretroviral potente, amplamente disponível para uso a partir de 1996, ao
inserir na análise somente dados laboratoriais de contagem de linfócitos TCD4 e
carga viral do HIV coletados antes desta data. Assim, fica a dúvida se estas
conclusões são válidas para a era pós-HAART.
Nesse mesmo ano, um estudo retrospectivo em uma coorte de pacientes
que respondeu questionários sobre a qualidade de vida, observou-se que
pacientes infectados por HIV e GBV-C apresentaram uma melhor qualidade de
vida quando comparados com os GBV-C negativos, indicando um curso clínico
da infecção por HIV mais favorável nos pacientes co-infectados
48
.
Ao mesmo tempo em que vários estudos científicos sugeriram uma relação
benéfica na interação entre este dois rus, outros o demonstraram nenhum
efeito protetor.
Brumme e colaboradores
50
em estudo retrospectivo com 441 pacientes
que visava avaliar a influência da viremia do GBV-C na resposta terapêutica
antirretroviral, não encontraram nenhuma associação benéfica entre GBV-C e
HIV no que se refere aos desfechos clínicos analisados: sucesso ou falha
22
virológica, falha imunológica ou mortalidade. Vale ressaltar que esse estudo foi
feito baseado apenas na detecção do RNA do GBV-C, ou seja, não considerou
os pacientes que eram anti-E2 positivo.
Do mesmo modo, ou seja, baseado apenas na detecção do RNA do GBV-
C, não foi observada nenhuma influência clínica ou imunológica atribuída ao
GBV-C em um estudo prospectivo envolvendo 157 indivíduos co-infectados
seguidos por uma mediana de tempo de sete anos. Nesse estudo foi encontrado
uma prevalência do GBV-C RNA de 23% (36 pacientes) e nenhuma associação
significativa entre os grupos de pacientes GBV-C RNA positivos e negativos no
que se refere ao primeiro CD4 basal menor que 200 células/mm
3
(p=0,9), tempo
de diagnóstico de aids (p=0,4) e tempo de morte relacionada a aids (p=0,6)
51
.
Souza e colaboradores
61
analisaram a influência do GBV-C após a
introdução da terapia antirretroviral em amostras de sangue colhidas de 175
pacientes brasileiros que participaram de um estudo prospectivo randomizado. A
viremia pelo GBV-C esteve associada a uma redução de 0,48 log
10
cópias/mL
maior da carga viral do HIV nas semanas 24, 32 e 48 semanas após o início da
terapia quando comparado aos pacientes negativos para o GBV-C (p=0,009).
Com relação à contagem de linfócitos TCD4, os pacientes virêmicos
apresentaram aumento dos valores dos mesmos quando comparados aos
pacientes o virêmicos, porém não houve diferença estatística significativa
desses valores quando ajustados pela carga viral basal do HIV, terapia
antirretroviral e idade (p=0,70).
Os mecanismos que explicariam o efeito protetor do GBV-C ainda não
foram totalmente esclarecidos e várias controvérsias em relação às interações
entre GBV-C e HIV in vivo.
23
As hipóteses que tentam explicar os mecanismos pelos quais o GBV-C
interferiria na progressão da infecção pelo HIV especulam sobre um efeito
inibitório direto do GBV-C na replicação do HIV
11,46,74,75
ou um efeito
potencializador do GBV-C na resposta imunológica ao HIV
47,75
ou ainda que o
GBV-C seja simplesmente um marcador de outro fator não identificado
75,76
.
O impacto favorável da replicação do GBV-C foi demonstrado a partir de
resultados de estudos in vitro indicando um menor nível de replicação do HIV-1
em culturas de lulas linfócitos T CD4+ co-infectadas com o GBV-C, e pela
evidência de que a replicação do GBV-C induziria a produção de quimiocitocinas
que levariam a redução de receptores para HIV-1 na superfície dessas células
46,77
.
A teoria do efeito inibitório direto do GBV-C sobre o HIV leva em conta que
ambos os vírus replicam-se nas células mononucleares do sangue periférico,
inclusive em linfócitos T CD4, T CD8 e linfócitos B
11,76
. A co-infecção dessas
células pelo GBV-C poderia afetar vários estágios do ciclo de vida do HIV,
incluindo a ligação e fusão às células-alvo, transcrição reversa, integração ao
genoma da célula hospedeira, produção do pró-vírus, transcrição e morfogênese
viral, diminuindo a replicação do HIV sem aumentar a toxicidade celular
74,46
.
Outra possibilidade seria considerar uma série de interações que envolvam
o CCR5, fator importante na transmissão do HIV e progressão da infecção.
Certas cepas do HIV (R5) utilizam o receptor CCR5 para entrar na lula,
enquanto outras cepas usam o co-receptor CXCR4 (X4). Em um estudo in vitro
realizado por Xiang e colaboradores
46
, a infecção de células mononucleares de
sangue periférico com o GBV-C produziu diminuição da replicação de cepas
isoladas de HIV que usaram CCR5 ou CXCR4 como receptores de entrada
24
celular. Foi demonstrado que o GBV-C induziu a secreção de citocinas que
levaram a uma diminuição da expressão desses co-receptores. Essas citocinas
implicadas e evidenciadas pelos seus altos níveis de mRNA, incluem RANTES,
MIP-1α α, MIP-1β, ligantes naturais do CCR5 e o SDF-1, único ligante do CXCR4
conhecido.
No que se refere à importância da resposta celular na progressão da
infecção pelo HIV, é sabido que a presença de linfócitos T auxiliares capazes de
produzir um padrão de citocinas de resposta Th1 (IL-2, IL-12 e INFγ) em
detrimento ao padrão Th2 (IL-4 e IL-10) é fundamental para melhor evolução da
infecção. Nunnari e colaboradores
47
demonstraram que na co-infecção GBV-
C/HIV a resposta imune celular de padrão Th1 revelou-se preservada, com níveis
estáveis de citocinas características deste padrão quando comparado aos
pacientes somente infectados pelo HIV. De fato, nesse estudo, os indivíduos
GBV-C RNA positivos apresentaram níveis de interleucinas IL-2, IL-12, IL-4 e IL-
10 mais estáveis ao longo do seguimento, ao passo que, os indivíduos GBV-C
RNA negativos apresentaram diminuição dos níveis de IL-2 e IL-12 e aumento de
IL-4 e IL-10. Assim, o GBV-C pode ajudar a manter o perfil de citocinas
associadas à progressão lenta para aids.
Estudos recentes têm demonstrado que a glicoproteína E2 do envelope do
GBV-C se liga ao receptor CD81 dos linfócitos T, resultando também em
aumento da secreção da citocina RANTES. Esta citocina induz à internalização
do CCR5 e diminui a expressão do mesmo na superfície celular
78,79,80
.
Nattermann e colaboradores
80
demonstraram haver um aumento da citoquina
RANTES e subsequente redução da expressão do co-receptor CCR5 em
linfócitos T CD4 e CD8 de pacientes GBV-C RNA positivo independente da co-
25
infeção pelo HIV. Neste mesmo trabalho, os autores confirmaram, em parte, os
resultados encontrados por Xiang e colaboradores
46
que demonstraram ser o
GBV-C capaz de mediar supressão do HIV por induzir a redução do co-receptor
CCR5 e por aumentar a expressão das citocinas RANTES, MIP-1α, MIP-1β e
SDF-1
65
.
Assim, um potencial mecanismo que explica o efeito protetor do GBV-C
em co-infectados seria o de induzir uma diminuição da expressão do
quimioreceptor 5 (CCR5) em células infectadas por esse vírus. Sendo este um
co-receptor também importante para entrada do HIV na célula, o GBV-C estaria
influenciando na transmissão do HIV-1 e conseqüente progressão da
imunodeficiência
43
.
Já o efeito indireto do GBV-C sobre a progressão do HIV através da
melhora da resposta imunológica seria explicado por uma reação cruzada T
citotóxica. A infecção estabelecida pelo GBV-C levaria a uma resposta T
citotóxica mais intensa contra o HIV, com maior controle sobre a replicação da
infecção mais recente. Com efeito, nota-se que os indivíduos com melhor
resposta T citotóxica direta contra o HIV são geralmente progressores mais
lentos
75
.
Um recente estudo brasileiro, publicado em 2009 por Giret e colaboradores
43
, estudou em 48 pacientes recém infectados pelo HIV, o efeito da viremia pelo
GBV-C na ativação das lulas T na infecção recente pelo HIV. Os autores não
somente confirmaram a correlação positiva entre a carga viral do HIV-1 e a
porcentagem de células T CD8+CD38+, como também observaram que a viremia
pelo GBV-C esteve associada a uma diminuição da expressão de CD38 nas
células T CD4+ e TCD8+ e CCR5 nas células T CD8+, independentemente da
26
carga viral do HIV-1, contagem de células T CD4+ e células T CD8+. Os autores
concluem que essa associação entre a replicação do GBV-C e a menor ativação
celular poderiam constituir um dos mecanismos chaves envolvidos na proteção
conferida por esse vírus na progressão para imunodeficiência nos pacientes
infectados pelo HIV.
A Figura 4 é um resumo dos mecanismos propostos para explicar a
interação entre os dois vírus
26
.
Fig 4: Mecanismos propostos para explicar a ação do GBV-
C nos pacientes
coinfectados com HIV
Fonte: Adaptado Barzsenyi e colaboradores
26
. Journal of Clinical Virology. 2005; 33: 257-266
27
Justificativa
Considerando os resultados da interação entre o GBV-C e HIV ainda
conflitantes na literatura, o presente estudo foi proposto para estudar o efeito da
interação desses dois vírus em uma coorte exclusivamente feminina de pacientes
sabidamente HIV positivas, e, através do desenvolvimento de uma técnica de
PCR em tempo real de detecção quantitativa do RNA do GBV-C, fornecer
informações mais completas e especificas quanto ao comportamento da carga
viral de ambos os vírus na co-infecção.
Vários estudos publicados na literatura têm fornecido evidências científicas
da participação do GBV-C como fator independente associado à melhor
progressão para doença pelo HIV. Os mecanismos envolvidos na interação
destes dois vírus ainda o são bem conhecidos, mas o que se tem observado é
uma melhora do nível de linfócitos T CD4, maior redução da carga viral do HIV
com conseqüente melhora na sobrevida para aids na evolução desses doentes.
Em adição, dado o número limitado de estudos epidemiológicos da co-
infecção GBV-C e HIV no Brasil, surgiu nosso interesse em determinar a
prevalência do GBV-C numa coorte de indivíduos sabidamente infectados pelo
HIV.
28
Objetivos
Avaliar a prevalência da viremia (qualitativa e quantitativa) e de anticorpos
contra a glicoproteína E2 do envelope do GBV-C em amostras de plasma das
pacientes femininas com infecção pelo HIV, obtidas entre 1997 e 1999.
Analisar a evolução para óbito relacionado à aids, através de curva de
sobrevida estratificada pelos marcadores GBV-C RNA e anti-E2, em todas as
pacientes acompanhadas.
Comparar a média e mediana de linfócitos TCD4+ e de carga viral do HIV das
pacientes classificadas de acordo com a presença de GBV-C RNA e anti-E2,
investigando a correlação da viremia do GBV-C com esses marcadores
evolutivos da infecção por HIV.
Avaliar descritivamente a persistência viral e a re-exposição ao GBV-C em
nova coleta realizada entre 2006 e 2008 em 57 do total de pacientes
participantes do estudo.
29
Casuística e Métodos
Desenho do estudo
Foram realizados dois estudos observacionais: um estudo de coorte
retrospectiva e um estudo transversal de soroconversão em 57 pacientes.
O primeiro tratou-se de um estudo descritivo do tipo coorte retrospectivo
de início definido pela data da detecção de marcadores do GBV-C pelos métodos
da PCR e de anti-E2 em amostras de sangue estocadas entre o período de 1997-
1999. O estudo contou com a participação de 248 pacientes femininas
sabidamente portadoras da infecção pelo HIV seguidas por um período de cerca
de 10 anos, tendo como término de acompanhamento a data limite de 01/01/2008,
ou a data da última consulta no ambulatório ou a data do óbito.
O segundo estudo foi do tipo transversal em que as medições foram feitas
em uma única ocasião, entre 2006 a 2008, e sem um período de
acompanhamento. Foi selecionada uma amostra de 57 pacientes da população e
analisado a distribuição de algumas variáveis.
Característica da população do estudo e casuística
As amostras de plasma foram coletadas de 265 mulheres durante a
execução do projeto de estudo da infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV)
em pacientes HIV positivas, realizado anteriormente no Laboratório de Virologia
do Instituto de Medicina Tropical (LIM 52 – HCFMUSP)
81
.
30
A coleta das amostras das pacientes foi realizada entre Novembro 1997 a
Setembro 1999 no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e no Serviço de Extensão
ao Atendimento de pacientes HIV/Aids SEAP, da Divisão de Moléstias
Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
USP e armazenadas a -70 ºC desde então.
Dessa soroteca foram utilizadas 248 amostras disponíveis em quantidade
suficiente para realização dos ensaios de determinação do RNA e do anticorpo
contra a glicoproteína E2 do GBV-C.
Entre 1997 a 1999, todas as 265 pacientes do estudo apresentavam o
diagnóstico definido de infecção pelo HIV pelo exame sorológico de Elisa e
confirmados por Western Blot.
A partir da data da primeira coleta de sangue das 248 pacientes foi
possível a determinação do perfil do GBV-C e conseqüente estratificação das
pacientes em grupos: pacientes com infecção ativa ou sorologia positiva para o
GBV-C e pacientes que não haviam sido expostas ao vírus. Essas pacientes
foram acompanhadas até um de três desfechos pré-determinados: data limite do
seguimento do estudo (01/01/2008) ou data da última consulta no ambulatório de
suas respectivas instituições de acompanhamento ou a data do óbito.
No período de 2006 a 2008, todas as pacientes que mantinham o
acompanhamento ambulatorial foram convocadas por telefone pelo médico
pesquisador a comparecer às suas respectivas instituições com intuito de
informar sobre a pesquisa e aplicar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Feito isso, eram realizadas novas coletas de sangue e enviado o
material ao Laboratório de Virologia, LIM 52 HCFMUSP. Apenas cinquenta e
sete das 248 pacientes que iniciaram o estudo estiveram presentes para essa
31
segunda coleta de sangue com o objetivo de determinar novamente o perfil de
GBV-C.
Foi realizada a coleta de informações da história clínica através de revisão
detalhada do prontuário dico de cada participante em data pré-agendada no
Serviço de Arquivo Médico - SAME das instituições de seguimento por meio de
impresso padronizado (Anexo 1) bem como de exames laboratoriais referentes a
valores de linfócitos TCD4+ e carga viral do HIV-1 usando o programa SISCEL,
Sistema de Informação de Exames Laboratoriais, das respectivas instituições de
acompanhamento.
O diagnóstico das doenças oportunísticas levou em consideração a
presença de exame laboratorial confirmando a presença do agente seja por
sorologia, cultura ou biologia molecular ou por método de imagem sugestivo da
lesão mais associada ao agente infeccioso. Todas estas informações foram
consideradas mediantes o laudo do exame laboratorial no prontuário médico ou
se estavam relatadas na evolução das mesmas pelo médico assistente.
A busca de informações de óbitos das 248 pacientes participantes do
estudo foi feita através de informações extraídas do Programa de Aprimoramento
das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM) da
Prefeitura do Município de São Paulo. Esse programa consiste em banco de
dados de registro de todos os óbitos no Município de São Paulo. A pesquisa das
pacientes no referido Programa foi realizada introduzindo como comando de
busca o primeiro nome, seguido do último sobrenome e data de nascimento,
delimitando-se o período de 1996 até 2007. Para as pacientes que evoluíram
para óbito, obtiveram-se ainda informações quanto à data e causa do desfecho
(Anexo 2).
32
Alocação das pacientes em grupos
A partir das 248 amostras de sangue estocadas da primeira coleta foi
possível dividir as participantes em três grupos assim nomeados, conforme o
resultado laboratorial da pesquisa de anticorpos anti-E2 e GBV-C RNA no plasma.
Em todas as amostras foram pesquisados anticorpos por ELISA e de material
genético do vírus através de PCR, Nested PCR e PCR-RT para o GBV-C.
Grupo 1: GBV-C RNA+ /anti-E2- Expostas ou virêmicas
Grupo 2: GBV-C RNA- /anti-E2+ Imunes
Grupo 3: GBV-C RNA- /anti-E2- Não expostas
Foi realizada novamente a pesquisa de anticorpos contra a glicoproteína
E2 do GBV-C por ELISA, por PCR, por Nested PCR e por PCR- RT em uma
segunda amostra coletada de 57 pacientes participantes da primeira análise que
mantiveram acompanhamento ambulatorial entre o período de 2006 a 2008,
sendo assim agrupadas, levando-se em conta o resultado do perfil do GBV-C
obtido na primeira coleta:
Grupo 4: amostra negativa e amostra negativa (GBV-C RNA- /anti-
E2 - e GBV-C RNA- /anti-E2 - ): Persistentemente negativas
Grupo 5: amostra e amostra GBV-C RNA positiva (GBV-C RNA+
/anti-E2 - e GBV-C RNA+ /anti-E2 - ): Persistentemente positivas
33
Grupo 6: amostra anti-E2 positiva e amostra anti-E2 positiva ou
negativa (GBV-C RNA- /anti-E2 + e GBV-C RNA- /anti-E2 + ou - ): Imunes
Grupo 7: amostra GBV-C RNA positiva e amostra GBV-RNA
negativa (GBV-C RNA+ /anti-E2 - e GBV-C RNA- /anti-E2 + ou - ):
Clareadoras
Grupo 8: amostra GBV-C RNA negativa e amostra GBV-C RNA
positiva (GBV-C RNA- /anti-E2 - e GBV-C RNA+ /anti-E2 - ): Infecções
incidentes
Grupo 9: amostra GBV-C RNA negativa e amostra anti-E2 positiva:
(GBV-C RNA- /anti-E2 - e GBV-C RNA- /anti-E2 + ): Soroconversoras
Testes laboratoriais para determinação da infecção
por GBV-C
1 – Determinação qualitativa de anticorpos anti-E2
Realizamos a importação dos “kits” de detecção de anticorpo específico
anti-E2 por meio de um ensaio imunoenzimático comercial Plate antiHGenv
teste, Roche Diagnostics, Penzburg Alemanha). Estes “kits” foram doados pelo
Dr. Dietmar Zdunek da empresa Roche Diagnostics, Penzburg Alemanha. A
reação de ELISA foi realizada conforme indicação do fabricante do “kit”.
2– Extração de GBV-C RNA da amostra
34
Para extração do GBV-C RNA nas amostras de plasma foi realizada
utilizando o “kit” de extração QIAamp Viral RNA Mini kit (Qiagen®,Chattlesworth,
EUA). Ao final obteve-se um eluato de GBV-C RNA de 60 µL de cada amostra.
3 – Reação de Transcrição Reversa
Previamente à pesquisa do GBV-C RNA por PCR, realizou-se a etapa de
síntese do cDNA, utilizando o protocolo “in-house” com hexâmeros randômicos
(N6) e a enzima transcriptase reversa de M-MLV (Applied Biosystems®, EUA).
Após sua síntese o cDNA ficou a 4º C no termociclador, sendo removido e
estocado no freezer a -20º C.
4 – Reação da PCR GBV-C convencional
A PCR convencional para detecção de GBV-C RNA nas amostras foi feita
utilizando “primers” previamente publicados, que amplificam uma porção da
região 5 ’NCR por esta ser a parte mais conservada do vírus.
O procedimento partiu de 5 µL de cDNA em uma reação de PCR, usando
o “primer” anti-sense LG1 (5’ CACTGGTCCTTGTCAACTCGC 3’), o “primer”
sense LG2 (5’ CACTGGGTGCAAGCCCCAGAA 3’) e os reagentes como
indicado no Quadro 1.
35
Quadro 1: Reagentes, volumes e concentrações utilizados na reação da PCR GBV-C
convencional
Reagentes Volume ( µL) [Final]
Tampão de PCR 10X minus Mg 2,5 1x
dNTPs (2,5mM) 2,0 200 µM
MgCl2 (50mM) 1,5 3,0mM
LG 1 (10µM) 0,5 200 ηM
LG 2 (10µM) 0,5 200 ηM
Taq Platinum (5U/ µL) 0,25 1,25U
H2O DEPEC 7,75 -
Glicerol 57% 2,5 5,70%
Cresol Red (1µg/ µL) 2,5 0.1µg/ µL
Volume Final 20,0
cDNA 5,0
Volume de Reação 25 µL
5 – Reação de NESTED PCR GBV-C
A reação de Nested PCR GBV-C foi padronizada utilizando os “primers”
publicados por Andonov
e colaboradores
e realizada em dois tempos.
Para o primeiro tempo utilizamos 5 µL de cDNA que foi submetido a PCR
usando os “primers” G58 sense ( 5’ CAGGGTTGGTAGGTCGTAAATCC 3’ ) e
G75 anti-sense ( 5’ CCTATTGGTCAAGAGAGACAT 3’ ) e para o segundo tempo
utilizamos 2,5 µL do produto da PCR do primeiro tempo que foi amplificado pelos
“primers” G134 sense ( 5’ GGTCAYCYTGGTAGCCACTATAGG 3’ ) e G131 anti-
sense ( 5’ AAGAGAGACATTG WAGGGCGACGT 3’ ) e reagentes nas
concentrações e volumes mostrados no Quadro 2.
36
Quadro 2: Reagentes, volumes e concentrações utilizados na reação NESTED PCR GBV-C
Reagentes Volume(µL)
[ Final] Reagentes Volume(µL)
[ Final]
1º PCR
2º PCR
Tampão de PCR
10X minus Mg
2,5 1x
Tampão de PCR
10X minus Mg
2,5 1x
dNTPs (2,5mM) 2,0 200µM dNTPs (2,5mM) 2,0 200µ
M
MgCl2 (50mM) 1,25 2,5mM MgCl2 (50mM) 1,25 2,5m
M
G58 (10µM) 0,5 200 ηM G134 (10 µM) 0,5 200
ηM
G75 (10µM) 0,5 200 ηM G131 (10 µM) 0,5 200
ηM
Taq Platinum
(5U/µL)
0,25 1,25U Taq Platinum
(5U/µL)
0,25 1,25U
H2O 8,0 H2O 10,5
Glicerol 57% 2,5 Glicerol 57% 2,5
Cresol Red
1µg/µL
2,5 Cresol Red 1µg/µL 2,5
Volume Final 20,0 Volume Final 22,5
cDNA 5,0 1st round 2,5
Volume de
Reação
25,0 Volume de Reação 25,0
6 – Reação da PCR em tempo real para GBV-C
Adicionou-se à mistura o cDNA e a colocou no equipamento de PCR em
tempo real (ABI Prism 7300 Applied Biosystems). Esse procedimento utilizou o
“primer” sense RTG1 (5’ GTGGTG GATGGGTGATGACA 3’), o “primer” anti-
sense RTG2 ( 5’ GACCCACCTATAGTGGCTACCA 3) e a sonda anti-sense ( 5’
FAM-CCGGGATTTACGACCTACC-NFQ 3’ ), onde FAM é o composto
fluorescente ou reporter, e NFQ significa non-fluorescente quencher”. Quadro 3.
37
Quadro 3: Reagentes, volumes e concentrações utilizados na PCR em tempo real
Reagente Volume (µl)
TaqMan Universal PCR Master Mix 2X 10,0
20X Assay Mix 1,0
cDNA 9,0
Volume Final 20,0
Conc. Primers 18 µM
Probe Conc. 5µM
7 – Calibração do ensaio e curva – padrão
Para obter dados quantitativos (carga viral) sempre é necessário haver em
cada corrida alguns tubos/poços que contém cDNAs derivados de concentrações
previamente conhecidas de uma amostra-padrão. Estas diluições da amostra-
padrão são colocadas para o “software” de gerenciamento da reação como
controles (Qc) aos quais se atribuí um valor quantitativo em qualquer unidade
estabelecida, cópias/mL, unidades internacionais/mL, genoma-equivalentes/mL
etc. Como não até este momento, uma padronização quanto ao GBV-C RNA,
optamos por criar um padrão interno do laboratório, para o qual existe material
abundante e que possa ser analisado muitas vezes. Obtivemos uma bolsa de
plasma já previamente determinado por conter GBV-C RNA e estar livre de
outros agentes infecciosos como VHB, VHC e HIV. Esta bolsa de cerca de 350
mL de plasma foi gentilmente doada pelo Banco de Sangue do Hospital Sírio-
Libanês.
Ao chegar ao Laboratório de Virologia do IMT a bolsa foi descongelada e o
plasma imediatamente aliquotado em microtubos contendo 0,5 mL de plasma
cada um. Uma alíquota foi então diluída com plasma normal GBV-C RNA
negativo, de forma a gerar uma curva de titulação, partindo-se do plasma puro
38
até uma diluição de 1:100.000. Triplicatas de cada ponto (puro-1:5 - 1:10 - 1:100 -
1:1.000 - 1:10.000 - 1:100.000) foram extraídas e processadas conforme descrito
anteriormente. Os cDNAs foram submetidos à reação da PCR em tempo real.
Observamos que até a diluição de 1:10.000 havia uma amplificação consistente e
reprodutível. Determinamos assim a carga viral da bolsa-padrão em unidades-
aleatórias de GBV-C RNA por mililitro de soro. Então, em cada ensaio foram
incluídos como calibradores os cDNAs desta curva, e os valores obtidos das
amostras são expressos em unidades-aleatórias/mL.
8 - Determinação da contagem de carga viral do HIV
A quantificação da carga viral do HIV-1 foi determinada por três testes
diferentes
82
:
- bDNA : QUANTIPLEX HIV-1 RNA 3.0 Assay (BAYER DIAGNOSTICS)
- NASBA : NUCLISENS HIV-1 QT (BioMériex)
- RT-PCR : AMPLICOR HIV-1 MONITOR (ROCHE)
Das três metodologias disponíveis, duas fazem a amplificação de forma
direta, amplificando alvo e uma de forma indireta, amplificando sinal.
Comparações estatísticas revelaram estreita correlação (superior a 90%) entre os
três ensaios. A análise da variação intra-teste não revelou diferenças
sistemáticas entre as duplicatas com nenhuma das três metodologias citadas,
sugerindo boa reprodutibilidade das mesmas.
Entretanto, como elas são baseadas em princípios diferentes, sugere-se
que os resultados sejam comparados dentro do mesmo método.
39
1.
bDNA ( branched DNA)
A tecnologia do branched DNA é um ensaio de hibridação em fase sólida
tipo sanduíche de ácidos nucléicos usando moléculas de DNA ramificadas
(bDNA). A amostra é tratada com reagente de lise e o material nucléico do vírus
liberado é então hibridado em solução usando dois conjuntos de sondas
oligonucleotídeas. Uma das sondas serve como sonda de captura (localizada na
superfície dos poços da placa) que híbrida especificamente com o RNA do HIV e
faz com que o RNA do HIV fique ligado à placa. A segunda sonda serve para
fixar o RNA do HIV à placa e também para hibridar com um outro conjunto de
sondas: pré-amplificadora e amplificadora (bDNA), a essa última se atribui a
função de aumentar o nível de sinal da hibridação. As moléculas de bDNA atuam
como amplificadoras por se ligar a uma sonda marcada com fosfatase alcalina.
Desta maneira, o sinal gerado pelo complexo HIV RNA-sondas é amplificado
para detecção e quantificação do RNA viral. Finalmente, a adição de um
substrato quimioluminescente reage com a última sonda e o sinal é lido em um
luminômetro. A unidade relativa de luz (RLU) gerada é proporcional à quantidade
de RNA do HIV na amostra. As cópias de RNA do HIV são calculadas usando
uma curva padrão gerada por um conjunto de seis calibradores e três controles
HIV externos. A faixa de detecção de 50 a 500.000 cópias/mL apresenta
linearidade em todo o intervalo.
40
2.
NASBA Amplificação baseada na sequência de ácidos
nucleotídeos
A técnica NASBA permite a amplificação isotérmica do RNA do HIV-1 de
filamento simples, utilizando três enzimas: a transcriptase reversa do vírus da
mieloblastose aviária, uma RNAse H, e a RNA polimerase do fago T7. A técnica
permite a obtenção de 10
6
a 10
9
cópias em menos de uma hora. Seu limite de
detecção é de 80 cópias do RNA viral por mL de plasma.
3.
RT-PCR – Amplicor
O teste baseia-se em cinco processos principais: preparação da amostra
para extração do material genético do HIV-1; transcrição reversa do RNA alvo
para produzir DNA complementar (cDNA); amplificação por PCR do cDNA-alvo,
usando iniciadores específicos complementares para o HIV-1; hibridização dos
produtos amplificados com sondas oligonucleotídicas específicas e detecção dos
produtos amplificados e ligados à sonda, por determinação colorimétrica e com
auxílio de um sistema analisador automatizado. Trata-se de metodologia RT-
PCR, que utiliza a região genômica GAG do HIV-1, com faixa de detecção de 400
a 750.000 cópias/mL.
41
9 - Determinação da contagem de linfócitos T CD4+
A fenotipagem da população linfocitária foi realizada pela técnica de
citometria de fluxo, através do citômetro de fluxo
82
. Inicialmente, o sangue total
foi incubado com anticorpo monoclonal marcado contra o antígeno CD45 com
intuito de separar a população linfocitária do restante dos leucócitos do sangue
circulante. Em seguida o sangue foi analisado pelo citômetro, que agrupou os
variados tipos de leucócitos em um histograma (“gating” eletrônico). Os linfócitos
assim agrupados (“gated”) foram separados em sub-populações, após incubação
com painel adequado de anticorpos monoclonais marcados.
42
Alise dos dados coletados
Os dados coletados foram codificados e digitados em banco de dados
onde tiveram sua consistência averiguada. Os dados nominais e ordinais foram
descritos através de suas freqüências absolutas e relativas. Os dados contínuos
tiveram suas médias e medianas calculadas como medidas de tendência central,
juntamente com os respectivos intervalos interquartis como medidas de dispersão.
Assim, o primeiro quartil (P
25
) representa o valor abaixo do qual estão os 25%
valores menores, e o terceiro (P
75
) o valor abaixo do qual estão 75% dos
resultados. Quando se descreve um conjunto de dados de distribuição
assimétrica, a distância entre quartis representa melhor a variação do que a
amplitude ou o desvio padrão, porque não é afetada pelos valores extremos
83
.
Como provas de significância estatística para comparação de proporções
foram utilizados os testes qui-quadrado de Pearson ou razão de verossimilhança
para as seguintes variáveis categóricas: modo de transmissão do HIV,
estratificação da contagem de linfócitos T CD4 e da carga viral do HIV, doenças
oportunísticas, co-infecção (VHB, VHC e HTLV), número e motivo de troca dos
antirretrovirais.
A comparação da média da idade entre os grupos foi feita pelo teste
estatístico ANOVA
83
por se tratar de uma variável com distribuição normal com
mais de dois grupos.
Utilizou-se o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para comparação das
seguintes variáveis contínuas entre os grupos: tempo de acompanhamento,
tempo entre o diagnóstico do HIV e determinação do perfil do GBV-C, contagem
de linfócitos TCD4 e carga viral do HIV basais e durante o seguimento, nadir de
CD4 e zênite de carga viral do HIV e número de esquemas antirretrovirais. O
43
teste de Wilcoxon
83
foi utilizado para comparar as variáveis pareadas distribuídas
em dois momentos: linfócito T CD4 Basal/ linfócito T CD4 Final, carga viral HIV
Basal/ carga viral HIV Final e carga viral GBV-C Basal/ carga viral GBV-C Final.
Para verificar o grau de relação entre variáveis contínuas foi utilizada a
correlação de Spearman quando pelo menos uma das variáveis apresentou
distribuição não normal
83
.
Para a análise da sobrevida foi utilizado o método de estimativa de Kaplan-
Meier. A variável tempo de sobrevida foi criada a partir da data da determinação
do perfil do GBV-C RNA e da data do óbito para as pacientes que faleceram e, da
data da determinação do perfil do GBV-C RNA e da última consulta no serviço ou
da data final de seguimento, 01 de janeiro de 2008, para as pacientes que
sobreviveram. Para comparação da diferença de sobrevida entre as categorias foi
utilizado o teste log-rank, dada a proporcionalidade dos riscos
83
.
Para a determinação de possibilidade de óbito quanto à infecção pelo
GBV-C na coorte estudada, foi realizado o cálculo do risco relativo como medida
de associação e seus respectivos intervalos de confiança a 95%. O tempo de
sobrevida juntamente com as variáveis CD4 e carga viral do HIV basais, número
de esquemas antirretrovirais, doença oportunística e perfil do GBV-C foi
modelado usando a regressão múltipla de Cox e estimado os riscos relativos de
óbito com os respectivos intervalos de confiança a 95%.
Os testes foram calculados com “p” bicaudal, sendo considerado o valor
menor que 0,05 estatisticamente significativo.
Para construção do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft
Excel. A análise dos dados foi realizada com o software SPSS versão 15.0
(SPSS Inc, 2006).
44
Aspectos éticos do estudo
O estudo contou com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas, do SEAP e da Comissão de Ética para
Análise de Projetos de Pesquisa CAPPesq da Diretoria Clínica do Hospital
das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(protocolo nº 029/06).
As pacientes que participaram da segunda coleta de sangue para
determinação do GBV-C entre 2006 a 2008, foram convocadas por telefone pelo
pesquisador executante, agendando local para visita em suas respectivas
instituições de acompanhamento para aplicação do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Anexo 3) e, se autorizado, coleta de amostra de sangue
para envio ao Laboratório.
Revisão bibliográfica
Para pesquisa bibliográfica de periódicos foram utilizados os principais
bancos e bases de dados disponíveis eletronicamente, além de literatura corrente
disponibilizada em livros texto. Visando uma maior eficiência na obtenção dos
resultados, além do uso de palavras-chave relevantes ao assunto abordado,
foram utilizados descritores MESH e DeCS indexados respectivamente pelas
bases MEDLINE e LILACS. Também foram revistas algumas publicações citadas
por autores em suas referências. A estrutura dos elementos textuais contidos
nessa dissertação respeitou os preceitos contidos no Guia Oficial do Serviço de
Biblioteca e Documentação da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo
90
.
45
Resultados
Os resultados deste estudo serão demonstrados em três momentos.
Primeiramente, foram analisadas as características das pacientes na primeira
coleta, entre 1996 e1998, considerada a basal, em que se determinou o perfil do
GBV-C com estratificação das pacientes em três grupos (GBV-C RNA+ /anti-E2 - ,
GBV-C RNA - /anti-E2 + e GBV-C RNA - /anti-E2 - ). Neste momento analisamos
também outras variáveis tais como: a idade, o tempo de acompanhamento no
estudo, o modo de transmissão do HIV e a contagem de linfócitos T CD4 e carga
viral do HIV basais.
As pacientes foram acompanhadas e os resultados das seguintes variáveis
clínicas e laboratoriais, estratificadas pelo perfil do GBV-C, estudadas: co-
infecção VHB, VHC e HTLV1/2, presença de doença oportunísticas, número de
esquemas antirretrovirais usados e trocas dos mesmos, motivo da troca e
mediana do nadir e zênite da contagem de linfócitos CD4 e carga viral do HIV,
respectivamente.
Por fim, demonstraremos ainda os resultados descritivos obtidos de
variáveis estratificadas pelo perfil do GBV-C na segunda coleta de um grupo de
57 pacientes participantes da primeira análise.
Foram incluídas 248 amostras de pacientes femininas no estudo, com
média de idade no momento da determinação do GBV-C RNA de 32,41anos (DP
7,1 anos) e mediana de 31,6 anos (P
25-75
27 38,1 anos). Não houve diferença
estatística na mediana de idade entre os três grupos: pacientes GBV-C RNA+
/anti-E2 - 31,8 anos, pacientes GBV-C RNA- /anti-E2 + 33,23 anos e pacientes
GBV-C RNA- /anti-E2 - 30,64 ; sendo p=0,331. Tabela 1.
46
Considerando a data da detecção do perfil do GBV-C a de início do
estudo, as 248 pacientes foram acompanhadas em média 7,49 anos (DP 2,89
anos) ou 89,94 meses (DP 34,67 meses) com mediana de 9 anos (P
25-75
6,25 - 9
anos) ou 108 meses (P
25-75
75 -108 meses). Não houve diferença estatística no
tempo de acompanhamento entre os grupos como mostra a Tabela 1.
Das 248 pacientes, 198 tinham informação quanto à data do diagnóstico
sorológico da infecção pelo HIV (Elisa e Western Blot positivos) em prontuário. A
média de tempo em meses entre o diagnóstico do HIV e da determinação do
perfil do GBV-C foi de 29,37 meses (DP 34,02 meses) e a mediana de 21 meses
(P
25-75
8 - 41,25) para as pacientes analisadas, sendo 17,5 meses (P
25-75
3 -
31,25) para o grupo GBV-C RNA+ /anti-E2 - , 23 meses (P
25-75
4 - 43,25) para o
grupo GBV-C- /anti-E2 + e de 23,5 meses (P
25-75
11,75 - 45,25) para o grupo
GBV-C- /anti-E2 - . Não houve diferença estatística entre os grupos (p= 0,079).
Não pudemos determinar, contudo, se a exposição ao vírus do HIV antecedeu à
do GBV-C, uma vez que não é rotina a detecção do GBV-C na avaliação e
acompanhamento dos pacientes HIV positivos recém diagnosticados em nossos
serviços.
Em relação à exposição ao GBV-C obtivemos uma prevalência de 46%.
Das 115 pacientes expostas, 57 eram GBV-C RNA positivas (23%) e 58 eram
anti-E2 positivas (23%). As pacientes consideradas expostas ao vírus GBV-C
tinham como marcador o PCR RNA positivo para o vírus ou apresentavam o
anticorpo anti-E2. Não houve achado da presença concomitante do GBV-C RNA
e do anticorpo anti-E2 nas 248 pacientes estudadas. Gráfico 1.
47
Gráfico 1- Prevalência do GBV-C em 248 pacientes - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
54%
23%
23%
GBV-C RNA-/antiE2-
GBV-C RNA+/antiE2-
GBV-C RNA-/antiE2+
Foi realizada a contagem da carga viral do GBV-C RNA pelo método
quantitativo da PCR em tempo real. Encontrou-se uma média de 1.396,30 UA/mL
e mediana de 458,9 UA/mL (P
25-75
42,1- 1.614,3 UA/mL).
Com relação à contagem de linfócitos T CD4 e de carga viral basal do HIV
no momento da determinação do perfil do GBV-C, observamos que o houve
diferença estatística entre os valores em relação aos grupos (p=0,36 e p=0,713,
respectivamente), como mostra a Tabela 1. Utilizando o coeficiente de correlação
não-paramétrico de Spearman para determinar a associação entre as variáveis
contagem de linfócitos TCD4, carga viral do HIV e carga viral do GBV-C,
observou-se que não houve correlação entre a contagem basal de linfócitos T
CD4 e da carga viral do GBV-C, sendo r
s
=0,097 e p=0,129. No que se refere à
carga viral basal do HIV e à carga viral do GBV-C também não houve correlação,
sendo r
s
= -0,058 e p=0,366.
48
Em relação à forma de transmissão do HIV, a maior parte das pacientes
(67,2%) relatou possuir parceiros sexuais fixos (maridos), sabidamente
portadores da doença aids. o houve associação estatisticamente significativa
entre o modo de transmissão do HIV estratificado pelo perfil do GBV-C, sendo p >
0,05, como mostra a Tabela 1.
Baseado em apenas informações de prontuários médicos no momento em
que foi iniciado este estudo observamos que nenhuma paciente apresentava
sorologia positiva para os vírus da hepatite B, C ou HTLV1/2. Não podemos,
entretanto, afirmar categoricamente que as pacientes eram negativas para estes
vírus uma vez que o presente estudo não realizou sorologia das mesmas no
momento da determinação do perfil do GBV-C.
As características gerais das pacientes são demonstradas na Tabela 1.
49
Tabela 1 - Características gerais da população no início do estudo estratificada pelo perfil GBV-C – SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Características Gerais N Total GBV-C RNA + /
Anti-E2 – (n=57)
GBV-C RNA - /
Anti-E2 + (n=58)
GBV-C RNA - /
Anti-E2 – (n=133)
p
Idade em anos (mediana)
248 31,6
(27-38,1)
31,8
(27,93-38,41)
33,23
(28,30-39,30)
30,64
(26,42-36,44)
0,331
a
Tempo
de a
companhamento
em meses (mediana)
248 108
(75-108)
108
(90-108)
108
(84-120)
108
(72-108)
0,371
a
Modo Tra
nsmissão HIV
Sexual
186 125(67,2%) 28(63,6%) 29(63%) 68(70,8%) 0,552
c
Uso de droga EV
186 7(3,8%) 2(4,5%) 2(4,3%) 3(3,1%) 0,893
b
Tx sanguína
186 6(3,2%) 3(6,8%) 1(2,2%) 2(2,1%) 0,362
b
CD4 Basal (cels/mm
3
)
(mediana)
247 286
(163 - 391)
305
(223,5-394,5)
287
(168,75-418,75)
277
(148,5-390)
0,36
a
CD4 Basal categorizado
<200 cels/mm
3
77 12(21,1%) 20(34,5%) 45(34,1%) 0,411
c
200
-
350 cels/mm
3
84 24(42,1%) 18(31,0%0 42(31,8%)
>350 cels/mm
3
86 21(36,8%) 20(34,5%) 45(34,1%)
Carga Viral HIV Basal
cópias/mm
3
(mediana)
246 3.497,50
(100-38.180,25)
4.153
(288,50-25.562)
2.996,50
(100-66.241,50)
3.492
(405-44.920)
0,713
a
Carga Viral HIV Basal
categorizada
100
-
999 cópias/mm
3
90 21(36,8%) 24(41,4%) 45(34,4%) 0,36
c
1.0
00
-
9.999 cópias/mm
3
60 15(26,3%) 13(22,4%) 32(24,4%)
10.000
-
99.999 cópias/mm
3
58 17(29,8%) 11(19%) 30(22,9%)
>100.000 cópias/mm
3
38 4(7%) 10(17,2%) 24(18,3%)
*Mediana (P
25%-75%
)
a
Teste de Kruskal Wallis
b
Razão de verossimilhança
c
Teste Qui-quadrado de Pearson
50
Por meio de revisão do prontuário das pacientes obtivemos informações
de variáveis clínicas e laboratoriais desde o início da primeira consulta. As
pacientes foram acompanhadas até o desfecho final, que foi definido como: data
da última consulta ambulatorial, ou a data limite do estudo considerado
01/01/2008, ou a data do óbito.
Em relação às doenças oportunísticas referidas por essas pacientes em
prontuário médico desde o diagnóstico da infecção pelo HIV, observamos uma
maior prevalência de casos de tuberculose (22,2%), seguida de monilíase oro-
esofágica (19%) e toxoplasmose cerebral (17,3%). Apenas a monilíase oro-
esofágica e a pneumocistose foram mais frequentes no grupo não exposto ao
GBV-C, sendo p= 0,016 e 0,048, respectivamente. Para as demais doenças
oportunísticas avaliadas neste estudo não houve diferença estatística entre os
grupos estratificados pelo perfil do GBV-C, como mostra a Tabela 2.
Tabela 2 – Frequência de doenças oportunísticas na população durante o acompanhamento
estratificada pelo perfil do GBV-C perfil do GBV-C - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
a
Teste Qui-Quadrado
b
Razão de Verossimilhança
Características n
GBV
-
C
RNA+/anti-E2-
GBV
-
C
RNA-/anti-E2+
GBV
-
C
RNA-/anti-E2- p
Doença Oportunísticas
Tuberculose
(pulm,gangl,dissem)
35/185 9 (20%) 7 (15,2%) 19(20,2%) 0,760
a
Monilíase oro
-
esofágica
26/185 2 (4,4%) 7 (15,2%) 17(18,1%) 0,093
a
CMV ocular/esofágica
17/185 2 (4,4%) 4 (8,7%) 11(11,7%) 0,342
b
Herpes Zoster
18/185 2 (4,4%) 5 (10,9%) 11(11,6%) 0,337
b
PCP
14/185 0 (0%) 3 (6,5%) 11(11,7%) 0,010
b
Criptococose SNC
4/185 2 (4,4%) 1 (2,2%) 1(1,1%) 0,470
b
Toxoplasmose SNC
32/185 4 (8,9%) 7 (15,2%) 21(22,3%) 0,133
a
Micro/Isosporid
iose
8/185 3 (6,7%) 2 (4,3%) 3(3,2%) 0,659
b
51
Na pesquisa sorológica de vírus causadores de hepatite crônica (B, e C) e
do HTLV 1/2 ao longo do acompanhamento das pacientes, encontramos a
presença do vírus da hepatite C em 19 (11,7%) pacientes, sendo a viremia
nesses casos confirmada pela presença do RNA do VHC detectado pelo método
da RT-PCR. Em menor proporção, três (1,8%) pacientes apresentaram hepatite B
e cinco (3,8%) HTLV1/2. Não houve diferença estatítistica destas infecções de
acordo com a estratificação pelo perfil do GBV-C (VHB p=0,864, VHC p=0,987 e
HTLV p=0,39), como mostrado na Tabela 3.
Tabela 3 – Frequência de co-infecção na população durante o acompanhamento estratificada pelo
perfil do GBV-C - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
*
Teste de Kruskal Wallis
Durante o período de acompanhamento foi avaliada a mediana da
contagem de linfócitos T CD4 e carga viral do HIV das pacientes que tinham
informação dessas variáveis no sistema SISCEL. Não houve diferença estatística
entre os grupos. Foi feita também a comparação dos menores valores medianos
de contagem de linfócitos TCD4 (nadir) e os maiores valores medianos de carga
viral do HIV (zênite) entre os grupos, não havendo diferença estatística entre os
mesmos. Estas análises encontram-se descritas na Tabela 4.
Características
n GBV-C
RNA+/anti-E2-
GBV-C
RNA-/anti-E2+
GBV-C
RNA-/anti-E2- p*
Co
-
infecção
Presença do HbsAg
3/164 1 (2,4%) 1 (2,4%) 1 (1,3%) 0,864
Pres
ença do anti
-
VHC
19/163 5 (11,9%) 5 (12,2%) 9 (11,3%) 0,987
Presença de anti
-
HTLV1/2
5/133 0 (0%) 2(5,9%) 3 (4,6%) 0,39
52
Tabela 4 – Média e mediana dos valores medianos de CD4, carga viral do HIV, CD4 nadir e da
carga viral zênite do HIV na população durante o acompanhamento estratificada pelo
perfil do GBV-C- SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
*
Teste de Kruskal-Wallis
n Total
GBV-C
RNA+/anti-E2-
GBV-C
RNA-/anti-
E2+
GBV-C
RNA-/anti-
E2-
p*
CD4
mediano
83/248 0,241
Média
444,3 392,1 450,1 487,5
(DP)
232,4 225,5 243,6 263,4
Mediana
425 303,5 407 435,0
(P
25-75
)
283,4 - 612,1 244 - 483,5 272 - 620,5
300 -
632,5
CV
mediano
83/248 0,17
Média
11.196,20 25.697,10 19.750,60 28.617,60
(DP)
24.172,90 91.026,20 74.058,10
107.303,1
0
Mediana
676 517 399 399
(P
25-75
)
399 - 4.604,3 399 - 11.491,5 399 - 4.137
399 -
1.080
CD4 Nadir
mediano
115/248 0,324
Média
386,2 357,5 399,2 434,5
(DP)
211,9 224,1 225,7 240,6
Mediana
395 280,5 361,5 395
(P
25-75
)
255,9 - 523,4 226,9 - 445,4 252 - 488
266,5 -
607,5
HIV Zênite
mediano
115/248 0,181
Média
25.798,20 30.276,30 29.356,20 34.811,80
(DP)
54.345,50 92.740,60 83.067,20
112.797,5
0
Mediana
2.950 2.350 1.188 399
(P
25-75
)
399 - 20.535,5 399 - 16.350 399 - 15.600
399 -
6.025
53
Em relação ao uso de esquemas terapêuticos para o tratamento da
infecção pelo HIV, a mediana de troca de antirretrovirais durante o período de
seguimento foi de quatro trocas, ou seja, semelhante para todas as pacientes
estratificadas pelo perfil do GBV-C. Os intervalos P
25-75
, foram de 2 - 5 trocas
para as pacientes com GBV-C RNA+/anti-E2 - , de 3 - 6 trocas para as pacientes
GBV-C RNA- /anti-E2+, e de 2,8 - 6 trocas para as pacientes GBV-C RNA- /anti-
E2 -, e sendo o p=0,583 pelo teste não paramétrico de Kruskal Wallis. (Tabela 5)
Tabela 5 – Média e mediana de esquema antirretrovirais utilizados no tratamento do HIV na
população durante o acompanhamento estratificada pelo perfil do GBV-C - SEAP/USP
e Hospital Emílio Ribas
n Total
GBV
-
C
RNA+/anti-E2-
GBV
-
C
RNA-/anti-E2+
GBV
-
C
RNA-/anti-E2- p*
N
0
esquemas
antirretrovirais
203 0,583
Média(DP)
4,5(2,8) 4,2(2,8) 4,4 (2,5) 4,7 (3)
Mediana(P
25
-
75
)
4 (2 - 6) 4 (2 - 5) 4 (3 - 6) 4 (2,8 - 6)
*
Teste de Kruskal Wallis
Na Tabela 6 apresentamos o número de trocas de esquemas
antirretrovirais categorizados pela freqüência das mesmas. As informações
quanto à frequência do número de trocas e quais esquemas antirretroviral
utilizados durante todo tempo de acompanhamento das pacientes foram obtidas
de 203 pacientes. Apenas as pacientes que iniciaram e mantiveram terapia
antirretroviral até o fim do acompanhamento do estudo foram consideradas
elegíveis para esta análise.
Não observamos diferença entre os grupos com relação ao número de
trocas estratificada pelo perfil de exposição ao vírus GBV-C, sendo p=0,209.
Ainda, no que se refere às trocas de antirretrovirais ao longo do
acompanhamento das pacientes, foram coletadas informações quanto ao motivo
54
de troca dos mesmos em prontuário médico. Apenas 129 pacientes tiveram esta
informação documentada no prontuário. Consideraram-se motivos pelo qual o
médico assistente optou-se por troca da terapia a falência imunológica ou
virológica aos antirretrovirais e a manifestação de qualquer evento adverso
atribuível ao uso dessas medicações. Não houve diferença estatística entre
motivo da troca estratificada pelo perfil do GBV-C, sendo p=0,104.
Tabela 6 Frequência de troca e motivo de troca de esquemas antirretrovirais na população
durante o acompanhamento estratificada pelo perfil do GBV-C - SEAP/USP e Hospital Emílio
Ribas
a
Razão de Verossimilhança
b
Teste de Kruskal Wallis
Característica n
GBV-C
RNA+/anti-E2-
GBV-C
RNA-/anti-E2+
GBV-C
RNA-/anti-E2-
p
Troca de esquema
antirretrovirais
203
0,209
a
0-3
87 23 (47,9%) 22 (44,9%) 42 (39,6%)
4-7
84 19 (39,6%) 21 (42,9%) 44 (41,5%)
8-11
28 5 (10,4%) 6 (12,2%) 17 (16%)
12-15
4 1 (2,1%) 0 (0%) 3 (2,8%)
Motivo da troca
129/203
0,104
b
Falência
Virológica/Imunológica
78 19 (70,4%) 15 (45,5%) 44 (63,8%)
Evento Adverso 51 8 (29,6%) 18 (54,5%) 25 (36,2%)
55
Foi verificado um total de 43 óbitos ao longo de 10 anos de observação.
Houve cinco óbitos no grupo de pacientes com GBV-C RNA positivo, sete óbitos
no grupo de pacientes anti-E2 positivas e 31 óbitos no grupo de pacientes GBV-C
RNA e anti-E2 negativas. Todos os óbitos foram causados pela aids e/ou
relacionados à aids. (Anexo 3)
O tempo médio de sobrevida realizado pelo método de Kaplan-Meier das
248 pacientes do estudo estratificada pelo perfil sorológico do vírus GBV-C, tendo
como desfecho final o óbito relacionado à aids, foi de 9,45 anos IC95% 8,95 -
9,95 para o grupo GBV-C RNA+ /anti-E2 - ; de 9,32 anos IC95% 8,78 - 9,85 para
GBV-C RNA- /anti-E2 + ; e de 8,65 anos IC95% 8,19 - 9,10 para o grupo GBV-C
RNA- /anti-E2 - .
Quando se analisa o grupo não exposto ao vírus, GBV-C RNA- /anti-E2 - ,
e o grupo exposto, GBV-C RNA + e/ou anti-E2 +, encontramos um log-rank com
p=0,010 demonstrando haver uma diferença estatística significativa nas taxas de
sobrevida nos 10 anos de acompanhamento entre esses dois grupos (Gráfico 2).
Essa diferença estatística na análise de sobrevida também foi demonstrada,
ainda que com menor significância, sendo p=0,034, quando se analisa
separadamente as pacientes GBV-C RNA+ /anti-E2 - , GBV-C RNA- /anti-E2 + e
GBV-C RNA- /anti-E2 - . (Gráfico 3).
56
Gráfico 2 - Análise de sobrevida entre pacientes expostas e não expostas ao GBV-C Curva
de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Gráfico 3 - Análise de sobrevida entre pacientes GBV-C RNA-/anti-E2 - ;
GBV-C RNA+/antiE2- e GBV-C RNA-/antiE2+ - Curva de Kaplan-Meier –
SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Log
-
rank
p
=
0,034
Log-rank p = 0,010
57
Foram calculados os riscos relativos de óbito utilizando o modelo de Cox
tendo como variável de estratificação o perfil do GBV-C. Houve diferença
estatística na comparação entre as categorias GBV-C RNA- /anti-E2 - e GBV-C
RNA+ /anti-E2 - , p=0,038, sendo o risco relativo de morte para o grupo GBV-C
RNA positivo 63% menor do que nos não expostos. Para o grupo GBV-C RNA-
/anti-E2 - e GBV-C RNA- /anti-E2 + , não houve diferença estatística, porém o
risco de morte foi de 51% menor para o grupo GBV-C RNA- /anti-E2+ em
comparação aos não expostos, sendo p= 0,089, como mostra a Tabela 7.
Tabela 7 – Risco relativo de óbito estratificado pelo perfil do GBV-C - SEAP/USP e
Hospital Emílio Ribas
A contagem de linfócitos T CD4 basais e carga viral do HIV foram
categorizadas e criadas funções Kaplan-Meier para o tempo de sobrevida
segundo essas categorias. Foram testados os tempos de sobrevida com o uso do
teste log-rank. Houve diferença estatística nesta análise para o valor de linfócitos
T CD4 e carga viral do HIV independente do perfil do GBV-C, sendo o p=0,001 e
p<0,001, respectivamente.
Estratificação GBV-C RR
IC (95%)
P
Inferior Superior
GBV-C RNA-/anti-E2- 1,00
GBV-C RNA+/anti-E2-
0,37
0,14 0,95
0,038
GBV-C RNA-/anti-E2+ 0,49 0,22 1,11 0,089
58
Gráfico 4 - Análise de sobrevida das pacientes classificadas segundo a contagem de
linfócitos T CD4. Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Gráfico 5 - Análise de sobrevida das pacientes classificadas segundo a carga viral do
HIV.Curva de Kaplan-Meier - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Log
-
rank
p
=
0,00
1
Log
-
rank
p
<
0,00
1
59
Foi realizada a análise de regressão múltipla de Cox com as variáveis
contagem de linfócitos TCD4 e carga viral do HIV basais, número de esquemas
antirretrovirais, doença definidora de aids e o perfil do GBV-C, como mostra a
Tabela 8. O resultado da análise de regressão de Cox demonstrou que somente
as variáveis carga viral do HIV maior ou igual a 100.000 cópias/mL e presença de
doença definidora ao longo do seguimento dessas pacientes demonstraram
associação estatística significativa com a sobrevida. Curiosamente, o mesmo não
ocorreu com a variável perfil do GBV-C. Ou seja, ter carga viral do HIV maior ou
igual a 100.000 cópias/mL em relação aos pacientes com baixa carga viral basal
(<400 cópias/mL), e/ou ter apresentado alguma doença definidora de aids ao
longo do seguimento, esteve relacionado a um risco relativo de 7,63 e 2,87 vezes
de óbito, respectivamente, independente do perfil do GBV-C (p> 0,05).
Tabela 8 - Análise de regressão múltipla de Cox ajustado por variáveis em 248 pacientes.
Modelo parcial. SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
* Teste Qui-Quadrado
Variável RR
IC (95%)
p*
Inferior Superior
CD4 basal
< 200 1,00
200 – 350 0,60 0,24 1,51 0,280
> 350 0,57 0,22 1,50 0,253
CV basal
< 400 1,00
400 - 9.999 2,21 0,59 8,28 0,239
10.000 - 99.999 1,92 0,47 7,80 0,364
>= 100.000
7,63
2,01 28,93
0,003
Número de esquemas ARV
1,02 0,91 1,14 0,743
Doença definidora
Não 1,00
Sim
2,87
1,15 7,16
0,024
Perfil GBV-C
GBV-C RNA-/antiE2- 1,00
GBV-C RNA+/antiE2- 0,75 0,24 2,32 0,613
GBV-C RNA-/antiE2+ 0,66 0,26 1,65 0,370
60
A Tabela 9 reafirma os resultados obtidos na análise de regressão múltipla
de Cox ajustado apenas pelas variáveis que demonstraram significância
estatística, denominado modelo final.
Tabela 9 - Análise de regressão múltipla de Cox ajustado por variáveis em 248 pacientes.
Modelo final. SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Variável RR
IC (95%)
p*
Inferior Superior
CV basal
< 400 1,00
400 - 9.999 2,31 0,63 8,54 0,209
10.000 - 99.999 2,10 0,52 8,47 0,296
>= 100.000
9,34
2,60 33,53
0,001
Doença definidora
Não 1,00
Sim
3,76
1,65 8,56
0,002
*
Teste Qui-Quadrado
Das 248 pacientes cuja primeira amostra foi incluída na análise acima,
conseguimos obter uma 2ª amostra, coletada entre 2006 e 2008, de 57 pacientes.
Nestas 57 pacientes verificamos os seguintes resultados quanto ao perfil
do GBV-C.
Tabela 10 - Resultados dos testes laboratoriais para GBV-C RNA nas 57 novas amostras
colhidas em 2006-2008 - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Perfil do GBV-C 2ª amostra n %
GBV-C RNA +/anti-E2 +
GBV-C RNA - /anti-E2 +
0
15
0%
26%
GBV-C RNA +/anti-E2 -
12 21%
GBV-C RNA -/anti-E2 -
30 53%
Total
57 100%
61
O resultado da análise do perfil do GBV-C da segunda coleta realizada
entre 2006 e 2007 em amostras de 57 pacientes demonstrou presença do GBV-C
RNA em 12 pacientes (21%).
Foi realizada a contagem da carga viral do GBV-C RNA pelo método
quantitativo da PCR em tempo real nas pacientes virêmicas nesta segunda coleta.
Encontrou-se uma média de 3.609,70 UA/mL e mediana de 428,6 UA/mL(P
25-75
219 - 3.259,4 UA/mL).
Comparando as 12 pacientes virêmicas na primeira e segunda amostra,
observamos que nove pacientes persistiam com o vírus GBV-C positivo
(persistentemente positivas), e apenas três pacientes tiveram contato com o
vírus entre o período da primeira e segunda coleta mantendo-se virêmicas,
conforme demonstrado pela presença do GBV-C RNA apenas na segunda coleta
(infecção incidente).
Ainda com relação à exposição ao vírus durante o intervalo entre as
determinações do perfil do GBV-C, encontramos uma paciente que apresentou
contato com o vírus seguida de soroconversão demonstrada pela produção do
anti-E2 na segunda amostra (soroconversão).
Houve clareamento do GBV-C RNA em quatro amostras (9%). Ou seja,
essas pacientes apresentavam na primeira coleta GBV-C RNA+ /anti-E2 - e na
segunda, GBV-C RNA - /anti-E2 + ou anti-E2 - (clareadoras virais).
As pacientes que na análise da segunda coleta apresentaram um perfil
compatível com clareamento viral, determinado pela detecção do anti-E2 e que
também o foram na primeira coleta, foram consideradas imunes. Das 19 (33%)
pacientes imunes, 13 apresentaram GBV-C RNA- /anti-E2 + nas análises da
primeira e segunda amostras. Seis pacientes apresentaram GBV-C RNA- /anti-
62
E2+ na primeira mas GBV-C RNA- /anti-E2 - na segunda análise demonstrando
que houve perda do anti-E2, mas persistência de viremia negativa ao longo do
seguimento.
Por fim, 21 pacientes (35%) continuaram não sendo expostas ao vírus
durante todo o seguimento apresentando como perfil GBV-C RNA- /anti-E2 - em
ambas as coletas (persistentemente negativas).
A incidência foi calculada com a população de 57 pacientes das quais
foram excluídas para este estudo as pacientes que não estavam sob risco, sendo
estas as persistentemente positivas (9), as imunes (19) e as clareadoras (4).
Dessa forma, as 25 pacientes restantes que estavam sob risco de adquirir a
infecção pelo GBV-C - grupos das persistentemente negativas (21), infecção
incidente (3) e soroconversão (1) - foram observadas por 226 anos. Neste
universo observamos quatro novas infecções. Portanto a incidência nesse grupo
de mulheres HIV positivas é de 17,7 pessoas por 1.000 anos.
A Tabela 11 mostra os resultados das variáveis contagem de linfócitos
TCD4 e carga viral do HIV e do GBV-C da primeira coleta (basal) e segunda
coleta (final).
63
Tabela 11 - Resultado das variáveis CD4 e carga viral do HIV do GBV-C das 57 pacientes - SEAP/
Hospital Emílio Ribas
Pacientes
CD4
Basal
CV HIV
Basal
CV GBV
-
C
Basal
CD4
Final
CV
HIV
Final
CV GBV
-
C
Final
Perfil
GBV-C
Basal
Perfil
GBV-C
Final
Classificação
1
437 2.115 0 495 51.705 0 0 0 PN
2
306 100 0 707 399 0 0 0 PN
3
132 31.655 0 340 399 0 0 0 PN
4
439 306.885 0 440 399 0 0 0 PN
5
130 5.975 0 14 183.000 0 0 0 PN
6
379 100 0 593 399 0 0 0 PN
7
708 35.505 0 172 399 0 0 0 PN
8
150 100 0 426 399 0 0 0 PN
9
220 53.835 0 328 130.000 0 0 0 PN
10
417 100 0 815 399 0 0 0 PN
11
277 1.903 0 210 7.645 0 0 0 PN
12
329 100 0 351 211.000 0 0 0 PN
13
278 100 0 325 323 0 0 0 PN
14
474 7.234 0 374 399 0 0 0 PN
15
277 291.982 0 245 51.600 0 0 0 PN
16
237 100 0 782 399 0 0 0 PN
17
544 100 0 737 399 0 0 0 PN
18
392 2.305 0 757 399 0 0 0 PN
19
307 4.667 0 373 9.986 0 0 0 PN
20
409 11.203 0 1.213 51.105 0 0 0 PN
21
198 1.691 0 167 1.975 0 0 0 PN
22
228 33.951 820,29 298 49 0 1 0 C
23
89 100 619,80 508 399 0 1 0 C
24
74 942 23,43 70 399 0 1 0 C
25
245 9.936 0 399 399 0 2 0 I
26
67 3.503 0 238 1.259 0 2 0 I
27
312 182.274 0 701 77 0 2 0 I
28
89 677 0 362 3.493 0 2 0 I
29
359 7.163 0 295 5.075 0 2 0 I
30
123 414 0 177 145.000 0 2 0 I
31
155 195.500 0 548 399 3.900,62 0 1 II
32
253 100 0 629 399 1.335,81 0 1 II
33
534 118.421 0 307 9.700 28.235,4 0 1 II
34
135 100 285,92 618 399 211,79 1 1 PP
35
355 1.411 3.974,57 571 49 495,01 1 1 PP
36
365 13.042 812,89 463 1.580 269,96 1 1 PP
37
146 29.006 4,63 209 94.100 109,73 1 1 PP
38
676 2.404 438,7 1.334 399 488,34 1 1 PP
39
108 100 1.895,83 568 399 368,84 1 1 PP
40
655 1.165 4.511,69 724 399 151,91 1 1 PP
41
108 47.420 9,32 240,69 1 1 PP
42
317 16.878 637,06 370 79 7.508,10 1 1 PP
43
375 191.362 0 878 49 0 0 2 S
44
235 100 4.318,85 393 399 0 1 2 C
45
143 100 0 418 399 0 2 2 I
46
241 766 0 757 399 0 2 2 I
47
308 100 0 447 399 0 2 2 I
48
253 5.327 0 309 522 0 2 2 I
49
232 100 0 1.219 399 0 2 2 I
50
181 100 0 162 1.810 0 2 2 I
51
424 100 0 776 399 0 2 2 I
52
543 469 0 542 49 0 2 2 I
53
297 10.169 0 0 2 2 I
54
170 76.792 0 199 55.500 0 2 2 I
55
169 93.743 0 348 49 0 2 2 I
56
219 100 0 425 731 0 2 2 I
57
521 14.117 0 295 33.400 0 2 2 I
PP= Persistentemente positivas PN= Persistentemente negativas II= Infecção Incidente
C= Clareadoras S=Soroconversão I= Imunes
64
Avaliando a variação do valor de contagem de linfócitos TCD4 e da
carga viral do HIV obtida ao final menos a basal dos grupos de pacientes
persistentemente negativas, persistentemente positivas e grupo de pacientes
clareadoras, imunes, soroconversoras e infecção incidente não se observou
diferença estatística entre os valores da média e mediana dos grupos, sendo
p=0,372 e p=0,338, respectivamente. Não se pode concluir, portanto, que as
pacientes persistentemente virêmicas para o GBV-C apresentaram uma variação
de contagem de CD4 e ou uma variação de carga viral do HIV superior aquelas
persistentemente não virêmicas para esse vírus, como mostra a Tabela 12.
Tabela 12 – Comparação entre a variação CD4, carga viral do HIV basal e final dos grupos PN,
PP, C/I/S/II - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Variável Classificação
Média DP Mediana
P
25
P
75
n p*
Variação
CD4
(final - basal)
PN 134 279 66 -31,5 320,5 21 0,372
PP 263 237 157 64,5 477,3 8
C/I/S/II 198 257 164,5 21,5 379,3 26
Total 183 262 154 22,0 376,0 55
Variação
CV HIV
(final - basal)
PN -2.620 109.445
299 -4.370,5 22.822,0 21 0,338
PP 4.162 25.408 -1.064 -9.097,8 299,0 8
C/I/S/II -25.966 73.197 -393,5 -24.444,5
299,0 26
Total -12.670 84.657 299 -9.537,0 299,0 55
PP= Persistentemente positivas PN= Persistentemente negativas II = Infecção
Incidente C= Clareadoras S=Soroconversão I= Imunes
* Teste de Wilcoxon
Foi realizada também a comparação do valor de contagem de lincitos
TCD4 final menos o basal somente entre os grupos de pacientes
persistentemente negativas e as persistentemente positivas, como mostra a
Tabela 13. Da mesma forma, não houve diferença estatística na comparação dos
valores de contagem de linfócitos T CD4 e carga viral do HIV entre os dois
grupos, sendo p=0,153 e p=0,374, respectivamente.
65
Tabela 13 – Comparação entre a variação CD4, carga viral do HIV basal e final dos grupos PN,
PP - SEAP/USP e Hospital Emílio Ribas
Variável Classificação
Média DP Mediana
P
25
P
75
n p*
Variação CD4
(final - basal)
PN 134 279 66 -31,5 320,5 21 0,153
PP 263 237 157 64,5 477,3 8
Total 179 266 139 22,0 352,0 29
Variação
CV HIV
(final - basal)
PN -2620 109445 299 -4370,5 22822,0 21 0,374
PP 4162 25408 -1064 -9097,8 299,0 8
Total -3578 81774 299 -4805,0 1710,0 29
PP= Persistentemente positivas PN= Persistentemente negativas
* Teste de Wilcoxon
66
Discussão
O presente estudo teve como interesse principal a determinação da
prevalência de GBV-C em uma população de mulheres sabidamente HIV
positivas. Consideramos ser esse um trabalho relevante uma vez que dados de
estudos de prevalência realizados em coortes de população exclusivamente
femininas e HIV positivas ainda são escassos na literatura nacional e
internacional. No Brasil existem ainda poucos inquéritos em população de
pacientes infectados por HIV para presença da infecção por GBV-C. Portanto, o
primeiro objetivo desse estudo foi determinar a prevalência do RNA do vírus
GBV-C e do anticorpo anti-E2 em uma coorte de 248 pacientes femininas
sabidamente portadoras de HIV-1.
O estudo também propôs demonstrar e discutir, nessa população brasileira,
o curioso impacto de GBV-C sobre a evolução da infecção pelo HIV quanto ao
efeito protetor da interação entre esses dois vírus, tendo como base a análise de
algumas variáveis clínicas e laboratoriais importantes na evolução da doença por
HIV.
Nosso estudo se distinguiu da maioria dos publicados na literatura por
duas pecularidades: ter casuística exclusivamente composta de mulheres, e
determinar a carga viral de GBV-C por um teste quantitativo, não apenas
qualitativo, permitindo comparar variáveis quantitativas como a contagem de
linfócitos T CD4 e da carga viral de HIV com uma variável também quantitativa, e
não apenas categórica, à carga viral de GBV-C.
O desenvolvimento do método da PCR em tempo real para a
determinação da viremia de GBV-C no estudo e consequentes resultados foram
67
apresentados e discutidos em dissertação de mestrado de outro pesquisador.
Dessa forma, não foi discutida em detalhes a metodologia para quantificação do
vírus neste trabalho.
A prevalência da viremia de GBV-C encontrada em nossa população, foi
similar a descrita em norte americanos e europeus. Um estudo brasileiro
realizado por Souza e colaboradores
61
também demonstrou resultados
semelhantes, com uma prevalência de GBV-C RNA de 24% em 175 pacientes
co-infectados por HIV. No que se refere prevalência de GBV-C RNA em doadores
saudáveis de bancos de sangue, dois estudos brasileiros realizados por Ribeiro-
dos-Santos e colaboradores
56
e Levi e colaboradores
38
demonstraram uma
prevalência próxima de 10%. O curioso é que os estudos de prevalência de GBV-
C demonstram ser esse um vírus mais presente em indivíduos co-infectados por
HIV que nos doadores de sangue saudáveis. Esse fato pode ser explicado pela
coexistência de mesma via de transmissão entre esses dois vírus, sendo a via
parenteral e sexual as principais relacionadas à aquisição dos mesmos.
Nossa casuística foi composta exclusivamente de mulheres com idade
média de 32 anos, cuja exposição ao HIV foi principalmente sexual (67,2%). Os
trabalhos publicados na literatura confirmam o predomínio da via parenteral e
sexual como principais meios de transmissão de HIV. De fato, no Estado de São
Paulo, desde 1983, tem-se observado que a maioria das mulheres contaminam-
se pelas relações heterossexuais, sendo o uso de drogas injetáveis a segunda
categoria de transmissão mais prevalente entre os casos femininos notificados
63
.
Em nossa casuística encontramos uma predominância da transmissão de HIV
por via sexual, provavelmente por se tratar de uma coorte de pacientes femininas,
em que o uso de droga endovenosa ocorre com menor frequência. Vale ressaltar,
68
que a maioria das pacientes relataram ter parceiros sexuais fixos, maridos,
sabidamente soropositivos para HIV.
Nossa casuística foi composta de pacientes com tempo de diagnóstico por
HIV bastante longo, em média de 7,49 anos. O longo tempo de acompanhamento
dessas pacientes certamente reflete o impacto da melhora da sobrevida após a
era HAART, com a introdução de medicamentos altamente potentes.
Consideramos que o nosso estudo apresentou um tempo de seguimento razoável,
10 anos, que as pacientes sob terapia tendem a viver por mais tempo com
infecção por HIV.
Estudamos algumas variáveis clínicas e laboratoriais referentes à evolução
da doença por HIV em nossa população. A contagem de linfócitos T CD4 colhida
na inclusão do estudo de 247 pacientes estudadas, resultou em mediana de 286
células/mm
3
. Em relação à contagem da carga viral de HIV na inclusão de 246
pacientes a mediana foi 3.497,50 cópias/mL.
As variáveis quantitativas, contagem de linfócitos T CD4 basal e carga viral
basal de HIV, bem como a variável quantitativa de carga viral de GBV-C basal,
foram também estudadas quanto à determinação da presença de algum grau de
correlação entre as mesmas. Nosso trabalho não encontrou associação
significativa entre a contagem de linfócitos T CD4 e carga viral de GBV-C basais
nem tão pouco entre a contagem da carga viral de HIV e carga viral de GBV-C
basais, uma vez que o p revelou-se 0,05 , indicando uma probabilidade do
resultado do nosso estudo ter sido ao acaso, isto é, ser devido a variabilidade da
amostra.
Do mesmo modo, Giret e colaboradores
43
estudaram esse tipo correlação
entre essas variáveis em uma coorte brasileira de 175 pacientes e também não
69
encontraram correlação linear positiva significativa entre a carga viral de GBV-C e
a contagem de linfócitos T CD4. No que diz respeito a correlação da carga viral
de GBV-C e carga viral de HIV, apesar do nosso estudo ter demonstrado um
valor inverso esperado, ou seja, valores maiores de carga viral de GBV-C
associaram-se com valores menores de carga viral de HIV, essa diferença não foi
significativa (r
s
= -0,058 e p=0,366).
Entretanto, nossos resultados não se assemelharam aos encontrados em
um estudo realizado por Toyoda e colaboradores
40
, especialmente no que se
refere à correlação entre a carga viral quantitativa de HIV e de GBV-C. Nesse
estudo, os autores encontraram valores menores da carga viral de HIV nos 11
pacientes GBV-C RNA positivos (média de carga viral do HIV de 3,53 x 10
4
cópias/mL)
quando comparado aos 30 pacientes GBV-C RNA negativos (média
da carga viral do HIV de 5,76 x 10
4
cópias/mL). Entretanto, é interessante
ressaltar que nesse estudo os autores não conseguiram demonstrar uma
associação estatisticamente significativa entre carga viral de HIV e carga viral de
GBV-C com desfecho clínico de diagnóstico mais tardio de aids ou óbito entre os
pacientes. Ou seja, ter tido GBV-C RNA positivo e menor média de carga viral de
HIV não esteve associado a maior sobrevida nos pacientes infectados por HIV
nesse estudo.
Lefréve e colaboradores
49
também estudando a correlação da carga
viral desses dois vírus após cinco anos de acompanhamento de 95 pacientes
infectados por HIV, encontraram um média de carga viral de HIV de 3,4 log
10
no
grupo GBV-C RNA positivo comparado com a média de 4,0 log
10
no grupo GBV-
C RNA negativo, sendo p=0,009.
70
Da mesma forma que HIV, por compartilharem da mesma via de
transmissão, é comum a concomitância de hepatite B e C com GBV-C. Em nossa
amostra não tivemos informação sobre presença dos vírus das hepatites B e C
no momento do diagnóstico da infecção por HIV ou da determinação de GBV-C.
Dessa forma, não podemos afirmar quantas pacientes eram portadoras de tais
vírus no momento em que iniciamos o acompanhamento das mesmas.
Sabe-se que a via parenteral, principalmente para a hepatite C, e a sexual,
mais importante na hepatite B, são altamente efetivas para a transmissão das
mesmas, embora 30 a 35% dos casos de hepatite B e até 40% dos casos de
hepatite C, não possuam uma via de transmissão bem determinada
84,85,86
.
Pudemos, no entanto, observar a aquisição dessas hepatites virais ao
longo do acompanhamento das pacientes. Houve maior predominância de VHC
(11,7%) sobre VHB (1,8%) durante o acompanhamento das pacientes.
Encontramos três casos de hepatite B distribuídos igualmente entre os perfis de
GBV-C. Em relação à hepatite C, encontramos nove casos para o grupo de
pacientes expostas e 10 casos para as não expostas. Não houve predomínio de
casos de hepatite B e C entre os indivíduos expostos e não expostos a GBV-C
em nossa casuística. Portanto, apesar de esses vírus terem a mesma via de
aquisição parece não haver relação da presença da viremia de um sobre o outro.
Como observado na co-infecção VHC e HIV, a interação entre diferentes
vírus, com modificação na virulência de um ou de ambos, tem sido descrita na
literatura
84,87
. Entretanto, ainda que por estudos com resultados conflitantes, o
que se tem sido observado no caso da co-infecção GBV-C e HIV é de benefício
em relação à progressão da doença por HIV.
71
Dado o rigor adotado para a determinação da presença das doenças
oportunísticas em prontuário médico um número expressivamente menor de
pacientes foi analisado. Dos 185 prontuários revisados encontramos uma maior
frequência de tuberculose disseminada, monilíase oro-esofágica e toxoplasmose
cerebral. Esperaríamos encontrar menor frequência de doenças associadas à
infecção por HIV uma vez que alguns trabalhos levantam a hipótese de que a
viremia de GBV-C levaria a um aumento do número de células T CD4 e uma
redução da carga viral de HIV. No entanto, não foi possível confirmar tal hipótese,
que o grupo de pacientes sabidamente GBV-C RNA positivo não diferiu dos
demais grupos no que se refere à frequência de infecções oportunísticas durante
o acompanhamento. Entretanto, esse resultado deve ser analisado
cautelosamente uma vez que comparamos uma variável laboratorial (perfil de
GBV-C), cuja determinação foi pontual em amostras colhidas entre 1996 a 1997,
com a variável manifestação de doenças oportunísticas, ou seja um desfecho
clínico, ocorridas ao longo do acompanhamento dessas pacientes. Além disso,
que se considerar que a maioria das pacientes estudadas encontrava-se em
uso de TARV o que por si só, pode ter influência benéfica no controle das
infecções oportunísticas. Devemos levar em consideração também que não
sabemos quantas pacientes permaneceram com a viremia persistente e
consequente proteção quanto ao risco de desenvolvimento de infecções
relacionadas a HIV, uma vez que não é rotina a determinação da PCR para GBV-
C no momento da primeira sorologia Elisa positiva para HIV e ou no
acompanhamento dessas pacientes. Nossa análise foi baseada em apenas duas
medidas pontuais da carga viral de GBV-C, não sendo possível, dessa forma,
determinar o momento mais exato do clareamento desse vírus.
72
Relativamente pouco é sabido sobre o efeito da co-infecção GBV-C e HIV
na resposta ao tratamento antirretroviral. O estudo brasileiro publicado em 2006
por Souza e colaboradores
61
, avaliou o efeito de GBV-C RNA na resposta a
terapia antirretroviral em indivíduos HIV positivos virgens de tratamento
antirretroviral que tiveram suas amostras de plasma colhidas e estocadas -70
0
C
antes do início da terapia. Foi encontrado uma maior redução da carga viral de
HIV para o grupo com GBV-C RNA positivo medido na semana 24, 32 e 48 após
o início do tratamento antirretroviral em comparação ao grupo GBV-C RNA
negativo, sendo p=0,009. Porém, no que se refere à avaliação da resposta
imunológica, não houve diferença entre os grupos nas respectivas semanas após
o tratamento. Os autores concluíram que provavelmente esse resultado decorreu
de um efeito direto da viremia de GBV-C sobre a replicação de HIV, sendo esse
um mecanismo provável de interação benéfica entre esses dois vírus.
Dos 203 pacientes dos quais obtivemos informações quanto ao tratamento,
apenas três pacientes não tinham usado nenhum esquema terapêutico desde o
diagnóstico de HIV. A grande maioria das pacientes foi amplamente
experimentada no que se refere ao uso de antirretrovirais, com uma mediana de
troca de quatro esquemas durante o tempo de acompanhamento deste estudo.
Na análise por categoria de trocas de antirretrovirais, observamos que a maior
parte das pacientes apresentava de 0-3 e 4-7 trocas, ou seja, uma população de
pacientes bastante experimentada ao longo do acompanhamento da infecção por
HIV.
As trocas de esquemas terapêuticas têm como objetivo o alcance de um
controle virológico e imunológico ótimo das pacientes ou amenização da
toxicidade relacionada ao uso dos mesmos. Para a análise do motivo de troca da
73
terapia, obtivemos informações em prontuários médicos de apenas 129 pacientes
uma vez que foi bastante frequente a anotação da troca do esquema sem,
contudo, o registro do motivo da mesma. Não foi encontrada associação
estatisticamente significativa entre o motivo da troca e o perfil do GBV-C. Ou seja,
não podemos a partir desses resultados, atribuir uma maior frequência da
variável clínica-laboratorial falência aos antirretrovirais, a um determinado perfil
de GBV-C. O que se pretendia com o estudo da variável tratamento antirretroviral
estratificada pelo perfil de GBV-C era demonstrar a possibilidade de evitar
alterações na terapêutica antirretroviral no grupo exposto a GBV-C, uma vez que
partimos do pressuposto de que nesse grupo haveria pacientes com menor
necessidade de troca dos esquemas antirretrovirais, baseado na hipótese de que
a exposição a GBV-C conduz a um aumento da contagem de linfócitos T CD4 e
redução de carga viral de HIV, e consequente maior chance de sucesso
terapêutico.
De fato, alguns poucos estudos conseguiram comprovar tal associação.
Os resultados de dois estudos de coorte observacional publicados em 2003 por
Nunnari e colaboradores
47
e Rodriguez e colaboradores
88
concluíram que os
indivíduos infectados com GBV-C em uso de HAART apresentaram maior chance
de uma resposta virológica completa e um aumento sustentado da contagem de
linfócitos T CD4. Contudo, a metodologia de ambos os estudos é sujeita a críticas.
Por exemplo, no estudo de Rodriguez e colaboradores
88
, a determinação do
perfil de GBV-C de algumas amostras foi feita após a introdução do HAART e, à
semelhança do que pode ter ocorrido em nosso estudo, os autores ressaltam a
possibilidade de alguns pacientes terem sido expostos ao GBV-C durante o
seguimento do estudo. Ou seja, a comparação entre os grupos GBV-C RNA
74
positivo e negativo no que se refere à resposta da terapia antirretroviral medida
por aumento dos valores da contagem de linfócitos T CD4 e redução de carga
viral ao longo do seguimento ficou prejudicada, uma vez que indivíduos negativos
poderiam ter se tornado GBV-C RNA positivos ou vice versa. no estudo de
Nunnari e colaboradores
47
, a principal crítica é que a grande maioria dos
pacientes havia sido exposta à terapia antirretroviral previamente a
determinação do perfil de GBV-C.
Brumme e colaboradores
50
, em um estudo de coorte retrospectiva para
avaliar a influência do GBV-C RNA na resposta à terapia antirretroviral, não
demonstraram efeito benéfico na viremia de HIV em 40 meses, cerca de três
anos de acompanhamento dos pacientes. Houve apenas uma menor mediana
de carga viral de HIV no grupo GBV-C RNA positivo e uma tendência, ou seja,
uma diferença não estatística de maior mediana na contagem de linfócitos T CD4
nesse mesmo grupo. Porém, vale ressaltar ainda que o trabalho não fez
diferença entre o grupo que apresentava anti-E2 positivo, o que indicaria uma
exposição prévia ao RNA desse vírus. Sabemos que, uma eventual vantagem na
sobrevida nos pacientes anti-E2 positivos quando comparados com os indivíduos
não expostos a GBV-C pode ser explicada pela exposição prévia a GBV-C em
algum momento na evolução da doença por HIV.
O que tem sido demonstrado na literatura, é que a infecção persistente por
GBV-C parece ser necessária para os efeitos benéficos e o clareamento da
infecção por esse vírus precocemente no curso da infecção por HIV não promove
manutenção desses efeitos. Corroborando tal achado, Williams e colaboradores
42
demonstraram em estudo que os pacientes HIV positivos cujo RNA de GBV-C
é clareado durante o seguimento, apresentaram uma maior taxa de mortalidade
75
do que aqueles com infecção ativa persistente por GBV-C, ou seja, GBV-C RNA
persistentemente positivo. Em conclusão, os trabalhos ressaltam que talvez a
persistência da infecção por GBV-C seja a chave para associação entre GBV-C e
a melhora da sobrevida em pacientes co-infectados.
Quanto à determinação do número de óbitos na nossa população ao longo
do acompanhamento das mesmas, utilizamos informações provenientes do
banco de dados sobre mortalidade por aids do Programa de Aprimoramento das
Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM). Bronhara e
colaboradores
89
, avaliando o desempenho da vinculação determinística no
banco de óbito por aids desse programa, concluíram que o mesmo proporcionou
a maior cobertura dos casos estimados de óbitos por aids ocorridos no período
estudado, com maior quantidade de informações completas e melhor localização
geográfica dos casos. Os autores atribuíram a melhor eficácia desse banco ao
fato de utilizar um procedimento de busca ativa realizada a partir das declarações
de óbito a qual resulta em melhor informação. Consideramos, portanto, que as
informações obtidas por esse banco de dados em nosso estudo foram
consideravelmente confiáveis.
Analisando o risco relativo de óbito entre os grupos, encontramos
diferença estatística apenas entre o grupo GBV-C RNA-/anti-E2- e GBV-C
RNA+/anti-E2-, sendo o risco relativo de morte 63% menor nesse último. Na
análise uni-variada de sobrevida média utilizando o método de Kaplan-Meier
conseguimos demonstrar que o grupo GBV-C RNA positivo apresentou uma
maior sobrevida ao longo de 10 anos de acompanhamento do nosso estudo. Do
mesmo modo, a análise de sobrevida tendo como variáveis a contagem de
76
linfócitos T CD4 e carga viral de HIV, separadas por categorias, também
demonstrou diferença estatística.
Utilizando-se de uma análise regressão ltipla de Cox, na qual
associamos variáveis clínicas e laboratoriais, fomos capazes de definir que
apenas as variáveis carga viral maior ou igual a 100.00 cópias/mL e/ou ter tido
doença definidora de aids no acompanhamento do estudo tiveram risco relativo
maior de óbito, independente da viremia de GBV-C. Em outras palavras, a partir
desse resultado, podemos concluir que o efeito protetor de GBV-C na sobrevida
das pacientes demonstrado na análise de Kaplain-Meier, não foi um fator
independente de alteração dos valores da contagem de linfócitos T CD4 e da
carga viral de HIV, sugerindo que a viremia de GBV-C não esteve associada à
mudanças nessas duas variáveis laboratorias, amplamente utilizadas no manejo
clínicos de doentes com a infecção por HIV como indicadores e preditores
confiáveis de progressão da doença.
Em conclusão, alguns estudos publicados conseguiram demonstrar que
poderia existir uma associação entre a infecção por GBV-C e a maior sobrevida
em pacientes HIV positivos, porém não demonstraram uma relação de
causalidade entre estes eventos. Os mecanismos de tal efeito protetor
permanecem por ser investigados. O fato é que ambos os vírus infectam e se
replicam em células mononucleares do sangue periférico (PBMC’s) sugerindo
que possam interagir direta ou indiretamente no ciclo celular
11
.
Entre o período de 2006 a 2008, realizamos novamente a determinação do
perfil de GBV-C. Porém, a coleta foi realizada em apenas 57 pacientes das 248
incluídas no início do estudo. Considerando-se que houve 43 óbitos durante o
acompanhamento das pacientes, obtém-se uma taxa de retorno de 57/205= 28%,
77
muito abaixo do esperado. As razões para essa baixa anuência foram: um
número significativo de pacientes desligou-se do atendimento de suas instituições,
algumas pacientes recusaram em participar da segunda análise do estudo ou não
compareceram à entrevista agendada pelo médico infectologista após contato via
telefone para processar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e então
coleta da amostra de sangue.
Encontramos apenas quatro novos casos de infecção por GBV-C ao longo
de 10 anos de acompanhamento (três pacientes GBV-C RNA - / anti-E2 - na
primeira coleta e GBV-C RNA +/ anti-E2 – na segunda coleta e um paciente GBV-
C RNA -/anti-E2- na primeira coleta e GBV-C RNA -/anti-E2+ na segunda coleta).
Entretanto, parece que a incidência de GBV-C RNA seja mesmo pequena.
No estudo de Nunnari e colaboradores
47
, no que se refere a determinação do
perfil de GBV-C, os autores realizaram nesse estudo duas medidas de GBV-C,
uma no início e outra no final de oito anos de seguimento e não encontraram
nenhuma exposição a GBV-C durante esse período. Segundo Stapleton e
colaboradores
91
, a aquisição de GBV-C usualmente precede a aquisição de HIV,
sendo infrequente a aquisição de GBV-C após uma infecção por HIV bem
estabelecida.
O resultado da comparação dos valores dios e medianos entre a
variação (final menos basal) da contagem de linfócitos TCD4 e da carga viral do
HIV de pacientes persistentemente positivas e negativas (em relação a presença
de GBV-C RNA), não demonstrou um maior aumento na contagem de linfócitos T
CD4 e ou uma maior redução de carga viral do HIV no grupo GBV-C RNA
persistentemente positivo, o que representaria um efeito protetor de progressão
da doença por HIV, comparado ao grupo GBV-C RNA persistentemente negativo.
78
Nosso estudo apresentou algumas limitações. Foi conduzido em pacientes
com diagnóstico de infecção por HIV definido, sendo a grande maioria sob
uso de terapia antirretroviral. Dessa forma, não conseguimos determinar o
momento da soroconversão para HIV, nem tão pouco de GBV-C e,
principalmente, excluir o uso da terapia antirretroviral como importante fator
contribuidor de melhora de sobrevida entre os grupos.
Uma crítica ao nosso estudo é que a análise de sobrevida das 248
pacientes iniciou-se em 1996, período marcado pela introdução do HAART em
diversos centros de referência e tratamento em DST/aids no Brasil. Nosso
trabalho de coorte retrospectiva iniciou-se no momento da determinação do perfil
de GBV-C em amostras de pacientes coletadas entre 1996 a 1998. Desde essa
data, a maioria das pacientes havia sido exposta à terapia antirretroviral seja a
monoterapia, terapia dupla e ou ao esquema HAART, caracterizado por compor
um esquema antirretroviral de alta potência com no mínimo três drogas, sendo
dois inibidores da transcriptase reversa análogos de núcleos(t)ídeo (ITRN),
associados a um inibidor da transcriptase reversa o-análogo de núcleosídeos
(ITRNN) ou a um inibidor de protease (IP) no esquema terapêutico. Assim, nosso
estudo tem como viés o uso de terapia antirretroviral como um importante fator
determinante de melhor sobrevida como foi discutido, e, não necessariamente,
devido à presença de RNA GBV-C como fator protetor como visto em alguns
trabalhos. É possível que GBV-C seja um marcador da presença de outros
fatores que resultam em retardo na progressão da infecção por HIV ou que GBV-
C atue diretamente como causador da redução da replicação de HIV.
Além disso, temos que admitir que estudamos uma população feminina
selecionada, por se tratar de pacientes seguidas em dois grandes centros
79
acadêmicos de referência em tratamento de DST/aids no Estado de São Paulo.
Ora, não resta dúvida que estes centros dispõem de acompanhamento
laboratorial e manejo clínico cuidadoso e adequado dos pacientes HIV positivos
por médicos especialistas bem treinados e eficientes, além de grande
possibilidade de investigação e detecção de doenças oportunísticas, e de
acompanhamento psicológico dos pacientes por pessoal treinado presente
amiúde nesses centros. Certamente essa disponibilidade de serviços oferecidos
aos pacientes nesses centros de atendimento, altera de forma considerável a
sobrevida dos mesmos. Reconhecemos, portanto, que todos os recursos
humanos e laboratoriais para o atendimento destas pacientes nesses centros são
fundamentais, sem os quais, a administração pura e simples da terapêutica
antirretroviral e ou até mesmo a viremia persistente de GBV-C, não seriam
suficientes para mudar o prognóstico da infecção por HIV.
Uma outra importante limitação do nosso estudo é o seu caráter
retrospectivo e a possibilidade de vieses. Os dados registrados foram obtidos da
transcrição de prontuários médicos proporcionando perda da qualidade de
aferição das informações. De fato, houve uma grande variação na qualidade das
informações colhidas, pois muitos prontuários avaliados estavam incompletos,
sendo alguns excluídos por completo durante o processo de amostragem. Ainda,
não foi possível descartar possíveis vieses do observador, decorrentes da
interpretação subjetiva desses registros, principalmente em relação aos dados
epidemiológicos.
80
Conclusões
A prevalência da viremia por GBV-C é de 23% e a do anticorpo anti-E2 é
23%, perfazendo uma freqüência de exposição ao GBV-C de 46%.
A melhora da sobrevida entre as mulheres expostas ao GBV-C em relação
as não expostas na análise uni-variada demonstrou provável associação
com a presença do RNA do GBV-C, contudo, a análise multi-variada
demonstrou que apenas a carga viral maior de 100.000 cópias/mL e ou
manifestações de doenças oportunísticas ao longo do seguimento
estiveram associadas à melhora da sobrevida.
O risco relativo de óbito para o grupo GBV-C RNA +/ anti-E2 - é 63%
menor do que para o grupo GBV-C RNA- / anti-E2 - .
o houve correlação entre a carga viral do GBV-C e as contagens de
linfócitos T CD4 e carga viral do HIV.
A população estudada foi bastante experimentada no que se refere ao uso
de antirretrovirais para o tratamento da infecção do HIV.
Provavelmente a terapia antirretroviral foi fator limitante na análise de
efeito protetor do GBV-C RNA em pacientes infectadas pelo HIV.
A análise de associação do GBV-C com o VHB e VHC durante o
acompanhamento do estudo ficou prejudicada pois não dispusemos de
dados quanto a presença desses vírus no início do estudo.
Os mecanismos do efeito protetor da co-infecção GBV-C e HIV
permanecem por ser investigados.
81
Anexo 1: Impresso de Pesquisa
PROJETO DE PESQUISA
“A INFLUÊNCIA DO VÍRUS DA HEPATITE G (GBV-C) NA EVOLUÇÃO DA
INFECÇÃO PELO HIV EM MULHERES”
1. IDNUM:_____________Iniciais:____________
2. Status GBV-C: Coleta 1:_______ Coleta 2:________
3. Data da 1ª sorologia positiva para HIV: _________________
4. Exposição so HIV: Parenteral: - Uso de drogas injetáveis: 1
- Transfusão sanguínea : 2
Sexual: 3
Ignorado: 4
5. Doença definidora de aids: Sim: 1 Não: 2
____________________________________________________________
6. Uso de terapia antirretroviral:
7. Data início da TARV:________________________________
8. Número de trocas de ARV’s: _________________________
9. Motivo de trocas de ARV’s: - Falência 1
- Efeito adverso 2
- Ignorado 3
10. ARV’s usados:
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
11. Sorologias:
-Hepatite B: AgHbs + : 1 AgHbs - : 2
-Hepatite C: antiVHC + : 1 antiVHC - : 2
-HTLV1/2: + : 1 - : 2
82
Anexo 2: Classificação internacional de doenças (CID) das
causas de óbitos
E-872: Acidose
B-202: Doença pelo HIV resultando em doença citomegálica
B-238: Doença pelo HIV resultando em outra afecção não especificada
B-207: Doença pelo HIV resultando em infecções múltiplas
B-208: Doença pelo HIV resultando em outras doenças infecciosas e
parasitárias
B-203: Doença pelo HIV resultando em outras infecções virais
A-169: Tuberculose respiratória, não especificada, sem menção de
confirmação bacteriológica ou histológica
B-201: Doença pelo HIV resultando em outras infecções bacterianas
B-227: Doença pelo HIV resultando em doenças múltiplas classificadas em
outra parte
B-206: Doença pelo HIV resultando em pneumonia por pneumocistis carinni
E-149: Diabetes melito não especificado, sem complicações
B-200: Doença pelo HIV resultando em infecções micobacterianas
C-211: Neoplasia de canal anal
83
Anexo 3: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
HOSPITAL DAS CLÍNICAS
DA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Instruções para preenchimento no verso)
__________________________________________________________________
I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU
RESPONSÁVEL LEGAL
1.
NOME DO PACIENTE
.:............................................................................
DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº : ........................................ SEXO : .M
F
DATA NASCIMENTO: ......../......../......
ENDEREÇO ................................................................................ Nº ........APTO:........
BAIRRO:..................................................................... CIDADE .................................
CEP:.........................................TELEFONE: DDD (.......) ...........................................
2.RESPONSÁVEL
LEGAL ...........................................................................................................................
NATUREZA (grau de parentesco, tutor, curador etc.) .................................................
DOCUMENTO DE IDENTIDADE :....................................SEXO: M
F
DATA NASCIMENTO.: ....../......./......
ENDEREÇO:............................................................................................. Nº............... APTO: .............................
BAIRRO:........................................................................... CIDADE: ......................................................................
CEP:............................................. TELEFONE:DDD (..........)...............................................................................
_________________________________________________________________________________________
II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA.-
A influência da infecção pelo vírus da hepatite G
(HGV) na evolução da doença pelo HIV em mulheres
PESQUISADOR: .José Eduardo Levi
CARGO/FUNÇÃO: Biolgista Molecular INSCRIÇÃO CONSELHO REGIONAL Nº 23.407/01-D
UNIDADE DO HCFMUSP: Laboratório de Investigação Médica em Virologia (LIM-52)
3. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA:
SEM RISCO
RISCO MÍNIMO
X
RISCO MÉDIO
RISCO BAIXO
RISCO MAIOR
(probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência imediata ou tardia do estudo)
4.DURAÇÃO DA PESQUISA : 18 meses
_________________________________________________________________________________________
84
A Sra. está sendo convidada a participar de um estudo sobre a infecção pelo HGV (Vírus da
Hepatite G Humano). Embora este vírus tenha este nome, ele não causa hepatite, e até o
momento não se conhece nenhuma outra doença causada por ele. O que se descobriu é que o
HGV parece ter uma influência benéfica nas pessoas infectadas pelo HIV, aumentando a
sobrevida e retardando a evolução da AIDS. Essa informação ainda é debatida entre os
pesquisadores e nós queremos verificar se isso, a “proteção” pelo HGV, acontece também em
uma população de mulheres infectadas pelo HIV.
Para poder efetuar este estudo precisamos investigar mulheres com HIV que venham
sendo acompanhadas há um longo tempo, > 5 anos, com informações precisas de sua
evolução clínica, e exames laboratoriais documentados (Carga Viral HIV e CD4), além da
existência de amostras coletadas há mais de 5 anos e estocadas corretamente.
Como a Sra. participou em 1997-1999 de um estudo sobre o Papilomavírus Humano
(HPV, vírus de infecção genital) existem amostras de seu sangue que foram estocadas e
servem para verificar se na época o vírus da hepatite G estava presente. Pretendemos também
fazer um teste de seu sangue atualmente, para assim compararmos sua evolução clínica e
laboratorial em relação à Aids e se houve alguma influência do HGV nesta evolução.
Sua participação ou recusa em participar deste estudo, ou sua decisão de abandonar o
estudo em qualquer momento, não implicará em qualquer alteração na qualidade de seu
atendimento médico. Nenhum exame a mais será solicitado ou colhido sem que seja
solicitado pelo médico lhe atendendo. Você terá livre acesso a todas informações relativas a
esta pesquisa e à sua participação nela, em qualquer momento que desejar. Os dados desta
pesquisa serão mantidos em sigilo, sendo disponíveis apenas para o prórpio paciente, o
médico lhe assistindo e os pesquisadores envolvidos.
Consinto que seja utilizado material de meu sangue colhido no passado e na data atual no
estudo científico acima descrito. Entendo que o será realizada nenhuma coleta de exame
adicional ao necessário para meu acompanhamento normal. Declaro que, após
convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto
em participar do presente Protocolo de Pesquisa.
São Paulo, de de 200 .
Nome
Assinatura
Data __/__/__
(carimbo ou nome Legível) Médico responsável:
Coordenador do Estudo: Dr. José Eduardo Levi Instituto de Medicina Tropical da
Universidade de São Paulo, fone 11 3062 2645, e-mail : [email protected]
85
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